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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


SEDUZIDA PELO HIGHLANDER Paula Quinn
SEDUZIDA PELO HIGHLANDER Paula Quinn

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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Ela não deveria deixá-lo beijá-la, mas como resistir?
— Você é ainda mais bonita ao luar.
Sua voz profunda tocou em suas terminações nervosas como se fosse o tamborilar de um tambor. As palmas das suas mãos estavam úmidas e a sua respiração ofegava. Como ele se atrevia a falar com ela como se fosse o seu pretendente?
Ela se virou para encará-lo completamente.
— Por que está desperdiçando palavras floridas comigo, quando há pelo menos uma centena de Ladies no Palácio que gostariam de ouvi-las? O que te leva a se interessar por mim, Tristan MacGregor? Nossos Clãs são inimigos jurados. Meu nome é cuspido com desprezo dos lábios de seus parentes, assim como o seu nome é dos meus. Então, me diga por quê?
A julgar pela maneira como ele a encarava, como se finalmente estivesse sem palavras, Isobel adivinhou que nenhuma mulher jamais havia questionado os seus motivos antes. Mas então o olhar dele deslizou sobre os seus cabelos, sobre a ponta do seu nariz, suavizando em seus lábios.
— Você é uma chama, Isobel. — Disse ele, erguendo os olhos para encontrar os dela. — E uma chama, é mais atraente do que uma pilha de brasas.

 

 

 

 

— Todos sabemos que Tristan teria vencido a competição se não fosse o que aconteceu. Ninguém pode vencê-lo. — Robert Campbell, décimo primeiro Conde de Argyll, virou-se para o seu sobrinho sentado ao lado dele, sorriu e piscou.

Sentado à frente deles no solar1 privado do Conde, Callum MacGregor rosnou em concordância.

— Sim, é por isso que o bastardo Fergusson o fez tropeçar e provocou uma briga. Ele deveria estar com o nariz quebrado em vez do meu filho.

— Eu consegui acertar um soco forte em sua mandíbula, também. — Tristan se defendeu. — Além disso, já não me dói. — Ele ergueu o dedo para o seu nariz ferido. Ainda doía como o inferno, mas os MacGregors não se queixavam ou choravam por causa de ossos quebrados. — É a honra de Alex Fergusson que será mais difícil de reparar.

— Bem falado. — Elogiou o seu tio, dando um tapinha no ombro dele. — Você tem o sangue de cavaleiro em você e vai se tornar um homem de honra.

Tristan se inchou com orgulho.

— Gosto da forma como se entortou um pouco o seu nariz. — Kate MacGregor pousou o seu bordado para mostrar o sorriso mais amoroso para o seu filho. — Agora você se parece ainda mais com o seu tio. Não é, Anne?

A bonita esposa de Robert ergueu os olhos da agulha e concordou.

— Ele é tão bonito. Mesmo com os olhos enegrecidos.

Tristan corou e depois empurrou o ombro de sua irmã quando ela riu dele.

— Receio que o nariz do menino precise sofrer mais algumas rupturas antes de se parecer com o meu. — Robert Campbell pegou a mão do seu sobrinho, enrolou-a em um punho e a cobriu com a sua. — Lembre-se, o bloqueio é tão importante quanto a velocidade do seu soco.

Bebendo a sua cerveja perto do fogo, Graham Grant, amigo mais próximo dos MacGregors e dos Campbells de Argyll, chutou a ponta da bota no tornozelo do Laird MacGregor.

— Callum, você não está permitindo que Robbie instrua o seu filho na arte do combate corpo a corpo, está?

— Duvidando da minha habilidade. — Robert disse suavemente. — Apenas prova que você é um professor ruim, Graham.

— Admito que as suas habilidades melhoraram muito sob minha formação ao longo dos anos. — Graham respondeu brincando. — Mas se eu estivesse ensinando Tristan, o jovem Alex Fergusson estaria perdendo alguns dentes agora e talvez um braço ou os dois.

Robert sorriu e olhou para Tristan enquanto os guerreiros ao redor deles concordavam que o problemático menino Fergusson algum dia se veria empalado na lâmina de alguém, de preferência na de Tristan.

— Lembre-se também. — Ele se inclinou para que apenas Tristan pudesse ouvi-lo. — Que há muitos momentos na vida de um homem em que as escolhas que ele faz decidirão o seu destino.

Tristan assentiu. Ele entendeu que, enquanto o sangue de guerreiro corria em suas veias, nem sempre era necessário causar o maior dano possível ao oponente, o fato de que o seu pai nem sempre concordava com esse sentimento, que às vezes fazia Tristan desejar que o Conde fosse o seu pai, em vez do Laird do Clã. Ele pensou em sua escolha de lutar com Alex depois que se levantou do chão. Não esperava que o punho do menino voasse tão rápido quanto ele. Tudo o que lembrou depois após Alex atingi-lo, era o gosto de sangue em sua boca e os pais dele e de Alex gritando um com o outro. Depois disso, sua mãe não o deixou competir no resto dos jogos, dos quais sabia que poderia ter vencido. Ele mudou o seu destino, e voltou para casa com nada além de um nariz sangrando.

O súbito estrondo na porta levantou os homens do solar. Os gritos do outro lado levaram as suas mãos nos punhos das suas espadas.

— MacGregor! — Alguém do lado de fora do castelo rugiu. — Venha me encarar, se tiver coragem! Não insultarás a mim e aos meus parentes e viverás mais uma noite!

Tristan mal ouviu o seu pai ordenando que as mulheres e as crianças estivessem no andar de acima da escada. Ele observou, toda a cor sumindo de seu rosto, enquanto Graham e seu tio foram até a porta. Era o pai de Alex Fergusson lá fora. Ele veio matar o seu pai por causa da briga de uma criança?

— Tristan, vá! — Seu pai ordenou, mas Tristan não podia se mover. Ele mal conseguia respirar. Isso era a sua culpa. Os homens estavam indo para lutar, o seu pai poderia morrer por causa dele. Ele estendeu a mão, como se quisesse parar o seu pai quando ele caminhou em direção à porta. Não saia. Ele queria gritar, mas o apelo rompeu em seus lábios tão silenciosamente quanto um sussurro. Ele tinha apenas quatorze anos. Eles não quiseram ouvi-lo.

— Mostre o seu rosto, Fergusson! — Callum gritou, passando por seu cunhado e seu melhor amigo, e abrindo a porta pesada. — Mostre o seu rosto e vou dizer mais uma vez que você é o filho de um porco!

Mais gritos se seguiram, mas sua mãe puxando o seu braço distraiu Tristan. Ao ser levado para uma sala acima da escada, olhou por cima do ombro a tempo de ver Graham e seu tio deixarem o castelo para ir atrás de seu pai.

— Eu deveria estar com eles. — O irmão mais velho de Tristan tentou passar por sua mãe, mas ela bloqueou a porta com o corpo e levantou a mão para detê-lo.

— Seu pai vai ficar bem, Rob. Sente-se com os seus irmãos. Por favor, meu filho.

Oh, Deus, que ele fique bem, Tristan rezou. Ele sentiu um nó no estômago e um pouco tonto quando ondas e ondas de medo o envolveram. Sua irmã estava chorando no colo de Lady Anne. O som de seu choro fez Tristan querer fugir da sala e sair correndo para fora. O pai de Alex voltaria para casa se ele pedisse desculpas? Ele faria qualquer coisa... qualquer coisa para fazer a dor em sua cabeça, suas entranhas e seu coração ir embora. Se algo acontecer com o seu pai...

Um rugido triste trespassou sua melancolia e acalmou todos os outros sons na sala. A esposa de Graham empalideceu e sacou a espada.

— Estou indo para lá. — Sem esperar pela aprovação de ninguém, ela abriu a porta e correu para as escadas. Seus gritos, um instante depois, enviaram terror através da fortaleza e para os corações de todos que ela deixou para trás.

Tristan não foi o primeiro a sair da sala. Quando saiu, porém, desejou ter ficado e trancado a porta, para nunca mais sair. Ele tinha medo pela vida de seu pai. Não lhe ocorreu que alguém poderia morrer. E nunca, jamais ele.

— Eles vão morrer por isso! — Ouviu o seu pai chorar de algum lugar no fundo do seu peito. — Eles todos vão morrer.

Tristan desceu as escadas tão lentamente que parecia que não estava realmente se movendo. Tudo parecia... irreal. Tinha que ser. Esse não poderia ser o corpo flácido de seu tio sendo jogado no chão pelas mãos trêmulas de seu pai, uma flecha projetada em seu peito. Robert Campbell não poderia estar morto. Ele era muito forte, muito corajoso e honrado para ser abatido durante a noite, por causa de uma escolha que uma criança havia feito para lutar. Muito entorpecido para chorar ainda e cheio de desespero e culpa para fazer qualquer coisa, exceto ficar congelado naquele momento terrível, ele viu a sua mãe e Anne ajoelharem-se, seus gemidos angustiados enchendo todos os cantos da Fortaleza Campbell.

O homem que ele amava mais do que qualquer pessoa no mundo havia levado uma flecha no coração e desapareceu em um momento. Um momento que alterou o curso de tantas vidas. Acima de tudo, o de Tristan e a da moça que um dia o curaria.

 

Inglaterra, 1685

 

Capítulo Um


— Imbecil arrogante. — Isobel Fergusson empurrou as pesadas portas de madeira e entrou no enorme jardim privado do Palácio Whitehall2 com uma dúzia de juramentos venenosos saindo de seus lábios. Finalmente, depois de onze anos desde a morte da sua mãe e dez anos desde que o seu pai deixou os sete filhos órfãos, o peso total de cuidar da sua família a afetara. O seu irmão Alex ia matá-los, a todos. Oh, por que eles vieram para a Inglaterra? E condenação, se eles tivessem que comparecer à coroação do Duque de York, deveria ser Patrick, o seu irmão mais velho e herdeiro de seu falecido pai, o Laird Fergusson, aqui com ela e não Alex. Eles deveriam ficar apenas uma ou duas noites, mas quando o futuro Rei convidou todos os seus convidados a permanecer em Whitehall por mais um mês, Alex havia aceitado. Ela chutou uma pequena pedra para fora do caminho e xingou novamente. Como ela poderia ter criado um pirralho tão imprudente e descuidado?

Não era que Isobel estava imune à atração dos luxuosos colchões de penas de Whitehall, as suas grandes galerias com tetos abobadados, onde até mesmo os sussurros suaves proferidos pelos Lordes e as Ladies elegantes, em perucas empoadas, parecendo estátuas vivas, ecoava. Era tudo bastante... incomum e sedutor de uma maneira estranha. Mas Alex aceitou, sabendo que os MacGregors estavam aqui! Oh, como ele pôde? Ele havia esquecido o ódio entre os seus Clãs? Ou a trilha deixada quando o Laird Fergusson foi morto, por um diabo que se vingou há uma década?

— Querido Deus. — Ela implorou, parando em um grande marcador de horas de sol, de pedra, no centro do jardim. — Me dê força e sabedoria ao meu irmão espirituoso antes que ele comece outra guerra!

Um movimento à sua direita chamou a sua atenção para uma fileira de estátuas altas de bronze brilhando ao sol. Quando uma delas se moveu, Isobel recuou e bateu o quadril contra o marcador de horas do sol.

— Cuidado, moça.

Ele não era uma estátua, mas um homem, embora o seu rosto pudesse ter sido trabalhado pelo mesmo artista que criou as obras primas que adornava o jardim. Isobel absorveu cada centímetro dele quando saiu de trás da imagem de um arcanjo dourado, as asas suspensas eternamente em voo ao pousar em seu pedestal. Ele usava o traje de um inglês, mas sem toda a elegância... ou a peruca. Os seus cabelos estavam soltos até os ombros em tons belo de um castanho e dourado pelo reflexo do sol, quase a mesma mescla colorindo os seus olhos. Ele usava uma camisa de linho cor de creme com cinto largo sobre os quadris magros. O colarinho desordenado estava aberto em seu pescoço, dando-lhe uma aparência mais libertino do que nobre. Ele era alto e ágil, com pernas longas e musculosas envoltas em calças justas e botas pretas sem brilho. Seus passos eram leves, mas deliberados, enquanto ele se aproximava dela.

— Eu não queria assustá-la. — O tom musical de sua voz marcou-o como escocês, talvez até um Highlander.

— Pensei que você fosse minha irmã. Sou infinitamente grato por estar enganado. — O seu sorriso era totalmente inocente, exceto pela exibição de uma covinha brincalhona em uma bochecha, e tão belo e convidativo quanto o anjo parado atrás dele. Mas a maneira como os seus olhos mudaram de castanhos para um dourado ardente, como os de um falcão que viu a sua presa, sugeriram algo muito mais primitivo além do seu charme indecente.

Por um momento esteve completamente fora de seu controle, Isobel não conseguiu se mexer, enquanto observava toda a sua impressionante expressão. Exceto para leve curvatura no canal do nariz, que mostrava já ter sido quebrado, situado acima de uma boca projetada para despir uma mulher de todas as suas defesas, incluindo de um pensamento sensato.

Ela deu um passo ao redor do marcador de horas do sol, mantendo instintivamente a distância de uma força que confundia a sua lógica e prendeu a respiração.

Maldição, ela tinha que dizer alguma coisa antes que ele pensasse completamente que ela era exatamente como qualquer outra mulher, que quando o via, revirava os olhos como uma trêmula tola. Com uma inclinação do queixo que sugeria que ela não era boba, jogou a trança ruiva por cima do ombro e disse.

— Sua irmã também acha que você é um imbecil arrogante?

— Sim. — Ele respondeu com um sorriso que era toda inocência e naturalmente sedutor ao mesmo tempo. — Isso e muito pior.

Como se para provar a sua verdadeira afirmação, um movimento além da estátua chamou a atenção de Isobel. Ela olhou a tempo de vislumbrar saias de cor azuis safira e cachos louros correndo de volta para o palácio.

— O meu palpite. — Isobel murmurou, olhando em torno de suas costas para ver à partida da Lady. — É que a sua irmã provavelmente está correta.

— Ela certamente está. — Ele concordou, sem se preocupar em olhar para trás. A cadência de sua voz se aprofundou com o seu sorriso. — Mas eu não sou completamente irrecuperável.

Em vez de discutir o assunto com um libertino tão óbvio, quando deveria estar pensando em uma maneira de convencer Alex a partir com ela e Cameron, Isobel ergueu uma sobrancelha duvidosa e se virou para sair.

— Por mais difícil que seja de acreditar, senhor, terei que aceitar a sua palavra. Boa tarde.

Sua respiração acelerou um instante depois, quando o estranho apareceu ao seu lado e se inclinou em direção a sua orelha.

— Ou você poderia passar a tarde comigo e descobrir.

Sua proximidade permeava o ar ao seu redor com calor e o aroma familiar de urze. Ele era definitivamente um Highlander, talvez um Gordon ou do Clã Donaldson, embora não usasse o plaid. Ela pensou em perguntar o nome dele, mas decidiu contra. Ele poderia considerar o seu interesse por ele uma aceitação de sua oferta. Ela não podia permitir que seus sentidos fossem perturbados por uma tarde inteira passada com ele quando estava em risco a segurança de sua família.

— Obrigada, meu Lorde, mas tenho assuntos a resolver. — Ela apressou o passo, mas ele não seria tão facilmente dispensado.

— Será que estas questões têm a ver com o seu irmão estúpido que você estava orando.

— Como? — Isobel perguntou, tentando parecer não afetada por sua ousadia em segui-la. — Você está preocupado que ele possa ter usurpado o seu título?

Ela estava completamente despreparada para o seu riso, ou para o jeito que ele a cercava completamente, grosseiro e despreocupado. Uma dúzia de outros homens teria zombado de sua acusação, embora ela quisesse apenas demonstrar a sua falta de interesse, mas esse carismático estranho achou engraçado. Ela gostava que ele tivesse confiança suficiente para rir, até de si mesmo.

— Por que os irmãos devem ser tão difíceis? — Ela admitiu com um sorriso e começou a andar com ele. — Verdadeiramente, se existe um título do irmão estúpido, ele já o tomou. — Ela se sentiu um pouquinho culpada por falar assim do Alex, com um homem que nem conhecia, mas talvez não conhecê-lo tornou mais fácil. Ela precisava de alguém para conversar sobre o seu dilema. Não, o que realmente precisava era de um momento ou dois sem pensar nisso. Este homem a fez sorrir, e não rira a manhã toda.

Ao lado dela, ele se inclinou para pegar uma pedra e jogou-a em um pequeno lago alguns metros à frente deles.

— E o que seu irmão fez que é tão terrível?

— Ele se recusa a deixar Whitehall e ir para casa.

— Ah, imperdoável.

Isobel lhe lançou um olhar de soslaio e o encontrou sorrindo para ela.

— Você não entende. — Ele levantou uma sobrancelha escura e esperou que ela continuasse. — Muito bem então, se queres saber, nossos inimigos mais odiados chegaram recentemente para prestar homenagem ao Rei. O meu irmão é arrogante e orgulhoso. Se permanecermos aqui, é provável que ele os insultem e provoque os bárbaros novamente.

Ele assentiu, levando-a para o lago.

— Agora vejo o seu ponto mais claramente. Mas por que é seu problema ponderar? — Ele perguntou, virando-se para ela. — Onde está o seu pai, por que o seu filho deve tomar decisões que colocam a sua família em perigo?

— Ele está morto. — Disse Isobel, com os olhos arregalados nas portas do palácio e nas bestas que passeavam em algum lugar lá dentro. — Morto por esses mesmos inimigos. Juro que, se pudesse encontrar apenas um deles, abriria a sua garganta e anunciaria para voltar ao diabo que o gerou.

Ela estava um pouco surpresa ao encontrar simpatia e diversão, suavizando as feições do homem quando o olhou.

— Parece-me que os seus inimigos têm mais a temer de você, do que você tem deles, moça.

Isobel balançou a cabeça.

— Eu não sou imprudente como o meu irmão. Nossos inimigos nos deixaram em paz, e desejo que continue assim.

— Sábio. — Disse ele, e Isobel estava feliz por ter contado a ele. Ele concordou que ela estava certa em querer ir embora. — Eu poderia falar com ele por você, se assim desejar, talvez colocar algum juízo nele.

Isobel não pôde deixar de sorrir com força total. Ele parecia estar ouvindo os seus pensamentos. Ela precisava de ajuda e, naquele momento, estava disposta a aceitá-la de qualquer pessoa, mesmo de um estranho.

— Isso é muito gentil da sua parte, mas eu não poderia impor.

— Você não está impondo. Desejo ajudá-la se eu puder.

Ela parou de andar e olhou para ele quando parou ao seu lado.

— Você nem me conhece. Por que você quer me ajudar?

Sua covinha se aprofundou, junto com o tom dourado de seus olhos.

— É o que eu faço de melhor.

Depois que ele roubou beijos e tudo mais de damas atrás de estátuas nos jardins? Ele era astuto, mas imensamente agradável.

— Como você é muito galante.

Ele se inclinou um pouco e curvou a boca para ela, acelerando o seu coração.

— Está vendo? Há esperança para mim.

— Não de acordo com a sua irmã, e ela o conhece melhor.

— O que você gostaria de saber? — Ele ofereceu o seu braço, e desta vez ela aceitou.

— Eu só tenho um momento ou dois...

— Oh, então é melhor você fazer uma boa pergunta.

Ela bateu o dedo no queixo enquanto andavam pelos vastos gramados.

— Muito bem, eu tenho. Por que a sua irmã acha que você é um imbecil arrogante... entre outras coisas?

— Muito bom. — Ele a elogiou com uma ruga um tanto preocupante e profunda em sua testa escura. — Você é inteligente e bonita.

Ela estreitou os seus olhos para ele e mostrou-lhe um sorriso conhecedor.

— Você também. — Ela quase suspirou com a sua própria ousadia, mas sua sinceridade a desarmou e a fazia se sentir à vontade.

— Como devo responder a sua pergunta com sinceridade depois de você me chamar de bonito? Escolha uma pergunta diferente.

Ela riu e era maravilhoso.

— Não. A mesma pergunta. Responda por favor.

— Inferno, vamos ver então. Bem, ela acha que eu sou sempre imprudente.

— E você é?

— Não, estou simplesmente menos preocupado com todas as consequências.

— Então você é realmente imprudente.

Ele assentiu e levantou um dedo.

— Mas nem sempre. Eu disse menos preocupado, não despreocupado.

Ela deu a ele o argumento, apreciando sua brincadeira astuta.

— Você está menos preocupado ou despreocupado com as consequências para a reputação da Lady, se ela foge de volta ao palácio com os seus cachos de cabelos desarrumados e as suas bochechas coradas?

Ele se virou um pouco, como se agora lembrasse o que havia escondido atrás da escultura.

— Se ela está ansiosa para colocar a sua reputação em minhas mãos depois de um dia de conhecê-la. — Disse ele, voltando o olhar para Isobel. — Então eu estaria mais inclinado a me preocupar menos.

— Entendo. Bem, você é honesto, pelo menos.

— Vá em frente. — Ele brincou. — Prefiro ouvi-la listar as minhas virtudes do que contar as minhas falhas.

— Existem muitos mais então?

— Isso depende de quem você perguntar.

— Acho que, neste caso, preferiria fazer meus próprios julgamentos.

— Isso é agradável de ouvir. — Ele pareceu surpreso e tão sinceramente aliviado que por um momento Isobel se perguntou o quão problemático esse homem realmente era.

Ela deveria voltar para dentro e ver os seus irmãos, mas, maldição, estava se divertindo. Que mal poderia advir de caminharem juntos? Não era como se fosse deixá-lo beijá-la por trás da próxima estátua que eles vissem, embora ela certamente pudesse entender por que algumas Ladies imponentes e normalmente sufocadas na corte jogariam fora a sua reputação por alguns momentos roubados com ele. Quanto mais olhava para ele, mais irresistível se tornava. Ela não tinha certeza se era o sorriso dele ou a maneira como os seus olhos observavam cada nuance de seu rosto quando ele lhe deu toda a atenção que seduziu o seu bom senso. No momento, não se importava. Gostava do jeito que ele olhava para ela, como se fosse mais do que uma mãe, uma babá e uma cozinheira de seu bando de irmãos. Não que ela se importasse de ser essas coisas. Ela amava a sua família mais do que qualquer outra pessoa no mundo, mas era bom esquecer os seus deveres por um tempo, especialmente sabendo agora que ele a ajudaria com Alex.

— E como você é? — Ele perguntou quando se aproximaram do portão oeste. — O que o seu irmão diria sobre você?

— Isso depende de qual irmão você perguntar. — Ela sorriu, pensando nos que ela deixou em casa com Patrick. — Eu tenho seis. — Ela revirou os olhos para o céu e assentiu em concordância quando ele a olhou horrorizado. — Os três mais jovens provavelmente se queixariam de que eu lhes dou muitas tarefas para fazer, mas seria falso, pois eles se divertem muito mais do que costumam fazer. Cam pode dizer que sou muito mole, enquanto Patrick acha que sou tão teimosa quanto o nosso touro.

— O seu touro? — Ele perguntou, inclinando-lhe um sorriso irônico. — Existe um em particular que você o lembra?

— Nós temos apenas um, mas ele é tudo o que precisamos, já que temos apenas duas vacas. — Ela estava arrependida por ter contado, no momento que falou, quando o sorriso dele desapareceu um pouco. Ela podia dizer pelas as suas roupas que ele não era pobre. Ele olharia para ela com desprezo porque era pobre?

— Deve ser difícil para a sua mãe criar todos os filhos com tão pouco gado e para trazer qualquer moeda para casa. — Disse ele, provando que não estava muito preocupado com a posições deles do que estava sobre beijar Ladies em público.

— Minha mãe morreu dando à luz a Tamas.

Ele a parou quando chegaram a um longo banco de pedra na muralha do portão.

— Você criou-os por conta própria, então?

— Patrick e eu fizemos. Nós ainda fazemos. Tamas tem apenas onze anos. Houve tempos difíceis, mas maravilhosos também. — Ela sorriu para ele quando lhe ofereceu um assento antes de obter o dele.

— Você passou fome?

A preocupação em sua expressão era bastante cativante agora que ela o compreendia um pouco. O que ele faria agora?

— Guarde a sua armadura brilhante, cavaleiro. Não há necessidade de oferecer a sua ajuda. Patrick sempre se certificou de que havia comida suficiente na mesa.

O seu sorriso carismático retornou e brilhou em seu olhar, convencendo-a de uma vez por todas que nenhuma mulher em toda a Escócia ou Inglaterra provavelmente poderia resistir a ele.

— A armadura é uma roupa muito pesada para vestir. Além disso, a minha estaria bastante enferrujada.

— Pode ser polida.

Ela não estava preparada para o modo como os olhos dele suavizaram para ela ou para o súbito silêncio que se seguiu.

— Isso é verdade. — Disse ele depois de um longo momento que fez a sua respiração parar no peito. — É estranho você falar dessas coisas comigo.

— Mas alguém falou, eu presumo.

Eles compartilharam o mesmo sorriso misterioso entre eles antes que ele respondesse.

— Meu tio costumava falar de cavaleiros e suas ações cavalheirescas o tempo todo. Não lembro das suas histórias, foi há muito tempo.

— Você conhece a história de Arthur Pendragon3, então?

— Claro. Você gostaria que eu contasse?

Ela realmente não deveria. Alex e Cameron provavelmente já estavam procurando por ela.

— Eu gostaria.

Os poucos momentos que Isobel pretendia passar com o seu belo estranho se transformaram em horas, mas foi somente quando o sol começou a descer que percebeu há quanto tempo estava ali.

— Eu preciso ir. Os meus irmãos provavelmente estão mortos de preocupação.

— Encontre-se comigo amanhã. — Ele agarrou a sua mão, quando ela se levantou do banco e se virou para ir embora. — No jardim, perto do marcador de horas do sol.

Ela balançou a cabeça, ciente dos dedos dele deixando os dela quando ela se afastou.

— Eu não deveria. Nem sei o seu nome.

— Tristan. — Ele disse a ela.

Ela sorriu divertida, sentindo-se mais alegre do que em meses... anos.

— Eu não sei a história desse cavaleiro. — Ela gritou enquanto a distância entre eles aumentava. — Mas você pode me chamar de Guinevere.

— Não. — Ele riu. — Isolda era a Lady de Tristan.

Voltando para o palácio, o sorriso de Isobel aumentou.

— Melhor ainda.

 

Capítulo dois


Tristan a observou partir, apreciando o balanço de seus quadris enquanto ela se afastava. Quem diabos ela era? Uma Lowland4, com certeza. Resumidamente, se perguntou a qual Clã ela pertencia. Apesar do vestido da cor açafrão desbotado e o fato de que ela tinha apenas um touro, e que tinha sido convidada para a coroação, então ela não poderia ser uma camponesa. Quem quer que ela fosse, ele a achava absolutamente encantadora. Ele tinha certeza de que nunca tinha visto olhos tão verdes ou tão grandes quanto os dela, quando ele apareceu por trás da estátua e a assustou. Ela não era tão bonita quanto algumas das outras mulheres na corte, mas Tristan observou o seu nariz cheio de sardas, sem pintura no rosto e o brilho de seu temperamento quando falou sobre mandar o seu inimigo para inferno, era bastante sedutor.

Seu primeiro pensamento, como costumava acontecer quando encontrava uma moça que despertava o seu interesse, era como tirá-la de suas roupas da maneira mais rápida possível. Normalmente, nunca considerou uma mulher além desse ponto. A maioria não se importava com o que ele estava fazendo. Alguns sorrisos arrojados e elogios bem colocados eram o suficiente para conseguir o que queria. Mas ela o desafiou com perguntas e respostas inteligentes, quase tão rápidas quanto as suas. Ela não ofereceu sorrisos tímidos de seus lábios naturalmente corados. O rubor suave de suas bochechas era real e desprotegido. Ela sabia que ele era um libertino, graças a Eleanor Hartley deixando a sua proteção e fugindo de volta para o palácio, mas, surpreendentemente, ela apontou as suas virtudes em vez de insistir em suas falhas.

Ele sorriu para si mesmo quando se levantou do banco. Ela era inocente, e o pensamento de seduzi-la fez as suas terminações nervosas arderem com a emoção de um desafio.

Mas inferno, ela o chamava de galante. Ninguém o chamou assim, ou algo parecido, em dez anos. Ela falou sobre uma armadura brilhante, e isso despertou lembranças que ele trancou em um lugar que nunca pensou em visitar novamente. Ele não queria ir para lá agora. Tudo o que desejou ser quando ele era um menino foi destruído no dia em que lutou com Alex Fergusson.

Ele olhou para o Salão de Banquetes, onde o jantar provavelmente estava sendo servido agora. Os seus parentes estavam sentados à mesa dos convidados rindo muito com hidromel ou cerveja quente, talvez recontando uma velha história de batalha ou discutindo as notícias de que o seu primo Angus lhes trouxera ontem sobre o irmão de Tristan, Rob, salvando uma freira de uma abadia em chamas. Ele também não queria ir para lá. Por enquanto ele podia empunhar uma espada, assim como qualquer guerreiro Camlochlin, mas não desejava se encaixar no código de orgulho, arrogância e vingança Highlands de seus parentes. Ele preferia desarmar um homem ou uma mulher com sua inteligência do que com a sua lâmina. Era uma distinção que, às vezes, para seu profundo pesar, o diferenciava de seu pai, uma distinção que ele havia aperfeiçoado, até que não houvesse favor que não pudesse ganhar, nenhuma opinião sobre ele que não pudesse alterar se tivesse um bom senso para fazer isso.

Por um momento, ele estava sozinho no crepúsculo, preso entre os dois mundos que havia rejeitado. Os seus pensamentos voltaram à moça... Isolda... e o jeito que ela sorriu para ele quando lhe ofereceu a sua ajuda. Ele poderia ter ficado naquele momento para sempre. Mas ela estava errada sobre ele. Ele deveria ter dito a verdade e a fazer acreditar nele. Ele era um libertino insensato que só queria levá-la para cama e depois deixá-la antes que ela formasse um vínculo.

Ou pior, antes dele formar qualquer vínculo.

Finalmente, decidindo que caminho seguir, ele se virou e estava prestes a deixar Whitehall pelo portão oeste quando uma voz doce chamou o seu nome.

Ele se virou e viu Lady Pricilla Hollingsworth, uma beldade de cabelos escuros que chamou a sua atenção quando chegou ao palácio.

— Senti a sua falta no Salão de Banquetes. — Disse ela, se apressando em sua direção. — Você está sozinho?

Os seus olhos percorreram os lábios entreabertos dela e depois abaixaram, até o inchaço de seus seios brancos como neve firmemente confinado em seu vestido decotado.

— Felizmente, não. — Lentamente, ele olhou para ela e sorriu.

— Adorável. — Sua boca se curvou com a mesma decadência que transparecia na dele. — Vamos dar uma volta, certo? — Sem esperar pela a sua resposta, ela passou o braço pelo dele. — Lady Hartley me disse que você é um Highlander. Já ouvi muitas histórias emocionantes sobre homens das Highlanders.

— Não mais excitante do que as histórias que eu ouvi sobre as Ladies inglesas, tenho certeza.

Ela riu, exagerando o arrepio que ele aparentemente enviou por sua espinha.

— Oh, eu adoro a cadência do seu modo de falar. É selvagem e gracioso ao mesmo tempo. Muito parecido com a sua aparência.

Maldição, ela estava desejosa. Esta não precisava de palavras bonitas, mas desejava algo um pouco mais selvagem por natureza. Como havia afirmado anteriormente, ajudar as moças era o que ele fazia de melhor.

— Não deixe o meu traje de babados te enganar, milady. O que está embaixo é puramente selvagem.

— Ora, senhor MacGregor! — Ela colocou a mão no peito, em ofensa fingida. — Eu sou uma dama!

Ocorreu-lhe quando a mão dela se afastou do seu decote leitoso, que ela poderia dar um passo adiante em seu jogo de gato e rato, e realmente dar um tapa no rosto dele. Em vez disso, ela colocou as palmas das suas mãos delicadas no peito dele e o empurrou mais fundo nas sombras.

— Mas, por favor. — Ela ronronou com a respiração quente até a base da sua garganta. — Não deixe que isso o impeça.

Fechando os braços ao redor da cintura dela, ele puxou os quadris dela contra os dele e sussurrou sobre os lábios dela antes de beijá-la.

— Eu não pensaria nisso.

— Pricilla! — O grito de um homem cortou o ar como uma flecha.

— Inferno. — Jurou Tristan, deixando-a ir.

— É meu marido!

Ele fez-lhe uma carranca irritado quando enfrentou a verdade.

— Você não me disse que era casada.

— Você não me perguntou.

Verdadeiramente. Ele não tinha perguntado.

— Meu bom Lorde Hollingsworth. Eu...

Ele se abaixou quando o experiente musculoso puxou uma espada de sua bainha com surpreendente destreza e quase cortou a garganta de Tristan.

— Não há necessidade disso. — Ele disse, evitando outro golpe em suas entranhas. — Guarde a sua espada e vamos discutir como...

Inferno, essa foi por pouco. Falar com uma forma de bom senso na cabeça do homem claramente enfurecido não ia dar certo. Ele teria aceitado um soco na mandíbula como penitência por beijar a esposa do homem, mas com certeza não ia morrer por isso.

O quarto golpe passou sibilando sobre a cabeça de Tristan um instante antes de seu punho pousar na bochecha carnuda de Hollingsworth. Um golpe no queixo seguinte balançou os joelhos do nobre e deu a Tristan um instante para pegar a sua arma de sua mão frouxa.

Ele jogou a espada sobre o portão para rua do outro lado, depois se virou furiosamente para o marido de Lady Hollingsworth.

— Se você me levantar uma espada novamente, eu vou matá-lo. Olhe por si mesmo a causa da indiscrição de sua esposa e não a mim ou o próximo homem que você encontrar com ela.

Ele se apressou de volta para a entrada do portão, abriu a pesada porta e desapareceu pela King's Street, deixando a espada de Hollingsworth onde ele a jogou. Ele passou por uma dúzia de mulheres escondidas nas sombras, oferecendo-lhe prazeres além de suas expectativas. Ele não se parou para nenhuma delas. Não queria companhia, sem dedos carentes agarrando as suas roupas, nenhum pedido para retornar quando sabia que não o faria. Esta noite, não queria lembrar do que havia se tornado.


Tristan olhou para o céu da manhã, depois para o marcador de horas do sol com um olhar curioso. Como diabos alguém sabia a hora do dia olhando uma flecha em uma placa de rocha? Uma pergunta ainda melhor: O que ele estava fazendo aqui, esperando uma moça de nariz sardento e com som da música em sua risada? Ele pensou nela a noite toda e, quando caiu na cama, estava bastante perturbado por ela não o deixar em paz. Mas naquela manhã, ele queria vê-la novamente.

Infelizmente, uma das desvantagens de um palácio com mil e quinhentos quartos, era que as pessoas eram difíceis de encontrar. Ele estava feliz por eles terem planejado onde se encontrar na tarde anterior.

— Saudações, Sir Tristan.

Ele não a ouviu chegar por atrás dele e sorriu apesar de não acreditar, que ela o chamou. Ele se virou para ela e pegou a mão dela na sua. Ele estava surpreso e um pouco emocionado ao encontrar calos lá.

— Lady Isolda. — Ele abaixou a cabeça e deu um beijo entre os nós dos dedos. — Os seus irmãos estavam preocupados com você ontem, como temia?

Ela balançou a cabeça e ele observou como o sol brilhava sobre os belos cabelos dourados avermelhados.

— Suas atenções foram ocupadas de outa forma, por duas francesas que passaram a tarde conversando e rindo, tenho certeza que eles não as entenderam.

— Dizem que o amor não precisa de palavras. — Tristan ofereceu o braço e estava surpreso com a sua respiração, quando o calor da mão dela o tocou. — Eu digo que as palavras certas são o adorno do amor verdadeiro.

— Você conhece muito sobre o amor verdadeiro, então? — Ela perguntou, com o humor dançando na cor verde vívida de seus olhos.

— Eu não sei nada disso. — Ele admitiu, levando-a para longe dos gramados lotados. Pensou em Lorde e Lady Hollingsworth. — Mas não é preciso ser um homem extremamente inteligente para saber que a moça que ele ama, aprecia quando lhe diz que tudo que tem é dela. O seu corpo, a sua mente, o seu coração. Que ela é a dona de tudo.

— Sim. — Ela concordou, aproximando-se um pouco dele. — Eu acho que seria muito bom ouvir isso. Mas como você sabe o segredo do que as mulheres querem quando tantas outras não?

— Sir Gawain. — Respondeu ele, feliz por se lembrar da história da tarde anterior. — Ele deu a sua palavra para se casar com a velha, Dame Ragnell, depois que ela forneceu ao rei Arthur a resposta para essa pergunta eterna e salvou a sua vida.

— Ele manteve a sua palavra?

— Claro que sim. — Tristan disse a ela. — Ele estava... — Ele fez uma pausa, sentindo-se estranhamente abalado pelo que estava prestes a dizer e pelos velhos sentimentos que arrastou para a superfície. — Ele era um homem de honra. — Rapidamente, mudou o caminho da conversa deles.

— Você tem um homem esperando por você em casa, bela Isolda? Um marido, talvez? — Desta vez, ele perguntaria primeiro.

— Não. — Ela riu baixinho. — Não há ninguém que me daria o domínio sobre o seu coração.

— Tolos então.

Eles se entreolharam e sorriram. Ela, parecendo ver além de sua determinação irreverente e tocando em um lugar que ele guardava por dez anos. Ele, vendo uma mulher, talvez a única mulher capaz de destruir as suas defesas. Desviou o olhar, precisando que eles sobrevivessem felizes no mundo que ele nasceu.

— Eu o vi na véspera passada no Salão de Banquetes.

— Quem? — Ele perguntou, virando-se para ela mais uma vez. Queria beijá-la para provar a si mesmo que podia e ainda permanecer intocado.

— O diabo que matou o meu pai. Eu nunca esqueci o rosto dele. Quando o vi, não aguentava olhá-lo por muito tempo.

— Você o viu cometer o ato, então? — Tristan perguntou, o seu coração se partindo um pouco por ela. Ele tinha visto o homem que amava deitado, morto, no chão. Não era algo que se poderia esquecer.

— Eu vi da minha janela quando ele esfaqueou o meu pai no coração com a sua lâmina.

Inferno. Ele parou de andar e levou os dedos à bochecha dela, como se quisesse enxugar as lágrimas que imaginava que ela derramou naquele dia terrível.

— Você não me contou por que esta besta matou o seu pai.

Os olhos dela se fecharam por um instante ao seu toque terno.

— Ele acreditava que o meu pai matou o Conde de Argyll durante um ataque.

A mão de Tristan congelou, junto com o seu coração.

— O Conde foi parente deles. — Continuou ela sem piedade. — O cunhado do diabo MacGregor, me disseram. Se ele era parecido com os seus parentes bárbaros, ele merecia a morte.

Não! A mente de Tristan lutou para rejeitar o que estava ouvindo. Essa moça adorável e espirituosa que o fez pensar em coisas que ele se forçou a esquecer não podia ser a filha de Archibald Fergusson! Ela não acabara de lhe dizer que o tio dele merecia a morte! Soltando a mão para o lado, se afastou dela. Ele queria condenar os seus parentes a Hades, mas como poderia, quando a morte de seu tio era culpa dele? Ela estava errada sobre Robert Campbell, mas estava zangado demais com a sua acusação para dizer a ela, atordoado demais para fazer qualquer coisa, exceto encará-la.

— Eu preciso ir.

— O quê? — Ela pareceu surpresa e estendeu a mão para ele. Ele se afastou da mão dela. — Qual é o problema?

Deveria dizer a ela quem ele era, que tudo de terrível em sua vida era culpa dele. Mas não tinha coração nem coragem para fazer isso.

— Acabei de lembrar que prometi a minha irmã que lhe mostraria o teatro do rei. Bom dia para você. — Ele saiu sem mais uma palavra e sem olhar para trás. Ela era uma Fergusson e, para a sua própria segurança, ele esqueceria que já a conhecera.

 

Capítulo três

 

— E um pouco à direita, você verá a Apoteose de Carlos I.

Tristan olhou para o teto pintado no Salão de Banquetes, onde Henry de Vere, filho do Conde de Oxford, indicando para Mairi observar. Tristan sentiu um pouco de pena de sua irmã, forçada pelo arranjo de assentos na mesa e, a prestar atenção e acompanhando ao nobre Inglês em oito pratos distintos. Tristan não se importava nem um pouco com o engrandecimento de reis mortos ou vivos, aliás. Mas ouvir o disparate estúpido do homem distraiu-o da filha de Archie Fergusson.

Ele pretendia tirá-la de sua mente para sempre, mas nas últimas seis horas desde que a deixara, ela permaneceu constantemente presente em seus pensamentos. Por quê? Porque ela? Ele nunca teve nenhum problema no passado para esquecer uma moça no momento em que a deixava. Mesmo aquelas que ele havia se deitado, nunca o atormentava como Senhorita Fergusson. Seu sorriso delicado, os calos nas suas mãos, toda a maldita conversa sobre galanteria e sua difícil vida em casa que o fizeram querer se envolver e resgatá-la de tudo.

Que diabos ele estava pensando?

Ele não era um cavaleiro tirado dos livros que a sua mãe e o seu tio costumavam ler para ele. Ele desistiu de tentar ser um, e mesmo que não tivesse, como poderia salvar Isolda do ódio de seus próprios parentes? Por enquanto, não culpava o seu pai pelo que havia acontecido, assim como resto dos MacGregors.

— E essa é a União da Inglaterra e da Escócia. — Continuou Oxford, apontando para cima e para a esquerda.

Tristan bebeu o vinho e fez sinal para que um servo trouxesse mais. Seria uma longa noite com esse maçante sentado entre ele e sua irmã. Resumidamente, pensou em fugir para a mesa de Lady Eleanor Hartley. Ele podia deliciar-se um pouco com os seus seios adoráveis, mas ela era tão afiada quanto a ponta de uma lâmina. Antes que ele pudesse parar, o seu olhar percorreu o salão lotado, procurando outro rosto. Um sem pintura no rosto e sem malícia.

— Isso é muito interessante, meu Lorde.

Felizmente, a voz de sua irmã afastou os seus pensamentos da pior inimiga de seus parentes.

— Estou impressionado com o seu vasto conhecimento da história de Whitehall. — Ela praticamente cantou. — Eu adoraria ouvir mais.

Tristan olhou em direção ao céu e se mexeu inquieto em seu assento, preparando-se para mais uma hora longo de discurso sobre a história de Whitehall. Justo quando pensou que poderia ter que sair antes de insultar Oxford e todos os outros ingleses presentes, o nobre tedioso se levantou da cadeira.

— E você vai me ouvir mais, querida Lady. — Murmurou Oxford. — Mas, primeiro, devo falar com Lorde Huntington, que eu vejo que acaba de chegar para o jantar.

Ele pediu licença. Tristan mal olhou para cima.

— Diga a verdade, Mairi. — Disse ele, virando-se para a sua irmã. — Você não acha a sua conversa sobre a história deste lugar tão pouco inspiradora como a cicatriz que percorre de seu olho até a sua mandíbula?

— Eu acho a cicatriz dele bastante intrigante. — Mairi curvou a boca em um sorriso indescritível quando levou a taça aos lábios. — E, se tivesse algum juízo nessa sua bonita cabeça, saberia que se pode descobrir muito com um homem com uma língua solta.

— Irmã. — Tristan suspirou, sabendo muito bem o que ela queria dizer. — Você tem sede de sangue por se encontrar com os Covenanters5, e começo a me preocupar. Não, para não mencionar os cabelos grisalhos que você adicionou em nosso pai em relação ao ano passado. Ele ainda não está convencido de que você não tenha nada a ver com a milícia rebelde que matou aqueles quatros conhecido Cameronianos6, além das margens de Skye na primavera passada.

— Você sabe que não posso aceitar traidores na Escócia. — Disse ela tão suavemente quanto um gatinho ronronando. — Mas eu nunca usaria uma espada contra um homem.

Tristan lançou-lhe um olhar tão astuto como o seu, sabendo que em algum lugar escondido dentro das dobras de seu kirtle7 havia pelo menos cinco punhais que ela podia usar quase tão bem quanto a lamina estava em sua boca.

Ele estava prestes a dizer a ela para ser cautelosa em seus esforços para salvar a Escócia de seus inimigos políticos e religiosos quando viu a Senhorita Fergusson em pé na entrada com um homem de cada lado dela, esperando para ser anunciada. Ela parecia nervosa e fora de lugar entre as pomposas Ladies da corte. Inferno, ele era um tolo por não considerá-la tão bonita quanto o resto. Ela estava tão bem quanto qualquer outra. Melhor, na verdade, do que a maioria, com seus longos cachos ruivos caindo sobre os seus ombros, os olhos observando a elegância à sua frente. Ela não usava adornos nos dedos ou no pescoço. Ela não precisava de nada. O impecável branco de sua pele em seu decote acima do seu vestido de cor verde esmeralda atrairia mais olhares do que qualquer bugiganga cara.

— Quem é ela? — Mairi perguntou, seguindo o seu olhar firme.

O rapaz à direita tinha que ser Alex Fergusson. Nos dez anos que se passaram, Tristan não havia esquecido aqueles penetrantes olhos azuis cheios de ameaça.

— Eu não sei quem ela é. Ela não é ninguém. — Ele acrescentou e desviou o olhar da entrada. Eles eram inimigos. Deixe a moça pensar o que ela faria com o seu tio. Ele não pensaria mais nela.

— Ela é adorável. — Comentou Mairi, avaliando-a.

Sim, ela era. Tristan olhou para ela novamente, apenas para encontrá-la olhando diretamente para ele. Ela sorriu para ele quando seu nome foi anunciado. Isobel Fergusson e seus irmãos Alex e Cameron. Isobel. O nome dela era Isobel.

— Fergussons! — O olhar apreciativo de Mairi se transformou em um olhar gelado. — O que diabos eles estão fazendo aqui?

Tristan poderia ter lhe dado uma dúzia de respostas lógicas, mas a Lady Fergusson e seus irmãos estavam se dirigindo para a mesa dele e não conseguia pensar em nada além do por que diabos ele não havia dito a ela quem ele era esta manhã.

— Meus olhos me enganam ou eles realmente estão se aproximando da nossa mesa?

— Mairi. — Tristan finalmente desviou o olhar de Isobel. — Não há o risco de mais derramamento de sangue. Eles já passaram por muito. Não diga nada e deixa-os seguir o seu caminho.

Mairi levantou uma sobrancelha cautelosa para ele

— Você a conhece, Tristan?

— Boa noite, meu Lorde, minha Lady. — Lady Fergusson cumprimentou-os com o respeito devido a uma família nobre. Maldito seja, ele deveria ter dito a ela e a salvado da mortificação que estava por vir. — Espero que me perdoe a intrusão, meu Lorde, mas queria que conhecesse os meus irmãos que falei. — Seu sorriso estava um pouco animado, quando ela fez sinal com os olhos arregalados para o mais velho dos dois homens de pé com ela.

Se ele achasse que nenhum de seus irmãos sacaria uma arma, Tristan teria sorrido para ela com menos do que o sutil apelo por sua apresentação, e então ele a teria concedido. Depois do que seus parentes haviam feito com os dela, ele provavelmente teria concedido qualquer coisa a ela.

Mas, como era, Alex o olhou por baixo das sobrancelhas escuras e pensativas.

— Isobel, você conhece esse bastardo?

— Você falou com ela esta manhã? — Mairi exigiu ao mesmo tempo, depois se virou para Alex. — Observe a quem você chama de bastardo, ou eu irei...

Tristan colocou a mão no braço de Mairi, parando-a antes que ela dissesse algo que todos se arrependeriam.

— Lady Fergusson. — Ele disse suavemente, virando-se para ela. — Porque você não...

— Afaste-se da mesa dos meus parentes. — Mairi terminou por ele, levantando-se.

Tristan levantou-se, mas ela ignorou o aviso em seus olhos para não continuar, quando Lorde Oxford voltou à mesa e estava entre eles.

— Você ouviu a dama. — Oxford disse enquanto o seu olhar altivo se deslizava sobre o plaid surrado de Alex Fergusson com desprezo. — Afaste-se antes que seja removido pela guarda do rei.

Tristan virou-se para encará-lo. Ele não poderia pensar em matar um homem a sangue frio, mas isso não o impediu de querer quebrar todos os dentes do presunçoso Oxford por falar de modo ríspido. Era uma pena que só provasse à Senhorita Fergusson que ele era, de fato, um bárbaro se o fizesse.

— Minhas desculpas por sair apressado. — O Inglês se virou, sentindo os olhos de Tristan nele. — Voltei o mais rápido que pude.

— Que sorte para todos nós. — Um sorriso frio deslizou pelos lábios de Tristan e então se endureceu em algo muito menos amigável. — Por que você não se senta agora.

Oxford piscou para ele, e Tristan esperou pacientemente por qualquer resposta que o homem nobre pudesse juntar em sua cabeça maçante. Quando não chegou, Oxford se inclinou para o seu lugar.

Tristan calculou o tempo perfeitamente. Virando para Isobel, ele passou o pé cautelosamente em torno da perna da cadeira de Oxford e o recuou dois centímetros. Seu sorriso era mais genuíno quando, o seu olhar encontrou o dela e o traseiro imponente de Oxford bateu no chão.

— Irmão, você está louco? — Mairi exigiu enquanto o seu defensor se debatia aos seus pés. — Estes são nossos inimigos!

O rubor suave no nariz empinado de Isobel desapareceu, deixando a sua pele pálida e seus olhos brilhando de alarme quando ela o encarou.

— Você... — Ela suspirou e depois continuou. — O seu nome verdadeiro, por favor, meu Lorde?

Ele sabia por que não havia dito a ela antes. Era a mesma razão que não queria contar a ela agora. Inferno, o seu pai matou o dela, e bem diante dos seus olhos. O que poderia dizer para mudar a sua opinião sobre ele depois disso? E por que maldição se importava com o que ela pensava dele?

— Me perdoe por não me apresentar a você mais cedo. Sou... — Ele fez uma pausa, olhando para a esquerda, olhando para o seu pai, caminhando em direção à mesa deles, com o grande cinto e o plaid pendurado nos ombros tão largos quanto há vinte anos, quando o diabo saiu das brumas para se vingar dos Campbells.... E dez anos depois, dos Fergusson. Maldição, isso simplesmente não poderia ficar pior... — Eu sou Tristan MacGregor.

Ele observou a terrível verdade surgir no rosto de Isobel, quando o seu pai parou atrás da cadeira mais próxima dele e avaliou Alex com um olhar que misturava em seu olhar puro terror e ódio. Ela se moveu, como se por instinto, na frente de seu irmão e, em seguida, lançou o seu desgosto e seu desprezo mais contundente para Tristan.

— Minhas desculpas. — Disse ela, segurando o seu peito com uma mão e empurrando Alex para trás, e fora do alcance das espadas. — Eu estava gravemente enganada.

Inferno.

Tristan a observou ir, puxando as mangas dos ambos irmãos para apressar a partida. Ela nunca falaria com ele agora. Não podia culpá-la por isso, mas o jeito que ela o olhou, como se ele fosse o monte mais vil de sujeira que ela já viu, fez com que quisesse lhe dizer que ela estava errada, assim como ela estava errada sobre seu tio.

— O que os filhos de Archibald Fergusson estavam fazendo em nossa mesa?

— Eles pensaram que ela conhecia Tristan. — Mairi respondeu à pergunta do seu pai.

— Eu a conheci no jardim ontem. — Tristan a corrigindo rigidamente. — Não sabia quem ela era, nem ela me conhecia.

— É por isso que você me fez de bobo por ela?

Callum olhou por cima do ombro de Tristan para o nobre trêmulo ajustando a peruca empoada na cabeça.

— Quem é esse homem? — Ele perguntou, avaliando-o o seu lugar perto de Mairi, e parecendo não muito satisfeito com isso.

— Lorde Oxford, filho do Conde. — Respondeu Tristan suavemente, mal se virando para olhá-lo. — Alguém que não precisa de minha ajuda para ser um tolo.

Seu pai deu a Oxford um olhar que lhe dizia para fechar a boca e sair, enquanto ele ainda era capaz de fazê-lo por conta própria.

— Eu não confio nos ingleses. — Callum disse, observando o nobre se afastar. Ele voltou o seu olhar poderoso para Tristan e franziu a testa, consciente. — Eu gosto menos dos Fergussons. Você sabe quem ela é agora. Aqui há mulheres suficientes para manter o seu interesse, filho. Você não vai falar com ela novamente.

O inferno que ele não faria. Tristan fazia o que queria sem se preocupar com repercussões. Era o que ele tinha ganhado, graças a metade dos pais em Skye, o bem merecido título de o Libertino do Diabo. Ele não se importava com a opinião que deixara em seu rastro. Eles estavam quase todos corretos. Ele era o filho do diabo, afinal... e em uma fortaleza cheia de guerreiros, era mais fácil ser um libertino descuidado do que... Seu olhar se fixou na mesa de Isobel do outro lado da grande sala... um cavaleiro galante. Mas condenação, ele não era bárbaro e pretendia dizer isso a ela.

— Você sabe que discordo das suas formas de pensar? — Ele disse ao seu pai primeiro, e depois para Mairi. — O homem que você quer se vingar com tanta sede de sangue nunca teria tolerado. Robert Campbell não andava se vingando de todos os que o desafiavam.

— Não só foi ele que eu vinguei, Tristan. — Disse o seu pai, colocando os olhos em sua esposa, que havia retornado com ele e tomado o seu assento à sua frente na mesa.

Sim, Tristan sabia o que os Fergusson haviam se vingado de seus parentes. Perder o irmão tinha custado à sua mãe, Kate MacGregor, o seu riso, Tristan temera por muito tempo que nunca mais pudesse ouvi-lo. A esposa do Conde de Argyll, Lady Anne, quase enlouqueceu de tristeza e finalmente encontrou o seu consolo em Deus em um convento na França. Eles não a viam desde então. E ele, o sobrinho que havia perdido muito mais que um tio. Ele havia perdido a sede de ser o que seu professor lhe ensinara a ser, um homem de integridade. Um homem de honra. Pois onde um homem encontra honra na presença daqueles que mais machucou? Ele não podia. Em um momento mudou o seu destino e, em vez de se tornar o que sonhava em ser, Tristan se tornou o que era fácil de ser. Um libertino imprudente e irresponsável.

Sim, ele entendeu a fúria e a dor, mas Archibald Fergusson estava morto. Seus filhos deveriam pagar pelo crime de seu pai?

— Vocês os tornaram órfãos.

Seu pai não olhou para ele quando se sentou.

— Eu não sabia disso na época.

— Teria feito diferença?

— Chega, Tristan! — Sua mãe retrucou. — Entendo à sua maneira de pensar, talvez melhor do que qualquer pessoa nesta mesa. Mas mesmo o seu tio não julgou as decisões de seu pai. Você também não o fará.

— Muito bem. — Tristan disse calmamente enquanto capturava o brilho das madeixas ruivas de Isobel e prendia a sua atenção. — Então nem o meu será julgado.

— O que quer tenha acontecido entre vocês. — Callum disse, seguindo o olhar de seu filho. — Seria prudente para você em se afastar dela.

Sim, seria. Mas Tristan, como qualquer um que o conhecesse concordaria, nunca fazia o que era prudente.

 

Capítulo quatro


Isobel apertou uma colher fina de prata no punho e olhou para o prato. Ela sentiu o seu peito ficar mais apertado, contraindo a respiração até que começou a se sentir tonta. Maldição, ela não teve um desmaio em três anos e não teria um agora! As suas mãos tremiam. Os seus olhos ficaram enevoados com lágrimas de humilhação e raiva que ela absolutamente se recusava a derramar. Ela queria gritar. Ela queria deixar a sua cadeira, voltar para a mesa MacGregor e enfiar a colher nos olhos de Tristan MacGregor. Desejou que ele estivesse morto. Não, desejou que ele estivesse morrendo para que ela pudesse olhar. Meu Deus, ela o chamou de galante! Ela riu com ele, falou de amor com ele! Compartilhou os seus medos sobre Alex. Oh, ele era uma cobra astuta e cruel. Ele provavelmente sabia quem ela era o tempo todo. Ele a fez de boba, deixando-a continuar falando sobre a sua família, a sua vida, o seu pai! Desgraçado! Oh, que risadas ele deve ter dado ao ouvi-la falar do seu pai morto. Quanto tempo mais ele a deixaria divagar? O que mais ele esperava que ela dissesse? O diabo MacGregor suspeitava do que ela e seus irmãos sabiam sobre a morte do Conde?

— Você afirma que eu sou o impensado, Isobel. — Alex inclinou-se para falar baixinho contra o seu ouvido. — Mas foi você quem conviveu com nossos inimigos. O que você disse a ele?

— Nada! — Isobel xingou. Ela tossiu e amaldiçoou seu corpo enquanto respirava fundo. Fechando os olhos, relaxou antes de continuar. — Eu não sabia quem ele era. Eu achava que era um nobre cavalheiro.

— Tristan MacGregor, um cavalheiro? — O seu irmão riu. — Ele está aqui há alguns dias, e já sussurram as suas proezas com as mulheres em todos os corredores. Realmente, irmã, você deve manter os seus ouvidos alertas, se quiser proteger-nos de todo mal.

— Eu poderia usar um pouco de sua ajuda nessa área. — Ela apontou, voltando-se para ele. — Alex, agora, mais do que nunca, devo insistir em deixarmos Whitehall no momento em que James se tornar Rei.

— Você gostaria que recusássemos um convite do Rei?

— Sim! — Ela disse sem pressa. — Você não viu o diabo MacGregor, ou o ódio em seus olhos quando ele olhou para você? Ele ainda acusa você por ter começado a rixa.

Alex encolheu os ombros e levou a colher à boca.

— Não fui eu quem matou o Conde.

Meu Deus, ela ia desmaiar.

— Alex. — O seu sussurro estava cheio de pânico e implorando. — Eu imploro, não fale disso.

— Não podemos fingir que não aconteceu, Bel.

Isobel fechou os olhos ao som da reprovação suave de Cameron. O Querido Cam. Dos seis irmãos dela, ele era o quieto, um fantasma do que era antes, invisível e inaudível. Ele tinha apenas oito verões de idade quando o pai deles foi assassinado, e nunca havia se recuperado completamente da perda.

— Não podemos fingir. — Isobel sorriu, fingindo coragem por causa dele. — Mas podemos tentar esquecer. Precisamos ir para casa, Cameron. Eu só preciso levar vocês para casa em segurança.

Sombras moviam-se por seus belos traços, escondendo seu sombrio olhar verde por trás de mechas de cabelo ruivo profundo. Ele assentiu e não disse mais nada.

Satisfeita por pelo menos um de seus irmãos ter algum senso na sua cabeça, Isobel enfiou a colher na sopa e a levou aos lábios. De alguma forma, iria convencer Alex a voltar para casa com ela, mas iria fazê-lo mais tarde, depois. O seu olhar encontrou Tristan sobre a extensão das mesas separando-os. A luz do fogo brilhava em suas feições, suavizando os ângulos duros de sua mandíbula, definindo a curva naturalmente sensual do lábio superior. Após sua rápida saída esta tarde, esperava encontrá-lo deleitando com a companhia de uma dúzia de mulheres risonhas, todas disputando o seu interesse. O que ela descobriu foi um MacGregor com um temperamento sombrio e um sorriso de feiticeiro, ambos igualmente perigosos. Meu Deus, por um único instante, logo depois que o Inglês havia insultado os seus irmãos, ele caiu de traseiro no chão, ela quase não se importou quem era o seu estranho cavalheiro do jardim. Ela desviou o olhar agora, odiando-o ainda mais do que o resto deles.

Ela não pensaria mais nele. Apreciaria o banquete do Rei e todas as especiarias diferentes que encantavam o seu paladar. Ela tentou nomear cada um deles e lembrar o que acrescentar ao seu jardim, mas não era uma tarefa fácil ignorar um lobo no meio de um rebanho de ovelhas. Ela sabia que ele era desonesto um instante depois que o conheceu. Como poderia ter deixado que seus sorrisos alegres e palavras espirituosas a enganassem? Como poderia tê-lo considerado nobre, atencioso e mais emocionante do que qualquer homem que ela já conhecera?

Mais vezes do que ela poderia detê-los, seus olhos voltaram para a mesa dele. Ela observou, dividida entre incredulidade e nojo, enquanto, durante o jantar, quatro Ladies diferentes encontraram a cadeira vazia entre Tristan e sua irmã e se sentaram nelas para compartilhar uma palavra com ele. Ele lhes falou e deu muito mais que sua atenção total e aquele sorriso rápido como raio, cheio de frivolidade, o que, estranhamente, o tornou ainda mais atraente. Todas as senhoras partiram rindo como servas ansiosas.

Bem, pensou Isobel, cortando o pão, ela não era uma ovelha. Ela sabia exatamente que tipo de homem ele era por trás daqueles sorrisos largos e atraentes. O olhar dela se voltou para o pai de Tristan, sentado à direita. Eles eram MacGregors e eram todos iguais: bastardos repugnantes, impiedosos e assassinos. Ela desejou a todos a mesma morte.

Mais tarde, quando as mesas foram retiradas e os músicos pegaram os seus instrumentos, Isobel estava no outro extremo do Salão de Banquetes, observando os dançarinos ocuparem o salão. Ela não tinha intenção de se juntar aos convidados elegantes do Rei. Ela não sabia dançar, e mesmo que soubesse, preferia ver do que participar. Ela nunca tinha visto vestidos tão magníficos e se perguntou se seria capaz de costurar algo como esses se tivesse o tecido necessário. As cores que rodopiavam contra o enorme fogo da lareira a hipnotizavam, enquanto belas damas teciam fileiras de homens elegantes com música que a fazia esquecer a vida muito diferente que levava.

O seu coração se aqueceu quando Lady FitzSimmons, uma jovem francesa impressionante, corou ou talvez fosse apenas o vermelho pintado contra a sua pele de marfim, com o sorriso ardente de Cameron enquanto passava o braço pelo dela.

Isobel deleitou-se com o prazer de seu irmão, pois ele encontrou tão pouco em casa. Na verdade, ela odiava reduzir o tempo dele aqui. Ela teria até concordado em deixá-lo ficar com Alex se os MacGregors não estivessem presentes. Cameron era o único irmão que não pegava a sua espada simplesmente por causa de um olhar torto. Ainda assim, não confiava em seus inimigos para não matar nenhum de seus irmãos apenas para satisfazer a sua sede de vingança. E se eles descobrissem a verdade... Querido Deus, ela não conseguia pensar nisso. E não faria. Agora não com os sons de alaúde e harpa enchendo o ar.

Ela sorriu para Cameron contornando sua parceira e, depois xingou quando viu Tristan abrindo caminho através da multidão. Sua barriga revirou, quando percebeu que o tolo estava caminhando diretamente em sua direção, sem se importar com o perigo em que ele estava prestes a colocar os dois. Os olhos dela dispararam na direção de Alex, rezando a Deus para que o seu irmão não corresse para o lado dela, sua espada pronta para protegê-la. Aliviada por encontrá-lo envolvido de outra forma com uma das convidadas do rei, ela inclinou seu olhar nervoso de volta para Tristan. Não havia como confundir seu destino. Ele cortou os dançarinos com uma deliberação predatória, ignorando os olhares que vinham das damas por quem passava. Os seus olhos estavam fixos apenas nela, como se ela fosse a única no palácio além dele. Um lobo no meio das ovelhas. O que ele queria dela? Isobel exalou, colocando os dedos no aperto do peito. Apesar de quem ele era, não podia negar a sua beleza masculina ou a maneira delicada com que ele tocou os seus dedos na bochecha dela quando lhe disse que viu o seu pai morrer. Ele parecia tão sinceramente arrependido por ela. Mas tudo era mentira. Ela não seria tão tola de novo.

Quando ele estava prestes a alcançá-la, ela virou as costas.

— Gostaria de conversar com você, Senhorita Fergusson. — Ele sussurrou contra os cabelos dela quando se pôs atrás dela.

Os ombros dela se enrijeceram, junto com a coluna.

— Então você pode me enfeitiçar com palavras bonitas novamente? Eu acho que não!

O som do riso relaxado dele teve um efeito enlouquecedor em seus nervos e ela fechou os olhos, desejando não virar e arrancar os olhos dele.

— Vá direto para o inferno, MacGregor. — Disse ela antes que pudesse se conter. A última coisa que queria fazer era dar a qualquer um dos selvagens uma razão para buscar retaliação, mesmo com um insulto, mas ele merecia por ser tão ousado.

— Venha comigo para o jardim, Isobel.

Ele estava louco, talvez meio idiota? Ou ele tinha outros esquemas mais nefastos em mente?

— Você está determinado a começar mais uma briga?

— Não. — Atrás dela, a respiração caiu suavemente ao ouvido dela, tão quente como a carícia cadenciada de sua voz. — É por isso que eu sugiro que saímos. Se dançarmos aqui, as adagas voarão.

Dança? Isobel fechou os dedos em punhos e olhou para ele por cima do ombro.

— Você realmente acha que eu deixaria alguma parte de você me tocar novamente?

Ela estava tentada a atingi-lo com a palma da mão no seu rosto quando a covinha apareceu, mas pensando em seus irmãos, manteve a calma.

— Garanto-lhe, MacGregor. — Disse ela, suavizando a sua voz e dando a ele um sorriso superficial. — Prefiro ser decapitada no pátio do que dançar com você. Agora, por favor, desapareça da minha vista. — Ela se virou, voltando a sua atenção para os dançarinos.

— Então, me perdoe. — Ele continuou, ignorando o pedido dela. — Eu pensei que você poderia querer me agradecer por falar com meu pai em nome do seu irmão.

Agradecê-lo? Agradecê-lo por contar a seu pai tudo o que ela inocentemente compartilhou com ele sobre Alex? Oh, ela queria matá-lo e para o inferno com as consequências! Ela virou nos seus calcanhares com tanta força que ele fechou a boca e deu um passo para trás.

— Fique longe de meus irmãos, Tristan MacGregor, ou juro que vou arrancar o seu coração e exibi-lo na porta da frente como um aviso para o resto da sua família demoníaca.

A sua relutância em derramar o sangue dele era severamente testada, quando um sorriso mais magnífico e mais vigoroso do que o de antes, curvou os seus lábios.

— Você fala ousadamente para alguém que afirma ter medo da minha família.

— Eu nunca aleguei ter medo. — Ela assegurou, olhando-o diretamente nos olhos para provar o seu ponto de vista. — Eu disse que os odiava.

— Bem, isso é inaceitável para mim. — Ele disse a ela, completamente imperturbável por sua resposta contundente. — Nossas famílias são culpadas do mesmo crime. Desejo...

— Nossos crimes não são iguais! — Ela quase gritou, depois olhou em volta, rezando para que não tivesse atraído todos os olhos do palácio em sua direção. Satisfeita por não ter feito isso, voltou a olhar para o homem que a encarava. — Os seus parentes tiraram nosso pai de nós.

— Eu sei, e o seu pai tirou o meu tio. — Ele respondeu sem pausa. — Mas nenhum de nós ganhará nada por odiar um ao outro.

Maldito seja, pensou Isobel, olhando para os cílios grossos, escuros enfeitando os seus olhos castanhos, quase dourados. Ele era mais bonito do que qualquer lei deveria permitir. Que desperdício em um coração MacGregor tão frio e irreverente.

— Você não deve ter amado muito o seu tio se pode deixar de lado a sua morte com tanta facilidade.

— Eu o amava mais do que alguém jamais saberá, a não ser agora, por você. Ele foi... como um pai para mim.

Isobel piscou para longe de seu olhar firme. O seu tio foi quem contou as suas histórias de cavaleiros. Então, ambos sofreram por causa do orgulho. Não de forma iguais. Isso nunca faria deles nada além de inimigos. Se ele realmente amava o seu tio, ela lamentava que Tristan o tivesse perdido. Mas ele não receberia mais do que isso.

E quanto mais ele queria? Por que ele estava aqui, determinado a falar com alguém que odiava e arriscando outros cinco ou seis anos de ataques, quando poderia estar compartilhando uma noite mais agradável com uma dúzia de mulheres mais bonitas que ela? Qual tinha sido o seu propósito em seduzi-la a gostar dele?

— O que você quer de mim? — Ela perguntou, dando um suspiro profundo e silencioso, com medo de que ele estivesse atrás da verdade que morreria antes de entregar.

— Uma caminhada. — Seus longos cílios percorreram para baixo quando ele se inclinou para ela. — Um sorriso, uma chance de ganhar o seu interesse novamente.

Isobel balançou a cabeça, já se afastando dele.

— Você deve me achar tão louca quanto você então.

— Dê-me, mas um pouquinho do seu tempo e vou dizer o que penso de você.

Ela não deixou a respiração vacilar na profundidade exuberante da sua voz, ou na maneira como o seu olhar a aquecia, deixando-a já sabendo o que ele pensava. Ela admirara a honestidade dele, mas agora duvidava que houvesse verdade nas suas palavras. Ele era inteligente e bem versado na arte da sedução. Mas, sinceramente, ele pensava que ela daria o seu interesse a um MacGregor? Se ele pensasse então era o homem mais arrogante que ela já conhecera. Tornou a satisfação de recusá-lo ainda mais prazerosa.

— Não há nada que você precise me dizer que eu queira ouvir.

Ele parecia querer dizer algo mais, mas então seu sorriso mudou para um mais um cortês e experiente. Oferecendo uma leve reverência, ele disse.

— Muito bem, então, Senhorita Fergusson. Adeus.

Isobel não respondeu, mas o observou sair sozinho do Salão de Banquetes.

— Adeus, Senhor MacGregor, e boa viagem para você. — Quando ela voltou a olhar para Cameron, terminando a sua dança com Lady FitzSimmons, ela se forçou a sorrir. Não se sentia tão infeliz há muito tempo.

 

Capítulo Cinco


— Como você se sente em relação à coroação amanhã? — Lady Margaret Ashley perguntou a Tristan enquanto passeavam pela Galeria de Pedra de Whitehall, com vista para o Tamisa. — Tristan? — Ela puxou a manga dele.

Ele olhou dentro dos olhos azuis dela, embora um pouco sem brilho, e depois para a sua boca.

— Sim?

— A coroação? Amanhã teremos um rei católico.

— Sim, nós teremos.

— E o que você acha disso?

Ele não dava a mínima. A única coisa na mente de Tristan eram os lábios de Lady Ashley. Era difícil o suficiente, sem ela divagar sobre política, manter o foco dele em querer beijá-la e não em outra moça com nariz sardento e língua afiada. Ele sabia na véspera que tentar falar com Isobel seria um desafio. Ela o odiava, e ele não a culpava por isso. Mas encontrar-se ainda tão completamente seduzido por ela era inesperado. Ele nunca teve que tentar ganhar uma moça que o odiava. Inferno, não conhecia qualquer moça que o odiava. Ele se viu ansioso pelo o desafio.

— Você nem está me ouvindo. — Lady Ashley fez beicinho nos seus lábios vermelhos rubi e deu um tapa brincalhão no braço dele.

