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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


RUNAWAY ROAD / Devney Perry
RUNAWAY ROAD / Devney Perry

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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Londyn McCormack não teve uma infância típica. Ela saiu de casa aos dezesseis anos, fugindo dos pais mais interessados em drogas do que sua filha. Ela não tem irmãos amorosos ou um animal de estimação adorável. Sua única família são as outras cinco crianças fugitivas que dividiam seu ferro-velho em casa.
A vida os puxou em direções separadas, levando-a para Boston. Por pouco tempo, ela pensou ter encontrado algo permanente. Mas depois de um divórcio devastador, ela está fugindo de novo, desta vez para encontrar um amigo perdido.
Ela está dirigindo pelo país em seu conversível. Na adolescência, o carro enferrujado era o seu abrigo. Como adulta, é a sua carona para a liberdade.
Exceto que um pneu furado descarrila sua viagem. Sua vida colide com Brooks Cohen. Eles se afastaram do primeiro acidente. O segundo pode destruir os dois.

 


 


Capítulo Um

Londyn

— Londyn, por favor. Por favor, não faça isso.

Por favor, não faça isso.

Se eu ganhasse vinte e cinco centavos por cada vez que ouvi essa frase desse homem nos últimos oito anos, eu seria uma mulher mais rica.

— Adeus, Thomas. — Eu encerrei a ligação. Como ele normalmente ligava de volta cinco segundos depois que eu desligava, desliguei a maldita coisa e joguei-a na cama para a minha melhor amiga, que estava do outro lado. — Aqui.

— Putz. — Gemma se atrapalhou, ela sempre foi uma mão-furada, e caiu ileso no edredom branco e macio. Ela pegou. — Como assim, aqui?

— Fique com ele. Esmague. Eu não ligo, mas não vou levar comigo. — Dobrei outra camiseta e coloquei na minha mala.

A coisa toda estava cheia de roupas novas, a maioria com as etiquetas ainda anexadas. Não havia um ponto de seda ou cetim para ser encontrado. Nada do que eu peguei exigia uma prensa ou vapor e com certeza não havia um par de saltos ali dentro.

Eu tinha jeans. Jeans normais. Não possuía um há anos. Agora eu tinha dez. Alguns tinham manchas desgastadas pelos joelhos. Outros tinham bainhas desgastadas. Alguns eram desleixados ou boyfriend, conforme as etiquetas.

Junto com meu jeans, tinha camisetas. Branca. Cinza. Preta. Marinho. Todas as mesmas cores dos ternos que eu usava há anos, mas desta vez tudo era de algodão lavável à máquina. Eu poderia até usá-las sem sutiã.

Meu guarda-roupa não seria mais uma prisão. Nem essa casa. Nem meu telefone.

— Você tem que atender um telefone, Londyn. — Gemma colocou as mãos nos quadris. O seu terno creme era perfeito, eu costumava ter o mesmo. Seu cabelo escuro estava penteado em um coque apertado, exatamente como eu costumava pentear minha juba loira.

— Não. — Dobrei a última camiseta. — Sem telefone.

— O que? Isso é ... insano. E estúpido.

Dei de ombros. — Nós duas já fizemos isso antes.

— E nós duas éramos estúpidas antes. Temos sorte de não termos acabado em uma prisão. — Ela jogou os braços compridos para os lados, bufando enquanto balançava a cabeça. — Pegue seu telefone.

— Não.

— Londyn, — ela retrucou. Gemma agia com raiva, mas seu olhar ansioso falava o contrário. Ela estava simplesmente preocupada. Se eu estivesse em seus Louboutins, também estaria. — Como vou encontrá-la?

— Você não vai me encontrar. Essa é a questão. — Contornei a cama e peguei suas mãos com unhas cor-de-rosa nas minhas. Tinha perdido nosso encontro no salão nas últimas três semanas e minhas unhas estavam destruídas. Eu arranquei meu esmalte e os mastiguei até a raiz. — Vou ficar bem.

Ela olhou para mim, de pé três centímetros mais alta. — Por favor, não faça isso.

— Não, — eu sussurrei. — Você também não.

— Londyn, — ela sussurrou. — Pelo menos pegue o telefone.

Apertei suas mãos com força e balancei minha cabeça. — Eu vou. Preciso ir. Você de todas as pessoas deveria entender.

— Espere só mais um pouco. Deixe as coisas se acalmarem aqui, — ela implorou. — As pessoas se divorciam todos os dias.

— Elas fazem. — Eu assenti. — Mas isso não é sobre o divórcio. Sou eu. Estou farta desta vida.

— Então você está fugindo?

Revirei os olhos. — Você faz parecer tão extremo para alguém que fez o mesmo, mas sim. Estou fugindo. Novamente. — Às vezes é o melhor.

Ela não podia discutir. Ela já havia fugido antes e olhe para ela agora. Bem sucedida. Rica. Deslumbrante. Ninguém suspeitaria que ela passou a adolescência morando em um ferro-velho nos arredores de Temecula, Califórnia.

— Ugh, — ela gemeu. — Bem.

Ela não gostou da minha ideia, mas entendeu. Meu divórcio foi brutal e comovente. Foi uma bomba nuclear em minha vida que eu precisava. Isso estava forçando um novo começo. Além disso, eu era boa em recomeçar. Fiz isso inúmeras vezes nos meus vinte e nove anos.

O que era mais um?

Na quinta-feira da semana passada, estava solteira. Eu já havia mudado meu sobrenome de volta para McCormack e, com minha nova carteira de motorista em mãos, não estava mais em Boston.

— Eu odeio que você esteja fazendo isso sozinha. — Gemma suspirou. — Vou me preocupar.

— Eu vou ficar bem. — Voltei para minha mala, dobrando um casaco com capuz para a pilha.

Era uma das poucas peças que eu tinha no meu armário que decidi embalar. Era grosso e cinza, as bainhas danificadas por um designer, não pelo uso. A coisa não esticava. Eu o usei apenas uma vez, quando Thomas me levou para velejar anos atrás, quando parecíamos felizes.

Este moletom era muito parecido com o meu casamento. Parecia bonito, mas não cabia direito.

Tirei o capuz da mala e joguei na cama.

— E se você se machucar? — Gemma perguntou.

— Dê-me algum crédito. — Revirei os olhos. — Eu tenho dinheiro. Tenho carro. Estou fugindo em grande estilo. Vai ser moleza!

— Quando você vai voltar?

Nunca. — Eu não sei.

— Você irá me ligar? Entrar em contato periodicamente?

— Sim, mas você tem que prometer não contar a Thomas onde estou.

Ela zombou. — Aquele filho da puta chega perto de mim, eu vou arrancar suas bolas.

Eu ri. — Aqui está minha melhor amiga. Fico feliz em ver um pouco do esmalte.

— Só com você. — Ela sorriu. — Vou sentir sua falta.

— Eu sentirei sua falta também. — Abandonei a mala e a encontrei ao pé da cama para um abraço.

Nós tínhamos passado por muita coisa juntas nos últimos treze anos. Gemma e eu nos encontramos uma noite em um beco. Ela me salvou de comer metade de um sanduíche que peguei de uma lixeira.

Houve momentos em que ela seguiu o seu caminho e eu o meu, mas acabamos juntas em Boston. Nós nos tornamos mais próximas do que nunca, servindo como refúgio uma para outra, quando subimos nas fileiras da elite e dos ricos de Boston.

Eu casei com meu dinheiro. Gemma ganhou o dela.

Eu terminei de fazer as malas, carregando minha bolsa com o dinheiro que levei ontem e minha carteira. Então fechei minha mala e levantei-a pelo corredor até a porta da frente.

Minhas chaves estavam sobre a mesa em um prato. Peguei o pacote na minha mão e tirei apenas uma para levar.

A chave de carro.

— E se você não encontrar Karson? — Gemma perguntou, de pé ao lado da minha mala.

Eu olhei para a chave de prata. — Vou encontrá-lo.

Eu tinha que encontrá-lo. Precisava encerrar depois de muitos anos me perguntando que tipo de homem ele cresceu depois do garoto que eu conheci.

Depois de Gemma, o azulejo do saguão brilhava sob o lustre de cristal. A arte na parede não era minha favorita, mas Thomas a comprou em um leilão de caridade, então pelo menos ela foi comprada com um propósito além de apenas decorar minha luxuosa casa, minha antiga casa.

Eu dei um sorriso triste para Gemma. — Este foi o lugar mais bonito que eu já morei.

Thomas e eu tínhamos uma equipe para cuidar da mansão. Uma governanta diária limpava e lavava roupa. Um cozinheiro fazia tudo o que me agradava. Um jardineiro mantinha a grama verde e as flores desabrochando. Aqui, eu não queria nada.

No entanto, nunca me senti em casa.

Thomas e eu já fomos felizes? Eu me permiti acreditar que estávamos satisfeitos porque eu era estúpida e cega pelas coisas materiais. Mas nada disso era meu.

A única coisa que eu possuía era meu carro. O carro de Karson.

— Você vai sentir falta daqui? — Gemma perguntou.

Eu balancei minha cabeça. — Nem por um minuto.

Eu esfregava alegremente meus próprios banheiros e cortava minha própria grama para ter a chance de sentir que uma casa era minha.

Quando criança, fugia para estar em segurança. Fugia para não ter que assistir meus pais implodirem. Lentamente, tinha me aventurado para o leste. Estava procurando trabalho e aventura. Eu encontrei Thomas e ele me deu os dois, por um tempo.

Agora, estava fugindo para encontrar a paz. Para encontrar a vida que eu precisava no fundo da minha alma. Para me encontrar novamente.

Eu tinha me perdido nestes últimos anos. Quando conheci Thomas, tinha vinte e um anos. Ele tinha trinta e cinco anos.

Nós nos casamos quando eu tinha 22 anos, e ele me deu um emprego como sua assistente. Thomas dirigia sua própria empresa em Boston e fez fortuna com investimentos corporativos, empreendimentos de capital e transações imobiliárias.

Trabalhar para ele foi o primeiro emprego que já tive que não pagava um salário mínimo. Aprendi a usar um computador. Aprendi como analisar planilhas e criar apresentações. A princípio, Thomas havia me ensinado a falar corretamente ao telefone. Basicamente, aprendi boas maneiras.

Ele pegou todas as minhas arestas e as alisou.

Na maior parte, eu gostei da transformação em uma esposa culta da sociedade. Outrora uma criança que cresceu em um trailer simples, comendo fatias de queijo processado e espaguete na lata, me olhava no espelho e amava a versão brilhante de mim mesma. Eu adorava tomar banho todos os dias. Amava minha maquiagem cara e meus compromissos mensais de cabeleireiro.

A verdade é que eu continuaria vivendo esta vida, fechando os olhos para o buraco no meu coração. Mas havia algumas coisas que eu me recusava a ignorar.

Dois anos atrás, Thomas havia contratado outra assistente. Ele não queria me queimar, mesmo que nunca tivesse reclamado do trabalho. Eu reduzia para três dias por semana enquanto ela trabalhava cinco.

Tínhamos tarefas diferentes, mas nos sentávamos uma em frente à outra e conversávamos cordialmente enquanto trabalhávamos. Eu almoçava com Thomas em seu escritório. Segunda, quarta e sexta, ele transava comigo em sua mesa.

Aparentemente, terça e quinta eram os dias dela.

Eu os encontrei seis meses atrás, quando entrei no escritório para surpreendê-lo no almoço.

Esta bela casa e todo o dinheiro em nossa conta corrente não valiam a dor de um coração partido.

Peguei minha mala e a levei para a porta. Gemma me seguiu para fora, os calcanhares estalando na calçada de cimento enquanto caminhávamos para a garagem isolada ao lado da casa maior. Esta garagem não era onde eu estacionava normalmente. Meu BMW estava na garagem, onde Thomas estacionava seu próprio Beemer. Talvez depois que eu saísse, ele desse à secretária.

Por mim tudo bem. Meu carro estava estacionado aqui, onde o jardineiro guardava suas ferramentas.

Eu digitei o código para abrir a porta grande, o sol limitando o espaço quando ele se levantou. Entrei e passei a mão sobre a lona cinza que cobria o Cadillac por dois anos.

Uma onda de emoção bateu quando tirei a lona. O cromo embaixo brilhou ao pegar o sol. A tinta vermelho cereja foi polida até ficar como um espelho.

— Ainda não consigo acreditar que este é o mesmo carro. — Gemma sorriu de sua posição na porta.

— Lembra daquela vez em que sentamos atrás e fumamos um maço inteiro de cigarros?

— Não me lembre. — Ela fez uma careta. — Ainda não suporto o cheiro de fumaça. Acho que vomitei a noite toda.

— Nós pensamos que éramos tão duronas aos dezesseis anos.

— Éramos.

Éramos. Ao longo dos anos, ficamos amolecidas. Talvez tivéssemos esgotado todos os nossos esforços para sobreviver. Ou talvez tivéssemos esquecido o quão severo o mundo poderia ser de verdade.

— Eu gostaria de ser mais durona aqui. — Eu bati no meu coração.

O lábio dela se curvou. — Eu o odeio por isso.

— Eu também. — Engoli em seco, não deixando que as emoções me dominassem. Thomas havia recebido todas as lágrimas que iria receber. — Mais do que tudo, estou com raiva de mim mesma. Eu deveria saber bem. Deveria ter visto quem ele realmente era.

Lealdade não era um tema comum na minha vida. Eu não recebi dos meus pais ou de muitos estranhos que entraram e saíram ao longo dos anos como amigos temporários. Esperava isso do meu marido.

— Foda-se ele.

— Foda-se ele. — Gemma caminhou para o outro lado, me ajudando a tirar a lona das costas e dobrá-la em um quadrado. Talvez o jardineiro possa usá-la para alguma coisa.

Abri o porta-malas do carro, o cheiro de metal e estofados novos flutuando no ar. Eu sorri, absorvendo o amplo espaço. Tinha guardado muitas coisas no porta-malas uma vez. Tinha organizado e seccionado com perfeição. Comida no lado esquerdo. Roupas e sapatos à direita.

Peguei minha mala, rodando-a e carregando-a no porta-malas. — Acho que fechei o círculo. Este já foi meu armário. Agora é de novo.

Gemma não riu. — Por favor, tenha cuidado.

— É apenas uma viagem, Gemma. — Bati o porta-malas fechado. — Eu vou ficar bem.

Fui para o lado do motorista, abri a porta e deslizei para o meu assento. O cheiro de couro espantou o ar viciado. O painel estava praticamente livre de poeira, considerando o tempo que ficou sem uso. Corri meus dedos sobre o volante branco liso.

Um Cadillac DeVille conversível 1964. Meu orgulho e alegria.

A porta do passageiro se abriu com um estalo e Gemma sentou-se.

— Cheira bem, certo?

Ela sorriu quando fechou a porta. — Muito melhor do que quando você e Karson moravam aqui.

— Parece que foi há muito tempo.

—Isso foi. — Ela passou a mão pelo assento de couro branco, liso como manteiga e cheirando a dinheiro.

Muito dinheiro. Este carro não passava de sucata enferrujada quando paguei para que fosse transportado da Califórnia para Boston. Mas eu paguei. Cada centavo colocado neste carro foi um centavo que eu ganhei.

Thomas me fez assinar um acordo pré-nupcial quando nos casamos. Eu era jovem e tola. Eu não havia contestado um único termo. O que diabos eu sabia sobre contratos e documentos legais?

Eu aprendi, no entanto. Trabalhar na sua empresa me ensinou muito. Por mais que eu odiasse como nosso casamento acabou, Thomas me deu algo de valor inestimável.

Uma educação.

Ele me ajudou a conseguir meu diploma. Então me colocou para trabalhar. E caramba, eu trabalhei duro. Como sua assistente, eu não corri para pegar seu café ou pegar uma lavagem a seco. Revisava contratos. Fazia projeções financeiras. Montava apresentações para as partes interessadas e envolvia potenciais investidores com os melhores.

Thomas me deu ideias e projetos difíceis. Eu adicionei o verniz.

Assim como eu fiz neste carro.

Coloquei a chave na ignição e virei, fechando os olhos enquanto o Cadillac voltava à vida. O sorriso no meu rosto beliscou minhas bochechas.

Aquele som glorioso era a minha liberdade.

Olhei para Gemma bem a tempo de vê-la tocar no canto do olho. — Sem lágrimas, — eu disse. — Isso não é um adeus.

— Parece, — ela sussurrou. — Mais do que em qualquer outra época, parece que você não voltará.

Eu não estava.

— Quer vir comigo? — Eu sabia a resposta, mas perguntei de qualquer maneira.

— Eu gostaria de poder, mas... — Gemma não precisava de uma nova vida.

— Eu vou levá-la para o seu carro. — Estava estacionado na frente da casa, mas eu queria esses últimos momentos juntas. Coloquei o Cadillac em movimento e saí da garagem.

A luz do sol atingiu o capô de metal. Os pneus rolaram suavemente na calçada. Caramba, era bom dirigir. Por que deixei essa coisa parada por tanto tempo? O Cadillac estava pronto há dois anos.

A restauração do Cadillac levou quase um ano. Quando estava pronto, eu o dirigi para casa e estacionei na garagem. Além do raro fim de semana em que o tirava, nos fins de semana em que Thomas desaparecia, ele ficou quase todo ocioso por dois anos. Dois malditos anos porque Thomas insistiu que ficaria arruinado se eu tentasse dirigir este barco no trânsito da cidade todos os dias.

Não queria arriscar um acidente, então continuei a dirigir o BMW, usando meus ternos e salto alto. Eu desempenhei meu papel como a esposa refinada de quem ele se aborreceu.

Enquanto isso, o Cadillac estava parado, coberto e sozinho.

Que vergonha.

Tinha escondido algo importante na minha vida. Eu também não podia culpar Thomas, porque tinha esquecido quem eu era.

Muito cedo, cheguei ao carro de Gemma e estacionei o Cadillac. Ela não saiu. Nem eu.

— Vou ligar, — eu prometi.

— É melhor. — Ela se virou para mim e se inclinou para um último abraço.

Nós nos encontramos no meio. Ela me deu um aperto forte e então foi embora, caminhando com graça e elegância para seu carro.

Gemma cresceu em uma choupana pior que a minha, mas ela sempre teve essa natureza régia. Ela morava sozinha desde a décima série. Ela não teve educação da Ivy League ou pedigree familiar. No entanto, Gemma Lane era pura classe.

Apertei o botão para abaixar a capota do conversível, sorrindo ainda mais enquanto o ar do verão enchia minhas narinas junto com o cheiro de grama recém-cortada e do vento. —Eu amo você, Gem.

—Amo você, Lonny. — Ela sorriu, parando ao lado de seu Porsche. Então ela levantou um dedo apontado para o meu nariz. — Ligue para mim.

—Eu vou. — Eu ri quando ela entrou no carro, colocou os óculos escuros e acenou uma última vez antes de sair correndo.

O som de sua saída desapareceu ao longe e eu tirei um último momento de silêncio para olhar para a casa que chamava de lar. A fachada de tijolos marrons era alta e imponente. As portas duplas em arco eram tradicionais e elegantes. Os pilares da varanda eram pomposos.

Esta casa não era eu.

Mas meu carro era.

Segurei o volante com as duas mãos. Nem sempre era branco, assim como os assentos nem sempre eram de couro.

Tinha ido longe demais com a restauração? Talvez Karson se sentisse como se eu tivesse massacrado a coisa. Mas no fundo do meu coração, acreditava que era assim que o carro deveria ser em seus dias de glória. Era assim que deveria ser antes que alguém esquecesse sua beleza e a deixasse no ferro-velho para dois adolescentes se agacharem por alguns anos.

Os toques modernos, como janelas elétricas e uma suspensão de passeio a ar, eram puramente uma coisa de conforto. Estava feliz por eles, dado que estava prestes a dirigir através do país.

Acelerei, acelerando para fora do circuito. Quando passei pelo portão externo, dei uma última olhada no retrovisor.

Chega de portões.

O trânsito nos subúrbios não era horrível, mas quando cheguei à cidade, as coisas abrandaram. Levou uma hora para o congestionamento acabar, mas finalmente acabou.

Então eu corri.

Karson sempre disse que fugir de casa era a melhor decisão de sua vida. Eu tinha que concordar.

O vento atravessava meu cabelo enquanto corria ao longo da rodovia. Só eu e meu Cadillac vermelho cereja.

Em uma estrada desgovernada.


Capítulo Dois

LONDYN

 

Dois dias na estrada e eu estava livre.

Boston estava me sufocando lentamente, algo que não percebi até oitocentos quilômetros me separarem de minha vida anterior.

Dane-se as rotinas diárias. Programação do parafuso. Estrutura e convenção do parafuso. Eu estava presa à normalidade e ignorava o peso em meu coração. Fechar os olhos para os meus problemas era fácil com a programação que mantinha. Cada minuto da minha vida era coreografado. Ficar sentada não tinha nenhum apelo.

Agora que tive tempo para pensar sobre por que me mantinha tão ocupada, vi que as rotinas e a estrutura se tornaram uma distração necessária. Quando estava trabalhando, administrando a casa ou organizando uma função para a empresa de Thomas, não tinha tempo para pensar sobre a última vez em que realmente sorri ou ri despreocupada. Quando estava no spa ou fazendo compras, só relaxava o suficiente para recarregar as baterias. Mas o tempo de inatividade nunca foi longo o suficiente para refletir.

Sentar ao volante do meu carro me forçou a olhar com atenção nos últimos oito anos.

Quando comecei a trabalhar para Thomas, gostava da rotina, principalmente por ser uma anomalia. Saber o que cada dia implicaria era um novo conceito para mim. A estabilidade era revigorante.

E estava felizmente apaixonada por meu marido. Encaixaria nossas vidas - ou encaixaria minha vida na dele.

Thomas precisava de estrutura. Ele prosperava em uma programação. O homem sabia o que estava fazendo com precisão, todos os dias dos próximos três meses mapeados em detalhes. Gemma era do mesmo jeito. Talvez fosse coisa de CEO, mas os dois não tinham quase nenhuma flexibilidade. Sem espontaneidade.

Gemma, eu entendia. Ela estava desesperada por garantias e, depois de nossa infância, aquilo fazia sentido. Mas a motivação de Thomas não nasceu do medo do desconhecido ou de um jovem caótico. Ele tinha disciplina e determinação em todos os aspectos de sua vida porque isso lhe rendia dinheiro.

Sucesso e prestígio eram os verdadeiros amores de Thomas.

Por que tentei tanto encaixar nesse molde? Por causa do amor? Me convenci de que era feliz, mas eu sabia o que era ser feliz?

Todas as perguntas que estava me fazendo desde que deixei Boston. Talvez, quando chegasse à Califórnia, eu as tivesse respondido.

Nesse ínterim, estava evitando toda estrutura. Peguei a estrada no meu próprio ritmo, sem me preocupar com o limite de velocidade ou em acompanhar o trânsito. O relógio no painel não significava nada porque não tinha onde estar.

Era tranquilo, simplesmente dirigir sozinha. Quando fiz meu caminho para Boston, e todas as paradas no meio, foi de ônibus. Viagens desde então foram com Thomas, e se não estivéssemos em um avião, ele estaria ao volante.

Talvez pela primeira vez, eu senti o controle final.

Não admira que Gemma tenha se tornado uma maníaca por controle. Era foda demais.

Eu trancei meu cabelo com uma trança apertada, mas o vento soltava alguns fios quando o sol aqueceu meu rosto. Ocasionalmente, outro veículo passava por mim e o cheiro de gasolina permanecia por um quilômetro. A menos que estivesse chovendo, dirigia com a capota abaixada.

No dia em que saí de Boston, dirigi cinco horas sem nem mesmo ir ao banheiro. Eu queria ficar longe do trânsito e da cidade. Cortando Connecticut e um pedaço de Nova York, não parei até chegar ao meio da Pensilvânia.

Saí da interestadual e encontrei um hotel de nível médio. Me registrei e dormi por quatorze horas. Os cansativos meses do divórcio, quando Thomas lutou muito para reconsiderar o fim de nosso casamento, me atingiram. Então, recarreguei as baterias no meu quarto de hotel, compensando as noites sem dormir.

Na manhã seguinte, acordei cansada, não pronta para pegar a estrada. Então eu não fiz. Qual era a pressa? Essa jornada não tinha prazos.

Acrescentei mais uma noite à minha estadia e passei o dia na cama com uma caixa de entrega de pizza e a televisão.

Thomas não tinha tempo para filmes ou programas de televisão para assistir excessivamente. Tínhamos uma televisão em casa, uma tela plana na sala de jantar informal onde tomávamos o café da manhã. Ele a ligava para assistir ao noticiário todas as manhãs enquanto comia clara de ovo e bacon de peru.

Eu não me importava. Antes de fugir aos dezesseis anos, passei inúmeras horas na frente da TV. A Nickelodeon e a MTV foram minhas babás enquanto meus pais estavam ocupados com sua droga de escolha.

Mas agora, quando essas memórias não eram tão nítidas e a TV não significava solidão, eu achei o entretenimento sem sentido relaxante.

Assisti John Wick primeiro, finalmente entendendo a confusão sobre Keanu Reeves. Chorei em Beaches, sabendo que tinha sorte de ter uma amizade semelhante com Gemma. E fiquei acordada até as três da manhã, rindo de uma comédia romântica sobre damas de honra.

Na manhã seguinte, dormi de novo, saindo antes da finalização do meio-dia. Então, em vez de correr para a estrada, dirigi para um café local. Por horas, em algum lugar da Pensilvânia, fiquei sentada à mesa da janela assistindo o trânsito, almoçando e ouvindo outras conversas. Saí muito depois que o cheiro dos doces frescos do café penetrou nos meus cabelos loiros.

Mesmo depois de dirigir por horas, o cheiro ainda estava no meu cabelo. Peguei uma mecha, levando-a ao nariz para inalar o fermento e o açúcar persistentes. Sempre tive consciência de cheiros, principalmente os meus.

Era mimada? Provavelmente. Depois de dormir em um Cadillac velho e enferrujado por dois anos, eu merecia ser um pouco mimada?

Talvez sim.

Uma coisa era certa: fugir era muito mais fácil com dinheiro e, por isso, fiquei agradecida.

Poderia pagar por quartos de hotel e almoços de café. Nunca temeria a carga em uma bomba de gasolina. Poderia parar para uma refeição decente em um restaurante, em vez de juntar troco suficiente para um cheeseburguer com menu de dólares.

O dinheiro que ganhei trabalhando foi considerável para uma mulher com um novo diploma de segundo grau e sem curso superior. Uma vantagem de ser casada com o chefe. Eu salvei tudo, menos o que gastei no Cadillac. Todo o resto, nosso orçamento doméstico, roupas, sapatos, spa, férias, fora pago por Thomas. Eu poderia viver de minhas economias por anos. As roupas de grife não estavam em meu orçamento atualmente, mas eu já estava farta de etiquetas para uma vida inteira.

A interestadual cortava o campo e as placas passavam voando de vez em quando. Peguei minha bolsa, pronta para procurar meu telefone e verificar um mapa.

— Não está aqui, — eu me lembrei. Quanto tempo demoraria para quebrar esse hábito?

E eu não precisava de um mapa. Eu estava na Costa Leste e tive que chegar ao Oeste. A forma como viajei não precisava de ser mapeada. Eu estava dirigindo. A estrada sob meus pneus me levaria lá, cedo ou tarde.

Um grande caminhão passou rugindo, seu escapamento de diesel deixando para trás uma nuvem negra. Franzi o nariz e diminuí a velocidade, mas o fedor grudou no carro. Estava lidando com o mesmo a tarde toda.

 

— Para o inferno com a interestadual. — Liguei meu pisca-pisca na próxima saída, vendo uma placa para um posto de gasolina. Eu queria ir alguns quilômetros sem passar por outro carro.

Abastei o Cadillac e lavei o para-brisa. Então entrei e comprei algumas garrafas de água e um saco de batatas fritas.

— Obrigada, — eu disse ao funcionário. Suponho que você não tenha um telefone público em lugar nenhum?

— Claro que sim. Basta sair pela porta e virar à direita. Está ao virar a esquina.

— Obrigada novamente. — Peguei minhas coisas e as levei para o carro, deixando-as no banco aberto. Então, tirei algumas moedas de minha bolsa e encontrei o telefone. Era velho e as chaves sujas. Pressionei o receptor preto contra o ouvido e o encostei no ombro enquanto discava o número de Gemma.

— Olá?

— Ei, Gem. — Eu sorri.

— Lonny?

— Sim, sou eu. Viu? Eu lhe disse que ligaria. Pensei em receber seu correio de voz.

Ela riu. — No momento ideal. Estou entre as reuniões e sozinha pela primeira vez. Como estão as coisas? Onde você está?

— Ainda na Pensilvânia, de acordo com meu recibo do posto de gasolina. E isso é bom. Estou indo devagar.

— Achei que você já estaria do outro lado do Mississippi.

— Em breve. Como você está?

— Bem. — Ela soltou um longo suspiro. — Já sinto sua falta.

— Saudades de você também. — Embora eu estivesse feliz por ela ter recusado minha oferta de vir junto. Por mais que uma viagem fosse divertida com minha melhor amiga, precisava fazer isso sozinha. Esta viagem era para mim.

— Escute, eu preciso lhe dizer uma coisa. Detesto fazer isso na sua primeira ligação, mas não quero que você ligue para Thomas.

Eu zombei. — Eu não tinha planejado isso.

— Ótimo. Porque ele me ligou ontem.

— O que? — Eu fiquei tensa. — Por quê? O que ele queria?

— Encontrá-la.

Revirei os olhos. — Bem, azar o dele.

— Aí está .... algo mais. — Ela fez uma pausa. — Não é bom. Quer que eu lhe conte? Ou não?

Não. O que quer que estivesse acontecendo com Thomas não mudaria nada. Eu não voltaria.

Ele me sufocava, algo que eu estava percebendo quanto mais me afastava de Boston. Não se importava com minhas ideias ou sentimentos, porque era o magnata dos negócios e eu era apenas a pobre garota que ele havia transformado em princesa.

Ele não conseguia imaginar que eu deixaria sua riqueza por causa de um caso bobo de escritório.

Não, eu não queria saber.

Gemma sabia que eu não queria nada com ele. Então, por que chamar a atenção dele? Thomas estava doente ou algo assim? Estava ferido? Estava com problemas?

—Conte-me. — Maldito seja, curiosidade.

—É, hum, a secretária.

Eu me encolhi. Nem Gemma, nem eu diríamos o nome da mulher. Aquela vadia sentou na minha frente por meses, sorrindo e fingindo ser uma amiga, enquanto secretamente transava com meu marido. Talvez ele realmente a tivesse despedido.

—Ela está grávida.

O telefone caiu do meu ouvido, o plástico preto colidindo com a parede embaixo da cabine. A corda balançou para frente e para trás como um homem pendurado em um laço. Como o meu casamento.

Morto.

— Londyn! — A voz de Gemma gritou no telefone, forçando-me a atendê-lo novamente.

— Estou aqui. — Eu limpei minha garganta. — Foi isso que ele ligou para dizer a você? Por quê? — Não tinha me machucado o suficiente? Por que ele não poderia me deixar em paz na minha ignorância?

Gemma suspirou. — Ele queria que você soubesse caso decida voltar.

— Eu nunca vou voltar. — Agora não.

— Sinto muito, — Gemma sussurrou. — Eu não deveria ter lhe contado.

— Não, fico feliz que você tenha me contado. Eu queria saber. Isso não muda nada. Ele disse mais alguma coisa?

— Só que ele está preocupado com você.

— Bem, ele tem outras coisas com que se preocupar agora. — Como lidar com o médico que realizou sua vasectomia. — Eu vou deixar você ir. Tenho certeza que está ocupada.

— Eu não deveria ter lhe contado, — ela murmurou. — Vai me ligar novamente em breve?

— Claro. — Eu não quis dizer isso como uma mentira, mas parecia uma. Não conseguia imaginar não falar com Gemma, mas uma ligação e eu fui puxada de volta para a vida que acabara de deixar. Talvez cortar temporariamente os laços com ela por um tempo fosse o melhor. Eu ligaria novamente, mas não tão logo como ela provavelmente presumia.

— Cuide-se, — disse ela.

— Tchau. — Coloquei o telefone em seu berço prateado.

Havia mais duas moedas no meu bolso, o suficiente para outra ligação. Fiquei olhando para o teclado do telefone. Devo ligar para Thomas? A vontade de gritar e berrar borbulhava no meu peito e meus dedos roçaram o telefone.

Desde o divórcio, eu não tinha ficado com raiva. Eu fiquei entorpecida e fiquei quieta. Meu advogado me encorajou a continuar assim, para que ele pudesse me conseguir o melhor acordo possível. Thomas e eu podíamos ter um acordo pré-nupcial, mas Thomas acabou pagando.

Eu contratei um advogado muito bom.

Além das minhas próprias economias, eu havia tirado dez milhões de dólares do meu casamento em nosso acordo de divórcio. Agora, cada centavo estava sendo usado por uma organização que apoiava crianças em fuga. Esse dinheiro pagava por roupas e abrigo. Pagava pela educação e moradia de longo prazo.

Thomas havia escalado minha posição na vida. Agora seu dinheiro estava fazendo o mesmo com outras crianças infelizes que precisavam de ajuda. Essa doação aliviou o aguilhão do divórcio. Isso me ajudou a manter a calma.

Até agora.

Foda-se ele. Afastei-me do telefone, meus punhos cerrados e meus dentes cerrados.

Thomas não merecia cinquenta centavos.

Afastei-me do telefone, praticamente correndo para o carro. Parei na estrada e passei pela rampa de acesso à rodovia. Levantando minha mão, eu dei o dedo.

Foda-se interestaduais. Foda-se secretário. Foda-se maridos que fizeram uma vasectomia aos trinta anos porque não tinham planejado se casar cinco anos depois.

Eu fui a exceção na vida meticulosamente planejada de Thomas. Eu fui uma decisão espontânea, conduzida com seu coração.

Este bebê foi porque ele o conduziu com seu pau.

Foda-se ele.

As linhas amarelas no meio do asfalto borraram enquanto um brilho de lágrimas cobriu meus olhos. Eu deslizei meus óculos de sol e pisquei para longe.

Quilômetros e quilômetros passaram enquanto dirigia ao longo da rodovia silenciosa. As árvores que cercavam a estrada eram brilhantes e altas sob o céu de junho. Os pássaros voavam acima. Ocasionalmente, um riacho aparecia, beijando a estrada antes de desaparecer na vegetação luxuriante.

 

Era pitoresco e impossível não apreciar.

A imagem mental de Thomas e secretária segurando um bebê enrolado em rosa estava presa na minha cabeça.

Era irônico que Thomas tivesse engravidado a mulher errada. Ele implorou e pediu que eu ficasse, e se tivéssemos um bebê, eu não o teria deixado. Traição ou não, eu não teria tirado uma criança de uma vida em que ele ou ela desejaria por nada.

Mas eu não tive um bebê. Eu não tinha uma família e provavelmente nunca teria.

As lágrimas ameaçaram novamente, mas me recusei a deixá-las cair.

— Não mais, — sussurrei para mim mesma. — Ele não recebe mais.

Eu tive essa aventura para me dar um propósito. Não precisava de família quando tinha minha liberdade.

Segurando firme no volante com uma mão, levantei a outra no ar. No momento em que meus dedos subiram acima do para-brisa, eles esfriaram. Estava ficando mais frio agora que o sol começou a descer.

Eu havia atravessado West Virginia cerca de uma hora atrás, uma placa grande e desbotada me recebendo no Estado.

Eu estendi minha mão mais alto, em direção à luz fraca do céu. Então equilibrei o volante com meu joelho, deixando minha outra mão alcançar acima. Meus braços se esticaram.

Liberdade.

Eu estava livre. Eu estava sozinha. Eu estava perdida.

E era lindo.

O ar fluiu por meus dedos. Quando estiquei meus braços mais alto, enchi meus pulmões, respirando mais fundo do que fazia em muito, muito tempo.

Fechei os olhos, por apenas um momento, até que uma guinada no meu pneu direito enviou o Cadillac em direção à linha central.

Meus olhos se abriram, minhas mãos agarraram o volante. —Merda.

Eu puxei o volante para colocar o carro do meu lado da estrada. Eu corrigi demais. O Cadillac, a besta que ela era, balançou e balançou novamente enquanto os pneus do lado do passageiro balançavam na faixa de ruído.

Pop.

O canto direito dianteiro do carro caiu. O Cadillac deu um solavanco para o lado e eu não tive forças para segurar o volante.

Pisei no freio com muita força. Droga! Eu estava em pânico e perdendo o controle. O baque do meu pneu furado encheu o ar antes do barulho de metal contra metal. Uma grade de proteção foi gentil o suficiente para me impedir de cair em uma vala.

O Cadillac parou de funcionar. A poeira subiu até que a brisa noturna a soprou para longe.

— Oh meu Deus, — eu respirei. Eu estava viva, se meu coração não explodisse. Minhas mãos estavam cerradas no volante, congeladas, mas o resto do meu corpo tremia. Não conseguia afrouxar meu aperto, então deixei minhas mãos brancas e deixei minha cabeça cair para frente.

Fechei os olhos, deixando a adrenalina se acalmar. Quando o tremor diminuiu e minha cabeça parou de girar, soltei o volante e saí do carro com as pernas instáveis.

Com uma mão no carro para me equilibrar, dei a volta no porta-malas para o outro lado.

— Merda. — O Cadillac foi esmagado contra a grade de proteção. Havia manchas de tinta vermelha de onde eu arrastei ao lado dela.

Corri ao redor do carro novamente, desta vez para inspecionar a frente. O pneu estava furado e o aro apoiado no asfalto.

—Não. — Passei a mão pelo cabelo. Devo ter acertado em um prego. A noite escurecia a cada segundo e, embora eu pudesse trocar um pneu durante o dia, fazê-lo à noite não era um desafio que eu queria enfrentar.

— É por isso que temos telefones. — Eu bati minha palma na minha testa. Deveria ter comprado um telefone descartável para emergências. —Droga.

E não havia um carro à vista. Eu tinha realizado meu desejo por uma estrada deserta. Quanto tempo se passou desde que passei por uma cidade? Eu havia dirigido por uma pequena cidade mais cedo, mas ainda estava claro lá fora. Foi pelo menos uma hora de carro atrás de mim.

—Ahh! — Eu gritei para o céu. Nem mesmo os pássaros pareciam se importar. O que significava que se eu fosse sequestrada e assassinada ao longo desta estrada, ninguém estaria por perto para ouvir aqueles gritos também. —Puta que pariu.

Eu pisei no banco do motorista e entrei para colocar a capota do conversível. Quando estava segura, peguei minha bolsa, bati a porta e as tranquei. Em seguida, fui até o porta-malas, procurando em minha mala um par de tênis para trocar por meus chinelos.

— Eu deveria ter ficado na Pensilvânia, — murmurei enquanto saía pela estrada. Esperava que outra cidade ou uma casa aparecesse se continuasse no caminho em frente. Não havia muito atrás de mim.

Quanto mais eu andava do carro, mais meu estômago afundava. Esse carro era meu cobertor de segurança. Mesmo em Boston, quando ele estava escondido na garagem, sempre soube que estava lá, protegido e seguro.

Agora estava na estrada, sozinho e vulnerável.

Eu também.

Eu roubei olhares por cima do ombro até que ele desapareceu de minha vista e comecei a contar os passos para ocupar minha mente. Quando cheguei a quinhentos, estava nervosa. Quando cheguei a mil, fiquei tão assustada com a escuridão iminente que parei de andar.

Não havia sinal de uma cidade perto. Se houvesse casas por perto, elas estavam escondidas nas árvores.

—Isso é loucura. — Eu girei em um calcanhar e corri para o meu carro. Eu estava suando e sem fôlego quando apareceu.

Eu corri mais rápido.

Quando cheguei à porta, a escuridão estava quase caindo e eu mal conseguia distinguir a maçaneta. Se tivesse caminhado mais quinhentos passos, não teria conseguido voltar antes do anoitecer.

Eu desabei no banco do motorista, me trancando por dentro enquanto meu coração batia forte.

O que eu estava pensando? Por que eu deixaria este carro? Dormiria aqui hoje à noite e sinalizaria para um carro que passasse amanhã. Porque eu não estava saindo deste carro novamente. A única vez que nos separamos foi quando entreguei as chaves a Karson, na Califórnia.

Se ele estivesse na Califórnia. Eu descobriria quando chegasse lá.

O ar estava espesso e úmido do lado de fora da minha janela. O suor escorreu pelo meu decote e encharcou os cabelos em volta das têmporas e da testa. Liguei o carro, ligando o ar condicionado até não pingar. Então eu abri as janelas e desliguei o ar, empurrando meu assento para trás o máximo possível para esticar minhas pernas.

Dormir no Cadillac era mais confortável no banco de trás, algo que eu sabia de anos de prática, mas dormir não seria fácil hoje à noite, não importa onde eu descansasse. E daqui, podia ver melhor o lado de fora e sair rapidamente se um carro se aproximasse.

Horas se passaram. Estrelas iluminavam o céu da meia-noite. Milhares delas pairavam no alto, e como eu tinha feito na adolescência, desejei a mais brilhante. Perdida em seu padrão aleatório, pulei quando um flash de luz chamou minha atenção pelo espelho retrovisor.

Sentei-me, girando enquanto os faróis ofuscantes corriam em minha direção. Entrei em ação, acendendo a luz interna do Cadillac antes de sair. Corri para ficar perto do capô, recuando até que o guarda-corpo roçou minhas panturrilhas. Então eu balancei meus braços no ar como uma lunática enquanto o outro veículo se aproximava.

Eu apertei os olhos para os faróis, usando uma mão para proteger meus olhos enquanto a outra acenava. O carro não diminuiu a velocidade. O zumbido de seu motor pareceu ficar mais alto. Eles não me viram? Ou eles iam passar por mim?

