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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


SEEDS of INIQUITY
SEEDS of INIQUITY

 

 

                                                                                                     

 

 

 

 

 

CapÍtulo DEZENOVE

Izabel

Corro direto para os braços de Dina quando James entra no prédio com ela.

— Dina! Estou tão feliz que você está bem. — Meus braços a envolvem.

Ela beija minha cabeça e minhas bochechas e por um momento eu me sinto como uma menina de novo. Uma menina inocente feliz de ver sua mãe, que nunca foi uma escrava do sexo e que nunca matou ninguém.

— Estou bem, estou bem, querida — diz ela, me abraçando com força.

Está vestindo uma blusa cor-de-rosa clara enfiada em uma calça cor de canela. Seu cabelo cinza-aloirado está em rabo de cavalo alto em uma onda de cachos frouxos que caem em torno do seu rosto envelhecido onde há mais rugas ao redor dos olhos que da última vez que a vi.

Eu dou um passo para trás com as suas mãos entrelaçadas nas minhas e eu a olho.

— Você parece... bem — eu digo, tendo esperado — e temido — vê-la coberta de contusões e sangue, talvez alguns ossos quebrados.

— Bem, claro que sim, — ela diz como se eu já soubesse que ela estava bem o tempo todo.

Olho para James parado atrás dela com um olhar de profunda pergunta no meu rosto.

Victor entra na sala de reuniões atrás deles.

— O que está acontecendo? — Eu pergunto, olhando para Victor e depois para James.

— Bem, — James começa, — parece que Nora nunca machucou nenhum deles. Com a Sra. Gregory...

— Oh, por favor me chame Dina, — Dina interrompe, — as coisas apropriadas me fazem sentir velha.

Eu sorrio para mim mesma.

James também sorri e concorda.

— Nora disse a Dina que ela foi enviada por você e Victor para levá-la para a segurança.

— Oh, mas eu não acreditei nela imediatamente — diz Dina, sacudindo sua cabeça grisalha. — Eu sabia melhor do que isso e quando ela matou aquele bom homem que me observava muito da rua, eu estava com medo. Pensei que ela ia me matar em seguida.

Olho para trás e para frente entre Dina e Victor, esperando ansiosamente pelo resto da história.

— Não é necessário dizer, — Dina continua, — aquela mulher fez um show, eu acho, porque no momento que ela estava dizendo “para baixo!”, ela estava olhando para fora das janelas e eu estava realmente com medo de houvesse outros homens lá para me matar. Ela me disse que o homem no chão, ela matou era um traidor, ou eu acho que ela usou alguma palavra filme extravagante como conspirador ou infiltrado — Eu quero dizer a ela para ignorar todas essas coisas, mas eu não tenho o coração fazer isso — Ou algo assim — de qualquer maneira, ela me fez acreditar nela, isso é certo. Ela me tirou daquela casa e me colocou muito bem em outra e me disse para não saísse ou fazer qualquer telefonema. Ela pegou meu celular. Disse que era para o meu próprio bem. Mas eu tinha tudo o que eu precisava. — Ela penteia seus dedos longos e resistidos pelo comprimento do meu cabelo. — E eu não queria colocá-los em perigo, então fiquei como me disseram e esperei.

— Ela não a feriu?

Estou confusa com isso. Completamente confusa.

Dina sacode a cabeça.

— Não, — ela diz, — ela era uma verdadeira bondade. Então, imagine minha surpresa quando o Sr. Woodard aqui me disse que ia me matar. Eu simplesmente não podia acreditar.

Victor e eu olhamos brevemente um para o outro.

— Eu suponho que Tessa alimentou a mesma história? — Eu pergunto.

— Não, — James diz. — Bem, de certa forma. Depois que Nora convenceu Tessa que ela não estava lá para machucá-la, e depois de Tessa inconscientemente deu Nora a munição que ela precisava contra Dorian — tal como ela disse a Dorian que ela fez — Tessa acreditava que Nora erada Inteligência dos EUA e assim ela cooperou.

— Então Tessa também não estava machucada? — Eu pergunto.

— Não, — James responde.

— Onde ela está agora?

Victor aproxima-se e responde:

— Eu pedi que a levassem para casa. Ela não precisava ser trazida para cá. Ela não precisa saber nada sobre nós.

— Ela pensou que eu era um agente da CIA — diz James com uma leve gargalhada, mas com um ar orgulhoso. — Quanto às minhas filhas, bem, elas não eram tão fáceis de convencer. Elas estavam apenas com medo de suas mentes — elas pensam que eu trabalho com imóveis. Então, eu acho que Nora não teve escolha senão amarrá-las em algum lugar.

Eu olho direito para Victor.

— Então ela realmente estava trabalhando sozinha — eu digo sobre Nora.

— Parece dessa maneira — Victor diz com um aceno de cabeça.

— Estou com muita sede — Dina diz, apertando meu quadril com a mão. — Tem alguma coisa por aqui para beber?

Eu a abraço de novo.

— Claro — eu digo a ela e pego sua mão. — Eu vou levá-lo para conseguir alguma coisa.

Eu sorrio levemente para Victor enquanto saio com Dina da sala de reuniões e em direção à pequena cozinha no corredor.

Fredrik passa por nós no caminho enquanto ele se dirige para ver Victor. Ele não diz nada para mim, ou mesmo faz contato visual.

— Oh, ele é atraente, — Dina diz calmamente com os olhos grandes quando ela olha para trás para a sua altura em que terno caro. — A coisa que eu mais odeio em ser velha é que homens assim não me olham mais.

Oh, Dina, se você soubesse o que aquele homem em particular é capaz de fazer.

— Bem, eu acho que você é linda, — eu digo a ela, apertando sua mão fria e envelhecida. — Além disso, os homens hoje são provavelmente um pouco mais raros do que você estava acostumado.

— Ei, eu costumava ser uma prevenidab — diz ela com um sorriso.

— Dina! — Meu rosto torce com todo o tipo de formas e minhas bochechas começam a queimar. — Eu não preciso saber isso.

Nós dois rimos juntos e escorregamos dentro da sala de descanso, que é realmente apenas um quarto com um sofá de couro e cadeira correspondente com uma mesa de café em mármore e duas mesas nas extremidades, uma televisão de tela plana montada na parede e uma área de cozinha em um canto. Victor olhou para Woodard engraçado quando ele lhe pediu para colocar uma sala de descanso no prédio ("Uma sala de descanso? Este não é exatamente o trabalho em fábrica, Woodard."), Mas, no final, e depois de Woodard me explicar o que uma sala de descanso era e eu gostei da ideia, ambos tivemos o que queríamos. E eu não sou a única de nós que a usa com frequência — Niklas dorme aqui às vezes com as botas levantadas no braço do sofá. James traz seu laptop aqui e assiste coisas velhas na TV Land. Dorian... bem, ele sempre foi o único que manteve o frigorífico abastecido. Victor - OK, ele não vem aqui, exceto para encontrar um de nós.

Dina toma um assento no sofá enquanto eu pego dois dos refrigerantes de Dorian da geladeira.

— Então, exceto belas mulheres loiras ameaçando me matar para chegar até você — Dina começa de brincadeira, — o que mais tem acontecido com você, Sarai?

Dina é a única pessoa que eu permito me chamar pelo meu nome antigo. Eu tentei fazer com que ela me chamasse de Izabel uma vez, mas ela recusou, disse que eu cresci com ela me chamando de Sarai e que ela morreria me chamando de Sarai.

Dou-lhe uma garrafa de refrigerante e me sento ao lado dela, puxando uma perna para cima da almofada.

— É estranho ter conversas com você sobre minha vida — eu digo. — Não é como se eu pudesse te dizer sobre a última pessoa que eu vi morrer, tão casualmente como eu posso falar com você sobre conseguir o pedido errado em um drive-thru.

— Eu sei — ela diz e toma uma bebida, — mas o que está acontecendo com você e aquele homem bonito, misterioso seu?

Tomo uma bebida e depois olho para a parede atrás dela.

— As coisas estão bem — eu digo, tentando não chegar na verdade, não estou até mesmo certa qual é a verdade; O que está acontecendo entre mim e Victor não é exatamente o tipo típico de problema no paraíso.

Dina e eu conversamos um pouco sobre coisas simples. Ela me fala sobre o que está acontecendo com os personagens em seus programas de televisão favoritos, mas eu só ouço principalmente porque eu nunca assisto TV e realmente não tenho nada a acrescentar. Falamos sobre o pequeno jardim que ela plantou atrás de sua casa mais nova e como o único vegetal crescendo são os pepinos. Eu não sei nada sobre jardim e não saberia como fazer crescer os legumes, então novamente, eu principalmente apenas ouvir a sua conversa. E ela continua sobre as vendas nas lojas de departamentos que ela gosta de comprar e como ela conseguiu uma blusa de trinta dólares por nove dólares — eu não sei muito sobre as vendas porque com o dinheiro que Victor me dá — e que eu eu ganho — Eu não tenho que prestar atenção às vendas.

E enquanto Dina fala sobre uma variedade de coisas totalmente diferentes ao longo dos próximos trinta minutos, há uma coisa que eu noto que ela menciona em cada tópico — o Arizona.

— Eu costumava assistir a esse programa todas as noites antes de dormir no Arizona — ela havia dito. — Eu tinha a minha poltrona perto da janela e eu sempre a abria e deixava o calor entrar enquanto eu assistia ao meu programa.

E depois:

— Eu realmente não fiz muita jardinagem no Arizona.

E depois:

— Eu ia as tendas de promoções cada fim de semana quando eu vivia no Arizona. Tinha boas ofertas.

Finalmente, depois da quinta menção do Arizona, pergunto-lhe o inevitável:

— Você sente falta de casa, Dina?

Ela sorri levemente e coloca a garrafa de refrigerante na mesa final.

— Eu sinto, Sarai, eu realmente sinto.

Ela suspira e olha para mim, estendendo a mão e colocando-a no meu joelho esticado na almofada, enfiado debaixo da minha outra perna.

— Eu quero voltar para Tucson — diz ela. — Inclusive ao parque de trailers. Tenho saudade. Eu sinto falta dos malditos cães latindo à noite, as crianças correndo de um lado para o outro na rua causando incómodos. Eu só quero ir para casa. — Ela bate no meu joelho e depois se afasta, olhando para mim com olhos tristes, mas sorrindo.

— Mas Dina, não é seguro — eu levanto no sofá — você não pode voltar para lá. Veja o que aconteceu aqui, a razão que você está sentada nesta sala falando comigo agora. Se você voltar lá você estará onde qualquer um que quer encontrá-la, provavelmente olhará ali primeiro.

Seu sorriso aquece seu rosto inteiro.

— Oh, querida, eu não me importo com essas coisas, — ela diz como se para me consolar. — Eu me importei no início, mas era principalmente apenas por causa de você. Mas, eu não posso fazer isso mais, me mudando de um lugar para outro, tendo homens estranhos estacionados do lado de fora a cada casa, me observando o tempo todo. Estou velha demais para isso. Eu aprecio todas as coisas elaboradas que você e Victor me fornece? e as casas bonitas e... apenas tudo. Eu estou muito agradecia. Mas eu só quero ir para casa e viver o resto da minha vida do jeito que eu fiz antes — simplesmente.

Meu coração afunda cada vez mais fundo.

— Mas é perigoso. Eu não quero que nada aconteça com você.

— Nada vai acontecer comigo, querida. — Seu sorriso se alonga. Ela levanta a mão e bate no peito sobre a blusa cor-de-rosa fina onde está seu coração. — Se alguma coisa pode me matar, será o meu coração. Você sabe disso. — Ela sorri e bate no meu joelho novamente brincando e acrescenta: — Além disso, eu sei usar uma espingarda, lembra? E eu não tenho medo de explodir alguém se entrarem em minha casa.

Eu não posso evitar, mas sorrir de volta para ela, mesmo que eu queira lutar com ela nesta questão.

Dina se vira na almofada para me enfrentar completamente e ela leva minhas duas mãos para as dela.

— Eu quero que você me prometa algo — ela diz, olhando nos meus olhos. — E eu quero dizer isso, é uma verdadeira promessa e isso significa tudo para mim e se você nunca a quebrará, mesmo que eu nunca vá descobrir, você deve se sentir culpada por quebrar isso porque é tão importante para mim.

Isso está me assustando, mas eu aceno e concordo.

— O que foi, Dina?

Seus dedos agarram os meus com firmeza, como se para colocar ênfase nas palavras que ela está prestes a dizer.

— Quando eu voltar para casa, de volta a Tucson — diz ela, — eu quero que você me prometa que você não enviará ninguém para me vigiar ou me proteger. Ninguém. E eu também não quero que você faça isso. Você me dá sua palavra?

No começo tudo que eu quero fazer é dizer não — eu até começo a balançar a cabeça — mas ela aperta minhas mãos e força o meu olhar, o olhar em seus olhos tão intenso, e eu sinto quão importante é essa promessa para ela. Tanto quanto eu quero mentir para ela e dizer que, não, eu não vou mandar ninguém para cuidar dela... Eu não posso. Este é o seu desejo e devo-lhe tudo e sei que tenho de ceder a ele, não importa o quão difícil.

E antes que ela saia, enquanto eu digo adeus enquanto ela entra no táxi na rua para ir ao aeroporto de volta a Tucson, eu não posso evitar, mas sinto que esta será a última vez que eu a vejo.

— Eu te amo, garotinha! — Ela grita para mim da janela aberta do carro, seus dedos longos e ossudos acenando na brisa fresca de Boston.

Eu pressiono as pontas dos meus dedos contra meus lábios e envio-lhe meus beijos enquanto ela se afasta, e eu limpo as lágrimas dos meus olhos e tento muito manter o sorriso no meu rosto pelo amor de Dina. Porque ela merece ser feliz e ela não precisa de mais razões para se preocupar comigo mais do que ela já tem.

 

— Você já viu Niklas? — Eu pergunto a Victor na sala de reuniões com James. Eles estão olhando para fotografias e arquivos espalhados sobre a mesa alongada.

Eu ainda estou emocional por ter deixado Dina ir a uma hora atrás.

Victor olha para cima.

— Ele se foi, Izabel — ele responde solenemente e olha para baixo. — Mas não se preocupe com ele agora...

— O quê? — Eu passo mais para dentro do quarto e fico no final da mesa. — Victor, como você pode dizer isso? Já tentou falar com ele?

Ele tranca os olhos nos meus pelo comprimento da mesa.

— Vou falar com meu irmão quando for a hora certa — diz ele.

James olha para nós brevemente e finge estar mais interessado com as fotografias na frente dele. Ele parece desconfortável.

— Quando é qualquer hora certa? — Pergunto com um tom acusatório. — Agora é o melhor momento que qualquer outro dia será.

— Niklas precisa de tempo sozinho — ele diz e eu bato a palma contra a mesa antes que ele tenha a última palavra.

— Foda-se! — Eu digo com raiva.

Victor levanta-se rapidamente da mesa em um movimento rápido, enviando o papel que ele estava lendo em sua mão caindo no chão. Sua cadeira chia quando ela é empurrada para trás em seu caminho para cima.

James congela, olhando entre os nós dois sob nervosos olhos encapuzados.

— Woodard, — Victor diz exigente, — deixe-nos.

Sem hesitação, James se levanta, enfia o laptop debaixo do braço e sai.

Uma bola nervosa senta-se no meu estômago. Sei que ele está chateado comigo, mas eu sinto fortemente o que Niklas deve estar passando, e eu não consigo encontrar nenhuma razão aceitável para que Victor não estivesse tentando fazer as coisas direito entre eles, agora.

— É isso que você pensa de mim? — Ele pergunta, zangado, mas ao mesmo tempo ferido pela perspectiva. — Você acha que esses arquivos e estas fotografias — acena com uma mão na mesa — são mais importantes para mim do que o meu irmão? Olhe para mim —aponta os seus olhos com o seu indicador e dedo médio — e me diga: que você pensa isso de mim, porque é exatamente como se sente agora. Quero ouvir você dizer isso.

Engulo nervosa e começo a sacudir a cabeça. Eu raramente o vi assim antes, então eu sei que eu ultrapassei meus limites, que eu o machuquei, e já me sinto terrível por fazer ele se sentir assim.

— Eu sinto muito... Eu apenas...

Os ombros de Victor mergulham em um longo suspiro e ele olha para a mesa, mas não para as coisas espalhadas por cima. Ele cai pesadamente de volta em sua cadeira e encosta contra ela.

— Izabel — ele diz com mais calma, mas sem olhar para mim, — eu sabia que tinha que sair algum dia. Nem um dia se passou nos últimos seis anos quando eu olho para meu irmão e eu não me sinto como uma merda pelo o que eu fiz. Niklas talvez nunca me perdoe, mas ele vai entender.

Eu ando em sua direção pelo comprimento da enorme mesa.

— Você parece esquecer que ele tentou matar você — acrescenta Victor.

— Eu nunca me esqueci disso — digo, — e acho que nunca irei.

— Você não esqueceu ou perdoou, — Victor diz, — mas você entende.

Eu não esperava isso, então eu não digo nada no início.

— Eu me sinto culpada — eu finalmente respondo, ainda sentindo algum tipo de necessidade de confessar porque a culpa está pesando tão fortemente em meus ombros.

A cabeça de Victor levanta e ele me olha com um olhar de descrença e talvez até mesmo decepção.

Eu inclino minhas costas contra o fim da mesa na frente dele, cruzando meus braços.

— Por quê? — Pergunta ele asperamente. — Por que você se sente culpada? Se você disser que é porque você está viva e Claire não está, você é...

— Eu sou o que? — Eu salto de volta, desafiando-o. — Sou estúpida e fraca por ter consciência? Sou ingênua? Muito emocional? Vá em frente, Victor — aponto para os meus olhos com o meu indicador e meu dedo médio — Victor me diga o que realmente pensa de mim.

Seu olhar se desvia.

— Eu acho que seu coração é muito grande — ele diz e instantaneamente meu exterior duro vacila. — É por isso que eu sinto a necessidade de protegê-lo o tempo todo. Não porque você não tem habilidade ou porque eu não acredito em você, mas porque seu coração fica no caminho. E se há alguma profissão no mundo que você não pode e não deve colocar seu coração — aponta duramente para o chão — é esta.

Estou calada por apenas um momento, deixando suas palavras afundarem.

E então algo entra em minha mente que eu tenho mais medo de dizer a ele do que minhas acusações sobre Niklas — mas eu não posso segurar como eu realmente me sinto.

— As coisas seriam melhores para você se eu fosse... mais parecida com Nora, não é? — Eu fiz tudo que eu não pude fazer para parecer amarga ou acusadorq, porque eu não quero dizer isso dessa maneira.

Ele levanta os olhos para mim, e por um longo tempo ele não diz nada.

— Em um sentido profissional e emocional, sim, — ele responde com sinceridade, — mas não por qualquer outra razão. Mas se eu queria alguém como Nora ao meu lado, você não estaria aqui, ao contrário dela, eu não gosto de jogos, assim, por favor, não me acuse de ter uma atração selvagens por aquela mulher, ou a começar a sentir insegura que eu vou me desviar.

— Eu não acho isso em tudo — eu digo, e eu quero dizer isso. — Não é disso que se trata.

Eu levanto meu corpo para sentar na mesa na frente dele, minhas pernas, cobertas em meu traje preto apertado, pendurada sobre a borda da mesa nas curvas dos meus joelhos. Victor move sua cadeira para mais perto para sentar entre elas, colocando seus braços sobre as minhas coxas e ajustando suas mãos sobre minha cintura. As mangas da camisa estão enroladas até os cotovelos; Veias correm ao longo dos músculos duros de seus antebraços levemente bronzeados.

Corro todos os meus dedos pelo topo do seu cabelo curto e castanho.

— Você não confia em mim para cuidar de mim mesma em tudo, Victor? — Eu pergunto com preocupação e não com acusação. — Não há nada sobre mim — de um ponto de vista profissional e emocional — que você sente que não precisa... melhorar?

Victor suspira.

— Confio no seu julgamento, Izabel — diz. — Quando se trata de outros, você é um bom juiz de caráter. Você sabe inerentemente, antes mesmo que eu faça geralmente, sobre uma pessoa no interior. Mas eu não confio em você quando você está com raiva ou por vingança. Você tende a tomar decisões precipitadas, pular de cabeça em situações perigosas sem um plano, tome Los Angeles e Arthur Hamburg, por exemplo. Mas quando você está calmo e não agir por raiva ou vingança, você sabe o que está fazendo. E confio em você cem por cento.

Agradeço-lhe com os meus olhos.

Ficamos em silêncio por um longo tempo e então eu digo com uma voz suave:

— E se Niklas não voltar?

— Ele vai voltar, — responde Victor, mas na sua voz, sinto que ele não pode está tão confiante nessa suposição quanto ele gostaria. — Ele é meu irmão — continua ele, — e ele pode me odiar por um tempo ou até mesmo querer me matar, mas ele sempre será meu irmão e eu sempre farei qualquer coisa por ele e ele sabe disso.

Eu penso sobre isso por um momento, deixando a realidade da verdade me tomar, Victor está emocionalmente deficiente não por causa de apenas uma, mas duas pessoas em sua vida que ele ama. Espanta-me como ele pode suportar, como ele pode continuar a agir como se nada nunca o incomodasse, que ele não tem sentimentos, ou temores. Do lado de fora, Victor é frio, calculado e desapegado quase todo o tempo — quem não o conhece no nível que eu conheço poderia pensar que ele era como Fredrik, mas a verdade é que ele carrega um fardo maior do que qualquer um de nós. Victor se sente responsável por Niklas e eu. Ele teve que escolher, duas vezes agora, entre seu irmão e eu. E quando você tem que escolher entre duas pessoas que você ama, não importa qual caminho você vá lá estarão consequências dolorosas.

Eu me inclino sobre ele e beijo o topo de sua cabeça.

— Desculpe por duvidar de você — digo. — Eu realmente pensei que você ia deixar Dina morrer e eu sinto muito por não acreditar em você. — Eu estava querendo dizer isso a ele desde o momento em que ele confessou seu segredo para Nora, mas eu tenho evitado por vergonha e culpa. Mas, mais do que isso, eu precisava de tempo para pensar sobre tudo o que aconteceu por causa disso.

Ele olha para mim.

— E porque eu não vou mentir para você — diz ele, — assim como eu não pude mentir para Niklas sobre Claire, a verdade é que quase a deixou morrer.

Eu concordo. Porque eu entendo. Era uma escolha entre Niklas e eu. E nunca seria uma escolha fácil.

— Eu sei, — eu digo a ele e solto minhas mãos do seu cabelo.

Então ele enrola os longos dedos dele ao redor dos meus entre minhas pernas e levanta uma mão para seus lábios e beija os nós dos meus dedos.

— O que você vai fazer com Dorian?

Ele se levanta e toma o meu rosto em suas mãos, puxando meus lábios para encontrar os dele.

Depois que ele me beija, longo e macio, seus lábios são mornos e sua língua tão macia, ele diz:

— Tudo dependerá do que Fredrik tirar dele.

Um arrepio desconfortável se move através de mim.

— Você vai deixar Fredrik interrogar ele?

Victor se move de entre minhas pernas e começa a empilhar as fotografias na mesa em uma pilha pequena.

Ele não responde, o que é uma resposta por si mesma.

— Quando você vai matar Nora? — Ele pergunta, empilhando as coisas constantemente.

— Antes da manhã — digo. — Eu queria lidar com tudo antes de vê-la novamente.

Ele balança a cabeça.

— Você já pensou sobre isso? — Eu pergunto. — Sobre o que ela disse?

— Não — ele responde e se dirige para a pasta com as fotografias e os arquivos.

— Nem um pouco?

Ele olha para mim.

— Eu pensei sobre isso — ele diz, — mas não considerei, se é isso que você quer dizer. Eu admito, foi uma jogada ousada, mas ela deveria ter pensado mais sobre as consequências de suas ações do que ela fez. Ela matou um dos meus homens na casa da Sra. Gregory. Ela virou meu irmão contra mim. Sequestrou os seus entes queridos e os usaram contra você. E ela tem desperdiçado muito do meu tempo, francamente.

— Verdade — eu digo, franzindo os lábios contemplativamente, — mas ela meio que se provou no processo.

Victor ergue os olhos momentaneamente e fecha a pasta com dois cliques.

— Você está tentando me dizer alguma coisa? — Ele pergunta com suspeita.

Eu balanço a cabeça.

— Não é o que você provavelmente está pensando — eu não quero ela aqui tanto como qualquer um de nós — mas eu vi a maneira que você estava olhando para ela na sala de vigilância. Parece que você queria a chance de dissecá-la.

Um sorriso fraco, quase invisível aparece em seus lábios enquanto ele levanta a pasta da mesa com a mão apertada sobre a alça.

— Você viu isso, não é?

Eu encolho os ombros e sorrio.

— Sim, eu meio que vi.

— Bem, a resposta é não — ele diz andando em minha direção. — Ela causou problema bastante. Mate-a e termine com isso.

Ele me beija nos lábios mais uma vez e dirige-se para a porta.

— Eu volto em algumas horas, — ele diz da porta. Mas logo antes de sair, ele para e olha para mim.

— E vou falar com o Niklas em breve.

Eu aceno com um pequeno sorriso de apoio e ele sai.


CapÍtulo VINTE

Izabel

O piso da cela tem apenas dez celas que Victor queria manter por razões como esta — detém traidores e outros tipos de prisioneiros. As celas são nomeadas de A a J. Eu me dirijo para a cela C com um monte de emoções misturadas e um coração pesado. Eu não quero pensar sobre o que Dorian vai passar com Fredrik mais tarde, mas ao passar pelo corredor sombrio e pelas celas A e B que estão abertas e vazias, é tudo o que posso pensar. Eu não quero pensar que Dorian é um traidor, que talvez as coisas que ele disse a Victor fossem verdadeiras. Talvez ele não seja nosso inimigo e nunca pretendia ser. Mas ele mentiu. E ele trabalhou conosco sob falsos pretextos. E ele deu informações sobre nós ao governo e isso só é o suficiente para Victor para matá-lo.

Eu passo até a porta de aço pesada e empurro para cima em meus dedos do pé para ver dentro através da janela janelinha.

Dorian está deitado contra a cabeceira de uma cama de metal que se projeta da parede. Bandagens sangrentas estão envolvidas sobre ambos os ombros. Tudo o que ele está vestindo é sua calça jeans escura e seu Rolex. Suas botas foram chutadas para o chão, colocadas descuidadamente com as cordas longas espalhadas contra o azulejo.

Estendendo a mão, toco na janela com a ponta do meu dedo.

Dorian ergue a cabeça loira e depois de um segundo olhando para o rosto desfocado na janela e tentado distingui-lo, ele diz: "Izabel?" E com dificuldade força seu corpo ferido do berço para sentar-se ereto. Seu rosto se contorce de dor e ele para, respira fundo e empurra-se para seus pés e caminha até a porta.

Eu me agacho em frente a ela e deslize o metal que cobre sobre a abertura para comida que é longa e larga o suficiente para passar uma bandeja.

— Como você está? — Pergunto.

— Sinta-me como uma merda — ele diz e se senta no chão em seu traseiro, estremecendo com cada movimento abrupto. Tudo o que eu posso ver agora são seus olhos azuis brilhantes e sua testa através da abertura.

— Desculpe — eu digo. — Ei, eu queria vir aqui e dizer que Tessa está bem.

Seus olhos se iluminam um pouco e o alívio passa por cima dele, através de toda a dor e desconforto.

— Na verdade, — eu continuo, — ela estava bem o tempo todo. Nora não a machucou.

— Onde ela está agora?

— James a levou de volta para casa.

Dorian acena com a cabeça.

— Obrigada, Izabel. Por me deixar saber.

Eu aceno de volta.

Depois de alguns longos segundos que se parecem mais como minutos, quebro o silêncio com o inevitável.

— Você contou a verdade a Victor? Você sabe que ele vai descobrir, certo?

— Sim, eu sei, — ele diz. — Mas eu lhe disse a verdade. Há mais para contar a ele, como que tipo de informação eu passei para os meus superiores, mas eu não estava segurando nada disso. Acho que Victor não estava pronto para ouvir.

— Por que você quebrou depois de tudo? — Eu pergunto. — Quero dizer... bem, eu pensei que caras como você foram treinados para não quebrar, nem mesmo para salvar a vida de alguém que você ama. Ponha de lado mentir sobre quem você é; o fato de você quebrar deixa em seu caráter uma falha grave em seu personagem, Dorian. Você desistiu de sua identidade não só por nós, mas por uma civil inocente. Isso nos diz que você estaria disposto a se render sob certas circunstâncias.

Dorian sacode a cabeça.

— Eu sei que parece assim — ele diz, — mas como eu disse a Victor, eu ia eventualmente dizer a ele quem eu era, independentemente se me seria dada a autorização. Eu só tenho que fazer isso mais cedo do que o esperado.

— E se — eu digo, — você nunca recebesse essa autorização? Você admitiria?

Ele suspira.

— Se eu dissesse que não, você acreditaria em mim? — Não era realmente uma pergunta.

— E Tessa? Parecia fácil para você dizer a ela.

— Sim, bem, esse é um tipo diferente de fraqueza — admite. — Ainda uma imperdoável, mas não tão imperdoável como ser um traidor. Olha, eu sei que provavelmente vou morrer aqui. É um perigo nesta linha de trabalho. Aceito e não tenho medo, mas não quero morrer como um traidor.

Depois de um breve momento de pausa, eu digo:

— Eu gostaria de poder dizer que não acho que você é um traidor, mas o que você fez... Eu não sei, é difícil para mim pensar em você como qualquer outra coisa... mas como uma pessoa e um amigo, eu acho que você é genuíno.

— Obrigado.

Ele faz uma pausa e pergunta:

— Ela está morta?

— Vou matá-la em breve.

— Sim, bem, ponha uma bala no ombro daquela cadela antes de matá-la — ele agarra. — Faça a coisa toda dramática, diga a ela "isto é por Dorian!" — Ele ri da própria brincadeira, mas se encolhe e um barulho sibilante empurra seus lábios enquanto ele aspira uma respiração bruscamente em resposta a mais dor.

Eu sorrio e vejo seus olhos caírem para a abertura da porta enquanto ele abaixa a cabeça.

— Sua mãe vai ficar bem? — Ele pergunta.

— Sim, ela estava bem quando James a pegou, como todos os outros.

— Essa deve ter sido as quarenta e oito horas mais fodidas — diz ele. — Acho que você não tem a liberdade de me dizer qual era a grande confissão que ela queria, e de qual de nós?

Eu balanço a cabeça.

— Desculpa.

Ele balança a cabeça.

— Compreensível — ele diz e depois de alguns segundos tranquilos acrescenta: — Acho que isso significa que Gustavsson apareceu depois de tudo.

— Sim. — É tudo o que posso dizer; eu não posso suportar dizer-lhe o resto, onde se refere a ele e Fredrik estarem preocupados.

O som de sapatos batendo contra o chão ecoa pelo corredor — dois pares para ser preciso. Eu engulo incômodo e olho de volta nos olhos de Dorian através da abertura na porta. Ele sabe. Ele balança a cabeça e ri largamente.

— Ele sempre quis me torturar — diz ele. — Eu acho que o cara até tinha sonhos molhados sobre isso — ele não podia me suportar.

Eu me empurro para fora de uma posição agachada e fico de pé, fazendo uma careta de dor e da rigidez nas minhas pernas por estar na mesma posição por tanto tempo. Dorian está olhando para mim agora através da janela embaçada no topo da porta.

Fredrik e Victor contornam a esquina na extremidade distante do salão; dois homens altos e assustadores, todo negócios, em ternos escuros contra as sujas paredes e chão brancos. Juiz e carrasco. Sem emoção. Implacável.

Olho para Dorian.

— O que quer que aconteça comigo — ele diz, — faça-me um favor e certifique-se de que Tessa receba todo o meu dinheiro. A chave para minha caixa de depósito de segurança e outras coisas pessoais que eu gostaria que ela tivesse está escondido na sola da minha bota esquerda. Você vai dizer a Tessa que eu a amo e eu sinto muito por ser tão idiota?

— Eu vou — eu digo a ele.

Deixo Dorian e ando em direção a Victor e Fredrik enquanto eles abrem caminho pelo centro do salão.

— Posso falar com você por um minuto? — Eu pergunto a Fredrik, pisando bem na frente dele.

Estou cansada dele me evitando, e se eu não tentar forçá-lo a falar, eu sei que ele nunca vai e ele pode escapar deste edifício logo após o interrogatório de Dorian, e eu não vou vê-lo novamente por outro mês.

Fredrik começa a caminhar e passar por mim, mas eu o interrompi, parando-o em seu caminho.

— Izabel — diz Victor - temos assuntos importantes a tratar.

— Eu sei, mas isso vai demorar apenas alguns minutos. — Eu olho para Victor através de olhos suplicantes.

Ele não quer me deixar para trás, mas faz, indo na direção da cela de Dorian e me deixando sozinha com Fredrik. Eu ouço a chave chiar na porta da cela e então o som da porta fechando soando quando Victor vai para dentro.

— Eu não tenho tempo para isso — diz Fredrik.

— Faça tempo. Me dê dois minutos. É tudo que eu peço. Por favor.

Ele olha para mim agora, seus olhos azuis escuros enquadrados pelos cabelos escuros, perfurando-me com irritação.

— Eu não posso gastar dois minutos.

— Sim, você pode — eu digo atentamente.

Ele começa a passar por mim novamente, mas eu agarro o seu braço, o material de sua jaqueta preso entre os meus dedos. Sua cabeça se vira de lado para olhar para mim e sua expressão fica mais escura. Seus dentes estão rangendo atrás de um queixo raspado.

Finalmente, deixei o outro lado de mim assumir o lado que está doente da sua merda, e em vez de ter uma conversa de coração com coração com o homem que já foi meu irmão, não consigo parar de dizer-lhe em vez disso.

— Você é um idiota, — eu solto, empurrando as palavras através dos meus dentes. — Olha, eu entendo, eu realmente entendo, e se eu fosse você eu sei que provavelmente eu me sentiria da mesma maneira. Mas eu não iria empurrar as pessoas que se preocupam comigo. — Ele empurra mais contra mim, com a intenção de me ignorar, mas eu me movo na frente dele e empurro ambas as mãos contra seu peito, empurrando sua estatura alta e sólida, mas ele apenas se move. Ele apenas olha para o meu rosto furioso.

Mas ele para — não que ele queira ouvi-lo, mas que ele quer que eu termine com isso para que ele possa estar livre de mim.

— Faça o que quiser — eu digo com ácido em minha voz, — Eu não me importo mais. Se você quer me fechar para fora, tudo bem, mas eu vou dizer o que tenho a dizer antes de ir lá e... fazer a sua coisa. — Um grunhido manipula minha boca.

Fredrik só fica lá olhando para mim com sua pasta apertada ao seu lado.

— Nora Kessler disse a Niklas alguma coisa quando ele estava no quarto com ela, algo que ficou comigo por muito tempo depois que ele deixou. E por mais que a despreze, não posso negar que ela estava certa.

Aponto o dedo para o peito.

— Você precisa de amor para sobreviver, Fredrik — eu digo com convicção dura. — Você é esse homem escuro, assustador, que é tão frio para o exterior que o inferno congelaria se você fosse enviado para lá... mas, do lado dentro, você é um homem quebrado que precisa de amor mais do que alguém por causa da vida que você foi forçado a viver, por causa das coisas terríveis que você foi forçado a suportar. — Eu balancei minha cabeça com tristeza em meu coração. — Você precisa de amor mais do que qualquer coisa, porque é a única coisa que você foi privado. Você me empurrar para longe, porque eu queria dizer alguma coisa para você, porque de todos nós aqui, você pensou em mim como família. Você me ignorou por causa das quantidades de vezes que o amor o destruiu.

Dou um passo para mais perto e meus olhos nunca saem dele, a raiva neles nunca diminuem. Seu rosto frio, mas sem emoção, não mudou.

— Todos precisamos de algo para sobreviver, Fredrik, Victor precisa estar no controle; James precisa de aceitação; Niklas precisa de algo para chamar se dele; Dorian precisa fazer as pazes com ele mesmo... e eu... Eu preciso de um monte de coisas, mas eu ainda não descobri qual delas eu mais preciso. Mas você... você precisa de amor, e você não pode empurrá-lo para sempre. Não é da sua natureza.

Eu passo para trás e para longe dele e só para olhá-lo por um segundo, estudando seu rosto inflexível, seus profundos olhos azuis, procurando algo, qualquer coisa, mas ele não me dá nada. Estou tão zangada! Eu quero que ele diga alguma coisa. Discuta comigo, diga-me como estou errado. Diga-me que eu sou estúpida e jovem e eu não posso saber como ele está se sentindo ou o que ele está passando.

Absolutamente nada.

Balançando a cabeça com um olhar amargo no meu rosto e rendendo ao meu coração, eu gesticulo com a mão na direção da cela de Dorian.

— Eu acho que vou te ver por perto — eu digo, viro meus calcanhares e saio.

Eu não olho para trás enquanto ando pelo comprimento do longo corredor, mas posso sentir que Fredrik fica lá no mesmo lugar, pelo menos, até que eu vire a esquina no final.

O que está acontecendo conosco? A todos nós.

Niklas está longe de ser encontrado. Eu tentei ligar para ele, saí do prédio e dirigi por Boston, verificando os bares que ele gosta, mas é uma hora antes do amanhecer e eu ainda não encontrei nada. Niklas não quer ser encontrado e eu não posso deixar de me perguntar e me preocupar por quanto tempo. E se ele realmente nunca voltar? E se ele não puder "entender" porque Victor fez o que ele fez, e eles se tornaram inimigos? As coisas não podem ser deixadas desta maneira, elas apenas não podem...

Dorian pode estar morto, ou a caminho. Fredrik é uma causa perdida que eventualmente se autodestruirá. Niklas desapareceu. Pode a nossa organização, nossa família, se recuperar do que Nora Kessler fez, ou o que ela desempenhou em grande parte para fazer?

Estou começando a pensar que não pode.


CapÍtulo VINTE E UM

Izabel

Com minha arma na mão, eu abro a porta para a sala onde Nora estava enjaulado por mais de dois dias.

Ela olha para mim da cadeira.

— Vamos — eu digo a ela com uma inclinação para trás da minha cabeça.

— Para onde? — Ela diz, curiosa, enquanto ela se levanta em suas calças de couro, rosto manchado de sangue e cabelo loiro. Havia colocado também a blusa de seda, apesar dos cortes nas costas.

— Você sabe onde, — eu digo a ela calmamente.

Nora caminha até mim com seus pés descalços — seus saltos altos foram jogados contra o chão — e ela faz uma careta pela dor em suas costas e em qualquer outro que Fredrik a machucou, discutem com sua decisão de se mover.

— Por que você não atira em mim aqui? — Ela pergunta.

Eu não respondo, jogando fora como sem importância, mas a verdade é que antes de eu matá-la há algumas coisas que eu quero dizer a ela, coisas que eu não quero que ninguém ouça.

Caminhamos pelo corredor de forma lenta e deliberada, Nora na minha frente, eu em suas costas com minha arma no meu lado, e a conduzo para fora da parte de trás do prédio, na escuridão e no silêncio.

— De joelhos — eu digo a ela, apontando a arma para o chão ao lado de um lixo.

Sem dúvida, sem argumentos ou com um pingo de medo, ela cai de joelhos, já sabendo que devolverá a mim.

— Eu perguntaria por que você não vai implorar por sua vida — eu digo, apontando a arma na parte de trás da cabeça enquanto eu estou a poucos metros de distância, — mas eu já sei a resposta.

— Qual é a resposta? — Ela pergunta, olhando para a parede de tijolos na frente dela.

— Você nunca iria implorar por sua vida.

Eu enrolo meu dedo indicador em torno do gatilho.

— E você estaria certa — ela confirma.

O oceano e o som distante dos carros apressados sobre a autoestrada são fracos, mas são os únicos sons que são ouvidos. O fedor do deposito de lixo aos pés de Nora, e dos outros cinco que alinham na parte traseira dos edifícios próximos fazem sentir falta de ar. Uma única luz brilha a distância de um poste, radiante na entrada de uma garagem de estacionamento, mas a única luz aqui é da lua, fazendo a figura escura de Nora parecer como uma sombra, com exceção de seu cabelo loiro que cobre suas costas e ombros como uma bagunça desgrenhada de palha branca.

Eu olho para ela por um longo tempo, quase sentindo como se eu sevesse forçá-la a me enfrentar, porque se eu vou executá-la eu deveria ter a coragem de olhá-la nos olhos. Mas eu não tenho. Eu não sou corajosa o suficiente para olhar alguém nos olhos e então tirar a vida deles — não assim. Uma mulher desarmada. De joelhos. Atrás de um edifício. Ao lado de um lixo fedorento. Isso me assombraria para sempre.

O tempo passa e eu não percebo o quanto até Nora começa a virar a cabeça em um ângulo para obter um vislumbre de mim atrás dela.

— Algo me diz que você não tem medo de me matar — ela diz, — então, qual é da demora?

Faço uma pausa e digo:

— Eu queria te perguntar algo primeiro.

Ela riu levemente.

— Ah, claro, — ela diz sarcasticamente com o encolher de ombros, — porque eu estou tão inclinada a responder às suas perguntas antes de explodir meus miolos. — Ela olha para trás uma vez com um sorriso e se vira para a parede novamente. — Vá em frente e pergunte o que quiser, mas você pode esperar apenas um tipo de resposta de mim.

— Que tipo isso seria?

— O tipo verdadeiro — diz ela.

— Esse é o único tipo que eu quero.

- Então, por todos os meios - ela gira a mão com o dedo mindinho cortado no ar ao lado dela — pergunte.

Hesitando por um longo e tenso momento, penso na minha pergunta e no que sua resposta verdadeira poderia significar.

— Você acha que um homem como Victor Faust pode estar realmente apaixonado?

Nora está muito quieta, como se a minha pergunta tivesse tirado o sarcasmo dela e substituído por intriga. Então ela vira a cabeça para o lado novamente, permitindo-me ver o contorno de seu nariz e bochecha na escuridão enluarada que envolve ela.

— Essa é uma pergunta ousada — diz ela. — E uma que eu acho que você já sabe a resposta.

— Talvez sim, mas eu quero conhecer a sua.

— Você quer dizer — diz ela, como se para me corrigir, — você quer saber a razão por trás da minha resposta.

- O que quer que seja... basta me dizer.

Eu sinto ela sorrindo, mas eu não vejo isso em seu rosto, e eu não sinto qualquer rancor ou prazer nos sentimentos dela - apenas honestidade.

Ela olha para a parede na frente dela novamente.

— Qualquer um pode estar apaixonado, Izabel — ela diz com uma voz plana, — e posso dizer pelo olhar nos olhos daquele homem que ele é apaixonado por você — (eu quero estar satisfeito com essa resposta, mas eu não estou porque eu sei que não é tudo) — mas um homem como Victor Faust — continua ela, — não pode ficar apaixonado para sempre. Como o tipo de Fredrik não pode viver sem amor, o tipo de Victor não pode viver com ele. E por mais que ele fique no caminho de seus deveres, e quanto mais humano você o torna, mais perto você o empurra para o seu ponto de ruptura.

— O que é que isso quer dizer? — Minha mão com a arma está tremendo. — Você está dizendo que não importa o quê, ele vai acabar conosco?

— Não — ela diz, — mas se você quer mantê-lo e o que você tem com ele intacto, você precisa perder o que resta da sua vida pessoal, sua humanidade. Seu amor por Dina Gregory. Seu ciúme juvenil. Sua consciência. É o suficiente que ele te ame e tenha que protegê-lo, mas ele não continuará, não pode, protegê-la e levar em consideração tudo o que você arrastar com você do lado de fora.

— O que faz você pensar que ele não pode? — As lágrimas picam a parte de trás dos meus olhos, mas eu não as deixo cair.

Nora vira a cabeça para olhar para mim novamente.

— Porque ele é como eu — diz ela não com malícia, mas com verdade. — E de uma forma ou de outra, ele instintivamente fará o que for preciso para restaurar o equilíbrio da única vida que ele já conheceu.

Eu balanço a cabeça repetidamente, não querendo acreditar nela, querendo ir em frente e atirar nela apenas por dizer essas coisas para mim. Mas eu não posso. Ainda não.

Um nó duro desce pelo centro da minha garganta.

— Mas você amava Claire — eu aponto, me agarrando a qualquer coisa que eu possa para virar a verdade em sua cabeça. — Você teria feito qualquer coisa por ela.

— Sim — ela admite, — eu teria... e é por isso que todos os dias que ela estava viva eu contemplei em matá-la.

Meu coração para de bater, como se ela tivesse apenas puxado o tampão em mim.

— Eu amava tanto a minha irmã — ela começa, — que eu sabia que não podia deixá-la viva porque sempre me preocuparia com ela e estava me deixando fraca.

— Você ia matá-la? — Eu mal posso acreditar, mas mais uma vez eu posso. — Você ia matar a sua própria irmã? Sua irmã inocente que nunca fez nada para você e que não tinha ideia em que você estava envolvida? — Minhas palavras são atadas com descrença e nojo.

— Sim. Se Victor não tivesse matado Claire, eu teria feito isso sozinha, eventualmente, e sim, eu estava vingativa porque ele matou ela, mas ela era minha irmã e ela era minha para matar, não de Victor. — Ela faz uma pausa e diz com sinceridade, — Eu sei que é muito estômago, Izabel... eu sei. Eu sei que é impossível para você entender. Mas eu não sinto emoções ou vejo as coisas da maneira que você faz. Eu nunca vou, porque eu fui criado a partir do momento em que nasci, para ser do jeito que sou, não é diferente de você ser do jeito que é. Todos nós temos nossas falhas "imperdoáveis", eu suponho que isso só passe a ser mais aparente em mim.

Minha boca está incrivelmente seca. Meu coração não está batendo rápido ou lento, mas não está batendo bem, é como se ele não consegue descobrir como. Victor contempla me matar como Nora contemplou matar Claire? Ele poderia realmente se livrar de mim porque eu estou interferindo em sua vida como um assassino? Ele poderia matar Niklas? Uma parte de mim me diz que ela é apenas louca e que Victor pode ser como ela em muitos aspectos, mas não nos modos mais extremos — e eu acredito nisso! Meu coração me diz que ele nunca iria recorrer a isso. Ele me mandou embora uma vez, de volta ao Arizona, e não tinha intenção de me ver nunca mais... mas... mas ele fez. Ele cuidou de mim o tempo todo.

Não! Eu não posso deixá-la chegar a mim assim. Eu não vou deixá-la.

Tremo o meu queixo e recupero meu controle.

