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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


SACRIFÍCIOS INCENDIARIOS / Laurell K. Hamilton
SACRIFÍCIOS INCENDIARIOS / Laurell K. Hamilton

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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“Você não pode confiar em alguém que dorme com os monstros." Isso é o que eu sempre disse. Isso é o que eu sempre acreditei. Mas agora eu sou a única a dividir a cama com o Vampiro Mestre da Cidade. Eu, Anita Blake. A mulher que os vampiros chamam de A Executora. De parte da solução, eu me tornei parte do problema. Então, ela atinge perto de casa quando um incendiário começa a fazer de alvo as empresas e propriedades dos vampiros de toda a cidade, um incendiário que parece querer destruir mais do que apenas a propriedade. São os monstros que estão em perigo agora. E cabe a executora salvá-los do inferno ...

 

 

 

 

CAPÍTULO 1

A maioria das pessoas não olha direto para as cicatrizes. Elas até olham, é claro, você sabe, um olhar rápido e, em seguida desviam a vista, então tem que ter um segundo olhar. Mas seja rápido. As feridas não são como uma mostra ruim, mas são interessantes. O Capitão Pete McKinnon, bombeiro e investigador de incêndios criminosos, sentou-se perto de mim, mãos grandes ao redor de um copo de chá gelado que a nossa secretária, Mary, tinha trazido para ele. Estava olhando para os meus braços. Não é o lugar que os homens mais olham, mas não era sexual. Olhava para as cicatrizes e não parecia nem um pouco envergonhado com isso.
Meu braço direito havia sido cortado duas vezes com uma faca, uma cicatriz branca e velha e a segunda era ainda rosa e nova. Meu braço esquerdo estava pior. Um monte de tecido cicatrizado branco aparecia na curva do meu braço. Eu tenho que levantar pesos durante o resto da minha vida ou as cicatrizes vão endurecer e eu perco a mobilidade no braço, é o que meu fisioterapeuta disse. Havia uma cruz em forma de marca de queimadura, um pouco torta, por causa das marcas de garras afiadas que uma bruxa de forma deslocada tinha me dado. Houve uma ou duas cicatrizes escondidas debaixo da minha blusa, mas o braço é realmente o pior.
Bert, meu patrão, pediu que eu usasse meu paletó ou blusas de mangas longas no escritório. Ele disse que alguns clientes tinham manifestado reservas sobre as minhas ah. . . feridas adquiridas durante a realização do trabalho. Eu não usava uma blusa de manga comprida desde que ele fez o pedido. Ele ligava o condicionador de ar um pouco mais frio a cada dia. Estava tão frio hoje que tive arrepios. Todo mundo estava trazendo agasalhos para o trabalho. Eu estava comprando blusas sem mangas para mostrar minhas cicatrizes.
McKinnon havia sido recomendado para mim pelo sargento Rudolph Storr, policial e amigo. Eles jogaram futebol juntos, na faculdade eram amigos desde então. Dolph não usou a palavra “amigo” de boa vontade, então eu sabia que eles eram próximos.
— O que aconteceu com seu braço?— McKinnon perguntou finalmente.
— Sou uma executora legal de vampiros. Às vezes fica muito desagradável. — tomei um gole de café.
— Danada,— disse ele, sorrindo.
Colocou o copo na mesa e tirou o paletó. Ele tinha os ombros largos, e era um pouco mais alto do que Dolph, mas não muito, estava na casa dos quarenta, mas seu cabelo estava completamente cinza, com um pouco de preto de vez em quando. Não o fazia parecer distinto, olhou cansado.
Ele tinha cicatrizes. As cicatrizes de queimadura iam das suas mãos até desaparecer sob as mangas curtas de sua camisa branca. A pele ficou manchada, rosada, branca e um tom estranho, de cor morena como se a pele de algum animal tivesse ficado ali.
— Isso deve ter doído. — eu disse.
— Sim. — Sentou-se ali olhando em meus olhos com um olhar longo e permanente. — Você viu o interior de um hospital, sabe um pouco disso.
— Sim. — Puxei a manga no meu braço esquerdo e mostrei o local brilhante onde a bala tinha me arranhado. Seus olhos se arregalaram um pouco.
— Agora que provamos que somos grandes durões, você já pode ir direto ao ponto? Por que estão aqui, capitão McKinnon?
Ele sorriu e colocou o casaco sobre o encosto de sua cadeira, pegou o chá da minha mesa e o bebeu.
— Dolph disse que não gostaria de ser inspecionado.
— Eu não gosto de passar por inspeções.
— Como você sabe que passou?
Foi a minha vez de sorrir.
— Intuição de Mulher. Agora, o que você quer?
— Sabe o que significa o termo incendiário?
— Um incendiário— eu disse. Ele olhou esperançoso para mim. — A pyrokinetic, alguém que pode chamar o fogo psiquicamente.
Ele concordou.
— Você já viu um pyro real?
— Vi os filmes de Ofélia Ryan.
— As fotos em preto e branco?
— Sim.
— Ela está morta agora, você sabe.
— Não, eu não sabia.
— Queimada até a morte em sua cama, combustão espontânea. Muitos dos incendiários queimam dessa forma, como se, quando estão velhos, perdem o controle do mesmo. Você já viu um deles ao vivo?
— Não.
— Onde você viu os filmes?
— Dois semestres de Estudos Psíquicos. Tivemos uma grande quantidade de médiuns, eles vêm e falam para nós, demonstram suas habilidades, mas pyrokinetics é uma habilidade rara, não acho que o professor poderia encontrar um.
Ele balançou a cabeça e bebeu o resto do seu chá em um longo gole.
— Eu conheci Ophelia Ryan, antes dela morrer. — Ele começou a virar o copo de vidro redondo na mão grande, olhou para o vidro e não para mim, enquanto falava. — Conheci outro incendiário, ele era jovem, estava com mais ou menos vinte anos, começou a incendiar casas vazias, como um piromaníaco. Então atacou um edifício cheio de pessoas, mas todos saíram. Então ele fez uma armadilha incendiária real em um cortiço. Fechou cada saída de incêndio, matou mais de sessenta pessoas, principalmente mulheres e crianças. — McKinnon olhou para mim, seu olhar era assombrado. — Ainda é a maior contagem de corpos que já vi em um incêndio. Atacou um edifício de escritório da mesma maneira, mas faltou um par de saídas. Vinte e três mortos.
— Como é que você vai pega-lo?
— Ele começou a escrever para os jornais e televisão. Queria o crédito pelas mortes, ateou fogo em um casal de policiais antes que o pegássemos. Estávamos usando aquelas roupas de prata grande que usam contra incêndio nas plataformas de petróleo. Ele não podia nos queimar. Nós o levamos para a delegacia de polícia, e esse foi nosso erro. Pôs fogo em tudo.
— Onde mais você o teria colocado?— perguntei.
Ele encolheu os ombros maciços.
Não sei, em algum outro lugar. Eu ainda estava de terno, estava em cima dele. Disse que gravaríamos tudo se não parasse. Ele riu e pôs fogo. — McKinnon colocou o copo com muito cuidado na borda da mesa. — As chamas eram de um azul suave quase como fogo a gás, mas pálida. Eu não queimei, mas de alguma forma consegui atirar o meu terno no fogo. Essa maravilha é classificada para algo como 6.000 graus, e ele começou a derreter. A pele humana queima em 120 graus, mas de alguma forma eu não derreti em uma poça d'água, apenas o fato. Tive que tira-lo enquanto ele riu. Saiu pela porta e não pensou que alguém seria estúpido o bastante para segura-lo.
Eu não disse o óbvio. Deixei-o falar.
— Eu o abordei no corredor e ele bateu em um muro um par de vezes. Engraçado, quando minha pele o tocou não se queimou. Era como o se fogo se arrastasse ao longo de um espaço e começasse em meus braços, porém minhas mãos estavam bem.

Eu concordei.
— Há uma teoria de que a aura de uma pyro inicia o fogo. Quando você toca sua pele, está muito perto de sua aura, ele usa sua própria aura como proteção para o fogo.
Ele olhou para mim.
— Talvez isso aconteceu porque o jogaram duro contra a parede, mais e mais. Ele gritava:
— Eu vou te queimar. Eu vou te queimar vivo. — Em seguida, o fogo mudou de cor para amarelo, normal, e ele começou a queimar. Deixei-o ir e fui para o extintor de incêndio. Nós não pudemos apagar o fogo em seu corpo. Apontamos os extintores nas paredes, em todo o resto, mas que não iria dar em cima dele. Era como se o incêndio fosse rastejando para fora de seu corpo lá de dentro. Tentamos atenuar algumas das chamas, mas não conseguimos, ele virou uma tocha humana.
Os olhos de McKinnon estavam distantes e cheios de horror, como se ainda estivesse vendo.
— Ele não morreu Sra. Blake, não como deveria. Gritou por tanto tempo e nós não pudemos ajudá-lo. Não poderíamos ajudá-lo. — Sua voz sumiu, ficou ali sentado olhando para o nada.
Esperei e finalmente disse, gentilmente,
— Por que vocês estão aqui capitão?
Ele piscou e balançou a cabeça.
— Acho que tenho outro incendiário em nossas mãos, Sra. Blake. Dolph disse que se alguém pudesse nos ajudar a reduzir a perda de vidas, era você.
— A capacidade psíquica não é tecnicamente sobrenatural. É um talento como arremessar uma grande bola curva.
Ele balançou a cabeça.
— O que eu vi morrer no chão da estação não era humano. Não poderia ter sido humano. Dolph diz que você é a especialista em monstros. Ajude-me a pegar este monstro antes que ele mate.
— Ele ou ela não matou ainda? É apenas danos materiais?— perguntei.
Ele concordou.
— Eu poderia perder meu emprego por ter vindo até você, deveria fugir dessa linha e obter a autorização da cadeia de comando, mas nós só perdemos um par de edifícios, quero que continue assim.
Respirei profundamente e deixei o ar sair.
— Ficarei feliz em ajudar Capitão, mas sinceramente não sei o que posso fazer por você.
Ele puxou uma pasta de arquivo.
— Isso é tudo que temos. Leia e me ligue esta noite. — Peguei a pasta dele e sentei em minha mesa. — Meu número está no arquivo. Ligue-me, talvez não seja um incendiário, talvez seja outra coisa. Mas o que quer que seja Sra. Blake, pode banhar-se nas chamas e não se queimar. Pode percorrer um prédio e lançar fogo como um lança chamas. Sem apressá-la, Sra Blake, mas as casas sumiram como se tivessem mergulhados em algo. Quando checamos, a madeira no laboratório, estava limpa. É como se o que está fazendo isso pudesse forçar o fogo a fazer coisas que não deve fazer.
Ele olhou para seu relógio.
— Estou atrasado, quero abrir este caso oficialmente, mas estou com medo de esperar até que as pessoas morram. Eu não quero esperar.
— Vou te ligar hoje à noite, mas pode ser bem tarde, até que horas posso ligar?
— A qualquer momento Sra. Blake, a qualquer hora.
Concordei e fiquei de pé. Ofereci minha mão e ele apertou. Seu aperto foi firme, sólido, mas não muito apertado. Um grande número de clientes do sexo masculino queria saber sobre as cicatrizes, apertavam minha mão como se eu fosse gritar de dor. Mas McKinnon era seguro, tinha suas próprias cicatrizes.
Ia me sentando quando o telefone tocou.
— O que é Mary?
— Sou eu, — disse Larry. — Mary não achou que me lembraria dela e colocou direto com você. Larry Kirkland, meu assistente animador e executor de vampiro em treinamento.
— Ahhh. O que é?
— Preciso de uma carona para casa. — Havia apenas uma pequena hesitação em sua voz.
— O que está errado?
Ele riu.
— Eu deveria saber, melhor do que ser tímido com você. Estou todo costurado, o médico disse que vou ficar bem.
— O que aconteceu? — perguntei.
— Venha me buscar e te conto tudo. — Em seguida desligou.
Havia apenas uma razão para ele não querer falar comigo, tinha feito algo estúpido e se machucou. Dois corpos para estacar. Dois corpos que não teriam levantado pelo menos até a noite. O que poderia ter dado errado? Como diz o velho ditado... só há uma maneira de descobrir.
Mary remarcou meus compromissos. Tirei o meu coldre de ombro completo com a Browning Hi- Power, da gaveta superior e coloquei diante de mim. Desde que tinha parado de usar meu paletó no escritório, tinha que colocar a arma na gaveta, mas fora do escritório e sempre após o anoitecer usava uma arma. A maioria das criaturas que tinham me marcado estavam mortas. Eu as tinha matado pessoalmente. Balas banhadas em prata é uma coisa maravilhosa.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 2

Larry sentou cuidadosamente no banco do passageiro do meu jipe. É difícil se sentar em um carro quando sua costa está cheia de pontos. Eu tinha visto a ferida. Foi um corte profundo e um arranhão, longo e sangrento . Duas feridas, na verdade. Ele ainda estava vestindo a camiseta azul que tinha começado dentro da calça, mas a volta dele foi sangrenta e desigual. Fiquei impressionada como ele convenceu as enfermeiras de não corta-la fora. Elas tinham a tendência de cortar a roupa que estavam em seu caminho.
Larry ficou tenso contra o cinto de segurança, tentando encontrar uma posição confortável. Seu cabelo curto vermelho tinha sido recém-cortado, curto o suficiente para quase não se notar os cachos. Era alguns centímetros mais alto que eu. Formou-se em biologia sobrenatural em maio deste ano. Mas com as sardas e rugas que o pouco de dor entre os seus olhos azuis claros, parecia mais perto de dezesseis anos do que vinte e um.
Estava tão ocupada vendo-o se contorcer que perdi o trevo para I-270. Ficamos presos em Ballas até que chegamos a Olive. Foi um pouco antes do almoço, e Olive estaria lotado de pessoas tentando enfiar comida na boca e correr de volta ao trabalho.
— Você tomou o seu comprimido para dor?— perguntei.
Ele tentou sentar-se, um dos braços apoiados na borda do assento.
— Não.
— Por que não?
— São coisas assim que me estarrece. Eu não quero dormir.
— Um sono drogado não é a mesma coisa que o sono regular. — eu disse.
— Não, os sonhos são piores.
Ele tinha-me ali.
— O que aconteceu, Larry?
— Estou impressionado que você tenha esperado tanto tempo para perguntar.
— Eu também, mas não quis perguntar na frente do médico. Se você começa a fazer perguntas para o paciente, os médicos tendem a perambular e tratar alguém. Eu queria saber do médico que te costurou o quão grave era.
— Apenas alguns pontos, — disse ele.
— Vinte.
— Dezoito.
— Eu arredondaria para cima.
— Confie em mim, — disse ele. — Você não precisa arredondar. — Fez uma careta quando disse isso. — Por que isso dói tanto?— perguntou.
Poderia ter sido uma pergunta retórica, mas respondi de qualquer maneira.
— Vai doer toda vez que você mover um braço ou uma perna, que usar os músculos das costas. Mover a cabeça e os músculos dos ombros faz mover os músculos em sua volta. Você nunca aprecia a sua volta, até que sai de você.
— Grande. — disse ele.
— Chega de enrolar Larry. Diga o que aconteceu.
Paramos atrás de uma longa fila de trânsito que levou à luz sobre o Azeite. Estávamos presos entre dois shoppings de pequeno porte. O único à nossa esquerda, tinha fontes e VJ's Tea and Spice, onde eu tenho todo o meu café. A nossa direita foi Streetside Records e um buffet chinês. Se você chegou até Ballas na hora do almoço, terá sempre muito tempo para estudar as lojas de cada lado.
Ele sorriu, então fez uma careta.
— Eu tinha dois corpos para levantar. As duas vítimas não queriam levantar como vampiros.
— Eles tinham vontade de morrer, eu me lembro. Você tem feito a maioria desses ultimamente.
Ele balançou a cabeça, em seguida, parou no meio do gesto.
— Mesmo balançando a cabeça dói.
— Vai doer mais amanhã.
— Ótimo. Eu precisava saber isso.
Eu dei de ombros.
— Mentir para você não vai fazer doer menos.
— Alguém já lhe contou que a sua maneira de dizer as coisas é ruim?
— Muita gente.
Ele fez um som humph pequeno.
— Nisso eu acredito. Enfim, tinha terminado os corpos e fui embalá-los. Tinha uma mulher enrolada em um outro corpo. Disse que era uma vampira sem ordem judicial anexada.
Olhei para ele, franzindo a testa.
— Você não estacou um corpo sem verificar a burocracia, não é?
Ele franziu a testa para trás.
— Claro que não. Eu disse a eles, sem ordem judicial, nenhum vampiro morto. Estacar um vampiro sem uma ordem judicial é crime, e eu não vou ser acusado porque alguém perdeu a papelada. Disse a eles sem rodeios
— Então?— Eu perguntei, facilitei a linha de tráfego, um pouco mais perto da luz.
— O atendente do necrotério saiu em busca do documento extraviado. Fiquei com o vampiro. Era de manhã. Ele não estava indo a lugar nenhum.
Larry tentou desviar o olhar e não encontrar meus olhos, mas doeu. Acabou me olhando, com raiva.
— Eu saí para fumar um cigarro.
Olhei para ele e tive que pisar no freio quando o trânsito simplesmente parou. Larry foi atirado contra o cinto de segurança. Ele gemia e acabou se contorcendo no banco.
— Você fez isso de propósito.
— Não, eu não fiz, mas acho que deveria ter feito. Você deixou um vampiro sozinho. Um vampiro que poderia ter feito o bastante para merecer uma ordem judicial de execução, sozinho no necrotério?
— Não demorei tanto tempo assim, foi só um cigarro, Anita. O corpo estava apenas deitado na maca. Não foi amarrado ou acorrentado. Não colocaram cruzes nele. Eu fiz execuções. Eles cobrem os vampiros com correntes de prata e cruzes até que fica difícil encontrar o coração. Simplesmente não parece certo. Eu queria falar com o médico-legista. Ela tem que aprovar todos os vampiros antes da execução, ou alguém o faz. Além do ME, imaginei que poderíamos ter um conjunto em seu escritório.
— E ?— eu disse.
— Ela não estava em casa, e voltei para o necrotério. Quando cheguei lá, a atendente estava tentando martelar uma estaca no peito do vampiro.
Foi sorte que estivéssemos parados no trânsito. Se estivéssemos em movimento, eu teria atropelado alguém. Olhei para ele.
— Você esqueceu de levar o seu kit de vampiro?
Ele conseguiu me olhar envergonhado e irritado, ao mesmo tempo.
— Não é meu kit e não inclui armas de fogo como o seu, então achei que iria incomodar.
— Várias pessoas roubam coisas como lembranças, Larry.
O tráfego começou a rastejar para frente e eu tinha que prestar atenção na estrada, em vez de seu rosto.
— Ótimo, ótimo eu estava errado. Sei que estava errado. Agarrei-a pela cintura e a puxei para fora, longe do vampiro. — Seus olhos deslizaram para baixo, sem olhar para mim. Essa foi a parte que o incomodava, ou a parte que ele achava que me incomoda. — Eu virei as costas para verificar o vampiro. Para me certificar de que ele não a tinha machucado.
— Ela deu a volta— , eu disse. Avançamos para frente. Estávamos agora presos entre Dairy Queen e o Kentucky Fried Chicken, por um lado, e uma concessionária de carros e um posto de gasolina do outro. O cenário não era melhor.
— Sim, ela deve ter pensado que eu era muito baixo para se incomodar, porque me deixou e voltou para o vampiro. Eu estava desarmado, mas ela ainda estava tentando chegar a ele, quando o outro atendente entrou. Demorou tanto que não estava insensível. Era louca, maníaca.
— Por que não tirou sua arma, Larry?— A arma que estava em seu kit de vampiro, porque um coldre de ombro e sua ferida nas costas não combinavam. Mas ele entrou armado. Eu o tinha levado para o campo de tiro, e já caçamos vampiros, confiava que não ia disparar em seu pé.
— Se eu estivesse com a minha arma, poderia ter atirado nela.
— É uma espécie de ponto, Larry.
— É exatamente o ponto, disse ele. — Não queria matá-la.
— Ela poderia ter matado você, Larry.
— Eu sei.
Segurei o volante apertado o suficiente para deixar minha pele branca e rosa. Soltei um longo suspiro e tentei não gritar.
— É óbvio que não sabe ou teria sido mais cuidadoso.
— Eu estou vivo, e ela não está morta. O vampiro sequer levou um arranhão. Deu tudo certo.
Puxei para Azeite e começou a rastejar para 270. Precisava de cabeça para pegar o norte para São Carlos. Larry tinha um apartamento lá, a cerca de vinte minutos, mais ou menos. Seu apartamento dava para um lago onde os gansos se procriavam na primavera e se reúnem no inverno. Richard Zeeman, professor de ciências do colegial, lobisomem alfa, e naquela época, meu namorado, ajudou-o a entrar, Richard realmente gostou dos ninhos dos gansos sob o balcão. Então, eu conhecia o caminho.
— Larry, você vai ter que acabar com esse medo de atirar ou vai morrer.
— Vou continuar fazendo o que acho que é certo Anita. Nada alem disso. Você pode dizer que vai mudar a minha mente.
— Dane-se, Larry. Eu não quero ter que enterra-lo.
— O que você teria feito? Atirado?
— Eu não teria virado as costas para ela, Larry. Provavelmente a teria desarmado ou a manteria ocupada até que a atendente ou os outros chegassem, não teria que matá-la.
— Eu deixei as coisas saírem do controle. — disse ele.
— Suas prioridades te complicaram. Você devia ter neutralizado a ameaça antes que virasse a vitima. Vivo, você poderia ajudar o vampiro. Morto, você é apenas uma outra vítima.
— Bem, pelo menos eu tenho uma cicatriz que você não têm.
Eu balancei a cabeça.
— Você vai ter que se esforçar mais se quiser ter uma cicatriz que eu não tenho.
— Você deixaria um homem enfiar uma estaca em tuas costas?
— Duas pessoas com várias mordidas, o que eu costumava chamar “servos humanos”, antes que soubesse o que o termo realmente significa. Eu tinha um preso e fui esfaqueá-lo. A mulher veio atrás de mim.
— Então, não foi um erro. — disse ele.
Dei de ombros.
— Eu poderia ter atirado neles quando me viram, mas não mato seres humanos tão facilmente, aprendi minha lição. Só porque não tem presas, não significa que não podem te matar.
— Você costuma colocar panos quentes sobre esses tipos de servos humanos?— Perguntou Larry. Virei para 270.
— Ninguém é perfeito. Por que a mulher teve dificuldade para matar o vampiro?
Ele sorriu.
— Você está amando isto. Ela é um membro do “Primeiro Seres Humanos”. O vampiro era um médico no hospital. Tinha se escondido em um armário. Era onde sempre dormia durante o dia, se tivesse que ficar até tarde no hospital. Ela só bateu e ele desceu com a maca para o necrotério.
— Estou surpresa que ela não o tenha arrastado à luz do sol. Os últimos raios de sol são tão ruins como o sol do meio dia.
— O armário de roupas que ele usou era embutido no caso de alguém abrir a porta na hora errada do dia. Sem janelas. Tinha medo de que alguém a veria antes que ela pudesse leva-lo ao elevador e sair.
— Ela realmente pensou que seria apenas enfiar a estaca nele?
— Acho que sim. Eu não sei Anita. Era uma loucura, uma loucura. Ela cuspiu no vampiro e em todos nós, disse que apodreceríamos no inferno. Que tínhamos de limpar o mundo dos monstros. Os monstros estavam vindo para escravizar todos nós. — Larry começou a tremer, então franziu o cenho. — Eu pensei que os “Humanos Contra Vampiros” eram maus, mas este grupo dissidente, os “Primeiros Seres Humanos”, é genuinamente assustador.
— HAV tenta trabalhar dentro da lei, — eu disse. — “Primeiro Seres Humanos” não tem sequer a pretensão de cuidados. Anunciaram que estacaram o prefeito, que é vampiro em Michigan.
— Anunciaram? Você não acreditar neles?
— Acho que alguém próximo e querido de sua casa fez isso.
— Por quê?
— Os policiais me enviaram uma descrição e algumas fotos das precauções de segurança que ele tomara. “Primeiros Seres Humanos” pode ser radical, mas não parecem muito bem organizados ainda. Você teria que planejar e ter muita sorte para chegar até aquele vampiro durante o dia. Ele era muito velho, muito cuidadoso com sua segurança durante o dia. Acho que quem fez isso é feliz em deixar os radicais de direita, assumirem a culpa.
— Você disse à polícia o que acha?
— Claro. É por isso que eles pediram.
— Estou surpreso que não tenham que vir para baixo e vê-lo em pessoa.
Eu dei de ombros.
— Eu não posso ir pessoalmente a todos os crimes sobrenaturais. Além disso, sou tecnicamente uma civil. Tiras são do tipo desconfiado quando envolvem civis nos seus casos, mas o mais importante, a mídia mostraria tudo sobre mim. A Executora homicida de vampiros.
Larry sorriu.
— Esse é um título leve para você.
— Infelizmente. — eu disse. — Além disso, acho que o assassino é um ser humano. Acho que é alguém que estava próximo. É como qualquer assassinato bem planejado, exceto que a vítima era um vampiro.
— Só você faria barulho numa sala trancada assassinando um vampiro comum. — disse Larry.
Eu tinha que sorrir.
— Acho que sim. — O meu bip explodiu, e eu pulei. Puxei essa maldita coisa de minha saia e segurei-a onde podia ver o número, fiz uma careta para ele.
— O que há de errado? É a polícia?
— Não. Eu não reconheço o número.
— Você não dá o número de seu pager a estranhos.
— Estou ciente disso.
— Ei, não fique irritada comigo.
Suspirei.
— Desculpe. — Larry foi lentamente até o meu limite de agressão. Ele foi, por mera repetição, ensinando-me a ser melhor. Mas ele conseguia puxar meus freios corretamente. Ele poderia me deixar mais cautelosa sem levar uma bronca. A base de um relacionamento muito bem sucedida.
Estávamos a poucos minutos de seu apartamento. Aguardei até que estivesse na cama para fazer a chamada. Se não fosse a polícia ou um zumbi, eu ficaria puta. Odiava ser bipada quando não era importante. Para que servem os beeps, certo? Se não fosse algo importante, eu estragaria o dia de alguém. Com Larry dormindo, eu poderia ser tão desagradável como queria ser. Foi quase um alívio.

CAPÍTULO 3


Quando Larry foi colocado com segurança na cama com seu Demorol, dormindo tão profundamente que nada menos que um terremoto o teria acordado, fiz o meu telefonema. Ainda não tenho a menor idéia de quem era, o que me incomodou. Não era apenas inconveniente, era irritante. Quem estava dando os meus números privados e por quê?
O telefone nem terminou o primeiro toque e alguém atendeu. A voz do outro lado era do sexo masculino, macio, e entrou em pânico.
— Alô, alô.
Toda a minha irritação desapareceu, era algo muito próximo ao medo.
— Stephen, o que há de errado?
Eu o ouvi engolir em sua extremidade do telefone.
— Graças a Deus.
— O que aconteceu?— Eu fiz minha voz soar muito clara, muito calma, porque queria gritar com ele, para forçá-lo a me dizer o que diabos estava acontecendo.
— Pode vir ao Hospital University St. Louis?
Isso chamou minha atenção.
— Você está muito ferido?
— Não sou eu.
Meu coração escorregou até minha garganta e minha voz saiu espremida e apertada.
— Jean-Claude? — No momento em que disse isso, sabia que era bobagem. Foi logo depois do meio-dia. Se Jean-Claude precisasse de um médico, eles teriam de ir até ele. Vampiros não viajam em plena luz do dia. Por que eu estava tão preocupada com um vampiro? Aconteceu de estar saindo com ele. Minha família, católicos devotos, estão simplesmente encantados. Como ainda estou um pouco envergonhada disso, é difícil de me defender.
— Não é Jean-Claude. É Nathaniel.
— Quem?
Sua respiração saiu em um suspiro de longo sofrimento.
— Ele era do bando de Gabriel.
O que era outra maneira de dizer que ele era um homem-leopardo. Gabriel tinha sido líder dos leopardos, o seu alfa, até que o matei. Por que tive que matá-lo? A maioria das feridas que ele me deu tinha curado. Era um dos benefícios das marcas de vampiro. Eu não cicatrizo mais tão facilmente. Mas havia uma onda de cicatrizes no alto das minhas nádegas e região lombar, fraco, quase delicada, mas gostaria de ter sempre um pequeno lembrete de Gabriel. Um lembrete de que sua fantasia tinha sido me violentar, para me fazer chorar o seu nome, em seguida, me matar. Embora sabendo que Gabriel, provavelmente seria tão exigente quando eu morresse, depois ou durante, ou teria trabalhado para ele. Enquanto eu ainda estava quente. A maioria dos licantropos não gostam de carniça.
Eu parecia casual sobre isso, mesmo na minha própria cabeça. Mas meus dedos traçados ao longo de minha volta como se eu pudesse sentir as cicatrizes na minha saia. Tinha que ser descuidado com ele. Tinha que ser. Ou você começa a gritar, e não para.
— O hospital não sabe Nathaniel é um metaforfo, não é?— Eu disse.
Ele baixou a voz.
— Eles sabem. Ele se cura muito rápido para que não saibam.
— Então por que está sussurrando?
— Porque estou fora da sala de espera, em um telefone público. — Houve um som no outro lado como se ele tivesse colocado o receptor longe de sua boca. Ele murmurou, — Eu vou estar fora em apenas um minuto. — Ele voltou. — Preciso que você venha, Anita.
— Por quê?
— Por favor.
— Você é um lobisomem, Stephen. O que está fazendo bancando a babá dos gatos?
— Eu sou um dos nomes em sua carteira, em caso de emergências. Nathaniel trabalha no Prazeres Malditos.
— Ele é um stripper? — Fiz a pergunta porque ele poderia ter sido um garçom, mas não era provável. Jean-Claude era o proprietário da Prazeres Malditos, e nunca teria desperdiçado um metamorfo fora do palco. Eles eram exageradamente exóticos.
— Sim.
— E os dois precisam de uma carona? — Era meu dia para isso, eu acho.
— Sim e não.
Havia algo na voz dele que não gostei. Um mal-estar, uma tensão. Não era como a cautela de Stephen. Ele não joga, só fala.
— Como é que Nathaniel se machucou? — Talvez se eu perguntasse melhor, obtivesse respostas melhores.
— Um cliente ficou muito difícil.
— No clube?
— Não. Anita, por favor, não há tempo. Venha e certifique-se que ele não vá para casa com Zane. — Quem diabos é Zane?
— Outro do grupo de Gabriel. Ele foi o escolhido desde que Gabriel morreu. Mas ele não os protege como Gabriel fez. Ele não é um alfa.
— Protege-los? Do que você está falando?
Voz de Stephen subiu alto e muito alegre.
— Olá, Zane. Você tem visto Nathaniel?
Eu realmente não podia ouvir a resposta, apenas o zumbido de todas as pessoas na sala de espera.
— Eu não acho que queiram que ele vá ainda, está muito ferido. — disse Stephen.
Zane deve ter pisado muito perto do telefone, muito perto de Stephen. Uma voz baixa e rosnando veio através do fio.
— Ele vai para casa quando eu disser que vai.
Voz de Stephen mostrava uma ponta de pânico.
— Acho que os médicos não vão gostar disso.
— Eu não dou a mínima. Com quem você está falando?
Para sua voz estar tão clara, ele tinha de ter Stephen preso contra a parede. Ameaçando-o, sem dizer nada específico.
A voz rosnou de repente muito clara. Tinha tomado o telefone de Stephen.
— Quem é?
— Anita Blake, e você deve ser Zane.
Ele riu, e pareceu-me muito baixo, como se sua garganta doesse.
— A Lupa humana dos lobos. Oh, eu estou tão assustado.
Lupa era a palavra usada pelos lobisomens para a companheira de seu líder. Eu fui a primeira humana a receber tal honra. Eu nem estava namorando seus Ulfric mais. Nós tínhamos terminamos depois que eu o vi comer alguém. Hey, uma garota tem que ter alguns padrões.
— Gabriel não tinha medo de mim. Olhe para onde ele foi.— eu disse.
Zane ficou quieto por algumas batidas de coração. Soprou sobre o telefone como um cachorro ofegante, pesado, mas não como se fizesse de propósito.
— Nathaniel é meu. Mantenha-se longe dele.
— Stephen não é um dos seus. — eu disse.
— Será que ele pertence a você? — Eu podia ouvir um pano em movimento, a sensação de movimento do outro lado do telefone, não gostei.
— Ele é tão bonito. Já provou esses lábios macios? Este longo cabelo amarelo tomou conta de seu travesseiro?
Eu sabia mesmo sem ver, que ele estava tocando Stephen, acariciando-o para coincidir com as palavras.
— Não toque nele Zane.
— É demasiado tarde.
Agarrei o telefone apertado e forcei minha voz a ficar calma.
— Stephen está sob minha proteção, Zane. Você me entende?
— O que você faria para manter o seu lobo de estimação seguro, Anita?
— Você não quer apertar o botão, Zane. Realmente não.
Ele abaixou sua voz a um sussurro quase doloroso.
— Quer me matar para mantê-lo seguro?
Normalmente eu tenho de encontrar alguém pelo menos uma vez antes de ameaçar mata-lo, mas estava prestes a fazer uma exceção.
— Sim.
Ele riu, baixa e nervosamente.
— Não vejo por que Gabriel gostava de você. Tão forte, tão segura de si mesmo. Tão perigosa.
— Você parece uma imitação ruim de Gabriel.
Ele fez um som que estava em algum lugar entre um silvo e um bah.
— Stephen não deveria ter interferido.
— Nathaniel é seu amigo.
— Eu sou amigo de todos que ele precisa.
— Eu não penso assim.
— Estou levando Nathaniel comigo, Anita. Se Stephen tentar me deter, vou machucá-lo.
— Se você feriu Stephen, eu vou te machucar.
— Assim seja. — Ele desligou, merda.
Corri para o meu jipe, tinha trinta minutos, vinte, se corresse muito. Vinte minutos. Stephen não era dominante. Ele era uma vítima. Mas também foi fiel. Se achava que Nathaniel não deveria ir com Zane, tentaria dete-lo. Ele não vai lutar por ele, mas pode jogar o seu corpo na frente do carro. Eu não tinha dúvidas. Eu não tinha dúvidas em tudo que Zane poderia fazer com ele. Melhor cenário. Pior cenário era Zane levando tanto Stephen como Nathaniel. Se Zane atuasse tanto como Gabriel enquanto ele falava, eu preferia ter tomado minhas chances com o carro.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


CAPÍTULO 4

Estava na sala de emergência em menos de duas horas. Foi um dia memorável para mim mesmo. A boa notícia é que nenhuma das lesões era minha. A má notícia é que isso podia mudar. Alpha ou não, Zane era um metamorfo. Ele era capazes de esmagar um elefantes de tamanho médio. Eu não estava indo para um braço-a-braço com ele. Não só iria perder, como provavelmente ele puxaria meu braço até arrancá-lo para depois comê-lo. A maioria dos licantropos gostava de tentar se passar por humanos. Não tinha certeza Zane se atentava a pequenos detalhes como esse.
Mas não quero matar Zane se não precisar. Não era misericórdia. Foi o pensamento de que ele podia me obrigar a fazê-lo em público. Não queria ir para a cadeia. O fato de que o castigo me preocupou mais do que o crime disse algo sobre meu estado moral. Alguns dias eu pensava que estava me tornando uma sociopata. Em outros pensava que já estava lá.
Eu carregava balas banhadas em prata na minha arma o tempo todo. Prata funciona tanto em seres humanos, bem como na maioria dos seres sobrenaturais. Por que mudar para munição normal que só afetam os seres humanos e pequenas criaturas? Mas há alguns meses atrás encontrei uma fada que tinha chegado próximo de me matar . Prata não funciona em fadas, mas balas normais sim. Então, eu mantinha um pente de reposição de balas regular no porta- luvas. Tirei as duas primeiras rodadas do meu pente de prata e os substituiu por chumbo. O que significava que tinha duas balas para desencorajar Zane, antes que o matasse. Porque, não se enganem, se ele continuasse se aproximando de mim depois de atirar duas vezes nele, já com o coração ferido, mesmo se pudesse se curar, a primeira bala de prata não será destinada a ferida.
Quando estava atravessando a porta, percebi que não sabia o sobrenome de Natanael. O nome de Stephen também não me ajudaria. Maldição.
A sala de espera estava lotada. Mulheres com bebês chorando, crianças correndo entre cadeiras vazias, um homem com um pano sangrento em torno de sua mão, pessoas com nenhum ferimento visível devidamente olhando para o espaço. Stephen não estava à vista.
Ouvi gritos, o som de vidro, e metal estrépito no chão. Uma enfermeira saiu correndo pelo corredor.
— Chame mais seguranças, agora! — Uma enfermeira atrás da mesa de admissão estava apertando os botões do telefone.
Chame de palpite, mas apostava que sabia onde estava Stephen e Zane. Mostrei minha identificação para a enfermeira.
— Estou com a Regional de Investigação Sobrenatural. Posso ajudar?
A enfermeira apertou meu braço.
— Você é policial?
— Estou com a polícia, sim. — Prevaricação no seu melhor. Como um civil ligado a um esquadrão da polícia você aprende como fazer isso.
— Graças a Deus. — Ela começou a me puxar para o ruído.
Eu puxei meu braço e peguei minha arma. Trava de segurança fora, apontei para o teto, pronto para ir. Com munição normal, eu não teria apontado para o teto, não em um hospital cheio de pacientes acima de mim, mas as travas de segurança automatica não são chamadas de círculos de segurança para nada.
A área em volta era como cada sala de emergência que já tinha visto. Cortinas penduradas, faixas de metal para que você possa fazer muitos e muitos quartos pequenos individuais para exames. Um punhado de cortinas estavam fechadas, mas os pacientes estavam sentados, olhando através delas, assistindo ao show. Um muro dividia o quarto no meio do corredor, por isso não havia muito para ver.
Um homem vestindo um avental verde cirúrgico voava no ar em torno desse muro. Ele se chocou contra a parede oposta, deslizou para baixo pesadamente, e desmaiou.
A enfermeira correu comigo na direção dele, e eu deixei-a ir. O que estava além dela, estava jogando os médicos como se fossem brinquedos, não trabalho para uma enfermeira. Era um trabalho para mim. Duas figuras mais em roupas cirúrgicas estavam deitados no chão, um homem e uma mulher. A mulher estava acordada, de olhos arregalados. Seu pulso estava em um ângulo de 45 graus, quebrado. Ela viu minha identificação presa no meu casaco.
— Ele é um metamorfo. Tenha cuidado.
— Eu sei o que ele é. — eu disse. Abaixei a arma apenas um toque.
Seus olhos se encolheram, e não era dor.
— Não atire no meu centro de trauma.
— Tentarei não atirar.
Zane saiu para o corredor. Nunca o tinha visto antes, mas quem mais poderia ser? Ele estava transportando uma pessoa em seus braços. Pensei num primeiro momento, que fosse uma mulher, porque o cabelo era longo e marrom brilhante, mas as costas expostas e os ombros eram demasiado musculosos. Tinha que ser Nathaniel. Ele se encaixava facilmente nos braços do homem mais alto.
Zane tinha cerca de 1,80 mt, alto e magro.
Usava apenas um colete de couro preto em seu peito magro e pálido. Seus cabelos eram de algodão branco, cortado nas laterais com o topo em pontos cheios de mousse.
Abriu a boca e rosnou para mim. Ele tinha dentes, superiores e inferiores, como um gato grande. Doce Jesus.
Apontei a arma para ele e soltei o ar de meu corpo até ficar calma e quieta. Eu estava apontando para uma linha do ombro acima de forma de Nathaniel. A esta distância, podia certá-lo.
— Só vou falar uma vez, Zane. Coloque-o no chão.
— Ele é meu, meu!— Andou a passos largos no corredor, e eu disparei.
A bala acertou seu ombro, ele cambaleou e caiu de joelhos. Seu ombro parou de funcionar, e Nathaniel deslizou para fora de seus braços. Zane levantou-se com o homem menor debaixo do braço como se pegasse uma boneca. A carne de seu ombro já estava sarando, reconstruindo- se muito rápido.
Zane poderia ter tentado passar por mim, para usar sua velocidade, mas não o fez. Ele só veio andando em minha direção como se não acreditasse que eu faria. Ele deve ter acreditado.
A segunda bala de chumbo levou pedaços no peito. O sangue explodiu para fora de sua pele pálida. Ele caiu de costas, curvando-se e lutando para respirar com um buraco do tamanho de um punho em seu peito. Eu fui para ele, não correndo, mas andando rapidamente.
Andei ao redor dele, fora do alcance de seu braço. O ombro ferido ainda estava mole, o outro braço estava preso sob o corpo de Natanael. Zane olhava ofegante para mim, seus olhos castanhos estavam arregalados.
— Prata, Zane, o restante das balas são de prata. Vou dar um tiro na sua cabeça e seu cérebro vai ficar espalhado por todo este piso.
Ele finalmente conseguiu ofegar.
— Não! — O sangue encheu sua boca e derramou pelo queixo abaixo.
Apontei a arma para seu rosto, sobre a altura das sobrancelhas. Se eu puxasse o gatilho, ele morreria. Fiquei olhando para esse homem que nunca tinha encontrado antes. Ele ainda era jovem, nem perto de trinta anos. Um grande vazio me encheu. Era como estar no meio de um ruído branco. Não senti nada. Não queria mata-lo, mas não me importaria se o fizesse. Não importa para mim, só para ele. Deixei que o conhecimento enchesse meus olhos. Que eu não dei um jeito uma maldição ou de outro. Eu deixei-o ver, porque ele era um Metamorfo e entendeu o que eu estava mostrando a ele. A maioria das pessoas não entenderia.
Eu disse:
— Você vai deixar Nathaniel sozinho. Quando a polícia chega, vai fazer tudo o que eles disserem para fazer. Sem argumentos, sem luta, ou eu vou matá-lo. Você me entendeu, Zane?
— Sim. — disse ele, e mais sangue fluiu em uma linha pesada de sua boca. Ele começou a chorar. Lágrimas rolaram pelo seu rosto manchado de sangue.
Chorar? Os maus não devem chorar.
— Estou tão feliz que você veio, — disse ele. — Tentei cuidar deles, mas eu não pude. Tentei ser Gabriel, mas eu não podia ser ele. — Seu ombro havia se curado o suficiente para que cobrisse os olhos com a mão de modo que não poderia vê-lo chorar, mas sua voz era grossa com lágrimas, assim como o sangue. — Estou tão feliz que você venha até nós, Anita. Estou tão feliz que não estamos sozinhos.
Eu não sabia o que dizer. Negando que seria o líder deles parecia uma má idéia, se eu recusasse a oferta, ele pode ficar desagradável novamente e teria que matá-lo. Percebi de repente com algo parecido com um solavanco físico que eu não queria matá-lo. Era o choro? Talvez. Mas era mais que isso. Era o fato de que eu tinha matado o seu alfa, seu protetor, nunca pensei que poderia afetar o resto dos homens-leopardo. Nunca me ocorreu que não houvesse um segundo no comando, não para preencher o lugar de Gabriel. Eu certamente não poderia ser a sua alfa. Eu não viro uma peluda uma vez por mês. Mas se isso evitasse que Zane machucasse outros médicos, eu poderia jogar bem por um tempo.
Até o momento em a polícia chegou, Zane estava curado. Ele segurava o corpo inconsciente de Nathaniel como se fosse um ursinho de pelúcia, ainda chorava, acariciou seu cabelo e murmurou mais e mais,
— Ela vai nos manter seguros. Ela vai nos manter seguros. Ela vai nos manter seguros.
Acho que o “Ela” era eu, e eu estava tentando digerir essa idéia.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


CAPÍTULO 5


Stephen estava na cama estreita do hospital. Seus cabelos loiros e encaracolados eram maiores que o meu, varrendo o travesseiro branco. Cicatrizes airadas em vermelho e rosa cruzavam seu rosto delicado. Parecia que tinha sido empurrado por uma janela, e era exatamente o que tinha acontecido. Stephen, que não ultrapassava-me vinte quilos, tinha se mantido firme. Zane finalmente o empurrou através de uma janela de segurança de malha. Era como empurrar alguém por um ralador de queijo. Se fosse um ser humano, estaria morto. Mesmo Stephen ficou ferido, gravemente ferido. Mas ele iria se curar. Eu não podia ver realmente o desaparecimento das cicatrizes. Era como tentar assistir a um desabrochar de flores. Você sabia que isso acontecia, mas nunca conseguia vê-lo. Eu olhava para trás dele, e que haveria uma cicatriz menor. Era irritante como o inferno.
Natanael estava na outra cama. Seu cabelo era maior do que o de Stephen. Apostava que chegava na cintura. Difícil julgar uma vez que eu só o vi de bruços. Seus cabelos eram ruivo escuros, quase marrom. Era um tom de mogno, rico e profundo. O cabelo estava nos lençóis brancos como a pelagem de um animal, grossa e brilhante.
Ele era pequeno e bonito, e não poderia ter mais de 1,52 mt. Os cabelos ajudaram a ilusão de feminilidade. Mas os ombros eram desproporcionalmente grande, parte halterofilismo, parte genética. Ele tinha ombros grandes, mas não muito. Tinha que ser maior de idade para trabalhar na Prazeres Malditos. Seu rosto era fino, mandíbula muito boa. Poderia ter uns dezoito anos, mas ele não era muito alto. Talvez um dia ele crescesse.
Estávamos na ala de isolamento da enfermaria. O local que a maioria dos hospitais mantinha para atender licantropos, vampiros e outros cidadãos sobrenaturais. Qualquer coisa que pudesse ser perigoso. Zane teria sido perigoso. Mas a polícia tinha-o levado embora, feridas quase cicatrizadas. Sua carne tinha empurrado as minhas balas no chão como pedaços de órgãos rejeitados. Eu não acho que precisavam da ala de isolamento para Stephen e Nathaniel. Posso estar errada sobre Nathaniel, mas eu não penso assim. Eu confiava em Stephen, ele era melhor do que isso.
Nathaniel não tinha recuperado a consciência. Perguntei de seus ferimentos, e disseram-me porque ainda pensaram que eu era uma policial, e eu já tinha guardado os meus documentos. A gratidão é uma coisa maravilhosa.
Alguém tinha feito um belo trabalho em Nathaniel. Não me refiro apenas a cortar e abrir sua barriga com uma faca. Quero dizer que abriram e deixaram seus intestinos cair no chão, encontraram pedaços de destroços em seus intestinos. Havia sinais de trauma grave em outras partes do corpo. Ele tinha sido abusado sexualmente. E sim, uma prostituta pode ser violada. Só é preciso dizer não. Ninguém, nem mesmo um licantropo, concordaria em ser estuprado enquanto seus intestinos caiam no chão. O estupro teria sido a primeira, então tentaram matá-lo. Foi um toque menos mal feito nessa ordem. Um toque.
Havia marcas em seus pulsos e tornozelos, como se tivesse sido preso. As marcas foram esfregadas como se tivesse lutado, e não estava curando. O que significava que usaram correntes com um alto conteúdo de prata por isso iria prejudicar e não apenas prender. Quem fez isso com ele sabia de antemão que estaria machucando um licantropo. Eles foram preparados. O que levantou algumas questões muito interessantes.
Stephen disse que Gabriel tinha sido o intermediário dos homens-leopardo. Entendi por que as pessoas querem algo tão exótico como um homem-leopardo. Eu sabia que existia sadomasoquismo. Metamorfos poderiam causar um inferno de danos. Assim, a combinação até fazia um certo sentido. Mas isso foi além dos jogos de sexo. Nunca tinha ouvido falar de algo tão brutal, fora um caso de serial-killer.
Não podia deixá-los sozinhos, sem proteção. Mesmo sem a ameaça de assassinos sexuais, havia ainda os homens-leopardo. Zane poderia ter chorado e beijado meus pés, mas havia outros. Se eles não tinham a estrutura do bando, nenhum alfa, não tinham ninguém para dizer-lhes para deixar Nathaniel sozinho. Sem um líder, que pode ser uma questão de recuar ou matar cada um deles individualmente. Não é um pensamento agradável. Leopardos não aterrorizam muito quem está no comando . Eles não têm a estruturas do bando, mas metamorfos não são animais, são pessoas. O que significa que não importa o quão solitário e descomplicado seja a forma de animal, a metade humana vai encontrar um jeito de estragar tudo. Se Gabriel tinha escolhido a dedo o seu povo, eu não podia confiar que não viriam atrás de Nathaniel e tentar novamente. Gabriel tinha sido um gatinho doente, e Zane não tinha me impressionado muito. Quem você vai chamar para reforço? O bando de lobisomem local, claro. Stephen era um membro de sua matilha. Eles lhe deviam proteção.
Houve uma batida na porta. Peguei a Browning e segurei no meu colo debaixo da revista que estava lendo. Eu consegui encontrar um período de três meses de cópia antiga do National Wildlife, com um artigo sobre os ursos de Kodiak. A revista escondia a arma muito bem.
— Quem é ele?
— É Irving.
— Entre. — Deixei a arma fora, apenas no caso de alguém tentar me empurrar para trás. Griswold Irving era lobisomem e repórter. Para um repórter ele era um bom rapaz, mas não era tão cuidadoso quanto eu. Quando vi que estava sozinho, apontei minha arma para cima.
Irving abriu a porta, sorrindo. Seus cabelos crespos e castanhos circundado a cabeça como um halo marrom com a careca reluzente no meio. Óculos no nariz pequeno. Era um nariz curto e dava a impressão de ser rodada sem gordura. Ele não se parecia com nada, mas era um lobo mau. Nem sequer se parecia muito com um repórter, isso era uma das coisas que faziam dele um entrevistador tão grande,mas provavelmente manter-se sempre atualizado era material de reportagem. Ele trabalha para o St. Louis Post-Dispatch, e me entrevistou muitas vezes.
Entrou e fechou a porta atrás dele.
Guardei a arma.
Seus olhos se arregalaram. Ele falou baixo, mas não em um sussurro.
— Como está Stephen?
— Como entrou aqui? Pensei que tinha um policial na porta.
— Puxa, Blake, estou feliz em vê-la também.
— Não mexa comigo, Irving. Deveria ter um guarda lá fora.
— Ele está conversando com uma enfermeira muito bonita na mesa.
— Droga. — Eu não era uma policial de verdade, então não poderia sair por aí gritando com eles, mas era tentador. Havia uma lei que girava ao redor de Washington que em breve poderia dar um crachá federal a caçadores de vampiros. Às vezes pensava que era uma má idéia. Às vezes não.
— Fale-me rápido antes que eu me chute para fora. Como está Stephen?
Eu disse a ele.
– Você não tomou conta de Nathaniel?
Ele parecia desconfortável.
— Você sabe que Sylvie é líder do bando, enquanto Richard está fora da cidade trabalhando em seu mestrado, certo?
Suspirei.
— Não, eu não sabia.
— Eu sei que você não está conversando com Richard desde que se separaram, mas achei que alguém tivesse mencionado isso.
— Todos os outros lobos têm influência em torno de mim, como houve uma morte. Ninguém me fala sobre Richard, Irving. Pensei que ele o tinha proibido de falar comigo.
— Não é do meu conhecimento.
— Estou surpresa que não tenha vindo aqui pedir uma história.
— Eu não posso fazer essa história, Anita. Isto também fecha para a casa.
— Por que você sabe sobre Stephen?
— Porque todos os envolvidos são Metamorfos e eu sou apenas um repórter de maneiras suaves. — Você realmente acha que ia perder o emprego se descobrissem?
— O trabalho, que se dane. O que minha mãe diria?
Eu sorri.
— Então você não pode bancar o guarda-costas.
Ele franziu a testa.
— Você sabe, eu não tinha pensado nisso. Quando alguém se machucava em público e não podia ficar escondido, Raina sempre organizava um resgate. Com a morte dela, acho que não temos nenhuma alpha que não esteja escondendo o que é. Ninguém que eu possa confiar a guarda Stephen, de qualquer maneira.
Raina tinha sido a antiga lupa antes que eu aceitasse o emprego. Tecnicamente a lupa antiga não tinha de morrer para você ocupar o cargo, ao contrário do Ulfric, ou Rei Lobo. Mas Raina tinha sido companheira de Gabriel. Eles tinham compartilhado alguns hobbies, como fazer filmes pornográficos estrelando metamorfos e seres humanos. Ela ajudava no filme, enquanto Gabriel tentava me estuprar. Oh, sim, Raina tinha verdadeiro prazer em satisfazer as vontades dele.
— Essa é a segunda vez que você ignora Nathaniel, — eu disse. — O que há, Irving?
— Eu lhe disse, Sylvie está no cargo até Richard voltar.
— Então?
— É proibido a qualquer um de nós ajudar os homens-leopardo de qualquer maneira.
— Por quê?
— Raina usou muitos homens-leopardo em seus filmes pornô, junto com os lobos.
— Eu vi um dos filmes. Não fiquei impressionada. Horrorizada, mas não impressionada.
Irving me olhou muito sério.
— Ela também deixou Gabriel e os gatos punirem os membros desobedientes do bando.
— Punir?— Fiz uma pergunta.
Irving assentiu.
— Sylvie foi uma das mais castigadas,e mais de uma vez . Ela odeia todos eles, Anita. Se Richard não a proibisse, ela teria usado o bando para caçar os leopardos e matar todos eles.
— Eu vi o pensamento de Gabriel e Raina se divertindo com os jogos. Acho que estou do lado de Sylvie dessa vez.
— Você limpou a casa para nós, você e Richard. Richard matou Marcus e agora ele é Ulfric, líder do bando. Você matou Raina, e agora é a nossa lupa.
— Eu atirei nela, Irving. De acordo com a lei do bando, assim eu soube, usando uma arma você nega o desafio. Eu me enganei.
— Você não é lupa, porque você matou Raina. Você é lupa porque Richard escolheu você como sua companheira.
Eu balancei a cabeça.
— Nós não estamos mais namorando, Irving.
— Mas Richard ainda não escolheu uma nova lupa, Anita. Até que ele faça isso, é o trabalho de vocês.
Richard era alto, moreno, bonito, honesto, verdadeiro, corajoso. Era perfeito, exceto por ser um lobisomem, isso era perdoável, ou assim eu pensava. Até que o vi em ação. Vi o prato de enchilada inteiro. Esfolado e se contorcendo, e como tempero um pouco de sangue.
Agora eu estava namorando apenas Jean-Claude. Não tinha certeza se escolher o vamiro-mestre da cidade era melhor que o lobisomem-alpha, mas fiz a minha escolha. Eram as mãos pálidas de Jean-Claude que prendiam meu corpo. Seus cabelos negros que enrolavam sobre o meu travesseiro. Seus olhos azuis meia-noite que eu olhava quando fizíamos amor.
Boas meninas não fazem sexo antes do casamento, especialmente com os mortos-vivos. Eu não acho que as boas meninas lamentam sobre o ex-namorado A, quando já escolheu o namorado B Talvez estivesse errada. Richard e eu nos evitávamos mutuamente sempre que podíamos. O que tinha sido muito nas últimas seis semanas. Agora ele estava fora da cidade. Fácil de evitá-lo.
— Eu não vou perguntar o que você está pensando — disse Irving. — Acho que sei.
— Você não é tão inteligente. — eu disse.
Ele estendeu as mãos abertas.
— São ossos do ofício.
Isso me fez rir.
— Então ninguém proibiu Sylvie de ajudar os leopardos. Onde é que isso deixa Stephen?
— Ele foi contra a suas ordens diretas, Anita. Para alguém tão baixo na estrutura do bando como ele, teve coragem. Más Sylvie não vai ficar impressionada. Ela vai rasgá-lo, e não permitirá que qualquer pessoa banque a babá. Eu sei disso muito bem.
— Eu não posso fazer isso vinte e quatro horas por dia, Irving.
— Eles vão se curar em um dia ou dois.
Fiz uma careta para ele.
— Não posso ficar aqui por dois dias.
Ele olhou para longe de mim e foi ao lado da cama. Olhou para o homem dormindo, as mãos cruzadas na frente.
Fui até eles, toquei o braço de Irving.
— O que não está me dizendo?
Ele balançou a cabeça.
— Eu não sei o que você quer dizer.
O virei de frente e o fiz me enfrentar.
— Fale Irving.
— Você não é um Metamorfo, Anita. Não está mais namorando Richard. Você precisa sair do nosso mundo, não pertence mais a ele.
Ele parecia tão grave, solene, que me assustou.
— Irving, o que está errado?
Ele apenas balançou a cabeça.
Agarrei-o pelos dois braços e resisti à vontade de sacudi-lo.
— O que você está escondendo?
— Existe uma maneira conseguir que o bando proteja Stephen e até mesmo Nathaniel.
Dei um passo para trás.
— Estou ouvindo.
— Você toma o lugar de Sylvie.
— Eu não sou um Metamorfo, Irving. Eu era a namorada do novo líder do bando. Não estou mais nisso.
— Você é mais do que isso, Anita, e sabe disso. Você matou alguns de nós. Você mata facilmente e sem remorso. O bando respeita isso.
— Puxa, Irving, o endosso é um estimulante.
— Você se sente mal por ter matado Raina? Será que você perderia o sono por Gabriel?
— Eu matei Raina porque ela estava tentando me matar. Matei Gabriel, pela mesma razão, a auto-preservação. Então, não, eu não perdi o sono.
— O bando respeita você, Anita. Se pudesse encontrar alguns membros e convence-los que você é mais assustadora do que Sylvie, eles entenderiam isso.
— Eu não sou mais assustadora do que Sylvie, Irving. Eu não posso vencê-los em uma luta. Ela pode.
— Mas você pode matá-los. — Ele disse muito calmamente, observando meu rosto, procurando minha expressão.
Abri a boca, e a fechei novamente.
— O que você está tentando me fazer, Irving?
Ele balançou a cabeça.
— Nada. Esqueça o que eu disse. Não deveria ter dito isso. Consiga mais policiais para ficar aqui e vá para casa, Anita. Basta sair disso enquanto puder.
— O que há, Irving? Sylvie é um problema?
Ele olhou para mim. Seus olhos geralmente alegres estavam solenes, pensativo, balançou a cabeça.
— Eu tenho que ir, Anita.
Agarrei o braço dele.
— Você não vai a lugar nenhum até que me diga o que está acontecendo.
Ele se voltou para mim lentamente, com relutância. Soltei o seu braço e ele recuou.
— Obrigada.
— Sylvie tem desafiado os maiores que ela no bando, e ganhou.
Olhei para ele.
— Então?
— Você entende como é incomum para uma mulher lutar, ser a segunda no comando. Ela tem cerca de 1,60 mt, é pequena. Pergunte como ela está ganhando.
— Está sendo modesto, Irving. Não gosto de você. Eu não vou fazer vinte questões. Diga-me.
— Ela matou as duas primeiras pessoas que lutaram com ela, e não precisava. Ela escolheu. Os outro três desafiantes apenas concordaram que era dominante a eles. Eles não queriam correr o risco de serem mortos.
— Muito prático. — disse.
Ele balançou a cabeça.
— Sylvie sempre foi assim. Finalmente, ela pegou um do círculo íntimo de lutar. Ela é muito pequena para ser um dos executores, além disso, acho que ela estava com medo de Jamil, e Shang-Da.
— Jamil? Richard não o expulsou? Ele era um dos lacaios de Marcus e Raina.
Irving deu de ombros.
— Richard pensou que a transição seria mais suave se mantivesse alguns da velha guarda no poder.
Eu balancei a cabeça.
— Jamil deveria ter sido expulso ou morto.
— Talvez, mas na verdade Jamil parece apoiar Richard. Acho que ele ficou realmente surpreso quando não morreu instantaneamente. Richard ganhou sua lealdade.
— Eu não sabia que Jamil tinha qualquer lealdade. — eu disse.
— Nenhum de nós achou. Sylvie lutou e ganhou o lugar de Geri, o segundo no comando.
— Ela o matou?
— Surpreendentemente, não.
— Ok, então Sylvie dilacerou a bando. Ela é a segunda no comando. Grande, e daí?
— Eu acho que ela quer ser um Ulfric, Anita. Acho que ela quer o lugar de Richard.
Olhei para ele.
— Só há uma maneira de ser Ulfric, Irving.
— Matando o velho rei. — disse Irving. — Sim, acho que Sylvie sabe disso.
— Eu não a vi lutar, mas já vi Richard em ação. Ele a supera por uma centena de quilos, cem quilos de músculo, e ele é bom. Ela não pode vencê-lo em uma luta justa, pode?
— É como se Richard estivesse ferido, Anita. O coração saiu dele . Acho que se ela o desafiar e ele aceitar, ela pode ganhar.
— O que você está me dizendo? Que ele está deprimido?— Eu perguntei.
— É mais do que isso. Você sabe o quanto ele odeia ser um dos monstros. Ele nunca matou ninguém, até Marcus, não pode perdoar a si mesmo.
— Como você sabe tudo isso?
— Eu escuto. Repórteres são bons ouvintes.
Olhamos um para o outro.
— Diga-me o resto.
Irving olhou para baixo, depois para cima.
— Ele não discute comigo. A única coisa que disse foi que, mesmo você, não podia aceitar o que ele era. Mesmo você, a executora, ficou horrorizada.
Foi a minha vez de olhar para baixo.
— Eu não queria isso.
— Nós não podemos mudar o que sentimos. — disse Irving.
Encontrei seus olhos.
— Eu mudaria se pudesse.
— Acredito em você.
— Eu não quero que Richard morra.
— Nenhum de nós fazer. Tenho medo de que Sylvie o faça sem ninguém para detê-la .— Ele acenou para a outra cama. — Sua primeira ordem seria caçar todos os homens-leopardo. Abate-los.
Respirei profundamente e soltei o ar para fora.
— Eu não posso mudar como me sinto sobre o que eu vi, Irving. Vi Richard comer Marcus.— Andei pelo quarto pequeno, balançando a cabeça. — O que posso fazer para ajudar?
— Chamar o bando e exigir que reconheçam você como lupa. Faça alguns deles virem aqui e proteger os dois, mesmo sendo contra as ordens expressas de Sylvie. Mas você tem que lhes dar a sua proteção. Você tem que prometer que ela não vai machucá-los, porque você vai fazer com que ela não possa.
— Se eu fizer isso e Syvie não gostar, vou ter que mata-la. É como se eu estivesse planejando. Isso é um pouco premeditado mesmo para mim.
Ele balançou a cabeça.
— Estou lhe pedindo para ser a nossa lupa. Para ser a lupa de Richard. Para mostrar que se Sylvie continuar pressionando, Richard pode não matá-la, mas você vai.
Suspirei.
— Droga.
— Sinto muito, Anita. Eu não teria dito nada, mas...
— Eu precisava saber. — Eu o abracei e ele endureceu de surpresa, então abraçou-me de volta.
— O que foi isso?
— Por me dizer tudo isso. Sei que Richard não vai gostar.
O sorriso desapareceu de seu rosto.
— Richard puniu dois membros do bando desde que assumiu. Eles desafiaram sua autoridade, um grande momento, e ele quase matou os dois.
— O quê?— Eu perguntei.
— Cortou-os, Anita. Era como se fosse outra pessoa, outra coisa.
— Richard não faz coisas assim.
— Ele faz agora, não o tempo todo. Na maioria das vezes está bem, mas então enloquece e entra em fúria, não quero estar perto dele quando perde o controle.
— Quão mal ele tem sido?— Eu perguntei.
— Ele tem que aceitar o que é, Anita. Tem que abraçar a sua besta, ou vai ficar louco.
Eu balancei a cabeça.
— Eu não posso ajuda-lo a amar sua besta, Irving, não posso aceitá-la também.
Irving deu de ombros.
— Não é tão ruim ser peludo, Anita. Há coisas piores... Gosto de ser o morto-vivo.
Eu fiz uma careta para ele.
— Saia, Irving, e obrigado por me dizer.
— Espero que você ainda esteja grata em uma semana.
— Eu também.
Irving deu-me alguns números de telefone. Não quero que ele permaneça comigo por muito tempo. As pessoas poderão suspeitar que seja mais do que apenas um repórter. Ninguém parecia se preocupar com a minha reputação. Eu levanto zumbis, mato vampiros, e estava namorando o mestre da Cidade. Se as pessoas começassem a suspeitar que eu era um Metamorfo, que diferença faria?
Três nomes dos membros do bando eram submissos, o pensamento de Irving era que seriam resistentes o suficiente como guarda-costas e fracos o suficiente para serem intimidados. Eu não queria fazer isso. O bando é baseado em obediência: punição e recompensa, a maior parte da punição. Se eu chamasse um dos membros do bando e este se recusasse, eu teria que puni-los, ou não seria uma lupa, Richard não foi forte o suficiente para voltar. Claro, ele provavelmente não seria grato, parecia me odiar agora. Eu não o culpo. Ele odeia interferência.
Mas não era apenas Richard. Era Stephen. Ele salvou minha vida uma vez e eu ainda não tinha retornado o favor. Ele também era uma daquelas pessoas que foi vítima de todos, até hoje. Sim, Zane quase o matou, mas não era esse o ponto. Ele ia colocar a amizade acima da lealdade do bando. O que significava que Sylvie poderia retirar a proteção do bando dele. Ele seria como os homens-leopardo, carne de ninguém. Eu não poderia deixar que isso acontecesse, não se pudesse evitar.
Stephen podia acabar morto. Richard podia acabar morto. Eu poderia ter de matar Sylvie. Eu poderia ter de mutilar ou matar um membro do bando para fazer o meu ponto. Poder, poder, poder. Maldição.
Eu nunca tinha matado antes, exceto em legítima defesa ou por vingança. Se eu colocar o meu chapéu no anel, seria premeditado, assassinato a sangue frio. Talvez não em um sentido técnico, mas sabia o que seria de partida em movimento. Era como dominós. Todos eles ficam em linha reta até que você bate em um deles, então não há como pará-los. Gostaria de acabar com o padrão: Richard solidamente no poder, Stephen e os homens-leopardo seguros, Sylvie recuada ou morta. As três primeiras coisas iam acontecer. Era escolha de Sylvie como seu ultimo feito . Duras, mas é verdade. Claro, havia uma outra opção. Sylvie poderia me matar. Isto facilitaria as coisas para ela novamente. Sylvie não era exatamente cruel, mas não deixa ninguém entrar em seu caminho. Nós compartilhávamos esse traço. Não, eu não sou cruel. Se fosse, teria chamado Sylvie para uma reunião e atirado nela no próprio local. Eu não era sociopata suficiente para fazê-lo. Ter misericórdia pode matá-lo, mas às vezes é tudo o que nos torna humanos.
Eu fiz as ligações. Escolhi o nome do primeiro homem, Kevin, sem sobrenome. Sua voz era grossa, com sono, áspero, como a voz de um fumante.
— Que diabos é isso?
— Clemente, — eu disse — muito gentil.
— Quem é?
— É Anita Blake. Você sabe quem eu sou?— Ao tentar ser ameaçador, menos é mais. Eu e Clint Eastwood.
Ele ficou em silêncio por cerca de trinta segundos, e deixei o silêncio aumentar. Sua respiração se acelerou. Eu quase podia sentir seu pulso acelerando através do telefone.
Ele respondeu que era usado para estranhas chamadas de telefones e negócios do bando.
— Você é nossa lupa.
— Muito bom, Kevin, muito bom.— Condescendente também é bom.
Ele tossiu para limpar a garganta.
— O que você quer?
— Eu quero que você venha até St. Louis University Hospital. Stephen e Nathaniel estão feridos. Quero que você tome conta deles para mim.
— Nathaniel, ele é um dos homens-leopardo.
— Isso é certo.
— Sylvie nos proibiu de ajudar os homens-leopardo.
— E Sylvie é sua lupa?— As perguntas são boas, mas somente se você souber as respostas. Se fizer perguntas e as respostas surpreendê-lo, você parecerá ridículo. É difícil ser ameaçador, quando você se vê mal informado.
Ele ficou quieto por um segundo.
— Não.
— Quem é?
Eu o ouvi engolir.
— Eu ou ela?
— Você sabe que é você.
— Então pegue seu traseiro, traga até aqui e faça o que pedi.
— Sylvie vai me machucar, lupa. Ela realmente tem vontade.
— Vou cuidar para que não faça.
— Você é apenas a namorada humana de Richard. Não pode lutar com Sylvie e sobreviver.
— Você está certo, Kevin. Eu não posso lutar com Sylvie, mas eu posso matá-la.
— O que quer dizer?
— Se ela te machucar por estar me ajudando, eu vou matá-la.
— Você não pode dizer isso.
Suspirei.
— Olhe Kevin, eu conheci Sylvie. Confie em mim quando digo que poderia apontar uma arma para sua cabeça e puxar o gatilho. Eu posso e vou matar Sylvie se ela me obrigar. Sem piadas, sem blefes, sem jogos. — Ouvi a minha voz, eu parecia cansada, quase entediada, e tão grave que era quase assustadora.
— Tudo bem, eu vou fazer, mas se você me abandonar, ela pode me matar.
— Você tem a minha proteção, Kevin, e eu sei o que isso significa no bando.
— Significa que tenho de reconhecê-la como dominante. — disse ele.
— Isso também significa que se você for desafiado por qualquer um, eu posso ajudá-lo a lutar suas batalhas. Parece um negócio justo.
O silêncio encheu a linha do telefone de novo. Sua respiração tinha abrandado, aprofundado-se.
— Prometa-me que ela não vai me matar.
— Eu não posso prometer isso Kevin, mas posso prometer que, se Sylvie matar você, eu vou matá-la.
Silêncio, desta vez mais curto.
— Eu acredito em você. Estarei no hospital em quarenta minutos ou menos.
— Obrigado, estarei te esperando.
Desliguei e fiz as outras duas chamadas. Ambos concordaram em vir rápido. Eu tinha desenhado uma linha na areia com Sylvie de um lado e eu do outro. Ela nã ia gostar, nem um pouco. Não poderia culpá-la. Se fosse o contrário, eu estaria chateada. Mas ela deveria ter deixado Richard sozinho. Irving havia dito que era como se Richard estivesse ferido, como se o seu coração estivesse saído dele. Eu ajudei a colocar esta ferida lá. Cortei seu coração em pedacinhos e dancei sobre ele. Não deliberadamente. Minhas intenções eram boas, mas você sabe o que dizem sobre boas intenções.
Eu poderia não amar Richard, mas poderia matá-lo. Matar era o mais prático dos dois presentes. E ultimamente eu estava muito, muito prática.
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


CAPÍTULO 6


O Sargento Rudolph Storr apareceu antes que as babás lobisomens chegassem. Eu o chamei. Ele era o homem encarregado da Equipe Regional de Investigação Sobrenatural, ERIS, ou RIP. Um monte de pessoas nos chamam de RIP, ou “Descanse em Paz”. Hey, pelo menos eles sabem quem somos.
Dolph tinha quase 2,0 mts, construído como um lutador, mas não é apenas a dimensão física que o torna impressionante. Ele havia tomado um esquadrão que tinha sido concebido como uma brincadeira para apaziguar os liberais e fazer o trabalho. RIP tinha resolvido mais crimes sobrenaturais nos últimos três anos do que qualquer outra unidade da polícia. Incluindo o FBI. Dolph sequer tinha sido convidado a dar palestras em Quântico. Nada mau para alguém que tinha sido dado seu comando como uma punição. Dolph não era exatamente um otimista, policiais poucas vezes são, mas se der a eles limões, farão uma maldita limonada muito bem.
Ele fechou a porta atrás dele e olhou para mim.
— O médico disse que minha detetive estava aqui. Acabei de vê-lo.
— Eu nunca disse que era uma detetive, disse que estava com a Equipe. Deduziram o resto.
Ele balançou a cabeça. Seu cabelo preto realmente escondeu o topo das orelhas. Ele foi vencido por um corte de cabelo.
— Se você estava brincando de policial, por que não gritou com o guarda que se supõe, deveria estar na porta?
Sorri para ele.
— Pensei em deixar isso para você. Presumo que ele sabe que é um menino mau.
— Eu cuidei dele. — disse Dolph.
Ele ficou de pé na porta. Fiquei sentada na minha cadeira, realmente não conseguiria apontar minha arma para ele. Estava feliz com isso. Ele estava olhando para mim com força suficiente para machucar, sem apontar uma arma para ele.
— O que há, Anita?
— Você sabe tudo o que sei. — eu disse.
— Como você fez para estar no lugar de Johnny?
— Stephen me chamou.
— Diga-me.
Eu disse a ele. O coloquei a par de tudo. Eu queria que parasse. Os policiais são muito bons em parar o crime, se você contar a verdade. Deixei algumas coisas, como eu ter matado o homem-leopardo alfa. Foi a única coisa que deixei de fora. Para mim, era quase o mesmo que ser honesta. Dolph piscou e anotou tudo no seu caderno de confiança.
— Você está dizendo que a nossa vítima permitiu que alguém fizesse isso com ele?
Balancei minha cabeça.
— Eu não acho que seja assim tão simples. Acho que ele foi para lá sabendo que ia ficar preso. Sabia que haveria sexo e dor, mas não acho que soubesse que chegariam tão perto de matá-lo. Os médicos tiveram realmente que lhe dar sangue. Seu corpo estava entrando em choque mais rápido do que poderia se fixar.
— Eu ouvi falar de metamorfos que cicatrizaram feridas piores do que essa. — disse Dolph.
Eu dei de ombros.
— Algumas pessoas podem se curar melhor que outros, mesmo entre os metamorfos. Nathaniel está muito abaixo na linha de poder. Talvez faça parte do ser mais fraco não se curar também. — Abri minhas mãos. — Eu não sei.
Dolph procurou em seu caderno de anotação.
— Alguém o deixou caido na entrada de emergência envolto em um lençol. Ninguém viu nada. Ele só apareceu.
— Ninguém vê nada, Dolph. Essa não é a regra?
Ele me deu um pequeno sorriso. Dolph não estava muito feliz comigo ultimamente, só recentemente descobriu que eu estava namorando o mestre da Cidade. E não gostou. Ele não confia em alguém que convive com os monstros. Não poderia culpá-lo.
— Sim, essa é a regra. Você está me dizendo tudo o que sabe sobre isso, Anita?
Eu levantei a mão em saudação como um escoteiro.
— Eu poderia mentir para você?
— Se for adequado a sua finalidade, sim.
Olhamos um para o outro. O silêncio cresceu grosso o suficiente para caminhar. Deixei-o se sentar lá. Se Dolph pensava que eu iria falar primeiro estava errado. A tensão entre nós não era o caso. Era a sua desaprovação na minha escolha de namorado. Seu desapontamento em mim estava sempre lá agora. Pressionando, ponderada, à espera de me pedir desculpas ou dizer, que nojo, apenas brincando. O fato de que eu estava namorando um vampiro o fazia confiar menos em mim. Eu o entendia. Dois meses atrás, ou menos, me sentia da mesma maneira. Mas aqui estava eu, namorando quem eu queria. Dolph e eu teríamos que lidar com isso.
E ainda assim, ele era meu amigo, e eu o respeitava. Até concordava com ele, mas se pudesse sair deste maldito hospital, queria esse encontro com Jean-Claude à noite. Independente das minhas dúvidas sobre Richard, da moral, em geral, e dos mortos andando, queria esse encontro. O pensamento de que Jean-Claude estava esperando por mim, fez meu corpo ficar apertado e quente. Embaraçoso, mas é verdade. Eu não desistiria de Jean-Claude para satisfazer Dolph. Não tinha certeza se era uma opção por uma série de razões. Então sentei e olhei para Dolph. Ele olhou para trás. O silêncio se adensava a cada tick do relógio.
Uma batida na porta nos salvou. O oficial, agora com atenção na porta, sussurrou algo para Dolph. Ele assentiu e fechou a porta. O olhar que me deu foi ainda menos amigável, se isso fosse possível.
— O Oficial Wayne diz que há três parentes de Stephen aqui. Ele também diz que se todos forem parentes, ele vai comer a sua arma.
— Diga a ele para deixá-los entrar. — eu disse. — São membros do mesmo bando. Homens Lobo se consideram mais do que a família.
— Mas juridicamente não é família. — disse Dolph.
— Quantos dos seus homens você quer perder quando o próximo Metamorfo entrar por aquela porta?
— Nós podemos matá-los tão bem como você, Anita.
— Mas você ainda tem que lhes dar um aviso antes de matá-los, não é? Ainda tem que tratá-los como pessoas ao invés de monstros ou você acaba na frente do conselho de revisão.
— Testemunhas dizem que você deu um aviso a Zane.
— Eu estava me sentindo generosa.
— Você estava atirando nele na frente de testemunhas, foi isso que a tornou generosa.
Voltamos a olhar um para o outro. Talvez não tenha sido apenas por namorar um vampiro. Talvez fosse o fato de que Dolph era o último policial e estava começando a suspeitar que eu estava matando pessoas . As pessoas que me machucam ou me ameaçam têm uma grande tendência a desaparecer. Não muitos, mas o suficiente. A menos de dois meses atrás eu tinha matado duas pessoas, onde os corpos não podiam ser escondidos. Auto-defesa em ambas as vezes. Nunca vi o interior de um tribunal. Ambos os assassinos com longos registros. As impressões digitais da mulher tinha sido a resposta a vários assassinatos políticos que a Interpol havia procurado. Grande número de bandidos que ninguém chorou, pelo menos não a polícia.
Mas alimentou as suspeitas de Dolph. Um inferno, mas não tinha como confirmá-las.
— Por que você me recomendaria para Pete McKinnon, Dolph?
Ele não respondeu por tanto tempo, que pensei que não o faria, mas finalmente ele disse:
— Porque você é a melhor no que faz, Anita. Nem sempre aprovo seus métodos, mas você ajuda a salvar vidas, repudiar os maus. Você é melhor em uma cena de assassinato do que alguns dos detetives no meu time.
Para Dolph, isso era um discurso. Abri a boca, fechei-a, então, disse:
— Obrigado, Dolph. Vindo de você, isso é um grande elogio.
— Você acabou de passar muito tempo com esses malditos monstros, Anita. Eu não quero rotular você . Quero dizer tudo isso. Você já jogou pelas suas regras muito tempo, às vezes se esquece o que é ser normal.
Eu sorri.
— Eu ressuscito os mortos para a vida, Dolph. Nunca fui normal.
Ele balançou a cabeça.
— Não estou dizendo que é má propositadamente, Anita . Não é a pele ou as presas que fazem de você um monstro, nem sempre. Às vezes, é exatamente onde você desenha a linha.
— O fato de jogar com monstros é o que me faz valiosa para você, Dolph. Se eu jogasse em linha reta, não seria tão boa em ajudar você a solucionar crimes sobrenaturais.
— É, às vezes me pergunto se não a deixei sozinha por muito tempo, você poderia nos consultar se quisesse, isso tornaria as coisas ... mais suave.
Eu fiz uma careta para ele.
— Você está dizendo que se culpa pelo que eu me tornei?— Tentei faze-lo rir, mas seu rosto me parou.
— Quantas vezes você foi até os monstros em um dos meus casos? Quantas vezes você teve que fazer negócios com eles para me ajudar a pegar um cara mau? Se eu não tivesse deixado você sozinha...
Levantei-me. Estendi a mão, em seguida deixei-a cair para trás, sem tocá-lo.
— Não sou sua filha, Dolph. Você não é meu protetor. Eu ajudo a polícia porque gosto. Sou boa nisso. E quem mais você vai chamar?
Ele concordou.
— Sim, quem mais? Os parentes duvidosos lá fora podem entrar e... Visitar os pacientes.
— Obrigada, Dolph.
Ele respirou longamente.
— Eu vi a janela onde seu amigo Stephen foi empurrado. Se ele fosse humano, estaria morto. Foi apenas sorte que nenhum civil tenha morrido.
Balancei minha cabeça.
Eu acho que Zane estava sendo cuidadoso com os seres humanos, pelo menos. Com a força que ele tem, teria sido mais fácil matar do que mutilar.
— Por que ele teria se importado?
— Porque ele está na cadeia, e consegue uma audiência de fiança.
— Eles não vão deixá-lo sair.
— Ele não matou ninguém, Dolph. Desde quando você viu alguém não conseguir fiança por causa de um assalto ou uma briga?
— Você pensa como um policial, Anita. É o que te faz bem.
— Eu penso como um policial e como um monstro. Isso é o que me faz bem.
Ele balançou a cabeça, fechou sua caderneta e colocou-o em um bolso interno do paletó.
— Sim, isso é o que te faz bem. — Saiu sem outra palavra. Enviou os três lobisomens e fechou a porta.
Kevin era alto, moreno, mal vestido e cheirava a cigarro. Lorena foi arrumada e recatada como uma professora de segundo grau. Ela cheirava a perfume de linho branco e piscou nervosamente para mim. Teddy, sua preferência não a minha, era muito forte, com músculos firmes. Seu cabelo era comprido e bem escuro e sua cabeça parecia pequena demais para seu corpo maciço. Os homens pareciam assustadores, mas era perto de Lorraine, que eu senti o poder vibrar em minha pele. Ela parecia um coelho assustado e tinha poder suficiente para ser o lobo mau.
Em vinte minutos, estava livre para sair. O trio incompatível de lobisomens haviam se dividido em turnos, para que um deles estivesse com os meninos em todos os momentos. Eu confiava nos lobos para guardá-los? Sim. Porque se abandonassem seus postos e deixassem Stephen morrer, eu realmente iria matá-los. Se eles tentassem o seu melhor e simplesmente não fossem fortes o suficiente, ótimo, mas se eles simplesmente desistissem. . . Eu tinha dado a Stephen, e agora, a Nathaniel, minha proteção. Não estava brincando. Tenho certeza que todos eles sabiam disso.
Kevin disse:
— Se Sylvie aparecer, nós vamos mandá-la para você.
— Faça isso.
Ele balançou a cabeça, brincando com um cigarro apagado. Eu disse a ele que não podia fumar, mas mesmo tocá-lo parecia confortá-lo.
— Você mijou na sua lagoa. Espero que possa limpá-lo.
Eu sorri.
— Eloquente, Kevin, muito eloquente.
— Eloquente ou não, Sylvie vai arrebentar sua bunda, se puder.
O sorriso se alargou. Eu não poderia ajudá-lo.
— Deixe que eu me preocupe com meu próprio rabo. Meu trabalho é para manter vocês longe do perigo.
Os três lobisomens olharam para mim. Havia alguma coisa em seus rostos, quase a mesma expressão, mas não conseguia ler.
— Ser uma Lupa é mais do que apenas lutar por uma posição dominante. — disse Lorraine, em uma pequena voz.
— Eu sei o que eu disse.
— Você?— perguntou ela, e havia algo de infantil na questão.
— Acho que sim.
— Você vai nos matar se não obedecermos. — Kevin disse — Mas morreria por nós? Será que correria o risco de pagar o mesmo preço que nos pede para pagar.
Eu gostava mais de Kevin quando ele não estava sendo eloquente. Olhei para esses três estranhos. Pessoas que eu acabara de conhecer. Arriscaria a minha vida por eles? Poderia pedir para arriscarem suas vidas por mim se eu não estivesse disposta a retribuir o favor?
Olhei para eles, realmente olhei para eles. Lorraine com suas mãos pequenas segurando a bolsa tão firmemente que suas mãos tremiam. Teddy, que me olhou com calma, os olhos me aceitando, mas não havia um desafio, uma inteligência que você pode perder se olhar apenas para o corpo. Kevin, parecia que deveria estar em um beco procurando uma solução, ou em um bar bebendo a sua quota de uísque. Havia algo debaixo do cinismo. Era medo. Medo de que eu fosse como todo o resto. Um usuário que não dá a mínima para eles. Raina tinha sido assim, e agora Sylvie. Supostamente o bando era seu refúgio, sua proteção, não a coisa que mais temia.
Suas emoções, o quarto se encheu de energia elétrica, correu para fora deles, dançando sobre o meu corpo. Eles estavam nervosos, com medo. As emoções fortes feitas de energia de metamorfos. Se você fosse sensível a ele, sentiria. Eu o sentia muito ao longo dos anos. Desta vez foi diferente de alguma forma, não apenas o senso do poder, meu corpo reage a ela. Não é apenas um tremor de pele, uma linha de arrepio, mas algo mais profundo. Era quase sexual, mas que não era qualquer um, como se o poder tivesse encontrado uma parte de mim, acariciado uma parte de mim, que nunca soube que estava lá.
O poder deles me encheu, tocando em algo em mim, e o senti, qualquer que fosse, abrir-se como uma opção a ser acionada. A onda de energia quente brotou dentro do meu corpo e se espalhou através da minha pele, como se cada poro do meu corpo estivesse emitindo uma linha de ar quente. Ela trouxe um leve suspiro a minha garganta. Eu conhecia o sabor do poder, e não vinha de Jean-Claude. Era de Richard. De alguma forma, eu tinha batido em seu poder. Gostaria de saber se ele sentiu tudo isso, mesmo estando fora do estado, estudando para o curso.
Seis semanas atrás, para salvar a vida dos dois, eu deixei Jean-Claude nos ligar uns aos outros.
Eles estavam morrendo, e eu não poderia deixá-los ir. Richard invadira meus sonhos por acidente, mas, principalmente, Jean-Claude nos manteve separados, porque qualquer outra coisa seria muito doloroso. Esta era a primeira vez que eu sentia o poder de Richard desde então. A primeira vez que tinha certeza que a eliminatória ainda estava lá, ainda mais forte. A magia é assim. Até mesmo o ódio não pode matá-lo.
De repente eu tinha as palavras, palavras que eu não poderia ter conhecido.
— Eu sou lupa, eu sou a mãe de todos, eu sou a sua guardiã, o seu refúgio, sua paz. Estarei com vocês contra todos os danos. Seus inimigos são meus inimigos. Eu partilho o sangue e carne com vocês. Somos lukoi, somos o bando .
O calor parou abruptamente. Eu cambaleei. Somente a mão de Teddy me impediu de cair no chão. — Você está bem?— ele perguntou com uma voz tão profunda e impressionante quanto o resto dele.
Concordei.
— Estou bem, estou bem. — Assim que pude, recuei. Richard sentiu a atração a centenas de quilômetros de distância, e ele me cortou. Ele bateu a porta sem saber o que eu estava fazendo, ou o por quê. Uma corrida de raiva dançado para dentro da minha cabeça como um grito silencioso. Ele estava tão irritado.
Estávamos vinculados a Jean-Claude. Eu era a sua serva humana e Richard o seu lobo. Era uma intimidade dolorosa.
— Você não está lukoi. — disse Lorena. — Não é um metamorfo. Como fez isso?
Eu sorri.
— Segredo comercial. — A verdade é que não sabia. Teria que perguntar a Jean-Claude. Esperava que pudesse me explicar. Ele foi apenas o terceiro vampiro mestre em sua longa história a ter um mortal e um metamorfo em uma única ligação. Eu suspeito fortemente que não havia um manual, e que Jean-Claude não falaria mais do que eu queria saber.
Teddy ficou de joelhos.
— Você é nossa lupa. — Os outros dois o seguiram. Eles se humilhavam como bons lobos submissos, embora Kevin não gostasse disso. Mas não tinha certeza de como e quanto foi necessário. Eu os queria submissos, porque não quero ter que lutar contra alguém, ou matar ninguém. Assim eu deixei-os rastejar no chão e correr suas mãos junto as minhas pernas, cheirar minha pele como os cães. Foi quando a enfermeira entrou
Todo mundo se levantou do chão. Tentei explicar e finalmente parei. A enfermeira só ficou lá olhando para todos nós, um estranho sorriso congelado no rosto. Finalmente, ela desistiu, sem fazer coisa alguma.
— Vou chamar o Doutor Wilson para atendê-los. — Ela balançou a cabeça com muita frequência e muito rapidamente saiu e fechou a porta atrás dela. Se estivesse de saltos, eu teria apostado que poderíamos ouvi-la correndo.
Tanta coisa para não ser um dos monstros.
 


CAPÍTULO 7


Arranjar lobisomens babás me deixou atrasada para o meu compromisso. Ter tempo para ler o arquivo de McKinnon me fez atrasar ainda mais, mas se houvesse um incêndio esta noite, seria constrangedor não estar preparada. Aprendi duas coisas a partir do arquivo. Um deles, que todos os incêndios haviam sido iniciados depois de escurecer, o que me fez pensar de imediato nos vampiros. Só que vampiros não podem iniciar incêndios. Não era uma de suas habilidades. Na verdade o fogo era uma das coisas que mais temiam. Ah, eu tinha visto poucos vampiros que podiam controlar as chamas existentes em pequena escala. Faziam a chama de uma vela subir ou descer, truques de salão, mas o fogo era o elemento de pureza. Pureza e vampiros não se misturam. A segunda coisa que aprendi a partir do arquivo é que não sabia muito sobre os incêndios em geral ou incêndio criminoso em particular. Eu ia precisar de um livro ou uma boa leitura.
Jean-Claude tinha feito reservas no Demiche's, um restaurante muito agradável. Eu tinha que correr para casa, para minha nova casa alugada. Ele me informou muito tarde sobre nosso encontro no restaurante. O problema com as roupas extravagantes, era onde colocar as minhas armas. Vestir roupas femininas são o maior desafio para transportar armas escondidas.
As formais escondem mais, mas fica mais difícil de agarrar a arma. Qualquer forma apropriada é difícil, a combinação se tornou difícil. Hoje à noite eu estava usando um vestido formal com cintas entrelaçadas e fendas tão elevadas em ambos os lados, tinha que ter certeza de que a calcinha estreita era uma somatória em negro, as roupas íntimas eram de lacinhos e preta. Eu sabia muito bem que em algum momento durante a noite que eu esqueceria o flash e a calcinha. E se eu tivesse que ser engraçada, certamente seria. Então, por que usá-la? Resposta: Eu tinha uma pistola 9 milímetros Firestar dobrada dentro de uma bellyband.
O bellyband é uma cinta elástica que passa sobre a calcinha, mas sob o vestuário. Ele foi projetado para usar em um botão para baixo do vestido ou camisa. Puxe a camisa com a mão livre, puxe a arma, e Vualá, podem começar a filmar. O bellyband não funciona muito bem com roupas formais, porque você tem metros de tecido para levantar antes que possa chegar a arma. Melhor do que nada, mas só se o bandido estiver doente. Mas nesse vestido, tudo o que tinha de fazer era colocar a minha mão, através de uma das fendas. Tive que puxar a arma para fora, para baixo e para fora sob o vestido, por isso ainda não era tão rápida, mas não foi ruim. O bellyband também não trabalha com uma forma especialmente ajustada do vestido. Ninguém ganha peso na forma de uma arma.
Eu realmente encontrei um sutiã sem alças que combinava com a calcinha preta, assim uma vez que tirasse a arma e o vestido, estaria vestindo lingerie. Os saltos dos sapatos eram maiores do que normalmente aceitaria, mas era isso ou a barra do vestido. Desde que eu me recuso a costurar, saltos era melhor.
O único obstáculo importante para a cinta entrelaçada era mostrar todas as minhas cicatrizes. Eu tinha pensado em comprar uma pequena jaqueta, mas este não era um vestido destinado a um casaco. Então, tudo bem. Jean-Claude tinha visto as cicatrizes antes, e as poucas pessoas rudes o bastante dariam apenas uma breve olhada.
Estava ficando muito boa em maquiagem, sombra, blush, batom. O batom era vermelho, muito vermelho. Mas eu tinha a coloração certa para ele. Pele pálida, cabelos pretos encaracolados, olhos castanhos puros. Todos os contrastes e cores fortes, incluindo o batom vermelho brilhante estavam combinando. Estava me sentindo muito vistosa até que vi Jean-Claude.
Ele estava sentado na mesa, esperando por mim. Podia vê-lo a partir da entrada, embora o maitre tenha atendido duas pessoas antes de mim. Eu não me importava, apreciei a vista.
O cabelo de Jean-Claude é preto e encaracolado, mas ele tinha feito alguma coisa para que ficasse reto e fino, caindo pelos ombros. Seu rosto parecia ainda mais delicado, como porcelana fina. Ele era lindo, não apenas bonito. Não tinha certeza do que o salvou de ter a face feminina, algumas linhas de seu rosto, curva do queixo, algo. Você nunca iria confundi-lo com algo que não fosse do sexo masculino. Estava vestido de azul royal, uma cor que eu nunca tinha visto, dentro de uma jaqueta curta brilhante, um pano quase metálico, revestido com laço preto em um padrão de flores. A camisa tinha o seu típico franzido, mas era um azul rico e vibrante, até o monte de babados que subia ao pescoço para emoldurar o rosto e espalhar as mangas do casaco para cobrir a metade superior de suas esbeltas mãos brancas.
Ele estava com um copo vazio na mão, girando o tronco do vidro entre os dedos, observando a luz através do cristal. Ele não podia beber vinho, mais que um gole de cada vez ele lamentou.
O maitre levou-me através das mesas. Ele olhou para cima, e vendo seu rosto perfeito meu peito ficou apertado, e de repente foi difícil respirar. O azul da roupa tão perto de seu rosto transformou seus olhos azuis da cor do céu da meia-noite, em azul cobalto, a cor de uma boa safira. Más nenhuma jóia tinha esse peso de inteligência, de conhecimento escuro. Seu olhar quando me viu andar em sua direção me fez tremer. Nem frio, nem medo. Antecipação.
De saltos, e com as fendas nos dois lados do vestido, era uma arte caminhar. Tive sorte por não tropeçar nele, ou ter má postura, ou o vestido se enrolaria em torno de minhas pernas e nos calcanhares e torceria os tornozelos. Você tem que andar como se soubesse que poderia usá-lo e olhar maravilhosamente bem. Se duvidar ou hesitar, vai cair no chão e se transformaria em uma abóbora. Depois de anos não sendo capaz de usar saltos e vestidos, Jean-Claude havia me ensinado em um mês o que minha madrasta não poderia ensinar em vinte anos.
Ele se levantou, e eu não me importei, mas uma vez fiquei chateada quando nos encontramos em um baile, ele ficava de pé toda vez que uma das meninas chegava a mesa. Eu melhorei desde então, agora eu podia ver o resto da roupa dele.
A calça era de linho preto, liso e perfeitamente agarrado a seu corpo, de forma adequada, de modo que eu sabia que não havia nada sob a calça. Botas pretas escalavam suas pernas até os joelhos. As botas eram macias, como o couro, enrugada e firmes.
Ele deslizou para mim, e fiquei ali olhando ele vir. Eu ainda tinha um pouco de medo dele. Medo do quanto eu o queria. Era como um coelho paralisado no farol, congelado, esperando a morte chegar. Mas será que o coração do coelho bate mais rápido e mais rápido? Será que a sua respiração viria como uma coisa bloqueando sua garganta? Havia uma corrida ansiosa para o medo, ou havia apenas a morte?
Ele passou os braços em volta de mim, puxando-me para perto. Suas mãos estavam quentes, pálidas quando deslizavam sobre meus braços nus. Ele havia se alimentado com alguém hoje à noite, emprestou seu calor. Mas eles estavam sempre dispostos, até ansiosos. O Mestre da Cidade nunca pedia doadores. O sangue era fluido corporal só que eu não iria partilhar com ele. Enfiei minha mão sobre a seda da camisa, por baixo da jaqueta. Queria moldar meu corpo contra o calor roubado. Queria correr as mãos sobre a aspereza do linho, contrastando-a com a suavidade da seda. Jean-Claude era sempre uma festa sensual, até as suas roupas.
Ele beijou meus lábios levemente. Aprendemos que o batom pode borrar. Então, ele inclinou a cabeça para um lado e respirou ao longo do meu rosto, no meu pescoço. Sua respiração era como uma linha de fogo ao longo da minha pele. Ele falou com os lábios um pouco acima do grande pulso no meu pescoço.
— Está encantadora esta noite, ma petite. — Ele apertou seus lábios contra minha pele macia. Deixei sair uma respiração estremecida e chamei-o de volta.
Era uma saudação entre os vampiros para um um beijo impulsivo em público na garganta. Um gesto reservado para amigos muito próximos. Ele mostrava grande confiança e afeto. Recusar significava que você estava com raiva ou desconfiança. Isso ainda parecia muito íntimo para demonstrar em público, mas eu o tinha visto fazer com os outros, e as lutas começam com uma recusa. Era um gesto antigo, voltando a ser moda. Na verdade, estava se tornando uma saudação chique entre animadores e outros da mesma laia. Melhor do que beijar o ar perto do rosto de alguém, eu acho.
O maitre segurou minha cadeira. Acenei negativamente pra ele. Não foi o feminismo, mas a falta de graça. Nunca conseguiu sentar em uma mesa sem que a cadeira batesse nas minhas pernas ou estar tão longe da mesa que tinha que puxar para frente por minha conta. Então ao diabo com ele, faria isso sozinha.
Jean-Claude observava a luta por minha cadeira sorrindo, mas não se ofereceu para ajudar. Eu finalmente sentei pelo menos . Ele se sentou na sua cadeira em uma queda graciosa. Era um movimento quase afeminado, mas ele era como um gato. Mesmo em repouso, havia o potencial do músculo sob a pele, uma presença física totalmente masculino. Eu costumava pensar que era um ardil dos vampiros. Mas era ele, só ele.
Balancei minha cabeça.
— O que está errado, ma petite?
— Eu me senti muito bonita até que vi você. Agora me sinto como uma das irmãs feias.
— Você sabe que é linda, ma petite. Devo alimentar sua vaidade dizendo o quanto?
— Eu não estava a procura de elogios. — Fiz um gesto para ele e balancei a cabeça. — Você está incrível hoje a noite.
Ele sorriu, baixando a cabeça para um lado.
— Merci, ma petite.
— Cabelo com chapinha?— perguntei. — Parece ótimo — acrescentei apressadamente, e ele confirmou, mas eu esperava que não, era tão estável como um permanente. Eu amava seus cachos.
— Se fosse, o que você diria?
— Se fosse, você teria de dizer isso. Agora você está me provocando.
— Gostaria de lamentar a perda dos meus cachos?— ele perguntou.
— Eu poderia retribuir o favor. — eu disse.
Ele arregalou os olhos com horror irônico.
— Não é sua glória culminante, ma petite, mon Dieu. — Estava rindo de mim, mas eu já estava acostumada.
— Eu não sabia que você poderia usar roupa apertada. — eu disse.
Seu sorriso se alargou.
— E eu não sabia que você poderia esconder uma arma sob tal.. vestido justo.
— Enquanto eu não abraçar ninguém, nunca vão saber.
— É verdade.
Um garçom veio e perguntou se queríamos bebidas. Pedi água e Coca-Cola. Jean-Claude lamentou. Se ele pudesse ter pedido qualquer coisa, teria sido vinho.
Jean-Claude levou sua cadeira quase ao meu lado. Quando o jantar chegasse, ele voltaria para seu lugar, escolher a refeição era parte de entretenimento da noite. Ele tinha me levado pra jantar várias vezes, para perceber o que Jean-Claude queria, era quase necessário.. Eu era sua serva humana. Tinha três de suas marcas. Um dos efeitos colaterais da segunda marca era que ele poderia se alimentar através de mim. Então, se tivéssemos feito uma longa viagem por mar, ele não teria que se alimentar de qualquer ser humano no barco. Poderia viver através de mim por um tempo, também pode saborear a comida por mim.
Pela primeira vez em quase quatrocentos anos ele pode sentir o gosto dos alimentos. Eu tinha de comer para ele, mas ele podia desfrutar de uma refeição. Era mais trivial, em comparação com algumas das outras coisas que ele adquirira através das marcas, mas era a única coisa que parecia agrada-lo. Ele escolheu a comida com uma alegria infantil e assistiu-me comer, provando como eu fiz. Em nossa privacidade, ele teria rolado em suas costas como um gato, apertado as mãos na boca como se estivesse tentando drenar todos os gostos. Ele era muito bonito e sensual. Ganhei dois quilos em seis semanas comendo com ele.
Ele deslizou o braço sobre as costas da minha cadeira, e lemos o menu juntos. Inclinou-se perto o suficiente para que seu cabelo liso encostasse em meu rosto. O cheiro do seu perfume, oh, desculpe, Colônia, acariciava minha pele.
Afastei minha cabeça longe da carícia de seus cabelos, principalmente porque a sensação de estar tão perto dele era tudo o que eu conseguia pensar. Talvez se tivesse levado a sério seu convite para viver com ele no Circo dos Malditos, esse sentimento tivesse se dissipado. Mas eu tinha alugado uma casa em tempo recorde, no meio do nada, para que os meus vizinhos não levassem um tiro, é por isso que saí do meu apartamento. Eu odiava a casa. Eu não era uma casa amável de moça. Era uma espécie de condomínio feminino. Mas havia condomínios vizinhos, também.
A sobreposição de renda em sua capa arranhava meus ombros quase nus. Ele colocou a mão no meu ombro, alisando as pontas dos dedos em minha pele. Sua perna esfregava minha coxa, e percebi que não tinha ouvido uma maldita coisa do que ele disse. Era embaraçoso.
Ele parou de falar e me olhou, olhou-me a alguns centímetros com aqueles olhos extraordinários.
— Eu estava explicando as minhas opções de menu para você. Você não ouviu nada?
Balancei minha cabeça.
— Desculpe.
Ele riu, e seu riso pairou sobre minha pele como sua respiração e deslizou sobre meu corpo. Era um truque vampiro, mas de baixa escala, e tornou-se as preliminares para nós. Na intimidade, fazíamos outras coisas.
Ele sussurrou no meu rosto.
— Sem desculpas, ma petite. Você sabe que me agrada encontrá-la ... Inebriante.
Ele riu de novo, e eu o empurrei.
— Vá se sentar no seu lado da mesa. Já ficou aqui tempo suficiente para saber o que quer.
Ele moveu sua cadeira obedientemente de volta ao seu lugar.
— Eu tenho o que quero, ma petite.
Eu tive que olhar para baixo e não olhar para ele. O calor rastejou do pescoço até meu rosto, e eu não podia parar.
— Se você entende o que eu quero para o jantar, essa é outra questão.
— Você é um pé no saco.
— E tantos outros lugares.
Eu não acho que poderia corar mais. Estava errada.
— Pare com isso.
— Eu amo o fato de que posso te fazer corar. É encantador.
O tom de sua voz me fez rir, apesar de mim mesmo.
— Este não é um vestido para ser encantador, eu estava tentando ser sexy e sofisticada.
— Ele não pode ser charmoso, bem como sexy e sofisticado? Existe alguma regra sobre ser os três?
— Liso, muito liso. — eu disse.
Ele arregalou os olhos, tentando parecer inocente e falhando miseravelmente. Ele era muitas coisas, mas inocente não era uma delas.
— Agora, vamos iniciar as negociações sobre o jantar. — eu disse.
— Você faz parecer como uma tarefa.
Suspirei.
— Antes de ficarmos juntos, eu pensava em comida como algo que deveria faze para não morrer. Eu nunca fui tão apaixonada por comida como você. É quase um fetiche para você.
— Dificilmente um fetiche, ma petite.
— Um hobby, então.
Ele concordou.
— Talvez.
— Então, é só me dizer o que quer no menu, e vamos negociar.
— Tudo o que é necessário é que você prove o que é requisitado. Não tem que comer.
— Não, chega desta droga de degustação. Eu ganhei peso. Nunca ganho peso.
— Você ganhou quatro quilos, me disseram. Embora eu tenha procurado diligentemente por este fantasma e até agora não pude encontrá-lo. Seu peso ideal é 50 quilos, correto?
— Certo.
— Oh, ma petite, você está ficando enorme.
Olhei para ele, e não era um olhar amigável.
— Nunca pergunte a uma mulher sobre seu peso, Jean-Claude. Pelo menos não no século 21.
Ele abriu as mãos.
— Minhas mais profundas desculpas.
— Quando você pedir desculpas, tente não sorrir ao mesmo tempo. Arruína o efeito. — eu disse.
Seu sorriso se alargou.
— Vou tentar me lembrar no futuro.
O garçom voltou com a minha bebida.
Gostaria de pedir agora, ou precisa de alguns minutos?
Jean-Claude olhou para mim.
— Mais alguns minutos.
A negociação começou.
Vinte minutos mais tarde, eu precisava de uma recarga na minha Coca-Cola, e sabíamos o que queríamos. O garçom voltou, caneta em punho, esperançoso.
Eu tinha ganhado no aperitivo, por isso não pediríamos um. Tinha desistido da salada, e deixei que ele ficasse com a sopa. Batata, alho poró, ei, não era uma dificuldade. Nós dois queríamos o bife.