Meu estômago afundou conforme as luzes ficavam cada vez mais próximas, sem nenhum sinal de que o veículo estava diminuindo. Meu braço ainda estava levantado no ar, mas eu parei de acenar.

Eles continuariam dirigindo. Idiota.

Dada a minha sorte hoje, isso era quase normal. Estava pronta para mostrar a eles também quando os pneus cantaram e a alta redução de marcha do motor encheu o ar.

— Obrigada, — eu respirei, deixando cair minha mão.

Uma caminhonete parou abruptamente ao meu lado e a janela abaixou. Meus olhos ainda estavam cheios de manchas nos faróis, mas apertei os olhos com força, tentando distinguir o motorista.

— Precisa de alguma ajuda?

Era a voz de uma mulher. Obrigada, estrelas. Um dos meus desejos era ser resgatada. Outra era para meu salvador ser mulher.

Eu cheguei mais perto da caminhonete. — Eu tenho um pneu furado e estou espremida na grade de proteção. Está escuro e eu não queria tentar trocar sozinha. E... — suspirei. — Eu não tenho telefone.

— Droga. — Ela estendeu a palavra por duas sílabas. Maldição. — Bem, Summers está a cerca de 16 quilômetros da estrada. Quer uma carona?

Dez milhas? Fiquei feliz por ter me virado. — Existe um caminhão de reboque em Summers? Prefiro não deixar meu carro aqui.

— Cohen tem um reboque. Quer que eu ligue para ele?

— Sim, por favor. Muito obrigada. — Meus olhos estavam finalmente se ajustando ao escuro. Quando ela pegou o telefone, a tela iluminou a cabine brevemente, e eu pude ver seu rosto.

A mulher provavelmente tinha cinquenta e poucos anos, mas com a pouca luz, era difícil dizer. As rugas ao redor dos olhos e da boca eram leves. Seu cabelo era loiro claro ou cinza. Ela apertou o telefone na orelha e me encarou, me dando um sorriso gentil.

De todas as pessoas no mundo que poderiam ter parado, eu tirei a sorte grande. Eu me aproximei até ficar do lado de fora da janela aberta do passageiro. O cheiro de barras de limão flutuou do caminhão e encheu meu nariz.

Meu estômago roncou. As batatas que eu inalei horas atrás haviam queimado há muito tempo.

— Ei, Brooks. — Ela não se apresentou à pessoa do outro lado do telefone. — Eu tenho uma garota aqui que precisa de um reboque. Cerca de dezesseis quilômetros da cidade, um quilômetro ou mais antes de você chegar na minha casa.

Sua casa? Então, se eu tivesse ido na outra direção, eu teria caído na casa dela? Droga. A partir de agora, eu prestaria mais atenção ao meu redor enquanto dirigia. Isso não teria acontecido se não estivesse tentando me livrar do medo.

— Com certeza. — Ela desligou, colocando o telefone no console. — Ele está a caminho.

— Obrigada. — Seria estranho dar-lhe um abraço?

— Quer que eu espere com você, querida?

Meu coração esquentou. — Não, vá em frente. Obrigada.

— Está tarde. Estou a caminho do hotel para entregar algumas barras de limão para minha irmã, Meggie. Eu cozinho quando não consigo dormir e ela trabalhando no turno da noite. Venha depois que Brooks levar você e aquele carro para a cidade. Passe a noite em Summers.


— Eu acho que vou fazer isso. Obrigada.

— Ótimo. Meu nome é Sally. E você é?

— Londyn McCormack.

— Prazer em conhecê-la, Londyn. —Ela levantou a mão. — Vejo você em breve.

Eu acenei, me afastando de sua caminhonete enquanto ela o colocava na estrada. Tão rapidamente como parou, ela saiu, correndo pela estrada e me deixando no escuro.

Voltei para o meu carro, golpeando os insetos que se prendiam à minha pele e peguei carona no carro. Então eu esperei, observando o relógio passar dez minutos. Depois quinze. Aos vinte minutos, estava começando a desejar ter pego carona com Sally, afinal, mas então dois faróis se aproximaram.

Saí e esperei no mesmo lugar perto do capô, só que desta vez, meus próprios faróis também estavam brilhando.

O caminhão de reboque parou lentamente, o motor ligado quando o motorista abriu a porta e pisou na estrada. Sua figura alta e escura estava sombreada enquanto ele caminhava através da luz que fluía.

— Senhora. — Sua mão levantou quando ele se aproximou e suas feições apareceram. — Ouvi dizer que você precisava de um reboque.

Eu engoli em seco. Eu estava dormindo? Eu não tinha experiência com motoristas de reboque, mas certamente não era assim que todos eles se pareciam. Caso contrário, as mulheres do mundo estariam constantemente estourando seus pneus.

Ele se moveu, bloqueando mais da luz com seus ombros largos. O movimento me deu uma visão mais clara de seu rosto e destacou a linha de seu nariz reto. A barba por fazer espanava seu queixo forte. Seus braços estavam amarrados com músculos tão definidos que eu não ficaria surpreso se ele pegasse meu carro com as próprias mãos para colocá-lo na plataforma do reboque.

—Senhora?

— Sim. — Eu pisquei, forçando meu olhar para longe de seus lábios macios para retornar seu aperto de mão. — Desculpe. Eu... estou com um pneu furado e não consigo trocar.

— Hmm. — Ele caminhou até o carro, espiando pelo lado pressionado contra a grade de proteção. — Parece que você tem mais do que um pneu furado.

Meus olhos se voltaram para a bunda do homem. Maldição. Quando ele se virou, forcei meus olhos a seu rosto. A última coisa que precisava era que ele me deixasse no acostamento. — Eu raspei contra a grade de proteção enquanto derrapava até parar. Nem quero pensar sobre como está a lateral do meu carro.

— Provavelmente não está bonito. Mas vamos levá-lo para a oficina e dar uma olhada mais de perto.

—Obrigada. — Eu sorri. —Agradeço você ter vindo aqui tão tarde para me ajudar.

Ele deu uma risadinha. —Quando Sally liga, é melhor você atender, senhora.

Eu me encolhi com a terceira senhora. — É Londyn. Escrito com um y.

— Londyn. Prazer. — Oh senhor, aquela voz, tão rica e suave. Eu esperava que seu nome fosse algo simples como George ou Frank. Algo para combater a perfeição. —Eu sou Brooks Cohen.

George não. Este era definitivamente um sonho.


Capítulo Três

Brooks

 

Esta noite não foi a primeira vez que recebi um telefonema de reboque de Sally Leaf bem depois da meia-noite. Normalmente, precisava que eu a rebocasse para fora de qualquer vala em que ela conseguiu deixar sua velha caminhonete. A mulher dirigia como se os limites de velocidade fossem mínimos e as linhas na estrada uma sugestão.

Independentemente disso, sempre que ela ligava, ia correndo. Eu saí da minha cama, então vesti jeans e uma camiseta. Corri os poucos quarteirões de minha casa até a oficina, onde troquei meu Ford prata pelo reboque. Como Sally havia prometido, quase exatamente dezesseis quilômetros fora da cidade, eu avistei o carro imprensado contra a grade de proteção.

Um carro lindo. E um maldito dono de nocaute.

Londyn. Escrito com um y.

Seu Cadillac foi colocado na plataforma e ela estava segurando com aperto de morte, uma bolsa no colo. O doce aroma de seu cabelo flutuava em minha direção cada vez que ela fazia o menor movimento para mover sua bolsa ou cruzar as pernas.

Graças a Deus estava escuro e ela não conseguia ver meus olhos errantes. Eles a escovaram da cabeça aos pés, observando aquele longo cabelo loiro que caía sobre seus ombros e os seios inchados. Seu jeans largo, não conseguia esconder os contornos arredondados de seus quadris ou as linhas firmes de suas pernas.

Minha mãe, ficaria com vergonha de saber que eu verifiquei sua bunda mais de uma vez.

Eu abaixei minha cabeça, cheirando rápido meu braço. Oh inferno. Eu cheirava a suor e graxa. Tomei banho antes de dormir, lavando um dia de sujeira da garagem e o fedor dos cinco quilômetros que corria depois do trabalho. Mas depois de carregar seu carro no calor pegajoso, eu derreti através da minha passagem rápida de desodorante.

—Você está apenas de passagem? — Eu perguntei enquanto abaixava a janela alguns centímetros. Eu sabia a resposta para essa pergunta. Se ela morasse por aqui, eu saberia. Summers era minha cidade natal e eu vivi aqui toda a minha vida. Depois de trinta e três anos, não havia muitas pessoas que eu não conhecesse. Mas tínhamos cavalgado três quilômetros em um silêncio desconfortável e eu estava desesperado para aliviar a tensão.

—Sim. Estou a caminho da Califórnia.

—De?

— Boston.

Eu assobiei. — Essa é uma longa viagem.

E perigoso para uma mulher sozinha. Não gostava de pensar no que poderia ter acontecido se ela tivesse conseguido um pneu furado em outro lugar que não fosse Summers, West Virgínia.

— Não tenho pressa. — Ela suspirou, brincando com a alça da bolsa.

Sentei-me um pouco mais reto, fingindo olhar para o carro pelo retrovisor, em vez de verificar meu rosto. Meu cabelo estava uma bagunça. Passei a mão duas vezes, domando o loiro escuro em cima.

Merda. Quando foi a última vez que me importei com meu cabelo?

— Onde você vai levar meu carro? — Ela perguntou.

— Para minha oficina. Vou dar uma olhada mais de perto amanhã, mas quando o carreguei, vi alguns danos no volante. O painel lateral também está bastante danificado.

— Droga, — Ela resmungou, deixando a cabeça cair na mão. — Não acredito que fiz isso.

— Acidentes acontecem. — Eles nunca eram esperados e nunca eram convenientes.

— Este não deveria, — ela murmurou. —Suponho que você não faça nenhum trabalho de carro personalizado? Eu tive a coisa toda restaurada e precisa consertá-la.

— Eu fiz alguns. — Mais do que alguns, mas eu não ia prometer que poderia consertar o Cadillac dela até ver melhor o dano. —Como eu disse, vamos ver com o que vamos lidar amanhã.

—Ok. — Ela se inclinou contra a porta, sua moldura caiu. Ela parecia estar a cinco minutos de dormir.

—Onde você está hospedada?

—Sally mencionou algo sobre um hotel.

—Eu vou deixá-la lá, em seguida, levar o seu carro para a oficina.

Ela cantarolou seu acordo quando chegamos à borda da cidade. Eu desacelerei quando a estrada virou na Rua principal, e depois desliguei para estacionar em frente ao Motel Summers.

Havia quinze quartos no total, todos situados em uma ferradura ao redor de um escritório no centro. Os hóspedes estacionavam principalmente na alça, mas o reboque era muito grande para o espaço, então eu parei-nos ao longo da calçada.

Como era de se esperar, a caminhonete de Sally, amassada e arranhada, estava estacionada ao lado do escritório. Lá dentro, ela estava rindo com sua irmã gêmea, Meggie. Os duas estavam comendo alguma coisa, provavelmente uma espécie de sobremesa. Sally estava sempre experimentando biscoitos e bolos. Aqueles duas se enchiam de açúcar por algumas horas e o perseguiam com um galão de café.

Não surpreende que Sally raramente fosse vista na cidade antes do meio dia. Meggie era dona do hotel e trabalhava no turno da noite desde que me lembrava. Ela disse que era para que seus funcionários pudessem ter o horário normal. Minha teoria era que ela e Sally nasceram noctívagas.

— Aqui estamos.

Londyn olhou, me dando uma pitada de sorriso. — Obrigada. Amanhã vou à oficina.

— Sem pressa. Vou levar algum tempo para descobrir com o que estamos lidando aqui. Posso ligar para você, se quiser. Dizer quando vir.

— Ok, não, espere, — ela resmungou. —Eu não tenho um telefone.

— Você não tem telefone?

—Não.

Meu queixo caiu. — Você está dirigindo pelo país sem um telefone? Senhora, eu sei que acabei de conhecê-la. Mas é ...

—Não é seguro. Estou ciente.

Eu abri minha boca, uma aula pronta, mas me contive. Por enquanto, ela estaria no hotel e eu poderia alcançá-la aqui. Além disso, ela não era da minha conta. Esta mulher era uma estranha. Estaria fora de Summers no minuto em que seu carro estivesse pronto. Então, por que a ideia de ela viajar sozinha me deixou com uma sensação tão inquieta no estômago?

— Vou ligar para o hotel pela manhã. A oficina fica a cerca de três quarteirões de distância. Se você quiser dar uma volta antes de eu ligar, venha.

—OK. — Ela assentiu, abrindo a porta para descer.

Soltei e pulei para fora da plataforma, contornando a frente para garantir que ela chegasse ao chão a partir do degrau alto. — Eu abro a porta.

— Obrigada. — Ela colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha enquanto eu me aproximava para bater à porta atrás dela. — Vejo você amanhã.

Eu a segui até a calçada. — Tenha uma boa noite.

Londyn acenou, mas parou no meio do caminho, apontando para o Cadillac. — Todas as minhas coisas estão no porta-malas.

— Não tem problema. — Fui até a mesa e me levantei. — Jogue-me suas chaves.

Ela as tirou da bolsa, mas em vez de jogá-las, ela levantou uma daquelas pernas longas e pulou ao meu lado. — Deixa comigo.

Nós nos arrastamos para trás, onde ela abriu o porta-malas. Estava embalado com duas malas e uma mochila. A impressão combinava com sua bolsa também. Minha mãe tinha a mesma bagagem, algo que meu pai a comprou para um presente de aniversário no ano passado.

Não foi uma impressão barata. Dado que o seu carro valia o dobro do meu, não fiquei surpreso que ela também tivesse malas de grife.

Ela foi pegar uma mala, mas eu a tirei de suas mãos. O leve toque de seus dedos contra os meus foi como uma flecha de fogo subindo pela minha mão. Londyn congelou, seus olhos se arregalando e as bochechas corando. Uma onda de calor percorreu meu sangue.

Quem era esta linda mulher?

Londyn quebrou o contato visual primeiro, baixando o olhar para o porta-malas. Eu levantei a mochila e a pendurei no ombro. Então peguei as duas malas, colocando-as na mesa enquanto ela trancava o porta-malas.

Pulei primeiro, estendendo a mão para ajudar Londyn. Ela pegou, esse segundo toque tão elétrico quanto o primeiro.

Droga. Estava com problemas se levasse mais de um dia ou dois para colocar o seu carro na estrada. Eu a soltei e peguei as malas.

— Eu posso pegá-las, — ela ofereceu.

— Sally e Meggie me esfolariam vivo se eu não carregasse suas malas. — Então elas ligariam para minha mãe e ela entregaria sua própria lambida.

Fui na frente do hotel, deixando de lado a bagagem para abrir a porta para ela. Sally estava fora do banco e correu para cumprimentar Londyn.

Sally engoliu um pedaço do que quer que estivesse mastigando. — Venha aqui, querida.

— Eu tenho seu quarto pronto, — disse Meggie. — Quarto cinco.

Sally piscou. — É o melhor.

— Você está em boas mãos. Vejo você amanhã. — Depositei as malas de Londyn e acenei adeus. — Boa noite, senhoras.

Um coro de boas noites me seguiu no escuro.

— Céus, aquele homem tem uma bunda que não desiste.

Eu ri, revirando os olhos com o comentário de Meggie. Ela era vinte e poucos anos mais velha que eu e assumiu como missão pessoal na vida, garantir que eu soubesse que ela apreciava meu corpo.

Dei uma última olhada no saguão quando entrei no caminhão. Os olhos de Londyn dispararam de onde ela estava olhando para minha bunda.

Eu sorri. Acho que estávamos quites agora.

 

— Bom dia, irmão... — Tony me olhou de cima a baixo. — Tem um funeral ou casamento que eu não ouvi falar?

— Não. — Dei de ombros. — Eu precisava cortar e barbear.

— Parece muito bom para um homem que ficou acordado metade da noite rebocando este carro. — Ele bateu um dedo no capô do Cadillac vermelho de Londyn. — Ela deve ser mais bonita do que Sally disse.

— Eu não sei do que você está falando.

— Uh-huh, — ele murmurou, seu peito tremendo com uma risada silenciosa.

Sally e Tony eram amantes por mais anos do que eu estava vivo. Eles não eram casados. Moravam em casas separadas. Mas quando ela finalmente se retirava para a cama, geralmente era na dele. Isso, ou ele já estava dormindo na dela. Eles não namoravam outras pessoas. Eles estavam alegremente solteiros por décadas, mas eram a coisa mais distante disso.

Sally provavelmente tinha acordado cedo com Tony esta manhã, ou ainda nem tinha ido para a cama, para lhe dar todos os detalhes sobre Londyn.

Ela era bonita. Muito bonita. Duvidava que qualquer coisa que Sally pudesse dizer faria justiça a Londyn. Mas eu não tinha parado na barbearia apenas para Londyn. Era verão e quente demais para esfregar a cabeça e esfregar o rosto.

— Só precisava fazer a barba, Tony.

— Tudo o que você disser, chefe.

Eu ignorei o seu sorriso e caminhei até o lado danificado do Cadillac, agachando-me no concreto para ver melhor.

— Ela fez algumas coisas neste painel. — Meus dedos roçaram os arranhões que levavam da porta do passageiro até a lanterna traseira. — O pneu dianteiro também estourou.

Tinha que ser mais do que um prego para estourar um desses pneus. Eles eram de tamanho personalizado e praticamente novos. Alguns podem tentar economizar dinheiro e consertar este, mas não seria um reparo sólido.

A segurança de Londyn havia subido muito rapidamente na minha lista de prioridades.

— Vou pedir um pneu novo logo. Consertar isso hoje.

— E o painel? — Tony perguntou, bebendo de uma caneca fumegante de café. Nunca entenderia como ele conseguia beber fervendo o dia todo, mesmo quando estava cem graus lá fora e a umidade estava fora dos gráficos.

— Vou falar com Mack na oficina. Se eu consertar este pneu hoje, talvez ele possa encaixá-lo em sua programação esta semana para consertar a pintura.

O que significava que Londyn estaria a caminho em três ou quatro dias e eu não sentiria necessidade de continuar indo à barbearia às sete da manhã para fazer a barba e cortar o cabelo.

— Olá? — Uma voz suave e sedosa encheu a loja e fez meu pulso disparar.

— Bom dia, senhorita. — Tony sorriu. — Como podemos ajudá-la?

Levantei-me, alcançando-a antes que ele pudesse apertar a mão de Londyn com a palma da mão gordurosa. Eu dei um tapinha no seu ombro. — Eu cuido disso, Tony.

Ele olhou para mim, depois para Londyn e de volta. Um sorriso lento se espalhou por suas bochechas, revelando as covinhas que Sally elogiava tantas vezes quanto Meggie fazia minha bunda. — Então acho que vou dar uma volta pela estrada para ver que tipo de guloseimas o Express Hut tem hoje e reabastecer meu café.

Tony curvou-se um pouco quando passou por Londyn, torcendo o pulso em uma onda.

Eu esperei até que ele estivesse fora do alcance da voz, então inclinei minha cabeça para Londyn. — Bom dia. Como foi o resto da sua noite?

— Tudo bem. Sem intercorrências. Apenas adormeci.

Fiz o possível para não pensar em Londyn em qualquer lugar perto de uma cama, mas era difícil, devido ao seu traje. Ela usava um short que se moldava à curva perfeita de seus quadris. O decote em V de sua camiseta mergulhava para revelar uma deliciosa linha de decote.

—Brooks?

Porra. Ela me pegou olhando para seus seios. Eu me virei para longe dela, passando a mão pelo meu novo corte de cabelo. — Então, uh... o carro.

— Eu estava ansiosa para ver isso à luz do dia, então não esperei sua ligação. Está muito ruim? — Ela entrou na oficina, seus chinelos batendo a cada passo. Se eu a ofendi, ela não deixou transparecer. Seu foco estava inteiramente no Cadillac.

— Não está horrível. — Eu fui para o lado destruído. — Vou consertar a roda hoje, mas acho que um remendo não vai durar até a Califórnia. Será melhor comprar um pneu novo.

—Ok. E o lado?

— O painel tem algumas pequenas marcas, mas nada que não possa ser retirado. A pintura terá que ser retocada.

—E você pode fazer tudo isso?

— Sou mais um cara de motores. Eu conserto muitos pneus para o pessoal da cidade. Trabalho corporal não é minha especialidade.

Eu faria uma bagunça com este tipo de trabalho de precisão, e poderia dizer que alguém havia despejado uma tonelada de dinheiro neste carro. Este Cadillac tinha todos os toques modernos no interior e o motor era o top de linha. Quando o descarreguei do caminhão de reboque na noite passada, não fui capaz de resistir a olhar sob o capô.

O motor era quase tão sexy quanto a mulher ao meu lado.

Quase.

— Não sei como era o carro da foto anterior, mas acho que foi uma reconstrução completa, certo?

—Sim. Eu o restaurei há alguns anos.

— Deve ter sido caro.

— Não foi barato, vamos apenas dizer isso.

Eu ri. —Eu imaginei.

— O que eu faço? Realmente gostaria de evitar ter que voltar para Boston para consertar as coisas. E não posso levá-lo para a Califórnia como está. Merda. — Antes que eu pudesse ajudar, ela começou a andar, passando as mãos pelo rabo de cavalo que pairava sobre um ombro. — Eu deveria ter ficado na interestadual.

— Por que você saiu?

Ela levantou um ombro. — Estava cansada de estar nessa estrada.

Tive a sensação de que ela não estava falando sobre o pavimento.

— A interestadual é superestimada. — Eu olhei para ela, estudando a cor dos seus olhos.

Eles eram um verde rico perto da sombra de um anel de jade escuro que minha irmã havia comprado em uma visita à Ásia no ano passado. Embora os olhos de Londyn fossem muito mais bonitos e únicos do que aquela pedra simples. Eu suspeitava muito sobre a sua história ser única.

— Eu tenho um bom amigo que é dono de uma oficina na cidade. Ele é bom. Pode consertar os amassados e refazer a pintura deste lado. Ele costuma reservar meses, mas me deve um favor porque eu reconstruí um motor para ele no ano passado. Vou ligar.

— Obrigada. — Ela soltou um longo suspiro. — Quanto mais?

— Três ou quatro dias. Isso vai ser um problema?

— Não, acho que não. — Ela virou-se para a porta aberta da oficina, olhando além do grande plátano que se erguia sobre o estacionamento. — Acho que terei algum tempo para explorar Summers.

— É uma cidade legal. Provavelmente existem lugares piores para ficar parada.

— Provavelmente. — Ela sorriu. — Andei pela manhã e, pelo que vi, parece bom.

— O restaurante tem a melhor torta da West Virgínia.

— É isso mesmo? — Ela levantou uma sobrancelha. — Acho que vou ter que experimentar.

— Os cheeseburgers também não são ruins.

— Bom saber. Então você vai me ligar?

Fiz que sim com a cabeça e enfiei a mão no bolso da calça jeans para pegar um pequeno telefone preto. — Aqui.

Ela olhou para ele. — O que é isso?

— Um telefone barato do Walmart.

Seus olhos se voltaram para os meus e, quando captaram a luz do teto, manchas de caramelo brilhavam no centro da explosão de estrelas. Linda, como tudo nessa mulher misteriosa.

— Aqui. — Eu segurei.

Ela não pegou. — Você me comprou um telefone?

— Eu comprei.

— Por quê?

Porque ontem à noite eu me revirei, pensando nela na beira da estrada, encalhada e sozinha. — Você é uma mulher solteira viajando sozinha. Deveria ter um telefone.

— Obrigada, mas não, obrigada.

Eu me aproximei. — Não quero virar no noticiário uma noite, para ver uma história sobre como aquela linda mulher cujo carro eu ajudei a consertar, foi massacrada por um maníaco em uma parada de descanso fora da Califórnia.

Suas bochechas coraram. —Linda?

— Você tem um espelho, Londyn. — Claro que ela entendeu a única palavra que eu não queria dizer. Mas estava lá agora e teria o deslize. Era a maldita verdade.

Ela corou, um sorriso brincando nos cantos de sua boca enquanto olhava para o telefone. —Você nem me conhece. Por que você se importa?

— Exatamente o tipo de homem que eu sou, então me dê um bom tempo e pegue o telefone. Meu número está nas mensagens.

Ela o pegou da minha palma, abrindo apenas para fechá-lo imediatamente. —Três dias?

— Talvez quatro. Então você estará no seu caminho.

E eu sempre me pergunto o que aconteceu com a mulher com os olhos verdes jade e cabelo da cor de um campo de trigo no outono. Ela chegou à Califórnia? Ela voltou para Boston?

Talvez em cinco anos, eu ligaria para aquele telefone só para ver onde Londyn havia pousado.

Talvez ela até atendesse.


Capítulo Quatro

Londyn


Summers, West Virgínia.

A pequena cidade me surpreendeu. Acordei esta manhã esperando me sentir inquieta e impaciente para ir embora. Minha jornada para a Califórnia estava na infância e estar presa deveria ter me deixado nervosa. Pelo contrário, estava realmente me divertindo.

Havia algo sobre este lugar. Algo diferente de qualquer outro lugar que visitei ou morei. Charme, talvez? Cotidiano? Eu não consegui dizer uma palavra, mas seja qual for a sensação, ela se enrolou em mim como um cobertor quente. Mais uma vez, talvez fosse apenas a umidade.

Enquanto eu caminhava por uma estrada tranquila, minha alma estava em paz. Não entrei em pânico ou preocupada com os consertos do meu carro. Confiava em Brooks para consertar o Cadillac, outra surpresa, considerando que eu tinha acabado de conhecer o homem.

Meus passos eram fáceis e lentos enquanto eu passeava, minha atenção nas árvores imponentes. Esta cidade tinha mais árvores do que em qualquer outro lugar que tinha visitado. Nenhum gramado que passei tinha menos de duas árvores protegendo a grama verde. Seu dossel criou um bolso no mundo, os galhos imponentes derramando glitter como a luz do sol quebrou através das folhas para iluminar o pólen flutuando para o chão.

Era fácil pensar que o resto do mundo não existia neste casulo. Eu tinha encontrado uma longa rua residencial em minhas explorações esta manhã. Era reta como uma flecha e as árvores arqueadas sobre os blocos. Era como entrar em um guarda-roupa e encontrar Nárnia, menos a rainha do gelo. Não havia pneu furado. Não havia ex-marido ou amante grávida. De todos os lugares do mundo para ficar presa, Summers estava agora no topo da minha lista.

— Bom dia. — Um homem em uma varanda levantou a mão.

— Bom Dia. — Eu sorri, repetindo as palavras com seu sotaque apalaciano.

Eu não tinha ouvido isso antes de vir para Summers, e mesmo aqui, muitos não tinham. As inflexões eram diferentes de um sotaque sulista. Aqueles que falavam com sotaque mal pareciam mover os lábios enquanto falavam.

O homem acenou com a cabeça de sua cadeira de balanço na varanda quando eu passei, seu jornal na mão. Ele parecia confortável ali, como se pudesse ficar sentado o dia todo. Ou talvez ele entrasse logo para o ar condicionado. Era o meio da manhã e o calor estava aumentando. Juntamente com a umidade, era como respirar o ar de uma sauna a vapor. Quando eu fosse para a cama hoje à noite, provavelmente estaria uma bagunça pegajosa.

Por que isso não me incomodava? Outra maravilha. Eu gostei do ar espesso. Minha pele estava macia e meus pulmões hidratados. Havia dias em Boston em que o verão era sufocante e abafado. Chegava em casa do trabalho e mergulhava no chuveiro para enxaguar a sujeira e o suor. Esse ar, embora pesado, tinha um cheiro doce e terroso como flores desabrochando e casca de árvore. O perfume da natureza, não contaminado pelos gases de escape e pela cidade.

Meus chinelos bateram na calçada de concreto enquanto passava por casas amarelas, casas brancas e casas verdes. Nenhuma casa no quarteirão era da mesma cor. Cada uma tinha seu próprio caráter e detalhes complexos para diferenciá-las de seus vizinhos. Um proprietário havia coberto o gramado com gnomos de jardim. Outro havia pintado a porta da frente de um azul-petróleo vivo.

Isso era o mais lento que eu andei em anos, absorvendo tudo.

Talvez um dia voltasse para ver se esta rua era a mesma. Eu visitaria este lugar no outono para ver as folhas, enquanto mudavam de verde para vermelho, laranja e amarelo. Talvez veria se Brooks Cohen era tão bonito naquela época quanto agora.

Mas eu não precisava revisitar Summers para satisfazer essa curiosidade. Brooks era o tipo de homem que ficava mais bonito com a idade. Supunha que ele tivesse trinta e poucos anos. Seu corpo era sólido e mesmo se suavizasse um pouco, ele sempre seria digno de babar. Com algumas mechas grisalhas em seu cabelo loiro, seria irresistível.

Sempre tive uma queda por homens mais velhos.

Um psiquiatra provavelmente atribuiria isso aos problemas com o pai. Acho que foi porque eu cresci rápido, rápido demais. Homens da minha idade sempre pareciam ficar para trás.

Brooks usava sua maturidade com confiança. Não tinha nenhuma pretensão. Ele era simplesmente... ele mesmo. Não parecia definido por sua ocupação ou suas roupas. Ele era magnético em uma camiseta branca simples e um par de jeans bem usado.

Aquela camiseta de algodão fina tinha ficado com Brooks quando ele me salvou na beira da estrada. Tinha moldado para seus braços resistentes e peito áspero como ele tinha se movido em torno do Cadillac. Os músculos nas suas costas eram tão bem definidos, que lutei para deslizar as pontas dos dedos pelos ombros dele só para sentir os amassados e contornos sob minha pele.

Um arrepio correu pela minha espinha.

Ele era uma fantasia.

Eu não me deixava entrar em fantasias muitas vezes. Esperança era algo que eu mantinha a uma distância firme. Decepção, por outro lado, era uma companhia íntima.

Com Brooks, deixei a fantasia acabar. Eu estava em Summers por um tempinho, não tempo suficiente para ele esmagar a ilusão nessas mãos fortes e firmes.

Deus, eu queria essas mãos em mim. Meu núcleo se fechou e meus mamilos endureceram dentro do meu sutiã. Ele era casado? Eu não tinha visto uma aliança, mas talvez não usasse uma. Ele tinha namorada?

Eu não me sentia bem cobiçando o homem de outra mulher, então, na minha fantasia, ele era solteiro, a menos e até que o desapontamento erguesse sua cabeça maligna e sufocasse essa fantasia também.

Brooks consumiu meus pensamentos a noite toda. A sua camiseta era a estrela dos meus sonhos, do jeito que ela se esticava quando era arrastada pelo corpo pegajoso. Eu dormi com um travesseiro entre as pernas apenas por algum atrito para acalmar a dor.

— Eu preciso de sexo, — murmurei para mim mesma.

Eu precisava de uma boa foda dura e uma noite longa e suada. Precisava de um orgasmo que não viesse dos meus próprios dedos ou do chuveiro. Precisava ter o peso de um homem em cima de mim quando ele me pressionasse em uma cama.

Quando foi a última vez que fiz sexo em uma cama?

Mais de um ano. Thomas e eu não tínhamos uma ótima vida sexual em casa. No escritório, éramos ótimos, mas não em casa. Deveria saber que algo estava acontecendo quando ele sempre quis transar comigo em sua mesa. Ele estava imaginando a secretária em meu lugar?

Isso importa?

A verdade era que Thomas e eu não estávamos apaixonados. Eu o respeitava. Eu o admirava. Eu o adorava. Mas amor? Eu não tinha certeza. Sabia como era estar apaixonada?

Pensei que sim, mas estava questionando tudo esses dias. Será que uma mulher que cresceu sem afeto ou cuidado realmente sabe o que é estar amando alguém?

Talvez eu tenha confundido atenção com amor.

Eu estava ansiosa por alguma atenção física. Uma ligação não deixaria de ser apreciada. Talvez Brooks Cohen me fizesse um favor antes de eu sair da cidade. Se não estivesse comprometido, ele seria o candidato perfeito para quebrar meu período de seca.

Em uma maldita cama.

Meu palpite era que Brooks era um amante atencioso. Um cavalheiro. Ele me chamou de senhora e tirou o chapéu invisível quando me deixou no hotel. Provavelmente estava lendo muito sobre isso, mas com certeza gostaria de estar com um homem que soubesse que o prazer de uma mulher vem primeiro.

A rua chegou ao fim antes que eu estivesse pronta para deixar minha Nárnia da West Virgínia e parei na placa de pare, tentada a caminhar novamente. Mas a temperatura estava subindo e eu queria um copo de água fria, então virei à direita e continuei.

Não sabia há quanto tempo estava andando. O telefone que Brooks me comprou estava enfiado no bolso do meu short jeans, mas por princípio, eu não tinha ligado.

Eu não precisava de um telefone. Eu não queria um telefone. Mas ele me cansou.

Apenas o tipo de homem que eu sou.

Eu não estava carregando este telefone para mim. Eu o tinha no bolso para Brooks.

Sua explicação simples, pode não significar muito para mulheres que cresceram com homens decentes em suas vidas. Mas para mim, um bom homem era tão esquivo quanto presentes na manhã de Natal.

Então eu peguei o telefone e o mantive por perto.

Brooks Cohen. Droga, eu gostava dele. Gostei do pacote inteiro, da cabeça aos pés. Até o seu nome único me deu um arrepio.

A única coisa que meus pais fizeram certo foi me dar um nome legal. Minha mãe me chamou de Londyn em homenagem à cidade na Inglaterra porque ela sempre quis visitar lá. A mulher não sabia escrever nada.

Infelizmente, quando fugi aos dezesseis anos, peguei seus hábitos de ortografia. Mamãe não escrevia muito, ela não precisava, pois era uma viciada por toda a vida, mas quando eu tinha oito anos, assumi a responsabilidade de ir ao supermercado perto do quarteirão.

Querendo escapar, ia quase todos os dias, e porque meus braços esqueléticos não podiam carregar mais do que três sacolas para casa. Mamãe me mandava uma nota adesiva esfarrapada coberta por sua escrita bagunçada com palavras soletradas totalmente erradas.

Melk. Bred. Sereel.1

Os poucos professores que tive nos meus primeiros anos tentaram corrigir a ortografia. Alguns tiveram sucesso. Outros não se importaram. Mas eu tinha sobrevivido. Quem precisava escrever quando você trabalhava em bares e entendia suas próprias anotações?

Não via isso como uma falha até me casar com Thomas.

Nunca esqueceria o olhar em seu rosto quando ele viu minhas anotações de estudo do Ensino Médio. Foi um dos momentos mais humilhantes da minha vida. Ele olhou para mim como se eu fosse uma criança quebrada, não uma adulta, uma mulher crescida e sua esposa.

A partir de então, tomava o cuidado de verificar cada palavra antes de anotá-la. Passei horas com um dicionário na mão. Ainda carregava uma versão de bolso na minha bolsa. Matemática, Ciências e História do Mundo nunca foram meu forte, mas caramba, eu poderia escrever. E meu vocabulário não trairia minha educação.

Depois de mais dois quarteirões, mudei de direção para o hotel, quente e pronta para um café gelado. Meggie montou uma pequena área de café no escritório do hotel e, naquela manhã, todas as cadeiras estavam cheias de hóspedes. A fofoca voava de uma ponta a outra da área de recepção. Algumas saltavam para o balcão, onde o balconista preparava o café e ficava de olho na barraca de bolo coberta.

Café preto gratuito estava disponível para qualquer pessoa que entrasse pela porta. Os expressos chiques e as guloseimas sob a cúpula de vidro eram apenas para clientes pagantes. O bolinho que eu inalei esta manhã rivalizava com qualquer outro que eu encontrei na minha confeitaria favorita em Boston.

No próximo cruzamento, parei e olhei para os dois lados, me orientando. Então virei à esquerda, esperando subir na parte de trás da Main Street. Quando o som de uma pistola de ar encheu o ambiente, fiquei tensa.

Era um som frequentemente ouvido em uma oficina, um chiado e um sopro de ar com um compressor agitando. Sempre que meu mecânico em Boston telefonava para falar sobre o Cadillac, esse som era uma constante ao fundo.

De alguma forma, me virei e acabei atrás da oficina de Brooks.

Eu diminuí os passos, pensando em uma retirada. Não queria que ele pensasse que eu estava espreitando. Embora quisesse ver meu carro e descobrir o que estava acontecendo. Isso não era estranho, era? Eu estava na área. Uma breve parada não estava espreitando, mesmo se tivesse ido ontem.

Além disso, veria o próprio mecânico. Não ficaria em Summers por muito tempo. Poderia muito bem adicionar forragem para minhas fantasias futuras enquanto tinha chance. Talvez hoje, Brooks estaria com uma camiseta de cor diferente.

Decisão tomada, caminhei até a grande porta aberta e espreitei minha cabeça para dentro. Esta não era uma oficina grande. Havia apenas duas baias e um pequeno escritório no canto dos fundos. O caminhão de reboque estava estacionado ao lado do prédio em um lote de cascalho.

— Hum... — Eu levantei minha mão para bater, exceto que não havia lugar para bater, então eu desajeitadamente a escondi. —Olá?

Meu carro estava no mesmo lugar que estava ontem. O pneu não estava mais furado. Ao lado, na baía seguinte, havia uma minivan erguida no ar em um guincho. Ferramentas estavam espalhadas em bancadas. O cheiro de graxa pairava no ar.

Nenhuma alma era visível.

O que provavelmente era melhor. Agora que estava no meio da porta, isso parecia mais uma perseguidora do que uma cliente preocupada. Eu me virei, esperando fazer uma fuga rápida, mas uma voz profunda e sexy parou minha retirada.

— Londyn.

Eu congelei. Merda.

— Uh, oi. — Acenei, virando-me quando Brooks saiu do escritório. — Estava apenas andando pela cidade. Passei e pensei em vir checar meu carro.

Isso não parecia perseguição, mas parecia muito que eu não confiava nele para fazer seu trabalho.

— Tudo bem com o carro. — Ele sorriu. — Continua vivo.

Eu corei. Minha mão estava no ar, então eu a puxei para baixo, guardando-a. Então ficamos lá, ele olhando para mim enquanto eu olhava ao redor da sala. Por que isso era estranho?

Oh, certo, porque ele era lindo e de alguma forma tinha esquecido como falar com homens lindos. Ou porque eu não conseguia parar de pensar em tirar aquela sua camiseta. Hoje, Brooks havia trocado sua camiseta branca por uma preta com um brasão redondo impresso no centro.

Oficina de Cohen. O logotipo era feito de uma engrenagem. Era vintage da maneira que antes tinha sido um design moderno, ou seja, vintage na verdade. As mangas curtas apertadas em torno de seus bíceps, mostrando a definição entre ombro e tríceps. O algodão se esticava em seus peitorais. Eu nunca havia admirado uma camiseta com tanta força na minha vida. O que realmente queria era vê-lo jogado no chão do meu quarto de hotel.

Outra onda de desejo se acumulou na minha parte inferior da barriga e o rubor nas minhas bochechas ardeu ainda mais. Eu estava babando. E olhando.

Você está olhando.

— Estou indo. — Eu me virei e saí da oficina. O calor do desejo mudou para a chama abrasadora da humilhação. Jesus. Estava uma bagunça. Seu olhar queimou nas minhas costas enquanto eu corria. Não havia dúvida de que ele pensava que era uma lunática.

— Você pegou aquele telefone? — Brooks gritou atrás de mim.

Puxei-o do bolso, segurando-o alto no ar.

Sua risada me seguiu para fora do estacionamento.

 

Após a desastrosa parada na oficina, me escondi no meu quarto de hotel pelo resto do dia.

Liguei a TV, fazendo o meu melhor para me perder em outro filme, mas, ao contrário do hotel da Pensilvânia onde eu tinha conseguido ouro na reprise do filme, nada chamou minha atenção.

Não confiando em mim mesma para vagar inadvertidamente de volta para a oficina de Cohen, fiquei dentro dos limites do meu quarto até que meu estômago roncou e fui em busca de comida. Minha primeira parada foi no escritório, esperando encontrar um ou dois restaurantes dispostos a fazer entregas.

— Oi, Londyn. — Meggie sorriu enquanto eu entrava pela porta, o sino tocando na minha cabeça.

— Oi, Meggie. Você tem algum lugar na cidade que entregaria o jantar? Eu caminhei por toda parte esta manhã e estou exausta.

Os quilômetros de hoje com sapatos ruins foram um treino mais difícil do que eu esperava. Talvez porque eu estivesse tão fora de forma. Em Boston, eu era religiosa sobre a academia até encontrar Thomas com a secretária. Eu não precisava de glúteos de aço ou estômago plano quando a única pessoa que me via nua era eu.

Isso, e eu realmente gostava da entrega em casa. Nunca me preocupei em aprender a cozinhar.

— Claro que sim. — Meggie abriu uma gaveta e pegou uma pilha de menus.

Eu levantei minhas sobrancelhas quando ela as abanou no balcão. — Mais opções do que eu esperava em Summers.

— Se eu pudesse fazer uma recomendação, o que você acha da comida tailandesa? O lugar aqui faz o melhor curry que você já comeu na vida.

— Eu poderia comer curry.

— Eu esperava que você dissesse isso. — Ela sorriu, pegando o telefone. — Se o motorista de entrega deles estiver chegando, é melhor eu mesma fazer um pedido.

Meggie ligou para o telefone, nem se apresentando antes de fazer o pedido. Acho que quem ela ligou sabia que era ela ou tinha visto o número do hotel chegar. Dei-lhe dinheiro pela minha parte do pedido e ela cuidou do resto.

Enquanto ela falava, eu andava pela área da recepção. Todas as cadeiras estavam vazias agora, os habitantes locais que vieram tomar café foram para casa enquanto eu estava escondida.