Nora provou que suas habilidades de manipulação ultrapassam as minhas ou de alguém que eu já conheci. Ela pode fazer uma pessoa acreditar apenas em qualquer coisa que ela queira, fazer a pessoa com a mente mais forte duvidar de si mesmo, ou a pessoa mais fraca de mente acreditar que ela é algo extraordinário. Eu sei como ela funciona — eu experimentei em primeira mão — e eu não vou cometer esse erro novamente. Talvez as coisas que ela está me dizendo não são uma tática de manipulação em tudo, e eles são verdadeiramente nada mais do que suas opiniões, mas eu não estou tomando quaisquer chances. Vou ouvir meu coração, e meu coração está me dizendo que... apenas algumas das coisas que ela está dizendo são verdadeiras... e a parte sobre perder o que resta da minha vida pessoal, creio que é uma delas.

— Ele não sabe... — eu digo, embora eu não tenho certeza por que eu estou dizendo a ela. Eu olho para a parede acima da sua cabeça; a arma ainda está apontada para ela, mas minha mente está em outro lugar.

— Ele não sabe o que? — Nora pergunta.

Muito tempo passa antes de eu responder.

— ... Ele desligou o áudio da sala quando eu confessei para você — eu digo distante, vendo apenas os tijolos na minha frente. — Ele não sabe que eu tive um bebê com Javier... que eu tenho um filho de sete anos ou filha lá em algum lugar.

— E você acha que é melhor manter assim. — Eu acho que é a maneira dela também de me dizer que ela vai manter meu segredo.

Olho para ela, surpresa por ela não ter se movido, porque no meu breve momento de distração, alguém com habilidade de Nora poderia ter reagido com rapidez o bastante para me derrubar dos pés e tirar a arma de mim.

Eu seguro a arma com mais firmeza, percebendo.

Ela olha para a parede novamente, esperando e pronta para eu matá-la. Sem medos. Sem arrependimentos. Nenhuma tentativa de salvar sua própria vida. Nora Kessler aceitou seu destino.

— Confio no seu julgamento, Izabel — diz. — Quando se trata dos outros, você é uma boa juíza de caráter.

Eu sinto como se estivesse presa dentro da minha própria mente giratória. Olho para o cano da minha arma e as costas da cabeça de Nora.

— Quão importante é a honestidade para você? — Eu pergunto a ela.

— Não tenho nenhuma razão para mentir — diz ela, — a menos que seja meu trabalho mentir, por que você pergunta?

— Então me diga — digo, ignorando seu inquérito, — vire-se e me enfrente para que eu possa ver seus olhos, e me diga por que você quer fazer parte de nossa organização.

Depois de um momento, Nora se vira, ainda de joelhos, para me encarar. Ela olha para mim com curiosidade.

Então ela sorri com descrença e sacode a cabeça.

— Antes que você se faça de idiota, Izabel — diz ela, — se você quer que eu fique por perto para treinar você só porque você quer manter Victor, você pode muito bem me matar.

Empurro a arma para ela ameaçadoramente.

— Apenas responda a pergunta — exijo.

Seus olhos curiosos estudam o meu rosto, minhas reações, e então ela diz:

— Eu entrei em um monte de problemas para me provar a Victor Faust — a todos vocês. Eu poderia ter ferido ou matado as pessoas que você ama, mas eu não fiz e não tive nenhuma intenção em fazê-lo. Eu posso ter forçado a todos vocês para expor pelo menos um dos seus segredos mais obscuros, e eu pode ter feito mais danos do que o pretendido, mas nenhum de vocês pode me culpar pelas coisas que você tem feito, os segredos você manteve um do outro - aqueles são os seus erros, não meus. — Ela faz uma careta e ajusta a sua posição ajoelhada apenas um pouco. — Mas para responder a sua pergunta, eu quero ser parte desta Ordem porque eu perdi o único lugar que eu pertencia quando eu deixei a FC-4. Eu não posso simplesmente sair para o mundo, encontrar um emprego, encontrar amigos, me apaixonar e agir como um ser humano normal. Porque eu não sou. E eu nunca serei. E eu não posso voltar para a Sect porque eles vão me matar no local por deserção. Para não mencionar por matar Solis. — Finalmente, senta-se completamente em seu traseiro, incapaz de permanecer em seus joelhos por mais tempo. — Eu nasci, literalmente, para fazer isso. É tudo que eu sei. E isso é tudo o que tenho a dizer.

Eu acredito nela. Independentemente de quão manipuladora ela seja, os fatos também não mentem.

— Então por que você não se mata? — Eu pergunto. — Se você não tem medo da morte, e você não pode viver de outra maneira, por que não acabar com ela?

— Porque o suicídio é o caminho do covarde.

Eu aceno com a cabeça e deixo isso assim.

— Mas o que o impede de tentar matar um de nós? — Inclino a cabeça pensativamente, olhando para ela com desafio. — Já que você parece não ter consciência.

— Eu sou toda negócios, Izabel, — ela responde imediatamente. — E eu sou leal. Está no meu sangue fazer o que me disseram os meus superiores. Eu faço isso sem questionar ou argumentar, e faço-o bem. E se eu quisesse te matar, eu poderia ter isso no segundo em que você me trouxe aqui. Eu poderia ter tomado essa arma de você momentos atrás, quando você estava fora na terra pensando nos segredos de vocês e decidir não contar Victor sobre isso, como se fosse fazê-lo. Provavelmente esta noite está prevendo dormir com ele. — (Como ela sabe essas coisas?) — Se eu quisesse matar qualquer um de vocês, eu não teria passado seis anos planejando esta noite. Eu teria matado você todas as vezes que eu segui você.

— Mas, e quanto a Claire? — Eu digo, ainda precisando de mais. — Ela comprometeu você. Você a amava. Você ia matá-la. E você deixou a única casa que você já conheceu, arriscou tudo, por causa dela. O que quer dizer que não vai acontecer de novo?

— Porque as pessoas como eu só amam uma vez — ela responde sem sequer ter que pensar sobre isso. — Para nós, a experiência é como uma criança tocando uma panela quente.

Eu não digo nada por um tempo.

— Mas quando você está calma e não agi por raiva ou vingança, você sabe o que está fazendo. E confio em você cem por cento.

— Você disse que me treinaria.

Nora acena com a cabeça.

— Eu fiz.

— Então por que você disse...

— Eu vou treiná-lo se a sua necessidade de aprender não é ditada pelo seu amor de um homem — ela corta. — Isso não é diferente de uma menina engravidar apenas para manter seu namorado, ou um homem casando-se com uma mulher que ele não ama porque a engravidou, nunca funciona. E não vou perder meu tempo com tolices.

— Victor não é a única razão pela qual quero aprender — digo. — Eu não vou mentir e dizer que ele não é parte dela, mas ele não é tudo isso. Eu sou diferente de você em quase todos os sentidos, — continuo — mas a única maneira que nós somos iguais é que eu sei que esta é a única vida para mim. Já fui por esse caminho normal e eu não acho que posso fazer isso de novamente. Esta é a minha vida, e eu só quero aprender para me manter viva nele por tanto tempo quanto que eu puder. Victor nunca teve muito tempo para me treinar como eu preciso ser treinada. Ou ele me enviou para outra pessoa — eu silenciosamente me lembro de Spencer e Jacquelyn no estúdio Krav Maga — ou começou a ficar tranquilo depois de um tempo, porque ele não queria me machucar.

— Eu nunca iria ser fácil com você. — Nora sorri.

— Eu sei.

Então eu digo:

— Mas lutar não é a única coisa que quero aprender — quero aprender tudo o que você pode me ensinar: técnicas de manipulação, controle da dor, tudo...

Nora levanta uma sobrancelha.

— Você nunca será capaz de aprender todas essas coisas — diz ela, — a menos que você queira perder a sua capacidade de amar alguém e ser capaz de matá-los em vez disso, mas vou ensinar-lhe o que eu puder.

— Mais uma pergunta.

— Hmmm?

— Apenas por curiosidade — começo, — quando confessei a você, você parecia... simpática. Até mesmo aos sentimentos de Niklas. Se você é tão... sem emoção... por que você parece se importar? Por que zombar do seu pai e seu dedo desencadeia tanta raiva que desencadeiam suas emoções tão controladas? E ausente.

— Eu ainda sou humana — ela diz simplesmente.

Eu penso nisso muito e muito. Sobre tudo.

E então dou a ela a minha arma.

Nora olha para ela brevemente e depois a leva para seus dedos manchados de sangue.

— Então, bem-vindo a bordo — eu digo.

E o fato de que ela não atira em mim nas costas ou foge para as ruas de Boston, quando eu a deixo sentada lá e volto para dentro, mais prova que ela está dizendo a verdade que eu já sabia.


CapÍtulo VINTE E DOIS

Izabel

Quatro dias depois...

Gostaria de poder dizer que as coisas estão voltando ao normal por aqui, mas isso não poderia estar mais longe da verdade. Niklas ainda se foi e nenhum de nós o viu ou ouviu falar dele — ele poderia estar em outro país, ou morando na parte de trás de um bar em algum lugar próximo, e qualquer um seria crível. Seus telefones celulares nem tocam mais: eles vão direto para o correio de voz ou me dizem que o usuário não tem uma caixa de correio configurada para deixar uma mensagem. Eu parei de ligar para ele dois dias atrás. Quando ele quiser ser encontrado, ele nos avisará. E eu vou me preocupar com o resultado disso até que isso aconteça.

Dorian, depois que Fredrik o interrogou por muitas longas horas, estou feliz em dizer que ainda está vivo. Ele ainda está aprisionado na cela C e provavelmente estará lá por um tempo até que Victor descubra o que fazer com ele. Mas de acordo com Fredrik, tudo o que Dorian disse a Victor parece ser verdade, e ele não escondeu nada mais do que sabemos. Mas, a coisa em Victor mantendo vivo, eu acredito, tem principalmente a ver com a Inteligência dos EUA e se eles vão retaliar em reação à morte de Dorian. Mas Victor disse que ele parece o tipo de contratante privado que Dorian é, se ele já fosse morto ou comprometido, os Estados Unidos não afirmariam que sabia algo sobre ele.

É que a inteligência dos Estados Unidos sabe sobre nós impossibilitando que Victor tome uma decisão de qualquer maneira. Dorian admitiu fazer o perfil de cada um de nós e deu essa informação a seus superiores, empregadores, o que quer que eles sejam chamados — eu estou no escuro quando se trata destas coisas e Victor não fala muito sobre isso... ou talvez ele tenha dito e eu acabei por estar muito envolvida no meu treino com Nora Kessler para notar.

Comecei no dia seguinte depois da noite em que a deixei entrar. E já sinto que tenho que cuidar das minhas costas a cada momento do cada dia — não porque ela não possa ser confiada, mas porque, como parte de seu treinamento, ela me ataca do nada. Não existe tal coisa como um descanso. A qualquer momento Nora poderia estar me testando, mentalmente ou fisicamente, ou de qualquer forma que ela achar conveniente. É o mesmo tipo de treinamento que comecei com Victor há mais de um ano, mas muito mais intenso. Ela fode com minha cabeça tantas vezes que eu não posso dizer a diferença quando ela está mentindo no meu rosto ou me dizendo a verdade — eu deveria ser capaz de descobrir isso. Aprender a confiar inteiramente nos meus instintos e ser capaz de reagir a qualquer situação em conformidade, sem nunca pensar nisso. — Se você tem que parar e pensar nisso, você já fodeu — disse ela durante uma das raras vezes em que me deu um conselho. E então: — Não é a mesma coisa que "pensar antes de reagir" trata-se de mudar a maneira de pensar e reagir naturalmente.

Eu nunca esperava que qualquer treinamento fosse assim. E está apenas começando.

Hoje Nora juntou-se à mesa para o seu primeiro encontro.

Victor não aprovou minha decisão de deixá-la se juntar a nós quando eu lhe disse o que eu tinha feito. Não de primeira de qualquer maneira. Eu tive que lembrá-lo que ele disse que confiava em mim, e embora eu pense no fundo ele não precisasse disso, eu sei que ele menos esperava que eu a deixasse viver e tudo veio como um choque para ele. Para mim também. Eu tinha toda a intenção de eliminar Nora naquela noite — eliminando; talvez eu esteja começando a me tornar mais como Victor — mas no último minuto, eu fui com meu istinto em vez do meu ódio por ela.

Entrei na sala de reuniões diante dos rostos de Victor, James e Fredrik. Nora estará atrasada se ela não estiver aqui em cinco minutos. Eu faço o meu caminho para a minha cadeira habitual perto de Victor, onde me sento e tento parecer confiante — sei que Nora não estiver de acordo com as expectativas de todos, isso estará sobre a minha cabeça, porque eu fui a única que a deixou se juntar a nós. Estar atrasada na sua primeira reunião não é uma boa maneira de começar.

A sala está repleta de silêncio. Quase nenhum movimento agita o ar suave que escorre das aberturas no teto. James olha para a tela do laptop. Fredrik senta-se solidamente, como um gigante deslumbrante melancólico com as duas mãos apoiadas na mesa. Victor se senta com as costas presas contra a cadeira e as mãos no colo — sempre o poderoso no quarto, e qualquer um saberia apenas olhando para ele, mesmo que nunca o tivessem visto antes. Eu sinto seus olhos em mim — embora não os de Fredrik — mas não consigo olhar para nenhum deles.

Finalmente, o som de saltos tocando contra o chão do outro lado da porta ecoa pelo corredor. A porta se abre e Nora, com suas longas pernas e com belos cabelos louros, entra na sala de reuniões, fechando a porta atrás dela. Ela está vestida, de todas as coisas, um terno de mulheres negras e altos saltos pretos. Uma camisa com um elegante babado que puxa sob o casaco do terno e fica perfeitamente sobre seu peito, puxado em torno de seu pescoço de uma forma delicada. Delicado — uma palavra que eu nunca teria pensado associar com os gostos de Nora Kessler.

— Chagando perto da hora — eu falo.

Nora senta-se ao lado de James, com as costas retas e refinadas.

— Sim, — ela diz com um sorriso de desculpas e então alcança o bolso da jaqueta e retira um telefone celular. — Mas eu encontrei Niklas.

Victor e eu olhamos um para o outro enquanto Nora desliza o celular sobre a mesa e ao alcance de Victor. Ele pega e olha para a tela, batendo uma vez com a ponta do dedo enquanto ela começa a se desvanecer em preto. Eu me inclino mais perto de Victor para obter uma visão melhor.

— Em Barlow, — Nora anuncia. — Ele parece estar gastando muito do seu tempo lá, bebendo — eu olho para a tela para ver várias fotos de Niklas sentado em um bar escuro iluminado com um tiro de uísque no bar à sua frente — uma garota diferente todas as noites nas últimas noites. Ele está ficando no hotel ao lado do bar.

— Isso é apenas trinta minutos daqui — eu digo, olhando para Victor ansiosamente.

— Bebendo e mulheres — James fala do outro lado da mesa. — Parece que ele não mudou, realmente. Acho que é seguro dizer que ele está bem.

Franzem o cenho para James.

— Ele não está tão bem — eu digo.

— Mas ele estará — diz Victor.

Ele desliza o telefone de volta para Nora. Ela o deixa sobre a mesa na frente dela.

Fredrik não diz nada.

Eu deslizo para trás em minha cadeira mais confortavelmente e viro a Victor.

— Você quer que eu vá falar com ele? — Eu pergunto. — Tentar trazê-lo de volta para cá para que você possa falar com ele?

Victor sacode a cabeça.

— Vamos discutir Niklas mais tarde — diz ele. — Primeiro, eu tenho algo mais que precisa ser tratado.

Victor e Nora trocam um olhar, dando a impressão de que são os únicos na mesa que já falaram sobre isso, seja lá o que for. Eu me sinto incrivelmente incômoda de repente, mas curiosa e ansiosa, também.

— O que é? — Eu pergunto.

Victor respira fundo e olha para todos nós.

— Haverá uma missão importante no futuro próximo — ele diz enigmaticamente e seus olhos caem sobre mim, — não no próximo ano, mas porque levará, pelo menos, esse tempo para se preparar para isso, ou melhor, para preparar Nora - Ele olha para ela por um instante.

— OK — eu digo, desconfiada, — que tipo de missão?

Ele fica quieto por um momento e depois diz:

— Preciso que você volte para o México.

Confusa, eu respondo:

— Por que o México? — Mas o que é tão confuso é o quão obscuro ele está sendo. — Não tenho problema em ir lá, Victor. Você me dá uma missão e eu vou executá-la. O México não me assusta. Já fomos lá uma vez. Pegamos dois dos irmãos de Javier e libertamos algumas das meninas deixadas no complexo. A missão não resultou como eu esperava e muitas das garotas com quem eu vivi quando eu era prisioneira lá, já haviam sido vendidas ou mortas quando chegamos.

Ele olha para longe dos meus olhos momentaneamente.

— Victor, o que é? Apenas diga.

Mais uma vez, sinto todos os olhos em mim, mesmo Fredrik desta vez, mas eu não olho para ninguém além de Victor.

— Esta missão vai exigir algo mais do que matar alguém e voltar — ele começa. — Nos próximos meses você estará treinando Nora para isso.

Minhas sobrancelhas se dobram rigidamente.

— Eu treinando ela? — Estou começando a entender, o que será toda esta missão , mas deixei Victor preencher as lacunas.

— Você estava por dentro, — ele diz para mim, — e você sabe como as coisas funcionam. Tudo. Desde a compra e venda de drogas, armas e meninas, até o modo como as meninas foram tratadas, até como elas foram mortas. Nora certamente pode lidar com qualquer tipo de missão dada a ela, mas mesmo ela precisa ser treinada para que ela saiba exatamente com o que ela está lidando.

Olho bem para Nora, que fica quieta, mas com confiança.

— Espere um segundo, — Eu o cortei — então você está dizendo que quer que eu a treine para ser uma escrava sexual? — De alguma forma eu não pode imaginar essa imagem na minha cabeça, não importa o quanto eu tente.

O rosto de James se ilumina com arrepiante prazer.

— Não necessariamente, — Victor diz. — Eu falei com ela longamente sobre isso e nós dois concordamos que a melhor maneira de abordar esse aspecto particular é para ela se tornar uma das meninas, não apenas desempenhar o papel.

— É melhor se tornar uma delas — diz Nora, — se eu conseguir ser uma delas, não que me ensine como ser uma delas.

Ficando mais confusa, eu olho entre Victor e Nora, procurando respostas.

— Eu sou capaz de assumir qualquer papel, até mesmo uma escrava do sexo, mas você precisa me dar dicas, me dizer sobre os bastidores, sobre como ser mais consciente, como não me matem.

Eu balanço a cabeça, já não gosto dessa ideia.

— Victor, imagino que as coisas não são mais as mesmas. Javier está morto. Izel está morta. Seus irmãos estão mortos.

— Elas podem estar — diz ele, — mas isso não significa que as coisas mudaram muito. Javier tinha seis irmãos que conhecemos. Dois deles ainda estão executando suas operações. O composto ainda está no mesmo lugar. Meninas, drogas e armas ainda são compradas e vendidas como se nada tivesse acontecido. Dentro de dois meses de nossa última missão lá, eles estavam funcionando novamente.

Eu já sabia a maior parte dessa informação, mas vejo por que agora ele tinha que repetir.

Balançando a cabeça com um olhar caído, inclino-me para a frente com os braços sobre a mesa.

— OK mas porquê? Por que voltar? Não me interpretem mal, não tenho nenhum problema em matar aqueles bastardos e libertar mais das meninas, mas...

— Essa não é a missão, Izabel — diz Victor.

Eu pisco, um pouco atordoada.

Nora e Victor trocam outro olhar de conhecimento.

Então Victor diz:

— Nora me disse alguma coisa, na última noite em que ela foi detida naquele quarto, antes dela se juntar a nós. Algo sobre você que eu queria ter mais certeza antes de eu dizer qualquer coisa.

Eu apenas olho para ele, sentindo a dor da traição, mesmo sabendo que ele não me traiu em tudo.

Victor continua:

— Além disso, depois de falar com Dorian quando ele foi detido pela primeira vez, a história de Nora parecia ter mais verdade. — Depois de uma pausa, ele diz: — A missão no México será descobrir quem é Vonnegut. Você pode ser a única pessoa entre nós que já viu o verdadeiro Vonnegut.

— O quê? — Eu não posso acreditar no que acabara de ouvir.

Ele balança a cabeça, e depois começa a falar, mas eu o interrompo.

— Você viu ele — eu aponto. — Do que está falando, Victor?

— O homem que encontrei em raras ocasiões, quando eu fazia parte da Ordem — ele começa, — onde eu era valorizado como um operário, tenho razões para acreditar que não era o verdadeiro Vonnegut. Ele era um chamariz. A verdade é que ninguém realmente sabe quem é o verdadeiro homem por trás da organização de assassinato mais antiga e maior ainda em funcionamento hoje. Nem mesmo a CIA ou o FBI — ninguém. Apenas quando eles pensam que têm uma identidade, descobrem apenas estavam correndo em círculos.

Victor me enche de tudo o que Dorian lhe contou, dos suspeitos de Vonnegut de vender armas a terroristas e de que seu negócio é muito mais do que matar por contrato. Ele continua a me falar sobre as coisas Nora lhe disse em segredo, e sobre o dispositivo de rastreamento que Victor me cortou quando nós estávamos nos escondendo.

— Niklas e eu sabíamos — diz Victor, — na noite em que tirei esse aparelho de você, que algo de tão alta tecnologia tinha que vir de uma fonte externa, que não havia ninguém como Javier Ruiz que fosse capaz de produzir ele mesmo.

— Enquanto eu estava espionando todos vocês, — Nora interrompe, — e mergulhando em informações da Ordem, eu descobri que Vonnegut estava lidando com meninas, também, e estava vendendo dispositivos de rastreamento de alta tecnologia como o que eles encontraram em você.

Victor acrescenta:

— Acredito que o dispositivo que foi colocado em você veio de Vonnegut. Acho que Vonnegut estava vendendo para Javier, e você estava lá no interior, mais perto de Vonnegut do que quase ninguém já esteve.

— Mas o que faz pensar que eu sei como ele se parece? — Eu atiro de volta, ficando mais oprimida por esta informação surpreendente.

— Os homens ricos que você viu quando Javier estava usando você como um troféu de braço — Victor diz, — um deles eu acredito que é o Vonnegut real.

Imediatamente, começo a pensar em todos os seus rostos, cada um movendo-se rapidamente através da minha mente como um borrão.

— Ele não pode ficar escondido para sempre — Victor continua. — Alguém o viu. Ele pode ser um fantasma, mas ainda é humano e os seres humanos por natureza precisam se associar a outros seres humanos, estar na presença de outras pessoas — acho que ele era um desses homens ricos, Izabel. E eu acho que Nora indo para esta missão será como nós finalmente o encontraremos, destronaremos e mataremos.

Ele faz uma pausa e acrescenta com profundidade,

— E então eu assumirei A Ordem, uma vez que ele está morto.

Não respondo ao seu último comentário, mas, pela primeira vez desde que entrei na sala, os olhos de Fredrik se fecham nos meus.

Esta é a primeira vez que eu ouvi Victor dizer algo assim. Assumir a ordem, a ordem... é uma conversa para outro dia. Neste momento meu cérebro está sobrecarregado com... tudo.

Estou em silêncio por um longo tempo, deixando todo o resto que ele me disse para assimilar. Ainda parece ser haver muito que foi deixado sem resposta, mas me leva vários minutos para descobrir quais são essas coisas.

— Mas por que mandar Nora? — Eu digo, olhando para ela por apenas um segundo. — Quero dizer... bem, acho que não posso ser a única a voltar porque muitos já sabem como eu pareço...

— Eu não deixaria você voltar de qualquer maneira — Victor me corta. — Você vai para o México e estará em uma cidade turística, mas Nora estará fazendo o trabalho interno.

Eu franzi o cenho.

— Por quê? O que quer dizer que você não vai me deixar voltar? — Há ácido na minha voz.

Victor suspira e deixa cair as mãos no colo.

— Você não acha que eu sou capaz de volta ali, — Eu acuso. — Você acha que eu sou como todo mundo; isso porque eu passei por uma experiência traumática e que eu nunca seria capaz de me colocar nisso de novo, que eu nunca seria capaz de lidar com isso. Bem, você está errado — eu lanço uma mão no ar — Eu sou o oposto de todo mundo. Eu não tenho medo disso. De qualquer um deles. Eu sou mais forte agora do que nunca, e se alguém pode fazer este trabalho com perfeição, sou eu. Não Nora, mas eu.

— Não se trata de se provar, Izabel — diz Nora calmamente e gentilmente.

Eu olho para ela.

— Ninguém pediu sua opinião...

— Não, mas eu não sou o tipo que dar — ela devolve - Ah, mais aí estar a verdadeira Nora Kessler: audaz, loquaz e irritante.

James se esconde na cadeira um pouco para colocar alguma distância entre ele e Nora, provavelmente esperando que eu me jogue na mesa em qualquer segundo agora.

O deixo passar, inalo uma respiração longa, profunda e volto para olhar para Victor.

— Como você mesmo disse — Victor diz, — você não pode ser a única a entrar porque você não pode arriscar ser vista.

— Talvez haja uma maneira de contornar isso — eu digo. — Poderíamos...

— Izabel — Victor interrompe com um tom sombrio e firme, — você não vai voltar lá... você não pode lutar contra todos os homens naquele complexo que tentariam ter seu caminho com você.

— Ah, então é isso que se trata, — eu digo friamente. — Você acha que eu não posso evitar que eu seja estuprada — eu o olho diretamente nos olhos, sem piscar — confie em mim, eu poderia...

— Nora estará indo para a missão — diz ele, como se isso fosse o fim.

Esfregando os dentes, respiro fundo e me levanto da cadeira.

— Ela não pode entrar lá com fios, — eu assinalo. — Ela não pode levar uma câmera. Ela não terá acesso a um telefone. Eu não duvido de suas habilidades, mas se ela vai ser uma das garotas e torná-la crível, ela não pode se esgueirar para entrar em contato conosco — eles saberiam em poucos minutos que ela está desaparecida. — Eu olho para ela uma vez e digo: — Como você vai ser a única a descobrir quem Vonnegut é se eu sou a única que supostamente o viu? — Eu cruzo os braços e olho atentamente, os olhos correndo entre Nora e Victor.

— Vamos descobrir isso — diz Victor. — Temos vários meses para chegar a um plano.

Eu balanço a cabeça, minha boca se levantando de um lado.

— Victor, eu não sou estúpida para acreditar que você não conhece uma maneira certa de descobrir quem é Vonnegut.

Ele olha para mim, esperando.

— Através de mim — continuo. — No segundo Vonnegut me vê, eu saberei que é ele porque a compreensão de quem o está olhando irá piscar em seus olhos naquele instante. E eu iria vê-lo. Vonnegut está bem consciente de como eu pareço.

— Sim — Victor diz, — essa é a melhor maneira de descobrir quem ele é, mas vamos encontrar outro caminho. Você não vai entrar nesse complexo.

— É o único caminho.

— Outros viram você — ele me lembra, ficando irritado.

— Mas Javier e Izel estão mortos. Luis e Diego estão mortos e eles são os únicos outros irmãos de Javier que eu vi. Quem está correndo o lugar agora duvido saibam quem eu sou.

— Não podemos correr esse risco.

— Concordo — diz James. — É muito perigoso.

— Victor...

— Izabel! — Ele levanta as costas da cadeira — Eu não vou deixar você voltar lá! — ele respira fundo e acalma-se — Eu não estou arriscando você naquele lugar, Nora sim - Suas palavras cruéis não a perturbam nem um pouco; Ela não se importa com essas coisas. — Você quer fazer missões sozinha e isso já é risco suficiente, não importa o quão bom você seja, mas enviá-la em um lugar onde as pessoas podem se lembrar de você e quem vai matar você no local no segundo que eles percebam quem você é, não é um risco que estou disposto a correr.

Olho para a parede, desapontada e zangada, mas tocada por seus sentimentos e não posso simplesmente descartá-los como se eles não fossem nada.

— Me desculpe, — eu digo suavemente e Victor estende a mão para mim. Ele nunca mostra carinho comigo durante as reuniões, então o gesto me deixa surpresa.

Eu ando e pego sua mão. Ele me puxa para ficar ao lado dele. Ele beija o topo dos meus dedos.

— Vamos descobrir um caminho — ele diz gentilmente, — mas Nora será a de dentro.

Eu aceno com relutância.

Quanto tempo você vai se permitir cortar os cantos por mim, Victor?

— Vou ensinar a Nora tudo o que ela precisa saber — eu digo olhando para ela.

Então eu tomo meu assento outra vez.

— Você é a chave para fazer isso funcionar — diz Victor.

Quanto tempo você vai tomar a rota alternativa apenas para me manter fora de perigo?

— Vou fazer o que eu tenho que fazer para ajudar a derrubar este tirano — eu acrescento.

Quão mais…?

E farei o que Victor me pedir, mas uma grande parte de mim quer ser a do interior. Não porque eu sinto a necessidade de provar a mim mesma. Não porque ele está deixando Nora ir em vez de mim e eu sinto alguma sensação de ciúme — isso não tem nada a ver com ciúme, ou determinação imprudente; eu quero que seja eu porque eu passei nove anos da minha vida no México entre esses homens e sinto que, se qualquer missão deveria ser minha, é esta.

— Entretanto — Victor anuncia, — com a ausência de Niklas, e considerando as mudanças feitas nesta Ordem, Nora será a sua nova parceira.

Eu aceno com aceitação.

— E continuarei treinando você enquanto trabalho com você — diz Nora.

— Vocês duas irão em várias missões juntas antes da missão no México — diz Victor. — Vocês irão se concentrar em suas atuais missões por enquanto, mas estejam se preparando para o México da mesma forma.

O silêncio caí sobre o quarto quando cada um de nós pensar sobre o caminho a seguir.

— E Niklas? — Pergunto, decidido a não deixá-lo ser esquecido. — Estamos planejando todas essas missões sem ele?

— Por enquanto, sim — diz Victor. — Até que as coisas entre meu irmão e eu tenham sido resolvidas, é melhor assumir que ele não fará parte de nenhuma missão.

Concordo com a cabeça.

Nós cinco passamos os próximos trinta minutos discutindo os detalhes das nossas futuras missões, incluindo começar cedo no México. É muito estranho sentar nesta mesa sem Dorian e Niklas. E com Nora, em vez disso. Sinto falta do sarcasmo de Dorian e comentários ridículos sobre as mulheres que deviam me esfregar do jeito errado, mas nunca fazem. E eu sinto falta das minhas lutas com Niklas e seus olhares frios e o fedor de seus cigarros persistentes em sua jaqueta.

Finalmente, quando a reunião chega ao fim, Fredrik fica de pé da mesa.

Todos nós olhamos para ele.

— A menos que haja qualquer outra coisa, — ele diz, olhando apenas para Victor, — eu tenho um lugar que eu preciso estar.

— E o que você poderia, eventualmente, ter que fazer? — Nora pergunta, sua voz cheia de provocação, seus lábios vermelhos escuros espalhando-se num sorriso. — Um homem tão frio como você não pode ter qualquer tipo de vida fora desta Ordem. — Ela sorri docemente, perversamente.

Fredrik e Nora raramente falam um com o outro, mas de vez em quando, sua personalidade burlona escapa dela. Ontem ela se colocou como se ela não pudesse quebrar e como ela é agora a segunda mulher a vencê-lo. Ela está tentando consegui uma reação dele, eu realmente não tenho ideia porque ela quer uma, mas Fredrik está, como sempre, não se incomodando com suas provocações.

Até agora.

Ele tira a pasta da mesa.

— Almoço — ele diz simplesmente.

Os olhos castanhos de Nora se iluminam com sugestão.

— Oh? E vai comer sozinho neste almoço, ou gostaria de companhia?

Fredrik anda pelo comprimento da mesa. Ele nunca olha para ela, mas então ele nunca realmente olha para qualquer um de nós.

— Eu prefiro jantar sozinho — diz ele.

Nora apenas balança a cabeça, sorrindo. Nada parece incomodá-la, e admiro isso nela. Silenciosamente, é claro; eu nunca a deixarei saber disso.

Fredrik olha para Victor, esperando.

— Eu vou estar em contato — Victor diz a ele. — Se as coisas forem como planejado, você estará interrogando um homem até o fim da semana.

Fredrik acena, coloca a mão na porta e a empurra.

— Mas não deixe o país — Victor diz antes de Fredrik sair. — Eu acho que é seguro dizer que seu tempo sozinho acabou.

— Claro — diz Fredrik. — Eu estarei esperando por sua ligação. — A porta se fecha ligeiramente atrás dele quando ele sai do quarto.

Victor volta sua atenção para Nora.

— E que outras informações você tem para mim do FC-4? — Ele pergunta.

Nora escova seu cabelo loiro sedoso longe de seus ombros e dobra suas mãos juntos na mesa na frente dela; suas curtas unhas estão pintadas de vermelho para combinar com seu batom. James olha para ela brevemente, da mesma forma que faz a cada poucos segundos, mas tenta não torná-lo tão óbvio.

— Também no final da semana — ela diz, — vou ter tudo o que sei sobre eles à sua disposição.

Victor acena com a cabeça.

Então ele diz:

— Você tem um longo caminho a percorrer antes mesmo que eu começar a confiar em você; um caminho difícil pela frente.

— Sim, estou bem ciente — diz ela em troca. — Se você já confiasse em mim, eu não teria o respeito que eu tenho por você.

Nora olha para mim.

— Mas um pouco de confiança — diz ela, indicando o tipo que eu tenho por ela, — é muito apreciado.

Eu aceno, aceitando seus agradecimentos.

Victor olha entre nós, mas não diz mais nada. Nora é o meu projeto, a minha responsabilidade, meu fardo para carregar. Ele aceita isso e não me privará dela e do que eu preciso dela mesmo que ele temesse que ela seja um erro, mas eu sei que ele vai estar observando cada movimento dela.

— Bem, pela minha parte — James fala, — estou feliz por ter você a bordo. — Ele sorri estupidamente.

Nora lhe dá um olhar sensual, fazendo com que seu grande rosto redondo fique vermelho.

— Não sei como Niklas vai se sentir sobre isso — James acrescenta, — ou até mesmo Dorian, se e... ele alguma vez sai daquela cela, é claro — ele olha para Victor — mas eu suponho que o tempo dirá.

Sim, o tempo tende a conter as respostas para tudo. E, como as coisas estão agora, como as coisas tomaram um rumo tão drástico em nossa Ordem, estou ansiosa e com medo de ver o que o tempo revelará. Acho que a única coisa que posso fazer é esperar. Esperar que Niklas volte e segure a minha respiração como tudo o que está destinado a acontecer entre ele e Victor, aconteça. Espere pelo dia em que o destino de Dorian estará finalmente decidido. Esperar pelo momento que se, ou quando, Victor descobrir sobre a criança que eu tive com Javier, e abrace as consequências da verdade. Esperar para ver se meu julgamento está, de fato, totalmente errado e Nora acaba me fazendo uma tola, afinal.

Esperar. O tempo é uma cadela cruel.


Capítulo vinte e três

Fredrik

HÁ CERCA DE OITO ANOS...


Serafina. Meu anjo com asas pretas. Ela sorriu; um brilho carmesim nos lábios, emoldurado por cabelos tão negros como a minha alma, os olhos tão profundos como o poço sem fundo que é o meu coração. Ela se deitou perto do corpo quente, seus dedos longos e brancos enrolados no sedoso cabelo loiro da menina. Seus seios pródigos e cheios, pressionados contra os menores da menina. Ambos estavam nus, enrolados um ao lado do outro. Eles estavam esperando por mim.

— É muito simples — Seraphina disse e ela arrastou a ponta de sua língua através do pescoço da menina, olhando através do quarto para mim com aquelas piscinas escuras de pecado e salvação. — Nós fazemos tudo juntos, meu amor — sua língua traçou o lábio inferior da garota e a menina devolveu o gesto — meu diabo, meu príncipe negro.

Eu pisei para frente, quebrando os botões da minha camisa.

Seraphina prosseguiu:

— Nós buscamos vingança juntos. Nós fodemos, nós amamos, nós condenamos e destruímos juntos até o dia em que morreremos juntos.

Ela estendeu a mão delicada, mas mortal e gesticulou para mim, curvando seus dedos em direção à sua palma, lentamente e sugestivamente.

— Venha cá e prove-a — disse ela, e então deixou cair a mão entre as coxas da garota. — Você tem que prová-la.

A garota gemeu com o toque de Seraphina, sua cabeça loira pressionando o ombro da minha esposa, seus peitos pequenos e macios empurrando para a vista da luz fraca no pequeno qiarto.

Fiquei de pé ao pé da cama, observando-os, como os dedos de Seraphina se moviam com tanta precisão artística, como as pernas da menina se separaram para ela, expondo seu lugar mais secreto para mim e para o ar fresco da noite.

— Eu disse para você não trazê-las aqui. — Eu finalmente digo enquanto escorregava meu cinto dos laços da minha calça preta, o som do couro se movendo contra a tela em um movimento lento e deliberado. — Nunca sem minha permissão. E nunca aqui. — Eu estava furioso, mas mantive-o contido.

Os lábios vermelhos escuros de Seraphina se espalharam em um delicioso sorriso. A moça acariciou os seios de Seraphina, colocou a cabeça no seu pescoço; ela tentou tocar embaixo Seraphina, mas não foi permitida, então ela puxou a mão dela, arrastando as pontas dos seus dedos em seu estômago.

— Oh, Fredrik — disse Seraphina, levantando as costas da cama - você não pode dizer isso o tempo todo. Estou tentando te ajudar. Isso é apenas parte do processo.

— Mas, da mesma forma — disse eu — disse-lhe para não trazê-las para nossa casa.

Seraphina e eu compartilhamos um olhar, seu sorriso escurecendo com desapontamento; meu rosto sem emoção não tinha mudado. Mas minha esposa nunca desistir tão facilmente. Ela nunca fazia o que eu dizia com um estalar de dois dedos, porque ela era ousada e desafiante e eu adorava isso sobre ela.

Ela se levantou da cama.

A menina ficou alerta e sentou-se quando notou a tensão crescente na sala.

— Quero que você a foda — disse Seraphina. — Eu a trouxe aqui para você. Olhe para ela — ela acenou para a menina, que era muito bonita com lábios cheios e grandes olhos castanhos e quadris curvilíneos — Eu achei que você ia gostar dela. Eu gosto dela.

A menina olhou para trás e para frente entre nós nervosamente.

— Mas esta é a nossa casa, Seraphina. — Eu me aproximei de sua forma alta e nua. — Você sabe que eu não gosto de fodê-los aqui, onde dormimos, onde eu te fodo.

— Eu... acho que vou embora agora — disse a moça, levantando-se da cama.

— Não! — Seraphina estalou, apontando para ela. — Sente-se, caralho. — Ela olhou para mim, fulminando-me, rangendo os dentes. Seus olhos castanhos brilharam em seu rosto oval irritado; O preto de seu cabelo curto brilhando contra o branco cremoso de suas bochechas.

A menina estava com muito medo de se mover. Ela permaneceu na cama, puxando os joelhos para ela e cobrindo seus seios com seus longos cabelos.

— Você pode ir — eu disse a menina, empurrando minha cabeça para trás, indicando a porta aberta atrás de mim.

— Eu disse que ela fodidamente fica, Fredrik!

Seraphina começou a se esgueirar através da cama para a garota, mas eu a agarrei por trás, segurando-a firmemente em torno de sua cintura. A moça levantou-se rapidamente com os olhos arregalados e agarrou suas roupas do chão.

Seraphina lutou comigo a cada passo, a cada momento, até que a menina saiu correndo e ouvi a porta da frente de nossa pequena casa fechada atrás dela.

— Desgraçado!

Arrancando as mãos de Seraphina atrás de suas costas, eu a empurrei para a frente na cama.

— Por que você faz isso, Seraphina? — Eu perguntei a ela, minha voz sufocada de raiva e desespero. Ela lutou contra a cama, mas eu a segurei ainda, pisando entre suas pernas e separando-as com a minha. — É a minha única regra e você a quebrou. Por quê?

— Porque é uma regra fodidamente estúpida! — Ela gritou, uma face pressionada contra o colchão.

Inclinando-me sobre seu corpo com os pulsos ainda presos atrás dela em uma das minhas mãos, eu sussurrei em seu ouvido:

— É estúpido que eu te ame, Seraphina? — Meu aperto aperta em torno de seus pulsos — É estúpido que eu nunca queira compartilhar você ou eu com alguém em nossa casa?

— Que diferença faz? — Perguntou ela em uma voz mais calma, mas amarga. — Não importa onde nós fazemos.

— É importante para mim. — Eu beijei o lado de sua boca.

— Por quê?

— Porque deve haver limites — eu disse e me levantei novamente. — Nós não vamos foder, matar ou destruir qualquer pessoa em nossa casa. Você entende?

Ela balançou a cabeça ainda pressionada contra o colchão.

— Agora você vai ficar quieta ou eu vou ter que amarrar você?

— Vou ficar quieta — disse ela.

Eu soltei seus pulsos e ela moveu seus braços para fora e descansou-os sobre o colchão acima de sua cabeça.

— E por que você vai ficar quieta? — Perguntei quando peguei firmemente o cinto em minha mão.

— Porque eu mereço — ela disse, da mesma forma que ela havia dito as vezes antes que eu tinha que puni-la.

Agachei-me entre as pernas e, com ambas as mãos, separei um pouco mais para a expô-la a mim.

— Eu não sei o que vou fazer com você — eu disse e beijei a carne quente de seu traseiro.

— Você não sabe o que você faria sem mim — disse ela em troca.

Eu beijei a outra bochecha.

— Não, eu não, e eu nunca quero descobrir.

Ela gemeu e seu corpo se enrijeceu quando minha língua serpenteou para fora e lambeu seu clitóris.

Eu me ergui em uma posição e pisei de entre suas pernas. Ela ficou quieta, esperando, sabendo, preparando-se. Eu a observei por um momento. Ela empurrou os dedos dos pés um pouco, o suficiente para segurar suas pernas enquanto ela estava deitada de costas contra o colchão da cintura para cima. Eu queria tanto colocar meu pau nela, eu queria espremer seu traseiro em minhas mãos e fodê-la até que nenhum de nós pudesse ver em linha reta, mas ela tinha que ser tratada primeiro. Eu nunca poderia deixá-la ter seu caminho quando se trata dessas coisas ou ela se tornaria incontrolável. Seraphina pode ter me ajudando a controlar meus impulsos torturantes, meus impulsos assassinos, mas eu não era o único de nós que precisava ser ensinado, controlado e guiado por que Seraphina era uma mulher perigosa e perversa que poderia se perder em qualquer momento e nunca poderia ter muito controle.

O som da pele marcada pelo couro rasgou através do ar e Seraphina gritou alto. Mas ela não se mexeu. Duas vezes. Quatro vezes. Seis vezes. Dez vezes, o cinturão golpeou sua carne, deixando marcas em sua bunda. Ainda assim, ela nunca se moveu; apenas seus dedos se agarraram a cama, rasgando o lençol do colchão e esmagando-o em suas mãos.

Onze. Doze. Treze.

Eu não cedi. Eu nunca poderia deixá-la ver a fraqueza em mim ou eu iria perdê-la. Atacar Seraphina levemente, tendo piedade dela, só a desligaria. Era uma coisa boa porque eu nunca teria tido piedade dela. Eu gostava de infligir a dor tanto quanto ela gostava de tomá-la.

— Fredrik, por favor! — Ela implorou com uma voz chorar lágrima. — Por favor pare…

Eu bati o couro novamente, e novamente, e novamente até chegar a vinte. Era sempre vinte. Ela sabia que sempre haveria vinte chicotadas, não importa o quanto ela me implorasse para parar.

Eu coloquei o cinto de lado na cama e agachado entre suas pernas mais uma vez. Seu corpo tremia debaixo de minhas mãos cuidadas, resistido por apenas segundos sob meus lábios quentes. Eu beijei cada centímetro de sua dor, cada pedaço, cada minúsculo corte onde a pele tinha quebrado. E então eu delicadamente puxei seus lábios separados com meus dedos e arrastei a ponta da minha língua quente entre eles. Lentamente. Atentamente. Seraphina gemeu e choramingou e cavou seus dedos no colchão.

Ela já não sentia a dor.

Tudo que ela sabia era o prazer.

Eu a fodi duramente, a única maneira que qualquer um de nós queria sempre — duro e violento. E depois que eu gozei, eu deitei em suas costas, ainda enterrado dentro dela.

Eu a beijei de volta, sua coluna, seus ombros e seu pescoço. A lâmina de barbear me acenou na mesa de cabeceira, mas esperei. Só mais um pouco.

— Não há ninguém mais no mundo como nós, meu amor — ela disse em uma voz suave, olhando para nada com seu rosto pressionado contra o colchão. — Eu morreria sem você.

Distraidamente, eu continuei a me empurrar profundamente dentro dela lentamente.

— Você nunca estará sem mim — eu disse e beijei a nuca. — E como você disse antes, morreremos juntos.

— Você promete, Fredrik? Você vai junto comigo se eu morrer antes de você?

Eu beijei o lado de sua boca, pressionando meus quadris contra ela. Ela ofegou.

— Quando você morrer, eu também morro — eu sussurrei contra sua orelha. — Você é o amor da minha vida. Meu lindo cisne. E você será minha destruição.

Entrei dentro dela. Seus lábios se separaram em um gemido silencioso e ofegante e seus dedos encontraram o topo do meu cabelo escuro.

— Ninguém pode te amar como eu te amo — disse ela. — Nenhuma mulher neste mundo conhece você como eu conheço você, entende suas necessidades, sua dor, seu passado. Nenhuma mulher pode dar a você o que eu lhe dou.

E ela estava certa.

Eu empurrei mais e mais e, de repente, a lâmina de barbear estava presa entre as pontas dos meus dedos e o polegar.

Eu levantei meu peito de suas costas, apenas o suficiente para que eu pudesse vê-la.

Seraphina choramingou e agarrou a cama quando eu fiz o primeiro corte, verticalmente abaixo suas costas cerca de dois centímetros. Logo iria curar e tornar-se como as outras cicatrizes que eu tinha deixado lá. Então me inclinei e lambei o sangue que escorria da ferida com a língua. Seraphina levantou seu traseiro contra mim, me forçando mais fundo. Meus dedos feriram firmemente dentro de seu cabelo.

Inclinei-me mais um pouco, procurando sua boca com a minha, e eu a beijei longa, dura e sangrenta.

— Ninguém, Fredrik, — ela sussurrou e lambeu minha língua, — ninguém jamais te amará como eu.


Eu não sei quanto tempo eu estive olhando este jornal, as palavras impressas em tinta preta borradas em toda a minha visão. Por quanto tempo minhas memórias de Seraphina me torturarão? Oh sim, claro — até eu morrer junto com ela como eu prometi.

Minha pasta está no chão embaixo da mesa, sentada entre a parede e minhas pernas, escondida na escuridão. Os clientes neste restaurante, como em todos os lugares públicos, são inconscientes. Eles não têm percepção da verdade, a mesma verdade que os cerca todos os dias de sua vida tranquila e inocente — que o mal vive na porta ao lado, passa-os na calçada, prepara as refeições ou, neste caso, come apenas uma mesa com eles. Se eles soubessem apenas que segredos minha pasta tem, ou as coisas horríveis que estas mãos fizeram. Ou as lembranças vívidas e impiedosas que atormentam minha mente como uma ferida que nunca cura.

