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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


SE APAIXONE POR MIM / Juliana Dantas
SE APAIXONE POR MIM / Juliana Dantas

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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Em algum lugar da minha cabeça, suspeitava que estava em um sonho.
Ainda assim, a estrada à minha frente, as luzes da cidade, o Rio Hudson à direita e a garota gritando ao meu lado eram extremamente reais.
— Cale a boca, pelo amor de Deus, Ash! — Bati no volante desejando que aquilo não fosse real.
Porque não aguentava mais.
Era como se um peso de uma tonelada oprimisse meu peito.
— Não vou calar! — A voz de Ashley aumentou alguns decibéis e sua mão empurrou meu ombro.
O carro se desviou da estrada por alguns segundos, antes que eu conseguisse voltar ao controle.
— Que merda está fazendo? Quer nos matar?
— Por que eu deveria me preocupar? Certamente você ficaria feliz se eu morresse!
— Está falando um monte de bobagem!
Ela riu. Não era uma risada com humor, e sim cheia de desespero. Quase histérica.
Em nosso tempo de namoro, eu tinha conhecido muitos lados de Ashley. E este que comecei a conhecer nos últimos dias, com certeza era o pior de todos.
O que me fazia desejar que ela sumisse pra sempre da minha vida. Por que demônios Ash não aceitou que nossa história acabou e seguiu em frente?
Em vez disso, ela escolheu armar pra mim. O golpe mais antigo no mundo, foi o que Jace disse quando lhe contei, com seu humor babaca de sempre.
Mas eu não via nenhuma graça.

 


 


— Está sendo tão canalha, Nolan! Sabe disso?

— Eu sou canalha? E você que engravidou de propósito pra me prender ao seu lado, como se isso fosse funcionar!

— Achei que gostasse de mim!

— E eu achei que fosse menos filha da puta!

— Não deveria falar assim comigo! Tudo o que eu quero é que me ame e está me colocando pra fora da sua vida! E este bebê que é seu!

— Chega! Não vai levar isso adiante! — Eu nem conseguia falar a palavra “bebê”.

Não era um bebê.

Não ainda.

Era apenas uma arma que fui burro o suficiente para deixar que Ash criasse contra mim.

— Eu já disse que não vou fazer um aborto!

— Vai sim!

— Não vou! — Ela começou a chorar. — Eu odeio você! Por que não pode me amar? Você não ama nada e nem ninguém! Está podre por dentro e apodrece tudo à sua volta! E a culpa é dela, não é?

Desviei a atenção da estrada por um instante, capturando o olhar acusador de Ashley, rodeado de maquiagem derretida.

— Ela?...

— Sua mãe! Foi ela quem fez isso com você!

— Cale a boca. — Arrastei o olhar de novo para a estrada, meus dedos segurando o volante com força.

— É verdade! Você está oco por dentro! Ela se matou e levou junto qualquer capacidade que tinha de ser humano!

— Cale a boca agora — repeti. A raiva golpeando meus sentidos.

— Por que não morreu junto com ela? Se era pra ficar assim?

— Chega, porra! — Bati no volante com força.

— Você é um lixo de ser humano! Igualzinho ao seu pai! Está sendo filho da puta comigo como seu pai foi com a sua mãe!

— Cale a boca! — Soquei o pé no que eu acreditava ser o breque enquanto jogava a direção para o acostamento, mas o carro acelerou e, tarde demais, ouvi o grito de Ashley como vindo de muito longe quando batemos na grade de proteção, que não foi capaz de impedir que o veículo voasse em direção ao rio.

Então era como se estivéssemos em câmera lenta, os estilhaços voando à nossa volta, enquanto íamos em direção à água.

Não de novo.

Eu já estive ali. Ouvindo os gritos de Ash, o rio se aproximando, como um monstro sombrio prestes a nos devorar.

E quando desviei o olhar para o lado. O pavor rastejou por meu corpo, porque não era mais Ashley que estava ali.

Era Amanda.

Sua expressão de horror, um grito mudo nos lábios entreabertos enquanto meu olhar acompanhou sua mão que pousou na barriga dilatada.

— Você disse que não ia me destruir...


Capítulo 1

 

Nolan

 

— Não!

Sentei na cama, respirando com dificuldade e percebendo que estava mesmo em um sonho.

Um sonho não. Um pesadelo.

Alguém se mexeu ao meu lado, enquanto eu, suado e aflito, tentava fazer meu coração voltar a bater de forma normal. Era como se todo o pavor do sonho ainda estivesse ali, dentro do meu corpo.

— Ei, eu quero dormir... — A voz sonolenta de Jace chegou até mim e revirei os olhos.

— Vá para seu quarto, aposto que a piranha da sua namorada está lá te esperando para te fazer um boquete.

— Já te falei para não chamar minha namorada de piranha. — Ele me socou no ombro. Obviamente não tinha nenhuma força naquele soco, embora Jace fosse bem maior do que eu e pudesse me nocautear. — Não tenho culpa se preferia você mesmo estar recebendo um boquete agora da garota com quem se casou, mas em vez disso tem que me aguentar.

Merda.

Provavelmente Jace tinha razão.

— Eu tive um pesadelo, ok? — resmunguei jogando as cobertas para o lado.

Jace se sentou na cama.

Eu não deveria ter deixado ele ficar quando apareceu. Mas ele disse que queria me impedir de quebrar o quarto inteiro como um astro de rock fracassado.

“Já irritou o papai por uma vida inteira hoje, cara . Melhor guardar um pouco pra depois.”

E o deixei ficar porque era exatamente o que eu tinha vontade de fazer naquele momento.

Beber até ficar inconsciente e quebrar tudo.

Não era o que fazia com maestria?

Destruir tudo à minha volta?

Talvez Amanda tivesse razão em ter dado o fora.

— Com a mamãe? — Jace indagou com cuidado.

Meu irmão já me viu ter pesadelos. Eram frequentes depois que mamãe morreu. E como nesta noite, Jace vinha para meu quarto e apenas se deitava ao meu lado, me deixando saber que eu podia me sentir sozinho, mas não estava.

E ainda dizia “Amanhã vamos sair e conseguir a melhor droga e a melhor boceta da cidade e vamos incendiar Nova York, o que acha?”.

E era o que acabávamos fazendo para suprir o vazio de nossas vidas fodidas.

— Não. Era Ashley.

Eu já tive aqueles pesadelos com Ash antes. Inúmeras vezes.

Mas era a primeira vez que Amanda aparecia neles.

Inferno. Ela deveria estar ali.

Deveríamos estar em uma fodida lua de mel.

“De quem é a culpa se ela não está?”. Uma voz cheia de sarcasmo vomitou em meu cérebro ainda confuso e joguei as pernas para fora da cama.

— Ei, aonde vai?

— Preciso sair.

— Cara , sério? Estou morto depois de toda essa festa de casamento de terror que me fez participar, sinceramente, não estou a fim de sair não. E aonde iríamos nesta maldita cidade? Ainda temos alguma moto para incendiar? Vamos quebrar o nariz do Cooper? Ou está pensando em quebrar as pernas do ex da Amanda e jogá-lo no mar para um tubarão comer? Seja o que for, desta vez eu o aconselharia a desistir...

Eu tive que rir enquanto colocava uma calça jeans e uma camiseta.

Este era Jace. Ele não era o mais inteligente, o mais sensato, mas era engraçado pra cacete e sempre me fazia rir.

Além de sempre estar disposto a seguir seja lá o que eu quisesse aprontar.

Foi sempre assim. Jace era o maior e mais forte, mas eu era o cérebro mau da dupla.

Era assim que mamãe falava, antes de...

Sacudi a cabeça, para desanuviar os pensamentos.

Aquilo era quando éramos crianças, e o que aprontávamos era traquinagem infantil e não o que passamos a fazer depois que ela nos deixou.

Peguei as chaves do carro, antes que Jace conseguisse se mover para me impedir ou querer ir comigo.

— Não se preocupe. Não vou botar fogo em ninguém.

***

Eu costumava odiar Camden.

Suas ruas tranquilas, a brisa marítima que atraía os turistas com suas vidas medíocres nos fins de semana, a escola com estudantes deslumbrados quando eu e Jace chegamos, nos seguindo com seus olhares cobiçosos e invejosos como se fôssemos alguma espécie de realeza.

Eles não sabiam que quando sangrávamos nosso sangue era da mesma cor do deles? E a gente sangrava. Sangrava por dentro, sem ninguém ver ou desconfiar.

Em Nova York convivíamos com gente rica e esnobe no nosso pequeno mundinho brilhante e sujo. Nós nos misturávamos à aristocracia local, feitos do mesmo material nobre: dinheiro. Era o dinheiro que nos fazia mais bonitos, mais atraentes, quase imortais. Lá, podíamos tudo. Tínhamos tudo. E podíamos destruir tudo. Com um piscar de dedos, os castelos de areia dourada se desmontavam e eram levados pelo vento. Reputações se construíam e se destruíam todo dia. Por fora, nos erguíamos e seguíamos em frente. Mas por dentro, a cada queda, nos tornávamos mais opacos e quebradiços.

Estragados e exaustos.

Era assim que eu me sentia quando cheguei ali.

Danificado. Cansado.

Ainda havia um tanto de revolta. A mesma que me fazia ter forças pra continuar, dia após dia, lá em Nova York, destruindo tudo à minha volta apenas por um pouco de diversão, para me sentir vivo e para arruinar a paz de espírito do meu querido pai.

Theodore Percy podia andar por aí com sua empáfia, seu dinheiro e seu sorriso de bilhões, como se não tivesse culpa dela não estar mais neste mundo. Mas eu não o deixaria esquecer.

Só que nessa ânsia por destruição, danifiquei mais do que deveria. Ashley havia atravessado o meu caminho e, por um tempo, esteve ao meu lado, curtindo nossa interminável festa subversiva com a mesma euforia. Eu curtia como ela era sexy, inconsequente e até mesmo um pouco maldosa.

Éramos parecidos em muitas maneiras, mas Ash não tinha as mesmas cicatrizes que as minhas. Para mim, ela não era nada mais do que uma garota com quem eu me divertia. Não percebi que me tornei sua pequena obsessão, não até a hora em que decidi pôr um ponto final no nosso relacionamento, como já tinha colocado em outros. A paixão que ela me despertou tinha se esvaído e não restou nada, assim como todas as outras antes dela. Eu não tinha nada para dar a ninguém a não ser sexo e diversão por algum tempo. E não queria nada mais delas. Porém, Ashley decidiu que queria mais e isso veio em forma de uma gravidez muito bem arquitetada por sua mente que um dia eu achei deliciosamente diabólica. Ali, ela me irritou pra cacete.

Não havia a menor possibilidade de eu aceitar aquela emboscada. Era ridículo e absurdo. Pra começar, nós tínhamos 17 anos, quem em sã consciência queria ter um filho quando, em muitos aspectos, ainda éramos crianças?

Segundo, que este não seria um motivo para me apaixonar milagrosamente por Ash e aceitar ficar com ela pra sempre, criando um bebê que nem um de nós queria. Porque Ash podia parecer emocionada e feliz, mas eu conhecia de desespero e era somente isso que a movia.

Pedir que abortasse foi minha segunda reação, depois da raiva por ter caído naquele ardil. Nunca achei que Ashley chegaria a este ponto. E ela me surpreendeu quando disse que não ia fazer isso. O que ela esperava? A raiva foi crescendo dentro de mim. Raiva de mim mesmo por ter sido idiota e raiva de Ashley por sua paixão sem sentido que a fez chegar àquele ponto.

E ainda havia meu pai. Claro que eu adorava vê-lo irritado. Eu vivia pra isso. Sabia que era doentio pra cacete, mas não estava nem aí.

Era o que me alimentava de mais ódio e ressentimento. O que me deixava satisfeito, porque enquanto estivesse furioso comigo, ele estava sofrendo. E era só isso que merecia. Ainda mais agora que tinha conhecido uma puta em algum cruzeiro ridículo e comunicado que iria se casar de novo, como se tivesse esse direito, de reconstruir sua vida, com outra mulher, em um casamento idiota, quando minha mãe não aguentou viver ao seu lado, afinal, ele foi um péssimo marido.

Óbvio que ele ficou furioso quando Ashley lhe contou. Furioso como nunca, mas pelo menos ele era da mesma opinião que eu, de que ela deveria fazer um aborto. Isso não me poupou de sua raiva, e da interminável briga que tivemos, onde ele me acusou de ser irresponsável e inconsequente. Sim, eu era tudo isso, mas nunca quis que Ashley ficasse grávida para provar um ponto a meu pai. Era passar do limite e olha que eu achava que nem tinha limite.

Na noite do acidente, eu havia saído de mais uma briga onde Theodore exigia que eu convencesse Ashley a “resolver aquela situação terrível”, pois se não resolvesse as consequências seriam pesadas para mim. Eu ri lhe perguntando que tipo de coisa ele achava que podia fazer comigo e ele afirmou que ia cortar todo meu dinheiro. Respondi que não me importava, o que era mentira. Eu era um babaca, mas um babaca rico e gostava do status e possibilidades que isso me trazia. Era a única vida que eu conhecia. Além do mais, receberia a herança da minha mãe quando fizesse 21 anos, herança esta que estava sendo administrada pelo meu querido pai, então eu só teria que aguentar pouco mais de três anos para me livrar dele para sempre. Até lá, estava feliz em infernizar sua vida.

Então, estava irritado quando cheguei a uma festa e encontrei Ashley, pedi que saíssemos de lá e estava disposto a conversar e tentar convencê-la a voltar a si. Mas Ash estava muito bêbada e mais dramática do que nunca. A discussão começou no carro, aumentando a um ponto em que as ofensas dela chegaram até no assunto da minha mãe, o que fez com que eu perdesse o controle de mim e depois do carro.

Quando acordei no hospital, Jace estava ao meu lado, muito branco e pela primeira vez, sério. Meu pai ainda estava furioso.

E descobri que tinha saído do acidente apenas com arranhões, mas Ashley perdera o bebê.

— O que estava pensando? — Theodore gritara. — Dirigir bêbado já não é novidade e sabe mais o quê sempre usa! Eu deveria desconfiar que um dia iria sofrer um acidente sério!

— Pai, o Nolan está inteiro, nem quebrou essa carinha bonita dele. — Jace tentou brincar.

— Cale a boca você! Vai continuar defendendo este fedelho irresponsável do seu irmão? Ele poderia ter morrido...

— Acho que ficaria feliz, não? — resmunguei.

— O que está dizendo? Que por isso estava correndo daquele jeito? Para me afrontar? Foi mais um dos seus joguinhos infantis para chamar a atenção e me irritar? Quando vai crescer e parar com isso? Não pensou que podia ter matado Ashley e até mesmo outra pessoa? Quer passar a vida na cadeia por ter matado alguém? Acabar com sua vida?

— Fala como se importasse!

— Eu não deveria me importar! Mas é meu filho. Qualquer coisa que faça, resvala em mim. É óbvio que sabe deste fato e por isso continua com essas suas atitudes! Pois agora chega! Não vou entrar mais nesse seu jogo. Por muito pouco ainda está vivo, assim como Ashley. A gravidez foi interrompida e pelo menos é um problema a menos no momento, mas não vou continuar assistindo você se destruir e levar Jace junto!

— Ei, pai, a culpa não é toda do Nolan.

— Eu sei como as coisas são desde que vocês eram crianças. E deixei que Daisy fosse permissiva, este foi meu erro.

— Não fale da minha mãe — sibilei baixo.

— Como eu disse, agora as regras são outras. Jace está indo para a universidade em Boston e nós vamos nos mudar.

— O que quer dizer? — Jace indagou confuso.

— Helena e eu vamos nos casar dentro de um mês.

— Um mês? Achei que ia demorar... — Jace trocou um olhar comigo. Ele não se importava tanto quanto eu com a nova namorada do meu pai, que nós havíamos visto algumas vezes quando ela vinha jantar conosco. Eu só sabia que ela era médica em uma pequena cidade no Maine, viúva e tinha uma filha da minha idade.

— Sim, e vamos nos mudar para Camden.

Theodore não deixou espaço para questionamentos ou recusas. Como ele mesmo fez questão de frisar, eu era menor de idade e ele não permitiria que permanecesse em Nova York, e claro, seu melhor argumento foi que eu deveria me afastar de Ashley, que teria a chance de se curar daquela obsessão por mim e esquecer todo o episódio lamentável da gravidez.

Foi neste momento que eu percebi que me sentia culpado.

E me surpreendi por me sentir perturbado.

O que não fazia o menor sentido.

Deveria ter ficado aliviado pela gravidez não existir mais. De certa forma, eu até me sentia. Ashley não estava sendo razoável em teimar não fazer o aborto, mas achava que a convenceria em algum momento. Eu era arrogante a este ponto. Porém, não queria que as coisas tivessem terminado daquela maneira. Se fechasse os olhos ainda conseguia ouvir os gritos de pavor de Ashley no momento da colisão e do horror que senti com a possibilidade que nós dois poderíamos morrer.

Eu não encarava minha vida como algo precioso, certamente. Na verdade, eu nem sabia o que diabos estava fazendo na maior parte do tempo. Vivia para me divertir: beber, fumar, usar qualquer droga que me tirasse do ar por algum tempo. Para transar com garotas que seriam esquecidas facilmente e claro para deixar Theodore Percy furioso e não esquecer que ele era um cretino.

Eu não esperava que a possibilidade real de morrer me assustasse.

Será que foi assim que ela sentiu quando tirou a própria vida? Ou será que nunca se importou de verdade? Será que não pensou que me deixaria para trás? Quando pensava nisso, sentia raiva por ela ter ido sem mim, talvez eu devesse ter ficado feliz com a possibilidade de morrer e encontrá-la em algum lugar. Só que eu não acreditava em céu e em nenhuma dessas baboseiras. Inferno? Até podia ser. Mas não gostava de imaginar que ela estava lá, como aqueles religiosos de araque gostavam de pregar, que quem cometesse o pecado de tirar a própria vida ficaria pra sempre em um lugar ruim.

Provavelmente o inferno era mais um estado de espírito. Algo que criamos dentro de nós. E vivíamos lá, cultivando nossas flores mortas e podres até que tudo estivesse morto.

Nisso, eu acreditava.

Ashley devia ter razão. Eu estava oco por dentro.

Depois do acidente, talvez eu tenha pela primeira vez me permitido sentir tristeza. Fui até o quarto de Ashley. Fiquei mal pra cacete por vê-la cheia de escoriações, uma perna quebrada e o olhar vazio.

Ela apenas chorava num tipo de desolação que nunca achei que seria capaz de sentir. Estava realmente sentindo a perda da gravidez?

Não saberia dizer. Mas algo a fazia sofrer muito e provavelmente a culpa era minha.

Eu tinha quebrado aquela garota.

Segurei sua mão e disse que sentia muito.

Ela descansou em mim seu olhar triste.

— Acha que nós vamos para o inferno?

— Do que está falando?

— Nós matamos aquele bebê.

Eu senti um nó no estômago.

Até aquele momento eu não me permiti pensar naqueles termos.

Bebê. Criança. Um ser humano assim como eu e Ashley.

Ashley estava grávida de quatro semanas. Ainda era só um embrião.

“Poderia ser mais se você tivesse permitido.”, uma voz incômoda arranhou meu íntimo.

Mas ser o quê?

Eu não poderia ter levado aquilo adiante. Eu era só um cara fodido que passava os dias fazendo merda por diversão. Que não tinha nenhum objetivo claro na vida ou algo a que se apegar.

E Ashley era uma garota que havia engravidado porque cometeu o erro de se apaixonar por mim.

Mesmo assim, agora a culpa estava se alastrando feito a droga mais poderosa por meu sistema e se instalando em meu íntimo para lá ficar.

E por um momento, eu me perguntei se tudo poderia ter outro desfecho. Se eu tivesse aceitado aquela gravidez, mesmo não tendo ideia de como poderia fazer dar certo. Não haveria acidente. Ashley não estaria machucada por dentro e por fora.

E eu não estaria com aquele sentimento bizarro e inédito oprimindo meu peito e me roubando o ar.

Eu estraguei tudo e destruí Ashley.

E agora teria que dar um jeito de seguir em frente com o que restou.

— Não foi culpa sua, e sim minha. E se existir inferno, ele é isso aqui. A minha vida.

— Eu só queria que a gente tivesse ficado junto... — Ela voltou a chorar. — Você vai me deixar?

— Eu vou pra Camden. Meu pai vai se casar e vamos nos mudar.

— Onde diabos fica Camden?

Eu consegui rir.

— Uma cidade de merda no Maine.

— Que horrível. Aposto que nem deve ter uma balada decente ou alguma loja de grife. Vai morrer de tédio lá.

— Provavelmente sim.

— Talvez eu possa te visitar?

— Você tem que ficar bem agora.

— Não vai mais terminar comigo, não é? Eu não ia suportar. Sei que fiz uma bagunça e acho que tinha razão talvez... Não deveria ter forçado uma gravidez, mas você pode ficar feliz agora. Não estou mais grávida. Então, vai me dar outra chance? Pelo menos tentar?

Havia esperança em seu olhar e eu não tive coragem de desfazer.

Pelo menos por enquanto.

Que diferença ia fazer?

Eu ia embora em um mês e longe, provavelmente, Ashley começaria a me esquecer.

— Podemos tentar sim — eu garanti, mesmo sabendo que da minha parte não havia mais nada.

Mas pelo menos havia um resquício de consciência e solidariedade com os sentimentos de Ashley, algo que eu não tive antes.

E foi assim, que um mês depois Theodore Percy se uniu em matrimônio a Helena Carter e nós nos mudamos para uma casa novinha em folha em Camden.

Eu estava disposto a odiar minha nova família desde o princípio, mas Helena era uma mulher doce e compreensiva que na maior parte do tempo me defendia quando Theodore começava com seus ataques de fúria, mesmo ali em Camden não tendo muito espaço para o tipo de arruaça que eu fazia em Nova York, ainda mais sozinho.

— Você não vai aprontar mais nada em Camden, entendeu? Não quero mais saber de festas selvagens, drogas e bebidas. Se aprontar qualquer coisa, eu te mando para um colégio militar no fim do mundo! — Ele havia me ameaçado.

No começo, não estava disposto a continuar com o tipo de comportamento que eu tinha antes. Algo no acidente com Ashley quebrou um pouco da minha ânsia em ser rebelde. Eu disse a mim mesmo que apenas aguentaria firme, naquela merda de cidade caipira. Seria apenas um ano e então iria para a faculdade e estaria parcialmente livre.

Ali em Camden, eu não tinha a menor vontade de fazer amigos. Eram todos muito diferentes de mim, além de me verem como um príncipe da realeza, ou algo do tipo. Eu me mantinha afastado e com cara de enfado a maior parte do tempo, mesmo minha nova irmã, Samantha, sendo a pessoinha mais feliz que se tem notícia.

Samantha Carter era um gnomo da felicidade, ou algo assim, que estava disposta a fazer com que eu fosse seu amigo.

Ela estava sempre com Stella, a loira bonita que não perdeu tempo em dar em cima de mim no primeiro minuto que nos encontramos, mas para a infelicidade dela, eu não estava a fim de namorar ninguém mais. E sexo sem compromisso com a melhor amiga da minha meia-irmã poderia ter um efeito colateral que eu não queria encarar. E assim que Jace apareceu na cidade para passar o fim de semana, ele se apaixonou por ela imediatamente. E poucas visitas depois, eles eram um casalzinho chato inseparável. E tive certeza de que foi por isso que ele largou a faculdade meses depois e voltou pra cidade. Ele dizia que ia tomar bomba, sem a minha ajuda, mas eu sabia que no fundo a culpa era da boceta da Stella.

Eu e Stella não éramos muito amigáveis um com o outro. Ela era narcisista e ambiciosa e Jace parecia um gatinho carente atrás dela fazendo suas vontades. Era ridículo.

Porém, acabei me apegando à alegria exasperante de Samantha. Ela era popular. Adorava dar festas para se exibir para o povo besta da cidade que se estapeava para ser convidado e tinha uma mania insuportável de se intrometer onde não era chamada. Mas possuía um jeito irritante de me fazer sentir melhor. E ela também engatou um namoro com Austin, o primo de Ashley, de quem eu fui muito amigo uma época. Ele sempre aparecia em Camden para visitar Samantha e era um cara legal.

Então as coisas melhoraram quando Jace voltou e eu comecei a aceitar minha nova realidade. Só que, assim como Ashley havia previsto, eu me sentia entediado.

Com Jace, a gente saía de barco, fumava um baseado e bebia para nos sentirmos melhor. Isso quando Stella o liberava. Isso me irritava pra cacete. Jace dizia que eu devia sair com as garotas da cidade que faziam fila para tentar chamar a minha atenção porque não fazia sentido ser fiel a Ashley, a quem eu ainda visitava em Nova York de vez em quando, ainda esperando o momento de acabar com tudo. Mas a merda da culpa ainda me oprimia e isso me deixava com raiva de Ashley de novo. Porque eu sabia que de alguma maneira era a nova forma que encontrou de me manipular para ficar com ela. Eu podia mandá-la se foder e era o que eu tinha vontade de fazer, mas alguma coisa sempre me impedia.

Eu lembrava do seu olhar de horror quando voamos em direção ao rio. Eu não queria ter aquela consciência.

E também ainda havia a raiva do meu pai.

Essa, acho que não iria embora nunca. Eu havia me mantido quieto, quase um cordeirinho, apenas lhe respondendo com raiva e desdém para provocá-lo, só para vê-lo bufar e rosnar. Ainda era divertido.

Mas por mais que eu não sentisse ódio de Helena, ficava cada vez mais puto quando o via feliz com ela.

Por que ele não podia ter feito minha mãe feliz como se esmerava para fazer Helena? Por que tinha outra oportunidade de ser feliz enquanto minha mãe estava num cemitério?

Não era justo.

E nesses momentos, eu era tomado de fúria e ressentimento de novo.

E queria algo, qualquer coisa.

Uma arma talvez.

Só não sabia se para pôr na cabeça de Theodore ou na minha.

Eu estava me enchendo de alguma substância escura e viscosa e em algum momento iria transbordar ou explodir.

Quando encontrei Amanda Thomas com seu carro quebrado no meio da estrada, eu não podia imaginar que ela se tornaria este algo que eu procurava.

Mas de maneira nenhuma foi o que eu esperava, pensava agora, parando o carro em frente a sua casa e saltando.

Olhei para cima, para sua janela aberta. Exatamente como fiz naquela noite, quando escalei para lhe devolver o livro que esqueceu. Voltar e pegá-lo foi apenas um ardil para vê-la de novo. Já havia um plano em andamento em minha mente desde a hora em que ela entrou no meu carro e pousou em mim os olhos mais inocentes e bonitos que eu já vi. Eu não conhecia aquele tipo de inocência e muito menos aquele tipo de interesse que havia em seus olhos e ela nem conseguia disfarçar, embora talvez não tivesse nem noção. Era diferente das garotas bobas da cidade com sua sedução caipira ou da sedução experiente das garotas de Nova York, como Ashley. Ela simplesmente não fazia nada para disfarçar, mas também não ia em frente. Talvez pelo tal namoradinho que citou num primeiro momento, com certeza com o intuito de impedir que eu fizesse qualquer movimento. Não que houvesse alguma ideia de me mover naquele instante. Eu nem esperava me atrair por uma garota igual a ela. Amanda Thomas era bonita, de uma forma simples e despojada de ser, e eu não pude deixar de dar uma checada em seu corpo com um olhar puramente masculino e gostar do que vi. Mas eu já havia conhecido garotas muito mais bonitas. Ashley mesmo era deslumbrante. Mas havia algo em Amanda. Talvez aquela atração que sentia e não conseguia evitar. Ela estava se esquivando, sem nem mesmo perceber. Fugindo sem saber do quê. Mas eu sabia. Eu era milhões de anos mais experiente do que ela naquele jogo, embora tivéssemos a mesma idade.

E os minutos em que ela permaneceu em meu carro, até que eu a deixasse na sua casa, foram os mais interessantes do ano que passei em Camden. Talvez os mais inusitados depois de um longo tempo.

Eu estava interessado. Instigado.

Atraído.

Nem um pouco entediado.

Na manhã seguinte, eu a busquei em sua casa, depois de me certificar que o carro idoso estaria em uma oficina.

Ela parecia tímida e sem graça em aceitar minha carona e eu me perguntei o que ela faria se eu desviasse o caminho da escola. Se a levasse para alguma praia sem ninguém. Quanto tempo ela demoraria resistindo?

Eu tive certeza de que seria fácil, mas rápido demais.

Amanda Thomas parecia aquelas meninas que se arrependeriam de mim tão rápido quanto tiraram a calcinha.

Na escola, Jace, Stella e Samantha se aproximaram, e fiquei surpreso ao descobrir que o pai dela era pastor, o que explicava muita coisa. E também me surpreendi por Stella ter sido amiga de Amanda e agora claramente tinha alguma implicância com ela a chamando de santinha com desprezo na voz.

— Santinha? Aposto que é virgem então. — Jace havia provocado.

— Com certeza. E o trouxa do namorado dela ainda a aguenta assim. Mas sabe, ele a trata como uma intocável. Que idiota! — Stella desdenhou com veneno.

— Isso não serviria pra mim. É sério isso? Vai casar virgem e esses troços religiosos todos? — Jace continuou com sua falta de filtro.

Encostado no carro fumando, observei Amanda corando, o que me fez atinar que Stella tinha razão. Amanda provavelmente era virgem. Mas porra, ela não tinha um namorado?

— Não sabe o que está perdendo! Ou é por isso que está andando com meu irmão? E ai, cara , vai traçar a filhinha do pastor? — Jace ainda insistiu na conversa.

Eu não consegui evitar rir.

Amanda havia se afastado vermelha e furiosa e Samantha me encarou com um olhar curioso.

— E o que você está fazendo andando com a filha do pastor, Nolan? Ela tem namorado, sabia?

Eu dei de ombros, apagando o cigarro.

— Mas pelo que a Stella falou, não transa. Se ele não quer, tem quem quer.

— Não está falando sério!

— Isso aí, irmão! A santinha é mesmo gostosinha. — Jace fez movimentos sacanas com os quadris.

— Duvido que consiga conquistar a Amanda — Stella desdenhou. — Ela foi criada numa redoma!

— Vocês eram amigas, deve saber mesmo... — comentei curioso — Por que não são mais amigas?

— Não é da sua conta.

— Como ela pode ter namorado e ser virgem? — Jace indagou com descrença. — Deve ser daquelas que faz de tudo menos o buraco principal, já ouvi falar.

— Credo, Jace! — Samantha fez uma careta.

— Amanda namora um cara que a respeita como se ela fosse uma santa ou algo assim — Stella disse com cara de nojo. — É ridículo, mas ela com certeza ainda é virgem e ingênua, você viu o jeito que ficou vermelha. Embora pudesse ser bem engraçado ver o namorado idiota dela passado para trás. Eu duvido que ela seja corruptível, Nolan.

— Está duvidando do Nolan? — Jace provocou. — E aí, irmão, vai tentar tirar o selinho da virgenzinha do pastor?

— Eu não vou tentar, eu vou conseguir.

Eu estava pouco me fodendo se Amanda Thomas era filha do pastor, ou se tinha um namorado idiota que não a fodia.

— Não seja arrogante. Amanda não é como as meninas de Nova York que vão cair matando em cima de você — Stella desdenhou.

— Algumas de Camden também caíram — eu a provoquei.

— Cala a boca.

— Ei, não vamos nos desviar do assunto. Vai mesmo pegar este desafio? Eu confio no que minha gata disse, não vai rolar. A menina é uma santinha filha do pastor que não dá nem para o namorado.

— O quê, quer apostar?

— Ah, aposto sim! Se você conseguir comer a filha do pastor, eu te dou meu Jeep.

Jace havia ganhado o Jeep do meu pai em seu aniversário há um mês e, em contrapartida, eu não ganhei nada. O carro que eu dirigia era um dos carros do meu pai, e ele disse que não permitiria que eu comprasse outro carro similar ao modelo esportivo caro que eu bati em Nova York até que eu provasse que não iria destruí-lo.

Eu não queria ter ficado com inveja de Jace, mas fiquei. E ele sabia disso.

— Eu estava brincando, não preciso do seu Jeep para ter incentivo para transar.

— Mas se é fácil, então vamos tornar divertido.

Ele estendeu a mão e eu a apertei.

Que se foda.

Eu ia atrás de Amanda Thomas com ou sem aposta, mas aquela aposta tornava tudo mais divertido.

Pela primeira vez, eu sentia que não estaria entediado em Camden. E não pude deixar de pensar que se meu pai descobrisse ficaria furioso e isso me deixou satisfeito pra caralho.

Aparentemente o velho Nolan Percy estava vivo e ainda mais destruidor.

Agora, enquanto eu subia pela janela de Amanda, eu me perguntava se tinha noção de que três meses depois eu estaria aqui, entrando pela sua janela de novo, como na noite em que finalmente eu transei com ela.

Não sei quando ela se tornou a obsessão que eu não sabia que existia.

A salvação que eu nem sabia que queria.

Sem pensar no que estava fazendo, eu me esgueirei para dentro do seu quarto, ainda com raiva por ela estar ali e não comigo.

Bem, se era ali que ela queria estar naquela noite, eu poderia estar também.

Tirei os sapatos e minha roupa e me deitei ajeitando minha cabeça em seu peito e ouvindo seu coração ressoar tranquilo no sono.

Não podia deixar que ela desistisse de mim.

Provavelmente eu não a merecia, e havia uma grande probabilidade de eu ferrar com tudo em algum momento.

Mas precisava que ficasse.

Que se apaixonasse por mim.

Do mesmo jeito que não pude evitar me apaixonar por ela.


Capítulo 2

 

Amanda

 

— Eu não sabia que estava aqui, Nolan!

Abri os olhos e tomei dois sustos simultâneos.

Samantha estava entrando no meu quarto e abrindo as cortinas e Nolan Percy estava deitado ao meu lado na cama, esfregando os olhos irritados pela claridade.

Que diabos ele estava fazendo ali?

Tentei puxar na minha mente qualquer coisa que fizesse sentido, tentando me lembrar em que momento Nolan tinha aparecido, mas não me recordei de nada.

Eu fui dormir sozinha.

— Que porra está fazendo, sua gnomo intrometida? — Nolan resmungou para Samantha que estava em frente à cama com as mãos na cintura.

— Vim ajudar a Amanda a fazer as malas! Afinal, vocês viajam daqui a algumas horas, esqueceu? E além da mala de viagem, que já devia ter preparado, ainda tem toda a mudança dela, que, como pode ver, ainda tem que ser feita, então como boa nova irmã que sou, vim ajudar. Mas não fazia ideia que tinha vindo dormir aqui... — Ela franziu a testa e fez uma careta. — Estavam transando? Wow, eu interrompi alguma coisa? — Soltou uma risadinha maliciosa, mas não parecia nem um pouco preocupada de ter interrompido. — Hum, isso é legal, devo dizer que estava bem preocupada depois de toda aquela bagunça de ontem e Amanda insistindo em vir pra casa, mesmo depois do casamento... achei que podiam estar com problemas, mas aí, resolveram tudo?

— Samantha, por que não cala sua boca intrometida por um momento? — Nolan se levantou irritado e começou a empurrar Samantha para fora.

E de repente, eu não queria que Samantha nos deixasse sozinhos.

— Não, a Samantha fica. A ajuda vai ser bem-vinda.

Nolan se virou pra mim e sua expressão era impassível.

— Acho que a gente precisa conversar.

— Acho que eu também tenho que arrumar a mala.

Eu me levantei, passando por eles e abrindo a porta.

— Então, sua conversa vai ter que ficar pra depois.

— Não acho que temos que deixar pra depois. — Ele começou a se irritar. — Já tive bastante paciência com você ontem, quando disse que íamos conversar hoje!

Ah, sim. Foi exatamente o que aconteceu ontem.

Quando Nolan saiu do quarto, após nossa discussão e eu achei o bilhete de Owen, revirando ainda mais minha cabeça e meus sentimentos, eu havia me levantado do chão e me surpreendido ao ver Owen lá embaixo discutindo com Nolan. Por um momento, fiquei assustada e me perguntei se Owen contou a Nolan que deixou um bilhete pra mim.

Owen ergueu a cabeça e seu olhar capturou o meu e entendi que estava ali justamente na esperança de que seu bilhete tivesse me convencido a deixar Nolan e ir com ele.

Apertei o bilhete em minhas mãos pensando se teria coragem de fazer exatamente isso.

Porém, bem lá no fundo, sabia que era tarde pra mim e Owen.

Eu e Nolan juntos parecia uma equação sem sentido neste momento, mas colocar Owen de novo no mesmo problema não era a solução.

Eu poderia não saber o que aconteceria a partir de agora, se deveria continuar com Nolan ou não depois de tudo o que descobri, mas não seria justo usar Owen para me livrar de Nolan, não depois de tudo o que fiz com ele, o traindo e engravidando de outro cara. Eu sabia dos sentimentos dele, e talvez ainda houvesse algum sentimento em mim, mas se fosse para decidir deixar Nolan, eu teria que fazer isso por mim mesma.

Então Owen se foi e permaneci no mesmo lugar até que Nolan se virou e fixou o olhar cheio de tormenta em mim.

Senti a raiva e a dúvida me devorando por dentro. Borbulhando como um copo de veneno prestes a transbordar e inundar tudo de bom que havia dentro de mim.

E foi a primeira vez que percebi o que Nolan fazia comigo.

Ele estava fazendo vir à tona o pior de mim, um lado que eu nem sabia que existia.

Nolan pediu que eu ficasse. Disse que estava apaixonado por mim e sinceramente, eu nem sabia se era verdade.

Nolan seria capaz de amar alguém?

Será que ele disse essas mesmas palavras para Ashley em algum momento antes de decidir que estava cansado dela e tentar chutá-la de sua vida?

Ashley estava tão apaixonada que foi capaz de engravidar de propósito. E Nolan não deu a mínima. Continuou disposto a se livrar dela até o acidente terrível que acabou com o problema. E ainda assim, Ashley permaneceu apaixonada. Como se Nolan fosse uma doença incurável.

E o que ele fez? Permaneceu com Ashley, mas a traiu comigo. A garota que ele decidiu que seria um desafio. A bobinha da Amanda Thomas, a ingênua filha do pastor que de tão atraída por ele, nem percebeu que estava caindo numa armadilha.

Quanta coisa eu fiz em nome daquela atração que não conseguia evitar? Eu me tornei “A Amanda do Nolan”. Aquela que não pensava nas consequências, que seguia o desejo de estar perto dele, querendo tudo o que ele me fazia sentir e ansiando por mais.

Eu fui fácil demais para o Nolan.

Ingênua demais.

Até mesmo quando engravidei e meu mundo virou de cabeça pra baixo com a pior consequência que eu podia imaginar. Ele insistiu que devíamos nos casar e eu aceitei. Eu me deixei levar por decisões que não eram minhas. Fui como uma folha ao vento, levada pelas circunstâncias, sem conseguir pensar racionalmente no futuro e no que eu queria de verdade.

Eu não podia mais agir assim. Precisava achar um jeito de seguir em frente e desta vez seguindo minhas próprias decisões.

O problema é que eu estava tão confusa que não sabia o que fazer.

Eu tinha acabado de me casar. Todas aquelas pessoas estavam lá embaixo esperando a minha volta para continuar com a celebração, sem terem ideia do que estava realmente acontecendo.

Eu não podia ser irresponsável a ponto de não pensar no meu pai neste momento, se simplesmente deixasse tudo para trás.

Mas era isso mesmo que eu queria fazer? Terminar um casamento quando ele nem tinha começado?

Então Samantha entrou no quarto, segurando o vestido que eu deveria usar para a recepção e percebi que não podia decidir nada agora.

— O que está acontecendo? — Samantha havia perguntado, um pouco aflita. — Oh meu Deus, está chorando? Não acredito. Sua maquiagem está horrível agora.

Eu ri por Samantha se preocupar com algo tão fútil.

— Me desculpe, acho que não esperava todo este drama.

— Ah, sim. Ashley. Ela não deveria estar aqui, e, claro, o Nolan deveria ter te alertado sobre tudo o que rolou. Enfim, está tudo bem agora? Vamos trocar este vestido e voltar pra festa? Tenho certeza de que, seja lá o que você e Nolan precisem resolver, pode ficar pra depois, ok? Já estamos atrasados!

Respirei fundo e concordei com ela.

— Tudo bem.

— Agora pare de chorar. E vamos dar um jeito nessa maquiagem.

Eu deixei que Samantha tirasse os vestígios de lágrimas do meu rosto, mas era difícil tirar aquela angústia de dentro de mim.

E a angústia ia aumentando conforme eu me tornava apresentável de novo e Sam me puxou para fora do quarto.

— Ashley... Ela ainda está aqui? — eu tive que perguntar.

— Não se preocupe com a Ashley mais. Stella está cuidando dela.

Claro. Stella parecia saber de tudo o que aconteceu entre Nolan e Ashley e isso me deixou com um gosto amargo na boca.

Um dia Stella foi minha amiga. Hoje ela defendia com unhas e dentes a ex de Nolan. Não que eu não tivesse uma certa pena de Ashley. Mas eu tinha ciúme dela também, não podia evitar. Ela fez parte da vida de Nolan, por mais tempo do que eu e se Nolan não tivesse me conhecido, talvez fosse ela ali hoje se casando com ele. Pelo menos tinha certeza de que ainda era o desejo de Ashley.

Talvez eu devesse deixar Nolan e quem sabe assim, Ashley não o convencesse a ficar com ela?

Só de pensar nisso, meu estômago embrulhava. Eu queria não me importar. Mas me importava mais do que deveria.

Quando chegamos ao jardim, o crepúsculo estava caindo e Nolan continuava parado no mesmo lugar que eu o vi antes, desta vez fumando um cigarro.

Ele parecia perturbado e impaciente.

E eu ainda estava com raiva, percebi respirando fundo para não dar meia-volta e deixá-lo sozinho para se explicar porque a noiva desapareceu.

— Você está bem? — perguntou como se receasse que eu fosse começar a chorar novamente.

Mas eu não ia chorar.

Não agora pelo menos.

— Samantha, pode nos dar um minuto? — pedi com mais firmeza na voz do que julguei ser capaz de ter naquele momento.

Samantha olhou de mim pra Nolan apreensiva.

— Não vão brigar agora, né?

— Não vamos. — Arrastei o olhar para Nolan de novo. — Não agora.

Samantha não parecia muito convencida, mas assentiu.

— Certo. Mas sejam rápidos! Já estamos fora do meu cronograma. Temos que cortar o bolo.

Ela se afastou ainda incerta.

— Então vamos continuar com isso? — Nolan indagou. Seu tom era tenso.

— Por enquanto.

— O que quer dizer?

— Nós estamos no meio de uma recepção cheia de gente e acho que o mínimo que temos que fazer é ir até o fim.

— Mas que merda está falando?

— Não levanta o tom de voz, eu disse para a Samantha que não íamos brigar.

Ele recuou, respirando rápido pela narina, como um animal prestes a atacar. Estava furioso? Bem, eu tinha muito mais motivos do que ele para estar surtando.

— Então vai me explicar o que está fazendo? Vamos voltar para a merda da festa e depois você vai dar o fora? Eu deveria ter pedido para seu ex-namoradinho escroto ficar te esperando?

— Chega, Nolan! — eu o interrompi. — Não traz o Owen para essa conversa porque isso é entre nós!

— Tem certeza? O que ele estava fazendo aqui, senão te esperando?

Mordi os lábios, me lembrando do bilhete que deixei em algum lugar do quarto de Nolan. Deveria voltar e procurá-lo, mas Samantha teria um treco se demorássemos mais um pouco e, sinceramente, eu só queria terminar aquela festa e poder ficar sozinha para pensar.

Então ignorei as provocações de Nolan e continuei:

— Escuta aqui, Nolan. Essa conversa acabou por ora. Eu preciso pensar e não consigo fazer isso agora. Muita informação foi jogada em cima de mim. E nós temos que voltar para a festa.

— E é isso? Vamos voltar pra festa e fingir que nada aconteceu?

— Sim, é isso que vamos fazer. Não quero que meu pai ou os seus pais, ou até mesmo Samantha, que teve tanto trabalho para organizar isso tudo, sejam decepcionados.

— Então não é por mim?

— Claro que não. Estou me lixando para o que está sentindo neste momento. Talvez merecesse que eu desse um escândalo ou fosse embora deixando você sozinho para explicar o que aconteceu. Mas como eu disse, não vamos fazer isso.

— Vamos conversar depois da festa, é isso que está dizendo?

— Não. Não hoje.

— Como assim não hoje?

— Eu preciso pensar. Amanhã nós conversamos sobre isso.

— Amanda, não está falando sério! Que merda está pretendendo? Se quer dar o fora porque não diz logo? Acha que eu me importo com toda essa gente fodida ali? — Apontou para a festa, onde luzes brilhantes começavam a ser acesas.

— Claro, você não se importa com ninguém — rebati com escárnio.

— Que porra, o que você quer?

— Eu quero que apague este cigarro e seja decente pelo menos uma vez na sua vida. Acho que consegue pelo menos fingir, não? Fingiu bem algumas vezes comigo. Você faz isso quando lhe convém.

Eu não sabia de onde estava saindo tanta ofensa, mas estava tão cansada e irritada com toda aquela situação que eu só queria ir para a festa, fingir que estava tudo bem por algumas horas e depois voltar para o silêncio do meu quarto e pensar no que eu ia fazer com o resto da minha vida.

Nolan queria uma resposta agora, mas eu não tinha.

— É isso o que quer? — Nolan indagou friamente, jogando o cigarro no chão e pisando. — Então vamos encarar essa droga de festa de casamento.

Ele segurou minha mão e me puxou em direção aos convidados.

Eu respirei fundo e tentei sorrir, mas não sei se consegui.

Avistei o rosto preocupado de Samantha se suavizar.

— Já estava indo buscar vocês! Vamos cortar o bolo!

O fotógrafo apareceu vindo de não sei onde, enquanto eu e Nolan nos posicionamos como dois atores em uma tragicomédia tentando atuar em nossos respectivos papéis.

Nolan sorria, mas percebia que ele estava bebendo mais champanhe do que era aceitável e eu só lutava para não vomitar, deixando que Samantha nos levasse de lá pra cá para as convenções bobas de casamento, como jogar buquê e sorrir para as fotos.

Stella não apareceu de novo e Jace arrastou Nolan para o meio da pista, pois, provavelmente, já estava bêbado. Mas fiquei aliviada de me afastar de Nolan um pouco. Ainda sentia tanta raiva que era difícil bancar a noiva feliz quando nem sabia se ainda estaríamos casados amanhã.

Theodore estava sério ao lado de Helena que observava a tudo com um sorriso enquanto acariciava o braço do marido, provavelmente tentando mantê-lo calmo. Ele já sabia sobre Ashley?

Minha mãe se despediu, pois tinha um voo para pegar e meu pai também se despediu, iria levar mamãe ao aeroporto.

Eu abracei minha mãe e tive vontade de pedir que me levasse com ela, mas estava sendo infantil. Eu era adulta agora e teria que sair das minhas próprias enrascadas sozinha.

— Será que já chega, Samantha? Amanda parece que vai vomitar em cima de você a qualquer momento — Austin interveio quando Samantha disse que era a hora de diversão, já que vários convidados estavam na pista de dança.

— Eu prefiro me retirar, estou mesmo enjoada. — Não era totalmente verdade. Meu enjoo era mais emocional. Eu só estava ficando com dor de cabeça de sorrir o tempo todo quando queria gritar.

— Mas não pode ir ainda! Agora que está todo mundo se divertindo! E claro que todos querem se despedir de vocês e...

— Algum problema aqui? — Helena se aproximou, talvez sentindo a tensão no ar.

— Amanda quer sair da festa, disse que está enjoada.

— Bem, ela está grávida, tem este direito. Se ela quer se retirar, deve fazer isso e ir descansar. Todos vão entender.

Respirei aliviada, porque sabia que Samantha ia ser convencida pela autoridade de Helena e me afastei, disposta a dar o fora dali, antes que enlouquecesse.

Óbvio que não demorou para Samantha vir atrás de mim.

— Sam, eu gosto de você, mas será que pode me deixar em paz?

Ela riu, como se eu não estivesse falando sério.

— Claro, não vou querer me deitar na cama com você e Nolan hoje não, fique tranquila.

Eu voltei.

— Quanto a isso, será que poderia me levar pra casa?

— O quê?

— Eu quero ir pra minha casa... a casa do meu pai.

— Ficou doida? Não quer ficar aqui? Eu falei pro Nolan que deveriam ir pra um hotel, sei lá, seria muito mais romântico, sei que só amanhã que vão viajar e...

— Não, eu só preciso muito ir pra minha casa hoje. Sem o Nolan.

— Está falando sério? Que diabos aconteceu? Estão brigados de verdade ainda?

— Olha, a verdade é que estou bem cansada e só quero me deitar e dormir. Se você não me levar eu vou pedir pra outra pessoa. Droga, acho que nem tenho uma roupa...

— Eu tomei a liberdade de fazer uma pequena mala pra você, claro. Está no quarto do Nolan.

— Obrigada.

Seguimos para o quarto de Nolan e eu me troquei rápido. Samantha parecia apreensiva.

Forcei um sorriso para acalmá-la.

— Não fique preocupada. Eu preciso mesmo ir pra casa pra... fazer minhas malas, não? Acho que posso ir adiantando.

Não deixava de ser verdade.

— Certo, acho que tem razão. Mas amanhã cedo eu vou te ajudar, não faça esforço. Está pálida e com cara de quem vai desmaiar.

— Foi um longo dia...

O dia mais longo e horrível de todos. Que ironia que fosse o dia do meu casamento.

Quando estávamos indo para o carro. Samantha anunciou que Austin ia me levar porque ela não poderia deixar a festa e eu concordei.

Austin era um cara legal e não fez perguntas enquanto percorremos o caminho até minha casa.

E eu me perguntei se deveria ter me despedido de Nolan e avisado meus planos. Porém, eu temia que ele fizesse uma cena.

E já estava cansada de brigas.

— Você está bem? — Austin indagou quando chegamos na minha casa.

— Não muito. — Sorri tristemente.

— Eu fiquei sabendo da Ash.

— Pois é... seria mais fácil se o Nolan tivesse me alertado sobre toda essa história.

— Ainda ia querer ficar com ele se soubesse?

“Eu nem sei se ainda quero ficar com ele.”, quis responder, mas me calei.

Meu silêncio talvez fosse bastante ruidoso.

— Por isso está aqui e não indo pra sua lua de mel?

— Eu só preciso pensar por um momento — desconversei.

— Claro, estou sendo invasivo, desculpa.

— Por que não tem raiva de mim, é primo da Ashley, não é?

— Amo a Ash, mas ela é uma criatura mimada e acostumada a ter tudo o que quer sempre. Nolan se tornou um capricho.

— Cortar os pulsos não parece coisa de apenas um capricho.

— Eu sei, mas Ash deixou que um capricho se tornasse obsessão. Ela precisa de tratamento agora. A família dela está tentando convencê-la a buscar ajuda profissional, mas não é fácil driblar as vontades de Ash.

— Eu espero que ela fique bem.

— Eu também.

— Obrigada pela carona.

Assim eu me vi voltando para a casa do meu pai, na noite do meu casamento. A noite em que era suposto que eu deveria estar em lua de mel.

Para minha sorte, meu pai não estava em casa e pude me arrastar até meu quarto, me enfiar embaixo do chuveiro e deixar que a água me acalmasse.

Era quase como se tudo estivesse normal de novo, ou eu poderia me enganar que era assim quando botei meu velho pijama e me deitei na minha cama de solteira. E de certa forma, achei que Nolan talvez aparecesse a qualquer momento exigindo que eu lhe desse uma resposta. E de preferência que eu voltasse com ele.

Eu teria coragem de romper com tudo, sendo que cheguei até ali?

Se eu escolhesse não ficar com Nolan, meus sentimentos desapareceriam? Certamente, o bebê crescendo na minha barriga que ainda parecia tão abstrato, não.

Eu passava a maior parte do tempo sem pensar que ele estava crescendo dentro de mim e que em alguns meses eu teria que me tornar efetivamente mãe. Ficava apavorada em pensar em tudo que isso implicava, sem saber exatamente o quanto minha vida iria mudar.

Era mais fácil pensar por etapas, resolver uma questão de cada vez. Até aquele momento, eu estava lidando com a ideia de me casar com Nolan, tentando entender meus sentimentos enquanto tentava entender o próprio Nolan. Acho que me iludi, imaginando que depois que nos casássemos, estaria livre daquela confusão e receio em relação a meu relacionamento com Nolan e só então poderia pensar na próxima etapa, que seria ter o bebê.

Mas agora o casamento se tornou uma incógnita. Nolan se revelou pior do que eu pensava, e ainda tinha que lidar com nosso relacionamento e decidir se ia me manter nele.