O alongamento nas pernas foi bem-vindo depois de ficar deitada a tarde toda. Eu provavelmente poderia ter explorado e encontrado um local para jantar, mas embora presumisse que Summers era um lugar seguro, não saía a pé à noite.

Hábitos e tudo.

Depois de fugir de casa, passei algumas noites escuras vagando sozinha. Eu nunca senti um medo tão paralisante quanto naquela época. Nada tinha acontecido comigo, felizmente, mas o medo era paralisante o suficiente.

Quase me levou para casa. O fato de que não tinha, bem... ele falou de como as coisas realmente tinham sido ruins com meus pais. Uma vez que eu encontrei o ferro-velho, tinha feito questão de estar sempre dentro antes de escurecer. Se trabalhasse até tarde, Karson me escoltaria para casa.

Com o Cadillac.

—Deve estar aqui em trinta minutos, — disse Meggie, o telefone clicando no receptor.

—Obrigada. Você deve estar morrendo de fome. — Ela pediu dois pratos de curry para ela e um para mim. Ou talvez suas porções de serviço fossem pequenas.

—O segundo é para o meu vizinho. — Ela empurrou o polegar para a parede. —Eu gosto de mantê-lo alimentado.

—Ah. — Eu acenei com a cabeça, depois sentei em uma das cadeiras.

—Então você fez algumas explorações hoje?

—Eu fiz. Esta é uma cidade linda. — Eu relaxei mais fundo na cadeira —Você mora aqui há muito tempo?

— Faz trinta e cinco anos. Eu e Sally nos mudamos para cá juntas aos vinte anos.

Meggie aceitou minha pergunta e seguiu em frente, contando história após história sobre a vida em Summers. Mal falei uma palavra, feliz por ouvir suas histórias com um sorriso no rosto.

Eu odiava conversa fiada, principalmente porque parecia forçada. Quando trabalhava para Thomas, tinha sido. Mas isso parecia diferente, como as coisas estavam esta manhã em minha caminhada. Talvez fosse a maneira como suas mãos voavam no ar enquanto falava. Talvez porque ela não esperava que eu dissesse uma palavra. Mas essa conversa fiada parecia mais amizade.

Ela estava no meio de uma história sobre como ela e Sally afundaram um barco no meio de um lago próximo quando seus olhos se iluminaram e a porta se abriu.

Um adolescente entrou com dois sacos de plástico nas mãos. — Oi, senhorita Meggie.

— Sim. Sim. Coloque-os no chão e me dê um aperto. — Meggie estava fora de seu banquinho, contornando o balcão. Ela puxou o menino para um abraço e o olhou de cima a baixo. —Wyatt, você cresceu um centímetro em uma semana.

O menino encolheu os ombros. —Tenho estado com fome ultimamente.

Ele era alto, pelo menos quinze centímetros acima da cabeça de Meggie. Ela tinha mais ou menos a minha altura, um metro e setenta, então eu supunha que essa criança tinha quase um metro e oitenta e ainda estava crescendo. Ele era alto e magro, mas provavelmente preencheria aquele quadro amplo.

De certa forma, ele me lembrou Karson naquela idade. Ele cresceu rápido e por muito tempo também, tanto que o Cadillac ficou pequeno demais para ele dormir dentro. Ele trocava o banco de trás pelo ar livre durante os meses mais quentes. Nas poucas noites frias do inverno da Califórnia, ele se espremia ao meu lado, reclamando que suas pernas não cabiam.

Eu sorri, pensando em como eu me enroscava ao seu lado e adormecia rindo.

— Como está indo o treino de futebol? — Meggie perguntou.

Wyatt deu de ombros novamente. — Quente.

— Só vai ficar mais quente. — Ela beliscou sua bochecha, — ele deixou sem um estremecimento ou confusão, então ela mergulhou nas bolsas que ele trouxe. — Diga oi para a senhorita Londyn.

O garoto se virou e me deu um aceno de cabeça. — Senhora.

Oof. Esses virginianos ocidentais e suas ‘senhoras’.

Eu me levantei da cadeira e peguei uma nota de cinco dólares do bolso. Eu não carregava minha bolsa Louis Vuitton em lugar nenhum no verão porque era esnobe. Eu já estava planejando doá-la em algum lugar. Além disso, o que diabos eu tinha para carregar? Tudo o que eu precisava era de dinheiro e a chave do hotel no pequeno chaveiro de plástico que dizia Quarto 5.

— Obrigada pela entrega. — Eu ofereci o dinheiro para Wyatt.

Os seus olhos se arregalaram. — Oh, tudo bem.

— Eu dei uma gorjeta a ele, — disse Meggie.

— Considere isso um bônus. — Coloquei o dinheiro na mão dele.

Eu sobrevivi uma vez com gorjetas. Meu salário por hora era uma merda na pizzaria onde trabalhava quando criança. Minhas gorjetas significavam que compraria um novo par de sapatos uma vez por ano e podia pagar as necessidades como pasta de dente e absorventes internos.

Como pude pagar, minhas gorjetas se tornaram excessivamente generosas.

Este menino não parecia estar sofrendo por dinheiro. Seus Nikes eram novos e seus jeans não eram da Goodwill, eu podia reconhecer roupas de segunda mão a um quilômetro de distância. Wyatt provavelmente não precisava dos cinco extras como eu precisava na sua idade, mas parecia o tipo que gostaria disso.

Ele olhou para a nota em sua mão, então cuidadosamente a enfiou no bolso. —Obrigado.

—De nada.

Wyatt se virou e caminhou até a porta, dando a Meggie e eu outro aceno e um sorriso tímido quando ele saiu.

— Esse garoto. — Ela balançou a cabeça.

Esse garoto, o que? Esperei que ela explicasse, mas ela só tirou recipientes brancos de isopor dos sacos de plástico.

— Agora eu sei que você pode querer desaparecer nesse seu quarto. — Ela clicou a língua. — Mas se eu pudesse fazer uma sugestão?

— Certo. — Peguei minha refeição e um garfo de plástico.

— Há um bom lugar para se sentar atrás do hotel. É uma pedra, então se você não gosta da natureza, esqueça. Mas tem vista para o lago e você terá uma bela vista do pôr do sol.

— Eu sou boa com a natureza. Obrigada.

— Sem problemas. Tecnicamente, é a pedra do meu vizinho. Mas já que comprei seu jantar, duvido que ele se importe se você o emprestar por uma noite. Agora vá antes que o curry esfrie.

— Mais uma vez obrigada, Meggie.

Ela piscou, depois me seguiu pela porta. Quando dobramos a esquina do prédio, ela apontou para a pedra, passando por um aglomerado de árvores. — Vejo você amanhã.

Acenei um adeus enquanto ela caminhava pelo gramado até a casa de seu vizinho. Era uma casa branca de dois andares, não nova, mas bem conservada. Não era chique, mas era boa. Muito boa. Especialmente com a ampla varanda que se estendia ao longo de sua frente com delicados fusos ao longo da grade. Meggie não se incomodou em bater enquanto caminhava até a porta da frente e entrou.

Que figura. Eu ri, voltando minha atenção para o lago.

A pedra foi fácil de localizar quando cheguei mais perto, e Meggie não mentiu. Era enorme e quase tão longa quanto uma mesa de piquenique.

Ele estava a cerca de trinta centímetros do chão e eu me aproximei, estabelecendo-me na superfície plana com minha refeição no colo. Não era estranho comer comida pousada nas minhas pernas. O tempero de curry e arroz de jasmim fresco encheu meu nariz quando abri o recipiente.

—Meu Deus, — eu gemi com a primeira mordida. Meggie não mentiu. Este era um bom curry.

Eu amontoei outra mordida no meu garfo, trouxe-o para a minha boca, em seguida, comecei a arremessar a comida para o ar, quando uma voz veio de trás de mim.

—Vejo que Meggie, deu minha mesa de jantar favorita.

Um grão de arroz alojado na minha traqueia. Tossi, engasguei e meus olhos lacrimejaram, enquanto Brooks corria.

—Merda. — Ele me deu um tapa nas costas, depois esfregou-se para cima e para baixo na minha coluna.

Tossi de novo, conseguindo desalojar o arroz e engolir. Meus olhos estavam embaçados e meu coração estava acelerado quando finalmente consegui respirar fundo.

—Desculpe. Pensei que você tivesse me ouvido subir.

—Não. —Eu coloquei a mão no meu peito, respirando mais ar. — Tudo bem.

Sua mão parou na minha coluna. —Bem?

—Estou bem. — Conveniente que Meggie não mencionou que Brooks era seu vizinho.

Fechei a tampa do meu jantar, deixando-o de lado para ficar de pé, mas Brooks acenou para que eu me abaixasse. —Fique.

—Ah não. Eu posso comer no meu quarto.

— Esta pedra é grande. Você se importa se compartilharmos? — Ele perguntou.

—Oh não.

— Ótimo. —Ele sorriu, criando uma vibração no meu peito. Quem sorria assim? Apenas um canto de sua boca se curvava, e uau, mas era sexy.

Brooks se acomodou na pedra a cerca de trinta centímetros de distância, esticando suas longas pernas em direção à água. Então eu vi porque não o tinha ouvido se aproximar. Ele estava descalço.

Tão sexy quanto aquele sorriso.

Ele abriu o recipiente do jantar, fechando os olhos enquanto aspirava o cheiro. Quando ele abriu os olhos, olhou para a água ondulada. — Essa com certeza é uma bela visão.

Seus olhos azuis captaram a luz do sol se esvaindo.

Sim, com certeza é.


Capítulo Cinco

Brooks

 

Meggie não sabia como não se intrometer.

Eu deveria saber que ela estava tramando algo, quando invadiu minha casa, empurrou um recipiente para viagem em minhas mãos e começou a guardar todos os ingredientes para um sanduíche de presunto que eu tinha acabado de tirar da geladeira.

Meggie praticamente me perseguiu pela porta dos fundos, me dizendo para tirar uma noite de folga.

Eu não discuti porque estava exausto e sabia pela embalagem que era meu curry favorito. Eu planejava voltar para a oficina e colocar a papelada em dia no escritório, mas uma refeição deliciosa e uma noite à beira do lago pareciam muito mais apetitosas.

Jogue Londyn McCormack na mistura e eu não pude deixar de sorrir.

Ela estava nervosa na oficina antes. Eu nunca tinha visto ninguém andar tão rápido com chinelos. Claramente, ela parou para verificar o progresso. Deixa comigo. Havia muitos mecânicos neste mundo que demoravam o dobro do tempo prometido e cobravam o dobro. Muitos podem ver uma mulher bonita e pensar que podem tirar vantagem.

Não era assim que eu operava, mas não a culpava por ser cautelosa.

— Levei seu carro para a oficina hoje, — eu disse. — Eu prometo que estou me apressando. Eu sei que você quer pegar a estrada.

— Oh, eu, uh... desculpe. — Ela fez uma carranca exagerada. — Não é por isso que vim. Eu não pretendia espreitar, realmente. Estava de passagem, percebi que estava espiando e me senti mal por interromper você.

—Sem interrupção. — Ela poderia me interromper a qualquer hora, em qualquer dia da semana. O seu rosto entrando na minha porta foi a melhor parte do meu dia. Até agora.

Era uma noite linda. A brisa aumentou, suavizando o calor e adicionando frescor enquanto o ar soprava através da água.

— Então, Londyn... — cortei um pedaço de frango, — conte-me sobre você.

— Você primeiro.

— Mas eu fiz a pergunta. — Eu ri. — Que tal agora? Qualquer que seja a pergunta, nós dois temos que responder. Você pode perguntar primeiro.

— Eu gosto disso. Tudo bem. — Ela assentiu com a cabeça e voltou seu olhar para a água.

Eu esperava algo fácil. De onde eu sou. Há quanto tempo eu trabalhava na oficina. Fazer uma pergunta pessoal não parecia tão difícil, mas conforme os segundos passavam para minutos e ela permanecia quieta, percebi por que isso era difícil.

Merda. O motivo pelo qual ela não estava perguntando não era por causa da minha resposta.

Era por causa do que ela teria que responder.

— Escute, não precisamos fazer isso. Eu não quero bisbilhotar. Eu cuidarei da minha própria vida.

— Não é isso. — Ela corou. — Eu estava tentando pensar em uma pergunta interessante, mas para a minha vida, tudo que consigo pensar são as chatas. A pressão me atingiu.

Eu ri. — Então eu vou primeiro. De onde você é?

— Califórnia é a resposta curta.

— E a longa?

Londyn acabara de dar uma mordida. Ela levantou a mão enquanto mastigava e meu olhar permaneceu fixo em seu perfil. Fazia muito tempo que eu não analisava o perfil de uma mulher, e nenhuma surpresa, Londyn era linda de qualquer ângulo.

O seu nariz empinava no final, apenas um pouco. Era estranho pensar que alguém tinha uma testa bonita? A sua tinha uma curva elegante, não muito grande nem plana. Desde que eu a vi mais cedo na oficina, ela amarrou seus longos cabelos loiros. Ele estava afofado na coroa, enrolado no rabo de cavalo que pendia do centro dos seus ombros.

Ela era provavelmente dezoito ou vinte centímetros mais baixa que meu um metro e noventa. Ela era magra, mas havia força em seu corpo também, especialmente aquelas pernas tonificadas. Caramba, ela tinha pernas que não desistiam. Despois de seus olhos, eram a minha característica favorita.

Ela engoliu em seco, usando o guardanapo para limpar os lábios macios e flexíveis. — Você já ouviu falar de Temecula?

— Não.

— São cerca de noventa minutos a sudeste de LA. Bom clima, o que é uma coisa boa, considerando onde eu morava. Quando tinha dezesseis anos, fugi de casa.

Meu queixo caiu. — Dezesseis?

— Dezesseis, — ela repetiu.

— Posso perguntar por que?

— Meus pais estavam mais interessados em drogas do que na filha. — Ela suspirou. — Não pensava em nada quando era pequena. Isso não é louco? Eu era apenas uma criança e achava que os pais de todos estavam drogados vinte e quatro horas por dia.

Isso não era loucura, mas era triste. Uma fugitiva? Ela não parecia forte o suficiente para ter vivido nas ruas. Ela parecia muito refinada e delicada.

— Aprendi logo que não era normal. Eu aprendi a me cuidar. E quando as coisas ficaram muito ruins, decidi que não valia a pena ficar.

Aos dezesseis anos. Era insondável. — Onde você foi?

— Eu fiquei em Temecula, na verdade. Eu realmente não tinha um plano quando saí de casa. Eu era louca e adolescente e apenas... fui embora. O pensamento racional não entrou na mistura naquele momento.

Sim. Porque ela tinha dezesseis anos. — Eu posso entender isso.

— Então eu saí com uma mochila cheia de roupas e algum dinheiro que eu vinha roubando dos meus pais. Eu estava indo a pé para Los Angeles.

— O que a fez ficar?

— Eu conheci uma amiga. Ela é minha melhor amiga até hoje e estava morando com outras duas crianças em um ferro-velho fora da cidade na época.

— Um ferro-velho?

Londyn assentiu. — Sim. Aquele ferro-velho se tornou minha casa por dois anos. Finalmente, seis de nós moramos lá. Aquele Cadillac? Era onde eu morava. Eu dormia no banco de trás.

Tudo o que eu pude fazer foi piscar com a boca aberta.

Não é à toa que ela pairava sobre o carro.

— Seus pais nunca...

— Não, eles nunca me encontraram. Não sei se eles procuraram. Pelo que eu sei, eles não relataram meu desaparecimento ou contataram a polícia. Eles simplesmente me deixaram ir.

Minha mandíbula se fechou e uma raiva de temperamento correu pelo meu sangue. Pedaços de merda.

— Não fique com raiva de mim lá, — brincou Londyn, batendo em meu cotovelo com o dela. — Não éramos totalmente sem supervisão de um adulto. Havia um homem que cuidava do ferro-velho e cuidava de nós. Era sua propriedade, e Lou nos deixou morar lá. Ele nos deixava usar o banheiro e tomar banho em sua loja. Se ficávamos doentes, ele nos arranjava remédios.

Eu pisquei para ela. —Ele não denunciou?

— Ele sabia que, se a polícia viesse, estaríamos mortos. E estávamos todos melhor em um ferro-velho do que voltar para os infernos de onde viemos. Ele não nos expulsou e isso foi mais do que qualquer adulto em minha vida tinha feito por mim antes.

— Orfanato?

Ela bufou. —Eu não iria para um orfanato e ninguém me obrigaria.

— Então você morou em um carro por dois anos.

— Eu morei. — Um pequeno sorriso brincou em seus lábios.

Ela falou daquele lugar como se tivesse vivido uma infância normal, feliz e abençoada em um ferro-velho. Aos dezesseis anos. Não era mágico, mas você pensaria que era, olhando para o seu rosto.

Eu balancei minha cabeça. — Eu nem sei o que dizer.

— Eu sei que parece loucura. Mas você tem que entender, pela primeira vez na minha vida, eu tinha pessoas que se importavam comigo. Nós seis, filhos e Lou, éramos uma família. Nós cuidávamos um do outro. Garantíamos que todos tivéssemos comida para comer e roupas para vestir.

— O que você fez por dinheiro? E quanto a escola?

— A escola foi esquecida. Mas todos nós trabalhávamos. Colocávamos o ferro-velho como nosso endereço. Usávamos o nome um do outro como o nome de nossos pais. Garçonete em uma pizzaria.

Garçonete era um trabalho típico para uma adolescente. O que seus chefes pensavam? Seus clientes sabiam que ela deixava o trabalho para voltar para casa, para um carro? — Não consigo minha vida, nesta vida que levou.

Ela riu, o som musical flutuando sobre a água. — Pense nisso como acampar. Éramos um grupo de crianças que acampavam todas as noites da semana.

— O que você comia?

— Coisas fáceis. Manteiga de amendoim e sanduíches de geleia. Comida rápida, se tivéssemos dinheiro. Bananas. Feijão verde enlatado. Trouxe muita pizza para nós compartilharmos.

— Hmm. — Minha mente girou. Como seria isso? Aos dezesseis anos, eu estava preocupado com garotas e minha caminhonete. Eu teria sobrevivido a uma vida fugitiva nessa idade? Definitivamente não.

Londyn era uma mulher durona. Mais difícil do que eu jamais teria imaginado. Ela não tinha unhas feitas, mas cuidava da aparência. O seu cabelo estava penteado. Ela usava maquiagem e, embora suas roupas fossem casuais, não eram baratas.

E ela passou dois anos na adolescência vivendo em um carro.

— É a sua vez de responder à pergunta.

Eu zombei. — Inferno, eu não posso competir com isso.

Ela riu de novo, cobrindo os lábios com a mão para esconder a comida que acabara de colocar na boca.

Sorri e dei uma mordida, depois coloquei o garfo de lado. — Eu cresci aqui em Summers. Nascido e criado. Meus pais moram aqui. Meus avós de ambos os lados também.

— Você é sortudo.

— Sim, senhora.

Quando criança, eu sabia que era bom. Mas todas as crianças tomavam as coisas como garantidas. Eu não tinha apreciado as necessidades da minha vida como cobertores limpos, comida saudável e roupas bonitas. Comparado à sua vida, eu vivi como um rei.

Mas não era disso que ela estava falando, era? Ela não sentia que tinha perdido as coisas materiais. Ela sabia que eu tinha sorte, porque tinha uma família incrível.

Isso me fez sentir culpado por toda a merda que os fiz passar.

O bom era que saíamos juntos. Meu pai era meu melhor amigo e minha mãe era uma santa viva.

— O que aconteceu depois da Califórnia? — Eu perguntei. — Como você chegou da Califórnia a Boston? Suponho que o Cadillac não estivesse em condições de dirigir, se estava em um ferro-velho.

— Não. — Ela riu. — Foi um acidente. Veio mais tarde, depois que todos nós seguimos em direções diferentes. Minhas duas amigas, Gemma e Katherine, e eu pegamos um ônibus para Montana.

— Por que Montana?

Ela encolheu os ombros. — Por que não? Queríamos ver como era.

— E? — Eu sempre quis visitar Montana e acampar no Big Sky Country. Tínhamos os Apalaches, e eles eram um mundo próprio. Uma ou duas vezes por ano, eu organizava um acampamento para fugir e explorar. Mas Montana era uma viagem de lista de desejos. — Como foi?

— Lindo. Cru.

Eu estava com ciúmes da maravilha em sua voz. — Quanto tempo você ficou lá?

— Cerca de quatro meses. Gemma e Katherine ficaram mais tempo. Até onde eu sei, Katherine ainda está lá, mas perdemos o contato.

— E Gemma?

— Ela me encontrou em Boston.

— Ah. Você foi direto de Montana para Boston? — Eu perguntei.

— Mais ou menos. Fiz algumas paradas ao longo do caminho, mas nada durou mais do que um ou dois meses. Quando cheguei a Boston, não planejava ficar, mas conheci alguém. Nós nos casamos e eu fiquei. Então nos divorciamos e eu fui embora.

Londyn parecia tão entusiasmada com o casamento anterior quanto eu com o meu.

— E agora você está na estrada.

Ela assentiu. — Sim.

Voltei para a minha refeição, comendo silenciosamente enquanto ela fazia o mesmo, até que outra pergunta me veio à mente. — Como você conseguiu o carro da Califórnia?

— Liguei para o dono do ferro-velho e comprei. Ele não se lembrava de mim no começo, mas eu disse a ele quem eu era e por que queria o carro. Ele queria me dar, mas eu insisti em pagar. Então eu o levei para Boston e o restaurei.

Eu assobiei, visualizando o preço. Tinha que ser pelo menos cem mil. Para uma mulher sem muita educação que viveu sua vida na estrada, como ela conseguiu esse tipo de dinheiro? O seu marido, talvez?

Ela jogou o garfo no recipiente quase vazio e fechou a tampa. — Isso foi incrível.

— Nada mal para uma pequena cidade na West Virgínia.

— Estou bastante impressionada com esta cidade pequena.

Meu peito inchou de orgulho de minha casa.

Londyn e eu ficamos olhando para a água enquanto o sol se punha abaixo do horizonte. A noite não estava muito longe, mas eu não tinha pressa para sair. Londyn também não parecia, então ficamos sentados em um silêncio confortável, ouvindo a água bater na costa e o vento farfalhar as árvores.

Quando foi a última vez que eu simplesmente sentei ao lado de uma mulher? A última vez que estive sozinho com uma mulher que não era parente ou que não estava na oficina para trocar o óleo foi há mais de um ano. Um encontro às cegas do inferno. A mulher tinha falado toda a refeição sobre dinheiro. Especificamente, meu dinheiro. Ela queria saber quanto eu ganhava na garagem, quanto eu herdaria dos meus pais e quanto valia meu caminhão e minha casa.

Eu tinha perdido o seu número antes da garçonete entregar nossa refeição.

Sentar com Londyn era diferente. Não havia expectativas de conversa. Fiz perguntas não para preencher o silêncio, mas porque eu genuinamente queria ouvir a sua resposta. Talvez tenha sido fácil porque não era um encontro.

Londyn iria deixar Summers em seu retrovisor, assim que seu carro fosse consertado.

O lago refletia o amarelo, laranja e azul-escuro do crepúsculo enquanto grilos de árvores chiavam e insetos relâmpago suscitavam.

—Você tem mais do que sua parte justa das perguntas desta noite, — eu disse. —Desculpe.

—Tudo bem. — Ela inclinou a cabeça para trás para examinar as estrelas acima.

Eu fiz o mesmo, descansando nos cotovelos. A luz de um avião piscou quando passou voando.

— Você já fez um desejo para uma estrela? —Ela perguntou.

—Não desde que eu era criança.

— Eu costumava fazer pedidos para eles todas as noites. A capota do conversível não subia nem abaixava, mas o porta-malas era tão largo que eu deitava nele todas as noites e fazia um pedido.

— Algum se tornou realidade?

—Alguns. — Ela caiu de costas na pedra, deitada. Seu cabelo espalhado sobre a superfície lisa e marrom. — Eu tenho uma formação. Isso foi um desejo. Eu não queria mais ser a pessoa mais estúpida da sala.

—Duvido muito que tenha sido esse o caso. — Eu caí de costas, entrelaçando minhas mãos atrás da cabeça.

— Quando eu tinha dezesseis anos e trabalhava ao lado de todos esses outros adolescentes, que liam Great Expectations e Shakespeare, com certeza me sentia uma estúpida. Mas trabalhei muito em Boston e consegui meu diploma.

—Você foi a faculdade?

Ela balançou a cabeça. — Não.

— Nem eu. — Eu tinha planejado fazer faculdade e seguir os passos de meu pai, mas então minha vida seguiu um caminho diferente. O bom era que eu tinha algumas habilidades para recorrer. — Meu avô começou a Cohen's Garage. Ele me passou quando estava pronto para se aposentar.

— Não é do seu pai?

— Não, papai é médico.

— Você é um médico de automóveis.

— Exatamente. — Eu ri. — Outros desejos se tornaram realidade?

— Eu costumava desejar uma casa, uma casa de verdade. Essa se tornou realidade em Boston, mas então percebi que uma casa, um marido e um salário não significavam que eu seria feliz.

Então ela deixou tudo para trás. Ela ainda estava procurando uma casa? Ou ela havia desistido desse desejo? — Acha que você terá uma casa na Califórnia?

— Eu não sei. Talvez. — Ela se empurrou para sentar. — Eu posso conseguir um emprego. Talvez eu encontre um novo lugar para morar por um tempo. Não é normal, mas acho que o estilo de vida nômade é mais o meu estilo. Gosto da liberdade. Não percebi até sair de Boston, mas fiquei presa lá. Eu estava em uma gaiola.

Eu também me sentei. — Então é você e seu carro explorando o país. — Ela a levava para casa onde quer que fosse.

— Bem, o carro está indo para um amigo. Mas eu vou pegar outro. Talvez dirija o novo para o próximo ano. Talvez suba em um avião e explore a Europa, Austrália ou Ásia. Há um conforto para mim, sabendo que é tudo minha decisão. Não sou obrigada a viver minha vida de acordo com o plano de ninguém.

— Hã. — Passei a mão pelo meu cabelo. A ideia de viajar era empolgante, mas não ter um lar para onde retornar parecia solitário para mim. Mas, novamente, nós viemos de mundos diferentes. Summers sempre seria minha casa.

— Parece loucura, certo?

— Não. Apenas diferente. Eu vivi nesta cidade minha vida inteira. Não consigo imaginar morar em outro lugar.

Eu não quero morar em outro lugar, e ainda era um homem livre.

Ela me deu um sorriso triste. — Estou feliz que você tenha raízes profundas.

— Eu também.

Ela segurou meu olhar, me encantando a cada segundo que passava. Que vida ela tinha vivido. Que história. E agora ela cederia à sua sede de viajar e ver o mundo. Que aventura seria fazer o passeio.

Seus olhos brilharam verdes na luz fraca. Quando nos sentamos, nós nos aproximamos. Tudo que eu tinha que fazer era me inclinar e eu poderia tomar seus lábios em um beijo. Pensei muito sobre aqueles lábios macios no dia anterior, me perguntando qual seria o seu gosto. Ela me beijaria de volta? Ou ela jogaria o resto do curry na minha cabeça? Talvez eu tenha interpretado mal os rubores e sorrisos tímidos.

Os olhos de Londyn caíram para minha boca. Porra. Ela estava indo embora e eu poderia muito bem arriscar. Eu tinha acabado de me abaixar, roçando meus lábios nos dela, quando uma porta de carro bateu na rua atrás de nós.

Ela saltou, nos separando.

Droga. O universo estava me dizendo algo. Essa mulher, que seria uma lembrança antes do fim da semana, não era para mim.

— Provavelmente é melhor ir para casa. Está ficando tarde. — Suspirei, pegando meu recipiente e empilhando o dela por cima. Então eu levantei, estendendo a mão para ajudá-la.

— Obrigada. — Ela limpou o assento de seu short e eu não me permiti olhar muito para sua bunda.

Pisei na pedra primeiro, meus pés descalços afundando na grama exuberante.

Ela pulou atrás de mim. — Obrigada por não me chutar da sua rocha.

— A qualquer momento.

— Boa noite, Brooks. — Ela acenou e depois foi em direção ao hotel.

Eu levantei meu braço para acenar adeus. Eu não conseguia fazer isso.

Havia algo novo nela. Talvez fosse sua visão da vida ou seu espírito. Talvez seja porque ela passou por tanta coisa e não se tornou cansada ou cínica. Londyn me intrigava. Ela mexia com meu sangue.

E caramba, eu não tive tempo suficiente esta noite. Eu queria mais, não apenas para dar aquele beijo novamente, mas para conversar.

Eu deveria deixá-la ir.

—Londyn, — Eu chamei.

—Sim? — Ela se virou, piscando para mim aqueles lindos olhos verdes.

—Você quer compartilhar a pedra novamente amanhã à noite?

Ela sorriu. — Sim.


Capítulo Seis

Londyn

 

— Isso é muita carne. Não há como colocar isso na minha boca.

Brooks ergueu uma sobrancelha. — As palavras que qualquer homem quer ouvir.

—Tire sua mente da sarjeta. — Revirei os olhos, então levantei o sanduíche que ele me trouxe à boca e tentei dar uma mordida.

A coisa tinha trinta centímetros de comprimento e pesava pelo menos meio quilo, um tijolo sólido de carne e queijo com uma pitada de alface e tomate desfiados. Óleo e vinagre cobriam tudo e um pedaço de pão grosso e robusto agia mais como um barco do que suporte de livros.

—Hum. — Eu cantarolava enquanto mastigava, minhas bochechas salientes.

—Bom, certo?

—Muito. — As palavras saíram distorcidas.

Ele riu e deu uma mordida, gemendo enquanto comia.

Como com todas as outras coisas de Brooks Cohen, aquele seu gemido era muito sexy. Era baixo e profundo, mais como um zumbido vindo de seu coração do que um som formado de sua caixa de voz. Era suave também, se eu não estivesse sentado a um pé de seu lado, eu teria perdido.

Esta noite foi a terceira noite consecutiva que comíamos na pedra à beira do lago com Brooks. Tailandês pela primeira vez. Na noite anterior, ele trouxe macarrão. E esta noite, sanduíches. Três deliciosas refeições ainda mais por causa da companhia.

Comemos em silêncio, como nas outras noites, nenhum de nós ansioso para preencher os momentos de silêncio. Era como dividir uma refeição com um velho amigo, não um novo conhecido. Conversaríamos mais tarde. O sol ainda tinha que cair no horizonte, para que houvesse tempo. Brooks faria perguntas e eu absorvia suas próprias respostas. Ontem à noite, ficamos olhando para as estrelas e conversando sobre nada até quase onze horas.

Essas três refeições foram as mais relaxantes que já tive em anos. Eu não tinha um telefone tocando e exigindo atenção. Não se falava em trabalho, algo que percebi agora ter sido o tema constante sempre que conversava com Thomas.

Conversar com Brooks era uma descoberta. Uma jornada lenta e emocionante que abrangia vários tópicos. Ele me contou sobre seus pais e cresceu em Summers. Eu contei a ele sobre minha vida em Boston, contornando os detalhes do meu divórcio.

A verdade era que eu não tinha pensado muito em Thomas nos últimos dias. Não sentia sua falta, fazia meses. Não ansiava pelos primeiros dias do nosso casamento, quando havia mais alegria e emoção. Embora as coisas tivessem mudado bastante no final, uma parte de mim estava feliz por termos terminado.

Eu teria saído de outra forma? Se não houvesse secretária e o caso, já teria percebido o quão infeliz me tornei?

O dinheiro me cegou. Eu não estava apaixonada por Thomas. Meu trabalho perdeu o apelo. Aquela vida era desprovida de paixão.

Paixão, eu perdi.

O que provavelmente era outro motivo pelas quais as últimas três noites foram tão revigorantes. Paixão e antecipação cobriam cada minuto que passava com Brooks como chocolate quente em sorvete de baunilha. Levava cada segundo para o próximo nível delicioso.

Ele não fez um movimento para me beijar novamente. Ele tentaria novamente hoje à noite? Meu tempo em Summers estava chegando ao fim. Eu não tinha certeza se seria capaz de ir embora sem pelo menos um beijo para levar comigo. Seria uma lembrança que guardaria no meu bolso para retirar e reproduzir nos dias solitários.

— Eu peguei seu carro antes de vir hoje à noite, — disse Brooks. — Está tudo pronto. Bom como novo.

— Realmente? Ok. — Isso foi decepcionante. Esperado, desde que ele prometeu três ou quatro dias, mas decepcionante. Como demonstração de fé, eu não perguntei a Brooks sobre meu carro. Ou talvez não tivesse perguntado porque estava contente no momento.

Brooks engoliu a última mordida de seu sanduíche. Como ele podia comer tudo aquilo e manter a barriga lisa era injusto. Só tinha comido um terço do meu e estava cheia. Eu o embrulhei no papel e o coloquei de lado.

— Você estará de volta na estrada amanhã.

Eu ouvi uma pitada de decepção em sua voz? Ou eu estava projetando a minha própria? — Isso é fantástico.

Mentirosa. Talvez eu pudesse ficar mais tempo? Eu não tinha horário. Esta viagem era toda sobre mim e no meu próprio ritmo. Tentador, mas cada noite passada nesta pedra com Brooks só me faria esperar pela próxima.

Eu poderia ficar, mas não. Chegara a hora de seguir em frente até a próxima parada desta aventura. Assim que Karson tivesse o Cadillac e eu satisfizesse minha curiosidade sobre sua vida, estaria livre para vagar e seguir meu próprio ritmo.

— Brooks? A voz de uma mulher carregava através do quintal atrás de nós. Nós dois viramos, olhando além de um tronco de árvore.

— Droga. — Brooks resmungou, levantando-se. — Já volto.

— Ok.

Ele correu pelo quintal, mais uma vez descalço, e encontrou a mulher quando ela desceu da varanda. Ela usava óculos de sol pretos que escondiam a maior parte do rosto. Os cabelos castanhos estavam presos em um nó propositadamente bagunçado no topo da cabeça. O vestido de verão que ela usava envolvia seu corpo, amarrando-se sob seus seios generosos.

Ela era linda e claramente chateada com meu companheiro de jantar. Ela colocou as mãos na cintura e torceu a boca em uma linha tensa enquanto Brooks falava. Quando foi sua vez de falar, ela lançou uma carranca na minha direção.

Merda. Ela me pegou olhando. Devo me esconder? Quem era ela?

Eu não perguntei se Brooks tinha uma namorada. Considerando que nos sentamos do lado de fora da sua casa, eu tinha certeza de que ele não era casado. Eu presumi que era o tipo de homem que não estaria compartilhando o jantar com uma mulher se ele estivesse envolvido de outra maneira.

Talvez isso tenha sido estúpido da minha parte. Meu marido tinha acabado de me trair. Mas, chame de pressentimento, Brooks não parecia ser do tipo perdido.

Ele era um homem que comprava um telefone celular para uma mulher porque não gostava da ideia dela na estrada sem a capacidade de pedir ajuda. Ele era um cavalheiro no verdadeiro sentido da palavra, colocando-me em primeiro lugar em tudo, desde abrir a porta até dar a primeira mordida em uma refeição.

Não querendo olhar enquanto falava com a mulher, voltei minha atenção para o lago. Eu bebi a garrafa de água que ele me trouxe, enquanto uma lancha corria pela água calma ao longe. Viajava rápido, uma mancha branca na água quando Brooks voltou.

— Desculpe-me por isso. — Ele pulou na pedra.

— Tudo bem. Você precisa ir? — Um motor ligou a distância e olhei por cima do ombro quando a mulher deu a ré em um Honda fora de sua garagem.

— Não. Essa era minha ex-esposa, Moira.

— Ah. — Claro que ela seria linda. Aposto que ela foi uma linda noiva em um vestido branco, caminhando até um belo Brooks em um smoking, de pé em um altar. Minha imagem mental estava tingida de verde.

Quando foi a última vez que fiquei com ciúme? Eu tinha ciúmes da secretária? Machucada, sim. Traída, absolutamente. Mas com ciúmes? Na verdade, não.

Sua casa foi a casa de Moira? Ela tinha compartilhado esta pedra também?

— Você nunca nada no lago? — Eu soltei.

Era uma pergunta estranha, dado o momento, mas eu não queria falar com Brooks sobre sua ex-mulher. Senti que ele também não. Especialmente em nossa última noite.

— Às vezes. — Brooks concordou com minha mudança de assunto. — Quando está quente.

— Eu só aprendi a nadar há cinco anos. — Meus pais não tinham me colocado em aulas de natação, e eu estava ocupada trabalhando meus verões fora em vez de gastá-los na piscina da comunidade. Na minha lua de mel, eu fiquei em segurança em uma espreguiçadeira.

Foi só quando Thomas insistiu em fazer mergulho no Caribe que tive que admitir que não sabia nadar. Ele insistiu em lições.

— Eu deveria ter aulas particulares, mas quando cheguei à piscina, houve uma confusão e eles me colocaram na aula das crianças. Eles se ofereceram para mudar as coisas, mas eu fiquei. As crianças não se importavam que uma mulher crescida não pudesse nadar. Eu não era tão patética.

— Há muitas pessoas que moram por aqui, em torno deste lago, e não nadam. — Brooks cutucou meu ombro com o dele. — Não é patético.

Eu sorri. — Obrigada.

A incapacidade de nadar não era importante até Thomas dizer que estava faltando. Ele parecia encontrar mais falhas comigo do que eu. Cada vez que ele percebia que havia perdido algo na minha juventude, que me diferenciava de outros adultos cultos, ele o remediava imediatamente.

Londyn não andava a cavalo? Ele me comprou um cavalo e o colocou no estábulo com um instrutor de equitação.

Londyn não sabe dizer a diferença entre Merlot e Cabernet? Ele contratou um sommelier para jantar conosco três noites por semana.

Londyn não gosta da ópera? Ele comprou ingressos para a temporada porque eu não tinha sido suficiente para apreciá-lo.

Eu odiei a maldita ópera. Vinho tinto, não importa a uva, tinha gosto de vinho tinto. E os cavalos me assustaram.

Sim. Eu não sentia muito sua falta.

Um pássaro gorjeou alto por cima, me fazendo virar. Estava empoleirado em uma árvore ao lado da varanda de trás de Brooks. — Eu gosto da sua casa.

— Obrigado. — Ele se virou, olhando para os fundos de sua casa também. — Comprei depois do divórcio.

Isso respondeu à minha pergunta anterior sobre Moira. — É legal. Muito pitoresco.

O estilo vitoriano estava completo com altos picos de telhado e empenas enroladas em seu ápice. Na parte de trás da casa, com vista para o quintal, duas janelas dormer2 emergiram do telhado de chocolate. O resto da casa era branca. A única coisa que diferenciava os vários lados e seções das paredes externas era a textura. Alguns dos tapumes eram placas horizontais, outras partes sobrepostas vieiras.

— Eu amo todas as janelas. — A abundância de vidro com o painel duplo significava que a maioria dos quartos provavelmente estava inundada pela luz do dia.

— Eu também. Isso é o que me convenceu no lugar. No verão, não preciso ativar um alarme. Eu acordo com o sol.

— Eu não ativei um alarme desde Boston. Costumava acordar às quatro da manhã. Ia para a academia e chegava em casa para me preparar para o trabalho. No inverno, eu ficava acordada por horas antes do nascer do sol. Talvez eu também acorde com o sol a partir de agora.

— Alguns dias o alarme é inevitável, — disse ele. — Há dias em que eu tenho muita coisa acontecendo na oficina. Nunca dominei ficar à frente no trabalho de escritório. Foi muito ruim no começo quando assumi o cargo de vovô. Tive um inferno de um tempo para acompanhar. Mas descobri finalmente. Tony ajuda a não me afogar.

— Você gosta do seu emprego?

— Sim. — Sua resposta de uma palavra continha tanta verdade. Brooks amava seu trabalho, sem dúvida. — O que você fazia em Boston?

— Eu trabalhava na empresa do meu marido como sua assistente. — Eu me virei para o lago novamente.

— Você gostava?

— Sim, eu gostava, na verdade. Foi o primeiro emprego em que fui desafiada. E Thomas era ótimo em me deixar escolher o que eu queria trabalhar. Comecei com as coisas fáceis. Telefones e agendamento de reuniões em sua agenda. Mas cresceu.

Eu gostava de pensar que ele sofreu um pouco no trabalho depois que eu parei. Era o meu ego falando, mas ninguém queria admitir que eles eram facilmente substituíveis.

— Já pensei em contratar um gerente de escritório, — disse Brooks. — Alguém que pudesse fazer a contabilidade e encomendar peças e evitar que os papéis se amontoem na minha mesa. Eu com certeza não sentiria falta. Eu prefiro trabalhar com carros. Usar minhas mãos.

Ele tinha ótimas mãos. Seus dedos eram longos e calejados nas pontas. Suas palmas eram largas e macias no centro. Eu estava com inveja do meu próprio carro. O Cadillac sentiu aquelas mãos roçarem em sua superfície.

— Não tinha certeza exatamente quando você faria o carro. Disse alguns dias, mas eu não achei que você estivesse pronto tão cedo.

— Não tem fé em mim? — Ele fingiu uma careta. — Estou magoado.

— Você excedeu todas as minhas expectativas.

— O prazer é meu. — Seu sotaque profundo e calmante era tão reconfortante que me deu coragem para fazer a pergunta em minha mente.

— Quando reservei meu quarto, estava tudo pronto amanhã. Não quero cancelar a Meggie tão rapidamente. Se eu ficasse mais uma noite, você iria jantar comigo?

Prendi minha respiração. Foi a primeira vez na minha vida que convidei um homem para um encontro. Mas ele diria sim. Certo? Ele estava gostando desses jantares tanto quanto eu, não estava? Caso contrário, por que teria me convidado aqui todas as noites?

— Eu, uh... — Brooks passou a mão pelo cabelo. — Eu não posso. Desculpe.