Enrolei dois dedos em torno da alça do meu café e trouxe a caneca para os meus lábios, suavemente soprando o vapor subindo do topo antes de tomar um gole cuidadoso. Mais uma vez, meus olhos examinam o jornal na mesa da cabine diante de mim — talvez desta vez eu realmente leia as palavras.

Eu vou colocar a caneca de volta para baixo, mas pouco antes de ele se instala de volta em segurança na mesa, o garoto sentado na cabine atrás de mim bate a cabeça contra a parte de trás do meu assento novamente. Algumas gotas caem da borda e sobre a mesa. Eu calmamente limpo-as com um guardanapo.

— Avery! — A mãe repreende. — Eu lhe disse para ficar quieto. Sinto muito.

Acho que o último comentário foi para mim.

Viro a cabeça apenas ligeiramente, não o suficiente para ver a mulher, mas o suficiente ela saber que a ouvi.

— Está tudo bem — eu digo e volto a ler o jornal.

Mais três vezes — além dos provavelmente dez outros antes daquela — o garotinho bate contra a parte de trás do meu assento, até que finalmente a mãe se apressa a sai com ele, pedindo desculpas novamente antes de ela se afastar com a mão de seu filho na dela. E mais uma vez, eu disse a ela que estava bem. O que eu não disse a ela, porém, é que eu, de uma forma estranha, me congratulo com o incômodo. Eu tendo a apreciar as coisas simples, e de outra forma irritante em vida depois de uma noite de torturar alguém, um menino inocente batendo a parte de trás da minha cadeira, sendo um menino, é uma boa mudança de atmosfera. Eu invejo este “Avery”. Que tipo de homem eu seria hoje se eu tivesse sido autorizado a jantar com a minha mãe e não me importar com o que o homem sentado atrás de mim pensaria com a minha cabeça batendo nas costas do seu assento? Talvez aquela pasta debaixo da mesa fosse preenchida com papel e um almoço embalado em vez de agulhas, facas, alicates, venenos e luvas de borracha. Talvez não haveria outra mulher no mundo que pudesse amar e me entender.

— Pronto para uma recarga? — Ouço uma voz doce dizer.

Olho para cima, puxando minha mente de volta para o momento, para ver a minha garçonete cujo nome lê “Emily” segurando um pote de café em uma mão.

— Não, obrigado.

Ela sorri para mim, um rosto de forma oval com lábios amáveis e olhos tipo avelã e pele de cor creme.

— Você vai pedido de sempre hoje? — Ela pergunta. — Dois ovos mexidos. Três fatias de bacon crocante e um copo de água com limão?

Eu olho para ela.

— Não, eu não vou tomar café hoje. — Eu olho de volta para o jornal.

O silêncio enche o espaço entre nós.

Finalmente, ela diz:

— Bem, talvez amanhã, então...

— Não, também não estarei aqui amanhã.

— Oh.

O silêncio começa a se esticar. Eu nunca olho para cima do papel.

— Bem, OK eu vou... deixá-lo para o seu café.

A garçonete chamada Emily, que tem sido minha garçonete todas as outras manhãs pelas últimas três semanas, começa caminhar, deixando sua personalidade brilhante no chão atrás dela.

— Espere — eu chamo em uma voz normal, e ela se detém para olhar para mim. — Eu uh... — Eu olho para a mesa, e então a minha caneca de café, e depois de volta para Emily — ... sim, eu acho que eu gostaria de ter o meu pedido habitual esta manhã.

Seu sorriso bonito retorna, seus olhos castanhos brilhando debaixo de seus cabelos marrom-dourados.

— Ótimo — ela diz balançando a cabeça, — Eu estarei de volta em alguns minutos.

Ela vem tentando falar comigo durante as duas semanas das três que eu vim aqui, mas eu sempre a evitei. Ela é linda, amável, doce e é precisamente por isso que eu não cedi a suas tentativas de conversa casual — ela não é o tipo de garota que eu poderia foder e ir embora, sem culpa por seus sentimentos feridos.

Não sei por que a parei.

Dez minutos depois ela volta com meu café da manhã com um prato em uma mão e um copo de água de limão na outra. Ela os coloca na mesa à minha frente enquanto eu afasto o jornal, dobrando-o e colocando-o no assento.

— Você trabalha aqui perto? — Pergunta ela, enquanto nota algo em seu tablet na palma da mão.

— Não — eu digo quando eu polvilhe pimenta nos meus ovos — estou apenas desfrutando do café da manhã. — E gosto muito do senso de normalidade que tomar café da manhã no mesmo restaurante todas as outras manhãs me dá, eu não digo em voz alta.

Ela rasga um bilhete e o coloca de face para baixo sobre a mesa.

— Bem, estou feliz por ser sua garçonete todas as manhãs — ela diz com um sorriso bonito que sugere algo mais.

Ela é tímida, mas ela está tentando ser corajosa e eu acho que é cativante.

O silêncio começa a se esticar novamente.

— Bem, desfrute da sua refeição — diz ela e então coloca o bilhete no bolso do avental.

— Obrigado — digo a ela e lhe dou um pequeno sorriso antes de voltar para a minha refeição.

Ela balança a cabeça e olha para o bilhete o tempo suficiente para eu pegá-lo. Sentindo como se ela quisesse que eu a olhasse antes de ela se afastar, eu o levo aos meus dedos e virei-o para encontrar um número de telefone escrito na frente, em vez da minha refeição ou quanto devo.

Ela cora sob seu sorriso.

— Você pode me ligar se quiser sair algum dia — seu rubor se aprofunda e só isso me intriga — isso é... se você for solteiro. Ou mesmo... interessado.

Ela está muito nervosa e ficando ainda mais enquanto mais ela fica ali e eu não digo nada.

— Quero dizer, você não é casado, tanto quanto eu posso dizer — ela olha nervosamente para o meu dedo anelar sem um anel — mas se você não está interessado...

— Você é uma mulher muito bonita — eu a cortei para que ela pudesse verter o arrependimento e a humilhação que ela começara a sentir. — E não, eu certamente não sou casado. Sou muito solteiro.

Ela sorri, com os lábios fechados. Noto outra garçonete de pé na caixa registradora, nos observando, e sorrindo. Ela olha para longe quando vê que eu notei.

Eu mantenho minha atenção em Emily.

— Você nunca perguntou a um homem antes, não é?

Seu rosto fica mais vermelho e ela mal pode olhar meus olhos mais.

— É tão óbvio? — Ela pergunta, enrugando seu pequeno nariz.

Eu deixei o sorriso em meus olhos tocar meus lábios mais.

— Sim, mas eu gosto.

Não dizemos mais nada por alguns segundos. Ela não consegue parar de sorrir e eu estou apenas confuso com a minha reação.

— Bem, eu tenho que voltar ao trabalho — ela diz e se vira sobre os calcanhares.

Eu aceno com a cabeça e então, pouco antes de ela ir embora, eu digo:

— Eu chego em casa às nove da noite. Eu ligo antes das nove e meia.

Eu acho que não pode machucar, pelo menos, falar com ela...

Seu sorriso de lábios fechados se ilumina, ela balança a cabeça e caminha até uma mesa onde dois novos clientes acabam de se sentar.

Eu como o meu café da manhã, coloco uma gorjeta grande sobre a mesa debaixo da xícara de café e depois saio em silêncio com a minha pasta na mão.


Perguntas para o leitor

Será que Izabel jamais contará a Victor o seu segredo? Ou ele vai descobrir por conta própria?


O que será de Dorian Flynn? Você acha que Victor deve levar Dorian em cima de sua oferta para trabalhar com a Inteligência dos EUA?


Será que o Niklas voltará à Ordem de Victor? Ele pode (ou deveria) perdoar seu irmão?


Que impacto você acha que Nora Kessler terá na Ordem de Victor, positiva ou negativa? E quanto a Izabel?


Será que Fredrik Gustavsson alguma vez encontrará o amor? Ou você acha que ele deveria ficar longe das mulheres completamente?


Você acha que Nora estava certa em dizer a Izabel que seu relacionamento com Victor está praticamente condenado?

CapÍtulo DEZENOVE

Izabel

Corro direto para os braços de Dina quando James entra no prédio com ela.

— Dina! Estou tão feliz que você está bem. — Meus braços a envolvem.

Ela beija minha cabeça e minhas bochechas e por um momento eu me sinto como uma menina de novo. Uma menina inocente feliz de ver sua mãe, que nunca foi uma escrava do sexo e que nunca matou ninguém.

— Estou bem, estou bem, querida — diz ela, me abraçando com força.

Está vestindo uma blusa cor-de-rosa clara enfiada em uma calça cor de canela. Seu cabelo cinza-aloirado está em rabo de cavalo alto em uma onda de cachos frouxos que caem em torno do seu rosto envelhecido onde há mais rugas ao redor dos olhos que da última vez que a vi.

Eu dou um passo para trás com as suas mãos entrelaçadas nas minhas e eu a olho.

— Você parece... bem — eu digo, tendo esperado — e temido — vê-la coberta de contusões e sangue, talvez alguns ossos quebrados.

— Bem, claro que sim, — ela diz como se eu já soubesse que ela estava bem o tempo todo.

Olho para James parado atrás dela com um olhar de profunda pergunta no meu rosto.

Victor entra na sala de reuniões atrás deles.

— O que está acontecendo? — Eu pergunto, olhando para Victor e depois para James.

— Bem, — James começa, — parece que Nora nunca machucou nenhum deles. Com a Sra. Gregory...

— Oh, por favor me chame Dina, — Dina interrompe, — as coisas apropriadas me fazem sentir velha.

Eu sorrio para mim mesma.

James também sorri e concorda.

— Nora disse a Dina que ela foi enviada por você e Victor para levá-la para a segurança.

— Oh, mas eu não acreditei nela imediatamente — diz Dina, sacudindo sua cabeça grisalha. — Eu sabia melhor do que isso e quando ela matou aquele bom homem que me observava muito da rua, eu estava com medo. Pensei que ela ia me matar em seguida.

Olho para trás e para frente entre Dina e Victor, esperando ansiosamente pelo resto da história.

— Não é necessário dizer, — Dina continua, — aquela mulher fez um show, eu acho, porque no momento que ela estava dizendo “para baixo!”, ela estava olhando para fora das janelas e eu estava realmente com medo de houvesse outros homens lá para me matar. Ela me disse que o homem no chão, ela matou era um traidor, ou eu acho que ela usou alguma palavra filme extravagante como conspirador ou infiltrado — Eu quero dizer a ela para ignorar todas essas coisas, mas eu não tenho o coração fazer isso — Ou algo assim — de qualquer maneira, ela me fez acreditar nela, isso é certo. Ela me tirou daquela casa e me colocou muito bem em outra e me disse para não saísse ou fazer qualquer telefonema. Ela pegou meu celular. Disse que era para o meu próprio bem. Mas eu tinha tudo o que eu precisava. — Ela penteia seus dedos longos e resistidos pelo comprimento do meu cabelo. — E eu não queria colocá-los em perigo, então fiquei como me disseram e esperei.

— Ela não a feriu?

Estou confusa com isso. Completamente confusa.

Dina sacode a cabeça.

— Não, — ela diz, — ela era uma verdadeira bondade. Então, imagine minha surpresa quando o Sr. Woodard aqui me disse que ia me matar. Eu simplesmente não podia acreditar.

Victor e eu olhamos brevemente um para o outro.

— Eu suponho que Tessa alimentou a mesma história? — Eu pergunto.

— Não, — James diz. — Bem, de certa forma. Depois que Nora convenceu Tessa que ela não estava lá para machucá-la, e depois de Tessa inconscientemente deu Nora a munição que ela precisava contra Dorian — tal como ela disse a Dorian que ela fez — Tessa acreditava que Nora erada Inteligência dos EUA e assim ela cooperou.

— Então Tessa também não estava machucada? — Eu pergunto.

— Não, — James responde.

— Onde ela está agora?

Victor aproxima-se e responde:

— Eu pedi que a levassem para casa. Ela não precisava ser trazida para cá. Ela não precisa saber nada sobre nós.

— Ela pensou que eu era um agente da CIA — diz James com uma leve gargalhada, mas com um ar orgulhoso. — Quanto às minhas filhas, bem, elas não eram tão fáceis de convencer. Elas estavam apenas com medo de suas mentes — elas pensam que eu trabalho com imóveis. Então, eu acho que Nora não teve escolha senão amarrá-las em algum lugar.

Eu olho direito para Victor.

— Então ela realmente estava trabalhando sozinha — eu digo sobre Nora.

— Parece dessa maneira — Victor diz com um aceno de cabeça.

— Estou com muita sede — Dina diz, apertando meu quadril com a mão. — Tem alguma coisa por aqui para beber?

Eu a abraço de novo.

— Claro — eu digo a ela e pego sua mão. — Eu vou levá-lo para conseguir alguma coisa.

Eu sorrio levemente para Victor enquanto saio com Dina da sala de reuniões e em direção à pequena cozinha no corredor.

Fredrik passa por nós no caminho enquanto ele se dirige para ver Victor. Ele não diz nada para mim, ou mesmo faz contato visual.

— Oh, ele é atraente, — Dina diz calmamente com os olhos grandes quando ela olha para trás para a sua altura em que terno caro. — A coisa que eu mais odeio em ser velha é que homens assim não me olham mais.

Oh, Dina, se você soubesse o que aquele homem em particular é capaz de fazer.

— Bem, eu acho que você é linda, — eu digo a ela, apertando sua mão fria e envelhecida. — Além disso, os homens hoje são provavelmente um pouco mais raros do que você estava acostumado.

— Ei, eu costumava ser uma prevenidab — diz ela com um sorriso.

— Dina! — Meu rosto torce com todo o tipo de formas e minhas bochechas começam a queimar. — Eu não preciso saber isso.

Nós dois rimos juntos e escorregamos dentro da sala de descanso, que é realmente apenas um quarto com um sofá de couro e cadeira correspondente com uma mesa de café em mármore e duas mesas nas extremidades, uma televisão de tela plana montada na parede e uma área de cozinha em um canto. Victor olhou para Woodard engraçado quando ele lhe pediu para colocar uma sala de descanso no prédio ("Uma sala de descanso? Este não é exatamente o trabalho em fábrica, Woodard."), Mas, no final, e depois de Woodard me explicar o que uma sala de descanso era e eu gostei da ideia, ambos tivemos o que queríamos. E eu não sou a única de nós que a usa com frequência — Niklas dorme aqui às vezes com as botas levantadas no braço do sofá. James traz seu laptop aqui e assiste coisas velhas na TV Land. Dorian... bem, ele sempre foi o único que manteve o frigorífico abastecido. Victor - OK, ele não vem aqui, exceto para encontrar um de nós.

Dina toma um assento no sofá enquanto eu pego dois dos refrigerantes de Dorian da geladeira.

— Então, exceto belas mulheres loiras ameaçando me matar para chegar até você — Dina começa de brincadeira, — o que mais tem acontecido com você, Sarai?

Dina é a única pessoa que eu permito me chamar pelo meu nome antigo. Eu tentei fazer com que ela me chamasse de Izabel uma vez, mas ela recusou, disse que eu cresci com ela me chamando de Sarai e que ela morreria me chamando de Sarai.

Dou-lhe uma garrafa de refrigerante e me sento ao lado dela, puxando uma perna para cima da almofada.

— É estranho ter conversas com você sobre minha vida — eu digo. — Não é como se eu pudesse te dizer sobre a última pessoa que eu vi morrer, tão casualmente como eu posso falar com você sobre conseguir o pedido errado em um drive-thru.

— Eu sei — ela diz e toma uma bebida, — mas o que está acontecendo com você e aquele homem bonito, misterioso seu?

Tomo uma bebida e depois olho para a parede atrás dela.

— As coisas estão bem — eu digo, tentando não chegar na verdade, não estou até mesmo certa qual é a verdade; O que está acontecendo entre mim e Victor não é exatamente o tipo típico de problema no paraíso.

Dina e eu conversamos um pouco sobre coisas simples. Ela me fala sobre o que está acontecendo com os personagens em seus programas de televisão favoritos, mas eu só ouço principalmente porque eu nunca assisto TV e realmente não tenho nada a acrescentar. Falamos sobre o pequeno jardim que ela plantou atrás de sua casa mais nova e como o único vegetal crescendo são os pepinos. Eu não sei nada sobre jardim e não saberia como fazer crescer os legumes, então novamente, eu principalmente apenas ouvir a sua conversa. E ela continua sobre as vendas nas lojas de departamentos que ela gosta de comprar e como ela conseguiu uma blusa de trinta dólares por nove dólares — eu não sei muito sobre as vendas porque com o dinheiro que Victor me dá — e que eu eu ganho — Eu não tenho que prestar atenção às vendas.

E enquanto Dina fala sobre uma variedade de coisas totalmente diferentes ao longo dos próximos trinta minutos, há uma coisa que eu noto que ela menciona em cada tópico — o Arizona.

— Eu costumava assistir a esse programa todas as noites antes de dormir no Arizona — ela havia dito. — Eu tinha a minha poltrona perto da janela e eu sempre a abria e deixava o calor entrar enquanto eu assistia ao meu programa.

E depois:

— Eu realmente não fiz muita jardinagem no Arizona.

E depois:

— Eu ia as tendas de promoções cada fim de semana quando eu vivia no Arizona. Tinha boas ofertas.

Finalmente, depois da quinta menção do Arizona, pergunto-lhe o inevitável:

— Você sente falta de casa, Dina?

Ela sorri levemente e coloca a garrafa de refrigerante na mesa final.

— Eu sinto, Sarai, eu realmente sinto.

Ela suspira e olha para mim, estendendo a mão e colocando-a no meu joelho esticado na almofada, enfiado debaixo da minha outra perna.

— Eu quero voltar para Tucson — diz ela. — Inclusive ao parque de trailers. Tenho saudade. Eu sinto falta dos malditos cães latindo à noite, as crianças correndo de um lado para o outro na rua causando incómodos. Eu só quero ir para casa. — Ela bate no meu joelho e depois se afasta, olhando para mim com olhos tristes, mas sorrindo.

— Mas Dina, não é seguro — eu levanto no sofá — você não pode voltar para lá. Veja o que aconteceu aqui, a razão que você está sentada nesta sala falando comigo agora. Se você voltar lá você estará onde qualquer um que quer encontrá-la, provavelmente olhará ali primeiro.

Seu sorriso aquece seu rosto inteiro.

— Oh, querida, eu não me importo com essas coisas, — ela diz como se para me consolar. — Eu me importei no início, mas era principalmente apenas por causa de você. Mas, eu não posso fazer isso mais, me mudando de um lugar para outro, tendo homens estranhos estacionados do lado de fora a cada casa, me observando o tempo todo. Estou velha demais para isso. Eu aprecio todas as coisas elaboradas que você e Victor me fornece? e as casas bonitas e... apenas tudo. Eu estou muito agradecia. Mas eu só quero ir para casa e viver o resto da minha vida do jeito que eu fiz antes — simplesmente.

Meu coração afunda cada vez mais fundo.

— Mas é perigoso. Eu não quero que nada aconteça com você.

— Nada vai acontecer comigo, querida. — Seu sorriso se alonga. Ela levanta a mão e bate no peito sobre a blusa cor-de-rosa fina onde está seu coração. — Se alguma coisa pode me matar, será o meu coração. Você sabe disso. — Ela sorri e bate no meu joelho novamente brincando e acrescenta: — Além disso, eu sei usar uma espingarda, lembra? E eu não tenho medo de explodir alguém se entrarem em minha casa.

Eu não posso evitar, mas sorrir de volta para ela, mesmo que eu queira lutar com ela nesta questão.

Dina se vira na almofada para me enfrentar completamente e ela leva minhas duas mãos para as dela.

— Eu quero que você me prometa algo — ela diz, olhando nos meus olhos. — E eu quero dizer isso, é uma verdadeira promessa e isso significa tudo para mim e se você nunca a quebrará, mesmo que eu nunca vá descobrir, você deve se sentir culpada por quebrar isso porque é tão importante para mim.

Isso está me assustando, mas eu aceno e concordo.

— O que foi, Dina?

Seus dedos agarram os meus com firmeza, como se para colocar ênfase nas palavras que ela está prestes a dizer.

— Quando eu voltar para casa, de volta a Tucson — diz ela, — eu quero que você me prometa que você não enviará ninguém para me vigiar ou me proteger. Ninguém. E eu também não quero que você faça isso. Você me dá sua palavra?

No começo tudo que eu quero fazer é dizer não — eu até começo a balançar a cabeça — mas ela aperta minhas mãos e força o meu olhar, o olhar em seus olhos tão intenso, e eu sinto quão importante é essa promessa para ela. Tanto quanto eu quero mentir para ela e dizer que, não, eu não vou mandar ninguém para cuidar dela... Eu não posso. Este é o seu desejo e devo-lhe tudo e sei que tenho de ceder a ele, não importa o quão difícil.

E antes que ela saia, enquanto eu digo adeus enquanto ela entra no táxi na rua para ir ao aeroporto de volta a Tucson, eu não posso evitar, mas sinto que esta será a última vez que eu a vejo.

— Eu te amo, garotinha! — Ela grita para mim da janela aberta do carro, seus dedos longos e ossudos acenando na brisa fresca de Boston.

Eu pressiono as pontas dos meus dedos contra meus lábios e envio-lhe meus beijos enquanto ela se afasta, e eu limpo as lágrimas dos meus olhos e tento muito manter o sorriso no meu rosto pelo amor de Dina. Porque ela merece ser feliz e ela não precisa de mais razões para se preocupar comigo mais do que ela já tem.

 

— Você já viu Niklas? — Eu pergunto a Victor na sala de reuniões com James. Eles estão olhando para fotografias e arquivos espalhados sobre a mesa alongada.

Eu ainda estou emocional por ter deixado Dina ir a uma hora atrás.

Victor olha para cima.

— Ele se foi, Izabel — ele responde solenemente e olha para baixo. — Mas não se preocupe com ele agora...

— O quê? — Eu passo mais para dentro do quarto e fico no final da mesa. — Victor, como você pode dizer isso? Já tentou falar com ele?

Ele tranca os olhos nos meus pelo comprimento da mesa.

— Vou falar com meu irmão quando for a hora certa — diz ele.

James olha para nós brevemente e finge estar mais interessado com as fotografias na frente dele. Ele parece desconfortável.

— Quando é qualquer hora certa? — Pergunto com um tom acusatório. — Agora é o melhor momento que qualquer outro dia será.

— Niklas precisa de tempo sozinho — ele diz e eu bato a palma contra a mesa antes que ele tenha a última palavra.

— Foda-se! — Eu digo com raiva.

Victor levanta-se rapidamente da mesa em um movimento rápido, enviando o papel que ele estava lendo em sua mão caindo no chão. Sua cadeira chia quando ela é empurrada para trás em seu caminho para cima.

James congela, olhando entre os nós dois sob nervosos olhos encapuzados.

— Woodard, — Victor diz exigente, — deixe-nos.

Sem hesitação, James se levanta, enfia o laptop debaixo do braço e sai.

Uma bola nervosa senta-se no meu estômago. Sei que ele está chateado comigo, mas eu sinto fortemente o que Niklas deve estar passando, e eu não consigo encontrar nenhuma razão aceitável para que Victor não estivesse tentando fazer as coisas direito entre eles, agora.

— É isso que você pensa de mim? — Ele pergunta, zangado, mas ao mesmo tempo ferido pela perspectiva. — Você acha que esses arquivos e estas fotografias — acena com uma mão na mesa — são mais importantes para mim do que o meu irmão? Olhe para mim —aponta os seus olhos com o seu indicador e dedo médio — e me diga: que você pensa isso de mim, porque é exatamente como se sente agora. Quero ouvir você dizer isso.

Engulo nervosa e começo a sacudir a cabeça. Eu raramente o vi assim antes, então eu sei que eu ultrapassei meus limites, que eu o machuquei, e já me sinto terrível por fazer ele se sentir assim.

— Eu sinto muito... Eu apenas...

Os ombros de Victor mergulham em um longo suspiro e ele olha para a mesa, mas não para as coisas espalhadas por cima. Ele cai pesadamente de volta em sua cadeira e encosta contra ela.

— Izabel — ele diz com mais calma, mas sem olhar para mim, — eu sabia que tinha que sair algum dia. Nem um dia se passou nos últimos seis anos quando eu olho para meu irmão e eu não me sinto como uma merda pelo o que eu fiz. Niklas talvez nunca me perdoe, mas ele vai entender.

Eu ando em sua direção pelo comprimento da enorme mesa.

— Você parece esquecer que ele tentou matar você — acrescenta Victor.

— Eu nunca me esqueci disso — digo, — e acho que nunca irei.

— Você não esqueceu ou perdoou, — Victor diz, — mas você entende.

Eu não esperava isso, então eu não digo nada no início.

— Eu me sinto culpada — eu finalmente respondo, ainda sentindo algum tipo de necessidade de confessar porque a culpa está pesando tão fortemente em meus ombros.

A cabeça de Victor levanta e ele me olha com um olhar de descrença e talvez até mesmo decepção.

Eu inclino minhas costas contra o fim da mesa na frente dele, cruzando meus braços.

— Por quê? — Pergunta ele asperamente. — Por que você se sente culpada? Se você disser que é porque você está viva e Claire não está, você é...

— Eu sou o que? — Eu salto de volta, desafiando-o. — Sou estúpida e fraca por ter consciência? Sou ingênua? Muito emocional? Vá em frente, Victor — aponto para os meus olhos com o meu indicador e meu dedo médio — Victor me diga o que realmente pensa de mim.

Seu olhar se desvia.

— Eu acho que seu coração é muito grande — ele diz e instantaneamente meu exterior duro vacila. — É por isso que eu sinto a necessidade de protegê-lo o tempo todo. Não porque você não tem habilidade ou porque eu não acredito em você, mas porque seu coração fica no caminho. E se há alguma profissão no mundo que você não pode e não deve colocar seu coração — aponta duramente para o chão — é esta.

Estou calada por apenas um momento, deixando suas palavras afundarem.

E então algo entra em minha mente que eu tenho mais medo de dizer a ele do que minhas acusações sobre Niklas — mas eu não posso segurar como eu realmente me sinto.

— As coisas seriam melhores para você se eu fosse... mais parecida com Nora, não é? — Eu fiz tudo que eu não pude fazer para parecer amarga ou acusadorq, porque eu não quero dizer isso dessa maneira.

Ele levanta os olhos para mim, e por um longo tempo ele não diz nada.

— Em um sentido profissional e emocional, sim, — ele responde com sinceridade, — mas não por qualquer outra razão. Mas se eu queria alguém como Nora ao meu lado, você não estaria aqui, ao contrário dela, eu não gosto de jogos, assim, por favor, não me acuse de ter uma atração selvagens por aquela mulher, ou a começar a sentir insegura que eu vou me desviar.

— Eu não acho isso em tudo — eu digo, e eu quero dizer isso. — Não é disso que se trata.

Eu levanto meu corpo para sentar na mesa na frente dele, minhas pernas, cobertas em meu traje preto apertado, pendurada sobre a borda da mesa nas curvas dos meus joelhos. Victor move sua cadeira para mais perto para sentar entre elas, colocando seus braços sobre as minhas coxas e ajustando suas mãos sobre minha cintura. As mangas da camisa estão enroladas até os cotovelos; Veias correm ao longo dos músculos duros de seus antebraços levemente bronzeados.

Corro todos os meus dedos pelo topo do seu cabelo curto e castanho.

— Você não confia em mim para cuidar de mim mesma em tudo, Victor? — Eu pergunto com preocupação e não com acusação. — Não há nada sobre mim — de um ponto de vista profissional e emocional — que você sente que não precisa... melhorar?

Victor suspira.

— Confio no seu julgamento, Izabel — diz. — Quando se trata de outros, você é um bom juiz de caráter. Você sabe inerentemente, antes mesmo que eu faça geralmente, sobre uma pessoa no interior. Mas eu não confio em você quando você está com raiva ou por vingança. Você tende a tomar decisões precipitadas, pular de cabeça em situações perigosas sem um plano, tome Los Angeles e Arthur Hamburg, por exemplo. Mas quando você está calmo e não agir por raiva ou vingança, você sabe o que está fazendo. E confio em você cem por cento.

Agradeço-lhe com os meus olhos.

Ficamos em silêncio por um longo tempo e então eu digo com uma voz suave:

— E se Niklas não voltar?

— Ele vai voltar, — responde Victor, mas na sua voz, sinto que ele não pode está tão confiante nessa suposição quanto ele gostaria. — Ele é meu irmão — continua ele, — e ele pode me odiar por um tempo ou até mesmo querer me matar, mas ele sempre será meu irmão e eu sempre farei qualquer coisa por ele e ele sabe disso.

Eu penso sobre isso por um momento, deixando a realidade da verdade me tomar, Victor está emocionalmente deficiente não por causa de apenas uma, mas duas pessoas em sua vida que ele ama. Espanta-me como ele pode suportar, como ele pode continuar a agir como se nada nunca o incomodasse, que ele não tem sentimentos, ou temores. Do lado de fora, Victor é frio, calculado e desapegado quase todo o tempo — quem não o conhece no nível que eu conheço poderia pensar que ele era como Fredrik, mas a verdade é que ele carrega um fardo maior do que qualquer um de nós. Victor se sente responsável por Niklas e eu. Ele teve que escolher, duas vezes agora, entre seu irmão e eu. E quando você tem que escolher entre duas pessoas que você ama, não importa qual caminho você vá lá estarão consequências dolorosas.

Eu me inclino sobre ele e beijo o topo de sua cabeça.

— Desculpe por duvidar de você — digo. — Eu realmente pensei que você ia deixar Dina morrer e eu sinto muito por não acreditar em você. — Eu estava querendo dizer isso a ele desde o momento em que ele confessou seu segredo para Nora, mas eu tenho evitado por vergonha e culpa. Mas, mais do que isso, eu precisava de tempo para pensar sobre tudo o que aconteceu por causa disso.

Ele olha para mim.

— E porque eu não vou mentir para você — diz ele, — assim como eu não pude mentir para Niklas sobre Claire, a verdade é que quase a deixou morrer.

Eu concordo. Porque eu entendo. Era uma escolha entre Niklas e eu. E nunca seria uma escolha fácil.

— Eu sei, — eu digo a ele e solto minhas mãos do seu cabelo.

Então ele enrola os longos dedos dele ao redor dos meus entre minhas pernas e levanta uma mão para seus lábios e beija os nós dos meus dedos.

— O que você vai fazer com Dorian?

Ele se levanta e toma o meu rosto em suas mãos, puxando meus lábios para encontrar os dele.

Depois que ele me beija, longo e macio, seus lábios são mornos e sua língua tão macia, ele diz:

— Tudo dependerá do que Fredrik tirar dele.

Um arrepio desconfortável se move através de mim.

— Você vai deixar Fredrik interrogar ele?

Victor se move de entre minhas pernas e começa a empilhar as fotografias na mesa em uma pilha pequena.

Ele não responde, o que é uma resposta por si mesma.

— Quando você vai matar Nora? — Ele pergunta, empilhando as coisas constantemente.

— Antes da manhã — digo. — Eu queria lidar com tudo antes de vê-la novamente.

Ele balança a cabeça.

— Você já pensou sobre isso? — Eu pergunto. — Sobre o que ela disse?

— Não — ele responde e se dirige para a pasta com as fotografias e os arquivos.

— Nem um pouco?

Ele olha para mim.

— Eu pensei sobre isso — ele diz, — mas não considerei, se é isso que você quer dizer. Eu admito, foi uma jogada ousada, mas ela deveria ter pensado mais sobre as consequências de suas ações do que ela fez. Ela matou um dos meus homens na casa da Sra. Gregory. Ela virou meu irmão contra mim. Sequestrou os seus entes queridos e os usaram contra você. E ela tem desperdiçado muito do meu tempo, francamente.

— Verdade — eu digo, franzindo os lábios contemplativamente, — mas ela meio que se provou no processo.

Victor ergue os olhos momentaneamente e fecha a pasta com dois cliques.

— Você está tentando me dizer alguma coisa? — Ele pergunta com suspeita.

Eu balanço a cabeça.

— Não é o que você provavelmente está pensando — eu não quero ela aqui tanto como qualquer um de nós — mas eu vi a maneira que você estava olhando para ela na sala de vigilância. Parece que você queria a chance de dissecá-la.

Um sorriso fraco, quase invisível aparece em seus lábios enquanto ele levanta a pasta da mesa com a mão apertada sobre a alça.

— Você viu isso, não é?

Eu encolho os ombros e sorrio.

— Sim, eu meio que vi.

— Bem, a resposta é não — ele diz andando em minha direção. — Ela causou problema bastante. Mate-a e termine com isso.

Ele me beija nos lábios mais uma vez e dirige-se para a porta.

— Eu volto em algumas horas, — ele diz da porta. Mas logo antes de sair, ele para e olha para mim.

— E vou falar com o Niklas em breve.

Eu aceno com um pequeno sorriso de apoio e ele sai.


CapÍtulo VINTE

Izabel

O piso da cela tem apenas dez celas que Victor queria manter por razões como esta — detém traidores e outros tipos de prisioneiros. As celas são nomeadas de A a J. Eu me dirijo para a cela C com um monte de emoções misturadas e um coração pesado. Eu não quero pensar sobre o que Dorian vai passar com Fredrik mais tarde, mas ao passar pelo corredor sombrio e pelas celas A e B que estão abertas e vazias, é tudo o que posso pensar. Eu não quero pensar que Dorian é um traidor, que talvez as coisas que ele disse a Victor fossem verdadeiras. Talvez ele não seja nosso inimigo e nunca pretendia ser. Mas ele mentiu. E ele trabalhou conosco sob falsos pretextos. E ele deu informações sobre nós ao governo e isso só é o suficiente para Victor para matá-lo.

Eu passo até a porta de aço pesada e empurro para cima em meus dedos do pé para ver dentro através da janela janelinha.

Dorian está deitado contra a cabeceira de uma cama de metal que se projeta da parede. Bandagens sangrentas estão envolvidas sobre ambos os ombros. Tudo o que ele está vestindo é sua calça jeans escura e seu Rolex. Suas botas foram chutadas para o chão, colocadas descuidadamente com as cordas longas espalhadas contra o azulejo.

Estendendo a mão, toco na janela com a ponta do meu dedo.

Dorian ergue a cabeça loira e depois de um segundo olhando para o rosto desfocado na janela e tentado distingui-lo, ele diz: "Izabel?" E com dificuldade força seu corpo ferido do berço para sentar-se ereto. Seu rosto se contorce de dor e ele para, respira fundo e empurra-se para seus pés e caminha até a porta.

Eu me agacho em frente a ela e deslize o metal que cobre sobre a abertura para comida que é longa e larga o suficiente para passar uma bandeja.

— Como você está? — Pergunto.

— Sinta-me como uma merda — ele diz e se senta no chão em seu traseiro, estremecendo com cada movimento abrupto. Tudo o que eu posso ver agora são seus olhos azuis brilhantes e sua testa através da abertura.

— Desculpe — eu digo. — Ei, eu queria vir aqui e dizer que Tessa está bem.

Seus olhos se iluminam um pouco e o alívio passa por cima dele, através de toda a dor e desconforto.

— Na verdade, — eu continuo, — ela estava bem o tempo todo. Nora não a machucou.

— Onde ela está agora?

— James a levou de volta para casa.

Dorian acena com a cabeça.

— Obrigada, Izabel. Por me deixar saber.

Eu aceno de volta.

Depois de alguns longos segundos que se parecem mais como minutos, quebro o silêncio com o inevitável.

— Você contou a verdade a Victor? Você sabe que ele vai descobrir, certo?

— Sim, eu sei, — ele diz. — Mas eu lhe disse a verdade. Há mais para contar a ele, como que tipo de informação eu passei para os meus superiores, mas eu não estava segurando nada disso. Acho que Victor não estava pronto para ouvir.

— Por que você quebrou depois de tudo? — Eu pergunto. — Quero dizer... bem, eu pensei que caras como você foram treinados para não quebrar, nem mesmo para salvar a vida de alguém que você ama. Ponha de lado mentir sobre quem você é; o fato de você quebrar deixa em seu caráter uma falha grave em seu personagem, Dorian. Você desistiu de sua identidade não só por nós, mas por uma civil inocente. Isso nos diz que você estaria disposto a se render sob certas circunstâncias.

Dorian sacode a cabeça.

— Eu sei que parece assim — ele diz, — mas como eu disse a Victor, eu ia eventualmente dizer a ele quem eu era, independentemente se me seria dada a autorização. Eu só tenho que fazer isso mais cedo do que o esperado.

— E se — eu digo, — você nunca recebesse essa autorização? Você admitiria?

Ele suspira.

— Se eu dissesse que não, você acreditaria em mim? — Não era realmente uma pergunta.

— E Tessa? Parecia fácil para você dizer a ela.

— Sim, bem, esse é um tipo diferente de fraqueza — admite. — Ainda uma imperdoável, mas não tão imperdoável como ser um traidor. Olha, eu sei que provavelmente vou morrer aqui. É um perigo nesta linha de trabalho. Aceito e não tenho medo, mas não quero morrer como um traidor.

Depois de um breve momento de pausa, eu digo:

— Eu gostaria de poder dizer que não acho que você é um traidor, mas o que você fez... Eu não sei, é difícil para mim pensar em você como qualquer outra coisa... mas como uma pessoa e um amigo, eu acho que você é genuíno.

— Obrigado.

Ele faz uma pausa e pergunta:

— Ela está morta?

— Vou matá-la em breve.

— Sim, bem, ponha uma bala no ombro daquela cadela antes de matá-la — ele agarra. — Faça a coisa toda dramática, diga a ela "isto é por Dorian!" — Ele ri da própria brincadeira, mas se encolhe e um barulho sibilante empurra seus lábios enquanto ele aspira uma respiração bruscamente em resposta a mais dor.

Eu sorrio e vejo seus olhos caírem para a abertura da porta enquanto ele abaixa a cabeça.

— Sua mãe vai ficar bem? — Ele pergunta.

— Sim, ela estava bem quando James a pegou, como todos os outros.

— Essa deve ter sido as quarenta e oito horas mais fodidas — diz ele. — Acho que você não tem a liberdade de me dizer qual era a grande confissão que ela queria, e de qual de nós?

Eu balanço a cabeça.

— Desculpa.

Ele balança a cabeça.

— Compreensível — ele diz e depois de alguns segundos tranquilos acrescenta: — Acho que isso significa que Gustavsson apareceu depois de tudo.

— Sim. — É tudo o que posso dizer; eu não posso suportar dizer-lhe o resto, onde se refere a ele e Fredrik estarem preocupados.

O som de sapatos batendo contra o chão ecoa pelo corredor — dois pares para ser preciso. Eu engulo incômodo e olho de volta nos olhos de Dorian através da abertura na porta. Ele sabe. Ele balança a cabeça e ri largamente.

— Ele sempre quis me torturar — diz ele. — Eu acho que o cara até tinha sonhos molhados sobre isso — ele não podia me suportar.

Eu me empurro para fora de uma posição agachada e fico de pé, fazendo uma careta de dor e da rigidez nas minhas pernas por estar na mesma posição por tanto tempo. Dorian está olhando para mim agora através da janela embaçada no topo da porta.

Fredrik e Victor contornam a esquina na extremidade distante do salão; dois homens altos e assustadores, todo negócios, em ternos escuros contra as sujas paredes e chão brancos. Juiz e carrasco. Sem emoção. Implacável.

Olho para Dorian.

— O que quer que aconteça comigo — ele diz, — faça-me um favor e certifique-se de que Tessa receba todo o meu dinheiro. A chave para minha caixa de depósito de segurança e outras coisas pessoais que eu gostaria que ela tivesse está escondido na sola da minha bota esquerda. Você vai dizer a Tessa que eu a amo e eu sinto muito por ser tão idiota?

— Eu vou — eu digo a ele.

Deixo Dorian e ando em direção a Victor e Fredrik enquanto eles abrem caminho pelo centro do salão.

— Posso falar com você por um minuto? — Eu pergunto a Fredrik, pisando bem na frente dele.

Estou cansada dele me evitando, e se eu não tentar forçá-lo a falar, eu sei que ele nunca vai e ele pode escapar deste edifício logo após o interrogatório de Dorian, e eu não vou vê-lo novamente por outro mês.

Fredrik começa a caminhar e passar por mim, mas eu o interrompi, parando-o em seu caminho.

— Izabel — diz Victor - temos assuntos importantes a tratar.

— Eu sei, mas isso vai demorar apenas alguns minutos. — Eu olho para Victor através de olhos suplicantes.

Ele não quer me deixar para trás, mas faz, indo na direção da cela de Dorian e me deixando sozinha com Fredrik. Eu ouço a chave chiar na porta da cela e então o som da porta fechando soando quando Victor vai para dentro.

— Eu não tenho tempo para isso — diz Fredrik.

— Faça tempo. Me dê dois minutos. É tudo que eu peço. Por favor.

Ele olha para mim agora, seus olhos azuis escuros enquadrados pelos cabelos escuros, perfurando-me com irritação.

— Eu não posso gastar dois minutos.

— Sim, você pode — eu digo atentamente.

Ele começa a passar por mim novamente, mas eu agarro o seu braço, o material de sua jaqueta preso entre os meus dedos. Sua cabeça se vira de lado para olhar para mim e sua expressão fica mais escura. Seus dentes estão rangendo atrás de um queixo raspado.

Finalmente, deixei o outro lado de mim assumir o lado que está doente da sua merda, e em vez de ter uma conversa de coração com coração com o homem que já foi meu irmão, não consigo parar de dizer-lhe em vez disso.

— Você é um idiota, — eu solto, empurrando as palavras através dos meus dentes. — Olha, eu entendo, eu realmente entendo, e se eu fosse você eu sei que provavelmente eu me sentiria da mesma maneira. Mas eu não iria empurrar as pessoas que se preocupam comigo. — Ele empurra mais contra mim, com a intenção de me ignorar, mas eu me movo na frente dele e empurro ambas as mãos contra seu peito, empurrando sua estatura alta e sólida, mas ele apenas se move. Ele apenas olha para o meu rosto furioso.

Mas ele para — não que ele queira ouvi-lo, mas que ele quer que eu termine com isso para que ele possa estar livre de mim.

— Faça o que quiser — eu digo com ácido em minha voz, — Eu não me importo mais. Se você quer me fechar para fora, tudo bem, mas eu vou dizer o que tenho a dizer antes de ir lá e... fazer a sua coisa. — Um grunhido manipula minha boca.

Fredrik só fica lá olhando para mim com sua pasta apertada ao seu lado.

— Nora Kessler disse a Niklas alguma coisa quando ele estava no quarto com ela, algo que ficou comigo por muito tempo depois que ele deixou. E por mais que a despreze, não posso negar que ela estava certa.

Aponto o dedo para o peito.

— Você precisa de amor para sobreviver, Fredrik — eu digo com convicção dura. — Você é esse homem escuro, assustador, que é tão frio para o exterior que o inferno congelaria se você fosse enviado para lá... mas, do lado dentro, você é um homem quebrado que precisa de amor mais do que alguém por causa da vida que você foi forçado a viver, por causa das coisas terríveis que você foi forçado a suportar. — Eu balancei minha cabeça com tristeza em meu coração. — Você precisa de amor mais do que qualquer coisa, porque é a única coisa que você foi privado. Você me empurrar para longe, porque eu queria dizer alguma coisa para você, porque de todos nós aqui, você pensou em mim como família. Você me ignorou por causa das quantidades de vezes que o amor o destruiu.

Dou um passo para mais perto e meus olhos nunca saem dele, a raiva neles nunca diminuem. Seu rosto frio, mas sem emoção, não mudou.

— Todos precisamos de algo para sobreviver, Fredrik, Victor precisa estar no controle; James precisa de aceitação; Niklas precisa de algo para chamar se dele; Dorian precisa fazer as pazes com ele mesmo... e eu... Eu preciso de um monte de coisas, mas eu ainda não descobri qual delas eu mais preciso. Mas você... você precisa de amor, e você não pode empurrá-lo para sempre. Não é da sua natureza.

Eu passo para trás e para longe dele e só para olhá-lo por um segundo, estudando seu rosto inflexível, seus profundos olhos azuis, procurando algo, qualquer coisa, mas ele não me dá nada. Estou tão zangada! Eu quero que ele diga alguma coisa. Discuta comigo, diga-me como estou errado. Diga-me que eu sou estúpida e jovem e eu não posso saber como ele está se sentindo ou o que ele está passando.

Absolutamente nada.

Balançando a cabeça com um olhar amargo no meu rosto e rendendo ao meu coração, eu gesticulo com a mão na direção da cela de Dorian.

— Eu acho que vou te ver por perto — eu digo, viro meus calcanhares e saio.

Eu não olho para trás enquanto ando pelo comprimento do longo corredor, mas posso sentir que Fredrik fica lá no mesmo lugar, pelo menos, até que eu vire a esquina no final.

O que está acontecendo conosco? A todos nós.

Niklas está longe de ser encontrado. Eu tentei ligar para ele, saí do prédio e dirigi por Boston, verificando os bares que ele gosta, mas é uma hora antes do amanhecer e eu ainda não encontrei nada. Niklas não quer ser encontrado e eu não posso deixar de me perguntar e me preocupar por quanto tempo. E se ele realmente nunca voltar? E se ele não puder "entender" porque Victor fez o que ele fez, e eles se tornaram inimigos? As coisas não podem ser deixadas desta maneira, elas apenas não podem...

Dorian pode estar morto, ou a caminho. Fredrik é uma causa perdida que eventualmente se autodestruirá. Niklas desapareceu. Pode a nossa organização, nossa família, se recuperar do que Nora Kessler fez, ou o que ela desempenhou em grande parte para fazer?

Estou começando a pensar que não pode.


CapÍtulo VINTE E UM

Izabel

Com minha arma na mão, eu abro a porta para a sala onde Nora estava enjaulado por mais de dois dias.

Ela olha para mim da cadeira.

— Vamos — eu digo a ela com uma inclinação para trás da minha cabeça.

— Para onde? — Ela diz, curiosa, enquanto ela se levanta em suas calças de couro, rosto manchado de sangue e cabelo loiro. Havia colocado também a blusa de seda, apesar dos cortes nas costas.

— Você sabe onde, — eu digo a ela calmamente.

Nora caminha até mim com seus pés descalços — seus saltos altos foram jogados contra o chão — e ela faz uma careta pela dor em suas costas e em qualquer outro que Fredrik a machucou, discutem com sua decisão de se mover.

— Por que você não atira em mim aqui? — Ela pergunta.

Eu não respondo, jogando fora como sem importância, mas a verdade é que antes de eu matá-la há algumas coisas que eu quero dizer a ela, coisas que eu não quero que ninguém ouça.

Caminhamos pelo corredor de forma lenta e deliberada, Nora na minha frente, eu em suas costas com minha arma no meu lado, e a conduzo para fora da parte de trás do prédio, na escuridão e no silêncio.