Havia uma parte de mim que queria pegar aquele carro caro que Nolan me deu e dirigir até sua casa. Queria dizer que aceitava ficar com ele como já tinha dito sim no casamento. Que queria acreditar que falou sério quando revelou estar apaixonado por mim e que seria melhor comigo. Que precisava de mim para ser melhor.

Mas eu me lembrava de Ashley e sua desolação e não conseguia deixar de ter medo de que este fosse meu futuro se ficasse com Nolan e deixasse que os sentimentos que eu tinha por ele crescessem ainda mais.

E quando adormeci, eu ainda não sabia o que fazer.

Agora Nolan estava aqui, se esgueirou em algum momento da noite para minha cama e exigia que eu lhe desse uma resposta que eu nem sabia qual seria.

Só que dali a algumas horas, estaríamos indo para Barbados.

Ou não?

Mas antes que eu conseguisse sequer pensar no que fazer, uma onda forte de náusea devorou meu estômago e corri para o banheiro, só tendo tempo de me ajoelhar diante do vaso antes de vomitar.

Em meio as minhas ânsias, senti os dedos de Nolan segurando meu cabelo e outra mão alisando minhas costas, até que não houvesse mais nada em meu estômago.

— Tudo bem?

Eu me lembrei da outra vez que ficou comigo assim. Foi na casa da minha mãe e ele disse que tinha facilidade em cuidar de gente passando mal.

Eu me perguntei se ele cuidou da Ashley. Se ela passou mal durante a gravidez em vez de ser por alguma bebedeira.

E de repente estava cansada de pensar em Ashley. Estava obcecada em pensar nisso e a verdade era que o que aconteceu com Ashley e Nolan não tinha nada a ver comigo.

Eu ainda não sabia se acreditava nos sentimentos de Nolan, mas queria acreditar. Acho que eu precisava disso.

Porque, por mais que houvesse alternativas, nenhuma parecia melhor do que ficar com Nolan naquele momento, mesmo com todo o medo que ele me causava.

Nolan me ajudou a levantar e eu fui até a pia, lavando meu rosto e pegando uma escova de dente. Ele ficou encostado na parede me observando.

Havia uma estranha calma em mim agora.

Uma sensação de inevitabilidade.

— Ei, está tudo bem? — Samantha apareceu na porta.

— Estou melhor — respondi para tranquilizá-la.

Eu fui para o quarto e Nolan me seguiu.

— Será que pode nos deixar sozinhos um momento?

Ela olhou de mim para Nolan.

— Certo.

Porém, quando chegou na porta, ela voltou.

— Devo retornar para ajudar com as malas ou não vai ser preciso?

Eu sabia o que ela estava especulando.

Respirei fundo e encarei Nolan.

— Pode voltar para ajudar com as malas.

Ela sorriu e saiu do quarto, fechando a porta atrás de si.

Nolan estava impassível, encostado na minha cômoda de braços cruzados.

— Isso quer dizer que vai comigo para Barbados?

— Sim.

— E vai ficar comigo?

Mordi os lábios, desviando meu olhar para o chão por um momento e reunindo as palavras que precisavam ser ditas.

— Nolan, eu vou te dar uma chance.

Ele soltou o ar que eu nem tinha percebido que estava segurando e estendeu a mão em minha direção, mas eu dei um passo atrás.

— Mas vai ser uma única chance. Sua última chance. Se você aprontar qualquer coisa que seja, eu vou te deixar sem nem pensar duas vezes. Sei que me acha uma idiota e até agora eu fui mesmo, mas chega. Não sou a Ashley, não estou disposta a ir ao fundo do poço por você. Não vou me sujeitar a seu comportamento corrosivo. Você disse que queria mudar e vou te dar um voto de confiança. E espero que esteja falando sério. Porque eu não vou ficar com você sendo escroto comigo.

— Eu não...

— Não terminei — eu o interrompi. — Nem negue o que fez porque nós dois sabemos. Não quero que seja falso comigo, que invente uma personalidade que não tem só pra me manipular ou conquistar, porque não vai adiantar. Eu não sei o que vai acontecer a partir de agora, como seremos juntos neste casamento. Mas tem razão quando disse que estou esperando um filho e que não tem como eu me livrar de você...

Ele riu com ironia.

— Se livrar de mim?

— Não vou mentir que não estou com muita raiva de você agora e furiosa pelo que fez com Carlton...

— Aquele idiota do Carlton...

— E Owen...

Ele ficou sério quando citei Owen.

— Então nem pense em continuar com seus joguinhos subversivos de menino rico porque não vou aceitar. Se quer que eu fique com você, que não me arrependa de te dar essa chance, vai ter que me provar que merece. Porque não seria justo nem pra mim, e nem pra esse bebê, que eu me sujeitasse a isso. Entendeu?

Nolan me encarou de volta parecendo que tinha levado um murro.

Não achava que esperasse por isso, mas era bom que entendesse.

Era necessário deixar claro que eu podia estar disposta a ficar com ele, mas que não estava disposta a deixar que me destruísse como fez com a Ashley.

— Toc, toc, posso voltar? Não quero ser chata nem nada, mas vocês têm horário de voo... — Samantha colocou a cabeça para dentro do quarto.

— Tudo bem, Samantha, pode entrar. — Eu dei a conversa por encerrada, embora Nolan não parecesse satisfeito. — O Nolan está saindo.

Nolan respirou fundo, não parecendo satisfeito com a interrupção, quando se vestiu rapidamente, pegou as chaves do carro e me encarou de volta.

— Eu te pego daqui a duas horas. Esteja pronta.

E sem mais, ele saiu do quarto. Não parecia feliz.

Bem, eu também não estava feliz. Falei sério quando afirmei que estava com raiva e lhe dei muita coisa pra pensar.

Ainda estava apavorada por dar aquele passo, mas também um pouco aliviada por ter decidido.

Estava por minha conta agora.

Só esperava não me arrepender.


Capítulo 3

 

Amanda

 

— Ashley causou mesmo problemas entre vocês, hein?

Samantha indagou quando Nolan saiu.

— Nolan é um problema — resmunguei começando a sentir uma leve dor nas têmporas enquanto Samantha abria uma mala em cima da minha cama e fuçava nas minhas gavetas sem a menor cerimônia.

Ela soltou uma risadinha.

— Nolan é difícil, eu sei bem disso. Mas ele gosta de você.

— Não sei se isso é motivo para comemorar ou para lamentar.

— Parece meio amarga hoje. Que tal ir tomar um banho enquanto eu cuido da sua mala? Estou vendo aqui que não tem nada de interessante na sua gaveta. Onde estão as roupas que eu comprei pra você?

— Deve estar em algum lugar do meu closet, ainda nas sacolas e com etiquetas.

Samantha bufou.

— Certo, eu dou um jeito. Pode ir descansar antes que comece a vomitar de novo. Eu cuido disso pra você.

Aceitei a sugestão porque não estava com o menor ânimo para arrumar malas, ainda mais para um lugar que eu nem conhecia. E estava me sentindo um pouco enjoada e começando a sentir dor de cabeça devido à tensão.

Horas depois, quando me despedi do meu pai e entrei no carro com Samantha, era Jace quem dirigia com um Nolan com cara emburrada do lado e fumando um cigarro.

— Eu não gosto deste cigarro, Nolan — resmunguei irritada e ele soltou um palavrão baixo enquanto apagava o cigarro, que eu fingi não ouvir e encostei a cabeça no vidro, fechando os olhos, porque ainda me sentia mal.

Havia uma parte de mim que não queria ir. Óbvio que qualquer pessoa estaria pulando de alegria por estar indo a um destino paradisíaco no Caribe, ainda mais em lua de mel, mas eu só me sentia apreensiva.

Samantha tagarelava o tempo todo sobre tudo o que amou em Barbados e coisas que eu devia fazer, Nolan mandou ela calar a boca e ligou o som, o carro sendo tomado por um rock pesado.

Samantha desistiu e se calou, começando a fuçar no seu celular e eu reparei que Jace estava excepcionalmente quieto. Ele mal olhou na minha cara quando entrei no carro ou fez qualquer uma de suas piadinhas.

A namorada dele não ia com a minha cara, mas Jace nunca pareceu ter qualquer coisa contra mim. Então era esquisito vê-lo circunspecto, assim como Nolan.

Na verdade, Nolan parecia inquieto agora, talvez por se ver privado da porcaria do cigarro.

De vez em quando, seu olhar cruzava com o meu pelo retrovisor e ele parecia raivoso e frustrado. Eu desviava os meus, sentindo um certo prazer de vê-lo irritado, como se ainda não estivesse entendendo nada deste meu novo comportamento. Na verdade, eu mesma não me reconhecia muito. Estava irritada ainda, não só por tudo o que rolou desde o casamento e minha discussão com Nolan, mas também pelo mal-estar que se negava a passar. E claro, eu não sabia o que esperar daquele tempo que ia ficar sozinha com Nolan num lugar distante, sem a interferência de ninguém. Ia ser a primeira vez que ficávamos realmente sozinhos por um longo tempo. Samantha me contou que Nolan avisou que ficaríamos umas três semanas na ilha.

— Vai ser legal, você vai gostar. Sol, o mar e muito sexo, claro! — ela provocou com malícia e fiquei tão vermelha que nem consegui responder.

Mas ela tinha razão, não? Não era o que as pessoas faziam na lua de mel?

Eu deveria estar ansiosa por isso, mas o clima entre mim e Nolan não era dos mais românticos nas últimas horas e eu me perguntava se iria melhorar.

Ou as três semanas seriam bem longas.

Quando chegamos ao aeroporto, Samantha voltou a tagarelar e descobri enquanto aguardávamos em uma sala VIP muito chique que iríamos viajar no avião particular de Theodore Percy.

Eu me mantive quieta enquanto Samantha falava sem parar sobre qualquer bobagem que eu não conseguia prestar atenção, e Nolan e Jace conversavam em voz baixa a algumas cadeiras de distância. A conversa não parecia agradável.

De repente, o celular de Nolan tocou e ele se afastou para atender e eu me perguntava quem seria.

Samantha se afastou para ir ao banheiro e Jace se sentou ao meu lado.

— Qual é a sua, hein?

Eu me surpreendi com o tom agressivo de sua voz.

— O quê? — Eu o encarei confusa.

Empalideci quando ele jogou no meu colo um papel amassado. Eu já sabia o que era antes mesmo de apanhar e abrir.

Era o bilhete de Owen.

— Você mostrou isso para o Nolan?

Eu não sei por que me arrepiava inteira agora de pavor ao imaginar que Nolan tinha visto o bilhete quando eu não deveria me importar.

Nolan sabia dos sentimentos de Owen. E, na verdade, eu não fiz nada errado, apenas recebi o bilhete.

O bilhete que Jace devia ter encontrado no quarto de Nolan e agora ele me encarava com raiva.

— Não, mas deveria. Mas o que o Nolan está tão fora de si só com a possibilidade de você estragar tudo que se eu mostrar isso pra ele, vai pirar.

— Eu estragar tudo? — Não contive o tom de ironia na minha voz. — Eu tive que aguentar a ex-namorada ressentida dele me jogando na cara que eu não fazia ideia do que Nolan era capaz! Isso depois de descobrir que ele tinha posto fogo na moto do cunhado do Owen!

— Seu precioso Owen mereceu! Ele é um cretino!

— Não fale do Owen.

Ele riu.

— Então defende ele. Qual é? Ainda gosta dele? Está com meu irmão só porque engravidou e preferia estar com seu ex filho da puta?

— Por que está falando assim comigo? Não é da sua conta os meus motivos!

— Tem razão. Por isso que estou me mantendo fora dessas merdas e não mostrei o bilhete para o Nolan. Mas escute uma coisa — ele se inclinou para perto e acho que nunca vi Jace tão sério —, eu não sei o que o Nolan viu em você, mas ele acha que é alguma espécie de anjinho a quem ele pode se apegar e ser um cara melhor. E sabe de uma coisa? Estou de saco cheio de ver o Nolan se destruindo e levando todo mundo junto. Eu quero mesmo que ele seja melhor, que deixe de sentir ódio do mundo e siga em frente. E se ele escolheu ser com você, que seja. Mas se está pretendendo estragar tudo, largar ele pra correr atrás do sonso do seu ex, vai acabar com o Nolan.

— É o Nolan quem estraga tudo. Foi ele quem ferrou com a cabeça da Ashley. Então talvez eu esteja com um pé atrás em ficar com ele, e quem pode me culpar?

— Ash é perturbada.

— Talvez ela seja, mas você mesmo disse que Nolan pode ser destruidor.

— Isso quer dizer que tenho razão?

— Razão no quê? Eu não estou mais com o Owen. Eu me casei com o Nolan. E talvez ele nem mereça que eu esteja lhe dando uma chance, mas é assim que é agora. Só que eu não posso garantir a você que vamos continuar juntos. Nolan está ciente disso.

— Se você estragar tudo com o meu irmão, eu não vou ficar nem um pouco feliz com você.

— Está me ameaçando?

— Só estou te avisando.

Ele se levantou assim que Samantha se aproximou e Nolan também, anunciando que devíamos embarcar.

Samantha me abraçou e eu ainda estava meio chocada e irritada com a conversa com Jace, quando Nolan segurou minha mão me guiando até o avião.

— Vai continuar com essa cara? — ele indagou ríspido quando entramos e uma comissária simpática nos deu as boas-vindas.

Eu o encarei também irritada.

— Que cara?

— Você ainda está brava comigo.

Queria confirmar que sim, estava brava, mas agora estava mais brava com Jace e suas ameaças ridículas, por causa da porcaria do bilhete de Owen.

Mas se eu contasse a Nolan a discussão com Jace, teria que contar do bilhete e uma coisa eu concordava com Jace, se Nolan soubesse que Owen me enviou um bilhete pedindo que eu fosse embora com ele, ele ficaria possesso.

E já tivemos muito drama nas últimas 24 horas.

— Só estou enjoada e com dor de cabeça. — Eu me acomodei no assento fechando os olhos. — Então agradeceria se me deixasse quieta por um momento.

— Está mal? Por que não me disse?

— Você não perguntou — resmunguei.

— Está me culpando por estar mal?

— Sim, estou. Então, por favor, me deixe em paz.

Nolan bufou, mas eu ignorei.

E ele foi se sentar em um lugar bem longe de mim.

Ótimo.

Permaneci com os olhos fechados até que estivéssemos no ar e a comissária veio até mim solícita, indagando se eu queria alguma coisa para beber para me sentir melhor. Provavelmente Nolan a alertou, mas eu declinei. Só queria dormir.

Felizmente, adormeci rápido.

Quando acordei estávamos pousando.

— Dormi o caminho inteiro? — indaguei grogue.

— Sim, dormiu — Nolan respondeu e agora ele parecia menos inquieto, mas estava sério.

Eu me espreguicei e deixei meu olhar vagar para fora. A tarde caía e era uma vista linda do mar azul, era bonito.

Quando saímos do avião, um carro com o motorista nos esperava.

— Ainda falta muito? — indaguei cansada.

— A casa do meu pai fica do outro lado da ilha, iremos de barco.

Eu não me animei muito, porque começava a sentir enjoo de novo.

Chegamos a uma Marina e o motorista levou nossas malas até o barco que, na verdade, mais parecia um luxuoso iate, maior do que aquele de Camden.

Claro que eu sabia que os Percy eram ricos, mas acho que eu nunca entendi o quanto. Era meio intimidador e assustador, na verdade.

Tinha um capitão no barco que se apresentou como Steve Coen e avisou que chegaríamos em meia hora, mas que o mar estava agitado.

Não foi nem um pouco animador e tentei sorrir, embora Nolan estivesse ao meu lado com cara de poucos amigos e mexendo no celular.

Nem dez minutos depois, comecei a enjoar mais ainda. No começo eu achei que não era nada. Apenas enjoo de viagem. Mas em pouco tempo eu estava vomitando sobre a amurada.

Nolan veio até mim preocupado, segurando meus cabelos, até que tudo passasse.

— Não devíamos ter vindo de barco.

— Está tudo bem, acho que agora eu me sentirei melhor.

— Tem certeza?

— O que podemos fazer, pular no mar e ir nadando? — respondi ríspida, fechando os olhos e lutando para não vomitar novamente.

Porém, continuei me sentindo mal.

Quando chegamos, estava tão tonta que mal conseguia manter os pés no chão e Nolan me pegou no colo. Eu mal vi a casa à minha volta, quando entramos e ele me levou até um banheiro. E foi o tempo para eu me inclinar sobre o vaso e vomitar de novo.

— Melhor?

Eu assenti, depois da ânsia passar, mas ainda me sentia pegajosa e nojenta.

A casa estava insuportavelmente quente.

— Acho que eu preciso de um banho gelado.

Nolan encheu a banheira e saiu do banheiro, pegando o celular. Eu consegui olhar em volta. Era um banheiro claro e espaçoso e como a casa dos Percy em Camden, tudo ali gritava riqueza.

Tirei minhas roupas ensopadas de suor e entrei na banheira, me sentindo um pouco melhor minutos depois.

Nolan bateu à porta.

— Amanda?

— Estou bem. Já vou sair.

Fiquei um pouco apavorada que ele entrasse no banheiro, o que era ridículo.

Eu me enxuguei e me enrolei na toalha, achei alguns kits de amenidades como se estivéssemos num hotel, e escovei meus dentes, saindo do banheiro.

Nolan estava desligando o celular.

— Estava falando com Helena. Ela disse que pode ser apenas um enjoo da viagem e o calor, se estiver sentindo só isso. E, claro, o fato de que está grávida.

— Sim, provavelmente.

“E juntando todo o nervoso que passei nas últimas horas.”, pensei, mas me calei, continuar despejando rancor em cima de Nolan não ia ajudar nada.

— Ela disse que um chá pode te ajudar.

— Não quero beber nada. — Eu me sentei sobre a cama, segurando firmemente a toalha e me sentindo um pouco tímida. — Onde estão nossas malas?

— Vou buscar.

Ele saiu do quarto e deixei meu olhar vagar em volta. O quarto era tão elegante quanto o banheiro. Com grandes portas de vidro que davam para uma sacada com vista para o mar.

Nolan voltou com as malas.

— Vou fazer o chá.

— Você?

— Não sou inútil, Amanda, acho que sei fazer um chá.

— Nós... estamos sozinhos aqui?

Era estranho pensar que estávamos isolados. Os Percy deveriam ter empregados.

— Por enquanto. Temos duas pessoas que cuidam da casa. Eles moram em uma casa próxima. Eu disse que não precisavam vir hoje, mas eu vou ligar para que venham fazer um jantar. Meus planos era que saíssemos para comer, mas você não parece bem.

— Eu não sei se poderei comer alguma coisa.

— Vai comer mesmo assim. Não quero que desmaie de inanição e me culpe por isso também.

— Eu não... — comecei a protestar, mas ele já saíra do quarto.

Olhei pra fora e o sol estava se pondo, se não íamos para lugar nenhum, eu poderia pôr um pijama e descansar.

Fui até a mala e a abri sobre a cama. Samantha tinha colocado na mala só as roupas novas. Revirei os olhos, tentando achar algo decente de dormir que não fosse lingeries provocantes. Obviamente não achei nada. Apenas aquela profusão de rendas e cetim que tinha visto antes na minha casa.

— Que ótimo, Samantha.

— Aqui está o chá.

Nolan entrou de novo e colocou a xícara em minhas mãos.

— Obrigada.

De repente, fiquei vermelha imaginando se Nolan entrasse no quarto e eu estivesse usando uma daquelas roupas mínimas ali na mala.

Sinceramente, até aquele momento eu não estava me sentindo nada sensual ou com vontade de transar.

Mas provavelmente em algum momento essa parte ia chegar, não?

— Está tudo bem? Esta passando mal de novo?

— Não, estou bem — respondi rápido. — É só... este calor.

— Sim, é bem quente aqui.

Ele estava parado na minha frente, com as mãos nos bolsos, me observando e de repente fiquei bem ciente que estava nua por baixo da toalha.

E que estávamos em um quarto. Numa ilha tropical.

E era suposto que a gente quisesse fazer “muito sexo” como Samantha sugeriu.

Eu mordi os lábios, sem saber o que dizer. A xícara esquecida em minha mão. Eu me vi corando mais ainda e desta vez, havia uma certa ansiedade dentro de mim, um calor que tinha mais a ver com a ideia de ficar com Nolan daquele jeito novamente do que com o calor da ilha.

E eu esperei.

Nem sei bem pelo quê. Mas mal respirava.

Nolan deu um passo atrás.

— Está muito calor mesmo. Acho que darei um mergulho. Tome o chá. E descanse.

E ele saiu do quarto fechando a porta atrás de si.

Eu me sentei, entre frustrada e... decepcionada?

Tomei o chá, mesmo de má vontade. Não estava a fim de passar mal novamente. Mas a irritação foi me dominando.

Só que desta vez era outro tipo de irritação.

O que eu esperava? Talvez não fosse esperar muito que ele tivesse se aproximado e me beijado? Ok, eu acabei de vomitar, mas ele não parecia ter nojo antes.

Ou talvez agora fosse ele que estivesse bravo comigo?

E eu não estava mais brava com ele?

Uma parte de mim estava. Mas eu não poderia ficar brava pra sempre. Estávamos a milhas de distância de Camden e de tudo.

Eu me levantei e espiei pelas portas entreabertas.

Nolan estava na areia falando com alguém no celular e a conversa parecia tensa.

De repente, ele desligou e ficou olhando o mar, então começou a tirar a roupa e entrou na água.

Nu.

Eu corei, como se ele pudesse me ver espiando.

— Senhora.

A voz feminina veio de trás de mim e dei um pulo, assustada, a xícara voando da minha mão e espatifando no chão.

Uma mulher negra de meia-idade estava parada na porta do quarto sorrindo.

— Desculpe, eu a assustei? — Ela avançou em minha direção. — Eu sou Mary, eu e meu irmão somos os funcionários dos Percy.

— Ah sim, Nolan comentou.

Ela se abaixou, começando a catar os cacos do chão.

— Me desculpe.

— Não tem importância.

Ela se afastou para jogar os cacos no lixo e retornou com um pano, limpando o chão rapidamente.

— O menino Percy avisou que eu deveria vir fazer um jantar, pois não estava bem.

— Sim, eu enjoei. Por isso estava tomando chá.

— Ah pobrezinha, enjoo de viagem?

— Na verdade, estou grávida. — Enrubesci, ainda era estranho admitir isso.

A mulher sorriu compreensiva.

— Ah claro, isso explica tudo.

De repente seu sorriso pareceu diferente enquanto ela olhava pra mim.

— Posso? — Ela estendeu a mão e tocou minha barriga, antes que eu pudesse lhe dar permissão. — Sim, posso sentir.

— Pode?

Que esquisito.

Então ela me fitou com um sorriso diferente agora.

Era um sorriso quase de pesar. De pena, enquanto começava a falar em uma língua estranha.

— O que está dizendo? Eu não entendo.

— Ah, me desculpe. É bajan. Um dialeto local.

— O que quer dizer?

— Você não verá o seu bebê nascer.


Capítulo 4

 

Amanda

 

Ela fez um sinal com a mão como se estivesse pedindo para eu esquecer.

— O jantar estará pronto logo. — Mudou de assunto do nada, sorrindo novamente. — Devo servi-lo no deque? Está um lindo fim de dia.

— É, sim, claro — balbuciei confusa.

A mulher assentiu e saiu do quarto como se nada tivesse acontecido.

Que coisa mais estranha!

E o que foi aquilo que ela disse? Eu tinha mesmo entendido direito?

Como íamos jantar, coloquei um vestido leve e saí do quarto, disposta a conhecer a casa.

Assim como o quarto, os outros cômodos eram arejados e elegantes com janelas amplas e vista incrível. Saí pelas portas francesas da sala de estar e cheguei a um deque com uma mesa posta e um homem negro parecido com Mary estava conversando com Nolan, que havia trocado de roupa, mas seus cabelos ainda estavam molhados.

— Então essa é a Senhora Percy. — O homem sorriu.

Eu corei, achando bizarro que me chamassem de Senhora Percy.

Nolan me estudou, provavelmente analisando se eu estava de melhor humor e forcei um sorriso.

— Olá, acho que sim, essa sou eu agora.

— Amanda, este é Mylo. Ele e sua irmã Mary são os funcionários que cuidam da casa — Nolan me apresentou.

— Espero que goste do jantar, Senhora Percy. Já acabei de servir, Mary está apenas acabando de limpar a cozinha e já vamos embora.

— Por favor, não me chame de Senhora Percy. Pode me chamar de Amanda. E eu conheci sua irmã.

— Sim, Mary me falou que tomou um susto quando a viu.

— Ela me assustou mais, na verdade, quando botou a mão na minha barriga e me disse coisas esquisitas.

— O que ela disse? — Nolan indagou.

— Algo como “você não vai ver seu filho nascer”. Não entendi.

Nolan riu, assim como o homem.

— Mary continua com essas doideiras de premonição? — Nolan parecia achar divertido enquanto fazia um sinal para eu me sentar à mesa que já estava posta. — Fale para ela não assustar mais minha esposa.

Ah, caramba.

Eu me empertiguei na hora que ele usou a expressão. Minha esposa.

Minha nossa, que estranho.

Eu era mesmo esposa de alguém? De repente era como se eu tivesse dormido dez anos e acordado outra pessoa.

Uma pessoa que era casada com alguém.

— Mary é supersticiosa, não dê ouvidos. — O homem fez um sinal com a mão de descaso e se despediu, nos deixando a sós.

Nolan me fitou.

— O que foi? Está preocupada com as bobagens de Mary? Isso é besteira. Essas pessoas daqui são muito supersticiosas. E Mary é meio maluca, na verdade. Ela adorava meter medo na gente quando éramos crianças.

— Faz tempo que vocês têm essa casa?

— Sim, desde antes de eu nascer.

— E Mary e Mylo já trabalhavam para vocês?

— Sim, os pais deles, que são falecidos já, trabalhavam para meu pai. Agora coma.

O prato era risoto de frutos do mar. Estava mesmo muito bom e percebi que não havia comido o dia inteiro e que meu apetite tinha voltado.

A noite caía lentamente enquanto degustávamos a comida em silêncio.

— O mar parecia estar bom — comentei para quebrar o silêncio.

— Sim, estava ótimo — comentou distraído.

— Você sempre entra nu no mar? — Minha voz estava cheia de censura e Nolan se recostou, levando a taça com água à boca.

Havia vinho na mesa, mas ele não tocou assim com eu. Mas eu não podia beber, ao contrário dele.

— Estamos numa praia particular.

— Mas a Mary podia te ver.

— Ela não é curiosa como certas pessoas. — Sorriu com sarcasmo e corei, porque óbvio que eu estava o observando. — Fiquei me perguntando se ia conseguir comer. — Ele mudou de assunto.

— A comida estava uma delícia. E meu apetite voltou.

— Mary é meio perturbada, mas é uma ótima cozinheira. Ela me perguntou qual sua comida preferida, e eu não soube dizer.

Eu dei de ombros.

— Eu gosto de muitas coisas. Gosto de comida italiana, por exemplo. Risoto é ótimo. E qual a sua comida preferida ?

— Hambúrguer.

— Não parece saudável. Você tem um corpo legal demais para quem come hambúrguer.

— Você reparou? — Ele me provocou de novo e eu enrubesci.

— Não seja babaca! Você... pratica algum tipo de esporte?

— Jace é o cara da malhação. Ele me incentiva a treinar com ele, mas não é algo que eu goste.

Sim, eu bem podia imaginar. Nolan parecia o típico cara que gostava das coisas boas da vida, como comida nada saudável, bebida e sabe Deus o que mais, sem se importar se isso fazia mal.

— Mas eu gosto de nadar.

— Vocês parecem ser bem unidos. — Eu me lembrei das ameaças de Jace no aeroporto.

— Sim, nós somos.

— Ele parecia... bravo com alguma coisa hoje. Estava bravo com você? — especulei.

Nolan franziu o olhar.

— Ele estava bravo com você.

— Comigo? E ele disse o porquê?

— Jace acha que estou cometendo um erro ficando com você.

— Talvez ele tenha razão — sussurrei desviando o olhar para as ondas do mar.

Nolan arrastou a cadeira para trás e se levantou.

— Eu vou fumar e deixar você com sua preciosa paz.

— Nolan...

Mas ele já se afastava sem olhar para trás.

Permaneci sentada por um momento, sem saber se o deixava ir com sua rispidez para longe de mim, quando percebi que não podia culpar Nolan totalmente, quando eu também estava irritadiça.

Eu me levantei e caminhei pela areia até encontrar Nolan olhando o mar.

— Vai me ignorar?

— Achei que quisesse ficar sozinha.

Ele levantou uma sobrancelha.

— Você disse que era pra eu te deixar em paz.

— Isso foi no avião.

— Não parecia muito feliz comigo hoje.

— E a culpa era de quem?

— Sim, eu sei que a culpa é minha de ter te trazido pra cá e você ter passado mal o tempo inteiro.

— Não estamos falando disso! — Comecei a me irritar também.

— E estamos falando do quê?

— Estou de saco cheio de ficar brigando com você!

— Então fique longe de mim, se se sente melhor assim.

— Sério Nolan? É assim que vai ser? Para que me trouxe pra cá então?

— Eu te trouxe pra cá porque só pensava em transar com você, até que se tornou uma bruxa!

Abri a boca, ultrajada com sua ofensa.

Nolan soltou um palavrão e mexeu no bolso, pegando o cigarro.

Sério?

Sem pensar, bati em sua mão, fazendo o cigarro voar e ele me encarou irritado.

— Que porra?...

— Ah vai se foder, Nolan!

E eu me virei, disposta a deixá-lo mesmo sozinho com seu comportamento ridículo e seu cigarro, me dando conta que provavelmente era a primeira vez que eu mandava alguém ir se foder.

Mas estava chegando ao deque onde jantamos quando Nolan me alcançou e me puxando pelo braço me fez virar.

— Desculpa, eu sou um idiota. — Ele me soltou passando os dedos pelos cabelos, frustrado. — Inferno, não sei como lidar com você! Como fazer você ficar feliz e não dar o fora na primeira oportunidade e...

— Por que não me chamou para nadar com você?

— Era isso que queria?

Eu dei de ombros.

— Podia ter perguntado.

— Certo. Então podemos fazer isso agora.

E ele me puxou pela mão em direção ao mar.

— Nolan, eu não sei...

Ele se virou e sorriu em desafio começando a tirar a roupa.

— Eu não tenho uma roupa de banho aqui.

— Quem precisa disso?

Hesitei, desviando o olhar vermelha quando Nolan ficou pelado na minha frente e entrou no mar.

Caramba, eu teria coragem?

De repente, me senti muito boba e mordendo os lábios, deslizei o vestido para baixo, assim como minhas roupas íntimas, sentindo a brisa fresca do vento em minha pele como algo estranho e libertador enquanto avançava para dentro da água morna.

Nadei para perto de Nolan e isso me lembrou a primeira vez que ele me beijou. Naquele dia eu não tinha noção de que tudo estava mudando irreversivelmente.

Eu não fazia ideia de quem era Nolan Percy e mais importante, me dei conta agora, não fazia ideia de quem eu era.

Na verdade, ainda não sabia.

E me perguntei se Nolan se sentia do mesmo jeito.

Como poderíamos conhecer um ao outro se nem nos conhecíamos?

Eu e Nolan éramos como dois veleiros nos debatendo à deriva, perdidos durante uma tempestade.

— Disse que não sabe como lidar comigo, mas eu tampouco sei lidar com você.

— Não é como se você se importasse.

— O que quer dizer?

— Não sou eu que ameaço ir embora a todo instante. Eu não vou a lugar nenhum, mas sinto como se você pudesse desaparecer a qualquer momento.

Havia uma desolação estranha em sua voz, quase raivosa e eu não entendia de onde vinha essa necessidade que Nolan tinha de me manter ao seu lado.

Era óbvio que havia uma atração entre nós desde o dia em que ele me deu aquela carona. Eu era ingênua o suficiente naquela época para me enganar que não era nada, mas hoje eu sabia que já estávamos em um caminho sem volta.

Eu fiz coisas que nunca me julguei capaz por causa da atração que aquele cara exercia em mim. Nolan era cheio de camadas e eu apenas comecei a descobrir algumas delas. E as que descobri até agora me apavoravam. Porém, ainda assim, eu estava ali.

Talvez isso dissesse algo sobre mim.

— Não é como se eu quisesse ir embora a todo instante — murmuro. — Mas talvez devêssemos conversar sobre isso? Você disse que poderíamos conversar sobre as coisas chatas quando estivéssemos nus. — Eu me lembrei do que Nolan falou no casamento e ele riu, se aproximando.

Seus dedos tocaram meu rosto. Fechei os olhos me aproximando através da água, como se um ímã me levasse em sua direção.

— É isso que quer, conversar? É o que a deixaria feliz agora?

Sacudi a cabeça negativamente, abrindo meus olhos. Minha mente girando e meu corpo tremendo em antecipação.

Era quase dolorido esperar que ele me tocasse.

Nolan segurou meu olhar e percebi que estávamos ofegando.

Meu corpo começou a pulsar e esquentar.

Minha respiração se transformou num arquejo quando finalmente ele me puxou para perto, cada linha do seu corpo colada no meu sob a água.

E ele estava tão nu quanto eu.

Tão excitado quanto eu.

— Diga? — exigiu, sua respiração em minha boca.

— O quê?

— Diga o que quer.

— Quero que me beije.

— E o que mais?

Um rubor aqueceu minhas bochechas.

Senti o tom divertido em sua voz.

— Está me provocando!

Ele riu.

— É divertido ver você vermelha.

— Achei que me achasse boba.

— Você é.

— Não sei se gosto disso.

— Então não seja boba. Mas saiba que eu gosto de você assim.

— Por que você pode se divertir comigo?

— Eu não sei por quê. Apenas... me deixa desnorteado.

— Eu te deixo desnorteado?

— Sim, sempre deixou. Era irritante pra cacete. E também assustador porque me fazia voltar procurando mais. Não sabia o que me atraía sempre de volta, mesmo você me chutando toda vez.

— Eu não te chutei toda vez.

— Não. E eu vivia por esses momentos. Como um drogado esperando a próxima dose. Era como se você fosse meu tipo de entorpecente preferido.

— Soa como se fosse algo ruim. Talvez eu seja só mais um dos vícios de Nolan Percy, afinal.

— Parece perfeito pra mim. — Suas mãos deslizaram por minhas costas, queimando por onde passavam e me fazendo desejar tanto que ele estivesse dentro de mim de novo que quase doía.

Tudo o que Nolan me fazia sentir, física e emocionalmente, era dolorido.

Talvez ele também fosse o meu tipo de droga preferido.

Horrível e irresistível ao mesmo tempo.

— Disse que eu era algo bom pra você, mas se sou como uma droga, não pode acabar bem. Nunca acaba bem. As consequências de um vício sempre são catastróficas — sussurrei contra seus lábios, expressando meu medo de que não estivesse me referindo apenas a ele, e sim a mim também.

Soltei um gemido abafado, quando seus lábios tocaram os meus, ignorando minhas palavras. E meus braços subiram para sua nuca, castigando seus cabelos, enquanto nossas línguas se enroscavam. Talvez derretesse e me misturasse com as ondas do mar, mas quem se importava?

Estava além de qualquer razão. E mal vi quando seus braços me envolveram e me tiraram da água.

E em pouco tempo estávamos sobre a cama, molhando os lençóis e seu corpo pesou sobre o meu, deliciosamente gelado da água do mar.

Suspirei, me arrepiando inteira, seus lábios em meu pescoço, meus seios, sorvendo a água em meus mamilos com a língua quente e úmida e joguei a cabeça para trás, seu nome dançando em meus lábios.

Meu coração batia tão acelerado que parecia que ia arrebentar meu peito, e o puxei para mim, para beijar sua boca vezes sem fim, me perguntando por que perdi o dia inteiro brigando com ele, quando era tão mais incrível beijá-lo o tempo todo?

Um desejo quente inundou meu íntimo e se instalou num pulsar forte entre minhas pernas e eu me esfreguei nele num convite mudo, ansiando por um instante que não fosse boba como ele me acusou de ser e pudesse dizer exatamente o que eu queria. Mas era tímida demais ainda naquele jogo.

— Porra, preciso te foder agora. — Nolan rosnou com impaciência quase ríspida e fez meu estômago palpitar, quando ele abriu meus joelhos com pressa.

— Sim... — concordei porque também estava impaciente. E então ele estava dentro de mim, e cingi sua cintura com as pernas, não querendo que houvesse nenhum espaço. E de novo algo maravilhoso estava sendo construído dentro de mim, e fazia com que eu fosse em sua direção, querendo me misturar com ele de todas as maneiras possíveis. Seu gemido em meu ouvido, meu nome em seus lábios era como música. Fechei os olhos, gemendo e estremecendo com ele, quando finalmente a onda dentro de mim arrebentou e eu me desfiz em mil pedaços.

Quando acordei, o sol estava nascendo, eu podia sentir o calor sobre minhas costas, do mesmo jeito que sentia as mãos de Nolan me acariciando lentamente.

Eu não queria abrir os olhos. Eu não queria me mexer. Mas meu estômago revirou perigosamente e abri os olhos gemendo e pulei da cama direto para o banheiro.

— Que inferno — murmurei quando finalmente o enjoo passou e, claro, Nolan estava ali do meu lado preocupado.

— Melhor agora?

— Odeio isso.

— Helena disse que são apenas nos primeiros meses.

— Espero que sim.

De repente, eu me sentia meio sem graça.

Ontem nós havíamos nos estranhado, brigado e transado.

O que faríamos hoje?

— Vou ver alguma coisa para comer.

Ele saiu do banheiro e escovei os dentes. Agora sentia meu estômago roncando. Olhei com preguiça para a mala. Havia um grande closet no quarto e eu deveria arrumar minhas roupas lá, mas decidi que podia fazer isso depois de comer. Então avistei uma camiseta de Nolan em cima da mala dele e a vesti, indo para a cozinha.

Nolan estava comendo algo que parecia cereal e eu fiz uma careta.

— É só isso que temos para comer? Achei que talvez Mary estivesse aqui...

Não que eu estivesse ansiosa para rever a criada esquisita, mas não estava a fim de comer cereal e abri a geladeira à procura de algo para fazer.

— Mary e Mylo virão apenas nos preparar o jantar. — Eu quase dei um pulo ao perceber que Nolan estava atrás de mim, se inclinando para falar no meu ouvido enquanto deslizava a mão por minha coxa — Achei melhor que ficássemos sozinhos.

Senti minhas pernas bambas.

— Estamos sozinhos?

— Com medo? — Senti seus lábios deslizando pela minha garganta e enfraqueci, me esquecendo momentaneamente da minha fome de comida.

— Você poderia ser um serial killer , me esfaquear e eu iria gritar e ninguém ouviria.

— Talvez eu possa te fazer gritar mesmo.

Sem aviso, ele me virou e me beijou de uma maneira que devia ser proibida, fazendo qualquer pensamento fugir da minha mente, e meu corpo derretendo como neve ao sol. E um gemido escapou da minha garganta, enquanto levantava a mão para infiltrar meus dedos nos seus cabelos.

E antes que me desse conta, Nolan me ergueu sobre a mesa e de algum modo minhas pernas se abriram e ele estava no meio delas. Seus lábios beijavam incontáveis vezes minha boca, meu queixo, meu pescoço, queimando minha pele.

Senti a palma quente de sua mão em minhas coxas, subindo e se infiltrando entre elas e gritei, perdida, meu ventre se contraindo com a carícia sacana de seus dedos hábeis. Então ele estava nos livrando das roupas e entrando em mim, e era ainda melhor do que quando seus dedos estavam lá e cingi sua cintura com as pernas e me movi no mesmo ritmo preciso, adorando seus braços me apertando, cada vez mais forte, cada vez mais fundo, a tensão crescendo e se expandindo por todas as terminações nervosas do meu corpo, até explodir em espasmos deliciosos que se espalharam por todos os meus poros, toda minha pele.

Quando abri os olhos, ele ainda me abraçava, tão suado quanto eu.

E nos encaramos e rimos, eu me dando conta meio assombrada que tinha transado com Nolan na cozinha.

— Devo pedir desculpas por isso?

— Absolutamente não. — Meus dedos brincavam com os cabelos molhados de sua nuca. Ele me beijou devagar e pela primeira vez senti que talvez estar ali em lua de mel com Nolan não fosse tão terrível assim.

Na verdade, poderia ser incrível.

Sem aviso, ele me levou para o banheiro me colocando dentro do boxe e abriu o chuveiro.

Eu corei, me dando conta de que eu estava nua ainda e Nolan também.

E ele riu, percebendo meu desconforto.

— Temos mesmo que fazer isso?

— O quê?

— Tomar banho juntos?

— O que foi? Posso ser legal e lavar seu cabelo. — Ele pegou um shampoo colocando na mão e fazendo exatamente o que falou, espalhando o líquido no meu cabelo.

— Você precisa parar de ficar vermelha desse jeito.

— Ah claro, eu te divirto sendo boba! — Revirei os olhos, mas gostando dele mexendo no meu cabelo. — Eu nunca tomei banho com alguém. É esquisito.

— Não é esquisito.

— Eu posso achar e exigir que saia do meu banho.

Em resposta, ele me colocou embaixo do chuveiro de novo, retirando o shampoo.

— E eu sou seu marido e posso exigir ficar aqui.

— Nossa, você não acha esquisito isso?

— O quê?

— Marido. É bizarro pensar em você nesses termos. Assim como pensar em mim como esposa. Parece que estamos brincando de casinha. E tudo isso é de mentirinha, sabe, como quando éramos crianças.

— Sim, eu também acho esquisito — ele confessou e eu me senti melhor.

— Como acha que vai ser agora? — indaguei. — Como vai ser isso? Nós dois juntos. A gente nunca falou sobre como seria realmente.

De repente um monte de perguntas começaram a pipocar na minha cabeça.

Nós iríamos para a faculdade.

E pelo que eu sabia, não na mesma cidade. Como seria?

Tinha tanta coisa pra pensar que quase me vi tomada de um ataque de ansiedade e acho que Nolan percebeu, pois se abaixou e me beijou.

Eu deixei que ele me beijasse, tentando acalmar minha mente, até que meu estômago roncou e Nolan me soltou.

— Vamos te alimentar.

Saímos do chuveiro e Nolan me encarou, quando sentei na cama, de novo sem vontade de mexer na minha mala.

— O que foi? Está passando mal? — indagou abrindo o closet e pegando um calção de banho.

— Não quero arrumar minha mala. E preciso achar coisas para vestir. Samantha parece que colocou o mundo aí dentro, mas nem sei direito o que tem...

Nolan foi até a mala, jogou tudo no chão, para meu horror e voltou para mim com um biquíni amarelo.

— Não faz isso! Vai ser pior pra arrumar.

— Mary arruma. Vou pedir para ela vir.

— Achei que íamos ficar sozinhos?

— Vamos para a praia. — Ele se inclinou e depositou um beijo na ponta do meu nariz. — Podemos ficar sozinhos e nus lá.

— E vamos ter aquela conversa chata que você prometeu que teríamos quando estivéssemos nus?

— Se quiser... Agora o que quer comer?

— Ovos?

— Certo. Vista-se e me encontre na cozinha.

Eu vesti o biquíni e no meio da bagunça consegui achar uma canga e uma nécessaire com protetor solar.

O cheiro de ovos fez minha boca salivar quando cheguei à cozinha. E eu comi tudo vorazmente com Nolan me observando com o olhar divertido.

— Fico feliz que saiba ao menos fazer ovos — murmurei por fim.

— Eu não sou tão inútil.

— É um menino rico que aposto que teve empregados a vida inteira.

— Se vai começar a me criticar, vou te beijar de novo para calar a sua boca — reclamou. — Não sei se gosto dessa Amanda ferina.

— Ah claro, você gosta da Amanda bobinha.

— A Amanda bobinha é sexy. Mas vamos lá, continue a me esculachar que eu jogo você em cima dessa mesa e desta vez eu te pego por trás.

Eu corei até a raiz dos cabelos com suas ameaças, sem conseguir conter minha imaginação, que fez algo quente e úmido pulsar entre minhas pernas. Talvez devesse mesmo ser uma bruxa como ele tinha me avisado se depois fosse me punir daquele jeito.

Minha nossa, que tipo de pessoa estava me tornando?

Eu tinha acabado de transar com Nolan, e já estava pensando nisso de novo.

— Você está corando novamente. — Nolan riu.

— Não consigo evitar. Sabe, toda essa coisa, uma hora a gente está conversando e de repente estamos transando na mesa.

— Se não parar de falar sobre isso, vou entender que está sugerindo que façamos de novo.

— Está vendo? Está brincando comigo! — Eu me levantei e levei o prato até a pia, ouvindo a risada de Nolan atrás de mim.

Mas não podia evitar constatar que eu gostava de vê-lo rir.

Ele parecia mais... acessível.

Mais humano.

— Deixe isso aí. Vamos para a praia.

 

Caminhamos até a praia, eu estendi a canga sobre a areia e nos deitamos, olhando o céu.

Por um momento, eu não queria mais nada a não ser ficar ali pra sempre.

As ondas batendo na areia. O sol. E Nolan.

Mas de repente eu voltei a pensar naqueles assuntos sérios que estávamos adiando.

— Podemos conversar agora? — indaguei me virando para Nolan.

— Mas nem estamos nus.

Revirei os olhos.

— Entendeu o que quis dizer.

— Por que temos que falar de assuntos chatos? Temos três semanas aqui, por que não podemos fingir que não existe nada além disso?

Eu ofeguei levemente enquanto seu toque leve como pluma deslizou pela lateral do meu corpo, pousando em meu quadril.

E eu só pensava em como queria sentir suas mãos em outras partes do meu corpo também. Em todas as partes.

— Sim, acho que pode ser uma ideia — murmurei me perguntando se seria muito pedir que ele me beijasse.

Ele me encarou com olhos famintos.

— Eu quero tirar seu biquíni.

Minha pulsação foi a mil em um segundo.

—Tudo bem — consegui sussurrar roucamente enquanto suas mãos deslizavam meu biquíni para baixo e eu mesma tirei a parte de cima.

Eu gostava do seu olhar sobre mim, me apreciando, fazia eu me sentir bonita. E então ele estava me beijando de novo, meio rudemente, com força e gemi contra seus lábios, o puxando para mim, com pressa.

E em segundos, ele também estava sem roupa e me penetrava sem necessidade de qualquer preliminar, se enterrando em meu corpo várias vezes, até de novo estarmos perdidos naquele prazer que tirávamos um do outro e era demais para eu entender, ou compreender, mas sabia que estava se tornando viciante para mim.

 

Eu estava tão exausta depois que adormeci ali mesmo na praia e Nolan devia ter me levado para o quarto em algum momento, porque acordei no meio da tarde sentindo um vento frio sobre mim e com Nolan dormindo ao meu lado.

Eu me levantei e olhei pela janela.

O mar estava revolto e nuvens pesadas no céu anunciavam chuva.

Vestindo uma camiseta de Nolan, saí do quarto e fui até a cozinha. E tomei um susto ao ver uma sombra se movendo. Gritei, antes de reconhecer Mary.

Deus, o que ela estava fazendo ali?

Levei a mão ao peito, meu coração disparado.

— Oh querida, me desculpe. Te assustei de novo.

— Sim, me assustou!

— Nolan pediu que viesse para arrumar suas coisas. Você viu que está tudo no closet ?

— Ah, não vi. Eu dormi. — Corei imaginando que horas a mulher chegou. Se nos viu na praia.

— Também trouxe alguns chás, bons para enjoo. Nolan contou que passou mal novamente. Ele fica tão preocupado com você. Muito bonitinho. Formam um casal muito bonito. Por que não se senta e eu lhe faço um chá?

Eu não queria beber nenhum chá, mas não queria ser indelicada.

Havia algo naquela mulher que me dava calafrios. Mas provavelmente eu estava sendo absurda.

Ela serviu o chá e de repente algo me ocorreu.

— A senhora conheceu Ashley? A ex-namorada de Nolan?

— Sim, a menina loira bonita.

— Ela vinha muito aqui?

— Algumas vezes. Ela não era gentil como você. Ou como a nova esposa do Senhor Percy. Uma mulher de muita classe. Quase tão bonita quanto a mãe dos meninos.

— Você conheceu a mãe de Nolan?

— A Senhora Percy? Sim. Pobrezinha. Teve um destino tão trágico. Infelizmente a tragédia ronda essa família... Pobrezinhos...

— Mary, vamos, antes que comece a chover. — Mylo entrou na cozinha nos interrompendo.

E Mary se levantou.

— Claro. Até mais. Se não conseguirmos voltar para o jantar, deixei algumas coisas prontas no freezer. É só esquentar.

Ela se despediu e antes de ir, eu tive a impressão de que de novo a mulher me encarava com um semblante cheio de pesar.

Eu estremeci me recordando do que ela disse quando colocou a mão na minha barriga.

Olhei para baixo, acariciando meu ventre. Às vezes eu esquecia que estava grávida, que tinha um ser crescendo ali, porque o peso do que isso significava era demais para suportar.

Em pouco tempo eu não conseguiria mais ignorar.

"Mas Nolan sugeriu que ficássemos ali, ignorando tudo e talvez fosse o melhor a fazer."

Eu me levantei e tremi de frio. O vento agora era mais gelado e entrava na casa. Voltei para o quarto e Nolan ainda dormia. Eu me deitei ao seu lado e fechei os olhos, ignorando os sons da tempestade que se formava lá fora.

 

Acordei novamente com o som da chuva. Eu me levantei e senti uma vontade inexplicável de caminhar. Abri as portas duplas do terraço e saí. A chuva no meu rosto era gelada, mas não me importava.

Caminhei sem destino por um tempo, até que senti algo quente em minhas pernas e ao olhar para baixo vi a mancha vermelha.

Sangue.


Capítulo 5

 

Amanda

 

Passei a mão por todo aquele sangue, que agora jorrava cada vez mais forte e uma dor aguda me fez dobrar.

E gritei.

— Amanda! Amanda!

Abri os olhos e Nolan me encarava preocupado.

Eu estava de volta ao quarto. E o som da chuva vinha de fora.

— Estava tendo um pesadelo.

Eu me sentei, respirando ofegante, me livrando dos lençóis, olhei para minhas pernas.

Não havia sangue.

Eu estava mesmo sonhando.

Mas era como se ainda sentisse a dor aguda na minha barriga. Levei a mão ao ventre.

— Você estava gritando.

Eu o encarei.

— Era tão real! Havia tanto sangue...

— Foi apenas um pesadelo. Acabou.

— Acho que minha barriga está doendo.

— Tem certeza?

— Eu não sei... é como se doesse.

— Talvez seja por causa do sonho.

— E se tiver algo errado, Nolan? Com o... bebê?

De repente ele ficou sério.

— Vamos voltar para Camden. — Ele jogou as cobertas para o lado e se levantou, pegando o celular.

— O quê?

— Tem razão, pode ter algo de errado.

Ele digitava no celular furiosamente.

— Eu não sei. Talvez esteja mesmo impressionada por causa do sonho.

— Você disse que estava com dor.

— Só acho que estou com medo.

— Então vamos ter certeza de que está tudo bem. Aqui em Barbados... estamos muito longe de tudo. Melhor voltarmos pra casa e você vai a um médico. Tudo certo. — Ele largou o celular e começou a se vestir. — A tempestade já está passando. Assim que passar totalmente, pedi que um helicóptero viesse nos buscar.

— Helicóptero? Não é um exagero?

— São duas horas de carro até o aeroporto e de barco é impensável agora.

Ele se sentou ao meu lado.

— Está se sentindo melhor agora? Ainda doendo? — Seus dedos tocaram minha barriga ainda plana.

— Eu não sei. Estou me sentindo estranha. Acho que tem razão. Ficarei mais tranquila em casa.

— Até amanhã à noite estaremos em Camden, não se preocupe. Se sentir alguma coisa, iremos a algum médico no caminho.

Ele parecia mesmo aflito e eu segurei sua mão, porque havia a mesma aflição dentro de mim.

— Se alguma coisa acontecer?

— Não vai acontecer nada com você, Amanda.

— Mas se acontecer... com o bebê? O que faremos?

Será que Nolan se sentiria aliviado?

Ele quis tanto que Ashley abortasse e mesmo garantindo que se arrependeu, que se sentiu culpado com o acidente e depois quando eu mesma engravidei, aceitou de forma diferente, mas quem poderia garantir que Nolan não se sentiria aliviado se o bebê deixasse de existir?

E como eu me sentiria?

As palavras de Mary ainda rondavam a minha mente, como um mau agouro.

E eu nem acreditava naquelas bobagens, mas não conseguia evitar.

E o tanto que isso me apavorava agora era assustador de um jeito que eu nem sabia explicar. Como eu poderia estar preocupada com algo tão abstrato, que nem existia ainda? Algo que eu nem fazia ideia de como ia inserir na minha vida?