Meu coração despencou. Ai. —Tudo bem.

Um silêncio tenso se estendeu entre nós. Brooks não ofereceu nenhuma explicação de por que ele não poderia me encontrar amanhã. Sentei-me perfeitamente imóvel, sem saber o que dizer. Talvez ele tenha que trabalhar até tarde. Talvez não goste de comer em restaurantes. Talvez ele tivesse um encontro. Se esse era o motivo, eu não queria saber.

Sem jantar amanhã, esta era a última vez que passaria com Brooks. Eu o veria na oficina amanhã de manhã, quando recolhesse meu carro, mas seria uma breve despedida antes de deixar Summers e Brooks Cohen para trás para sempre.

Meu estômago se apertou. Tinha que ser o sanduíche, não a ideia de partir. Eu simplesmente tinha comido demais.

Hora de ir. O desejo de sair bateu forte, me empurrando para os meus pés. Ficar até o anoitecer não aconteceria esta noite. Não tive um desejo a fazer. —É melhor eu ir embora. Preciso fazer as malas.

—Londyn. — Brooks se levantou, bloqueando o caminho para fora da pedra. — Não. Ainda não.

— Eu acho que é o melhor. — Eu encontrei seu olhar azul e minha decisão de ir embora quebrou. Havia tantas desculpas naqueles olhos. Tanta saudade.

— Eu...— Sem terminar, ele fechou a boca e se mexeu, abrindo espaço para eu passar.

Nós dois sabíamos que era melhor acabar com isso antes que as coisas ficassem complicadas.

Não era como se não tivesse algumas memórias para levar. Eu olharia para trás no meu tempo em Summers e me lembraria desse homem bonito que foi meu encontro para jantar três noites seguidas. Me lembraria desta pedra e como a preferia a qualquer mesa. E jamais esqueceria daquele quase beijo.

— Obrigada, — disse quando ele se juntou a mim na grama. —Foi ótimo conhecer você, Brooks.

—Da mesma forma, Londyn. — Ele estendeu a mão e eu coloquei a minha na sua.

Nenhum de nós soltou.

Ele apertou mais forte, me puxando para mais perto. Seu olhar caiu para os meus lábios e minha respiração engatou. Ele ia me beijar depois de tudo? Certamente aliviaria o aguilhão da rejeição. Ele se inclinou para mais perto. Meus olhos se fecharam.

Um sussurro respirou pela minha bochecha quando sua boca desceu e ele deu um beijo.

Em Minha. Bochecha.

Decepção ardeu em vermelho. Meu orgulho ficou preto e azul e tirei minha mão do seu alcance. — Boa noite, Brooks.

Ele deu um passo para trás. — Boa noite, Londyn.

Então me virei e caminhei para o meu quarto de hotel.

Hora de dar o fora de Summers, West Virgínia.

E longe de Brooks Cohen.

 

CLANK.

Eu pulei com o barulho que ecoou da oficina. Parei do lado de fora da porta, sem saber se deveria me aproximar. Isso era barulho normal na oficina? Porque parecia muito alto. Quando nada se seguiu, dei outro passo.

Baque. Baque. Baque.

Eu pulei de novo, ofegando com a franja e os confrontos que vinham em um fluxo constante.

— Maldição! — Brooks rugiu.

Então veio outro estrondo. Este parecia metal batendo em metal, seguido pelo tilintar e barulho de ferramentas atingindo o chão de concreto.

— Porra!

Uh... O que diabos estava acontecendo? Ele estava ferido? Avancei, sem saber o que esperar, e espiei pela porta.

Brooks estava andando ao lado do meu carro, os punhos cerrados de fúria e o peito arfando.

Eu segui seu olhar.

— O que aconteceu com o meu carro? — Eu gritei, entrando.

Arranhões compridos percorriam toda a extensão da tinta vermelha. Eles eram magros e estreitos, furiosos enquanto cortavam a superfície lisa. Não foi tão ruim quanto quando eu escorreguei para o guarda-corpo, mas também não foi bom. O porta-malas estava coberto de amarelo. A tinta pingou no chão, amontoando ao lado de um pneu.

Minhas mãos mergulham no meu cabelo. — Oh, meu Deus.

— Londyn, eu posso explicar. — Brooks estendeu a mão.

— Sim. Por favor. — Eu concordei, incapaz de desviar o olhar dos destroços.

— Alguém invadiu a noite passada e vandalizou o local.

Afastei os olhos do Cadillac e olhei o resto da oficina. A mesma tinta amarela no meu carro havia sido respingada em uma das paredes de blocos de concreto. Ferramentas estavam espalhadas pelo chão. Pneus empilhados contra a parede oposta estavam espalhados. Havia outro carro na baía oposta, mas parecia ileso.

— Quem faria isso?

Brooks suspirou, colocando os punhos nos quadris. — Eu não sei.

— Um palpite. — Esta era uma cidade pequena. Ele tinha que ter alguma ideia de quem faria isso comigo. E o olhar estreitado em seu rosto dizia que ele definitivamente tinha uma ideia.

— Moira.

A ex-mulher dele? — Por quê? — Isso foi porque ela nos viu sentados naquela pedra na noite passada? Eu não sou ninguém. Estou indo embora. Ou estava até isso acontecer.

Seus lábios se contraíram em uma linha fina. — Ela ficou com ciúmes. Sabe que tenho uma queda por você.

— Oh. — Minha raiva se aplainou. — Você tem?

— Acha isso bastante óbvio, não é?

— Mas você não me beijou ontem à noite. — Ele rejeitou meu encontro.

— Não, eu não beijei. — Ele caminhou até o Cadillac, encostado no painel lateral arranhado. Eu não conseguia ver o lado do motorista, mas acho que também não tinha se saído bem. — Esse foi o meu erro, e me arrependi a noite toda.

Fiquei de mau humor por horas enquanto lentamente arrumava minhas malas na noite passada, desejando que as coisas tivessem terminado de maneira diferente. Acho que conseguiria esse desejo, porque não haveria adeus hoje.

— E o meu carro?

— Vou lavar a tinta, mas terá que voltar à oficina por causa dos arranhões.

Eu cheguei mais perto, passando o dedo sobre um arranhão. — Isso é de uma chave?

— Sim, — ele murmurou.

— Você não parece surpreso.

— Não. — Ele soltou um suspiro profundo. — Eu sinto muito. Pagarei para consertá-lo, mas levará um tempo.

— Irônico, não é? Se sua ex está com ciúmes, ela deveria ter me deixado em paz. Eu teria ido embora.

Brooks saiu do carro e caminhou na minha direção. — Sinto muito, Londyn.

— Não é sua culpa.

— Você estaria no seu caminho se eu tivesse ficado longe de você.

Mesmo se eu pudesse entrar no meu carro agora, eu não tinha certeza do que eu queria. — Faz as pazes comigo?

— Absolutamente. Como?

— Jante hoje à noite.

O seu queixo caiu. — Eu não posso hoje à noite.

Droga. Duas vezes? — Você continua negando e isso está matando meu ego, — eu murmurei.

— Eu não posso jantar. Mas e aquele beijo?

Meus olhos dispararam quando ele cruzou a distância entre nós, suas mãos liderando o caminho. Eles vieram ao meu rosto, segurando minhas bochechas e inclinando minha cabeça para o lado. Ele se aproximou até suas botas tocarem meus sapatos. — Bem?

Eu assenti.

Brooks desceu e capturou minha boca, roubando toda a respiração dos meus pulmões. Eu subi na ponta dos pés quando sua língua varreu meu lábio inferior, o cavalheiro buscando permissão. Eu abri para ele, deixando-o mergulhar fundo.

Suas mãos ficaram no meu rosto, puxando-me para ele enquanto ele deixava um daqueles gemidos baixos solto na minha garganta. Isso enviou uma onda para o meu núcleo. Seu gosto explodiu na minha língua, o amargor persistente do café misturado com sua própria doçura. Sua língua duelou com a minha enquanto aqueles lábios macios pressionavam com força.

Eu teria imaginado que Brooks era o tipo que preferia ser suave e doce no início, mas não havia nada de gentil ou recatado nesse beijo. Ele pegou o que queria, exigindo mais. Estava quente e eu sentiria a ponta dos dedos em meu rosto pelo resto do dia.

Além de nossas bocas, foi o único lugar que tocamos.

Não ousei levar minhas mãos ao seu peito. Eu não ousei arriscar envolver meus braços em volta de sua cintura ou deslizar meus quadris em direção aos dele. Brooks estava no comando e estava fazendo um ótimo trabalho sem minha ajuda.

O beijo terminou muito rápido. Ele se afastou, me soltando enquanto limpava a boca, deixando um sorriso presunçoso no lugar.

—O-obrigada. —Eu estava desequilibrada. —Sinto-me melhor com o meu carro.

Ele deu uma risadinha. — Eu também.

— Então eu vou, uh... — Dei um passo para trás, apontando para a saída. Se eu não saísse daqui, haveria uma boa chance de eu rastejar por seu corpo e faríamos muito mais do que beijar. Eu me virei enquanto um sorriso se espalhava pelo meu rosto.

— Londyn? — Ele chamou.

— Sim?

— Sinto muito pelo carro.

Olhei por cima do ombro. — Eu não sinto.


Capítulo Sete

Brooks


Eu levantei meu punho e bati na porta da minha ex-mulher. Estávamos divorciados há uma década, mas ainda parecia estranho bater na porta depois de morar aqui por anos.

Os saltos de Moira bateram no piso de madeira que instalei um ano antes de me mudar. Ela tinha um sorriso no rosto quando atendeu a porta, caiu quando ela me viu.

— Oi. — Ela estava usando um vestido preto simples, como fazia na maioria dos dias de verão, quando trabalhava. No inverno, ela adicionava um casaco de lã. Moira era recepcionista em um consultório dentário e, para a maioria, parecia equilibrada e profissional. Mas eu sabia que uma víbora espreitava sob a superfície.

Moira era incrível quando queria. Quando ela não queria, suas garras deixavam uma marca desagradável.

— Por que você fez aquilo? — Eu não me incomodei em cumprimentar. Estávamos além de jogar bem.

Ela teve sorte de eu ter esperado até depois das cinco para vir à sua casa em vez de marchar até o escritório do Dr. Kurt e ter isso com ela no trabalho.

— Fazer o que? — Ela cruzou os braços sobre o peito.

— Não se faça de boba. — Eu fiz uma careta. — Aquele é o meu local de trabalho.

— Do que você está falando?

— A última vez que você entrou e estragou o lugar, você me atrasou uma semana. Mas você passou dos limites agora. Você ferrou com o carro de um cliente.

— Você está bêbado? — Ela se inclinou para frente. — Eu não vou na oficina há meses.

Sempre era o mesmo com ela. Mentira, mentira, mentira. Mesmo quando sabia que tinha sido pega, nunca admitiu a derrota.

— Tanto faz. Fique longe da minha oficina. Na próxima vez, vou ligar para a polícia.

— Eu não fiz nada, Brooks.

— Certo. — Ouvi isso antes também. Eu girei na minha bota e marchei pela calçada.

— Brooks, — ela retrucou.

Eu não respondi.

— Brooks!

Fui até a minha pick-up.

— Porra. — Agora as presas estavam fora. Foi mesmo um milagre não termos conseguido? Eu estava quase na minha pick up quando ela gritou: — Espere. Por favor.

Suspirei, parando na calçada. — Sim?

— Você virá amanhã?

Eu zombei. — Não.

— Você prometeu.

— Eu disse que pensaria sobre isso. Eu pensei e não venho.

— Grr, — ela rosnou, entrando na casa e batendo a porta. Ecoou pelo quarteirão.

Típico. Essa não foi a primeira vez que ela bateu a porta em mim. Eu tive o suficiente de suas besteiras para durar uma vida inteira.

Moira veio ontem à noite e me convidou para jantar. Seus pais estavam vindo para a cidade amanhã e tinha esperança de me ver. Era algo que tínhamos feito ao longo dos anos, mesmo depois do divórcio. Eu não era um fã da minha ex, mas seus pais eram boas pessoas.

Eu teria que pegá-los na próxima vez. Amanhã eu ainda estaria furioso com a filha deles.

As marcas de chave no Cadillac tinham Moira escrito em todos elas. Um ano depois do nosso divórcio, namorei a nova professora do jardim de infância na cidade. As coisas estavam indo muito bem por cerca de um mês, então ela me ligou num domingo de manhã e me disse que tínhamos terminado sem explicação.

Descobri uma semana depois que a Moira tinha riscado o carro da minha namorada.

Eu não tinha namorado por dois anos depois disso. Mas então eu finalmente conheci uma mulher legal que trabalhava com meu pai no hospital. Moira não nos deu nem um mês. Seis encontros e Moira cortou seus pneus. Todos os quatro.

Ela admitiu isso finalmente, depois que a enfermeira se mudou de Summers. Ela ficou bêbada uma noite e me ligou em lágrimas, implorando por uma segunda chance. Quando eu assegurei a ela que isso nunca aconteceria, porra, ela ficou desagradável e jurou que nenhuma mulher iria ficar por aqui por muito tempo.

Anos depois, acho que ela ainda falava sério.

As travessuras de Moira me custaram estresse e dinheiro que eu poderia ter usado para coisas muito melhores. Eu paguei para consertar as marcas das chaves e substituir os pneus. Mas eu não me preocupei em namorar desde então. Nenhuma mulher que eu conheci parecia valer o drama.

Até Londyn.

Mesmo depois de admitir que provavelmente foi minha ex-mulher quem destruiu o seu carro, Londyn não fugiu gritando. Ela me convidou para sair. Então ela me deixou beijá-la como o inferno.

Eu sorri por cima do volante. Londyn McCormack era única.

O tráfego estava calmo, como de costume, enquanto dirigia por Summers em direção à casa dos meus pais. Jantávamos todas as segundas-feiras à noite, havia dezesseis anos. Esta noite foi uma das poucas vezes em que pensei em faltar.

Ansiava pela comida da mamãe e jogar conversa fora com o papai sobre um copo de uísque. Mas eu tinha um número limitado de noites com Londyn. Mais agora do que tinha havido esta manhã.

O plano de Moira saiu pela culatra. Talvez ela pretendesse perseguir Londyn para fora da cidade, mas ela não entendia a ligação de Londyn com aquele carro. A maioria não faria a menos que conhecessem sua história. Esse Cadillac estava ligado em sua vida. Era a casa de sua infância repleta de boas lembranças.

Ela não deixaria Summers até que ele estivesse em perfeitas condições, o que me deu tempo. Pode até demorar uma semana.

Liguei para Mack na oficina e expliquei a situação para ele. Depois de uma série de palavrões, ele concordou em encaixar em sua programação novamente, assim como me deu um tempo. Ele sabia como era Moira. Mas ele não tinha a flexibilidade de semana passada. Eu dirigi o Cadillac e ele prometeu se apressar.

Nós deixamos por isso mesmo. Meu palpite? Londyn estaria a caminho em uma semana.

Mais uma semana. Talvez ela me deixe beijá-la novamente.

A cinco minutos da casa de mamãe e papai, meu telefone tocou com uma mensagem de texto. Eles viviam em cinquenta acres, cerca de dezesseis quilômetros fora da cidade.

Mãe: Não tive vontade de cozinhar hoje. Que tal uma pizza?

Pizza? Eu não iria perder uma das poucas noites que teria com Londyn para pizza. Peguei o número da mamãe e enviei a ligação.

— Acabei de mandar uma mensagem para você, — respondeu ela.

— Eu vi. Quão zangada você ficaria se eu não fosse para a pizza? — Meu pé pairou sobre o freio.

— Hmm. — Uma carranca invadiu sua voz. — Você nunca perde o jantar de segunda-feira.

— Sim, eu sei. — Coloquei meu pé de volta no acelerador. Eu nunca perdi o jantar de segunda-feira. A culpa era demais para conviver.

— É sobre a oficina? — Mamãe perguntou. — Eu ouvi o que aconteceu. Eu sinto muito.

Nenhum choque que mamãe ouviu. Tony tinha uma boca grande. Ele entrou na oficina hoje, assobiou e começou a trabalhar imediatamente, colocando o lugar de volta em ordem. Nós dois tínhamos consertado tudo antes do meio-dia. Enquanto eu passava minha hora de almoço atualizando tudo que não fiz pela manhã, ele desapareceu.

Agora eu sabia onde ele tinha ido, fofocar com Sally.

— Está bem. Nenhum dano grave. Exceto o carro de Londyn.

— Você sabe quem pode ter feito isso?

Ah sim, eu sabia. Mas mamãe não precisava saber que foi Moira. — Provavelmente crianças.

No que dizia respeito ao mundo, Moira e eu sobrevivemos a um divórcio amigável. Éramos amigáveis em público. Apoiamos uns aos outros embora vivêssemos vidas separadas. Nós sorrimos e enganávamos bem.

Por Wyatt.

Eu tinha dezessete anos quando meu filho nasceu. Moira e eu éramos namorados na escola. Duas crianças estúpidas que pensavam que eram invencíveis e que os preservativos eram razoáveis, não necessários.

Demos o nosso melhor como pais adolescentes. Eu não havia passado o último ano do ensino médio enviando inscrições para faculdades e fazendo visitas ao campus. Eu passava meu tempo livre depois da aula na oficina trabalhando, porque era a chave para a sobrevivência do meu filho.

Moira tinha vivido com os pais até Wyatt nascer, então ela se mudou para a casa dos meus pais. Depois da formatura, nos casamos, mas moramos com mamãe e papai até Wyatt ter dois anos.

O motivo pelo qual eu não perdia um jantar de segunda-feira era porque mamãe e papai nos ajudaram a criar Wyatt naqueles dois primeiros anos. Mamãe havia ensinado moira a alimentá-lo e embalá-lo para dormir. Ela me ensinou como trocar uma fralda e fazer uma mamadeira para a alimentação da meia-noite. Papai era médico de Wyatt desde o momento em que gritou seu primeiro suspiro.

Quando meus pais precisaram de um tempo, os de Moira entraram para ajudar.

Mamãe não me pediu muito. Os jantares de segunda-feira não eram obrigatórios, mas eu sabia que ela os esperava. Era sua noite especial para passar com o marido, filho e neto.

Wyatt esteve com Moira na semana passada. A grande coisa sobre nós morando na mesma cidade, a dez minutos um do outro, era que ele tinha dois quartos. Ele ficava com ela por uma semana a dez dias, depois vinha e ficava comigo pelo mesmo tempo.

Agora que ele era um adolescente e tinha seu próprio veículo, não ditávamos os horários de custódia. Além disso, ele era um bom garoto, certificando-se de que passava um tempo conosco.

Este trecho na Moira estava durando sete dias, e eu senti falta dele. Nós mandamos uma mensagem. Ligava para ele todos os dias. Mas era estranho não vê-lo todas as noites. Com sua programação de treinos de futebol de verão e o trabalho que ele assumiu, levando comida para viagem pela cidade, ele estava ocupado. Foi a razão pela qual eu pedi comida na maioria das noites quando ele não estava na minha casa. Ele era forçado a vir me ver.

Que, independentemente de onde estivesse hospedado, ele vinha jantar na segunda-feira.

Por mais que eu quisesse ver Londyn esta noite, eu precisava mais do meu filho.

— Quer que eu vá comprar pizza? — Eu perguntei a mamãe.

— Você está vindo?

— Acabei de parar na garagem.

Ela desligou na minha cara e abriu a porta de tela antes mesmo que eu desligasse minha caminhonete. Enquanto a luz estivesse apagada e a temperatura estivesse acima de 20 graus, mamãe mantinha a porta da frente aberta apenas com a tela para bloquear os insetos.

Ela me enxotou enquanto eu caminhava para a porta. — Você pode ir.

— Eu vou ficar. — Eu a encontrei na porta, curvando-me para beijar sua bochecha.

— Vá. Além disso, seu filho acabou de me mandar uma mensagem. Aparentemente, ninguém além de mim e seu pai quer pizza hoje à noite.

Minha testa franziu, tirando meu telefone do bolso. — Wyatt não enviou uma mensagem de texto, não importa.

Wyatt: Ofereceram-me um turno extra hoje à noite. Posso pegar?

Ele estava tentando desesperadamente economizar dinheiro para a faculdade.

Eu: Claro.

Wyatt: Chegando em casa hoje à noite. Esteja lá por volta das dez.

Eu: Dirija com segurança.

— Ele está trabalhando, — eu disse à mamãe, guardando meu telefone novamente. Mas eu o veria hoje à noite.

— Ele é um trabalhador esforçado, esse garoto. Como o pai dele. — Ela cutucou meu cotovelo. — Vá. Faça o que você precisa fazer. Vou cozinhar algo chique na próxima segunda-feira para compensar esta semana.

— Você tem certeza?

Ela sorriu. — Tenho certeza.

— Obrigado, mãe. — Eu beijei sua bochecha mais uma vez, depois me virei e corri para a minha caminhonete. Acenei adeus quando me afastei, depois fui para a cidade, ligando para o hotel enquanto dirigia.

— Oi, Meggie. Diga, eu preciso de um favor.

 

— Este lugar está ocupado?

A cabeça de Londyn chicoteou em minha direção. —O que você está fazendo aqui? Eu pensei que você estava ocupado.

—Mudança de planos. — Puxei o banquinho ao seu lado, apoiando meus cotovelos no balcão.

A lanchonete estava lotada. Todas as cabines foram ocupadas e todas as mesas no meio da sala ocupadas. Além do banco que acabei de reivindicar, apenas outros dois estavam vazios.

A garçonete trouxe um menu, mas eu acenei.

—Você não vai comer? — Perguntou Londyn.

— Vou, mas não preciso de um menu. Eu pedi a mesma coisa nesta lanchonete nos últimos quinze anos. Um cheeseburger com picles extra e sem cebola. Fritas. Um milk-shake de chocolate. Esta garçonete é nova na cidade, caso contrário, ela não teria se incomodado com o menu.

Londyn piscou.

—O que? Eu estou com fome. —Dei de ombros. —Foi um dia ocupado.

— Uh-huh, — ela murmurou. —O que você está fazendo aqui?

Eu girei no meu banquinho, dando a ela toda a minha atenção enquanto me inclinava para mais perto. O cheiro de baunilha de seu cabelo chamou minha atenção, a doçura batendo até mesmo na gordura que flutuava da cozinha. O barulho de garfos e facas, o zumbido da conversa ao fundo, tudo desapareceu.

Nossos narizes estavam praticamente se tocando. Ninguém na sala confundiria minha intenção, incluindo Londyn. —Estou aqui por você, querida.

Um sorriso apareceu no canto de sua boca deliciosa.

O beijo na oficina se repetiu em minha mente hoje. A lembrança de seus lábios macios e o deslizamento de sua língua me distraíram mais de uma vez enquanto eu trabalhava. Não ligo para o fato de estarmos em um restaurante cheio de pessoas. Eu precisava de outra prova.

— Aqui está, senhora. — A garçonete interrompeu o momento, trazendo de volta o barulho, enquanto deslizava um prato na frente de Londyn.

— Você pediu torta? — E não apenas uma fatia, mas três. A famosa torta de maçã do restaurante, minha favorita, o creme de chocolate e a cereja favorita de Wyatt.

— Eu pedi. — Ela pegou o garfo. — Eu ia ao armazém quando criança e comprava as tortas que tinham à venda. Você sabe, as de um dia eles vendem barato. Quando eu morava com meus pais, me escondia no meu quarto e comia tudo sozinha. No ferro-velho, compraria uma se tivesse dinheiro e compartilharia. Mas então dietas e exercícios se tornaram uma coisa e não comi mais torta no jantar. Hoje à noite, eu disse foda-se.

Eu ri. — Bom para você.

— Quando foi a última vez que você comeu torta no jantar?

— Não posso dizer que já fiz.

Seu garfo mergulhou no creme de chocolate. Ela cantarolou e seus olhos se fecharam quando a mordida passou por seus lábios. Ela saboreou, enrolando-o na boca. A mulher tinha uma língua talentosa, torta da sorte. Ela gemeu novamente, me torturando com o som sutil.

Ela engoliu em seco, então me lançou um sorriso que era puro sexo. —Você está perdendo.

Eu estalei meus dedos, levantando minha mão no ar para acenar para a garçonete. Quando ela veio, apontei para o prato de Londyn. —Eu vou querer isso.

Londyn riu, indo para outra mordida.

A garçonete não demorou muito para servir minha torta. Eu cavei na maçã primeiro. —Droga, isso é bom. Provavelmente vou me dar uma dor de barriga com isso, mas não vou deixar uma mordida para trás.

— Alguns erros valem as consequências.

— Verdade, — eu disse. — Qual foi o último erro que você cometeu e não se arrependeu?

Ela inclinou o queixo e lançou os olhos para cima, como fazia sempre que pensava sobre uma das minhas perguntas. Quando teve sua resposta, olhou para mim com aqueles olhos verdes brilhantes. — Não estava prestando atenção na estrada quando aquele pneu furou. Eu estava com raiva de mim mesma na hora. Agora, nem tanto.

— Eu gosto bastante desse pneu furado.

Londyn riu, dando uma facada na cereja. — Sua vez.

Um erro do qual não me arrependi? Resposta fácil. Wyatt.

Abri minha boca para contar a ela sobre ele, mas parei. Ele era a pessoa mais importante da minha vida. Ele era meu orgulho e alegria. E embora eu gostasse de Londyn, antes de compartilhá-lo com ela, eu a compartilharia com ele primeiro.

Esta noite. Não precisava que Moira fizesse um comentário sobre como eu estava saindo com uma mulher do hotel.

Wyatt estava atrás de mim para começar a namorar novamente, provavelmente porque ele teve uma série de namoradas no ano passado. Ele era uma estrela dos times de futebol e basquete e havia herdado meu corpo alto. Após os jogos, todas as meninas seguiram em sua direção.

Felizmente, ele tinha mais bom senso do que eu tinha na idade dele, e me garantiu que ainda não tinha feito sexo. E quando o fizesse, prometeu estar seguro.

Enfiei outra mordida na boca para me impedir de me gabar do meu filho. O elogio implorava para ser libertado. Em vez disso, encontrei uma resposta diferente para sua pergunta.

— A oficina. Cerca de três anos depois que a assumi de vovô, um cara perguntou se ele poderia comprá-la. Fiquei ganancioso e pedi o dobro do que ele ofereceu. Ele me disse para enfiá-la e saiu da cidade. Depois disso, me arrependi durante anos. Até que um dia, eu só... não. Eu não desistiria daquela oficina por nada no mundo.

Um dia, eu a passaria para Wyatt se ele tivesse algum interesse. No momento, estava feliz que era eu e não algum outro bastardo sortudo que tinha o único caminhão de reboque na cidade e havia sido enviado para resgatar Londyn.

— Estou feliz que você não vendeu sua oficina, — disse ela. — Nós não nos conhecemos bem, mas sinceramente não consigo imaginar você fazendo outra coisa.

— O mesmo aqui. — Eu encontrei o emprego dos meus sonhos aos dezoito anos. Muitos não poderiam dizer isso.

Comemos o resto de nossas tortas, sem falar sobre nada, até que os dois pratos estivessem limpos e meu estômago inchado. Eu paguei a conta, lançando uma carranca a Londyn quando ela pegou sua bolsa. Então a segui para fora da lanchonete, ignorando os olhos em nós enquanto colocava minha mão na parte inferior de suas costas.

— Posso lhe dar uma carona? — Eu perguntei, acenando para a minha caminhonete no final do quarteirão.

— Como você soube onde eu estava? Espere. — Ela levantou a mão. — Deixe-me adivinhar. Maggie.

— Você estaria correta. — Fui até a caminhonete.

Londyn ficou na calçada. — Se eu entrar com você, que tipo de retorno posso esperar da sua ex-esposa?

Eu resmunguei e chutei uma pedra na calçada. — Eu não sei. Não sei o que ela está pensando.

Ela não estava, esse era o problema. Moira provavelmente já havia feito o seu pior, mas eu também não tinha tido uma mulher na minha vida como Londyn. Claro, as outras eram legais. Eu gostava de sair com elas. Mas Londyn era diferente. Havia paixão e urgência. Ela estava indo embora e eu estava determinado a aproveitar ao máximo isso enquanto tivesse chance.

Estávamos nos movendo em alta velocidade aqui, sem escolha de outra forma. Isso não escaparia da atenção de Moira. Nem o buraco deixado para trás quando Londyn deixasse Summers.

— Não importa. — Ela saiu do meio-fio, me encontrando na porta. — Eu não tenho medo de sua ex-esposa.

Claro que ela não tinha. Eu sorri — Ótimo.

— Temos uma audiência, — ela sussurrou.

— Sim, — eu sussurrei de volta. — Por que as pessoas pensam que só porque estou do lado de fora e elas do lado de dentro atrás de uma janela, não podemos vê-las?

Londyn riu. — Eu posso sentir eles olhando.

— Eu quero beijar você. — Cheguei mais perto.

Londyn ergueu-se um pouco dos calcanhares. — Mas você provavelmente não deveria.

— Não. — Não com metade da maldita cidade olhando. E não antes de eu ter uma discussão com Wyatt.

Passei por ela e abri a porta da caminhonete. Londyn entrou, deixando-me trancá-la, antes que eu contornasse a porta traseira para o meu próprio lado.

Eu fiz uma careta para as pessoas na lanchonete, ainda olhando, então liguei o motor e recuei. Inferno, eu não a beijei, mas apenas levá-la para o motel provavelmente mexeria com os rumores.

— Por que tenho a sensação de que, depois desta noite, muito mais pessoas saberão meu nome? —Ela perguntou.

Eu ri. — Vida em cidade pequena.

Ela cantarolou.

Foi um bom zumbido? Ou ruim? Ela parecia gostar desta pequena cidade, por enquanto. Mas eu não ia ter esperanças de que Londyn ficaria.

—O que faremos amanhã? — Ela perguntou quando a placa do motel apareceu na rua.

—Você acha que faremos algo juntos? — Eu provoquei.

—Sim.

Eu dei uma piscadela para ela. —Eu gosto disso.

Tive ideias para amanhã à noite. Wyatt tinha treino de futebol duas vezes, uma pela manhã e outra no final da tarde. Então ele estaria correndo para o trabalho até que os cinco restaurantes da cidade que o usavam e algumas outras crianças para fazer entregas fechassem. Minhas ideias para Londyn envolviam uma repetição daquele beijo que tínhamos dado na oficina, desta vez em um lugar onde poderíamos fazer durar.

— Que tal começarmos com o jantar? — Isso parecia estar funcionando bem para nós.

— Um restaurante ou a pedra?

A pedra. Eu queria um tempo sozinho com ela, não com a cidade de Summers assistindo. —Sua escolha.

Ela me deu aquele sorriso sexy. —A pedra.


Capítulo Oito

Londyn


— Droga, você sabe beijar, — Brooks ofegou enquanto pairava sobre mim. Seus lábios estavam vermelhos e inchados. Seu cabelo estava desgrenhado de onde eu o tinha entre os dedos. O crepúsculo dançava ao nosso redor e a luz fraca trouxe à tona as estrias azuis mais escuras em seus olhos. Ele passou de lindo para magnífico.

O homem mais bonito do mundo não era um modelo da Times Square ou um barco dos sonhos de Hollywood. Ele era mecânico em West Virginia.

E por enquanto, ele era meu.

Talvez se eu tivesse mais três noites como esta, eu teria suas características memorizadas para o resto da vida.

Brooks rolou para longe, deitado de costas ao meu lado. Nossas mãos estavam quase se tocando, mas não exatamente.

Meu peito arfava enquanto meus ombros pressionavam a pedra dura. Eu olhei para o céu, levando a mão aos lábios. Três noites se agarrando como adolescentes e eles estavam machucados.

Tudo o que fizemos foi um beijo. Brooks sempre nos impedia antes que pudéssemos ir longe demais. Então, eu tinha os lábios rachados e uma dor em meu núcleo que doía.

Esse beijo também estava afetando Brooks. Ele se mexeu desconfortavelmente, inclinando um joelho para esconder a protuberância em seu jeans. Uma protuberância impressionante, especialmente quando estava cavando no meu quadril.

Nós dois vamos dormir frustrados esta noite. Recusava-me a liberar parte da tensão por conta própria. Se e quando Brooks decidisse deixar de lado o aperto de ferro que ele tinha sobre seu controle, eu queria esse desejo ansioso ardendo sob a superfície. Pela primeira vez, eu estava deixando as preliminares me deixarem selvagem.

Com outros homens, incluindo Thomas, beijar se tornou uma prévia enfadonha de um longa-metragem enfadonho. Mas, droga, foi divertido com Brooks. Eu tinha esquecido como beijar sozinho poderia ser divertido.

Algo me dizia que, mesmo depois de fazermos sexo, se fizéssemos sexo, o beijo seria sempre um evento próprio.

Bem, pelos dias em que estivesse aqui.

Deitada ao seu lado, era fácil esquecer que essa situação era temporária. Brooks apagou o futuro com os lábios. Tudo o que importava era agora. Aqui. Meu futuro estava nessa pedra com a sinfonia da natureza abafando a realidade.

Brooks esticou um dedo para tocar um dos meus. — O que você pensa sobre?

— Estar indo embora.

— Sim. — Ele cobriu minha mão com a dele. — Mas ainda não.

Eu sorri, virando a cabeça para olhá-lo. Seu sorriso estava esperando. — Não, ainda não.

Meu carro estava na oficina e a equipe ainda não havia começado. Eles poderiam levar o seu tempo. Se fosse feito amanhã, duvidava que fosse embora.

Eu ainda não tinha terminado com Summers. Não terminei de beijar Brooks.

Ele levantou a mão esquerda, olhando para o relógio. — É melhor eu voltar para casa em breve.

Brooks me mandava embora antes das dez da noite. As estrelas mal estavam ganhando vida enquanto eu ia de mau humor para o meu quarto de hotel. Ele alegou que era porque tinha uma manhã cedo pela frente. Sério, acho que ele estava preocupado que perderíamos o controle.

—Ok. — Sentei-me, mas em vez de ficar de pé e recolher meu lixo do jantar, desci em cima dele, pressionando meu peito contra o dele. Meus lábios roçaram sua boca, colocando um beijo no canto.

Ele gemeu, levando a mão ao meu cabelo. Ele enfiou os dedos nas mechas, então apertou seu punho dolorido.

— Brooks, — eu assobiei, meu núcleo apertando. Puxando contra seu aperto, eu franzi meus lábios, tentando alcançar os dele. Mas ele me segurou com força, evitando que nossas bocas se tocassem.

—Se você me beijar de novo, vou transar com você nesta pedra.

Minha respiração ficou presa. —E se eu quiser que você transe comigo nesta pedra?

—Não essa noite.

—Amanhã? — Eu levantei uma sobrancelha.

Ele riu. — Não.

— Então no dia seguinte.

— Talvez.

— Eu posso trabalhar com talvez. — Eu sorri e empurrei.

Respirei fundo algumas vezes, me orientando para o mundo real e piscando a névoa tonta de luxúria. Quando fui me levantar, a mão de Brooks estava esperando.

Ele me ajudou a descer da pedra e depois atravessamos a grama. Eu segui sua liderança hoje à noite e pulei os sapatos. A grama era um tapete grosso e macio entre os dedos dos pés. A última vez que me lembrei de andar descalça na grama foi quando criança, quando minha mãe me levou a um parque, em um de seus raros dias sóbrios.

— Amanhã? — Eu perguntei.

Ele assentiu. — Amanhã.

Fiquei quieta, me perguntando se ele iria me dar um beijo de boa noite. Ele nunca fazia. Quando estávamos fora da pedra, não havia beijo. A única exceção foi o primeiro beijo na oficina.

Ele estava nervoso por alguém nos ver juntos? A menos que alguém estivesse nos procurando ou tivesse estacionado em sua garagem, estávamos muito bem escondidos e privados. A pedra ficava suficientemente longe do hotel, que nem mesmo um hóspede que estivesse passeando pela calçada notaria.

Talvez ele ainda estivesse preocupado com Moira. Eu já disse a ele que não tinha medo de sua ex-esposa. Mas pude ver por que ele iria querer me proteger de seu ciúme.

Ou talvez ele não quisesse ser visto com uma mulher cuja permanência em Summers era tão curta quanto uma estrela cadente contra o céu da meia-noite.

— Obrigada pelo jantar.

Ele inclinou o chapéu invisível. — Boa noite, Londyn.

Minhas bochechas coraram. Ele me tratava como se eu fosse uma rainha. Thomas tentou fazer o mesmo, me enchendo de presentes e luxos. Mas Brooks era diferente. Tudo o que ele me comprou foi comida para viagem. Mas essa ponta do chapéu me fez sentir respeitada, até admirada.

Brooks permaneceu onde eu o havia deixado enquanto atravessava o gramado até o hotel. Toda vez que eu olhava para trás, ele estava lá. Seus ombros estavam caídos. O sorriso no seu rosto desaparecia. Ele ficava como uma estátua sombria.

Vendo-me ir embora.


Uma energia inquieta invadiu meus ossos na manhã seguinte. Eu fiz minha rotina normal, me preparando para o dia antes de vagar até o escritório para um café gelado e qualquer torta que eles tivessem para comprar. As de hoje eram muffins de pedacinhos de mirtilo, eu comi duas.

Nos últimos dias, eu me diverti lendo. Eu vagava por um parque a cerca de seis quarteirões de distância, pegava um banco e desaparecia em um mundo fictício. Meggie me deixou emprestar sua pilha de romances policiais esfarrapados e eu já tinha devorado dois. Eles eram a distração perfeita para me impedir de assistir o relógio, contando os minutos até o jantar com Brooks.

Mas hoje, enquanto eu olhava para as palavras na página do creme, eu não podia fazer nenhuma delas se conectar. Depois de ler o mesmo parágrafo três vezes, joguei o livro de lado e caí no meu banco. Eu olhei para o céu azul sem me concentrar, assim como eu tinha no meu teto ontem à noite depois de deixar Brooks no gramado.

A sua imagem em pé estoicamente enquanto eu me afastava havia assombrado o meu sono.

Exceto que ele não estava em um gramado, mas em uma calçada. E eu estava olhando para ele através do meu espelho retrovisor.

Há pouco mais de uma semana, eu estava mais empolgada com esta viagem à Califórnia do que com qualquer coisa em anos. Eu fui energizada pela estrada aberta. Eu estava em paz dirigindo o Cadillac. E eu fiquei feliz ansiosa com a perspectiva de ver o rosto de Karson depois de todo esse tempo.

Eu ainda queria ir para a Califórnia, não queria? Sim. Mas não com o mesmo desespero que estava a uma semana atrás. Eu estava abraçando meus dias aqui, não escondendo nada.

Um pneu furado e Brooks Cohen frustraram meus planos. Seus beijos longos e molhados e os movimentos lentos de sua língua tinham prioridade sobre a minha viagem.

A pulsação maçante no meu centro pulsou. Essa antecipação era tortura. Tortura deliciosa e torturante. Essa noite seria a noite? Um de nós seria capaz de parar em um beijo? Meus dedos mexeram na minha barriga. Meus pés bateram no banco.

Sentei-me e deslizei em meus chinelos, esperando que a caminhada de volta para o hotel sob a sombra das árvores serenas, resolvesse um pouco dessa ansiedade.

Não funcionou. Eu ainda estava nervosa, cheia de tensão sexual, quando meu lar temporário apareceu.

O estacionamento do hotel estava mais movimentado do que antes. Dentro do escritório, a maioria das cadeiras estava ocupada, a equipe local desfrutando do café do meio da manhã e das fofocas.

O ar quente e úmido da manhã encheu meus pulmões. Eu estaria implorando pelo ar-condicionado mais tarde naquele dia, mas não importa o quão quente e abafado ficasse no jantar, eu não iria perder tempo naquela pedra com Brooks.

Não tinha sido ruim nas últimas noites. Mas eu estava consideravelmente mais pegajosa do que em outras manhãs nesta semana. Meggie mencionou algo sobre uma onda de calor chegando. Se estivesse muito quente, talvez Brooks me convidasse para sua casa hoje à noite. Ou eu poderia convidá-lo para o meu quarto para um piquenique em um hotel.

Pensar em nós dois nos beijando na cama não estava ajudando a dor do meu coração.

— Londyn.

Aquela voz era um balde de gelo jogado sobre minha cabeça. Virei-me devagar na calçada e fiquei cara a cara com meu ex-marido.

Droga. Eu deveria saber que ele não permitiria que nossa última ligação fosse o fim.

Thomas saiu de um sedan preto com vidros escuros. Seu cabelo escuro não se movia enquanto ele caminhava. Estava cortado curto, exceto para o elegante topete em cima. Só quando ele estava perto eu pude ver os tons de cinza em suas têmporas.

—O que você está fazendo aqui? — Eu coloquei minhas mãos em meus quadris. —E como você me encontrou?

Ele franziu a testa, me olhando de cima a baixo. Eu estava com um par de jeans boyfriend, os buracos nos joelhos maiores do que uma bola de beisebol. — Fico feliz em ver que você está bem.

Eu estava mais do que bem. Ou eu estava antes de ele aparecer. — Responda-me. Como você me encontrou e o que está fazendo aqui?

Thomas estreitou seus olhos castanhos enfadonhos e traidores. —Quando você não retornou minhas ligações, entrei em contato com Gemma.

— Eu ouvi.

A boca de Thomas afinou em uma linha irritante. — Você encontrou tempo para ligar para ela, mas não podia me dizer que estava viva.

— Ela é minha amiga. Você não é. — Que diabos ele esperava? Nós estávamos divorciados. E não havia como manter contato para ver se júnior era menino ou menina.

— Ela mencionou que você não pegou o telefone.

— Não.

Ele se encolheu. Thomas odiava a palavra não. Ele odiava a palavra sim. Quando éramos casados, eu usava sim ou não no lugar de suas contrapartes mais casuais para não irritá-lo.