— De joelhos — eu digo a ela, apontando a arma para o chão ao lado de um lixo.

Sem dúvida, sem argumentos ou com um pingo de medo, ela cai de joelhos, já sabendo que devolverá a mim.

— Eu perguntaria por que você não vai implorar por sua vida — eu digo, apontando a arma na parte de trás da cabeça enquanto eu estou a poucos metros de distância, — mas eu já sei a resposta.

— Qual é a resposta? — Ela pergunta, olhando para a parede de tijolos na frente dela.

— Você nunca iria implorar por sua vida.

Eu enrolo meu dedo indicador em torno do gatilho.

— E você estaria certa — ela confirma.

O oceano e o som distante dos carros apressados sobre a autoestrada são fracos, mas são os únicos sons que são ouvidos. O fedor do deposito de lixo aos pés de Nora, e dos outros cinco que alinham na parte traseira dos edifícios próximos fazem sentir falta de ar. Uma única luz brilha a distância de um poste, radiante na entrada de uma garagem de estacionamento, mas a única luz aqui é da lua, fazendo a figura escura de Nora parecer como uma sombra, com exceção de seu cabelo loiro que cobre suas costas e ombros como uma bagunça desgrenhada de palha branca.

Eu olho para ela por um longo tempo, quase sentindo como se eu sevesse forçá-la a me enfrentar, porque se eu vou executá-la eu deveria ter a coragem de olhá-la nos olhos. Mas eu não tenho. Eu não sou corajosa o suficiente para olhar alguém nos olhos e então tirar a vida deles — não assim. Uma mulher desarmada. De joelhos. Atrás de um edifício. Ao lado de um lixo fedorento. Isso me assombraria para sempre.

O tempo passa e eu não percebo o quanto até Nora começa a virar a cabeça em um ângulo para obter um vislumbre de mim atrás dela.

— Algo me diz que você não tem medo de me matar — ela diz, — então, qual é da demora?

Faço uma pausa e digo:

— Eu queria te perguntar algo primeiro.

Ela riu levemente.

— Ah, claro, — ela diz sarcasticamente com o encolher de ombros, — porque eu estou tão inclinada a responder às suas perguntas antes de explodir meus miolos. — Ela olha para trás uma vez com um sorriso e se vira para a parede novamente. — Vá em frente e pergunte o que quiser, mas você pode esperar apenas um tipo de resposta de mim.

— Que tipo isso seria?

— O tipo verdadeiro — diz ela.

— Esse é o único tipo que eu quero.

- Então, por todos os meios - ela gira a mão com o dedo mindinho cortado no ar ao lado dela — pergunte.

Hesitando por um longo e tenso momento, penso na minha pergunta e no que sua resposta verdadeira poderia significar.

— Você acha que um homem como Victor Faust pode estar realmente apaixonado?

Nora está muito quieta, como se a minha pergunta tivesse tirado o sarcasmo dela e substituído por intriga. Então ela vira a cabeça para o lado novamente, permitindo-me ver o contorno de seu nariz e bochecha na escuridão enluarada que envolve ela.

— Essa é uma pergunta ousada — diz ela. — E uma que eu acho que você já sabe a resposta.

— Talvez sim, mas eu quero conhecer a sua.

— Você quer dizer — diz ela, como se para me corrigir, — você quer saber a razão por trás da minha resposta.

- O que quer que seja... basta me dizer.

Eu sinto ela sorrindo, mas eu não vejo isso em seu rosto, e eu não sinto qualquer rancor ou prazer nos sentimentos dela - apenas honestidade.

Ela olha para a parede na frente dela novamente.

— Qualquer um pode estar apaixonado, Izabel — ela diz com uma voz plana, — e posso dizer pelo olhar nos olhos daquele homem que ele é apaixonado por você — (eu quero estar satisfeito com essa resposta, mas eu não estou porque eu sei que não é tudo) — mas um homem como Victor Faust — continua ela, — não pode ficar apaixonado para sempre. Como o tipo de Fredrik não pode viver sem amor, o tipo de Victor não pode viver com ele. E por mais que ele fique no caminho de seus deveres, e quanto mais humano você o torna, mais perto você o empurra para o seu ponto de ruptura.

— O que é que isso quer dizer? — Minha mão com a arma está tremendo. — Você está dizendo que não importa o quê, ele vai acabar conosco?

— Não — ela diz, — mas se você quer mantê-lo e o que você tem com ele intacto, você precisa perder o que resta da sua vida pessoal, sua humanidade. Seu amor por Dina Gregory. Seu ciúme juvenil. Sua consciência. É o suficiente que ele te ame e tenha que protegê-lo, mas ele não continuará, não pode, protegê-la e levar em consideração tudo o que você arrastar com você do lado de fora.

— O que faz você pensar que ele não pode? — As lágrimas picam a parte de trás dos meus olhos, mas eu não as deixo cair.

Nora vira a cabeça para olhar para mim novamente.

— Porque ele é como eu — diz ela não com malícia, mas com verdade. — E de uma forma ou de outra, ele instintivamente fará o que for preciso para restaurar o equilíbrio da única vida que ele já conheceu.

Eu balanço a cabeça repetidamente, não querendo acreditar nela, querendo ir em frente e atirar nela apenas por dizer essas coisas para mim. Mas eu não posso. Ainda não.

Um nó duro desce pelo centro da minha garganta.

— Mas você amava Claire — eu aponto, me agarrando a qualquer coisa que eu possa para virar a verdade em sua cabeça. — Você teria feito qualquer coisa por ela.

— Sim — ela admite, — eu teria... e é por isso que todos os dias que ela estava viva eu contemplei em matá-la.

Meu coração para de bater, como se ela tivesse apenas puxado o tampão em mim.

— Eu amava tanto a minha irmã — ela começa, — que eu sabia que não podia deixá-la viva porque sempre me preocuparia com ela e estava me deixando fraca.

— Você ia matá-la? — Eu mal posso acreditar, mas mais uma vez eu posso. — Você ia matar a sua própria irmã? Sua irmã inocente que nunca fez nada para você e que não tinha ideia em que você estava envolvida? — Minhas palavras são atadas com descrença e nojo.

— Sim. Se Victor não tivesse matado Claire, eu teria feito isso sozinha, eventualmente, e sim, eu estava vingativa porque ele matou ela, mas ela era minha irmã e ela era minha para matar, não de Victor. — Ela faz uma pausa e diz com sinceridade, — Eu sei que é muito estômago, Izabel... eu sei. Eu sei que é impossível para você entender. Mas eu não sinto emoções ou vejo as coisas da maneira que você faz. Eu nunca vou, porque eu fui criado a partir do momento em que nasci, para ser do jeito que sou, não é diferente de você ser do jeito que é. Todos nós temos nossas falhas "imperdoáveis", eu suponho que isso só passe a ser mais aparente em mim.

Minha boca está incrivelmente seca. Meu coração não está batendo rápido ou lento, mas não está batendo bem, é como se ele não consegue descobrir como. Victor contempla me matar como Nora contemplou matar Claire? Ele poderia realmente se livrar de mim porque eu estou interferindo em sua vida como um assassino? Ele poderia matar Niklas? Uma parte de mim me diz que ela é apenas louca e que Victor pode ser como ela em muitos aspectos, mas não nos modos mais extremos — e eu acredito nisso! Meu coração me diz que ele nunca iria recorrer a isso. Ele me mandou embora uma vez, de volta ao Arizona, e não tinha intenção de me ver nunca mais... mas... mas ele fez. Ele cuidou de mim o tempo todo.

Não! Eu não posso deixá-la chegar a mim assim. Eu não vou deixá-la.

Tremo o meu queixo e recupero meu controle.

Nora provou que suas habilidades de manipulação ultrapassam as minhas ou de alguém que eu já conheci. Ela pode fazer uma pessoa acreditar apenas em qualquer coisa que ela queira, fazer a pessoa com a mente mais forte duvidar de si mesmo, ou a pessoa mais fraca de mente acreditar que ela é algo extraordinário. Eu sei como ela funciona — eu experimentei em primeira mão — e eu não vou cometer esse erro novamente. Talvez as coisas que ela está me dizendo não são uma tática de manipulação em tudo, e eles são verdadeiramente nada mais do que suas opiniões, mas eu não estou tomando quaisquer chances. Vou ouvir meu coração, e meu coração está me dizendo que... apenas algumas das coisas que ela está dizendo são verdadeiras... e a parte sobre perder o que resta da minha vida pessoal, creio que é uma delas.

— Ele não sabe... — eu digo, embora eu não tenho certeza por que eu estou dizendo a ela. Eu olho para a parede acima da sua cabeça; a arma ainda está apontada para ela, mas minha mente está em outro lugar.

— Ele não sabe o que? — Nora pergunta.

Muito tempo passa antes de eu responder.

— ... Ele desligou o áudio da sala quando eu confessei para você — eu digo distante, vendo apenas os tijolos na minha frente. — Ele não sabe que eu tive um bebê com Javier... que eu tenho um filho de sete anos ou filha lá em algum lugar.

— E você acha que é melhor manter assim. — Eu acho que é a maneira dela também de me dizer que ela vai manter meu segredo.

Olho para ela, surpresa por ela não ter se movido, porque no meu breve momento de distração, alguém com habilidade de Nora poderia ter reagido com rapidez o bastante para me derrubar dos pés e tirar a arma de mim.

Eu seguro a arma com mais firmeza, percebendo.

Ela olha para a parede novamente, esperando e pronta para eu matá-la. Sem medos. Sem arrependimentos. Nenhuma tentativa de salvar sua própria vida. Nora Kessler aceitou seu destino.

— Confio no seu julgamento, Izabel — diz. — Quando se trata dos outros, você é uma boa juíza de caráter.

Eu sinto como se estivesse presa dentro da minha própria mente giratória. Olho para o cano da minha arma e as costas da cabeça de Nora.

— Quão importante é a honestidade para você? — Eu pergunto a ela.

— Não tenho nenhuma razão para mentir — diz ela, — a menos que seja meu trabalho mentir, por que você pergunta?

— Então me diga — digo, ignorando seu inquérito, — vire-se e me enfrente para que eu possa ver seus olhos, e me diga por que você quer fazer parte de nossa organização.

Depois de um momento, Nora se vira, ainda de joelhos, para me encarar. Ela olha para mim com curiosidade.

Então ela sorri com descrença e sacode a cabeça.

— Antes que você se faça de idiota, Izabel — diz ela, — se você quer que eu fique por perto para treinar você só porque você quer manter Victor, você pode muito bem me matar.

Empurro a arma para ela ameaçadoramente.

— Apenas responda a pergunta — exijo.

Seus olhos curiosos estudam o meu rosto, minhas reações, e então ela diz:

— Eu entrei em um monte de problemas para me provar a Victor Faust — a todos vocês. Eu poderia ter ferido ou matado as pessoas que você ama, mas eu não fiz e não tive nenhuma intenção em fazê-lo. Eu posso ter forçado a todos vocês para expor pelo menos um dos seus segredos mais obscuros, e eu pode ter feito mais danos do que o pretendido, mas nenhum de vocês pode me culpar pelas coisas que você tem feito, os segredos você manteve um do outro - aqueles são os seus erros, não meus. — Ela faz uma careta e ajusta a sua posição ajoelhada apenas um pouco. — Mas para responder a sua pergunta, eu quero ser parte desta Ordem porque eu perdi o único lugar que eu pertencia quando eu deixei a FC-4. Eu não posso simplesmente sair para o mundo, encontrar um emprego, encontrar amigos, me apaixonar e agir como um ser humano normal. Porque eu não sou. E eu nunca serei. E eu não posso voltar para a Sect porque eles vão me matar no local por deserção. Para não mencionar por matar Solis. — Finalmente, senta-se completamente em seu traseiro, incapaz de permanecer em seus joelhos por mais tempo. — Eu nasci, literalmente, para fazer isso. É tudo que eu sei. E isso é tudo o que tenho a dizer.

Eu acredito nela. Independentemente de quão manipuladora ela seja, os fatos também não mentem.

— Então por que você não se mata? — Eu pergunto. — Se você não tem medo da morte, e você não pode viver de outra maneira, por que não acabar com ela?

— Porque o suicídio é o caminho do covarde.

Eu aceno com a cabeça e deixo isso assim.

— Mas o que o impede de tentar matar um de nós? — Inclino a cabeça pensativamente, olhando para ela com desafio. — Já que você parece não ter consciência.

— Eu sou toda negócios, Izabel, — ela responde imediatamente. — E eu sou leal. Está no meu sangue fazer o que me disseram os meus superiores. Eu faço isso sem questionar ou argumentar, e faço-o bem. E se eu quisesse te matar, eu poderia ter isso no segundo em que você me trouxe aqui. Eu poderia ter tomado essa arma de você momentos atrás, quando você estava fora na terra pensando nos segredos de vocês e decidir não contar Victor sobre isso, como se fosse fazê-lo. Provavelmente esta noite está prevendo dormir com ele. — (Como ela sabe essas coisas?) — Se eu quisesse matar qualquer um de vocês, eu não teria passado seis anos planejando esta noite. Eu teria matado você todas as vezes que eu segui você.

— Mas, e quanto a Claire? — Eu digo, ainda precisando de mais. — Ela comprometeu você. Você a amava. Você ia matá-la. E você deixou a única casa que você já conheceu, arriscou tudo, por causa dela. O que quer dizer que não vai acontecer de novo?

— Porque as pessoas como eu só amam uma vez — ela responde sem sequer ter que pensar sobre isso. — Para nós, a experiência é como uma criança tocando uma panela quente.

Eu não digo nada por um tempo.

— Mas quando você está calma e não agi por raiva ou vingança, você sabe o que está fazendo. E confio em você cem por cento.

— Você disse que me treinaria.

Nora acena com a cabeça.

— Eu fiz.

— Então por que você disse...

— Eu vou treiná-lo se a sua necessidade de aprender não é ditada pelo seu amor de um homem — ela corta. — Isso não é diferente de uma menina engravidar apenas para manter seu namorado, ou um homem casando-se com uma mulher que ele não ama porque a engravidou, nunca funciona. E não vou perder meu tempo com tolices.

— Victor não é a única razão pela qual quero aprender — digo. — Eu não vou mentir e dizer que ele não é parte dela, mas ele não é tudo isso. Eu sou diferente de você em quase todos os sentidos, — continuo — mas a única maneira que nós somos iguais é que eu sei que esta é a única vida para mim. Já fui por esse caminho normal e eu não acho que posso fazer isso de novamente. Esta é a minha vida, e eu só quero aprender para me manter viva nele por tanto tempo quanto que eu puder. Victor nunca teve muito tempo para me treinar como eu preciso ser treinada. Ou ele me enviou para outra pessoa — eu silenciosamente me lembro de Spencer e Jacquelyn no estúdio Krav Maga — ou começou a ficar tranquilo depois de um tempo, porque ele não queria me machucar.

— Eu nunca iria ser fácil com você. — Nora sorri.

— Eu sei.

Então eu digo:

— Mas lutar não é a única coisa que quero aprender — quero aprender tudo o que você pode me ensinar: técnicas de manipulação, controle da dor, tudo...

Nora levanta uma sobrancelha.

— Você nunca será capaz de aprender todas essas coisas — diz ela, — a menos que você queira perder a sua capacidade de amar alguém e ser capaz de matá-los em vez disso, mas vou ensinar-lhe o que eu puder.

— Mais uma pergunta.

— Hmmm?

— Apenas por curiosidade — começo, — quando confessei a você, você parecia... simpática. Até mesmo aos sentimentos de Niklas. Se você é tão... sem emoção... por que você parece se importar? Por que zombar do seu pai e seu dedo desencadeia tanta raiva que desencadeiam suas emoções tão controladas? E ausente.

— Eu ainda sou humana — ela diz simplesmente.

Eu penso nisso muito e muito. Sobre tudo.

E então dou a ela a minha arma.

Nora olha para ela brevemente e depois a leva para seus dedos manchados de sangue.

— Então, bem-vindo a bordo — eu digo.

E o fato de que ela não atira em mim nas costas ou foge para as ruas de Boston, quando eu a deixo sentada lá e volto para dentro, mais prova que ela está dizendo a verdade que eu já sabia.


CapÍtulo VINTE E DOIS

Izabel

Quatro dias depois...

Gostaria de poder dizer que as coisas estão voltando ao normal por aqui, mas isso não poderia estar mais longe da verdade. Niklas ainda se foi e nenhum de nós o viu ou ouviu falar dele — ele poderia estar em outro país, ou morando na parte de trás de um bar em algum lugar próximo, e qualquer um seria crível. Seus telefones celulares nem tocam mais: eles vão direto para o correio de voz ou me dizem que o usuário não tem uma caixa de correio configurada para deixar uma mensagem. Eu parei de ligar para ele dois dias atrás. Quando ele quiser ser encontrado, ele nos avisará. E eu vou me preocupar com o resultado disso até que isso aconteça.

Dorian, depois que Fredrik o interrogou por muitas longas horas, estou feliz em dizer que ainda está vivo. Ele ainda está aprisionado na cela C e provavelmente estará lá por um tempo até que Victor descubra o que fazer com ele. Mas de acordo com Fredrik, tudo o que Dorian disse a Victor parece ser verdade, e ele não escondeu nada mais do que sabemos. Mas, a coisa em Victor mantendo vivo, eu acredito, tem principalmente a ver com a Inteligência dos EUA e se eles vão retaliar em reação à morte de Dorian. Mas Victor disse que ele parece o tipo de contratante privado que Dorian é, se ele já fosse morto ou comprometido, os Estados Unidos não afirmariam que sabia algo sobre ele.

É que a inteligência dos Estados Unidos sabe sobre nós impossibilitando que Victor tome uma decisão de qualquer maneira. Dorian admitiu fazer o perfil de cada um de nós e deu essa informação a seus superiores, empregadores, o que quer que eles sejam chamados — eu estou no escuro quando se trata destas coisas e Victor não fala muito sobre isso... ou talvez ele tenha dito e eu acabei por estar muito envolvida no meu treino com Nora Kessler para notar.

Comecei no dia seguinte depois da noite em que a deixei entrar. E já sinto que tenho que cuidar das minhas costas a cada momento do cada dia — não porque ela não possa ser confiada, mas porque, como parte de seu treinamento, ela me ataca do nada. Não existe tal coisa como um descanso. A qualquer momento Nora poderia estar me testando, mentalmente ou fisicamente, ou de qualquer forma que ela achar conveniente. É o mesmo tipo de treinamento que comecei com Victor há mais de um ano, mas muito mais intenso. Ela fode com minha cabeça tantas vezes que eu não posso dizer a diferença quando ela está mentindo no meu rosto ou me dizendo a verdade — eu deveria ser capaz de descobrir isso. Aprender a confiar inteiramente nos meus instintos e ser capaz de reagir a qualquer situação em conformidade, sem nunca pensar nisso. — Se você tem que parar e pensar nisso, você já fodeu — disse ela durante uma das raras vezes em que me deu um conselho. E então: — Não é a mesma coisa que "pensar antes de reagir" trata-se de mudar a maneira de pensar e reagir naturalmente.

Eu nunca esperava que qualquer treinamento fosse assim. E está apenas começando.

Hoje Nora juntou-se à mesa para o seu primeiro encontro.

Victor não aprovou minha decisão de deixá-la se juntar a nós quando eu lhe disse o que eu tinha feito. Não de primeira de qualquer maneira. Eu tive que lembrá-lo que ele disse que confiava em mim, e embora eu pense no fundo ele não precisasse disso, eu sei que ele menos esperava que eu a deixasse viver e tudo veio como um choque para ele. Para mim também. Eu tinha toda a intenção de eliminar Nora naquela noite — eliminando; talvez eu esteja começando a me tornar mais como Victor — mas no último minuto, eu fui com meu istinto em vez do meu ódio por ela.

Entrei na sala de reuniões diante dos rostos de Victor, James e Fredrik. Nora estará atrasada se ela não estiver aqui em cinco minutos. Eu faço o meu caminho para a minha cadeira habitual perto de Victor, onde me sento e tento parecer confiante — sei que Nora não estiver de acordo com as expectativas de todos, isso estará sobre a minha cabeça, porque eu fui a única que a deixou se juntar a nós. Estar atrasada na sua primeira reunião não é uma boa maneira de começar.

A sala está repleta de silêncio. Quase nenhum movimento agita o ar suave que escorre das aberturas no teto. James olha para a tela do laptop. Fredrik senta-se solidamente, como um gigante deslumbrante melancólico com as duas mãos apoiadas na mesa. Victor se senta com as costas presas contra a cadeira e as mãos no colo — sempre o poderoso no quarto, e qualquer um saberia apenas olhando para ele, mesmo que nunca o tivessem visto antes. Eu sinto seus olhos em mim — embora não os de Fredrik — mas não consigo olhar para nenhum deles.

Finalmente, o som de saltos tocando contra o chão do outro lado da porta ecoa pelo corredor. A porta se abre e Nora, com suas longas pernas e com belos cabelos louros, entra na sala de reuniões, fechando a porta atrás dela. Ela está vestida, de todas as coisas, um terno de mulheres negras e altos saltos pretos. Uma camisa com um elegante babado que puxa sob o casaco do terno e fica perfeitamente sobre seu peito, puxado em torno de seu pescoço de uma forma delicada. Delicado — uma palavra que eu nunca teria pensado associar com os gostos de Nora Kessler.

— Chagando perto da hora — eu falo.

Nora senta-se ao lado de James, com as costas retas e refinadas.

— Sim, — ela diz com um sorriso de desculpas e então alcança o bolso da jaqueta e retira um telefone celular. — Mas eu encontrei Niklas.

Victor e eu olhamos um para o outro enquanto Nora desliza o celular sobre a mesa e ao alcance de Victor. Ele pega e olha para a tela, batendo uma vez com a ponta do dedo enquanto ela começa a se desvanecer em preto. Eu me inclino mais perto de Victor para obter uma visão melhor.

— Em Barlow, — Nora anuncia. — Ele parece estar gastando muito do seu tempo lá, bebendo — eu olho para a tela para ver várias fotos de Niklas sentado em um bar escuro iluminado com um tiro de uísque no bar à sua frente — uma garota diferente todas as noites nas últimas noites. Ele está ficando no hotel ao lado do bar.

— Isso é apenas trinta minutos daqui — eu digo, olhando para Victor ansiosamente.

— Bebendo e mulheres — James fala do outro lado da mesa. — Parece que ele não mudou, realmente. Acho que é seguro dizer que ele está bem.

Franzem o cenho para James.

— Ele não está tão bem — eu digo.

— Mas ele estará — diz Victor.

Ele desliza o telefone de volta para Nora. Ela o deixa sobre a mesa na frente dela.

Fredrik não diz nada.

Eu deslizo para trás em minha cadeira mais confortavelmente e viro a Victor.

— Você quer que eu vá falar com ele? — Eu pergunto. — Tentar trazê-lo de volta para cá para que você possa falar com ele?

Victor sacode a cabeça.

— Vamos discutir Niklas mais tarde — diz ele. — Primeiro, eu tenho algo mais que precisa ser tratado.

Victor e Nora trocam um olhar, dando a impressão de que são os únicos na mesa que já falaram sobre isso, seja lá o que for. Eu me sinto incrivelmente incômoda de repente, mas curiosa e ansiosa, também.

— O que é? — Eu pergunto.

Victor respira fundo e olha para todos nós.

— Haverá uma missão importante no futuro próximo — ele diz enigmaticamente e seus olhos caem sobre mim, — não no próximo ano, mas porque levará, pelo menos, esse tempo para se preparar para isso, ou melhor, para preparar Nora - Ele olha para ela por um instante.

— OK — eu digo, desconfiada, — que tipo de missão?

Ele fica quieto por um momento e depois diz:

— Preciso que você volte para o México.

Confusa, eu respondo:

— Por que o México? — Mas o que é tão confuso é o quão obscuro ele está sendo. — Não tenho problema em ir lá, Victor. Você me dá uma missão e eu vou executá-la. O México não me assusta. Já fomos lá uma vez. Pegamos dois dos irmãos de Javier e libertamos algumas das meninas deixadas no complexo. A missão não resultou como eu esperava e muitas das garotas com quem eu vivi quando eu era prisioneira lá, já haviam sido vendidas ou mortas quando chegamos.

Ele olha para longe dos meus olhos momentaneamente.

— Victor, o que é? Apenas diga.

Mais uma vez, sinto todos os olhos em mim, mesmo Fredrik desta vez, mas eu não olho para ninguém além de Victor.

— Esta missão vai exigir algo mais do que matar alguém e voltar — ele começa. — Nos próximos meses você estará treinando Nora para isso.

Minhas sobrancelhas se dobram rigidamente.

— Eu treinando ela? — Estou começando a entender, o que será toda esta missão , mas deixei Victor preencher as lacunas.

— Você estava por dentro, — ele diz para mim, — e você sabe como as coisas funcionam. Tudo. Desde a compra e venda de drogas, armas e meninas, até o modo como as meninas foram tratadas, até como elas foram mortas. Nora certamente pode lidar com qualquer tipo de missão dada a ela, mas mesmo ela precisa ser treinada para que ela saiba exatamente com o que ela está lidando.

Olho bem para Nora, que fica quieta, mas com confiança.

— Espere um segundo, — Eu o cortei — então você está dizendo que quer que eu a treine para ser uma escrava sexual? — De alguma forma eu não pode imaginar essa imagem na minha cabeça, não importa o quanto eu tente.

O rosto de James se ilumina com arrepiante prazer.

— Não necessariamente, — Victor diz. — Eu falei com ela longamente sobre isso e nós dois concordamos que a melhor maneira de abordar esse aspecto particular é para ela se tornar uma das meninas, não apenas desempenhar o papel.

— É melhor se tornar uma delas — diz Nora, — se eu conseguir ser uma delas, não que me ensine como ser uma delas.

Ficando mais confusa, eu olho entre Victor e Nora, procurando respostas.

— Eu sou capaz de assumir qualquer papel, até mesmo uma escrava do sexo, mas você precisa me dar dicas, me dizer sobre os bastidores, sobre como ser mais consciente, como não me matem.

Eu balanço a cabeça, já não gosto dessa ideia.

— Victor, imagino que as coisas não são mais as mesmas. Javier está morto. Izel está morta. Seus irmãos estão mortos.

— Elas podem estar — diz ele, — mas isso não significa que as coisas mudaram muito. Javier tinha seis irmãos que conhecemos. Dois deles ainda estão executando suas operações. O composto ainda está no mesmo lugar. Meninas, drogas e armas ainda são compradas e vendidas como se nada tivesse acontecido. Dentro de dois meses de nossa última missão lá, eles estavam funcionando novamente.

Eu já sabia a maior parte dessa informação, mas vejo por que agora ele tinha que repetir.

Balançando a cabeça com um olhar caído, inclino-me para a frente com os braços sobre a mesa.

— OK mas porquê? Por que voltar? Não me interpretem mal, não tenho nenhum problema em matar aqueles bastardos e libertar mais das meninas, mas...

— Essa não é a missão, Izabel — diz Victor.

Eu pisco, um pouco atordoada.

Nora e Victor trocam outro olhar de conhecimento.

Então Victor diz:

— Nora me disse alguma coisa, na última noite em que ela foi detida naquele quarto, antes dela se juntar a nós. Algo sobre você que eu queria ter mais certeza antes de eu dizer qualquer coisa.

Eu apenas olho para ele, sentindo a dor da traição, mesmo sabendo que ele não me traiu em tudo.

Victor continua:

— Além disso, depois de falar com Dorian quando ele foi detido pela primeira vez, a história de Nora parecia ter mais verdade. — Depois de uma pausa, ele diz: — A missão no México será descobrir quem é Vonnegut. Você pode ser a única pessoa entre nós que já viu o verdadeiro Vonnegut.

— O quê? — Eu não posso acreditar no que acabara de ouvir.

Ele balança a cabeça, e depois começa a falar, mas eu o interrompo.

— Você viu ele — eu aponto. — Do que está falando, Victor?

— O homem que encontrei em raras ocasiões, quando eu fazia parte da Ordem — ele começa, — onde eu era valorizado como um operário, tenho razões para acreditar que não era o verdadeiro Vonnegut. Ele era um chamariz. A verdade é que ninguém realmente sabe quem é o verdadeiro homem por trás da organização de assassinato mais antiga e maior ainda em funcionamento hoje. Nem mesmo a CIA ou o FBI — ninguém. Apenas quando eles pensam que têm uma identidade, descobrem apenas estavam correndo em círculos.

Victor me enche de tudo o que Dorian lhe contou, dos suspeitos de Vonnegut de vender armas a terroristas e de que seu negócio é muito mais do que matar por contrato. Ele continua a me falar sobre as coisas Nora lhe disse em segredo, e sobre o dispositivo de rastreamento que Victor me cortou quando nós estávamos nos escondendo.

— Niklas e eu sabíamos — diz Victor, — na noite em que tirei esse aparelho de você, que algo de tão alta tecnologia tinha que vir de uma fonte externa, que não havia ninguém como Javier Ruiz que fosse capaz de produzir ele mesmo.

— Enquanto eu estava espionando todos vocês, — Nora interrompe, — e mergulhando em informações da Ordem, eu descobri que Vonnegut estava lidando com meninas, também, e estava vendendo dispositivos de rastreamento de alta tecnologia como o que eles encontraram em você.

Victor acrescenta:

— Acredito que o dispositivo que foi colocado em você veio de Vonnegut. Acho que Vonnegut estava vendendo para Javier, e você estava lá no interior, mais perto de Vonnegut do que quase ninguém já esteve.

— Mas o que faz pensar que eu sei como ele se parece? — Eu atiro de volta, ficando mais oprimida por esta informação surpreendente.

— Os homens ricos que você viu quando Javier estava usando você como um troféu de braço — Victor diz, — um deles eu acredito que é o Vonnegut real.

Imediatamente, começo a pensar em todos os seus rostos, cada um movendo-se rapidamente através da minha mente como um borrão.

— Ele não pode ficar escondido para sempre — Victor continua. — Alguém o viu. Ele pode ser um fantasma, mas ainda é humano e os seres humanos por natureza precisam se associar a outros seres humanos, estar na presença de outras pessoas — acho que ele era um desses homens ricos, Izabel. E eu acho que Nora indo para esta missão será como nós finalmente o encontraremos, destronaremos e mataremos.

Ele faz uma pausa e acrescenta com profundidade,

— E então eu assumirei A Ordem, uma vez que ele está morto.

Não respondo ao seu último comentário, mas, pela primeira vez desde que entrei na sala, os olhos de Fredrik se fecham nos meus.

Esta é a primeira vez que eu ouvi Victor dizer algo assim. Assumir a ordem, a ordem... é uma conversa para outro dia. Neste momento meu cérebro está sobrecarregado com... tudo.

Estou em silêncio por um longo tempo, deixando todo o resto que ele me disse para assimilar. Ainda parece ser haver muito que foi deixado sem resposta, mas me leva vários minutos para descobrir quais são essas coisas.

— Mas por que mandar Nora? — Eu digo, olhando para ela por apenas um segundo. — Quero dizer... bem, acho que não posso ser a única a voltar porque muitos já sabem como eu pareço...

— Eu não deixaria você voltar de qualquer maneira — Victor me corta. — Você vai para o México e estará em uma cidade turística, mas Nora estará fazendo o trabalho interno.

Eu franzi o cenho.

— Por quê? O que quer dizer que você não vai me deixar voltar? — Há ácido na minha voz.

Victor suspira e deixa cair as mãos no colo.

— Você não acha que eu sou capaz de volta ali, — Eu acuso. — Você acha que eu sou como todo mundo; isso porque eu passei por uma experiência traumática e que eu nunca seria capaz de me colocar nisso de novo, que eu nunca seria capaz de lidar com isso. Bem, você está errado — eu lanço uma mão no ar — Eu sou o oposto de todo mundo. Eu não tenho medo disso. De qualquer um deles. Eu sou mais forte agora do que nunca, e se alguém pode fazer este trabalho com perfeição, sou eu. Não Nora, mas eu.

— Não se trata de se provar, Izabel — diz Nora calmamente e gentilmente.

Eu olho para ela.

— Ninguém pediu sua opinião...

— Não, mas eu não sou o tipo que dar — ela devolve - Ah, mais aí estar a verdadeira Nora Kessler: audaz, loquaz e irritante.

James se esconde na cadeira um pouco para colocar alguma distância entre ele e Nora, provavelmente esperando que eu me jogue na mesa em qualquer segundo agora.

O deixo passar, inalo uma respiração longa, profunda e volto para olhar para Victor.

— Como você mesmo disse — Victor diz, — você não pode ser a única a entrar porque você não pode arriscar ser vista.

— Talvez haja uma maneira de contornar isso — eu digo. — Poderíamos...

— Izabel — Victor interrompe com um tom sombrio e firme, — você não vai voltar lá... você não pode lutar contra todos os homens naquele complexo que tentariam ter seu caminho com você.

— Ah, então é isso que se trata, — eu digo friamente. — Você acha que eu não posso evitar que eu seja estuprada — eu o olho diretamente nos olhos, sem piscar — confie em mim, eu poderia...

— Nora estará indo para a missão — diz ele, como se isso fosse o fim.

Esfregando os dentes, respiro fundo e me levanto da cadeira.

— Ela não pode entrar lá com fios, — eu assinalo. — Ela não pode levar uma câmera. Ela não terá acesso a um telefone. Eu não duvido de suas habilidades, mas se ela vai ser uma das garotas e torná-la crível, ela não pode se esgueirar para entrar em contato conosco — eles saberiam em poucos minutos que ela está desaparecida. — Eu olho para ela uma vez e digo: — Como você vai ser a única a descobrir quem Vonnegut é se eu sou a única que supostamente o viu? — Eu cruzo os braços e olho atentamente, os olhos correndo entre Nora e Victor.

— Vamos descobrir isso — diz Victor. — Temos vários meses para chegar a um plano.

Eu balanço a cabeça, minha boca se levantando de um lado.

— Victor, eu não sou estúpida para acreditar que você não conhece uma maneira certa de descobrir quem é Vonnegut.

Ele olha para mim, esperando.

— Através de mim — continuo. — No segundo Vonnegut me vê, eu saberei que é ele porque a compreensão de quem o está olhando irá piscar em seus olhos naquele instante. E eu iria vê-lo. Vonnegut está bem consciente de como eu pareço.

— Sim — Victor diz, — essa é a melhor maneira de descobrir quem ele é, mas vamos encontrar outro caminho. Você não vai entrar nesse complexo.

— É o único caminho.

— Outros viram você — ele me lembra, ficando irritado.

— Mas Javier e Izel estão mortos. Luis e Diego estão mortos e eles são os únicos outros irmãos de Javier que eu vi. Quem está correndo o lugar agora duvido saibam quem eu sou.

— Não podemos correr esse risco.

— Concordo — diz James. — É muito perigoso.

— Victor...

— Izabel! — Ele levanta as costas da cadeira — Eu não vou deixar você voltar lá! — ele respira fundo e acalma-se — Eu não estou arriscando você naquele lugar, Nora sim - Suas palavras cruéis não a perturbam nem um pouco; Ela não se importa com essas coisas. — Você quer fazer missões sozinha e isso já é risco suficiente, não importa o quão bom você seja, mas enviá-la em um lugar onde as pessoas podem se lembrar de você e quem vai matar você no local no segundo que eles percebam quem você é, não é um risco que estou disposto a correr.

Olho para a parede, desapontada e zangada, mas tocada por seus sentimentos e não posso simplesmente descartá-los como se eles não fossem nada.

— Me desculpe, — eu digo suavemente e Victor estende a mão para mim. Ele nunca mostra carinho comigo durante as reuniões, então o gesto me deixa surpresa.

Eu ando e pego sua mão. Ele me puxa para ficar ao lado dele. Ele beija o topo dos meus dedos.

— Vamos descobrir um caminho — ele diz gentilmente, — mas Nora será a de dentro.

Eu aceno com relutância.

Quanto tempo você vai se permitir cortar os cantos por mim, Victor?

— Vou ensinar a Nora tudo o que ela precisa saber — eu digo olhando para ela.

Então eu tomo meu assento outra vez.

— Você é a chave para fazer isso funcionar — diz Victor.

Quanto tempo você vai tomar a rota alternativa apenas para me manter fora de perigo?

— Vou fazer o que eu tenho que fazer para ajudar a derrubar este tirano — eu acrescento.

Quão mais…?

E farei o que Victor me pedir, mas uma grande parte de mim quer ser a do interior. Não porque eu sinto a necessidade de provar a mim mesma. Não porque ele está deixando Nora ir em vez de mim e eu sinto alguma sensação de ciúme — isso não tem nada a ver com ciúme, ou determinação imprudente; eu quero que seja eu porque eu passei nove anos da minha vida no México entre esses homens e sinto que, se qualquer missão deveria ser minha, é esta.

— Entretanto — Victor anuncia, — com a ausência de Niklas, e considerando as mudanças feitas nesta Ordem, Nora será a sua nova parceira.

Eu aceno com aceitação.

— E continuarei treinando você enquanto trabalho com você — diz Nora.

— Vocês duas irão em várias missões juntas antes da missão no México — diz Victor. — Vocês irão se concentrar em suas atuais missões por enquanto, mas estejam se preparando para o México da mesma forma.

O silêncio caí sobre o quarto quando cada um de nós pensar sobre o caminho a seguir.

— E Niklas? — Pergunto, decidido a não deixá-lo ser esquecido. — Estamos planejando todas essas missões sem ele?

— Por enquanto, sim — diz Victor. — Até que as coisas entre meu irmão e eu tenham sido resolvidas, é melhor assumir que ele não fará parte de nenhuma missão.

Concordo com a cabeça.

Nós cinco passamos os próximos trinta minutos discutindo os detalhes das nossas futuras missões, incluindo começar cedo no México. É muito estranho sentar nesta mesa sem Dorian e Niklas. E com Nora, em vez disso. Sinto falta do sarcasmo de Dorian e comentários ridículos sobre as mulheres que deviam me esfregar do jeito errado, mas nunca fazem. E eu sinto falta das minhas lutas com Niklas e seus olhares frios e o fedor de seus cigarros persistentes em sua jaqueta.

Finalmente, quando a reunião chega ao fim, Fredrik fica de pé da mesa.

Todos nós olhamos para ele.

— A menos que haja qualquer outra coisa, — ele diz, olhando apenas para Victor, — eu tenho um lugar que eu preciso estar.

— E o que você poderia, eventualmente, ter que fazer? — Nora pergunta, sua voz cheia de provocação, seus lábios vermelhos escuros espalhando-se num sorriso. — Um homem tão frio como você não pode ter qualquer tipo de vida fora desta Ordem. — Ela sorri docemente, perversamente.

Fredrik e Nora raramente falam um com o outro, mas de vez em quando, sua personalidade burlona escapa dela. Ontem ela se colocou como se ela não pudesse quebrar e como ela é agora a segunda mulher a vencê-lo. Ela está tentando consegui uma reação dele, eu realmente não tenho ideia porque ela quer uma, mas Fredrik está, como sempre, não se incomodando com suas provocações.

Até agora.

Ele tira a pasta da mesa.

— Almoço — ele diz simplesmente.

Os olhos castanhos de Nora se iluminam com sugestão.

— Oh? E vai comer sozinho neste almoço, ou gostaria de companhia?

Fredrik anda pelo comprimento da mesa. Ele nunca olha para ela, mas então ele nunca realmente olha para qualquer um de nós.

— Eu prefiro jantar sozinho — diz ele.

Nora apenas balança a cabeça, sorrindo. Nada parece incomodá-la, e admiro isso nela. Silenciosamente, é claro; eu nunca a deixarei saber disso.

Fredrik olha para Victor, esperando.

— Eu vou estar em contato — Victor diz a ele. — Se as coisas forem como planejado, você estará interrogando um homem até o fim da semana.

Fredrik acena, coloca a mão na porta e a empurra.

— Mas não deixe o país — Victor diz antes de Fredrik sair. — Eu acho que é seguro dizer que seu tempo sozinho acabou.

— Claro — diz Fredrik. — Eu estarei esperando por sua ligação. — A porta se fecha ligeiramente atrás dele quando ele sai do quarto.

Victor volta sua atenção para Nora.

— E que outras informações você tem para mim do FC-4? — Ele pergunta.

Nora escova seu cabelo loiro sedoso longe de seus ombros e dobra suas mãos juntos na mesa na frente dela; suas curtas unhas estão pintadas de vermelho para combinar com seu batom. James olha para ela brevemente, da mesma forma que faz a cada poucos segundos, mas tenta não torná-lo tão óbvio.

— Também no final da semana — ela diz, — vou ter tudo o que sei sobre eles à sua disposição.

Victor acena com a cabeça.

Então ele diz:

— Você tem um longo caminho a percorrer antes mesmo que eu começar a confiar em você; um caminho difícil pela frente.

— Sim, estou bem ciente — diz ela em troca. — Se você já confiasse em mim, eu não teria o respeito que eu tenho por você.

Nora olha para mim.

— Mas um pouco de confiança — diz ela, indicando o tipo que eu tenho por ela, — é muito apreciado.

Eu aceno, aceitando seus agradecimentos.

Victor olha entre nós, mas não diz mais nada. Nora é o meu projeto, a minha responsabilidade, meu fardo para carregar. Ele aceita isso e não me privará dela e do que eu preciso dela mesmo que ele temesse que ela seja um erro, mas eu sei que ele vai estar observando cada movimento dela.

— Bem, pela minha parte — James fala, — estou feliz por ter você a bordo. — Ele sorri estupidamente.

Nora lhe dá um olhar sensual, fazendo com que seu grande rosto redondo fique vermelho.

— Não sei como Niklas vai se sentir sobre isso — James acrescenta, — ou até mesmo Dorian, se e... ele alguma vez sai daquela cela, é claro — ele olha para Victor — mas eu suponho que o tempo dirá.

Sim, o tempo tende a conter as respostas para tudo. E, como as coisas estão agora, como as coisas tomaram um rumo tão drástico em nossa Ordem, estou ansiosa e com medo de ver o que o tempo revelará. Acho que a única coisa que posso fazer é esperar. Esperar que Niklas volte e segure a minha respiração como tudo o que está destinado a acontecer entre ele e Victor, aconteça. Espere pelo dia em que o destino de Dorian estará finalmente decidido. Esperar pelo momento que se, ou quando, Victor descobrir sobre a criança que eu tive com Javier, e abrace as consequências da verdade. Esperar para ver se meu julgamento está, de fato, totalmente errado e Nora acaba me fazendo uma tola, afinal.

Esperar. O tempo é uma cadela cruel.


Capítulo vinte e três

Fredrik

HÁ CERCA DE OITO ANOS...


Serafina. Meu anjo com asas pretas. Ela sorriu; um brilho carmesim nos lábios, emoldurado por cabelos tão negros como a minha alma, os olhos tão profundos como o poço sem fundo que é o meu coração. Ela se deitou perto do corpo quente, seus dedos longos e brancos enrolados no sedoso cabelo loiro da menina. Seus seios pródigos e cheios, pressionados contra os menores da menina. Ambos estavam nus, enrolados um ao lado do outro. Eles estavam esperando por mim.

— É muito simples — Seraphina disse e ela arrastou a ponta de sua língua através do pescoço da menina, olhando através do quarto para mim com aquelas piscinas escuras de pecado e salvação. — Nós fazemos tudo juntos, meu amor — sua língua traçou o lábio inferior da garota e a menina devolveu o gesto — meu diabo, meu príncipe negro.

Eu pisei para frente, quebrando os botões da minha camisa.

Seraphina prosseguiu:

— Nós buscamos vingança juntos. Nós fodemos, nós amamos, nós condenamos e destruímos juntos até o dia em que morreremos juntos.

Ela estendeu a mão delicada, mas mortal e gesticulou para mim, curvando seus dedos em direção à sua palma, lentamente e sugestivamente.

— Venha cá e prove-a — disse ela, e então deixou cair a mão entre as coxas da garota. — Você tem que prová-la.

A garota gemeu com o toque de Seraphina, sua cabeça loira pressionando o ombro da minha esposa, seus peitos pequenos e macios empurrando para a vista da luz fraca no pequeno qiarto.

Fiquei de pé ao pé da cama, observando-os, como os dedos de Seraphina se moviam com tanta precisão artística, como as pernas da menina se separaram para ela, expondo seu lugar mais secreto para mim e para o ar fresco da noite.

— Eu disse para você não trazê-las aqui. — Eu finalmente digo enquanto escorregava meu cinto dos laços da minha calça preta, o som do couro se movendo contra a tela em um movimento lento e deliberado. — Nunca sem minha permissão. E nunca aqui. — Eu estava furioso, mas mantive-o contido.

Os lábios vermelhos escuros de Seraphina se espalharam em um delicioso sorriso. A moça acariciou os seios de Seraphina, colocou a cabeça no seu pescoço; ela tentou tocar embaixo Seraphina, mas não foi permitida, então ela puxou a mão dela, arrastando as pontas dos seus dedos em seu estômago.

— Oh, Fredrik — disse Seraphina, levantando as costas da cama - você não pode dizer isso o tempo todo. Estou tentando te ajudar. Isso é apenas parte do processo.

— Mas, da mesma forma — disse eu — disse-lhe para não trazê-las para nossa casa.

Seraphina e eu compartilhamos um olhar, seu sorriso escurecendo com desapontamento; meu rosto sem emoção não tinha mudado. Mas minha esposa nunca desistir tão facilmente. Ela nunca fazia o que eu dizia com um estalar de dois dedos, porque ela era ousada e desafiante e eu adorava isso sobre ela.

Ela se levantou da cama.

A menina ficou alerta e sentou-se quando notou a tensão crescente na sala.

— Quero que você a foda — disse Seraphina. — Eu a trouxe aqui para você. Olhe para ela — ela acenou para a menina, que era muito bonita com lábios cheios e grandes olhos castanhos e quadris curvilíneos — Eu achei que você ia gostar dela. Eu gosto dela.

A menina olhou para trás e para frente entre nós nervosamente.

— Mas esta é a nossa casa, Seraphina. — Eu me aproximei de sua forma alta e nua. — Você sabe que eu não gosto de fodê-los aqui, onde dormimos, onde eu te fodo.

— Eu... acho que vou embora agora — disse a moça, levantando-se da cama.

— Não! — Seraphina estalou, apontando para ela. — Sente-se, caralho. — Ela olhou para mim, fulminando-me, rangendo os dentes. Seus olhos castanhos brilharam em seu rosto oval irritado; O preto de seu cabelo curto brilhando contra o branco cremoso de suas bochechas.

A menina estava com muito medo de se mover. Ela permaneceu na cama, puxando os joelhos para ela e cobrindo seus seios com seus longos cabelos.

— Você pode ir — eu disse a menina, empurrando minha cabeça para trás, indicando a porta aberta atrás de mim.

— Eu disse que ela fodidamente fica, Fredrik!

Seraphina começou a se esgueirar através da cama para a garota, mas eu a agarrei por trás, segurando-a firmemente em torno de sua cintura. A moça levantou-se rapidamente com os olhos arregalados e agarrou suas roupas do chão.