Há três meses eu era uma adolescente e a única coisa que sabia do futuro era que em breve iria para a universidade. Parecia que eu tinha a vida inteira pela frente para decidir como queria viver.

Agora a vida estava acontecendo numa velocidade vertiginosa que me deixava como se numa montanha-russa.

Eu e Nolan nos entreolhamos e acho que de certa forma ele pensava as mesmas coisas que eu. Talvez ele também só se desse conta agora da enormidade do que estávamos fazendo.

Ele segurou minha cabeça, me forçando a encará-lo e sua expressão era quase feroz.

— Nada vai acontecer com o nosso bebê. Entendeu?

E o celular tocou, ele se afastou para atender me deixando ali, ainda meio zonza. O jeito que ele disse, nosso bebê, fez algo novo e estranho se remexer dentro de mim.

— Você quer comer alguma coisa? — Nolan desligou o celular e me encarou.

Sacudi a cabeça em negativa.

— Mas eu preciso arrumar a mala.

— Não. Eu arrumo.

Fiquei observando ele se mover pelo quarto, jogando tudo dentro de nossas malas e por um momento, lamentei que tivéssemos ficado tão pouco tempo na Ilha, que nossa lua de mel estava encerrada.

Será que eu estava sendo boba e devia dizer a Nolan que queria ficar?

Mas se realmente tivesse alguma coisa errada?

Agora que a dúvida estava plantada eu não ficaria tranquila.

 

A chuva passou e um helicóptero chegou horas depois. Nolan aprontou tudo e nós voamos para Bridgetown, a capital. Eu me surpreendi quando chegamos lá, pois Nolan providenciou que eu fosse ver um médico local.

Ele me examinou, fez um ultrassom garantindo que aparentemente estava tudo bem, já que não tinha nenhum sangramento real e a dor poderia ser algo psicológico.

Eu fiquei mais aliviada, porém, a ideia de permanecer em Barbados não estava mais em pauta. E acho que preferia assim. Nolan explicou que o avião do pai dele não estava disponível, pois Theodore estava em viagem de negócios e teríamos que pegar um voo comercial. Eu não me importei. Mas acabou que por não termos feito reservas, tivemos que pegar conexões e esperar algumas horas entre elas, e chegamos em Camden, na noite seguinte.

E eu não pensei que ficaria feliz em ver a suntuosa casa dos Percy quando chegamos. Nolan me ajudou a sair do carro e Samantha nos recebeu à porta.

— Amanda, você está bem? Quando Nolan nos ligou dizendo que estavam voltando, fiquei apavorada! — exclamou.

— Amanda não se sentiu bem, mas acho que não é nada grave. Apenas não queríamos continuar lá isolados de tudo, caso precisássemos de um médico — Nolan explicou enquanto entrávamos.

E de repente Samantha nos deteve.

— Antes que entrem, acho que vão ver algo que não vão gostar.

— O que foi? — Nolan a encarou impaciente.

— A Ashley está aqui.

— O quê?

Mas que diabos Ashley ainda estava fazendo na casa dos Percy?

Se eu já estava tensa e o cansaço da viagem tinha piorado tudo, saber que Ashley estava hospedada ali foi a gota d'água.

Não fazia o menor sentido que ela estivesse na casa de Nolan.

Eu encarei Nolan com uma pergunta muda no olhar. Mas ele parecia tão tenso quanto eu.

— Que porra ela está fazendo aqui?

— Antes que sobre pra mim, aviso que não tenho nada a ver com isso! Mas vocês viajaram e ela não estava bem, sabe, emocionalmente. Stella convenceu minha mãe a deixar Ash ficar porque os pais dela estão na Europa ou algo assim. E não seria legal ela ficar sozinha. E como o Austin estava aqui também... Nós estávamos inclusive combinando uma viagem e...

— Não quero saber. — Nolan a cortou.

— Enfim, eu falei que ela tinha que ir, mas sabe como é... Ela ainda não foi.

Nolan bufou, me puxando para dentro.

Segurei sua mão, ao perceber que ele queria brigar com Ashley e achava que não era a solução.

— Nolan, não fala nada.

— Isso é ridículo!

— Eu não queria ver sua ex-namorada aqui, mas brigar com ela agora, não vai adiantar nada. Só piorar.

Nolan respirou fundo e assentiu.

Quando entramos, nos deparamos com Stella sentada ao lado de Ashley e Jace e Austin assistiam um jogo na TV.

— Já voltaram? — A voz estridente de Stella saiu por cima da revista que ela estava lendo. — Achei que passariam três semanas.

— Stella, a Amanda não passou bem. — Samantha revirou os olhos, impaciente. — Eu te disse!

— Algum problema com o bebê? — Ashley indagou.

Eu engoli a vontade de dizer que não era da conta dela.

Claro que ela não estava preocupada. Provavelmente ficaria imensamente feliz se algo desse errado com a minha gravidez.

— Não tem nenhum problema — Nolan respondeu.

— Mas acabou de falar que voltaram...

— Deixem as perguntas para depois. — Samantha se intrometeu sentindo a tensão. — Acho que Amanda e Nolan estão cansados da viagem e querem ir dormir.

— Sim, vamos subir — Nolan respondeu.

Subimos e eu ainda pude ouvir a voz deles.

— Toda aquela roupa, todos os biquínis, e aposto que nem deu tempo de usar nada — Samantha resmungou.

— Claro que não ia usar nada, estava em lua de mel — Jace falou malicioso e Austin riu.

— Acha que ela vai perder o bebê? — Ashley indagou curiosa.

E eu parei de ouvir quando entramos no quarto.

— Inferno. — Nolan bateu a porta, furioso.

— Descontar na porta não é muito efetivo — resmunguei com ironia.

— Ashley é uma manipuladorazinha de merda!

— Nolan, sinceramente, não quero falar sobre isso, ok? Estou cansada e só quero dormir.

— Se sente mal?

— Não, tudo bem.

— Amanhã iremos ao hospital e faremos todos os exames. Helena pode nos ajudar.

— Certo — concordei cansada.

— Quer comer alguma coisa? Mal comeu o dia inteiro.

— Não, estou sem fome. Só quero tomar um banho.

Abri a mala em cima da cama e pegando minha nécessaire me tranquei no banheiro. Queria tomar um banho rápido e ir dormir.

Porém, quando saí, eu me surpreendi ao ver Ashley mexendo na minha mala.

— Ashley? O que está fazendo aqui e mexendo nas minhas coisas?

Meu Deus, aquela garota não tinha limite?

Ela se virou, segurando uma blusa rosa.

— Por que tem roupas minhas na sua mala?

— O quê? Do que está falando?

— Essa blusa é minha. Aliás, tem várias coisas minhas aqui.

Ela era louca?

— Não estou entendendo...

— Essas roupas estavam lá em Barbados, não? No closet do Nolan? Você roubou? Achou que além de ficar com meu namorado podia ficar com as minhas roupas?

— Suas roupas estavam no closet do Nolan? — indaguei ainda confusa, mas de repente eu entendi.

Ashley podia estar falando a verdade e aquelas roupas serem mesmo dela. Nolan havia pegado minhas roupas no seu closet e jogado dentro da mala com pressa.

E se as roupas da ex dele ainda estavam ali, ele podia ter pegado tudo junto.

Senti meu estômago embrulhar.

Aquelas roupas estavam lá há tempos? Ou foram colocadas lá nas últimas semanas?

“Ashley ficou se humilhando em Barbados, Theodore teve que mandá-la embora.”, foi o que Stella contou.

Ashley esteve lá com a família da última vez que viajaram.

Ela dormiu com Nolan?

— Olha, eu não sabia que suas roupas estavam lá. Mary quem desfez minhas malas e foi Nolan quem fez minha mala para voltarmos. Então se essas roupas são suas, pode levar, mas faça isso agora e suma da minha frente.

Ela levantou a sobrancelha.

— Vai dar uma de inocente?

— Acha que eu ia roubar suas roupas? Me poupe! Aliás, o que estava fazendo aqui?

Ela deu de ombros.

— Eu vim ver se estava bem.

— Não precisa fingir que está preocupada. Não deveria ter entrado aqui. Na verdade, acho que nem deveria estar aqui na casa do Nolan. Por que faz isso com você mesma? Não deve te fazer bem.

— Quem é que está fingindo que está preocupada agora? Quem é você pra ficar me analisando? Nem me conhece!

— Tem razão. — Eu caminhei até a porta e a abri. — Então saia daqui.

Ela pareceu afrontada.

— Agora, Ashley, não vou pedir de novo.

— O que está acontecendo? — Stella apareceu. — Ashley, o que está fazendo aqui, estava te procurando...

— Ah, ótimo, sua amiguinha apareceu. Agora podem as duas sumirem daqui.

Ashley passou por mim, saindo do quarto e Stella ficou me encarando com raiva.

— Ashley não merece ser tratada assim, não sabe como ela se sente. Como é difícil pra ela ver vocês juntos.

— Ela está aqui porque quer! E se é tão amiga dela como diz, por que não a incentiva a ir embora? Claro, está adorando ver a Ashley aqui me afrontando.

— Acha que me importo com você a este ponto?

— Sim, eu acho. E você sabe por que, embora eu não faça ideia. Agora, quer fazer um favor a nós duas? Fique longe de mim, porque estou cansada de seu veneno e de ficar usando Ashley e sua dor pra me atingir. E mantenha Ashley longe de mim, porque sim, eu me compadeço do que ela passou, mas tudo tem limite!

E sem mais, bati a porta na cara de Stella.

Pra mim já bastava.

Doía saber que tinha raiva de mim sem eu nem saber o porquê. Mas ela praticamente vivia ali naquela casa com Jace e eu não ia ficar mais aturando dia após dia suas provocações pra cima de mim. Então era melhor deixar isso claro.

Até este momento, eu me calei perante duas provocações e afrontas. Não era do meu feitio me indispor gratuitamente com ninguém e, na verdade, Stella me assustava um pouco, talvez pelo fato de eu não saber o que foi que fiz para ela. Acho que acreditava que não ia adiantar brigar, porque em algum momento sua animosidade ia passar. Talvez até voltássemos a ser amigas.

Mas não parecia que seria assim.

Joguei a mala no chão, começando a me sentir exausta. Fui até o closet de Nolan, peguei uma camiseta sua e estava prestes a deitar quando ele apareceu.

Seu olhar foi para a mala.

— Stella me contou.

— Olha, eu não quero brigar com ninguém, mas não vou tolerar a Ashley entrando aqui e me afrontando. Já é demais.

— Não vai acontecer de novo. E ela vai embora amanhã. Sinto muito pela confusão da roupa.

— Quando Ashley deixou essas roupas lá?

Nolan franziu o olhar.

— Onde está querendo chegar?

— Vocês estiveram lá, há umas semanas, não? Ela dormiu no seu quarto?

Nolan entendeu o que eu queria dizer e seu olhar escureceu.

— Está insinuando que eu trepei com a Ashley lá?

— Me diga você!

— Eu poderia estar com a Ashley. Agora mesmo, se eu quisesse. Quantas vezes eu quisesse. Sabe disso. Inclusive lá em Barbados ela pediu por isso.

Eu senti o ciúme me devorando por dentro.

— E o que aconteceu?

— Não, eu não trepei com a Ashley — respondeu baixo e furioso. — Mas ela esteve comigo em Barbados algumas vezes. E essas roupas devem estar lá há tempos.

Eu assenti.

O que eu podia fazer? Continuar duvidando?

Ele tinha razão quando dizia que podia ficar com Ashley se quisesse. Talvez Ashley não estivesse loucamente obcecada e sofrendo se Nolan estivesse com ela.

— Você acredita em mim? — ele indagou impaciente. — Quer que eu chame a Ashley aqui para que ela conte a verdade?

— Ela não me falou que dormiu com você.

— Então por que porra está me questionando?

Eu dei de ombros.

— Só precisava tirar isso da minha cabeça. Agora chega, Nolan. Estou cansada e quero dormir sem ter que ouvir o nome da Ashley de novo.

Ele passou a mão pelos cabelos, num gesto nervoso.

— Ok, vou tomar um banho.

Ele desapareceu dentro do banheiro e eu bufei, irritada.

Era exatamente isso que eu tinha que evitar. Estava cansada de ficar nervosa por causa da Ashley. Eu queria que ela desaparecesse num passe de mágica. Assim, como todo seu passado com Nolan.

Mas era impossível.

Fechei os olhos e tentei dormir.

Nolan voltou minutos depois e se deitou ao meu lado, apagando a luz. Não fez nenhuma menção de tocar em mim, ou me abraçar.

É, acho que a lua de mel tinha acabado.


Capítulo 6

 

Amanda

 

Acordei com alguém me chamando.

— Amanda, acorde.

Abri os olhos a contragosto e Nolan estava do lado da cama, todo vestido.

— Eu sei que ainda deve estar cansada, mas temos hora marcada no hospital.

Eu me espreguicei.

— Verdade, já vou me levantar.

— Vá se arrumar, eu vou descer. Nós tomaremos café e sairemos.

— Tudo bem.

 

Nós entramos no carro de Nolan depois do café da manhã rumo ao hospital e eu me sentia meio nervosa. Felizmente não dei de cara com ninguém da família até aquele momento e muito menos com Ashley que eu rezava para já ter ido embora.

O clima não estava bom entre mim e Nolan depois da discussão de ontem e eu me perguntava se iria melhorar em algum momento.

Nós chegamos ao hospital minutos depois e Helena nos recebeu, apresentando um médico de meia-idade chamado, Dr. Shaw.

— O Dr. Shaw é um ótimo obstetra, ficará em boas mãos.

Acompanhei o homem para dentro do consultório e expliquei o que tinha sentido.

— Então, Amanda, faremos todos os exames necessários para saber se está tudo bem com o bebê.

Eu passei a manhã no hospital, entre fazer todos os exames e esperar os resultados. Nolan ficou comigo, mas ambos estávamos calados, perdidos em nossos próprios pensamentos.

— Eu vou fumar. — Ele se levantou certo momento e eu fiz uma careta.

— Você me disse que só fumava de vez em quando... quando estava frustrado ou nervoso, mas parece que fuma o tempo inteiro agora.

— Acho que isso diz muita coisa — rebateu se afastando.

Helena se aproximou.

— Ainda estão aqui.

— Sim, preferimos esperar os resultados.

Ela se sentou ao meu lado.

— Como estão as coisas, entre você e Nolan?

— Acho que percebeu que não está um clima bom, não é?

— Acredito que brigaram por causa da Ashley.

— Não esperava que ela estivesse aqui.

— Eu sei. Sinto muito por isso. Mas os pais de Ashley estão viajando. Eles queriam que ela fosse encontrá-los, mas ela se negou. E depois do que ela fez... — Helena hesitou, claro que estava se referindo a Ashley ter machucado a si mesma, por assim dizer. — Não achamos seguro ela ficar sozinha. Samantha ficou chateada porque Austin disse que iria voltar para Nova York para ficar com Ashley. Por isso eu e Theodore permitimos que ela ficasse aqui com o primo.

Hum, Samantha não falou inteiramente a verdade ontem, quando disse que não tinha nada a ver com a presença de Ashley.

— E não sabíamos que iam voltar tão cedo.

— Sim, imagino.

— Mas não fique brava, não faz bem pra você. Ashley irá embora hoje com Austin, afinal.

— Samantha deve estar brava.

— Eu falei que ela pode ir com o namorado, se quiser.

Ela se levantou quando o Dr. Shaw me chamou de volta à sala.

Ele remexeu os papéis e nos encarou.

— Como eu previa, está tudo absolutamente normal. Você está com quase três meses de gestação, o bebê apresenta todos os sinais vitais deste período. E está tudo bem com você também.

— Tem certeza?

— Claro que sim, Amanda. Não deve ficar preocupada com essas coisas, lógico que não podemos prever o futuro e problemas acontecem, mas sua gravidez tem tudo para correr sem problemas até o fim.

Eu respirei aliviada.

— E quanto à pergunta do Nolan...

— Pergunta? — indaguei confusa.

— Contanto que não se sinta desconfortável, não há problema nenhum em fazer sexo durante a gravidez.

Eu fiquei vermelha até a raiz do cabelo. Então Nolan tinha perguntado isso ao médico?

Nós saímos da sala e entramos no carro.

— Você perguntou ao Dr. Shaw se podíamos fazer sexo sem problema?

— Perguntei sim.

— Foi por isso que você ontem... você sabe.

— Claro que sim. Eu não faço ideia de como essas merdas funcionam — dardejou com seu jeito impaciente.

— É, eu também não faço ideia — resmunguei. — Que bela dupla nós somos.

Ele riu, ligando o som.

Nolan já não parecia de mau humor, mas eu ainda me sentia levemente apreensiva.

Agora que estávamos de volta, sentia frio na barriga, receosa sobre como seria minha vida agora. Às vezes parecia que eu e Nolan podíamos dar certo juntos, mas aí acontecia alguma coisa e voltávamos à estaca zero.

No fundo, ainda parecíamos duas crianças imaturas brincando de adultos, sem saber as regras de como aquele jogo funcionava.

Senti um calafrio enquanto saíamos do carro em frente à casa da família de Nolan.

— O que foi? — Nolan me estudou.

— Ainda é tudo meio estranho. Estar aqui com você... Eu não me sinto à vontade com a sua família. E nem com... você. Com a gente. — Tentei expressar meus medos, mas não sabia se Nolan entendia.

Não é possível que ele não sentisse o mesmo.

— Eu sei que é estranho. Mas quero que se acostume com isso. Que se acostume comigo. Acha que consegue, Amanda?

Havia uma certa insegurança em sua voz, ou era impressão minha?

Era estranho também pensar em insegurança e Nolan juntos na mesma frase. Isso combinava mais comigo, em como eu me sentia ao entrar naquela família assim tão rápido e sem escolha.

Em estar com Nolan Percy sem escolha.

Mas será mesmo que foi sem escolha?

Eu tinha outras opções. Que iriam decepcionar meu pai, claro. Mesmo assim eu tinha. Pensei no bilhete do Owen.

Ignorar seu pedido para que voltássemos também foi uma escolha minha. As circunstâncias me levaram àquele momento, mas eu escolhi estar ali.

— Eu quero conseguir — respondi por fim.

E ele sorriu, sua mão tomando a minha para entrarmos na casa dos Percy.

A primeira coisa que notei, com um certo alívio, era que nem Ashley e nem Stella estavam ali.

— Olá, como foram os exames? — Samantha indagou.

— Está tudo bem — respondi.

— Chegaram a tempo para o almoço!

Foi só falar em almoço e meu estômago roncou.

— Que milagre é esse da sua namorada chata não estar aqui? — Nolan questionou Jace.

— Ela viajou com Austin e Ashley.

Jace me lançou um olhar de escárnio.

— E como você está, Amanda?

Eu sustentei seu olhar.

— Estou bem, Jace. E você?

— Por enquanto, ótimo. — Ele passou por Nolan lhe dando uma chave de pescoço. — Se meu irmãozinho está feliz, eu também estou. Então vamos manter as coisas assim.

Eu corei, com sua ameaça velada, quando Nolan se soltava lhe dando um soco no ombro e os dois seguiram na frente para a sala de jantar com aquelas brincadeiras bobas de meninos.

Até que Samantha passou por eles e cochichou algo no ouvido de Nolan.

— Depois de comermos — ele respondeu.

Do que eles estavam falando?

— Achei que você fosse viajar com Austin, Sam — comentei.

Ela suspirou.

— Eu até podia, mas os pais de Ash vão voltar mais cedo de viagem e ele poderá voltar para cá! E eu estava cheia de trabalho hoje... — Ela piscou para Nolan que revirou os olhos.

— Trabalho? — questionei curiosa.

— É uma surpresa... — ela cantarolou.

Nós almoçamos e eu me perguntava o que Samantha estaria aprontando desta vez.

Esperava que não tivesse nada a ver com gastos extravagantes.

E quando o almoço acabou, ela me puxou pela mão.

— Por favor, que não seja nenhum presente — murmurei olhando para Nolan e ele deu de ombros.

— Não sei se é um presente, mas acredito que vai gostar.

Caminhamos pelo jardim dos Percy até sairmos na rua e irmos para a casa vizinha.

— Esta é sua nova casa! — Samantha exclamou apontando para a residência que parecia tão bonita quanto a dos Percy, mas um pouco menor.

Arregalei os olhos sem acreditar.

— Isso é sério?

Eu olhei para Nolan sem acreditar.

— Achei que fôssemos morar com seus pais, até... — Até irmos para a faculdade, pensei.

— Você ia preferir assim? — ele indagou com sarcasmo.

— É, acho que não. Mas isso já é... de mais!

— Bem, nós vamos voltar. — Jace puxou Samantha.

— Eu quero entrar com eles e ver a reação da Amanda.

— Cuide da sua vida, gnomo intrometido — Nolan resmungou e Jace saiu puxando Samantha.

— Eu ainda nem sei o que pensar. Por que não me disse?

— A gente não disse um monte de coisa, não?

— É desse tipo de assunto chato que a gente precisa conversar!

Nolan riu e sem aviso me pegou no colo.

— Ei, o que está fazendo, acho que eu posso andar!

— Não é a tradição?

Eu não tive como refutar. Nolan me colocou no chão quando entramos e eu olhava para tudo embasbacada. A casa era mesmo muito bonita e decorada.

— Não acredito que temos uma casa. É tão... adulto — sussurrei e encarei Nolan. — E parece bem cara!

— Não é nada para o meu pai — Nolan comentou com desdém, segurando minha mão e me puxando escada acima.

— Seu pai comprou?

— O dinheiro é dele.

Bem, era um ponto.

Eu não fazia ideia de como aquelas coisas funcionavam no mundo dos ricos. Sabia que a família de Nolan tinha muito dinheiro, mas obviamente o dinheiro era do pai dele. Porém, não parecia ter problemas em conseguir o que queria.

Seria assim comigo agora?

Eu imaginava que iria para a faculdade com a poupança que meu pai fez pra mim e que teria que trabalhar para conseguir comer.

Eram o que as pessoas comuns faziam.

— Essa casa pertencia a Matthew King.

— Matthew King, o escritor?

Eu havia lido alguns livros dele e sabia que ele se mudou há alguns anos para a Camden. E a esposa dele, Evangeline, era dona de uma livraria na cidade.

— Sim. E a casa que meu pai comprou era da família dele. Eles a venderam para Theodore, assim como esta casa.

— Seu pai comprou duas casas? — Nossa, era muito absurdo. Naquele lado da cidade as casas eram uma fortuna e Theodore Percy comprou duas casas!

— Meu pai é investidor, ele achou que poderia reformar e vender e quando decidimos casar, Helena sugeriu que ele nos desse essa casa.

— Ainda acho que deveria ter me contado sobre isso — insisti quando entramos em um quarto enorme com vista para a Marina. — E, na verdade, eu nem sei por que temos que ter uma casa, já que vamos pra faculdade e a gente precisa mesmo conversar sobre um monte de coisa...

Antes que eu continuasse, Nolan se colocou atrás de mim, me puxando para perto, as mãos se infiltrando dentro da minha camiseta e derreti na mesma hora.

Ah minha nossa, fechei os olhos, perdendo o fio da meada, quando seus lábios encontraram meu pescoço.

— Será que podemos fazer um acordo? — indagou dentro do meu ouvido, uma mão deslizando para o cós da minha calça.

— Acordo?

— Podemos ficar nus. E deixar os assuntos chatos para depois?

— Depois quando?

Ele abriu os botões da minha calça e senti como se meu ventre fosse sugado, me encostando mais nele e o sentindo excitado.

Ah, sim.

Isso não era nada chato.

— Para quando eu me cansar de fazer isso? — ele enfiou os dedos na minha calcinha e eu gemi alto, minhas pernas amolecendo.

Os pensamentos com assuntos chatos evaporaram da minha mente.

Quem se interessava por eles?

Eu só queria que Nolan tirasse minha roupa.

— Eu não quero que se canse de fazer isso — arfei e Nolan riu, mordendo minha orelha, seu toque fazendo um estrago dentro de mim e me deixando trêmula em seus braços.

— Eu duvido que vou cansar de você. — Ele me virou e mergulhou a língua na minha boca, me fazendo agarrá-lo e corresponder ao beijo com avidez.

Quando nos fitamos novamente, seus olhos brilhavam perigosamente. E eu nem sabia como tínhamos chegado na cama enorme e ele estava em cima de mim.

— Temos um acordo? — Ele se inclinou beijando meu rosto e traçando um caminho até meu ouvido, sua voz rouca e perfeita adentrou em mim, derretendo tudo pelo caminho e gemi, minhas próprias mãos descendo para sua camisa e a tirando.

Pareciam séculos que eu não sentia sua pele morna contra a minha.

E Nolan me beijou com força, os dedos encontrando meus seios e os apertando por cima do sutiã, mas não era suficiente.

— Tira minha roupa — pedi quando seus lábios se afastaram dos meus e ele riu.

E eu nunca ia me conformar em como o som do seu riso era delicioso e como somente isso já causava um rebuliço em meu íntimo.

E então, Nolan estava me despindo com pressa, e fiz o mesmo com suas roupas, jogando-as pelo quarto de qualquer jeito, seus lábios desvendando minha pele, quentes e úmidos, às vezes mordiscando, às vezes lambendo. Qualquer coisa que vinha dele era deliciosamente excitante e me fazia queimar e derreter ao mesmo tempo.

E eu só queria mais e mais. E acho que disse exatamente isso em algum momento e de repente sua boca beijava a minha de novo e ele me penetrava fundo. Eu gemi contra seus lábios, enquanto meus músculos internos se ajustavam perfeitamente a ele.

— Tudo bem? — Nolan pairou em cima de mim, retirando os cabelos do meu rosto suado.

Eu sorri, ofegante.

— Tudo perfeito... — E ele sorriu também, os dedos se entrelaçando delicadamente aos meus sobre o lençol e se moveu devagar.

Fechei os olhos e deixei que o prazer me dominasse, me levasse, me movendo com ele.

E foi sua vez de gemer e aumentar o ritmo, cada vez mais forte, cada vez mais rápido e fundo, até a estocada final, doce, intensa, o prazer explodindo em espasmos e eu gritei seu nome, me desmanchando embaixo dele.

Depois, ficamos deitados de bruços e eu bocejei, sonolenta e mole.

— Ainda quer falar de assuntos chatos?

Abri os olhos e ele me fitava com um olhar preguiçoso.

Levei a mão a seus cabelos suados. Ainda era bizarro que aquele cara bonito e complicado fosse meu marido.

Meu.

Meu coração se expandiu de algo incrível e assustador.

E sem pensar me inclinei e arrastei meus lábios por seu ombro coberto de tatuagem sentindo seus dedos deslizarem por minhas costas.

— Acho que podemos fingir que os assuntos chatos não existem por algumas semanas?

— Podemos fingir que estamos em Barbados.

— Em lua de mel...

— Parece uma boa ideia.

— E vamos fingir que sua família não existe?

— Não será nenhum sacrifício.

Eu ri e a última coisa que me lembrava antes de deslizar para o sono era Nolan puxando a coberta para cima de nós.


Capítulo 7

 

Amanda

 

Quando eu acordei, estava sozinha.

Eu me espreguicei e me perguntei onde estaria Nolan.

Reparei nas horas e já passava das 16h. Que ótimo, estava me tornando uma preguiçosa.

Ao me levantar, senti uma leve tontura, mas não enjoo. O que me deixou aliviada.

Entrei no closet e realmente era assustador. Todas as malas já tinham sido desfeitas. Claro que tudo ali era de marca que eu nem sonhava em usar antes. Mas consegui achar algo mais normal, como jeans e uma blusa. Eu me arrumei e saí do quarto, me lembrando que não conheci a casa ontem à noite. E assim como a casa dos Percy, aquela era espetacular.

E eu ainda achava um exagero uma casa daquele tamanho para apenas nós dois. Se bem que era infinitamente melhor ficar longe da família dele.

Quando cheguei à cozinha, vi um bilhete grudado na porta da geladeira.

 

“Não quis te acordar.

Estou na casa do meu pai, arrumando minhas coisas

para trazer pra cá.

Fale com seu pai. Ele te ligou e já sabe que voltamos.

 

Nolan”

 

Amassei o bilhete

Aquilo era tão... doméstico.

Bilhetes na porta da geladeira.

E me deixou um pouco perturbada.

E o que eu ia fazer, sozinha naquela casa?

Pensei em ir ajudar Nolan, mas apostava que Sam já estava ajudando, então deixei um bilhete dizendo que ia até a casa do meu pai.

Saí de casa e me perguntei se o carro que Nolan me deu estaria ali. Havia uma garagem atrás da casa e como eu previ, o carro estava estacionado ao lado do Jeep de Jace.

Senti um embrulho no estômago, ao me corrigir.

Jeep de Nolan.

Que ele ganhou na aposta.

Era engraçado como eu quase me esqueci dessa maldita aposta. Mas ela existiu. Foi assim que tudo começou, não foi? Nolan apostou com Jace que me levaria pra cama e conseguiu.

E eu fiquei grávida. E nós nos casamos.

Bem, toda história começava de alguma maneira. Não dava para voltar atrás agora e refazer toda aquela trajetória. E eu ainda estava grávida e isso também não tinha volta. Então por que ficar remoendo aquilo?

Era passado.

E o melhor que eu fazia era esquecer e seguir em frente.

Respirei fundo e entrei no meu carro.

 

Papai tomou um susto ao me ver.

— Oi, pai.

Ele se virou, estava limpando suas varas de pescar.

— Amanda, o que faz aqui?

Eu dei de ombros.

— Mudança de planos.

Ele se levantou, vindo até mim.

— Está tudo bem? Achei que iam ficar três semanas em Barbados.

— Era o plano. Não me senti muito bem, fiquei preocupada de estar num lugar tão isolado. Aí voltamos.

— Não se sentiu bem? Como assim? Está doente? Alguma coisa com o bebê?

— Está tudo bem. Já fiz vários exames hoje e está correndo tudo bem com a gravidez.

— E por que não me avisou assim que chegou?

— Voltamos ontem à noite e hoje de manhã fomos fazer os exames.

— Tem certeza de que está bem, Amanda? Não minta para mim.

— Estou sim! — garanti. — Acho que vou fazer um chá para nós.

Eu fui pra cozinha e coloquei água para esquentar.

Ele ficou meio desconfiado.

— E entre você e Nolan?

— Está tudo bem, pai. É sério. Não fique preocupado. Sabia que os Percy nos deram uma casa? — mudei de assunto.

— Sério?

— Sim, fica ao lado da propriedade deles. Está convidado para ir lá conhecer, claro.

— Muito generoso da parte deles.

— Eu ainda acho tão esquisito.

— O que é esquisito?

— Todo esse dinheiro à disposição assim. E o senhor precisa ver a casa. É enorme! E só pra mim e Nolan. E tipo, eu vou para a faculdade.

— Sim, bom tocar no assunto.

Ele abriu uma gaveta e tirou alguns papéis.

— Não conversamos sobre isso, mas você ainda irá para Yale? — indagou com cuidado.

— Claro que sim — respondi sem pensar. — Não era este o plano?

— Antes de engravidar e casar. Você e o Nolan já conversaram sobre isso? Acho que na festa de casamento, ouvi aquele irmão dele comentar que os dois estariam indo para a universidade de Nova York.

— Oh... — E lá estava.

Os assuntos chatos que eu e Nolan vínhamos protelando.

Em poucas semanas Nolan iria para Nova York.

E eu deveria ir para Yale.

Não deveria?

Eu sempre quis estudar, ter uma profissão, mesmo não sabendo bem que rumo iria dar a minha vida, estudar sempre esteve nos meus planos.

Eu era uma boa aluna e tinha notas decentes, mas fiquei insegura quando minha mãe disse que eu poderia estudar numa grande universidade. Mesmo assim Yale parecia tão distante. Até que eu passei e aí se tornou um sonho possível e ao meu alcance.

“Isso antes de você estragar tudo engravidando e se casando com Nolan Percy.”

Mas eu não precisava abrir mão de Yale.

Eu não queria abrir mão.

— Os planos continuam os mesmos. Vamos fazer minha matrícula.

Meu pai não parecia muito convencido.

— Olha, eu sempre quis que fizesse uma boa faculdade. Sua mãe também, por isso nos esforçamos para guardar o dinheiro necessário, ainda mais quando começou a crescer e vimos que tinha muito potencial.

— Eu sou grata, pai. — Eu me sentia tão arrependida quando vi o quanto tinha decepcionado Gavin. — Por isso eu tenho que ir.

— Mas seu marido estará em outra cidade.

— São quatro anos. E New Haven fica há duas horas de Nova York.

— Vocês já conversaram sobre isso? Não me parece um bom começo de vida juntos, com vocês morando em cidades separadas.

Desviei o olhar.

— Vamos conversar. Vai ficar tudo bem. — Sorri com uma certeza que estava longe de sentir. — E como está se virando sozinho? Está comendo direito?

— Sabe como é, comendo estou, mas não tão bem como quando estava aqui. Terei que me acostumar de novo.

Eu quis dizer que ele podia se casar de novo, por exemplo, mas me calei. Sabia que o casamento falido com a minha mãe tinha sido duro pra ele.

Ouvi um carro estacionando.

— Está esperando alguém? — Eu me levantei e quando entrei na sala, vi Owen à porta.

Ele pareceu tão surpreso quanto eu.

— Owen!

— Oi, Amanda? O que faz aqui, achei que estava viajando.

— Eu estava, mas voltei.

— Está tudo bem?

Eu podia ver as engrenagens em sua cabeça tentando entender o que eu estava fazendo ali dias depois de me casar, quando deveria estar numa ilha tropical em lua de mel.

— Eu tive que fazer uns exames, por isso voltei. E vim visitar meu pai — respondi rápido, antes que Owen tirasse conclusões erradas. — E o que veio fazer aqui?

— Eu vim buscar uns equipamentos de pesca para o meu pai.

Neste momento, Gavin entrou na sala.

— Ei, Owen. Já está tudo pronto aqui. — Ele apontou para os equipamentos que estava limpando.

Owen se adiantou para pegá-los.

— Eu te ajudo a levar no carro.

Eu queria ter a oportunidade de falar com Owen sem a presença do meu pai.

Fomos para fora e colocamos tudo no porta-malas e Owen se virou para mim.

— Está tudo bem com você? — Ele estudou meu rosto. Parecia hesitante.

— Está sim.

— Você... recebeu o bilhete?

Contraí os lábios, nervosa.

— Sim, eu li seu bilhete.

Ele abriu um sorriso triste.

— E se leu e não fez nada é porque eu perdi mesmo, não é?

— Owen, sabe que a nossa história acabou faz tempo. Sinto muito. E me sinto horrível ao pensar em tudo o que te fiz passar, mas é assim que as coisas são agora. Você tem que esquecer.

— É fácil falar. Eu te amei a vida inteira. Achei que íamos ficar pra sempre juntos.

— Eu gosto demais de você também. É importante pra mim, mas agora só podemos ser amigos. Por favor, não fique com raiva de mim.

— Não posso ficar com raiva de você. Eu tenho raiva de Nolan Percy.

— Não deveria ter.

— Tudo bem. Eu entendo que precise ficar com ele. Mas o Percy não é um homem que te mereça.

— Eu sei que Nolan fez um monte de coisa errada...

— Sabe da moto?

— Sim, eu sei que Nolan e Jace, junto com Carlton, colocaram fogo na moto e foi algo horrível de se fazer.

— E mesmo assim confia nele?

— Eu tenho que tentar, Owen.

— Certo. Eu só espero que ele não te decepcione. Mas se ele te decepcionar. Sabe que sempre terá a mim.

Ele acenou e entrou no carro, me deixando com o coração partido.

Eu não ia superar o que fiz com Owen.

 

Voltei para casa quando a tarde caía.

Entrei na sala e Nolan estava no sofá, mexendo no celular.

— Oi.

Ele levantou a cabeça e seu olhar parecia tão intenso que me deixou sem ar.

— Onde estava, te deixei recados no celular.

— Eu te deixei um bilhete na geladeira, não viu?

— Não, não vi. Acabei de chegar da casa do meu pai.

— Trouxe todas as suas coisas?

— Sim, agora vem aqui.

Eu me aproximei e ele me puxou para seu colo.

— Onde estava?

Eu o encaro franzindo a testa.

— Por que está usando este tom?

— Que tom?

— Tom daqueles maridos da década de 50.

Ele riu.

— Só fiquei curioso.

— Parecia bravo por eu ter saído.

— Estava bravo porque não estava aqui. — Sua mão desceu para meu quadril, apertando. — Você lembra que temos um acordo?

— Eu fui ver meu pai.

“E acabei encontrando com Owen.”, acrescentei mentalmente.

Melhor deixar aquela informação de fora.

— Achei que nosso trato era ignorar a família.

— A sua família.

Ele riu me puxando e me beijando. Soltei um gemido de satisfação, enfiando os dedos em seus cabelos e aprofundando o beijo, o calor de sua boca se espalhando para meu corpo ansioso.

Mas Nolan parou ao ouvir um pigarro irritado.

— Por favor, esperem eu ir embora para começarem a tirar a roupa, ok? — Samantha estava descendo as escadas com seu sorriso irritante.

— Achei que sua família estava proibida aqui, Nolan — reclamei.

— Ei, eu ouvi isso!

— Ela é chata, mas me ajudou com a mudança — Nolan explicou.

— Disponha! — Samantha fez uma careta. — E eu posso fazer uma reserva para a gente jantar naquele restaurante italiano novo da Marina?

— Claro que não — Nolan respondeu.

— Por que não? Vocês têm que me entreter. É verão e estou sozinha, meu namorado nem está aqui...

— Problema seu. Agora suma daqui.

Nolan pegou uma almofada e jogou nela.

— Tudo bem, chatos! Vou chamar o Jace. Ele é bem mais legal sem a Stella. Odeio casais emocionados!

Ela saiu de casa e Nolan enfiou a mão embaixo da minha blusa, mas parou.

— O que foi?

— Sabe que a Sam falou de restaurante italiano e fiquei com fome. A gente podia ir jantar. Sem a gnomo, claro. Além do mais, sabe o que eu lembrei? Que você me deve um encontro.

— Está falando sério?

— Seríssimo.

— Mas já somos casados. Agora a gente tem que ficar aqui vendo programas na TV e cuidando do jardim.

— Daqui a cinquenta anos, talvez.

— Daqui a cinquenta anos ainda estará comigo?

Ele segurou meu olhar.

— Não te avisaram? Nunca mais vai se livrar de mim.

Eu não sei se entendia aquelas palavras como algo romântico. Ou uma ameaça.

Mas neste momento, eu só conseguia pensar em como ele estava se tornando facilmente necessário pra mim.

— Ok — concordei. — Mas será do meu jeito.

— Do seu jeito? O que isso quer dizer?

— Iremos onde eu quiser.

— Não sei se gosto disso.

— Você é muito mimado, Nolan. Fazer a vontade dos outros de vez em quando vai ser bom pra você.

— Fazer a sua vontade, quer dizer.

Eu dei de ombros, me levantando.

— Não te avisaram? O casamento é assim. Os maridos fazem as vontades das esposas.

— Não na década de 50.

— Que pena pra você que não estamos na década de 50, então — avisei enquanto subia as escadas rindo.

***

— É isso que chama de encontro? — Nolan perguntou horas depois enquanto percorremos o corredor da livraria.

Eu sorri pegando mais um livro e folheando.

— Pra mim é perfeito.

— Tinha pensado num jantar à luz de velas. E comida italiana, não é a sua preferida? — Nolan me seguia com cara de enfado. Ele parecia muito fora do lugar com suas roupas pretas e jaqueta de couro.

Eu ri.

— Podemos jantar depois, mas nada de restaurante chique, como aposto que é esse que Sam queria ir.

— Eu já te vi uma vez em um restaurante chique. Achei que curtisse.

— Aquele dia, Owen me levou ali porque era uma comemoração...

Eu me arrependi no mesmo instante de falar o nome do Owen, porque o sorriso sumiu do rosto de Nolan.

Mas o que ele queria? Owen fez parte da minha vida.

"Ainda faz.", uma vozinha falou dentro de mim, e eu ignorei.

— Enfim, não curto muito este tipo de ambiente. Embora sim, eu ame comida italiana. Mas acho que posso ser legal e fazer sua vontade também, já que fez a minha vindo aqui.

— O que quer dizer? — Ele se aproximou por trás, colocando a boca em meu ouvido. — Vai me fazer um boquete aqui entre as prateleiras?

— Nolan, pelo amor de Deus. — Eu o empurrei, entre horrorizada e excitada com a sua sugestão.

Nolan riu.

— É tão engraçado quando fica vermelha.

— Você é um babaca! Eu estava falando de comer hambúrguer. Não é a sua comida preferida?

— Minha comida preferida é você agora.

— Para! — Olhei em volta, mortificada que alguém pudesse ouvir aquelas palavras sacanas de Nolan. Eu morreria de vergonha.

— Eu não consigo evitar, a gente podia estar em casa transando, mas você quis vir comprar livros. Já não tem um monte?

— Sim, e nunca é demais. Você deveria ler mais. Aposto que aprenderia algumas coisas com os livros.

— Como o quê?

— Como ser educado, por exemplo? Como ser menos babaca? Ou quem sabe como fazer uma garota se apaixonar por você.

Ele abriu um sorriso.

— É, acho que talvez eu precise mesmo disso.

Eu desviei o olhar, pegando minha pilha de livros e indo para o caixa.

Se eu contasse a Nolan que ele não precisava mais disso, o que ele diria?

— Olá, Amanda.

Reconheci a mulher bonita por trás do caixa. Era Evangeline, a dona da livraria.

— Oi Evie. Você parece ótima. — Apontei para a barriga dela, quase estourando.

Meu Deus, eu ia ficar assim também?

— Sim, falta pouco agora.

— Você teve um bebê há pouco tempo, não? — Tentei puxar na minha memória, porque quando estive a última vez ali, acho que a vi com um bebê.

— Tommy já tem dois anos. Fiquei sabendo que se mudou para a casa que o Matthew vendeu para os Percy.

Ela olhou curiosa para Nolan atrás de mim.

— Sim, nos mudamos. Este é o Nolan... Percy.

— O marido dela — Nolan acrescentou.

— Sim, ouvi falar. Parabéns.

Não parecia muito com parabéns, e sim com um “coitadinha, lamento”.

Eu me lembrei que Evangeline tinha uma filha, Sofia, que deveria ter uns 13 anos agora e que ela engravidou com a minha idade.

Mas diferente de mim, Evie criou sua filha sozinha, até que Matthew voltasse pra cidade e eles se acertassem. E pelo que eu sabia, Evie havia desistido de ir pra faculdade, inclusive. Eu não sabia detalhes, mas Harry, irmão de Carlton, era noivo de Janine, que trabalhava ali na livraria com Evangeline e Janine era bem fofoqueira quando aparecia na papelaria. E antes de Matthew aparecer, Evie foi noiva de Sebastian, que era amigo de Owen. O pobre Sebastian ficou desolado quando foi preterido. Owen inclusive, não ia com a cara e Evangeline por causa disso.

— Nossa, muitos livros, hein? Este novo romance policial do Matthew está ótimo, vai gostar. Embora pelo que me lembre, gosta mais de romances?

— Sim, mas é legal sair da zona de conforto de vez em quando.

— Claro que sim. — Ela concordou e me informou quanto ficou a compra.

Nolan se adiantou, pegando a carteira.

— Não, eu posso pagar, Nolan — eu o impedi.

— Não seja absurda.

— Os livros são meus, eu pago.

Ele não insistiu, talvez para não começar uma discussão.

Eu paguei e saímos da livraria.

E como eu queria, fomos comer hambúrguer.

— E então, estamos em um encontro. Acho que isso serve para as pessoas se conhecerem melhor, não? — provoquei.

Embora eu estivesse sedenta para que Nolan falasse de si mesmo.

Ele abriu um sorriso arrogante.

— Eu te conheço.

— Conhece nada.

— Claro que eu te conheço. É filha do Pastor Gavin Thomas, seus pais se divorciaram. Sua mãe é gente boa, embora meio bicho-grilo e pulou fora, indo embora com você para São Francisco.

— Isso só mostra que sabe quem são meus pais.

— Você gosta de Jane Austen, não é boa em biologia e sua ideia de um encontro perfeito é numa livraria.

— Isso diz tudo sobre mim, claro — ironizei.

— Você pode me contar mais.

Eu mordi os lábios, subitamente tímida ao pensar em falar de mim.

— Não, prefiro saber sobre você. Acho que já sabe bastante sobre mim. Eu te disse, lembra? Sou um livro aberto.

— Você sabe tudo o que precisa saber sobre mim.

— Sei mesmo? Vamos lá. Você é Nolan Percy. Morou em Nova York a vida inteira...

— Errado. Nós viemos do Canadá.

— Mentira!

— Não. Minha mãe era canadense. Ainda temos parentes lá, uma prima da minha mãe é inclusive patinadora artística.

— Que peculiar.

— Minha mãe também era.

— Sério?

— Mas aí ela conheceu meu pai, se apaixonou e a vida dela virou uma merda.

Eu engoli em seco, percebendo que o rumo da conversa deixou Nolan irritado.

— Você podia me falar dela? Da sua mãe — pedi hesitante, mas achava que já sabia a resposta.

— Não, não estou a fim.

Eu queria insistir, mas desisti.

O clima estava bom demais para ser estragado.

— Tudo bem. Não precisa falar se não quiser.

— Vamos para casa? — indagou impaciente.

— Sim, vamos.

Sua mão segurou a minha levando à boca e eu estremeci ao sentir seus lábios no meu pulso acelerado.

— Sim, vamos terminar nosso encontro.

Eu mordi os lábios, ansiosa quando entramos no carro.

— Não foi tão ruim assim, foi?

— Não foi, embora eu passasse a parte da livraria, gostei de comer hambúrguer.

— O que seria um encontro perfeito pra você?

— Como assim?

— Você... Não costumava fazer isso, em Nova York? — indaguei curiosa. Claro que Nolan namorou Ashley por um tempo, mas deveria sair com outras garotas antes.

— Nunca parei para pensar nisso. Eu só queria que chegasse a parte de transar.

Eu rolei os olhos.

— Garotos!

— As garotas ficavam felizes.

— Imagino que sim!

Eu não tinha como comparar, mas pra mim, naquela questão Nolan parecia perfeito.

— Então hoje se resume a isso? Está louco para chegar a parte de transar?

— Pode apostar.

— Não parece nada romântico.

— É isso que quer? Romantismo?

— Não faz mal a ninguém, acho.

— Certo, vamos ver o que eu posso fazer.

Eu ri, duvidando que estivesse falando sério.

Mas ele acelerou o carro e eu comecei a hiperventilar de antecipação.


Capítulo 8

 

Amanda

 

Eu nunca fui viciada em nada, mas estava ficando desconfiada que estava me viciando em Nolan Percy.

Só isso explicava passar o caminho inteiro praticamente em taquicardia, meu pulso acelerado e minha mente sem conseguir se concentrar em nada que não fosse o que ele faria comigo quando chegássemos.

A antecipação era doce.

E quente.

Eu desconfiava que meu corpo inteiro pudesse entrar em combustão instantânea.

Nós entramos em casa, Nolan tirou a jaqueta e eu o encarei praticamente babando. Era quase constrangedor demais.

Mas estava além de qualquer preocupação com o bom senso no momento.

— Vou acender a lareira.

— Lareira? — indaguei confusa. — Eu nem tinha reparado que tínhamos lareira.

— Ouvi dizer que lareiras são românticas, não estraga o clima, Amanda.

Eu ri, rolando os olhos.

— Certo, posso tentar. Então, eu vou... subir e vestir algo mais romântico?

Foi a vez de Nolan arquear as sobrancelhas.

Quase tropeçando eu subi para o quarto. Talvez fosse uma ocasião para algumas roupas de Samantha, pensei, tentando respirar normalmente.

Eu ficava vermelha apenas de tentar escolher uma delas e acabei optando por uma camisola de renda preta e curta.

Eu me olhei no espelho me sentindo nua.

— Acho que nua seria menos embaraçoso — sussurrei para mim mesma.

— Amanda? — Ouvi a voz de Nolan me chamando e respirei fundo.

— Eu já vou!

Era meio absurdo da minha parte sentir vergonha a esta altura do campeonato. E nem sei o que eu senti ao ver o queixo de Nolan cair ao me ver, quando desci as escadas.

E fiquei surpresa ao ver que a sala estava à meia-luz, a lareira acesa e havia até uma música tocando. Nolan estava sem camisa, apenas de calça com os pés descalços vindo em minha direção e sem aviso começou a dançar comigo pela sala.

— Ah, minha nossa. Isso que é romântico?

— Achei que soubesse o que é romântico.

— Não tenho muita experiência nisso.

— Então?

— Parece bom. Aposto que você não tem experiência nisso também.

— Quem disse?

— É apenas um palpite.

— Acertou. Está vendo, não sou um livro tão misterioso.

Eu queria dizer que era um livro que eu tinha acabado de iniciar a leitura, e que estava ávida para ver como terminava.

Mas ele segurou minha mão e me fez girar, me deixando enrubescida de vergonha.

— Você está...

— Exagerada?

— Linda — ele disse por fim — e sexy. — Sua mão pousou no meu rosto quente. — E aposto que está vermelha.

Eu ri.

— Nunca vesti uma coisa assim na minha vida.

— Nunca fez um monte de coisa na sua vida.

Um sorriso curvou o canto de sua boca, fazendo disparar ainda mais meu coração, suas mãos passeando pela lateral do meu corpo, por cima da renda, chegando a minha coxa e passando por seu quadril.

— Eu quero fazer com você — sussurrei e ele me beijou.

Deixei escapar um gemido baixo, passando os braços em volta de sua nuca, os dedos castigando seus cabelos, até que ele me encarasse ofegante.

— Eu gostei mesmo dessa roupa, mas quero tirá-la de você.

— Só se tirar as suas primeiro.

Ele sorriu e me beijou de leve, os lábios prendendo meu lábio inferior.

— Parece justo.

E eu engoli em seco, vendo-o se despir na minha frente.

Era tão perfeito. Tão bonito.

— Alguém já te disse que é lindo?

Ele riu.

— Um milhão de vezes.

— Um milhão e um então.

— Acho que homens preferem elogios do tipo “Seu pau é enorme”.

O rubor aqueceu minhas bochechas.

— Não espera mesmo que eu diga isso.

Ele colocou a mão na cintura e esperou.

— Não é grande o suficiente?

— Bem... — Direcionei meu olhar para baixo. — Parece um tamanho normal?

— Amanda, não seja estraga-prazer. — Riu me puxando e me jogando no sofá e fez meu corpo inteiro derreter em expectativa.

— Então Nolan Percy é romântico?

— O Nolan da Amanda é.

Não contive o sorriso que se delineou em meus lábios quando ele abaixou a cabeça e depositou um beijo quase casto no canto da minha boca, que não condizia com a maneira que se escorregou no meio das minhas pernas e era extremamente excitante saber que ele estava nu e eu ainda meio vestida.

— Então, isso foi romântico o suficiente para a Amanda do Nolan?

— A Amanda do Nolan gostou disso — garanti e num movimento ágil, eu o empurrei e rolamos para o chão para frente da lareira, eu cima dele.

Ele estendeu a mão e puxou a camisola para cima, me desnudando e me deixando apenas com a calcinha de renda combinando.

Sorriu, me puxando pelo cabelo e me beijando, enquanto me virava no tapete.

Ofeguei de antecipação.

— Agora chegou a hora de foder você, Senhora Percy.

E o Senhora Percy em seus lábios me pareceu suficientemente íntimo no momento, enquanto suas mãos estavam em mim novamente e suspirei, enfraquecida, sua boca percorrendo meu rosto, minha testa, minhas pálpebras, meu queixo, descendo por meu pescoço, de novo meus lábios. E eu mantinha meus olhos abertos, gostando de ver o que ele estava fazendo.

— Quero saber o que quer — sussurrou entre beijos úmidos.

— O quê?

— O que você gosta. — Seus lábios deslizaram por meus seios e eu arfei ao sentir o hálito quente arrepiando a minha pele. — Quero saber tudo sobre você... — sussurrava enquanto descia, a língua circundando meu umbigo — Tudo o que excita você...

— Oh, Deus... — Finalmente fechei os olhos, ao senti-lo descer ainda mais e tocar a junção das minhas pernas com os lábios por cima da calcinha.

— Abra os olhos, Amanda.

Sua voz era ríspida e baixa, atingia algum ponto dentro de mim que eu nem sabia que existia.

— O que você quer?

Meu rosto se tingiu de vermelho, mas eu limpei a garganta.

— Que faça isso de novo.

— O quê?

— Que beije... aí.

Ele riu, claramente me provocando.

— Na sua boceta?

Eu tapei o rosto com as mãos.

— É... você entendeu. E está rindo de mim. — Eu podia apostar que todo meu corpo estava ruborizado. Num misto de constrangimento e excitação.

— Muito bem.

Tirei as mãos do rosto, para vê-lo ajoelhado na minha frente.

— Tire sua calcinha — ordenou quase rudemente.