— Londyn, seja razoável. — Ele beliscou a ponte do nariz. — Precisamos entrar em contato com você.

—Para quê? E você ainda não respondeu à minha pergunta. Como você me achou? — Mesmo Gemma não sabia que eu estava em West Virginia.

—Você não me deixou escolha.

Ah sim. Isso foi minha culpa. —Uh-huh.

— Contratei um investigador particular.

Meu corpo ficou rígido e eu fiquei mais alta. Thomas era alto, com pouco mais de um metro e oitenta. Ele tinha centímetros em mim e muito volume. Sempre se mantinha em forma, correndo e levantando pesos em nossa academia. Mas quando eu me endireitei, ele voltou atrás.

— Essa é uma invasão grosseira da minha privacidade, Thomas. — Enfiei um dedo em seu peito.

— O que eu deveria fazer, Londyn? Deixar minha ex-mulher dirigir pelo país?

— Sim! — Eu joguei minhas mãos.

— Eu estou tentando...

— Está tudo bem aqui? — A voz profunda de Brooks afundou nos meus ossos quando ele se aproximou do meu lado.

— Está bem. — Thomas acenou para Brooks. — Estamos tendo uma conversa particular.

— O que você está fazendo aqui? — Eu olhei para Brooks. Ele já não deveria estar no trabalho?

— Eu tive uma chamada de reboque às seis da manhã. Quando peguei o carro na loja, cheguei em casa para tomar banho e tomar um café.

Os fios de seus cabelos dourados estavam soltos e úmidos. Meus dedos coçavam para mergulhar e torcer uma trava ao redor do meu dedo.

— Vocês já se conhecem? — Thomas estreitou os olhos enquanto olhava entre nós.

— Sim. — Eu sorri quando ele se encolheu novamente.

— Aqui. — Thomas cavou nos bolsos da calça. Elas eram azul marinho e a costura estava perfeitamente dobrada no centro. Ele provavelmente voou para o aeroporto e alugou o sedan esta manhã. Do bolso, ele pegou um telefone.

Meu telefone, para ser exata.

— Como você conseguiu isso? — Eu dei para Gemma. E ela nunca teria dado a ele.

— Meu PI recuperou para mim.

— O que? — Eu gritei. — Você quer dizer que ele roubou dela.

Thomas deu de ombros, balançando o telefone para mim. — Eu preciso ser capaz de alcançá-la.

— Para quê? — Tirei o telefone das mãos dele e imediatamente o joguei na calçada. A tela nem quebrou. Droga.

— Londyn, que porra é essa? — Thomas inclinou-se para o telefone, mas já era tarde demais.

Eu levantei meu joelho acima da minha cintura e coloquei meu calcanhar no telefone. A tela quebrou, mas não foi a destruição completa que eu estava procurando. Então tentei novamente, ainda não atingindo a aniquilação total e agora meu calcanhar doía. Chinelos não eram exatamente práticos para destruição de telefone.

— Grr. — Eu pisei de novo, sem dúvida parecendo uma criança tendo uma birra, apenas para pegar a borda do telefone.

— Deixe-me. — Brooks segurou meu cotovelo, me puxando para o lado. Então, com um passo, ele quebrou meu telefone em pedaços.

— Ha! — Eu ri. — Obrigada. Eu deveria ter feito isso em Boston.

— Sempre que precisar. — Ele sorriu.

Thomas olhou para nós dois, a boca aberta.

— Havia mais alguma coisa que você precisava, Thomas? Imagino que a secretária preferiria se você voltasse correndo à cidade. Ela sabe que você está perseguindo sua ex-esposa? Ah, e devo começar a me referir a ela como ‘mãe do bebê’ agora?

— Ela foi um erro, Londyn. Eu cometi um erro.

— Eu também, — admiti. — Em algum lugar ao longo do caminho, esqueci quem eu era.

— E você se lembrou?

Eu fugi de casa para encontrar uma vida melhor todos aqueles anos atrás. Estava fazendo o mesmo agora. — Eu não vou voltar para Boston, Thomas. Essa parte da minha vida acabou.

Ele me encarou por um longo momento. Seu silêncio cresceu e se estendeu até que o calor nos rodeou, tornando-o desconfortavelmente quente. Ao meu lado, Brooks estava perfeitamente imóvel. A maioria dos homens me deixaria aqui sozinha com Thomas, não querendo se intrometer em uma conversa pessoal.

Não Brooks.

Ele estava aqui como protetor. O homem que já me comprou um telefone, não roubou o que eu escolhi para deixar para trás. Ele não me deixou sozinha com Thomas, talvez porque ele sentiu que eu não queria que ele fosse.

— Não posso mudar sua mente, — disse Thomas.

Eu balancei minha cabeça. — Não.

Thomas estudou meu rosto, seu olhar flutuando sobre minha boca e meu nariz. Então, na minha testa e na minha bochecha. O que ele estava fazendo? Ele estava me memorizando?

Talvez ele finalmente entendesse que era o fim.

— Adeus, Thomas.

— Se você mudar de ideia...

— Eu não vou.

Ele baixou o queixo e olhou para cima com um olhar endurecido e familiar. Aquele olhar astuto e calculista que eu tinha visto tantas vezes em seu escritório estava firmemente fixo no lugar. Sem outra palavra, Thomas lançou um olhar feroz para Brooks e foi até o carro.

Prendi a respiração, esperando até que as luzes traseiras vermelhas do veículo piscaram e aceleraram para longe do meio-fio. Então, quando expirei todo o ar de meus pulmões, o peso do nosso divórcio se dissipou.

Terminado. Finalmente terminado.

Meu pé bateu no telefone quebrado no concreto. Inclinei-me e peguei os pedaços quebrados.

— Então esse é o ex? — Perguntou Brooks.

— Esse é ele.

— Estou começando a ver por que você fugiu.

Eu sorri. — Nós não estávamos em um bom ajuste. Tentei me encaixar na vida dele por um tempo, mas...

— Você precisa ser livre.

Como foi que um homem que conheci há uma semana me conhecia melhor do que o homem com quem vivi por anos? Este homem deslumbrante e corajoso me viu como eu era, não quem eu estava fingindo ser.

Eu me esforcei tanto para me encaixar na vida do Thomas. Mas éramos de mundos diferentes. Thomas usava sua riqueza como uma segunda pele. Ainda hoje, vestido com calças e uma camisa azul claro, ele exalava um nível de classe que estava em seu sangue. Ele tinha ido para uma escola particular e sua família passou o Natal em Fiji. Seu primeiro carro foi um Mercedes. Ele tinha dois aviões particulares.

Eu não queria me encaixar nesse mundo, onde era esperado que eu agisse e falasse de uma certa maneira.

Eu precisava ser livre.

— Obrigada. — Eu sorri para Brooks, admirando seu rosto barbeado.

— Pelo quê?

— Por conseguir isso. Muitos não o fazem.

O canto da sua boca apareceu. — Você é única, Londyn McCormack. Eu nunca conheci outra pessoa como você.

Thomas havia dito algo semelhante quando nos conhecemos. No entanto, ele tentou me mudar de qualquer maneira. E que vergonha, eu deixei. Mas não Brooks. Ele disse essas palavras com tanto apreço que tive dificuldade em respirar.

— Ainda vai jantar? — Ele perguntou.

Eu assenti, incapaz de falar.

Então ele se curvou e beijou minha bochecha. Bem ali na calçada em plena luz do dia com toda a congregação dentro do escritório do hotel testemunhando. Ele sabia que eu estava me sentindo insegura? Provavelmente. Brooks parecia me entender melhor do que qualquer pessoa, incluindo Karson.

Brooks me deixou na calçada, atravessando seu gramado até onde sua caminhonete estava estacionada em frente à garagem. Eu fiquei parada, desta vez eu tive que vê-lo ir embora.

Meus ombros caíram. Meu sorriso caiu.

Eu não gostei.


Capítulo Nove

Brooks

 

Usei meu antebraço para limpar o suor da minha testa, em seguida, bati o capô da caminhonete que eu tinha acabado de trabalhar. Era o Chevy que eu puxei ontem de manhã cedo. O proprietário não conseguiu fazer com que ele ligasse. Quando o coloquei na oficina, entendi o porquê. A coisa não era ajustada há anos. O óleo era praticamente borra e a bateria corroída. A partida estava em sua última etapa.

O proprietário era novo em Summers e havia se mudado recentemente para a casa da viúva Aster depois que ela faleceu em março. Ele me deu o aval para consertar tudo, então, depois de pegar as peças ontem e limpar a oficina, hoje foi o meu projeto.

— Chevy está pronto, — eu disse a Tony, limpando minha testa novamente. O suor não parava de pingar. — Você pode ir em frente e pedir que para ele venha buscar.

— Vou ligar, Brooks. — Tony desenroscou a tampa de um galão de água e a colocou nos lábios. A maior parte da água entrou em sua boca, mas um fio saudável escorreu pelo queixo e pelo macacão.

Não importava a temperatura, Tony usava macacão. Hoje, ele pelo menos trocou o café quente pela água fria.

—O que mais temos na pauta do dia? — Tony perguntou, pegando uma gota de água com o pulso.

Soltei um longo suspiro e olhei da oficina para o escritório. — Preciso gastar algumas horas com a papelada.

Não enviava faturas há uma semana e, por mais que odiasse manter os livros, gostava de receber o pagamento. Normalmente, eu fazia meu faturamento à noite. Eu ficaria depois que a oficina fechasse. A menos que Wyatt tivesse uma noite de folga ou jantássemos na segunda-feira na casa da mamãe e do papai, eu estava aqui até que meu estômago roncasse, me forçando a voltar para casa.

Essas três ou quatro noites por semana possibilitaram que eu mantivesse o lado comercial das coisas. Mas com Londyn aqui, eu saí todas as noites esta semana assim que o último carro saiu da oficina e na estrada com seu dono.

Ontem à noite, eu até fechei cedo. Eu esperava pegar Wyatt entre o treino de futebol e o trabalho para poder contar a ele sobre Londyn. Mas ele estava com um amigo quando cheguei em casa, então adiei. Assim que ele foi trabalhar, eu arrastei meu traseiro até a lanchonete para comprar alguns cheeseburgers, em seguida, encontrei Londyn na pedra.

Eu estava preparado para ela estar de mau humor graças à visita de seu ex. Mas ela estava normal quando apareceu para me encontrar. Conversamos sobre a sua vida durante o jantar. Londyn rapidamente se tornou meu tópico favorito. Eu fiz a ela mais perguntas sobre a viagem da Califórnia a Montana para Boston e os lugares que ela parou ao longo do caminho.

No momento em que nossos cheeseburgers foram devorados, nós dois estávamos muito cheios para fazer qualquer coisa além de deitar na pedra e assistir ao pôr do sol de mãos dadas.

Por mais que eu gostaria de beijá-la por uma hora, meus lábios estavam rachados e meu controle à beira. Uma amostra dela e eu não teria forças para parar em um beijo.

Estava me matando mandá-la para o hotel todas as noites. Sozinha. Eu caminhava rigidamente para casa, meu pau tão inchado e doendo que era forçado a tomar um banho frio miseravelmente longo.

No momento, um banho frio parecia ótimo. Eu estava derretendo e só de pensar em Londyn, meu pau havia despertado para a vida.

A última vez que estive tão excitado por uma mulher foi... Nunca. Nem mesmo quando era adolescente com Moira. Estava quase por um fio. Eu era paciente, mas havia um limite para o que um homem poderia suportar.

Eu olhei para o relógio. Era quase meio-dia. Tony havia chegado de manhã cedo, por volta das seis, de acordo com seu cartão perfurado. Eu cheguei pouco depois das oito, tendo rondado a casa esta manhã para ter certeza de que Wyatt tomaria o café da manhã antes de sair para o treino.

Ele era um zumbi pela manhã. Durante o ano letivo, Moira e eu nos certificamos de que ele estivesse fora da cama porque ele podia dormir com dez alarmes estridentes. Eu esperava que hoje pudesse ser a exceção à sua rotina normal atordoada, para que eu pudesse contar a ele sobre Londyn. Mas ele quase adormeceu em seus ovos.

Eu mantive a conversa leve, conversando sobre futebol e seus planos para um verão na sexta à noite. Ele acordou o suficiente para perguntar se poderia levar uma garota ao cinema. Eu concordei, desde que ele prometesse passar o tempo muito necessário com seu pai no barco amanhã.

— Estou pronto para o fim de semana, — disse a Tony.

— Mesmo. Você tem planos? — Ele levantou uma sobrancelha, sem dúvida se perguntando se eu tinha planos com Londyn. Embora ele não tivesse perguntado abertamente sobre ela, não era segredo que eu jantei com ela todas as noites esta semana.

Meggie sabia disso. Portanto, Sally sabia disso. Portanto, Tony e toda a cidade sabiam disso.

—Wyatt e eu provavelmente vamos sair de barco.

—Bom plano. — Ele abanou o rosto. —Este calor veio rápido.

Isso não era brincadeira. Outra razão que tudo o que Londyn tinha recebido na noite anterior foi um beijo casto de boa noite. Estava quente demais para ficar agitado.

O pior do calor do verão havia caído sobre os Summers e duraria até setembro. Os dias seriam pegajosos, as noites abafadas e densas. Eu precisava encontrar tempo para contar a Wyatt sobre Londyn e rápido, porque a pedra não seria agradável novamente até o outono. Minha varanda de trás era muito mais confortável, minha cama também.

— Tony? — Eu olhei ao redor da oficina vazia. Terminamos com os trabalhos do dia. — Acho que vou passar o resto do dia no meu escritório. Você deveria tirar a tarde de folga.

—Sim? — Ele pegou seu galão de água da bancada de ferramentas. —Acho que vou aceitar isso.

— Ótimo. Tenha um bom fim de semana. — Acenei enquanto ele se dirigia para a porta.

— Você também, Brooks.

Recuei para o escritório, afundando na cadeira e apreciando o ar um pouco mais frio. A ventilação do teto soprou ar em meu rosto.

Fechei os olhos, dando-me dez minutos para esfriar e desenvolver o ânimo para abrir meu laptop. Mas não tive dez minutos. Só consegui três antes de uma batida na porta. Meus olhos se abriram para uma bela vista.

Londyn se encostou no batente da porta com um sorriso. Um shorts jeans deixava a maior parte de suas pernas nuas. Sua regata verde mergulhava perigosamente baixo em uma concha em volta do pescoço, a cor destacando os verdes mais escuros em seus olhos. —Eu interrompi a hora da sesta?

Acenei para a sala em direção à cadeira no canto. — É o calor. Eu precisava de um descanso.

— Realmente. — Ela abanou o rosto. — Alguém aumentou o dial porque está horrível.

— A que devo o prazer?

Ela relaxou mais fundo na cadeira. — Estou entediada. Está muito quente para passear pela cidade e eu não podia mais ficar apertada no meu quarto de hotel.

Londyn estava ficando inquieta. Logo ela teria ido embora. — Recebi uma ligação da oficina hoje. Eles estão começando no seu carro segunda-feira. Deve ser feito até sexta-feira, o mais tardar.

— Uma semana. — Ela suspirou.

— Isso é muito tempo? Eu posso perguntar se eles podem se apressar. Talvez se eu perguntasse a Mack, ele estaria disposto a trabalhar no fim de semana por algum dinheiro extra.

— Não. — Ela brincou com a bainha desfiada do short. — Eu estava pensando que era muito cedo.

— É muito cedo. — Eu sorri. Se ela não estivesse com pressa, talvez eu pudesse convencê-la a ficar no próximo fim de semana também.

— Se importa se eu ficar aqui por um tempo? — Ela perguntou. — Eu prometo fazer uma série de perguntas e distraí-lo de fazer qualquer trabalho.

— Bem, quando você coloca assim ...

— Estou brincando. Dê-me dez minutos para esfriar e então eu saio da sua frente.

— Não. Fique o tempo que quiser. Nada do que eu precisava fazer hoje era urgente. Tudo poderia esperar até o fim de semana. Ou na próxima semana. Ou na semana seguinte. Eu provavelmente iria querer o trabalho extra depois que Londyn deixasse a cidade de qualquer maneira. Seria uma boa distração.

Ela afundou ainda mais, apoiando a cabeça nas costas da cadeira de couro. — O que um mecânico sexy faz em uma tarde quente de sexta-feira na West Virginia?

— Sexy? — Eu levantei uma sobrancelha.

— Definitivamente sexy.

Eu ri. — Bem, se esse mecânico tem uma pilha de contas para pagar e faturas para enviar, ele gasta no escritório. Se ele não está disposto a trabalhar e não tem um carro para consertar, está no lago em seu barco.

Londyn endireitou-se. — Você tem um barco?

— Eu tenho.

— Hmm. Interessante. — Ela bateu no queixo. — Eu gosto de barcos.

Foda-se o escritório. Eu me levantei da cadeira e tirei as chaves da caminhonete do gancho perto da porta. — Vamos sair daqui.

 

—Eu poderia ter insistido em jantar aqui se eu soubesse sobre isso. — Londyn estava no final da minha doca, olhando para o meu barco. —O que mais você está escondendo de mim?

Eu estendi minha mão para ajudá-la a entrar no barco. —Não muito.

Apenas meu filho adolescente.

Ela sorriu, seus olhos escondidos atrás de óculos escuros enquanto se sentava na cadeira do passageiro. Ela não tinha mudado do escritório. Nós dirigimos juntos e enquanto eu corria para minha casa para trocar meus jeans e botas por shorts e sandálias, ela vagou pelos fundos da casa e encontrou o cais.

— Este é algum lugar. — Ela olhou para trás em direção à casa.

— Não foi fácil de encontrar, mas eu tive sorte. Meu pai trabalhou com o antigo dono. Ela era médica no hospital com ele. Ela e o marido se retiraram para a Flórida. Papai sabia que eu estava querendo comprar e me deu a dica.

Casas à beira do lago com uma doca privada não apareciam no mercado em Summers com frequência. Este nem sequer tinha sido listado. Tínhamos concordado com um preço, e quando eles se mudaram e eu me mudei, era a conversa da cidade por semanas.

Alguns não gostaram que tivessem sido enganados na oportunidade de dar lances. Se soubessem quanto paguei, não estariam reclamando. Minha oferta tinha sido três vezes mais do que uma casa como essa na cidade custaria. Mas a localização valeu a pena pegar um empréstimo dos meus pais.

— Pronta? — Eu perguntei e Londyn assentiu.

Liguei o barco, o barulho irradiando do motor através do chão. Então eu nos afastei das docas, apontando o arco em direção ao centro do lago. Quando estávamos limpos, baixei o acelerador.

O sorriso de Londyn se ampliou, seus olhos apontavam para a costa atrás de nós enquanto voávamos. Ela apontou para a pedra, quando a viu e riu.

Da pedra, a margem do lago se projetava cerca de dez metros, escondendo o cais da vista. Mas aqui, no meio da água, você podia ver como cada marco marcava a linha de minha propriedade entre meu vizinho de um lado e o hotel do outro.

— Isso é tão bom! — Londyn gritou acima da rotação do motor e do barulho da água contra o casco.

O ar corria ao nosso redor, criando a brisa que estávamos sentindo. Seu cabelo voou para trás e ao redor de seu rosto enquanto ela girava para frente, observando para onde eu estava indo.

Nós cruzamos, fazendo a longa volta ao redor do lago. Havia alguns outros barcos na água hoje, todos pescadores balançando ao longo das margens em baixa velocidade, e acenamos ao passar por eles. Amanhã o lago estaria lotado, todos aproveitando o fim de semana e vencendo o calor.

Eu nos trouxe para o centro do lago, para um local onde teríamos um pouco de privacidade, e desliguei o barco. Ninguém iria nos incomodar aqui. Os pescadores trabalhavam nas bordas e enseadas onde o badejo e o robalo pequeno procuravam comida.

—Obrigada por isso. — Londyn deslizou seus óculos de sol naquele longo cabelo loiro, revelando aqueles olhos de jade brilhantes.

Minha boca ficou seca. —Água. Preciso de uma? — Eu com certeza preciso. Minha cabeça estava tonta e meu coração batia forte. O calor estava me afetando de novo, eu estava queimando, de dentro para fora.

— Estava pensando em dar um mergulho.

Baque. — Não achei que você tinha um maiô.

Não havia um laço na sua nuca. Ela não tinha ido ao hotel para se trocar depois de chegar ao escritório.

— Eu preciso de um?

Baque. — Oh, não.

Ela me deu um sorriso malicioso, um que dizia que ela estava dez passos à frente e é melhor eu alcançá-la rápido. Sua blusa se foi em um lampejo de algodão, deixando nada além de pele e renda preta envolvendo seios perfeitos. Londyn olhou para mim através de seus cílios enquanto seus dedos percorriam a linha plana de seu abdômen até o cós de seu short jeans.

Aqueles dedos finos e ágeis abriram o botão. O zíper clicou, um entalhe de cada vez, até que suas mãos deslizaram em direção aos quadris para empurrar o short pelas pernas. Ela estremeceu, um balanço suave, até que tudo o que restava era renda preta.

— Você vai nadar comigo? — Ela tirou as sandálias e caminhou até a parte de trás do barco, subindo no banco, depois no convés traseiro. Os dedos dos pés balançaram para frente até agarrarem a borda, prontos para catapultá-la para a água.

Eu consegui acenar com a cabeça.

Então ela partiu, o mergulho gracioso e suave, como a própria mulher. A mulher deslumbrante que entrou na minha vida e capturou minha atenção como nenhuma outra.

Baque.

Minha mão pressionou contra o meu coração. Ela estava o roubando, pouco a pouco.

— Você vem aqui? — Ela gritou da água depois de aparecer a cerca de seis metros de distância. — Ou você tem medo de uma mulher nadando de calcinha?

— Espertinha. — Eu sorri, estendendo a mão atrás da cabeça para arrancar minha camiseta. Meus chinelos ainda estavam embaixo do volante, onde eu os chutei durante a viagem. Três longos passos e eu estava em cima e fora do barco, estendendo-me enquanto mergulhava na água.

Aparecendo ao seu lado, tirando o cabelo do meu rosto. — O que foi isso na sua calcinha?

Londyn sorriu, suas mãos chegando aos meus ombros enquanto ela se aproximava. Suas pernas se enroscaram nas minhas na água fria abaixo, enquanto nós andávamos para nos manter à tona.

Coloquei um braço em volta da sua cintura, puxando seus quadris contra as cristas do meu abdômen. Com a outra mão, segurei sua bunda, apertando a renda molhada na minha palma. Ela engasgou quando eu pressionei minha ereção em sua parte interna da coxa.

— Você está me deixando louco, querida.

Ela se inclinou, seus lábios um sussurro dos meus. — Se você me beijar hoje, é melhor não parar."

Não haveria parada, não hoje. Eu ameacei transar com ela naquela pedra, mas o barco funcionaria bem em vez disso.

Meus lábios colidiram com os dela, o doce sabor de sua boca me consumindo enquanto minha língua mergulhava dentro dela. Eu a puxei para mais perto com um braço, segurando firme enquanto saqueia sua boca e minha outra mão se estica para o barco, usando-a para manter meu equilíbrio enquanto minhas pernas nos impulsionavam.

— Brooks, — ela ofegou meu nome, separando os lábios quando chegamos à plataforma do barco.

— Para cima. — Coloquei minhas mãos em seus quadris, levantando-a para fora da água. Gotas caíram de sua pele bronzeada, pousando em mim enquanto eu colocava minhas mãos na plataforma e me empurrava para fora da água. No momento em que meus pés estavam firmes, ela estava em meus braços, nossos corpos batendo juntos e nossas bocas se fundindo.

Nós nos atrapalhamos na parte de trás do barco, escorregando e deslizando enquanto caminhávamos para o corredor central. Tirei uma toalha da pilha que havia trazido, sacudindo-a com uma mão. Afastei meus lábios, fazendo Londyn gemer enquanto colocava a toalha no tapete molhado.

Peguei a sua mão, puxando-a de joelhos ao meu lado. Então eu a envolvi em meus braços e a coloquei no chão, pairando acima dela.

— Está tudo bem?

Ela assentiu, passando a mão em volta do meu pescoço e me puxando para baixo.

Não havia nada lânguido ou lento em nosso próximo beijo. Não era um beijo para explorar ou descobrir um sobre o outro. Esse beijo era o prelúdio. Este beijo era o último de uma longa linha de beijos que nos levou até aqui, no meu peito nu contra sua pele macia.

Minha mão alcançou entre nós, segurando seu peito. Puxei o copo do sutiã sob a curva para libertar o mamilo. Torci o nó duro na minha mão, rolando-o para um pico quando as suas costas se arquearam na toalha.

Eu precisava disso na minha boca. Eu precisava provar cada centímetro dessa mulher incrível. Rasguei meus lábios, caindo para sugar sua pele.

— Merda, — ela sussurrou, seus dedos mergulhando nos fios molhados do meu cabelo quando eu rolei seu mamilo ao redor da minha língua. Suas pálpebras estavam fechadas, a boca molhada aberta enquanto ela respirava.

Ela era uma imagem de êxtase e ainda não tínhamos chegado às partes boas.

Eu sorri, dando ao seu mamilo um beliscão brincalhão antes de me inclinar e tirar as alças do sutiã dos ombros. Fechou nas costas, então ela empurrou para cima, estendendo a mão para trás para desfazer o fecho.

— Preservativo? — Seu peito arfou. —Por favor, me diga que você tem um preservativo neste barco.

—Sim. — Abri o compartimento abaixo do volante e peguei minha carteira. Eu coloquei um preservativo lá no início desta semana, apenas no caso de meu controle estourar.

Com o pacote de papel alumínio em minha mão, joguei a carteira de lado e rasguei a calcinha de Londyn. A renda se desfiou quando puxei com força, e o pedaço de tecido foi jogado descuidadamente para o lado.

Londyn relaxou sobre os cotovelos, os olhos semicerrados enquanto ela alargava as pernas.

Minha mão foi ao meu coração mais uma vez. —Você é ... — Meu coração deu outro baque. —Linda.

Essa não era a palavra certa, mas quando um sorriso se espalhou em seu rosto, perdi a capacidade de pensar.

Seus olhos dispararam para o meu short. — Você vai tirar isso? Ou você gostaria de alguma ajuda?

— Não. Mova-se.

Eu me levantei e arranquei o short molhado das minhas pernas. Minha ereção balançou, latejando forte enquanto ela se espalhava ainda mais. Eu rasguei a camisinha, me embainhando, e quando estava no lugar, meus olhos caíram para sua boceta nua e escorregadia.

Porra. Eu não iria durar. Minha resistência era uma merda e ela merecia mais do que uma viagem de quinze minutos.

Brooks. Ela se contorceu. — Se você não descer aqui...

Eu mergulhei nela, não deixando minhas inseguranças vencerem. Bati minha boca na dela, foda-se com a resistência. Hoje nós coçamos a coceira. Hoje à noite, na noite seguinte e na noite seguinte, eu adoraria seu corpo até que ela se separasse, uma e outra vez.

Agarrando meu pau, esfreguei a ponta em suas dobras. O estremecimento que a percorreu vibrou contra a minha pele e ela arqueou, seus quadris circulando enquanto ela procurava por mais. Eu me posicionei na entrada, parando e respirando fundo para me controlar. Então eu balancei dentro de um centímetro, o corpo de Londyn tão apertado e quente que fechei os olhos com força.

— Oh, Deus, — ela gemeu. Suas mãos chegaram ao meu peito e suas unhas cravaram no meu peitoral.

Meus quadris me levaram mais fundo, o pulso de seus músculos internos apertando com força. Deixei que ela se ajustasse ao meu redor e segui em frente. Eu me arrastei para dentro, lenta e deliberadamente, até que a base do meu pau estava enraizada contra sua carne.

— Porra, você se sente tão bem. — Eu deixei minha testa cair na dela, me dando outro momento.

— Eu estou... — Sua respiração acelerou quando seus quadris rolaram. — Mais.

Eu obedeci, trabalhando dentro e fora. O ritmo começou lento, mas aumentou rapidamente até cada vez que eu empurrava para dentro, nossos corpos batiam juntos e seus seios tremiam. Eu me mantive acima dela, meu abdômen tenso enquanto eu usava cada grama de força para manter a explosão vindo à distância.

Minha mão vagou entre nós, meu dedo encontrando seu clitóris. No minuto em que arranhei, ela quase caiu do chão.

—Brooks, — ela ofegou. Bastou roçar uma vez mais e todo o seu corpo estremeceu, desmoronando. Ela se contorceu, atingindo o orgasmo com uma série de gemidos e respirações que eram o paraíso em meus ouvidos.

Ela apertou em torno de mim, e a pressão na base da minha espinha era demais para afastar. Eu gozei no encalço de seu clímax, seu nome em meus lábios.

Quando me recuperei e as manchas brancas em minha visão desapareceram, deslizei e joguei fora a camisinha em um saco que trouxe para o lixo. Meu corpo estava úmido de suor e da água do lago.

Mal havia espaço suficiente para desmoronar ao seu lado, mas nós dois nos viramos de lado quando ela me deixou passar o braço atrás da cabeça.

Eu beijei sua têmpora e cabelo molhado. — Caramba, querida.

— Isso foi... — Ela engoliu em seco. — Uau.

— Você está confortável?

Ela se aconchegou no meu peito nu e assentiu.

Ficamos ali, quentes, suados e nus, protegidos do sol, enquanto olhávamos para o céu azul aberto acima. O barco nos balançava para frente e para trás. A água batia contra seus lados.

Uma semana. Eu tinha uma semana com essa mulher, talvez nove ou dez dias, para absorvê-la. Então eu a deixaria ir, já sabendo que vê-la ir embora ia doer como um filho da mãe.


Capítulo Dez

Londyn

 

No momento em que a batida soou, pulei da cama e corri para a maçaneta. Não me preocupei em verificar o olho mágico, Brooks bateu com os mesmos três toques curtos todas as noites.

—Ei. — Brooks sorriu quando eu abri a porta.

—Oi. — Peguei um punhado de sua camiseta e o arrastei para dentro.

Sua boca desceu sobre a minha enquanto ele fechava a porta com um chute. Éramos uma confusão de mãos e lábios enquanto ele me levava de costas para a cama, levantando-me pelas costelas para me deitar no colchão.

—Por que demorou tanto? — Eu respirei enquanto ele beijava seu caminho pelo meu pescoço.

Ele se afastou para olhar para o relógio na mesa de cabeceira, franzindo a testa. —Estou dois minutos atrasado.

—Exatamente. — Eu puxei a bainha de sua camisa, puxando-a pelas costas. —Estou esperando há muito tempo.

Ele revirou os olhos enquanto arrancava a camisa o resto do caminho. —Você poderia ter nos poupado algum tempo e atendido a porta nua.

Eu ri. —Amanhã.

—Promete?

Eu balancei a cabeça, alcançando entre nós o botão de sua calça jeans.

Era a terceira noite dos encontros de nossos quartos de hotel, e a dança para se livrar de roupas levou cada vez menos tempo a cada noite. A prática faz progressos.

Eu não tinha passado o dia com Brooks desde o nosso passeio de barco na sexta-feira. Ele esteve ocupado o fim de semana todo e incapaz de passar um tempo comigo durante o dia.

Eu tinha feito o meu melhor para não espiar. A janela do meu quarto tinha vista para os fundos do hotel, em direção ao lago e não ao seu quintal. Mas eu tinha saído do meu quarto e vagueado um pouco. Cada vez, seu caminhão tinha desaparecido da garagem em sua casa. Ok, eu tinha espionado.

Mas ele vinha ao meu quarto todas as noites e ficava por cinco ou seis horas, tempo suficiente para que eu estivesse exausta, quando ele partia para voltar para casa no escuro. Jantar e se beijar na pedra foi substituído por sexo quente, selvagem e suado. Uma troca justa.

Trabalhei para abrir o zíper do jeans de Brooks, mergulhando para enrolar minha mão em volta do seu eixo.

Ele mordeu meu lábio enquanto eu apertava. — Mulher travessa.

Essa mordida era apenas o começo. Provocamos e atormentamos um ao outro até que eu era uma bagunça contorcida e gritante, presa à cama com as mãos acima da cabeça e o seu corpo me levando até o limite.

Depois que nos separamos, ele caiu ao meu lado, aquele peito largo e glorioso arfando. Eu deslizei meus dedos na poeira de cabelo escuro sobre ele, descansando minha palma sobre seu mamilo duro.

—Eu não deveria ter malhado hoje, — ele respirou.

Virei de lado, apoiando minha cabeça em um cotovelo. —Você malhou?

Ele assentiu. —Fui correr esta manhã antes de ir para a garagem.

—Neste calor? — Cavalos selvagens não poderiam ter me arrastado para correr nesta umidade. Ele deveria ter vindo aqui em vez disso, eu o teria alongado. —Você normalmente corre?

—Segure essa pergunta. — Ele se abaixou e se levantou da cama, me dando um momento para apreciar sua bunda firme e a força em suas costas enquanto caminhava para o banheiro. Não demorou muito para se livrar do preservativo e voltar para a cama, a vista da frente tão linda quanto a de trás.

Ele espelhou minha posição, deitado de lado para me encarar, e jogou o lençol sobre nossas pernas e quadris. — Eu preciso lhe contar uma coisa.

Meu corpo ficou tenso. A última vez que ouvi essas palavras, Gemma me informou que a secretária estava grávida.

— Não é ruim. — Ele sorriu, usando a mão livre para esfregar o vinco entre as minhas sobrancelhas.

— OK. — Eu relaxei um pouco.

— A razão pela qual corri esta manhã foi porque meu filho me pediu para ir com ele.

— Seu filho? — Eu pisquei, repetindo a palavra. — Você tem um filho?

Brooks assentiu. — Eu tenho um filho. Ele tem dezesseis anos. Ele divide o tempo entre minha casa e a de Moira. Na semana passada, ele estava com ela. Esta semana, ele está comigo.

Ah. Isso explicava por que ele esteve ausente o fim de semana inteiro. Doeu que em todas as nossas conversas, eu não tinha descoberto sobre seu filho. — Por que você não me contou sobre ele?

— Não foi porque eu estava tentando escondê-lo de você. — Brooks pegou minha mão e entrelaçou nossos dedos. — Eu não queria que você soubesse sobre ele e ele não soubesse de você, se isso faz sentido.

— Sim. Você o colocou em primeiro lugar. — Um conceito estranho para meus próprios pais. Alguém na minha vida já me colocou em primeiro lugar? Eu não conseguia pensar em uma única pessoa, nem mesmo em Thomas. Somente se isso lhe servisse ele me faria uma prioridade.

O fato de Brooks colocar seu filho acima de qualquer outra pessoa o amava ainda mais.

Um pai solteiro. Um bom pai solteiro. Este homem estava melhorando.

— Qual o nome dele? — Eu perguntei.

— Wyatt.

— O entregador tailandês?

Brooks riu. — Sim. Na verdade, ele faz entregas para alguns restaurantes da cidade, não apenas para o tailandês.

— Oh. É onde ele está hoje à noite?

— Não, ele está em casa. Temos um jantar permanente com meus pais nas noites de segunda-feira. Na semana passada, implorei para encontrá-lo na lanchonete por torta. Mas Wyatt e eu fomos hoje à noite. Então chegamos em casa. Ele está em casa, mandando uma mensagem para uma garota.

— E você veio até mim.

Ele colocou uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. — Eu vim para você.

Eu vi agora, a semelhança entre pai e filho. Quando Wyatt estava no saguão do hotel, eu não tinha pensado porque, bem... por que eu deveria? Mas agora que eu poderia emparelhá-los, vi como Wyatt tinha o nariz de Brooks e a promessa da mesma constituição forte.

— Ele sabe de mim?

Brooks assentiu. — Ele sabe.

Eu não precisava perguntar como Wyatt se sentia sobre Brooks saindo com uma mulher que morava no hotel. Se o seu filho tivesse um problema comigo, Brooks já teria se despedido.

— Quando você contou a ele? — Eu perguntei.

— Este fim de semana. Eu disse a ele que estava apaixonado por uma das minhas clientes.

— Apaixonado?

— Completamente. — Ele rolou pela distância entre nós, seu peito nu pressionando o meu na cama. — Sinto muito por não lhe contar sobre ele mais cedo.

O tempo parecia ter diminuído no verão. Parecia que Brooks e eu estávamos juntos há um longo tempo, quando, na realidade, haviam passado menos de duas semanas. De pé no lugar dele, eu também não teria trazido Wyatt para a conversa cedo. Brooks, o protetor, esperou até a hora certa de compartilhar.

Uma sacudida de orgulho atingiu meu coração. Brooks me julgara valer a pena compartilhar. Ele poderia ter nos mantido em silêncio. Eu iria embora em breve. Mas ele me compartilhou com seu filho.

— Compreendo.

— Você entende?

Eu concordei, estudando a pele lisa em sua bochecha. Ele deve ter se barbeado antes do jantar com os pais. Corri meus dedos pelo seu maxilar em direção à têmpora. Não havia tons de cinza em seus cabelos loiros escuros. — Quantos anos você tem?

— Trinta e três.

Meus olhos se arregalaram. — E você tem um filho de dezesseis anos?

— Sim. Wyatt nasceu quando eu tinha dezessete anos.

— Uau.

Eu me tornei mãe quando tinha dezesseis anos. Ele se tornou um pai de verdade aos dezessete anos. Não havia dúvida de que sua juventude havia sido mais difícil. Também fazia sentido o porquê de nos conectarmos tão bem quando outros homens da minha idade pareciam tão imaturos.

As circunstâncias nos forçaram a crescer rapidamente.

— Você teve uma infância curta também.

Ele observou meu rosto, seus olhos suavizando. — Sim. Mas não me arrependo por um minuto. As coisas ficaram difíceis por alguns anos, mas eu tive ajuda. Eu tinha mais apoio do que você, com certeza. Meus pais. Moira também.

Moira era a mãe de Wyatt. Foi por isso que ela agiu contra o meu carro? Porque ela me via como uma ameaça não apenas para o ex-marido, mas também para o pai do filho? — Quando você se casou?

— Assim que completamos dezoito anos. — Brooks baixou a cabeça para a cama, deitado perto para que pudéssemos nos olhar. Entre nós, ele manteve o aperto na minha mão. — Moira e eu tentamos, por Wyatt. Mas ficou muito difícil, e eu não queria que meu filho crescesse pensando que era assim que um casamento deveria ser. Nós não ríamos. Nós não conversávamos um com o outro. Nós apenas... existíamos.

Isso parecia familiar. — Há quanto tempo você se divorciou?

— Dez anos. Você?

Eu hesitei. Parecia mais tempo, mas, na realidade, fazia apenas seis meses desde que eu peguei Thomas com a secretária. — Oficialmente, três semanas.

— Oh. — O olhar de Brooks caiu para o travesseiro, seu aperto na minha mão afrouxando. — Três semanas. Isso é, uh... três semanas.

Sem tempo, a menos que você conhecesse meu coração. Então você saberia que aquelas três semanas foram mais do que suficientes para dizer adeus ao meu casamento. No momento em que encontrei Thomas com seu pau dentro de uma secretária que gemia, eu deixei de amá-lo. Tive meses durante o processo de divórcio e acordo para fazer as pazes com o fim.

Mudei meu sobrenome. Eu tinha arranjado para deixar a casa que tínhamos compartilhado. Fugir não era nada difícil.

Brooks passou a mão livre pelo queixo. — Isso provavelmente é uma semana tarde demais, mas isso é uma coisa rebote? Ou algum passo que você tem que tomar para superar o seu ex?

—Nunca. — Eu me movi para encontrar seus olhos. —Você não é um rebote.

—Você tem certeza disso?

Eu peguei sua bochecha. — Não estou passando tempo com você, fazendo sexo com você, porque estou aqui para provar ao meu ex-marido que segui em frente. Não estou fazendo sexo com você porque preciso provar a mim mesma que segui em frente. Estou fazendo sexo com você porque você beija muito bem, suas mãos parecem um sonho no meu corpo e, caso você não tenha percebido, estou apaixonada por você também.

Brooks sorriu, o alívio tomando conta de nós dois. ——Diga-me mais alguma coisa sobre você.

—Como o quê?

—Eu não sei. Qualquer coisa.

Eu caí para o lado dele, esticando uma perna na dele enquanto me enrolava em seu peito. Seu braço envolveu meus ombros para me prender perto.

Se esta noite fosse qualquer coisa como a noite passada e a noite anterior, nós ficaríamos aqui conversando por um tempo antes que um de nós fizesse um movimento. Não demorou muito para acender o calor fervente, um toque no meu peito, um arranhão ao longo de sua coxa, um sussurro em meu ouvido. Mas primeiro, conversaríamos.

O jogo de perguntas que começamos na pedra tinha como objetivo ser uma via de mão dupla. Exceto a cada noite, eu me pegava falando mais sobre mim do que Brooks sobre si mesmo. Era porque ele estava tentando impedir Wyatt de entrar na mistura? Ou eu tinha assumido nossas conversas, sem querer, mantendo o foco em mim mesma?

Eu estava deixando muitas histórias para trás, mas apenas levando algumas das dele comigo em minha jornada.

— Por que sempre conversamos sobre mim? — Eu perguntei.

— Porque eu quero saber tudo, e estou ficando sem tempo.

Estávamos ficando sem tempo. — Meu carro ainda está na pista para ser entregue na sexta-feira?

— Pelo que sei.

Mesmo se eu passasse o fim de semana, a essa hora da próxima semana, eu teria ido embora.

Talvez fosse mais fácil continuar falando de mim. Quanto mais eu descobria sobre Brooks, mais difícil era imaginar deixá-lo para trás. Eu sabia tudo o que havia para saber sobre Thomas, e não tinha pensado duas vezes em fugir de Boston.

Meu estômago apertou, a ansiedade daquele dia crescendo. Fugir de Summers seria cem vezes mais difícil do que sair de Boston. Necessário, mas angustiante.

