Biblio "SEBO"
A Casa Real dos Karedes
SEDUÇÃO CRUEL
A princesa Elissa Karedes, presença notória em todas as festas do reino, foi enviada à Austrália para aprender o que significa trabalhar duro. No entanto, quando se torna assistente do bilionário James Black, ele mal consegue se concentrar o suficiente para avaliar seu desempenho. James não pretende tratá-la de forma diferente porque ela é da realeza, mas está disposto a quebrar suas próprias regras e seduzi-la! Liss ainda tem muito a aprender sobre o mundo além dos muros do palácio, e James é o homem ideal para lhe apresentar novos desafios...
James se recostou na cadeira, esfregou o rosto e passou as mãos pelos cabelos. O avião em que viera de Kuala Lumpur só havia aterrissado pouco depois das 5h e ele seguira direto para o escritório, tendo tomado banho e trocado de roupa lá mesmo. Já havia colocado a maior parte das coisas em dia e, no momento, estava precisando desesperadamente de mais um café e algo um pouco mais substancioso que o bolinho borrachudo servido a bordo. Depois leria o jornal e relaxaria um pouco até as lOh.
Tinha ouvido o som de algum movimento do lado de fora de seu escritório. Bom sinal. Sua secretária já devia ter chegado um pouco mais tarde do que o habitual, é verdade, mas ele não se importava com isso. Ela era uma das melhores profissionais no mercado, pelo menos, na maior parte do tempo.
Ele recolheu os papéis que estivera destrinchando, e seguiu em direção à porta com um sorriso nos lábios.
— Bridge, você, por acaso, quebrou todos os dedos ou coisa parecida? Este relatório está repleto de erros de digitação terríveis. Mal consegui lê-lo.
Ele desviou os olhos da folha com que estivera se divertindo e se deteve no limiar da porta ao cruzar o olhar com o da estranha que se levantou por trás da mesa.
Ela era alta, intensa, atordoante. Ela...
— Você não é Bridget — disse ele estupidamente.
— Não — respondeu ela com uma voz baixa, porém firme, com uma cadência estrangeira e um quê de culpa.
Foi exatamente naquela fração de segundos que ele perdeu toda a capacidade de raciocinar. Não conseguia mais processar uma única coisa que fosse. Tudo o que conseguia fazer era olhar para a mulher mais linda que já havia visto. A única palavra que lhe havia restado no cérebro era uau! Seu coração pareceu levar uma eternidade para voltar a bater. Assim que voltou, James se aproximou. A cor das bochechas dela parecia se intensificar a cada passo que ele dava.
— Eu sou...
— A princesa Elissa — lembrou ele, depois de conseguir reativar sua massa cinzenta.
Havia dito ao irmão dela que lhe conseguiria um emprego, mas acabara por se esquecer da promessa com toda a agitação da conferência. Ela já devia estar em Sidney há pelo menos um mês.
Ele simplesmente não conseguia se conter. Continuava olhando para ela mais e mais. Já havia visto inúmeras fotos dela nos jornais, revistas e televisão, mas aquela era a primeira vez que a via pessoalmente. Nunca havia pensado que ela pudesse ser tão mais linda na vida real. Muitas modelos costumavam ser uma decepção quando vistas de perto, sem o auxílio de toneladas de maquiagem, iluminação acentuada e retoques do Photoshop. Nenhuma fotografia, porém, poderia capturar as luzes que dançavam em seus olhos escuros, nem a intensidade da cor de seus longos cabelos castanhos. Cabelos que convidavam os dedos a tocá-los, que prometia ser como a seda roçando a pele. A perfeição de seu corpo era surpreendente: delgado e cheio de curvas, feminino e atraente.
— Fui contratada para cobrir as férias de Bridget.
James assentiu, ainda ocupado demais em processar a presença dela para falar muito.
— Vou refazer o relatório.
A cor em suas bochechas havia se intensificado ainda mais. Ela evitou olhar diretamente para ele e James notou um leve tremor quando ela estendeu a mão para pegar o documento.
Aquilo o trouxe de volta à realidade. Uma partícula ínfima de compaixão fez com que ele sentisse necessidade de amenizar-lhe a vergonha.
— Algumas teclas daqui devem ser diferentes das dos teclados europeus.
Ela olhou para ele por um breve momento antes de voltar a olhar para baixo e pegar o relatório. Um pedido de desculpas brilhava em seus olhos com algo que beirava... o pânico?
— Deve ser isso.
Fascinado, ele viu as manchas vermelhas se espalharem pela sua pele ligeiramente dourada. Seus dedos ansiaram por traçar o desenho delas e ver se estavam tão quentes quanto pareciam. Foi então que ele percebeu que ainda estava segurando o papel que ela estava tentando pegar. Soltou-o no mesmo instante e virou de costas, logo em seguida. Sabia que havia passado tempo demais olhando para ela, mas não tivera como se conter. Sua visão fora um verdadeiro choque. Ela era realmente demais. Meu Deus, ele devia estar mais cansado do que imaginava... Maldito fuso horário!
Ele balançou a cabeça, para dispersar o nevoeiro que lhe turvara a mente, mas tudo o que podia ver era a cor vermelha, a cor da tentação. Era interessante ver como alguém que deveria estar tão acostumada ao escrutínio dos outros ainda se ruborizava daquele jeito. Aquilo nunca aparecia em suas fotos. Provavelmente era retocado.
James se retirou para o seu escritório dizendo a si mesmo que precisava se controlar. Tivesse ela rubores intrigantes ou não, ele não estava disposto a lhe dedicar qualquer espaço que fosse em sua mente. Ela era bonita demais para seu gosto, o tipo de mulher que todo homem desejaria, e que desejaria, por sua vez, a atenção de todos eles. Ele não era homem de compartilhar sua mulher.
Liss soltou a respiração que havia contido por muito tempo. Seus pulmões pareciam prestes a estourar. Ela se jogou na cadeira como uma boneca de pano. Então aquele era James Black? Por alguma razão, ela havia imaginado o seu chefe, grande magnata do ramo de hotéis, como um cinquentão, um pouco atarracado e careca, e não um homem com cerca de 30 anos, alto e com uma cabeça repleta de cabelo escuro levemente revolto. Ele era deslumbrante. Mais que deslumbrante. Ao olhar para os olhos dele, ela vira um atraente lampejo dourado que a fizera desejar estender a mão e tocá-lo, capturá-lo e mantê-lo para si.
Ela deveria ter pesquisado a seu respeito, assim como também deveria ter feito um curso relâmpago de aperfeiçoamento de suas habilidades como secretária no voo de Aristo para Sidney. Aquela era sua última chance, ou pelo menos a última chance que ela queria que lhe dessem. Tinha que provar que era capaz ou nunca mais poderia voltar para casa. Seria obrigada a recomeçar em outro lugar e ela se recusava a permitir que isso acontecesse. Sua salvação estava em Sidney, naquele trabalho.
E que bela primeira impressão ela havia causado, sujando completamente aquele relatório e corando, depois, como uma colegial. Ela nunca corava. O fato é que ela realmente não havia esperado que ele saísse do seu escritório com aquele sorriso caloroso e os olhos brilhando de humor. Também não havia esperado todo aquele calor que invadira seu corpo naquela reação instantânea à sua presença. O simples fato de olhar para ele elevou seu desejo ao máximo.
Atordoada, ela se enrolou com uma ligação e, mortificada de vergonha, teve que pedir mais uma vez a Katie, a recepcionista, que lhe explicasse o funcionamento do sistema telefônico. Ela já havia anotado as instruções de como operá-lo passo a passo, mas Liss ainda não havia conseguido dominá-las, transferindo sempre as chamadas para a secretária eletrônica em vez de para outra pessoa, ou pior, desligando-as por completo. Podia administrar, o seu próprio celular e PDA muito bem, equipamentos bem mais complexos. Havia alguma coisa errada naquele sistema. As duas já estavam há cinco minutos às voltas com aquilo quando ele saiu do seu escritório outra vez.
— Bem-vindo de volta, James — disse-lhe a recepcionista com um sorriso atordoante.
Ele retribuiu apenas com um leve sorriso.
— Obrigado, Katie. Vou tomar um café. Volto daqui a 20 minutos. — Olhou então para Liss e disse: — Pode refazer o relatório até lá?
— Certamente — respondeu Liss com muito mais convicção do que realmente sentia.
Mas ele já estava saindo.
Katie soltou uma risadinha assim que a porta bateu.
— Ele está de volta — disse ela em meio a um suspiro, lançando um olhar malicioso para Liss. — Ele é demais, não é? Sorte a sua poder entrar e sair do escritório dele o dia todo.
Liss assentiu vagamente, não querendo se estender a respeito do inegável pedaço de mau caminho que era seu novo chefe. É claro que ela não era a única a reparar nele por lá, mas começar a se envolver em fofocas não era o melhor jeito de se fazer respeitar em seu novo emprego.
Por dentro, porém, Liss analisou a reação dele ao evidente flerte por parte de Katie. Seu sorriso havia sido bem mais reservado do que aquele que ele havia estampado no rosto quando pensara que ela era Bridget. Ela se flagrou imaginando como seria a aparência da tal datilógrafa perfeita.
— Mas tenha cuidado. Ele é como o mercúrio.
Liss se deteve diante do comentário de Katie, cada vez mais curiosa.
O sorriso de Katie fez com que Liss logo compreendesse que se alguma vez quisesse saber algo sobre a organização ou sua equipe, bastaria perguntar à recepcionista.
— Não pode ser pego.
— Oh?
Liss não estava interessada. Realmente não estava.
— Ele não quer saber de compromisso — prosseguiu Katie, como se soubesse muito bem que Liss era toda ouvidos.
Mas Liss não estava lá para se meter na vida amorosa de seu chefe, e sim para trabalhar.
— Não?
— Três encontros apenas, e mais nada. Mantenha a sua atenção nas ligações, Liss.
— Pode me mostrar como transferir outra vez?
Katie não se incomodou em disfarçar a risada ao mostrar mais uma vez a Liss que botões apertar.
— Você vai acabar pegando com o tempo. Não deve estar acostumada a trabalhar assim.
Liss tinha que admitir que Katie estava certa, mas como Ale havia cortado seu fundo de fideicomisso, ela não tinha muita escolha. Teria que trabalhar num emprego escolhido por ele, no caso, para um amigo dele, que por coincidência estava instalado do outro lado do mundo. Aquilo era muito conveniente para todos eles. Elissa, motivo de embaraço para toda a família, era simplesmente despachada para bem longe, de modo a não causar mais preocupação a ninguém. Longe dos olhos, longe do coração. Eles pareciam seguir esse ditado com muita facilidade, mas ela ficava arrasada. Quisera permanecer em Aristo depois da morte de seu pai. Perguntara a seus irmãos se poderia ser útil por lá, mas em vez de aceitar a sua oferta, eles a instalaram num apartamento da empresa, em Sidney — um dos complexos de James, como ela veio a descobrir, mais tarde — e como o valor do aluguel estava sendo descontado diretamente do seu salário, ela estava com muito pouco dinheiro vivo nas mãos para se virar. Pela primeira vez na vida, Liss estava sendo forçada a ganhar seu próprio sustento, tendo que controlar seus impulsos e assumir responsabilidades.
E pela primeira vez ela pretendia ser bem-sucedida numa tarefa. Estava determinada a fazer um bom trabalho e se estabelecer por lá. Assim, poderia provar a seus irmãos e a si mesma que era tão capaz quanto qualquer um deles e talvez a sua rejeição já não a incomodasse tanto assim. Talvez eles nem quisessem que ela voltasse, mas ela não ia fortalecer aquela possibilidade desperdiçando tempo com pensamentos impróprios a respeito de seu novo chefe.
— Ele vai voltar daqui a pouco e você ainda não fez o relatório — atiçou Katie.
— Droga!
James desejou ter fechado a porta de seu escritório, embora raramente o fizesse, pois tinha o costume de chamar por Bridget toda vez que precisava de alguma coisa.
Ele pegou a pilha de jornais que haviam se acumulado em sua mesa nos poucos dias que estivera fora. Folheou-os rapidamente, uma vez que já havia acessado as noticias mais importantes pela internet, durante a viagem, mas se deteve na coluna social. Lá estava ela, sua nova secretária, especialmente glamourosa toda vestida de preto e branco, com um sorriso brilhante no rosto, na estreia de uma nova peça. Ele pegou o jornal do dia anterior e foi até a coluna social novamente. Sim, lá estava ela outra vez, sorrindo diretamente para a câmera, cercada de belos homens. A cada novo jornal, era a mesma coisa — uma nova foto e um novo acompanhante.
Certamente ele havia sido tolo por ter sentido pena dela, achando que o nervosismo poderia ter influenciado em seu desempenho. Não havia nada que James detestasse mais do que ser feito de bobo.
Ele estendeu a página do último jornal sobre a mesa e estreitou os olhos para observar a foto mais atentamente. Por mais bonita que estivesse naquela imagem, ele agora sabia que aquilo não era nada quando comparado à sua beleza vista de perto.
Não havia como negar que ele se sentira atraído por ela. Extremamente atraído. Nenhum homem heterossexual lhe ficaria indiferente. Mas James já havia passado tempo suficiente junto a belas mulheres para saber que nenhuma delas podia ser levada a sério. Verdadeiras borboletas sociais, elas passavam o tempo todo voando de parceiro em parceiro, sem cessar, e Liss era a mais bela de todas. Tinha incontáveis pretendentes, herdeiros do setor de navios, magnatas da mídia, as fotos estavam estampadas em todas as revistas possíveis e imagináveis. Devia ter o hábito de brincar com todos os homens que se aproximavam dela para depois dispensá-los sem pensar duas vezes.
Os lábios do James se contorceram. Envolver-se com ela seria pedir para arranjar problemas e ele não precisava daquilo. Já havia aprendido a sua lição. Atualmente dava preferência a um tipo de diversão plana, simples e facilmente esquecível. Nada de longo prazo, nem sério, nem complicado. Nada que atraísse muita atenção.
E Elissa não fazia outra coisa a não ser chamar a atenção. Nunca parecia ter o suficiente.
Seu nível de irritação chegou ao limite máximo. Ele afastou o jornal e pegou outro relatório que ela havia lhe entregado. Bastou uma rápida olhada para ver que os gráficos estavam todos tortos.
Ele espichou a cabeça de forma a poder ver parte dela junto à mesa, pela fresta da porta. Até mesmo a sua maneira de se sentar era nobre. Ela mantinha a cabeça ereta, como se houvesse uma tiara imaginária sobre ela enquanto franzia as sobrancelhas, olhando para o computador. A princesa festeira estava brincando de trabalhar de verdade; parecia que não havia nenhum verdadeiro empenho de sua parte naquilo tudo. O cenho de James se enrugou duas vezes mais do que o dela. Ele também era bem-nascido, embora não viesse de uma família tão abastada quanto a dela. Poderia ter optado por uma vida bem mais tranquila e decadente se quisesse, mas preferira exatamente o oposto. O nome e o dinheiro de sua família só o haviam deixado ainda mais determinado a prosperar por seus próprios méritos. Seu avô e seu pai trabalharam muito para construir a sua riqueza, e James era como eles. Não esperava receber tudo de mão beijada. Sentia imensa satisfação em trabalhar duro e fazer um serviço bem feito. Já a princesa lá fora provavelmente jamais havia desfrutado de tal satisfação. Estava acostumada a se valer de sua aparência, sua fama e seu nome para conseguir tudo aquilo que queria, em vez de passar um dia que fosse trabalhando honestamente. Certamente estava acostumada a receber tudo de bandeja por seus empregados bajuladores. Bem, não havia lugar no barco de James para passageiros indolentes. Ali, esperava que todos se esforçassem para deslocar seu próprio peso, especialmente princesinhas mimadas.
Ele levantou, pegou o relatório e rangeu os dentes.
— Preciso que refaça estes gráficos também — disse ele, passando por ela e jogando as folhas sobre a sua mesa e detendo-se depois para observar a sua reação. Só que daquela vez não houve rubor. Ela visivelmente escaldou dos pés à cabeça. Estaria se esquivando de mais trabalho? Aquilo o irritou ainda mais.
— Tem que fazer melhor que isto, Elissa. Não vai receber nenhum tratamento especial aqui por ser uma princesa.
Ela ergueu a cabeça para fitá-lo diante do inesperado tom de sarcasmo na voz de James. A expressão no rosto dele estava completamente diferente da que ela havia visto pela manhã. Todo aquele brilho de bom humor havia desaparecido. Seus olhos não continham mais nenhum lampejo dourado. Estavam escuros, frios e duros, e ela sabia exatamente o que aquilo significava: reprovação e distância.
Já havia recebido muitos olhares iguais àquele, e também sermões semelhantes de seus irmãos superprotetores e ultraconservadores. Mas ela não havia solicitado nenhum tipo de tratamento especial da parte de James. Na verdade, aquilo era exatamente o que ela não queria. Tudo o que desejava era se sair bem em seu trabalho e seguir em frente. Magoada, uma vez que estava realmente tentando acertar e surpresa com a sua mudança repentina de comportamento, Liss perdeu todo o profissionalismo que estava desesperadamente tentando cultivar. Os fracassos da manhã e o medo de não ser capaz de dar conta do trabalho acabaram explodindo de dentro dela num acesso de rebeldia.
— Acha realmente que eu não ouvi isso antes? — perguntou ela asperamente. — Por que não é logo honesto comigo? Você vai elevar o seu nível de exigência comigo, não é? Vai esperar até mesmo mais de mim do que esperaria dos outros. Estabelecer metas que me sejam impossíveis de alcançar. — Ela tomou os papéis em suas mãos, avaliando a confusão que havia feito. — Toda essa história de "só porque é uma princesa, isso não significa pode..." é tão batida... Por que não tenta algo mais original?
Sua explosão obteve apenas o silêncio como resposta. Um silêncio que se prolongou interminavelmente.
Liss estava queimando por inteiro, desejando ardentemente arrancar a própria língua. Ficou olhando para a ponta de sua mesa, não querendo olhar para ele, nem ser despedida na mesma manhã em que seu chefe havia voltado de viagem.
— Eu sinto muito — murmurou ela. — Isso foi realmente muito inconveniente da minha parte.
Ela não podia perder aquele emprego. Não tinha mais nenhum lugar para onde ir.
O silêncio prosseguiu. Parecia estar se estendendo para sempre e o desconforto dela aumentava a cada segundo que se arrastava. Sabia que havia falado como uma adolescente e não como uma profissional visando realizar um bom trabalho.
James se aproximou da mesa dela, até se inclinar sobre a borda, exatamente no ponto para o qual ela estava olhando. Não havia maneira de ela não voltar a atenção para ele.
Quando finalmente falou, ele o fez de maneira calma, com um nível de controlada frieza que fez com que ela se contorcesse ainda mais de vergonha.
— Por que eu não deveria esperar qualidade da sua parte? Afinal, você não é como todo mundo. Teve uma educada refinada, formou-se em Paris, é fluente em várias línguas e é evidentemente brilhante, de modo que sim, eu espero mais de você.
Liss ergueu a cabeça, surpresa com a avaliação que ele fizera dela — agradavelmente surpresa, aliás.
— O fato de que você é uma princesa é totalmente irrelevante. O que realmente importa aqui é a sua atitude. Minha expectativa também não é o problema. O problema é a sua relutância em se aplicar no trabalho e seguir com ele.
Qualquer sensação agradável que ela tivesse experimentado anteriormente foi imediatamente farejada. Ela comprimiu os lábios com força para não balbuciar a negativa que estava para saltar deles, não querendo repetir sua atitude de criança mimada de há pouco. Ela havia tentado. Trabalhara duro a manhã toda. O fato, porém, era que seus esforços não pareciam produzir nenhuma melhora notável.
Os olhos deles se cruzaram e os de James estavam carregados de cinismo.
— É melhor você levantar seu jogo, princesa, porque da próxima vez, eu posso tentar algo mais "original".
Aquela frase proferida num tom de voz baixo, porém com absoluta clareza era quase uma ameaça. O olhar dele a fulminou. Os pelos dos braços e da nuca de Liss entraram imediatamente em estado de alerta. Indefesa, ela viu a escuridão dos olhos dele ser lentamente invadida por um aumento daquele lampejo dourado. Quis dizer alguma coisa, desfazer a tensão que se infiltrava entre eles, mas não estava conseguindo pensar, nem se mexer. Ele também permaneceu em silêncio, parecendo olhar através dela. Apesar do arrepio ela sentiu um calor se espalhar pelo corpo e uma hipnótica tentação de se aproximar da chama que queimava fundo dentro dele. Será que ele estava pensando no mesmo tipo de "originalidade" que ela? Será que estava vendo as sombras se moverem em seus olhos do mesmo jeito que ela estava vendo nos dele?
O som agudo do telefone quebrou o pesado silêncio, destruindo o momento e permitindo que ela se libertasse dos invisíveis grilhões. Assim que ela estendeu o braço sobre a mesa para atender, ele se levantou e voltou para o seu escritório. Arfante e atordoada, Liss não conseguiu atender a chamada.
No dia seguinte, Liss se sentou em frente ao computador com o tutorial do software das folhas de cálculo em gráficos e mapas. Não queria mais desperdiçar o tempo das outras secretárias pedindo que lhe ensinassem sempre a mesma coisa, nem queria mais admitir sua incapacidade para ninguém.
Sua digitação também não tinha melhorado da noite para o dia como ela havia esperado.
Ela não olhou para James quando ele jogou os papéis sobre a sua mesa sem lhe dirigir a palavra, ao sair do escritório. Sabia que ele estava indo a uma reunião e que ela ia passar todo o seu horário de almoço tentando consertar o que havia feito de errado daquela vez.
Era óbvio que ele a achava inútil. E ela não podia lhe tirar a razão.
Ela se sentou e trabalhou com afinco, tentando não ficar desanimada demais.
Por algum motivo ela simplesmente não conseguia dar conta daquilo. Quando achava que já havia resolvido tudo, aparecia algo que lhe havia escapado. Parecia que quanto mais ela tentava, pior as coisas ficavam.
Ela chegou a pensar em telefonar para Alex e implorar por misericórdia. Viveria como uma freira se ele permitisse que ela voltasse para casa. Mas ele não o faria. Nenhum deles a queria ali. Ela teria, primeiro, que provar que era capaz, de modo que precisava manter toda a sua atenção voltada para o trabalho. Não podia pensar em James de nenhuma outra maneira que não a profissional. Ele era o seu chefe, com "C" maiúsculo, e ponto final.
Foi muito azar ele ter entrado no escritório bem na hora em que ela afastou a cadeira para fazer um pequeno intervalo. Havia tirado as sandálias e estava alongando as pernas no ar, girando os pés e contorcendo os dedos. A tarde parecia se estender infinitamente à sua frente e ela mal podia esperar para chegar em casa, trocar de roupa e aproveitar a noite. Havia uma inauguração de um bar novo numa parte moderna da cidade apenas para convidados. Ela queria botar uma roupa bonita, dançar muito, e mais do que qualquer outra coisa, apagar toda a rigidez e a frustração de ter que passar o dia todo sentada diante de uma mesa.
Congelada, ela o viu atravessar o recinto, olhando primeiro para os seus tornozelos e depois acompanhando lentamente o desenho de suas pernas e do seu corpo, até finalmente olhar para o seu rosto, que àquela altura já estava em brasa. O calor em suas bochechas era insuportável. Droga, ela não enrubescia assim havia anos. Sempre tivera controle sobre suas emoções, e no entanto aquela parecia a quinquagésima vez que aquilo acontecia em apenas dois dias. Mas aquela chama era de pura vergonha e irritação por ter sido pega relaxando, e não pelo modo como a atenção dele havia vagado tão cuidadosamente por cada centímetro de suas pernas, certo?
Seu desconforto aumentou ainda mais quando ele não se deteve a uma distância apropriada de sua mesa e seguiu diretamente até a borda. Cada célula do seu corpo estava ciente de sua proximidade e do seu escrutínio.
Ele não se incomodou em disfarçar o seu ceticismo/cinismo.
— Você alguma vez já parou para pensar no que significa trabalhar duro? — disse ele, pousando ambas as mãos sobre a mesa e se inclinando de modo a falar diretamente para o rosto dela. Um sorriso lento e sarcástico curvou seus lábios sensuais. — Você também é assim na cama? Gosta de se recostar e deixar que a outra pessoa faça todo o trabalho?
Chocada, ela se ajeitou na cadeira. Olhou no fundo daqueles reluzentes olhos castanhos e leu o desafio que havia estampado neles.
Ele pegou na mão dela e avaliou suas unhas.
— Não está com medo de se sujar um pouquinho, está, princesa?
Ela sentiu o calor da mão dele queimar seu coração, e afastou os dedos dos dele. Engolindo em seco, ela tentou elaborar alguma resposta, mas tudo no que conseguia pensar era a palavra cama. Cama? A atmosfera estava carregada e o botão vermelho de "fogo" se acendeu. Qualquer um dos dois podia apertá-lo. A tentação era quase irresistível. Ela se perguntou o que exatamente seria necessário para fazer com que aquela centelha nos olhos dele explodisse de vez. O que ela poderia dizer ou fazer para estimulá-lo a agir. Ela retribuiu o seu olhar e permaneceu por um bom tempo na iminência de algum movimento e notou o quase imperceptível estreitamento dos seus olhos, denotando que também ele estava lutando para se conter. Aquilo não era nada inteligente.
Apesar do desejo que a estava tomando de assalto, ela precisava manter as suas prioridades em mente. Não ia arriscar o seu futuro sendo um dos casos passageiros de James. Não ia destruir a pouca credibilidade que estava tentando conquistar a tanto custo flertando com o seu próprio chefe.
Em vez disso, ela reuniu toda a dignidade de que foi capaz, forçando o rubor a desaparecer.
— Trarei os papéis num minuto. Só preciso imprimi-los e checá-los.
Ele se afastou. A centelha de algo perigoso se apagou em seus olhos sendo substituída por uma espécie de respeito, quando, então, ele reassumiu o habitual tom reservado.
— Ótimo.
E desapareceu em seu escritório.
Liss permaneceu imóvel por um momento. Havia conseguido se defender do perigo, então por que aquela ridícula sensação de decepção?
Ela contou até cem e então pegou a agenda que havia organizado para uma série de reuniões que ele teria na semana seguinte. O cauteloso meio sorriso de James desapareceu assim que ele viu o trabalho e qualquer esperança de que a sua expressão séria se devesse apenas à concentração desapareceu por completo quando esta se transformou num grave franzir de sobrancelhas. O coração de Liss começou a bater descontroladamente dentro do peito. Ela havia estragado tudo outra vez, não é?
— Princesa... — Novamente aquele tom irônico. — Admito que sou um homem de muitos talentos, mas estar em dois lugares ao mesmo tempo, realmente, está além das minhas possibilidades.
Dessa vez foi ela quem franziu as sobrancelhas.
— O que você quer dizer?
— Segunda-feira, às 15h. Estarei aqui para uma conferência e no auditório para uma apresentação. Como propõe que eu faça isso?
Liss olhou fixamente para o papel, lendo-o de ponta-cabeça com uma habilidade que jamais soubera ter até aquele momento. Droga!
A voz dele esfriou.
— Olhe, prin...
Ela não queria que ele dissesse aquilo, não queria que também ele desistisse dela. Não quando ela finalmente estava se tornando séria, organizada, útil e com seus planos no lugar. Por isso o interrompeu.
— Eu vou consertar isso imediatamente — disse ela, tirando o papel da mão dele.
Ainda bem que ela não tinha enviado o arquivo por e-mail aos outros participantes.
Ele a olhou intensamente, tentando penetrar em sua reserva, sem revelar, porém, nada a respeito dos próprios pensamentos. Apenas assentiu, depois de um breve silêncio e ela aproveitou para escapar, rápido.
James sabia que jamais deveria ter feito aquele comentário sobre a "cama". Aquilo fora totalmente inapropriado. Foi por isso que ele se sentiu obrigado a lhe dar outra chance. Mas a verdade é que ele não lamentava tê-lo feito. O olhar dela havia sido inestimável. Permanecera completamente pasma por um segundo, para então, no seguinte, parecer tão consciente dele quanto ele estivera dela o dia inteiro.
Que mais poderia lhe ter vindo à mente ao encontrá-la recostada na cadeira, ostentando toda a gloriosa perfeição do seu corpo, senão a imagem de Liss languidamente deitada na cama, com as pernas inacreditavelmente longas e bronzeadas sobre lençóis brancos de algodão, seu corpo ainda úmido e seu rosto tão corado quanto estivera então, mas desta vez com o brilho de saciedade nos olhos...
Aquela imagem o deixou imediatamente atormentado de desejo. Como seria aquela princesa tão sofisticada e elegante na cama? Como seria a sua aparência, que som ela emitiria no momento em que seu corpo dominasse a sua mente e ela sucumbisse às mais violentas sensações? Ele ansiara por saber e precisara ter a satisfação de ver o seu desejo revelado, nem que fosse apenas por aquele breve instante. Mas ela não havia prosseguido com aquilo. Tivera medo dele. O que era muito interessante. Por quê? A julgar pelos jornais, ela costumava flertar com diferentes homens em suas farras noturnas. Será que ele havia criado chifres e rabo de repente?
Ele não devia se importar com aquilo. Não devia se interessar por ela, nem perder tanto tempo pensando numa mulher que era tão inconstante quanto um dia de outono.
Era óbvio que ela não estava feliz ali. A única coisa que a devia estar realmente incomodando naquela situação era o fato de que estava tendo que trabalhar para ganhar seu sustento pela primeira vez na vida.
Lá estava ele agora, cerca de meia hora atrasado em seu trabalho, tendo que recuperar o tempo perdido. Havia uma inauguração de um novo bar na cidade, naquela noite, e ele tinha que dar uma passadinha por lá.
Liss foi embora rapidamente assim que terminou seu horário, como de costume, mas James ficou feliz ao vê-la partir. Agora poderia prosseguir com o trabalho e impedir que sua mente e seu corpo duelassem por causa dela. Aquilo era muita estupidez da sua parte, uma vez que ele já sabia como ela era: inconsistente, incerta e mentirosa. Exatamente o tipo de mulher com quem ele havia jurado jamais voltar a se envolver. Uma amante infiel já fora o suficiente para ele. Suas feridas ainda estavam em carne viva e eram constantemente agravadas pelos problemas cotidianos entre seus pais, o que só fazia aumentar a crença dele de que a monogamia, em longo prazo, era algo impossível de se manter. Em curto prazo, sim, muito curto. Mas Liss era sua funcionária, e pior que isso, parecia ser a atração do mês da mídia, e James não queria aparecer em nenhuma daquelas revistas de fofocas. O mais sensato a fazer era ignorá-la.
Mas é claro que Liss estava lá, na festa da inauguração do bar, toda glamourosa. Ele a avistou imediatamente. Era impossível não notá-la naquele estonteante vestido preto justo que aderia ao seu tronco, evidenciando cada uma de suas belas curvas, e expandindo-se, logo abaixo, numa saia rodada cujas fendas propiciavam rápidos vislumbres provocantes de suas pernas deslumbrantes a cada passo que ela dava. Seus cabelos soltos pendiam longo pelas costas e mais uma vez ele experimentou o desejo de enterrar os dedos nele e sentir-lhe a maciez contra o seu corpo.