Prendi o ar, mas levei os dedos ao elástico e escorreguei o pequeno pedaço de cetim pelas minhas pernas, a descartando.

Nolan se aproximou com o olhar varrendo meu corpo até capturar o meu, antes dele levantar meu joelho e mergulhar o rosto entre minhas pernas.

E acho que morri neste momento.

Era chocante demais, desnorteante demais.

Delicioso demais. Eu gemi, perdida em sensações que arrepiavam toda minha pele e percorriam minhas veias como fogo líquido, se concentrando onde Nolan tocava. Meus dedos mergulharam em seus cabelos e eu o mantive cativo ali, rebolando os quadris, querendo mais, enquanto ele me lambia, chupava, mordiscava. Ah caramba, como algo assim podia ser tão perfeito? Lutei para respirar, arquejando, o prazer sendo construído dentro de mim, irradiando calor por todos os meus poros e me deixando trêmula e fraca. A tensão crescendo conforme ele aumentava a pressão da língua e eu simplesmente não conseguia mais pensar, a não ser em como era possível sentir cada célula do corpo gritar, tudo se concentrando naquele pequeno ponto, pulsando dentro de mim, até arrebentar e explodir em mil sensações diferentes, sentidas em todo meu corpo e eu acho que gritei, praticamente desfalecendo de prazer.

Abri os olhos para encontrá-lo ao meu lado novamente, aquele sorriso de lado nos lábios e eu o encarei, ofegante e surpresa.

— Isso foi...

— Eu sei. — Ele parecia convencido, e bem, podia ficar mesmo.

— Acho que detesto dizer isso, mas você é muito bom.

Ele riu e me beijou.

— Não sou mais um babaca?

— É um babaca que fode muito bem.

Ele riu, meio surpreso com minhas palavras e eu o puxei para perto, beijando seu queixo, minhas mãos deslizando por seu peito e Nolan ofegou. Eu gostei do som. Gostei de saber que era eu quem fazia aquilo com ele.

— Quero tocar em você... — sussurrei contra seus lábios, mordendo-os levemente. — Quero saber tudo sobre você também.

Nolan gemeu e enterrei meu rosto em seu ombro, absorvendo o cheiro delicioso de sua pele, me maravilhando com a familiaridade de sua nudez, enquanto deixava meus dedos curiosos percorrerem suas costas, sentindo os músculos suaves ondulando sob meu toque, deslizando pelo peito com alguns poucos pelos, seu estômago e descendo pela barriga, até tocar sua ereção.

Mas Nolan segurou minha mão, levando meus pulsos para cima.

— Fiz algo errado? — indaguei insegura e ele riu.

— Não, absolutamente certo. — Seus lábios fizeram um caminho até meu ouvido. — Mas eu quero estar dentro de você. — E me beijou devagar, se sentando e me puxando com ele, segurando minha cintura, me fez deslizar por sua ereção, e eu estava tão excitada quanto ele novamente e adorei senti-lo inteiro dentro de mim, nossos olhares presos um no outro, enquanto seus dedos se enterravam em meus quadris, me dizendo sem palavras exatamente como eu deveria me mover.

A sensação era sublime.

Segurei sua nuca e joguei a cabeça para trás, meus seios pulando em pequenos movimentos, os dedos de Nolan migrando para meu pescoço, meu queixo, se infiltrando em meus lábios. Nossos gemidos se misturaram no ar, respiramos forte, ficamos tensos, aumentamos o ritmo. Seus lábios encontraram meu pescoço, meu colo, mordendo e me lambendo e deixando marcas que eu queria que ficassem ali pra sempre, assim como a sensação que ele imprimia em meu íntimo.

E de novo eu estava estremecendo com ele de puro prazer, meu orgasmo explodindo em meu ventre e se espalhando por todos meus poros. Eu o abracei forte, sentindo que Nolan estremecia no próprio gozo, soprando gemidos em minha pele e arrepiando minha alma.

Ele levantou a cabeça, descansando o olhar nos meus.

E eu sorri, me sentindo incrível.

Viva e maravilhosa.

— Me ensina.

— O quê?

— Tudo. Por favor.

Ele abriu um sorriso e me beijou devagar.

— Vai ser um prazer, Senhora Percy.

 

Na manhã seguinte, acordei zonza e procurei Nolan, passando os dedos pela cama a sua procura, mas o lugar ao meu lado estava vazio. Abri os olhos para vê-lo todo vestido com seu jeans e camiseta branca, olhando algo pela janela.

— Vai a algum lugar? — bocejei, ainda me sentindo muito sonolenta.

— Eu vou velejar com Jace. Ele já está esperando.

— Está quebrando as regras... — resmunguei.

Nolan riu se inclinando e depositando um beijo em minhas costas e meu ombro.

— Eu tenho que aproveitar que a chata da Stella não está por aqui segurando suas bolas como um troféu.

Eu ri ao imaginar a cena.

Talvez eu devesse seguir o modelo de namoro de Stella e grudar em Nolan também.

— Fique dormindo, ainda é cedo.

Ele se afastou, fechando a porta atrás de si.

E eu me espreguicei, já não com tanto sono.

E me levantei, espiando pela janela.

O dia estava nublado. Não era um bom dia pra velejar, pensei.

Jace estava mesmo ali, esperando Nolan em frente ao carro.

Nolan se aproximou e abriu a porta do passageiro, desaparecendo dentro do carro e Jace olhou para cima, seu olhar encontrando meu.

Ele não sorriu.

E eu me perguntei onde estaria o bilhete de Owen?

Eu havia deixado para trás no aeroporto, mas Jace o pegou de volta?

A ameaça de que ele pudesse entregar para Nolan parecia bem real. E estremeci de medo.

As coisas entre mim e Nolan pareciam estar entrando nos eixos e não queria estragar tudo agora com isso.

Ashley estava longe, e eu quase não a sentia como uma ameaça.

E deixei claro a Owen que seríamos apenas amigos e eu sentia que podia finalmente deixar minha história com Nolan chegar a um outro nível.

“Talvez você devesse ter mostrado o bilhete a Nolan.”, uma voz sussurrou dentro de mim, mas agora era tarde.

Nolan prometeu não estragar tudo.

Mas que irônico seria se fosse eu quem estragasse?


Capítulo 9

 

Nolan

 

— E aí, tudo bem com sua noivinha? — Jace indagou quando nos sentamos na frente do barco, segurando uma cerveja, com o mar sem fim à nossa frente.

Algo em sua voz me fez franzir a testa.

— Por que não estaria tudo bem?

Ele deu de ombros, levando a cerveja à boca.

— Há de convir que as circunstâncias dessa história não foram das mais propícias para finais felizes.

— O que está querendo dizer? Está falando como Theodore. Esperando que eu faça alguma merda e estrague tudo.

— É você que está dizendo.

Eu me irritei, mas não falei nada.

Porque os receios de Jace eram os receios que rondavam minha mente, e que eu não ousava admitir.

Jace tinha razão. A minha história com Amanda era cheia de erros desde o início e ninguém apostaria que daria certo.

Mas estava dando, não estava?

Eu não esperava me apaixonar, e muito menos que as coisas tomassem aquele rumo, com ela engravidando e nos casando.

E muito menos que eu ficasse apavorado com a possibilidade dela não querer ficar comigo.

Eu já fiquei com tantas garotas que não poderia nem contar. Era fácil e divertido. Algumas eram um pouco complicadas, inventavam de querer mais do que eu poderia dar, mas até o fiasco com Ashley, eu sempre consegui me livrar delas com facilidade. Ashley foi um caso fora da curva que até hoje eu sentia as consequências. Mesmo assim, não parecia possível gostar de alguém a ponto de sentir um terror real de que caso ela desaparecesse, nada mais faria sentido.

Era assim que eu me sentia em relação à Amanda. A necessidade que eu tinha de mantê-la ao meu lado era quase violenta.

E me sentia forte e fraco ao mesmo tempo. Como se o mundo fosse melhor só porque ela sorria pra mim, ou um buraco negro quando me dava um gelo, como fez quando chegamos em Barbados.

Claro que eu fui um imbecil por ter inventado de levá-la pra lá, não me dando conta que podia lhe fazer mal.

Eu não entendia nada de gravidez e essas merdas todas. Na maior parte do tempo, até esquecia que Amanda estava grávida. Mas quando ela acordou daquele pesadelo, aterrorizada de que podia ter algo errado, acho que foi a primeira vez que eu senti mesmo que era real. E também senti medo de ter cometido um erro enorme a mantendo em um lugar isolado.

Eu só acreditei que o isolamento era o que precisávamos para nos conhecer e nos conectar. Amanda estava com o pé atrás comigo depois que descobriu de Ash e as outras merdas que fiz. Eu não podia fazer nada quanto a isso. Eu tinha minha cota de infrações, mas me envolver com Amanda tinha sido meu erro favorito. E já que ela decidiu que ia me dar uma chance, tudo o que queria era fazer diferente agora.

Como eu ia fazer? Não tinha ideia.

Havia colocado um freio em minhas infrações ali em Camden, ainda mais depois de Ash, que me assustou pra caralho, e apostar que treparia com Amanda Thomas, a filha virgem do pastor, foi o meu maior delito. Colocar fogo na motinho do cunhado do idiota do ex-namorado dela, não foi nada. Quer dizer, nem fui eu quem fiz aquilo. Foi o tonto do Carlton Cooper, no afã de conquistar Amanda com sua pequena atitude hardcore . Eu só coloquei a ideia na sua cabeça oca. Ele poderia ter pulado fora, mas foi em frente. E como um bom covardezinho ficou com medo quando descobriram, colocando a culpa em mim e Jace. Meu irmão ficou puto e quis lhe dar uma dura. Eu não estava nem aí para Carlton, contanto que ele não chegasse perto de Amanda. E naquela altura dos acontecimentos, estava muito mais preocupado com a possibilidade do rato do ex-namorado dela querê-la de volta do que com um cueca freada como Carlton Cooper.

Só fiquei com raiva porque meu pai me culpou por causa das consequências que isso teve em seus negócios ali na cidade, quando o pai do Carlton quis arranjar briga.

— É dessa maneira que está disposto a ser adulto? — ele havia gritado. — E eu estava quase acreditando que talvez não fosse tão catastrófico assim se casar com essa menina do pastor!

Meu pai obviamente ficou furioso quando descobriu que eu havia não só apostado que transaria com a filha do pastor da cidade como a havia engravidado.

Depois da briga com Owen na festa de Samantha, estava todo mundo sabendo. Embora eu mesmo ainda estivesse meio chocado.

Era como um déjà-vu muito pior do que o episódio com Ashley.

Isso porque eu não tinha o menor interesse em Ashley e só queria poder terminar com ela e seguir em frente.

Mas Amanda foi de uma aposta inconsequente a algo muito maior e inesperado que eu não conseguia lidar direito.

Enquanto eu a cercava e a seduzia, era deliciosamente divertido. Mesmo quando ela me dava o fora, insistia em se manter fiel ao namoradinho. Às vezes eu duvidava que fosse mesmo virgem como Stella garantiu que era, e na boa? Nem fazia diferença. Eu até preferia que não fosse, porque assim seria bem mais fácil levá-la pra cama, quando já sabia o que iria acontecer. Porque ela podia se esforçar em negar, mas a atração que sentia era recíproca. Amanda estava querendo o mesmo que eu, só insistia em ser fiel ao idiota do namorado. E quanto mais ela negava, mais interessado eu ficava. E não só em foder com ela. Amanda começou a se revelar interessante em outros níveis. Ela era doce e tão diferente das garotas por quem eu costumava me interessar. Era como um sopro de ar fresco num calor escaldante. Sua sedução não era calculada e isso só tornava tudo mais excitante. E depois que a beijei no barco, eu só pensava em concluir o que começamos. Tinha certeza de que eu e Amanda juntos seria do caralho. E mal podia esperar.

A festa de Samantha e a embriaguez de Amanda criaram a oportunidade perfeita. Não que eu não soubesse que estava sendo um cretino, afinal, se ela não estivesse bêbada, provavelmente não cederia tão facilmente. Mas eu era da opinião que o álcool era como um elixir da verdade. Ninguém fazia nada que não quisesse estando bêbado, apenas fazíamos aquilo que tínhamos realmente vontade e não tínhamos coragem sóbrios. E não era como se Amanda estivesse tão bêbada que não soubesse o que estava fazendo. Ou pelo menos era isso que eu disse pra mim mesmo quando pulei para seu quarto e a fodi naquela noite. A noite em que ela se tornou a Amanda do Nolan e eu me tornei o Nolan da Amanda.

E eu sabia que seria incrível, mas não sabia que sairia de dentro dela sabendo que precisava voltar.

Eu queria que ela deixasse o namorado e ficasse comigo. Terminei com Ashley de vez, disposto a voltar a Camden e fazer Amanda enxergar que nós tínhamos que ficar juntos. Porém, ela estava com Owen. Ainda sentia a fúria me devorando por dentro ao lembrar de olhar para a janela do seu quarto e vê-la se despindo e as mãos de Owen em sua pele.

E o pior não foi a raiva.

Foi a dor inesperada e inexplicável que senti. A sensação de perder algo que eu julgava que era meu por direito, mas que me dava conta naquele momento que nunca me pertenceu de verdade. Em minha arrogância, eu achei que bastava alguns jogos de sedução calculados e uma transa incrível para fazer Amanda cair de amores por mim. Não foi sempre assim antes? Quase entediante de tão fácil?

Amanda um dia me disse que foi muito fácil pra mim, mas estava enganada.

Então fui tomado pela raiva e frustração não só porque não conseguia ficar com Amanda, como também raiva de mim mesmo e daqueles sentimentos estranhos e inéditos que faziam eu me sentir frágil. E eu não queria me sentir assim, não por causa de um garota boba qualquer de cidade pequena que deveria ter sido apenas um desafio. Então se pra ela não significou nada transar comigo, eu podia agir da mesma maneira. Só precisava extravasar minha raiva e a paixonite de Carlton Cooper veio a calhar.

Troquei de aula para não a ver por perto e não cair na tentação de continuar atrás do que eu começava a perceber que podia ser minha ruína.

Retomei as brigas com meu pai, só porque eu estava com raiva do mundo e voltamos à programação normal. Apenas queria que o ano escolar acabasse e eu pudesse dar o fora daquela cidade provinciana de merda e nunca mais ver Amanda Thomas e seu olhar de desprezo na minha frente.

Mas deveria desconfiar que ela tinha descoberto sobre a aposta. Quando me contou que sabia, senti um alívio ridículo. Era por isso que ela tinha transado com o namorado? Foi uma afronta? Havia algum sentimento ali? Mas ela não estava disposta a aceitar qualquer desculpa que eu poderia estar começando a cogitar em dar.

Ela estava furiosa e disposta a me detestar pelo que fiz.

Acho que foi a primeira vez que senti uma espécie de culpa. Embora não pudesse dizer que havia arrependimento.

Eu nunca iria me arrepender de ter transado com Amanda.

Que se danasse a maneira que isso aconteceu.

Porém, percebi que também não estava disposto a engolir que ela tinha pulado no pau de Owen Smith um dia depois de ter pulado no meu.

Talvez não fosse essa santa que gostava de demonstrar.

Sabe Deus o que tinha feito antes com o namorado, o fato dela não ter transado pra valer deveria ter sido apenas porque o pai dela devia exigir assim por causa da porra da religião ou sei lá.

Será que Owen não tinha reparado? Será que Amanda contou pra ele?

Eu duvidava. Talvez houvesse algum nível de perversidade em Amanda e ela tenha enrolado facilmente o namorado. Chegou a me passar pela cabeça ir contar ao idiota do Owen do que sua namoradinha era capaz. Mas isso não faria Amanda ficar comigo e a merda toda era que, no fundo, era isso que eu ainda queria.

Então, Owen surgiu na minha casa furioso querendo quebrar a minha cara por ter engravidado a namorada dele.

E foi quando percebi, depois de pensar em tudo o que tinha rolado naquele mês, que Stella estava certa afinal. O relacionamento de Owen e Amanda era puro antes de mim e continuava assim. Amanda me fez pensar que estava transando com Owen porque estava com raiva também, assim como eu.

Isso me deu uma esperança idiota de que ela pudesse gostar um pouco de mim. Que eu não era só um cara por quem ela se atraiu e com quem tinha transado porque estava bêbada.

Até ir atrás dela e ouvi-la implorar que Owen a perdoasse, que ela o amava e que eu não passei de um erro.

Óbvio que Owen a deixou falando sozinha.

Mas o estrago estava feito.

Amanda gostava mesmo do babaca do namorado, apesar de ter transado comigo e de agora estar grávida.

Bem, pelo menos Owen tinha perdido, pensei com uma pequena parte sórdida da minha mente.

Ele estava furioso agora que descobriu o pequeno deslize de sua namorada que ainda deveria ser uma virgenzinha pura esperando para o dia em que iria colocar um anel em seu dedo, como bom provinciano babaca que era.

Isso me deu uma inevitável satisfação.

Talvez chegar a essa conclusão depois que a confusão tinha se instalado na minha casa, quando meu pai foi informado sobre meu mais novo delito, gritando que não podia acreditar que eu havia cometido o mesmo erro duas vezes, tenha sido o motivo de que uma estranha calma me dominasse.

Porém, quando o Pastor Thomas apareceu furioso cobrando satisfação com uma pálida e abatida Amanda do lado, senti o baque do que realmente estava acontecendo.

Amanda estava grávida. Assim como Ashley esteve.

Por que o universo estava brincando comigo daquele jeito?

Depois que Helena o acalmou, meu pai estava mais comedido fingindo ser um homem educado que faria com que eu pagasse pelo que fiz, de preferência, pedindo desculpas ao pastor e custeando a clínica de aborto para que a filhinha dele pudesse sair dali e voltar a ser a santinha que entraria na igreja um dia quase pura como deveria ser.

Porém, o pastor tinha outras ideias.

E de repente, eu soube o que tinha que fazer.

Entendi que me estava sendo concedida uma segunda chance.

Eu fui horrível com Ashley, insisti que ela se livrasse da gravidez e quis me livrar dela por consequência.

Mas Ashley não era Amanda.

Amanda, que estava quieta e parecendo que estava indo a uma sessão de sacrifício. Eu podia entendê-la. Eu podia inclusive segurar sua mão e dizer que sentia muito por ela estar passando por isso, se não desconfiasse que o motivo maior dela estar consternada era o fato de ter perdido Owen.

E mesmo sabendo que Amanda provavelmente gostava de outro cara, eu quis ficar com ela.

Quis fazer diferente agora.

Eu não conseguia esquecer o que fiz com Ashley. A maneira que fiquei furioso a ponto de ser culpado do acidente que a machucou. Que a fez interromper a gravidez, mesmo sendo algo que eu queria que acontecesse. Mas não daquele jeito terrível, deixando Ashley quebrada de um jeito que até hoje ela não conseguia se recuperar.

Mas agora me era dada a chance de fazer diferente.

Eu podia ser diferente.

Não tinha muita ideia do que estava fazendo quando acatei a ideia retrógrada do Pastor Thomas de me casar com sua filha e muito menos quando persuadi uma arisca Amanda a aceitar aquele destino.

Eu só pensava que gostava daquela garota, que ela tinha bagunçado minha vida sem nem perceber e se instalado em algum lugar dentro de mim que antes era vazio e inóspito.

E eu queria ficar com ela.

Meu pai não ficou feliz, claro. Ele achava que eu estava louco me casando aos 18 anos com uma menina que mal conhecia e ainda por cima assumindo a responsabilidade de um filho.

— Você está cometendo um grande erro! Acha que vou permitir que continue me afrontando dessa maneira?

— Nem tudo tem a ver com você! — E dessa vez era verdade. Eu não queria ficar com Amanda porque meu pai ia ficar furioso. — Eu sei que é algo inesperado, mas é o que eu quero fazer. O que eu tenho que fazer! Estraguei tudo com Ashley e não vou fazer a mesma coisa com Amanda!

— E acha que não vai estragar tudo? — Meu pai riu. — É só o que sabe fazer!

— Eu não vou estragar tudo dessa vez — garanti algo que eu nem sabia se seria possível.

Mas eu queria mostrar a Theodore Percy que eu não era o merda que ele achava que eu era. Talvez já estivesse na hora de parar de pautar a minha vida de acordo com o ressentimento que nutria pelo meu pai e me esforçar para ser algo diferente.

Melhor.

Eu não fazia ideia de como ser melhor, de como não estragar tudo como sempre fiz. Mas havia um anseio crescendo dentro de mim. Um propósito. Que talvez ainda tivesse a ver com meu pai sim. Eu me esforcei para ser a pior versão de mim só porque sentia que estragando a minha vida estragava a dele também e era só o que ele merecia, mas agora eu queria provar que podia ser o melhor de mim e esfregar na sua cara que eu era alguém bem diferente dele.

Meu pai foi um marido e pai horrível.

Eu não queria ser assim.

— Quer que eu acredite que de uma hora pra outra está maduro o suficiente para se casar com essa garota. Para ser um pai? Acha que a vida é fácil assim? Eu mais do que ninguém sei o que ela nos exige — gritou com uma frustração que me irritou. Ele ia se fazer de vítima?

— Eu posso fazer isso. E vou te provar.

— Theodore, lhe dê um voto de confiança — Helena se intrometeu. Ela insistiu em ficar para a discussão. — Nolan é muito jovem, só tem 18 anos, mas já tem discernimento para saber o que quer. E a menina está grávida, o pai é um religioso. É louvável que o Nolan queira consertar isso de alguma maneira, assumindo a responsabilidade.

— Se casando? Acha que ele tem maturidade pra isso? Vai estragar a vida dele e dessa menina!

— Eu não sou você... — rebati e ele se virou furioso pra mim.

— Ei, querido, se acalme. — Helena segurou seu braço. — Vocês discutirem agora por ressentimentos do passado não vai adiantar nada! — Ela olhou pra mim. — Acho que Nolan sabe disso. O tipo de pai e marido que foi não está em pauta aqui, e sim o que o Nolan quer fazer, não é Nolan?

Eu respirei fundo.

A vontade de brigar com meu pai era quase um instinto primário, mas Helena tinha razão.

Querer quebrar tudo ali e começar a cuspir verdades para meu pai só o faria ficar mais furioso e rebater que era apenas isso que eu era. Um garoto rebelde que fazia as coisas pra chamar a atenção.

Bem. As coisas iriam mudar por ali.

E Theodore Percy iria engolir sua descrença.

Eu não era como ele.

— Certo. É a sua vida. — Meu pai anuiu por fim. — Faça como quiser. Se acha que é capaz, está garantindo que pode se casar e ser adulto, vamos ver.

Claro, era um desafio.

Ele não acreditava nem um pouco em mim.

E não adiantou quando ele descobriu sobre a confusão com a moto e muito menos quando no dia do casamento, Ash apareceu por lá.

Ainda assim, eu e Amanda continuamos juntos.

Claro que talvez ainda fosse cedo para eu cuspir na cara do meu pai que sim, eu não estava estragando nada, mas queria que permanecêssemos assim.

Precisava provar sobretudo a Amanda que ela não iria se arrepender de ter confiado em mim, de ter me dado uma segunda chance.

Porque ela deixou claro que a chance que me deu era última. E eu não podia desperdiçar. Eu não conseguia suportar a ideia de Amanda indo embora e me deixando sozinho.

— Tudo está indo bem — garanti a Jace, embora ele ainda exibisse um olhar de descrença que me irritou. — O que é? Stella andou te falando mais merda?

— Eu já falei pra parar de implicar com a Stella.

— Você sabe que não vou com a cara dela, nunca escondi.

— E eu nunca te obriguei a ser amigo dela, mas tem limite, cara . Eu sei que às vezes ela é uma chata do cacete, mas...

— Mas é uma chata gostosa — repeti o que ele sempre dizia e Jace riu.

— Não era isso que ia dizer. Ia falar que ela diz que superou as merdas que aconteceram com o tal Owen, mas acho que nunca vai superar. Por isso ela fica toda amargurada às vezes.

— E descontando em cima da Amanda, que, na verdade, não tem culpa do Owen ter fodido ela e depois ter preferido a Amanda.

— Cara , essa Amanda tem ouro na boceta? Pelo amor de Deus, todo mundo brigando por causa dela! Até o bocó do Carlton!

— Cala a boca! Carlton é um idiota que nunca teve chance e Owen não vai se meter com a Amanda de novo. Ele não quer que ela saiba do seu segredinho sujo.

— E você não vai mesmo contar?

— Devia me agradecer. Stella pediu que não contasse, não é um segredo meu. E eu não preciso disso pra fazer a Amanda ficar comigo — rebati com arrogância.

E era verdade. Eu não ia fazer a caveira de Owen só para a Amanda me achar um cara melhor que ele.

Eu queria que ela ficasse comigo porque era como tinha que ser.

Porque ela era a Amanda do Nolan.

Jace fez uma cara esquisita e se levantou.

— Vamos voltar, parece que vai chover.

Ele se levantou e ligou o barco, para retornarmos.

Eu me coloquei ao lado dele, quando o barco voltava, e então avistei uns caras parados na Marina, como se nos esperassem.

— Que diabos?...

Jace franziu a testa.

— É o ex da Amanda?

Sim, era Owen de braços cruzados ao lado de dois caras.

— Que é isso? Eles vieram nos esperar pra nos bater ou algo assim? — Jace riu, mas não havia o menor humor. — Cara , esse cretino não vai desistir da Amanda, você está sendo um idiota...

— Que porra está falando?

Ele hesitou.

Mas então tirou o celular do bolso e abriu numa imagem.

Era a foto de um bilhete.

Eu o li e senti a fúria crescendo por dentro como um furacão ao ler o conteúdo.

— Onde achou isso?

— No seu quarto. Na noite que dormi lá com você depois do casamento.

— Amanda viu esse bilhete?

— Sim, ela leu e o esqueceu lá.

Então o rato de esgoto do Owen tinha ido até a minha casa no dia do casamento não só pra espiar Amanda.

Ele tinha lhe passado um bilhete desesperado.

Ele queria levá-la embora no dia em que ela se casou comigo?

Filha da puta!

— Eu vou quebrar a cara desse imbecil. — O barco mal tinha atracado quando pulei, fui direto para cima de Owen e desferi um murro em sua cara.

Na mesma hora, seus amiguinhos se colocaram na frente e Jace segurou meu braço.

— Ei, cara , nem vale a pena!

Owen se aprumou limpando um filete de sangue na boca e riu.

— Seu filho da puta! Deixou um bilhete pra Amanda no dia do meu casamento! Que merda pensa que é? Eu vou matar você se chegar perto dela de novo!

— Você pode tentar! — Owen rebateu.

— Cara , que porra pensa que está fazendo aqui com seus amiguinhos? — Jace indagou. — Que é isso, uma emboscada dos caipiras?

— Cala a boca seu riquinho cretino — um dos amigos de Owen cuspiu.

— Deixa, Stu. — Owen continuava com um sorriso arrogante nos lábios.

— Mostra logo o que veio mostrar — o outro falou impaciente, medindo Jace.

Embora eles fossem em maior número, Jace era maior que todo mundo ali e eu estava cheio de ódio. A briga seria boa.

E eu estava fervilhando de ira dentro de mim neste momento ao imaginar Amanda lendo aquele bilhete.

Bem, se ela leu, o ignorou, não?

Pois ainda estava comigo.

Isso não fez eu me sentir melhor. Saber que aquele filho da puta ainda ia continuar rondando, apesar das minhas ameaças, me deixava puto pra cacete.

— Mostrar o quê? — Jace perguntou. — Por que não dá o fora antes que eu ache que é uma boa quebrar a sua cara?

— Claro, você faz o serviço sujo pelo seu irmão...

— Chega! Eu não preciso do Jace pra te quebrar em dois. Mas não vou me dar ao trabalho. Você não passa de um monte de merda e eu já cansei da sua cara de pau. Amanda é minha agora. Se ela leu o seu bilhetinho ridículo, ela nem ligou e continuou comigo. Mantenha-se longe dela, entendeu?

— Engraçado, ontem eu e ela conversamos lá na casa do pai dela...

O quê?

Amanda encontrou com Owen ontem?

— Mas fica tranquilo. Eu não a ataquei e nem tentei seduzi-la. Eu respeito a Amanda, posso esperar que ela veja por si só o riquinho sujo que é e volte pra mim quando for a hora.

Cerrei meus punhos e dei um passo à frente, meu nariz quase colidindo com o de Owen.

— Se acredita que, de alguma maneira, ela ainda voltaria com você, vou fazer com que isso nunca mais passe pela cabeça dela. Amanda vai ficar bem triste por saber que o ex-namoradinho não passa de um mentiroso filho da puta quando eu lhe contar o que fez com a Stella. Acha que a Amanda vai te querer ainda? Eu duvido muito!

Pra mim já bastava. Eu ia contar a Amanda que tipo de pessoa seu ex-namorado era. Já estava de saco cheio daquele cretino não se tocar e sumir.

Owen deu um passo atrás e riu.

— Eu nem namorava a Amanda quando isso aconteceu.

— Mas nunca lhe contou que engravidou a melhor amiga dela e que ainda a forçou a fazer um aborto. Certamente não quer que a Amanda saiba disso, senão já teria contado você mesmo.

— Não, eu não quero, porque isso a magoaria. E tem razão, talvez ela não entendesse e realmente não me perdoasse. Por isso, se você contar a ela, eu terei que mostrar pra Amanda quem você é também. Mostre a ele, Keith.

Ele fez um sinal para um dos amigos que pegou o celular e ligou um vídeo.

— Keith estava indo para o trabalho ontem de manhã e te viu aqui...

Eu estreitei o olhar para a imagem.

Era daquele mesmo local, estava amanhecendo e o meu barco se aproximava da Marina. E eu vi a mim mesmo abraçando uma garota que levantou a cabeça e me beijou.

E o vídeo acabou.

Senti um frio sombrio dominar meus sentidos.

— Mas que porra é essa? — Jace indagou. — Cara , que merda estava fazendo com Ashley ontem de manhã no barco?


Capítulo 10

 

Nolan

 

O que aconteceu foi o seguinte.

Eu estava puto com a presença de Ashley na minha casa quando voltei de Barbados. Era nítido que Amanda ficou perturbada e quem poderia culpá-la?

E pra piorar Ashley ainda teve a má ideia de ir ao meu quarto afrontar Amanda, que ficou furiosa pelo equívoco das roupas de Ashley na mala. Inferno, eu nem lembrava que aquelas roupas estavam lá. Quando precisamos sair de Barbados às pressas, só juntei tudo e enfiei nas malas.

Discutir com Amanda e ainda saber que ela desconfiava que eu fiquei com a Ash em Barbados me deixou enfurecido. Fomos dormir distantes e eu queria que a gente transasse e assim retomássemos aquela conexão que estávamos começando a forjar lá em Barbados, mas queria ter certeza primeiro de que poderíamos fazer isso sem causar qualquer problema à gravidez.

Em algum momento da madrugada, eu acordei com meu celular tocando. E vi que era uma ligação de Austin. Por que Austin estava me ligando às quatro da manhã?

— Austin?

— Eu preciso de ajuda. É a Ash.

Merda.

Eu desliguei depois de ouvir o que ele dizia e me vestindo rápido, peguei as chaves do carro e fui até a Marina.

Austin e Ashley estavam lá.

Austin contou que Ashley o acordou e disse que não estava passando bem e que queria dar uma volta. Ela o convenceu a ir à Marina e agora queria entrar no barco de qualquer jeito, cismando que sabia conduzi-lo. Ash velejava com os pais dela e inclusive já esteve ali passeando com Stella e Jace, mas só havia um detalhe, era madrugada e Ash estava meio bêbada. E Austin desconfiava que ela pudesse ter tomado alguma outra droga.

Ele tentou dissuadi-la, mas ela estava incontrolável. E ele teve a infeliz ideia de que somente eu conseguiria convencer Ash a ir embora.

Que grande merda! Ashley não ia parar de infernizar minha vida?

— Nolan. — Ashley sorriu ao me ver vindo em minha direção.

Ela parecia mesmo fora de si. Eu conhecia Ashley doidona e era exatamente assim. Eufórica e teimosa. Inconsequente.

Eu achava divertido uma época. Hoje eu queria colocá-la no barco como estava insistindo, e jogá-la em alto mar.

— Desculpa, cara . — Austin suspirou.

— Isso é uma festinha? — Ash riu tragando o cigarro nas suas mãos. — Ou uma intervenção?

— Não deveria estar aqui, Ash. Vamos embora.

— Não! Eu quero dar um passeio de barco, qual o problema?

— O problema é que você está fora de si.

Ela fez um sinal de descaso com as mãos. Isso me fez ver os curativos que ainda havia em seus pulsos e me deixou com o estômago embrulhado. Exatamente como da primeira vez que eu vi, quando a visitei no hospital.

Ainda me lembrava de como me senti perturbado quando me contaram o que Ashley fez a si mesma. A última vez que vi Ashley, nós discutimos em Barbados, porque ela não parava de se insinuar pra mim, como se o fato de estarmos lá, sem Amanda, fosse me fazer ficar com ela.

Fiquei aliviado quando ela foi embora. Desejei que nunca mais tivesse que lidar com Ashley, mas ela voltou pra casa para cortar os próprios pulsos. E eu não saberia dizer se fez isso por puro instinto suicida ou para chamar atenção. E ainda pior: para me afetar, porque foi assim que minha mãe morreu.

E se a última hipótese fosse a verdadeira, ela conseguiu. Eu fiquei consternado ao vê-la, era como voltar a ter 15 anos de novo quando encontrei minha mãe na banheira cheia de sangue e soube que ela não estava mais ali. Era só seu corpo sem vida.

Austin afirmou que a culpa não era minha. Ashley estava diferente desde o acidente e tudo piorou quando eu terminei de vez nosso relacionamento. E saber que ia me casar com outra garota que também estava grávida, foi a gota d’água.

— E o que ela quer que eu faça? Nós terminamos. Eu lamento muito o que aconteceu, mas ela tem que superar! Nada do que ela faça vai me fazer ficar com ela de novo.

— Eu sei. Todo mundo sabe, mas Ash está sendo teimosa como sempre foi. Ela sempre teve tudo o que quis. E ela acha que tem que ter você também. Infelizmente a gente não sabia a que ponto ela poderia chegar. Os pais dela não sabem o que fazer.

Os pais de Ashley não eram muito presentes na vida da filha. Eram pessoas fúteis que viviam em viagens caras se divertindo. Imaginava quão desagradável eles deveriam achar o fato de ter que cuidar da filha perturbada emocionalmente. Mas não era problema meu.

Eu não cheguei a conversar com Ashley. Os pais dela apareceram e não estavam muito felizes comigo. Eles me culpavam de tudo e discuti com eles. E Austin achou melhor que eu fosse embora, falar com Ash talvez não fosse ajudar nada no momento, porque eu estava furioso.

Depois, Stella convenceu Jace de que eles tinham que vê-la. E claro que Stella achava que tudo o que acontecia com Ashley era culpa minha.

Havia um lado meu que concordava que eu tinha minha parcela de culpa, mas isso só me fazia ter mais raiva de Ash.

Eu estava tentando seguir em frente, tentando fazer as coisas certas com Amanda, mas se Ash continuasse rondando com sua obsessão, o que aconteceria?

Eu estava de saco cheio.

— Você gostava quando eu ficava fora de mim. — Ela piscou.

— Não vejo nenhuma graça agora.

— Ah, como você está chato! Você era mais legal antes. Lembra? De como a gente se divertia? Eu sinto saudade, você não?

— Não — respondi sério e Ash parou de rir e seus olhos se encheram de lágrimas.

— Por que é tão cruel comigo?

Austin tocou o ombro dela.

— Ash...

— Não! — Ela se desvencilhou, ainda me encarando. — Eu só quero dar um passeio inofensivo!

Eu soltei um palavrão.

— Certo. É isso que quer? Então vamos lá!

Eu me aproximei e pulei no barco.

— Cara , não acho que... — Austin olhou pra mim, preocupado.

Ashley pulou no barco, muito satisfeita.

— Eu sei lidar com ela, Austin. Talvez a gente precise mesmo ter uma conversa.

— Do jeito que ela está?

— Vai passar essa onda daqui a pouco.

Austin assentiu.

— É melhor eu ir com vocês.

— Não, fica. Não vamos demorar.

Ele acabou concordando e eu liguei o barco.

Ash havia ido até o bar, pego uma cerveja e ligado o rádio.

Agora ela dançava no deque.

Eu a observei sério.

De repente ela parou e me encarou.

— Por que não pode gostar de mim de novo?

— Por que você insiste em algo que já acabou faz tempo?

— Ah claro, agora você gosta daquela sonsa. Amanda! — Ela fez cara de nojo. — Eu não consigo te entender!

— Não tem que me entender. Só tem que aceitar e parar de fazer isso — eu apontei pra ela — com você.

— Não é justo! — gritou vindo até mim e me empurrando. — Não é justo que me esqueça! — Ela começou a me bater. E eu deixei. — Que esqueça tudo o me fez e fique por aí, sendo feliz com outra pessoa, quando eu só sinto tristeza!

Um soluço rompeu em sua garganta e ela continuou a me esmurrar com seus pequenos punhos, até que caísse sobre meu peito.

— Eu nunca mais vou ser feliz e você vai ter um bebê...

— Ash, pare com isso.

— E o meu bebê nunca vai nascer. Você o matou.

Eu segurei seu ombro e a fiz me encarar.

— Pare! Você não se importa!

Ela deu um passo atrás.

— Não me importo? Acha que estou triste por quê?

De repente ela abriu a boca e riu.

— Ah, acha que é só por você. Que eu te amo o suficiente para morrer por você. Quer saber, Nolan? Sim, eu era tão apaixonada! Não achei justo que me deixasse. Eu queria que ficasse comigo e fiz o que achei que deveria fazer. Engravidei achando que ia te prender comigo! Criei um conto de fadas que só existia na minha mente e você quase me matou!

— Foi um acidente!

— Mas aconteceu! E foi sua culpa! Estava gritando que eu deveria abortar. E era um filho teu! Teu! Como podia não ter nenhum sentimento? Ser tão frio?

— Você também não queria, Ashley, era só uma arma pra jogar comigo!

— Até aquele momento, eu nem tinha me dado conta de verdade do que significava. Mas quando acordei naquele hospital, e ele não existia mais, senti um vazio tão grande. Não sabia até aquele momento que já esperava por ele. Então ele estava morto. E você não estava nem aí... Ficou aliviado. E se livrou de mim pra ficar com outra garota e assumiu o bebê dela. Agora ela vai ter um bebê e não tenho nada... nada. E você continua me culpando de tudo, quando a culpa é sua!

— Você realmente sentiu a perda da gravidez? — indaguei surpreso.

Sempre achei que todos os problemas de Ashley eram comigo. Por ter levado um fora, por eu ter terminado com ela depois de tudo.

Nunca pensei que ela poderia estar deprimida de verdade por causa da perda de um bebê que ela só quis para me prender ao seu lado.

— Você não acredita, não é? Não entende... Pra você, não foi nada. Foi um “acidente” — falou sinalizando as aspas. — Um mal necessário. Pronto. Acabou. Me diz, Nolan, o que aconteceria se a Amanda perdesse o bebê? Você disse que ela passou mal ou algo assim lá em Barbados. Vocês ficaram tão preocupados que voltaram pra casa. O que você sentiu? Ia ser só um “acidente”. — Repetiu as aspas. — Ia ficar tudo bem. Pronto e acabou?

Eu senti como um soco no peito.

Eu me lembrava do olhar de temor de Amanda. Do temor que passou dela pra mim com aquela possibilidade.

Era algo que eu mesmo não esperava sentir. Até aquele momento, a gravidez de Amanda era algo abstrato. Algo que serviu como o propósito para ela ficar comigo. Eu sabia que em algum momento, ela teria um bebê. Mas ia demorar meses. Eu não conseguia compreender como seria. Como eu me sentiria. Estava concentrado em fazer Amanda ficar comigo. Um passo de cada vez.

Eu disse ao meu pai que era maduro o suficiente, mas no fundo não tinha ideia do que estava fazendo.

E quando Amanda disse que poderia ter algo errado, eu fiquei com medo.

Fiquei aterrorizado com a possibilidade dele deixar de existir.

Encarei Ash e sua dor e pela primeira vez eu entendi.

Eu me identifiquei com ela.

Nunca, até aquele instante, tive qualquer empatia por Ashley. Eu sentia culpa, sentia raiva, sentia remorso, mas nunca empatia verdadeira.

Porque ela tinha razão, eu não entendia.

Agora sim.

— Eu sinto muito — murmurei e era o primeiro sinto muito verdadeiro que saía da minha boca.

— Sente?

Ela não acreditava. Claro,

— Eu fui um escroto. Um egoísta. Tem razão. Eu não entendia. Não compreendia que você poderia sentir essa perda. E eu entendo agora, porque se Amanda perdesse o bebê eu ficaria arrasado. E eu não falo isso pra te magoar. Eu falo isso porque eu realmente, realmente, não queria que se sentisse assim. Mas não tem nada que eu possa fazer agora. Não posso voltar no tempo. O que tivemos foi divertido, mas no fundo sabemos que nunca foi feito pra durar. Tem que entender isso. Éramos muito jovens e inconsequentes.

— E agora você é muito adulto, de uma hora para a outra?

— Não, mas estou tentando ser. É difícil pra cacete e sempre espero que consiga chegar ao fim do dia sem fazer alguma merda que vá estragar tudo, porque desta vez, eu preciso que dê certo. Eu não quero cometer os erros que cometi antes. E acho que deveria fazer a mesma coisa. Deveria seguir em frente. Por mais difícil que seja.

— Nunca mais vamos ficar juntos, não é? — ela sussurrou e voltou a chorar silenciosamente.

— Não, Ash. Nunca mais. E continuar aqui, só vai te fazer mais mal.

Ela assentiu, ainda chorando silenciosamente.

Eu liguei o barco de novo para voltarmos.

— Não sei como fazer essa dor passar...

Eu a abracei novamente.

Provavelmente a última vez.

Era como se eu tirasse um peso de mim.

Eu nunca admiti de verdade todo o mal que fiz. Não havia conserto. Estava feito. Mas Ash deveria seguir em frente e esquecer.

Era a única coisa que poderia ser feita.

E torcia para que ela tivesse entendido.

— Você tem seus pais. Tem Austin. Sua família. Eles querem te ajudar. Agora parece horrível, mas talvez um dia você acorde e tudo não passe de um sonho ruim.

Ash levantou a cabeça e me beijou.

Eu não a empurrei, mas não correspondi.

Ela sorriu tristemente quando me soltou.

— Estou cansada de ter raiva de você.

Eu ri.

— Eu também.

E foi isso, chegamos à Marina e voltamos pra casa.

Austin a aguardava e ela finalmente concordou em voltar para Nova York.

Eu voltei para o quarto, Amanda ainda dormia.

Eu a cobri direito e tentei dormir por algumas horas, torcendo para que o capítulo com Ash tivesse ficado para trás, enfim.

Mas agora lá estava o filho da puta de Owen Smith com aquele vídeo.

Um vídeo que para qualquer desavisado pareceria que eu estava dando um passeio romântico ao luar com minha ex-namorada.

Era o que pareceria a Amanda.

Eu senti a raiva borbulhar dentro de mim.

— Por que não foi correndo mostrar isso para Amanda? — indaguei com frieza.

— Eu deveria, não é? Mas quer saber, não sou um cretino como você. Amanda está grávida. De um filho seu. E eu não quero que ela sofra. Não quero ser eu a levar sofrimento pra ela.

Eu ri com ironia.

— Você é ridículo!

— Não interessa o que você pensa de mim. Não sou insensível. Eu amo Amanda e queria que ela voltasse. Até aceitaria um filho de outro cara.

— Mas não quis o filho da Stella.

— Não sabe de nada! O que fiz foi pela Amanda! Por nós dois. E você estragou tudo a seduzindo. E agora sai para dar passeios com sua ex. Isso arrasaria a Amanda.

— Não é isso que quer? Que ela me deixe e volte pra você?

— Eu sei que contaria a ela sobre Stella assim que eu lhe contasse sobre seu passeio com a ex. Então está avisado. Se contar a Amanda, ela vai ver este vídeo.

— Não entendo que merda está pretendendo...

— Claro. Não entende pessoas como eu. Que amam e colocam a felicidade da pessoa acima de tudo. É um riquinho egoísta e pelo que vi deste vídeo, Amanda é só um capricho. Pois eu vou esperar. Você mesmo vai fazer uma merda tão grande uma hora dessas que Amanda vai ver quem é de verdade ou provavelmente você vai se cansar dela, e chutá-la. Qualquer que seja o desfecho, isso não vai durar. Então, passar bem.

Ele se afastou com seus amigos.

— Cara , que merda é essa? — Jace parecia chocado.

Fomos para o carro e eu lhe contei o que tinha acontecido na outra noite.

Eu sentia a raiva me devorando por dentro.

Owen era pior que um rato.

Eu poderia contar a Amanda o que aconteceu. Mas eu sabia que ela poderia não entender. E eu não queria estragar tudo, não agora quando estava tudo começando a ir bem entre nós.

Amanda ainda não confiava em mim totalmente. Inferno, eu nem sabia se ela gostava de mim de verdade. Ela poderia ter escolhido continuar comigo mesmo com o filho da puta do Owen lhe acenando com perdão. Mas poderia ser pela gravidez. Fosse como fosse, ela ia ficar comigo e eu ia fazer ela se apaixonar por mim a ponto de ela nem lembrar que Owen Smith existiu um dia.

E se depois ela descobrisse sobre aquela noite com Ash, eu ia lhe explicar como foi e ela vai entender.

— Irmão, que confusão. Pelo menos a Ashley foi embora. Stella contou que ela está fazendo algumas consultas com um psiquiatra.

— Bom pra ela.

— E acha que Owen vai se manter calado?

— Espero que por tempo suficiente para que eu consiga fazer Amanda confiar em mim.

Jace me deixou em frente a casa e eu entrei.

Amanda estava em frente a uma estante arrumando seus preciosos livros que tirava da caixa.

Ela se virou e sorriu ao me ver, e eu senti como se ela pegasse meu coração entre seus pequenos dedos e o apertasse.

Inferno.

Avancei sem desviar o olhar e a ergui, colidindo meus lábios nos seus.

Ela armou um protesto surpreso que eu engoli. Devorei sua boca até que estivesse sem fôlego e receptiva em meus braços.

— O que foi isso? — indagou ofegante quando eu parei.

— Preciso de você agora.

— Agora?

Ela enrubesceu e seus olhos brilharam de excitação e eu amava isso.

— Pra sempre — rosnei e a beijei de novo, com fome e fúria.

Foda-se Owen Smith e suas ameaças.

Ele nunca teve Amanda assim, e nunca iria ter.

Soltei um rosnado quando ela passou as pernas pela minha cintura e a encostei na estante engolindo seus gemidos e me esfregando nela para que visse o que fazia comigo, todo o sangue do meu corpo desceu para meu pau e eu senti fúria e fogo me dominando.

Eu a soltei e ela gemeu em protesto quando dei um passo atrás e a virei de costas, apertei seus seios a fazendo gemer e gemi junto porque eu amava o jeito que ela fazia isso. Era como música para meus ouvidos.

Abaixei a cabeça beijando sua nuca, enquanto escorregava a mão até a barra do seu vestido o erguendo com pressa.

Apertei sua bunda e agarrando o elástico da sua calcinha eu o puxei, o fazendo rasgar.

— Nolan! — Amanda protestou, mas enfiei a mão entre suas pernas e seus protestos morreram num grito de prazer.

Esfreguei meus dedos a sentindo molhada e pulsando e fechei os olhos, deliciado.

Tudo isso era meu.

— Por favor — ela implorou movendo-se contra meus dedos e soltei uma risada, me afastando o suficiente apenas para tirar meu pau pra fora, segurando seu quadril com uma mão, e com a outra empurrando forte nela por trás.

— Ah, minha nossa! — Ela perdeu o ar, as mãos espalmadas na estante, enquanto eu a fodia daquele jeito, extraindo o prazer mais incrível do seu calor que envolveu meu pau e se espalhou por todo meu corpo.

Enterrei o rosto em seus cabelos, ouvindo-a gemer e se contrair ao meu redor, em busca do próprio prazer, os quadris rebolando no meu pau de forma instintiva. Acariciei seu clitóris e seus gemidos se transformaram em gritos, quando ela gozou a minha volta. E foi o suficiente para eu perder o controle e sentir o orgasmo atravessar meu corpo. Soltei um longo gemido de satisfação, mordendo seu ombro, e enquanto ainda sentíamos a corrente elétrica de sensações arrepiarem nossa pele, eu a puxei pelo cabelo para que virasse a cabeça e nossos lábios colidiram num beijo profundo.

Abracei sua cintura a mantendo perto, adorando sentir seu corpo suado colado e escorregando junto ao meu.

Aquilo era perfeito.

E eu já queria mais.

Nunca ia parar de querer.

— O que foi isso? — sussurrou contra meus lábios.

— Reprovou?

— Não, eu adorei.

Eu ri.

Essa era minha garota.

A Amanda do Nolan e de mais ninguém.


Capítulo 11

 

Amanda

 

Eu podia me acostumar com isso , pensei me espreguiçando. Nolan me levou pra cama depois de me atacar contra a estante e ainda tínhamos transado mais uma vez. Agora eu não saberia dizer quanto tempo estávamos deitados sem nos mexer.

E a estante ainda estava desarrumada. Eu havia encontrado as caixas com meus livros que Sam arrumou naquela manhã, e como Nolan estava fora decidi que era uma boa hora para arrumá-la.

— Está viva? — Ouvi sua voz abafada atrás de mim e ri, seus dedos agora acariciavam minha barriga, faziam cócegas.

Eu me virei o encarando.

— Não tenho certeza.

— Bom.

Ele se ajeitou mais perto de mim, a perna passando por cima da minha.

— Acho que já é tarde — murmurei, mas sem a menor vontade de me mexer.

— Está chovendo — Nolan respondeu, fechando os olhos.

— Isso quer dizer que não vamos levantar?

— Para quê?

Sim, para quê?

Era quase uma heresia deixar as cobertas quentes para enfrentar um dia chuvoso. E eu suspirei, relaxando meu corpo e fechando os olhos.

Mas meu estômago tinha outras ideias.

E Nolan soltou uma risada ao ouvi-lo roncar.

— Acho que encontramos um motivo para levantar.

E eu ri também.

— Eu queria mesmo não precisar comer, porque acho que não consigo mexer nem um músculo do meu corpo.

— Acho que posso dar um jeito nisto.

E eu gritei quando ele me pegou no colo, me colocando no chão apenas quando estávamos dentro do boxe.

— Não faça isso — pedi, mas ele riu e ligou o chuveiro.

Soltei um grito sem ar de susto, mas pelo menos a água estava quente.

— Acordou? — perguntou e eu fiz uma careta.

— Isso não foi justo — reclamei, mas Nolan já me abraçava, sob o jato quente e qualquer reclamação sumiu da minha mente como num passe de mágica.

E caramba, eu estava excitada de novo e Nolan também.

E eu pensei que gostava disso. Gostava dessa falta de controle. De descobrir meus limites. Ou a falta deles, neste caso... Mas então ele já estava me erguendo com facilidade e deslizando para dentro de mim, nossos corpos escorregadios e úmidos se unindo sem esforço e qualquer pensamento coerente desapareceu feito a fumaça da minha mente.

 

E acabou que demorou um tempo para finalmente descermos para a cozinha e descobri que Nolan era um total inútil em dotes culinários. Quando perguntou o que eu queria comer e eu questionei se ia cozinhar pra mim, ele disse que podia pedir para a empregada da casa do pai dele.

Eu refutei a ideia, começando a me mexer pela cozinha e colocando uma panela no fogo para fazer alguma massa.

— Que feio, Nolan! Tem que saber se virar na cozinha! — reclamei divertida, abrindo a geladeira e pegando ingredientes para fazer um molho de tomate, enquanto Nolan permanecia de braços cruzados encostado no balcão.

— Pra quê? Não é pra isso que os homens se casam? — debochou para me provocar.

Revirei os olhos e estendi uma faca e uma cebola.

— O que é isso?

— Para você cortar? Acho que nunca é tarde para aprender. Não sou sua empregada.

Ele pegou a cebola e a faca.

— Claro que cortar uma cebola eu sei!

— Já fez isso antes?

— Não. Mas duvido que seja difícil. — Ele riu, mas no fim era eu que estava rindo e ele chorando.

— Que porra é essa?

— Ninguém te contou que cebola faz isso? Pobre Nolan.

Eu me aproximei e enxuguei suas lágrimas.

— É a primeira vez que vejo você chorar.

— Isso porque não choro nunca.

— Duvido.

— É sério. Nem quando minha mãe morreu.

Eu fiquei séria, porque Nolan não falava da mãe dele. Obviamente era um assunto difícil.

Eu queria que ele conversasse comigo sobre isso, mas também sabia que ele precisava querer.