Seraphina lutou comigo a cada passo, a cada momento, até que a menina saiu correndo e ouvi a porta da frente de nossa pequena casa fechada atrás dela.

— Desgraçado!

Arrancando as mãos de Seraphina atrás de suas costas, eu a empurrei para a frente na cama.

— Por que você faz isso, Seraphina? — Eu perguntei a ela, minha voz sufocada de raiva e desespero. Ela lutou contra a cama, mas eu a segurei ainda, pisando entre suas pernas e separando-as com a minha. — É a minha única regra e você a quebrou. Por quê?

— Porque é uma regra fodidamente estúpida! — Ela gritou, uma face pressionada contra o colchão.

Inclinando-me sobre seu corpo com os pulsos ainda presos atrás dela em uma das minhas mãos, eu sussurrei em seu ouvido:

— É estúpido que eu te ame, Seraphina? — Meu aperto aperta em torno de seus pulsos — É estúpido que eu nunca queira compartilhar você ou eu com alguém em nossa casa?

— Que diferença faz? — Perguntou ela em uma voz mais calma, mas amarga. — Não importa onde nós fazemos.

— É importante para mim. — Eu beijei o lado de sua boca.

— Por quê?

— Porque deve haver limites — eu disse e me levantei novamente. — Nós não vamos foder, matar ou destruir qualquer pessoa em nossa casa. Você entende?

Ela balançou a cabeça ainda pressionada contra o colchão.

— Agora você vai ficar quieta ou eu vou ter que amarrar você?

— Vou ficar quieta — disse ela.

Eu soltei seus pulsos e ela moveu seus braços para fora e descansou-os sobre o colchão acima de sua cabeça.

— E por que você vai ficar quieta? — Perguntei quando peguei firmemente o cinto em minha mão.

— Porque eu mereço — ela disse, da mesma forma que ela havia dito as vezes antes que eu tinha que puni-la.

Agachei-me entre as pernas e, com ambas as mãos, separei um pouco mais para a expô-la a mim.

— Eu não sei o que vou fazer com você — eu disse e beijei a carne quente de seu traseiro.

— Você não sabe o que você faria sem mim — disse ela em troca.

Eu beijei a outra bochecha.

— Não, eu não, e eu nunca quero descobrir.

Ela gemeu e seu corpo se enrijeceu quando minha língua serpenteou para fora e lambeu seu clitóris.

Eu me ergui em uma posição e pisei de entre suas pernas. Ela ficou quieta, esperando, sabendo, preparando-se. Eu a observei por um momento. Ela empurrou os dedos dos pés um pouco, o suficiente para segurar suas pernas enquanto ela estava deitada de costas contra o colchão da cintura para cima. Eu queria tanto colocar meu pau nela, eu queria espremer seu traseiro em minhas mãos e fodê-la até que nenhum de nós pudesse ver em linha reta, mas ela tinha que ser tratada primeiro. Eu nunca poderia deixá-la ter seu caminho quando se trata dessas coisas ou ela se tornaria incontrolável. Seraphina pode ter me ajudando a controlar meus impulsos torturantes, meus impulsos assassinos, mas eu não era o único de nós que precisava ser ensinado, controlado e guiado por que Seraphina era uma mulher perigosa e perversa que poderia se perder em qualquer momento e nunca poderia ter muito controle.

O som da pele marcada pelo couro rasgou através do ar e Seraphina gritou alto. Mas ela não se mexeu. Duas vezes. Quatro vezes. Seis vezes. Dez vezes, o cinturão golpeou sua carne, deixando marcas em sua bunda. Ainda assim, ela nunca se moveu; apenas seus dedos se agarraram a cama, rasgando o lençol do colchão e esmagando-o em suas mãos.

Onze. Doze. Treze.

Eu não cedi. Eu nunca poderia deixá-la ver a fraqueza em mim ou eu iria perdê-la. Atacar Seraphina levemente, tendo piedade dela, só a desligaria. Era uma coisa boa porque eu nunca teria tido piedade dela. Eu gostava de infligir a dor tanto quanto ela gostava de tomá-la.

— Fredrik, por favor! — Ela implorou com uma voz chorar lágrima. — Por favor pare…

Eu bati o couro novamente, e novamente, e novamente até chegar a vinte. Era sempre vinte. Ela sabia que sempre haveria vinte chicotadas, não importa o quanto ela me implorasse para parar.

Eu coloquei o cinto de lado na cama e agachado entre suas pernas mais uma vez. Seu corpo tremia debaixo de minhas mãos cuidadas, resistido por apenas segundos sob meus lábios quentes. Eu beijei cada centímetro de sua dor, cada pedaço, cada minúsculo corte onde a pele tinha quebrado. E então eu delicadamente puxei seus lábios separados com meus dedos e arrastei a ponta da minha língua quente entre eles. Lentamente. Atentamente. Seraphina gemeu e choramingou e cavou seus dedos no colchão.

Ela já não sentia a dor.

Tudo que ela sabia era o prazer.

Eu a fodi duramente, a única maneira que qualquer um de nós queria sempre — duro e violento. E depois que eu gozei, eu deitei em suas costas, ainda enterrado dentro dela.

Eu a beijei de volta, sua coluna, seus ombros e seu pescoço. A lâmina de barbear me acenou na mesa de cabeceira, mas esperei. Só mais um pouco.

— Não há ninguém mais no mundo como nós, meu amor — ela disse em uma voz suave, olhando para nada com seu rosto pressionado contra o colchão. — Eu morreria sem você.

Distraidamente, eu continuei a me empurrar profundamente dentro dela lentamente.

— Você nunca estará sem mim — eu disse e beijei a nuca. — E como você disse antes, morreremos juntos.

— Você promete, Fredrik? Você vai junto comigo se eu morrer antes de você?

Eu beijei o lado de sua boca, pressionando meus quadris contra ela. Ela ofegou.

— Quando você morrer, eu também morro — eu sussurrei contra sua orelha. — Você é o amor da minha vida. Meu lindo cisne. E você será minha destruição.

Entrei dentro dela. Seus lábios se separaram em um gemido silencioso e ofegante e seus dedos encontraram o topo do meu cabelo escuro.

— Ninguém pode te amar como eu te amo — disse ela. — Nenhuma mulher neste mundo conhece você como eu conheço você, entende suas necessidades, sua dor, seu passado. Nenhuma mulher pode dar a você o que eu lhe dou.

E ela estava certa.

Eu empurrei mais e mais e, de repente, a lâmina de barbear estava presa entre as pontas dos meus dedos e o polegar.

Eu levantei meu peito de suas costas, apenas o suficiente para que eu pudesse vê-la.

Seraphina choramingou e agarrou a cama quando eu fiz o primeiro corte, verticalmente abaixo suas costas cerca de dois centímetros. Logo iria curar e tornar-se como as outras cicatrizes que eu tinha deixado lá. Então me inclinei e lambei o sangue que escorria da ferida com a língua. Seraphina levantou seu traseiro contra mim, me forçando mais fundo. Meus dedos feriram firmemente dentro de seu cabelo.

Inclinei-me mais um pouco, procurando sua boca com a minha, e eu a beijei longa, dura e sangrenta.

— Ninguém, Fredrik, — ela sussurrou e lambeu minha língua, — ninguém jamais te amará como eu.


Eu não sei quanto tempo eu estive olhando este jornal, as palavras impressas em tinta preta borradas em toda a minha visão. Por quanto tempo minhas memórias de Seraphina me torturarão? Oh sim, claro — até eu morrer junto com ela como eu prometi.

Minha pasta está no chão embaixo da mesa, sentada entre a parede e minhas pernas, escondida na escuridão. Os clientes neste restaurante, como em todos os lugares públicos, são inconscientes. Eles não têm percepção da verdade, a mesma verdade que os cerca todos os dias de sua vida tranquila e inocente — que o mal vive na porta ao lado, passa-os na calçada, prepara as refeições ou, neste caso, come apenas uma mesa com eles. Se eles soubessem apenas que segredos minha pasta tem, ou as coisas horríveis que estas mãos fizeram. Ou as lembranças vívidas e impiedosas que atormentam minha mente como uma ferida que nunca cura.

Enrolei dois dedos em torno da alça do meu café e trouxe a caneca para os meus lábios, suavemente soprando o vapor subindo do topo antes de tomar um gole cuidadoso. Mais uma vez, meus olhos examinam o jornal na mesa da cabine diante de mim — talvez desta vez eu realmente leia as palavras.

Eu vou colocar a caneca de volta para baixo, mas pouco antes de ele se instala de volta em segurança na mesa, o garoto sentado na cabine atrás de mim bate a cabeça contra a parte de trás do meu assento novamente. Algumas gotas caem da borda e sobre a mesa. Eu calmamente limpo-as com um guardanapo.

— Avery! — A mãe repreende. — Eu lhe disse para ficar quieto. Sinto muito.

Acho que o último comentário foi para mim.

Viro a cabeça apenas ligeiramente, não o suficiente para ver a mulher, mas o suficiente ela saber que a ouvi.

— Está tudo bem — eu digo e volto a ler o jornal.

Mais três vezes — além dos provavelmente dez outros antes daquela — o garotinho bate contra a parte de trás do meu assento, até que finalmente a mãe se apressa a sai com ele, pedindo desculpas novamente antes de ela se afastar com a mão de seu filho na dela. E mais uma vez, eu disse a ela que estava bem. O que eu não disse a ela, porém, é que eu, de uma forma estranha, me congratulo com o incômodo. Eu tendo a apreciar as coisas simples, e de outra forma irritante em vida depois de uma noite de torturar alguém, um menino inocente batendo a parte de trás da minha cadeira, sendo um menino, é uma boa mudança de atmosfera. Eu invejo este “Avery”. Que tipo de homem eu seria hoje se eu tivesse sido autorizado a jantar com a minha mãe e não me importar com o que o homem sentado atrás de mim pensaria com a minha cabeça batendo nas costas do seu assento? Talvez aquela pasta debaixo da mesa fosse preenchida com papel e um almoço embalado em vez de agulhas, facas, alicates, venenos e luvas de borracha. Talvez não haveria outra mulher no mundo que pudesse amar e me entender.

— Pronto para uma recarga? — Ouço uma voz doce dizer.

Olho para cima, puxando minha mente de volta para o momento, para ver a minha garçonete cujo nome lê “Emily” segurando um pote de café em uma mão.

— Não, obrigado.

Ela sorri para mim, um rosto de forma oval com lábios amáveis e olhos tipo avelã e pele de cor creme.

— Você vai pedido de sempre hoje? — Ela pergunta. — Dois ovos mexidos. Três fatias de bacon crocante e um copo de água com limão?

Eu olho para ela.

— Não, eu não vou tomar café hoje. — Eu olho de volta para o jornal.

O silêncio enche o espaço entre nós.

Finalmente, ela diz:

— Bem, talvez amanhã, então...

— Não, também não estarei aqui amanhã.

— Oh.

O silêncio começa a se esticar. Eu nunca olho para cima do papel.

— Bem, OK eu vou... deixá-lo para o seu café.

A garçonete chamada Emily, que tem sido minha garçonete todas as outras manhãs pelas últimas três semanas, começa caminhar, deixando sua personalidade brilhante no chão atrás dela.

— Espere — eu chamo em uma voz normal, e ela se detém para olhar para mim. — Eu uh... — Eu olho para a mesa, e então a minha caneca de café, e depois de volta para Emily — ... sim, eu acho que eu gostaria de ter o meu pedido habitual esta manhã.

Seu sorriso bonito retorna, seus olhos castanhos brilhando debaixo de seus cabelos marrom-dourados.

— Ótimo — ela diz balançando a cabeça, — Eu estarei de volta em alguns minutos.

Ela vem tentando falar comigo durante as duas semanas das três que eu vim aqui, mas eu sempre a evitei. Ela é linda, amável, doce e é precisamente por isso que eu não cedi a suas tentativas de conversa casual — ela não é o tipo de garota que eu poderia foder e ir embora, sem culpa por seus sentimentos feridos.

Não sei por que a parei.

Dez minutos depois ela volta com meu café da manhã com um prato em uma mão e um copo de água de limão na outra. Ela os coloca na mesa à minha frente enquanto eu afasto o jornal, dobrando-o e colocando-o no assento.

— Você trabalha aqui perto? — Pergunta ela, enquanto nota algo em seu tablet na palma da mão.

— Não — eu digo quando eu polvilhe pimenta nos meus ovos — estou apenas desfrutando do café da manhã. — E gosto muito do senso de normalidade que tomar café da manhã no mesmo restaurante todas as outras manhãs me dá, eu não digo em voz alta.

Ela rasga um bilhete e o coloca de face para baixo sobre a mesa.

— Bem, estou feliz por ser sua garçonete todas as manhãs — ela diz com um sorriso bonito que sugere algo mais.

Ela é tímida, mas ela está tentando ser corajosa e eu acho que é cativante.

O silêncio começa a se esticar novamente.

— Bem, desfrute da sua refeição — diz ela e então coloca o bilhete no bolso do avental.

— Obrigado — digo a ela e lhe dou um pequeno sorriso antes de voltar para a minha refeição.

Ela balança a cabeça e olha para o bilhete o tempo suficiente para eu pegá-lo. Sentindo como se ela quisesse que eu a olhasse antes de ela se afastar, eu o levo aos meus dedos e virei-o para encontrar um número de telefone escrito na frente, em vez da minha refeição ou quanto devo.

Ela cora sob seu sorriso.

— Você pode me ligar se quiser sair algum dia — seu rubor se aprofunda e só isso me intriga — isso é... se você for solteiro. Ou mesmo... interessado.

Ela está muito nervosa e ficando ainda mais enquanto mais ela fica ali e eu não digo nada.

— Quero dizer, você não é casado, tanto quanto eu posso dizer — ela olha nervosamente para o meu dedo anelar sem um anel — mas se você não está interessado...

— Você é uma mulher muito bonita — eu a cortei para que ela pudesse verter o arrependimento e a humilhação que ela começara a sentir. — E não, eu certamente não sou casado. Sou muito solteiro.

Ela sorri, com os lábios fechados. Noto outra garçonete de pé na caixa registradora, nos observando, e sorrindo. Ela olha para longe quando vê que eu notei.

Eu mantenho minha atenção em Emily.

— Você nunca perguntou a um homem antes, não é?

Seu rosto fica mais vermelho e ela mal pode olhar meus olhos mais.

— É tão óbvio? — Ela pergunta, enrugando seu pequeno nariz.

Eu deixei o sorriso em meus olhos tocar meus lábios mais.

— Sim, mas eu gosto.

Não dizemos mais nada por alguns segundos. Ela não consegue parar de sorrir e eu estou apenas confuso com a minha reação.

— Bem, eu tenho que voltar ao trabalho — ela diz e se vira sobre os calcanhares.

Eu aceno com a cabeça e então, pouco antes de ela ir embora, eu digo:

— Eu chego em casa às nove da noite. Eu ligo antes das nove e meia.

Eu acho que não pode machucar, pelo menos, falar com ela...

Seu sorriso de lábios fechados se ilumina, ela balança a cabeça e caminha até uma mesa onde dois novos clientes acabam de se sentar.

Eu como o meu café da manhã, coloco uma gorjeta grande sobre a mesa debaixo da xícara de café e depois saio em silêncio com a minha pasta na mão.


Perguntas para o leitor

Será que Izabel jamais contará a Victor o seu segredo? Ou ele vai descobrir por conta própria?


O que será de Dorian Flynn? Você acha que Victor deve levar Dorian em cima de sua oferta para trabalhar com a Inteligência dos EUA?


Será que o Niklas voltará à Ordem de Victor? Ele pode (ou deveria) perdoar seu irmão?


Que impacto você acha que Nora Kessler terá na Ordem de Victor, positiva ou negativa? E quanto a Izabel?


Será que Fredrik Gustavsson alguma vez encontrará o amor? Ou você acha que ele deveria ficar longe das mulheres completamente?


Você acha que Nora estava certa em dizer a Izabel que seu relacionamento com Victor está praticamente condenado?

CapÍtulo DEZENOVE

Izabel

Corro direto para os braços de Dina quando James entra no prédio com ela.

— Dina! Estou tão feliz que você está bem. — Meus braços a envolvem.

Ela beija minha cabeça e minhas bochechas e por um momento eu me sinto como uma menina de novo. Uma menina inocente feliz de ver sua mãe, que nunca foi uma escrava do sexo e que nunca matou ninguém.

— Estou bem, estou bem, querida — diz ela, me abraçando com força.

Está vestindo uma blusa cor-de-rosa clara enfiada em uma calça cor de canela. Seu cabelo cinza-aloirado está em rabo de cavalo alto em uma onda de cachos frouxos que caem em torno do seu rosto envelhecido onde há mais rugas ao redor dos olhos que da última vez que a vi.

Eu dou um passo para trás com as suas mãos entrelaçadas nas minhas e eu a olho.

— Você parece... bem — eu digo, tendo esperado — e temido — vê-la coberta de contusões e sangue, talvez alguns ossos quebrados.

— Bem, claro que sim, — ela diz como se eu já soubesse que ela estava bem o tempo todo.

Olho para James parado atrás dela com um olhar de profunda pergunta no meu rosto.

Victor entra na sala de reuniões atrás deles.

— O que está acontecendo? — Eu pergunto, olhando para Victor e depois para James.

— Bem, — James começa, — parece que Nora nunca machucou nenhum deles. Com a Sra. Gregory...

— Oh, por favor me chame Dina, — Dina interrompe, — as coisas apropriadas me fazem sentir velha.

Eu sorrio para mim mesma.

James também sorri e concorda.

— Nora disse a Dina que ela foi enviada por você e Victor para levá-la para a segurança.

— Oh, mas eu não acreditei nela imediatamente — diz Dina, sacudindo sua cabeça grisalha. — Eu sabia melhor do que isso e quando ela matou aquele bom homem que me observava muito da rua, eu estava com medo. Pensei que ela ia me matar em seguida.

Olho para trás e para frente entre Dina e Victor, esperando ansiosamente pelo resto da história.

— Não é necessário dizer, — Dina continua, — aquela mulher fez um show, eu acho, porque no momento que ela estava dizendo “para baixo!”, ela estava olhando para fora das janelas e eu estava realmente com medo de houvesse outros homens lá para me matar. Ela me disse que o homem no chão, ela matou era um traidor, ou eu acho que ela usou alguma palavra filme extravagante como conspirador ou infiltrado — Eu quero dizer a ela para ignorar todas essas coisas, mas eu não tenho o coração fazer isso — Ou algo assim — de qualquer maneira, ela me fez acreditar nela, isso é certo. Ela me tirou daquela casa e me colocou muito bem em outra e me disse para não saísse ou fazer qualquer telefonema. Ela pegou meu celular. Disse que era para o meu próprio bem. Mas eu tinha tudo o que eu precisava. — Ela penteia seus dedos longos e resistidos pelo comprimento do meu cabelo. — E eu não queria colocá-los em perigo, então fiquei como me disseram e esperei.

— Ela não a feriu?

Estou confusa com isso. Completamente confusa.

Dina sacode a cabeça.

— Não, — ela diz, — ela era uma verdadeira bondade. Então, imagine minha surpresa quando o Sr. Woodard aqui me disse que ia me matar. Eu simplesmente não podia acreditar.

Victor e eu olhamos brevemente um para o outro.

— Eu suponho que Tessa alimentou a mesma história? — Eu pergunto.

— Não, — James diz. — Bem, de certa forma. Depois que Nora convenceu Tessa que ela não estava lá para machucá-la, e depois de Tessa inconscientemente deu Nora a munição que ela precisava contra Dorian — tal como ela disse a Dorian que ela fez — Tessa acreditava que Nora erada Inteligência dos EUA e assim ela cooperou.

— Então Tessa também não estava machucada? — Eu pergunto.

— Não, — James responde.

— Onde ela está agora?

Victor aproxima-se e responde:

— Eu pedi que a levassem para casa. Ela não precisava ser trazida para cá. Ela não precisa saber nada sobre nós.

— Ela pensou que eu era um agente da CIA — diz James com uma leve gargalhada, mas com um ar orgulhoso. — Quanto às minhas filhas, bem, elas não eram tão fáceis de convencer. Elas estavam apenas com medo de suas mentes — elas pensam que eu trabalho com imóveis. Então, eu acho que Nora não teve escolha senão amarrá-las em algum lugar.

Eu olho direito para Victor.

— Então ela realmente estava trabalhando sozinha — eu digo sobre Nora.

— Parece dessa maneira — Victor diz com um aceno de cabeça.

— Estou com muita sede — Dina diz, apertando meu quadril com a mão. — Tem alguma coisa por aqui para beber?

Eu a abraço de novo.

— Claro — eu digo a ela e pego sua mão. — Eu vou levá-lo para conseguir alguma coisa.

Eu sorrio levemente para Victor enquanto saio com Dina da sala de reuniões e em direção à pequena cozinha no corredor.

Fredrik passa por nós no caminho enquanto ele se dirige para ver Victor. Ele não diz nada para mim, ou mesmo faz contato visual.

— Oh, ele é atraente, — Dina diz calmamente com os olhos grandes quando ela olha para trás para a sua altura em que terno caro. — A coisa que eu mais odeio em ser velha é que homens assim não me olham mais.

Oh, Dina, se você soubesse o que aquele homem em particular é capaz de fazer.

— Bem, eu acho que você é linda, — eu digo a ela, apertando sua mão fria e envelhecida. — Além disso, os homens hoje são provavelmente um pouco mais raros do que você estava acostumado.

— Ei, eu costumava ser uma prevenidab — diz ela com um sorriso.

— Dina! — Meu rosto torce com todo o tipo de formas e minhas bochechas começam a queimar. — Eu não preciso saber isso.

Nós dois rimos juntos e escorregamos dentro da sala de descanso, que é realmente apenas um quarto com um sofá de couro e cadeira correspondente com uma mesa de café em mármore e duas mesas nas extremidades, uma televisão de tela plana montada na parede e uma área de cozinha em um canto. Victor olhou para Woodard engraçado quando ele lhe pediu para colocar uma sala de descanso no prédio ("Uma sala de descanso? Este não é exatamente o trabalho em fábrica, Woodard."), Mas, no final, e depois de Woodard me explicar o que uma sala de descanso era e eu gostei da ideia, ambos tivemos o que queríamos. E eu não sou a única de nós que a usa com frequência — Niklas dorme aqui às vezes com as botas levantadas no braço do sofá. James traz seu laptop aqui e assiste coisas velhas na TV Land. Dorian... bem, ele sempre foi o único que manteve o frigorífico abastecido. Victor - OK, ele não vem aqui, exceto para encontrar um de nós.

Dina toma um assento no sofá enquanto eu pego dois dos refrigerantes de Dorian da geladeira.

— Então, exceto belas mulheres loiras ameaçando me matar para chegar até você — Dina começa de brincadeira, — o que mais tem acontecido com você, Sarai?

Dina é a única pessoa que eu permito me chamar pelo meu nome antigo. Eu tentei fazer com que ela me chamasse de Izabel uma vez, mas ela recusou, disse que eu cresci com ela me chamando de Sarai e que ela morreria me chamando de Sarai.

Dou-lhe uma garrafa de refrigerante e me sento ao lado dela, puxando uma perna para cima da almofada.

— É estranho ter conversas com você sobre minha vida — eu digo. — Não é como se eu pudesse te dizer sobre a última pessoa que eu vi morrer, tão casualmente como eu posso falar com você sobre conseguir o pedido errado em um drive-thru.

— Eu sei — ela diz e toma uma bebida, — mas o que está acontecendo com você e aquele homem bonito, misterioso seu?

Tomo uma bebida e depois olho para a parede atrás dela.

— As coisas estão bem — eu digo, tentando não chegar na verdade, não estou até mesmo certa qual é a verdade; O que está acontecendo entre mim e Victor não é exatamente o tipo típico de problema no paraíso.

Dina e eu conversamos um pouco sobre coisas simples. Ela me fala sobre o que está acontecendo com os personagens em seus programas de televisão favoritos, mas eu só ouço principalmente porque eu nunca assisto TV e realmente não tenho nada a acrescentar. Falamos sobre o pequeno jardim que ela plantou atrás de sua casa mais nova e como o único vegetal crescendo são os pepinos. Eu não sei nada sobre jardim e não saberia como fazer crescer os legumes, então novamente, eu principalmente apenas ouvir a sua conversa. E ela continua sobre as vendas nas lojas de departamentos que ela gosta de comprar e como ela conseguiu uma blusa de trinta dólares por nove dólares — eu não sei muito sobre as vendas porque com o dinheiro que Victor me dá — e que eu eu ganho — Eu não tenho que prestar atenção às vendas.

E enquanto Dina fala sobre uma variedade de coisas totalmente diferentes ao longo dos próximos trinta minutos, há uma coisa que eu noto que ela menciona em cada tópico — o Arizona.

— Eu costumava assistir a esse programa todas as noites antes de dormir no Arizona — ela havia dito. — Eu tinha a minha poltrona perto da janela e eu sempre a abria e deixava o calor entrar enquanto eu assistia ao meu programa.

E depois:

— Eu realmente não fiz muita jardinagem no Arizona.

E depois:

— Eu ia as tendas de promoções cada fim de semana quando eu vivia no Arizona. Tinha boas ofertas.

Finalmente, depois da quinta menção do Arizona, pergunto-lhe o inevitável:

— Você sente falta de casa, Dina?

Ela sorri levemente e coloca a garrafa de refrigerante na mesa final.

— Eu sinto, Sarai, eu realmente sinto.

Ela suspira e olha para mim, estendendo a mão e colocando-a no meu joelho esticado na almofada, enfiado debaixo da minha outra perna.

— Eu quero voltar para Tucson — diz ela. — Inclusive ao parque de trailers. Tenho saudade. Eu sinto falta dos malditos cães latindo à noite, as crianças correndo de um lado para o outro na rua causando incómodos. Eu só quero ir para casa. — Ela bate no meu joelho e depois se afasta, olhando para mim com olhos tristes, mas sorrindo.

— Mas Dina, não é seguro — eu levanto no sofá — você não pode voltar para lá. Veja o que aconteceu aqui, a razão que você está sentada nesta sala falando comigo agora. Se você voltar lá você estará onde qualquer um que quer encontrá-la, provavelmente olhará ali primeiro.

Seu sorriso aquece seu rosto inteiro.

— Oh, querida, eu não me importo com essas coisas, — ela diz como se para me consolar. — Eu me importei no início, mas era principalmente apenas por causa de você. Mas, eu não posso fazer isso mais, me mudando de um lugar para outro, tendo homens estranhos estacionados do lado de fora a cada casa, me observando o tempo todo. Estou velha demais para isso. Eu aprecio todas as coisas elaboradas que você e Victor me fornece? e as casas bonitas e... apenas tudo. Eu estou muito agradecia. Mas eu só quero ir para casa e viver o resto da minha vida do jeito que eu fiz antes — simplesmente.

Meu coração afunda cada vez mais fundo.

— Mas é perigoso. Eu não quero que nada aconteça com você.

— Nada vai acontecer comigo, querida. — Seu sorriso se alonga. Ela levanta a mão e bate no peito sobre a blusa cor-de-rosa fina onde está seu coração. — Se alguma coisa pode me matar, será o meu coração. Você sabe disso. — Ela sorri e bate no meu joelho novamente brincando e acrescenta: — Além disso, eu sei usar uma espingarda, lembra? E eu não tenho medo de explodir alguém se entrarem em minha casa.

Eu não posso evitar, mas sorrir de volta para ela, mesmo que eu queira lutar com ela nesta questão.

Dina se vira na almofada para me enfrentar completamente e ela leva minhas duas mãos para as dela.

— Eu quero que você me prometa algo — ela diz, olhando nos meus olhos. — E eu quero dizer isso, é uma verdadeira promessa e isso significa tudo para mim e se você nunca a quebrará, mesmo que eu nunca vá descobrir, você deve se sentir culpada por quebrar isso porque é tão importante para mim.

Isso está me assustando, mas eu aceno e concordo.

— O que foi, Dina?

Seus dedos agarram os meus com firmeza, como se para colocar ênfase nas palavras que ela está prestes a dizer.

— Quando eu voltar para casa, de volta a Tucson — diz ela, — eu quero que você me prometa que você não enviará ninguém para me vigiar ou me proteger. Ninguém. E eu também não quero que você faça isso. Você me dá sua palavra?

No começo tudo que eu quero fazer é dizer não — eu até começo a balançar a cabeça — mas ela aperta minhas mãos e força o meu olhar, o olhar em seus olhos tão intenso, e eu sinto quão importante é essa promessa para ela. Tanto quanto eu quero mentir para ela e dizer que, não, eu não vou mandar ninguém para cuidar dela... Eu não posso. Este é o seu desejo e devo-lhe tudo e sei que tenho de ceder a ele, não importa o quão difícil.

E antes que ela saia, enquanto eu digo adeus enquanto ela entra no táxi na rua para ir ao aeroporto de volta a Tucson, eu não posso evitar, mas sinto que esta será a última vez que eu a vejo.

— Eu te amo, garotinha! — Ela grita para mim da janela aberta do carro, seus dedos longos e ossudos acenando na brisa fresca de Boston.

Eu pressiono as pontas dos meus dedos contra meus lábios e envio-lhe meus beijos enquanto ela se afasta, e eu limpo as lágrimas dos meus olhos e tento muito manter o sorriso no meu rosto pelo amor de Dina. Porque ela merece ser feliz e ela não precisa de mais razões para se preocupar comigo mais do que ela já tem.

 

— Você já viu Niklas? — Eu pergunto a Victor na sala de reuniões com James. Eles estão olhando para fotografias e arquivos espalhados sobre a mesa alongada.

Eu ainda estou emocional por ter deixado Dina ir a uma hora atrás.

Victor olha para cima.

— Ele se foi, Izabel — ele responde solenemente e olha para baixo. — Mas não se preocupe com ele agora...

— O quê? — Eu passo mais para dentro do quarto e fico no final da mesa. — Victor, como você pode dizer isso? Já tentou falar com ele?

Ele tranca os olhos nos meus pelo comprimento da mesa.

— Vou falar com meu irmão quando for a hora certa — diz ele.

James olha para nós brevemente e finge estar mais interessado com as fotografias na frente dele. Ele parece desconfortável.

— Quando é qualquer hora certa? — Pergunto com um tom acusatório. — Agora é o melhor momento que qualquer outro dia será.

— Niklas precisa de tempo sozinho — ele diz e eu bato a palma contra a mesa antes que ele tenha a última palavra.

— Foda-se! — Eu digo com raiva.

Victor levanta-se rapidamente da mesa em um movimento rápido, enviando o papel que ele estava lendo em sua mão caindo no chão. Sua cadeira chia quando ela é empurrada para trás em seu caminho para cima.

James congela, olhando entre os nós dois sob nervosos olhos encapuzados.

— Woodard, — Victor diz exigente, — deixe-nos.

Sem hesitação, James se levanta, enfia o laptop debaixo do braço e sai.

Uma bola nervosa senta-se no meu estômago. Sei que ele está chateado comigo, mas eu sinto fortemente o que Niklas deve estar passando, e eu não consigo encontrar nenhuma razão aceitável para que Victor não estivesse tentando fazer as coisas direito entre eles, agora.

— É isso que você pensa de mim? — Ele pergunta, zangado, mas ao mesmo tempo ferido pela perspectiva. — Você acha que esses arquivos e estas fotografias — acena com uma mão na mesa — são mais importantes para mim do que o meu irmão? Olhe para mim —aponta os seus olhos com o seu indicador e dedo médio — e me diga: que você pensa isso de mim, porque é exatamente como se sente agora. Quero ouvir você dizer isso.

Engulo nervosa e começo a sacudir a cabeça. Eu raramente o vi assim antes, então eu sei que eu ultrapassei meus limites, que eu o machuquei, e já me sinto terrível por fazer ele se sentir assim.

— Eu sinto muito... Eu apenas...

Os ombros de Victor mergulham em um longo suspiro e ele olha para a mesa, mas não para as coisas espalhadas por cima. Ele cai pesadamente de volta em sua cadeira e encosta contra ela.

— Izabel — ele diz com mais calma, mas sem olhar para mim, — eu sabia que tinha que sair algum dia. Nem um dia se passou nos últimos seis anos quando eu olho para meu irmão e eu não me sinto como uma merda pelo o que eu fiz. Niklas talvez nunca me perdoe, mas ele vai entender.

Eu ando em sua direção pelo comprimento da enorme mesa.

— Você parece esquecer que ele tentou matar você — acrescenta Victor.

— Eu nunca me esqueci disso — digo, — e acho que nunca irei.

— Você não esqueceu ou perdoou, — Victor diz, — mas você entende.

Eu não esperava isso, então eu não digo nada no início.

— Eu me sinto culpada — eu finalmente respondo, ainda sentindo algum tipo de necessidade de confessar porque a culpa está pesando tão fortemente em meus ombros.

A cabeça de Victor levanta e ele me olha com um olhar de descrença e talvez até mesmo decepção.

Eu inclino minhas costas contra o fim da mesa na frente dele, cruzando meus braços.

— Por quê? — Pergunta ele asperamente. — Por que você se sente culpada? Se você disser que é porque você está viva e Claire não está, você é...

— Eu sou o que? — Eu salto de volta, desafiando-o. — Sou estúpida e fraca por ter consciência? Sou ingênua? Muito emocional? Vá em frente, Victor — aponto para os meus olhos com o meu indicador e meu dedo médio — Victor me diga o que realmente pensa de mim.

Seu olhar se desvia.

— Eu acho que seu coração é muito grande — ele diz e instantaneamente meu exterior duro vacila. — É por isso que eu sinto a necessidade de protegê-lo o tempo todo. Não porque você não tem habilidade ou porque eu não acredito em você, mas porque seu coração fica no caminho. E se há alguma profissão no mundo que você não pode e não deve colocar seu coração — aponta duramente para o chão — é esta.

Estou calada por apenas um momento, deixando suas palavras afundarem.

E então algo entra em minha mente que eu tenho mais medo de dizer a ele do que minhas acusações sobre Niklas — mas eu não posso segurar como eu realmente me sinto.

— As coisas seriam melhores para você se eu fosse... mais parecida com Nora, não é? — Eu fiz tudo que eu não pude fazer para parecer amarga ou acusadorq, porque eu não quero dizer isso dessa maneira.

Ele levanta os olhos para mim, e por um longo tempo ele não diz nada.

— Em um sentido profissional e emocional, sim, — ele responde com sinceridade, — mas não por qualquer outra razão. Mas se eu queria alguém como Nora ao meu lado, você não estaria aqui, ao contrário dela, eu não gosto de jogos, assim, por favor, não me acuse de ter uma atração selvagens por aquela mulher, ou a começar a sentir insegura que eu vou me desviar.

— Eu não acho isso em tudo — eu digo, e eu quero dizer isso. — Não é disso que se trata.

Eu levanto meu corpo para sentar na mesa na frente dele, minhas pernas, cobertas em meu traje preto apertado, pendurada sobre a borda da mesa nas curvas dos meus joelhos. Victor move sua cadeira para mais perto para sentar entre elas, colocando seus braços sobre as minhas coxas e ajustando suas mãos sobre minha cintura. As mangas da camisa estão enroladas até os cotovelos; Veias correm ao longo dos músculos duros de seus antebraços levemente bronzeados.

Corro todos os meus dedos pelo topo do seu cabelo curto e castanho.

— Você não confia em mim para cuidar de mim mesma em tudo, Victor? — Eu pergunto com preocupação e não com acusação. — Não há nada sobre mim — de um ponto de vista profissional e emocional — que você sente que não precisa... melhorar?

Victor suspira.

— Confio no seu julgamento, Izabel — diz. — Quando se trata de outros, você é um bom juiz de caráter. Você sabe inerentemente, antes mesmo que eu faça geralmente, sobre uma pessoa no interior. Mas eu não confio em você quando você está com raiva ou por vingança. Você tende a tomar decisões precipitadas, pular de cabeça em situações perigosas sem um plano, tome Los Angeles e Arthur Hamburg, por exemplo. Mas quando você está calmo e não agir por raiva ou vingança, você sabe o que está fazendo. E confio em você cem por cento.

Agradeço-lhe com os meus olhos.

Ficamos em silêncio por um longo tempo e então eu digo com uma voz suave:

— E se Niklas não voltar?

— Ele vai voltar, — responde Victor, mas na sua voz, sinto que ele não pode está tão confiante nessa suposição quanto ele gostaria. — Ele é meu irmão — continua ele, — e ele pode me odiar por um tempo ou até mesmo querer me matar, mas ele sempre será meu irmão e eu sempre farei qualquer coisa por ele e ele sabe disso.

Eu penso sobre isso por um momento, deixando a realidade da verdade me tomar, Victor está emocionalmente deficiente não por causa de apenas uma, mas duas pessoas em sua vida que ele ama. Espanta-me como ele pode suportar, como ele pode continuar a agir como se nada nunca o incomodasse, que ele não tem sentimentos, ou temores. Do lado de fora, Victor é frio, calculado e desapegado quase todo o tempo — quem não o conhece no nível que eu conheço poderia pensar que ele era como Fredrik, mas a verdade é que ele carrega um fardo maior do que qualquer um de nós. Victor se sente responsável por Niklas e eu. Ele teve que escolher, duas vezes agora, entre seu irmão e eu. E quando você tem que escolher entre duas pessoas que você ama, não importa qual caminho você vá lá estarão consequências dolorosas.

Eu me inclino sobre ele e beijo o topo de sua cabeça.

— Desculpe por duvidar de você — digo. — Eu realmente pensei que você ia deixar Dina morrer e eu sinto muito por não acreditar em você. — Eu estava querendo dizer isso a ele desde o momento em que ele confessou seu segredo para Nora, mas eu tenho evitado por vergonha e culpa. Mas, mais do que isso, eu precisava de tempo para pensar sobre tudo o que aconteceu por causa disso.

Ele olha para mim.

— E porque eu não vou mentir para você — diz ele, — assim como eu não pude mentir para Niklas sobre Claire, a verdade é que quase a deixou morrer.

Eu concordo. Porque eu entendo. Era uma escolha entre Niklas e eu. E nunca seria uma escolha fácil.

— Eu sei, — eu digo a ele e solto minhas mãos do seu cabelo.

Então ele enrola os longos dedos dele ao redor dos meus entre minhas pernas e levanta uma mão para seus lábios e beija os nós dos meus dedos.

— O que você vai fazer com Dorian?

Ele se levanta e toma o meu rosto em suas mãos, puxando meus lábios para encontrar os dele.

Depois que ele me beija, longo e macio, seus lábios são mornos e sua língua tão macia, ele diz:

— Tudo dependerá do que Fredrik tirar dele.

Um arrepio desconfortável se move através de mim.

— Você vai deixar Fredrik interrogar ele?

Victor se move de entre minhas pernas e começa a empilhar as fotografias na mesa em uma pilha pequena.

Ele não responde, o que é uma resposta por si mesma.

— Quando você vai matar Nora? — Ele pergunta, empilhando as coisas constantemente.

— Antes da manhã — digo. — Eu queria lidar com tudo antes de vê-la novamente.

Ele balança a cabeça.

— Você já pensou sobre isso? — Eu pergunto. — Sobre o que ela disse?

— Não — ele responde e se dirige para a pasta com as fotografias e os arquivos.

— Nem um pouco?

Ele olha para mim.

— Eu pensei sobre isso — ele diz, — mas não considerei, se é isso que você quer dizer. Eu admito, foi uma jogada ousada, mas ela deveria ter pensado mais sobre as consequências de suas ações do que ela fez. Ela matou um dos meus homens na casa da Sra. Gregory. Ela virou meu irmão contra mim. Sequestrou os seus entes queridos e os usaram contra você. E ela tem desperdiçado muito do meu tempo, francamente.

— Verdade — eu digo, franzindo os lábios contemplativamente, — mas ela meio que se provou no processo.

Victor ergue os olhos momentaneamente e fecha a pasta com dois cliques.

— Você está tentando me dizer alguma coisa? — Ele pergunta com suspeita.

Eu balanço a cabeça.

— Não é o que você provavelmente está pensando — eu não quero ela aqui tanto como qualquer um de nós — mas eu vi a maneira que você estava olhando para ela na sala de vigilância. Parece que você queria a chance de dissecá-la.

Um sorriso fraco, quase invisível aparece em seus lábios enquanto ele levanta a pasta da mesa com a mão apertada sobre a alça.

— Você viu isso, não é?

Eu encolho os ombros e sorrio.

— Sim, eu meio que vi.

— Bem, a resposta é não — ele diz andando em minha direção. — Ela causou problema bastante. Mate-a e termine com isso.

Ele me beija nos lábios mais uma vez e dirige-se para a porta.

— Eu volto em algumas horas, — ele diz da porta. Mas logo antes de sair, ele para e olha para mim.

— E vou falar com o Niklas em breve.

Eu aceno com um pequeno sorriso de apoio e ele sai.


CapÍtulo VINTE

Izabel

O piso da cela tem apenas dez celas que Victor queria manter por razões como esta — detém traidores e outros tipos de prisioneiros. As celas são nomeadas de A a J. Eu me dirijo para a cela C com um monte de emoções misturadas e um coração pesado. Eu não quero pensar sobre o que Dorian vai passar com Fredrik mais tarde, mas ao passar pelo corredor sombrio e pelas celas A e B que estão abertas e vazias, é tudo o que posso pensar. Eu não quero pensar que Dorian é um traidor, que talvez as coisas que ele disse a Victor fossem verdadeiras. Talvez ele não seja nosso inimigo e nunca pretendia ser. Mas ele mentiu. E ele trabalhou conosco sob falsos pretextos. E ele deu informações sobre nós ao governo e isso só é o suficiente para Victor para matá-lo.

Eu passo até a porta de aço pesada e empurro para cima em meus dedos do pé para ver dentro através da janela janelinha.

Dorian está deitado contra a cabeceira de uma cama de metal que se projeta da parede. Bandagens sangrentas estão envolvidas sobre ambos os ombros. Tudo o que ele está vestindo é sua calça jeans escura e seu Rolex. Suas botas foram chutadas para o chão, colocadas descuidadamente com as cordas longas espalhadas contra o azulejo.

Estendendo a mão, toco na janela com a ponta do meu dedo.

Dorian ergue a cabeça loira e depois de um segundo olhando para o rosto desfocado na janela e tentado distingui-lo, ele diz: "Izabel?" E com dificuldade força seu corpo ferido do berço para sentar-se ereto. Seu rosto se contorce de dor e ele para, respira fundo e empurra-se para seus pés e caminha até a porta.

Eu me agacho em frente a ela e deslize o metal que cobre sobre a abertura para comida que é longa e larga o suficiente para passar uma bandeja.

— Como você está? — Pergunto.

— Sinta-me como uma merda — ele diz e se senta no chão em seu traseiro, estremecendo com cada movimento abrupto. Tudo o que eu posso ver agora são seus olhos azuis brilhantes e sua testa através da abertura.

— Desculpe — eu digo. — Ei, eu queria vir aqui e dizer que Tessa está bem.

Seus olhos se iluminam um pouco e o alívio passa por cima dele, através de toda a dor e desconforto.

— Na verdade, — eu continuo, — ela estava bem o tempo todo. Nora não a machucou.

— Onde ela está agora?

— James a levou de volta para casa.

Dorian acena com a cabeça.

— Obrigada, Izabel. Por me deixar saber.

Eu aceno de volta.

Depois de alguns longos segundos que se parecem mais como minutos, quebro o silêncio com o inevitável.

— Você contou a verdade a Victor? Você sabe que ele vai descobrir, certo?

— Sim, eu sei, — ele diz. — Mas eu lhe disse a verdade. Há mais para contar a ele, como que tipo de informação eu passei para os meus superiores, mas eu não estava segurando nada disso. Acho que Victor não estava pronto para ouvir.

— Por que você quebrou depois de tudo? — Eu pergunto. — Quero dizer... bem, eu pensei que caras como você foram treinados para não quebrar, nem mesmo para salvar a vida de alguém que você ama. Ponha de lado mentir sobre quem você é; o fato de você quebrar deixa em seu caráter uma falha grave em seu personagem, Dorian. Você desistiu de sua identidade não só por nós, mas por uma civil inocente. Isso nos diz que você estaria disposto a se render sob certas circunstâncias.

Dorian sacode a cabeça.

— Eu sei que parece assim — ele diz, — mas como eu disse a Victor, eu ia eventualmente dizer a ele quem eu era, independentemente se me seria dada a autorização. Eu só tenho que fazer isso mais cedo do que o esperado.

— E se — eu digo, — você nunca recebesse essa autorização? Você admitiria?

Ele suspira.

— Se eu dissesse que não, você acreditaria em mim? — Não era realmente uma pergunta.

— E Tessa? Parecia fácil para você dizer a ela.

— Sim, bem, esse é um tipo diferente de fraqueza — admite. — Ainda uma imperdoável, mas não tão imperdoável como ser um traidor. Olha, eu sei que provavelmente vou morrer aqui. É um perigo nesta linha de trabalho. Aceito e não tenho medo, mas não quero morrer como um traidor.

Depois de um breve momento de pausa, eu digo:

— Eu gostaria de poder dizer que não acho que você é um traidor, mas o que você fez... Eu não sei, é difícil para mim pensar em você como qualquer outra coisa... mas como uma pessoa e um amigo, eu acho que você é genuíno.

— Obrigado.

Ele faz uma pausa e pergunta:

— Ela está morta?

— Vou matá-la em breve.

— Sim, bem, ponha uma bala no ombro daquela cadela antes de matá-la — ele agarra. — Faça a coisa toda dramática, diga a ela "isto é por Dorian!" — Ele ri da própria brincadeira, mas se encolhe e um barulho sibilante empurra seus lábios enquanto ele aspira uma respiração bruscamente em resposta a mais dor.

Eu sorrio e vejo seus olhos caírem para a abertura da porta enquanto ele abaixa a cabeça.

— Sua mãe vai ficar bem? — Ele pergunta.

— Sim, ela estava bem quando James a pegou, como todos os outros.

— Essa deve ter sido as quarenta e oito horas mais fodidas — diz ele. — Acho que você não tem a liberdade de me dizer qual era a grande confissão que ela queria, e de qual de nós?

Eu balanço a cabeça.

— Desculpa.

Ele balança a cabeça.

— Compreensível — ele diz e depois de alguns segundos tranquilos acrescenta: — Acho que isso significa que Gustavsson apareceu depois de tudo.

— Sim. — É tudo o que posso dizer; eu não posso suportar dizer-lhe o resto, onde se refere a ele e Fredrik estarem preocupados.

O som de sapatos batendo contra o chão ecoa pelo corredor — dois pares para ser preciso. Eu engulo incômodo e olho de volta nos olhos de Dorian através da abertura na porta. Ele sabe. Ele balança a cabeça e ri largamente.

— Ele sempre quis me torturar — diz ele. — Eu acho que o cara até tinha sonhos molhados sobre isso — ele não podia me suportar.