James notou o exato momento em que ela o viu. Liss tinha jogado a cabeça para trás em meio a uma risada devido a algo que um admirador lhe havia dito e flagrou o olhar dele fixo nela. A risada dela se calou, mas o sorriso permaneceu em seus lábios. Seu olhar se tornou ainda mais intenso. Ele caminhou em sua direção, sorrindo e cumprimentando os conhecidos com leves meneios de cabeça, voltando sempre, porém, a encará-la. Ela continuou conversando com o pequeno círculo de pessoas ao seu redor, mantendo, porém, os olhos fixos nos dele a maior parte do tempo. Assim que ele se aproximou, ela deixou o grupo, adiantando-se para encontrá-lo, livre do seu séquito. Ele sorriu para si mesmo, sabendo que aquela atitude revelava o tipo de relacionamento que ela havia estabelecido com ele. Sim, ela era sua funcionária, mas a conexão entre eles era bem maior do que uma simples relação de trabalho. Ele se recusou a analisar mais profundamente o motivo de aquilo lhe ter agradado tanto, decidindo-se simplesmente a desfrutar da satisfação que o fato lhe proporcionava.
— Você não me disse que viria aqui esta noite.
Ele poderia ter lhe dado uma carona.
— Eu só lhe devo satisfações a respeito das minhas horas de serviço, certo? — respondeu ela com indiferença. — Estou surpresa por vê-lo aqui... Achei que você ainda tinha muito trabalho a fazer.
James sorriu. Quer dizer que ela ainda estava mordida com os comentários que ele havia feito naquela tarde. Decidiu, porém, ignorar as suas palavras, e voltar toda a atenção para os pés dela e os extravagantes sapatos que os envolviam. Aqueles saltos altos e finos não seriam capazes de sustentar nem mesmo o peso de um gato, que dirá o de uma mulher adulta, mesmo uma tão magra quanto Liss. Eram os sapatos femininos mais frágeis que ele já havia visto na vida, e ele já vira muitos deles.
— Não acha que já é suficientemente alta? — perguntou ele com a voz arrastada.
Um sorriso que ele ainda não havia visto em seu rosto curvou os lábios dela e iluminou os seus belos olhos castanhos, suficientemente profundos para que alguém se afogasse neles. Eles brilharam, misteriosos e tentadores e James se flagrou afundando neles com extrema rapidez.
Liss deu um passo adiante, transformando a distância entre eles em algo mais pessoal e menos profissional. Cada um dos músculos do corpo de James havia entrado em estado de alerta assim que ele a vira no recinto. Agora eles haviam atingido seu ponto máximo de tensão. Ela estava tão perto, e ainda assim, ele ansiava por chegar mais perto ainda.
Ela ainda ficou um milímetro mais alta ao se colocar na ponta dos pés. Jogou a cabeça para trás. A malícia em sua expressão intensificou-se, assim como a promessa de um sensual deleite.
Atordoado a ponto de não conseguir se mover, ele percebeu que ela estava prestes a beijá-lo. Seus lábios estavam entreabertos, cheios e devastadoramente próximos dos dele. James pôde vislumbrar-lhe os dentes brancos e a ponta de sua língua rosada. Mas a boca de Liss não alcançou a sua. O sangue dele corria com força em suas veias. Sua capacidade de raciocinar havia desaparecido por completo, deixando que o instinto assumisse o comando. No exato momento, porém, em que ele inclinou a cabeça a fim de encostar os seus lábios nos dela, ela baixou a cabeça e se afastou.
— Acho que não — disse ela, numa fala ainda mais arrastada do que a dele.
"Acho que não" o quê? Oh, sim. Que não era suficientemente alta...
Droga.
Ela lhe lançou um sorriso indiferente, mas seus olhos brilhavam de êxito, satisfação e divertimento. James teve certeza de que ela ia cair na gargalhada, porém algo a deteve. Havia como que uma leve sombra por trás da luz que emanava dos seus olhos. Um lampejo de desejo quase invisível, mas que ele conseguiu flagrar antes de ela desviar o olhar. Ela havia querido levar aquele beijo adiante tanto quanto ele quisera que ela o fizesse. E aquilo impediu ambos de rirem da situação.
Ele não sabia o que fazer primeiro, se tomar um pouco de ar fresco ou um gole de sua bebida.
Observou-a de longe enquanto ela se misturava à multidão, sem no entanto, desaparecer. Isso seria impossível para uma mulher como ela. A raiva tomou conta dele. Ele se recusava a ser o mais novo brinquedinho dela. E pensar que ele havia imaginado que ela estava sendo cautelosa. Naquele exato momento ela havia sido uma sedutora de marca maior. Ignorar a atração que existia entre eles não ia adiantar. Ele, na verdade, deveria usar aquilo a seu favor. Mas teria que ser cuidadoso. Só tocara-lhe a mão uma única vez e aquele simples gesto havia provocado uma forte descarga elétrica diretamente na fonte do seu desejo. Ele sabia que teria que beijá-la. E logo.
James era um homem acostumado a estar no comando. Não havia por que duvidar que conseguiria manter o controle de mais aquela situação, não é?
Estúpida, estúpida, estúpida. O coração de Liss levou quase meia hora para retornar ao seu ritmo normal. Aquele flerte explícito com James havia se transformado no maior exercício cardiovascular de toda a sua vida. Se não fosse tão jovem e estivesse tão bem de saúde, poderia ter achado que estava na iminência de sofrer algum tipo de ataque. Ela decididamente não deveria se aproximar mais dele, e no entanto, era tudo o que ela mais desejara.
Foi a primeira vez que ela o viu num traje a rigor. O bom e velho smoking costuma fazer maravilhas pela maioria dos homens, mas no caso de James ele o havia simplesmente elevado à categoria de um formidável garanhão. O cliché do moreno alto, bonito e sensual, no entanto, não lhe fazia justiça. Ele não era a síntese da beleza masculina. Liss já havia conhecido outros homens mais "bonitos", porém ele era mais atraente do que qualquer um deles.
James tinha traços fortes e harmônicos, uma altura acima da média, e ombros largos que faziam os joelhos de Liss fraquejarem pateticamente, mas a chave de seu charme estava em sua postura, na maneira como ele se movia. Algumas pessoas tinham uma aura em torno de si que fazia as outras se voltarem em sua direção e ouvirem cada palavra que elas dissessem. Era uma questão de carisma.
E James Black tinha carisma de sobra.
Bastara um único olhar em sua direção com aquele smoking para que ela perdesse o fôlego. Como resultado, seu cérebro, desprovido do necessário combustível para raciocinar adequadamente, havia permitido que ela fizesse aquela estupidez. Seus lábios jamais a perdoariam. Cada um de seus terminais nervosos gritava por aquilo de que haviam estado tão próximos. Seus lábios estavam cheios e curvados naquele eterno meio sorriso, charmoso e irônico ao mesmo tempo, tão tentadores. O fato de ter ficado tão próxima dele havia lhe permitido sentir um pouco do seu cheiro, uma deliciosa mistura dos odores de sabonete e cheiro de homem, e sua mente decidira naquele exato momento projetar um filme onde James se ensaboava sob a água corrente, envolto apenas pelo vapor e nada mais.
Idiota. Havia se deixado levar por um impulso.
Tudo o que precisava era fazer bem o seu trabalho durante o dia e se divertir à noite, sem fazer nada que pudesse aborrecer sua família.
Foi pensando assim que ela decidiu voltar a circular pela festa para conversar com seus amigos. Havia descoberto em Paris que as festas ficavam bem melhores quando todos se divertiam, e que a sua curiosidade natural pelas pessoas ajudava muito nisso. Manteve distância de James, mas continuou observando-o de longe, atenta ao modo como ele conversava com todos à sua volta. Ele era atencioso e parecia realmente ouvir o que os outros tinham a dizer. Ele era simplesmente incrível.
James também acompanhou os movimentos dela pela festa, sempre com uma bebida na mão em que dava apenas minúsculos goles. O brilho em seus olhos era de puro prazer, e não efeito do álcool, ou de qualquer outro estimulante. Ela sabia o nome de todas as pessoas presentes e apresentava umas às outras com pequenas informações que interessavam a todos. Reservava um tempo para conversar com todos, inclusive aqueles obviamente deslumbrados por estar conversando com uma princesa de verdade.
Um desavisado pensaria que ela era a anfitriã do lugar, que sempre frequentara aquele ambiente e não que havia acabado de conhecer a maior parte dos convidados naquela noite.
Seu corpo ansiava por queimar toda aquela energia reprimida. Ela o havia envolvido em sua teia deixando-o na iminência de explodir. Ele lhe daria o troco, mas manteria a distância por enquanto. Os paparazzi já haviam chegado e a última coisa que ele queria era sair estampado nas fotos dos jornais como o seu mais novo acompanhante. Compreendia agora por que Liss gostava tanto de festas. Ela era boa nisso. Aquilo o fez pensar. A maioria das pessoas gostava de trabalhar naquilo que sabia fazer bem e talvez Liss se saísse melhor naquele ramo do que tentando secretariá-lo, embora tivesse que admitir que ela estava se esforçando.
Ele já estava de partida, mas não pôde resistir à tentação de ir falar com ela uma última vez.
— Você mal tocou a sua bebida.
Ela se virou na direção dele, alheia a todo o restante da festa.
— Vou beber o restinho de todas as garrafas no final da noite — disse ela, decidida a manter um tom leve.
— Ah, quer dizer que você começa a noite como a anfitriã perfeita e termina como a criança selvagem.
— Alguns hábitos são difíceis de mudar.
— Talvez eu devesse permanecer ao seu lado até mais tarde. Gostaria muito de ver até onde você chega.
A tentação mexeu com ela outra vez.
— Nunca me transformo antes da meia-noite, o que provavelmente é tarde demais para você.
— E até que horas você vai?
— Até quando eu quiser.
Ele lhe lançou um sorriso agudo.
— E mesmo assim conseguirá brilhar com o frescor de uma margarida amanhã de manhã, no trabalho?
Ela congelou. Deveria ter previsto aquilo.
— Minha vida social não influencia em nada a minha vida profissional.
— Ah, sim?
— Sim — respondeu ela, flagrando aquele lampejo no olhar dele. — Mantenho as duas absolutamente separadas.
— É mesmo? — perguntou ele, sem nem sequer tentar esconder a malícia em seu sorriso, com uma ironia ainda maior.
Ela não podia culpá-lo. Afinal de contas, fora ela quem provocara toda aquela história de um quase beijo. Mas ela não podia lamentar aquilo de todo. Provocar aquele ardor momentâneo nos olhos dele tinha sido uma emoção e tanto. Era delicioso imaginar que, ao menos por uma fração de segundo, fora ela quem exercera poder sobre ele fazendo-o dançar de acordo com a sua música, ou pelo menos quase. Ele havia desejado aquele beijo.
Agora, porém, que já havia marcado a sua posição, ela deveria deixar aquela questão inteiramente de lado.
Liss se virou e tentou assumir um ar profissional.
— Vejo-o amanhã.
— Você estará de folga, princesa — disse ele com um ar triunfante. — Amanhã é sábado.
Liss não conseguiu dormir pensando em James. Num momento, ele parecia altamente excitado, olhando para ela como se a desejasse, em outro, era frio, sarcástico e reprovador. A atração entre eles era inegável, mas as circunstâncias eram todas contrárias e Liss tinha a sensação de que ele achava que ela era toda errada. A única decisão lógica a tomar naquela situação era retroceder. Seria fria e profissional com ele durante o dia daqui por diante e manteria a devida distância caso suas agendas sociais se cruzassem.
Oh, Deus, mas como ele ficava bem de smoking e de terno... Ainda bem que ela não o havia visto em trajes informais. Ele devia ficar simplesmente divino recheando uma calça jeans.
Ela passou um bom tempo debaixo do chuveiro, deixando que o barulho da água corrente desfizesse o opressivo silêncio dentro do apartamento. Em seguida vestiu um jeans justo e uma camiseta, sem se preocupar muito com a maquiagem. Depois de almoçar as sobras de uma refeição anterior, ela resolveu sair cedo para seu compromisso, decidida a dominar o sistema de transporte público naquela semana em vez de deixar que ele o dominasse. Os táxis que ela pegava com frequência para voltar para casa tarde da noite estavam começando a pesar no seu orçamento e ela não podia se dar ao luxo de pegá-los durante o dia também. Depois do pesadelo da última semana, ela ao menos já sabia agora exatamente que trem e ônibus pegar, só precisava chegar na hora à estação.
Ela pegou a sua caixa de guloseimas e seguiu em direção à porta. Ao sair do elevador e cruzar o saguão, ela já estava lamentando o fato de a caixa ser tão volumosa e surpreendentemente pesada. Ela deveria ter colocado aquilo em sua mala de rodinhas. Foi naquele exato momento que um dos seus sapatos escapou do seu pé e a fez escorregar.
— Droga!
— Onde é que você vai?
Ela virou a cabeça subitamente. James estava atravessando o saguão. James?
— Estou indo para a estação — exclamou ela, totalmente perplexa.
— Carregando isso?
Ela ignorou a pergunta, ocupada demais em fechar a própria boca. Estivera certa sobre o jeans. Com aquele modelo justo e aquela camiseta nem tão apertada, nem tão solta ele estava de tirar o fôlego.
— O que você está fazendo aqui?— disse ela numa espécie de sussurro, quase histérica.
— Eu moro na cobertura.
— Oh — disse ela, esforçando-se para processar aquela informação enquanto tentava equilibrar a caixa e enfiar o pé no sapato rebelde, fracassando completamente em todas as três tarefas.
— Posso ajudá-la?
— Não, obrigada.
Fria e profissional. Aquele era o caminho. Nada de comê-lo com os olhos, nem de imaginar como seria o seu apartamento. Nada de se atirar para cima dele.
Mas ele já havia tomado a caixa de suas mãos, franzindo as sobrancelhas.
— Para que parte da cidade você está indo?
— Bem, eu vou para o outro lado de Chatswood.
— O que vai fazer lá?
Ela deu de ombros, conseguindo se recompor.
— Tenho alguns compromissos por lá.
O cenho dele se aprofundou.
— Eu lhe darei uma carona. Tenho que sair mesmo.
— Oh, não, obrigada, James...
Liss se deteve ao perceber que estava falando com as paredes. Ele já estava no elevador. Ela ajeitou o sapato e o seguiu até a garagem para então entrar no confortável conversível de dois lugares que ele havia acabado de destrancar.
Para seu alívio, eles não conversaram durante o trajeto. Ela lhe deu o endereço e nada mais, o que lhe proporcionou algum tempo para se recuperar e observá-lo um pouco mais, furtivamente. Passados alguns minutos, ela chegou à conclusão de que seria melhor olhar pela janela, caso contrário, seu coração jamais voltaria ao ritmo normal. Assim que eles pararam diante da casa, ela o viu avaliando-a com um ar completamente crítico.
— Você vai demorar?
Liss quase riu. Ele estava agindo como um verdadeiro guarda-costas.
— Umas duas horas, eu acho.
Só ia passar algum tempo com as meninas, conversar um pouco com elas, e principalmente, ouvi-las.
— Estarei pronto mais ou menos a essa hora também. Voltarei para buscá-la.
Aquela não era uma oferta, mas uma declaração, e ela já sabia que não adiantava discutir com ele. Seria bom mesmo contar com uma carona.
— Obrigada. Isso seria ótimo.
Duas horas depois, James estava de volta, sentado atrás do volante, esperando por ela. Vinte minutos depois disso, ele saiu do carro. James sabia que não havia acontecido nada com ela. Tinha digitado o nome do lugar em que a deixara num site de busca assim que chegara ao escritório e descobrira tratar-se da Atlanta House, um abrigo para jovens grávidas onde elas podiam permanecer enquanto aguardavam o nascimento de seus bebês. Um lugar onde podiam se manter em dia com seus estudos e aprender os cuidados básicos a ter com os bebês. Um lugar a que podiam recorrer quando não havia mais ninguém que as acolhesse.
Ser conhecida como uma grande defensora de instituições de caridade era perfeito para uma socialite bem nascida. Liss só podia estar interessada naquele lugar como uma forma de se promover. A mãe dele era igualzinha. Comitê disso, angariação de fundos para aquilo, embora o propósito básico fosse sempre o de manter a fachada.
Liss devia estar fingindo durante todo o tempo que permanecera lá dentro, fazendo tudo por uma sensação de dever, e não de verdadeiro desejo.
A caixa de plástico, porém, o havia deixado intrigado.
Ele bateu na porta, que foi aberta por uma adolescente num estágio já avançado de gravidez e cujos olhos verdes se arregalaram ao olhar para ele e então para o seu carro estacionado em local proibido.
James perguntou por Liss.
— Ela está na sala comum. Vou chamá-la para você.
Ele deu um passo adiante, esperando no corredor enquanto a jovem seguia em direção ao som das risadas. Olhou para o quadro de avisos repleto de fotos de jovens mães embalando seus filhos recém-nascidos, cartões, postais, cartas de agradecimento e relatos de progressos. Ele esperou ver uma foto de Liss cercada de meninas em torno de sua visitante mais ilustre, mas não encontrou. Haveria uma em breve, pensou ele. Ela certamente escreveria alguma mensagem adocicada sobre a foto que seria emoldurada e pendurada ali orgulhosamente, para depois começar a desbotar e juntar poeira sem que Liss nunca mais aparecesse por lá outra vez. Irritado, ele se afastou do quadro e seguiu em direção à sala.
— Liss, há um cara bonitão aí procurando por você — disse a adolescente.
Ele a ouviu resmungar:
— Droga, já está na hora?
Mais risadas, despedidas e comentários.
— Ele é seu namorado? — perguntou uma das meninas.
— Não — respondeu Liss rápido e em voz alta.
— Seu guarda-costas? — tentou outra.
James se deteve ao sentir um ridículo prazer com aquela perspectiva. Toda a vulnerabilidade presente naquele lugar deveria estar atiçando seu instinto protetor masculino.
— Ele, na verdade, é meu chefe.
— Você tem que trabalhar, Liss?
— Todo mundo tem que trabalhar, Sandy — disse ela com leveza.
— Mas você é uma princesa.
— Mas tenho que comer mesmo assim.
Foi então que ela surgiu, na entrada da sala, parecendo flutuar em meio às risadas. A menina que havia aberto a porta a seguia de perto e, logo atrás dela, uma verdadeira legião de rostos preencheu a moldura do batente da porta.
James permaneceu imóvel, mal se dando conta da presença delas, ciente apenas de Liss. Mal se deu conta do sorriso que se abriu em seu rosto. Ela estava corando novamente e o rubor cresceu ainda mais quando ela viu até que ponto ele havia chegado no corredor. Seus olhos se encontraram por um momento. A cor no rosto de Liss se intensificou ainda mais. Ela desviou o olhar ao caminhar em direção a ele, concentrando-se em equilibrar a caixa. Ele absorveu a sua aparência como um homem sedento que tivesse passado meses no deserto. Fresca e brilhante, de jeans e camiseta e os cabelos presos, ela parecia ainda mais atraente do que no seu visual glamouroso da noite anterior e, por um breve segundo de loucura, ele se perguntou como ficariam aquelas curvas quando uma maternidade fosse iminente.
— Sinto muito, James, acabei perdendo a noção da hora. Eu o fiz esperar muito?
James balançou a cabeça ao tirar a caixa de sua mão, afastando aquelas imagens da mente, tomando tanto cuidado para evitar qualquer contato com as mãos dela como ela estava tendo para evitar o seu olhar. Era praticamente impossível controlar o cérebro diante de tanta fertilidade. A ideia de S-E-X-O gritando em sua mente em letras garrafais, e tudo o que ele conseguia ver diante de si era Liss no centro da ação, junto com ele.
Cresça, recriminou-se ele mentalmente. Aja como um homem maduro. Pare de pensar nesse tipo de coisa cada vez que põe os olhos sobre ela.
— Eu voltarei logo, está bem? — disse Liss, já da porta, em resposta ao coro de agradecimentos e despedidas das meninas.
James notou que ela não havia especificado quando e a amargura que havia desaparecido lentamente assim que ele a vira voltou a inflamá-lo. Ela provavelmente só voltaria quando não tivesse mais nada melhor para fazer. Ser crítico com ela era uma boa maneira de repelir o desejo, fazendo com que ele se sentisse novamente no controle da situação.
Assim que arrancaram, ele perguntou, sem conseguir conter o sarcasmo:
— Você se divertiu?
Liss continuou olhando pela janela, mas ele teve a sensação de que ela havia se contorcido.
— Eu gostei, e espero que elas também.
A insegurança fez com que ele se sentisse cruel.
— Estou seguro que sim — disse James num tom mais suave. — Eu ouvi as risadinhas quando cheguei. Parece que a princesa Elissa conseguiu encantar a todos novamente.
A rigidez nos ombros dela cedeu um pouco.
— Sim.
Uma olhada rápida revelou um sorriso suave curvando-lhe os lábios, como se estivesse se lembrando de algo engraçado. Sua expressão era insuportavelmente doce e ele decidiu não conversar mais para não interromper seus pensamentos felizes e não se deixar envolver pelos seus encantos.
Eles levaram apenas quinze minutos para chegar em casa, rápido demais e ao mesmo tempo uma verdadeira eternidade para James.
Ele conduziu o carro até a vaga na garagem, devorado de desejo, não apenas físico, mas também de simplesmente passar mais tempo ao seu lado. Um tempo tranquilo, de qualidade. Queria saber o que estava se passando em sua cabeça, o que a havia feito sorrir daquele jeito.
— Muito obrigada pela carona. Sinto muito por tê-lo feito esperar — disse Liss ao sair do carro.
— Está tudo bem.
Ele foi rapidamente até a mala do carro, tirando a caixa de dentro dela e segurando-a com firmeza. Passou o cartão para chamar o elevador e então apertou os botões. Ela se recostou contra a parede e fechou os olhos. Sua boca havia caído. Seus lábios cheios pareciam beijáveis e tristes.
— Você parece cansada. Suba para um café — disse ele antes de conseguir raciocinar direito.
Liss arregalou os olhos e os focou nos controles do elevador. Ele não havia pressionado o botão do andar dela de modo que na hora em que estava prestes a dizer que não, o que ele tinha certeza de que ela faria, o elevador passou direto, abrindo apenas no andar dele.
— Oh, está bem.
Ele desarmou o alarme, abriu a porta e caminhou à sua frente, conduzindo-a até a cozinha.
Liss o seguiu, mais certa, a cada passo que dava, de que aquela não havia sido uma decisão nada acertada, embora não tivesse conseguido se conter. Ela não estava certa a respeito do humor de James. Seria mais fácil se ele fosse completamente sarcástico, o que a impediria de se aproximar dele, coisa que ela desejava desesperadamente fazer. Seu jeito de portar um jeans e a maneira de sorrir para aquelas meninas deveriam ser passíveis de prisão. Ele era um verdadeiro ladrão de corações. Um alarme começou a soar em seus ouvidos. Ela sabia que tinha que voltar para o seu apartamento, mas não podia ser rude com ele depois da carona.
Ela se deteve na sala de estar, enquanto ele se entendia com a máquina de café, na cozinha.
— Bela vista.
As janelas davam diretamente para o porto, a água cintilava e o céu estava azul. Aquele era um típico apartamento de um homem solteiro, todo em cores neutras com algumas nuances mais escuras. Ela se aproximou de uma das estantes para checar o seu gosto por livros, brincando com as contas que uma das meninas havia enfiado no seu cabelo.
— Não tire. Está bonito.
Ele lhe passou o café e ela o levou aos lábios rapidamente, para não sorrir diante do elogio. O líquido escaldante não era nada perto do perigo que James Black representava quando decidia agradar. Ela se recolheu de volta à janela e à segurança da vista lá de fora.
— Você costuma ir lá frequentemente? — perguntou ele, indo até a janela também, porém na outra ponta.
— Já estive lá algumas vezes.
— Então essa foi a maneira que você encontrou de fazer a sua parte?
— Sim, minha boa ação do dia — disse ela com um sarcasmo à altura do dele, apenas para se defender.
Quer dizer que ele achava que ela não passava de um cliché. Sim, ela realmente não sabia fazer muita coisa, mas podia tentar.
— E por que justamente isso? Por que não crianças com câncer, ou pessoas famintas na África, por exemplo?
Como ele podia ser tão cínico?
— Estas causas já contam com o apoio de muita gente. Eu não faria muita diferença.
— Você poderia lhes proporcionar uma boa publicidade.
— Isso não tem nada a ver com publicidade!
Muito pelo contrário. Liss não queria que aquilo a transformasse na "princesa bondosa". Só queria ajudar outras pessoas, mesmo que apenas um pouco. Ao ver o ceticismo estampado no rosto dele, ela se viu novamente obrigada a se defender.
— Eu costumava passar uma tarde por semana em Paris trabalhando ao telefone com uma linha especial só para jovens. Muitas das pessoas que ligavam para lá estavam em situações como a das meninas da Atlanta House.
Aquilo sempre a havia comovido. Depois que soubera das dificuldades que sua amiga Cassie havia passado, então, aquele assunto calou ainda mais fundo dentro de seu interior. Cassie devia ter se sentido muito sozinha com seu bebê, na prisão. Liss esperava poder fazer por aquelas meninas aquilo que não pudera fazer pela sua amiga, tantos anos atrás. Ela ficou olhando fixamente para o porto, tentando se explicar melhor para James, na esperança de fazê-lo compreender que ela não era tão centrada em si mesma como ele imaginava.
— Eu não sou nenhuma terapeuta, e sei que elas têm problemas bem mais importantes do que qualquer um que eu já tenha vivenciado, mas eu me disponho a dedicar parte da minha atenção e do meu interesse a elas, a escutá-las.
— E é disso que elas precisam?
Liss virou a cabeça para olhá-lo, na outra ponta da janela, olhando para ele e não para a vista. Sua expressão era tão cínica que ela teve vontade de sacudi-lo.
— É claro que isso não é tudo de que elas precisam, mas o fato é que ninguém quer saber delas. Essas meninas foram postas de lado e esquecidas por todos, tanto pelos homens que as usaram, como pelo restante da sociedade e por suas próprias famílias. Às vezes é bom ter alguém que nos ouça e que nos faça sentir especiais.
Embora o trabalho na linha telefônica, em Paris, tivesse a vantagem de lhe preservar o anonimato, ali, numa cidade onde ela não conhecia ninguém, Liss havia preferido algo mais pessoal. Pesquisara sobre a Atlanta House e fizera contato com eles para descobrir se estariam interessados em suas visitas. Havia visitado a casa várias vezes, uma semana antes de começar a trabalhar lá, a fim de conhecê-los, mostrar que tinha a intenção de colaborar com a organização e se tornar amiga das meninas. Não tinha nenhuma intenção de aparecer apenas de vez em quando. Agora havia estabelecido um padrão de uma visita semanal, embora de vez em quando passasse por lá mais vezes, quando podia.
Naquela tarde, ela havia conversado com as meninas, feito algumas pulseiras de miçangas com uma, trançado os cabelos de outras com elas, como uma garota, e é óbvio que ela também tirava proveito daquela situação, pois se sentia bem-vinda e aceita por elas.
Ela procurou se esquivar da frieza das perguntas de James.
— Não é nada bom saber que não se é querido.
Ela voltou a olhar pela janela, mas não conseguiu mais enxergar o céu glorioso, excessivamente ocupada com seus pensamentos. Ela jamais fora realmente querida por sua família e nunca havia compreendido o real motivo daquilo. Então agia de maneira um pouco infantil, mas quem não o faria, na sua situação? Ela estava muito magoada por não ter sequer obtido uma segunda chance daquela vez. Ninguém estava disposto a reconhecer que ela poderia ter amadurecido um pouco.
De repente ela se deu conta de que o silêncio havia se estendido demasiadamente e decidiu estampar um sorriso educado em seu rosto, que desapareceu, porém, no exato instante em que o seu olhar cruzou com o dele. Seus olhos estavam escuros e ardentes, atentamente focados nela. Ela nunca o havia visto tão sério e tão concentrado, e ao mesmo tempo tão indecifrável. O silêncio prosseguiu e a cada momento que passava os traços do rosto dele iam ficando ainda mais angulosos e seu maxilar enrijecia como se ele estivesse tentando se conter.
De repente, Liss se sentiu incrivelmente desconfortável. A temperatura de seu corpo se elevou e ela temeu por mais um daqueles terríveis rubores. Decidiu, então, terminar de beber o seu café, já frio.
— Preciso ir andando.
Ele olhou para baixo, estendeu a bandeja de vidro para pegar a sua xícara, e pigarreou, visivelmente aliviado.
— Está bem.
Ela seguiu direto para o elevador.
— Obrigada pela carona. E pelo café. Vai me ajudar a permanecer acordada no teatro esta noite.
— Ainda vai sair? Você parece cansada.
Ela estava mesmo, e a tensão de permanecer ao seu lado não estava melhorando muito as coisas.
— Parece que a peça é ótima.
Ele a acompanhou até o elevador e apertou os botões.
— Você nunca tem vontade de ficar quieta em casa?
— Na verdade, não. — O que ela faria, conversaria com as paredes? —Além do mais, eu já disse que iria. Não quero desapontá-los.
Não queria que deixassem de convidá-la. Detestava ficar sozinha em seu apartamento. Era melhor sair e se ocupar do que ficar em casa pensando em seus problemas.
— Naturalmente — disse ele, retomando o tom de sarcasmo. — Divirta-se — acrescentou ainda enquanto as portas do elevador se fechavam.
Ele a chamou ao seu escritório assim que ela chegou, antes da hora, na segunda-feira de manhã.
— Princesa, vamos ser honestos.
Liss se deu conta de que aquela história de separar o lado profissional do social no caso de James seria radical. Ele podia sorrir encantadoramente para ela, tomando um café, num dia, e então despedi-la sem a menor cerimônia no dia seguinte.
— Essa história de você ser minha secretária... — Oh, não, ele ia mesmo despedi-la. — Isso não está funcionando.
— Eu pensei... — disse ela, tropeçando nas palavras, sentindo o rosto ficar em brasa. — Eu esperava ter melhorado.
Dignidade, onde estás? Ela não queria ser mandada de volta para um lugar onde não a queriam. Será que ninguém jamais iria querê-la em canto algum?
— Acho que existe outra coisa que você poderia fazer para mim.
Ela se deteve. Por alguns segundos seus pensamentos assumiram um ramo totalmente impróprio fazendo com que o calor que lhe invadira o corpo se elevasse ainda mais.
— Eu vou abrir um novo hotel em Aristo daqui a alguns semanas.
— Em Aristo?
— Pretendo dar uma festa por lá para divulgar a inauguração, no final da semana que vem — disse ele, curvando os cantos da boca. — Você gosta de festas, não é, princesa?
— Você sabe que sim.
Ele estava querendo que ela fosse a uma festa em seu próprio país, totalmente arrasada e desonrada? Ela certamente não permaneceria por lá durante muito tempo. Alex provavelmente a mandaria novamente para bem longe antes mesmo que ela pudesse se refazer da mudança de fuso horário.