— O que você é? Um robô? — brinquei para desanuviar o clima e me afastando para pôr a cebola, que até que não estava mal cortada, no meu molho.

Nolan me puxou pela blusa e me beijou, mas eu me afastei rindo.

— Não faz isso porque estou mesmo com fome e vou ficar brava com você se tudo queimar e estragar!

— Hum, certo, estou com fome também e se você estragar nosso almoço, eu também vou ficar bem bravo com você.

— Você é muito abusado, Nolan!

— Acha que estou abusando de você?

— Está sim.

— Estou ajudando. Cortei a cebola.

— Isso não foi nada. — Apaguei o fogo e servi dois pratos. — Eu vou te ensinar a cozinhar, ok? Não pode ser um inútil. Já basta meu pai.

— Wow... está falando mal do Pastor Thomas, não vai pro céu, Amanda.

Ele riu se sentando no balcão a minha frente e começamos a comer.

— Meu pai é o típico homem conservador que acha que tem tarefas para mulher e tarefas para os homens. Minha mãe ficava tão brava, mas ela acabava cedendo em algumas coisas. Tarefas domésticas era uma delas porque mamãe curtia cozinhar. E me ensinou. Tanto que quando fomos embora, meu pai teve um enfarte porque começou a comer supermal.

— Por isso voltou, não é?

— Sim. E agora ele está sozinho de novo. — Esbocei um sorriso triste.

— Não se sinta culpada. Ele pode arranjar uma empregada, por exemplo.

— Ou uma namorada.

Nolan levantou a sobrancelha.

— Quer que seu pai case de novo?

— Por que não? Seu pai se casou.

Nolan fez uma careta, desviando olhar.

— O que foi? Achei que gostasse de Helena.

— Quando nos mudamos eu estava disposto a odiá-la. Mas ela é gente boa, tornou difícil a tarefa de detestá-la. Assim como Samantha.

— Isso é bom. — Eu queria perguntar se ele não poderia fazer um esforço para se dar bem com o pai dele também, mas creio que isso era assunto proibido.

— Isso está mesmo bom, Amanda. — Nolan encheu o prato de novo. — Acho que serei obrigado a abusar de você em todas as refeições.

— Certo, eu até posso fazer isso. Mas o que você vai fazer em troca?

— Pode abusar de mim também. Sexualmente.

Eu corei e ele riu.

— Hum, não acho que seria uma troca justa, pois sexualmente o abuso é mútuo.

— Certo, tem razão, o que eu posso fazer por você?

— Pode arrumar meus livros na estante, já que me interrompeu.

— Isso é muito chato.

— Problema seu. E seria abusar de você pedir para lavar a louça?

Ele sorriu e se inclinou, beijando a ponta do meu nariz.

— Você está começando a abusar demais, Amanda.

— Eu deixo você abusar de mim depois. Sexualmente.

Ele sorriu.

— É uma troca justa — disse antes de se afastar.

Eu ri, mordendo os lábios.

Será possível que eu nunca me cansaria disso?

Nunca me cansaria dele?

Não fazia nem uma hora que estivemos juntos sob o chuveiro.

E eu fiquei vermelha só de lembrar. Na verdade, eu nem tinha certeza que fazer aquilo sob o chuveiro era possível. Mas era. E eu me perguntava onde mais seria possível.

— O que está pensando? — Nolan indagou me lançando um olhar por sobre o ombro enquanto lavava os pratos.

— Em abusar de você. — Eu nem acreditava que estava dizendo aquelas palavras.

Talvez meu rosto estivesse pegando fogo, mas Nolan riu.

Aquele riso delicioso que me arrepiava.

Como se eu precisasse de mais algum incentivo.

Ele desligou a torneira, veio até mim e segurando a barra da minha blusa, a puxou sobre a cabeça dele, me fazendo rir até que meu riso fosse engolido por sua boca.

E no minuto seguinte, ele me pegava no colo e numa velocidade incrível me levava para o quarto.

 

— Ainda está chovendo — murmurei depois de um tempo.

Eu me levantei, colocando uma camiseta de Nolan e observei o tempo pela janela.

Nolan me encarou da cama, o olhar pesado e os cabelos bagunçados.

— O que você gosta de fazer em dias de chuva?

— Eu gosto de ler. — Eu o encarei animada. — Poderíamos fazer chá como duas senhorinhas e sentar em frente à lareira com nossos livros de romance e passar a tarde lendo!

Nolan riu, estendendo a mão e me puxando.

— Ou podemos transar.

— Nolan, sério, acho que não tenho mais condições de transar hoje — reclamei, não porque não queria transar, porque bastava Nolan colocar aquela mão cheia de dedos em mim que eu já estava pronta pra qualquer coisa, mas porque estava começando a ficar dolorida. E eu nem sabia que isso era possível.

Nolan me encarou preocupado.

— Eu te machuquei?

— Não. Mas eu já perdi a conta de quantas vezes a gente transou hoje.

— Porra, desculpa. — Ele se afastou e eu abaixei o olhar para sua ereção muito óbvia.

Eu ainda ficava vermelha de ver Nolan nu, o que era ridículo, mas não conseguia evitar.

De repente uma ideia passou pela minha cabeça e eu sentei em sua cintura.

— Não faça isso, achei que não íamos transar.

— Podemos... fazer outra coisa... — Eu me abaixei e beijei seu estômago e desci.

— Está falando de me fazer um oral, esposa? — Ele sorriu surpreso.

Eu fiquei mais vermelha ainda.

— Eu posso tentar.

E antes que perdesse a coragem, eu abaixei a cabeça para fazer o primeiro sexo oral da minha vida.

***

As semanas seguintes, foram úmidas e chuvosas em Camden.

Mas eu não me importei. Porque era uma desculpa perfeita para eu passar dias trancada em casa.

Com Nolan.

E era fácil perder a noção das horas, dos dias.

Eu vivia para estar com ele.

E nunca era demais. Nunca me cansava de sentir suas mãos em mim, em toda parte, me excitando ou me acariciando devagar, apenas para eu dormir. Ou seus lábios sobre os meus, deslizando por meu corpo, sua voz perfeita em meu ouvido e seu riso rouco.

E eu descobri que Nolan podia me fazer rir. Era algo que eu não esperava. Na verdade, eu não sabia bem o que eu esperava de viver com Nolan. Mas eu adorava rir com ele. De qualquer coisa, de qualquer motivo.

Ou simplesmente ficar olhando enquanto dormia, perdida em sua perfeição. E ele acordava para sorrir pra mim e me puxar, e de novo estávamos perdidos um no outro.

A vergonha que eu sentia no começo foi sendo substituída pela vontade de saber tudo o que poderíamos fazer um com o outro e cada descoberta era melhor que a outra.

Sinceramente, eu me perguntava se iria chegar a hora em que eu teria vontade de parar.

Era viciante. Intoxicante.

Eu respirava Nolan Percy.

— Acha que sua família vai achar ruim se não formos almoçar com eles? — indaguei numa manhã de domingo e me perguntava agora o que a família dele achava do nosso isolamento. Nós realmente não saímos de casa pra nada.

Quando eu não estava transando com Nolan — algo que a gente fazia muito — preenchia o tempo lendo. Eu obriguei Nolan a ler um livro meu e ele tinha detestado. Ok, eu lhe dei um romance clássico apenas para provocá-lo. Eu tentei fazer com que ele lesse um suspense, mas não quis mais confiar no meu gosto literário e enquanto eu lia, ele desenhava.

Eu amava ficar olhando Nolan desenhar, o jeito que ele ficava compenetrado e absorto era muito bonitinho.

Agora, eu percebi que a chuva tinha dado uma trégua. Mas nem me importava mais com isso. O tempo lá fora não me interessava.

Nolan riu, estava deitado sobre mim, a cabeça aninhada em meu peito e meus dedos brincavam com seus cabelos. E eu estremeci ao sentir seu hálito quente em meus seios.

— Não precisamos ir se não quiser.

Pensei em encarar Stella novamente ou as piadas idiotas de Jace. Ou Samantha criticando minhas roupas.

Não era nada encorajador.

Mas acho que já estava ficando estranho demais aquele isolamento nosso. De qualquer maneira, não poderíamos passar o resto da vida ali, escondidos do mundo.

E era a família dele. Teria que me acostumar com eles, afinal.

E fiquei sabendo que Theodore Percy havia voltado de sua viagem de negócios.

— Não, tudo bem. Vamos sim — falei, mas não fiz menção de me mexer.

Nolan apoiou as mãos na cama e me encarou.

— Não parece muito feliz de conviver com a minha família.

— Eu fico meio insegura — confessei.

— É só um almoço. — Ele riu e me beijou de leve.

— Tudo bem. Vamos. — Eu forcei um sorriso que assim que Nolan se afastou para o banheiro morreu no meu rosto.

Um frio na barriga estranho de que se saíssemos daquela bolha que criamos, tudo iria mudar.

Mas eu não conseguiria evitar.


Capítulo 12

 

Amanda

 

— Nossa, ainda estão vivos! — Stella comentou ao nos ver.

Todos os Percy estavam reunidos na sala de estar.

Jace e Austin assistiam um jogo.

E Samantha folheava uma revista de moda, levantou o olhar e me mediu de forma crítica.

— Ainda tenho esperanças de que use aquelas roupas fabulosas antes que sua barriga comece a crescer.

Jace me encarou.

— E aí, achei que teríamos que chamar os bombeiros pra tirar vocês de dentro de casa.

Eu fiquei vermelha feito pimentão.

— Não começa, Jace — Nolan falou e se virou para mim. — Não liga pra ele, é um idiota.

— Eu não ligo — menti.

Helena entrou na sala e nos encarou com um sorriso.

— Que bom que vieram. Vamos comer?

Nós fomos para a sala de jantar e Theodore já estava por lá.

Ele parecia sempre muito sério quando encarava Nolan, que também não fazia questão de ser simpático com o pai.

E eu me senti um tanto intimidada quando ele pousou seu olhar crítico em mim.

— Como se sente, Amanda?

— Estou bem.

— Está tomando suas vitaminas? — Helena indagou. — Não pode esquecer.

— Ela não vai esquecer — Nolan falou por mim e eu rolei os olhos.

— Amanda, depois do almoço pode ir comigo até meu quarto? — Samantha perguntou. — Quero te mostrar umas coisas que comprei.

— Espero que não seja pra mim — fiquei alarmada.

Ela sorriu, animada.

— Não, não é. Garanto.

— Ela queria ir lá na casa de vocês e a Helena não deixou. — Austin a entregou com um risinho.

— Claro que não. Não queríamos perturbar — Helena respondeu e eu senti meu rosto ficando vermelho.

De repente, um celular tocou.

Stella atendeu.

Theodore resmungou uma imprecação sobre falta de educação e Helena o acalmou.

— Oi, Ashley! — Stella falou sorrindo.

Foi o que bastou para meu apetite desaparecer.

— Por aqui tudo bem... E aí, como está?

— Stella, desliga o celular — Theodore pediu e ela fez cara feia. — Agora — ele insistiu e ela resmungou uma despedida de Ashley e desligou.

— O senhor me mandou desligar só porque é a Ashley, não é? Se fosse outra amiga... — Não acreditei na petulância de Stella com o pai do namorado.

— Caralho, Stella — Jace a interrompeu. — Para de ser inconveniente!

Ela ficou vermelha de raiva.

— Nossa, não fala assim comigo! Eu só estou dando uma força pra Ashley, coitada! Ela não tem mais amigos e está passando por um momento delicado! Se ninguém aqui se importa ou finge não se importar porque ninguém quer chatear a Amanda...

— Cala a boca, Stella — Nolan falou com uma fúria controlada. — Sou eu que já estou cansado de suas provocações! Se está achando ruim porque não se muda pra casa da Ashley e fica por lá pra sempre para nos deixar em paz?

— Ah! Que absurdo! — Stella exclamou.

— Parem agora vocês dois! — Theodore pediu firmemente. — Não quero mais saber deste tipo de discussão. Entenderam? Não podemos nem comer em paz? — E ele pousou o olhar em Nolan. — Não consegue se conter, não é? Fica uma semana sem aparecer aqui e quando aparece é para brigar na hora do almoço!

— Não fui em quem começou, e sim essa piranha! — Nolan explodiu.

— Irmão, menos — Jace o encarou com cara feia.

Theodore respirou fundo e acho que só não continuou porque Helena tocou seu braço.

— Pronto, acho que agora chega não? Vamos terminar de comer.

— Perdi a fome. — Stella se levantou e saiu da mesa.

Jace resmungou um palavrão e se levantou indo atrás dela.

— Satisfeito? — Theodore ralhou com Nolan e eu achei injusto.

Realmente foi Stella quem começou atendendo a ligação de Ashley.

Foi minha vez de tocar o braço de Nolan e ele me encarou com raiva.

— Chega — pedi baixinho. — Não piore tudo.

Ele respirou fundo, mas não disse nada.

Eu respirei aliviada.

O resto do almoço prosseguiu em silêncio tenso e quando terminamos Samantha me puxou pela mão.

— Vamos subir para meu quarto!

Eu a acompanhei até lá e ela me fez sentar em sua cama pegando uma sacola.

— Não fique brava...

— Ah Deus, Samantha, não! Eu nunca vou conseguir usar toda aquela roupa que está no closet , preciso de pelo menos uns duzentos anos de vida pra tudo aquilo acabar!

— Já falei, não é pra você! — E ela tirou uma pequena peça de dentro da sacola. — É para o bebê.

Eu arregalei os olhos, surpresa.

— Sei que está cedo, mas queria ser a primeira a dar um presente!

Eu peguei a peça da sua mão. Era um macacão branco.

— É muito bonitinho, Samantha.

— Ele terá estilo desde cedo. Cuidarei disso.

— Tenho certeza disso...

Deus, era mesmo verdade, não era?

Em alguns meses eu teria um bebê.

Não tinha como fugir daquilo mais.

“Um passo de cada vez.”, eu me obriguei a pensar de novo, antes de entrar em pânico.

— Muito obrigada, é lindo. — E guardei dentro da sacola de uma marca muito cara.

— Que bom que gostou. Estou pensando em comprar uns...

— Não! — Eu a interrompi. — Está cedo ainda, Samantha, sério.

— Está bem — concordou a contragosto. — Mas tem que prometer deixar eu fazer o enxoval assim que descobrir o sexo da criança! E eu acho que já dá pra saber, né? Quando você e Nolan vão fazer aquele exame?

Eu dei de ombros.

— Não faço ideia, a gente nem pensou nisso.

— Nossa, vocês são tão devagar! Eu sou mega-ansiosa, já estaria surtando.

— É só que é tudo muito novo pra nós dois. A gente nem se conhecia direito e decidimos nos casar. E então tudo foi muito rápido e ainda está sendo. É meio assustador também ter que pensar em tudo o que um bebê implica.

— É, eu entendo. Mas parece que está tudo bem, não?

— É, acho que sim. Estamos nos conhecendo melhor.

— Eu sei bem como estão se conhecendo. — Ela riu com malícia, mas eu não me importei.

Agradeci mais uma vez e saí do quarto indo procurar Nolan.

A casa estava em silêncio e quando passei próximo ao escritório ouvi a voz de Theodore e parei.

— Então vai mesmo continuar com essa bobagem?

— Não é bobagem! — Nolan respondeu com voz irritada.

Ai minha nossa, eles iam brigar de novo? Eu deveria entrar e interromper?

— Estudar arte? Achei que ia seguir seu irmão e entrar na escola de Negócios da NYU.

Eles estavam falando da faculdade!

— Isso é o que você queria, não eu! E não vou estudar o que você quer, é ridículo!

— Sim, concordo que tem que escolher a profissão que quer ter, mas arte? Acha que vai viver desses desenhos que faz? O que é isso, Nolan? Desenho é pra ser um hobby ! Não profissão! Eu me esforcei todos esses anos para construir um império! E você querendo fazer desenho!

Ah, bastava.

Eu me aproximei.

— Oi, Nolan, tudo bem? Podemos ir embora?

Ele pareceu aliviado de terminar a discussão com o pai.

— Nolan, não terminamos nossa conversa! Suas aulas começam na próxima semana e você não pode simplesmente...

— Eu já decidi. — Ele se levantou. — Estou indo para Nova York com Jace na próxima semana e vou estudar o que eu bem entender. Você não pode me impedir!

E ele saiu me puxando.

Seguimos em silêncio pelo jardim até que estivéssemos em casa.

Eu me sentia apreensiva de repente.

Eu e Nolan adiamos aquela conversa por tempo demais. Mas a realidade estava batendo à nossa porta.

— Eu não sabia que ia estudar arte — comentei.

— Meu pai acha um desperdício de tempo. Você também acha?

— Calma, Nolan, não estou te criticando. Eu acho muito legal. Você tem muito talento.

— Estou de saco cheio do meu pai tentando me impor suas vontades...

— Ele vai ter que aceitar e ... bem, acho que chegou a hora da gente conversar sobre isso, não? Eu nem me dei conta de que o verão acabou e que as aulas começam logo. Meu pai fez minha matrícula em Yale.

— Você vai para Yale? — Ele parecia surpreso e eu ri.

— Nolan, você sabe. Estava comigo quando abri o envelope.

— Mas eu achei... Merda, acho que entendi que não iria mais.

— Por que não iria?

— Porque está grávida.

— Isso não impede ninguém de frequentar a faculdade.

— Mas eu vou para NYU.

— Eu sei. E eu vou pra Yale.

— Isso é absurdo, Amanda.

— Ei, absurdo? O que está dizendo? Que eu não devo ir pra faculdade?

Sim, era exatamente isso que ele pensava, percebi começando a ficar furiosa.

— O que achou que ia acontecer, Nolan?

— Eu não sei, ok? Assim como você, eu não queria pensar nisso! Primeiro a gente só brigava e depois estávamos bem, acho que nem me toquei que as aulas começariam na próxima semana e... Agora que estamos falando disso. — Ele parou e me encarou seriamente. — Amanda, você deveria ir comigo para Nova York.

— Não! Eu não vou deixar de ir para Yale!

— Sozinha? Grávida?

— E daí?

— E daí que é ridículo insistir nisso! Você não vai conseguir terminar o ano.

— Não pode estar falando sério! Sabe o que é pra mim passar em Yale? E quer que eu desista?

— Depois que o bebê nascer nós conversamos sobre isso, sei lá...

— Ah claro, o bebê nasce e quem vai cuidar? — respondi irônica. — Isso vai ser sempre um obstáculo!

Lá estava.

Eu estava de novo me deparando com todo problema que ter engravidado causava.

De tudo o que tinha que perder. Não era justo.

De repente comecei a perceber tudo o que teria que encarar dali pra frente. Como eu iria continuar estudando quando a barriga crescesse? Ou quando o bebê nascesse?

Eu mordi os lábios com vontade de chorar.

— Amanda, você está grávida, não pode ficar sozinha em Yale!

— Claro que estou grávida! — E quase completei um "infelizmente".

Mas mesmo estando brava, eu sabia que iria me arrepender.

— Nós não planejamos nada disso, eu sei que deve ser difícil pra você...

— Sabe nada! Está sendo egoísta e pensando só em você! Eu vou para Yale, quer você concorde ou não e não pode me impedir!

— Está sendo absurda e irracional! — Ele explodiu também.

— Absurda?! E você está sendo o quê? Está me obrigando a fazer sua vontade! Independente do que eu quero!

— Estou sendo racional aqui!

— Sabe de uma coisa Nolan, reclama do seu pai, mas está sendo igual a ele! Desculpa se é difícil pra mim aceitar que você quer me obrigar a abdicar de uma faculdade que sonhei em fazer porque terei que ficar esperando uma porcaria de barriga crescer! — gritei.

E assim que as palavras saíram da minha boca e eu vi o choque nos olhos de Nolan e me arrependi.

Mas era tarde.

Eu respirei fundo, tentando me acalmar.

— Quem tem que pedir desculpas sou eu — ele respondeu tenso —, desculpa por ter engravidado você. E agora ter que encarar uma porcaria de barriga! Quer ir sozinha pra essa porra de universidade, vai! E nunca mais diga que sou como meu pai, entendeu?

E ele desapareceu da minha frente.

Eu sentei sobre o sofá, tremendo e enterrando meu rosto entre as mãos.

E chorei por tudo.

Tudo o que havia mudado tão abruptamente. Todos os meus planos desfeitos. Por tudo o que eu não sabia se estava preparada para encarar.

 

Nem sei quanto tempo eu fiquei ali, até que não houvesse mais lágrimas pra chorar e eu me levantei, indo para o quarto. Nolan não estava em lugar nenhum.

Entrei no banheiro e tomei um banho. Estava acabando de me vestir, quando bateram à porta.

Eu desci e era Samantha com a sacola na mão.

— Esqueceu isso.

— Ah, verdade.

— Está tudo bem? — ela indagou curiosa.

— Está sim. — Eu me obriguei a sorrir.

— Não brigou como Nolan, né? Isso explica ele e Jace terem sumido.

— Discutimos sim.

— Você quer conversar?

— Não, Samantha, está tudo bem.

— Ok, sabe onde me achar — ela disse e se afastou.

Eu fechei a porta e voltei para o quarto.

Tirei a roupinha de bebê da sacola. Minhas mãos tremiam.

E de repente eu me arrependi de todo pensamento ruim que eu tinha tido.

Eu me lembrei de como as previsões bizarras de Mary haviam me afetado, me deixando amedrontada a ponto de ter pesadelos e temer que algo desse errado.

E eu temi por ele.

Por meu bebê.

Como é que agora eu podia querer algum mal?

Levei a mão à minha barriga.

— Desculpa, bebê — murmurei.

Talvez Nolan tivesse razão.

Talvez eu realmente fosse absurda e irracional. Mas não estava preparada para deixar meus sonhos de lado. Não ainda.

Não sem tentar.

Eu não fazia ideia de como seria. Certamente não seria fácil.

Porém, eu tinha que ir para Yale.

“ Mesmo que isso lhe custe o Nolan? ”, uma vozinha sussurrou dentro de mim e meu coração se apertou.

E eu me perguntei se o frágil laço que forjamos naqueles últimos dias resistiria a uma mudança daquele nível.


Capítulo 13

 

Amanda

 

Esperei Nolan retornar, um pouco mais calma e disposta a termos uma conversa séria sem gritarmos um com o outro, mas anoiteceu e ele não apareceu.

Samantha disse que ele saiu com Jace e eu imaginava que estivesse bravo por causa da nossa briga. Bem, se ele ainda estava bravo, a ponto de desaparecer por horas, talvez fosse melhor deixar a conversa para outro dia.

Então, eu me vesti e decidi ir visitar meu pai.

Quando cheguei lá, ele estava cozinhando ou tentando, pois o cheiro de queimado me fez ficar preocupada.

— Deus, pai, o que está aprontando?

— Alguma coisa deu errado.

Eu desliguei o forno.

— Abra as janelas antes que a gente morra!

Ele ia abrindo a janela enquanto eu tirava algo carbonizado do forno.

— Isso era o jantar, suponho.

Ele coçou o cabelo.

— Pois é...

Eu ri.

— Que tal irmos jantar fora? — sugeri.

Eu precisava mesmo espairecer. Além disso, fazia um tempo que não ficava com meu pai e em breve eu iria para a universidade.

— Tem certeza?

— Por que não?

Ele franziu a testa.

— Fiquei surpreso com sua visita. Nem foi na igreja nessas últimas semanas. — Havia censura em sua voz. Meu pai não era de forçar sua religião, mas quando eu estava em casa, pelo menos ia às missas de domingo para deixá-lo feliz.

— Eu e Nolan preferimos ficar um pouco sozinhos. Sabe, era para estarmos em Barbados, lua de mel.

— Claro, claro. — Meu pai ficou sem graça. — Ainda é esquisito pensar que está casada agora. E onde está Nolan?

Eu desviei o olhar.

— Está passando um tempo com o irmão dele. — Não deixava de ser verdade. — E pensei que poderia passarmos um tempo juntos. Afinal, eu viajo na próxima semana.

— Então está tudo certo mesmo? Eu te mandei alguns e-mails com suas informações de começo das aulas e sobre o dormitório. Nem me respondeu.

— É, eu estava ocupada — fiquei vermelha —, mas vou ver tudo isso ainda essa semana. E aí, vamos?

Estávamos saindo de casa, quando um carro parou.

Eu reconheci o carro do Owen.

Ele saltou e nos encarou meio sem graça.

— Ei, Owen, estamos saindo — Gavin informou.

— É, desculpa. É que você convidou eu e meu pai para jantar, esqueceu?

Eu franzi a testa.

— Meu pai está com aquela dor nas costas hoje e não veio, mas não queria te deixar na mão. Anda muito solitário. — E Owen me lançou um olhar meio de censura. — Não sabia que estaria aqui também Amanda, como você está?

— Estou bem. Eu vim de surpresa. E como meu pai queimou o jantar, eu o convidei para jantar fora.

— Hum, certo...

— Quer ir com a gente? — eu convidei num impulso.

— Eu não sei...

— Por favor? Já tinha combinado com meu pai.

— Tudo bem.

 

Gavin insistiu em ir naquele mesmo restaurante chique que pagou pra eu ir com Owen antes.

E acabou sendo um jantar como antigamente. Papai e Owen conversando sobre carros e sobre as fofocas da cidade.

Eu me dei conta que sentia falta disso. Daquela familiaridade tranquila de estar com meu pai. E Owen.

— E aí, Amanda, Nolan vai para NYU na próxima semana também?

— Sim, ele vai — respondi meio a contragosto, não querendo que meu pai percebesse a tensão que isso estava nos causando.

— Espera, e você vai pra Yale? — Owen indagou curioso.

— Sim, claro que vou.

Ele ficou me encarando e percebi que sua mente estava se perguntando por que eu e Nolan iríamos ficar separados.

— E o Percy está ok com isso?

— Por que não ficaria? — Eu me coloquei na defensiva.

— Não parece legal começar um casamento ficando separado.

Eu não gostei da crítica de Owen, embora fizesse sentido.

— Eu não vou desperdiçar a oportunidade de estudar numa boa faculdade.

— Mas vai estar sozinha em Yale. Nolan vai te deixar sozinha. Você aprova isso, Gavin? — indagou, meio indignado.

Meu pai deu de ombros.

— Não totalmente. Também me preocupo, ela está grávida...

— Ei, vocês estão sendo ridículos. Eu posso muito bem me virar sozinha, não sou nenhuma idiota!

— Ninguém disse isso, filha. Mas talvez não tenha noção do que te aguarda e...

Eu bufei irritada.

— Mas eu quero estudar! Não posso parar a minha vida.

— Devia ter pensado nisso antes de ter engravidado. — Meu pai perdeu a paciência.

— Ou se casado com o Percy — Owen endossou duramente. — Eu sabia que esse cara não ia ser bom pra você. Na primeira oportunidade te deixa sozinha...

— Você queria o quê? Que eu não fosse pra faculdade? Que fosse ficar com Nolan em Nova York?

— Bem, ele é seu marido — papai continuou.

— Estamos no século XXI! Eu não preciso seguir o Nolan feito um cachorrinho onde ele for.

— Não parece estar tão afetada por se separar dele — Owen afirmou.

Eu entendi o que o Owen insinuou e me incomodou.

— Owen, sinceramente, nem acho que deveria estar discutindo isso com você — falei com cuidado, mas o que queria dizer mesmo era que ele não tinha nada a ver com isso.

Porém, antes de Owen se tornar meu namorado, ele era meu amigo.

— Certo, tem razão. — Ele compreendeu o que estava nas entrelinhas e pareceu magoado. E isso me deixou mal, mas o que podia fazer? — Eu só quero o melhor pra você. Fico triste porque não foi assim que você imaginou sua ida à faculdade.

Eu senti vontade de chorar, porque ele tinha razão.

Não foi assim que planejei nada daquilo.

— Eu sei, mas agora tenho que fazer o melhor que posso. E já decidi. Eu vou pra Yale. Agora podemos pedir a conta?

A noite já não estava divertida.

E quando estávamos saindo do restaurante eu parei surpresa ao ver Theodore e Helena entrando.

— Amanda! Não sabia que estava aqui — Helena comentou surpresa.

— Sim, vim com meu pai — falei vermelha, me sentindo ridiculamente culpada, como se estivesse fazendo alguma coisa de errado, porque os olhares deles foram para Owen.

Mas eu não fiz nada de errado.

Então eu respirei fundo.

— E com Owen, acho que conhecem.... Owen Smith.

Owen apenas sacudiu a cabeça em cumprimento.

— Ah sim, como vai Owen? — Helena sorriu.

Theodore tinha um olhar neutro.

— Estão indo embora?

— Sim, já comemos — Gavin respondeu. — Bom jantar pra vocês.

Nós nos afastamos.

Owen me encarou.

— Bom, eu já vou indo. Foi um bom jantar, Gavin.

— Sim, Owen, vá com cuidado. E fale para o Bob ir ver essas costas, já está reclamando faz tempo. Velho teimoso!

— Vou dizer. — Owen me encarou como se quisesse dizer alguma coisa, mas murmurou apenas uma despedida e entrou no carro.

 

Eu segui pra casa, voltando a me sentir perturbada. Eu havia ido encontrar meu pai para me distrair, mas no final, a discussão fora para o mesmo assunto.

E me irritava que ele e Owen pensassem meio que da mesma maneira que Nolan.

Estacionei em frente a casa e franzi o olhar ao ver que havia outros carros estacionados ali. E quando saltei, ouvi uma música alta vindo de dentro de casa.

Mas o que estava acontecendo?

Abri a porta e estaquei, horrorizada ao ver que estava cheio de gente na sala. Música alta, gente dançando, copos de bebida passando de mão em mão e muito barulho.

Que diabos estava rolando ali? Uma festa? Na minha casa?

— Amanda! — Ellie se chocou contra mim e eu a encarei chocada.

Ela estava visivelmente bêbada e usando um biquíni vermelho e um short curto.

— O que está fazendo aqui, Ellie?

— Curtindo a festa! Uau, sua casa é o máximo! Porque não me convidou pra conhecer ainda?

— Que festa é essa? De onde saiu essa gente?

— Como assim? Nolan convidou todo mundo! A gente estava em uma festa lá no Píer e o Nolan apareceu com o Jace e de repente estava chamando todo mundo pra vir pra cá, já que lá tinha hora pra acabar.

O quê?

Nolan estava maluco?

Eu deixei Ellie falando sozinha e avancei por entre as pessoas, algumas eu conhecia do colégio e outras nunca vi na vida.

Encontrei Jace em um sofá beijando Stella.

— Jace, cadê o Nolan?

Jace desgrudou a boca de Stella e riu.

— Ei... cunhadinha! Finalmente apareceu.

Ah que merda, ele estava bêbado também.

— O que vocês estavam pensando? Olha essa bagunça! Preciso encontrar o Nolan.

Stella riu.

— O que foi? Está brava?

— Claro que estou! Eu saio e quando volto minha casa está cheia de gente numa festa!

— Foi o Nolan que inventou isso!

Ah, claro. Nolan e sua inconsequência.

Será que ele estava tão bravo comigo que inventou de trazer toda aquela gente ali só pra me enfurecer?

— Ah, coitadinha! Achou que o Nolan fosse mudar assim de uma hora pra outra? É assim que ele é! Não é, Jace? Fala pra ela que seu irmãozinho não passa de um molequinho rebelde...

— Se joga na festa, Amanda! Vai se divertir. Toma aqui, bebe comigo — Jace pegou uma garrafa da mesa.

— Você está bêbado!

— Porque ainda não viu o Nolan — Stella debochou e eu me enfureci. — Pois é, Amanda. Eu te avisei que o Nolan não era boa coisa... Agora aguente!

Eu me virei e saí por entre as pessoas. Achei Nolan na cozinha, em meio a um monte de gente, que incentivava ele e mais um cara que nunca vi na vida a tomar vários xotes do que eu achava ser tequila.

— Nolan! — eu o chamei e ele levantou a cabeça me encarando e sorriu.

— Olá, Amanda. Finalmente se juntou a nossa festa!

— Que festa é essa?

— Só queria me divertir. Estamos todos nos divertindo, não é? — ele gritou e as pessoas à sua volta o ovacionaram.

— Você ficou louco? O que estava pensando? Está bêbado e trouxe um monte de gente estranha para nossa casa para uma festa ridícula!

Ele riu.

— Para de ser chata! Estamos comemorando! O verão acabou e todo mundo vai pra faculdade! Você também, não é? É assim na faculdade. Já vai se acostumando. Aposto que vai adorar as festas e as bebedeiras e quem sabe até encontre uns caras pra dar uns amassos?

— Certo, pra mim chega! Muito maduro da sua parte agir assim! Vai pro inferno!

Eu empurrei alguém que estava atrás de mim e saí pisando duro, querendo que todos desaparecessem, inclusive Nolan.

Como ele podia ser tão babaca?

— Ei, Amanda. — Samantha me alcançou quando estava subindo as escadas. — Tudo bem? O que está acontecendo?

— Está acontecendo que o Nolan é um idiota!

Ela me seguiu escada acima até o quarto, eu bati a porta e me sentei, tentando me acalmar.

Ainda estava chocada com o que Nolan tinha feito.

— Eu bem que achei estranho quando Jace ligou e disse que era para virmos pra cá porque estava rolando uma festa! E quando cheguei com a Stella já estava essa bagunça e eu não te vi. Perguntei pro Nolan onde você estava e ele disse que não fazia ideia e que não estava nem aí.

— Eu fui jantar com meu pai e não fazia ideia do que estava rolando aqui. Eu e Nolan discutimos e ele saiu com o Jace, como você contou. Não sabia que ele ia pra uma festa no Píer e pior, trazer a festa pra cá! Agora ele está lá bebendo e se divertindo e sendo um babaca!

— Nossa, calma. — Ela se sentou ao meu lado. — Nolan é muito sem noção mesmo, de fazer isso sem você saber.

— Ele está fazendo de propósito. Porque está bravo comigo, porque eu disse que ia pra Yale.

— Ah... entendo agora.

Austin entrou no quarto.

— Ei, tudo bem aqui?

— Não, a Amanda está brava por causa da festa. E acho que a gente precisa dar um jeito de mandar todo mundo embora.

— Vai ser difícil, viu?

— Mas a gente consegue.

Ela apertou minha mão.

— Olha, vamos expulsar todo mundo, ok? Fique tranquila. E depois você pode conversar com o Nolan e resolver tudo.

— Eu não quero conversar com o Nolan. Ele não podia ter feito isso, foi muito imaturo. Já deu pra mim.

Samantha e Austin trocaram um olhar, mas saíram do quarto.

Eu permaneci sozinha ali enquanto ouvia a música ser desligada e o barulho das pessoas entrando em seus carros e partindo.

Eu mal conseguia respirar tamanha era a fúria que me devorava e a raiva de Nolan que eu sentia me dava vontade de quebrar alguma coisa.

Como ele podia ter feito isso?

Ok, nós brigamos, eu fiquei nervosa e ele também. Mas acreditei que ele iria voltar mais calmo, iríamos conversar e chegar a um acordo.

Obviamente eu não ia ceder a sua ideia de não ir para Yale, mas ele teria que aceitar.

Não imaginei que ele iria agir daquele jeito. Como um moleque imaturo e irresponsável, se embebedando em uma festa sem pensar no que eu iria sentir.

Ou melhor, ele sabia que eu ficaria brava, ele queria me enfurecer.

Exatamente como fazia com o pai dele. Para chamar a atenção.

Mas eu não era Theodore e não ia aguentar aqueles ataques de Nolan.

Eu falei pra ele que não ia tolerar aquele tipo de comportamento. E não ia.

Irritada, eu me levantei, peguei minha mala e comecei a colocar minhas coisas dentro. Se Nolan ia ser um idiota, eu não precisava ficar ali tentando consertar as coisas e fazê-lo entender nada.

Algum tempo depois, saí do quarto e vi que havia uma equipe de limpeza arrumando tudo sob a supervisão de Samantha e não havia mais ninguém na casa.

— Aí está você. Olha só, tudo está sendo posto no lugar. — Ela sorriu, mas eu não via motivos para corresponder.

— Cadê o Nolan?

— A última vez que eu o vi estava desmaiado no sofá, em frente à lareira.

— Ótimo, ele que fique lá curtindo sua bebedeira. E obrigada por cuidar disso.

— Disponha.

— Eu vou subir e dormir, preciso descansar deste dia.

— Claro, vai descansar. Amanhã tudo vai ficar melhor, vai ver.

Eu subi para o quarto e me deitei sem nem tirar a roupa, sentindo-me triste e frustrada.

Eu não acreditava em Samantha.

Nada iria ficar melhor.

 

Quando acordei, estava dia. Eu ainda estava vestida, mas havia uma coberta sobre mim.

Por um momento, apenas procurei Nolan na cama, como tinha me acostumado a fazer todas as manhãs, mas ele não estava ali e eu me lembrei de tudo que aconteceu ontem e suspirei, sentindo um peso no meu peito.

Chovia fracamente lá fora, o barulho fazendo eco no telhado.

Eu me levantei, tirei a roupa, tomei um banho e me arrumei.

As minhas malas estavam arrumadas no canto do quarto no mesmo lugar que deixei, me lembrando das decisões que tomei ontem.

Senti vontade de chorar, mas não ia fazer isso.

Eu não queria chorar. Não queria brigar. Queria fazer apenas o que tinha que ser feito.

Eu não podia deixar Nolan tirar o pior de mim porque ele não conseguia ser adulto o suficiente para não surtar e fazer merdas quando estava bravo comigo.

Desci as escadas e encontrei Nolan sentado na bancada da cozinha com uma xícara de café.

— Oi — murmurei entrando na cozinha e me movendo para me servir de cereal.

Nós nos encaramos, ele parecia péssimo, com olheiras negras em volta dos olhos. Ele estava horrível, provavelmente de ressaca.

E eu ainda estava ressentida.

— Você lembra o que fez ontem?

Ele soltou um suspiro passando os dedos pelos cabelos desalinhados.

— Eu sinto muito....

— Pedir desculpas agora não apaga o que você fez. O que estava pensando? Eu cheguei em casa e me deparei com um monte de gente bêbada, uma bagunça, e você no meio deles. E lembra as coisas que me disse quando indaguei o que estava fazendo?

— Eu fui um escroto.

— Sim. Você foi um escroto.

— Eu estava puto com você.

— E isso te dá o direito de fazer o que fez? Não percebe o quão imaturo e ridículo foi seu comportamento? É assim que vai agir sempre? A gente vai brigar e eu vou ficar sem saber que merda vai aprontar, como se fosse eternamente um menino frustrado que não sabe lidar com suas vontades não sendo feitas?

— Eu não pensei no que estava fazendo.

— Claro que não pensou! Você agiu como sempre age! Me diz, Nolan, é assim que vai ser na faculdade? Foi o que me disse ontem. E ainda insinuou que eu deveria fazer o mesmo.

— Eu não deveria ter dito, eu...

— Ah, claro. Vai dizer que estava bêbado e sei lá mais o quê. Mas não me interessa. Você disse!

— Quer saber, eu fiquei puto não só porque está indo pra Yale. Fiquei puto porque você deixou claro que odeia estar grávida.

Senti como se ele tivesse me dado um soco no estômago.

Eu não disse isso, disse?

Tentei retomar minhas palavras na hora da briga. Eu também estava brava e frustrada me dando conta pela primeira vez do quão difícil seria minha vida dali pra frente.

— Eu não quis dizer, eu... — tentei me explicar.

— Não, você quis sim — ele rebateu. — Eu sei que tudo isso é uma merda. Que não é o jeito que quis viver. Você não queria nada disso. — Ele parou, se levantando e jogando a caneca na pia.

Eu sabia o que ele ia dizer. “Você não queria a mim.”.

Ele ficou de costas, respirando pesado e assim como eu, estava tentando se controlar.

— E acho que fui um idiota por achar que estaria disposta a desistir de tudo para ficar comigo.

— É disso que se trata? — Eu me levantei parando atrás dele.

— O que achou que seria? Eu sou louco por você, Amanda. E você parece não se importar em ir pra outra cidade e seguir sua vida sem mim.

— Eu me importo, Nolan. — Encostei o rosto em suas costas. Senti a necessidade nele em como ele queria ouvir isso. Aspirei seu cheiro tão conhecido agora, me dando conta de como sentiria falta quando nos separássemos.

Ele se virou e enterrou os dedos em meus cabelos, me levando pra perto, seus lábios espalhando toda sua angústia por meu rosto, até pousar em meus lábios.

Eu sorvi aquele beijo, querendo que fosse suficiente para consertar tudo.

Mas não era.

— Porra, eu não sei como lidar com você longe de mim.

Eu me desvencilhei e dei um passo atrás.

— Você tem que aprender a lidar com muito mais coisas do que só o fato de que não vamos ficar juntos, Nolan.

— Não vamos ficar juntos?

Eu engoli o nó na minha garganta.

— Eu liguei pro meu pai. Ele está vindo me buscar, estou adiantando minha ida para New Haven.

Eu pude ver a tensão dominando Nolan, mas dei um passo atrás.

— Não tente me impedir. Eu já decidi.

— Não faz isso... Eu fui um babaca ontem, mas eu não vou mais estragar tudo, eu...

— Não, Nolan. Não faça promessas que não vai cumprir. Acho que precisamos seguir em frente. Eu tenho que ir para Yale e você para NYU. Vamos seguir um dia de cada vez.

— Você disse que não ia me deixar.

— Eu disse que ia te dar uma chance. Uma única chance, lembra?

Nolan respirou fundo, frustrado, os dedos castigando os cabelos enquanto ele andava de um lado para o outro como um tigre enjaulado.

— Então é isso? O fim?

— Não sei. Mas eu preciso ir agora. Nós vamos voltar a... nos falar, ok? Mas neste momento, estou ainda ressentida com você e não vamos chegar a lugar nenhum.

Caminhei para fora, quando ouvi a batida na porta, provavelmente meu pai. Abri a porta e Gavin sorriu. Eu sorri de volta, tentando aparentar que estava tudo bem.

— Pode buscar minhas malas lá em cima?

— Claro.

Eu saí de casa, lutando contra o pequeno desespero que começou a tomar conta dos meus sentidos.

Estava fazendo a coisa certa?

Estava piorando tudo?

Gavin desceu e colocou minhas malas no porta-malas e entrou no carro.

Eu olhei para trás e vi Nolan.

Ele se aproximou.

— Não está se livrando de mim, ok? Isso é só um até logo.

Eu sorri entre as lágrimas que não conseguia mais conter.

— Tente não fazer mais merda, ok? — murmurei ficando na ponta dos pés, puxei sua cabeça e beijei sua testa.

Ele abriu a porta do carro pra mim e eu entrei.

— Pronta? — papai indagou.

Sacudi a cabeça em afirmativa, pois o nó na minha garganta me impedia de falar, enquanto eu observava a imagem de Nolan diminuindo até desaparecer.


Capítulo 14

 

Amanda

 

Contive um bocejo na biblioteca naquele começo de noite e me alonguei, começando a sentir uma leve dor nas costas.

Eu não deveria ter ficado tanto tempo estudando, sentada na mesma posição e meu estômago também estava reclamando, afinal, uma barra de cereal foi tudo o que comi naquela tarde.

Juntando minhas coisas, decidi que já era hora de parar por hoje. Bocejei de novo, cansada, enquanto caminhava pelo campus até o dormitório.

Já fazia três semanas que eu estava em Yale. Duas semanas que começaram as aulas e que eu tinha decidido que aquela seria uma nova etapa da minha vida. Nada de drama. Nada de briga. Nada daquela montanha-russa de emoções que eu tinha embarcado nos últimos meses.

Quando cheguei e me instalei, conhecendo minha colega de dormitório, Sabrina, uma jovem loira sexy e animada, que em pouco mais de meia hora de conversa me contou toda sua vida em Connecticut, filha única de uma família de ricos advogados e que foi uma líder de torcida no colégio, daquelas que namorava o jogador popular, mas o pobre tinha levado um fora, afinal, ela não iria pra universidade namorando, pois queria aproveitar e conhecer muitos caras. Em muitos aspectos ela me lembrava Stella, com sua beleza e sensualidade que usava muito bem para conseguir o que queria. E Sabrina só desejava se divertir. Isso queria dizer que o dormitório era constantemente visitado por seus amigos de ambos os sexos, tão afoitos por curtição como Sabrina e, claro, os caras com quem ela estava se divertindo.

E ela estava sempre me chamando para sair com eles, o que eu costumava declinar, mesmo sentindo uma certa vontade de ir junto naquela onda de alegria despreocupada. Mas, embora eu fingisse que era como eles, mais uma jovem universitária querendo curtir o momento, a verdade é que eu estava longe disso.

Quando Sabrina quis que eu falasse sobre mim, fui evasiva, contando aquela parte da minha história, antes de Nolan Percy bagunçar tudo.

Sim, ali em Yale, eu estava fingindo que Nolan não existia. Assim como não tinha contado para ninguém que estava grávida.

A verdade é que eu chamei Nolan de imaturo, mas sabia que talvez eu estivesse sendo exatamente isso também.

Agora, enquanto passava pela sala que dividia com Sabrina, dando um oi geral para ela e seus amigos que estavam bebendo e ouvindo música, eu me perguntava até quando conseguiria continuar fingindo que eu não tinha outra vida.

Entrei no meu quarto, tirei a roupa e encarei a imagem no espelho.

Havia uma suave saliência em minha barriga agora e meus seios estavam um pouco maiores. Nada que o tipo certo de roupa não escondesse. Mas até quando? Eu me perguntava o que Sabrina e seus amigos despreocupados diriam se soubessem que a garota com quem ela dividia o quarto estava grávida.

— Amanda?

Sabrina bateu na porta e apanhei uma camiseta, me vestindo rápido, antes que ela a abrisse.

— Sim?

— A gente está saindo, vamos?

— Estou cansada.

— Meu Deus, está sempre cansada! — Ela riu. — Vamos, a gente vai beber e comer pizza naquele pub irlandês. Não vamos voltar tão tarde assim. Precisa sair mais, se divertir.

Eu suspirei, cansada de falar não para a insistência de Sabrina

Passar algumas horas com ela e os amigos não seria um problema tão grande assim. Talvez eu me sentisse mais animada depois.

— Tudo bem. Só vou me trocar.

— A gente te espera.

***

— Amanda, não é?

Eu virei para o rapaz ao meu lado tentando lembrar seu nome. Ele havia se juntado a nós depois que chegamos e não era um amigo habitual de Sabrina.

— Sim, esta sou eu.

— Você parece quieta?

Eu dei de ombros, um pouco sem graça.

Claro que eu destoava de todos ao redor. Primeiro porque desde que chegamos estava todo mundo tomando bebidas alcoólicas e eu pedi uma Coca-Cola.

O bar era legal, uma banda de rock tocava boa música e eu deveria estar me divertindo, mas me sentia meio deslocada. Como se não pertencesse àquele lugar e olhasse a tudo e todos de uma distância segura.

— Estou cansada. — Tentei sorrir.

Ele pegou a cerveja e bateu na minha Coca.

— Precisa beber, acho que ficaria mais animada.

— Não, obrigada. Eu não bebo.

Não era mentira. Eu realmente não bebia. A única exceção foi a noite que eu caí na bobeira de beber na festa dos Percy e acabei na cama com Nolan.

E agora eu estava proibida de beber por motivos óbvios, mas esse cara não precisava saber.

— Eu sou Joe, aliás.

— Muito prazer, Joe.

— É a colega de quarto da Sabrina, não?

— Sim, somos.

— Nunca te vi aqui com ela...

— Eu não saio muito.

— Por que não?

— Porque estou ocupada estudando.

— Ah, então é uma dessas.

— Uma dessas?

— Garotas estudiosas.

— Está me chamando de nerd ?

Ele riu.

— Deixa eu te contar um segredo. — Ele se inclinou para perto. — Eu também sou.

Foi minha vez de rir.

— Não parece.

Ele era um cara bonito, de cabelos encaracolados que precisam de um corte, barba por fazer e sorriso fácil.

— Sou sim.

— O que você estuda?

— Astronomia.

— Que interessante.

— E você?

— Literatura.

— Ah, uma garota dos livros.

— Culpada.

— Qual seu preferido?

— Austen.

— Eu prefiro Henry James.

— Eu gosto de Henry James também. Mas muito me admira um garoto que estuda ciências, curtir literatura.

— Eu disse, um nerd . E aí, vamos dançar?

— Ah, não, nem pensar.

— Vai sim.

E ele me puxou para a frente do palco. Eu hesitei, meio envergonhada e ele se moveu de forma engraçada, segurando minhas mãos.

— Vamos, Amanda, curta a música.

Ele me soltou e se virou para o palco.

Eu me movi, porque a música era mesmo boa. Era uma banda que tocava covers de rock e em algum momento, comecei a me deixar levar e me juntei ao coro que cantava as músicas e dançava.

Sabrina se juntou a nós, assim como alguns outros amigos e de repente eu me vi me divertindo também.

Eu já não era apenas alguém que se sentia fora do lugar.

Eu estava ali, eu era um deles.

Uma estudante despreocupada, curtindo a música e a noite.

Então, a banda começou a tocar Kings of Leon. A mesma música que tocou na noite em que Nolan me deu carona.

Eu fechei os olhos, me movendo com a música e senti uma imensa vontade de chorar.

Eu não podia me enganar.

Eu não era um deles.

Mas eu queria ser e era este o problema.

— Ei, tudo bem? — Joe tocou meu braço e percebi que estava chorando.

Droga.

— Eu preciso ir.

Passei pelas pessoas, voltei à mesa, peguei minha bolsa e saí do pub. Respirei o ar da noite e enxuguei minhas lágrimas.

Peguei o celular e chamei um Uber.

— Amanda, está tudo bem?

Joe havia saído atrás de mim e eu forcei um sorriso.

— Tudo, só preciso ir.

— Não parece bem.

— Essa música... me lembra uma história.

— Ah... — Ele se aproximou e pegou um cigarro no bolso.

Fiz uma careta.

— Que graça vocês veem nisso? Não tem medo de ter câncer?

Ele riu e parou o movimento de acender o cigarro.

— Se eu não fumar, você me dá um beijo?

Eu corei com a paquera descarada.

— Sinto muito, mas não.

— Poxa... É o cara da música?

— É... — suspirei. — É mais complicado do que imagina.

— O que aconteceu?

— Ele está na NYU e eu aqui. — Bem, era um bom resumo.

— Não parece um pesadelo assim tão grande. Vocês não estão mais juntos?

— Eu não sei.

O carro parou e eu vi que era meu Uber.

— Minha carona chegou. Obrigada por me obrigar a me divertir hoje, Joe. Foi muito legal.

— Fica bem, Amanda. A gente se vê por aí.

Eu entrei no carro e soltei um suspiro profundo.

Que grande impostora eu estava me saindo.

De repente eu tentei enxergar minha vida se não tivesse engravidado e casado com Nolan.

Eu ainda estaria com Owen? Ou faria como Sabrina, terminaria com o namorado para poder paquerar caras como Joe nos pubs locais?

Eu nunca saberia.

 

Na manhã seguinte, acordei um pouco enjoada, mas segui para minhas aulas, mesmo com sono e com vontade de voltar a dormir. Eu me sentia tão cansada às vezes e me perguntava se ia ficar pior conforme a gravidez prosseguisse.

Porém, em vez de voltar para o dormitório para dormir após as aulas, eu fui para meu novo emprego, no café do campus.

Alguns dias depois que eu cheguei, vi um anúncio procurando atendentes para o café e achei que era uma boa ideia. Obviamente, não contei que estava grávida e consegui o emprego de meio período.

— Ei, Amanda.

Sorri para Carlton, colocando meu avental e tomando meu lugar no balcão.

Encontrar Carlton Cooper estudando em Yale também fora uma agradável surpresa. Foi justamente no dia em que vi o anúncio no Café que trombei com ele e fiquei contente de ver um rosto conhecido. Ele pareceu surpreso por me ver.

— Eu sabia que tinha passado, mas depois que se casou... Achei que não viria mais.

— Por que não?

— É que... está grávida — ele comentou vermelho.

— Mas não estou com uma doença terminal.

— E você e Nolan Percy...

— Ele está em NYU.

— Ah... — Eu sabia que ele queria especular mais, mas teve o bom senso de se calar e acabei comentando que ia me candidatar a uma das vagas de atendente do Café e Carlton teve a mesma ideia. E agora trabalhávamos juntos.

— Você parece cansada. — Ele me estudou com um olhar preocupado.

— Estou ótima! — desconversei e fui atender o cliente que se aproximava do caixa.

— O que vai querer?

— Um mocha — respondeu a voz bonita.

Eu levantei o olhar e nossa, era um cara lindo.

— Mais alguma coisa? — indaguei pegando o copo para pôr o nome dele.

— Não. Só isso.

— Qual o nome?

— Nathan — foi a pessoa atrás que respondeu e o cara bonito se virou para ninguém menos que Joe.

— Ei, Joe.

Mas Joe olhava pra mim sorrindo.

— Sabia que conhecia você de algum lugar, Amanda.