— Você disse que o carro estava indo para um amigo na Califórnia. Quem? — Ele perguntou.

— O nome dele é Karson.

— Ele?

Gostei da sugestão de ciúme em sua voz, não que houvesse qualquer razão para ter ciúme. Karson era apenas uma boa memória. — Karson também era um fugitivo. Ele morava no ferro-velho, na verdade, foi ele quem o descobriu.

Karson estava vagando por Temecula, procurando um banco ou algum lugar para dormir uma noite. Quando ele não encontrou nada de seu gosto, ele continuou andando até que avistou uma fogueira.

O velho que administrava o ferro-velho estava queimando alguns restos de madeira em um barril. A luz chamou a atenção de Karson e ele entrou sorrateiramente, dormindo sob as estrelas em um banco de espuma que antes estivera em um caminhão.

— Ele morava lá havia um mês antes que o dono do quintal finalmente saísse uma noite com um cobertor. Lou Miley era o seu nome, o dono do ferro-velho.

Falar seu nome trouxe um sorriso aos meus lábios. A última vez que falei com Lou foi quando liguei para comprar o Cadillac. Ele parecia o mesmo de sempre. Rude e mal-humorado. Ele falava em grunhidos sempre que possível. Lou era uma alma naturalmente infeliz, irritada pelo mundo convencional. Mas para nós, crianças, ele abriu seu coração. Ele foi nosso herói.

Lou se foi agora. Três meses depois que eu comprei o Cadillac, Gemma soube que ele morrera enquanto dormia. Lou não havia socializado muito, mas eu sabia de seis pessoas que lamentariam sua morte, inclusive eu.

— Então, como você conheceu Karson?

— Gemma, — eu disse. — Eles moravam no mesmo parque de trailers. Quando ele parou de voltar para casa depois da escola, ela sabia que ele havia partido. Então, quando ela fugiu, ela perguntou ao redor até que ela o encontrou. Ele a instalou no ferro-velho também. Então ela me encontrou um mês depois e dois se tornaram três.

Eu estava procurando comida no lixo atrás de um restaurante. Ela tirou um sanduíche da minha mão, revirou os olhos e ordenou que eu a seguisse. Ela me levou para o ferro-velho, compartilhou um pouco de seu estoque de comida e me apresentou a Karson.

—Três— Brooks tamborilou o número nas minhas costas. —Eu pensei que você disse que havia seis de vocês, crianças.

— Éramos apenas nós três por cerca de dois meses. Então Katherine apareceu. Ela conheceu Karson no lava-rápido onde ele trabalhava. Depois vieram Aria e Clara. Essas duas eram minhas recrutas.

Parecia estranho dizer recrutas. A maioria dos pais franziria a testa com a ideia de um filho convencer outro a fugir de casa. Mas lar nem sempre foi um termo amoroso. Às vezes, casa significava dor e medo. O lar era o que estávamos procurando escapar.

— Onde você as encontrou? — Perguntou Brooks. Não havia julgamento em sua voz. O choque da história da minha vida desapareceu desde a nossa primeira noite juntos. Ele se tornara mais curioso. Ele aceitou que fugir foi o melhor de uma longa lista de opções de merda.

Tinha sido para Aria e Clara também.

— Elas me encontraram. Elas moravam a dois trailers de meus pais com o tio. Quando elas tinham dez anos, seus pais morreram em um acidente de carro. O tio, ele era... não era certo. Você sabe como pode ver alguém à distância e sentir aquele arrepio na espinha? Era ele mesmo. Aria e Clara não me contaram muito sobre por que foram embora, mas não precisaram. Elas entraram no ferro-velho um dia e nunca mais olharam para trás.

Eu ainda podia imaginar as gêmeas entrando de mãos dadas no ferro-velho como se fossem as donas do lugar. Elas ouviram de algumas crianças na pizzaria onde eu trabalhava, que era onde eu estava saindo.

Não contamos às pessoas, nem mesmo a outras crianças, que realmente morávamos lá por medo de que a polícia aparecesse e nos levasse para casa.

— Então Karson está na Califórnia ...


— Talvez, — eu disse. — Na verdade, não sei se Karson ainda está lá. Há alguns anos, Gemma soube que ele ainda morava em Temecula, ele estava no funeral de Lou, mas ele pode ter se mudado desde então.

— É por isso que você vai lá primeiro. Para ver se ele está lá.

— Sim. Talvez os outros também estejam, eu não sei. Katherine poderia estar em Montana, onde Gemma e eu a deixamos. Aria e Clara eram um ano mais novas que eu e ficaram no ferro-velho quando saímos. Até onde eu sei, Karson ficou com elas.

— Se ele não estiver lá?

Dei de ombros. — Eu o encontrarei. A Califórnia é apenas o meu ponto de partida.

Eu rastrearia Karson e entregaria o carro a ele. Nosso carro

— Vivíamos juntos no Cadillac, — disse a Brooks. — É por isso que quero dar a ele. Era tanto dele quanto meu.

— Onde todo mundo morava? Em outros carros?

Eu me movi para colocar meu queixo em seu peito e encontrar seus olhos. — Não. Não havia muitos carros ainda intactos. A maior parte era um cemitério de pedaços e peças enferrujadas. Gemma construiu uma barraca para si mesma. Tudo começou como uma pequena cabana que ela construiu com uma folha de metal, depois foi crescendo e crescendo. Mais ou menos como o império que ela construiu em Boston.

— O que ela faz? — Brooks perguntou, seus dedos flutuando no meu cabelo enquanto eu falava.

— Ela começou vendendo imóveis. Então ela pegou o dinheiro que ganhou e criou uma linha de cosméticos. A partir daí, ela entrou na moda. Então ela comprou uma concessionária de automóveis. Ela é uma parceira silenciosa em três dos melhores restaurantes de Boston. Ela tem esse dom. Ela pega um dólar e o transforma em dez.

Thomas não gostava de Gemma, principalmente porque estava com ciúmes. No seu ritmo, ela o superaria em riqueza nos próximos cinco anos. Eu só esperava que ela encontrasse alguma felicidade fora do trabalho. Eu não queria uma vida voltada para o trabalho para minha amiga.

Eu queria vê-la rir mais, como fazíamos naqueles dias juntas.

Mas o que quer que ela estivesse procurando, ela ainda não havia encontrado.

Nem eu.

— Sua barraca era a área comum para nós. — Eu sorri, lembrando de todos nós sentados de pernas cruzadas no centro de sua barraca enquanto jogávamos pôquer, fazendo lances com palitos de dente em vez de fichas. — Ela encontrou essas lonas e criou espaços diferentes. Katherine ficou na barraca com Gemma. Aria e Clara fizeram a sua casa na carcaça de um caminhão de entrega quebrado.

Era maior que o Cadillac, mas Karson e eu tínhamos provocado incansavelmente que nosso carro tinha estilo enquanto o deles era uma caixa branca.

— Você e Karson...

— Um casal? — Eu perguntei e Brooks assentiu. — Sim. Por pouco tempo.

Além de Gemma, Karson foi a primeira pessoa que eu realmente amei. Ele foi a primeira pessoa que me mostrou como era ser amada. A lembrança daquela paixão de infância era eterna.

— Terminamos quando saí com Gemma e Katherine para Montana. Nós dois sabíamos que um relacionamento de longa distância na nossa idade não ia durar. Perdi o contato com ele, mas sempre fiquei curiosa sobre como sua vida acabou.

Brooks cantarolava. — Eu acho que você descobrirá em breve.

— Só espero encontrá-lo bem. — Iria quebrar meu coração se Karson tivesse perdido a centelha do garoto que eu amava. O menino que viveu com carisma e confiança. Ele nunca olhou para a nossa situação com nada além de entusiasmo. Talvez seja por isso que considerei aqueles anos uma aventura. Karson tornou aquele momento mágico.

Ele era por todos nós. Ele era o protetor. O criador de piadas. O ombro para chorar. Karson era a rocha e a razão pela qual todos nós sobrevivemos fugindo de casa relativamente ilesos.

— E se você não o encontrar? — Perguntou Brooks.

— Eu vou encontrá-lo. — De alguma forma, eu o localizaria. — Eu realmente quero que ele fique com o Cadillac.

— Por quê? Você ama esse carro.

— Eu amo aquele carro. Mas eu simplesmente sinto que já estou cansado disso. Que deveria pertencer a ele também. Sim, eu paguei por isso. Mas não parece... meu. Isso faz algum sentido?

Brooks ficou quieto por um longo momento, depois se inclinou e beijou minha testa. — Sim, querida. Faz.

Eu pressionei minha bochecha em seu coração. Nunca foi preciso muita explicação para Brooks. Ele sabia como eu me sentia, mesmo que não pudesse articular.

— Então você vai encontrar Karson e dar o carro a ele. Você procurará os outros também? —Ele perguntou.

— Talvez.

Eu realmente não tinha pensado tão longe, meu foco muito em primeiro encontrar Karson.

Seria bom ver o que aconteceu com suas vidas. Quando eu encontrar Karson, ele deve saber para onde os outros foram. Eu pensei em Katherine, Aria e Clara ao longo dos anos. Eles estavam felizes? Eles lutaram contra seus próprios demônios e saíram como vencedores?

— Sim, — eu sussurrei. — Acho que gostaria de vê-los todos novamente.

—Então eu tenho certeza que você vai. — Brooks me rolou de seu ombro para minhas costas. Ele veio em cima de mim, tirando meu cabelo do rosto. —Fique. Só mais um pouco. Antes de sair para encontrar essas pessoas e eu nunca mais vou vê-la, fique. Dê-me mais duas semanas, não uma.

Sim.

A palavra estava ali. Abri minha boca para dizer isso. Mas quando eu olhei para aqueles brilhantes olhos azuis, ela não veio. E se eu ficasse e nunca deixasse Summers? E se eu me arrependesse de desistir da minha chance de liberdade? E se eu ficasse e ele partisse meu coração?

Não suportava pensar em Brooks como outro erro. Ele não.

Boston nunca foi meu plano de longo prazo. Eu fui lá sabendo que iria embora. Mas então eu conheci Thomas. Ele me pediu para ficar também. Veja onde isso me levou.

Eu queria dizer que sim. Droga, eu quero dizer que sim. Especialmente para Brooks. E foi exatamente por isso que a resposta tinha que ser...

— Não.


Capítulo Onze

Brooks

 

Desliguei o telefone, colocando-o no painel do barco. — Era a oficina de carrocerias. Seu carro está pronto.

—Ok. — Londyn manteve o olhar na água. — Nós temos que ir buscá-lo agora? Ou podemos ficar aqui um pouco?

—Podemos ficar.

Ficaríamos o tempo suficiente para eu memorizar como ela estava hoje. Seu cabelo estava preso em um coque, ainda molhado do nosso mergulho. Óculos escuros cobriram seus olhos. A única coisa que ela usava era um biquíni preto simples que ela comprou em uma loja local hoje quando eu a convidei para passar a tarde comigo no barco.

Ela era de tirar o fôlego. Era assim que eu a imaginaria nos anos que viriam. Eu me lembraria dela sentada naquele lugar, tomando banho de sol e roubando meu coração a cada segundo que passava.

A semana passou rápido demais.

Esse sempre parecia ser o caso quando o fim se aproximava.

Mack me mandou uma mensagem no início da semana, estimando que ele o carro de Londyn estaria pronto na sexta-feira. Bem, sexta-feira estava aqui, e fiel à sua palavra, estava feito. Ela iria embora em breve, o que tornou minha decisão de tirar o dia de folga do trabalho ainda mais inteligente.

Eu liguei para Tony esta manhã e perguntei se ele poderia cobrir a oficina. Às sextas-feiras eram tipicamente ocupadas, mas ele me garantiu que cuidaria de todas as trocas de óleo que ocorressem. Na pior das hipóteses, ele dispensaria o pessoal na segunda-feira. Uma sexta-feira de distância não iria afundar meu negócio. Um dia perdido com Londyn me consumiria por anos.

A primeira coisa que fiz foi ir até o seu quarto, antes que ela desaparecesse em uma de suas caminhadas pela cidade, e pedi a ela para passar o dia comigo. Fomos tomar café da manhã no restaurante. Encontramos um maiô para ela no Walmart. Nós carregamos mantimentos para um piquenique. Então nós fomos para a água.

Muito parecido com a primeira vez, eu nos cruzei ao redor do lago antes de chegar ao meio para flutuar. Então tirei seu biquíni e fiz amor com ela no chão. Nós nos refrescamos depois com um mergulho. Eu tinha acabado de me enxugar quando meu telefone tocou e Mack estragou meu dia.

Ela estava indo embora.

Porra. Eu estava destinado a ficar sozinho? Antes de Moira, não havia muitas garotas. Apenas algumas aventuras no colégio, esquecidas antes mesmo de começar. Depois que Moira e eu ficamos juntos, ela deixou conhecido em Summers High que eu estava fora de questão.

Nosso casamento estava condenado desde o início. Moira e eu éramos opostos em todos os sentidos da palavra, aquele velho ditado era uma besteira. Os opostos não se atraem. Eles se irritam.

Após o divórcio, depois de minhas tentativas fracassadas de namoro, decidi que preferia ficar solteiro do que com uma mulher mais interessada no dinheiro dos meus pais do que em mim e na minha simples oficina. Claro, eu tinha uma bela casa e um barco novo. Tinha merecido essas coisas. Eu paguei por elas trabalhando muito.

Tinha Wyatt. Tinha minha família. Eu não me sentia sozinho.

Até Londyn.

Ela explodiu na cidade e me fez perceber o buraco na minha vida. O espaço vazio no formato exato de uma loira de um metro e meio de altura e olhos verdes-jade.

Maldição, eu sentiria falta dela.

— É realmente bonito aqui. — Ela sorriu, olhando para as árvores que cercavam o lago. — Não sei se vou encontrar outro lago tão bonito quanto este.

Meu coração. Substitua lago por mulher e ela expressou os pensamentos em minha mente.

Ela esteve fazendo comentários assim durante toda a semana, lembrando-nos que ela estava indo embora. Como eu poderia esquecer? Os minutos estavam passando muito rapidamente. As noites que passei em seu quarto de hotel não foram suficientes. Ainda tínhamos o fim de semana, mas eu precisava de mais.

Eu não conseguiria mais. Perguntei uma vez.

Não perguntaria de novo.

Um não dessa mulher foi o suficiente para destruir minhas esperanças para sempre.

Londyn estava indo embora. Não tive escolha senão aceitar, até mesmo apreciar.

Quanto mais ela ficava, mais eu continuava implorando por mais um dia. Eu pressionava por uma semana, depois um mês, depois um ano.

Estava com fome dela de uma maneira que nunca estaria cheio.

— Quer viajar por aí? — perguntei.

— Não. — Ela se afastou da vista e tirou os óculos escuros do rosto. As manchas de esmeralda em seus olhos dançavam à luz do sol quando ela pegou o laço do biquíni atrás do pescoço.

Eu sorri. Com fome.

 

Passamos o resto da tarde no lago, explorando a água entre as pausas para explorar um ao outro. No final da tarde, o lago estava cheio de barcos, pessoas na água por algumas horas antes de escurecer para começar o fim de semana. Nem Londyn nem eu nos sentimos como se estivéssemos no meio da multidão, então encerramos o dia.

O barco estava amarrado ao cais e estávamos na minha caminhonete, indo para a oficina para verificar o carro dela. Mack me fez um favor e trouxe para mim, então eu não tive que pegar. Tony mandou uma mensagem dizendo que estava trancado com segurança lá dentro.

—Quer jantar na rocha hoje à noite? — Perguntou Londyn.

— Ou... poderíamos comer na minha casa. Com Wyatt.

Ela olhou, as sobrancelhas erguendo-se acima dos grandes óculos de sol. —Você quer que eu conheça seu filho?

— Você já não o conheceu?

—Bem, sim. Isso é um pouco diferente, você não acha?

—Na verdade não. Somos só você e eu jantando com uma criança que provavelmente estará no telefone o tempo todo.

Ela empurrou os óculos de sol no cabelo e se virou para mim. — Isso é inteligente? Eu estou indo embora na segunda-feira.

— Eu sei. Mas Wyatt sabe sobre você. Ele sabe que você está indo embora. Ele é minha pessoa favorita no mundo. Você está escalando rapidamente essa lista. Pela primeira vez, tenho dois favoritos no mesmo lugar. Estou tentando capitalizar enquanto posso.

Ela me deu um pequeno sorriso. —Entendi. Como você me apresentaria?

—Como uma amiga. — Ou uma namorada. Meu filho não era idiota. Ele sabia para onde eu ia todas as noites.

Londyn pensou por um minuto e então assentiu. —Tudo certo. Como uma amiga.

Namorada.

— Pizza? — Eu nos guiei para o estacionamento traseiro da garagem onde Tony e eu normalmente estacionamos. — Wyatt já deve ter acabado com o futebol. Posso mandar uma mensagem para ele pegar uma para nós.

— Eu nunca digo não para pizza.

Eu sorri. —Nem eu.

Essa coisa conosco era boa, muito boa. Se Londyn tivesse se mudado para Summers, isso poderia ter se tornado uma coisa real. Ela só estava aqui há algumas semanas e era mais real do que qualquer coisa que eu tive em uma década.

Eu precisava de uma mulher como ela, que amava pizza mais do que o número em sua balança de banheiro. Uma mulher que passou um tempo no meu barco, feliz, por longos períodos de tempo em que nenhuma palavra foi dita. Uma mulher que preferia jantar em uma pedra a um restaurante chique.

Londyn seria perfeita se ela não estivesse tão decidida a partir.

Então, novamente, talvez o motivo pelo qual encaixamos tão bem foi porque havia um limite de tempo.

Deixando esse pensamento intocado, saí da caminhonete, contornando a parte de trás para abrir a porta de Londyn. Então eu peguei sua mão e a acompanhei até a oficina. Coloquei minha chave na fechadura, não encontrando resistência quando me virei.

Porra. Meu estômago apertou. Essa porta deveria estar trancada, algo que Tony teria feito antes de ir para casa. Dei alguns passos para trás, olhando ao redor da esquina do prédio para ver se a caminhonete de Tony ainda estava aqui. Talvez ele tenha estacionado ao lado do equipamento de reboque hoje, mas aquele espaço estava vazio.

— O que? — Perguntou Londyn.

— A porta está destrancada. — Voltei para a maçaneta, girando-a lentamente enquanto enfiava a cabeça dentro. — Olá?

A oficina estava escura como breu. Minha voz ricocheteou nas paredes, mas por outro lado, a oficina estava silenciosa. Atrás de mim, Londyn colocou a mão nas minhas costas, a pressão suave enquanto ela me seguia pelo corredor e para a sala principal. Acendi uma linha de luzes, examinando o lugar.

Nada parecia fora do comum até que Londyn ofegou.

— O que... -— Eu segui seu olhar para os pneus do Cadillac.

Eles foram cortados.

Corri para o carro, andando ao redor dele enquanto o inspecionava do teto às rodas e do para-choque ao para-lama. Não havia nada de errado com eles, exceto que todos os quatro pneus foram cortados, a borracha pendurada nos aros.

— Porra. — Passei a mão pelo cabelo. Eu deveria ter pego aquela chave de Moira quando fui para a casa dela. Estava impaciente para sair. Achei que ela tinha feito o pior e eu poderia pedir a Wyatt que pegasse isso dela mais tarde. Esse erro foi culpa minha.

— Isto...

— Moira?

— Sim, — eu cortei. — Eu vou chamar a polícia.

Eu peguei meu telefone do bolso, pronto para discar para o xerife, mas Londyn me parou com uma mão no braço.

— E se não for ela?

— Quem mais poderia ser?

Ela fez uma careta. — Meu ex.

— Você acha?

— Bem, na primeira vez, eu teria dito não. Mas Thomas sabe que estou aqui e há meses tenta fazer com que eu o ouça. O que ele quer mais do que tudo é que eu volte para Boston.

— Mas não o teríamos visto pela cidade? Ele não me parece o tipo de cara que se esconde nos cantos. — Thomas era um babaca rico e arrogante. Ele dirigiu até Summers e encontrou Londyn imediatamente. Era ousado, não um covarde que destruía o carro de uma mulher em segredo.

— Talvez aquele investigador que ele contratou tenha feito isso por ele? Eu não sei. — Seus olhos caíram para os pneus e ela pressionou as pontas dos dedos nas têmporas. —Eu não posso acreditar nisso.

—Nem eu. — Eu abaixei minha cabeça. —São apenas pneus.

— Isso é loucura. Totalmente insano. Eu me sinto... violada. Este é o meu carro. Meu lindo carro não merece isso.

— Eu sinto muito. Eu sinto muito. — Eu a puxei para o meu lado. — Eu posso consertar. Tudo o que tenho a fazer é pedir os pneus. Já passou da sexta-feira, mas posso fazer o pedido e eles estarão aqui na segunda-feira. Você pode não conseguir sair logo de manhã.

— Tudo bem, — ela murmurou, os olhos ainda presos nos cortes na borracha. — Se a sua ex está tão desesperada para se livrar de mim, por que fazer isso? Eu não acho que foi ela. Se ela os tivesse deixado em paz, eu já teria ido embora.

Meu estômago apertou com a ideia de tê-la perdido há uma semana. Eu odiava a coisa com seu carro, mas eu consegui um tempo com Londyn que do contrário teríamos perdido.

Mas tinha que ser ela. Isso era tão familiar que me deixava doente. Quando diabos Moira cresceria?

— Ela deve estar preocupada que você possa ficar, — eu disse. — Esta é a maneira dela de tentar expulsá-la da cidade.

— Ou não é ela. — Londyn pegou o telefone da bolsa, o que eu havia lhe dado. — Isso parece viscoso e desonesto. Há um ano, eu não diria que era Thomas, mas acontece que eu não conhecia meu marido tão bem. Vou fazer uma ligação.

— Ok. — Eu beijei seus cabelos. — Vou deixar você sozinha e pedir seus pneus.

— Obrigada. — Seus ombros caíram quando ela discou o número.

Eu desapareci no escritório, caindo na minha cadeira. — Porra.

Por que isso estava acontecendo? Eu podia ouvir Londyn falando, mas não precisava saber o que o seu ex ia dizer. Ele não tinha cortado os pneus dela.

Isso tinha Moira escrito por toda parte.

Por que ela não podia simplesmente me deixar seguir em frente? Eu não queria que ela vivesse uma vida solitária. Ela não namorava, mas eu não ficaria no caminho se ela quisesse. Peguei o telefone na mesa e disquei o número dela.

Ela atendeu no primeiro toque. — Ei.

— Por que você fez isso?

— Olá para você também.

— Ela está indo embora, Moira. Ela não é uma ameaça. Mas toda essa atitude: se eu não posso ter você, ninguém pode, está ficando cansativa. Deixe-a em paz. Deixe o seu carro em paz.

Silêncio. Um momento depois, ouvi o tom de discagem.

Não era a primeira vez que Moira desligava na minha cara e não seria a última. Coloquei o fone no gancho e suspirei.

A voz de Londyn veio da oficina para o escritório, e embora eu soubesse que não deveria ouvir, eu ouvi de qualquer maneira.

— Sinto muito, Thomas.

Isso chamou minha atenção. Por que ela estava se desculpando? Por ligar? Eu sentei imóvel, meus ouvidos procurando por mais.

— Adeus. — Londyn soltou um gemido, então seus passos se arrastaram em direção ao escritório.

— Ele não? — Eu perguntei quando ela se inclinou contra o batente da porta.

— Não. Ele está em Boston com a secretária... a sua namorada. Ou amante. Seja o que for. O nome dela é Raylene.

— Ele a traiu?

Ela assentiu. — Com a mulher que estava sentada em frente à minha mesa. Raylene era sua outra assistente.

Isso não tinha aparecido em todas as nossas conversas. Se eu não tivesse perguntado a ela no início desta semana sobre ser um rebote, poderia ter duvidado de sua motivação para estar comigo se soubesse que Thomas era um traidor. Mas eu acreditava em Londyn. Nada sobre isso parecia superficial ou distante. Ela estava nisso, tudo isso, assim como eu.

— Droga. — Agora eu estava realmente curioso por que ela se desculpou com o idiota.

— Ela está gravida.

— O que? — Meu queixo caiu. Então esse cara a traiu e engravidou sua colega de trabalho? Eu deveria ter batido nele quando tive a chance. — Caramba.

— Praticamente. — Ela fechou os olhos. — Bem, ela estava grávida. Ela teve um aborto espontâneo. Quando liguei, ele estava no hospital com ela.

— Merda. — Apoiei meus cotovelos nos joelhos. — Isso é horrível.

— Eu me sinto horrível. Não gosto de nenhum deles, mas não desejaria isso a ninguém. — Ela entrou no escritório e afundou na cadeira de visitantes. — Acho que sabemos que Thomas não teve nada a ver com meus pneus. Duvido que ele tivesse mentido para mim, não hoje.

— Eu entendo porque você ligou para perguntar, mas Londyn, foi Moira. Liguei para ela quando cheguei aqui e ela nem mesmo negou.

— Talvez jantar com Wyatt não seja uma boa ideia. — Ela me deu um sorriso triste. — Você come com ele esta noite. Passe um tempo com seu filho. Venha para o hotel se quiser, mais tarde. E na segunda-feira, Moira não terá nada com que se preocupar.

Sim, ela estava indo embora, mas ainda não tinha ido.

— Ela não pode vencer. — Eu me levantei e acenei para ela sair do escritório. Eu não tinha encomendado pneus para ela, mas ligaria para eles mais tarde. Íamos comer pizza com meu filho e ficar na minha casa. Seu quarto de hotel era apenas mais um lembrete de que ela estava indo embora, e eu estaria condenado se passasse outra noite lá, quando eu tinha uma cama perfeitamente boa em minha própria casa. —Vamos.

—Onde estamos indo? — Ela perguntou quando apaguei a luz atrás dela. — Brooks, não precisamos fazer isso com sua ex. Ela é louca. Você está chateado. Eu estou chateada. Mas são apenas pneus.

— Os pneus são caros. O que ela fez não está certo. — Peguei a mão de Londyn, prendendo-a em minhas mãos enquanto caminhávamos pela oficina até a porta dos fundos.

Ela puxou meu braço, diminuindo meu ritmo. —Normalmente, eu diria para ir atrás dela. Mas não hoje. Estou indo embora na segunda-feira e não quero que isso seja uma coisa. Ela se safa dessa vez.

Eu fiz uma careta. —Eu vou chamar a polícia.

— E o que eles vão fazer? Prendê-la? Multá-la? Enquanto ficamos aqui por horas sendo questionados para um relatório? Não quero passar meus últimos dias em Summers com a polícia.

Eu também não. Mas estava farto dos desaforos de Moira. Ela não parava de agir como uma pirralha e me custou tempo e dinheiro. Se ela não me ouvisse, talvez o xerife tivesse mais influência.

—Vamos encerrar por hoje. — Londyn apertou minha mão.

De jeito nenhum. —Que tipo de pizza você gosta?

— Uh... Não sou exigente, mas...

— Wyatt gosta de pepperoni, salsicha, bacon e presunto.

—Isso é muita carne.

—Ele é um menino em crescimento. — Eu olhei para ela. —Você está bem com isso ou precisa de alguns vegetais aí também?

— Eu não diria não à cebola, ao pimentão verde e às azeitonas. Mas eu não preciso deles se ele for exigente.

Fiquei feliz em ver que ela havia parado de objetar, não que eu estivesse aceitando não como resposta. — Wyatt comerá qualquer coisa com queijo e carne.

Empurrei a porta, segurando-a aberta para Londyn. Então eu tranquei, não que isso importasse agora. Moira tinha feito seu dano.

Os pneus estavam péssimos. Mas eu negociaria, como sempre. Eu faria isso direito. E por hoje, não ia deixar isso tirar do meu tempo com Londyn. Ela parecia estar deixando passar também. Ou ela era a mulher mais fácil do mundo, ou ela estava apreciando este tempo juntos também.

Subimos na minha caminhonete e liguei para Wyatt com instruções para pizza. Ele concordou em pegá-la no caminho para casa.

—Devemos pegar algo para sobremesa? — Londyn perguntou quando nos afastamos da oficina.

—Eu vou fazer brownies.

Ela levantou uma sobrancelha. —Você pode fazer brownies? Sinto que fui enganada na semana passada.

Eu ri. — Eu vou compensar você no meu quarto.

—Seu quarto? Eu vou passar a noite?

—Vamos dar um descanso ao hotel. O que você diz?

— Isso é apropriado se Wyatt estiver em casa?

Gostei que ela se importasse com o meu filho. — Ele tem dezesseis anos. Ele sabe o que venho fazendo todas as noites esta semana.

— Eu. Você está me fazendo.

— Isso mesmo. — Eu sorri — Todas as chances que eu tenho.


Capítulo Doze

Londyn

 

— Bom dia, —eu disse quando entrei na cozinha.

Brooks estava ao lado do fogão, mexendo ovos mexidos em uma frigideira. O cheiro de café fresco e bacon espalhou-se pela sala, fazendo minha boca salivar. Assim como o chef. Ele estava vestido com shorts jeans verde-oliva e uma camiseta preta, o logotipo da oficina na frente. Seu cabelo ainda estava úmido do banho.

Eu tinha a intenção de ir para o hotel depois da pizza na noite passada, mas Brooks era teimoso e astuto. Ele não me pediu para ficar, ele apenas fez acontecer. Ele me esgotou até que eu desmaiei, felizmente saciada. Acordei sozinha em sua cama enorme esta manhã, enquanto o sol entrava pelas janelas de seu quarto.

Acordar com o sol agora era uma obrigação para todos os dias futuros.

Brooks parecia fresco, limpo e delicioso. Eu estava com a camiseta regata e shorts de ontem, usando sua sunga como cueca.

Eu caminhei por trás dele, ficando na ponta dos pés para um beijo. —Eu vou sair daqui antes de Wy...

—Bom dia pai. Senhorita Londyn. — Wyatt entrou na cozinha vestindo quase a mesma coisa que seu pai, exceto que sua camiseta da Cohen’s Garage era cinza e seu short escuro.

— Ei, garoto. Você está com fome? — Brooks perguntou por cima do ombro.

— Morrendo de fome. — Wyatt sentou-se na ilha da cozinha, com os olhos enevoados pelo sono. Ele corou quando encontrou meu olhar, depois baixou os olhos para o prato que Brooks já havia posto.

Oh, merda. Ele nos ouviu ontem à noite? Eu olhei para Brooks, mortificada por seu filho ter me ouvido gemer em um travesseiro, mas ele não ajudou. Ele encolheu os ombros.

— Eu vou, — eu murmurei.

— Café ou suco de laranja?

— Suco de laranja. Mas...

— Wyatt, você vai buscar um copo de suco de laranja para Londyn? E sirva um para mim e para você também, por favor.

— Claro, pai. — Ele bocejou, escorregando do banquinho.

— Brooks, eu estou um desastre. Eu estou vestindo um biquíni e as roupas de ontem, — eu sussurrei.

Ele se aproximou enquanto Wyatt andava pela cozinha, pegando nossas bebidas. — Você pode trocar depois do café da manhã.

— Eu não posso ficar e comer com vocês. Já é ruim o suficiente eu estar envergonhada na frente do seu filho.

— Ele tem dezesseis, não seis. Além disso, é a sua vez. Ando envergonhado por Meggie há uma semana.

— Isso é totalmente diferente.

Um sorriso apareceu em seus lábios. — Wyatt, você se importa se Londyn está vestindo as mesmas roupas que ela estava ontem?

— Brooks, — eu assobiei, golpeando-o no peito ao mesmo tempo em que Wyatt disse: — Não.

— Viu? — Brooks sorriu. — Vá se sentar. Isso está pronto.

— Tudo bem, — eu murmurei, indo para a ilha. Peguei o banquinho à direita, deixando um entre mim e Wyatt para Brooks. Ele veio com a panela, preparou nossos ovos e voltou com um prato cheio de bacon. — Isso é muita carne de porco.

Brooks assentiu para Wyatt. — Lembra o que eu lhe disse ontem? Garoto em crescimento.

— Acho que nunca vou esquecer de ver uma pessoa comer uma pizza extragrande inteira.

Wyatt ficou quieto — Ele estava sonâmbulo? — depois empilhou um punhado de tiras de bacon em cima dos ovos.

— Wyatt leva um tempo para acordar, — disse Brooks.

Mas ele não tinha problemas para comer. O adolescente mergulhou em seu prato com o mesmo gosto que ele comeu a pizza na noite passada. Quando enfiou metade dos ovos e duas tiras na boca, ele parecia coerente. — A que horas vamos hoje, pai?

— Não sei, — disse Brooks, pegando bacon no próprio prato e colocando um pedaço no meu. — Quanto tempo você leva para se arrumar?

Quando Wyatt não respondeu, olhei para cima e vi que Brooks havia me feito a pergunta. — Eu? Preparar-me para o que?

— Vamos passar o dia na casa dos meus pais.

— Não. — O filho era uma coisa, mas seus pais? Nunca vai acontecer.

— Por que não? Eles são os melhores e vai ser divertido. Estamos pegando o barco deles.

— O barco do vovô é duas vezes maior que o do papai, — disse Wyatt com a cabeça inclinada sobre o prato entre as mordidas inaladas.

— Isso é bom. — Inclinei-me para sorrir para Wyatt, depois me inclinei para franzir a testa para o pai. — Não.

— Você deveria vir. — Wyatt mastigou um pedaço de bacon.

— Ela vai vir. — Brooks apontou o garfo para o meu prato. — Coma.

Revirei os olhos e foquei na minha refeição. Eu comeria e desapareceria antes que os homens Cohen me encurralassem para participar de um evento familiar.

Quando meu prato estava limpo, levei-o para a pia, lavando-o antes de colocá-lo na máquina de lavar louça. Então eu fui embora, praticamente correndo pela cozinha para o corredor que levava à porta da frente. — Tchau, Wyatt!

— Tchau, Londyn, — Ele gritou de volta.

Eu estava a um metro de distância da porta quando um braço musculoso envolveu minha cintura e me arrastou para um peito igualmente musculoso. Para um homem tão grande, ele com certeza poderia espreitar uma pessoa. — Droga.

— Uma hora, — disse Brooks no meu ouvido.

— Brooks, eu não...

— Uma hora.

Eu me contorci de seu abraço para encará-lo. — Eu não pertenço a um evento familiar de sábado. Vocês vão. Divirta-se. Vejo você hoje à noite.

— É uma coisa discreta. Venha conosco.

— Por quê? Eu sou uma estranha. Em dois dias, irei embora e serei apenas uma memória. Seus pais vão me esquecer antes do verão acabar.

Isso me rendeu uma careta. — Você não será esquecida.

— Sim, eu serei.

— Não por mim. E algum dia, posso querer falar sobre você. As únicas pessoas que conhecem você são Meggie e Wyatt. Amo Meggie, mas não a vejo muito, embora more ao lado. E Wyatt terá ido para a faculdade antes que eu pisque. Meus pais são considerados minhas pessoas favoritas. Então, um dia, quando eu quiser falar sobre a mulher que entrou na minha vida e virou tudo de cabeça para baixo por algumas semanas, com certeza tornaria a conversa mais fácil se eles soubessem como você era.

— Oh. — Como eu poderia argumentar com isso? Gostei que quisesse falar de mim. Gostei que ele se lembrasse de mim, mesmo tendo certeza de que seus pais não.

Eu me lembraria dele também.

Para o resto da minha vida.

— Ok. — Eu assenti. — Vou tomar banho e ficar pronta em uma hora.

— Obrigado. — Ele pegou meu rosto em suas mãos, curvando-se enquanto me puxava para sua boca. O beijo foi suave, mas curto. Eram todos muito curtos, mesmo os beijos que duraram a noite toda. Brooks me soltou e abriu a porta para mim, mandando-me embora.

O calor impregnou minha pele enquanto cruzava o gramado de sua casa até o hotel. Enquanto eu caminhava, calculei os dias que estive aqui em Summers.

Dezesseis. De certa forma, eles foram os dezesseis dias mais longos da minha vida. Cada um tinha sido tão completo e agradável. Duas semanas com outra pessoa nunca foram tão importantes quanto os dezesseis dias que estive em Summers com Brooks.

Este fim de semana era o fim. Segunda-feira, eu acordaria sabendo que não o veria novamente. Eu realmente seria capaz de ir embora? Eu deixei inúmeras pessoas para trás em minha vida. Meus pais. Meus professores. Meus amigos.

Eu sabia, afastando-me deles, era improvável que nos encontrássemos novamente. Mas eu fui com um senso de aventura alimentando meus passos. Eu fui com entusiasmo e antecipação do que estava lá fora neste grande mundo.

E eu não olhei para trás.

Quando eu saísse na segunda, olharia para trás? Eu me pergunto.

Como Brooks estava indo na oficina? Como estava Wyatt? Depois que ele fosse para a faculdade, Brooks ficaria sozinho? Quando ele encontraria alguém novamente?

Essas perguntas iriam me assombrar, especialmente a última.

Mas tinha que ir embora. Eu não iria ficar na cidade por causa de um homem, não de novo. Quantas experiências eu sacrifiquei por Thomas? Quantas oportunidades perdi porque estava presa em Boston?

Desta vez em Summers foi temporário. Foi um presente.

Eu nem estava tão chateada com o Cadillac. Normalmente, eu teria saído do controle com dois vandalismos. A polícia teria sido chamada. Cabeças teriam rolado. E embora uma parte de mim se sentisse violada, essa vulnerabilidade foi facilmente ofuscada pela emoção de estar com Brooks.

Não gostei que meu bem mais precioso tivesse sido manchado, mas era apenas um objeto. Eu aprendi há muito tempo que os bens não eram importantes. Você poderia se afastar de pertences, casas e pessoas e sobreviver.

Às vezes, você prosperava.

O tempo extra com Brooks valia o peso do Cadillac em ouro.

A coisa mais pesada na minha mente não eram meus pneus, mas aquele telefonema para Thomas. Meu coração estava com ele e a secretária, Raylene. Saber que ela estava com dor a tornou humana novamente.

Gemma sabia sobre o aborto? Devo ligar? Não, ainda não. Não houve tempo hoje. Quando conversei com ela, queria contar sobre Brooks. Eu ligaria assim que estivesse de volta na estrada. Não havia dúvida de que precisaria de uma amiga na minha primeira noite longe de Summers.

Eu ligaria para contar a ela sobre o homem que se tornou uma das minhas pessoas favoritas em apenas dezesseis dias.

Meu quarto de hotel estava silencioso, solitário, e corri para o meu chuveiro. Meu biquíni foi bem enxaguado, embora estivesse molhado quando o vestisse. Mas como era o único que eu tinha, lidaria com um biquíni úmido.

Quando estava pronta, vestida com o único vestido que eu tinha na minha posse, um traje sem mangas azul-acinzentado com um laço em torno da cintura, arrumei minha bolsa com o maiô enrolado em uma toalha branca do hotel.

—Óculos de sol. — Eu olhei ao redor da sala, lembrando que eles estavam em algum lugar na caminhonete de Brooks. Abri a porta para encontrar o Wyatt, com os dedos levantados para bater. — Oh, olá. —Oi. — Ele acenou com a cabeça, um gesto que parecia mais um arco. Esses cavalheiros, esses rapazes Cohen. —Papai me enviou para buscá-la.

— Ele estava com medo que eu mudasse de ideia, não estava? E pensou que eu teria mais dificuldade em dizer não a você?

Wyatt me deu um aceno tímido.

Eu ri, saindo e fechando a porta. — Isso é estranho? Desculpe se é estranho.

— Não Senhora.

— Londyn.

— Sim, senhora, Londyn. — O passo natural de Wyatt era o dobro do meu, mas ele diminuiu a velocidade enquanto caminhávamos em direção a sua casa. Brooks fazia a mesma coisa quando caminhamos juntos.

Embora pai e filho tivessem características semelhantes, era a maneira como agiam que tornavam sua semelhança tão estranha. Eles seguravam seus garfos da mesma maneira. Comiam a pizza da mesma maneira, mastigando com o mesmo movimento circular. Eles conversavam da mesma maneira. Quando a voz de Wyatt ficasse mais grave, suspeitei que seria quase impossível diferenciá-los em um telefonema.

— Então você está... indo embora? — Wyatt manteve as mãos nos bolsos e os olhos na grama enquanto tentava conversar.

— Sim, na segunda-feira.

— Você vai manter contato com papai?

— Talvez. — Talvez não. Desistir abruptamente de Brooks provavelmente seria melhor para nós dois. Eu não queria estender isso até que as ligações durassem mais tempo. Até que um ou ambos tivessem algum ressentimento por termos nos separado.

— Você deveria, — disse Wyatt. — Papai não tem muitos amigos íntimos. Especialmente mulheres. Ele é meio cauteloso com elas.

Como sua mãe era louca e as mulheres da cidade estavam aterrorizadas, Moira cortaria um rim com a chave do carro. Basta dizer que eu não era fã da sua mãe.

— Sério? — Eu fingi surpresa.

— Muitas mulheres na cidade só querem papai por causa de seu dinheiro.

— Hã. — Brooks tinha dinheiro?

Observei a casa quando nos aproximamos, sem ver nada que gritasse muito dinheiro. Era boa, clássica e acolhedora, mas não gritava riqueza. Ele tinha um barco. Ele tinha um caminhão bom. Talvez Brooks fosse rico para os padrões de Summers.

Eu me dei uma revirada mental. Uma vez, quando adolescente, eu pensaria que a casa de Brooks era um palácio. Ser casada com Thomas tinha distorcido minha perspectiva muito longe. Ele tinha mais dinheiro do que eu seria capaz de gastar em duas vidas.

Brooks saiu pela porta da frente, carregando um pequeno refrigerador azul em uma mão e meus óculos de sol na outra. — Aqui, querida.

— Obrigada. — Eu sorri. Eu sempre fazia quando ele me chamava de querida.