— Quero que assuma o planejamento da festa. Quero exclusividade. Brilho.
Ela desviou a sua atenção do mar de autopiedade em que já estava se afogando. Ele queria que ela organizasse aquela festa tão importante?
— Quero um baile de gala diferente de tudo o que já se viu. Preciso da presença de VIPs e de toda a mídia internacional. Quero que o lugar esbanje glamour e saia em todas as revistas e jornais do planeta.
O coração de Liss começou a bater com força e pela primeira vez não era devido ao modo como ele a estava olhando, ou pelo menos não inteiramente.
—Você o terá — disse ela com um brilho no olhar enquanto sua cabeça já fervilhava cheia de ideias. Não havia nada de que ela gostasse mais do que uma grande festa, e agora poderia criar uma do início ao fim!
— Então mãos à obra — disse ele com um meneio de cabeça em direção à porta, sorrindo meio relutante, um pouco indulgente até. - O arquivo está no sistema. Você encontrará os detalhes a respeito do orçamento e tudo o que já foi feito até aqui. Dê uma olhada e faça os ajustes que julgar necessários. Esta é a sua festa, princesa. Faça com que dê certo.
— Sim, chefe! — respondeu ela animada, saindo de lá quase que saltitante.
— Princesa.
Ela se deteve e virou. Seu sorriso havia desaparecido e havia uma mensagem séria em seus olhos.
— Não faça com que eu me arrependa dessa ideia.
James não se arrependeria. Passaria, na verdade o restante de seus dias felicitando a si mesmo pelo que fizera. Liss já podia até ver. A festa seria um sucesso estrondoso a ser comentado anos a fio. Um acontecimento elegante e suntuoso que não poderia ser equiparado a nenhum outro, cujos convites seriam mais disputados do que os raros diamantes cor-de-rosa de Calista.
E tudo aquilo em Aristo. Uma expectativa agridoce a queimou por dentro. Finalmente poderia ver Cassie. Ela havia voltado para casa a fim de acompanhar o funeral de seu pai, mas Alex a havia obrigado a fazer as malas e partir imediatamente, sem que ela tivesse tido tempo de procurar pela amiga. E agora que Seb havia encontrado Cassie e seu filho, havia muito que comemorar. Liss ainda mal podia acreditar que tinha um sobrinho, e nem que sua amiga havia passado por tanta coisa. Doía não ter podido vê-los antes.
A rapidez com que ela havia sido expulsa de Aristo ainda a feria, mas com sorte ela conseguiria transformar aquela festa em algo realmente mágico e provaria a todos do que era capaz, passando, talvez, a ser mais bem-vinda por lá.
Ela tentou afastar aquele caos de emoções de sua mente e decidiu passar a cuidar da parte divertida. Até mesmo os convites tinham que ser especiais, dando alguma pista do estilo do evento, aumentando a expectativa por parte dos convidados. Ela precisava dos convidados mais glamourosos também. Não precisou de muito tempo para compilar uma lista dos maiores dignitários e socialites de Aristo que certamente confeririam a grandeza necessária ao evento exclusivo.
Ela folheou o arquivo que James havia mencionado e decidiu mudar a maior parte das coisas já estabelecidas. Duas semanas era muito pouco tempo para organizar as coisas do jeito que ela queria, mas ela sabia que conseguiria. Navegou pela internet à procura de ideias, optando por ignorar o fato de que a nova secretaria contratada tinha dominado o sistema telefônico e financeiro em menos de uma hora.
Se era o melhor que James queria, ela o daria a ele. As melhores comidas, os melhores vinhos e a mais bela decoração. Numa cidade de excessos e de extrema riqueza como aquela uma festa precisava oferecer o que havia de melhor no planeta para impressionar os paladares já estafados da elite de Aristo.
Surpreendentemente, James não interferiu em nada. Deixava-a por conta própria todas as manhãs. Liss estava muito feliz. Queria manter o máximo dos seus planos em sigilo para obter o máximo de impacto na noite em que tudo fosse revelado, já que a pessoa a quem ela mais queria impressionar era ele. Queria que ele abandonasse aquele tom de sarcasmo para com ela de uma vez por todas. Queria que ele fosse o chefe caloroso e acolhedor daquele primeiro dia, quando pensara que ela era a sua secretária habitual.
A quem ela estava querendo enganar? O que ela realmente queria era ele, ponto, o que, ela sabia muito bem, não era nada prudente de sua parte.
Ela o viu sair para almoçar e deu uma escapulida logo em seguida. Aquele era um dia digno de comemoração, e havia um par de sapatos deslumbrantes chamando por ela na vitrine de uma loja perto dali. Ela precisava experimentá-los, e depois disso, é claro, possuí-los.
Ela entregou o cartão de crédito, cruzando os dedos para ainda não ter estourado o seu limite e comprou sapatos de saltos finos e muito altos e, como toda compradora compulsiva de sapatos, não foi capaz de deixar a loja sem calçá-los.
Devido à aventura, ela acabou demorando um pouco mais do que pretendia para voltar ao escritório e encontrou James na entrada, segurando a porta para ela.
Ele olhou para a bolsa na mão dela e então para os seus pés.
— Que sapatos ridículos são esses?
— Eles não são ridículos.
Eram deslumbrantes, e estavam lindos em seus pés. E além de tudo, eram sensuais.
— Você não seria capaz de permanecer nem cinco minutos de pé com eles.
— Posso fazer qualquer coisa com esses sapatos — declarou ela precipitadamente.
Ele arqueou uma sobrancelha e o brilho em seu olhar se tornou diabólico.
— Qualquer coisa? Aposte uma corrida comigo pelas escadas, então.
Ela ergueu o queixo sentindo uma descarga de adrenalina atravessar o seu corpo.
— Eu sou muito rápida.
O sorriso dele se alargou ainda mais, mas a resposta veio lenta e num tom zombeteiro.
— Eu acredito piamente.
Os olhos de Liss se estreitaram com uma enorme necessidade de se vingar dele. Ela se virou para a escada e disse:
— A seus postos.
FOI.
Ela saiu em disparada e então se deu conta de que não havia nada se movendo ao seu lado. Já no topo do primeiro andar ela se deteve e olhou para baixo, onde ele a estava observando.
— Por que não está correndo?
— Estou lhe dando uma vantagem. Esses, sapatos são uma deficiência.
— Tanto pior para você.
Ela correu com leveza e rapidez, mas ao contrário dela, ele podia saltar três ou quatro degraus a cada vez.
Naturalmente, em pouco tempo ele a alcançou e a passou, detendo-se no final do andar seguinte.
— Ultrapassada no terceiro andar. Admita, você se sairia melhor descalça.
— Meus sapatos são parte de minha expressão pessoal.
— Belos e decorativos, mas completamente inadequados para qualquer coisa de útil.
Ela pôde se sentir enrubescendo novamente e a frustração só fez piorar as coisas.
— Pois eu prefiro pensar neles como algo um tanto diferente, um pouco perigoso e sem dúvida desejável.
Ele caminhou em direção a Liss, que tentou se conter, mas quando ele invadiu o seu espaço ela não pôde deixar de dar um passo para trás. Ele prosseguiu, e ela continuou recuando até que não havia mais para onde ir.
— O que você está fazendo? — disse ela. Ela precisava soar ainda tão arfante?
— Exigindo o meu prêmio.
Agora sim, ela estava verdadeiramente arfante.
— Nós não falamos nada sobre prêmios.
— É verdade — disse ele parecendo pensativo — mas eu venci, portanto, é meu direito escolher o que eu quero. — Depois sorriu, como se tivesse se decidido. — O que o herói sempre pede à princesa?
— Não sei se você pode ser chamado de herói.
— Um beijo — declarou ele, sem se importar em retrucar.
— Não acho que isso seja uma boa ideia, James — disse ela num momento de fria sanidade.
Ela se recusava a deixar que o nó de desejo que sentia dentro de si desatasse.
Os olhos dele se estreitaram.
— Não há nenhuma multidão por trás da qual você possa se esconder agora. Terá que ceder.
Então ele também continuava pensando naquele quase beijo. Ela praticamente não havia conseguido pensar em outra coisa durante as noites, em seu apartamento. Tinha chegado tão perto dele daquela vez que se afastar a havia deixado mais frustrada do que ela havia esperado.
James pousou as mãos na parede, de cada um dos lados de sua cabeça, inclinando o corpo levemente sobre o dela. A temperatura ambiente se elevou. Apesar de sua relutância, uma onda de desejo invadiu seu corpo.
— Essa não é uma boa ideia — repetiu ela, embora não conseguisse se obrigar a impedi-lo.
Não tinha nem sequer certeza de que ele a havia ouvido, fixado que estava em sua boca, tão focado que parecia até ter se esquecido de tudo o mais.
— Eu sei — murmurou ele.
Apesar daquela admissão, porém, ele baixou a cabeça. Liss manteve os olhos abertos para poder vê-lo bem de perto, a leve escuridão em seu maxilar onde a barba cerrada começava a despontar, a orla de grossos cílios em torno daqueles olhos castanhos-dourados iluminados, a plenitude dos seus lábios.
James também manteve os olhos abertos, a muito custo e não pressionou a sua boca contra a dela imediatamente. Por um momento que pareceu eterno, ele permaneceu com os lábios a um milímetro de distancia dos dela, até Liss tomar a iniciativa e fazer o minúsculo movimento, quase que inconsciente, elevando minimamente o queixo.
Naquele instante, a língua dele despontou de sua boca e tocou o canto dos lábios de Liss, cruzando finalmente aquela distância infinitesimal. Suave e gentil a princípio até que qualquer vestígio de relutância desaparecesse, o beijo foi ganhando maior intensidade, transformando-se num beijo forte, ardente, faminto e interminável.
Os olhos dela já haviam se fechado fazia algum tempo, e tudo parecia escuro, aveludado e quente, e a cada momento que passava ela se sentia cada vez mais envolvida pela teia de desejo sensual que ele tecia em torno dela.
Ele era bom nisso. Muito bom, na verdade.
Liss achou que ele estava prestes a se afastar, por isso enterrou os dedos em seus cabelos grossos, segurando-o junto a si para poder continuar a beijá-lo e ser beijada por ele.
Seus narizes roçaram um no outro e ela pôde sentir o cheiro do sabonete dele. Todo o corpo de Liss se arqueou, ansiando por sentir a força do dele. As mãos dele ainda estavam apoiadas na parede atrás dela, e Liss queria senti-las sobre seu corpo. Podia sentir a força dos braços dele que haviam se transformado em verdadeiras barras de ferro, prendendo-a numa prisão da qual ela não tinha o menor desejo de escapar.
Liss projetou o corpo mais uma vez na direção do dele, inquieta e irritada por não conseguir alcançá-lo. Seus lábios se afastaram dos dela, apenas para poderem beijar o seu queixo. Ela gemeu, não querendo que aquele beijo profundo tivesse fim, mas ao mesmo tempo desejando que ele a explorasse por inteiro da mesma maneira como estava fazendo com seu pescoço. Ao ouvir aquele som ele voltou a explorar-lhe os lábios, a princípio provocando-a apenas com a língua, para então tomar a sua boca de assalto. Liss se entregou a ele, retribuindo os seus beijos e afagando o seu cabelo, enquanto sua língua dançava com a dele.
Ela não estava preparada para o repentino baque quando ele se lançou para a frente, moldando toda a extensão do seu corpo ao dela. O impacto foi um choque, mas de puro prazer, arrancando dela um grito de deleite, seguido por um suspiro que pedia descaradamente por mais.
Ela tentou respirar, mas ele não lhe deu a menor chance de fazê-lo. Liss afastou as pernas um pouco mais e ele apertou seu corpo com ainda mais força contra o dela pressionando a coxa firme contra o ponto onde ela ansiava ser tocada.
Com todo o corpo colado ao dele, o desejo em seu ventre era latente. Liss gemeu mais uma vez e se contorceu junto a ele, querendo sentir a pele dele contra a sua, querendo a consumação plena do ato.
O corpo dele era tão firme e forte quanto ela havia imaginado. Seu próprio corpo estava ficando cada vez mais frouxo, abrindo cada vez mais espaço para ele. Por dentro, porém, seus músculos internos se contraiam de desejo. Os beijos ficaram ainda mais ardentes. Aquela era uma paixão em estado bruto, como ela jamais havia experimentado.
Ela não podia conter o balanço instintivo dos seus quadris, capaz apenas de minúsculos movimentos de tão apertada que estava entre a parede de concreto e a pressão ainda mais forte do corpo dele contra o seu. O prazer e a tortura eram imensos. Ela achou que ele estava tão excitado quanto ela, pois seu corpo estava rígido e ela o havia sentido tremer ao tomar posse de sua boca com a língua. Ela gemeu mais uma vez sob o efeito de uma onda de prazer e da promessa do deleite carnal. Não tinha mais condições de esperar. Queria sentir aquela língua por todo o seu corpo, queria a ele dentro de si. Agora.
E então ele se afastou dela, libertando a cabeça de suas mãos que estavam puxando os seus cabelos, deu um passo para trás, deu meia-volta, e apoiou as costas na parede, ao lado dela. Ele socou o concreto frio. Aquilo devia ter doído. Eles permaneceram lado a lado, no mais absoluto silêncio, com exceção da respiração arfante de ambos.
Finalmente James disse, num tom áspero:
— Você tinha razão.
Atordoada, ela virou a cabeça a fim de ler a expressão em seu rosto. Tudo o que ela queria era que ele se aproximasse outra vez.
Ele franziu a testa e voltou a falar, dessa vez bem mais claramente.
— Não foi uma ideia boa.
Um arrepio percorreu a pele superaquecida dela. Apesar de toda sua fama de desvairada, ela jamais havia imaginado fazer sexo numa escada antes, e há um minuto, ela não só havia contemplando aquela possibilidade como quase tinha começado a implorar por isso. Tinha gemido e se contorcido contra ele, incitando-o, porém ele, com exceção de sua língua, que ele sabia usar como ninguém, praticamente não havia se movido.
E já estava lamentando ter feito apenas isso. Lá estava ela, ainda completamente excitada e ele se recriminado pelo mau passo.
A humilhação tomou conta de Liss. Será que ela o havia esfriado? Ele só havia lhe pedido um beijo e ela se oferecera por inteiro a ele.
E ele não estava interessado. Naquele exato momento, ele nem sequer estava olhando para ela.
— Então vamos simplesmente esquecer o que aconteceu.
Aquilo era decididamente o que ela pretendia fazer. Com uma precisão calculada, ela subiu o último lance de escada que conduzia ao andar onde ficava o escritório dele.
James não respondeu, nem a seguiu. Só apareceu no escritório cerca de 20 minutos depois, tempo que ela aproveitou para ir ao banheiro ajeitar os cabelos e lavar o rosto. Estremecera ao ver seu reflexo no espelho: olhos arregalados, lábios inchados e mamilos enrijecidos.
Ao voltar finalmente para o escritório, ele não a cumprimentou, assentindo apenas vagamente na sua direção e na da nova secretária substituta, seguindo diretamente para a sua sala e fechando a porta. Era evidente que ele também havia ido ao toalete, pois seu cabelo não estava mais eriçado como estivera depois de ela ter passado os dedos por ele.
Ela jamais havia perdido o controle daquela maneira. Ao menos agora, ela sabia que era capaz de se excitar muito rápidamente, mas ele jamais saberia que aquilo era apenas com ele. Ela nunca mais permitiria que ele a fizesse de idiota outra vez.
Totalmente mortificada, ela se obrigou a voltar a atenção para o trabalho. Recusava-se a fracassar agora. Aquilo era exatamente o que todos esperavam dela. Até mesmo James. Especialmente ele.
E agora, mais do que nunca, ela precisava provar que ele estava errado.
O vernissage na galeria de arte contemporânea era o evento do momento. Todas as pessoas importantes estariam presentes, desde o primeiro-ministro, atores, modelos e até mesmo a mais nova princesa da cidade.
Liss esperara pelo evento apenas pela diversão que ele poderia lhe proporcionar, mas agora estava ainda mais entusiasmada devido à sua nova tarefa, decidida a analisar, e não apenas desfrutar das festas daqui para frente, a fim de aprender o que garantia o sucesso delas.
Chegou relativamente cedo e se pôs a observar a decoração e a ambientação, bem como os aspectos práticos, quem pegava os casacos e bolsas dos convidados e onde os colocava, como as bebidas eram servidas e como os petiscos eram apresentados. Caminhou lentamente por toda a borda do salão, evitando, pela primeira vez, seguir diretamente ao centro da ação, tentando avaliar o todo.
— Tomando notas?
Uma voz sarcástica excessivamente familiar por trás de seu ombro fez com que ela finalmente prestasse atenção nos outros convidados, ou pelo menos em um em particular.
Liss se virou lentamente para encará-lo, ganhando tempo para disfarçar o sorriso involuntário. A visão dele em um smoking sempre a faria sorrir e seu corpo se acender.
— De fato — disse ela, tentando se enfiar mentalmente numa tina de gelo.
Ao registrar a cautela na expressão dele, ela gelou ainda mais.
— Diga-me o que vê, então. O que pode aprender com esta festa?
Ela decidiu tomar aquela pergunta como sincera e ignorar a pontada de descrença na voz dele.
— Gosto do fato de haver empregados suficientes para que ninguém tenha que esperar para conseguir uma bebida ou algo para comer.
James não pareceu muito impressionado.
— Acho que é sempre bom satisfazer os apetites das pessoas. Ninguém quer que seus convidados partam famintos ansiando por mais alguma coisa, não é?
Ela lhe lançou um rápido olhar com o canto do olho, mas manteve uma expressão plácida.
— Na verdade, acho que deixar as pessoas com um gostinho de quero mais é sempre bom — declarou ela, determinada a não concordar com ele. — Ter o suficiente, ou pior até, cometer excessos, pode ser muito nocivo. Melhor deixar que os convidados se lembrem da noite desejando poder ter tido mais dela e permanecido mais tempo, desejando que houvesse outra festa como aquela na noite seguinte.
— Mas não haverá, não é? Será que não se corre o perigo de deixar todos decepcionados quando não há como repetir a mesma sensação?
— Tudo o que é bom, uma hora acaba — disse ela, recorrendo a um velho cliché. — Melhor fazer com que tudo acabe no ponto máximo do que deixar as pessoas enfastiadas.
James a olhou por um momento excessivamente longo e o desconforto dela aumentou ainda mais. Eles estavam falando apenas de festas, certo? Porque se não estivessem, ela teria que salientar que fora ele quem havia interrompido a sua festinha particular um pouco cedo demais para seu gosto; que fora ela quem havia sido deixada de lado, decepcionada.
Liss mudou rapidamente de assunto.
— A música está alta demais. As pessoas não conseguem ouvir umas às outras.
— Será que elas realmente querem conversar? E, se quiserem, terão que chegar mais perto umas das outras, o que é uma coisa boa, não?
Ela olhou para James e se deu conta de que ele estava mais próximo do que deveria dela.
— Isso depende do que você espera obter da ocasião. Qual é o propósito da festa?
— As melhores festas são aquelas em que as pessoas ligam umas para as outras — disse ele, exibindo, enfim, seu sorriso cáustico — a que proporciona assunto para os convidados.
Ele olhou em volta, parecendo analisar também a festa enquanto ela tentava compreendê-lo. Estaria flertando com ela?
— E quanto à iluminação? É um pouco forte, não acha? — perguntou ele.
— É uma galeria de arte, James — retrucou ela, deleitada com a rara oportunidade de fazer um comentário tão contundente quanto os dele.
— Sim, mas a luz poderia ser mais sutil, mais intimista.
— Para quê?
— Para que as pessoas pudessem relaxar e se conhecer melhor.
Ela chegou à conclusão de que ele a estava provocando deliberadamente e que a melhor coisa a fazer era ignorá-lo, mas não conseguiu deixar de morder a isca.
— Afinal de contas, você quer que eu organize uma festa ou uma orgia?
Aquela altura, o olhar cauteloso dele já havia desaparecido completamente, dando lugar a uma franca apreciação. Liss se recusou a olhar para a boca de James com aquele sorriso amplo, onde despontavam seus dentes brancos e a sua língua, uma vez que já sabia do que ela era capaz.
— Um monte de ninfas à disposição? Nada mal.
Aquilo a fez recuar.
— Não estou certa de poder fazer esse trabalho para você, James. Acho que é melhor você procurar um serviço de encontros.
— Eu não preciso de ajuda para este tipo de coisa, mas estou surpreso de vê-la sozinha. Onde está o seu séquito de admiradores?
— Séquito?
— Sim. — De repente todo o seu humor havia desaparecido e seus olhos se transformado em verdadeiras adagas. — Já pensou que poderia se sair melhor se trocasse quantidade por qualidade?
Liss permaneceu calada. O que ele estava insinuando? Ela havia aprendido a ser cautelosa quando se tratava de homens e achava mais fácil sair com muitos deles, sem permitir que nenhum deles realmente se aproximasse. Isso fazia com que todos eles supusessem que tinham alguma chance, sem que nenhum deles pudesse reivindicar privilégios ou intimidade.
O que mais a aborrecia, contudo, era que as pessoas mais próximas a ela, justamente as que deveriam conhecê-la melhor, sempre optavam por pensar o pior a seu respeito. Era por isso que a dureza de seus irmãos para com ela a magoava tanto. Ela podia ser festeira, mas não era promíscua. Será que era isso que James pensava dela?
Aquele beijo havia sido um erro colossal. Ela nunca havia reagido daquela maneira a ninguém, nunca havia desejado alguém com aquela urgência. Será que James achava que ela era assim com todo mundo?
— Está certo. E o que mais você tem a me dizer? — disse James, baixando a guarda. — Como acha que isso poderia ter sido mais bem organizado?
Ela se concentrou na pergunta.
— Não há bastante lugar para se sentar. A idade dos convidados varia muito e a maioria das mulheres gosta de se sentar para conversar um pouco de vez em quando. Já a música não só está alta demais, como também não foi bem selecionada. Esse "bate-estaca" definitivamente não ajuda ninguém a relaxar. Por outro lado eu achei a iluminação excelente. Ela atrai o olhar das pessoas para as peças expostas, que, afinal, são o verdadeiro motivo da festa. E por fim, achei os aperitivos deliciosos.
Ela chegou a ver um sorriso genuíno e caloroso no rosto dele. No instante seguinte, porém, a suavidade abandonou seus olhos e a cautela reassumiu o seu lugar.
— Sobre o que aconteceu outro dia... — disse ele com a voz mais grave e um tom sério.
Ele não ia dissecar o ocorrido, ia? Ela já havia analisado cada momento daquele beijo o suficiente e não estava disposta a permitir que ele jogasse mais uma pá de sujeira sobre o episódio que ela já havia tentado enterrar, por isso o interrompeu:
— Como eu já disse, acho melhor esquecermos esse assunto — disse Liss, à procura de alguém com quem pudesse engatar uma conversa qualquer. — Eu já me esqueci.
Por um momento, um brilho estranho cintilou nos olhos dele, que ele, no entanto, logo sufocou.
— Verdade?
— É claro — respondeu ela, esforçando-se por estampar um sorriso no rosto. — Foi apenas um beijo, James. Nada excessivamente excitante — disse ela levianamente, deixando-o, então, para seguir em busca de um daqueles aperitivos a fim de afogar o sabor amargo da enorme mentira que havia acabado de contar.
James ainda continuou olhando para ela por alguns segundos e então se virou, aborrecido ao vê-la pegar uma bebida e caminhar, toda sorrisos, em direção a algum idiota de cabelo roxo. Se aquilo havia sido "apenas" um beijo, ele era ainda mais idiota do que tinha imaginado.
Ela era igualzinha a Jenny, sua ex-mulher. Superficial e falsa. E o pior é que ela lhe dera a impressão de ser sincera. Seu beijo fora quente e surpreendentemente doce, fazendo com que ele imediatamente quisesse mais e mais. A sensação do seu corpo ágil e firme cedendo ao contato com o seu, a maneira como os dedos dela o haviam mantido junto a si, seus pequenos gemidos de desejo, tudo, enfim, havia feito com que ele se perdesse completamente em seus braços.
Aquilo não tinha sido "uma coisa qualquer". Ela ficara em brasa e ele quase tinha entrado em combustão. Chegara a tremer devido ao esforço que fizera para se conter e não arrancar a roupa dela e mergulhar fundo em seu corpo do mesmo modo como estava impelindo a língua na boca faminta dela. Ele havia desejado tomá-la para si ali mesmo, e só não o fizera porque o concreto frio contra o qual havia pressionando as mãos fizera com que ele se lembrasse de onde eles estavam. Assim que se libertou do abraço selvagem dela, sua razão voltara a funcionar.
Ainda bem que ele havia se contido. A imagem dela distribuindo beijos como aqueles para qualquer pessoa fazia o sangue dele ferver. Estúpido. Ela era o tipo de mulher que estava disposta a atiçar quem quer fosse, sem nenhuma noção de lealdade ou profundidade.
Ao vê-la no centro de mais uma roda de admiradores, ele decidiu que não ia mais ficar ali para assistir a tudo aquilo. Ela ainda estava a toda, sem dar o menor sinal de cansaço, atraindo a atenção de todos para si, parecendo fazer com que todos à sua volta ficassem bem.
Todos, exceto James.
Por que ela precisava tanto de toda aquela adoração? Será que ela realmente acreditava que aquelas pessoas estavam lhe oferecendo uma amizade verdadeira? Será que ela realmente acreditava que poderia contar com eles se não fosse uma princesa?
Sua avaliação do evento daquela noite havia sido muito perspicaz. Ele havia bancado o advogado do diabo, em parte por pura diversão, e em parte para testá-la, e ela havia se saído bem. James ficou ainda mais impressionado por Liss ser mais capaz do que ela mesma acreditava, o que só aumentava seu aborrecimento.
Já estava realmente na hora de ir embora. Seu espírito de festa havia desaparecido por completo. Assim que seguiu na direção da saída, porém, ela se colocou à sua frente, e desta vez fora dela o sorriso sarcástico.
— Já está na hora de virar abóbora?
— Tenho que trabalhar de manhã. Eu levo isso muito a sério.
— Amanhã é sábado, James — disse ela, triunfante.
— Eu sei, princesa, mas ainda é sexta-feira na Europa, portanto eu ainda tenho muito trabalho na parte da manhã.
— É possível trabalhar duro e se divertir também, sabia? — disse ela, parecendo genuinamente preocupada.
— Pode ser, mas você sabe que pode fazer mais do que isto, Liss. Ou que pelo menos deveria fazer mais do que isto. — Ele não sabia por que se importava tanto com ela. — Você está desperdiçando o seu talento. Está desperdiçando a sua vida.
Ela congelou, tentando não deixar que seu rosto ou corpo traíssem a dor que havia tomado conta dela. Ele achava que ela era um desperdício de tempo.
— Você só se interessa por aquilo que pode lhe proporcionar diversão de imediato, sem pensar nas consequências dos seus atos.
— Não há nada de errado em desfrutar de uma festa, James. Ele jamais entenderia o quanto ela se sentia cada vez mais sozinha e solitária. O quanto sentia saudades de um lar que já não possuía. Nem as melhores festas do mundo poderiam fazer com que ela se sentisse melhor àquele respeito, mas ajudavam. Afinal, lá, as pessoas a recebiam de braços abertos, ao contrário do que ocorria com a sua família.
— Você não passa de uma menininha mimada, Elissa.
Aquilo foi demais.
— E quem é você, afinal, para me julgar dessa forma? O que você tem a ver com isso?
— Nada. A menos que a sua maneira de se divertir afete os meus negócios.
— Você acha que eu não sou capaz, não é?
— Ainda não obtive nenhuma prova em contrário. Você diz que pode trabalhar duro, mas chega todo dia em cima da hora, sai assim que o relógio marca a sua saída e passa todo o seu tempo livre fazendo compras.
— O que eu faço nas minhas horas de folga...
— Já sei o que você vai dizer, mas o fato é que também não está se esforçando nas horas de trabalho. Já leu diversas revistas e navegou bastante na internet, mas ainda não compreendeu como funciona o sistema telefônico.
Ele sabia isso?
O que ela havia feito para que ele a desprezasse tanto? Havia algo mais, porém, no olhar dele, desejo. Um misto de necessidade e frustração que corria pelas suas veias. De repente, o salão pareceu escurecer e só havia James ali.
Um flash quebrou o encanto daquele momento. James soltou um palavrão, mal movendo os lábios e se afastou dela imediatamente, lançando-lhe um último olhar fugaz e ardentemente frio ao sair. Liss tentou se concentrar em outra coisa, contendo o desejo de segui-lo, voltando a atenção novamente para a festa e curvando os lábios automaticamente num sorriso para a câmera.
James quase não havia conseguido dormir. O mau humor e a dor de cabeça só faziam piorar cada vez que ele pensava na noite anterior. Devia estar concentrado nos negócios, mas em vez disso estava se deixando capturar por terríveis lembranças.
— Você sabe que eu amo muito o seu pai — dissera a mãe dele, num tom suplicante.
Ele havia feito menção de partir, mas ela o chamara de volta.
— Sabe que eu o amo...
Em que dicionário teria ela procurado o significado da palavra amor? Era evidente que as palavras família e lealdade não significavam coisa alguma para a sua mãe.
James se levantou da cama e foi até a academia, sem, no entanto, conseguir estancar velhas feridas, assoberbado que estava com a ameaça de novas. O passado se misturou com o presente em sua mente, num misto de dor e raiva.
Sua mãe e Jenny o haviam traído e não seria diferente com Liss. Ela jamais se contentaria com um único homem.
Ela abriu a porta, claramente surpresa ao vê-lo. Olhou-o de cima a baixo várias vezes, deixando-o tão inseguro a ponto de levar a mão ao queixo. Sua pele áspera fez com que ele se desse conta de que não havia se barbeado antes de tomar banho.
— Gostaria de uma carona até Atlanta House?
Era uma espécie de pedido de desculpas, mas a maior parte dele esperava que Liss dissesse que não, uma vez que tinha quase certeza de que ela só tratava de "caridade" quando não tinha nada melhor para fazer, ou quando sabia que haveria testemunhas para tanto.
— Sim, mas... — disse ela com uma expressão grave no rosto.
— Eu a levarei.
— Posso me virar sozinha.
— Eu a levarei — repetiu ele, feliz por ter chegado a tempo. — Vai carregar alguma coisa esta semana?
Liss fez um meneio de cabeça em direção à caixa preta junto à porta. Ele deu um passo à frente e arqueou as sobrancelhas diante do tamanho dela.
— O que tem aqui dentro? — perguntou ele, passando a caixa de uma mão para a outra a fim de segurar a porta.
— Coisas de mulher — respondeu Liss sem olhar para ele. Ele queria fazê-la sorrir.
— Como o quê? Filmes? Pipoca?
— Material de pedicure.
Ele se deteve. Ela olhou finalmente para ele e James viu uma centelha de divertimento em seus olhos.
— Algumas garotas não conseguem mais alcançar os dedos dos pés depois que a barriga cresce.
Ele jamais havia pensado naquilo e não estava certo de querer voltar a fazê-lo outra vez.