Eu dei de ombros.

— Parece que sim. — Eu peguei o cartão do tal Nathan e lhe devolvi. — Chamaremos pelo nome.

— Obrigado.

— E em que posso ajudar, Senhor Joe?

— Vi você babando no meu colega de aula de introdução a buracos negros.

— Eu não fiz isso!

— Tudo bem, estou acostumado com todas as garotas pulando no Nathan Cole, mas saiba que ele é casado.

— Casado?

— Pois é, maluco, né? E a esposa dele está até esperando um bebê. — Joe fez uma careta. — Deus me livre. Tem gente maluca pra tudo.

— Pois é... — Enrubesci sem graça.

Provavelmente Joe sairia correndo sem olhar para trás se eu contasse que estava grávida.

— E vai querer o quê?

— Um expresso, para viagem.

— Certo.

Eu anotei seu pedido e cobrei.

— Você está bem? — Ele ficou me encarando.

Bufei irritada.

— Eu devo estar horrível se todo mundo diz que estou com cara de cansada!

— Não está horrível, é muito gata e sabe disso, só parece que precisa descansar uma semana. Já sei, você precisa de um fim de semana em uma praia do Caribe... já pensou? Eu e você tomando Mojitos?

— Para de ser bobo e me deixe trabalhar, a fila está ficando grande.

Joe riu e se afastou, pegando seu café que Carlton lhe passou enquanto eu atendi a moça atrás dele que pediu uma rosquinha e eu mesma fui pegar seu pedido. E quando me virei tomei o maior susto da minha vida ao ver Nolan parado na minha frente.

— Nolan?

— Que porra está fazendo aqui? E aquele ali é Carlton Cooper?

Eu me virei e Carlton estava no balcão chamando Nathan para pegar seu pedido.

— Ei, minha rosquinha — a moça pediu impaciente e eu lhe passei ainda encarando Nolan sem acreditar.

O que ele estava fazendo ali?

— Ei, não tenho o dia inteiro? — alguém resmungou na fila e eu pisquei tentando achar minha voz.

— Nolan, de onde você saiu?

— Surpresa? Acho que também estou. Que merda está fazendo aqui e... com Carlton Cooper?

Eu dei de ombros, tentando parecer despreocupada.

— Trabalhando.

Ele respirou fundo, podia ver seus olhos quase escuros agora e eu percebia que estava se esforçando para não estourar.

— E você ia me contar isso quando?

Eu arregalei meus olhos.

— Como é? Faz três semanas que estou aqui e você não me ligou nenhuma vez! Quando é que eu ia te contar alguma coisa?

Sim. Eu e Nolan não nos falávamos desde que nos despedimos em Camden. No começo, pensei em telefonar. Tentar conversar, mas ainda estava ressentida e na verdade tinha medo de que Nolan me convencesse de que eu estava cometendo um erro ficando em Yale sozinha.

A verdade é que não estava sendo nem um pouco fácil.

Mas não queria dar o braço a torcer. Por que o que aconteceria se eu admitisse que de certa forma, ele tinha razão?

Eu estava cada vez mais exausta e minha barriga nem aparecia ainda.

Eu me sentia sozinha e sem apoio algum e toda noite, quando eu ia dormir sozinha, ouvindo a bagunça que Sabrina fazia com seus amigos ou seus amantes, sentia mais falta de Nolan do que era saudável.

Mas ali era Yale. Era uma oportunidade de ser adulta e fazer algo importante.

Eu não queria abrir mão daquilo.

— Você também não me ligou, Amanda.

Eu me aprumei, sustentando seu olhar ressentido.

— O que está fazendo aqui?

— O que acha?

— Ei, a fila precisa andar! — alguém reclamou e eu vi meu gerente me olhando com cara irritada.

— Nolan, estou trabalhando agora, então se não vai pedir nada, por favor, me dê licença.

— Sério? Eu vim te ver e é assim que me trata?

— Vai querer alguma coisa, senhor? — Ignorei sua carranca.

— Isso é absurdo, Amanda!

— Algum problema aqui? — Meu gerente se aproximou.

Ah, merda!

— Nenhum, o senhor já vai pedir, um mocha, não? — registrei o pedido. — Sete dólares, senhor.

Peguei o copo.

— Qual nome coloco?

Nolan bufou e tirou o copo e a caneta da minha mão escrevendo ele mesmo e me devolvendo.

— Ei, Carlton. — Nolan acenou para alguém atrás de mim e se afastou para onde outros clientes aguardavam seus pedidos.

E só então eu voltei a respirar e olhei o que ele tinha escrito.

“O Nolan da Amanda”

Sério?

Sério?

E não pude evitar que meu rosto esquentasse assim como meu coração idiota.

— Que surpresa ver o Nolan por aqui, ou nem tanto? — Carlton comentou e eu respirei fundo, me voltando para o próximo cliente.

Tentando esquecer que Nolan estava ali, em algum lugar, fazendo borboletas sobrevoarem meu estômago em expectativa, continuei trabalhando, anotando os pedidos enquanto Carlton ia os preparando.

Até que ele olhou um copo e riu.

— O Nolan da Amanda — gritou.

Meu rosto se tingiu de vermelho quando Nolan se aproximou pegando o copo e me encarando com um sorriso cretino.

Desviei o olhar para não lhe dar o gosto de me ver sorrindo de volta.

Eu tinha que lembrar que aquele ainda era o mesmo babaca que depois de uma briga deu uma festa sem noção para me irritar.

E ele ficou ali, sentado em uma mesa, e eu sabia que estava me esperando, mas continuei trabalhando e evitando pensar que provavelmente outra briga iria começar assim que eu terminasse meu turno.

O que diabos ele tinha vindo fazer ali depois de três semanas sem notícia?

Eu me perguntava todos os dias quando é que nós íamos conversar de novo como eu havia prometido. Esperava que Nolan fosse me ligar todos os dias implorando pra eu lhe dar outra chance. E percebi agora que havia um lado trouxa em mim que queria que ele implorasse, insistisse, para assim, eu poder perdoá-lo e colocar a culpa na sua insistência.

Quão patética eu era?

O fato difícil de admitir era que eu sentia falta de Nolan e que o gelo que ele me deu me magoou.

E, mil vezes inferno, eu estava feliz de ele estar ali agora.


Capítulo 15

 

Amanda

 

Quando meu turno terminou, Nolan estava me esperando na porta do Café.

— Então, está trabalhando num Café.

Eu suspirei, fazendo meu caminho, e Nolan me seguiu.

— Parece meio óbvio.

— Por que demônios ia querer trabalhar num Café?

— Algumas pessoas não nascem herdeiros ricos, Nolan.

— Algumas pessoas se casam com caras ricos.

Eu parei o fitando.

— É disso que se trata? Estou envergonhando a estirpe de Nolan Percy?

— Acha isso engraçado?

— Só estou tentando entender por que está revoltado! Não é como se você se importasse com o que eu faço aqui.

— Ah, então é isso? É pra me punir? É porque não queria que viesse?

— Claro que não! Acha que eu sou imatura assim?

— Eu espero que não! Mas você sabia que eu não ia gostar de vê-la aqui. Se precisava de grana era só pedir! Eu achei que seu pai estivesse te bancando, já que não me disse nada! E te encontro trabalhando cinco horas de pé num balcão. E que diabos o Cooper está fazendo aqui? Parece que acordei num meio de um pesadelo bizarro!

Eu comecei a rir.

— É com o Carlton que está preocupado?

— Não devia? Ele parece um stalker maluco se te seguiu até aqui, acho que essa paixonite dele está indo longe demais, eu chamaria a polícia antes que aparecesse nas páginas policiais!

— Para de ser idiota! Carlton estuda aqui, ele não me seguiu! Mas pensando bem, seria fofo, não acha? Uma prova de amor, um cara seguir a garota na faculdade, para ficar com ela?

— O que quer dizer, que eu deveria ter te seguido até aqui?

— Bem, aposto que isso nunca nem passou pela sua cabeça egoísta!

— Então seria romântico também uma garota que segue o cara até a universidade.

Eu rolei os olhos.

— Seria machista e antiquado, neste caso! — Eu voltei a caminhar.

— Amanda, aonde vai? A gente precisa conversar, caramba.

— Já estamos conversando. E eu preciso comer, estou morrendo de fome.

— Certo. Vou te levar pra comer.

E ele saiu me puxando pela mão até o estacionamento, onde encontramos seu carro.

Nolan deu partida e eu suspirei.

— Ainda parece bizarro que esteja aqui.

— É bizarro pra mim que você esteja aqui! — ele resmungou.

— Sério que dirigiu até aqui pra continuarmos a mesma briga?

— Não, não foi por isso.

Ele parou em frente a uma pizzaria. A cidade de New Haven era conhecida por ter a melhor pizza do país.

Nós sentamos e fizemos nossos pedidos.

— Você parece horrível — Nolan comentou parecendo consternado.

— Obrigada. Isso é mesmo megarromântico. Tudo o que eu queria ouvir do cara que se abalou de Nova York até aqui pra me ver.

— Sabe que tenho razão. Você tem comido direito? Dormido direito?

— Sim, para todas as respostas. Estou bem. — “ Mas estar grávida toma muito da minha energia. ”, podia responder, mas me calei.

Porém, acho que Nolan entendeu.

— Eu não deveria ter deixado você vir...

— Ah, lá vamos nós...

— O pedido de vocês. — A garçonete se aproximou, interrompendo a briga iminente.

Senti o cheiro de queijo e tomate e salivei, começando a comer com vontade.

Nolan me encarava entre horrorizado e divertido.

— Não parece que está comendo mesmo.

— Só estou com fome. — “ Mais que o habitual. ”, continuei em pensamento.

— Claro, não dizem que grávidas comem por dois? Acho que dizem também que precisam descansar e não estudarem e depois trabalharem em pé durante cinco horas recebendo cantadas de clientes.

— Ah! Você inventou isso. E... paquera?

— Eu estava lá ouvindo um tal de Joe flertando com você e acho que ele te acusou de estar babando num tal de Nathan.

Eu enrubesci.

— Estava me espionando? Quem é o stalker agora?

— Tinha acabado de chegar e estava na fila pra falar com você. Parece que há literalmente uma fila para chamar sua atenção.

— Quer saber? Não acho que pode se chamar de fila. Mas Joe é um cara que eu conheci ontem... num bar.

Os olhos de Nolan escureceram.

— Você esteve num bar?

— Sim, qual o problema?

— Está inventando pra me irritar?

— Não, é sério.

— Amanda, está me dizendo que está indo a bares e flertando com outros caras?

— Não, não disse isso — recuei. — Embora depois do que você aprontou Nolan, bem merecia!

— Eu não flertei com ninguém!

— Tem certeza? Quer que eu acredite que está vivendo da casa pra faculdade em Nova York? Você?

— Você poderia saber o que estou fazendo se estivesse lá.

— Ah, não começa!

— Mas agora estou querendo quebrar alguma coisa, por que colocou um monte de merda na minha cabeça?

— Eu?

— Sim, eu estava preocupado com você. Ficava ligando para o seu pai e implorando notícias e...

— Você perturbou meu pai?

— Não, não disse a ele que brigamos. Mas deveria, quem sabe assim ele não rezasse uma missa pra pôr algum juízo na sua cabeça.

— Não sou eu que preciso de juízo! O que disse ao meu pai?

— Eu indaguei se ele sabia se estava tudo bem contigo. Ele estranhou indagando se eu não sabia e tive que desconversar e dizer que claro que eu sabia, só queria confirmar.

— Poderia saber se me ligasse.

— Não parecia que você queria falar comigo. Eu decidi te dar um tempo para...

— Pra eu desistir de Yale e ir correndo atrás de você?

— Seria legal se isso acontecesse.

— Ah Nolan, isso não vai rolar!

— Foi o que percebi quando depois de três semanas você não deu sinal de vida!

— Por isso está aqui?

— Estou aqui porque senti sua falta todos os dias.

Eu contraí os lábios, desviando o olhar para minha pizza.

Querendo não sentir suas palavras como se fossem um abraço gostoso em minha alma cansada de ficar sozinha.

Eu era uma idiota por ainda gostar de Nolan.

— E o que vamos fazer com isso? — murmurei, tomando um gole da minha Coca.

— Achei que fosse dizer a mesma coisa, Amanda.

Eu ri.

— Dizer o quê?

— Que sentiu minha falta.

Eu dei de ombros.

— Sabe, eu estava bem brava com você, Nolan.

— Eu sei. Também estava bravo com você, mas isso não faz meus sentimentos desaparecerem. Parece que só fica pior.

Ele estendeu a mão e tocou meu rosto, eu sustentei seu olhar intenso sem forças para me afastar, quando ele se aproximou e me beijou.

Quanta falta eu senti daquele beijo?

— Mais alguma coisa? — A garçonete se aproximou e eu me afastei de Nolan, vermelha.

— Pode trazer mais uma — Nolan disse. — Minha garota está com fome.

A garçonete sorriu se afastando.

— Não sou sua garota.

— É sim. É minha Amanda. A Amanda do Nolan.

— Isso não muda nada — resmunguei.

— Não quero brigar com você, Amanda. Podemos simplesmente ficarmos juntos aqui por um momento, sem trocar farpas?

Eu suspirei.

— Também não quero brigar. E então me conte como estão seus irmãos.

— Jace está fingindo que estuda quando, na verdade, só fica correndo atrás da Stella.

— Stella está em NYU também? — Era uma novidade.

— Não. Ela está tentando a carreira de modelo. Mas está morando com a gente. Infelizmente.

— E Sam?

— Sam está estudando moda em Paris.

— Eu não sabia!

A garçonete se aproximou com outra pizza e achei que não iria conseguir comer, mas já estava com fome de novo.

— E como está sua faculdade?

— É legal.

— E seu pai já está conformado?

Nolan fez uma careta.

— Ainda continuam com as mesmas brigas?

— Ele está em Camden com Helena, quando não está em suas viagens de negócios. Então não temos muito contato nos últimos tempos. É um alívio.

— Pelo menos tem menos briga. Sua vida está bem tranquila...

— Tranquila demais.

— Uma vida sem brigas é bem legal.

— Eu gostava de brigar com você.

— Isso não parece saudável.

— Eu não posso evitar. Quer mais alguma coisa?

— Não, acho que vou explodir se comer mais.

Nolan pediu a conta e saímos.

Entramos no seu carro e já era noite.

— Vai voltar para Nova York?

— Está me dispensando?

— É lá onde mora, e são duas horas de viagem. Imagino que tenha aula amanhã?

— Eu achei que depois de um encontro que paguei duas pizzas você me levaria para conhecer seu dormitório...

Eu ri, mas senti meu estômago se contraindo em expectativa.

— Não acho uma boa ideia.

— Vamos lá, Amanda. — Ele parou o carro em frente ao prédio.

— Eu divido com uma amiga.

— Eu sei, eu a conheci.

— Conheceu Sabrina?

— A loira gostosa? Claro, eu estive aqui e ela me recebeu. Acho que estava de calcinha.

Eu tentei não sentir ciúme de imaginar a loira curvilínea se insinuando para Nolan, impossível.

— Foi ela quem me disse que eu podia encontrar você no Café.

— Imagino que ela tenha te convidado para entrar e tirar a calcinha dela?

— Talvez eu aceitasse... afinal, parece que você não tem nem namorado, que dirá um marido, segundo sua amiguinha. Então se você é solteira agora eu também sou.

— O que disse a Sabrina?

— Eu só perguntei de você. Ela é bastante falante. Contou que você não tem namorado, que estuda muito... e ela perguntou se eu estava interessado em você.

— E o que respondeu?

— Eu não disse nada, porque não é da conta dela. Mas entendi que você não conta a ninguém que é casada comigo. — Havia censura em sua voz.

— Não, não conto, ok? É difícil explicar. — Saí do carro e Nolan me seguiu. — Vai mesmo querer entrar?

— Claro que sim.

Eu me dei por vencida e deixei ele me seguir.

Passei pela sala do dormitório que para meu alívio não tinha ninguém ali no momento e fui para meu quarto, com Nolan atrás de mim.

Ele olhou ao redor.

— Sério que dorme aqui?

— Qual o problema?

— Por que não alugou um apartamento?

— Por que não sou rica?

— Claro que é. Se eu sou, você também é.

— Na verdade, seu pai é rico. Não foi o que me disse?

— Mas ele até que é um cara generoso... Nem reclamou quando pedi para comprar o carro pra você.

— Isso foi um exagero. Não gosto que gaste dinheiro comigo. Ainda mais dinheiro do seu pai!

— Quando eu fizer 21 anos, eu recebo a herança da minha mãe e aí nós seremos ricos, satisfeita?

— Nossa, devia ter me avisado que eu teria que esperar quase três anos para o meu golpe do baú dar resultados!

Nolan riu e se sentou na minha cama.

Eu mordi os lábios, sentindo minha pele começar a formigar.

Era Nolan quem estava ali. E eu me dava conta agora de como senti a falta dele com todas as células do meu corpo.

— O que rolou entre você e o tal Joe?

— Não rolou nada, de onde tirou isso?

— Ele pareceu interessado... Quantas vezes o viu?

— Eu te disse, conheci ele num pub com Sabrina e seus amigos ontem.

Eu tirei meus sapatos e subi na cama, porque já estava com as pernas doendo e soltei um gemido de dor no processo.

— O que foi?

— Dor nos meus pés.

— Vem aqui.

Nolan se virou e colocou meus pés em seu colo e começou a massageá-los.

— E então foi lá que conheceu o tal Joe? — Ele continuou com o assunto.

— Sim. — Suspirei, adorando o que estava fazendo.

— Ele gostou de você.

Eu abri os olhos.

— Não pude evitar.

— Claro que não. É uma sedutorazinha sem noção.

— Não sou.

— Claro que é. Não tem ideia do que faz com os caras com essa sua carinha de santa.

— Não sou santa.

— Não mais, eu perverti você.

Eu ri.

— Mas me conte, agora estou curioso.

— Sobre?

— Você sai muito para ir a pubs virar a cabeça dos universitários desavisados?

— Na verdade, foi a primeira vez que fiz isso.

Nolan franziu o olhar me estudando.

— Então não sai?

— Estou aqui pra estudar e não pra sair, beber e flertar.

— A maioria dos universitários faz tudo isso.

— Não sou como as outras... — E havia uma certa amargura na minha voz.

E acho que Nolan percebeu.

— Você gostaria? De ser como elas?

Eu dei de ombros.

— Nunca vou saber, não é?

Ele soltou meu pé e se ajeitou ao meu lado.

— O que faria se fosse elas?

— O que quer dizer?

Ele aproximou a boca do meu ouvido e eu estremeci, quando sua mão tocou a barra da minha camiseta, se imiscuindo para alcançar minha pele.

— Você sente falta de dar amassos com caras desconhecidos?

— E se eu disser que sim?

Eu o fitei e os olhos de Nolan escureceram perigosamente.

— É isso que quer? — Sua mão subiu e apertou meu seio.

Arfei. Uma lança de prazer indo direto para o meio das minhas pernas e senti o desejo começar a pulsar sem que conseguisse evitar.

Ele beijou a pele atrás da minha orelha, nos escorregando até que estivéssemos deitados na cama.

— Nolan, o que está fazendo? — sussurrei com um gemido quando seus dedos se infiltraram dentro do meu sutiã, castigando meu mamilo sensível.

— Nada, só rompendo algumas bases com uma garota gostosa da universidade.

E seus lábios colidiram com os meus, deliciosamente persuasivos, enquanto ele deitava em cima de mim e eu adorei senti-lo perto, senti-lo excitado, e abri minhas pernas para que ele descansasse entre elas, enquanto me beijava devagar, sem pressa, saboreando meus lábios e me fazendo suspirar e querer mais.

E por um tempo ficamos apenas assim, com Nolan enchendo minha boca de mil beijos curtos e perfeitos.

Me enchendo de sua presença.

Ele levantou a cabeça me fitando com um sorriso sacana.

— É isso que sente falta?

— Eu sinto falta de você... — confessei.

Eu não queria qualquer cara cheio de tesão da universidade, este era o meu problema.

Nolan ficou sério.

— Senti tanto a sua falta... — seus lábios sussurraram contra os meus e eu derreti quando ele moveu os quadris contra os meus, me fodendo a seco.

— Eu também. Eu também...

E então seus dedos estavam em minha nuca, me puxando, a boca devorando a minha num beijo faminto e eu gemi, meus próprios dedos se agarrando a seus cabelos, correspondendo com toda saudade e desejo que eu sentia, nossas mãos tateando, buscando, como se comprovando que estávamos realmente ali e os beijos prosseguiram, quentes, loucos, uma luta de lábios e língua, entre gemidos e murmúrios desconexos.

Fechei os olhos, não pensando em nada, minha mente vazia de qualquer pensamento coerente que não tivesse a ver com Nolan e suas mãos em mim. Sua excitação pressionada contra meu corpo, os lábios se movendo por meu rosto, meu pescoço, os dentes me arranhando de leve e isso apenas me deixava ainda mais excitada.

Eu precisava dele de verdade e não com joguinhos bobos de universitários e minhas mãos começaram a despi-lo. Talvez tenha sido no mesmo momento que ele começava a fazer a mesma coisa comigo, e eu gemia, enquanto sentia seus lábios e mãos em toda parte que ia sendo desnudada e meu coração batia descompassado no peito, num ritmo alucinado, fazendo meu sangue ser bombeado mais depressa, esquentando minha pele, e se concentrando onde eu morria para ele estar. E não demorou para sua boca estar sobre a minha novamente e as mãos ergueram meus quadris para que me penetrasse uma, duas, várias vezes. As estocadas do sexo me fazendo tremer e gritar. E me segurei nele, as unhas cravadas em seus ombros, querendo que fosse mais rápido e mais fundo e ao mesmo tempo que não acabasse nunca, mas o prazer me consumia, me queimava e aumentava conforme eu me sentia cada vez mais perto do abismo. E então caí. A queda foi perfeita. E foi com ele. Nossos gritos ecoando pelo quarto enquanto estremecemos juntos em espasmos de puro prazer.

Eu fiquei ali, agarrada a ele, enquanto respirava com dificuldade e me perguntando como é que eu faria para soltá-lo de novo?

Nós nos encaramos ofegantes e suados e seus olhos eram preocupados.

— Te machuquei?

— Não... faz de novo?

Ele sorriu e de novo estávamos ocupados um com o outro.

E desta vez foi lento e mais perfeito ainda e eu só queria que o tempo parasse.

E eu guardasse este momento para sempre.

Eu não sei quanto tempo ficamos ali naquela cama, nos adorando, nos devorando com saudade, como se estivéssemos separados há anos e não semanas.

Ouvi em certo momento da noite Sabrina chegando, o barulho de seus saltos no chão e me preocupei que ela descobrisse que Nolan estava ali.

Quando Nolan percebeu meu medo ele riu.

— Não seja boba, Amanda. Aposto que ela também traz os caras para o quarto dela.

— Sim, isso é verdade.

— Então, não vai ligar que você também transe.

— Tem razão, é uma bobagem...

— Sabe que se tivesse seu próprio apartamento...

— Não. Não começa.

— Eu ainda vou te convencer a parar de ser teimosa com isso...

Não gostei dele me chamar de teimosa, mas ignorei. Não ia perder meu tempo brigando. Quando ele era tão curto.

E eu já comecei a me sentir apavorada. Nolan iria embora em algum momento.

Engoli o nó na minha garganta, me agarrando a ele com força.

Era isso. Entendi finalmente.

Era isso que eu estava tentando evitar quando ele pediu para eu ir e eu disse não. Sabia que estava por um triz de ficar totalmente dependente de Nolan. E eu não queria ceder. Tinha medo de perder o controle. Era assustador, colocar a minha felicidade nas mãos tóxicas de Nolan Percy.

Mesmo quando ele dizia que estava apaixonado por mim e que queria ser melhor para que eu ficasse com ele.

Mas como saber se Nolan era capaz de ser melhor?

As coisas pareciam estar indo bem em Camden até que ele arruinou tudo com sua atitude inconsequente.

Era assim que eu teria que viver?

E eu não sabia como isso ia acabar. Até onde eu iria suportar.

Mas Nolan estava ali agora e me fazia perceber como eu já estava tomada por aquela necessidade que eu tinha dele.

Passei aquelas semanas dizendo a mim mesma que podia viver sem Nolan, e verdade é que até podia. Mas era horrível.

Quando foi que eu deixei aquilo acontecer?

Eu me afastei dele, me sentando na cama, de repente com uma súbita vontade de chorar.

— Tudo bem? — Ele estranhou meu afastamento, também se sentando.

Sacudi a cabeça afirmativamente, incapaz de falar porque o nó ainda estava ali na minha garganta.

— Então vem aqui — ele pediu e eu obedeci, me sentando no seu colo e aninhando a cabeça em seu ombro.

Sua mão tocou minha barriga.

— Como está se sentindo? –— Eu sabia que ele estava perguntando do bebê.

— Bem...

— Tem certeza, você parece mesmo cansada.

— Eu sei... Não posso evitar.

— Já tem algo aparecendo aqui.

— Acho que não falta muito agora para começar a crescer sem parar.

E eu me perguntei se ele ainda me acharia atraente então.

— Eu vou ficar gorda, você sabe.

— É o que dizem. — Ele riu.

— Ainda vai me achar bonita?

— Você é a garota mais sexy do mundo.

— Aposto que tem muitas garotas lindas na sua universidade.

— Tem mesmo.

Eu franzi os olhos com ciúmes, imaginando todas aquelas garotas lindas olhando para Nolan, mas ele sorriu e me beijou.

— Você não está mesmo frequentando bares e festas ou sei lá o que os universitários fazem?

— O que acha?

— Sabe como eu ficaria brava se fizesse isso, Nolan?

— Eu sei. E por isso mesmo que eu não estou fazendo nada disso.

— Mesmo com todas as garotas lindas que devem implorar pra ficar com você?

— Mas nenhuma é você, Amanda Percy.

Eu sorri querendo acreditar nele, porque era tão incrível que aquele cara gostasse de mim.

Então ele ficou sério.

— Sua amiga não sabe que está grávida, não é?

Eu desviei o olhar.

— Ninguém sabe.

— Por que não?

— Eu não sei. Acho que eu só queria... não ser diferente.

— Amanda, eu falei que não ia insistir, mas ver você aqui... abatida, escondendo que está grávida... Acha que isso é legal? Até quando acha que vai ficar assim?

Eu me afastei, perturbada.

— Eu não sei. Mas estou vivendo um dia de cada vez. Eu quero fazer isso, Nolan.

— E eu quero você comigo. Não é legal quando estamos juntos? Eu não te faço nem um pouco feliz?

— Não é essa a questão... Acho que não entende.

Ele bufou e saiu da cama, começando a se vestir.

— Eu preciso ir.

Eu assenti, contendo a vontade de me agarrar a ele.

Nolan se vestiu e então sentou na cama e tocou meu rosto, colocando uma mecha de cabelo atrás da minha orelha.

— Teimosa pra cacete.

— Querer fazer as próprias escolhas não é ser teimosa.

— Tudo bem, eu disse que não ia ferrar com tudo...

— Disse a quem?

— Para o Austin.

— Austin?

— Nós estamos andando juntos ultimamente. Ele está na NYU também. E a Sam está em Paris, então somos dois caras largados.

— E ele te dá conselhos agora?

— Ele está aceitando de boa que a Samantha passe dois anos em Paris. Acha que eu devo fazer o mesmo.

— Acho que gosto mais do Austin agora.

— Não sou tão maduro como ele.

— Eu sei.

— Mas eu quero ser, Amanda. Sei que só faço merda, mas... não vamos deixar isso acabar. Você disse que não me daria mais nenhuma chance, mas eu vou implorar.

— E acha que tudo bem, eu ficar aqui e você lá?

— Não é o ideal pra mim. E nem pra você, mas ainda não percebeu...

— Nolan...

— Tá, parei. Então, sim, se é assim que quer, é como vai ser.

— Eu não quero que acabe também. Eu me casei com você. Eu também quero que dê certo.

— Então, está me aceitando de volta?

— Podemos tentar.


Capítulo 16

 

Amanda

 

Eu estava distraída na manhã seguinte enquanto tentava me concentrar nas aulas.

Se antes eu conseguia jogar os pensamentos sobre Nolan e nossos problemas para o fundo da minha mente, depois que ele apareceu ali, estava difícil.

Estar com Nolan de novo me fez ver que eu sentia falta dele. Que havia uma parte de mim que desejava que a gente desse certo.

E por mais que eu tentasse viver ali em Yale como uma estudante qualquer, livre e despreocupada, eu havia tomado um caminho bem diferente. Tinha um homem na minha vida, um homem que em muitos aspectos ainda era um menino e que me deixava insegura e amedrontada, e ao mesmo tempo viva e apaixonada.

E também em pouco tempo haveria mais alguém com quem me preocupar. O bebê que crescia na minha barriga e que, mesmo que Nolan deixasse de fazer parte da minha vida, aquele ser ainda ia precisar de mim.

E quando pensava nisso me sentia perdida e apavorada. E mais imatura que Nolan.

Então, quando terminaram as aulas do dia, eu aproveitei que era minha folga no Café e fui para o dormitório.

Assim que cheguei coloquei minhas coisas em cima da escrivaninha e me deparei com algo que não estava ali antes.

Era um cartão de crédito e junto um bilhete.

“Pelo amor de Deus, coma alguma coisa e deixe este emprego ridículo com seu stalker .”

Revirei os olhos, entre irritada e frustrada.

Eu nem tinha percebido que Nolan deixou aquilo ali antes de ir embora.

Eu tive vontade de ligar pra ele e começar uma briga enorme, mas estava cansada de brigar.

Mesmo assim, eu podia ligar pra ele não podia?

Peguei o celular pra fazer isso e vi que havia uma mensagem do meu pai.

Amanda, tudo bem? Por que Nolan Percy fica me ligando e perguntando de você como se vocês não estivessem conversando? Está acontecendo alguma coisa?

Ah, saco!

Bufando eu me sentei e digitei que está tudo ótimo e que Nolan inclusive tinha vindo me visitar ontem.

Papai respondeu que gostaria de me fazer uma visita para ver como eu estava e notei que ele estava preocupado e me senti um pouco culpada.

 

Não precisa, pai. E como você está? Comendo direito?

 

Papai respondeu logo.

 

Posso te fazer a mesma pergunta, mas não se preocupe. O Owen e o Bobby têm me convidado para jantar com eles algumas vezes. Aliás, eu jantarei hoje na casa deles, é aniversário do Owen. Não esqueça de lhe dar os parabéns. Ele ficaria feliz de falar com você, ainda são amigos, não são?

 

Eu apertei os lábios, sentindo aquela onda de culpa que sempre sentia quando pensava em Owen.

Então decidi seguir o conselho do meu pai e ligar pra ele.

— Oi Owen, feliz aniversário.

— Mandy? Uau, que surpresa. — Ele parecia feliz em ouvir minha voz e eu sorri.

— É seu aniversário, claro que ia te ligar para lhe dar os parabéns.

— Obrigado! Poderia vir para cá. Não veio visitar Camden nem uma vez nessas semanas. Que tal vir comemorar meu aniversário comigo? E minha família, claro — acrescentou.

— Eu não posso...

— Por que não? Sabe que não pode só ficar estudando direto, precisa de descanso e seu pai vai amar te ver.

— Eu sei, vou me programar para visitá-lo em breve, provavelmente só no feriado de Ação de Graças.

— Ainda faltam quase dois meses! Por favor, venha. Ainda dá tempo de jantar com a gente hoje.

— Pare de insistir que posso ficar tentada a ir mesmo.

— Então você vem! E aí como você está?

— Estou bem.

— E... Nolan? Como estão se virando com esse afastamento?

— Owen, não sei se quero falar sobre mim e Nolan contigo.

— Alguma coisa errada? — Aparentemente ele detectou algo na minha voz.

— Não... que dizer — hesitei. Havia uma parte de mim que queria desabafar com alguém, mas Owen certamente não seria a pessoa mais indicada.

Ele tinha ressentimento com o Nolan e quem poderia culpá-lo?

— Eu sei que tem alguma coisa errada. Não é legal vocês estarem em cidades separadas.

— Você ficaria feliz, né? Se não desse certo entre mim e Nolan — acusei sem me conter.

— Eu não vou mentir. Você me conhece a vida toda. Eu não pude fazer nada depois que engravidou dele. Você fez sua escolha. E eu não quero ver você sofrendo e insegura, como parece estar agora, só quero que seja feliz. Se Nolan Percy provar que vai te fazer feliz, eu acho que teria que me conformar. Mas sinceramente, até agora, não parece ser este o caso.

— Como sabe que não sou feliz com o Nolan?

— Porque eu te conheço a vida inteira.

— É, as coisas não ficaram bem por eu estar aqui e ele lá em Nova York — confessei.

— E até quando vão sustentar isso?

— Eu não sei. O que você faria, Owen? — indaguei baixinho. — Se ainda namorássemos? Eu teria vindo para a faculdade e você ficaria em Camden. O que aconteceria com a gente?

— Eu iria atrás de você, onde fosse — exclamou com intensidade. — Se você me quisesse eu iria agora atrás de você. Cuidar de você, estar com você. É só o que quero, Amanda.

— Eu falei hipoteticamente, Owen.

Ele riu.

— Eu sei, também estou falando hipoteticamente.

Fechei os olhos me perguntando se eu estaria feliz com Owen.

Se eu pedisse que ele viesse morar comigo em New Haven.

Owen era fácil e simples.

Não era aquela montanha-russa de emoções que fazia meu coração ir à boca o tempo todo como com Nolan.

Mas eu não era mais a Amanda do Owen e o tempo não voltava.

Suspirei, abrindo os olhos.

— Enfim, feliz aniversário. Eu desejo só o melhor pra você, Owen. Quero que seja feliz.

— Eu também quero que seja feliz. Então, se precisar conversar, por favor, me liga. E se precisar de alguém aí, pode me pedir, que eu vou.

— Eu não acho que é pra você que eu tenho que ligar, se precisar.

— Mas é bom saber que você tem essa opção. Eu sempre estarei aqui, Amanda. Então, você está vindo?

— Tenho aula amanhã.

— Amanhã é sexta-feira. Só perde um dia, não é tão ruim assim.

Suspirei, concordando.

— Ok, eu vou.

 

Quando estava me arrumando para ir pra Camden, passei pela sala e Sabrina estava lá com alguns amigos, incluindo Joe.

Eu fiquei sem graça, pois estava de calça de pijama e uma regata curta.

— Ei, olha quem apareceu... — Sabrina sorriu ao me ver.

— Oi pra vocês.

— Por que não se junta a nós? — Joe indagou interessado.

Eu peguei o livro que deixei em cima da mesa, para pôr na minha bolsa.

— Desculpa, estou me arrumando pra ir pra minha cidade. Saio daqui a pouco.

Voltei para o quarto e Sabrina foi atrás de mim.

— Ei, estava louca pra falar com você! Quem é aquele gato que esteve aqui te procurando ontem? E eu vi ele saindo do seu quarto de madrugada! Que safada, Amanda! Por isso não saía com a gente?

— Aquele é Nolan Percy.

— Ele estuda aqui em Yale?

— Não, em NYU.

— Ah que pena, quer dizer. Não vou furar seu olho nem nada, mas... o lance entre vocês é sério e... — Ela parou olhando para alguma coisa na minha barriga. — Nossa, agora que eu vi que está engordando! Que barriguinha é essa, gases? Olha tenho um suco detox que vai ajudar e...

— Não vai ajudar, Sabrina.

— Claro que vai. Ele é poderoso e...

— Estou grávida.

O queixo de Sabrina caiu.

— Não brinca!

— É, não estou brincando — confessei sem graça. — Estou no quarto mês já.

— Minha nossa, que... horrível. Quer dizer. — Foi a vez dela de ficar vermelha. — Não quis dizer isso.

— Quis sim. E de certa forma, é horrível mesmo. Mas não tem nada que eu possa fazer.

— Desculpa ser intrometida mas... como assim está grávida e você já chegou aqui assim. Já sabia? Aí pelo amor de Deus, não diga que vai ter o bebê aqui e... credo, não vai dar certo.

— Sabrina, se acalma.

— Desculpa se estou surtando que minha colega de quarto está prestes a parir. Olha, minha prima tem um bebê e é superbarulhento e nojento e...

Eu engoli a vontade de mandar ela calar a boca enquanto fechava minha pequena mala.

— E eu nem sei se é permitido ficar com um bebê aqui! Não é contra o regulamento?

— Eu não faço ideia...

— E o pai do bebê. Ah, é aquele cara que estava aqui ontem?

— Sim, é.

— E por que não estão juntos?

— Na verdade, nós somos casados.

— O quê? Mentira! — Sabrina estava chocada ainda agora. — Meu Deus, quem é você?

Eu ri, totalmente sem humor.

— Essa sou eu, aparentemente. Amanda Thomas, ou pode me chamar de Amanda Percy, embora não tenha trocado meu nome ainda e nem sei se vou trocar, porque na verdade nem sei se eu e o meu.... marido, estamos juntos. Mas sim, eu tenho 18 anos, engravidei ainda no colégio, me casei, porque meu pai me obrigou e agora essa é minha vida.

— Nossa... parece aquelas novelas ruins da tarde.

— Pois é. Agora você pode sair? Preciso me trocar.

— Claro...

Ela saiu ainda apalermada e eu me arrumei.

Sentia embaraço agora em pensar que provavelmente Sabrina estava contando as fofocas da minha vida para seus amigos na sala.

Mas também me sentia aliviada.

E mais preocupada ainda, porque com sua consternação, ela jogou várias verdades inconvenientes na minha cara. Questões práticas que eu vinha evitando pensar.

Quando finalmente me arrumei e saí do quarto, todos pararam de falar imediatamente olhando pra mim.

— Podem continuar fofocando sobre mim — dardejei com falso humor.

Até Joe parecia me encarar como se eu fosse uma alienígena agora, isso quando não desviou o olhar quando eu o encarei.

Claro, eu era a universitária gostosa antes de estar quase parindo.

— É... tchau pra vocês.

Saí do prédio e entrei no carro que havia alugado especialmente para viajar, um pouco perturbada, mas feliz de estar saindo de New Haven por um tempo, assim ficaria longe de Sabrina e seus amigos curiosos.

Mas será que ir ver Owen era a coisa certa agora?

Revivi nossa conversa e voltei a me sentir culpada.

O tempo estava passando e Owen continuava esperando por mim.

Só que eu estava em outra estrada agora.

“Dar ré e retornar para o começo, não é nenhum pecado.”, uma vozinha sussurrou, mas eu ignorei.

Talvez, de certa forma. Se eu deixasse Nolan e voltasse para Owen, minha vida seria mais fácil, mas nem sempre o fácil era o mais atraente.

Ou era o que o coração queria.

Com um suspiro, peguei a estrada. Mas não era pra Camden.

 

Já era noite quando cheguei em Nova York duas horas depois e estacionei em frente ao elegante prédio em Upper East Side.

Claro que os Percy moravam em um endereço exclusivo.

Meio intimidada, fui até a portaria chique e disse que iria até o apartamento de Nolan Percy.

— Claro, pode subir.

Achei estranho o porteiro não interfonar, apenas me avisar que era na cobertura.

Agora me sentia apreensiva e ansiosa.

Eu deveria ter avisado a Nolan que vinha, mas era tarde.

Respirando fundo, eu saí do elevador e toquei a campainha. A porta se abriu e Jace apareceu.

— Olha só quem está aqui? Também foi convidada para a festa, cunhadinha?

Eu olhei através dele. Estava acontecendo uma festa ali?

Muitas pessoas se moviam e bebiam.

E dançavam ao som de algo que parecia um DJ.

E Jace parecia totalmente bêbado.

— Cadê o Nolan? — indaguei começando a sentir um déjà-vu do horror.

Então Nolan não estava indo a festas.

Ele estava dando festas na própria casa.


Capítulo 17

 

Amanda

 

— Não sei. — Jace riu, tomando mais um gole de cerveja e de repente uma ruiva se pendurou nele.

— Ei, linda, já falei que sem chance! Minha gata é ciumenta.

E ele empurrou a ruiva que parecia igualmente bêbada.

Eu passei por ele e entrei, olhando em volta.

Sentindo a revolta crescer dentro de mim. Então era assim que Nolan estava vivendo ali?

A vontade que eu tinha era de dar meia-volta e sumir dali, mas respirei fundo e dei o primeiro passo, passando por entre as pessoas, procurando Nolan com o olhar.

Até que cheguei à cozinha. E lá estava ele.

Sentado em volta da mesa com Austin. Uma moça loira, enchia taças de bebida numa pia.

Austin foi o primeiro que me viu.

— Amanda?

Nolan se virou surpreso.

— Amanda?

— Este ainda é meu nome. — Havia um iceberg inteiro na minha voz agora.

Com poucos passos, Nolan estava na minha frente.

— O que está fazendo aqui?

— Foi uma decisão de última hora. Quis fazer uma surpresa. Mas acho que não escolhi um bom dia — falei enquanto a loira pedia licença e passava segurando duas taças. — Quem é essa?

— Não faço ideia.

— Então é assim que passa suas noites aqui?

— Ei, não fui eu quem inventou isso. Foi ideia do Jace e da Stella. É a ideia deles para tirar Austin da fossa.

E falando em Stella, ela entrou na cozinha trajando um minivestido.

— Ei, vocês dois vão ficar aqui a noite inteira?... — Então parou ao me ver. — Oh, de onde você saiu?

Eu bufei e Nolan fuzilou Stella com o olhar.

— Saia daqui, Stella.

— Mas a festa é para o Austin! Não é legal que ele fique aqui depois de todo o trabalho que eu tive...

— Eu falei que não estava a fim — Austin resmungou se levantando. — Eu tô fora.

— Aonde vai?

— Pra minha casa. Boa noite.

— Não, não pode...

— Deixa ele, Stella — Nolan falou.

Ela o encarou irada.

— A gente só queria ajudar! — exclamou dando meia-volta e desaparecendo.

Nolan me encarou tenso.

— O que rolou aqui? — indaguei sem entender.

— Samantha e Austin terminaram.

— Oh...

— Parece que eles não são tão maduros assim para um relacionamento a distância, como parecia. Austin está arrasado e Jace acha que tudo se resolve com festa e bebida.

Ah... Eu mordi os lábios, ainda perturbada.

Eu estava certa de que aquela festa era mais uma obra do Nolan Percy.

Mas até onde ele não tinha nada a ver com isso?

— E por que não me disse que estava vindo? Dirigiu sozinha até aqui? Que porra, Amanda!

— Eu já falei que decidi do nada.

De repente fiquei vermelha ao me lembrar que na verdade eu combinei de ir ver Owen, mas era melhor Nolan não saber disso.

— Ei, cadê a loira? — Uma moça morena parecendo bem bêbada cutucou meu ombro. — Ela disse que tinha mais bebida aqui... Ai, acho que vou vomitar.

Nolan soltou uma imprecação e segurou minha mão.

— Vamos sair daqui.

Ele me puxou por uma escada em espiral até um corredor e abriu a terceira porta, acendendo a luz.

Devia ser seu quarto.

— Eu realmente sinto muito por isso tudo. Jace e Stella perderam a noção.

— Vocês dão muitas festas assim? — indaguei tentando não soar ciumenta, mas com certeza sem muito êxito.

— Jace e Stella são bastantes populares, como deve imaginar.

— Então a resposta é sim — murmurei contrariada ao imaginar Nolan sempre no meio dessas festas. Cheia de garotas disponíveis.

Não era uma visão agradável.

— Não coloque coisas na sua cabeça absurda, Amanda. — Ele veio em minha direção e segurou meu rosto. — Porra, não acredito que está aqui!

Eu aspirei devagar.

— Sim, estou aqui... — murmurei esquecida do resto.

E ele me beijou.

Eu era um caso perdido.

Mas abraçar Nolan era como estar em casa depois de uma longa viagem. Num lugar quente e protegido. E meu.

E aprofundei o beijo, traçando o contorno de seus lábios com a língua para depois adentrar, suspirando. Minhas mãos subindo para torcer seus cabelos.

Mas Nolan me afastou.

— Deve estar cansada.

Eu dei de ombros, com um risinho e me sentei na cama.

— Louca para ir para a cama, na verdade.

Ele sorriu de lado, se inclinando para beijar minha boca, ciente do duplo sentido nas minhas palavras e eu o puxei, até que estivéssemos sobre a cama.

A música e os barulhos da festa chegavam até nós, mas eu não me importava.

Porque Nolan estava ali comigo, tirando minhas roupas, beijando minha boca, desvendando minha pele e eu apenas suspirava, não só de prazer, mas de uma satisfação fremente de tê-lo comigo. A ausência era dolorosa demais, forte demais. E eu só queria que não acabasse nunca, que sua presença tão efêmera ficasse impregnada em mim, como seu cheiro, seu toque, seu gosto.

E então as roupas tinham desaparecido e eu abri os olhos, para contemplar sua beleza agressiva, as tatuagens que desciam por seus braços e peito, me tiravam o fôlego.

E ele me contemplou também, e seus olhos se iluminaram, seus lábios, leves como pluma, deslizando por meu estômago e pousaram na minha barriga levemente intumescida.

— Está diferente.

— É assustador, não é?

— Pra cacete — concordou sorrindo daquele jeito lindo e me beijou entre as pernas me fazendo gritar.

Caramba, por que tinha que ser sempre tão bom?

Mas queria mais. Eu o puxei para mim, me movendo para cima dele, meus dedos impacientes, percorrendo seu corpo até sua ereção e Nolan gemeu.

— Eu quero você dentro de mim — pedi num sussurro rouco e ele se ergueu, enquanto eu me sentava nele, adorando senti-lo inteiro dentro de mim.

— Será que isso pode machucar? — indagou indeciso e eu sorri.

— Duvido...

E mexi meus quadris, buscando mais atrito, nossos corpos encontrando o ritmo enquanto mantínhamos o olhar preso um no outro. Meus mamilos roçavam em seu peito e estremeci, sentindo o prazer quente e perfeito se enroscar dentro de mim, enquanto nos movíamos os sons da festa ficando distantes e sendo substituídos pelo som de nossas respirações e gemidos ofegantes.

E havia agora uma nova nuance. Uma suavidade, um controle, como se ele temesse mesmo me machucar de alguma maneira, mas mesmo assim era perfeito e me fez soluçar, me agarrando a seus ombros suados buscando mais, até que fosse demais para suportar e eu me desmanchei. Com ele. Para ele.

Somente ele.

 

E depois, nós ficamos ali, aninhados, seus dedos suaves desenhando arabescos em minha pele, na minha barriga e meus braços a sua volta, como se temesse que ele fugisse, ou se desmaterializasse de alguma maneira.

— Não posso deixar você ir embora — disse de repente e eu ri contra a pele do seu peito morno.

— Ainda tenho o fim de semana.

Mas Nolan me afastou um pouco, para que eu o encarasse.

— Fica comigo.

— Estou com você.

— Estou pedindo para ficar comigo aqui. Em Nova York. Que não volte para Yale.

— Disse que não ia me pedir mais isso.

— Sim, estou pedindo. Implorando, na verdade.

Eu o fitei sem conseguir responder.

Na minha mente voltaram as palavras de Sabrina.

— Por favor, Amanda, apenas... Não vá embora.

De repente era tentador escutar Nolan e desistir de tudo.

Ficar com Nolan ali, todos os dias. Todas as horas.

— Sinceramente, se você não fizer isso. Eu vou trancar meu curso e ir ficar com você.

— Não faria isso!

— Acha que é só Carlton Cooper que faz loucuras por amor?

Eu ri, da colocação idiota.

— Carlton não foi atrás de mim!

— Que seja. Não dá pra deixar você lá sozinha.

Eu suspirei, cansada.

— Olha, vamos apenas curtir este momento, ok? Podemos falar sobre isso depois. Só quero dormir agora.

— Tudo bem. Mas teremos que voltar ao assunto.

 

— Que horas são? — murmurei quando Nolan saiu da cama.

Ainda parecia muito cedo para mim.

— Fique aí, ainda está cedo.

— Aonde vai?

Ele riu se inclinando para me beijar de leve.

— Para a faculdade. Fique dormindo.

— Está bem — murmurei fechando os olhos e realmente voltei a dormir e nem vi quando ele saiu.

Acordei algumas horas depois. Olhei o relógio e passava das dez.

Agora eu pude reparar no quarto de Nolan. Era enorme, com vista para o Central Park. Depois de uma chuveirada, eu desci as escadas, ainda incerta e tomei um susto ao ver umas cinco pessoas na sala, limpando a sujeira.

Passei pela cozinha e Austin estava ali.

— Quem são essas pessoas?

— Equipe de limpeza contratada pela Stella.

— Não tem empregados aqui?

— Tem, mas eles vêm algumas vezes por semana. Nolan e Jace queriam a casa só pra eles. Sabe, para não ter vigias que vão dedurá-los para o pai.

— Ah, entendi.

— E o que está fazendo aqui?

— Na verdade, eu vim te ver.

— Sério?

— Eu estava um pouco mal-humorado ontem e nem falei contigo direito. Quer café? — Ele me ofereceu uma xícara e eu aceitei.

Eu o fitei solidária.

— Eu sinto muito por você e a Sam.

— Pois é. Eu também sinto. Eu devia saber que talvez não desse certo. Mas a gente tinha que tentar. Que outra opção tínhamos?

— É, Paris é bem longe.

— Sim, seria mais fácil se ela decidisse estudar aqui. Torci pra que esse lance de Paris não desse certo, na verdade.

— Mas ela está fazendo algo que sonhou. Ela é livre para isso — eu defendi Samantha.

— Sim, estou tentando pensar nisso. Mas liberdade não é só sobre ir e vir. É sobre escolher deixar se prender por algumas raízes, porque as raízes prendem, mas também fortalecem. É como criamos vínculos. Liberdade é bom, mas é um troço por vezes egoísta também. E às vezes solitário.

— É uma questão de escolher. A gente sempre escolhe uma coisa e renuncia a outra, não é? Ela escolheu Paris e renunciou a você.

— Eu sei. Não é fácil estar do lado perdedor. Agora preciso me acostumar a ficar sem ela.

— Sei como é isso.

Ouvi uma voz gritando na sala e portas sendo abertas e fechadas.

Stella entrou na cozinha vestindo apenas um roupão e com cara de poucos amigos.

— Gente inútil!

— O que foi agora, Stella? — Austin indagou.

— Este povo fazendo barulho, como é que posso dormir?

— E Jace, conseguiu acordar para ir pra aula?

— Por um milagre conseguiu.

De repente ela olhou pra mim.

— Oh, tinha me esquecido que estava aqui.

— Tudo bem para mim se continuar esquecendo — respondi seca.

Era melhor Stella me ignorar do que ficar jogando farpas.

Stella franziu a testa, provavelmente não esperava essa resposta.

— Vou subir, tomar um banho e sair para fazer as unhas. Talvez uma massagem. Preciso me recuperar. Tenho uns testes agora à tarde.

E saiu arrastando os pés.

Eu me levantei e lavei as xícaras.

— E você não deveria estar na aula também?

— Não estava muito no clima para estudar.

— Aposto que Samantha não está perdendo suas aulas de moda em Paris.

Ele sorriu.

— Não mesmo. E o Nolan está na aula, presumo.

— Sim.

— Nolan está bem diferente. Frequenta as aulas, estuda. Não fica mais naquelas festas malucas de antes...

— Está diferente mesmo? — Eu me virei interessada.

— Sim, ele se parece mais com o cara que conheci, sabe, antes da mãe dele morrer.

— Acha que ele... mudou de verdade?

— Não sei. Talvez só o tempo dirá. Mas as pessoas mudam, Amanda. Elas amadurecem. As coisas que acontecem com a gente, boas ou ruins, nos modificam. É essa a beleza de estar vivo. Somos seres em constante mutação.

— Que filosófico...

— Um cara de coração partido fica assim.

Eu apertei sua mão.

— Estou torcendo para você ficar bem, ok?

Eu subi para o quarto e ocupei meu tempo desfazendo as malas e depois que olhei pela janela e vi Stella entrando no carro e desaparecendo, saí do quarto e desci.

A sala ainda estava parcialmente zoneada e como não tinha mesmo o que fazer, acabei de limpar.

Nolan entrou na sala quando eu fechava o último saco de lixo.

— O que está fazendo?

— Colocando lixo para fora.

— Não me diga que estava limpando a casa?

Eu dei de ombros.

— Passando o tempo.

— Achei que Stella tinha contratado uma empresa.

— Ela os mandou embora porque não a deixava dormir.

— Ela devia limpar a bagunça então. Ou chamar um dos empregados do meu pai. Eles virão na hora como cachorrinhos.

— Eu não ligo. Me ajudou a passar o tempo. E aí, acabou por hoje?

Ele sorriu, passando os braços por meu ombro.

— Sim, agora sou todo seu.

— Isso parece muito bom.

— O que quer fazer?

— Hum... Conhecer a cidade?

— Achei que ia propor outra coisa.

Eu revirei os olhos me afastando.