— O corte pequeno. — Eu disse ao garçom.
— Como você gostaria que fosse preparado?
— Metade bem passado e metade ao ponto.
O garçom piscou para mim.
— Desculpe-me, senhora?
— É uma peça de 227 gramas, certo?
Ele concordou.
— Corte pela metade e traga um pedaço bem passado e o outro ao ponto. Ele fechou a cara para mim.
— Acho que não podemos fazer isso.
— Por esse preço você devia levar a vaca para fora e fazer um ritual de sacrifício na mesa. Entreguei-lhe o menu. Ele tomou.
Ainda carrancudo, ele se virou para Jean-Claude.
— E você, senhor?
Jean-Claude deu um pequeno sorriso.
— Não pedirei comida hoje à noite.
— Gostaria de vinho no jantar, então, senhor?
Ele nunca perdeu o movimento.
— Eu não bebo vinho.
Eu tossi Coca-Cola por toda a toalha. O garçom fez de tudo, mas obstruí as vias aéreas. Jean-Claude riu até as lágrimas escorrerem pelos cantos dos olhos. Você não podia realmente dizer a esta luz, mas eu sabia que as lágrimas estavam tingidas de vermelho. Sabia que haveria manchas rosadas no guardanapo de linho, quando esfregasse os olhos. O garçom fugiu sem ter começado a brincadeira. Pasmada através da mesa em que o vampiro sorria, me perguntava se eu era a piada ou alvo dela. Havia noites em que não tinha certeza de que maneira a sujeira da sepultura se desintegrava.
Mas quando ele estendeu a mão para mim sobre a mesa, eu soube. Definitivamente, eu era a piada.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


CAPÍTULO 8


A sobremesa era cheesecake de framboesa e chocolate. Tripla ameaça para qualquer plano de dieta. Sinceramente, eu preferia o cheesecake. Frutas, exceto pelos morangos e chocolate davam apenas o sabor puro do creme de queijo. Mas Jean-Claude gostou, e a sobremesa tomou o lugar do vinho que eu havia recusado com o jantar. Eu odiava o gosto do álcool. Assim, Jean-Claude teve a opção de sobremesa. Além disso, o restaurante não servia bolo simples. Não sou famosa o suficiente, eu acho.
Comi todo o cheesecake, persegui o ultimo pedaço de chocolate no prato, e o empurrei fora. Eu estava cheia. Jean-Claude tinha colocado o braço sobre a toalha de mesa, descansou o rosto no braço, e fechou os olhos, tentando saborear todos os gostos passado. Ele piscou para mim, como se estivesse saindo de um transe. Ele falou, ainda com a cabeça descansando sobre o braço,
— Você deixou um pouco de creme chantilly, ma petite.
— Estou cheia.
— É o verdadeiro creme chantilly. Derrete na boca e desliza através do paladar.
Balancei minha cabeça.
— Estou cheia. Não posso comer mais nada, ou vou ficar doente.
Ele deu um suspiro longo,sofrido e sentou-se.
— Há noites em que eu me desespero com você, ma petite.
Eu sorri.
— Engraçado, eu acho a mesma coisa sobre você, às vezes.
Ele acenou com a cabeça, fazendo um pequeno gesto.
— Touché, ma petite, touché.
Ele olhou acima de meus ombros. O sorriso não desapareceu de seu rosto. Foi limpo. Seu rosto era uma máscara em branco, ilegível. Sabia, mesmo sem me virar que alguém estava atrás de mim, alguém que ele temia.
Deixei meu guardanapo cair, e o peguei com a mão esquerda. Com a minha mão direita peguei a Firestar. Quando me sentei novamente, a arma estava na minha mão no meu colo. Embora atirar parecia uma má idéia. Mas hey, não seria a primeira idéia ruim que tive.
Virei- me para ver um casal que caminhava para nós entre as mesas e cristais. A mulher parecia ser alta, até que você ter uma ideia do salto que ela usava. Stiletto, quatro polegadas. Quebrei meu tornozelo tentando andar neles. O vestido era branco, gola quadrada, forma completa e mais caro do que toda a minha roupa, mesmo se você juntar a arma. Seu cabelo era branco, de um loiro tão pálido que combinou com o vestido e a estola de marta simples branca enrolada em torno de seus ombros. O cabelo foi empilhado em um monte acima de sua cabeça com um brilho da prata e do cristal de fogo de diamantes para enquadrar os cabelos como uma coroa. Ela era branca como giz, e apesar da maquiagem, sabia que ainda não tinha se alimentam hoje à noite.
O homem era humano, embora houvesse uma energia arranhando que me fez querer ter de volta a parte humana . Estava com aquele bronzeado maravilhoso marrom rico que as peles verde-oliva podem gerenciar. Seu cabelo era uma ondulação luxuriante de marrom, barba curta nas laterais, mas feito isso ele caia em cachos próximo de seus olhos. Olhos de puro marrom que observavam Jean-Claude firmemente, com alegria, mas era uma alegria escura. Estava vestido com um terno de linho branco, completo, com laço de seda.
Eles pararam na nossa mesa, como eu sabia que fariam. O belo rosto do homem estava concentrado em Jean-Claude. Eu poderia muito bem não ter estado lá. Ele tinha características muito fortes, maçãs salientes para um nariz enganchado. Uma polegada para qualquer direção, e seu rosto teria sido caseiro. Ao contrário, era marcante, atraente, bonito de uma forma absolutamente masculina.
Jean-Claude ficou de pé, mãos soltas ao seu lado, o rosto bonito e vazio.
— Yvette, faz um longo tempo.
Ela sorriu maravilhosamente.
— Há muito tempo, Jean-Claude. Este é Balthasar, você se lembra? — Ela tocou o braço do homem, e ele gentilmente deslizou em torno de sua cintura. Ele plantou um casto beijo na bochecha pálida. Olhou para mim, então pela primeira vez. Não era um olhar que eu já tivesse recebido de um homem. Se tivesse sido uma mulher, teria dito que estava com ciúmes. A vampira falava Inglês perfeitamente. Seu sotaque era puro francês.
— Claro que me lembro dele. — disse Jean-Claude. — O tempo gasto com Balthasar foi sempre marcante.
O homem voltou-se a Jean-Claude então.
— Mas não memorável o suficiente para mantê-lo conosco. — Ele também parecia francês, mas havia uma corrente de outra língua. Era como misturar azul e vermelho até ficar roxo.
— Sou dono do meu próprio território. É o que todos sonham, não é?
— Alguns sonham com uma vaga no Conselho. — disse Yvette. Sua voz ainda estava levemente divertida, mas havia uma tendência agora, como nadar em águas escuras, quando você sabe que há tubarões.
— Não aspiro esse patamar. — disse Jean-Claude.
— Sério? — Yvette disse.
— De verdade— disse Jean-Claude.
Ela sorriu, mas seus olhos ficaram distante e vazio.
— Veremos.
— Não há nada para ver, Yvette. Estou contente onde estou.
— Se é assim, não tem nada a temer de nós.
— Não temos nada a temer, não obstante. — eu disse. Sorri quando disse isso.
Ambos olharam para mim como se eu fosse um cão que tinha feito um truque interessante. Estava começando a não gostar de nenhum deles.
— Yvette e Baltazar são enviados do Conselho, ma petite.
— Esplendido para eles. — eu disse.
— Ela não parece muito impressionada conosco. — disse Yvette. Virou seu rosto totalmente para mim. Seus olhos eram verdes-acinzentado, com manchas minúsculas de cor âmbar dançando nas pupilas Eu a senti tentando me sugar com os olhos, e não funcionou. Seu poder provocava arrepios em minha pele, mas não conseguiu prender-me com os olhos. Era poderosa, mas não era um vampiro-mestre. Eu podia sentir a sua idade, como uma dor no meu crânio. Há milhares de anos, pelo menos. O último vampiro tão velho que conheci era aquela que tinha quebrado meu relógio. Mas, Nikolaos era Mestre da Cidade, Yvette nunca seria isso. Se um vampiro não tinha alcançado status de mestre em mil anos, ela, ou ele, nunca conseguiria. A vampira ganhou força e habilidade com a idade, mas havia um limite. Yvette tinha atingido o seu. Olhei em seus olhos, deixei seu poder fazer cócegas em minha pele, e não estava impressionada.
Ela franziu a testa.
— Impressionante.
— Obrigada. — eu disse.
Balthasar andou em torno dela e ficou de joelhos na minha frente. Colocou uma mão na parte de trás da minha cadeira e inclinou-se sobre mim. Se Yvette não era um mestre, então ele não era seu servo humano. Apenas um vampiro-mestre poderia fazer um servo humano. O que significava que ele pertencia a outra pessoa. Alguém que eu não conhecia ainda. Porque tenho a sensação de que eu o conheceria?
— Meu mestre é um membro do Conselho. — disse Baltazar — Você não tem ideia do tipo de poder que ele exerce.
— Pergunte-me se me importo.
A raiva queimou em seu rosto, escurecendo seus olhos, fazendo com que a mão na minha cadeira se apertasse, colocou a mão em minha perna logo acima do joelho e começou a apertar. Eu brincava com monstros tempo suficiente para saber o que se sente como força sobrenatural. Seus dedos afundavam na minha carne, e eu sabia que ele poderia continuar continuar apertando até estalar o músculo e descobrir meus ossos.
Peguei sua gravata de seda e puxei para perto, empurrei o cano da Firestar em seu peito. Eu assisti a surpresa em seu rosto a centímetros de distância.
— Aposto que posso abrir um buraco em seu peito antes de esmague minha perna.
— Você não teria coragem.
— Por que não? — Eu perguntei.
Um toque de medo correu através de seus olhos.
— Sou o servo humano de um membro do Conselho.
— Não me impressionou. — eu disse. — Tente a porta número dois.
Ele fechou a cara para mim.
— Eu não entendo.
— Não lhes dê uma razão melhor para te matar.— disse Jean-Claude.
— Se você atirar em mim aqui na frente de testemunhas, vai para a cadeia.
Suspirei.
— Não existe isso.— Cheguei perto o suficiente para nossos rostos quase se tocassem. — Tire as mãos do meu joelho, lentamente, e não vou puxar o gatilho. Se continuar me machucando, vou me arriscar com a polícia.
Ele olhou para mim.
— Você faria isso? Realmente faria isso?
— Eu não blefo, Balthasar. Lembre-se para referência futura, e talvez eu não tenha que te matar.
Sua mão parou de apertar, em seguida, afastou-se lentamente para longe de mim. Eu o deixei voltar, a gravata deslizando pela minha mão como uma linha de pesca. Afastei minha cadeira para trás. A arma nunca saiu debaixo da mesa. Nós tínhamos sido muito discretos.
O garçom aproximou-se de qualquer maneira.
— Algum problema?
— Sem problemas. — eu disse.
— Por favor, traga a nossa conta. — disse Jean-Claude.
— Imediatamente Senhor. — disse o garçom. Ele observava um pouco nervoso, enquanto Baltasar levantava e alisava as rugas em suas calças de linho, mas isso é apenas o que se pode fazer com a roupa. Isso realmente não significa ajoelhar.
— Você ganhou o primeiro turno, Jean-Claude. Tenha cuidado para que ela não se torne uma vitória de Pirro. — Yvette disse. Ela e Baltasar deixaram a mesa. Acho que não estavam com fome. — O que está acontecendo?— Eu perguntei.
Jean-Claude voltou a se sentar.
— Yvette é uma bajuladora do Conselho. Balthasar é o servo humano do membro mais poderoso.
— Por que eles estão aqui?
— Acredito que é por causa do Senhor Oliver.
O Sr. Oliver tinha sido o vampiro mais antigo que já conheci. Ele tinha um milhão de anos, não é brincadeira, um milhão de anos, mais ou menos. Para todos aqueles com a cabeça para a pré- história, sim, isso não significa que ele não era o Homo sapiens. Homo erectus, e capaz de caminhar durante o dia, embora nunca o vi caminhar sobre a luz direta do sol. Tinha sido o vampiro que me enganou por alguns instantes, pensei que ele era humano, o que é bem irônico, já que ele não era humano em tudo. Ele tinha um plano para tirar Jean-Claude do poder, assumir os vampiros da área, e forçá-los a matar os seres humanos. Oliver pensava que um massacre obrigaria as autoridades a tornar os vampiros ilegais novamente. Pensava que os vampiros se espalhariam muito rápido com os direitos legais e assumiriam a raça humana. Eu meio que concordei com ele.
Seu plano poderia ter funcionado se eu não o tivesse matado. Como consegui mata-lo é uma longa história, mas acabei em coma. Uma semana inconsciente, foi, tão perto da morte que os médicos não sabem como sobrevivi. Claro, eles não tinham sido muito claros sobre isso, que eu estava em coma, para começar, e ninguém sabia como explicar as marcas de vampiros e vampiros Homo erectus.
Olhei para Jean-Claude.
— O filho da mãe louco que tentou levá-lo para fora no último Halloween?
— Oui.
— O que sabe sobre ele?
— Ele era um membro do Conselho.
Eu quase ri.
— De jeito nenhum. Era velho, mais velho que o pecado, mas não era tão poderoso.
— Eu disse que ele concordou em limitar seus poderes, ma petite. Eu não sabia quem e o que vinha primeiro, mas ele era o membro do Conselho conhecido como Terremoto.
— O quê?
— Ele poderia fazer a terra tremer com seu poder.
— De jeito nenhum.
— Sim, ma petite. Ele não concordou em fazer a terra tremer e engolir a cidade porque seria atribuída a um terremoto. Queria que o derramamento de sangue fosse responsabilidade dos vampiros. Você se lembra que seu plano era tornar os vampiros ilegais novamente. Um terremoto não faria isso. Um banho de sangue faria. Ninguém, nem mesmo você, acredita que um simples vampiro pode causar um terremoto.
— Droga, eu não acredito. — Olhei para seu rosto cuidadosamente. — Você está falando sério?
— Mortiferamente sério, ma petite.
Era demais para engolir tudo de uma vez. Quando em dúvida, ignore e fique terrivelmente impressionado.
— Então, peguei um membro do Conselho, e daí?
Ele balançou a cabeça.
— Não há medo em você, ma petite. Entende o perigo que todos nós estamos correndo?
— Não, e o que quer dizer com todos nós? Quem mais está em perigo, além de nós?
— Todas as nossas pessoas. — disse ele.
— Defina todas.
— Todos os meus vampiros, qualquer um que o Conselho considere que é nosso.
— Larry? — Eu perguntei.
Ele suspirou.
— Talvez.
— Eu devo chamá-lo? Avisá-lo? Como muito perigo?
— Não tenho certeza. Ninguém nunca matou um membro do Conselho e não tomou o seu lugar.
— Eu o matei, não você.
— Você é minha serva humana. O Conselho vê tudo o que você faz como uma extensão das minhas ações.
Olhei para ele.
— Significa que se eu matar alguém você é o responsável?
Ele concordou.
— Eu não era sua serva, quando matei Oliver.
— Gostaria de manter esse detalhe somente para nós.
— Por quê?
— Eles não podem me matar, ma petite, mas um caçador de vampiro que matou um membro do Conselho seria executado. Não haveria nenhum julgamento, nenhuma hesitação.
— Mesmo que eu seja sua serva humana agora?
— Isso poderia salvá-la. É uma de nossas leis mais rigorosas não destruir o servo alheio.
— Então eles não podem me matar porque eu sou sua serva?
— Mas podem machucá-la, ma petite. Eles podem machucá-la tanto que você desejaria a morte.
— Quer dizer, tortura?
— Não no sentido tradicional. Mas são mestres em encontrar o que mais te apavora e usam contra você. Usarão seus desejos contra você, e tudo será escolha deles. .
— Encontrei vampiros-mestres que podiam sentir o desejo do seu coração e usá-lo contra você.
— Tudo o que já viu sobre nós, ma petite, é como um sonho distante. O Conselho é a realidade. Eles são o pesadelo no qual estamos todos baseados. A única coisa que ainda temos medo.
— Yvette e Baltazar não pareciam tão assustadores para mim.
Ele me olhou . Não havia expressão em seu rosto. Era uma máscara, suave, agradável, escondida. — Se não te assustam, ma petite, é só porque você não os conhece. Yvette é uma bajuladora do Conselho, eles são poderosos o bastante para fornecer o ponto fraco das vítimas.
— Vítimas? Você não está falando de rapina humana, está?
— Ele pode ser humano. Mas Yvette é considerada uma pervertida por outros vampiros.
Eu não tinha certeza se queria saber, mas. . .
— Pervertida de que maneira?
Ele suspirou e olhou para suas mãos. Elas ficaram muito tempo sobre a toalha. Era como se estivesse se afastando de mim. Podia ver as paredes levantando novamente ao eu redor. Estava reconstruindo-se em Jean-Claude, Mestre da cidade . Foi um choque perceber que houve uma mudança. Tinha sido tão gradual que não tinha percebido que comigo, em nossos encontros, ele era diferente. Eu não sei se era mais ele mesmo ou mais do que ele pensou que eu queria que ele fosse, mas ele era mais relaxado, menos vigilante. Observar seu rosto em público, enquanto me sentava na frente dele era quase deprimente.
— Yvette ama o morto.
Fiz uma careta para ele.
— Mas ela é uma vampira. Isso é redundante.
Ele olhou para mim, e não era um olhar amigável.
— Não vou sentar aqui e debater com você, ma petite. Você compartilha minha cama. Se eu fosse um zumbi, não me tocaria.
— Isso é verdade. — Levei alguns segundos para entender o que ele acabou de dizer.
— Está me dizendo que Yvette gosta de ter relações sexuais com zumbis, cadáveres reais apodrecendo?
— Entre outras coisas, sim.
Não pude evitar o desgosto em meu rosto.
— Meu Deus, isso é...— Não tinha palavras. Então encontrei uma.— Ela é necrófila.
— Ela vai usar um corpo morto se nada mais estiver disponível, mas sua verdadeira alegria é um cadáver animado apodrecendo. Ela encontraria o seu talento mais atraente, ma petite. Você pode aumentar seu fluxo de um sem fim de parceiros.
— Eu não ressuscitaria os mortos para seu divertimento.
— Não, inicialmente.
— Não, em hipótese alguma.
— O Conselho tem uma maneira de encontrar situações que podem obrigá-la a fazer quase qualquer coisa.
Eu vi seu rosto e gostaria de poder lê-lo. Mas entendi.Ele já estava dissimulando com eles.
— Qual é a profundidade do buraco em que estamos?
— Profundo o suficiente para enterrar todos nós, se o Conselho escolher.
— Talvez eu não devesse ter apontado a arma. — eu disse.
— Talvez não. — disse ele.
A conta chegou, pagamos e saímos. Parei no banheiro feminino na saída e peguei a arma. Jean-Claude tomou as chaves do meu carro, então não teria que lidar com qualquer coisa, somente a arma. Foi uma caminhada curta até a porta do banheiro. Arma preta contra um vestido preto. Ou ninguém percebeu, ou ninguém queria se envolver. O que mais havia de novo?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 9


O estacionamento estava escuro, com piscinas de luz focando os carros. Jaguares, Volvos e Mercedes eram as espécies dominantes. Tive um vislumbre do meu jipe no extremo da linha. Perdi de vista enquanto caminhava entre os carros. Jean-Claude segurava as chaves do meu carro na mão em concha para que não chocalhassem enquanto se movia. Não estávamos de mãos dadas, ou qualquer outra coisa agora. Estava com a Firestar nas duas mãos, apontando para o chão. Olhei o estacionamento. Meus olhos passando rapidamente para trás e para frente. Não estava com medo, um policial teria sabido que estava observando a distância, procurando por perigo, em busca de alvos.
Me senti tanto boba quanto nervosa. A pele sobre meus ombros nus estavam tentando rastrear minha espinha. Era bobagem, mas me sentia melhor em jeans e camiseta. Mais segura.
— Eu não acho que estejam aqui fora. — eu disse suavemente.
— Tenho certeza que está certa, ma petite. Yvette e Balthasar foram entregar sua mensagem e correr de volta para seus senhores.
Olhei para ele antes de voltar minha atenção para o estacionamento.
— Então por que estou no modo de combate?
— Porque o Conselho viaja com uma comitiva. Nós não vimos o último deles esta noite, ma petite. Desse total, posso te prometer.
— Grande.
Chegamos perto dos carros e do meu jipe. Havia um homem encostado no jipe. De repente a Firestar estava apontanda para ele. No pensamento, apenas a paranóia — oh, desculpe, cuidado.
Jean-Claude congelou ao meu lado, completamente imóvel. Os vampiros mais velhos podem fazer isso, eles apenas param, param de respirar, param de se mover, param tudo. Como se, ao desviar o olhar, eles possam simplesmente desaparecer.
Um homem inclinou-se na parte de trás do meu Jeep. Estava acendendo um cigarro. Você pensaria que ele não tinha nos visto, mas eu sabia melhor. Eu estava apontando uma arma para ele, e sabia que estávamos lá. O fósforo queimado, mostrando um dos perfis mais perfeitos que já vi. Seu cabelo dourado brilhou na luz, cobrindo os ombros e as ondas enquadrando o rosto . Ele jogou o fósforo na calçada com um movimento praticado de sua mão. Pegou o cigarro da boca e ergueu o rosto para o céu. A luz da rua iluminando ao longo de seu rosto e seu cabelo dourado, jogou três anéis de fumaça perfeita e riu.
Seu riso se arrastou por minha espinha, como se me tocasse. Causou-me arrepios, e me perguntei como diabos eu achava que ele era humano.
— Asher. — disse Jean-Claude. Essa única palavra foi dita sem emoção, vazia de significado. Mas tudo o que eu podia fazer era não olhar para o rosto de Jean-Claude . Eu sabia quem era Asher, mas apenas por reputação. Asher e sua serva humana Juliana tinham viajado com Jean-Claude por toda a Europa por um par de décadas. Tinha sido um ménage à trois, a coisa mais próxima que Jean-Claude teve de uma família desde que se tornou um vampiro. Jean-Claude tinha sido chamado para a cabeceira de sua mãe que estava morrendo. Asher e Juliana tinham sido presos pela Igreja. Leia caçadores de bruxas.
Asher virou-se e mostrou seu perfil direito. A luz da rua que tinha acariciado a perfeição do seu lado esquerdo parecia dura agora. O lado direito do rosto parecia com cera de vela derretida. Cicatrizes de queimaduras, cicatrizes de ácido feito por água benta. Vampiros não podiam se curar de feridas causadas por objetos sagrados. Os sacerdotes tinham uma teoria de que poderiam queimar o demônio de Asher, uma gota de água benta de cada vez.
Mantive a arma apontada para ele, sólida, sem nenhuma hesitação. Eu vi o pior recentemente. Tinha visto um vampiro cujo rosto tinha apodrecido de um lado. Um olho rolando em um soquete nu. Comparado a isso, Asher era um modelo de capa de revista. Seu único defeito era a cicatriz, o resto dele era perfeito. Feita de alguma forma, mais obsceno. Eles deixaram seus olhos puros, e da linha mediana do rosto, assim que seu nariz, a plenitude de sua boca, sentou-se num mar de cicatrizes. Jean-Claude o salvou antes de os fanáticos o matasse, mas Juliana tinha sido queimada como uma bruxa.
Asher nunca perdoou Jean-Claude pela morte da mulher que tanto amava. Na verdade, a última que ouvi, era que ele estava pedindo a minha morte. Mataria a serva humana de Jean-Claude como vingança. O Conselho tinha recusado até agora.
— Afaste-se do jipe, devagar. — eu disse.
— Será que você atiraria em mim por estar inclinado contra seu carro? — Ele parecia divertido, agradável. O tom em sua voz, a maneira que escolheu suas palavras, fez-me lembrar de Jean-Claude quando o conheci. Asher empurrou seus pés usando apenas seu corpo. Soprou um anel de fumaça para mim e riu de novo.
O som deslizou pela minha pele como um toque suave e sentido, um pouco da morte. A risada de Jean-Claude, é que era irritante como o inferno.
Jean-Claude deu um suspiro profundo e tremendo deu um passo à frente. Não chegou a bloquear minha linha de visão, porém, não me disse para guardar a arma.
— Por que vocês estão aqui, Asher? — Sua voz realizou algo que eu raramente ouvia, lamento.
— Será que ela vai atirar em mim?
— Pergunte a ela mesmo. Não sou o único que segurava a arma.
— Então é verdade. Você não controla sua própria serva.
— Os melhores servos humanos são aqueles que vêm de boa vontade para sua mão. Você me ensinou Asher, a mim e a Juliana.
Asher jogou o cigarro no chão, deu dois passos rápidos para a frente.
— Não. — eu disse.
Suas mãos estavam fechadas em punhos ao seu lado. Sua raiva cavalgou a noite como um raio caindo perto.
— Nunca, nunca diga o nome dela novamente. Você não merece falar o nome dela.
Jean-Claude deu um arco raso.
— Como quiser. Agora, o que você quer, Asher? Anita vai ficar impaciente em breve.
Asher olhou para mim. Ele me olhou da cabeça aos pés, mas não foi sexual, embora algo estivesse lá dentro. Era como se estivesse me olhando mais, como se eu fosse um carro que ele estava pensando em comprar. Seus olhos eram um estranho tom de azul pálido.
— Será que você realmente atiraria em mim? — Ele virou a cabeça para que eu não pudesse ver as cicatrizes. Sabia exatamente como as sombras esconderiam. Deu um sorriso que supostamente derreteria em minhas meias. Não funcionou.
— Corte o encanto e me dê uma razão para não matá-lo.
Ele virou a cabeça de forma que uma folha de cabelos dourados caiu sobre o lado direito do rosto. Se minha visão noturna fosse ruim, poderia ter escondido as cicatrizes.
— O Conselho estende seu convite para Jean-Claude, Mestre da cidade de St. Louis, e sua serva humana, Anita Blake. Eles pedem a sua presença nesta noite.
— Você pode guardar a arma, ma petite. Estamos seguros até que vejamos o Conselho.
— Só assim. — eu disse. — Na última vez que ouvi, Asher queria me matar.
— O conselho recusou seu pedido. — disse Jean-Claude. — Nossos agentes humanos são demasiado preciosos para que eles concordem.
— É verdade. — disse Asher.
Os dois vampiros se entreolharam. Esperava que eles tentassem poderes vampíricos um sobre o outro, mas não. Ficaram parados se olhando. Seus rostos não demonstravam nada, mas se fossem pessoas e não monstros, teria dito para se abraçarem e fazer as pazes. Você podia sentir a dor no ar. Percebi uma coisa que não tinha visto antes. Eles se amaram uma vez. Só o amor pode tornar o lamento tão amargo. Juliana tinha sido o seu elo, mas ele não tinha deixado de amá-la.
Era hora de apontar a arma para cima, mas irritantemente, eu teria que dar uma olhada no estacionamento. Eu realmente teria que investir mais em calças finas. Vestidos justos não ocultam o que transportamos.
Não havia ninguém além de nós três no estacionamento. Virei as costas a ambos e levantei o vestido o suficiente para guardar a arma.
— Por favor, não seja modesta por minha causa. — disse Asher.
Eu alisei o vestido no lugar antes de me virar.
— Não lisonjei você mesmo.
Ele sorriu, e o olhar em seu rosto era divertido, condescendente, e outra coisa. Esse “algo mais” me incomodou.
— Modesta. Você também era casta antes que nosso arrojado Jean-Claude encontrasse você?
— Chega, Asher. — disse Jean-Claude.
— Ela era virgem antes de você? — Ele fez uma pergunta e, em seguida, jogou a cabeça para trás e riu. Riu até que teve que se encostar o jipe para não cair. — Você, perdido em uma virgem. É simplesmente perfeito.
— Eu não era virgem, não que isso seja de sua maldita conta.
O riso parou abruptamente, foi surpreendente. Ele deslizou para o chão, sentado na calçada escura. Olhou para mim com uma cortina de cabelos dourados. Seus olhos pareciam estranhos e pálidos.
— Você não é virgem, mas é casta.
— Eu já tive bastante brincadeira por uma noite. — eu disse.
— As brincadeiras são apenas o começo. — disse ele.
— O que isso quer dizer? — Eu perguntei.
— Significa, ma petite, que o Conselho nos espera. Terão muitos jogos para nós, nenhum deles agradáveis.
Asher levantou-se como se tivesse sido puxado por cordas. Ele se levantou, afastando-se da calçada. Arrumou o casaco preto mais solidamente no lugar. Estava quente para um casaco comprido. Não que precisasse necessariamente de cuidados, mas era estranho. Vampiros normalmente tentam misturar-se melhor do que isso. Me fez pensar no que estava debaixo do casaco. Você pode esconder uma arma muito grande num casaco desse comprimento. Eu nunca conheci um vampiro que carregasse uma arma, mas havia sempre uma primeira vez.
Jean-Claude disse que estávamos seguros até chegarmos ao Conselho, mas isso não significa que Asher não poderia puxar uma arma e, em seguida, nos ferrar. Tinha sido descuidada por guardar minha arma sem revistar Asher primeiro.
Suspirei.
— O que está errado, ma petite?
Asher era um vampiro. Seria mais perigoso tivesse com uma arma?
— Deixe-me ver se entendi. Asher vai conosco no carro para a reunião?
— Eu preciso, para lhe dar instruções.
— Então, encoste no jipe.
Ele fechou a cara para mim em um divertimento, classificaria de forma condescendente.
— Como é?
— Eu não me importo se você é a segunda vinda do Anticristo, não pode sentar-se atrás de mim no meu próprio carro até que eu saiba que não está carregando uma arma.
— Ma petite, ele é um vampiro. Se estiver sentado atrás de você em um carro, está perto o suficiente para matá-la sem uma arma.
Balancei minha cabeça.
— Você está certo. Eu sei que você está certo, mas o ponto não é lógica, Jean-Claude. O ponto é que eu simplesmente não posso deixá-lo no carro atrás de mim sem saber o que está sob o casaco. Não posso. — Era verdade. Paranoia, mas ainda é verdade.
Jean-Claude me conhecia o suficiente para não discutir.
— Muito bem, ma petite. Asher você faria a gentileza de encostar no jipe?
Asher sorriu brilhantemente para nós, mostrando seus caninos.
— Você quer me revistar? Eu poderia rasgá-la em pedaços com as minhas próprias mãos, e você está preocupada se tenho uma arma? — Ele riu, um som baixo. — Isso é tão bonito.
Bonitinha? Eu?
— Acabe com isso, por favor.
Ele virou-se para o Jeep, ainda rindo baixinho.
— Mãos sobre a cabeça, com os pés afastados. — Peguei a arma mais uma vez. Talvez devesse colocá-la em uma corrente em volta do meu pescoço. Pressionei o cano na sua espinha. Senti que ele enrijeceu sob minhas mãos.
— Você está levando isso sério.
— Absolutamente. — eu disse. — Pés mais afastados.
Ele se mexeu, mas não foi suficiente.
Chutei seus pés separados até que comecei a revistá-lo com uma só mão.
— Dominante, muito dominante. Será que ela gosta de ficar por cima?
Eu o ignorei. Mais surpreendente, o mesmo aconteceu com Jean-Claude.
— Mais devagar, mais devagar. Jean-Claude não te ensinou a não se apressar? — Ele atraiu uma respiração no momento apropriado. — Oooh, que lindo.
Sim, foi embaraçoso, mas procurei de cima a baixo. Não havia absolutamente nada. Mas eu me sentia melhor. Voltei até estar fora do alcance e guardei a arma por cima.
Ele estava olhando por cima de seu ombro.
— A calcinha combina com o sutiã?
Balancei a cabeça.
— Você pode se virar agora.
Ele ficou contra o carro.
— Você não precisa que eu tire a roupa?
— Em seus sonhos. — eu disse.
Ele se levantou, alisando o casaco de volta no lugar.
— Você não tem idéia com o que eu sonho, Anita.— Eu não podia ler a expressão no rosto dele, mas o olhar era suficiente. Não quero saber o que Asher vê quando fecha os olhos ao raiar do dia.
— Podemos ir? — Jean-Claude disse.
— Você está tão ansioso para jogar fora sua vida? — Asher perguntou. A ira voltou com uma corrida, perseguindo as provocações, divertida e galante.
— O Conselho não vai me matar hoje à noite. — disse Jean-Claude
— Você tem tanta certeza?
— Suas próprias leis proíbe que lutemos entre nós nos Estados Unidos, até que a lei seja aprovada ou não em Washington. O Conselho quer permanecer legal no país. Se quebrar suas próprias regras, ninguém mais vai obedece-las.
Asher virou rosto cheio para a luz.
— Há coisas piores que a morte, Jean-Claude.
Jean-Claude suspirou.
— Eu não te abandonei, Asher. O que posso dizer para convencê-lo da verdade? Você pode provar a verdade em minhas palavras. Vim para você assim que eu soube.
— Você teve séculos para se convencer de que tudo o que disse era verdade, Jean-Claude. Querer que seja verdade não o faz assim.
— Assim seja, Asher. Mas gostaria de desfazer tudo o que acha que eu fiz, se pudesse. Gostaria de traze-la de volta, se eu pudesse.
Asher levantou a mão como se pudesse empurrar o pensamento.
— Não, não, não! Você a matou. Você a deixou morrer. Você a deixou queimar até a morte. Eu a senti morrer Jean-Claude. Eu era seu mestre. Ela estava com tanto medo. Pensei que você iria salvá-la. Eu era seu mestre e sei que suas últimas palavras foram o seu nome.
Jean-Claude virou as costas para Asher. O vampiro acabou com a distância entre eles em duas etapas, a passos largos. Agarrou o braço de Jean-Claude e oscilou ao redor dele. A luz da rua mostrou lágrimas no rosto de Jean-Claude. Ele estava chorando por uma mulher que tinha sido morta a mais de duzentos anos. Era um longo tempo para lágrimas.
— Você nunca me disse isso antes. — disse Jean-Claude suavemente.
Asher o empurrou forte o suficiente para que tropeçasse.
— Guarde suas lágrimas, Jean-Claude. Você vai precisar delas para si e para ela. Eles me prometeram a minha vingança.
Jean-Claude lvou a palma de sua mão para as lágrimas.
— Você não pode matá-la. Eles não permitirão isso.
Asher sorriu, e foi muito desagradável.
— Eu não quero a sua vida, Jean-Claude. Eu quero sua dor. — Ele andou em volta de mim, circulando como um tubarão. Me movi com ele e sabia que estava muito perto. Se me atacasse, nunca pegaria a arma a tempo.
— Você finalmente me deu o que preciso para te machucar, Jean-Claude. Você ama alguém do passado. O amor nunca é livre, Jean-Claude. É a emoção mais cara que temos, e o verei pagar na sua totalidade. — Ele ficou na frente de Jean-Claude, de mãos em punhos ao seu lado. Ele tremia, não por causa de um grande esforço . Jean-Claude tinha parado de chorar, mas eu não tinha certeza se iria lutar. Naquele momento percebi que ele não queria magoar Asher. A culpa é uma coisa maravilhosa. O problema é que Asher queria magoá-lo.
Fiquei entre eles. Dei um passo em frente. Asher teria que recuar ou estaríamos nos tocando. Ele deu um passo para trás, olhando para mim como se eu só aparecesse agora. Havia se esquecido de mim por apenas um segundo.
— O amor não é a emoção mais cara, Asher. — Eu disse. Dei um passo para frente, e ele recuou um passo. — O ódio é. Porque o ódio vai comer você por dentro e destruí-lo, muito antes de matá-lo.
— Muito filosófica. — disse ele.
— A filosofia é ótima— eu disse. — Mas lembre-se: nunca mais nos ameace de novo. Porque se você fizer, eu vou matá-lo. Eu não dou a mínima sobre o seu passado torturado. Agora, vamos?
Asher olhou para mim por um breve bater de coração.
— Por todos os meios. Eu não posso esperar para apresentá-la ao Conselho.
Ele queria que fosse ameaçador, e fou. Eu não queria ir e encontrar o bicho-papão da classe vampírica, mas estávamos indo. Uma coisa que aprendi sobre vampiros mestres. Você pode correr, mas não longe o bastante. Você pode até se esconder, mas não para sempre. Eventualmente, eles te pegam. E vampiros mestres não gostam de ficar esperando.

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 10


Eu dirigi. Asher indicou o caminho. Ele estava pendurado na parte de trás do assento. Não pedi que usasse o cinto de segurança. Jean-Claude sentou no banco do passageiro ao meu lado, em silêncio, sem olhar para Asher ou para mim.
— Algo está errado. — disse Jean-Claude.
Olhei para ele.
— Quer dizer, além do Conselho vir à cidade?— Ele balançou a cabeça.
— Você pode sentir isso?
— Eu não sinto nada.
— Esse é o problema.— Ele virou-se, tanto quanto o cinto de segurança permitia e encontrou os olhos de Asher. — O que está acontecendo ao meu povo?
Asher se sentou tão no meio, sua cara apareceu perfeitamente no retrovisor, como se quisesse que eu o visse. Ele sorriu. Seu rosto todo mudou quando sorriu. A pele havia cicatrizado músculos abaixo. Tudo parecia funcionar muito bem, exceto as cicatrizes. O olhar em seu rosto estava convencido, satisfeito. O tipo de alegria que os gatos tem quando começam a atormentar os ratos.
— Eu não sei o que está acontecendo com eles, mas você deve saber. Afinal é o Mestre da Cidade.
— O que está acontecendo, Jean-Claude? O que mais está errado?— perguntei.
— Eu deveria ser capaz de sentir o meu povo, ma petite. Se me concentrar, é como um... ruído de fundo. Posso sentir o fluxo e refluxo deles. Em extrema coação Posso sentir a sua dor, seu medo. Agora eu me concentro, e é como uma parede em branco.
— O mestre de Balthasar não deixa você ouvir os gritos de seus vampiros. — disse Asher.
As mãos de Jean-Claude passaram em um borrão de velocidade que era quase mágico. Ele agarrou o colarinho do casaco de Asher, torcendo-o em um anel de sufocação.
— Eu não fiz nada errado. Eles não têm o direito de prejudicar o meu povo.
Asher não tentou fugir, só olhou para ele.
— Há um lugar vazio no Conselho pela primeira vez em mais de quatro mil anos. Quem esvazia o banco tem o assento. Essa é a lei de sucessão.
Jean-Claude o libertou lentamente.
— Eu não quero isso.
— Você não deveria ter matado o Terremoto, então.
— Ele teria matado muita gente. — eu disse.
— Privilégio do Conselho. — disse Asher.
— Isso é ridículo. — eu disse. — Você está dizendo isso porque não pode morrer, vamos morrer agora?
— Ninguém veio aqui planejando matar ninguém. — disse Asher. — Acredite em mim, era o meu voto, mas eu sou a minoria. O conselho só quer ter certeza que Jean-Claude não está tentando montar o seu próprio conselho.
Jean-Claude e eu olhamos para ele. Tinha que voltar minha atenção para a estrada.
— Você está balbuciando, Asher. — disse Jean-Claude.
— Nem todo mundo está feliz com as regras do Conselho atual. Alguns dizem que é antiquado.
— As pessoas têm dito isso há quatrocentos anos. — disse Jean-Claude.
— Sim, mas até agora não havia alternativa. Alguns vêem a sua recusa da sede do Conselho como um golpe de uma nova ordem.
— Você sabe por que eu não quero.
Asher riu, um som de baixo impacto que correu ao longo da minha pele.
— Tudo o que você quer dizer, Jean-Claude?
— Eu não sou forte o suficiente para manter uma sede do Conselho. Ao primeiro desafio e me mataria, então eles teriam meu assento do Conselho. Eu seria apenas um pretexto.
— No entanto, você matou um membro do conselho. Como conseguiu isso, Jean-Claude?— Inclinou-se na parte traseira do meu assento. Eu podia senti-lo. Ele pegou um cacho do meu cabelo, e empurrou minha cabeça.
— Onde diabos estamos indo? Você devia dar instruções. — eu disse.
— Não há necessidade de indicações. — disse Jean-Claude — Eles tomaram o Circo.
— O que? — Olhei para ele, o jipe não tinha batido por sorte. — O que você disse?
— Você não entendeu ainda? O Viajante, mestre de Balthasar, bloqueou meus poderes e as competências dos meus vampiros, os impediu de estender a mão para mim.
— Seu lobos. Você deve ter sentido algo de seu lobos. São os animais que atendem ao seu chamado. — eu disse.
Jean-Claude virou-se para Asher.
— Só um vampiro poderia impedir meus lobos de chamar por socorro. O Mestre das Feras.
Asher descansou o queixo sobre as costas do meu banco. Eu o senti assentindo.
— Saia do meu banco. — eu disse.
Ele levantou a cabeça, mas não recuou.
— Eles devem pensar que sou realmente poderoso para enviar dois mestres do conselho. — disse Jean-Claude disse.
Asher fez um som áspero.
— Só você, Jean-Claude, seria arrogante o suficiente para acreditar que dois mestres do Conselho vieram para este país por você.
— Se não for para me ensinar uma lição, então por que estão aqui?— Jean-Claude perguntou.
— Nossa rainha escura queria saber como os vampiros trabalham na legalidade nos estados. Viajamos de Boston a Nova Orleans e para San Francisco. Ela escolheu as cidades que iríamos visitar, e em que ordem. Nossa rainha escura deixou St. Louis, e você, por último.
— Por que ela faria isso? — Jean-Claude perguntou.
— A Rainha do Pesadelo pode fazer qualquer coisa que queira. — disse Asher. — Ela diz que quer ir para Boston, nós vamos.
— Se ela disser que quer sair para o sol, você faria isso?— perguntei. Olhei para ele. Ele estava perto o suficiente para virar a cabeça, não precisava de espelho.
Seu rosto era branco, bonito e vazio.
— Talvez. — disse ele.
Voltei para a estrada.
— Você está louco, você é muito louco.
— Muito verdadeiro. — disse Asher. Ele cheirou o meu cabelo.
— Pare com isso.
— Você tem cheiro de poder, Anita Blake. Você fede a mortos. — Ele passou os dedos ao longo do meu pescoço.
Desviei o Jeep propositadamente, fazendo-o deslizar no banco traseiro.
— Não me toque.
— O Conselho pensou que encontraria você recheado de poder. Inflado com habilidades recém descobertas, mas parece muito menos. Mas ela é diferente. Ela é nova. Mas não é como o lobisomem. Sim, o Ulfric Richard Zeeman. Você o tem também.
— Teus servos é que têm o poder. Não você.
— Padma é alguém sem os seus animais? — Jean-Claude perguntou.
— É verdade, embora eu não possa dizer isso na frente dele. — Inclinou-se na parte traseira dos bancos mais uma vez, não me tocava neste momento. — Então você admite que foram seus servos que lhe deram o poder de um membro do Conselho?
— Minha serva humana e meu lobo são apenas extensões do meu poder. Suas mãos são minhas mãos, seus feitos, meus atos. Essa é a lei do Conselho. Então, o que importa de onde vem meu poder?
— A lei do Conselho de cotação, Jean-Claude. Cauteloso, você tem crescido desde a última vez que nos encontramos.
— A cautela me serviu bem, Asher.
— Mas você já teve algum divertimento? — Era uma pergunta estranha vinda de alguém que supostamente ódiava Jean-Claude.
— Alguns, e você, como se arranjou Asher? Ainda está servindo o Conselho, ou veio junto nesta missão para me atormentar?
— Sim, para as duas perguntas.
— Por que não fugiu do Conselho?
— Muitos aspiram em servi-los. — disse Asher.
— Você não.
— Talvez a vingança tenha mudado as minhas aspirações.
Jean-Claude pôs a mão no braço de Asher.
— Ma petite está certa. O ódio é um fogo frio, e não dá calor.
Asher recuou para trás no banco. Olhei no espelho retrovisor. Ele estava encolhido no escuro, abraçando-se.
— Quando eu te ver chorar pela sua amada, terei todo o calor que preciso.
— Estaremos no circo em breve— eu disse. — Qual é o plano?
— Não tenho certeza se existe um plano. Temos que presumir que eles têm todo o nosso povo escravizado. Por isso, será apenas o que nós dois podemos fazer sozinho.
— Vamos tentar tomar o circo de volta, ou o quê?
Asher riu.
— Ela está falando sério?
— Sempre. — disse Jean-Claude.
— Tudo bem. O que devemos fazer?
— Sobreviva se conseguir. — disse Asher
— Fechado. — eu disse. — Isto é o que eu preciso saber, Jean-Claude. Devemos entrar lá dando porrada, ou rastejando?
— Gostaria de rastejar para eles, ma petite?
— Eles têm Willie, Jason, e quem sabe muitos outros. Então, sim, se isso os mantiver seguros, rastejaria um pouco.
— Eu acho que não sou muito bom nisso. — disse Jean-Claude.
— Eu não sou.— eu disse
— Mas não, não rastejaremos esta noite. Não somos fortes o suficiente para retomar o circo, mas vamos para dentro, como você diz, dar porrada.
— Dominante? — Eu fiz uma pergunta.
— Oui.
— Como é ser dominante?
— Ser agressiva, mas não tola. Você pode ferir, mas não matar. Não queremos dar a eles uma desculpa.
— Eles acham que você começou uma revolução, Jean-Claude. — disse Asher das trevas. — Como todos os revolucionários, morto você se torna um mártir. Eles não querem você morto.
Jean-Claude virou-se para que pudesse ver o outro vampiro.
— Então o que eles querem, Asher. Diga-me.
— Eles têm que usá-lo como exemplo. Certamente você pode ver isso.
— Se eu planejasse forjar um Conselho na América, sim, eu entenderia. Mas conheço as minhas limitações. Não posso segurar uma cadeira no Conselho contra todos os participantes. Seria uma sentença de morte. Eu quero simplesmente ser deixados sozinho.
Asher suspirou.
— É muito tarde para isso, Jean-Claude. O conselho está aqui, e não vão acreditar em seus protestos de inocência.
— Você acredita nele. — eu disse.
Ele ficou quieto por alguns segundos, depois disse:
— Sim, eu acredito nele. A única coisa que Jean-Claude sempre fez muito bem é sobreviver. Desafiar o Conselho não é uma boa maneira de fazer isso.— Asher deslizou para a frente contra os bancos, colocando o rosto muito próximo do meu. — Lembre-se Anita, de todos aqueles anos que ele esperou para me salvar. Esperou até que saber que não seria pego. Esperou até que pode me salvar correndo o mínimo risco para si mesmo. Esperou até que Juliana estivesse morta, porque era um risco demasiado grande para ele.
— Isso não é verdade— disse Jean-Claude.
Asher o ignorou.
— Cuidado para que ele não espere muito para te salvar.
— Eu não espero por ninguém para me salvar. — eu disse.
Jean-Claude olhou pela janela para os carros que passavam. Estava balançando a cabeça suavemente para trás e para frente, para trás e para frente.
— Já me cansei de você, Asher.
— Cansou-se de mim porque falo a verdade.
Jean-Claude virou-se e olhou para ele.
— Não, eu cansei de você, porque você me faz lembrar dela, e que uma vez, a muito tempo atrás, eu estava quase feliz.
Os dois vampiros se entreolharam.
— Mas agora você tem uma segunda chance. — disse Asher
— Você poderia ter uma segunda chance, também, Asher. Se deixar o passado para trás.
— O passado é tudo que tenho.
— E isso não é culpa minha. — disse Jean-Claude. Asher deslizou de volta para a escuridão, juntando-se contra o assento. Pensei que Jean-Claude havia vencido a disputa por agora. Mas apenas para chamar-lhe um sentimento, eu não acho que a luta acabou.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


CAPÍTULO 11


O Circo dos Malditos está localizado em um armazém convertido. De frente parece um carnaval com cartazes promovendo o show extravagante, dançarinos e palhaços girando em cima do sinal brilhante. Na parte de trás é apenas o escuro.
Levei o jipe para o pequeno estacionamento reservados para os empregados. Era pequeno porque a maior parte da ajuda que viveu no circo. Não há necessidade de um carro, se você nunca sai. Aqui esperava que precisássemos do nosso carro.
Desliguei o motor, e o silêncio rodou no carro. Os dois vampiros estavam em completa imobilidade o que me fez olhar para eles para ter certeza que ainda estavam lá. Mamíferos podem congelar, mas um coelho congelado à espera da raposa para passar é uma coisa vibrando. Ele respira fácil e rápido. Seu coração palpita. Os vampiros são mais parecidos com cobras. A cobra se enrolam em seu corpo, e então congelam. Não há nenhuma sensação de movimento. Em que momento do tempo congelado uma cobra parece irreal? Como uma obra de arte, algo esculpido em vez de algo vivo? Jean-Claude parecia ter caído em um poço de silêncio onde o movimento, ou respirar, era proibido.
Voltei a olhar para Asher sentado no banco de trás. Completamente parado, a presença perfeita, mas não viva.
O silêncio encheu o Jeep como água gelada. Eu queria bater palmas, gritar, fazer barulho para assusta-los para serem vivos novamente. Mas sabia muito bem. Tudo o que conseguiria seria um piscar de olhos. Um olhar que não era humano e que talvez nunca tivesse existido.
O som de minha pele contra o tecido do vestido era alto.
— Será que vão me revistar a procura de armas? — Minha voz parecia fazer eco no silêncio de um apartamento vazio.
Jean-Claude piscou normalmente, então, virou o pescoço para olhar para mim. O visual era pacífico e não vazio. Tinha começado a me perguntar se o silêncio era uma forma de meditação para os vampiros. Talvez se sobrevivêssemos durante a noite, eu perguntasse.


— Este é um desafio, ma petite. Eles não vão nos deixar ser perigosos. Embora eu não exibisse meu armamento. Sua pequena arma é boa.
Balancei minha cabeça.
— Eu estava pensando em mais.
Ele ergueu as sobrancelhas.
— Mais?
Me virei para olhar para Asher. Ele piscou e ergueu os olhos para mim. Ascendi a luz e vi seus olhos. Eram azuis. Mas isso não lhe fazia justiça. Eram de um azul pálido assim como os de Jean-Claude eram de um azul escuro. Pálido, frio, azul, a cor dos olhos de um Husky Siberiano. Mas não eram apenas os olhos, era o cabelo. O cabelo dele era cor de ouro, mas o ouro normal de um louro escuro. À luz verdadeira do carro, percebi que não era apenas uma ilusão e luz fraca, era de ouro. Seu cabelo era o verdadeiro ouro que eu já vi de fora de uma garrafa ou uma lata de tinta metálica. A combinação do cabelo e dos olhos eram surpreendente. Mesmo sem as cicatrizes ele não parecia real.
Olhei de um vampiro para o outro. Jean-Claude era o mais bonito, e não era por causa das cicatrizes. Asher era apenas um pouco menos bonito que ele.
— O mesmo vampiro transformou a ambos, certo?— Eu perguntei.
Jean-Claude assentiu.
Asher apenas olhava para mim.
— Para onde ele foi? — Eu perguntei. — Era inacreditavelmente lindo?
Asher soltou uma casca dura de riso. Arrastou os dedos abaixo do lado marcado de seu rosto, fazendo com que o estiramento da pele, puxando-o longe de seus olhos para que você pudesse ver a carne pálida interior da cavidade ocular. Ele enfatizou tudo em uma espécie de máscara hedionda.
— Você acha que eu sou bonito, Anita? Largou a pele, e a colocou de volta no lugar, resistente, perfeita na sua própria maneira.
Olhei para ele.
— O que você quer que eu diga, Asher?
— Eu quero que esteja apavorada. Quero ver em seu rosto o que vi em cada rosto, nos últimos duzentos anos, aversão, escárnio, horror.
— Desculpe. — eu disse.
Ele inclinou-se entre os bancos mostrando as cicatrizes na luz. Parecia saber o que qualquer luz faria nas feridas, saber o quanto as sombras escondiam. Anos de prática, eu acho.
Eu olhei para ele, conheci seus pálidos olhos perfeitos, contemplei as ondas grossas de cabelo dourado, a plenitude de seus lábios. Dei de ombros.
— O que posso dizer? Sou uma pessoa de cabelos e olhos, e você tem o cabelo grande e olhos surpreendentes.
Asher atirou-se para trás em seu assento. Olhou para nós dois, e havia tanta raiva em seus olhos. Uma raiva tão horrível que me assustou.
— Não— disse ele. — Você tem medo de mim. Posso vê-la, cheirá-la, saboreá-la.— Ele sorriu, satisfeito consigo mesmo, de alguma forma triunfante.
— Diga a ele o que você teme, ma petite.
Olhei para Jean-Claude, em seguida, volte-me para Asher.
— Não é a cicatriz, Asher. É o seu ódio que é assustador.
Ele se inclinou para a frente, acho que sem querer, derramou seu cabelo em torno do rosto, camuflando-o. Tinha o olhar de longo hábito, o conforto de comprimento.
— Sim, meu ódio é assustador. Aterrorizante. E lembre-se, Anita Blake, que o ódio é tudo para você e seu mestre.
Eu sabia o que ele significava para Jean-Claude, e eu não poderia discutir mais, embora às vezes eu quisesse.
— O ódio torna todos feio. — disse.
Ele sibilou para mim, e não havia nada de humano no gesto.
Eu dei-lhe um olhar aborrecido.
— Sai fora, Asher. Lembre-se disso. Se você quiser brincar de ”Grande Vampiro Mau”, entre na fila.
Ele despiu o sobretudo em um movimento repentino e violento. Um paletó de tweed marrom acabou amassado no banco. Ele virou a cabeça para que eu pudesse ver que as cicatrizes desciam pelo seu pescoço através da gola da camisa branca. Começou a desabotoar a camisa.
Olhei para Jean-Claude. Seu rosto estava impassível, inútil. Eu estava sozinha. Assim o que tinha novo?
— Não que eu não agradeça a oferta, mas não costumo deixar um homem tirar a roupa no primeiro encontro.
Ele rosnou para mim. Descobriu seu peito com a luz, a camisa ainda cuidadosamente enfiada em suas calças. As cicatrizes desciam por sua carne como se alguém tivesse marcado uma linha divisória no centro de seu corpo. Um lado pálido e perfeito, o outro monstruoso. Tinham sido mais cuidadosos com seu rosto e pescoço, o mesmo não acontecia com seu peito. As cicatrizes corriam em cortes profundos. A pele estava tão derretida que nem sequer pareciam reais. Desciam do estômago para o topo da cintura de suas calças.
Olhei porque era isso que queria que eu fizesse. Quando pude finalmente olhar seus olhos, não tinha palavras. Eu tive água benta derramada sobre uma mordida de vampiro antes. Purificação, como eram chamados. A tortura era uma outra palavra para ela. Eu tinha rastejado, amaldiçoado e vomitado. Não poderia imaginar a dor que ele havia passado.
Seus olhos estavam arregalados, ferozes e temíveis.
— As cicatrizes vão até embaixo. — disse ele.
Isso deixou um rastro de recursos visuais que eu estava tentando evitar. Pensei em um monte de coisas para dizer: “Uau” mas pareceria com um menino de colégio cruel, “desculpe” era totalmente inadequado. Abri minhas mãos, ajoelhada no banco e olhei para ele.
— Já te perguntei uma vez antes, Asher. O que você quer que eu diga?
Ele afastou-se de mim o máximo que pode, de volta contra a porta do jipe.
— Por que ela não desvia o olhar? Por que ela não me odeia? Por que ela não está enojada com este corpo?
Como ele estava enojado. Deixou as palavras no ar, mas estava lá em seus olhos, da mesma forma que prendia a si mesmo. Implícitas, as palavras ficaram no ar como o peso de um trovão.
Ele gritou:
— Por que eu não vejo em seus olhos o que vejo nos olhos de todos?
— Você não vê o horror nos olhos dela, mon ami. — disse Jean-Claude.
— Não, — disse Asher — Eu vejo pior. Eu vejo a piedade!
Ele abriu a porta do carro sem se virar. Eu teria dito que ele caiu para fora do carro, mas isso não é verdade, flutuou para cima antes que pudesse tocar o chão. Houve um remoinho de vento que passou por mim como uma tempestade, e ele foi embora.

 

 

 

CAPÍTULO 12


Ficamos em silêncio por alguns segundos, nós dois olhando para a porta aberta. Finalmente tive que preencher o silêncio.
— Meu Deus, as pessoas vêm e vão rapidamente aqui.
Jean-Claude não percebeu a referência do filme. Richard teria recebido. Ele gostou do Mágico de Oz. Jean-Claude respondeu-me a sério.
— Asher sempre foi muito bom em voar.
Alguém riu. O som me fez gelar. A voz era familiar, mas o tom era novo, arrogante, profundamente arrogante.
— Balas de prata não podem mais me matar, Anita. Meu novo mestre me prometeu.
Liv apareceu na porta do carro aberta, olhando para nós, braços musculosos encostados nas laterais da porta. Ela sorriu o bastante para mostrar suas presas. Quando você passa dos quinhentos anos como Liv, você só mostra as presas quando quiser. Ela estava sorrindo como uma gata Cheshire, muito satisfeita com alguma coisa. Ela usava um sutiã esportivo preto e shorts de corrida, de modo que todos os seus músculo brilharam nas luzes da rua. Ela era uma das vampiras que Jean-Claude havia convidado para seu território nos últimos tempos. Era supostamente um de seus tenentes-vampiro.
— E o canário que você comeu? — Eu perguntei.
Ela fechou a cara para mim.
— O que?
— O gato que comeu o canário. — eu disse.
Ela continuou sem entender. Liv tinha um Inglês perfeito, sem sotaque de qualquer espécie. Às vezes me esqueço que não é sua primeira língua. Vários vampiros perderam seus sotaques originais, mas eles ainda não compreendem todas as gírias. Mas, ei, aposto que Liv conhece algumas gírias eslavas que eu nunca ouvi falar.
— Anita está perguntando por que está tão satisfeita consigo mesma. — disse Jean-Claude — mas acho que já sei a resposta.
Olhei para ele, então, de volta para Liv. Tivei a Firestar para fora, mas não apontei. Ela deveria estar do nosso lado. Eu estava sentindo que poderia ter mudado.
— Liv quis dizer, seu novo mestre? — Eu perguntei.
— Foi o que ela disse. — disse Jean-Claude.
Levantei a arma e apontei para ela. Ela riu. Era enervante. Rastejou até o banco de trás, ainda rindo. Muito irritante. Liv pode ter seiscentos anos e algumas mudanças, mas não era poderosa. Certamente não é poderosa o suficiente para rir de balas de prata.
— Você sabe que vou atirar em você, Liv. Então, qual é a piada?
— Você não sentiu isso, ma petite? A diferença nela.
Firmei minha mão sobre o encosto do banco, arma apontada para seu peito. Estava a menos de dois metros dela, a esta distância, a bala retiraria seu coração. Ela não estava preocupada, deveria estar.
Concentrei-me em Liv. Tentei sentir sua força em minha mente. Eu tinha feito isso antes, sabia o que ela sentia em minha cabeça. Ou pensou que eu fiz. Seu poder avançou ao longo do meu crânio, cantarolando baixo em meus ossos. Podia sentir seu poder como uma nota tocando tão profundo e baixo que era quase doloroso.
Respirei fundo e a deixei lentamente. Mantive a arma apontada para ela.
— Se eu puxar o gatilho, Liv, mesmo com o aumento de seu poder, você vai morrer.
Liv olhou para Jean-Claude. Foi um longo olhar satisfeito.
— Você sabe que eu não vou morrer, Jean-Claude.
— Só o Viajante poderia fazer tal promessa extravagante, e espero que ele mantenha. — disse Jean-Claude — Está um pouco feminina demais para seu gosto, a menos que tenha mudado.
Seu rosto era de desdém.
— Ele está acima de tais desejos mesquinhos. Apenas me ofereceu um poder e eu aceitei.
Jean-Claude balançou a cabeça.
— Se você realmente acredita que o Viajante protegeria seu corpo, então ele tem sido muito... cuidadoso com você, Liv.
— Ele não é como os outros. — disse ela.
Jean-Claude suspirou.
— Não vou discutir, Liv. Mas tome cuidado para que seu poder não se tornar um vício.
— Você está tentando me assustar, mas não vai funcionar Jean-Claude. Nunca senti nada como seu poder antes, e ele pode compartilhá-la. Eu posso ser o que deveria ter sido.
— Ele pode preenche-la até que estoure com o seu poder, Liv, não vai fazer de você um mestre. Se te prometeu isso, então, ele mentiu para você.
Ela assobiou para ele.
— Você diria qualquer coisa para se salvar esta noite.
Ele deu de ombros.
— Talvez.
— Eu pensei que Liv tinha feito um juramento de lealdade para com você. — disse.
— Oui.
— Então o que está acontecendo?
— O Conselho vai ter muito cuidado para respeitar as regras, ma petite. O circo é uma empresa pública, sendo assim eles poderiam ter ultrapassado as fronteiras sem ser convidado. Ao invés disso, eles encontraram alguém para convida-los a entrar.
Olhei para a vampira sorrindo no banco de trás do meu Jeep.
— Ela nos traiu?
— Sim. — disse ele suavemente e tocou meu ombro. — Não a mate, ma petite. A bala ia entrar, mas o Viajante não permitiria sua morte. Seria simplesmente um desperdício de bala.
Balancei minha cabeça.
— Ela traiu você, todos vocês.
— Se eles não pudessem subornar alguém, teriam torturado qualquer um para nos trair. Eu prefiro muito mais esse método. — disse ele.
Eu olhei para o cano da arma e para o rosto sorridente de Liv. Poderia puxar o gatilho e não me preocupar com isso. Ela tinha feito todos os danos que poderia fazer. Não era como se eu a matasse para nos salvar. Eu não quis puxar o gatilho. Simplesmente achava que ela merecia morrer por nos trair. Não é raiva, ou mesmo escândalo, apenas um bom negócio. Era um mau precedente permitir que alguém te traia e sobreviva. É um mau exemplo. Percebi, com uma sacudida quase física que matá-la não significava nada para mim. Apenas um bom negócio. Doce Jesus. Guardei o revólver. Não queria matar ninguém friamente. Matar não me incomoda, mas deveria significar algo.
Liv se recostou no assento, sorrindo, contente que eu tivesse visto a inutilidade de atirar nela. Se não tivesse percebido isso, ainda poderia ter medo de mim, mas estava se escondendo atrás do poder deste Viajante. Confiante de que era bastante poderoso contra qualquer coisa. Se ela me irritasse bastante essa noite, talvez eu testasse a teoria.
Balancei minha cabeça. Se eu estava indo me encontrar com o bicho-papão dos vampiros, precisava de mais armas. Eu tinha bainhas de pulso, completo com facas de prata, no porta- luvas. Muitas vezes as deixava no jipe quando usava algo que não pudesse usá-los, como o vestido. Nunca se sabe quando você precisará de uma boa faca.
— Vou dizer a eles sobre qualquer arma que eu veja. — disse ela.
Terminei deixando as facas no lugar.
— Yvette e Balthasar sabem que tenho uma arma. Não estou tentando ser sutil aqui, apenas preparada. — Abri a porta e saí. Fiz uma varredura das trevas ao redor do prédio, embora os antigos realmente pudessem se esconder quase à vista. Alguns vampiros eram como camaleões, conseguiam camuflar as coisas ao seu redor. Eu tinha visto um que poderia se envolver nas sombras, e em seguida, arremessá-lo de um lado como um manto. Era impressionante.
Liv saiu do carro para ficar perto de mim. Ela levantou pesos demais para cruzar os braços confortavelmente, mas estava tentando. Tentei olhar para a guarda-costas indiferente. Ela tinha quase dois metros de altura, e forte como uma casa de tijolos, ela não tem que tentar intimidar pelo olhar.
Jean-Claude saiu do carro do meu lado, colocando-se entre nós duas. Não tinha certeza a quem ele estava protegendo, ela ou eu.
Ele tinha o casaco longo de Asher em seus braços.
— Eu sugiro, ma petite, que use isso para cobrir suas armas.
— Contarei a eles sobre as facas. — disse Liv.
— Se as armas estiverem à vista de todos, será mais um desafio. — disse Jean-Claude. — Alguém pode se sentir compelido a tirá-las de você.
— Eles podem tentar. — eu disse.
Jean-Claude entregou-me o casaco, envolto em seus braços.
— Por favor, ma petite.
Eu tomei dele. Ele não dizia “por favor” muitas vezes.
Coloquei o casaco preto. Lembrei-me de duas coisas. Um, que era demasiado quente para vestir um casaco. Dois, Asher era seis centímetros ou mais alto, o revestimento era enorme. Comecei a arregaçar as mangas.
— Anita. — disse Liv.
Olhei para ela.
Ela estava séria agora, seu rosto de traços forte estava em branco e ilegível.
— Olhe nos meus olhos.
Eu balancei minha cabeça.
— O que vocês fazem? Ficam sentados assistindo filmes antigos de Drácula e roubam o diálogo? Liv deu um passo ameaçador para a frente. Eu só olhava para ela.
— Salve a grande mania dos maus vampiros, Liv . Nós já fizemos isso e você não pode me pegar com seus olhos.
— Ma petite. — disse Jean-Claude — faça o que ela pede.
Fiz uma careta para ele.
— Por quê? — Desconfiada, quem eu?
— Porque, se o poder extra do Viajante pode atacar você através dos olhos de Liv, seria melhor saber aqui em relativa segurança do que lá dentro com nossos maiores inimigos.
Ele tinha um ponto, mas eu não gostava disso. Dei de ombros.
— Ótimo. — Olhei para seu rosto, em seus olhos azuis, embora a cor era um pouco lavada da luz de rua.
Liv virou, um jorro de luz amarela da porta do carro aberta bateu em seus olhos e os tornou azul-violeta, quase púrpura. Seus olhos eram sua melhor marca, e eu nunca tinha tido qualquer problema em olhá-lo.
Eu ainda podia olhar. Nem mesmo uma pontada.
Liv fechou as mãos em punhos. Ela falou, mas eu acho que ela não estava falando com qualquer um de nós.
— Você me prometeu. Me prometeu poder suficiente para invadir sua mente.
Houve uma corrida de vento, frio o suficiente para me fazer tremer e me aconchegar no longo casaco.
Liv riu, um zurro de som. Ela levantou os braços para o vento frio, como se fosse envolvida em torno de uma cortina na brisa.
O vento frio arrepiou os cabelos do meu pescoço, mas não era a temperatura, era seu poder.
— Agora. — Liv disse, — olhe nos meus olhos, se você tiver coragem.
— Melhorou um pouco mais o diálogo. — eu disse.
— Você tem medo de encontrar o meu olhar, Executora?
O vento frio que veio do nada morreu, e depois desapareceu, uma carícia gelada passando. Esperei até o calor do verão cair sobre mim como um envoltório plástico, esperei até o suor descer por minha espinha, e então olhei para cima.
Eu evitava olhar um vampiro nos olhos. Tinha alguma imunidade natural, mas mesmo os vampiros menores eram perigosos. Seu olhar era um truque que quase todos tinham em um grau menor ou maior. Meus poderes haviam crescido, e as marcas do vampiro tinha facilitado. Eu estava bastante imune ao olhar do vampiro. Então porque fiquei com medo agora?
Encarei o olhar violeta de Liv sem vacilar. No início não havia nada de extraordinário, mas a sua cor. A tensão saiu de mim, meus ombros soltos. Eles eram apenas olhos. Então era como se a cor violeta de seus olhos fosse a água, e eu era algo patinando sobre a tensão superficial, até que algo passou de seus olhos e me puxou para baixo. Antes tinha sido como a queda, mas agora tinha algo de mim, algo escuro e forte. Ela me sugou com gosto de água sob o gelo. Eu gritei, e ataquei. Arremeti contra o filme frio de gelo, atingido por uma superfície que não era físico, não era mesmo metafórico, mas eu lutava para subir. Lutava contra a força da escuridão.
Voltei a mim, ajoelhada no estacionamento com Jean-Claude agarrado a minha mão.
— Ma petite, ma petite, você está bem?
Apenas balancei a cabeça. Não confiava em minha voz ainda. Tinha esquecido o quanto odiava ser dominada pelo seu olhar. Esqueci-me da forma como me sentia desamparada. O meu próprio poder me tornava descuidada em torno das coisas malditas.
Liv encostou-se ao lado do jipe. Ela parecia cansada.
— Eu quase tive você.
Encontrei a minha voz.
— Você não tem nada. Não eram seus olhos que estavam me sugado. Era o dele.
Ela balançou a cabeça.
— Ele me prometeu o poder para ter você, Anita. Para tomar sua mente.
Deixei Jean-Claude me ajudar a ficar sobre meus próprios pés, isso mostrava o quanto eu estava instável.
— Então ele mentiu, Liv. Este poder não é seu.
— Você tem medo de mim agora. — disse ela. — Eu posso sentir o medo na minha cabeça.
Concordei.
— Sim, estou com medo. Se isso te faz feliz, depois rir. — Comecei a me afastar dela. Mais armas. Eu precisava de mais armas.
— Isso me faz feliz. — disse ela. — Você nunca vai saber como me faz feliz.
— Seu poder te deixou, Liv. — disse Jean-Claude.
— Ele vai voltar. — disse ela.
Eu estava do outro lado do jipe. Estava indo para a parte de trás, mas não queria estar dentro do alcance de Liv. Consegui ficar livre de seu poder, mas não queria abusar da sorte.
— O poder pode retornar Liv, mas Anita rompeu seu vínculo com você. Ela deixou o seu poder de lado.
— Não. — disse Liv. — Ele optou por deixa-la ir.
Jean-Claude riu e o som percorreu ao longo do meu corpo, e eu soube que Liv o sentiu, também.
— O Viajante teria mantido ma petite, se ele pudesse dominá-la. Mas ele não pode. Ela é um peixe muito grande mesmo para sua rede.
— Mentiroso! — Liv disse.
Deixei Liv e Jean-Claude discutir entre si. Eu tinha quebrado o poder do Viajante, mas não tinha sido bonito, nem fácil. Apesar de pensar nisso, logo que comecei a luta, ele tinha quebrado. A triste verdade era que eu não tinha tentado me proteger. Olhei nos olhos vazios de Liv e esperei, confiante de que ela não poderia me controlar. Tinha sido estúpido ou arrogante. Às vezes não há como saber a diferença entre os dois.
Caminhei até a traseira do jipe. Arrastei-me na área de carga. Edward, o assassino dos mortos- vivos, que me convenceu a deixar uma conhecida habilidade sua no meu jipe . A roda em um lado era agora um compartimento secreto. Dentro estava a minha Browning extra e munição. Eu me senti boba quando ele me convenceu. Não me sentia boba agora. Abri o compartimento e encontrei uma surpresa. Uma mini-Uzi completa com alça de ombro. Havia um bilhete colado na arma.
“Você nunca pode ter muito poder de fogo.”
Ele não tinha assinado, mas foi Edward. Ele começou sua carreira como um assassino normal, mas os seres humanos se tornaram muito fáceis, assim ele mudou para monstros. Gostava de um desafio. Eu tinha uma outra mini-Uzi em casa. Tinha sido um presente de Edward também. Ele tinha os melhores brinquedos.
Tirei o casaco e coloquei a alça da Uzi em meu peito. Quando vesti o casaco de volta, a Uzi estava pendurada nas minhas costas. Não é perfeito, mas não era muito perceptível. A segunda Browning Hi-Power foi no compartimento, também. Eu a coloquei em um bolso e dois pentes extra de munição no outro. Quando deslizei para o chão, o casaco estava pendurado de uma forma engraçada, mas era tão grande em mim que não era evidente.
Os vampiros não estavam discutindo mais. Liv encostou no jipe com o olhar carrancudo, como se Jean-Claude tivesse a última palavra, ou vencido o argumento.
Fiquei olhando para ela. Eu queria matá-la. Não porque ela nos traiu, mas porque me assustou. Não é razão suficiente. Além disso, tinha sido o meu próprio descuido que a deixou me assustar. Tentei não punir outras pessoas pelos meus erros.
— Eu não posso deixá-la impune, Liv. — disse Jean-Claude — O Conselho veria isso com uma fraqueza.
Ela apenas olhou para ele.
— Me bata se isso fizer você se sentir melhor, Jean-Claude. — Ela andou para longe do jipe e cruzou a distância entre eles, com três passos largos. Levantou a cabeça como um valentão te desafiando a dar o primeiro soco.
Ele balançou a cabeça.
— Não, Liv. — Ele tocou seu rosto delicadamente. — Eu tinha outra coisa em mente.— Ele acariciou o rosto dela, esfregando a mão ao longo de sua bochecha.
Ela suspirou, esfregando o rosto contra a palma de sua mão. Liv estava tentando entrar nas calças de Jean-Claude desde que chegou a cidade. Nunca tinha escondido seu plano de dormir com o Mestre e subir até o topo. Ela havia ficado muito. . . frustrada porque ele não cooperou.
Ela deu um beijo na palma de sua mão.
— As coisas poderiam ter sido bem diferente se não fosse o seu animal de estimação humano.
Subi para trás do Jipe e foi como se eu não estivesse lá. Eles estavam em um lugar privado, que passou a ser apenas fora de vista.
— Não, Liv. — disse Jean-Claude — Não teria sido diferente. Não foi Anita, que te impediu de chegar a minha cama, foi você mesma. — Sua mão estava fechada sobre a sua garganta. Seus dedos convulsionando na sua carne. Ele fez um movimento brusco e rasgou a frente de sua garganta.
Liv desabou no chão, sufocando, o sangue fluindo como larva vermelha para baixo, fora de sua boca. Ela virou de costas, mãos arranhando a garganta.
Eu vim para ficar ao lado dele e olhei para ela. Tive um vislumbre de sua coluna no fundo da ferida. Seus olhos estavam arregalados, cheios de dor, medo.
Jean-Claude estava limpando a mão em um lenço de seda que tirou de algum lugar. Ele jogou a Ele jogou o pedaço de carne na calçada, como se fosse algo pequeno e insignificante.
Nós dois a vimos se contorcendo sobre a calçada. O rosto de Jean-Claude era uma máscara vazia, bonito e distante, como se tentasse tirar o conforto da lua. Eu não tinha um espelho, meu rosto não teria a sua perfeição adorável, mas ele estava tão vazio quanto o dele. Eu assisti a agonia de Liv na calçada e não senti pena.
O vento frio veio para salvá-la. Eu acho que Liv ficou surpresa, porque ela chamou por Jean-Claude . Atingido por ele, implorando com os olhos para que ele a ajudasse. Ele estava imóvel, afundado em seu grande silêncio de espera, como se estivesse disposto mesmo a desaparecer. Talvez ele se incomodasse de vê-la morrer.
Se ela fosse humana, teria sido muito rápido. Mas ela não era, e não foi fácil. Não estava morrendo. Eu não tinha certeza se era pena, mas não podia ficar ali e ver alguém com tanta dor, tanto terror.
Puxei a Browning do bolso do casaco e apontei para sua cabeça.
— Vou acabar com isso.
— Ela vai se curar, ma petite. É uma ferida que seu corpo de vampiro curará, com o tempo.
— Por que seu novo mestre não a ajuda?— Eu perguntei.
— Porque ele sabe que ela vai se curar sem sua ajuda.
— Sem desperdício de energia, hein?
— Algo parecido com isso. — disse ele. Era difícil dizer através do sangue, mas parecia como se a ferida estivesse se preenchendo, não havia tanta coisa a preencher
— Nós oferecemos nossa garganta, o pulso, ou a curva do cotovelo uns aos outros como uma saudação formal. A menor oferta de sua carne para a maior como reconhecimento do poder. É uma coisa bonita, uma coisa educada, mas esta é a realidade, ma petite. Liv ofereceu-me a garganta e eu aceitei.
Olhei em seus olhos grandes e arregalados.
— Será que ela sabe que essa era uma possibilidade?
— Se ela não sabia, então é uma tola . Essa violência é tolerada em questões de um vampiro menor com a autoridade do vampiro maior. Ela questionou o meu domínio sobre ela. Este é o preço.
Liv virou para o lado, tossindo. Sua respiração sacudiu na garganta em um doloroso suspiro. As coisas foram se consertando. Ela estava respirando novamente. Quando tinha ar suficiente para falar,disse:
— Maldito seja você, Jean-Claude. — Então tossiu sangue. Atraente.
Jean-Claude estendeu a mão para mim. Ele limpou, mas você nunca tira o sangue em torno das unhas, sem água e sabão. Hesitei, depois peguei sua mão. Gostaríamos de obter mais sangue, antes que a noite terminasse, isso era quase garantido.
Caminhamos para o circo. O brasão levantou atrás de mim como uma capa. A Uzi saltou levemente minhas costas. Eu tinha adicionado uma coisa extra no porta-luvas. Uma longa corrente de prata com uma cruz sobre ele. Eu tinha mudado a corrente , quando começei a namorar Jean-Claude. As menores saiam pra fora da minha roupa nos momentos menos oportunos. Eu carregava para o urso, oh, vampiro, e pronta para matar alguma coisa. Edward teria ficado orgulhoso.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


CAPÍTULO 13


A porta do lado de fora do circo não tem maçaneta. A única maneira de entrar é se alguém abrir a porta. Medidas de segurança. Jean-Claude bateu e a porta se abriu para dentro com seu toque. Aberto, esperando, esperando. Agourento.
A porta se abriu em um pequeno quarto de armazenamento com uma lâmpada pendurada no teto. Uma sala inóspita com algumas caixas contra uma parede. A porta à direita conduzia para a parte principal do circo, onde as pessoas costumavam andar na roda-gigante e comer algodão doce. Uma pequena porta dava para a esquerda. Não havia luzes brilhantes e algodão doce neste lado.
A lâmpada balançou para trás e para frente, como se alguém tivesse acabado de acerta-la. A lâmpada nua fazia sombras mais espessas, e na dança de luz era até difícil de ver as sombras. Algo brilhava no lado esquerdo da porta ao lado. Algo ligado à sua superfície. Eu não sabia o que era, salvo que brilhava estranhamente na luz.
Empurrei a porta contra a parede apenas para me certificar que ninguém estava atrás dela. Então coloquei minhas costas na porta e apontei a Browning no quarto.
— Faça a lâmpada parar de balançar. — eu disse.
Jean-Claude estendeu a mão e tocou na lâmpada. Ele tinha que ficar na ponta dos pés para fazê- lo. Quem tinha balançado a lâmpada era alguem muito alto.
— O quarto está vazio, ma petite— disse Jean-Claude
— O que é isso na porta? — Era liso e fino, minha mente não conseguia entender o que era. Fosse o que fosse, foi batido à porta com pregos de prata.
Jean-Claude soltou um longo suspiro.
— Mon Dieu.
Atravessei a sala com a Browning apertada nas duas mãos apontada para o chão. Jean-Claude disse que a sala estava vazia. Confiava nele, mas confiava mais em mim.
Liv cambaleou até a porta. A frente do seu corpo estava coberto de sangue, mas sua garganta estava perfeita. Gostaria de saber se o Viajante a tinha ajudado depois que saí. Ela tossiu e limpou sua garganta tão violentamente que soou doloroso.
— Eu queria ver a sua cara quando você visse o poder do Mestre das Feras. — disse ela. — O Viajante se recusou a deixá-lo cumprimentar seu povo pessoalmente. Este é o cartão do Mestre das Feras. Está do seu agrado? — Ela parecia ansiosa como um predador, uma espécie de maneira desagradável. Que droga era aquilo na porta?
Mesmo estando ao lado dele, não sabia o que era. Finos riachos de sangue escoavam pela porta saindo dele. O doce aroma metálico do sangue aquecido no ar viciado. A coisa era quase papel fino, mas tinha uma consistência mais como o plástico. Ela enrolava nas bordas, lutando contra os cinco pregos de prata.
De repente tive uma leve idéia. Tão horrível que meus olhos não puderam vê-lo mesmo depois de ter pensado nisso. Dei três passos para trás da coisa e tentei ver a silhueta. Lá estava, dois braços, duas pernas e os ombros. Era uma pele humana. Quando descobri sua forma, não conseguia parar de vê-lo. Eu sabia que quando fechasse meus olhos a noite, aquilo iria me assombrar. Aquela coisa fina esticada que costumava ser uma pessoa.
— Onde estão as mãos e os pés? — Eu perguntei. A minha voz soava estranha, distante, quase descompromissadas. Meus lábios e dedos vibraram com puro horror.
— É apenas a parte de trás do corpo de alguém, e não toda sua pele, ma petite. Além disso, é difícil cortar a pele dos dedos quando a vítima ainda está lutando — disse Jean-Claude. Sua voz era totalmente plana, cuidadosamente vazia.
— Lutando? Você quer dizer que quem estava aqui, estava vivo?
— Você é a perita da polícia, ma petite.
— Não teria todo esse sangue se não estivesse vivo. — eu disse.
— Sim, ma petite.
Ele estava certo. Eu sabia disso. Mas a visão de uma pele humana, pregada a uma porta tinha me chocado. Era demais, até mesmo para mim.
— Doce Jesus, usar pregos de prata significa que a vítima era vampiro ou lobisomem?
— Muito provável. — disse Jean-Claude
— Isso significa que ele ainda está vivo?
Ele olhou para mim. Seu olhar conseguiu ser vazio e eloquente, tudo ao mesmo tempo.
— Ele estava vivo quando a pele foi removida. Se vampiro, ou licantropo, a simples remoção da pele não seria suficiente para matá-lo.
Um arrepio me percorreu da cabeça aos pés. Não era exatamente medo. Era horror. Horror na informalidade dele, na sua insensibilidade.
— Asher havia mencionado Padma. Ele é o Mestre das Bestas?
— O Mestre das Feras. — disse Jean-Claude. — Você não pode matá-lo por esta indiscrição, ma petite.
— Você está errado. — eu disse. O horror estava lá como um revestimento de gelo debaixo da minha pele, muito mais que a raiva. Raiva. E sob a raiva havia o medo. Medo de alguém que tira a pele de outra pessoa viva só para fazer um ponto. Isso me dizia algo sobre essa pessoa. Dizia que ele tem poucas regras. Dizia, em termos inequívocos, que eu deveria matá-lo logo que o visse.
— Nós não podemos puni-lo esta noite, ma petite. Esta noite é a sobrevivência de todos nós. Lembre-se de refrear sua raiva.
Olhei para a coisa na porta.
— Eu sou o caminho da ira do passado.
— Então, refreie sua raiva. Temos de salvar o restante do nosso povo.
— Se eles estiverem vivos.
— Eles estavam vivos quando cheguei lá em cima para esperar você. — disse Liv.
— De quem é essa pele? — Eu perguntei.
Ela riu, e foi usualmente bruta. Todos curados, todos melhor.
— Adivinhe — disse ela. — Se você acertar, vou te dizer , mas só se você adivinhar direito.
Precisei de mais controle do que beleza para não apontar a arma para ela . Eu balancei minha cabeça.
— Sem jogos, Liv, não com você. O jogo de verdade só vai começar quando chegarmos lá embaixo.
— Bem dito, ma petite. Deixe-nos ir para baixo.
— Não. — disse Liv. — Não, você tem que adivinhar. Tem que adivinhar quem é. Eu quero ver seu rosto. Quero ver a dor em seus olhos quando pensar sobre cada um de seus amigos, Anita. Quero ver o horror em seu rosto enquanto imagina isso acontecendo a cada um deles.
— O que eu fiz para você, Liv?
— Você estava no meu caminho. — disse ela.
Balancei a cabeça e apontei a arma para ela.
— Três erros e você está fora, Liv.
Ela franziu a testa.
— O que você está falando?
— Primeiro, você é uma traidora. Tentar me pegar com seus olhos foi o número dois. Esse foi, em parte, culpa minha, então teria que te deixar ir. Mas você fez um juramento de proteger todas as pessoas de Jean-Claude. Você jurou usar esse corpo maravilhoso, essa força, para proteger os mais fracos que você. O dono desta pele era alguém que você jurou proteger, ao invés disso, você o traiu. Mandou-o para o inferno. Strike número três, Liv.
— Você não pode me matar, Anita. O Viajante vai me curar, não importa o que você faça.
Eu atirei nela, na rótula direita. Ela caiu no chão, segurando a perna quebrada, se contorcendo, gritando.
Senti-me sorrir, muito desagradável.
— Espero que isso doa, Liv. Espero que doa como o inferno.
A temperatura na sala caiu como uma pedra. Senti frio suficiente que quase podia ver a minha respiração. Liv parou de gritar, ela olhou para mim com seus olhos de violeta. Se olhar matasse, eu teria caído no local.
— Você não pode me machucar, Anita. Meu senhor não vai permitir isso. — Liv levantou-se com a perna mais fraca. Andou até a porta com a sua carga terrível. Esticou a borda da coisa, mostrando buracos na pele que não tinha nada a ver com o processo de esfolamento. — Eu me alimentei dele, enquanto o torturavam. Bebi seu sangue enquanto ele gritava. — Seus dedos saíram manchados de sangue. Ela os lambeu até deixa-los limpos, deslizando os dedos dentro e fora de sua boca. — Hmm, saboroso.
Tudo o que eu tinha que fazer era adivinhar quem era, e ela confirmaria para mim. Tudo o que eu tinha de fazer era jogar o jogo dela. Atirei em seu outro joelho.
Ela caiu no chão, gritando.
— Você entendeu? Você não pode me ferir.
— Ah, eu acho que posso, Liv, eu acho que posso. — Eu atirei no joelho direito novamente. Ela estava deitada de costas, gritando, agarrando os joelhos quebrados, recuando, porque seu próprio toque a machucava
O poder do Viajante levantou os pêlos do meu corpo. Ele realmente a estava curando. Se eu não ia matá-la, precisava estar em outro lugar antes que ela pudesse caminhar. Eu sabia que quando Liv estivesse bem o bastante, ficaria puta. Não que eu me culpasse. Na verdade, se eu estivesse ali tempo suficiente para ela chegar a meus pés, seria auto defesa. Claro, seria auto defesa premeditado.
— Venha, ma petite, deixe-a. O Viajante não dá suas bênçãos tão facilmente uma segunda vez, ou essa seria a terceira? Ela vai se curar em seu próprio ritmo agora. Uma bênção e uma punição intercalando. Como a maioria dos presentes que o Conselho costuma dar.
Ele abriu a porta, que conduzia as escadas. Sua mão voltou com sangue. Ele segurou a mão na frente dele como se não soubesse o que fazer com ela. Finalmente entrou pela porta, limpando a mão ao longo da parede, manchando de sangue as pedras em uma tênue linha carmesim.
— Quanto mais nos demorarmos, em mais torturas eles vão pensar. — Com essa linha reconfortante ele começou a descer as escadas. Dei um último olhar para Liv. Ela se deitou de lado, chorando, gritando. Estava gritando que ia me ver morta. Eu deveria ter atirado na cabeça dela, até que seu cérebro vazasse no chão. Se fosse realmente cruel, eu faria isso. Mas não o fiz. Deixei-a viva e gritando ameaças. Edward teria ficado tão decepcionado.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 14