— Então você vai fazer isso para elas?
A ideia de Liss de joelhos, pintando as unhas do pé de outra pessoa lhe pareceu tão improvável que ele esteve a ponto de rir, detendo-se, porém, ao ver a expressão sincera no rosto dela.
— Posso não ser muito boa em organizar arquivos, mas sou bastante ágil com uma lixa de unha.
Relutantemente, ele reconheceu a admiração que havia tomado conta dele.
— Nunca imaginei que lixas de unha pudessem ser tão pesadas.
Súbito, uma risada saltou da boca de Liss. Um som delicioso que acabou com o clima pesado que estava se formando entre eles.
— Deve ser o spa do pé — disse ela, rindo ainda mais. — Ou talvez o pote de sais.
— Spa do pé?
A risada dela se transformou numa franca gargalhada que acabou contagiando a ele também.
— É um pouco ridículo — disse ela, um tanto pesarosa.
— De jeito nenhum. É muito amável da sua parte. Minha mãe está envolvida com diversas instituições de caridade, mas duvido que alguma vez tenha cortado as unhas do pé de alguém.
— Ela certamente não está apoiando as pessoas certas — disse Liss com uma piscadela. — Qual é a instituição que ela apoia?
James deu de ombros, já arrependido de ter falado nela.
— A que estiver em vaga — disse ele num tom grave.
Liss permaneceu na expectativa de que ele dissesse mais alguma coisa durante todo o caminho até o elevador.
— Ela pertence a um milhão de comitês — prosseguiu ele, finalmente. — Ela gosta de parecer ativa nesse circuito.
Ela, afinal, só se importava com as aparências. Liss acertou o passo com o dele em direção ao carro, e foi direto ao ponto:
— Vocês não são próximos?
Ele realmente lamentou tê-la mencionado.
— Não muito.
Nem um pouco, na verdade. Tudo começou naquele dia, no seu último ano na escola, quando ele voltara para casa mais cedo, num intervalo. Sua mãe havia descido a escada às pressas e logo depois aquele rapaz aparecera, andando muito lenta e arrogantemente pela escada abaixo. Sua mãe lhe dissera que ele estava lá para conversar com ela a respeito das finanças de uma das instituições de caridade que ela ajudava. E isso precisava ser feito no andar de cima, onde ficavam os quartos? Será que eles estavam achando que ele era idiota?
James teve consciência do intenso escrutínio de Liss ao colocar a caixa na mala do carro e acabou se sentindo compelido a preencher o silêncio que ela havia deixado tão óbvio.
— Você sabe como são as mães — disse ele, ligando o carro, na esperança de que aquele assunto tivesse terminado.
— Não — disse Liss, balançando a cabeça. — Eu não tive proximidade nem com meu pai, nem com minha mãe. Passei primeiro por uma sucessão de babás e logo depois fui para o internato.
James olhou para ela, tomado de interesse.
— E quanto à sua irmã?
— Nós somos muito diferentes, porém bastante próximas — respondeu ela com um sorriso. — Kitty é mais velha que eu, mas também é mais vulnerável. Está sempre com a cara enfiada em um livro e a cabeça nas nuvens.
— Quer dizer que você ficava de olho nela?
— Naturalmente.
E quem é que cuidava de Liss?
— E quanto aos seus irmãos?
— Não sou próxima de nenhum deles.
— Por quê?
Pensando bem, ele jamais ouvira Alex dizer alguma coisa sobre sua irmã mais nova. Tudo o que ele lhe dissera era que ela era rebelde e que precisava dela longe da ilha enquanto estivesse resolvendo a sucessão.
— Somos diferentes, eu suponho — disse ela, dando de ombros. — Mas eu tenho alguns bons amigos.
Será?
— E quanto ao seu pai? — perguntou Liss, voltando o holofote novamente na direção dele. — Você é próximo dele?
James pisou um pouco mais fundo no acelerador. Sua mãe havia erguido uma barreira entre ele e seu pai ao deixá-lo dividido quanto a lhe contar ou não a verdade. Ele havia carregado o peso daquele dilema por muito tempo até descobrir que era tão estúpido quanto seu pai.
— Bem mais nesses últimos anos.
Ele tinha bem mais em comum com o seu pai agora do que jamais havia desejado ter. Havia aprendido da maneira mais difícil a não ser tão crítico a respeito de sua cegueira, tendo, inclusive, desenvolvido certa simpatia por ele.
Ele parou para que ela saísse do carro. Tirou a caixa da mala e a pousou no chão para ela.
— Divirta-se com aqueles dedos.
Liss lhe fez um aceno e partiu. Seu rabo de cavalo balançava de um lado para o outro enquanto ela arrastava a caixa atrás de si. Como ela era linda...
James não foi trabalhar. Sentou-se num café e ficou olhando para os pedestres através da vidraça, evitando cuidadosamente todas as revistas de fofocas empilhadas na ponta do balcão. Depois de ter o momento em que sua namorada o havia traído registrado e estampado em todas aquelas publicações, ele queria distância de todas elas.
Ao parar diante da casa novamente, algumas horas depois, ele encontrou todas as meninas na varanda, do lado de fora, com as pernas estendidas, à espera de que suas unhas do pé secassem. Uma visão e tanto.
— Liss, seu namorado-guarda-costas-chefe está aqui. Ela revirou os olhos.
— Vou demorar umas duas semanas para voltar dessa vez, meninas — disse ela, tentando amenizar sua decepção com um sorriso.
O percurso para casa foi rápido. Ela conversou tranquilamente, contando-lhe um pouco a respeito de algumas das moças. Foi só quando eles entraram no elevador que James percebeu que cada um dos dedos dos pés dela estava pintado de uma cor diferente.
— Um verdadeiro arco-íris — disse ele, piscando para ela. Liss riu.
— Elas quiseram ver como o esmalte ficava na unha para poder escolher melhor.
James se ajoelhou.
— Eu prefiro esse — disse ele, beliscando o quarto dedo do seu pé esquerdo.
Droga, até os dedos dos pés dela eram bonitos.
— "Tentação." Boa escolha — disse ela, afastando ligeiramente o pé.
Ele se levantou no mesmo momento em que as portas do elevador se abriram, notando, então, as manchas rosadas em seu peito e sua respiração apressada. Ele se colocou entre as portas, fazendo com que elas permanecessem abertas.
— Não vai retribuir o café esta semana?
Como se ele precisasse de mais estímulo ainda. Já estava trêmulo de tanto café, ou talvez aquilo se devesse ao modo como ela estava usando aquele jeans e a maneira como ela havia ficado tão evidentemente afetada pelo seu toque.
— Eu... humm...
As manchas rosadas ficaram ainda mais intensas e ele teve que fazer muito esforço para conter o desejo de alisá-las, e deslizar a mão sob a camiseta dela a fim de descobrir que outras partes do seu corpo também estavam avermelhadas.
— Você tem razão, não é uma boa ideia. Aproveite o restante do seu fim de semana — disse ele, rapidamente, dando um passo para trás e batendo com o punho cerrado no botão para fechar as portas antes de fazer algo de que certamente se arrependeria mais tarde.
A expectativa de Liss ao chegar ao trabalho na segunda-feira havia atingido um nível que beirava o ridículo. Ela mal podia esperar para tocar o restante de seus planos para a festa e não ousava confessar nem a si mesma o quanto estava ansiosa por ver James outra vez. Como havia sido bom vê-lo rir daquele jeito, de jeans, com a barba por fazer e totalmente relaxado, sem impor nenhuma distância entre eles, nem emitir nenhuma reprovação. É verdade que ele havia ficado um pouco sensível quando ela lhe perguntara sobre seus pais, mas aquilo só o havia feito parecer um pouco mais humano aos olhos dela.
Aquela tarde quase havia apagado a dor causada pelas suas palavras na noite anterior. Era evidente que tanto ele quanto ela estavam se esforçando ao máximo para não ceder à atração que sentiam um pelo outro, e Liss começou a questionar a respeito dos motivos que os levavam a isso, e principalmente, por quanto tempo ainda seriam capazes de fazê-lo.
Ela havia acabado de se sentar quando Katie veio lhe entregar os jornais, lançando-lhe um olhar de soslaio.
— Você e James pareciam estar se divertindo muito na galeria de arte, outra noite.
— Você estava lá?
— Quem me dera — disse Katie, em meio a uma gargalhada.
— Você não viu a foto no jornal? Liss balançou a cabeça, apreensiva.
— Não costumo ver.
— Pois devia. Vocês pareciam bastante... intensos.
Ela daria uma olhada na foto mais tarde, quando estivesse sozinha, para não atiçar ainda mais as evidentes suspeitas de Katie.
— Como andam os planos para a festa? — perguntou Katie.— Sorte a sua poder fazer um trabalho desses.
Não era preciso ser nenhum gênio para compreender o que estava acontecendo. Katie, e provavelmente todo o restante do pessoal, achava que ela só havia conquistado aquele trabalho divertido por estar tendo um caso com o chefe. Liss, porém, sabia que de nada adiantaria negar o fato, pois quando se tratava de reputação versus realidade, as pessoas sempre preferiam a opção mais suculenta.
— Acho que ele me incumbiu dessa tarefa porque conheço muito bem Aristo.
— Sim — disse Katie com um sorriso malicioso e olhos céticos.
Assim que ela foi embora, Liss se pôs a folhear os jornais. O fotógrafo os havia flagrado de perfil, com os olhos fixos um no outro.
Aquilo a deixou ainda mais determinada a manter distância de James. Queria prosperar pelos seus próprios méritos e queria que sua conquista fosse reconhecida, por isso teria que lutar com mais força ainda contra a atração que sentia por ele.
Já estava na hora do almoço e ele ainda não havia aparecido. No meio da tarde, ela telefonou para Katie.
— Sabe onde James está?
— Em Melbourne. Você não sabia?
— Não.
Liss esperou que o fato de ela não saber da viagem de James pudesse reforçar um pouco sua credibilidade. Isso, se a aguda decepção que ela sentira não tivesse transparecido em sua voz. Não quisera perguntar quando ele voltaria por medo de que Katie a interpretasse mal.
Os dias seguintes transcorreram numa erupção de organização e de um leve pânico. Ela enviou um e-mail para Cassie através de Sebastian, dando-lhe os detalhes da viagem. Sua amiga não poderia ir ao baile. Depois de todo o alarido em torno da abdicação de Sebastian, a última coisa que eles queriam era se expor às fofocas dos socialites de Aristo. Nenhum de seus familiares estaria presente devido à caça ao diamante e à delicada questão da sucessão. Liss ficou triste por não poder contar com nenhum rosto amigo na festa, nem ter ninguém presente para testemunhar o seu sucesso, mas tentou se conformar. Com sorte, conseguiria se encontrar com Cassie nos dias que se seguissem à festa.
A cada dia que passava, sua expectativa crescia ainda mais até ela não conseguir mais dormir, nem comer. Estava com saudade de James. Chegava todos os dias ao trabalho esperando encontrá-lo e lutava para conter a decepção ao se dar conta de que ele não estava por lá. A esperança então se renovava com a ideia de que ele poderia aparecer ao longo do dia. Sentindo a necessidade de encontrar uma válvula de escape, ela acabou recorrendo à sua maneira favorita de aliviar as tensões: iria dançar.
James havia decidido adiar sua volta a Sidney até a tarde em que eles pegariam o avião para Aristo, depois de ver sua foto com Liss estampada no jornal. Não estava mais certo de ser capaz de superar a tentação e não queria se arriscar a ser novamente flagrado por algum paparazzi. A humilhação devido à traição pública de Jenny já fora o bastante para ele.
Seu avião aterrissou tarde em Sidney, de modo que não havia mais ninguém no escritório quando ele chegou. James, sabia, porém, que não poderia passar mais uma noite sem vê-la, por isso foi direto aos clubes noturnos que ela frequentava, acabando por encontrá-la na pista de dança de um deles.
Ele não conseguiu frear o ímpeto de chegar mais perto dela, indo até a sacada para observá-la de cima. Seu maxilar chegava a doer devido à força com que ele cerrava os dentes. James só conseguia pensar naquele beijo. Suas mãos ainda doíam por não tê-la abraçado. Ele queria fazê-lo de novo mais do que tudo na vida. Sabia que seria bom, mas não tinha ideia de que o efeito seria tão arrasador. Ele se recusava a acreditar que aquilo havia sido "apenas" um beijo para Liss. O modo como ela o havia olhado, a reação do seu corpo e o modo como ela corava cada vez que ele se aproximava dela diziam-lhe que ela estava tão abalada quanto ele.
James já estava farto daquela sensação de coisa proibida. O desejo o estava consumindo por dentro. A necessidade de puxá-la para junto de si o estava oprimindo e ele sabia que não conseguiria mais lutar contra isso.
Ele deu uma olhada em volta e percebeu que havia muitos outros homens olhando para ela, cheios de desejo.
Mas daquela vez ele sabia muito bem onde estava se metendo. Não investiria nenhuma emoção naquele relacionamento. Tudo seria meramente físico. Ele não precisaria de muita coisa para acender aquela chama, e em breve ela acabaria se extinguindo por si só.
Liss certamente acabaria encontrando um novo parceiro logo em seguida. Ele rangeu os dentes, tomado de cólera diante daquele pensamento. Teria que proporcionar uma experiência a Liss da qual ela jamais se esquecesse, assegurar-se de que tudo fosse tão incrivelmente maravilhoso que ela ficasse arruinada para seu próximo amante.
Ele ainda a observou dançar por algum tempo, mas ao ver que não seria capaz de resistir, foi embora sem cumprimentar ninguém.
Ele esperaria até a manhã seguinte, quando eles tomariam o voo para Aristo sem nenhum observador, nem paparazzi dentro do avião.
— A noite foi longa, Liss?
Escondida atrás de grandes óculos escuros, Liss notou o tom de desaprovação em sua voz, mas não reagiu. Eles seguiram até o aeroporto em silêncio, numa atmosfera carregada de desejo. Liss ficou olhando pela janela, incapaz de olhar para James e lidar com a sua proximidade no banco de trás do táxi. Sua camiseta branca de algodão realçava os seios fartos e os braços longos, e a calça jeans era apenas justa o suficiente para permitir que ela apreciasse o comprimento de suas pernas e tivesse uma ideia do poder que ela ocultava. Como ela desejava tocá-lo...
Liss ficou aliviada ao ver que havia lugar de sobra na primeira classe e ela poderia ficar mais à vontade. Estava guardando sua mala de mão depois de tirar alguns pertences de dentro dela quando se deu conta de que James estava bem atrás dela, esperando pacientemente... pelo quê?
— Na verdade, o assento da janela é meu — disse James, lançando-lhe aquele sorriso encantador.
Ela checou o bilhete rapidamente e sua consternação devia ter ficado evidente, pois o sorriso dele se ampliou ainda mais e se encheu de malícia.
— Não quer se sentar ao meu lado?
O rubor a cobriu da cabeça aos pés enquanto ela se punha a imaginar como ele reagiria se ela respondesse sinceramente à sua pergunta, dizendo que na verdade gostaria de se sentar em cima dele, e não ao seu lado; que queria montar sobre as suas coxas fortes e sentir aquele brim recheado de músculos contra a sua pele descoberta; que queria deslizar os seus dedos sob a sua camiseta branca e sentir o calor do seu peito. Será que ele era peludo ou liso? Será que era tão bronzeado quanto os seus braços ou mais claro, menos beijado pelo sol...? Oh, droga, ela estava mesmo encrencada.
— Você pode ficar na janela se quiser.
— Tem certeza? — disse ela, sem conseguir tirar os olhos dele, nem deixar de soar como uma funcionária temporária arfante a quem havia sido oferecido um cargo vitalício.
— Eu já tenho uma bela vista.
Muito bem. Era hora de respirar fundo e assumir o controle da situação. Ela permaneceu de pé.
— Fique com ela.
— Você é quem manda — disse Liss, mais para lembrar a si mesma daquilo.
— E você é a princesa — disse. — Um jogo de poder interessante, não é? Quem é que você acha que deve ficar por cima?
Liss se viu numa pressa terrível. Por cima? Ele estava querendo debater posições? Ela tentou pensar numa resposta mordaz, droga, qualquer resposta...
— Você disse que o fato de eu ser uma princesa não me garantiria nenhum tratamento especial.
— Verdade — disse ele, sentando-se ao seu lado e se inclinando em sua direção, mantendo ainda o mesmo tom casual que ressaltava o tom determinado subjacente a ele. — E o fato de eu ser o chefe também não me dá esse direito. Pelo menos não neste campo.
— E que campo é esse?
Ela não podia ver nada além dele. Seu corpo grande impedia a visão do restante da cabine. Era como se eles estivessem a sós no seu próprio cantinho do avião e ele a estivesse protegendo de todos os olhares alheios.
— O pessoal.
— Quer dizer que estamos falando de questões pessoais?
— Ora, princesa, nós mal falamos de outra coisa. — Os olhos dele se fixaram nos dela, incitando-a a ser honesta com ele. — Falamos?
Liss se deteve e olhou para baixo ao fechar o cinto de segurança.
— Foi você quem disse que essa não era uma boa ideia, James.
— Você também o disse. E ambos estamos certos. Tudo isso provavelmente é muito estúpido. — Ele ergueu-lhe o queixo com a ponta dos dedos fazendo com que ela voltasse a encará-lo e assumisse uma postura ativa naquela conversa, deixando sua pele em brasa. — Mas também impossível de ser ignorado.
O toque dele tanto atiçou quanto acalmou seus nervos retesados. Ela moveu a cabeça o suficiente para que ele a soltasse, mas manteve o contato visual. Tinha a sensação de que ele não ia se contentar com menos.
— Então — murmurou ela. — Vamos falar de questões pessoais.
Os motores do avião foram ligados e ela sentiu a situação escapar do seu controle, lutando para recuperá-lo.
— Tem certeza de que este é o lugar apropriado?
— Por que não? — disse ele com um brilho malicioso no olhar. — Ainda temos algumas horas pela frente. Que outra coisa você sugere que façamos?
Eles se encararam e Liss pôde ver as suas fantasias mais loucas refletidas na escuridão dos olhos dele, seus corpos desnudos, quentes e suados, roçando um contra o outro em meio a suspiros e gemidos. Ela acabou por se esquivar daquele olhar, fechando os olhos enquanto o avião ganhava velocidade suficiente para decolar.
Foi somente depois que o avião se estabilizou que ela finalmente soltou a respiração e respondeu:
— Conversar não seria uma má ideia.
Ela não foi capaz de rir com ele. Não estava achando aquilo tão engraçado assim. Tudo bem. Já que ele queria falar de questões pessoais, ela poderia aproveitar a oportunidade para obter algumas respostas para as suas perguntas.
— Você alguma vez se diverte de verdade, James?
Ele recuperou a seriedade instantaneamente e colocou a sua mão sobre a dela. Liss teve se esforçar ainda mais para se concentrar e prestar atenção na resposta, sem deixar que o seu cérebro se fundisse devido àquele contato.
— O que você quer dizer com isso? — perguntou ele, parecendo surpreso.
— Você nunca aparece nos jornais ou nas revistas, apesar de a sua família ser quase tão famosa em Sidney quanto a minha é em Aristo. Você não dá a impressão de estar se divertindo.
— E qual é a impressão que eu dou?
Ela pensou por um momento e então optou por dizer a verdade:
— De intensidade.
Suas belas feições volta e meia assumiam um ar grave, fazendo com que ela se perguntasse no que ele poderia estar pensando.
— Garanto-lhe que sei muito bem como me divertir, princesa — disse ele num tom baixo e irônico, lançando-lhe um olhar que a deixou plenamente consciente do tipo de diversão a que ele estava se referindo. — Só porque você gosta de aparecer nas páginas das revistas, isso não significa que o restante de nós também tem que fazê-lo. Eu não preciso da imprensa para provar que estou me divertindo — disse ele, apertando-a com mais força a fim de impedir que ela afastasse a mão da dele. — Prefiro manter as minhas selvagerias em particular, sem vê-las dissecadas pelos jornais.
Aquele também era o pensamento dos seus irmãos.
— Você não devia acreditar em tudo o que lê — disse ela, desvencilhando os dedos dos dele.
A expressão de James ficou ainda mais grave.
— Verdade? Confesso que há um detalhe sobre você que já mexe com a minha curiosidade há algum tempo.
Liss arqueou uma sobrancelha e tentou fingir que não se importava com aquilo.
— É verdade — disse ele, inclinando-se sobre ela e baixando o tom de voz — que você costuma ir às festas sem calcinha sob os vestidos justos?
Liss não conseguiu conter um sorriso diante daquela pergunta, sentindo sua disposição de flertar com ele se renovar.
— Isso só diz respeito a mim — respondeu ela, sem, no entanto, resistir a lhe lançar um desafio. —Acha que vai descobrir?
— Aposto que sim — retrucou ele sem hesitar. Aquilo quase a deteve — mas não totalmente.
— Não sou uma mulher de apostas.
— Garota esperta. No seu lugar, eu também não seria — disse ele sorrindo maliciosamente, fazendo com que ela se lembrasse da corrida que eles haviam apostado na semana anterior. — Quem seria suficiente idiota de apostar contra uma coisa que é líquida e certa?
Liss tentou pensar em algo cortante para dizer, mas seu cérebro parecia não estar funcionando tão rápido quanto de costume.
— Você está muito confiante.
— É verdade. Quer saber por quê? Ele afastou a mão da dela, pegou uma mecha dos seus cabelos e a puxou de modo a fazer com que ela voltasse o rosto novamente na sua direção. Bastou olhar novamente para aqueles olhos para ela ficar completamente hipnotizada.
Ela permaneceu completamente imóvel, vendo-o se aproximar e afastá-la de todo o restante do mundo.
— Por isso — murmurou ele. Ele soltou os cabelos de Liss, mas não afastou a mão da sua cabeça. Seus dedos deslizaram pelo seu rosto, traçando a curva do seu maxilar. Era como se minúsculos fogos de artifício tivessem sido ateados ao longo do caminho percorrido pelos seus dedos e a porção de pele seguinte exigisse a sua parte, embora fosse a sua boca a parte que mais ansiava pela sua atenção. Ela precisava entreabri-la, apenas um pouco. Precisava... respirar. As pequenas rugas em torno dos olhos dele se aprofundaram um pouco mais. Ele sabia. Seu dedo começou a subir lentamente pelo seu queixo, com uma pressão delicada, deslizando então pelos seus lábios, secos e repletos de desejo. O que ela não daria por uma bebida naquele exato momento, uma bebida vertida diretamente dos lábios dele.
Suas carícias lentas, deliciosas e torturantes não cessaram. Ele só estava traçando o contorno dos seus lábios com um único dedo e ela não conseguia desviar o olhar da promessa de paixão contida no olhar dele. Ela se esqueceu por completo de onde eles estavam, consciente apenas do som da sua própria respiração e da intensidade da atenção dele.
Para a sua igual consternação e prazer, ele afastou o dedo de sua boca, deslizando-o ao longo do pescoço dela, circundando a cavidade em sua base, seguindo depois em direção às suas clavículas, tanto para um lado quanto para o outro.
Ela quis dizer alguma coisa, mas não conseguiu pensar em nada apropriado. Ele baixou o olhar e os cantos de sua boca se ergueram naquele semissorriso que ela meio odiava e amava. O dedo dele desceu ainda mais, indo direto ao centro dos seus seios, e então desviou-se para um dos lados, circundando deliberadamente um de seus mamilos.
— Por isso — repetiu ele, suavemente.
Ela olhou para baixo e descobriu que um sutiã era absolutamente desnecessário quando James olhava daquela maneira para os seus seios. Podia sentir o modo como eles haviam inchado e se erguido, enrijecendo em reação ao seu toque. Seus mamilos estavam claramente visíveis agora, despontando sob a malha fina da camiseta, implorando por atenção, tão duros que chegavam a doer.
Ela voltou a olhar para a expressão irônica dele e compreendeu que ele ainda estava totalmente controlado. Embora o mais leve toque dele quase houvesse feito com que ela se ajoelhasse e implorasse por mais, ele continuava tranquilo, e ela queria que ele ficasse tão afetado quanto ela.
Ela afastou a mão dele e se empertigou em seu assento.
— É o ar-condicionado — disse ela no tom mais frio de que foi capaz. — Eu sempre passo frio nos aviões.
Ele riu com gosto fazendo com que ela se derretesse completamente.
— Verdade? Então por que está tão quente aqui? — perguntou ele, deslizando vagarosamente os dedos até a sua testa. — Onde mais você está quente, princesa? — perguntou ele, num quase sussurro.
Ela olhou para aqueles olhos escuros e devastadores. Sabia que estava afundando neles. Se ele a beijasse outra vez, ela estaria perdida.
A atração sexual que havia entre eles parecia uma força autônoma, conduzindo-a cada vez mais para perto dele.
Ela estava quente no corpo todo. Será que ele também? Provavelmente não, caso contrário, ele não teria sido capaz de se deter tão facilmente da última vez.
Havia algo a respeito dele que deixava Liss em constante estado de alerta, em grande parte devido à atração que sentia por ele, mas também à sensação de que ele seria capaz de enxergar através dela se ela assim o permitisse.
O que será que ele veria? Era estranhamente importante para ela que James tivesse uma boa opinião a seu respeito O que era uma estupidez, já que quase ninguém em posição de autoridade como ele a tinha. Seria melhor, portanto, recuar um pouco e disfarçar seus sentimentos com algum sarcasmo.
— Você sempre tenta dormir com as suas secretárias?
Ele se recostou em seu assento, achando graça da pergunta.
— Só com aquelas que têm uma altura acima da média, cabelo escuro e não temem reagir.
Liss fingiu pensar um pouco.
— A Maria do Financeiro se encaixaria nesse perfil.
— A Maria do Financeiro tem marido e dois filhos. Isso seria jogo sujo, e eu nunca jogo sujo.
— Verdade? Como é que você age, então?
— Começo com simplicidade, mantenho a relação no âmbito estritamente físico e termino de maneira limpa.
Ela mordeu a parte interna de sua bochecha. Agora sabia onde estava pisando.
— E está pensando em começar algo comigo?
— Minha querida, nós já começamos.
Sim, mas as coisas não pareciam tão simples assim para ela.
— Você sabe que vai acontecer — disse ele avaliando-a com dois olhos que mais pareciam dois raios laser à procura da verdade.
— A aposta certa?
— Sim. Eu finalmente aceitei os fatos.
— Nossa, você parece tão emocionado quanto a isso — disse ela, incomodada com aquele comentário. — Você não é o único com uma decisão a tomar aqui.
— Não me diga que você ainda não se decidiu. Liss ficou boquiaberta.
— Eu não estou sendo arrogante — disse ele, erguendo-lhe o queixo — apenas honesto. É mais forte que nós.
Seus lábios quase podiam sentir as carícias do olhar dele.
— Você também foi um pouco cautelosa a respeito disso, não é?
— Claro.
Foi então que ele ofereceu a solução para ambos:
— Se cedermos a essa atração, ela certamente desaparecerá. Ela sentiu um nó no peito. Quer dizer que ele não queria se sentir atraído por ela e estava apenas planejando encarar os fatos de frente e se livrar logo do problema.
James desafivelou o cinto de segurança, pegou um par de cobertores de lã no bagageiro e voltou a se sentar, soltando o cinto dela também.
— O que acha de ficarmos um pouco mais à vontade? — disse ele estendendo um cobertor sobre ela e o outro sobre si mesmo, sobrepostos. —Não quero que sinta frio.
Liss sentiu um calor se espalhar pelo corpo à medida que ele foi se aproximando dela. Seus olhos estavam enormes e pareciam saber exatamente o que ela estava pensando, uma vez que os refletiam.
— Está suficientemente aquecida?
Foi um sussurro, pronunciado enquanto seus lábios desciam até os dela. Liss estava tão focada neles, desejando que chegassem mais perto, que não conseguiu dar a resposta óbvia.
— Princesa?
Ela ergueu o queixo e saboreou o sorriso dele quando seus lábios pressionaram os dela.
Havia decidido fingir frieza e disfarçar o quanto estava excitada, e tentar descobrir o quanto James estava sendo afetado com tudo aquilo, mas sua boca se entreabriu faminta, sem o seu consentimento. Feliz, ela recebeu a língua provocante de James em sua boca outra vez, querendo que ele repetisse o mesmo que havia feito com ela no outro dia, e fosse além. As mãos dele seguravam seu queixo com firmeza, mantendo o seu rosto junto ao dele. Com aquelas palmas amplas e dedos longos, ele então deslizou em direção ao pescoço dela. O beijo ficou quente e profundo num piscar de olhos e Liss se flagrou tremendo novamente com a alegria de tê-lo dentro de si.
James ergueu a cabeça e a avaliou. Liss não teve como disfarçar a sua respiração ofegante.
— Espero que não esteja ficando excitada demais, princesa — disse ele, com aquele seu meio-sorriso. — Afinal, foi apenas um beijo.
Não era verdade e ele sabia muito bem disso. James só estava querendo provar o quanto as palavras dela na outra noite haviam sido vazias. Mas ele não podia culpar uma mulher por querer salvaguardar um pouco do seu amor próprio, podia?
De súbito, ela teve medo de se envolver com James e perder toda a sua dignidade, mas ele afastou aquele pensamento de sua mente tomando a sua boca mais uma vez de assalto num movimento rápido e ágil. Liss levou as mãos até a cabeça dele, sentindo seus cabelos sob os dedos e fechando os olhos. Deixou que o toque, o sabor e o cheiro dele a envolvessem por inteiro. Queria se mexer, queria gemer...
— Calma, querida — disse ele, afastando os lábios dos dela e afagando os seus braços — Eu não tenho a menor intenção de fazer sexo num banheiro minúsculo de avião, mesmo que seja o da primeira classe.
Oh, mas o sexo com ele, certamente, seria de primeiríssima classe, a julgar pelo seu beijo.
Ela respirou fundo três vezes seguidas tentando encontrar uma resposta espirituosa. Tinha que encontrar uma maneira de lidar com ele e a única maneira que lhe parecia possível, no momento, era tentar manter certa leveza.
— Pelo amor de Deus, não! Muito pequeno e malcheiroso.
— Se vamos fazê-lo, vamos fazer direito.
— Aleluia!
— Será lento, numa cama confortável, com espaço de sobra e sem ninguém por perto para que você possa gritar à vontade.
Ela conteve a excitação que se apoderou dela com aquela imagem e tentou bancar a irônica.
— O que lhe dá tanta certeza de que eu vou gritar?
— Eu simplesmente não vou parar até isso acontecer — disse James, com os olhos injetados nos dela.
Liss estava perdida. De bom humor, como agora, ele era mais perigoso do que quando bancava o chefe durão. Estava decidido a tê-la para si e havia partido para o ataque. Aquilo tudo era excitante demais para que ela não sucumbisse.
Os dedos dele tocaram o seu seio sob o cobertor. Liss estremeceu ao sentir o mamilo se enrijecer mais ainda.
— Maldito ar-condicionado — murmurou ele, puxando os cobertores até a altura dos seus pescoços, prosseguindo com sua exploração.
— James... — advertiu ela.
— O que foi? Só estou tentando aquecê-la um pouco, princesa. Você está toda tensa e arrepiada.