— Está na minha lista, mas não é prioridade no momento.

— Isso magoa, Amanda.

— Na verdade, a primeira coisa na minha lista de prioridades é comer.

— Então vamos sair. Aproveitamos e damos uma volta.

— Podemos chamar Austin? — pedi.

Nolan não pareceu muito satisfeito.

— Tem certeza?

— Ele parece deprimido. Fiquei com pena.

— Sim, tem razão. É que quando estou com você, eu esqueço das outras coisas. Ao contrário de você, a minha lista tem outro primeiro lugar.

Eu ri ficando na ponta dos pés para beijá-lo rapidamente.

— Procurem um quarto. — Austin saiu da cozinha.

— Na verdade, vamos sair para comer e íamos te chamar — anunciei.

Ele pareceu indeciso.

— Não quero atrapalhar o momento de vocês.

— Não atrapalha. Sério.

Ele acabou aceitando e saímos os três.

Austin ainda estava meio deprimido, mas ele era uma boa companhia.

E no fim do dia até tínhamos dado algumas risadas juntos. Eu gostava de ver como Nolan se dava bem com Austin e acho que uma amizade assim, com um cara mais calmo — e sensato — faria bem a Nolan.

Quando voltamos, anoitecia e Stella e Jace estavam na sala vendo TV.

Na verdade, Stella ria ao telefone, mas pareceu ficar estranha quando entrei e murmurando algo baixo desligou.

— Até que enfim apareceram.

— Fomos mostrar a cidade a Amanda — Austin respondeu.

Stella sorriu com sarcasmo.

— Você foi segurar vela, é isso?

— Cala a boca, Stella — Nolan pediu me puxando para o sofá.

— E aí cunhadinha, gostou da cidade? — Jace indagou.

— É legal — respondi evasiva.

— Vai ficar até quando?

— O fim de semana — respondi.

Stella começou a lixar a unha, mas lançava olhares para nós de vez em quando.

Austin parecia perdido em seus próprios pensamentos e Jace totalmente entretido com o jogo.

Os braços de Nolan estavam à minha volta e ele roçava os lábios em meu rosto, em minha orelha e eu ria, quando fazia cócegas.

— Pelo amor de Deus, temos mesmo que ficar vendo isso? — Stella exclamou e eu fiquei vermelha.

Nolan riu.

— Pode sair Stella, ninguém te impede.

Ela bufou.

E Nolan riu em meu ouvido.

— Não liga para ela.

— Melhor parar, Nolan.

— Ela está com inveja.

Ele disse isso baixo, mas claro que Stella conseguia ouvir e nos lançava olhares mortais.

— Mas me deixa com vergonha — falei e ele riu e se levantou, me puxando.

— Vamos subir então.

Nós subimos as escadas e eu pude ouvir as vozes dos seus irmãos.

— Isso vai ser confusão na certa — Stella falou mais séria do que eu esperaria dela.

— Não é problema seu, baby — Jace disse.

E eu não ouvi mais nada. Ia perguntar para Nolan do que eles estariam falando, mas ele mal esperou a porta se fechar para me beijar.

E eu esqueci do resto.

 

Na manhã seguinte, Nolan me surpreendeu dizendo que tinha uma reunião com um grupo de estudo.

— Sério?

— Sim.

— Minha nossa, você virou um nerd ?

Nolan riu com vontade.

— Posso cancelar pra ficar com você.

— Não, não cancele por mim.

— Quer vir?

— Não vou atrapalhar?

— Não vai durar muito. E você pode conhecer a universidade.

— Ok! — Aceitei o convite, porque meu tempo com Nolan era curto e não queria desperdiçar.

Quando chegamos ao campus, eu me senti um pouco sem graça.

— Tem certeza de que não vou atrapalhar?

— Claro que não.

Nolan me guiou até a biblioteca e havia um grupo de alunos lá, uns três garotos e uma garota asiática com cabelo roxo.

— Essa é Amanda, pessoal. Minha garota.

Eu acenei, sem graça.

— Por favor, não quero atrapalhar. Ajam como se eu não estivesse aqui.

Eu me sentei um pouco afastada enquanto eles começaram a conversar.

De repente meu celular tocou e eu sussurrei um “desculpa” me levantando para ir ao corredor atender, quando vi que era Owen.

Droga, esqueci do Owen!

— Owen, nossa desculpa.

— Está tudo bem? Estranhei quando não veio...

— Eu tive que mudar os planos...

— Como assim?

— Estou com Nolan.

— Ah... — Ele parecia decepcionado.

— Desculpa não ter te avisado.

— Eu fiquei preocupado, só isso — mentiu. — Ainda bem que nem tinha avisado ao seu pai que viria.

— Desculpa mesmo.

— Tudo bem.

Ele desligou e suspirei sem conseguir conter a onda de culpa.

Voltei à sala e me sentei no mesmo lugar.

Nolan parecia absorto na discussão e era uma surpresa vê-lo assim, todo compenetrado falando sobre alguma coisa que achei ser teoria da arte enquanto a moça de cabelo roxo digitava em seu laptop.

Nossa, Nolan estava mesmo gostando daquilo.

Quando acabou, eles se dispersaram e Nolan me estendeu a mão.

— Demorei?

— Não. Não entendi muita coisa, mas parecia um assunto fascinante.

— É fascinante sim.

— Você gosta mesmo disso, né?

— Mais do que achei que gostaria. Vamos conhecer o campus?

— Claro.

Nolan começou a me levar pelo campus, me apresentando tudo.

— Nossa, Nolan Percy nerd é muito bonitinho — brinquei o abraçando quando estávamos saindo do prédio da NYU.

Nolan riu.

— Ninguém nunca me chamou de nerd .

— Mas acho que você é. Sinto dizer. Fico feliz que esteja curtindo seu curso. Seus novos colegas parecem interessantes. Acho que quando falou em grupo de estudo, imaginei um monte de garotas loiras e bonitas.

— Por quê?

— Eu não sei. Acho que faz o seu tipo.

— Você faz meu tipo.

— Se diz... — Comecei a caminhar em direção a seu carro, mas ele me puxou, meio sério.

— Amanda, eu falei sério. Eu vou trancar o curso.

— Por que diabos faria isso? Está adorando o curso!

— Eu te falei. Não vou deixar você sozinha em Yale.

— Nolan, isso é bobagem.

— Não é.

— Sério que faria isso?

— Sim, eu faria.

Ele me guiou até o carro.

— O que quer fazer agora? Almoçar e depois conhecer mais a cidade?

Eu sorri, mas estava com o pensamento longe.

Nós passamos o dia juntos e senti uma felicidade agridoce, pois estava acabando. Sua sugestão pairava sobre minha cabeça.

Mas eu não queria que Nolan desistisse de algo que estava gostando.

A outra opção é você desistir de algo que está gostando.

Droga, em algum momento eu não teria que desistir mesmo?

Coloquei a mão na minha barriga enquanto eu e Nolan entrávamos em seu quarto naquele fim de tarde.

O bebê estava cada vez mais presente agora. Um lembrete de que eu não podia mais tomar as decisões pensando só em mim.

E não precisava ser pra sempre. Seria apenas colocar em compasso de espera.

Escolhas e renúncias.

Parecia que a vida adulta estava esmurrando minha porta com força, me obrigando a encarar isso.

Por mim. Por aquele bebê. Por Nolan.

Por nós.

Eu podia fazer isso.

— Eu vou ficar aqui.

Nolan levantou o olhar do celular, que ele estava mexendo distraído.

— O quê?

— Eu vou... trancar meu curso. Por enquanto — falei rápido. — Em algum momento eu teria que fazer isso mesmo e eu posso voltar no próximo ano, não é?

Nolan me puxou e me beijou.

E então levantou a cabeça me fitando.

— Está falando sério?

Eu sorri.

— Muito sério, Nolan Percy. Vai ter que me aguentar aqui agora.

Ele sorriu de volta.

O sorriso mais lindo do universo.

E estávamos rindo feito crianças e ele me beijou depois de um modo nem um pouco infantil e de novo eu estava perdida nele.

Por um tempo indeterminado agora.

Como disse Austin, liberdade não é só sobre ir e vir. Era também sobre se prender em algumas raízes.

Era questão de escolhas e renúncias.

Liberdade era bom, mas eu não queria mais estar sozinha naquele momento.


Capítulo 18

 

Amanda

 

Um alívio agridoce tomou conta de mim depois que decidi finalmente deixar Yale.

Não era como se eu estivesse totalmente feliz, mas sentia que era uma decisão correta, dadas às circunstâncias.

Entendi que eu não podia pensar só no que eu queria.

Eu mantive minha gravidez, minha barriga ia crescendo cada vez mais, tornando impossível que eu fingisse que ela não existia.

Assim como decidi ficar com Nolan e tinha que assumir ele também.

Ok, a parte do Nolan não era nada ruim. Pelo menos por enquanto.

Ele parecia genuinamente feliz e até mesmo um pouco arrogante agora que tinha me dobrado, mas eu estava curtindo de novo ficar com ele por perto.

Na semana seguinte que resolvi ficar em Nova York, nós voltamos com Jace ao Campus, apenas para que eu cuidasse dos trâmites burocráticos e fizesse minha mudança.

Sabrina não ficou triste quando descobriu que eu ia partir, na verdade deve ter ficado bem aliviada por não ter que lidar com uma grávida ou um bebê.

E quem não ficou feliz com minha decisão foi Stella.

Naquela mesma noite, Nolan havia avisado que eu não iria mais embora.

— Amanda não vai voltar para Yale.

— Como assim? — Stella indagou.

— Você entendeu. Amanda vai ficar aqui comigo.

— Morando aqui?

— Sim, algum problema?

Ela deu de ombros.

— Claro que não — falou, mas parecia tensa.

Tudo bem que Stella não ia muito com a minha cara, mas achei que ela realmente não se importaria se eu estivesse ali ou não, preocupada somente com seu próprio umbigo.

Ela olhou para Jace e ele deu de ombros.

— Bem-vinda — ele disse, tomando um gole de sua cerveja.

— Obrigada.

Ao que parecia, Jace não estava mais cismado comigo.

Assim, em uma semana minha vida virou do avesso novamente e eu fui morar com Nolan em Nova York.

Ele saía todas as manhãs, quando eu ainda estava dormindo e voltava no começo da tarde. Eu o esperava ansiosa e ele me beijava como se não tivéssemos nos visto há anos.

Nós almoçávamos juntos e eu fazia a comida, já que não tinha nada pra fazer mesmo. Nolan disse que eles comiam num restaurante ou na faculdade antes. Mas desde o primeiro dia que Jace e Austin chegaram juntos e eu disse que tinha feito comida, eles pareceram bem satisfeitos de comer também. E Austin parecia quase um irmão, pois estava sempre por perto. Embora ele e Sam continuassem separados, ao que eu sabia.

Quando estava em casa, Stella comia também, embora sempre reclamasse que “nem está tão bom assim” quando Jace me elogiava, ou dizia que teria que passar horas malhando para não engordar com aquela comida “tão calórica”.

Eu não me importava, na verdade. Ela que falasse o que quisesse.

Porque Nolan estava invariavelmente segurando minha mão por baixo da mesa e se inclinando de tempos em tempos para roçar os lábios em meus cabelos.

E estávamos em nosso próprio mundo de felicidade.

Ele passava a tarde estudando e eu lia.

Ou fingia que lia, deitada sobre a cama, enquanto ele fazia relatórios, digitando rapidamente em seu laptop, concentrado, ou se concentrava em seus desenhos.

Até que ele desviava o olhar e me pegava o encarando e então colocava o laptop para o lado e os estudos eram esquecidos, dando lugar a outras prioridades.

Stella ou Jace geralmente desapareciam em algum compromisso social à noite, o que era bastante frequente. E um alívio também. Na maior parte do tempo quando nos trombávamos pelo apartamento, Stella fingia que não me via. Mas às vezes eles ficavam em casa. Stella com cara de tédio, mexendo no celular e tirando fotos para suas redes sociais e Jace tentando chamar sua atenção. Austin também ficava com a gente algumas noites, assistíamos algum filme que geralmente só eles prestavam atenção, porque eu e Nolan estávamos totalmente distraídos um com o outro.

De qualquer maneira, Jace sempre acabava fazendo alguma piada maliciosa, ou Stella comentários mordazes e nós desistíamos de ser sociáveis e íamos para o quarto.

— Deus, eles parecem coelhos! — Stella exclamava.

E nós ríamos.

Entramos em dezembro e o frio aumentou. Assim como minha barriga de seis meses de gravidez. E como tudo tinha um prazo para terminar, nossa aparente tranquilidade também começou a se esvair.

 

Talvez tenha começado no dia em que acordei com uma ligação de Nolan.

— Amanda, desculpa te acordar, mas será que pode trazer pra mim um relatório de arte moderna que eu esqueci aí?

Eu fui até a mesa e o peguei.

— Está aqui... Eu levo sim.

— Não ia pedir isso se não fosse importante. Mas pode me trazer?

— Claro.

Eu me arrumei rapidamente e saí, dirigindo pelas ruas frias de Manhattan, até o bairro de East Village. E sinceramente não estava preparada para me sentir meio saudosa, enquanto percorria o Campus para encontrar Nolan.

Era para eu estar em Yale. Sendo uma universitária como aqueles alunos. Em vez de estar em casa sem ter absolutamente nada para fazer e contando as horas para Nolan aparecer. Era meio deprimente isso, realmente.

Mas eu estava grávida, não era? Em três meses eu teria um bebê. E de qualquer maneira teria que parar com tudo, mesmo se tivesse insistido em permanecer estudando. Ou talvez até mesmo antes.

Estes pensamentos mancharam um pouco a aparente felicidade que eu vinha sentindo nas últimas semanas.

Eu achava que estava tudo perfeito. Completo.

Mas no fundo, não estava.

Ou talvez eu estivesse apenas sendo mal-agradecida ao destino e reclamando de coisas sem sentido. Que nunca poderiam ser mudadas.

— Amanda.

Nolan surgiu na minha frente e eu tentei sorrir, disfarçando meu desânimo.

Mas acho que não tive tanto sucesso porque ele franziu a testa.

— O que foi? Está tudo bem?

Eu dei de ombros.

— Sim, tudo bem. Aqui seu trabalho. — Eu lhe passei a pasta e ele acariciou meu rosto.

— Me salvou hoje.

— Acho que te devia uma, não é? Por ter ficado com a culpa da cola em biologia, lembra?

Ele riu se inclinando para me beijar de leve.

— Eu ia passar de qualquer jeito.

Eu revirei os olhos, me afastando.

— Metido! Agora volte pra sua aula, senão terá sido em vão eu ter vindo até aqui.

— Eu a encontro à tarde, tudo bem?

— Não vai almoçar comigo?

— Tenho um grupo de estudo.

Eu tentei não ficar desapontada.

Sim, minha dependência de Nolan estava tomando níveis preocupantes.

— Até mais então. — Acenei e me afastei.

Entrei no carro e fiquei um tempo ali.

Olhando o movimento do Campus. E pensando em como minha vida seria diferente se...

Eu sacudi a cabeça negativamente, para tirar aquelas bobagens da minha mente. Ficar pensando “e se...” não adiantava de nada.

Esta era minha vida agora.

Suspirando eu dei partida.

Mas em vez de ir para casa, fui para o Centro e almocei por lá mesmo, aproveitando para ver as ruas e lojas enfeitadas para o Natal que se aproximava. Algumas lojas de roupas de bebê chamaram minha atenção. Eu devia começar a me preocupar com isso logo. Embora, Samantha tenha me dito da última vez que conversamos por telefone que ela estava trazendo várias coisas pra mim. Eu podia imaginar o exagero. E ela ainda ficou brava porque eu e Nolan optamos por não saber o sexo do bebê, da última vez que fizemos um ultrassom.

Nolan disse que seria divertido ser uma surpresa, e da minha parte, fiquei aliviada por estar tudo bem. Era só o que interessava.

Embora não possa negar que pensar em ter um bebê ainda me apavorava pra caramba.

Quando cheguei em casa à tarde ouvi vários risos femininos e ao entrar na sala vi Stella acompanhada de três garotas reunidas na sala.

Eu queria muito ter passado despercebida, mas Stella me viu.

— Oh, apareceu — comentou azeda.

— Fui almoçar fora.

— Não pense que senti falta daquela sua comida gordurosa! Foi um alívio não ter que comer aquilo.

Eu dei um sorriso forçado.

— Tenho certeza que sim.

— Ah, que educação a minha. Essas são minhas amigas — ela falou o nome das três, mas eu nem fiz questão de decorar.

As moças acenaram me medindo curiosas.

— E esta é a Amanda... Esposa do irmão do meu namorado.

Elas arregalaram os olhos.

— Esposa do Nolan? Nem sabia que ele era casado! — comentou uma delas e eu quase podia sentir um tom de decepção em sua voz.

— Sim, ele é — afirmei com mais um sorriso forçado e tirei meu casaco, o pendurando.

— Uau, você está grávida! — uma delas exclamou.

— Lauren, seja mais discreta. — Outra a cutucou.

— Óbvio que está grávida — Stella confirmou, exasperada.

— Bom, vou deixar vocês à vontade. — Saí quase correndo da sala.

Com certeza as amigas de Stella deviam ser tão chatas quanto ela.

E era meio triste lembrar que Stella não foi sempre assim.

Claro, ela sempre foi a mais bonita e era fácil chamar a atenção e usar isso para ter o que queria, sem ter a obrigação de ser agradável o tempo inteiro. Mas ela também era bem-humorada, alegre e uma boa amiga, no tempo em que convivemos.

Até que alguma coisa aconteceu para ela mudar da água para o vinho. E começar a me odiar.

Quando cheguei à cozinha me deparei com uma bagunça.

— Bando de inúteis — resmunguei indo lavar a louça e infelizmente dali eu podia ouvir a conversa na sala.

— Nem acredito que o Nolan é casado!

— Sim, que desperdício, ele é tão gato...

— Eu estava até pensando em...

— Ela só quis vir aqui hoje para ver o Nolan, Stella. Acho que se deu mal, querida.

— Claro que não! Você que parece apaixonada por ele!

— Por que ele se casou tão jovem?

— Porque ela está grávida, não é óbvio? — Stella respondeu com ácido na voz.

— Claro. Tinha que ser. Deus me livre grávida aos 18 anos!

— Você podia ser legal e contar detalhes! — Elas riram. — Sabemos que são muito ricos! Ela é rica também?

— Aposto que não. Aposto que deve ter sido aquele golpe da barriga.

Elas riram mais ainda.

Eu não podia acreditar no que estava ouvindo e respirei fundo para me controlar. Não ia me abalar por aquele bando de imbecil sem cérebro que nem me conhecia.

— Não tem nada pra contar! — Ouvi a voz de Stella. — Amanda era a filha do pastor e tinha um namorado. Um cara que a tratava feito uma princesinha intocável, e Amanda acabou transando com o Nolan, que apostou com o Jace que ia transar com ela.

— Uau, e ainda diz que não tem nada pra contar? Parece história de livro.

— Livro ruim, né? — Stella desdenhou.

— Então de santinha ela não tinha nada! — Elas continuaram rindo.

— Será que tem alguma chance deles se separarem? — Eu parei de ensaboar o copo de vidro em minhas mãos, o segurando com força.

— Sei lá. Eu achei que não ia durar nem um mês, mas eles tiveram alguns problemas e mesmo assim ainda estão juntos.

— Quando o bebê nascer... — Alguém deixou no ar.

— É verdade, muitos fazem isso... Só se casam para consertar as coisas e depois se separam.

— Talvez, quem sabe? — Stella respondeu. — Nolan é um babaca problemático. Não sei como ainda não aprontou uma bem grande pra fazer a Amanda correr.

E então o copo se espatifou na minha mão, os vidros voando dentro da pia, junto com um filete de sangue do meu dedo.

— Ei, Amanda. — A porta da cozinha se abriu e Nolan entrou.

— Oi — murmurei abalada e ele se aproximou pegando meu dedo. — O que você fez?

— Não foi nada, um copo quebrou.

Ele colocou meu dedo embaixo da torneira, estudando meu rosto.

E as risadas de Stella e suas amigas chegaram até nós.

— Ah, acho que já entendi. Não ligue para elas. São todas chatas como a Stella. Vem, deixa essa louça aí para a Stella lavar. Aposto que foi ela quem fez essa bagunça. Vamos subir e colocar um curativo neste dedo.

Nós subimos e enquanto Nolan procurava um Band-Aid para pôr no meu dedo, eu me perguntava se ele conhecia bem aquelas garotas lá embaixo.

— Você as conhece?

— Quem? — indagou distraído, colocando o curativo na minha mão.

— As amigas da Stella. Elas são modelos também?

— Pelo menos estão tentando.

— Elas pareciam conhecer você muito bem...

— Devem ser do meu fã-clube — ele debochou se afastando para tirar a blusa.

— Elas são suas amigas? Costumava sair com elas quando eu não estava aqui?

— Claro que sim. Nós fazíamos orgias incríveis juntos.

Eu peguei um travesseiro e joguei nele.

— Vai brincando!

— Você é tão boba, Amanda.

— Para de me chamar de boba... — De repente eu parei a frase no meio, esquecida do que ia dizer ao sentir um chute na minha barriga. — Ai.

— O que foi? — Nolan estava ao meu lado no mesmo instante.

— Mexeu! O bebê mexeu! — gritei. — Olha, de novo. — Peguei a mão dele e coloquei sobre minha barriga e nos encaramos.

Óbvio que não era a primeira vez que o bebê mexia, mas sempre era a mesma coisa quando sentíamos. Ficávamos surpresos. Assustados. Maravilhados.

— Uau — Nolan exclamou. — Isso machuca?

— Não. É...

Eu não conseguia nem descrever.

Era absolutamente incrível.

Saber que algo vivo estava dentro de mim. Um bebê. Meu e de Nolan.

E eu senti algo tão inexplicável e imensurável que me tirou o fôlego.

— Acho que vai mexer bastante agora... O espaço vai ficando menor.

— São só três meses para ele sair daí.

— Às vezes parece uma eternidade e às vezes parece que é tão rápido...

— Eu sei... Como vamos chamá-lo? Já pensou nisso?

Eu mordi os lábios, ansiosa.

— Eu não sei... Precisamos saber se é um menino, ou uma menina...

— Você disse que não iria querer saber.

— Às vezes eu acho que quero. Samantha ia parar de me encher a paciência, pelo menos.

— Ela está chegando para o Natal em breve.

— Nossa, Natal! Está tão perto. Menos de um mês. Tinha até esquecido.

— Sim, Helena e meu pai nos esperam lá. — Nolan não parecia muito animado.

Theodore havia aparecido apenas uma vez ali, com Helena e, claro, foi um fim de semana tenso, porque Nolan não parecia muito feliz na presença do pai, como se fosse impossível para ele não provocar Theodore.

E Theodore parecia também muito acostumado em detonar Nolan.

— Vai ser bom voltar pra casa. Estou com saudade do meu pai.

Ele sorriu e me beijou e depois deitou a cabeça ali, onde agora o bebê não mexia mais. Provavelmente estava dormindo.

 

Naquela noite no jantar, que foi pizza, já que eu não estava nem um pouco a fim de cozinhar depois de aguentar Stella e suas amigas à tarde, Stella disse que ia dar uma festa.

— Festa para quê? — Nolan indagou contrariado.

Ela olhou para Austin que jantava com a gente.

— Para a Samantha.

— E Samantha é a rainha da Inglaterra agora que precisa de uma festa?

— Claro que sim. É a Samantha! Que não vemos há meses! Vai me proibir de dar uma festa para ela também? Além de tudo o que me proíbe?

— Ei, baby , chega — Jace pediu com um olhar de advertência e Stella e Nolan se encaravam como dois galos de briga.

— Mas Jace, eu só quero dar uma festa para Samantha! Passamos meses nessa casa como se fosse um asilo de velhos...

— Chega! — Nolan bateu na mesa e eu segurei seu braço.

— Nolan, não exagera. É só uma festa... para a Samantha.

Ele me encarou tenso.

— Quem exagera é a Stella.

— É só uma festa. Acho que não tem problema algum. — Eu dei de ombros.

E realmente não achava que seria grande coisa.

Pior seria não fazer a vontade de Stella e ela ficar torrando a paciência depois.

Nolan respirou fundo dando-se por vencido.

— Tudo bem. Espero que saiba o que está fazendo.

— Você é muito chato! — Stella dardejou. — Claro que eu sei! Samantha vai ficar tão feliz com a surpresa!

Nolan me encarou ainda tenso e eu me perguntei por que ele estava tão bravo. Podia ser pela cena que eu fiz quando cheguei e estavam numa festa, ou por estar de saco cheio de Stella?

Mas ainda me parecia uma reação exagerada.

Eu sorri e ele afagou minha mão, beijando meus cabelos.

— Vamos dormir?

— Vamos.

Nós nos despedimos e fomos para o quarto.

E não exatamente para dormir.

***

Os dias que se seguiram foram movimentados com Stella pendurada no telefone, arrumando tudo para a tal festa que aconteceria em uma semana.

E eu já me perguntava se seria mesmo uma boa ideia quando o dia chegou e começou a aparecer gente. E claro, com Stella sendo a rainha da desorganização, muita coisa sobrou pra mim.

A vontade que eu tinha era de me trancar no quarto e não sair mais de lá.

Mas claramente Nolan se veria obrigado a fazer o mesmo e não queria privá-lo de uma festa que era para Samantha.

Ele e Austin tinham ido buscar Samantha no aeroporto e todos os amigos deles já estavam por ali, bebendo e esperando.

As pessoas me encaravam curiosas.

Logo eu, que detestava ser notada. Era mesmo um inferno.

E eu respirei aliviada quando eles chegaram e Samantha saltitou de felicidade ao ver a festa.

— Adorei! — Ela abriu um sorriso radiante, abraçando Stella. — Não está tão perfeita como estaria se eu organizasse, mas...

Stella revirou os olhos, mas riu.

— Claro, não sou você! Mas bebida nós temos!

Samantha riu e me viu, vindo me abraçar.

— Uau, olhe pra você! Enorme!

— Não fala isso! — murmurei mortificada.

— Aposto que nenhuma roupa mais te serve! Eu devia ter pensado nisso...

— Não começa, Samantha.

— Mas eu te trouxe várias surpresas! Mandei direto para nossa casa em Camden, no Natal você verá.

— Ah Deus, tenho até medo de saber.

— Eu não pude resistir, mas e aí, me conta. Como assim mudou pra cá?

— Pois é, agora moro aqui.

— E aguenta a Stella? Sei que não se dão muito bem...

— Eu tento...

Ela riu mais ainda.

— Agora deixa eu ir cumprimentar o pessoal!

Ela se afastou e eu fiquei sozinha.

Comecei a vagar pela casa cheia procurando Nolan.

Quando estava chegando à cozinha, ouvi os gritos de Stella e parei, surpresa.

— Por que tudo eu? Tudo culpa minha? Não era para ela estar aqui! Eu estou fazendo de tudo pra não magoar sua querida Amanda, e a culpa é minha?

Mas do que Stella estava falando?

Nolan se virou neste momento e me viu.

Ele estava furioso.

Por que ele e Stella estavam discutindo?

Stella bufou e se afastou.

— O que está acontecendo aqui?

Nolan passou a mão no cabelo.

— Nada.

— Como nada? Você e Stella estavam aos gritos!

— Stella estava gritando, não eu. E você a conhece.

— Do que ela está falando? Do que a está culpando?

— Esquece isso, Amanda.

— Tem alguma coisa a ver comigo?

— É essa festa idiota. Sabe que eu fui contra.

— Não pareceu só isso.

— Stella está brava comigo porque eu a proibi de dar festas desde que você veio morar aqui.

— Sério?

— Claro que sim. Acha que ia deixar ela continuar? Você está grávida, não dá pra manter o mesmo ritmo de gente solteira.

—Talvez ela tenha razão, Nolan. Não é justo com ela e Jace.

— Problema deles. Se estão insatisfeitos, procurem outra casa para morar.

— Mas a casa é tão deles quanto sua.

— Não interessa. Você é prioridade aqui. — Ele tocou meu rosto. — Agora deixa de se preocupar com isso.

Eu mordi os lábios, me sentindo meio mal.

Ao que parecia Stella tinha mais um motivo para me detestar, fora o mistério que eu não fazia ideia do que se tratava. Eu atrapalhava sua vida social ali.

A grávida e chata Amanda.

Nolan beijou minha testa.

— Acho que já podemos desaparecer.

Eu sorri.

— Samantha...

— Samantha tem um pouco mais de coerência que Stella. Sabe que está grávida. E eu sei que você ajudou a Stella, mesmo não tendo obrigação e Stella te tratando mal.

Eu dei de ombros.

— Ela não é muito boa com organização...

— Deve estar cansada.

Eu suspirei. Estava mesmo me sentindo cansada.

— Vamos falar com Samantha e subir. Chega de festa por hoje.

Eu quase respirei aliviada.

Para minha surpresa, achamos Samantha no colo de Austin num sofá, a língua enfiada em sua garganta.

Nolan pigarreou e eles se separaram um pouco.

— O que é isso, voltaram? — Nolan indagou.

— Por enquanto... — Samantha beijou o nariz de Austin. — Austin está implorando e eu sou tão boazinha...

— Você sabe que me ama, também.

Ela sorriu.

— Sim, eu te amo. Mas amo Paris também.

— Mas ama mais a mim.

— Não é uma competição!

— Então diz que me ama?

Ah Deus, Nolan rolou os olhos.

— Acho que vou vomitar. A Amanda está cansada e nós vamos subir.

— Mas já? — Samantha fez uma careta.

Nolan riu.

— Você está se divertindo aí, Samantha, nem sentirá nossa falta.

— Tudo bem. Amanhã colocamos a fofoca em dia, Amanda.

E de novo ela voltou a atacar Austin e já estavam absortos um no outro que nem viram quando subimos.

Mas eu ainda ouvi Samantha sussurrando um “Eu te amo, Austin” e ele dizendo o mesmo.

— Acha que vão voltar? — questionei Nolan.

— Vai saber. Namorar a distância é difícil.

— Eu espero que voltem. Austin gosta dela ainda...

Quando chegamos ao quarto eu me deitei, me sentindo mesmo muito cansada.

— Nunca mais invente de ajudar a Stella, ela é muito folgada — Nolan resmungou, tirando meus sapatos e massageando meus pés.

— E esqueceu de falar que é mal-agradecida.

Ele sorriu e beijou meu pé.

Eu ri, sentindo cócegas.

— Não faz isso.

— Melhor agora?

Eu suspirei, me recostando nos travesseiros.

— Bem melhor.

Ele continuou a massagear meu pé.

E eu me lembrei de Austin e Samantha.

Eles diziam tão facilmente “eu te amo”.

E de repente me dei conta que jamais tinha dito isso para Nolan.

Não em voz alta. Mordi meus lábios, sentindo meu coração batendo no peito. E por que eu não conseguia dizer? Nolan havia confessado estar apaixonado por mim faz tempo, mas de certa forma, eu não conseguia admitir o mesmo em voz alta.

Ele levantou a cabeça e sorriu.

Aquele sorriso de lado, tão dele, tão lindo. Que derretia tudo dentro de mim. E eu sorri de volta.

E ele se inclinou para beijar meus lábios de leve, e meu rosto e eu suspirei, enquanto ele deitava comigo, passando o braço por minha barriga dilatada, seu hálito quente e tão familiar em minha nuca. Era um momento perfeito. Era um momento nosso.

E eu quase disse. As palavras quase se formaram em minha boca “eu amo você, Nolan.”.

Mas não saíram dos meus lábios.

E fechei os olhos.

 

Acordei devagar. Nolan ainda dormia do meu lado.

Eu me levantei para ir ao banheiro, algo que eu fazia com muita frequência agora. Olhei no relógio quando voltei, eram seis da manhã. Ainda era cedo e eu tinha certeza que estava superfrio lá fora.

Era sábado e eles não teriam aula hoje. Podia voltar para cama e ficar aninhada com Nolan embaixo das cobertas, mas meu estômago roncou. Eu podia comer e depois subir.

Abri a porta devagar e ao mesmo tempo outra porta se abriu e fiquei surpresa ao ver quem estava saindo de um quarto.

Ashley.

Mas que diabos ela estava fazendo ali?


Capítulo 19

 

Amanda

 

Por um instante nenhuma das duas falou nada. Como se ela também estivesse surpresa de me ver

Ou não esperasse me ver.

Com certeza esta última alternativa.

— Oh! — murmurou por fim. — Eu...

— O que está fazendo aqui? — indaguei horrorizada.

Será que eu estava dormindo?

Será que era um pesadelo?

Ela deu uma risadinha.

— Estava na festa... Acho que não era pra você saber.

Deus, como assim? O que estava acontecendo ali?

Stella apareceu no corredor naquele momento e então estacou, pálida.

— Ai merda!

— A culpa não é minha — Ashley se apressou em dizer. — Eu estava indo embora já.

— O que está acontecendo aqui, Stella? — indaguei confusa.

Stella suspirou e veio em nossa direção.

— O Nolan vai me matar!

— Você a convidou para a festa da Samantha? Era isso que estavam escondendo? Por isto o Nolan estava bravo?

As peças começavam a se juntar na minha cabeça e a fazer sentido.

— Podiam parar de falar como se eu não estivesse aqui? — Ashley reclamou.

— Cala a boca, Ashley! — Stella pediu. — Deixa que eu resolvo isso, antes que o Nolan apareça, ai já sabe. — E ela se voltou para mim. — Olha, Ashley é minha amiga. Ela frequentava essa casa antes de você se mudar e o Nolan proibir ela de vir aqui, o que achei um absurdo. E tem mais, acho que o Nolan esqueceu de comentar que a Ash está estudando em NYU também. Na verdade, eles até fazem algumas matérias juntos e aparentemente agora se dão muito bem.

O quê?

Nolan e Ashley estudavam juntos?

— Como eu só sei disso agora?

— O Nolan nos fez prometer não te contar nada! O que eu acho tremendamente ridículo! Claro que uma hora você ia saber! Mas desde que veio morar aqui, a Ashley foi proibida de aparecer e nós fomos proibidos de tocar no nome dela! Tudo isso pra não “magoar a preciosa Amanda”. Isso não é nem um pouco justo! Agora é tudo pra você, tudo pra não ferir seus sentimentos! Parece que minha vida inteira se resume a isso! A ter que mentir e sumir pra não ferir seus sentimentos!

Ashley tocou o braço de Stella.

— Calma, Stella.

Stela respirou fundo e de repente eu tive impressão que estávamos falando dela e não de Ashley.

Eu encarei a moça na minha frente.

Ash parecia mais saudável agora do que a última vez que a vi. Mais bonita até, se é possível. Não havia os horríveis curativos no seu braço e ela parecia calma e... normal.

“Eles até fazem algumas matérias juntos e aparentemente agora se dão muito bem.”, Stella disse.

Minha nossa, desde quando isso estava acontecendo?

Nolan parecia mal suportar Ashley, sempre a culpando de ser perturbada e de não superar o que aconteceu com eles.

Desde quando eles eram... amigos?

Senti um frio correndo por dentro.

Amigos?

Por que Nolan não me contou? Por que criou aquele teatrinho envolvendo todo mundo?

— E eu também não achei nem um pouco justo que a Ashley ficasse de fora da festa da Samantha! Então eu exigi que Nolan sumisse com você ontem pra que a Ashley pudesse vir, ou ela viria de qualquer jeito. Claro que ele preferiu afastar você. O que não adiantou nada! Já que a Ashley aqui bebeu além da conta e acabou desabando em um dos quartos! Enfim, agora você já sabe!

Eu mal podia respirar. Minha mente tentando acompanhar toda aquela história.

Ashley o tempo inteiro ali. Na mesma cidade. Na mesma faculdade de Nolan. Desde o começo.

Frequentando aquela casa.

Até eu chegar. E Nolan armando todo aquele teatrinho.

De repente a porta do nosso quarto se abriu.

— Mas o quê?... — A voz de Nolan era sonolenta atrás de mim, até ele ver a cena.

Eu o encarei.

— Então era isto que estava escondendo?

— Isso? Eu não sou isso... — Ashley reclamou com um risinho.

— Ashley, melhor a gente sair daqui. — Stella teve o bom senso de puxar Ashley escada abaixo.

— Achou que eu nunca fosse descobrir que a Ashley agora... o quê? Eu nem entendi direito! Que ela faz parte da sua vida de novo? Pelo amor de Deus, Nolan! Podia ter me falado desde o começo!

— Eu sabia que você podia não entender e ia ficar perturbada. E antes, você nem estava aqui!

— Claro, que conveniente para você e sua amiga, não é?

— Está vendo? É disso que estou falando!

— E quer que eu pense o quê? Você escondeu isso de mim! O tempo inteiro! Eu me sinto uma idiota agora!

— Ashley é minha ex-namorada. Um monte de coisas horríveis aconteceu e ela apareceu no dia do nosso casamento e fez você duvidar de mim. Da gente. Você quase foi embora por causa dela.

— Por sua causa! Pelas coisas que você fez e eu tinha medo que fizesse comigo!

— Sim, eu sei que eu tive muita culpa pelo que aconteceu com a Ash e não posso mudar isso. Demorou um pouco para eu parar de achar que tudo de ruim era culpa dela, que não me deixava em paz.

— É isso que está rolando aqui? Ela ainda não te deixa em paz? Afinal ela estuda na mesma universidade que você, frequenta as mesmas aulas... Acho que você também tem um stalker , não?

Meu Deus, Ashley ainda era apaixonada por Nolan depois de todos aqueles meses?

Era disso que se tratava a presença dela ali? Era isso que Nolan não queria que eu soubesse?

— Não! Não é nada disso!

— Então me explica, Nolan! O que é isso?

— Eu não queria magoar você, será que é difícil entender? Bastou ver a Ashley aqui e já está cheia de paranoias na cabeça!

— Tem certeza que são paranoias?

— Eu tentei evitar justamente isso, mas a Stella é uma vaca que só pensa nela e não consegue pensar nos outros...

— Você também é como a Stella! Só estava pensando em você quando proibiu todo mundo de falar da Ash, na sua pequena mentirinha! Nossa, isso é tão sem noção!

Eu voltei para o quarto, me sentando e escondendo o rosto com as mãos.

— Amanda, me escuta. A Ashley não é mais aquela pessoa que você conheceu. Assim como eu também não sou, acho. Nós conseguimos... superar o que aconteceu.

— Ah, que conveniente! E agora são melhores amigos? Que bonitinho!

Eu mal podia respirar tamanha era minha raiva.

E ciúme.

— Sim, acho que posso dizer que somos amigos.

— Quer que eu acredite que de uma hora pra outra aquela garota que era louca por você a ponto de tentar tirar a própria vida, simplesmente se conformou? E que é uma coincidência boba ela estar aqui, ao seu redor? Óbvio que fez de propósito! Ela continua atrás de você!

— Está sendo absurda.

— Claro, eu sempre sou absurda! Agora a Ashley é a boazinha e eu sou a louca? E olha que nem ex eu sou ainda pra me chamar assim!

— A Ashley não está atrás de mim.

— Quer mesmo que eu acredite nisso?

— Foi justamente para evitar este tipo de discussão que eu escondi a presença dela de você.

— E não adiantou nada.

— Estou vendo agora.

Era realmente um pesadelo. Mas eu estava acordada.

— Amanda, por favor...

— Sai daqui, Nolan.

— Amanda...

— Sai da minha frente porque estou tão brava com você que eu nem sei!

Ele passou a mão no cabelo, frustrado.

— Ok, eu vou deixar você se acalmar.

E então se afastou, fechando a porta atrás de si.

Eu respirei fundo várias vezes tentando pensar racionalmente. Tentando me acalmar. O bebê mexeu na minha barriga de repente e eu coloquei a mão sobre ele.

Isso me ajudou a me acalmar.

Ficar nervosa não ia adiantar nada. Ia apenas me fazer mal.

A Ashley que fosse para o inferno.

Talvez Nolan tivesse razão. Talvez fosse bom que ela nem aparecesse por ali. E eu conseguiria fingir que ela não existia.

Como fiz nos últimos meses.

Enganando-me que o passado horrível de Nolan não existia.

E me sentindo um pouco mais calma, tomei um banho e desci, rezando para que ela tivesse desaparecido.

Mas hoje não era meu dia de sorte.

E estavam na cozinha Nolan, Stella e Ashley. E mais um cara loiro que eu nunca tinha visto na vida.

E ele estava de mãos dadas com Ashley.

— Acho que já vou indo, não é? — Ashley falou com um sorriso, como se nada demais estivesse acontecendo.

E ela se afastou puxando o rapaz pela mão.

— Quem é esse? — indaguei.

— É o Brendan — Stella respondeu. — Namorado da Ashley.

Eu arregalei os olhos.

Então Ashley tinha um namorado? Desde quando?

E se ela namorava agora, por que ainda perdia tempo rondando Nolan? Ou talvez eu que estava sendo ridícula e absurda como Nolan me acusava. E Ashley só estava por ali porque era amiga de todos?

Stella se levantou da mesa.

— Eu vou subir e continuar dormindo!

Quando ela se afastou eu encarei Nolan.

Ele ainda parecia tenso.

— Está mais calma?

Eu dei de ombros.

— Não sei.

— Está com fome?

Eu sacudi a cabeça afirmativamente.

— Vou fazer alguma coisa pra você comer.

Eu comi em silêncio, perdida em pensamentos e depois fitei Nolan.

— Por que não me contou que a Ashley tinha um namorado?

— Você me expulsou do quarto antes que desse tempo.

— Você sabe que errou não é?

— Eu sei. Mas eu só queria proteger você.

— Uma hora eu ia descobrir.

— A Ashley está em outra agora. Ela superou. Você viu, ela tem até um namorado.

— E você... Não tem ciúme dela?

— Ah Amanda, pelo amor de Deus!

— Está bem, está bem! Acho que estou sendo absurda mesmo, não é?

Ele sorriu e me puxou para o colo dele.

Eu me aninhei em seus braços, lutando para tirar a Ashley do meu pensamento.

— Esquece a Ashley.

— Vou tentar.

— Agora que já comeu, que tal voltar para a cama? — indagou me pegando no colo e subindo as escadas. — Em breve estará tão pesada que não conseguirei te levar — falou rindo.

Eu escondi o rosto em seu ombro.

— Acha que eu estou gorda?

— Preciso fazer uma lista de todas as coisas idiotas que diz. — Ele me colocou na cama e puxou a coberta.

Deitei a cabeça em seu ombro, me sentindo sonolenta e logo estava dormindo novamente.

 

Por exatamente três dias tudo transcorreu normalmente.

Ou quase. Samantha estava de volta e isso significava mais barulho e ela também queria me contar tudo sobre Paris.

Não que eu estivesse muito interessada, mas ela queria contar, então eu fingia que gostava daquele assunto até Nolan vir invariavelmente me salvar.

Nolan e Stella estavam com a relação estremecida, provavelmente Nolan culpava Stella pela aparição de Ashley. E Stella passou o fim de semana praticamente todo fora, até que uma noite ela chegou com Ashley e o namorado.

— Oi, a Ashley veio jantar com a gente.

Eu senti a tensão de Nolan do meu lado e controlei meus próprios instintos de me levantar e sair correndo.

Stella estava fazendo de propósito. Ela estava nos avisando que Ashley ia voltar a frequentar a casa, quer nós gostássemos ou não.

E por que ela não poderia? Apenas por mim?

Talvez realmente não fosse justo. Talvez já estivesse na hora de superar a ex do Nolan.

Eu me levantei da mesa.

— Certo, vou pegar mais pratos.

Nolan se levantou e foi atrás de mim.

— Quer que eu mande eles embora?

— Tudo bem, Nolan. Acho melhor parar de implicar com a Stella. Ashley é amiga de vocês, não é?

— Não quero que se sinta mal.

— Eu não me sinto. Sério. — Tentei soar uma segurança que estava longe de sentir.

Ele sorriu me ajudando a pegar os pratos.

— Se você diz.

E nós voltamos para a mesa.

Samantha monopolizou o jantar com suas histórias e no fim da noite nem foi tão ruim assim. Até o final.

— E então Ashley, já decidiu onde vai passar as festas de fim de ano? — Stella perguntou.

Ashley sorriu.

— Meus pais querem que eu vá pra Itália com eles. Embarcam amanhã. Mas acho que prefiro aceitar o convite de vocês.

— Convite? — Nolan franziu a testa.

— Sim, eu perguntei pra Helena se podia convidar a Ashley e o Brendan pra ir pra Camden. Porque os pais vão viajar.

— Vem sim, Ashley, vai ser ótimo! — Samantha falou empolgada.

Eu sinceramente não sabia o que pensar. Todos ali eram loucos ou o quê?

Tudo bem que estava tentando aceitar Ashley, mas aguentá-la no Natal?

— Está bem, eu vou! — Ashley concordou.

— E o Brendan também, claro! — Stella pediu.

Ashley deu um beijo no namorado.

— Claro, ele vai aonde eu vou.

Eu fitei Nolan. E ele não parecia muito feliz com isso.

Na verdade, nem eu estava, mas sorri, tentando disfarçar.

 

Naquela noite, quando fomos dormir, Nolan perguntou se estava mesmo tudo bem Ashley ir para Camden.

— Não vejo problema nenhum — menti.

Ele passou a mão pelo meu rosto, me estudando.

— Às vezes queria ler seus pensamentos.

Eu ri.

— Acha que estou mentindo?

— Sim, está. Vou falar com Ashley e dizer que não deve ir pra Camden.

— Não, deixa... Não precisa fazer isso por mim.

— Tem certeza?

— Tenho sim.

E ele beijou minha testa e me abraçou. Fechei os olhos e dormi quase de imediato.

 

Acordei de madrugada de repente.

Nolan dormia, os braços ainda a minha volta. Senti meu estômago roncar e o bebê se mexer. Retirei os braços de Nolan de cima de mim e me levantei, saindo do quarto.

Estava escuro, mas havia uma luz vinda da cozinha e vozes baixas.

Quem estaria acordado naquela hora?

Entrei na cozinha e Ashley e Stella estavam sentadas em volta da mesa.

Elas bebiam algo parecido com Margaritas.

— Oh, ainda aqui? — indaguei curiosa.

Elas riram. Será que estavam bêbadas?

— Não é tão tarde — Stella respondeu.

— Desculpe atrapalhar vocês, mas preciso comer alguma coisa.

— Comer mais? Está ficando muito gorda, Amanda — Stella comentou com censura.

Eu ignorei, indo em direção à geladeira, mas de repente Ashley tinha se levantado e estava na minha frente.

— Não ligue para ela.

Como assim Ashley estava indo contra algo que Stella dizia?

E ela sorria.

— Posso... tocar sua barriga?

Eu hesitei. Que conversa era aquela?

— É... claro — murmurei.

E ela colocou as mãos sobre minha barriga. Seus dedos estavam gelados, mesmo por cima do meu pijama e ela me fitou.

— Está mexendo.

— Sim, está — respondi olhando para suas mãos se movendo sobre meu ventre. E meu estômago se revirou de algo ruim, ao ver as marcas agora claras dos cortes em seu pulso. Tentei não me afastar daquelas mãos. Era como se de repente eu me lembrasse que aquela era a ex-namorada de Nolan, que tentara se matar porque ele não a queria mais. Porque o bebê dela não existia mais.

E agora ela tocava na minha barriga. No meu bebê.

A razão dela não estar mais com Nolan. O cara por quem ela quase morreu.

— Vem, Stella, coloque a mão aqui — Ashley falou sorrindo.

Eu olhei para Stella que encarava aquela cena com cara de asco. Ou era impressão minha?

— Nem pensar. — Ela virou o rosto. Como se fosse algo... repulsivo?

Deus, será que eu estava ficando louca? Todo mundo parecia estranho essa noite.

De repente eu não estava mais com fome e dei um passo atrás automaticamente.

Como se as mãos geladas de Ashley e o olhar hostil de Stella pudessem me fazer algum mal.

— Eu... vou dormir.

— Achei que fosse comer — Ashley disse e abriu a geladeira. — Senta aí com a Stella, vou fazer alguma coisa pra você.

— Não, não precisa...

— As mulheres grávidas precisam comer, não é?

Eu me sentei meio a contragosto.

Stella continuava a beber.

— O que estão bebendo?

— Algo que as grávidas não bebem — Stella respondeu seca. — E acho que Ashley já deve estar bêbada para estar te paparicando.

Eu mordi os lábios nervosamente, porque pensava o mesmo.

— Cadê o namorado dela? — perguntei.

— Foi embora. Eu a chamei pra dormir aqui. Algum problema? — Ela me encarou em desafio.

Por que diabos Stella cismava em esfregar Ashley na minha cara?

Elas eram tão amigas assim, ou era uma provocação?

— Não, problema algum.

Ashley voltou e colocou um prato na minha frente. Pareciam ovos. E uma xícara de chá.

— Pronto.

E sentou me observando comer.

Eu nem estava mais com fome, mas forcei a engolir e a tomar o chá.

— Obrigada, Ashley — respondi depois.

Ela deu de ombros.

— Sabe, Amanda, sei que... fui horrível antes, mas estou disposta a esquecer o passado agora e talvez você pudesse me perdoar e quem sabe ser minha amiga também?

Eu não soube o que responder.

Apenas me levantei, querendo sair dali o mais rápido possível.

— Certo... Boa noite.

Eu me afastei quase correndo e só respirei quando fechei a porta do quarto atrás de mim.

Nolan ainda dormia e eu me deitei junto dele, fechando os olhos.

Aquela com certeza foi a noite mais bizarra da minha vida.

 

Eu acordei de novo e ainda estava escuro.

Olhei em volta e Nolan não estava na cama.

— Nolan? — chamei, mas o quarto estava em silêncio.

Eu me levantei sonolenta e abri a porta, descendo as escadas.

A luz da cozinha ainda estava acesa. Será que Stella e Ashley ainda estavam ali? Abri a porta e como eu previa Ashley estava na cozinha, mas sozinha.

Estava de costas para mim, em frente à pia.

Algo me fez olhar para o chão e eu congelei ao ver manchas vermelhas a seus pés.

— O que faz aqui sozinha? Por que tem sangue?... — perguntei assustada e ela se voltou sorrindo.

Mas havia uma faca em suas mãos e muito sangue jorrava do seu pulso.

Coloquei a mão sobre a boca, para sufocar um grito e ela ficou confusa.

— O que foi?

— Por que fez isso? — indaguei com a voz abafada de horror.

— Isso o quê?

— Suas mãos...

E ela olhou para as próprias mãos e então deu de ombros.

— O que tem nas minhas mãos?

Eu fiquei ainda mais assustada. Não havia mais sangue. Não havia nada.

Será que eu estava imaginando coisas?

— Mas tinha sangue...

Ela me fitou.

— Sim, mas o sangue não é meu, é seu...

E eu acompanhei seu olhar e havia sangue aos meus pés. E sangue nas minhas roupas, escorrendo pelo meio das minhas pernas.

— Meu bebê... — murmurei petrificada de medo.

Eu estava perdendo meu bebê.

— Oh, Amanda, que pena...

Eu a encarei. Ela sorria.

Deus, o que Ashley tinha feito com meu bebê?

Consegui me mexer e dei meia-volta, para correr dali. Precisava achar Nolan. Mas a porta estava trancada e eu mexi na fechadura, desesperada. O sangue em minhas mãos manchava a porta.

— Eu te disse...

Eu voltei e não era mais a Ashley quem estava ali. Era Mary, a empregada da casa em Barbados.

— Eu disse que não ia ver seu bebê nascer.

Um grito escapou da minha garganta.

— Amanda! Acorda, está tendo um pesadelo.

Era a voz de Nolan e eu finalmente parei de gritar e abri os olhos. Ele me fitava preocupado e assustado.

— Oh meu Deus, era um pesadelo?... — murmurei levando a mão automaticamente à minha barriga.

— Sim, estava gritando. — Suas mãos passavam por meu rosto. — Me assustou.

Eu me obriguei a respirar devagar.

O bebê mexia, como se sentisse minha ansiedade.

Eu precisava me acalmar. Foi apenas uma porcaria de pesadelo.

— Está tudo bem? — Nolan insistiu ansioso.

Eu sacudi a cabeça afirmativamente, ainda sentindo como se fosse real.

De repente meu estômago deu uma volta.

— Oh... acho que vou vomitar — murmurei e foi o tempo de eu me levantar e chegar ao banheiro, vomitando tudo o que tinha comido.

Nolan estava comigo, me segurando até que o mal-estar passasse.

— Melhorou?

Eu sacudi a cabeça afirmativamente, mas ainda me sentia fraca.

— Vem, volte para a cama.

Ele me ajudou a voltar para a cama e eu percebi que já era dia.

— Faz tempo que você não se sente mal.

— Deve ser algo que comi... — murmurei. Sentindo que não devia ter comido o que Ashley ofereceu.

— Pode ser. Fique aí, vou fazer um chá pra você.

— Não quero nada.

— Mas precisa comer alguma coisa. Está me preocupando, Amanda.