Os degraus que conduzem aos subterrâneos eram mais altos que o normal, como se não fosse originalmente concebido para humanos. Chutei a porta fechada, não queria tocar no sangue. Da porta olhei para Liv que continuava a gritar. Eu ainda podia ouvi- la muito fraca, como o zumbido alto de um inseto, mas a porta era quase acústica. Precisava de algo para abafar os gritos. Naturalmente, esta noite, havia apenas o silêncio sobre a escada. Um silêncio tão profundo que vibrava nos meus ouvidos.
Jean-Claude movido em uma graça sem osso, como um gato grande, desceu os degraus com habilidade. Eu tive que dobrar a ponta do casaco por cima do meu braço esquerdo para não tropeçar sobre ele. Mesmo assim, não planei e sim desci as escadas. Altura de três calcanhares eu vacilando a cada degrau.
Jean-Claude me esperava na curva da escada, um pouco antes do fim dela.
— Eu poderia levá-la, ma petite.
— Não, obrigada. — Se tirasse os sapatos, o vestido seria tão longo que precisaria segurá-lo. Eu precisava de uma mão livre para a arma. Se minhas escolhas fossem ser lenta e ter uma arma na mão, ou ser rápida e ter as mãos ocupadas com o vestido. . . Eu seria lenta.
A escada estava estranhamente vazia, era suficientemente ampla para conduzir um carro pequeno para baixo. A porta na base da escada era de carvalho maciço, como o ferro ligando a porta a uma masmorra. Hoje à noite, e não uma analogia ruim.
Jean-Claude puxou a pesada porta, e ela se abriu. Normalmente era mantida trancada. Ele virou para mim.
— O Conselho pode exigir que eu saúde todos os vampiros dentro destas paredes, formalmente.
— Você quer dizer como fez com a Liv?— perguntei.
Ele deu um sorriso muito pequeno.
— Se eu não reconhecer o seu domínio sobre mim, então talvez.
— E se você não reconhecê-los? — Eu perguntei.
Ele balançou a cabeça.
— Se tivéssemos ido em busca do Conselho para pedir ajuda de algum tipo, então eu não lutaria. Gostaria apenas de reconhecer a sua superioridade e aceitaria . Não sou forte o bastante para o Conselho. Eu sei disso. — Ele alisou suas mãos nos babados da camisa, acertou os punhos, a jaqueta amarrotada para melhorar a defesa. Ele sempre se irritava com sua roupa quando estava nervoso. Claro, ele se irritava com suas roupas, quando não estava nervoso, também.
— Eu ouvi um “mas” chegando. — eu disse.
Ele sorriu para mim.
— Oui, ma petite. Mas eles vieram a nós. Invadiram nossas terras. Feriram nosso povo. Se nós os reconhecermos como superiores sem uma luta, eles podem criar um novo mestre no meu lugar. Eles podem tomar tudo que ganhei.
— Eu pensei que a única maneira de renunciar ao cargo de mestre era morrendo.
— Eles vêm para isso, eventualmente.
— Então nós vamos dar porrada.
— Mas não podemos vencer pela violência, ma petite. O que fizemos com Liv era de se esperar. Ela tinha que ser punida. Mas em uma luta para matar ou ser morto, o Conselho vai ganhar.
Eu fiz uma careta para ele.
— Se não podemos simplesmente dizer que eles são maiores e mais malvados que nós, e não podemos lutar contra, o que podemos fazer?
— Nós jogamos O JOGO, ma petite.
— Que negócio é esse?
— O jogo que dominei no tribunal há muito tempo. É uma coisa de diplomacia, bravatas, insultos. Ele levou minha mão esquerda aos lábios e colocou um beijo nela. — Você será muito boa em algumas partes do jogo, e muito ruim em outras. Diplomacia não é o seu forte.
— Insultos e bravatas são duas das minhas melhores especialidades.
Ele sorriu, ainda segurando minha mão.
— De fato, ma petite. Guarde sua arma. Não estou dizendo para não usá-la, mas tenha cuidado em quem você dispara. Nem tudo o que encontrará hoje à noite pode ser ferido com balas de prata. — Ele levantou a cabeça para um lado como se estivesse pensando. — Apesar de que se chegar a esse ponto, eu nunca vi ninguém tentar matar um membro do conselho com munição de prata moderna. — Ele sorriu. — Isso poderia funcionar.— Ele balançou a cabeça como se fosse se livrar da imagem. — Mas se trata de tentar matar o Conselho a balas, então tudo estará perdido e só nos restará levar o maior número deles conosco.
— Vamos salvar o maior número de nosso povo, também. — eu disse.
— Você não entendeu, ma petite. Se morrermos, não haverá misericórdia para aqueles que são leais a nós. Qualquer revolução boa mata os legalistas primeiro. — Ele tocou a palma da minha mão direita, levemente, lembrando. Eu ainda estava com a arma para fora, só não quero deixá-la ausente.
Mas eu fiz. Acionei a trava de segurança. Não quero que saibam que a arma estava lá, então não poderia ficar segurando. Acionei a trava de segurança porque não queria atirar em minha perna. Seria constrangedor, bem como doloroso e provavelmente não irá impressionar o Conselho. Eu não entendi O JOGO , mas vivia em torno de vampiros tempo suficiente para saber que se você pudesse impressioná-los, às vezes saia vivo. Claro que, às vezes, eles te mataram mesmo assim. Às vezes, mostram uma bravata que só ganhou um ritmo mais lento de morte, como aconteceu com algumas tribos indígenas americanas que só os inimigos torturados eram dignos de honra. Uma honra que eu poderia ficar sem. Mas, às vezes no meio de ser atormentado que você poderia ser afastado. Se eles apenas rasgarem sua garganta, todas as opções acabam. Estávamos indo definitivamente para impressioná-los. Se não pudéssemos impressioná-los, iríamos matá-los. E se não pudéssemos matá-los.... eles nos matariam. Liv tinha acabado de ser o início do entretenimento da noite.
A sala de pedra estava nua novamente. Todo o esforço de Jean-Claude em redecorar jaziam em pilhas de pano preto e branco e madeira quebrada. A única coisa intacta era o retrato sobre a lareira falsa. Jean-Claude, Juliana e Asher olhando para as ruínas. Eu esperava que uma surpresa desagradável estivesse esperando por nós. Havia apenas Willie McCoy em pé na frente da lareira fria. Estava de costas para nós, as mãos cruzadas atrás dele. Seu terno verde ervilha colidiu com seu cabelo liso preto. Uma manga estava rasgada e manchada de sangue. Ele virou-se para nós. O sangue escorria de um corte na testa. Ele enxugou com um lenço com desenhos de esqueletos dançando. Era de seda e tinha sido um presente de sua namorada, uma vampira um século mais velha que recentemente se juntou a nós. Hannah era tão alta, pernas longas, e linda, assim como Willie era curto, mal vestido, e bem. . . Willie.
Ele sorriu para nós.
— Que bom que se juntou a nós.
— Pode parar com o sarcasmo. — eu disse. — Onde estão todos?— Comecei a andar na direção dele, mas Jean-Claude me parou com uma mão no meu braço.
O sorriso de Willie era quase delicado. Ele olhou para Jean-Claude com um olhar de esperança. Era uma expressão que nunca tinha visto no rosto de Willie.
Olhei para Jean-Claude, máscara perfeita de um rosto fechado e cuidadoso.
— O que foi?— Eu perguntei.
— Ma petite, gostaria de apresentar o Viajante.
Eu fiz uma careta para ele.
— Do que você está falando?
Willie riu, e foi o mesmo zurrar irritante que sempre teve, mas terminou em um resmungo, rindo baixo, o que arrepiou os cabelos na base do meu pescoço. Olhei para ele e sabia que o choque estava estampado na minha cara.
Eu tive que engolir antes que pudesse falar, mesmo assim, não sabia o que dizer.
— Willie?
— Ele não pode atender a sua chamada, ma petite.
Willie estava lá olhando para mim. Tinha sido uma pessoa desajeitada vivo. Morto, ele não tinha sido muito melhor. Não estava morto tempo suficiente para dominar o movimento do outro mundo que os outros tinham. Ele caminhou em nossa direção, com a graça de uma onça. Não era Willie.
— Droga — disse suavemente. — É permanente?
O estranho no corpo de Willie riu de novo.
— Eu apenas peguei seu corpo emprestado. Empresto um grande número de corpos, não é Jean-Claude?
Senti Jean-Claude me puxar para trás. Ele não queria se aproximar e não discuti. Era estranho ser apoiada por Willie. Normalmente, ele era um dos vampiros menos assustadores que eu conhecia. Agora, a tensão chegou as mãos de Jean-Claude. Eu podia sentir seu coração batendo na minha própria cabeça. Ele estava com medo, e isso me fez ter medo.
O Viajante estava parado, mãos nos quadris, rindo.
— Está com medo que eu vá usá-lo como meu cavalo, Jean-Claude? Se você realmente foi forte o suficiente para matar o Terremoto, então deve ser forte o suficiente para resistir a mim.
— Eu sou cauteloso por natureza, Viajante. O tempo não diminuiu o hábito.
— Você sempre teve uma língua suave em sua cabeça e em tantos outros lugares.
Eu fiz uma careta ao entender o sentido duplo, não tenho certeza se peguei o significado, não tenho certeza se queria saber.
— Vamos, deixe Willie ir.
— Ele não está sendo prejudicado. — disse o vampiro.
— Ele ainda está dentro do corpo. — disse Jean-Claude — Ainda sente, ainda vê. O Viajante apenas o empurrou de lado, não pode substituí-lo.
Olhei para Jean-Claude. Seu rosto não mostrava nada.
— Você sabe disso por experiência própria?
— Jean-Claude foi um dos meus corpos favoritos. Eu e Balthasar gostávamos muito dele.
Baltasar caminhou para fora do corredor como se estivesse esperando por sua chamada. Talvez ele tivesse. Ele sorria, mas era mais um mostrar de dentes do que prazer. Ele entrou na sala elegante em seu terno branco. Ficou atrás de Willie, mãos pequenas nos ombros de um homem magro. O Viajante, recostou-se contra o peito de Baltazar. O grande homem abraçou-o. Eles eram um casal.
— Será que ele sabe o que estão fazendo com seu corpo?— perguntei.
— Sim. — Jean-Claude disse.
— Willie não gosta de homens.
— Não. — Jean-Claude disse.
Engoli em seco e tentei pensar racionalmente, não consegui. Vampiros não deveriam ter poder sobre o corpo de outro vampiro. Não era possível. Não era justo. Olhei para o rosto familiar de Willie, com os pensamentos de um desconhecido que fluía através de seus olhos castanhos e sabia que era verdade.
Aqueles olhos castanhos sorriram para os meus. Deixei cair o meu olhar. Se o Viajante podia me pegar através dos olhos de Liv quando não estava dentro dela, então ele podia me sugar para baixo agora, com certeza. Fazia um longo tempo desde que eu pratiquei o truque de olhar para um rosto sem olhar em seus olhos. Era como um vampiro tentando capturar o meu olhar, e eu evitá-lo. Era irritante e assustador.
Jean-Claude tinha dito que a violência não poderia nos salvar. Ele não estava brincando. Se um vampiro estivesse segurando Willie contra sua vontade, forçando-o sexualmente, eu teria atirado nele. Mas era o corpo de Willie, e ele voltaria. Enchê-lo de buracos era uma má idéia. O que eu precisava era de uma boa idéia.
— O Viajante gosta de mulher? — perguntei.
— Você está se oferecendo em seu lugar? — perguntou o vampiro.
— Não, só estou imaginando como você se sentiria se a situação se invertesse.
— Ninguém mais tem a minha capacidade de compartilhar um corpo. — disse o Viajante.
— Você gostaria se alguém te forçasse a fazer sexo com uma mulher?
Willie inclinou o rosto para um lado, e a expressão lhe era estranha. O sentido de autoridade era forte o suficiente para fazer a minha pele rastejar.
— Eu nunca senti atração pelo corpo de uma mulher.
— Você deseja que seja de mau gosto? — eu disse.
Willie, o Viajante, assentiu.
— Sim.
— Então deixe Willie ir. Escolha alguém que não se importe tanto.
O Viajante se aconchegou nos braços de Balthasar e riram de mim.
— Você está apelando para o meu senso de misericórdia?
Eu dei de ombros.
— Não posso atirar em você, é do Conselho. Eu esperava que isso significasse que tinha mais regras do que o resto de vocês. Acho que estava errada.
Ele olhou para Jean-Claude.
— Será que a sua serva humana faz toda sua fala agora?
— Ela faz isso muito bem. — Jean-Claude disse.
— Se ela pretende apelar para o meu senso de misericórdia, então você não lhe disse nada sobre o seu tempo com a gente no tribunal.
Jean-Claude manteve a minha mão esquerda apertada fracamente na dele, mas se afastou de mim. Eu o senti ficar quase reto como se tivesse levantado um pouco os ombros, arcado por causa de seu pânico. Eu sabia que ele ainda estava com medo, mas ele se manteve firme. Bravo Jean-Claude. Eu não estava com medo ainda. Mas então, eu não conheço nada melhor.
— Eu não me debruço sobre o passado. — disse Jean-Claude.
— Ele tem vergonha de nós. — disse Balthasar, esfregando seu rosto contra o de Willie. Ele deu um beijo suave contra a têmpora de Willie.
— Não. — disse o Viajante. — Ele nos teme.
— O que você quer de mim, Viajante? Por que o Conselho invadiu minhas terras e levou meu povo como refém?
O corpo de Willie se afastou de Balthasar a ficou apenas na frente do homem mais alto. Willie normalmente parecia menor do que era, uma espécie de corcunda e de coelho, mas agora ele parecia magro e certo de si mesmo. O Viajante Willie tinha dado a graça e a garantia que ele nunca teve.
— Você matou o Terremoto, mas não chegou a ter sua sede do Conselho. Não há outro caminho para subir ao conselho, exceto através da morte de outro. Nós temos uma vaga que só você pode preencher, Jean-Claude.
— Eu não quero isso, nem sou poderoso o suficiente para mantê-lo
— Se não é forte o bastante, então como é que matou Oliver? Ele era uma força da natureza mais assustadora. — O Viajante caminhava em nossa direção com Balthasar em seu rastro. — Como você o matou?
Jean-Claude não se afastou desta vez. Sua mão apertou a minha, mas ele se manteve firme.
— Ele não aceitou chamar a terra novamente para mim.
O vampiro e seu servo nos circularam como tubarões. Um vinha da esquerda, o outro da direita, de modo que era difícil manter os olhos em ambos.
— Por que ele limitaria os seus poderes?
— Ele tinha fugido, Viajante. Oliver pretendia trazer de volta os dias em que os vampiros eram ilegais. Um terremoto poderia ter destruído a cidade, mas não teria sido culpa de um vampiro. Queria possuir os meus vampiros e provocar um banho de sangue que nos faria se caçados novamente. Oliver temia que destruíssemos todos os seres humanos eventualmente e, portanto, nós mesmos. Achava que éramos perigosos para termos direitos e liberdade.
— Recebemos o relatório. — disse o Viajante. Ele parou perto de mim. Baltasar parou do outro lado, mais próximo a Jean-Claude. Um esperava o outro. Não tinha certeza se era o vampiro que controlava o seu servo ou apenas séculos de prática. — Eu sabia das idéias de Oliver.
Recuei contra Jean-Claude.
— É apenas vampiros ou ele pode ter poderes sobre os humanos, também?
— Sua intuição está correta, ma petite.
— Grande. — eu disse.
Olhei para o Viajante, e era assustador a facilidade com que eu estava começando a pensar nele, como o Viajante e não Willie.
— Por que você não impediu Oliver, então? — Eu perguntei.
O Viajante se aproximou cada vez mais, perto o bastante mas sem nos tocar.
— Ele era do Conselho. Membros do Conselho não podem lutar até a morte. E nada menos do que a morte verdadeira o teria parado.
— Você o deixou vir aqui sabendo o que ele pretendia fazer? — eu disse.
— Sabíamos que ele tinha deixado o país, mas não para onde fugiu ou quais eram seus planos. O Viajante levantou a mão para o meu rosto. Baltazar fez o mesmo ao lado de Jean-Claude. A mão pequena de Willie pairou perto do meu rosto.
— Você o tinha declarado como desonesto. — Jean-Claude disse. — Qualquer vampiro que o encontrasse poderia matá-lo sem violar as nossas leis. Esses são os meios desonestos
O Viajante tocava o traçado do meu rosto. Um tremor de toque, hesitante.
— Assim você pensou que eu não chegaria à sua porta porque nos salvou do problema de caçá-lo nós mesmos?
— Oui.
Balthasar tinha parado de acariciar a face de Jean-Claude. Veio ficar perto de seu mestre. Ele viu o homem menor deslizar sua mão ao longo de meu rosto. Balthasar parecia confuso, surpreso. Alguma coisa estava acontecendo, e eu não sabia o que era.
O Viajante pegou meu queixo na mão em concha. Virou meu rosto para ele. Deslizou a mão sobre o queixo, por trás do meu pescoço, para enlaçar os dedos no meu cabelo.
Eu me afastei dele.
— Eu pensei que não gostava de meninas.
— Eu não gosto. — Ele ficou ali, olhando para mim. — Seu poder é incrível. — Sua mão era demasiadamente rápida para se ver, demasiadamente rápida para reagir. Ele tinha um punhado do meu cabelo e seus olhos, os olhos de Willie, encontraram os meus. Eu estava me protegendo neste momento, preparada, mas meu coração ainda caiu a meus pés. Esperei que a negritude fria me puxasse para baixo. Nada aconteceu. Ficamos ali, a centímetros de distância, e eles eram apenas olhos. Eu pude sentir sua força batendo no meu braço como uma marcha de mãos geladas, mas isso não era suficiente.
Ele colocou as mãos em cada lado do meu rosto, quase como se ele fosse me beijar. Nossos rostos estavam tão perto que suas palavras pareciam próximas, íntima, mesmo que não fosse.
— Eu poderia forçar meu olhar, Anita, mas seria um gasto de energia que eu poderia lamentar antes do amanhecer. Você feriu Liv duas vezes esta noite. Eu sou a cura dela, mas também pego seu poder.
Ele se afastou de mim, abraçando-se como se tivesse ficado com mais que a sensação de pele. Deslizou três passos até ficar cara a cara com Jean-Claude.
— Seu poder é uma coisa inebriante. Algo para envolver em torno de sua pele fria e aquecer o seu coração para toda a eternidade.
Jean-Claude soltou uma respiração lenta.
— Ela é a minha serva humana.
— Certamente. — disse o Viajante. — Cem anos atrás, eu poderia invadir você, sem tocar em sua pele clara. Agora não posso. Ela te deu esse poder? — Ele chegou para Jean-Claude cara a cara como fez comigo.
Puxei Jean-Claude de volta, fora do seu alcance, e me coloquei entre eles.
— Ele é meu, não partilho.
Jean-Claude deslizou o braço em volta de mim, segurando-me livremente ao seu lado.
— Se você nos deixar em paz, eu deixarei Balthasar ou qualquer pessoa que você escolher me usar, mas não serei o seu cavalo de bom grado nunca mais, Viajante.
Os olhos castanhos de Willie olharam para Jean-Claude. Havia uma astúcia, uma intensidade assustadora, naqueles olhos familiares.
— Eu sou do Conselho. Você não é. Não terá nenhuma escolha
— Você está dizendo que se ele tomar seu lugar no Conselho, então você não poderia prejudicá- lo?— Eu perguntei.
— Se ele for poderoso o bastante para segurar uma cadeira no Conselho, então não devo ser capaz de invadir seu lindo corpo, mesmo com os meus lábios pressionados contra ele.
— Deixe-me ver se entendi o que está acontecendo aqui. Se ele tomar seu lugar na sede do Conselho, você ainda vai tentar forçar-se sobre ele, porque se você puder forçá-lo, então ele não é poderoso o suficiente para ser do Conselho? Mas se ele não tomar o seu lugar, você vai fazer de qualquer maneira?
O Viajante sorriu lindamente para mim, a alegria brilhando em seus olhos, os olhos de Willie.
— Correto.
— Porque tudo com vocês é uma ilusão, uma aberração? Você não faz negócio, só tortura. — eu disse.
— Você está nos julgando? — ele perguntou. Sua voz era baixa e de repente mais profunda do que a garganta de Willie deveria ter sido capaz de realizar. Ele deu o último passo em frente, e de repente eu estava tocando a ambos. Ampliou o seu poder sobre mim, era como estar no meio de dois fogos diferentes, mas não queimar. O poder do Viajante era como o de Jean-Claude, frio e úmido, um sopro de mortalidade, um toque de sepultura.
O poder puxou um suspiro do meu pescoço e levantou todos os pêlos do meu corpo.
— Cai fora! — Eu tentei empurrá-lo para longe de nós, mas ele agarrou meu pulso rápido demais para parar, quase demasiado rápido para ver. A sensação de sua pele nua na minha enviou uma onda de frio e entorpecimento pelo meu corpo, como uma lança de gelo. Ele me empurrou, afastando-me de Jean-Claude.
Jean-Claude pegou meu outro pulso. No momento em que sua mão tocou minha pele, o frio desapareceu. Seu poder varreu-me como uma torrente de água morna, e não era somente o seu poder. Eu conhecia o gosto deste calor. Era Richard. Jean-Claude estava desenhando no poder de Richard como eu tinha feito anteriormente.
Ele perseguiu o poder do Viajante para fora de mim, como o calor do verão no gelo. E o Viajante me liberou. Recuou, esfregando a mão no casaco, como se estivesse machucado.
— Jean-Claude, você tem sido um menino muito desobediente.
Jean-Claude me puxou contra ele, uma das mãos no meu pescoço para que seus dedos tocassem a minha pele. Esse calor elétrico ainda estava lá, jogando sobre sua pele e a minha, e eu soube naquele momento que Richard sentira nossa urgência, nossa necessidade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 15


Um barulho levou a todos a olhar para o corredor. Eu não conhecia o homem. Ele era alto, magro, de pele escura, talvez hispânica, talvez algo mais exótico. Usava apenas uma calça de cetim preta com bordados prata ao longo das pernas. Estava arrastando o amor de Willie, Hannah, por um braço.
Sua maquiagem corriam em negras lágrimas pelo rosto. Seu corte de cabelo caro ainda moldava seu rosto, ainda trazia em seus olhos o estrago nas maçãs do rosto e lábios fortes carnudos. . Mas seu rosto era como uma máscara agora, as lágrimas em preto e o batom Borgonha manchavam toda a sua face inferior, como uma ferida.
O Viajante disse:
— Por que a trouxe aqui, Fernando?
— Meu pai também é do Conselho quanto quanto você, Viajante.
— Não discuto isso.
— Mesmo assim você o proibiu de vir a este primeiro encontro.
— Sei que ele é do Conselho, em seguida, vou me curvar à sua vontade. — A voz do Viajante estava zombando. — Somos todos do Conselho, mas não somos todos iguais.
Fernando sorriu. Ele pegou a roupa azul de Hannah e rasgou-o pelas costas. Ela gritou.
O Viajante seduzido, colocou a mão em seu rosto.
— Eu vou fodê-la— disse Fernando.
Baltasar caminhou para eles, dois leopardos do tamanho de pôneis andavam pelo corredor. Um preto e um amarelo manchado, ambos grandes o suficiente para rasgá-lo em pedaços. Eles rosnaram baixo e profundamente, movendo-se em seus enormes pés acolchoados entre Baltasar e Fernando.
Fernando agarrou Hannah pela cintura, puxando seu vestido sobre seus quadris para expor suas ligas azul pálido. Ela se virou e bateu nele forte o suficiente para faze-lo balançar para trás. Ela era tão feminina como eles a viam, mas também era um vampiro e poderia te-lo jogado na parede de pedra sólida, para que ficasse preso lá.
Fernando bateu em suas costas. Salpicando sangue de sua boca. Sentou-se meio atordoado no chão. O poder de Fernando fervia pela sala como se ele estivesse segurando-o oculto até agora. Metamorfo. Ele corresponderia aos leopardos que guardavam suas costas? Talvez, mas isso não importava. Ele pegou Hannah pelo decote do vestido, arrastando-a de joelhos. Ele levantou a mão para bater nela novamente.
Eu puxei a Browning do bolso do casaco. Willie caiu de joelhos no chão. Ele olhou para cima e disse,
— Presas de anjo! — Ele tentou se levantar e não conseguiu. Jean-Claude o pegou por baixo do seu braço e o levantou facilmente.
Fernando bateu em Hannah novamente. Um tapa casual que balançou sua cabeça para trás e revirou seus olhos.
— Ele deve realmente amar você para combater o toque do Viajante toda vez que vê abusos.
Jean-Claude pôs a mão no meu braço e me trouxe de volta. Apontei a Browning para Fernando. Eu tive que deixar sair um fôlego para evitar de puxar o gatilho. A trave de segurança foi desligada, e não lembro de ter feito isso. Por Fernando, e não pelos gatinhos? Os homens-leopardo poderiam diminuir a distância em um piscar de olho, mas eu sabia quem era o alfa. Retire o líder, e os gatos podem brincar em outro lugar.
Jean-Claude apoiava Willie com um braço, o outro ainda levemente no meu ombro, como se tivesse medo do que eu faria.
— Fernando. — disse ele — Você fez o que se propôs a fazer. O Viajante foi forçado a sair, e vai levar algum tempo para encontrar um segundo hospedeiro. Você pode deixar Hannah ir.
Fernando sorriu para nós, os dentes brancos e brilhantes em seu rosto escuro.
— Eu não penso assim. — Ele arrastou Hannah a seus pés, braços em volta de sua cintura, prendendo os braços dela nos seus. Ele tentou beijá-la. Ela virou a cabeça e gritou.
Willie estava sozinho agora. Ele se afastou de Jean-Claude.
— Não, eu não vou deixar você machucá-la.
O leopardo negro caiu de barriga, rastejando perto de Willie, para nós.
— Se nós vamos tirá-los, temos que fazer isso agora. — eu disse. — Fernando primeiro, então um dos leopardos, se eu tivesse tempo. Se não. . . um problema de cada vez.
— Ainda não, ma petite. Padma é o pai de Fernando, não vai perder seu tempo precioso atormentando os mais fracos. O Viajante vai voltar cedo para isso.
— O Viajante não me deixou experimentá-la nem uma vez, ele sempre retorna — disse Fernando. Ele manteve Hannah pressionada contra seu corpo com um braço, e levantou o vestido com o outro.
— Será que ele pensa seriamente que vamos ficar aqui enquanto ele a estupra? — Eu perguntei.
— Meu pai é o Mestre das Feras. Você não vai me impedir por medo de sua ira.
— Você não consegue fazer, Fernando? — Apontei a arma firmemente para sua cabeça. — Eu não dou a mínima para quem é seu pai. Largue ela, e diga a seus amigos peludos para recuarem ou vou fazer do seu pai um vampiro muito infeliz.
— Você não quer me infeliz. — A voz causou agitação nos meus olhos que olharam para fora do corredor, mas a arma não se mexeu.
O vampiro na porta estava vestido como na Índia. Ele usava uma túnica longa em ouro e branco que cintilava na ponta da minha visão conforme andava mais na sala. Mantive minha visão sobre o filho. Um monstro de cada vez.
Jean-Claude deixou cair a mão longe do meu braço. Deu um passo atrás de mim e para um lado, tomando cuidado para não bloquear o meu tiro.
— Padma, Mestre das Feras, saudações e boas vindas à minha casa.
— Jean-Claude, Mestre da Cidade, meus cumprimentos. Sua hospitalidade foi além das minhas expectativas. — Ele riu em seguida, mas foi apenas uma gargalhada. Teatral e chata, mesmo sinistra, mas não fazer minha pele dar saltos.
— Diga a ele para deixar Hannah ir. — eu disse.
— Você deve ser a seva humana de Jean-Claude, Anita Blake.
— Sim, prazer em conhece-lo. Agora, diga ao seu filho para sotar a nossa vampira, ou eu vou fazer um buraco muito grande nele.
— Você não se atreveria a machucar o meu filho.
Foi a minha vez de rir, curto, abrupto, e não foi muito engraçado.
— Seu filho disse quase a mesma coisa. Vocês dois estão errados.
— Se você matar meu filho, eu mato você. Eu vou matar todos vocês.
— Bem, vamos ver se entendi. Se ele não deixá-la ir, o que ele vai fazer com ela?
Fernando riu, um som baixo e sibilante. O riso era suficiente. Em algum lugar daquele corpo lindo era pele e olhos pretos grandes, homem-rato.
— Eu vou tê-la porque o Viajante proibiu, e meu pai a deu para mim.
— Não. — disse Willie. Ele deu um passo para frente, mas Jean-Claude o deteve.
— Não, Willie, esta não é a sua luta.
Fernando escorregou a mão na virilha de Hannah. Só a mão de Jean-Claude no braço de Willie o impedia de correr para o metamorfo.
Hannah disse:
— Senhor, me ajude.
— Ele não pode te ajudar, criança. — afirmou Padma. — Ele não pode ajudar qualquer um de vocês.
Mirei dois centímetros à direita da cabeça de Fernando. O tiro ecoou na grande sala. O barulho do tiro na parede de pedra. Todo mundo gelou.
— A próxima bala vai na cabeça de Fernando.
— Você não ousaria. — Padma disse.
— Você continua dizendo isso. Vamos começar com algo simples, Mestre Fera. Fernando não vai estuprar Hannah. De jeito nenhum. Eu vou matá-lo primeiro.
— Então eu vou te matar. — afirmou Padma.
— Tudo bem, mas isso não vai trazer de volta seu filho, vai? — Deixei a respiração fora do meu corpo e senti que derramavam calma através de mim. — Decida, Mestre Fera, decida.
— Eu sou o Mestre das Feras. — disse ele.
— Eu não me importo se você é o Papai Noel. Ou ele a deixa ir, ou ele morre.
— Jean-Claude, controle a sua serva.
— Ninguém pode controlá-la, Padma, você é meu convidado. Mas tome muito cuidado. Anita não blefa. Ela vai matar o seu filho.
— Decida. — eu disse suavemente — Eu queria matá-lo, porque sabia que, tão certo como eu estava lá que se eu não o matasse agora, teria que matá-lo mais tarde. Ele era arrogante demais para deixá-lo sozinho, cego também pelo seu próprio poder para deixar Hannah sozinha, e ele não poderia tê-la. Essa era uma coisa que ele não podia esquecer e viver.
— Deixe-a ir, Fernando. — Padma disse.
— Pai. — o homem parecia chocado.
— Ela vai puxar o gatilho, Fernando. Ela quer puxá-lo. Não quer, Anita?
— Sim, eu quero.
— Balas de prata, eu presumo. — afirmou Padma.
— Nunca saia de casa sem eles. — eu disse.
— Deixe-a ir, Fernando. Mesmo eu, não posso te salvar de uma bala de prata.
— Não, ela é minha. Você prometeu.
— Eu ouviria seu pai, Fernando.— eu disse.
— Você quer me desobedecer, meu filho? — Havia um tom de voz de Padma que enviou uma onda de ar quente através da sala. O início da raiva. Algo foi arremessado sobre minha pele, um remoinho de poder, mas não era o poder vampírico, não exatamente. Ele não estava tentando controlar Jean-Claude. Tinha um gosto de sangue quente, uma dança elétrica que dizia licantropo. Que não era realmente possível. Um vampiro não pode ser um licantropo, e vice-versa.
Fernando se encolheu, agarrando Hannah como uma boneca, escondendo o rosto no cabelo amarelo.
— Não, Pai, eu nunca iria desobedecer você.
— Então faça como eu digo.
Fernando arremessou Hannah para trás. Ela lutou para chegar a Willie. Ele tomou-a nos braços, tocou o sangue em seu rosto, borrando-o com o lenço de seda.
Eu abaixei a arma.
Fernando apontou um dedo escuro para mim.
— Talvez eu peça para que você seja o meu animal de estimação.
— Fale duro, menino-rato. Vamos ver se você é homem o suficiente para suportar.— Eu o estava atraindo. Percebi que queria que ele me pegasse. Eu queria uma desculpa para matá-lo. Não é bom. Não é bom. Eu tinha que me acalmar ou iria nos matar.
O leopardo preto, começou a rastejar para mim. Vinha de barriga pelo chão, músculos tensos e ondulados. Apenas apontei a arma para ele.
— Não tente isso.
— Elizabeth. — Padma disse.
O nome me assustou. Eu tinha visto Elizabeth em forma humana uma vez, um pouco distante . Ela era uma das mulheres-leopardo local. Eu tinha presumido, até aquele momento, que os leopardos faziam parte da comitiva que Padma tinha trazido com ele. Se Elizabeth era local, o outros leopardos poderiam ser também. A única coisa que tinha certeza era que não era Zane ou Nathaniel. Fora isso, ele poderia ser qualquer um. Mas Zane reconhecendo-me como sua alfa se se salvou de estar aqui. Se Zane fosse o alfa, bater nele teria me dado todos os leopardos, e nenhum deles estaria aqui. Ou era só na teoria . Sendo meramente humana e não um licantropo, o Mestre das Feras ainda poderia ter chamado os gatinhos. Mas eu teria tentado mantê-los seguros. Gostaria de saber se Elizabeth tinha tentado.
Ela rosnou para ele, para mim, para todos. Seus dentes eram branco marfim, e estava a menos de dez metros, impressionante como o inferno. A sala era estreita, mesmo um leopardo de verdade poderia ter chegado a mim antes que eu pudesse dar um tiro. Não se costuma caçar um grande leopardo com um revólver.
O leopardo tornou a rastrear a barriga para frente.
— Elizabeth. — Essa palavra foi arremessada para fora queimando junto da minha pele e me fez dar um suspiro. O leopardo veio acima, como se ela tivesse atingido o fim de sua corrente. Ela rolou no chão, lutando, cortando o ar.
— Ela te odeia Anita. — Padma disse. Sua voz era normal agora, mas o que ele estava fazendo a mulher-leopardo ainda estava acontecendo. Eu podia sentir como formigas marchando em minha pele. Formigando e queimando minhas mãos.
Olhei para Jean-Claude, perguntando se ele podia sentir. Seu rosto estava em branco, vazio, ilegível. Se ele sentiu a dor, não mostrava.
Eu não tinha certeza se admitir que o estava sentindo seria uma boa idéia.
— Pare com isso. — eu disse.
— Ela te mataria se eu a deixasse. Você matou o que ela amou, o seu líder. Ela teria sua vingança. — Você fez o seu ponto. Deixe-a ir.
— A misericórdia para aquele que odeia tanto?
Ele deslizou para o quarto, os chinelos nos pés mal tocando o chão, como se andasse sempre com correntes minúsculas de seu próprio poder.
Eu deveria estar sentindo os seus poderes de vampiro. Mas ele estava quase imóvel, como se algo o estivesse mantendo em choque ou me protegendo. Olhei para Jean-Claude novamente. Ele era poderoso o suficiente para nos manter seguros agora? Foi o triunvirato que o ajudou? Seu rosto não me disse nada, e eu não ousei perguntar, não na frente do Mestre das Feras.
O leopardo estava a seu lado, ofegante. Ele ficou me olhando com olhos verdes pálidos, e não era um olhar amigável.
— Quando liguei para eles. — disse Padma. — Ela tentou negociar comigo. Eles não têm alfa e ainda tentaram negociar. Elizabeth traria os leopardos sem luta, para fazer o que eu gosto, se eu a deixasse te matar. Se eu os ajudasse a te matar.
O mestre acenou para as feras atrás dele, e uma mulher pequena e esbelta ficou ao lado dele, como se aguardasse ser chamada no corredor. Como um cão bem treinado. Ela estava nua, exceto por um colar que devia pesar cinco quilos e brilhava com diamantes. Sua pele era uma pálida sombra um pouco mais escura do que se diz do americano na Africa. Contusões decoravam seu rosto, correndo em manchas roxas pelo corpo. Ela era uma das mulheres mais bonitas que eu já vi, mesmo com as contusões. Era perfeitamente proporcional da cabeça aos pés delgados. Seus olhos eram castanhos, e desviaram do leopardo no chão para Jean-Claude e o homem-rato. Para frente e para trás, até que finalmente pararam em mim.
Ela implorou com os olhos, e eu não precisava de palavras para saber o que estava me dizendo, me ajude. Isso eu entendi, mas por que eu?
— Quando Elizabeth veio, trouxe os outros com ela. Vivian eu escolhi como presente para mim mesmo. — Padma afagou seus cabelos distraidamente, da mesma maneira que se faz com um cão de companhia. — Vou lhe dar um presente por todos os danos que fizer nela. Ela será rica, se sobreviver.
O ar em torno dela tremia como calor em uma estrada no verão. Apareceu outra mulher-leopardo que nunca conheci. Quantos deles estavam lá? Quantas pessoas Elizabeth tinha entregue aos maus?
— Que é isso, um turismo de estupro de pai e filho?— Eu perguntei.
Padma fechou a cara para mim.
— Estou cansado de você, Anita Blake.
— O sentimento é mútuo. — eu disse.
— Forçamos o Viajante a sair do corpo do seu hospedeiro, mas seu poder ainda os protege. Ele mantinha você distraída dos sensores vampíricos. Agora ele parece estar protegendo-a dos meus poderes. Uma pena. Você tremeria ao senti-los.
Jean-Claude tocou meu ombro levemente. O toque foi suficiente. Eu não estava aqui para uma réplica rápida com o Mestre das Feras. Matá-lo soava como uma idéia realmente boa, eu me encontrei com vampiros mais velhos que ele e não podia matá-lo com balas de prata. Seria apenas a minha sorte que Padma fosse um deles.
Padma chamou seus leopardos com ele. O amarelo enrolado em torno de seus tornozelos como um grande gato Elizabeth sentada como um cão bem treinado.
Willie e Hannah estavam alheios ao ambiente. Ele tocou-a suavemente, como se ela fosse de vidro. Eles se beijaram, um toque de lábios castos, disse tudo, a ternura, o amor. Willie e Hannah foram simplesmente feitos um para o outro . Foi lindo.
— Você vê porque dei-a a meu filho .O abuso teria causado angústia a ambos. Mas o Viajante precisava de seus corpos.
Olhei para ele. Foi ruim o bastante quando pensei que sua escolha era apenas porque Hannah era loura e linda, mas a crueldade foi deliberada e não apenas o desejo de fazer o pior.
— Seu filho da puta. — eu disse.
— Você está tentando me deixar irritado? — Padma disse.
Jean-Claude me tocou novamente.
— Anita, por favor.
Ele raramente usava meu nome verdadeiro. Quando o fazia, ou era muito grave ou algo que eu não gostaria. Desta vez foi os dois.
Não sei o que eu estava prestes a dizer, porque de repente o Viajante levantou seu escudo. O poder de Padma caiu sobre nós. Como um trovão em cima de mim, enchendo minha cabeça, lutando com cada pensamento que eu tinha. Caí de joelhos como se tivesse sido atingida por um martelo entre os olhos.
Jean-Claude ficou de pé, mas eu o senti oscilar perto de mim.
Padma riu.
— Ele não pode voltar e manter o seu escudo.
Uma voz veio como um vento através da sala. Não tinha certeza se a ouvi em voz alta ou se foi apenas na minha cabeça.
— Ela vai precisar de seus poderes no corredor. Optei por levantar o escudo. Chega de brincadeira, Padma. Deixe que ela veja o que está além. — Havia um perfume com as palavras, a terra ficou fresca, o cheiro de raízes saía do chão. Quase pude sentir o desmoronar de terra preta rica entre as minhas mãos. Apertei minhas mãos em torno da Browning até que tremeu, e eu ainda não conseguia me livrar da sensação de terra entre as mãos sobre a arma. Mesmo olhando para a arma, vendo que estava limpa, não passava.
— O que está acontecendo?— Eu perguntei. Surpresa e feliz que pudesse formar uma frase coerente.
— Eles são do conselho. — disse Jean-Claude. — Eles saíram de cena.
— Droga — eu disse.
Padma riu e olhou para mim, e eu sabia que ele estava se concentrando apenas um pouco em mim . Seu poder se abateu em cima de mim. Foi meio termo entre colocar a mão em um fio elétrico e empurrar a mesma mão no fogo. O calor elétrico comeu o meu corpo. O calor se reuniu no centro de mim. Era como um punho fechado crescendo cada vez mais, de maior dimensão. Se ele abrisse os dedos dentro de mim, iria me rasgar, me estourar de dentro para fora com apenas o seu poder. Eu gritei.

CAPÍTULO16


Um toque fresco deslizou sobre o calor. Um vento fresco e calmante como a morte, tomou conta de meu corpo. O vento jogou meu cabelo para trás do meu rosto. Uma paz abençoada encheu-me. Jean-Claude acariciou minhas mãos e os meus ombros. Ele estava ajoelhado no chão, segurando-me em seus braços. Não me lembro da queda. Sua pele era fria ao toque. Eu sabia que de alguma forma ele estava jogando duro, seu poder manteve o calor afastado. Ele estava usando seu poder para esfriar o fogo.
Essa pressão terrível dentro de mim melhorou, em seguida, encolheu. Era como se Jean-Claude fosse um vento que soprava o fogo de Padma. Mas isso lhe custou muito. Senti seu coração lento. O sangue em suas veias corria cada vez maia lento. O calor que imitava a vida o estava deixando, e a morte escoava para dentro, para preencher o seu lugar.
Me virei em seus braços para que pudesse ver seu rosto. Estava pálido e perfeito, e você nunca teria sabido, só assistindo, o que lhe custou para me salvar.
Hannah se voltou para nós, o rosto golpeado definido em linhas de calma.
— Minhas desculpas, Jean-Claude. Meu compatriota deixou o desafio de vossa serva para o seu melhor julgamento.
Willie se afastou de Hannah, sacudindo a cabeça.
— Maldito seja, maldito.
Os olhos cinzentos de Hannah voltou-se para ele, irritado.
— Não me tente, nem um pouco. Você não pode trocar insultos comigo e sobreviver.
— Willie. — disse Jean-Claude. Não havia poder na palavra, apenas uma advertência. Foi o bastante. Willie recuou.
Jean-Claude olhou para o Viajante em seu novo corpo.
— Se ele tivesse matado Anita, eu poderia ter morrido com ela. É isso o que você realmente quer? Matar-nos?
— Juro que não é. — Quando o Viajante deslizou de Willie para Hannah, foi inábil em seu salto agulha. Ele não caiu, mas não conseguia deslizar. Já era quase reconfortante. Ele não era perfeito. — Para provar a minha sinceridade. — disse ele — pegue o seu calor de sua serva. Nós não vamos parar.
— Ele empurrou-me para fora dela. — afirmou Padma. — Como você pode deixá-lo ficar forte novamente?
— Você parece estar com medo. — disse o Viajante.
— Eu não tenho medo dele. — afirmou Padma.
— Então deixe-os.
Debrucei-me no peito de Jean-Claude, descansando meu rosto contra o monte de babados de seda de sua camisa. Seu coração parou de bater. Ele nem sequer respirava. Havia usado muito de si mesmo.
Eu olhei para Padma na segurança dos braços de Jean-Claude e já sabia que ia matá-lo. Sabia que queria Padma morto. Eu senti isso. Ninguém tão poderoso como ele perdia o controle. Ele quase me matou, a nós dois, e tudo teria sido um acidente trágico. Bobagem.
A Browning estava onde eu a tinha deixado cair, mas eu gostava do poder de Padma agora. Prata poderia não ser suficiente para matá-lo. Deixá-lo ferido pareceu uma idéia muito ruim. Matar ou deixá-lo sozinho no inferno, como qualquer outro grande predador. Não foda com ele a menos que você possa terminar o trabalho.
— Alimente-se de tua serva. — Padma disse. — Eu não vou deixar você.
Disse isso com um toque de amargura. Membro do Conselho ou não, Padma temia o Viajante, ou teria lutado mais com ele. Compatriotas, mas não iguais.
Ajoelhei-me, prendendo os braços de Jean-Claude através do laço de sua jaqueta e do material bruto. Senti seus braços voltando sólidos, reais.
— O que...
Deixou-me com os dedos nos meus lábios, um toque delicado.
— Não é de sangue que eu preciso, Padma. É seu calor. É só um pouco de sangue, que o mestre deve tirar dos seus servos.
A cara de Padma estava vazia, em branco.
— Você não perdeu seu jeito de insultar sem ser insultuoso, Jean-Claude.
Olhei para Jean-Claude, apesar de estar curvado ainda era mais alto. Sua voz entrando pela minha mente.
— Sem dúvidas, ma petite, ou eles vão saber que você não é inteiramente minha.
Eu tinha um monte de perguntas. Mas se não podia fazê-las diretamente, havia outras maneiras. — Será que o Mestre das Feras tem que afundar seus caninos para impulsionar o seu coração?
— Oui, ma petite.
— Como isso é vulgar. — Eu disse. Foi um dos insultos mais civilizados que já tinha dito.
Padma sibilou para nós.
— Não teste demais minha paciência, Jean-Claude. O Viajante não é o chefe do Conselho. Você já tem muitos inimigos aqui. Pressione-me muito e eu vou forçar um voto.
— Força de um voto para que fim?— Jean-Claude perguntou. — O Viajante prometeu que você não está aqui para me matar. No que mais você votaria Mestre das Feras.
— Vamos em frente com isso, Jean-Claude. — A voz de Padma era baixa, um som que era quase um rosnado. Parecia mais animal do que vampiro.
Jean-Claude tocou meu rosto suavemente, virando-me para olhar para ele.
— Vamos mostrar ao Mestre das Feras como é feito, ma petite.
Eu realmente não gostei do som com que disse isso. Mas uma coisa é certa, Jean-Claude precisava de sua força de volta. Ele nunca seria capaz de repetir o truque de empurrar para fora um membro do conselho, estando tão frio, tão drenado.
— Faça. — eu disse. Eu tinha que confiar nele. Confiava que não iria me machucar. Confiava que não faria algo terrível ou constrangedor. E percebi que eu não confiava nele. Não importa o quanto eu amasse seu corpo, eu sabia que ele não pensava como eu. Sabia que aquilo que ele considerava correto não era necessariamente correto.
Ele sorriu.
— Eu vou tomar banho no seu calor, ma petite. Vou rodá-la em volta de mim até que meu coração bata só para você. Minha respiração vai crescer quente através do seu beijo. — Ele pegou meu rosto entre a pele refrigerada de suas mãos e me beijou.
Seus lábios de veludo, o seu toque a sua carícia . Suas mãos deslizaram até os lados do meu rosto, deslizando os dedos pelos meus cabelos, próximo ao couro cabeludo, amassando, massageando. Ele beijou minha testa e estremeceu.
Tentei beijá-lo novamente, e ele recuou.
— Lembre-se, ma petite, se algum de seus órgãos tocar meu corpo perto demais, ele irá enfraquecer. Não seja tão ansiosa para perder a doce sensação dos seus lábios esta noite.
Fui muito ainda em seus braços, pensando no que ele tinha acabado de dizer. Órgãos da pele, tocando o estritamente necessário, talvez? Mas, se alguma parte for muito tocada ou com demasiada força, a minha pele se enfraqueceria, mas apenas por esta noite. Jean-Claude era realmente muito bom em dar informações sem parecer. Fez-me pensar quantas vezes ele tinha feito isso no passado.
Empurrou o casaco dos meus ombros até que ele desligou quase até à minha cintura. Ele correu as mãos sobre a minha pele, apertando os dedos em mim. Suas mãos estavam quentes. Ele deslizou as mãos sobre o casaco, segurando meus braços com ele, mas sem pele. Ele beijou a minha boca, garganta, o rosto, esfregando o meu pescoço, meu rosto.
Ele afastou-se de mim com uma corrida rápida de respiração. Coloquei minha mão sobre seu coração, e não havia nada. Eu acariciava seu rosto, tocando o grande pulso em sua garganta. Nada. Eu queria perguntar o que estávamos fazendo de errado, mas não me atrevi. Não queria que soubessem que não fazíamos coisas como esta. Por todo o sexo que fizemos, a droga do mundo vampiro achava que pudéssemos controlá-lo.
Ele começou a desabotoar a camisa.
Eu olhei para ele, arregalei um pouco os olhos.
Ele deixou seu estômago a mostra.
Olhei para sua pele pálida.
— O que? — Eu perguntei.
— Toque-me, ma petite.
Olhei para os vampiros assistindo. Balancei minha cabeça.
— Nada de preliminares na frente deles.
— Eu poderia simplesmente tirar sangue, se você preferir. — disse ele baixinho.
Disse como se nós fizéssemos isso todas as noites. Tínhamos feito duas vezes voluntariamente, da minha parte. Uma vez foi para salvar a sua vida. E a segunda vez para salvar ele e Richard. Eu não queria doar sangue. Às vezes pensava que a sangria era mais íntima do que o sexo com um vampiro. Não quero fazer isso na frente de qualquer pessoa.
Olhei para ele até ficar com raiva. Ele estava me pedindo para fazer coisas muito íntimas na frente de estranhos. Eu não gostava disso, e ele sabia que não iria gostar. Então, por que não me avisou? Será que ele realmente pensou que teria que fazer isso esta noite?
— Ela está com raiva de você — Padma disse. — Será que ela é realmente modesta? — Ele parecia duvidoso. — Será que você não pode realmente fazer o que disse?
O corpo de Hannah tentava se equilibrar nos saltos desconhecidos.
— Você é tão fraco como sanguessuga não Padma? — O Viajante balançou a cabeça, o cabelo de Hannah deslizou sobre os ombros do vestido arruinado. — Sobre o que mais você tem blefado, Jean-Claude?
— Droga, você chamou todos. — eu disse. Enfiei minha mão dentro da camisa de Jean Claude, os dedos deslizando sobre seu estômago. Ele estava frio ao toque. Merda. Puxei sua camisa para fora das calças, não muito gentilmente, e corri as mãos sobre sua pele. Eu apertava meus dedos ao longo dos músculos das costas, e pude sentir o calor subir por minha garganta, em meu rosto. Sob outras circunstâncias, na privacidade de um quarto, tinha possibilidades. Agora, era apenas constrangedor.
Ele puxou meus braços para fora.
— Cuidado, ma petite, ou suas mãos esfriarão.
Meus dedos estavam frios como se eu estivesse fora, sem luvas. Olhei para ele por um ou dois segundos.
— Se eu não puder te tocar com as mãos, o que você me sugere usar?
Padma sugeriu algo explícito o suficiente para que eu apontasse o dedo para ele.
— Você fique fora disso.
Ele riu de mim.
— Ela é verdadeiramente envergonhada. Quão terrivelmente preciosa. Asher disse que ela era virgem antes de você. Eu não acreditei nele, até agora.
Deixei minha cabeça cair sobre meu peito. Eu não ia dizer. Não devo ao Conselho vampiro um resumo da minha vida amorosa.
Jean-Claude mão se virou para ver. Ele nunca me tocou, era apenas o movimento da mão, trouxe o meu rosto até encontrar o seu olhar.
— Eu não pediria isso de você aqui e agora, se não fosse necessário. Tem que acreditar em mim.
Olhei em seus olhos azuis, eu não acreditava nele. Estúpido, mas é verdade.
— O que você quer que eu faça?
Ele levantou os dedos até colocá-los um pouco acima de meus lábios, tão perto que se eu respirasse, ele teria me tocado.
— Use sua boca linda sobre o meu coração. Se a nossa ligação é tão forte quanto eu acredito que seja, não existem atalhos, ma petite.
Suspirei e puxei a camisa de cima, expondo seu peito. Em particular eu adorava correr minha língua sobre a cicatriz em forma de cruz de queimadura em seu peito. Mas isso não era confidencial. Pro inferno com isso.
Coloquei meus lábios contra a pele fria de seu estômago, e lambi uma linha rápida até o peito.
Ele soltou um forte silvo de respiração. Como poderia estar respirando e não ter uma batida de coração? Sem resposta a isso, mas eu já tinha visto isso antes. Vampiros que respiravam, mas não tinham pulso.
Passei a língua sobre a lisura da cicatriz, terminando com um beijo sobre seu peito. Senti meus lábios esfriando. Não era o formigamento frio do inverno, no entanto. Era exatamente como ele tinha dito. Seu corpo roubava meu calor. Minha vida se perdia nele.
Ajoelhei-me e me afastei dele, lambendo meus lábios, tentando senti-los.
— Como é isso?
Ele riu, e o som deslizou pelas minhas costas, como um cubo de gelo, esfregou de propósito e na base da minha espinha.
Estremeci.
— Você está se sentindo melhor? — eu perguntei.
Ele virou-me de repente. Deixei escapar um som de surpresa, colocou as mãos sobre meus ombros a procura de equilíbrio. Ele passou os braços nas minhas pernas e ficou olhando para mim. As pupilas de seus olhos tinham sangrado com um fogo azul brilhante.
Eu senti sua pulsação na minha garganta. Seu pulso correu pelo meu corpo. Ele me deixou deslizar lentamente através de seus braços.
— Beije-me, ma petite, para mostrar o que significamos um para o outro. Estou quente e seguro ao toque.
— Quente mas não seguro. — eu disse.
Comecei a beijá-lo em sua testa e continuei deslizando pelo seu corpo. Ele me beijou como se fosse me comer a boca. Suas presas pressionavam, duras e afiadas, ele tinha que se afastar ou tirar sangue. O beijo me deixou sem fôlego, senti um formigamento, mas não era de frio.
Percebi que ele tinha recebido um zumbido por beber no meu calor. Que ele se sentiu bem eu tive certeza, de uma forma prática. Confiei nele para fazer uma força extra.
— Agora que você tem seus plenos poderes, uma vez mais. — o Viajante disse: — Eu vou deixá-lo. Você se levantou sem a minha ajuda. Certamente você pode se defender de novo.
— Ele se superou, assim,— Padma disse.
Rosto de Hannah olhou para nós.
— Sim, ele fez. Eu não poderia esperar nada menos do mestre que matou o Terremoto. Hannah se voltou para Padma. — E ele fez o que você não pode. Recuperou o seu calor humano com sua serva sem tirar seu sangue. Um truque que qualquer mestre verdadeiro pode realizar.
— Chega disso, — afirmou Padma. Ele parecia irritado. Tendo em conta que conseguia parte de seu sangue com seu servo humano, soava verdadeiramente falso. — A noite está acabando. Agora que você está em plena forma, Jean-Claude, verifique o seu povo. Veja quem não atende ao seu chamado.
— Vou deixar você agora, Jean-Claude. Vou aguardar você depois. — De repente Hannah desmaiou. Willie a pegou e a levou suavemente para o chão.
— Verifique Jean-Claude, verifique com seu povo. — afirmou Padma. Jean-Claude ficou de pé, puxando-me com ele. Sua pupila nadava através do azul brilhante dos seus olhos. Seus olhos voltaram à cor normal. Ele olhou por mim. Eu não acho que ele estava vendo nada no quarto. Seu poder rastejou de suas mãos para minha pele. Acho que se eu não o estivesse tocando, não teria sentido coisa alguma. Um tremeluzir menor de energia, como se esta fosse uma pequena coisa para fazer.
Ele piscou e olhou para Padma.
— Damian.
Damian era um dos tenentes de Jean-Claude. Como Liv, ele tinha mais de mil anos, mas nunca seria um mestre.
Era uma quantidade assustadora de tempo para ter adquirido tão pouco poder. Não me interpretem mal, Damian era poderoso. Para um vampiro com essa idade, assustador. Por milhares de anos, ele foi um bebê. Um bebê, perigoso, carnívoro, mas Damian tinha adquirido todo o poder que poderia ter. Poderia viver até o sol se expandir e engolir a terra, e ainda assim, não ser mais poderoso do que tinha sido no crepúsculo de hoje.
Ele foi um dos poucos vampiros a me enganar completamente sobre sua idade. Eu tinha subestimado sua idade em mais da metade. Julgando pelo poder eu estava apenas começando a aprender que isso não era a única coisa a se julgar.
Jean-Claude tinha negociado sua liberdade com o velho mestre de Damian de vir aqui e servir o mestre da cidade.
— O que você fez com Damian? — Jean-Claude perguntou.
— Eu, nada, mas ele está morto? — Padma sorriu e pegou a mão de Vivian. — Essa é uma questão só você pode saber a resposta. — Ele andou pelo corredor, levando a mulher-leopardo pela mão. Vivian olhou para mim, me olhando com olhos grandes e assustados, até que se perderam de vista. O leopardo preto atrasou, me olhando.
Eu falei antes de pensar, quase por instintivo.
— Como você pode dá-la a essa coisa?
Ela rosnou para mim, contraindo a cauda.
— Você é fraca, Elizabeth. Gabriel sabia e te desprezava por isso.
Ela soltou um rugido de tosse. A voz de Padma cortou a sala como uma lâmina de faca.
— Elizabeth, venha a mim agora ou vou ficar muito irritado.
O leopardo me deu um rosnado e saiu fora de vista.
— Será que Gabriel dizia que ela era fraca, ma petite?
Eu balancei minha cabeça.
— Ela não teria trazido os outros aqui se fosse mais forte. Ele chamou e ela veio, mas deveria ter vindo sozinha.
— Talvez ela tenha feito o seu melhor, ma petite.
— Então o seu melhor não é bom o suficiente. — Olhei para cara de Jean-Claude, estava cuidadoso, ilegível. O corpo dele ainda estava calmo. Coloquei minha mão sobre seu coração por debaixo da camisa. Seu coração batia forte.
— Você acha que Damian está morto? — eu disse.
— Sei que ele está morto. — Olhou para mim. — A questão, é se isso é permanente.
— Os mortos estão mortos. — eu disse.
Ele riu e me abraçou.
— Oh, ma petite, acima de tudo você deve saber que isso não é verdade.
— Pensei que tivessem dito que não podiam nos matar hoje. — eu disse.
— Também pensei. — ele disse.
Ótimo. Toda vez que pensava que tinha entendido as regras, elas mudavam. Por que as drogas dessas regras sempre pareciam mudar para pior?

CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 17


Willie veio até nós, levando Hannah pela mão.
— Obrigado, patrão, Anita.
Havia cortes em seu rosto magro, parte da luta inicial pelo circo, eu acho. Eles já estavam se curando. Ele parecia terrível, mais morto-vivo do que o habitual.
— Você está uma droga Willie. — eu disse.
Ele sorriu para mim, mostrando suas presas. Não estava morto há três anos ainda. É preciso um pouco de prática para sorrir sem mostrar as presas.
— Estou bem. — Ele olhou para Jean-Claude. — Eu tentei impedi-los. Todos nós tentamos.
Jean-Claude tinha enfiado a camisa de volta em suas calças. Alisou as mãos na frente da camisa e tocou no ombro de Willie.
— Você lutou com o Conselho, Willie. Ganhando ou perdendo, você fez bem.
— Obrigado, Mestre.
Jean-Claude geralmente corrigia quando alguém o chamava de mestre, mas esta noite, eu acho que todos nós estávamos sendo formais.
— Vamos, nós devemos ajudar Damian. — Ele me ofereceu seu pulso, e quando eu não sabia exatamente o que ele queria, ele colocou meus dedos sobre ele.
— Você me toca como se eu estivesse tomando meu pulso, existe algum significado para isto?
— Isso mostra que você é mais do que a minha serva ou companheira de cama. Mostra que a considero como uma igual.
— O que o Conselho pensa sobre isso? — perguntei.
— Isso vai obrigá-los a negociar, não só comigo, mas com você. Vai complicar as coisas para eles e nos dar mais opções.
Eu descansei minha mão em seu pulso. O pulso estava firme sob meus dedos.
— A confusão de nossos inimigos, né?
Ele balançou a cabeça.
— Verdade, ma petite, de fato.
Eu andei ao lado dele para o corredor, minha mão direita estava no bolso da Browning, que eu tinha tirado do chão. Quando tivemos uma visão clara do corredor, o pulso de Jean-Claude acelerou sob meus dedos.
Damian estava deitado de lado enrolado em torno de uma espada. Estava encharcado de sangue ao redor da lâmina para o material escuro do colete que ele usava como camisa. A ponta saia de suas costas. Ele tinha sido cuspido. Difícil de ser cem por cento de certeza, mas parecia um sopro cardíaco.
Havia um vampiro novo ao lado dele. Segurava uma espada de dois gumes em suas mãos, apontando para baixo, como uma bengala. Eu reconheci a espada. Damian dormia com um em seu caixão.
O vampiro era alto, tinha 1,82 mt., de ombros largos. Seu cabelo cortado como uma tigela de cachos amarelos em torno de seu rosto, deixando seus ouvidos nus. Usava uma túnica branca, calça branca, branco sobre branco em camadas. Ele ficou rígido, atento como um soldado.
— Warrick. — disse Jean-Claude. — Eu espero que você escapasse da misericórdia de Yvette.
O vampiro alto olhou para nós. Seus olhos se detiveram na minha mão no pulso de Jean-Claude. Ele caiu de joelhos e segurou a espada de Damian em suas mãos. Abaixou a cabeça e a ofereceu para nós.
— Ele lutou bem. Fazia muito tempo desde que encontrei um adversário como ele. Eu esqueci e o matei. Eu não teria desejado a morte para um guerreiro. Sua morte final é uma grande perda.
— Guarde suas desculpas, Warrick. Vim aqui para salvar Damian, não para enterrá-lo.
Warrick levantou seus olhos azuis para nós.
— Mas eu perfurei seu coração. Se você fosse o mestre que o criou, haveria uma chance, mas você não pode chamá-lo de seu túmulo para a sua segunda vida.
— Eu sou o Mestre da Cidade, e Damian, fez um juramento de sangue.
Warrick colocou a espada no chão perto de Damian.
— Seu sangue pode se ligar a ele. Rezo para que seja o suficiente.
Olhei para ele. Nunca tinha ouvido um vampiro dizer que rezava. Vampiros, por razões óbvias, não rezam muito. Quer dizer, quem iria responder? Ah, sim, havia a Igreja da Vida Eterna, mas não eram mais uma religião humanista, era uma espécie de nova onda. Não tenho certeza se falavam muito sobre Deus.
Os cabelos de Damian eram quase vermelho-sangue, uma cor surpreendente na brancura de alabastro de sua pele. Eu sabia que seus olhos eram de um verde que qualquer gato teria inveja, mas esta noite seus olhos estavam fechados e, se as coisas corressem mal, eles nunca mais se abririam novamente.
Jean-Claude se ajoelhou ao lado de Damian. Colocou a mão em seu peito, perto da espada.
— Se eu tirar a espada e seu coração não bater, seus os olhos não se abrirem, então ele se foi. Uma chance, uma única chance. Nós poderíamos colocá-lo em um buraco em algum lugar por cem anos e até que a espada seja puxada para fora do seu coração, ainda haveria uma chance. Se nós fizermos isso aqui e agora, corremos o risco de perdê-lo para sempre.
Quando dura pouco a sabedoria, é porque você nunca remove uma espada do coração de um cadáver, não importa quão morto que pareça estar.
Ajoelhei-me ao lado deles.
— Existe um ritual para isso?
Ele balançou a cabeça.
— Vou chamar o juramento de sangue que ele tomou. Isso ajudará a chamá-lo de volta, mas Warrick está correto. Eu não fiz Damian. Eu não sou seu mestre verdadeiro.
— Não, ele é mais velho do que você cerca de seiscentos anos. — Olhei para o vampiro, preso na espada, deitado em uma poça de seu próprio sangue escuro. Ele usava um par de calças que combinava com seu colete. Sem a camisa sob o colete, parecia estranhamente erótico. Eu ainda podia sentir Damian na minha cabeça. Seu poder, o ritmo e o pulso de séculos fluindo por ele. Ele não estava morto, ou pelo menos não completamente morto. Eu ainda podia sentir a sua aura, algo assim.
— Eu ainda posso sentir Damian. — eu disse.
— O que quer dizer, ma petite?
Eu tinha uma compulsão horrível de tocar Damian. Queria passar as mãos sobre seus braços nus. Não era uma necrofilia, não importa o quão perto estivesse do limite. O que estava acontecendo?
— Eu posso sentir sua energia na minha cabeça. É como entrar em um cadáver fresco antes que a alma deixe o corpo. Ele ainda está intacto, eu acho.
Warrick estava olhando para mim.
— Como você pode saber isso?
Estendi a mão para Damian e parei, mãos fechadas em punhos. Minhas mãos doíam de tocá-lo, não era nada sexual, era como ver uma escultura realmente bonita. Eu queria traçar as linhas de seu corpo, para sentir o fluxo e refluxo dele. Para. . .
— O que está errado, ma petite?
Toquei meu dedo no braço de Damian, como se estivesse com medo de queimar. Minha mão deslizou sobre sua carne fresca, quase sem querer. A força do corpo de Damian fluiu através da sua pele, correndo sobre a minha mão, pelo meu braço, marchando em toda minha pele arrepiando meu corpo.
Eu engasguei.
— O que você está fazendo, ma petite? — Jean-Claude estava esfregando os braços, como se também sentisse.
Warrick estendeu a mão para mim como se estivesse segurando sua mão na frente do fogo, não tenho certeza se ele poderia ou deveria me tocar. Ele puxou de volta, esfregando a mão em suas calças.
— É verdade. É uma necromante.
— Você não viu nada ainda. — sussurrei. Virei-me para Jean-Claude. — Quando você retirar a espada, o truque será impedir o poder de sair com a abertura da ferida. Impedir, por falta de palavra melhor, sua alma de fugir, certo?
Jean-Claude estava me olhando, como se nunca tivesse me visto antes. Bom saber que ainda poderia surpreendê-lo.
— Eu não sei, ma petite. Não sou uma bruxa ou um estudante de metafísica mágico. Vou chamar o juramento, falar do ritual, e espero que ele sobreviva.
— Às vezes, quando chamo um zumbi do túmulo, é mais fácil chamá-lo uma segunda vez.
Peguei as mãos de Damian, mas isso não foi suficiente. Meu poder e a força dentro do vampiro precisavam de um toque mais imediato do que meras mãos.
— Ele não é um zumbi, ma petite.
Warrick disse que não tinha chamado Damian da sepultura, mas eu tinha. Uma vez, quase por acaso levantei três vampiros de Jean-Claude. Foi quando eu, ele e Richard invocamos o primeiro triunvirato. O poder tinha sido tão avassalador que eu tinha levantado cada cadáver perto de nós como um zumbi, mas não tinha sido muito poder. Eu alimentava os vampiros e eles subiram para mim. Necromantes formam rumores de serem capazes de chamar todos os tipos de mortos. Mas isso era lenda. Até onde eu sabia, eu era a única necromante viva que fazia esse truque especial.
— O que você está fazendo, ma petite?
Arrastei-me em torno do corpo de Damian. O sangue estava fresco na minha pele. Minha mão arrastou seu braço, sem nunca perder o contato com seu corpo, com esse poder enrolado dentro dele. O poder que ele tinha animado atravessava-me uma vez, lançava-me para fora, me machucava.
— Você está ligado a Damian, mas também está ligado a mim. Posso sentir Damian na minha cabeça. Não sei se é uma conexão, mas é algo. — eu disse.
— Você quer tirar a sua energia para ajudar a fortalecê-lo? — Jean-Claude disse.
— Sim. — Arrastei Damian para meu colo, de lado, a espada continuava fincada nele. Quando Jean-Claude viu o que eu estava fazendo, me ajudou. Eu embalava Damian ao seu lado, os ombros no meu colo, a cabeça apoiada no meu braço. Enfiei minha mão no seu peito, em busca de seu coração, e encontrei a lâmina em seu lugar. Tinham perfurado seu coração. Mesmo com a minha ajuda, mesmo com a ajuda de Jean-Claude, se ele não tivesse mais de quinhentos, estaria morto. Quinhentos parecia ser uma idade onde os vampiros ganhavam uma grande quantidade de energia. Tendo mais de mil anos, só poderia ajudá-lo. Eu podia senti-lo através do meu corpo, minha cabeça. Sentia o poder crescer, percebi que tinha virado de costas para o corredor. Era difícil pensar, mas eu disse:
— Não teremos uma trégua até ressuscitá-lo? — eu perguntei
— Creio que não, ma petite.
— Quer dizer que vão nos atacar, enquanto o salvamos? — perguntou Warrick
— Sim.
— Vou guardá-los. — disse Warrick. Ele se levantou e pegou a espada de Damian.
— Não é um conflito de interesses? — perguntei.
— Se ele não reviver, eu serei punido por matá-lo. Não é apenas uma tristeza pelo meu próprio descuido que me leva a ajudá-lo. Receio o que minha patroa vai fazer.
Jean-Claude olhou para Damian.
— Padma deseja nos matar para ficar com o poder que o triunvirato nos deu, ma petite. Agora que ele sabe que você chamou Damian de seu caixão, como um zumbi, terá mais medo de você.
— Será que Warrick vai dizer a ele?
Jean-Claude deu um sorriso gentil.
— Não há necessidade de Warrick dizer a ele, está aí Viajante?
Uma voz suspirou ao nosso redor.
— Eu estou aqui.
Olhei para o ar, para o nada.
— Seu filho da mãe, você é um espião.
Willie tropeçou. Hannah o empurrou de volta.
— Sou muitas coisas, Anita. — Willie virou-se para nós com uma chama de inteligência antiga em seus olhos. — Por que você quer reter essas informações de nós, Jean-Claude?
— Vocês nos vêem como uma ameaça sem este bocado de informação, Viajante. Pode me culpar por esconder isso de você?
Ele deu um pequeno sorriso que era ao mesmo tempo suave e condescendente.
— Não, acho que não.
Jean-Claude apertou o punho da espada. Ele colocou a mão no peito de Damian. Seus dedos tocaram minha mão.
— Você pode querer passar a mão, ma petite. A espada é afiada.
Balancei minha cabeça.
— Eu vou fazer o coração dele bater, não posso fazer isso se não o tocar.
Jean-Claude virou a cabeça para um lado, olhando para mim.
— Você prende a magia, ma petite, más se esquece de si mesmo. Pelo menos, use a mão esquerda.
Ele estava certo. A magia, por falta de uma palavra melhor, estava aumentando. Eu nunca senti meu próprio poder tão forte fora de um sacrifício de sangue. Claro, já havia muito sangue, assim nenhum outro precisaria ser derramado. Mas eu podia sentir o coração de Damian dentro do peito. Era quase como se pudesse alcançá-lo e acariciar o músculo. Eu não o via, mas sentia, e não era qualquer um. Eu não tinha palavras para isso. Não era tocar visivelmente, mas eu podia sentir a mesma coisa. Puxei minha mão direita e deixei a esquerda sobre o coração de Damian.
— Você tem certeza, ma petite?
Concordei.
Jean-Claude voltou a ficar de pé.
— Eu sou o Mestre da Cidade. Se tiver bebido meu sangue. Se minha carne tiver te tocado. Você é meu, Damian. Você se deu a mim. Venha para mim agora, Damian Rise. Venha para mim agora. Venha ao meu lado. — Ele apertou a lâmina. Eu senti a mudança em Damian, seu corpo estava desossado como os mortos.
Senti seu coração, eu o acariciei e estava frio, morto.
— Eu sou o mestre do seu coração, Damian. — disse Jean-Claude. — Eu vou lhe bater.
— Vamos tornar a bater. — eu disse. Minha voz parecia distante, estranha, não como a minha voz em tudo. O poder respirava através de mim, através de Damian, em Jean-Claude. Senti que se espalhava e sabia que cada cadáver no local sentiria a adrenalina.
— Agora. — eu sussurrei.
Jean-Claude me olhou uma última vez, depois voltou toda sua atenção para Damian. Puxou a lâmina em um movimento duro.
A essência de Damian tentou seguir a lâmina, tentou escapar através da ferida. Eu a senti deslizar afastando-se. Eu me liguei a ele, apertei sua carne morta, e isso não foi suficiente. Mudei minha mão sobre o coração. A lâmina deslizando, cortando minha mão. O sangue fresco, quente e humano, correu sobre a ferida. A coisa dentro de Damian hesitou. Ficou com o gosto do meu sangue. Foi o bastante. Eu não acariciei seu coração. Eu o esmaguei, o enchi com o poder que arrastava mais de nós.
O coração bateu contra o peito, eu senti isso nos meus ossos. Sua coluna inclinada elevou-se para fora do meu colo, jogando a cabeça. Sua boca aberta num grito silencioso. Seus olhos se abriram. Ele caiu para trás.
Ele olhou para mim, de olhos arregalados, assustado. Agarrou meu braço. Ele tentou falar e não podia após o estrondoso pulso em sua garganta . Eu podia sentir o sangue em seu corpo, a batida do seu coração, a corrida dele.
Ele se aproximou de Jean-Claude, agarrando a manga de seu casaco. Finalmente sussurrou:
— O que você fez comigo?
— Salvamos você, mon ami, te salvamos.
Damian caiu de repente. Seu corpo começou a se acalmar. Eu comecei a perder o sentido de seu pulso, o gosto do seu coração. Ele deslizou lentamente, e eu o deixei ir. Mas estava quase certa que poderia tê-lo prendido. Eu poderia ter mantido o toque e arremetida de seu corpo. Poderia ter feito a ascensão e queda ao meu toque. Estava quase certa.
Passei a mão por seu cabelo vermelho, grosso e sabia da tentação, e foi apenas levemente tingida com o sexo. Eu levantei minha mão ainda sangrando onde poderia vê-la. Não estava muito ruim, dois ou três pontos e estaria muito bem. Doeu, mas não o suficiente.
Passei de novo mão ainda sangrando através de seus cabelos. A espessura de seu cabelo deslizou através da ferida aberta, raspando. Desta vez a dor foi mais acentuada, e de repente veio mais dor e náuseas. Dor o suficiente para me trazer de volta.
Damian olhou para mim, com medo. Ele estava com medo de mim.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 18


— Minha forma continua espetacular.
Me virei com Damian ainda no meu colo. Yvette percorria o corredor vindo para nós. Ela usava estola de vison e o vestido branco, estava muito simples, muito elegante, muito Chanel. O resto da cena era pura Marquês de Sade.
Jason o lobisomem, lacaio, aperitivo e às vezes voluntário dos mortos-vivos, estava com ela. Ele estava vestido com uma cruz, calças apertadas de couro preto e rachaduras da pele mostrando suas coxas, e que parecia ser uma tira de couro que cobria sua virilha. Em torno de seu pescoço tinha uma coleira de cachorro com uma correia ligada a ela. Yvette estava segurando a correia. Hematomas marchavam pelo seu rosto, pescoço e braços. Havia cortes na parte inferior do tórax e estômago e pareciam marcas de garras. Suas mãos estavam amarradas atrás das costas, braços puxados, tão apertados ao redor de seu corpo que só podia doer.
Yvette parou cerca de oito metros de nós, posando. Empurrou Jason forte o suficiente para que ele deixasse escapar um pequeno som, forçando-o de joelhos. Ela puxou tanto a rédea que ele estava quase pendurado.
Ela passou a mão pelos cabelos loiros, arrumando-os, como se estivesse prestes a ser fotografada.
— Ele é meu, enquanto estou aqui. Você gosta do bando?
— Você pode se sentar? — Perguntei a Damian.
— Acho que sim. — Ele rolou do meu colo, sentando-se com cuidado, como se tudo não estivesse funcionando muito bem ainda.
Eu consegui ficar de pé.
— Como você está Jason?
— Estou bem. — disse ele.
Yvette apertou mais a correia, por isso ele não poderia falar. Percebi que o interior da coleira tinha pontas de metal sobre ele, asfixiar com uma coleira. Ótimo.
— Ele é meu lobo, Yvette. Meu protegido. Você não pode tê-lo. — disse Jean-Claude.
— Eu já o tinha. — disse ela. — Mas eu vou tê-lo novamente. Eu não vou machucá-lo ainda. As contusões não são minhas. Ele as conseguiu defendendo este lugar. Defendendo você. Pergunte a ele mesmo.
Ela facilitou o colar, e então a coleira em si. Jason respirou fundo e olhou para nós.
— Ela machucou você? — Jean-Claude perguntou.
— Não. — disse ele.
— Vocês mostraram grande contenção. — disse Jean-Claude. — Ou os seus gostos mudaram desde a última vez que a vi?
Ela riu.
— Oh, não, meus gostos são os mesmos que sempre foram. Vou atormentá-lo agora na frente de vocês e você será incapaz de me deter. Dessa forma eu atormento várias pessoas pelo preço de um. — Ela sorriu, parecia melhor do que no restaurante. Não tão pálida.
— Quem tinha que alimentar-se de quê? — Eu perguntei.
Os olhos dela se voltaram para mim.
— Você vai ver em breve. — Ela voltou sua atenção para Warrick. Ele não se curvou exatamente, mas de repente parecia menor, menos brilhante. — Warrick, você falhou comigo.
Warrick se colocou contra a parede, a espada de Damian ainda na mão.
— Eu não queria magoá-la, senhora.
— Oh, eu não quero isso. Está guardado enquanto eles trouxeram de volta.
— Você disse que eu seria punido se ele morresse.
— Então eu fiz, mas você realmente usou essa espada grande em mim?
Ele caiu de joelhos.
— Nenhum amante.
— Então, como você pode ajudá-los?
Warrick balançou a cabeça.
— Eu não acho...
— Você nunca faz.— Ela puxou Jason contra suas pernas, segurando seu rosto contra sua coxa. — Olhe Jason, veja o que posso fazer com meninos maus.
Warrick ficou de pé, colocando as costas na parede. Deixou cair a espada, barulhenta nas pedras. — Por favor, senhora, por favor, não faça isso.
Yvette respirou profundamente, a cabeça para trás, de olhos fechados, acariciando o rosto de Jason. Ela estava antecipando.
— O que ela vai fazer? — perguntei.
— Olhe. — foi tudo que Jean-Claude diria.
Warrick estava ajoelhado próximo o suficiente para eu tocá-lo. O que quer que estivesse prestes a acontecer, nós teríamos uma posição privilegiada. Esse era o ponto, eu suponho.
Warrick olhava para a parede agora, nos ignorando tanto quanto podia. A película branca de seus pálidos olhos azuis se propagaram, até que ficaram nublados, cego. Se não estivesse tão perto, seria muito sutil para ver.
Seus olhos caíram para dentro, desintegrando-se com a podridão. Seu rosto ainda estava perfeito, forte, heróico, como uma gravura de St. George, mas seus olhos estavam vazios, buracos apodrecendo. Um espesso pus esverdeado escorria pelo rosto, como lágrimas espessas.
— É ela que está fazendo isso com ele? — Eu perguntei.
— Sim. — Jean-Claude disse, quase demasiadamente suave para ouvir.
Warrick fez um pequeno som baixo em sua garganta. Um líquido preto emergiu de sua boca, escorrendo por seus lábios. Ele tentou gritar, e tudo o que saiu foi uma gargalhada profunda de asfixia. Ele caiu para frente, mãos e os joelhos. O pus escorria de sua boca, olhos, orelhas. Ele estava em uma poça de líquido mais espesso que o sangue.
Ela deve ser horrível, mas, como tantas vezes aconteceu com os vampiros, que apodreceram, não havia nenhum odor. Warrick vomitou seus próprios órgãos internos apodrecendo no chão.
Todos nós começamos a nos mover conforme a poça aumentava. Não queria pisar nisso. Não nos faria mal nenhum, mas mesmo os outros vampiros se afastaram dele.
Warrick caiu de lado. Sua roupa branca estava quase negra de sangue. Mas debaixo da bagunça ele ainda estava inteiro. Seu corpo estava intacto.
Sua mão se estendeu às cegas. Foi um gesto impotente. Um gesto que dizia melhor do que as palavras, que dói, e que ele ainda estava lá dentro. Ainda sentindo. Ainda pensando.
— Doce Jesus. — eu disse.
— Vocês deveriam ver o que posso fazer com meu próprio corpo.— A voz de Yvette arrastada de volta nossa atenção para ela. Ainda estava parada lá, segurando Jason contra sua perna. Ela era uma figura, branco brilhante, com exceção de sua mão. A partir do cotovelo para baixo uma podridão verde tinha sido iniciada.
Jason tinha notado. Ele começou a gritar, e ela arrancou a correia apertada. Acariciou seu rosto com a mão podre, deixando uma mancha de algo grosso, escuro e muito real.
Jason enlouqueceu. Ele tentou ficar longe dela. Ela apertou a coleira até que seu rosto ficou rosa, depois vermelho. Ele lutou. Lutou como um peixe no anzol. Seu rosto ficou arroxeado, ainda que ele não viu sua mão apodrecendo.
Jason desabou no chão. Estava prestes a engasgar-se na inconsciência.
— Ele provou os prazeres da carne podre antes com outros vampiros, não é Jason? Ele está com tanto medo. É por isso que Padma o deu a mim.— Yvette começou a diminuir a distância entre ela e o corpo inclinado de Jason. — Eu duvido que a sua mente vá sobreviver até mesmo uma noite. Não é delicioso?
— Estamos de acordo. — eu disse. Peguei a Browning do meu bolso e mostrei a ela. — Não toque nele.
— Vocês são um povo conquistado, Anita. Não compreendeu ainda? — ela perguntou.
— Conquiste isso. — eu disse. Levantei a Browning em sua direção. Jean-Claude tocou meu braço.
— Guarde a arma, ma petite.
— Não podemos deixar que ela tenha Jason.
— Ela não terá Jason. — disse ele. Olhou para Yvette no corredor.
— Jason é meu. Meu em todos os sentidos. Não vou compartilhá-lo com você, e é contra as regras da hospitalidade que você faça alguma coisa contra alguém do meu povo que possa causar danos permanentes. Pare sua mente, é contra a lei do Conselho.
— Padma não pensa assim. — disse Yvette.
— Mas você não é Padma. — Jean-Claude deslizou em direção a eles. Seu poder começou a encher o corredor como água fria.
— Você foi meu brinquedo por mais de cem anos, Jean-Claude. Acha realmente que pode ficar contra mim agora?
Senti seus coices, como uma faca impressionante, mas seu poder conhecia Jean-Claude e desbotou. Era como algo marcante na névoa. Seu poder não revidou. Foi absorvido.
Jean-Claude intensificou, quase a tocando, e puxou a correia de sua mão. Ela tocou seu rosto com sua carne apodrecida, manchando sua face com coisas piores do que o sangue.
Jean-Claude riu, e foi um som amargo, como a absorção de vidro quebrado. Doeu ouvir.
— Eu vi você no seu pior, Yvette. Não há nada de novo que possa me mostrar.
Ela deixou cair às mãos ao seu lado e ficou olhando para ele.
— Há mais delícias à frente. Padma e o Viajante o aguardam. — Ela não sabia que o Viajante já estava entre nós. O corpo de Willie permaneceu quieto, não deixando o Viajante afastado. Interessante.
Yvette levantou a mão, e estava boa e perfeita mais uma vez.
— Você foi vencido, Jean-Claude. Você só não sabe ainda.
Jean-Claude bateu nela, um borrão de velocidade tão grande que a enviou ao chão para terminar em um pacote, não tão elegante contra a parede.
— Eu posso ser conquistado, Yvette, mas não por você. Não por você.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


CAPÍTULO 19

Jean-Claude desvinculou as mãos de Jason e arrancou o colar de seu pescoço. Jason se amontoou em uma pequena bola no chão. Estava fazendo pequenos ruídos com a garganta, mais primitivos do que palavras e mais comovente.
Yvette ficou em pé em seus saltos altos e nos deixou. Warrick foi à cura, se essa era a palavra certa. Ele sentou-se, ainda coberto com os restos de seus próprios fluidos corporais, mas seus olhos eram claros e azuis, ele olhou todo.
O Viajante no corpo de Willie caminhou até ficar ao lado de Jean-Claude.
— Você me impressionou mais uma vez esta noite.
— Eu não fiz nada disso para impressionar, Viajante. Estas são as minhas pessoas. Estas são as minhas terras. Eu vou defendê-los. Não é um jogo. — Ele tirou dois lenços de algum lugar. Entregou-me um. — Para sua mão, ma petite.— E começou a limpar a sujeira do rosto de Jason com o outro lenço.
Fiquei olhando para minha mão esquerda. O sangue foi correndo em uma linha constante agradável na minha mão. Eu tinha esquecido o assunto, observando a podridão de Warrick. Alguns horrores eram pior que a dor. Peguei o pedaço de seda azul de Jean-Claude.
— Obrigada. — Enrolei a atadura improvisada em torno da ferida, mas não conseguiu amarrá-lo com uma só mão.
O Viajante tentou me ajudar a amarrar a bandagem. Eu me afastei dele.
— Estou te oferecendo ajuda, não vou prejudicar.
— Não, obrigado.
Ele sorriu, e novamente não era Willie, pensamentos passaram sobre seu rosto.
— Isto perturba tanto você quanto eu habito este corpo. Por quê?
— É meu amigo. — eu disse.
— Amizade. Você diz ter amizade com este vampiro. Ele não é nada. A alimentação não deve ser levada em conta.
— Ele não é meu amigo porque é ou não poderoso. Ele é apenas meu amigo.
— Passou-se muito tempo desde que alguém invocou a amizade na minha presença. Eles imploraram por misericórdia, mas nunca em razão da amizade.
— Ninguém mais teria pensado nisso. — disse Jean-Claude
— Ninguém mais teria sido tão ingênuo— disse o Viajante.
— É uma forma de ingenuidade. — disse Jean-Claude. — Isso é verdade, mas quanto tempo se passou Viajante? Ninguém teve a coragem de ser ingênuo perante o conselho? Eles vêm antes de você pedir o poder, a segurança, a vingança, mas não a amizade, a lealdade não. Não, ninguem pede isso ao Conselho.
A cabeça de Willie, virou para o lado de novo, como se o Viajante estivesse pensando.
— Será que ela me ofereceria amizade ou pediria por mim?
Eu comecei a responder, mas Jean-Claude respondeu a ele.
— Você pode oferecer a verdadeira amizade sem pedir nada em troca?
Abri a boca para dizer que prefiria ser amiga de um crocodilo faminto, mas Jean-Claude tocou meu braço gentilmente. Foi o bastante. Estávamos ganhando. Não é golpe.
— Amizade. — disse o Viajante. — É algo que eu realmente não tenho oferecido desde que assumi o meu lugar no Conselho.
Falei então, sem pensar primeiro.
— Isso deve ser muito solitário.
Ele riu, e foi essa mesma mistura estranha do zurro de Willie e uma risada deslizando.
— Ela é como um vento através de uma janela de tempo fechado, Jean-Claude. Mistura de cinismo, ingenuidade, e poder. — Ele tocou o meu rosto, e eu deixei. Passou a mão em concha no lado do meu rosto em um gesto quase familiar. — Ela tem um certo... Charme.
Suas mãos desciam pela minha face, dedos lentos no meu rosto. Deixou cair a mão de repente, esfregando os dedos uns contra os outros, como se estivesse tentando sentir alguma coisa invisível. Ele balançou a cabeça. — Eu e este corpo esperamos por você na sala de tortura. — Ele me respondeu antes que eu pudesse dizer não. — Não pretendo prejudicar este corpo, Anita, mas preciso disso para andar. Posso deixá-lo se houver alguém disposto a tomar o seu lugar.
Ele virou-se e olhou para o resto do grupo. Seu olhar se deteve em Damian. — Eu poderia ter um presente. Balthasar apreciaria penso eu.
Eu balancei minha cabeça.
— Não.
— Ele também é seu amigo?
Olhei para Damian.
— Não, meu amigo, não, mas ele ainda é meu.
O Viajante virou a cabeça para um lado, me encarando.
— Ele pertence a você, como? Ele é seu amante?
Balancei minha cabeça.
— Não.
— Irmão? Primo? Pai?
— Não. — eu disse.
— Então, como ele é seu..?
Eu não sei como explicar isso.
— Eu não vou dar Damian para você, para salvar Willie. Você disse isso mesmo. Você não vai machucá-lo
— E se eu fosse? Você trocaria a segurança de Damian pelo do seu amigo?
Eu balancei minha cabeça.
— Não vou debater isso com você.
— Estou apenas tentando perceber o quão importante seus amigos são para você, Anita.
Eu balancei a cabeça novamente. Não gostei para onde a conversa estava indo. Se eu disser a coisa errada, o Viajante poderia começar a cortar Willie. Pude ver isso acontecendo. Era uma armadilha, e tudo que pensei em dizer levava direto para ele.
Jean-Claude interrompeu.
— Os valores Ma petite, seus amigos.
O Viajante levantou a mão.
— Não, ela mesma deve responder. É a lealdade dela que gostaria de entender, não a sua Jean-Claude. — Olhou-me muito próximo. — Qual a importância de seus amigos para você, Anita? Responda a pergunta.
Pensei em uma resposta que não poderia levar o Viajante onde queria ir.
— Importante o suficiente para matar. — eu disse.
Seus olhos se alargaram. Sua boca aberta em espanto.
— Você está me ameaçando?
Eu dei de ombros.
— Você fez uma pergunta. Eu apenas respondi.
Ele jogou a cabeça para trás e riu.
— Oh, que um homem teria feito.
Passei bastante tempo em torno de machistas para saber que era um elogio, significava um elogio sincero. Eles nunca entenderam o insulto implícito. E enquanto não machucassem as pessoas com as quais me importava, eu não o indicaria.
— Obrigada. — eu disse.
Seu rosto mudou de imediato, o humor era como uma memória ruim. Apenas os olhos, os olhos de Willie, ainda estavam vivos, brilhantes, com uma força que rastejava ao longo de minha pele como um vento frio. Ele me ofereceu o braço como Jean-Claude tinha feito anteriormente.
Olhei para Jean-Claude. Ele deu o mais básico dos acenos. Coloquei minha mão ainda sangrando no pulso do Viajante. Seu pulso batia forte e rápido na minha mão. Parecia que a pequena ferida tinha um segundo batimento cardíaco, batendo em ritmo de seu pulso. O sangue corria mais rápido para fora do corte, chamado pelo seu poder. Ele pingou na linha do meu braço até o cotovelo, e escorreu para dentro do braço do casaco, na imersão em pano escuro. O sangue espalhado sobre o pulso em riachos carmesim. Meu sangue.
Meu coração acelerava, alimentando o medo, conduzindo o sangue mais rápido. Soube naquele momento que ele poderia estar lá e me sangrar até a morte naquela pequena ferida. Que ele podia perder todo o sangue em mim, todo o poder em mim, para fazer um ponto.
Meu coração estava batendo nos meus ouvidos. Eu sabia que deveria mover minha mão, mas eu não consegui deslocá-la, como se algo interferisse com os gritos na minha cabeça, antes que pudesse alcançar a minha mão.
Jean-Claude estendeu a mão para mim, mas o Viajante falou antes que ele pudesse nos tocar.
— Não, Jean-Claude. Reconheço-a como uma grande força se ela puder quebrar esse encanto por conta própria.
Minha voz era pastosa, apressada, como se eu tivesse sido executada, mas eu podia falar, pensar, eu não conseguia mover a minha mão.
— Como eu faço para me soltar?
Ele riu, satisfeito consigo mesmo. Acho que eu, finalmente, fiz uma pergunta que o deixou confortável.
— O que você quer? — ele perguntou.
O pulso na minha mão começou a bater mais rápido e mais rápido. O sangue começou a absorver manga do Viajante, a manga de Willie. Eu queria Willie de volta.
— Passagem segura para mim e para todo o meu povo e os amigos.
Ele jogou a cabeça para trás e caiu na gargalhada. O riso parou em meados de movimento como um filme mal feito. Ele virou seus olhos brilhantes para mim.
— Se você conseguir a ruptura deste encanto Anita, eu vou conceder-lhe o que pedir, mas se não conseguir quebrá-lo, o que eu ganho?
Era uma armadilha, e eu sabia disso, mas não sabia como sair dela. Se ele continuasse, eu perderia muito sangue, e tudo estaria acabado.
— Sangue Negro. — eu disse.
Ele sorriu.
— Eu tenho isso agora.
— A bebida disposta de mim. Você não tem isso.
— Tentador mas não o suficiente.
Manchas cinzentas foram se espalhando pela minha visão. Estava suando e vagamente nauseada. Demoraria muito tempo para perder todo o sangue, mas ele estava acelerando. Eu não poderia imaginar o que lhe oferecer. Estava tendo problemas para pensar em tudo.
— O que você quer?
Jean-Claude soltou um suspiro, como se eu tivesse dito a coisa errada.
— A verdade.
Estava caindo lentamente, e somente a mão no meu cotovelo me manteve em pé. Minha visão estava indo do cinza para grandes manchas brancas. Fiquei tonta, e ía piorar.
— Que verdade?
— Quem realmente matou o Terremoto? Diga-me e você estará livre.
Engoli em seco, e sussurrei:
— Dane-se. — Escorreguei até o chão com ele ainda me segurando, ainda sangrando. Ele se inclinou sobre mim, mas minha visão estava em ruínas, era apenas Willie. O rosto esperto e angular de Willie, com seu terno e gravata horroroso. Willie, que amava com uma devoção tão gentil que fez minha garganta apertar. Estendi a mão e toquei seu rosto, corri meus dedos através de seu cabelo penteado para trás, segurei seu queixo na minha mão, e sussurrei:
— Willie, venha a mim.
Houve um choque como um arrepio de eletricidade, eu podia ver. Meu corpo ainda estava entorpecido e distante, mas minha visão era clara. Olhei para aqueles olhos brilhantes e senti os pensamentos de Willie. Lá, bem no fundo era um grito de resposta. — Willie, venha a mim.— Minha voz era mais forte neste momento.
O Viajante disse:
— O que você está fazendo?
Eu o ignorei. Willie foi um dos vampiros eu acidentalmente chamei de seus caixões, como Damian. E talvez, só talvez, ele fosse mais do que amigo.
— Com sangue eu chamo você, Willie McCoy. E vinde a mim.
Podia sentir um terceiro batimento cardíaco na minha mão. O Viajante fez uma tentativa de sair, tentando quebrar a influência que ele tinha forjado, mas era uma faca de dois gumes. Ela cortava nos dois sentidos, e eu queria fazer o meu ponto de profundidade e afiada.
— Vinde a mim, Willie McCoy. A minha voz, minha mão, meu sangue. E responda-me. Willie McCoy, venha agora! — Eu assisti Willie se derramando dentro daqueles olhos, como água enchendo um copo. Senti o Viajante sendo forçado a sair. Eu o empurrei e bati a porta que eu não sabia que tinha na minha cabeça. No corpo de Willie. Forcei o Viajante, e ele se virou gritando na escuridão.
Willie olhou para mim, era ele novamente, mas havia um olhar em seus olhos Eu nunca tinha visto antes.
— O que você quer de mim, Mestre?
Caí no chão, chorando. Eu queria dizer: — Eu não sou o seu mestre, — mas as palavras morreram na garganta, engolido por uma escuridão de veludo que comeu a minha visão e então o mundo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


CAPÍTULO 20


Eu tinha dormido com a cabeça no colo do meu pai. Ele acariciou o meu cabelo. Me aconchegou contra o seu colo, meu rosto em repouso em sua coxa nua. Coxa nua? De repente estava acordada, me sentei antes que pudesse ver realmente alguma coisa. Jason sentou-se encostado em um muro de pedra. Foi em seu colo que acordei. Ele me deu uma versão diluída do seu habitual sorriso convidativo, mas deixou seus olhos frios e cansados. Não estava com o olhar malicioso para mim esta noite. As coisas são complicadas quando Jason pára de provocar.
Jean-Claude e Padma estavam discutindo em francês. Eles ficaram um de cada lado de uma mesa. Um homem estava com o rosto virado para baixo em uma tábua de madeira, com faixas de prata nos pulsos, tornozelos e pescoço. Faixas que foram parafusadas à própria mesa. Ele estava nu, mas estava faltando mais do que suas roupas. Todo o seu corpo estava uma bagunça crua e sangrenta. Encontrei o dono da pele na porta. A face escura e bonita de Rafael estava relaxada, inconsciente. Esperava que ele não ficasse desse jeito por muito tempo.
Rafael, o Rei dos Ratos, era chefe do segundo maior e mais forte grupo de metamorfos da cidade. Ele não era brinquedo de ninguém. Que diabos ele estava fazendo aqui, assim?
— O que Rafael está fazendo aqui? — Perguntei a Jason.
Ele me respondeu com a voz voz cansada, arrastada.
— O Mestre das Feras quer os homens-rato. Rafael não foi bastante forte para não vir quando chamado, mas foi forte o suficiente para não trazer qualquer um dos outros. Foi mais como um sacrifício. — Jason recostou a cabeça contra a parede, de olhos fechados. — Eles não podiam fazer isso com ele ou com Sylvie.
— Sylvie? — Olhei ao redor da sala. Tinha vinte por vinte, não era tão grande. Ela estava do outro lado da sala acorrentada à parede. Estava inconsciente, o peso total em seus punhos. A maior parte dela estava escondida da vista pelo quadro que Rafael acorrentado. Ela não parecia ferida.
— Por que ela está aqui?
— O Mestre das Feras chamou os lobos também. Richard não estava aqui para responder, de forma que Sylvie veio. Ela protegeu o resto de nós, assim como Rafael fez para seu povo.
— Por que Jean-Claude e os garotos maus, estão discutindo?
— O Viajante nos concedeu nossa liberdade, mas não deseja incluir Rafael no negócio. O Mestre das Feras diz que o Rei Rato não é o nosso povo, nem nosso amigo.
— É meu amigo. — eu disse.
Ele sorriu, sem abrir os olhos.
— Eu sabia que você ia dizer isso.
Apoiei meus pés contra a parede para ficar de pé. Estava um pouco instável. Caminhei para os dois vampiros que continuavam discutindo. O francês estava quente e furioso.
Jean-Claude virou para mim.
— Ma petite, você está acordada. — Seu Inglês estava bastante acentuado. Muitas vezes ficava assim depois de falar muito francês.
Padma levantou a mão.
— Não, não vá influenciá-la.
Jean-Claude deu de ombros.
— Como você quiser.
Eu queria tocar Rafael. Podia ver suas costas subindo e descendo, mas realmente não acreditaria que estava bem até poder tocá-lo. Minha mão pairava sobre ele, mas não havia quase nenhum lugar onde pudesse tocar que não causasse sofrimento. Eu finalmente toquei seu cabelo, então recuei. Não queria acordá-lo. Estar inconsciente era melhor do que qualquer outra coisa agora.
— Quer um presente para você?— Padma perguntou.
— Ele é Rafael, o Rei dos Ratos. Ele é meu amigo.
Hannah entrou pela porta aberta da masmorra. No momento em que ela apareceu, eu sabia que era o Viajante. Inclinou o seu corpo muito feminino contra a porta.
— Não se pode ser amigo de cada monstro na cidade.
Olhei para ele.
— Quer apostar?
Ele balançou a cabeça, o cabelo loiro de Hannah foi jogado para frente e para trás como em um comercial de shampoo. Ele riu, e era feminino.
— Oh, não, Anita Blake, não vou negociar com você outra vez esta noite. — Começou a descer as escadas. Havia retirado os saltos, e desceu a escada apenas de meia. — Mas haverá outras noites.
— Eu pedi passagem segura e você nos deu. — eu disse. — Você não pode nos machucar mais.
— Eu dei passagem segura somente para esta à noite, Anita.
— Não me lembro de um limite de tempo colocado em sua promessa. — disse Jean-Claude.
O Viajante acenou a objeção a distância.
— Foi entendido.
— Não por mim. — eu disse.
Ele parou do outro lado da mesa, perto de Padma. Me olhou com os olhos cinzentos de Hannah e franziu a testa.
— Qualquer pessoa teria sabido que eu queria dizer somente hoje à noite.
— Como você mesmo disse, Viajante, ela não é ninguém. — disse Jean-Claude.
— Ele é um membro do Conselho. Não pode negociar por todos. — afirmou Padma. — Ele pode nos forçar a deixá-los ir esta noite, mas o resto, não pode fazer. Não pode livrar todos vocês, sem a votação de todos aqui representados.
— Então sua promessa não significa nada. — eu disse.
— Se eu tivesse sonhado que você queria segurança permanente para todos, teria pedido mais do que simplesmente a verdade sobre a morte do Terremoto. — disse o Viajante
— Nós fizemos um acordo. Eu o mantive até o fim — eu disse.
Ele tentou cruzar os braços sobre o peito, mas teve de se contentar com sua barriga, os braços seguvam os seios. As mulheres não foram desenhadas para parecer duras. — Você me deu ainda um outro problema, Anita. Pôde parecer sábio para não ser tão problemático.
— Ameace tudo o que quiser. — eu disse — mas para esta noite, você não pode nos tocar.
— Não deixe que isso lhe suba à cabeça. — Sua voz se arrastou por um oitava, arrastando para fora da garganta de Hannah.
Fique próxima a cabeça de Rafael, querendo afagar seus cabelos e não ousei. Lágrimas pressionavam como uma mão em volta dos meus olhos.
— Soltem-no. Ele vai conosco, ou sua palavra não vale droga nenhuma, Viajante?
— Eu não vou desistir dele. — afirmou Padma.
— Você vai fazer o que eu mandar. — disse o Viajante.
Desviei os olhos do corpo massacrado de Rafael. Eu também não queria que os maus me vissem chorar. Me afastar de Rafael me deu uma visão melhor de Sylvie. O que vi me deixou paralisada.
Suas calças estavam para baixo em torno de seus tornozelos, continuava de sapatos. Dei um passo em direção a ela, depois outro. Fiquei de joelhos ao seu lado. Suas coxas estavam ensanguentada. Suas mãos apertadas em punhos, olhos espremidos apertado. Ela estava murmurando alguma coisa, muito baixinho, mais e mais. Toquei seu braço e ela se retraiu. Sua voz cresceu apenas o suficiente para eu ouvir a palavra.
— Não, não, não.— Mais e mais e mais como um mantra.
Eu estava chorando. Estava falando de colocar uma bala na cabeça de Sylvie hoje cedo. Agora, estava chorando por ela. Alguns sociopata se comportavam assim. Me virei para fora. Eu tinha meus problemas com Sylvie, mas isso. . . Ela não gosta mesmo de homens sob as melhores circunstâncias. Ele fez isso da pior forma possível, mais ofensivo. Ou talvez tenha sido isso mesmo. Lembrei-me dela, tão orgulhosa, tão confiante e cheia de si mesma. Para vê-la deste jeito, era mais do que eu podia suportar.
— Sylvie, Sylvie acorde, é Anita. — Eu quis puxar suas roupas de volta no lugar, mas tinha medo de tocá-la novamente até que tivesse certeza de que ela sabia quem era eu. — Sylvie, você pode me ouvir?
Jason veio para ficar conosco.
— Deixe-me tentar.
— Ela não vai querer que um homem a toque.
— Eu não vou tocá-la. — Ele se ajoelhou do outro lado dela. — Eu cheiro como o bando. Você não. — Ele cuidadosamente deslizou o braço na frente de seu rosto, tentando não tocá-la. — Sinta o cheiro, Sylvie. Conheça o conforto de nosso toque.
Ela deixou de dizer que não, mas sabia que era ele. Nem sequer abriu os olhos.
Levantei-me e encarei o quarto.
— Quem fez isso?
— Ela poderia ter parado a qualquer momento. — Padma disse — Se me desse o bando tudo seria mais fácil. Podia ter sido livre.
Eu gritei:
— Quem fez isso!
— Eu fiz. — afirmou Padma.
Fiquei olhando para o chão, e quando voltei a olhar para cima, estava apontando a Uzi para ele.
— Vou cortar você ao meio.
— Ma petite, você vai acertar Rafael, e talvez a mim também.
Uma metralhadora não foi feita para acertar um alvo no meio da multidão, mas ele sobreviveria a Browning. Eu balancei minha cabeça.
— Ele morre. Por causa disso, ele morre.
O Viajante ficou ao lado de Padma.
— Quer matar este corpo? — Ele estendeu as mãos e deu um passo largo em frente a Padma. —
Quer matar a amada de Willie?
Lágrimas quentes o suficientemente para escaldar escorriam pelo meu rosto.
— Você é um maldito, todos vocês são malditos.
— Padma não fez isso a sua amiga sozinho. — disse o Viajante. — Qualquer homem não qualificados pode estuprá-la, mas é preciso ser um verdadeiro artista para retirar a pele de um Metamorfo e deixá-lo vivo.
— Quem? — Minha voz estava um pouco mais calma. Eu não ia usar a metralhadora, e todos nós sabíamos disso. Guardei a Uzi, deixando-a deslizar para trás sob o casaco. Enrolei minha mão em torno da Browning e pensei nisso.
Jean-Claude começou a caminhar em minha direção. Ele me conhecia muito bem.
— Ma petite, todos nós vamos sair daqui com segurança pelo menos esta noite. Você nos deu isso. Não destrua a todos nós por vingança agora.
Fernando entrou pela porta, e eu sabia. Ele podia não ser o único, mas tinha sido um deles. Ele sorriu para mim.
— O Viajante não me deixou ficar com Hannah.
Comecei a tremer, um tremor fino que começou em meus braços e se espalhou pelos meus ombros e o resto do corpo. Eu nunca quis matar ninguém com tanta vontade como queria matá-lo neste segundo. Ele deslizou em seus pés descalços, mãos itinerantes em seu peito, brincando na linha do cabelo, que começou na barriga. Esfregando as mãos ao longo da seda de suas calças.
— Talvez eu acorrente você a uma parede. — disse ele.
Eu senti um estiramento de sorriso em meu rosto. Falei muito claramente, com muito cuidado, porque se eu não tomasse cuidado, começaria a gritar, e se perdesse o controle de minha voz, o mataria. Eu sabia que da mesma forma que estava lá.
— Quem te ajudou?
Padma parou seu filho, puxando-o para o círculo de seus braços. Vi o medo real sobre o rosto do vampiro mestre. Seu filho ainda era muito arrogante, ou estúpido demais para compreender.
— Eu mesmo fiz isso.
Um riso amargo, suficiente para me sufocar saiu de minha boca.
— Você não poderia machucá-lo tanto assim sozinho. Quem te ajudou?
O Viajante bateu no ombro de Fernando.
— Outras, outras pessoas sem nome. Se a mulher puder dizer, deixe-a. Se não, você não precisa saber. Você não vai caça-los, executora.
— Hoje não. — eu disse. O tremor foi se acalmando. Esse centro, o frio gélido da minha alma, o lugar onde eu havia dado um pedaço de mim, espalhou para fora. Eu estava calma, uma calma mortal. Poderia ter atirado em todos eles e não piscar. — Mas você mesmo disse Viajante: haverá outras noites.
Jason estava falando em voz baixa e Sylvie estava respondendo. Olhei para ela. Não estava chorando. Seu rosto estava pálido e estranhamente rígido. Jason desfez as amarras e ela deslizou para baixo da parede. Ele tentou ajudá-la a puxar as caças para cima, mas ela o empurrou.
Ajoelhei-me ao lado dela.
— Deixe-me ajudar, por favor.
Sylvie tentou puxar as calças para cima ela mesma, mas suas mãos não estavam funcionando direito. Ela continuou atrapalhada e, finalmente, caiu no chão em lágrimas.
Comecei a vesti-la, e ela me deixou. Ajudei como podia, suas mãos tremiam, ela não poderia fazer muita coisa. Não conseguia encontrar suas roupas íntimas. Tinha sumido. Sabia que ela estava usando alguma, porque Sylvie não sairia sem. Era uma senhora, e as senhoras não faziam isso.
Quando tudo estava coberto, ela finalmente encontrou meus olhos. Seu olhar castanho me fez querer desviar o meu, mas não o fiz. Se ela podia ter tanta dor em seu rosto, o mínimo que eu podia fazer era olhar para ela. Não vacilar. Eu mesmo parei de chorar.
— Eu não dei o bando a eles. — disse ela. .
— Eu sei. — disse. Eu queria tocá-la, tranquilizá-la, e estava com medo.
Ela caiu para a frente, chorando, não um choro qualquer, mas um choro de quem quer juntar os pedaços de si mesma no chão. Coloquei os braços em volta dela, hesitante. Ela cedeu contra mim, me segurando. Eu a segurei em meus braços, e a trouxe para o meu colo, embalando-a lentamente. Inclinei-me ao lado de sua orelha e sussurrei em seu ouvido.
— Ele está morto. Estão todos mortos.
Ela se acalmou devagar, então olhou para mim.
— Você jura?
— Juro.
Ela se voltou para mim e disse baixinho:
— Eu não vou matar Richard.
— Bom, porque eu odiaria ter que matá-la agora.
Ela riu e seu choro se transformou, era mais macio agora, mais silencioso, não tão desesperador.
Olhei para os outros. Os homens, os mortos e os vivos, todos estavam olhando para mim.
— Rafael vem com a gente, chega de conversa.
Padma assentiu.
— Muito bem.
Fernando virou para ele.
— Pai, você não pode deixar que ela faça isso. Os lobos, sim, mas não o Rei Rato.
— Cale-se Fernando.
— Não podemos permitir que ele viva se não se submeter.
— Você não é rato dominante suficiente para ele, não é Fernando? — eu disse. — Ele é mais forte do que você jamais será, e você o odeia por isso.
Fernando deu um passo em minha direção. Padma e o Viajante o trouxeram de volta, uma mão em cada ombro.
Jean-Claude se colocou entre nós.
— Vamos pegar o nosso caminho, ma petite. A noite cresce muito.
O Viajante afastou-se lentamente de Fernando. Não tinha certeza de quem ele menos confiava, eu ou o menino-rato. Ele começou a desapertar as correntes que prendiam Rafael no lugar. O homem-rato ainda estava inconsciente, indiferente ao seu destino.
Comecei a andar e Sylvie veio comigo. Ela tentou andar e quase caiu. Eu a peguei por um braço, e Jason pegou o outro.
Fernando riu.
Sylvie tropeçou. Parecia que tinha sido golpeada. O riso a cortou mais do que qualquer palavra. Coloquei meus lábios perto de seu ouvido.
— Ele está morto, lembre-se disso.
Ela se inclinou para mim por um momento, depois assentiu. Endireitou-se e deixou Jason ajudá-la a caminhar em direção a escada.
Jean-Claude levantou Rafael em seus braços tão delicadamente quanto podia, balançando o homem sobre seus ombros. Rafael gemeu, espasmos nas mãos, mas seus olhos continuavam fechados.
Olhei para o Viajante.
— Você precisa encontrar um outro corpo para usar como cavalo, Hannah vem com a gente.
— Claro. — disse ele.
— Agora, Viajante. — eu disse.
A arrogância espalhou por seu rosto. Era um olhar que eu nunca tinha visto no rosto de Hannah antes.
— Não deixe que um ato de bravata mágica a faça de tola, Anita.
Eu sorri e sabia que não era agradável. Era amargo e arrogante e com raiva.
— Minha paciência foi toda essa noite, Viajante. Saia dela agora, ou...— Enfiei a Browning na virilha de Fernando. Todos estavam amontoados tão perto.
Os olhos de Fernando se arregalaram, mas ele não estava com tanto medo quanto deveria. Acionei o tambor do revólver, faz a maioria dos homens tremerem. Ele deu um grunhido pequeno, mas se inclinou para mim. Ele estava vindo para tentar me beijar.
Eu ri enquanto seus lábios pairavam sobre a minha boca, e pressionei a arma em seu corpo. Foi o riso e não a arma, que o fez recuar.
Hannah desabou de joelhos. O Viajante tinha ido. Precisava de alguém para ajudá-la a subir a escada. Pensei em Willie e ele veio. Ele a ajudou sem olhar para mim. Mantive meus olhos sobre os maus. Um problema de cada vez.
— Por que você está rindo? — Fernando perguntou.
— Porque você é muito estúpido para sobreviver. — Recuei a partir deles, a arma ainda apontada para ele. — Ele é seu único filho? — Eu perguntei a Padma.
— Meu único filho.
— Meus pêsames. — eu disse. Não, eu não atirei nele. Mas olhando para os olhos irritados de Fernando, eu sabia que haveria outras oportunidades. Algumas pessoas buscam a morte através do desespero. Algumas pessoas caem para fora da estupidez. Se Fernando queria cair, eu estava mais do que feliz em acompanhá-lo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 21


Rafael estava em uma mesa de exame. Nós não estávamos no hospital. Os licantropos tinham um pronto-socorro improvisado no porão de um edifício que eles possuíam. Eu tinha tratado minhas próprias feridas lá uma vez. Agora, Rafael estava deitado, ligado a uma intra-venosa carregada com produtos líquidos e analgésicos. Analgésicos nem sempre funcionam bem em licantropos mas hey, eles tinham que tentar alguma coisa. Ele recuperou a consciência no jipe. Não gritou, mas um pequeno lamento saia de sua garganta cada vez que eu balançava o carro.
A Dra. Lillian era uma mulher pequena com sal e pimenta, seu cabelo cortado no estilo nonsense. Ela também era uma mulher-rato. Ela se virou para mim.
— Eu o deixei tão confortável quanto pude.
— Será que ele vai se curar?
Ela concordou.
— Sim, o perigo real deste tipo de ferimento é que, se você sobreviver ao choque e a perda de sangue, pode pegar uma infecção. Nós não podemos ter infecções.
— Vamos ouvi-lo sob a pele. — , eu disse.
Ela sorriu e me deu um tapinha no ombro.
— Eu sei que o humor é a sua maneira de lidar com o estresse, mas não faça isso esta noite, Rafael quer falar com você.
— Ele está...?
— Bem o suficiente, não, mas ele é meu rei e não me deixa ajudá-lo até que fale com você. Vou olhar nossos outros pacientes enquanto você ouve o que ele pensa ser tão importante.
Toquei seu braço antes que ela pudesse passar por mim.
— Como está Sylvie?
Lillian não olhou para mim, então finalmente ela o fez.
— Fisicamente, ela vai se curar, mas eu não sou um terapeuta. Não estou preparada para lidar com sequelas de um ataque como este. Eu quero que ela fique aqui durante a noite, mas ela insiste em ir com você.
Meus olhos se arregalaram.
— Por quê?
Lillian deu de ombros.
— Eu acho que ela se sente segura com você. Acho que ela não sente o mesmo aqui. — A mulher mais velha de repente, olhou muito atentamente para o meu rosto. — Existe uma razão pela qual ela não deva se sentir segura aqui?
Eu pensei sobre isso.
— Tem algum homem-leopardo sendo tratado aqui?
— Sim. — disse ela.
— Maldição.
— Por que isso importa? Este é um lugar neutro. Todos nós concordamos com isso.
Balancei minha cabeça.
— Por esta noite todos estão seguros, mas qualquer coisa que Elizabeth saiba o Mestre das Feras também sabe. Amanhã isso pode não ser um porto seguro.
— Vocês têm certeza? — perguntou ela.
— Não, mas eu não sei ao certo se você estará segura também.
Ela concordou.
— Muito bem. Leve Sylvie com você então, mas Rafael deve ficar aqui pelo menos por uma noite. Vou fazer planos para movê-lo até amanhã. — Ela olhou ao redor de todo o equipamento médico. — Não podemos ter tudo, mas faremos o que pudermos. Agora vá falar com o nosso rei. — Ela saiu da sala.
De repente eu estava sozinha no silêncio da sala. Olhei para Rafael. Eles improvisaram uma espécie de tenda com um lençol sobre seu corpo, isso o cobria más não o tocava. A pele nua estava coberta de pomada, mas não bandagens. Qualquer coisa que pudesse colocar, o machucaria. Eles o estavam tratando como uma espécie de queimadura. Não sabia tudo o que tinha feito para tratá-lo porque eu estava costurando a minha mão.
Andei ao redor da mesa para que Rafael não movesse a cabeça para olhar para mim. Mexer era ruim. Seus olhos estavam fechados, mas sua respiração era rápida e irregular. Ele não estava dormindo.
— Lillian disse que queria falar comigo.
Ele piscou e olhou para mim. Seus olhos se moviam em um ângulo estranho. Tentou mover a cabeça, e um som veio de baixo no peito. Eu nunca tinha ouvido um som parecido. Não queria ouvi-lo novamente.
— Não se mova, por favor. — Achei um banquinho com rodas e o trouxe. Comigo sentado, estávamos quase a mesma altura. — Você precisa deixar Lillian te tratar e tomar os remédios. Precisa dormir se puder.
— Primeiro, preciso saber como você me libertou. — Ele respirou profundamente, e a dor passou sobre seu rosto.
Olhei para fora e depois de volta para ele. Não vacilei.
— Eu esperaria o mesmo de você.
— O que...— Suas mãos convulsionaram, e ele fechou os lábios carnudos em uma linha apertada Quando falou novamente, sua voz era mais baixa, mais cuidadosa, como se falar ainda fosse doer.
— Do que você desistiu por mim?
— De nada.
— Eles não iriam me libertar tão facilmente.
Rafael olhou para mim, seus olhos escuros querendo a verdade. Ele pensou que eu estava mentindo, que era porque ele não podia descansar. Pensou que eu tivesse feito algo nobre e terrível para salvá-lo.
Suspirei e disse-lhe uma versão muito resumida da noite. Era a maneira mais fácil de explicar.
— Veja, consegui incluí-lo sem qualquer custo e o joguei para dentro.
Ele quase sorriu.
— Os homens-rato se lembrarão do que você fez hoje à noite, Anita. Eu vou lembrar.
— Talvez não façamos compras juntos, mas você é meu amigo, Rafael. Eu sei que se eu precisar de ajuda, você virá.
— Sim — disse ele. — Sim, eu faria isso.
Eu sorri para ele.
— Vou pedir para Lillian começar o tratamento agora, ok?
Ele fechou os olhos e algum pedaço de tensão fluía fora dele. Era quase como se pudesse finalmente se entregar à dor.
— Sim, sim.
Enviei Lillian a ele e corri para encontrar Sylvie. Ela estava em uma pequena sala onde Lillian tinha esperança que pudesse dormir um pouco. Sylvie tinha sido acompanhada por sua amiga, amante ou o que quer que seja. Jason a tinha chamado. Eu não sabia que ela existia. A voz de Gwen veio de forma muito clara pelo corredor.
— Você tem que dizer a ela, Sylvie, você precisa.
Eu não podia ouvir a resposta de Sylvie, mas então meus saltos fizeram barulho. Elas sabiam que eu estava chegando. Entrei pela porta aberta para encontrar Gwen olhando para mim, e Sylvie decididamente não. O travesseiro branco emoldurava seu cabelo muito curto, encaracolado e castanho. Era três centímetros mais alta do que eu, mas tinha um olhar frágil na cama pequena.
Gwen sentada em uma cadeira de encosto reto ao lado da cama, segurando a mão de Sylvie,
Acenou suavemente para mim com seus grandes olhos castanhos em um rosto delicado. Tudo nela era delicado, feminino, como uma boneca pálida, finamente desenhada. Mas a intensidade em seu rosto, a inteligência em seus olhos, era uma coisa vibrante. Gwen era uma psicóloga. Ela seria uma pessoa atraente, mesmo sem o fio de energia dos licantropos que arrastava ao seu redor como perfume.
— O que você precisa me dizer? — Eu disse.
— Como você sabe que estava me referindo a você? — Gwen disse.
— Chame de palpite.
Ela acariciou a mão de Sylvie.
— Diga a ela.
Sylvie virou a cabeça, ainda não queria encontrar meus olhos. Debrucei-me contra a parede e esperei. A metralhadora pressionava minhas costas, obrigando-me a inclinar os ombros contra a parede.
Por que eu não tinha deixado algumas das armas fora? Coloque mais uma arma em algum lugar, e é aí que você vai precisar dela. Confiei que o Viajante manteria sua palavra, mas não o suficiente para apostar minha vida nisso.
O silêncio na pequena sala era tão grande que deixava o barulho do ar condicionador zunindo no ouvido. Sylvie finalmente olhou para mim.
— O Mestre das Feras ordenou ao irmão de Stephen que me estuprasse. — Ela olhou para baixo, depois novamente para mim, derramando raiva em seus olhos. — Gregory recusou.
Eu não me preocupei em esconder a surpresa em meu rosto.
— Eu pensei que Gregory fosse uma das estrelas de filmes pornô de Raina.
— Ele era. — disse Sylvie suavemente.
Eu queria perguntar “era”, desde quando ela começou a andar com paninhos quentes, mas isso pareceria bruto.
— Será que de repente lhe cresceu uma consciência? — Eu perguntei.
— Eu não sei. — Ela estava olhando para a porta, segurando as mãos de Gwen como se o pior ainda estivesse por vir. — Ele se recusou a ajudar a me torturar. O Mestre das Feras disse que iria puni-lo. Ainda assim, Gregory recusou. Zane disse a ele que você era sua nova alfa. Que todos os negócios feitos através Elizabeth não eram vinculados. Que ele era necessário para lidar com eles.