Como seria o sabor das maldições de Isobel Fergusson contra sua boca?

— Meu pai disse que o que os Highlanders não têm cérebro é são compensados pela crueldade. O que você acha disso?

Tristan levantou a sobrancelha e sorriu para ela. Talvez a disposição desta inglesa possuísse uma faísca, afinal.

— Meu palpite é que isso seria verdade para qualquer homem que não tivesse cérebro. Highlander ou inglês.

— Hmmm. — Ela fez um som doce e sorriu para ele, cedendo antes que eles sequer se envolvessem. — Você é cruel, Tristan?

Implacável o suficiente para mandá-la de volta para o seu pai, incapaz de andar... ou sentar-se adequadamente por pelo menos um dia. Ele se perguntou o que ela pensaria disso? Ela provavelmente cairia nos seus braços, uma acompanhante disposta em seu legado infame. Ele estava na Inglaterra há apenas alguns dias, mas já sabia o quão pouco que precisava para ter essas Ladies finas e magras com os seus rostos pintados em sua cama, com tão pouco empenho que o fazia sentir-se mais vazio do que todas as cabeças de Whitehall juntas. Ele poderia tomar Lady Ashley bem aqui, contra a enorme pintura de Oliver Cromwell liderando o seu novo exército para a Escócia. Um mês atrás, ele poderia até ter lançado um sorriso zombador para Cromwell enquanto o seu corpo entrava no antigo ritmo com uma das filhas da Inglaterra, mas desde a rejeição ardente de Isobel, ele se sentia um leão como se as gazelas começassem a cair à sua frente em vez de persegui-las...

— Tristan. — Lady Ashley parou os seus passos e inclinou a boca para a dele. — Você pode me beijar agora, se quiser.

Ele preferia que não. Mas como dizer isso sem insultar?

— Eu sei que devo exercer mais prudência. — Ela murmurou, passando os braços em volta do pescoço dele. — Mas os rumores de suas proezas no quarto de dormir me intrigam.

Tristan libertou o pescoço dos braços que o prendiam.

— Infelizmente, bela Margaret. — Ele colocou as mãos dela nos lábios e beijou cada uma para suavizar a sua rejeição. — Mas temo que minha reputação por ser um libertino implacável iria murchar na ponta dos teus dedos sedosos. — Quando ela corou e sorriu para ele sob seus cílios dourado claro, suspirou interiormente, não com alívio, pois ela não tinha a mente para considerar qualquer significado mais profundo para as suas palavras, mas com pesar pela mesma razão.

Soltando as mãos dela, ele pegou um lampejo de fogo pelo canto do olho. Instintivamente, se virou para deixar o seu olhar perseguir a bela Senhorita Fergusson, enquanto ela passou por ele a caminho da Galeria Shield.

— Perdoe-me. — Ele se afastou de Lady Ashley, com os olhos concentrados na sua presa. — Há uma questão que eu devo cuidar.

Mas mesmo enquanto ele mantinha o ritmo para manter uma curta distância atrás dela, Tristan sabia que o seu desejo de falar com Isobel novamente tinha menos a ver com se defender ou com seus parentes do que era sensato admitir em voz alta. Ele já sentia falta da facilidade com que conversavam, da centelha de inteligência em seus olhos azuis com pontos verdes esmeralda, da capacidade de ver o melhor nele quando ninguém mais se incomodou em ver.

Silenciosamente, ele a observou seguir pelo longo corredor, passando pela galeria sem parar. Ele examinou a sua forma e inclinou a cabeça um pouco com o balanço suave de seus quadris. A bainha de seu kirtle estava um pouco esfarrapado, mas ela passou por meia dúzia de Ladies vestidas majestosamente elegantes, com o queixo erguido. O orgulho que ela possuía o deixava sem fôlego.

Ele estava decidindo a melhor forma de abordá-la quando ela se virou de repente, silenciando-o com um olhar ardente.

— Você pretende me seguir durante toda a minha estadia, MacGregor?

Levantando o olhar do seu traseiro arredondado, ele não pôde deixar de sorrir ao seu tom cáustico e aos grandes olhos mordaz. Ela era como uma corrida desenfreada de ar fresco para os seus pulmões, e ele queria mais.

— Agora que apreciei a vista de um ponto privilegiado, Senhorita Fergusson. — Ele se aproximou calmamente em direção dela. — Confesso que a probabilidade é bastante alta.

Ele não deixou de perceber o grande rubor que se espalhava por suas bochechas, ou do jeito que ela praticamente tremia com o esforço necessário para não arrancar uma das espadas antigas da parede e acertá-lo com ela.

— É aqui que eu devo desmaiar como todas as suas ovelhinhas? — Perguntou ela, confiando em sua língua afiada desta vez. Ela empunhava com entusiasmo. — Elas podem pensar que você é um carneiro, mas agora eu sei o que você realmente é.

Ninguém sabia disso, nem mesmo ele, pensou Tristan, quando o seu pequeno jogo de tentar desfrutar de seu temperamento, chegou a um fim abrupto. Externamente, ele poderia ser muitas coisas, mudar com o ambiente como um camaleão. Mas em nenhum lugar nele havia um assassino de sangue frio.

— Tristan?

Alguém chamou do corredor. Era a voz de Mairi. Inferno. O resto de seus parentes poderia desconsiderar o seu interesse por Isobel, confiando que não duraria muito e sabendo que não havia nada que eles pudessem fazer a respeito de trancá-lo em algum lugar, mas Mairi tinha uma tendência à violência.

— Encontre-me no Jardim Privado à meia-noite. — Ele disse rapidamente, contando os instantes até que a sua irmã os viu juntos. — E deixe-me provar que você está errada.

Isobel parecia prestes a rir, e por um instante Tristan pensou em desistir de tudo para vê-la fazer isso.

— Minha resposta, — Ela disse a ele firmemente — é a mesma que da última vez quando você me convidou para uma caminhada. Você está louco se acha que vou concordar com um encontro clandestino com o meu pior inimigo, Senhor MacGregor. Totalmente e completamente enlouquecido.

Ele teve que concordar com ela. Um interesse casual era uma coisa. Tentando ganhar o interesse da filha de Archibald Fergusson era outra. Ele provavelmente poderia ser expulso de Camlochlin por tal traição. Ele não sabia por que o seu pai ainda não tinha feito isso com todos os problemas que causou a seus parentes ao longo dos anos.

— Por favor, por amor a seus irmãos, então. — Ele acrescentou um sorriso a seu pedido louco e a deixou olhando para ele.

Quatro horas depois, Isobel colocou a capa em seus ombros e xingou baixinho enquanto entrava no Jardim Privado. O que ela estava fazendo encontrando Tristan sozinha na escuridão? Ela tinha que ser tão perturbada quanto ele, mas pelo bem de seus irmãos, faria qualquer coisa. Oh, canalha! Suas palavras foram uma ameaça de perigo ou uma promessa de proteção? Não, não proteção. Ele não era o homem que acreditava que ele fosse. Por que qualquer MacGregor prometeria uma segurança para um Fergusson? Nenhum dos parentes de Tristan se importavam com o que havia acontecido com ela e seus irmãos depois que mataram o seu pai. E por que deveriam? Os MacGregors não entendiam o que realmente haviam tirado das crianças de Archibald Fergusson. Eles acreditavam que tinham sido misericordiosos em deixar as crianças vivas, uma crença de que por muitos anos Isobel duvidava que estivesse correta.

Uma brisa mais forte soprou os seus cabelos sobre a ponta do nariz. Ela retirou as mechas com os dedos e olhou em volta. Sob o brilho turvo da lua baixa, as estátuas pareciam sentinelas fantasmagóricas, enviadas para vigiar o Éden particular de Whitehall. Enquanto a sua visão se ajustava à penumbra, ela observou cada escultura, esperando Tristan sair de trás de uma delas.

Ela não deveria ter vindo. Tristan MacGregor era muito perigoso, não apenas para seus irmãos, mas para ela. Não podia negar o apelo perigosamente carismático que atraía as mulheres para ele como insetos para uma chama que a incluía, antes que ela conhecesse a sua verdadeira identidade.

Ela quase deu um suspiro de alívio quando percebeu que ele não estava lá. Parecia que ele tinha mais senso do que ela. Ela voltaria para o palácio, voltaria para casa dos seus parentes e deixaria Tristan MacGregor fora de sua mente para sempre.

— Isobel.

Sua voz profunda atrás dela mexia com as suas terminações nervosas como se fosse o tamborilar de um tambor. Ou talvez fosse o coração que ela ouvia bater furiosamente em seus ouvidos. Ela o odiava por dizer o seu nome com tanta ternura, tanta intimidade que parecia que ele a estava tocando, mesmo quando não estava. Lembrou-se de como a facilidade que sentia com ele no dia em que o conheceu. Do jeito que o olhar dele se demorava nas feições dela, como se o seu simples rosto o encantasse. Ela foi para a cama naquela noite querendo conhecê-lo melhor, querendo se perder para sempre no som de sua risada.

— Você é ainda mais bonita ao luar.

Sim, era o batimento cardíaco dela. As palmas das suas mãos estavam úmidas e a respiração ofegava. As lembranças proibidas dos sorrisos carinhosos que haviam compartilhado, a doce melodia, musical de sua voz quando ele contou a história de Arthur e seus bravos cavaleiros, as lembranças voltaram, amolecendo as suas pernas, derretendo os ossos e o seu coração. Bastardo, canalha. Ele praticava o charme e os maneirismos do nobre mais eloquente, mas seus sorrisos corteses pretendiam inflamar respostas apaixonadas, como um gato brincando com a sua presa. O mistério era por que ele escolheu brincar justo com ela.

— Por que você está desperdiçando palavras floridas comigo, quando há pelo menos uma centena de Ladies no palácio. — Finalmente, ela se virou para ele totalmente. — E possivelmente alguns homens, que iria apreciar em ouvir?

Humor genuíno curvou a sua boca quando seus olhos a inundaram como um nascer do sol, aquecendo em todos os lugares onde se estabeleceram.

— Porque não é o prazer delas que me preocupa, mas o meu. É por isso que prefiro estar aqui com você do que com qualquer outra pessoa.

Ela lançou-lhe um olhar duvidoso. Ele era eloquente, tudo bem, as suas palavras mescladas com um forte sotaque das Highlands para torná-lo ainda mais peculiar. A família dela era responsável pela morte de seu tio. Ele tinha que odiá-la. Ele estava atrás de alguma coisa. Agora ela tinha certeza disso e quase certeza do que era. E se a vingança que seus parentes tiveram contra o seu pai não fosse suficiente? E se, depois de dez anos, a demanda por justiça tivesse retornado e eles quisessem provar se a flecha letal realmente veio da aljava de seu pai? Ela estava lá quando o Laird MacGregor matou o seu pai. Ela ouvira o que o amigo mais próximo de seu pai, Kevin Kennedy, havia gritado, momentos antes de seu pai ser assassinado. Ela tinha certeza de que o diabo MacGregor também ouvira. Ele enviou o seu filho para descobrir a verdade? Por que mais Tristan MacGregor a perseguiria por todo o palácio? Ela não deveria ter vindo. Meu Deus, ele poderia desviar qualquer mulher de suas convicções mais obstinadas. E ela teve que se segurar firme.

Endireitando os ombros, Isobel convocou a sua força de vontade. As tentativas de MacGregor de encontrar a verdade, por mais determinadas que fossem, fracassariam.

— Ande comigo. — Ele se aproximou dela. Tão perto, de fato, que seus seios roçaram o seu peito. Ela se afastou, fazendo o possível para ignorar o aroma limpo de urze que se agarrava a ele.

— Não, devo retornar aos meus irmãos.

— Então eu vou levá-la de volta para eles. — Ele ofereceu o braço e esperou que ela aceitasse.

Ela olhou para ele com uma raiva contagiante, colorindo as suas bochechas.

— É isso que você quer, não é? — A sua respiração quase parou quando os olhos dele baixaram na pesada elevação e descida de seus seios. — Você quer dar a um dos meus irmãos uma razão para lutar com você.

Lançando um olhar afiado de volta para o dela, ele disse.

— Por sua própria admissão, Alex é tolo o suficiente para tentar abrir velhas feridas. Eu simplesmente quero caminhar com você, e se tiver que escoltá-la de volta para dentro para fazer isso, eu irei.

— Então, o que você está dizendo, — Ela acusou, cruzando os braços sobre o peito — é que eu não tenho escolha.

— Sim, você tem duas escolhas, — Ele corrigiu. Estranhamente, não havia traços de vitória em seu tom. — Você pode escolher ficar comigo sozinha ou à vista de muitos. Quanto a mim, eu prefiro a primeira opção. Me arrisco tanto quanto você, se algum de meus parentes nos ver juntos.

— Eu duvido disso. — Isobel olhou em direção ao palácio e depois de volta para ele, tentando decidir o que fazer. Ele realmente a seguiria de volta ao seu quarto? Ela não teve que refletir um instante mais. Claro que ele faria. Este era o homem que havia chutado a cadeira de um nobre Inglês e que caiu de traseiro no chão na presença de todos. — Eu acho que seu pai está bem ciente das suas loucuras agora para esperar o pior de você.

A mudança na expressão dele era tão rápida e tão plena que Isobel repassou as suas palavras três vezes depois de tê-las falado, tentando descobrir o que era que o fez ficar frio.

— Você provavelmente está correta, — Ele admitiu depois de um momento que parecia como se estivesse cansado por querer caminhar com ela. Seu sorriso retornou, ardiloso e insincero. — Mas hoje à noite gostaria de ser imprevisível.

Ele se afastou do palácio e ofereceu-lhe o braço pela segunda vez. Isobel não o aceitou, mas ela o seguiu quando ele começou a caminhar para a estrada de pedra do jardim. Que escolha ela tinha?

— Será pior se formos descobertos aqui sozinhos. — Ela apontou, prosseguindo o ritmo para combinar com seu andar vagaroso.

— Sim, mas a pequena sugestão de perigo faz o seu sangue correr mais rápido, não é? — Ele inclinou o rosto apenas o suficiente para que ela visse o brilho de sua covinha brincalhona.

— É isso que você quer então? — Ela balançou o seu dedo para frente e para trás entre eles. — Perigo?

Virando-se para ela completamente, o seu sorriso se alargou, junto com os olhos, em pura diversão.

— Por que você insiste em acreditar que é alguma razão sem sentido, como vingança ou perigo, que me obriga a querer estar com você?

— Porque a maioria dos MacGregors não acha que vingança não faz sentido.

— Não sou como a maioria dos MacGregors.

Ela duvidava disso também.

— Então por quê? — Ela tinha que saber por que um homem que teve a escolha de qualquer uma das mulheres bonitas do palácio para escolher. — O que obriga você a ter interesse em mim, Tristan MacGregor? Você afirmou ser honesto, então me diga a verdade.

— Na verdade, foi você que apontou a minha honestidade.

— Entendo. — Ela se irritou, mas se recusava a ser pega em sua armadilha articulada. — Por que você mencionou o amor de meus irmãos quando me pediu para encontrá-lo? Nossos clãs são inimigos jurados. Meu nome é cuspido com desprezo pelos lábios de seus parentes, assim como os seus são pelos meus. Meu pai é o homem que matou o seu tio, e o seu clã se vingou. Não há mais nada. Então, me diga por quê?

A julgar pela maneira como ele a encarava, como se finalmente estivesse sem palavras, Isobel adivinhou que nenhuma mulher jamais havia questionado os seus motivos antes. Mas então o olhar dele deslizou sobre os cabelos dela, sobre a ponta do seu nariz, suavizando em seus lábios.

— Você é uma chama, Isobel. — Disse ele, erguendo os olhos para encontrar os dela. — E uma chama muito mais atraente do que uma pilha de brasas.

Ah, ele não precisava procurar perigo, Isobel disse a si mesma, desejando que a respiração diminuísse. Ele era o epítome disso. Querido Pai Todo Poderoso, evite que ela suspire como uma tola apaixonada. Pobre, pobre Lady Ashley, e todas as outras mulheres que este homem voltasse a sua atenção. Suas palavras eram tão encantadoras quanto a sugestão de vulnerabilidade sob o seu sorriso largo de libertino. Se ele não fosse um MacGregor, ela poderia ser tentada a ceder à sua inteligente sedução novamente. Era tão poderoso. Mas ele era um MacGregor, e ela não era uma tola apaixonada, então, em vez disso, apoiou a mão no quadril e lançou-lhe um olhar aguçado.

— Você é bem hábil nisso.

Seu sorriso se alargou com algo semelhante ao espanto, provavelmente pelo fato de ela não estar desmaiando.

— Na verdade, eu sou. — Ele admitiu, em seguida, estendeu a mão para detê-la quando ela se virou para ir embora. — Mas normalmente não me importo se alguém acredita nas coisas que digo.

Por que ele se importava se ela acreditasse nele? E por que ela ainda achava a sinceridade dele tão desarmante... tão agradável? Deus a ajude. Ela precisava apressar a caminhada para poder voltar para o seu quarto e se afastar dele.

— E meus irmãos? Por que você pediu para falar com comigo por causa deles?

— Eu queria dar a você a minha palavra que não traí a sua confiança como disse a Alex. Quando expliquei a meu pai que seu irmão tinha ficado bobo depois de cair de seu cavalo há alguns anos atrás, ele concordou em não aceitar como certo nada que Alex disser, enquanto ele estiver aqui. Assim, você não tem mais o que se preocupar sobre Alex ficar aqui.

Isobel fazia o possível para reprimir o sorriso que obviamente ele procurava. Chamar Alex de bobo era realmente grosseiro, mas se isso mantivesse o seu irmão seguro, deixaria os MacGregors pensarem o que quisessem.

— Tem a minha gratidão por isso.

O sorriso dele suavizou-a.

— Vocês são muito bem-vindos.

Dominando o controle sobre a sua respiração, ela se livrou de seu aperto. Qual parte dele era mais perigoso? O seu magnetismo inato, a sua sinceridade aparentemente genuína ou a leveza com que ele tratava quase tudo? Ela não queria descobrir.

— Bem. — Ela fez um gesto ao longo do caminho. — Você pediu uma caminhada. Vamos acabar logo com isso.

— Se você se lembrar. — Respondeu ele, sem se importar com a óbvia rejeição dela. — Pedi um sorriso também.

Isobel teria rido na cara dele se ela confiasse em olhar para ele e não ceder a um de seus pedidos.

— Você não vai conseguir nenhum.

Ele deu de ombros, não convencido enquanto caminhavam.

— É um grande jardim.

Ela sabia que deveria sair agora, quando sentiu o sorriso lento se curvar em sua boca. Ela deveria correr de volta para os seus irmãos, mas não conseguia mexer os pés. Em algum lugar profundo dentro dela, não tinha certeza de que queria.

— Agora você tem a minha gratidão.

— Pelo o quê? — Isobel concedeu-lhe apenas metade da sua atenção e o resto para as tochas que iluminavam o caminho. — Era simplesmente exasperação que você viu no meu rosto. A maneira como alguém pode fazer uma careta enquanto implora a Deus que conceda uma paciência. Receio que você confundiu o que viu por algo que não era.

Ela podia sentir os seus olhos nela como fogo, desejando que ela olhasse para ele.

— Você é tão revigorante para mim, Isobel. Nunca conheci ninguém como você antes.

Ela ouviu passos à sua esquerda, mas mal teve tempo de lembrar que não estavam mais sozinhos. Ela deveria ter fugido. Um momento, ele estava falando com ela tão suavemente quanto a serpente falou com Eva, e no outro, ela estava em seus braços, ligeiramente inclinada para trás sobre a dobra do seu cotovelo e olhando para o seu rosto, o seu rosto extremamente próximo. Ela se afastou e abriu a boca para exigir que ele a soltasse, mas suas palavras foram engolidas pelos lábios dele cobrindo os dela. Horrorizada a princípio, Isobel tentou esmurrar o seu peito com os punhos, mas suas tentativas de se libertar dele pareciam apenas acender o seu ardor. Puxando-a para mais perto, ele a esmagou contra ele, devorando-a com um beijo que tirou a respiração de seu corpo trêmulo. Os seus lábios se moldaram e provocaram. A língua dele acariciou e provou cada centímetro dela até que sentiu vontade de resistir a ele e se abandonar. Quando ele finalmente se afastou, a respiração de Isobel estava forte e pesada. Ele sorriu, parecendo bastante satisfeito consigo mesmo, apesar da respiração ofegante e os vestígios do desejo ardendo em seus olhos.

— Isso foi mara...

O restante de suas palavras foram cortadas pelo rápido tapa em seu rosto. Mas Isobel não estava satisfeita e deu outro tapa nele pela segunda vez. Ela o olhou, enquanto ele levantava os dedos para a dor de sua bochecha. Ela não confiava em si mesma para falar. Nem tinha certeza se seus lábios formigantes poderiam formar as maldições que ele merecia ouvir.

Ela finalmente correu, e não parou até chegar ao seu quarto e trancar a porta atrás de si.

Oh, meu Deus, ele a beijou. Tristan MacGregor a beijou, e foi maravilhoso.

 

Capítulo Seis


Tristan deixou Lady Elizabeth Sutherland com uma maldição nos lábios e se dirigiu através da corte para os gramados. Ele estava com raiva de si mesmo, mas tinha culpado Isobel por sua repentina e um pouco assustadora falta de interesse no sexo feminino. Ele não se importava que ela o tinha evitado como uma praga desde o beijo no jardim, ignorando-o completamente na coroação ontem. Ela assombrava todos os seus momentos acordado e nos seus sonhos também. Por quê? Era a refrescante resistência que ela oferecia aos seus avanços mais experientes, que despertou o seu interesse? Ou a paixão suculenta de sua língua que o deixou doendo por mais?

Quando ouviu os passos no jardim naquela noite e viu quem era, ele a puxou em seus braços e a beijou para mantê-la escondida dos olhos de seu irmão. Ele teria dito a ela se não tivesse lhe dado um tapa. O seu rosto doeu por dois dias, mas prová-la valeu a pena.

Talvez fosse a recordação de uma trajetória esquecida há muito tempo que via através dos olhos dela, chamando-o em direção a ela mais uma vez. Ela havia apontado as virtudes que ele não havia percebido que possuía até agora, os poucos vestígios de um destino tão enraizado nele, que eram como sua segunda natureza. Era por isso que não pegava a sua lâmina a menos que fosse forçado, por que ele sempre falava a verdade, a menos que fosse cruel fazê-lo, e por que sempre se via oferecendo a sua ajuda a uma moça, em qualquer capacidade que ela exigisse.

A sua bela Isolda lhe mostrara um caminho que levava à honra. Mas ele ainda queria isso? Ele ainda poderia alcançá-lo? Ele tentou não pensar muito nisso.

Em vez disso, viu-se sorrindo muitas vezes durante o dia, lembrando-se o problema que Isobel teve que compreender por que a procurava acima de todas as moças presentes para um passeio no jardim. Inferno, ela o acusou de qualquer motivo, exceto o correto. Era como se ela não estivesse ciente de como era encantadora, o que só o fazia querer lhe contar, mostrar a ela ainda mais.

— Tristan!

Os seus pensamentos em Isobel quebraram com a voz estridente correndo em seu caminho.

— Lady FitzSimmons. — Tristan sorriu, suas botas passando por ela enquanto se apressava adiante.

— Para onde você está indo? — Ela murmurou, capturando-o pelo braço, seus cílios pretos batendo oferecendo mais do que apenas a sua companhia.

— Para o pátio. — Disse ele, tentando se soltar dela e se perguntando o que diabos havia de errado com ele. — Meus parentes me esperam lá.

— Oh? — Ela olhou para ele com interesse renovado. — Você está competindo, então? Eu nunca vi uma luta Highlander antes.

— Não, apenas observo.

— Estou indo nessa direção. Você pode me escoltar, se desejar.

— Claro. — Ele ofereceu um sorriso sem graça, desejando se livrar dela mais cedo ou mais tarde.

A caminhada pelos vastos terrenos de Whitehall provou ser tão tediosa na companhia de Lady FitzSimmons quanto Tristan temia. Ela conhecia a maioria das pessoas que passeavam e compartilhava com ele seus nomes e todas as fofocas que ouvira falar deles. O que, perturbadoramente, era muito. Ficou feliz quando finalmente encontrou os seus parentes assistindo à competição logo depois da cerca curta. Ele se separou das garras de sua admiradora com um adeus apressado.

— Lady Hollingsworth estava a sua procura. — Mairi disse, abrindo espaço para ele, entre ela e seu pai. — Esse é o marido dela no campo. — Ela apontou por cima da cerca para o homem que Tristan já conhecia, encostado a um poste e afiando a lâmina.

Tristan lançou uma carranca dura para a sua irmã.

— A sua preocupação me toca, Mairi. Mas não tenho interesse em Lady Hollingsworth ou em quem é o seu marido.

— Tristan, por que você não compete? — Sua mãe sorriu sobre a extensão do peito do seu marido. — Graham já deixou a sua marca.

— E você, pai? — Tristan perguntou, olhando para ele. — Você não vai aproveitar esta oportunidade para esmagar alguns crânios ingleses?

— Se a cabeça certa se apresentar, eu posso.

— Você absolutamente não vai lutar! — Kate MacGregor beliscou o braço do seu marido. — Esta é uma competição amigável e você, meu querido amor, não sabe lutar cordialmente.

Tristan virou para o campo e os dois desafiantes se preparando para lutar. Sem a raiva de encontrar a sua esposa nos braços de outro homem, Lorde Hollingsworth estava um pouco desajeitado com sua espada. Eventualmente, porém, a força por trás de seus golpes acabou com seu oponente.

Maçante.

Os olhos de Tristan examinaram os muitos rostos que circundavam o campo, mais da metade deles sorriu de volta. Ele poderia ter quase qualquer mulher presente com a quantidade certa de charme, as palavras cuidadosamente escolhidas que lhe chegavam apenas por puro instinto. Mas desde que conheceu Isobel, todos os sorrisos tímidos lançados em seu caminho pelas damas que ele havia achado tão atraentes se misturavam ao mesmo rosto pálido e sem vida. Os Santos o ajudem, mas como ele poderia encontrar prazer no dócil quando ele tinha uma amostra de um tempero tão sedutor? Pior, como querer uma moça o impedia de querer outras?

Os próximos competidores eram anunciados e, quando ouviu sua irmã murmurar um juramento, voltou a sua atenção para o campo.

Alex Fergusson olhou para ele do grande recinto, as mangas arregaçadas até os cotovelos e o olhar assassino nos seus olhos.

— Eu tenho um pedido! — Ele gritou, levantando as mãos para silenciar a multidão. — Desejo chamar para o campo alguém que não seja o meu oponente de agora.

Imediatamente, Tristan fechou os olhos, sabendo o que estava por vir.

— Tristan MacGregor! Vamos terminar aqui, em um lugar justo, o que você começou uma vez.

Ele estava bêbado? Tristan sorriu friamente e negando com a cabeça.

— Nós já terminamos, Alex. Você venceu. Você quebrou o meu nariz. — Pelo canto do olho, ele viu Isobel abrindo caminho até o perímetro da cerca. Inferno.

— E eu vou quebrar novamente se você tiver a coragem de entrar.

— Alex! — Ela gritou para ele. A sua única advertência, era um aviso rápido e sombrio para permanecer em silêncio.

— Vamos, covarde. Ou devo chamar o assassino de seu pai para lutar comigo? Vamos ver o quão habilidoso ele é sem a sua claymore8.

Tristan se adiantou antes de seu pai.

— Eu vou. — Disse ele, virando-se para ele e pensando com que rapidez, Alex se encontraria abatido e possivelmente morto se Tristan os deixasse lutar.

Ele entrou no recinto e encontrou o olhar aterrorizado de Isobel. Maldito Alex por colocá-la nisso.

— Sem espadas. — Ele gritou com autoridade, depois olhou através do campo para o seu oponente. — Vamos terminar da mesma maneira que começamos.

Alex assentiu e veio até ele, os punhos voando. Tristan bloqueou três socos com relativa facilidade e se abaixou para evitar um quarto. Eles se separaram por um momento e então Alex correu para frente novamente. Tristan podia lutar com qualquer arma, graças ao treinamento cuidadoso de seu pai, mas fora o seu tio quem o ensinou a lutar com as mãos e os cotovelos. Ele bateu no nariz de Alex agora com força quebrando-o e observou, levemente satisfeito, o sangue disparar em todas as direções.

O pai dele aplaudiu. Isobel cobriu o rosto com as suas mãos. Tinha acabado.

— Você tem meus agradecimentos por me deixar acertar as contas, Alex. — Tristan disse a ele e começou a se virar.

— Ainda não. — Alex gritou, pegando uma espada de um espectador das Terras Baixas.

— Não seja bobo. — Advertiu Tristan. — Escolha desistir enquanto você ainda pode manter a sua cabeça.

Alex girou a lâmina na frente dele, parecendo bastante estranho e fora de prática. Tristan olhou para o céu e balançou a cabeça.

O irmão de Isobel não o atacou com fúria como Lorde Hollingsworth. Os seus movimentos eram mais lentos, mas a arma lhe deu a ousadia de avançar. Callum jogou a espada para ele e, quando Tristan a pegou do chão, ouviu Isobel gritar o seu nome. Ele não tinha intenção de matar o tolo. Ela nunca o perdoaria por isso. Ele só queria parar Alex antes de se machucar.

Ao contrário do seu concorrente, a lâmina de Tristan dançava em suas mãos e brilhava sob o sol. Os dois se movimentava ao mesmo tempo, e Alex perdeu o equilíbrio com a força do ataque de Tristan. Pacientemente, Tristan esperou que ele se endireitasse e se preparasse novamente. No momento em que ele fez, Tristan derrubou a sua espada em um golpe cortante e estrondoso que enviou faíscas pelo ar. Repetidas vezes, Alex não encontrou defesa contra ele. Uma dúzia de vezes, Tristan poderia facilmente cortá-lo, mas nenhuma vez ele fez isso. Em vez disso, colocou Alex de joelhos diante dele, metal emaranhado em metal, até que com um rápido toque no seu pulso, Tristan tirou o punho da espada dos dedos de Alex que caiu inofensivamente na grama.

A multidão aplaudiu, enquanto alguns gritavam para terminar a ação com sangue. Tristan encontrou o olhar de Isobel e curvou-se um pouco, deixando-a saber que sua misericórdia era por ela.

Ele deixou o recinto e devolveu a espada ao seu pai.

— Muito bem. — Disse o Laird do clã, batendo nas costas dele. Tristan estava satisfeito e um pouco surpreso por seu pai não estar entre os que pediam sangue.

Seus olhos encontraram Isobel do outro lado do perímetro, em pé com o seu irmão ensanguentado. Ele não conseguia ouvir o que ela estava dizendo, mas parecia brava o suficiente para ajeitar o nariz dele e depois quebrá-lo novamente. Ela o mandou embora com seu irmão Cameron e depois se virou para encontrar o olhar de Tristan. Ela inclinou a cabeça para ele, como se lhe oferecesse agradecimentos por não machucar Alex, depois deixou a cerca.

— É a Lady Hartley. — Tristan disse a seus parentes e saiu apressado antes que alguém tivesse a chance de seguir o seu olhar.

Manteve o passo firme até Isobel alcançar a fileira das árvores no jardim. Ele a alcançou rapidamente, uma vez que eles estavam fora de vista de qualquer uma de suas famílias.

Seus passos eram rápidos e leves, o seu olhar frio e verde fixo à frente, sem nenhuma intenção de lhe dá um simples e breve olhar.

Ele não estava disposto a ter isso.

— Saudações, senhorita Fergusson. — Ele entrou no caminho dela, impedindo-a de seguir em frente. — Eu estava com medo que você tivesse partido esta manhã sem se despedir.

Quando ela olhou de volta para ele, o olhar dele baixou na pesada elevação e descida de seu seio debaixo do seu kirtle, sua pele cremosa pulsando com o ritmo de sua respiração controlada. Ele queria prová-la justo ali.

— Meus irmãos estão me esperando. Deixe-me passar, por favor.

Ele olhou para cima e se afastou.

— Você ainda está com raiva de mim por beijá-la, então? — Perguntou ele, apressando o passo ao lado dela. — Eu só fiz isso.

— Você tem a minha gratidão por não matar o meu irmão tolo, mas nunca fale de me beijar novamente ou será meu punho na sua face que receberá.

— Inferno, eu não tinha intenção de ser tão vil. — Ele segurou o sorriso tentando forçar os seus lábios, quando ela parou e se virou para ele, os seus olhos azuis esverdeados brilhando.

— Exatamente quão vil você pensou que foi?

Ah, havia o fogo que ele estava procurando. Um homem menor e mais covarde teria se retirado educadamente da batalha em que ele havia entrado tolamente. Mas Tristan seguiu em frente, motivado em sua direção como um viajante com sede que descobrira um jardim nas dunas áridas.

— Estou pensando que foi a sua primeira vez, então é compreensível que possa faltar um pouco de experiência.

Ela inclinou o queixo para ele, os lábios carnudos e bem torneados, respirando fundo, que alargaram as suas narinas e enrijeceram os seus ombros. Ela lembrou a Tristan de uma égua indomável que nunca se cansaria, e ele encheu a sua visão da imagem gloriosa dela.

— Seria um prazer, possivelmente além do que eu poderia suportar, ajudá-la a se tornar melhor nisso.

Ela estava prestes a dar um tapa no rosto dele, talvez manter a sua palavra e socá-lo se o vermelho de suas bochechas fosse alguma indicação.

— Prefiro ser arremessada em um barril de alcatrão9 quente do que ter a sua boca na minha novamente. Odiei isso, assim como eu odeio você, MacGregor.

— Meu nome é Tristan. — Disse ele, querendo que ela visse o homem que tinha visto no jardim quando se conheceram. — E se não tivéssemos sido interrompidos na outra noite, teria dito que não aprovo o que nossos parentes fizeram.

Ela riu, mas o som deixou apenas raiva flutuando pelo jardim úmido.

— Você é o filho do diabo.

— Mas fui criado por outro homem.

Ela não o ouviu, ou talvez tenha ouvido e não se importou. Seus lábios se curvaram em um sorriso de escárnio.

— Qualquer que seja o propósito sombrio que você tem ao tentar ganhar o meu favor, sejamos claros aqui e agora, você nunca terá sucesso.

Tristan adivinhou que ela estava certa. Levaria mais tempo do que eles tinham em Whitehall para cortejá-la para sua cama. Ele agora entendia por que a queria tanto lá. Queria sentir a paixão dela debaixo dele, hostil e quente em cima dele, ronronando de prazer enquanto ela o montava. O seu propósito sombrio? Na verdade, sempre era o seu objetivo final quando via uma moça desejável. Isobel não era diferente.

Mas ela era. Ela o odiava por quem ele era, não por quem ele era sussurrado ser. Pela primeira vez, não tinha certeza de que poderia mudar a opinião de alguém sobre ele, mas estava determinado a tentar.

— Isobel. — Ele fechou os dedos em torno de seu pulso, parando quando ela se virou para ir. — Estou querendo convencê-la que não sou o selvagem com um propósito sombrio que você pensa?

— É quando eu me pergunto por que você quer me convencer de alguma coisa. — Ela retrucou. — Nós somos inimigos. Nada que você diga ou faça jamais mudará essa verdade.

— Talvez isso aconteça. — Argumentou ele, as palavras saindo de sua boca antes que tivesse tempo de considerá-las. — Talvez você e eu possamos finalmente acabar com todo o ódio e dor.

Ela olhou para ele com uma expressão esquisita na testa e no canto da boca.

— Você oferece a sua ajuda, mais uma vez.

— Sim. — Ele prometeu.

— Você gostaria que eu acreditasse que realmente se importa com uma coisa dessas?

Ele se importava, e por mais razões do que jamais poderia dizer a ela.

— Você vai acreditar se me der uma chance de provar isso para você.

Ela riu e soltou o pulso.

— Tornando-se amantes?

Desta vez, a deixou passar por ele.

— Tornando-se amigos.

Ela parou e, quando se virou, Tristan não sabia que reação esperar dela. Mentalmente, ele se preparou para o que estava por vir.

Na luz dourada que filtrava através das árvores, ela estava envolta em ondas de fogo dourado e bochechas coradas. Mas essa chama viva tinha um coração esculpido em gelo.

— Isso exigiria confiança e você nunca ganhará a minha. Na verdade, — Ela deu um passo na direção dele, com as mãos cerradas ao lado do seu corpo. — Acho a sua ideia de pensar isso, uma ofensiva. Isso me prova que você não entende o que os seus parentes tiraram dos meus. — Quando ele abriu a boca para falar, ela o interrompeu. — Você fala de ódio e dor, mas não teve que ver o seu irmão cavar um buraco grande o suficiente para colocar o seu pai. A sua irmã nunca teve que se preocupar com o que os seus irmãos comeriam de refeição em refeição, ou ficaram acordados à noite com medo por sua segurança, porque o seu clã os abandonou depois que eles ficaram com um menino como o seu Laird. Quantas vezes os clãs rivais que sabem que você não tem defesa atacam o seu lar e destroem o que suas mãos construiu? Os seus parentes não tiraram a vida de meu pai, apenas. Eles tiraram a minha e dos meus irmãos também. Quanto mais você quer?

Sua resposta era direta e falada com mesma sinceridade que ele havia oferecido apenas alguns instantes a ela.

— Me perdoe. Minhas intenções não é banalizar a perda que você sofreu, mas provar que há um MacGregor que pensa de outra maneira.

Ela recuou quando ele se moveu em sua direção, a chama ardente de seus olhos desaparecendo em um desprezo frio.

— Se você fala a verdade, trai o seu clã de uma maneira muito mais profunda do que falando comigo. Por que eu iria querer um amigo que não mantém a lealdade a seus parentes?

Ela não esperou a resposta dele, mas se virou e o deixou olhando para ela enquanto subia as saias e avançava de volta às escadas da galeria superior.

Pela primeira vez na vida de Tristan, as palavras lhe escaparam, as certas, e as erradas, qualquer palavra. Como diabos ele se tornara a escória nas solas dos sapatos dela? Não que já não estivesse. Ele queria, ir atrás dela, dizer que estava errada sobre ele. Ele não estava traindo o seu clã. Se alguém estava sendo traído era a si mesmo, tentando sempre negar quem ele havia nascido para se tornar.

Ele queria tirar dela a imagem que ela tinha dele golpeando os desamparados, rindo quando o sangue de suas vítimas encharcava o chão. Ele não era esse homem. Os seus parentes não eram esses homens. Ele poderia convencê-la se tivesse mais algumas semanas com ela, talvez um mês. Seria difícil, Tristan sabia, e sorriu para a galeria. Que busca pela honra era fácil?

 


Capítulo Sete


Em vez de ir diretamente para o quarto de seu irmão, Isobel entrou no Salão de Banquetes. Deixando Alex cuidar de si mesmo. Dessa vez, ele foi longe demais. Ele estava tentando matar mais da sua pequena família? Oh, espere até ela contar a Patrick o que ele fez. Ela deveria contar a Patrick? Ele tinha o suficiente para fazer em casa sem se preocupar com o seu irmão imprudente e descuidado. Ela estava ocupada xingando Alex, quando caminhou direto para um braço musculoso.

— Você é irmã de Patrick Fergusson, não é?

Isobel olhou para um par de olhos e uma barba vermelha e espessa e salpicada de restos de comida. Seu peito largo bloqueava a visão de um terço dos convidados do rei.

— Eu sou John Douglas. — Disse ele, passando o braço musculoso pelo ombro dela e conduzindo-a para uma área menos movimentada. — Eu vi você com Patrick no mercado em Dumfries. Ele está aqui?

— Lamento, ele não está. — Isobel sorriu educadamente e se afastou de suas mãos. — Mas o meu outro...

— Duncan! — Gritou com a voz áspera com sotaque das Terras Baixas, capturando o seu cotovelo na palma da sua mão para detê-la. — Dê uma olhada em quem acabou de cair em meus braços. — Quando o seu amigo se aproximou, seu sorriso tão largo quanto os buracos em sua boca, John Douglas jogou o braço em torno dela novamente e baixou o rosto no dela. — Melhor dizer a Duncan o seu nome, moça. Ele vai querer se lembrar amanhã, tenho certeza.

Isobel tossiu com o fedor de cerveja que saturava o hálito do senhor Douglas quando este caiu sobre ela. Os cabelos subiram ao longo da sua nuca vermelha, quando o seu braço contornou mais forte ao redor dela, mantendo-a perto. Uma sensação de perigo tomou conta dela. Instintivamente, procurou por ajuda. Nenhum dos outros convidados do rei parecia muito interessado em sua situação, e mesmo que estivessem, Isobel não achou que nenhum deles arriscaria brigar com esses dois. Douglas e seu companheiro podem estar embriagados demais para empunhar uma espada com precisão, mas eram grandes, e um punho oscilante provavelmente poderia quebrar uma mandíbula.

— Fale agora, querida. — Duncan avançou em sua direção. — Nós não vamos morder.

Isobel olhou para sua boca sem dentes. Na verdade, ela não queria começar algo que os seus irmãos talvez tivessem que terminar, mas não deixaria esses dois porcos, mal-educados vê-la sofrendo.

— Não tenho dúvida sobre isso. — Arrancou o braço de Douglas do seu ombro, ela se afastou. — Se vocês me perdoarem...

Dedos se fecharam em torno de seu pulso, parando-a mais uma vez. Desta vez, porém, ela foi puxada com força de volta ao peito de John Douglas.

— Não, acho que não. E você, Duncan? — Ele perguntou, virando-se para o companheiro. — Você perdoará a bonita Senhorita Fergusson?

Duncan balançou a cabeça, seu olhar faminto caindo sobre o inchaço de seus seios.

— Talvez possamos convencê-la a ir aos nossos aposentos.

— John Douglas!

O captor de Isobel virou-se, trazendo-a com ele para encontrar o sorriso amável de Tristan.

Isobel não tinha certeza se estava feliz em vê-lo. Ela não queria estar. Queria continuar o odiando, mas estava se mostrando mais difícil cada vez que ele vinha em seu socorro. Ela havia perdido muito por causa da família dele, e estava com raiva que ele acreditasse que se eles se tornassem amigos, todos os crimes poderiam ser perdoados. O beijo dele naquela noite no jardim quase balançou a sua opinião sobre ele. Mas guardou todas as lembranças da sua boca na dela. Ou pelo menos, ela tentara. A boca de Tristan MacGregor não era algo fácil de esquecer. A plenitude suave de seus lábios, quando eles caíram contra os dela, a fome de sua língua, despedaçando a sua determinação em pedaços com a mínima lambida.

Nunca mais. Ela nunca mais cederia a suas artimanhas masculinas. Ele estava acostumado a conseguir o que queria das mulheres e, como ela suspeitava, ele queria mais dela do que um beijo. Ele queria a sua amizade, até a sua confiança. Talvez ele quisesse os seus segredos, mas nunca iria ter.

— A última vez que soube. — Tristan disse alegremente, aproximando-se de seu captor. — O velho Martin MacRae atirou10 para matá-lo, quando ele te pegou furtivamente pela janela do quarto de sua filha.

Douglas olhou-o estreitamente.

— A fofoca viaja para longe, MacGregor.

A covinha de Tristan se aprofundou.

— Sim, viaja.

— Ele me acertou no traseiro. — Douglas finalmente admitiu, obviamente não se sentindo ameaçado pelo comportamento jovial de Tristan. — Mas você conhece os Douglas, não ficamos adoentados por muito tempo.

Isobel o amaldiçoou quando Tristan riu e deu um forte golpe no ombro do bruto. Ela deveria ter adivinhado que esses selvagens eram amigos. MacGregor não estava aqui para oferecer a sua ajuda, mas provavelmente se juntaria ao que eles haviam planejado para ela.

— Meus parentes ficarão satisfeitos em ouvi-lo. — O olhar de Tristan a percorreu sem um traço de reconhecimento. — Uma bebida. — Ele deu a Duncan um sorriso largo e branco. — Para comemorar nossas constituições Escocesas resistentes.

Antes que Duncan tivesse a chance de responder, que Isobel tinha certeza, seria um retumbante sim, Tristan ergueu o braço para um servo próximo e arrancou dois copos da bandeja. Ele entregou um a Duncan, o outro a John Douglas, cujo aperto firme em Isobel afrouxou um pouco. O último copo que ele pegou para si.

— E ao vinho fino do rei. — Tristan levantou o seu copo em saudação. Os outros dois concordaram e alegremente seguiram o exemplo quando Tristan jogou a cabeça para trás e virou todo o conteúdo de seu copo.

Ele era fascinante de observar, na verdade, Isobel teve que admitir para si mesma, enquanto adicionava outro de seus sorrisos arrojados. Houve um momento, exatamente quando a taça de Tristan alcançou os seus lábios, em que o seu olhar profundo através das suas pálpebras encontrou o dela. Além das sombras de seus longos cílios, seus olhos brilhavam com propósito e confiança para realizá-lo. O seu objetivo era se embebedar com esses dois tolos e arrastá-la para um lugar onde ninguém a ouviria gritar? Não. Considerando-o enquanto bebia a sua bebida, ela achou que não. Ele não fez nada além de oferecer a sua ajuda a partir do momento em que se conheceram. Ela não queria acreditar que ele era realmente o homem mais galante que já conhecera. Preferia pensar nele como o libertino de língua de serpente que todas as outras damas da corte sabiam que ele era. Mas ela seria idiota em recusar a ajuda dele neste momento. Ela não agradeceria novamente, no entanto.

— Perfeição.

A cadência rouca de sua voz se estabeleceu sobre as terminações nervosas dela como um toque íntimo, fazendo as suas bochechas corarem como se ele tivesse dito a palavra para ela.

— Outra rodada, companheiros! — Seu tom forte retornou, Tristan pegou mais três copos e os entregou. — Desta vez, bebemos para os bons convidados do rei.

O rosto de Isobel ardeu deixando-a mais quente. Ela podia sentir os seus olhos fixos nela queimando-a como se tirasse a sua camisa e seu kirtle.

Os homens esvaziaram os seus copos novamente e John Douglas tropeçou em seus pés quando ele virou o seu olhar radiante para ela.

— Você ficará muito decepcionado por ter desperdiçado o seu brinde, MacGregor. Ela é irmã de Patrick Fergusson.

O sorriso de Tristan finalmente desapareceu e Isobel jurou que, se ele dissesse algo grosseiro sobre o seu irmão, ela o chutaria no joelho e para inferno com as consequências.

— Patrick Fergusson, você disse? — Tristan lançou um olhar preocupado aos dois brutos e deu um passo para trás. — Oh, Douglas, você tem mais coragem do que eu, tocando na irmã daquele bastardo do jeito que você fez.

Douglas riu, mas quando ele falou a sua voz era abafada com alarme.

— Por que você diz isso?

— Você não ouviu falar sobre o que ele fez com Jamie Mackenzie depois que o pobre rapaz tentou beijá-la?

— Quem diabos é Jamie Mackenzie?

— Você sabe que os MacGregors não temem a ninguém. — Continuou Tristan, olhando em volta como se esperasse que Patrick se materializasse no meio da multidão. — Mas depois que Fergusson usou o seu machado em dez Mackenzies enquanto dormiam...

— Enquanto eles dormiam? — A voz de Duncan aumentou, o seu olhar assumindo um olhar vazio.

— Cortou-os em pedaços em suas camas, para dar liberdade a moça quando ele não estava com ela. Não está correto, Senhorita Fergusson?

Isobel lançou-lhe o olhar mais penetrante que ele ignorou.

— Eu aposto uma dúzia de ovelhas que ela não contou a qualquer um de vocês sobre os pobres tolos, o rastro de sangue e tripas que seguiram Patrick todo o caminho de volta para sua herdade naquela profana noite. Ela não lhes disse que ele cortou os lábios do rosto de Jamie e manteve em uma bolsa em volta do seu pescoço?

Duncan, parecendo um pouco verde em torno de suas bochechas, balançou a cabeça e deu um passo para trás, mais perto de Tristan.

— É melhor você deixá-la, John.

John Douglas começou a suar. Uma gota quente derramou no pulso de Isobel, ainda presa em seus dedos. Ela olhou para ele, sentindo-se um pouco doente. Se o bruto não a soltasse no instante seguinte, ela iria arrancar a adaga do cinto dele e mergulhá-la no braço dele.

— Eu admito. — Douglas disse trêmulo. — Toquei na moça um pouquinho. — Novas gotas brilhavam em suas têmporas pálidas. — Acha que ele virá atrás de mim por isso?

Com pena dele, Tristan apoiou a mão no ombro de John.

— Não, se você fizer o que eu digo.

— Estarei em dívida com você, MacGregor.

— Claro. Que tipo de amigo eu seria para permitir que seu pai e sua mãe, e, provavelmente, as suas irmãs, serem cortados em pedaços por um louco? — Enquanto Douglas ponderava o horrível pensamento, Tristan passou o seu braço em torno do ombro de John, puxando-o mais perto. Ao mesmo tempo, ele estendeu a mão livre, arrancou Isobel das garras de seu captor e a colocou atrás dele. Ele fez tudo rápido e com a graça fluida de um dançarino trocando parceiros no salão.

— Aqui está o que vocês devem fazer. — Enquanto ele falava, juntou Duncan debaixo do outro braço. — Deixem o palácio hoje à noite. Ambos, antes que ela conte a seus outros dois irmãos o que você fez, sim? Que bom! — Ele sorriu quando eles assentiram nervosamente e deu a cada um deles uma batida pesada entre as omoplatas, quase empurrando de seus pés instáveis por baixo deles e fazendo os seus peitos colidirem. — Tenham uma agradável jornada, rapazes!

Colocando o cotovelo de Isobel na palma da sua mão, ele a levou para a multidão, parecendo bastante satisfeito consigo mesmo.

Por um instante, Isobel pensou em pegar outro copo de um servo que passava e esmagá-lo sobre a cabeça do seu salvador.

 

 


Capítulo Oito


— Por mais que eu goste de ouvir a sua língua inteligente mentir, difamando os meus irmãos. — Isobel tentou tirar o seu cotovelo da mão de Tristan. — Eu não quero sofrer o mesmo, se eles voltarem ao salão e nos ver juntos.

— Então vamos a algum lugar onde eles não nos vejam. — Ele virou para a direita, em direção à entrada do Salão de Banquetes, puxando-a com ele. Ele parou momentaneamente e cambaleou em seus pés, depois balançou a cabeça como se quisesse limpá-la.

— Você é tão ruim quanto Douglas e seu amigo. — Disse Isobel entre dentes quando ele a puxou.

— Provavelmente pior, mas acho que você já suspeita disso.

Ela deu um olhar sombrio de volta e um aceno de cabeça, enquanto ele a levou para fora do salão. Os passos dele foram rápidos e leves através da galeria, e duas vezes ela olhou por cima do ombro para ver se um de seus irmãos estava seguindo.

— Me deixe ir! Você vai matar todos nós!

— Bobagem, eu... — Ele fez uma pausa novamente e agarrou o corrimão pesado.

Isobel olhou para a longa escada e pensou em chutá-lo o resto do caminho para baixo.

— Você está bêbado.

— Um sacrifício que eu estava disposto a fazer por você. — Ele lançou-lhe uma piscadela por cima do ombro e continuou a descer.

— Eu não precisava da sua ajuda.

Ele permaneceu quieto desta vez, tendo a decência, pelo menos, de não refutar a sua alegação ou rir na cara dela. A intenção clara nos olhos de John Douglas agitou o seu estômago. Em algum momento, antes que o bruto a arrastasse para algum canto escuro do palácio, com o seu companheiro babando logo atrás, ela teria que pedir ajuda. Só Deus sabia o que teria acontecido então. Ainda assim, ser arrastada para o pátio externo por Tristan MacGregor não era melhor. Por que, então, ela não sentia medo? Pelo menos, não por sua segurança física. Ele estava atrás de algo dela e, como tinha provado momentos antes, não tinha necessidade de usar a força ou ameaças para conseguir o que queria. Era contra a língua de feiticeiro que ela tinha que se proteger, o traço de jovialidade e a pitada de humildade em seu sorriso malicioso que a tentava para gostar dele, apesar de quem ele era.

— Pronto. — Ele falou suavemente quando eles caminhavam para a tarde fria. A mão dele estava quente e muito maior que a dela, quando deslizou do seu antebraço e fechou em torno de seus dedos. Seu toque era íntimo e ousado ao mesmo tempo, aquecendo o sangue de Isobel e sua temperamento.

— Isso não é melhor do que ficar amontoado dentro de quatros paredes com uma dúzia de rostos que você não conhece?

— Você parece gostar de uma multidão. — Disse ela rigidamente, puxando a sua mão e, mantendo cuidadosamente escondido o efeito que estava causando nervosismo por estar sozinha com ele.

— Nem sempre.

Ah, sim, e aquele traço de vulnerabilidade que às vezes subia à tona de sua voz tão inesperadamente quanto uma chuva de verão... tudo isso fazia parte de seu feitiço?

Isobel se proibiu de olhar para ele.

— Se você ousar tentar me beijar novamente, eu temo ter quer dar-lhe uma joelhada.

— Eu não tenho dúvida sobre isso. — A sua profunda risada se espalhou como uma profusão de libélulas em sua barriga. — O sabor da sua boca quase me fez cair no chão pela primeira vez. Mas você tem a minha palavra que só desejo falar contigo.

Uma proposta já comprovada ser igualmente perigosa.

— Não sou tão facilmente influenciada quanto seus últimos dois adversários, MacGregor.

— Graças a Deus por isso. — Ele murmurou baixinho e apressou os seus passos. Quando ela não o seguiu imediatamente, ele parou e se virou para ela, o sorriso suave e hipnotizante à luz do sol. — Vamos agora, moça. Sente-se comigo junto ao portão, pois se eu não me sentar logo, posso quebrar o meu nariz novamente quando cair de cara no chão em um estupor alcoólico.

Quando ela ainda não se moveu em sua direção ou voltou para as escadas, ele foi para o banco sem ela, gritando.

— Eu sei que você tem medo de meus parentes, mas não tem nada a temer de mim.

Ela ergueu as saias e, enquanto passava por ele, murmurou.

— Não tenho medo de nenhum MacGregor. — Quando chegou ao banco, girou nos seus calcanhares e deixou o seu traseiro cair com força na pedra. Ela o observou se aproximar menos impetuoso e depois desviou o olhar quando ele sentou ao lado dela. — E para esclarecer. — Ela disse, rígida e um pouco sem fôlego. — O meu irmão Patrick nunca cortaria famílias em pedaços durante o sono. Foi uma coisa terrível de se dizer.

— Para homens como John Douglas e seu amigo, — Disse ele, descansando a cabeça contra a porta atrás deles. — O medo ganha respeito.

— Bem, Patrick não é nada como você o retratou. — Ela olhou para ele pelo canto do olho. — Ele é gentil e sério, e profundamente dedicado à nossa família. Ele trabalha em nossas terras dia e noite e, nos manteve vivos por dez anos.

— Ele parece muito com o meu irmão Rob. — Ele parecia querer dizer mais, mas estava um pouco verde. — As nuvens estão girando.

— Talvez o ajudasse se você não estivesse olhando para elas.

Ele inclinou a cabeça para frente e ofereceu um sorriso agradecido.

Isobel mudou o seu olhar.

— Que tipo de Highlander você é que não pode segurar a sua bebida?

— O tipo que prefere manter o raciocínio afiado.

— E, no entanto. — Ela se virou para lançar a ele o seu próprio sorriso, só para lembrá-lo de que não estava sentado com nenhuma idiota que desmaiava. — Você se senta aqui tão sem graça quanto uma pétala murcha.

— Isso deve contar para alguma coisa, sim? — Ele fechou os olhos e inclinou a cabeça para trás mais uma vez. — Somente por você que sacrificaria os meus bons sentidos.

Olhando para ele, Isobel balançou a cabeça com descrença. Como ele conseguiu se livrar de cada insulto que ela jogou contra ele como se seu corpo fosse feito de pedra? Estava errada sobre ele. Ele não era uma pétala murcha. Mesmo desorientado, ele brandia a língua com perspicácia.

— Você fala esse tipo de palavras bonitas para todas as Ladies que conhece, ou as poupas apenas para mim, também?

— Eu falo a verdade na maioria das vezes. — Afirmou ele sem abrir os olhos. — A não ser que seja mais misericordioso, não o fazer.

— Como benevolente você é.

Ele riu baixinho do tom seco dela, mas não disse mais nada.

Dada a oportunidade de olhá-lo quando ele não iria notar, os olhos de Isobel se depararam com um perfil que Michelangelo provavelmente sonhou quando esculpiu David. O seu olhar se deslizou lentamente sobre o resto dele esparramado no banco como um príncipe lânguido esperando para ser servido. Por Deus, havia muito o que examinar... e admirar. Seu peito subiu e desceu lentamente debaixo de sua camisa branca como gaze, cortada para ajustar o seu corpo firme à perfeição. Abertos sobre a sua barriga lisa, os seus dedos eram largos, finos e modelados para a destreza. As suas pernas cobertas esticavam-se diante dele, estendendo-se muito além das dela.

— Por que não usa o seu plaid como os outros? — Ela perguntou a ele antes que pudesse se conter. — Você não tem orgulho de sua herança, mesmo sendo um MacGregor? — Ela falou o nome MacGregor deixando-o notar o desgosto em sua boca.

— Estou feliz por ser quem eu sou, um MacGregor e um Campbell juntos.

Sim, ele era o sobrinho do falecido Conde de Argyll. Ela quase se deixou esquecer disso. Não querendo que a conversa seguisse nessa direção, ela desviou para outra conversa.

— E que tipo de nome é Tristan para um Highlander, afinal? De acordo com a sua história do Rei Arthur, é um nome Inglês.

Ele abriu os olhos e torceu a boca para ela.

— É um nome de cavaleiro.

Ela torceu a boca de volta para ele.

— Por que, então, a sua mãe deu a você?

O seu sorriso se alargou. Era muito irritante.

— Meu nome foi retirado da Prosa de Tristan, a verdadeira história de Tristan e Isolda escrita por Malory em Le Morte d'Arthur11. Era a história preferida de minha mãe quando criança. Ela e meu tio liam para mim com frequência. Deseja que eu conte a você?

— Não gostaria. — Disse ela, olhando para longe. Céus, mas ele era peculiar. Que tipo de patife, que por sua própria admissão pouco se importava com as consequências de suas ações, possuía ações cavalheirescas em tal estima? — Não estou nem um pouco interessada. — Ela mentiu.

— É a história de um cavaleiro lendário, a dama que ele amava e como ele traiu o seu amado rei. — Ele se endireitou, parecendo um pouco mais lúcido. — Eu não tenho pensando nessa história por muitos anos, embora o meu nome me lembre disso todos os dias. — Ele sorriu para si mesmo e então, como se lembrando que ela estava lá, piscou para ela. — Agora que me lembro. — Ele disse suavemente, o sorriso desaparecendo. — É uma história que não acho que você goste, depois de tudo. O final é trágico.

Isobel se afastou do calor sedutor que aquecia seus olhos, sua fonte de alguma chama interna que sempre queimava para atrair insetos à morte.

— Seria uma reviravolta cruel do destino, se algum dia nos importássemos um com o outro, como o meu homônimo e a sua dama.

Senhor, mas ele era arrogante e indiscreto.

— Posso assegurar a você. — Ela respondeu. — Isso não é algo que você precisa se preocupar.

— Eu vou se você continuar a me encantar com a sua boca atrevida.

Ela deu a ele um olhar aguçado. Ela teve que admitir que a língua do libertino era provavelmente a melhor arma do arsenal dele. Ora, ele não se incomoda de usar uma espada ao seu lado ou atrás das costas.

— Você vai tentar me seduzir durante o restante de nossa curta visita, Senhor MacGregor? Porque se assim for, então está apenas perdendo o seu tempo e o meu. Eu prefiro muito mais a sua franqueza, não importa o quão bruto que poderia ser. Se há algo que você deseja me perguntar, basta fazer isso e vamos acabar com essa pretensão.

Ele a encarou por um momento, parecendo um pouco confuso. Então os seus olhos escureceram, baixando na boca dela. Isobel estava preparada para perguntar sobre a morte de seu tio. Ela suspeitava que era o que ele estava fazendo com ela desde o começo, esperando seduzi-la para falar. Ela não estava preparada para ele pedir outro beijo.

Ela fechou os olhos, afastando-se dele novamente. Não podia deixá-lo fazer isso e ainda odiá-lo.

Mas Tristan MacGregor não pediu um beijo. O que ele pediu era muito mais perigoso.

— Isobel. — Ele colocou a sua mão sobre a dela, acelerando o coração dela. — Aceitarás, minhas sinceras condolências pela a morte de seu pai?

Ela não se mexeu. Não conseguia respirar. Ele falou seriamente? Uma pequena parte dela queria acreditar. Ele já havia dito naquele dia, apenas algumas dezenas de metros de onde estavam agora, que ele não pensava como os seus parentes e que não aprovava o que eles haviam feito? Mas ele era esperto. Ele faria qualquer coisa, diria qualquer coisa para seduzi-la a gostar dele, e confiar nele. Ele estava tão determinado em sua tarefa que abandonaria o seu charme e fingiria pesar para ganhar o seu favor?

— Bel?

Ela ficou de pé ao ouvir a voz do seu irmão a poucos metros de distância. Era Cameron, e ele os viu juntos, a mão do inimigo presa sobre a dela.

— Começamos a nos preocupar quando você não voltou para o nosso quarto. — Seus olhos se lançou para Tristan, depois baixou para o chão.

Isobel endireitou a coluna, forçando os pulmões a se expandir, tentando pensar com clareza. Mas como ela poderia explicar o que estava fazendo aqui sozinha com um MacGregor? Especialmente para Cam? Ela desejou que tivesse sido Alex quem os encontrasse. Ela teria preferido a sua língua afiada e seu temperamento cruel à descrença e medo que via nos olhos de Cam.

— Perdoe-me por fazer você se preocupar, Cameron. Eu estava... eu estava...

— Ela estava a caminho de ir a você quando eu a parei. — Tristan se levantou, uma cabeça mais alto do que Cam. — A culpa é minha, por isso, sou eu quem você deve culpar.

— Não. — Isobel o advertiu com um sussurro contundente. Ela não o deixaria tecer o seu feitiço ardiloso sobre Cam. — Venha, Cameron. — Disse ela, pegando o braço do seu irmão, querendo afastá-lo de Tristan sem mais nada a falar entre eles. — Precisamos arrumar nossas coisas para nossa jornada de manhã.

— Espere. — Disse Tristan, parando-a. — Você está deixando Whitehall?

A decepção em sua voz a levou a se virar e olhá-lo uma última vez.

— Sim, nós estamos indo para casa.

Ele desviou o olhar do dela, protegendo cuidadosamente o que ela ouviu em sua voz. O seu objetivo falhou, pelo menos com ela.

— Senhor MacGregor. — Ela deu um passo em sua direção. — Eu pediria que você me desse uma coisa antes de eu ir.

— O que é?

— Não posso convencer Alex a voltar conosco. Peço-lhe para ficar longe dele. Por favor, não fale com ele e não lhe cause nenhum dano, não importa o quão problemático ele possa se tornar. Você me concederá isso?

Ele não perguntou por que deveria conceder-lhe qualquer coisa. Ela não achava que ele concordaria com o seu pedido e quase sorriu para ele, quando a olhou novamente e assentiu.

— É claro, Senhorita Fergusson. Já não provei isso para você?

— Você provou. — Ela assentiu. — Mas se você desejar falar com ele...

— Ele não estará em perigo comigo. Você tem meu voto solene.

Ela partiu, se sentindo um pouco melhor. Ela acreditou nele. Não sabia o porquê, ou se ela era a maior tola da Inglaterra. Mas acreditou nele.

 


Capítulo Nove


— Quando chegamos. — Disse Colin MacGregor à sua família na privacidade do quarto de hóspedes do Laird do clã. — A abadia de St. Christopher estava engolida pelas chamas.

O irmão mais novo de Tristan havia chegado a Whitehall uma hora atrás com o capitão Connor Grant e seu bando de soldados ingleses. A sua chegada, a princípio, trouxe alegria ao rosto de seus pais, mas quando eles perceberam que nem Rob e nem nenhum dos outros membros do grupo viajavam com ele, ficaram preocupados e com medo.

O tom calmo e habitual de Colin não mudou quando ele garantiu que o seu irmão Rob e o resto estavam seguros e voltando para Camlochlin, e depois solicitou uma audiência urgente com o rei um momento depois.

O seu pedido foi negado, pelo menos até o seu pai ouvir primeiro o que havia acontecido desde que Angus os deixou.

— Nós montamos para Ayrshire para entregar Lady Montgomery às irmãs de Courlochcraig, mas...

Observando Colin do outro lado da luz do fogo, Tristan tentou discernir o que havia mudado desde que vira o seu irmão, desde a última vez. Além de sua aparência geralmente desalinhada, Colin era o mesmo rapaz imperturbável e pretensioso de quando Tristan tinha partido da companhia de seu pai duas semanas atrás. Mas agora, uma corrente de suavidade marcava o timbre inflexível de sua voz quando ele falou da moça que Rob tinha resgatado.

— ...Acontece que Davina... isto é, Lady Montgomery também não estava segura em Ayr.

Tristan sorriu e lembrou-se de provocar Colin depois, sobre a sua óbvia paixão. Agora, porém, ele bocejou com toda a história tediosa. Os seus pensamentos vagaram, como fizeram mais vezes durante o dia do que ele jamais admitiria, para Isobel. Ele tentou afastá-la de seus pensamentos, já que ela havia deixado Whitehall há uma noite, mas ela voltou a sua mente, atormentando-o como uma urtiga enfadonha enfiada em sua bota, sempre lá, sempre fora de seu alcance, impossível de arrancar. Na verdade, não sabia por que seus dias pareciam menos vibrantes sem ela neles. Ele mal a conhecia, mas estranhamente sentiu como se estivesse esperando por ela a vida toda. Ela certamente não gostava dele e ele não deveria gostar dela. Mas, diabos, ele gostava. Gostava da sensação que lhe deu quando a ajudou, e ela parecia precisar de muita ajuda principalmente com o seu irmão e com os Lowlanders bêbados. Mas havia mais a ser feito se o que ela lhe dissesse sobre a sua vida fosse verdade. E não era apenas o seu senso de cavalheirismo que o atraia para ela. Gostava do fogo em seu temperamento, do orgulho em seu passo e do fato de que ela não seria facilmente seduzida. Ele queria persegui-la, tomá-la e apreciá-la. Mas, mesmo que, de alguma forma, vencê-la fosse possível, ele olhou para onde a sua mãe se sentou que estava prosperando em não sentir mais a dor da perca, e o que isso lhe custaria para a sua família.

Kate Campbell não dava a mínima se alguém aprovasse o seu filho e a maneira como ele vivia a sua vida. Ela dissera uma vez, depois que a sua tia Maggie o comparou ao seu irmão mais velho, que sua paixão surgiu de uma fonte diferente e, portanto, o levou a um caminho separado em busca dela. Mas ele não tinha procurado nada. Em vez disso, parecia, que o seu caminho o havia encontrado.

O que sua mãe pensaria dele se lhe dissesse que o caminho para recuperar a sua honra começava com Isobel Fergusson? Talvez isso, embora ele não pudesse trazer de volta os mortos, poderia curar os vivos e restaurar o que havia ajudado a destruir.

Sim, era uma busca que o seu tio teria ficado orgulhoso. Tristan começou a briga entre os MacGregors e os Fergusson. Ele queria ser o único a acabar com isso.

— Quem é ela? — Callum perguntou, deixando Tristan irritado. — Com o que os inimigos do rei da Inglaterra se importam com uma freira, que ordenem queimar a sua abadia e persegui-la através das brasas?

Ah, agora eles estavam chegando a algum lugar. O seu interesse despertou, Tristan captou o olhar ansioso que seu melhor amigo, Connor, lançou para Colin. Um momento ou dois passaram em silêncio com todos os ouvidos atentos.

— Dei a Rob minha palavra para não contar a ninguém quem ela é, incluindo o rei. — Disse finalmente o capitão Grant. — Mas vocês são a família dele e devem saber o perigo em que ele está enfrentando. O perigo que temo que ele esteja trazendo para Camlochlin.

Callum avançou para a sua cadeira, assim como Tristan. Rob colocando Camlochlin em perigo? Era difícil de acreditar.

Pouco tempo depois, enquanto todos estavam atordoados em seus lugares, depois de descobrir a verdadeira identidade de Lady Montgomery, Callum se levantou da sua cadeira.

— Arrumem as suas coisas. Nós estamos indo para casa.

Isobel afastou um arbusto para fora do seu caminho depois que sua cuidadosa inspeção revelou que era inútil. Ela passou o antebraço na sua testa e continuou ao longo do leito rochoso do rio. Há quanto tempo ela procurava a adição vital para o seu jardim? Quatro horas? Cinco? Todo ano, a sua preciosa butterbur12 estava mais difícil de encontrar. Ela tinha que continuar procurando, caso contrário seria tarde demais para replantar. Ela precisava dela para o chá nos meses de inverno, quando ficava mais difícil respirar.

O que tornou a sua busca solitária mais difícil era o fato de Tristan MacGregor estar com ela em quase todos os passos do caminho. Ele invadia os seus pensamentos durante o dia e a noite, não importava o que ela estivesse fazendo, não importava o quanto o afugentasse. Ela tivera medo dele em Whitehall, medo do que ele queria. Medo de como ele a olhava, como se quisesse possuí-la a qualquer custo. Por que ele a queria? E por que ela não podia tirar o seu beijo de seus pensamentos?

Ela o odiava por assombrá-la, e em sua mente dizia isso frequentemente. Mas ele apenas sorria.

Havia algo peculiar no sorriso dele. No palácio, sempre parecia estar à espreita em algum lugar, e o seu rosto pronto para brilhar e arrebatar o coração de quem o visse. Ah, os dois primeiros dias passados com ele, antes que ela soubesse quem ele era, foram realmente felizes. A sua risada a fez esquecer todo o resto. Ele parecia ter tanta alegria em simplesmente viver, embora às vezes ela estivesse certa de que via uma pitada de melancolia cuidadosamente protegida atrás da curva de sua boca perversa. Qual era o seu tumulto interior? Ele se odiava por ser um patife, em vez de ser um dos homens de seus contos de cavalaria? Ela quase riu com o pensamento dele se odiando. De fato, o homem sabia que era hipnotizante e maravilhoso. Para um MacGregor, claro.

Estar longe dele nesta última semana não fez nada para diminuir o seu efeito nela. De fato, durante a repreensão de Patrick, quando ela voltou para casa sem Alex, achou a lembrança do sorriso dele bastante calma. Era descuidado e inabalável, como se nada fosse ruim o suficiente para estragar o seu dia, por mais sombrio que fosse. Ela desejou possuir esse tipo de resolução.

Ela afastou mais quatro arbustos e furou o seu dedo em uma folha espinhosa. Por que ele tinha que ser tão feliz? Amaldiçoando, ela levou o dedo ensanguentado aos lábios e afastou Tristan de seus pensamentos pela milésima vez.