E ia ficar ainda mais se ele a continuasse provocando daquele jeito.
— Eu vou me vingar.
A risada quente dele em seu pescoço só a excitou ainda mais.
— Adoraria vê-la tentar.
— Você não sabe com quem está brincando.
— Vá em frente, então.
Liss se virou na direção dele, aproximando-se o máximo que aquelas malditas poltronas de avião permitiam, e deslizou os dedos sob a sua camiseta como havia sonhado fazer, ainda na sala de embarque. Ela correu as palmas das mãos pelo seu peito, explorando sua amplitude e seu calor. Então, impaciente como sempre, deslizou mais para baixo, seguindo o caminho dos pelos levemente ásperos sob a ponta dos dedos até atingir o cós do seu jeans. Para sua própria surpresa, ela conseguiu desafivelar o cinto dele com extrema facilidade, apesar de não estar vendo nada sob o cobertor, mas ela não conseguiu abrir a braguilha de jeito nenhum, tendo que se contentar em acariciar a extensão de seu membro apenas por cima do tecido. Como ela desejava senti-lo desnudo em sua mão! Seria capaz de tomá-lo na boca ali mesmo se houvesse uma maneira de fazê-lo discretamente.
James pareceu ter lido a sua mente, pois procurou os olhos dela naquele exato momento e conteve o avanço de sua mão.
— Você sabe o que está fazendo comigo, não sabe?
— Acho que sim — respondeu ela com um sorriso maroto. Ele retribuiu o sorriso. Não havia nenhum vestígio de ironia ou sarcasmo em sua expressão, apenas desejo.
Numa manobra ágil, ele recuperou sua vantagem sobre ela, agarrou as mãos dela com a sua e a empurrou em direção ao seu assento, virando-a de maneira que o ombro e a parte superior das costas dela repousassem em seu peito, ambos voltados para a janela. Então, sob o abrigo das cobertas, James deslizou os dedos sob a blusa dela, afastou a renda do seu sutiã e começou a brincar com o seu mamilo. Quando ele se aninhou ao seu pescoço, Liss fechou os olhos, ansiando por mais, muito mais.
Ciente daquilo, ele levou a sua mão até a parte da frente da calça de Liss, escorregando facilmente entre o tecido e a pele. Eles não voltaram a se beijar para não atrair a atenção dos outros passageiros, nem quebrar a intensidade daquele momento. Sua mão começou a se mover quase imperceptivelmente, ao que Liss reagiu com minúsculos balanços de seu próprio corpo. Sua outra mão mantinha as dela presas e ela se sentiu totalmente ligada a ele. Ele estava conduzindo a dança e ela não tinha outra opção a não ser segui-lo.
De repente a inevitabilidade do que estava para acontecer a assustou e Liss foi tomada por uma necessidade de lutar contra aquilo e tentar recuperar algum controle sobre si mesma, por isso prendeu a mão dele com força entre as suas coxas.
— Eu não vou ter um orgasmo num avião, cercada de outros passageiros — disse ela quase engasgando com as palavras.
— Mas estava bem perto disso — disse ele com a voz rouca, junto à sua orelha.
Liss fechou os olhos e comprimiu os lábios, tentando conter os gemidos e as sensações que estavam se avolumando dentro de si. Como ela podia desejá-lo tanto assim?
— Você é feita para o prazer, não é?
Algo na maneira com que ele disse aquilo a fez congelar. O que ela estava fazendo deixando-se bolinar daquela maneira em público?
— Pare.
Ele percebeu a mudança no tom de sua voz, afastou a mão imediatamente e a soltou, permitindo que ela se virasse.
— E eu achando que você era uma menina rebelde, disposta a tirar o máximo de prazer de todas as situações.
Liss se afastou dele, estabelecendo a maior distância possível entre eles, naquelas condições.
— Eu não sou exatamente como você imagina, James. Tem que ser no lugar certo, na hora certa. — Ela se deteve. — E com a pessoa certa.
— A pessoa certa para o momento certo.
Ela se irritou com aquela suposição de que tudo não passaria de uma aventura breve. Por que ninguém acreditava que ela pudesse estabelecer um relacionamento duradouro?
— Como vai ser? Você vai fechar os olhos na hora "H" ou vai me deixar ver toda a sua excitação no momento em que chegar ao êxtase?
— Está querendo saber que tipo de performance vai obter da minha parte? — disse Liss, sentindo sua frustração se transformar em raiva.
— Eu não estou interessado, em performance, mas sim no que há por baixo de todas elas.
Liss sabia que ele não estava se referindo às suas roupas.
— E se não houver nada? Aquilo o deteve.
— Eu não quero acreditar nisso — disse ele lentamente, franzindo as sobrancelhas, estendendo a mão para acariciá-la entre os seios e pousar sobre o seu coração. — Quero acreditar que podem haver coisas aqui que você não permite que ninguém veja.
— Nossa, James — disse ela rindo para que ele recuasse e não sentisse o quanto seu coração havia acelerado. — Você é muito romântico.
— Não é verdade, princesa — disse ele, afastando a mão. — Eu já lhe disse como jogo, portanto não se iluda a meu respeito. Você já faz isso com muita frequência em outras áreas da sua vida.
Quer dizer que ele podia desafiá-la, mas ela não podia questioná-lo? Ela só queria o mesmo que ele queria dela, descobrir o que havia por baixo de sua armadura. Ela queria entender por que ele a mantinha tão reservada, mas ele não ia permitir que ela o fizesse. Por que então ela deveria lhe conceder os privilégios que ele não estava disposto a lhe dar?
Liss sabia que ele a desejava, mas também sabia que ele não queria sentir aquilo. Embora soubesse os motivos que faziam com que ela não achasse uma boa ideia ter um caso com ele, Liss não sabia dizer quais eram as razões dele para tanto e não sabia como reagir àquilo.
Todo aquele calor pareceu evaporar de repente e Liss começou a sentir frio de verdade.
James colocou o seu cobertor sobre ela.
— Você precisa descansar um pouco. Tem uma grande noite à sua espera, amanhã.
Ela compreendeu a mensagem. A brincadeira havia terminado. Tudo não passara de uma conversa travessa. Ele podia ter dito que queria ver o que havia em seu interior, mas tudo não passara de meras palavras. Ele não era capaz de enxergar a sua verdadeira personalidade e ela nunca poderia mostrá-la a ele. Não quando sabia que ele não estava interessado em nada mais do que simplesmente apagar a chama que ardia entre eles.
O problema era que ela o queria mesmo assim, e se estivesse decidida a levar aquilo adiante, teria que se assegurar que ele seria o seu escravo tanto quanto ela seria dele.
Eles chegaram em Aristo na manhã do dia da festa. James seguiu diretamente para as reuniões com os contratantes e Liss correu para o salão de baile a fim de se assegurar de que tudo estava saindo conforme o planejado. Liss ficou feliz por ver que a comida já havia chegado e que a empresa responsável pelo bufê já estava trabalhando na cozinha.
Com ar satisfeito, ela passou algum tempo observando o trabalho do exército de floristas.
Ao final da tarde, ela se vestiu com cuidado, porém rapidamente, atiçada pela adrenalina. Estava como que borbulhando de entusiasmo diante dos prazeres que aquela noite poderia lhe proporcionar. A noite em que James estaria usando um smoking e, se Deus quisesse, estaria totalmente abismado com o resultado de seus esforços. Depois que a festa terminasse, ele certamente teria uma recompensa para ela. Como o seu trabalho para ele estava tecnicamente acabado, ela poderia argumentar que ele não era mais seu chefe e que não havia ninguém do escritório de Sidney por lá, de modo que ninguém saberia se...
Liss se deteve na entrada do salão. Aquela era a primeira vez que ela chegava tão cedo a um baile, mas como era a anfitriã, precisava estar lá para receber seus convidados. Ela passou as mãos pelos quadris, alisando o tecido sensual com satisfação. Havia optado por um vestido preto, clássico e elegante. Um modelo exclusivo, muito sexy e sofisticado, que ela estava guardando para uma ocasião daquela magnitude.
James a avistou imediatamente. Eles se olharam por um momento e a atração elétrica pulsou entre eles. O flash de calor foi tão intenso que ela teve vontade de sair correndo de lá e carregá-lo para o seu quarto imediatamente.
— Princesa — disse ele, lembrando-a da presença do gerente do hotel e de toda a equipe de garçons.
— A senhorita fez um excelente trabalho com a decoração do salão — elogiou o gerente.
Liss sorriu e respondeu educadamente, perguntando-se por que James não a estava elogiando também. Os convidados começaram a chegar. Por mais divertido que fosse conversar com todos eles, a verdade era que Liss só tinha consciência da presença de James. Quase que funcionando no piloto automático, ela se misturou aos convidados, sempre de olho na situação geral, a fim de se assegurar de que tudo estava transcorrendo o mais harmonicamente possível.
Os garçons enchiam as taças em uma fonte que jorrava champanhe incessantemente. O salão estava envolto no perfume intenso das orquídeas que haviam sido trazidas de avião especialmente para a festa.
Liss não conseguia deixar de olhar frequentemente para James, tentando decifrar sua reação. Ela o viu experimentar um pouco de caviar, olhar ao redor, para os convidados que lotavam o salão, e então para o relógio. Ela estava contente. Estavam todos lá, ansiosos por chegar logo ao baile do ano. Ela havia conseguido!
Cerca de uma hora depois, James fez um gesto discreto para que ela se aproximasse dele. Liss sentiu o corpo enrijecer, diante da perspectiva de ficar a sós com ele. James a conduziu para fora do salão de baile em direção a uma das pequenas salas de reunião que havia ao longo do corredor.
— Como acha que a coisa está indo?
Liss sorriu ao ouvi-lo fechar a porta e seu nível de excitação subir mais um grau.
— Está tudo maravilhoso, não é?
Seu sorriso, porém, desapareceu imediatamente diante do brilho duro nos olhos dele. O que havia acontecido de errado?
— Não acha que está faltando alguma coisa?
Ela não conseguia pensar em nada.
— Por que é que estamos dando este baile, princesa?
Ela não gostou nada do modo como ele disse "princesa".
— Para celebrar a abertura do hotel.
— Exatamente. E o que mais?
Havia outra razão?
— Para promovê-lo, certo? — entregou ele, de bandeja.
— Sim.
— E então o que está faltando?
Liss realmente não conseguia pensar em coisa alguma.
— E quanto às câmeras, princesa? Fotógrafos, jornalistas, profissionais de TV — disse ele lenta e pausadamente, deixando seu sarcasmo transparecer naquele tom excessivamente explicativo.
Oh...
— Esta não era uma festinha para você reencontrar os seus amigos, Elissa. Eu estou tocando um negócio. Queria a festa estampada em todas as revistas do planeta, lembra?
Sim. Aquele detalhe estava lhe voltando à mente agora.
— Você não organizou os voos, nem as acomodações do pessoal da imprensa, não é?
Nervosa demais para conseguir falar, ela apenas balançou cabeça. Havia ficado ocupada demais planejando todo o material exclusivo e convidando as pessoas importantes para a festa.
— Achou que toda a imprensa mundial ia correr para cá só porque você estaria presente? Pois eu sinto lhe dizer que nem tudo gira em torno de você, princesa.
Aquilo a atingiu profundamente.
— Não acredito que tenha conseguido estragar tudo. Onde é que você estava com a cabeça?
Nele.
— Quando eu lhe pedir que faça um trabalho, quero que o faça apropriadamente.
Ela havia tentado com todas as suas forças, mas...
— A culpa é minha — disse ele, mais para si mesmo do que para ela. — Eu nunca deveria ter acreditado que você poderia dar conta disso.
Liss não tinha resposta para aquilo.
James pressionou as têmporas com a ponta dos dedos, tentando se conter. Ela teria preferido que ele gritasse e batesse o pé, mas ele era um homem controlado demais para isso.
Ela permaneceu imóvel, tentando evitar até mesmo respirar para não atiçar a ira dele e ter de ouvir mais algumas palavras terríveis.
— O champanhe é bom — disse ele, voltando finalmente a falar, porém sem nenhum entusiasmo.
Ela assentiu, esperando que o clima amainasse um pouco. James não poderia fazer nenhuma restrição ao seu bom gosto.
— O que é aquela decoração dos guardanapos para o caviar?
— Folhas de ouro — disse ela, conseguindo fazer com que sua voz soasse um pouco mais alta daquela vez.
Ele grunhiu.
— Diga.
Dizer o quê? Ele não, podia estar querendo piorar ainda mais as coisas.
— Quanto? — perguntou ele, como se fosse óbvio.
— Perdão?
— Quanto foi que esta festa me custou?
— Humm.
Ela não quis admitir que ainda não havia reunido todas as contas e recibos. Na verdade, não tinha ideia do valor da maior parte deles.
— Você pelo menos sabe qual era o orçamento para este evento?
Orçamento? Oh, é verdade, havia uma página com alguns cálculos no arquivo que James tinha mencionado, mas ela não o havia estudado atentamente.
— Eu não...
— O quê? Não pensou?
Droga, ela não havia feito outra coisa nos últimos tempos a não ser pensar naquela festa.
— Você disse que queria o melhor.
— Você é mesmo uma Maria Antonieta dos tempos modernos, não é, princesa? Totalmente alienada.
— James, eu... — ...não tenho ideia do que dizer.
— Ainda bem que sou um homem de posses e posso arcar com o prejuízo. Você precisa crescer urgentemente, Elissa.
Liss mordeu o lábio inferior com força. Já tinha ouvido aquilo antes, mas daquela vez fora diferente.
Ela não ia chorar. Não ia agir como a menina mimada que ele achava que ela era. Assumiria seu erro como uma profissional. E choraria mais tarde.
Estava tudo acabado. Aquilo não era algo que ela pudesse disfarçar com algum comentário leviano, e pela primeira vez, ela não quis fazê-lo. Ela havia desapontado a ele e a si mesma.
— Sinto muito, James.
Ele a encarou sem nenhum perdão ou suavidade naqueles olhos duros e escuros, e saiu da sala sem responder.
James tentou forjar um sorriso para voltar ao salão, mas não conseguiu. Não fora só o fato de ela ter desperdiçado uma possibilidade de promover a inauguração do hotel que o irritara, mas sim, o de que ela estivera muito perto de prosperar. Aquela era; decididamente uma festa impressionante.
Ela havia providenciado tudo do bom e do melhor, mas se esquecera do básico.
Liss também retornou ao salão, pouco depois, engajando-se logo em uma conversa com alguns convidados na ponta oposta à que ele estava.
James desviou o olhar e decidiu focar a sua atenção nos convidados. Afinal, ainda poderia tirar algum proveito daquela noite. Passou algumas horas evitando cruzar o caminho de Liss, sabendo que se isso acontecesse tanto sua raiva quanto sua temperatura corporal se elevariam rapidamente, mas ela não saía da sua mente.
James acabou avistando-a discutindo algum detalhe em voz baixa com um dos garçons. Por mais que estivesse zangado com ela, ele não gostava de vê-la assim, tão subjugada.
Ele havia torcido para que ela experimentasse a satisfação de ter feito um bom trabalho e de saber que era capaz de ser bem-sucedida na vida.
Depois, então, ele lhe proporcionaria uma satisfação totalmente diferente, profundamente pessoal e física.
E o pior era que ele ainda queria que as duas coisas acontecessem, e não estava gostando nada da ideia de que não seria naquela noite.
Por que ela precisava ser tão incrivelmente atraente?
Incapaz de resistir, ele olhou para ela outra vez. Liss estava conversando com alguns convidados, mas notou o seu escrutínio; James pôde percebê-lo pelo modo como seu corpo havia enrijecido levemente; mas não o encarou.
Será que aquele pesadelo jamais teria fim? Apesar de rodeada de belas pessoas, boa comida e conversas interessantes, Liss se sentia morta por dentro.
Ela conversou com algumas socialites locais que queriam colocá-la a par de todas as fofocas e arrancar outras tantas dela, principalmente sobre Cassie, mas Liss foi discreta. Ela e seu irmão já haviam sofrido bastante e tinham direito à sua privacidade.
— Você sabia que o seu pai havia tido um caso com uma das empregadas do palácio? — perguntou-lhe uma delas.
Seu pai, o rei Aegeus. O nó em seu peito se estreitou ainda. Ela mal o havia conhecido. As únicas vezes em que ele havia demonstrado algum interesse por ela nos últimos anos foram as ocasiões em que havia expressado o seu descontentamento para com as suas atitudes. Liss havia sofrido muito com a sua morte, tanto pelo relacionamento que eles poderiam ter tido, quanto pela vida dele que se fora.
— Vocês não deveriam acreditar em tudo o que ouvem — disse Liss, abruptamente.
Depois de um breve silêncio que Liss preencheu simplesmente tomando um longo gole de seu champanhe, uma das mulheres perguntou, apontando para o lado direito de Liss:
—Aquele é o seu chefe? Uau! Ele parece bem intenso.
— Ele é muito sexy — disse outra.
Liss sabia que ele estava olhando na sua direção, mas se recusou a olhar de volta. Em vez disso, puniu-se ainda mais respondendo:
— Ele é mesmo demais. Por que não vão se apresentar a ele? Lentamente, após várias longas horas, os convidados foram embora. Ela finalmente poderia fugir dali e sofrer em paz.
Ou não. Assim que ela se dirigiu até a porta James a chamou, dirigindo-se a ela pela primeira vez desde que havia fincado uma faca em seu coração. Tentando se conter, ela foi até ele e examinou o seu belo rosto. Para sua surpresa, James estava sorrindo.
— Já passa bastante da meia-noite. Vai começar a esvaziar aquelas garrafas agora?
E atiçar a sua "criança selvagem" interior? Não agora, e provavelmente nunca mais. Mas ela não ia deixar que ele percebesse o quanto aquela noite a havia afetado.
— Algumas, talvez.
— Venha acabar uma comigo, então.
Liss achou que James estava brincando, mas ele pegou duas taças e uma garrafa de champanhe cheia e lhe estendeu o braço, de forma que ela não pôde fazer outra coisa senão acompanhá-lo com um sorriso forçado.
Eles deixaram o salão de baile, já quase vazio. Embora o elevador os tivesse conduzido com extrema suavidade até o último andar, o estômago de Liss revirava como se ela estivesse numa montanha-russa. Seu coração parecia bater mais alto do que 20 tambores numa marcha em meio àquele silêncio, e para piorar ainda mais as coisas, ela percebeu que estava perigosamente perto de se desfazer em lágrimas.
Ele abriu a porta e a conduziu para dentro de sua cobertura. Assim que chegou na sala, ele serviu o champanhe e estendeu uma das taças a Liss.
— Então...
Ela agarrou a taça com força e deu um passo para trás, tentando não olhar enquanto ele tirava o paletó e deixava os ombros ainda mais à mostra naquela camisa branca.
— Não vou me dar ao trabalho de voltar com você para Sidney. Posso mandar alguém empacotar as minhas coisas e despachá-las diretamente para cá.
Ele se recostou na mesa, esticando as pernas à sua frente.
— Está se demitindo?
— Pensei que já era tarde demais para isso.
— Eu não a despedi, princesa. Ainda não.
Que função poderia exercer para ele agora se nem um café decente ela sabia fazer?
— Você estourou o orçamento, não convidou a imprensa, ignorou totalmente o intuito da festa, mas de resto a noite foi muito boa.
Boa? Para todas as outras pessoas que haviam estado naquele salão, a noite fora simplesmente sensacional e ele sabia disso.
— Estou disposto a lhe dar uma última chance.
Ela não sabia se ficava feliz ou ria na cara dele. Será que ele ainda não havia compreendido? Ela jamais conseguiria dar conta daquilo.
— Faça-o novamente.
— Como?
— Quero uma festa maior e melhor que essa, com todas as pessoas de que necessitamos aqui. Você terá um quarto do orçamento original e uma semana para fazê-lo.
— Você só pode estar brincando.
— É isso o que eu quero e é isso o que você vai fazer.
— Eu não posso. Tem ideia de como foi difícil fazer com que despachassem todas aquelas flores para cá? Os convidados serão os mesmos, em sua grande maioria. Eles vão esperar algo diferente. Vão esperar mais.
— Então é melhor você inventar algo novo, não é? Algo melhor e mais barato, e rápido.
— Eu não posso — sussurrou ela, abatida. James se empertigou e foi até ela.
— Não achei que você fosse mulher de fugir de um desafio, princesa.
Uma coisa era propor um desafio, outra era pedir o impossível. A medida, porém, que James foi chegando mais perto, o corpo de Liss enrijeceu e seu espírito de luta voltou.
— Sei que você pode fazer isto — disse ele, pousando as mãos em seus ombros. —Você pode, Elissa.
O tom suave que ele havia usado para dizer aquelas palavras e o uso raro que fizera de seu nome a trouxeram de volta.
— Eu não sou uma criança, James. Você não precisa me incentivar desse jeito — disse ela, determinada a obter ao menos algum reconhecimento de sua parte. — Eu sei que errei, mas a noite foi um sucesso.
Como ele não disse nada, Liss resolveu insistir.
— A comida estava incrível.
— Estava.
Uau. Uma concessão. Ela forçou a barra.
— A decoração do salão estava deslumbrante.
— Estava.
— Os convidados eram todos de primeira grandeza.
— Eram.
— E a fonte de champanhe foi simplesmente incrível.
— Foi.
Ela o fulminou com os olhos, ainda mais irritada por ele ter concordado com ela tão fácil e tranquilamente de maneira tão pouco efusiva.
— E então? Aceita organizar a próxima festa ou não?
Ela jogou a cabeça para trás e olhou para ele desafiadoramente.
— Você é movido a desafios, não é, James?
Os olhos dele cintilaram deixando todos os sentidos de Liss em estado de alerta:
— Assim como você, minha princesa.
De repente, tudo mudou. Ela se esqueceu da festa e do trabalho, voltando toda a sua atenção apenas para o aqui e agora.
— E como pretende lidar com este desafio, afinal?
— Está se referindo a você?
Ela assentiu levemente, sentindo o corpo se imobilizar diante da incendiária promessa de proximidade física com ele. Ela já estava farta da maneira como ele se continha.
— Do modo como eu sempre gosto de enfrentar um desafio.
— Os dedos dele tocaram seus ombros novamente, com mais firmeza e vigor. — Colocando a mão na massa e assumindo o controle da situação.
— Com a mão na massa, pode ser — disse ela, inclinando a cabeça para trás a fim de olhar diretamente para ele — mas não creio que vá conseguir o controle da situação.
— Quem o fará, então? — sussurrou ele, baixando a cabeça em direção à dela.
— Nenhum de nós — sussurrou ela de volta.
— Acho que assim estaremos quites — disse ele, correndo os dedos pelas suas clavículas. — Mas ainda há um problema crucial.
— Qual é?
— Nós ainda não decidimos quem vai ficar por cima — disse ele com um sorriso carregado de malícia.
— A princesa está sempre por cima — retrucou ela com a mesma intensidade.
— Verdade? — Ele estava tão próximo que ela podia ver as inúmeras manchas castanho douradas em seus olhos e o modo como suas pupilas estavam se dilatando. — Podemos começar desse jeito, se você quiser e então ver o que acontece.
Assim que se imaginou montando sobre o corpo nu de James, Liss teve um lampejo de sensatez. Dormir com James provavelmente acabaria em desastre. Mas o seu emprego já estava um desastre mesmo. Ela podia muito bem ter a experiência pela qual vinha ansiando loucamente naquelas últimas três semanas. Aquela, provavelmente, seria uma oportunidade única, afinal, ela não passava de um simples brinquedinho para James.
Por que, então, não ser egoísta, como todo mundo esperava que ela fosse, e fazer o que ela queria? E como queria?
James sabia que ela o desejava. Suas carícias confiantes o refletiam. Os lábios dele roçaram a maçã do rosto dela ao murmurar:
— Já é hora de tratarmos disso.
As pálpebras dela se agitaram com aquela carícia. Ele seguiu beijando-lhe o rosto e Liss fechou os olhos, inclinando a cabeça na direção da dele e entreabrindo os lábios.
E então ele a beijou. Como beijava bem. A taça dela escorregou de seus dedos e os braços dele a seguraram com mais firmeza enquanto ela retribuía o beijo, decidida a deixá-lo ainda mais excitado, querendo que ele a desejasse do jeito que ela o desejava, descontroladamente.
Liss não conseguiu mais pensar em nada, concentrando-se apenas nas sensações da boca dele na sua.
Ela levou a mão até as costas dele, sentindo toda a sua amplitude e força, puxando-o, então, para ainda mais perto, pressionando os seus quadris contra os dele num ritmo espontâneo, incitando-o à ação.
Ele enterrou uma mão nos cabelos de Liss, e a puxou pela nuca, enquanto a outra, na base de suas costas, puxava os quadris dela em direção aos seus, deixando-a mais do que consciente de sua ereção. Sem erguer a cabeça, ele a conduziu até o quarto. Liss estava tão excitada que teria sido capaz de tomá-lo ali mesmo, no chão, na poltrona. Tudo o que ela queria...
A mão dele se afastou de sua cintura e ela ouviu um clique. Ao abrir os olhos, por fim, Liss notou que James havia ligado uma luminária sobre a mesinha de cabeceira, conferindo um brilho suave ao ambiente. As cortinas pesadas estavam fechadas, a cama era grande e confortável, e alguma boa alma já havia afastado as cobertas.
Ela ergueu o rosto na direção do dele para mais um beijo, mas James se ajoelhou, deslizando as mãos desde as suas coxas até os seus pés.
Liss olhou para baixo e se surpreendeu ao vê-lo de smoking, ajoelhado junto aos seus pés.
— O que você está fazendo?
— Adorando os seus tornozelos. Você tem os tornozelos e as panturrilhas mais bem torneadas que eu já vi na minha vida.
— São os saltos altos — explicou ela, apesar de estupidamente feliz com aquele elogio.
— Não é verdade. Eu já a vi descalça em meu escritório. Suas pernas são incríveis.
Apoiando-se nos calcanhares, James começou a brincar com a saia dela, fazendo o tecido dançar sobre as suas coxas. Ela sentiu a necessidade de se agitar contra ele outra vez, querendo que ele agisse mais depressa.
— Está pretendendo dar uma olhada debaixo do meu vestido?
— Vou fazer bem mais que isso.
Ele começou a beijar as suas pernas com sua boca quente, aberta e molhada, subindo cada vez mais. Liss enterrou a mão nos cabelos dele, inquieta, desejando que ele subisse ainda mais.
De repente ele se levantou e, feliz, ela notou que ele estava levemente arfante, com as bochechas rosadas e os olhos brilhantes. Liss tirou proveito da situação, pressionando o ventre contra o dele e desabotoando rapidamente os botões da sua camisa. Queria tocá-lo, saboreá-lo, fazer com que ele a possuísse rápida e furiosamente. Ela beijou toda a extensão de sua pele dourada, serpenteando a língua sobre ela e mordiscando-a, ávida por enlouquecê-lo de desejo.
James permitiu que ela prosseguisse com aquilo por algum tempo e Liss sentiu a tensão dele crescer enquanto ele permanecia imóvel sob os seus cuidados. Então, com um rosnado, as mãos dele agarraram os quadris dela, segurando-os com firmeza enquanto ele impelia os seus para frente. Liss ergueu o rosto para deixar que a boca de James tomasse a dela de assalto. Ela teve vontade de gritar quando ele aprofundou o beijo, atiçando-a ainda mais.
James afastou a cabeça, num gesto abrupto, e respirou fundo. Droga. Ela sabia que ele ia querer impor um ritmo mais lento.
Sorrindo para ela, James deslizou os dedos pelas suas costas até encontrar o zíper secreto na lateral do vestido. Ele o baixou e ela deixou os braços penderem para baixo a fim de deixar que as alças caíssem.
O tecido foi rapidamente ao chão. James acompanhou o movimento do vestido com o olhar e permaneceu em silêncio por algum tempo. Logo depois, seu sorriso se intensificou. Ele estendeu um único e longo dedo e o correu ao longo da fina faixa da sua lingerie preta.
— Então você usa calcinha, afinal.
— Muito fina e muito pequena — disse Liss, contraindo a barriga, tentando parar de tremer enquanto o dedo dele deslizava lentamente de um lado para o outro.
— Mas ainda assim, uma calcinha. Ela assentiu.
— Sempre.
— Quer dizer que você não é tão selvagem assim, princesa? — disse ele em meio a uma risada.
Como ele a conhecia pouco.
— Selvagem o suficiente para você.
Ela o empurrou, pegando-o de surpresa, e ele deu um passo para trás, sentindo os joelhos se curvarem contra a cama. Liss voltou a empurrá-lo, e embora estivesse preparado daquela vez, ele deixou que ela prosseguisse com aquilo, caindo de costas sobre a cama com uma gargalhada.
— Então venha para cima de mim, minha beldade.
Liss estava acostumada a ouvir que era linda, mas James tinha a capacidade de fazer com que ela acreditasse naquilo, simplesmente devido à paixão estampada em seus olhos.
Ela deslizou os dedos sob sua calcinha e a puxou para baixo com um movimento oscilante. Logo depois de tirá-la, ela a girou no dedo e a jogou longe. Apoiado sobre os cotovelos, James acompanhou o seu breve número de strip-tease com olhos ávidos.
Louca para deixá-lo ainda mais excitado, Liss subiu na cama de joelhos e engatinhou sobre o corpo de James, permitindo que ele a olhasse, sem, no entanto tocá-lo, até que ela se posicionasse sobre o seu prêmio. Quando chegou ao meio do corpo dele, ela se sentou, deleitando-se ao sentir a ereção firme dele sob o tecido levemente áspero de sua calça. Seria melhor ainda quando James estivesse nu, porém, naquele exato momento, ela estava sentindo um enorme prazer em simplesmente brincar com ele. Liss sentiu o desejo dele se intensificar ainda mais quando esfregou as mãos sobre o peito dele. Seguiu, então, com os dedos em direção ao botão da calça dele, querendo sentir a pele dele contra a sua.
Em vez de arquear os quadris para encontrá-la, como ela havia esperado, James, de repente deslizou em direção à ponta da cama, fazendo com que seu peito, e não a sua pelve, ficasse debaixo dela. Os olhos de James transbordavam de desejo e deleite ao encontrar os dela.
Ele se contorceu, passando um braço e o ombro sob a sua perna, e deslizou um pouco mais para baixo, de modo que já não era mais sobre o peito dele que ela estava montada, mas, sim, sobre seu rosto.
Liss congelou, incapaz de decidir o que fazer.
Ele a agarrou pela cintura, libertando-a do dilema.
— James!
Ela se sentiu incendiar de paixão quando ele virou a cabeça e beijou a parte interna de sua coxa, uma, duas vezes... e então...
Liss não estava preparada para algo tão íntimo. Parecia estúpido de sua parte, considerando o que eles estavam fazendo, mas aquilo era... era...
— O que foi? — perguntou ele languidamente, levando os dedos até onde a sua língua havia estado pouco antes. —Achei que quisesse ficar por cima.
O ar quente que saía de sua boca enquanto ele falava provocou deliciosos arrepios por todo o corpo de Liss.