Sylvie retirou sua mão da de Gwen e olhou para mim. Seus olhos castanhos estavam furiosos, mas não era de mim que estava com raiva.
— Você não pode ser o seu líder e nossa lupa. Não pode ser ambos. Ele estava mentindo.
Suspirei.
—Temo que não.
— Mas, como...
— Olha, é tarde, e estamos todos cansados. Vamos fazer a versão curta. Matei Gabriel, e isso tecnicamente que me fez ser o líder dos homens-leopardo. Zane me reconheceu como líder depois que coloquei duas balas nele.
— Por que você não o matou? — Sylvie pediu.
— É uma espécie de culpa minha. Eu não entendia o que deixá-los sem um líder queria dizer. Alguém deveria ter me dito que eram carne para qualquer um sem um líder.
— Eu queria que eles sofressem. — disse Sylvie.
— Me disseram que queria todos mortos, que se você tivesse poder, o bando teria caçado e matado todos eles.
— Sim — ela disse, — sim — Eu quero todos eles mortos.
— Eu sei que eles ajudaram a puni-la, e a outros membros da matilha.
Ela balançou a cabeça, as mãos na frente de seus olhos. Levei um segundo para perceber que estava chorando.
— Você não entende. Tem um filme de mim lá fora. Um filme dos leopardos me violando. — Ela abaixou as mãos e me olhou com olhos cheios de lágrimas. A raiva e a dor em seu rosto estavam cru. — Eu fui abertamente contra Raina e Marcus. Esse foi o meu castigo. Raina queria fazer de mim um exemplo para os outros. Todo mundo ficou com medo depois disso.
Abri a boca, fechei, então disse:
— Eu não sabia.
— Agora você vê porque eu quero todos mortos?
— Sim. — eu disse.
— Gregory já me estuprou uma vez. Por que não faria isso novamente? Por que se recusou a me machucar essa noite?
— Se ele realmente pensa que sou sua líder, então sabe o que eu faria com ele.
— Você quis dizer no quarto? Quis dizer matar todos eles?
— Ah, sim. — eu disse — eu quis dizer isso.
— Então, Gregory estava certo.
Eu fiz uma careta para ela.
— O que você quer dizer?
— Ele disse que era sua Lionne léoparde, seu leopardo dominante.
— Eu não sei o termo. — eu disse.
Gwen respondeu.
— Léoparde lionne é uma expressão da língua heráldica francesa. É um leopardo, ou mesmo um leão dominante em ação no topo . Simboliza guerreiros corajosos e generosos, ter feito algum ato corajoso. Nesse caso, significa um protetor, até mesmo um vingador. Gabriel era um leão caçador, um leão adormecido. Conduziu mas não protegeu. Com efeito, Gregory não se limitou a não machucar Sylvie, ele também disse ao Mestre das Feras que se o machucassem, você iria salvá-lo.
— Como eu posso ser seu Léoparde ou o que você chamou se não sou um leopardo?
— Léoparde lionne. — disse Sylvie. — Como você pode ser nossa Lupa e não ser loba, nem mesmo a amante de nosso Ulfric?
Assim ela me pegou.
Novas lágrimas escorriam pelo rosto de Sylvie.
— Padma tentou fazer a mesma coisa com Vivian, seu animal de estimação pessoal, enquanto está aqui, para fazer coisas para mim. Disse que eu gostava de mulheres, e talvez de soltar a língua. Ela se recusou, e deu a mesma razão que Gregory.
Lembrei-me de Vivian me olhando com olhos assustados pedindo para eu ajudá-la.
— Droga, você quer dizer que ela realmente espera que eu vá resgata-la hoje a noite?
Sylvie apenas balançou a cabeça. Gwen disse,
— Sim.
— Droga.
— Eu honestamente não pensei nisso até entrarmos no jipe. Juro que não pensei nisso antes — disse Sylvie. — Mas eu não disse nada, porque eu queria que eles sofressem. Não consigo parar de odiá-los. Você entende?
Eu concordei.
— Sylvie, você e eu temos uma coisa em comum. Nós duas somos vingativas como o inferno. Então, sim, eu compreendo, mas não podemos deixá-los lá, eles estão esperando para serem salvos.
Ela enxugou as lágrimas.
— Você não pode lutar com eles esta noite. Não podemos fazer mais nada esta noite.
— Eu não estou a planejando brigar esta noite, Sylvie.
— Mas você está planejando algo.— Ela parecia preocupada.
Eu sorri.
— Sim.
— Não seja tola, Anita.
Eu balancei minha cabeça.
— Tola. Estou muito além de tola. — Parei na porta e me virei para trás. — Pelo menos Sylvie, não conteste Richard, nunca.
Os olhos dela se arregalaram.
— Como você sabe?
Eu dei de ombros.
— Não importa. O que realmente importa é que eu vou matá-la se você matá-lo.
— Seria uma luta justa.
— Eu não me importo.
— Você não o tem visto, Anita. Ele é do bando. Você pode me proibir de desafiá-lo, mas há outros, e eles não serão tão bons para o bando como eu sou.
— Então, torne-se um cartão de visita em branco — eu disse. — Se alguém matar Richard, eu vou executá-lo. Nenhum desafio, nenhuma luta justa, eu vou levá-los para fora.
— Você não pode fazer isso. — disse Sylvie.
— Ah, eu acho que posso. Eu sou sua lupa, lembra.
— Se você proibir as lutas de sucessão, — Gwen disse, — estará minando Richard. Você está dizendo que na verdade, não acredita que ele possa realmente levar o bando.
— Foi dito por dois membros do bando, hoje, que Richard está fora de controle, malditamente perto do suicídio. Que puxou seu ódio, sua aversão pelo seu animal, e minha rejeição, baixo em torno de suas orelhas. Não vou deixá-lo morrer, porque escolhi outra pessoa. Em poucos meses, quando ele estiver saudável, então vou descer. Vou deixá-lo cuidar de si mesmo, mas não agora.
— Vou passar suas palavras ao bando. — disse Gwen.
— Faça isso.
— Você está indo buscar os leopardos esta noite, não é? — Sylvie disse.
Olhei as marcas no corpo de Vivian. O medo em seus olhos.
— Eles esperavam que eu vá salvá-los, e eu vou.
— Você não sabe. — disse Gwen.
— Eu sei disso agora. — eu disse.
— Você não pode salvar a todos. — disse Sylvie.
— Todo mundo precisa de um hobby. — Comecei a andar novamente, mas Gwen me chamou de volta.
Virei-me na porta.
— Diga o resto a ela. — Gwen disse suavemente.
Sylvie não olhava para mim. Ela falou, olhando para baixo.
— Quando Vivian se recusou a me machucar, eles chamavam Liv. — Ela olhou para cima, com lágrimas nos olhos brilhantes. — Ela usou coisas em mim. Fez coisas para mim.— Sylvie cobriu o rosto com as mãos e rolou para o lado dela, chorando.
Gwen encontrou meus olhos. A expressão em seu rosto era assustador no seu ódio.
— Você precisa saber quem matar.
Concordei.
— Ela não vai deixar de St. Louis viva.
— E o outro? O filho do membro do conselho? — Gwen perguntou.
— Ele já está morto, eu disse.
— Prometa. — ela disse.
— Eu já prometi. — eu disse. Saí em seguida, em busca de um telefone. Queria falar com Jean-Claude antes de mais nada. Jean-Claude levou todas as pessoas para minha casa. Eles selaram até as janelas do porão para que os vampiros pudessem dormir em segurança antes do amanhecer. O Viajante se recusou a deixá-los tomar seus caixões. Além disso, você já tentou alugar um caminhão durante a semana, depois da meia-noite?
O que eu ia fazer sobre os homens-leopardo? Dane-se se eu sabia..

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 22


A voz de Jean-Claude flutuou sobre o telefone, meu telefone, minha casa. Ele nunca estivera lá antes.
— O que aconteceu, ma petite? Jason me disse que é urgente.
Contei-lhe sobre os homens-leopardo.
Ele ficou quieto por muito tempo. Eu tinha que dizer alguma coisa.
— Fale comigo Jean-Claude.
— Você está realmente pensando em pôr em perigo todos nós por causa de duas pessoas, uma das quais você nunca viu antes, e o outro que você descreveu certa vez como um desperdício de pele?
— Não posso deixá-los lá, eles esperavam que eu vá ajudá-los.
— Ma petite, ma petite, você tem um sentimento nobre que não lhe dá crédito. Mas não podemos salvá-los. Amanhã à noite o Conselho virá para nós, e não seremos capazes de salvar a nós mesmos.
— Eles estão aqui para nos matar?
— Padma nos mataria se pudesse. Ele é o mais fraco do Conselho. E eu acho que ele tem medo de nós.
— O Viajante é aquele que temos de convencer— Eu disse.
— Não, ma petite, são sete Conselheiros, sempre um número ímpar para que a votação possa resolver a questão. Padma e o Viajante vão votar um contra o outro, isso é verdade. Tem sido assim durante séculos. Yvette está aqui para votar no lugar de seu Senhor, Morte d'Amour. Ela odeia Padma, mas pode me odiar mais. Aliás, Baltasar poderia persuadir o Viajante contra nós, e estaríamos perdidos.
— E os outros? Será que eles não são representados por ninguém?
— Asher fala por Belle Morte. Morte bonita. É de sua linha que eu sou descendente, assim como ele é.
— Ele odeia a sua coragem. — eu disse. — Estamos perdidos.
— Acredito que a escolha de quarto conselheiros foi muito deliberado. Desejam que eu tome uma cadeira no Conselho, assim eu seria o quinto voto.
— Se o Viajante votar a seu favor, e Yvette odiar Padma mais do que ela te odeia...
— Ma petite, se eu agir como um membro votante, então eles esperam que eu volte para a França e tome meu lugar no Conselho.
— A França? — Eu disse.
Ele riu, e seu riso escorregou sobre o telefone como um toque.
— A idéia de deixar a nossa cidade que me assusta, ma petite. Ela está segurando o assento. Se o triunvirato estiver completamente formado, talvez, seja possível que pareça assustador o suficiente para forçar nossos adversários a escolher outro.
— Você está dizendo que sem a quarta marca, o triunvirato é inútil?
Fez-se um silêncio tão longo e profundo, que eu disse:
— Jean-Claude?
— Estou aqui, ma petite. A quarta marca não vai fazer nosso triunvirato funcional a menos que Richard se cure.
— Quer dizer seu ódio de mim?
— Sua inveja por estarmos juntos, sim, isso é um problema, mas não é o único, ma petite. Seu ódio por seu animal é tão intenso, que o enfraquece. Enfraquece qualquer elo de uma cadeia e ele pode agarrar.
— Você sabe sobre o que vem acontecendo no bando?
— Richard proibiu qualquer um dos lobos de me dizer qualquer coisa sem a sua permissão. Acredito que estão sob a mesma restrição. Trata-se de nenhum dos meus negócios proibidos.
— Estou surpresa que você não force Jason a te dizer mesmo assim.
— Você tem visto Richard?
— Não.
— Eu tenho. Ele está na beira do precipício, ma petite. Não preciso que Jason me diga. É evidente para todos. Seu tormento será visto como uma fraqueza entre o bando. Fraqueza para os lobos é como sangue para um. .. vampiro. Eles irão desafiá-lo, eventualmente.
— Dois lukois me disseram que acham que Richard vai lutar. Que vai apenas deixar alguém matá-lo. Você acredita nisso?
— Pode cometer suicídio simplesmente não se defendendo o bastante. Hmm. — Ele ficou quieto novamente, então finalmente disse, — Eu não tinha pensado em tal coisa. Se eu tivesse, ma petite, teria lhe dito sobre as minhas preocupações. Eu não desejo mal a Richard.
— Sim, certo.
— Ele é o nosso terceiro, ma petite. É do meu próprio interesse, mantê-lo saudável e feliz. Eu preciso dele.
— Como você precisa de mim? — disse.
Ele riu baixo e profundamente, e ainda pelo telefone eu podia sentir cócegas ao longo do meu corpo.
— Oui, ma petite. Richard não deve morrer. Mas, para curar seu desespero, ele deve abraçar sua besta. Eu não posso ajudá-lo a fazer isso. Eu tentei e ele não me ouviu. Ele só faz o necessário para não invadir seus sonhos, além disso, ele não quer nada de nós. Nada vai admitir que eu o ajude.
— O que isso quer dizer? — perguntei.
— É da sua misericórdia que ele precisa, ma petite, não a minha.
— Misericórdia?
— Se você puder aceitar sua besta completamente, isso significaria algo para ele.
— Eu não posso, Jean-Claude. Eu gostaria, mas não posso. Eu o vi comer Marcus. Eu...
Eu vi Richard aquela vez. Ele havia sido ferido em combate com Marcus. Entrou em colapso comigo debaixo dele. Eu estava presa sob ele enquanto sua pele mudava, músculos se formando e se deslocados,e quebrando seus ossos transformando-o em uma criatura . Um líquido claro jorrou de seu corpo, se derramando sobre mim em uma onda quase escaldante. Talvez se eu tivesse acabado de ver, teria sido diferente. Mas, presa debaixo dele, sentindo o corpo dele fazer as coisas em cima de mim que os corpos não foram feitos para fazer. . . tinha sido demais. Se Richard tivesse me tratado de forma diferente, eu teria visto a mudança de uma forma agradável calma à distância, até então me preparando para a mudança, talvez.... talvez. Mas isso tinha acontecido, e eu não conseguia esquecer. Eu poderia fechar os olhos e ver a sua forma de lobo engolindo um pedaço, vermelho sangrento de Marcus.
Debrucei as costas contra a parede, segurando o telefone. Eu estava balançando ligeiramente. Isso me lembrou de Jason no corredor. Eu me fiz ficar quieta. Queria esquecer. Queria ser capaz de aceitar Richard. Mas não podia.
— Ma petite, você está bem?
— Tudo bem, eu estou bem.
Jean-Claude ficou em silêncio. Estava realmente ficando mais inteligentes, pelo menos sobre mim.
— Eu não quero te causar angústia.
— Eu tenho feito o que posso por Richard dentro do meu limite.
Eu disse a Jean-Claude o que eu falei aos lobisomens.
— Você me surpreende, ma petite. Pensei que você não queria mais nada com o lukoi.
— Não quero morrer porque quebrei o coração de Richard.
— Você se sentiria responsável se ele morresse agora, não é?
— Sim.
Ele respirou fundo e deixei o suspiro sobre o telefone. Isso me fez estremecer, sem nenhuma razão em particular.
— O quanto você deseja ajudar os homens leopardos?
— Que tipo de pergunta é essa?
— Um elemento importante. — disse ele. — O que você está disposta a arriscar por eles? O que você arriscaria por eles?
— Você tem algo específico em mente, não é?
— Padma poderia desistir de Vivian em troca de uma liberdade. Gregory poderia ser vencido se nós lhes dermos Jason.
— Estou vendo que você não está negociando sobre si mesmo. — eu disse.
— Padma não me quer, ma petite. Ele não é um amante dos homens, nem de outros vampiros, em particular. Ele prefere seus companheiros quentes e mulheres.
— Por que Jason, então?
— Um lobisomem por um homem-leopardo, poderia ser uma troca aceitável para ele.
— Não é para mim. Não estamos negociando um refém por outro, e eu certamente não estou me dando a esse monstro.
— Como vê, ma petite, você não vai aguentar isso. Você corre o risco de não salvar Jason ou Gregory. Pergunto novamente, qual será o risco para eles?
— Vou arriscar a minha vida, mas só se tiver uma boa chance de sair viva. Nada de sexo, absolutamente não. Reféns no comércio de um para outro. Ninguém fica esfolado vivo ou estuprado. Como colocar os parâmetros?
— Padma e Fernando ficarão desapontados, mas os outros podem concordar. Vou fazer o melhor que posso dentro dos limites que você me deu.
— Sem estupro, sem mutilações, sem ligação reais, sem reféns, isso realmente amarra tanto suas mãos?
— Se sobrevivermos a tudo isso, ma petite, e quando o Conselho tiver ido para casa, vou conta- lhe histórias do meu tempo na corte. Tenho visto espetáculos que, mesmo falando te daria pesadelos.
— É bom saber que você pensa que podemos sobreviver.
— Tenho esperança, sim.
— Mas não está certo. — eu disse.
— Nada é certo, ma petite, nem mesmo a morte.
Ele tinha razão. Meu bip disparou. Dei um suspiro de surpresa. Nervosa, quem eu?
— Está tudo bem, ma petite?
— Meu bip disparou. — eu disse. Verifiquei o número. Era Dolph. — É a polícia, preciso retornar a ligação.
— Vou começar as negociações com o conselho, ma petite. Se pedirem muito, vou deixar seus leopardos onde estão.
— Padma matará Vivian agora que pensar que ela pertence a mim. Ele poderia tê-la matado antes, mas teria sido por acaso. Se não tirá-la de lá, ele vai fazer isso de propósito.
— Um único encontro com ele e você está tão certa disso?
— Você acha que estou errada?
— Não, ma petite, acho que você está exatamente certa.
— Tire-os de lá, Jean-Claude. Faça o melhor negócio que poder.
— Tenho a sua permissão para usar seu nome nesta história?
— Sim. — Meu bip disparou pela segunda vez. Dolph, impaciente, como de costume. — Eu tenho que ir, Jean-Claude.
— Muito bem, ma petite. Vou negociar por todos nós, então.
— Faça isso. — eu disse. — Espere...
— Sim, ma petite.
— Você não vai voltar para o circo hoje à noite, não é? Não quero você lá sozinho. — eu disse.
— Vou usar o telefone, se preferir. — ele disse.
— Eu prefiro.
— Você não confia neles? — disse ele.
— Nem um pouco.
— Sensato além da sua idade, ma petite.
— Duvidoso além da minha idade, você quer dizer.
— Está bem, ma petite. E se não negociarem por telefone? — ele perguntou.
— Então deixe-os ir.
— Você disse que estava disposta a arriscar sua vida, ma petite.
— Eu não disse que estava disposta a arriscar a sua.
— Ah. — disse ele. — Je t'aime, ma petite.
— Eu também te amo. — eu disse.
Ele desligou primeiro, e liguei para a polícia. Estava aqui esperando o que Dolph tinha em mente, era um bom trabalho da polícia, e muito simples. Sim, claro.

 

CAPÍTULO 23


A vítima havia já tinha sido levada para um hospital quando chegamos ao bar Sacrifícios Infernais. É um dos meus favoritos, o mais recente negócio dos vampiros. Era muito longe da zona dos vampiros. As outras empresas estavam a milhas de distância. Quando você entra pela porta há um cartaz de um filme de 1970 Sacrifícios Infernais, com Oliver Reed e Bette Davis olhando para você. Havia uma estátua de cera em tamanho real de Christopher Lee como Drácula no bar. Havia uma parede com caricaturas emolduradas de estrelas do horror dos anos sessenta e setenta, do chão ao teto, há mesas que permitem obstruir a vista. Não era raro ver grupos de visitantes tentando identificar quem era quem. À meia-noite adivinha quem tinha um jantar grátis para duas pessoas.
O lugar estava limpo. Alguns dos garçons eram vampiros reais, mas outros eram apenas figurantes. Para alguns, era apenas um trabalho, especializados em dentes de plástico, Halloween e piadas. Para outros era a chance de fingir. Eles tinham dentaduras sobre os caninos e trabalhavam muito duro para que a coisa parecesse real. Outros garçons e garçonetes estavam vestidos como múmias, o homem lobo, o monstro de Frankenstein. Que eu saiba, os únicos monstros verdadeiros eram os vampiros. Se um metamorfo queria sair do armário, não havia dinheiro suficiente para ser feito em mais local mais exótico.
O lugar estava sempre cheio. Não tinha certeza se Jean-Claude estava arrependido, ele não tinha pensado nisso, ou se estava simplesmente envergonhado. Era um pouco Déclassé para ele. Eu adorei. Da trilha sonora da casa mal-assombrada aos hambúrgueres Bela Lugosi, salvo eventos raros. Bela era uma das poucas exceções à década de 60 e 70, a decoração do filme. Difícil ter um restaurante temático de horror sem o original do filme Drácula.
Você não viveu até que estivesse lá numa noite de sexta-feira para um Karaokê assustador. Levei Ronnie (Veronica Sims) detetive particular e minha melhor amiga. Tivemos uma explosão de gargalhadas.
Mas de volta ao corpo. Tudo bem, não é um corpo, é uma vítima. Mas se o garçom não tivesse com um extintor de incêndio, teria sido um corpo.
O Detective Clive Perry era o homem responsável. Ele é alto, magro, tipo de Denzel Washington sem os ombros largos. É uma das pessoas mais educadas que já conheci. Eu nunca o ouvi gritar, e só o vi perder a compostura uma vez, quando um policial branco e grande tinha apontado uma arma para o detetive negro. Mesmo assim eu fui a única que apontou a arma para o policial desonesto. Era a única que estava pronta para atirar enquanto Perry ainda tentava controlar a situação. Talvez eu tenha exagerado. Talvez não. Ninguém morreu.
Ele virou-se com um sorriso, a voz macia.
— Sra. Blake, que bom ver você.
— É bom ver você, também, detetive Perry. — Ele sempre me afetou dessa maneira. Era tão educado, fala mansa, de modo que eu caía no mesmo padrão. Nunca fui agradável para ninguém.
Estávamos no bar com uma estátua de cera em tamanho natural de Christopher Lee como Drácula pairando sobre nós. O barman era um vampiro chamado Harry, que tinha cabelo ruivo e um cravo de prata no nariz. Ele parecia muito jovem, muito de vanguarda, e provavelmente poderia lembrar a Carta Jamestown, apesar de seu sotaque britânico mostrou que ele era mais novo para o país do que o 1600's Ele polia o bar como se sua vida dependesse disso. Mesmo com o rosto bonito em branco, eu poderia dizer que ele estava nervoso. Não era culpa dele, eu acho. Harry era proprietário de parte, bem como barman.
Uma mulher foi atacada no balcão por um vampiro. Muito ruim para os negócios. A mulher tinha jogado um copo na cara dele e acendido um isqueiro. Engenhoso em uma emergência. Vampiros queimam muito bem. Mas a tranqüilidade do bar era uma armadilha turística para uma família orientada, não parecia ser o lugar para tais medidas extremas. Talvez ela tenha entrado em pânico.
— Todas as Testemunhas dizem que ela parecia ser amigável até que ele ficou um pouco perto demais. — disse Perry.
— Ele a mordeu?
Perry assentiu.
— Droga. — eu disse.
— Mas ela o queimou, Anita. Ele está gravemente ferido. O que ela poderia ter jogado nele para obter uma queimadura de terceiro grau tão rapidamente?
— Quanto tempo?
Ele consultou suas notas.
— Segundos.
Perguntei Harry.
— O que ela estava bebendo?
Ele não pediuapenas disse,
— O melhor Straight Scotch que tivéssemos no lugar.
— Alto teor alcoólico?
Ele concordou.
— Isso teria sido suficiente. — eu disse. — Uma vez que consegue queimar um vampiro, eles queimam até apagar. São muito inflamáveis.
— Então, ela não veio aqui com algum tipo de acelerador? ele perguntou.
Eu balancei minha cabeça.
— Ela não precisa disso. O que eu não gosto é o fato de que ela sabia como incendiar a bebida. Se ele fosse humano e tirasse a mão, ela teria jogado a bebida e gritado por socorro.
— Ele não a mordeu. — disse Perry.
— Se ela tivesse esse problema com um vampiro, ele teria afundado as presas nela, ela não teria feito carícias nele em um bar. Algo está errado sobre isto.
— Sim. — disse ele — mas eu não sei o quê. Se o vampiro sobreviver, ele será acusado.
— Eu gostaria de ver a mulher.
— Dolph a levou para a sala de emergência para conseguir analisar a mordida . Eles vão para nossa sede. Ele disse para você ir até lá se precisasse vê-la.
Já era tarde e eu estava cansada, mas caramba, algo estava errado. Fui até o bar.
— Ela estava isca para vampiros, Harry?
Ele balançou a cabeça.
— Entrou para usar o telefone, em seguida, sentou-se. Ela é uma beleza. Não demorou muito para alguém se aproximar dela. Simplesmente foi azar que fosse um vampiro.
— Sim. — eu disse — azar.
Ele continuou polindo o balcão em círculos pequenos e redondos, enquanto seus olhos me observavam.
— Se ela nos processar, estaremos arruinados.
— Ela não vai processar— , eu disse.
— Diga isso para o crematório, em Boston. A mulher começou há pouco e os processou fora do negócio. Eles tinham piquetes acontecendo lá fora.
Acariciei sua mão, e ele não puxou a mão ao meu toque. Sua pele tinha essa sensação dura de madeira que os vampiros podem ter quando não estão tentando ser humanos. Seus olhos escuros e seu rosto estavam tão imóveis e ilegíveis como o vidro.
— Vou falar com a suposta vítima.
Ele só olhou para mim.
— Isso não vai ajudar, Anita. Ela é humana. Nós não somos. Nada em Washington vai mudar isso. Puxei minha mão e resisti a necessidade de limpá-la no meu vestido. Nunca gostei do toque duro e sobrenatural dos vampiros. Não os sentimos como carne, então, era quase de plástico, mas mais difícil, como se não houvesse nenhum músculo embaixo, mas nada como a solidez de uma árvore. — Eu faço o que posso, Harry.
— Nós somos monstros, Anita. Seremos sempre monstros. Eu realmente gostaria de ser capaz de andar pelas ruas como todas as outras pessoas, mas isso não vai durar.
— Talvez sim, talvez não. — eu disse. — Vamos cuidar de um problema de cada vez, ok?
Ele balançou a cabeça e se afastou para empilhar os copos.
— Você foi muito reconfortante. — disse Perry.
Ninguém teria dito que não tinha como eu ser reconfortante. Claro, qualquer pessoa já teria dado uma olhada no vestido. Eu ia ter que descer para a sede RPIT. Dolph estava lá e Zerbrowski, provavelmente. Eles sabem exatamente o que dizer sobre isso.

 

 

 

 

CAPÍTULO 24


As três horas eu me encontrava na sede do Time Regional de Investigação Sobrenatural. Outro esquadrão tinha nos nomeado com a sigla RIP o sangramento a parte da frente do botão em vermelho ou verde, a sua escolha. Zerbrowski colocou-os para fora, e todos eles foram, mesmo Dolph. O primeiro vampiro nós matamos depois do esquadrão chegar, veio através do necrotério com um dos membros rasgou a sua camisa. Nunca consegui descobrir quem fez isso. Mas apostava em Zerbrowski.
Zerbrowski me encontrou na escada de acesso à sala de plantão.
— Se esse vestido tivesse uma fenda maior, seria uma camisa. — disse ele.
Olhei para ele de cima a baixo. Sua camisa azul pálido estava fora da calça de um tecido verde escuro, a gravata tão solta, parecia um colar volumoso.
— Puxa, Zerbrowski, Katie está brava com você?
Ele franziu a testa.
— Não, por quê?
Fiz um gesto para a gravata que não combinava com a camisa ou as calças.
— Ela deixou você usar isto onde as pessoas podiam vê-lo?
Ele sorriu.
— Me vesti no escuro.
Toquei seu terno.
— Isso eu acredito.
Ele empurrou a porta aberta para da sala com um floreio e sorriu para mim.
— A beleza antes da idade.
Foi a minha vez de cair.
— O que você está fazendo, Zerbrowski?
Ele me olhou com olhos inocentes.
— Eu? Nada!
Eu balancei a cabeça e entrei pela porta. Havia um pinguim de pelúcia em cada mesa. Todos estavam ocupados, atendendo telefones, arquivando, ou trabalhando em seus computadores. Ninguém me deu nenhuma atenção. Apenas os pinguins sentados em cada mesa. Fazia quase um ano desde que Dolph e Zerbrowski tinham visto minha coleção de pinguins. A provocação não começou imediatamente, eu pensei que era seguro. Quando Zerbrowski saiu de licença médica após o ano novo, os pinguins começaram a aparecer em cada cena de crime. No banco do carro, na minha mala. Gastaram muito dinheiro com isso.
Eu ainda não sabia como reagir. Ignorá-lo? Fingir que não havia uma dúzia de pinguins sentados ao redor da sala? Recolhe-los enquanto atravessava a sala e levá-los para casa? Se eu soubesse como parar a brincadeira, faria isso agora. No momento só ignorei. Nem parei, na verdade, a brincadeira parecia estar ficando pior. Suspeitava que eles estavam construindo algum grande clímax. Eu não tinha idéia do que e não tinha certeza se queria saber.
— Fico feliz em ver que todos estão tão cheios de energia.
— Nenhum esforço é muito grande. — disse Zerbrowski.
— Onde está Dolph?
— Na sala de interrogatório com a nossa vítima.
Havia alguma coisa na maneira como disse isso que me fez olhar para ele.
— Dolph disse “suposta vítima” no telefone. Por que ninguém acredita nela?
Ele sorriu.
— Dolph ficaria louco se eu estragasse tudo. — Ele apontou o dedo para mim. — Venha, menina. Nós queremos que você conheça alguém.
Fiz cara feia para ele.
— Se isso é alguma piada elaborada, vou ficar muito chateada.
Ele segurou a porta para mim.
— Será que vamos interromper o seu encontro com o Conde Drácula?
— Não é da sua maldita conta.
Um coro de — ooohs— atravessou a sala. Entrei pela porta com todos me chamando. Algumas das sugestões eram rudes, outras fisicamente impossíveis, mesmo com um vampiro. Assédio sexual ou ser apenas de um dos rapazes, era sempre complicado.
Olhei para trás através da porta e disse:
— Você está com ciúmes. — Isso provocou mais vaias.
Zerbrowski estava esperando na escada por mim.
— Eu não sei se consigo ver mais das suas pernas se eu andar na sua frente e olhar para trás, ou andar atrás de você. Acho que é na frente.
— Fique muito longe, Zerbrowski, ou vou dizer a Katie.
— Ela sabe que eu sou um perdido. — Ele desceu as escadas olhando para mim.
Desci as escadas e puxei o vestido como pude. Quando você usa um vestido reto quase no seu quadril, mesmo que seja para ter uma arma útil, ou você se sente confortável com os homens olhando ou usa algo mais.
— Como convenceu Katie a se casar com você?
— Eu acho que ela estava bêbada. — disse ele.
Eu ri.
— Vou perguntar a ela na próxima que jantar na sua casa.
Ele sorriu.
— Ela vai contar esta história como algo romântico e estúpido. Não acredite nela. — Ele parou na frente da sala de interrogatório e bateu suavemente.
Dolph abriu. Ele encheu o porta por completo. Não é apenas sua altura, ele é volumoso, como um lutador profissional. Sua gravata estava amarrada perfeitamente, colarinho branco e engomado apertado no pescoço. Sua calça cinza ainda tinha um vinco acentuado. A única concessão ao calor e ao adiantado da hora eram as mangas compridas branca da camisa. Eu poderia contar em uma mão as vezes que eu tinha visto Dolph em mangas de camisa.
Todos os policiais mostram um rosto duro ou em branco, alguns até mesmo um rosto levemente divertido Mas todos eles, eventualmente, tem um rosto sem qualquer expressão. Um vazio que se instalava em seus olhos, que guardam todos os seus segredos. Dolph estava com essa cara, sempre ficava assim ao interrogar suspeitos. O olhar na cara dele já estava irritado. Eu nunca tinha visto ele tão obviamente chateado em um interrogatório de um suspeito.
— O que é? — Eu perguntei.
Ele fechou a porta atrás dele, entrando no corredor. Balançou a cabeça.
— Eu não sei porque isto acontece comigo.
— Diga-me, eu disse.
Os olhos dele baixaram para minha roupa, como se tivesse acabado de notar. A carranca amoleceu em algo próximo de um sorriso.
— Alguém tem se tornado uma má influência para o seu guarda-roupa.
Eu fiz uma careta para ele.
— Eu tenho uma arma presa dentro do vestido, ok? Com esse decote, fica mais fácil de pegar. Nunca teria explicado sobre meu vestido para Zerbrowski, mas para Dolph. . .
— Ooh. — Zerbrowski disse. — Mostre-nos, mostre-nos.
O sorriso de Dolph se alargou o suficiente para que seus olhos brilhassem.
— Você está mostrando muito a perna, pelo menos é por uma boa causa.
Eu cruzei meus braços sobre o estômago.
— Existe realmente um suspeito lá dentro ou você me chamou aqui apenas para arrancar minhas correntes?
O sorriso desapareceu, e voltou a carranca zangada.
— Ela não é uma suspeita. É uma vítima. Eu sei que você conversou com Perry na cena do crime, mas quero que ouça sua história, então me diga o que você pensa.
Com isso, ele abriu a porta. Isso foi tudo. Dolph nunca gostou de influenciar seus oficiais. Mas, francamente, foi um pouco abrupto. Não tive tempo de colocar meu rosto profissional. Fiz contato visual com a mulher, enquanto ainda parecia surpresa.
Eu vi grandes olhos azuis, cabelo loiro sedoso, traços delicados, ela era muito alta. Mesmo sentada, eu poderia dizer isso. Poucas mulheres podiam ser tão altas e delicadas.
— Sra. Vicki Pierce, esta é Anita Blake. Gostaria que você contasse sua história a ela.
A Sra. Pierce piscou seus grandes olhos azuis, com lágrimas, não caindo, mas brilhantes. Ela enxugou com um lenço de papel. Havia um curativo no lado do seu pescoço.
— Sargento Storr, eu lhe disse o que aconteceu. Já disse mais de uma vez. — Uma única lágrima deslizou de seu rosto. — Estou tão cansada, e foi uma noite tão traumática. Tenho que dizer tudo de novo? — Ela se inclinou para ele na cadeira, braços estendidos protetora na frente dela, quase implorando para eles. Muitos homens teriam formado ondas sob a pressão dos olhos doces. Pena que o desempenho foi desperdiçado.
— Só mais uma vez para a Senhora Blake. — disse ele.
Ela olhou atrás de mim, para Zerbrowski.
— Por favor, eu estou tão cansada.
Zerbrowski encostou na parede.
— Ele é o chefe.
Ela tentou usar seus truques de mulher, mas não estava funcionando. Trocou a unidade fraternal com apenas um piscar de seus olhos azuis de bebê.
— Você é mulher. Sabe como é, sabe como é estar sozinha no meio deles. — a voz dela caiu para um hush — Homens! — Ela olhou para a mesa, em seguida, volta-se com lágrimas reais escorrendo por sua pele perfeita.
Foi um desempenho digno do Oscar. Eu queria aplaudir, mas tentaria ser simpatia em primeiro lugar. Sempre haveria tempo para o sarcasmo mais tarde.
Andei ao redor da mesa. Eu estava a apenas alguns centímetros dela, definitivamente uma invasão do espaço pessoal. Dei um tapinha no ombro dela e sorri, embora eu não fosse uma atriz boa o bastante.
— Você não está sozinha agora, Sra. Pierce. Estou aqui. Por favor, me conte sua história.
— Você é advogada? , perguntou ela.
Se ela pedisse um advogado a entrevista acabaria. Eu me ajoelhei na frente dela, tomando suas mãos trêmulas na minha. Olhei para ela. Não conseguia um olhar simpático, mas eu estava interessada. Eu dei-lhe toda minha atenção. Olhei para seu rosto como se quisesse memorizá-la e disse:
— Por favor, Vicki, deixe-me ajudá-la.
Suas mãos apertaram as minhas. Ela olhou para mim com seus grandes olhos como um veado perfurado por uma arma, mas entretanto se ajudá-lo, a arma não vai disparar uma segunda vez. Ela acenou com a cabeça para mim, segurou minha mão, e seu rosto era totalmente sincero.
— Tive problemas com o carro e fui para o bar do restaurante para usar o telefone. — Ela abaixou a cabeça, fugindo dos meus olhos. — Eu sei que não deveria ter ido para lá. Uma mulher em um bar sozinha, é pedir por problemas. Mas não havia telefones em qualquer outro lugar.
— Você tem o direito de ir onde quiser, e quando quiser Vicki. Ser mulher não lhe tira esse direito.
Ela olhou para mim novamente, seus olhos estudando meu rosto. Eu quase podia ver as rodas girando em sua cabeça. Ela pensou que me tinha.. Deus, ela era jovem.
Seus dedos apertaram as mãos, um tremor fino subindo os braços.
— Eu liguei para um amigo meu para vir olhar o carro. Estou na faculdade e não tenho muito dinheiro, então não queria chamar um guincho de imediato, até que meu amigo tivesse visto o carro, eu esperava que ele pudesse consertá-lo.
Ela estava oferecendo muita informação. Justificando-se. Ou talvez ela apenas contasse a história muitas vezes.
— Eu teria feito a mesma coisa. — eu disse.
Ela apertou minhas mãos e inclinou-se para mim, um pouco ansiosa, contando sua história.
— Eu vi esse homem no bar. Ele parecia bom. Nós conversamos e ele me pediu para sentar com ele. Eu disse que estava esperando meu amigo. Ele disse que tudo bem, nós apenas conversamos. — Novamente ela olhou para baixo. — Ele disse que eu tinha a pele mais bonita que já tinha visto. — Ela olhou para mim, os olhos arregalados. — Quero dizer, era tão romântico. Era tão ensaiado.
— Vá em frente.
— Eu o deixei comprar uma bebida. Sei que não deveria ter aceito. — Ela enxugou os olhos. — Eu perguntei se ele se importava se eu fumasse, e ele disse que não. — Havia um cinzeiro cheio próximo de seu cotovelo. Nem Dolph ou Zerbrowski fumavam o que significava que Vicki era uma maldita fumante inveterada. — Ele colocou o braço em volta de mim e se inclinou para me beijar, eu pensei. — As lágrimas vieram rápido, ela voltou a tremer. — Ele me mordeu no pescoço. Juro que não percebi que ele era um vampiro. — Ela olhou para mim, a centímetros de distância vibrando com sinceridade.
Acariciei seu braço.
— Muita gente não sabe a diferença entre vampiros e seres humanos. Especialmente se eles se alimentaram primeiro.
Ela olhou para mim.
— Se alimentar primeiro?
— Se um vampiro está cheio de sangue, então ele parece mais humano.
Ela concordou.
— Oh.
— O que você fez quando ele te mordeu?
— Joguei meu drinque nele, e acendi o meu isqueiro.
— Pôs fogo no licor ou no vampiro?
— Ambos. — disse ela.
Concordei.
— Vampiros são muito inflamáveis. Queimam muito bem, não é?
— Eu não sabia que ele ficaria em chamas, como ficou. — disse ela. — Uma pessoa não se queima desse jeito.
— Não. — eu disse, — eles não queimam.
— Eu comecei a gritar e fugir dele. Meu amigo apareceu em seguida na porta. As pessoas estavam gritando e gritando. Foi horrível.
Levantei-me.
— Aposto que foi.
Ela olhou para mim, seus olhos azuis pareciam sinceros, mas não tão cheios de horror para o que ela tinha feito. Não havia nenhum remorso. Ela segurou o meu braço, de repente, muito apertado, como se ela pudesse me fazer entender.
— Eu tinha que me proteger.
Coloquei minha mão sobre a dela e sorri.
— O que a fez pensar em acender a bebida, uma vez que já tinha jogado?
— Me lembrei que os vampiros tinham medo de fogo.
— Mas, se você jogasse uma bebida no rosto de um ser humano e ascendesse, ele queimaria até o licor evaporar. Esta bebida é muito inflamável. Em um ser humano poderia deixá-lo ferido. Você não estava com medo de que tivesse deixado o vampiro mais irritado?
— Mas os vampiros são muito inflamáveis, você mesmo disse. — disse Vicki.
Meu sorriso aumentou.
— Então, você sabia que ele ia ficar em chamas?
— Sim. — disse ela, me segurando, desejando que eu entendesse sua situação.
Dolph disse:
— Pensei que você não soubesse que vampiros podiam ficar em chamas, Sra. Pierce.
— Eu não sabia, não até que ele pegou fogo. — disse ela.
Acariciei sua mão.
— Mas, Vicki querida, você acabou de dizer que sabia que ele era inflamável.
— Mas você disse primeiro.
— Vicki, você disse que sabia que ele ficaria em chamas quando ascendesse o isqueiro.
— Eu não sabia.
Concordei.
— Sim, você disse.
Ela tirou as mãos de mim, sentado bem reta em sua cadeira.
— Ela está tentando me confundir.
Eu balancei minha cabeça.
— Não, Vicki, você está fazendo isso tudo por conta própria. — Me afastei dela e ainda mantive contato visual.
— O que isso quer dizer? — perguntou ela. Um pouco de raiva apareceu através de seu ato de donzela indefesa.
— Em que restaurante foi? — Perguntei como se não tivesse ouvido há vinte minutos. Interrogações são muitas vezes repetitivas.
— O que? — perguntou ela.
— Qual era o nome do bar?
— Eu não me lembro.
— Dolph? — Eu perguntei.
— Sacrifícios Infernais. — disse ele.
Eu ri.
— É um famoso ponto de encontro dos vampiros.
— Não é no distrito dos vampiro — disse ela. — Como eu ia saber que era um bar de vampiros?
— Que tal a imagem de Christopher Lee como Drácula lá fora?— Eu disse.
— Era muito tarde e não tinha mais nada aberto.
— Na Universidade da Cidade de Delmar numa sexta à noite? Vamos Vicki. Você pode fazer melhor que isso. — eu disse.
Ela tocou a atadura em seu pescoço com uma mão delicada, trêmula.
— Ele me mordeu. — Sua voz tremeu, e mais lágrimas desciam pela sua face.
Me voltei para ela. Coloquei a mão em cada lado da cadeira e me inclinei para o rosto dela.
— Você está mentindo, Vicki. — Ela começou a chorar, escondendo o rosto. Coloquei um dedo sob seu queixo e levantei o seu rosto. — Porra, você é boa, mas não é boa o suficiente.
Ela se afastou para longe de mim, parando de repente, a cadeira caiu no chão.
— Eu fui atacada, e você está me fazendo sentir como se eu fosse ruim . Você é uma mulher. Achei que me entenderia.
Eu balancei minha cabeça.
— Isso pode funcionar na universidade, Vicki. Aqui não vai funcionar.
Ela tirou o curativo de seu pescoço e o jogou no chão.
— Olhe, olhe o que ele fez em mim!
Se ela esperava que eu recuasse, pegou a garota errada. Eu fui até ela, virando a cabeça para um lado. Era uma marca de canino de vampiro muito fresca. Uma mordida pura, agradável, mas não havia nenhum ferimento, nenhuma marca de chupão espalhada em sua carne cremosa. Eram apenas duas marcas de caninos.
Afastei-me dela.
— Você jogou sua bebida no rosto dele, logo que mordeu você?
— Sim, não queria que ele me tocasse.
— Um vampiro imundo? eu disse.
— Um cadáver de pé.
Ela tinha um ponto.
— Obrigada, Vicki, obrigada por falar comigo. — Eu caminhei até a porta e fiz sinal para Dolph me seguir. Zerbrowski ficou para trás com a Sra. Pierce.
Dolph fechou a porta atrás de nós.
— O que você viu na mordida que eu não vi? — ele perguntou.
— Se um vampiro mergulha as presas em você, mas não tem tempo para se alimentar muito, ele deixa um chupão. Fica igual a sucção de humanos em seu pescoço. As presas não são ocas, elas apenas perfuram a pele para que o vampiro possa sugar no sangue. Uma das razões de serem tão pequenos. Se o vampiro se alimenta o suficiente, ele leva o sangue para fora da área e você não fica com a marca. De jeito nenhum ele fez um lanche rápido e a chupou deixando-a limpa assim. Alguém fez isso com ela antes, e levou muito mais tempo do que alguns segundos.
— Eu sabia que ela estava mentindo. — disse Dolph, e balançou a cabeça. — Mas pensei que tinha jogado mais sobre ele do que uma bebida. Pensei que ela tivesse entrado no bar com algum tipo de acelerador.
Eu balancei minha cabeça.
— Depois que um vampiro começa a queimar, eles se queimam até que o fogo se apague ou até virar cinzas. Você pode obter alguns fragmentos de um osso, mas vampiros queimam mais completamente do que qualquer humano. Registros dentários não vão mesmo ajudá-lo.
— O barman usou um extintor atrás do balcão. Testemunhas dizem que ele foi rápido.
Concordei.
— Sim, Harry é bom. É um milagre que o vampiro ainda esteja vivo. Eu sei que há alguma oposição empenhada em tirar o distrito dos vampiros. Existe uma petição e algum tipo de reunião agendada na cidade. A Sra. Pierce será uma grande testemunha para os perigos dos vampiros fora do distrito.
— O dono do restaurante disse que a má publicidade poderia arruiná-lo.
Concordei.
— Oh, sim. Poderia também ser um motivo pessoal contra o vampiro. Não foi pouco o que a Sra. Olhos Azuis fez aqui, alguém que ela conhece o queria morto.
— Ela poderia ser um membro do “Primeiro Seres Humanos”. Adorariam ver todos os vampiros queimando.
— Um inimigo de vampiros fanático não deixaria um vampiro pegar seu pescoço assim. Não, “Primeiros Seres Humanos” poderiam ter pago a ela para desacreditar o bar. Ela pode ser um membro dos “Humanos Contra Vampiros”, HAV, ou mesmo os Primeiros Seres Humanos, mas realmente vão acreditar nela. A mordida comprova isso.
— O vampiro poderia ter capturado sua mente?
— Eu não acho, mas tenho algumas perguntas para sua testemunhas agora.
— Como? — ele perguntou.
— Tem certeza de que o vampiro em questão ainda tem o gosto dela? Foi comprovado que ele a mordeu? Pergunte se ela tinha cheiro de sangue quando entrou.
— Explique. — Dolph disse.
— Se ela chegou com a mordida, alguns deles poderiam ter sentido o cheiro. A ferida não devia estar muito limpa, o que provavelmente foi por isso que o vampiro estava em seu caminho. Se ele tivesse acabado de chupar seu sangue estaria na superfície, os vampiros teriam sentido o cheiro de sangue.
Dolph estava escrevendo tudo no seu caderno de confiança.
— Então, um vampiro está envolvido?
— Ele pode não saber o que ela estava planejando fazer. Eu procuraria um namorado vampiro, talvez,ou pelo menos um encontro marcado. Namorado pode ser uma palavra muito forte para a Sra. Pierce. Vou ver se ela tem alguma experiência em atuação. Vou conferir com seus professores na faculdade.
— Já fiz isso. — Dolph disse. — Ela tem uma bolsa de estudo em arte de teatro.
Eu sorri.
— Por que você precisa de mim? Você tinha tudo resolvido.
— A mordida, o fato de que os vampiros se queimam facilmente...— Ele balançou a cabeça. — Nada disso está na droga da literatura.
— Os livros não são projetados para o trabalho policial, Dolph.
— Talvez você devesse escrever um livro. — disse ele.
— Sim, certo. Você tem o suficiente para obter um mandado de registros de seu banco?
— Se eu for cuidadoso com o juiz e pedir, talvez.
— Você sabe, mesmo que ela seja acusada e condenada, o estrago está feito. A petição e as reuniões estão agendadas para a próxima semana. Todos eles têm os rumores de um ataque, e ele crescerá.
Dolph assentiu.
— Não podemos fazer nada sobre isso.
— Você poderia ir até lá e dizer o que você aprendeu sobre Vicki.
— Porque você não fez isso?
— Porque eu sou a prostituta da Babilônia para a ala-direita. Estou namorando o sanguessuga chefe. Eles não acreditam que uma maldita coisa que eu dissesse.
— Eu não tenho tempo para reuniões cívicas, Anita.
— Você acha que os negócios dos vampiros devem ser eliminados? — Eu perguntei.
— Não vá lá, Anita. Você não vai gostar das respostas.
Eu deixei Dolph com o pensamento que os vampiros eram os monstros e que o público precisava ser protegido. Até concordei com ele para uma extensão. Mas eu estava dormindo com um dos monstros. É difícil ficar do mesmo lado que Dolph. Nós concordamos em discordar. Ele manteve a paz e nos manteve trabalhando juntos.
— Se você odeia tanto os vampiros, por que não comprou a Sra. Pierce? — Eu perguntei.
— Porque não sou estúpido. — Dolph disse.
— Desculpe. — eu disse. — Não pensei nem por um segundo que os seus sentimentos pessoais podem interferir no seu trabalho. Você nunca permitiria isso, não é?
Ele sorriu.
— Eu não sei. Você não está na cadeia ainda.
— Se você tivesse a prova do erro, eu poderia estar.
— Você pode. — disse ele. O sorriso desapareceu de seu rosto. Seus olhos ficaram vazios.
—O que aconteceu com sua mão?
Olhei para a mão enfaixada, como se tivesse acabado de surgir.
Acidente de cozinha, eu disse.
— Acidente de Cozinha? — disse ele.
— Sim.
— O que aconteceu?
— Cortei a mão com uma faca.
— O que você estava fazendo?
Eu nunca cozinho em casa. Dolph sabia disso.
—Fatias de um bagel. — Eu dei os olhos vazios de volta para ele. Uma vez, não há muito tempo atrás, minha cara mostrou tudo. Cada pensamento puro para ver, mas não agora. Olhei para a cara suspeita de Dolph e sabia que meu rosto não lhe mostrava nada. Apenas o vazio em si foi um indício de que eu estava mentindo. Mas ele sabia que eu estava mentindo. Eu não ia perder seu tempo ou o meu ao vir para cima com uma mentira muito boa. Por que se preocupar?
Olhamos um para o outro.
— Há sangue no seu curativo, Anita. Deve ter sido de algum bagel. — disse ele.
— Foi. — eu disse, então não poderia deixar de sorrir. — Eu ia dizer que fui assaltada, mas você me mandaria preencher um relatório.
Ele suspirou.
—Droga Anita. Você está envolvida em outra coisa agora.— Suas mãos formavam grandes torrões em punhos quase do tamanho do meu rosto. — Eu gostaria de gritar com você, mas não faria nenhum bem. Eu poderia jogá-la em uma cela durante a noite. — Ele riu, e foi amargo. — Para o que resta da noite, mas não vou fazer isso, certo?
— Eu não fiz nada, Dolph. — Levantei a mão machucada. — Eu estava fazendo um favor a um amigo, levantando alguns mortos. Tenho cortes maiores e com mais sangue. Obrigada.
— Isso é verdade?— ele perguntou.
Concordei.
—Sim.
— Por que você apenas não me disse? — ele perguntou.
— Porque era um favor, nenhum dinheiro. Se Bert souber que estou levantando os mortos sem cobrar, vai ter um ataque cardíaco. Ele vai acreditar na história do bagel.
Dolph riu.
— Ele não vai perguntar como você se machucou. Ele não quer saber.
Concordei.
É verdade..
— Apenas para o caso da cozinha ficar muito quente, lembre-se de chamar se precisar de ajuda.
— Vou me lembrar disso, Dolph.
— Faça isso. — Ele consultou seu bloco de anotações — Tente não matar ninguém este mês Anita. Mesmo sendo auto-defesa se acumular muitos corpos, você vai ficar trancada.
— Eu não matei ninguém em mais de seis semanas, inferno, quase sete anos. Eu estou contando. Ele balançou a cabeça.
— Os dois últimos foram os únicos que já foi capaz de provar, Anita. Legítima defesa. Uma testemunha, mas nunca encontraram o corpo de Harold Gaynor. Apenas sua cadeira de rodas foi encontrada no cemitério. Dominga Salvador ainda está desaparecida.
Eu sorri para ele.
— Dizem por aí que ela voltou para a América do Sul.
— Havia sangue por toda a cadeira, Anita.
— Você esteve lá?
— Sua sorte vai acabar Anita, e eu não vou poder te ajudar.
— Eu não pedi ajuda. — eu disse. — Além disso, se a nova lei for aprovada, terei um crachá federal.
— Ser um policial, não importa o tipo, não significa que você não possa ser presa.
Foi a minha vez de suspirar.
— Estou cansada, e eu estou indo para casa. Boa noite, Dolph.
Ele me olhou por mais um ou dois segundos, depois disse:
— Boa noite, Anita. — Ele caminhou de volta para a sala de interrogatório e me deixou em pé no corredor.
Dolph nunca havia sido este cara mal-humorado, ele descobriu que eu estava saindo com Jean-Claude. Não tinha certeza se ele estava ciente do quanto sua atitude tinha mudado em relação a mim, mas eu certamente estava. Um pouco de imortalidade e ele não confiava mais em mim, não completamente.
Isso me deixou triste e irritada. O que era realmente difícil de engolir era o fato de que a menos de dois meses atrás eu teria concordado com Dolph. Você não pode confiar em alguém que dorme com os monstros. Mas aqui estava eu, fazendo exatamente isso. Eu, Anita Blake, virei isca de caixão. Triste, muito triste. Não era da conta de Dolph quem eu namorava. Mas não poderia culpá-lo pela atitude. Eu gostava dele, mas não poderia fazer porcaria nenhuma sobre isso. Ok, eu poderia fazer, mas não seria justo da minha parte fazer isso.
Saí sem passar pelo quarto pelotão principal novamente. Fiquei imaginando quanto tempo eles manteriam os pinguins em suas mesas esperando por mim. O pensamento de todos aqueles idiotas procurando pinguins de brinquedo em uma loja era lastimável, isso trouxe um sorriso ao meu rosto. Mas não durou muito. Não era justo que Dolph desconfiasse de mim. Ele era um policial muito bom, um bom investigador. Se realmente começasse a cavar, poderia encontrar a prova. Deus sabia que tinha feito o suficiente para não me colocar na prisão na prisão. Eu usei meus poderes de animação para matar seres humanos. Se pudesse ser provado, seria uma sentença de morte automática. A sentença de morte para alguém que tivesse usado a magia para matar não era o mesmo tipo, como, digamos, um assassino com um machado tem. Um cara pode cortar a sua família e passar os próximos quinze anos no corredor da morte. Não existem recursos para a magia induzida por assassinato. Julgamento, condenação, morte dentro de seis semanas, geralmente menos.
As prisões tem medo de magia e não gostam de manter as bruxas a longo prazo. Houve um feiticeiro no Maine que invocou demônios em sua cela. Como ninguém o deixou sozinho tempo suficiente para o ritual particular, eu não sei. As pessoas que tinham presenciado estavam mortas, para que eles não pudessem ser interrogados. Eles nunca encontraram as cabeças. Mesmo que eu não pudesse levantá-los como zumbis para fazê-los falar ou escrever o que tinha acontecido. Era uma bagunça.
O feiticeiro escapou, mas mais tarde foi recapturado com a ajuda de um grupo de bruxas brancas e, estranhamente, um grupo de satanistas. Ninguém que executa magia gosta quando alguém é desonestos. Nos dá uma má reputação. A última bruxa queimada viva por uma multidão no país foi em 1953. Seu nome era Agnes Simpson. Eu tinha visto sua morte numa TV em preto-e-branco. Qualquer pessoa que estudasse o sobrenatural tinha que ter sua foto em pelo menos um livro. A foto de Agnes que ficou comigo foi aquela em que seu rosto estava intacto, pálida, até mesmo de uma distância de terror puro no rosto. Seus longos cabelos castanhos que se deslocam no calor, mas ainda não queima. Apenas a camisola e o robe pegou fogo. Sua cabeça jogada para trás, gritando. A foto ganhou o Prêmio Pulitzer. O resto das fotos não são vistos com tanta frequência. A progressão de fotografias termina com o seu corpo queimado, enegrecido e morto.
Como uma pessoa poderia estar lá e tirar fotos, eu não sei. Talvez o Prêmio Pulitzer fosse um amuleto contra pesadelos. Talvez sim, talvez não.

 

 

 


CAPÍTULO 25


Voltei para o prédio do hospital dos lincantropos e seus segredos. Fazia quase cinco anos. O amanhecer pressionava como uma mão fria contra o vento. O céu estava cinzento, preso entre a escuridão e a luz. Essa borda tremendo onde os vampiros ainda estão se movendo, e você pode ter sua garganta arrancada momentos antes do nascer do sol.
Um táxi parou à frente do edifício. Uma mulher alta e loira saiu. Estava usando uma saia muito curta e uma jaqueta de couro, sem sapatos. Zane saiu em seguida. Alguém pagou sua fiança, e não tinha sido eu. O que significava que ele estava aos cuidados do Mestre das Feras. Que sorte a que ele não tinha sido o tormento de Sylvie. Se ele se recusasse, seria muito ferido e se tivesse feito, eu teria que matá-lo. Isso teria sido condenável.
Ele me viu andando na direção deles. Eu coloquei o casaco longo e seu armamento de volta. Zane acenou para mim, sorrindo. Não estava vestindo nada brilhante, mas usava calças de vinil preto, apertada o suficiente para parecer uma segunda pele e botas. Ah, e um anel. Não esqueceu a jóia. A mulher alta olhou para mim. Não parecia feliz em me ver. Não era hostil, mas não agradou. O motorista disse algo, e ela pegou um maço de notas de seu bolso e o pagou.
O táxi foi embora. Vivian, a companhia do Mestre das Feras, enquanto ele estivesse aqui, não tinha saído. Gregory, irmão de Stephen com sua nova consciência, não tinha saído também. Eu era pequena, pelo menos, dois homens-leopardo. O que estava acontecendo?
Zane caminhou para mim como se fôssemos velhos amigos.
— Eu te disse, Cherry, ela é a nossa alfa, a nossa Lionne léoparde. Eu sabia que ela ia nos salvar.
Ele caiu de joelhos diante de mim. Minha mão direita estava no bolso, segurando a Browning, então ele teve que se contentar com a esquerda. Passei muito tempo em torno dos lobisomens para saber o que era uma alfa, esse tipo de coisa. Assim como os animais, os metamorfos precisavam ter a garantia do toque. Então eu não ia lutar contra ela, mas desativei a trava de segurança da Browning.
Zane pegou minha mão suavemente, quase reverentemente. Colocou seu rosto contra os meus dedos, então rolou seu rosto de lado a lado, como um gato. Sua língua deu uma lambida lenta na palma da minha mão, e eu delicadamente a retirei. Foi preciso muita força de vontade para não limpar a mão no casaco.
A mulher alta, Cherry, eu presumo, apenas olhou para mim.
— Ela não vai salvar todos nós. — Sua voz era um contralto quase surpreendente baixa. O ronronar, mesmo em forma humana.
— Onde estão Vivian e Gregory? — Eu perguntei.
Ela apontou para trás, de onde haviam chegado.
— Lá atrás, eles ainda estão lá.
— O acordo era que todo o meu povo saísse
Zane ficou de pé. O movimento foi tão rápido que pegou meu coração e minha garganta, e meu dedo quase apertou o gatilho. Eu deixei a segurança da Browning e tirei minha mão para fora. Eles não iriam me machucar, mas se Zane continuasse saltando ao meu redor como uma versão punk do Tigrão eu poderia acidentalmente atirar nele. Meus nervos geralmente ficavam melhor do que isso.
— O Mestre das Feras disse que quem quiser reconhecer sua posição de dominante poderia sair, se pudessem sair. Mas ele já tinha certeza que Gregory e Vivian não podiam andar.
Algo frio e apertado encheu meu estômago.
O que você quer dizer?
— Vivian estava inconsciente quando saímos. — Cherry olhou para o chão quando falou as outras palavras. — Gregory tentou nos rastrear, mas foi ferido gravemente. — Ela levantou os olhos, e havia lágrimas neles. Manteve os olhos muito aberto. — Ele chorou depois que fomos embora. Nos implorou para não deixá-lo. — Ela enxugou as lágrimas com um gesto de raiva de sua mão. — Mas eu o deixei. Eu o deixei gritar, porque queria sair de lá mais do que qualquer outra coisa no mundo. Mesmo que isso significasse deixar meus amigos para serem torturadas e mortos e estuprados. — Ela escondeu o rosto com ambas as mãos e chorou.
Zane veio por trás dela e a abraçou.
— Gabriel nunca poderia nos manter seguros. Ele fez o melhor.
— Como o inferno. — eu disse.
Zane olhou para mim. Esfregou o rosto contra o lado do pescoço de Cherry, mas seus olhos estavam sérios. Ele estava feliz por estar vivo, mas não queria deixá-los.
— Vou dar um telefonema. — Entrei no edifício e depois de alguns segundos, eles me seguiram. Usei o mesmo telefone que tinha chamado Jean-Claude. Eu só tinha alguns momentos antes do amanhecer, era um tempo muito curto.
Ele atendeu o telefone, como se estivesse esperando.
— Oui, ma petite.
— Gregory e Vivian não saíram. Eu pensei que você tinha negociado por eles.
— Padma me forçou a concordar, ele estabeleceu uma nova regra para quem quisesse sair, tive que aceitar. Eu sabia o que ele queria, foi o melhor negócio que pude fazer. Pode acreditar nisso. — Tudo bem, mas eu não vou deixá-los.
— O que você planeja, ma petite?
— Vou voltar e ajudá-los a sair. Padma não disse nada sobre sair por sua própria conta, não foi?
— Não. — Jean-Claude deu um longo suspiro. — O amanhecer está assustadoramente próximo, ma petite. Se você vai fazer isso, espere pelo menos duas horas. Será tempo suficiente para que mesmo o mais poderoso de nós esteja dormindo, mas não espere muito mais. Não sei de quanto sono os membros do Conselho precisam. Podem acordar mais cedo.
— Eu vou esperar duas horas.
— Vou enviar alguns dos lobos para você. Com Padma adormecidos, eles serão úteis.
— Ótimo.
— Preciso ir.
O telefone ficou mudo, e eu senti a explosão do sol acima do horizonte. Senti isso como um grande peso, e por apenas um instante não conseguia respirar, senti meu corpo pesado, tão pesado. Então, a sensação foi embora, e sabia que Jean-Claude tinha ido para o dia. Mesmo com três marcas compartilhada, nunca senti nada parecido antes. Eu sabia que ele me protegia de muitas coisas com a terceira marca, me deixava sentir. Ele mesmo protegia Richard. De nós três, Jean-Claude era o único que sabia mais sobre as marcas, como usá-lo, como não usá-los, e o que elas realmente significavam. Depois de meses eu não tinha muitas perguntas. Não tinha certeza se queria saber. Richard parecia igualmente relutante, de acordo com Jean-Claude. O vampiro parecia paciente conosco, como um pai com uma criança para trás.
Cherry estava encostada na parede, braços cruzados sobre o estômago. Ela não estava usando nada por baixo da jaqueta de couro. Seus olhos estavam cautelosos, como se já tivesse se decepcionado muitas vezes.
— Você está indo atrás deles, por quê?
Zane estava sentado ao lado de suas pernas, costas contra a parede.
— Porque ela é nossa alfa.
Cherry balançou a cabeça.
— Por que você se arrisca por duas pessoas que não conhece? Eu aceitei o seu domínio, porque queria sair de lá, mas não acredito nisso. Por que vai voltar lá?
Eu não sabia como explicar.
— Eles esperam que eu os salve.
— Então? — disse ela.
— Então, vou tentar.
— Por quê?
Suspirei.
—Porque... Porque eu me lembro dos olhos suplicantes de Vivian e os hematomas em seu corpo. Porque Gregory chorava e gritava para não deixá-lo. Porque Padma lhes fará mal pior agora do que teria feito antes, porque ele acha que por feri-los ele me machuca. — Balancei minha cabeça. — Vou me deitar por duas horas. Sugiro que faça o mesmo. Mas você não tem que vir comigo. Essa coisa é estritamente voluntária.
— Eu não quero voltar para lá. — disse ela.
— Então, não vá. — eu disse.
— Eu vou. — disse Zane.
Ele quase me fez sorrir.
— De alguma forma eu sabia que você faria isso.

 

 

 


CAPÍTULO 26


Deitei na cama estreita do hospital em um dos quartos vagos. O vestido de noite estava dobrado na única cadeira do quarto. A cadeira foi empurrada, sob a maçaneta. Fechadura frágil. Isso não impediria a entrada de alguém realmente determinado, mas me daria alguns segundos para reagir. Tomei um banho e joguei o curativo manchado de sangue. Estava apenas de calcinha. Eles nem sequer tinham um vestido de hospital de reposição. Adormeci em uma cama estranha com lençóis agarrando meus seios nus, e a Firestar debaixo do meu travesseiro. A metralhadora estava sob a cama. Eu não acho que precisasse dela, mas onde poderia guardá-la?
Eu estava sonhando. Algo sobre estar perdida em uma casa abandonada, à procura de gatinhos. Os gatinhos estavam chorando, e havia cobras no escuro, comendo os gatinhos. Você não precisa ser Freud para interpretar este. No momento em que pensei claramente, que isso era um sonho e o que aquilo significava, o sonho acabou e eu acordei no escuro. Acordei olhando para cima, o lençol enrolado no meu corpo de modo que estava quase nua na escuridão.
Eu podia sentir meu corpo pulsando. Era como se estivesse correndo no meu sono. Havia suor em meu peito. Algo estava errado.
Puxei o lençol sobre mim enquanto ficava de pé, mesmo não estando com frio. Como uma criança, eu pensava nos monstros no armário e debaixo da cama, não conseguia ficar descoberta. Depois de acordar de um pesadelo, não importa o quanto estivesse quente. Claro, eu estava em um porão com ar-condicionado. Não estava quente. Então, por que meu corpo estava quase febril?
Peguei a Firestar debaixo do travesseiro. Me senti melhor com ela na minha mão. Se eu tivesse me assustado apenas com um sonho, me sentiria boba.
Sentei-me no escuro esperando ouvir qualquer coisa antes de ascender as luzes. Se houvesse alguém no corredor, veria a luz debaixo da porta. Se estivessem tentando me emboscar, não quero que vejam a luz. Ainda não.
Eu senti alguma coisa descendo o corredor em minha direção. Recebi uma onda de energia e calor sobre meu corpo como uma mão. Como se uma tempestade estivesse correndo em minha direção, como um relâmpago, como o peso crescente no quarto. Abri o trinco da porta e de repente sabia quem era. Richard. Richard caminhando em minha direção. Richard vindo como uma tempestade de raiva.
Fechei o trinco de volta, mas não guardei a arma. Ele era louco. Podia sentir isso. Eu o vi quebrar uma cama king size de carvalho maciço como se não fosse nada quando estava irritado. Eu manteria a arma. Eu não queria ficar com a arma, mas o dilema moral não me incomodou o suficiente para guarda-la. Ascendi as luzes. Sentei-me piscando na luminosidade repentina, um nó apertado estava se formando em meu estômago. Eu não queria vê-o. Não sabia o que dizer para ele desde a primeira noite em que dormi com Jean-Claude. A noite corria de Richard, corria do que ele era nas noites de lua cheia. Corria da visão dos seus animais.
Eu estava descalça e semi nua, reuni minhas roupas. Estava lutando pra colocar o sutiã sem alças, arma ao meu lado na cama, quando senti a cheiro de sua colônia pós- barba. Senti o movimento do ar por baixo da porta e sabia que era seu corpo interrompendo as correntes de ar. Sua colônia não era tão forte. Eu não devia ter cheirado. Eu sabia, de repente, como se tivesse sido sussurrado em meu ouvido que Richard poderia me cheirar através da porta, que ele sabia que eu tinha usado o perfume Oscar de la Renta para Jean-Claude.
Senti as pontas de seus dedos ao lado da porta em um pequeno toque de movimento, sentindo o cheiro do meu corpo profundamente.
Que diabos estava acontecendo? Nós estávamos separados a dois meses, e eu nunca tinha sentido nada assim, não com Richard, e não com Jean-Claude.
A voz de Richard, era dolorosamente familiar:
— Anita, eu preciso falar com você. — Havia raiva em sua voz, em seu corpo. Ele era como um trovão pressionado contra a porta.
— Eu estou me vestindo. — eu disse.
Eu o ouvi na frente da porta.
— Eu sei. Posso sentir você aí dentro. O que está acontecendo conosco?
Isso foi uma pergunta carregada, se alguma vez ouvi uma. Fiquei me perguntando se ele podia sentir minhas mãos enquanto eu sentia seus movimentos atrás da porta.
— Nós não estamos tão perto da madrugada, uma vez que estamos vinculados. Jean-Claude não está aqui para agir como um intermediário. — Eu esperava que fosse isso. A única alternativa que podia pensar era que o Conselho tinha feito alguma coisa com as nossas marcas. Eu não acho que tenha sido isso, porém. Mas não saberemos ao certo até perguntar a Jean-Claude. Maldição.
Richard tentou a maçaneta da porta.
— Por que está demorando tanto?
— Estou quase terminando. — eu disse. Coloquei o vestido. Na verdade, foi o mais fácil das peças de roupa para entrar. Os sapatos não eram confortáveis, sem meias, mas descalça eu me sentia ainda menos preparada. Não é possível explicar, mas sapatos me fazem sentir melhor. Tirei a cadeira e abri a porta. Recuei um pouco rápido demais, até que eu estava do outro lado da sala. Coloquei minhas mãos para trás, ainda segurando a arma. Não acho que ele ia me machucar, mas nunca o senti assim. Sua raiva era como um nó queimando minhas entranhas.
Ele abriu a porta com cuidado, como se tivesse que pensar antes de cada movimento. Seu controle era uma linha fina, tremendo entre a sua raiva e eu.
Ele tinha 1,82 mt, ombros largos, com maçãs do rosto alta, esculpida e uma boca macia. Havia uma covinha no queixo, e ele estava muito bonito. Seus olhos ainda estavam castanho chocolate, só a dor em si era nova. Seu cabelo caía em ondas de espessura em torno de seus ombros, um castanho tão cheio de ouro e cobre que deveria haver uma palavra diferente para ele. Marrom é uma palavra monótona, e seu cabelo não era assim. Eu amava correr as mãos pelos seus cabelos, agarrando seus cachos enquanto nos beijávamos.
Ele usava uma camiseta vermelho sangue, que deixava seus ombros e braços musculosos, nus. Eu sabia de cada centímetro dele que você podia ver, e o que não podia, era um bronzeado bonito castanho suave. Mas não era realmente intenso, apenas a sua cor natural de pele.
Meu coração estava batendo na minha garganta, mas não era medo. Ele olhou para o vestido preto. Meu rosto limpo da maquiagem, o cabelo despenteado, e senti seu corpo reagir à visão de mim. Eu me senti como se fosse uma torção em meu próprio corpo. Tive que fechar os olhos para não olhar para o seu jeans e ver se o que eu estava sentindo era visível.
Quando abri os olhos, ele não se moveu. Apenas ficou lá no meio da sala, fechando as mãos em punhos, respirava um pouco rápido demais. Seus olhos eram selvagens, mostrando muito o branco, como um cavalo prestes a disparar.
Eu falei primeiro.
— Você disse que queria falar comigo então fale. — Eu parecia ofegante. Era como se pudesse sentir o coração de Richard, seu peito subindo e descendo, como se fosse meu próprio coração. Eu tive momentos assim com Jean-Claude, mas nunca com Richard. Se tivéssemos sentido isso antes, teria sido interessante. Agora, ele estava apenas confuso.
Ele relaxou as mãos, flexionando-as, lutando para não fazer punhos.
— Jean-Claude disse que estava nos protegendo uns dos outros. Impedindo-nos de chegar muito perto, até que estivéssemos prontos. Não acreditei nele, até agora.
Concordei.
— É esquisito.
Ele sorriu e balançou a cabeça, mas o sorriso nunca tirou a raiva de seus olhos.
— Esquisito? Será que isso é tudo para você, Anita? Apenas esquisito?
— Você pode sentir o que estou sentindo, neste momento, Richard. Responda à sua própria maldita pergunta.
Ele fechou os olhos e apertou as mãos na frente de seu peito. Apertou as palmas das mãos até os braços tremeram com o esforço, lutando por todo o caminho até os ombros.
Senti que ele saiu de mim. Embora não compreendesse como fez isso. Era como se construísse um muro entre nós. Ele estava levantando escudos mentais entre nós. Alguém tinha que fazer. Eu não tinha pensado em experimentar. A visão e a sensação dele na minha mente havia me transformado em um hormônio pulsante. Era muito constrangedor para colocar em palavras.
Vi seu corpo relaxar, um músculo de cada vez, até que ele abriu os olhos, devagar, quase sonolento, o corpo quieto, em paz. Eu nunca tinha sido tão boa em meditação.
Ele baixou os braços e olhou para mim.
— Melhor?
Concordei.
— Sim, obrigada.
Ele balançou a cabeça.
— Não me agradeça. Ou me controlava ou sairia gritando.
Ficamos ali, olhando um para o outro. O silêncio era incômodo.
— O que você quer Richard?
Ele deu uma risada sufocada, que trouxe calor até o meu rosto.
— Sabe o que eu quis dizer.
— Sim. — ele disse — Eu sei o que você quis dizer. Você invocou o seu direito como lupa, enquanto eu estava fora da cidade.
— Você quer proteger Stephen?
Ele concordou.
— Você não tinha o direito de ir contra as ordens expressas de Sylvie. Ela foi à única que deixei a cargo, não você.
— Ela tinha removido a proteção do bando sobre dele. Sabe o que isso significa?
— Melhor do que você. — disse ele. — Sem a proteção de uma posição dominante você é carne de ninguém, como os homens-leopardo depois que matou Gabriel.
Eu o empurrei para longe da parede.
— Se você tivesse me dito o que estava acontecendo com eles, Richard, eu teria ajudado.
— Você? — Apontou a arma na minha mão. — Ou será que você acabaria de matá-los?
— Não, isso é o que Sylvie queria fazer, não eu. — Mas eu estive lá com a arma na minha mão e não sabia uma boa maneira de guardá-la.
— Eu sei o quanto você odeia metamorfos, Anita. Eu não acho que você daria a mínima, e ninguém mais quer saber o que eles teriam dito. Todos eles pensavam que você não se importaria. Quero dizer, se você pode rejeitar alguém que supostamente preferia porque vira um monstro, uma vez por mês, que chance tem os estranhos?
Ele estava sendo deliberadamente cruel. Nunca o tinha visto fazer qualquer coisa só para machucar, agora tentava enfiar a faca um pouco mais fundo. Isso era baixo, uma coisa que não esperava de Richard.
— Você me conhece melhor do que isso.
— Eu? — disse ele. Ele se sentou na cama, pegando a ponta do lençol. Levantou o pano no rosto e tomou um longo suspiro profundo. Ficou me olhando com cara feia quando fez isso.
— O seu cheiro ainda me move como uma espécie de droga e eu te odeio por isso.
— Passei alguns minutos dentro de sua cabeça, lembre-se. Você não me odeia Richard. Seria menos doloroso se você odiasse.
Ele amassou o lençol em seu colo, fez uma bola com o pano com punhos apertados.
— O amor não conquista tudo, não é?
Eu balancei minha cabeça.
— Não.
Ele estava em movimento quase violento, passeando em círculos pelo quarto. Chegou a ficar na minha frente. Não havia nenhuma mágica agora, apenas duas pessoas. Mas ainda era difícil ficar tão perto dele. Ainda era difícil saber que não estava autorizada a tocá-lo mais. Droga, ele não devia ter sido tão difícil. Eu fiz minha escolha.
— Você nunca foi minha amante, agora não é nem mesmo minha namorada. Você não é um metamorfo. Você não pode ser minha lupa.
— Você está com raiva porque eu protegi Stephen?
— Você ordenou aos membros do bando que protegessem ele e um homem-leopardo. Você disse que os mataria se não obedecessem. Você não tem esse direito.
— Você me deu esse direito quando você fez sua lupa. — Eu levantei a mão para impedi-lo de interromper. — E quer você queira ou não, foi uma coisa boa que eu tivesse alguma influência sobre eles. Stephen poderia estar morto agora se eu não estivesse lá. E Zane teria causado uma bagunça ainda pior no hospital. Lycantropos não precisam desse tipo de notícia da imprensa.
— Nós somos monstros, Anita. Você não pode ser bom para a imprensa se você é um monstro.
— Não acredito nisso.
— Você acredita que somos monstros, Anita. Você provou isso. Prefere dormir com um cadáver do que me deixar tocar em você.
— O que você quer que eu diga Richard? Me desculpe por não poder lidar com isso? Que eu sinto muito? Que eu ainda estou envergonhada por correr para a cama de Jean-Claude? Que eu pensei menos de mim por não ser capaz de amá-lo depois que eu vi o que você fez com Marcus?
— Você queria que eu matasse Marcus.
— Ele ia matar você se você não o matasse. Então, sim, eu queria que você matasse Marcus. Mas eu não lhe disse para comê-lo.
— Quando um membro do bando é morto em uma luta de posição dominante, todos nos alimentamos. É uma maneira de absorver sua energia. Marcus e Raina não eram realmente uma lembrança do bando.
— Você comeu Raina, também?
— Para onde você acha que os corpos foram? Acha que seus amigos da força policial tinham escondidos todos os cadáveres?
— Eu pensei que Jean-Claude tinha arranjado isso.
— Ele fez, mas foi o bando que fez o trabalho sujo. Os vampiros não se preocupam com um corpo quando está frio. Se o sangue não é quente, eles não querem saber.
Eu quase perguntei se ele preferia a carne morna ou fria, mas não o fiz. Realmente não quero saber. Esta conversa toda não estava indo para lugar nenhum. Olhei para o relógio no meu pulso. — Eu tenho que ir, Richard.
— Vai resgatar seus leopardos?
Olhei para ele.
— Sim.
— É por isso que estou aqui. Eu sou o seu segurança.
— Foi idéia de Jean-Claude?
— Sylvie me disse que Gregory se recusou a machucá-la. Independente do que eles fizeram com Gabriel, eles são licantropos e ajudamos os nossos, mesmo se não forem lukoi.
— Os homens leopardo tem um nome fantasia para si? — Eu perguntei.

Ele concordou.
— Eles chamam a si mesmos de bando. Os lobisomens são os lukoi. Os leopardos são os pard.
Eu esbarrei nele, no ombro, um toque em seu braço nu. Aquele toque levantou os cabelos no meu corpo como se tivesse tocado algo muito mais pessoal. Mas eu me acostumaria a ele. Fiz minha escolha, e não importa o quão confusa eu estivesse, eu não era tão confusa. Então ainda cobiçava Richard, ainda o amava. Escolhi o vampiro, e você não pode ter o seu vampiro e lobisomem, também.
Peguei a metralhadora debaixo da cama e coloquei a correia em meu peito.
— Jean-Claude disse para não matar ninguém. — disse Richard.
— Ele sabia que você viria aqui?
Ele concordou.
Eu sorri, mas não foi feliz.
— Ele não te disse?
— Não.
Ficamos olhando um para o outro novamente.
— Não se pode confiar nele, Anita, você sabe disso.
— Você é o único que recebeu a primeira marca de forma voluntária. O que eu fiz Richard, foi para salvar suas vidas, tanto a dele quanto a sua. Se você realmente pensou que ele era tão malditamente sem confiança, por que nos ligou a ele?
Richard olhou para longe, em seguida falou baixinho:
— Porque eu não achei que perderia você.
— Me espere no corredor, Richard.
— Por quê?
— Tenho que acabar de me vestir.
Seu olhar deslizou para minhas pernas, muito brancas contra o negrume do vestuário.
— Nossa. — disse ele, baixinho.
— Um coldre novo, na verdade, eu disse. — Joguei o outro na noite passada. Por favor, saia.
Ele o fez. Ele nem sequer fez uma última observação. Era uma melhora. Quando ele fechou a porta, me sentei na cama. Não queria fazer isso. Voltar para salvar os leopardos era uma péssima idéia. Ter Richard como segurança era pior ainda. Mas, faríamos isso. Eu não poderia pedir para ficar em casa. Além disso, precisava de apoio. Não importa o quanto fosse doloroso emocionalmente ficar ao lado dele, Richard era um dos metamorfos mais poderosos que eu conhecia. Se ele não tivesse uma consciência do tamanho de Rhode Island, teria sido perigoso. Claro, Marcus teria, provavelmente, Richard disse que era muito perigoso tal como ele era. E ele estaria certo.

 

 

 

CAPÍTULO 27

Richard levou o seu 4 X 4 ao circo. Eu sentei ao lado dele, mas de alguma maneira poderia muito bem não estar lá. Ele nunca olhou para mim, muito menos falou. Mas a tensão em seu corpo era suficiente. Ele sabia que eu estava lá.
Cherry e Zane estavam no banco de trás. Surpreendeu-me quando Cherry deslizou para o carro. Seus olhos brilharam, as pálpebras vibravam como um tique nervoso. Ela parecia que ia desmaiar. Zane estava normal; sorrindo, olhos secretos. Era o seu normal? Isso era até engraçado. Eu o conheço a menos de vinte e quatro horas. E não sabia o que diabos era normal para ele.
Cherry tinha afundado no assento, abraçando-se. Ela foi lentamente se transformando em uma pequena bola. Eu a conhecia a menos tempo do que tinha conhecido Zane, mas isso não era normal para qualquer um.
Virei-me na medida em que o cinto de segurança que permitiria, e disse:
— O que está errado, Cherry?
Seus olhos viraram para mim, então ela os fechou, apertado. Balançou a cabeça e se enrolou mais em si mesma. Havia uma nova formação de hematomas no rosto. Poderia ter tido isso quando eu a vi pela primeira vez. Só não tinha certeza.
— Zane, o que há de errado com ela?
— Ela está com medo. — disse ele. Sua voz era neutra, mas havia algo em seu rosto, ele estava com raiva.
— Eu disse a ela que isso era estritamente voluntário. Ela não tinha que vir.
— Diga isso ao Sr. Macho. — ele disse. Ele estava olhando para a parte traseira da cabeça de Richard.
Virei-me no banco até ver seu perfil. Ele não olhou para mim.
— O que aconteceu Richard?
— Ela veio conosco. — disse ele, a voz muito calma.
— Por quê?
— Porque eu disse para vir.
— Mentira.
Ele olhou para mim então. Tentou um olhar frio, mas estava com raiva.
— Você é minha lupa, mas ainda estou Ulfric. Minha palavra ainda é lei.
— Foda-se. Você a está arrastando para isso, porque está com raiva de mim.
O músculo em sua mandíbula apertou o suficiente para que eu visse.
— Os dois desertaram seu povo. Agora farão isso direito. — A voz dele ainda estava calma, baixa, e cuidadosa, como se não fosse cuidadoso perderia o controle. Ele falou como as pessoas falam quando querem gritar.
— Olhe para ela, Richard. Ela vai ser inútil. Será apenas mais uma vítima que teremos que manter segura..
Ele balançou a cabeça.
— Você não deixa para trás um dos seus, por qualquer razão. É a lei.
— É a lei do bando, mas ela não é do seu bando Richard.
— Até que você pare de ser minha lupa, Anita, o que lhe pertence, pertence a mim.
— Você é arrogante.
Ele sorriu, mas era apenas uma mostrar de dentes, mais do que rosnar com humor.
— Todo mundo tem que fazer algo para tomar conta das coisas.
Levei um segundo para perceber o que ele queria dizer, então, fiquei envergonhada. Mas eu seria amaldiçoada se fosse explicar que não quis dizer isso literalmente. Ele sabia que não queria dizer isso. Estava tentando me envergonhar. Que se lixe.
— Você bateu em Cherry?
De repente ele estava muito interessado na estrada, mas as mãos suavizaram no volante. Ele não gostou de bater nela. Nem eu
— Você queria que eu fosse forte. Bem, você conseguiu seu desejo.
— Há uma diferença entre ser forte e ser cruel, Richard.
— Sério? Eu nunca poderia dizer a diferença.
Acho que a última era para mim. Mas você só pode me fazer sentir culpada por algum tempo, e então eu fico louca.
— Bem, se o que pertence a mim pertence a você, então funciona de outra maneira também.
Ele olhou para mim, carrancudo.
— O que você quer dizer?
Eu gostei da inquietação em seu rosto. Gostava de virar a lógica de costas para ele. No meu próprio caminho, eu estava tão irritada com ele como ele estava comigo. Eu não tinha a sua superioridade moral, mas eu não tinha virado uma canibal. Talvez eu tivesse alguma moral elevada, depois de tudo.
— Se você pode forçar Cherry a ir com a gente, então eu posso condenar o bando a proteger Stephen. Eu posso obrigá-los a fazer qualquer coisa. Eu sou dominante suficiente para fazer isso. — Não. — disse ele.
— Por que não?
— Porque eu disse.
Eu ri, então, e até mesmo para mim soou mal intencionado.
Ele gritou, um grito longo e áspero de frustração e raiva.
— Por Deus, Anita, Por Deus!
— Nós vamos cortar uns aos outros, se não trabalharmos juntos. — eu disse.
Ele olhou para mim novamente. Seus olhos não eram mais de raiva. Estavam quase em pânico.
— Você está dormindo com o vampiro. Não há nada para trabalhar.
— Nós três estamos ligados uns aos outros por muito tempo, Richard. Vamos ter que encontrar uma maneira de viver juntos.
Ele riu, e foi amargo.
— Viver juntos? Você quer uma casa para três, com Jean-Claude no porão e me acorrentando no quintal?
— Não exatamente, mas você não pode dizer que não odiaria isso.
— Não sou eu que odeio. É você.
Eu balancei minha cabeça.
— Se isso fosse verdade, eu te deixaria sozinho. Mas você odeia a sua besta e sua besta é você.
Ele parou na frente do circo.
— Nós estamos aqui. — Ele desligou o motor e o silêncio encheu o carro. — Cherry pode esperar aqui.
— Obrigada, Richard. — eu disse.
Ele balançou a cabeça.
— Não me agradeça Anita. — Ele passou suas mãos sobre o rosto e penteou os cabelos com os dedos. O gesto mostrou os braços e no peito a vantagem maravilhosa. Ele nuncasoube do quanto a coisa mais simples que ele fazia me comovia. — Não me agradeça. — Ele saiu do carro.
Eu disse a Cherry para permanecer abaixada. Não quero que tenham a idéia de levá-la enquanto estávamos dentro resgatando os outros. Seria uma espécie de derrotar o objetivo de toda a viagem.
Zane a beijou na testa do jeito que você faria para acalmar uma criança. Ele disse a ela que tudo ficaria bem, que eu os manteria seguros. Deus, eu esperava que ele estivesse certo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 28


Um homem se aproximou para atender Richard. Estava esperando por ele. Chequei o bolso do casaco e destravei a trava de segurança da Browning, porque eu o conhecia.
Zane, que estava muito perto de mim perguntou:
— Tem alguma coisa errada?
Balancei minha cabeça.
— Olá, Jamil.
— Olá, Anita. — Ele tinha 1,82 mt, vestindo um top branco quase idêntico com o de Richard. Só que Jamil tinha cortado a gola, braços a mostra. A regata branca estava em contraste chocante para os ricos sólido marrom de sua pele. Seu cabelo estava na cintura, com tranças entrelaçadas com contas coloridas. Estava suado e parecia que tinha acabado de chegar da academia.
A última vez que tinha visto Jamil ele estava tentando matar Richard.
— O que você está fazendo aqui?— Mesmo para mim, isso não soou amigável.
Ele sorriu mostrando os dentes.
— Estou obedecendo Richard.
— Então?
— Eles nos permitiram substituir cada um, mais o homen-leopardo. — disse Richard. Ele falou sem olhar para mim, olhando o sol brilhante subir na frente do Circo.
— Eu sou um pequeno homem-leopardo e um segurança, eu disse.
Ele olhou para mim então. Seu rosto estava fechado.
— Eu pensei que Jean-Claude havia dito a você, e você apenas decidiu-se contra qualquer substituição.
— Eu mandaria a substituição para o inferno, Richard. Você sabe disso.
— Não me culpe se o seu namorado se esqueceu de mencionar isso.
— Ele provavelmente pensou em mencioná-la.
Ele só olhou para mim com os olhos irritados.
— Existe alguma coisa que você esqueceu de me dizer? — perguntei
— Apenas pediu para lhe dizer, que não deve matar ninguém.
— Ele não mencionou ninguém em particular para matar?— Eu perguntei.
Richard franziu a testa em seguida.
— Por uma questão de fato, ele fez. — ele disse em um sotaque francês muito ruim. — Diga a ma petite para não matar Fernando não importa a provocação.
Isso trouxe um sorriso sinistro para o meu rosto.
— Ótimo.
Jamil estava olhando para mim.
— Esse olhar em seu rosto, baby. É o sorriso mais maléfico que já vi. Fernando fez isso com você? — Para mim pessoalmente, nada.
— Ele estuprou sua Geri, sua segunda em comando. — disse Zane.
Ambos os lobisomens olharam para ele, um lampejo de hostilidade que fez Zane dar um passo para trás. Ele ficou um pouco atrás de mim, o que não funcionou muito já que ele era quase um pé mais alto. Difícil de se acovardar atrás de alguém que é menor do que você.
— Ele estuprou Sylvie? — Richard perguntou.
Concordei.
— Ele tem que ser punido. — disse Richard.
Balancei minha cabeça.
— Eu disse a Sylvie que o mataria. Disse que ia matar a todos.
— Todos?— Richard fez uma pergunta.
— Todos. — eu disse.
Ele olhou para longe, então, não encontrou meus olhos. E perguntou sem se virar:
— Quantos?
— Dois que ela me falou. Pode haver mais, mas se houver ela não está pronta para falar sobre isso ainda.
— Você tem certeza que havia mais do que apenas este Fernando? — Richard olhou para mim, os olhos de esperança, quase como se quisesse me dizer que não era tão ruim quanto parecia.
— Foi estupro em grupo, Richard. Estavam muito orgulhosos em me dizer isso.
— Quem foi o segundo?— ele perguntou.
Ele perguntou. Eu respondi.
— Liv.
Ele piscou para mim.
— Ela é uma mulher.
— Estou ciente disso.
Ele só olhou para mim.
— Como?
Levantei as sobrancelhas para ele.
— Você realmente quer que eu te diga o termo técnico?
Richard balançou a cabeça. Parecia doente. Jamil não. Ele encontrou meus olhos sem pestanejar, o rosto diluído em linhas apertadas, irritado.
— Se eles podem pegar uma das nossas maiores lobas e usá-la assim, então a ameaça do bando não significa nada.
— Isso também. — eu disse. — Mas não vou matar alguém apenas para manter a reputação do bando em bom estado de conservação.
— Então, por quê?— Jamil disse.
Pensei nisso por um segundo.
— Porque eu dei minha palavra que o faria. Cavaram sua sepultura quando a tocaram. Tudo o que eu estou fazendo é enterrando a sujeira.
— Por quê? — Jamil disse. — Você odiava Sylvie. — Pareceu importante para ele que eu respondesse, como se a questão significasse mais do que parecia, pelo menos para ele.
— Eles não a quebraram. Depois de tudo que fizeram com ela, não podiam quebrá-la. Ela poderia ter parado a tortura por desistir do bando. Mas não desistiu deles. — Tentei colocar tudo em palavras. — Esse tipo de fidelidade e força merece o mesmo em troca.
— O que você sabe sobre fidelidade? — Richard perguntou.
— É isso. — eu disse. Virei-me para ele e enfiei o dedo em seu peito. — Podemos ter uma boa briga, uma luta gloriosa depois de salvar Gregory e Vivian. Eles estupraram Sylvie. Você realmente acha que estão fazendo menos com os dois metamorfos que pensavam que não tinham um alfa para protegê-los? — Eu estava cuspindo cada palavra em seu rosto, a voz espremida, apertada e baixa, porque se eu deixasse estaria gritando. — Nós vamos tirá-los de lá e levá-los a algum lugar seguro. Quando fizermos tudo isso, então você pode voltar a ser puto comigo. Pode embrulhar sua inveja e ódio contra você mesmo em torno de nós dois, até sufocar. Mas primeiro, temos trabalho a fazer, razoável?
Ele me olhou por um batimento cardíaco ou dois, então deu o mais desencapado dos acenos.
— Ok.
— Ótimo. — eu disse. Tinha deixado minha bolsa no hospital, mas eu tinha a chave da porta da frente no meu bolso do casaco junto com o ID. O que mais a necessidade de menina podia querer? — Você tem a chave da porta da frente? — Richard perguntou.
— Chega Richard. — eu disse.
— Você está certa. Você está certa, e eu estou errado. Não tenho dado atenção aos negócios à dois meses. Sylvie me disse isso. Eu não a ouvi. Talvez se eu tivesse, ela... Talvez se eu a tivesse ouvido, ela não estaria ferida.
— Jesus, Richard, não entre em outra viagem de culpa. Você poderia ser Átila, o Huno, e mesmo assim o Conselho teria vindo. Sossegue, sua força não os teria mantido de fora.
— O que temos? — ele perguntou.
Eu balancei minha cabeça.
— Eles são do Conselho, Richard. O pior pesadelo. E nos pesadelos não importa o quão forte você é.
— O que eles se procuram? — ele perguntou.
Enfiei a chave na fechadura.
— Assustá-lo. — Empurrei as portas duplas para dentro. Peguei a Browning do meu bolso.
— Não devemos matar ninguém. — disse Richard.
— Eu me lembro. — eu disse, mas mantive a arma fora. Não poderia matar ninguém, mas Jean-Claude não tinha dito que eu não podia mutilar alguém. Pode não ser tão satisfatório, mas quando você precisa eliminar sua ameaça, alguém se contorcendo no chão, com dor, é quase tão bom como um corpo. Às vezes é até melhor.