Ela tinha que encontrar a planta logo. Patrick precisava dela. Maldição, e Alex de qualquer forma, era um homem adulto, e ela se recusava a se preocupar com ele. Se ele escolhesse deixar a sua família por riscos e aventuras, não havia nada que eles pudessem fazer. Todos eles dividiam as suas tarefas e se contentavam sem elas.

Tristan impediria a sua família selvagem de matar Alex? Alex estava com Tristan agora, compartilhando cerveja e segredos com ele em um dos grandes aposentos do rei? Meu Deus, ela orou para que Tristan cumprisse a sua palavra e não tentasse fazer amizade com seu irmão.

Você é uma chama, Isobel. E uma chama muito mais atraente do que uma pilha de brasas.

Ela deu um tapinha nas bochechas com a palma da mão e murmurou um juramento sobre a língua astuta de Tristan.

— Afaste-se de mim agora, seu bastardo. — Caminhando com as saias acima dos tornozelos, ela pisou no próximo caminho de arbustos, determinada a esquecê-lo.

Ela viu uma densa folhagem a distância e apressou o passo. Mesmo que ela pudesse procurar amanhã, teria que começar a partir deste ponto, horas longe de sua casa. Quando se aproximou, um dos arbustos trouxe um sorriso agradecido ao seu rosto. Lá estava a sua planta milagrosa. A sua mãe estava lhe dando chá de butterbur desde que ela era bebê. Não muito e nunca ralo, pois pode prejudicar o fígado. Isobel nunca perguntou como a sua mãe sabia dessas coisas. As mães sabiam. Oh, como Isobel sentia falta dela. Mas a planta estava se tornando escassa e assustava Isobel pensar em sua vida sem ela. Malmequer Bravo13 também podia ser usada, mas o butterbur trabalhava mais rápido.

Ela estendeu a mão para passar os dedos sobre uma de suas folhas em forma de coração, maior que a sua mão inteira. Ela precisaria retirar da terra.

Os seus pensamentos terminaram abruptamente com o clique da pistola em algum lugar atrás da sua cabeça.

— O que você está fazendo em minhas terras, Lady?

Isobel fechou os olhos e desejou não gritar. Quem diabos a ouviria?

— Eu... eu estava indo para...

— Fale!

Ela quase pulou de sua pele e instintivamente se virou para encará-lo. Quando ela viu o cano da pistola do homem apontado para o seu rosto, ela respirou fundo como se fosse o último em seu corpo.

— Eu preciso do seu butterbur. — Disse ela, tentando recuperar o controle sobre a sua respiração. — Por favor, abaixe a sua pistola, senhor.

Ele era velho, provavelmente em seus cinquenta anos. A sua pele estava queimada pelo sol e desgastada por rugas. Os seus cabelos eram longos, escassos e oleosos. Ele olhou para ela e depois virou a cabeça e cuspiu algo da boca.

— Eu tenho uma... ausência de ar. — A mãe dela a ensinou a nunca usar a palavra doença, para que outros não a considerem contagiosa. — E o butterbur me cura. Tenho procurado por muito tempo e só encontrei aqui. Só preciso de uma pequena parte para plantar no meu jardim.

Por um momento, ele pareceu recusar para atirar nela entre os olhos.

— Pegue. Então vá embora e não volte mais. Eu sei que você é irmã daqueles três ruivos, crias do demônio, os rapazes Fergusson. Se os vir perto dos meus cavalos novamente, eu os matarei a tiro.

Mais tarde, depois que Isobel voltou para casa, ela permaneceu um pouco no pequeno pedaço de terra recém-transformado em seu jardim e admirou o seu prêmio. Os seus pés estavam com bolhas, as mãos laceradas e ela olhou para baixo para a butterbur. Mas ela a encontrara, e a cuidaria até que se tornasse forte. Assim como ela havia feito com os seus irmãos.

Quando o crepúsculo caiu sobre o vale, ela limpou as suas mãos e olhou a extensão sobre as colinas violetas. Ela viu os seus irmãos trazendo as últimas ovelhas e levantou o braço sobre a cabeça. Todos faziam o mesmo e ela sorriu. Eles eram tudo o que ela tinha no mundo. Tudo o que precisava para ser feliz.

Ou seja, desde que nenhum homem a beijasse novamente como Tristan MacGregor no Jardim Privado do rei.

 


Capítulo dez


— Você está tão sombrio. — Kate MacGregor puxou o cavalo ao lado de Tristan enquanto voltavam para casa. — Ora, parece que o seu melhor amigo acabou de cair pela espada.

Tristan olhou de soslaio para a sua mãe. Ele não podia dizer a verdade sobre o que estava atormentando os seus pensamentos. Alex Fergusson não era o seu amigo. Na verdade, Tristan não se importava com ele, mas isso não o impediu de temer pela vida do tolo desde que deixaram Whitehall.

— Eu estava pensando em Mairi e Colin. — Ele disse a ela. Não era realmente uma mentira. — Você acha sensato deixá-los permanecer na Inglaterra?

— Sim, o seu pai acredita que eles estarão mais seguros lá por enquanto, com Connor e o resto do exército do rei. Deus nos livre, se Camlochlin for atacado pelos inimigos do rei, o seu irmão e a sua irmã serão os primeiros a participar da batalha.

Tristan assentiu, sabendo que ela estava certa. Os seus irmãos mais novos amavam a espada tanto quanto Rob amava a terra. Nenhum deles pensaria duas vezes em atacar Alex Fergusson em uma das paredes pintadas de Whitehall se ele insultasse os MacGregors na presença deles. Inferno, Isobel nunca o perdoaria.

— Eu deveria ter ficado na Inglaterra com eles. — Quando Tristan percebeu que tinha falado em voz alta, ele deu um sorriso rápido para a sua mãe. — Sozinho, Connor não tem chance contra Mairi.

Kate revirou os olhos para o céu e riu, aliviando o humor de Tristan.

— Acho que o capitão pode cuidar de si mesmo sem a sua ajuda.

— Sim, mas Mairi é sua fraqueza.

— Verdade. — A sua mãe admitiu. — Mas é Colin quem me preocupa mais. Ele parecia gostar do rei. Temo que ele ache mais adequado uma vida no exército Inglês, como Connor.

— O capitão teve pouca escolha, ele tem sangue dos Stuarts.

Tristan ergueu o olhar e descobriu que o seu pai havia diminuído a sua montaria até que os alcançou.

— Colin é um MacGregor. — Continuou Callum quando os alcançou. O seu olhar formidável fixou-se em Tristan primeiro, depois suavizou em sua esposa. — Ele nunca deixará Camlochlin para ficar com os ingleses.

O sorriso gracioso de Tristan estava tingido de sombras de sua infância, quando ele e seu pai começaram a entender que Tristan não era nada parecido com o resto de seu clã duro e pronto, mas procurava imitar os ideais antigos que aprendeu nos livros.

— Não tenho intenção de ficar com os ingleses quando deixar Camlochlin, pai — Tristan lembrou-lhe pela centésima vez. — Eu simplesmente quero viver a minha própria vida.

— Em Glen Orchy. — Callum apontou como se Tristan não soubesse.

Tristan deu de ombros.

— O lar de minha mãe é meu pelo meu direito de nascença. É a única coisa que pode ser minha.

— Nosso clã é de vocês.

Inferno, Tristan pensou, olhando para o outro lado. Por que o seu pai lutava tanto para mantê-lo em casa? A sua atração indiscriminada pelo sexo feminino trouxe tantos problemas a Camlochlin nos últimos anos quanto Callum nos seus dias fora da lei. O seu pai deveria estar feliz por se livrar dele.

— Você pertence a nossa casa, Tristan.

Ele pertencia?

— Campbell Keep também é minha casa. Os homens que me ajudarem a restaurar a fortaleza podem trazer as suas famílias e ficar comigo.

Callum voltou seu olhar para o norte e permaneceu em silêncio o tempo suficiente para Tristan ponderar sob o peso das coisas que ele queria dizer, mas não conseguiu.

— Eu não entendo por que você quer ir embora. — Disse finalmente o seu pai. — Confesso que entendo você ainda menos.

Sim, Tristan estava ciente de que a sua solidão realmente não era culpa sua. Ele sempre achou mais fácil desviar e confundir o seu pai, em vez de lhe dizer a verdade que, quando menino, ele sempre desejara que Robert Campbell fosse o seu pai. Não era porque ele não amava o homem cavalgando ao lado dele, ou que o seu pai não o amasse. Eles eram do mesmo sangue, e nada poderia destruir isso, mas era tudo o que tinham em comum.

— Eu amo Camlochlin. — Disse Tristan, querendo de algum lugar do fundo do coração provar ao seu pai que eles não eram tão diferentes, afinal. — Mas eu pertenço a Glen Orchy. — Era a verdade e a única que ele poderia dar por enquanto.

Do alto de um cume exposto pelo vento, Tristan fixou o olhar no castelo esculpido nas montanhas negras atrás dele, suas torres irregulares perfurando a névoa. Camlochlin. Uma fortaleza impenetrável construída por um guerreiro inteligente, determinado a manter os seus parentes a salvo de seus inimigos. Seria o suficiente para adiar os Holandeses, caso eles procurassem Lady Montgomery?

Observando o seu pai sacudir as rédeas e gritar no vale, Tristan teve pena de qualquer exército que viesse aqui. Ele também tinha pena do seu irmão. Inferno, ele pode ter beijado uma Fergusson, mas Rob havia levado Davina Montgomery para Camlochlin, e talvez um exército inimigo com ela.

Conhecê-la pouco tempo depois ajudou Tristan a entender a decisão imprudente de Rob de trazê-la aqui. Ela era encantadora e linda, com mechas claras e macias cobrindo os seus ombros esbeltos e enormes olhos azuis prateados que se alargavam ainda mais quando ela quase se aproximou dele a caminho de encontrar os seus pais. Ele adivinhou quase que instantaneamente que Rob a amava. Seria fácil para qualquer homem perder o coração, talvez até a mente, com um sorriso tão inocente. Aconteceu inúmeras vezes na história, de acordo com os contos de seus livros, contos que ele se lembrava mais nas últimas semanas, de cavaleiros fiéis que se afastam seus deveres, até traindo os seus reis, tudo por amor a uma moça. Tristan nunca achou as histórias falsas, mas ele esteve com inúmeras mulheres e nunca se apaixonou por nenhuma delas. E ele nunca faria isso. Ele nunca abriria o seu coração a uma emoção tão poderosa novamente. Ele já havia perdido a pessoa mais importante em sua vida, e isso o destruiu. Por dez anos, ele se manteve à parte de todos os outros, nunca permitindo que alguém se aproximasse demais dele. Por que ele seria tão tolo a ponto de arriscar perder alguém que amava de novo?

Ele certamente nunca se permitiria amar uma moça que seus parentes odiavam. Ele gostava de Isobel Fergusson, mas isso era tudo. Ela era um desafio maior a vencer do que qualquer outra moça diante dele. Tudo o que ela havia perdido em sua vida, tudo o que os seus parentes haviam perdido era sua culpa, e ele queria consertar as coisas. Sim, quanto mais pensava, mais precisava.

Havia uma escolha a ser feita. Uma que poderia mudar o seu destino mais uma vez. O caminho estava definido diante dele, e já era hora de segui-lo. Se ele falhasse, não estaria em pior situação. Ele não perderia nada que já não tivesse desistido. Mas se conseguisse...

— Você tem o sangue de cavaleiros em você e vai se tornar um homem de honra.

Ele não iria falhar, pois ele tinha o seu tio o encorajando.

Tristan sabia que Rob voltaria a encontrar benevolência aos olhos do seu pai. Colin também, mesmo depois que este retornou a Camlochlin com o rei da Inglaterra e um pequeno exército nas costas. Não haveria tal esperança para Tristan se alguém descobrisse para onde estava indo na manhã em que deixou Camlochlin. Não que alguém o procurasse durante a sua ausência. Ele era o filho inquieto, o imprudente, que fazia o que queria e se condenasse as consequências. Não era incomum ele sair sozinho, tentando causar estragos em outra pobre moça.

Era simplesmente... Tristan.

Passando pelos penhascos de Elgol, ele não virou. Ele nunca o fazia quando partia em uma de suas jornadas. Era sempre mais fácil partir do que tentar se encaixar.

Talvez, com a ajuda de Isobel, ele também pudesse mudar isso.

 


Capítulo Onze


— Retire o que você disse!

John Fergusson balançou o arco no ombro e puxou para trás a sua flecha.

— Por que eu deveria quando é verdade? — Ele apontou para a casca da árvore a cinquenta metros de distância, atirou e virou-se para sorrir para os seus irmãos. Ele nunca viu a pequena pedra vindo diretamente em sua cabeça. Somente o vasto céu encheu a sua visão quando ele abriu os olhos um momento depois disso, e a cabeça de cabelos ruivos do jovem Tamas com uma carranca impenitente.

— Da próxima vez. — Disse Tamas. — Usarei uma pedra maior.

— O que diabos eu disse a você sobre nos acertar com essa coisa? — Lachlan, o mais velho dos três irmãos, bateu com a palma da mão na parte de trás da cabeça de Tamas. Sem esperar pela resposta, ele se inclinou e pegou a funda14 bem usada do punho de seu irmão. — Você não receberá de volta desta vez.

Tamas fechou os punhos e jogou a cabeça para trás.

— Isobel! Lachlan não vai me devolver minha funda!

— Isso é porque, — Lachlan gritou em direção ao celeiro onde a irmã estava ordenhando as cabras. — Ele bateu na cabeça de John e o fez sangrar.

Dentro do celeiro, Isobel pressionou a testa nos flancos de Glenny.

— Deus, me dê força. — Honestamente, ela não poderia desfrutar de um dia de paz sem a ameaça dos três matarem algo... geralmente um ao outro? — Estou indo! — Deixando o banquinho, ela subiu as saias e enxotou uma galinha do caminho ao sair do celeiro.

Quando viu John sentado na grama, parecendo um pouco atordoado, mas, felizmente, sem sangue, ela deu a Tamas um olhar severo.

— Por que você o golpeou?

— Ele me chamou de bebê!

— E por não controlar o seu próprio temperamento. — Respondeu Isobel enquanto ela se ajoelhava para examinar John com atenção. — O convenceu de que ele estava errado?

Tamas balançou a cabeça.

— Eu o convenci a nunca mais me chamar de bebê.

Isobel ergueu os olhos da inspeção.

— Então eu vou castigá-lo, — Disse ela com força suficiente em sua voz para limpar o sorriso desafiador do rosto redondo e sardento. — Você tem onze anos de idade, Tamas, e ainda é jovem o suficiente para ser punido. — Ela olhou para os outros dois, que estavam fazendo o seu melhor para parecerem inocentes e falhando miseravelmente. Eles estavam constantemente aterrorizando alguém ou algo. O que ela estava fazendo com eles? Só ontem eles tinham declarado guerra no ninho das enormes vespas atrás da casa e perderam. Os cavalos não gostavam deles, as cabras tinham medo deles e quatro fazendeiros das aldeias vizinhas já haviam ameaçado matá-los se pisassem em suas terras mais uma vez. — Na verdade, todos vocês poderiam ter uma boa punição. Sinceramente, não sei por que não pedi a Patrick para fazer isso.

— Patrick nunca iria nos bater. — John sorriu para ela, fazendo o seu coração torcer com o pensamento do que poderia acontecer com os seus irmãos se ela os deixasse. A mãe deles morreu pouco depois do nascimento de Tamas, deixando Isobel para alimentar e cuidar de sua família. Quando o seu pai foi morto, um ano depois, a outra metade dos deveres do seu pai recaiu sobre Patrick e ele cumpriu todos eles bem, exceto um. Ele nunca bateu em nenhum deles.

— Talvez esteja aí o dilema, não é? — Ela piscou para John e deu um tapinha brincalhão no joelho dele.

— Posso ter minha funda de volta agora? — Tamas perguntou depois de um suspiro impaciente.

— Você pode ter amanhã. — Isobel ajudou John a se levantar e limpou o fio de sangue da testa com o avental dela. — Depois que você terminar as tarefas de John.

Os olhos azuis de aço de Tamas se arregalaram com descrença e raiva. Ele olhou para protestar, depois pensou melhor, sabendo que não lhe faria nenhum bem. Ele lançou o seu olhar tumultuado para John e depois se afastou. Isobel lançou um olhar tranquilizador para John.

— O que temos para o jantar? — Perguntou Lachlan, coçando um dos vergões deixados em seu braço por um vespão.

— Sopa de nabo e alecrim. — Disse Isobel, enquanto voltavam para a casa. — E o que Patrick e Cameron trouxerem com eles.

— Eu queria ir caçar com eles, Bel.

— Eu sei, John, mas você... Tamas, pare de perseguir os cães!

— Ele vai parar. — Ofereceu Lachlan, balançando a cabeça para o irmão mais novos. — Quando um deles der uma mordida em seu traseiro magricela.

Logo atrás deles, com uma série de lebres arremessadas sobre um ombro largo e uma aljava de flechas atrás do outro, Patrick Fergusson golpeou Lachlan na parte de trás da sua cabeça.

— Sua boca mente.

Isobel sorriu para Patrick quando passou por eles e depois para as lebres. Havia o suficiente para alimentar os seus irmãos por pelo menos uma noite.

— Onde está Cam? — Ela perguntou, olhando para trás.

— Ele vai chegar. — Respondeu Patrick sem se virar para olhar para ela. — Encontramos Andrew Kennedy e sua irmã Annie na estrada. Ele está voltando com eles.

Os passos de Isobel pararam lentamente quando as palavras dele chegaram aos seus ouvidos. Quando o entendeu, ela subiu as saias e saiu atrás dele.

— Os Kennedys estão vindo para cá?

— Sim. — Ele afirmou, protegendo os seus olhos azuis claros por trás de uma mecha úmida de cachos escuros.

— Esta noite?

Quando ele apenas assentiu, o temperamento de Isobel aumentou.

— Por que você convidaria Andrew aqui, sabendo o que ele quer?

— Ele quer você.

Maldição, se ele não se importasse com os seus sentimentos, iria olhar para ela quando dissesse. Ela puxou o cotovelo dele, exigindo que ele parasse e lhe desse atenção.

— Mas eu não o quero e disse a você uma dúzia de vezes.

Patrick enfiou os dedos pelos cabelos, afastando-os do rosto e encontrou o olhar maligno dela com um imponente.

— Ele é um bom homem, Bel.

Ela cruzou os braços sobre o peito e enfiou os calcanhares no chão.

— E isso significa que eu tenho que ter sentimentos por ele?

Ele desviou o olhar novamente dela e de seus irmãos mais novos, que pararam para ouvir.

— Sentimentos ou não, ele pediu-me por sua mão e eu concordei.

— O quê? — Isobel gritou para ele, seguindo-o em direção à casa quando ele voltou a subir os degraus. — Patrick, você não poderia ter...

— Você já devia estar casada, Bel, começando uma vida própria e...

— Eu tenho uma vida própria. — Ela o interrompeu.

— Cuidando de nós? — Ele parou novamente e se virou para encará-la completamente. — Que tipo de vida é essa?

— O que será tão diferente em cuidar da dele? — Ela argumentou, fazendo o possível para não chorar... ou dar-lhe um tapa que ele não esqueceria tão cedo. — Quão diferente será minha vida cuidando de um marido que eu nem amo e sua família?

— Andrew será Laird dos Kennedys. Sua terra é vasta e seus parentes são numerosos. Haverá segurança com ele.

— Estou segura aqui!

— Sim. — Ele riu secamente. — Com os Cunninghams invadindo sempre que o clima lhes convém, porque sabem que somos muito poucos e não temos proteção.

— Eu não vou fazer isso, Patrick!

— Você vai. Eu não vou mudar sobre isso, Isobel. Não sobre isso. Amo você mais do que tudo neste mundo, e cuidarei de sua segurança e felicidade.

— Estou feliz aqui. — Ela implorou quando ele se virou para ir embora. — Por favor, Patrick, não faça isso.

— Já está feito.

Não foi fácil, mas Isobel conseguiu evitar o olhar ansioso de Andrew Kennedy durante a primeira metade da visita. No jantar, no entanto, provando a rica mistura de ervas e especiarias frescas que aromatizam o seu ensopado de lebre, ela teve que se perguntar quem nas chamas não gostaria de se casar com uma mulher que pudesse cozinhar assim.

— Confesso, Patrick. — Disse Andrew, segurando o seu pobre coração nas mãos, no outro extremo da longa mesa. — Eu poderia viver feliz durante os próximos trinta anos com a comida da sua irmã.

Uma maldição. Ela deveria ter usado mais sal e os cogumelos do mês passado.

— Diga-me, Isobel. — Andrew voltou os olhos para ela e sorriu sob sua grossa barba ruiva — Você cozinha todas as suas refeições com essa habilidade e cuidado?

— Não. — Isobel disse a ele com remorso exagerada. — Eu confesso, não sei. Às vezes, não cozinho nada. Patrick que faz.

Ao lado dela, Lachlan riu, enquanto Patrick apenas bebia o seu hidromel, recusando-se a deixá-la desafiá-lo.

— Não importa. — Andrew murmurou de seu assento. — Tenho certeza de que você parece ser preciosa em qualquer tarefa que executar. Você vai me fazer um homem muito feliz quando for a minha esposa.

Bom Deus, ela estava tentada a devolver a Tamas a sua funda e implorá-lo para rachá-la no seu crânio com a maior pedra que ele pudesse encontrar. Ela não tinha dúvida de que Andrew a faria feliz. Era seu tormento que ela estava preocupada. Ela já sabia que tipo de vida lhe reservava como esposa. A esposa dele! Maldito seja o Hades15 por nem sequer ter a decência de perguntar a ela mesma.

Ela lançou a Patrick mais um olhar implacável antes de voltar a sua atenção para a irmã de Andrew. Annie Kennedy era bonita o suficiente, com longas tranças vermelhas e uma pele aveludada que ficava mais vermelha toda vez que Cameron se dirigia a ela. Era realmente bom observar, e dava a Isobel algo mais agradável de se pensar do que ser forçada a se casar com o irmão de Annie.

Não era que o seu recém noivo fosse um homem ocioso. Andrew tinha quase a idade de Patrick, um corpo forte e bons dentes. O seu pai era Laird do Clã Kennedy, com terras que se espalhavam pelo litoral. A maioria das mulheres ficaria feliz em tomá-lo como marido.

— Isobel. — A sua voz era irritante em seus ouvidos. — Posso pedir-lhe para caminhar comigo depois do jantar? Talvez um passeio através do seu jardim onde eu posso pegar uma flor perfumada para você?

As lembranças de um beijo em outro jardim inundaram os seus pensamentos e ela corou contra a luz de velas que iluminava a pequena sala de jantar. Ela duvidava que Andrew tentasse beijá-la, mesmo que ele a reivindicasse pelas suas costas. Ele não era tão corajoso nem tão eloquente quanto Tristan MacGregor.

A língua dele, tão curiosa e faminta pelo gosto dela.

— Não há flores no meu jardim, Andrew. — Ela praticamente retrucou, ganhando controle sobre os seus pensamentos. — E não é o tipo de jardim pelo qual eu deixaria alguém entrar. — Se ele estivesse tão ansioso para provar a sua devoção a ela, ele já teria sabido disso.

Felizmente, ele era esperto o suficiente para saber quando parar, outra virtude que ele não compartilhava com um certo Highlander que ela recusava-se a pensar. Inferno e condenação, quando a imagem do sorriso alegre de Tristan a deixaria em paz? As suas palavras eram tão insinceras quanto as de Andrew, mas ele as pronunciou com um toque que a fez querer acreditar.

— Você gostou da Inglaterra?

Isobel piscou para Annie e estava aliviada quando encontrou a moça se dirigindo a Cameron. O seu irmão nunca perguntou a ela sobre Tristan depois daquela noite, quando os encontrou juntos no pátio. Ele nunca mencionou os MacGregors. Isobel o amava por não os ter mencionado agora.

A conversa durou a noite toda. Os homens conversaram sobre o seu casamento, decidindo que a próxima primavera seria a melhor época. Isobel decidiu desviar para o velho que segurou a pistola na cara dela e dos ataques dos Cunninghams, que por duas vezes em dois anos haviam atacado a propriedade e queimaram as suas colheitas. Andrew prometeu enviar alguns de seus melhores homens para guardar a sua colheita depois que ele e Isobel se casassem. Por que ele não tinha feito isso antes se importava tanto com ela? Com apenas ela e seis irmãos morando aqui, Andrew sabia que a sua família era indefesa, assim como os bastardos Cunninghams. Por que ele não havia oferecido a sua ajuda antes? Tristan teria.

Isobel sabia que, quando Patrick e Andrew terminassem o que restava do uísque, seria tarde demais para enviar os seus convidados para casa a pé. Ainda assim, quando Patrick lhes ofereceu acomodações para a noite, com uma oferta para levá-los para casa pela manhã, ela queria matá-lo.

 

Capítulo Doze


Tristan chegou às terras baixas do Norte com uma carranca no rosto e uma maldição nos lábios. O que diabos o tinha possuído para viajar tão longe para ver uma moça? Ele tinha enlouquecido. Nenhuma moça, nenhum propósito, valia o estado lamentável em que estava o seu traseiro. Ele estava cansado e com fome e provavelmente sofria de uma doença mortal por se banhar nas águas geladas do Loch16 Katrine. Meia dúzia de vezes durante a sua louca busca, ele quase se virou e voltou para casa. Não era tanto a dor de estar na sela por tantos dias, e logo depois que ele voltou da Inglaterra, isso o fez parar. Era seu estado de espírito ter iniciado essa jornada em primeiro lugar. Ele estava louco por pensar que poderia terminar um conflito de dez anos que custara tanto aos dois clãs? Era por Isobel Fergusson, que o seu corpo estava sofrendo. Isso era além de qualquer coisa que os seus parentes perdoariam se descobrissem aonde ele tinha ido e se a sua missão fracassasse. E se o que ele queria, o que precisava, não pudesse ser encontrado na direção que tomara? Quanto mais o seu traseiro doía, mais começava a duvidar de seu propósito. Ainda assim, ele continuou, impulsionado por uma lembrança de seus tornozelos delicados e o perfume fresco de seus cabelos ruivos.

— Você é idiota. — Disse a si mesmo em voz alta enquanto trotava a sua montaria cansada ao longo do rio Nith. — Ela não precisa de você em sua vida, e você com certeza não precisa dela em sua vida.

Mas ele não ouviu. De fato, com cada légua que o aproximava, estava mais ansioso para vê-la novamente.

Ele começou a temer que a sua jornada tivesse sido inútil quando os quatro primeiros viajantes que encontrou na estrada não conheciam nenhum Fergusson que morasse nas proximidades. Felizmente, quinze minutos depois, um quinto homem, conduzindo uma carroça que rangia tão alto quanto os seus ossos, o apontou na direção certa, com um aviso para tomar cuidado.

A fazenda Fergusson estava estranhamente quieta, exceto pelo balido de uma cabra em algum lugar distante. Parando o cavalo, Tristan desmontou atrás de uma árvore e observou, escondido da vista, e de qualquer sinal de vida. Ele não queria assustar Isobel aparecendo na porta dela. Ele com certeza não queria que Patrick Fergusson o atingisse no peito por aparecer em sua terra sem convite, não que Patrick não o matasse de qualquer maneira quando descobrisse quem era Tristan. Maldição, ele nem sequer considerou que desculpa poderia dar aos irmãos de Isobel por estar aqui. Quantos ela disse que tinha? Ele olhou em volta, mas não viu ninguém. Estranho. Este era o lugar certo? Exceto pela fumaça subindo da chaminé de uma pequena casa, ela parecia deserta. Havia meia dúzia de casas de ambos os lados espalhados pelas colinas verdejantes, mas nenhum parecia estar ocupada, e todos estavam em um triste estado de degradação.

Um grande celeiro não ficava longe da casa. A pesada porta de madeira, entreaberta e rangendo contra a brisa da tarde, chamou a sua atenção. A cabra balindo estava lá dentro, mas onde diabos estava todo mundo? Lembrou-se de Isobel dizendo que o clã dela os abandonara após a morte do seu Laird. Quem lavrava a terra? Certamente havia hectares demais para um homem, mesmo com a ajuda de alguns irmãos, conseguir sozinho. Ele examinou o território mais de perto. Fardos de feno estavam empilhados ordenadamente contra a parede leste do celeiro. Fileiras de solo recém-arado cobriam metade de um enorme campo iluminado pelo sol, enquanto a outra metade estava em plena colheita, com uma impressionante exibição de abóboras, nabos, repolho, milho e uma variedade de cevada, aveia e outros grãos.

A música tilintante do riso feminino além da porta do celeiro chamou a atenção de Tristan e o tirou de seu esconderijo. Era Isobel? Ela estava sozinha? Ele se moveu para outra árvore, mais perto da propriedade, quando a porta se abriu. Um homem saiu carregando um balde em cada mão. Ele olhou em volta, como se procurasse as mesmas pessoas que Tristan procurava há um momento atrás. Quando ele não os encontrou, balançou a cabeça e continuou o seu caminho em direção à casa.

De sua posição, Tristan reconheceu Cameron Fergusson. Onde estavam os outros irmãos de Isobel? O seu olhar voltou ao celeiro. Ela estava lá dentro. Por um momento ou dois, brigou consigo mesmo se deveria ir até ela. Ele imaginou o encontro deles mil vezes na estrada, mas agora que estava aqui, os seus pés estavam enraizados no chão.

A porta do celeiro se abriu novamente e, quando viu o brilho ardente dos cabelos dela contra o sol, deu um passo à frente sem nenhuma dificuldade. Ele a observou enquanto avançava, olhando enquanto ia para a casa. Com os pés silenciosos, ele não fez barulho enquanto passava por troncos e arbustos, fora da vista dela. Em vez de ir diretamente para a casa, ela arrancou um garfo grande da parede do celeiro e o espetou em um palheiro próximo. Ela fez duas viagens de volta ao celeiro carregando um pequeno pacote de feno na ponta de seu garfo, quando Tristan deixou a cobertura das árvores. Quando ela desapareceu pela terceira vez, ele deu mais cinquenta passos à frente e depois parou. Em vez de rastejar atrás dela, esperaria aqui pelo retorno dela e a deixaria vê-lo.

Uma dor aguda e ardente atravessou-lhe a sua panturrilha esquerda, até a sua coxa. A sua perna cedeu e ele caiu sobre um joelho, já se virando para ver que uma flecha estava projetada em sua bota. Ele pegou a sua espada — ele não era tolo o suficiente para viajar sozinho sem uma — quando outra flecha atravessou o seu ombro.

— Eu juro. — Proclamou, embora bastante fraco, olhando para os três rostos avermelhados olhando para ele. — Vocês são pequeninos vão pagar por isso. — Ele não terminou. A pedra do tamanho do globo ocular atingindo-o entre os olhos o derrubou.

Isobel saiu do celeiro bem a tempo de ver Tamas atirar uma pedra de sua funda. Ela soltou um grito agudo quando esta atingiu um homem, já de joelhos, e o matou.

— Oh, Deus misericordioso. — Ela largou o garfo e saiu correndo. — O que vocês três fizeram?

— Ele é um Highlander. — Lachlan apontou às pressas, como se isso lhe desse licença para atirar no pobre homem.

— Ele estava atrás de você, Bel. — Defendeu Tamas. — Nós observamos perseguir você das árvores. Posso pegar o cavalo dele?

Mas a sua irmã não estava mais ouvindo, nem respirando mais. Tristan. Por um instante, o choque de vê-lo novamente acalmou o sangue de Isobel. O que ele estava fazendo aqui sozinho? Por que ele veio? Ela deixou claro para ele, que eles nunca poderiam ser amigos. Ela estava certa sobre ele o tempo todo e a amizade era a coisa mais distante de sua mente? Lembrou-se do homem que a fez pensar em cavaleiros enquanto passeavam e sorriam no jardim do rei. A respiração dela acelerou quando se agachou ao lado dele. Ele era o enganador mais inteligente do diabo ou sua chegada tinha um propósito mais nobre?

— John! — Ela ofegou, aliviada por a vítima de seus irmãos ainda viver. — Chame Cameron! Rápido! Tamas, precisamos de um cobertor para levá-lo para dentro de casa.

— Para casa? — Tamas recuou como se ela tivesse lhe dado um tapa. — Ele é um estranho. Patrick vai...

— Tamas! — Isobel o calou com um olhar gelado. — Pegue um cobertor neste instante, ou vou contar a Patrick sobre as duas dúzias de ovos que você roubou da fazenda dos Wallaces além do rio.

O rosto de seu irmão ficou pálido antes de correr para a casa.

Quando estavam sozinhos, Lachlan inclinou-se para o lado dela e disse, com o mesmo alarme em sua voz que a percorria.

— Achamos que ele veio te fazer mal.

Seu olhar se fixou na forma decadente da boca de Tristan e permaneceu ali.

— Talvez tenha.

— Como você sabe, Bel? — Lachlan perguntou. — Quem é ele?

Meu Deus, ela mal conseguia respirar, e seu butterbur... ele aterrissou em seu butterbur e arrancou-o de suas raízes. Sem utilidade.

— Ele se chama Tristan. Tristan MacGregor. — Ela disse quando Cameron e John a alcançaram. — Eu o conheci na Inglaterra.

Ela olhou para Cam e depois desejou que não o tivesse. Ninguém sabia que ela passou um tempo sozinha com Tristan em Whitehall. Ninguém além de Cameron. Ele não a questionou sobre o que ela estava fazendo com o inimigo ou sobre o que eles estavam falando quando os encontrou. Seus olhos a questionavam agora, no entanto. O que ela disse a esse MacGregor que o fez procurar a sua casa e ousar pisar em sua terra?

— Cam, ele está vivo. — Ela disse a ele. Ela se preocuparia com o que ele pensava dela mais tarde. — Pelo nosso bem, devemos mantê-lo assim. Se ele morrer em nossa terra, a família dele...

— Eu sei. — O seu irmão assentiu e não a questionou mais.

 


Capítulo Treze


Ele estava mais pesado do que parecia, e Isobel o amaldiçoou um pouco, enquanto ela e seus irmãos colocavam o seu corpo mole no cobertor e o arrastavam para dentro da casa.

— Temos que remover as flechas. — Ela suspirou quando eles subiram as escadas de carvalho para o andar superior. — Vamos colocá-lo na cama de Alex.

— Alex não vai gostar disso quando descobrir. Você sabe como ele odeia os MacGregors.

Isobel estava tentada a largar a ponta do cobertor e dar um tapa na parte de trás da cabeça de Tamas.

— Patrick também não gostará, quando voltar da casa dos Kennedys. — Acrescentou Lachlan.

Isobel lançou a ambos um olhar exasperado.

— Você gostaria que eu cuidasse dele no celeiro?

— A cama de Alex está bem. — Cam disse calmamente, puxando a sua extremidade do cobertor. — Pare de discutir com Isobel e faça o que ela diz e tirem essas malditas roupas.

— Eu nunca discuto com ela. — John contestou enquanto eles carregavam Tristan para o quarto de Alex e o transferiam cuidadosamente para a cama. — São esses dois que causam todo o problema. — Ele apontou com o queixo para Lachlan e Tamas, que imediatamente se ofenderam.

Exausta, frustrada e aterrorizada, Isobel afundou na cadeira mais próxima e cobriu o rosto com as mãos. O que ela estava fazendo trazendo um MacGregor para a sua casa, na cama de seu irmão? Ela precisava de um tempo para pensar sem que os rapazes brigassem constantemente em seus ouvidos.

— Qual é o problema, Bel? — John se inclinou para ela e perguntou com ternura. — Você está se sentindo mal para puxar as flechas?

— Por que ela estaria? — Lachlan empurrou-o para fora do caminho. — Ela se saiu muito bem na primavera passada, quando Tamas errou o alvo e me deu um tiro no braço.

— Nós poderíamos fazer isso por você, Bel. — Tamas ofereceu com uma pitada de maldade em seu ansioso sorriso. — Nós não nos importamos com o sangue.

Sim, ela sabia disso muito bem.

— Não, Tamas, eu farei isso. — Ela se levantou da cadeira, esfregou a testa e se recompôs pelo bem dos seus irmãos. — Vou precisar de água fresca fervida e panos limpos. Tiras das minhas cobertas. Lavei-as esta manhã, então eles devem estar bem para isso. — Ela deu um passo mais perto da cama para examinar os ferimentos de Tristan. Deus tenha piedade, ela teria que tirar as roupas dele. — John, vá ao meu jardim o que resta dele e me traga quatro folhas do Plantago Lanceolata17. Vou precisar de você para fervê-las para mim e esmagá-las em um cataplasma. Lachlan, traga as minhas agulhas e linha. Ele precisará de costura. — Como ela faria isso quando as suas mãos já estavam tremendo? Ela pressionou a cabeça no peito dele. Seu coração ainda estava batendo, mas muito lento, um pouco mais fraco. — Apressem-se! — Ela ordenou, e se inclinou ainda mais para ver melhor o inchaço acima do canal do nariz. A respiração dele aqueceu a sua bochecha, e ela desviou o olhar para os seus longos e exuberantes cílios.

— O que devo fazer com você, MacGregor? — Ela sussurrou, amaldiçoando o seu próprio coração por bater tão febrilmente em seu retorno, a sua proximidade, a beleza crua de seu semblante.

Ele abriu as pálpebras e olhou diretamente nos olhos dela, enchendo-a, por um instante aterrorizante, com a promessa de retribuição. Ela saltou para longe dele, mas os dedos dele se fecharam firmemente em torno de seu pulso e ela quase o arrastou para fora da cama.

Ela não viu Lachlan pegando o vaso de barro que dera a Alex na última época do Natal. Sujeira e folhas cobriram o seu rosto quando seu irmão derrubou o vaso na cabeça de Tristan com um estalo alto, nocauteando-o pela segunda vez naquele dia.

— Por que diabos você fez isso? — Ela deu um tapa no braço de Lachlan, ordenou-lhe para sair do quarto, e depois fechou a porta atrás dele.

Voltando para Cameron, ela o encontrou ao lado da cama, já removendo a claymore do lado do corpo de Tristan, junto com o seu plaid.

— Eu me pergunto. — Disse ele calmamente, sem olhar para ela. — Por que ele usa uma dessas para vir aqui e não enquanto ele estava na Inglaterra.

— Sim. — Respondeu Isobel, pensando cuidadosamente na observação de seu irmão. Alguém poderia facilmente esquecer de notar Cameron em meio ao caos que os seus outros irmãos pareciam gostar. Mas era tolice acreditar que qualquer coisa escapava ao seu conhecimento. — Eu me perguntei a mesma coisa.

Quando ele se afastou da cama, sem dizer mais nada, ela foi até o irmão, desesperada para que ele soubesse a verdade e por acreditar nela.

— Lembro o que eles fizeram com o nosso pai, Cam. Eu não fiz amizade com ele. Não sei por que ele veio aqui.

O sorriso dele era genuíno. Mas, os sorrisos de Cam sempre foram.

— Eu sei disso, Bel. — Disse ele, pondo um fim ao assunto. — Agora pare de falar e comece a salvá-lo.

Isobel sempre acreditou, depois que a sua mãe morreu e que ela foi forçada, sem tempo para lamentar, a cuidar de seus irmãos, que era a tarefa mais difícil que ela jamais teria que realizar. Mas ela estava errada. Retirar as roupas de Tristan era pior. Até cortar a sua bota a fez corar com o calor de cem verões. Desatar os laços de sua camisa quase provocaram um ataque. Ela se forçou a respirar e firmou as mãos quando abriu a camisa dele. Os dedos dela deslizaram pelo seu peito nu, e sem fôlego, apesar de seus esforços, o seu olhar deslizou por sua barriga plana. Verdadeiramente, ele era esculpido a partir dos sonhos de alguns grandes artistas.

— Eu... eu não acho que seja adequado para eu tirar as suas calças, Cam. Você faz isso e, quando terminar, cubra-o com o seu plaid, e então eu começarei.

Apenas Cameron e John ficaram com ela enquanto cuidava dos ferimentos de Tristan. Eles eram os únicos em quem ela confiava, embora a flecha de John tivesse causado mais danos.

— Eu poderia ter atirado nele no coração, em vez da sua perna, mas não pretendia matá-lo.

— Isso é bom. — Cameron deu um aperto suave no ombro de John, enquanto Isobel aplicava cuidadosamente o seu emplastro na panturrilha de Tristan. — Poupou a vida dele e salvou a nossa por uma boa troca.

Isobel estava prestes a concordar quando a porta se abriu e Tamas entrou no quarto.

— Patrick está de volta!

Ela olhou para cima e compartilhou um olhar ansioso com Cameron, depois voltou ao seu trabalho.

Como diabos ela iria contar a Patrick? Como ela iria detê-lo se ele decidisse que o inimigo mais odiado morreria por vir aqui?

— Ele disse para lhe dizer. — Tamas continuou. — Que quando você acabar, deve prendê-lo à cama.

Isobel balançou a cabeça.

— Eu não posso fazer isso.

— Ele também disse para não brigar com ele por causa disso. — Tamas sorriu, obviamente gostando da virada de mesa.

Colocando os curativos, ela olhou fixamente para o seu irmão mais novo.

— Ele disse? — Quando ele assentiu alegremente, ela se levantou da cadeira. — E onde ele está agora?

— Ao ar livre, cuidando das galinhas.

Ela foi até a janela e, olhando para o celeiro, chamou Patrick. Ela ouviu a resposta dele e, quando chegou, inclinou-se ainda mais.

— Se eu amarrar o braço ferido na cama, o ombro dele não vai sarar direito e enviaremos o filho do diabo MacGregor para casa aleijado. Você acha que isso é sensato? — Ela esperou, sem fôlego, por sua resposta. Ela sabia que Patrick daria a sua vida para mantê-los seguros, mas ele pouparia uma vida de MacGregor pelo mesmo motivo? Melhor saber agora para que ela pudesse estar melhor preparada para discutir com ele mais tarde, se precisasse.

— Muito bem. — Ele finalmente gritou de volta. — Amarre apenas um pulso então.

Isobel virou-se para oferecer a Tamas um sorriso triunfante, mas ele estava ocupado apontando para Tristan.

— Ele acordou!

Ela tentou detê-lo, quase caindo sobre a cadeira, tentando arrancar a tigela de água ensanguentada das mãos de Tamas. Mas isto veio fortemente para baixo na cabeça de Tristan, e ela finalmente teve que aceitar o fato de que um MacGregor talvez não conseguisse sair vivo de sua casa.

Isobel permaneceu com Tristan enquanto ele dormia, principalmente para mantê-lo a salvo de mais objetos sendo esmagados sobre a sua cabeça. Ela observou a respiração firme dele sob o seu plaid e se perguntou novamente o que ele estava fazendo aqui.

Levou duas semanas para tirá-lo completamente da sensação de sua boca na dela. Com que cuidado ele a seduziu e em apenas alguns dias! Ele a assustou com a sua capacidade de arrastá-la tão facilmente fora de seu juízo. Ela pensou, esperava, que estivesse livre dele. Agora, aqui estava ele, de volta para assombrar os seus sonhos novamente, desta vez com a visão de seu físico masculino, nu, esparramado na cama de seu irmão como um anjo em cativeiro. Ele era mais alto que Alex, os tornozelos passando sobre a beira da cama. Ela deixou os olhos vagarem sobre ele lentamente, o seu olhar demorando nas pernas bem torneadas, uma das quais ela teve que retirar os pelos para limpar o ferimento dele adequadamente. Os seus dedos formigavam com a lembrança da pele quente dele embaixo da palma da sua mão, o comprimento dos músculos duro subindo pela panturrilha até a coxa limpa. Cada vez mais sem fôlego, o olhar dela subiu para o seu plaid cobrindo os seus quadris. Ele estava nu por baixo. Ela sentiu as bochechas ficarem aquecidas. Quantas mulheres sorriram para ele enquanto tirava as suas roupas, duro e pronto para tomá-las? Ela passou a palma da mão pela a sua testa e xingou baixinho. Andrew Kennedy nunca teve esse efeito nela. Nenhum homem tinha! Por outro lado, ela nunca havia encontrado alguém com tanto apelo animal na mera inclinação de sua boca, ou o...

Não, eles eram inimigos jurados, sem lugar para atração entre eles. Além disso, ela estava noiva! Pelo menos até que ela encontrasse uma maneira de sair disso. Ela tinha que ficar focada na verdade. Havia apenas duas possibilidades de por que Tristan tinha chegado aqui. Ou ele queria informações dela sobre a morte de seu tio, ou ele havia sido enviado aqui por seu pai para assassinar a família dela. Ela deveria ter deixado ele morrer no jardim dela. Ele já tinha matado o seu butterbur, afinal. Mas a vida dele não valia a vida dos seus irmãos. Ela não teve escolha a não ser salvá-lo, cuidar dele, apesar do ódio que tinham um pelo outro.

A porta se abriu e ela olhou para Patrick, entrando no quarto pela primeira vez naquele dia. Ele estava parado na entrada, observando silenciosamente o homem inconsciente na cama de seu irmão. Quando o seu olhar se fixou nas ataduras que ela enrolara na testa de Tristan, ele curvou a boca em um leve sorriso que fez Isobel desviar o olhar.

— Onde está a espada dele?

Ela encolheu os ombros cansados.

— Cam a pegou.

— Suponho que ele sabe como usá-la?

Isobel lembrou-se de quão habilmente ele a empunhara contra Alex e assentiu.

— Muito bem.

Patrick atravessou o quarto e estava ao lado dela, olhando para a cama.

— Soube pelos rapazes que você o conheceu em Whitehall?

— Sim. — Ela assentiu. Deveria ter dito a ele. Ela disse agora. Contou tudo, apenas deixando de fora as tolices de Alex e o beijo dela e de Tristan. Não havia motivo para Patrick saber disso. Isso não significava nada.

— Então, ele protegeu Alex de seu pai. — Patrick refletiu pensativo, — E você de John Douglas.

— Sim, ele disse a John Douglas que você cortou os lábios do último homem que me segurou sem a liberdade para fazer isso.

O sorriso de Patrick era mais amplo desta vez, mas desapareceu muito rapidamente.

— E por que ele fez essas coisas?

— Eu não sei. — Ela respondeu calmamente, olhando para Tristan também. — Pela fama, talvez.

O irmão sabia o que ela queria dizer e soltou um longo suspiro.

— Me chame quando ele acordar, — disse ele, virando-se para sair do quarto. — E lembre-se, ele é um Highlander. Mantenha-o amarrado, e sua espada cuidadosamente escondida. Se suas suspeitas estão corretas sobre por que ele veio aqui, será mais fácil para acabar com isso se eu não tiver que lutar com ele.

Isobel olhou para a porta depois que ele saiu. Bem, pelo menos Patrick tinha mais senso na cabeça do que Alex. Na verdade, ele tinha mais senso do que todos eles, exceto quando se tratava de lhe casar com Andrew. Mas o que Patrick poderia fazer contra todos os MacGregors em Skye se ele machucasse Tristan? Oh, por que ela foi para a Inglaterra? Teria sido melhor para a sua família ter o Rei zangado com eles do que despertar mais uma vez a sede de sangue dos MacGregors.

Tristan gemeu o nome dela enquanto dormia, assustando-a com os seus pensamentos. Ela se inclinou sobre ele, algum instinto básico e estimulante assumindo o controle.

— Ssssh. — Ela sussurrou. — O pior já passou... por enquanto. — Ele jogou a cabeça para trás e para frente, como se combatesse algo em seus sonhos. Alarmada que ele pudesse causar mais danos ao seu crânio já ferido, ela apertou a mão na cabeça dele e o acalmou com um toque gentil. — Durma, e depois vá embora daqui, Tristan MacGregor se sabe o que é bom para você. — Ela sorriu para si mesma, pensando em seus irmãos rebeldes. Apesar do que eles fizeram com ele, eles tiveram boas intenções. — Podemos não ser um exército, mas como você certamente descobriu, podemos nos proteger.

Ela não percebeu imediatamente que estava acariciando com os seus dedos sobre as mechas sedosas dele e, quando o fazia, não parou. Ela não podia negar que uma parte dela estava dolorosamente atraída por ele. Ele era tão perfeito que parecia irreal, e ela o tocou para se convencer de que ele era apenas um homem.

— Oh, por que você veio aqui? Por que você assombra os meus sonhos e chama o meu nome nos seus? O que você quer de mim?

Ele dormiu, não lhe dando respostas. Ela sabia de alguma maneira que tirar respostas dele, mesmo quando acordasse, seria impossível.

 


Capítulo Quatorze


Tristan estava sonhando com o dia em que o pai de Brigid MacPherson os pegou juntos e atirou na sua coxa, quando um aroma, mais fino do que qualquer coisa que ele nunca tinha sentido antes, puxou-o para a consciência. Não mergulhou alegremente em seu estado final de consciência, mas era catapultado para o claro despertar e ardente da dor excruciante, ou pior, de sua cabeça.

O pânico o envolveu quando não conseguia se lembrar do que havia acontecido com ele. Ele tentou se sentar, mas foi imediatamente jogado de volta pela agonia em seu crânio e pelos laços que amarravam o seu pulso na cabeceira da cama atrás dele.

Isobel. A missão dele.

Ele tinha sido atingido por uma flecha. Duas vezes. Até agora, as coisas não estavam indo conforme o planejado. Então, novamente, ele não tinha um plano. Ele normalmente não tinha, e viu a tolice disso agora mais do que nunca. Ele olhou para o outro braço, enfaixado e preso ao seu peito nu. Alguém havia retirado as flechas e curado suas feridas. Mas o que diabos aconteceu com a sua cabeça? Ele puxou os cordões de couro que o mantinham em cativeiro e depois parou quando a dor atravessou o seu ombro.

Desamparado, tentou manter o juízo sobre ele e considerar a sua situação. Era realmente perturbador. A sua espada, junto com as suas calças, não estava à vista. Ele tinha dois buracos nele, uma dor de cabeça angustiante e estava amarrado a uma cama na casa do pior inimigo de seus parentes. Para piorar a situação, ele estava com fome, e o que quer que estivessem cozinhando além da porta fazia água na sua boca e seu estômago roncarem. Os Fergusson o alimentariam antes de matá-lo? Por outro lado, se eles iam matá-lo, já não o teriam feito?

Ele ouviu vozes atrás da porta e fechou os olhos quando ela se abriu e a fragrância de coelho cozido flutuou por suas narinas.

— Ele ainda dorme.

— Bom. Venha, antes que Isobel nos descubra. — O chão rangeu e o pulso de Tristan se acelerou quando os dois meninos atravessaram o quarto. — Ela esfolará nossas peles se descobrir o que estamos fazendo, Lachlan. Do jeito que está cuidando dele, se pode pensar que ela gosta dele.

— Ele é um MacGregor, Tamas. Você sabe como ela se sente sobre eles.

— Sim. — O outro concordou. — Além disso, não é como se estivéssemos tentando matá-lo. Fomos picados por vespas e não morremos por isso.

— Sim, mas doeu como o inferno.

Tristan abriu um olho e observou os rapazes pairando pela janela aberta. Lembrou-se do mais alto dos dois puxando o seu arco e atirando no ombro dele. O outro canalha tinha disparado algo mais contra ele, e com precisão mortal. Uma pedra? Sim, ele se lembrava agora.

— Espalhe o mel, Lachlan. — Ordenou o menor alegremente. — E quando terminarmos, colocaremos um pouco na cama dele. Vai atrair as vespas diretamente para ele.

Och, então era para acontecer isso, não é? Tristan abriu os olhos e com expressão de dor, colocou um sorrisinho na boca.

— É um esquema inteligente contra mim, rapazes. — Disse ele, assustando os pobres coitados praticamente fora de sua vantagem. — Mas devo avisá-los, que vocês pagaram dez vezes mais por isso.

Sua ameaça provocou um brilho desafiador nos olhos do jovem.

— É mesmo? — O rapaz refletiu, pegando a sua funda de couro ao lado do seu corpo. — Onde eu devo bater nele desta vez, Lachlan? Ele parece ter uma cabeça bastante dura.

Tristan puxou as amarras enquanto o menino tirava uma pedra do seu bolso.

— Não faça isso. — Ele avisou, amaldiçoando a sua ameaça precipitada, impotente como estava atualmente. — Eu juro, — ele começou, observando nervosamente o menino soltar a pedra na bolsa de sua funda. — Se você... — O pirralho girou a funda sobre a sua cabeça. Filho de uma...! Isobel! — Tristan rugiu, incapaz de fazer qualquer outra coisa.

Imediatamente, o menino largou a sua funda e o encarou com um olhar vingativo. Tristan correspondeu com um olhar perigoso. Ele cuidaria do nanico mais tarde.

A porta se abriu um momento depois e uma pálida Isobel Fergusson entrou correndo no quarto. Atrás dela, preenchendo o batente da porta, estava um homem cujo tamanho e carranca rivalizavam com o de qualquer um dos guerreiros mais ferozes de Camlochlin. Tristan sabia que a cautela, talvez mais do que em qualquer outro momento até agora, devia ser exercida liberalmente. Mas ele não conseguiu evitar que seus olhos se deslizassem para a deusa ruiva que vinha em sua direção. Ou de encontrar o fogo em seu olhar quando ela o alcançou. Inferno, ele sentiu falta dela.

— Se você ainda está de posse de seu juízo. — Ela murmurou, inclinando-se para examinar o curativo ao redor da sua cabeça. — É melhor recorrer a ele agora.

— Primeiro. — Ele sussurrou perto o suficiente do ouvido dela para impedir que os outros ouvissem. — Vamos deixar claro algumas coisas.

Ela olhou para ele, a respiração deles se misturando enquanto os olhos dele caíam no inchaço do seu seio.

— Não gosto de ser amarrado. — A sua covinha brilhou quando o seu olhar encontrou o dela novamente. — A menos que seja por minha própria sugestão.

— MacGregor. — O gigante na porta interrompeu quaisquer palavras entre eles. Tristan olhou para ele, esfriando o seu sorriso. — Eu sou Patrick Fergusson, mas suponho pelo nome que você chamou, que sabe onde está.

— Sim. — Tristan tentou assentir, depois fechou os olhos enquanto a dor passava por sua cabeça. — Eu sei onde estou.

— É aqui que você queria se encontrar? — O irmão de Isobel continuou sem piedade. — Ou você tomou um rumo errado?

Tristan abriu os olhos lentamente.

— Na verdade. — Ele admitiu, sabendo que os olhos afiados e contemplativos olhando para ele veriam através de qualquer mentira. — Eu não estou perdido.

O olhar de Patrick cortou Isobel por um instante enquanto ele dava um passo à frente, finalmente entrando no quarto.

— Você parece bem o suficiente para responder a algumas das minhas perguntas, MacGregor. Então vamos começar. Por que você tomou a liberdade que não lhe foi concedido e usou o nome cristão de minha irmã?

Sem a menor alteração em sua respiração, Tristan olhou para os rapazes ainda de pé junto à janela.

— Porque é o único nome que eles têm medo.

O olhar sombrio que Patrick deu aos meninos, convenceu Tristan de que era muito brando para temer o irmão mais velho ou o temperamento de Isobel era muito pior do que ele imaginara.

— O que vocês dois fizeram? — Isobel exigiu, chamando a atenção dos meninos. — E por que vocês estão aqui?

— Foi tudo obra de Tamas. — Respondeu o menino maior, entregando o jovem sem brigar.

— Bem? — Isobel apertou as mãos nos quadris. Todos no quarto, incluindo Tristan, olharam para Tamas, esperando a sua resposta.

— Tudo bem. — O menino cedeu com uma inclinação desafiadora do seu queixo. — Eu espalhei mel na vidraça para atrair as vespas.

Isobel soltou um suspiro apertado e marchou em direção à janela. Quando ela viu que ele tinha dito a verdade, ela se virou e bateu com o avental na coxa.

— Você vai limpar isso... e depois limpar o celeiro hoje à noite!

Tamas assentiu e lançou a Tristan o seu olhar mais desagradável.

— O que mais você fez? — Ela continuou, ainda olhando para o menino.

— Nada mais. — Ele respondeu, baixando o olhar ao chão.

Observando-o, Tristan notou os dedos de Tamas escondendo a sua funda debaixo do cinto.

— Senhor MacGregor? — A voz de Isobel era tão severa quando ela voltou a sua atenção para Tristan. — O que mais ele fez que o fez gritar?

— Nada mais. — Tristan repetiu suavemente, encontrando o olhar de Tamas do outro lado do quarto. Ele retribuiria ao menino por sua cabeça latejante quando saísse daquela maldita cama. Por enquanto, isso ficava entre eles. Ele não o entregaria tão facilmente quanto o seu irmão.

— Então, MacGregor. — Disse Patrick, fazendo pouco para mascarar o seu humor. — Você procurou a ajuda de uma moça porque tem medo de insetos?

— Vespas, sim. — Tristan sorriu de volta para ele, enquanto Isobel conduzia os meninos até a porta. — Eles não picam apenas uma vez, sabe.

Antes de sair, Tamas virou-se e lançou um olhar curioso para ele uma última vez. Tristan piscou, mas a expressão do rapaz permaneceu ilegível quando a porta se fechou na frente dele.

Quando estavam sozinhos, Patrick cruzou os braços sobre o peito largo e estudou Tristan por tempo suficiente para fazer qualquer outro homem se contorcer. Tristan teve o cuidado de se mover o mínimo possível, já que tudo, dos dedos dos seus pés ao topo da sua cabeça, doía.

— Minha próxima pergunta.

Como a sua irmã, esse homem perdia pouco tempo com a falsa formalidade do dia. Ele era direto ao ponto, atributos que para Tristan favorecia, apesar da semelhança de Patrick com o seu irmão mais novo, Alex.

— Qual o propósito de você vir aqui?

Da porta, Isobel percebeu o olhar nervoso de Tristan.

Ele não gostava do jeito que ela se preocupava toda vez que ele falava com um de seus irmãos. O que ela achava que ele lhes diria? Que eles haviam compartilhado um beijo e alguns sorrisos proibidos? Sabendo o que isso lhe custaria, ele não admitiria isso enquanto os parentes deles ainda fossem inimigos.

— Eu vim aqui para informar a Senhorita Fergusson sobre o seu irmão Alex. — O seu olhar a seguiu quando ela se moveu ao redor de Patrick para retornar ao final da cama. — Quando os meus parentes deixaram a Inglaterra, ele estava bem.

Ele pensou ter visto um alívio suavizando os seus traços, talvez até o traço de um sorriso. Ele não viu razão para dizer a ela que não tinha ideia de como Alex se saiu com Colin e Mairi em Whitehall para fazer o que quisessem.

— MacGregor. — Disse Patrick, erguendo uma sobrancelha duvidosa. — Você espera que eu acredite que você viajou da Inglaterra apenas para contar isso à minha irmã?

— De Skye, na verdade. — Tristan corrigiu. — Ela estava bastante angustiada por deixá-lo em Whitehall com os meus parentes. Dei a ela minha palavra de que, enquanto estivesse lá, nenhum mal lhe aconteceria.

Não era uma completa falsidade. Ele simplesmente não viu razão para falar de sua missão e acender a ira de Fergusson contra ele, considerando-o um mentiroso, enquanto estava impotente para lutar.

O sorriso estreito de Patrick era com malícia, quando ele mediu Tristan dos pés à cabeça.

— Entendo. Então, devo acreditar que você é um homem de honra?

Tristan não se ofendeu com o tom de zombaria de Patrick, pois ele já sabia que era tudo menos honrado. Em vez disso, ele se perguntou se as qualidades que Isobel tinha visto nele quando se conheceram, ela aprendeu com esse homem. O seu humor melhorou consideravelmente. Talvez Patrick entendesse por que ele veio aqui. Embora estar aqui e fixar o seu olhar em sua bela Isolda novamente fez Tristan questionar os seus verdadeiros motivos.

— Na verdade. — Ele admitiu. — Não sou o que você sugere. Mas estou trabalhando nisso. Enquanto isso, você pode acreditar no que deseja. Mas gostaria de pedir a você que guardasse essa suposição para si mesmo, para que a minha reputação não sofra um enorme golpe.

Isobel revirou os olhos para o céu e voltou para a janela. Patrick olhou para ele por um momento, como se estivesse chegando a alguma conclusão em sua mente, e quando o sorriso de Tristan se alargou, o mesmo aconteceu com o dele.

Na hora que se seguiu, Tristan descobriu que Patrick não era tão arrogante quanto Alex. As suas perguntas, e ele fez muitas, aparentemente sem se preocupar com a cabeça latejante e os membros ardentes de Tristan, todos centrados em uma coisa, a segurança de sua família. Ele avisou, sem nenhum clamor arrogante, que se Tristan tivesse ido a sua casa para causar danos aos seus parentes, Patrick o mataria e enterraria o seu corpo atrás do celeiro.

— Minhas intenções, — Tristan finalmente confessou. — São pôr fim ao ódio entre nossas famílias.

Patrick olhou do outro lado do quarto para a sua irmã.

— Por quê? — Mas quando Tristan começou a responder, ele o interrompeu, virando-se para ele mais uma vez. — Nós não precisamos de sua ajuda, MacGregor. Nós simplesmente queremos ser deixados em paz.

Ele se virou para sair e fez um gesto para Isobel ir com ele. Tristan xingou baixinho. Patrick não acreditou nele. Por que ele iria? Por que um MacGregor quereria acabar com uma briga e não pedir algo em troca como a sua irmã? Inferno, qualquer homem com um cérebro na cabeça suspeitaria de um motivo secreto mais traiçoeiro. Agora, Patrick os separaria.

— Senhorita Fergusson.

Ela parou e virou-se lentamente para olhá-lo.

— Você não tem uma mistura para a dor? Talvez um de seus irmãos me acerte na cabeça com alguma coisa para me deixar desacordado?

Ela foi até ele, com profunda preocupação estragando a sua sobrancelha.

— Está tão ruim?

— Sim. — Ele silenciou a voz, quando ela se aproximou para sentir se estava com febre. — Se não puder vê-la novamente até que esteja bem o suficiente para partir, prefiro dormir durante a minha recuperação.

— Oh, Senhor. — Ela falou lentamente, afastando-se dele. — Você nunca cessa?

Ele sorriu e despertou mil borboletas na barriga dela.

— Vou fazer algo para ele beber. — Disse Isobel ao seu irmão na porta quando ela passou por ele.

— Cam vai dar a ele. — Patrick falou, deixando-a saber.

— Vou dar a ele. — Respondeu Isobel, encerrando a discussão.

Tristan levou um momento para apreciar o balanço de seus quadris enquanto caminhava pelo corredor e se virou para as escadas.

— Fergusson. — Ele chamou quando Patrick começou a fechar a porta. — Podemos ter uma palavra sobre liberar o meu braço?

A porta se fechou.

Inferno.

 


Capítulo Quinze


— O que você pensa dele?

Isobel parou no caminho de volta para a cozinha e olhou para o que restava do elixir de Tristan. Ela não esperava que Patrick fizesse uma pergunta sobre o seu convidado. Ela imaginou que ele sabia perfeitamente bem o que pensava dele.

— Ele é um MacGregor. — Ela olhou do outro lado do salão para onde o seu irmão estava descansando do trabalho da limpeza da lareira. — O que penso dele sujaria as paredes ao nosso redor, se eu pronunciasse.

Patrick se apoiou no punho em sua pá, as suas feições relaxadas e ilegíveis na penumbra.

— Como você consegue pensar isso sobre ele, mesmo que em um pouco de tempo, se te faz ficar furiosa?

Isobel sentiu a sua coluna endurecer. Sempre o irmão lógico, Patrick resolvia as coisas em sua mente com a precisão de um guerreiro endurecido pela batalha. Ela sempre teve que estar atenta para acompanhá-lo.

— Seria melhor para você não se enfurecer. Agora deixe o seu trabalho e lave-se para a ceia. — Ela se virou para sair, mas ele a impediu mais uma vez.

— É uma pergunta bastante simples, Bel. Você não vai responder?

Ela não tinha escolha agora, ele achava que ela escondia alguma coisa. O que certamente não era.

— Talvez. — Ela disse com um encolher de ombros insignificante e continuou em direção à cozinha. — Sou mais forte que você.

— Nesse caso. — Ele respondeu significativamente. — Vamos rezar para que você seja.

Ela orou. Oh, como orou. Ainda assim, toda vez que estava perto de Tristan, temia poder conceder a ele o sorriso que ele estava procurando. Ela não tinha certeza de qual de suas muitas armas ele usava melhor. O brilho indecente de sua covinha que fazia a sua barriga virar, ou a sinfonia de palavras que tocavam os seus lábios que podiam fazer o coração de qualquer mulher tola dançar.

A sua respiração diminuiu com a lembrança do que ele havia perguntado enquanto ela o alimentava com o seu elixir.

— Você está feliz em me ver, Isobel?

— Fico feliz em vê-lo vivo. Você é um tolo por vir aqui só para me dizer sobre Alex. Embora suspeite que tenha sido outra razão pelo qual o trouxe até aqui.

— Então você não é apenas arrebatadora, mas inteligente também.

O sorriso lento e atraente dele acendeu um fogo abaixo da sua barriga, aquecendo o seu corpo até as suas bochechas. Se ela não tivesse passado os últimos dez anos odiando os seus parentes, ou se acreditasse que ele simplesmente não pretendia fazê-la mais uma de suas conquistas, poderia ficar tentada a brincar com o seu jogo de gato e rato. Ela apreciaria muito vê-lo tropeçar com a sua rejeição. Mas sabia o verdadeiro motivo por trás de suas palavras floridas. Ele era arrogante o suficiente em suas proezas para admitir que existia. Ele era muito perigoso. Havia muito em jogo para considerá-lo como qualquer coisa, menos o seu pior inimigo. Ela estava longe do quarto dele e deixaria os seus irmãos cuidar dele. Ela sorriu. Sim, ele merecia isso.

— Lachlan! — Ela gritou, curvando-se no tripé18 e mexendo o grosso ensopado de coelho que fervia na panela acima do fogo. — Leve a ceia para MacGregor.

Empurrando a cadeira para trás, onde estava sentado esperando para comer, Lachlan entrou na cozinha e a observou mergulhar a concha na panela.

— Mas como ele vai comer? Devo desatar o pulso dele?

— Não, você terá que alimentá-lo.

Seguindo atrás de seu irmão mais velho, com a tigela na mão, Tamas riu dos fracos protestos de Lachlan.

— E você pode ir com ele. — Disse Isobel, apontando a concha para Tamas. — Limpe a janela antes que ele seja atacado por vespas.

Por um momento, Tamas a encarou como se ela tivesse enlouquecido.

— Mas minha ceia estará fria quando eu for comer! Vou fechar as persianas por enquanto. Não é a sua decisão, Patrick! — Ele se virou quando Patrick entrou na cozinha. — Por que aquele MacGregor deveria saborear uma refeição quente, enquanto a minha barriga fica vazia? E daí se ele for picado algumas vezes? Isso fará dele um homem!

— Então fez de você um homem quando foi picado? — Patrick perguntou enquanto Isobel enchia a sua tigela.

— Não sou eu quem gritou por uma moça antes mesmo de me atacarem.

Patrick sorriu, mas não cedeu.

— Faça o que lhe foi dito.

A voz agradável, mas um tanto apreensiva de Tristan soou atrás da porta da cozinha, interrompendo-os.

— Se qualquer um de vocês pode me ouvir por aí, há um assunto urgente referente a minha bexiga que precisa de atenção.

Os olhos arregalados de Tamas ficaram mais redondos e a cor sumiu de seu rosto sardento quando ele olhou para cima para encontrar Isobel e Patrick olhando para ele.

— Eu farei qualquer coisa, menos isso. Desamarre-o, eu imploro.

Patrick concordou e partiu primeiro para cuidar da tarefa. Isobel entregou a Lachlan uma tigela cheia de ensopado quente e o observou relutantemente seguir atrás.

— Por que você gosta dele? — Tamas perguntou a ela, aceitando os trapos que ela lhe ofereceu.

Ela teria rido bem na cara do seu irmãozinho se não se fizesse a mesma pergunta uma dúzia de vezes desde que conheceu o libertino das Highlands.

— Por que você me faz uma pergunta tão ridícula? — Ela deu-lhe um tapa com o avental. — Você está ficando mais parecido com Patrick todos os dias. — Ela deu-lhe um empurrão suave e o enviou para o caminho.

Ela terminou de encher as tigelas dos seus irmãos e levou cada uma para a mesa de jantar. Durante cada viagem, ela notou as suas mãos tremendo mais. Maldito seja. Ela olhou para as escadas, torcendo as suas mãos no avental. Ela pensou que estava livre de Tristan MacGregor. Ela estava aprendendo a viver com o rosto dele sempre aparecendo em seus pensamentos, mas morando com ele... morando com ele... um andar acima dela, deitado em uma cama seminu e à sua mercê, era demais. A sua presença encheu a casa e saturou os seus sentidos com um raio de consciência que a fez cambalear. O que ele já havia feito com ela que se mostrava tão descaradamente que dois de seus próprios irmãos questionavam os seus sentimentos por ele?

Havia apenas uma coisa a fazer sobre isso, e ela faria isso alto e claro. Ela forçou um sorriso quando Cam e John entraram na casa carregando maços de lenha debaixo dos braços. Ela não perguntou a Patrick como tudo estava, quando ele voltou para o salão e sentou-se à cabeceira da mesa. Ela não se importava, e deixaria todos os seus irmãos saberem disso.

Ela não poderia ter planejado melhor quando Lachlan desceu as escadas e anunciou que MacGregor se recusava a comer qualquer coisa da mão de alguém, exceto da Senhorita Fergusson. Ele pediu desculpas, mas a mão dela era a única mão em que ele confiava para não envenená-lo.

— Deixe-o passar fome, então. — Patrick murmurou, enfiando a colher na boca.

— Não. — Disse Isobel, levantando-se da cadeira. — Se ele quer que eu o alimente, então por todos os meios, o alimentarei.

Ela pegou a tigela da mão de Lachlan e puxou a manga de Patrick.

— Você não vai beber aquele uísque profano que você e Andrew Kennedy fabricaram atrás do celeiro no inverno passado, não é?

— A não ser que eu queira ficar acamado na próxima semana, doente como um cão.

Ela sorriu, parecendo um pouco com Tamas.

— Lachlan, me traga isso, sim?

— Você não vai fazer MacGregor beber isso, não é, Bel?

— Não, Cam. — Ela respondeu, virando-se para ele. — Eu vou dar a ele.

Patrick fez uma careta em seu copo, mas não fez objeção. John perguntou se ele poderia observar. Isobel recusou e esvaziou um pouco do ensopado de Tristan em sua tigela para dar espaço. Quando Lachlan voltou, ela pegou a garrafa dele, retirou a rolha com os dentes e derramou uma boa quantidade do líquido fétido na ceia.

— Você não vai fazê-lo concordar com uma segunda colherada, irmã. — Disse Patrick, rindo, quando ela alcançou as escadas.

— Sim. — Ela respondeu em voz baixa que os seus irmãos não podiam ouvir. — Vou fazê-lo comer cada gota.