— E quero, mas é que isso... — Ela se deteve para respirar quando a língua dele recomeçou a explorá-la. — Isso é... — Os olhos dela se fecharam quando a boca dele se fechou em torno do seu ponto mais sensível e o sugou. — Isso é... muito bom.
Mais uma vez ela torceu os dedos nos cabelos dele, literalmente se agarrando à realidade enquanto ele a provocava com os dedos, língua e lábios.
Sentindo todo o seu corpo quente e úmido e com uma dificuldade enorme de respirar, ela fechou os olhos com mais força, deixando-se levar por aquelas sensações intensas que ele estava lhe proporcionando.
— James — murmurou ela.
Ela ansiava por ser saciada, mas também queria que aquele momento durasse para sempre.
Ele levou a mão até o seio dela e apertou suavemente o seu mamilo entre o indicador e o polegar, fazendo-a estremecer.
Liss estendeu os braços e agarrou as barras da cabeceira da cama com uma força descomunal. Quis gritar. Ia gritar, mas não conseguiu soltar som algum devido à sua dificuldade de respirar e aos soluços que já não conseguia mais conter.
Ele a agarrou com ambas as mãos enquanto se banqueteava nela. Os tremores tomaram todo o corpo dela, enquanto ela repetia o nome dele, sem parar.
— Ainda tem certeza de que quer ficar por cima?
O humor sensual dele intensificou ainda mais o seu prazer.
Ela não estava mais conseguindo apoiar o corpo. A excitação estava intensa demais e tudo o que ela queria fazer era se deitar de costas e desfrutar daquela sensação deliciosa.
Ela tombou para o lado e se desculpou.
— Sinto muito, James, mas quando você faz isso eu não consigo...
— Se mexer?
James rolou na cama e subiu de quatro sobre ela, como um leão. Liss se estendeu sobre o colchão, feliz por ser a sua presa.
— Nem pensar... — murmurou ela com as pálpebras pesadas quando ele se deteve em seus seios. — Ou mesmo falar...
Ela na verdade, só conseguiu gemer quando ele tomou o seu mamilo enrijecido na boca e os seus dedos reassumiram a carícia ritmada em seu ventre.
James se moveu lentamente sobre cada centímetro do corpo dela, em todas as direções, até que cada centímetro de sua pele tivesse sido aquecida e umedecida pelos seus beijos e carícias, até ela não ter mais nenhum controle sobre o seu próprio corpo, arqueando-o todo num convite, implorando para tê-lo dentro de si e para que aquela tensão insuportável fosse finalmente saciada.
— James. Ela balançou a cabeça descontroladamente quando ele beijou a cavidade na base do seu pescoço. Aquilo não era suficiente. Ela precisava ter tudo. Agora.
James levantou da cama, tirou os sapatos, arrancou a calça e pegou uma camisinha na gaveta da mesinha de cabeceira. Ela permaneceu o tempo todo deitada de costas, ainda com os quadris arqueados, sussurrando o nome dele, sabendo que toda vez que o fazia os olhos dele brilhavam e as mãos tremiam.
O corpo dele estava brilhando de suor, mas ele ainda conseguia estampar aquele sorriso levemente irônico no rosto.
— Se não se incomodar, princesa, desta vez eu ficarei por cima.
Liss deixou todo o fingimento de lado ao sentir o peso glorioso dele sobre si e respondeu extasiada:
— Oh, sim.
Então, com um sorriso satisfeito e movimento longo e deliberadamente lento, ele a penetrou profundamente. Liss começou a tremer e respirar descontroladamente. O deleite era quase insuportável.
James se deteve por um momento, murmurou um "princesa" quase inaudível e então voltou a se mover.
Ela se agarrou aos ombros largos e escorregadios dele, gritando enquanto ele impelia o seu corpo contra o dela repetidas vezes, preenchendo-a completamente. Ela se esforçou para ajustar o seu ritmo ao de James, enroscando as suas pernas em torno das dele, e arqueando o corpo de modo a deixá-lo tão excitado quanto ela. O olhar de James encontrou o dela e o capturou. A delicada tortura prosseguiu e se intensificou cada vez mais, até ela atingir um ponto em que não pôde mais conter a sua reação feroz.
Liss arqueou todo o corpo para o alto uma última vez e contraiu os seus músculos em torno dele, agarrando-o com firmeza até seu corpo ser finalmente tomado por sucessivas convulsões, refém de um intenso prazer, mal tendo consciência do seu próprio grito.
Ela estava acordada, mas manteve os olhos fechados. Sabia que ainda era muito cedo, mas não podia dormir nem mais um segundo sequer. Havia coisas demais sobre o que pensar. Ela jamais voltaria a ser a mesma pessoa depois da noite de sexo cataclísmico que tivera com ele.
James era incrível. Fora tão intenso e seguro no quarto quanto o era na sala da diretoria. O desejo começou a se insinuar novamente em seu corpo. Ela queria dar um trato nele também, fazer com que ele se tornasse igualmente escravo dela.
Liss fechou os olhos com mais força, pensando nos acontecimentos da noite anterior. A festa. Seu fracasso. O desafio de fazer outra festa.
Ui!
Assim que finalmente abriu os olhos, ela o encontrou apoiado sobre o cotovelo, olhando para ela, completamente alerta, apesar da barba por fazer e do cabelo despenteado.
— Arrependida? — perguntou ele diretamente.
— Não.
Ela nunca poderia lamentar o que acontecera. A boca dele se contorceu naquele sorriso cínico de que ela não gostava muito.
— É claro. Você não é o tipo de pessoa que costuma se arrepender.
Será que ele ainda a considerava uma princesinha superficial que só gostava de festas? Bem, ela jamais admitiria como fora profunda a conexão que sentira com ele na noite anterior.
— Por quê, você é?
— Não desse tipo de coisa.
Do quê, então? Era óbvio que ele tinha algo em mente que não estava disposto a compartilhar.
— Foi uma experiência boa demais para não ser não repetida — disse ele suavemente.
Oh, ela concordava inteiramente e sabia que ele estava pronto para repeti-la agora mesmo. O corpo dela amoleceu e seus músculos ansiaram por se mover. Ela conteve o desejo delicioso de se espreguiçar, saboreando a tensão que se acumulava dentro dela.
Ele passou os dedos pelos ombros dela.
— Você não é do tipo que se envolve.
Não era uma pergunta. Ela realmente nunca tivera um relacionamento mais sério, mas as coisas podiam mudar. Alguém podia fazer com que ela se sentisse diferente a esse respeito.
O olhar dele se desviou do ponto onde estivera observando sua mão deslizar por baixo do lençol entre os seios dela, parecendo querer se assegurar de que ela estava prestando atenção no que ele dizia.
— Eu também não me envolvo.
Liss não conseguiu acreditar inteiramente naquilo. Enquanto ela era capaz de flertar e se divertir, James era intenso e muito focado e certamente se envolveria quando surgisse a mulher certa. O fato era que ela não era essa mulher e ele estava querendo deixar aquilo bem claro.
Tudo bem. Ela também não ia querer nada mais sério com ele. James era muito controlador, especialmente no que concernia às suas próprias emoções.
— Muito bem, então mais tarde trabalharemos — disse ele, baixando a mão e o olhar ao mesmo tempo. — Agora é hora do prazer.
O que mais ela poderia dizer?
— Está bem.
Ele rolou sobre ela, reivindicando a posição dominante, e ela se recostou e permitiu que ele o fizesse, ao menos por enquanto.
Depois de mais uma hora com ele na cama e outra meia hora debaixo do chuveiro, em que tivera chance de se ensaboar, ela estava pronta para uma boa soneca, mas James já estava em sua mesa, dando duro.
Tendo em vista o que ele havia lhe pedido, ela achou melhor levantar também, perguntando-se, porém, se algum dia seria capaz de se equiparar a ele, em qualquer âmbito. Saiu do quarto para se arrumar e descobriu que James havia mandado trazer as malas dela do quarto de baixo.
— Já que teremos que trabalhar dia e noite — disse ele a fim de se fazer ouvir pelo carregador — será mais fácil fazer a sua transferência para o quarto ao lado.
Entre divertida e aborrecida com a sua arrogância, Liss não deixou de notar o seu cuidado para proteger a reputação de ambos. Ele também não queria que as pessoas falassem deles, não é?
— É verdade — murmurou ele, puxando-a mais para perto de si assim que o carregador foi embora. — Nós não temos tempo a perder.
Quanto tempo será que eles ainda teriam juntos, pensou ela. Uma noite, uma semana, ou apenas o tempo de ele se cansar dela e mandá-la embora?
Ela se afastou dele e guardou suas roupas, demarcando o seu próprio território dentro da cobertura. Mesmo que passasse todos as noites na cama dele, em seus braços, como queria loucamente, ela teria que manter alguma independência. Não queria tê-lo o tempo todo por perto enquanto tentava encontrar uma solução para aquela festa. Como ele havia montado o seu escritório na sala de espera principal, ela levou as suas coisas para a sacada envidraçada que tinha uma linda vista para a ilha.
Liss se sentou em um das poltronas macias, ligou o laptop e trouxe o celular mais para perto de si.
A primeira coisa que precisava fazer era organizar o maldito esquema de mídia. Ela redigiu uma lista com todas as revistas, jornais e emissoras de TV que deveria chamar. Poderia inserir mais fotos no site do hotel também. Quem sabe até Podcasts? Ela lhe daria toda a cobertura que ele tanto queria.
Levaria o pessoal da imprensa ao local da festa bem cedo, na manhã do evento, ou até mesmo na noite anterior, caso fosse necessário, e reservaria todo um andar só para eles, a fim de garantir a privacidade dos outros hóspedes. As equipes poderiam fazer uma excursão pelas instalações durante o dia com o gerente do hotel de forma a ficarem disponíveis para cobrir a festa, à noite.
Assim que esboçou seu plano, ela começou a reunir todos os contatos de que precisava. Mais de uma hora depois, com a lista completa, era chegado o momento de começar a fazer as ligações. Reunindo toda a sua coragem, ela teclou o primeiro número e usou toda a sua lábia.
— Mas eu ouvi dizer que houve uma festa de arromba aí ontem à noite, extremamente exclusiva, aliás.
Liss estremeceu. Deveria ter previsto aquele tipo de interrogatório.
— Digamos que aquilo foi apenas um pequeno ensaio. A verdadeira festa será um megaevento para apresentar o nosso hotel exclusivo à alta sociedade.
Que ironia... Como é que ela ia se safar daquela enrascada?
— Um pouco tarde para fazer os convites, não é?
Sabia que Alec era um jornalista experiente, capaz de farejar uma história a quilômetros de distância, mas nada no mundo a faria expor seu fracasso.
— As coisas acontecem rapidamente por aqui. Se não estiver interessado...
— Estaremos aí. Teremos acesso a todas as áreas?
— Vocês não terão permissão para filmar a festa em si, mas poderão registrar toda a organização e a chegada dos convidados. Poderão ainda tirar algumas fotos dentro do salão, mas depois disso esperamos que relaxem e desfrutem da festa.
Ela ainda repetiu a mesma conversa umas vinte vezes, fazendo uso de seus contatos, mas feliz por só ter que lidar diretamente com alguns poucos jornalistas.
Os paparazzi viriam no rastro dos profissionais convidados assim que a notícia se espalhasse, na esperança de obter "a foto" da festa que poderia ser vendida por uma boa quantia às revistas exclusivas.
Depois de ter conseguido contatar todo mundo, ela teve que organizar os respectivos voos e enviar e-mails a todos com os devidos detalhes.
Liss se recostou na poltrona com um suspiro e se espreguiçou. Tinha passado o dia inteiro em função da festa, prometendo algo surpreendente a todos, sem nem sequer ter começado a planejá-la.
Enjoada, ela se deu conta de que só havia tomado um suco de laranja até aquela hora. Nunca havia passado tanto tempo num mesmo lugar trabalhando.
Aquilo, porém, não era suficiente.
Tinha uma boa base para começar. O hotel era incrível e o cozinheiro certamente criaria algo maravilhoso para o dia. Aristo era uma cidade linda... Mas o fato era que aquelas pessoas estavam esperando algo diferente e ela não tinha a menor ideia do que fazer.
A ansiedade estava começando a consumi-la quando James entrou com uma expressão de fome e desespero estampada no rosto. Toda e qualquer preocupação a respeito da festa desapareceu de sua mente quando ele cruzou o olhar com o dela e sorriu maliciosamente, fazendo o seu sangue correr mais rápido nas veias e a excitação acelerar a sua respiração. Ele ainda a queria. E a queria agora mesmo.
James tirou a camisa e lhe fez um aceno. Ela o seguiu sem que ele tivesse que dizer coisa alguma.
Eles mal haviam chegado até o quarto quando ele a virou em seus braços, deslizou as mãos pelas laterais do seu corpo e a beijou.
— Então era a isso que você estava se referindo quando me disse que "outras funções eram necessárias" — provocou ela arfante, pouco depois, enroscando os dedos nos pelos do peito dele.
— Inferno, sim.
Mais tarde, ele ligou para a recepção e pediu que lhes enviassem os melhores pratos do dia.
Ela enfiou um vestido leve e ele vestiu um jeans para então comerem no conservatório, olhando para a cidade rica e vibrante.
Depois de recuperar as forças, ela lhe lançou um olhar atrevido, pôs a mão sobre a sua coxa e sentiu os músculos dele se moverem, feliz ao ver como ele respondia tão rapidamente a tão pouco.
Eles não haviam acendido a luz de seus quartos, de modo que quando o céu escureceu, as luzes da cidade brilharam fortemente à sua volta, permitindo que eles vissem tudo o que se passava do lado de fora, sem que ninguém pudesse vê-los. Ainda bem, porque àquela altura, ambos já estavam nus e extremamente excitados, dançando a mais intima de todas as danças.
Quando ela despertou, na manhã seguinte, James já havia deixado o quarto.
Ela estendeu a mão, sentindo o calor do corpo dele ainda impregnado no lençol, mas se deteve. Era melhor não se acostumar com aquilo. Ele já havia lhe dito que não se envolvia, e que aquele era apenas um caso passageiro. Tudo provavelmente não passaria daquela semana, até ela levar aquele evento a cabo. Liss foi tomada de pânico. Como é que ela ia conseguir fazer uma festa ainda melhor do que a última, quase sem dinheiro e com um prazo ainda menor? O melhor a fazer era lidar com uma coisa de cada vez.
Tinha que preparar os convites o mais rápido possível. Felizmente, ela sabia que muitos dos convidados estrangeiros que haviam vindo especialmente para a primeira festa tinham se programado para passar cerca de uma semana num cruzeiro em torno da ilha.
Ela optaria por algo bem simples e muito elegante e, com sorte os convidados pensariam que se tratava de algo misterioso, embora ela ainda não tivesse ideia de qual seria o tema da festa. Liss fez um esboço do que queria e então foi até Stella, a secretária do gerente do hotel, que certamente saberia lidar melhor com o programa necessário para publicá-los do que ela.
Três horas depois, o arquivo estava sendo enviado por e-mail para a gráfica local a fim de ser impresso. Ela ainda passou mais duas horas nos fundos da Recepção tentando descobrir como imprimir os envelopes para então encarregar um funcionário do próprio hotel de entregar os convites pessoalmente, devidamente uniformizado.
Àquela altura, Liss já estava precisando de um pouco de ar fresco e de um transplante de cérebro para conseguir tirar alguma ideia da cartola para a festa. Ela caminhou pela praia particular do hotel, olhando para todos os lados em busca de inspiração. Precisava de um tema...
A decoração ia ser o mais difícil de tudo, uma vez que James estava disposto a pagar apenas pela comida e pelo vinho. Ela não podia encher aquele salão deslumbrante com meia dúzia de balões de hélio.
Para onde se ia depois da opulência? Aristo era uma das cidades mais procuradas pelos ricos e famosos, um lugar onde eles podiam relaxar em privacidade e também desfrutar da vida em alta sociedade se assim o quisessem, e ela havia lhes proporcionado tudo do bom e do melhor, sem, no entanto, ponderou ela, cair na decadência.
Liss sorriu. Havia provocado James dizendo que ele queria que ela organizasse uma orgia. Ela se deteve um pouco mais sobre aquela ideia. E se ela conseguisse transformar a festa em uma noite sedutora e exclusiva, acenando com uma promessa de satisfação de todo o tipo de prazer?
Ela quebrou a cabeça, tentando se lembrar do que havia aprendido sobre as orgias gregas durante a sua estada na faculdade. E se ela criasse um cenário que evocasse aquele espírito, James a acusaria de ser algo decadente e hedonista? Seria possível criar um banquete suntuoso e sensual, porém refinado e elegante?
Sim. Ela podia fazer aquilo funcionar. Aquela era a única ideia que havia tido e o tema tinha bastante a ver com o seu momento atual, uma vez que James estava fazendo com que ela se sentisse uma verdadeira deusa sensual.
Liss voltou para o hotel apressada, com a cabeça fervilhando, finalmente com a sensação de ter avançado um pouco em seus planos. Talvez ela pudesse dar conta daquilo, afinal.
James se sentou à sua mesa e tentou não se deter no fato de que Liss já havia saído há horas, que ele estava sentindo a sua falta e que a desejava outra vez intensamente. Uma noite só não fora suficiente. Nem duas. Ele queria mais. Queria se infiltrar em sua mente assim como ela havia se infiltrado em seu corpo. Queria saber o que a fazia franzir a testa durante o sono, e assumir aquele ar melancólico toda vez que acreditava estar sozinha, e principalmente, por que ainda a desejava.
Ele ergueu os olhos assim que a porta se abriu e agradeceu imediatamente a quem quer que fosse o deus da cobiça. Liss parecia flutuar em um vestido sofisticado como se estivesse usando uma calça jeans gasta e uma camiseta. Só ela podia usar roupas como aquela com tamanha naturalidade. Seu corpo reagiu à presença dela imediatamente.
Assim que ela fechou a porta, James pôde ver a expressão estampada em seu rosto e ficou ainda mais excitado do que já estava.
Já tinha visto aquele brilho em seus olhos antes, quando ela quase o havia beijado e sabia que aquilo significava que ele estava em apuros, e, Deus, como ele ansiava por isso! Ela se virou e ele a ouviu trancar a porta, para logo depois baixar o zíper do seu vestido.
Ele mal notou que a caneta havia escorregado de seus dedos, e já stava ocupado demais prestando atenção nos movimentos dela. Liss parecia uma deusa, alta e brilhante, que havia adentrado o seu quarto pronta para realizar todas as suas fantasias.
— Está na hora do chá da tarde, James — disse ela sedutoramente.
James pigarreou e tentou parecer informal.
— Boa ideia.
O olhar divertido dela fez com que James soubesse que estava realmente encrencado. Ela conseguiu tirar o vestido pela cabeça, apesar de suas alças intrincadas. Depois tirou o belo conjunto de sutiã e calcinha cor-de-rosa com movimentos simples e sensuais.
Seu corpo delgado e ágil estava completamente desnudo com exceção dos sapatos. Ele a olhou lentamente de baixo para cima, deleitando-se com a visão de suas longas pernas bem torneadas, o belo arco de pelos entre elas, a cintura estreita, os seios projetados e os grandes mamilos enrijecidos, o longo pescoço e os cabelos compridos e sedosos. O que mais o deixou excitado, porém, foi o brilho de desejo em seus olhos escuros cor de chocolate, injetados nos dele e seu sorriso deliciosamente pecaminoso. Ela estava querendo se divertir e James estava mais do que disposto a fazer a sua vontade.
Liss se virou de costas para ele e se debruçou sobre uma pequena mesa, propiciando-lhe a visão incrivelmente sexy das suas belas nádegas arredondadas e da convidativa fenda existente entre elas.
Ele foi tomado por desejos contraditórios. Parte dele ansiava por enterrar o rosto nela, provocá-la e saboreá-la até os quadris dela começarem a se contorcer e ela enterrar as mãos em seus cabelos, gritando o seu nome.
Outra parte, porém, desejava simplesmente puxá-la para junto de si e então penetrá-la com movimentos rápidos e firmes, repetidamente, até ela contrair os seus músculos internos em torno do membro dele, se agarrar aos seus ombros, e, oh, sim, gritar o seu nome.
Talvez ele fizesse ambos.
Naquele exato momento, porém, ele simplesmente não conseguia se mover. Teria que esperar para ver exatamente o que ela pretendia fazer.
Ela se levantou, lançou-lhe um olhar atrevido e mostrou, então, a camisinha que havia pegado na gaveta da mesa.
Piedade, Senhor!
A leve oscilação dos quadris dela ao caminhar em sua direção era altamente instigante. Liss abriu o pequeno pacote enquanto andava e a calça de James pareceu subitamente apertada demais. Ele nunca havia sentido seu sangue pulsar com tamanha força. Nunca havia sentido o seu membro tão rígido a ponto de lhe causar dor.
— E quanto às preliminares?
Ela colocou a camisinha sobre a mesa.
— Essas foram as preliminares.
James tentou voltar a respirar, mas percebeu que não era capaz nem mesmo disso. Estava excitado demais.
Ela girou a cadeira dele para fazer com que James a encarasse. Olhou, então, para baixo e viu o volume em sua calça.
— Algum problema, James? — perguntou ela, afagando-o.
— Só um pequeno — respondeu ele com a voz rouca.
Liss conteve uma risada ao abrir o botão do cós da calça dele e então tentar baixar o zíper.
— Pois eu diria que o seu problema é bem grande, até mesmo colossal.
Ele resmungou alguma coisa incompreensível e agarrou cada um dos lados de sua calça, puxando-os com força. O som do tecido sendo rasgado foi incrivelmente excitante. A cueca de algodão ainda estava no meio do caminho, e James não hesitou em rasgá-la também.
Os olhos de Liss estavam arregalados, suas pupilas dilatadas e seu sorriso só aumentavam, assim como os dele.
Ele remexeu os quadris, impaciente.
— Quieto — ordenou ela.
Surpreso, ele ergueu os olhos em direção aos dela e sentiu o seu membro enrijecer ainda mais ao ver o desafio que havia estampado neles.
Ela se aproximou e começou a desabotoar a camisa dele. James pressionou a boca contra a clavícula de Liss quando ela se inclinou para afastar as duas metades. O sorriso que ela lhe lançou ao se erguer foi sublime.
Ele se agarrou aos braços da poltrona enquanto ela desenrolou a camisinha pelo seu membro com aqueles dedos torturantemente lentos.
Finalmente ela montou sobre ele, apoiando os joelhos de cada um dos lados dos seus quadris, na poltrona estreita. Depois se alçou sobre ele, afastando as pernas para tomá-lo dentro de si. Tudo o que ele podia fazer era ver, esperar e sentir, mais excitado do que jamais estivera em toda a sua vida. Outra vez. E por ela.
Liss fechou os olhos tomando apenas a glande dentro de si. James soltou o ar que vinha segurando até então. Ela era apertada e o membro dele muito grande e ele pôde senti-la se dilatando lentamente para tomá-lo por inteiro, centímetro por centímetro, dentro de si, de maneira incrivelmente lenta.
Liss abriu os olhos e o encarou.
— Isso é tão bom...
Era um eufemismo. Aquilo era fantástico.
Ela deslizou para cima e para baixo, lentamente, girando os quadris em torno dele, numa dança lenta e sensual que o estava deixando completamente louco.
Em pouco tempo o desejo de entrar fundo dentro dela tomou conta de James. Ele tinha que dominá-la, tomar-lhe o corpo, fazê-la tremer, se render a ele. Seus músculos ardiam de vontade se mover, de entrar mais fundo dentro dela, com mais força, mais rapidez, mais intensidade, mas ela permanecia impassível, no comando absoluto da situação.
James tentou pensar em números de telefone, preços de produtos nomes de hotéis, qualquer coisa que pudesse fazer com que ele fosse mais devagar. Tentou até cantar a música que ensinava o alfabeto, mas só chegou conseguiu chegar até a letra "F".
Finalmente, com um profundo alívio, ele percebeu que o controle dela estava começando a ficar mais precário. Sua respiração estava arfante e ele pôde ver a tortura em seus olhos ao se aproximar do clímax. O desejo na expressão dela aumentou ainda mais e ele ergueu levemente os quadris para que ela se desse conta da sua força.
Liss se ergueu, quase deixando que ele escapasse. Sabia que ele queria que ela se movesse mais rápido, e com mais firmeza. Ela também desejava fazê-lo, mas estava adorando ver aquela expressão no rosto dele enquanto o provocava. Estava adorando se inclinar para frente e provocar os lábios dele com as pontas dos mamilos. James estava gemendo como ela nunca o havia ouvido gemer antes, mal conseguindo se conter. Seus olhos estavam injetados, a pele suada e todos os músculos contraídos. A expressão em seu rosto refletia um misto de prazer e dor à medida que ela o ia conduzindo ao limite absoluto do seu controle. Ela queria que ele soltasse as rédeas de uma vez.
— Eu preciso... — disse ele sem conseguir concluir a frase.
— O que foi, James? — murmurou ela em seu ouvido ao deslizou sobre ele mais uma vez, tomando-o por inteiro dentro de si. — Olhe para mim, James. Sinta o meu corpo — disse ela, cavalgando-o com mais força. — Goze dentro de mim.
— E quanto a você? — perguntou ele rangendo os dentes, num esforço extremo.
— Eu já estou um passo à sua frente.
Ele deteve as leves carícias nas costas dela, agarrou-a pelos quadris, e com uma força descomunal, ergueu o peso dela com as mãos até conseguir se recostar na cadeira e projetar os seus quadris para cima, rápida, intensa e freneticamente.
A base da pélvis dele bateu repetidamente contra a dela, e de repente era Liss quem estava gemendo, enquanto ele estampava um sorriso diabólico no rosto. Seus dedos a estavam machucando, mas ela mal se deu conta, tão perto que estava de alcançar o êxtase.
Bastou apenas mais uma investida e então aconteceu. Mais um orgasmo avassalador se abateu sobre Liss enquanto ela gritava, em meio a lágrimas, risos, e espasmos violentos.
— Você é uma feiticeira — murmurou ele, ainda arfando, cinco minutos depois.
Ela sorriu, toda esparramada sobre ele, e feliz consigo mesma.
— Eu realmente gosto de ficar por cima.
Ele estreitou os olhos, colocou-a de pé e então se levantou. Depois tomou-lhe a mão e começou a caminhar rapidamente. Ainda com as pernas bambas, ela se esforçou por acertar o passo com o dele em direção ao quarto. James a pegou em seu colo e com um sorriso diabólico, literalmente a jogou sobre a cama.
Uma excitação faminta, que ela acreditara ter acabado de saciar se acendeu novamente em seu ventre.
— O que você está fazendo? — perguntou ela, ajoelhando-se ao vê-lo arrancar a camisa e o que restava da calça e da cueca.
Ele a jogou novamente sobre a cama e se inclinou sobre ela, exibindo os dentes num amplo sorriso malicioso.
— Mostrando a você exatamente quem manda aqui.
Mais tarde, naquela mesma noite, ela se sentou ao computador para pesquisar os antigos rituais gregos em homenagem a Baco e conseguiu obter uma série de imagens interessantes. O único problema era que nem o Louvre, nem a Galeria Britânica Nacional lhe emprestariam aqueles quadros de valor inestimável para uma festa.
Foi então que ela se lembrou de Camille, uma amiga com quem havia estudado História de Arte, em Paris. A casa dos pais dela era uma verdadeira galeria, tal era o tamanho da sua coleção de objetos de arte. Liss se lembrou das tapeçarias da mãe de Camille, as mesmas que o pai dela havia relegado a uma outra ala da casa, declarando que não se tratavam de verdadeiras "obras de arte". Será que havia alguma cena grega retratada entre elas?
Depois de encontrar o que queria, ela foi dar uma olhada em James que havia adormecido no sofá. Como já sabia que ele tinha o sono pesado, Liss aproveitou a oportunidade e ligou para a amiga.
— Aquelas velharias? — perguntou Camille, surpresa. — Para uma festa!
Liss sorriu. Com a iluminação, música, comida e atmosfera adequadas, aquelas "velharias" certamente ajudariam a transformar o suntuoso salão de baile do hotel no espaço intimista de que ela precisava.
— Se você tiver como transportá-las, pode usá-las à vontade.
— Muito obrigada — disse Liss. — Vou providenciar tudo e voltarei a ligar para acertar os detalhes.
E agora? Ela tamborilou os dedos sobre a mesa. Ainda tinha algum dinheiro em sua conta que estava guardado para a compra do seu novo vestido, já que não havia trazido nenhum outro traje de festa consigo e não tinha o que usar na próxima festa. O jeito era improvisar com o vestido que dispunha, pensou ela cerrando os dentes. Usaria o dinheiro para trazer as tapeçarias de Paris.
Ela atravessou a sala de espera e o viu todo esparramado no sofá. A visão a fez sorrir. Era a segunda noite seguida que ela permanecia ali, com ele. Não conseguia se lembrar da última vez que aquilo havia acontecido. James parecia estar dormindo o sono dos justos, mas ela precisava acordá-lo e levá-lo para a cama, caso contrário ele poderia ficar com um terrível torcicolo ou coisa parecida.
Ela o despertou suavemente, com beijos leves sobre o seu rosto, passando a ponta dos dedos pelo seu maxilar áspero e sob o seu pescoço, sentindo os músculos dele ondularem sob a sua mão enquanto o sr. Dorminhoco lentamente recuperava a consciência.
— Eu estava sonhando com você — murmurou ele, com a voz rouca.
— Pois aqui estou eu — disse ela, pressionando mais um beijo sobre a pele quente de sono de James.
Ele a enlaçou pela cintura a fim de trazê-la mais para perto.
— Vai fazer com que o meu sonho vire realidade? — murmurou ele.
— Basta me dizer o que fazer.
Os olhares deles se cruzaram e se fixaram um no outro, e a paixão ardeu entre eles. E então ele lhe disse, com os olhos, as mãos, as palavras e ela não hesitou em fazer todas as suas vontades, regozijando-se ao vê-lo tremer e gritar descontrolado, totalmente tomado de desejo, exatamente como ela desejava, sem nenhuma máscara. A reação dele fez com que Liss tivesse certeza de que a atração que James sentia por ela ainda estava longe de se acabar, o que lhe proporcionou um alívio imenso.
James passou a maior parte do dia seguinte em meio a reuniões ou preso ao telefone e videoconferências, enquanto Liss trabalhou sozinha, em seu laptop, na varanda envidraçada. Insegura, ela teve muita vontade de pedir a opinião dele, mas sabia que ele estava muito ocupado e que a última coisa que precisava era ter de lidar com um ataque de insegurança da sua parte.
James não demonstrava mais nenhum interesse em ser o seu chefe, tratando-a apenas como sua amante, de modo que toda vez que ele aparecia em sua porta, ela assumia aquela personagem. Afinal, era justamente aquilo que ele esperava dela, e Liss estava firmemente determinada a não deixar que James percebesse o quanto ele mexia com os seus sentimentos.