Seu carinho veio tão naturalmente. Ele dizia isso com tanta facilidade, que eu me perguntei a princípio se talvez ele chamasse todas as mulheres de querida. Mas com o passar do tempo, percebi que era só eu. Foi outro presente.

Eu não tinha uma palavra carinhosa antes. Meus pais não se importaram porque não eram pessoas cativantes. Thomas tinha me chamado de Londyn e apenas Londyn. Até Karson manteve meu nome ou Lonny, como Gemma ainda usava.

Querida. Coloquei a palavra no meu bolso para mais tarde.

Olhei para Wyatt enquanto colocava meus óculos de sol. Ele estava tentando esconder um sorriso.

— Você pode sentar na frente. — Ele abriu minha porta para mim, depois me ajudou a entrar. Então ele subiu na caminhonete, sentando-se atrás de mim quando Brooks ficou atrás do volante.

Brooks fez perguntas a Wyatt sobre futebol enquanto dirigíamos pela cidade, fazendo um inventário das jogadas que Wyatt precisava memorizar antes do fim de semana. À medida que nos aproximávamos da periferia da cidade, as casas ficavam maiores e mais esparsas. Eu não tinha certeza de quão longe estávamos indo até que Brooks diminuiu o gás para virar em direção ao lago. Um portão de ferro nos cumprimentou no final de uma entrada particular.

Ele abaixou a janela e digitou um código no teclado, então nos guiou pelo caminho arborizado até que uma ampla casa creme apareceu.

Ahh. Agora eu entendi o comentário de Wyatt sobre dinheiro. Brooks Cohen, ou melhor, seus pais, devem tê-lo em abundância. Esta era a casa mais bonita que eu tinha visto em Summers e, embora fosse de bom gosto para esta cidade e não arrogante em tamanho ou estilo, ela se destacava. Era provavelmente seis mil pés quadrados com uma entrada de automóveis em curvas, muito parecida com a que eu deixei para trás em Boston. Um celeiro com telhado de duas águas ficava ao longe. Dois cachorros descansavam ao lado de um lago de carpas. E como a casa de Brooks, as janelas desta casa eram o ponto focal. Eles brilhavam, refletindo o brilho refletido no lago.

— Seu pai é médico, certo? — Eu perguntei.

— Ele é. Ainda trabalha no hospital porque ele diz que é jovem demais para se aposentar. Mamãe ficou em casa e cuidou de mim e minha irmã. Você a encontrará hoje. — Ele baixou a voz. — E alguns outros.

Atrás de mim, Wyatt bufou.

Eu olhei entre ele e Brooks. Ambos estavam evitando o contato visual e segurando sorrisos. — Ok, o que estou perdendo?

Eles fugiram da caminhonete antes de responder.

Eu atirei Brooks um olhar quando ele contornou o capô para abrir minha porta. Quando meu pé bateu no concreto, abri a boca para exigir detalhes sobre essa coisa discreta, e uma multidão de pessoas saiu correndo de casa.

Wyatt foi engolido primeiro. Então o enxame desceu sobre nós.

— Olá, Londyn. — A mãe de Brooks me envolveu em um abraço. — Estamos tão felizes que você pode vir hoje.

— Obrigado por me receber... — Eu olhei para Brooks em pânico. Qual era o nome dela? Ele não tinha me dito seus nomes.

— Ava, — ele murmurou.

— É um prazer conhecê-la, Ava.

— Meu Deus, você é bonita. — Ela piscou para mim, depois puxou Brooks para um abraço. — Olá, filho.

— Oi, mãe. — Ele a colocou ao seu lado, assim como eu fui envolvida novamente, desta vez pelo pai de Brooks.

— Carter Cohen. Prazer em conhecê-la. — Ele bateu uma mão nas minhas costas.

— Caramba. Ele era tão forte quanto Brooks. — Você também.

Ele me soltou, sorrindo de orelha a orelha enquanto o resto das pessoas ao nosso redor começaram a dizer nomes que eu não tinha esperança de lembrar. Eu me perdi nos apertos de mão e nos abraços.

Conheci a irmã de Brooks e seu marido enquanto seus dois filhos pequenos corriam atrás das pernas de Wyatt. Havia uma tia e uma tia-avó. Havia cinco ou seis tios ou um deles era primo?

Levei o dia inteiro para esclarecer tudo, mas quando o jantar acabou e eu estava sentado na varanda de trás, finalmente coloquei nomes e relações em cada rosto. Eu até consegui descobrir qual tio gêmeo era Henry e qual era Harry.

Brooks e eu estávamos dividindo uma espreguiçadeira. Quando eu me movi para pegar a minha própria, ele me puxou para baixo em seu colo. Seus dedos acariciaram preguiçosamente meu joelho nu.

— Então? — Brooks ergueu uma sobrancelha enquanto falava baixo para que só eu ouvisse. —O que eu lhe disse?

—Foi divertido. — Eu sorri. —Você tem uma família maravilhosa.

—Claro que sim.

Ele tinha sorte. Ele sabia que era abençoado. Essas pessoas eram genuínas e gentis. Eles me puxaram para sua família hoje como se eu estivesse aqui há anos. Como se eu fosse estar aqui há anos.

Brooks, Wyatt e eu éramos os únicos três convidados que restavam na casa de Carter e Ava. Todo mundo tinha voltado para casa cerca de uma hora depois do jantar, mas não estávamos com pressa de sair. Eu não estava pronta para terminar este dia ainda.

Havíamos passado a maior parte da manhã e da tarde no lago, alternando grupos no barco para esquiar, surfar ou praticar tubing. Assim que o barco estava atracado, jogávamos no gramado, realizando competições de bocha e cornhole3. Eu ri mais hoje do que durante todo o ano. Eu também descobri que tinha uma veia competitiva quando se tratava de dardos de gramado.

Depois dos jogos, nos reunimos na ampla varanda, comendo um banquete que Ava havia preparado, dispensando um pouco da diversão ao ar livre. Brooks tinha me prometido que nos alimentar era o tipo de diversão dela.

Ava era uma mãe autêntica, carinhosa e gentil. Hoje foi a primeira vez que vi uma na vida real.

Toda essa experiência foi a primeira. Esta família ria e se provocava. Quando perguntaram sobre os empregos, casas ou carros um do outro, foi com genuíno interesse. Eles sabiam o que estava acontecendo na vida um do outro, porque não eram apenas parentes de sangue, eram amigos.

Eu não tinha isso desde o ferro-velho.

Thomas era filho único e seus pais moraram em Boston durante um terço do ano, no máximo. Eu sentia falta de sentir que pertencia a mais de uma pessoa. Que se eu precisasse de ajuda, eu teria um grupo inteiro nas minhas costas.

Eu não esqueceria essas pessoas. Eu não esqueceria esse dia.

Talvez essa família notável também não me esquecesse em breve.

— Estou com fome, — Wyatt anunciou do assento ao nosso lado.

— Sério? — Eu perguntei. — Você acabou de comer uma costela inteira, duas espigas de milho e meia dúzia de pãezinhos.

Sim, eu estava acompanhando o consumo de alimentos de Wyatt. Era fascinante ver um garoto sem um grama de gordura comer mais do que eu em uma semana.

Ele encolheu os ombros. — Mas eu não peguei a sobremesa.

— Torta. — Brooks sentou-se, levando-me com ele quando ele se levantou da cadeira. — Wyatt está com fome e eu quero torta.

— O jantar? — Carter também se levantou, estendendo a mão para ajudar Ava a se levantar.

— Espero que ainda tenham uma fatia de noz-pecã, — disse ela, sorrindo ao entrar na casa.

A cozinha era de última geração, mas havia ímãs na geladeira, segurando obras de arte feitas por Carter e os netos de Ava. Imagens adornavam as paredes em vez de pinturas caras. A casa tinha belos móveis, cada peça top de linha, mas confortável. Eu não teria medo de sentar em um sofá e colocar meus pés para cima.

Era uma casa e o coração desta família.

E eu não pertenço.

A realização bateu em mim enquanto eu caminhava pelo corredor e passava por uma colagem de cartões de Natal emoldurados. Um desejo irresistível de entrar no meu carro e dirigir para longe me atingiu. Esta vida não era minha. Eu fingi hoje, mas esta não era minha família. Nunca seria.

Era hora de ir.

O desejo de partir se instalou profundamente em meus ossos. Eu tive a mesma sensação aos dezesseis anos. De novo, aos dezoito. De novo, aos vinte e vinte e um. E novamente, semanas atrás, quando eu fiz as malas e deixei Boston.

Era a hora de ir.

Segui Brooks até sua caminhonete, entrando e afivelando o cinto de segurança. Então eu passei meus braços em volta de mim. Talvez se eu apertasse com força o suficiente, a sensação desapareceria. Embora minha mente soubesse que era hora, meu coração não estava pronto para partir, ainda não.

Mais um dia.

— Você está bem? — Brooks perguntou quando ele entrou no caminhão. — Frio?

— Só um pouco. — Eu forcei um sorriso. — Nada que uma torta não conserte.

Ele ligou o calor para mim, mesmo que ainda estivesse sufocante lá fora.

Eu me concentrei no caminho para a cidade, nas casas, nas árvores e nos bairros tranquilos. A agitação perturbadora no meu íntimo ainda estava lá quando chegamos ao restaurante, mas não era tão potente. Desvaneceu-se para ser ignorável quando nos amontoamos em uma cabine.

— Estou esmagando Londyn. — Ava se mexeu no assento. — Devemos pegar uma mesa?

— Não. — Toquei seu braço antes que ela pudesse ficar de pé. — Eu não me importo com o aperto.

Eu estava entre ela e Brooks de um lado da cabine, enquanto Carter e Wyatt estavam do outro lado. Eu não tinha muito espaço, mas Brooks jogou o braço por cima do encosto do banco para que eu pudesse me enterrar ao seu lado.

O garçom veio e todos nós fizemos nossos pedidos de torta. Ele tinha acabado de recolher nossos cardápios e desapareceu na cozinha quando outra figura apareceu no final da mesa.

A coluna de Brooks ficou rígida quando todos encaramos a ex-mulher de rosto vermelho.

— Mãe? — A testa de Wyatt franziu. — O que você está fazendo aqui?

— Você chamou a polícia para mim? — Ela sussurrou para Brooks.

Ah Merda. Quando? Pensei que ele tivesse decidido deixá-lo em paz ontem, quando saímos da oficina.

— Eu lhe disse que sim, — disse ele. — Você abusou.

— Não, você fez. — Moira apontou para ele. — Eu não fiz nada no carro dela.

— Mãe. — Wyatt levantou-se, colocando a mão no seu braço.

Ela virou os olhos para o filho. Eles suavizaram, implorando para ele acreditar nela. — Eu não fiz nada no carro dela.

Uh... Eu não conhecia Moira, mas isso parecia muito com a verdade.

Wyatt deu um sorriso triste, depois a puxou para um abraço.

Ela o abraçou com força, então o soltou e saiu pela porta tão rapidamente quanto apareceu.

— O que foi isso? — Carter perguntou a Brooks quando Wyatt se sentou.

— Alguém está vandalizando o carro de Londyn, — respondeu Brooks. — Riscaram com chave na semana passada. Derramaram tinta por todo o lado. Ontem, encontramos todos os quatro pneus cortados.

Ava respirou fundo, cobrindo minha mão com a dela.

Carter abaixou a cabeça. — Quando essa garota vai aprender?

— Está tudo bem, — eu disse à mesa, meus olhos voltados para Wyatt, cujos ombros estavam curvados para a frente. — É apenas um carro e só estou de passagem. Na segunda-feira, isso não será um problema.

O braço de Brooks apertou em volta do meu ombro.

— Você tem certeza que foi a mamãe? — Wyatt perguntou ao pai.

— Eu não sei, garoto. Eu gostaria de poder dizer que não, mas sua mãe já fez coisas assim antes.

— Eu sei que ela perde o controle, mas tem estado diferente ultimamente. Mais feliz, eu acho. Ela está saindo com esse cara e ele... é legal.

— Ela está? — Brooks se inclinou para frente. — Quem?

Não era uma pergunta de ciúme, mais preocupação de que outro homem estava saindo com seu filho e ele estava apenas aprendendo sobre isso.

— Um cara de Oak Hill. Eles geralmente saem quando estou com você, mas eu o encontrei algumas vezes. Ele parece ser um cara legal. Ele acalma a mamãe.

—Hmm. — A testa de Brooks franziu.

— Você considerou que poderia não ser ela? — Ava perguntou. — Eu sei que vocês dois tiveram um relacionamento difícil, mas Brooks, eu conheço aquela garota. E embora eu não pensasse que Moira faria algo tolo no calor do momento, isso não parecia uma mentira.

—Não, não funcionou. — Brooks passou a mão no rosto. —Droga. Vou ligar para ela hoje à noite, — ele prometeu a Wyatt. —Vou consertar.

Wyatt suspirou, pegando seu garfo. — Obrigado, pai.

— Então... — Carter encontrou o olhar de Brooks, então os dois se viraram para mim. — Se não foi Moira, quem está vandalizando seu carro?


Capítulo Treze

Londyn

 

— O que é tudo isso? — Perguntei a Brooks. Sua ilha de cozinha estava cheia de recipientes de plástico para comida, cada um com a tampa bem fechada.

—Um piquenique.

— Mesmo? — Eu sorri. Eu nunca tinha feito um piquenique antes, não um adequado. Os dias no ferro-velho em que comíamos no colo na barraca de Gemma não contavam.

Brooks foi até a grande despensa da cozinha e voltou com uma cesta. Era um rico cedro fulvo com forro xadrez vermelho, branco e azul. As pálpebras saltaram do meio, um lado de cada vez.

Ele possuía uma cesta de piquenique de verdade. Por que isso me fez querer chorar?

Eu desviei o olhar, piscando e engolindo a emoção. Eu estive à beira das lágrimas por horas. Amanhã é segunda-feira e eu estava deixando minha próxima partida manchar nosso dia.

Brooks e eu passamos o dia juntos fazendo coisas normais que qualquer pessoa fazia em um domingo para se preparar para uma semana de trabalho.

Fomos ao supermercado. Tive que esconder meu queixo trêmulo na fila do caixa por nenhum motivo além de termos empilhado nossas coisas na esteira rolante. Meu frasco de sabonete líquido e pasta de dente foram colocados entre um saco de cenouras e uma jarra de suco de cranberry. O caixa tinha passado tudo e Brooks ajudou a embalar tudo em suas sacolas reutilizáveis de supermercado. Eu fiquei parada, sem ouvir enquanto ele conversava com ela porque estava tentando descobrir por que estava tão perto de chorar. Foram as cenouras ou as sacolas azuis de compras?

Eu analisaria isso mais tarde, quando estivesse na estrada.

Assim como analisaria por que fiquei engasgado na lavanderia antes. Eu lavei todas as minhas roupas na máquina de Brooks hoje, me preparando para colocá-las em minhas malas. Quando derramei o detergente na máquina, o cheiro de suas roupas e lençóis trouxe uma picada miserável no meu nariz. Uma lágrima realmente escapou antes que eu segurasse as outras.

Definitivamente era hora de ir.

Espero que amanhã meu carro esteja pronto também e eu possa escapar de Summers antes que ele se torne outra gaiola.

— Como foi sua ligação com Moira? — Eu perguntei a Brooks.

Um vinco se formou entre as sobrancelhas. — Tão bom quanto o esperado. Ela está chateada e tem o direito de estar chateada. Mas não ficará brava comigo para sempre.

— Isso é bom. — Olhei em volta da cozinha quando ele terminou. O cheiro de bacon pairava no ar no café da manhã desta manhã. — Onde está Wyatt?

— Ele foi à casa de Moira.

— Oh. — Uma picada atingiu meu coração. Ele iria voltar? Ou eu perdi minha chance de dizer adeus? Enquanto Brooks e eu tínhamos feito algumas coisas hoje, Wyatt estava em casa. Ele estava no sofá da sala, com os olhos grudados no celular. Estava exatamente no mesmo lugar quando voltamos.

Então eu saí por trinta minutos para levar minhas roupas limpas para o hotel. Não notei que sua caminhonete não estava quando voltei. — Eu acho... você vai dizer adeus a ele por mim? "

Brooks abandonou a cesta e deu a volta na ilha, envolvendo-me em seus braços. — Estará de volta pela manhã, antes do treino de futebol. Ele simplesmente foi ficar na casa da Moira para que pudéssemos ter um pouco de privacidade.

— Ah, bom. — Eu relaxei em seus braços.

— Vamos. — Ele me beijou no cabelo e me deixou ir buscar a cesta de piquenique.

Enquanto eu seguia Brooks pela casa, meus olhos voaram ao redor, mergulhando em uma despedida final. Havia dois quartos no andar principal. Um era de Wyatt e o outro Brooks havia se transformado em um escritório, enquanto o principal e outro quarto estavam no andar de cima.

Não eram as peças ou a disposição desta casa que eu me lembraria. Era a sensação de paz e conforto. Nada correspondia e não havia tema. A obra de arte era aleatória, algumas fotografias e algumas impressões espalhadas por toda parte. Os móveis eram de couro em vários tons.

Nada aqui era estilizado ou decorado. Quando pensei no designer de interiores que Thomas contratou para incorporar meus gostos em sua casa, soltei um sorriso malicioso. Ela odiaria que as almofadas de Brooks fossem realmente usadas para apoiar cabeças enquanto assistia a jogos de futebol aos domingos. Ela odiaria que a mesa de centro não tivesse um único descanso para copos.

Brooks abriu a porta dos fundos que dava para o terraço externo. No instante em que ele passou pela mesa coberta por um guarda-chuva branco, eu sabia exatamente para onde estávamos indo.

—A pedra?

Ele sorriu para mim enquanto cruzávamos a grama, ambos descalços. — Achei que seria apropriado para nosso último jantar. Tê-lo onde tivemos o nosso primeiro.

—Isso parece maravilhoso.

Esperei a semana toda que Brooks me pedisse para ficar de novo. Mas ele não tinha, nem uma vez, desde que eu o recusei, provavelmente porque ambos sabíamos que a resposta não mudaria. Meus pneus apareceriam na garagem amanhã. Ele trabalharia neles assim que chegassem, então eu estaria na estrada. Meu objetivo era chegar a Kentucky e ficar em Lexington ou Louisville amanhã à noite.

No futuro próximo, eu ficaria na interestadual. Nenhum desvio fora da estrada jamais se compararia a esta parada em Summers. A Califórnia estava esperando e eu estava ansiosa para ver o que e quem eu encontraria.

— Tenho pensado em algo, — eu disse quando alcançamos a pedra e nos situamos em nossos lugares normais. Tivemos sorte naquela noite e o calor nos deu uma pausa. A umidade era densa, mas dava para o jantar.

—O que é? — Brooks colocou a cesta de lado, dando-me toda a atenção.

— Eu estou indo para Temecula. Acho que é o melhor lugar para começar minha busca por Karson.

—Combinado.

—Talvez... — Reuni coragem para expressar um pensamento que vinha me atormentando desde que saí da casa de seus pais ontem. —Talvez eu deva descobrir o que aconteceu com meus pais.

Ele piscou. Duas vezes. —Por quê?

— Eu pensei mais sobre eles nas últimas semanas do que em anos. E estar perto de seus pais me fez pensar sobre os meus. Talvez seja uma ideia maluca e destinada a ser um desastre.

— Eu diria que é normal que uma criança queira saber sobre seus pais.

— Eles nunca tentaram me encontrar. — Meu olhar flutuou sobre a água. — Se eles fizeram, não se esforçaram muito, mas ainda estou curiosa. Deixei-os como uma adolescente zangada e negligenciada. Talvez vê-los como adulta, me dê algum encerramento.

E se eles tivessem mudado suas vidas? E se eles não tivessem? Eu não tinha certeza de como me sentiria se os encontrasse no mesmo trailer sujo ou no cemitério. Eu me tornei órfã enquanto viajava pelo país? Eu queria saber o suficiente? Tinha a coragem de aparecer na minha antiga casa e bater à porta, sozinha?

— O que você faria? — Eu perguntei.

— A verdade? — Ele levantou uma sobrancelha e eu assenti. — Fodam-se eles. Eles não a merecem.

Isso é o que Gemma sempre dizia. Nenhum de nossos pais nos merecia quando crianças.

— Você provavelmente está certo. Vou pensar nisso por mais tempo. Talvez, quando chegasse ao Arizona, tivesse meus sentimentos em ordem. — Vamos comer.

— Isso não é chique. — Brooks abriu a cesta e tirou um recipiente verde para mim, depois outro para ele.

—Eu não preciso de fantasias. — Meu sanduíche favorito ainda era manteiga de amendoim e geleia de uva. Eu comi um número incontável deles. Em Boston, eu entrava na cozinha tarde da noite, quando não conseguia dormir, e fazia um para mim. O chef mantinha os suprimentos na despensa para mim, apesar da insistência de Thomas de que poderíamos comprar ingredientes decentes para um sanduíche.

Meu coração ansiava por simplicidade, como um piquenique em uma pedra.

Tirei a tampa do recipiente de plástico e o cheiro de bacon, tomate e pão pairou no ar. Eu inalei o cheiro do meu segundo sanduíche favorito. —Então é por isso que você escondeu um pouco de bacon de Wyatt esta manhã.

Brooks deu uma risadinha. — Eu sabia que estaria seguro na gaveta de vegetais, escondido sob a alface.

Ele terminou de tirar os recipientes da cesta. Quando tudo estava pronto, ele preparou um banquete para nós, incluindo um pouco da salada de batata que Ava tinha feito ontem. Brooks deve ter percebido que voltei por alguns segundos. Comemos sem alarde, apreciando a comida e uma noite de domingo com o lago brilhando sob o sol poente.

Não preenchemos as horas na pedra com conversas ou perguntas, não havia muito mais a dizer. A luz se apagou e minhas pálpebras caíram, mas eu não conseguia encontrar forças para sair. Brooks também não parecia querer sair do nosso lugar. Nosso lugar. Deus, eu esperava que ele nunca deixasse outra mulher beijá-lo nesta pedra.

Ficamos sentados lá até que o céu azul escureceu e a lua crescente branca apareceu por trás das árvores no horizonte.

— Há uma estrela. — Ele apontou acima de nós. —Faça um desejo.

Fechei meus olhos, enviando meu desejo para a galáxia, sabendo que este não se tornaria realidade. —Feito.

—Você fez um bom?

Eu encontrei sua mão entre nós. — Queria que você viesse comigo. Posso dizer isso porque sei que não se tornará realidade. Mas eu queria mesmo assim.

Sua outra mão veio ao coração, seus olhos nublados de tristeza. — Em uma vida diferente, eu dirigiria ao redor do mundo com você naquele Cadillac.

Mas ele tinha um filho. Ele tinha um negócio e uma vida em Summers. E a realidade era que eu precisava fazer essa viagem sozinha. A única pessoa que poderia me guiar de volta para mim era eu mesma.

— Esta foi a melhor semana da minha vida, — eu sussurrei. — Obrigada. Eu nunca o esquecerei.

— Igualmente, querida. — Ele segurou minha bochecha. — Igualmente.

Uma lágrima escorreu e ele a pegou com o polegar. Respirei fundo e comecei a colocar os recipientes na cesta, ocupando minhas mãos e mente antes de dar o grito maldito que não ficaria enterrado.

Eu estava fungando, abrindo a tampa de um recipiente, quando Brooks o pegou das minhas mãos e o deixou cair na cesta. Então ele pegou meu rosto em suas mãos e levou seus lábios aos meus, beijando a tristeza.

Meus braços serpentearam ao redor de seus ombros enquanto seus braços envolveram minhas costas, puxando-me em seu peito enquanto nos abraçávamos.

A cesta de piquenique foi esquecida na rocha enquanto Brooks e eu tateamos nosso caminho para sua casa. Deixamos um rastro de roupas no caminho para o quarto dele no andar de cima, quebrando o beijo apenas para tirar nossas camisas. Quando chegamos a sua cama, meu coração estava disparado e meu corpo doía.

Brooks me deitou, cobrindo-me com seu peso. Seus braços envolveram meu rosto e seus quadris descansaram contra os meus. Seu pau estava duro e grosso entre nós enquanto se aninhava contra o meu núcleo.

Nós paramos. Nossos olhos se encontraram. Nossas respirações se misturaram. Seu batimento cardíaco tamborilou no mesmo ritmo estrondoso que o meu.

— Não me esqueça, — eu sussurrei. Eu tinha sido esquecida por muitas pessoas. Não suportava a ideia de Brooks me esquecer também.

— Lembrarei de você até o fim, Londyn. — Brooks correu os nós dos dedos ao longo da minha bochecha, deixando um rastro de faíscas na minha pele. — Até o fim.

Eu me levantei e fundi nossas bocas, dando a ele tudo que eu tinha e confiando nele com todos os meus pedaços quebrados.

Talvez ele me esquecesse. Talvez o tempo embotasse suas memórias ou a doença os roubasse. Mas eu esperava que esse beijo continuasse.

Eu estava me apaixonando por Brooks. Eu derramei no beijo. Se tivéssemos mais um mês ou um ano, ele seria o dono do meu coração.

Brooks, esta casa e sua família eram atraentes. E se eu ficasse? Eu teria uma casa, uma casa convencional e acolhedora, pela primeira vez.

Nem mesmo Thomas me deu um lar. Éramos duas peças únicas emparelhadas por um tempo, mas isso não fez nenhum de nós inteiro. Brooks estava com o pacote completo. Ele era a ponta de um quebra-cabeça de mil peças que criava uma imagem impressionante.

Ficar era atraente. Mas a sensação incômoda em meu estômago não ia embora, não importa quantas vezes eu beijasse Brooks. Não importa quantas vezes eu fechasse meus olhos e me imaginasse morando aqui.

O quebra-cabeça estava construído. Não havia nenhum espaço para eu preencher.

Então, mantive meus olhos fechados e saboreei a sensação de suas mãos vagando pela minha pele, fingindo que não era a última noite. Eu fingia que isso acontecia todas as noites.

Seu beijo desceu pelo meu pescoço e para o meu seio. Brooks fez cócegas em um mamilo com a barba por fazer antes de cobri-lo com a boca, rolando-o sobre a língua até que se moveu para fazer o mesmo com o outro.

Meus dedos se enredaram nos fios dourados de seu cabelo, puxando-o até meus lábios mais uma vez. Soltei uma das mãos e me estiquei para a gaveta da mesinha onde ele guardava seu estoque de preservativos.

Ele sorriu quando entreguei a ele. —Com pressa?

—Para você? Sempre. — Eu sorri, esperando enquanto ele cobria e se posicionava na minha entrada. Com um impulso rápido, ele roubou meu fôlego, me enchendo completamente.

—Tão bom, — ele gemeu.

Eu balancei a cabeça, inclinando meus quadris para enviá-lo mais fundo. Tão bom.

Brooks foi o melhor amante da minha vida. Ele assumia o controle quando estávamos juntos. Seu olhar percorria meu corpo, apreciando cada centímetro e banindo todas as inseguranças. O homem tinha uma linha direta com meu cérebro. Se eu não estivesse sentindo algo ou ele pensasse que poderia me levar mais alto, ele mudaria de direção, porque não era sobre ele quando estávamos juntos. Não era sobre mim também.

Era sobre nós.

Ele nos balançou juntos, lentamente no início até que as batidas de nossos corações correspondessem ao ritmo de seus quadris. O orgasmo que se formou pareceu envolver nós dois, levando-nos a correr em direção ao pico em velocidades iguais, até que ficamos juntos, suados e sem fôlego.

Ele me deixou por apenas um minuto para cuidar do preservativo, então ele me envolveu em seus braços e me segurou forte enquanto adormecemos.

Acordamos mais duas vezes durante a noite, sem querer que o sono nos separasse, até que a manhã finalmente nos forçou a entrar no novo dia.

A temida segunda-feira amanheceu.

— A que horas devo ir para a oficina?

Brooks estava no banheiro, secando o cabelo molhado com uma toalha. Tomamos banho juntos. Sentei-me em sua cama, enrolado em uma toalha cinza fofa.

Ele engoliu em seco. — Que tal eu dirigir o carro para você? Então você não precisa se preocupar com suas malas.

—Ok.

Eu fiquei na cama, mesmo quando meu cabelo esfriou na minha pele nua, para ouvir Brooks barbear o rosto e escovar os dentes. O peso do dia afundou e fez meus membros quase tão pesados quanto meu coração.

Não deixe isso ser estranho. Fechei meus olhos, enviando um desejo às estrelas invisíveis. Brooks foi a pessoa melhor e mais inesperada que cruzou meu caminho. Precisávamos terminar com uma nota feliz, um beijo e um sorriso.

Brooks me beijou na testa enquanto caminhava para seu armário.

Ele ao menos percebeu o quanto ele me deu em nosso curto tempo juntos? Ele me mostrou que deixar Boston foi a decisão certa. Ele me mostrou que havia homens gentis, generosos e amorosos no mundo.

Eu o deixei com alguma coisa boa? Ou depois de hoje, eu seria apenas a mulher que partiu?

Por favor, não se ressinta de mim.

Eu o observei enquanto ele se vestia. Quando eu o imaginasse nos próximos anos, seria neste quarto e neste momento.

Ele estava descalço em um par de jeans desabotoados e desbotados. Seu peito estava nu e gotas d'água grudavam em seus ombros. E seus olhos eram tão azuis quanto o céu em uma manhã de verão em West Virginia.

—Wyatt está vindo? — Eu perguntei.

Ele balançou a cabeça enquanto puxava uma camiseta verde do cabide. Ele o puxou pela cabeça assim que a porta da frente bateu no andar de baixo. —Parece que ele está aqui.

—Vou me vestir e descer para me despedir. — Respirei fundo e me levantei da cama.

Brooks assentiu. —O que você gostaria para o café da manhã?

Eu dei a ele um sorriso triste. — Acho que vou pegar um doce no hotel hoje. Você e Wyatt devem voltar à sua rotina normal de qualquer maneira.

—Oh. — Sua mandíbula ficou tensa. —Tudo bem.

Isso não estava certo, mas eu temia, não importa o que dissesse, nada iria resolver isso. O constrangimento estava chegando.

Amarrei meu cabelo molhado e corri para vestir minhas roupas. Brooks foi quem sentou na cama agora, observando enquanto eu corria pelo seu quarto.

— Vejo você às quatro?

Ele assentiu, os olhos voltados para o chão.

Forcei meus pés pela porta do quarto. Eu segurei meu pescoço duro, não me deixando torcer e olhar para trás.

Wyatt estava na sala, parado ao lado do sofá com o telefone nas mãos e os polegares voando. Entrei em seu espaço e o envolvi, prendendo os braços ao lado do corpo. — Cuide dele.

Sua estrutura rígida relaxou. — Eu vou.

— Foi bom conhecê-lo. — Eu o soltei, incapaz de encontrar seus olhos. Então estava do lado de fora, correndo para o hotel.

Quando estava trancada dentro do meu quarto, encostei-me na porta, levando um momento para meu coração se acalmar. Limpei uma lágrima e cerrei os dentes para impedir as outras.

Um adeus a menos.

Mais um para ir.


Capítulo Quatorze

Londyn


— Obrigado por tudo, Meggie. —Enfiei meu cartão de crédito na carteira, depois guardei na bolsa.

—De nada. — Ela apoiou os cotovelos no balcão. —Ele não convenceu você a ficar, hein?

—Não. — Eu dei a ela um sorriso triste. —Tenha um bom verão.

—Você também. — Ela suspirou e acenou enquanto eu empurrava minhas malas para a porta.

Estava calor lá fora e eu preferia esperar no ar-condicionado que Brooks aparecesse com meu carro, mas Meggie estava ansiosa por alguma fofoca. Eu não tinha forças para desviar suas perguntas sobre meu relacionamento com Brooks, não quando toda a minha energia estava sendo usada para lutar contra a ansiedade do adeus que se aproximava.

Puxei minha bagagem pela calçada até a esquina do hotel, deixando-a em pé no concreto enquanto dava uma última olhada na casa de Brooks.

Quando fugi de casa, não olhei para trás, para o trailer onde cresci. Não importa quantos anos se passaram, aquela pilha de sujeira foi queimada em meu cérebro. Os detalhes permaneceram com clareza perfeita.

Meus pais estavam desmaiados no quarto naquele dia, o mesmo lugar onde estiveram nos três dias anteriores. Eles faziam isso, se escondiam enquanto voavam alto. Eu costumava espiá-los ocasionalmente. Às vezes, eu ficava na porta e ouvia algum som. As portas eram tão estreitas que, se eu escutasse de perto, poderia ouvi-los respirar.

Levei meses para reunir coragem para fugir. Por quase um ano, eu tinha uma mochila cheia de roupas e comida enlatada. A gota d'água foi no terceiro dia de um desaparecimento induzido por drogas. Mamãe e papai ficaram quietos, muito quietos, no final do trailer. Nenhum som saiu da TV. Eu fui ver se eles estavam vivos. Quando eu abri a porta, papai estava sentado na cama, um elástico bem amarrado em torno de seu bíceps e uma seringa posicionada em uma veia. Mamãe estava dormindo ou desmaiada de bruços ao seu lado. Sua mesa de cabeceira estava cheia de garrafas meio vazias de licor marrom.

Os olhos de papai estavam vidrados quando encontraram os meus. Ele olhou para mim por um longo minuto, inclinando a cabeça para o lado. Foi arrependimento que eu vi em seu olhar naquele dia? Ou confusão? Eu nunca saberia. Por um momento, pensei que talvez ele tivesse largado a agulha. Em vez disso, ele murmurou: —Feche a porta, Londyn.

Eu fechei a porta. Então eu fui para o meu quarto e peguei minha mochila.

Fugir parecia a melhor escolha. Nenhuma casa era melhor do que esperar em um trailer sujo para abrir aquela porta novamente, apenas para encontrar os dois mortos.

Quando a imagem daquele lugar desapareceria? Se eu encarasse a casa de Brooks por tempo suficiente, ela ficaria permanentemente enraizada também?

Sua casa era tão limpa. O revestimento branco estava intocado. Não havia tinta rachada ou manchas de água. As janelas brilhavam à luz do sol e, no ângulo certo, era quase como se o vidro não existisse.

Eu fechei meus olhos com força, imaginando a casa em minha cabeça. Quando os abri, um carro descendo a rua chamou minha atenção.

Meu carro.

Brooks dirigia lindamente ao volante. Ele não ia tornar isso fácil para mim, não é? A parte superior estava abaixada e seus olhos estavam cobertos por um par de óculos de sol. Ele dirigia com uma mão enquanto a outra afastava o cabelo que havia caído em sua testa.

Não precisei fechar os olhos para guardar aquela imagem na memória para sempre.

Brooks encostou no meio-fio e desligou o motor que roncava. —Bem, é cerca de duas semanas mais tarde, mas posso finalmente devolver o seu carro.

Eu sorri, caminhando até o Cadillac. Larguei minha bolsa no banco do passageiro no momento em que Brooks abriu o porta-malas. Virei para minhas malas, mas ele me impediu.

— Eu vou pegá-las. — Ele tirou aquelas longas pernas do carro, saiu e carregou minhas malas. Então me encontrou na calçada ao lado do Cadillac. Ninguém jamais saberia que havia sido raspado em uma grade de proteção e, em seguida, riscado com uma chave. —Algo mais?

—Não, é isso. — Aproximei-me, colocando minha palma em seu coração para sentir o calor dele contra minha pele uma última vez. —Obrigada.

—O prazer é meu. — Ele colocou os óculos de sol no cabelo. —Prometa-me uma coisa.

—Ok. —Eu balancei a cabeça, tensa enquanto esperava por sua demanda. Ele me pediria para ficar? Ou ele me pediria para voltar? Se ele me pedisse para voltar para Summers, eu não seria capaz de dizer não.

— Prometa que, se precisar de algo: um amigo, um lugar para dormir por uma semana, um pedaço de torta, você usará o telefone e me ligará.

Eu sorri, liberando o fôlego que eu estava segurando. — Prometo.

Minha mão caiu do seu coração. Minha testa tomou o seu lugar quando passei meus braços em volta da sua cintura.

Ele me envolveu apertado, sussurrando no meu cabelo. — Adeus, Londyn McCormack.

Eu apertei meus olhos com força. — Adeus, Brooks Cohen.

Suas mãos vieram ao meu rosto, levantando minha bochecha de seu peito para roçar seus lábios nos meus. Ele quebrou o beijo muito cedo, e eu dei um passo para trás.

Abri a boca, mas não havia mais nada a dizer, então dei a volta no capô do carro e me acomodei no banco do motorista. Eu o movi de onde Brooks o ajustara para suas longas pernas. Movi os espelhos. Então segurei o volante.

— Tudo bem? — Brooks apoiou os cotovelos na porta do passageiro.

Eu assenti. — Tudo bem.

Exceto que não era para se sentir em casa? Quando eu subi atrás do volante em Boston, fui atingida por uma sensação de... retidão. Esse sentimento estava faltando hoje. Talvez depois de alguns quilômetros eu me sinta mais confortável no assento.

Um olhar de dor cruzou o olhar de Brooks antes que ele o cobrisse com um sorriso fácil e torto. Ele se levantou, bateu na lateral do carro com os nós dos dedos e deu um passo para trás.

Girei a chave, ligando o motor. Então eu dei a ele uma última olhada antes de colocar o carro em movimento e me afastar do meio-fio.

Ele ergueu a mão para acenar. Eu vi com o canto do olho, mas me recusei a virar. Meus olhos permaneceram fixos na estrada à frente.

Andei seis metros antes de minha decisão se estilhaçar e eu lancei meu olhar para o espelho retrovisor.

Lá estava ele, alto e forte, parado onde o carro estava, com a mão erguida no ar.

—Droga. — Lágrimas inundaram meus olhos, mas mantive meu pé no acelerador. Eu só olhei para a estrada para me certificar de que não iria bater no hotel. Caso contrário, meus olhos estavam no espelho.

Brooks ficou lá, naquele local com o braço erguido, até que fiz uma curva na estrada e ele foi embora.

—Merda. — Limpei as lágrimas enquanto escorriam pelo meu rosto. Eu respirei fundo algumas vezes, tentando fazer meu coração afundar na minha garganta.

Isso ficaria mais fácil, certo? Talvez não hoje, talvez não amanhã, mas quando chegasse à Califórnia, não me sentiria tão de coração partido.

Soltei um suspiro, esfreguei a picada do meu nariz e peguei os óculos de sol que enfiei na bolsa. Com eles escondendo meus olhos lacrimejantes, concentrei-me na estrada à frente.

Summers desapareceram atrás de mim rapidamente, mas os primeiros oito quilômetros da cidade foram excruciantes. Assim foram os cinco depois disso.

Deveria se sentir melhor, não deveria? Era isso que eu queria, certo? Eu estava livre para seguir meus próprios impulsos. Eu não estava presa na ideia da vida convencional de outra pessoa.

Coloquei minha bolsa no meu colo, dirigindo com uma mão enquanto procurava o telefone no fundo. Peguei, precisando conversar com alguém que pudesse entender por que eu estava fazendo isso.

— Olá? — Gemma atendeu minha ligação no segundo toque.

— Ei.

— Londyn? Onde você esteve? Você prometeu que ligaria. Ela suspirou. — Você está bem?

— Estou bem. — Uma mentira total.

— Mentirosa.

Eu bufei. — Eu não estou bem.

— É sobre isso...

— Não, isso não é sobre Thomas. — Soltei um longo suspiro, tanto tempo, que ela pensou que tinha me perdido.

— Londyn?

— Estou aqui. — Olhei no meu espelho retrovisor, esperando ver Brooks, mas sabendo que não o faria. —Acho que me apaixonei por alguém.

—Já? — Ela riu. — Isso não parece um problema para mim.

—Eu acabei de deixá-lo.

—Ah. — A linha ficou silenciosa.

—O que você quer dizer com ‘ah’?

—Nada.

—Gema. Diga-me.

Ela suspirou. — É apenas... isso é o que você faz, Lonny. Você fica com medo e foge.

—O que? — Eu mudei meu aperto no volante para poder colocar o telefone na outra orelha. Claramente, eu não a estava ouvindo corretamente. — Não fugi de Boston porque estava com medo.

—Você tem certeza sobre isso?

Ai. Certo, talvez ligar para minha amiga não tenha sido a decisão certa hoje. Gemma e eu sempre fomos brutalmente honestas uma com a outra, mas não estava emocionalmente estável o suficiente para ser brutal hoje. Talvez eu devesse ter atrasado esta ligação uma ou duas semanas.

— Deixei Boston para começar de novo, — eu disse. — É hora de simplificar minha vida. Não tenho esse desejo irresistível de provar meu valor, Gem. Eu não sou como você. Não preciso do dinheiro e do prestígio.

—Eu não preciso, ugh. — Ela fez uma pausa. —Isso não é sobre mim e eu não quero brigar.

Eu relaxei minha mandíbula. —Nem eu.

— Estou tentando ajudar. Você parece miserável. Se realmente ama esse cara, seja ele quem for, então por que você está indo embora?

—Não sei, — confessei.

—Você tem medo de encontrar algo real lá?

—Talvez eu tenha medo de não fazer isso.

—Oh, Londyn. — Havia um sorriso em sua voz. — Parece que você já fez isso. Então, por que está indo embora?

— Eu preciso dar este carro para Karson. Preciso ver se ele está bem.

— Você tem que fazer isso hoje? Ou amanhã? Por que não ficar com esse cara um pouco mais?

— Brooks. O nome dele é Brooks.

— Por que não ficar com Brooks?

—Porque. — Meu coração doeu. Os medos estavam se libertando, os sentimentos que eu havia enterrado por tanto, tanto tempo. —Porquê e se ele me deixar antes que eu possa deixá-lo?

Essa foi a razão pela qual eu fugi, não foi? Para fugir da grande dor. Talvez a razão de eu ter conseguido ficar com Thomas todos esses anos fosse porque não esperava que o fim doesse. Não tinha muito.