Ela não olhou para Tristan quando entrou no quarto. Ela achou melhor não. Tamas deixou de esfregar a janela e jogou uma carranca para ela, como poderia ter sido encontrado no rosto do mais miserável guerreiro com cicatrizes de batalha. Ela ignorou isso também.

— O seu irmão Lachlan se gabava de que cozinhasse melhor do que qualquer moça da Escócia. — A voz de Tristan penetrou em seus ossos como o sol aqueceu o mel.

— Ele exagera. — Disse ela, recusando-se a permitir que o seu tom rouco a influenciasse em sua tarefa. — Será que o meu elixir aliviou a sua dor? — Ela se sentou na cadeira ao lado da cama e, finalmente, o olhou.

Ele assentiu, fixando os olhos de lobo nela enquanto ela mexia o ensopado. A sua mão tremia um pouco e ela xingou silenciosamente que ele visse o seu efeito nela. O braço dele ainda estava amarrado à cabeceira da cama. O resto do corpo dele certamente não representava nenhuma ameaça para ela, e ainda assim tinha a sensação desconfortável de que ele estava em controle total e ela era a presa aqui.

— Não espero que confie em nenhum de nós, Senhor MacGregor, mas gostaria que soubesse que nenhum dos meus irmãos o envenenaria. — Ela pegou um pouco de ensopado na colher.

— Não, eles só iriam atirar-me com flechas e pedras de fogo em minha cabeça. — Ele sorriu para ela, quando ela finalmente encontrou o seu olhar. Inferno, ele nem estava bravo... ou talvez estivesse, mascarou-o extremamente bem.

— Nós não estávamos tentando matar você. — Veio da voz dura de Tamas da janela. — Se tivéssemos, você estaria morto.

— Ele fala a verdade. — Garantiu Isobel. — Queremos enviar você para casa vivo e escapar da sede de sangue de seus parentes por mais vingança. Agora, abra a sua boca, por favor.

Tristan seguiu a colher enquanto ela a levava aos lábios e depois levantou os olhos para os dela novamente.

— Cheira mal, eu pensei...

Habilmente, ela mergulhou o conteúdo da colher na boca dele. Um olhar de horror tomou conta dele quando o sabor se apoderou de seu paladar. Ele parecia cuspir, então Isobel fez o que ela prometeu a si mesma que não faria. Ela sorriu para ele.

— Bom? Eu mesmo a preparei, como todas as nossas refeições. Não diria que sou a melhor cozinheira da Escócia. — Ela pegou outra porção. — Mas admito que tenho orgulho dos meus pratos.

Ele engoliu com força e recuou mais profundamente em seu travesseiro quando a colher chegou pela segunda vez.

— Por que, apenas algumas noites atrás Andrew Kennedy afirmou que ele poderia viver feliz pelos próximos trinta anos com a minha comida.

Ele abriu a boca, aceitando mais.

— Quem é esse... — Ele estremeceu dos dedos dos seus pés aos ombros, mastigando rapidamente e engolindo ainda mais rápido. — Andrew Kennedy?

— Um dos amigos de Patrick. — Ela o alimentou com uma terceira porção.

— E o que ele é para você?

— Um admirador... da minha comida. — Acrescentou ela, sorrindo tão brilhantemente quanto o sol.

Ele parecia derreter diante dos olhos dela. Ah, bom, a bebida estava o afetando. Lembrou-se de como ele estava bêbado na Inglaterra depois de apenas dois copos do melhor vinho do rei. Ela forçou uma risadinha nervosa com a potência do uísque que ele estava ingerindo agora. Ele se sentiria como o inferno pelos próximos dias, mas provaria aos irmãos que ela não sentia nada pelo inimigo jurado.

— Sabe. — Disse ele, seus olhos e sua voz ficando suaves nela. — Você fica mais bonita para mim a cada dia.

Ela quase deixou cair a colher no peito dele, despreparada, não pelas palavras astuciosamente tecidas, mas pela maneira como ele as pronunciava. Com ternura, significativamente, como se nada no mundo significasse mais para ele do que fazê-la acreditar nele. Ela olhou para Tamas, desejando agora que não o tivesse feito limpar o mel.

Ela enfiou mais ensopado na boca sorridente de Tristan e se inclinou para mais perto dele.

— Você não deve falar assim na frente dos meus irmãos.

— Você cheira agradável também. — Ele mastigou mais lentamente agora e até lambeu uma gota de seus lábios. A visão de sua língua tão perto quase a fez saltar da cadeira e correr do quarto. — Limpa e fresca como gotas de orvalho na grama

Que palavras bonitas. Um pouco mais de ensopado e ela não precisaria ouvi-los novamente por alguns dias.

— E como alguma lembrança perdida do Éden, você me assombrou.

Isobel engoliu em seco, a colher no ar. Ela o assombrou? Não, ele estava mentindo, tentando seduzi-la.

— O que ele está dizendo? — Tamas se afastou da janela e deu um passo em direção à cama.

Rapidamente, Isobel pressionou o dedo nos lábios de Tristan.

— Pare de falar, MacGregor! — Ela sussurrou rapidamente. — Não quero que pensem que há algo entre...

Ele beijou o seu dedo.

Isobel se afastou com um grito agudo e Tamas correu o resto do caminho para o lado dela.

— O que é isso? O que ele fez?

— Nada. — Ela tentou parecer calma, mas o beijo íntimo e espontâneo de Tristan roubou o seu fôlego. — Aqui. — Ela enfiou a tigela nas mãos de Tamas e se levantou. — Termine de alimentá-lo. Eu... eu não aguento mais vê-lo.

Ela nunca mentiu para os seus irmãos antes e sentiu-se terrivelmente culpada ao fugir do quarto, com o coração batendo forte no kirtle. Ele a beijou de novo! O bastardo! O audaz, imprudente, profundamente charmoso, filho de um cão, mesmo a caminho de se tornar completamente embriagado, beijou-a novamente!

Tamas estudou o cativo grogue, pensativo, levou a tigela de ensopado até o nariz e a afastou com um grunhido. Patrick fracassou na fermentação. Todos se lembraram do cheiro da fermentação permeando a casa como um ataque de gambás furiosos.

— Minha irmã quer que eu garanta que você termine de comer tudo, e sempre faço o que ela diz. Mas primeiro, — Ele levou a tigela para a janela, pegou o pano que usava para limpar o mel e praticamente pulou de volta para a cama. — Você precisará disso para o caso de derramar um pouco em você. — Ele sorriu enquanto ele espalhava o pano sobre o peito nu da vítima. Ele se sentiu um pouco culpado quando MacGregor sorriu de volta para ele.

 

 

Capítulo Dezesseis


Tristan acordou de sua demência dois dias depois. Ou melhor, ele foi revivido. Afinal, não se acorda da morte. Ele abriu os olhos e uma bala de canhão bateu em seu crânio. Bom Deus, ele nunca sentiu algo assim. A pedra bem lançada de Tamas não o machucou tanto. Doía respirar. O que eles fizeram com ele dessa vez? O que Isobel tinha feito com ele? Inferno, ela o envenenou e fez isso com um sorriso no rosto. Eles estavam todos loucos! De alguma forma, ele tinha que agir. Ele finalmente tinha que admitir a derrota. Foi um erro vir aqui. Claramente, eles não queriam paz. Ele tinha que escapar de suas garras insanas, mas não conseguia nem pensar sem uma onda de náusea ameaçá-lo. Ele tentou se acalmar, diminuir o ritmo do seu coração na esperança de que seu juízo retornasse a ele.

Isobel alegou que nenhum de seus irmãos pretendia matá-lo, mas ela o enganara. Eles estavam se revezando tentando acabar com a sua vida devagar, torturadamente.

Duas horas depois, ele ainda não conseguia acreditar que ela lhe havia alimentado com veneno. Ele tentou abrir os olhos novamente e percebeu pela primeira vez que ninguém havia entrado no quarto o dia todo. Provavelmente, eles acreditavam que ele estava morto, então por que se preocupar?

Lunáticos.

A dor em sua cabeça havia diminuído um pouco, mas a atadura acima das suas sobrancelhas o estava deixando louco. Ele girou o ombro ferido, satisfeito e aliviado por também sentir-se melhor. Tirando o braço da tipoia, ele puxou a atadura da sua cabeça e começou a trabalhar no nó grosso que segurava o outro pulso na cama. Ele estava dando o fora daqui enquanto ainda respirava. O seu braço curado estava rígido, então ele usou os dentes para arrancar o resto do nó. No momento em que estava livre, percebeu outro tipo de dor que o apunhalava. Não, não através dele, mas sobre ele. Sua pele parecia como se estivesse pegando fogo. Ardor, coceira, queimando um pouco... Ele se apoiou no cotovelo bom e olhou para os vergões irritados que cobriam o seu peito e a sua barriga. Ele sabia que havia mais sob o trapo afixado no seu peito. Aquele trabalho era do estafermo do nanico Fergusson. Ah, Tristan não dava a mínima o quão jovem o menino era, Tamas ia se arrepender.

Ele sentou-se completamente e depois se inclinou para o lado da cama e vomitou o que restava em seu estômago, que praticamente não era nada depois de dois dias sem comida.

Levantando-se, ele arrancou o pano do peito e apertou a mandíbula contra a agonia de seus pelos de seu peitoral serem arrancados. Que tipo de demônios eram eles? Ele fez uma careta para o pano e depois jogou na parede.

Inferno, ele estava com fome. Ele caçaria assim que estivesse a uma distância segura. Tinha que encontrar as suas calças e o seu cavalo. Ele olhou ao redor do quarto. Onde estava a sua espada? Ele poderia caminhar até que a encontrasse?

Ele passou a perna boa por cima da beira da cama primeiro e depois cuidadosamente afastou a outra pela lateral. Ele estava prestes a tentar se levantar quando a porta se abriu.

Ah, era a bela Isobel que veio checar o cadáver. Ele quase sorriu com o olhar atordoado em seu rosto quando ela o viu sentado.

— Desculpe desapontá-la, moça sem coração. — Ele rosnou.

— Como você...? — O olhar dela se voltou para o poste da cama, onde a corda que o amarrava estava caída no colchão.

Uma cabeça pequena, a que Tristan lembrava de pertencer ao rapaz que lhe deu uma flechada na perna, apareceu em volta do braço esquerdo de Isobel. Maldição, quantos deles estavam lá?

— John — Isobel empurrou-o para longe da porta. — Vá buscar Patrick.

— Sim. — Tristan gritou atrás dele. — Busque Tamas também, para que eu possa jogá-lo pela janela!

Isobel ofegou e quando ele olhou para ela, os seus olhos se estreitaram em fendas finas.

— Como você pode brincar sobre fazer uma coisa dessas?

— Eu não estou brincando, Senhorita Fergusson. — Ele retrucou. — E você será a próxima.

— Pare de ameaçá-la, MacGregor. — Desta vez Tristan reconheceu o rosto aparecendo ao seu lado. Cameron. E o bastardo tinha a espada de Tristan.

— Vejo que também são um bando de ladrões.

— Não se mexa! — Cameron avisou, acenando com a lâmina quando Tristan tentou se empurrar para fora da cama.

— Então, — Tristan zombou dele. — Você quer me matar com a minha própria claymore?

Quase instantaneamente, Cameron abaixou a arma e seu olhar junto com ela.

— Eu não pretendo matar ninguém.

— Sim. — Tristan sorriu secamente. — Nenhum de vocês pretende.

— Você zomba de nossa palavra? — Isobel atacou, agora olhando tão irritada como ele se sentia.

— Sim, eu zombo dela! Não fique aí e negue que tentou me envenenar, Senhorita Fergusson? — Ele a interrompeu com a força de sua fúria quando ela abriu a boca. — Você nega que foi o seu próprio irmão que limpou o mel da janela e colocou o pano no meu peito enquanto eu estava lutando contra a morte?

— Lutando contra a morte? — Isobel estava preste a rir-se dele e Tristan sentiu o seu sangue ferver.

— Olhe! — Ele apontou para os vergões vermelhos na sua pele. — E eu deveria acreditar que você não quer me machucar?

Patrick apareceu na porta com John. Tamas não estava à vista.

— Quem o desamarrou?

— Eu o fiz! — Tristan gritou para nele. — Eu estou indo embora daqui. Meu cavalo ainda está vivo? — Ele se virou para queimar Isobel com o seu olhar mais sombrio. — Ou foi com a carne dele que você me deu de comer quando tentou me matar?

— Do que você está falando, MacGregor? — Patrick exigiu da porta. Tristan foi rápido em notar que Cameron passara a lâmina para ele.

— Fico feliz em lhe contar, Fergusson. — Ele passou o seu plaid ao redor de sua cintura e se levantou, agarrando-se ao poste de fundo da cama para se apoiar. — Fui um tolo por vir aqui. Um tolo por pensar que eu poderia mudar qualquer coisa. Estou indo para casa.

— Você não pode! — Isobel deu um passo para dentro do quarto. Patrick a deteve. — Você não pode partir com suas feridas ainda em carne viva. No momento em que seu pai o ver, ele virá atrás de nós.

Inferno, ele já teve o suficiente de ouvir o quão terrível o seu pai era.

— Você chama a minha família de bárbara, Senhorita Fergusson, mas até agora foi eu quem foi flechado, não uma vez, mas duas vezes, nocauteado por uma rocha voadora e Deus sabe o que mais, envenenado e atacado por um exército de vespas liderado por um diabinho terrível que faz o meu pai parecer inofensivo! São vocês que não deixarão o passado de lado.

— Nós deixamos isso de lado. — Argumentou Patrick. — Ninguém tentou envenenar você. Posso assegurar isso a você.

— Ele fala da bebida. — Isobel falou lentamente, lançando a Tristan um olhar que dizia que ele era o maior idiota da Escócia. — Não era nada mais prejudicial do que o uísque em seu ensopado, MacGregor.

Tristan olhou para ela por um momento, depois piscou.

— Você espera que eu acredite que o uísque fez isso comigo?

— Sim, era uma mistura do Patrick, mas era um pouquinho potente demais para vender. Provavelmente teve um efeito ainda mais forte em você, já que não toma com frequência.

Tristan viu a sombra de um sorriso puxando os cantos da sua boca. Ele queria estrangulá-la. Ela sabia perfeitamente o efeito que uma bebida potente teria sobre ele. Pensou que poderia confiar nela. Ele estava errado. Pena. Ela possuía um traço nela tão perverso quanto a dos seus irmãos. Ela não tinha ideia de com quem estava lidando. Nenhum deles fazia.

— Agora, Senhor MacGregor. — Disse ela, com um tom um pouco zombeteiro ainda em sua voz. — Seja amável de sentar-se e deixe-me cuidar de suas feridas

Ele riu, passando a ponta solta do seu plaid por cima do ombro.

— Você não vai me tocar novamente, mas pode selar o meu cavalo e trazer o resto das minhas roupas. — Ele percebeu que seu cinto também estava faltando e se inclinou para trás sobre a cama para alcançar a corda. Sua perna machucada cedeu debaixo dele e ele caiu como uma árvore derrubada.

Para o horror dos outros, todos amontoados na porta, John se libertou e correu em seu auxílio.

— John, seu tolo, volte aqui! — Patrick ordenou, levantando a claymore de Tristan por cima do ombro, pronta para atacar ou golpear algo oculto em seu caminho.

— Och, pelo amor de Deus. — Do chão, Tristan lançou-lhe um olhar exasperado. — Guarde a minha amaldiçoada espada, sim? Eu não vou ferir o rapaz.

Cameron foi até ele e colocou as mãos sob os braços de Tristan para ajudá-lo a voltar para a cama. No momento em que o sentaram, ele se levantou novamente, desta vez apoiando-se no ombro de John.

— Já estou na cama há tempo o suficiente. — Disse ele, respondendo à preocupação nos olhos de Isobel. — Para acalmá-la, esperarei mais alguns dias antes de voltar para casa. Mas, a menos que pretendam tentar me amarrar novamente, prefiro ficar de pé.

— Mas a sua perna.

— A minha perna está sarando muito bem. Está apenas um pouco rígida. Se me devolver a minha espada, eu posso usá-la para ajudar na minha caminhada.

— Não. — Disse Patrick imediatamente. — Você não receberá de volta. Não terei um MacGregor armado caminhando pela minha casa.

Os olhos de Tristan se escureceram nele.

— Muito bem, uma vara então. Você tem minha palavra que não vou bater no crânio de alguém enquanto eu me recupero.

— John, pegue um pedaço de pau para ele. — Disse Isobel, depois se virou para Patrick. — É a língua dele que exige nossa vigilância.

Tristan lançou o seu olhar para o dela e sorriu friamente. Ela respondeu apertando as mãos ao lado do seu corpo e olhando para longe.

— Eu não desejo mais cuidar dele. — Ela gritou, um pouco trêmula, para a satisfação de Tristan. — Se ele pode cuidar de si mesmo, então deixe-o. — Ela virou nos seus calcanhares, batendo a longa trança no peito de Patrick e saiu pela porta.

— Ela é sempre tão irritada? — Tristan perguntou, virando-se para Cameron.

Sem dar uma resposta, Cam saiu do seu lado e seguiu a irmã para fora do quarto. Deixado sozinho com Patrick, Tristan suspirou.

— Vocês não têm nada a temer de mim. Você tem minha palavra. Minha raiva diminuiu.

— Quero acreditar em você, mas como não o conheço, a sua palavra significa pouco para mim.

Sentindo-se um pouco mais como ele mesmo do que tinha sentido em uma semana, a boca de Tristan abriu um sorriso agradável.

— Você só precisa me conhecer então.

Patrick olhou para ele, sua expressão hesitante. Ele não disse nada, mas fez um sinal para Tristan segui-lo depois que John voltou com uma longa vara para ajudá-lo a andar.

— Fergusson, — Tristan disse ao sair do quarto. — Que diabos você colocou nessa bebida? Pensei que tinha certeza de que estava morrendo. Mas depois que o efeito desaparece... — Ele girou o ombro machucado e sorriu para si mesmo. — Devo admitir que me sinto mais forte do que em meses.

Patrick não parecia muito feliz em ouvir isso quando ele parou no topo da escada.

— Para onde você gostaria de ir primeiro? Eu tenho muito trabalho a fazer.

— Você vai me seguir, então?

— Sim. — Patrick disse-lhe com um olhar que dizia que ele não seria influenciado. — Eu vou.

A boca de Tristan se curvou nos cantos.

— Tudo bem então. Para a latrina.

 


Capítulo Dezessete


Em comparação aos grandes salões e muralhas de Camlochlin, a casa dos Fergusson era grande o suficiente para acomodar os sete irmãos em conforto. Mas para Tristan, parecia maior por dentro. Ele não tinha certeza se eram as muitas janelas de vidro transparentes que derramavam o sol em cada canto ou qualquer outra coisa que infundisse a casa com uma sensação de calor e intimidade. Algo tão pequeno quanto as toalhas nas mesas e vasos de flores decorando o peitoril da janela. Tais detalhes pessoais não eram encontrados em um castelo.

Patrick o acompanhou até a cozinha depois que ele insistiu em observar a sua refeição sendo preparada.

— Veneno ou infusão. — Disse ele ao irmão de Isobel. — Nunca mais quero sentir o tormento que senti ao acordar de meu sono mortal novamente.

E isso era parcialmente verdade. A outra parte era que o aroma celestial de aves assadas e pão fresco enchendo a casa o tentava arriscar.

Isobel ergueu os olhos ao cortar um molho de ervas e soprou uma mecha avermelhada para longe de sua bochecha.

— As refeições estarão prontas em breve. Patrick, por que você não mostra para o Senhor MacGregor o estábulo para que ele possa ver que o seu cavalo não fazia parte do que ele deixou no chão acima das escadas?

Tristan sentiu a farpa perfurar a sua carne junto com a outra dúzia infligida por vespas. Ele sorriu, lembrando uma das razões pelas quais ele veio aqui.

— Não vou sair, Senhorita Fergusson. Quero observar você.

A sua adaga errou por pouco de cortar a ponta dos seus dedos. Os olhos dela dispararam para Patrick.

— Me perdoe se eu não confio em você sozinha com a minha comida.

Ela deu um suspiro quase audível de alívio e encolheu os ombros.

— Como eu disse a você em Whitehall, você nunca vai ganhar a minha confiança.

— Sim, eu lembro. — Respondeu Tristan, fazendo a sua parte para convencer Patrick de que ela não havia traído a causa de seus parentes na ausência dele. — E agora entendo melhor o ódio entre nós.

Ela parou de cortar e olhou para ele enquanto ele pegava uma jarra pequena em uma das muitas prateleiras que revestiam as paredes da cozinha e a abria.

— Então, você admite que me odeia? Você nos odeia? — Ela acrescentou, lembrando que eles não estavam sozinhos.

Tristan olhou para cima ao cheirar o conteúdo da jarra e ofereceu-lhe um sorriso educado.

— É como você me disse, na Inglaterra, somos inimigos. Gostaria que não fosse assim, mas vocês me ajudaram a aceitá-lo.

— Bom. Estou feliz por ter ajudado. — Ela não parecia feliz com isso. De fato, parecia querer atirar a adaga nele.

Os dois se viraram para Patrick quando ele começou a andar em frente à porta.

— Onde está Cam? Não tenho tempo para me sentar à toa enquanto vocês discutem sobre uma causa morta. Devo terminar de tratar a erva para fazer o feno. Lachlan! — Ele chamou da sala ao lado quando a porta da frente se abriu. — Traga Cam aqui para guardar nosso convidado. — Ele olhou para Tristan com uma tristeza na boca. — Perdoe-me se eu não confio em você sozinho e desamarrado com a minha irmã.

— É claro. — Tristan aceitou a vigilância com uma ligeira reverência e um rápido olhar na curva sedutora das costas de Isobel enquanto se movia em direção ao tripé. Patrick seria um tolo se confiasse em qualquer homem sozinho com ela e voltando o olhar para o irmão mais velho de Isobel, Tristan já sabia que Patrick não era bobo. Quanto ao resto, até agora as probabilidades não estavam a seu favor.

— Você mantém muitas ervas.

— O que disse? — Patrick virou-se para ele brevemente, depois percebeu com quem Tristan estava falando e voltou a esperar por Cameron.

— Você é uma curandeira. — Continuou Tristan, mantendo os olhos em Isobel quando ela finalmente se afastou de seu trabalho.

— Eu pensei que isso já era bastante óbvio. — Ela deu a ele uma boa olhada enquanto limpava as mãos no avental. — Você está de pé, não é?

— Estou. — Ele concordou, esticando os braços e sorrindo para si mesmo. Quando ele ergueu o olhar para ela, ela ergueu o seu da mesma maneira. — Você tem os meus agradecimentos por me colocar de volta tão bem.

Ela parecia corar, mas o brilho de fogo em seus olhos provou que era o seu temperamento colorindo as suas bochechas e não algum truque tímido para encantá-lo.

— Eu não tive escolha. Não estava disposta a deixar um de vocês morrer em nossa terra.

Tristan sabia que ele deveria se sentir desprezado por sua determinação em rejeitá-lo, mas não pôde deixar de se perguntar se ela também sentia o crepitar no ar ao seu redor. Isso fez a sua pele parecer carne viva, o seu sangue, quente.

Ele tinha que vencê-la.

Cameron apareceu na porta e trocou de lugar com Patrick. Ele cumprimentou Isobel sob uma cascata de pestanas cor de canela, mas desviou de cumprimentar Tristan.

Resolvido mais uma vez à sua causa original, Tristan sabia que tinha que vencer todos eles.

Bem, talvez não todos, ele corrigiu pouco tempo depois, quando o jantar estava pronto e Tamas entrou na cozinha para encher o seu prato.

Depois da troca olhares mais sombrios, o nanico olhou para onde Tristan estava apontando para os vergões em seu peito e deu de ombros.

— Você tem a sorte de estar no patamar superior, caso contrário você poderia ter encontrado um javali em sua cama quando acordasse.

— E você tem sorte de que eu tenha um coração misericordioso. — Respondeu Tristan, um pouco surpreso com a ousadia brusca do menino. — Caso contrário, você poderá encontrar uma hera venenosa na sua.

Tamas estreitou os olhos para ele como se estivesse tentando decidir se Tristan estava brincando ou não.

Alguém riu ao lado dele, e Tristan se virou para olhar o rapaz que havia buscado a sua vara. John, ele se chamava. Após uma inspeção mais minuciosa, Tristan notou a sombra de um inchaço na sua testa do mesmo tamanho que ele próprio exibia.

Tristan piscou para ele.

— Existem várias maneiras de fazer um irmão mais novo pagar por sua tolice.

O sorriso de John era menos hesitante do que o de qualquer um de seus irmãos.

— Você tem um irmão mais novo, então?

— Eu tenho. — Tristan disse a ele. — Ele me deu isso na prática. — Ele estendeu o antebraço para John ver a cicatriz fina que começava no cotovelo e terminava na metade do pulso.

— O que você fez com ele?

— Senhor MacGregor! — Isobel repreendeu antes que Tristan pudesse responder. — A retaliação pode ser uma parte da sua educação, mas não a incentivamos nesta casa.

Tristan ergueu o olhar dos olhos arregalados de John e fixou o seu olhar diretamente nos dela. Por mais que ele se deliciasse com a sua determinação em odiá-lo, era hora dela admitir uma verdade básica.

— Então você pode se considerar um exemplo melhor, Senhorita Fergusson.

Os seus olhos brilharam, os seus lábios ficaram tensos e suas mãos torceram o avental até Tristan ter certeza de que ele o ouviu rasgar. Ele não pôde deixar de sorrir, observando-a lutar para formar uma refutação. Era difícil negar que eles não eram tão diferentes.

— Aqui. — Ela enfiou um prato debaixo do seu nariz e quase perdeu o interesse quando o aroma celestial de sua ceia encheu os seus pulmões. — Você pode comer ao ar livre. — Disse ela quando ele abriu os olhos. — Eu mantive você vivo. Não tenho que tolerar a sua companhia.

Tamas zombou dele e, por um instante fugaz, Tristan pensou em golpeá-lo com a sua vara quando o menino passava por ele. Ele captou o aviso nos olhos de Isobel e deixou o pirralho passar sem incidentes.

— Cam. — Disse ela, enchendo o prato do seu irmão e entregando a ele. — Mostre ao Senhor MacGregor à porta.

Com nada mais que uma sombra de inquietação estragando as suas feições, Cameron obedeceu sem discutir e levou Tristan para fora da cozinha.

Entre todos os irmãos de Isobel, Tristan sabia que esse poderia ser o mais difícil de se encontrar ajuda. Os outros, pelo menos, deram a ele algo para lutar e, quando alguém empunhava uma arma contra Tristan MacGregor, rapidamente se via fora de combate. Mas Cameron não deu nada a ele. Nenhuma palavra de raiva, nem um sinal de entendimento. Nem um olhar para provar que sabia por que Tristan estava lá. Tristan se sentiu totalmente indefeso, e ele não se importava com esse sentimento.

— Acho que vou checar o meu cavalo depois que eu comer. Se estiver tudo bem para você.

Cameron não respondeu, mas continuou em direção à porta como um soldado indo para a guerra.

— Bom, você é do tipo quieto. — Tristan tentou, oferecendo-lhe um sorriso genial. — Depois de conhecer o resto de vocês, é uma virtude bem-vinda que você possui.

— A porta. — Cameron estava de lado e estendeu a mão vazia, mostrando a Tristan a saída.

Sem mais nada que ele pudesse fazer sobre qualquer um deles, Tristan saiu e olhou para o prato quando a porta se fechou atrás dele.

Pelo menos, o jantar estava quente e inegavelmente a comida mais deliciosa que ele já havia colocado na boca. A carne era tão macia e saborosa que suspirou alto duas vezes. Inferno, apenas cozinhar fazia de Isobel um prêmio que valeria a pena morrer.

Ele parou de mastigar, lembrando que não era o único homem que pensava assim.

A porta se abriu atrás dele e se virou para encontrar John parado na entrada com a sua tigela de jantar em suas mãos. Tristan sorriu para ele. John sorriu de volta tão radiante.

— Posso comer com você? — O menino perguntou, já vindo em sua direção.

— Se sua irmã não se importa.

John encolheu os ombros estreitos.

— Ela não estava tão feliz com isso, mas não acho justo que você precise ficar aqui sozinho.

Tristan assentiu e ofereceu a ele o espaço vazio ao lado dele.

— Então você faz o que é certo, apesar do que os outros pensam, hein?

— Às vezes é difícil. — Disse John com um suspiro, cruzando as pernas debaixo dele.

— Com certeza é. — Tristan concordou e voltou a comer. — Isso é o que torna uma qualidade tão admirável. — Ele olhou para o rapaz e piscou. — Compaixão também é admirável. Você me ajudou quando perdi o equilíbrio no quarto. Agradeço a você por isso.

John sorriu.

— Cam também o ajudou.

— Sim, ele ajudou.

Eles comeram juntos em silêncio por mais algum tempo e, então, olhando fixamente a paisagem para os vastos campos além da encosta, Tristan virou-se para John mais uma vez.

— Deixe-me ver as suas mãos.

Como ele suspeitava, o menino tinha calos dos dedos e nas palmas das mãos. Essa pequena família cuidava de tudo sozinha. Ninguém era poupado.

— Vou ajudá-lo a fazer as suas tarefas assim que eu puder andar sozinho. Considere o reembolso por me ajudar.

— Obrigado. — O menino sorriu e continuou comendo.

— Entendo que Andrew Kennedy acha que a sua irmã é uma ótima cozinheira. Ele gosta dela também?

— Ele deve gostar. Eles estão noivos.

Tristan largou a colher na tigela e se virou para encará-lo.

— Isobel está noiva? Ela não me disse.

John olhou para ele com os olhos arregalados.

— Ela deveria?

Oh, inferno. Sim, ela deveria! Por que era esperado dele procurar saber se a mulher que ele desejava acariciar, tocar e beijar era casada ou praticamente casada? E maldição, ele tinha perguntado a ela! Ela mentiu para ele. Por quê?

— Como é esse Andrew Kennedy?

— Ele é bom o suficiente. — John colocou mais comida em sua boca, alheio ao crescente temperamento de Tristan. — Ele é meio falador e bebe muito uísque.

Por que diabos ela iria querer se casar com alguém assim? Ela o beijou? Quantas vezes? Por que esse pensamento o fez querer esmagar o crânio de alguém? Pousando a tigela, Tristan se levantou e olhou em volta. Ele se sentiu preso de repente, como se uma porta da gaiola tivesse se fechado em algum lugar dentro dele. Ele coçou os vergões no peito, que estavam começando a coçar como o inferno. Não, ela não era como as outras, pronta para deixar de lado os seus maridos, as suas reputações, por uma noite de paixão. Isobel era rigidamente leal à sua família. Além disso, ela não estava atrás de algum encontro obsceno com ele. Inferno, ela fez sua mandíbula doer por dois dias apenas por beijá-la.

— Eu preciso dar uma caminhada. — Disse ele, curvando-se para pegar a sua vara.

— Não se perca. — John gritou para ele, enquanto caminhava em direção ao local da linha das árvores onde havia sido flechado.

Ela não podia estar prometida. Ele passou a mão pelos cabelos enquanto pisava na relva sob os seus pés. Por que ela não poderia estar? Ela não pertencia a ele. Ela o odiava. Por que ela deveria ter dito a ele que amava outro? Como ela lhe dissera inúmeras vezes, eles eram inimigos. Ela não devia nada a ele.

— Tire os seus pés do meu jardim!

Ele se virou com o grito de Isobel, já olhando para ela.

— Você me ouviu? — Ela estava com as mãos em punhos nos seus quadris, a trança ruiva balançando na brisa e os seus olhos nos pés dele. — Não dê outro passo!

Ele olhou para as plantas de tomilho, hortelã e agrimônia balançando ao redor dos dedos dos seus pés. O jardim dela.

— Basta dar um passo para a esquerda e sair.

Ele coçou o peito novamente e depois se moveu com cuidado, o que era um pouco mais difícil com a adição da vara.

— Você está tentando matar o que não exterminou da primeira vez?

— Você está noiva.

As suas mãos caíram para os lados do seu corpo. Bem, pelo menos ela teve a decência de parecer surpresa que ele descobrisse.

— Sim, eu estou.

Ele assentiu, mas se virou, sem saber o que dizer a ela em seguida. Por que diabos se importava? Ele não sabia.

— Por que você não foi honesta comigo quando perguntei na Inglaterra? Você sabe quantas moças eu conheço como você?

A sua expressão passou de suave para glacial em um instante.

— Eu nem quero pensar em quantas moças você conhece, seu bastardo dissimulado!

— O quê? — Ele riu. — Eu? Você é a pessoa certa.

— Fui informada sobre o meu noivado alguns dias antes de você chegar aqui. Não menti para você. Não sou nada parecida com as rameiras que você conhece, Tristan MacGregor, exceto em uma coisa. Você mentiu para mim!

Ela disse que só sabia há vários dias? Inferno. O que ele fez? Por que fez isso?

— Isobel, espere. — Ele pegou a sua mão e a parou quando ela se virou para se afastar. — Inferno, eu... me perdoe, não sei por que eu... — Suas palavras não podiam abandoná-lo agora. Ele poderia falar de quase tudo. Por que não conseguia pensar em uma única coisa para dizer a ela?

— Me solte.

— Você o ama?

— Isobel? — Os dois ouviram Patrick vindo atrás deles. — O que você está fazendo aqui?

— Me solte. — Disse ela, com pânico crescente em sua voz neste momento.

Tristan soltou a sua mão e a observou se virar para o seu irmão.

— Estou falando com o Senhor MacGregor sobre as plantas que ele matou.

Patrick olhou em volta para os seus três irmãos mais novos, que o haviam seguido de casa.

— Vocês rapazes não têm trabalho a fazer? — Ele disse, apontando para os campos. Ele deu uma olhada entre Isobel e Tristan, sua expressão ilegível. — Você pode voltar para dentro agora. — Disse ele a Tristan. — Há uma lareira na sala de estar para aquecê-lo, ou pode voltar para o seu quarto e descansar. Voltaremos mais tarde. Venha, Bel.

— Eu estarei junto em um momento.

Quando Patrick hesitou, ela cruzou os braços sobre o peito, indicando que faria o que queria.

— Olhe para ele. — Ambos o fizeram e encontraram Tristan agarrando o seu plaid. — Ele não está em condições de me causar danos.

Quando os seus irmãos finalmente foram embora, ela olhou para Tristan com o resíduo do insulto dele ainda fresco em seus olhos. Ele decidiu naquele momento que todas as moças que já o chamavam de bastardo imprudente estavam corretas.

— Quando você disse que menti, tinhas razão, Isobel. Você não é nada com alguém que conheço ou já conheci. Reagi da maneira que fiz porque temo nunca mais conhecer alguém como você.

O seu olhar suavizou-se por um momento, mas então ela jogou sua longa trança por cima do ombro e endireitou a coluna.

— Quanto tempo você vai continuar com isso? — Ela perguntou. — Quando você finalmente admitirá o que está fazendo aqui? Nós dois sabemos que isso não tem nada a ver com Alex.

— Eu disse a você o porquê. Quero acabar com a briga... e queria vê-la novamente.

— Por quê?

Ele puxou o seu plaid para levantar a lã de sua pele queimada no peito. Pequeno bastardo profano.

— Está piorando?

Ele olhou para ela, gostando mais da preocupação que via nos seus olhos do que da suspeita que substituiu.

— Sim, isso coça como o inferno.

Sem outra palavra, ela passou por ele e caminhou em direção a um arbusto alto na beira de seu jardim. Ela arrancou três folhas, colocou uma na boca e começou a mastigá-la. Ela fez com um gesto para que ele se aproximasse, certificando-se de que ele observava o que fazia. Quando ele a alcançou, ela puxou o seu plaid para longe, descobrindo o seu peito avermelhado. Tristan não tinha ideia do que ela pretendia fazer, então, quando ela pegou a folha mastigada entre os lábios e o alcançou, ele se afastou.

Ela avançou e disse com um suspiro.

— Não estou tentando envenenar você, MacGregor. Isso tratará a pele irritada que está lhe provocando coceira e previne a infecção. — Ela não esperou o consentimento dele, mas estendeu os dedos sobre a pele dele e esfregou a folha amassada sobre os vergões. Ela parecia completamente afetada por tocá-lo, mas todos os nervos no corpo de Tristan ganharam vida. O toque dela era suave, quente e sensual a ponto de atrapalhar os sentidos dele. Ela depositou outra folha na boca e ele observou, hipnotizado, enquanto mastigava, depois separou os lábios para expulsar o próximo tratamento.

— Parece melhor?

— Sim. — Ele respondeu em um sussurro rouco quando as pontas dos dedos dela deslizaram por sua barriga. Os seus músculos se contraíram com o desejo de tomá-la em seus braços e beijar sem sentido aquela boca deliciosa.

— Mais uma. — Ela colocou a última folha em sua boca, mas quando ela se mexeu para tocá-lo, ele agarrou o seu pulso para detê-la.

— Isobel, a menos que esteja tentando me enlouquecer de desejo por você, é melhor parar agora.

Seu rosto ficou pálido na luz fraca. A sua boca se abriu para formar algum tipo de protesto que Tristan desejava arrancar de seus lábios com os dele. Ele queria puxá-la para mais perto e puxar a mão dela sobre o seu membro endurecido e deixar a cura começar! Ele a queria. Ah, Deus, a queria tanto. Mas ele tinha coisas a provar para ela, para si mesmo, e não podia prová-las com uma moça que estava prometida. Então ele a deixou ir.

 

 


Capítulo dezoito


Isobel viu Tristan se virar e mancar de volta para casa. Ela ficou sozinha por um longo tempo, os seus pés enraizados no solo ao lado de seu jardim, suas emoções se agitando por dentro. Meu Deus, o que ele estava fazendo com ela? Ela tinha que manter o juízo. As suas palavras sedosas e suas habilidades sedutoras haviam sido praticados em inúmeras mulheres antes dela. Ela ouvira como o chamavam na Inglaterra e sentiu o efeito de seu charme mais do que suficiente para saber que os nomes que lhe deram estavam corretos. Como ela pôde se permitir por um momento acreditar que as suas palavras eram sinceras? Porém, pela misericórdia de Deus, quando ele falou em enlouquecer de desejo por ela, a sua voz forte tremeu em evidência. Ela ainda sentia a ponta dos dedos dele em torno de seu pulso.

Quando ela o encontrou antes, parecia que ele queria estrangulá-la. Ela nunca o tinha visto zangado antes. Meu Deus, mas o seu olhar severo era tão atraente quanto o seu sorriso. Ela não podia dizer se era o fato de estar prometida ou que pensava que havia mentido para ele que o irritava tanto, chegando ao ponto de insultá-la. Ele foi rápido o suficiente para se arrepender, mas por que ele se importava?

Ela se virou antes que ele entrasse em casa. Ela era feita de coisas mais fortes do que as mulheres com quem Tristan MacGregor estava acostumado. Ela já havia provado isso a si mesma tocando-o e não ficando fraca nos joelhos. Claro, fazendo-se pensar em Andrew Kennedy enquanto acariciava o peito de Tristan ajudou. Ela não seria vítima de suas artimanhas ou de seu corpo esculpido. Se estava louco de desejo por ela ou não, ele ainda não tinha dito a verdade sobre por que veio aqui. Ela simplesmente não podia acreditar que ele havia viajado tão longe, para o domínio de seu inimigo, apenas para vê-la... ou mesmo para a cama dela. Ele disse que queria acabar com o ódio e a dor da contenda, mas por quê? Que propósito isso serviria para ele?

Ela encontrou com os seus irmãos no campo e começou o seu trabalho, determinada a não ceder a Tristan outro pensamento. Depois de uma hora cavando buracos que a faziam pensar em túmulos, ela poderia muito bem estar cavando para si mesma se continuasse a deixar o calor da sua barriga rígida invadir os seus pensamentos e influenciar a sua opinião sobre ele, então sentiu-se infeliz. Por que diabos ela não podia estar perto do homem sem encontrar algo atraente sobre ele? Desejou que ele se recuperasse completamente, que fosse rápido e seguisse o seu caminho.

— Por que você ofereceu a ele o conforto de nossa lareira? — Ela perguntou a Patrick quando ele veio para o seu lado e pegou a pá de suas mãos. Era com os seus irmãos que ela mais se preocupava. Eles não estavam familiarizados com as habilidades persuasivas de Tristan. Confiar nele poderia custar-lhes a vida.

— O corpo dele está se recuperando e é suscetível ao frio. — Patrick disse a ela. — Você gostaria que ele ficasse doente e ficasse aqui mais tempo?

Isobel não podia discutir sobre essa lógica.

— Ainda assim, devemos lembrar quem ele é e o que provavelmente o trouxe aqui.

— Ele não vai conseguir o que procura de mim, Bel. — Assegurou Patrick.

— Nem de mim. — Ela prometeu de volta.

Ele sorriu e a puxou gentilmente.

— Volte para casa. Leve John com você e...

— Não. — Ela virou-se para ele. — Não quero que você faça isso sozinho.

— Não há muito mais a ser feito. — Insistiu Patrick. — Você parece um pouco pálida e, sem o seu butterbur, e não terá excesso de trabalho. Agora vá. O resto de nós se juntará a você em breve.

Isobel deixou o campo com John ao seu lado e outro de seus irmãos em sua mente. Amaldiçoou Alex por ficar na Inglaterra quando ele era necessário aqui. Por outro lado, se Alex tivesse encontrado Tristan ferido e desamparado em sua terra, ele o teria matado de bom grado.

Tristan. Ela olhou em direção à casa. Ele estava vivo e arrebatador e, ela esperava, dormindo em sua cama. A casa estava quieta e o salão vazio quando ela entrou, mas podia sentir a presença dele, sentir tudo ao seu redor, como uma leoa captando o cheiro de um homem. Ela olhou para as escadas quando John se afastou dela e foi para a cozinha.

Lentamente, ela caminhou pelo salão suavemente iluminado, em direção à sala de estar e o fogo crepitante ficando mais alto quando ela se aproximou. Ela não tinha certeza do que estava fazendo ou por que não subiu as escadas correndo para o seu quarto. Ela não tinha intenção de falar com Tristan se ele estivesse acordado. Ela estava muito cansada para se envolver em uma batalha de inteligência com ele. Ela chegou à porta e a encontrou entreaberta, espalhando luz dourada e calor na sala. Ela olhou para dentro. Ele estava lá, diante do fogo, parcialmente escondido da vista dela pela porta e pela cadeira com encosto alto de Patrick, na qual ele estava sentado.

Parte de Isobel queria invadir e ordená-lo a sair do assento do Laird. Outra parte se recusava a se mover, a piscar, a respirar. Maldito seja o inferno, mas o seu perfil era bonito contra a luz do fogo. Ela se perguntava no que ele estava pensando, encarando as chamas como se a resposta para todos os segredos da vida pudesse ser encontrada lá.

Os segredos dela.

— O que você está fazendo, Isobel?

Ela virou-se e lançou toda a gravidade do seu olhar severo para John.

— O que eu fiz? — Ele perguntou, então olhou em volta para a sala de estar. Quando ele viu Tristan lá dentro, se afastou, olhou para ela e depois para a porta. — Bem. — Ele disse, chegando a alguma conclusão em sua mente que Isobel estava certo de que era o incorreto. — Provavelmente deveríamos entrar agora.

Ela não podia. Não queria ir lá e ver Tristan sorrindo com a sua mortificação. Mas não queria enviar John sozinho, por medo de quaisquer perguntas que Tristan pudesse fazer para ele. Agora, sem escolha a não ser seguir o seu irmão, ela alisou as suas saias e endireitou os ombros.

— Nós vamos ficar por um só momento.

John assentiu e passou por ela. Ele desapareceu lá dentro antes que Isobel tivesse tempo de terminar de se recompor.

Maldição. Ela colocou um pé na frente do outro e se forçou a avançar. Ela olhou para cima no momento que Tristan se levantou da cadeira quando ela entrou. Ele devia saber que ela estava do lado de fora da porta espionando-o antes que John a expusesse, mas ele não lhe deu uma saudação presunçosa. Na verdade, ele parecia um pouco inquieto, como se a chegada deles tivesse perturbado um grande dilema que ele estava contemplando.

— Viemos verificar você. — John o informou, poupando Isobel de ter que falar. — Você está bem?

— Sim. — Respondeu Tristan, o seu sorriso magnético retornando a toda a sua glória e lançando diretamente para Isobel. — Eu estava pensando o quanto gosto desta sala. Isso me lembra outra. Calma e pacífica.

— Oh? — Perguntou o irmão, sentando em uma das outras cadeiras enquanto Tristan se recuperava. — Uma sala no seu castelo?

— Não, em outro lugar que já estive há muito tempo.

— Há muitas pessoas onde você mora, então?

— Sim, mais do que eu às vezes aguento. — O seu olhar ergueu para Isobel, ainda parada perto da porta. — Senhorita Fergusson, estou sentado em sua cadeira?

Ela piscou, tentando dispersar de sua mente as imagens de seu olhar aquecido e muito menos cortês quando estavam sozinhos em seu jardim.

— Você está na cadeira de Patrick. — Ela deixou escapar friamente.

— Patrick não vai se importar. — John anunciou, dando-lhe um breve olhar antes de voltar para Tristan. — Como é o seu castelo, Senhor MacGregor?

Oh, ela poderia ter lhe dado um tapa! Ela afundou na cadeira mais próxima e ouviu enquanto Tristan falava sobre o seu odiado clã. Era tudo muito íntimo, muito confortável. Um MacGregor, sentado aqui em sua sala favorita, ao lado da lareira, conversando baixinho com o seu irmão como se fossem amigos. Eles não eram. Eles nunca poderiam ser. John era jovem demais para lembrar o que tinha acontecido, e eles mal falavam sobre isso, exceto quando Alex bebia demais. Amanhã ela avisaria John para ficar longe de Tristan. Agora, porém, teve que lutar contra o sono e ficar alerta.

— E a irmã da minha mãe, Maggie, não come carne, embora eu acredite que a comida de Isobel possa convertê-la. — Tristan sorriu para ela do outro lado da sala que fechou os olhos, concentrando-se na voz doce do seu irmão em vez da voz rouca de Tristan.

— Quem está cuidando de suas tarefas enquanto estiver fora?

Uma pausa e, em seguida.

— Meu irmão Rob cuida da maioria deles com o meu pai.

— Então, o que você faz o dia todo?

Isobel abriu os olhos e esperou a resposta de Tristan.

— Eu não sou... tanto necessário quanto todos vocês são aqui. Há muitos homens fortes em Camlochlin que cuidam das tarefas diárias.

— Então não sentirão a tua falta?

Olhando para ele de perto pela primeira vez desde que ela entrou na sala, Isobel notou o sorriso forçado que Tristan mostrava quando ele balançou a cabeça.

— Não vou demorar o suficiente para sentir falta. Além disso, minha família sabe que eu planejo partir na próxima primavera.

— Por que você vai embora? — Isobel se traiu por perguntar pelo mesmo instinto inato que tinha para cuidar de sua família.

Ele encolheu os ombros.

— Porque eu não pertenço aquele lugar.

Ela queria perguntar por que, mas Patrick entrou na sala com Cameron e parou quando viu Tristan sentado em sua cadeira. Tristan estava prestes a se levantar, mas Patrick fez um gesto para ele ficar onde estava.

— John, vá para a sua cama agora. — Ele ordenou gentilmente, depois se virou para Isobel enquanto se sentava. — Um pouco de hidromel quente, por favor, irmã.

— Claro. — Ela se levantou e saiu da sala sem outra palavra.

Ela voltou pouco depois carregando uma bandeja com quatro copos de hidromel. Depois que Patrick e Cam pegaram os deles, ela segurou a bandeja para Tristan. Ele olhou desconfiado para o copo até Isobel arrancar o de Patrick e lhe dar o copo para Tristan.

Patrick escondeu o sorriso atrás de sua bebida enquanto Isobel marchava de volta para a sua cadeira com uma série de juramentos murmurados saindo de seus lábios.

— Minha irmã me diria para ir ao Hades se eu pedisse que ela me servisse. — Tristan disse ao irmão dela e tomou um gole de bebida.

— Talvez. — Disse Isobel, odiando que a sua raiva parecesse alimentar o deleite de Tristan. — Isso é porque o seu pai e o seu irmão fazem todo o trabalho. — Ela não olhou para ele para ver se suas palavras tinham o efeito desejado. Ela olhou para Cam em vez disso, e depois desejou que não tivesse quando ele lhe lançou um olhar de desaprovação.

Maldição, ela estava cansada e sem humor para ser agradável para um homem que tinha medo de qualquer coisa que ela lhe servisse. Aconchegou-se profundamente em sua cadeira, feliz por ter usado toda aquela lã extra de ovelha quando a costurou no inverno passado, e zangada com os seus irmãos por ser tão paciente com um MacGregor. Ela fechou os olhos, meio consciente, enquanto dormitava, da voz de Patrick perguntando a Tristan se ele gostava de um jogo de xadrez. Ela deveria detê-los. Tristan era uma cobra com uma língua bifurcada. O filho do diabo, com olhos da cor do pôr do sol e mãos fortes e rápidas que poderiam segurá-la imóvel enquanto ele sussurrava sobre o seu desejo proibido.

— Ela ronca todas as noites? — Tristan perguntou a Patrick e moveu a sua torre dois espaços para a direita. Ele jogou xadrez centenas de vezes em casa e quase sempre venceu, mas hoje à noite se viu perdendo. Ele não conseguia se concentrar com o corpo flácido de Isobel pendurado sobre a cadeira, a trança espalhada no colo, os lábios carnudos relaxados e suavemente separados. Todos os músculos do corpo doíam para ir até ela, levantá-la gentilmente em seus braços e carregá-la para a sua cama.

— Está distraindo você? — Perguntou o irmão dela, capturando o seu cavaleiro.

— Não, é... — O que diabos ele quase esteve perto de dizer? Era o quê? Cativante? Um doce descanso de sua língua afiada? — Eu... o que eu quero dizer é... — Inferno, ficar sem palavras sempre que Isobel estava envolvido nelas estava começando a preocupá-lo.

— Não se preocupe, não vou me ofender, MacGregor. Quero vencê-lo de maneira justa. — Sem outra palavra, Patrick se levantou e foi até a sua irmã.

— Venha, amor, para a sua cama. — Tristan o ouviu murmurar enquanto puxava a sua irmã gentilmente para se levantar. Ele fez um gesto para Cameron, que estava observando o jogo em silêncio, para ajudá-la a ir para o seu quarto.

Isobel cambaleou um momento, o seu olhar sonolento fixando-se em Tristan primeiro e depois voltando para Patrick.

— Não confie nele. — Disse ela, caindo contra o seu peito largo. Patrick sussurrou algo para ela que Tristan não conseguiu ouvir e depois a entregou a Cameron. Ela sorriu. — E não deixe que ele te beije.

Os dois irmãos ficaram quietos. Ambos se viraram lentamente para lançar a Tristan olhares muito diferentes, um mais negro que o céu noturno, o outro temeroso e cauteloso.

Tristan ficou de pé, apoiando-se na vara enquanto Patrick esperava Cam levá-la para fora da sala de estar. Quando estavam sozinhos, o imponente Laird deu um passo à frente em torno da mesa de xadrez.

— É assim que você pretende acabar com o ódio entre nossos clãs? Beijando a minha irmã?

Tristan nunca fugiu de nada em sua vida. Bem, quase nada, mas nunca de um homem. Ainda assim, os braços de Patrick Fergusson eram toras de músculos formados de suas longas horas de trabalho, e Tristan não gostaria de brigar com ele. Ele podia negar a acusação com bastante facilidade, mas a mentira não iria ganhar-lhe a simpatia ou respeito deste homem, e ele precisava disso para cumprir a sua missão.

— Ela não gostou. — Ele admitiu, e fechou os olhos quando o punho de Patrick voou pelo ar e bateu em sua mandíbula.

Tristan não estava completamente inconsciente. Ele caiu na cadeira com um baque forte e teve consciência de três coisas. Um dente no fundo de sua boca se soltou, as suas indiscrições tinham finalmente o apanhado, e por último, Patrick rosnou profundamente quando se sentou e disse.

— É seu o próximo movimento, seu bastardo.

 

 

Capítulo Dezenove


Tristan abriu os olhos e gemeu. Chegaria algum dia em que ele acordasse nesta cama maldita, sem a dor lancinante através do seu corpo? Ele tocou a com palma da mão na sua mandíbula e a afastou com uma maldição abafada. Ele achava que merecia o golpe de Patrick, mas não perder para ele no xadrez, se tivesse que ser atingido por um dos irmãos de Isobel, teria preferido John. Ainda assim, dizia muito sobre o temperamento do jovem Laird Fergusson que ele tivesse atingido Tristan apenas uma vez.

Jogando os pés ao lado da cama, ele se esticou, girou o ombro e procurou a vara. Ele a viu perto da janela aberta e coçou a cabeça. Ele não se lembrava de deixá-la lá, mas então, o punho pesado de Patrick confundiu a maioria de seus sentidos. Ele teve a sorte de ter chegado à cama sem cair da escada.

Ele se levantou e sentiu o seu plaid escorregar da cintura e se amontoar nos seus tornozelos. Onde diabos estava o seu cinto? Por um momento, ele se sentiu completamente desorientado, como se ainda não tivesse acordado completamente e ainda estivesse sonhando. Todos os golpes na cabeça dele finalmente haviam cobrado o seu preço? Ele se inclinou para o plaid, pegou-o e caminhou pesadamente até a janela para pegar a sua vara. Ele olhou para a paisagem, protegendo cuidadosamente a virilha com o plaid enrolado. Ele viu Patrick trabalhando nos campos com Cam e Lachlan, mas Isobel não estava à vista. Lembrou-se do ronco da última véspera e sorriu, pensando em como seria acordar com ela em sua cama. Lembrou-se de Andrew Kennedy e xingou baixinho. Isobel o amava? Se ela o amasse, como Tristan poderia continuar tentando conquistá-la quando ela pertencia a outro? No passado, o noivado de uma dama talvez não o tivesse impedido. Mas ele não estava tentando ser alguém diferente? Não era por isso que ele veio aqui?

Virando nos calcanhares, apoiou o peso na vara. Ele ouviu o leve estalo de madeira um instante antes que ele caísse para a frente e tombasse. Ele estava deitado no chão, seu plaid pousando a alguns metros de distância, perna, braço, cabeça e mandíbula latejando pelo impacto. Ele permaneceu lá por um momento, pensando sobre o que diabos tinha acabado de acontecer e o quão perto ele esteve de sair pela janela. O seu temperamento subindo como lava derretida, ele inclinou o olhar para a vara quebrada, já sabendo o que encontraria. A ruptura foi hábil e perfeita. Alguém propositalmente cortou a madeira quase pela metade, deixando-a um pouco intacta para que ela não se partisse completamente em duas até que ele se apoiasse nela.

Tamas.

Tristan mal sentiu qualquer dor quando ele se levantou. Estava na hora do diabinho pagar.

Ocupado pensando em maneiras de tornar a vida do nanico um inferno, Tristan pegou as duas varas do chão, enrolou o seu plaid em volta da sua cintura e saiu do quarto. Ao descer as escadas, disse a si mesmo que ajudar Isobel não valia os ferimentos em seu corpo. Para o inferno com a briga! Se os MacGregors chegassem aqui novamente, ele os encaminharia diretamente para Tamas Fergusson.

Ele ainda estava murmurando para si mesmo quando entrou na cozinha, faminto por algo para comer antes de soltar o inferno no pirralho mortal. Ele olhou para cima, amarrando as pontas do seu plaid em um nó abaixo da sua barriga e viu Isobel guardando uma panela a uma das prateleiras acima da cabeça dela.

Os olhos de Tristan caíram imediatamente em seu traseiro, redondos e bem torneados sob as saias de lã. Seus grossos cabelos ruivos caíam como fogo líquido pelas suas costas até a cintura fina. Ele queria passar as mãos por ele, enterrar o rosto nele e respirá-la enchendo os seus pulmões com seu perfume.

Ao ouvi-lo entrar, ela se virou para olhar por cima do ombro. Por um instante, ele se esqueceu de tudo mais e sorriu para a curva sedutora de sua boca, e o leve salpicar de cor escarlate na ponte de seu nariz e olhos, iluminando-o como pastos verdejantes sob o sol do verão. Inferno, ela valia a pena.

— Eu não ouvi a sua aproximação. — Os seus olhos se arregalaram, deslizando através de seu torso.

— Perdoe-me. — Ele procurou a ponta de seu plaid para cobrir sua a barriga nua, mas o amarrou com muita força nos quadris. Ele desistiu e deixou cair as suas mãos para os lados. — Talvez você pudesse devolver as minhas roupas? Eu não quero que você me ache muito bárbaro para olhar.

— Eu não pensaria isso. — A sua voz continha uma nota agradável que Tristan decidiu que gostava. — Eu... — Ela piscou o olhar para ele e corou um tom ainda mais escuro de vermelho. — Estava apenas observando o quão bem os seus vergões estão curando.

Ele não pôde evitar o sorriso curvando pelos seus lábios.

— As minhas roupas?

— Claro, eu vou trazê-las, o que aconteceu com você? — Ela ofegou de repente, levando as mãos à boca.

Infelizmente, ele lembrou novamente muito rapidamente.

— O seu irmão foi o que aconteceu comigo, Isobel. Juro que o pequenino bastardo está disposto a me matar. Não vou...

— Tamas fez isso com você? — Ela o interrompeu, apontando um dedo para o queixo dele. — Com que diabos ele o atingiu?

— Ele não me golpeou, Patrick o fez. — Os olhos dela se arregalaram ainda mais, mas Tristan não lhe deu a chance de questioná-lo ainda mais. Ele ergueu a vara quebrada. — Você vê isso? Foi cortado! Tamas fez e deixou ao lado da janela!

Quando ela lhe lançou um olhar confuso, ele apertou a mandíbula e depois xingou interiormente a dor.

— Ele o deixou, aparentemente inteiro, ao lado da janela, esperando que, quando quebrasse, eu caísse para morte! E quase que eu cai! — Sua voz subiu junto com seu temperamento. — Och, e ele não parou por aí. Não! Ele pegou meu cinto para que, quando caísse, o fizesse nu! Ele fez um trabalho muito inteligente, malvado do diabo e você acha isso engraçado?

Ela balançou a cabeça, mas Tristan tinha certeza de que a ouviu rir atrás da sua mão.

— Ele precisa ser punido, Isobel.

Ela assentiu e se aproximou dele.

— Vou falar com Patrick sobre isso.

Quando ela parou em frente a ele, o seu cheiro de terra encheu os seus pulmões e confundiu o seu juízo. Ele balançou a cabeça para limpá-la.

— Vou pedir para John buscar uma nova vara.

— Eu não preciso disso. — Ele disse, sua voz baixa e grossa acima da sua cabeça ruiva. — Minha perna está melhor. — Bom o suficiente para levantá-la do chão, colocar as suas pernas ao redor da cintura dele e levá-la em direção da parede.

— Você voltará para casa em breve?

Era desapontamento que ele ouviu na ponta da voz dela? Inferno, era bom pensar que sim.

— Eu suspeito que devo. — Mas ele não podia. Ainda não. Havia muito o que fazer. Ela ainda não gostava dele. Os seus irmãos ainda não confiavam nele. Graças a suas feridas, ele ainda não havia feito nada para restaurar a sua honra.

— Sua mandíbula está roxa. — Ela levantou os dedos para examiná-la mais de perto. — Por que Patrick bateu em você?

Quando o seu olhar caiu para os montes ondulados de seus seios sob o nariz dele, ela se afastou, deixando-o com frio.

— Ele estava com raiva que eu beijei você.

Ela recuou horrorizada.

— Você disse a ele?

— Não, você contou, e Cameron estava junto com ele. — Ele olhou ao redor da cozinha procurando comida. Parecia que todo mundo já tinha comido.

— Você está louco! Eu nunca disse a eles qualquer...

— Você estava meio adormecida e avisou Cameron para não me deixar beijá-lo. Eles descobriram o resto.

O seu rosto estava pálido quando ela olhou em direção à janela e torceu o avental em uma bagunça enrugada.

— Por que Patrick não me disse nada sobre isso nesta manhã?

— Eu disse a ele que você não gostou. Ele está zangado comigo, não com você.

Sua cor voltou um pouco e ela respirou fundo.

— Você tem os meus agradecimentos por dizer isso a ele. — Ela disse, em voz baixa o suficiente para que ele quase não a ouvisse.

— Era verdade, não é? — Ele perguntou, falando sobre o barulho da sua barriga.

Milagre de milagres, ela sorriu!

— Você pode se sentar à mesa. Vou trazer um pouco de comida para você.

Agora isso era melhor! Tristan agradeceu alegremente e virou-se para sair da cozinha enquanto ela pegava um prato de outra prateleira.

A argila se quebrando no chão um instante depois o parou. Ele se virou e encontrou Isobel boquiaberta olhando a sua parte de trás. Ele olhou por cima do ombro. Suas costas estavam nuas. Ele curvou a boca em um sorriso arrependido e soltou a bainha enrolada do seu plaid atrás dele.

— Desculpas por isso. — Disse ele, deixando-a tropeçando em sua compostura.

Isobel morava em uma casa com seis homens. Ela já tinha visto as nádegas de homens antes, mas ver Tristan inclinou o seu mundo em seu eixo. Não era apenas a forma rígida e decadente que fazia a sua boca secar e as suas mãos esquentarem, embora os Céus a ajudasse, isso teria sido o suficiente. A visão completa de suas nádegas firmes e as coxas grossas e musculosas provocou um desejo lúgubre nela de ver o resto dele. E aquele sorriso perverso! Meu Deus, ele sabia o quão perverso era, e gostava de saber que ela também sabia.

Ela colocou um prato novo na mesa diante dele e se virou para sair. Não estava brava com ele por ser tão malditamente atraente, mas era sua única defesa contra ele, e todos os dias ela precisava disso mais do que no dia anterior. O seu olhar poderoso derretia o seu interior. O seu sorriso astuto e agradável arrancava o fôlego de seus pulmões e, quando ele falava, ela tinha que recorrer a cada fragmento de controle que possuía para suportar a paixão em suas palavras. Ele era, honestamente, o homem mais arrebatador e irritantemente irresistível que ela já conheceu. Por que, oh, por que ele tinha que ser um MacGregor?

— Você vai sentar comigo por um momento ou dois? — Ele olhou para ela antes que se afastasse. — Eu não gosto de comer sozinho.

Deus ajude a todos, aquele doce traço de humildade que suavizava o seu sorriso era mais letal do que mil sorrisos perversos.

— Eu não devo.

— Por quê?

— Eu tenho muito o que fazer.

— Eu ajudo você a fazer o que for. Peço por mais alguns momentos com você.

Ela imaginou que lhe devia um momento ou dois, já que ele disse a Patrick que ela não gostou do beijo deles. Era a verdade como ele a entendia, mas não precisava contar ao seu irmão. Ele a protegeu mais uma vez, e ainda não sabia o porquê. Ele também levou uma surra do resto de seus irmãos desde que chegou e realmente não tinha reclamado tanto. Ele poderia ser o homem que afirmava ser?

— Posso fazer uma pergunta a você? — Ela puxou uma cadeira e sentou-se ao lado dele.

— Apenas uma?

— É uma boa. — Ela não pôde deixar de retribuir o sorriso dele quando ele a olhou levantando a cabeça que observava o prato. O momento era muito parecido com o que eles haviam compartilhado no primeiro dia em que se conheceram. Os dois se lembraram disso. — Por que você parou quando apenas quebrou o nariz de Alex, quando ele o provocou a lutar com ele?

— Eu deveria ter tirado mais sangue dele porque ele é orgulhoso?

— Outro homem teria.

— Eu não sou outro homem.

Não, ele não era. Ele era dois homens, um elegante e o outro indomável. Um perversamente irresponsável e o outro encantadoramente irresistível. Ele era um libertino, confessadamente — menos preocupado com todas as consequências, — e ainda assim se esforçara para ajudá-la com dilemas que não tinham nada a ver com ele.

— Quem é você então? — Ela perguntou baixinho, precisando saber. Querendo acreditar que era o homem galante que a procurava e não o sedutor dos segredos das mulheres.

— Não posso te dizer isso ainda.

Ele não poderia ou não queria? Maldição, não era a resposta que ela estava procurando.

— Muito bem, então. — Disse ela, deixando a sua cadeira. Se se recusava a contar a verdade, ela não se sentaria aqui com ele nem mais um minuto. — Vou pegar algo para a sua mandíbula. Parece que está doendo e então tenho trabalho a fazer.

Ele pegou a mão dela e olhou para ela por baixo de seus cílios deliciosamente longos.

— Fique. Não é tão ruim, e você já fez o suficiente por mim. Ficarei em dívida até ficar velho.

Dois homens.

Ela o observou, o seu corpo ficando rígido enquanto ele puxava a sua mão com ternura em direção à boca dele.

— As suas mãos são tão ásperas quanto as de meu irmão Rob. Você faz muito.

— Faço o que é necessário.

A inspiração dela foi interrompida quando ele baixou a cabeça e pressionou os lábios nos nós dos dedos.

— Deixe-me ajudá-la, moça.

— Por favor, não... — Ela se afastou, a sua voz tremendo após o toque íntimo dele.

— Sua ajuda?

— Me beije novamente.

O seu sorriso desapareceu quando ele a deixou ir.

— Desculpe-me, você está noiva.

Desde quando isso importava para um libertino? Ela se afastou quando ele se levantou do banco, a poucos centímetros dela.

— Você tem os meus agradecimentos pela comida. Prometi ajudar John em suas tarefas, por isso é melhor que eu cumpra. — O seu sorriso brilhou e desapareceu um instante que se foi.

 

 

 

Capítulo Vinte


Tristan enfiou o forcado19 no monte de feno e o carregou para dentro do celeiro. O seu braço e perna ainda estavam doloridos, mas o feno não era pesado, e as intermináveis perguntas de John e Lachlan afastou a sua mente da dor e de Isobel.

— Você sabe como manejar a espada que Patrick leva com ele?

Tristan assentiu para Lachlan quando ele voltou para fora.

— Você matou muitos homens, então? — John perguntou, coçando o nariz.

— Não matei nenhum.

— Por que não?

— Porque nem sempre é a coisa certa matar todo homem que vem contra você.

Lachlan lançou-lhe um olhar cético, depois encolheu os ombros.

— Eu posso disparar uma flecha e acertar o meu alvo a cem passos.

— Então. — Tristan disse secamente, apunhalando o monte novamente. — Você não queria acertar o meu coração quando atirou a flecha em mim?

— Não tínhamos intenção de matá-lo. — Respondeu John.

Tristan sorriu para ele. Gostava deste pequeno. John lembrou a si mesmo, mais ou menos na mesma idade.

— Então você está no caminho certo.

— Não podemos falar por Tamas, porém. — John admitiu com um traço de simpatia protegendo o seu sorriso. — Ele é uma ameaça.

Tristan sabia disso muito bem.

— Sim. — Disse ele, levando o feno de volta ao celeiro. — Eu já percebi que é

— Isobel estava louca como o inferno quando ele atirou a pedra em você e caiu no jardim dela. — Lachlan falou, seguindo-o com seu próprio fardo.

Ela estava brava com os seus irmãos por tentar matá-lo, pensou Tristan, ou com ele por destruir a metade de sua colheita? Irritada ou não, ela cuidou dele e zelou por sua boa saúde, para que um MacGregor não morresse em sua terra.

— Ela estava com raiva apenas porque você matou o seu butterbur. — John ofereceu em defesa de Isobel um momento depois, quando Tristan se juntou a ele.

— E por que o seu butterbur é mais precioso do que qualquer uma das outras ervas?

— Isso a ajuda a respirar no inverno.

Lachlan deu uma cotovelada em seu irmão nas costelas, o que Tristan considerou injusto, já que Lachlan tinha o dobro do tamanho de John, com ombros tão largos quanto os de qualquer Highlander criado em Camlochlin. Ele estava prestes a dizer isso quando olhou além dos meninos e viu Isobel e seu irmão caçula saírem de casa e começarem a caminhar em sua direção.

Nos seus braços, ela carregava as roupas que prometeu anteriormente. Por um instante, Tristan olhou as botas balançando nos dedos de Tamas, depois voltou o olhar para ela. Ele observou a sua boca, o rubor saudável em suas bochechas que fez os seus olhos parecerem maiores, mais verdes. Não podia ser verdade que essa moça de vontade gloriosa e forte tivesse uma doença respiratória. Isso era sério? Por que diabos ela estava fazendo tanto trabalho, se era? Ninguém mais está aqui para fazer isso por ela, ele respondeu a sua própria pergunta e prometeu fazer algo a respeito.

Quando ela o alcançou, Tristan estava agradavelmente surpreso ao ver o mesmo sorriso que ela mostrou no dia em que ele se ofereceu para ajudá-la com Alex.

— Na verdade, Senhor MacGregor, você não precisa cuidar do nosso trabalho. Estamos acostumados a...

— Me chame de Tristan, por favor. — Disse ele, enfiando o garfo no chão e apoiando-se nele. — E eu quero ajudar.

— Obrigada, então. — Ela admitiu, baixando o olhar quando viu Lachlan olhando para ela à direita de Tristan. — Aqui estão as suas roupas. — Ela empurrou-os para ele. — Troquei as suas botas rasgadas pelas de Alex. Eles podem ser um pouco desconfortáveis, já que você é mais alto do que ele. — Ela ergueu o olhar para os seus irmãos, depois virou nos seus calcanhares e marchou em direção aos campos onde Patrick e Cameron estavam trabalhando.

Tristan a observou partir por um momento, depois aceitou as botas que Tamas empurrou para ele. Ele parou na frente dele quando Tamas se virou para seguir a sua irmã.

— Você vai me segurar? — Sem dar a Tamas uma chance de recusar, Tristan entregou-lhe a sua camisa e sua calça. Ele sorriu para o infeliz enquanto virava cada bota de cabeça para baixo e sacudia as pedras delas.

— Eu esperava algo pior. Isso foi decepcionante.

Tamas sorriu de volta para ele, largou as roupas de Tristan no chão e estendeu a língua para ele quando pisou nelas.

Em sua arrogância, ele não viu o impulso do pé de Tristan na frente de seus tornozelos e caiu cambaleando sobre as calças de Tristan para o chão duro além.

— Você deseja uma trégua? — Perguntou Tristan, ficando em cima dele. — Ou você deseja descobrir como um diabinho experiente, é capaz de fazer?

Tamas rolou de costas e olhou para ele.

— Pergunte-me depois que eu colocar vermes em sua comida.

— Muito bem. — Tristan suspirou e se inclinou para recuperar as suas roupas. — É sua escolha.

Tristan não fez barulho enquanto se arrastava pela parede escura em direção à porta do quarto de Tamas. Ele não pretendia machucar o menino. Não seriamente, pelo menos. Tamas estava entrando na idade adulta sem a orientação cuidadosa de que precisava para crescer com um pouquinho de honra e humildade.