Ele havia lhe despertado sentimentos que ela nunca havia experimentado antes. Jamais havia pensado em manter um relacionamento duradouro com alguém antes, e agora era só nisso que ela pensava, noite e dia. Liss, porém, afastou aquela fantasia de sua mente, lembrando a si mesma que aquela era apenas mais uma aventura passageira. Ele mesmo havia dito isso a ela. James pretendia apenas saciar o seu desejo e então mandá-la embora.
Saber daquilo, porém, não a impediu de tentar lutar contra a inevitabilidade dos fatos e tentar realizar um trabalho tão maravilhoso que talvez o fizesse mudar de ideia e pedir que ela permanecesse ao seu lado.
Tinha que inventar algo excepcional para a iluminação. Chegara a pensar em velas para criar um ambiente intimista e romântico que ainda por cima realçasse a pele das pessoas presentes, mas acabou concluindo que seria também muito perigoso.
Decidiu ir conversar com Ben, o proprietário do clube que ela havia frequentado quando adolescente e que sempre contara com uma iluminação e efeitos especiais incríveis, mas as coisas não saíram exatamente como ela esperava.
— Quer que eu faça isso de graça?
— Todos saberão que foi você quem forneceu a luz — dissera ela. — Seu nome constará no kit que será distribuído para a imprensa. Será uma grande publicidade para você.
— Quer me convencer de que nenhum dos fornecedores do baile que você deu na semana passada foi pago?
— Esta situação é um pouco diferente — disse Liss, constrangida. — Eu estou precisando de um favor. Em nome dos velhos tempos.
— Você poderia ter pensado nos amigos na semana passada. — Liss teve vontade de se matar pela sua estupidez. — Teremos uma noite muito importante por aqui e vamos precisar de todo o equipamento — disse ele, bruscamente. — Não vou poder ajudá-la, princesa — disse ele, literalmente dando-lhe as costas.
Liss ainda procurou outros amigos, mas descobriu que não poderia contar com nenhum deles. Humilhada, ela se sentiu uma perfeita idiota, uma ingênua completa por ter acreditado que aquelas pessoas realmente gostassem dela, quando seu interesse por ela se devia apenas ao que ela podia lhes proporcionar em termos de publicidade e dinheiro, devido à sua origem.
Ao vê-la desesperada, em frente ao seu laptop, no dia seguinte, James a surpreendeu:
— Venha almoçar comigo.
Assim que se sentaram à mesa, no restaurante, porém, James recebeu uma mensagem e lhe pediu licença para enviar uma resposta.
Sabendo de quanto tempo ele dispunha e do quanto estava faminta, ela chamou o garçom e fez o pedido de ambos.
Ele ergueu os olhos ao ver o garçom se afastar com uma expressão de surpresa no rosto.
— Você sempre trabalha tanto assim?
Ele raramente parecia ter algum tempo livre, mas nunca se queixava.
— Meu pai sempre nos incentivou a trabalhar muito para que prosperássemos por nossa conta, apesar da boa condição financeira de nossa família.
Era evidente que ele havia conseguido e Liss sabia que ele não podia dizer o mesmo a respeito dela.
— Quantos irmãos você tem?
— Dois.
— Com certeza, você é o mais velho. O sorriso dele foi instantâneo.
— Como foi que você concluiu isso?
— Você é responsável, perfeccionista. Aceitou as expectativas da família e até as superou. E se alguma vez se meteu em confusão, você certamente aprendeu a ser discreto.
Ele riu.
— E quanto a você?
— Sou apenas uma das sobressalentes, extra — disse ela, dando de ombros e perdendo todo o apetite.
— E ter aprendido rapidamente a se envolver em encrencas publicamente lhe garante a atenção de que você necessita?
Por que ela iria querer ser submetida a gritos e sucessivas expulsões? Liss, porém, decidiu disfarçar sua dor e desconsiderar aquela provocação com um sorriso brincalhão.
— Talvez.
James se concentrou por um momento em seu prato e então perguntou:
— O que você gostaria de ser se não fosse princesa?
Ela pressentiu uma armadilha e decidiu não responder da maneira como ele esperava.
— Não faz sentido algum pensar nisso. Eu nasci princesa, assim como nasci com esta cor de olhos e de cabelo.
— Mas você pode mudar a cor e o estilo dos seus cabelos.
— Por que eu faria uma coisa dessas? Por que está tão determinado a me mudar? Eu sou o que sou, James.
— Pois eu tenho a impressão de que você é bem mais do que a essa imagem festeira que tenta projetar.
— Não procure coisas onde elas não existem.
Liss precisava seguir seu próprio conselho e não buscar pela afabilidade, ternura ou compreensão que estava tentada a ler na expressão dele.
— Você quer passar uma imagem de superficial e egoísta quando é capaz de se entregar de maneiras das quais talvez nem tenha consciência.
Ela caiu na gargalhada.
— Ora, James, eu faço compras e vou a festas; mais nada.
— Você também gosta de ajudar as pessoas, de fazer com que elas se sintam à vontade. Você é muito generosa com seu tempo e humor. — Ele se deteve. — É generosa comigo.
É claro que era. Gostava dele, embora naquele exato momento estivesse desejando que ele a deixasse à vontade. Não queria vasculhar as profundezas de sua personalidade com ele, uma vez que em muito pouco tempo ele a acabaria mandando embora como a todas as outras.
Não ia se declarar a ele para ser humilhada, ou pior, objeto de pena. Era melhor manter as aparências para que ele não descobrisse o quanto ela desejava amar e ser amada.
James, porém, prosseguiu em sua investigação.
— Qual é a coisa que você mais deseja nesse mundo, mas ainda não tem?
Durante um ínfimo momento, ela fechou os olhos e viu uma casa que ela pudesse chamar de sua, com uma série de cafés e belas butiques na esquina. Uma sensação de pertencimento, sem nenhuma ameaça de expulsão ou rejeição.
Um lar, algo que ela nunca tivera.
Sabia que ele riria se ela lhe revelasse seus sonhos secretos e mágoas, por isso, saiu-se rapidamente com uma resposta apropriada para uma princesa superficial e festeira.
— Um estoque ilimitado de vestidos e sapatos exclusivos, de graça.
Ele se inclinou para ainda mais perto e a encarou com um olhar penetrante.
— Essa não foi a primeira coisa que lhe veio à mente.
— Por que diz isso?
— Porque por um momento o seu rosto ficou suave e melancólico. Logo depois, porém, você inventou a resposta que me deu e se fechou outra vez.
Ela se encolheu e abandonou de vez a ideia de comer alguma coisa.
— Qual foi o seu primeiro pensamento?
— Descubra-o, já que é tão esperto.
Ele se recostou na cadeira e a avaliou com aquele seu ar de desafio.
— Talvez eu descubra mesmo.
Algumas peças já estavam se encaixando, porém outras não. Liss havia tido o sexo mais selvagem de sua vida nos últimos dias. James realmente nunca parava até ela gritar de prazer, fazendo-a atingir o orgasmo inúmeras vezes até o seu corpo todo doer e ela ter que lhe pedir para parar um pouco. Por dentro, porém, ela ansiava por muito mais do que apenas o prazer físico. A tensão de ter que lidar tanto com o planejamento da festa quanto com a potente sensualidade de James a estava deixando esgotada.
James estava absorvendo toda a sua atenção. Ela realmente gostava dele. Ele não precisava ter lhe dado aquela chance. Qualquer outra pessoa a teria despedido há semanas, e Liss sabia que aquilo não se devia apenas ao fato de eles estarem dormindo juntos. Ele queria ver as pessoas dando o melhor de si. Esperava isso de si mesmo e de todas as outras pessoas também, mas era suficientemente justo para compreender que algumas podiam precisar de mais do que uma única chance para isso.
Mas Liss também sabia que aquilo não seria para sempre. Aquela era a sua última oportunidade, e ela não queria decepciona-lo por nada nesse mundo, embora fosse isso o que ela sempre acabava fazendo.
A música era o seu maior problema no momento. Liss queria algo sofisticado para a primeira parte e um segundo momento mais vibrante para fazer a pista de dança ferver. Como nenhum de seus antigos contatos estava disposto a ajudá-la, ela teria que visitar os novos clubes noturnos da cidade para checar a qualidade de seus DJs. Poderia sair de mansinho, acompanhar apenas uma parte da programação e então voltar dentro de cerca de uma hora para o hotel. James certamente estava muito cansado para ir com ela, por isso Liss achou melhor não incomodá-lo.
Liss escapuliu no meio da noite, quando a balada estava começando a pegar fogo, odiando ter de deixar a cama quentinha de James, que dormia profundamente.
Quando voltou para ela, quase duas horas depois, ele se remexeu, rolando na sua direção, despertando ao sentir as suas mãos frias.
— Você precisa ser aquecida — murmurou ele.
Liss passou o dia seguinte inteiro na rua até finalmente encontrar uma solução para a iluminação da festa numa sociedade de teatro amador. Havia um rapaz por lá, aparentando ter cerca de 16 anos, que fizera um "trabalho maravilhoso" para uma peça apresentada por lá. Liss só esperava que ele não incendiasse o salão.
Ao voltar, ela passou horas checando os planos com o chefe de cozinha e o maitre.
— Na semana passada servimos tudo o que há de melhor no mundo. Desta vez, com a presença da imprensa, a ideia é mostrar tudo o que Aristo tem para oferecer. O problema é que estamos com o orçamento apertado. — Ela sorriu. — É um desafio para você.
— Eu que o diga.
O chefe ainda parecia ansioso, apesar de já ter tido alguns dias para se acostumar à ideia.
— Você compreendeu o que eu estou querendo, não é?
— Com certeza.
A caminho para o quarto, ela notou a bela saia de corte assimétrico que Stella, a secretária do hotel, estava usando.
— Onde foi que você comprou esta saia?
— Foi meu namorado quem fez — disse ela contente. — Ele é estilista.
Liss avaliou a peça um pouco mais de perto, verificando o corte limpo, o acabamento bem feito e o estilo jovem e vibrante. Muito interessante.
— Ele tem uma loja?
— Oh, não. Acabou de se formar.
— Você se importaria de me dar o telefone dele?
Surpresa, Stella lhe forneceu o número de Tino e Liss combinou de encontrá-lo logo em seguida.
— Princesa Liss — disse ele, saudando-a informalmente, como se um membro da realeza visitasse o seu apartamento "estilosamente deteriorado" todos os dias.
Ela olhou os seus esboços e as peças que ele havia feito para o seu portfólio final e se decidiu imediatamente.
— Você quer que eu faça o quê? — perguntou ele, alguns minutos mais tarde.
— O mais glamouroso vestido de festa que você possa imaginar.
— Em dois dias? — disse ele, um tanto incrédulo. — Você não costuma usar vestidos de estilistas desconhecidos.
Liss sorriu.
— Depois dessa festa, você também não será mais desconhecido. E então, acha que pode fazê-lo?
— Você sabe que eu não posso dizer não.
— Obrigada.
— Mas você vai ter que me dar liberdade total.
Ele parecia muito seguro de si, mas a julgar pela qualidade do seu trabalho, Liss achou que ele tinha o direito de sê-lo.
— Contanto que eu pareça decente, você tem carta branca.
— Ótimo.
— Só mais uma coisa — disse ela, feliz por ter se lembrado. — Preciso de um exército de garçons e garçonetes realmente muito bonitos.
—A agência local de modelos — respondeu Tino prontamente. — Se a imprensa internacional estiver presente, todos eles se disporão a fazê-lo até de graça.
— De graça, não, mas pelo valor de tabela, está bem?
— Com certeza. Posso organizar tudo, se quiser. O que você quer que eles usem?
— Não tenho orçamento para um figurino especial, mas eles precisam estar fabulosos e formar um conjunto em harmonia com o tema. Uma coisa clássica com um toque de malícia.
— Pode deixar comigo.
Com a quantidade de coisas que precisava fazer e o escasso tempo para tanto, ela não tinha muita escolha.
Na sexta-feira à tarde, ela finalmente conseguiu ver sua velha amiga Cassie. Voltou pouco depois para o hotel, torcendo para que James não estivesse por lá. Precisava de um pouco de tempo sozinha, pois estava se sentindo mais insegura do que nunca. Ver Cassie a havia perturbado mais do que ela havia imaginado e ela não suportaria se James estivesse num de seus dias sarcásticos.
Mas ele estava lá, enfiado atrás de sua mesa, com pilhas e mais pilhas de papel sobre ela e as mangas arregaçadas. Ela lhe lançou um pequeno sorriso e foi até a sacada. Abriu, então, o seu laptop e deu uma checada no orçamento para a festa, mas as colunas e linhas pareceram se embaralhar. Seus olhos, que haviam permanecido secos por tanto tempo, se encheram de lágrimas.
James se aproximou dela.
— Você está bem?
— Sim — respondeu ela rapidamente, sem desviar o olhar da tela. — Só um pouco cansada.
— Você se encontrou com a sua amiga?
Ela assentiu.
— Sim, foi ótimo.
Ela havia ficado mortificada por ter enviado aquelas cartas fofas e os cartões-postais ridículos para Cassie falando sobre as suas dúvidas quanto ao que vestir na abertura da Semana da Moda. Ela não tinha a menor ideia do que Cassie estava passando na época. Suas próprias dores chegavam a ser risíveis quando comparadas à da amiga e ela não tinha o direito de estar sentindo aquela pontada de inveja.
Sentira-o quando Cassie se dobrara para ouvir o que o filho estava dizendo e quando ele saiu da sala em disparada para voltar logo depois. O rosto de Cassie havia se iluminado, repleto do mais puro amor e aquilo havia mexido com uma parte de Liss que ela nem sequer sabia que existia até aquele momento.
Cassie havia lhe contado um pouco mais a respeito do que lhe acontecera anos atrás. Foram tempos difíceis, mas ela agora estava feliz e Liss ficou grata pelo fato de sua amiga ter encontrado o amor e a alegria que tanto merecia. Sebastian havia abdicado de todo um reino por ela.
Liss não podia imaginar ninguém disposto a lhe oferecer um amor assim tão inabalável e incondicional.
Para onde é que ela iria depois de realizar aquele trabalho para James? Alex era agora o Príncipe Regente e estava à procura do diamante. O reino estava passando por um momento de extrema instabilidade, de modo que ele jamais deixaria que ela voltasse para casa agora, com medo de algum escândalo.
James tinha razão. Ela estava perdida e não sabia onde nem como encontrar o que queria.
— Ela deve ter ficado feliz com a sua visita — disse ele, observando-a ainda da porta.
— Ficou mesmo — respondeu Liss, olhando ainda mais intensamente para a tela.
Estava decidida a concentrar toda a atenção na festa, mas ficou desesperada ao ver o espaço vazio sob a coluna "música". Chegara a pensar em fazer uma seleção em seu MP3 e alimentar o sistema de som do salão de baile com ela.
James deu um passo adiante e baixou a tampa do seu laptop.
Liss olhou para ele apavorada.
— Ele salva automaticamente — disse ele, sorrindo. Assim que notou o calor na expressão dele, Liss se apressou em olhar novamente para o computador. Ele parecia perigosamente acessível quando estava assim e ela não podia se fiar naquilo. Assim que voltassem para Sidney, seu caso com ele seria coisa do passado.
Tudo o que ela queria naquele momento era deitar na cama e ser abraçada, talvez até chorar um pouco. Mas ela não queria admitir que estava cansada, não queria que ele a achasse preguiçosa.
Ele, porém, pareceu entender ao menos parte do problema.
— Também estou cansado — disse James, puxando-a pela mão. —Venha. Nós dois precisamos de um descanso.
Liss achou que era exatamente um descanso o que ele tinha em mente e não sabia também se seria capaz de muito mais do que isso, mas James a surpreendeu. Ele a deitou na cama e tirou a sua roupa, não com um ardor impetuoso, mas com uma cuidadosa suavidade que fez seu coração doer ainda mais. Depois de tirar as próprias roupas também, ele se enfiou debaixo das cobertas com ela e se aninhou a ela, mantendo os braços quentes e fortes em torno dela.
Liss se virou para olhar para ele e viu o conhecido lampejo sob as suas pálpebras pesadas. A paixão estava lá, mas ele a estava contendo. Foi então que ela teve a sensação de estar recuperando parte de suas energias. Não podia se deitar com ele sem tocá-lo. Sentiu-se tomada por uma necessidade quase desesperada de fazer com que ele também a quisesse, apesar de sua óbvia exaustão. Tinha que saber que a necessidade que sentiam um do outro era maior do que a necessidade de qualquer outra coisa, que ele ainda não havia se cansado dela, que a historia deles ainda não havia terminando.
Ela o beijou, intensificando ainda mais a lenta combustão e sentiu o desejo dele ferver. Estava perdida. Não tinha mais energia para manter as aparências e com a boca, os braços, tomou tudo o que podia dele. Aquela profundidade de sentimentos era era totalmente nova para Liss e ela não podia mais esconder o quanto aquilo tudo estava mexendo com ela. Ela se contorceu em seus braços, incapaz de ter o bastante de suas carícias, incapaz de saciar a necessidade de tocá-lo.
— Está se divertindo, princesa? — perguntou ele quando ela o puxou pelos ombros, incentivando-o a se mover sobre ela.
— Oh, James...
Ela arfou quando ele empurrou o seu membro pela sua fenda molhada e escorregadia, erguendo os quadris para facilitar a entrada, deixando que ele a penetrasse profundamente num único movimento contínuo.
Como ela adorava aquilo. Como ela o amava. Liss murmurou o nome dele mais uma vez, enquanto as lágrimas se avolumavam sob as suas pálpebras fechadas diante da intensidade daquele momento e de sua emoção.
— Oh, James, o quê? — perguntou ele.
Foi então que ela percebeu aquele velho tom irônico. Ele continuava mantendo o controle enquanto tudo ao redor dela girava vertiginosamente.
Ela o odiou por aquilo. O fato de ele ser capaz de manter o controle num momento tão sublime como aquele a impediu de dizer qualquer outra coisa.
Torceu para que ele não tivesse ideia do que ela estivera prestes a dizer. Ela era mesmo uma idiota.
Liss tentou se trancar emocionalmente, mas James não permitiu que ela o fizesse. Com os seus beijos e carícias, ele a continuou provocando até ela não conseguir mais pensar, nem se esconder atrás das barreiras que pensava haver construído para se defender dele.
— Por favor, por favor, por favor!
Ela não estava implorando apenas por ser saciada fisicamente. Queria mais, queria que aquilo não fosse apenas uma aventura passageira.
Queria que ele gostasse dela, queria ser igual a ele, em tudo, mas não era. Teria que encontrar uma maneira de conter aquele fluxo de amor que inundava seu coração. Não podia se entregar completamente a ele se ele não retribuía seus sentimentos.
Por fim, ela foi obrigada a se esquecer de todas as suas dúvidas e engolir a sua declaração de amor ao ser invadida por intensas e deliciosas sensações. Estava decidida a não proferir as palavras, mas não podia conter as reações do seu próprio corpo.
Pela primeira vez seu grito de êxtase foi silencioso.
James permaneceu muito tempo deitado, ainda unido a ela, pressionando-a contra o colchão com seu peso, respirando junto ao seu pescoço. Liss pousou a bochecha no travesseiro e piscou repetidas vezes, não querendo que ele tivesse nenhum vislumbre de sua fraqueza.
Ele ergueu a cabeça, tomou o queixo dela na mão e virou seu rosto para olhá-la diretamente nos olhos. Liss conteve a respiração e tentou esconder o caos dentro de si, a necessidade que sentia dele, de seu amor, de seu desejo.
Algo, porém, devia ter transparecido, apesar de sua ferrenha tentativa, pois a expressão dele enrijeceu logo em seguida e o véu que caiu sobre os seus olhos era o mais espesso que ela jamais havia visto ou imaginado. Ele soltou o seu queixo e se aninhou novamente a ela, num abraço quente e confortável, sem que ela pudesse, no entanto, ver o rosto dele, nem ele o dela.
— Você precisa dormir um pouco — disse ele, esfregando as costas dela com carícias firmes, porém, relaxantes.
A cada carícia, a ansiedade de Liss diminuía e o cansaço aumentava, até ela parar de lutar contra o sono. Quando já estava quase adormecendo, ela percebeu o movimento dele e sentiu o frio quando ele deixou a cama.
Ela teve vontade de chamá-lo de volta, e provavelmente foi o que fez porque logo depois o peso dele fez a cama ceder outra vez. Liss tentou permanecer acordada, fingindo dormir para poder desfrutar de sua companhia, porém, mais tarde, quando tentou, não conseguiu se lembrar quanto tempo ele havia permanecido ao seu lado, nem se ela havia apenas sonhado com a sua carícia muito suave, afastando os cabelos de sua testa.
Liss despertou sobressaltada, algum tempo depois. O que ela estava fazendo ali, dormindo? Aquela era a última noite que tinha para encontrar alguém que pudesse se responsabilizar pela música da festa. Ela olhou para o relógio — faltava pouco para as nove horas. Em pânico, ela decidiu que passaria a noite toda à procura de alguém, se fosse preciso.
James estava de pé, olhando pela janela, com o cabelo despenteado e pareceu surpreso ao vê-la entrar no quarto.
— Achei que você ia dormir direto até amanhã.
— Ainda preciso acertar alguns detalhes para a festa.
— Precisa de alguma ajuda?
Por que ele estava sendo condescendente? Seria devido a alguma coisa que ele havia visto em seu rosto, na cama?
— Você me propôs um desafio, James. Deixe-me levá-lo até o fim.
Ele franziu as sobrancelhas.
— Tem certeza de que está lidando bem com isso? Ainda parece cansada.
— Estou sem maquiagem — disse ela com um sorriso.
— Eu já a vi recém-saída do banho. Isso não tem nada a ver com maquiagem.
Era verdade. Ela estava esgotada, mas se recusava a desistir agora. Estava ansiosa por provar ao mundo que era capaz de fazê-lo e muito perto de consegui-lo, por isso lhe lançou um beijo e seguiu rapidamente até a porta antes que ele tivesse chance de dizer ou fazer alguma coisa para detê-la.
James estava deitado, meio acordado e meio sonhando com a sua princesa do prazer. Em meio à escuridão, esperando pela sua volta, ele teve que admitir, ao menos para si mesmo, o quanto estava gostando de tê-la perto de si. Sentia-se mais vivo do que jamais se sentira antes e mais atraído também, e não apenas por causa do sexo magnífico, mas também por causa de sua companhia, sua conversa, sua risada.
Naquela tarde, porém, ela havia chegado da rua sem rir. Parecia cansada, pálida e solitária e havia se agarrado a ele, ávida por bem mais do que apenas sexo. Mais tarde, quando olhara no fundo dos seus olhos, ele pudera ver que ela estava lhe oferecendo bem mais do que ele havia esperado. Mais do que jamais havia imaginado poder desejar.
Aquilo o havia abalado.
Sua atração por ela não havia diminuído. Muito pelo contrário. Ele teria que encontrar uma maneira de sair daquela situação sem se magoar, mas estava começando a torcer para talvez não ter que fazê-lo.
Liss era impertinente e inteligente, e às vezes sombria, mas também era doce, sexy e generosa e estava procurando algo mais da vida. James tinha certeza disso e queria muito acreditar que ela era leal. Ela vinha trabalhando com afinco durante toda a semana, esforçando-se realmente, e ele queria ajudá-la. Talvez tivesse se equivocado a seu respeito.
Ele se espreguiçou na cama, cansado demais para encontrar uma solução àquela hora. Tudo o que queria era que ela voltasse logo para seus braços.
James acordou cedo, sozinho e mal-humorado. Não havia nenhum sinal dela por perto. Ele se recusou a bater na porta do quarto dela para ver se ela estava lá. A dúvida começou a corroê-lo.
Decidiu, então, checar os e-mails e ler as manchetes dos jornais, a fim de ver se havia alguma notícia a respeito da festa daquela noite.
Foi então que ele deu de cara com uma foto,de Liss com uma péssima aparência, tropeçando ao sair de um clube noturno, com a mão estendida para agarrar o braço do rapaz ao seu lado.
A legenda dizia que ela havia passado a noite anterior em três casas noturnas diferentes.
Havia outras fotografias na matéria tiradas alguns dias antes, naquela mesma semana.
Mas ela havia passado todas aquelas noites ao seu lado, ou não?
Ele se pôs a pensar por um momento e chegou à conclusão de que não poderia ter certeza daquilo. Vinha dormindo profundamente nas poucas horas em que estava na cama, mentalmente abatido pela quantidade de trabalho e fisicamente esgotado por toda a intimidade compartilhada com Elissa.
Ela podia muito bem ter saído enquanto ele estava dormindo. Era claro que ela havia saído.
O fantasma da traição retornou com toda a sua força. Será que ele não fora suficiente para ela?
Idiota. Havia advertido a si mesmo desde o começo, não havia? E lá estava ele, achando que ela estava cansada por causa dos preparativos para a festa. Acreditando que ela havia se apaixonado por ele. Seria cômico se não fosse trágico. Como ele fora ingênuo e idiota. Mais uma vez.
Liss estava cansada porque vinha passando todas as noites na farra. Será que havia ido direto dos seus braços para os de algum outro homem? Ele tinha que fazer alguma coisa. Começou a andar de um lado para o outro, dilacerado pelas lembranças. Por que as mulheres de sua vida eram tão desleais? Ele parou de andar, tentado recuperar suas forças. Já havia superado aquela situação antes e conseguiria fazê-lo outra vez.
Só que daquela vez era pior. Seu problema em relação à traição de Jenny fora a humilhação que ele havia sofrido.
O que estava sentindo agora era pura mágoa. Ele não se importava com o que as outras pessoas pudessem falar. Tudo o que lhe importava era o fato de tê-la perdido.
Por que ele havia sido tão idiota a ponto de acreditar nela? Como podia ter deixado que os hormônios ditassem as suas ações? Como podia ter realmente começado a acreditar e a esperar que ela fosse diferente?
A porta se abriu. Liss ainda estava usando a mesma roupa da noite anterior, a roupa com que havia sido fotografada diversas vezes.
— Você se divertiu? — estalou ele, indo na sua direção. Ela o olhou com estranheza.
— Você parece pálida. Está com dor de cabeça? — prosseguiu ele, sem conseguir se conter.
— Para falar a verdade...
— É claro que está. Deve estar com uma baita ressaca se ficou tão bêbada a ponto de cair na saída do clube.
Ela o fitou.
— Dê uma olhada na foto, princesa — disse ele, apontando para o laptop. — Bem feio, não acha? Chega a ser surpreendente que alguém tão vaidosa quanto você se deixe flagrar numa situação dessas.
Ele a fulminou com o olhar, enfurecido com a surpresa estampada no rosto dela ao ver as fotos.
— O quê? Você achou que isso ia passar batido? Que eu não ia descobrir? — Ele riu de um jeito áspero e acre. — Não posso acreditar que cheguei a pensar que você estava levando isso a sério. Que estivesse com uma aparência cansada por finalmente estar trabalhando de verdade pela primeira vez na vida. Mas não foi nada disso, não é? Você tem escapulido todas as noites para se divertir na noite como uma adolescente.
— Eu...
— Você saiu nas outras noites também, não foi? Liss apenas assentiu em silêncio.
— Será que você não suporta ficar nem mesmo uma única semana longe da farra? A festa do hotel é hoje à noite, Liss. Ou será que você se esqueceu disso?
— Eu não me esqueci.
— Assim que esta festa terminar, nossa história também terminará - Ele mal podia esperar para se esquecer que a havia conhecido. -Achei que você era mais que isso, Elissa. Queria que fosse mais que isso, mas a verdade é que você não passa de uma criança superficial e mimada.
Liss estava completamente esgotada e morrendo de dor de cabeça. Havia feito uma verdadeira ronda pelas casas noturnas da cidade à procura de alguém razoável para cuidar da música da festa. Encontrara, por fim, um rapaz de aspecto assustador, num clube novo infernal a quem ela havia feito jurar que não tocaria nada desarmônico, nem alto demais, nem enfadonho demais. Não tinha dormido nem um minuto sequer porque assim que chegara ao hotel tivera que passar as últimas poucas horas da noite no escritório de baixo, digitando o restante do texto da brochura para o kit da imprensa. O que ele achava que ela estivera fazendo? A acusação estampada nos olhos dele fez todos os pelos do seu corpo se arrepiarem.
— Onde você esteve?
— Você seria capaz de acreditar em mim se eu lhe dissesse? — respondeu ela quando finalmente teve a chance de terminar uma frase.
O rosto dele enrijeceu e o coração dela afundou.
— Não adianta. Você já me condenou. Achei que você era uma pessoa justa, James, que era o tipo de homem capaz de dar uma segunda chance a alguém. — Ela esperou por algum tipo de reação da parte dele, mas James não esboçou nenhuma. — Parece que você só é capaz disso no local de trabalho, mas não no âmbito pessoal.
Ela não tentou se defender mais. Por que se incomodar em fazê-lo? Lá se ia a sua esperança de que ele tivesse enxergado algo mais nela. Não havia mais por que se preocupar que aquilo significasse que ele havia percebido como ela realmente se sentia a seu respeito. Por que ela havia achado que ele vira através do seu ato?
— E por que eu deveria? É tudo tão óbvio. Você é tão volúvel e autocentrada quanto eu sempre achei que era.
— Se é isso o que você pensa, James — respondeu ela, cansada.
— O que mais eu poderia pensar?
Se ele não podia ver nenhum outro motivo para as suas ações, era uma pena. Pelo menos agora ela sabia exatamente onde estava pisando.
Liss passou a manhã supervisionando a colocação das tapeçarias e do equipamento de luz. Parecia que tudo ia dar certo, afinal. O DJ apareceu na hora marcada e tudo o que ela pôde fazer foi cruzar os dedos e torcer para que ele não tocasse nada horrível demais.
Tino lhe entregou o vestido logo depois do almoço. Ele era incrível.
— Você é muito talentoso — disse ela, olhando-se no espelho. — Assim que puder, eu lhe encomendarei mais alguns vestidos, mas aposto que então farei parte de uma fila já em expansão. Onde foi que você conseguiu este tecido?
— Barein. Custou uma fábula. Eu o estava guardando há um tempão, com medo até de aproximar a tesoura dele, mas acho que valeu a pena guardá-lo para este vestido. Está atordoante, não é?
— É tão macio. — Uma seda leve, tão delicada e frágil como ela estava se sentindo por dentro. — E quanto à equipe de garçons e garçonetes?
— Estão todos muito sensuais — respondeu ele. — Stella está lá embaixo, supervisionando os cabelos e a maquiagem. Queria lhe agradecer pela oportunidade, princesa.
— Eu é que agradeço. Você me ajudou bem mais do que pode imaginar.
Tino se virou e ela tirou o vestido, para colocar o roupão, logo em seguida.
Depois de pendurar o vestido cuidadosamente no guarda-roupa, Liss o acompanhou até a porta do seu quarto.
— Prometo que direi o nome do meu estilista a todos os jornalistas que encontrar.
— Excelente. Agora descanse. Não criei esse vestido para ser usado por alguém com olheiras.
É claro que James tinha que aparecer justo naquela hora. Estava usando um terno, mas parecia ter passado por uma tempestade. A gravata estava torta, os cabelos desalinhados, a barba por fazer e os olhos pareciam queimar.
Liss congelou, subitamente consciente de que estava usando apenas um roupão.