— Eu vou ficar bem. Apenas deite aqui comigo.

Ele deitou e eu fechei os olhos, sentindo seus braços à minha volta.

Tentando me acalmar. Mas algo estava errado.

Tinha esquecido das previsões de Mary. Agora elas voltaram a rondar minha mente. E por mais que meu lado racional dissesse que era uma bobagem, algo me dizia que eu precisava proteger meu bebê.

Porque algo ruim iria acontecer.

Eu podia sentir.

Eu estava com medo.

 

Eu melhorei e desci na hora do almoço com Nolan. Ashley estava com Stella e o namorado dela na sala e assistiam a um filme.

Parecia tudo normal.

Mas não estava.

— O que aconteceu? — Stella perguntou.

— Amanda não se sentiu bem.

— Que pena — Ashley comentou solícita.

— Algo com seu bebê? — Brendan indagou.

Eu levei a mão à barriga.

— Não, está tudo bem.

Ashley sorriu.

— Tem certeza?

Oh Deus, eu estava vendo coisas ou havia certa sugestão em sua voz?

— Sim, eu tenho. Nolan, acho que quero voltar para o quarto — pedi querendo sair dali.

— Não se sente bem? — indagou preocupado.

— Só estou cansada ainda.

— Tudo bem.

Nós subimos e ele disse que ia fazer algo pra eu comer.

— Você mesmo vai fazer?

— Claro que sim. Apenas fique aí e descanse.

Ele se afastou e voltou meia hora depois com uma sopa.

— Você quem fez? — Eu o encarei, desconfiada.

— Na verdade eu pedi para entregarem. — Ele piscou.

Eu tomei a sopa e depois me deitei de novo.

— Ainda com sono?

— Sim.

— Então durma. Vou descer e avisar a todos que não vamos sair.

— Aonde vão?

— Samantha quer fazer compras de Natal.

Eu sorri.

— Melhor ficar em casa mesmo.

— Concordo com você. Eu já volto.

Ele saiu e eu fechei os olhos.

Devo ter dormido porque quando acordei o quarto estava na penumbra e Nolan não estava ali. Eu me levantei e saí do quarto e parei na escada, todos estavam na porta, colocando seus casacos para sair.

Ashley foi a última a sair da casa e levantou o olhar, seu olhar encontrando o meu.

Ela não sorria. E havia uma ameaça em seu olhar.

Ou era impressão minha?

— Amanda?

Eu me voltei, assustada e Nolan estava se aproximando.

— Achei que estivesse na cama.

— Não estou doente.

— Mas precisa descansar.

Ele me levou de volta para o quarto. Eu me deitei e levei as mãos sobre meu ventre.

Havia algo nos olhos de Ashley.

Algo ameaçador.

E eu temia estar enlouquecendo.

Ou enlouqueceria se continuasse ali.

 

Os dias passaram lentamente e os pesadelos continuavam a me atormentar. O que estava acontecendo comigo? E eu me sentia cada vez mais paranoica.

E na noite anterior a nossa viagem a Camden, eu não consegui dormir.

Nolan acordou e me fitou sonolento.

— O que foi? Não se sente bem?

— Nolan, eu quero voltar para Camden — decidi de repente.

Ele sorriu.

— Mas nós estamos voltando amanhã.

— Não. Eu quero ficar lá. Quero esperar o bebê nascer em Camden. Quero voltar pra casa.


Capítulo 20

 

Amanda

 

Ele me encarou seriamente.

— Quer voltar a morar em Camden?

Eu sacudia a cabeça afirmativamente

— Sim, quero ir embora daqui.

Eu sabia que talvez estivesse cometendo um erro me afastando de Nolan, mas eu precisava proteger meu bebê. Precisava ficar longe de Ashley.

Nolan me encarou num silêncio grave.

— Por que isso agora, Amanda?

Eu pensei no que responder.

Como é que eu podia dizer que estava com medo da sua ex-namorada que aparentemente estava em outra, mas que me apavorava?

Com certeza ele acharia que eu tinha enlouquecido.

— Eu quero ter o bebê em casa. Só faltam dois meses. Você sabe que mais um pouco e nem poderei mais viajar.

— Certo. Talvez tenha razão. Mas não me agrada deixar você sozinha.

— Não estarei sozinha. Estarei com seus pais. E o meu pai estará por perto.

— Tudo bem. Vamos dar um jeito nisso, então.

A notícia de que eu não iria voltar para Nova York depois do Natal obviamente foi bem aceita pelos residentes da casa, quando comuniquei no dia seguinte de manhã. Nolan não estava presente.

— Que alívio! — Stella deu de ombros. — Imagina essa criança nascendo e como vai ser horrível para todo mundo aqui!

Eu me encolhi com as palavras ferinas da namorada do irmão do Nolan.

— Stella, menos — Jace me surpreendeu chamando sua atenção.

— Ninguém aqui é louco o suficiente para deixar você cuidando de um bebê, Stella, pode ficar tranquila — Samantha respondeu brincando.

Mas Stella pareceu não achar graça e se levantou da mesa, pisando duro. Jace foi atrás dela.

— Me deixa, Jace.

Ainda a ouvi dizendo.

— Você tem que parar com isso! Sei que tem seus problemas, mas...

E a voz deles desapareceu pelo corredor.

Que problemas Stella tinha?

Problemas comigo?

 

***

 

Nós chegamos a Camden um dia antes do Natal.

Helena estava radiante porque fazia meses que não aparecíamos e Theodore Percy como sempre era mais contido e circunspecto ao nos cumprimentar.

— Estou muito contente de ter minha filhinha aqui. Me conte tudo sobre Paris. — Helena abraçava Samantha.

As duas desapareceram escada acima, com Austin atrás e Stella e Jace ainda não tinham chegado, pois viriam mais tarde, trazendo Ashley e o namorado, para o meu desgosto.

Sem a presença da esposa, Theodore lançou a Nolan um olhar de censura.

— E como vai, Nolan. Ainda não largou a faculdade?

— Adoraria que eu largasse pra jogar na minha cara que eu fiz merda, né? — Nolan resmungou.

— Nolan, podemos ir visitar meu pai? — Eu interrompi a briga iminente.

— Não está cansada? Achei que íamos pra casa. — A gente parou primeiro na casa dos pais dele, e nossas malas ainda estavam no carro.

— Estou. Mas estou morrendo de saudades do meu pai.

— Tudo bem, vamos passar em casa e deixar as malas e eu te levo.

 

— Podemos convidá-lo para vir jantar na nossa casa? — Nolan perguntou quando estacionamos em frente à casa de Gavin.

— Não sei se ele aceitaria.

Gavin não tinha família ali, os parentes que tinha eram distantes e moravam em outras cidades e ele costumava passar o Natal com a família de Owen.

Gavin ficou superfeliz em nos ver e como eu previa não aceitou ir para a casa dos Percy. Eu não podia culpá-lo. Acho que se pudesse escolher, também não iria.

— Eu vou ficar com Bob e a família — papai anunciou.

Eu nem olhei para Nolan, mas podia sentir certa tensão.

Embora não tivesse porque criar clima com isso. Ele sabia que Bob Smith era o melhor amigo de Gavin.

— Nós já vamos então. Chegamos de viagem hoje e já viemos para cá.

— Sim, sim, deve estar cansada. Amanhã virá almoçar comigo?

Eu lancei um olhar indagador a Nolan.

— Claro, Amanda virá almoçar amanhã com você — Nolan concordou.

Quando entramos no carro, eu perguntei:

— Tem certeza de que está tudo bem eu vir ficar com meu pai amanhã?

— Claro que sim. Não vê seu pai faz tempo.

— Você virá também?

— Acho que vai preferir ficar sozinha com seu pai.

 

O Natal na casa dos Percy, como não poderia deixar de ser, se tornou mais um evento chique orquestrado por Samantha, que agora começava a distribuição dos presentes, toda sorridente.

E eu me surpreendi ao ver que pra mim tinha muito mais que para os outros.

— Antes que comece a reclamar, não são todos para você.

Eu logo entendi ao abrir os vários pacotes e ver a infinidade de roupas para bebê.

— Acho que agora não está tão cedo para isso, não é? — Samantha sorriu.

— Não, acredito que não. Acho que passarei a noite inteira abrindo tudo.

— Aposto que Samantha vai adorar ajudá-la. — Nolan comentou.

— São muito bonitinhas mesmo.

Eu levantei o olhar ao ouvir a voz de Ashley elogiando.

Ela estava com uma taça de champanhe na mão e vestia um vestido preto deslumbrante. Eu tentei não me sentir uma jamanta com minha barriga de sete meses.

— Não são lindos, Stella? — continuou perguntando para Stella.

E se Ashley mantinha um sorriso no rosto, o que poderia ser totalmente falso, Stella não disfarçava sua contrariedade.

— Não vejo graça nenhuma — respondeu secamente nem sequer lançando um olhar para as roupinhas.

Eu me perguntei por que Stella tinha que ser tão desagradável.

— Precisa começar a fazer o quarto do bebê, Amanda. — Helena sentou ao meu lado. — Tem muitas coisas pra fazer e está ficando em cima da hora. Já pensou no assunto?

— Agora ela terá tempo, já que ficará aqui — Nolan comentou. E havia certa censura em sua voz.

Ele concordou que eu ficasse em Camden, mas não estava nem um pouco feliz com minha decisão.

— Vai ficar aqui? — Helena indagou surpresa.

— Sim, eu e Amanda conversamos e ela prefere esperar para o bebê nascer aqui — Nolan respondeu.

— Acho que ficará mais tranquila aqui mesmo, Amanda — Helena respondeu —, e eu ficarei de olho em você. Conte comigo. E claro, tem seu pai.

— Obrigada.

— Eu também tenho um presente para seu bebê. — Ashley se levantou e me entregou um pacote.

Eu tentei sorrir e abri o embrulho. Era um colar.

— Eu sei que não sabem ainda o sexo do bebê, mas eu tenho um palpite que será uma menina.

Eu nem sabia o que responder.

Tinha vontade de colocar de volta no embrulho e devolvê-lo. Mas acho que seria encarado como uma tremenda falta de educação. Então eu apenas tentei sorrir.

— Obrigada, Ashley.

Minhas mãos tremiam ligeiramente ao colocar o colar entre as roupas que Samantha dera.

E eu me perguntava qual era a da Ashley.

 

No dia seguinte, Nolan me deixou na casa do meu pai e prometeu me buscar à tarde.

— Quer que eu fique?

— Não, não precisa. Vai ser legal passar um tempo sozinha com meu pai.

Ele me beijou de leve e eu saí do carro. Meu pai acenou para Nolan da varanda.

— Você está mesmo enorme, hein? — Gavin exclamou pegando as sacolas que eu trazia na mão.

— Pai! — reclamei.

— Estou brincando. Já ligou pra sua mãe?

— Sim, liguei hoje de manhã. Ela está fazendo planos para vir ficar comigo quando o bebê nascer.

— Sua mãe não é muito boa nisso não...

— Eu imagino. Mas sinceramente duvido que ela consiga vir. Ela está viajando com o namorado e...

Eu me calei. Não queria magoar meu pai falando de como minha mãe estava feliz com seu namorado músico, viajando em turnê com ele.

Hoje mamãe tinha a vida que sempre sonhou.

Mas papai tinha ficado para trás.

— Enfim, trouxe ingredientes para fazer um almoço para nós! — desconversei.

— Podia reclamar, mas me fará bem comer comida de verdade.

— Tenho certeza disto, Pastor Thomas!

Eu estava acabando de preparar tudo quando ouvi um carro sendo estacionado.

— Está esperando alguém?

Gavin coçou a cabeça, meio culpado.

— Eu tinha convidado Bob e Owen para comer aqui, antes de saber que você viria.

Eu dei de ombros.

— Tudo bem, não tem problema.

Eu me perguntei se estaria dando a mesma resposta se Nolan tivesse ficado para almoçar.

Seria problema na certa.

Eu fui receber Bob e Owen com meu pai.

Owen ficou surpreso.

— Uau, olha essa barriga!

— Está muito bem, Amanda — Bob comentou e eu sorri sem graça.

— Faltam só dois meses agora.

Owen foi para a cozinha comigo enquanto Bob e meu pai viam TV.

— Quer ajuda?

— Pode pôr a mesa?

— Claro. E aí, fiquei surpreso quando não te vi mais por aqui e seu pai disse que tinha se mudado para Nova York. Não achei que ia largar a faculdade.

— Pois é. Foi uma decisão repentina.

— Acha que tomou a decisão correta?

— Era o que eu tinha que fazer no momento.

— E vai ficar em Candem até quando?

— Eu não vou voltar para Nova York.

— Não?

— Não, ficarei aqui agora.

— E o Percy?

— Nolan voltará para a faculdade, claro.

Owen não falou nada, mas tinha certeza de que ele tinha uma crítica na ponta da língua.

— Por favor, não... fala nada, ok? — pedi querendo mudar de assunto. — Vamos comer?

 

— Então vai ficar por aqui agora? — papai indagou quando Bob e Owen foram embora.

— Sim.

— Não entendi muito bem isso. Achei que ia ficar morando com Nolan.

— Prefiro ficar aqui neste momento. Nolan mora com Stella e Jace e a casa está sempre cheia de gente, não é tranquilo. E acho que eu atrapalharia eles, na verdade.

— Certo. Se quer assim. Sabe que estarei sempre aqui se precisar.

— Eu sei sim.

Nolan apareceu algum tempo depois para me buscar e indagou como tinha sido.

E me perguntei se deveria contar que Owen esteve ali ou não.

E optei por omitir.

Nolan tinha muito ciúme de Owen e eu não queria começar uma discussão à toa.

— Foi tudo bem. Eu fiz o almoço e meu pai ficou bem feliz de comer comida de verdade.

— Acho que ele ficará feliz de ter você por perto de novo.

— Acho que sim — respondi evasiva.

Nolan ficou em silêncio e eu tentei não me sentir mal porque ele estava claramente chateado com minha decisão.

Na verdade, eu esperava que ele fosse surtar e brigar comigo tentando me dissuadir da ideia, e teríamos mais uma crise, mas isso não aconteceu.

 

Nolan foi embora no dia seguinte bem cedo, assim como Stella, Jace, Samantha, Austin e, claro, Ashley e o namorado.

Eu não os vi nos últimos dias, porque eles estavam sempre em alguma atividade social. E eu e Nolan optamos por não participar.

E agora eu sentia uma espécie de alívio por estar ficando longe de um perigo que eu apenas intuía.

Talvez fossem absurdos da minha cabeça, por causa das crendices de mulher doida em Barbados, mas eu me sentia melhor assim.

 

 

Obviamente, me acostumar de novo a ficar sem Nolan por perto não era fácil. Ele prometeu voltar em duas semanas e nessas duas semanas que estava sozinha eu passei praticamente apenas esperando ele voltar.

Não que tivesse muito o que fazer. Nevava muito. Ou chovia. Ou simplesmente fazia muito frio. E eu ficava em casa, lendo e assistindo filmes.

Nós nos falávamos todos os dias por telefone e eu fiquei sabendo que Sam e Austin tinham brigado porque ele queria ir embora com ela para Paris e ela não queria que ele fosse.

E no fim eles terminaram de novo antes de ela voltar.

E eu não resisti e acabei perguntando sobre Ashley como quem não quer nada. Será que ela estava direto por perto agora que eu não estava mais lá?

Eu não gostava de imaginar Ashley perto de Nolan, não conseguia evitar.

— Ela não fica muito por aqui. — Nolan foi evasivo e eu não sabia se acreditava.

— Achei que ia morar aí agora que eu não estou mais.

Nolan riu.

— Acho que o namorado dela não gosta de mim.

— Está brincando?!

O namorado de Ashley, Brendan, era um cara quieto e reservado, mas nunca aparentou ter algum problema com Nolan.

— Pois é.

Estava sentindo até certa simpatia pelo namorado da Ashley. Eu podia entender seu ciúme.

Eu dizia a mim mesma que Ashley era passado e um caso superado, mas a verdade é que ainda me sentia insegura.

Queria perguntar pra Nolan como era o relacionamento deles agora, porque Stella insinuou que eles “se davam muito bem” e eu não entendia como isso funcionava.

No fundo, acho que tinha medo do que Nolan iria me contar.

Ashley tinha um namorado e parecia toda simpática e equilibrada, mas eu não conseguia superar a Ashley louca do dia do casamento.

Ela era louca pelo Nolan, será mesmo que superou de vez? Ou era um jogo dissimulado para se aproximar dele de novo?

Se Ashley tentasse reconquistar Nolan, o que aconteceria?

Nolan dizia estar apaixonado por mim, mas como eu podia ter certeza que a paixão dele era algo que ia durar?

E Ash era maravilhosa. Linda e sempre fez parte do círculo social de Nolan. Talvez eles combinassem mais do que eu e Nolan juntos.

“Mas é você que está com ele agora. E vocês terão um bebê em breve.”

Bem, e se o medo que eu sentia de Ashley fosse justificado?

Talvez ela me visse como um obstáculo, assim como o bebê que eu esperava.

 

Quando Nolan veio para Candem de novo, nós fomos até o hospital fazer mais um ultrassom.

Eu estava ligeiramente apreensiva, mas o Dr. Shaw me tranquilizou.

— Está tudo correndo muito bem, Amanda.

Eu respirei aliviada, me perguntando se estava sendo sensata em não querer retornar a Nova York. Mas só de pensar no meu pesadelo e em ver Ashley por perto, já sentia calafrios de nervoso.

— Começarei a arrumar o quarto do bebê — anunciei a Nolan na última noite dele em Camden.

Nós estávamos dentro da banheira, minha cabeça apoiada em seu ombro e seus dedos passeando devagar pela minha barriga. Não dava pra acreditar que eu estava entrando no oitavo mês.

— Não fará nada de esforço, Amanda.

— Não farei. E você ouviu o médico. Está tudo bem.

— Se está tudo bem, deveria voltar comigo. Não suporto você aqui sozinha.

Eu me virei para fitá-lo.

— Nolan, você mora com seu irmão, e tem Stella que me detesta. E agora sua ex fica de lá pra cá...

— Espera... Está brava por causa da Ashley.

Como explicar sem parecer uma louca?

— Ela parece bem agora, mas... Não tem como eu gostar dela, Nolan.

— Não estou pedindo por isso.

— Mas... vocês são amigos agora?

Nolan desviou o olhar e eu senti um calafrio.

— Você praticamente a odiava... A chamava de maluca.

— Eu tinha minha parcela de culpa pela loucura da Ash.

— E ela superou mesmo? De verdade?

— Ela tem um namorado agora, você viu.

Queria dizer que não significava que ela não nutria sentimentos por Nolan, mas me calei.

— Amanda, esquece a Ashley. O fato de nos darmos bem agora é só algo bom para todo mundo.

Eu mordi os lábios, incerta.

Sabia que estava sendo meio ridícula por, no fundo, não querer que Nolan gostasse de Ashley. Nem como amiga.

Eram minhas inseguranças falando por mim, mas não conseguia evitar.

— Então, se o problema é a Ash...

— Não é a Ash — menti. — Tem a Stella, o Jace, os amigos deles que aparecem... Não acho que seja um ambiente legal.

— Nós vamos nos mudar então.

— Não acho necessário.

— Mas de qualquer forma, teremos que nos mudar quando o bebê nascer. Pensou nisso?

— Não, eu não tinha pensado... Talvez eu deva ficar aqui quando o bebê nascer.

— Não pode estar falando sério.

— Meu pai está aqui e sua madrasta que é médica!

— Mas eu estou em Nova York, Amanda. Não faz o menor sentido.

— Você tem sua faculdade!

— Dane-se a faculdade. Estou tentando ser paciente e não surtar e te obrigar a ir comigo. Todo mundo diz que eu devo respeitar sua vontade agora. Mas é uma merda! Às vezes acho que eu deveria ficar também.

— Não é assim. Eu já larguei a minha faculdade pra você continuar com a sua!

— Como é?

— Foi assim que aconteceu! Então agora você não pode nem pensar em desistir do seu curso.

— E devo deixar você aqui, longe de mim.

— Fala como se eu estivesse indo para o outro lado do planeta e a gente não fosse nunca mais se ver!

— É como eu sinto.

— São algumas horas de viagem, Nolan. Quando o bebê nascer... eu nem sei como será! E Stella tem razão, imagino que deva dar um trabalhão! Eu ficarei mais tranquila aqui, com meu pai e talvez minha mãe venha. E claro, Helena já disse que vai me ajudar.

— Eu posso te ajudar.

Eu ri.

— Como se você soubesse o que fazer com um bebê!

— Você também não sabe!

— Nolan, por favor. Não crie um caso com isso. Eu só quero agora ficar tranquila nesses últimos meses. Vou continuar quietinha aqui em Camden e fazer o quarto do bebê e finalmente começar a me preparar para ele nascer. Eu sinto que até agora eu venho adiando isso... mas acho que não dá mais.

— Você está com medo. — Não era uma pergunta.

— Muito. — E eu me virei, para que ele não visse o tamanho do meu pavor.

Eu tinha medo de não saber ser mãe. Medo de como nós dois ficaríamos daqui pra frente, medo da sua ex que parecia boazinha, mas me dava calafrios.

— Ainda não sei se é o certo deixá-la aqui sozinha. Eu sinto sua falta.

Sua voz era uma carícia contra minha pele enquanto ele beijava minha nuca. E eu sorri tristemente entrelaçando meus dedos aos dele sobre minha barriga.

— Eu também.

— Vamos para cama.

 

E mais uma vez ele foi embora e quando Nolan iria viajar para Camden novamente, caiu uma forte nevasca e ele não pôde vir.

— Eu sinto muito, Amanda, eu irei no próximo fim de semana. — Ele parecia irritado.

— Tudo bem, não tem problema. — Eu sentia vontade de chorar quando desliguei.

Helena veio ver como eu estava e eu contei que Nolan não viria mais.

— Está caindo uma forte nevasca por lá.

— Que pena. Quer ir lá pra casa? Theodore está viajando a negócios, estou sozinha hoje à noite.

— Não, ficarei por aqui mesmo. Vou ler um livro acho.

— Tudo bem. Me liga se precisar de algo.

Quando ela se foi, eu olhei para as paredes vazias e me perguntei se não tinha sido muito boba em querer voltar para Camden por causa de uma intuição sem sentido.

 

Na semana seguinte, resolvi ir comprar as coisas para o quarto do bebê.

Helena foi comigo e me ajudou a escolher tudo.

— Você está animada? — ela indagou curiosa quando estávamos no carro voltando e desviei o olhar.

— Não sei se animada é a palavra. Estou com medo.

— É normal. Tudo vai mudar agora.

— Eu sei... É por isso que estou com medo.

— Querida, todas nós passamos por isso. Quando Sam estava pra nascer eu me arrependia todo dia de ter engravidado. Por sorte meu marido era muito amoroso e paciente.

— Sinto muito por ter perdido ele cedo.

Ela sorriu com tristeza.

— Carl era um homem maravilhoso. Sempre terá um lugar no meu coração.

— Você e Theodore... vocês são felizes? — perguntei sem me conter. Helena era doce e Theodore tão frio e seco, não conseguia imaginar como aquele relacionamento dava certo. — Oh, me desculpe. Acho que fui invasiva.

— Entendo a pergunta.

— É que Theodore é meio...

— Severo? Trabalha demais? Intransigente?

— É, tudo isso... — Eu ri sem graça.

— Eu sei. Ele não é perfeito. Mas o que temos entre nós é. E ele nem sempre foi assim...

De repente ela se calou e eu franzi a testa, confusa.

— Nem sempre... Você conhece Theodore há muito tempo?

Ela hesitou.

— Olha, por favor, não comente com o Nolan, pois Theodore não quer que ele saiba. Mas eu e Theodore nos conhecemos há muitos anos. Desde antes de ele se casar com Daisy.


Capítulo 21

 

Amanda

 

— O quê? Achei que se conheceram em um cruzeiro...

— Nós nos reencontramos há alguns anos e ele me convidou para essa viagem, onde decidimos nos dar uma segunda chance, agora que ambos éramos viúvos.

— Nossa, não esperava por isso... O que aconteceu? Antes?

— Eu conheci Theodore quando era uma estudante de Medicina. Ele estudava Direito. Era um cara sem grana, mas muito ambicioso.

— Achei que ele tinha sido sempre rico.

— Não, Daisy era. A família de Daisy que tinha muito dinheiro.

— Você a conheceu?

— Sim, eu a conheci. Eu e Theodore namoramos, mas eu queria estudar, estava focada nisso e ele focado em ficar rico. Nós nos separamos, mas continuamos amigos. Ele conheceu a Daisy. Saiu da faculdade, começou a trabalhar com investimentos. Eu vim trabalhar em Camden e conheci meu marido. Nós mantivemos contato por algum tempo, mas Daisy... Ela não era uma mulher fácil.

— Como assim?

— Ela era muito apaixonada por Theodore. Largou tudo por ele, para seguir ele.

— Theodore gostava dela de verdade?

— Acho que da maneira dele... Entenda que Theodore sempre foi um homem racional, não era dado a se guiar por emoções. E Daisy era o contrário. O que ela sentia por ele chegava a ser uma obsessão. Ela queria que ele estivesse disponível o tempo todo, que fizesse grandes demonstrações de afeto e isso nunca foi o estilo de Theodore, ainda mais naquela época que o foco dele era crescer na carreira. Trabalhava o tempo todo e não tinha tempo para Daisy, essa era a verdade. Jace nasceu e Daisy achou que Theodore ia ficar mais amoroso, mas isso não aconteceu, ela queria ter mais filhos e Theodore não.

— Mas veio Nolan...

— Sim, Theodore ficou muito bravo, ele não queria mesmo ter mais filhos, porque ele achava que Daisy não tinha condições... emocionais de ser mãe. Ele fez uma vasectomia e isso acabou com ela. Ela achava que o marido não queria ter filhos com ela porque não a amava e isso foi a enlouquecendo, a deixando ciumenta e possessiva. Ela era muito apegada aos meninos, principalmente a Nolan, porque o pai nunca ligou muito pra ele.

— Nolan não tinha culpa de nada!

— Claro que não. E eu disse isso muitas vezes a Theodore, mas... a verdade é que o relacionamento dele e Daisy era muito tóxico. Ele não sabia lidar com a intensidade dela. Foi se afastando. Ele pediu o divórcio meses depois que Nolan nasceu e ela ameaçou se matar se ele fosse embora. Ela continuou ameaçando por todos os anos seguintes.

— Até que não foi mais uma ameaça.

— Sim, é muito triste.

— E Nolan acusa Theodore de ter sido infiel...

— Sim, ele foi. Não vou defendê-lo.

— Ele foi... com você?

— Não, nós não éramos assim. Éramos amigos. Ele desabafava comigo. Eu tentava ajudar, mas não era como se eu pudesse fazer alguma coisa. Quando um casal tem problemas, e mais, quando duas pessoas têm problemas internos pra resolver, não tem como alguém de fora ajudar. Somente eles. Eu torcia para que Daisy ficasse bem, que ela deixasse de amar Theodore, porque ele não a amava do mesmo jeito, essa era a verdade. Theodore errou se envolvendo com outras mulheres, o fato de Daisy ser uma mulher difícil não justifica. Mas ele queria se separar e ela não deixava. Tudo deu muito errado. E Nolan sempre defendeu a mãe com unhas e dentes. Quando ela morreu, ele culpou Theodore. Culpa até hoje. Por isso que ele não quer que Nolan saiba do nosso envolvimento. Pode piorar tudo.

— É, conhecendo Nolan, acho que tem razão.

Eu estava passada com aquelas revelações.

— E você e seu marido foram felizes?

— Sim, ele foi ótimo. E ele me deu Samantha. Você vai ver quando seu bebê nascer, tudo o que está fazendo sua cabecinha pirar vai deixar de ter importância.

Ela me deixou em frente a minha casa.

— Assim que chegar você me chama, hein? Não quero que faça nenhum esforço sozinha.

Eu sorri concordando.

— Pode deixar.

— Nolan me mataria se não cuidasse direito de você.

— Obrigada, Helena.

— Não precisa agradecer, querida. Você é como uma filha pra mim agora.

No dia seguinte, eu acordei com a campainha tocando e eram as coisas do quarto do bebê. Eles colocaram tudo para dentro e eu liguei para Helena, ansiosa para começar a arrumar tudo, mas ela estava trabalhando e não poderia me ajudar naquela semana.

E eu juro que tentei, mas estava me sentindo tão ociosa que acabei não resistindo à tentação e resolvi pintar o quarto.

Eu e Helena escolhemos uma tinta amarela e ela me disse que iria contratar alguém, mas não parecia difícil.

Que mal podia haver?

E eu estava começando a pintar quando a campainha tocou novamente.

Quem seria?

Eu desci da escada e fui abrir a porta, me surpreendendo ao ver Owen e sua irmã, Rachel.

— Oi, o que fazem aqui? — indaguei surpresa.

— Eu vim te trazer meu convite de casamento — Rachel respondeu animada. — Sei que está em cima da hora, mas nem sabia que estava em Camden de novo. O casamento será neste fim de semana. Pedi ao Owen que viesse comigo, não sabia onde morava.

— Ah, claro. Entrem.

— Na verdade, eu preciso ir, um monte de coisa pra fazer. Festa de casamento dá trabalho demais.

Owen fez uma careta atrás dela, com certeza ele não estava gostando nada de ter que acompanhá-la.

— Certo, tudo bem então. Estou ocupada mesmo.

Os dois me mediram e viram as manchas de tinta na minha blusa.

— O que está fazendo? — Owen perguntou.

— Pintando o quarto do bebê.

— Está louca?

Eu revirei os olhos.

— Não é nada demais.

— Amanda, acho que o Owen tem razão, não pode ficar fazendo esforço — Rachel ralhou com censura.

— Vocês estão exagerando...

— Não estamos não. Se quer tanto pintar o quarto, deixa que eu faço isso pra você — Owen sugeriu.

— Achei que ia me ajudar — Rachel reclamou.

— Já estou de saco cheio de te ajudar! Aposto que o Paul também, por isso não quis vir com você hoje.

— Tudo bem. Eu só te libero porque é pra ajudar a Amanda.

— Mas não precisa...

— Deixa ele fazer, Amanda. Não é legal mesmo ficar colocando seu bebê em perigo.

E com essas palavras eles me convenceram.

— E, por favor, vá ao meu casamento. Vai ser importante sua presença.

— Claro que eu vou.

— Então se vai ficar com a Amanda, eu vou levar seu carro. Se vira para ir embora depois. — Rachel estendeu a mão e Owen lhe deu as chaves a contragosto e me seguiu para dentro.

Subimos para o quarto que escolhi para ser do bebê.

— Ainda acho que posso perfeitamente fazer isso. Não é tanto esforço assim!

Ele riu pegando o pincel das minhas mãos.

— Olha o tamanho da sua barriga, Amanda. Pelo amor de Deus. Além do mais eu farei muito mais rápido.

— Isso eu tenho que concordar.

— E aposto que você não sabe pintar uma casa.

— Tenho que concordar também... Só estava muito ociosa e queria ter o que fazer.

— E posso imaginar você caindo da escada do jeito que é desastrada.

Desta vez nós dois rimos.

— Mas que cena mais bonita!

Eu me virei assustada ao ouvir a voz ferina na porta do quarto e me deparei com Stella.

Que diabos Stella estava fazendo ali?

— Stella?

Ela abriu um sorriso entrando no quarto e olhando ao redor.

— O que faz aqui Stella?

— Eu estava saindo da casa dos Percy e qual não foi minha surpresa ao ver você entrando com o Owen. Eu desacreditei que a santinha Amanda teria essa coragem, mas olha só...

— Não estava em Nova York?

— É aniversário da minha mãe, vim passar uns dias com ela... Hum, então era por isso que queria voltar? — Ela apontou para mim e Owen. — Nolan vai ficar tão bravo quando souber disso... Sabe que ele veio comigo, não é? Ele está lá levando uma bronca do pai dele, como sempre. Mas daqui a pouco estará aqui. Que surpresa ele vai ter!

Nolan voltou?

De repente eu compreendi o que significava a presença de Owen ali.

Merda, o que eu estava pensando?

Talvez eu não tenha visto problema em aceitar a ajuda de um amigo. Mas este amigo era também meu ex-namorado.

Claro que Nolan iria ficar enfurecido se soubesse e acho que nem poderia culpá-lo, embora não estivesse acontecendo nada de errado.

— Está sendo maldosa, Stella. Owen apenas está me ajudando a...

— Pintar o quartinho do bebezinho que vai chegar! — Ela fez vozinha infantil, mas pingava veneno. — Nossa, Owen, eu sempre soube de sua devoção pela Amanda, mas não achei que chegaria a tanto! Se sujeitando a ajudá-la a preparar a chegada do filho de outra cara! Um cara com quem ela te traiu enquanto você ficava a tratando como santa!

— Cala sua boca! — Owen, pulou a escada, vindo para cima irritado e eu coloquei a mão no seu peito.

— Owen, não. Não briguem, isso é ridículo...

— Claro que ele está sempre disposto a brigar por você! Foi sempre assim desde que éramos crianças! Ele não via um palmo em frente ao nariz. Só você! E mesmo agora está aqui!

— Stella, para...

— Deixa ela! — Owen desdenhou. — Sempre teve inveja de você, porque sempre foi uma escrota...

— Ah, agora eu sou escrota! Você é um filho da puta, Owen!

— Sai daqui, Stella!

— Sempre assim, não é? Sempre preferindo a Amanda! Sempre ela, a perfeitinha! E eu servia apenas para transar!

O quê?

Eu achei não ter escutado direito.

— Do que está falando, Stella?

De repente Stella e Owen trocaram um olhar estranho, os dois estavam pálidos e nervosos.

Minha nossa...

Owen e Stella?

O mundo girou à minha volta.

— Não fala mais nada, Stella — Owen sibilou. — Já chega!

— Sim, já chega! Eu nem sei por que escondi isso! Eu fui uma idiota! Você fez o que quis comigo e quando eu mais precisei me desprezou e fez com que eu me livrasse do que me era mais querido... — Ela começou a chorar. — E eu nem tinha ideia... eu não tinha... e agora não tenho nada. E você está aqui e esse filho nem é seu! E você gosta tanto da Amanda que queria que fosse! Aposto que assumiria este bebê se ela largasse o Nolan. É isso que quer, não é? Quer a Amanda de volta. É só isso que deseja... sempre desejou, o resto você usa e joga fora. Joga até o próprio filho, porque não é dela!

— Stella, o que está falando? — murmurei não querendo que ela confirmasse o que eu começava a entender.

Stella me encarou com raiva.

— É essa a verdade. Seu querido Owen transava comigo, por anos! E acho que nem era só comigo! E quando você finalmente aceitou namorar ele, me deu um fora, mas eu estava grávida!

— Não! — Eu comecei a tremer.

— E ele me obrigou a fazer um aborto!


Capítulo 22

 

Amanda

 

— Você fez um aborto?

Eu não conseguia acreditar no que estava ouvindo.

Não fazia sentido.

Stella e Owen... juntos.

Transando.

E eu nunca soube. Nunca nem desconfiei.

E ela ficou grávida!

— Você vai parar agora! — Owen segurou o braço de Stella tentando fazê-la parar de falar. Mas Stella se desvencilhou.

— Ele me levou numa merda de clínica clandestina porque nem dinheiro tinha! Fez um médico horrível arrancar um bebê de dentro de mim e ficou aliviado! Porque você nunca ia descobrir. E depois foi ao primeiro encontro com você! Quando eu tive complicações naquela noite, eu liguei pra Owen, mas ele estava com você. Eu não queria contar pra ninguém, eu estava com medo, estava envergonhada. Estava arrependida... Mas Owen me mandou parar de ligar pra ele, que não era mais problema dele. Que estava apaixonado por você, que estavam namorando. E que eu deveria sumir! Como foram suas palavras, Owen? Ele não tinha culpa se eu era uma piranha e que não me dava ao respeito, que ele tomou o que eu ofereci.

Eu me virei devagar para Owen, sem querer acreditar no que Stella estava falando.

Eu me lembrava daquela noite.

A noite em que Owen se declarou. Estávamos na praia e ele me beijou.

Eu estava há poucos dias de ir embora com a minha mãe. Estava triste por deixar tudo para trás e fiquei surpresa, mas feliz por Owen me amar.

Eu já sabia que não o amava daquele jeito que ele me amava. Não ainda. Mas eu o amava como amigo e queria ficar com ele. Queria que ficássemos juntos. Pareceu certo.

Pareceu o destino.

E foi a partir dali que Stella não atendia mais minhas ligações. Que começou a me evitar. A me destratar quando eu insistia em falar com ela.

Stella parecia outra pessoa.

Nunca mais foi a mesma comigo.

— Não pode acreditar nela! — Owen me encarou desesperado quando percebeu que eu estava começando a entender aquela história sórdida.

— Owen... Por quê?

— Não é como ela está contando!

— Mas é verdade...

— Inferno, nunca era pra você ficar sabendo! Eu fiz tudo para você não saber! Nunca quis te magoar.

— Claro, você podia manter a queridinha da Amanda a salvo da sordidez dos seus erros e eu que me danasse! — Stella continuou. — Naquela noite, eu passei mal, tive complicações. Complicações essas que o médico deixou claro que podem dificultar bastante se eu ainda quiser ter filhos. E sabe o que o Owen disse quando lhe contei? Ele não disse nada. Só estava preocupado se eu ia te contar. Me fez ameaças... E depois você nem estava mais aqui e acho que se estivesse eu teria te contado. Eu estava com ódio de você! Ódio que por sua causa eu estava quebrada pra sempre!

— Mas eu nem sabia, Stella...

— Claro, nunca sabe de nada! Nunca tem culpa de nada! E agora vai ter um bebê. Eu tenho que ver você grávida quando eu nem sei se poderei ficar um dia. Sabe o quanto eu tenho raiva disso? É muito injusto!

— Por isso tem raiva de mim... — Eu finalmente entendi.

— Sim, é por isso! E este cretino do Owen ainda assim corre atrás de você! Quer até assumir um bebê de outro cara, quando mandou eu matar o que era de responsabilidade dele! Porque eu não era tão digna quanto você! Até o idiota do Nolan caiu babando assim que te viu! A santa Amanda! Mal sabe ele que você está aqui brincando de casinha com o nojento do Owen! Mas tudo bem, tomara que ele volte pra Ashley e assim você pode ficar com este babaca aqui!

Eu tremia inteira quando Stella saiu do quarto.

Em que mundo eu estava vivendo o tempo todo que não percebi nada?

Tudo agora fazia um assustador sentido.

— Amanda, por favor, me escuta...

Eu encarei Owen.

E senti uma decepção tão grande como nunca senti em toda a minha vida.

Owen sempre foi meu amigo. Sempre foi o cara perfeito que eu pude contar a vida toda. Uma constante.

Ele sempre estaria ali.

Foi meu primeiro namorado, o cara que me esforcei pra corresponder a paixão, mesmo sabendo que não era assim que eu o amava.

O cara que eu traí e me senti tão culpada, até hoje.

O cara que mesmo depois de eu engravidar e decidir casar com outro, ainda assim me garantiu que em seus braços eu teria uma morada.

Acho que no fundo, eu acreditei.

Eu era apaixonada por Nolan. Tanto que até doía.

Tanto que me assustava, porque Nolan era uma bagunça.

Era um cara que fez coisas terríveis e que tinha a capacidade de me quebrar.

Eu me dava conta agora que, se fosse de Nolan que Stella estivesse me contando os pecados, eu acreditaria. Porque eu sabia quem Nolan era.

Do que ele já foi capaz de fazer.

Nolan se abaixou naquele dia do casamento, olhou nos meus olhos e disse que estava apaixonado por mim, mas não negou quem era de verdade.

Aquele era Nolan, inconsequente, cheio de pecados passados e com uma capacidade mortal de estragar tudo à sua volta.

E naquele momento, amedrontada, eu cogitei voltar com Owen. Meu porto seguro. O menino que eu nunca acreditei que podia fazer qualquer coisa de ruim comigo.

Mas ele era capaz de fazer coisas ruins.

Ele fez algo horrível com Stella.

Meu Deus, quem era aquele cara?

— Quem é você, Owen?

— Eu sou quem sempre fui! O cara que te ama! Que faz qualquer coisa por você...

— Você mandou a Stella abortar...

— Stella escolheu o que quis!

— Mas era seu filho...

— Eu não queria! Eu queria você! Eu sei que errei transando com a Stella, mas ela se ofereceu! Eu só peguei o que ela insistiu! E eu queria ficar com você, sempre quis! Eu te amava desde criança, você é minha vida! Mesmo agora eu faria qualquer coisa por você!

— Isso não é amor, é algo terrível!

— Não fala assim! Não pode se deixar envenenar pela Stella! Ela é uma invejosa! Sempre te invejou, por isso quis ficar comigo e ela ficou brava porque eu preferi você, ate hoje ela não supera.

— Ela perdeu um bebê! Por sua causa!

— Eu só queria consertar tudo. Por você...

— Para de dizer que foi por mim... — Comecei a chorar. — Eu achei que te conhecia. Que podia confiar em você, que era uma pessoa boa, mas o que fez com Stella... não tem perdão Owen.

— Mas você perdoou Nolan Percy! — gritou. — Ele fez a mesma coisa com a ex-namorada, não foi?

— Foi um acidente.

— Mas ele queria que ela abortasse!

— Como sabe disso?

— No dia do seu casamento, eu encontrei Ashley passeando na praia. Ela estava desolada. Eu ofereci ajuda, ela me disse que era amiga dos Percy, eu contei que era seu ex-namorado e ela despejou tudo. Eu a trouxe aqui. Disse a ela que deveria contar a você o que Nolan fez, porque ele não podia se casar com você, sem que soubesse. Mas ela te contou depois do casamento.

— Meu Deus!

— Naquele dia, quando Nolan me encontrou, ele me ameaçou. Ameaçou contar sobre Stella se eu não a deixasse em paz.

— Nolan sabia?

— Sim, ele sabia.

Eu não podia acreditar que Nolan sabia... e não me disse...

Por que ele não me disse? Ele odiava Owen, tinha ciúme e mesmo assim não me contou?

Não fazia sentido...

— Tudo isso é tão horrível...

— E mesmo assim você ficou com ele! Ficou com o riquinho sujo do Nolan Percy!

— Sujo? — Eu encarei Owen com raiva. — E você Owen? É tão podre quanto ele! Eu sempre soube que Nolan era problemático, que era mimado, rebelde, inconsequente... ele fez uma aposta pra transar comigo! Ele botou fogo na moto do Paul! Ele quis que Ashley fizesse um aborto e foi responsável por um acidente que podia ter matado os dois! Ele foi imaturo tantas vezes que até perdi as contas. Mas desde o dia que nos casamos, Nolan prometeu que ia ser melhor.

— E você acreditou?

— Não, acho que não acreditei. Como poderia? Eu fiquei com medo, hesitei, cogitei levar em consideração o seu bilhete e ir contigo, mesmo sabendo que estava apaixonada pelo Nolan e que isso não ia mudar. Eu escolhi ficar com o Nolan, apesar dos seus problemas. Mesmo com medo. Apenas com um resquício de esperança de que ele seria melhor. Eu quis lhe dar uma segunda chance e pulei no desconhecido. E se eu fiz isso, fiz sabendo quem Nolan era. Se eu fosse com você, Owen, seria uma mentira! Porque no fundo, eu nunca soube quem era de verdade e agora eu sei.

— Não muda o fato de que eu te amo.

— Não interessa! Sai daqui.

— Amanda, por favor...

— Eu não quero nem ser sua amiga mais, chega!

— Não pode fazer isso... Nolan Percy não merece você!

— Nolan Percy é meu marido e pai do meu filho. Ele não é perfeito, mas é mais homem de assumir seus erros do que você!

— Ah é? — E ele mexeu no bolso e pegou o celular e praticamente esfregou na minha cara — É este seu querido Nolan? Ele te contou sobre essa noite?

Eu dei um passo atrás, sem entender o que estava rolando no vídeo.

Então eu reconheci.

O barco dos Percy. Nolan estava ali abraçado a uma mulher loira.

Ashley.

Eu senti o chão sumir aos meus pés, quando Ashley levantou a cabeça e beijou Nolan.

O vídeo acabou.

— Olhe a data! É o dia seguinte que voltou de Barbados! É este seu marido! Um mentiroso que te traiu com a ex-namorada!

Eu não conseguia respirar.

Nolan e Ashley.

Na manhã que voltamos de Barbados... De nossa lua de mel.

Quando eu estava aflita sem saber se estava tudo bem com o bebê...

Em algum momento da madrugada ele levantou da cama que eu dormia e foi encontrar com ela.

— Não...

Owen me segurou pelo ombro.

— Agora você vê? Ele é um canalha! Não te merece e apesar dos meus erros com a Stella, eu nunca faria nada para magoar você. Eu te amo. — E então, ele me beijou.

— Que merda está acontecendo aqui?

Eu levantei o olhar e Nolan estava entrando no quarto.

O olhar de Nolan foi de mim para Owen e eu vi seu rosto se transformar numa máscara de fúria.

Owen me soltou e se colocou na minha frente.

— Seu filho da puta! — Nolan avançou e empurrou Owen.

Eu encostei na parede, minhas pernas não me sustentando. Minha mente girava. Meu corpo inteiro tremia.

Meu coração mal batia porque era doloroso demais.

— Stella me falou que estava aqui e não pude acreditar! Que merda está pensando em vir pintar o quarto do meu filho? E eu chego aqui e está beijando Amanda!

— Estava aqui ajudando a Amanda sim! Por que você não estava aqui pra cuidar dela? Provavelmente estava lá com sua namorada loira, e sim eu a beijei! Eu amo a Amanda e ela sabe disso! Estaria melhor comigo do que com um riquinho babaca como você...

Nolan esmurrou Owen, que caiu para trás, mas se ergueu e foi para cima de Nolan.

Os dois se engalfinharam numa briga e de repente um soluço rompeu meu peito e eu senti uma pressão que não sabia de onde vinha, mas me fez ficar preocupada, me fazendo levar a mão ao ventre na hora.

— Nolan, chega! — gritei e ele se virou para mim.

— Que foi? Vai defender esse bosta do seu ex-namorado? Stella falou que já sabe o que ele fez com ela e mesmo assim vai defendê-lo?

— Eu acho que preciso ir ao hospital, não me sinto bem...

Tanto Owen como Nolan vieram até mim, mas Nolan empurrou Owen.

— Não toque nela! O que você tem?

— Eu não sei. Mas me leva agora... — Meu coração parecia que ia sair pela boca.

Nolan não hesitou em me pegar no colo e eu via tudo feito um borrão quando me colocou no carro e sentou no banco do motorista.

Pelo espelho retrovisor eu vi Owen na porta de casa enquanto a neve começava a cair, manchando tudo de branco.

Meu Deus, o que está acontecendo?

Nolan deu partida. Suas mãos tremiam.

— Você sabia e não me contou, Nolan — acusei. — Sabia de Stella... o bebê...

Eu vi Nolan empalidecer e seus dedos seguraram com força o volante.

— Eu deveria ter contado!

— Você beijou Ashley. Quando estávamos casados. — Não era uma pergunta.

Em minha mente eu revia o beijo como um loop , fazendo tudo revirar dentro de mim.

Raiva. Ciúme.

Decepção.

Medo.

— Não foi como viu...

— Não foi? Então por que não me contou?

— Amanda... Porra! — Ele bateu no volante com raiva.

E de repente estávamos gritando um com o outro dentro do carro.

— Você é um mentiroso, Nolan! Você e Ashley...

— Não existe eu e Ashley! Aquele escroto do Owen guardou aquele vídeo para me foder...

— Era você e Ashley, juntos, dias depois que nos casarmos! Owen não tem nada a ver com isso!

— O que está querendo dizer? Você ainda vai defender ele?

— Não tem como defender ninguém aqui! Você e Owen são dois cretinos, mentirosos! Mas não foi com o Owen que eu me casei, foi com você. E me garantiu que você e Ash não tinham nada mais...

— E eu falei a verdade!

— Mas a Ashley está na sua vida! E você escondeu de mim, não foi?

— Assim como você escondeu que vê o Owen sempre que está aqui!

— O quê?

— É. Stella ficou feliz em me contar agora o que a mãe dela lhe contou.

— O que a mãe dela tem a ver com isso?

— Parece que seu pai não te falou que está saindo com a mãe de Stella.

— O quê?

— E ele contou à mãe de Stella que você e Owen almoçaram juntos no Natal na casa do seu pai, por exemplo! Há quanto tempo isso vem acontecendo?

— Não fale assim, não fale como se eu tivesse encontros ilícitos com Owen ou algo assim!

— Então por que nunca me disse nada?

— Ele é amigo do meu pai. As nossas famílias são amigas! E às vezes eu o encontrava na casa do meu pai...

— E você achou conveniente mentir pra mim?

— Não menti! E eu nunca beijei Owen, como você fez com a Ashley!

— E o que foi que acabei de ver? Eu vi! Você com ele. Com Owen Smith!

— Ele me beijou, não foi...

— Quantas vezes Amanda, eu terei que aguentar isso? Quanto tempo eu ainda terei que ficar imaginando que você poderia estar com ele ainda se não estivesse grávida? Que gostaria de estar com ele! Às vezes acho que nem grávida queria estar! Que merda! — Ele batia com força no volante.

Eu cobri a boca com as mãos, soluçando, meu coração se estilhaçando.

Eu mal podia respirar. Nolan acreditava mesmo nisso?

O bebê se mexeu e eu levei a mão ao ventre, olhando para baixo.

— Não é verdade... Nolan, olhe pra mim?

Nolan tirou os olhos da estrada.

— Não é verdade... eu...

Talvez ele não devesse ter tirado os olhos da estrada.

Mas quando ouvimos a buzina, percebi que estávamos do outro lado, na contramão e gritei quando Nolan jogou o carro para o lado, para não colidir com outro veículo.

Mas não havia acostamento. Só o vazio.

E o precipício.

E eu gritei para o nada.

Minha mão ainda estava sobre o meu ventre até que tudo escureceu.


Epílogo

 

 

Amanda

 

Acordei como se acordasse de um sonho.

Porém, quando meus olhos se abriram, senti como se meu corpo não fosse mais meu.

Algo estava estranho. Minha voz, a princípio, parecia esquisita, rouca, e difícil, como se eu não falasse há meses.

De repente havia luz.

Havia caos e havia barulhos e estímulos de pessoas estranhas numa comoção que não entendi.

Lutei para manter a consciência, como se isso fosse importante. Quis perguntar onde estava, o que estava acontecendo, mas era tão difícil que desisti e a escuridão me engoliu de novo.

Esse processo de acordar e dormir durou um tempo que pareceu infinito. E em algum momento, senti dedos mornos, tocando minhas mãos.

— Amanda, volte para mim...

Aquela voz?...

Era diferente de todas as outras, era morna, rouca, com um toque impaciente e frustrado.

A voz de um garoto mimado.

Nolan.

E acho que sorri.

Sim, era Nolan.

E sua presença ali foi como sentir que eu estava em casa.

 

E todas as vezes que despertei desde então, ele estava ali. Pouco a pouco, percebi que estava em um hospital e meu coração afundou em confusão e medo, quando as memórias retornaram como se uma pequena mão abrisse as cortinas do meu cérebro, deixando a luz e as lembranças entrarem.

Amarelo nas paredes.

Owen.

Stella e verdades assustadoras.

E Nolan beijando Ashley.

Nolan. Ele estava lá. E eu me lembrava de dor, gritos e fúria.

E um carro indo em direção ao precipício.

Antes que a angústia me dominasse, me fizeram deslizar para o nada de novo.

 

Quando voltei, finalmente consegui enxergar o mundo como ele era. Ou o que eu achava que era.

— Amanda?

Nolan estava se aproximando da cama.

Respirei fundo, buscando minha voz.

Era mais fácil agora.

— Nolan?

— Fique calma. Está em um hospital. Sofremos um acidente. Mas está tudo vem agora... Você voltou. — Sua voz estava cheia de alívio e reparei pela primeira vez em sua aparência.

Ele tinha a barba por fazer e os cabelos pareciam mais compridos.

Não fazia sentido.

— Você está horrível.

Ele riu, mas seu riso parecia um engasgo.

— Se estou aqui... Devo estar horrível também, não é? — consegui dizer. Tudo ainda era meio nebuloso e estranho.

— Você sofreu contusões graves. Estava em coma.

— Oh... Foi feio assim?

— Sim, foi.

— Quanto tempo?

Os olhos de Nolan turvaram de algo que não entendi.

E seus dedos seguraram os meus.

— Amanda, nós sofremos o acidente há seis meses.

O que?...

Não. Não era possível.

De repente algo terrível me ocorreu.

Levei a mão a meu ventre, me lembrando dele.

Do bebê que deveria estar ali. Mas meu ventre estava vazio.

— Nolan... minha barriga... onde está o bebê?

 

 

                                                   Juliana Dantas         

 

 

 

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