O que ele estava prestes a fazer para derrotar Tamas era para o próprio bem do menino e para a paz de sua família no futuro. Patrick parecia possuir os valores que o seu irmão mais novo precisava aprender, mas não teve tempo de ensinar ao menino como ser homem. Alex já havia provado que ele certamente não era um exemplo de traços inteligentes. Cameron era quieto demais, passivo demais para impedir que Tamas se tornasse uma ameaça e causasse tristeza à sua irmã. Tamas precisava ser ensinado por alguém que não cessaria até que ele aprendesse bem as suas lições. O rapaz era desonesto e seria difícil de vencer, Tristan daria lições a ele. Ele sorriu, ansioso pelo desafio.

— Onde você esteve? — Uma voz disse das sombras. — Pensei que você não vinha.

— Eu sempre mantenho minha palavra, John. — Tristan sorriu para o seu cúmplice e estendeu as mãos. — Você conseguiu o suficiente?

— Duas sacolas. — Disse John, entregando uma a ele.

Tristan exigiu a sua ajuda e, quando ele colocou o seu plano para o rapaz, John se divertiu. John precisava fazer isso tanto quanto Tamas precisava da lição.

— Bom. Vamos.

Como ladrões nas sombras, eles invadiram o quarto de Tamas enquanto ele dormia e espalharam dezenas de cardos20 que John havia recolhido pelo chão, nas botas de Tamas, nos seus bolsos e na cama onde dormia. Ao sair pela porta, Tristan viu o que procurava situado carinhosamente em um banco de Tamas. Ele a pegou e enfiou no bolso das suas calças.

— Para que precisamos da corda? — John sussurrou, entregando a sua próxima ajuda a esta causa nobre.

— Vou mostrar a você. — Tristan ajoelhou-se na entrada e prendeu as duas extremidades da corda no batente da porta oposta, na altura dos tornozelos. Ele pegou as sacolas e espalhou o que restava das plantas espinhosas do lado de fora da porta e depois fechou-a cuidadosamente.

John era rápido em descobrir o que a corda deveria fazer e puxou a manga de Tristan antes que se separassem.

Antes de falar, Tristan se inclinou e deu um tapinha no ombro dele.

— Não se preocupe, ele usa uma camisa de noite. As picadas serão menores.

John assentiu, sorriu e depois se afastou.

Tristan não foi diretamente para o seu quarto, mas desceu as escadas e entrou na cozinha, faminto por algo para comer. Ele encontrou uma maçã, esfregou-a contra a camisa e olhou pela janela. Curiosamente, uma luz vinha do celeiro. Quem estava acordado a essa hora tardia, exceto ele e John? Ele mordeu a maçã e saiu da cozinha. Patrick trabalhava no meio da noite? Ele se perguntou quando saiu da casa. Ele provavelmente era a última pessoa que Patrick queria ver, mas Tristan se ofereceria para ajudá-lo, e talvez eles pudessem começar a resolver algumas coisas entre eles.

Ele abriu a porta do celeiro e entrou com um ruído retumbante, dando outra mordida em sua maçã. Mas não era Patrick que ele assustou, mas Isobel, e vê-la parou Tristan.

— O que você está fazendo aqui?

Ela se recusou vê-lo e voltou ao seu trabalho. O seu perfil contra o brilho suave da lamparina ao seu lado estava pensativa e inquieta ao mesmo tempo.

— Não é óbvio para você então, que estou ordenhando uma cabra?

Ele se aproximou dela.

— Nesta hora?

— Hoje não fui capaz de fazer isso, e Glenny estava cheia. — Ela não olhou para ele, mas deu um tapinha suave no flanco da cabra. — Ela não gosta de estar cheia. O que você está fazendo acordado tão tarde? — Ela o olhou de relance enquanto ele arrastava outro banquinho e sentava-se ao lado dela.

Ele sorriu e ergueu a maçã, depois a afastou quando Glenny virou a cabeça e tentou arrancá-la de seus dedos.

— Podemos compartilhar, moça. Não há necessidade de ser incivilizada. — Ele deu outra mordida, em seguida, entregou o resto.

— Você não deveria ter feito isso. — Isobel disse, as suas mãos ocupadas sob a barriga da cabra. — Ela vai esperar comida cada vez que vê-lo agora.

— Então eu vou trazer um pouco para ela. — Prometeu Tristan, e deu um tapinha na cabeça de Glenny.

— Então você terá que trazer de seu próprio prato. — Apontou Isobel. — Se você não percebeu, colhemos a maior parte da nossa comida aqui. Nem sempre há o suficiente ao redor, por isso tenho certeza de que você não a verá frequentemente.

Até aquele momento, Tristan não havia compreendido completamente o peso das responsabilidades de Patrick e Isobel em relação a essa família. Em Camlochlin, havia muitas pessoas para ajudar nas tarefas diárias, e com o seu irmão Rob sempre disposto a fazer a maioria delas, Tristan não percebeu tudo o que precisava. Mas aqui não havia mais ninguém a quem recorrer, ninguém em quem confiar para ajudá-los a sair do perigo. Se os seus irmãos viviam, dependia deles ver isso acontecer. Mais do que antes, lamentava que o seu pai tivesse matado o deles.

— Então eu vou ordenhá-la e contar contos emocionantes que vai fazê-la produzir muito leite.

Isobel piscou para ele na luz clandestina e então, para grande satisfação de seu coração, sorriu.

— Não há nada ou ninguém que possa resistir ao seu charme perfeito?

Ele balançou a cabeça, sério, embora ela zombasse dele.

— Existe apenas uma.

O sorriso dela esfriou em um instante.

— Você acha que pode ganhar os meus irmãos então?

— Espero que com o tempo. — Ele disse honestamente. — É a única maneira de obter paz entre nossas duas famílias. — Por que ela não queria que ele fizesse o possível para diminuir o ódio entre os seus parentes? Não sabia se tal façanha era possível, mas queria tentar, para o bem dela.

— Então, você desafiaria o seu pai?

Ele encolheu os ombros.

— Não seria a primeira vez que eu faço.

Ela o estudou por um momento, procurando nos olhos dele alguma coisa. Desejou saber o que era.

— Você me disse uma vez que não é como a maioria dos MacGregors. Devo acreditar, então, que você não busca vingança contra a minha família após a morte do seu tio?

— O homem que matou meu tio morreu com ele, Isobel.


— E se ele ainda estivesse vivo?

Ele piscou de volta para Glenny, afastando o olhar sombrio dela.

— Então, talvez, as coisas seriam diferentes.

As coisas seriam diferentes. Os pulmões de Isobel queimavam no seu peito. O que ele faria então?

— Você deve sair. — Ela ordenou, voltando ao seu trabalho. — Patrick ficará com raiva se ele encontrar você aqui.

O olhar de Tristan baixou nos dedos dela, fechando-se ao redor das tetas penduradas da cabra, apertando para cima e para baixo, para cima e para baixo até que o seu próprio membro se apertou com o desejo de sentir as suas mãos nele da mesma maneira.

— Estou disposto a arriscar.

Ela suspirou e jogou a cabeça para trás.

— Eu não! Não sei o que você quer ou o que está fazendo aqui. O que aconteceu entre nossas famílias nunca pode ser reparado, Tristan.

— Você está errada. — Ele disse a ela. — Os meus pais são MacGregor e Campbell. O amor deles terminou com uma briga entre os clãs que durou trezentos anos. Eu não acho que...

— Amor? — Ela o interrompeu com uma risada. — Você está tentando me fazer apaixonar por você então?

— Não. — Disse ele, sentindo-se um pouco insultado por seu humor. — Eu...

— Por você? Um libertino notório conhecido por quebrar o coração de todas as mulheres com quem brinca? Quantas delas você já amou?

— Nenhuma, mas não estou tentando...

— Precisamente. Eu sei o que você é e eu...

— ...fazer você se apaixonar por mim. E a última coisa...

— ...não cederei à sua hábil sedução, apenas o que...

— ...que desejo é uma moça tentando me fazer de seu marido.

— ...desejo é que você parta.

Os dois pararam de falar um sobre o outro ao mesmo tempo, deixando o ar entre eles escaldante. Desta vez, Tristan sabia que ela sentia isso. Os olhos dela brilharam com o desafio de ir de encontro a ele. A redondeza cremosa de seu seio inchou com as respirações rápidas e curtas que ela inspirou e expirou entre os lábios entreabertos. Inferno, ele queria beijá-la, tomá-la aqui, agora no feno.

— Acho que você deveria partir.

Enrolando o seu tornozelo em torno da perna do banco dela, ele a arrastou, ainda sentada, entre os seus joelhos. Ele não teve piedade quando ela suspirou assustada, mas amorteceu o rosto dela nas suas mãos e se inclinou para beijá-la. Os seus lábios eram tão macios quanto ele se lembrava, a sua respiração, quente e misturada com seu medo. Ele a abraçou gentilmente e tomou a sua boca com uma urgência lenta e sedutora que o fez gemer contra os seus dentes. Ele não achou estranho que ela não se afastasse. Ele pretendia deixá-la fraca demais para suportar o suave e faminto deslizar de sua língua. Envolvendo os dedos em torno de sua nuca, ele aprofundou o beijo, moldando a sua boca na dela para provar a sua doçura inebriante e completa, inalando-a mais completamente. Ele sabia pelo aperto de suas calças e pelas batidas do seu coração que precisava parar antes que se tornasse mais difícil fazer isso.

Ele se afastou lentamente, olhando profundamente em seus olhos e esperando que ela não desse um tapa no rosto dele.

— Me perdoe. — Ele sussurrou junto de sua boca. — Você é difícil de resistir.

Ela olhou para ele através das pálpebras semicerradas, o resquício do beijo apaixonado desaparecendo de seus olhos enquanto piscava. Ela não disse nada, embora estivesse claro pela maneira como os seus dedos começaram a torcer as saias que ela queria dizer ou fazer alguma coisa. Finalmente ela fez. Ela se levantou, ofereceu-lhe um sorriso bondoso e depois chutou o banquinho por baixo do seu traseiro

— Felizmente, Senhor MacGregor. — Ela sussurrou, curvando-se para pegar o seu balde de leite. — Resistir a você não é nada difícil. — Ela saiu furiosa, jogando leite de um lado para o outro.

Tristan a ouviu sair do celeiro e se levantou sobre os seus cotovelos.

— Então, volto a ser Senhor MacGregor, não é? — Ele endireitou o banco caído primeiro e, quando estava de pé, deu a Glenny um olhar triste. — Lamento dizer que a moderação não é uma das minhas melhores virtudes, mas estou trabalhando nisso.

Isobel fechou a porta do celeiro atrás dela e se inclinou contra ela, uma mão agarrada ao seu peito. Ela precisava de um momento para respirar, recuperar as suas forças e limpar a sua cabeça. O pânico a envolveu momentaneamente quando descobriu que o último seria impossível. Que Deus a ajude, mas o homem sabia como beijar! Ele sabia como fazê-la queimar em lugares que raramente teve tempo para pensar no passado. Ela fechou os olhos, lembrando-se do desejo em seu olhar ardente quando ele baixou a sua boca na dela, e esse olhar estava ainda mais quente quando ele a soltou, a sua paixão insaciável e mal contida. Os seus beijos não eram suficientes. Ele queria se deitar com ela. Ela provou na sua língua, o desejo masculino febril que fazia a sua pele quente e suas terminações nervosas formigarem. Como ela pôde clarear a cabeça quando estava cheia de imagens sombrias do corpo nu e duro de Tristan MacGregor, acima dela, pronta para tomá-la, resolvido a perseguir a sua vitória? Como ela poderia continuar a afastá-lo quando cada sorriso, cada olhar ardente que ele lançava a aproximava da derrota?

Ao ouvi-lo mover-se dentro do celeiro, conversando com Glenny, como ele havia prometido que faria, Isobel estava tentada a espreitar através de uma das fendas na parede e olhar para ele. Ele a fez sorrir quando tentou o seu melhor para odiá-lo. Ele alegou querer paz entre as suas famílias. Ela poderia acreditar nele? Ela se atreveria?

E o que ele faria se descobrisse a verdade?

— As coisas seriam diferentes.

 

Capítulo Vinte e Um


Não era nada estranho ouvir um ou mais de seus irmãos gritando por sua ajuda antes que Isobel se levantasse da cama. Geralmente eram John ou Lachlan gritando para relatar algum problema que Tamas havia instigado, mas naquela manhã as coisas eram diferentes. Eram os choros lamentáveis de Tamas que fizeram Isobel se levantar e sair pela porta. Quando ela entrou no corredor, as portas estavam se abrindo de todos os lados quando os seus irmãos, e até Tristan, saíram correndo de seus quartos para atender o pedido de ajuda.

Ver o seu irmão caçula deitado no chão do lado de fora do quarto quase parou o coração de Isobel e a sua respiração.

Patrick o alcançou primeiro, praguejando juramento quando o seu pé descalço pisou em um dos muitos cardos espalhados por baixo do corpo caído de Tamas.

— O que diabos...? — Patrick xingou novamente, chutando as flores espinhosas do caminho.

Isobel o seguiu e, quando o caminho estava livre, ela se inclinou para Tamas e tentou ajudá-lo a se levantar.

— Não! — Ele gritou. — Eles estão nos meus pés! Tirem eles, Bel! Tirem eles daqui!

Horrorizada, ela examinou a pequena camisa de noite de Tamas. De frente para trás, ele estava coberto de cardos. Alguns ainda estavam intactos, enquanto outros caíram, as pequenas agulhas saindo da lã fina que o cobria.

— Eles estão na minha cama. — Exclamou Tamas. — E no chão. Quando calcei minhas botas para não pisar nelas, elas estavam lá também! E então... — Ele fungou. — E então eu tropecei nisso e caí no resto! — Ele apontou para um pedaço de corda pendurado em uma extremidade do batente da porta.

Isobel observou a armadilha desmontada com a fúria colorindo as suas bochechas. Ela olhou diretamente para Tristan e o encontrou em pé na porta, um leve sorriso curvando uma extremidade da sua boca.

— Como você pôde?

Para a sua surpresa e consternação, John se adiantou.

— Ele...

— Ele mereceu. — Tristan o interrompeu. — Ele vai ficar bem, embora os seus pés podem ficar doloridos por alguns dias.

— MacGregor. — Patrick rosnou para ele. — Na sala de estar. Agora. Ele continuou a dar ordens enquanto seguia Tristan até as escadas. — Cam, leve Tamas ao quarto de Isobel e Lachlan, tire esse sorriso do seu rosto e comece a trabalhar alimentando os cavalos. John, você vem conosco.

John lançou um olhar preocupado a Isobel, mas fez o que lhe foi pedido e marchou, junto com Tristan, escada abaixo.

— Patrick vai fazê-lo pagar. — Lamentou-se Tamas, enquanto o seu irmão o levantava com cuidado.

Atrás deles, Isobel apertou as mãos e olhou para baixo da escada. Essa era a ideia de Tristan de fazer as pazes? Oh, ela era uma tola! Ele não era nada além de um selvagem vingativo, assim como o seu pai.

— Cam. — Disse ela depois que ele ajudou a deitar Tamas em sua cama. — Vá para a sala e me conte tudo o que foi dito. Certifique-se de que Patrick não atinja o Sr. MacGregor novamente. Mais contusões só o manterão aqui por mais tempo.

Quando ele saiu, Isobel começou a cuidar primeiro das mãos e dos pés do seu irmão. Ela removeu o maior número de espinhos que pôde, mas alguns eram pequenos demais para tirar com os dedos. Ela precisaria aplicar um bálsamo para extraí-los. O resto não estava tão profundamente enraizado, preso nas roupas de dormir e não na pele.

Quando terminou, ela beijou o rosto manchado de lágrimas de Tamas e prometeu voltar com sua pomada de cura e algo quente para a barriga dele. Ela estava prestes a sair do quarto quando os gritos de Lachlan do lado de fora a pararam.

Os Cunninghams estavam chegando.

— Quem? — Tristan levantou-se de sua cadeira na sala de estar e correu com Patrick até a porta.

— Cunninghams. — Disse Patrick, puxando uma adaga do cinto. — Eles vieram queimar nossas colheitas. Cam, leve John para cima!

Os gritos de Lachlan ecoaram pela casa quando Patrick abriu a porta da frente. O barulho de cavalos esfriou o ar da manhã e o coração de Tristan junto com ele. Em um instante, ele foi transportado de volta no tempo, de volta ao mesmo medo que sentira quando o seu pai abriu a porta da Campbell Keep. Só que desta vez, Tristan não estava disposto a deixar ninguém morrer.

— Fique aqui! — Ele ordenou a Isobel quando a viu no topo da escada. Ele não esperou para ver se ela obedeceu, mas correu para o lado de Patrick.

Seis cavaleiros circularam Lachlan no campo, rindo do forcado que ele bateu neles. Um dos homens carregava uma tocha acesa que ele cutucou o rapaz como uma espada, provocando-o enquanto Lachlan tentava se proteger das chamas.

Patrick atacou com um rugido que abalou o chão. Ele alcançou um dos cavaleiros mais próximos de seu irmão e o puxou de sua montaria com uma mão. Ele foi rapidamente cercado e virou-se para o próximo cavaleiro. A bota no rosto dele o parou momentaneamente.

Tristan não esperou para ver quem acertou Patrick, mas correu em direção ao combate e saltou para o cavaleiro prestes a lançar a sua tocha na colheita. Os dois homens caíram no chão com um baque forte, Tristan tomando menos do golpe por cima. Ele não deixou o seu oponente recuperar o fôlego, mas o deixou inconsciente com um punho rápido e esmagador de ossos na mandíbula. Levantando-se, encontrou Cameron ao lado dele pisando na tocha e outro Cunningham caindo sobre ele, sua montaria a poucos centímetros de distância. Com reflexos rápidos, Tristan afastou Cam segundos antes que o cavaleiro o tivesse pisoteado onde ele estava. O bastardo virou-se para um segundo ataque, mas caiu de sua montaria com uma flecha no ombro. Tristan virou-se para John e sorriu quando o menino apontou outra flecha, pronto para atirar novamente.

Lachlan gritou um aviso para Patrick, e Tristan e John se viraram para ver os cavaleiros restantes cercando o Laird Fergusson com espadas desembainhadas.

Então eles vieram buscar sangue, não é? O coração de Tristan arrefeceu quando um deles cortou Patrick no braço. A adaga caiu da sua mão. Cameron correu para o lado do irmão e desviou um segundo golpe com o forcado que Lachlan havia lhe entregue antes.

A flecha de John voou e pegou o agressor de Patrick na coxa. O homem não caiu, mas gritou um juramento que cuspiu da boca. Ele olhou fixamente para John e atacou.

O coração de Tristan bateu forte no peito, acelerando o sangue e afinando os sentidos como um bom violino. Eles vieram para uma briga, e Tristan estava mais do que feliz em lutar. Inspirando profundamente, ele se deleitou com a emoção de superar esse bastardo que pretendia matar um menino. Ele não se importava que não tinha a sua própria espada. Tristan pegaria o oponente. Desarmado, haveria apenas um momento para fazer isso. Ele tinha que deixar o cavaleiro atacar primeiro.

Com o cavalo quase sobre eles, ele entrou em seu caminho. O cavaleiro balançou a sua enorme lâmina. Tristan se abaixou a tempo de ouvir a espada sibilar acima de sua cabeça e dar a volta para o outro lado. Saltando para a flecha projetada na coxa do homem, ele puxou com toda a força e arrastou a vítima do cavalo, pegando a espada enquanto caía e derrubando-o com o punho com uma trituração esmagadora do nariz. Lachlan terminou rapidamente com uma pedra pesada na cabeça do oponente.

Tristan não olhou para trás, mas partiu com a espada roubada na direção de Patrick e Cam, ainda afastando os dois intrusos restantes. Um terceiro, o homem que Patrick havia derrubado primeiro de seu cavalo, rastejou atrás deles, sua lâmina brilhando sob o sol da manhã.

Um dos meninos atrás de Tristan gritou para o seu irmão, e Patrick virou quando a espada caiu sobre a sua cabeça. Mas apenas faíscas caíram sobre os ombros de Patrick quando a lâmina de Tristan aparou o golpe, a centímetros de seu rosto.

Com um grunhido que afastou o agressor, Tristan se virou contra ele com um sorriso de aviso.

— Você tem certeza de que deseja continuar? Te dou a escolha.

O homem correu para ele, e o choque de suas espadas ecoou por todo o vale. Com dois espadachins ainda ameaçando Patrick e Cam, não havia tempo para ensinar ao bastardo uma lição de perda graciosa. Ele teria que derrubar rapidamente.

Batendo a lâmina contra a outra, Tristan avançou, fingiu um golpe no ombro, inverteu a direção e varreu a ponta da lâmina pela parte de trás dos joelhos do oponente. O homem caiu de costas e encontrou a espada de Tristan contra a garganta quando ele abriu os olhos.

— Pare os seus parentes. — Tristan o alertou, perto de seu rosto. — Agora! — Ele exigiu, apertando a ponta afiada mais fundo. — Ou eu juro vou cortar a sua cabeça para que eles levem de volta a seu Laird.

O homem não hesitou, mas fez como lhe foi ordenado, e os dois cavaleiros restantes recuaram.

— Levante-se. — Tristan o puxou para ficar de pé. Ele manteve a espada apontada para o peito do Cunningham enquanto puxava a espada do homem dos dedos e a jogava para Patrick. — Por que você está atacando esta família e destruindo a sua terra?

— Quem diabos está perguntando? — O homem exigiu, e com bastante ousadia também. Tristan cutucou-o com a ponta da lâmina para lembrá-lo de quem estava no comando.

— Tristan MacGregor está perguntando. Preciso perguntar de novo?

— Eu sou John Cunningham, filho de...

Tristan deu-lhe outro soco.

— Eu não perguntei o seu nome. Cameron? — Ele olhou para Cam, depois se voltou para Cunningham quando o rapaz assentiu. — Entenda que o seu tempo de responder acabou. — Ele passou o olhar sobre os outros dois Cunninghams em seus cavalos. — Todos vocês saibam que se voltarem aqui, não retornaram para os seus parentes vivos.

— Desde quando os MacGregors estão com os Fergusson? — Aquele com a ponta da espada contra o seu peito perguntou.

— A partir de hoje. — O sorriso de Tristan era tão frio quanto o metal que ele empunhava. — Pensei que isso era bastante óbvio. Você pode voltar em alguns dias para perguntar ao resto dos meus parentes quando eles chegarem. Tenho certeza de que eles estarão ansiosos para provar que minhas palavras são verdadeiras.

Todos os três Cunninghams balançaram a cabeça.

— Nós não vamos voltar.

— Boa! — O sorriso de Tristan animado no homem de frente para ele na ponta de sua lâmina. — Isso é sua palavra, John Cunningham? — Quando o homem concordou, Tristan o soltou e balançou a sua espada sobre o ombro. — Há mais uma coisa que quero de você antes de recolher os seus feridos e partam. Quando encontrar a Lady desta casa, você pedirá perdão por amedrontá-la.

— Eles podem pedir-lhe agora. — Cameron murmurou, olhando para além do ombro de Tristan.

Tristan se virou e viu Isobel por perto, com John embaixo do seu braço e o vento abanando os seus longos cabelos soltos. O sorriso dela, quando ela encontrou o olhar dele, começou devagar e terminou como uma flecha em suas entranhas à curta distância.

Ela não tinha que agradecer a ele. Estava tudo lá no rosto dela, nos olhos. Como se ele fosse algum tipo de herói que saiu das páginas de um livro, um campeão que veio para vencer neste dia, e sua mulher com ele.

Ela esperou, nunca tirando os olhos dele enquanto John Cunningham se lamentava. Quando os Cunninghams se foram, ela deu uma rápida olhada no ferimento de Patrick.

— Não é sério. Venha. — Ela deixou o seu irmão passar por ela e se virou para olhar por cima do ombro para Tristan novamente. — Vamos para casa.

 

 


Capítulo vinte e dois


Isobel não havia esquecido o que Tristan havia feito com Tamas, mas o que ele fez pelo resto deles mais do que equilibrou a sua ofensa. Ele não tinha que arriscar a sua vida lutando contra os Cunninghams. Por que ele deveria se importar se eles ateassem fogo na terra dos Fergussons, ou se seus irmãos eram ameaçados com a espada? Ela olhou para ele sentado do outro lado da mesa com os seus irmãos, interagindo com eles, sorrindo com eles. Apesar de todo o seu charme astuto, havia algo absolutamente genuíno nele. Será que ele era o que alegava, um MacGregor que pensava de outra maneira?

— Por que você disse a eles que os seus parentes estavam vindo para cá? — Lachlan perguntou enquanto ela enfaixava o braço ferido de Patrick.

— Porque eles são covardes. — Respondeu Tristan, derramando mais mel em sua tigela de aveia. Ele lambeu os dedos e, enquanto Isobel o observava, um fio de calor percorreu a sua espinha. — Quando John Cunningham contornou a minha pergunta sobre o porquê de seus parentes os atacarem, suspeitei que fosse porque os Cunninghams sabem que não há muita defesa aqui. Fazendo-os acreditar que os MacGregors estão com vocês, os manterá afastados.

Inteligente, pensou Isobel, terminando com a ferida de Patrick. Ele fez o mesmo por ela em Whitehall com John Douglas e seu amigo bêbado.

— Por que todos os homens precisam ter medo para se comportarem com civilidade?

Tristan olhou para ela, os seus olhos castanhos dourados brilhando com ardor.

— Não, nem todos os homens são iguais.

— Você não tem medo de nada, então? — Cameron perguntou, olhando por cima de sua aveia.

Tristan assentiu.

— Só de irmãos mais novos.

Até Patrick não pôde deixar de sorrir para ele. Todos os seus irmãos na mesa fizeram. Ele atraia os outros com um talento inato para fazê-los sentir como se tivessem algo em comum com ele. Com ela, ele compartilhava a perda de alguém que amava. Com John Douglas, era um apreço pelo bom vinho e pelas mulheres e, com seus irmãos, um medo do irmão menor.

Ele era acessível e convidativo, mas, de alguma forma, conseguiu permanecer notavelmente distante das pessoas em sua vida. Quantas mulheres ele matou com seu sorriso sedutor e a língua de feiticeiro antes de deixá-las com nada mais que a sua lembrança? Ele até planejava deixar os seus parentes na primavera. Nada o tocava. Ele era um mestre de muitos, mas ninguém jamais seria mestre dele. Isobel acreditava nisso.

— Não sei como agradecer por nos apoiar hoje. — Disse Patrick.

Isobel sentou-se do outro lado da mesa, fechando os olhos e rezando para que não fossem todos enganados por um habilidoso assassino disfarçado de armadura brilhante.

— Foi uma luta injusta. — Respondeu Tristan, deixando de lado o que havia feito.

— Sim. — John riu, devorando o que tinha em sua tigela. — Depois que você se juntou a ele, foi. — Ele se virou para Isobel, com os olhos arregalados de admiração. — Você não viu como ele pegou a espada da mão de Edward Cunningham, Bel. Por que ele...

Mas ela tinha visto. De uma distância segura, observou Tristan se colocar diretamente na frente de John, protegendo-o de um cavalo que atacava e de uma lâmina mortal. Ela o viu salvar Patrick e depois derrubar o irmão de Edward, John, com alguns golpes rápidos da espada e um movimento do pulso. Ela se perguntou se era a causa pela qual ele lutava ou sua graça fluida e precisão rápida como um raio que o deixavam tão excitante de observar... e sua ameaça violenta de cortar a cabeça de John Cunningham, tão assustadora de ouvir.

Ela piscou para John e depois sorriu, percebendo que ele estava esperando que ela fizesse isso.

— Ele é habilidoso, de fato. Devemos muito a ele.

John sorriu.

— Ele pode ficar aqui conosco?

A colher parou nos lábios. Oh, maldição, ele não apenas perguntou isso a ela. Ela olhou para Tristan, esperando que ele dissesse algo sutil e inteligente para desviar John de sua pergunta. Quando nada aconteceu, ela olhou para Patrick, sinceramente atordoada quando também não veio ajuda imediata.

— Eu não acho que seria sábio, John. — Disse ela ao seu irmão, sem saber mais o que dizer sem insultar o homem que acabara de arriscar a sua vida por eles.

— Só por causa do nome dele? — John pressionou, jovem demais para lembrar o que havia perdido quando o seu pai foi morto.

Ela estava agradecida quando Patrick intercedeu.

— O Senhor MacGregor tem parentes que aguardam o seu retorno, John. Eles provavelmente estão alarmados com a ausência dele, mesmo agora.

— Na verdade. — Tristan pigarreou e pousou a colher. — Eles provavelmente não estão alarmados. Eu viajo com frequência.

Ele viajava? Isobel ouviu com os ouvidos atentos. Onde ele ia? Quem ele visitava? Mulheres, sem dúvida.

— Se você ficar. — Lachlan entrou na conversa, tão ansioso agora, e tão perdido com os encantos de Tristan, como John. — Você me ensinaria a usar a espada?

Tristan olhou em volta da mesa para os irmãos, e parando quando ele olhou para Patrick.

— Eu estava curioso por que nenhum de vocês tinham uma espada hoje. Algum de vocês sabem como manejar uma?

— Eu sei, um pouquinho. — Patrick disse a ele. — O meu pai preferia... — Sua voz parou quando ele percebeu o que estava prestes a dizer. Os seus olhos encontraram os de Isobel por um breve momento antes de se afastar. — O arco. Eu sempre quis aprender, mas nós temos apenas o suficiente para negociar por alimentos. Uma espada é um luxo que não podemos pagar.

Se Tristan refletia na arma escolhida pelo o seu pai e na maneira como o Conde de Argyll havia morrido, isso não era revelado em seu largo sorriso.

— Bem, nós temos três agora. A minha e as dos Cunningham. — Ele se virou para Isobel com um brilho nos olhos castanhos dourados. — Não deve demorar muito. Um mês, no máximo, e então vou embora de sua vista.

Assim ele era com todos os outros. Com o que ela se importava? Ela queria que ele fosse embora, e quanto mais cedo melhor.

— Faça o que quiser, Senhor MacGregor. Estou certa de que você irá de qualquer maneira.

Sem mais nada a dizer entre eles, levantou-se, pegou a sua tigela e deixou a mesa.

Tristan caminhou pelo corredor até a porta do quarto de Isobel, que estava entreaberta. Do lado de fora, ele podia ouvir os irmãos dela começando o dia de trabalho. Ele se juntaria a eles em breve, mas primeiro, ele queria verificar Tamas. Quando ele chegou à porta, parou, ouvindo a voz de Isobel lá dentro. Ela estava falando baixinho sobre o que havia acontecido anteriormente com os Cunninghams. Tristan ouviu um pouco, apreciando a maneira levemente ofegante que ela o descreveu quando ele salvou John. Se ele vivesse até os cinquenta anos, nunca esqueceria o jeito que ela sorria para ele, quando acabou a luta. Mas logo as sombras da dúvida e desconfiança voltaram aos seus olhos, e quando eles terminaram de interagir, ela voltou a odiá-lo.

Ele abriu a porta e sorriu quando Isobel e Tamas se assustaram com a sua aparição.

— Bom dia, Tamas. — Disse ele, entrando. — Como você está?

O menino olhou para ele e levantou os pés enfaixados da cama para mostrá-lo.

— Na primeira chance que eu tiver, vou lhe mostrar.

— Tamas! — Isobel repreendeu.

— Então estou ansioso pelo dia em que você estará bem e podermos retomar de onde paramos. — A peculiaridade diabólica da boca de Tristan produziu um olhar perturbado no rosto do menino. — Senhorita Fergusson. — Disse ele, virando-se para ela. — Posso falar com você sozinha?

O mesmo olhar passou pelas feições de Isobel, mas ela assentiu e o seguiu até a porta.

— Assim que ele terminar com o trabalho da manhã. — Ela disse, para Tamas em seu caminho para fora — Patrick vai levar você de volta para a sua cama limpa. — Ela fechou a porta atrás de si e voltou o seu olhar gelado para Tristan.

— Não quero que faça ameaça de lhe fazer mal.

— Eu pretendo falar com você e Patrick sobre isso mais tarde. Esta conversa é sobre nós.

— Nós? — Ela piscou e levou a mão ao peito, como se quisesse manter a sua determinação contra a força que vinha contra ela.

— Sim. — Ele se aproximou dela. Ela deu um passo para trás, mais fundo nas sombras da tarde. — Diga-me o que devo fazer para obter uma chance com você.

— O que você faria com isso se eu a desse?

— Mostraria quem eu sou. O homem que escondi do mundo.

A sua respiração parou contra o seu queixo quando ele inclinou o rosto para mais perto do dela. Ele sabia que ela estava noiva. Como ele poderia encontrar o que havia perdido, desonrando a única mulher que viu nele uma centelha de quem ele desejava ser? Mas ele não queria pensar nisso agora. Ele não podia, não quando os lábios dela estavam tão perto dos dele, deixando-o louco com a necessidade de beijá-la.

— Você me emociona com a sua boca atrevida e seus quadris rebolando, mas é sua vontade de me odiar que eu admiro, por isso prova que o seu coração é leal a seus parentes.

— E seu coração? — Ela perguntou suavemente, virando o rosto. — É leal a seus parentes também?

Como ele deveria responder? Isso o condenaria nos olhos dela? Ele disse a verdade.

— Devia ser, eu sei, mas minha lealdade às minhas crenças vem em primeiro lugar.

— E quais são as suas crenças?

Ele tocou com os seus dedos no queixo dela e gentilmente insistiu que ela olhasse de volta para ele, sua boca perto da dele.

— Diga-me que você quer que eu fique por um pouco mais de tempo... — Sua respiração se misturado com a dela enquanto os seus dedos roçavam a pulsação latejante em sua garganta e depois envolveu em torno de sua nuca. — ...E eu prometo dizer-lhe para você.

Ele tomou a boca dela com ternura excruciante, um feito louvável quando o que ele realmente queria fazer era segurá-la contra a parede com a força de seu beijo enquanto desamarrava os seus calções. Fechando o outro braço em volta da cintura dela, ele a puxou contra ele, afastando os seus lábios com beijos mais curtos e famintos. Quando a língua dele mergulhou nela, ela passou os braços em volta do pescoço dele e respondeu com o seu igual fervor. Ele estava duro ao sentir o corpo macio dela cedendo ao dele e estava feliz que o seu frágil plaid contivesse o seu pênis. Ele queria mais do que uma vitória com ela. Ainda assim, a sua boca estava tão quente, os seus beijos tão docemente que antes que ele pudesse se conter, pressionou os seus quadris nos dela e subiu completamente o seu comprimento grosso, contra o seu calor.

Ela ofegou em sua boca e seu controle quase explodiu. Mas ele não a tomaria como se fosse um encontro casual. Ela era mais do que isso. Muito mais.

Com mais força do que alguma vez tinha sido forçado a convocar antes, ele quebrou o beijo e se afastou.

— Me perdoe.

Ela caiu contra a parede, sem fôlego e sem forças.

— Essa é... — disse ela, levando as costas dos seus dedos às bochechas coradas, — a terceira vez que você me beija e pede desculpas depois.

O véu lânguido sobre os seus olhos o tentando a levá-la para a cama, fazer amor lenta e voraz com ela e depois vê-la adormecer em seus braços.

Ele sorriu para ela, disposto a fazer a coisa certa, e se afastou.

— Estava certo a seu respeito, Isobel. Você já está me fazendo um homem melhor.

 


Capítulo vinte e três


O sol do meio-dia roubou o que restava do frio da primavera e aqueceu a pele de Isobel enquanto ela se ajoelhava em seu jardim. Ela examinou o conteúdo da cesta ao seu lado, tentando decidir o que mais precisaria para a salada. Erva de aipo, crowberry21, salsa, violeta doce... beijos roubados. Ela esfregou a testa com as costas da palma da sua mão e tentou pensar em qualquer outra coisa, exceto a sensação dos braços de Tristan ao seu redor, os golpes indecentes da sua língua invadindo a sua boca, e o comprimento rígido de sua excitação contra ela... Ela tossiu em sua mão e olhou em volta, mortificada por seus pensamentos. Os seus olhos o encontraram instantaneamente. Ele estava ao lado de Patrick, a sua lâmina estendida diante dele, enquanto dava aos seus irmãos a primeira lição de luta com espada. Como ela poderia deixá-lo beijá-la tão apaixonadamente mais uma vez? Incapaz de desviar o olhar, deixou-o absorver o poderoso conjunto de músculo sob as calças justas dele, enquanto ele se lançava para frente em um oponente invisível, o vigor de seu impulso enquanto ele espetava o ar com a sua lâmina. Ela estava maravilhada com a sua velocidade e com a paciência dele quando John largou a espada pesada duas vezes. Com que facilidade ele podia lançar a arma sobre todos, cortá-los em pedaços por causa do seu tio que lhe haviam tirado, o tio que lhe ensinou histórias de outra época de homens de honra que não eram tão raros. Mas, em vez disso, ele escolheu ensiná-los a se defender. Oh, como ela poderia resistir a ele? Como alguém poderia resistir a ele? Deus a ajude, ela estava condenada.

Justo quando ela pensou que não poderia ficar mais lamentável, ele ergueu os olhos de suas instruções e piscou para ela, persuadindo um rubor fresco em suas bochechas. Ela desviou o olhar, amaldiçoando o seu coração tolo. Realmente acreditava que alguém como ele se interessaria por ela? Ela levantou uma mão consciente ao seu cabelo. Ela mal teve tempo de trançá-lo adequadamente de manhã e a cor também não a agradou. Que homem não preferiria o brilho suave do cabelo louro ou o rico brilho de ébano aos tons vermelho do outono? Ela esfregou dois dedos no seu nariz. Por que ela não podia ter a pele clara de Patrick ou Alex, livre das sardas? Ela olhou para as mãos manchadas de terra, percebendo, mesmo quando os seus olhos o procuravam novamente, que havia manchado o seu rosto de terra já com sardas.

Ele estava lá, jogando para trás a sua juba de cabelos com mechas pelo sol, rindo com Lachlan como se ele estivesse aqui a vida toda. Isobel não piscou enquanto o observava. Oh, por que ele tinha que ser um MacGregor? Se ela pudesse realmente conquistar o seu coração volúvel, se contentaria em se deleitar nos beijos dele até o fim de seus dias. Mas mesmo que ele quisesse fazer o que disse, mesmo que houvesse uma parte dele que ninguém mais sabia, uma parte que ele queria mostrar apenas ela, Patrick e os MacGregors nunca permitiriam nada entre eles.

Ainda assim, ela não pôde deixar de se perguntar, enquanto ele esfregava o ombro dolorido, quem era o homem que ele alegava esconder dos outros. Não importava, pensou ela, levantando-se. Havia feno para enfeixar, e um segredo que precisava permanecer escondido.

Após o jantar, Isobel e seus irmãos se retiraram para a sala de estar e convidaram Tristan para ir com eles. Eles precisavam discutir o que ele havia feito com Tamas e garantir que nada parecido acontecesse novamente enquanto ele permanecesse aqui.

Isobel percebeu, pela maneira como Patrick evitou o problema por uma hora sólida, que não queria repreender Tristan depois do que havia feito por eles. Afinal, Tamas não foi gravemente ferido. Ainda assim, algo tinha que ser dito. Tristan tinha que entender que Tamas era apenas uma criança.

Quando ela disse isso, sua paciência com Patrick chegou ao fim, ela estava surpresa ao encontrar o seu irmão no lado oposto do campo.

— Tamas não é mais uma criança, Bel.

— Patrick! — Ela estava boquiaberta. — Ele tem onze anos!

— Velho o suficiente para saber distinguir o certo do errado. — Cameron capturou o cavaleiro de Lachlan e encontrou o seu olhar do outro lado da sala.

— Eu acho que ele merecia cardos em sua cama. — John sorriu para Tristan do chão, onde ele descansava confortavelmente diante do fogo.

Isobel pegou a piscada secreta que Tristan jogou antes para o seu irmão mais novo se virar para ela. Então, eles estavam juntos nesse truque. Ela nunca soube que John possuía um traço vingativo. Ele nunca havia lutado contra Tamas. Embora John fosse dois anos mais velho, Tamas poderia ultrapassá-lo, enganá-lo e vencê-lo.

— E não é apenas pelo o que ele tem feito para Tristan. — Ele disse a ela agora, falando contra Tamas pela primeira vez. — Mas, pelo o que ele tem feito comigo e Lachlan.

— John, querido, você sabe que o seu irmão ama você. — Ela olhou para Tristan. — Ele é um pouco selvagem, só isso. Sou muito firme com ele, mas não vou lhe bater com um chicote como se ele fosse um cavalo teimoso.

— Eu ficaria muito decepcionado se você o fizesse. — Tristan concordou com ela, depois se virou para Patrick. — Posso falar abertamente? — Quando o seu irmão assentiu, ele continuou. — Tamas é jovem, mas ele está caminhando para um caminho perigoso. Para que ele se torne um homem justo e honrado, ele precisa aprender humildade. Uma pequena amostra do que ele inflige aos outros lhe ensinará compaixão.

— Tamas é compassivo. — Defendeu Isobel, mas quando ela realmente pensou sobre isso, não conseguia se lembrar de uma época em que ele tinha sido.

— Quantas vezes tive que impedir que os agricultores vizinhos atirassem nele, Isobel? — Patrick perguntou a ela. — MacGregor está correto. Vamos esperar para discipliná-lo até que ele tenha causado uma lesão permanente a John ou Lachlan?

— Claro que não, mas...

— Você quer vê-lo enforcado algum dia por matar alguém? — A voz de Tristan deteve a dela. — Talvez morto quando ele brigar com a pessoa errada?

Ela parou e fechou os olhos com as palavras dele. Ah, só de pensar nisso...

— Não. — Ela disse calmamente. — Mas eu...

— Você o ama. — Ele terminou por ela, e sorriu quando o olhou. — Eu sei.

Oh, era uma arma letal que ele possuía. Aquele sorriso, sempre pairando sobre a sua boca e iluminando os seus olhos com confiança e otimismo, como se soubesse que as coisas sempre funcionariam a seu favor. Era louco que ela achasse tão reconfortante, apesar de quem ele era? Apesar do que ele poderia fazer se descobrisse quem realmente matou o seu tio? Ela não tinha armas contra ele. Não importava o quão furioso ele a deixava ou o quanto ela o temia, o seu sorriso largo relaxou as suas defesas.

— O que você está propondo?

— Que você confie em mim.

Ah, aqui estava. A vitória dele. Não era isso que ele queria desde o começo? A amizade dela, para que ele pudesse ganhar a sua confiança?

— Eu não tenho maldade em meu coração pelo rapaz. — Continuou ele fervorosamente, os tons quentes de seus olhos se aprofundando em um castanho belo e esfumaçado. — Não, mesmo quando ele soltou vespas em mim, eu não queria causar-lhe ferimentos graves. Ele é um menino que precisa de uma mão mais firme do que o seu bom irmão Patrick que não tem tempo para oferecer no momento.

Isobel não achou estranho que o seu irmão não tenha feito nenhuma objeção. Como ele poderia, quando Tristan falou apenas o que eles já sabiam que era verdade, mas achavam difícil admitir? Adocicar a verdade com apenas uma pitada de mel para ajudá-la a desaparecer fazia parte de sua apelação de vitória. Isobel não queria ser vencida. Ela não queria confiar nele e depois ser vítima de um coração cruel escondido por um sorriso sedutor. Esse erro custaria muito.

— Você me pede demais, Tristan. De nós. — Ela corrigiu, olhando ao redor para os seus irmãos. — Como podemos confiar em um homem que não conhecemos?

— Sabemos que ele é resistente. — Interrompeu Lachlan, sorrindo para Tristan e perdendo o seu bispo. — Ele provou isso depois de duas flechas, uma pedra e um vaso de barro.

— Vaso de barro? — Tristan perguntou, colocando a mão no topo da cabeça, como se estivesse mal lembrando.

— Ele é mais paciente do que eu seria se o irmão de outra pessoa fizesse metade das coisas que Tamas fez com ele. — Cam se juntou, em um tom calmo, e depois explicou à Lachlan onde a sua jogada havia dado errado.

— E para que não esqueça. — Tristan falou a todos, como se eles nunca pudessem se esquecer de uma coisa dessas. — Fui criado no alto das Highlands com o diabo MacGregor, o meu pai. Isso faz com que minha coragem seja forte o suficiente para dominar o que Tamas atirar em mim.

— Falando no que quer que Tamas atire em você. — Mais uma vez, era Cameron quem falou, erguendo os olhos brevemente sob seu escudo de cílios escuros. — Um de nós deve pegar a sua funda.

Tristan sorriu e, em seguida, enfiou a mão no bolso das suas calças e levantou a arma estimada de Tamas.

— Eu já tenho.

Os seus irmãos riram, até Cam, e observá-los fez Isobel sorrir também, apesar do crescente medo de Tristan MacGregor ter feito o que ele disse que faria.

Ele ganhou os seus irmãos. Todos, exceto um.

Os dias seguintes provaram ser tão exigentes para Isobel quanto para o pobre Tamas. Sim, o seu irmão mais novo estava confinado a uma cama que misteriosamente se tornava o lar de uma família de ratos do campo. Era verdade que seus pés pequenos ainda estavam doloridos demais para fugir da mistura de terrores que Tristan havia chovido sobre ele. Rasgou o seu coração em pedaços, sabendo que a criança indefesa sofria sob a aprovação dos irmãos mais velhos, mas os gritos e batidas dos móveis acima de sua cabeça estavam seriamente começando a irritá-la.

À noite, quando Tristan jantava com eles depois de um dia torturando Tamas e treinando o resto de seus irmãos para lutar, ela colocou a comida na frente dele e comeu, sem compartilhar com ele nem um olhar, nenhuma palavra. Ela não gostava das táticas das Highlands de Tristan, fossem boas para Tamas ou não. Tamas era a sua responsabilidade. Todos os seus irmãos eram e ela não estava pronta para desistir disso, principalmente para um MacGregor. Ela mal o ouvia durante as conversas noturnas da família na sala de estar, com Tristan geralmente falando a maior parte do tempo.

Além dos Kennedys, eles tinham poucos visitantes para ouvir histórias que já tinham ouvido pelo menos uma dúzia de vezes antes. Era natural que os meninos se deixassem seduzir pelas aventuras desse libertino. Ele levou uma... vida divertida. Sim, essa era a melhor maneira de descrevê-lo. Encontrando-se em circunstâncias perigosas mais vezes do que Isobel se importava em contar enquanto ela costurava e principalmente devido às mulheres das quais ele sempre escapou ileso. Isso não significava que ele não havia sido atingido por uma flecha, esfaqueado com uma adaga e atingido com um punho uma ou duas vezes, mas como o timbre despreocupado da voz de Tristan atestou, enquanto ele cativava a sua plateia, o seu bom humor se recuperou rapidamente, pelo menos até a próxima vez que ele se via encarando a ponta da espada de alguém.

— O que você fez quando menino? — John perguntou uma noite, enquanto aquecia os pés ao lado do fogo crepitante da lareira.

Isobel ergueu os olhos do copo de hidromel quando logo o estalo da lenha era tudo o que ouviu. Todos esperaram Tristan responder, mas ele não disse nada, o seu olhar fixo em um lugar que não podiam ver.

— Você também teve muitos problemas? — John pressionou, forçando Tristan de volta para eles, o seu sorriso restaurado.

— Dificilmente. Eu era mais parecido como você do que com Tamas. Além disso, minha mãe não tolerava a nos esmurrássemos, como muitos dos meus primos faziam.

— O que você fez então? — Patrick perguntou, colocando mais lenha no fogo.

— Eu li livros e pratiquei o meu...

— Você pode ler então? — John perguntou, de olhos arregalados. Quando Tristan assentiu, ele se aproximou dele. — Que tipos de livros você leu?

Isobel observou Tristan se mexer em sua cadeira, parecendo desconfortável pela primeira vez desde que assumira o seu lugar de costume junto ao fogo.

— Principalmente livros escritos por Monmouth, Chaucer, Sir Thomas Malory.

John lançou-lhe um olhar confuso.

— Sobre o que eles escreveram?

— Cavaleiros. — Tristan disse calmamente. Ele ergueu o olhar para Isobel e deixou que demorasse o suficiente para que ela perdesse a sua atenção quando ele retornou o seu sorriso caloroso para John. — Eles escreveram sobre o comportamento cavalheiresco, o amor cortês, e busca de honra.

— Conte-nos uma estória. — Implorou John, depois bocejou, esparramado em sua cadeira.

Com apenas uma pitada de relutância, ele contou a eles uma história chamada, O Conto dos Cavaleiros, que se tratava de um conto de dois campeões que eram a personificação dos princípios cavalheirescos de seu tempo. John riu das bonitas palavras que Tristan recitou sobre a boa donzela Emelye, cujo o seu favor os dois cavaleiros procuravam ganhar. Isobel ouviu, cativado pela paixão em sua voz, o brilho em seus olhos quando falou em honra. Ela se perguntava como ele poderia manter esses valores tão perto de seu coração quando criança e até idade viril, e ainda partindo o coração de tantas mulheres. Que parte dele era real?

— Vão para as suas camas agora, rapazes. — Patrick ordenou gentilmente uma hora depois, quando a história de Tristan terminou. — É tarde.

— Mas só...

— John. — Disse Patrick sem levantar os olhos do jogo de xadrez com Cameron.

Imediatamente John e Lachlan pegaram as suas botas e foram para a cama, beijando Isobel na saída.

A sala estava tão quieta quanto uma cidade atormentada pela febre da morte. Isobel podia sentir os olhos de Tristan nela. Ele ia dizer algo para ela, e teria que responder. Ela ainda estava brava com ele por Tamas, e queria continuar assim. Era mais seguro para o seu coração. Ela não podia deixar-se apaixonar por ele quando odiava o nome dele por tanto tempo, quando não sabia qual dos dois homens ele realmente era. O libertino ou o herói.

— Isso.

Ela ficou de pé, espetando o dedo na agulha de costura.

— Também vou dormir. Boa noite.

— Então, permita-me acompanhá-la até o seu quarto. — Tristan teve a ousadia de dizer.

Isobel parou, de costas para ele, os ombros enrijecendo quando ele passou por ela e alcançou a porta. Ah, mas ele era um tolo determinado e desafiador. Depois de um momento chocante, sem um único pronunciamento de qualquer um de seus irmãos, ela apertou as mãos e se apressou para a porta.

— Você sabe que eu não quero falar com você. — Ela fez uma pausa para disparar contra ele no instante em que estavam sozinhos no corredor.

— Sim, você deixou isso bem claro.

— Parece que não está claro o suficiente. — Ela ergueu as saias sobre os tornozelos para ficar à frente dele no caminho para as escadas.

— Você está com raiva de mim por causa de Tamas. — Disse ele, mantendo o ritmo ao lado dela.

— Por que eu estaria? Ah, espere, talvez tenham sido as formigas que você colocou na cama dele, ou os ratos, ou as aranhas. Ou eu poderia querer tirar o seu olho por causa que você branqueou o seu rosto tarde da noite para que pudesse assustá-lo sem sentido quando ele abriu os olhos, acreditando que o anjo da morte estava ao seu lado.

— Ele pensa que é destemido.

Isobel parou para encará-lo enquanto sorria com a lembrança.

— E você está determinado a provar a ele que não é. Você disse que era diferente de seus parentes, mas tudo que vejo é um homem se vingando de uma criança.

Ela esperava ver alguma culpa em seus olhos, talvez um vislumbre de dúvida sobre as suas táticas, mas ele permaneceu intocado e friamente respondeu.

— Então feche os seus olhos e permitir-me salvar a sua vida antes que você tenha outro Alex em suas mãos.

Ela virou nos seus calcanhares, não querendo ouvir a sua lógica, e estendeu a mão para o corrimão. O braço dele em volta da sua cintura a deteve. O seu hálito quente contra a sua nuca a consumiu de raiva e enviou golpes excitantes profundo em sua barriga. Ele lhe dissera que admirava a sua vontade de odiá-lo, mas ela não o odiava. Quando parou? Ela nem estava realmente zangada com ele sobre o tratamento que ele dava a Tamas. Ela sabia agora, presa nos braços dele, que tinha ficado longe dele, porque tinha medo do poder que ele tinha de beijá-la... se ela permitisse.

— Quando você começará a confiar em mim, Isobel?

— Nunca.

Ele a virou nos braços, mantendo o corpo dela pressionado perto do dele. Ela arqueou as costas, com medo da proximidade dele e como isso a fez querer lançar a sua cautela aos quatro ventos. Ele a seguiu, curvando-se sobre ela, seus olhos procurando os dela com um desespero que rasgou as suas defesas em pedaços e fez o seu sangue arder.

— Muito bem então, mas não me evite mais. Prefiro ouvir você me repugnar o dia inteiro, do que fingir que eu não existo.

Meu Deus, era o próprio coração dela ou o dele batendo contra o peito? Como um selvagem podia falar de maneira tão eloquente e com tanta humildade? Como ele poderia querer machucá-la quando a protegeu de todas as ameaças, começando por Alex em Whitehall? Ele não era como os seus parentes. Ele não podia ser.

Quando ele baixou o rosto para o dela, Isobel fechou os olhos, cedendo à emocionante lembrança de seus beijos.

Ele traçou os lábios sobre o oco da garganta dela, inalando-a tão intimamente quanto qualquer amante tinha o direito de fazer. Ela tremeu nos braços dele quando suas defesas caíram e sua boca procurou a dele com uma necessidade desesperada. Com uma mão espalhada nas costas dela e a outra segurando a sua nuca, ele lambeu o caminho até a garganta dela. Isso era ela se contorcendo nos braços de um MacGregor? Não se importava. Ela segurou o rosto dele com as mãos, passou os dedos pelos cabelos dele, puxando-o para mais perto. Os seus lábios colidiram com um gemido mútuo de prazer. Isobel se abriu com a sua língua profunda em sua boca, e a surpreendeu com a sua lambida. Ela poderia duvidar de muitas coisas sobre ele, mas sua habilidade em beijar não era uma delas.

Apenas quando ela decidiu se permitir desfrutar plenamente desse momento, a porta da sala se abriu. Ela pulou para longe do abraço de Tristan, mas ele agarrou a sua mão e a puxou para a cozinha escura.

Eles ouviram, os seus corações batendo forte contra o peito um do outro, enquanto Patrick e Cameron conversavam baixinho, enquanto subiam as escadas.

— Ande comigo do lado de fora. — A respiração de Tristan caiu sobre a sua bochecha nas sombras antes mesmo de seus irmãos desaparecerem.

Ela balançou a cabeça, ciente da emoção que ele mostrava toda vez que estavam juntos para não ter medo disso.

— Eu... eu estou noiva. — Oh, ela odiava falar em voz alta. — Não devemos ficar sozinhos.

— Estamos sozinhos agora. — O riso em sua voz quando ele a puxou para a porta da frente a tentou seguir onde quer que ele a levasse. — Você tem o meu voto que vou ser um perfeito cavalheiro.

Ela ousava confiar nele, mesmo nesta pequena coisa? Ela sorriu e o seguiu para fora de casa.

 

Capítulo vinte e quatro


Eles caminharam juntos sob o brilho suave da lua cheia. Nenhum dos dois falou por um tempo, silenciados pela beleza da terra e pelos céus banhados em prata, e pelo estranho conforto de seus dedos entrelaçados.

O olhar de Tristan deslizou para Isobel ao lado dele. Ele sentia falta de discutir com ela, sorrir para ela e vendo-a sorrir de volta. Ela o colocou no inferno nos últimos dias, e entendia o porquê, mas isso não a tornou mais fácil de suportar. Ela não estava mais brava com ele, por Tamas, ou por ele a beijar novamente. Inferno, ela o beijara de volta desta vez, e ele seria condenado se a boca dela não estivesse tão faminta por ele como a dele por ela. Olhando para ela, se perguntou se seria amaldiçoado por tocá-la, por estimular aqueles pequenos gemidos deliciosos de sua boca que lhe davam esperança de finalmente conquistar a sua simpatia. Ele não pretendia ficar aqui com ela. Ele gostava dela, mais do que qualquer moça antes dela. Ele queria provar que não era o bárbaro que ela o havia chamado e seus parentes na Inglaterra. Queria reparar o dano que causou na vida dela e talvez recuperar alguma honra da dele. Ele não queria amá-la. Ele não sabia se podia. Que propósito serviria em amar uma moça que pertencia a outro? Se ele a amasse, e perdê-la destruiria o que restava de seu coração.

Mas como ele iria manter a sua palavra e não tocá-la quando a visão dela, o gosto dela, o deixava louco de desejo por mais?

— Você nunca me disse que foi o seu tio Robert Campbell que te ensinou os seus contos favoritos.

Tristan piscou o seu olhar para longe dela quando ela olhou para ele, despreparado para o assunto que ela apresentava.

— Sim, foi ele.

— Pergunto-me. — Ela continuou suavemente. — Porque você disse que me mostraria quem você é e eu quero saber. Preciso saber. Foram as suas histórias que você tanto ama, ou ele?

Ele pediu que ela confiasse nele. Primeiro, ele sabia que devia confiar nela.

— Ele era o homem de suas histórias, Isobel. Ele viveu a sua vida como todo homem deveria.

Ela fechou os olhos, protegendo-o da dor e arrependimento que ele viu ali.

— Então eu sinto muito que ele se foi deste mundo.

Ele sorriu para o seu rosto iluminado pela lua.

— Como eu.

— Eu não queria fazê-lo lembrar e causar-lhe tristeza.

Ele parou e, virando-se para ela, ergueu os dedos para uma mecha avermelhada roçando a sua bochecha no ar fresco da noite. Ela abriu os olhos novamente e olhou nos dele.

— A lembrança dele não me causa tristeza. Eu quase não falo dele com ninguém em muitos anos, e isso me causou mais dor.

O olhar dela se suavizou e parou a sua respiração.

— Gostaria de ouvi-lo, então. — Ela disse, cobrindo a mão dele com a dela.

— Muito bem. — Ele respondeu, virando a sua mão em torno da dela e levando-a aos lábios. — Vou dizer a você. — Envolvendo os seus dedos com os dela, ele deixou as suas mãos abaixarem entre eles quando começaram a andar novamente. — Eu não sei por que ele me preferia. O meu irmão Rob tem o nome dele, não eu. Talvez seja porque ele queria que eu cumprisse o nome que me foi dado. — Ele sorriu suavemente para si mesmo, surpreso com a facilidade com que as palavras saíram de sua língua. — Ele me convidou para passar os meses de verão com ele e sua esposa em Campbell Keep, e lá ele me treinou para ser como ele. Aquilo se tornou minha casa.

— Ele se tornou um pai para você. — Disse ela, lembrando as palavras que ele usou para descrever o Conde. — Seu verdadeiro pai era terrível, então?

Tristan sabia que ela provavelmente não queria ouvir nada de bom sobre o homem que havia matado o seu pai, mas queria que ela entendesse que ele não foi gerado por algum monstro sanguinário que matava sem provocação.

— Meu destino não foi nada terrível. Ele nunca tratou mal os seus filhos. Ele é simplesmente formado de outro molde. Ele, junto com o resto dos meus parentes, teve que lutar para proteger o que era deles por direito. Meu pai tornou-se o necessário para manter o seu nome vivo.

Ela estava quieta por um tempo enquanto caminhavam juntos em direção às colinas e à linha das árvores além, e então, como se soubesse exatamente quem ele era, ela se virou e perguntou.

— Como um menininho galante se encaixava com homens que sabiam apenas de batalha e derramamento de sangue?

— Eu nunca pertenci a Camlochlin. — Tristan admitiu em voz baixa. — E depois que meu tio morreu parecia que não havia mais lugar para mim no mundo. Depois que ele morreu, parei de pensar se encontraria o meu lugar novamente.

— Mas por quê?

— Porque eu o amava e o que ele me ensinou mais do que qualquer coisa que já amei na minha vida...

...Há muitos momentos na vida de um homem em que as escolhas que ele faz decidirão o seu destino.

— E em um momento de raiva, um instante em que permiti que meu orgulhoso sangue MacGregor me governasse, eu destruí tudo. Então, dei as costas ao código do meu tio e do meu pai.

Quando chegaram às árvores, ela parou e virou-se para ele.

— Como você o destruiu?

Ele observou a forma dela, esbelta e muito feminina, contra um pano de fundo de estrelas. O seu corpo tremeu por um instante, atormentado pelo desejo de puxá-la em seus braços, contar tudo o que ela queria saber e depois beijá-la até que acreditasse nele. Ele não queria se apaixonar por ela, mas qualquer homem que não se apaixonasse era um tolo.

— Eu lutei com Alex.

Lágrimas escorreram por seu rosto e, através da névoa da luz branca, os seus olhos brilhavam como mares gêmeos. Ele queria mergulhar profundamente dentro deles, limpar-se na primavera fresca de renovação que só ela poderia oferecer.

— Você se culpa por sua morte, então? Tristan, diga-me, por favor, se você veio aqui para vingá-lo. Agora entendo o que ele significava para você...

O seu coração se apertou com o medo na voz dela. Ele levantou a mão para limpá-la das lágrimas. Quando ela se afastou, ele se aproximou dela, incapaz de se afastar por mais um instante.

— Isobel, é por causa do que ele significava para mim que eu não o vinguei.

— Lamento que o meu pai o tenha tirado de você. Ele... ele estava bebendo naquela noite. Não sabia o que ele pretendia fazer. Eu era criança. Todos nós éramos.

Ela não queria que ele se culpasse e, por enquanto, faria o que ela pedia.

— Sim, éramos crianças inocentes. — Ele segurou o rosto dela nas mãos e baixou a boca na dela.

— Sim. — Ela respirou em seus lábios.

Ela fechou os olhos e separou os lábios, esmagando em pedaços a sua determinação de permanecer galante. Deslizando uma mão atrás de suas grossas madeixas e a outra pelas costas, ele a juntou e capturou o seu doce hálito com um beijo.

Eles se encontravam na linha das árvores, sob as estrelas e a lenta lua minguante, todas as noites durante uma semana inteira. Eles falaram sobre o seu passado e os sonhos que os levaram a continuar nos dias mais difíceis. Isobel contou a ele seus piores medos e suas mais profundas esperanças pelo futuro de seus irmãos, coisas que nunca havia compartilhado com uma única alma antes dele, nem mesmo Patrick. É claro que ela não contou tudo, mas durante as visitas noturnas, começou a confiar que a vinda dele na sua casa não tinha nada a ver com o seu tio. Pelo menos não da maneira que ela temia.

Depois que a primeira caminhada juntos terminou no quarto de Tamas, ela até perdoou completamente Tristan pelo tratamento dado ao filho mais novo dos Fergusson.

Ele a levou até a beira da cama de Tamas, onde ficaram sentados juntos, esperando o amanhecer. Ela ouviu em silêncio enquanto ele admitia a seu irmão Tamas que havia pegado a sua funda desaparecida e que, para que a recuperasse, ele teria que conquistá-la. Ela permaneceu tão quieta quanto Tristan quando o seu irmão começou a se lamentar para ela, e então ele colocou os seus pés pequenos ao lado da cama. Tristan o alcançou primeiro quando ele tropeçou nas pernas enfraquecidas, e ela observou, o seu coração cauteloso se abrandando, enquanto ele demorava um tempo ajudando Tamas a andar pelo quarto.

Ela estava certa de que pelo menos alguns de seus irmãos estavam cientes dos encontros secretos dela e de Tristan, mas nenhum deles se opôs, apesar de estar prometida. Como ela, eles pareciam ter esquecido tudo sobre Andrew Kennedy.

Até que, inesperadamente, como uma chuva de verão, ele e Annie chegaram à porta.

Isobel poderia ter esmagado a sua panela mais pesada sobre a cabeça de Patrick quando os viu entrando em sua sala de jantar. No momento em que os olhos de Andrew encontraram os dela, soube que nunca poderia se casar com ele. Ele sorriu para ela, feliz o suficiente por vê-la na porta da cozinha, mas os seus olhos não tinham o brilho e a faísca que Tristan possuía quando entrava na sala e a via.

— Espero que não estejamos incomodando. — Disse Andrew, mais para Patrick do que para ela.

— Não se preocupe, Andrew. — Disse Isobel, limpando as mãos no avental. — Todos nós simplesmente comeremos menos para que você possa jantar conosco.

— Está vendo? — Annie deu um tapa no ombro do irmão. — Eu disse a você que era falta de educação chegar sem ser convidado e sem aviso prévio.

— A razão pela qual fizemos. — Andrew explicou apressadamente, — É que Edward, o Curtidor, veio à nossa terra há dois dias e nos disse que conheceu um homem na estrada há algum tempo que lhe perguntou onde encontrar os Fergusson. Eu fiquei preocupado. O Curtidor disse que era um Highlander.

— Sim, ele é. — Patrick começou, mas depois parou novamente quando Tristan apareceu na porta — É certamente um Highlander. Tristan, esse é Andrew Kennedy, o noivo de Isobel, e sua irmã, Annie.

— Isobel está noiva! — O estrondo retumbante dos dentes de Tristan mordendo a sua maçã atrás dela fez Isobel estremecer. — Que sorte você tem.

Andrew assentiu e estendeu a mão como se ela estivesse em um perigo terrível do qual ele pretendia libertá-la. Annie não disse nada. Ela simplesmente estava boquiaberta com Tristan até Isobel querer dar um tapa nela.

— Andrew. — Isobel estreitou os olhos nele. — Você estava preocupado por nossa segurança, então trouxe a sua irmã junto?

— Och, mas ela será uma esposa inteligente e intuitiva, não é, Kennedy? — Tristan disse orgulhosamente e então a rodeou quando viu Tamas descendo lentamente as escadas do seu quarto. — Deus sorri para você.

Os olhos grandes e sonhadores de Annie o seguiram, baixando em suas calças apertadas quando ele passou por ela.

— Ele não parece um Highlander. — Disse ela com um pequeno suspiro. Isobel amaldiçoou o seu plaid e o fato dele raramente o usar, preferindo vestir o seu traje mais inglês.

O olhar frio de Andrew também permaneceu nele.

— Eu deveria ter trazido uma tropa de meus parentes por um homem?

— Se ele pretendesse nos prejudicar. — Apontou John, já sentado na cadeira à mesa. — Não seria o suficiente.

— Oh? — Andrew arqueou uma sobrancelha duvidosa enquanto observava Tristan ajudando Tamas a descer o último degrau. — E exatamente que tipo de ameaça ele representaria sem uma espada no cinto?

Oh, Deus. Isobel ergueu a cabeça balançado para o teto e bateu nas pernas com o seu avental. Seria uma noite difícil. Andrew estava claramente irritado com a presença de Tristan. Por outro lado, que homem não se sentiria inferior na mesma sala que ele? E embora o sorriso amigável de Tristan nunca vacilasse, ela o conhecia o suficiente para saber que não era genuíno. Antes que outro desafio fosse oferecido, Tristan poderia ser tentado a responder, ela levou Andrew para a mesa.

— Agora que você está aqui, por que não se senta e compartilha uma palavra com Patrick. — Isobel virou-se para Annie em seguida. — Annie, você poderia sair e ver se Cameron e Lachlan já voltaram da caça?

— Quem? — Annie sorriu para Tristan quando ele levantou Tamas sobre o seu assento e o colocou gentilmente.

— O que aconteceu com ele? — Andrew perguntou, apontando para Tamas.

— Nada. — Isobel retrucou, encarando Annie. — Ele é perfeitamente capaz de sentar na sua própria cadeira.

— Meus pés ainda estão doloridos, Bel. — O seu irmão mais novo fez uma careta para ela, depois se virou para os convidados. — Tristan colocou cardos nas minhas botas.

Os olhos de Andrew se arregalaram para Patrick e depois escureceram para Tristan.

— Você mereceu. — John defendeu.

— E você terá uma pedra vindo até sua... — A ameaça de Tamas parou abruptamente quando Tristan se inclinou e sussurrou algo em seu ouvido.

Isobel respirou fundo e rezou por paciência quando Annie sorriu para as costas de Tristan. Eles só tinham que passar por isso esta noite e Andrew iria embora. Ela poupou a Patrick um último olhar ameaçador por colocá-la nessa situação, prometendo-a para Andrew. Ela ainda não sabia como iria sair disso, mas tentaria não pensar nisso hoje à noite.

— John, venha me ajudar a servir a ceia.

— Deixe-me ajudar. — Tristan ofereceu-lhe um sorriso radiante e, antes que ela ou qualquer outra pessoa pudesse objetar, passou por ela indo para cozinha.

— Diga-me, Isobel, eu imploro. — Disse ele, pegando as tigelas na prateleira acima de sua cabeça. — Você não está honestamente considerando se casar com aquele tolo cabeludo.

— Abaixe a sua voz. — Ela advertiu, tomando uma tigela de sua mão. — Ele já não gosta de você.

— Pena. — O sorriso de Tristan era mais estreito. — Estava ansioso por uma amizade longa e duradoura com ele. Talvez eu pudesse casar com a sua irmã e poderíamos criar nossos filhos juntos.

Isobel parou no tripé e ofereceu-lhe um olhar assassino.

— Não me olhe assim. — Ele disse bruscamente. — A perspectiva de eu me casar com ela é tão ridícula quanto você se casar com o irmão dela.

— O que você gostaria que eu fizesse, Tristan? — Ela encheu a tigela com ensopado de coelho, devolveu-a e pegou outra de seus dedos. — Patrick é o Laird. Ele está tentando fazer o que é melhor para mim.

— Andrew Kennedy não é o melhor para você. — Argumentou, observando-a encher a próxima tigela.

— Quem é, então? — Quando ele permaneceu em silêncio, ela teve o desejo de jogar a ceia de alguém sobre a sua cabeça. — Pelo menos vou saber que o coração de Andrew será verdadeiramente fiel a mim.

Ela saiu da cozinha e voltou para a sala de jantar com Tristan furioso nos seus calcanhares. Ambos colocaram as tigelas que carregavam sobre a mesa, muito ocupados olhando um para o outro para notar Patrick e Andrew olhando para eles.

— Você está dizendo que o meu coração não seria fiel a você? — Tristan exigiu o momento em que eles voltaram para a cozinha.

— O seu coração não é para amar, mas para conquistar. — Ela passou por ele a caminho do resto das tigelas. — Estou certa de que qualquer moça no Palácio Whitehall ou em Skye concordaria comigo.

Os dedos dele se fechando firmemente ao redor do pulso dela e a parou. Quando ele a puxou para encará-lo, os seus olhos nela estavam duros e um pouco magoados.

— Você nega? — Ela rezou para que ele o fizesse. Ela rezou para que algumas de suas bonitas palavras adornassem a sua proclamação de amor por ela. Quando não chegou, ela piscou para afastar a dor de lágrimas atrás dos seus olhos. Ela era uma tola por se permitir acreditar que ele poderia cuidar dela. — Me deixe ir.

Ele a soltou com um sorriso de dor e virou nos seus calcanhares para sair. Ele ficou cara a cara com Patrick parado na porta.

— Tristan. — Disse o irmão dela em voz baixa, dando um olhar claro para os escuros de Tristan. — Ela pertence ao Andrew. Eu não deveria ter permitido isso entre vocês.

— Não há nada entre nós. — Interveio Isobel.

Patrick levantou a palma da mão para acalmá-la e voltou o olhar para Tristan.