 

 

 


CAPÍTULO 29


Eu estava de costas para a porta fechada, os outros se espalharam em torno de mim. A luz filtrada e suave descia do alto, das janelas altas. A meio caminho tudo parecia escuro e cansado sob o sol da manhã. A roda-gigante elevou sobre a casa assombrada e labirinto de espelhos e as cabines de jogo. Era um carnaval completo de viagem. Cheirava supostamente a algodão doce, cachorros quentes, bolos do funil.
Dois homens saíram da tenda do circo grande que pegava um canto inteiro. Eles caminharam em nossa direção, lado a lado. O homem mais alto tinha cerca de 1,90 mt, ombros quadrados, com o cabelo que estava entre o louro e castanho. O cabelo era reto, grosso, e longo o suficiente para enroscar na borda do colarinho. Vestia uma camisa branca dobrada em jeans branco, completo com cinto branco. Sapatos brancos, sem meias. Ele parecia que tinha caminhando por uma praia em um comercial de cartão de crédito, exceto pelos olhos. Mesmo a distância havia algo estranho sobre os olhos. Eles estavam alaranjados. As pessoas não têm olhos dessa cor.
O segundo homem tinha cerca de 1,70 mt, cabelo dourado, escuro e muito curto. Um bigode marrom enfeitava seu lábio superior e curvava para trás para terminar em costeletas acastanhada. Ninguém usava um bigode assim desde 1800. Sua calça branca estava apertada dentro de um par de botas pretas polidas. Um colete e uma camisa branca saiam debaixo de um casaco vermelho. Ele parecia que deveria ter sido equitação para os cães, perseguindo pequenos animais peludos.
Seus olhos eram de um castanho bonito e normal. Mas os olhos do primeiro homem que acabava de chegar eram os mais estranhos. Seus olhos eram amarelo-âmbar, não, não marrom- amarelado com pontos laranja irradiando da íris a uma roda de cor. Não eram olhos humanos, de maneira nenhuma, não tinha como.
Se não fosse pelos olhos, eu não o teria reconhecido como um lobisomem. Eu tinha visto fotos de tigres com os olhos assim.
Eles pararam um pouco longe de nós. Richard ficou ao meu lado, Zane e Jamil nas nossas costas. Todos ficaram olhando uns para os outros. Se eu não tivesse conhecido melhor. Teria dito que os dois homens estavam desconfortáveis ou constrangidos.
O menor homem menor disse:
— Eu sou o capitão Thomas Carswell. Você deve estar Richard Zeeman. — Tinha um sotaque britânico e superior da crosta.
Richard deu um passo em frente.
— Eu sou Richard Zeeman. Este é Anita Blake, Jamil, e Zane.
— Eu sou Gedeão. — o homem com os olhos amarelos, disse. Sua voz era quase dolorosamente baixa, como se no discurso humano ele rosnasse. O som era tão baixo que vibrou em minha espinha.
— Onde estão Vivian e Gregory? — Eu disse.
O capitão Thomas Carswell piscou e olhou para mim. Ele não parecia contente com a interrupção. — Perto.
— Primeiro, nós precisamos de sua arma, Sra. Blake. — disse Gideon
Balancei minha cabeça.
— Eu acho que não.
Eles trocaram olhares.
— Não podemos permitir que avance com uma arma na mão, Sra. Blake. — Carswell disse.
— Toda vez que alguém quer pegar minha arma, significa que não confiam em mim ou planejam fazer algo que eu não gosto.
— Por favor. — disse Gideão com sua voz rouca. — Certamente você deve entender nossa relutância. Você tem uma certa reputação.
— Anita? — Richard disse, meio-pergunta, meio outra coisa.
Acionei a trava de segurança e a estendi a Gideão. Eu tinha duas armas e mais duas facas. Eles poderiam ficar com a Browning.
Gideão tomou a arma de mim e se afastou para ficar ao lado Carswell.
— Obrigado, Sra. Blake.
Concordei.
— Você é bem vinda.
— Vem conosco? — Carswell disse. Ofereceu-me o braço, como se estivesse me acompanhando para jantar.
Olhei para ele, então de volta para Richard. Eu levantei minhas sobrancelhas, tentando perguntar o que pensava sem pedir.
Ele deu um meio encolher de ombros.
Enfiei meu braço esquerdo no braço de Carswell.
— Você está sendo muito civilizado sobre isso. — eu disse.
— Não há motivo para perder todas as boas maneiras só porque as coisas se tornaram... Um pouco extremas.
Deixei-me levar, Gideão entrou em sintonia com Richard. Eles tinham quase a mesma altura, e a turvar de energia que veio deles deixou o cabelo do meu pescoço em pé. Estavam testando o poder um do outro, provar um ao outro, sem fazer absolutamente nada, mas dificilmente reduzindo seu controle. Jamil e Zane vinham atrás, como bons soldados.
Estávamos quase na tenda quando Carswell parou apertando a mão no meu braço. Enfiei minha mão direita atrás das costas, sob o paletó, toquei a metralhadora.
— Há algo pesado em suas costas Sra. Blake. Isso não é uma bolsa. — O aperto em meu braço ficou mais forte, não doeu, mas eu sabia que não ia me deixar ir, não sem uma luta.
Balancei a metralhadora em torno da sua pulseira com minha mão direita e coloquei o barril em seu peito, sem empurrões, só lá, como a mão no meu outro braço.

— Vamos todos manter a calma. — eu disse.
Os outros homens, de repente ficaram alertas.
— Vamos lhe dar seu povo, Sra Blake. — Gideon rosnou. — Não há necessidade disso.
— Thomas aqui perguntou o que eu tinha nas minhas costas. Estou mostrando a ele.
— Você não me conhece suficientemente bem para me chamar pelo meu nome de batismo, Sra. Blake. — Carswell disse.
Pisquei para ele. Não havia medo nele. Ele era um homem,puxe o gatilho e ele se vai , mas não havia medo. Olhei em seus olhos castanhos e vi apenas. . . tristeza. A tristeza cansada como se a morte fosse quase bem vinda.
Eu balancei minha cabeça.
— Desculpe capitão Carswell.
— Não podemos, eventualmente, deixar você ir para dentro da tenda com esta arma. — Sua voz era muito calma.
— Seja razoável Anita. — disse Richard. — Se fosse ao contrário, você faria a mesma coisa.
O problema é que eu tinha que tirar o casaco para tirar a metralhadora. Se eu tirasse o casaco, eles veriam as facas. E não queria perdê-las. Claro, eu ainda teria a Flama.
Deixei a metralhadora escorregar de volta para fora de vista.
— Vou ter que remover o meu casaco.
Carswell liberou meu braço com cautela e recuou, ainda perto o suficiente para me agarrar. Olhei para suas roupas com cuidado. O casaco estava adaptado para um coldre de ombro, as calças não tinham bolsos, mas ele poderia ter algo pequeno nas costas.
— Vou retirar meu casaco se você remover o seu. — eu disse.
— Eu não tenho armas, Sra Blake.
— Remova o seu casaco e eu acreditarei em você.
Ele suspirou e deslizou para fora do casaco vermelho, virou-se em um círculo completo, os braços para os lados.
— Como você vê, sem armas. — Para ter certeza eu precisaria apalpar suas costas, mas não queria que ele retribuísse o favor, assim eu o deixei ir.
Tirei meu casaco e vi seus olhos arregalarem na bainha de pulso.
— Sra. Blake estou impressionado e decepcionado.
Deixei cair o casaco no chão e passei a pulseira sobre minha cabeça. Odiava desistir da metralhadora, mas. . . Eu não entendi. Eles tinham feito coisas horríveis com Gregory e Vivian. Eu não confiaria necessariamente em mim com uma arma se estivesse no seu lugar. Entreguei a arma a Carswell.
Seus olhos se arregalaram um pouco.
— Com medo de que eu ficarei com você e seus amigos?
Dei de ombros.
— Não se pode culpar uma garota por ser cautelosa.
Ele sorriu, e quase chegou a seus olhos.
— Não, suponho que eu não posso.
Enfiei uma das facas da bainha e entregou-lhe o cabo primeiro.
Ele recusou.
— Você pode manter suas facas, Sra. Blake. Proteção, só se alguém ficar muito próximo, ou muito pessoal. Acho que uma senhora deve ser autorizada a defender sua honra.
Droga, ele estava sendo simpático e cortês. Se eu mantivesse a segunda arma e ele descobrisse mais tarde, poderia não ser tão bom.
— Droga. — eu disse.
Carswell franziu a testa.
— Tenho mais uma arma.
— Deve estar muito bem escondida, Sra. Blake.
Suspirei novamente.
— Inconvenientemente que sim. Você quer ou não?
Ele olhou para Gideão, que assentiu.
— Sim, por favor, Sra. Blake.
— Todos de costas.
Recebi olhares divertidos.
— Tenho que levantar o vestido para pegar a arma. Não quero ninguém espiando. — Tudo bem, isso era estúpido e infantil, mas não podia simplesmente levantar o vestido na frente de cinco homens. Meu pai me ensinou melhor do que isso.
Carswell se voltou sem que eu pedisse uma segunda vez. Parecia muito divertido, mas todos se viraram, com exceção de Gideon.
— Eu seria um guarda-costas idiota se permitisse que você atirasse em nossas costas, enquanto estivéssemos defendendo a sua modéstia. — Ele tinha um ponto.
— Tudo bem, eu vou virar as costas. — Foi o que fiz, peguei a arma na última hora. A faixa na barriga parecia uma boa idéia, mas a Firestar estava no bolso do casaco. Eu estava cansada de brincar com ela.
Entreguei a arma para Gideão. Ele a tomou, perguntando ainda divertido.
— Isso é tudo, exceto para as facas?
— Sim. — eu disse.
— A tua palavra de honra?
Concordei.
— A minha palavra.
Ele concordou, também, como se isso fosse suficiente. Eu já sabia que Carswell era um cervo humano de alguém. Ele era artigo genuíno, um soldado do exército britânico da Rainha Victoria. Mas até aquele momento não sabia que Gideão era tão antigo. Lobisomens não envelhecem tão lentamente. Ele recebeu ajuda de algum lugar ou era mais do que apenas um metamorfo.
— Lycantropo. — eu disse — mas o que mais você é?
Ele sorriu, então, mostrando suas pequenas presas superior e inferior. O único licantropo que eu tinha visto com presas como estas, tinha sido Gabriel. Você conseguia esse efeito se passasse muito tempo na forma animal.
— Adivinhe. — disse ele em um sussurro tão baixo e surdo que me fez estremecer.
Carswell disse:
— Podemos nos virar Sra Blake?
— Claro. — eu disse.
Ele colocou o casaco de volta, alisando-o no lugar, e ofereceu-me o braço mais uma vez.
— Podemos Sra. Blake?
— Anita, meu nome é Anita.
Ele sorriu.
— Então você pode me chamar de Thomas. — Ele disse como se não deixasse muita gente chamá-lo pelo seu primeiro nome.
Ele me fez sorrir.
— Obrigada Thomas.
Enfiei meu braço com mais segurança na curva do seu próprio.
— Eu gostaria... Anita, que nossa reunião fosse feita em melhores circunstâncias.
Contemplei seus olhos tristes e disse:
— O que está acontecendo ao meu povo, enquanto você me segura aqui com seus sorrisos educados?
Ele suspirou.
— Estou esperando que seja concluído antes que os leve até eles. — Um olhar quase como dor atravessou seu rosto. — Não é uma cena bonita para uma senhora.
Tentei puxar meu braço, e ele apertou com mais força. Seus olhos não estavam mais tristes. Estavam cheios de algo que eu não sabia ler.
— Sei que esta não é minha escolha.
— Me solta, Thomas.
Deixou-me tirar o meu braço livre dele. De repente estava com medo do que estava dentro da tenda. Eu nunca tinha falado com Vivian, e Gregory era um pedaço de droga pervertida, mas de repente não queria ver o que tinha acontecido com eles.
Gideão disse:
— Thomas, ela deve...?
— Deixe-a. — disse ele. — Ela tem apenas o facas.
Eu não fiz exatamente correr, mas estava perto, quando cheguei à aba fechada da barraca. Ouvi Richard dizer.
— Anita...
Senti que ele vinha atrás de mim. Joguei a lona de lado e entrei. A tenda tinha apenas um picadeiro, um picadeiro central. Gregory estava nu em uma pilha no centro desse picadeiro, com as mãos amarradas atrás das costas com fita adesiva cinza grossa. Seu corpo era uma massa de hematomas e cortes. Pude ver os ossos cintilando nas pernas, irregulares e molhados, onde tinham quebrado as pernas. Fraturas expostas são coisas muito desagradáveis. Era por isso que ele não podia andar para fora em seu próprio poder. Eles haviam quebrado suas pernas.
Houve um pequeno som que chamou minha atenção do corredor para o parapeito em torno do picadeiro. Vivian e Fernando estavam lá também. Não tinha visto porque estavam muito perto do lado dos trilhos, escondidos da vista.
Vivian levantou o rosto acima do chão, a fita em toda sua boca, um olho sangrento e inchado. Fernando empurrou o rosto dela para o chão, mostrando as mãos amarradas com fita adesiva. Mostrando que o estava fazendo com ela. Ele saiu de dentro dela, molhado e terminou em uma última estocada. Bateu na bunda nua dela, dando um tapa fraco.
— Isso foi bom.
Eu já estava caminhando em direção a eles na areia da arena. O que significa que tinha andado ao longo dos trilhos em saltos altos. Não lembro de ter feito isso.
Fernando se levantou, colocando suas calças, sorrindo para mim.
— Se você tivesse negociado sua liberdade, eu nunca teria sido autorizado a tocá-la. Meu pai não concordaria.
Eu continuei a andar. Tirei uma das facas para fora, deslizando ao lado do vestido. Não tinha certeza se tinha notado, ou se eu me importava. Apontei minha mão esquerda vazia para ele.
— Você é um grande homem, quando uma mulher está amarrada e amordaçada. Como é quando a mulher está armada?
Ele sorriu, e estava zombando de Vivian Ele a tocou com o pé, casualmente, como se enxota um cão.
— Ela é bonita, mas um pouco submissa demais para o meu gosto. Eu gosto mais delas com uma boa luta, como uma cadela briguenta. — Ele terminou de fechar as calças, passando suas mãos pelo peito, como se lembrar. — Bourre C't'une bonne.
Eu sabia francês o suficiente para saber que ele disse que Sylvie tinha uma postura melhor. Eu equilibrei a faca. Não foi feita para jogar, mas um beliscão ia fazer.
Não havia a menor sombra em seus olhos, como se fosse a primeira vez que ele percebesse que não havia ninguém aqui para salvá-lo, então alguma coisa saltou sobre os trilhos. Um borrão de velocidade e de movimento que bateu forte em Fernando, o suficiente para fazê-lo rodar e cair de cara na terra. Quando se virou para cima, Richard estava em cima dele.
Eu gritei:
— Não o mate, Richard! Não o mate! — Corri para eles, mas Jamil chegou primeiro. Jamil ajoelhou-se perto de Richard, agarrando seu braço, dizendo-lhe algo. Richard agarrou Jamil pelo pescoço e o atirou através da arena. Corri para Jamil, ajoelhada ao lado dele, mas era tarde demais. Sua garganta foi esmagada. Seus olhos estavam arregalados, assustados, ele tentou respirar, mas não estava funcionando. Suas pernas convulsionavam, curvando sua espinha, enquanto ele lutava para respirar. Ele agarrou a minha mão, os olhos gritando para mim. Não havia nada que eu pudesse fazer. Ou ele se curava ou ele morreria.
Eu gritei:
— Droga, Richard, ajude-o!
Richard enfiou a mão no estômago de Fernando. Ele não tinha garras ainda. Era só dedos humanos cavando na carne, buscando o coração. Era forte o suficiente para conseguir, a menos que o detivesse.
Me levantei e a mão de Jamil deslizou para fora da minha. Soltou-me, mas seus olhos me perseguiam. Corri para Richard, gritando seu nome:
— Richard!
Ele me olhou com olhos de lobo âmbar em seu rosto humano. Chegou para mim com uma mão sangrenta, e os escudos mentais que nos mantinha a salvo de um outro acidente.
Minha visão ficou preta, e quando pude ver outra vez, estava de joelhos. Eu podia sentir meu corpo, mas também podia sentir os dedos de Richard abrindo seu caminho através da carne grossa. O sangue estava quente, mas não era suficiente. Ele queria usar os dentes para abrir a barriga e estava lutando contra o desejo.
Thomas se ajoelhou ao meu lado.
— Use sua marca para acalmá-lo antes que ele mate Fernando.
Balancei minha cabeça. Meus dedos estavam rasgando a carne. Eu tinha as minhas mãos pressionando meus olhos para me lembrar o corpo que eu estava, dentro encontrei minha voz, o que me ajudou a nos separar. Me ajudou a saber quem eu era, onde eu estava.
— Droga , eu não sei como.
— Então, tome a sua raiva, a sua besta. — Thomas tocou minhas mãos, segurando firmemente, para não machucar, mas para me ajudar a ancorar-me neste corpo. Segurei suas mãos e olhei para o rosto dele como uma mulher se afogando.
— Eu não sei como, Thomas.
Ele fez um som exasperado.
— Gideon terá de intervir até que você possa acalmá-lo. — Era quase uma pergunta.
Concordei. Claro, eu estava prestes a matar Fernando, mas sabia que, se matasse, nunca veria outro amanhecer. Padma nos mataria. Mataria todos nós.
Eu ficava olhando para a cara de Tomás, mas sentia-me agarrada por Gideon. Ele puxou Richard para longe de Fernando. Richard se retorceu e bateu em Gideon, derrubando no chão, em seguida, pulou sobre ele. Eles passaram a rolar sobre o chão, cada um tentando chegar no topo. A única coisa que impedia de ser uma luta de morte era que os dois estavam em suas formas humanas, tentavam lutar como se tivessem garras. Mas a besta de Richard foi crescendo dentro dele. Se ele mudasse, mataria Gideon e nós nunca o impediamos de matar outra pessoa.
Thomas tocou meu rosto, e percebi que não tinha visto seu rosto. Eu estava vendo olhos estranhos, Gideon a centímetros de distância com minhas mãos tentando esmagar sua garganta. Mas não eram as minhas mãos.
— Ajuda-me. — eu disse.
— Basta se abrir para sua besta. — disse Thomas. — Basta se abrir e vai enchê-lo. A besta está procurando um canal de fuga. Dê-lhe um e vão decorrer em você. — Eu soube naquele instante que Thomas e Gideon eram parte de um triunvirato, assim como nós estávamos.
— Eu não sou um lobisomem. — eu disse.
— Isso não importa. Faça, ou vamos ter que matá-lo.
Eu gritei e fiz o que ele disse. Mas não era só me abrir a ele. Estiquei a mão para a raiva, para esse poder, chamei para que sua besta viesse ao meu toque. Eu cheirava a casa para ela, de alguma forma, e se derramou em mim, por mim, para mim, como uma tempestade de cegueira de calor e energia. Era semelhante aos tempos em que eu tinha levantado o poder com Richard e Jean-Claude, mas desta vez não havia feitiço para usar a energia. Nenhum lugar para a besta ser executada. Ela tentou se arrastar para fora da minha pele, tentou expandir dentro do meu corpo, mas não havia nenhum animal para chamar. Eu estava vazia pra ela, e ela se alastrava dentro de mim. Eu a sentia crescer até que pensei que eu iria estourar além de fragmentos de sangue. A pressão construída não tinha para onde ir.
Eu gritei, um grito longo e irregular após o outro, tão rápido como eu poderia recuperar o fôlego. Senti Richard rastejando para mim, senti suas mãos e pernas se movem sobre a terra, senti os músculos de seu corpo que se rastejando em uma arte sensual, uma perseguição. Ele apareceu em cima de mim, apenas o rosto, olhando para baixo. Seus longos cabelos caíram em torno de seu rosto como uma cortina de sombreamento. Sangue brilhava no canto de sua boca. Senti que ele queria lamber o sangue para fora, mas ele parou, e esta intimamente ligada, eu sabia por que ele parou. Por mim. Medo de que eu pensaria que ele era monstruoso.

Seu poder ainda estava tentando encontrar uma maneira de sair do meu corpo. Ele queria o sangue, também. Ela queria lamber o sangue de seu rosto e saborear em sua boca. Queria quebrar o calor do seu corpo em torno de si e se tornar um. Seu poder gritou como um amante frustrado que abre os braços, seu corpo, sua mente, para ele. Richard deu um nome para além de si mesmo, sua besta não, mas estava separado. Naquele momento eu percebi porquê Richard correu tão longe do poder. Era ele. Assim como a forma em pêlo dele foi retirado da matéria do próprio corpo humano, assim como a raiva, a destruição, foi retirada de sua própria psique humana. Sua besta foi formada da parte do nosso cérebro, podemos enterrar, apenas arrastando em nossa consciência no pior dos nossos pesadelos. Não os sonhos, onde são caçados pelos monstros, mas os sonhos que nós somos os monstros. Nós levantamos as mãos sangrentas para o céu e gritamos, não de medo, mas de alegria. A pura alegria de abate. O momento de catar-se, quando mergulhamos em nossas mãos o sangue quente dos nossos inimigos e não há pensamento civilizado para nos parar de dançar em seus túmulos.
O poder queimava dentro de mim como uma mão acariciando de dentro para fora, estendi a mão para ele com ele se ajoelhando em cima de mim. O medo encheu seus olhos, e não era para mim ou medo de mim. Era o medo que a besta fosse a realidade e que toda a moral, tudo o que era ou já tinha sido, fosse mentira.
Olhei para ele.
— Richard — sussurrei — nós somos todos criaturas de luz e escuridão. Abraçando sua escuridão não vai matar a luz. Bondade é mais forte do que isso.
Ele caiu de joelhos, fixo ao solo, apenas se sustentando nos cotovelos. Seu cabelo em meu rosto, eu tive que lutar contra o desejo de esfregar meu rosto para frente e para trás. Nesta proximidade eu podia sentir o cheiro de sua pele, sua loção pós-barba, mas debaixo disso era ele. O cheiro quente de seu corpo. Eu queria tocar nesse calor, para quebrar a minha boca em torno dele e tentar segurá-la para sempre. Eu o queria. O poder queimado no pensamento, pensamentos primitivos, animados, tornou mais difícil controlar.
Ele sussurrou, o sangue ainda escorrendo de sua boca.
— Como você pode dizer que a bondade é mais forte? Eu quero lamber o sangue de meu próprio corpo. Quero apertar minha boca sangrando na sua. Eu quero que você se alimente de minha ferida. Isso é mal.
Toquei seu rosto, o traço mais básico dos dedos, e mesmo isso fez saltar de poder entre nós.
— Não é o mal, Richard. Ele só não é muito civilizado. — O sangue foi construindo em uma única gota tremor na borda do seu rosto. Ele caiu na minha pele e era escaldante. Seu poder queimado para cima e me levou com ela. Ela queria beber o sangue do rosto de Richard. Parte de mim ainda estava dizendo “não” quando eu levantei minha cabeça apenas o suficiente para executar os lábios, minha língua, e levemente meus dentes ao longo de seu rosto. Deitei-me com o sabor salgado dele na minha boca e queria mais. Isso me assustou. Eu estava tão assustada desta parte dele, de mim, como ele era. Foi por isso que eu corri com ele na noite de lua cheia. Não que ele tivesse comido Marcus, que embora não tivesse ajudado, ou que tudo tivesse acabado tão mal. A memória que assombrou, era o momento eu tinha sido levado pela força da bando, e por apenas um instante eu queria cair de joelhos e me alimentar com eles. Eu tinha medo que a besta de Richard ficasse com o que restava da minha humanidade. Eu estava com medo, pelo mesmo motivo Richard estava com medo. Mas o que eu disse era verdade. Não era mal, só não era muito humana.
Ele colocou seus lábios contra os meus num beijo trêmulo. Um som veio de baixo em sua garganta, e ele subitamente pressionou sua boca contra a minha, até que ferisse ou abrisse a boca para ele. Abri, e ele mergulhou sua língua dentro de mim, seus lábios se alimentando dos meus. O corte dentro de sua boca encheu a minha com o gosto dele, salgado, doce. Segurei seu rosto em minhas mãos, minha boca procurando a sua, e não era suficiente. Um som entusiasmado rastejou para fora da minha boca na sua. O som era composto de necessidade e frustração, um desejo que não era civilizado e nunca tinha sido. Estávamos jogando Ozzie e Harriet, mas o que queríamos um do outro era mais Hustler e Penthouse.
Ficamos de joelhos, as bocas ainda unidas. Minhas mãos deslizavam sobre seu peito, costas, e algo dentro de mim se abriu e relaxou. Como poderia estar tão próxima a ele e não tocá-lo?
Seu poder tentou derramar para fora, mas eu tinha que fazê-lo voltar. Segurei como fazia com minha própria magia, deixando-a crescer até que não pudesse segurar por mais tempo.
Richard deslizou as mãos pelas minhas pernas encontrando o início do laço da calcinha preta. Seus dedos traçaram minha espinha nua e eu estava desfeita.
O poder derramou para cima, para fora, enchendo-nos. Queimava sobre nós em uma onda de calor e luz, nadou até deixar minha visão em pedaços, e gritamos em uníssono. Seu animal escorregou para dentro dele. Eu o senti rastejar para fora de mim, puxado como uma corda grande, grosso, voltando para dentro de Richard, enrolando em seu corpo. Esperava sentir a última partícula se derramar entre nós, como beber a última gota de vinho de um copo, mas a queda se manteve.
Em algum lugar corria seu poder, senti Richard assumir o controle do seu animal e enviar esse calor pulsante para fora, para Jamil. Eu não saberia como fazê-lo, mas Richard fez. Senti Jamil se curar sob a trovejante corrida de poder.
Richard se ajoelhou comigo nos braços, meu rosto colado em seu peito. Seu coração batia contra minha bochecha, como uma coisa viva. O suor escorria por seu corpo em um orvalho de luz. Eu lambi o suor de seu peito e fiquei olhando para ele.
Seus olhos estavam pesados, tonto. Você quase podia confundir com um olhar de sono, mas não totalmente. Levou suas mãos em concha em ambos os lados do meu rosto. A ferida na boca estava curada. A pressa de poder, sua besta, o tinha curado. Baixou os lábios macios nos meus, levemente, apenas um roçar.
— O que vamos fazer?
Eu segurei sua mão contra o meu rosto.
— Vamos fazer o que viemos fazer.
— Então o quê? — ele perguntou.
Eu balancei a cabeça, esfregando o rosto contra suas mãos.
— Sobreviver primeiro, Richard. Nos preocupamos com as sutilezas mais tarde.
Algo encheu seus olhos com uma arremetida repentina de pânico.
— Jamil, eu poderia tê-lo matado.
— Você também o curou.
Um pouco do pânico deixou seu rosto, ele ficou de pé e foi para seu executor caído. Um pedido de desculpas, no mínimo, era necessário. Realmente não conseguia argumentar com isso.
Eu fiquei de joelhos, não tinha certeza se poderia andar ainda, por uma variedade de razões.
— Não foi da maneira que Gideão e eu teríamos feito — disse Thomas — mas deu certo.
Senti meu rosto aquecer.
— Desculpe.
— Não peça desculpas. — Gideon rosnou — Foi um espetáculo lindo. — Ele se arrastou para nós, um braço embalado contra seu corpo. Sangue escorria do braço e ombro. O sangue vermelho estava brilhante contra a camisa branca. Eu não tinha absolutamente nenhum desejo de lamber o sangue de seu corpo. Eu era grata por isso.
— Richard fez isso?— Eu perguntei.
— Ele estava começando a mudar de forma quando você se ligou a ele. Você bebeu seu animal e ele se acalmou. — Sentou-se inclinado para um lado, uma poça pequena de hemorragia no chão, mas ele não pediu ajuda, não pela palavra ou expressão. Thomas estendeu a mão para ele. Tocou o ombro em um gesto neutro, quase fraternal. Seu poder reforçado como picadas na pele, corrida sobre mim como um vento frio, mas se eu não tivesse sido capaz de perceber isso, eu nunca saberia.
— É assim que vocês fazem na Europa? — Eu perguntei — Ou eu e Richard fizemos algo de errado?
Thomas sorriu, mas foi Gideão quem respondeu.
— Você não fez nada de errado. Na verdade, sinto-me bastante enganado. — Ele acariciou a mão de Thomas e sorriu mostrando as presas. — Há maneiras de compartilhar o poder, que são mais silenciosas e menos... vistosa. Mas hoje você fez o que precisava ser feito. Era uma coisa desesperada e pediu medidas desesperadas.
Eu o deixei ir. Não era preciso explicar como, muitas vezes estando em torno de Richard eu terminava em tais “medidas desesperadas”. Do outro lado do ringue Jamil se sentou com a ajuda de Richard. Zane tinha desamarrado os leopardos. Ele levou Vivian até Gregory. Ambos se ajoelharam ao lado dele, Vivian e Zane se abraçaram chorando.
Testei meus pés e descobri que podia andar. Ótimo. Richard chegou lá antes de mim. Ele acariciou o cabelo emaranhado de Gregory, seu rosto até que o homem-leopardo olhou para ele.
— Temos que concertar essas pernas.
Gregory concordou com a cabeça, os lábios numa linha fina, apertado, me fez lembrar de Cherry.
— Precisamos de um hospital para isso. — eu disse.
Richard olhou para mim.
— As pernas já começaram a se curar Anita. A cada minuto os ossos que estão fora de alinhamento se unem de forma errada.
Fiquei olhando para as pernas Gregory. Ele estava totalmente nu, mas os ferimentos eram tão terríveis que não era constrangedor, era simplesmente desprezível. Suas pernas até os joelhos, estavam dobrados no sentido errado. Eu tive que fechar os olhos e desviar o olhar. Se fosse um cadáver, eu poderia ter olhado para ele, mas Gregory ainda estava sangrando, continuava sofrendo. Estava pior de alguma forma.
Eu olhei para trás.
— Quer dizer que as pernas vão se curar desse jeito?
— Sim. — disse Richard.
Olhei para baixo, para os olhos assustados de Gregory. Seus olhos ainda estavam surpresos como uma centáurea azul. O mesmo azul de Stephen. Eles pareciam ainda mais azuis, por causa da máscara de sangue que cobria o rosto. Tentei pensar em algo para dizer, mas ele falou primeiro.
Sua voz era fina, áspera, como se tivesse gritado até ficar rouco.
— Quando você partiu sem mim da primeira vez, pensei que ia nos deixar aqui.
Ajoelhei-me ao lado dele.
— Você não é uma coisa para manter. É uma pessoa. Merece ser tratado...— Quer dizer, — melhor do que isso. — parece óbvio demais. Tentei segurar sua mão do mesmo jeito que se conforta uma criança, mas dois dos dedos das mãos estavam quebrados, eu nem sequer sei como tocá-lo.
Vivian falou pela primeira vez.
— Ele está morto?— Sua voz era soprosa, rouca, algo entre a voz de uma menina e uma sedutora. Ela seria muito boa no telefone. O olhar nos olhos dela não era nem infantil, nem sedutor, era assustador. Olhou através de nós para onde Fernando estava, e seu ódio era uma coisa quente e escaldante.
Não que eu me culpasse. Fui verificar nosso estuprador. Gideon e Thomas chegaram a ele primeiro. Percebi que não tinham ido vê-lo até que eu o fiz. Acho que eles não gostavam dele muito mais que nós? Fernando sempre encontrava uma maneira de conseguir o ódio das pessoas. Parecia ser seu único talento.
Seu estômago nu era uma confusão sangrenta onde Richard havia tentado cavar seus intestinos para fora, mas a ferida estava se curando. Preenchendo-se em umafrente de movimento rápido. . Você realmente podia ver seu corpo se reconstruir.
— Ele vai viver. — eu disse. Mesmo para mim, parecia desapontada.
— Sim. — disse Thomas, e sua voz soava tão decepcionada quanto a minha. Ele visivelmente se abalou, e virou os olhos castanhos e tristes para mim. — Se ele tivesse morrido então Padma teria destruído a cidade, procurando você. Não se engane Anita, Padma ama seu filho, mais do que isso, ele é seu único filho. A única chance que ele tem de deixar um herdeiro.
— Eu não sabia que um vampiro poderia sentir medo. — eu disse.
— Ele vem de um tempo e uma cultura em que um filho é uma coisa extremamente importante. Não importa quanto tempo vivemos ou se estamos no fim, começamos como pessoas. Nunca conseguimos perder o que fomos durante a vida. E isso nos assombra ao longo dos séculos, a nossa humanidade.
— Você é humano.
Ele sorriu e balançou a cabeça.
— Talvez.
Abri a boca para pedir alguma coisa, mas ele levantou a mão para cima.
— Se houver tempo, Gideão e eu gostaríamos de falar com você e Richard longamente sobre o que pode ser um triunvirato, mas agora, você deve sair antes que Fernando desperte. Durante o dia ele se encarrega de nós.
Meus olhos se arregalaram e olhei para Gideão.
— Mas ele não é alfa suficiente para assumir Gideon.
— Padma é um mestre severo, Anita. Nós obedecemos ou sofremos.
— Por isso, — disse Gideão — você deve deixar tudo o mais rapidamente possível. O que o batardo nos ordenaria fazer se acordasse agora é melhor não dizer.
Ele tinha um ponto. Gregory gritou, um grito alto, que terminou em choramingos. Richard disse que suas pernas começaram a se curar viradas para trás. De repente percebi o que aquilo significava. — Se ele se curasse com as pernas quebradas, Gregory teria ficado aleijado. — eu disse.
— Sim. — disse Gideão. — Foi idéia de Padma a punição.
Fernando gemia, os olhos ainda fechados. Tínhamos que sair dali.
— Deixei minhas armas para trás. — eu disse.
Eles nem sequer discutiram. Deram-me as armas de volta. Ou confiavam em mim ou não imaginavam que iria atirar em Fernando enquanto estava inconsciente. Eles tinham razão, pelo menos neste momento. Eu matei pessoas por muito menos do que o menino-rato tinha feito, muito menos.
Gregory desmaiou. Richard o segurou delicadamente nos braços. Encontraram madeira em algum lugar e Richard usou a camisa para amarrar talas improvisadas em suas pernas. Vivian inclinou-se pesadamente em Zane, como se suas pernas não estivessem funcionando. Ela também estava tentando cobrir suas extremidades inferiores. Mal conseguia andar e estava envergonhada de sua nudez. Não tínhamos roupa para lhe oferecer. O casaco que eu trouxe ficou na área externa.
Thomas salvou o dia, dando-lhe seu casaco vermelho. Era grande e cobria o suficiente. Bastou sair fora da tenda, a meio caminho e meus ombros relaxaram um pouco. Peguei o casaco e coloquei uma arma em cada bolso. A metralhadora já estava em meu peito.
Thomas segurou a porta para nós. Passei por último.
— Obrigada. — eu disse. Ambos sabíamos que eu não quis dizer a porta.
— Você é muito bem vinda. — Ele fechou a porta atrás de nós, e eu ouvi o barulho da trava.
Fiquei no sol quente de verão e senti meu corpo afunda no calor. Era bom estar fora durante o dia. Mas a noite estava chegando, e eu ainda não sabia o preço que Jean-Claude tinha negociado para tirar Vivian e Gregory de lá. Mas o pensamento do belo corpo de Gregory deliberadamente aleijado para sempre, e Vivian passaram em torno de minha memória , me deixou feliz por termos negociado. Eu não diria que, independentemente do preço, qual seria a pena. Jean-Claude disse que não haveria violação, nenhuma ligação real, sem mutilações, não ser esfolado vivo. A lista parecia mais segura e completa uma hora atrás.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 30

Levamos para dentro da garagem da minha casa alugada os dois homens-leopardo feridos, dois lobisomens muito silenciosos, e equipamento suficiente para Richard transformar meu quarto em uma sala de hospital. Gregory precisava ficar com as talas de tração por vinte e quatro horas, segundo a Dra. Lillian. O hospital estava sendo evacuado. Se Fernando era responsável durante o dia, a evacuação não era apenas uma precaução, era uma necessidade. O menino-rato não queria Rafael, ele queria certamente se vingar de Richard por espancá-lo, de forma que os homens-rato e os lobisomens estavam em perigo. O pensamento do que ele faria se colocasse as patas em Gregory e Vivian era assustador demais para pensar. O melhor que podíamos fazer era mantê-los conosco e tentar escondê-los em um lugar que Fernando não pensaria em ir.
Eu estava meia que unida a Thomas e Gideon para manter o menino-rato em seu lugar. Eu não costumo confiar facilmente, mas Gideão o tinha chamado de pequeno bastardo. O puto. Eles não gostavam dele mais do que nós. Difícil de acreditar, mas talvez fosse verdade.
Além disso, para onde poderíamos ir? Onde estaríamos seguros? Nós não poderíamos ir para um hotel. Isso colocaria em risco todas as pessoas do lugar. A mesma coisa com a maioria das casas. Uma das principais coisas que eu estava procurando em um alojamento era o isolamento. Francamente, gostei da pequena cidade em torno de mim, mas minha vida se transformou em uma zona de fogo-livre recentemente. Nos apartamentos, condomínios ou bairros, teria vizinhos que poderiam levar um tiro. Eu fui. Embora o isolamento fosse tudo que eu tinha obtido e o que eu queria.
A casa era grande demais apenas para mim. Era uma casa para uma família com caminhadas na mata e um cachorro correndo em círculos em torno das crianças. Richard nunca tinha visto a casa. Teria sido mais confortável vê-la com ele antes do nosso pequeno grupo fazer uma turnê nela . Antes que Jean-Claude houvesse interferido, Richard e eu tínhamos planos. Estávamos planejando o tipo de futuro com uma casa desse tipo. Eu não sei se Richard tinha acordado e cheirava a sangue embebido de café, mas eu tinha. O futuro, que incluía uma cerca branca e 2 filhos só não estava nas cartas para mim. Eu não acho que foi nas cartas que ele queria.
A casa tinha um canteiro retangular que tomava sol quase o dia todo. Tinha sido um jardim de rosas, mas os proprietários haviam cavado e levado as plantas com eles. Parecia com um lado da lua, completa, com crateras. Ele estava tão estéril que passei um fim de semana no plantio das Damn Thing e Rosa musgo só porque eu amava um pouco as flores brilhantes. Zinnias por trás disso, pois as cores das flores brilharam novamente. Era uma profusão de cores, nada sutil. Borboletas e beija-flores eram atraídos para o zinnias. Eu plantei por trás do cosmos zinnias, altaneiro, plumas emaranhadas e ao mesmo tempo, com lindas flores pálido aberto que incluia as borboletas e os beija-flores não estavam tão ávidos. As cores do cosmos foram um pouco pastel em comparação com as outras cores, mas hey, ele ainda trabalhava. Na queda o cosmos teria cabeças de sementes para pintassilgos.
O canteiro de flores havia sido algum tipo de admissão para mim mesmo se fosse ficar aqui por algum tempo. Eu não poderia voltar para um apartamento ou um condomínio. Minha vida não me permitia o luxo de vizinhos próximos.
Richard havia comentado enquanto subíamos,
— Lindas flores.
— Eu simplesmente não podia deixá-lo nu.
Ele fez um barulho descomprometido. Quase três meses de distância um do outro e, mesmo sem as marcas, ele me conhecia bem o suficiente para saber quando não estava dizendo alguma coisa. Ele não sabia que eu tinha sido incapaz de deixar o canteiro de flores estéril e rasgado. Odiava o fato de que tinha sido conduzida para torná-la bonita. Não, não estou confortável com meu lado feminino.
Richard e Jamil deixaram Gregory sobre a maca que o hospital tinha emprestado para nós. Lillian tinha enchido o homem-leopardo com tantos analgésicos que ele não estava sentindo nenhuma dor. Eu era grata por isso. Quando acordava ele tinha uma tendência a choramingar e gritar.
Estranhamente, Cherry acabou por ser uma enfermeira. Tinha olhado para Gregory e de repente se transformou em uma profissional. Uma camada de confiança e competência se arrastou para fora do nada. Ela era uma pessoa diferente. Uma vez que Gregory a deixou tocá-lo, não rejeitou a ajuda dela, Cherry estava calma. Embora na verdade, foi a Dra. Lillian que parecia confiar em Cherry, e eu também passeia a confiar. Lillian tinha certeza de que ela poderia nos ajudar a colocar as talas em Gregory sem prejudicá-lo ainda mais. Confiei no parecer de Lillian, mas ainda não confiava totalmente em Cherry. Eu não aprovaria que Richard ficasse rondando ao seu redor, mas concordei que quem deixa um amigo para trás para morrer não era confiável. Não há vergonha em ser fraco, mas eu nunca poderia confiar nela.
Vivian não deixou Zane carregá-la para a casa, embora, obviamente, a caminhada fosse dolorosa. Ela se agarrou ao meu braço com as duas mãos pequenas. Sinceramente, suas mãos não eram menores que as minhas, mas de qualquer maneira ela parecia frágil. Não era o tamanho, ou mesmo o estupro, mas algo sobre Vivian em si mesma. Mesmo envolta no casaco emprestado e um vestido azul que tinha emprestado de Lillian, Vivian parecia delicada, feminina, bela em uma espécie de forma quase etérea. É difícil olhar para alguem encantadora e etérea, com metade do rosto inchado e com hematomas, mas ela conseguiu.
Ela tropeçou no caminho de pedra para a casa. Eu a peguei, mas seus joelhos fraquejaram e maldição ela estava perto de cair nas pedras.
Zane tentou me ajudar, mas Vivian deixou escapar um pequeno som e escondeu o rosto contra o meu ombro. Já que no carro ela não queria que ninguém a tocasse. Tinha sido Zane que se desvinculou dela, mas pareceu-me que eu era sua salvadora. Ou talvez eu fosse a única fêmea, e uma fêmea era seguro agora.
Suspirei e acenei com a cabeça. Zane recuou. Se eu estivesse fora ou mesmo em casa, teria ajudado Vivian, mas eu estava usando saltos altíssimos. Não poderia levar alguém quase com meu próprio peso usando estes sapatos. Se eu tirasse os sapatos, o vestido seria tão longo que me atrapalharia. Eu estava começando a odiar este equipamento.
— Vivian. — Ela não respondeu. — Vivian?
Ela estava deslizando para o chão. Apoiei meus pés longe o suficiente para começar a apoiá-la, e estava pronta para ela quando suas pernas perderam as forças completamente. Eu poderia ter sido capaz de levá-la carregando-a mesmo com os saltos, mas vi o corpo dela e não havia ferimentos profundos em seu estômago. Atirando-a sobre meus ombros poderia feri-la. Consegui levantar-lhe em meus braços, sabia que melhor do que tentar andar.
— Diga a Cherry que venha me ajudar. — eu disse.
Zane balançou a cabeça e entrou na casa.
Fiquei ali segurando Vivian, à espera de ajuda. O sol de julho batia nas minhas costas com o casaco preto. O suor escorria pela minha espinha. As cigarras enchiam o calor, com sua música vibrante. Havia um pequeno exército de borboletas que se alimentava de flores. Eu bebia pelo menos uma xícara de café todos os dias por aqui vendo essas coisas estúpidas. Era tudo muito pitoresco, mas eu estava ficando impaciente. Quanto tempo demoraria para Zane dizer a Cherry para trazer sua bunda até aqui? Claro, talvez ela estivesse ocupada com Gregory e seus ferimentos. Não que eu não pudesse leva-la para dentro. Más me sentia estúpida usando saltos tão altos que não podia carrega-la. Me fazia sentir menina frágil da pior maneira.
Tentei contar quantas espécies diferentes de borboletas eram visíveis. Tiger andorinha, andorinha spicebush, maior Frittilary, gigante de andorinha, enxofre, preto, vermelho-manchado de púrpura, e senhora pintado. Um trio de pequenas criaturas azuis giravam no ar, como brilhantes pedaços de céu. Cherry era bonita, mas onde diabos estava? Chega disso. Comecei indo com muito cuidado para a frente, se torcesse meu tornozelo teria que me jogar para trás, para manter Vivian longe das pedras. Acabei de bunda no canteiro de flores, esmagando o cantiero de rosa musgo e tendo algumas zinnias comigo. O cosmo se elevou sobre mim, alguns deles da altura de seis metros.
Vivian deu um pequeno gemido, piscando um olho bom.
— Está tudo certo— tentei acalmá-la. — Está tudo bem — Me sentei lá segurando-a, meio balançando, com minha bunda nas flores e os meus pés quase em linha reta na minha frente. Consegui manter meus pés seguros dos vampiros, metamorfos, agentes humanos, e incendiários, mas um par de saltos altos me colocou de bunda no chão. Vaidade, teu nome é mulher. Embora quem escreveu isso nunca tinha visto uma revista da GQ.
Uma borboleta tigre quase tão grande como a minha mão estendida flutuava perto da minha cara. Era amarelo pálido, com listras marrom acentuadas em suas asas. Pairou sobre Vivian e, finalmente, resolveu pousar na minha mão. Borboletas lambem o suor de sua pele por causa do sal, mas geralmente você tem que ficar parado. Se você se mover, elas voam. Este inseto parecia determinado. Sua tromba não era muito mais espessa do que um alfinete, um tubo longo e curvo, mas você pode sentir isso como uma linha de cócegas.
Era a terceira vez na minha vida que uma borboleta pousava em minha pele. Eu não tentei persegui-la afastando-a. Era legal. Suas asas pulsante para cima e para baixo muito lentamente como se estivesse se alimentando, seus pés minúsculos quase sem peso na minha mão.
Cherry saiu pela porta, olhos esbugalhados quando me viu.
— Você se machucou?
Eu balancei a cabeça, ainda com cuidado para não assustar a borboleta.
— Só não consigo me levantar.
Cherry ajoelhou-se ao nosso lado, e a borboleta deslizou afastado-se. Ela observou por um momento.
— Eu nunca vi uma borboleta fazer isso.
— Foi o sal na minha pele. As borboletas se alimentam de frutas passadas ou deterioradas, também.
Cherry fez uma careta.
— Obrigada por arruinar uma outra imagem idílica. — Ela tomou Vivian dos meus braços, balançando em um joelho. Vivian gemia em seus braços como uma cereja em pé, tentando obter o equilíbrio de tudo. Levantar não é só força. É equilíbrio, e um corpo inconsciente não é a melhor coisa para o equilíbrio. — Você precisa de uma mão?— perguntou ela.
Eu balancei a cabeça, e fiquei de joelhos.
Cherry confirmou e andou em direção à casa. Era mais esperta do que eu pensava. Evidentemente, se eu estivesse passado a noite inteira aos cuidados de Padma, talvez eu não tivesse feito uma boa primeira impressão.
Eu estava tentando arrumar as flores esmagadas quando a borboleta veio esvoaçando de volta. Com ela oscilando em torno de meu rosto senti a primeira picada de poder. Se estivesse escuro, eu teria dito “vampiro”, mas era plena luz do dia.
Levantei-me e tirei a Browning do bolso do casaco. O amarelo, marrom e brilhante inseto batida na minha cara como asas de papel fino. O que tinha sido um momento de diversão antes de repente era sinistro. Pela primeira vez na minha vida mantive uma borboleta longe como se fosse algo repugnante. E talvez fosse.
Não estou querendo dizer que a borboleta era, literalmente, um vampiro. Eles não podiam alterar sua forma, não que eu saiba. Claro, eles não poderiam estar fora em plena luz do dia também. Eles eram do Conselho. Será que eu realmente sabia do que eram capazes?
A borboleta flutuou para longe de mim para o bosque do outro lado da calçada. Ele vibrou para frente e para trás, para frente e para trás, como se estivesse esperando por mim. Eu balancei minha cabeça. Me senti boba segurando a arma com apenas a borboleta lá no mato. Mas algo mais estava lá fora. Eu estava no calor do verão, sentindo o sol bater no topo da minha cabeça. Deveria me sentir segura. Pelo menos dos vampiros. Não era justo que mudassem as regras.
Eu estava prestes a ir para a casa e gritar por ajuda, quando vi uma figura. Alto com uma espessa capa com capuz puxado em torno dele. Mesmo com o manto eu sabia quem era. Ombros largos e a essa altura, eu sabia que era Warrick. Só que não podia ser ele. Ele não estava nem perto de ser tão poderoso para sair durante o dia.
Olhei para essa forma alta no manto branco cintilante. Ele estava tão parado, como se fosse esculpido em mármore. Até o Sr. Oliver, o vampiro mais velho que já tinha visto, tinha evitado a luz solar direta. Mas Warrick parecia um fantasma que tinha aprendido o truque de caminhar sobre a luz do dia. Claro, ele não estava andando. Ficou nas sombras oscilantes das árvores. Ele não tentou sair para a luz direta. Talvez não pudesse. Talvez essa pequena sombra fosse tudo o que o impedia de explodir em chamas. Talvez.
Caminhei em direção a ele. Estiquei meus sentidos, mas era o único poder que senti. Poderia ser uma armadilha, uma emboscada, mas eu não penso assim. Se quisessem me pegar, ele não teria sido esse flagrante. Mas no caso, parei a uma boa distância perto do bosque. Se eu visse qualquer movimento gritaria por socorro e correria para casa. Poderia até dar um tiro ou dois. Warrick estava com a cabeça inclinada para baixo, a capa escondia completamente seu rosto. Ele ficou imóvel, como se ele não soubesse que eu estava lá. Só o vento fazendo uma dobra suave do pano branco mostrava qualquer movimento. Era como uma estátua com um pano jogado sobre ele.
Quanto mais tempo ficava ali, imóvel, mais estranho parecia. Eu tinha que preencher o silêncio.
— O que você quer, Warrick?
Um arrepio passou por ele e levantou a cabeça lentamente. A podridão tinha se espalhado por aquele rosto forte. Sua pele era verde e preta, como se esse fina camada de tecido tivesse séculos de exploração em morte. Mesmo seus olhos azuis tinham embotado com um filme, como um peixe morto a muito tempo.
Minha boca estava aberta. Depois de ter visto Yvette fazer isso a ele não estava mais chocada.
— Foi Yvette que te puniu? — Eu perguntei.
— Não, minha senhora pálida dorme em seu caixão. Ela não sabe nada desta visita. — Sua voz era a única coisa normal. — A voz ainda era forte e firme. Não encontrou o que estava acontecendo com seu corpo.
— O que está acontecendo com você, Warrick?
— Quando o sol nasceu eu não morri. Pensei que era um sinal de Deus. Que ele estava me dando permissão para pôr fim a esta existência. Que Ele tinha me dado a chance de caminhar na luz de um tempo passado. Andei para o sol nascente e não queimei, mas isso aconteceu. — Ele levantou as mãos para fora do manto, mostrando-me a carne envelhecida. As unhas estavam enegrecidas, até as extremidades dos dedos, pareciam murchos.
— Será que vai se curar? — Eu perguntei.
Ele sorriu e mesmo com aquele rosto horrível, era um sorriso cheio de esperança. O rosto apodrecido mostrou uma luz que não tinha nada a ver com os poderes de vampiro. A borboleta pairou sobre seu rosto.
— Deus vai me chamar para seus braços em breve. Sou um homem morto.
Eu não podia discutir com ele.
— Por que veio aqui, Warrick?
Uma segunda borboleta se juntou a primeira, e depois uma terceira. Elas flutuavam acima da sua cabeça como um carrossel. Warrick sorriu para elas.
— Eu vim para avisá-la. Padma tem medo de Jean-Claude e seu trio. Ele vai vê-lo morto, se puder. — Isso não é novidade. — eu disse.
— Nosso mestre, Morte d'Amour, Yvette tem ordens para destruir todos vocês.
Isso foi notícia.
— Por quê? — Eu perguntei.
— Eu acho que qualquer um do Conselho realmente acredita que Jean-Claude está criando seu próprio conselho rival neste país. Mas todos eles veem como uma parte deste novo regime jurídico do vampirismo. Eles o veem como parte de uma mudança que pode varrer a nossa existência. Os antigos, que têm poder suficiente para ficarem confortáveis, não querem nenhuma mudança em nosso status quo. Quando a votação, Anita, haverá dois contra você.
— Quem mais vota?— Eu perguntei.
— Asher tem a procuração de sua amante Belle Morte. Ele odeia Jean-Claude, está queimando ódio como a luz solar através do vidro. Eu não acho que você possa contar com sua ajuda.
— Então, todos eles vêm para nos matar. — eu disse.
— Se tivessem vindo apenas para matá-los, Anita, vocês já estariam mortos agora.
— Então, eu estou confusa. — eu disse.
— O temor de Padma é muito forte, mas acredito que nosso mestre mudaria de idéia se Jean-Claude desse o seu assento de poder aqui e se juntasse ao conselho como ele pretendia.
— O primeiro adversário que vier vai tirá-lo. — eu disse. — Não, obrigada.
— Assim, Jean-Claude continua dizendo. Estou começando a achar que ele subestima a si mesmo, e a você.
— Ele é cauteloso, e eu também.
Uma série de borboletas flutuavam acima de sua cabeça. Elas flutuavam em torno de si numa nuvem multicolorida. Uma caiu em sua mão, abanando as asas brilhantes baixinho que driblou a carne podre.
Seu poder zumbia ao longo do meu corpo. Não tinha o mesmo nível de potência do Conselho, mas ele era um mestre de alto nível. Warrick era um vampiro mestre, e não tinha sido a noite passada.
— Você tem poder de contração de alguém?
— De Deus. — disse ele.
É claro.
— Quanto mais tempo fico longe de minha mestra, mais fraca Yvette fica, e mais forte eu me torno. O Fogo Sagrado de luz eterna de Deus entrou no meu corpo mais uma vez. Talvez ele me perdoe por minha fraqueza. Temia a morte, Anita. Eu temia o castigo do inferno mais do que temia Yvette. Mas eu ando na luz. Eu queimo com o poder de Deus, mais uma vez.
Pessoalmente, eu não acreditava que Deus tinha uma câmara privada de tortura. O inferno estava sendo cortado de Deus, extirpada do seu poder, sua energia. Caminhamos através de seu poder a cada dia de nossas vidas até que era como o ruído branco, algo que ignoraram ou não ouvem. Mas de alguma forma Warrick falava sobre o fato de que deixava Yvette torturá-lo durante séculos, por temer a condenação eterna, que eu não acredito existir na verdade, parecia inútil. Não, cruel.
— Estou feliz por você, Warrick.
— Gostaria de pedir uma benção a você, Anita.
— A bênção é um favor, né? — Eu perguntei. Não queria aceitar alguma coisa e estar errada.
— Sim. — disse ele.
— Peça.
— Você tem uma cruz em cima de você?
Concordei.
— Mostre-me, por favor.
Eu acho que não era uma boa idéia, mas. . . Puxei o cordão de prata, até a cruz brilhar ao sol. Não brilhou. Ela apenas balançava.
Warrick sorriu.
— A Santa Cruz não me rejeitou.
Eu não tive coragem de lhe dizer que a cruz nem sempre brilha em torno de todos os vampiros. Parecia maldade tirar-lhe a esperança, podia ser que me entendesse mal, embora houvesse exceções em ambos os sentidos . Eu, como Warrick, não questionava a sabedoria de Deus. Imaginei que ele sabia o que estava fazendo, e se Ele não fez, eu realmente não quero saber.
Warrick foi até a beira da linha das árvores. Ficou lá no seu manto branco com o forro preto, hesitando. Eu assisti a luta em seu rosto. Ele queria cruzar a última banda de luz pura e estava receoso. Eu não o culpo.
Ele estendeu a mão à borda do tremor de luz dourada, sólida, depois caiu para trás.
— A minha coragem e minha fé, ainda me faltam. Ainda não sou digno. Eu quero passar na luz e pegar a Santa Cruz e prendê-la sem medo. — Ele cobriu o rosto com as mãos escuras. As borboletas acesas em cada centímetro de pele nua, abanando as asas. Não havia nada a ver, mas o manto branco e os insetos esvoaçantes. Por um momento a ilusão foi perfeita, que as borboletas eram tudo o que estava dentro do casaco.
Warrick estendeu as mãos lentamente, com cuidado, de modo a não perturbar os insetos. Ele sorriu.
— Eu ouvi os senhores falarem de chamar seus animais durante séculos, mas nunca entendi até agora. É um título maravilhoso.
Ele parecia estar feliz com o seu animal. Eu teria ficado um pouco decepcionada. Uma borboleta não ia ser de muita ajuda na defesa contra o tipo de animais que a maioria dos vampiros poderiam chamar. Mas, hey, enquanto Warrick estivesse feliz, quem poderia reclamar?
— Yvette me fez jurar perante Deus de alguns de seus segredos. Eu não tenho traído a minha palavra, ou meu juramento.
— Você está dizendo que há coisas que eu deveria saber que você não me contou?
— Eu já lhe disse tudo que eu sou livre para dizer, Anita. Yvette sempre foi inteligente. Ela me manipulou durante anos há trair tudo que eu amava. Obrigou-me com juramentos antes de chegarmos a sua cidade. Eu não entendi no momento, mas entendo agora. Ela sabia que eu a veria como uma pessoa de honra. Uma pessoa que protege os mais fracos, e não abandona seus amigos. Você cobra do Conselho honra e responsabilidades, parece uma pretensão pálida.
Dizer obrigado não parecia suficiente, mas era tudo que eu tinha.
— Obrigado, Warrick.
— Mesmo quando eu estava vivo havia uma grande diferença entre os nobres que realmente entendiam a necessidades do seu povo, e aqueles que apenas tomam deles.
— Não mudou muito— eu disse.
— Eu sinto muito em ouvir isso. — disse ele. Olhou para cima, talvez para o sol, talvez para algo que eu não podia ver. — Quando o sol se aproxima de seu auge Eu me sinto mais fraco.
— Você precisa de um lugar para descansar durante o dia? — Eu perguntei. No momento que disse isso, não tinha certeza de que deveria ter feito a oferta. Será que realmente confio nele no porão com Jean-Claude e sua turma, sem vigiá-lo a cada minuto? Não exatamente.
— Se este fosse o meu último dia no verão, então não iria perder por me esconder. Vou andar em seus bosques deliciosos, então vou cavar entre as folhas. Já me escondi entre as folhas antes. Elas caem espessas e profunda nos buracos .
Concordei.
— Eu sei. De algum modo achei que para um menino da cidade.
— Eu vivi na cidade por muitos anos, mas os meus primeiros dias foram entre árvores mais grossas e mais exuberantes do que estas. As terras do meu pai era longe de qualquer cidade. Embora isso mudou. Não há árvores agora onde eu possa descansar, pescar e caçar como um menino. Tudo desapareceu. Yvette permitiu-me uma viagem de volta, por ela eu não teria ido. Ela tem estragado as minhas memórias, e as fez parecer com algum sonho.
— As coisas boas são tão reais quanto as coisas ruins. — eu disse. — Não deixe Yvette tirar isso de você.
As borboletas rodopiaram no ar como folhas de outono atiradas para o céu.
— Preciso ir. Ele se afastou por entre as árvores, seguindo por uma linha de borboletas. Eu ansiava por perder de vista o manto branco, ele desceu do outro lado de uma colina, mas as borboletas se arrastavam atrás dele como minúsculos abutres na marcação da linha da morte.

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 31

Estava de volta na calçada quando o som de um carro descendo o cascalho me chamou a atenção. Era Ronnie. Merda. Eu tinha esquecido de ligar e cancelar nossa corrida matinal. Veronica (Ronnie) Sims era uma detetive particular e minha melhor amiga. Nós trabalhamos juntas pelo menos uma vez por semana, normalmente no sábado de manhã. Às vezes, íamos para a academia e, às vezes corríamos. Era sábado de manhã, e eu tinha esquecido de cancelar.
Eu segurava a arma do meu lado, escondida no casaco. Não que eu não tivesse cuidado. Era apenas automático. Se você fosse privilegiado o suficiente para poder dispor de autorização para transportar a sua arma, você não correria deliberadamente mostrando sua arma em público, sem justa causa é chamada de “ intimidação e pode revogar a sua licença. É como um novo vampiro mostrando suas presas. É um sinal de amador.
Estava me sentindo culpada por ter feito Ronnie vir até aqui para nada, quando percebi que ela não estava sozinha. Louie Fane,que ensinava biologia na Universidade Wash estava com ela. Eles saíram juntos do carro, rindo, de mãos dadas. Estavam ambos vestidos para correr. Sua camiseta estava para fora da calça, comprida o bastante para mostrar o seu shorts curto. Seu cabelo preto foi cortado e arrumado.
Ronnie usava shorts de motociclista que mostrava suas pernas longas e perfeitas. Um top e uma regata da mesma cor mostravam seu estômago malhado quando ela caminhou em minha direção . Ela nunca se vestiu assim para fazer exercício comigo. Seu cabelo loiro estava recém lavado, seco, e brilhante. A única coisa que faltava era maquiagem, mas ela não precisa dele. Seu rosto brilhava. Seus olhos cinzentos tinham um tom de azul que começa quando ela vestia a roupa da cor certa. Ela escolheu a cor, e Louie só tinha olhos para ela.
Fiquei ali os observando caminhar lado a lado até a calçada e me perguntei quando eles me notariam. Ambos se olharam quase que assustados, como se eu tivesse surgido do ar. Ronnie teve a graça de me olhar envergonhada, mas Louie apenas parecia contente. Acontece que eu sei que eles estavam tendo relações sexuais, mas apenas vê-los juntos era suficiente . Seus dedos tocando levemente sobre os nós dos dedos enquanto olhavam para mim. Não tinha certeza se estavam apaixonados, mas a luxúria, eu estava certa.
Ronnie me olhou de cima para baixo.
— Um pouco agasalhada para correr, não é?
Eu fiz uma careta.
— Desculpe, esqueci de te ligar. Vou ficar em casa hoje.
— O que aconteceu? — Louie perguntou. Ele ainda estava segurando a mão de Ronnie, mas tudo mudou. Foi de repente, alerta, de algum modo, olhos negros buscando meu rosto, notando pela primeira vez o curativo na minha mão e outros sinais de desgaste — Você tem cheiro de sangue, e aconteceu algo pior.
Eu me perguntei se ele poderia sentir o cheiro de carne podre de Warrick em meus sapatos, mas não perguntei. Realmente não queria saber. Ele era um dos tenentes de Rafael, e fiquei surpresa que não soubesse o que estava acontecendo.
— Vocês já foram a cidade?
Ambos confirmaram com a cabeça, e o sorriso de Ronnie confirmava.
— Fomos até o chalé. — O chalé tinha sido parte de seu acordo de divórcio de um casamento de dois anos que terminou muito mal. Mas era uma grande chalé.
— Sim, é bom lá em cima.—
— O que aconteceu?— Louie perguntei novamente.
— Vamos para dentro. Não consigo pensar em uma versão pequena o suficiente sem precisar de um café.
Eles me seguiram para casa, continuavam se tocando, mas o brilho dos dois parecia ter diminuído. Parece que eu tenho esse efeito nas pessoas. Difícil ser claro e brilhante no meio de uma zona de guerra.
Gregory estava deitado no sofá, ainda drogado na inconsciência feliz. Louie parou ao seu lado. Claro, talvez ele não fosse apenas o homem-leopardo. Havia um grande tapete persa debaixo do meu sofá branco e uma cadeira. Não era o meu tapete. Havia almofadas brilhantes sobre os móveis brancos, que ecoaram as cores do tapete. As cores eram como jóias ao sol da manhã.
Ronnie disse,
— Stephen. — Ela chegou a ir para a frente como se quisesse tocá-lo, mas Louie puxou-a para trás.
— Não é Stephen.
— Como você pode saber? — Eu perguntei.
— Eles não tem o mesmo cheiro.
Ronnie ficou apenas olhando.
— Este é Gregory?
Louie assentiu.
— Eu sabia que eles eram gêmeos idênticos, mas...
— Sim. — eu disse. — Eu tenho que sair desse vestido, mas quero deixar uma coisa clara. Gregory é meu agora. Ele é um cara bom. Não abuse dele.
Louie virou para mim e seus olhos negros tinham sangrado através da íris, seus olhos eram como botões pretos, olhos de ratos.
— Ele torturava o seu próprio irmão.
— Eu estava lá, Louie. Eu vi.
— Então, como você pode defendê-lo?
Eu balancei minha cabeça.
— Foi uma longa noite, Louie. Digamos que, sem Gabriel os homens-leopardo estão mal, eles têm escolhido caminhos diferentes. Ele se recusou a torturar um dos lobos, e é por isso que quebraram suas pernas.
O olhar no rosto de Louie, disse não acreditar. Eu balancei a cabeça.
— Vá para a cozinha, fazer café. Deixe-me sair desta porra de vestido e eu vou lhe contar tudo.
Ronnie o puxou para a cozinha, mas seus olhos me observavam, cheios de perguntas. Eu murmurei “depois” para ela, e ela correu para a cozinha. Confiava nela para manter Louie ocupado até eu me trocar. Eu realmente não acho que ele iria machucar Gregory, mas o homem-leopardo tinha chateado muitas pessoas. É melhor prevenir do que remediar.
Richard subiu em uma escada para furar buracos no teto por cima da minha cama. Para minha segurança meu quarto era o único no primeiro andar. Eu dei para eles para que Gregory não precisasse subir as escadas. Pequenos flocos de teto cobriam seu torso nu em um pó fino e branco. Ele olhou e limpou suas mãos no jeans. Cherry e Zane estavam na cama, segurando pedaços do aparelho de tração para ele, ajudando na medida do possível.
A broca parou, e eu perguntei:
— Onde está Vivian?
— Gwen a levou para ver Sylvie. — disse Richard. Seus olhos estavam neutros quando olhou para mim, a voz de cuidado. Nós não tínhamos muito o que disser um ao outro desde o nosso momento no ringue.
— É bom ter um terapeuta em casa. — eu disse.
Cherry e Zane ficaram me observando. Eles me lembraram a raça golden retriever no quesito obediência, os olhos de seriedade, a intenção de cada palavra e cada gesto. Realmente não gosto de pessoas me olhando assim. Me deixa nervosa.
— Eu vim apenas buscar algumas roupas. Quero sair deste vestido.
Passei por eles até a cômoda. Jean-Claude tinha se ocupado por aqui, também. Na outra extremidade havia uma janela aberta completamente com assento. Estava transbordando com minha coleção de pinguins de brinquedo. Havia um pinguim novo sentado na cama com um laço vermelho gigante no pescoço e um cartão encostado em sua barriga peluda. Pedaços do teto já caíram sobre a sua pele preta.
A broca parou, e Richard disse:
— Vá em frente, leia o cartão. É isso o que ele quis dizer para você fazer.
Olhei para ele, ainda havia raiva em seus olhos e dor, mas debaixo disso tudo havia algo mais. Algo que eu não tinha palavras para falar, ou talvez não tivesse palavras para descrever. Levei o pinguim para fora da cama, e tirei o pó, abriu o cartão de costas para ele. A broca continuava parada. Eu podia senti-lo me observando enquanto lia o cartão.
O bilhete dizia,
“ Algo para fazer quando não estou com você.” — Era assinado simplesmente com um elegante J.
Enfiei o cartão de volta no envelope e virei-me para Richard, o pinguim agarrado ao meu estômago. Sua expressão era muito cuidadosa, tão neutra quanto ele poderia controlar. Ele olhou para mim, lutando para manter o rosto vazio e, finalmente, falhando. A crueza derramando em seus olhos, da necessidade, das palavras e as coisas não ditas.
Zane e Cherry saíram da cama, deslizando para a porta. Eles não saíram do quarto, mas fizeram questão de não ficar entre nós. Não achei que teríamos uma batalha, mas eu não poderia culpá-los por sair do caminho.
— Você pode ler o bilhete, se quiser. Mas não tenho certeza se vai ajudar.
Ele fez um pequeno som abrupto, não era bem um riso.
— Está oferecendo a carta de amor do seu namorado para seu ex?
— Eu não quero te machucar, Richard. Realmente não sei. Se ver o bilhete te faz sentir melhor, pode vê-lo. Exceto por essa primeira vez, eu nunca fiz qualquer coisa que você não soubesse, e não pretendo começar agora.
Eu assisti os músculos apertarem em sua mandíbula até a tensão chegar a seu pescoço e ombros. Ele balançou a cabeça.
— Eu não quero ver.
— Ótimo. — Eu me virei, o pinguim e o cartão em um braço, abri a gaveta da cômoda. Peguei o que estava em cima, realmente não prestei atenção. Só queria sair do quarto, de repente, em silêncio, longe do peso dos olhos de Richard.
— Ouvi alguém entrar com você. — disse ele, baixinho. — Quem era?
Eu me virei, peguei o pinguim e agarrei a roupa em uma massa.
— Louie e Ronnie.
Richard franziu a testa.
— Será que Rafael enviou Louie?
Balancei minha cabeça.
— Eles estavam fora em um ninho de amor juntos. Louie não sabe o que está acontecendo. Ele parece realmente chateado com Gregory. É pessoal o que ele fez com Stephen?
— Stephen — disse Richard. — Louie é muito leal aos seus amigos.— Havia algo na maneira como disse a última palavra parecia implicar que talvez nem todo mundo na casa fosse tão leal. Ou talvez eu estivesse vendo coisas em um comentário inocente. Talvez. A culpa é uma coisa maravilhosa. Mas olhando para os olhos castanhos de Richard, eu diria que estava ouvindo exatamente isso.
Se eu soubesse o que dizer para ele, teria enviado os leopardos para fora do quarto, para que pudéssemos conversar. Mas Deus me ajude, eu não sabia o que dizer. Até que tivesse tempo para pensar sobre as coisas, a conversa poderia esperar. Na verdade, era melhor esperar. Eu não tinha esperado para saber se ainda sentia alguma coisa por Richard, ou ele por mim. Estava dormindo com outro homem, fazendo amor com outro homem. É as coisas se complicaram. Só de pensar nisso me fez sorrir e balançar a cabeça.
— Qual é a graça?— ele perguntou. Seus olhos estavam tão machucados, tão confusos.
— Engraçado?— Eu disse. — Nada, Richard, absolutamente nada.
Fugi para o banheiro de baixo. Esse era o maior banheiro da casa, o único que tinha uma banheira de mármore funda. Não era tão grande como a que Jean-Claude tinha no Circo, mas estava perto. Velas brancas rodeavam a cabeça e o pé da banheira. Intocado, novinho em folha, esperando o anoitecer. Ele tinha escolhido velas de hortelã. Amava velas perfumadas que cheirava a coisas comestíveis. Seu fetiche por comida estava se mostrando.

Havia um segundo cartão. Não havia nada do lado de fora do envelope, mas eu tinha um palpite. Eu o abri.
A nota dizia:
“Se estivermos sozinhos, ma petite, gostaria que você ascendesse todas ao anoitecer. E eu gostaria de acompanhá-la. Je rêve de toi ” — A última era em francês “Eu sonho com você.”
Ele era uma coisa tão pouco confiante. De acordo com ele, eu era a única mulher em quase quatrocentos anos que o deixava assim. E mesmo que eu tivesse finalmente perdido a batalha, é difícil não ser confiável com um histórico como esse. Sinceramente, eu não gostaria de encher a banheira, acender as velas, e ficar esperando nua e molhada ele se levantar para a noite. Parecia um momento muito, muito bom. Mas tínhamos uma casa cheia de convidados, e se Richard fosse passar a noite iríamos nos comportar. Se Richard tivesse me largado por outra mulher eu não estaria tão mal quanto ele, mas eu não poderia ficar em uma casa e escutá-lo fazer sexo com outra mulher. Mesmo nervosa, que não era meu forte. Eu certamente não colocaria Richard nessa posição. Não de propósito.
Fiz duas viagens de ida e volta do quarto ao banheiro. Primeiro, esqueci de pegar um sutiã normal. Um sutiã sem alças era destinado a ser usado num curto prazo. Em segundo lugar, troquei a calcinha e peguei a primeira calça jeans.
Eu estava consciente de Richard me observando enquanto eu ia e vinha. Zane e Cherry nos observavam como cães nervosos a espera de um chute. A tensão era grossa o suficiente para andar e os leopardos podiam sentir. A tensão era mais do que consciência física. Era como se estivesse pensando muito duramente, e pude sentir isso.
Acabei vestindo uma calça jeans nova azul escura, maravilhosa, que nunca dura, um top azul royal, meias brancas e Nike branco com uma faixa negra. Enfiei a maior parte das roupas usadas no cesto de roupa suja e dobrei o vestido em cima dela. O vestido estava, naturalmente, limpo e seco. Coloquei o Firestar por baixo na frente da calça. Eu tinha um coldre de calças no interior dela, mas estava no quarto. Não queria voltar lá. Eu me sentia como se estivesse tentando Richard toda vez que passava por ele. Eventualmente ele insistia em falar, e eu não estava pronta. Talvez para essa conversa em particular nunca estesse pronta.
Dobrei o casaco emprestado por cima do meu braço com a pesada Browning pendurada em um dos bolsos. A metralhadora continuava no meu ombro, como uma bolsa. Quando o quarto estivesse limpo, eu colocaria a metralhadora no armário. O truque de se ter muitas armas carregadas é que você não se atreve a deixá-las em qualquer lugar. Lobisomens são grandes em uma luta, mas a maioria deles não parece conhecer o fim de um revólver. Há algo sobre esconder uma arma, especialmente uma tão bacana como uma metralhadora, que tenta as pessoas. Existe uma ânsia quase física para pegá-la, apontá-la, e bang-bang. Você quer tornar uma arma segura, descarregada ou presa, ou mantê-la em seu corpo onde pode controlá-la. Essas são as regras. Desviando-se das regras é o que permite que crianças de oito anos de idade expludam as cabeças de suas irmãs.
Entrei na sala. Gregory tinha desaparecido do sofá. Comecei a acreditar que tivesse sido levado para o outro quarto, em seguida, fui me certificar. Quem foi o maldito idiota tirou Gregory da minha sala sem que eu notasse?
Cherry e Richard estavam colocando-o na cama com a ajuda de Zane. Gregory acordava e choramingava, depois voltava a dormir. Richard me pegou espiando na porta.
— Eu só queria ter certeza que Gregory estava bem. — eu disse.
— Não, você estava se certificando que os bandidos não haviam encontrado ele. — disse.
Olhei para baixo, depois para cima.
— Sim. — eu disse.
Poderíamos ter dito mais, mas Gregory acordou quando colocaram seus pés na tração. Ele começou a gritar. Licantropos metabolizavam as drogas rapidamente. Cherry preparou uma agulha cheia de um líquido claro. Eu fugi. Não gosto de agulhas. Mas, sinceramente, eu não queria que Richard me desse lição sobre como guardar as armas. Seu lobisomem não era o nosso único problema, ele pensava que eu matava com muita facilidade. Talvez estivesse certo, mas tinha salvado sua bunda mais de uma vez com o meu dedo rápido no gatilho. E ele tinha me ameaçado mais de uma vez com seu escrúpulo.
Desci as escadas balançando a cabeça. Por que me preocupar? Já discutimos por coisas mais importantes. Se nós não pudéssemos encontrar uma forma de trabalhar juntos, acabaríamos machucando ainda mais uns aos outros.
Melhor falar apenas o necessário. Minha cabeça concordou com a lógica. Outras partes do corpo não estavam tão certo.
Segui o cheiro do café até a cozinha. Era uma cozinha linda, pena que eu não cozinhava. Havia armários de madeira escura, com uma grande ilha no meio com ganchos para pendurar panelas e mais panelas. De todos os cômodos da nova casa este era o que mais me fazia sentir como uma estranha. Não era assim que eu teria escolhido.
Ronnie e Louie estava sentados na minha pequena mesa da cozinha de dois lugares. Me sentei em uma plataforma elevada em três lados da baía de janelas. A área foi feita para uma grande mesa de jantar. Meu pequeno café da manhã parecia um recanto temporário, exceto pelas flores. As flores tomaram a maior parte da pequena mesa.
Eu me dei conta de uma dúzia de rosas brancas e uma única vermelha. Jean-Claude tinha me mandado rosas brancas, durante anos, mas desde que fizemos amor pela primeira vez havia uma décima terceira rosa. Vermelha, um pouco de paixão perdida em um mar de pureza branca. Não havia nenhuma nota, porque não havia nenhuma necessidade.
Jamil estava encostado na parede perto de Ronnie e Louie, tomando café. Parou de falar quando eu entrei na cozinha, o que significava que provavelmente estavam falado sobre mim. Talvez não, mas o silêncio era grosso, e Ronnie estava muito ocupada, não me olhando. Louie olhou-me um pouco demais. Sim, Jamil derramou o feijão.
Eu não queria saber antes de tomar um pouco de cafeina. Eu derramei o café em uma caneca que dizia: — Atenção: O Clinico Geral determinou que me incomodar antes que eu tome a minha primeira xícara de café é perigoso para a sua saúde. — A caneca ficava no escritório até o chefe me acusar de ameaçar os clientes. Não tinha escolhido uma caneca nova ainda. Eu tinha que encontrar algo suficientemente irritante.
Havia uma máquina de café expresso espumante nova sobre o gabinete, com outro cartão. Tomei um gole de café e abri o envelope, este dizia:
“Algo para aquecer o seu corpo e encher esta cozinha vazia.” — A última palavra estava em francês. Ele sempre fazia isso nos bilhetes, mesmo depois de cem anos neste país ainda se esquecia de escrever a frase correta em Inglês. Seu discurso era impecável, mas muitas pessoas falam uma segunda língua melhor do que escreviam. Claro, ele podia ter seu jeito sarcástico de me ensinar francês. Quando ele estava trabalhando e ia escrever um bilhete eu o seguia para perguntar o que significava. Tinha um francês sussurrando coisas doces em meu ouvido, mas depois de um tempo você quer saber exatamente o que ele está dizendo, então eu perguntei. Tinha outras lições, mas nada que eu possa mostrar em público.
— Bonitas flores. — disse Ronnie. Sua voz era neutra, ela se fez muito clara sobre o assunto de Jean-Claude. Achava que ele era um bastardo insistente. E estava certa, pensou que ele mal. Eu não concordo com isso.
Sentei-me no outro extremo do octógono, encostada à parede, a cabeça abaixo do nível das janelas.
— Não preciso que peguem no meu pé hoje Ronnie. Ok?
Ela encolheu os ombros e tomou um gole do café.
— Você é uma menina crescida Anita.
— É verdade, eu sei. — Soou petulante mesmo para mim. Coloquei a metralhadora do meu lado no chão, com o casaco. Respirei o aroma do café, preto e grosso. Às vezes acrescentava creme e açúcar, mas para a primeira xícara do dia, tomaria puro.
— Jamil estava nos contando.— disse Louie. — Você e Richard realmente aumentaram o poder no meio do Circo?
Eu tomei um gole de café antes de responder.
— Aparentemente.
— Não há uma equivalência entre os homens-rato para a lupa dos lobos, mas é comum que deva ser capaz de chamar um poder como esse?
Ronnie olhava estarrecida para nós. Olhos arregalados. Eu dizia a ela o que estava acontecendo na minha vida. Ela estava entre eu e os monstros tempo suficiente para atender Louie, mas ele ainda era um estranho mundo novo para ela. Às vezes eu pensava que seria melhor mantê-la longe os monstros, mas como ela disse, nós éramos as duas meninas crescidas. Às vezes ela ainda carregava uma arma. Podia tomar suas próprias decisões.
Jamil respondeu:
— Sou um lobisomem há mais de dez anos. Este é o meu terceiro bando. Nunca sequer ouvi falar de uma lupa que pudesse ajudar a aumentar o poder de seu Ulfric fora do lupanar, o nosso lugar de poder. A maioria das lupas não podem mesmo fazer isso. Raina foi a primeira que eu conheci que podia chamar o poder dentro do lupanar. Podia invocar pequenos poderes, sem a lua cheia para aumentar seu poder, mas nada como o que eu senti hoje.
— Jamil disse que você ajudou Richard a conseguir energia suficiente para curá-lo. — Louie disse. Eu dei de ombros, com cuidado para não derramar o café.
— Ajudei Richard a controlar sua besta. Aconteceu alguma coisa. Eu não sei.
— Richard entrou em um de seus ataques de raiva, e você o ajudou a trazê-lo de volta? — Louie perguntou.
Eu olhei para ele então.
— Você já o viu quando perde o controle?
Ele concordou.
— Uma vez.
A memória me fez tremer.
— Uma vez é o suficiente.
— Mas você o ajudou a se controlar.
— Ela fez. — disse Jamil. Ele parecia contente.
Louie olhou para ele e balançou a cabeça.
— O que está acontecendo? — Eu perguntei.
— Eu tenho dito a Richard que ele não vai melhorar, a menos que esqueça você completamente. Pensei que deveria ser assim para ele se curar. — disse Louie
— Parece que você mudou de idéia. — eu disse.
— Se você pode ajudar Richard a recuperar o controle de seu animal, então ele precisa de você. Não me importa como, Anita. Mas se ele não fizer algo logo, vai acabar morto. Para impedir que isso aconteça, eu faria quase qualquer coisa.
Pela primeira vez, percebi que Louie não gostava mais de mim. Ele era o melhor amigo de Richard. Acho que não poderia culpá-lo. Se ele tivesse dispensado Ronnie como eu fiz com Richard, ficaria chateada, também.
— Mesmo incentivando Richard a me ver de novo? — Eu fiz uma pergunta.
— É isso que você quer?
Balancei a cabeça e não olhei em seus olhos.
— Eu não sei. Estamos ligados uns aos outros pela eternidade. É um tempo muito longo para todos.
Richard apareceu na porta.
— Um tempo muito longo. — disse ele — para ver outro homem em seus braços. — Ele não soava amargo então. Parecia cansado. Seus cabelos e o peito estavam cobertos de poeira fina e branca. Até seu jeans estava empoeirado. Parecia que tinha saído de um filme pornô, onde o encanador consola a dona de casa sozinha. Ele caminhou até ficar na frente das rosas.— Ver para sempre rosas brancas com seu nome sobre eles. — Ele tocou a única rosa vermelha, e sorriu. — Muito simbólico. — Sua mão se fechou em torno da flor carmesim, quando abriu a mão, as pétalas vermelhas espalharam na mesa. Uma gota de sangue caiu. Ele tinha encontrado um espinho.
Os olhos de Ronnie estavam arregalados, olhando para as ruínas da rosa. Ela olhou para mim, levantou as sobrancelhas, mas eu não sabia nem que expressão dar em troca.
— Isso foi infantil. — eu disse.
Richard virou-se para mim, estendeu a mão.
— Pena que o nosso outro terço não está aqui para lamber o sangue.
Senti um sorriso desagradável em meus lábios, e falei antes que pudesse parar, ou talvez eu só estivesse cansada de tentar.
— Há pelo menos três pessoas aqui que adorariam lamber o sangue da sua pele, Richard. Eu não sou um deles.
Ele enrolou a mão em punho.
— Você é uma puta.
— Vira-lata! eu disse.
Louie falou.
— Parem com isso.
— Eu paro se ele parar. — eu disse.
Richard apenas se virou, falando sem olhar para ninguém.
— Nós mudamos os lençóis da cama. Mas o quarto ainda está uma bagunça. — Ele abriu mão. O sangue se espalhou ao longo das linhas da sua mão como um rio que segue suas margens. Ele virou para mim com os olhos irritados.
— Posso usar um dos banheiros para me limpar? — Levantou a mão lentamente até a boca e lambeu o sangue lentamente, deliberadamente.
Ronnie fez um pequeno som, quase um suspiro. Eu não consegui suspirar, já tinha visto este filme antes.
— Há um banheiro com chuveiro lá em cima. É a porta do outro lado do corredor.
Ele pôs um dedo na boca em câmera lenta, como se tivesse acabado de comer alguma coisa e lambesse o dedo. Seus olhos não mostravam nada. Eu estava dando o meu melhor olhar vazio também. Tudo o que teria de mim, somente o vazio.
— Tem uma banheira lá em cima? — ele perguntou.
— Sirva-se. — eu disse. Bebi meu café, o retrato da indiferença. Edward teria ficado orgulhoso.
— Será que Jean-Claude ficaria chateado se eu usasse sua banheira preciosa? Sei o quanto você gosta de água.
Alguém lhe disse que havíamos feito amor na banheira no Circo. Adoraria saber quem. Senti meu rosto pegar fogo, não podia parar.
— Uma reação ao passado? — disse ele.
— Você tem vergonha de mim, está feliz?
Ele concordou.
— Sim, sim eu estou.
— Vá tomar o seu banho, Richard. Acenda as malditas velas.
— Vai se juntar a mim? — Houve uma época em que eu queria um convite assim, como as de Richard mais do que quase qualquer coisa no mundo. A raiva em sua voz quando disse isso trouxe algo muito perto das lágrimas aos meus olhos. Eu não era exatamente um choro, mas doeu. Ronnie estava constrangida, e Louie pôs a mão no braço dela. Todos de pé ou sentados e tentavam fingir que não estavam testemunhando algo dolorosamente pessoal.
Um par de respirações profundas e estava bem. Eu não o deixaria me ver chorar. De jeito nenhum. — Eu não entrei com Jean-Claude na banheira, Richard. Ele juntou-se a mim. Talvez se você não tivesse sido um maldito escoteiro, seria com você que eu estaria agora e não com ele.
— Foi uma boa transa e tudo o que queria? Foi tão fácil para você?
Fiquei de pé, o café respingava da minha mão para o chão. Coloquei a caneca sobre a mesa, o que me pôs a uma curta distância de Richard.
Ronnie e Louie mudaram de lugar na mesa, dando-nos espaço. Eu achei que tivessem deixado a cozinha se tivessem certeza que nós não brigaríamos. Jamil colocou seu café na mesa, como se estivesse pronto para pular e nos salvar de nós mesmos. Mas era tarde demais para nos salvar, demasiado tarde.
— Desgraçado. — eu disse. — Demorou tanto para chegar onde estamos, Richard.
— Três de nós. — disse ele.
— Tudo bem. — eu disse. Meus olhos estavam quentes, minha garganta apertada. — Talvez uma boa foda tenha feito isso. Eu não sei. Seus altos ideais, o mantem aquecido durante a noite, Richard? O seu elevado nível moral te torna menos solitário?
Ele deu o último passo, o que nos deixava quase nos tocando. Sua raiva corria sobre mim como uma corrente elétrica.
— Você me enganou, você tem ele em sua cama, e eu não tenho ninguém.
— Então, encontre alguém, Richard, encontre alguém mas deixe-o ir. Vá se foder.
Ele se afastou tão de repente, que me fez balançar. Saiu da cozinha a passos largos, sua fúria deixou um cheiro perturbador de perfume.


Eu fiquei lá por um segundo, depois disse:
— Saiam fora, todos para fora.
Os homens saíram, mas Ronnie ficou. Eu não teria chorado, honestamente, mas ela tocou meus ombros, me abraçou por trás e sussurrou:
— Eu sinto muito. — Eu posso resistir a tudo, exceto a simpatia.
Eu chorei com as mãos cobrindo, escondendo o rosto, continuava escondido.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


CAPÍTULO 32

A campainha tocou. Virei-me como se fosse atender, mas Ronnie disse:
— Deixe alguém atender.
Zane falou da sala de estar.
— Eu atendo. — O que me fez pensar que Jamil e Louie foram confortar Richard, talvez?
Me afastei de Ronnie, esfregando o rosto.
— Quem poderia ser? Estamos no meio do nada.
Jamil e Louie estavam subitamente de volta da sala. Ou se tinha ouvido falar de mim, ou eles estavam tão desconfiados quanto eu estava. Eu peguei a metralhadora do chão e fiquei parada na porta com a arma apontada ao meu lado esquerdo, fora da vista. A Firestar estava na minha mão direita, também fora de vista. Louie e Jamil separarm-se na sala de estar um pra cada  lado.
— Não cruze a minha linha de visão. — eu disse.
Os dois se moveram um pouco mais. Ronnie disse:
— Eu não trouxe minha arma.
— A Browning está no casaco no chão.
Seus olhos cinzentos eram apenas um toque de largura, com a respiração um pouco rápido, mas ela balançou a cabeça e foi para a arma.
Zane estava olhando para mim com os olhos arregalados. Parecia perguntar algo, e eu confirmei. Ele checou o olho mágico.
— Parece um garoto de entrega de flores.
— Abra. — eu disse.
Zane o fez, bloqueando minha visão do entregador. A voz do homem era muito macia para ouvir. Zane voltou para mim.
— Ele disse que você tem que assinar para receber as flores.
— De quem é?
O homem olhou em torno de Zane, erguendo a voz para dizer:
— Jean-Claude.
— Só um minuto. — Coloquei a metralhadora no chão, fora da vista e mantive a Firestar escondida atrás da minha perna quando fui para a porta. Jean-Claude sempre me mandava flores, mas geralmente esperava até as outras estarem perto de morrer, ou pelo menos desaparecer. Claro, ele estava mais romântico hoje.
Ele era um homem baixo, segurando uma caixa de rosas em seu braço, a mão esquerda em cima da caixa com uma prancheta e um lápis com um desses formulário escrito “assine aqui”.
Zane afastou-se da porta para me deixar passar, olhei para a caixa com janela plástica. As rosas eram amarelas. Parei em frente e tentei sorrir.
— Você vai precisar de uma gorjeta. Espere aí enquanto pego minha bolsa.
O homem olhou ao redor da sala, vendo Jamil se mover para a esquerda e Louie à sua direita. Eu saí para um lado tentando não ficar diretamente na frente dele. Ele me seguiu com a caixa, com a mão por baixo.
Jamil tinha o melhor ângulo. Eu fiz uma pergunta.
— Jamil?
— Sim. — foi o que disse, mas foi o suficiente.
— Eu não preciso de gorjeta. — o homem disse — mas eu estou correndo atrás. Você poderia apenas assinar aqui para que eu possa ir embora?
— Claro. — eu disse. Jamil entendeu o que estava acontecendo, mas Zane ainda estava confuso. Ronnie estava em algum lugar atrás de mim. Não ousei olhar para ela, mas mudei um pouco mais de lugar e o homem me seguiu com a mão que eu não podia ver, com a mão que Jamil tinha confirmado haver uma arma.
Louie havia parado de se mover, esperando que eu chegasse a ele. Ele descobriu, também. Grande, e agora?
Foi Ronnie quem decidiu.
— Largue a arma, ou derrubo você. — Sua voz era confiante, determinada. Dei uma olhada para ver se os pés dela permaneciam afastados, a Browning nas duas mãos apontada para o homem na porta.
Jamil gritou,
— Anita!
Eu me virei e apontei a Firestar em um movimento. O homem já estava levantando a mão na caixa. Tinha uma idéia da arma. Ele ignorou completamente Ronnie, apontando a arma para mim. Se ele tivesse apenas virado seu quadril, teria tido tempo para uma foto, mas ele tentou uma posição melhor para atirar.
Zane finalmente reagiu, quando tudo o que deveria ter feito era ficar fora do caminho, isso mostrou que sua super força e super velocidade não eram suficientes. Você tem que saber o que fazer com ela. Ele deu um tapa na caixa e na prancheta da mão do homem, virando o primeiro tiro para o chão. O primeiro tiro de Ronnie acertou o batente. Zane estava bloqueando minha linha de fogo. Eu vi a arma voltar para cima, apontada para Ronnie neste momento.
Zane pegou a arma, e ela disparou mais duas vezes. O corpo de Zane estremeceu, caindo em câmera lenta até o chão. Eu tinha a arma apontada quando o corpo de Zane abriu caminho, eu estava pronta. O segundo tiro de Ronnie acertou o homem no ombro, empurrando-o para trás. Ele atirou em mim, caído na porta. Sua bala passou longe. A minha não.
Sangue floresceu em seu peito. Ele olhou para mim, os olhos arregalados e quase perplexo, como se não entendesse o que estava acontecendo com ele. Mesmo com o primeiro toque da morte enchendo seus olhos, ele começou a levantar a arma, para tentar um último tiro.
Dois tiros foram disparados como ecos estrondosos. Meu tiro acertou seu peito. O tiro de Ronnie acertou o topo de sua cabeça. Balas tipo Glazer Rondas faz um estrago danado.
Fui até o homem, arma apontada para ele, pronta para matá-lo novamente, mas acabou. Seu peito era uma massa de sangue, e sua cabeça parecia ter sido escalpelada. Fluidos mais pesados do que o sangue estavam vazando por todo o degrau do alpendre.
Ronnie chegou ao meu lado, arma apontada para ele. Deu uma olhada e foi para fora, quase tropeçando nas pernas do homem morto. Ela caiu na grama, vomitando e chorando.
Zane continuava ali, sangrando. Louie estava verificando seu pulso.
— Ele está morrendo. — Limpou o sangue em sua camiseta e saiu para a luz do sol para cuidar de Ronnie.
Fiquei olhando para o peito pálido de Zane. Uma bala tinha acertado seus pulmões. Bolhas vermelhas saíam da ferida, fazendo um som horrível, sem um médico ele estaria morto. Era apenas uma questão de “quando” e não “se”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 33

Chamamos uma ambulância e descobrimos que não viriam logo. Muitas outras situações de emergência antes de nós. Foi Louie que pegou o telefone de minha mão e pediu desculpas ao operador agradavelmente.
Cherry correu para a cozinha. Eu podia ouvi-la abrindo e fechando gavetas, armários batendo.
Fui atrás dela.
Ela estava em pé no meio da cozinha, tirando o conteúdo de uma das gavetas. Seus olhos estavam quase selvagem. Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, ela disse:
— Preciso de um saco plástico, fita adesiva e tesoura.
Não fiz perguntas estúpidas. Abri a pequena gaveta ao lado do fogão e entreguei a ela a fita e tesoura. Os sacos Ziploc eram uma das poucas coisas no armário da despensa espaçosa.
Cherry os pegou da minha mão e se dirigiu para a sala. Não tinha idéia do que ela tinha em mente, mas tinha formação médica. Eu não. Talvez isso desse a Zane mais alguns minutos. A ambulância viria eventualmente. O truque era mantê-lo vivo até lá.
Tanto quanto eu poderia dizer, ela não usou a tesoura. Colocou o saco sobre o peito de Zane e prendeu um canto com a fita. Ficou obvio, mas eu tinha que perguntar.
— Porque é um canto sem tampar?
Ela respondeu sem levantar os olhos de seu paciente.
— O canto aberto o deixa respirar, mas quando ele suga o ar entra em colapso com o saco e sela a ferida. Chama-se curativo. — Não parecia ela falando. Gostaria de saber, não pela primeira vez, se Cherry era realmente um monstro. Era quase como duas pessoas diferentes. Eu nunca entendi qualquer uma delas, monstro ou não, parecia tão dividida.
— Será que vai mantê-lo vivo por tempo suficiente para a ambulância chegar aqui?— perguntei.
Ela finalmente olhou para mim.
— Espero que sim.
Concordei. Foi o melhor que poderia ter feito. Eu era boa em colocar furos nas pessoas. Não tão boa em mantê-los vivos.
Richard trouxe um cobertor e dobrou-o nas pernas de Zane, deixando Cherry retirar a parte superior do cobertor para corrigir a forma como ela queria em torno da ferida.
Richard vestia apenas uma toalha na cintura, sua pele bronzeada com gotas de água como se não tivesse tido tempo para se secar. A toalha se agarrou em uma linha suave, apertado em sua bunda enquanto dobrava a colcha sobre Zane. Seus cabelos grossos pendurados em fios pesados, tão molhado que a água escorria dele em linhas finas nas suas costas.
Ele se levantou, e a toalha mostrou um pouco da coxa.
— Eu tenho uma toalha maior. — eu disse.
Ele franziu a testa para mim.
— Eu ouvi tiros. Não estava realmente preocupado com o tamanho da toalha.
Concordei.
— Você está certo. Desculpe. — Minha raiva contra Richard parecia encolher em proporção direta à sua roupa. Se ele realmente queria ganhar a guerra, tudo que tinha que fazer era tirá-la. Eu teria colocado uma bandeira branca e aplaudido. Embaraçoso, mas quase verdade.
Ele passou a mão pelos cabelos, alisando-os e tirando o excesso de água. Esse pequeno movimento mostrou os braços e no peito a vantagem maravilhosa. Ele arqueou as costas um pouco, esticou o resto de seu corpo musculoso em uma longa fila. Foi o arco de volta que fez. Eu sabia que estava mostrando seu corpo de propósito. Ele sempre parecia inconsciente do efeito de seu corpo sobre mim até agora. Olhando em seus olhos irritados, eu sabia que ele havia me mostrado seu corpo deliberadamente. Sua maneira de dizer, sem palavras, “veja o que você perdeu”.
Eu perdi tardes de domingos assistindo musicais antigos. Caminhadas pela floresta aos sábados, observação de aves, ou fins de semana inteiro de rafting no Meramec. Perdi a audição sobre o seu dia na escola. Eu o perdi. Seu corpo era apenas um bônus muito agradável. Não tinha certeza se havia um número suficiente de rosas do mundo para me fazer esquecer o que Richard quase tinha sido para mim.
Ele subiu as escadas e voltou para o chuveiro. Se eu tivesse tanta força de vontade como eu gostava de pensar, não olharia para ele. Tinha uma imagem vívida de lamber a água que escorria em seu peito e puxar a pequena toalha branca. A imagem era tão clara que tive que me virar e respirar profundamente. Ele não era mais meu. Talvez nunca tivesse sido.
— Eu não quero interromper esse momento, mas quem é o cara morto, e por que ele tentou te matar? — Perguntou Jamil.
Se eu pensei que estava constrangida antes, estava errada. O fato de que deixei Richard me distrair da questão muito mais vital do aspirante a assassino, apenas provou que não estava no meu jogo. Eu estava muito descuidada. O tipo de imprudência que pode te matar.
— Eu não o conheço. — eu disse.
Louie levantou o lençol que alguém havia jogado sobre ele.
— Eu não o reconheço também.
— Por favor. — disse Ronnie. Ela estava em algum lugar entre o cinzento e o verde novamente.
Louie deixou cair o lençol de volta, mas era mais plaino de alguma forma e se agarrou à parte superior da cabeça. O sangue penetrava no algodão como o óleo de um pavio.
Ronnie fez um pequeno som e correu para o banheiro.
Louie olhava para fora. Ele me pegou olhando e disse:
— Ela já matou pessoas antes, por que está assim?
— Somente uma vez— eu disse.
Ele se levantou.
— Será que ela reage assim?
Eu balancei minha cabeça.
— Acho que foi a visão de seu cérebro vazando por todo o alpendre que fez isso.
Gwen entrou na sala.
— Um monte de pessoas que podem ver sangue, não gostam de ver outras coisas vazando.
— Obrigado Sra. Terapeuta — disse Jamil.
Ela virou-se para ele como uma pequena tempestade loira, sua energia sobrenatural em espiral através da sala.
— Você é um bastardo homofóbico.
Levantei as sobrancelhas.
— Perdi alguma coisa?
— Jamil é um desses homens que acredita que toda lésbica é apenas uma mulher heterossexual esperando o homem certo. Ele foi persistente o suficiente para mim, mas Sylvie o colocou no lugar. — Essa é a linguagem de um terapeuta. — Jason disse. Ele correu até o porão onde os vampiros estavam descansando durante o dia, quando o tiroteio começou. Quando a excitação acabou, ele voltou para verificar a todos.
— Tudo calmo lá embaixo? — Eu perguntei.
Ele me deu aqueles sorrisos que conseguia ser pernicioso e inocente ao mesmo tempo.
— Silencioso como um túmulo.
Eu gemia, porque ele esperava. Mas o sorriso deixou meu rosto antes de deixar o seu.
— Poderia ser o Conselho? — Eu perguntei.
— Mas quem do conselho?— Louie perguntou.
— Quem enviou o assassino. — eu disse.
— Você realmente acha que ele era um assassino? — Jamil perguntou.
— Você quer dizer que ele era um assassino profissional?
Jamil assentiu.
— Não. — eu disse.
— Por que não seria um profissional?— Gwen perguntou.
— Não é bom o suficiente. — eu disse.
— Talvez ele fosse virgem. — disse Jamil.
— Quer dizer que esse era seu primeiro trabalho?
— Sim.
— Talvez. — Olhei para o cadáver coberto com o lençol. — Ele escolheu a carreira errada.
— Se fosse alguma dona de casa suburbana, ou um banqueiro de investimentos, ele teria conseguido. — disse Jamil.
— Parece que você sabe.
Ele deu de ombros.
— Eu sou segurança desde que eu tinha quinze anos. Minha ameaça não vale nada se eu não estiver disposto a matar.
— Como é que Richard se sente sobre isso? — Eu perguntei.
Jamil deu de ombros novamente.
— Richard é diferente, mas se não fosse, eu estaria morto. Ele teria me matado logo depois que matou Marcus. É o padrão Ulfric para uma nova aplicação da lei.
— Eu queria você morto.
Ele sorriu e foi apertado, mas não de todo desagradável.
— Eu sei que queria. Você está mais perto de ser uma de nós, do que ele é às vezes.
— Eu apenas não tenho um monte de ilusões, Jamil. Isto é tudo.
— Você acha que a moralidade de Richard é uma ilusão?
— Ele quase esmagou sua garganta mais cedo hoje. O que você acha?
— Acho que ele também me curou. Marcus e Raina não poderiam fazer isso.
— Teriam que machucá-lo mais por acaso? — Eu perguntei.
Ele sorriu mostrando os dentes.
— Se Raina tivesse arrancado minha garganta, não teria sido por acaso.
— Seria por capricho. — Gwen disse — mas não por acaso.
Os lobisomens tiveram um momento de perfeito entendimento. Nenhum deles chorava por Raina, nem mesmo Jamil, que tinha tido sorte do lado dela.
Eu balancei minha cabeça.
— Só não acredito que o Conselho enviaria amadores com uma arma. Eles tem bastante músculos durante o dia para fazer o trabalho sem a contratação de estrangeiros.
— Então, quem? — Jamil perguntou.
Balancei a cabeça novamente.
— Eu gostaria de saber.
Ronnie voltou para a sala. Nós todos assistimos como ela fez seu caminho de volta instável para o sofá. Ela sentou-se, os olhos vermelhos de tanto chorar. Louie trouxe um copo de água. Ela bebeu lentamente e olhou para mim. Esperava que ela falasse sobre o morto. Talvez para me acusar de ser uma amiga horrível. Mas ela decidiu ignorar o corpo e falar sobre os vivos.
— Se você tivesse dormido com Richard quando começaram a namorar, toda essa dor poderia ter sido evitada.
— Você parece estar muito certa disso. — eu disse. Deixei Ronnie mudar de assunto. Ela precisava de algo mais para se concentrar. Eu teria preferido o tema anterior do que falar da minha vida amorosa, mas. . . Eu devia a ela.
— Sim. — disse ela — a forma como você olhar para ele, Anita. A maneira como ele olha para você quando ele não está sendo cruel. Sim, eu tenho certeza.
Parte de mim concordou com ela, parte de mim. . .
— Ainda assim, eu estaria com Jean-Claude.
Ela fez um som impaciente.
— Eu sei. Se você tivesse tudo relações sexuais com Richard primeiro, não estaria dormindo com aquele maldito vampiro. Você acha que sexo é um compromisso.
Suspirei. Nós já tínhamos tido esta conversa antes.
— Sexo deve significar alguma coisa, Ronnie.
— Eu concordo. — disse ela. — Mas se eu tivesse o seu escrúpulo, ainda estaria de mãos dadas com Louie. Nós estamos tendo um momento maravilhoso.
— Mas onde isso te leva?
Ela fechou os olhos e apoiou a cabeça contra o encosto do sofá.
— Anita, você tornar sua vida mais difícil do que tem que ser. — Abriu os olhos e virou a cabeça para que pudesse olhar para mim. — Por que não pode ser apenas uma relação? Por que tudo com que você tem que ser tão sério?
Eu cruzei os braços sobre o meu estômago e olhei para ela. Se eu pensava que estava olhando para baixo, eu estava errada. Olhei para fora primeiro.
— É sério ou deveria ser.
— Por quê? — disse ela.
Eu estava finalmente reduzida a encolher Se eu não estivesse tendo relações sexuais com um vampiro fora do casamento, teria alguma superioridade moral para me sustentar. Como estava, não tinha nada para lutar. Eu tinha sido virtuosa por tanto tempo, mas quando eu o perdi, eu perdi o grande momento. De celibato a puta de mortos-vivos. Se eu ainda fosse Católica, teria sido excomungada. Claro que, sendo um animador era suficiente para me excomungar. Sorte minha que era protestante.
— Você quer alguns conselhos da sua tia Ronnie?
Isso me fez sorrir, um sorriso pequeno, mas era melhor do que nada.
— Que conselho?
— Vá lá em cima e junte-se ao homem no chuveiro.
Olhei para ela, devidamente escandalizada. O fato de que tinha fantasiando sobre o que não fazer apenas dez minutos atrás apenas tornava tudo mais embaraçoso.
— Você o viu na cozinha, Ronnie. Eu não acho que ele está com esse tipo de humor.
O olhar em seus olhos, de repente me fez sentir jovem ou talvez ingênua.
— Você iria surpreendê-lo, e ele não vai te chutar para fora. Você não consegue esse tipo de raiva, sem calor. Ele quer tanto mal a você, como você quer a ele. Basta dar para ele a sua namorada de volta.
Eu balancei minha cabeça.
Ela suspirou.
— Por que não?
— Mil coisas, mas, principalmente, Jean-Claude.
— Abandone-o. — disse ela.
Eu ri.
— Sim, claro.
— Será que ele realmente é bom? Tão bom que você não pode desistir dele?
Eu pensei sobre isso por um minuto e não sabia o que dizer. Ela finalmente se resumia a uma coisa, e eu disse em voz alta.
— Não estou certa de que há rosas brancas suficientes no mundo para me fazer esquecer Richard. — Levantei a mão antes que ela pudesse interromper. — Mas não tenho certeza que haja tardes aconchegantes em toda a eternidade para me fazer esquecer Jean-Claude.
Ela endireitou-se no sofá, olhando para mim. Um olhar de tristeza que quase encheu os olhos.
— Você quer dizer que não sabe, não é?
— Sim. — eu disse.
Ronnie sacudiu a cabeça.
— Jesus, Anita, você está ferrada.
Isso me fez rir, porque ela estava certa. Devia rir ou chorar sobre isso, e Richard tinha conseguido todas as lágrimas que ele podia receber de mim por um dia.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 34

O telefone tocou e eu pulei. Agora que o perigo havia passado, poderia ficar nervosa. Fui para a cozinha e peguei o telefone. Antes que pudesse responder, ouvi a voz do Dolph.
— Anita, você está bem?
— A videira polícia é ainda mais rápida do que eu pensava. — eu disse.
— Do que você está falando?
Eu disse a ele o que falei ao operador do 911.
— Eu não sei. — disse Dolph.
— Então por que você quer saber se eu estou bem?
— Quase todas as empresas que os vampiros possuíam ou casas na cidade foram atingidas na mesma hora, esta manhã. Eles dispararam contra a Igreja da Vida Eterna, e nós tivemos ataques a vampiros por toda a cidade .
O medo gelado me percorreu, a adrenalina inútil sem ter para onde ir. Eu tinha um monte de amigos que estavam vivos, não apenas Jean-Claude.
— Dave morreu, foi a batida?
— Eu sei que Dave se ressente de ser expulso da polícia depois que ele... Morreu, mas nós cuidamos dos nossos. Sua casa tem um guarda uniformizado que ficará lá até descobrirmos o que diabos está acontecendo. Teremos o criminoso antes que ele poss fazer mais do que a fumaça em alguma parede exterior.
Eu sabia que os vampiros maus estavam no Circo, mas Dolph não. Ele pode achar estranho se eu não perguntar.
— E o Circo?
— Eles se defenderam contra um casal de incendiários. Por que não perguntar ao amor de sua vida, primeiro, Anita? Não está em casa?
Dolph perguntou como se ele já soubesse, o que poderia significar que sabia ou poderia significar que ele estava pescando. Mas eu tinha certeza que os lacaios do Conselho não teriam contado toda a verdade. Meia-verdade talvez.
— Jean-Claude permaneceu aqui durante a noite passada.
O silêncio desta vez foi ainda mais espesso do que antes. Não sei quanto tempo ouvimos a respiração um do outro, foi Dolph quem quebrou o silêncio primeiro.
— Sorte dele. Sabia que isso ia acontecer?
Isso me pegou desprevenida. Se ele pensava que eu esconderia algo tão grande, não admira que estivesse puto comigo.
— Não, Dolph, eu juro que eu não tinha idéia.
— E o seu namorado?
Pensei nisso por um segundo.
— Acho que não, mas vou perguntar a ele quando se levantar.
— Não quer dizer quando ele se levantar dos mortos?
— Sim, Dolph. — eu disse — isso é o que eu quero dizer.
— Você acha que ele poderia saber sobre toda essa droga e não te dizer?
— Provavelmente não, mas ele tem seus momentos.
— No entanto, você ainda se encontra com ele... Eu só não entendo por que, Anita.
— Se eu pudesse explicar de modo que fizesse sentido para você, Dolph, eu o faria, mas não posso.
Ele suspirou.
— Você tem alguma idéia do por que alguém está atacando todos os monstros hoje?
— Quer dizer, os monstros ou por cauda da data?— Eu perguntei.
— Ou.....— , disse ele.
— Você tem alguns suspeitos sob custódia, certo?
— Sim.
— Eles não falaram?
— Só para pedir um advogado. Muitos deles acabaram mortos, desconfia de alguem?
— O “Seres Humanos Contra Vampiros”, ou “Primeiros Seres Humanos”, talvez. — eu disse.
— Será que nenhum deles atingiu o alvo?
Meu estômago ficou apertado em um nó nada agradável.
— O que você quer dizer?
— Um homem entrou num bar no circuito com uma metralhadora com munição de prata.
Por um minuto pensei em Dolph no Café Lunático, um restaurante antigo de Raina, mas não era um lugar frequentado abertamente por licantropos. Tentei pensar que se estivesse ali seria abertamente um alvo.
— O Den couro? — Eu fiz uma pergunta.
— Sim. — disse ele.
O Den Couro era o único bar do país, de meu conhecimento, que era um ponto de encontro para gays sadomasoquistas que passaram a ser metamorfos. Era uma tripla ameaça para qualquer Super vilão.
Nossa Dolph, se não estivesse acontecendo tudo isso, eu diria que poderia ser quase qualquer um. Conseguiu prender algum atirador vivo?
— Não. — Dolph disse. — Os sobreviventes comeram ele.
— Aposto que não. — eu disse.
— Eles usaram os dentes para matá-lo, Anita. Isso é como comê-lo em meu dicionário.
Eu tinha visto metamorfos comer pessoas, não só atacá-las, mas desde que a era ilegal matar pessoas, assassinatos ou seja, eu deixo Dolph ganhar a luta. Ele ainda estava errado, mas difícil de mostrar-lhe a minha prova, sem conseguir colocar as pessoas em apuros.
— É tudo como você diz, Dolph.
Ele ficou quieto por muito tempo que eu tinha a dizer,
— Você ainda está aí?
— Por que eu acho que você está me escondendo algo, Anita?