Talvez o motivo pelo qual me senti presa em Boston não foi porque fiquei em um lugar, mas porque aquele lugar não era o lugar certo.

Aquela maldita cesta de piquenique Pottery Barn passou pela minha mente. Outra mulher não poderia usar aquela cesta. Era minha.

Brooks também.

— Dê a volta com o carro, Londyn, — disse ela. — Eu desistiria de tudo: da empresa, do dinheiro, do poder para apenas sentir algo.

Sentimentos por outras pessoas não eram problema meu. Claro, eu fugi desses sentimentos, mas eles estavam lá, bem na superfície. Não Gemma. Pelo que eu sabia, ela nunca tinha se apaixonado.

—Não o desperdice, — ela sussurrou.

Eu estava jogando fora. Estava me afastando de um homem que poderia acabar sendo o amor da minha vida. Estava dirigindo para longe de uma casa.

— Eu tive essa sensação quando estava andando por Summers, essa é a cidade onde eu estava. Eu senti... resolvido. Como se as coisas estivessem calmas em minha alma. Você acha que é essa a sensação de estar em casa?

—Eu não sei. Não sei se já me senti em casa. Mas se tivesse que adivinhar, diria que sim.

Sim. Summers estava em casa.

Brooks estava em casa.

—Eu preciso ir.

Gemma riu. —Este é um número real agora? Posso te ligar?

—Sim. — Eu sorri. —Esse é meu número.

—Tchau.

— Espere, — eu chamei antes que ela pudesse desligar. — Obrigada.

— Eu sinto sua falta. Talvez vá visitá-la, onde você está?

— West Virginia.

— West Virginia, — ela repetiu. — Ligue-me mais tarde.

— Eu vou. — Joguei o telefone de lado, endireitando-me no assento. Com as duas mãos no volante, tirei o pé do acelerador, procurando na estrada um lugar para dar meia volta. Claro, quando eu precisava virar em U, não havia nada além de uma vala íngreme e árvores ao longo da estrada.

Meus olhos estavam no ombro quando o carro deu uma guinada. Eu ofeguei, voltando meu olhar para a estrada. Que diabos? Eu bati em alguma coisa?

Eu olhei no espelho retrovisor, estremecendo quando meus olhos pousaram em uma grande caminhonete quase encostando no meu para-choque.

Enquanto eu estava no telefone com Gemma, não tinha percebido que isso me incomodava.

—Que diabos? — Eu murmurei para o espelho, alternando meus olhos na estrada e o caminhão atrás de mim.

Ele bateu em mim? Por que ele bateu no meu carro? Eu estava indo a dezesseis quilômetros por hora abaixo do limite de velocidade. Dez. O contato era necessário? Por que não me passar e acabar com isso?

Eu levantei meu braço, acenando para ele, mas enquanto eu olhava pelo espelho, a grade da caminhonete se aproximou. Meus braços ficaram tensos e meu aperto no volante ficou mais forte. Eu me preparei para outro solavanco.

Não teve nenhum solavanco.

— Ah! — Eu gritei quando ele me bateu. O Cadillac cambaleou novamente, duas vezes mais forte que na primeira vez.

As rodas giravam por conta própria, de uma extremidade da pista para a outra.

— Deixe-me em paz! — Eu gritei.

Ele me bateu de novo.

Os pneus do Cadillac guincharam na estrada, desviando de uma linha branca para a próxima. Se houvesse um carro se aproximando, eu teria batido de frente.

Eu pisei no freio.

No segundo que eu fiz, o motor da caminhonete acelerou e ele acelerou para a pista oposta.

Prendi a respiração, pensando que ele passaria correndo e provavelmente me mostraria o dedo. Em vez disso, ele pairou no meu ponto cego.

— O que?! — Olhei por cima do ombro. Acenei para ele mais uma vez. No momento em que levantei minha mão do volante, ele se aproximou até estar ao meu lado. Ainda assim, ele não passou. Ele ficou naquela pista, com a porta do passageiro tão perto que eu poderia chegar e tocar a maçaneta.

A caminhonete era muito alta para eu ver o motorista tão perto. Apertei o freio para desacelerar. Ficou no lugar, pairando na minha mesma velocidade. Meus olhos examinaram as margens da estrada, esperando por um lugar onde eu pudesse desligar e me afastar desse imbecil louco. Não havia nada.

Um carro que se aproxima apareceu.

— Seu louco filho da puta. — Eu diminuí mais a velocidade. A buzina do carro que se aproximava encheu o ar. — Dê a volta!

A caminhonete não se mexeu.

Era algum tipo de maluco da West Virginia?

Eu pisei no freio, meus pneus cantando no asfalto, assim que o caminhão acelerou e desviou para a minha pista. Eu deslizei entre a pista central e a vala, o carro pesado e lento para responder.

A buzina do carro que se aproximava tocou enquanto ele passava e eu puxei o volante para o lado seguro.

A correção foi demais. Em vez de ficar entre as linhas, meu pneu dianteiro afundou no ombro macio. Quando o canto frontal do Cadillac afundou, eu sabia que não havia como me salvar de um acidente.

O Cadillac saltou do acostamento. O veículo sacudiu e quicou ao parar. Meu lado do carro estava inclinado pelo menos um metro acima do lado do passageiro.

— Oh meu Deus. — Eu tremia enquanto olhava em volta, meu corpo inteiro tremendo. A caminhonete sumiu. Da vala, eu não conseguia vê-la fugir, mas o rugido do motor diminuiu à distância.

Afastei os cabelos do meu rosto, avaliando meu corpo. Eu não estava machucada, ou se estivesse, ainda não conseguia sentir. Meus dedos mal tiveram forças para girar a chave e desligar o motor. Eu me atrapalhei com o cinto de segurança.

Minha bolsa estava no chão do outro lado. Empurrei-me para fora do banco do motorista, o ângulo exigia que eu ficasse na porta do lado do passageiro para manter o equilíbrio. Segurando a alça da minha bolsa, saí do carro e entrei na vala e fiz um balanço da situação.

— Não. — Meu coração se partiu. Meu pobre carro. Era muito pior do que parecia do assento. O canto da frente estava amassado. A coisa toda estava apoiada de lado contra a vala. Os pneus do lado do motorista ainda estavam escavando o asfalto solto da estrada. Se a vala fosse mais íngreme ou o centro do carro mais alto, eu teria capotado.

Minha cabeça girava e minhas mãos tremiam. Eu os apertei, forçando o medo a se afastar por um momento para lidar com isso. Lutei contra o desejo de chorar, concentrando-me na raiva. — Aquele idiota!

Subi a vala com as mãos e os joelhos, limpando a sujeira das palmas das mãos enquanto eu estava no lado da estrada. Eu olhei para os dois lados.

Eu estava sozinha.

Mas, ao contrário do meu primeiro pneu furado, eu não estava desamparada. Peguei o telefone da minha bolsa e liguei para o primeiro e único número salvo nos contatos.

— Londyn? — Brooks respondeu. — Você está bem?

— Não. — Minha voz tremia. — Eu preciso que você venha me buscar.

— Onde você está? — O som de suas botas ecoou à distância. — O que diabos está acontecendo? Estou preocupado.

— Não se preocupe. — Soltei um suspiro e me recompus. — Apenas saia da cidade na estrada e você me verá. E Brooks?

— Sim?

Eu olhei para o meu carro. — Traga o caminhão de reboque.


Capítulo Quinze

Brooks

 

— Você está bem? — Londyn perguntou, inclinando-se para o meu lado.

—Eu? — Eu fiquei boquiaberto com ela. — Alguém tentou tirar você da maldita estrada. Você está bem?

—Estou bem. — Ela soltou um longo suspiro, descansando sua bochecha contra meu braço. — Não vou estar mais tarde, mas no momento, estou bem e isso é tudo que importa.

Eu agarrei sua mão, segurando-a com força como na última hora. Ela estava se controlando no momento, um crédito para sua força incrível. Mas a cada cinco ou dez minutos, um tremor percorria seu corpo. Seu aperto em meus dedos aumentava. Se e quando ela desmoronasse mais tarde, seria na segurança de meus braços.

Quem quer que tenha feito isso com ela pagaria caro.

Estávamos parados na beira da rodovia, esperando o assistente do xerife no local para terminar de tirar as fotos do carro dela. Ele já havia tomado sua declaração.

Eu ouvi com fúria silenciosa enquanto Londyn recapitulava os detalhes do acidente. Eu deveria ter jogado as suas chaves no maldito lago e me recusado a deixá-la sair da cidade.

Pareceram dias desde que ela me deixou parado na calçada do lado de fora do hotel, não horas. Por um momento, quando a peguei olhando para mim no espelho retrovisor, pensei que talvez ela voltasse.

Talvez ela provasse que nós dois estamos errados, talvez ela faria a minha vida e ficasse.

Mas ela continuou dirigindo. Quando o carro dela desapareceu em uma curva da rodovia, estava tudo acabado. Eu, com certeza não esperava que o nome dela aparecesse na tela do meu telefone tão cedo depois que ela foi embora, se é que isso aconteceria.

O medo em sua voz me fez correr pela cidade no caminhão de reboque. Eu estava muito assustado quando apareci para encontrar o carro dela tombado de lado na vala. Eu a puxei para um abraço e não a soltei, mesmo quando o policial apareceu. Mas o tempo para se preocupar tinha passado e agora eu estava irado.

Isso foi uma tentativa de homicídio no meu livro e isso significou anos de prisão. Não parecia o suficiente.

— Brooks. — O delegado me acenou. Eu me recusei a soltar a mão de Londyn, então juntos, nós o encontramos pelo capô de seu cruzador, as luzes ainda piscando em cima. — Eu terminei aqui. Você pode carregá-lo e levá-lo de volta para a cidade.

— Posso fazer reparos? Ou precisamos deixar como está?

— Espere por agora. Deixe-me confirmar que não precisamos de mais nada para a investigação.

— Não há pressa, — disse Londyn. —Obrigada pela ajuda.

— Senhora. — Ele sacudiu o chapéu e caminhou até o carro, com o bloco de notas na mão. Ele ficou estacionado, diminuindo o tráfego, até que o Cadillac fosse retirado da vala e colocado na plataforma.

Levei mais de uma hora e odiava deixar Londyn sozinha na caminhonete, mas não a queria parada na estrada. Finalmente, quando a tarde se transformou em noite, acenei adeus ao policial e nos levei pela estrada para Summers.

O tempo lá fora não esfriou minha raiva nem um pouco. Enquanto eu rosnava por cima do volante, Londyn manteve sua estranha calma no banco do passageiro.

—Vou deixar você em casa e, em seguida, levar o Cadillac para a oficina.

—Ok. — Ela cedeu contra a porta. — Parece que já estivemos aqui antes.

—Sim. — Eu lati uma risada seca quando o hotel apareceu.

Londyn poderia ficar sentada no hotel com Meggie por uma hora enquanto eu deixava o seu carro. Não havia nenhuma maneira no inferno de deixá-la em qualquer lugar sozinha até que encontrássemos o bastardo doente que poderia tê-la matado hoje.

—Vou deixar você com Meggie enquanto levo o carro para a oficina. Você pode se instalar no hotel. Ela ficará feliz em ter você de volta. — Todos nós ficaríamos felizes em tê-la de volta em Summers.

—O hotel? — Ela se endireitou, depois colocou a mão na testa. — Oh. Oh, meu Deus. Eu sou uma idiota.

— Hã?

— Nada. — Ela se virou para a janela. — Deixa pra lá.

Eu não estava com disposição para nunca esquecer. — O que você quis dizer com você é uma idiota?

— Não é nada. — Ela acenou.

— Londyn. — Minha mandíbula apertou com força. — Eu estou por um fio aqui. Fale comigo.

Ela hesitou, depois olhou na minha direção. — Você me pediu para ficar.

— E você disse que não. — Lembrei-me claramente dessa palavra em nossa conversa.

— Você não perguntou de novo e pensei que estava apenas sendo compreensivo. Sou uma idiota porque nem achei que você pudesse querer que eu fosse. Que você estava nisso apenas por um curto período. — Sua voz falhou e ela baixou o olhar para o colo.

— Do que diabos você está falando? Você bateu com a cabeça com força? — Eu analisei seu rosto. Estava muito pálido. —Estou vou levá-la para o hospital.

Como ela poderia pensar que eu não queria que ela ficasse? Observá-la ir embora foi dez vezes mais difícil do que eu esperava.

— Eu não preciso ir para o hospital.

—Se você acha que eu queria que você fosse embora, então não está pensando direito.

—Você quer que eu fique?

Eu concordei. —Muito mesmo.

—Então por que você não me perguntou de novo?

— Porque você disse que não. — Joguei a mão no ar, o aperto no meu temperamento quase um fio. — Recebi a mensagem. De novo e de novo. Você estava indo embora de Summers e sem olhar para trás. Não sou o tipo de cara que faz uma pergunta quando já sei a resposta.

— Oh. — Ela levantou a mão para cobrir um sorriso.

Estendi a mão pelo caminhão e afastei a mão. — Você não está indo embora?

— Não vou embora. Eu estava procurando um lugar para virar quando aquele caminhão tentou me tirar da estrada.

Mas ela estava tão pronta. — Por quanto tempo?

— Eu realmente não coloquei um limite de tempo nisso. Você se importaria se eu ficasse? — Ela fez uma pausa. — Com você?

Eu me importaria? Porra, não, eu não me importaria. Ela poderia ficar comigo o tempo que quisesse. Para sempre, se isso agradasse a sua fantasia. Com Londyn, cada dia era mais brilhante. Eu não queria viver o resto da minha vida sozinho. Mas não queria que qualquer mulher compartilhasse minha vida.

Eu queria Londyn.

Algo que eu queria falar, mas não enquanto dirigia um maldito caminhão de reboque.

— Segure essa pergunta para mim, querida. Eu preciso ver seu rosto.

Ela assentiu, cruzando as mãos no colo. Droga. Isso saiu como uma rejeição? Porque não era isso que eu quis dizer.

Filho da puta. Eu estava chateado com o idiota que a tinha tirado da estrada e as coisas não estavam saindo bem. Eu bati na beira do Summers e puxei a plataforma para o lado da estrada. Então pulei, correndo para o outro lado para abrir a porta de Londyn. — Desça.

Ela assentiu, desabotoando o cinto de segurança. Então ela pisou no estribo antes de pular para a estrada.

— Comece de novo por mim. Você vai ficar? — Eu precisava ouvir de novo.

Londyn assentiu. — Eu gostaria de ficar.

— E eu gostaria que você ficasse. Comigo.

— Sim, por favor. — Ela riu.

Eu a envolvi, puxando-a para o meu peito. Então eu ri com ela, alto e alto.

Ela iria ficar.

— O que a fez mudar de ideia? — Eu perguntei, deixando minha bochecha cair no topo da cabeça dela.

— A verdade? Eu estou com medo.

Eu a soltei, levando o queixo sob o dedo para levantar o rosto. — Por quê?

— Eu sempre fui aquela que partiu.

Uma frase e tudo fazia sentido. Fugir foi como Londyn manteve o controle. Era seu mecanismo de proteção. —Entendi.

— E se você me deixar? — A vulnerabilidade pura tomou conta de seu rosto. Ela tirou todas as guardas, deixando-a ainda mais bonita. — Eu nunca parei para ver as peças se desintegrarem. Não sei se sou forte o suficiente para aguentar.

—Eu não vou a lugar nenhum, querida. Se você ficar, vamos transformar isso em algo real. Marque minhas palavras.

—Como você sabe?

Peguei a mão dela e coloquei sobre meu coração, então a cobri com a minha. —Eu sinto. Profundamente.

Londyn não estava pronta para ouvir três palavrinhas, ainda não. Inferno, eu não estava pronto para dizê-las. Mas não havia pressa. Tínhamos tempo.

Porque ela iria ficar.

Eu tomei sua boca em um beijo, varrendo minha língua contra a dela para o gosto que eu ansiava pelo resto da minha vida. Este era um grande risco da parte dela, e eu faria com que ela nunca se arrependesse. Ela nunca questionaria a vida em Summers.

Eu quebrei o beijo e encostei minha testa na dela. — Este é um final de dia melhor do que eu esperava.

—Eu também acho. Exceto pelo doido que me tirou da estrada.

Murmurei uma maldição. —Vamos para casa.

Ela acenou com a cabeça e me deixou ajudá-la a subir na caminhonete.

— Quer vir comigo para a oficina? — Eu perguntei, entrando na estrada. — Ou ficar no hotel com Meggie? Não me importo de qualquer maneira, só não quero você sozinha.

— Eu gostaria de ficar com você. — Ela estremeceu, estendendo a mão para a minha mão. O medo que ela estava escondendo estava sugando seu exterior calmo.

— Isso já foi longe demais. O vandalismo é uma coisa, mas você poderia ter se machucado.

— Quem faria isso comigo? — Ela sussurrou. — Eu não conheço ninguém em Summers.

— Eu não acho que isso seja sobre você. Tem que ser sobre mim.

— Bem, não é Moira. Então, que outros inimigos você tem na cidade?

— O inferno se eu sei. — Até hoje, eu teria dito que era um cara bastante querido. Eu me dava bem com a maioria das pessoas da cidade. Minha família inteira também era querida. Não conseguia pensar na última vez em que recebi um cliente insatisfeito na loja.
Não demorou muito para chegarmos à oficina, mas descarregar o carro demorou um pouco. Quando ele estava em sua parada normal, nós dois contornamos o Cadillac, avaliando todos os danos. Não era horrível, mas também não era uma solução rápida.

— Mack vai conseguir mandar seus filhos para a faculdade com todo o dinheiro que está ganhando para consertar este Cadillac.

Londyn riu, encostando-se em mim. —São apenas sete horas, mas estou pronta para dormir.

— Jantar primeiro. O que você gostaria?

—Pizza.

— Pizza, então. — Eu assenti. — Vou ligar para Wyatt e pedir que ele traga uma para nós.

— Ele não está na casa de Moira hoje à noite?

— Ele está, mas se eu disser que você vai ficar indefinidamente, ele virá com um supremo carne extragrande.

Ela sorriu para mim. — Com os vegetais.

— Com os vegetais.

—Parece tão triste. — Seus olhos percorreram o carro, os arranhões e amassados. Levaria muito mais tempo na oficina para consertar os destroços. Pode até exigir algumas peças novas.

—Eu vou consertar isso, — prometi. —Então... — Eu me acostumei a dizer que ela estaria a caminho.

—Então eu vou dirigir por Summers.

— Que tal devolvê-lo a Karson? Que tal levá-lo para a Califórnia?

Ela ergueu um ombro. — Algum dia, gostaria de localizá-lo. Eu gostaria de dar a ele este carro e deixá-lo ficar com ele por um tempo. Mas talvez quando chegar a hora, você venha comigo.

—Gostaria disso.

— Nós poderíamos esperar até Wyatt estar na faculdade. Se escolhermos um momento em que você possa ficar longe da oficina, talvez esse desejo que eu tenho possa se tornar realidade.

— Você tem certeza? — Eu coloquei minhas mãos em seus ombros. —Você vai esperar? Você vai ficar em Summers até lá?

—Vou ficar. Você viria comigo para a Califórnia?

—Sim. — Sem dúvida. Londyn teria dificuldade em fazer uma viagem pelo país sem mim. — Isso é muito pensamento de longo prazo para uma mulher que só queria viajar pela América.

Londyn riu. —Eu quero viajar, mas não sozinha.

— Acontece que não tenho férias decentes há dezesseis anos. Acho que estou atrasado.

— Califórnia primeiro. Então onde?

Soltei um longo suspiro. — Estamos realmente falando sobre isso? Você e eu?

—Eu sinto isso. — Ela colocou a mão sobre o próprio coração desta vez. —Profundamente.

— Então a Califórnia primeiro. Vamos decidir para onde ir a partir daí.

Ela caiu em meus braços, me envolvendo em volta da minha cintura. Eu respirei seu cheiro, grato por não ter que procurá-lo nos lençóis esta noite porque ela estava aqui. Eu poderia segurá-la. Tocá-la.

Ficar com ela.

Ficamos ali, abraçados, até que seu estômago roncou e nos separou. — Vamos para casa. Vamos comer e encerrar o dia.

A polícia provavelmente teria uma tonelada de perguntas amanhã. Só me importava que encontrassem a pessoa que fez isso.

Londyn se desvencilhou de mim e se afastou, dando outra olhada esmagadora em seu carro.

Eu me virei também, inspecionando mais uma vez. Estava uma maldita confusão. A tinta estava muito riscada. Alguns painéis estavam amassados. O espelho do lado do passageiro mal estava pendurado. O para-choque estava solto.

— Qual era a cor do caminhão mesmo? — Eu perguntei. Ela disse ao policial, mas eu estava tão furioso e assustado que não absorvi os detalhes.

—Azul.

— Que tipo de azul?

Ela encolheu os ombros. —Eu não sei. Brilhante. Azul elétrico, talvez?

Azul elétrico. — E que tipo de caminhão? Você se lembra de algum detalhe?

— Não, na verdade não. Só lembro que era muito alto. Quando estava ao meu lado, eu não conseguia ver o interior.

Um caminhão elétrico azul com um kit de elevação.

Eu tinha visto um caminhão como aquela estacionada na minha garagem mais de uma vez.

—Que diabos? — Eu me levantei, colocando minhas mãos nos quadris. De jeito nenhum.

—O que? — Londyn veio para o meu lado, olhando para o lugar para onde eu estava olhando. —O que você está olhando?

—Você tem certeza que era azul brilhante?

—Sim. — Ela assentiu.

Peguei sua mão e caminhei pela porta dos fundos. Apertei o botão para fechar a porta e tranquei assim que estávamos do lado de fora. Então eu coloquei nós dois na minha caminhonete, sem dizer uma palavra.

Minha mente estava presa em uma possibilidade que eu nem queria considerar.

— Ok, o que estou perdendo? — Londyn perguntou quando me afastei da oficina.

— Um palpite, — respondi entre dentes. E se esse palpite estava certo, eu estava prestes a perder a cabeça.

Corri pelas ruas em direção a casa, derrapando até parar quando estacionei na minha garagem. Em um segundo Londyn e eu estávamos fora do carro, peguei meu telefone e disquei o número do meu filho.

— Ei, pai, — ele respondeu.

— Venha para casa. Agora. — Encerrei a ligação sem explicação.

— O que está acontecendo, Brooks? — Londyn tocou meu antebraço enquanto eu andava na grama além da porta da frente.

— Descreva tudo para mim novamente. Comece do começo.

— Ok. — Ela respirou fundo. — A caminhonete veio atrás de mim enquanto eu estava falando ao telefone com Gemma. Eu nem vi até que estava bem atrás de mim, e só então tudo que pude realmente ver foi a grade. Estava tentando vigiar a estrada. Ele me esbarrou algumas vezes e depois se aproximou de mim. Achei que ia passar, mas ficou perto. Havia um carro vindo na direção oposta, então eu pisei no freio. Eu desviei, fiz uma correção excessiva e entrei na vala.

—Quando a caminhonete estava ao seu lado, como era?

Ela encolheu os ombros. —Eu não sei. Alta, principalmente. Azul. Não era brilhante, não como o Cadillac.

Azul elétrico fosco. Eu estava a segundos de distância de explodir, mas mantive-me firme porque não queria assustar Londyn. —Ok. O que mais? Você viu o motorista?

— Não. Eu só estava tentando ficar na estrada.

— Compreensível. Havia mais alguém? Um passageiro? Ou era apenas o motorista?

Sua testa franziu quando ela pensou sobre isso. — E-eu não sei.

Descobriríamos em breve.

Fiquei no jardim da frente, meus braços cruzados sobre o peito, até Wyatt dirigir seu Ford F-150 branco. Compramos a caminhonete cerca de seis meses atrás, no aniversário dele. Ele tirou um terço de suas economias e eu cobri o resto.

Se eu estivesse certo, aquele caminhão estava prestes a se tornar um enfeite de gramado.

— Ei. — Ele saiu e acenou para Londyn. — Você voltou.

Ela abriu a boca para responder, mas antes que pudesse falar, levantei a mão. — Verdade, filho. Eu espero a verdade.

Isso é tudo que eu tinha a dizer. Seu corpo se enrugou. —Não foi ideia minha.

—Porra. — Passei a mão pelo cabelo. —O que diabos você estava pensando?

— Foi ideia do Joe.

Maldito Joe. Um garoto idiota que, na melhor das hipóteses, tinha duas células cerebrais para esfregar. O garoto veio de pais ausentes que pensaram que restaurar uma velha caminhonete Chevy, completo com um kit monstro de elevação e pintura personalizada, era o caminho para o coração de seu filho.

— Ideia de Joe. Isso não é um motivo! — Eu rugi. — Você poderia tê-la machucado. Você poderia tê-la matado.

O rosto de Wyatt empalideceu. — Estávamos apenas tentando assustá-la. Joe não deveria tirá-la da estrada, apenas bater em seu para-choque algumas vezes. Assustá-la e fazê-la voltar.

—Oh, Wyatt. — Londyn tocou o coração com a mão. —Foi você?

O corpo do meu filho afundou ainda mais quando ele baixou a cabeça. —Eu sinto muito.

—Por quê? — Eu exigi, minha fúria mal sob controle. Como meu filho pôde fazer isso comigo? Como ele poderia colocar a mulher que eu amava, absolutamente amava depois de apenas algumas semanas, em perigo assim?

— Você parecia feliz, — Wyatt sussurrou. — Eu vi vocês na pedra juntos. Naquela noite, entreguei comida tailandesa para Meggie. Esqueci a caixa extra de arroz dela, então trouxe. Você estava rindo. Eu pensei, se ela ficasse mais, você poderia... eu não sei.

Ele pensou que eu continuaria feliz.

Então ele vandalizou a oficina. Ele cortou os pneus dela. Ele fez de tudo para conseguir que Londyn ficasse.

Minha raiva diminuiu de uma fervura violenta para uma fervura quente. —Filho, esse não era o caminho.

—Eu sei. — Ele abaixou a cabeça. —Eu só... eu estava tentando ajudar.

Cristo. Eu lancei um olhar para Londyn. Ela nem estava brava. Ela olhou para Wyatt com um sorriso suave no rosto. — Você poderia tê-la machucado. As coisas poderiam ter terminado de forma muito diferente.

— Eu disse a ele para não bater no carro dela. Eu disse a ele várias vezes para recuar. Mas ele não ouviu. — Ele ergueu a cabeça para Londyn. —Eu sinto muito. Eu vi você desviar para a vala e nunca fiquei mais assustado. Implorei a Joe para voltar por você, mas ele disse que a polícia iria nos prender. Você está bem?

— Estou bem. — Londyn suspirou. — Assustada, mas de outra forma ilesa.

Droga. Esfreguei minhas têmporas. O que eu deveria fazer agora? Peguei meu telefone do bolso e entreguei a Wyatt.

— Ligue para a delegacia. Você pode explicar o que aconteceu.

O rosto de Wyatt se torceu em agonia, mas ele assentiu. — Ok, pai.

Então eu fiquei lá e observei meu filho dar provavelmente o telefonema mais difícil de sua vida.

O policial que estava na estrada conosco se aproximou e pegou nossas declarações junto com a confissão de Wyatt. Londyn se recusou a prestar queixa. Uma hora depois, Wyatt recebeu um aviso e o policial estava a caminho da casa de Joe para entregar uma multa por direção imprudente.

Foi uma reprimenda, mas eu sabia que iria afundar profundamente para meu filho.

—Sinto muito, pai, — disse Wyatt quando nos sentamos na sala de estar. Ainda não tínhamos comido, mas eu havia perdido o apetite. Eu me ofereci para pedir uma pizza, mas Londyn também não estava mais com fome.

—Você está de castigo. Até... a Faculdade. — Talvez mais. — Estou presumindo que a chave, os pneus e a destruição da garagem também foram você?

Ele me deu um aceno solene.

Wyatt era a outra pessoa com a chave da oficina e a ideia de que ele faria isso comigo ou um cliente nem tinha passado pela minha cabeça. — Você está me pagando de volta por tudo. Com juros.

Ele pendurou a cabeça. — Sim, senhor.

A mão de Londyn veio sobre a minha quando ela se aproximou no sofá. Ela olhou para mim, seus olhos me implorando para ir com calma.

Talvez eu pudesse, mas certamente não o faria hoje à noite. Os veículos eram armas. Eu ensinei essa lição a Wyatt muitas vezes, então por que ele não aprendeu? E o vandalismo? Isso era uma besteira mesquinha. Eu o criei melhor do que isso.

E, no que me dizia respeito, Wyatt não sairia com Joe pelo resto da vida.

— Vá para a cama, — eu ordenei. Eu já havia mandado uma mensagem para Moira sobre o que estava acontecendo. Felizmente, ela sempre esteve em sincronia comigo como mãe. Apoiávamos um ao outro quando se tratava de punições para Wyatt.

Ela prometeu que, enquanto ele estivesse de castigo na minha casa, ele estaria de castigo na dela também.

Wyatt se levantou da cadeira, virando-se para o quarto, mas antes de se afastar, foi até Londyn, curvando-se para abraçá-la. — Desculpe.

Ela deu um tapinha no seu ombro. — Boa noite, Wyatt.

Ele ficou de mau humor para o quarto.

Quando sua porta estava fechada, deixei minha cabeça cair de volta no sofá. — Merda. Ele fez isso pelas razões certas, mas caramba. Eu nem sei o que dizer.

Londyn ficou quieta por um minuto, depois a mão voou para a boca. Eu me sentei, esperando lágrimas. Em vez disso, ela teve um acesso de riso. Sua mão abafou o riso, mas seus olhos lacrimejaram.

— Isso é realmente engraçado?

Ela se recompôs, secando os olhos. — Você acha que deveríamos dizer a ele que eu estava voltando, afinal?

— Sim, — eu murmurei. — Ele precisa sofrer por sua estupidez.

— Mas não muito. — Ela se enrolou ao meu lado. — Seu coração estava no lugar certo.

— Sim. — Ele estava pensando em seu pai. Ele viu desde o início, antes mesmo de conhecê-la, que Londyn era alguém especial. — Não peguei suas malas no Cadillac.

— Eu não acho que preciso de roupas hoje à noite, não é?

Esta noite. Amanhã à noite. Todas as noites depois disso. — Não, você não precisa.

Nós pegaríamos as suas malas amanhã, ela as descarregaria no meu armário e ficaria. Ela pode não perceber ainda, mas estava em casa. Em Summers. Nesta casa.

A próxima vez que ela quisesse sair e encontrar uma nova aventura, ela teria companhia.

Dirigiríamos juntos naquela estrada descontrolada.

 

Epílogo

Londyn

 

Um ano depois...


— Eu estou indo para o supermercado. Precisa de alguma coisa?

— Não, — disse Brooks debaixo de um Chevy Silverado cinza, onde ele estava trocando o óleo. — Espere. Sim, preciso de creme de barbear.

— Algo mais? — Eu dei a ele um minuto para pensar sobre isso. Eu sabia que havia mais. Sempre havia mais. O homem nunca parecia se lembrar do que precisava quando eu estava fazendo minha lista, mas cinco minutos antes de sair para a loja, ele recitava quatro ou cinco itens.

— Fio dental.

— E? — Girei a cadeirinha ao meu lado, olhando para a nossa filha. Ellie Cohen estava dormindo profundamente, uma chupeta pendurada em seus lábios rosados.

— Suco de laranja.

Eu já tinha esse na minha lista. — E?

— Uh...

Suspirei e olhei para Tony. Ele estava de pé contra uma caixa de ferramentas, seu peito tremendo em uma risada silenciosa. Brooks e eu não tínhamos apenas esse impasse para o supermercado. Ele sempre colocava um punhado de peças logo antes de eu estar pronto para enviar o pedido.

— Estou saindo em quatro, três, dois...

— Picles.

Meu rosto azedou. Graças à minha gravidez inesperada e a um terrível enjoo matinal, os picles não estavam mais na minha lista de comidas favoritas. Mas eu os compraria para Brooks porque ele os adorava em seus sanduíches de presunto. — Ok, estamos indo. Eu encontro você em casa.

— Dirija com cuidado.

— Eu irei, — eu prometi como fazia cada vez que ele me mandava com o mesmo aviso. — Não se atrase. Você tem uma hora para chegar em casa e tomar banho antes de sairmos.

Wyatt tinha seu primeiro jogo de futebol da temporada esta noite e estava começando como linebacker4. Ele estava nervoso, algo que eu achei excepcionalmente cativante, porque a garota por quem ele estava apaixonado estaria nas arquibancadas assistindo.

Wyatt ainda estava de castigo, tanto na casa de Brooks quanto na de Moira, mas estava chegando ao fim. Um ano de comportamento quase angelical e seus pais estavam lutando para puni-lo por mais tempo. Se fosse minha decisão, ele seria perdoado meses atrás.

— Não se preocupe, querida. Eu estarei lá.

Certo, talvez eu estivesse tão nervosa pelo jogo desta noite quanto Wyatt. — Eu amo você, — eu chamei.

Brooks, deitado de costas em um carrinho com rodas, saiu de debaixo do Chevy e sorriu. — Amo você também.

Eu soprei um beijo para ele, acenei adeus a Tony e saí pela porta dos fundos, onde meu Cadillac esperava. Ele brilhava ao sol de setembro, sua cor coordenada com as folhas giratórias do outono. Mas eu não o estava dirigindo por Summers hoje. Brooks traria para casa o Cadillac e eu pegaria sua caminhonete, era mais seguro para Ellie e sua cadeirinha.

Demorou um mês para consertar o Cadillac após o acidente na vala. Não importava muito para mim, considerando que em qualquer lugar que eu precisasse ir, Brooks estava mais do que disposto a me levar.

Meu primeiro mês como residente oficial de Summers passava acordando com o sol todas as manhãs e adormecendo ao lado de Brooks todas as noites. Muitas vezes, eu me encontrava na oficina durante o dia, onde ficava no escritório, enquanto Brooks e Tony trabalhavam em carros.

A pilha de papéis no escritório de Brooks chamava meu nome. Eu pedi a senha para o seu computador e descobri o resto, apenas fazendo perguntas quando necessário.

Embora eu já estivesse fazendo o trabalho, quando Brooks me ofereceu o cargo de gerente de escritório, hesitei em aceitar. Eu estava repetindo o mesmo padrão de Boston? Levei uma semana para superar esses medos e perceber que eles eram infundados.

A vida em Summers não era nada como Boston. Brooks não era nada como Thomas.

Ele não me ofereceu um emprego na sua empresa. Ele não tinha me dado uma casa em sua casa.

Tudo sobre a nossa vida era nosso.

Brooks adicionou meu nome ao título da casa. Eu entrei na oficina como sua sócia.

Summers estava em casa, mas Brooks e eu conversávamos muitas vezes sobre onde íamos explorar. Tivemos alguns anos entre a formatura de Wyatt no ensino médio e a época em que Ellie começaria o jardim de infância.

Nosso plano era tirar o máximo de férias que pudéssemos pagar até que fosse a hora de colocá-la na escola. Então limitaríamos as viagens aos verões. Talvez Wyatt viesse também, dependendo do horário da faculdade, e faríamos uma viagem em família.

Ellie foi uma bela surpresa.

Ela tinha um mês e era a âncora do meu coração.

Brooks e eu não tínhamos planejado engravidar. Nós nem tínhamos conversado sobre casamento até aquele dia fatídico quando eu segurei um teste de gravidez positivo em minhas mãos enquanto lágrimas de alegria escorriam pelo meu rosto. Mas em algum lugar ao longo do caminho, um preservativo não funcionou e, como todas as coisas com nosso relacionamento, mudamos para o futuro em uma velocidade alucinante.

Nós dois nos casamos no quintal dos seus pais, à beira do lago, duas semanas depois. Então, esperamos Ellie chegar. O dia em que ela nasceu foi o dia em que descobri a paz verdadeira.

Eu descobri o amor incondicional.

Jurei nunca decepcioná-la como meus pais me decepcionaram.

Depois de muito pensar, decidi investigar meus pais na esperança de curar aquelas feridas escuras e abertas. Eles morreram dias depois de eu ter fugido - uma overdose dupla de heroína. Meus pais foram encontrados juntos em sua cama. Talvez se eles tivessem sobrevivido, eles teriam vindo me procurar.

Talvez não.

Por enquanto, me consolava em saber que suas almas torturadas estavam em repouso. E essa fuga me colocou em um caminho que finalmente me levou para casa.

Eu senti isso. Profundamente.

A ida ao supermercado foi tranquila. Ellie continuou dormindo mesmo enquanto o caixa bajulava seu precioso rosto. E ela dormiu até chegarmos em casa, descarregando mantimentos na cozinha.

— Oi, bebê, — eu murmurei quando ela acordou com um bocejo. Eu a puxei para fora do banco do carro assim que a campainha tocou. —Devemos ir ver quem está aqui?

Ellie gritou.

Eu ri, caminhando para a porta. Abri, esperando Meggie ou uma vizinha, mas meu queixo caiu para a mulher na minha varanda. — Gemma?

— Oi. — Ela tirou os óculos escuros. — Surpresa.

— Sim, com certeza é. — Eu sorri, acenando para ela entrar. — O que você está fazendo aqui?

Os seus olhos arregalaram. — Eu fugi.

 

— Ela é linda. Realmente. — Gemma tocou o topo do nariz de Ellie com o dedo.

—Acho que sim. — Eu sorri, observando minha amiga acariciar minha filha enquanto nos sentávamos na varanda de trás.

Ontem à noite, depois que Gemma chegou, ela me deu os detalhes rápidos e sujos de deixar Boston, mas não tivemos tempo para conversar. Brooks apareceu vinte minutos depois de Gemma e todos nós corremos para o jogo de futebol.

Quando chegamos em casa, cuidei de Ellie, então Brooks a colocou na cama enquanto Gemma e eu passamos três horas inteiras no sofá, conversando. Tínhamos retomado de novo esta manhã.

—Você está certa. Este é um café gelado incrível.

Eu tomei um gole meu. —Eu lhe disse.

—Se Meggie tivesse um spa, talvez eu simplesmente ficasse em Summers para sempre. — Gemma havia optado pelo hotel em vez de nosso quarto de hóspedes, querendo nos dar privacidade. Meggie a havia colocado em meu antigo quarto, número cinco.

Foi bom vê-la em um jeans desbotado e um suéter verde solto. Seus pés estavam em sandálias finas. Eu não a via relaxada assim há anos.

Desde que me mudei para Summers, Gemma e eu conversamos por telefone a cada poucas semanas. Ela viajou para a West Virginia para o meu casamento, mas não voltou desde que Ellie nasceu.

— Você encontrou, — disse Gemma, olhando para o lago.

— Encontrou o que?

— Uma vida real.

Eu segui o olhar dela para a água. — Sim, eu encontrei.

Brooks e Wyatt estavam no cais, mexendo em algo no barco. Brooks deve ter sentido meu olhar, porque ele olhou para cima e acenou. O sorriso puxando seus lábios era provavelmente o mesmo que me engravidara.

— Eu quero uma vida real, Lonny.

Coloquei minha mão em seu antebraço. — Você tem certeza que sair de Boston é a decisão certa?

— Tenho certeza. — Ela inclinou a cabeça para o céu. — Mas ainda não consigo acreditar que fiz isso. Que deixei tudo para trás.

Na noite anterior, ela me disse que havia vendido sua empresa, sua casa e seu carro. Ela mantinha seus investimentos em outros empreendimentos que exigiam pouco ou nenhum trabalho, mas a partir de ontem, ela estava desempregada e sem teto.

Rica, mas sem-teto, no entanto.

— Não sei a que lugar pertenço, — ela confessou. — Acho que quando você estava em Boston e eu trabalhava tanto, era fácil fingir que estava onde precisava estar. Mas estou sozinha. Estou sozinha desde que éramos crianças.

Eu tive uma infância miserável, mas Gemma fez a minha parecer um conto de fadas.

— Achei que deveria dar uma chance a West Virginia por alguns dias até decidir para onde ir a seguir, — disse ela, voltando sua atenção para Ellie. — Funcionou para você.

— Verdade. — Eu mantive meu olhar em meu marido.

Brooks e Wyatt tiraram as varas de pesca agora. Os dois têm passado cada vez mais tempo juntos. Wyatt ainda ia passar semanas alternadas com Moira, mas todo fim de semana, ele estava aqui com Brooks. Eles estavam trabalhando juntos enquanto ainda tinham tempo. Wyatt estava sendo observado por quatro equipes universitárias diferentes e, antes que piscássemos, ele teria partido.

Brooks olhou para a casa novamente, mais uma vez chamando minha atenção. Desta vez, eu acenei. Seu rosto bonito estava áspero pela barba por fazer, seu cabelo despenteado pelo vento e rebelde. Meu coração deu um salto.

— Ugh, — Gemma gemeu. — Você é quase impossível de estar por perto agora. Vocês dois são piores do que você e Karson quando crianças.

— Eu nem lamento. — Eu ri. — Ele é a melhor coisa que já me aconteceu.

— Estou feliz por você.

Eu sorri. — Eu também. O que você vai fazer?

— Não tenho a menor ideia.

— Talvez eu tenha. — Eu levantei a mão. — Espere aqui.

Corri pela casa para a cozinha, encontrando as chaves de Brooks. Tirei as duas de que precisava e, quando voltei para a varanda, encontrei Brooks na mesa ao lado de Gemma. Ele roubou Ellie dela.

— Aqui. — Joguei as chaves do Cadillac para Gemma.

Ela os pegou. — O que é isso?

— As chaves do Cadillac. Pegue. Quando você o encontrar, agradeça a Karson.

Gemma observou as chaves e depois as fechou com força. — Agradecer pelo que?

Observei Brooks, que estava sorrindo para nossa filha.

— Por me levar para casa.

 

 

                                                   Devney-Perry         

 

 

 

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