— Eu lhe dei a minha palavra, da qual ele me lembrou agora. Você gostaria que eu voltasse atrás?

— Não. — Tristan balançou a cabeça, passando por ele. — Eu não pediria isso de você.

 

 

Capítulo Vinte e Cinco


Isobel murmurou um juramento baixinho enquanto carregava dois baldes de leite de cabra do celeiro para a casa. Ela apertou os olhos contra o brilho do sol da tarde e xingou silenciosamente novamente com Andrew, encostado na frente da casa, amolando a sua espada. A sua cabeça latejante não melhorou o seu humor azedou, nem a lembrança de Andrew insistindo, depois que chegou duas noites atrás, que ele e Annie deveriam permanecer na casa por mais alguns dias.

Claro, Tristan tinha tudo a ver com o desejo de Andrew de ficar. Por dois dias, ela teve que aturar Andrew seguindo-a em todos os lugares que ia, se agarrando ao seu braço no momento em que Tristan entrava na mesma sala. Andrew sempre era gentil com ela, mas ultimamente ele estava doentiamente doce, amoroso em cada palavra com ela, elogiando-a por cozinhar antes mesmo dele enfiar a colher em sua boca.

Isobel realmente não entendia por que o seu noivo indesejado estava se comportando tão possessivamente. Tristan mal tinha falado com ela desde a sua pequena conversa com Patrick na cozinha. Ela quase não o viu. Ele passava todos as horas do dia com os irmãos dela, praticando com eles atrás da casa, ou se esforçando para encontrar alguma tarefa que o mantivesse longe dela. Ele até desistiu de suas conversas noturnas na sala de estar, para grande decepção de seus irmãos mais novos. Sua ausência voluntária a estava deixando louca. Ele realmente não se importava com ela? Ela começava a achar que ele acreditava, que ela significava um pouco mais para ele do que a sua necessidade de pagar por uma tragédia que não era culpa dele, mas ele não mostrava sinais de ciúmes ou raiva. Ele simplesmente parou de prestar atenção nela. Era pior do que descobrir que ele era um MacGregor.

— Você precisa de ajuda com esses baldes, querida?

Isobel fez uma careta para Andrew. Ela precisava de ajuda? O leite derramando por todo o seu sapato não lhe deu uma pista?

— Não, mas você pode abrir a porta, se não for muito incômodo.

Por que diabos ele estava amolando a sua espada? Tristan não o ameaçou. Até sorriu para ele, porém, mas isso foi só depois que Andrew o insultou ao saber quem era o Highlander deles. Ela teve que se maravilhar com a capacidade de Tristan de permanecer intocado.

Da cozinha onde despejou o leite em jarras, ouviu a porta da frente se fechar.

— Eu poderia ajudá-lo a plantar. — Implorou a voz sem fôlego de Annie. — Eu vi Isobel fazer isso. Sei como fazer.

— Não preciso de ajuda, mas você tem os meus agradecimentos por sua oferta.

Isobel virou-se a tempo de ver Tristan indo direto para ela. Ele encontrou o olhar dela e depois desviou o olhar.

— Viu, moça? Eu disse que ela estava carregando o leite sozinha. Se você quer prestar a sua ajuda, preste a Isobel. — Sem outra palavra ou um olhar em sua direção, ele se virou e saiu da cozinha.

Isobel observou a sua partida. Ele veio em seu socorro novamente. Ou pelo menos, tinha tentado. Mas como ele a viu trabalhando nos campos? Ela não se importava como. Queria ir atrás dele. Queria falar com ele, caminhar com ele, vê-lo sorrir para ela novamente, sentir a sua boca na dela.

— Ele é nitidamente glorioso. — Annie suspirou.

Isobel realmente não podia culpar a moça por segui-lo como um filhote de cachorro implorando pelo osso nos dedos de seu mestre. Com uma fita amarrada nos cabelos, para segurá-los na altura dos ombros, a camisa úmida grudada no torso e calças justas que ostentavam mais do que apenas coxas musculosas, Tristan podia fazer com que a freira mais devota se sentisse lasciva e sensual.

— Realmente, Annie, você sabe que Cameron gosta de você. — Isobel falou para ela. — É cruel da sua parte exibir sua atração por Tristan tão abertamente.

— Na verdade, eu não sei o que Cameron pensa de mim. — Annie fez beicinho. — Ele é tão quieto o tempo todo.

— Bem, agora eu disse a você, por favor, pare de persegui Tristan.

A boca de Annie se curvou em um sorriso tão travesso quanto o de Tamas.

— Isobel, se eu não a conhecesse bem, pensaria que você gosta de Tristan.

— Não diga absurdo. — Isobel riu e rapidamente se voltou para o leite.

— Eu pensei que talvez ele gostasse de você também. — Annie continuou sem piedade. — Quando você está por perto, ele para o que está fazendo e cuida de você. Perguntei-lhe se ele pretendia roubá-la de Andrew.

— E a resposta dele? — Isobel perguntou e silenciosamente amaldiçoou as mãos por tremer.

— Ele me garantiu que não é um ladrão.

Então era isso? Isobel limpou as mãos no avental e fechou os olhos. Por que a resposta dele a fez se sentir como se tivesse acabado de ser esfaqueada no coração com a espada dele? Porque ela se importava com ele, Deus a ajudasse. Ela o deixou seduzi-la, como ele havia feito com todas as outras mulheres com quem brincava e depois partia o coração. Ele a deixaria da mesma maneira. No começo, queria que ele se fosse, mas não mais. Agora, não podia imaginar os seus dias não preenchidos com os seus sorrisos vibrantes, ou suas noites com seus beijos apaixonados e roubados. Mas ele não a amava. Ele estava disposto a entregá-la para Andrew, sem sequer uma sobrancelha levantada. Ela queria odiá-lo por isso.

Tristan não foi para a sala depois do jantar naquela noite, nem Isobel. Ela foi para a cama, prometendo a si mesma, enquanto apoiava a cabeça no travesseiro, que nunca se apaixonaria por um homem que não a amava em troca.

Ela não achava que Andrew a amava, mas pelo menos ele estava disposto a lutar por ela.

 


Capítulo vinte e seis


Tristan nunca tinha encontrado um homem que ele queria matar até que ele conheceu Andrew Kennedy.

Depois do que aconteceu com Alex quando eles eram meninos, Tristan se orgulhava de seu temperamento ameno. Ele aprendeu a fortalecer o seu corpo contra as emoções que assolavam os corações de outros homens. Ele se recusou a deixar a inveja corroer a sua alma quando os seus irmãos conseguiram obter elogios dos lábios de seu pai, onde ele havia falhado. Ele nunca sucumbiu externamente à ira de perder o seu tio ou à dor e solidão que vieram logo depois e nunca mais foram embora. Ele não escondeu as suas emoções, simplesmente os dominou.

Mas sua determinação em honrar a promessa de Patrick de deixar Isobel se casar com Kennedy estava se deteriorando rapidamente.

Se não fosse a jovem Annie constantemente sob os seus pés, ele teria arrastado Isobel para as colinas, o celeiro, em qualquer lugar onde pudessem ter alguns momentos a sós. Ele tentou, ah, inferno, como tentou fazer a coisa certa e respeitar os desejos de Patrick, mas depois de três dias mordendo a língua e mantendo as mãos ao lado do corpo, e não ao redor da garganta de Kennedy, ele temia que nunca encontrasse a honra que buscava.

A pior parte disso tudo é que ele não se importava. Ele não podia deixar Isobel se casar com Andrew. O pensamento de perdê-la despertou um medo e uma raiva nele, que nunca quis soltar. Ele tinha que falar com ela e dizer que Andrew não era bom o suficiente para ela. Nenhum homem mortal era, mas Tristan queria tentar.

Ele sabia que deveria ter pensado mais profundamente em seu curso de ação, mas não era de sua natureza ser cauteloso. Ele esperou até depois do jantar, quando todos se dirigiram para a sala de estar com hidromel quente na mão, e agarrando o braço de Isobel, a puxou de volta para a sala de jantar.

— Venha comigo para as colinas. Eu gostaria de falar com você.

Ela parecia tão surpresa e aliviada que ele estava tentado a beijá-la ali mesmo no salão.

— Você não o ama, sim, Isobel?

— Não a ele, não. — Ela balançou a cabeça e sorriu com ele.

Inferno, ela era bela. Ele sentia falta do sorriso no rosto dela e do jeito que ela olhava para ele. Ele não queria esperar até que estivessem do lado de fora para contar a ela.

— Tenho me sentido infeliz nestes últimos dias sem você.

— Por que você ficou longe? — Ela perguntou suavemente, levando a mão à mandíbula dele.

— Eu pensei que estava certo. — Ele cobriu a mão dela com a dele e levou os dedos aos lábios. — Mas eu não posso deixar você casar com ele sem...

— MacGregor! — A voz de Andrew ecoou pelo salão. Solte as suas mãos dela!

De frente para ela, Tristan fechou os olhos e deu um suspiro frustrado.

— Patrick, você permite isso?

Esplêndido. Tristan apertou a mandíbula quando ele olhou para o acusador. Patrick estava envolvido agora também e sendo posto à prova de sua amizade.

— O que você sugere que ele permite, Senhor Kennedy? Pense bem em sua resposta. — Disse ele, um fio de advertência em sua voz. — Pois não vou permitir que desrespeite a honra dela e fique impune.

Atrás dele, Isobel agarrou o braço dele, puxando-o de volta do lugar onde ele era filho de seu pai, onde por um instante ele viu a sua espada cortando através a carne de Andrew.

— Você fala de honra como sabe o que isso significa. — Gritou Kennedy. — Você é um MacGregor. A praga da Escócia. Um nome que deveria ter sido exterminado.

— Andrew! — Patrick o interrompeu. — Este MacGregor impediu os Cunninghams de queimar nossas colheitas. Ele salvou a vida de John e a minha. Você não vai o insultar novamente em minha casa.

— Chame-o de amigo, se quiser, Patrick. Mas o que ele ainda está fazendo aqui? Você me disse que ele estava ferido, mas agora está em forma o suficiente para estar a caminho.

— Ele está nos ajudando. — Disse Lachlan, passando por Patrick para sorrir para Tristan.

— Sim, nós não queremos que ele vá. — Interveio John. — Isobel?

— Não, John, nós não queremos.

Ao lado dela, Tristan exalou um suspiro que sentiu como se estivesse esperando dez anos para liberar.

— Isso é muito emocionante. — Andrew cometeu o erro de zombar deles. — Mas ela deve ser minha esposa, e eu não quero suas mãos sujas nela.

— Ela só será a sua esposa se eu morrer. — Disse Tristan com uma voz suave, completamente controlada. Ele estava farto de ser gentil. Ele não queria perder Isobel, e com certeza não estava disposto a deixar esse bastardo tê-la.

— Facilmente arranjado. — Rosnou Andrew. — Não tenho dificuldade em matar um homem cujo o seu pai matou o deles.

— Ambas as nossas famílias são culpadas, Andrew. — Disse Isobel, passando por Tristan. — Ele perdeu o seu tio, uma tristeza que tomou conta dele, tanto quanto a nossa perda.

— Do jeito que ouvi, não houve uma grande perda do lado de Campbell.

— Kennedy. — Tristan rosnou do fundo do seu peito. — Peça desculpas por isso ou perca a sua língua.

— Tristan. — Isobel virou-se para ele, sua voz suave ansiosa para acalmá-lo. — Não.

— Ele virou as costas para o reino que a sua família serviu por gerações.

— Andrew, isso é o suficiente! — Isobel virou-se para gritar com ele e bloqueou a sua visão das mãos de Tristan.

— Ele ficou do lado de fora da lei. — Andrew avançou e a empurrou para fora de seu caminho. — Porque ele tinha medo deles.

Tristan pegou Isobel em suas mãos, empurrou-a para trás e arrancou a adaga de Andrew do cinto, tudo no espaço de uma respiração. E no seguinte, ele segurou o bastardo pelos cabelos em uma mão e empurrou a ponta da lâmina contra a sua garganta com a outra.

— Você ousa usar a força com ela? — Ele não reconheceu o seu próprio sussurro mortal ou o grito aterrorizado de Annie. — Você caçoa de um homem por ser bom? — A lâmina cortou através da carne de Kennedy e um fio de sangue fluiu.

— Tristan! — Patrick se aproximou deles e alcançou a lâmina.

— Deixe-o, Tristan, por favor. — Exclamou Isobel.

Os olhos de Tristan queimaram nos de Kennedy quando ele se afastou. Ele virou a adaga na sua mão, enfiou-a de volta no cinto de Andrew e se afastou dele.

— Patrick. — Kennedy choramingou no momento em que estava livre. — Mande-o embora antes que ele tente matar um de vocês!

— Acho que é você quem deve ir, Andrew. — Patrick disse a ele, parado ao lado de Isobel. — É tarde para Annie, ela poder ficar. Cam a levará para casa de manhã.

— Ele é o perigoso. — Argumentou Andrew, limpando o sangue do seu pescoço com a palma da mão e mostrando a eles. — Um assassino como o seu pai. Eu vi nos olhos dele! Como você sabe que ele não matará Cameron?

Tristan não sabia por que ele poderia matar Cameron, mas ele já estava arrependido por não ter arrancado alguns dentes de Andrew. Ele notou que toda a cor do rosto de Patrick sumiu primeiro, e depois, ao lado dele, Isobel agarrando o seu peito.

— Isobel? — Tristan se aproximou dela. Ela sugou o ar em uma respiração breve e fraca, em seguida apertou o peito de Patrick.

Ela não conseguia respirar.

— Isobel! — Ele a alcançou e tocou com os dedos em sua bochecha fria, observando-a ofegar por outra respiração indescritível.

— Ela está tendo um ataque! — Patrick a pegou nos braços e a carregou para dentro da sala de jantar, gritando ordens para Cam e Lachlan para irem ao jardim.

— Mas ela não tem butterbur. — John torceu os dedos enquanto seguia os seus irmãos até a porta.

— Malmequer bravo, John. Rápido!

Butterbur era melhor. John e Lachlan haviam lhe contado que era a planta que a ajudava a respirar no dia em que soube que a havia destruído. Inferno, ela não tinha nenhuma por causa dele.

Curvando-se na cadeira enquanto Patrick a colocava nela, Tristan pegou a sua mão fria na dele. Ela estava acordada, os olhos arregalados, vidrados e assustados. As suas narinas estavam dilatadas, os lábios sem cor torcidos, arrastando rápidos e rasos goles de ar.

— O que podemos fazer? — Tristan olhou para Patrick. — Como podemos ajudá-la?

Os meninos voltaram para casa e correram direto para a cozinha com Cameron.

— Nós vamos fazer o chá dela. Ajudará, sim, Bel? — Patrick de alguma forma conseguiu mostrar um sorriso para a sua irmã, e Tristan o admirou ainda mais do que antes.

Ela assentiu e apertou a mão de Tristan. Ele a beijou em troca e não olhou para Patrick ou qualquer outra pessoa que pudesse ter visto.

O chá parecia levar uma eternidade para ferver, mas Tristan aproveitou o tempo para sentar com ela, para acalmá-la com sua voz firme e prometer cuidar dela. Ela sorriu para ele duas vezes, reivindicando a propriedade exclusiva de seu coração.

Andrew ficou do lado, parecendo assustado e um pouco confuso. Ele não tinha contado com uma esposa doente. Ele enojava Tristan.

Cameron lhe deu o chá medicinal quando estava pronto e fumegante. Levou duas xícaras e uma hora antes que ela começasse a respirar normalmente novamente. Tristan ficou com Cam ao lado da cama enquanto ela dormia. Durante a noite eles permaneceram quietos, mantendo uma vigilância cuidadosa sobre ela. Tristan não se sentiu desconfortável no silêncio. Ele tinha esperado isso do tímido Cameron. Ainda mais surpreendente quando Cam olhou para ele em algum momento antes do amanhecer e pigarreou.

— Você a ama?

— Eu... eu não quero amá-la. — Respondeu Tristan, erguendo o olhar do rosto dela para Cam. — Mas, sim, amo.

O sorriso de Cam era tão leve que Tristan pensou que ele poderia ter imaginado.

— Por que você não quer amá-la? Porque ela é uma Fergusson?

Tristan balançou a cabeça.

— Porque eu tenho medo.

— Medo? — O sorriso de Cam era gentil, não zombando. — Eu não acredito.

— A última pessoa que amei foi tirada de mim. Não sei se posso sobreviver uma segunda vez.

Eles ficaram quietos por um tempo, ouvindo o som da respiração de Isobel.

— Você sempre fala a verdade tão abertamente, Tristan?

— Como você sabe que tudo o que eu digo é a verdade?

Cam deu de ombros e olhou para a sua irmã adormecida.

— Às vezes, quando você observa uma pessoa, pode ouvir mais.

Tristan sorriu para ele.

— Nesse caso, então, sim, geralmente me encontro sendo verdadeiro.

— Honestidade é uma virtude honrosa de possuir.

— Você tem estado ouvindo os meus contos sobre os cavaleiros da Távola Redonda, não é? — Tristan riu.

— Sim, mas receio não me lembrar dos nomes deles, assim como John.

— É suas virtudes que deveriam ser lembrados, e não os seus nomes.

Cam assentiu e ficou quieto por mais um momento ou dois.

— Tristan?

— Sim?

— Eu amo Annie Kennedy.

Tristan ficou em silêncio, pensando em quantas vezes a moça tinha rido perto dele como um gatinho apaixonado nos últimos dias.

— Eu sei que ela está um pouco apaixonada por você no momento. — Ele levantou a mão para parar Tristan quando ele tentou interpor. — Se você pudesse conquistar Isobel, sei que poderia me ajudar a conquistar Annie. Você vai?

Tristan sentou-se em sua cadeira e chamou Cam para se aproximar.

— Vou embora em alguns dias.

— Por quê? — Cam perguntou em voz baixa. — Não tive a intenção de...

— Eu voltarei. — Assegurou Tristan. — Mas enquanto eu estiver fora, eis o que você deve fazer com Annie.

Na sala de estar na manhã seguinte, Isobel andava diante do fogo da lareira, torcendo o avental com um nó apertado. Quando ela estava bem ontem à noite, já era tarde demais para enviar Andrew embora sozinho, então ele sentava-se com Patrick agora em silêncio olhando para ela enquanto esperavam por Cameron para terminar as suas tarefas da manhã e se juntar a eles.

— Eu não entendo por que você está tão irritada com a partida de MacGregor. — Disse Andrew, depois de mais dez minutos dela andar de um lado para o outro.

Isobel lançou o seu olhar escaldante para ele e mordeu o lábio. Isso era tudo culpa dele e se perguntou, não pela primeira vez desde a última vez, como um homem tão imprudente algum dia lideraria o seu clã.

— Eu não sei por que ele partiu tão de repente, Andrew. — Ela praticamente gritou para ele. — Ele não tinha ideia de que o meu pai não matou o seu tio até que você deixou escapar o nome de Cameron.

— Como eu deveria saber o que você disse a MacGregor e o que não disse a ele?

Agora Isobel se voltou contra ele. Oh, como Patrick poderia pensar que ela aceitaria esse homem como seu marido?

— Você acha que Tristan teria sido tão amigável e gentil com Cameron se ele soubesse? Você honestamente acha que qualquer um de nós teria confessado ao filho do diabo MacGregor que foi Cameron quem matou o Conde? — Só falar isso fez o seu estômago apertar e sua respiração falhar. Mas, verdadeiramente, o homem poderia ser tão estúpido?

— Eu o vi antes que ele partisse. — Annie disse calmamente, sentada perto da lareira. — Ele não disse que estava indo embora, mas ele me pediu desculpas por ter me assustado na noite passada.

— Ele não entendeu o que eu quis dizer, Isobel. — Defendeu Andrew.

— Ele é muito esperto, diferente de você, Andrew. — Disse ela. — Por que você esperaria que ele matasse Cameron? Por que Cameron e não Patrick ou Lachlan? Você disse Cameron! Ele não teria nenhum motivo para matar mais ninguém, exceto se tivesse matado o seu tio!

— Ele não sabe que fui eu. — Disse Cameron calmamente quando entrou na sala, fechando a porta atrás de si.

— Você era apenas uma criança. — Isobel correu para ele. Eles nunca falaram daquele dia terrível. Ela não queria falar disso agora, mas talvez estivesse na hora. Cameron viveu com a culpa, o seu remorso pelo o pai deles ter morrido em seu lugar por muito tempo. — Você era mais jovem que Tamas. O nosso pai não deveria ter levado você com ele. — As mãos dela tremiam quando as colocou no braço do seu irmão. Meu Deus, foi um acidente trágico que custou tanto a sua família e a de Tristan também. — Ela nem sabia que o Conde tinha sido morto até dois dias depois, quando o Laird MacGregor tinha vindo para se vingar. Eles eram crianças, aterrorizados e desesperados para se esconder do fogo profano que assolava os olhos de Callum MacGregor, enquanto ele diminuía a velocidade da sua montaria na porta da frente e gritava o nome do pai dela. Isobel nunca esqueceria aquele dia, ou o olhar no rosto de seu pai quando ele saía da casa. Ela observou pela janela com Cameron, enquanto Alex lutava com Patrick para mantê-lo dentro. Ela não conseguia desviar o olhar quando Archibald Fergusson se aproximou daquele grande cavalo de guerra bufando. Ela pensou que o seu pai seria pisoteado diante de seus olhos, mas ela não conseguia desviar o olhar. Ela tentou bloquear a visão de Cam quando MacGregor desmontou. Ele era muito grande comparado ao pai dela, tão em forma, forte e silencioso quando desembainhou a sua espada.

Ela voltou o olhar agora para Andrew. Os MacGregors nunca teriam suspeitado que a flecha fatal não tivesse saído da aljava de Archibald se não fosse pelo pai de Andrew. Kevin Kennedy fora para Campbell Keep com o seu pai. Ele sabia que era a flecha de Cam e gritou para Archie se salvar, defender a sua inocência diante do diabo. Mas o pai dela se recusou a acusar seu filho.

Isobel observou horrorizada, enquanto a espada de MacGregor desaparecia no peito de seu pai. Ela não se lembrava de gritar, embora devesse ter feito isso, porque aqueles olhos assassinos a encontraram pela janela. Ela pensou que ele iria entrar e matar o resto deles, mas ele deixou o seu pai cair aos pés dele, e então se foi.

Oh, como ela poderia baixar a guarda com Tristan? Ela não queria acreditar que estava certa sobre ele o tempo todo, que tinha vindo aqui porque o seu pai queria o nome do verdadeiro assassino. Mas por que ele deixou a propriedade antes do amanhecer sem se despedir, levando o seu cavalo e comida para alguns dias? E por que ele fez isso depois que Andrew implicou Cam em algo terrível?

— Você foi o último a falar com ele, Cameron. — Disse ela suavemente para o seu irmão. — Ele não mencionou para onde estava indo?

Cameron balançou a cabeça.

— Ele disse que voltaria. Isso é tudo.

Mas com quem? Com o pai dele? Um exército? Isobel fechou os olhos para impedir que o pânico aumentasse nela como bile.

Ela quase chegou à cozinha quando a voz de Cameron a deteve. Ela se virou, limpando as lágrimas que tentava esconder dele.

— Ele não vai nos machucar.

— Como você sabe disso, Cam? A sua família tem odiado a nossa por dez anos.

— Porque ele é um bom homem.

— Eu sei disso, mas ele disse que as coisas seriam diferentes.

O irmão dela lançou um olhar confuso.

— Que coisas? Como elas seriam diferentes? Bel, você não está fazendo sentido.

— Perguntei se ele se vingaria do homem que matou o seu tio se o homem ainda vivesse, e essa foi a resposta dele. As coisas seriam diferentes.

— Isso não significa...

— Cam, você não viu o quão perto ele esteve de matar Andrew na noite passada, porque ele falou mal de Robert Campbell? Não importa o que ele fez por nós, ou o quanto nos importamos com ele, ele amava o seu tio mais do que qualquer pessoa em sua vida. Ele me disse isso. Temo que ele o vingue.

— Ele está apaixonado por você, irmã. Ele me disse isso também. Ele permaneceu ao seu lado a noite toda.

Isobel enxugou as lágrimas. Ela queria acreditar que ele a amava. Ela quase acreditou na noite anterior, quando ele falou em fazer dela a sua esposa. Mas se ela tivesse realmente conquistado o coração dele, ele não a teria deixado na manhã seguinte ao ataque dela na manhã seguinte, depois que ele pudesse deduzir a verdade.

— O que ele disse, Cam, que fosse a mais do que disse a qualquer um de nós, onde está agora?

O irmão desviou o olhar, incapaz de responder.

 

 

Capítulo Vinte e Sete


Os dias se estendiam em dias cheios de terror crescente para Isobel. Ela tentou não pensar em hordas de MacGregors subindo sobre as colinas, pronto para cortá-los em pedaços, garantindo que, desta vez, eles matariam o homem certo. Mas onde diabos Tristan tinha ido além de sua casa? Oh, se ele os tivesse traído, ela o mataria. Envenenaria a bebida que lhe oferecia antes que os matassem. Ela rezou para que não chegasse a isso e, pela primeira vez, rezou por mais do que apenas pelo bem de Cam. Ela havia sido vítima dos encantos maravilhosos de Tristan. Ela afastou todos os avisos em sua cabeça pela emoção de estar em seus braços, o deleite de sua boca quente e faminta na dela. A visão dele, enquanto ele estava trabalhando nos campos ou ensinando a seus irmãos como manejar uma espada, aqueceu o seu sangue e suas bochechas diante dele. Ela adorava o seu riso agradável e os sorrisos sem esforço, e o odiava a semana toda por continuar exibindo aqueles sorrisos na presença de Andrew.

Ela se virou e olhou por cima do jardim para as colinas. Por favor, ela implorou a Deus, deixe-o voltar e sozinho.

Cameron passou por ela, sem camisa, a caminho do campo. Isobel estava preocupada com ele. Ele estava agindo de forma estranha desde a manhã em que Tristan partiu. Ele parecia não se importar com seu destino, apenas em impressionar Annie Kennedy. À noite, ele a trazia à sala de estar e corajosamente sentava-se perto dela. Ele não estava tão quieto como de costume, mas falava o suficiente para aumentar o ar misterioso que já possuía. A maior mudança nele, no entanto, além de andar com peito nu, era a maneira como ele deixava os seus olhos pairarem sobre Annie, até deixando-a pegá-lo olhando, em vez de sempre proteger os seus lindos olhos atrás dos cílios.

Isobel queria estar feliz por ele, especialmente porque a sua nova abordagem parecia fazer maravilhas com Annie, que pediu para ficar mais uma semana. Mas ela não conseguia relaxar. Não com a sua possível morte tão próxima.

— Se eles se casarem. — Isobel disse a Patrick mais tarde naquela noite, enquanto Cam e Annie riam juntos ao lado do fogo. — Andrew vai vim aqui visitar todos os dias, e não vou me casar com ele.

Patrick verificou o seu bispo no jogo de xadrez.

— Com quem você deseja se casar, então?

— O quê? — Isobel olhou para ele por cima das peças do tabuleiro. — Sem discussão?

— Eu não deixaria você se casar com Andrew, depois que ele me provou que é tão imprudente quanto Alex. E também não quero que você se case com um homem só porque ele é o único disponível no momento.

— Estou feliz, que você tenha mudado de ideia.

O seu irmão deu de ombros e disse baixinho.

— Eu já tinha mudado antes que ele provocasse Tristan e quase morreu em nossa sala de jantar.

— Sim? — Ela olhou para ele com curiosidade.

— Depois de uma conversa que tive com Tristan sobre isso alguns dias atrás. Ele me disse que você iria definhar e morrer casando com um homem que não a ama apaixonadamente e com deliberação.

Isobel afundou-se na cadeira. Apaixonadamente e com deliberação. Era como Tristan vivia, como ele amaria a mulher que capturou o seu coração. Ela queria chorar. Ela nunca se importou em ter outro homem em sua vida. Ela já tinha seis, e isso era o suficiente, até Tristan entrar em sua vida e deixar todos os seus planos cuidadosamente de lado com a exibição rapidamente de uma covinha frívola e beijos que arruinaram o seu coração. Ele disparou paixões nela que nem sabia que possuía. Ele a excitou, a irritou e a fez se sentir como uma mulher em vez de uma babá.

— Ele estava certo ao lhe dizer isso. Eu definharia e morreria.

— Eu sei. — Patrick disse a ela. — E sinto muito que ele tenha me ajudado a perceber isso. Parece que ele conhece minha irmã melhor do que eu.

Parecia que sim. Tristan se arrastou sob a sua pele e em suas veias... e roubou o seu coração.

— Por que você acha que ele foi embora? — Ela perguntou a Patrick, esquecendo do jogo.

— Eu não sei. Mas não posso acreditar que, depois de salvar Alex de sua família, Tamas de si mesmo e todos nós dos Cunninghams, ele nos colocaria em perigo. Tenha fé nele, Bel. Eu tenho.

— Eu quero. — Ela admitiu. — Mais do que tudo, eu quero.

Dois dias depois, Tristan ainda não havia retornado. Isobel começou a sentir falta dele mais do que ela o temia. Os dias eram mais sombrios sem ele neles. Os seus irmãos também sentiram o impacto da ausência dele. Sem o par extra de mãos para ajudar nas tarefas diárias, Patrick mal conseguia ficar acordado à noite o tempo suficiente para terminar um jogo de xadrez. John falava dele constantemente, o resto deles lembrando o que Tristan diria sobre isso ou aquilo. Isso quase deixou Isobel louca. Tamas era o único feliz em vê-lo partir, exceto que o Highlander havia roubado a sua funda.

No final do sétimo dia de sua ausência, todos começaram a suspeitar que ele nunca mais voltaria, então, quando John entrou na cozinha gritando que um cavaleiro estava se aproximando das colinas, Isobel quase deixou cair a tigela de ensopado de coelho.

— É Tristan? Ele está sozinho? — Ela não esperou que John respondesse, mas correu de volta para a porta e a abriu. Ela parou ao vê-lo desmontando a alguns metros de distância. Ele estava sozinho, exceto Patrick e os outros que o cercavam e o recebiam de volta com sorrisos calorosos e perguntas ansiosas.

Meu Deus, ela tentou esquecer como ele era bonito, mas tudo voltou para ela como uma bala de canhão no seu peito. Com um movimento de sua cabeça que afastou o cabelo do rosto e o jogou sobre os ombros, ele se virou para ela como se pudesse ouvir o coração dela batendo contra o seu peito. Os seus olhares se encontraram e ele pareceu esquecer todos os outros ao seu redor enquanto o seu sorriso aumentava. Nenhum homem jamais a olhou com tanta alegria, como se sua vida tivesse acabado de retornar a ele. Isobel queria correr para ele, mas John a venceu. Ela só podia observar, a sua respiração parou com a ternura do reencontro. Tristan realmente se importava com ela e com todos eles?

Ela se moveu em direção a ele lentamente, não desejando roubar a sua atenção das perguntas alegres de John.

— Nós pensamos que você não voltaria. — O seu irmão riu quando Tristan despenteou o seu cabelo avermelhado. — Para onde você foi?

Tristan ergueu o seu olhar para o dela, parando o seu avanço.

— Você sentiu minha falta, então?

Ela não respondeu. Não podia. Ela temia que, se abrisse a boca, o seu coração poderia sair e cair aos pés dele. Ela estava brava com ele por partir, com medo de onde ele tinha ido e tão feliz em vê-lo novamente, e sozinho, que suas pernas quase cederam debaixo dela.

— Sim, sentimos a sua falta. — John assegurou-lhe rapidamente, salvando-a de falar. — Isobel temia que você fosse para sua casa.

Ela abriu a boca para negar a acusação, mas Tristan lançou um sorriso lamentoso. Ele se moveu para recuperar um pacote comprido de sua montaria e depois outra bolsa grande amarrada à sela.

— Fui a Glasgow, a um mercado que tinha visto quando viajei com os meus parentes para a Inglaterra.

— Para Glasgow? — Isobel perguntou em um sussurro tênue quando se voltou para ela. — Para fazer o quê?

— Por isto. — Disse ele, enfiando a mão na sacola e puxando outro saco preso com corda.

— O que é isso?

— Butterbur.

Ele estendeu para ela, mas não aceitou o presente imediatamente. Oh, como ela duvidara dele. Ele não tinha ido até o seu pai, mas estava a caminho de Glasgow. Por ela. Por butterbur. Era quase demais para ela absorver, e Isobel encarou a sua oferta através dos olhos enevoados.

— Eu falei com um comerciante e ele me disse que verbasco22 também funciona para o que aflige você, assim eu comprei um pouco disso também, e...

Os braços dela em volta do pescoço de Tristan interromperam o restante de suas palavras e sua respiração, pois ele não respirou em seu abraço apertado.

— Obrigada a você. — Ela sussurrou, agarrando-se a ele, deleitando-se mais do que ela jamais poderia ter imaginado na sensação de seus braços fechando ao redor dela. Ele não os traiu.

— Tristan?

Isobel se separou do abraço ao som da voz de John. Ela corou e depois sorriu com o claro efeito que tinha sobre a compostura normalmente normal de Tristan.

— Será que você comprou qualquer coisa para mim em Glasgow?

— John! — Isobel o repreendeu, mas Tristan apenas sorriu, recuperando o que havia esquecido um momento atrás preso em seus braços.

— Claro que sim, John. Eu não esqueci de você.

Isobel piscou para afastar as lágrimas ardendo em seus olhos. Ela não sabia por que a declaração de Tristan a fazia chorar como uma boba, exceto que ele se importava com eles e, finalmente, ela confiava nele.

— Venha agora. — Ele cutucou John com ternura. — Vou mostrar o que eu trouxe para você, dentro da casa.

Quando Cam se aproximou para ajudá-lo com seus presentes, Tristan jogou o seu braço livre em torno de Cam.

— E como vai você, Cameron? Você fez o que eu disse?

— Eu fiz. — Cam sorriu para ele, um pouco timidamente, mas mudou, com uma pitada de confiança que ele não possuía antes.

— E?

— E ela concordou em me deixar cortejá-la.

Isobel olhou para os dois rindo juntos. Ela deveria suspeitar que Tristan tivesse algo a ver com o comportamento ousado de Cam. O seu irmão deve ter pedido ajuda com Annie, e Tristan havia dado. Claramente, Tristan não suspeitava do que Andrew sugerira. Ou talvez ele tenha feito e não se importou. Oh, era quase demais para esperar.

— Adoro quando estou correto.

Ela olhou para Patrick e sorriu, pegando a sua mão enquanto ele a levou de volta para a casa atrás de Tristan e dos outros.

— Ele não é o que qualquer um de nós esperava, sim, Bel?

Não, ele não era. Embora ela tivesse visto vestígios de seu caráter cavalheiresco desde o início, nunca se permitiu acreditar que um MacGregor poderia ser tão gentil, tão atencioso, tão... honrado. Mas Tristan MacGregor era um homem que pensava de maneira diferente. Ele não era o que ela esperava. Ele era infinitamente melhor.

 

 

Capítulo Vinte e oito


Tristan entrou na casa e fez uma pausa para respirar. Inferno, ele sonhara com a comida dela enquanto estava fora. Ele sonhara com esta casa com as suas salas acolhedoras e íntimas e uma cama pequena demais para abrigá-lo. E ele sonhara com Isobel, uma mulher que, de alguma forma, havia olhado além do que todos os outros viam e lhe mostrado um caminho para casa. Não em direção a Camlochlin, pois, embora ele adorasse o local de seu nascimento, ele nunca se encaixaria verdadeiramente. Não queria. O que ele queria se foi, e se tornou um pária, nunca pertencendo a ninguém ou a qualquer outro lugar. Até ele conhecer Isobel. Assustou-o imensamente se deixar sentir isso novamente, mas ele não teve defesa contra isso quando olhou nos olhos dela, no sorriso dela e viu o lar.

Ele sorriu quando ela passou por ele, entrando na casa. Ele queria voltar para casa todas as noites. Queria saber que ela era dele e no final da noite queria levá-la para a sua cama. Somente ela pelo resto de seus dias.

Ele se recusou a pensar em seus parentes ou no que eles diriam ou pensariam dele por cortejar uma Fergusson. Ele havia perdido tanto quanto eles, ainda mais, porque havia perdido o seu propósito quando Robert Campbell morreu. Ele o encontrou novamente aqui, com Isobel e sua família, e não permitiria que seus parentes levassem a culpa para ela ou os seus irmãos. Eles eram inocentes, e estava na hora de sua família deixar de lado velhos ódios. Ele cuidaria disso.

— Sente-se na sala de jantar. — Disse Isobel, indo para a cozinha. — Vou lhe trazer alguma ceia.

Ela estava realmente com medo que ele tivesse ido para casa? Ela queria que ele ficasse, então?

— Abra esse pacote comprido, John. — Disse ele, sentando-se à mesa. Um dia ele queria uma mesa como esta, para sentar com Isobel e seus filhos. Os seus olhos se fixaram nela instantaneamente quando ela voltou carregando uma tigela em uma mão e um copo na outra.

— Och, inferno, mulher, mas você sabe cozinhar. — Ele suspirou com a boca cheia de comida e depois sorriu para a excitação de John e Lachlan por seus presentes.

— Nossas próprias espadas!

— Sim, não podemos continuar praticando com apenas três e vocês dois estão prontos para ter as suas.

— Há uma para Tamas, também. — Lachlan deu a seu irmão mais novo com um olhar cético.

— Aquela é para Cam. — Tristan disse a eles, depois colocou outra colherada de ensopado na boca e piscou para Isobel. — Esta é para Tamas. — Ele puxou uma nova funda de couro do bolso e jogou-a para o menino. — Você ganhou antes de eu partir. Confio em que você não use em mim.

— O que mais há no saco? — John perguntou, levantando-o sobre a mesa e mal tirando a atenção de Tristan de Isobel.

Ainda olhando para ela, ele enfiou a mão dentro da bolsa de couro e pegou outra sacola menor e deslizou para Patrick.

— Novas peças de xadrez esculpidas, me prometeram, que são de madeira de carvalho por um mestre carpinteiro. — Patrick agradeceu e Tristan sorriu para ele brevemente antes de se voltar para Isobel. Ele pegou um pote de pomada e ofereceu a ela. — Para proteger as suas mãos finas de calos, e este, — Deu-lhe em seguida um rolo de seda amarela. — É para um vestido belo para você usar em um dia especial.

Quando o rubor de suas bochechas se aprofundou, ele teve o desejo de pular da cadeira e agarrá-la em seus braços e lhe dizer - que ela era mais generosa com ele do que mil pôr do sol. Mais gloriosa, ele deleitou os seus olhos em seus longos cabelos brilhantes, do que o próprio sol. Ele tinha certeza de que nada poderia fazê-lo querer mais do que quando ela o estava rejeitando. Mas ele estava errado. Vencê-la era muito melhor. Ela lutou muito, e por boas razões, e o fez querer ser o homem que ele costumava sonhar. Queria que ela fosse a sua esposa e não deixaria nada atrapalhar isso. Se ele nunca voltasse a Camlochlin, que assim seja. Por ela, ele desistiria de qualquer coisa. Ele queria contar a ela.

Mas teria que esperar. Por enquanto, os seus irmãos exigiram sua atenção, e ele estava feliz em dar.

— Sentimos falta de suas histórias. — Disse Lachlan, quando eles fizeram o seu caminho para a sala, depois de Tristan terminar a sua ceia. — Conte-nos uma agora.

— Farei ainda melhor. — Anunciou Tristan, puxando um último item de sua bolsa. — Vou ler para você. — Ele levantou o livro pelo qual procurara em quatro mercados e pagou muito por ele. — O primeiro e o segundo livro de Sir Tristan de Lyones.

— É um livro sobre você, então? — John perguntou, tomando o seu lugar ao lado de Tristan.

— Eu me fiz essa mesma pergunta recentemente. — Admitiu Tristan, sentando-se e abrindo o livro. — Parece que minha mãe sabia que o lado sombrio da cavalaria seria o meu caminho. — Ele colocou o dedo nos seus lábios, quando John teria mais perguntas e começou a ler. Ele havia esquecido a maior parte da história, e falar em voz alta na sala de estar dos Fergusson, com o fogo da lareira estalando contra a sua voz, o levou de volta à juventude e ao seu tio Robert lendo a história para ele. Casa. Ah, Deus, ele estava em casa.

— Mas se Sir Tristan teve honra, por que ele traiu o rei Mark, tomando a sua esposa? — Cam perguntou uma hora depois da história.

— Alguns autores nos fazem acreditar que foi uma poção do amor que fez Tristan se apaixonar pela esposa do rei. — Explicou Tristan. — Mas acho que é mais provável que ele tenha realmente perdido o seu coração para a dama e tenha se sentido impotente. — Ele olhou para Isobel tomando um gole de hidromel na cadeira dela. — Sir Tristan, — disse ele, voltando a sua atenção para os rapazes sentados ao seu redor. — Não foi perfeito como Percival e Galahad. Foi a sua vergonha e culpa por seu amor por Isolda que tornaram a sua luta pela honra mais acreditável. Meu tio costumava perguntar que lições podem ser ensinadas quando não há esforço para aprendê-las.

— Ele foi sábio. — Disse Cameron, concordando com a cabeça.

A sala estava silenciosa enquanto todos pensavam em pensamentos separados sobre o assunto, então Isobel se levantou da cadeira e informou que era hora de dormir. Os meninos ficaram sem discussão, enquanto Patrick e Cam montaram as novas peças de xadrez que Tristan tinha trazido no retorno e começaram um novo jogo.

Isobel pediu licença e saiu da sala com um olhar silencioso por cima do ombro para Tristan. Ele permaneceu em sua cadeira por mais alguns momentos, batendo a bota no chão, até Patrick levantar os olhos do tabuleiro e pedir-lhe educadamente para sair.

Ele quase pulou da cadeira.

Ele a seguiu escada acima, observando-a, o seu coração batendo uma louca ladainha no peito enquanto ela subia nas sombras do segundo patamar.

— Sonhei com o seu rosto. — Ele sussurrou na escuridão ao chegar ao último degrau. — E agora você o esconderia de mim.

Os dedos dela tocaram os dele e ele os segurou antes que ela se afastasse. Ela se lançou em seus braços, surpreendendo-o o suficiente para fazê-lo balançar para trás com ela presa em seus braços. Ele riu quando sua boca desceu sobre a dela, então a beijou com mais determinação, esmagando-a contra ele, empurrando-a mais profundamente nas sombras. Deus em toda a sua misericórdia, ajude-o. Nenhuma mulher jamais o fez se sentir assim. Os seus pensamentos, o seu corpo, o seu coração não eram mais dele, mas dela. Ele lambeu o interior da boca dela, deleitando-se com o seu cheiro, o seu sabor. Ela respondeu ao seu ardor com o mesmo fervor, deixando os seus músculos tão tensos quanto as cordas do arco. Tudo o que ele queria dizer a ela fugiu de seus pensamentos, deixando espaço apenas para a paixão fervendo em seu interior. Deslizando os dedos pela seda de seus cabelos soltos, ele segurou suas nádegas e puxou seus quadris com força contra a sua ereção rígida. Ela ofegou e se separou do beijo deles, mas ele a puxou de volta. Dessa vez, porém, ele não tentou beijá-la novamente, mas simplesmente a abraçou.

Ele pensou que estava contente em respirá-la, saber que ela o aceitava, queria o carinho dele. Isso era o suficiente por enquanto.

— Eu seguraria você em meus braços e nunca iria querer outra coisa. — Quando ela se moveu contra ele, sabia que estava mentindo. Ele acariciou seus cabelos e sorriu contra a sua testa quando sua voz suave alcançou os seus ouvidos.

— Você não seria feliz aqui com esta vida tranquila.

— Eu ficaria feliz onde quer que você estivesse se pudesse apenas olhar para o seu rosto todos os dias.

— Palavras bonitas, Dom Juan. — Ele a sentiu sorrir contra o seu queixo e depois riu quando mordeu o lóbulo da sua orelha.

Ele baixou o rosto e raspou os dentes no pescoço dela. Quando ela arqueou as costas sobre a dobra do braço dele, ele se curvou com ela, deixando beijos lentos e quente sobre a clavícula. Ele a queria mais do que ninguém ou qualquer coisa que já quis antes. Qualquer controle que achava que possuía se despedaçou quando ela envolveu a sua panturrilha ao redor do dele.

Isto é, até ele ouvir o riso abafado de vozes masculinas do outro lado do corredor.

— Tamas! John! — Isobel repreendeu, ainda presa em seus braços. — Para as suas camas agora!

Tristan apoiou a testa na dela enquanto ouviam o som dos passos dos meninos correndo. Ele sorriu quando ela suspirou. Ele não estava zangado com a interrupção, pois tinha encontrado a sua moça e não iria tomá-la em desonra. Mas inferno, era difícil.

— Você deve ir. — Ela sussurrou, o desejo em sua voz desmentindo a sua ordem gentil.

— Sim. — Ele não queria. Nunca antes precisou usar de tanta moderação.

— Tristan. — Ela chamou suavemente quando ele se afastou dela. — Estou feliz que você voltou para nós... para mim.

Ele estava quase feliz por ela não poder ver a emoção primitiva em seu olhar, pois o assustou pensar no que faria com qualquer um que tentasse separá-lo dela. O seu passado se foi. Ele renascera com uma armadura polida que não era nada pesada.

Ele correu de volta para ela, a pegou nos braços e lhe deu um beijo de boa noite.

 

 

Capítulo vinte e nove


O sol se espalhou pelo quarto de Tristan, invadindo os seus sonhos com os seios nus e cremosos de Isobel contra os seus lábios, o seu ninho quente e úmido pulsando em torno dele. Ele acordou com uma ereção dura como aço. Ele estivera com muitas moças, mas nunca doeu fisicamente por uma antes. Ele se perguntou, deitado na pequena cama de Alex, se seu corpo estava reagindo ao desejo do seu coração. Pois nunca amou nenhuma delas também. Ele agora entendia por que os heróis morriam pelas mulheres que amavam. Por que homens como Sir Tristan e seu próprio irmão desafiavam reis. Ele travaria uma guerra, desafiaria um rei ou seu pai por ela. Ele faria o que fosse necessário apenas para olhar o sorriso que ela tinha escondido dele por tanto tempo. Ansiava por tocá-la, ansiava por seu gosto e ansiava como um animal voraz por mais dela.

Levantando-se da cama, ele se vestiu rapidamente, deixando o seu plaid ainda bem dobrado no alforje23. Hoje, ele diria a ela como se sentia. Se ela risse na cara dele, simplesmente tentaria novamente em alguns dias, depois de ter trabalhado nos campos sem a camisa suada. Ele a pegou admirando-o algumas vezes. Aquele fogo nos olhos e nas bochechas era difícil de perder. Se ele tivesse que usar o seu corpo suado para cortejá-la, que assim seja.

Ele pulou no quarto com um pé só, colocando no outro pé a bota e quase colidiu com Isobel saindo do quarto ao mesmo tempo.

— Bom dia para você, luz do sol. — Disse ele, um pouco sem fôlego, e se endireitou, colocando os dois pés no chão. A sua camisa ainda estava aberta e, pegando a direção do olhar dela ao longo de sua barriga plana, ele sorriu. Talvez devesse deixá-la aberta.

— Dormiu bem? — Ela perguntou, passando por ele.

— Na verdade. — Ele virou-se e seguiu-a. — Meu sono estava repleto de sonhos frustrante, então não, eu não dormi bem.

Ela lançou-lhe um olhar irônico enquanto desciam as escadas juntos.

— Eu poderia preparar uma bebida para ajudá-lo a dormir mais profundamente.

O seu sorriso se alargou quando ele percebeu que ela estava deliberadamente mantendo a pergunta que sabia que ele estava buscando de seus lábios.

Ele a deixou saber de qualquer maneira.

— Mas então eu só sentiria mais a sua falta depois de acordar.

O sorriso dela era brincalhão e arrebatador, e Tristan quase perdeu o equilíbrio.

— Entendo. — Ela brincou. — Então você sonha comigo e acha isso frustrante?

Ele assentiu, aproximando-se dela e inclinando-se em seu ouvido.

— Sim, porque eu não posso fazer com o seu corpo o que faço nos meus sonhos.

Isso a deixou séria o bastante. Tristan amaldiçoou a sua própria boca.

— Não é nada que você não goste de ter feito. — Disse ele, tentando consertar o seu erro sem habilidade. Não percebeu que ela parou até que ele desceu mais três degraus. Ele olhou para cima para encontrá-la olhando para ele. Por um momento, ela pareceu assustada, como se estivesse de pé na beira de um penhasco, em vez da escada. Ele deu um passo mais perto, querendo lhe que nunca terá nenhum motivo para temê-lo. O sorriso dela roubou suavemente as suas feições quando ele a alcançou. As suas mãos se entrelaçaram quando eles diminuíram a distância entre eles em uma corrida de necessidade.

Tomando-a nos braços, Tristan cobriu a sua boca com uma carícia ousada que a deixou flácida e fraca contra ele.

— Eu quero falar com você sozinho. Para onde podemos ir? — Ele perguntou, beijando-a novamente antes que ela pudesse responder.

— Para o celeiro? — Ela passou os seus dedos pelos cabelos dele e o puxou para mais baixo.

Ele inclinou a boca sobre a dela e puxou pequenas respirações dos lábios com uma série de beijos curtos e insaciáveis. Inferno, ele não queria dizer a ela que a amava em um celeiro. Ao pé da encosta de uma montanha acarpetada de urze seria bom.

— Cavalgue comigo mais tarde.

Ela assentiu, sorrindo contra a boca dele.

— Eu sou deplorável por não recusá-lo?

— Não, você é sensata, porque eu nunca iria parar de pedir.

Ela riu e seu coração inchou até que ele sentiu como se o seu peito não pudesse mais contê-lo.

— Isobel, eu...

John desceu correndo as escadas, quase derrubando os dois em uma corrida para porta.

— Você olhou pela janela, Bel? — Ele mal olhou para qualquer um deles presos nos braços um do outro. — O gado está aqui!

— Gado? — Tristan se virou para ver John desaparecer do lado de fora.

— Sim, venha ver! — Isobel fechou os dedos ao redor dos dele e puxou-o pelo resto da escada. — Eles chegam duas vezes por ano.

— O que você quer dizer com eles chegam? — Tristan perguntou enquanto corria para a porta, arrastando-o com ela. — Quem os traz?

— Nós não sabemos. — Ela saiu, parou e apontou para os seis bovinos pastando no pequeno recinto das ovelhas ao lado do celeiro. Eles eram os Kyloe24das Highlands com uma variedade da cor vermelha, com as peles longas, onduladas e chifres grossos. Pendurada nas costas de cada animal havia uma bolsa pesada estourando nas costuras. — Alguém os traz aqui à noite. — Continuou Isobel. — Não sabemos quem, mas Patrick acha que é um dos inquilinos de nosso pai que partiu depois que ele morreu. Talvez nosso primo James Fergusson. Ouvimos dizer que ele estava muito bem em Aberdeen.

— O que há nas bolsas? — Tristan perguntou, caminhando em direção a eles. John já estava desempacotando uma, e olhou para acenar para Patrick e Cam quando os seus irmãos saíram da casa.

— Carnes secas, grãos, cortes de tecido, temperos, livros. — Isobel sorriu mais feliz do que Tristan já a viu. — Coisas que os comerciantes de Dumfries estão todos ansiosos para comprar.

— Livros? — Tristan entrou no recinto, sorriu para John e passou a mão sobre a pele grossa de um dos Kyloes. O seu pai criava gado como esse em Camlochlin.

— Sim. — John procurou dentro de uma das bolsas. — Vendemos quase tudo, até mesmo o gado, para comprar sementes, equipamentos agrícolas, panelas para Isobel, tudo o que precisamos. — Ele encontrou o que estava procurando e entregou-o a Tristan. — Também vendemos os livros, já que nenhum de nós sabe ler. Talvez você possa lê-los para nós antes que Patrick os leve ao mercado.

Tristan olhou para o livro encadernado em couro na mão e piscou para o título. História Regum Britanniae, ou História dos Reis da Grã-Bretanha, por Geoffrey de Monmouth. Os trabalhos de Monmouth continham algumas das primeiras histórias escritas sobre o rei Arthur. Ele olhou novamente para o gado, com o coração disparado no peito. Impossível.

— Você disse que esses presentes foram deixados desde que o seu pai morreu? — Ele não esperou Isobel responder quando ela entrou no recinto com Patrick, mas soltou outro saco e começou a vasculhá-lo.

— Sim, eles nos mantiveram vivos e alimentados pelo o primeiro ano após as colheitas falharam. — Isobel falou. Patrick permaneceu em silêncio, ainda encarando o livro debaixo do braço de Tristan.

— O que você está procurando. — Ele finalmente perguntou, enquanto Tristan tirava uma variedade de raízes, duas lã earasaids25 tingida à mão em diferentes tons de verde e marrom, um pacote de camisas de linho, e três bacias de estanho. Nada que não pudesse ter vindo de nenhuma casa Highlands.

— Bel. — John gritou, segurando um pequeno broche que brilhava ao sol. — Veja isso. Eu acho que é prata!

Isobel foi até ele e pegou o broche delicado, mas Tristan o agarrou primeiro dos dedos de John. Ele a encarou, sem acreditar na evidência de seus próprios olhos.

— Você já viu isso antes, então? — Patrick perguntou calmamente.

Tristan assentiu.

— É da minha tia Maggie. — Ele ergueu os olhos, fixando os olhos no gado, nos sacos de mercadorias destinados a ajudar a sustentar os filhos que seu pai deixara órfãos. Ele não pôde deixar de sorrir. Nunca, em suas mais loucas imaginações, teria suspeitado que o seu pai ajudasse os filhos de seu inimigo mais odiado. Ele poderia estar errado sobre Callum MacGregor todos esses anos? Este não era o trabalho de um guerreiro orgulhoso. Isso era piedade. Isso era compaixão.

— O que você está dizendo? — Isobel perguntou fracamente, aproximando-se dele. — Que tudo isso é dos MacGregors?

— Sim. — Ele disse a ela, orgulhoso de ser um pela primeira vez.

— Não. — Ela balançou a cabeça para ele e se afastou quando ele estendeu a mão para o rosto dela. — Eu não acredito.

— Não fique com raiva. — Disse ele gentilmente, aproximando-se. — Eu sei que é difícil para você aceitar essas coisas de minha família. Mas é um bom presságio.

— Para quem? — Ela perguntou, olhando para ele.

— Para nós. — Ele avançou, pegando as mãos dela e as colocando entre os ambos peitos. — Não vê, Isobel? Essas coisas provam que os meus parentes são complacentes. Meu pai e sua irmã passou longos anos em um calabouço Campbell para pagar pelos crimes de seus pais. Eu temia que o seu coração seria para sempre voltado contra vocês, mas ele sabe que os filhos de seu pai são inocentes.

Lágrimas encheram os seus olhos e partiram o seu coração.

— Não chore, bela Isolda, vou acabar com os seus medos. Mudarei as coisas que entristecem você para às coisas que dão alegria ao seu coração. Vou assegurar isso para você. — Ele disse, colocando na sua boca em um sorriso galante. — É o que eu faço de melhor.

Satisfeito com o sorriso suave que conseguiu dela, ele se virou para Patrick.

— Deixe-me levar as mercadorias para Dumfries para trocar. Eu sei o seu valor e você pode obter um preço mais justo. — Ele soltou as mãos de Isobel e ergueu as mãos para o seu irmão, quando Patrick parecia prestes a recusar. — As suas mãos vão fazer falta aqui, e o trabalho mais pesado cairia sobre Cam. Se eu for, você não precisará se preocupar com as colheitas.

— Sim. — Disse Patrick, lançando um olhar de reconhecimento para Isobel. — Eu posso me preocupar com minha irmã indo com você.

Tristan afastou a sua preocupação com um aceno de mão.

— Cam pode vir conosco, então. — Disse ele, sem se preocupar em negar que pretendia levar Isobel com ele. — Não vamos ficar um dia mais do que o necessário. Dou-lhe a minha palavra, e nenhum dano acontecerá a qualquer um deles.

Patrick refletiu sobre isso por alguns momentos, depois entortou o dedo para Tristan, acenando para segui-lo a uma curta distância. Tristan o seguiu e, quando estavam fora do alcance dos outros, Patrick se virou para ele.

— Cameron me informou que você deu o seu coração a minha irmã.

— Eu dei. — Tristan admitiu calmamente, sentindo um pouco como um canalha diante dele. — Me perdoe por não prestar o devido respeito que lhe é devido e ter vindo falar com você primeiro.

— Está tudo bem. — Patrick falou tranquilamente com um tapinha nas costas e seu primeiro sorriso do dia. — Não fiquei surpreso ao ouvir isso. Na verdade, estou mais surpreso que ela não sabe o quão profundamente você se importa com ela.

— Eu não tinha consciência disso até recentemente.

— Inferno. — Patrick levantou uma sobrancelha duvidosa. — Até eu estava ciente disso.

— E você não quis me bater?

— Você é um bom homem, Tristan. Você é justo, honesto e misericordioso. Na verdade, gostei de você desde o primeiro dia em que nos conhecemos e você não traiu Isobel com o castigo que deu a Tamas. — Eles sorriram juntos, lembrando-se da funda do rapaz que guardou secretamente em seu cinto.

— Mas e a sua família? — Patrick ficou sério. — Enviar-nos suprimentos é uma coisa. Dar o seu coração à filha de Archibald Fergusson é outra.

— Eu não sei a resposta para isso. É uma estrada que vou percorrer quando chegar a ela. Mas isso eu sei. Quero protegê-la e fazê-la feliz. Quero que a minha família sejam os seus parentes, unidos por nosso casamento, para nunca mais lhe causar mal novamente, mas que venham ajudá-los se algum dia precisar deles.

— Eu ficaria muito grato por isso. — Patrick sorriu novamente, e Tristan pensou o quanto ele gostaria de ser como o seu irmão Rob, e sua paixão por cuidar deles fosse a mesma. — Você está me pedindo a sua mão, então, Tristan MacGregor?

— Estou.

— Você tem a minha bênção. — Patrick olhou por cima do ombro para a sua irmã. — Ela adora aqui. Ela não vai querer partir.

Virando os olhos para a pequena casa no centro do nada, Tristan assentiu.

— Eu amo isso também. Visitaremos aqui com frequência.

— Muito bem, então. — Patrick o pegou pelos ombros e deu um tapinha neles. — Vá para Dumfries, consiga o preço mais justo pelos produtos e mantenha minha irmã e irmão em segurança.

— Você tem a minha palavra.

 

 


Capítulo Trinta


A cidade de Dumfries, Isobel contara a Tristan quando atravessavam a ponte sobre o rio Nith, era bem conhecido por sua história sangrenta. Os ingleses haviam saqueado e ocupado a cidade em mais de sete ocasiões diferentes. Quando as guerras políticas se tornaram religiosas, um dos grandes castelos da cidade se rendeu aos Covenanters26 Presbiterianos após um cerco de treze dias que deixou o local em ruínas até hoje, e Dumfries é um refúgio para os inimigos de um rei católico.

Tristan balançou a cabeça, virando os olhos para a estrada e longe de Isobel. E eles diziam que os escoceses eram bárbaros.

— É uma sorte que você não está usando o seu plaid aqui, Tristan. — Cam gritou da parte de trás da carroça. — E declarar que você é católico.

— Misturar-se é melhor do que lutar com um homem simplesmente porque você acredita de uma maneira diferente. — Respondeu Tristan por cima do ombro. Quando ele virou para a estrada, o sorriso de Isobel chamou a sua atenção.

— O seu tio ensinou isso a você?

— Não, moça. — Disse ele, incapaz de fazer qualquer coisa, mas apenas sorrir de volta para ela, apesar da dor de suas palavras. — Aprendi essa lição sozinho.

O sorriso dela desapareceu e depois ficou mais suave, entendendo tudo o que ele não disse.

— Mais tarde, você vai me contar a história?

— Sim. — Ele prometeu, querendo contar tudo a ela, a verdade que ele mantinha escondido de todos, até de si mesmo. — Mais tarde, quando estivermos sozinhos.

Ele mal podia esperar. Ele queria beijar o rubor em seu nariz sardento, sentir o corpo dela nos braços dele, entregando seus medos e suas paixões a ele, enquanto experimentava o mel da sua boca e depois cada centímetro dela. Ele tinha que encontrar um padre e rápido, se ele pretendia fazer a coisa honrosa.

— O que convenceu você a não se casar com Andrew Kennedy?

Ela olhou para ele pelo canto do olho quando ele diminuiu a velocidade da carroça em frente à primeira estalagem que encontraram.

— Quem disse que não vou me casar com ele?

Ele riu do sorriso provocador dela.

— Eu sei. — Disse ele, apenas sentindo falta dos dedos dela enquanto ela escorregou de suas mãos para o chão.

— E quem é você para cancelar o meu casamento?

Saltando da carroça, ele contornou o cavalo e deu um passo atrás dela.

— Sou o homem que está tentando ser bom o suficiente para você.

Ela se virou para ele, quando ele alcançou o primeiro saco que Cam jogou. Ele olhou para ela por cima do embrulho antes de puxá-lo para o lado.

— O homem que quer dar a você uma vida melhor do que a que tem agora.

— Eu tenho uma vida boa. — Ela foi rápida em dizer a ele.

— Vocês trabalham demais. Observei você carregar o feno e arar o solo até que mal consegue respirar.

Ela levantou as mãos para o próximo saco, preparada para pegá-lo.

— O trabalho precisa ser feito.

— O único trabalho que você deveria estar fazendo. — Ele pegou a saco antes dela alcançar. — É cuidar de seus bebês e de seu marido.

Ela realmente riu para ele. Tristan não sabia se deveria ficar ofendido ou encantado.

— Por trás de todo aquele talento e requinte. — Disse ela, os seus olhos azuis esverdeados brilhando sob o sol. — Sua forma de pensar é realmente muito antiquada e irritante.

Ele olhou para ela, mudo. Antiquado? Irritante? Ele? Ele quase caiu no chão quando Cam atirou outro saco para o lado e acertou no seu ombro.

Isobel pegou o saco caído e jogou-o na pilha com o resto.

— As mulheres são capazes de fazer mais do que apenas cuidar de bebês e maridos. Se minha família vai morrer de fome se a colheita fracassar, farei o que for preciso para que não aconteça. Não vou ficar na cama, ociosa e inútil, para o meu marido à noite.

Ele acenou para ela, sorrindo. Como ele pôde contestar as palavras dela quando as achou tão revigorantes, tão honestas, tão... Isobel? Talvez as suas maneiras de pensar quando se trata de uma esposa fossem realmente antiquadas. Ele conhecia mulheres suficientes em Camlochlin que podiam empunhar uma espada, assim como qualquer homem. Isobel possuía a força daquelas mulheres que sempre amou e admirou: a sua mãe e sua irmã, Lady Claire, a sua tia Maggie. Elas aprovariam Isobel assim que a conhecessem.

— Retiro o que disse. — Ele fez uma ligeira reverência e voltou exibindo a sua covinha. Ele pegou outra carga da carroça e a balançou. — Agora vamos discutir o que é irritante em mim, sim?

Ela parecia um pouco atordoada quando ele a surpreendeu completamente, e que encontrou a sua expressão tão imensamente divertido.

— O que eu fiz agora? — Ele sorriu quando os seus olhos arderam. — Eu tenho confiança em sua força.

— E eu tenho confiança em você. — Ela riu, desta vez com humor genuíno, quando ela jogou o saco de volta para ele.

— Este é último. — Cam gritou da carroça. Quando ele ergueu o saco nos braços, uma voz abafada gritou para ele de dentro do saco.

— Esse é o meu nariz, você está apertando!

Cam largou o saco e olhou para ele, com os olhos arregalados. Tristan recuou, puxou o saco para ele e rasgou-o. Quando a cabeça de Tamas apareceu, Isobel soltou uma série de juramentos que fizeram o rapaz se encolher em seu lugar.

— Que diabos você pensa que está fazendo, Tamas Fergusson?

— Eu queria vir junto e...

— Você contou a Patrick? — Ela gritou para ele. — Você não contou a ele, contou!? Ele vai ficar morto de preocupação! Oh, seu pequeno...

— Isobel. — Tristan a deteve, dando-lhe um olhar moderado. — Ele está aqui agora. Vamos trocar as mercadorias e voltar para casa o mais rápido que pudermos. Hoje à noite, ele vai dormir no chão ao lado sua cama. — Ele ajudou Tamas sair do saco e deu-lhe uma tapa leve na parte de trás da sua cabeça.

Depois de trocar olhares com o rapaz, Tristan pagou generosamente dois cavalariços da estalagem para levar os sacos para dentro e depois para os seus quartos.

— Não teria sido melhor vender alguns dos produtos antes de paramos para a noite? — Isobel perguntou-lhe quando ele a alcançou, prestes a entrar sem ele.

Não. Ele queria tempo com ela sozinha primeiro.

— É melhor negociar com um comerciante, quando ele tiver a perspectiva de um dia inteiro de clientes pela frente.

A estalagem não era nada que Tristan não tinha visto uma dúzia de vezes antes. Uma iluminação fraca, o aroma asquerosamente doce de vinho, uísque e cerveja, um punhado de mesas e cadeiras espalhadas. Ele examinou os clientes primeiro. Principalmente os viajantes com nada em mente mais urgentes do que uma refeição e uma cama quente.

Pagaram dois quartos e sentaram-se a uma mesa vazia enquanto o jantar estava sendo servido.

— O que vai ser então? — Uma serva morena peituda perguntou, apertando a mão ao lado do seu corpo e dando às unhas da outra sua mão um olhar desinteressado. — Temos coelho refogado com mel ou carne de carneiro assada servida com sopa de cogumelos e salsa... — Sua lista curta parou quando Tristan olhou para cima e lhe ofereceu um sorriso agradável. Os seus olhos azuis desinteressados escureceram nele como uma tempestade em uma noite quente de verão. — Ou se o seu apetite desejar algo com um pouco mais com sabor, eu poderia enviar algo para o seu quarto mais tarde.

Tristan estava ciente que Isobel se enrijeceu ao seu lado na cadeira e ficou muito satisfeito ao descobrir que estava com ciúmes.

— O carneiro está bom.

— Eu quero o coelho. — Tamas falou.

— Você vai ficar com o carneiro. — Tristan o chutou por baixo da mesa, depois se voltou para a moça. — E um pouco de hidromel para acompanhar. E você saberia se há algum padre nas proximidades? — Ele acrescentou quando ela se afastou, visivelmente desanimada.

— Um padre? — Isobel puxou a manga de Tristan, mas depois se virou, junto com o resto deles, quando alguém chamou o nome de Cameron.

— Eu achei que era você! — Annie Kennedy correu para frente, afastando-se dos dois rapazes enormes ao seu lado. — Isobel, Senhor MacGregor. — Annie ofereceu um sorriso caloroso para os dois. — É bom vê-lo novamente. — Pelo bem de Cam, mais do que de Isobel, Tristan não sorriu de volta. — O que você está fazendo aqui no Golden Hillock?

— Estamos planejando negociar de manhã. — Cam disse a ela, parecendo um novo escudeiro que tinha sido abordado pela rainha da Inglaterra.

— Então, sua noite está livre? — Annie perguntou-lhe corajosamente, com os seus olhos verdes arregalados e brilhante. — Estava prestes a sair para um passeio à noite com os meus irmãos, Andrew não está aqui. — Ela interrompeu-se para lançar a Isobel, em seguida, a Tristan, um olhar rápido antes de voltar a sua atenção para Cam. — Gostaria muito que você se juntasse a nós.

Cameron quase virou a mesa para chegar ao lado dela rapidamente, depois diminuiu o passo quando captou o olhar esclarecedor de Tristan.

— Nada me daria o maior prazer. — Disse ele suavemente, com a boca inclinada para o lado enquanto oferecia o braço a Annie. — Em passar a noite com você.

Tristan teria aplaudido o sucesso de seu aluno, se Isobel não estivesse olhando para ele com um olhar de suspeita crescente e arqueando a sua sobrancelha.

— Eu também quero ir! — Tamas disse, saindo da cadeira antes que alguém pudesse detê-lo. — Não gosto daqui. Aqui fede. E não gosto de carne de carneiro.

Tristan tinha ouvido falar que a boa sorte era uma moça. Ele imaginou que ela o amava profundamente, pois o seguia sempre. Mesmo nos seus dias mais longos. É claro que, quando Cameron o procurou por ajuda, nenhuma veio. Cam não queria um acompanhante, mas é melhor ele do que Tristan. Ele os expulsou com um sorriso.

— O que você disse a Cameron antes de partir para Glasgow? — Ela perguntou-lhe quando os outros deixaram a mesa para se reunir os irmãos de Annie. — Ele me lembrou um pouco de você quando aceitou o convite dela.

— Och, não seria do seu interesse. — Tristan assegurou a ela com uma piscadela brincalhona. — É um pouco antiquado.

— Entendo. — Ela estava quieta novamente quando a serva voltou com a ceia e depois a enviou embora com um olhar venenoso. — Por que você perguntou a ela sobre um padre? — Ela perguntou quando eles estavam sozinhos novamente.

Tristan mergulhou a colher na sopa e a levou à boca.

— Espero estar precisando de um. — Ele franziu a testa para sua tigela e depois para ela. — Você não vai gostar disso.

— Por que você espera precisar de um? — Ela pressionou, ignorando a sopa e a reação dele.

— Bem, eu não sei o que eles fazem aqui, mas no Norte costumamos chamar um padre quando queremos casar. — Ele lançou um breve sorriso para ela antes de se virar para a travessa de madeira diante dele. — Espero que o carneiro tenha um sabor melhor. Receio que comendo a sua comida tenha me mimado.

— Tristan. — Ela puxou a sua manga novamente, atraindo sua atenção. — Você está me propondo...?

Ele tocou a mão no rosto dela, desejando de alguma forma aliviar a apreensão que via nos olhos dela, podia ouvir em sua voz suave. Ela nunca lhe daria sua total confiança?

— Sim, Isobel. Se você me quiser.

Algo em sua expressão mudou. Ela quase sorriu para ele, e teria sido o seu sorriso mais alegre e radiante ainda, pois todos os seus medos desapareceram por um instante. Eles voltaram um momento depois.

— Há coisas...

— Sim? — Ele levou o seu olhar de volta para o seu, quando ela tentou desviar o olhar.

— Coisas que ainda... me preocupam. Eu não...

— Eu amo você, Isobel. — Disse ele antes que ela tivesse a chance de recusar. Inferno, não era assim que queria dizer a ela, não em alguma pousada degradada com comida suja sob o nariz e as nádegas doloridas por saltarem como ovos em um alforje. — Você é o deleite do meu coração. Eu daria qualquer coisa por você, minha honra, minha família, minha vida. Quero cuidar e prover para você, ouvir o seu riso, a sua voz todos os dias. Não vou desistir até que você seja minha, então poderia muito bem casar comigo agora e se poupar do problema.

Ela parecia que ia chorar, mas então os seus lábios suavizaram com o sorriso que ele estava esperando. Ele segurou o rosto dela e a atraiu para um beijo longo e profundo que puxou a respiração de ambos os corpos.