— Eu faria isso?
— Num piscar de olhos. — disse ele.
Sua pergunta sobre a data tinha desencadeado uma vaga lembrança.
— Há algo sobre a data de hoje.
— Do que você está falando?
— Eu não sei, alguma coisa. Você precisa de mim para entrar?
— Uma vez que toda essa droga está relacionada com o sobrenatural, todos os policiais e seus K9 estão pedindo por nós. Então, sim, precisamos de todos em campo hoje. Eles atacaram os monstros que estavam nas enfermarias dos grandes hospitais.
— Jesus, Stephen. — eu disse.
— Ele está bem, todos eles estão. — disse Dolph. — Um cara com uma 9 milímetros tentou matá-lo. O policial na porta foi atropelado.
— Ele está bem? — Eu perguntei.
— Ele vai sobreviver. — Dolph não parecia feliz, e não foi só o atacante ou o policial ferido.
— O que aconteceu com o atirador? — Eu perguntei.
Ele riu, um som abrupto, áspero.
— Um dos primos de Stephen atirou o homem tão forte na parede que rachou seu crânio. As enfermeiras dizem que o atirador estava prestes a colocar uma bala entre os olhos do policial enquanto ele estava parado.
— Então o primo de Stephen salvou a vida do policial? — eu disse.
— Sim.
— Você não parece feliz com isso.
— Ele está sozinho, Anita.
— Desculpe. O que você quer que eu faça?
— O detetive encarregado é Padgett. Ele é um bom policial.
— Um pequeno elogio vindo de você?— eu disse. — Por que eu ouvi um “mas” chegando?
— Mas — Dolph disse — ele fica assustado perto de monstros. Alguém precisa ir até lá e segurar sua mão para que ele não se deixe levar por “Metamorfos Assassinos”.
— Então, eu sou uma babá?
— É a sua área, Anita. Posso mandar alguém. Pensei que você queria estar presente.
— Eu faço, e obrigada.
— Não é para ficar o dia todo, Anita. É para fazer o mais rápido possível. Pete McKinnon me ligou para perguntar se ele podia te pegar emprestado.
— Houve um outro incêndio?
— Sim, mas não era o seu Incendiário. Eu disse que eles bombardearam a Igreja da Vida Eterna.
— Sim.
— Malcolm está lá dentro. — disse ele.
— Droga — eu disse. Malcolm era imortal Billy Graham, fundador do mais rápido crescimento dominante do país. Era uma Igreja de vampiros, mas os seres humanos podiam participar. Na verdade, eles eram incentivados. Por quanto tempo permaneciam humanos era discutível.
— Estou surpresa que seu esconderijo seja tão óbvio.
— O que quer dizer?
— A maioria dos vampiros-mestre gastam muito tempo e energia escondendo o seu endereço durante a droga do dia, como isso aconteceu com ele? Está morto?
— Você está engraçada como o inferno hoje, Anita.
— Você sabe o que quero dizer. — eu disse.
— Ninguém sabe. McKinnon vai interrogá-lo e conseguir mais detalhes. Hospital primeiro, depois a sua cena. Quando chegar lá me ligue. Eu vou descobrir para onde enviar-lhe em seguida.
— Você ligou para Larry?
— Você acha que ele tem experiência suficiente para se defender?
Eu pensei nisso por um segundo.
— Ele sabe sobre o material sobrenatural.
Dolph disse:
— Eu ouvi um “mas” chegando.
Eu ri.
— Temos trabalhado juntos por um longo tempo. Sim, mas ele não é um atirador. E eu não acho que isso vai mudar.
— Um monte de policiais não são bons atiradores, Anita.
— Tiras podem trabalhar vinte e cinco anos e nunca dar um tiro. Executores de vampiros não tem esse luxo. Nos preparamos para matar coisas. E as coisas que vamos matar sabem disso.
— Se tudo que o você tem é um martelo, Anita, cada problema começa a se parecer com um prego.
— Eu li Massad Ayoob também Dolph. Não uso minha arma como única solução.
— Claro, Anita. Chamarei Larry.
Eu queria dizer “não o mate”, mas não o fiz. Dolph não iria matá-lo de propósito, e Larry era adulto. Ele ganhou o direito de aproveitar as suas chances como todos os outros. Mas dói dentro de mim saber que ele estará lá fora, hoje sem mim como suporte. Eles chamam isso de cortar as amarras. Eu sinto mais como amputar partes do corpo.
De repente, me lembrei porque a data de hoje era importante.
— O Dia da Limpeza. — eu disse.
— O quê? — Dolph disse.
— Os livros de história chamam de Dia da Limpeza. Os vampiros chamam de Inferno. Duzentos anos atrás, a Igreja uniu forças com os militares na Alemanha, Inglaterra, oh, inferno, quase todos os países europeus com exceção da França e queimaram todos os vampiros ou simpatizantes em um único dia. A destruição foi completa e um monte de gente inocente morreu nas chamas. Mas o fogo conseguiu seu objetivo, havia menos vampiros na Europa.
— Por que a França não se uniu com toda essa gente?
— Alguns historiadores acham que o rei da França tinha uma amante vampira. Os revolucionários franceses dizem que a nobreza era toda de vampiros, o que não é verdade, claro. Alguns dizem que é por isso que a guilhotina foi tão popular. Ele mata os dois, os vivos e os mortos-vivos.
Em algum momento durante a mini palestra, percebi que eu poderia perguntar a Jean-Claude. Se ele perdeu a Revolução Francesa, não foi por muito. Eu sabia que ele tinha fugido da Revolução para vir para este país. Por que não pensei em perguntar? Porque ainda me assustava que o homem que estava dormindo no porão era quase trezentos anos mais velho do que eu. Conversas sobre um fosso entre as gerações. Tentava ser o mais normal possível em algumas áreas. Pedir ao meu amante para falar sobre o que aconteceu quando George Washington e Thomas Jefferson ainda estavam vivos, definitivamente não era normal.
— Anita, você está bem?
— Desculpe, Dolph, eu estava... Pensamento.
— Eu gostaria de saber sobre o quê?
— Provavelmente não. — eu disse.
Ele deixou passar. Não mais do que um punhado de meses atrás Dolph teria insistido até achar que eu tivesse dito tudo a ele. Mas se nós éramos colegas de trabalho, não queria dizer necessariamente que éramos amigos, algumas coisas eram melhores serem deixadas sem explicações. Nosso relacionamento não poderia sobreviver a divulgação integral. Ele nunca teve, mas eu não acho que Dolph tenha entendido até recentemente.
— Dia de limpeza, tudo bem.
— Se você conversar com qualquer vampiro sobre isso, não o chame assim. Chame de Inferno. É como chamar o Holocausto judeu de uma limpeza racial.
— Você fez o seu ponto. — disse ele. — Lembre-se, enquanto estiver lá fazendo o trabalho da polícia está proibida de bater em alguém.
— Puxa, Dolph, você me ama.
— Não me force a isso. — disse ele.
— Veja sua acusação novamente, Dolph nada acontece com você, Zerbrowski está no comando. O riso profundo de Dolph foi a última coisa que ouvi antes de o telefone ficasse mudo. Em quase cinco anos eu nunca ouvi Dolph disse adeus ao telefone.
O telefone tocou assim que o coloquei no gancho. Era Pete McKinnon.
— Oi, Pete. Estava falando com Dolph. Ele me disse que queria que eu fosse a Igreja.
— Ele lhe dizer por quê?
— Alguma coisa sobre Malcolm.
— Temos quase todos os membros humanos da Igreja gritando para nós para ter certeza de que seu grande Queijo não torrou. Abrimos o andar de cima para verificar se alguns vampiros do lado oeste não estavam em caixões. Dois deles viraram fumaça. Se Malcolm não estiver assado, tentaremos salvá-lo... Digamos que eu não quero fazer o trabalho de papel.
— O que você quer que eu faça?
— Precisamos saber se é seguro deixá-lo sozinho até que ele posa sair por conta própria, ou se precisamos descobrir como resgatá-lo. Vampiros não podem se afogar, podem?
Eu achei a última pergunta estranha.
— Com exceção de água benta, vampiros não tem nenhum problema com água.
— Mesmo água corrente?— ele perguntou.
— Você tem feito sua lição de casa. Estou impressionada. — eu disse.
— Eu sou bom em auto-aperfeiçoamento. E quanto a água corrente?
— No meu conhecimento, a água não é um impedimento, funcionando ou não. Por que você pergunta?
— Você nunca foi a um prédio depois de um incêndio, não é?— ele perguntou.
— Não. — eu disse.
— A menos que o porão seja hermético, ele vai estar cheio de água. Um monte de água.
Vampiros podem se afogar? Era uma boa pergunta. Eu não tinha certeza. Talvez eles possam, era por isso que algumas histórias do folclore falavam sobre água corrente. Ou talvez tenha sido o mesmo que dizer que os vampiros poderiam alterar forma, não era verdade.
— Eles nem sempre respiram, então eu acho que não se afogam. Quero dizer, se um vampiro acordar com o seu caixão debaixo d'água, acho que ele pode apenas não respirar e sair da água. Mas, sinceramente, eu não tenho cem por cento de certeza.
— Você pode dizer se ele está bem sem ir até lá?
— A verdade é que eu não tenho certeza. Nunca tentei nada parecido.
— Você vai tentar?
Concordei, percebi que não poderia vê-lo, e disse:
— Claro, mas você é o segundo na minha lista.
— Tudo bem, mas apresse-se. A mídia está por toda parte. Entre eles e os membros da Igreja, não estamos tendo muita folga.
— Pergunte a eles se Malcolm é o único vampiro lá em baixo. Veja se o subsolo é de aço reforçado.
— Por que seria?
— Muitos dos porões onde os vampiros dormem têm tetos de concreto reforçado com vigas de aço. O porão da igreja não possui janelas, isso pode significar que a área foi especialmente construída para vampiros. Você precisa saber se decidir abrir o andar acima.
— Nós faremos isso.
— Chame alguns dos fiéis de lado e façam-lhes perguntas. Você precisa saber as respostas de qualquer forma, e ele pelo menos vai ter a ilusão de que algo está acontecendo até que eu possa chegar lá.
— Essa é a melhor idéia que eu ouvi em duas horas.
— Obrigada. Eu estarei lá assim que puder, prometo. — Eu tive um pensamento. — Espere, Pete. Malcolm ter um servo humano?
— Muitas das pessoas aqui têm marcas de mordida de vampiros.
— Não. — eu disse. — Quero dizer, um verdadeiro servo humano.
— Eu pensei que era apenas um ser humano com uma ou duas mordidas de vampiro.
— Um ser humano com apenas um par de mordidas é o que os vampiros chamam de Renfield, como no personagem do romance de Drácula. — Perguntei a Jean-Claude como eles o chamavam antes do livro ser lançado. Ele disse “escravos”. Faça uma pergunta boba, e recebe uma resposta a altura..
— O que é um servo humano, então?— Pete perguntou. Me lembrou de Dolph.
— Um ser humano está vinculado ao vampiro por algo chamado marcas. É uma espécie de droga mística e mágica, mas ele dá ao servo e a vampiro um laço que poderíamos usar para ver se Malcolm está bem.
— Qualquer vampiro pode ter um servo?
— Não, só um vampiro-mestre, e nem todos eles. Eu nunca ouvi falar que Malcolm tinha um, mas ele poderia se quisesse. Peça aos fiéis, embora eu ache que se ele tivesse um, o funcionário gritaria mais alto do que o resto. Ele merece uma chance. Se você resolver isso antes de eu chegar lá, me telefone. Dolph diz que há muito escombros ao redor.
— Ele não está brincando. A cidade está enlouquecendo. Até agora conseguimos conter os incêndios apenas em alguns edifícios, mas se os malucos continuarem assim, a coisa vai sair do controle. Não se pode dizer quanto da cidade poderia ser atingido.
— Precisamos saber quem está por trás disso. — eu disse.
— Sim, nós temos que descobrir. — disse Pete. — Venha o mais rápido possível. — Ele parecia tão certo que eu poderia ajudar. Eu queria era tão certa. Não tinha certeza se poderia fazer alguma droga em plena luz do dia. Tinham-me dito uma vez que a única razão que eu não poderia ressuscitar os mortos ao meio dia, era porque pensava que não podia. Estava a ponto de colocá-lo à prova. A dúvida é o maior inimigo de qualquer habilidade mágica ou psíquica. A auto-dúvida é uma profecia auto-realizável.
— Eu estarei lá assim que puder.
— Ótimo. Não vou mentir. Estou aliviado que alguém com experiência em vampiros possa estar no local. Os policiais estão começando a ter algum treinamento sobre como lidar com o sobrenatural, mas ninguém treina bombeiros para este tipo de droga.
Nunca me ocorreu que os bombeiros tinham de lidar com os monstros quase tanto quanto a polícia. Eles não os caçam, mas entram em suas casas. Isso pode ser perigoso, independente se o monstro em questão perceber que você está lá para ajudar ou não.
— Eu estarei lá, Pete.
— Estaremos esperando. Nos vemos lá.
— Bye, Pete.
Desligamos. Peguei meu coldre de ombro e uma camisa diferente. O coldre de ombro que se coloca apenas uma arma no topo.

 

 

 

 


CAPÍTULO 35

Coloquei uma camisa pólo naval e não corri para Richard. A água tinha parado de escorrer, mas ele não tinha saído. Eu não queria vê-lo, especialmente seminu. Queria ficar longe dele. Para minha sorte a droga tinha batido no ventilador, profissionalmente falando. O trabalho de polícia, muitas delas, talvez o suficiente para me manter fora de casa o dia todo. Por mim tudo bem. A ambulância chegou, e Zane foi carregado para dentro com Cherry junto a ele. Eu me senti culpada por não ir com eles, mas ela poderia fazer muito mais por ele do que eu. A polícia ainda não tinha aparecido para verificar o cadáver. Odiava deixar os outros para conversar com os policiais, sem mim, mas eu tinha que ir. O fato de que eu estava saindo me causou alguns momentos de culpa, mas não muito.
Ronnie tinha voltado a sentar no sofá. Ela perguntou imediatamente antes que eu saísse pela porta,
— Eu vou para a cadeia à noite?
Eu me ajoelhei na frente dela, levando suas mãos estranhamente frias na minha.
— Ronnie, você não o matou.
— Eu atirei no topo de sua cabeça. Que tipo de munição você tem nessa arma mesmo?
— Eu atirei nele duas vezes no peito. Não havia o bastante de seu coração para raspar com uma colher. — eu disse.
Ela fechou os olhos.
— Seu cérebro está vazando todo no alpendre. Não me diga que isso não o teria matado.
Suspirei e acariciei suas mãos.
— Por favor, Ronnie, você fez o que tinha que fazer. Talvez ainda demore para que um médico legista decida qual bala o matou, mas quando a polícia chegar, certifique-se que não vai pegar todo o crédito.

— Isso já aconteceu antes, Anita, você se lembra? Eu sei o que dizer e o que não dizer. — Ela olhou para mim e não era um olhar totalmente amigável.
Eu soltei suas mãos e me levantei.
— Sinto muito, Ronnie.
— Eu só atirei em duas pessoas e nas duas vezes eu estava com você.
— Nas duas vezes você fez isso para salvar a minha vida. — eu disse.
Ela olhou para mim com olhos desolador.
— Eu sei.
Toquei seu rosto e queria acariciá-la na cabeça ou algo assim, confortá-la do jeito que você faria com uma criança, mas ela não era uma criança.
— Lamento que isso aconteceu, Ronnie. Sinceramente, mas o que mais você poderia ter feito?
— Nada. — disse ela — e isso me faz pensar se estou no direito penal.
Algo dentro de mim se apertou.
— Isso não quer dizer que não somos amigas, certo? Isso não aconteceu por causa do seu trabalho. Aconteceu por causa do meu.
Ela segurou minha mão firmemente.
— Melhores amigas, Anita, para sempre.
— Obrigada, Ronnie, mais do que você jamais irá saber. Eu não acho que comecei a perder você como amiga, mas não fique comigo por fidelidade. Pense nisso, Ronnie, realmente pense nisso. Minha vida não parece estar ficando mais segura. E fica cada vez mais perigosa. Você pode pensar se quer estar na linha de fogo.
Bastou fazer a oferta e meus olhos arderam. Apertei-lhe a mão e me virei antes que ela pudesse ver que o flagelo do tipo vampiro que estava rasgando.
Ela não me chamou de volta ou prometeu amizade eterna. Metade de mim queria que ela fizesse e a outra metade estava feliz porque ela realmente estava pensando no assunto. Se Ronnie tivesse matado por minha causa, eu assumiria a culpa e rastejaria para um buraco. Eu peguei Richard me olhando perto das escadas. Talvez pudéssemos compartilhar um buraco juntos. Isso seria punição suficiente.
— O que aconteceu agora? — ele perguntou. Ele secou o cabelo em uma massa brilhante de ondas que deslizava por cima de seus ombros enquanto se trocava no quarto. Estava com sua calça jeans e uma camiseta que combinava com ele. Uma camiseta com a caricatura de Arthur Conan Doyle que eu usava para dormir. Ficou um pouco apertado em Richard com seus ombros e peito largos. Em mim, a camiseta chegava quase até os joelhos.
— Veja você encontrou o secador e a camiseta na gaveta. Sirva-se. — eu disse.
— Responda a minha pergunta. — disse ele.
— Pergunte a Jamil. Ele tem todos os detalhes.
— Estou perguntando a você. — disse Richard.
— Eu não tenho tempo para ficar aqui e contar duas vezes. Tenho que ir trabalhar.
— Polícia ou vampiro?
— Você costumava dizer que se preocupava mais quando eu executava vampiros. Ficava aliviado quando eu apenas trabalhava com a polícia. Por que diabos quer saber agora, Richard? O que lhe importa? — Saí sem esperar por uma resposta.
Eu tive que passar por cima do homem morto na minha varanda. Esperava que os policiais chegassem em breve. Era um dia típico de julho em St. Louis, claustofobicamente quente e úmido. O corpo começaria a cheirar, se não o levassem em breve. Apenas mais uma das muitas alegrias de verão.
O meu jipe estava na garagem, onde deveria estar. Eu deixei Jean-Claude usá-lo para transportar todos até aqui. Embora ele não tivesse dirigido. Nunca encontrei um vampiro velho que dirigisse. Os mais velhos tendem à ser um pouco tecnofóbicos. Eu já estava fora da garagem quando vi Richard no espelho retrovisor. Ele parecia irritado. Pensei seriamente em apenas continuar. Ele se moveu. Mas no caso de ser estúpido o suficiente para não parar, esperei até que viesse na janela do lado do motorista.
Apertei o botão e a janela zuniu para baixo como era esperado.
— O que foi? — Perguntei. Deixei soar tão hostil quanto os olhos.
— Três do meu bando estão em perigo. Três do meu povo podem ser presos, e você não me contou.
— Eu estou cuidando disso, Richard.
— É meu trabalho cuidar dos meus lobos.
— Você quer ir até lá em pessoa e anunciar que é seu Ulfric? Você nem pode ir até lá como amigo porque isso poderia prejudicar o seu segredo precioso.
Ele agarrou a borda da janela forte o suficiente para os dedos ficarem brancos.
— A maioria dos líderes de bando têm identidades secretas, Anita. Você sabe disso.
— Raina era a sua alfa pública, Richard. Ela teria ido até o hospital por eles. Mas está morta. Você não pode ir. Quem sobrou?
Alguma coisa bateu na porta.
— Eu vou ficar chateada se você quebrar o meu carro. — eu disse.
Ele tirou as mãos lentamente, procurando algo como se precisasse manter as mãos ocupadas.
— Não fique muito confortável como lupa, Anita. Eu vou substituí-la.
Olhamos um para o outro a menos de trinta centímetros de distância. Uma vez ele tinha saído do carro para um último beijo de adeus. Agora era uma última luta.
— Tudo bem, mas até encontrar alguém, eu sou tudo que você tem. Agora tenho que ir e ver se consigo manter os nossos lobos fora da cadeia.
— Eles não estariam sob custódia da polícia se você não os tivesse colocado no caminho errado.
Ele tinha-me lá.
— Se eu não colocasse guardas para Stephen e Nathaniel, eles estariam mortos agora. — Eu balancei a cabeça e comecei a dar ré no Jeep. Richard saiu de maneira que eu pudesse fazê-lo sem arriscar seus dedos.
Ele ficou lá. Se tivesse perguntado, teria encontrado outra camiseta, não teria sido esta. Primeiro; era uma das minhas favoritas, segundo, ela me lembrava de um fim de semana especial. Tinha havido uma maratona de filmes de Sherlock Holmes, protagonizado por Basil Rathbone. Não é o meu favorito, principalmente porque faziam o Dr. Watson parecer um palhaço, mas era bom. Eu usava a camiseta nos fins de semana, apesar de ser muito grande para usar fora de casa. A política da moda não me pegava, mas Richard amava a camiseta. Ele pegou a camiseta e nem sequer se lembrou? Ou ele a usava para me lembrar do que eu tinha desistido? Eu acho que preferia como um gesto de vingança. Se ele pode vestir a camiseta e não lembrar do fim de semana, eu não quero saber. Nós conseguimos derramar pipoca no sofá e em mim. Richard não me deixou levantar para limpar. Ele insistiu em fazer isso. Limpar significava passar as mãos e a boca em todo lugar. Se a memória não significava nada para ele, então talvez nós nunca nos apaixonamos. Talvez tenha sido luxúria e nós confundimos as coisas. Deus, tomara que não.

 

 

CAPÍTULO 36

Outra cena do crime, de outro show. Pelo menos, o corpo tinha sido removido. Isso foi uma melhora na minha casa. Eu deixei três lobisomens trás para guardar Stephen e Nathaniel. Dois desses lobisomens estavam no corredor. Lorena ainda estava vestida como professora de escola de segundo grau, exceto pelas algemas, o que não parecia combinar com o disfarce. Ela estava sentada em uma daquelas cadeiras de encosto reto que todos os hospitais parecem ter. Este era cor laranja e horrível o que não combinava com nenhuma das paredes pastel. Ela estava chorando com as mãos cobrindo o rosto. Seus pulsos pareciam pequenos nas algemas. Teddy ajoelhou ao lado dela, como uma pequena montanha de halterofilismo, acariciando suas costas finas.
Havia um policial fardado ao lado deles, em alerta. Um dos tiras estava com a mão casualmente repousada sobre a coronha de sua arma. A cinta que segurava a arma no coldre já estava aberta. Ele me irritava.
Fui até o policial em questão, muito perto, invadindo seu espaço pessoal.
— É melhor agarrar sua arma oficial, antes que alguém a tire de você.
Ele piscou os olhos claros para mim.
— Como assim?
— Use o seu coldre da forma que está destinada a ser utilizada ou fique longe dessas pessoas.
— Qual é o problema aqui. Murdock? — Um homem alto, magro, com uma cabeça cheia de cachos escuros veio em nossa direção. Seu terno estava tão solto sobre seu corpo magro que parecia emprestado. Seu rosto tinha um enorme par de olhos azuis. Exceto pela altura, ele parecia ter uns doze anos de idade, que havia emprestado as roupas do pai.
— Eu não sei senhor. — disse Murdock, olhando em frente. Eu apostava que ele estava no serviço militar ou queria estar. Só tinha que provar a ele.
O homem alto se virou para mim.
— O que parece ser o problema, detetive...? — Ele deixou um longo espaço em branco para eu colocar um nome dentro
— Blake, Anita Blake. Estou com a Regional de Investigação Sobrenatural.
Ele estendeu uma mão grande para mim. Apertando minha mão com um pouco de força, mas não chegou a esmagar. Ele não estava tentando me testar, apenas contente por me ver. Seu toque fez minha pele formigar. Ele era psíquico. O primeiro entre os policiais que conheci, com exceção de uma bruxa que tinham contratado de propósito.
— Você deve ser o detetive Padgett. — eu disse.
Ele balançou a cabeça e soltou minha mão, sorrindo maravilhosamente. O sorriso o fazia parecer ainda mais jovem. Se não fosse quase da altura de Dolph, teria problemas reais em ser autoritário. Mas era um erro julgar uma pessoa pela altura. Lutei contra essa reação a maior parte da minha vida.
Ele colocou a mão no meu ombro e me levou para longe dos lobisomens. Eu não ligava muito para a mão em meus ombros. Se eu fosse um cara, ele não teria feito isso. Deixei o grupo de lado, então sai do círculo dos seus braços. Quem disse que eu não tinha amadurecido?
— Conte-me tudo. — eu disse.
Ele o fez. Era exatamente como Dolph tinha me dito. O único acréscimo era que tinha sido Lorena que jogou o homem na parede, isso explicava suas lágrimas. Ela provavelmente pensou que iria para a cadeia. Eu não podia prometer que não seria presa. Se fosse uma mulher humana que tinha acabado de salvar a vida de um policial por, inadvertidamente, matar um cara mau, não seria preza, hoje não. Mas ela não era humana, e a lei não é imparcial, ou cega, não importa no que gostaríamos de acreditar.
— Deixe-me ver se entendi. — eu disse. — O oficial na porta estava abaixado. O atirador tinha a arma apontada para a cabeça do policial e estava prestes a dar o golpe de misericórdia quando a mulher mergulhou sobre ele. Seu ímpeto os levou para a parede mais distante, onde ele bateu com a cabeça. Isso está certo?
Padgett olhou para suas anotações.
— Sim, isso está quase certo.
— Por que ela está com as algemas?
Seus olhos se arregalaram, e ele me deu o seu melhor sorriso de menino. O detetive Padgett era um sedutor. Não importa se parecia um espantalho, estava acostumado a passar seu charme. Pelo menos com as mulheres. Eu apostava que não tinha jogado esse charme em Lorena.
— Ela é um lobisomem. — disse ele sorrindo, como se isso explicasse tudo.
— Ela te disse isso?— Eu perguntei.
Ele olhou assustado.
— Não.
— Você achou que ela fosse uma metamorfo por quê?
O sorriso murchou, substituído por uma carranca que o fazia parecer petulante, em vez de raiva.
— Ela jogou um homem em uma parede com força suficiente para rachar seu crânio.
— Velhinhas levantam carros para salvar seus netos. Será que isso as tornam licantropos?
— Não, mas...— Sua cara estava fechada, na defensiva.
— Eu acho que você não gosta muito de metamorfos, Padgett.
— Como eu me sinto pessoalmente, não interfere com o meu trabalho.
Eu ri, e ele se assustou.
— Padgett, como nos sentimos pessoalmente, sempre afeta nosso trabalho. Vim aqui chateada porque eu tinha brigado com um ex-namorado. Por que você não gosta de licantropos, Padgett?
— Eles me dão arrepios, tudo bem.
Eu tive uma idéia.
— Literalmente? — Eu perguntei.
— O que quer dizer, literalmente?
— Será que ficar em torno de metamorfos realmente faz sua pele arrepiar?
Ele olhou para onde os outros policiais estavam agrupados. Se inclinou para a frente e baixou a voz, e eu sabia que estava certa.
— É como insetos andando na minha pele toda vez que estou ao seu redor. — Ele não me olhou como um menino agora. O medo e o ódio em seu rosto mostravam linhas que o deixavam perto dos trinta.
— Você está sentindo a sua energia, sua aura.
Ele foi para trás de mim.
— O inferno que estou.
— Olha Padgett, eu sabia que você era psíquico no segundo que apertei sua mão.
— Você está louca. — disse ele. Estava assustado, com medo de si mesmo.
— Dolph está interessado em qualquer policial que tenha talento nesta área. Por que que você não tenta?
— Eu não sou um monstro. — disse ele.
— Ah, a verdade saiu. Você não tem medo de licantropos. Está com medo de você mesmo.
Ele levantou o punho grande, não para me bater, apenas para mostrar a sua raiva:
— Você não sabe nada sobre mim.
— Eles me causam arrepios também, Padgett.
Isso o acalmou um pouco.
— Como você pode ficar perto deles?
Eu dei de ombros.
— Você se acostuma.
Ele balançou a cabeça, quase tremendo.
— Eu nunca iria me acostumar com isso.
— Eles não estão fazendo isso de propósito detetive. Alguns metamorfos são melhores em esconder o que são do que outros, mas todos eles emitem mais energia durante emoções fortes. Quanto mais você questioná-los, mais angustiados vão ficar, e mais energia vão emitir, é esse formigamento que você sentiu.
— Eu tinha a mulher sozinha em um quarto, pensei que minha pele estava saindo para fora do meu corpo.
— Espere, como assim sozinha? Você a interrogou?
Ele concordou.
— Ela não te contou nada?
Ele balançou a cabeça.
— Nem uma maldita palavra.
— E os outros?
— Os homens não fizeram nada.
— Eles estão livres?
— O grande não vai deixá-la, e o outro está no quarto com os dois feridos. Ele disse que não pode deixá-los sem proteção. Eu disse a ele que podia cuidar disso. Ele disse que, aparentemente, não. Eu concordei com o Kevin.
— Temos testemunhas que dizem que ela não queria machucar o homem. Ele não está morto, ainda. Por que ela ainda está algemada?
— Ela já matou um homem hoje. Acho que isso é suficiente. — disse ele.
— Duas coisas, detetive. Primeiro, ela poderia tirar as algemas a qualquer momento que queria. Segundo, se ela fosse humana, você teria que deixá-la ir para casa agora.
— Isso não é verdade. — disse ele.
Olhei para ele. Ele tentou desviar a vista, mas vacilou. Ele disse, olhando para um ponto acima da minha cabeça:
— O homem está morrendo. Se eu deixá-la ir, ela poderia tentar fugir.
— Tentar fugir por quê? Ela viu um policial prestes a ter sua cabeça arrancada por um homem armado, pulou para salvá-lo. Ela não o jogou para cima. Ela o empurrou contra uma parede. Confie em mim, detetive, se ela pretendesse matá-lo, teria feito um trabalho mais aprofundado. Ela arriscou sua vida para salvar um dos seus homens.
— Ela não se arriscou. Balas não ferem licantropos.
— Balas de prata ferem. Eles funcionam como munição real em um ser humano. Cada caso que investigamos hoje usamos munição de prata, Padgett. Lorraine poderia ter morrido, mas ela não hesitou. Se ela tivesse, teríamos um policial morto em nossas mãos. Quantos cidadãos arriscam suas vidas para salvar um policial?
Ele finalmente me olhou, os olhos tinham tanta raiva que tinham escurecido dois tons de azul.
— Você fez o seu ponto.
— Já?
Ele concordou.
— Sim. — Ele caminhou de volta para o policial e o lobisomem chorando. — Solte-a.
Murdock disse:
— Senhor?
— Faça, Murdock. — Padgett disse.
Ele não o questionou novamente, apenas se ajoelhou na frente de Lorena e soltou as algemas. Seu parceiro no outro lado guardou sua arma no coldre de deu dois grandes passos para trás. Eu o deixei ir. Estávamos ganhando, não havia necessidade de lutar.
Logo que as mãos estavam livres, Lorraine se atirou para mim. Eu sabia que ela não fazia por mal, mas podia ouvir o coro de apreensão pelo corredor. Levantei minha voz e disse:
— Tudo bem, rapazes. Ela é legal.
Lorena estava de joelhos, os braços ao redor das minhas pernas, soluçando alto e confusa. Segurei sua mão e olhei para a outra extremidade do corredor. Teddy, de pé, a metade dos policiais apontando as armas para ele. Estávamos prestes a ficar muito mal.
— Padgett, contenha seus homens. — Olhei para ele e encontrei sua arma, apontada para Teddy. Merda. — Padgett, guarde sua arma e eles farão o mesmo.
— Mande-o se sentar. — Padgett disse, sua voz estava muito grave.
— Teddy — eu disse suavemente — Sente-se muito lentamente, sem movimentos bruscos.
— Eu não fiz nada. — disse ele.
— Não importa, apenas faça, por favor.
Ele sentou-se sob o olhar atento de meia dúzia de armas. Colocou as mãos grandes nos joelhos, palmas para baixo mostrando que estava desarmado. Tinha muita prática tentando parecer inofensivo.
— Agora coloque sua arma para cima, Detective. — eu disse.
Padgett me olhou por um segundo. Pensei que não ia fazer isso. Olhei para aqueles grandes olhos azuis e vi algo perigoso. Um medo tão profundo e amplo de que precisava destruir a coisa que temia. Ele colocou a arma, mas que de um momento de nudez em seus olhos tinham sido suficientes. Eu ia falar com Dolph e ver se Padgett tinha matado algum metamorfo. Eu quase apostava que tinha. Ser inocentado das acusações nem sempre quer dizer ser inocente.
Acariciei a cabeça de Lorraine.
— Está tudo certo, tudo certo. — Eu tinha que tirá-los dali. Os homens bons eram uma ameaça tão grande quanto os maus.
Ela olhou para mim, os olhos inchados. O choro real é como o sexo real. Se você realmente fizer, não é bonito.
— Eu não queria machucá-lo.
— Eu sei. — Olhei para os policiais subindo e descendo o corredor. Alguns deles evitavam meus olhos. Balancei a cabeça e a ajudei a ficar de pé. — Estou levando-os para o quarto de Stephen e Nathaniel, Detective Padgett. Alguma objeção?
Ele apenas balançou a cabeça.
— Ótimo. Vamos, Teddy.
— Eu posso levantar? — ele perguntou.
Olhei para Padgett.
— Você pensa que você e seus homens podem imitar o Rambo?
— Se ele não se comportar, com certeza. — Padgett não estava tentando ser mais charmoso. Acho que ele estava envergonhado do show. Eu sabia que ele ainda estava com raiva, talvez de mim, talvez em si mesmo. Não me importava, desde que não começasse a filmar.
— Você tem um policial dentro da sala? — Eu perguntei.
Ele deu um breve aceno de cabeça.
— Ele é como um gatilho feliz como o resto de vocês, ou eu posso abrir a porta sem ser atingida? Padgett caminhou até a porta e bateu.
— Smith, é Padgett o Detective. Estamos entrando. — Ele abriu a porta com um floreio para mim e Lorena.
Olhei para o jovem policial sentado perto da porta. Kevin estava caído em uma cadeira de frente para ele, um cigarro apagado no canto da boca. O lobisomem olhou para mim, e um olhar foi suficiente para saber que não estava feliz. Não era apenas a retirada da nicotina também.
Empurrei Lorraine para o quarto, depois me voltei para Teddy. Estendi a mão esquerda e ele a pegou. Eu o ajudei a ficar de pé, apesar de não precisar da ajuda.
— Obrigado. — disse ele, e não quis dizer por ajudá-lo a se levantar.
— Sem problemas. — eu disse. Eu o escoltei de volta ao quarto. Uma vez que ambos estavam em segurança no interior, me virei para Padgett.
— Nós precisamos conversar. De preferência em particular, se eu puder ter a garantia que ninguém vai levar um tiro enquanto estou fora.
— Você está bem aqui, Smith? — ele perguntou.
O jovem policial disse:
— Eu estou bem. Gosto de animais.
O olhar no rosto de Teddy era assustador até para mim. Essa energia sobrenatural foi subindo como uma onda, quente, picante.
— Se o bom policial pode se comportar, é o que o resto de vocês vai fazer. — eu disse.
Teddy olhou diretamente para mim.
— Eu sei como seguir ordens.
— Ótimo, vamos encontrar um lugar privado, detetive Padgett?
Sua respiração estava vindo rápido, quase acelerada . Ele estava sentindo a energia subir também. — Podemos conversar aqui. Eu não quero deixar um de meus homens sozinhos com essas coisas.
— Chefe, eu estou bem. — o jovem policial disse.
— Você não está com medo? — Padgett perguntou. Era uma questão que os policiais raramente perguntam uns aos outros. Eles admitem estar nervosos. Nunca com medo.
O oficial Smith arregalou um pouco os olhos, mas balançou a cabeça.
— Eu conheço Crossman. Ele é um cara bom. Ela salvou sua vida. — Ele se sentou mais reto em sua cadeira, e disse baixinho: — Esses não são os maus.
Um tique começou na bochecha de Padgett. Ele abriu a boca, fechou-a, virou-se abruptamente nos calcanhares e saiu. A porta se fechou atrás dele. Ficamos todos em pé, em silêncio.
Stephen disse:
— Anita. — Ele estendeu a mão para mim. Seu rosto era perfeito, sem cicatrizes, sem marcas de qualquer tipo. Peguei sua mão e sorri.
— Eu sei que vocês podem se curar rapidamente, mas ainda assim é impressionante. Você parecia muito ruim da última vez que te vi.
— Você viu o pior. — disse uma voz masculina e suave. Nathaniel estava acordado na cama do outro lado. Seus cabelos ruivos longos até a cintura pendiam como uma cortina, e brilhava em torno de seu rosto. Eu nunca tinha visto um homem com cabelos tão longos. Não podia ver o seu rosto porque estava muito ocupada olhando para seus olhos. Eles eram lilás, uma lavanda maravilhosamente pálida, um verdadeiro show. Levei alguns segundos para poder ver o resto do rosto. Ele parecia alguns anos mais velho quando estava inconsciente. Ainda parecia cansado e doente, mas havia uma grande melhora.
— Sim, você viu o meu pior. — disse Stephen.
Stephen virou-se para o oficial Smith como se fossem velhos amigos.
— Podemos ficar alguns minutos sozinhos?
Smith olhou para mim.
— Tudo bem para você?
Concordei.
Ele se levantou.
— Eu não sei se Padgett vai gostar, por isso, se quiser trocar códigos secretos ou qualquer outra coisa, faça isso rápido.
— Obrigada. — eu disse.
— Não mencione isso. — Ele parou na frente de Lorena antes de nos deixar. — Obrigado, Crossman tem uma esposa e duas filhas. Eu sei que ele agradeceria se pudesse.
Lorena corou e acenou com a cabeça, murmurando:
— Você é bem vindo.
Smith saiu, e eu caminhei até a cama de Nathaniel.
— É um prazer ver que está consciente.
Ele tentou sorrir, mas era muito esforço. Estendeu a mão esquerda para mim, a mão direita ainda estava ligada a um gotejamento intra-venoso.
Peguei sua mão. Ele estava tremendo, fraco. Levou a minha mão para a boca como se fosse beijá-la. Eu o deixei fazer isso. O esforço fez sua mão tremer.
Ele apertou seus lábios em minha mão, de olhos fechados, quase como se estivesse descansando. Por um segundo pensei que estivesse, Ele pôs sua língua para fora, em uma lambida rápida.
Puxei a mão para trás, lutando contra o desejo de limpá-la sobre meu jeans.
— Obrigada, um aperto de mão seria suficiente.
Ele fez uma careta para mim.
— Mas você é nossa Lionne léoparde. — disse ele.
— É o que as pessoas ficam me dizendo. — eu disse.
Ele virou a cabeça para que pudesse ver Stephen.
— Você mentiu para mim. — Lágrimas tremiam em seus olhos claros. — Ela não vai nos alimentar.
Olhei Stephen.
— Já perdi parte dessa conversa, não é?
— Você já viu Richard compartilhar sangue com o bando?
Eu comecei a dizer não, então,
— Eu o vi deixar Jason se alimentar de um ferimento de faca uma vez. Jason parecia quase drogado sobre ele.
Stephen concordou.
— É isso. Gabriel também podia compartilhar seu sangue.
Meus olhos se arregalaram.
— Eu não acho que ele era forte o suficiente para fazer isso.
— Nem nós. — Disse Kevin. Ele veio para ficar perto de mim, cigarro na mão, ainda apagado. — Foi muito interessante ouvir Gabriel falar de Nathaniel. Ele era viciado em heroína e uma prostituta de rua quando Gabriel o salvou, deu-lhe uma segunda vida.
— Foi valente por mantê-lo longe das drogas, mas Gabriel ainda era um cafetão. Para uma clientela muito doente.
Kevin acariciou a perna de Nathaniel debaixo do lençol, um gesto casual, como você faria num cão.
— Mas Nat aqui gostava dele, não é, menino?
Nathaniel olhou para ele e disse suavemente,
— Sim.
— Por favor, me diga que você não gosta de ser destruído.
Fechou os olhos.
— Não, não é isso. Mas até então era...
— Isso não está certo. — eu disse. Algo que me ocorreu. — Você contou para a polícia quem fez isso com você?
— Ele não sabe. — disse Kevin. Ele colocou o sempre presente cigarro em sua boca, como se apenas o gosto do papel fosse doce.
— O que você quer dizer com ele não sabe? — Eu perguntei.
Stephen respondeu:
— Zane o algemou e vendou, depois o deixou. Esse era o acordo. Nathaniel nunca os viu.
— Nunca? — Eu fiz uma pergunta.
Stephen concordou.
— Nunca .
Eu respirei profundamente.
— Você se lembra de algo único ou diferente que possa ajudar a identificá-los?
— O Perfume, como gardênias, um cheiro doentio.
Ótimo, eu pensei, era útil.
Ele olhou para mim de repente, seus olhos não estavam apenas aborrecido com a doença. Percebi que eram negligentes com a experiência. Ele estavA além de cansaço, como se Nathaniel tivesse olhado para as camadas mais baixas do inferno e viveu para contar, mas realmente não tinha sobrevivido, não intacto.
— Lembro-me do perfume. Eu o reconheceria novamente se eu sentisse.
— Ok Nathaniel, tudo bem. — No fundo do terrível vazio de seus olhos estava o pânico. Ele estava assustado, incrivelmente assustado. Acariciei sua mão, e quando seus dedos enrolados em torno dos meus, eu segurei.
— Ninguém nunca mais vai feri-lo assim novamente, Nathaniel. Eu prometo a você.
— Você vai cuidar de mim? — Ele me olhou com uma necessidade em seus olhos, tão cru, tão primitivo, que teria lhe prometido qualquer coisa desde que ele desviasse o olhar.
— Sim, eu vou cuidar de você.
Seu corpo inteiro relaxou. A tensão saiu dele como a água de um copo quebrado. Eu senti uma sacudida de energia que vinha de sua mão para meu braço. Isso me fez pular, mas eu não me afastei.
Ele sorriu para mim, deitado de costas contra os travesseiros. Parecia um pouco melhor, de alguma forma, mais forte.
Soltei minha mão da sua lentamente, e ele me deixou ir. Ótimo. Virei-me para o resto da sala.
— Temos que tirar todos daqui.
— Eu poderia ir para casa agora. — disse Stephen — Mas Nathaniel ainda não pode ser removido.
— Eu não confio nos policiais, sem que eu esteja aqui.
— Padgett tem muito medo de nós. — disse Teddy.
Concordei.
— Eu sei.
— Alimente-me. — afirmou Nathaniel. — Dê-me sua força, e eu vou com você.
Eu fiz uma careta pra ele, então olhei para Stephen.
— Ele não está sugerindo que eu abra uma veia para ele, não é?
— Richard poderia fazê-lo. — disse Stephen.
— Richard não poderia alimentar um dos leopardos. — Lorraine disse — não é um de nós.
— Raina poderia ter fodido com ele para fazê-lo melhorar. — disse Kevin.
Isso valeu-lhe um longo olhar de mim.
— Do que você está falando?
— Raina poderia compartilhar a energia sem o compartilhamento de sangue. — disse ele. Seu rosto registrava desgosto e luxúria, como se tivesse desfrutado de algum show de Raina, a despeito de si mesmo. — Ela corria suas mãos sobre você, em seu corpo. Sempre dava um jeito de te machucar. Quanto mais você sentisse dor, mais ela gostava, mas você desejava estar curado quando ela acabava.
Virei-me para Stephen, porque não acreditava nisso. Ele concordou.
— Eu já a vi fazer isso.
— Você não está sugerindo que ela...— Lorraine deixou o pensamento terrível no ar, mas eu estava com ela.
— Eu não vou abrir uma veia, e certamente não vou fazer sexo com ele.
— Vocês não me querem. — A voz de Nathaniel era cheia de lágrimas, de coração partido.
— Não é nada pessoal. — eu disse. — Apenas não faço sexo casual. — Esta conversa toda era muito estranha até para mim.
— Então Nathaniel tem que ficar aqui pelo menos por vinte e quatro horas. — disse Kevin. Rolou o cigarro entre os dedos enquanto falava.
Stephen concordou.
— É o que disse o médico. Nós perguntamos quando ele me disse que eu poderia ir para casa hoje.
— Não me deixe Stephen. — Nathaniel estendeu as mãos por todo o espaço entre elas, como se pudesse tocá-lo.
— Não vou deixá-lo sozinho, Nathaniel, não sem alguém para cuidar de você.
Teddy falou. — Só porque terminou em sexo com Raina não significa que tenha que terminar desse jeito.
Todos nós olhamos para ele.
— O que você quer dizer?— Kevin perguntou.
— Tudo acabou em sexo com Raina. Mas foi isso que o curou. Acho que seus ferimentos estarão curados antes de chegarmos à questão essencial. — Bastava ouvi-lo falar e meu cérebro doía. Era como descobrir que seu Golden Retriever podia responder as suas perguntas. Você só não esperava obter cérebro em um corpo tão volumoso.
Kevin encolheu os ombros.
— Eu não sei. Tudo o que sei é que ela me curou. Não me lembro de quando. Só me lembro dela.
— Há alguém nesta sala que não dormiu com Raina? — Eu perguntei.
A única pessoa que levantou a mão foi Lorena, e sabendo como Raina se comportava, isso era discutível. — Doce Jesus.
— Eu acho que Anita poderia curá-lo sem sexo, apenas com a pele nua. — disse Teddy.
Eu comecei a dizer não, então me lembrei que partilhei de energia com Jean-Claude. Tocar a pele tinha sido importante também. Talvez seja a mesma coisa.
— Será que Raina parecia sentir-se cansada depois de curá-lo?
Todos os homens balançaram a cabeça. O consenso era que parecia energiza-la, não esgotava a sua. Claro que Raina tinha sido uma cadela vulgar, mesmo para um lobisomem.
Eu não queria deixar Nathaniel aqui, nem mesmo com os lobisomens para protegê-lo. Eu não confiava em Padgett. Também não havia garantia de que os fanáticos, quem quer que fossem, não tentariam uma outra batida. Ou todos nós saíamos juntos ou ficaríamos. Eu tinha mais cenas de crime para visitar. Não podia ficar aqui o dia inteiro.
— Ok, vamos tentar, mas não tenho a menor idéia de como começar.
Nathaniel se recostou no travesseiro com algo parecido com um sorriso de confiança no rosto. Como uma criança que está prestes a comer o sorvete prometido. O problema era que eu era o sorvete.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 37

Kevin colocou uma cadeira sob a maçaneta da porta e ficamos tão seguros quanto possível. Eu disse a Smith, que ficasse na porta, que eu precisava esclarecer as coisas, e diria quando tivesse acabado. Eu estava sendo tratada como um detetive, assim, os policiais ficariam de fora. A única preocupação era Padgett. Ele só ficaria de fora até que seu ego se recuperasse. Esperava que isso demorasse um pouco . A única coisa que poderia nos salvar dele era o fato de que ele iria querer quebrar a porta, porque sentiria o que estávamos fazendo, e ele não admitiria isso.
Eu estava perto da cama. Nathaniel olhou para mim com um olhar tão confiante, que me deixou nervosa. Me virei e encontrei todo mundo olhando para mim, também.
— Ok, rapazes, e agora? Eu nunca vi esse feito.
Houve uma troca de olhares em todos os sentidos. Stephen disse:
— Eu não sei se podemos explicar isso para você.
Concordei.
— Eu sei, a magia é assim.Você quer obtê-la, ou não.
— Isso é mágica?— Teddy perguntou. — Ou é apenas habilidade psíquica?
— Eu não sei se há uma diferença. — eu disse. — Às vezes eu penso que a única diferença é que a capacidade psíquica é algo que você faz sem pensar nisso, e magia exige um ritual para começar.
— Você faz mais esse tipo de droga que nós fazemos. — disse Kevin. — Somos apenas lobisomens e não bruxas.
— Eu não sou uma bruxa. Eu sou uma necromante.
Ele deu de ombros.
— Da na mesma para mim. — Ele se sentou na cadeira, esmagando o cigarro na palma da sua mão como se estivesse aceso e sua carne fosse um cinzeiro. Fechou a cara para mim. Eu não o conheço bem o suficiente para ter certeza, mas ele parecia nervoso.
Eu também. Só sabia duas maneiras de aumentar a energia: ritual ou sexo. O sexo tomou o lugar do ritual, quando estava com Jean-Claude ou Richard. Mas eu não tinha vínculo com Nathaniel. Nenhuma marca, nenhuma emoção, nada. Eu não era a sua Lionne léoparde, não realmente. Era tudo mentira. Eu não poderia fazer isso sem algum sentimento para com ele. Pena não era suficiente.
Teddy apareceu atrás de mim.
— O que está errado, Anita?
Eu teria que atravessar a sala e sussurrar, mas sabia que Nathaniel ouviria em qualquer lugar do pequeno quarto.
— Eu preciso de alguma emoção para trabalhar, alguma coisa.
— Emoção? — ele perguntou.
— Eu não sinto Nathaniel. Não sinto nada por ele, exceto pena, obrigação. Nenhuma destas coisas é suficiente para começar.
— Do que você precisa? — Seus olhos estavam muito sérios. A inteligência em si era quase palpável.
Tentei colocar em palavras e terminei dizendo:
— Eu preciso de algo para tomar o lugar de um ritual.
— Raina não fazia uso de um ritual. — Kevin disse.
— Ela usava o sexo. O sexo pode tomar o lugar do ritual.
— Você levantou o poder no lupanar uma noite com Richard. — disse Stephen. —Você não tem sexo, mas ainda pode levantar o poder.
— Mas eu... Eu queria Richard sexualmente. É um tipo de energia que tem seu próprio poder.
— Nathaniel é bonito. — disse Stephen.
Balancei minha cabeça.
— Nunca foi tão fácil para mim. Preciso de mais do que um rosto bonito.
Stephen deslizou para fora da cama, usando um daqueles camisolões, não reclamou quando se moveu. A roupa enrolava em volta dele como um lençol, mais pano do que precisava, assim como teria sido em mim. Um tamanho nunca serve para todos.
Ele tentou pegar a minha mão, eu não deixei.
— Deixe-me ajudá-la.
— Defina a ajuda. — Desconfiada, quem eu?
Ele sorriu, e era quase condescendente. O sorriso masculino que envolvem as meninas quando estão fazendo algo errado. O sorriso só me irritava.
— Qual é o seu problema? — Eu perguntei.
— Você. — ele disse suavemente. — Você sabe que eu nunca iria machucá-la, não é?
Olhei em seus olhos azul-violeta e assenti.
— Nunca neste propósito. — Eu disse.
— Então, confie em mim agora. Deixe-me ajudá-la a chamar o poder.
— Como? —Eu perguntei.
Ele pegou minha mão entre as suas, e desta vez eu deixei. Levou minha mão e me fez tocar a testa de Nathaniel. Apenas o toque em sua pele e você sabia que ele não estava bem.
— Sinta. — disse Stephen.
Eu olhei para ele, balançando a cabeça.
— Acho que não vai dar..
Nathaniel começou a dizer algo, mas Stephen colocou os dedos em sua boca.
— Não, Nathaniel. — Era como se ele soubesse o que o outro ia dizer. Mas não poderia saber, não com certeza, poderia? Eu poderia acreditar se Nathaniel fosse do bando, mas ele não era.
— Feche os olhos. — disse Stephen.
— Uh-huh. — eu disse.
— Nós não temos tempo para isso. — disse Kevin.
— Ele está certo. — disse Teddy. — Eu entendo sua relutância natural, mas a polícia vai bater na porta a qualquer momento.
Se Nathaniel não podia sair com a gente, significava deixar para trás pessoas para protegê-lo, e isso colocaria as pessoas em perigo novamente. Se estivéssemos todos juntos em algum lugar, pelo menos, pelo menos, não colocaríamos em perigo policiais inocentes, embora a maioria deles estremecessem ao ser chamados de inocente.
Respirei fundo.
— Muito bem, qual é a sua idéia?
— Feche os olhos. — disse Stephen.
Eu fiz uma careta para ele. Ele parecia doente, sofredor mesmo, e eu fechei os olhos. Pegou minha mão na sua, começou a abrir suavemente meu punho que eu percebi que tinha apertado. Ele começou a massagear minha mão.
Eu disse:
— Pare com isso.
— Então, solte-se. — disse ele. — Não vai doer.
— Eu não tenho medo da dor. — eu disse.
Stephen estava tão próximo, que senti sua roupa raspar em minhas pernas.
— Mas você ainda está com medo. — Sua voz era quase um sussurro. — Pode-se usar o medo para chamar o poder?
Meu pulso estava martelando na minha garganta, e eu estava com medo, mas não era o tipo certo de medo. O receio que te oprime no meio de uma chamada de emergência. chamar o poder quase sem esforço. Este era o tipo de medo que te impede de saltar dos aviões perfeitamente bom mesmo que você tenha decidido fazê-lo. Não é um medo doentio, mas seria prendê-lo de volta.
— Não. — eu disse.
— Então, deixe de lado o medo. — disse ele. Tocou suavemente meus braços e me sentou na beira da cama.
Nathaniel fez um pequeno som de protesto, como se tivesse machucado.
Abri meus olhos e Stephen disse:
— Feche os olhos. — Foi a coisa mais próxima de um fim que eu já ouvi. Fechei-os.
Ele pegou minha mão e colocou as pontas dos dedos de cada lado do rosto de Nathaniel.
— A pele da têmpora é tão suave. — Ele levou meus dedos em toques suaves pelo rosto de Nathaniel, os dedos deslizando em ambos os lados, como se eu fosse cega e tentasse memorizar suas características.
Ele deslizou minhas mãos pelo cabelo de Nathaniel. Era de seda, incrivelmente macio. Seu cabelo tinha a textura de cetim. Mergulhei minhas mãos em seu calor suave, levei meu rosto para seu cabelo e o senti. Havia um leve cheiro medicinal. Enterrei meu rosto no cetim de seu cabelo e encontrei o seu cheiro em tudo isto. Ele cheirava a baunilha, e sob esse, o cheiro da madeira, de campo e de peles. Ele não era do bando, mas o cheiro era semelhante. Ele cheirava a casa. Algo me pegou dentro de mim, como uma opção a ser acionada.
Abri os olhos e sabia o que fazer, como fazer, e quis fazê-lo. Como um pensamento distante, percebi que as mãos de Stephen tinham saído há muito tempo.
Olhei para baixo, para os olhos lilases de Nathaniel e me dobrei sobre esse incrível olhar. Eu toquei seus lábios com os meus, um beijo casto, um toque macio que trouxe o poder em um ambiente aconchegante, a pele formigava rapidamente. Ele se derramou de mim como água, quente e suave. Mas o poder sozinho não era suficiente. Precisava de direção, orientação, e eu sabia como fazê-lo, como se eu tivesse feito isso antes. Não questionei isso, não queria.
Tentei passar a mão em seu peito, mas o camisolão o cobria. Stephen era pequeno como eu. A roupa fechava na frente, não na parte de trás. Minha mão procurou a abertura e deslizou sobre a pele nua. Deslizou até que senti a incisão.
Eu navegava pelas pernas de Nathaniel. Ele fez um pequeno som de dor e eu gostei. Levantei os joelhos para que apenas os lados de meus pés tocaram seu corpo. Puxei o lençol para baixo em torno de seu corpo e abri a roupa, expondo-o. Os pontos eram uma linha fina, escura, que atravessa a palidez de sua pele, indo quase de um quadril para o outro. Uma ferida terrível, uma ferida de matar.
Ele não usava nada abaixo da cintura. Os hospitais estão sempre nos despindo, deixando-nos tão vulneráveis quanto possível. A visão dele nu deveria ter me chocado. Vagamente, isso me chocou. Eu não esperava isso, mas era tarde demais. O poder não se importou. Corri meus dedos levemente sobre os pontos.
Nathanael gritou, apenas a metade da dor. Ele estava semi-ereto, baixei o meu rosto nos pontos. Eu lambia a ferida como um cão, longamente, com carícias lentas. Ele estava mais do que meio- ereto quando levantei meu rosto para ver seus olhos olhando para mim. Soube naquele momento que eu poderia tê-lo, que ele queria que eu chegasse nessa última etapa.
Podia sentir os outros na sala como um zumbido de energia, uma pano vibrando com a energia dentro de mim. Nunca estive interessada em sexo casual, mas o cheiro e a sensação do corpo de Nathaniel era quase esmagadora. Eu nunca tinha sido tão tentada por um desconhecido. Mas a tentação é apenas uma tentação. Você não tem que dar atenção. Levantei-me de joelhos em cima dele, colocando as mãos sobre os ossos suaves de seus quadris, levando minhas mãos para o meio da incisão. Quando o toquei, coloquei uma em cima da outra e pressionei. Não com músculos ou carne, mas com o poder. Lancei esse poder quente em seu corpo.
Ele engasgou, sua coluna se curvou embaixo de mim, as mãos agarrando meus braços, dedos em convulsão contra a minha pele nua.
Era como suavizar as imperfeições em um zumbi, só que esta carne era quente e viva, e eu não conseguia ver o que eu estava curando com meus olhos. Mas podia sentir. Podia sentir seu corpo suave e firme, acariciando os lugares que nenhuma mão jamais tocou. O poder rolando entre meus dedos, enchendo-o com o aumento do calor, correndo dentro de mim. Ele se derramava de meus braços, de minhas mãos nele. A propagação de calor através de seu corpo, através do meu corpo, como uma febre, correndo sobre a pele, através do corpo, tornando os nossos corpos em uma única coisa de calor e de carne, e uma onda de energia que não parava de aumentar. Aumentou até que eu fechei os olhos, mas mesmo na escuridão fui atingida com seu brilho, flores brancas explodindo na minha visão.
Minha respiração estava rápida, demasiado rápida. Abri os olhos e observei o rosto de Nathaniel. Sua respiração correspondia a minha. Forcei nossa respiração a ficar mais lenta. Eu podia sentir seu coração como se eu o acariciasse, realizada em minhas mãos. Poderia tocar em qualquer parte dele. Poderia ter qualquer parte dele. Eu podia sentir o cheiro do sangue sob a pele dele e queria provar.
Ele se curou quando eu me abaixei em cima dele, apertei minha boca à dele. Eu virei meu rosto para o lado e ate chegar a seu pescoço e sentir a pulsação sob sua pele. Lambi sua pele, mas não era suficiente. Coloquei minha boca sobre o pulso latente, até que poderia segurar este latejar em minha boca. Eu queria morder mais e mais até o sangue fluir. Queria isso. Vagamente, eu sabia que Jean-Claude havia despertado para a noite. Era a sua fome que eu sentia, a sua necessidade. Mas não era a sua necessidade que tinha me popularizado com corpo de Nathaniel. Não era a minha vontade. Lembrei-me do seu corpo, eu nunca o tinha encontrado antes. Eu conhecia o gosto dele. A sensação que só uma amante antiga pode ter. Não eram minhas memórias. Não é a minha energia.
Eu deslizava sobre Nathaniel, tentei me arrastar para fora da cama, e caí de joelhos. Eu não conseguia ficar de pé, ainda não. Richard tinha me dito que enquanto o bando existisse, Raina não iria embora. Eu não tinha entendido o que ele queria dizer, até agora. Estava canalizando a cadela do inferno, canalizando-a.
Mas eu sabia que tinha algo a mais, algo que Raina não tinha feito. Não podia culpá-la por isso. Sabia como curar o corpo de Nathaniel, mas também sabia como acabar com isso. Qualquer coisa que você pode consertar, você pode quebrar. Quando segurei seu coração na minha mão metafísica, por uma fração de segundos, tive um desejo escuro de fechar a mão, de esmagar, esmagar o músculo até que o sangue fluísse e sua vida fosse interrompida. Um momento, um piscar de olhos, um impulso tão forte, que tive medo de mim. Eu teria gostado de culpar a cadela do inferno, mas algo me dizia que este pouco de escuridão era todo meu. A mão de Stephen na minha boca era tudo o que me impediu de gritar em voz alta.

 

 

 

 

 

 

 

 

 


CAPÍTULO 38

Stephen me segurou contra seu corpo, duro, como se tivesse medo do que eu faria se fosse solta. Eu não tinha tanta certeza de mim mesmo. Correr me pareceu uma boa idéia. Correr até que tivesse o pensamento e a sensação de que todos estavam fora de mim. Mas, tal como Richard, eu não podia correr de mim mesma. Esse pensamento me fez parar de lutar e apenas me sentar no círculo dos braços de Stephen.
— Está tudo bem?— ele perguntou baixinho.
Concordei.
Sua mão deslizou para longe da minha boca, lentamente, como se não tivesse certeza de que eu tivesse ouvido ou compreendido.
Eu verguei contra ele, quase deslizando para o chão.
Ele acariciou meu rosto, mais e mais, como se confortasse uma criança doente. Não perguntou o que estava errado. Nenhum deles fez.
Nathaniel se ajoelhou ao nosso lado. Não bastava estar curado, ele parecia saudável. Estava sorrindo, era um belo rapaz, uma espécie incompleta. Se você cortasse seu cabelo e mudasse seus olhos, ele pareceria um jogador do time de futebol da escola e namorado da princesa do baile.
O fato de que eu quase fiz sexo com ele a dois minutos atrás me trouxe uma onda de calor que me fez esconder o rosto contra o ombro de Stephen. Não queria olhar para o seu rosto jovem, bonito e perceber o quão perto estive de fazer. O fato de que eu ainda podia me lembrar de seu corpo em detalhes, que eu pessoalmente nunca toquei, não ajudava. Raina tinha ido embora, mas não foi esquecida.
Eu senti o movimento. A energia de vibração dos metamorfos foi ficando mais perto. Sabia sem olhar, que todos se aglomeravam em torno de mim. A energia apertou como um desenho de círculo fechado. Era difícil respirar.
Senti alguém acariciar meu rosto. Virei minha cabeça o suficiente para ver Kevin a centímetros de mim. Eu esperava Nathaniel. As mãos grandes de Teddy afagavam meus braços nus. Ele levou as mãos ao rosto.
— Você tem o cheiro do bando.
Lorraine estava olhando para mim com seus estranhos olhos de lobo.
— Ela cheira a Raina. — Ela virou o rosto para que seus lábios roçassem os joelhos da minha calça jeans.
Eu sabia que se eu permitisse, poderíamos dormir em uma grande pilha comum, como uma ninhada de cachorros, que tocar era parte do que mantinha o bando unido, como o mutuo adestramento de primatas. Tocando-se, reconfortando-se, não precisa ser sexual. Essa tinha sido a escolha de Raina. Eram lobos, mas eram também primatas. Na verdade eram dois animais, não apenas um.
Kevin deitou sua cabeça no meu colo, rosto apoiado na minha perna. Eu não podia ver seus olhos, para dizer se tinham visto um lobo em mim. Sua voz grossa veio de baixo.
— Agora eu preciso de um cigarro.
Isso me fez me rir. Depois que comecei a rir, não conseguia parar. Eu ria enquanto lágrimas escorriam pelo meu rosto. Os lobisomens levaram suas mãos para cima e para mim, rostos esfregando minha pele nua. Eles estavam pegando o meu cheiro, rolando no aroma persistente de Raina. Marcando-me com seu perfume.
Stephen beijou minha bochecha, da maneira que você beija sua irmã.
— Está tudo bem? — Era difícil lembrar, mas acho que ele tinha perguntado isso antes.
Concordei.
— Sim. — Minha voz soou distante. Percebi que estava à beira do choque. Isso não era bom.
Stephen enxotou os lobos para longe de mim. Mexeram-se languidamente, como se a energia que eu tinha levantado fosse algum tipo de droga, ou talvez o sexo fosse uma analogia melhor. Eu não sabia. Não tinha certeza se queria saber.
— Richard disse que Raina não havia morrido verdadeiramente, não enquanto o bando existisse. É isso o que ele quis dizer? — Eu perguntei.
— Sim. — disse Stephen, — Embora nunca tenha ouvido falar de alguém que não fosse do bando, fosse capaz de fazer o que você fez. Os espíritos dos mortos só devem ser capazes de entrar na lukoi.
— Os Espíritos dos mortos. — eu disse. — Quer dizer que você não tem um nome fantasia para eles?
— Eles estão Munin. — disse Stephen.
Isso quase me fez rir novamente.
— Memória, corvo de Odin. — eu disse
Ele concordou.
— Sim.
— O que era exatamente isso, não é? Não era um fantasma. Eu sei o que se sente como um fantasma.
— Você sentiu um deles. — disse Stephen. — É a melhor explicação que posso dar.
— É a energia. — disse Teddy. — A energia não é criada nem destruída. Ela existe. Temos a energia de todos que já foram do bando.
— Você não quer dizer todos lukoi, não é?
— Não. — disse ele — mas desde o primeiro membro do nosso bando até agora, temos todos eles.
— Nem todos. — disse Lorena.
Ele concordou.
— Às vezes um de nós se perde em um acidente e o corpo não pode ser recuperado e compartilhado. Então, todo seu conhecimento, seu poder, se perde de nós.
Kevin voltou para a cadeira, apoiando os ombros contra o assento da cadeira.
— Às vezes — disse ele — decidimos não nos alimentar. É uma espécie de excomunhão. O bando o rejeita tanto na vida como na morte.
— Por que você não rejeitou Raina? Ela era uma espécie de mãe distorcida e sádica.
— Foi a escolha de Richard. — disse Teddy. — Ao rejeitar o seu corpo, ele pensou que tinha irritado alguns dos outros membros do bando que não estavam inteiramente do seu lado ainda. Ele estava certo, mas... Agora temos ela dentro de nós.
— Ela era poderosa. — disse Lorraine, e estremeceu. — Poderosa o suficiente para possuir um lobo menor.
— Conto da carochinha. — disse Kevin. — Ela está morta. Seu poder sobrevive, mas apenas quando for chamado.
— Eu não chamei por ela. — eu disse.
— Poderíamos ter chamado. — disse Stephen suavemente. Ele se deitou no chão, as mãos cobrindo os olhos como se fosse demasiado horrível de se olhar.
— O que você quer dizer?
— Quero dizer que nós nunca vimos, mas Raina fazia o que você fez. Eu estava pensando nela, lembrando.
— Eu também. — disse Kevin.
— Sim. — disse Teddy. Ele voltou para a parede mais distante, como se não confiasse em si mesmo perto de mim.
Lorraine tinha voltado com ele, sentando-se de modo que seus corpos se tocaram levemente. A proximidade era reconfortante.
— Eu também estava pensando nela. Ainda bem que não estava aqui. Feliz era Anita. — Ela se abraçou como se estivesse com frio, e Teddy colocou o braço em torno dela, abraçando-a perto, descansando o queixo em seu cabelo.
— Eu não estava pensando em Raina. — afirmou Nathaniel. Ele se arrastou em minha direção.
— Não toque em mim. — disse.
Ele se virou para trás, como um grande gato querendo que esfregasse seu ventre. Ele riu e viro-se de bruços, apoiado nos cotovelos. Olhou para mim, longamente, seu cabelo castanho rico como uma cortina em seu rosto. Seus olhos lilases olhavam para mim, selvagens e quase assustadores. Deitou-se em uma piscina de cabelo e energia. Seu olhar ficou no meu rosto, e percebi que ele estava se divertindo. Não exatamente sedutor, mas divertido. Era diferente e quase perturbador. Nathaniel conseguia ser infantil, gato, e ainda ser um adulto. Você não sabia se lhe dava tapinhas na cabeça, esfregava sua barriga, ou o beijava. Todos os três pareciam estar em disputa. Era muito confuso para mim.
Usei a cama como apoio para me afastar. Quando tive certeza que podia andar sem cair, deixei a cama. Oscilei apenas por um instante, não foi tão ruim. Eu podia andar. Ótimo, porque queria sair daqui.
— O que você quer que façamos? — Stephen perguntou.
— Vão para minha casa. Jean-Claude e Richard estão lá.
— E Nathaniel?— Kevin perguntou.
Nathaniel ergueu a cabeça o suficiente para olhar para todos nós. Não disse nada, não pediu nada, mas eu podia sentir seu pulso na minha boca. Sabia que ele estava com medo. Com medo de ficar sozinho novamente. Esperava que essa empatia comigo não fosse permanente. Tinha muitos homens correndo atrás de mim, sem acrescentar mais um.
— Leve-o com você. — eu disse. — O leopardo é meu, assim como você.
— Ele deve ser protegido e tratado como membro do bando? — Kevin perguntou.
Esfreguei as têmporas. Estava ficando com dor de cabeça.
— Sim. Eu dei-lhe minha proteção. Qualquer um dos leopardos que quiser minha proteção pode tê-lo.
— Como nossa lupa você nos une para protegê-los. — disse Lorraine — até mesmo para dar nossa vida por eles. Será que vão fazer o mesmo?
Eu não estava sendo uma dor de cabeça, eu tinha uma. Nathaniel sentou-se no pé da cama de Stephen, me olhando com seus olhos brilhantes e ansiosos. Ele disse:
— Meu corpo é seu. Minha vida, se você quiser, é sua. — Disse quase com naturalidade, não, alegremente, como se fosse uma coisa boa.
Olhei para ele.
— Eu não quero a vida de ninguém Nathaniel, mas se o bando está disposto a arriscar suas vidas para protegê-lo, espero que você faça o mesmo.
— Vou fazer o que quiser. — disse ele. — Tudo que você tem a fazer é me dizer.
Ele não disse “me perguntar”.
Ele disse, “me dizer”. Nunca ouvi uma frase assim. É implícito que ele nunca teve o direito de dizer não. Eu perguntei:
— Será que todos aqui sabem que têm o direito de discutir um assunto comigo, quero dizer, quando eu digo salte, não é apenas para dizer “que altura”, certo?
— Não. — disse Stephen. Seu rosto estava neutro, cuidadoso.
— Como você está se sentindo? — Eu perguntei, me virando para Nathaniel.
Ele se pôs de joelhos, inclinando o tronco para mim, mas com ambas as mãos ainda sobre os trilhos da cama. Não tentou me tocar, apenas se aproximar.
— O que você quer de mim?— ele perguntou.
— Vocês não entendem que tem o direito de me recusar? Que minha voz não é a voz de Deus?
— Apenas me diga o que você quer que eu faça Anita, e eu farei. — disse Nathaniel.
— Tudo o que eu quiser, sem perguntas, você só vai fazer isso?
Ele concordou.
— Qualquer coisa.
— Isso é um costume entre os leopardos e o bando? — Eu perguntei.
— Não. — disse Stephen, — é apenas o jeito de Nathaniel.
Eu balancei a cabeça, literalmente, acenando com as mãos no ar como se tivesse acabado de apagar tudo isso.
— Eu não tenho tempo para isso. Ele está curado. Leve-o com você.
— Você quer que eu espere em seu quarto? — Nathaniel perguntou.
— Se você precisa de descanso, encontre uma cama. Eu não estarei lá.
Ele sorriu feliz e tive a estranha sensação de que o que eu estava dizendo não era o que estava ouvindo. Eu queria sair do quarto, ficar longe de todos eles. Eu diria a Padgett que mandaria todos para uma casa segura, e ele aceitaria. Ele queria ficar longe deles mais do que eu.
O médico ficou espantado com a recuperação de Nathaniel. Deram alta para ele, embora começaram a falar sobre o desejo de executar mais testes. Vetei isso. Eu tinha lugares para ir, pessoas para atender. Todos foram empilhados no carro de Kevin, e eu fui para o meu jipe. Feliz por estar livre deles por um tempo. Feliz mesmo que isso significasse uma outra cena do crime. Feliz, mesmo que ainda não soubesse como dizer se Malcolm estava vivo lá no escuro. Nathaniel ficou me olhando através da janela traseira do carro, seu olhar lilás em mim até que o carro virou uma esquina. Ele havia se perdido, e agora pensou que tinha se encontrado. Mas se ele esperava que fossemos mais que amigos, ainda estaria perdido.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 39

Eu me senti acabada e dolorida e não tinha um hematoma para mostrar. Concentrei-me no próximo problema, empurrando quase tudo o que havia feito para segundo plano. Não poderia fazer nada sobre isso até falar com Richard e Jean-Claude. Eu me preocupava por me amarrar ao vampiro, mas nunca realmente me preocupei em ser amarrada ao lobisomem. Deveria ter sabido que tinha a droga dos dois lados.
Meu bip disparou três vezes em três minutos. McKinnon primeiro, Dolph segundo, e um número desconhecido O número desconhecido chamou duas vezes em dez minutos. Maldição. Parei em uma estação de serviço. Liguei para Dolph primeiro.
— Anita.
— Como é que você sempre sabe que sou eu?
— Eu não sei. — disse ele.
— O que há?
— Nós precisamos de você em um novo local.
— Eu estou a caminho da igreja para me encontrar com McKinnon.
— Pete está aqui comigo.
— Isso soa ameaçador.
— Temos um vampiro a caminho do hospital. — disse ele.
— Em seu caixão?
— Não.
— Então como é...?
— Ele estava na escada enrolado em cobertores. Não acho que ia fazer isso. Mas esta é uma das casas no meio caminho pra Igreja. Temos uns vigaristas aqui que dizem que o vampiro que pegamos era o tutor dos vampiros mais jovens. Ela parece preocupada com o que os vampiros vão fazer quando acordarem e o guardião não estiver lá para acalmá-los ou alimentá-los.
— Alimentá-los? — Eu perguntei.
— Ela disse que cada um deles toma uma bebida para começar a noite. Sem isso, ela diz que a fome cresce muito forte, e eles podem ser perigosos.
— Ela não é uma fonte de informação.
— Ela está assustada, Anita. Ela tem duas mordidas no pescoço, e está com medo.
— Droga. — eu disse. — Estou no meu caminho, mas, francamente, Dolph, não sei o que você quer que eu faça.
— Você é a especialista em vampiros, você me diz. — um pouco de hostilidade estava lá.
— Vou pensar nisso no caminho. Talvez eu tenha um plano chegar lá.
— Antes que eles tornem-se legais, teríamos que queimá-los nós mesmos.
— Sim — eu disse — os bons e velhos tempos.
— Sim — disse ele. Eu não acho que ele entendeu o sarcasmo. Mas, com Dolph era sempre difícil dizer.
Liguei para o terceiro número. Larry respondeu,
— Anita. — Sua voz soou tensa, marcado pela dor.
— O que está errado? — Eu perguntei, de repente, minha garganta ficou apertada.
— Estou bem.
— Você não parece bem. — eu disse.
— Não estou me mexendo muito por causa da dor. Preciso tomar um analgésico, mas não sou capaz de dirigir.
— Você precisa de uma carona?
Ele ficou quieto por um segundo ou dois, então,
— Sim.
Eu sabia o quanto lhe custava me chamar. Este era um dos seus primeiros trabalhos em campo junto a polícia sem mim. O fato de que precisava da minha ajuda para alguma coisa, deve tê-lo deixado com a alta estima muito baixa. Ele faria qualquer coisa antes de ter que me chamar, eu não teria chamado. Eu teria tentado contornar o problema até que desmaiasse. Esta não era uma crítica á Larry, era uma crítica a mim. Ele era apenas mais esperto do que eu algumas vezes. Este era um desses momentos.
— Onde você está?
Ele me deu o endereço, e era perto. Sortuda.
— Estou a menos de cinco minutos, mas não posso te levar para casa. Estou a caminho de outra cena de crime.
— Enquanto eu não precisar dirigir vou ficar bem. A dor está começando a tomar toda minha atenção, não consigo prestar atenção na estrada. Hora de parar de dirigir quando é tão difícil. 
— Você realmente tem uma sabedoria maior do que a minha.
— Isso significa que você não teria pedido ajuda ainda. — disse ele.
— Bem.. Sim..
— Quando você teria pedido ajuda?
— Quando eu dirigisse para fora da estrada e tivesse que chamar um reboque.
Ele riu e deu um suspiro forte como se sentisse dor.
— Estarei esperando por você.
— Estarei aí.
— Eu sei. — disse ele. — Obrigado por não dizer que me disse isso.
— Eu nem estava pensando nisto, Larry.
— Honestamente?
— Atravesse meu coração e......
— Não diga isso.
— Está ficando supersticioso, Larry?
Ele ficou quieto por um segundo.
— Talvez, ou talvez tenha sido apenas um longo dia.
— A noite será mais longa ainda. — eu disse.
— Obrigado. — disse ele. — Era tudo o que eu queria ouvir. — Ele desligou em seguida, sem dizer adeus.
Talvez eu tivesse treinado Dolph a nunca dizer adeus. Talvez eu fosse sempre a portadora de más notícias, e todo mundo queria desligar o telefone comigo, logo que possível. Saco.

 

CAPÍTULO 40

Eu esperava que Larry estivesse sentado em seu carro, não estava. Estava encostado nele. Mesmo à distância eu podia dizer que ele estava com dor, a rigidez de volta, tentando não se mover mais do que o necessário. Sentei ao lado dele. De perto ele parecia pior. Sua camisa branca estava manchada de fuligem preta. Sua calça era marrom, por isso elas sobrevivem um pouco mais. A mancha negra corria pela testa até o queixo. A escuridão delineava um de seus olhos azuis de modo que parecia mais escuro, como uma safira rodeada de ônix. O olhar era opaco, como se a dor o tivesse drenado.
— Jesus, você está uma droga. eu disse.
Ele quase sorriu.
— Obrigado, eu precisava disso.
— Tome um comprimido, e entre no jipe.
Ele começou a balançar a cabeça, parou no meio do movimento e disse:
— Não, se você pode dirigir, eu posso ir para o próximo desastre.
— Você tem cheiro de alguém que pôs fogo na roupa.
— Você está intacta. — disse ele, e soou ressentido.
— O que aconteceu, Larry?
— Com exceção das minhas costas parecer um atiçador em brasa?
— Além disso. — eu disse.
— Eu vou te dizer no carro. — Tirando o mau humor, ele parecia cansado.
Eu não briguei com ele, só comecei a caminhar para o jipe. Dei alguns passos e percebi que ele não estava me acompanhando. Me virei e o encontrei parado, muito quieto, de olhos fechados, mãos nos punhos de seus lados.
Voltei para ele.
— Precisa de uma mão?
Ele abriu os olhos, sorriu,
— Na verdade uma mão cairia bem.
Eu sorri e peguei seu braço suavemente, meio esperando que ele me diga que não, mas não o fez. Ele estava sofrendo. Deu um passo firme, e parou. Fizemos um progresso lento, mas seguro para o jipe. Abri a porta, não sabia como levá-lo para dentro. Ele sentiria dor de qualquer maneira.
— Deixe-me segurar seu braço.
— Eu posso fazer isso sozinho. — disse ele.
Ofereci meu braço. Ele deu um aperto forte e sentou-se. Fez um pequeno ruído silvando entre os dentes.
— Você disse que iria doer mais no segundo dia. Por que você está sempre certa?
— É difícil ser perfeita. — eu disse — mas é um fardo que aprendi a lidar. — Eu lhe dei o meu melhor sorriso meigo.
Ele sorriu, e então começou a rir, quase se dobrou com a dor, o que fez doer mais. Acabou se contorcendo no banco por alguns segundos. Quando se sentou agarrou o painel de instrumentos, até os dedos ficarem brancos.
— Deus, não me faça rir.
— Desculpe. — eu disse. Peguei lenços umedecidos no porta-luvas do carro. Eles eram bons para limpar sangue, provavelmente ajudariam na fuligem. Entreguei-lhe os lenços e o ajudei a afivelar seu cinto de segurança. Sim, suas feridas doeriam menos sem o cinto, mas ninguém anda comigo sem cinto de segurança. Minha mãe ainda estaria viva se ela tivesse usando um cinto.
— Tome um comprimido, Larry. Durma no carro. Vou te levar pra casa depois da próxima cena.
— Não. — disse ele, e soou tão obstinado, tão determinado, sabia que não podia falar nada. Então, por que tentar?
— Como quiser. — eu disse.
— Mas o que você tem feito que parece que está tentando esconder suas manchas? 
Virou os olhos apenas para me olhar, carrancudo.
— Material de fuligem. — eu disse. – Você não assiste filmes da Disney ou lê livros para crianças? Ele deu um pequeno sorriso.
— Não recentemente. Tive três cenas de incêndio, onde tive que confirmar se os vampiros foram mortos. Em duas das cenas não consegui achar nada, apenas cinzas. O terceiro parecia madeira enegrecida. Eu não sei o que fazer Anita. Tentei buscar por um pulso. Eu sei que foi estúpido. O crânio simplesmente explodiu em cinzas em cima de mim. — Ele estava sentado muito duro, muito controlado, mas o corpo dele deu a impressão de esticar de dor, evitando o golpe do que ele tinha visto hoje.
O que eu estava prestes a dizer que não ajudaria as coisas.
— Vampiros queimam até às cinzas, Larry. Se houvesse restos, não seria um vampiro.
Ele olhou para mim, então, o movimento repentino trazendo lágrimas aos olhos.
— Quer dizer que era humano?
— Provavelmente, não tenho certeza, mas provavelmente.
— Graças a mim, nunca saberemos ao certo. Sem os caninos no crânio você não pode dizer a diferença.
— Isso não é inteiramente verdade. Podem fazer o DNA. Embora eu sinceramente não sei o que o fogo faz para que se colha as amostras. Se eles podem se reunir, podem ao menos saber se é humano ou vampiro.
— Se for humano, eu já destruí qualquer chance que eles tinham de usar a arcada dentária. — disse ele.
— Larry, se o crânio era tão frágil, eu não acho que qualquer coisa poderia ter sido salvo. Certamente não teria nada para impressão dentária.

— Você tem certeza?— ele perguntou.
Eu lambi meus lábios e queria mentir.
— Não é cem por cento.
— Você teria sabido se fosse humano. Não teria tocado nele, pensando que estava vivo, você faria?
Eu deixei o silêncio encher o carro.
— Me responda. — disse ele.
— Não, eu não teria verificado seu pulso. Eu teria assumido que era restos humanos.
— Porra Anita, eu venho fazendo isso há mais de um ano, e ainda estou cometendo erros estúpidos.
— Não é estúpido, somente erros.
— Qual é a diferença? — ele perguntou.
Eu estava pensando que o que ele tinha feito era um erro estúpido, mas decidi não dizer em voz alta.
— Você sabe a diferença, Larry. Quando começar a sentir pena de si mesmo, vai saber a diferença.
— Não seja condescendente, Anita.
A raiva em sua voz era mais picante do que as palavras. Eu não precisava disso hoje. Eu realmente não sabia.
— Larry, eu gostaria de acalmar o seu ego e fazer tudo melhor. Meu dia não foi exatamente um balde de risadas também.
— O que aconteceu?— ele perguntou.
Eu balancei minha cabeça.
— Vamos lá. Me desculpe. Eu vou ouvir.
Eu não tinha certeza por onde começar, e eu não estava pronta para contar a ninguém sobre o que tinha acontecido no quarto de hospital, muito menos ao Larry.
— Eu nem sei por onde começar, Larry.
— Experimente. — disse ele.
— Richard é desagradável.
— Problemas com o namorado? — disse ele, parecia quase divertido.
Olhei para ele.
— Não seja condescendente, Larry.
— Desculpe.
— Não é apenas isso. Antes desta emergência, eles me queriam na Igreja da Vida Eterna. Malcolm está alojado no porão. Seus seguidores querem que ele seja resgatado. Os bombeiros querem saber se podem deixá-lo até o anoitecer, quando ele vai levantar por conta própria.
— Então? — Perguntou Larry.
— Então, eu não tenho a menor idéia de como descobrir se Malcolm está vivo ou morto.
Ele olhou para mim.
— Você está brincando.
— Quem me dera.
— Mas você é uma necromante. — ele disse.
— Eu levanto zumbis e vampiros ocasionais, mas não posso levantar um vampiro-mestre do poder de Malcolm. Além disso, e se eu pudesse? Isso provaria que ele estava vivo ou provaria que ele estava morto? Quero dizer, se eu pudesse criá-lo, só poderia significar que ele estava pronto para ser um zumbi. Inferno. Jean-Claude acordou para a noite, talvez Malcolm também.
— Um zumbi vampiro?— Larry disse.
Dei de ombros.
— Eu não sei. Sou a única pessoa que pode elevar vampiros como zumbis, que eu saiba. Não há muitos livros sobre o assunto.
— O que você sabe sobre Sabitini?
— Quer dizer o mágico?
— Ele levantava zumbis, como parte de seu ato, e tinha vampiros que faziam o seu lance. Eu li relatos de testemunhas oculares disso.
— Primeiro, ele morreu em 1880. Um pouco antes do meu tempo. Em segundo lugar, os vampiros eram apenas tolos. Era uma maneira dos vampiros andarem normalmente sem serem mortos entre o povo. Para Sabitini os vampiros eram animais de estimação.
— Ninguém nunca provou que ele era uma fraude, Anita.
— Tudo bem, mas ele está morto e ele não deixou qualquer diários para trás.
— Levante-o e pergunte. — disse Larry.
Olhei para ele por muito tempo, tive que parar o carro muito rápido para não bater no veiculo a minha frente.
— O que você disse?
— Ressuscite Sabitini e descubra se ele podia levantar vampiros, como você pode. Ele está morto a apenas um pouco mais de cem anos. Você já levantou zumbis muito mais velhos do que isso.
— Você perdeu o caso no ano passado, onde uma sacerdotisa vodu levantou um necromante. O zumbi ficou completamente fora de controle e começou a matar pessoas.
— Você me falou sobre isso, mas a sacerdotisa não sabia o que era. Se você soubesse, teria tomado precauções.
— Não. — eu disse.
— Por que não? — disse ele.
Mantive a boca fechada, porque não tinha uma boa resposta.
— Eu não aprovo ressuscitar os mortos por causa da curiosidade. Você sabe quanto dinheiro tem sido oferecido a mim para levantar celebridades mortas?
— Eu ainda gostaria de saber o que realmente aconteceu com Marilyn Monroe. — disse ele.
— Quando a família perguntar, talvez eu possa fazê-lo. Mas não vou levantar a pobre mulher, porque um tablóide ofereceu dinheiro a nosso patrão.
— Acenando um monte de dinheiro para o nosso chefe. — disse Larry. — O dinheiro que mandou Jamison tentar ressuscitá-la. Ele não conseguiu levantá-la sem sacrificar um humano.
Eu balancei minha cabeça.
— Jamison é um fraco.
— Todo mundo na Animadores Inc. recusou.
— Incluindo você. — eu disse.
Ele deu de ombros.
— Eu poderia levantá-la e perguntar como ela morreu, mas não na frente das câmeras. A pobre mulher foi perseguida em vida. Morta, ela ainda seria perseguida. Não parece justo.
— Você é um bom homem, Larry.
— Não o suficiente para saber que os vampiros queimam até as cinzas e restos mortais.
— Não comece Larry. É apenas uma experiência. Eu deveria ter dito antes de você sair hoje. Sinceramente, você está ficando muito bom no trabalho, eu não achei que precisava dizer.
— Você achava que eu sabia? — disse ele.
— Sim.
— Tenho notado que as palestras estão escassas ultimamente. Eu costumava tomar mais notas no trabalho com você do que na faculdade.
— Não tem anotado muito ultimamente, hein? — Eu disse.
— Não, eu não tinha pensado nisso, mas não. — Ele sorriu de repente e seus olhos se iluminaram, afugentado os horrores do dia. Por um momento ele voltou a ser o garoto otimista que apareceu na minha porta.
— Quer dizer que finalmente estou aprendendo a fazer o trabalho?
— Sim — eu disse — você está. Na verdade, se fosse mais rápido no gatilho, eu diria que é bom nisso. É muito difícil aprender tudo, Larry. Algo surge e você descobre o que realmente está acontecendo no fim das contas.
— Você também?— disse ele.
— Eu também.
Ele respirou fundo.
— Eu vi você surpreender uma ou duas vezes, Anita. Quando os monstros ficam tão estranhos que você não sabe o que está acontecendo, eles geralmente ficam desagradáveis muito rápido.


Ele estava certo. Eu gostaria que não estivesse, porque agora eu não sabia o que diabos estava acontecendo. Eu não entendia o que tinha acontecido com Nathaniel. Não sei como as marcas trabalhavam com Richard. Eu não sei como descobrir se Malcolm ainda estava entre os mortos- vivos, ou se ele cruzou o estado mais permanente de morte verdadeira. Na verdade eu tinha muitas perguntas e poucas respostas, eu só queria ir para casa. Talvez Larry e eu pudéssemos tomar um analgésico e dormir até amanhã. Com certeza amanhã será um dia melhor. Deus, eu esperava que sim.