Eu me empurro para fora de uma posição agachada e fico de pé, fazendo uma careta de dor e da rigidez nas minhas pernas por estar na mesma posição por tanto tempo. Dorian está olhando para mim agora através da janela embaçada no topo da porta.

Fredrik e Victor contornam a esquina na extremidade distante do salão; dois homens altos e assustadores, todo negócios, em ternos escuros contra as sujas paredes e chão brancos. Juiz e carrasco. Sem emoção. Implacável.

Olho para Dorian.

— O que quer que aconteça comigo — ele diz, — faça-me um favor e certifique-se de que Tessa receba todo o meu dinheiro. A chave para minha caixa de depósito de segurança e outras coisas pessoais que eu gostaria que ela tivesse está escondido na sola da minha bota esquerda. Você vai dizer a Tessa que eu a amo e eu sinto muito por ser tão idiota?

— Eu vou — eu digo a ele.

Deixo Dorian e ando em direção a Victor e Fredrik enquanto eles abrem caminho pelo centro do salão.

— Posso falar com você por um minuto? — Eu pergunto a Fredrik, pisando bem na frente dele.

Estou cansada dele me evitando, e se eu não tentar forçá-lo a falar, eu sei que ele nunca vai e ele pode escapar deste edifício logo após o interrogatório de Dorian, e eu não vou vê-lo novamente por outro mês.

Fredrik começa a caminhar e passar por mim, mas eu o interrompi, parando-o em seu caminho.

— Izabel — diz Victor - temos assuntos importantes a tratar.

— Eu sei, mas isso vai demorar apenas alguns minutos. — Eu olho para Victor através de olhos suplicantes.

Ele não quer me deixar para trás, mas faz, indo na direção da cela de Dorian e me deixando sozinha com Fredrik. Eu ouço a chave chiar na porta da cela e então o som da porta fechando soando quando Victor vai para dentro.

— Eu não tenho tempo para isso — diz Fredrik.

— Faça tempo. Me dê dois minutos. É tudo que eu peço. Por favor.

Ele olha para mim agora, seus olhos azuis escuros enquadrados pelos cabelos escuros, perfurando-me com irritação.

— Eu não posso gastar dois minutos.

— Sim, você pode — eu digo atentamente.

Ele começa a passar por mim novamente, mas eu agarro o seu braço, o material de sua jaqueta preso entre os meus dedos. Sua cabeça se vira de lado para olhar para mim e sua expressão fica mais escura. Seus dentes estão rangendo atrás de um queixo raspado.

Finalmente, deixei o outro lado de mim assumir o lado que está doente da sua merda, e em vez de ter uma conversa de coração com coração com o homem que já foi meu irmão, não consigo parar de dizer-lhe em vez disso.

— Você é um idiota, — eu solto, empurrando as palavras através dos meus dentes. — Olha, eu entendo, eu realmente entendo, e se eu fosse você eu sei que provavelmente eu me sentiria da mesma maneira. Mas eu não iria empurrar as pessoas que se preocupam comigo. — Ele empurra mais contra mim, com a intenção de me ignorar, mas eu me movo na frente dele e empurro ambas as mãos contra seu peito, empurrando sua estatura alta e sólida, mas ele apenas se move. Ele apenas olha para o meu rosto furioso.

Mas ele para — não que ele queira ouvi-lo, mas que ele quer que eu termine com isso para que ele possa estar livre de mim.

— Faça o que quiser — eu digo com ácido em minha voz, — Eu não me importo mais. Se você quer me fechar para fora, tudo bem, mas eu vou dizer o que tenho a dizer antes de ir lá e... fazer a sua coisa. — Um grunhido manipula minha boca.

Fredrik só fica lá olhando para mim com sua pasta apertada ao seu lado.

— Nora Kessler disse a Niklas alguma coisa quando ele estava no quarto com ela, algo que ficou comigo por muito tempo depois que ele deixou. E por mais que a despreze, não posso negar que ela estava certa.

Aponto o dedo para o peito.

— Você precisa de amor para sobreviver, Fredrik — eu digo com convicção dura. — Você é esse homem escuro, assustador, que é tão frio para o exterior que o inferno congelaria se você fosse enviado para lá... mas, do lado dentro, você é um homem quebrado que precisa de amor mais do que alguém por causa da vida que você foi forçado a viver, por causa das coisas terríveis que você foi forçado a suportar. — Eu balancei minha cabeça com tristeza em meu coração. — Você precisa de amor mais do que qualquer coisa, porque é a única coisa que você foi privado. Você me empurrar para longe, porque eu queria dizer alguma coisa para você, porque de todos nós aqui, você pensou em mim como família. Você me ignorou por causa das quantidades de vezes que o amor o destruiu.

Dou um passo para mais perto e meus olhos nunca saem dele, a raiva neles nunca diminuem. Seu rosto frio, mas sem emoção, não mudou.

— Todos precisamos de algo para sobreviver, Fredrik, Victor precisa estar no controle; James precisa de aceitação; Niklas precisa de algo para chamar se dele; Dorian precisa fazer as pazes com ele mesmo... e eu... Eu preciso de um monte de coisas, mas eu ainda não descobri qual delas eu mais preciso. Mas você... você precisa de amor, e você não pode empurrá-lo para sempre. Não é da sua natureza.

Eu passo para trás e para longe dele e só para olhá-lo por um segundo, estudando seu rosto inflexível, seus profundos olhos azuis, procurando algo, qualquer coisa, mas ele não me dá nada. Estou tão zangada! Eu quero que ele diga alguma coisa. Discuta comigo, diga-me como estou errado. Diga-me que eu sou estúpida e jovem e eu não posso saber como ele está se sentindo ou o que ele está passando.

Absolutamente nada.

Balançando a cabeça com um olhar amargo no meu rosto e rendendo ao meu coração, eu gesticulo com a mão na direção da cela de Dorian.

— Eu acho que vou te ver por perto — eu digo, viro meus calcanhares e saio.

Eu não olho para trás enquanto ando pelo comprimento do longo corredor, mas posso sentir que Fredrik fica lá no mesmo lugar, pelo menos, até que eu vire a esquina no final.

O que está acontecendo conosco? A todos nós.

Niklas está longe de ser encontrado. Eu tentei ligar para ele, saí do prédio e dirigi por Boston, verificando os bares que ele gosta, mas é uma hora antes do amanhecer e eu ainda não encontrei nada. Niklas não quer ser encontrado e eu não posso deixar de me perguntar e me preocupar por quanto tempo. E se ele realmente nunca voltar? E se ele não puder "entender" porque Victor fez o que ele fez, e eles se tornaram inimigos? As coisas não podem ser deixadas desta maneira, elas apenas não podem...

Dorian pode estar morto, ou a caminho. Fredrik é uma causa perdida que eventualmente se autodestruirá. Niklas desapareceu. Pode a nossa organização, nossa família, se recuperar do que Nora Kessler fez, ou o que ela desempenhou em grande parte para fazer?

Estou começando a pensar que não pode.


CapÍtulo VINTE E UM

Izabel

Com minha arma na mão, eu abro a porta para a sala onde Nora estava enjaulado por mais de dois dias.

Ela olha para mim da cadeira.

— Vamos — eu digo a ela com uma inclinação para trás da minha cabeça.

— Para onde? — Ela diz, curiosa, enquanto ela se levanta em suas calças de couro, rosto manchado de sangue e cabelo loiro. Havia colocado também a blusa de seda, apesar dos cortes nas costas.

— Você sabe onde, — eu digo a ela calmamente.

Nora caminha até mim com seus pés descalços — seus saltos altos foram jogados contra o chão — e ela faz uma careta pela dor em suas costas e em qualquer outro que Fredrik a machucou, discutem com sua decisão de se mover.

— Por que você não atira em mim aqui? — Ela pergunta.

Eu não respondo, jogando fora como sem importância, mas a verdade é que antes de eu matá-la há algumas coisas que eu quero dizer a ela, coisas que eu não quero que ninguém ouça.

Caminhamos pelo corredor de forma lenta e deliberada, Nora na minha frente, eu em suas costas com minha arma no meu lado, e a conduzo para fora da parte de trás do prédio, na escuridão e no silêncio.

— De joelhos — eu digo a ela, apontando a arma para o chão ao lado de um lixo.

Sem dúvida, sem argumentos ou com um pingo de medo, ela cai de joelhos, já sabendo que devolverá a mim.

— Eu perguntaria por que você não vai implorar por sua vida — eu digo, apontando a arma na parte de trás da cabeça enquanto eu estou a poucos metros de distância, — mas eu já sei a resposta.

— Qual é a resposta? — Ela pergunta, olhando para a parede de tijolos na frente dela.

— Você nunca iria implorar por sua vida.

Eu enrolo meu dedo indicador em torno do gatilho.

— E você estaria certa — ela confirma.

O oceano e o som distante dos carros apressados sobre a autoestrada são fracos, mas são os únicos sons que são ouvidos. O fedor do deposito de lixo aos pés de Nora, e dos outros cinco que alinham na parte traseira dos edifícios próximos fazem sentir falta de ar. Uma única luz brilha a distância de um poste, radiante na entrada de uma garagem de estacionamento, mas a única luz aqui é da lua, fazendo a figura escura de Nora parecer como uma sombra, com exceção de seu cabelo loiro que cobre suas costas e ombros como uma bagunça desgrenhada de palha branca.

Eu olho para ela por um longo tempo, quase sentindo como se eu sevesse forçá-la a me enfrentar, porque se eu vou executá-la eu deveria ter a coragem de olhá-la nos olhos. Mas eu não tenho. Eu não sou corajosa o suficiente para olhar alguém nos olhos e então tirar a vida deles — não assim. Uma mulher desarmada. De joelhos. Atrás de um edifício. Ao lado de um lixo fedorento. Isso me assombraria para sempre.

O tempo passa e eu não percebo o quanto até Nora começa a virar a cabeça em um ângulo para obter um vislumbre de mim atrás dela.

— Algo me diz que você não tem medo de me matar — ela diz, — então, qual é da demora?

Faço uma pausa e digo:

— Eu queria te perguntar algo primeiro.

Ela riu levemente.

— Ah, claro, — ela diz sarcasticamente com o encolher de ombros, — porque eu estou tão inclinada a responder às suas perguntas antes de explodir meus miolos. — Ela olha para trás uma vez com um sorriso e se vira para a parede novamente. — Vá em frente e pergunte o que quiser, mas você pode esperar apenas um tipo de resposta de mim.

— Que tipo isso seria?

— O tipo verdadeiro — diz ela.

— Esse é o único tipo que eu quero.

- Então, por todos os meios - ela gira a mão com o dedo mindinho cortado no ar ao lado dela — pergunte.

Hesitando por um longo e tenso momento, penso na minha pergunta e no que sua resposta verdadeira poderia significar.

— Você acha que um homem como Victor Faust pode estar realmente apaixonado?

Nora está muito quieta, como se a minha pergunta tivesse tirado o sarcasmo dela e substituído por intriga. Então ela vira a cabeça para o lado novamente, permitindo-me ver o contorno de seu nariz e bochecha na escuridão enluarada que envolve ela.

— Essa é uma pergunta ousada — diz ela. — E uma que eu acho que você já sabe a resposta.

— Talvez sim, mas eu quero conhecer a sua.

— Você quer dizer — diz ela, como se para me corrigir, — você quer saber a razão por trás da minha resposta.

- O que quer que seja... basta me dizer.

Eu sinto ela sorrindo, mas eu não vejo isso em seu rosto, e eu não sinto qualquer rancor ou prazer nos sentimentos dela - apenas honestidade.

Ela olha para a parede na frente dela novamente.

— Qualquer um pode estar apaixonado, Izabel — ela diz com uma voz plana, — e posso dizer pelo olhar nos olhos daquele homem que ele é apaixonado por você — (eu quero estar satisfeito com essa resposta, mas eu não estou porque eu sei que não é tudo) — mas um homem como Victor Faust — continua ela, — não pode ficar apaixonado para sempre. Como o tipo de Fredrik não pode viver sem amor, o tipo de Victor não pode viver com ele. E por mais que ele fique no caminho de seus deveres, e quanto mais humano você o torna, mais perto você o empurra para o seu ponto de ruptura.

— O que é que isso quer dizer? — Minha mão com a arma está tremendo. — Você está dizendo que não importa o quê, ele vai acabar conosco?

— Não — ela diz, — mas se você quer mantê-lo e o que você tem com ele intacto, você precisa perder o que resta da sua vida pessoal, sua humanidade. Seu amor por Dina Gregory. Seu ciúme juvenil. Sua consciência. É o suficiente que ele te ame e tenha que protegê-lo, mas ele não continuará, não pode, protegê-la e levar em consideração tudo o que você arrastar com você do lado de fora.

— O que faz você pensar que ele não pode? — As lágrimas picam a parte de trás dos meus olhos, mas eu não as deixo cair.

Nora vira a cabeça para olhar para mim novamente.

— Porque ele é como eu — diz ela não com malícia, mas com verdade. — E de uma forma ou de outra, ele instintivamente fará o que for preciso para restaurar o equilíbrio da única vida que ele já conheceu.

Eu balanço a cabeça repetidamente, não querendo acreditar nela, querendo ir em frente e atirar nela apenas por dizer essas coisas para mim. Mas eu não posso. Ainda não.

Um nó duro desce pelo centro da minha garganta.

— Mas você amava Claire — eu aponto, me agarrando a qualquer coisa que eu possa para virar a verdade em sua cabeça. — Você teria feito qualquer coisa por ela.

— Sim — ela admite, — eu teria... e é por isso que todos os dias que ela estava viva eu contemplei em matá-la.

Meu coração para de bater, como se ela tivesse apenas puxado o tampão em mim.

— Eu amava tanto a minha irmã — ela começa, — que eu sabia que não podia deixá-la viva porque sempre me preocuparia com ela e estava me deixando fraca.

— Você ia matá-la? — Eu mal posso acreditar, mas mais uma vez eu posso. — Você ia matar a sua própria irmã? Sua irmã inocente que nunca fez nada para você e que não tinha ideia em que você estava envolvida? — Minhas palavras são atadas com descrença e nojo.

— Sim. Se Victor não tivesse matado Claire, eu teria feito isso sozinha, eventualmente, e sim, eu estava vingativa porque ele matou ela, mas ela era minha irmã e ela era minha para matar, não de Victor. — Ela faz uma pausa e diz com sinceridade, — Eu sei que é muito estômago, Izabel... eu sei. Eu sei que é impossível para você entender. Mas eu não sinto emoções ou vejo as coisas da maneira que você faz. Eu nunca vou, porque eu fui criado a partir do momento em que nasci, para ser do jeito que sou, não é diferente de você ser do jeito que é. Todos nós temos nossas falhas "imperdoáveis", eu suponho que isso só passe a ser mais aparente em mim.

Minha boca está incrivelmente seca. Meu coração não está batendo rápido ou lento, mas não está batendo bem, é como se ele não consegue descobrir como. Victor contempla me matar como Nora contemplou matar Claire? Ele poderia realmente se livrar de mim porque eu estou interferindo em sua vida como um assassino? Ele poderia matar Niklas? Uma parte de mim me diz que ela é apenas louca e que Victor pode ser como ela em muitos aspectos, mas não nos modos mais extremos — e eu acredito nisso! Meu coração me diz que ele nunca iria recorrer a isso. Ele me mandou embora uma vez, de volta ao Arizona, e não tinha intenção de me ver nunca mais... mas... mas ele fez. Ele cuidou de mim o tempo todo.

Não! Eu não posso deixá-la chegar a mim assim. Eu não vou deixá-la.

Tremo o meu queixo e recupero meu controle.

Nora provou que suas habilidades de manipulação ultrapassam as minhas ou de alguém que eu já conheci. Ela pode fazer uma pessoa acreditar apenas em qualquer coisa que ela queira, fazer a pessoa com a mente mais forte duvidar de si mesmo, ou a pessoa mais fraca de mente acreditar que ela é algo extraordinário. Eu sei como ela funciona — eu experimentei em primeira mão — e eu não vou cometer esse erro novamente. Talvez as coisas que ela está me dizendo não são uma tática de manipulação em tudo, e eles são verdadeiramente nada mais do que suas opiniões, mas eu não estou tomando quaisquer chances. Vou ouvir meu coração, e meu coração está me dizendo que... apenas algumas das coisas que ela está dizendo são verdadeiras... e a parte sobre perder o que resta da minha vida pessoal, creio que é uma delas.

— Ele não sabe... — eu digo, embora eu não tenho certeza por que eu estou dizendo a ela. Eu olho para a parede acima da sua cabeça; a arma ainda está apontada para ela, mas minha mente está em outro lugar.

— Ele não sabe o que? — Nora pergunta.

Muito tempo passa antes de eu responder.

— ... Ele desligou o áudio da sala quando eu confessei para você — eu digo distante, vendo apenas os tijolos na minha frente. — Ele não sabe que eu tive um bebê com Javier... que eu tenho um filho de sete anos ou filha lá em algum lugar.

— E você acha que é melhor manter assim. — Eu acho que é a maneira dela também de me dizer que ela vai manter meu segredo.

Olho para ela, surpresa por ela não ter se movido, porque no meu breve momento de distração, alguém com habilidade de Nora poderia ter reagido com rapidez o bastante para me derrubar dos pés e tirar a arma de mim.

Eu seguro a arma com mais firmeza, percebendo.

Ela olha para a parede novamente, esperando e pronta para eu matá-la. Sem medos. Sem arrependimentos. Nenhuma tentativa de salvar sua própria vida. Nora Kessler aceitou seu destino.

— Confio no seu julgamento, Izabel — diz. — Quando se trata dos outros, você é uma boa juíza de caráter.

Eu sinto como se estivesse presa dentro da minha própria mente giratória. Olho para o cano da minha arma e as costas da cabeça de Nora.

— Quão importante é a honestidade para você? — Eu pergunto a ela.

— Não tenho nenhuma razão para mentir — diz ela, — a menos que seja meu trabalho mentir, por que você pergunta?

— Então me diga — digo, ignorando seu inquérito, — vire-se e me enfrente para que eu possa ver seus olhos, e me diga por que você quer fazer parte de nossa organização.

Depois de um momento, Nora se vira, ainda de joelhos, para me encarar. Ela olha para mim com curiosidade.

Então ela sorri com descrença e sacode a cabeça.

— Antes que você se faça de idiota, Izabel — diz ela, — se você quer que eu fique por perto para treinar você só porque você quer manter Victor, você pode muito bem me matar.

Empurro a arma para ela ameaçadoramente.

— Apenas responda a pergunta — exijo.

Seus olhos curiosos estudam o meu rosto, minhas reações, e então ela diz:

— Eu entrei em um monte de problemas para me provar a Victor Faust — a todos vocês. Eu poderia ter ferido ou matado as pessoas que você ama, mas eu não fiz e não tive nenhuma intenção em fazê-lo. Eu posso ter forçado a todos vocês para expor pelo menos um dos seus segredos mais obscuros, e eu pode ter feito mais danos do que o pretendido, mas nenhum de vocês pode me culpar pelas coisas que você tem feito, os segredos você manteve um do outro - aqueles são os seus erros, não meus. — Ela faz uma careta e ajusta a sua posição ajoelhada apenas um pouco. — Mas para responder a sua pergunta, eu quero ser parte desta Ordem porque eu perdi o único lugar que eu pertencia quando eu deixei a FC-4. Eu não posso simplesmente sair para o mundo, encontrar um emprego, encontrar amigos, me apaixonar e agir como um ser humano normal. Porque eu não sou. E eu nunca serei. E eu não posso voltar para a Sect porque eles vão me matar no local por deserção. Para não mencionar por matar Solis. — Finalmente, senta-se completamente em seu traseiro, incapaz de permanecer em seus joelhos por mais tempo. — Eu nasci, literalmente, para fazer isso. É tudo que eu sei. E isso é tudo o que tenho a dizer.

Eu acredito nela. Independentemente de quão manipuladora ela seja, os fatos também não mentem.

— Então por que você não se mata? — Eu pergunto. — Se você não tem medo da morte, e você não pode viver de outra maneira, por que não acabar com ela?

— Porque o suicídio é o caminho do covarde.

Eu aceno com a cabeça e deixo isso assim.

— Mas o que o impede de tentar matar um de nós? — Inclino a cabeça pensativamente, olhando para ela com desafio. — Já que você parece não ter consciência.

— Eu sou toda negócios, Izabel, — ela responde imediatamente. — E eu sou leal. Está no meu sangue fazer o que me disseram os meus superiores. Eu faço isso sem questionar ou argumentar, e faço-o bem. E se eu quisesse te matar, eu poderia ter isso no segundo em que você me trouxe aqui. Eu poderia ter tomado essa arma de você momentos atrás, quando você estava fora na terra pensando nos segredos de vocês e decidir não contar Victor sobre isso, como se fosse fazê-lo. Provavelmente esta noite está prevendo dormir com ele. — (Como ela sabe essas coisas?) — Se eu quisesse matar qualquer um de vocês, eu não teria passado seis anos planejando esta noite. Eu teria matado você todas as vezes que eu segui você.

— Mas, e quanto a Claire? — Eu digo, ainda precisando de mais. — Ela comprometeu você. Você a amava. Você ia matá-la. E você deixou a única casa que você já conheceu, arriscou tudo, por causa dela. O que quer dizer que não vai acontecer de novo?

— Porque as pessoas como eu só amam uma vez — ela responde sem sequer ter que pensar sobre isso. — Para nós, a experiência é como uma criança tocando uma panela quente.

Eu não digo nada por um tempo.

— Mas quando você está calma e não agi por raiva ou vingança, você sabe o que está fazendo. E confio em você cem por cento.

— Você disse que me treinaria.

Nora acena com a cabeça.

— Eu fiz.

— Então por que você disse...

— Eu vou treiná-lo se a sua necessidade de aprender não é ditada pelo seu amor de um homem — ela corta. — Isso não é diferente de uma menina engravidar apenas para manter seu namorado, ou um homem casando-se com uma mulher que ele não ama porque a engravidou, nunca funciona. E não vou perder meu tempo com tolices.

— Victor não é a única razão pela qual quero aprender — digo. — Eu não vou mentir e dizer que ele não é parte dela, mas ele não é tudo isso. Eu sou diferente de você em quase todos os sentidos, — continuo — mas a única maneira que nós somos iguais é que eu sei que esta é a única vida para mim. Já fui por esse caminho normal e eu não acho que posso fazer isso de novamente. Esta é a minha vida, e eu só quero aprender para me manter viva nele por tanto tempo quanto que eu puder. Victor nunca teve muito tempo para me treinar como eu preciso ser treinada. Ou ele me enviou para outra pessoa — eu silenciosamente me lembro de Spencer e Jacquelyn no estúdio Krav Maga — ou começou a ficar tranquilo depois de um tempo, porque ele não queria me machucar.

— Eu nunca iria ser fácil com você. — Nora sorri.

— Eu sei.

Então eu digo:

— Mas lutar não é a única coisa que quero aprender — quero aprender tudo o que você pode me ensinar: técnicas de manipulação, controle da dor, tudo...

Nora levanta uma sobrancelha.

— Você nunca será capaz de aprender todas essas coisas — diz ela, — a menos que você queira perder a sua capacidade de amar alguém e ser capaz de matá-los em vez disso, mas vou ensinar-lhe o que eu puder.

— Mais uma pergunta.

— Hmmm?

— Apenas por curiosidade — começo, — quando confessei a você, você parecia... simpática. Até mesmo aos sentimentos de Niklas. Se você é tão... sem emoção... por que você parece se importar? Por que zombar do seu pai e seu dedo desencadeia tanta raiva que desencadeiam suas emoções tão controladas? E ausente.

— Eu ainda sou humana — ela diz simplesmente.

Eu penso nisso muito e muito. Sobre tudo.

E então dou a ela a minha arma.

Nora olha para ela brevemente e depois a leva para seus dedos manchados de sangue.

— Então, bem-vindo a bordo — eu digo.

E o fato de que ela não atira em mim nas costas ou foge para as ruas de Boston, quando eu a deixo sentada lá e volto para dentro, mais prova que ela está dizendo a verdade que eu já sabia.


CapÍtulo VINTE E DOIS

Izabel

Quatro dias depois...

Gostaria de poder dizer que as coisas estão voltando ao normal por aqui, mas isso não poderia estar mais longe da verdade. Niklas ainda se foi e nenhum de nós o viu ou ouviu falar dele — ele poderia estar em outro país, ou morando na parte de trás de um bar em algum lugar próximo, e qualquer um seria crível. Seus telefones celulares nem tocam mais: eles vão direto para o correio de voz ou me dizem que o usuário não tem uma caixa de correio configurada para deixar uma mensagem. Eu parei de ligar para ele dois dias atrás. Quando ele quiser ser encontrado, ele nos avisará. E eu vou me preocupar com o resultado disso até que isso aconteça.

Dorian, depois que Fredrik o interrogou por muitas longas horas, estou feliz em dizer que ainda está vivo. Ele ainda está aprisionado na cela C e provavelmente estará lá por um tempo até que Victor descubra o que fazer com ele. Mas de acordo com Fredrik, tudo o que Dorian disse a Victor parece ser verdade, e ele não escondeu nada mais do que sabemos. Mas, a coisa em Victor mantendo vivo, eu acredito, tem principalmente a ver com a Inteligência dos EUA e se eles vão retaliar em reação à morte de Dorian. Mas Victor disse que ele parece o tipo de contratante privado que Dorian é, se ele já fosse morto ou comprometido, os Estados Unidos não afirmariam que sabia algo sobre ele.

É que a inteligência dos Estados Unidos sabe sobre nós impossibilitando que Victor tome uma decisão de qualquer maneira. Dorian admitiu fazer o perfil de cada um de nós e deu essa informação a seus superiores, empregadores, o que quer que eles sejam chamados — eu estou no escuro quando se trata destas coisas e Victor não fala muito sobre isso... ou talvez ele tenha dito e eu acabei por estar muito envolvida no meu treino com Nora Kessler para notar.

Comecei no dia seguinte depois da noite em que a deixei entrar. E já sinto que tenho que cuidar das minhas costas a cada momento do cada dia — não porque ela não possa ser confiada, mas porque, como parte de seu treinamento, ela me ataca do nada. Não existe tal coisa como um descanso. A qualquer momento Nora poderia estar me testando, mentalmente ou fisicamente, ou de qualquer forma que ela achar conveniente. É o mesmo tipo de treinamento que comecei com Victor há mais de um ano, mas muito mais intenso. Ela fode com minha cabeça tantas vezes que eu não posso dizer a diferença quando ela está mentindo no meu rosto ou me dizendo a verdade — eu deveria ser capaz de descobrir isso. Aprender a confiar inteiramente nos meus instintos e ser capaz de reagir a qualquer situação em conformidade, sem nunca pensar nisso. — Se você tem que parar e pensar nisso, você já fodeu — disse ela durante uma das raras vezes em que me deu um conselho. E então: — Não é a mesma coisa que "pensar antes de reagir" trata-se de mudar a maneira de pensar e reagir naturalmente.

Eu nunca esperava que qualquer treinamento fosse assim. E está apenas começando.

Hoje Nora juntou-se à mesa para o seu primeiro encontro.

Victor não aprovou minha decisão de deixá-la se juntar a nós quando eu lhe disse o que eu tinha feito. Não de primeira de qualquer maneira. Eu tive que lembrá-lo que ele disse que confiava em mim, e embora eu pense no fundo ele não precisasse disso, eu sei que ele menos esperava que eu a deixasse viver e tudo veio como um choque para ele. Para mim também. Eu tinha toda a intenção de eliminar Nora naquela noite — eliminando; talvez eu esteja começando a me tornar mais como Victor — mas no último minuto, eu fui com meu istinto em vez do meu ódio por ela.

Entrei na sala de reuniões diante dos rostos de Victor, James e Fredrik. Nora estará atrasada se ela não estiver aqui em cinco minutos. Eu faço o meu caminho para a minha cadeira habitual perto de Victor, onde me sento e tento parecer confiante — sei que Nora não estiver de acordo com as expectativas de todos, isso estará sobre a minha cabeça, porque eu fui a única que a deixou se juntar a nós. Estar atrasada na sua primeira reunião não é uma boa maneira de começar.

A sala está repleta de silêncio. Quase nenhum movimento agita o ar suave que escorre das aberturas no teto. James olha para a tela do laptop. Fredrik senta-se solidamente, como um gigante deslumbrante melancólico com as duas mãos apoiadas na mesa. Victor se senta com as costas presas contra a cadeira e as mãos no colo — sempre o poderoso no quarto, e qualquer um saberia apenas olhando para ele, mesmo que nunca o tivessem visto antes. Eu sinto seus olhos em mim — embora não os de Fredrik — mas não consigo olhar para nenhum deles.

Finalmente, o som de saltos tocando contra o chão do outro lado da porta ecoa pelo corredor. A porta se abre e Nora, com suas longas pernas e com belos cabelos louros, entra na sala de reuniões, fechando a porta atrás dela. Ela está vestida, de todas as coisas, um terno de mulheres negras e altos saltos pretos. Uma camisa com um elegante babado que puxa sob o casaco do terno e fica perfeitamente sobre seu peito, puxado em torno de seu pescoço de uma forma delicada. Delicado — uma palavra que eu nunca teria pensado associar com os gostos de Nora Kessler.

— Chagando perto da hora — eu falo.

Nora senta-se ao lado de James, com as costas retas e refinadas.

— Sim, — ela diz com um sorriso de desculpas e então alcança o bolso da jaqueta e retira um telefone celular. — Mas eu encontrei Niklas.

Victor e eu olhamos um para o outro enquanto Nora desliza o celular sobre a mesa e ao alcance de Victor. Ele pega e olha para a tela, batendo uma vez com a ponta do dedo enquanto ela começa a se desvanecer em preto. Eu me inclino mais perto de Victor para obter uma visão melhor.

— Em Barlow, — Nora anuncia. — Ele parece estar gastando muito do seu tempo lá, bebendo — eu olho para a tela para ver várias fotos de Niklas sentado em um bar escuro iluminado com um tiro de uísque no bar à sua frente — uma garota diferente todas as noites nas últimas noites. Ele está ficando no hotel ao lado do bar.

— Isso é apenas trinta minutos daqui — eu digo, olhando para Victor ansiosamente.

— Bebendo e mulheres — James fala do outro lado da mesa. — Parece que ele não mudou, realmente. Acho que é seguro dizer que ele está bem.

Franzem o cenho para James.

— Ele não está tão bem — eu digo.

— Mas ele estará — diz Victor.

Ele desliza o telefone de volta para Nora. Ela o deixa sobre a mesa na frente dela.

Fredrik não diz nada.

Eu deslizo para trás em minha cadeira mais confortavelmente e viro a Victor.

— Você quer que eu vá falar com ele? — Eu pergunto. — Tentar trazê-lo de volta para cá para que você possa falar com ele?

Victor sacode a cabeça.

— Vamos discutir Niklas mais tarde — diz ele. — Primeiro, eu tenho algo mais que precisa ser tratado.

Victor e Nora trocam um olhar, dando a impressão de que são os únicos na mesa que já falaram sobre isso, seja lá o que for. Eu me sinto incrivelmente incômoda de repente, mas curiosa e ansiosa, também.

— O que é? — Eu pergunto.

Victor respira fundo e olha para todos nós.

— Haverá uma missão importante no futuro próximo — ele diz enigmaticamente e seus olhos caem sobre mim, — não no próximo ano, mas porque levará, pelo menos, esse tempo para se preparar para isso, ou melhor, para preparar Nora - Ele olha para ela por um instante.

— OK — eu digo, desconfiada, — que tipo de missão?

Ele fica quieto por um momento e depois diz:

— Preciso que você volte para o México.

Confusa, eu respondo:

— Por que o México? — Mas o que é tão confuso é o quão obscuro ele está sendo. — Não tenho problema em ir lá, Victor. Você me dá uma missão e eu vou executá-la. O México não me assusta. Já fomos lá uma vez. Pegamos dois dos irmãos de Javier e libertamos algumas das meninas deixadas no complexo. A missão não resultou como eu esperava e muitas das garotas com quem eu vivi quando eu era prisioneira lá, já haviam sido vendidas ou mortas quando chegamos.

Ele olha para longe dos meus olhos momentaneamente.

— Victor, o que é? Apenas diga.

Mais uma vez, sinto todos os olhos em mim, mesmo Fredrik desta vez, mas eu não olho para ninguém além de Victor.

— Esta missão vai exigir algo mais do que matar alguém e voltar — ele começa. — Nos próximos meses você estará treinando Nora para isso.

Minhas sobrancelhas se dobram rigidamente.

— Eu treinando ela? — Estou começando a entender, o que será toda esta missão , mas deixei Victor preencher as lacunas.

— Você estava por dentro, — ele diz para mim, — e você sabe como as coisas funcionam. Tudo. Desde a compra e venda de drogas, armas e meninas, até o modo como as meninas foram tratadas, até como elas foram mortas. Nora certamente pode lidar com qualquer tipo de missão dada a ela, mas mesmo ela precisa ser treinada para que ela saiba exatamente com o que ela está lidando.

Olho bem para Nora, que fica quieta, mas com confiança.

— Espere um segundo, — Eu o cortei — então você está dizendo que quer que eu a treine para ser uma escrava sexual? — De alguma forma eu não pode imaginar essa imagem na minha cabeça, não importa o quanto eu tente.

O rosto de James se ilumina com arrepiante prazer.

— Não necessariamente, — Victor diz. — Eu falei com ela longamente sobre isso e nós dois concordamos que a melhor maneira de abordar esse aspecto particular é para ela se tornar uma das meninas, não apenas desempenhar o papel.

— É melhor se tornar uma delas — diz Nora, — se eu conseguir ser uma delas, não que me ensine como ser uma delas.

Ficando mais confusa, eu olho entre Victor e Nora, procurando respostas.

— Eu sou capaz de assumir qualquer papel, até mesmo uma escrava do sexo, mas você precisa me dar dicas, me dizer sobre os bastidores, sobre como ser mais consciente, como não me matem.

Eu balanço a cabeça, já não gosto dessa ideia.

— Victor, imagino que as coisas não são mais as mesmas. Javier está morto. Izel está morta. Seus irmãos estão mortos.

— Elas podem estar — diz ele, — mas isso não significa que as coisas mudaram muito. Javier tinha seis irmãos que conhecemos. Dois deles ainda estão executando suas operações. O composto ainda está no mesmo lugar. Meninas, drogas e armas ainda são compradas e vendidas como se nada tivesse acontecido. Dentro de dois meses de nossa última missão lá, eles estavam funcionando novamente.

Eu já sabia a maior parte dessa informação, mas vejo por que agora ele tinha que repetir.

Balançando a cabeça com um olhar caído, inclino-me para a frente com os braços sobre a mesa.

— OK mas porquê? Por que voltar? Não me interpretem mal, não tenho nenhum problema em matar aqueles bastardos e libertar mais das meninas, mas...

— Essa não é a missão, Izabel — diz Victor.

Eu pisco, um pouco atordoada.

Nora e Victor trocam outro olhar de conhecimento.

Então Victor diz:

— Nora me disse alguma coisa, na última noite em que ela foi detida naquele quarto, antes dela se juntar a nós. Algo sobre você que eu queria ter mais certeza antes de eu dizer qualquer coisa.

Eu apenas olho para ele, sentindo a dor da traição, mesmo sabendo que ele não me traiu em tudo.

Victor continua:

— Além disso, depois de falar com Dorian quando ele foi detido pela primeira vez, a história de Nora parecia ter mais verdade. — Depois de uma pausa, ele diz: — A missão no México será descobrir quem é Vonnegut. Você pode ser a única pessoa entre nós que já viu o verdadeiro Vonnegut.

— O quê? — Eu não posso acreditar no que acabara de ouvir.

Ele balança a cabeça, e depois começa a falar, mas eu o interrompo.

— Você viu ele — eu aponto. — Do que está falando, Victor?

— O homem que encontrei em raras ocasiões, quando eu fazia parte da Ordem — ele começa, — onde eu era valorizado como um operário, tenho razões para acreditar que não era o verdadeiro Vonnegut. Ele era um chamariz. A verdade é que ninguém realmente sabe quem é o verdadeiro homem por trás da organização de assassinato mais antiga e maior ainda em funcionamento hoje. Nem mesmo a CIA ou o FBI — ninguém. Apenas quando eles pensam que têm uma identidade, descobrem apenas estavam correndo em círculos.

Victor me enche de tudo o que Dorian lhe contou, dos suspeitos de Vonnegut de vender armas a terroristas e de que seu negócio é muito mais do que matar por contrato. Ele continua a me falar sobre as coisas Nora lhe disse em segredo, e sobre o dispositivo de rastreamento que Victor me cortou quando nós estávamos nos escondendo.

— Niklas e eu sabíamos — diz Victor, — na noite em que tirei esse aparelho de você, que algo de tão alta tecnologia tinha que vir de uma fonte externa, que não havia ninguém como Javier Ruiz que fosse capaz de produzir ele mesmo.

— Enquanto eu estava espionando todos vocês, — Nora interrompe, — e mergulhando em informações da Ordem, eu descobri que Vonnegut estava lidando com meninas, também, e estava vendendo dispositivos de rastreamento de alta tecnologia como o que eles encontraram em você.

Victor acrescenta:

— Acredito que o dispositivo que foi colocado em você veio de Vonnegut. Acho que Vonnegut estava vendendo para Javier, e você estava lá no interior, mais perto de Vonnegut do que quase ninguém já esteve.

— Mas o que faz pensar que eu sei como ele se parece? — Eu atiro de volta, ficando mais oprimida por esta informação surpreendente.

— Os homens ricos que você viu quando Javier estava usando você como um troféu de braço — Victor diz, — um deles eu acredito que é o Vonnegut real.

Imediatamente, começo a pensar em todos os seus rostos, cada um movendo-se rapidamente através da minha mente como um borrão.

— Ele não pode ficar escondido para sempre — Victor continua. — Alguém o viu. Ele pode ser um fantasma, mas ainda é humano e os seres humanos por natureza precisam se associar a outros seres humanos, estar na presença de outras pessoas — acho que ele era um desses homens ricos, Izabel. E eu acho que Nora indo para esta missão será como nós finalmente o encontraremos, destronaremos e mataremos.

Ele faz uma pausa e acrescenta com profundidade,

— E então eu assumirei A Ordem, uma vez que ele está morto.

Não respondo ao seu último comentário, mas, pela primeira vez desde que entrei na sala, os olhos de Fredrik se fecham nos meus.

Esta é a primeira vez que eu ouvi Victor dizer algo assim. Assumir a ordem, a ordem... é uma conversa para outro dia. Neste momento meu cérebro está sobrecarregado com... tudo.

Estou em silêncio por um longo tempo, deixando todo o resto que ele me disse para assimilar. Ainda parece ser haver muito que foi deixado sem resposta, mas me leva vários minutos para descobrir quais são essas coisas.

— Mas por que mandar Nora? — Eu digo, olhando para ela por apenas um segundo. — Quero dizer... bem, acho que não posso ser a única a voltar porque muitos já sabem como eu pareço...

— Eu não deixaria você voltar de qualquer maneira — Victor me corta. — Você vai para o México e estará em uma cidade turística, mas Nora estará fazendo o trabalho interno.

Eu franzi o cenho.

— Por quê? O que quer dizer que você não vai me deixar voltar? — Há ácido na minha voz.

Victor suspira e deixa cair as mãos no colo.

— Você não acha que eu sou capaz de volta ali, — Eu acuso. — Você acha que eu sou como todo mundo; isso porque eu passei por uma experiência traumática e que eu nunca seria capaz de me colocar nisso de novo, que eu nunca seria capaz de lidar com isso. Bem, você está errado — eu lanço uma mão no ar — Eu sou o oposto de todo mundo. Eu não tenho medo disso. De qualquer um deles. Eu sou mais forte agora do que nunca, e se alguém pode fazer este trabalho com perfeição, sou eu. Não Nora, mas eu.

— Não se trata de se provar, Izabel — diz Nora calmamente e gentilmente.

Eu olho para ela.

— Ninguém pediu sua opinião...

— Não, mas eu não sou o tipo que dar — ela devolve - Ah, mais aí estar a verdadeira Nora Kessler: audaz, loquaz e irritante.

James se esconde na cadeira um pouco para colocar alguma distância entre ele e Nora, provavelmente esperando que eu me jogue na mesa em qualquer segundo agora.

O deixo passar, inalo uma respiração longa, profunda e volto para olhar para Victor.

— Como você mesmo disse — Victor diz, — você não pode ser a única a entrar porque você não pode arriscar ser vista.

— Talvez haja uma maneira de contornar isso — eu digo. — Poderíamos...

— Izabel — Victor interrompe com um tom sombrio e firme, — você não vai voltar lá... você não pode lutar contra todos os homens naquele complexo que tentariam ter seu caminho com você.

— Ah, então é isso que se trata, — eu digo friamente. — Você acha que eu não posso evitar que eu seja estuprada — eu o olho diretamente nos olhos, sem piscar — confie em mim, eu poderia...

— Nora estará indo para a missão — diz ele, como se isso fosse o fim.

Esfregando os dentes, respiro fundo e me levanto da cadeira.

— Ela não pode entrar lá com fios, — eu assinalo. — Ela não pode levar uma câmera. Ela não terá acesso a um telefone. Eu não duvido de suas habilidades, mas se ela vai ser uma das garotas e torná-la crível, ela não pode se esgueirar para entrar em contato conosco — eles saberiam em poucos minutos que ela está desaparecida. — Eu olho para ela uma vez e digo: — Como você vai ser a única a descobrir quem Vonnegut é se eu sou a única que supostamente o viu? — Eu cruzo os braços e olho atentamente, os olhos correndo entre Nora e Victor.

— Vamos descobrir isso — diz Victor. — Temos vários meses para chegar a um plano.

Eu balanço a cabeça, minha boca se levantando de um lado.

— Victor, eu não sou estúpida para acreditar que você não conhece uma maneira certa de descobrir quem é Vonnegut.

Ele olha para mim, esperando.

— Através de mim — continuo. — No segundo Vonnegut me vê, eu saberei que é ele porque a compreensão de quem o está olhando irá piscar em seus olhos naquele instante. E eu iria vê-lo. Vonnegut está bem consciente de como eu pareço.

— Sim — Victor diz, — essa é a melhor maneira de descobrir quem ele é, mas vamos encontrar outro caminho. Você não vai entrar nesse complexo.

— É o único caminho.

— Outros viram você — ele me lembra, ficando irritado.

— Mas Javier e Izel estão mortos. Luis e Diego estão mortos e eles são os únicos outros irmãos de Javier que eu vi. Quem está correndo o lugar agora duvido saibam quem eu sou.

— Não podemos correr esse risco.

— Concordo — diz James. — É muito perigoso.

— Victor...

— Izabel! — Ele levanta as costas da cadeira — Eu não vou deixar você voltar lá! — ele respira fundo e acalma-se — Eu não estou arriscando você naquele lugar, Nora sim - Suas palavras cruéis não a perturbam nem um pouco; Ela não se importa com essas coisas. — Você quer fazer missões sozinha e isso já é risco suficiente, não importa o quão bom você seja, mas enviá-la em um lugar onde as pessoas podem se lembrar de você e quem vai matar você no local no segundo que eles percebam quem você é, não é um risco que estou disposto a correr.

Olho para a parede, desapontada e zangada, mas tocada por seus sentimentos e não posso simplesmente descartá-los como se eles não fossem nada.

— Me desculpe, — eu digo suavemente e Victor estende a mão para mim. Ele nunca mostra carinho comigo durante as reuniões, então o gesto me deixa surpresa.

Eu ando e pego sua mão. Ele me puxa para ficar ao lado dele. Ele beija o topo dos meus dedos.

— Vamos descobrir um caminho — ele diz gentilmente, — mas Nora será a de dentro.

Eu aceno com relutância.

Quanto tempo você vai se permitir cortar os cantos por mim, Victor?

— Vou ensinar a Nora tudo o que ela precisa saber — eu digo olhando para ela.

Então eu tomo meu assento outra vez.

— Você é a chave para fazer isso funcionar — diz Victor.

Quanto tempo você vai tomar a rota alternativa apenas para me manter fora de perigo?

— Vou fazer o que eu tenho que fazer para ajudar a derrubar este tirano — eu acrescento.

Quão mais…?

E farei o que Victor me pedir, mas uma grande parte de mim quer ser a do interior. Não porque eu sinto a necessidade de provar a mim mesma. Não porque ele está deixando Nora ir em vez de mim e eu sinto alguma sensação de ciúme — isso não tem nada a ver com ciúme, ou determinação imprudente; eu quero que seja eu porque eu passei nove anos da minha vida no México entre esses homens e sinto que, se qualquer missão deveria ser minha, é esta.

— Entretanto — Victor anuncia, — com a ausência de Niklas, e considerando as mudanças feitas nesta Ordem, Nora será a sua nova parceira.

Eu aceno com aceitação.

— E continuarei treinando você enquanto trabalho com você — diz Nora.

— Vocês duas irão em várias missões juntas antes da missão no México — diz Victor. — Vocês irão se concentrar em suas atuais missões por enquanto, mas estejam se preparando para o México da mesma forma.

O silêncio caí sobre o quarto quando cada um de nós pensar sobre o caminho a seguir.

— E Niklas? — Pergunto, decidido a não deixá-lo ser esquecido. — Estamos planejando todas essas missões sem ele?

— Por enquanto, sim — diz Victor. — Até que as coisas entre meu irmão e eu tenham sido resolvidas, é melhor assumir que ele não fará parte de nenhuma missão.

Concordo com a cabeça.

Nós cinco passamos os próximos trinta minutos discutindo os detalhes das nossas futuras missões, incluindo começar cedo no México. É muito estranho sentar nesta mesa sem Dorian e Niklas. E com Nora, em vez disso. Sinto falta do sarcasmo de Dorian e comentários ridículos sobre as mulheres que deviam me esfregar do jeito errado, mas nunca fazem. E eu sinto falta das minhas lutas com Niklas e seus olhares frios e o fedor de seus cigarros persistentes em sua jaqueta.

Finalmente, quando a reunião chega ao fim, Fredrik fica de pé da mesa.

Todos nós olhamos para ele.

— A menos que haja qualquer outra coisa, — ele diz, olhando apenas para Victor, — eu tenho um lugar que eu preciso estar.

— E o que você poderia, eventualmente, ter que fazer? — Nora pergunta, sua voz cheia de provocação, seus lábios vermelhos escuros espalhando-se num sorriso. — Um homem tão frio como você não pode ter qualquer tipo de vida fora desta Ordem. — Ela sorri docemente, perversamente.

Fredrik e Nora raramente falam um com o outro, mas de vez em quando, sua personalidade burlona escapa dela. Ontem ela se colocou como se ela não pudesse quebrar e como ela é agora a segunda mulher a vencê-lo. Ela está tentando consegui uma reação dele, eu realmente não tenho ideia porque ela quer uma, mas Fredrik está, como sempre, não se incomodando com suas provocações.

Até agora.

Ele tira a pasta da mesa.

— Almoço — ele diz simplesmente.