Ela não precisava ser nenhum gênio para compreender que ele havia concluído o pior, claro.
James passou direto por ambos, fulminando-os com o olhar, entrou em seu quarto e bateu a porta com força.
— Sinto muito por isso — disse Liss a Tino, sem lhe dar maiores explicações.
Ela havia acabado de fechar a porta atrás dele quando James a abriu outra vez.
— Quem era aquele homem?
Ela caminhou para frente com passos tranquilos em total oposição ao ritmo louco do seu coração e ao temor que se avolumava em seu estômago.
— Você não confia em mim, não é, James?
Silêncio. Liss podia ver a febre ardendo nos olhos dele e a maneira como aquilo o estava consumindo por dentro. James não estava em condições de ouvir nada naquele momento e ela estava magoada e cansada demais para fazê-lo cair em si.
— Você só enxerga o que escolhe ver e isso acaba com qualquer chance que nós poderíamos ter. É realmente isso o que você quer?
Ele jamais confiaria nela, e ela não conseguia compreender por quê.
Todos os seus segredos e sonhos haviam morrido. Se não confiava nela, ele jamais poderia vir a amá-la.
— Eu não quero nada de você — disse ele, fulminando-a com os olhos.
Depois desviou o olhar, parecendo cego ao voltar para o seu quarto.
A porta bateu mais alto daquela vez.
Trêmula, Liss entrou silenciosamente em seu quarto e se apoiou contra a porta, cerrando o punho, como que tentando conter a hemorragia interna.
Depois de respirar fundo diversas vezes, ela conseguiu conter sua dor. Sabia que ele a havia desejado e que se fosse honesto consigo mesmo admitiria que ainda a queria. Mas ela não era apenas um brinquedinho. Podia e tinha feito conquistas e ainda faria muitas outras. Se ele as reconheceria ou não, era outra coisa, e ela disse a si mesma que não se importaria com a opinião dele. Era impossível, mas ela tentaria mesmo assim.
Aquela era a sua noite, e ela se orgulharia do que havia conseguido fazer e manteria a cabeça erguida. Maldito James Black.
No chuveiro, ela se permitiu um breve momento de fraqueza, deixando as lágrimas quentes rolarem desenfreadamente pelas suas faces e fechando a garganta para conter um uivo de pura agonia.
Logo em seguida, ela se refez, desejando ter um peito impenetrável. Jamais imaginara ser possível sentir uma dor como aquela. Depois deitou-se na cama e tentou afastar todos aqueles pensamentos de sua mente. Não iria ao baile com as bochechas vermelhas. Nenhum homem valia uma coisa dessas.
James permaneceu a tarde toda fora do hotel. Seu gerente poderia mostrar as instalações para o pessoal da imprensa. Ele só precisaria estar presente na hora do baile.
Sua raiva não desapareceu e a dor sob ela só fazia aumentar. Ele desejou ter gritado com ela. Desejou que ela tivesse gritado de volta, que tivesse lhe dito exatamente o que estivera fazendo e o tivesse feito parecer um idiota.
Mas ela havia se recusado, o que significava que era culpada. Agora, porém, por mais estúpido que pudesse parecer, era ele quem estava se sentindo culpado.
Ao olhar para o relógio, ele se deu conta de que teria que correr para ficar pronto a tempo.
Já de volta, ele passou a lâmina pelo maxilar com golpes seguros e rápidos. Vestiu o smoking quase que imediatamente após o banho fumegante, com os cabelos ainda úmidos e depois de amarrar os sapatos, deu uma breve olhada no espelho para checar se estava tudo no lugar. Pela primeira vez em toda aquela semana, ele não se deu ao trabalho de colocar uma camisinha no bolso. Aquela loucura havia chegado ao fim.
Foi até a sala de espera refazendo a cena em sua mente. O rapaz estava usando jeans e parecia desalinhado e exausto, como se tivesse passado a noite toda acordado.
Ela também parecera exausta, pálida com duas olheiras sob os olhos. James se contorceu. Ele já sabia que ela havia passado a noite toda acordada, só não sabia que tinha sido com ele.
Liss não podia ter feito um estrago muito grande aquela noite. O hotel por si só já era uma obra-prima. Haveria vinho e boa comida. Um pouco de música e um pouco de conversa e tudo acabaria bem. Quanto mais cedo ele partisse daquela ilha, melhor. Designaria um subordinado para cuidar do hotel em seu lugar daqui por diante.
Ele foi até a pequena mesa junto à porta, onde sua equipe deixava os jornais e a correspondência, para pegar o seu cartão magnético e deu uma olhada nas cartas. Em pouco tempo, porém, percebeu que se tratava da correspondência pessoal de Liss que ela havia deixado ali para ser enviada a seu destino. Tratava-se de um cartão-postal endereçado à Atlanta House, felicitando Sandy pelo nascimento de uma bela menina. Dizia ainda que mal podia esperar para conhecê-la e mandava todo o seu amor e votos de felicidade às outras meninas, prometendo voltar a entrar em contato em breve. Aquelas palavras eram tão calorosas que fizeram a certeza dele vacilar. O segundo cartão estava endereçado à equipe com quem ela havia trabalhado em Paris. Quer dizer que ela continuava em contato com eles também?
Ao lado dos cartões havia um pequeno brinquedo de madeira com uma etiqueta anunciando orgulhosamente que ele era uma obra de "Artesanato de Aristo" sobre um envelope endereçado a Sandy, aos cuidados da Atlanta House. James ficou profundamente abalado. Aquele era um gesto muito doce e ele não queria pensar nela como alguém doce naquele momento.
Cerrando os dentes, ele chegou à conclusão de que deveria ir ao salão de baile para descobrir o que ela havia armado para aquela noite.
Apesar de dizer a si mesmo que não estava se importando com o resultado, a cada passo que dava em direção ao salão, seus músculos ficavam ainda mais tensos.
Ao chegar à entrada, porém, ele se deteve. Ninguém poderia ter imaginado aquilo, a não ser Liss. Ela conseguira.
Toda a imprensa estava reunida em torno de Liss, mas ele não tinha a menor ideia do que ela estava dizendo a eles. Apenas a sua visão funcionava naquele momento. Ela estava usando um vestido incrível. As alças pousavam quase que na borda dos seus ombros, realçando suas clavículas. O decote profundo em "V" realçava a sua cintura delgada. A partir dos quadris, o tecido caía em direção ao chão numa cascata dourada.
— Guardem as suas câmeras e se preparem para a festa — dissera ela, mas nenhuma câmera, porém, foi guardada.
As objetivas continuavam se abrindo e fechando rapidamente, capturando a imagem da princesa favorita do país.
Ela fez um meneio de cabeça para um garçom, que abriu as portas da entrada de serviço. Uma equipe de garçons e garçonetes com uma aparência incrível surgiu diante de todos, homens de um lado, de preto, e mulheres de outro, de branco, todos deslumbrantes.
Embora estivessem decentes e cobertos, havia algo muito sensual naquele grupo de ninfas e sátiros que parecia ter algo mais a oferecer do que apenas bebidas e canapés.
E no centro deles estava Liss, resplandecente em seu vestido dourado. Ao contrário das outras mulheres, seus cabelos estavam presos em cachos no alto de sua cabeça, como uma coroa enfeitando a sua cabeça e realçando o belo pescoço.
Das paredes pendiam enormes tapeçarias com cenas que lembravam os mitos gregos.
Os fotógrafos continuavam erguendo suas cabeças por cima e por detrás de suas lentes como se quisessem checar se aquilo que estavam vendo era mesmo real. O próprio James mal conseguia acreditar no que estava vendo.
Liss ainda permaneceu imóvel por mais algum tempo com o sorriso de Vênus estampado em seus lábios. Ela poderia ter sido uma das grandes modelos mundiais se assim o tivesse desejado. Como é que ela podia ficar diante de todos daquela maneira, sem o menor vestígio daquele rubor? Afinal, ela deveria estar insegura. Se bem que ele só a havia visto corar quando se aproximara muito dela.
Foi então que ela se virou e ele se esqueceu de tudo. O vestido era uma verdadeira obra-prima, mas não passava de um invólucro para o seu corpo magnífico. Suas costas estavam completamente descobertas, com exceção de duas alças muito longas e finas, até o início da curva de suas nádegas. James, como todos os outros homens no recinto, estava completamente hipnotizado.
Depois de uma pausa de segundos, onde todos no salão respiraram em uníssono, o frenesi dos diques recomeçou.
Parecendo ignorar o fato, Elissa fez um meneio de cabeça e a equipe de garçons e garçonetes começou a servir as bebidas.
— Se quiserem registrar a chegada dos convidados no tapete vermelho, lá fora, está é a sua chance de assegurar um lugar. Caso contrário, podem permanecer aqui e começar a festa.
As perguntas começaram a chover de todas asdireções.
— O que está achando de Sidney?
— Vai voitar a viver em Aristo ou a Austrália é o seu novo lar agora?
— Quem desenhou o seu vestido, Elissa?
Ela optou por responder à terceira.
— Tino Dranias, um jovem estilista de Aristo — disse ela com um gesto para o homem que estava atrás de James e cuja presença ele nem sequer havia notado. — Seu trabalho é simplesmente maravilhoso.
O mesmo homem que ele havia visto na sala de espera, que lhe dera a impressão de ter passado a noite em claro. E claro que havia — curvado sobre uma máquina de costura!
— Tino também é responsável pelo visual da equipe de garçons e garçonetes desta noite.
Liss parecia ter feito aquilo a vida toda, tamanha era a graça com que conduzia a situação.
— E quanto à Austrália, Elissa? É lá que fica a sua nova casa agora?
Ninguém poderia ter percebido o lampejo nos olhos dela a não ser James. Ele já havia visto aquele olhar antes, quando lhe pedira que nomeasse algo que ela não tinha e que gostaria de ter.
— Estou gostando muito de Sidney, mas provavelmente voltarei logo para cá. Ainda não estou pronta para me estabelecer em nenhum outro lugar.
Sua resposta havia sido proferida com a mesma cadência leviana que ele já havia ouvido tantas vezes, mas havia uma nota dissonante. Ela estava mentindo, James tinha certeza.
Metade dos fotógrafos se postou do lado de fora, onde muitos paparazzi já estavam a postos, para registrar a chegada dos convidados, enquanto outros permaneceram fotografando o lugar, os garçons, e ainda tentando arrancar alguma palavra de Liss. Ela, porém, se moveu rapidamente, detendo-se ao lado de James no meio do caminho e murmurou baixinho:
— Não estou querendo ser o centro das atenções, James, mas eles queriam tirar fotos comigo e eu achei que isso poderia ajudar.
Nossa, e como! Liss, porém, estava evitando encará-lo e ele precisava estabelecer algum contato com ela. Um elogio talvez ajudasse.
— Você está linda. Uma verdadeira Afrodite.
— Afrodite era uma criatura vaidosa e egoísta que enganava o marido.
Péssima escolha. O seu sentimento de culpa triplicou.
— Liss, eu...
— É melhor se misturar aos convidados — disse ela, virando-se com um sorriso para a multidão, sem voltar a olhar para ele outra vez.
Por uma ironia do destino, ele lamentou a presença da imprensa. Ambos estavam profundamente conscientes do vaivém dos repórteres, o que significava que ele não poderia se aproximar dela tanto quanto gostaria.
James pegou uma taça da bandeja de uma das ninfas e decidiu conversar com um dos jornalistas, conhecido por ser excessivamente crítico.
— Está satisfeito com o seu quarto? — perguntou James.
— Ele tem a vista mais deslumbrante que eu já vi.
Vindo de quem viera, aquele era um elogio e tanto e James teve certeza de que não teria que se preocupar com a repercussão daquela festa na mídia.
— Você já obteve todas as informações de que precisava? O rapaz mostrou um pequeno livreto.
— O pacote para a imprensa feito pela princesa contém toda a informação necessária.
— Ótimo.
A vontade de James era a de arrancá-lo de suas mãos para ver o que ela havia escrito.
— Ela faz muito bem este papel, não é? — disse o jornalista ao vê-la no centro de uma roda de convidados. — Deve ser fácil quando nunca se teve que trabalhar de verdade um único dia na vida.
— Pelo contrário — retrucou James, bem menos gentil dessa vez. - A princesa Elissa trabalha muito duro, tanto no seu emprego, quanto na Instituição de Caridade que apoia.
O jornalista se virou para James com um sorriso cínico estampado em seu rosto.
— A princesa Elissa não apoia nenhuma instituição de caridade.
James pôde ver o seu próprio assombro refletido no olhar do jornalista quando a expressão do homem mudou. O rapaz estava praticamente farejando uma história no ar. Ele chegou a abrir a boca, mas James o interrompeu:
— Com licença, eu preciso cuidar de uma coisa.
James deixou o salão de baile, necessitando de um segundo a sós para reorganizar os pensamentos. Quer dizer que ninguém sabia a respeito das visitas dela a Atlanta House, nem de seu trabalho voluntário? Então não se tratava de autopromoção, afinal...
Respirando com dificuldade, ele encontrou uma pilha de kits para a imprensa sobre a mesa da Recepção. Ao abrir um deles, viu que ele incluía brochuras sobre os outros hotéis de sua rede, bem como um pequeno folheto sobre o evento daquela noite. Lá estavam listados detalhes sobre o que seria servido e um histórico profissional seu. Ele ainda folheou a lista de serviços onde constavam os contatos de todas as pessoas que estavam prestando serviços para a festa.
Aquilo o fez pensar. Ela devia ter passado horas trabalhando para conseguir montar tudo aquilo, todas as suas horas. Meu Deus, ele era um idiota.
Lá estava ele pensando que ela não tinha levado a sua tarefa a sério, quando, na verdade, ela estivera intensamente focada no trabalho e fora incrivelmente produtiva.
Será que ela estava levando o caso deles a sério também?
Ele não estava. Muito pelo contrário, aliás. Desde o começo a havia prejulgado, e com base em quê? Nas lentes amargas que Jenny havia lhe deixado para enxergar a vida, lentes que deformavam a verdade. Ele se lembrou da maneira como ela havia perseverado, mesmo quando ficara completamente indefesa diante dos relatórios e do sistema de telefonia; de como havia se dedicado às meninas da Atlanta House; das noites em Sidney quando ele a observava voltando para casa, sempre sozinha, sem tropeçar uma única vez naqueles seus sapatos ridículos; da maneira como ela o recebia tão completamente dentro de si, se entregando por inteira e sempre querendo lhe proporcionar o máximo de prazer a cada vez.
Sabia que havia estragado tudo. Sabia que Liss estava tentando disfarçar sua mágoa. Em apenas um momento de absoluta loucura, por puro ciúme, ele havia desfeito toda a conexão que havia entre eles.
Logo ele, que se orgulhava de ser justo, de dar às pessoas a chance de provar o seu verdadeiro valor, havia se negado a fazer o mesmo com ela. Sim, ele lhe dera uma chance após a outra no campo profissional. Mas e quanto ao pessoal?
Sempre estivera disposto a acreditar apenas no pior, apenas porque lhe era conveniente. Havia permitido que o passado o cegasse porque estava assustado demais com os sentimentos que nutria por ela.
As horas pareciam se arrastar. O ódio por si mesmo, a humilhação e a dor de ter estragado algo tão importante para Liss o consumiu por dentro.
Ele tinha que agir, tinha que lutar. Era a sua vida que estava em jogo.
Liss deu conta da festa sorrindo mais do que sorrira em toda a sua vida. Esforçou-se muito para parecer feliz por fora quando estava completamente arrasada por dentro. James mal lhe dirigira a palavra durante toda a noite. Ela havia se afastado dele, logo no início do evento, e ele não havia mais se aproximado desde então.
Embora uma parte dela quisesse comemorar o sucesso da festa, a outra só queria fugir e deixar seu coração partido sangrar livremente. Ela havia descoberto as profundezas de sua própria força naquela última semana. Só esperava que nunca mais tivesse que usá-la. Estava se encaminhando para mais uma roda de convidados quando James a deteve.
Ele a segurou pelo cotovelo e a puxou para longe dos outros.
— Tentei esperar até o fim da noite para conversar com você — disse ele junto ao seu ouvido — mas não estou aguentando mais. Podemos fazer uma rápida reunião agora?
Ela assentiu e o seguiu até uma das salas de reunião, sem querer fazer uma cena em público. James trancou a porta assim que eles entraram. Liss se dirigiu ao centro da sala e ele a seguiu. O que será que ela havia feito de errado daquela vez?
— O rapaz que estava saindo do seu quarto era o estilista, não era?
Liss não queria voltar àquele assunto, mas assentiu, sabendo que não podia confiar em sua voz, pois poderia cair em prantos.
— Eu o vi nas fotos que você tirou. Provavelmente é gay.
— Ele não é gay.
Aquilo foi pouco mais que um sussurro. Ela desejou tirar algum prazer perverso por dizer aquilo a ele, mas tudo o que conseguia sentir era mágoa.
— Mas ele não é o seu tipo, mesmo assim, não é? Ela balançou a cabeça. Ele devia saber disso.
— Eu sou o seu tipo, Liss?
Ela congelou e entrelaçou os dedos, sentindo a pele ficar quente e fria ao mesmo tempo.
— Eu não quero falar sobre isso... — disse ela, tentando fugir dali.
James, porém a agarrou a tempo, enterrando os dedos em seus braços ao puxá-la para junto de si.
— Eu sinto muito. Muito mesmo.
Liss se deteve, mantendo a cabeça baixa.
— Me escute — disse James. — Por favor.
Ela não respondeu, mas também não tentou fugir mais. Por que motivo ele estava se desculpando? O que tinha a lhe dizer? Ela mal conseguia ouvi-lo devido à esperança e ao medo que pulsavam em seus ouvidos.
— Você certa vez me perguntou se a minha mãe e eu havíamos tido algum problema. Pois nós tivemos, do tipo sobre o qual ninguém fala mais a respeito. Aconteceu num dia em que eu voltei da escola mais cedo e a encontrei em casa com o seu amante. Ela sabia que eu sabia, mas não terminou com ele, e depois de um tempo, eu compreendi que aquele não havia sido o único, nem seria o último homem em sua vida além do meu pai. Eu nunca contei isso a ninguém, Liss. Nem mesmo a ele.
Ao ver todo aquele tormento estampado nos olhos de James, o coração de Liss se condoeu pelo menino que ele havia sido, a perda de sua inocência e pelo fardo que ele havia passado a carregar desde então.
— Eu fiquei muito zangado com ele por não notar o que estava acontecendo e jurei a mim mesmo que jamais permitiria que uma mulher me fizesse de tolo daquele jeito.
Ele fez uma careta e o coração de Liss afundou ainda mais ao ver a autozombaria nos olhos dele. Ela ergueu as mãos e as pousou no peito dele, querendo apoiá-lo.
— Alguns anos atrás, eu me envolvi seriamente com uma mulher. Jenny. Ela era muito popular e adorava receber a atenção de todos. O que eu não sabia é que ela estava me traindo quando ia às festas e eventos. Com o passar do tempo, ela foi ficando menos cuidadosa e acabou sendo flagrada por um paparazzo que publicou a foto dela com o seu amante em todas as revistas possíveis. O mundo inteiro soube do acontecido antes de mim e a imprensa se fartou com aquilo.
Liss chegou a abrir a boca, mas ele recomeçou a falar, ainda mais rápido.
— Eu decidi que nunca mais me envolveria seriamente com mulher alguma. Teria apenas aventuras esporádicas quando a oportunidade surgisse. — Ele olhou para ela com um tempestuoso e pesado pedido de desculpas estampado nos olhos. — E foi então que você surgiu em minha vida, tão bela e vivaz e tão amante da diversão. Eu tentei muito não gostar de você, Liss. Disse a mim mesmo que você era superficial e que não tinha ideia do significado da palavra lealdade, mas a cada momento que passava você provava o contrário. Eu não pude evitar tocá-la, e assim que o fiz, não consegui mais me deter e passei a querer explorá-la cada vez mais. Eu queria compreendê-la. Você parecia estar procurando cegamente por algo e tudo o que eu queria era ajudar você. E tê-la para mim. Mas quando achei que você tinha me deixado adormecido na cama e ido para a farra, eu me senti um idiota ingênuo e achei que você tinha feito comigo exatamente aquilo que eu mais temia. Aquele foi o pior momento de toda a minha vida. Eu perdi completamente a razão.
— Eu alguma vez lhe dei motivo para não confiar em mim? — perguntou ela num fio de voz, com os olhos cheios d'água. James empalideceu.
— Não. Sei que fui injusto com você desde o começo. Eu só queria uma aventura e nada mais, mas descobri que não posso deixar que você vá embora.
Tomada de mágoa e desejo, Liss deixou que as lágrimas rolassem pelo seu rosto.
— Eu não quero ir embora — disse ela em meio a soluços. — Não quero que você me deixe partir nunca.
Angustiada e zangada, ela olhou para ele e viu um doloroso e desesperado desejo refletido em seus olhos. Logo em seguida a boca dele avançou sobre a dela, tomando os seus lábios de assalto como se não pudesse ficar suficientemente próximo a ela. Suas mãos a apertaram com mais força ainda, pressionando o corpo dela contra o seu corpo. Liss lutou por se libertar a fim de passar os braços em torno do pescoço dele e agarrá-lo com a mesma firmeza. Queria amá-lo e queria que ele a deixasse fazê-lo.
James assumiu o controle da situação, fazendo-a caminhar de costas até a parede, uma vez que ela mal estava conseguindo se manter de pé. Os dedos dele correram pelas suas coxas e ao descobrir que ela estava totalmente nua por baixo do tecido dourado, James murmurou algo ininteligível.
— Para você, James. Só para você — sussurrou ela.
Ela afastou as suas pernas e arqueou os seus quadris, ansiosa por ser possuída por ele. James colocou a sua mão entre eles e correu os dedos pela sua fenda úmida e quente. Quando suas bocas voltaram a se encontrar, ela ouviu o som do zíper dele descendo e quase perdeu o controle de tanta expectativa. Arqueou, então, todo o corpo a fim de encontrar o dele, observando a sua expressão por trás das pálpebras semicerradas quando as partes íntimas de seus corpos foram pressionadas uma contra a outra, os dentes dele morderam-lhe os lábios com força.
Havia algo diferente. James se deteve. Com os olhos injetados nos dela, ele disse, agoniado:
— Eu não trouxe nada comigo.
Nenhuma proteção. Nenhuma capa fina impedindo-a de conhecê-lo por inteiro. Ela poderia, enfim, sentir tanto a suavidade da sua pele quanto a firmeza do seu membro. Poderia tomá-lo totalmente dentro de si.
— Quer arriscar?
Havia uma vulnerabilidade no seu tom de voz que Liss nunca tinha ouvido antes e que mexeu profundamente com ela. Aceitá-lo era um risco que ela não podia deixar de assumir.
— Oh, sim.
Ambos empurraram os corpos mais uma vez um contra o outro e finalmente se uniram. James estremeceu com a sensação e arfou profundamente. Liss estava em brasa. Ele era simplesmente fantástico.
Ela enroscou uma perna em torno dele, na ponta dos pés para ficar no ângulo certo, para que ele pudesse chegar o mais fundo possível. As mãos dele correram pelas pernas dela, tentando afastar o vestido. Ela não conseguia desviar os olhos da emoção estampada no rosto dele.
— Liss.
Seus olhos eram duas piscinas castanho-douradas, refletindo um desejo tão intenso que ela não conseguiu esconder mais nada dele.
Aquele era o momento mais erótico e revelador de toda a sua vida.
Ele mal conseguia falar.
— Estou tentando com todas as minhas forças não arruinar o seu vestido — disse ele entre dentes.
— Eu não me importo com o vestido, apenas me ame — disse ela, agarrando o tecido e erguendo-o ainda mais alto.
Os dedos dele agarraram a sua pele macia e um olhar de extasiada agonia atravessou o seu rosto. Logo em seguida, ele agarrou as nádegas dela e a ergueu, trazendo-a mais para junto de si.
— Eu a amo — disse ele, olhando no fundo dos olhos dela. A cada nova investida, ele reafirmava o seu sentimento, sem desviar o olhar do dela. Liss começou a soluçar, completamente tomada pela intensidade daquele momento, deixando que as lágrimas lavassem todas as feridas da solidão e o medo da perda.
Ela gritou quando sucessivas ondas de um prazer quase insuportável tomaram o seu corpo. Ele a agarrou com força até ela desmoronar sobre ele e então investiu sobre ela mais uma, duas vezes mais, até preenchê-la com todo o seu amor. Liss fechou os olhos e desejou secretamente que aquela semente criasse raízes e crescesse dentro dela.
Ele a pressionou com força contra a parede, enquanto as faixas de tecido se avolumavam entre eles. Depois pousou a testa sobre o ombro dela e Liss pôde sentir as arfadas quentes e irregulares dele junto ao seu peito. Ela passou a mão pelo cabelo dele, ainda refém da agitação do próprio corpo.
— Não quero nunca mais passar por um dia como esse, Liss. Eu não aguentaria — disse James.
Liss tomou o rosto de James em suas mãos e o ergueu a fim de que ele a encarasse.
— Você vai ter que confiar em mim, porque se não puder fazê-lo, nosso relacionamento jamais dará certo.
Foi então que ela compreendeu que todo seu sarcasmo e ironia não passavam de autodefesa. Mas ele não precisava de nada disso com ela.
— Será que você não sabe o que fez por mim? — disse ela, tentando lhe dar o mesmo de que ela tanto necessitava — confiança e amor. — Não entende o que fez na minha vida? Você acreditou em mim, me deu várias chances, fez com que eu quisesse prosperar em alguma coisa, e eu consegui. E tudo por causa de você. Eu posso cometer muitos erros, James, mas jamais lhe serei infiel. — Ele precisava entender que ela seria capaz de arrancar o seu próprio coração antes de sequer pensar em magoá-lo. — Eu não quero mais saber de todas essas festas, a menos que você esteja comigo. Quero um lar, uma família. Quero você. Eu o amo, James.
Por um momento ele apenas a observou. Depois suspirou, longa e profundamente até que o último vestígio de tensão desaparecesse finalmente de suas feições.
— Obrigado.
Ela acariciou o rosto dele, disposta a esclarecer tudo.
— Quando eu saí na outra noite...
— Você não precisa me contar nada — interrompeu ele. — Sei que não há como organizar uma festa dessas sem trabalhar dia e noite. Você me disse que ia checar alguns detalhes e eu acredito em você.
— Oh, James. Eu passei tanto tempo sozinha...
Ele passou os braços em torno dela e a aninhou ao seu corpo.
— Eu sei.
Liss se agarrou a ele, sentindo seu calor, e soube que ele podia lhe dar tudo o que ela jamais havia tido: família e amizade.
— Eu tropecei ao sair do clube e os paparazzi registraram o momento. Pela primeira vez meus estúpidos sapatos me pegaram.
— Seus sapatos não são estúpidos — provocou ele. — São os melhores adornos para as pernas mais magníficas que já caminharam sobre a face da Terra.
Ela sorriu, mas logo voltou a ficar séria outra vez, sabendo que eles ainda teriam um longo caminho pela frente.
— Os paparazzi estão sempre por perto, James. Você terá que aprender a ignorá-los e nunca ler os jornais.
— Como você acha que eles vão lidar com o seu casamento?
— O quê?
— Seu casamento. Acha que vão se debater entre eles para conseguir exclusividade na cobertura?
Ela o fitou, sem fala.
— Você pode ser a princesa, mas eu continuo sendo o chefe e decidi que o próximo evento que quero que planeje é o nosso casamento. Contanto que você mantenha as rédeas curtas no orçamento e um olho vivo na lista de convidados, é claro — disse ele com uma piscadela.
— Você quer se casar comigo?
Liss sabia que ele a desejava, que a amava, mas não esperava que ele alguma vez quisesse assumir um compromisso daqueles com ela. Não depois de tudo o que ele havia sofrido no passado.
Ele ergueu o queixo dela fazendo com que ela olhasse para ele.
— Seu lar é comigo, e o meu é com você. Para sempre — disse ele, apertando a cintura dela. — Entendeu?
Ele não ia mandá-la embora. Não ia deixar que ela partisse. Ele a queria, exatamente como ela era, toda ela, para sempre. Liss mal podia acreditar. Um sorriso suavizou os ângulos do rosto dele.
— Acha que é muito feio da minha parte torcer para ter acabado de engravidá-la? Se não for esse o caso, eu continuarei tentando até conseguir e então você terá que se casar comigo de qualquer jeito.
— Oh, James — disse ela com os olhos cheios de lágrimas outra vez.
— Nós vamos nos divertir muito com nossos filhos, Liss. E não vamos mandá-los para colégio interno nenhum, por mais rebeldes que eles possam ser.
James estava lhe oferecendo tudo com que ela mais sonhara na vida, uma carreira maravilhosa, uma família, um lar e um coração só para ela.
— Já chega de lágrimas — disse ele, balançando a cabeça. — Você arruinou a sua maquiagem.
— Não dou a mínima para a maldita maquiagem.
— Case-se comigo.
Aquilo era mais uma ordem que um pedido, mas ela não se importou.
— Sim.
O cansaço desapareceu na sua exultação e a expressão dele explodiu — excitação, alívio, júbilo o tingiram. Ele irradiava alegria aberta e livremente, ao tomar o rosto dela em suas mãos enquanto ela sussurava em êxtase sim, sim e sim. Ele limpou as lágrimas frescas das suas bochechas com os polegares, e então cobrou o seu prêmio.
— É melhor voltarmos para a festa agora — disse ele em meio a um gemido, finalmente interrompendo um beijo que havia deixado ambos arfantes e excitados. —Assim que pudermos escapar você poderá fazer o seu número de criança selvagem para mim.
— Quer que eu faça um strip-tease?
Ele riu.
— Não demoraria muito, não é?
— Eu poderia dançar um pouco também. A risada dele se transformou num gemido.
— Não me atormente.
Com os dedos entrelaçados, eles deixaram a sala e voltaram para a festa. Antes de entrar porém, James parou e se virou na direção dela. Passou um braço em torno de sua cintura e ela se preparou para receber e retribuir o beijo.
James afagou a área sob a clavícula dela com o polegar, bem acima do coração que batia descompassado de tanta felicidade. As pontas dos seus dedos traçaram a superfície do osso. Eles se detiveram por um momento, desfrutando daquele misto de expectativa, satisfação e pura felicidade.
Foi então que ela ouviu os repetidos diques de uma câmera.
Sabia que suas faces estavam vermelhas depois de ter feito amor com ele, que seus lábios estavam inchados devido aos beijos ardentes que eles haviam trocado e que seus olhos provavelmente estavam tão arregalados e reveladores quanto os de James.
Aquele fotógrafo havia conseguido, enfim, a grande foto da noite. A história.
Liss relaxou e sorriu para James, resignada, mas ainda sorrindo. Os cliques continuaram.
Eles se abstiveram do beijo; aquele não era o tipo de intimidade que podia ser compartilhada em público, mas o olhar que eles haviam trocado seria testemunhado pelo mundo todo.
A princesa Elissa Karedes havia, enfim, encontrado o seu porto seguro, o seu lar. Havia encontrado o seu amor.
Natalie Anderson
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