— Nós ainda temos alguns dos alimentos que eu embalei para a nossa jornada nos sacos em um dos nossos quartos. — Ela sussurrou, quebrando o beijo e olhando para ele um pouco timidamente.

— Então vamos encontrá-lo. — Tristan a levantou e a seguiu pelas escadas.

Fazendo a coisa honrosa com ela, pela primeira vez, serei condenado.

 

 

Capítulo Trinta e Um


Isobel entrou no pequeno quarto iluminado por velas. Os seus olhos caíram na pequena cama puída no canto e ela soltou um gritinho. Alguns momentos atrás, ela queria ficar sozinha com Tristan, esmagada em seus braços e sufocada em seus beijos. Ela até sugeriu depois quando ele confessou amá-la, mas estar aqui, completamente sozinha com ele e uma cama... Ela se virou para ele e parou de respirar por um momento enquanto ele trancava a porta. Ele a amava. Ah, ela esperava mais do que estava disposta a admitir para si mesma, e por muitas razões. Ela olhou para ele quando se moveu silenciosamente em sua direção, esquecendo a cama e tudo mais. A única razão que importava naquele momento era que ele era dela. Este homem magnífico, fisicamente criado a partir do sonho de algum artista louco, moldado por um cavaleiro dos mais galantes. Ela deixou Tristan MacGregor conquistar o seu coração. Ela nunca esperava ganhar o dele também.

— Você está tremendo, meu amor. — Sua voz rouca percorreu o seu ouvido quando ele a alcançou e inclinou a cabeça na dela.

— Você realmente me ama, Tristan?

Ela viu a verdade nos olhos dele antes que falasse, na maneira como mostrou quase aliviado, como se ele precisasse dela, tivesse sede dela e não pudesse acreditar que finalmente a encontrara.

— Sim, moça. — Ele ergueu as mãos para o rosto dela e traçou as maçãs do seu rosto com as pontas dos polegares. — Eu te amo mais a cada momento que passa. O meu coração cresce cada vez mais vivo todos os dias que passo com você. — Ele se ajoelhou aos pés dela e segurou as mãos dela. — Esqueça o meu passado, como eu, e sei apenas que nunca amei uma única moça antes de você e nunca vou amar ninguém além de você.

Ela piscou para afastar a umidade que embaçava a sua visão dele e sorriu.

— Você é muito bom com as palavras, senhor MacGregor.

— Uma dádiva me conceder o prazer de seus ouvidos.

— E a minha boca? — Ela se inclinou para ele, desejando o beijo dele como tinha feito desde a noite no Jardim Privado do rei.

— Mulher. — Ele sussurrou contra os lábios entreabertos enquanto se levantava. — Como posso falar sobre a sua beleza e o que isso faz comigo quando me incentiva a mostrar-lhe com meu corpo?

O corpo dele. Quantas vezes ela o viu trabalhar sob o sol, os seus braços nus brilhando com músculos definidos, sua barriga lisa e úmida tentando a sua visão para baixo? Ela sabia que o que estava escondido sob as calças dele era tão intenso quanto o resto dele. Ela sentiu isso surgir contra ela em algumas ocasiões diferentes quando ele a beijou, inchado, duro e pronto para tomá-la aonde estavam. Ela enfiou a língua na boca dele e depois ofegou quando ele a levantou como uma onda e a colocou na cama.

Ela sempre pensou que o corpo de um homem em cima dela poderia ser um pouco sufocante e desagradável, mas Tristan não era. De fato, os seus músculos tensos estremecendo sobre ela pareciam tão pecaminosamente bons que ela mordeu o lábio, instintivamente querendo mais.

Ele sorriu contra os dentes dela, gemeu e mordeu-a de volta. Uma onda de prazer tomou conta dela, enviando rajadas de calor para o seu ponto crucial e mais vigor para o seu beijo. A língua dele acariciou os recantos mais profundos de sua boca como uma chama a incendiando. Ela respondeu com respirações curtas, rápidas e famintas, chupando suavemente a língua dele quando ele se retirou para prová-la de um ângulo diferente. Não tinha ideia do que tinha acontecido com ela, apenas que era uma força que não podia resistir. Ela não queria. Esse... desejo que sentia por ele era como nada que já havia experimentado antes. O seu corpo palpitava de necessidade até quase doloroso, satisfeito apenas pelas respostas apaixonadas dele.

Ele a abriu debaixo dele com seus joelhos, sabendo pelo que ela ansiava, mesmo que ainda não o entendesse completamente. Quando ele pressionou toda a sua excitação entre as coxas dela, um dilúvio de prazer a inundou.

— Eu tenho medo. — Ela sussurrou, agarrando-se a ele.

— Juro que não vou machucá-la. — Prometeu, com a voz rouca de necessidade própria. — Eu pretendo lhe dar prazer. — Ele sorriu, olhando para ela. — Confie em mim.

Ele já havia lhe dado mais do que jamais imaginou. Mas do que se esperava dela? Ah, sabia onde ele queria colocar aquele músculo rígido entre as suas pernas. Ela já tinha visto touros acasalando com vacas antes, mas e se fosse doloroso? Por mais duro que ele fosse, certamente parecia que poderia ser. Ela nunca teve outra mulher para perguntar. Deveria detê-lo se não gostasse ou deixá-lo fazer o que quisesse?

Como ela poderia afastá-lo quando o queria exatamente onde ele estava agora, se pressionado contra ela, o seu coração batendo loucamente sobre o dela, sua boca marcando-a como dele e só dele? Ela parou de pensar com clareza e se entregou ao toque magistral dele.

Ele marcou com a sua boca a pulsação na garganta dela, enquanto os seus dedos delicados desamarravam o seu kirtle. Com um movimento do seu pulso, ele deslizou a sua mão sob a camisa dela e acariciou o seu seio nu na sua mão. A sua pele áspera contra a sua carne macia a deixou sem fôlego, tonta com deleite e antecipação imprudente. O seu coração batia violentamente quando ele puxou a sua camisa, expondo-a completamente a ele. Por um momento, ele simplesmente a olhou embaixo dele, depois olhou nos olhos dela e sorriu.

— Você sabe como é bela para mim, Isobel?

Ela balançou a cabeça, sinceramente sem saber.

— Olhar para você é como olhar para o sol do verão depois de um longo e frio inverno. É como ir para casa depois de uma batalha que me deixou vazio e sozinho. — Ele beijou a sua boca, o seu nariz, os seus olhos. — Não sei como é possível, mas cada vez que a vejo, você fica mais bonita para mim.

Oh, a língua dele realmente era uma bênção para o prazer de seus ouvidos. Mas essas não eram apenas palavras bonitas, ditas para uma centena de mulheres diferentes. Ela era linda para ele. Ele a fez acreditar mais cada vez que o pegava olhando para ela. Não importava se o seu cabelo estivesse solto frequentemente em volta dos seus ombros, em vez de preso com joias brilhantes, ou se o rosto dela estava sujo de terra do jardim. Os seus olhos sempre a bebiam como o melhor vinho.

Ele baixou a sua língua no mamilo ansioso e banhou com o seu calor através dela.

— Você tem um gosto ainda melhor do que eu sonhei. — Fechando os lábios em torno dela, ele chupou até que ela se contorcia embaixo dele, precisando de mais. Ele se retirou apenas o suficiente para se erguer nela, enquanto empurrava as saias sobre os joelhos, os seus dedos percorrendo sedutoramente em suas panturrilhas nuas. Liberando as suas pernas, ele as enrolou na cintura e arrastou os quadris dela para cima para encontrar os dele.

— Eu vou entrar em erupção nas minhas calças se não tiver você em breve. — Disse ele, curvando-se para colocar um beijo ao longo de sua coxa.

A sua promessa, junto com o seu beijo íntimo, a assustou e enviou um espasmo trêmulos pela a sua espinha ao mesmo tempo. As suas roupas estavam pesadas, sufocantes. Ela queria arrancá-las de seu corpo e depois tirar a dele. A paixão, como uma onda crescendo, tomou conta dela. Ela inclinou os quadris, esfregando-se ao longo de toda a ereção dele.

Ele gemeu de algum lugar no fundo de sua garganta. Os seus olhos brilhavam, prendendo-a na cama quando ele se levantou dela.

— Então, você deseja que minha derrota aconteça rapidamente? — Os seus lábios se curvaram em um sorriso lento e sensual enquanto ele balançava a cabeça. — Outra mulher que é a desgraça de seu cavaleiro. — Ele ficou de pé sobre ela e puxou os cadarços de suas calças, libertando-se.

O coração de Isobel parou com a visão e o tamanho dele saltando para cima como uma lança pronta para furar os céus. Oh, isso ia doer.

— Ainda não. — Ele rosnou, fechando os dedos ao redor do seu pênis grosso e duro.

Um músculo entre as coxas de Isobel convulsionou.

— Primeiro. — Ele sussurrou, curvando-se para ela e deslizando a outra mão sob as saias dela. — Diga-me que você será minha esposa... e então deixe-me lambê-la aqui. — Ele esfregou o dedo sobre o seu broto inchado. O sorriso dele se aprofundou quando os olhos dela se arregalaram de surpresa.

— Eu vou me casar com você, Tristan MacGregor. — Ela ofegou enquanto ele a acariciava. — Não, você não pode. — Ela protestou fracamente. — É imoral. Deve ser. — Ela fechou os olhos quando outro tremor de prazer a percorreu.

— Pode ser imoral, mas eu prometo que você vai gostar. — Ele beijou o seu caminho até a carne macia de sua coxa trêmula. O corpo dela estremeceu. Ela passou os dedos pelos cabelos sedosos dele, dividida entre afastá-lo e puxá-lo para mais perto. A sua boca estava tão quente, com tanta fome quando ele beijou e mordiscou o seu caminho para cima até o monte úmido no centro dela. Quando ele passou a língua sobre ela, espasmos assolaram o seu corpo, e ela estremeceu até sua alma. Ela tentou apertar os joelhos, mas ele passou a perna pelo seu pescoço e enterrou o rosto mais fundo. A língua dele disparou dentro dela, depois lambeu o seu caminho sobre sua necessidade escaldante. Ele a beijou ali, puxando sua carne sensível com os lábios, depois a chupando em sua boca com uma pressão sensível que a fez choramingar. Ele não parou, mas bebeu o seu prazer, abrindo-a ainda mais com os dedos para prová-la mais plenamente.

Isobel sentiu-se tonta, bêbada de desejo. A sua respiração estava difícil. Os seus pensamentos ficaram sombrios quando ondas de paixão feroz, puro prazer excitante a consumiram. Ela enfiou as unhas nos ombros dele, movimentou os quadris sob o golpe voraz da língua dele, os dentes. Ela tentou falar, dizer a ele o quão bom era, mas apenas suspiros lânguidos escaparam de seus lábios quando ele a levou ao auge do êxtase.

Ela o agarrou quando ele se afastou, deixando-a fraca e ofegando por mais. Ele sorriu à luz das velas e puxou mais as calças para as suas coxas. A sua camisa e botas ele retirou em seguida. O olhar lânguido de Isobel absorveu a glória de seu corpo nu e duro, os leves tiques de seus músculos trêmulos quando ele se moveu em direção a ela para retirar lentamente o seu kirtle e a camisa até que ela estava exposta ao seu desejo masculino sombrio. Ela não estava mais com medo. Tudo o que ele pretendia fazer, ela queria, precisava.

— Depressa. — Ela sussurrou em um suspiro suave.

Ele estava lá instantaneamente, debruçado sobre ela, beijando as suas exigências com a boca. Os seus mamilos ficaram mais duros, pressionados contra o seu peito, fazendo cócegas em seus cabelos grossos. Ele abaixou a cabeça e chupou cada um com uma mistura enlouquecedora de ternura e desejo selvagem.

— Ainda não, meu amor. — Ele sussurrou em uma respiração irregular, enquanto aumentava seu comprimento contra ela. — Och, inferno. — Ele levantou-se com uma mão aberta e com a outra agarrou o seu pênis grosso e brilhante quando sua semente subiu em três longos jatos. Por um instante, ele pareceu tão surpreso quanto ela. Isobel estava mortificada por ele, mas feliz ao mesmo tempo em saber que isso nunca havia acontecido com ele antes. Então exibiu a sua covinha para ela, quando ele pegou uma gota do néctar de sua paixão na barriga dela e a espalhou sobre seu núcleo vermelho e quente. — Meu corpo vai ter que esperar por um tempo.

— Não o meu. — Ela se sentiu indecente dizendo isso, mas não se importou. Ela o alcançou, ansiando por sua boca, o seu beijo. Oh, era a primeira coisa que ela tinha amado dele.

Os seus lábios se encontraram com igual fervor, abertos, línguas encontrando o mesmo desejo urgente, recuperando sua dureza rapidamente. Ele diminuiu a velocidade, guiando a cabeça larga de seu pênis até a abertura dela. Com um suspiro de antecipação, eles se entreolharam, vendo tudo o que precisavam. Ele rompeu a barreira dela com um impulso lento e indecente que, de alguma forma, conseguiu senti-lo terrivelmente enquanto ameaçava rasgá-la ao meio.

— Não, não! — Ela gritou, agarrando-o com força, movimentando a cabeça de um lado para outro. — Isso me dói.


Ele parou de se mover e a acalmou com uma mão gentil e beijos suaves e ternos.

— Não há nada a temer. — Ele acalmou, capturando o seu olhar ansioso com o dele. — Relaxe, meu amor. Eu irei devagar. A dor vai diminuir.

Ele manteve a sua promessa e se moveu devagar, o tempo todo olhando profundamente em seus olhos, traçando o contorno de sua boca com os dedos, os lábios. Ele lhe sussurrou como se sentia e quão desesperadamente queria que ela se retirasse e avançasse com longos e lânguidos movimentos.

O êxtase obscureceu os seus olhos, apertou a sua mandíbula, e a mera visão dele sobre ela, doendo para empurrar o seu corpo com força no dela e exercitando o controle suficiente para não fazê-lo, fez as terminações nervosas de Isobel arderem. Ela levantou as pernas em volta da cintura dele e enfiou os dedos nas suas costas. Mesmo que fosse doloroso, ela gostou do que estava fazendo com ele. Ela não queria que ele parasse.

Ele sorriu diante a ousadia dela antes de tomar o lábio inferior entre os dentes e empalá-la até o máximo.

Ela não chorou de dor depois disso, não quando a carne quente dele era tão sedosamente boa.

Corajosamente, ela delineou os músculos do peito dele com as pontas dos dedos, a boca. Quando ela acariciou com as palmas das mãos em suas nádegas duras, ele levantou o peso dela, retirou-se lentamente até a cabeça e depois a tomou profundamente na cama. Ela gritou o nome dele e ele diminuiu a velocidade novamente, desta vez arrastando as mãos acima da sua cabeça. Ele mergulhou a boca no mamilo dela e o chupou na sua boca, puxando dentro e fora de sua vagina trêmula com lentidão e deliberadamente cuidadoso.

Ele sussurrou o nome dela em uma respiração irregular quando quase gozou dentro dela. Mas ele se retirou antes e acariciou o seu clitóris esfregando sua ereção rígida na umidade dela.

Com o líquido quente derramando sobre ela, da ponta de sua lança, ela gritou uma última vez com a emoção de sua libertação.

 

Capítulo Trinta e Dois


Tristan a observava remexer através dos sacos em seu quarto vestindo apenas a camisa. Ele ficou duro quase imediatamente, mas se impediu de fazer amor com ela novamente tão cedo. Ainda assim, era difícil não querer tomá-la por trás, quando ela se inclinava sobre um dos sacos e as curvas atraentes de suas nádegas se espiavam.

— Você tem certeza de que não quer minha ajuda?

— Não. — Ela levantou a palma da mão. — Fique exatamente onde você está.

Ele sorriu e puxou o cobertor fino da cama cobrindo um pouco mais alto em seus quadris. Sua bela ninfa voltou a corar. Ele achou bastante atraente ser o único homem no mundo que sabia o quão verdadeiramente sedutora era a sua deusa tímida. Inferno, ela o teve ofegando como um animal por um tempo. Ele estivera com muitas mulheres, mas nenhuma delas jamais despertou dele respostas tão febris como Isobel. Sempre atento a não produzir filhos em todos os lugares, ele se orgulhava de seu comando sobre o seu corpo. Ele nunca se perdera completamente por paixão, expulsando prematuramente a sua semente, apenas para ficar duro novamente e se esforçar por não liberar toda a sua generosidade dentro dela. Os seus toques ansiosos, curiosos e respostas irrestritas o deixaram louco de desejo até que ele mal se reconheceu. Inferno, mas as histórias eram verdadeiras. O amor fazia um homem se render a tudo.

— Graças a Deus, eu encontrei. — Ela se virou, sorrindo e segurando um pequeno embrulho em cada mão.

Tristan queria levantar da cama e jogá-la embaixo dele.

— Sim, graças a Deus.

— É o pão e o queijo que comemos fora de Dumfries. — Informou ela alegremente enquanto voltava para a cama.

Ele assentiu, captando um instante de sua coxa suave.

— Você está com fome?

Ele sorriu para ela do travesseiro.

— Estou sempre com fome por suas deliciosas maravilhas da cozinha. Temo engordar vivendo com você.

— Vou garantir que não.

O seu sangue ardeu um caminho direto para a sua virilha quando ela sorriu para ele sob o véu de seus cílios.

— Os meus irmãos tem apreciado da minha comida há uma década e não são gordos.

— Quem te ensinou a cozinhar? — Ele perguntou.

— Minha mãe. Eu tinha quase a mesma idade que Tamas tem agora, então ela teve tempo de sobra para me ensinar. Adorava vê-la cozinhar. Ela me ensinou todos os temperos e o valor medicinal de quase todas as plantas.

— Você sente falta dela.

— É claro. — Ela sorriu, lembrando a voz gentil da sua mãe e o sorriso radiante. — Nunca paramos de sentir falta de nossos pais depois que eles nos deixam.

— Isso é verdade. — Ele cruzou as mãos atrás da cabeça e fechou os olhos. — Gostaria de viajar para a França para ver minha tia Anne.

— A esposa de Robert?

— Sim. — Ele abriu os olhos. — Ela mora em um convento. Gostaria de vê-la novamente. — Ele olhou para Isobel e sorriu. — Você tem a mesma cor de cabelo que ela.

— Ela era como uma mãe para você também?

Ele balançou sua cabeça.

— Minha mãe nunca teria permitido. Ela negaria, mas me prefere. Acho que é porque eu me pareço com o irmão dela.

— Ela vai me odiar, Tristan.

O tremor em sua voz o moveu para ela.

— Ela não vai te odiar. Vou cuidar disso. — Inferno, ele não queria pensar nisso agora. — Venha aqui, moça.

Paciência era uma virtude, ele disse a si mesmo quando a virou de lado e colocou o seu corpo perto do dela. Ele teve que repetir a frase mais uma dúzia de vezes enquanto a abraçava e pressionava os seus quadris contra a suavidade das costas dela.

— Tudo vai ficar bem. — Ele prometeu e passou os dedos sobre o seio dela. Ele beijou as ondas do cabelo dela e então afastou os seus cabelos exuberantes e pressionou os lábios em sua nuca. Quando ela moveu o seu quadril contra ele, já estava tão duro quanto a sua espada. — Cuidado, moça. — Ele gemeu, afastando-se do calor do corpo dela. — Eu sei que você está dolorida, mas posso ser um bastardo impiedoso.

— Eu não acredito nisso. — A sua risada suave o encorajou a mostrar a ela. Ela não o parou ou se afastou quando ele recuperou a sua posição perto das costas dela e segurou o seu traseiro na sua mão.

— Quero fazer amor com você de novo, Isobel.

Se ela não pudesse, se o recusasse, ele faria o que lhe pedia, pois em nenhum lugar nele havia um desejo de machucá-la. Mas ela passou o braço por cima do seu ombro e envolveu-o no pescoço dele, puxando a sua boca faminta para mais perto da dela. Quando a língua dela se lançou sobre o seu lábio inchado, seu controle estalou. Ele esfregou o seu pênis quente entre as nádegas dela e gemeu em sua boca, devorando a sua suavidade.

As mãos dele esculpiram a forma dela sob o tecido de sua camisa. O calor de sua pele o deixou louco com o desejo de se aproximar, estar dentro dela e sentir o seu calor o envolvendo. Ele estendeu as mãos sobre a sua barriga macia, os seios redondos e firmes, e delineou as pontas duras com movimentos largos que a fizeram se contorcer contra suas curvas duras.

O seu pênis latejava e inchou mais. Ele não podia esperar mais. Os dedos dele estavam no joelho dela até sentir a respiração dela contra a sua bochecha, curta e rasa. A sua paixão por ele quase o fez explodir, e seu coração junto com isso. Erguendo a perna dela, ele a abriu e guiou a ponta úmida ao longo de sua abertura escaldante. O seu grito abafado contra o travesseiro quando ele entrou nela o persuadiu a ter paciência. Ele se moveu lentamente, pressionando os quadris contra ela, aprofundando o seu impulso com ternura.

— Nós nos encaixamos muito bem, sim, minha noiva? — A sua voz roçou contra a sua orelha. Ele lambeu o lóbulo e o apertou gentilmente entre os dentes.

— Você é grande demais.

— E você está apertada e quente. — Ele gemeu e deslizou a mão entre as pernas dela para acariciar o seu centro enquanto se movia contra ela por trás. Ela ficou mais firme, mais úmida nos dedos dele. A respiração dela era difícil. O corpo dela se contraiu enquanto a perna relaxava sobre a dele. Ele se retirou lentamente, depois afundou profundamente dentro dela novamente, agarrando-a contra ele.

— Tristan, eu...

Ele interrompeu as suas palavras com um beijo que os uniu tão intimamente, quanto seus corpos, o tempo todo acariciando-a, esfregando-a até que seus músculos internos se apertassem com pequenos espasmos ao seu redor. Ele a empalou profundamente, retirando-se ainda mais lentamente, saboreando cada golpe, cada calafrio quente e úmido de seu corpo enquanto se encharcavam no êxtase de sua libertação.

Exaustos, ficaram em silêncio por um tempo, se beijando e sorrindo um para o outro na escuridão.

— Sempre seremos felizes, Tristan? — Ela perguntou um pouco depois, envolvida em seus braços.

— Sim, sempre. — Ele garantiria isso. Ela passaria a amá-lo tanto quanto ela amava os seus irmãos ainda mais.

— Eu quero acreditar. Mas a sua família...

— Isobel, não posso ser o homem que desejo ser sem você na minha vida.

— Mas como você pode ser esse homem sem ser leal à sua família?

Ele a puxou para mais perto e inalou o perfume de seus cabelos. De fato, ele traiu os seus parentes por amar Isobel, assim como Sir Tristan havia traído o seu rei por amar Isolda. O final deles seria tão trágico? Ele não deixaria. Havia esperança.

— Eu disse a você, meu amor, que meus parentes são complacentes. Inferno, não foi você que matou o Conde.

Ela gemeu como se seu corpo a machucasse, e Tristan a abraçou mais perto. Ele não pretendia tomá-la novamente tão cedo.

— Tristan, eu...

Uma batida na porta parou as suas palavras e drenou o sangue do seu rosto.

— Tristan, é Cameron. Isobel está com você?

Ela praticamente arrancou os seus braços e pulou da cama.

— Diga a ele que você não me viu! — Ela ordenou, lutando para pegar o seu kirtle.

— Sim, ela está aqui. — Tristan gritou de volta, saindo da cama e piscando para seu olhar feroz. — Dê-me um momento ou dois para abrir a porta.

Os olhos de Isobel se arregalaram tanto quanto sua boca.

— Eu não posso abrir a porta assim. — Ele estendeu os braços para apontar a sua nudez, em seguida, lançou-lhe um sorriso quando ela ficou vermelha. Ele pegou as suas calças, botas e observou com tristeza enquanto ela se apressava com o seu kirtle.

— Entre, Cameron. — Disse ele, abrindo a porta.

— Onde está Tamas? — Isobel exigiu quando Cam entrou no quarto sozinho.

Cam não respondeu imediatamente, e Tristan seguiu o olhar dele quando ele se fixou em sua irmã, ainda vestindo a camisa sob o vestido amassado dela.

— Ele está abaixo da escada com Annie. — Ele finalmente disse, piscando para longe dela e de seu rosto escarlate. — Nós... temos algo a lhe dizer.

— Sim, nós também. — Disse Tristan, tentando salvar Isobel de sua mortificação. — Pedi a Isobel para ser minha esposa e ela deu o seu consentimento.

Uma sombra passou pela expressão de Cam antes que ele se virasse e olhasse as roupas amarrotadas de sua irmã novamente. Inferno, como Tristan poderia explicar para ele, que não podia esperar?

— Encontraremos um padre assim que pudermos.

Finalmente, Cam sorriu e chamou Tristan para um abraço rápido.

— Esta notícia me agrada.

Deixando-o com um tapinha nas costas, Cam foi até Isobel e a abraçou em seguida. Ela ainda estava um pouco rígida e com olhos vidrados quando ele a soltou com uma bênção pela união deles.

— Também tenho boas notícias. — Ele disse, sorrindo mais do que Tristan já o vira. — Eu pedi a Annie para ser minha esposa também, e ela concordou.

Instantaneamente, o alarme de Isobel desapareceu em deleite. Depois de uma dúzia de perguntas, ela sentou o seu irmão na cama e começou a rever os planos para o banquete de casamento dele.

— Vamos celebrar esta noite com o melhor vinho da pousada. — Sugeriu Cam, saindo da cama.

Tristan teve que rir disso.

— A única maneira de encontrar um bom vinho aqui é se você o fizer.

— Venha. — Cam apontou para a porta. — Annie e Tamas nos esperam. Vamos beber para o nosso futuro feliz.

Ao encontrar o plaid dobrado em uma das sacolas, Tristan o colocou sobre o ombro nu, amarrou-o ao acaso na cintura e deixou o quarto atrás deles.

Annie Kennedy era uma moça bonita com olhos verdes brilhantes e uma boca em forma de arco, projetada para fazer uma infinidade de perguntas. Quanto mais vinho ela bebia, mais ela falava. Tristan e Cam trocaram um sorriso por sua conversa incansável.

Isobel parecia estar se divertindo, apesar de mudar seu peso constantemente na cadeira. Ela corou três tons diferentes de escarlate quando Annie perguntou se algo a machucava. Tristan apenas sorriu em seu copo, depois fez uma careta quando seu conteúdo azedo tocou os seus lábios.

— Você não gosta de bebida alcoólica, Senhor MacGregor? — Annie perguntou, sentindo seu descontentamento.

— Não, particularmente. Eu os vi fazer homens fazerem coisas tolas.

— Oh, conte! — Annie pressionou ansiosamente. — Que tipo de coisas?

— Infelizmente, eu não incomodaria os seus ouvidos delicados com histórias tão desagradáveis.

Ela riu sem um traço de rubor no rosto.

— Falando em histórias desagradáveis, o que você acha que Andrew dirá sobre o seu noivado com Isobel?

— Talvez ele desafie Tristan para um duelo. — Respondeu Tamas, em um instante de entusiasmo iluminando os seus olhos pela primeira vez naquela noite.

— Nunca prometi o meu amor ao seu irmão. — Disse Isobel a Annie.

Tristan desviou o olhar para ela. Ocorreu-lhe naquele momento que ela nunca havia prometido a ele também. Ele fez uma careta novamente e bebeu o vinho.

— Bem. — Disse Annie com um sorriso malicioso na direção de Tristan. — Certamente posso ver por que você não esperou.

— Cuidado, querida. — Cameron advertiu de brincadeira. — Ele logo se casará, e você logo pertencerá a mim.

Virando-se para encará-lo, Annie ficou toda frágil em seu assento.

— E você sabe o quão feliz isso me deixa, meu querido. Ele é bonito, mas o meu coração é seu. — Ela se inclinou para ele para um beijo, sussurrando que o amava, quando se afastou.

Tristan pediu mais vinho. Claro que Isobel o amava. Por que ela concordaria em se casar com ele, se não o amasse?

— Eu sei que Andrew ficará satisfeito com nossas notícias. — Annie falou alegremente, segurando o seu copo para colocar mais vinho, quando a serva voltou à mesa deles. — Ele gosta bastante de Cameron. Henry e Roger ficaram encantados quando eu contei a eles. Você tem muitos irmãos, Senhor MacGregor? O que eles vão pensar de você se casar com um Fergusson?

Isobel parou a serva e a deixou derramar mais vinho no seu copo.

— Eles vão amá-la como eu. — Disse Tristan, tomando um gole de sua bebida e se recusando a pensar em Mairi e seus punhais ocultos.

— Eles se parecem com você? — Annie perguntou. Quando Cameron revirou os olhos para o céu, ela se apressou em explicar que só queria saber para o benefício de sua irmã, Alice. — Lembre-se, ela tem vinte e dois anos e ainda está solteira. Hoje em dia é difícil encontrar um marido.

Tristan se recusou a olhar para Isobel para ver a sua reação. Claro que não era por isso que ela disse sim à sua proposta. Ela poderia ter um marido como Andrew Kennedy, se isso era tudo o que ela queria.

— Rob e Mairi se parecem com o meu pai.

— E você? Você se parece com a sua mãe, então?

— Meu tio, na verdade. Eu poderia ter sido filho dele. — Tristan não percebeu que seu tom tinha soado triste até Isobel pegar a sua mão embaixo da mesa. Ele se virou para sorrir para ela, mas um cutucão no ombro o deteve. Ele se virou e olhou para um estranho alto e barbudo segurando uma caneca em sua mão grande.

— O que temos aqui? — O estranho sorriu, expondo um dente faltando na frente da boca, um sinal claro de um homem que gostava de lutar.

Maldição, Tristan não estava no estado de espírito certo para isso. Quando ele notou os quatro ou havia cinco homens de altura igual e formando círculo ao redor da mesa, ele murmurou um juramento através de sua mandíbula cerrada.

— Um Highlander das Colinas Douradas! — O rufião olhou o plaid de Tristan e balançou a cabeça com pena. — Temos um par de porcarias sentados aqui bebendo o nosso vinho.

— Eu devo avisá-lo. — Disse Tristan, tentando esclarecer o efeito do vinho e fracassando. — Se você reivindicar a propriedade desse mijo, isso só prova que os Convenanters não têm bom gosto nem bom senso.

Annie riu por trás da sua mão e depois ofegou quando o estranho levantou Tristan.

— Você é corajoso, se não um tolo bastardo por me insultar em minha própria cidade, católico.

A estalagem girou em um círculo por se levantar rápido, mas Tristan curvou a boca em um sorriso que advertiu os outros a recuar.

— Estou satisfeito que você pense assim. Você ficará duplamente impressionado quando eu te derrubar rapidamente, se não me libertar.

O estranho se virou. Tristan se abaixou, balançou em seus pés por um momento e depois enfiou a palma da mão no queixo do homem em um movimento para cima, esmagando os ossos. O rufião caiu como Tristan prometeu que faria, esmagando uma cadeira debaixo dele. A estalagem ganhou vida com gritos e cadeiras sendo empurradas para o lado. Tristan virou-se para ver um dos amigos do bruto correndo para a sua mesa. Ele empurrou Isobel e Annie para fora do caminho e gritou para Cameron.

— Atrás de você!

Cameron bloqueou um soco na sua mandíbula com o braço esquerdo e enviou o homem cambaleando para a mesa atrás deles com o punho direito. Tristan levou um momento para sorrir. O rapaz havia aprendido bem as suas lições. A sua satisfação foi interrompida por um golpe no queixo.

— Você nocauteou Willy, filho de um porco! — O terceiro companheiro do inconsciente Willy, se preparou para outro ataque enquanto Tristan recuperava o seu equilíbrio.

— Eu não tenho que fazer o mesmo com você. — Tristan ofereceu, limpando uma gota de sangue da sua boca. — Ainda há tempo para você se retirar.

Os olhos do homem ficaram vermelhos. O seu punho furioso passou pelo nariz de Tristan, desaparecendo por centímetros quando Tristan deu um passo para trás. Ele avançou com a mesma rapidez e deu um soco forte e firme na barriga do oponente, seguido de um punho duro na mandíbula.

Isso não foi tão ruim, pensou Tristan, endireitando o seu plaid e vendo o amigo de Willy cair no chão ao lado dele. Cameron havia derrotado o seu oponente de maneira organizada e eficiente, e Tamas... O que diabos o menino estava fazendo em pé em cima da mesa com a perna de uma cadeira agarrada nas suas mãos?

Alguém bateu no seu ombro. Tristan se virou e olhou para cima e em seguida para os lados. Och, inferno, ele pensou que havia pelo menos cinco deles, quando um punho, grande o suficiente para acertá-lo vindo por trás dele, voou em direção ao seu rosto.

A última vez que viu antes de cair no chão foi Tamas balançando a perna da cadeira como uma espada. Ele não se lembrou de mais nada enquanto lascas de madeira voavam, e o bruto que o havia atingido caiu como uma árvore em cima dele.

 

Capítulo Trinta e Três


Tristan abriu os olhos e sorriu para o rosto de Isobel pairando sobre o dele.

— Bom dia, meu raio de sol.

Ela sorriu de volta e passou um pano no seu lábio. Ele se encolheu.

— É noite. — Ela disse suavemente. — Você está desacordado há um quarto de hora. Cam trouxe você para a cama. Ele está acompanhando Annie para o seu quarto e voltará em breve. Ele está preocupado com você.

Ah, a briga abaixo das escadas. A lembrança voltou a Tristan lentamente. Por que diabos ele bebeu vinho? Isso diminuiu os seus reflexos e sua inteligência.

— Você estava preocupada comigo também?

Ela balançou a cabeça e colocou o pano na testa dele.

— Você já foi atingido muitas vezes, se essas histórias que você contou são verdadeiras.

— Elas são. — Assegurou Tristan, ficando um pouco agitado pelo fato de que ela nem estava preocupada com ele. — Mas isso não significa que eu não possa ser gravemente ferido pelo punho de um gigante.

— Tristan, você está de mau humor. — Ela se inclinou para trás para mergulhar o pano em uma tigela de água e lançou-lhe uma careta irritantemente zombadora. — Aquele homem terrível te machucou mais do que eu gostaria de dizer.

Tristan sorriu para ela, mas não era um olhar feliz.

— Mesmo que ele colocasse uma lâmina na minha garganta, ela não cortaria tão acentuadamente quanto a sua língua.

Ele tinha certeza de que ouviu o tilintar de sua risada, mas a voz de Cam da porta o distraiu.

— Você está acordado! — Ele abriu um caminho apressado até a cama com Tamas animado nos seus calcanhares. — Eu estava ficando alarmado quando você não acordou imediatamente.

— Você não viu o tamanho do imbecil que me atingiu, então? — Tristan respondeu incrédulo.

— Ele não era tão difícil de derrubar. — Todos olharam para Tamas com uma mistura de nova admiração e preocupação.

— Vamos. — Isobel deixou o seu lugar ao lado dele e empurrou os seus irmãos em direção à porta. — Deixe-o descansar. Ele precisará de seu juízo amanhã, quando nos encontrarmos com os comerciantes. — Ela se inclinou para lhe dar um beijo de boa noite e depois pairou sobre ele por mais um momento. — Eu teria batido no bruto na cabeça com a cadeira de Tamas, se ele ousasse apontar qualquer coisa para você, exceto o seu punho.

Tristan sorriu para ela quando se afastou, ignorando a dor de seu lábio cortado.

— Vou estar com vocês em um momento. — Cam disse a ela. — Gostaria de conversar com Tristan.

Isobel assentiu e pegou Tamas pela mão para sair.

— Tamas. — Tristan os deteve. — Estou agradecido por você ter lutado do meu lado esta noite.

Milagre dos milagres, Tamas sorriu para ele e depois olhou para sua irmã.

— Estou com sede. — Ele reclamou quando ela fechou a porta.

Quando estavam sozinhos, Cameron permaneceu quieto e pensativo enquanto Tristan se sentava e balançava as pernas ao lado da cama.

— Inferno, eu odeio beber.

— Tristan? Você manterá a sua palavra e se casará com ela?

— Claro. Eu sempre mantenho a minha palavra.

Quando Cameron começou a andar na frente dele, Tristan desviou o olhar para impedir que a sala se movesse.

— Não se preocupe com os meus parentes, tenha certeza de que vou lidar com eles. — Disse ele. — O meu pai não é tão impiedoso como todos acreditam. Você ficaria surpreso ao saber quem o meu irmão Rob trouxe para Camlochlin recentemente e a fez sua esposa. Não se preocupe com as coisas, vou resolver todas elas.

Tristan estava agradecido quando Cam parou de andar e se mover o quarto com ele. Agora, ele estava parado como uma vara e olhou para Tristan com algo parecido a temer nos seus olhos.

— Há algo que preciso lhe dizer. Antes de se casar com a minha irmã, você deve saber a verdade.

Tristan se levantou e foi em sua direção.

— O que é?

— Eu não posso mais guardar isso comigo por mais tempo. Sempre que você fala dele, o peso se torna mais pesado para mim, e agora não é apenas pelo meu pai, mas também por ele.

— Por quem?

— O Conde. O seu tio. Fui eu quem o matou. Meu pai tomou o golpe de espada pelo o que eu fiz.

Tristan parou de se mover. Ele parou de respirar. Em um instante, imagens do corpo flácido no chão do seu tio em Campbell Keep, inundaram os seus pensamentos, a sua mãe e a sua tia chorando de angústia, o seu pai prometendo matar todos os Fergusson. Ele balançou a sua cabeça. Não, Cam não poderia ter sido responsável por isso.

— A vida que eu conheci terminou naquele dia.

Cameron fechou os olhos, incapaz de encará-lo.

— Como a minha.

O sangue de Tristan esfriou. Ele não queria ouvir a terrível confissão de um rapaz que ele amava como irmão. Ele não queria pensar na culpa que Cameron carregara durante uma década pela morte de seu pai. Ele apenas sentiu a sua própria dor borbulhando, vir à tona do lugar em que a tinha mantido desde aquela noite fatídica. Ele havia perdido muito, e o homem que o havia tirado estava diante dele agora.

Ele agarrou o colarinho de Cameron com as duas mãos e o arrastou para mais perto.

— Eu... — O irmão de Isobel não tentou escapar da raiva que viu nos olhos de Tristan. Ele desviou o olhar dele, pronto para receber o seu castigo.

Não veio. Tristan já estava calculando a tenra idade de Cam no momento da flechada. Ele era uma criança! Jovem demais para saber...

— Oh, inferno, Cam. — Tristan soltou a sua camisa e o puxou para um abraço apertado. — Me perdoe.

— Não, irmão, sou eu quem precisa de seu perdão. Foi eu quem roubou a sua família de um homem tão bom.

Soltando-o, Tristan caiu de volta na cama. Meu Deus, se seu pai alguma vez souber disso...

— Como isso aconteceu?

— Estava escuro. — A voz de Cameron tremeu de tormento quando ele falou a terrível verdade em seus lábios e, finalmente, em seu coração também. — O meu pai estava gritando. Eu tinha medo que os homens saíssem da fortaleza e o matassem. Atirei minha flecha na esperança de assustá-los. Eu não quis matá-lo. Não queria matar ninguém.

Tristan soube naquele momento que os ideais nobres que seu tio lhe ensinara eram os certos. Ele estava certo sobre a luta, correto em suas opiniões contra a vingança.

— Você era uma criança. — Disse ele calmamente. — Não foi culpa sua.

— Entenderei que você tenha o dever de contar ao seu pai. Mas Isobel... ela está com medo.

Tristan olhou em direção à porta. Ela temia que ele descobrisse e corresse de volta para contar ao seu pai. A sua cautela com ele, a sua desconfiança... faziam sentido agora. Ela pensara que essa verdade era o que ele buscava. Ela estava certa em esconder isso dele. Ele teria se esforçado mais para não a amar se soubesse que a ira de seu pai contra os seus parentes poderia ser reacendida por esse segredo. Callum MacGregor havia matado sete dos homens Fergusson que foram em Campbell Keep naquela noite. Ele os matou apenas por estarem lá. O que ele faria se descobrisse que a seta que perfurou o coração de seu cunhado o irmão de sua esposa, ainda estava vivo? A mãe de Tristan tinha o direito de saber quem havia matado o seu irmão?

Ele começou essa busca para encontrar honra, para acabar com a dor que ambas as famílias haviam sofrido. Ele havia encontrado muito mais. Ele nunca mais perderia alguém que amava por esse trágico acidente. A jornada ainda não havia terminado, mas tornara-se mais difícil.

Se a honra verdadeira fosse fácil de conseguir, Tristan, a voz paciente de seu tio sussurrou em seus pensamentos, a maioria dos homens já a teria alcançado.

Ele voltou-se para Cameron no momento em que a porta do seu quarto se abriu. Tamas estava do outro lado, com a sua funda pendurada nos dedos, os olhos arregalados com uma mistura de medo e excitação.

— É melhor você vir rápido. O seu pai acabou de chegar.

 

 

Capítulo Trinta e Quatro


— Vou perguntar novamente, Senhorita Fergusson. Onde está o meu filho?

Isobel olhou para cima, passando por um peito largo envolvido em um plaid das Highlands, além de uma mandíbula cinzelada da cor de granito e igualmente inflexível, com duros olhos azuis brilhantes que escaldavam a sua alma. Olhos que invadiram os seus sonhos de pesadelos na infância.

— Ele... — O poderoso Laird MacGregor fez uma pausa para apertar a sua mandíbula em torno das palavras que ele claramente achava difíceis de pronunciar. — Ele ainda vive?

Isobel quase tropeçou nos pés, tentando se afastar dele. A bebida que ela ainda carregava para Tamas se derramou em seu kirtle. Uma mão grande de algum lugar à sua direita a firmou antes que ela caísse em seu traseiro.

— Cuidado, moça.

O seu salvador parecia Tristan. Ele falou as mesmas primeiras palavras que Tristan havia falado para ela, mas esse homem era maior, mais amplo e menos feliz em vê-la do que Tristan quando a encontrou e não a sua irmã no jardim do rei naquela primeira manhã.

— Não pretendíamos encontrá-la tão repente. — Embora as palavras dele fossem gentis o suficiente, os seus profundos olhos azuis, tão duros quanto os do diabo MacGregor, brilhavam para ela por trás de uma franja de cílios pretos. — Não esperávamos encontrá-la aqui. O meu irmão está com você?

O seu irmão. Esse tinha que ser Rob MacGregor, o mais velho dos filhos do diabo. Mas quem eram os outros dois Highlanders se levantando de suas cadeiras? Onde estavam os outros clientes? Provavelmente, Isobel respondeu a si mesma, todos eles fugiram por suas vidas ao ver o Laird sanguinário.

— Srta. Fergusson. — A sua forte voz alcançou as suas orelhas como um trovão. — Nunca na minha vida machuquei uma moça. Quero uma resposta sua.

Isobel não ia dar uma para ele. Ela não conseguia. Um raciocínio claro e lógico a abandonou e a deixou com pânico frio e duro. Ela tentou se soltar do aperto de seu captor, mas os dedos dele não se mexeram.

— Pai. — Tristan gritou da escada. — Que diabos você está fazendo aqui? — Sem esperar por uma resposta, ele passou por seu pai e olhou para o seu irmão. — Solte ela.

Só depois que Rob obedeceu, Tristan se voltou para o Laird do clã.

— Como você me encontrou?

— Paramos para saciar nossa sede no caminho até os Fergusson. — O seu pai ergueu um copo na mão como se quisesse provar as suas palavras verdadeiras. — A esposa de Rob nos disse onde você deveria estar, quando a sua mãe começou a temer que estivesse morto.

Tristan fez uma careta penetrante para o seu irmão, que apenas deu de ombros, sua expressão inalterada.

— Então você me caçou como uma criança?

— Você partiu para as terras dos nossos inimigos quase um mês atrás, Tristan. — Argumentou o seu pai. — Você pensou que eu não tentaria descobrir o que aconteceu com o meu filho?

Tristan parecia apenas levemente arrependido.

— Como você pode ver, eu estou bem.

— O que diabos aconteceu com o seu lábio? — Um dos outros Highlanders deixou a sua cadeira e estreitou os olhos frios e cinzentos no rosto de Tristan.

— Uma briga. — Tristan disse a ele.

Com a sua curiosidade aguçada, o Highlander levantou uma sobrancelha escura.

— Algum osso quebrado?

— Não, Will, apenas o lábio.

— Você chama isso de luta? — Will zombou e se afastou, sem mais interesse.

— Filho. — Disse o seu pai, recuperando a atenção de Tristan e Isobel. — Por que você veio aqui?

Tristan virou-se para ela.

— Para vê-la. E você deve saber... — As suas palavras foram interrompidas quando Will de repente saltou até as escadas. Isobel virou-se a tempo de vê-lo agarrar a funda de Tamas de sua mão e puxá-lo na parte de trás de sua camisa.

— Um dos seus? — Ele perguntou a Isobel, enquanto o irmão dela pendia dois centímetros do chão.

— Droga, Will. — Tristan veio em defesa de Tamas. — Largue-o seu idiota.

— Ele estava pronto em disparar essa coisa em você!

— Largue-o seu idiota. — Tristan repetiu com mais força. Quando o bruto alto o soltou, Tamas levantou o pé e o chutou na sua canela, depois correu para o lado da sua irmã.

— Sorte sua, — Disse Will, mancando de volta para a cadeira. — Que eu não machuco crianças.

Isobel deu um suspiro profundo de alívio e puxou a orelha de Tamas com força suficiente para fazê-lo gritar.

— Rob. — O Laird rosnou, olhando as escadas. — Há mais um a sua esquerda. Pegue a sua espada.

Cameron levantou as suas mãos, quando Rob o alcançou.

— Eu não carrego uma espada.

— Você deveria. — Rob disse a ele, e o puxou para frente.

Isobel já teve o bastante. Quem esses MacGregors pensavam que eram? Ela não se importava se todo homem em Dumfries tinha medo deles. Ela teve medo a vida inteira e estava condenada e cansada disso.

Erguendo as saias sobre os tornozelos, marchou direto para Rob e deu um beliscão no braço dele.

— Tire as suas mãos do meu irmão, malfeitor. Eu aviso, não direi duas vezes.

Tristan provavelmente teria sorrido para ela se tivesse sido tão ousada com ele, mas este não vacilou quando ela o beliscou, nem ele soltou o seu irmão.

— Você é surdo ou tem uma cabeça terrivelmente dura? — Ela apertou as suas mãos nos quadris e fez tudo o que pôde para controlar o aperto crescente em seus pulmões.

— Cabeça dura. — Will riu da cadeira. — Agora isso é um eufemismo, se alguma vez ouvi um.

Quando Rob ainda não soltou Cam, Isobel virou-se para o Laird e inclinou o queixo para ele, depois desejou que não tivesse. O seu olhar era tão intenso e poderoso que envolveu os seus nervos e acelerou a sua respiração. Ela entendeu por que os exércitos fugiam dele, por que o próprio Cromwell nunca o perseguiu.

Era preciso toda a coragem que ela possuía para falar com ele, mas estava determinada a manter-se firme do jeito que não pode por seu pai.

— Diga a ele para tirar as suas mãos do meu irmão neste instante. — Ela sabia que Tristan tinha vindo atrás dela quando o olhar de seu pai se ergueu. Ela não queria a proteção dele. Não nisso. — Eu não tenho mais medo de você.

O MacGregor olhou para ela novamente.

— Estou contente de ouvir isso. Rob, deixe o rapaz.

Era imaginação dela, ou os olhos dele se suavizaram quando ele falou? Se o fez, durou apenas um momento.

— Tristan, por que você ainda está aí? Pegue o que você veio aqui e vamos para casa.

— Eu não vou deixá-la. — Tristan a puxou para ele e fechou os dedos em volta dos dela.

O seu pai notou o gesto com alarme, acalmando o seu olhar ardente.

— Você não pode...

— Sim, eu posso. Ela vai ser a minha esposa.

Os joelhos de Isobel quase cederam com a inesperada confissão de Tristan. Ela preferiria que ele tivesse tempo para preparar os seus parentes para o que haviam feito, mas Tristan não era de cautela. Lentamente, ela se virou para encará-lo por colocar todo esse desastre em movimento. Ele sorriu para ela, de alguma forma, acalmando as suas emoções agitadas.

O seu pai não era tão facilmente convencido. A boca do Laird estava aberta, o restante de suas palavras estava presa entre descrença e raiva. Os olhos dele percorreram ela, os seus dois irmãos, e depois voltaram para Tristan.

— De todas as mulheres... — Ele moveu o queixo com as palavras que queria dizer, mas não o fez. — Você acorda pelas manhãs pensando em maneiras de me desafiar?

O riso vazio de Tristan esfriou o ar e apertou o coração de Isobel.

— Claro que não, pai. Há muito mais coisas interessantes para fazer em um dia do que aquém de suas expectativas.

A estalagem estava quieta, exceto pela sala, e o mais jovem Highlander, que até agora permaneceu em silêncio, sussurrando em descrença de que Tristan finalmente iria se casar.

— Você fica aquém das suas próprias expectativas, filho, não das minhas.

— Você está certo nisso, também. — Tristan disse a ele, novamente inesperadamente. — Mas eu mudei, e ela é a razão disso. Não vou deixá-la.

O seu pai parecia querer dizer mais, mas ele balançou a cabeça e olhou para os céus.

— Não é suficiente os anos que o seu irmão tirou da minha vida quando ele escolheu a sua esposa?

Surpreendentemente, o humor de Tristan retornou.

— Pelo menos você não precisa se preocupar com um exército holandês atacando Camlochlin novamente.

O seu pai não sorriu de volta.

— Prefiro enfrentar um exército do que a sua mãe.

O sorriso de Tristan desapareceu.

— Eu sei.

— Boa, porque não vou lhe dizer que você entregou o seu coração a uma Fergusson. Vamos. Ambos peguem as suas coisas para que possamos deixar esse covil de assassinos presbiterianos.

— Não, Tristan! — Isobel protestou imediatamente. Ele simplesmente não podia querer que ela fosse a Camlochlin com ele. Oh, ela pensou que poderia se casar com ele. Ela disse a si mesma que eles poderiam encontrar a felicidade juntos, mesmo que ele descobrisse a verdade. Sabia em seu coração que ele nunca machucaria Cam. Mas ver o seu pai diante dela, tão imenso, tão ameaçador quanto quando ela tinha dez anos, a convenceu de que nunca haveria nada entre as famílias deles além de ódio. Enviar provisões todos os anos era um gesto gentil, mas não era o mesmo que perdão.

— Eu não posso ir com você!

— Isobel, meu amor... — Ainda segurando a mão dela, ele persuadiu o seu coração.

— Me perdoe. — Ela implorou. Não suportava pensar em ir e olhar nos olhos de sua mãe. O que ela veria? Acusação, ódio mais amargo. Os seus parentes, todos infelizes com a presença dela. Ela não tinha considerado tudo isso antes. Se tivesse, poderia ter se enganado mais uma vez, pensando que poderia realmente enfrentar todos eles, pelo amor de Tristan. Agora, porém, depois de ouvir na voz do Laird a quantidade de controle necessária para ele falar com ela, muito menos ser um pouco cortês, sabia que não podia fazer isso.

— Eu não irei lá para ser cuspida. — Ela disse, cobrindo os dedos entrelaçados com a outra mão. — Sei que foi uma grande perda para eles, mas nenhum de nós saiu ileso.

— Você está certa. — Ele disse a ela. — E é por isso que você deve vir comigo. Para que eles possam saber também. É a única maneira de começar de novo, Isobel. Para todos nós.

Ela balançou a cabeça, mas sabia que acabara de perder a batalha. Pois entendeu naquele momento quem ele era e por que precisava consertar as coisas. Ela queria isso para ele. Ele merecia. Ela quase amava o seu tio Robert pelo homem que ele havia ensinado a Tristan a ser antiquado. Ela iria com ele e faria o que pudesse para ajudá-lo em sua busca, mas nunca poderia se casar com ele. A união deles uniria suas famílias, como fazia agora, muitas outras vezes, o suficiente para descobrirem a verdade por conta própria e ela nunca poderia se arriscar.

Ela assentiu com a cabeça e observou o lindo sorriso dele tomar conta dele, sabendo que o que eles pensavam nunca realmente poderia ser. Não com o segredo de sua família sempre ameaçando destruir tudo o que Tristan havia realizado.

— Eu também vou.

Isobel limpou a umidade dos olhos e olhou para Cameron.

— Você não vem. Vá para casa com...

— Com a permissão do Laird, é claro.

Callum MacGregor piscou para a leve reverência de seu irmão e depois assentiu, apertando a mandíbula como se já tivesse se arrependido de sua resposta, mas não podia voltar atrás.

— Cameron, eu o proíbo! — Isobel empurrou Tristan para fora de seu caminho, mas Cam já estava no meio da escada.

— Devo dizer a Annie para não se preocupar. Tudo ficará bem.

O MacGregor observou-o partir e depois trocou um olhar de reconhecimento com o seu filho mais velho. Juntos, eles olharam para Tristan, reconhecendo o seu trabalho.

— Tamas. — Isobel empurrou-o para a frente. — Vá com ele e diga aos Kennedys para levá-lo para casa e avisar Pat ...

— E deixar de ver um castelo? — Tamas falou. — Eu vou com você. — Quando ela abriu a boca para ordená-lo, ele a deteve. — Eu não ia te contar isso, mas Roger Kennedy me deu um soco na cabeça na noite passada. Duas vezes. Não acho que ele goste, muito de mim

— Senhor Fergusson! — A voz do Laird ecoou pela estalagem chamando Cameron e surpreendendo ela e Tamas. — Estamos partindo! Agora!

 


Capítulo Trinta e Cinco


— Qual é o problema com ela?

Tristan olhou para Isobel caída contra a árvore a alguns metros de distância do fogo, depois para o seu pai em pé sobre ela.

— Ela está com problemas respiratórios. — Ele voltou para o chá de butterbur fervendo sobre as chamas e estava contente por ela ter se lembrado de embalá-lo para a viagem a Dumfries. Esse ataque não era tão ruim, quanto o que ela teve em casa na noite em que Andrew a perturbou, mas Tristan queria lhe dar um chá antes que a sua respiração se tornasse mais fraca.

— Está quase pronto. — Disse Cam, agachando-se ao lado dele.

— Ela está doente, então. — O seu pai murmurou, balançando a cabeça para ela. Isobel olhou para ele em troca.

— Não. — Tristan deu a ele um olhar duro também. — Isso só acontece com ela às vezes. Acho que andar a cavalo o dia inteiro irritou os seus pulmões. — E ver os seus parentes sendo violentos com ela na estalagem provavelmente também não ajudou. — Ela ficará melhor em breve.

O seu pai emitiu um pequeno grunhido, como se tivesse uma rápida compreensão.

— Vamos acampar aqui por essa noite, então.

Tristan o observou andar de volta para onde Rob estava sentado no tronco de uma árvore. Os dois compartilharam algumas palavras antes que Rob se levantasse para aliviar os cavalos.

— Estou feliz que estamos descansando. — Cameron olhou para Tristan e sorriu. — Minhas coxas e traseiro parece que alguém bateu com uma marreta neles.

Sim, Tristan sabia que os Fergusson não estavam acostumados a ficar na sela por tanto tempo. A pobre Isobel deveria estar com dor ao cavalgar com ele até Dumbarton, mas ela não reclamou. De fato, ela não tinha dito muita coisa o tempo todo.

— Minhas desculpas por isso, Cam. A carroça nunca chegaria a Camlochlin. Sou grato aos Kennedys por nos deixar usar os seus cavalos.

Cam encolheu os ombros.

— É melhor assim. Henry e Roger devolverão nossos produtos a Patrick, e Annie garantirá que estamos seguros. Embora não goste de pensar em viajar tão longe com Tamas no meu colo.

— Eu também não gosto, Cam. — Tamas reclamou do outro lado do fogo. — Eu quero o meu próprio cavalo.

— Este aqui. — Will falou lentamente, apontando para Tamas antes de se sentar ao lado dele. — Está indo para colocar Camlochlin em seu traseiro maldito. Você deveria tê-lo deixado na estalagem.

— E eu deveria ter lançado a minha pedra em sua cabeça em vez de no seu Laird.

Will apenas sorriu para Tristan, o seu argumento comprovado.

Ignorando a maioria deles, Tristan derramou o chá de Isobel em um pedaço de casca oca, soprou sobre ele e depois deu a ela.

— Não deixe que ele o machuque. — Disse Isobel entre goles.

— Você não precisa se preocupar com Will. Ele é um companheiro de boa índole, mesmo com toda a sua arrogância.

Isobel ergueu os olhos do chá e suspirou.

— Estava falando de Tamas causando lesão a Will, e não o contrário.

Tristan riu baixinho e acariciou a sua bochecha enquanto ela bebia.

— Tudo vai ficar bem, meu amor. Confie em mim, sim?

— Eu confio. — Disse ela, fazendo o seu coração bater em seu peito.

Ele se inclinou para beijar a sua testa, depois se virou para olhar diretamente para outro par de olhos verdes brilhantes.

— Eu nunca teria acreditado se não visse por mim mesmo.

— Vá embora, Finn. — Tristan deu-lhe um empurrão brincalhão que derrubou o jovem Highlander sentado no seu traseiro. — Seu dever é seguir Rob, não eu.

Finn se endireitou e apontou o seu sorriso largo para Isobel.

— Ainda não é meu dever. — Explicou, embora ela não tivesse perguntado. — Mas espero um dia ser o novo bardo do Laird. Sou Finlay Grant, filho do comandante Graham Grant, irmão do capitão Connor.

Tristan empurrou-o para cair uma segunda vez de traseiro no chão e depois sorriu quando Isobel riu. Ela estava se sentindo melhor.

Finn também pensava o mesmo, e a agraciou com seu sorriso mais doce.

— Você pode me chamar de Finn.

— Finn, a Lady é a razão de você está me olhando assim?

— É difícil acreditar que você perdeu o seu coração para uma moça, Tristan. É vai deixar muitas em Camlochlin com o coração partido. Eu apostaria... — A sua voz sumiu quando Tristan apontou o seu olhar mais escuro para ele.

— Sim, então. Estou indo. — Levantando-se, Finn limpou o seu plaid e ofereceu a Isobel um último sorriso de tirar o fôlego. — Ele geralmente não é tão azedo. Podemos conversar mais tarde quando chegarmos em casa.

— Não acredite em uma palavra do que ele diz sobre mim. — Tristan disse a ela, enquanto Finn se juntava aos outros ao redor do fogo.

— Eu já sei que você é libertino, Tristan MacGregor. — Disse ela suavemente, tocando o dedo na sua covinha.

— Não, não mais. — Prometeu, virando a cabeça para beijar os seus dedos. — Esse não sou eu mais.

— Eu sei disso também.

Inferno, como ela conseguiu envolver o seu coração com tanta força em torno de seus delicados dedos calejados? Na verdade, ele era um libertino, levando moças para a sua cama de Skye a Inverness, pegando o que elas ofereciam sem dar nada em troca. Nunca, nunca o seu coração. Como ele poderia dar o que não sentia? O seu coração parou de bater por um único momento, quando percebeu que o seu tio nunca iria se levantar do chão e era por causa dele que ele estava morto. Quando começou a bombear novamente, bateu no peito de alguém diferente. Ele havia mudado, perdido e caindo sem uma âncora, sem saber mais como sentir alguma coisa. O seu pai esperava que ele fosse forte, precisava que ele fosse forte pelo bem de sua mãe.

A vida continuou em Camlochlin, pelo menos para a maioria. A perda de seu irmão também mudou para sempre Kate MacGregor. Eventualmente, a sua risada ecoou pelos corredores mais uma vez, mas ela guardou os seus sorrisos mais quentes para Tristan. Eles nunca haviam falado sobre por que ele havia escolhido um caminho tão imprudente. Ela sabia que era mais fácil fingir.

— Você me fez sentir o meu coração novamente, Isobel.

— Tristan. — O seu pai o chamou, quando Tristan abaixou a sua boca na dela. — Traga-a ao lado do fogo e venha comer conosco. A sua mãe e Maggie embalou comida suficiente para um exército.

A mãe dele. Como ele iria contar a ela sobre Isobel? E pior, a preocupação que o atormentara o dia inteiro, e se o seu pai descobrisse o segredo dos Fergusson? Até onde ele iria proteger Cam para proteger Isobel? Olhou para o seu pai novamente. Ele teria que protegê-los? Ele não sabia como. Ele não conhecia o homem sentado a alguns metros dele.

— Venha. — Ele sorriu para Isobel. — Antes que ele mande Finn de volta.

— O seu castelo está longe? — Tamas perguntou, puxando dos seus dentes um pedaço de carne seca depois que todos se sentaram.

— Sim, está sobre as montanhas, sobre lagos profundos e além dos penhascos enevoados.

— Penhascos? — Os olhos sonolentos de Tamas se arregalaram de emoção.

— Penhascos estreitos. — Will respondeu, jogando uma haste de maçã por cima do ombro. — Do tipo que rapazes pequeninos têm dificuldade em guiar os seus cavalos e cair em uma morte horrenda.

— Diga isso para Cam. — Tamas deu de ombros, imperturbável. — Ele estará guiando o cavalo.

Tristan assentiu quando Will lançou-lhe um olhar cheio de surpresa, admiração e pena.

— Estamos trabalhando nisso.

— É como você, Tristan.

Todos se voltaram para Callum MacGregor, descascando uma pera com a sua adaga.

— O que é que eu sou também? — Tristan encontrou o seu olhar brilhante sobre as chamas quando o seu pai finalmente levantou os olhos de sua atividade.

— Ficar longe quase um mês. Não considerar o que você nos fez passar. Eu sei que você é um homem, mas é um imprudente. Não podemos deixar de nos preocupar com o fato de você ser morto por algum marido, ou pai ou irmão enfurecido. E de todos os irmãos está o Patrick Fergusson. Quando Davina disse a Rob onde você poderia ter ido, nós... — Ele não terminou, mas desviou o olhar para a escuridão das árvores.

— Me perdoe, pai.

Um galho estalou no fogo, o único som ouvido quando Callum virou-se para o seu filho.

Tristan quase sorriu quando o seu pai piscou para ele como se não conhecesse o homem sentado do outro lado das chamas. Ele não conhecia, e Tristan esperava corrigir isso também.

— Por causa dele. — Ele apontou para Tamas — Eu sei o que eu fiz com você durante todos estes anos, e peço o seu perdão por isso.

— Concedido. — Disse o seu pai, depois limpou a garganta para vencer a ternura que suavizava o olhar. — Inferno, o nanico deve ser realmente um desordeiro.

— Muito pior do que eu já fui. — Disse Tristan, rasgando um pedaço de pão preto ao meio e entregando um pedaço a Isobel.

— Pior do que quando você colocou cardos venenosos na cama de Colin? — Rob perguntou, depois riu com Will quando o seu primo se lembrou do incidente e jogou a cabeça para trás, uivando de rir.

Tristan deu a Tamas um sorriso sinistro.

— E você pensou que eu não fiz isso antes.

— Ainda não seria igual ao que eu fiz com você. — Respondeu uma Tamas com outro encolher de ombros.

— Och, inferno, ele é corajoso! — Will deu um tapinha no ombro do menino, quase o colocando no colo de Finn. — Conte-nos o que você fez com ele, rapaz.

— Bem, — Começou Tamas, poupando a Tristan um sorriso triunfante primeiro. — Eu atirei uma pedra na sua testa com a minha funda e o derrubei.

Todos os quatro Highlanders se voltaram para Tristan em uníssono, com a boca escancarada.

— Há mais, — Tristan lhes disse, sem vergonha de seu sofrimento nas mãos de um oponente tão pequenino. Ele sabia que os guerreiros ao seu redor não ficariam zangados com Tamas, mas apreciavam a sua coragem impetuosa. Ele estava certo, é claro, e se aproximou de Isobel enquanto os seus parentes riam das vespas e da vara quebrada. Ele provavelmente seria provocado por semanas, mas sorriu e pegou a mão de Isobel na penumbra do fogo.

— Eles gostam dele. É um bom começo.

Isobel desejou que ela fosse tão otimista quanto Tristan, mas cada vez que olhava para o Laird MacGregor, ela o via enterrando a espada em Cam como fez com seu pai, se ele descobrisse a verdade. Como ela poderia sorrir com ele, rir com ele? Ela não tinha falado a verdade quando disse a ele que não tinha mais medo dele. Ela estava aterrorizada com o que ele ainda poderia fazer.

A sua risada atraiu os seus olhos para ele. Querido Deus, mas ele era um homem imponente. Mesmo sentado, ele se elevava sobre todos os outros, exceto seu filho Rob. Onde Tristan era construído para velocidade e agilidade, o seu pai e seu irmão eram construídos para o combate. As suas pernas nuas eram longas e musculosas sob a bainha na altura do joelho do seu plaid. Os seus ombros eram largos e erguidos com orgulho e confiança.

Como se sentisse os olhos nele, o Laird inclinou a cabeça e olhou diretamente para ela. Isobel se virou.

— Você está se sentindo mal de novo?

Ele não tinha concedido uma palavra para ela em sua jornada até agora, e Isobel não queria lhe falar agora. Ela balançou a cabeça.

— Eu estou bem.

— Você parece tão pálida quanto a lua. — Disse ele, convidando os outros a se voltarem para ela também.

Isobel encolheu-se.

— Estou cansada, isso é tudo. — Resumidamente, ela encontrou o olhar do Laird novamente, pretendendo dar a ele o seu olhar mais determinado. Ele sorriu para ela. Não era nem pena nem zombaria. Nem era o tipo de sorriso curvado que Tristan possuía, mas suavizou os ângulos firme de seu rosto apenas o suficiente para revelar um outro homem escondido atrás da aspereza.

— Melhor dormir então, Bel. — Ela piscou e se virou para Tamas quando ele falou. — Você sabe o quão rabugenta fica de manhã quando não dorme o suficiente.

Ela estava prestes a adverti-lo quando Will deu um tapinha no ombro dele.

— Não fale assim com a sua irmã, nanico.

Isobel apertou a sua mandíbula. Felizmente para ele, havia algo em William MacGregor que ela gostava. Ele possuía o mesmo riso despreocupado de Tristan, só que o dele era tingindo com um pouco de crueldade, como se ele pudesse rir e cantar uma cantiga alegre das Highlands enquanto cortava a garganta do inimigo. Ela deveria manter Tamas longe dele apenas por esse motivo, mas se atingisse o seu irmão mais uma vez, se ele estava certo ou não, ela iria bater na sua cabeça com um pau.

Por instinto, ela estendeu a mão para detê-lo quando Tamas pegou um besouro do chão e colocou-o cuidadosamente no pão de Will, enquanto o Highlander se virava para concordar com algo que Rob disse. Tristan o viu fazer isso e chamou Will quando ele levou o pão à boca, mas já era tarde demais. Mastigou ruidosamente o besouro, Will ficou três tons mais pálido e Tamas rolou de lado rindo de alegria.

— Sim, continue rindo. — Will disse a ele, cuspindo uma perna de besouro na boca. — Amanhã você cavalga comigo. — Ele se virou para Tristan, uma sombra de má intenção escurecendo os seus olhos brilhantes. — Ele cavalga comigo.

— Sim. — Tristan concordou facilmente, oferecendo a Tamas um olhar de pena.

Isobel olhou para ele.

— O que você quer dizer com sim? — Então era assim que era então, com Tristan se afastando e deixando a sua família fazer o que quisessem com a dela? Ela se irritou. Ela os protegeria, como sempre.

Virando-se para Will, ela reuniu a sua coragem ao seu redor como um manto e falou suavemente, de forma significativa.

— Se você se atrever a machucar um fio de cabelo na cabeça do meu irmão, juro que o envenenarei...

— Talvez. — Will se virou para Tamas no meio da bronca tranquila de Isobel. — Você não é tão valente depois de tudo, se você precisa de sua irmã para te proteger.

Imediatamente, Tamas estufou o peito.

— Eu posso cuidar de mim mesmo. Amanhã cavalgarei com você e provarei.

Isobel queria gritar com os dois, especialmente Will. As suas ameaças falharam em impressioná-lo ou interessá-lo nem um pouco. E que inteligente ele usar os seus instintos maternais contra ela. E Tamas! Meu Deus, Tristan a avisou de que ele estava seguindo um caminho perigoso. Ele deliberadamente provocou a raiva dos homens. Algum dia isso poderia matá-lo.

— Ele é orgulhoso! — Ela disse rapidamente e com um pouco mais de humildade, na esperança de anular o acordo que seu irmão havia feito.

— Muito destemido para a sua própria segurança. — Tristan prontamente acrescentou.

Isobel deixou escapar um suspiro de rendição. Ela se virou para Tristan sabendo que ele não estava tentando salvar Tamas de Will, mas de si mesmo. Atrás dele, Cam assentiu.

— Sim. — Ela finalmente admitiu em voz alta. — Ele é.

Tristan sorriu e a puxou para os seus abraços, descansando a testa contra a dela e falando baixo o suficiente para que somente ela pudesse ouvir.

— Ele deve cavalgar com Will.

Era uma das coisas mais difíceis que ela já havia feito, mas assentiu, confiando completamente a vida de seu irmão nas mãos de outra pessoa.

Felizmente, Tristan não era apenas alguém. Nenhum homem de honra jamais era.

 

 

Capítulo Trinta e Seis


Eles levantaram cedo na manhã seguinte, cerca de um quarto de hora depois Will descobriu que a sua sela tinha sido afrouxada durante os preparativos. Pelo bem de Tamas, ninguém comentou sobre a queda que Will teria levado se ele montasse.

Isobel agradeceu isso a eles.

O terreno era traiçoeiro ao longo da costa rochosa do Firth de Clyde, ou pelo menos era para o traseiro de Isobel. Ela ainda estava dolorida do dia anterior. Se não fosse o calor confortável de Tristan contra as suas costas, ela teria se encolhido o tempo todo. Quando se inclinou contra ele, os braços dele a envolveram, fazendo-a sorrir apesar do que havia pela frente. Logo, ela entraria no covil dos MacGregors e levaria Cam com ela.

— Não gosto quando você fica rígida em meus braços. — A sua voz, tão perto e forte contra a sua orelha, enviou uma ondulação em sua espinha. — Gostaria de tê-la sempre suave e disposta neles.

— E você sempre terá desse jeito. — Ela fechou os olhos e ronronou contra ele. Como ela o deixaria?

— Sim.

Ela ouviu o sorriso na voz dele e sorriu com ele.

— Você derrotaria todos os meus dragões por mim, cavaleiro?

— Sim, se você me deixar, farei.

Ele faria. Oh, como ela desejava que eles estivessem sozinhos para que pudesse virar na sela e beijá-lo. Por um momento louco, desejou que Camlochlin estivesse mais perto para que eles pudessem chegar lá e se trancar no quarto uma última vez.

Um cavalo trotou a seu lado e ela abriu os olhos e sorriu para Tamas quando ele e Will passaram por ela.

— Tristan?

— Sim, meu amor?

— Quando você começou a me amar? Quero recordá-lo sempre.