Os olhos castanhos de Nora se iluminam com sugestão.

— Oh? E vai comer sozinho neste almoço, ou gostaria de companhia?

Fredrik anda pelo comprimento da mesa. Ele nunca olha para ela, mas então ele nunca realmente olha para qualquer um de nós.

— Eu prefiro jantar sozinho — diz ele.

Nora apenas balança a cabeça, sorrindo. Nada parece incomodá-la, e admiro isso nela. Silenciosamente, é claro; eu nunca a deixarei saber disso.

Fredrik olha para Victor, esperando.

— Eu vou estar em contato — Victor diz a ele. — Se as coisas forem como planejado, você estará interrogando um homem até o fim da semana.

Fredrik acena, coloca a mão na porta e a empurra.

— Mas não deixe o país — Victor diz antes de Fredrik sair. — Eu acho que é seguro dizer que seu tempo sozinho acabou.

— Claro — diz Fredrik. — Eu estarei esperando por sua ligação. — A porta se fecha ligeiramente atrás dele quando ele sai do quarto.

Victor volta sua atenção para Nora.

— E que outras informações você tem para mim do FC-4? — Ele pergunta.

Nora escova seu cabelo loiro sedoso longe de seus ombros e dobra suas mãos juntos na mesa na frente dela; suas curtas unhas estão pintadas de vermelho para combinar com seu batom. James olha para ela brevemente, da mesma forma que faz a cada poucos segundos, mas tenta não torná-lo tão óbvio.

— Também no final da semana — ela diz, — vou ter tudo o que sei sobre eles à sua disposição.

Victor acena com a cabeça.

Então ele diz:

— Você tem um longo caminho a percorrer antes mesmo que eu começar a confiar em você; um caminho difícil pela frente.

— Sim, estou bem ciente — diz ela em troca. — Se você já confiasse em mim, eu não teria o respeito que eu tenho por você.

Nora olha para mim.

— Mas um pouco de confiança — diz ela, indicando o tipo que eu tenho por ela, — é muito apreciado.

Eu aceno, aceitando seus agradecimentos.

Victor olha entre nós, mas não diz mais nada. Nora é o meu projeto, a minha responsabilidade, meu fardo para carregar. Ele aceita isso e não me privará dela e do que eu preciso dela mesmo que ele temesse que ela seja um erro, mas eu sei que ele vai estar observando cada movimento dela.

— Bem, pela minha parte — James fala, — estou feliz por ter você a bordo. — Ele sorri estupidamente.

Nora lhe dá um olhar sensual, fazendo com que seu grande rosto redondo fique vermelho.

— Não sei como Niklas vai se sentir sobre isso — James acrescenta, — ou até mesmo Dorian, se e... ele alguma vez sai daquela cela, é claro — ele olha para Victor — mas eu suponho que o tempo dirá.

Sim, o tempo tende a conter as respostas para tudo. E, como as coisas estão agora, como as coisas tomaram um rumo tão drástico em nossa Ordem, estou ansiosa e com medo de ver o que o tempo revelará. Acho que a única coisa que posso fazer é esperar. Esperar que Niklas volte e segure a minha respiração como tudo o que está destinado a acontecer entre ele e Victor, aconteça. Espere pelo dia em que o destino de Dorian estará finalmente decidido. Esperar pelo momento que se, ou quando, Victor descobrir sobre a criança que eu tive com Javier, e abrace as consequências da verdade. Esperar para ver se meu julgamento está, de fato, totalmente errado e Nora acaba me fazendo uma tola, afinal.

Esperar. O tempo é uma cadela cruel.


Capítulo vinte e três

Fredrik

HÁ CERCA DE OITO ANOS...


Serafina. Meu anjo com asas pretas. Ela sorriu; um brilho carmesim nos lábios, emoldurado por cabelos tão negros como a minha alma, os olhos tão profundos como o poço sem fundo que é o meu coração. Ela se deitou perto do corpo quente, seus dedos longos e brancos enrolados no sedoso cabelo loiro da menina. Seus seios pródigos e cheios, pressionados contra os menores da menina. Ambos estavam nus, enrolados um ao lado do outro. Eles estavam esperando por mim.

— É muito simples — Seraphina disse e ela arrastou a ponta de sua língua através do pescoço da menina, olhando através do quarto para mim com aquelas piscinas escuras de pecado e salvação. — Nós fazemos tudo juntos, meu amor — sua língua traçou o lábio inferior da garota e a menina devolveu o gesto — meu diabo, meu príncipe negro.

Eu pisei para frente, quebrando os botões da minha camisa.

Seraphina prosseguiu:

— Nós buscamos vingança juntos. Nós fodemos, nós amamos, nós condenamos e destruímos juntos até o dia em que morreremos juntos.

Ela estendeu a mão delicada, mas mortal e gesticulou para mim, curvando seus dedos em direção à sua palma, lentamente e sugestivamente.

— Venha cá e prove-a — disse ela, e então deixou cair a mão entre as coxas da garota. — Você tem que prová-la.

A garota gemeu com o toque de Seraphina, sua cabeça loira pressionando o ombro da minha esposa, seus peitos pequenos e macios empurrando para a vista da luz fraca no pequeno qiarto.

Fiquei de pé ao pé da cama, observando-os, como os dedos de Seraphina se moviam com tanta precisão artística, como as pernas da menina se separaram para ela, expondo seu lugar mais secreto para mim e para o ar fresco da noite.

— Eu disse para você não trazê-las aqui. — Eu finalmente digo enquanto escorregava meu cinto dos laços da minha calça preta, o som do couro se movendo contra a tela em um movimento lento e deliberado. — Nunca sem minha permissão. E nunca aqui. — Eu estava furioso, mas mantive-o contido.

Os lábios vermelhos escuros de Seraphina se espalharam em um delicioso sorriso. A moça acariciou os seios de Seraphina, colocou a cabeça no seu pescoço; ela tentou tocar embaixo Seraphina, mas não foi permitida, então ela puxou a mão dela, arrastando as pontas dos seus dedos em seu estômago.

— Oh, Fredrik — disse Seraphina, levantando as costas da cama - você não pode dizer isso o tempo todo. Estou tentando te ajudar. Isso é apenas parte do processo.

— Mas, da mesma forma — disse eu — disse-lhe para não trazê-las para nossa casa.

Seraphina e eu compartilhamos um olhar, seu sorriso escurecendo com desapontamento; meu rosto sem emoção não tinha mudado. Mas minha esposa nunca desistir tão facilmente. Ela nunca fazia o que eu dizia com um estalar de dois dedos, porque ela era ousada e desafiante e eu adorava isso sobre ela.

Ela se levantou da cama.

A menina ficou alerta e sentou-se quando notou a tensão crescente na sala.

— Quero que você a foda — disse Seraphina. — Eu a trouxe aqui para você. Olhe para ela — ela acenou para a menina, que era muito bonita com lábios cheios e grandes olhos castanhos e quadris curvilíneos — Eu achei que você ia gostar dela. Eu gosto dela.

A menina olhou para trás e para frente entre nós nervosamente.

— Mas esta é a nossa casa, Seraphina. — Eu me aproximei de sua forma alta e nua. — Você sabe que eu não gosto de fodê-los aqui, onde dormimos, onde eu te fodo.

— Eu... acho que vou embora agora — disse a moça, levantando-se da cama.

— Não! — Seraphina estalou, apontando para ela. — Sente-se, caralho. — Ela olhou para mim, fulminando-me, rangendo os dentes. Seus olhos castanhos brilharam em seu rosto oval irritado; O preto de seu cabelo curto brilhando contra o branco cremoso de suas bochechas.

A menina estava com muito medo de se mover. Ela permaneceu na cama, puxando os joelhos para ela e cobrindo seus seios com seus longos cabelos.

— Você pode ir — eu disse a menina, empurrando minha cabeça para trás, indicando a porta aberta atrás de mim.

— Eu disse que ela fodidamente fica, Fredrik!

Seraphina começou a se esgueirar através da cama para a garota, mas eu a agarrei por trás, segurando-a firmemente em torno de sua cintura. A moça levantou-se rapidamente com os olhos arregalados e agarrou suas roupas do chão.

Seraphina lutou comigo a cada passo, a cada momento, até que a menina saiu correndo e ouvi a porta da frente de nossa pequena casa fechada atrás dela.

— Desgraçado!

Arrancando as mãos de Seraphina atrás de suas costas, eu a empurrei para a frente na cama.

— Por que você faz isso, Seraphina? — Eu perguntei a ela, minha voz sufocada de raiva e desespero. Ela lutou contra a cama, mas eu a segurei ainda, pisando entre suas pernas e separando-as com a minha. — É a minha única regra e você a quebrou. Por quê?

— Porque é uma regra fodidamente estúpida! — Ela gritou, uma face pressionada contra o colchão.

Inclinando-me sobre seu corpo com os pulsos ainda presos atrás dela em uma das minhas mãos, eu sussurrei em seu ouvido:

— É estúpido que eu te ame, Seraphina? — Meu aperto aperta em torno de seus pulsos — É estúpido que eu nunca queira compartilhar você ou eu com alguém em nossa casa?

— Que diferença faz? — Perguntou ela em uma voz mais calma, mas amarga. — Não importa onde nós fazemos.

— É importante para mim. — Eu beijei o lado de sua boca.

— Por quê?

— Porque deve haver limites — eu disse e me levantei novamente. — Nós não vamos foder, matar ou destruir qualquer pessoa em nossa casa. Você entende?

Ela balançou a cabeça ainda pressionada contra o colchão.

— Agora você vai ficar quieta ou eu vou ter que amarrar você?

— Vou ficar quieta — disse ela.

Eu soltei seus pulsos e ela moveu seus braços para fora e descansou-os sobre o colchão acima de sua cabeça.

— E por que você vai ficar quieta? — Perguntei quando peguei firmemente o cinto em minha mão.

— Porque eu mereço — ela disse, da mesma forma que ela havia dito as vezes antes que eu tinha que puni-la.

Agachei-me entre as pernas e, com ambas as mãos, separei um pouco mais para a expô-la a mim.

— Eu não sei o que vou fazer com você — eu disse e beijei a carne quente de seu traseiro.

— Você não sabe o que você faria sem mim — disse ela em troca.

Eu beijei a outra bochecha.

— Não, eu não, e eu nunca quero descobrir.

Ela gemeu e seu corpo se enrijeceu quando minha língua serpenteou para fora e lambeu seu clitóris.

Eu me ergui em uma posição e pisei de entre suas pernas. Ela ficou quieta, esperando, sabendo, preparando-se. Eu a observei por um momento. Ela empurrou os dedos dos pés um pouco, o suficiente para segurar suas pernas enquanto ela estava deitada de costas contra o colchão da cintura para cima. Eu queria tanto colocar meu pau nela, eu queria espremer seu traseiro em minhas mãos e fodê-la até que nenhum de nós pudesse ver em linha reta, mas ela tinha que ser tratada primeiro. Eu nunca poderia deixá-la ter seu caminho quando se trata dessas coisas ou ela se tornaria incontrolável. Seraphina pode ter me ajudando a controlar meus impulsos torturantes, meus impulsos assassinos, mas eu não era o único de nós que precisava ser ensinado, controlado e guiado por que Seraphina era uma mulher perigosa e perversa que poderia se perder em qualquer momento e nunca poderia ter muito controle.

O som da pele marcada pelo couro rasgou através do ar e Seraphina gritou alto. Mas ela não se mexeu. Duas vezes. Quatro vezes. Seis vezes. Dez vezes, o cinturão golpeou sua carne, deixando marcas em sua bunda. Ainda assim, ela nunca se moveu; apenas seus dedos se agarraram a cama, rasgando o lençol do colchão e esmagando-o em suas mãos.

Onze. Doze. Treze.

Eu não cedi. Eu nunca poderia deixá-la ver a fraqueza em mim ou eu iria perdê-la. Atacar Seraphina levemente, tendo piedade dela, só a desligaria. Era uma coisa boa porque eu nunca teria tido piedade dela. Eu gostava de infligir a dor tanto quanto ela gostava de tomá-la.

— Fredrik, por favor! — Ela implorou com uma voz chorar lágrima. — Por favor pare…

Eu bati o couro novamente, e novamente, e novamente até chegar a vinte. Era sempre vinte. Ela sabia que sempre haveria vinte chicotadas, não importa o quanto ela me implorasse para parar.

Eu coloquei o cinto de lado na cama e agachado entre suas pernas mais uma vez. Seu corpo tremia debaixo de minhas mãos cuidadas, resistido por apenas segundos sob meus lábios quentes. Eu beijei cada centímetro de sua dor, cada pedaço, cada minúsculo corte onde a pele tinha quebrado. E então eu delicadamente puxei seus lábios separados com meus dedos e arrastei a ponta da minha língua quente entre eles. Lentamente. Atentamente. Seraphina gemeu e choramingou e cavou seus dedos no colchão.

Ela já não sentia a dor.

Tudo que ela sabia era o prazer.

Eu a fodi duramente, a única maneira que qualquer um de nós queria sempre — duro e violento. E depois que eu gozei, eu deitei em suas costas, ainda enterrado dentro dela.

Eu a beijei de volta, sua coluna, seus ombros e seu pescoço. A lâmina de barbear me acenou na mesa de cabeceira, mas esperei. Só mais um pouco.

— Não há ninguém mais no mundo como nós, meu amor — ela disse em uma voz suave, olhando para nada com seu rosto pressionado contra o colchão. — Eu morreria sem você.

Distraidamente, eu continuei a me empurrar profundamente dentro dela lentamente.

— Você nunca estará sem mim — eu disse e beijei a nuca. — E como você disse antes, morreremos juntos.

— Você promete, Fredrik? Você vai junto comigo se eu morrer antes de você?

Eu beijei o lado de sua boca, pressionando meus quadris contra ela. Ela ofegou.

— Quando você morrer, eu também morro — eu sussurrei contra sua orelha. — Você é o amor da minha vida. Meu lindo cisne. E você será minha destruição.

Entrei dentro dela. Seus lábios se separaram em um gemido silencioso e ofegante e seus dedos encontraram o topo do meu cabelo escuro.

— Ninguém pode te amar como eu te amo — disse ela. — Nenhuma mulher neste mundo conhece você como eu conheço você, entende suas necessidades, sua dor, seu passado. Nenhuma mulher pode dar a você o que eu lhe dou.

E ela estava certa.

Eu empurrei mais e mais e, de repente, a lâmina de barbear estava presa entre as pontas dos meus dedos e o polegar.

Eu levantei meu peito de suas costas, apenas o suficiente para que eu pudesse vê-la.

Seraphina choramingou e agarrou a cama quando eu fiz o primeiro corte, verticalmente abaixo suas costas cerca de dois centímetros. Logo iria curar e tornar-se como as outras cicatrizes que eu tinha deixado lá. Então me inclinei e lambei o sangue que escorria da ferida com a língua. Seraphina levantou seu traseiro contra mim, me forçando mais fundo. Meus dedos feriram firmemente dentro de seu cabelo.

Inclinei-me mais um pouco, procurando sua boca com a minha, e eu a beijei longa, dura e sangrenta.

— Ninguém, Fredrik, — ela sussurrou e lambeu minha língua, — ninguém jamais te amará como eu.


Eu não sei quanto tempo eu estive olhando este jornal, as palavras impressas em tinta preta borradas em toda a minha visão. Por quanto tempo minhas memórias de Seraphina me torturarão? Oh sim, claro — até eu morrer junto com ela como eu prometi.

Minha pasta está no chão embaixo da mesa, sentada entre a parede e minhas pernas, escondida na escuridão. Os clientes neste restaurante, como em todos os lugares públicos, são inconscientes. Eles não têm percepção da verdade, a mesma verdade que os cerca todos os dias de sua vida tranquila e inocente — que o mal vive na porta ao lado, passa-os na calçada, prepara as refeições ou, neste caso, come apenas uma mesa com eles. Se eles soubessem apenas que segredos minha pasta tem, ou as coisas horríveis que estas mãos fizeram. Ou as lembranças vívidas e impiedosas que atormentam minha mente como uma ferida que nunca cura.

Enrolei dois dedos em torno da alça do meu café e trouxe a caneca para os meus lábios, suavemente soprando o vapor subindo do topo antes de tomar um gole cuidadoso. Mais uma vez, meus olhos examinam o jornal na mesa da cabine diante de mim — talvez desta vez eu realmente leia as palavras.

Eu vou colocar a caneca de volta para baixo, mas pouco antes de ele se instala de volta em segurança na mesa, o garoto sentado na cabine atrás de mim bate a cabeça contra a parte de trás do meu assento novamente. Algumas gotas caem da borda e sobre a mesa. Eu calmamente limpo-as com um guardanapo.

— Avery! — A mãe repreende. — Eu lhe disse para ficar quieto. Sinto muito.

Acho que o último comentário foi para mim.

Viro a cabeça apenas ligeiramente, não o suficiente para ver a mulher, mas o suficiente ela saber que a ouvi.

— Está tudo bem — eu digo e volto a ler o jornal.

Mais três vezes — além dos provavelmente dez outros antes daquela — o garotinho bate contra a parte de trás do meu assento, até que finalmente a mãe se apressa a sai com ele, pedindo desculpas novamente antes de ela se afastar com a mão de seu filho na dela. E mais uma vez, eu disse a ela que estava bem. O que eu não disse a ela, porém, é que eu, de uma forma estranha, me congratulo com o incômodo. Eu tendo a apreciar as coisas simples, e de outra forma irritante em vida depois de uma noite de torturar alguém, um menino inocente batendo a parte de trás da minha cadeira, sendo um menino, é uma boa mudança de atmosfera. Eu invejo este “Avery”. Que tipo de homem eu seria hoje se eu tivesse sido autorizado a jantar com a minha mãe e não me importar com o que o homem sentado atrás de mim pensaria com a minha cabeça batendo nas costas do seu assento? Talvez aquela pasta debaixo da mesa fosse preenchida com papel e um almoço embalado em vez de agulhas, facas, alicates, venenos e luvas de borracha. Talvez não haveria outra mulher no mundo que pudesse amar e me entender.

— Pronto para uma recarga? — Ouço uma voz doce dizer.

Olho para cima, puxando minha mente de volta para o momento, para ver a minha garçonete cujo nome lê “Emily” segurando um pote de café em uma mão.

— Não, obrigado.

Ela sorri para mim, um rosto de forma oval com lábios amáveis e olhos tipo avelã e pele de cor creme.

— Você vai pedido de sempre hoje? — Ela pergunta. — Dois ovos mexidos. Três fatias de bacon crocante e um copo de água com limão?

Eu olho para ela.

— Não, eu não vou tomar café hoje. — Eu olho de volta para o jornal.

O silêncio enche o espaço entre nós.

Finalmente, ela diz:

— Bem, talvez amanhã, então...

— Não, também não estarei aqui amanhã.

— Oh.

O silêncio começa a se esticar. Eu nunca olho para cima do papel.

— Bem, OK eu vou... deixá-lo para o seu café.

A garçonete chamada Emily, que tem sido minha garçonete todas as outras manhãs pelas últimas três semanas, começa caminhar, deixando sua personalidade brilhante no chão atrás dela.

— Espere — eu chamo em uma voz normal, e ela se detém para olhar para mim. — Eu uh... — Eu olho para a mesa, e então a minha caneca de café, e depois de volta para Emily — ... sim, eu acho que eu gostaria de ter o meu pedido habitual esta manhã.

Seu sorriso bonito retorna, seus olhos castanhos brilhando debaixo de seus cabelos marrom-dourados.

— Ótimo — ela diz balançando a cabeça, — Eu estarei de volta em alguns minutos.

Ela vem tentando falar comigo durante as duas semanas das três que eu vim aqui, mas eu sempre a evitei. Ela é linda, amável, doce e é precisamente por isso que eu não cedi a suas tentativas de conversa casual — ela não é o tipo de garota que eu poderia foder e ir embora, sem culpa por seus sentimentos feridos.

Não sei por que a parei.

Dez minutos depois ela volta com meu café da manhã com um prato em uma mão e um copo de água de limão na outra. Ela os coloca na mesa à minha frente enquanto eu afasto o jornal, dobrando-o e colocando-o no assento.

— Você trabalha aqui perto? — Pergunta ela, enquanto nota algo em seu tablet na palma da mão.

— Não — eu digo quando eu polvilhe pimenta nos meus ovos — estou apenas desfrutando do café da manhã. — E gosto muito do senso de normalidade que tomar café da manhã no mesmo restaurante todas as outras manhãs me dá, eu não digo em voz alta.

Ela rasga um bilhete e o coloca de face para baixo sobre a mesa.

— Bem, estou feliz por ser sua garçonete todas as manhãs — ela diz com um sorriso bonito que sugere algo mais.

Ela é tímida, mas ela está tentando ser corajosa e eu acho que é cativante.

O silêncio começa a se esticar novamente.

— Bem, desfrute da sua refeição — diz ela e então coloca o bilhete no bolso do avental.

— Obrigado — digo a ela e lhe dou um pequeno sorriso antes de voltar para a minha refeição.

Ela balança a cabeça e olha para o bilhete o tempo suficiente para eu pegá-lo. Sentindo como se ela quisesse que eu a olhasse antes de ela se afastar, eu o levo aos meus dedos e virei-o para encontrar um número de telefone escrito na frente, em vez da minha refeição ou quanto devo.

Ela cora sob seu sorriso.

— Você pode me ligar se quiser sair algum dia — seu rubor se aprofunda e só isso me intriga — isso é... se você for solteiro. Ou mesmo... interessado.

Ela está muito nervosa e ficando ainda mais enquanto mais ela fica ali e eu não digo nada.

— Quero dizer, você não é casado, tanto quanto eu posso dizer — ela olha nervosamente para o meu dedo anelar sem um anel — mas se você não está interessado...

— Você é uma mulher muito bonita — eu a cortei para que ela pudesse verter o arrependimento e a humilhação que ela começara a sentir. — E não, eu certamente não sou casado. Sou muito solteiro.

Ela sorri, com os lábios fechados. Noto outra garçonete de pé na caixa registradora, nos observando, e sorrindo. Ela olha para longe quando vê que eu notei.

Eu mantenho minha atenção em Emily.

— Você nunca perguntou a um homem antes, não é?

Seu rosto fica mais vermelho e ela mal pode olhar meus olhos mais.

— É tão óbvio? — Ela pergunta, enrugando seu pequeno nariz.

Eu deixei o sorriso em meus olhos tocar meus lábios mais.

— Sim, mas eu gosto.

Não dizemos mais nada por alguns segundos. Ela não consegue parar de sorrir e eu estou apenas confuso com a minha reação.

— Bem, eu tenho que voltar ao trabalho — ela diz e se vira sobre os calcanhares.

Eu aceno com a cabeça e então, pouco antes de ela ir embora, eu digo:

— Eu chego em casa às nove da noite. Eu ligo antes das nove e meia.

Eu acho que não pode machucar, pelo menos, falar com ela...

Seu sorriso de lábios fechados se ilumina, ela balança a cabeça e caminha até uma mesa onde dois novos clientes acabam de se sentar.

Eu como o meu café da manhã, coloco uma gorjeta grande sobre a mesa debaixo da xícara de café e depois saio em silêncio com a minha pasta na mão.


Perguntas para o leitor

Será que Izabel jamais contará a Victor o seu segredo? Ou ele vai descobrir por conta própria?


O que será de Dorian Flynn? Você acha que Victor deve levar Dorian em cima de sua oferta para trabalhar com a Inteligência dos EUA?


Será que o Niklas voltará à Ordem de Victor? Ele pode (ou deveria) perdoar seu irmão?


Que impacto você acha que Nora Kessler terá na Ordem de Victor, positiva ou negativa? E quanto a Izabel?


Será que Fredrik Gustavsson alguma vez encontrará o amor? Ou você acha que ele deveria ficar longe das mulheres completamente?


Você acha que Nora estava certa em dizer a Izabel que seu relacionamento com Victor está praticamente condenado?

CapÍtulo DEZENOVE

Izabel

Corro direto para os braços de Dina quando James entra no prédio com ela.

— Dina! Estou tão feliz que você está bem. — Meus braços a envolvem.

Ela beija minha cabeça e minhas bochechas e por um momento eu me sinto como uma menina de novo. Uma menina inocente feliz de ver sua mãe, que nunca foi uma escrava do sexo e que nunca matou ninguém.

— Estou bem, estou bem, querida — diz ela, me abraçando com força.

Está vestindo uma blusa cor-de-rosa clara enfiada em uma calça cor de canela. Seu cabelo cinza-aloirado está em rabo de cavalo alto em uma onda de cachos frouxos que caem em torno do seu rosto envelhecido onde há mais rugas ao redor dos olhos que da última vez que a vi.

Eu dou um passo para trás com as suas mãos entrelaçadas nas minhas e eu a olho.

— Você parece... bem — eu digo, tendo esperado — e temido — vê-la coberta de contusões e sangue, talvez alguns ossos quebrados.

— Bem, claro que sim, — ela diz como se eu já soubesse que ela estava bem o tempo todo.

Olho para James parado atrás dela com um olhar de profunda pergunta no meu rosto.

Victor entra na sala de reuniões atrás deles.

— O que está acontecendo? — Eu pergunto, olhando para Victor e depois para James.

— Bem, — James começa, — parece que Nora nunca machucou nenhum deles. Com a Sra. Gregory...

— Oh, por favor me chame Dina, — Dina interrompe, — as coisas apropriadas me fazem sentir velha.

Eu sorrio para mim mesma.

James também sorri e concorda.

— Nora disse a Dina que ela foi enviada por você e Victor para levá-la para a segurança.

— Oh, mas eu não acreditei nela imediatamente — diz Dina, sacudindo sua cabeça grisalha. — Eu sabia melhor do que isso e quando ela matou aquele bom homem que me observava muito da rua, eu estava com medo. Pensei que ela ia me matar em seguida.

Olho para trás e para frente entre Dina e Victor, esperando ansiosamente pelo resto da história.

— Não é necessário dizer, — Dina continua, — aquela mulher fez um show, eu acho, porque no momento que ela estava dizendo “para baixo!”, ela estava olhando para fora das janelas e eu estava realmente com medo de houvesse outros homens lá para me matar. Ela me disse que o homem no chão, ela matou era um traidor, ou eu acho que ela usou alguma palavra filme extravagante como conspirador ou infiltrado — Eu quero dizer a ela para ignorar todas essas coisas, mas eu não tenho o coração fazer isso — Ou algo assim — de qualquer maneira, ela me fez acreditar nela, isso é certo. Ela me tirou daquela casa e me colocou muito bem em outra e me disse para não saísse ou fazer qualquer telefonema. Ela pegou meu celular. Disse que era para o meu próprio bem. Mas eu tinha tudo o que eu precisava. — Ela penteia seus dedos longos e resistidos pelo comprimento do meu cabelo. — E eu não queria colocá-los em perigo, então fiquei como me disseram e esperei.

— Ela não a feriu?

Estou confusa com isso. Completamente confusa.

Dina sacode a cabeça.

— Não, — ela diz, — ela era uma verdadeira bondade. Então, imagine minha surpresa quando o Sr. Woodard aqui me disse que ia me matar. Eu simplesmente não podia acreditar.

Victor e eu olhamos brevemente um para o outro.

— Eu suponho que Tessa alimentou a mesma história? — Eu pergunto.

— Não, — James diz. — Bem, de certa forma. Depois que Nora convenceu Tessa que ela não estava lá para machucá-la, e depois de Tessa inconscientemente deu Nora a munição que ela precisava contra Dorian — tal como ela disse a Dorian que ela fez — Tessa acreditava que Nora erada Inteligência dos EUA e assim ela cooperou.

— Então Tessa também não estava machucada? — Eu pergunto.

— Não, — James responde.

— Onde ela está agora?

Victor aproxima-se e responde:

— Eu pedi que a levassem para casa. Ela não precisava ser trazida para cá. Ela não precisa saber nada sobre nós.

— Ela pensou que eu era um agente da CIA — diz James com uma leve gargalhada, mas com um ar orgulhoso. — Quanto às minhas filhas, bem, elas não eram tão fáceis de convencer. Elas estavam apenas com medo de suas mentes — elas pensam que eu trabalho com imóveis. Então, eu acho que Nora não teve escolha senão amarrá-las em algum lugar.

Eu olho direito para Victor.

— Então ela realmente estava trabalhando sozinha — eu digo sobre Nora.

— Parece dessa maneira — Victor diz com um aceno de cabeça.

— Estou com muita sede — Dina diz, apertando meu quadril com a mão. — Tem alguma coisa por aqui para beber?

Eu a abraço de novo.

— Claro — eu digo a ela e pego sua mão. — Eu vou levá-lo para conseguir alguma coisa.

Eu sorrio levemente para Victor enquanto saio com Dina da sala de reuniões e em direção à pequena cozinha no corredor.

Fredrik passa por nós no caminho enquanto ele se dirige para ver Victor. Ele não diz nada para mim, ou mesmo faz contato visual.

— Oh, ele é atraente, — Dina diz calmamente com os olhos grandes quando ela olha para trás para a sua altura em que terno caro. — A coisa que eu mais odeio em ser velha é que homens assim não me olham mais.

Oh, Dina, se você soubesse o que aquele homem em particular é capaz de fazer.

— Bem, eu acho que você é linda, — eu digo a ela, apertando sua mão fria e envelhecida. — Além disso, os homens hoje são provavelmente um pouco mais raros do que você estava acostumado.

— Ei, eu costumava ser uma prevenidab — diz ela com um sorriso.

— Dina! — Meu rosto torce com todo o tipo de formas e minhas bochechas começam a queimar. — Eu não preciso saber isso.

Nós dois rimos juntos e escorregamos dentro da sala de descanso, que é realmente apenas um quarto com um sofá de couro e cadeira correspondente com uma mesa de café em mármore e duas mesas nas extremidades, uma televisão de tela plana montada na parede e uma área de cozinha em um canto. Victor olhou para Woodard engraçado quando ele lhe pediu para colocar uma sala de descanso no prédio ("Uma sala de descanso? Este não é exatamente o trabalho em fábrica, Woodard."), Mas, no final, e depois de Woodard me explicar o que uma sala de descanso era e eu gostei da ideia, ambos tivemos o que queríamos. E eu não sou a única de nós que a usa com frequência — Niklas dorme aqui às vezes com as botas levantadas no braço do sofá. James traz seu laptop aqui e assiste coisas velhas na TV Land. Dorian... bem, ele sempre foi o único que manteve o frigorífico abastecido. Victor - OK, ele não vem aqui, exceto para encontrar um de nós.

Dina toma um assento no sofá enquanto eu pego dois dos refrigerantes de Dorian da geladeira.

— Então, exceto belas mulheres loiras ameaçando me matar para chegar até você — Dina começa de brincadeira, — o que mais tem acontecido com você, Sarai?

Dina é a única pessoa que eu permito me chamar pelo meu nome antigo. Eu tentei fazer com que ela me chamasse de Izabel uma vez, mas ela recusou, disse que eu cresci com ela me chamando de Sarai e que ela morreria me chamando de Sarai.

Dou-lhe uma garrafa de refrigerante e me sento ao lado dela, puxando uma perna para cima da almofada.

— É estranho ter conversas com você sobre minha vida — eu digo. — Não é como se eu pudesse te dizer sobre a última pessoa que eu vi morrer, tão casualmente como eu posso falar com você sobre conseguir o pedido errado em um drive-thru.

— Eu sei — ela diz e toma uma bebida, — mas o que está acontecendo com você e aquele homem bonito, misterioso seu?

Tomo uma bebida e depois olho para a parede atrás dela.

— As coisas estão bem — eu digo, tentando não chegar na verdade, não estou até mesmo certa qual é a verdade; O que está acontecendo entre mim e Victor não é exatamente o tipo típico de problema no paraíso.

Dina e eu conversamos um pouco sobre coisas simples. Ela me fala sobre o que está acontecendo com os personagens em seus programas de televisão favoritos, mas eu só ouço principalmente porque eu nunca assisto TV e realmente não tenho nada a acrescentar. Falamos sobre o pequeno jardim que ela plantou atrás de sua casa mais nova e como o único vegetal crescendo são os pepinos. Eu não sei nada sobre jardim e não saberia como fazer crescer os legumes, então novamente, eu principalmente apenas ouvir a sua conversa. E ela continua sobre as vendas nas lojas de departamentos que ela gosta de comprar e como ela conseguiu uma blusa de trinta dólares por nove dólares — eu não sei muito sobre as vendas porque com o dinheiro que Victor me dá — e que eu eu ganho — Eu não tenho que prestar atenção às vendas.

E enquanto Dina fala sobre uma variedade de coisas totalmente diferentes ao longo dos próximos trinta minutos, há uma coisa que eu noto que ela menciona em cada tópico — o Arizona.

— Eu costumava assistir a esse programa todas as noites antes de dormir no Arizona — ela havia dito. — Eu tinha a minha poltrona perto da janela e eu sempre a abria e deixava o calor entrar enquanto eu assistia ao meu programa.

E depois:

— Eu realmente não fiz muita jardinagem no Arizona.

E depois:

— Eu ia as tendas de promoções cada fim de semana quando eu vivia no Arizona. Tinha boas ofertas.

Finalmente, depois da quinta menção do Arizona, pergunto-lhe o inevitável:

— Você sente falta de casa, Dina?

Ela sorri levemente e coloca a garrafa de refrigerante na mesa final.

— Eu sinto, Sarai, eu realmente sinto.

Ela suspira e olha para mim, estendendo a mão e colocando-a no meu joelho esticado na almofada, enfiado debaixo da minha outra perna.

— Eu quero voltar para Tucson — diz ela. — Inclusive ao parque de trailers. Tenho saudade. Eu sinto falta dos malditos cães latindo à noite, as crianças correndo de um lado para o outro na rua causando incómodos. Eu só quero ir para casa. — Ela bate no meu joelho e depois se afasta, olhando para mim com olhos tristes, mas sorrindo.

— Mas Dina, não é seguro — eu levanto no sofá — você não pode voltar para lá. Veja o que aconteceu aqui, a razão que você está sentada nesta sala falando comigo agora. Se você voltar lá você estará onde qualquer um que quer encontrá-la, provavelmente olhará ali primeiro.

Seu sorriso aquece seu rosto inteiro.

— Oh, querida, eu não me importo com essas coisas, — ela diz como se para me consolar. — Eu me importei no início, mas era principalmente apenas por causa de você. Mas, eu não posso fazer isso mais, me mudando de um lugar para outro, tendo homens estranhos estacionados do lado de fora a cada casa, me observando o tempo todo. Estou velha demais para isso. Eu aprecio todas as coisas elaboradas que você e Victor me fornece? e as casas bonitas e... apenas tudo. Eu estou muito agradecia. Mas eu só quero ir para casa e viver o resto da minha vida do jeito que eu fiz antes — simplesmente.

Meu coração afunda cada vez mais fundo.

— Mas é perigoso. Eu não quero que nada aconteça com você.

— Nada vai acontecer comigo, querida. — Seu sorriso se alonga. Ela levanta a mão e bate no peito sobre a blusa cor-de-rosa fina onde está seu coração. — Se alguma coisa pode me matar, será o meu coração. Você sabe disso. — Ela sorri e bate no meu joelho novamente brincando e acrescenta: — Além disso, eu sei usar uma espingarda, lembra? E eu não tenho medo de explodir alguém se entrarem em minha casa.

Eu não posso evitar, mas sorrir de volta para ela, mesmo que eu queira lutar com ela nesta questão.

Dina se vira na almofada para me enfrentar completamente e ela leva minhas duas mãos para as dela.

— Eu quero que você me prometa algo — ela diz, olhando nos meus olhos. — E eu quero dizer isso, é uma verdadeira promessa e isso significa tudo para mim e se você nunca a quebrará, mesmo que eu nunca vá descobrir, você deve se sentir culpada por quebrar isso porque é tão importante para mim.

Isso está me assustando, mas eu aceno e concordo.

— O que foi, Dina?

Seus dedos agarram os meus com firmeza, como se para colocar ênfase nas palavras que ela está prestes a dizer.

— Quando eu voltar para casa, de volta a Tucson — diz ela, — eu quero que você me prometa que você não enviará ninguém para me vigiar ou me proteger. Ninguém. E eu também não quero que você faça isso. Você me dá sua palavra?

No começo tudo que eu quero fazer é dizer não — eu até começo a balançar a cabeça — mas ela aperta minhas mãos e força o meu olhar, o olhar em seus olhos tão intenso, e eu sinto quão importante é essa promessa para ela. Tanto quanto eu quero mentir para ela e dizer que, não, eu não vou mandar ninguém para cuidar dela... Eu não posso. Este é o seu desejo e devo-lhe tudo e sei que tenho de ceder a ele, não importa o quão difícil.

E antes que ela saia, enquanto eu digo adeus enquanto ela entra no táxi na rua para ir ao aeroporto de volta a Tucson, eu não posso evitar, mas sinto que esta será a última vez que eu a vejo.

— Eu te amo, garotinha! — Ela grita para mim da janela aberta do carro, seus dedos longos e ossudos acenando na brisa fresca de Boston.

Eu pressiono as pontas dos meus dedos contra meus lábios e envio-lhe meus beijos enquanto ela se afasta, e eu limpo as lágrimas dos meus olhos e tento muito manter o sorriso no meu rosto pelo amor de Dina. Porque ela merece ser feliz e ela não precisa de mais razões para se preocupar comigo mais do que ela já tem.

 

— Você já viu Niklas? — Eu pergunto a Victor na sala de reuniões com James. Eles estão olhando para fotografias e arquivos espalhados sobre a mesa alongada.

Eu ainda estou emocional por ter deixado Dina ir a uma hora atrás.

Victor olha para cima.

— Ele se foi, Izabel — ele responde solenemente e olha para baixo. — Mas não se preocupe com ele agora...

— O quê? — Eu passo mais para dentro do quarto e fico no final da mesa. — Victor, como você pode dizer isso? Já tentou falar com ele?

Ele tranca os olhos nos meus pelo comprimento da mesa.

— Vou falar com meu irmão quando for a hora certa — diz ele.

James olha para nós brevemente e finge estar mais interessado com as fotografias na frente dele. Ele parece desconfortável.

— Quando é qualquer hora certa? — Pergunto com um tom acusatório. — Agora é o melhor momento que qualquer outro dia será.

— Niklas precisa de tempo sozinho — ele diz e eu bato a palma contra a mesa antes que ele tenha a última palavra.

— Foda-se! — Eu digo com raiva.

Victor levanta-se rapidamente da mesa em um movimento rápido, enviando o papel que ele estava lendo em sua mão caindo no chão. Sua cadeira chia quando ela é empurrada para trás em seu caminho para cima.

James congela, olhando entre os nós dois sob nervosos olhos encapuzados.

— Woodard, — Victor diz exigente, — deixe-nos.

Sem hesitação, James se levanta, enfia o laptop debaixo do braço e sai.

Uma bola nervosa senta-se no meu estômago. Sei que ele está chateado comigo, mas eu sinto fortemente o que Niklas deve estar passando, e eu não consigo encontrar nenhuma razão aceitável para que Victor não estivesse tentando fazer as coisas direito entre eles, agora.

— É isso que você pensa de mim? — Ele pergunta, zangado, mas ao mesmo tempo ferido pela perspectiva. — Você acha que esses arquivos e estas fotografias — acena com uma mão na mesa — são mais importantes para mim do que o meu irmão? Olhe para mim —aponta os seus olhos com o seu indicador e dedo médio — e me diga: que você pensa isso de mim, porque é exatamente como se sente agora. Quero ouvir você dizer isso.

Engulo nervosa e começo a sacudir a cabeça. Eu raramente o vi assim antes, então eu sei que eu ultrapassei meus limites, que eu o machuquei, e já me sinto terrível por fazer ele se sentir assim.

— Eu sinto muito... Eu apenas...

Os ombros de Victor mergulham em um longo suspiro e ele olha para a mesa, mas não para as coisas espalhadas por cima. Ele cai pesadamente de volta em sua cadeira e encosta contra ela.

— Izabel — ele diz com mais calma, mas sem olhar para mim, — eu sabia que tinha que sair algum dia. Nem um dia se passou nos últimos seis anos quando eu olho para meu irmão e eu não me sinto como uma merda pelo o que eu fiz. Niklas talvez nunca me perdoe, mas ele vai entender.

Eu ando em sua direção pelo comprimento da enorme mesa.

— Você parece esquecer que ele tentou matar você — acrescenta Victor.

— Eu nunca me esqueci disso — digo, — e acho que nunca irei.

— Você não esqueceu ou perdoou, — Victor diz, — mas você entende.

Eu não esperava isso, então eu não digo nada no início.

— Eu me sinto culpada — eu finalmente respondo, ainda sentindo algum tipo de necessidade de confessar porque a culpa está pesando tão fortemente em meus ombros.

A cabeça de Victor levanta e ele me olha com um olhar de descrença e talvez até mesmo decepção.

Eu inclino minhas costas contra o fim da mesa na frente dele, cruzando meus braços.

— Por quê? — Pergunta ele asperamente. — Por que você se sente culpada? Se você disser que é porque você está viva e Claire não está, você é...

— Eu sou o que? — Eu salto de volta, desafiando-o. — Sou estúpida e fraca por ter consciência? Sou ingênua? Muito emocional? Vá em frente, Victor — aponto para os meus olhos com o meu indicador e meu dedo médio — Victor me diga o que realmente pensa de mim.

Seu olhar se desvia.

— Eu acho que seu coração é muito grande — ele diz e instantaneamente meu exterior duro vacila. — É por isso que eu sinto a necessidade de protegê-lo o tempo todo. Não porque você não tem habilidade ou porque eu não acredito em você, mas porque seu coração fica no caminho. E se há alguma profissão no mundo que você não pode e não deve colocar seu coração — aponta duramente para o chão — é esta.

Estou calada por apenas um momento, deixando suas palavras afundarem.

E então algo entra em minha mente que eu tenho mais medo de dizer a ele do que minhas acusações sobre Niklas — mas eu não posso segurar como eu realmente me sinto.

— As coisas seriam melhores para você se eu fosse... mais parecida com Nora, não é? — Eu fiz tudo que eu não pude fazer para parecer amarga ou acusadorq, porque eu não quero dizer isso dessa maneira.

Ele levanta os olhos para mim, e por um longo tempo ele não diz nada.

— Em um sentido profissional e emocional, sim, — ele responde com sinceridade, — mas não por qualquer outra razão. Mas se eu queria alguém como Nora ao meu lado, você não estaria aqui, ao contrário dela, eu não gosto de jogos, assim, por favor, não me acuse de ter uma atração selvagens por aquela mulher, ou a começar a sentir insegura que eu vou me desviar.

— Eu não acho isso em tudo — eu digo, e eu quero dizer isso. — Não é disso que se trata.

Eu levanto meu corpo para sentar na mesa na frente dele, minhas pernas, cobertas em meu traje preto apertado, pendurada sobre a borda da mesa nas curvas dos meus joelhos. Victor move sua cadeira para mais perto para sentar entre elas, colocando seus braços sobre as minhas coxas e ajustando suas mãos sobre minha cintura. As mangas da camisa estão enroladas até os cotovelos; Veias correm ao longo dos músculos duros de seus antebraços levemente bronzeados.

Corro todos os meus dedos pelo topo do seu cabelo curto e castanho.

— Você não confia em mim para cuidar de mim mesma em tudo, Victor? — Eu pergunto com preocupação e não com acusação. — Não há nada sobre mim — de um ponto de vista profissional e emocional — que você sente que não precisa... melhorar?

Victor suspira.

— Confio no seu julgamento, Izabel — diz. — Quando se trata de outros, você é um bom juiz de caráter. Você sabe inerentemente, antes mesmo que eu faça geralmente, sobre uma pessoa no interior. Mas eu não confio em você quando você está com raiva ou por vingança. Você tende a tomar decisões precipitadas, pular de cabeça em situações perigosas sem um plano, tome Los Angeles e Arthur Hamburg, por exemplo. Mas quando você está calmo e não agir por raiva ou vingança, você sabe o que está fazendo. E confio em você cem por cento.

Agradeço-lhe com os meus olhos.

Ficamos em silêncio por um longo tempo e então eu digo com uma voz suave:

— E se Niklas não voltar?

— Ele vai voltar, — responde Victor, mas na sua voz, sinto que ele não pode está tão confiante nessa suposição quanto ele gostaria. — Ele é meu irmão — continua ele, — e ele pode me odiar por um tempo ou até mesmo querer me matar, mas ele sempre será meu irmão e eu sempre farei qualquer coisa por ele e ele sabe disso.

Eu penso sobre isso por um momento, deixando a realidade da verdade me tomar, Victor está emocionalmente deficiente não por causa de apenas uma, mas duas pessoas em sua vida que ele ama. Espanta-me como ele pode suportar, como ele pode continuar a agir como se nada nunca o incomodasse, que ele não tem sentimentos, ou temores. Do lado de fora, Victor é frio, calculado e desapegado quase todo o tempo — quem não o conhece no nível que eu conheço poderia pensar que ele era como Fredrik, mas a verdade é que ele carrega um fardo maior do que qualquer um de nós. Victor se sente responsável por Niklas e eu. Ele teve que escolher, duas vezes agora, entre seu irmão e eu. E quando você tem que escolher entre duas pessoas que você ama, não importa qual caminho você vá lá estarão consequências dolorosas.

Eu me inclino sobre ele e beijo o topo de sua cabeça.

— Desculpe por duvidar de você — digo. — Eu realmente pensei que você ia deixar Dina morrer e eu sinto muito por não acreditar em você. — Eu estava querendo dizer isso a ele desde o momento em que ele confessou seu segredo para Nora, mas eu tenho evitado por vergonha e culpa. Mas, mais do que isso, eu precisava de tempo para pensar sobre tudo o que aconteceu por causa disso.

Ele olha para mim.

— E porque eu não vou mentir para você — diz ele, — assim como eu não pude mentir para Niklas sobre Claire, a verdade é que quase a deixou morrer.

Eu concordo. Porque eu entendo. Era uma escolha entre Niklas e eu. E nunca seria uma escolha fácil.

— Eu sei, — eu digo a ele e solto minhas mãos do seu cabelo.

Então ele enrola os longos dedos dele ao redor dos meus entre minhas pernas e levanta uma mão para seus lábios e beija os nós dos meus dedos.

— O que você vai fazer com Dorian?

Ele se levanta e toma o meu rosto em suas mãos, puxando meus lábios para encontrar os dele.

Depois que ele me beija, longo e macio, seus lábios são mornos e sua língua tão macia, ele diz:

— Tudo dependerá do que Fredrik tirar dele.

Um arrepio desconfortável se move através de mim.

— Você vai deixar Fredrik interrogar ele?

Victor se move de entre minhas pernas e começa a empilhar as fotografias na mesa em uma pilha pequena.

Ele não responde, o que é uma resposta por si mesma.

— Quando você vai matar Nora? — Ele pergunta, empilhando as coisas constantemente.

— Antes da manhã — digo. — Eu queria lidar com tudo antes de vê-la novamente.