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 41

A casa ainda estava fumegando quando chegamos lá. Tufos de fumaça acinzentada subiam das vigas enegrecidas como fantasmas em miniatura. Algum truque do fogo havia deixado a alta cúpula no topo do edifício intacto. Os cômodos mais baixos foram destruídos e escurecidos, mas a cúpula se levantava como um farol branco acima do naufrágio. Parecia que um gigante com dentes negros tinha dado uma grande mordida na casa.
Um caminhão pegou fogo e a maioria da rua estreita também. Havia uma disseminação de água que escorria ao longo da rua como um lago raso. Bombeiros andavam com dificuldade através da água, acumulando milhas de mangueira em cima de seus ombros. Um policial uniformizado nos parou bem trás da ação.
Eu abri a janela e mostrei minha identificação. Era um cartão de plástico, mas não tinha um emblema. Às vezes, os guardas me deixavam passar, e às vezes tinha que pedir permissão. A Lei de Brewster estava vigorando ao redor de Washington e daria aos executores de vampiros o título de investigador federal. Não sabia como me sentia a respeito. É preciso um inferno de muito mais para fazer um policial do que apenas um emblema, mas para mim pessoalmente, adoraria ter um crachá desse.
— Anita Blake e Larry Kirkland, para ver o sargento Storr.
O policial fechou a cara para a identificação.
— Vou ter que confirmar isso com alguém.
Suspirei.
— Tudo bem, vamos esperar aqui.
O policial foi em busca de Dolph, e nós esperamos.
— Você costumava discutir com eles. — disse Larry.
Eu dei de ombros.
— Eles estão apenas fazendo seu trabalho.
— E desde quando isso te fez parar de reclamar?
Olhei para ele. Estava sorrindo, o que o salvou de dar uma resposta crítica que tinha preparado. Além disso, era bom vê-lo sorrir de nada agora.
— Então, eu estou relaxando um pouco. Certo ?
O sorriso se alargou de orelha a orelha , meu tio teria chamado assim. Era como se a próxima coisa que saísse da sua boca fosse muito engraçado para dizer. Eu apostava que não acharia nada engraçado.
— Trata-se de estar apaixonada por Jean-Claude, o sexo regular tem acalmado seus ânimos ?
Eu sorri docemente.
— Falando de sexo regularmente, como é a detetive Tammy?
Ele corou primeiro. Eu estava feliz.
O policial estava andando pela rua molhada, vindo para nós com a detetive Tammy Reynolds a reboque. Oh, a vida era boa.
— Bem, se não é o seu bombom agora. — eu disse.
Larry a viu então. O rosto ficou de um vermelho luminoso, mais vermelho do que seu cabelo. Seus olhos azuis eram um pouco contrastados com o esforço para respirar. A fuligem havia saído, deixando seu rosto corado como uma contusão avermelhada.
— Você não vai dizer nada, vai Anita? Tammy não gosta de ser provocada.
— Quem eu?— Eu disse.


— Sinto muito. — disse ele, falando muito rápido antes que pudessem chegar até nós. — Peço desculpas. Isso nunca mais vai acontecer. Por favor, não me envergonhe na frente de Tammy.
— Eu faria isso com você?
— Em um segundo — disse ele. — Por favor, não.
Eles estavam quase no carro.
— Se não puxar o meu tapete, eu não puxo o seu. — sussurrei.
— Negócio fechado. — disse ele.
Eu abaixei a janela sorrindo.
— Detetive Reynolds, que bom te ver.
Reynolds franziu a testa porque raramente eu ficava feliz em vê-la. Ela era uma bruxa, e a primeira detetive da polícia com habilidades sobrenaturais além de dons psíquicos. Mas ela era jovem, brilhante, e um pouco dura para ser minha amiga. Ela estava apenas fascinada com o fato de que eu podia ressuscitar os mortos. Queria saber tudo sobre isso. Eu nunca tinha visto uma bruxa me fazer sentir como uma aberração. A maioria das bruxas eram agradáveis, almas compreensivas. Talvez fosse o fato de que Reynolds fosse uma bruxa cristã, um membro da “Seguidores do Caminho”. Uma seita que remonta as pessoas, que abraçou a capacidade de quase todos os mágicos. Mas todos eles foram exterminados durante a Inquisição, devido ao fato de que suas crenças não lhes permitia ocultar a sua luz debaixo do alqueire, mas sobreviveu. Fanáticos tem uma maneira de fazer isso.
Reynolds era alta, magra, com cabelos castanhos lisos caindo sobre os ombros, e olhos que eu teria dito avelã, mas diziam que era verde. Verde-cinza com um grande círculo de marrom pálido ao redor da pupila. Os gatos têm olhos verdes assim. A maioria das pessoas não. Ela tentou ser minha amiga, e quando eu não contei a ela sobre o levantamento dos mortos, ela virou-se para Larry. Ele estava relutante no início, pelas mesmas razões que eu, mas ela não me ofereceu sexo. Ela queria puxar Larry pela janela para seus braços.
Eu teria reclamado de sua escolha de parceiro se eu tivesse qualquer superioridade moral para me sustentar. Não era por ser bruxa ou policial que me incomodava. Era por ser fanática religiosa. Mas quando você compartilha os lençóis com um morto-vivo, não tem muita moral.
Eu sorri docemente para ela.
A carranca de Reynolds se aprofundou. Nunca estive tão feliz em vê-la antes.
— É bom ver você também, Anita. — Sua saudação era cautelosa, mas parecia sincera. Sempre disposta a oferecer a outra face. Uma boa cristã.
Estava começando a me perguntar se eu ainda era uma boa cristã. Não duvidava de Deus. Duvidava de mim. Ter relações sexuais antes do casamento com um vampiro tinha abalado minha fé em um monte de coisas.
Ela inclinou na janela de Larry.
— Oi, Larry. — Seu sorriso era genuíno, também. Seus olhos brilhavam para ele. Eu podia sentir as ondas de luxúria, se não de amor, passando para si como um ambiente aconchegante, embaraçosamente atual.
O rubor tinha deixado o rosto de Larry palido, com a aspersão de sardas como manchas de tinta marrom. Ele virou seus grandes olhos azuis para ela, e não gostei do jeito que ele olhou para ela. Eu não tinha certeza que era apenas desejo por parte de Larry. Talvez não fosse para Reynolds, qualquer um, mas eu não me preocuparia com os sentimentos dela do jeito que fiz com Larry.
— Detetive Reynolds. — disse ele. Será que era minha imaginação ou a sua voz estava apenas um toque mais profundo? Nah.
— Larry — Uma palavra cheia de calor demais.
— Onde posso estacionar? — Eu perguntei.
Ela piscou os olhos castanhos para mim, como se por um segundo tivesse esquecido que eu estava lá.
— Em qualquer lugar.
— Ótimo.
Ela deu um passo para trás e me deixou estacionar, mas seus olhos pousaram sobre Larry. Talvez fosse mais do que luxúria. Maldição.
Ficamos estacionados. Larry desabotoou o cinto de segurança, com cuidado, fazendo uma careta. Eu tinha começado abrir a porta para ele no posto de gasolina.
— Você quer que eu abra a porta?
Ele virou-se com firmeza em direção à porta, tentando manter o tronco imóvel. Parou com a mão na maçaneta. Sua respiração ofegante.
— Sim, por favor.
Eu tentaria abrir a porta sozinha, por pura obstinação. Larry era realmente o mais sábio de nós dois.
Segurei a porta para ele e ofereci uma mão. Eu puxei, ele empurrou com as pernas, e o deixamos em pé. Ele estava sentindo dor, mas teve que dobrar as costas, o que fez a dor piorar. Ele terminou em pé tão simples quanto pôde, encostado no jipe, tentando obter o fôlego. Tanto esforço te deixa sem fôlego.
Reynolds de repente estava do nosso lado.
— O que aconteceu?
— Você diz a ela. Eu vou falar com Dolph.
— Claro. — disse Larry, a voz tensa. Ele precisava ir para a cama, nocauteado por analgésicos. Talvez não fosse muito mais esperto do que eu.
Não era difícil encontrar Dolph. Pete McKinnon estava com ele. Era como caminhar no sentido de duas pequenas montanhas.
O terno escuro de Dolph parecia recém passado, camisa de linho branco, gravata de nó contra o colarinho. Ele não poderia andar assim no calor. Mesmo suores Dolph.
— Anita. — disse ele.
— Dolph.
— Ah Sra. Blake, prazer em vê-la novamente. — disse Pete McKinnon.
Eu sorri.
— É bom saber que alguém está feliz em me ver.
Se Dolph entendeu a indireta, ele ignorou.
— Todo mundo está esperando por você.
— Dolph sempre foi um homem de poucas palavras. — Pete disse.
Eu sorri para ele.
— É bom saber que não é nada pessoal.
Dolph fechou a cara para nós.
— Se vocês dois se conhecem, temos trabalho a fazer.
Pete e eu sorrimos e seguimos Dolph para o outro lado da rua molhada. Estava feliz por estar usando meu tênis Nike. Poderia andar tão bem quanto qualquer um dos homens, no lugar certo.
Um bombeiro, alto e magro com um bigode cinza ficou me olhando. Ele usava um capacete e casaco no calor de Julho. Outros quatro haviam tirado suas camisas com aspecto de borracha. Pareciam um anúncio de um bolo de carne na camisa molhada Estavam bebendo Gatorade e água como se suas vidas dependessem disso.
— É um caminhão de Gatorade ou os bombeiros fazem um ritual de fogo?— Eu perguntei.
Pete respondeu:
— O fogo intenso é malditamente quente e você desidrata. Água para hidratar e Gatorade para os eletrólitos, assim você não passa o calor para fora.
— Ah. — eu disse.

O bombeiro que vinha rolando a mangueira se aproximou de nós. Um triângulo delicado no rosto espreito debaixo do capacete. Limpou os olhos cinzentos e encontrou meu olhar. Houve um levantar de queixo, como se fosse um desafio. Eu reconheci os sintomas. Eu tive minha própria montanha no meu ombro. Sentia-me como se devesse me desculpar por assumir o lugar de um homem, mas não o fiz. Teria sido um insulto.
Pete me apresentou o homem alto.
— Este é o Capitão Fulton. Ele é o Comandante de Acidentes neste lugar.

 

Eu ofereci a minha mão, enquanto ele ainda estava pensando sobre isso. A mão dele era grande, grandes dedos arqueados. Ele balançou as mãos como se estivesse com medo de apertar demais e acabou com o contato assim que possível. Aposto que estava feliz da vida por ter uma mulher em sua unidade.
Ele introduziu sua companheira em questão.
— Cabo Tucker. — Ela ofereceu sua mão.
Tinha um bom aperto de mão, firme e os olhos tão sinceros quanto agressivos.
Eu sorri.
— É bom não ser a única mulher em cena por aqui.
Isso trouxe um pequeno sorriso em seu rosto. Balançou a cabeça e deu um passo atrás, deixando seu capitão assumir.
— O quê você sabe sobre uma cena de incêndio, Srta. Blake?
— É Senhora Blake, e não sei muito.
Ele franziu a testa. Senti Dolph se deslocar ao meu lado, infeliz comigo. Seu rosto não mostrava, mas quase podia sentir que ele me achava um pé no saco. Quem, eu?
A Cabo Tucker estava olhando para mim, olhos arregalados, a cara muito quieta, como se estivesse tentando não rir.
Um dos bombeiros se juntou a nós. Sua camiseta úmida agarrada a barriga tinha exigido muitas sessões, mas apreciei a vista de qualquer maneira. Ele era alto, de ombros largos, louro e parecia que deveria estar carregando uma prancha de surfe ou visitando a Barbie em sua casa de sonhos em Malibu. Havia uma mancha de fuligem no rosto sorridente, seus olhos estavam vermelhos e irritados.
Ele ofereceu a mão.
— Eu sou Wren. — disse apenas o seu nome. Confidente.
Ele segurou minha mão além do necessário. Não era ofensivo, apenas interessado.
Baixei meus olhos. Não por timidez, mas porque para alguns homens, contato visual direto era uma provocação.
O Capitão Fulton franziu a testa para Wren.
— Você tem alguma dúvida, Senhora Blake? — Ele enfatizou a palavra Senhora como se soasse como três “r” no fim.
— Você tem um porão cheio de vampiros que precisa resgatar sem expô-los à luz solar, ou ser atacado por eles, certo?
Ele me olhou por um segundo ou dois.
— Essa é a essência.
— Por que não podem simplesmente deixá-los no escuro mesmo com o porão cheio? — Eu perguntei.
— O piso pode desabar a qualquer minuto. — disse ele.
— O que seria o mesmo que expô-los à luz solar e matá-los. — eu disse.
Ele concordou.
— Dolph me disse que um vampiro foi embrulhado com cobertores, e levado para o hospital. É por isso que você acha que os outros não devem estar em seus caixões?
Ele piscou.
— Existe também um vampiro na escada que conduz para o porão. É...— Seu olhar baixou em seguida, voltando-se para mim, irritado. — Já vi pacientes vítimas de queimaduras, mas nada como isto.
— Você tem certeza de que é um vampiro?
— Sim, por quê?
— Porque vampiros expostos à luz solar ou fogo geralmente queimam completamente, viram cinzas e fragmentos com poucos ossos.
— Nós o encharcamos com água. — disse Wren. — Pensei que fosse um ser humano.
— O que o fez mudar de idéia?
Era sua vez de desviar o olhar.
— Ele se moveu. Eram queimaduras de terceiro grau, tinha queimado as cartilagens, músculos, e ossos, e estendeu a mão para nós. — Seu rosto estava pálido, assombrado. — Ninguém poderia fazer isso. Mantivemos revestimento com água, pensando que talvez pudéssemos salvá-lo, mas ele parou de se mover.
— Assim, você presumiu que estava morto? — Eu perguntei.
Os três trocaram olhares. O Capitão Fulton disse:
— Você quer dizer que poderia não estar morto?
Eu dei de ombros.
— Nunca subestime a capacidade de um vampiro para sobreviver, Capitão.
— Temos que voltar lá dentro e levá-lo para um hospital. — disse Wren. Virou-se como se tivesse caminhando de volta para casa. Fulton o pegou pelo braço.
— Pode dizer se o vampiro está vivo ou morto? — Fulton perguntou.
— Acho que sim.
— Você acha?
— Eu nunca ouvi falar de um vampiro que sobrevivesse a um incêndio. Então, sim, eu acho que posso dizer se ele está vivo. Se dissesse o contrário estaria mentindo. Tento não fazer isso quando é importante.
Ele balançou a cabeça duas vezes, bruscamente, como se tivesse sua opinião sobre mim.
— O incendiário jogou acelerador por todo o piso térreo, se formos para o porão, o piso pode cair em acima de nós.
— Então?
— Esse piso não vai aguentar Senhora Blake. Vou fazer este trabalho somente com bombeiros voluntários.
Eu olhei em seu rosto sério.
— Qual é a probabilidade de cair e em quanto tempo?
— Não temos como prever. Sinceramente, estou surpreso que não tenha cedido até agora.
— É uma casa de recuperação da Igreja da Vida Eterna. Se está como o vi na última vez, o teto é de concreto reforçado com vigas de aço.
— Isso explicaria o porquê de não ter desabado ainda. — destacou Fulton.
— Sendo assim, estamos seguros, certo? — Eu perguntei.
Fulton olhou para mim e balançou a cabeça.
— O calor pode ter enfraquecido o concreto, ou mesmo enfraqueceu a resistência à ruptura das vigas de aço.
— Então ele ainda pode cair? — eu disse.
Ele concordou.
— Com todos nós lá dentro.
— Ótimo, vamos fazer isso.
Fulton agarrou meu braço e segurou muito apertado. Olhei para ele, mas ele não vacilou e não queria me deixar ir.
— Você entende que poderia ser enterrada viva por lá, ou esmagada até a morte, ou mesmo se afogar, se houver muita água?
— Venha comigo, capitão Fulton. — Minha voz era calma, firme, e sem raiva. Ponto para mim.
Fulton me liberou e recuou. Seus olhos pareciam um pouco selvagem. Ele estava assustado.
— Eu só quero que você entenda o que poderia acontecer.
— Ela entende. — Dolph disse.
Eu tive uma idéia.
— Capitão Fulton, como você se sente sobre enviar seu pessoal para uma armadilha potencial para salvar um bando de vampiros?
Algo passou por seus olhos escuros.
— A lei diz que são pessoas. Não podemos deixar pessoas feridas ou presas.
— Mas....
— Mas meus homens valem mais para mim do que um monte de cadáveres.
— Não a muito tempo atrás, eu teria trazido os marshmallows e salsichas para assar. — eu disse.
— O que a fez mudar de idéia? Fulton perguntou.
— Percebi que muitos seres humanos são tão monstruosos quanto os monstros. Talvez não tão assustadores, mas tão perversos quanto.
— O trabalho da polícia vai arruinar a visão de seu colega. — a Detetive Tammy disse. Ela e Larry tinham se juntado a nós. Ela e Larry levaram um longo tempo para cruzar a rua. Ele estava muito ferido a insistia em participar da conversa. Bom.
— Eu vou entrar porque é meu trabalho, mas não tenho que gostar dele. — destacou Fulton.
— Tudo bem, mas se vamos entrar, é melhor começar antes do anoitecer, porque sem seus acompanhantes, estaremos diante de um porão cheio de vampiros novos que podem não ter um perfeito controle sobre a fome.
Ele arregalou os olhos. Apostaria meu dinheiro que Fulton teve um encontro próximo a algum tipo de presa. Não havia cicatrizes em seu pescoço, mas isso não prova nada. Vampiros nem sempre iam para o pescoço, não importa o que os filmes dizem. O sangue flui próximo à superfície em muitos lugares.
Toquei seu braço levemente. A tensão cantou para baixo os músculos como um fio puxado demasiado apertado.
— Quem você perdeu?
— O que? — Ele parecia estar tendo dificuldade para se concentrar em mim.
— Quem os vampiros fizeram se afastar de você?
Ele me olhou, olhos escuros focados em mim. Qualquer que seja a imagem horrível estava flutuando por trás de seus olhos. Seu rosto estava quase normal, quando disse:
— Mulher e filha.
Esperei que ele falasse mais, mas o silêncio ao redor de nós ficou pesado, profundo horror nas duas palavras sussurradas. Esposa e filha. Perdeu ambas.
— E agora você tem que ir no escuro e salvar alguns sanguessugas, arriscando a sua vida e a de seus homens. Que roubada.
Ele respirou profundamente pelo nariz e soltou o ar lentamente. Eu o vi ganhar o controle de si mesmo, o vi reconstruir suas defesas, pedaço por pedaço.
— Eu queria deixa-los queimar, quando descobri que estavam lá dentro.
— Mas você não fez. — eu disse. — Você fez o seu trabalho.
— Mas o trabalho ainda não foi feito. — disse ele suavemente.
— A vida é uma merda. — eu disse.
— E então você morre. — Larry disse para mim.
Me virei e fechei a cara para ele, mas era difícil argumentar. Hoje, ele estava certo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 42

A vigarista como Dolph tão poeticamente disse, eram uma pequena mulher na casa dos trinta. Seu cabelo castanho estava preso em um rabo de cavalo apertado deixando o pescoço e a marca da mordida do vampiro dolorosamente visível. Vampiros excêntricos, pessoas que gostavam de vampiros sexys para transformar-los, escondia suas presas ao menos em uma das suas saídas noturnas. Nos membros masculinos da Igreja da Vida Eterna, quase sempre as mordidas eram visíveis. Cabelo usado apenas para a direita, mangas curtas se as marcas estavam no punho ou cotovelo. Eles estavam orgulhosos das mordidas, viam como sinais da salvação.
As marcas das presas superiores eram maiores, tornava a pele avermelhada e mais rasgada. Alguém não tinha sido cuidadoso com sua comida. A segunda marca era quase doce, feita cirurgicamente. O nome da vigarista era Caroline, e ela estava abraçando a si mesma como se estivesse com frio. O tempo estava tão quente que você poderia provavelmente fritar ovos na calçada, eu não acho que ela era fria, ou pelo menos não esse tipo de frio.
— Queria me ver, Caroline?
Ela concordou balançando a cabeça para cima e para baixo como um daqueles cães que você costumava ver nas traseiras dos carros.
— Sim. — disse ela, a voz entrecortada. Olhou para Dolph e McKinnon, em seguida, voltando para mim. O olhar era o suficiente. Ela queria privacidade.
— Eu vou levar Carolina para dar uma voltinha. Tudo bem?
Dolph assentiu. McKinnon disse:
— A Cruz Vermelha tem café e refrigerante. — Ele apontou para um pequeno caminhão com uma concha campista. Voluntários da Cruz Vermelha davam café e conforto para os policiais e bombeiros. Você não os vê em cada cena de crime, mas eles faziam a sua parte.
Dolph encontrou meu olhar e deu um pequeno aceno de cabeça. Ele estava confiando-me a questioná-la sem ele, confiando em mim para trazer todas as informações que diziam respeito ao crime. O fato de ainda confiava em mim deixou o meu dia um pouco mais brilhante. Legal que algo aconteceu.
Também era bom estar fazendo algo útil. Dolph tinha sido legal por me levar para a cena. Agora tudo estava paralisado. Fulton simplesmente não estava disposto a arriscar seu pessoal para salvar cadáveres. Mas não era isso. Se houvessem seis pessoas lá em baixo, nós já os teríamos trazido para cima Mas eles não eram humanos, e não importa o que a lei diga, isso faz a diferença. Dolph estava certo, antes de Addison vs. Clark, eles teriam começado uma brigada de incêndio aqui para se certificar de que o fogo não se espalharia para as outras casas, e teriam deixado a igreja queimar. Procedimento operacional padrão.
Mas isso foi há quatro anos, o mundo tinha mudado. Ou então dissemos a nós mesmos. Se os vampiros não estavam em caixões e o telhado desabasse, ficariam expostos à luz solar. Os bombeiros usaram um machado na parede ao lado da escada para que eu pudesse ver o cadáver do segundo vampiro. Era chocante mas não empoeirado. Eu não tinha explicação para o corpo que tinha permanecido intacto. Nem tinha cem por cento de certeza que com o anoitecer ele iria se curar. É, mesmo eu ainda fiz isso. Mas o corpo estava tão queimado, como varas de couro preto e marrom, os músculos do rosto se afastou mostrando os dentes, completo, com dentes, num esgar que parecia dor. O bombeiro Wren tinha me explicado que os músculos se contraem com o calor suficiente para quebrar os ossos, às vezes. Justamente quando você pensa que sabe todas as coisas horríveis sobre a morte, você descobre que está errado.
Eu tinha de pensar no corpo como um “ele” ou não conseguia olhar. Caroline tinha conhecido o vampiro. Acho que ela estava tendo mais problemas ao pensar no corpo como “ele”.
Ela pegou um refrigerante da bela dama da Cruz Vermelha. Até mesmo eu tomei uma Coca-Cola, o que significava que estava muito quente para tomar um maldito café.
Levei-a para o quintal de uma casa vizinha, onde ninguém tinha saído para ver o incêndio. As cortinas estavam fechadas, garagem vazia. Todo mundo passou para o dia fora. O único sinal de vida era uma roseira e uma borboleta andorinha negra flutuando sobre ela. Pacíficas. Por um momento eu quis saber se a borboleta era um dos animais de estimação de Warrick, mas não havia nenhuma sensação de poder. Era apenas uma borboleta flutuando suavemente. Sentei-me na grama. Caroline se juntou a mim, alisando seu calção azul pálido como se estivesse mais acostumada a usar saias. Ela tomou um gole de refrigerante. Agora que ela me tinha para si mesma, não parecia saber como começar.
Isso poderia ter funcionado melhor se eu a tivesse esperado para começar, mas a minha paciência tinha acabado há muito tempo. Não era uma das minhas virtudes cardinais para começar.
— O que você queria me dizer? — Eu perguntei.
Ela colocou sua lata de refrigerante com cuidado sobre a grama, as mãos finas nivelando ao longo da bainha de sua bermuda. Ela tinha unha pintadas de rosa-polonês-pálido, que combinava com as listras cor de rosa na parte superior. Melhor que o azul claro, eu acho.
— Posso confiar em você? — perguntou ela com uma voz tão frágil e pálida como parecia.
Eu odeio perguntas como essa, não estava com vontade de mentir.
— Talvez. Depende do que você deseja confiar a mim.
Caroline parecia um pouco assustada, como se estivesse me esperando dizer “com certeza”.
— Isso foi muito honesto de sua parte. A maioria das pessoas responderiam sem pensar sobre isso. Alguma coisa me dizia que Caroline mentiu muitas vezes para pessoas que confiavam nela.
— Eu tento não mentir Caroline, mas se você tem informações que possa nos ajudar aqui, precisa me dizer. — Tomei um copo de refrigerante e tentei parecer casual, não mostrei o meu corpo tenso, ou o quanto eu queria simplesmente gritar até que ela me dissesse o que quer que fosse. Um pouco de tortura, você não pode fazer as pessoas falarem, não realmente. Caroline queria me contar seus segredos. Eu só tinha que ter calma e deixar que ela falasse. Se eu fosse mais ansiosa ou abusiva, ela cederia e contaria tudo, ou deixaria-nos definhando. Você nunca sabia o caminho que isso tomaria, assim você tem que tentar a paciência primeiro. Sempre podemos intimidá-los depois.

— Eu fui o contato humano para esta casa de recuperação por três meses. O guardião que supervisionava os mais jovens era Giles. Ele era forte e poderoso, mas foi preso em seu caixão até a pura escuridão. Depois de duas noites, ele acordou no meio do dia. A primeira vez para ele. O que estava na escada era um dos vampiros mais jovens.
Ela olhou para mim, olhos castanhos arregalados, se inclinou para mim, abaixando sua voz suave ainda mais. Eu tive que me inclinar para ela para ouvir a sua voz, perto o suficiente para que meu cabelo encostasse em seu ombro.
— Nenhum dos vampiros menores foi morto há dois anos. Você entende o que isso significa?
— Isso significa que não deveriam ter levantado durante o dia. Significa que o que estava na escada deveria ter queimado até as cinzas.
— Exatamente. — disse ela. Parecia aliviada de finalmente encontrar alguém que entendesse.
— Isso foi no início da vigília restrita a sua casa de recuperação?
Ela balançou a cabeça, murmurando agora. Tivemos nossas cabeças como alunos da primeira série falando na aula. Eu estava perto o suficiente para ver as linhas finas vermelhas em seus olhos. Caroline tinha perdido o sono por causa alguma coisa.
— Os vampiros de casa, subitamente começaram a levantar mais cedo. A fome parecia pior nos mais jovens. — Sua mão foi até o pescoço e o ferimento bagunçado. — Eles eram mais difíceis de controlar, até mesmo pelos responsáveis.
— Alguém tem alguma teoria a respeito de porque isso estava acontecendo? — Eu perguntei.
— Malcolm achou que alguém estava interferindo com eles.
Eu tinha vários candidatos que podiam estar interferindo com os vampiros, mas não estávamos aqui para obter as respostas. Estávamos aqui para obter as respostas de Caroline.
— Ele tem alguma idéia sobre quem?
— Você sabe sobre os nossos ilustres visitantes? — ela perguntou, a voz ainda mais baixa, como se estivesse com medo de dizer a última.
— Se está falando do Conselho Vampiro, eu me encontrei com eles.
Ela se afastou de mim, então, chocada.
— Você se encontrou com eles. — disse ela. — Mas Malcolm não se encontrou ainda.
Eu dei de ombros.
— Eles pagaram o seu... respeito ao Mestre da Cidade.
— Malcolm disse que iriam nos encontrar quando estivessem prontos. Ele viu a sua vinda como um sinal de que o resto dos vampiros estavam prontos para abraçar a verdadeira fé.
Eu não estava prestes a me sentar lá e dizer por que o Conselho realmente tinha vindo para a cidade. Se a Igreja não sabe, eles não precisam saber.
— Eu não acho que a Conselho pense muito sobre religião, Caroline.
— Por que mais eles viriam?
Eu dei de ombros.
— O Conselho tem suas razões. — Veja, não era uma mentira, enigmático como o inferno, mas não é mentira.
Ela parecia aceitar a declaração. Talvez ela estivesse acostumada a uma merda enigmática .
— Por que o Conselho quer nos machucar?
— Talvez eles não vejam o ferimento.
— Se os bombeiros forem lá embaixo salvar os jovens vampiros e os acordar sem um tutor...— Ela encostou os joelhos ao peito, abraçando as pernas. — Eles vão se levantar como assombrações, animais estúpidos, até que tenham se alimentado. As pessoas podem morrer antes de salvar a si mesmos.
Toquei seu ombro.
— Você está com medo deles, não é? — Nunca conheci um membro desta igreja que tivesse medo de vampiros, especialmente um que doasse sangue como uma ligação humana.
Ela baixou o decote de sua blusa para que eu pudesse ver o topo de seus seios pequenos. Havia uma marca de mordida na carne pálida de uma mama que mais parecia uma mordida de cão do que uma feita por um vampiro. A carne foi ferida gravemente, como se o vampiro tivesse puxado para fora tão logo começou a chupar.
— Giles teve que retirá-lo de mim. Ele teve que segurá-lo. Olhando para o rosto dele, eu sabia que se Giles não estivesse lá, ele teria me matado. Não é porque queria me trazer mais para perto ou me abraçar, mas apenas porque eu era comida. — Ela arrumou sua blusa sobre a ferida, abraçando-se apertado, tremores, no sol quente de julho.
— A quanto tempo você está com a Igreja, Caroline?
— Dois anos.
— E esta é a primeira vez que tem medo?
Ela concordou.
— Eles foram muito cuidadosos com você, então.
— O que você quer dizer? — perguntou ela.
Eu levantei meu braço esquerdo, mostrando as cicatrizes.
— Esse monte de cicatriz é o lugar onde um vampiro me mordeu. Ele quebrou meu braço. Tive sorte de não perder o uso dele.
— O que?— Ela tocou as marcas da garra que se arrastavam para baixo a parte inferior do braço.
— Isso foi um problema com uma bruxa.
— Como é que a cruz queimou em seu braço?
— Seres humanos com algumas mordidas como você pensaram que era divertido me marcar com uma cruz. Estavam apenas se divertindo até que seu mestre acordasse para a noite.
Seus olhos estavam arregalados.
— Mas os vampiros da Igreja não são assim. Nós não somos assim.
— Todos os vampiros são assim, Caroline. Alguns deles se controlam melhor do que outros, mas eles ainda têm que se alimentar de seres humanos. Você não pode realmente respeitar algo que vê como comida.
— Mas você está com o Mestre da Cidade. Você acredita nele?
Pensei sobre isso e respondi a verdade.
— Às vezes.
Ela balançou a cabeça.
— Eu achava que sabia o que queria. O que faria por toda a eternidade. Agora não sei de nada. Eu me sinto assim... Perdida. — Lágrimas caíram de seus olhos.
Coloquei meu braço sobre seus ombros, e ela me agarrou com as mãos pequenas, cuidadosamente pintadas. Chorou silenciosamente, apenas a fragilidade de sua respiração a traía.
Eu a segurei e a deixei chorar. Se eu conseguisse levar os bombeiros para dentro da escuridão e os seis vampiros recém-mortos se levantassem como fantasmas, ou os bombeiros seriam mortos ou eu seria obrigada a matar os vampiros. De qualquer maneira, não ganharia a situação.
Precisávamos descobrir se os vampiros estavam vivos, precisava de algum controle sobre eles. Se o Conselho estava causando os problemas, talvez eles pudessem ajudar a solucioná-lo. Quando grandes vampiros maus vêm à cidade para me matar, eu geralmente não recorro a eles para ajudar. Mas estávamos tentando salvar as vidas dos vampiros aqui, não apenas dos humanos. Talvez eles ajudassem. Talvez não, mas não machucaria perguntar. Tudo bem, isso poderia machucar sim, e provavelmente era isso o que iria acontecer.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 43


Mesmo ao telefone, eu poderia dizer que Jean-Claude ficou chocado com a minha idéia de pedir ajuda ao Conselho. Chame de palpite. Ele estava literalmente sem palavras. Era a primeira vez.
— Por que não posso pedir a ajuda deles?
— Eles são do Conselho, ma petite. — disse ele, a voz quase sussurrada de emoção.
— Exatamente. — eu disse. — Eles são os líderes de seu povo. Liderança não significa apenas privilégios. Tem um preço.
— Diga isso para os políticos em Washington, em seus ternos de três mil dólares. — disse ele.
— Eu não disse que nós fazemos melhor. Isso é irrelevante. Eles criaram este problema. Eles podem, por Deus, ajudar a solucioná-lo. — Eu tive um pensamento ruim. — A menos que estejam fazendo isso de propósito. — eu disse.
Ele deu um longo suspiro.
— Não, ma petite, não é de propósito. Eu não percebi o que estava acontecendo com os outros.
— Por que isso não acontece aos nossos vampiros?
Acho que ele riu.
— Nosso vampiros, ma petite?
— Você sabe o que quero dizer.
— Sim, ma petite, eu sei que você quer dizer. Estou protegendo nosso povo.
— Não me leve a mal, mas estou surpresa que você tenha impedido o Conselho de brincar com o seu povo.
— Na verdade, ma petite, é exatamente assim.
— Então você é mais poderoso do que Malcolm agora?
— Tudo indica que sim. — disse ele calmamente.
Pensei sobre isso por um minuto.
— Mas por que o aumento do poder? Por que o aumento da fome? Por que o Conselho deseja que isso aconteça?
— Eles não querem isso, ma petite. É apenas um efeito colateral de sua proximidade.
— Explique. — eu disse.
— Sua presença dá aos vampiros desprotegidos poder extra: levantam cedo, talvez outros presentes. O apetite mais voraz e falta de controle dos mais jovens pode significar que o Conselho decidiu não se alimentar, enquanto estiverem no meu território. Eu sei que o Viajante pode ter conseguir energia através de vampiros sem possuí-los.
— Então, ele participa do sangue que o outro bebe?
— Oui, ma petite.
— Ele poderia estar se alimentando deles?— Eu perguntei.
— Se todos os membros da Igreja estão enfrentando essa dificuldade, eu acho que não. Acho que o Viajante encontrou uma forma de roubar energia para todos eles, embora eu não possa imaginar Yvette fazendo o mesmo sem causar dor a alguém.
— Ela tem Warrick para implicar. — No momento que disse isso, percebi que não tinha tido a oportunidade de dizer a Jean-Claude sobre a pequena excursão de Warrick durante o dia, ou o seu aviso. Jean-Claude tinha acordado de seu sono, enquanto eu estava no hospital, cercado por homens-leopardo. Desde então, eu estava me movendo de uma emergência a outra.
Warrick veio me visitar, enquanto você estava dormindo. — eu disse.
— O que você quer dizer, ma petite?
Eu disse a ele. Disse tudo.
Ele ficou em silêncio. Apenas sua respiração suave me deixava saber que ainda estava lá. Finalmente, ele falou.
— Eu sabia que Yvette ganhou seu poder através de seu mestre, mas não sabia que estava impedindo as habilidades de Warrick. — Ele riu de repente. — Talvez seja por isso que eu não sabia que era um vampiro mestre enquanto estava com o Conselho da primeira vez. Talvez o meu mestre, também, estivesse impedindo meus poderes de florescer.
— A advertência de Warrick muda nossos planos? — Eu perguntei.
— Estamos comprometidos com um entretenimento formal, ma petite. Se nos recusamos a pagar o preço pelos seus homens-leopardo, daremos a Padma e Yvette a desculpa que precisam para nos desafiar. Quebrar um acordo, uma vez que sua palavra é dada é um quase um pecado imperdoável entre nós.
— Eu coloquei todos nós em perigo. — eu disse.
— Oui, mas sendo você quem é, não poderia fazer por menos. Warrick é um vampiro-mestre, teria pensado nisso? Ele foi joguete nas mãos de Yvette por muito tempo.
— Quanto tempo? — Eu perguntei.
Jean-Claude ficou quieto por um batimento cardíaco ou dois, então disse,
— Ele era um cavaleiro das Cruzadas, ma petite.
— Qual cruzada? Havia vários. — eu disse.
— É um prazer falar com alguém que conhece a sua história, ma petite. Mas você estava perto dele. Que idade ele tem?
Eu pensei sobre isso.
— Novecentos, mais ou menos.
— O que isso significa?
— Eu não gosto de ser interrogada, Jean-Claude. A Primeira Cruzada foi a mais de mil anos.
— Exatamente.
— Então, Yvette já era velha, mesmo assim? — eu disse.
— Você não sabe a idade dela?
— Ela tem uns mil anos. Mas são mil anos simplórios. Eu conheci vampiros com a sua idade, que me assustaram como o inferno. Ela não faz isso.
— Sim, Yvette é aterrorizante, mas não por causa de sua idade, ou seu poder. Ela pode viver até o fim do mundo e nunca será um mestre entre nós.
— E isso dá cólicas. — eu disse.
— Em termos simples, mas precisa melhorar, ma petite.
— Eu vou pedir ajuda para o Viajante.
— Temos que negociar por toda a ajuda que virá deles, ma petite . Não se coloque ainda mais em dívida. Peço isso a você.
— Você nunca me pediu nada. — eu disse.
— Então preste atenção em mim agora, ma petite. Não faça isso.
— Eu não vou negociar. — eu disse.
Ele soltou um suspiro como se o estivesse segurando.
— Bom, ma petite, muito bom.
— Estou indo lá só para perguntar.
— Ma petite, ma petite, o que eu te disse?
— Olha, nós estamos tentando salvar a vida dos vampiros aqui, não apenas dos humanos. Vampiros são legais no país. Não significa que você tem apenas privilégios. Vem com um preço. Ou deveria.
— Você está indo até lá para apelar ao sentido de justiça do Conselho? — Ele não se preocupou em esconder a incredulidade de sua voz. Na verdade, jogou sobre ela.
Colocando dessa maneira que soou boba, mas. . .
— O Conselho é parcialmente culpado pelo que está acontecendo. Colocaram em perigo o seu próprio povo. Bons líderes não fazem isso. — eu disse.
— Ninguém jamais os acusou de serem bons líderes, ma petite. Eles simplesmente não são. Não é uma questão de bom ou ruim. Temos medo deles, e isso é o suficiente.
— Mentira. Isso não é o suficiente. Não é nem perto do suficiente.
Ele suspirou.
— Prometa-me apenas que não vai negociar com eles. Faça o seu pedido, mas não ofereça qualquer coisa pelo seu auxílio. Você deve jurar isso para mim, ma petite. Por favor.
Foi o “por favor” que fez isso, e o medo em sua voz.
— Eu prometo. É seu trabalho fazer isso. Você não barganha para conseguir alguém, para fazer o que eles devem fazer em primeiro lugar.
— Você é uma maravilhosa combinação de cinismo e ingenuidade, ma petite.
— Você pensa que é ingenuidade esperar que o Conselho ajude os vampiros da cidade?
— Eles vão perguntar o que vão ganhar com isso, ma petite. O que você vai dizer?
— Vou dizer que é seu dever, e chamar-lhes de bastardos sem honra se não ajudarem.
Ele riu então.
— Eu pagaria para ouvir essa conversa.
— Ajudaria se você ouvir em casa?
— Não. Se eles suspeitarem que a idéia é minha, vão exigir um preço. Só você, ma petite, poderia ser assim tão ingênua diante deles e esperar ser acreditado.
Eu não penso em mim como ingênua. Claro, ele era quase três séculos mais velho do que eu. Madonna provavelmente parecia ingênua para ele.
— Vou deixarei você saber como é.
— Ah, o Viajante vai ficar muito satisfeito com o resultado.— ele disse
— Estou prestes a começar o problema?
— Já estamos em apuros, ma petite. Ele não pode nos afundar mais.
— Falou isso para me confortar? — Eu perguntei.
— Un peu — disse ele.
— Que significa “um pouco”, né?
— Oui, ma petite. Vous dispor um apprendre.
— Pare com isso. — eu disse.
— Como você quiser. — Ele abaixou sua voz a um sussurro sedutor, como se sua voz já não provocasse sonhos molhados. — O que você estava fazendo quando eu acordei hoje?
Eu tinha quase esquecido a minha pequena aventura no hospital. Agora a lembrança voltou forte o suficiente para esquentar meu rosto.
— Nada.
— Não, não, ma petite, não está correta. Você certamente estava fazendo alguma coisa.
— Será que Stephen e Nathaniel já chegam na casa?
— Sim, eles já chegaram.
— Ótimo. Falo com você depois.
— Você se recusa a responder a minha pergunta?
— Não, eu só não sei uma versão mais curta, que não me faça me sentir como uma puta. Não tenho tempo para mais uma versão agora. Então, você pode esperar?
— Vou esperar por toda a eternidade, se a minha mulher me pede.
— Vá a merda, Jean-Claude.
— Se eu lhe desejar boa sorte com o Conselho, teria que lhe agradar mais?
— Sim, teria.
— Está tudo certo em ser uma mulher, Anita. Não é uma coisa ruim.
— Tente ser uma, e então fale para mim. — eu disse e desliguei. “Minha mulher” soou como se fosse seu cão. Sua propriedade. Eu era sua serva humana. Por mais que quisesse matá-lo não poderia mudar isso. Mas eu não lhe pertencia. Não pertencia a ninguém, eu me pertencia. E era assim que eu estava indo para a abordagem do Conselho, como eu: Anita Blake, executora de vampiro, a ligação da polícia com os monstros. Eles não iriam ouvir a serva humana de Jean-Claude, mas podem me ouvir.

 

 

 

 

 


CAPÍTULO 44

Thomas atendeu o telefone no Circo.
— Vocês têm que fazer o trabalho de obediência inquestionável?— Eu perguntei.
— Como é? — disse ele.
— Desculpe, é Anita Blake.
Ele ficou quieto por um segundo, então,
— Sinto muito, não estamos abertos para negócios até o anoitecer.
— O Fernando está aí?
— Sim, está. A noite toda.
— Eu preciso falar com o Viajante, Thomas. Estou pedindo como investigadora da polícia, e não como serva humana de Jean-Claude. Temos alguns vampiros com problemas, e acho que ele pode ajudar.
— Sim, nós aceitamos reservas. — disse ele.
Eu dei o número do telefone do carro de Dolph.
— Nós não temos muito tempo, Thomas. Se ele não me ajudar, eu tenho que ir com policiais e bombeiros do meu jeito mesmo
— Estou ansioso para vê-la esta noite. — Ele desligou.
A vida seria muito mais fácil se Fernando estivesse morto. Além disso, eu tinha prometido a Sylvie que ia matá-lo. Eu sempre tentei manter minhas promessas.
Dolph estava encostado na porta querendo saber por que estava levando tanto tempo, quando o telefone tocou. Olhei para ele. Ele balançou a cabeça e se afastou.
— Sim.
— Disseram-me que precisava falar comigo.
Gostaria de saber os lábios de quem ele estava usando.

— Obrigado por me ligar de volta, Viajante. — Um pouco de polidez não poderia ferir.
— Thomas foi surpreendentemente eloquente em seu nome. O que quer de mim?
Expliquei-lhe o mais breve possível.
— E o que você deseja de mim sobre este problema de vocês?
— Você pode parar de tomar energético através deles. Isso ajudaria.
— Então devemos nos alimentar de seres vivos. Existe alguém que você ofereceria em seu lugar para cada um de nós?
— Não, não há pechinchas. Este é um assunto de polícia, Viajante. Estou falando como autoridade da lei humana atrás de mim, não, Jean-Claude.
— O que é direito humano para mim? Para nós?
— Se formos para lá e eles nos atacar, eu vou acabar matando alguns deles. Podem matar policiais e bombeiros. Essa publicidade é ruim com a Lei de Brewster a ser decidida no outono. O município impediu os vampiros de lutar entre si até que a lei seja finalizada. Certamente, policiais abatidos são proibido também.
— É. — disse ele. Sua voz era tão cuidadosa. Ele não me mostrou nada. Não poderia dizer se estava com raiva ou se divertindo ou se dava a mínima de qualquer forma.
— Estou pedindo para você me ajudar a salvar as vidas dos seus vampiros.
— Eles pertencem a esta Igreja de vocês. Eles não são meus. — disse ele.
— Mas o Conselho é a liderança geral dos vampiros, certo?
— Somos a lei suprema.
Eu não gostava da expressão, mas levei adiante.
— Você pode descobrir caso a caso se os vampiros estão vivos ou mortos no prédio queimado. Pode impedir os vampiros de se levantar cedo e nos atacar.
— Acho que você superestima os meus poderes, Anita.
— Eu não acho. — eu disse.
— Se o Jean-Claude nos fornecer... Alimento, vou ficar mais do que feliz em parar de pegar energia dos outros.
— Não, você não ganha nada por isso, Viajante.
— Se você me der nada, eu te dou nada. — disse ele.
— Puxa, isso não é um jogo.
— Nós somos vampiros, Anita. Vocês não entendem o que isso significa? Estamos além do seu mundo. O que acontece com vocês não nos afeta.
— Mentira. Alguns fanáticos estão aqui tentando duplicar o Inferno mais uma vez. Isso afeta. Thomas e Gideon tiveram de repelir os invasores, enquanto você dormia. Isso afeta você.
— Isso não importa. Nós estamos em seu mundo, mas não nos importamos com ele. — disse ele.
— Olhe, isso pode ter funcionado em 1500, ou sempre, mas os vampiros tornaram-se cidadãos legais, isso mudou. Um vampiro foi levado ao hospital em uma ambulância. Eles estão fazendo o seu melhor para mantê-lo vivo, o que diabos isso significa para vocês. Bombeiros estão arriscando suas vidas para entrar em edifícios queimados para salvar vampiros. Os fanáticos estão tentando matá-lo, mas o resto de nós seres humanos estamos tentando salvá-los.
— Então vocês são loucos. — disse ele.
— Talvez. — eu disse, — mas nós, pobres humanos fizemos um juramento de proteger e servir. Honramos nossos compromissos.
— Você está insinuando que eu não?
— Estou dizendo que, se você não nos ajudar aqui hoje então não é digno de ser do Conselho. Não são líderes. São apenas parasitas se alimentando do medo de seus seguidores. Os verdadeiros líderes não deixam seu povo morrer, não se pode salvá-los.
— Parasitas. Posso dizer ao resto do Conselho a sua opinião tão elevada sobre nós? — Ele estava com raiva agora. Eu podia ouvi-la como o calor em toda a linha.
— Sim, diga-lhes tudo. Mas preste atenção em mim Viajante, vampiros não podem apenas obter privilégios da cidadania legal. Eles também ganham responsabilidades para com a lei humana que os tornou legal.
— É mesmo?
— Sim, é isso. Este seu misterioso mundo, mas não uma parte dele pode ter funcionado no passado. Sejam bem vindos ao século XX, porque isso é o que o estatuto jurídico significa. Quando forem cidadãos que pagam impostos, tem suas próprias empresas, casar, herdar, ter filhos, você não pode se esconder em uma cripta em algum lugar e contar as últimas décadas. Vocês são uma parte do nosso mundo agora.
— Vou pensar sobre o que você disse, Anita Blake.
— Quando eu desligar o telefone, vou entrar no porão. Vamos começar a trazer as vampiros em sacos de corpo para protegê-los. Se eles se levantarem como assombrações enquanto os resgatamos, será um banho de sangue.
— Estou ciente dos problemas. — disse ele.
— Você está ciente que é a presença do Conselho que está dando-lhes a energia para este aumento de poder, possivelmente no início do dia?
— Eu não posso mudar o sentido que nossa presença tem sobre os vampiros menores. Se Malcolm pretende reivindicar o estatuto de mestre, então é o seu dever manter seu povo seguro. Eu não posso fazer isso por ele.
— Não é possível ou não vai? — Eu perguntei.
— Não é possível. — disse ele.
Hmmm.
— Talvez eu tenha superestimado seu poder. Minhas desculpas.
— Aceito e compreendo como é raro você se desculpar, Anita. — O telefone ficou mudo.
Apertei o botão que desliguei.
Dolph caminhou de volta para o carro.
— Então? — Dolph perguntou.
Eu dei de ombros.
— Parece que entramos sem o apoio dos vampiros.
— Não se pode depender deles, Anita, não para segurança. — Ele pegou minha mão, algo que nunca tinha feito, apertando-a. — Isso é tudo que você pode contar. Um humano para outro. Os monstros não dão a mínima para nós. Se você acha que eles fazem, então está enganando a si mesma. — Ele largou minha mão e foi embora antes que eu pudesse pensar em um retorno. Ainda bem. Depois de conversar com o Viajante, eu não tinha certeza se teria um.

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 45

Uma hora mais tarde, eu estava vestida em um traje para materiais perigosos. Era volumoso, para dizer o mínimo, e se transformou em uma sauna portátil no calor de St. Louis. Uma fita adesiva foi acondicionada em torno de meus cotovelos e punhos, para garantir a vedação do traje. Sentia-me como uma astronauta que tinha ido para o alfaiate errado. Insulto à injúria, houve um auto de respiração, SCBA, amarrado à minha volta. Adicionar uma roupa subaquática de mergulho, mas não estávamos planejando ir para debaixo d'água. Eu era grata por isso.
Havia uma máscara que cobria todo o rosto, em vez de um bocal com regulador, mas fora isso, fui amaldiçoada perto SCUBA. Eu tinha minha certificação de mergulho. Consegui voltar na faculdade e mantê-lo atualizado. Se você deixar passar, tem que fazer o curso de formação inteirinho novamente. Atualizando era menos doloroso. Eu estava adiando colocar a máscara tanto tempo quanto possível. Devido a um acidente de mergulho, na Flórida, tenho claustrofobia agora. Não é ruim o bastante para os elevadores serem um problema, mas incluído no traje tinha uma máscara cobria o rosto, o capacete passando por cima da minha cabeça toda, eu estava em pânico e não sabia o que fazer sobre isso.
— Você realmente acha tudo isso necessário? — Pedi o décimo segundo tempo. Se eles tinham acabado de me dar um capacete contra incêndio, eu poderia lidar com isso.
— Se você entrar com a gente, sim. — disse a Cabo Tucker. Seus três centímetros de altura extra não ajudaram muito. Nós duas parecíamos que estávamos usando roupas nas mãos.
— Há a possibilidade de contaminação de doenças se houver corpos flutuando no porão. — disse o tenente Wren.
— Haverá realmente muita água no porão?
Eles trocaram olhares.
— Você nunca esteve em uma casa depois de um incêndio, não é? — Tucker perguntou.
— Não.
— Você vai entender, quando entrarmos lá — disse ela.
— Parece sinistro.
— Não pretendia. — disse ela.
Tucker não tem muito de um senso de humor, e Wren bebeu demais. Ele tinha sido demasiadamente solícito quando nós estávamos verificando os fatos. Tinha certeza que ele estava me encarando e desperdiçando um sorriso brilhante para mim. Mas não era nada muito evidente. Nada suficientemente obvio para eu dizer, “olha eu tenho um namorado”. Por tudo que eu sabia, ele sempre foi assim então eu seria uma burra questionando-o pessoalmente.
— Coloque a máscara, e eu vou ajudá-la a ajustar sobre o seu rosto. — disse Wren.
Balancei minha cabeça.
— Me dê um capacete regular e vou usar direitinho.
— Se você cair na água sem o visor fechado Anita, você poderia muito bem não estar com o traje te isolando.
— Eu vou me arriscar. — eu disse.
Tucker disse:
— Você teve dificuldade em vir a pé do caminhão até aqui. Vai ficar melhor com a prática, mas em águas profundas, ainda vamos ter problemas para manter o equilibrio.
Balancei a cabeça novamente. Meu coração estava batendo muito rápido, eu estava tendo problemas para respirar. Coloquei a máscara no rosto. Respirei, e o som horrível começou. Era como respirar como o Darth Vader, exceto que era seu. Na água, no escuro, sua respiração era o único som. Poderia tornar-se estrondosamente alto enquanto você espera para morrer.
— Precisa apertar a correia. — disse Wren. Ele começou a ajustar a correia como se eu tivesse cinco anos e fosse me vestir para brincar na neve.
— Eu posso fazer isso. — Minha voz se aproximou da linha de rádio aberta na máscara.
Ele ergueu as mãos para o céu com luvas, ainda sorrindo. Era um homem difícil de insultar, porque eu estava tentando. Ele tinha esse tipo de boa vontade que parecia alegre e desviava de tudo. Nunca se pode confiar em pessoas que sorriem constantemente. Wren não me parece tão estúpido.
Insulto à injúria, eu não poderia ajustar a cinta sobre a máscara. Eu sempre odiei trabalhar com algo mais volumoso do que luvas cirúrgicas. Tirei a máscara e meu primeiro sopro de ar real era muito alto, muito longo. Estava suando, e não era só o calor.
Tinha a Browning e Firestar deitada ao lado do carro de bombeiros. Havia muitos bolsos na parte externa da roupa para guardar uma meia dúzia de armas. Eu tinha uma espingarda de cano serrado do meu kit de vampiro em um coldre improvisado nas minhas costas. Sim, é ilegal, mas Dolph a tinha visto comigo uma vez quando fomos atacados por um vampiro fantasma. Eles eram como os usuários PCP: imune a dor, mais fortes ainda do que um vampiro normal. Uma força do inferno com presas. Mostrei-lhe a arma antes que a colocasse para fora. Ele deu o seu “OK”. Terminou com dois seguranças mortos e um policial novato espalhado por todo o corredor. Pelo menos Dolph e seus homens tinham munição de prata. Ele e Zerbrowski quase foram mortos porque não tinham preenchido a papelada completamente. Eu dei-lhes uma caixa de munição no Natal antes que recebessem a munição de prata oficial. Nunca quis vê-los sangrar por falta deles.
Deixei as facas nas bainhas de seu pulso. Carregar facas nos bolsos de um traje como esse parecia uma péssima idéia. Se eu perder os dois revólveres e tiver que lutar para pegar as facas sob a roupa, estaremos com sérios problemas. Não precisa se preocupar com isso. Minha cruz de prata pendurada nua em volta do meu pescoço. Era o melhor que eu tinha para dissuasão contra vampiros bebês. Eles não podiam forçar sua vontade contra uma cruz, não quando ela era apoiada pela fé . Eu só conheci um vampiro que poderia forçar a passagem com uma cruz em chamas e me machucar. E ele estava morto. Engraçado como muitos deles acabaram assim.
Tucker se aproximou de mim.
— Eu vou ajudá-la a ajustar a máscara.
Eu balancei minha cabeça.
— Me deixe ser a última. Quanto menos tempo eu estiver com ela melhor.
Ela lambeu os lábios, começou a dizer alguma coisa, parou, depois disse:
— Está tudo bem?
Normalmente, eu teria dito com certeza, mas eles estavam dependendo de mim, talvez por suas vidas. Como eu estava com medo? Assustada.
— Não exatamente. — eu disse.
— Você é claustrofóbica, não é? — disse ela.
Eu devo ter ficado surpresa, porque ela disse:
— Muitas pessoas querem ser bombeiros, mas no meio de um incêndio com máscara e com uma fumaça tão grossa que você não pode ver sua mão na frente dos seus olhos, você não não quer ser claustrofóbica.
Concordei.
— Eu posso entender isso.
— Há uma parte do treinamento, onde eles cobrem completamente seus olhos e fazem você colocar o equipamento por toque, como se a fumaça que apaguasse o mundo. Você aprende que não gosta de se fechar.
— Eu poderia tirar o traje sem o SCBA. É a combinação do traje e ouvir minha respiração. Eu tive um acidente de mergulho logo após a faculdade.
— Você pode fazer isso? — Não havia acusações, apenas honestidade.
Concordei.
— Eu não vou deixar você parar.
— Não foi isso que eu perguntei. — disse ela.
Olhamos um para a outra.
— Me dê alguns minutos. Eu só não entendi como era esse traje. Eu vou ficar bem.
— Você tem certeza?
Concordei.
Ela não disse nada, só saí para juntar a minha inteligência dispersa.

Wren conversava com Fulton. Wren e Tucker não ajudariam muito, pois ambos eram paramédicos e poderíamos precisar de seus serviços. Além disso, francamente, eu não queria Fulton no escuro comigo e com um bando de vampiros. Ele estava simplesmente muito assustado. Eu não o culpava, mas não o queria nas minhas costas também. Evidentemente, se me visse suar e lutar para respirar, talvez não me quisesse lá. Droga. Eu poderia fazer isso. Eu tinha que fazer.
A detetive Tammy Reynolds veio vestida em seu próprio traje. Eles não tinham um grande o bastante para Dolph, por isso ela era a minha segurança armada. Oh, que alegria. Era udo que eu precisava, ter Tammy como minha guarda-costas.
Tammy conseguiu manter seu equipamento no ombro durante a ação. Ela tinha um daqueles coldres que apenas atravessavam os ombros, sem cinto para colocar correias. Quando eu tinha ido ás compras, todos os coldre ficavam mal ajustados em mim. Parte do problema é ter ombros estreitos. Eu teria que cortar o coldre para ajustá-lo. Não compro coisas que tenha que me preocupar com isso. Vale para os vestidos também.
Reynolds sorriu para mim.
— Larry está realmente desapontado por não pode vir junto.
— Estou aliviada. — eu disse.
Ela fechou a cara para mim.
— Eu pensei que você quisesse que ele te desse apoio.
— Sim, mas a arma não pode ajudá-lo se o teto cair em cima de nós.
— Você pensa que vai? — perguntou ela.
Eu dei de ombros. Gostaria de ficar concentrada nos pequenos detalhes, provocando a calma de Wren. Eu não consegui me concentrar no pensamento de que estávamos prestes a atravessar um piso que poderia entrar em colapso e cair, então caminhe com ele e espere desmoronar em cima de nós, ao vadear através da água cheia de caixões e vampiros. O que poderia ser melhor?
— Vamos apenas dizer que eu sou cautelosa.
— E você não quer que Larry corra o risco.
— Está correto. Não gosto da idéia de Larry se machucar, por qualquer coisa. — Olhei para ela quando disse isso.
Ela piscou os olhos castanhos para mim, então sorriu.
— Nem eu, Anita, nem eu.
Eu concordei e a deixei ir. Eu tinha feito a minha parte como mãe. Não estava mesmo certa do porque eu não confiava em Tammy. Intuição feminina, ou talvez eu apenas não confiasse em ninguém mais. Talvez.
Tucker voltou para nós.
— Tempo esgotado. — Ela olhou para mim.
Concordei. Deixei-a me ajudar a ajustar a máscara no rosto. Fechei os olhos e me concentrei na minha respiração, dentro, fora, dentro, fora. No mergulho se respirava muito rápido, você pode explodir seus pulmões. Agora era apenas uma maneira de manter-se hiperventilando.
Ela colocou a capa do traje ao longo da minha cabeça. Eu a vi fazer isso e sabia que meus olhos estavam um pouco arregalados.
A voz alegre de Wren veio pelo rádio na máscara.
— Respire normalmente, Anita.
— Estou respirando normalmente. — eu disse. Soou estranho ser capaz de falar normalmente enquanto minha própria respiração estava ofegante, forte e ameaçadora em meus ouvidos. Com um regulador, você não podia falar, mas aprendi que você pode gritar com um regulador entre os dentes cerrados. Soa como um eco filho de uma puta debaixo de água.
Com o capacete sobre a máscara, a visibilidade não era a melhor. Eu pratiquei virando minha cabeça, vendo o quão grande eram os pontos cegos. Minha visão periférica quase desapareceu.
A voz de Tammy veio pelo rádio.
— É difícil ver com essa coisa.
— Você vai se acostumar com isso. — afirmou Tucker.
— Eu espero não ficar lá embaixo tempo suficiente para me acostumar. — eu disse.
— Se dissermos pra correr,corra como nunca. — afirmou Tucker.
— O piso cai como espeleologia, certo?— Eu disse.
Eu acho que ela concordou, mas era difícil dizer através das camadas de roupa.
— Certo.
— Tudo bem, mas quando chegamos aos degraus, tenho de assumir a liderança, e se eu disser “corra como nunca”, isso significa que os vampiros vão comer.
Wren e Tucker trocaram olhares.
— Apenas nos diga para correr — Wren disse, — vamos pedir rapidez.
— De acordo. — afirmou Tucker.
— Grande. — eu disse. Sinceramente, não era um maldito alívio ter que discutir com ninguém. Em um debate seria um alívio. Se eu tivesse que transpirar não seria como um porco, ouvindo a minha própria respiração ecoando horrivelmente como o conto Fabula do Coração , tendo que reaprender a andar em botas revestidas de metal, eu teria dito que trabalhar com o corpo de bombeiros era uma falha. Mas não era. Eu preferia descer em cordas de rapel com as forças especiais em uma zona de fogo livre do que vacilar ao longo de uma múmia tentando não perdê-la. Era apenas uma fobia, caramba. Não havia nada errado. Nada estava me machucando. Meu corpo não acreditava na lógica. As fobias são assim. A razão não as move.
Wren pisou no chão. Ele fez um barulho parecido com o gemido de um gigante em seu sono. Ele congelou, em seguida, pisou os pés com tanta força que pensei que meu coração sairia pela boca.
— Não deveríamos ser mais silenciosos? Eu perguntei.
A voz de Wren veio em meu ouvido.
— Ande exatamente onde eu ando. Não desvie, não saia do caminho.
— Por quê? — Eu perguntei.
— Porque onde estou andando o chão é sólido, mas não significa que é sólido em qualquer outro lugar.
— Oh. — eu disse.
Fui atrás de Wren, então tive a impressão de estar dançando um pouco. Não era reconfortante. Tucker vinha atrás de mim, então a Detetive Reynolds era a última.
Eu tinha dado a todos uma cruz para colocar no bolso de seus trajes. Por que todos não estavam vestindos como eu? Porque Tucker e Wren estavam carregando um maço de sacos de corpos opacos cada. O plano era colocar o vampiros nos sacos e levá-los de volta dentro de uma ambulância em sacos de corpos que seria seguro até o anoitecer. Se nós os retirássemos antes da hora limite e entrassem em colapso antes da escuridão, eu ficaria chateada. Se o teto não caísse enquanto estivéssemos aqui e pudéssemos passar, tudo ficaria bem.


Eu andava por onde ele ia, religiosamente. Embora eu tivesse que dizer,
— Mesmo fora deste traje meus passos não são tão grandes como o seu. No traje estou amaldiçoadamente perto de parecer uma aleijada. Posso dar pequenos passos?
— Só enquanto seus passos se alinham aos meus, sim. — disse Wren.
Socorro. O chão estava coberto de detritos. Unhas estavam em todos os quadros pintados de preto. Eu entendi o metal nas palmilhas agora. Fiquei grata por eles, mas isso não tornava mais fácil andar aqui dentro.
Havia um cano descendo em um buraco no chão . Era um tubo de sucção rígido ligado a uma bomba a alguma distância. Eles estavam drenando a água para fora do porão. Se o lugar era à prova d'água, poderia estar cheio até o teto. Pensamento confortante.
Fulton tinha enviado com tanques de ar para a água. Ele parecia estar tratando o vampirismo como uma doença contagiosa. Era contagiosa, mas não da maneira que ele parecia pensar. Mas ele era um Comandante de Ocorrência. Eu estava aprendendo que esse título se equiparava a Deus, em uma cena de incêndio. Você não pode argumentar com Deus. Você poderia ficar bravo com ele, mas isso não muda nada.
Me concentrei em mover meus pés. Vigiando os escombros. Pisando nos passos de Wren. Eu deixei as imagens mundo a distância, me concentrando apenas em avançar. Eu estava ciente do sol batendo lá em baixo, o suor escorrendo pela minha espinha, mas era tudo distante. Não havia nada, apenas seguir em frente, sem pensar. Minha respiração estava normal quando cruzei em volta de Wren.
Eu congelei, com medo de se mover. Tinha algo de errado?
— O que foi? — Eu perguntei.
— As escadas. — disse ele.
Oh, eu pensei. Era para eu assumir a liderança agora. Eu não estava pronta. Sinceramente, não tinha certeza se poderia andar pelas escadas com a droga do traje. Eu só não havia avaliado quão difícil seria para andar na mesma.
— A escada é a parte mais perigosas de um prédio como este. — disse Wren. — Se alguma coisa desabar primeiro, será ela.
— Você está tentando nos fazer sentir melhor? — Reynolds perguntou.
— Apenas preparando vocês. — disse ele.— Vou testar os primeiros degraus. Se parecer sólido, vou voltar e deixar a Blake tomar a frente. — Ele não estava brincando mais. Ele era o comandante do negócio, e nós estávamos, de repente, numa base.
— Vejo um corpo nos degraus. — disse ele. Ele deu o primeiro passo, pisou duro o suficiente pra que eu pulasse.
O corpo na escada era negro, parecia carvão. A boca estava aberta num grito mudo. Você tinha que olhar mais atentamente para ver os dentes. Presas de vampiros simplesmente não são assim tão grandes. Os tendões estavam esticados nus olhando como eles se fossem arrebemtar se tocados. O corpo parecia frágil, como se com um toque virasse pó. Lembrei-me de Larry e do crânio, que tinha virado pó ao seu toque. Este corpo parecia mais resistente do que isso, mas não muito. Poderia estar vivo? Havia alguma faísca dentro dele que com o anoitecer o deixaria vivo? Eu não sabia. Deveria ter se queimado na luz do sol, não importa quanta água se derramou sobre ele.
A voz de Wren me assustou.
— Você pode tomar a liderança agora, Anita.
Olhei e encontrei vários degraus, Wren abaixo, quase na metade. A escuridão abaixo se derramava em torno de seus pés, como uma piscina. Ele foi longe o suficiente para que um vampiro realmente ambicioso pudesse agarrar sua perna e o puxar para baixo. Eu não estava concentrada. Minha culpa.
— Volte pra cima, Wren. — eu disse.
Ele fez, e era indiferente ao perigo possível. Maldição.
— A escada é de concreto, o que a torna mais segura. Você deve ficar bem.
— Eu ainda tenho que vibrar a cada passo?
— Seria mais seguro. — disse ele.
— Se eu sentir que vai cair, quer que eu grite?
— Sim. — disse ele. Passou por mim.
Olhei para as profundezas.
— Eu preciso de ajuda nesta ação. Estou segurando a arma. Não tenho como segurar a lanterna. eu disse.
— Eu posso tentar acender uma luz na sua frente, mas não será sempre que você precisar.
— Não se preocupe com isso, a menos que eu peça. — Levei mais de um minuto, talvez dois, para pegar a Browning de meu bolso. A arma estava definitivamente em uma mão. Eu tinha que usar as duas mãos, desativei a trava de segurança. Nunca teria segurado uma arma como esta normalmente. Mas o meu dedo com a luva não queria caber no gatilho. Eu estava pronta para ir agora. Se colocasse a segurança em primeiro lugar, nunca daria um tiro a tempo. Eu tinha praticado com luvas de inverno, mas nunca sonhei em ter que atirar em vampiros usando um traje desses. Inferno, eu não sabia o que um traje Haz-Mat era até hoje.
— Por que a demora? Era a voz de Fulton. Tinha esquecido que controlava tudo o que dizíamos. Como se nos espionasse.
— Essas drogas de luvas não são feitas exatamente para fotografar.
— O que isso significa? — ele perguntou.
— Isso significa que, estou pronta para descer agora. — eu disse.
Mantive a Browning apontada para cima e um pouco para frente. Se eu caísse no traje e acidentalmente disparasse um tiro, tentaria arduamente não atirar em ninguém atrás de mim. Gostaria de saber se a Detetive Tammy tinha sua arma. Gostaria de saber o quão boa ela era com um tiro. Como seria em uma emergência? Eu fiz uma pequena oração para não descobrir, ter um controle sobre a morte, e dei o primeiro passo. Ela não caiu. Olhei em frente para a escuridão espessa no meio da escada. A luz solar cortava a escuridão como uma faca.
— Aqui vamos nós meninos e meninas. — eu disse. E para baixo nós fomos.

 

 

 

 


CAPÍTULO 46

A água batia nos últimos degraus. O porão tinha se transformado em um lago. A lanterna de Wren passou sobre a água escura, como um holofote minúsculo. A água era uma escuridão contínua, mantendo todos os seus segredos estreita e calma. Um caixão flutuava cerca de dez metros da escada, flutuando suavemente na água escura.
Mesmo durante o chiado e o barulho da minha própria respiração, eu podia ouvir o marulhar da água. Havia o som da fricção da madeira, como barcos amarrados em uma doca. Apontei e a luz de Wren seguiu minha mão. Dois caixões estavam batendo um contra o outro, perto da parede do fundo.
— Três caixões visíveis, mas deve haver mais quatro. Um para o guardião, um para o vampiro na escada, e mais dois.
Desci os últimos degraus para a água. Mesmo com o traje podia sentir o líquido como uma frieza distante, um peso líquido no meu tornozelo. A sensação da água era suficiente para acelerar a minha respiração, deixar meu coração batendo na minha garganta.
— Você está hiperventilando. — disse Wren. — Acalme sua respiração.
Eu respirei fundo e deixei o ar sair lentamente, contando para torná-lo mais lento. Uma contagem de quinze anos, em seguida, uma outra respiração.
— Você está bem? — ele perguntou.
— O que está acontecendo?— Fulton perguntou.
— Nada. — disse Wren.
— Estou bem. — eu disse.
— O que está acontecendo? — Fulton, disse.
— Estão faltando quatro caixões. Dois poderiam ter afundado, mas ainda temos dois desaparecidos. Basta saber onde eles estão. — eu disse.
— Cuidado lá em baixo, — disse ele.
— Como uma virgem em sua noite de núpcias. — sussurrei.
Alguém riu. É sempre bom ser divertido.
Eu tentei pisar no próximo degrau, joelhos na água, e os meus pés escorregaram. De repente estava deslizando, só o corrimão me impedindo de ir para baixo. Sentei-me na água até o queixo, me sentindo estúpida e com medo. Uma combinação que eu não apreciava.
Wren veio ficar em cima de mim, a luz deslizando sobre a água, enquanto me ajudava a ficar de pé. Eu precisava de ajuda. Levantei a Browning pingando água para a luz.
— Será que arma não vai mais fazer o seu trabalho agora? — ele perguntou.
— Eu poderia atear fogo debaixo d'água e ele continuaria a trabalhar — eu disse.
Eu ainda me espanta como muitas pessoas pensavam que uma arma ficaria arruinada com um pouco de água. Você tem que limpar muito bem depois, mas durante o trabalho a água não interferia. Os dias de manter a pólvora seca terminaram a muito tempo.
Me equilibrei nos degraus restantes e deslizei lentamente para baixo na água fria. Minha respiração aumentou e se tornou irregular. Foda-se, eu estava com medo. Surpresa na água, poderia pegar a lanterna em um dos bolsos, ou poderia ter colocado uma das armas no saco nas minhas costas. Mas antes que eu começasse a mudar, deixaria a Detetive Tammy descer aqui com a sua arma para me cobrir. Eu ainda não sabia como ela era boa, mas era melhor que nada.
A água estava em torno da parte superior do meu tórax. Andei com muito cuidado, nadando mais do que andando, segurando as armas nas duas mãos e pronto. Ou tão pronta como se pode estar flutuando em um traje emprestado de astronauta.
Eu não gostava do fato de que faltavam dois caixões com vampiros dentro deles. Provavelmente apenas afundaram, mas o meu estomago estava tenso, à espera de mãos deslizando sobre meus tornozelos, e arrancando-me do traje. Meu pé encostou em algo sólido, e eu não podia respirar por um segundo. Meu pé bateu contra ele. Um quadro, talvez. Acho que mesmo o vampiros tem porcarias como o resto de nós.
— Tenho alguns destroços aqui. — eu disse.
— Você parece um bombeiro de verdade. — disse Wren.
— Caixão? — A Detetive Tammy perguntou nos degraus. Ela caiu na água.
— Não, apenas uma lata de algum tipo.
O caixão estava flutuando para mim. Nenhum esforço. Eu coloquei uma mão para tocá-lo, mantendo-o flutuando suavemente nas pequenas ondas.
— Quando Wren e Tucker chegarem até o caixão, eu vou para trás. Me cubra quando eu tirar a espingarda.
— É isso aí. — disse Tammy. Ela segurava sua lanterna e a arma nas duas mãos, uma acima da outra, para que a luz mudasse com o cano de sua arma. Ela estava varrendo a água com o movimento. Basta vê-la pra ver a tensão nos ombros aliviar um pouco.
— Não abra o caixão até que eu esteja pronta. — eu disse. Levei um momento para perceber que não estava preocupada com a minha respiração. A proximidade sufocante havia diminuído sob a adrenalina pura de estar mergulhada na água com vampiros ao redor. Eu poderia ser fóbica depois, nós sobrevivemos.
Wren e Tucker estavam cada um em uma extremidade do caixão. Mesmo eles estavam tendo problemas para se mover na água com o traje completo.
— Estou pegando a espingarda agora, Reynolds.
— Você está coberta. — disse ela.
Eu recuei e puxei o saco em volta. Levei um momento para decidir se tentava colocar a Browning de volta no bolso da calça ou na bolsa, onde a arma estava agora. Escolhi o saco. Mantive o saco na frente, porém, onde eu poderia colocar uma mão caso precisasse da arma. Balancei a espingarda ao redor, colocando o cabo contra o meu ombro. Me preparei tanto quanto poderia, na água e disse:
— Abra.
Tucker estabilizou, e Wren balançou a tampa traseira. Ele cruzou a linha de fogo, enquanto fez isso.
— Você passou pela minha linha de visão, Wren.
— O quê?
— Mova-se para a direita. — eu disse.
Ele fez isso sem mais perguntas, mas um atraso poderia ter sido suficiente para deixá-lo ferido ou morto. O vampiro estava deitado de costas, cabelos longos espalhados em torno de seu rosto pálido, uma das mãos entrelaçadas sobre o peito como uma criança dormindo.
— Posso movê-lo? — Wren perguntou.
— Fique fora de minha linha de fogo e pode fazer o que quiser. — eu disse.
— Desculpe. — disse ele. Mesmo no microfone parecia envergonhado.
Eu não tinha tempo para acalmar seu ego. Estava muito ocupada olhando para os vampiros. Eu mantive a minha atenção, principalmente no caixão aberto, mas não tinha a visão periférica no processo. Minha audição foi reduzida à metade ou mais. Eu me sentia totalmente despreparada.
— Por que nossas cruzes não estão ardendo? — Reynolds perguntou atrás de mim.
— Não tem fulgor em torno dos corpos. — eu disse.
Wren e Tucker estavam tendo problemas para colocar o corpo dentro do saco. Wren, finalmente, jogou o corpo em um ombro e Tucker começou contorcendo as pernas dentro do saco. O vampiro estava totalmente mole em volta de Wren. Seus longos cabelos arrastado para dentro da água, tornando-se negro quando foi absorvido pela água. Quando ele entrou no saco, eu tive um vislumbre de sua morte, cara pálida, fios de cabelo molhado agarrados a ele, como uma vítima de afogamento.
Tucker fechou o saco e disse:
— Há água no saco. Não sei como evitá-la.
Wren tinha o corpo tão equilibrado quanto podia e partiu para a escada.
— Isso vai levar um longo tempo com apenas dois de nós. — disse ele.
A voz de Fulton veio pelo rádio.
— Temos mais dois trajes, Senhora Blake. É seguro enviar mais homens para baixo?
— Falando como um dos bodes expiatórios — eu disse — sim. Por que devemos ter todo o divertimento?
Wren chegou a escada e começou a subir, uma mão no corrimão. Ele tentou pisotear o degrau como fizemos no caminho para baixo e quase caiu dentro da água.
— Eu apenas estou subindo as escadas. Se ela cair, tentarei não me deixar enterrar até que o meu ar se esgote.
— Faremos o nosso melhor. — eu disse.
— Obrigado. — disse ele, o sarcasmo viajando muito bem ao longo dos microfones.
Tucker tinham isolado um dos outros caixões. Reynolds tentava firmá-la enquanto Tucker começou a empurrar a tampa. Ela não tinha altura suficiente para balançar-lo como Wren fez. Simplesmente empurrou. A tampa do caixão caiu fazendo um som agudo, em voz alta ecoando. O som fez as pontas dos meus dedos formigar.
— Droga. — disse Reynolds.
— Tudo bem? — Fulton perguntou.
— Sim. — eu disse — apenas um pouco nervosa.
— Você está bem aí em baixo, Tucker?— ele perguntou.
— Foi minha culpa. — disse Reynolds. — Desculpe.
O segundo vampiro era do sexo masculino, com cabelos castanhos curtos e uma pitada de sardas agarrados à sua pele branca. Tinha mais de 1,80 mt. Seria mais difícil ainda colocá-lo no saco.
Tucker surgiu com a idéia de arrastar o caixão para as escadas, usando as escadas para ajudar a alavancar o corpo. Parece bom para mim. A parte inferior da escada não estava na luz do sol, assim o vampiro não poderia notar.
Reynolds e Tucker arrastaram o caixão até o pé da escada enquanto Wren voltava para baixo. Ele colocou um saco descompactados ao longo do comprimento do corpo.
— Se Reynolds e Tucker segurarem o caixão, acho que posso apenas rolá-lo no saco.
— Soa como um plano para mim. — afirmou Tucker. Ela deu um passo mais na água.
Reynolds olhou para mim, e eu disse:
— Claro. — Ela se mudou para o outro lado do caixão, a arma não apontava para mais nada, a lanterna fazia feixes na água como uma esfera distante de luz dourada na piscina escura.
Wren se inclinou sobre o corpo para rolá-lo a seu lado.
— Você está na minha linha de visão novamente, Wren, — eu disse.
— Desculpe. — disse ele, mas seus braços eram menos da metade do corpo, rolando-o. Ele não saia do caminho.
— Mova-se, caramba. — eu disse.
— Estou quase colocando-o no saco.
A cabeça do vampiro deu um espasmo. Acontece às vezes até mesmo em seu sono, mas eu não gostava disso agora.
— Deixe-o aí e dê um passo para trás Wren, agora. — Minha cruz e a cruz de Reynolds deflagraram em vida como dois pequenos sóis brancos.
Wren fez o que pedi, mas era tarde demais. O vampiro se voltou contra ele, esticando a boca e dentes. Furou o traje e saiu um forte silvo de ar liberado. Eles estavam muito próximos para confiar na espingarda.
— Reynolds, ele é todo seu. — eu disse.
Wren gritou.
A arma de Reynolds faíscou na escuridão. O vampiro recuou de Wren, um buraco em sua testa. Mas ele não estava morto, ainda não terminou. Os que retornam depois da morte . Atirei em seu rosto pálido. O rosto explodiu em sangue e pedaços de carne; chovia pequenos pedaços pesados na água, com estatelar macio. Ele caiu de costas na tampa do caixão, a cabeça caiu, as mãos ainda tinham espasmos no interior do cetim branco. Pernas que chutavam. Wren caiu de bunda na escada.
Tucker estava dizendo.
— Carriça, Carriça, me responda.
— Estou aqui. — disse ele, a voz rouca. — Eu estou aqui.
Eu desci dois degraus cuidadosamente sobre as escadas cobertas de água e atirei no peito do vampiro, abrindo um buraco nele e na tampa do caixão. Bobeei outra bala na espingarda e disse:
— Suba as escadas, agora!
Eu me ajoelhei perto de Wren, a mão debaixo de seu braço, a outra mão segurando a espingarda. Durante o zumbido nos ouvidos da arma de Reynolds, ouvi Tucker dizer:
— Alguma coisa encostou na minha perna.
— Para fora, agora! — Eu tentei forçá-los a subir as escadas com a minha voz. Arrastei Wren e o empurrei para cima nos degraus. Ele não precisava de muito esforço. Quando chegou a luz solar, ele se virou para trás, esperando pelo resto de nós.
Reynolds estava quase conosco. Dois braços molhados subiram em ambos os lados de Tucker.
Eu gritei.
— Tucker!
Os braços se fecharam e de repente ela estava no ar, caindo sob a água. A água se fechou sobre ela como um punho preto. Não houve tempo para atirar.
Sua voz era cristalina sobre o rádio, a respiração irregular. Doía ouvir isso.
— Wren, me ajude!
Eu desci as escadas, caindo na água, deixando o negrume perto de mim. Minha cruz queimava através da água como um farol. Eu vi um movimento, mas não tinha certeza se era ela.
Senti o movimento na água antes que dois braços me agarrassem por trás. Dentes rasgaram o traje, com mãos rasgando o capacete como papel molhado. O impacto me lançou na água, e eu deixei. Eu deixei as mãos ansiosas me levar ao redor, até que empurrei a espingarda contra o seu queixo e disparei. Assisti a cabeça desaparecer em uma nuvem de sangue pelo brilho de minha cruz. Eu ainda usava a máscara de respiração, por isso não estava me afogando.
Os gritos de Tucker eram contínuos agora. Seus gritos estavam por toda parte, no rádio, na água, ecoando e constante.
Levantei-me, os restos do traje escorregando pelo meu corpo. Eu perdi alguns dos ecos dos gritos de Tucker. A água estava conduzindo os gritos como um amplificador.
Reynolds e Wren estavam na água. Uma péssima idéia. Ele estava tentando pegar algo, e eu vi. O traje Haz-Mat de Tucker estava flutuando no outro lado do porão. Ele se jogou na água tentando nadar para ela. Reynolds tentava ficar com ele, arma na mão. Sua cruz era extremamente brilhante.
Eu gritava no rádio:
— Todo mundo fora! Fora, caramba, fora! — Ninguém ouvia.
Os gritos de Tucker pararam abruptamente. Todo mundo gritou mais. Todos, menos eu. Fiquei tranquila. A gritaria não ajudaria. Havia pelo menos três vampiros aqui conosco. Três assombrações. Morreríamos se ficássemos por aqui.
O vampiro explodiu para fora da água na minha frente. A arma disparou antes que eu percebesse que tinha feito isso. O peito do vampiro explodiu, e ele me agarrou de qualquer maneira. Eu tive tempo para apontar a espingarda, mas não ao fogo. Em momentos como esse o mundo é demasiado fácil e demasiado lento. Você não pode evitar que nada aconteça, mas pode ver tudo nos mínimos detalhes. Os dedos do vampiro afundaram em meus ombros, dolorosamente apertado, segurando-me enquanto recuava um pouco. Tive um vislumbre de presas emolduradas por uma barba escura. Minha cruz brilhava freneticamente, enfrentando o vampiro como uma lanterna de Halloween. Atirei a espingarda para cima, sob o queixo, não havia tempo para bloquear, apenas para puxar o gatilho. A cabeça explodiu em uma chuva vermelha por toda a minha máscara. Eu estava cega pelo sangue e outras coisas mais grossas. O coice da espingarda me fez sentar na água. Comecei a andar sem saber se a coisa ainda estava vindo ou se estava morto.
Esforcei-me para chegar a superfície. A água tinha limpado parcialmente a máscara facial do sangue, mas as coisas mais pesadas se agarravam a ela, então eu ainda estava cega. Eu tirei a máscara estúpida do meu rosto, perdi o rádio, mas ganhei a minha visão.
O vampiro estava flutuando na minha frente, o rosto não estava virado para baixo ou para cima. Ele não tinha mais rosto. Bom.
Quando a arma de Reynolds disparou, os tiros soaram estranho, e percebi que estava surda, disparei a espingarda. O corpo do vampiro reagiu à bala, cambaleando, mas não parou. Ela atirava em todo o seu corpo e mesmo assim ele continuou avançando.
Eu gritei,
— Atire na cabeça.
Ela levantou a arma, e a arma clicou vazia. Acho que ela estava indo pegar munição extra no bolso, quando a coisa saltou em cima dela e ambos desapareceram na água.
Tirei o que restava do traje. Mesmo com as articulações vedadas ela saiu facilmente. Troquei as mãos para manter a espingarda e mergulhei na água. Eu nadava o mais rápido que podia, e se havia alguma coisa tentando me pegar, pegaria agora. A cruz iluminou o meu caminho como um farol. Mas foi para o brilho da cruz de Reynolds que eu nadei. Esse era o meu farol.
Eu tinha segundos para chegar até ela ou estaria tudo acabado. Tive uma sensação de movimento um segundo antes do vampiro passar e bater em mim. Eu me virei, comecei a apontar a arma para ele, mas ele agarrou a arma. Acho que foi apenas pegar alguma coisa, mas ele tomou a arma da minha mão e agarrou-me.
Ela estava quase bonita com seu rosto pálido e seus longos cabelos para trás como uma sereia saído de um conto de fadas. A cruz fazia sua pele brilhar quando chegou perto de mim. Eu tinha uma faca pronta e a empurrei debaixo do seu queixo. Ela escorregou com facilidade, mas não chegou ao cérebro. Não foi um golpe mortal, ainda não terminou. Ela estava na água, as mãos agarrando a faca. Acho que não foi de dor. Ela simplesmente não podia abrir a boca para se alimentar.
Enfiei a segunda lâmina em suas costelas, acima em seu coração. O corpo dela estremeceu, olhos incrivelmente amplos. Sua boca aberta o suficiente para que eu visse minha faca a empalar. Ela gritou sem dizer uma palavra e me bateu com as costas da mão. A única coisa que me impedia de ser transportada por via aérea era a água que absorveu uma parte do impacto. Eu caí para trás, e a água se fechou sobre mim. Flutuei por um segundo, eu tentava respirar, engolindo um bocado de água e tentando achar apoio para meus pés, eu estava tossindo e afundando. Fiquei em pé e senti algo quente no meu rosto que não era a água. Eu estava sangrando. Minha visão estava ficando cinzenta, com pequenas flores branca.
A vampira ainda estava vindo para mim, com minhas últimas duas facas em seu corpo. Não havia mais gritos do outro lado da sala. Eu não podia ver tão longe, só podia significar uma coisa. Reynolds, Wren, e Tucker estavam mortos.
Eu estava observando a água. Tropecei em algo e caí, a água derramava sobre mim. Era difícil andar, eu estava mais lenta. Eu tropecei no traje Haz-Mat e o saco com a Browning estava nele. Minha visão estava cheia de buracos. Era como ver a vampira através de uma luz estroboscópica. Fechei os olhos, mas as flores brancas comiam a parte de trás das minhas pálpebras. Me deixei afundar na água e encontrei o saco no meu pé. Eu estava prendendo minha respiração, ou simplesmente parei de respirar? Eu não conseguia me lembrar. Eu peguei a Browning sem abrir os olhos. Não precisava enxergar para usar as armas.
Ela pegou um punhado do meu cabelo e me arrastou para a superfície. Eu atirei enquanto vinha para cima, abrindo buracos em seu corpo como um zíper até que cheguei preto de seu rosto pálido. Ela pôs a mão para fora, sobre o cano da arma, e essa mão delicada explodiu em pedaços de ossos, um coto sangrento. Atirei no rosto que era uma ruína vermelha e fiquei surda dos dois ouvidos.
A vampira caiu de costas na água, deslizou de joelhos. A água despejada sobre mim. Tentei empurrá-la para a superfície novamente e não consegui. Acho que tinha uma última golfada de ar, em seguida, cinza e manchas brancas estavam por toda parte. Não podia ver o brilho da cruz ou à água escura. Quando a escuridão engoliu minha visão, era lisa e perfeita. Por um momento eu flutuei, uma escuridão atravessou, eu deveria estar com medo, então nada.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 47

Acordei na grama onde Caroline e eu estávamos sentadas. Vomitando água e a bílis, me sentindo como uma droga, mas viva. Quase tão bom foi ver a Detetive Tammy Reynolds em pé em cima de mim, observando o trabalho dos médicos. Seu braço estava enfaixado e ela estava chorando. Então, nada como alguém que mudou de canal, e eu acordei com um show diferente.
Sabia que estava no hospital neste momento, tinha medo de ter sonhado com Reynolds e que ela estivesse realmente morta. Larry estava sentado em uma cadeira perto da minha cama, a cabeça para trás, dormindo ou nocauteado por analgésicos. Eu levei a sua presença como um sinal de que eu não tinha alucinado com Reynolds. Se a sua querida tivesse morrido, acho que ele não estaria sentado aqui, pelo menos, não dormindo.
Ele piscou ao acordar, os olhos sem foco, por causa das drogas eu acho.
— Como você está?
— Você me diz.
Ele sorriu, tentou se levantar e teve que respirar profundamente antes que pudesse fazê-lo.
— Se eu não estivesse ferido, estaria ajudando Tammy a resgatar os vampiros agora.
Algo bateu forte no meu peito.
— Ela está viva, então. Eu pensei que estava sonhando.
Ele piscou para mim.
— Sim, ela está viva. Então Wren está....
— Como?
Ele sorriu para mim.
— Um vampiro conhecido como Viajante parece ser capaz de habitar corpos de outros vampiros. Ele disse que é um membro de seu Conselho e que está aqui para ajudar. Diz que você recrutou a ajuda dele. — Larry estava me observando bem de perto, os analgésicos deslizando longe de seus olhos quando tentou me tirar toda a verdade.
— É essencialmente isto. — eu disse.
— Ele assumiu o corpo do vampiro que estava atacando Tammy e Wren. Salvou-os. Reynolds enfiou o braço na boca do vampiro, e o quebrou, mas vai sarar.
— O que aconteceu com Wren?
— Ele está bem, mas está sendo discriminado pela Tucker por não conseguir salvá-la.
— Ela não fez isso. — eu disse.
Ele balançou a cabeça.
— Ela estava toda rasgada, quase a partiram ao meio. Tudo o que a estava segurando era seu traje Haz-Mat.
— Então ele não participou do resgate dela — eu disse.
— O vampiro fez todo o trabalho. — disse ele. — Resgatou o corpo de Tucker, mas não conseguiu tirar os outros vampiros. Eles ainda estão lá embaixo.
Olhei para ele.
— Deixe-me adivinhar, o teto cedeu?
— Nem cinco minutos depois de puxar o corpo de Tucker para fora, e colocá-la sobre a grama, a coisa toda aconteceu. O corpo do vampiro que o Viajante estava usando começou a queimar. Eu nunca tinha visto um deles queimar. Foi impressionante e assustador. Os escombros cobriram os vampiros. Os bombeiros não podiam escavar antes do anoitecer, porque que eles ficariam expostos ao sol novamente. Eles teriam que cavar o seu próprio caminho, enquanto os bombeiros ainda estavam começando.
— O Viajante sofreu algum ataque?— Eu perguntei.
Larry balançou a cabeça.
— Ele parecia muito calmo.
— Você estava lá?
— Sim.
Eu o deixei ir. No sentido de se preocupar sobre o que poderia ter acontecido se o vampiro tivesse agarrado seu caminho para a liberdade chateado. Também achei muito interessante que o Viajante não pudesse suportar a luz solar, Warrick podia. Sobreviver a luz solar, mesmo à luz fraca, era o mais raro dos talentos entre os mortos-vivos. Ou talvez Warrick estivesse certo. Talvez fosse a graça de Deus. Quem era eu para saber?
— É minha imaginação, ou você está se movendo melhor, com menos dor? — Eu perguntei.
— Já se passou mais de vinte e quatro horas. Estou começando a me curar.
— Como é?— Eu disse.
— Você esteve fora do ar por mais um dia. É domingo à tarde.
— Droga.— eu disse. E se Jean-Claude se reuniu com o Conselho sem mim? Tinha o jantar, qualquer que fosse, já aconteceu? — Droga — eu disse de novo.
Ainda carrancudo, ele disse:
— Eu tenho uma mensagem do Viajante para você. Me diga por que de repente você parece tão assustada e eu darei a você.
— Vamos diga-me, Larry, por favor.
Ainda carrancudo, ele disse:
— O jantar foi adiado até que você se sentisse bem o suficiente para comparecer.
Eu caí de volta contra os travesseiros e não conseguia manter a isenção do meu rosto, do meu corpo.
— Que diabos está acontecendo, Anita?
Talvez fosse o abalo, ou o fato de que eu não gostava de mentir para Larry cara a cara. Fosse o que fosse, eu lhe disse a verdade. Contei-lhe tudo. Contei-lhe sobre Richard e as marcas. Ele sabia sobre isso, mas não o que eu tinha descoberto recentemente. Deixei de fora algumas coisas, mas não muito. Quando eu terminei, ele estava sentado na cadeira me olhando atordoado.
— Bem, diga alguma coisa.
Ele balançou a cabeça.
— Santa Maria Mãe de Deus, eu não sei por onde começar. Jean-Claude tinha uma conferência de imprensa ontem à noite com o Viajante ao seu lado. Falaram sobre os vampiros e a unidade humana em face deste acontecimento terrível.
— O Viajante usou o corpo de quem? — Eu perguntei.
Larry estremeceu.
— Essa é uma das potências vampíricas mais arrepiantes eu já vi. Ele usou algum vampiro da Igreja de Malcolm. Ele foi na conferência de imprensa também. O Viajante usou seus poderes para ajudar a salvar os outros vampiros, incluindo Malcolm.
— Quem agiu como interprete quando o sol nasceu? — Eu perguntei.
— Balthasar, seu servo humano.
— Balthasar como funcionário público, isto é assustador. — eu disse.
Larry franziu a testa.
— Ele me disse que tinha uma coisa para o homem com cabelo vermelho. Estava brincando?
Eu ri, e isso fez minha cabeça doer. De repente estava muito consciente de uma crescente dor de cabeça, como se estivesse lá o tempo todo, apenas mascarados pelas drogas. A química moderna, não há substituto.
— Provavelmente não, mas não se preocupe. Você não está no cardápio.
— Quem é?— , Perguntou Larry.
— Eu não sei ainda. Dolph tem tentado descobrir quem está por trás dos atentados e coisas assim?
— Sim. — Ele disse que uma palavra como se fosse o suficiente.
— Diga-me ou eu vou sair desta cama e te machucar.
— Foi o “Primeiro Seres Humanos”. A polícia invadiu a sede mais cedo hoje, temos a maioria dos líderes.
— Isso é maravilhoso. — Eu fiz uma careta, o que fez doer, então fechei meus olhos e disse:
— Como é que os “Primeiros Seres Humanos” sabe onde todos os monstros estavam? Eles atingiram casas particulares, tocas secretas durante o dia. Não deviam saber onde todos estavam.
Eu ouvi a porta aberta, um momento antes de Dolph voz disse,
— Os vampiros tinham um traidor no meio deles.
— Ei, Dolph.
— Ei, é você mesma. É bom te ver acordada.
— É bom estar acordada. — eu disse. — Um traidor?
— Lembra-se de Vicki Pierce e sua pequena cena em Sacrifícios?
— Eu me lembro.
— Ela tinha um namorado que estava com os “Primeiros Seres Humanos”. Ela o entregou quando a questionamos pela segunda vez.
— Por que você fez isso?
— Parece que ela tem pago por sua atribuição de pouca qualidade. Ameaçamos acusá-la por assalto e tentativa de homicídio. Contou tudo rapidinho.
— O que significa que a Srta. Olhos Azuis têm pouco a ver com um vampiro traidor?
— Ela foi namora de Harry, o barman e proprietário do bar Sacrifícios Infernais.
Eu estava confusa.
— Então ele queria por fim a seu negócio com a cena do bar? Por quê dar-se a esse trabalho?
— O namorado humano dela queria lhe pagar para fazer isso. Ela não queria que ele soubesse que estava se encontrando com Harry. E Harry foi junto com ele porque pensou que seria engraçado se fosse um lugar cheio de vampiros, só o negócio possuído não seria atingido pelos fanáticos.
— Então, Harry sabia que ela estava usando as informações para os ataques? — Eu disse. Estava achando difícil de acreditar que qualquer vampiro fizesse isso, muito menos um tão antigo como Harry.
— Ele sabia. Tirou o corte do dinheiro. — Dolph disse.
— Por quê?
— Quando o encontrarmos, vamos perguntar.
— Deixe-me adivinhar. Ele está desaparecido.
Dolph assentiu.
— Não diga a seu namorado, Anita.
— Os vampiros podem ser sua única esperança de capturar Harry agora.
— Mas eles vão entregá-lo para nós, ou matá-lo?
Olhei para fora, não encontrei seus olhos.
— Eles vão ficar bastante chateados.
— Não posso culpá-los por isso, mas eu o quero vivo, Anita. Preciso dele vivo.
— Por quê?
— Nós não conseguimos prender todos os membros do “Primeiro Seres Humanos”. Eu não os quero lá fora, com alguma nova surpresa desagradável esperando.
— Você tem Vicki. Será que ela não lhe disse?
— Ela pediu um advogado, finalmente, e agora desenvolveu uma amnésia repentina.
— Maldição.
— Precisamos dele para nos dizer se há alguma outra surpresa desagradável vindo em nosso caminho.
— Mas você não pode encontrá-lo. — eu disse.
— Isso é certo.
— Você não quer me dizer por causa de Jean-Claude.
— Nos dê vinte e quatro horas para localizar Harry. Se não conseguirmos, então você pode dar essas informações aos vampiros. Antes que eles o matem, tente obter a informação.
— Você fala como se eu fosse estar lá quando ele morrer. — eu disse.
Dolph apenas olhou para mim.
Eu conhecia esse olhar.
— Eu não mato por Jean-Claude, Dolph, não importa o que digam nas ruas.
— Gostaria de acreditar em você Anita. Não sabe o quanto eu desejo acreditar nisso.
Deitei-me contra os travesseiros.
— Acredite no que quiser, Dolph.
Ele saiu em seguida sem outra palavra, como se o que ele quisesse dizer fosse muito doloroso. Dolph continuou empurrando contra nós, contra mim. Eu estava começando a me preocupar que ele continuaria a insistir até que nos deixasse distante. Nós trabalharíamos juntos, mas não poderíamos ser amigos. A dor de cabeça estava piorando, e não eram apenas os medicamentos fora de uso.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