O grito de Tamas interrompeu a resposta de Tristan e esfriou o seu sangue. Ela se levantou e ficou horrorizada quando Will, depois de desmontar com Tamas pendurado no seu punho, caminhou até a beira da água e o soltou.

— Tristan! — Isobel ofegou, segurando a sua camisa. — Ele não sabe nadar!

O terror drenou a cor de seu rosto quando ele saltou do cavalo levando-a consigo. Ela estava logo atrás dele quando suas botas atingiram o chão e ele saiu correndo. Ele correu em direção à costa, saltando sobre rochas e enseadas estreitas, deixando Isobel e seus parentes boquiabertos sem nada para fazer além de observar. Sem parar o passo, ele mergulhou na água a poucos centímetros dos braços agitados de Tamas.

Isobel quase caiu de joelhos de alívio quando Tristan apertou o seu irmão no seu peito e começou a nadar de volta à costa. Ela tentou conter as primeiras emoções que a percorriam, mas quando viu o jeito que os braços de Tamas estavam enrolados firmemente em volta do pescoço de Tristan, ela teve que deixar as suas lágrimas caírem.

Alguém passou por ela. Ela olhou para cima e viu Laird MacGregor curvando-se sobre as rochas e estendendo a mão para separar o corpo gotejante de Tamas do de seu filho. Quando ele se endireitou, os seus olhos ardiam como brasas mortais em Will.

— Que seja o suficiente.

— Sim, Laird. — Respondeu Will sem discutir.

— Você está me ouvindo, menino? — Segurando Tamas pelos antebraços, o Laird gigante o sustentou em seu olhar nivelado. — É o suficiente!

— Sim, Laird.

Isobel piscou. Aquela era a voz de seu irmão, trêmula e obediente? Ela estendeu os braços para segurá-lo quando o Laird chegou até ela, mas ele a afastou do seu caminho e colocou Tamas por cima do ombro.

— Vou ficar com ele. — Disse ele. E então, não disse mais nada quando saltou para a sua montaria, colocou o seu irmão em seu colo e o envolveu em seu plaid.

Quando Tristan a alcançou um momento depois, ela o ajudou a tirar a camisa molhada e beijou o seu peito. Ele tinha salvado a vida de Tamas, assim como ele salvou John e Patrick, quando os Cunninghams os atacaram.

— Obrigada. — Oh, como ela amava esse homem. — Deixe-me colocar o seu plaid para secar.

Will os deteve enquanto voltavam para o cavalo de Tristan.

— Pensei que ele sabia nadar. Eu não sabia que...

— Não há nenhum dano, primo. — Tristan o aliviou rapidamente com um tapinha no ombro. — Ele está seguro.

Ele está seguro. Isobel olhou para onde Tamas estava aninhado nos braços de um dos homens mais perigosos da Escócia, e algo em seu coração amoleceu. Talvez o terrível Laird MacGregor não fosse tão terrível, afinal.

Cavalgaram por muito mais horas e, quando pararam para comer, Isobel se perguntou se ela voltaria a ver uma cama.

— Você tem seu próprio quarto em Camlochlin? — Ela perguntou a Tristan, esfregando sua parte traseira dolorida antes que ele a colocasse à sela, quando o descanso rápido terminou.

— Claro. É um castelo. Existem muitos quartos.

— Você acha que eu poderia tomar um banho quando chegarmos? Na verdade, nunca me senti tão suja.

Saltando atrás dela no cavalo, ele baixou a boca no seu ouvido e enviou tremores quentes para a barriga dela quando sussurrou.

— Só se eu puder me juntar a você.

— No banho? — Ela se virou nos braços dele, e seu sorriso se aprofundou com o rubor percorrendo através do canal do seu nariz. A cor de seus olhos mudou de um quente marrom dourado para âmbar quando ele assentiu.

— No banho, no chão, contra a parede... onde quer que eu possa tê-la.

Os seus músculos doíam, mas não para descansar. Ela queria arrancar o seu plaid e prová-lo com a sua língua, os dentes. Ela queria ver o seu corpo ágil e nu, duro e pronto para ela, senti-lo afundar profundamente dentro dela, enquanto os seus dentes passavam por seu pulso. Lembrou-se de respirar, aspirando profundamente um pouco, apenas, para que ele se afastasse novamente quando deslizou a mão atrás da sua nuca e inclinou os lábios nos dela.

— Claro, temos que chamar o padre primeiro. Dei a Cam minha palavra de que nos casaríamos rapidamente.

O seu coração afundou. Ela rompeu o olhar com o dele. Como ela diria a ele? Como poderia contar a ele? Talvez fosse melhor se ela não o fizesse. Ele apenas tentaria convencê-la de que estava errada, e conseguiria facilmente, pois queria desesperadamente acreditar que o amor deles poderia conquistar qualquer coisa que viesse contra eles. Não podia, é claro. Tristan nunca poderia ser feliz com a sua família continuando a odiá-la. E se eles machucarem Cam...

— Isobel? — Ele falou o nome dela em um sussurro tranquilo e colocou os seus dedos sob o queixo dela para que ela o olhasse. — Eu sei o que é que traz medo a você. Eu...

— É uma missão grande. — Ela concordou com ele. — Mas farei tudo o que puder para ajudá-lo a entender. Se eu tiver que sorrir para um exército de MacGregors para fazê-los gostar de mim, farei isso. Eu o amo e quero que você seja feliz sempre.

O seu sorriso começou lentamente e depois se abriu tão largo e deslumbrante quanto o vasto céu sem nuvens. Ele se virou para o homem mais próximo que podia ouvi-lo e disse.

— Você ouviu isso?

— Eu ouvi. — Respondeu o seu pai, mas Tristan já havia se virado para ela.

— Ela me ama.

— Você está surpreso, então? — Ela riu suavemente contra os lábios dele.

— Sim, eu estou. Você se apega a suas convicções, moça. Era algo que a princípio me excitou, mas me aterrorizou mais tarde. Houve dias em que pensei que você sempre me odiaria.

— Mas você não desistiu. — Ela beijou a boca dele, tão perto da dela, amando-o mais do que jamais sonhou ser possível. — Mesmo quando eu te tratei mal.

— Como eu poderia? Daria o meu coração, minha vida. Porque ambos são seus.

Com que facilidade ele a fez esquecer. Quão facilmente ele a convenceu de que ela era tudo o que precisava em sua vida para ser verdadeiramente feliz. Ela queria acreditar. Ah, se ele não precisasse consertar o que acreditava ter errado. Se ao menos ela realmente fosse tudo o que ele precisava para ser feliz.

Outro cavaleiro passou por eles, a força de sua presença no cavalo arrastou o olhar de Isobel para o intenso azul. Ela sorriu para o futuro Laird do clã MacGregor.

— Você ouviu isso?

Rob olhou para Tristan primeiro e depois para ela.

— Sim. — Ele ofereceu a ela um sorriso tão quente quanto o de Tristan. — Eu ouvi. — Ele aproximou a montaria e se inclinou na direção do seu irmão. — O golpe é garantir que eles a ouçam.

Isobel sabia a quem ele queria dizer. Callum e Kate MacGregor. Rob não retornara recentemente a Camlochlin com uma esposa que o Laird não gostava? De repente, ela o viu sob uma luz totalmente nova.

— Você proclama amor por sua esposa diante deles?

— Eu o fiz, e ela fez por mim. É uma força que só um coração que conhece o amor pode suportar.

— Ele protege você. — Disse Isobel, enquanto Rob trotava em frente sem outra palavra.

— Ele protege todos que ama. É a paixão dele.

— Então. — Ela sorriu, virando-se para a frente no seu colo e aconchegando-se profundamente contra ele. — Ele não é tão diferente de você.

Ela permaneceu quieta pelo resto do dia, esquecendo o que havia pela frente e apreciando as vistas e os sons ao seu redor, o tom estridente das vozes dos Highlanders, as suas gargalhadas ruidosamente reverberando através das árvores, os batimentos cardíacos de Tristan contra o seu ouvido.

Cam parecia gostar de Finn, passando a maior parte do dia ao seu lado. Ele ouviu principalmente enquanto o jovem senhor Grant lhe dizia tudo o que havia para saber sobre a sua família e os MacGregors de Skye.

No terceiro dia, Cam falava a maior parte do tempo e, como Finn sempre cavalgava ao lado de Rob, o irmão de Isobel tinha um ouvinte adicional.

A julgar pelos trechos que ela ouviu quando instou Tristan a se aproximar deles, Cam falava principalmente de Patrick.

— Ele lavra a terra sozinho? — Ela ouviu Rob perguntar a ele.

— Ele faz de tudo para garantir que estamos quentes e alimentados.

— Uma boa característica. — Disse Rob, pensativo. — Sim, uma boa característica.

No final de sua terceira noite juntos, todos ainda estavam de bom humor para rir ao redor do fogo sobre os ferimentos que haviam recebido em uma batalha ou outra. Tristan riu de suas muitas uniões com a morte com o mesmo gosto que o resto deles, provando a Isobel, pelo menos, que ele possuía mais sangue de guerreiro do que imaginava.

Ela olhou através do fogo para onde o pai de Tristan estava sentado, pacientemente, respondendo ao turbilhão de perguntas que Tamas fazia para ele. Encorajada pelo tom indulgente do Laird, Isobel levantou-se de seu lugar e foi até eles. Ela sentou-se perto do seu irmão e acariciou os seus cabelos.

— Como você está?

Ele suspirou e revirou os olhos para o céu noturno.

— Bem.

— É difícil para mim... — Ela ergueu o olhar para o Laird MacGregor. — Deixá-lo vir.

— Qual a idade dele? — O Laird a surpreendeu perguntando.

— Ele tem onze anos.

As suas feições eram bastante impressionantes à luz do fogo e facilmente lidas. Isobel observou-o calcular os anos em sua mente. Quando ele concluiu, baixou o olhar para as chamas.

— Você o criou.

— Meu irmão e eu fizemos. — Sua voz tremia. Nunca em sua vida ela pensou que algum dia falaria com ele sobre o que havia tirado de sua família. — Somos sete. Patrick é o mais velho. — Ela estava quieta novamente. Agora que teve a chance de contar a ele, descobriu que seu veneno havia perdido a dor. O que ela poderia dizer? Que o odiava por matar o seu pai, quando foi culpa do seu pai que o Conde de Argyll morreu? Como ela poderia dizer-lhe que sua perda foi pior do que a perda que sua família tinha sofrido? Ela não podia, não mais.

— Tristan nos contou muito sobre Robert Campbell. — Disse ela calmamente, corajosamente. Havia coisas novas que queria que ele soubesse. — Tristan o amava muito. Ele ainda o ama.

— Eu sei. — Disse o pai de Tristan, olhando para onde o seu filho estava sentado.

— Qualquer outra coisa que for dito entre nós desta noite em diante, — Isobel se pressionou para a frente. — Desejo que você saiba que os meus irmãos e eu estamos profundamente arrependidos pelo que aconteceu.

Ele não olhou para ela novamente quando falou, a sua voz tão rouca e baixa que não tinha certeza se era ele falando ou o vento.

— Eu também estou.

 

Capítulo Trinta e Sete


Tristan tinha cruzado os estreitos de Kylerhea na costa leste da Ilha de Skye uma dúzia de vezes antes, quando tinha visitado moças no continente, mas nunca voltou com uma moça, e nunca elas partiram o coração de sua mãe. Cada momento que o aproximava de Camlochlin colocou outra pedra em seu peito. Ele disse a si mesmo repetidamente, enquanto viajavam em direção ao caminho de Bealach Udal, que tudo ficaria bem. As coisas sempre funcionavam a seu favor. Afinal, o que havia de tão terrível em querer acabar com uma disputa que seu tio nunca teria aprovado? Enquanto os seus pais nunca descobrissem a verdade, a sua mãe aceitaria os Fergusson, assim como o seu pai. Ela precisava.

Ele olhou para o Laird cavalgando a uma curta distância com o pequenino Tamas ainda enfiado no seu braço. Ele sabia por que essa visão trazia um sorriso ao seu rosto toda vez que ele olhava nos últimos cinco dias. Tamas ganhou a simpatia de seu pai. E para Tristan, era como se estivesse vendo Callum MacGregor pela primeira vez. Não como tutor, embora ele fosse um dos melhores. Os seus filhos eram testemunho disso. Não como líder, com mais responsabilidades empilhadas em seus ombros robustos do que qualquer homem comum poderia suportar. Os MacGregors de Camlochlin, que usavam o seu nome orgulhosamente durante a proscrição por causa dele, podiam atestar isso. Mas como o seu pai, um escudo contra qualquer perigo que ousasse chegar perto de seus filhos. Tamas não era dele, mas a criança não tinha o seu pai por causa dele. O diabo MacGregor não era um selvagem vingativo e implacável. Os selvagens não eram homens de honra, e o pai de Tristan era isso.

— Você deve falar com ele sobre isso.

Ele olhou para Isobel e a encontrou olhando de volta para ele.

— Sobre o quê?

— Sobre o que quer que tenha criado essa brecha entre vocês dois. Você o esconde bem embaixo de sua atitude alegre, mas está lá quando fala dele. Está lá quando você olha para ele, logo além do brilho em seus olhos, moldando os seus sorrisos com um traço de algo desprotegido e primitivo, como uma ferida que não será curada.

Ele queria que Isobel soubesse quem ele era, mas ela o conhecia ainda mais profundo.

— Eu não sei se posso falar. — Ele admitiu para ela.

— Claro que sim, meu amor. — O sorriso dela era terno, assim como o seu toque. — O que ele fez...

— Não, minha ferida é auto infligida, Isobel. Não tentei me encaixar. Não tentei ser filho dele. Como eu poderia ser dele quando pensei que éramos tão diferentes? Não sabia quem ele queria que eu fosse porque não podia ver quem ele era. Queria meu tio e ele se foi por minha causa.

— Não, não por sua causa.

— Eu acreditava que sim. — Ele disse suavemente. — E essa crença foi a adaga que primeiro me fez sangrar.

Ela traçou os lábios dele com os seus dedos e ele os beijou em troca.

— Então, meu cavaleiro mais nobre e bonito, comece por aí.

Os penhascos traiçoeiros de Elgol não eram páreo para Tamas Fergusson. Ele sentiu tanto prazer no rugido das ondas abaixo do precipício estreito que ele rugiu de volta. Era chocante o suficiente ouvi-lo gritar com todo os seus pulmões, mas quando ele se inclinou sobre o lado do cavalo do Laird o mais que pôde para olhar para baixo, todos atrás deles gritaram. Ou ele tinha total confiança no homem que o segurava, ou sua falta de medo era além de qualquer coisa que o resto deles conhecesse, especialmente Will, que quase desmaiou apenas espiando por cima da borda.

No topo dos penhascos, chegaram a uma cordilheira alta com vista para um vasto vale coberto de urze e uma ampla baía a oeste. Pitorescas, os telhados cobertos de palha cobriam a paisagem, enquanto as montanhas cobertas de neve atravessavam o céu do Norte. No centro de tudo, o castelo de Camlochlin se erguia da muralha escura atrás dele, a fortaleza do diabo presa na gloriosa mão de Deus.

Isobel respirou fundo e achou o ar úmido e refrescante para os seus pulmões. Agora, se ela pudesse fazer o seu coração desacelerar.

Já havia várias pessoas saindo dos dois lados, bem como das amplas portas do castelo, ansiosas para ver os cavaleiros que se aproximavam. Rob partiu primeiro para o vale, os cascos do cavalo pisoteando a urze enquanto corria em direção a uma mulher que se afastava da pequena multidão para encontrá-lo. Ele saltou de seu cavalo antes que ele parasse completamente e a levantou entre em seus braços.

Havia outras mulheres esperando, duas em particular que observaram em silêncio, enquanto os outros cavaleiros trotavam em sua direção. Uma mulher, a mais alta das duas, fixou os olhos escuros no Laird e depois em Tamas e finalmente em Isobel.

— Prisioneiros Fergusson? — A mulher menor, um pouco encurvada ao lado da primeira, levantou uma sobrancelha preta para Cameron.

— Apenas Fergussons, Maggie. — Envolvendo o braço em volta da cintura de Tamas, o Laird desmontou e depositou o menino a seus pés. Maggie e Tamas se entreolharam antes de Maggie irritar-se em observar o menino correr.

— Tamas! — MacGregor gritou depois de dar um beijo na boca da mulher mais alta. — Fique longe de problemas!

— Sim, Callum! — Tamas respondeu de volta.

Depois de um breve, mas gelado olhar para o seu marido, a mulher voltou os olhos para Tristan.

— É bom vê-lo vivo, meu filho. — Ela não esperou a resposta dele, nem as apresentações, enquanto Tristan ajudava Isobel a desmontar, mas deu meia-volta e voltou ao castelo sem outra palavra.

Observando-a, o pai de Tristan passou a mão pela mandíbula eriçada.

— Eu vou falar com ela. — Ele murmurou, mais para si mesmo do que para qualquer outra pessoa, e prontamente a seguiu para dentro.

— Sobre o que seu pai vai falar com ela? — Deixada sozinha com eles, Maggie MacGregor fechou as mãos pequenas nos seus quadris e estreitou os olhos para Isobel e Cameron.

— O que você fez desta vez, Tristan?

Isobel não estava perto de tantas pessoas dentro de uma estrutura desde o Palácio Whitehall. Camlochlin não era tão grande quanto a residência do rei, mas era grande o suficiente para abrigar mais MacGregors do que ela se sentia confortável. Os corredores eram cavernosos, com grossas velas e tochas nas paredes entre suportes de ferro iluminando o labirinto de passagens.

Isobel não sorriu para os rostos olhando para ela, mas pegou a mão de Cam. Ela não deveria ter permitido que ele viesse. O seu medo sobre o seu erro de julgamento era validado quando três enormes Highlanders caminharam em sua direção e pararam quando Maggie pronunciou a palavra:

— Fergussons.

— Inferno. — Um deles rosnou profundamente com nojo.

— Então, vamos jantar? — Outro, com cabelos cheios e vermelhos, salpicados de cinza e uma longa cicatriz da orelha ao queixo, rosnou.

— Calma, Angus. — Tristan o avisou com um sorriso irônico. — Essa moça bonita vai morder você de volta.

Isobel queria sorrir para ele por lhe dar mais coragem do que ela provavelmente tinha e por ter vindo em seu socorro. Não importava o que pensassem dele aqui, o homem que ela conhecia deixaria Arthur Pendragon orgulhoso.

— Angus! Brodie! — O Laird gritou bruscamente do alto da escada. — Veja que os nossos convidados são bem tratados em Camlochlin.

A ameaça em seu comando não precisou ser dita em voz alta. Os dois corpulentos Highlanders se afastaram sem outra palavra ou olhar em sua direção.

— Jamie. — Ele chamou o terceiro. — Leve Cameron até Finn e fique de olho no pequenino chamado Tamas. Veja que nenhum mal lhe ocorra.

— Sim, Laird.

Pela primeira vez desde que entrou no castelo, Isobel deu um suspiro de alívio. E ela tinha que o agradecer. Ela olhou para o pai de Tristan com apreciação nos olhos, em vez de ódio. As imagens que ela tinha dele, criadas a partir do horror de sua infância, foram lentamente sendo substituídas por olhares misericordiosos e a ternura de suas mãos grandes e marcadas quando ele fechou o seu plaid ao redor de seu irmão menor. De alguma forma, Tamas ganhou a sua simpatia. Isso por si só dizia muito sobre ele.

— Vocês dois. — Não havia nada de misericordioso em seus olhos quando ele apontou para ela e Tristan. — Venham comigo.

Eles o seguiram por um corredor suavemente iluminado, forrado de tapeçarias pesadas e cheio de crianças rindo correndo pelas escadas. Quando ele chegou à porta, o pai de Tristan não parou, mas abriu as portas grossas e entrou.

— Ele está aqui. Fale com ele.

Kate MacGregor ofereceu um olhar penetrante ao seu marido, mas voltou-se para eles quando entraram no grande solar privado.

— Muito bem. — Disse ela, o seu olhar ardente se fixando em Isobel. — Fergusson, tenho certeza de que você é uma mulher adorável o suficiente, mas entende que seu pai tirou a vida de meu irmão com frieza. Você e sua família não serão bem-vindos aqui por mim.

Isobel assentiu, não tendo nada a dizer. Ela sentiu como se estivesse olhando para um lago, refletindo a si mesma. Aqueles eram os seus olhos cheios de raiva, os seus lábios inflexíveis, falando palavras implacáveis que ela entendia muito bem. O que ela poderia dizer?

— Eles deveriam sofrer os crimes de seus pais? — Tristan disse por ela. — Talvez devêssemos perguntar a Maggie e saber a sua resposta.

— Tristan. — Alertou o seu pai. — Cuidado com o que você diz.

— Vou me importar com o que digo se estiver errado, pai. Estou?

— Não, você não está errado. — Admitiu o Laird enquanto a sua esposa se afastava dele. — Katie. — Ele disse mais gentilmente do que Isobel já o ouvira.

— Não, Callum. — Ela recusou o pedido tácito. — Você deveria entender melhor do que qualquer outra pessoa. Enquanto crescia, a sua irmã era tudo o que tinha. Você não deixou os seus inimigos matá-la. — Ela se virou novamente para Isobel e Tristan, desta vez com lágrimas nos olhos. — Éramos órfãos, deixados sozinhos para ser criados por um punhado de soldados velhos. Robert foi quem me deu coragem. Ele era mais que meu irmão. Ele era meu companheiro de brincadeira, meu amigo mais querido e o homem mais cavalheiro que eu conheci. Ele não merecia ser abatido no escuro por um louco cujo orgulho foi ferido.

— Eu não discuto a verdade disso. — Tristan disse gentilmente. — Você sabe que eu o amava. — O seu olhar vacilou para o seu pai, depois se afastou novamente. — Mas Isobel também perdeu muito. Ela e seus irmãos...

— Eu não quero ouvir isso! — A voz de sua mãe anulou a dele. — O seu tio era um homem bom, um homem justo, ele...

— Você sabe quem ele era, mas não quer vê-lo em mim. — Acusou Tristan.

— Não para os Fergusson!

— Então isso é uma pena. — Ele respondeu significativamente. — Porque eu a amo e pretendo fazer dela minha esposa.

Isobel respirou fundo e fechou os olhos, não desejando ver ou sentir a dor que eles haviam causado. Ah, mas eles eram tolos em acreditar que o passado poderia ser tão facilmente esquecido. O ódio nunca terminaria, e Tristan estava prestes a perder a sua família por causa dela.

— Você nos traiu, Tristan. — Ela ouviu a mãe dele dizer.

— Que assim seja. — Ele pegou a mão de Isobel e a levou em direção à porta. — Não trairei mais o meu coração.

Cameron observou Isobel e Tristan deixarem o solar e desaparecerem no corredor. Saindo das sombras, ele olhou para as pesadas portas que o separavam da liberdade de dez anos de culpa e covardia. Graças a Tristan, ele se recusava a ser aquele homem por mais um tempo. Preparando sua coragem, ele levantou a mão para bater no momento em que a porta se abriu novamente.

— Eu ouvi tudo. — Ele admitiu para o alto Laird de guerra pairando sobre ele. — A sua esposa está errada sobre uma coisa. Um louco não matou o seu irmão. Eu matei.

 


Capítulo trinta e oito


O quarto de Tristan não era o que Isobel esperava. Para começar, ela imaginou uma cama maior, coberta de peles ou sedas, para proporcionar mais conforto às mulheres que haviam o visitado no passado. Ela estava surpresa ao encontrar a cama dele apenas um pouco maior que a de Alex. Não havia cortinas cobrindo as duas janelas profundas no muro ocidental para oferecer calor ou silêncio pelas ondas que vinham da baía de Camas Fhionnairigh abaixo. Um tabuleiro de xadrez gasto descansava inutilmente em uma mesa no canto, faltando muitas de suas peças.

À primeira vista, pode-se considerar o homem que dormiu aqui como descuidado e desatento. Mas atravessando o quarto para a lareira fria e manchada de fuligem, Isobel notou as velhas espadas polida penduradas com cuidado acima, na estante à direita, esculpida em madeira de nogueira rica, cada prateleira cuidadosamente decorada com livros. Ela sorriu. Ele cuidava muito bem das coisas que importavam para ele.

— Elas são as espadas do meu tio. — Disse ele, vindo atrás dela.

— Eu pensei isso. — Ela deu um passo para longe dele e foi para a janela. Ela não podia estar perto dele. O seu calor, seu toque, seu perfume todos trabalhavam diligentemente contra o bom senso dela. — Tristan, eu... eu não posso deixar você perder a sua família por minha causa.

Ele não se moveu para encontrá-la, mas permaneceu no meio do quarto, sozinho, como havia estado a maior parte de sua vida.

— Você é minha família, Isobel. Você e seus irmãos. Vocês são tudo o que eu quero.

— Mas não somos tudo o que você precisa. Você arriscou tanto tentando ajudar a minha família por quem você é... quem você sempre foi. Mas temo que o seu propósito falhe. No final, você só terá nós...

— Então será suficiente.

— Não. — Ela se virou para olhá-lo, deixando as suas lágrimas caírem livremente. — Sua honra é o que faz de você quem é, Tristan. Como será suficiente quando você deve trair a sua família? Você ouviu o que sua mãe disse.

— Será suficiente porque foi a escolha deles. Não a minha. — Ele foi até ela, diminuindo a distância entre eles em dois longos passos. — Isobel, é você quem me faz ser o que eu quero. Você é o que eu preciso.

— Há algo mais. — Ela chorou, olhando para longe do seu olhar fervoroso. — Algo que eu não disse a você que mudará tudo.

— Eu já sei que foi Cameron que matou o meu tio, Isobel. — Ele a pegou nos braços quando ela o olhou, atordoada e aterrorizada. — Ele me disse na pousada, e não me importo. — Ele se afastou apenas o suficiente para segurar o seu rosto molhado em suas mãos e olhar profundamente em seus olhos. — Isso não muda o quanto eu te amo. Nada jamais mudará.

Ele sabia e não se importava. Ela sorriu com o rosto embaçado, certa de que nenhuma dama de seus livros jamais amou tanto o seu cavaleiro. Mas...

— Mas se eles descobrirem e vierem contra nós novamente, como você permanecerá do nosso lado?

— Eles não vão descobrir. Eles não virão contra vocês. O meu pai não é o homem que eu pensava que ele era. Mas mesmo que eu esteja errado, Isobel, ficarei feliz ao seu lado, sabendo que fiz a escolha certa.

Ele havia prometido desfazer os seus medos e mudar as coisas que a entristeciam por coisas que lhe davam alegria ao seu coração, e ele manteve a sua palavra. Finalmente, ela se permitiu respirar livremente, amá-lo sem apreensão. Ela não iria deixá-lo, e lutaria com qualquer um que tentasse mantê-los separados.

— Eu vou fazer você feliz, Tristan.

— Você já faz. — Ele inclinou o rosto para o dela e a beijou. Ela colocou os braços em volta do pescoço dele, mantendo-o perto mesmo depois que ele se afastou. — Eu devo mandar uma mensagem para buscar o padre. — Ele sussurrou contra o ouvido dela.

— O padre pode esperar.

Ele olhou para ela, sua covinha sedutora se aprofundando e depois a beijou novamente.

A sua respiração estava quente contra a boca dela, o seu beijo ainda mais quente. Ela abriu a boca para a língua dele e gemeu com puro prazer ao senti-lo ele contra si, dentro dela. Ela sentia falta do jeito que ele a beijava, mas isso era diferente. Ele teve um prazer deliberado com a boca dela, pegando o que queria no seu próprio ritmo, como se desafiasse o mundo lá fora para detê-lo. Ele a deixava louca, mas gostava. Ela era dele, e ele não deixaria ninguém os separar.

— Eu mal posso esperar... — Ela gemeu contra os dentes dele.

Ele riu e, passando o braço pela cintura dela, levantou-a do chão. A respiração dela se acelerou e sorriu quando ele a levou para a cama.

Ele a despiu lentamente, movendo a sua língua sobre cada centímetro de pele que ele expôs, sussurrando quão bonita ela era, quão doce era. Os músculos dela se contraíram sob o domínio da boca dele. À luz suave das velas, os seus dedos hábeis exploravam suas dobras mais sensíveis, deixando-a louca por ele. Ela queria dar tudo, tudo o que ele queria até que não restasse mais nada. As madeixas de seu cabelo em seu rosto, quando ele beijou a sua boca ansiosa enviou tremores tentadores para as pontas dos dedos dos seus pés. Meu Deus, ela o queria, mais dele, tudo dele. Ela lhe disse isso em um suspiro sem fôlego que puxou um gemido do fundo de sua garganta.

— Quanto tempo você vai me fazer esperar?

Ele se levantou acima dela, sorrindo como um príncipe pagão pronto para receber o que era seu por direito.

— Não por muito tempo. — Prometeu, desabotoando o cinto.

Ela o viu tirar a sua roupa e passou os dedos pelas ondulações de sua barriga apertada. O toque delicado da palma da sua mão sobre a cabeça inchada do pênis a mortificou e emocionou. Ela nunca havia tocado um homem tão intimamente antes. Encorajada por seu gemido rouco, ela o acariciou da ponta da cabeça até a base de seu membro. Ele fechou os olhos e recostou-se nas suas coxas, as mãos espalhadas atrás dele. Nesse ângulo, sua ereção rígida se projetava para cima como uma lança, convidando-a a ter prazer. Visões de subir em cima dele e montar em uma fera assim fizeram os músculos entre as suas pernas apertarem. Ela fechou os dedos ao redor dele, espantada com uma mistura de cetim e aço, e que ele se encaixou inteiramente dentro dela. Ele era grande demais para uma mão, então ela usou as duas para acariciá-lo gentilmente.

Ele a observou com os olhos famintos e estreitos e cobriu as mãos dela com uma das dele para guiá-la sobre ele com mais pressão. Quando um fio de seda escorreu de sua ponta, ele esticou as pernas compridas e recostou-se.

— Venha aqui. — Sua voz estava densa de desejo quando ela passou por cima dele.

— Onde meu amor?

— Bem aqui. — Ele abriu seus joelhos e a sentou entre as suas coxas.

Isobel olhou para ele enquanto ele guiava o seu pau na vagina dela. Ela agarrou o seu peito quando ele segurou os seus quadris e se empurrou mais fundo. Ela se deliciou com o delicioso endurecimento de seus mamilos e a fome selvagem de sua boca enquanto ele chupava cada um por vez. Ele passou a língua sobre ela e passou os dentes contra a carne tensa dela, enquanto as suas mãos a guiavam para cima e para baixo sobre seu longo membro. Quando ele se esticou embaixo dela, os olhos dela percorreram a sua aparência ágil e musculosa e ela o empalou até o fim. O seu corpo se contorceu de prazer, e Isobel sentiu um espasmo quente de satisfação de que ele era dela, a seu gosto. E ela o agradou muito. Quando ela passou a língua sobre o seu mamilo, ele sorriu, passando os dedos pelos cabelos dela. Ele a puxou para mais perto da boca e a marcou com um beijo. Ele a segurou firme contra ele, olhando nos olhos dela enquanto deslizava a mão pelas costas dela e dobrava os joelhos para tomá-la mais fundo.

Espasmos violentos de pura felicidade marcaram a sua alma, as suas terminações nervosas, até que ela ofegou em cima dele, a sua respiração misturada à dele. E ainda assim ele entrou com mais força, mais perto, apertando os seus quadris com os dela e observando-a com toda a paixão fluindo dos seus olhos, enquanto ela encontrava-se com o nome dele nos lábios.

— Eu te amo. — Ela sussurrou enquanto ele jogava a cabeça para trás e cerrava o queixo. Ela sentiu que ele a enchia com sua semente quente, repetidamente, até que nada restasse, exceto o seu hálito duro, pesado e seu sorriso perversamente saciado.

Mais tarde, Tristan pediu um banho para eles em seu quarto. Como ele havia prometido, entrou atrás dela, colocando-a ordenadamente entre as suas pernas.

Ela descansou a cabeça no peito dele e passou os dedos pelos contornos bem torneados de suas panturrilhas, lembrando-se do tempo em que ela cortou a sua bota para chegar à flecha que John colocou ali. A ferida tinha sarado muito bem.

— Você sonhou comigo uma vez. — Ela disse, lembrando como ele havia chamado o nome dela, enquanto se recuperava do ferimento na cabeça... e... feridas.

— Eu sonho com você frequentemente.

Quando ele afastou os cabelos do pescoço, o tom rouco de sua voz em sua nuca enviou gotas quentes pela espinha.

— Diga-me agora por que você arriscou tanto para ir à minha casa?

— Pelos seus tornozelos.

— Meus tornozelos? — Ela levantou uma perna da água e a ergueu para olhar.

— Sim. — Ele fechou os braços em volta dela e beijou o seu pescoço. — Sempre que conversávamos, você sempre acabava se afastando de mim, expondo os seus tornozelos aos meus olhos admirados.

Isobel pensou por um momento e depois se virou no banho para deitar em cima dele, os seios pressionados contra o peito dele.

— Você não está falando sério, não é?

— Somente quando digo: eu te amo, Isobel.

— E eu te amo, Tristan.

Ele levantou-se da água com ela nos braços, as mãos grandes segurando o seu traseiro molhado, enquanto se dirigia para a cama. Eles nunca chegaram ao colchão macio. Quando ela enrolou as suas pernas em volta da cintura dele, ele a ergueu mais sobre sua barriga elegante e dura, e fez amor com ela onde estavam.

Isobel acordou algum tempo depois sozinha na cama de Tristan. O sol se pôs do lado de fora da janela. Ela sentou-se, imaginando onde estaria Tristan e esperando que tivesse ido buscar comida para eles. Ela estava com tanta fome quanto um urso, mas a ideia de sair do quarto e encontrar os seus parentes sozinha, especialmente a sua mãe, fez o seu coração bater forte.

Quando outro quarto de hora se passou sem o retorno dele, a sua barriga aperou de fome e ela saiu da cama. Ela odiava a ideia de vestir o seu kirtle empoeirado, mas quando procurou, descobriu que também havia sumido.

Em seu lugar, dobrado na ponta da cama, havia um vestido de lã de carneiro não tingido e chinelos de couro combinando. Ela pegou o vestido, admirando instantaneamente a luxuosa fluidez das fibras. Ela a segurou perto de uma das dúzias de velas que Tristan deve ter acendido antes de sair. A costura era requintada, feita em fio de ouro para combinar com a cintura trançada grossa que pendia baixa nos quadris. Quem deixou para ela? Ela não se importava. Ela nunca possuiu algo tão bom e rapidamente o vestiu. Cabia, embora um pouco folgado na cintura. As fibras eram calorosas e maravilhosas contra a sua pele, e seu humor rapidamente se iluminou. Ela passou os dedos pelas mechas ruivas, enfiou os pés nos chinelos e saiu do quarto.

— Oh, boa noite, minha Lady. — Uma mulher sentada em uma grande cadeira do lado de fora da porta se levantou. — Eu não sabia que você tinha acordado. Sou Alice vou te mostrar o salão principal.

O Grande Salão. Todos estariam lá. Dezenas, talvez centenas de MacGregors. Ela poderia fazer isso. Por Tristan, ela faria qualquer coisa e pelo menos não estava suja.

— Obrigada, Alice. Você deixou este vestido para mim?

— Não, minha Lady. Maggie o deixou. Ela disse que ficaria bem em você, e ela estava certa.

Isobel não sabia o que pensar com a tia de Tristan deixando o vestido para ela. Era um gesto gentil, e ela faria questão de agradecer mais tarde. Ela seguiu Alice pelas escadas, mas parou quando viu Tristan em pé no final do longo salão com o seu pai.

— Sim. — Alice riu suavemente ao lado dela. — Ele rouba o fôlego de muitas.

Isobel sorriu, concordando com a cabeça. Quer estivesse vestido com roupas inglesas ou com o plaid das Highlands e as botas que ele usava agora, Tristan exalava apelo sexual masculino.

— Todos os filhos do Laird são impressionantes de se ver. — Alice continuou com o menor tremor em sua voz. — Assim como o seu pai. — Flagrando a si mesma, a criada de meia idade desviou o olhar do Laird e sorriu para Tristan. — Esse apenas o conhece melhor do que os outros.

Mais uma vez, Isobel concordou. Ela ainda estava pensando em perguntar a Alice quantas meninas de Camlochlin poderiam querer arrancar os seus olhos, quando Tristan e seu pai se abraçaram.

— O que é isto? — A voz alegre de Will falou por trás dela e quebrou o momento terno.

Isobel piscou a umidade dos olhos quando Tristan e Callum se viraram em sua direção.

— Você com um homem em seus braços enquanto a sua moça está aqui tão bonita quanto o sol?

Os olhos de Tristan se fixaram nos dela, distraindo-a de todos os outros no salão, menos ele. Eles se entreolharam através do repentino silêncio, perdido no que haviam compartilhado antes, trancados em seu quarto. O seu sorriso se aprofundou quando o seu olhar misterioso percorreu ousadamente as suas curvas, tão bem definidas em seu novo vestido.

— Meu filho voltou para mim, Will. — Disse o Laird, envolvendo o braço em volta do ombro de Tristan. — Alice, diga a cozinheira para abrir outro barril de cerveja. Temos duas razões para comemorar.

Tomando o braço de Isobel, Will a levou pelo resto do caminho e a entregou a Tristan com uma piscadela astuta.

— O sol é monótono e opaco em comparação com você, meu amor. — Tristan levantou a mão e deu um beijo terno na parte inferior do seu pulso.

Ela corou sob o véu dos seus cílios, com medo de olhá-lo, com medo de poder se arremessar em seus braços e fosse para o inferno quem estivesse olhando.

— Parece que me vesti para comemorar. — Disse ela, desejando não tremer diante da proximidade dele.

— Sim, a celebração do nosso noivado. O padre O'Donnell estará aqui amanhã.

Os olhos dela dispararam para os dele.

— Mas a sua mãe...

— Ela espera por você na nossa mesa. — Foi o Laird quem falou. — Depois de conversar com seu irmão, nós...

— Meu irmão? — Isobel sorriu para ele. — O que Tamas poderia ter dito para...

— Foi Cameron, não Tamas. — O Laird corrigiu. — Ele nos contou o que aconteceu naquela noite, Senhorita Fergusson. Katie chorou, mas...

Ele continuou, mas suas palavras foram abafadas pela batida forte do coração de Isobel em seus ouvidos. Ela não conseguia respirar. Cam disse a verdade? Ele disse a eles o que fez? Ele ainda estava vivo? Ela se virou para Tristan e imediatamente desmaiou.

 

 

Capítulo Trinta e Nove


Isobel despertou na cama de Tristan com a lembrança arrepiante da confissão de Cameron ecoando através de seus pensamentos. Ele disse-lhes! Não! Ele não poderia ter dito a eles! Ela abriu os olhos e se empurrou contra as mãos que tentavam segurá-la imóvel.

— Está tudo bem, meu amor. — A voz de Tristan acalmou acima dela.

Ele estava maluco? Como algo poderia estar bem novamente? Por dez longos anos, ela guardou o segredo do seu irmão com a sua vida, com tanto medo que, se os MacGregors descobrissem a verdade, procurariam Cam e o matariam.

— Onde ele está? — Ela chorou. — Onde está Cameron?

— Deixe-me falar com ela. — A voz de uma mulher disse em algum lugar atrás de Tristan. — Nos deixe.

Com um soluço estrangulado, Isobel observou Tristan sair do quarto. Ela queria chamá-lo e implorar para levá-la e seus irmãos para casa. Quando a porta se fechou atrás dele, ela olhou fixamente para a mãe dele, sentada na cama ao lado dela e depois cobriu o rosto com as suas mãos.

— Ele era uma criança. — Ela chorou. — Ele estava tentando proteger o seu pai. Ele nem sabia em que ou em quem estava atirando a sua flecha.

— Eu sei.

— Por favor, imploro, não o machuque. Eu morreria se...

— Calma, minha querida. — Kate MacGregor afastou as mãos do seu rosto e sorriu ternamente para ela. — Nenhum dano chegará a ele.

Isobel queria acreditar nela mais do que queria qualquer coisa no mundo. Mas como? Como ela poderia, quando apenas algumas horas atrás, essa mulher praticamente cuspiu o seu ódio nela?

— O seu irmão, — disse a esposa do Laird em voz baixa, o passado assombrando o seu olhar. — Nos disse que vocês dois testemunharam Callum matando o seu pai. Você tinha dez anos de idade. Tornando-se órfã ainda mais nova do que eu.

— Cam tinha apenas oito anos. — Disse Isobel, rezando para que a sua idade fosse suficiente para perdoá-lo.

— Eu posso entender o que você pensa do meu marido, mas ele não é um monstro. Não se vingará do rapaz por algo que ele fez quando criança. Por mais trágico que for. Nem quero que ele faça isso.

Isobel queria gritar para as ameias. Isso era verdade? Eles sabiam a verdade e Cam estava seguro? Ela chorou, quando uma década de preocupação escapou de seu coração.

— Isso não diminui a dor de perder o meu irmão. — Continuou Kate, as lágrimas escorrendo por suas bochechas agora. — Mas alivia minha alma saber que isso não foi feito com maldade infundada. Você entenderia a importância disso se conhecesse Robert.

— Sinto como se o conhecesse. — Disse Isobel suavemente, sentando-se na cama. — E de tudo o que me disseram, Tristan é muito parecido com ele.

— Eu sei. — Kate concordou. — Sempre soube. O problema era que ele não sabia. — Kate pegou as suas duas mãos e apertou. — Por favor, perdoe-me por ter sido cruel com você mais cedo e por fazê-la se sentir indesejável aqui. Você deve ser uma mulher extraordinária por ter ganhado o coração do meu filho. Muitas tentaram antes de você e falharam.

— Eu não queria ganhá-lo. — Disse Isobel honestamente. — Ele me ganhou. Ele trabalhou com firme determinação para livrar o meu coração do medo, raiva, desconfiança e me conquistou com humildade, humor e honestidade. Minha senhora, o seu filho é o homem mais cavalheiresco que conheço.

Kate olhou para ela por um momento e enxugou uma lágrima do olho.

— A maioria não concordaria com você.

— Eles não o conhecem, então, e é o infortúnio deles.

— Sim. — A mãe de Tristan concordou suavemente. — Sim, é.

A porta se abriu, e dois sorrisos se voltaram para Maggie, entrando no quarto com uma delicada mulher de aparência de fada atrás dela.

— Você está acordada então. — Maggie avaliou-a com um olho afiado quando ela deu a volta ao lado da cama. — Tristan estava com medo de ser sua aflição respiratória, mas eu lhe assegurei que você apenas desmaiou. Você está satisfeita com o seu vestido, então?

— Sim, você que fez?

— Foi apenas algo em que trabalhei quando tive tempo. Fiz esse para Davina, mas ela queria que você o tivesse.

Isobel olhou para cima e sorriu para a mulher mais doce que já tinha visto. O seu cabelo era do tom loiro perolado, lembrando instantaneamente Isobel de anjos com halos. Os seus olhos estavam arregalados e quase grandes demais para o resto de seus traços diminutos. Se Isobel não tivesse visto o irmão de Tristan, Rob, a segurando em seus braços com força quando ele voltou para casa, ela não teria acreditado que esse fio de mulher lhe pertencia.

— Espero que você possa se juntar a nós no Salão Principal hoje à noite, para que eu possa ver como o vestido ficou lindo em você.

— Isso é muito gentil.

— Davina, meu amor, onde você está! — Rob chamou de algum lugar abaixo da escada.

Davina chiou com algo que parecia alegria e riu, saindo correndo do quarto.

— Não diga a ele que vocês me viram.

Kate sorriu, acenando para ela. Maggie revirou os olhos para o céu.

— Ela é... divertida. — Explicou Kate a Isobel. — Algo que meu filho mais velho precisa muito em sua vida há muito tempo.

— Ela é adorável. — Disse Isobel.

— Como você é, filha. Agora, venha, vamos nos juntar aos outros para a nossa celebração.

Isobel pegou a mão de Kate MacGregor e a deixou levá-la para fora do quarto. Ninguém a chamava de filha há dez anos.

O Salão principal estava barulhento. Essa seria a primeira coisa que Isobel sempre se lembraria... era o que ela mais amava em Camlochlin. O Salão de Banquetes de Whitehall poderia ter abrigado mais pessoas, mas a maioria não era os Highlanders, apaixonada por uísque e música fortes. A maioria dos homens sentados ou de pé mais adiante das mesas eram bem-educados, a menos que um de seus companheiros fizesse uma observação informal.

Vinho, uísque e cerveja fluíam tão livremente quanto as conversas, embora geralmente fosse preciso gritar para ser ouvido. Isobel sentou-se com Tristan na mesa do Laird e estava feliz em ver os seus irmãos sentados lá também. Não ficou surpresa ao encontrar Tamas se habituando tão confortavelmente entre os MacGregors. Ele era como eles, desafiador, forte e destemido. Mas Cam parecia igualmente à vontade. Embora os seus olhos ainda olhassem com cautela por baixo dos seus cílios, quando o Laird o apresentou ao seu clã barulhento, o sorriso de Cam estava mais amplo e sua risada mais genuína à medida que a noite passava. Ele havia sido perdoado. Era o que ele sempre precisou. Isobel sempre agradeceria aos MacGregors por essa gentileza.

Ela foi levada duas vezes, uma vez por Maggie para ser formalmente apresentada a alguns dos amigos mais próximos de Maggie, e depois novamente por Davina para encontrar a costureira do castelo. Enquanto ela ouvia os nomes das cinquenta cores diferentes que a maioria das lãs poderia ser tingida, Isobel viu Tristan se encaminhar para uma moça bonita com cabelos escuros e de boca emburrada.

— Essa é Caitlin MacKinnon. — Davina disse a ela, seguindo o seu olhar. — Você não precisa se preocupar com ela. Tristan mal trocou uma palavra com ela quando ele voltou da Inglaterra. Ele falou de você.

— De mim?

— Sim, ele me contou sobre você e disse que preferia flores silvestres a delicadas.

Isobel riu. Isso era algo que ele diria. Ela olhou para Caitlin novamente e sentiu pena dela em perdê-lo...

— Ela se importava com ele?

— Acho que sim. — Disse Davina com sinceridade.

— Então é bom que ele fale com ela agora. — Ela virou-se para a costureira. — O verde esmeralda parece perfeito.

Tristan se afastou de Caitlin quando Isobel começou a voltar para a mesa. Eles se encontraram no centro do salão, seu sorriso largo e seus olhos iluminados com o brilho perigoso de um lobo prestes a atacar.

— Com quantas delas você precisa se desculpar?

Ele jogou a cabeça para trás e riu e depois voltou com graça fluida para dar um beijo em seu pescoço.

— Apenas para aquelas que eu acho que podem tentar tropeçar no fogo da lareira.

— Ah, meu cavaleiro de armadura brilhante.

Movendo a mão atrás das suas costas, ele se curvou.

— Eu vivo apenas para servi-la, minha dama.

Quando ela continuou andando, ele acelerou o passo e passou o braço pelas costas dela, puxando-a para mais perto para sussurrar em seu ouvido.

— Como posso servi-la, com a minha língua ou algo mais duro?

— Tristan! — Ela beliscou o lado dele e corou, sorrindo quando Kate chamou a atenção da mesa. — A sua família está a poucos metros de distância.

— Vamos para a cama, pois, mal posso esperar para tê-la.

Isobel pigarreou e desviou o olhar para Davina a poucos centímetros de distância.

— E sua palavra a Cameron sobre esperar um padre?

— Dei a ele minha palavra para encontrar um padre o mais rápido possível. Essa palavra eu mantive. — Ele sorriu maliciosamente. — Tentei esperar até a chegada do padre, mas você, minha querida, não aceitaria. Aceitaria?

Ela corou, sabendo que ele falava a verdade. Ela se virou para ele apenas para encontrar a boca dele mais perto da dela.

— Bem, você terá que esperar agora.

— Você gosta de me torturar.

— Só um pouco. — Ela admitiu com um sorriso brincalhão e uma piscadela provocante. — Não muito mais, no entanto.

Ele passou o lábio inferior entre os dentes e deu um aperto no seu traseiro enquanto ela se afastava dele.

Tristan observou o balanço suave do traseiro de Isobel enquanto ela se afastava. Ele sorriu, ansioso para colocar as mãos neles. Inferno, mas ela parecia bem naquele vestido. A cor creme combinava com a sua pele e o ajuste confortável acentuava todas as suas curvas femininas. Ainda assim, isso não o impediu de querer tirá-lo e provar cada centímetro dela.

Atraído pelo desejo e pela necessidade de estar perto dela, ele caminhou até a mesa da sua família e sentou-se ao lado dela. Ele se inclinou para mais perto para inspirar a curva sensual do pescoço dela enquanto ela compartilhava uma palavra com Finn. Ela ainda cheirava do banho, com uma pitada de seu perfume ainda persistindo em sua pele por causa do amor deles. Ele se endireitou, fazendo tudo ao seu alcance para não pegá-la em seus braços e carregá-la pelas escadas até a sua cama.

A celebração finalmente terminou, com muitos homens no salão bêbados demais para fazer algo além de cair sobre suas cadeiras. À mesa de Tristan, porém, os seus parentes não mostravam sinais de cansaço por causa do riso e da bebida. É claro que Angus e Brodie MacGregor poderiam ter consumido todas as últimas gotas de uísque de Camlochlin e ainda encontrar o caminho para o lado vitorioso de um campo de batalha.

À medida que ficava um pouco mais quieto no salão, as mulheres em sua mesa, incluindo Isobel, achavam mais fácil falar sobre tudo, de costura a bebês, enquanto as conversas dos homens se tornavam inevitavelmente sobre lutas. Tristan se mexeu em sua cadeira, não muito interessado em nenhuma opinião, mas sobre a maneira mais rápida de colocar a sua noiva na cama. E ninguém estava oferecendo essa discussão.

— Isobel, conte-nos sobre a sua casa.

Tristan lançou um olhar sombrio para a sua mãe, do qual errou completamente, e estendeu a mão para pegar o copo de Angus e esvaziar o seu conteúdo antes que o bruto tivesse tempo de dar um soco nele.

— Então, são apenas vocês sete que fazem todo o trabalho? — Perguntou o seu pai. — Vocês não têm inquilinos para ajudar?

Tristan olhou para ele com os olhos lacrimejantes, graças à potência da bebida de Angus, e não pôde deixar de sorrir para Tamas, o mais jovem guerreiro à mesa, encostado no braço forte do seu pai, tentando ficar acordado.

— Todos eles nos deixaram depois... — Isobel não terminou. Ela não precisava. Todos na mesa suspeitaram do motivo e ficaram quietos.

— Patrick poderia ter alguma ajuda, também. — Tristan disse a ele. — Agora que somos todos parentes...

— Claro. — Callum concordou facilmente. — Leve consigo quantos homens você precisar.

Isobel virou-se para atrapalhar ainda mais a cabeça de Tristan com seu sorriso mais radiante e agradecido. Ele se inclinou para beijá-la, mas errou quando ela se virou para o seu pai.

— Isso é muito gentil. E também agradeço os bens que enviou ao longo dos anos. Eu não sabia que eram seus, mas ajudaram em alguns dos nossos momentos mais difíceis.

O Laird assentiu, parecendo um pouco desconfortável, como se tivesse sido pego sendo fraco. Não que todo mundo já não soubesse, mas ninguém ousaria acusar o poderoso Diabo MacGregor de ter um coração. Tristan estava feliz por ver isso agora. Ele estava feliz por eles finalmente terem falado sobre coisas que estavam escondidas por tanto tempo. Principalmente, ele estava feliz por ter espaço em seu coração para amar com igual medida os dois homens que o criaram. Ele se sentiu como um tolo por tanto tempo, sempre com medo de nunca ser o homem que seu tio era, com medo de nunca poder ser o guerreiro que achava que seu pai queria que ele fosse.

Mas até os guerreiros tinham honra.

A sua ferida foi curada. E ele tinha que agradecer a Isobel por isso.

— Tamas dorme. — Ele observou com bastante entusiasmo em sua voz para oferecê-la, pelo menos a Isobel. — Isobel e eu vamos levá-lo para a sua cama.

O rubor que lhe invadiu as suas bochechas quando Tristan ficou de pé, puxando-a junto com ele, chamou a atenção de outro Highlander à mesa.

— Desde quando. — Will perguntou com uma expressão provocante quando Tristan rodeou a mesa para pegar Tamas em seus braços. — Você precisa de uma desculpa para deixar a mesa para outras atividades?

O desafio que despertou nos olhos de Tristan atraiu um sorriso aflito de Rob, que sabia muito bem o que estava por vir. Tristan pode ter colocado os pés no caminho certo, mas ainda era Tristan.

— Talvez a pergunta que você deva fazer é por que minhas atividades sempre o deixaram como está agora, Will, acariciando uma bebida em vez de uma moça. — Ele ofereceu ao primo um sorriso afiado e uma leve reverência. — Não tenha medo, sem mim e com um pouquinho de sorte do seu lado, o que deixo para trás pode ser seu.

— Você é um diabo! — Isobel disse a ele quando eles deixaram o salão.

— Não, minha querida, eu sou o filho do diabo. — Ele olhou para Tamas, dormindo em seus braços, e beijou a testa do menino. — E se a boa sorte ainda me ama, teremos um grande prazer em tentar fazer um dos nossos filhos.

 

 

Capítulo Quarenta


Depois de colocar Tamas na cama, Tristan a esperou com a porta aberta enquanto Isobel cobria o seu irmão. Ele estendeu a mão para ela quando terminou e esperou que a pegasse. Quando ela o fez, ele a levou para o corredor e colocou o outro braço na sua cintura, oferecendo-lhe o caminho seguro para o quarto dele.

— Você é tão galante, assim? — Isobel lhe lançou um olhar de relance.

— É galante admitir tudo o que eu quero fazer agora. — Com um movimento da mão dele, a virou nos seus calcanhares, terminando graciosamente atrás dela. — Que é olhar para você deste ângulo?

Ele se sentiu endurecer com a perfeita redondeza do traseiro dela. Não era uma boa condição para ser pego, parado no corredor, vestindo um plaid sem nada por baixo. Não ajudava, imaginando-se curvando-a sobre a cama e tomando-a por trás. Ela se virou para olhá-lo quando ele colocou sua ereção embaixo do cinto.

— Confie em mim quando digo a você, moça. — Seu olhar ardente capturou o dela quando ela afastou as suas mãos. — Não há nada galante no que eu quero fazer com você.

— Então talvez eu deva acelerar o meu ritmo. — Ela respondeu em um tom sensual que estalou em suas costas como um chicote.

Ele se lançou para ela e para a porta mais próxima.

— Terminou a sua espera.

— Este é o solar! Tristan! — Ela ofegou quando ele fechou o ferrolho da sala. — O que você está fazendo?

— Estou prendendo você. — Disse ele, se virando para ela.

Ela riu, mas ele pôde notar o fio de medo em sua voz.

— Ainda assim, alguém pode vir.

Ele a perseguiu em torno de uma cadeira.

— O perigo faz o seu sangue correr mais rápido, não é? É um pouco mais emocionante, não é?

— Devo ter medo de você, então?

— Sim. — Ele jogou o cinto no chão e retirou o seu plaid. — Você deveria.

Ela correu para o outro lado do solar, mas ele a pegou e a segurou contra a parede.

— Terei você aqui, Isobel. — Ele prendeu os seus pulsos sobre a cabeça com uma mão. — Agora mesmo.

— Você vai me forçar a gritar. — Ela fechou os olhos, expondo a garganta à mordida sensual dele. Os seios dela pesavam contra o peito dele.

— Eu pretendo fazer você gritar poderosamente. — Inclinando-se, ele moldou as suas coxas na curva do vale entre as pernas dela. Ele pressionou a dureza evidente de seu corpo contra ela e puxou o decote do seu vestido para baixo para expor a plenitude de seus seios. Ele dobrou os joelhos, tomando cuidado para não manter o seu peso contra ela, e lambeu um caminho ardente até o mamilo. Ele passou pouco tempo lá, porém, ansioso demais para tê-la.

Segurando um punhado de seu vestido, ele puxou a lã pelos quadris dela, subindo para empalá-la contra a parede.

Ele parou por um breve momento para se deleitar com a rendição rápida dela, e então ele entrou nela com tanta força que seus pés deixaram o chão.

— Quem disse que você não é um guerreiro? — Ela grunhiu quando ele entrou nela.

— Inferno, mulher, você me deixa louco. — Ele a apoiou contra a parede com a força de seu beijo e as fortes investidas de seu pênis, erguendo-lhe as pernas em volta da cintura para aprofundar suas poderosas estocadas.

— Eu pretendia tomá-la de outra forma. — Ele respirou em sua boca, depois riu suavemente contra ela. — Mais tarde. — Ele a encheu todo o seu ventre com sua libertação torrencial e depois a invadiu ainda mais, até que ela gritou o seu nome e tremeu em seus braços com seu êxtase.

Um grito das ameias tirou Isobel de seu sono no dia seguinte. Ela abriu os olhos, felizmente consciente de todas as partes do seu corpo e nada mais. Depois que Tristan a tomou no solar, ele a levou para a sua cama e fez amor com ela a noite toda, até que finalmente adormeceram presos nos braços um do outro, exaustos demais para se mover. Ela espalhou a palma da mão sobre o travesseiro dele agora e se perguntou onde ele estava. A luz do sol brilhando através das janelas dizia que era meio da manhã.

Meio da manhã? Ela sentou-se. Meu Deus, ela estava se casando hoje! Ela jogou as pernas para o lado da cama e pegou o seu kirtle e a camisa. Os olhos dela se arregalaram ao ver o vestido esmeralda bem arrumado sobre uma cadeira no canto. Ela se levantou e foi para ele devagar. Era o vestido mais requintadamente lindo que ela já vira. Ela o pegou, mas uma batida forte na porta a assustou.

— Isobel! — Cameron chamou do outro lado.

— Um momento! — Ela correu de volta para a cama e se vestiu o mais rápido possível em sua camisa e o kirtle. — Entre, Cam.

A porta se abriu e o rosto de seu irmão abriu um sorriso largo.

— Isobel, um barco se aproxima. São nossos irmãos! Depressa! Eles estavam prestes a atracar quando vim chamá-la. — Ele correu de volta para fora do quarto, deixando-a ali, atordoada.

Patrick estava aqui? Lachlan e John? Oh, como ela sentia falta deles! Sem se preocupar em calçar os sapatos, ela subiu as saias e saiu correndo do quarto, descendo as escadas.

Ela alcançou a costa da baía próxima no momento em que o pequeno barco atracou.

— Esse é John MacGregor no Trossachs27 remando. — Disse Angus ao Laird ao lado dele. — O idiota não deve saber que não é para vir desta forma como uma bandeira.

Isobel não ouviu o resto da conversa, mas seguiu Tamas na água e praticamente pulou nos braços de Patrick quando ele saiu. Oh, era tão bom vê-los novamente! Lachlan e John pareciam um pouco pálidos, com a fileira de Highlanders olhando para eles, todos portando armas, mas seus medos diminuíram quando viram que a sua irmã estava bem. Alex estava com eles, e Isobel o abraçou em seguida.

— Quando você voltou da Inglaterra? — Ela perguntou. Ele não respondeu, mas olhou por cima do ombro dela.

— Patrick! — Tristan se juntou a eles com um sorriso largo e pegou o braço dele. — O que você está fazendo aqui?

— A melhor pergunta, — Rosnou Alex, — É o que ela está fazendo aqui?

Isobel estava agradecido por Tristan ter mantido o seu sorriso ileso enquanto segurava John nos braços.

— Sentiu minha falta, John?

O sorriso de John era tão amplo que até os perigosos guerreiros atrás deles tiveram que sorrir.

— Isobel. — Alex gritou para ela. — Gostaria de conversar com você em particular.

— Talvez no solar? — Tristan ofereceu levianamente.

Meu Deus, mas ele a fazia corar nos piores momentos!

— Claro, Alex. — Disse ela, estendendo a mão para ele. — Temos muito que discutir. Nós iremos ao Salão Principal.

— Como está o meu irmão Colin? — Tristan perguntou quando Alex passou.

— Ele partiu o meu lábio.

— Temia que ele pudesse fazer isso. Eu odiei deixar você com ele.

Isobel puxou o braço do seu irmão quando ele se moveu em direção a Tristan.

— Você é tão idiota? — Ela sussurrou. — Olhe ao seu redor. Levante a mão para ele e você ficará sem um braço.

Alex deixou que ela o puxasse em direção ao castelo, olhando por cima do ombro algumas vezes.

— O que diabos você fez, Isobel?

— Silêncio, Alex. Tenha o controle de pelo menos esperar até entrarmos dentro. Você é imprudente e será morto qualquer dia desses. E a culpa é minha e de Patrick por ser muito tolerante com você.

— Patrick estava preocupado com você.

— Bem, como você pode ver, eu estou bem.

— Eles forçaram você a vir aqui com eles?

— Não. — Ela disse, levando-o para o castelo. — Cam, Tamas e eu viemos de boa vontade.

— Eles te trataram mal?

— Eles me trataram como uma rainha.

— Eles mataram o nosso pai, Isobel. Você já esqueceu disso?

Ela parou e olhou para ele, balançando a cabeça.

— Não, mas deixei o passado para trás onde ele pertence, assim como eles. Você deve fazer o mesmo.

— Nunca irei. — Prometeu, e depois se virou para os homens que entraram no castelo. Os seus olhos se endureceram em Tristan. Os olhos do Laird se endureceram nele.

— Isso é boa sorte! — O sorriso sempre alegre de Tristan iluminou o salão. — Vocês todos chegaram a tempo para o nosso casamento. Onde diabos está o padre O'Donnell?

John, sentado em seu ombro, riu na sua mão do impropério de Tristan.

— O seu casamento? — Alex olhou para Tristan primeiro e depois para Isobel. — Como você pode querer... — As suas palavras cessaram abruptamente quando Callum MacGregor apareceu ao seu lado.

— Alex Fergusson. — Disse o Laird em voz baixa, perigosamente.

Alex engoliu em seco e inclinou o rosto para encontrar o olhar letal de Callum. Patrick deu um passo hesitante à frente, mas Tristan o deteve.

— Você precisa muito de algumas orientações. Você vai ficar aqui.

— O quê? — Alex parecia doente.

— Com ele. — O Laird apontou para Tamas. — Vocês dois permanecerão em Camlochlin sob meu comando.

Tamas sorriu. Alex recusou.

— Não sou uma criança para ser...

— Você se comporta como uma. — O poder brutal na voz de Callum acalmou todos ao seu redor. — Chegou a hora de se tornar um homem, e fará isso sob minha orientação, se quiser sair daqui vivo.

Ele olhou para Isobel quando ela fez um som assustado.

— Você confiará em mim com eles, sim? Não fiz mal com os meus próprios filhos, não é?

— Sim. — Ela concordou baixinho.

Em seguida, virou-se para Patrick e, quando ele também assentiu, Callum pegou Tamas nos braços e chamou por cima do ombro.

— Venha, Patrick, temos muito o que discutir sobre as suas terras e quantos homens você acha que precisará para ajudar com isso. Brodie. — Disse ele, entrando no Salão Principal. — Agora você se encarrega de Alex.

Tristan lançou a Alex um sorriso genuinamente de pena quando o guerreiro mais azedo de Camlochlin o arrastou para o Salão Principal atrás dos outros.

— Gosto de todas as montanhas. — Disse John, olhando para Tristan depois que ele o tirou do ombro e o pôs de pé.

— É mesmo? — Tristan sorriu para ele e bagunçou o topo de sua cabeça de cabelos ruivos. — Bem, teremos que escalar uma delas, então.

Os olhos de John se arregalaram.

— Nós podemos?

— Claro, é por isso que elas estão lá. Mas depois. Agora, vá com os outros e deixe-me falar com a sua irmã.

Quando eles estavam sozinhos, Tristan pegou a mão dela e a beijou.

— Eu já agradeci, bela dama?

— O que, cavaleiro galante? — Ela olhou carinhosamente nos olhos dele.

— Por me resgatar.

Ela curvou um sorriso para ele.

— É o que faço de melhor.

Ele riu e olhou dentro do Salão Principal para as duas famílias compartilhando bebidas e discutindo o seu futuro. Inferno, era um bom momento. Um bom dia, a ser seguido por muitos mais, se ele tivesse o que queria. E como a maioria já sabia, Tristan MacGregor quase sempre conseguia o que queria.

— Agora. — Ele pegou Isobel nos braços e se inclinou para beijá-la. — Onde diabos está esse padre?

 

 

 

 

Notas

 

 

[1] Solar – Uma câmara superior em um castelo medieval
[2] O Palácio de Whitehall foi um palácio Real e a principal residência dos Reis da Inglaterra em Londres entre 1530 e 1698, quando todo o edifício, com exceção do Salão de Banquetes, desenhada por Inigo Jones em 1622, foi destruído por um incêndio.
[3] Arthur Pendragon - Rei Artur é um lendário líder britânico que, de acordo com as histórias medievais e romances de cavalaria, liderou a defesa da Grã-Bretanha contra os invasores saxões no final do século V e no início do século VI.
[4] Lowland: As Terras Baixas da Escócia (gaélico escocês A' Ghalldachd', significado aproximado 'região não-gaélica', em inglês Scottish Lowlands) são a região plana no sul da Escócia, onde existe uma forte tradição da igreja presbiteriana (a Kirk, uma igreja calvinista). É também a zona mais desenvolvida da Escócia, ali se situando as cidades de Glasgow e Edimburgo.
[5] Os Covenanters foram um movimento presbiteriano escocês que desempenhou um papel importante na história da Escócia e, em menor grau, da Inglaterra e da Irlanda, durante o século XVII. As denominações presbiterianas traçando sua história até os Covenanters e, muitas vezes, incorporando o nome, continuam as ideias e tradições na Escócia e internacionalmente.
[6] Cameronian era um nome dado a uma facção radical de convênios escoceses que seguiu os ensinamentos de Richard Cameron e que eram compostos principalmente daqueles que assinaram a Declaração de Sanquhar em 1680. Eles também eram conhecidos como Society Men, Sanquharians e Hillmen.
[7] Kirtle, (às vezes chamado cottw, cotehardie) é uma peça de vestuário usada por homens e mulheres na Idade Média. Eventualmente, tornou-se uma peça de vestuário usada por mulheres desde o final da Idade Média até o período barroco. O kirtle era tipicamente usado sobre uma camisa, que agia como uma combinação, e sob a roupa externa formal ou bata.
[8] Claymore, do gaélico escocês: claidheamh-mor “grande espada”. Espada de duas mãos medieval tardia, estava em uso estre os séculos XV e XVII.
[9] Alcatrão, é um líquido viscoso marrom escuro ou preto de hidrocarbonetos e carbono livre. Pode ser produzido a partir de carvão, madeira ou turfa.
[10] Arma de fogo, como arma militar, a baioneta foi introduzida pela primeira vez no Exército Francês na década de 1660, o seu uso já era comum na maioria dos exércitos da Europa.
[11] Le Morte d'Arthur ou Le Morte Darthur, é um livro escrito no século XV pelo Inglês Thomas Malory sobre a história do Rei Artur e os Cavaleiros da Távola Redonda. Baseado em crônicas e obras literárias inglesas e francesas, o livro tornou-se um dos mais populares da literatura arturiana.
[12] Butterbur, é um arbusto que cresce em todo o Reino Unido, mas raro no centro e no norte da Escócia, geralmente em solo úmido e pantanoso. O nome Butterbur é atribuído ao uso tradicional de suas folhas grandes para embrulhar manteiga em clima quente. Na idade Média era usado para peste e febre, e no século XVII era usado para tratar tosse, asma e feridas na pele.
[13] Malmequer Bravo, é uma planta herbácea e perene, originária da Europa. Seu ciclo vital dura mais de um ano. É da família das compostas, a mesma do crisântemo, da dália e do girassol. A espécie designada por Leucanthemum Vulgare, e tem vários nomes populares, pouco precisos.
[14] Funda, arma de arremesso formada por uma peça central presa a duas tiras de couro. Provavelmente a primeira arma a ser concebida para lançar uma pedra com mais força do que um homem poderia ter só com o braço e a mão.
[15] Hades, na mitologia grega, é o deus do mundo inferior e dos mortos.
[16] Loch: Lago.
[17] Plantago Lanceolata, tem muitos nomes comuns. É uma planta comum no Reino Unido, é uma erva daninha com folhas largas. Como é uma erva que se pode comer, as folhas são muito amargo, mas a cabeça da flor tem gosto de cogumelos. Usado em um chá de ervas como remédio para tosse, e pode tratar de infeccões da pele, picadas de insetos. Plantago Lanceolata é uma cultura pioneiro usado por produtores de ovinhos no País de Gales.
[18] Tripé, usado para elevar panelas das brasas de um fogo.
[19] Forcado é uma ferramenta agrícola com uma alça longa e dois (às vezes três) dentes usados para levantar, arremessar ou jogar material solto, como feno, palha ou folhas.
[20] Cardo é o nome comum de um grupo de plantas com flores caracterizadas por folhas com espinhos agudos nas margens, principalmente na família Asteraceae.
[21] Cranberry, são arbustos rasteiros, caules finos e tem pequenas folhas sempre verde. As flores são rosa escuro, a fruta é uma baga maior que as folhas da planta, inicialmente é verde claro, ficando vermelho quando maduro. É comestível, mas com um sabor ácido que geralmente supera sua doçura.
[22] Verbasco, qualquer uma das várias plantas europeias e asiáticas, do gênero Verbascum, com flores amarelas e folhas felpudas; a planta de veludo.
[23] Alforje, bolsa coberta, geralmente de um par, colocada nas costas de um cavalo, burro ou mula atrás da sela, geralmente feito de couro ou um material rígido.
[24] Kyloe, uma raça de gado das montanhas, com chifres longos, peles felpudas e cores decididas (preto, vermelho, castanho e creme). Que vive bem em pastagens selvagens e saudáveis.
[25] Earasaid ou arasaid é uma peça de roupa drapeada usada na Escócia como parte de roupa tradicional das montanhas. Pode ser uma manta com cinto (literalmente, um cobertor com cinto). Tradicionalmente, os earsaids podem ser simples, listrados ou tartan.
[26] Os Covenanters foram um movimento presbiteriano escocês que desempenhou um papel importante na história da Escócia e, em menor grau, da Inglaterra e da Irlanda, durante o século XVII. As denominações presbiterianas traçando sua história até os Covenanters e, muitas vezes, incorporando o nome, continuam as ideias e tradições na Escócia e internacionalmente.
[27] Trossachs – (Tròiseachan) Gaélico Escocês. Geralmente se refere a uma área de vales, e lagos, arborizados situados ao leste Bem Lomond, na área do conselho de Stirling, na Escócia. O nome é tirado do nome de um pequeno vale da floresta que fica no centro da área, mas agora é geralmente aplicado à região mais ampla e pode ser derivado do gaélico por "bristly". O significado de "lugares próximos (do outro lado)" também é uma possibilidade, derivada dos tritts brittônicos, do outro lado" (garras galesas).

 

 

                                                   Paula Quinn         

 

 

 

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