CAPÍTULO 48

Finalmente eu tive alta. Os médicos ficaram espantados com meu poder de recuperação. Se eles soubessem. Pete McKinnon me ligou no final do dia. Ele descobriu que haviam incêndios semelhantes ao do nosso incendiário em Nova Orleans e São Francisco. Levei um momento para me lembrar por que essas cidades eram especialmente importantes. Quando me lembrei, perguntei:
— E Boston?
— Não, sem incêndios, em Boston. Por quê?
Acho que ele não acreditou em mim quando eu disse, “nada”, mas, ao contrário de Dolph, ele deixou passar. Eu não estava pronta para apontar o dedo ao Conselho Vampiro. Só porque o fogo misterioso aconteceu nas cidades visitadas por eles, não significava que tinha que ser eles. Não houve incêndios em Boston. Só porque incêndios misteriosos aconteciam em St. Louis, e o Conselho estava aqui, não prova nada. Sim, e o coelhinho da Páscoa me traz presentes todo ano.
Eu disse a Jean-Claude sobre minhas suspeitas.
— Mas por que o Conselho incendiaria prédios vazios, ma petite? Se um deles pode chamar o fogo em suas mãos, eles não desperdiçariam energia em imóveis vazios. A menos que o imóvel a ser queimado ganhasse alguma coisa.
— Seria por um motivo financeiro? — Eu disse.
Ele deu de ombros.
— Talvez, apesar que um motivo pessoal lhes convenha melhor.
— Eu não posso conseguir mais informações, sem entregar o Conselho às autoridades como suspeitos.
Ele parecia pensar nisso por um segundo ou dois.
— Talvez você pudesse esperar antes de cometer suicídio absoluto por todos nós, até depois de ter sobrevivido essa noite.
— Claro. — eu disse.
A verdadeira escuridão me encontrou na forma de um vestido de veludo preto e curto com um grande decote em V e sem mangas. O laço na cintura do vestido era aberto. Minha pele mostrava-se pálida e seduzida através dele. A meia de alta qualidade realmente estava um pouco acima do meio da coxa, assim como todo o caminho até o topo do laço preto de stretch que roçava a calcinha de cetim preto, com as suas guarnições de renda. A meia era muito grande. Jean-Claude tinha comprado deliberadamente. Eu tentei levantar a perna e tive que concordar que meias maiores ficavam mais bonitas em pernas mais curtas. É uma espécie que enquadrou a área direito. Se tivéssemos planejado atividades extracurriculares, eu teria adorado ver seu rosto quando estivesse sem nada, somente de meias. Como estava, era apenas frustrante, e um pouco assustador.
Eu tinha vetado o salto alto de veludo que ele tinha escolhido. Em vez disso usei minhas botas pretas não tão vistosas. Talvez não seja mais confortável, mas os saltos eram baixos o suficiente para que eu pudesse correr neles, ou levar homens-leopardos desmaiados quando houvesse necessidade.
— Você é a perfeição, ma petite, exceto pelos sapatos.
— Esqueça isso. — eu disse. — Você tem sorte de ter conseguido me vestir. O pensamento de que estou me vestindo para o Conselho e que podem ver minha roupa de baixo é simplesmente assustador.
— Você falou com o Viajante sobre honra e responsabilidade. Bem, hoje nós pagaremos o preço pelos seus leopardos. Está lamentando agora?
Gregory ainda estava amarrado no meu quarto, pálido e frágil, o futuro. Vivian estava escondida em um quarto de hóspedes e só falava em monossílabos.
— Não, eu não me arrependo.
— Então, vamos reunir o resto de nosso grupo e do nosso jeito.
Mas ele não se mexeu. Ficou deitado de bruços sobre o sofá branco, a cabeça descansando sobre as mãos cruzadas. Se alguém tivesse dito outra coisa, eu diria que estava esparramado no sofá, mas Jean-Claude não estava assim. Ele posou, descansava, mas não se esparramava. Estava se espreguiçando, o seu corpo muito esticado, apenas as pontas de suas botas pretas ao longo da borda do sofá
Ele usava a mesma roupa que eu tinha visto antes, mas a repetição não o tornava menos belo. Eu amava suas roupas, adorava vê-lo vestir e despir.
— O que você está pensando? — Eu perguntei.
— Eu queria que ficássemos em casa esta noite. Quero despir um pedaço de roupa de cada vez, desfrutando seu corpo como uma inauguração.
Apenas a sugestão fez meu corpo se contrair.
— Eu também. — eu disse, e me ajoelhei no chão na frente dele. Dobrei a saia curta certinha para não formar rugas nem amassar . Ele não me ensinou isso, minha avó Blake o fez, ao longo de uma vida de serviços de igreja aos domingos, onde parecia mais importante que o sermão.
Eu coloquei meu queixo no sofá perto de seu rosto. Joguei meu cabelo em torno do seu rosto, roçando-o em suas mãos cruzadas.
— Sua roupa intima é tão agradável como a minha? — Eu perguntei.
— Pura seda — disse ele suavemente.
Eu tinha uma memória sensorial tão forte que me fez tremer. A sensação dele através da espessura da seda, a textura quase viva de que o tecido tinha sobre a dureza de seu corpo. Eu tive que fechar os olhos para não deixá-lo ler meu rosto. A imagem era tão viva que me fez cerrar as mãos.
Eu o senti passar um segundo antes que ele beijasse minha testa. Falou com os lábios ainda tocando a minha pele.
— Seus pensamentos te traem, ma petite.
Levantei meu rosto para cima, deslizando os lábios pelo seu rosto. Ele estava totalmente passivo, me movi contra ele, até que nossos lábios se encontraram. Em seguida, ele pressionou sua boca contra a minha, os lábios e a língua trabalhando. Nenhum de nós usando nossas mãos, nos tocando só com nossas bocas. Nossos rostos pressionados juntos.
— Posso interromper? — A voz familiar era tão pesada de raiva que me fez recuar de Jean-Claude.
Richard estava no canto do sofá olhando para nós. Eu não o ouvi subir, Jean-Claude ouviu? Eu estava apostando que sim. De alguma forma, mesmo no auge da paixão, Jean-Claude jamais deixaria alguem pegá-lo de surpresa. Ou talvez eu não achasse que eu era essa distração. Baixa auto-estima, quem eu?
Me sentei sobre meus calcanhares e olhei para Richard. Ele usava um smoking preto, completo com caudas. Seus longos cabelos penteados para trás em um rabo tão apertado que dava a ilusão de cabelo curto. Eu sempre soube que Richard era bonito, mas foi só quando ele se livrou do cabelo que percebi o quanto seu rosto era perfeito. As maças altas do rosto esculpido, a boca cheia. Ele olhou para mim com aquela cara, uma beleza familiar, e parecia arrogante. Ele sabia o efeito que tinha sobre mim, e queria afundar a faca um pouco mais.
Jean-Claude sentou no sofá, com a boca manchada com meu batom. O vermelho tão vivo contra a sua pele pálida, parecia sangue. Passou a língua do lado de fora de sua boca, em seguida, passou o dedo em seu lábio superior, lentamente, até que ficou vermelho. Colocou o dedo na boca e chupou o batom, muito lentamente, muito deliberadamente. Seus olhos estavam em mim, mas o show era para Richard.
Fiquei agradecida por isso, e com raiva. Ele sabia que Richard estava tentando me machucar, então estava machucando Richard. Mas também o estava atraindo, esfregando o proverbial sal na ferida.
O olhar no rosto de Richard era tão cru que eu tive que desviar o olhos.
— Isso é o suficiente, Jean-Claude. — eu disse — é o suficiente.
Jean-Claude parecia divertido.
— Como você quiser, ma petite.
Richard olhou para mim novamente. Encontrei seus olhos. Talvez houvesse alguma coisa no meu rosto que estava muito cru para olhar também. Ele virou-se abruptamente e saiu da sala.
— Vá retocar seu delicioso batom, então temos de sair. — A voz de Jean-Claude mostrava pesar, a maneira que às vezes mostrava alegria, ou sexo.
Peguei sua mão, e a levei lentamente para a minha boca.
— Você ainda está com medo deles, mesmo depois de toda a publicidade positiva? Certamente se estivessem planejando nos matar, não teriam aparecido nas câmeras com você. — Toquei sua perna, correndo os dedos sobre o tecido, sentindo a coxa embaixo. — O Viajante apertou as mãos do prefeito de Sant Louis, pelo amor de Deus.
Ele tocou a minha cara, segurando meu rosto em sua mão.
— O Conselho nunca antes tentou ser o que vocês chamariam de mainstream. É sua primeira incursão em uma arena muito nova. Mas eles foram um pesadelo por milhares de anos, ma petite. Um único dia da política humana não os transformará em outra coisa.
— Mas...
Ele tocou os dedos em meus lábios.
— É um bom sinal, ma petite. Eu concordo, mas você não os conhece como eu. Você não os viu em seu pior momento.
Minha mente se lembrou do corpo de Rafael, cru e sangrento; a flacidez de Sylvie desmaiada e algemada, sua voz pequena e quebrada, a visão de Fernando com Vivian.
— Eu os vi fazer coisas terríveis, assim que chegaram na cidade. — eu disse. — Você definiu as regras, Jean-Claude. Eles não podem nos mutilar, violar, ou nos matar. O que resta?
Ele me beijou levemente na boca, e ficou de pé, oferecendo-me a mão. Aceitei e fiquei de pé. Ele estava usando sua máscara divertida, o que uma vez eu pensei que era seu rosto normal. Agora eu sabia o que significava, ele estava escondendo as coisas. Ele sempre fazia isso quando estava com medo e não queria que as pessoas soubessem.
— Você está me assustando. — eu disse suavemente.
Ele sorriu.
— Não, ma petite, eles vão fazer isso por mim, por todos nós. — Com esse comentário reconfortante, saímos para procurar os outros. Peguei minha bolsa e o batom. O Conselho havia estabelecido algumas condições próprias. Sem armas. Era por isso que eu estava vestida assim, um olhar era suficiente para saber que eu não estava carregando nada. Jean-Claude pensou que isto seria uma desculpa oportuna para mim. Quando perguntei o que era o grande negócio, tudo que ele disse foi:
— Você não quer lhes dar nenhuma razão para te tocarem, ma petite. Confie em mim.
Eu não confiava nele. Não queria ninguém do Conselho me tocando, nunca. Ia ser uma noite longa.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 49
O que uma vez tinha sido a sala do trono de Jean Claude e Nikolaos antes disso, foi transformada em uma sala de banquete. Encontraram uma mesa com dez metros de comprimento. Os pés da mesa tinham bocas de leões esculpidos em relevo. A toalha era grossa com bordados de ouro que brilhavam sob a luz que cobria a mesa. Se tinham algum significado para comer, eu estava preocupada que éramos escória, mas não havia comida. Não havia cadeiras. Não havia pratos. Havia guardanapos de linho branco, com anéis de ouro, taças de cristal, e um aquecedor de tamanho industrial com chamas de gás azul sob sua superfície brilhante. Havia um homem pendurado pelos pulsos, pés balançando impotente sobre a mesa brilhando. Ele estava pendurado diretamente sobre o aquecimento da panela vazia. Seu nome era Ernie. Seu corpo musculoso superior estava nu. Uma parte da mordaça em seu rosto, prendia parte de seu longo rabo de cavalo. Seu cabelo estava raspado dos dois lados do rosto. O conselho não tinha feito isso como tortura. Ele tinha feito para si mesmo. Era um dos mais novos cabides de Jean-Claude, um homem que queria ser vampiro e estava cumprindo seu aprendizado atuando como uma espécie de empregada doméstica e servente. Agora, aparentemente, ele era o aperitivo.
Richard, Jean-Claude, e eu estávamos com Jamil, Damian e Jason, e surpreendentemente com Rafael nas nossas costas. O Rei Rato insistiu em nos acompanhar. Eu não tinha discutido muito. Fomos autorizados levar uma pessoa pra cada convidado exceto Jason . Yvette o requisitou especialmente. Ao levá-lo ganhamos um lobisomem, mas seus olhos azuis estavam arregalados e sua respiração um pouco rápida demais. Foi idéia de Yvette levar Jason pro inferno, e o inferno tinha enviado um convite.
Ernie olhou para todos nós, chutando os pés e lutando, tentando falar com a mordaça. Acho que ele estava tentando dizer “Deçam-me”, mas eu não poderia jurar que eram essas palavras.
— Qual é o sentido disso? — disse Jean-Claude. Sua voz encheu a sala enorme, ecoando e caindo até que as sombras trouxeram suas duras palavras de volta com ecos sibilantes.
Padma saiu do corredor. Ele usava um terno que reluzia como ouro, como a toalha. Estava mesmo usando um turbante dourado, com penas de pavão e uma safira maior que meu polegar. Ele parecia alguém que tinha saído da carcaça de um marajá.
— Você não nos ofereceu hospitalidade, Jean-Claude. Malcolm e seu povo nos ofereceram um refresco. Mas você, o Mestre da Cidade, não no ofereceu nada. — Apontou para Ernie. — Ele entrou sem a nossa permissão. Ele disse que era seu.
Jean-Claude caminhou até ele e parou junto à mesa onde poderia olhar para o rosto de Ernie.
— Você chegou em casa dois dias antes de sua visita a família. Da próxima vez, se houver uma próxima vez, chame-me primeiro
Ernie olhou para ele, olhos arregalados, fazendo pequenos sons através da mordaça. Ele chutou suas pernas o suficiente para que começasse a balançar.
— Lutando fará apenas seus ombros doem mais. — disse Jean-Claude. — Esteja em paz. — Assim que disse isso, Ernie lentamente relaxou. Jean-Claude o tinha capturado com os olhos e o estava embalando, se não dormisse, estaria em paz . A tensão drenada, ele olhou para Jean-Claude, olhos castanhos vazios, à espera. Pelo menos não estava mais assustado.
Gideon e Thomas vieram para ficar ao lado de Padma. Thomas usava o uniforme completo, botas polidas como um espelho negro. O capacete era branco com uma franja longa em cima, provavelmente era crina de cavalo. O brasão era vermelho, os botões de bronze, luvas brancas, até mesmo uma espada.
Gideão estava muito perto de ficar nu. Uma tanga branca era tudo o que usava em seu corpo. Ela mal o cobria. Um colar de ouro maciço com incrustações de pequenos diamantes e esmeraldas enorme abrangia quase todo o seu pescoço. Seus cabelos estavam cuidadosamente penteados, e ouro se espalhavam sobre ele. Uma corrente estava ligando o colar nas mãos de Thomas.
Padma estendeu a mão, e Thomas deu a corrente para ele. Nem Thomas ou Gideon piscaram os olhos. Eles haviam visto esse filme antes.
A única coisa que me impediu de fazer algum comentário crítico, era que eu havia dado minha palavra que ficaria quieta e deixaria Jean-Claude fazer as honras. Ele pensou que eu poderia dizer algo que chateasse alguém. Quem, eu?
Jean-Claude andou em volta da mesa. Richard e eu demos dois passos para trás, espelhando Padma e seus animais de estimação. O simbolismo não passou despercebido a ninguém. Uma coisa era Richard e eu estarmos fingindo. Eu não acho que os outros estavam.
— Eu suponho que você queira que cortem sua garganta, e sirvam o seu sangue para todos? — Jean-Claude disse.
Padma sorriu e deu um aceno gracioso da cabeça.
Jean-Claude riu, aquela risada maravilhosamente palpável.
— Se você realmente quisesse fazer isso Mestre das Feras, o teriam pendurado pelos tornozelos.
Richard e eu não nos olhamos. Virei-me e olhei para a figura pacífica de Ernie. Como Jean-Claude sabia que tinha que pendurá-lo pelos tornozelos? Faça uma pergunta boba.
— Você está dizendo que estamos blefando? — Padma perguntou.
— Não. — Jean-Claude disse — apenas arrogância.
Padma sorriu, e ela quase chegou a seus olhos.
— Você sempre jogou o JOGO muito bem.
Jean-Claude deu um pequeno aceno, sem tirar os olhos do outro vampiro.
— Estou honrado que você pense bem de mim, Mestra das Feras.
Padma deu uma risada aguda.
— Uma língua melosa, Mestre da cidade. — O humor morreu abruptamente, e pronto. O rosto dele estava duro de repente, vazio, exceto pela raiva. — Mas o fato é que você é um anfitrião muito pobre. Tenho me alimentado através de meus servos. — Ele passou a mão carinhosamente no ombro escuro e nu de Gideon. Ele nunca reagiu. Era como se Padma não estivesse lá. Ou talvez, como se Gideon, não estivesse lá.
— Mas há outros que não são tão abençoados como eu. Eles tem fome Jean-Claude. Estão no seu território, e os seus convidados conhecem a fome.
— O Viajante os estava alimentando. — disse Jean-Claude disse. — Eu pensei que você estava se alimentando bem.
— Eu não preciso de sua de energia rejeitada. — afirmou Padma. — Ele estava sustentando os outros até que alguém — ele apontou para mim com a mão livre — disse-lhe para parar.
Comecei a pedir permissão para dizer alguma coisa, quase pedi e pensei, dane-se.
— Pedi-lhe para parar. — eu disse. — Ninguém diz ao Viajante o que fazer. — Não, isso não foi tão diplomático, os meus dentes trincaram.
Sua risada entrou na sala à frente dele. O novo corpo do Viajante era jovem, macho, bonito e tão recentemente morto, que ainda tinha um bom bronzeado. Balthasar vinha ao seu lado, deslizando as mãos sobre o corpo do outro homem possessivamente. Um brinquedo novo para explorar. Tinham-me dito que Malcolm tinha emprestado um membro da igreja ao Viajante. Gostaria de saber se Malcolm sabia realmente o que ele e Balthazar estavam fazendo com o corpo.
Eu diria que os dois estavam usando togas, mas que não era bem isso. O Viajante usava um pano roxo e rico preso em um ombro com um rubi e broche de ouro. Seu ombro esquerdo estava nu, mostrando a pele macia bronzeada. A peça estava presa na cintura com dois cabos de tecido vermelho. Ele chegava quase até os tornozelos, dando vislumbres de sandálias amarradas nos tornozelos.
Balthasar usava vermelho com ametista e um broche de prata em um dos ombros. Seus ombros nus mostravam o peito apenas o suficiente para provar que ele era musculoso, como se houvesse qualquer dúvida. O vestido vermelho estava preso na cintura com cordas de púrpura.
— Vocês se parecem com os gêmeos Bobbsey. — eu disse.
Jean-Claude pigarreou.
Parei de falar, mas se todos usassem essas roupas bacana, eu não tinha certeza se poderia parar de fazer comentários. Quer dizer, era muito fácil.
O Viajante jogou sua cabeça para trás e riu. Era uma risada alegre, com uma ponta por baixo como o silvo de uma serpente. Ele virou os olhos castanhos para mim, mas no fundo era ele. Eu o teria reconhecido, não importa os olhos de quem ele estivesse usando.
Balthasar era realmente menor do que o novo corpo por uma ou duas polegadas. Ele ficou perto o suficiente para que o Viajante o levasse por debaixo do braço, como um homem alto quando anda com uma mulher, embalado contra o seu corpo, protegido.
— Salvei os seus seres humanos hoje, Anita. Salvei muitos vampiros. Isso não basta para você?
— Jean-Claude? — Eu fiz do seu nome uma pergunta.
Ele soltou um longo suspiro.
— Foi inútil fazer você prometer. Seja você mesmo ma petite, mas tente não ser muito ofensiva. Ele deu um passo para trás do modo que estávamos todos na mesma posição. Talvez ele não tenha gostado tanto do simbolismo.
— Estou feliz que você salvou os meus amigos hoje. — eu disse. — Estou em êxtase que tenha salvado todos os vampiros presos. Mas você conseguiu uma pressão muito boa apesar de não ter corrido qualquer risco para si mesmo. Pensei que você tivesse concordado que necessitam se modernizar um pouco, entrar no século XX.
— Mas eu concordo Anita, eu concordo. — O Viajante esfregou seu rosto contra o rosto de Balthasar fitando-me, eu estava feliz que ele não fosse heterossexual.
— Então o que é esta droga medieval? — Apontei um dedo para trás, para Ernie.
Os olhos dele foram para o homem, depois de volta para mim.
— Eu o teria deixado ir, mas os outros votaram e é verdade que Jean-Claude é um péssimo anfitrião.
Jean-Claude tocou meu braço.
— Se vocês tivessem vindo com meu convite ou mesmo pedido permissão para entrar no meu território, eu teria ficado mais do que feliz em lhes conceder os direitos de caça. Embora vocês tivessem encontrado um dos outros benefícios que a legalidade traz, é um número impressionante de vítimas dispostas. Alguma pessoas pagariam para saciar a sede de seus corpos.
— É uma lei antiga, entre nós — O Viajante disse — não se alimentar nas terras de outra pessoa sem sua permissão. Eu estava sustentando os outros, mas então sua serva humana me mostrou que os meus poderes estavam tendo sérios efeitos colaterais em sua população local. — Ele se afastou de Balthasar, ficando a uma curta distância de Jean-Claude. — Mas nenhum de seus vampiros foram afetados. Eu não poderia roubar sua energia, ou dar-lhes energia extra. Você impediu isso. Isso me surpreendeu mais do que qualquer outra coisa que você fez Jean-Claude. Cheira a um poder que eu gostaria que nunca fosse creditado a você, não agora, nem daqui há mil anos a partir de agora. — Ele andou até ficar na frente de Richard. E o novo corpo era ainda mais alto, vários centímetros pelo menos.
Ele estava tão perto que o pano roxo roçava no corpo de Richard. Virou-se em torno dele tão de perto que nunca parou de tocar o pano, deslizando sobre o Tux adaptada como uma mão de pano. — Padma não ganhou tal poder de sua união. — Ele terminou em pé, entre Jean-Claude e Richard. Levantou a mão para acariciar o rosto de Richard e Richard pegou seu pulso.
— Isso é o suficiente. — disse Richard.
O Viajante virou o pulso lentamente para baixo, para que a mão encostasse em Richard. Ele se virou para Balthazar com um sorriso.
— O que você acha?
— Acho que Jean-Claude é um homem de sorte. — disse Baltazar.
Um vermelho purpura se alastrou pelo rosto de Richard, as mãos fechadas em punhos. Ele foi colocado na posição normalmente reservada para as mulheres. Se você negar que está dormindo com alguém, não vão acreditar em você. O mais difícil é você negar isso, o mais seguro de tudo é que você parecer culpado.
Richard era mais esperto do que eu. Ele não tentou negar. Apenas se virou e olhou para o Viajante. Olhou-o quase olhos nos olhos e disse:
— Fique longe de mim.
Todos eles riram. Nenhum de nós o fez, isso incluía Gideon e Thomas, curiosamente. O que eles estavam fazendo com Padma? Quais séries de eventos o mantinham com ele? Se todos nós sobrevivêssemos, talvez eu tivesse uma chance de lhes perguntar, mas era duvidoso. Se matássemos Padma, provavelmente morreríamos também. Se Padma nos matasse, seria a mesma coisa.
O Viajante se aproximou de mim em uma nuvem de pano roxo.
— O que nos traz a você, Anita. — Seu novo corpo se elevou sobre mim, muito mais alto, mas ei, você se acostuma.
— O quê? — Eu disse, olhando para ele.
Ele riu de novo. E estava tão feliz. Percebi o que era esplendor. Ele e Balthazar poliam as jóias da família.
Olhei para cima, para aquele sorriso e disse:
— Será que este novo corpo intensificou a ligação ou algo assim, ou Balthasar não te satisfaz mais, é apenas uma mudança de cardápio?
O riso desapareceu de seus olhos como o sol que afunda no horizonte. O que restou era frio e distante e nada que você poderia falar.
Talvez eu fale muito.
Jean-Claude tocou meus ombros e colocou-me para trás. Começou a se mover na minha frente, mas eu parei.
— Eu o irritei. Não me proteja dele.


Jean-Claude me deixou ficar na frente, mas em algum sinal invisível o resto do nosso grupo se aproximou, atrás de nós.
Yvette e Warrick saíram do corredor, com Liv.
— Todos vocês todos me parecem o suficiente para comer. — Ela riu de sua própria piada. Estava vestida com um vestido branco simples. Seus ombros nus eram mais brancos do que o pano. Assim que eu a vi, sabia que ela não tinha se alimentado. Mangas que não foram anexadas a seu vestido coberto da axila ao punho. O corpete equipado uma saia rodada branca com camadas que se refletiam nas camadas das mangas soltas estranhamente. Seu cabelo loiro-branco caia em laços trançados e espirais em torno de seu rosto. No traje de período para Yvette, só a borda de corte a fazia na moda. Sua maquiagem era apenas um pouco escura contra a brancura do papel da sua pele, mas era difícil conseguir esse visual discreto quando você estava tão terrivelmente drenado.
Warrick usava um terno branco, com um daqueles colares em volta por isso não havia lugar para colocar uma gravata. Era um lindo terno que combinava com o vestido de Yvette, pareciam um bolo de casamento da moda.
Yvette usava o vestido como se tivesse sido feito só para ela. Warrick parecia desconfortável.
Liv olhou para todos nós de forma imparcial. Ela estava vestida com um azul formal que era para uma mulher com bordas mais suaves e menores. Ele tinha sido cortado para baixo ou para cima, e ela usou-o mal.
Esta era a primeira vez que eu a via desde que soube que ela tinha ajudado a torturar Sylvie. Eu esperava não lamentar não te-la matado quando tive a chance. Mas havia uma incerteza em seus olhos, um mal estar em seu corpo, talvez, ela tivesse visto o outro lado do Conselho, desde então. Estava com medo. Fiquei contente.
— Parece que você está usando roupas de segunda mão Liv — eu disse. — Como algum parente pobre.
— O Viajante a deu para Yvette como sua serva? — Jean-Claude perguntou. — Será que ele lhe desprezou tão rapidamente?
— Yvette apenas me ajudou a me vestir. — disse ela, cabeça erguida, mas suas mãos estavam tentando suavizar o vestido no lugar. Nada ajudou.
— Você tinha equipamentos muito mais atraentes no seu próprio armário. — disse Jean-Claude.
— Mas não serviam. — disse Yvette. — Para uma ocasião formal, você deve ter vestidos para mulheres. — Ela sorriu docemente.
Isso me fez lamentar o vestido que estava usando.
— Eu sei o que você fez para Sylvie, Liv. Eu não estava lamentando ter castigado-a anteriormente. Mas você sabe o quê, Liv, alguns anos com o Conselho e poderá estar se lamentando também.
— Eu não me arrependo de nada. — disse ela. Mas havia uma tensão em torno dos olhos. Algo bom e sólido a tinha assustado. Parte de mim queria saber o que tinham feito para ela, mas foi suficiente ver como estava com medo.
— Estou feliz de partilhar a felicidade, Liv, eu disse.
Asher saiu no meio da cena. Seu cabelo estava preso em uma trança apertada. Seu cabelo ainda era quase da cor do fio metálico em uma toalha, uma cor sobrenatural, mesmo se ele fosse humano. Os cabelos puxados para trás deixavam as cicatrizes em seu rosto nu. Era difícil não olhar para elas, não era fácil de encarar. O resto do equipamento não o tornava mais fácil.
Seu corpo estava nu na parte de cima, era uma maravilha de contrastes. Era como o rosto, metade da beleza angelical, metade pesadelo derretido. Sua calça era de couro preto com uma linha de carne nua mostrando parte do quadril , onde as botas cobriam o resto. A carne no lado direito de sua coxa estava cicatrizada. As cicatrizes pareciam chegar até o meio da coxa. Esta era a grande questão. Seus torturadores fizeram dele um castrado ou o tinham deixado inteiro? Era como um acidente de carro. Você queria saber, e não queria.
— Jean-Claude, Anita, que bom que se juntaram a nós. — Ele fez das palavras educadas uma zombaria, enchendo-os com um silvo de ameaça.
— Sua presença é o mesmo prazer que sempre foi. — disse Jean-Claude. Essas palavras estavam em branco, totalmente neutra, sem elogios ou malicia. Estava a escolha do ouvinte.
Asher deslizou para nós, um sorriso nos lábios perfeitos. Novamente os dois lados da boca funcionaram. Os músculos ainda estavam inteiros debaixo de todas as cicatrizes. Ele veio para ficar na minha frente. Estava dois passos mais perto do que seria confortável, mas eu não olhei para cima ou reclamei. Acabei de conhecer o seu sorriso com um dos meus próprios. Nenhum deles tocaram nossos olhos.
— Você gosta da minha roupa, Anita?
— Um pouco agressivo, não acha?
Ele passou um dedo abaixo o laço da minha cintura. O dedo escorregou para o interior do laço aberto, tocando minha pele nua. Trouxe um pequeno suspiro aos meus lábios.
— Você pode me tocar em qualquer lugar que quiser. — disse ele.
Tirei sua mão.
— Eu não posso voltar a me oferecer, me desculpe.
— Eu acho que pode. — disse o Viajante.
Olhei para ele.
— Não — eu disse. — Eu não posso.
— Jean-Claude foi muito claro sobre as suas regras. — disse o Viajante. — Asher precisa se alimentar. Está dentro das regras ele se alimentar de você, Anita. Ele preferia afundar outra coisa em você, mas terá que se contentar com os dentes.
Eu balancei minha cabeça.
— Eu acho que não.
— Ma petite. — disse Jean-Claude suavemente.
Não gostei da maneira como ele falou meu nome. Voltei-me, e um olhar foi suficiente.
— Você deve estar brincando comigo.
Ele se aproximou, me levando para um lado.
— A orientação que você me deu, não dizia nada contra o compartilhamento de sangue.
Olhei para ele.
— Você quer realmente que ele se alimente de mim?
Ele balançou a cabeça.
— Não é uma questão de querer, ma petite. Mas se eles não podem nos torturar ou nos violar, temos que lhes dar alguma coisa, se não.....
— Se você negociar a volta da minha doce leoparda Vivian. — Padma disse: — talvez, conseguisse garantir sua saída.
Fernando entrou na sala, como a sugestão. Ele estava machucado, mas caminhando. Era uma pena. Ele usava um colete de jóias e algo como calças de harém. Mil e Uma Noites, talvez, em vez de um marajá.
— Quer dizer que Fernando a estuprou?
— Eu sei o que meu filho fez.
— Isso não a deixou estragada para você? — Eu perguntei.
Padma olhou para mim.
— O que eu faço com ela uma vez que seja minha novamente não é uma preocupação de vocês, humanos.
— De jeito nenhum. — eu disse.
— Então você não tem escolha. Deve alimentar um de nós. Se não houver um entre nós que lhe agrade mais, alguém... menos hediondo, poderíamos fazer um acordo. Talvez eu possa torná-la minha. Entre nosso próprio povo, apenas Yvette acha Asher atraente, mas seu gosto sempre foi estranho e grotesco.
O rosto de Asher não mostrava nada, mas eu sabia que ele tinha ouvido. Ele foi criado para ouvir. Passou os últimos dois séculos, sendo tratado como uma aberração de circo. Não admira que estivesse chateado.
— Eu deixaria Asher afundar a coisa toda em mim antes de deixar você me tocar.
A surpresa apareceu no rosto de Padma por um segundo, então a arrogância estava de volta. Ele não tinha gostado do insulto. Bom.
— Talvez antes que a noite acabe Anita, você tenha seu desejo realizado.
Não era reconfortante, mas Asher estava tendo problemas para me olhar, como se estivesse com medo. Não de mim, exatamente, mas de que esse fosse um jogo elaborado para feri-lo. Ele tinha uma tensão casual que as vítimas têm quando apanham muitas vezes de coisas diferentes.
Jean-Claude sussurrou:
— Obrigado, ma petite.
Acho que ele ficou aliviado. Eu acho que ele pensou que eu deveria descer em chamas em vez de submeter-me. Antes que Padma fizesse mais uma pequena piada, eu teria que colocar mais uma luta. Eu ia fazer isso. Se eu desenhei a linha aqui e recuasse significaria que nos derrotaram. Perderíamos. Se doando um pouco de sangue nos manteria vivos durante toda a noite até a manhã chegar, eu poderia poupá-lo.
Um leopardo gritou. Isso levantou os pelos de meus braços. Dois leopardos estavam no estofado na sala, os colares de jóias brilhantes em torno de seus pescoços. Um era negro, Elizabeth. Ela rosnou para mim como no passado. Os leopardos eram do mesmo tamanho, não tão altos quanto um dinamarquês grande. Eles pareciam como veludo ao longo de cada músculo, sua energia e raiva enchendo a sala, formigando meu corpo como uma droga. Os leopardos ficaram deitados aos pés de Padma.
Eu senti o poder de Richard. Seu poder correu para fora dele em uma lavagem suave, disposto a manter os leopardos calmos, chamando-os de volta à sua forma humana.
Padma disse:
— Não, não, eles são meus. Vou mantê-los sob qualquer forma que eu escolher e pelo tempo que eu quiser.
— Eles vão começar a perder suas características humanas. — disse Richard. — Elizabeth é uma enfermeira. Ela não pode fazer seu trabalho, se seus dentes ou olhos não voltarem ao normal.
— Ela não tem nenhum outro trabalho que não seja me servir. — Padma disse.
Richard deu um passo á frente. Jean-Claude tocou seu ombro.
— Ele está nos atraindo, mon ami.
Richard tirou sua mão fora, mas com a cabeça.
— Eu acho que o Mestre das Feras não poderia me parar se eu os forçasse de volta à forma humana.
— Isso é um desafio? — Padma perguntou.
— Os homens-leopardo não pertencem a você, Richard. — eu disse.
— Esses dois não pertencem a ninguém. — disse ele.
— Podem ser meus se eles quiserem. — eu disse.
— Não. — Padma disse. — Não, não vou desistir de nada. Ninguém mais para você. — Ele recuou contra a parede, arrastando Gideon com ele pelo colar de jóias. Thomas seguiu quase de perto. — Asher leve-a.
Asher tentou agarrar o meu braço, mas eu estava atenta.
— Seus cavalos velhos. Alguém já não disse que a antecipação acrescenta à experiência?
— Eu estou antecipando há mais de duzentos anos, ma chérie. Antecipação se acrescenta, então será de fato maravilhoso.
Eu saí de perto dos seus olhos ávidos e fui para Jean-Claude.
— Algum conselho?
— Ele vai tentar estupra-la, ma petite. — Ele me parou antes que eu pudesse dizer qualquer coisa. — O estupro não será real, mas o efeito é surpreendentemente semelhante. Tente seduzi-lo se você sentir necessidade. O prazer será a última coisa que ele espera, e vai enervá-lo.
— Como enervá-lo?— Eu perguntei.
— Isso vai depender, eu acho, do quão forte é seus nervos.
Voltei a olhar para Asher. A ansiedade em seu rosto era assustador. Fiquei triste que ele tivesse esperado por séculos, mas não era culpa minha.
— Eu não acho que ele é tão bom.
Richard estava ouvindo, chegou perto o suficiente para sussurrar:
— Você está doando sangue para um vampiro, o que é mais um?
— Ma petite e eu não compartilhamos sangue. — disse Jean-Claude.
Richard franziu a testa para ele, então olhou para mim.
— Ainda com um pé atrás? Você não sabe como se dar completamente a alguém?
O rosto de Jean-Claude estava neutro, branco e bonito. Olhei do seu rosto impassível para o rosto de Richard com raiva, e balancei a cabeça.
— Se eu pudesse encontrar alguém para preencher o nosso terceiro lugar, eu gostaria, Richard. Mas estamos presos uns aos outros, sendo assim pare de pensar como um burro. — Eu o empurrei passado duro o suficiente para tropeçar, tudo que eu não podia fazer era dar-lhe um tapa e passei. Ser desagradável em particular era uma coisa. Fazê- lo na frente dos bandidos era contra as regras.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 50

Asher me arrastou para um canto, e os outros se reuniram ao redor no assoalho, como se fosse ler uma história na escola primária. Ou talvez mostrar e contar uma analogia melhor. Ele me empurrou de encontro a ele, uma mão no meu cabelo controlando minha cabeça. Me beijou como se fosse me machucar se eu não abrisse a boca. Eu fiz melhor que isso. Fechei os olhos e beijei o francês, correndo minha língua entre seus dentes. Eu aperfeiçoei a arte de beijar um vampiro sem sangramento, e, aparentemente, eu era boa nisso porque Asher recuou primeiro. Houve um olhar de espanto, total e completo. Ele não poderia estar mais surpreso se eu lhe batesse. Não menos surpreendido. Ele esperava um tapa.
Jean-Claude estava certo. Se eu pudesse passar a perna em Asher, ser mais ousada do que era, ele nunca poderia afundar suas presas em mim. Valia a pena tentar. Eu nem sequer deixava Jean-Claude se alimentar de mim. Eu não tinha certeza qual era o mal menor, mas uma menina tem que começar a traçar a linha em algum lugar.
Asher colocar seu rosto tão perto de meu, que nossos narizes quase se tocaram.
— Olhe para mim, menina, olhe para mim.
O azul pálido surpreendente de seus olhos, quase um azul-branco, emoldurado por pestanas de ouro, era lindo. Concentrei-me nos seus olhos.
— Solte o seu cabelo. — eu disse.
Ele me empurrou para longe dele, forte o suficiente para que eu quase caísse. Eu estava tirando-o do sério, roubando sua vingança. Não se pode chamar de estupro quando se é conivente.
Fui até ele perseguindo-o, meio que desejando estar de salto, Jean-Claude queria me desgastar. A pele de Asher era pura e intocada. Apenas algumas cicatrizes onde a água benta tinha arrastado para baixo o lado de seu rosto. Corri minhas mãos pela pele lisa, ele pulou como se eu mordesse.
Ele virou-se, agarrando meus braços, me segurando longe dele. Procurou algo em meu rosto quase freneticamente. Tudo o que viu não lhe agradou. Segurou meus pulsos, colocando uma das minhas mãos no lado marcado do seu peito.
— É fácil fechar os olhos e fingir. Fácil de tocar o que não é visto. — Ele apertou minha mão contra os cumes ásperos que tinham sido o seu peito. — Esta é a realidade. Isto é o que eu vivo todas as noites, e vou viver por toda a eternidade, isso foi o que ele fez comigo.
Eu falei sem pensar, apertando meu braço contra as cicatrizes, bem como minhas mãos. A pele era áspera, sulcadas, como a água congelada. Olhei em seu rosto a centímetros de distância, e disse:
— Jean-Claude não fez isso em você. Os homens que estão mortos há muito tempo que fizeram isso. — Me levantei na ponta dos pés e beijei seu rosto marcado.
Ele fechou os olhos, e uma única lágrima caiu de seu olho trilhando a bochecha áspera. Eu o beijei, e quando ele abriu os olhos, estava assustadoramente perto. Em seus olhos eu vi o medo, a solidão, uma necessidade tão grande que tinha consumido seu coração, tão certo como a água benta tinha consumido sua pele.
Eu queria tirar a mágoa que via nos olhos dele. Queria abraçá-lo em meus braços até que a dor diminuísse. Percebi naquele momento que não era eu. Era Jean-Claude. Ele queria curar a dor de Asher. Queria tirar esse vazio terrível. Olhei para Asher através de um filme de emoções que eu nunca tinha visto, uma pátina de nostalgia para a melhor noite de amor e de alegria e de corpos quentes na escuridão fria.
Beijei seu rosto abaixo do queixo, cuidando para tocar apenas as cicatrizes, ignorando a pele perfeita como eu tinha ignorado a pele ferida antes. Estranhamente, seu pescoço estava inteiro, intocado. Eu beijei sua clavícula e seu cume branco de cicatrizes. Suas mãos aliviaram, mas ele não me soltou. Eu me separei do seu abraço e me abaixei em seu corpo, um beijo suave e devagar.
Corri minha língua em sua barriga, até onde desaparecia nas calças. Ele estremeceu. Virei-me para a pele aberta em seu quadril e desci. Quando as cicatrizes acabaram no meio da coxa, eu também parei, e ele me olhava, me olhava quase com medo do que eu faria em seguida.
Eu tinha que ficar na ponta dos pés para chegar atrás dele e desamarrar seu cabelo. Teria sido mais fácil por trás, mas ele teria tomado como uma rejeição. Eu não podia desviar das cicatrizes, nem mesmo para fazer outra coisa. Soltei sua trança. Separei os fios de cabelo, então tive que inclinar meu corpo contra o seu para me equilibrar enquanto penteava seus fios dourados com os dedos. Há algo muito pessoal em tocar o cabelo de uma pessoa em certas situações. Eu aproveitei o momento, curtindo a sensação disto, a cor era extraordinária, a riqueza da espessura entre os dedos. Quando seu cabelo caiu em ondas em torno de seus ombros, eu me abaixei desprevenida. Me separar foi difícil, do ponto, levou muito tempo.
Levantei meus olhos e vi que ele era bonito.
Asher me deu um beijo na testa, um leve toque. Me segurou contra ele por um momento, depois recuou.
— Eu não posso capturá-la com meus olhos. Sem isso ou a agonia da paixão, só lhe causaria dor. Eu posso me alimentar de qualquer um. O que eu vi em seu rosto, ninguém mais poderia me dar. — Ele olhou para Jean-Claude. Eles se entreolharam por um longo momento, então Asher saiu do círculo, e fiz o meu caminho de volta para Jean-Claude.
Eu me sentei ao lado dele, debaixo de seu joelho, alisando a saia para para trás. Ele me abraçou e me beijou na testa como Asher tinha feito. Eu me perguntei se ele estava tentando provar a boca de Asher na minha pele. O pensamento não me incomodava. Talvez fosse isso, mas eu não ia perguntar. Não tinha certeza se queria saber.
O Viajante chegou a seus pés como num passe de mágica, de repente estava em pé ao nosso lado.
— Eu não acho que poderia ficar mais admirado se Anita tivesse conjurado um dragão no ar. Ela domesticou nosso Asher e não pagou nenhum sangue a ele. — Ele deslizou para o espaço aberto. — Yvette não é tão facilmente saciada. — Sorriu para ela como se levantasse seus pés. — Não é minha querida?
Ela passou as mãos pelos cabelos de Jason como tinha deslizado no passado. Ele saltou como se tivesse levado uma picada, e ela se divertiu como o inferno. Ela ainda estava rindo quando se virou com uma marca na saia branca e estendeu seus braços para ele.
— Venha a mim, Jason.
Ele se encolheu em si mesmo, enrolado em uma pequena bola de braços, cotovelos e joelhos. Ele apenas balançou a cabeça.
— Vocês é a minha escolha, o meu presente especial. — disse Yvette. — Não é forte o suficiente para me recusar.
Um pensamento terrível me ocorreu. Eu estava disposta a apostar que Jean-Claude não tinha coberto a podridão nas pessoas. Jason não poderia se recuperar de um outro abraço sujo dos mortos. Debrucei-me em Jean-Claude e perguntei:
— Você cobriu as torturas, as torturas não definitivas, certo?
— Claro. — disse ele.
Eu me virei para Yvette e disse:
— Você pode se alimentar, mas você pode apodrecer sobre ele.
Ela virou os olhos para mim.
— Você não disse isto.
— Jean-Claude negociou para que não houvesse tortura. Apodrecer sobre Jason enquanto está se alimentando é uma tortura para ele. Você sabe disso. É por isso que você o quer.
— Eu quero um pouco de sangue de lobisomem, e quero exatamente do jeito que gosto.
Richard disse,
— Você pode alimentar-se de mim.
— Você não sabe o que está oferecendo, Richard. — eu disse.
— Eu sei que Jason é meu para proteger, e ele não pode suportar isso. — Ele ficou de pé, esplêndido em seu smoking novo.
— Jason disse o que aconteceu com ele em Branson? — Eu perguntei.
Jason tinha tido um encontro forçado com dois vampiros do sexo feminino quando começaram a apodrecer. Elas se transformaram em corpos apodrecidos enquanto ele estava deitado e nu com elas. Foi o seu pior pesadelo, era quase uma fobia agora. Eu testemunhei o evento, tive mesmo essas mãos mortas no meu corpo quando fui resgatá-lo. Não podia culpá-lo por estar apavorado.
— Jason me disse. — disse Richard.
— Ouvir não é a mesma coisa que estar lá, Richard.
Jason tinha escondido o rosto contra os joelhos. Estava dizendo algo baixo. Eu tive que me ajoelhar para ouvi-lo. Ele estava dizendo:
— Eu sinto muito, eu sinto muito, eu sinto muito. — mais e mais e mais. Toquei seu braço, e ele gritou, os olhos arregalados, boca aberta de espanto.
— Está tudo bem, Jason. Tudo bem. — Richard estava certo. Jason não poderia fazer isso.
Concordei.
— Você está certo, Richard.
— Não. — Padma disse. — Não, o Rei Lobo é meu. Eu não vou compartilhá-lo.
— Eu não vou tomar nada menos que um metamorfo. — disse Yvette.
Jamil disse.
— Eu vou.
— Não, é meu trabalho proteger Jason, não seu, Jamil. — disse Richard
— É meu trabalho te proteger, Ulfric.
Richard balançou a cabeça e começou a desfazer o laço preto. Desfez de início alguns botões da camisa plissada, expondo a linha forte e perfeita de seu pescoço.
— Não. — disse Yvette. Ela bateu o pé, mãos nos quadris. — Ele não tem medo. Eu quero alguém que esteja com medo.
Na minha cabeça eu pensava, “ele vai ter medo”. Ele vai estar com muito medo. Repare que eu não estava pulando para cima e me oferecendo no lugar de Jason. Eu tinha visto esse show particular. Não tinha vontade para estrelar o vídeo.
— E eu tenho meus próprios planos para o Ulfric. — Padma disse.
O Viajante os tratou como crianças mal comportadas.
— É uma oferta justa, Yvette. Um Ulfric ao invés de um lobo menor.
— Não é a potência do sangue que eu quero. É o terror.
— É uma oferta muito generosa para quem não é do Conselho. — afirmou Padma.
— Será que eles brigam sempre assim? — Eu perguntei.
— Oui. — disse Jean-Claude.
Tinham quase a vida eterna, eram assustadores e tinham poder, e eram insignificantes. Estava decepcionada. Toquei o rosto de Jason, e o fiz olhar para mim. Sua respiração ofegante estava chegando ao limite. Toquei suas mãos, sua pele estava fria.
— Jason, se ela não apodrecer em você, poderia deixá-la se alimentar?
Ele engoliu em seco duas vezes antes que pudesse falar.
— Eu não sei.
A resposta verdadeira. Ele estava apavorado.
— Eu vou com você.
Ele olhou para mim, em seguida, acima de minha cabeça.
— Ela não vai gostar disso.
— Foda-se ela. Ela pode pegar ou largar.
Isso me permitiu ver o fantasma de um sorriso. Ele apertou minha mão concordando.
Olhei para Jean-Claude ainda sentado perto de nós.
— Você não está sendo de muita ajuda.
— Eu também vi o show, ma petite. — Ele estava ecoando os meus pensamentos muito de perto, me perguntava o que estava pensando. Mas o que ele dizia era assustador. Não iria se oferecer para Yvette, não apenas para salvar Jason.
Levantei-me, puxando Jason aos seus pés. Ele agarrou minha mão como uma criança no primeiro dia do jardim de infância, a mamãe tem medo que deixá-lo sozinho com as intimidações.
— Se você der sua palavra de honra que não vai apodrecer nele, poderá se alimentar.
— Não. — disse Yvette. — Não, isso estraga tudo.
— A escolha é sua. — eu disse. — Você pode ter Richard, se Padma deixar, mas ele não terá medo. Você pode apodrecer sobre ele, mas não vai ter o horror de Jason. — Virei-me para que ela pudesse me ver claramente.
Jason vacilou, mas permaneceu em pé, mas ele não queria ou não podia satisfazer os seus olhos. Olhou para mim. Acho que estava realmente procurando pelo meu vestido. Mas dessa vez eu não o fiz parar. A distração era exatamente o que ele precisava. Conhecendo Jason, eu não estava surpresa que ele quisesse uma distração para o show.
Yvette lambeu os lábios. Finalmente, ela concordou.
Eu liderei Jason em sua direção. Ele estava vestido a sua própria moda. Usava calça de couro tingida de azul dois tons mais escuros do que seus olhos. A calça parecia pintada, deslizando perfeitamente em botas tingidas para combinar. Ele não usava camisa, apenas um colete que combinava com a calça, presa com três tiras de couro.
Ele tropeçou quando entramos no espaço livre. Yvette deslizou em sua direção, e ele recuou. Só a minha mão o impediu de voltar.
— Fácil, Jason, fácil.
Ele só abanava a cabeça,puxando-me novamente pelo pulso. Não era exatamente uma luta, mas ele não estava cooperando muito.
— É pedir demais. — disse Richard. — Ele é meu lobo, e não vou vê-lo atormentado.
Olhei para Richard, orgulhoso, arrogante.
— Ele é meu lobo, também. — Larguei o pulso de Jason lentamente e coloquei uma mão em cada lado do seu rosto.
— Se isso for pedir muito, digamos assim, nós vamos fazer outra coisa.
Ele agarrou meus pulsos, e eu o vi se recompor. Assisti seu auto-controle voltar a encher seus olhos, seu rosto.
— Não me deixe.
— Eu estou bem aqui.
— Não. — Yvette disse — você não pode segurar sua mão enquanto me alimento.
Eu me virei para ela, Jason estava tão perto que nossos corpos se tocavam.
— Então acabou. Você não vai tocá-lo.
— Primeiro você amansa Asher. Agora tenta me domar. Você não tem nada que eu queira, Anita.
— Eu tenho Jason.
Ela sussurrou para mim, toda essa beleza quebrando e mostrando a besta interior. Ela o agarrou em torno de mim, e ele recuou. Ela dava patada nele como um gato, e eu mantive o meu corpo entre eles, nos movendo no centro do círculo. Senti Jason bater na parede e agarrei o braço de Yvette.
— Sinta o terror, Yvette. Eu posso sentir seu coração batendo em minha volta. Segurando minha mão ele não vai deixar de ter medo. Nada que eu faça o fará não temer o seu toque.
Jason escondeu o rosto nas minhas costas, deslizando as mãos em volta da minha cintura. Acariciei seu braço. Seu corpo estava ritmado como seu coração, seu sangue, bombeado pelo seu corpo tão difícil Eu podia sentir isso. Seu terror andava no ar como uma névoa quente, invisível.
— De acordo. — disse ela. Ela recuou para o centro da pista limpa. Estendeu uma mão pálida para nós. — Venha, Anita, traga o nosso prêmio.
Abracei-o até que eu estava levando-o pela mão novamente. Suas mãos estavam suando. Eu o deixei ficar de costas para ela. Ele apertou minha mão entre as suas. Suas mãos tremiam. Ele olhou para o meu rosto como se fosse a única coisa que restasse no mundo.
Yvette o tocou nas costas.
Ele choramingou. Eu o puxei até nossos braços se tocarem, nossos rostos á apenas alguns centímetros de distância. Eu não tinha palavras de conforto. Não poderia oferecer nada além de uma mão para segurar e mais alguma coisa para pensar.
Yvette arrastou os dedos ao redor dos ombros até que soltou as tiras que amarraram o colete. Suas mãos esfregando na frente do meu corpo como se ela se atrapalhasse com os laços. Comecei a dar um passo atrás, e as mãos de Jason cantaram com a tensão. Fiquei onde estava, mas o meu próprio pulso batia na minha garganta. Eu tinha medo dela também, estava com medo do que ela era.
Ela deslizou a mão na cintura de Jason para conseguir abraçá-lo, moldando seu corpo contra suas costas. Ela lambeu sua orelha, um movimento rápido de sua língua rosa pálido.
Ele fechou os olhos, inclinando a cabeça até que nossas testas se tocassem.
— Você pode fazer isso. — eu disse.
Ele acenou com a cabeça, os olhos ainda fechados, as testas ainda se tocando.
Yvette passou as mãos em cima das costas do colete, em seguida, se curvou em torno de seu peito nu, correndo as unhas no seu corpo em uma corrida rápida.
Jason estava ofegante, e percebi que nesse instante não era apenas o medo. Ele tinha dormido com ela antes de saber o que ela era. Ela conhecia o seu corpo, sabia como levá-lo a paixão que só um amante pode. Ela usaria isso contra ele agora.
Jason escondeu o rosto para trás do meu. Ele olhou para mim, e parecia perdido.
Ela empurrou o colete ao redor de seus ombros e lambeu uma longa linha de suor que escorria por sua espinha.
Ele virou o rosto para mim, então eu não queria ver seus olhos.
— É certo que alguns se sente bem, Jason.
Ele se voltou para mim, e havia outras coisas em seus olhos alem do medo. Eu estava mais confortável com o medo, mas ele seria o único ferido.
Yvette ajoelhou e fez algo nas costas com sua boca. Seus joelhos fraquejaram de repente, levando-nos para o chão. Acabei de costas com Jason em cima de mim. Eu tinha uma perna livre, que era uma ajuda e um empecilho, uma vez que o tinha perfeitamente em cima de mim. Poderia dizer que o seu corpo estava feliz por estar lá. Não tinha certeza sobre o descanso dele. Ele fazia pequenos sons em sua garganta.
Eu escorreguei para fora sob a suficiente para que sua virilha não fizesse pressão em mim e eu pudesse me sentar e ver o que Yvette lhe fizera. Havia marcas de dentes em suas costas perto da coluna vertebral. O sangue frisado escorria no couro azul como se tivesse sido rasgado.
Seus braços se fecharam em volta de minha cintura.
— Não me deixe, por favor. — Seu rosto estava pressionado contra minha cintura. A tensão no seu corpo fez meu coração bater mais rápido.
— Eu não vou deixar você, Jason. — Olhei para Yvette sobre seu corpo.
Ela estava ajoelhada com a saia branca agrupada em torno dela, como se um fotógrafo errante estivesse por vir. Ela sorriu, e seu riso chegou a seus olhos, enchendo-os de uma luz escura, alegre. Ela estava aproveitando.
— Você tem que se alimentar e pronto. — eu disse.
— Não estou me alimentando, e você sabe disso. Eu gosto dele, mas não me alimentei.
Valeu a pena tentar. Ela estava certa. Eu sabia que ela não havia se alimentado.
— Então, basta fazê-lo, Yvette.
— Se você tivesse me deixado apodrecer, seria mais rápido, mas eu quero o seu terror e seu prazer. Isso leva mais tempo.
Jason fez um pequeno ruído, como uma criança chorando no escuro. Olhei para Richard. Ele ainda estava de pé, mas não estava com raiva de mim agora. Havia uma verdadeira dor em seus olhos. Ele teria que ser melhor do que Jason. Como um verdadeiro rei, ele teria tomado as dores.
Senti o cheiro de floresta, rica e verde, o molde da folhas tão molhadas e novas que fez minha garganta apertar. Olhei para Richard e sabia que ele estava sugerindo. Tínhamos um pouco de controle sobre o munin. Ele realmente pensou que eu estava segura com eles porque eu não era um metamorfo. Ele não sabia que as marcas que eu compartilhava com ele me colocaria em risco. Mas agora ela tinha possibilidades. Não ia canalizar Raina, nunca faria isso de novo, mas o poder do bando. Seu calor, seu toque, poderia ajudar.
Fechei os olhos e senti o sinal aberto, como cortinas se abrindo em meu corpo. Jason levantou a cabeça, olhando para mim. Suas narinas dilatadas, farejando-me, sentindo o poder.
Yvette rasgou seu colete nas costas como se fosse papel.
Jason engasgou.
Ela lambeu ao longo de seu corpo, mas de repente a boca se fechou sobre as costelas. Eu vi os músculos de sua mandíbula tensa como o corpo de Jason se convulsionando. Ele desmaiou contra mim, as mãos lutando ao longo do chão como se não soubesse o que fazer com elas, ou com seu corpo.
Yvette recuou deixando buracos vermelhos. O sangue escorria do ferimento. Ela lambeu os lábios e sorriu para mim.
— Dói? — Perguntei a Jason.
— Sim. — disse ele — e não.
Eu comecei a olhar para cima.
Yvette pôs a mão no meio de suas costas.
— Não, eu o quero no chão. Eu quero que ele abaixo de mim.
Senti o cheiro do almíscar acentuado em sua pele. Jason tentou olhar para mim, mas Yvette forçou sua cabeça no meu colo. Usou-o para apoiar o corpo dela enquanto olhava na minha cara.
— O que você está fazendo?
— Eu sou a sua lupa. Chamo o bando em sua ajuda.
— Eles não podem ajudá-lo. — disse ela.
— Sim eles podem. — Eu desci, contorcendo-me sob o corpo de Jason. O vestido negro acabou em minha cintura. Todos estavam tendo uma bela vista da minha calcinha. Bem, pelo menos tudo estava combinando. Mas eu podia ver o rosto de Jason. Podia sentir seu corpo um pouco mais do que queria. Mas eram os olhos que eu queria, o seu rosto. Queria ele me olhando.
Eu nunca tinha tentado uma posição papai-mamãe com um homem exatamente do meu tamanho. O contato visual era incrivelmente íntimo. Ele deu uma risada nervosa.
— Eu já tive fantasias como esta.
— Engraçado, eu não tenho. — eu disse.
— Ooh, muito cruel. — Sua coluna curvada, seu corpo pressionando contra o meu. Yvette voltou a morder. O medo estava de volta em pleno vigor, enchendo seus olhos com pânico.
— Eu estou aqui. Nós estamos aqui.
Ele fechou os olhos e respirou fundo. Se concentrou no aroma das folhas e peles, lugares escuros e cheios de corpos, tudo cheirava ao bando. E Yvette atacou novamente.
Jason gritou, e eu levantei-me o suficiente para ver que a vampira tinha arrancado um pedaço de sua pele. O sangue escorreu para baixo.
Jean-Claude chegou à beira do círculo.
— Isso é tortura, você não está se alimentando. Isso termina aqui.
— Não — disse Yvette, — vou me alimentar.
— Então, se alimente. — Jean-Claude disse — mas faça-o rapidamente antes que nossa paciência acabe.
Ela arrastou o corpo dele, colocando seu peso em cima, apertando-me no chão. A costura do couro sobre sua virilha estava tão duro contra mim que doeu. A respiração ofegava, saía rápido, fácil e rápido. Ele estava hiperventilando.
— Olhe para mim. — eu disse.
Yvette sacudiu a cabeça, colocando o cabelo para trás.
— Não, olhe para mim. Porque eu vou te machucar, Jason. Vou assombrar seus sonhos.
— Não. — eu disse. O poder inchou dentro de mim, e pude cuspir em seu rosto pálido. O sangue voou em um longo e raso corte em sua bochecha.
Tudo congelou. Yvette levantou a mão ao rosto que sangrava.
— Como você fez isso?
— Se eu disser que não tenho certeza, acreditaria em mim?
— Não. — disse ela.
— Então, acredite nisso sua vaca. Conclua isto agora ou vou cortar você. — Não tinha certeza se poderia repetir o desempenho. Só vampiros mestres poderiam causar cortes à distância. Eu nunca tinha seque visto Jean-Claude fazer algo assim.
Yvette acreditou em mim. Ela inclinou-se perto o suficiente para que o sangrasse sobre o corte de cabelo loiro de Jason.
— Como você quiser sua puta, mas ele vai pagar por isso. — ela mostrou o corte para mim.— ele vai sofrer.
— Não é sempre este o caminho. — eu disse.
Ela fechou a cara para mim, aparentemente não era essa a resposta que estava esperando. Coloquei a mão em cada lado do rosto de Jason, forcei seus olhos a encontrarem os meus. Havia confusão sob o medo agora, porque Jason sabia que eu nunca tinha feito nada parecido com o que tinha acontecido à Yvette. Mas não poderia dizer como tinha feito isso, na frente dos bandidos.
Yvette deslocou seu corpo até pressionar ao longo do corpo de Jason. Virando-se contra mim. Não havia nada entre Jason e eu, alem do couro de suas calças e meu cetim. Meu corpo reagiu. Foi a minha vez de fechar os olhos para ele não ver. Talvez tenha sido apenas uma reação física, mas de repente estava me afogando no cheiro de sua pele, o conhecimento quente perto de seu corpo. A Munin estava aqui em uma corrida morna.
Levantei meu rosto e o beijei. No momento em que nossos lábios se tocaram, o poder fluiu entre nós. Era uma ligação diferente, melhor do que com Natanael, e eu sabia o porquê. Nathaniel não era do bando.
A princípio Jason não correspondeu ao beijo, então ele se afundou em minha boca, para o poder quente, e o poder cresceu até que pude sentir como um pequeno vento quente em meu corpo, através de nossos corpos. A energia fluiu mais, e fez Yvette gritar. Ela mergulhou as presas no pescoço de Jason. Ele gritou na minha boca, a rigidez do corpo, mas a dor andava sobre o aquecimento, o poder aumentando e saindo para fora.
Eu podia sentir a boca de Yvette como um sifão, sugando o poder a distância. Eu a empurrei e ela queria mais de nós, bêbada de mais que sangue.
Livre do corpo de Yvette, Jason se moveu contra mim. Ele me beijou como se estivesse dentro de mim, e eu me colei ao redor dele beijando-o de volta. Eu chamei a Munin e Raina, e não sabia como mandá-as embora.
Senti a parte inferior de seu corpo reagir, sentia-o vir, e isso foi suficiente para me ajudar a nadar de volta em controle. Que momento bonito e embaraçoso novamente.
Jason desabou em cima de mim, ofegante, mas não de medo. Eu virei o rosto para não ver as pessoas que estavam em torno de nós. Yvette estava caída de lado perto de nós, enrolada em uma bola, o sangue escorrendo para baixo do queixo. Ela lambeu o sangue, quase com indiferença, como se mesmo este pequeno esforço fosse demais. Ela falava francês para mim:
— Je rêve de toi. — Eu tinha ouvido uma versão deste, antes de Jean-Claude. Ela disse que “era o sonho de todos nós”.
Eu me ouvi dizer:
— Por que é que os franceses sempre sabem exatamente o que dizer em momentos como este?
Jean-Claude ajoelhou-se ao nosso lado.
— É genético, ma petite.
— Ah. — eu disse, tinha dificuldades em concentrar os olhos com Jason ainda esparramado sobre meu corpo.
— Jason. — eu disse, batendo em seu ombro nu. Ele não disse nada, apenas rolou para se deitar no chão, mais perto de Yvette do que eu jamais pensaria que estivesse disposto a ficar.
De repente, percebi que minha saia ainda estava em torno de minha cintura. Jean-Claude me ajudou a sentar enquanto eu colocava o vestido para baixo.
Richard ajoelhou-se conosco. Esperava um comentário mordaz. Certamente eu lhe dei munição suficiente para um. Ele me surpreendeu dizendo:
— Raina morreu, mas não foi esquecida.
Eu disse:
— Não é brincadeira.
— Sinto muito, Anita. Quando você me disse, não percebi que era uma fusão quase completa. Eu entendo porque está com medo dele agora. Existem coisas que você pode fazer para impedir que aconteça novamente. Eu também estava com raiva de você por acreditar que era assim
tão má. — Um olhar cruzou o seu rosto, dor e confusão. — Eu sinto muito por isso.
— Se você puder evitar que isso aconteça novamente, desculpas aceitas.
Padma subitamente pairou sobre nós.
— Você e eu vamos dançar em seguida, Ulfric. Depois da demonstração que sua lupa nos deu, estou mais ansioso do que nunca para sentir o seu gosto.
Richard olhou para mim, então para Jason e Yvette, ambos ainda deitados no chão, como se qualquer movimento fosse demais.
— Eu acho que não sou tão bom.
— Acho que você subestima a si mesmo, lobo. — Padma disse. Ele ofereceu uma mão a Richard, mas ele estava sozinho. Os dois homens tinham quase a mesma altura. Olhavam um para o outro, e eu já podia sentir o poder queimar entre eles.
Deitei-me contra o peito de Jean-Claude e fechei os olhos.
— Tire-me daqui antes que eles comecem. Não suporto estar perto de tanto poder tão cedo.
Ele me ajudou a ficar de pé, e quando minhas pernas não me seguraram, ele me recolheu em seus braços, me segurando sem esforço. Ficou ali me segurando, como se estivesse me esperando protestar.
Coloquei os braços em volta de seu pescoço e disse:
— Assim está perfeito.
Ele sorriu, e foi maravilhoso.
— Eu queria fazer isso a um longo tempo.
Era romântico estar em seus braços? Sim. Mas quando Jason conseguiu cambalear do chão, a frente de sua calça de couro azul estava manchada, e isso não era romântico.

 

 

 

 


CAPÍTULO 51

Padma e Richard se enfrentaram fora do meu alcance. Cada um foi deixando o seu poder para fora, como uma atração no final de uma linha, para ver quem tomaria a iniciativa. O poder de Richard era como sempre, um calor elétrico. Mas o poder Padma era semelhante. Mais do que qualquer outro vampiro que estava por perto, seu poder era quente, vivo, por falta de uma palavra melhor. Ele não tinha o brilho elétrico de Richard, mas tinha calor.
O poder deles encheu a sala como se o ar estivesse muito carregado com sua energia. Estava em toda parte e em lugar nenhum. A energia de Richard passou ao longo de minha pele, desenhou um suspiro da minha garganta que ecoou em Jean-Claude. O poder de Padma deflagrou junto à pele, como uma chama acesa As duas energias combinadas eram quase dolorosa.
Rafael veio ficar ao nosso lado. Jean-Claude ainda estava me segurando em seus braços, isso lhe permitiu saber como eu estava me sentindo péssima. O Rei Rato usava um terno azul marinho muito comum, camisa branca e gravata. Seus sapatos pretos estavam polidos, ele poderia ter ido a qualquer lugar, de uma reunião de negócios á um funeral. Sim, ele tinha a aparência de um desses homens que saiam apenas para os óbitos e casamentos.
— Eles se sentem bastante equilibrados, mas é uma mentira. — Ele disse baixinho, como se estivesse falando apenas para nós, mas estávamos perto o suficiente para que Richard pudesse ouvir. — Ele fez a mesma coisa comigo, então ele me esmagou.
— Ele não te esmagou — eu disse. — Você ganhou.
— Só porque você me salvou.
— Não — eu disse. — Você não lhes deu os homens-rato. Você venceu. — Toquei no ombro de Jean-Claude, e ele me colocou no chão. Eu poderia ficar de pé. Yippee.
— Impressionante Ulfric. — Padma disse — mas vamos ver o quão impressionante pode ser, não é? Obrigado, Rafael, por estragar a surpresa. Vou retribuir o favor algum dia. — As luvas, como dizem, estavam para fora. O poder de Padma trovejou através da sala. Eu cambaleei, e apenas a mão de Jean-Claude me impediram de cair.
Richard gritou e caiu de joelhos. Estávamos sentindo o poder de Padma. Richard estava recebendo o tratamento completo. Eu esperava que ele fizesse com Richard o que tinha feito comigo, mas não. Ele tinha outros planos.
— Mude para mim, Richard. Gosto da minha comida com pelos.
Richard balançou a cabeça. Sua voz saiu estrangulada, como se as palavras se arrastassem através de sua garganta.
— Nunca.
— Nunca pode ser um tempo muito longo. — afirmou Padma. Senti o seu poder como insetos sobre a minha pele, como picadas quentes de formigas vermelhas. Era o que ele tinha feito a Elizabeth a mulher-leopardo quando a puniu.
Richard não se contorceu no chão. Ele disse:
— Não. — Ele estava sob seus pés e deu um passo desconcertante para o vampiro.
A queima piorou, a energia pairava como mordidas quentes, se aproximando como pequenos incêndios contínuos. Eu fiz um pequeno som, e ainda era Richard. Ele deu mais um passo surpreendente.
O poder parou tão abruptamente que a ausência trouxe dor a Richard, ele estava quase de joelhos aos pés de Padma. Sua respiração era forte no silêncio repentino.
— A dor não vai lhe trazer para mim. — disse Padma. — Vamos dispensar os jogos, Ulfric? Devo me alimentar agora?
— Basta acabar logo com isso. — disse Richard.
Padma sorriu, e havia algo em seu sorriso que não gostei. Como se ele estivesse com tudo sob controle, e tudo estivesse indo como planejado.
Ele ficou atrás de Richard e graciosamente caiu de joelhos. Passou a mão ao lado do pescoço de Richard, virando a cabeça para o lado para um ataque bem limpo. Um braço caiu sobre seu peito, fixando-o ao seu corpo, por outro lado pressionado o rosto para o lado.
Padma inclinou-se sobre ele e sussurrou algo em seu ouvido. Um espasmo atravessou o corpo de Richard. Ele tentou se livrar de Padma, mas o vampiro era incrivelmente rápido. Ele deslizou os braços em Richard, dedos entrelaçados atrás do seu pescoço. A luta entre eles terminou com ele no chão e o vampiro em cima dele. Se tivesse sido uma luta, Richard estaria preso, perdido. Mas o árbitro não estava chegando para dizer “tempo”.
— O que está acontecendo? — Eu perguntei.
— Eu avisei à Richard. — disse Rafael — mas ele sempre foi tão forte.
— O quê? — Eu perguntei.
— Ele está chamando a besta de Richard, ma petite. — disse Jean-Claude. — Eu o vi fazer isso antes.
O corpo de Richard convulsionou tão violentamente, que sua cabeça bateu contra o chão com um estalo. Rolou a seu lado, mas o vampiro ficou com ele, murmurando, sussurrando.
— Será que ele consegue chamar um animal como este? — Perguntei a Rafael.
— Sim.
Olhei para ele.
Ele olhou para o show, não me olhando nos olhos.
— Ele chamou a minha besta como a água derramando sobre a minha pele, então drenou se afastado. Ele fez isso várias vezes, até que eu desmaiei. Acordei como você me encontrou na mesa, sendo esfolado. — Sua voz era neutra, como se fosse uma história sobre alguém.
— Ajude-o. — disse me dirigindo a Jean-Claude.
— Se eu entrar nesse círculo, Padma vai utilizá-lo como desculpa para me desafiar. Se houver um duelo, eu vou perder.
— Ele vencerá então. — eu disse.
— Ele também está se divertindo, ma petite. Quebrar alguém tão forte é a sua maior alegria nesta existência.
Um grito se derramou da boca de Richard. Um grito que terminou com um uivo.
— Eu vou ajudá-lo.
— Como, ma petite?
— Padma não pode me desafiar para um duelo, e não pode chamar a minha besta. Tocando-nos deixa a marca mais forte, certo?
— Oui.
Eu sorri e comecei a caminhar para Richard. Jean-Claude não tentou me parar. Ninguém o fez. Richard continuava de joelhos com o vampiro ainda preso a ele. Os olhos de Richard estavam âmbar, da cor do lobo, e ele estava próximo a entrar em pânico. Estava perto, eu podia sentir a sua besta, como uma forma enorme logo abaixo da superfície de um lago escuro. Quando ele rompesse a superfície o levaria. Rafael parecia ter aceito a sua perda, mas Richard não. Richard levaria à derrota a sério e se abateria com ela.
— O que está fazendo? — Padma perguntou, olhando para mim.
— Eu sou sua lupa e sua terceira. Estou fazendo o meu trabalho.
Eu tinha o rosto de Richard em minhas mãos, e isso foi suficiente. O toque físico era tudo o que faltava para reforçar o seu controle. Senti seu coração lento, o pulsar do seu corpo com facilidade. Senti que a grande forma se dissipava de volta para as profundezas. Richard se agarrava a minha marca como um náufrago com uma corda, enrolando-se em torno de si.
— Não. — Padma disse. — Ele é meu.
Eu sorri para ele.
— Não, ele é meu. Querendo ou não, ele é meu.
Os olhos de Richard voltaram ao seu marrom normal, e ele disse:
— Obrigado.
Padma estava com pressa, tão rápido que era quase como mágica, agarrou meu pulso, forte o suficiente para causar feridas, e eu disse:
— Você não pode me desafiar, porque não sou um vampiro. Você não pode se alimentar de mim, porque eu só posso jogar uma vez, e esta noite eu já fui a escolhida de Asher.
Richard estava deitado no chão, um braço apoiado para que ele não ficasse realmente deitado, mas eu tive um lampejo de como estava cansado, tão cansado, tão fraco.
— Você conhece nossas regras muito bem, Anita. — Padma disse. Ele me trouxe para perto dele, nossos corpos quase se tocando. — Você não é uma vampira, ou comida, mas ainda é sua lupa.
— Você vai tentar chamar a minha besta? — Eu disse. — Não se pode chamar o que não está lá. Eu senti o seu poder com o lobisomem à pouco. Ele levantou a mão ao meu rosto e cheirou ao longo de minha pele como se estivesse cheirando um perfume exótico.
— Você tem o cheiro do bando, Anita. Há algo em você que posso chamar. Seja o que for eu vou tê-lo.
— Ela não é parte do negócio. — disse Jean-Claude.
— Ela interferiu. — Padma disse. — Isso faz a sua parte deste bacanal. Não se preocupe. Eu não vou machucá-la...demais.
Ele se inclinou para mim e falou, suavemente. Era francês, e eu não sabia falar francês suficiente para entendê-lo. Peguei a palavra para o lobo, e poder, e a lua, e senti o aumento de poder dentro de mim. Era demasiado cedo após Jason. O poder estava muito próximo à superfície, perto demais. Padma o chamou, e eu não sabia como pará-lo. O estouro do poder sobre a minha pele parecia água quente. Meus joelhos fraquejaram e ele me pegou, desabei contra seu corpo.
Richard tocou na minha perna, mas era tarde demais. Ele tentou reforçar meu controle, como eu tinha feito para ele, mas eu não tinha nenhum controle ainda. Padma chamou e a Munin respondeu. Eu estava canalizando Raina pela segunda vez em uma hora.
O poder encheu a minha pele, e fiquei ali, pressionando meu corpo em Padma, olhando para ele a centímetros de distância. O poder queria tocar em alguém, em ninguém. Ele não se importava. Eu me importava, e tive bastante tempo para controlar e recusá-la. Eu disse:
— Não. — Eu me empurrei para longe dele, caindo no chão.
Padma me seguiu, tocando meus cabelos, meu rosto, enquanto eu me arrastava para longe dele.
— O poder é de natureza sexual, um desejo de acasalamento talvez. Muito interessante.
Jean-Claude disse:
— Deixai-a, Mestre das Feras.
Ele riu.
— O que você acha que aconteceria se eu continuasse a chamar sua besta? Você acha que ela se daria? Você acha que ela treparia comigo?
— Não vamos descobrir. — disse Jean-Claude.
— Se você interferir com o meu divertimento, então haverá um desafio entre nós.
— Isso é o que você sempre quis.
Padma riu de novo.
— Sim, eu acho que você deveria ser morto pela morte do Terremoto. Mas eu não posso matá-lo só por isso. O conselho votou a seu favor.
— Mas se me matar em um duelo, então ninguém vai culpar você, não é?
— Isso mesmo.
Fiquei encolhida no chão, me abraçando, tentando engolir o poder de volta, mas ele não ia a lugar nenhum. Richard rastejava para mim, tocando meu braço nu. Recuei como se seu toque tivesse me queimado, porque eu o queria, o queria de uma forma tão crua e primitiva que fez meu corpo doer.
— Não me toque, por favor.
— Como você se livrou da última vez?
— Sexo ou violência, o munin partia depois de sexo ou violência. — Ou a cura, pensei.
O poder de Padma andava sobre nós como em um aquário, um tanque com uma rodagem cravada. Nós dois gritamos e Jean-Claude gritou com a gente. Sangue saia de sua boca como um rio vermelho, e eu sabia o que Padma tinha feito. Eu senti que ele tentava fazer isso comigo. Empurrou o seu poder em Jean-Claude e o abriu, algo estourou dentro dele.
Jean-Claude caiu de joelhos, os salpicos de sangue em sua camisa branca. Eu estava de pé, sem pensar, de pé entre Padma e Jean-Claude. O poder queimando junto a minha pele. Minha raiva alimentando-a como se fosse realmente uma besta.
— Saia do meu caminho humana ou eu vou matá-la primeiro, e então o seu mestre.
Foi como estar dentro de um muro invisível de fogo e dor estar tão perto de Padma agora. Ele enfraqueceu Richard, então eu fiz algo para as marcas. Sem nós Jean-Claude não conseguia vencer.
Parei de lutar contra a energia dentro de mim. Abracei-a e a alimentei, e então ela se derramou para fora da minha boca num riso que levantou os pelos de meus braços. Não era o meu riso. Era uma risada. Eu jamais pensei em ouvir isso do lado do inferno.
Padma me agarrou pelos braços, erguendo-me.
— Eu tenho permissão para matar você, se interferir com um duelo.
Eu o beijei, um roçar macio de lábios.
Ele estava tão assustado por um segundo que simplesmente congelou, então ele retribuiu o beijo, fechando os braços em minhas costas, ainda com os pés pendurados fora do chão. Ele ergueu o rosto o bastante para dizer:
— Mesmo se você trepar comigo aqui e agora, não vai salvá-lo.
Esse riso se derramou de meus lábios, e eu senti uma escuridão encher meus olhos. Essa parte, o frio branco, onde não havia nada além de estática e silêncio, o lugar onde eu matei, se abriu dentro da minha cabeça, e Raina me encheu. Me lembrei da sensação do coração de Nathaniel em minhas mãos, no momento eu percebi que poderia matá-lo, que queria matá-lo, mais do que eu queria curá-lo. Portanto, muito mais fácil de matar.
Eu travei os meus braços em volta do pescoço de Padma e beijei sua boca. Enfiei o poder nele como uma espada. Seu corpo enrijeceu, fazendo-o abrir os braços, mas eu o estava segurando agora. Seu coração estava escorregadio e pesado. Ele bateu contra o poder como um peixe em uma rede. Eu enviei o poder de volta. Ele caiu de joelhos e gritou em minha boca. O sangue fluía em um jorrar aconchegante, encheu minha boca com a pressa salgada e quente dele.
Padma tirou minhas mãos, tentou me rasgar na tentativa de se afastar. Agarrei-lhe as pernas acondicionada em torno de sua cintura, braços em volta de seu pescoço.
— Pare ou eu vou esmagar seu coração. Afaste-se agora! — eu disse.
Thomas caiu de joelhos ao nosso lado, o sangue escorrendo pelo queixo.
— Você vai me matar e Gideon também.
Eu não queria matá-los. A força começou a se esvair, enterrada em arrependimento.
— Não. — eu disse em voz alta. Eu alimentei o poder sobre a minha raiva, minha indignação. O munin inchado e cheio em mim. Apertei o coração de Padma, cuidadosa, devagar.
Eu coloquei meu rosto contra o seu e sussurrei:
— Por que você não está lutando contra isso Mestre das Feras? Onde está sua coragem, seu poder, a energia de vocês?
Não houve resposta, apenas sua respiração difícil.
Apertei um pouco mais.
Ele engasgou.
— Nós poderíamos morrer juntos. — disse ele, a voz molhada com seu próprio sangue.
Esfreguei meu rosto contra o seu. O sangue de seus lábios manchando nossas peles. Eu sempre soube que o sangue era uma tara para os licantropos, mas nunca tinha apreciado totalmente o recurso. Não foi tanto a sensação do sangue como o cheiro dele. Quente, doce, categoricamente metálico, e embaixo, o cheiro do medo. Ele estava com muito medo. Eu podia sentir o cheiro dele, senti-lo.
Levantei o rosto o suficiente para olhar para ele. Era uma máscara de sangue. Parte de mim ficou horrorizada. A outra parte queria lambê-lo como um gato com uma tigela de creme. Em vez disso eu dei ao seu coração um aperto extra e assisti ao rápido fluxo de sangue de sua boca.
Seu poder construído em um banho quente.
— Eu vou matá-la antes de morrer, lupa.
Segurei-o e senti o seu poder começar a construir, ainda debilitado, mas o suficiente para fazer o trabalho.
— Você ainda é um bom hindu? — Eu perguntei.
Seus olhos mostravam confusão.
— Quanto carma ruim você acumulou nesta vida? — Eu dei uma rápida lambida em sua boca e tive que colocar minha cabeça contra a sua e fechar os olhos para não fazer o que a munin queria. Raina teria feito se estivesse aqui. — O que seria castigo suficiente para compensar suas maldades na próxima reencarnação Padma? Quantas vidas teria que ter para equilibrar isso de uma vez?
Recuei o suficiente para ver seu rosto. Eu não tinha controle suficiente novamente para limpar o rosto com a minha língua. Olhando nos seus olhos, eu sabia que estava certa. Ele temia a morte e o que viria depois.
— O que você faria para salvar a si mesmo, Padma? O que você daria? Quem você daria?— Sussurrei que a última.
Ele sussurrou de volta,
— Qualquer coisa.
— Quem? — Eu perguntei.
Ele apenas olhou para mim.
Jean-Claude estava sentado, nos braços de Richard.
— Ainda é um duelo até que esteja morto. Está dentro do nosso direito insistir em terminar isso.
— Você está tão ansioso para morrer? — o Viajante disse. — A morte de um é a morte de todos. Ele se levantou acima de nós e um pouco para trás, como se não quisesse estar muito intimamente associado com a gente. Muito sangue, muito primitivo, também mortal.
— Essa é uma pergunta que Padma deve responder, não eu — disse Jean-Claude.
— Qual é o seu preço? — Padma perguntou.
— Não há mais punição para a morte de Oliver. Ele perdeu um duelo, é tão simples como isso.— Jean-Claude tossiu, e mais sangue respingou de seus lábios.
— De acordo. — afirmou Padma.
— De acordo. — disse o Viajante.
— Eu nunca quis vê-los mortos por causa da morte do Terremoto. —disse Yvette — Concordo.
Asher disse:
— O Terremoto ganhou sua morte. Aprovada.
Jean-Claude estendeu a mão para mim.
— Venha ma petite. Nós temos a nossa segurança.
Eu balancei a cabeça, e dei um beijo na testa de Padma, delicado, casto.
— Eu prometi a Sylvie que todos os que a estupraram iriam morrer.
O corpo de Padma estremeceu.
— Você pode ter a mulher, mas não meu filho.
— Você concorda com isso, Viajante? Você, que Liv chama de mestre agora. Vai desistir dela tão facilmente?
— Você vai matá-la se eu recusar? — ele perguntou.
— Eu dei minha palavra a Sylvie. — eu disse. E sabia que isso significaria algo para eles.
— Então, Liv é sua para fazer o que achar melhor.
— Mestre. — disse ela.
— Silêncio. — disse o Viajante.
— Veja Liv, eles são apenas monstros.
Olhei para o rosto sangrento de Padma e vi o medo encher seus olhos como água derramando de um copo. Eu o vi olhar para minha cara e ver o vazio. Não, pois a primeira vez eu queria matar. Não por vingança, ou a segurança, ou mesmo a minha palavra, mas só porque eu podia. Porque em alguma parte escura de mim seria um prazer esmagar o coração e ver o sangue escuro se derramar dele. Eu teria gostado de culpar a munin ou Raina, mas não tinha certeza . Talvez tenha sido só eu. Talvez ele sempre tinha sido. Inferno, talvez fosse um dos meninos. Eu não sabia e não me importava. Deixei o pensamento encher meu rosto e os olhos. Deixei Padma ver, e o medo encheu seu rosto, seus olhos, porque ele entendeu.
— Quero Fernando, — eu disse suavemente.
— Ele é meu filho.
— Alguém deve morrer por seus crimes, Padma. Eu preferia que fosse ele, mas se você não o der a mim, eu vou levá-lo em seu lugar.
— Não — disse Yvette. — Temos sido mais que generosos. Deixamos você matar um membro do conselho e ficar impune. Te demos de volta o seu traidor e nosso novo brinquedo. Não te devemos mais nada.
Olhei para Padma, mas falei para os ouvidos do Viajante.
— Se você tivesse insultado os vampiros desta cidade então seria mais, e você não nos deve nada. Mas estamos lukoi e não vampiros. Você chamou a Geri a seu lado e ela veio. Você tentou quebra-la, e quando ela não se dobrou vocês a torturaram. Você a torturou quando sabia que não lhe daria a lukoi. Você a desonrou por qualquer motivo, diferente do que você podia. Fez isso porque não espera uma represália. O Mestre das Feras pensou em nosso bando como peões num jogo maior.
Eu liberei o seu coração, porque se eu não tivesse a munin o teria matado. Enfiei o poder profundamente. Enfiei com força e rápido até que ele gritou. Gideon e Thomas ecoaram seu grito.
Padma desabou para trás no chão comigo montando o seu corpo.
Levantei-me, as mãos espalmadas sobre seu peito, pernas prendendo seu corpo.
— Nós somos os Rokke Thronos, o povo Throne Rock, e não somos peões de ninguém.
Fernando ajoelhou-se fora do círculo.
— Pai. — disse ele.
— Sua vida ou a dele, Padma. Sua vida ou a dele?
Padma fechou os olhos e sussurrou:
— A dele..
— Pai! Você não pode me dar a ela. Para eles!
— Dá sua palavra de honra que ele é nosso para punir do jeito que acharmos conveniente, até a morte. — eu disse.
Padma assentiu.
— A minha palavra.
Damian, Jason, e Rafael de repente apareceram em volta de Fernando. Ele estendeu a mão a seu pai.
— Eu sou seu filho.
Padma não olhou para ele. Mesmo quando eu o soltei, ficou enrolado do seu lado longe de Fernando.
Limpei o sangue do meu queixo com as costas da minha mão. A munin estava indo embora. Eu poderia provar o sangue até o fim. Rolei para o meu lado e vomitei. O gosto do sangue não ia melhorar da segunda vez.
Jean-Claude estendeu a mão para mim e fui até ele. No momento em que sua mão fria tocou a minha, me senti melhor. Não muito, mas melhor. Richard tocou meu rosto com suavidade. Eu me deixei atrair para o círculo de seus braços. Jean-Claude pareceu ganhar força apenas com o meu toque. Sentou-se um pouco mais reto.
Olhei para Gideon e Thomas fazendo o mesmo com Padma. O sangue se derramava de todos eles, mas apenas os olhos de Padma ainda estavam assombrados pelo medo. Eu o empurrei para a beira do abismo. Empurrei a nós dois. Tinha sido criada como católica e não sabia ao certo se haveria Ave-Marias suficiente em todo o mundo para cobrir o que estava acontecendo comigo ultimamente.

 

 

 

 

CAPÍTULO 52

Fernando tentou fazer uma pausa para ele, mas ele foi superado. Ou teria que ser torturado? Eles o amarraram com correntes de prata e o amordaçaram. A mordaça conseguiu parar sua constante mendicância. Ele simplesmente não podia acreditar que seu pai o havia traído. Liv não brigou. Parecia quase resignada. O que parecia mais surpreendente para ela era o fato de que não os matei ali mesmo onde estavam. Mas eu tinha outros planos para eles. Eles tinham insultado o bando. Seria apenas justiça. Essa era uma espécie de atividade de grupo. Talvez nós convidássemos os homens-rato e tivéssemos um encontro de diversão de espécies.
Quando eles foram levados, fez-se um silêncio tão profundo e amplo que trovejou nos ouvidos e encheu a sala. Yvette pisou em seu silêncio. Ela estava sorridente e encantadora, doce e bonita manchada no sangue de Jason, e nossos poderes se misturavam.
— Jean-Claude ainda responder por suas traições. — disse ela.
— Sobre o que você está balbuciando? — disse o Viajante.
— Meu mestre, Morte d 'Amour, o acusou de tentar iniciar outro Conselho neste país. Um Conselho que vai roubar o nosso poder e nos fazer de bonecos.
O Viajante apenas acenou com a mão.
— Jean-Claude é culpado de muitas coisas, mas isso não é um deles.
Yvette sorriu, e o sorriso era o bastante. Ela ia dizer algo ruim.
— O que você diria Padma? Se ele é um traidor, então podemos executá-lo por isso. Ele pode ser um exemplo para todos os outros que se atrevessem a usurpar o poder do Conselho.
Padma ainda estava no chão, embalado nos braços dos seus dois servos. Ele ainda não estava me sentindo muito bem. Olhou para o nosso pequeno grupo. Ainda estávamos amontoados no chão, também. Seis de nós não íamos dançar a noite. O olhar de Padma disse tudo. Eu o humilhei, assustei-o com o inferno, e o obriguei a desistir do seu único filho à morte certa. Ele sorriu, e não era bonito.
— Se eles são traidores, então devem ser punidos.
— Padma — o Viajante disse — você sabe que isso é falso.
— Eu não disse que eles eram traidores, Viajante. Disse que “se forem” traidores, então devem ser punidos. Mesmo você deve concordar com isso.
— Mas eles não são traidores. — disse o Viajante.
— Eu uso a procuração de meu senhor para chamar um voto. — disse Yvette. — Acho que sei o que os três dos votos serão.
Asher chegou a ficar perto de Jean-Claude.
— Eles não são traidores Yvette. Dizer isso é uma mentira.
— As mentiras são coisas muito interessantes. Você não acha... Harry? — Ela estendeu a mão como se fosse um sinal e Harry, o garçom se juntou a ela. Eu não achava que poderia ficar mais surpresa esta noite. Eu estava errada.
— Eu vejo que você sabe de Harry. — disse Yvette.
— A polícia está procurando por você, Harry. — eu disse.
— Eu sei. — disse ele. Pelo menos ele teve dificuldades em enfrentar os meus olhos. Não me faz sentir muito melhor, mas um pouco.
— Eu achava que Harry era um dos seus. — disse Jean-Claude — mas ele é realmente um dos meus não é?
— Oui.
— Qual é o significado disto, Yvette? — o Viajante disse.
— Harry vazou as informações para os terríveis fanáticos, assim eles poderiam matar os monstros. — Por quê? — o Viajante perguntou.
— Exatamente o que eu ia perguntar. — eu disse.
— Meu senhor está com medo da mudança, tal como muitos dos antigos. Nos legalizando podem varrer a maioria das mudanças com as quais fomos ameaçados. Ele quer que todos nos temam.
— Como Oliver? — eu disse.
— Exatamente.
— Mas os assassinatos de vampiros não vão parar com isso. — eu disse. — Se alguma coisa acontecer um impulso é dado ao pró-vampiro maluco.
— Mas agora, teremos nossa vingança, uma vingança tão sangrenta e terrível que deixará todos contra nós.
— Você não pode fazer isso. — disse o Viajante.
— Padma me deu a chave. O Mestre da Cidade é fraco, sua ligação com seus servos o torna ainda mais fraco. Ele morreria facilmente agora se alguém desafiá-lo.
— Você, — disse o Viajante — poderia desafiar Jean-Claude, mas nunca poderia ser a Mestre da Cidade Yvette. Nunca terá energia suficiente em seu próprio país para ser um vampiro mestre. Poder. Seu mestre fez você tentar subir acima da sua capacidade.
— É verdade que nunca serei um mestre, mas há um senhor aqui que odeia muito Jean-Claude e seus servos. Não é mesmo Asher! — Ela disse seu nome como previsto.
Ele olhou para ela, mas parecia assustado. O que quer que ela tenha planejado, não lhe foi comunicado. Ele olhou para Jean-Claude.
— Você quer que eu o mate enquanto está fraco demais para lutar?
— Sim. — disse ela.
— Não — disse Asher — Eu não quero lutar com Jean-Claude, não assim. Lutar em um duelo é uma coisa, mas isso seria... traição.
— Eu achei que você o odiava. — disse Yvette.
— Eu sei, mas a honra significa algo para mim.
— Isso significa que não é o mesmo para mim? — Ela deu de ombros. — Você está certo. Se eu pudesse ser a mestre desta cidade. Mas poderia viver mais mil anos e nunca seria um mestre. Mas não é a honra que impede você. É ela. — Apontou para mim. — Deve haver alguma alquimia em você que eu não vejo, Anita. Você enfeitiça cada vampiro que chega perto de você, e todos os metamorfos.
— Você tem um grande gosto e não parece muito interessada em mim. — eu disse.
— Meus gostos correm para coisas ainda mais exóticas do que você, executora.
— Se Asher não vai tomar a cidade como mestre, então você não pode controlar os vampiros. Não pode fazer nada de terrível contra os humanos. — disse o Viajante.
— Eu confiava no ódio de Asher para fazer nosso plano de trabalho. Teria sido útil ter o controle dos vampiros da cidade, mas não é necessário. O massacre já começou. — disse Yvette.
Estávamos todos em silêncio, olhando para ela, todos nós pensamos a mesma coisa. Eu perguntei.
— O que quer dizer com já começou?
— Diga-lhes, Warrick. — disse ela.
Ele balançou a cabeça.
Ela suspirou.
— Tudo bem, vou dizer a eles. Warrick era um guerreiro santo, antes que eu o encontrasse. Ele pode chamar o fogo de Deus em suas mãos, não é mesmo?
Ele não olhava para nenhum de nós. Ficou lá, enorme brilhante e branco, de cabeça baixa como um menino que foi apanhado jogando hooky.
— Você começou os incêndios em Nova Orleans, San Francisco, e aqui? Por que não houve fogo em Boston? — Eu perguntei.
— Eu disse que comecei a me sentir mais forte a medida que ficava longe do nosso mestre comum. Em Boston ainda estava fraco. Fiquei assim até Nova Orleans, então senti a graça de Deus de volta para mim pela primeira vez em quase mil anos. Estava bêbado em um primeiro momento. Fiquei profundamente envergonhado por provocar um edifício. Eu não queria, mas me senti tão maravilhoso, tão puro.
— Eu o peguei. — disse Yvette. — Eu o mandei fazer isso em outros lugares, em todos os lugares que fomos. Disse a ele para matar pessoas, mas nem mesmo a tortura o obrigaria a fazer isso.
Ele olhou para cima, então.
— Eu tenho certeza de que ninguém ficou ferido.
— Você é um incendiário — eu disse.
Ele franziu a testa.
— Foi-me dado um dom de Deus. Foi o primeiro sinal do seu favor para voltar para mim. Antes, temia o Fogo Sagrado. Temia que pudesse me destruir. Mas eu não temo a minha própria destruição agora. Ela deseja usar a mim e os dons de Deus para o mal. Queria que eu queimasse o seu estádio com todas as pessoas dentro esta noite.
Eu disse:
— Warrick, o que você fez?
Ele sussurrou:
— Nada.
Yvette ouviu. De repente estava ao nosso lado, a saia branca balançando. Ela agarrou o seu queixo e o forçou a olhá-la.
— O que tinha que fazer era queimar os outros edifícios, deixar um rastro de evidências que culminaria com o pequeno sacrifício de hoje à noite. Uma oferta pequena ao nosso mestre. Queime o estádio como o planejado.
Ele balançou a cabeça, os olhos azuis arregalados, mas não de medo.
Ela bateu com força suficiente para deixar a marca de sua mão em um contorno vermelho em seu rosto.
— Seu bastardo. Você responde ao mesmo mestre que eu respondo. Vou apodrecer sua pele por isso.
Warrick ficou parado. Você podia vê-lo se preparando para o tormento que viria. Ele ficou branco e brilhante e parecia um santo guerreiro. Havia uma paz em seu rosto que era lindo de se olhar.
O poder de Yvette aumentou e retornou mais fraco. Warrick estava lá intacto, puro. Nada aconteceu. Yvette virou-se para todos nós.
— Quem o está ajudando? Quem o está protegendo de mim?
Eu percebi o que estava acontecendo.
— Ninguém está ajudando ele, Yvette. — eu disse — Ele é um vampiro mestre e você não pode machucá-lo mais.
— Do que você está falando? Ele é meu. Meu para fazer o que eu quiser. Sempre foi meu.
— Não mais. — eu disse.
Warrick sorriu e foi beatificado.
— Deus me livrou de você Yvette. Finalmente Ele me perdoou pela minha desgraça. Por cobiçar sua carne branca, que me levou para o inferno. Estou livre. Estou livre de você.
— Não. — disse ela — Não!
— Parece que nosso irmão membro de Conselho limitava os poderes de Warrick. — disse o Viajante. — Como ele estava lhe dando poder Yvette, estava sugando de Warrick.
— Isso não é possível. — disse ela. — Nós vamos queimar essa cidade até o chão e levar o crédito por isso. Vamos mostrar a eles quem são os monstros.
— Não Yvette. — disse Warrick. — Nós não vamos.
— Eu não preciso de você para isso. — disse ela — Eu posso ser monstro suficiente por conta própria. Tenho certeza que há é um repórter lá fora em algum lugar que eu possa abraçar. Vou apodrecer na frente de suas câmeras, em cima dele. Não vou deixar nosso mestre. Eu serei o monstro que ele quer que sejamos. Os monstros que realmente somos. — Ela estendeu a mão para Harry. — Venha, vamos encontrar as vítimas em lugares públicos.
— Nós não podemos permitir isso. — disse o Viajante.
— Não. — Padma disse. Afastou-se de pé com Gideon e Thomas. — Nós não podemos permitir isso.
— Não. — Warrick disse — Não podemos permitir que ela seduza mais ninguém. É o suficiente.
— Não, isso não é suficiente. Nunca será. Eu vou encontrar alguém para tomar seu lugar ao meu lado Warrick. Posso fazer um outro de você. Alguém que vai me servir totalmente.
Ele balançou a cabeça lentamente.
— Não posso permitir que você roube a alma de outro homem em meu lugar. Não vou resgatar um outro homem do inferno de seu abraço.
— Eu pensei que era o inferno que temia. — disse Yvette. — Séculos de preocupação que você assaria em punição por seus crimes. — Ela fez beicinho para ele, exagerando sua voz. — Séculos ouvindo você choramingar sobre sua pureza e sua queda em desgraça, o castigo que esperava você.
— Não tenho mais medo do meu castigo, Yvette.
— Porque você acha que já foi perdoado? — disse ela.
Ele balançou a cabeça.
— Só Deus sabe se serei verdadeiramente perdoado, mas se vou ser castigado, então vou ter que conquistar. Como todos nós temos. Eu não posso permitir que você ponha outro em meu lugar.
Ela veio até ele, arrastando os dedos em sua túnica branca. Perdi a visão dela atrás de suas costas, e quando voltou, estava apodrecendo. Ela arrastou as mãos deterioradas para baixo, deixando seu terno branco preto e verde, trilhas viscosas como lesmas obscenas. Ela riu dele com o rosto coberto de feridas.
Richard sussurrou:
— O que está acontecendo com ela?
— Yvette está acontecendo. — eu disse.
— Você vai voltar para a França comigo. Vai continuar a servir a mim, mesmo que seja um mestre agora. Se alguém quiser fazer esse sacrifício, é você, Warrick.
— Não, — disse ele. — Se eu fosse realmente forte e digno da graça de Deus, então talvez eu voltasse com você, mas eu não sou assim tão forte.
Ela colocou os braços apodrecido em sua cintura e sorriu para ele. O corpo dela estava se deteriorando, vazando fluidos escuro por cima do vestido branco. Seu cabelo estava pálido e seco diante de nossos olhos.
— Então me beije, Warrick, uma última vez. Tenho que encontrar um substituto antes do amanhecer.
Ele cercou-a com seu vestido branco, abraçando-a contra seu corpo alto.
— Não, Yvette, não. — Olhou para ela e havia algo quase como carinho em seu rosto. — Perdoe-me. — disse ele. Segurou as mãos para a frente.
Um fogo azul saltou de suas mãos, uma cor estranhamente pálida, mais pálida do que a chama de gás.
Yvette virou a cara podre para olhar para o fogo.
— Você não ousaria. — disse ela.
Warrick fechou os braços em volta dela. Sua roupa pegou fogo primeiro. Ela gritou:
— Não seja idiota, Warrick, deixe-me ir!
Ele a segurou, e quando o fogo atingiu a sua carne era como se ela tivesse sido coberta com querosene. Ela queimou com uma luz azul. Gritava e se debatia, mas ele a apertou em seu peito.
Ela não podia sequer vencer as chamas com as mãos.
O fogo de Warrick os banhou em uma auréa azul, mas ele não se queimou. Ficou ali brilhando em amarelo e branco cercado pelo fogo azul, e parecia um santo. Algo santo e maravilhoso, e terrível de se ver. Ele ficou lá brilhando e Yvette começou a escurecer e seus braços começaram a secar. Ele sorriu para nós.
— Deus não me abandonou. Só o meu medo me manteve no encalço dela todos estes anos.
Yvette se contorcia em seus braços, tentou fugir, mas ele a segurou apertado. Ele caiu de joelhos, inclinando a cabeça, enquanto ela lutava contra ele. Queimando, sua pele se soltava de seus ossos, e ela ainda gritava. O cheiro de cabelo queimado e da carne cozinha encheu a sala, mas não havia quase nenhuma fumaça, apenas a sensação de calor. Fazendo todos na sala de mover para trás. Por fim, felizmente, Yvette parou de se mover, parou de gritar.
Acho que Warrick estava rezando, enquanto ela gritava, se contorcia e queimava. As chamas azuis chegaram quase até o teto, depois mudou de cor. Tornaram-se puro amarelo-laranja, a cor da chama ordinária.
Lembrei-me da história de McKinnon, de como o incendiário tinha queimado uma vez e o fogo mudou de cor.
— Warrick, deixe-a ir. Você vai queimar com ela.
A voz de Warrick veio mais uma vez.
— Não tenho medo do abraço de Deus. Ele exige sacrifício, mas Ele é misericordioso. — Ele nunca gritou. O fogo começou a comê-lo, mas ele nunca fez um som. Nesse silêncio, ouvimos uma voz diferente. Um grito estridente, baixo e sem palavras, sem piedade, sem esperança. Yvette ainda estava viva.
Até que alguém finalmente perguntou se havia um extintor de incêndio. Jason disse,
— Não, não existe. — Eu olhei por toda a sala, e ele encontrou meu olhar. Olhamos um para o outro e eu sabia que ele sabia exatamente onde estava o extintor. Jean-Claude, cuja mão eu estava segurando, sabia onde estava. Inferno, eu sabia onde estava também. Nenhum de nós saiu correndo. Nós a deixamos queimar. Deixamos os dois queimar. Eu teria poupado Warrick se pudesse, mas Yvette...queime baby, queime.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 53

O conselho foi para casa. Tivemos a palavra de dois membros que não seríamos incomodado novamente. Não tinha certeza se confiava neles, mas era o melhor que iríamos conseguir. Richard e eu estamos nos reunindo regularmente com Jean-Claude, aprendendo a controlar as marcas. Eu ainda não posso controlar o munin, mas estou trabalhando nisso, e Richard está me ajudando. Nós estamos tentando ser menos desagradáveis um para o outro. Ele saiu do estado pelo resto do verão, para concluir os trabalhos em seu mestrado em biologia sobrenatural. Difícil trabalhar com as marcas a uma grande distância.
Ele se aproximou do bando local procurando possíveis candidatas à lupa. Não sei como me sinto sobre isso. Não estou mesmo certa se é Richard que eu temia perder. É o bando, o lukoi. Você pode sempre encontrar um outro namorado, mas uma nova família, especialmente uma tão estranha, é um dom raro. Todos os homens-leopardo vieram a bordo do meu movimento, mesmo Elizabeth. Surpresa, surpresa.
Os leopardos me chamar de sua Nimir-Ra, a rainha leopardo. Mim Jane e tu Tarzan, hein?
Eu dei Fernando e Liv para Sylvie. À excepção de algumas peças que Sylvie mantinha como lembrança, os dois sumiram.
Nathaniel queria morar comigo. Estou pagando o apartamento. Ele parece estar perdido, sem alguém para organizar sua vida. Zane, que se recupera de suas feridas a bala, diz que Nathaniel necessita de um mestre ou mestra, para não se perder na multidão e chamá-lo de animal de estimação. O termo significa alguém que está abaixo de um escravo, alguém que não pode funcionar sozinho. Nunca tinha ouvido falar de tal coisa, mas parece ser verdade, pelo menos para Nathaniel. Não, eu não sei o que vou fazer com ele.
Stephen e Vivian estão namorando. Sinceramente, eu pensava que Stephen gostava de homens. Mostra o quanto eu sei.
Asher permaneceu em St. Louis. Aqui, estranhamente, ele está entre amigos. Ele e Jean-Claude relembram sobre coisas que eu só tinha lido nos livros de história ou visto em filmes. Sugeri a Asher consultar um cirurgião plástico. Ele me informou que as queimaduras não poderia ser curadas porque foram causadas por um objeto sagrado. Eu disse, o que custa perguntar? Quando ele ouviu sobre a idéia do que a tecnologia moderna poderia ser capaz de fazer em seu próprio corpo maravilhoso ficou interessado. Os médicos estão esperançosos.
Jean-Claude e eu batizamos a banheira na minha casa nova. Velas brancas brilhando em todo lugar, a luz brilhando em seu peito nu. As pétalas de duas dúzias de rosas vermelhas flutuando sobre a superfície da água. E isso porque eu vim para casa em uma manhã. Fizemos amor até de madrugada, quando eu o dobrei em minha cama. Fiquei com ele até que o calor deixou seu corpo e meus nervos se quebraram.
Richard está certo. Não posso me dar completamente a Jean-Claude. Não posso deixá-lo se alimentar de meu sangue. Não posso realmente dividir a cama. Ele é, não importa o quão bonito seja, um morto-vivo. Eu me mantenho longe de qualquer coisa que me lembre fortemente esse fato, como o sangue e a temperatura corporal baixa. Jean-Claude certamente tem a chave da minha libido, mas o meu coração. . . Pode um cadáver ambulante deter a chave do meu coração? Não. Sim. Talvez. Como diabos eu vou saber?

 

 

                                                    Laurell K. Hamilton         

 

 

 

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