Ele balança a cabeça.

— Você já pensou sobre isso? — Eu pergunto. — Sobre o que ela disse?

— Não — ele responde e se dirige para a pasta com as fotografias e os arquivos.

— Nem um pouco?

Ele olha para mim.

— Eu pensei sobre isso — ele diz, — mas não considerei, se é isso que você quer dizer. Eu admito, foi uma jogada ousada, mas ela deveria ter pensado mais sobre as consequências de suas ações do que ela fez. Ela matou um dos meus homens na casa da Sra. Gregory. Ela virou meu irmão contra mim. Sequestrou os seus entes queridos e os usaram contra você. E ela tem desperdiçado muito do meu tempo, francamente.

— Verdade — eu digo, franzindo os lábios contemplativamente, — mas ela meio que se provou no processo.

Victor ergue os olhos momentaneamente e fecha a pasta com dois cliques.

— Você está tentando me dizer alguma coisa? — Ele pergunta com suspeita.

Eu balanço a cabeça.

— Não é o que você provavelmente está pensando — eu não quero ela aqui tanto como qualquer um de nós — mas eu vi a maneira que você estava olhando para ela na sala de vigilância. Parece que você queria a chance de dissecá-la.

Um sorriso fraco, quase invisível aparece em seus lábios enquanto ele levanta a pasta da mesa com a mão apertada sobre a alça.

— Você viu isso, não é?

Eu encolho os ombros e sorrio.

— Sim, eu meio que vi.

— Bem, a resposta é não — ele diz andando em minha direção. — Ela causou problema bastante. Mate-a e termine com isso.

Ele me beija nos lábios mais uma vez e dirige-se para a porta.

— Eu volto em algumas horas, — ele diz da porta. Mas logo antes de sair, ele para e olha para mim.

— E vou falar com o Niklas em breve.

Eu aceno com um pequeno sorriso de apoio e ele sai.


CapÍtulo VINTE

Izabel

O piso da cela tem apenas dez celas que Victor queria manter por razões como esta — detém traidores e outros tipos de prisioneiros. As celas são nomeadas de A a J. Eu me dirijo para a cela C com um monte de emoções misturadas e um coração pesado. Eu não quero pensar sobre o que Dorian vai passar com Fredrik mais tarde, mas ao passar pelo corredor sombrio e pelas celas A e B que estão abertas e vazias, é tudo o que posso pensar. Eu não quero pensar que Dorian é um traidor, que talvez as coisas que ele disse a Victor fossem verdadeiras. Talvez ele não seja nosso inimigo e nunca pretendia ser. Mas ele mentiu. E ele trabalhou conosco sob falsos pretextos. E ele deu informações sobre nós ao governo e isso só é o suficiente para Victor para matá-lo.

Eu passo até a porta de aço pesada e empurro para cima em meus dedos do pé para ver dentro através da janela janelinha.

Dorian está deitado contra a cabeceira de uma cama de metal que se projeta da parede. Bandagens sangrentas estão envolvidas sobre ambos os ombros. Tudo o que ele está vestindo é sua calça jeans escura e seu Rolex. Suas botas foram chutadas para o chão, colocadas descuidadamente com as cordas longas espalhadas contra o azulejo.

Estendendo a mão, toco na janela com a ponta do meu dedo.

Dorian ergue a cabeça loira e depois de um segundo olhando para o rosto desfocado na janela e tentado distingui-lo, ele diz: "Izabel?" E com dificuldade força seu corpo ferido do berço para sentar-se ereto. Seu rosto se contorce de dor e ele para, respira fundo e empurra-se para seus pés e caminha até a porta.

Eu me agacho em frente a ela e deslize o metal que cobre sobre a abertura para comida que é longa e larga o suficiente para passar uma bandeja.

— Como você está? — Pergunto.

— Sinta-me como uma merda — ele diz e se senta no chão em seu traseiro, estremecendo com cada movimento abrupto. Tudo o que eu posso ver agora são seus olhos azuis brilhantes e sua testa através da abertura.

— Desculpe — eu digo. — Ei, eu queria vir aqui e dizer que Tessa está bem.

Seus olhos se iluminam um pouco e o alívio passa por cima dele, através de toda a dor e desconforto.

— Na verdade, — eu continuo, — ela estava bem o tempo todo. Nora não a machucou.

— Onde ela está agora?

— James a levou de volta para casa.

Dorian acena com a cabeça.

— Obrigada, Izabel. Por me deixar saber.

Eu aceno de volta.

Depois de alguns longos segundos que se parecem mais como minutos, quebro o silêncio com o inevitável.

— Você contou a verdade a Victor? Você sabe que ele vai descobrir, certo?

— Sim, eu sei, — ele diz. — Mas eu lhe disse a verdade. Há mais para contar a ele, como que tipo de informação eu passei para os meus superiores, mas eu não estava segurando nada disso. Acho que Victor não estava pronto para ouvir.

— Por que você quebrou depois de tudo? — Eu pergunto. — Quero dizer... bem, eu pensei que caras como você foram treinados para não quebrar, nem mesmo para salvar a vida de alguém que você ama. Ponha de lado mentir sobre quem você é; o fato de você quebrar deixa em seu caráter uma falha grave em seu personagem, Dorian. Você desistiu de sua identidade não só por nós, mas por uma civil inocente. Isso nos diz que você estaria disposto a se render sob certas circunstâncias.

Dorian sacode a cabeça.

— Eu sei que parece assim — ele diz, — mas como eu disse a Victor, eu ia eventualmente dizer a ele quem eu era, independentemente se me seria dada a autorização. Eu só tenho que fazer isso mais cedo do que o esperado.

— E se — eu digo, — você nunca recebesse essa autorização? Você admitiria?

Ele suspira.

— Se eu dissesse que não, você acreditaria em mim? — Não era realmente uma pergunta.

— E Tessa? Parecia fácil para você dizer a ela.

— Sim, bem, esse é um tipo diferente de fraqueza — admite. — Ainda uma imperdoável, mas não tão imperdoável como ser um traidor. Olha, eu sei que provavelmente vou morrer aqui. É um perigo nesta linha de trabalho. Aceito e não tenho medo, mas não quero morrer como um traidor.

Depois de um breve momento de pausa, eu digo:

— Eu gostaria de poder dizer que não acho que você é um traidor, mas o que você fez... Eu não sei, é difícil para mim pensar em você como qualquer outra coisa... mas como uma pessoa e um amigo, eu acho que você é genuíno.

— Obrigado.

Ele faz uma pausa e pergunta:

— Ela está morta?

— Vou matá-la em breve.

— Sim, bem, ponha uma bala no ombro daquela cadela antes de matá-la — ele agarra. — Faça a coisa toda dramática, diga a ela "isto é por Dorian!" — Ele ri da própria brincadeira, mas se encolhe e um barulho sibilante empurra seus lábios enquanto ele aspira uma respiração bruscamente em resposta a mais dor.

Eu sorrio e vejo seus olhos caírem para a abertura da porta enquanto ele abaixa a cabeça.

— Sua mãe vai ficar bem? — Ele pergunta.

— Sim, ela estava bem quando James a pegou, como todos os outros.

— Essa deve ter sido as quarenta e oito horas mais fodidas — diz ele. — Acho que você não tem a liberdade de me dizer qual era a grande confissão que ela queria, e de qual de nós?

Eu balanço a cabeça.

— Desculpa.

Ele balança a cabeça.

— Compreensível — ele diz e depois de alguns segundos tranquilos acrescenta: — Acho que isso significa que Gustavsson apareceu depois de tudo.

— Sim. — É tudo o que posso dizer; eu não posso suportar dizer-lhe o resto, onde se refere a ele e Fredrik estarem preocupados.

O som de sapatos batendo contra o chão ecoa pelo corredor — dois pares para ser preciso. Eu engulo incômodo e olho de volta nos olhos de Dorian através da abertura na porta. Ele sabe. Ele balança a cabeça e ri largamente.

— Ele sempre quis me torturar — diz ele. — Eu acho que o cara até tinha sonhos molhados sobre isso — ele não podia me suportar.

Eu me empurro para fora de uma posição agachada e fico de pé, fazendo uma careta de dor e da rigidez nas minhas pernas por estar na mesma posição por tanto tempo. Dorian está olhando para mim agora através da janela embaçada no topo da porta.

Fredrik e Victor contornam a esquina na extremidade distante do salão; dois homens altos e assustadores, todo negócios, em ternos escuros contra as sujas paredes e chão brancos. Juiz e carrasco. Sem emoção. Implacável.

Olho para Dorian.

— O que quer que aconteça comigo — ele diz, — faça-me um favor e certifique-se de que Tessa receba todo o meu dinheiro. A chave para minha caixa de depósito de segurança e outras coisas pessoais que eu gostaria que ela tivesse está escondido na sola da minha bota esquerda. Você vai dizer a Tessa que eu a amo e eu sinto muito por ser tão idiota?

— Eu vou — eu digo a ele.

Deixo Dorian e ando em direção a Victor e Fredrik enquanto eles abrem caminho pelo centro do salão.

— Posso falar com você por um minuto? — Eu pergunto a Fredrik, pisando bem na frente dele.

Estou cansada dele me evitando, e se eu não tentar forçá-lo a falar, eu sei que ele nunca vai e ele pode escapar deste edifício logo após o interrogatório de Dorian, e eu não vou vê-lo novamente por outro mês.

Fredrik começa a caminhar e passar por mim, mas eu o interrompi, parando-o em seu caminho.

— Izabel — diz Victor - temos assuntos importantes a tratar.

— Eu sei, mas isso vai demorar apenas alguns minutos. — Eu olho para Victor através de olhos suplicantes.

Ele não quer me deixar para trás, mas faz, indo na direção da cela de Dorian e me deixando sozinha com Fredrik. Eu ouço a chave chiar na porta da cela e então o som da porta fechando soando quando Victor vai para dentro.

— Eu não tenho tempo para isso — diz Fredrik.

— Faça tempo. Me dê dois minutos. É tudo que eu peço. Por favor.

Ele olha para mim agora, seus olhos azuis escuros enquadrados pelos cabelos escuros, perfurando-me com irritação.

— Eu não posso gastar dois minutos.

— Sim, você pode — eu digo atentamente.

Ele começa a passar por mim novamente, mas eu agarro o seu braço, o material de sua jaqueta preso entre os meus dedos. Sua cabeça se vira de lado para olhar para mim e sua expressão fica mais escura. Seus dentes estão rangendo atrás de um queixo raspado.

Finalmente, deixei o outro lado de mim assumir o lado que está doente da sua merda, e em vez de ter uma conversa de coração com coração com o homem que já foi meu irmão, não consigo parar de dizer-lhe em vez disso.

— Você é um idiota, — eu solto, empurrando as palavras através dos meus dentes. — Olha, eu entendo, eu realmente entendo, e se eu fosse você eu sei que provavelmente eu me sentiria da mesma maneira. Mas eu não iria empurrar as pessoas que se preocupam comigo. — Ele empurra mais contra mim, com a intenção de me ignorar, mas eu me movo na frente dele e empurro ambas as mãos contra seu peito, empurrando sua estatura alta e sólida, mas ele apenas se move. Ele apenas olha para o meu rosto furioso.

Mas ele para — não que ele queira ouvi-lo, mas que ele quer que eu termine com isso para que ele possa estar livre de mim.

— Faça o que quiser — eu digo com ácido em minha voz, — Eu não me importo mais. Se você quer me fechar para fora, tudo bem, mas eu vou dizer o que tenho a dizer antes de ir lá e... fazer a sua coisa. — Um grunhido manipula minha boca.

Fredrik só fica lá olhando para mim com sua pasta apertada ao seu lado.

— Nora Kessler disse a Niklas alguma coisa quando ele estava no quarto com ela, algo que ficou comigo por muito tempo depois que ele deixou. E por mais que a despreze, não posso negar que ela estava certa.

Aponto o dedo para o peito.

— Você precisa de amor para sobreviver, Fredrik — eu digo com convicção dura. — Você é esse homem escuro, assustador, que é tão frio para o exterior que o inferno congelaria se você fosse enviado para lá... mas, do lado dentro, você é um homem quebrado que precisa de amor mais do que alguém por causa da vida que você foi forçado a viver, por causa das coisas terríveis que você foi forçado a suportar. — Eu balancei minha cabeça com tristeza em meu coração. — Você precisa de amor mais do que qualquer coisa, porque é a única coisa que você foi privado. Você me empurrar para longe, porque eu queria dizer alguma coisa para você, porque de todos nós aqui, você pensou em mim como família. Você me ignorou por causa das quantidades de vezes que o amor o destruiu.

Dou um passo para mais perto e meus olhos nunca saem dele, a raiva neles nunca diminuem. Seu rosto frio, mas sem emoção, não mudou.

— Todos precisamos de algo para sobreviver, Fredrik, Victor precisa estar no controle; James precisa de aceitação; Niklas precisa de algo para chamar se dele; Dorian precisa fazer as pazes com ele mesmo... e eu... Eu preciso de um monte de coisas, mas eu ainda não descobri qual delas eu mais preciso. Mas você... você precisa de amor, e você não pode empurrá-lo para sempre. Não é da sua natureza.

Eu passo para trás e para longe dele e só para olhá-lo por um segundo, estudando seu rosto inflexível, seus profundos olhos azuis, procurando algo, qualquer coisa, mas ele não me dá nada. Estou tão zangada! Eu quero que ele diga alguma coisa. Discuta comigo, diga-me como estou errado. Diga-me que eu sou estúpida e jovem e eu não posso saber como ele está se sentindo ou o que ele está passando.

Absolutamente nada.

Balançando a cabeça com um olhar amargo no meu rosto e rendendo ao meu coração, eu gesticulo com a mão na direção da cela de Dorian.

— Eu acho que vou te ver por perto — eu digo, viro meus calcanhares e saio.

Eu não olho para trás enquanto ando pelo comprimento do longo corredor, mas posso sentir que Fredrik fica lá no mesmo lugar, pelo menos, até que eu vire a esquina no final.

O que está acontecendo conosco? A todos nós.

Niklas está longe de ser encontrado. Eu tentei ligar para ele, saí do prédio e dirigi por Boston, verificando os bares que ele gosta, mas é uma hora antes do amanhecer e eu ainda não encontrei nada. Niklas não quer ser encontrado e eu não posso deixar de me perguntar e me preocupar por quanto tempo. E se ele realmente nunca voltar? E se ele não puder "entender" porque Victor fez o que ele fez, e eles se tornaram inimigos? As coisas não podem ser deixadas desta maneira, elas apenas não podem...

Dorian pode estar morto, ou a caminho. Fredrik é uma causa perdida que eventualmente se autodestruirá. Niklas desapareceu. Pode a nossa organização, nossa família, se recuperar do que Nora Kessler fez, ou o que ela desempenhou em grande parte para fazer?

Estou começando a pensar que não pode.


CapÍtulo VINTE E UM

Izabel

Com minha arma na mão, eu abro a porta para a sala onde Nora estava enjaulado por mais de dois dias.

Ela olha para mim da cadeira.

— Vamos — eu digo a ela com uma inclinação para trás da minha cabeça.

— Para onde? — Ela diz, curiosa, enquanto ela se levanta em suas calças de couro, rosto manchado de sangue e cabelo loiro. Havia colocado também a blusa de seda, apesar dos cortes nas costas.

— Você sabe onde, — eu digo a ela calmamente.

Nora caminha até mim com seus pés descalços — seus saltos altos foram jogados contra o chão — e ela faz uma careta pela dor em suas costas e em qualquer outro que Fredrik a machucou, discutem com sua decisão de se mover.

— Por que você não atira em mim aqui? — Ela pergunta.

Eu não respondo, jogando fora como sem importância, mas a verdade é que antes de eu matá-la há algumas coisas que eu quero dizer a ela, coisas que eu não quero que ninguém ouça.

Caminhamos pelo corredor de forma lenta e deliberada, Nora na minha frente, eu em suas costas com minha arma no meu lado, e a conduzo para fora da parte de trás do prédio, na escuridão e no silêncio.

— De joelhos — eu digo a ela, apontando a arma para o chão ao lado de um lixo.

Sem dúvida, sem argumentos ou com um pingo de medo, ela cai de joelhos, já sabendo que devolverá a mim.

— Eu perguntaria por que você não vai implorar por sua vida — eu digo, apontando a arma na parte de trás da cabeça enquanto eu estou a poucos metros de distância, — mas eu já sei a resposta.

— Qual é a resposta? — Ela pergunta, olhando para a parede de tijolos na frente dela.

— Você nunca iria implorar por sua vida.

Eu enrolo meu dedo indicador em torno do gatilho.

— E você estaria certa — ela confirma.

O oceano e o som distante dos carros apressados sobre a autoestrada são fracos, mas são os únicos sons que são ouvidos. O fedor do deposito de lixo aos pés de Nora, e dos outros cinco que alinham na parte traseira dos edifícios próximos fazem sentir falta de ar. Uma única luz brilha a distância de um poste, radiante na entrada de uma garagem de estacionamento, mas a única luz aqui é da lua, fazendo a figura escura de Nora parecer como uma sombra, com exceção de seu cabelo loiro que cobre suas costas e ombros como uma bagunça desgrenhada de palha branca.

Eu olho para ela por um longo tempo, quase sentindo como se eu sevesse forçá-la a me enfrentar, porque se eu vou executá-la eu deveria ter a coragem de olhá-la nos olhos. Mas eu não tenho. Eu não sou corajosa o suficiente para olhar alguém nos olhos e então tirar a vida deles — não assim. Uma mulher desarmada. De joelhos. Atrás de um edifício. Ao lado de um lixo fedorento. Isso me assombraria para sempre.

O tempo passa e eu não percebo o quanto até Nora começa a virar a cabeça em um ângulo para obter um vislumbre de mim atrás dela.

— Algo me diz que você não tem medo de me matar — ela diz, — então, qual é da demora?

Faço uma pausa e digo:

— Eu queria te perguntar algo primeiro.

Ela riu levemente.

— Ah, claro, — ela diz sarcasticamente com o encolher de ombros, — porque eu estou tão inclinada a responder às suas perguntas antes de explodir meus miolos. — Ela olha para trás uma vez com um sorriso e se vira para a parede novamente. — Vá em frente e pergunte o que quiser, mas você pode esperar apenas um tipo de resposta de mim.

— Que tipo isso seria?

— O tipo verdadeiro — diz ela.

— Esse é o único tipo que eu quero.

- Então, por todos os meios - ela gira a mão com o dedo mindinho cortado no ar ao lado dela — pergunte.

Hesitando por um longo e tenso momento, penso na minha pergunta e no que sua resposta verdadeira poderia significar.

— Você acha que um homem como Victor Faust pode estar realmente apaixonado?

Nora está muito quieta, como se a minha pergunta tivesse tirado o sarcasmo dela e substituído por intriga. Então ela vira a cabeça para o lado novamente, permitindo-me ver o contorno de seu nariz e bochecha na escuridão enluarada que envolve ela.

— Essa é uma pergunta ousada — diz ela. — E uma que eu acho que você já sabe a resposta.

— Talvez sim, mas eu quero conhecer a sua.

— Você quer dizer — diz ela, como se para me corrigir, — você quer saber a razão por trás da minha resposta.

- O que quer que seja... basta me dizer.

Eu sinto ela sorrindo, mas eu não vejo isso em seu rosto, e eu não sinto qualquer rancor ou prazer nos sentimentos dela - apenas honestidade.

Ela olha para a parede na frente dela novamente.

— Qualquer um pode estar apaixonado, Izabel — ela diz com uma voz plana, — e posso dizer pelo olhar nos olhos daquele homem que ele é apaixonado por você — (eu quero estar satisfeito com essa resposta, mas eu não estou porque eu sei que não é tudo) — mas um homem como Victor Faust — continua ela, — não pode ficar apaixonado para sempre. Como o tipo de Fredrik não pode viver sem amor, o tipo de Victor não pode viver com ele. E por mais que ele fique no caminho de seus deveres, e quanto mais humano você o torna, mais perto você o empurra para o seu ponto de ruptura.

— O que é que isso quer dizer? — Minha mão com a arma está tremendo. — Você está dizendo que não importa o quê, ele vai acabar conosco?

— Não — ela diz, — mas se você quer mantê-lo e o que você tem com ele intacto, você precisa perder o que resta da sua vida pessoal, sua humanidade. Seu amor por Dina Gregory. Seu ciúme juvenil. Sua consciência. É o suficiente que ele te ame e tenha que protegê-lo, mas ele não continuará, não pode, protegê-la e levar em consideração tudo o que você arrastar com você do lado de fora.

— O que faz você pensar que ele não pode? — As lágrimas picam a parte de trás dos meus olhos, mas eu não as deixo cair.

Nora vira a cabeça para olhar para mim novamente.

— Porque ele é como eu — diz ela não com malícia, mas com verdade. — E de uma forma ou de outra, ele instintivamente fará o que for preciso para restaurar o equilíbrio da única vida que ele já conheceu.

Eu balanço a cabeça repetidamente, não querendo acreditar nela, querendo ir em frente e atirar nela apenas por dizer essas coisas para mim. Mas eu não posso. Ainda não.

Um nó duro desce pelo centro da minha garganta.

— Mas você amava Claire — eu aponto, me agarrando a qualquer coisa que eu possa para virar a verdade em sua cabeça. — Você teria feito qualquer coisa por ela.

— Sim — ela admite, — eu teria... e é por isso que todos os dias que ela estava viva eu contemplei em matá-la.

Meu coração para de bater, como se ela tivesse apenas puxado o tampão em mim.

— Eu amava tanto a minha irmã — ela começa, — que eu sabia que não podia deixá-la viva porque sempre me preocuparia com ela e estava me deixando fraca.

— Você ia matá-la? — Eu mal posso acreditar, mas mais uma vez eu posso. — Você ia matar a sua própria irmã? Sua irmã inocente que nunca fez nada para você e que não tinha ideia em que você estava envolvida? — Minhas palavras são atadas com descrença e nojo.

— Sim. Se Victor não tivesse matado Claire, eu teria feito isso sozinha, eventualmente, e sim, eu estava vingativa porque ele matou ela, mas ela era minha irmã e ela era minha para matar, não de Victor. — Ela faz uma pausa e diz com sinceridade, — Eu sei que é muito estômago, Izabel... eu sei. Eu sei que é impossível para você entender. Mas eu não sinto emoções ou vejo as coisas da maneira que você faz. Eu nunca vou, porque eu fui criado a partir do momento em que nasci, para ser do jeito que sou, não é diferente de você ser do jeito que é. Todos nós temos nossas falhas "imperdoáveis", eu suponho que isso só passe a ser mais aparente em mim.

Minha boca está incrivelmente seca. Meu coração não está batendo rápido ou lento, mas não está batendo bem, é como se ele não consegue descobrir como. Victor contempla me matar como Nora contemplou matar Claire? Ele poderia realmente se livrar de mim porque eu estou interferindo em sua vida como um assassino? Ele poderia matar Niklas? Uma parte de mim me diz que ela é apenas louca e que Victor pode ser como ela em muitos aspectos, mas não nos modos mais extremos — e eu acredito nisso! Meu coração me diz que ele nunca iria recorrer a isso. Ele me mandou embora uma vez, de volta ao Arizona, e não tinha intenção de me ver nunca mais... mas... mas ele fez. Ele cuidou de mim o tempo todo.

Não! Eu não posso deixá-la chegar a mim assim. Eu não vou deixá-la.

Tremo o meu queixo e recupero meu controle.

Nora provou que suas habilidades de manipulação ultrapassam as minhas ou de alguém que eu já conheci. Ela pode fazer uma pessoa acreditar apenas em qualquer coisa que ela queira, fazer a pessoa com a mente mais forte duvidar de si mesmo, ou a pessoa mais fraca de mente acreditar que ela é algo extraordinário. Eu sei como ela funciona — eu experimentei em primeira mão — e eu não vou cometer esse erro novamente. Talvez as coisas que ela está me dizendo não são uma tática de manipulação em tudo, e eles são verdadeiramente nada mais do que suas opiniões, mas eu não estou tomando quaisquer chances. Vou ouvir meu coração, e meu coração está me dizendo que... apenas algumas das coisas que ela está dizendo são verdadeiras... e a parte sobre perder o que resta da minha vida pessoal, creio que é uma delas.

— Ele não sabe... — eu digo, embora eu não tenho certeza por que eu estou dizendo a ela. Eu olho para a parede acima da sua cabeça; a arma ainda está apontada para ela, mas minha mente está em outro lugar.

— Ele não sabe o que? — Nora pergunta.

Muito tempo passa antes de eu responder.

— ... Ele desligou o áudio da sala quando eu confessei para você — eu digo distante, vendo apenas os tijolos na minha frente. — Ele não sabe que eu tive um bebê com Javier... que eu tenho um filho de sete anos ou filha lá em algum lugar.

— E você acha que é melhor manter assim. — Eu acho que é a maneira dela também de me dizer que ela vai manter meu segredo.

Olho para ela, surpresa por ela não ter se movido, porque no meu breve momento de distração, alguém com habilidade de Nora poderia ter reagido com rapidez o bastante para me derrubar dos pés e tirar a arma de mim.

Eu seguro a arma com mais firmeza, percebendo.

Ela olha para a parede novamente, esperando e pronta para eu matá-la. Sem medos. Sem arrependimentos. Nenhuma tentativa de salvar sua própria vida. Nora Kessler aceitou seu destino.

— Confio no seu julgamento, Izabel — diz. — Quando se trata dos outros, você é uma boa juíza de caráter.

Eu sinto como se estivesse presa dentro da minha própria mente giratória. Olho para o cano da minha arma e as costas da cabeça de Nora.

— Quão importante é a honestidade para você? — Eu pergunto a ela.

— Não tenho nenhuma razão para mentir — diz ela, — a menos que seja meu trabalho mentir, por que você pergunta?

— Então me diga — digo, ignorando seu inquérito, — vire-se e me enfrente para que eu possa ver seus olhos, e me diga por que você quer fazer parte de nossa organização.

Depois de um momento, Nora se vira, ainda de joelhos, para me encarar. Ela olha para mim com curiosidade.

Então ela sorri com descrença e sacode a cabeça.

— Antes que você se faça de idiota, Izabel — diz ela, — se você quer que eu fique por perto para treinar você só porque você quer manter Victor, você pode muito bem me matar.

Empurro a arma para ela ameaçadoramente.

— Apenas responda a pergunta — exijo.

Seus olhos curiosos estudam o meu rosto, minhas reações, e então ela diz:

— Eu entrei em um monte de problemas para me provar a Victor Faust — a todos vocês. Eu poderia ter ferido ou matado as pessoas que você ama, mas eu não fiz e não tive nenhuma intenção em fazê-lo. Eu posso ter forçado a todos vocês para expor pelo menos um dos seus segredos mais obscuros, e eu pode ter feito mais danos do que o pretendido, mas nenhum de vocês pode me culpar pelas coisas que você tem feito, os segredos você manteve um do outro - aqueles são os seus erros, não meus. — Ela faz uma careta e ajusta a sua posição ajoelhada apenas um pouco. — Mas para responder a sua pergunta, eu quero ser parte desta Ordem porque eu perdi o único lugar que eu pertencia quando eu deixei a FC-4. Eu não posso simplesmente sair para o mundo, encontrar um emprego, encontrar amigos, me apaixonar e agir como um ser humano normal. Porque eu não sou. E eu nunca serei. E eu não posso voltar para a Sect porque eles vão me matar no local por deserção. Para não mencionar por matar Solis. — Finalmente, senta-se completamente em seu traseiro, incapaz de permanecer em seus joelhos por mais tempo. — Eu nasci, literalmente, para fazer isso. É tudo que eu sei. E isso é tudo o que tenho a dizer.

Eu acredito nela. Independentemente de quão manipuladora ela seja, os fatos também não mentem.

— Então por que você não se mata? — Eu pergunto. — Se você não tem medo da morte, e você não pode viver de outra maneira, por que não acabar com ela?

— Porque o suicídio é o caminho do covarde.

Eu aceno com a cabeça e deixo isso assim.

— Mas o que o impede de tentar matar um de nós? — Inclino a cabeça pensativamente, olhando para ela com desafio. — Já que você parece não ter consciência.

— Eu sou toda negócios, Izabel, — ela responde imediatamente. — E eu sou leal. Está no meu sangue fazer o que me disseram os meus superiores. Eu faço isso sem questionar ou argumentar, e faço-o bem. E se eu quisesse te matar, eu poderia ter isso no segundo em que você me trouxe aqui. Eu poderia ter tomado essa arma de você momentos atrás, quando você estava fora na terra pensando nos segredos de vocês e decidir não contar Victor sobre isso, como se fosse fazê-lo. Provavelmente esta noite está prevendo dormir com ele. — (Como ela sabe essas coisas?) — Se eu quisesse matar qualquer um de vocês, eu não teria passado seis anos planejando esta noite. Eu teria matado você todas as vezes que eu segui você.

— Mas, e quanto a Claire? — Eu digo, ainda precisando de mais. — Ela comprometeu você. Você a amava. Você ia matá-la. E você deixou a única casa que você já conheceu, arriscou tudo, por causa dela. O que quer dizer que não vai acontecer de novo?

— Porque as pessoas como eu só amam uma vez — ela responde sem sequer ter que pensar sobre isso. — Para nós, a experiência é como uma criança tocando uma panela quente.

Eu não digo nada por um tempo.

— Mas quando você está calma e não agi por raiva ou vingança, você sabe o que está fazendo. E confio em você cem por cento.

— Você disse que me treinaria.

Nora acena com a cabeça.

— Eu fiz.

— Então por que você disse...

— Eu vou treiná-lo se a sua necessidade de aprender não é ditada pelo seu amor de um homem — ela corta. — Isso não é diferente de uma menina engravidar apenas para manter seu namorado, ou um homem casando-se com uma mulher que ele não ama porque a engravidou, nunca funciona. E não vou perder meu tempo com tolices.

— Victor não é a única razão pela qual quero aprender — digo. — Eu não vou mentir e dizer que ele não é parte dela, mas ele não é tudo isso. Eu sou diferente de você em quase todos os sentidos, — continuo — mas a única maneira que nós somos iguais é que eu sei que esta é a única vida para mim. Já fui por esse caminho normal e eu não acho que posso fazer isso de novamente. Esta é a minha vida, e eu só quero aprender para me manter viva nele por tanto tempo quanto que eu puder. Victor nunca teve muito tempo para me treinar como eu preciso ser treinada. Ou ele me enviou para outra pessoa — eu silenciosamente me lembro de Spencer e Jacquelyn no estúdio Krav Maga — ou começou a ficar tranquilo depois de um tempo, porque ele não queria me machucar.

— Eu nunca iria ser fácil com você. — Nora sorri.

— Eu sei.

Então eu digo:

— Mas lutar não é a única coisa que quero aprender — quero aprender tudo o que você pode me ensinar: técnicas de manipulação, controle da dor, tudo...

Nora levanta uma sobrancelha.

— Você nunca será capaz de aprender todas essas coisas — diz ela, — a menos que você queira perder a sua capacidade de amar alguém e ser capaz de matá-los em vez disso, mas vou ensinar-lhe o que eu puder.

— Mais uma pergunta.

— Hmmm?

— Apenas por curiosidade — começo, — quando confessei a você, você parecia... simpática. Até mesmo aos sentimentos de Niklas. Se você é tão... sem emoção... por que você parece se importar? Por que zombar do seu pai e seu dedo desencadeia tanta raiva que desencadeiam suas emoções tão controladas? E ausente.

— Eu ainda sou humana — ela diz simplesmente.

Eu penso nisso muito e muito. Sobre tudo.

E então dou a ela a minha arma.

Nora olha para ela brevemente e depois a leva para seus dedos manchados de sangue.

— Então, bem-vindo a bordo — eu digo.

E o fato de que ela não atira em mim nas costas ou foge para as ruas de Boston, quando eu a deixo sentada lá e volto para dentro, mais prova que ela está dizendo a verdade que eu já sabia.


CapÍtulo VINTE E DOIS

Izabel

Quatro dias depois...

Gostaria de poder dizer que as coisas estão voltando ao normal por aqui, mas isso não poderia estar mais longe da verdade. Niklas ainda se foi e nenhum de nós o viu ou ouviu falar dele — ele poderia estar em outro país, ou morando na parte de trás de um bar em algum lugar próximo, e qualquer um seria crível. Seus telefones celulares nem tocam mais: eles vão direto para o correio de voz ou me dizem que o usuário não tem uma caixa de correio configurada para deixar uma mensagem. Eu parei de ligar para ele dois dias atrás. Quando ele quiser ser encontrado, ele nos avisará. E eu vou me preocupar com o resultado disso até que isso aconteça.

Dorian, depois que Fredrik o interrogou por muitas longas horas, estou feliz em dizer que ainda está vivo. Ele ainda está aprisionado na cela C e provavelmente estará lá por um tempo até que Victor descubra o que fazer com ele. Mas de acordo com Fredrik, tudo o que Dorian disse a Victor parece ser verdade, e ele não escondeu nada mais do que sabemos. Mas, a coisa em Victor mantendo vivo, eu acredito, tem principalmente a ver com a Inteligência dos EUA e se eles vão retaliar em reação à morte de Dorian. Mas Victor disse que ele parece o tipo de contratante privado que Dorian é, se ele já fosse morto ou comprometido, os Estados Unidos não afirmariam que sabia algo sobre ele.

É que a inteligência dos Estados Unidos sabe sobre nós impossibilitando que Victor tome uma decisão de qualquer maneira. Dorian admitiu fazer o perfil de cada um de nós e deu essa informação a seus superiores, empregadores, o que quer que eles sejam chamados — eu estou no escuro quando se trata destas coisas e Victor não fala muito sobre isso... ou talvez ele tenha dito e eu acabei por estar muito envolvida no meu treino com Nora Kessler para notar.

Comecei no dia seguinte depois da noite em que a deixei entrar. E já sinto que tenho que cuidar das minhas costas a cada momento do cada dia — não porque ela não possa ser confiada, mas porque, como parte de seu treinamento, ela me ataca do nada. Não existe tal coisa como um descanso. A qualquer momento Nora poderia estar me testando, mentalmente ou fisicamente, ou de qualquer forma que ela achar conveniente. É o mesmo tipo de treinamento que comecei com Victor há mais de um ano, mas muito mais intenso. Ela fode com minha cabeça tantas vezes que eu não posso dizer a diferença quando ela está mentindo no meu rosto ou me dizendo a verdade — eu deveria ser capaz de descobrir isso. Aprender a confiar inteiramente nos meus instintos e ser capaz de reagir a qualquer situação em conformidade, sem nunca pensar nisso. — Se você tem que parar e pensar nisso, você já fodeu — disse ela durante uma das raras vezes em que me deu um conselho. E então: — Não é a mesma coisa que "pensar antes de reagir" trata-se de mudar a maneira de pensar e reagir naturalmente.

Eu nunca esperava que qualquer treinamento fosse assim. E está apenas começando.

Hoje Nora juntou-se à mesa para o seu primeiro encontro.

Victor não aprovou minha decisão de deixá-la se juntar a nós quando eu lhe disse o que eu tinha feito. Não de primeira de qualquer maneira. Eu tive que lembrá-lo que ele disse que confiava em mim, e embora eu pense no fundo ele não precisasse disso, eu sei que ele menos esperava que eu a deixasse viver e tudo veio como um choque para ele. Para mim também. Eu tinha toda a intenção de eliminar Nora naquela noite — eliminando; talvez eu esteja começando a me tornar mais como Victor — mas no último minuto, eu fui com meu istinto em vez do meu ódio por ela.

Entrei na sala de reuniões diante dos rostos de Victor, James e Fredrik. Nora estará atrasada se ela não estiver aqui em cinco minutos. Eu faço o meu caminho para a minha cadeira habitual perto de Victor, onde me sento e tento parecer confiante — sei que Nora não estiver de acordo com as expectativas de todos, isso estará sobre a minha cabeça, porque eu fui a única que a deixou se juntar a nós. Estar atrasada na sua primeira reunião não é uma boa maneira de começar.

A sala está repleta de silêncio. Quase nenhum movimento agita o ar suave que escorre das aberturas no teto. James olha para a tela do laptop. Fredrik senta-se solidamente, como um gigante deslumbrante melancólico com as duas mãos apoiadas na mesa. Victor se senta com as costas presas contra a cadeira e as mãos no colo — sempre o poderoso no quarto, e qualquer um saberia apenas olhando para ele, mesmo que nunca o tivessem visto antes. Eu sinto seus olhos em mim — embora não os de Fredrik — mas não consigo olhar para nenhum deles.

Finalmente, o som de saltos tocando contra o chão do outro lado da porta ecoa pelo corredor. A porta se abre e Nora, com suas longas pernas e com belos cabelos louros, entra na sala de reuniões, fechando a porta atrás dela. Ela está vestida, de todas as coisas, um terno de mulheres negras e altos saltos pretos. Uma camisa com um elegante babado que puxa sob o casaco do terno e fica perfeitamente sobre seu peito, puxado em torno de seu pescoço de uma forma delicada. Delicado — uma palavra que eu nunca teria pensado associar com os gostos de Nora Kessler.

— Chagando perto da hora — eu falo.

Nora senta-se ao lado de James, com as costas retas e refinadas.

— Sim, — ela diz com um sorriso de desculpas e então alcança o bolso da jaqueta e retira um telefone celular. — Mas eu encontrei Niklas.

Victor e eu olhamos um para o outro enquanto Nora desliza o celular sobre a mesa e ao alcance de Victor. Ele pega e olha para a tela, batendo uma vez com a ponta do dedo enquanto ela começa a se desvanecer em preto. Eu me inclino mais perto de Victor para obter uma visão melhor.

— Em Barlow, — Nora anuncia. — Ele parece estar gastando muito do seu tempo lá, bebendo — eu olho para a tela para ver várias fotos de Niklas sentado em um bar escuro iluminado com um tiro de uísque no bar à sua frente — uma garota diferente todas as noites nas últimas noites. Ele está ficando no hotel ao lado do bar.

— Isso é apenas trinta minutos daqui — eu digo, olhando para Victor ansiosamente.

— Bebendo e mulheres — James fala do outro lado da mesa. — Parece que ele não mudou, realmente. Acho que é seguro dizer que ele está bem.

Franzem o cenho para James.

— Ele não está tão bem — eu digo.

— Mas ele estará — diz Victor.

Ele desliza o telefone de volta para Nora. Ela o deixa sobre a mesa na frente dela.

Fredrik não diz nada.

Eu deslizo para trás em minha cadeira mais confortavelmente e viro a Victor.

— Você quer que eu vá falar com ele? — Eu pergunto. — Tentar trazê-lo de volta para cá para que você possa falar com ele?

Victor sacode a cabeça.

— Vamos discutir Niklas mais tarde — diz ele. — Primeiro, eu tenho algo mais que precisa ser tratado.

Victor e Nora trocam um olhar, dando a impressão de que são os únicos na mesa que já falaram sobre isso, seja lá o que for. Eu me sinto incrivelmente incômoda de repente, mas curiosa e ansiosa, também.

— O que é? — Eu pergunto.

Victor respira fundo e olha para todos nós.

— Haverá uma missão importante no futuro próximo — ele diz enigmaticamente e seus olhos caem sobre mim, — não no próximo ano, mas porque levará, pelo menos, esse tempo para se preparar para isso, ou melhor, para preparar Nora - Ele olha para ela por um instante.

— OK — eu digo, desconfiada, — que tipo de missão?

Ele fica quieto por um momento e depois diz:

— Preciso que você volte para o México.

Confusa, eu respondo:

— Por que o México? — Mas o que é tão confuso é o quão obscuro ele está sendo. — Não tenho problema em ir lá, Victor. Você me dá uma missão e eu vou executá-la. O México não me assusta. Já fomos lá uma vez. Pegamos dois dos irmãos de Javier e libertamos algumas das meninas deixadas no complexo. A missão não resultou como eu esperava e muitas das garotas com quem eu vivi quando eu era prisioneira lá, já haviam sido vendidas ou mortas quando chegamos.

Ele olha para longe dos meus olhos momentaneamente.

— Victor, o que é? Apenas diga.

Mais uma vez, sinto todos os olhos em mim, mesmo Fredrik desta vez, mas eu não olho para ninguém além de Victor.

— Esta missão vai exigir algo mais do que matar alguém e voltar — ele começa. — Nos próximos meses você estará treinando Nora para isso.

Minhas sobrancelhas se dobram rigidamente.

— Eu treinando ela? — Estou começando a entender, o que será toda esta missão , mas deixei Victor preencher as lacunas.

— Você estava por dentro, — ele diz para mim, — e você sabe como as coisas funcionam. Tudo. Desde a compra e venda de drogas, armas e meninas, até o modo como as meninas foram tratadas, até como elas foram mortas. Nora certamente pode lidar com qualquer tipo de missão dada a ela, mas mesmo ela precisa ser treinada para que ela saiba exatamente com o que ela está lidando.

Olho bem para Nora, que fica quieta, mas com confiança.

— Espere um segundo, — Eu o cortei — então você está dizendo que quer que eu a treine para ser uma escrava sexual? — De alguma forma eu não pode imaginar essa imagem na minha cabeça, não importa o quanto eu tente.

O rosto de James se ilumina com arrepiante prazer.

— Não necessariamente, — Victor diz. — Eu falei com ela longamente sobre isso e nós dois concordamos que a melhor maneira de abordar esse aspecto particular é para ela se tornar uma das meninas, não apenas desempenhar o papel.

— É melhor se tornar uma delas — diz Nora, — se eu conseguir ser uma delas, não que me ensine como ser uma delas.

Ficando mais confusa, eu olho entre Victor e Nora, procurando respostas.

— Eu sou capaz de assumir qualquer papel, até mesmo uma escrava do sexo, mas você precisa me dar dicas, me dizer sobre os bastidores, sobre como ser mais consciente, como não me matem.

Eu balanço a cabeça, já não gosto dessa ideia.

— Victor, imagino que as coisas não são mais as mesmas. Javier está morto. Izel está morta. Seus irmãos estão mortos.

— Elas podem estar — diz ele, — mas isso não significa que as coisas mudaram muito. Javier tinha seis irmãos que conhecemos. Dois deles ainda estão executando suas operações. O composto ainda está no mesmo lugar. Meninas, drogas e armas ainda são compradas e vendidas como se nada tivesse acontecido. Dentro de dois meses de nossa última missão lá, eles estavam funcionando novamente.

Eu já sabia a maior parte dessa informação, mas vejo por que agora ele tinha que repetir.

Balançando a cabeça com um olhar caído, inclino-me para a frente com os braços sobre a mesa.

— OK mas porquê? Por que voltar? Não me interpretem mal, não tenho nenhum problema em matar aqueles bastardos e libertar mais das meninas, mas...

— Essa não é a missão, Izabel — diz Victor.

Eu pisco, um pouco atordoada.

Nora e Victor trocam outro olhar de conhecimento.

Então Victor diz:

— Nora me disse alguma coisa, na última noite em que ela foi detida naquele quarto, antes dela se juntar a nós. Algo sobre você que eu queria ter mais certeza antes de eu dizer qualquer coisa.

Eu apenas olho para ele, sentindo a dor da traição, mesmo sabendo que ele não me traiu em tudo.

Victor continua:

— Além disso, depois de falar com Dorian quando ele foi detido pela primeira vez, a história de Nora parecia ter mais verdade. — Depois de uma pausa, ele diz: — A missão no México será descobrir quem é Vonnegut. Você pode ser a única pessoa entre nós que já viu o verdadeiro Vonnegut.

— O quê? — Eu não posso acreditar no que acabara de ouvir.

Ele balança a cabeça, e depois começa a falar, mas eu o interrompo.

— Você viu ele — eu aponto. — Do que está falando, Victor?

— O homem que encontrei em raras ocasiões, quando eu fazia parte da Ordem — ele começa, — onde eu era valorizado como um operário, tenho razões para acreditar que não era o verdadeiro Vonnegut. Ele era um chamariz. A verdade é que ninguém realmente sabe quem é o verdadeiro homem por trás da organização de assassinato mais antiga e maior ainda em funcionamento hoje. Nem mesmo a CIA ou o FBI — ninguém. Apenas quando eles pensam que têm uma identidade, descobrem apenas estavam correndo em círculos.

Victor me enche de tudo o que Dorian lhe contou, dos suspeitos de Vonnegut de vender armas a terroristas e de que seu negócio é muito mais do que matar por contrato. Ele continua a me falar sobre as coisas Nora lhe disse em segredo, e sobre o dispositivo de rastreamento que Victor me cortou quando nós estávamos nos escondendo.

— Niklas e eu sabíamos — diz Victor, — na noite em que tirei esse aparelho de você, que algo de tão alta tecnologia tinha que vir de uma fonte externa, que não havia ninguém como Javier Ruiz que fosse capaz de produzir ele mesmo.

— Enquanto eu estava espionando todos vocês, — Nora interrompe, — e mergulhando em informações da Ordem, eu descobri que Vonnegut estava lidando com meninas, também, e estava vendendo dispositivos de rastreamento de alta tecnologia como o que eles encontraram em você.

Victor acrescenta:

— Acredito que o dispositivo que foi colocado em você veio de Vonnegut. Acho que Vonnegut estava vendendo para Javier, e você estava lá no interior, mais perto de Vonnegut do que quase ninguém já esteve.

— Mas o que faz pensar que eu sei como ele se parece? — Eu atiro de volta, ficando mais oprimida por esta informação surpreendente.

— Os homens ricos que você viu quando Javier estava usando você como um troféu de braço — Victor diz, — um deles eu acredito que é o Vonnegut real.

Imediatamente, começo a pensar em todos os seus rostos, cada um movendo-se rapidamente através da minha mente como um borrão.

— Ele não pode ficar escondido para sempre — Victor continua. — Alguém o viu. Ele pode ser um fantasma, mas ainda é humano e os seres humanos por natureza precisam se associar a outros seres humanos, estar na presença de outras pessoas — acho que ele era um desses homens ricos, Izabel. E eu acho que Nora indo para esta missão será como nós finalmente o encontraremos, destronaremos e mataremos.

Ele faz uma pausa e acrescenta com profundidade,

— E então eu assumirei A Ordem, uma vez que ele está morto.

Não respondo ao seu último comentário, mas, pela primeira vez desde que entrei na sala, os olhos de Fredrik se fecham nos meus.

Esta é a primeira vez que eu ouvi Victor dizer algo assim. Assumir a ordem, a ordem... é uma conversa para outro dia. Neste momento meu cérebro está sobrecarregado com... tudo.

Estou em silêncio por um longo tempo, deixando todo o resto que ele me disse para assimilar. Ainda parece ser haver muito que foi deixado sem resposta, mas me leva vários minutos para descobrir quais são essas coisas.

— Mas por que mandar Nora? — Eu digo, olhando para ela por apenas um segundo. — Quero dizer... bem, acho que não posso ser a única a voltar porque muitos já sabem como eu pareço...

— Eu não deixaria você voltar de qualquer maneira — Victor me corta. — Você vai para o México e estará em uma cidade turística, mas Nora estará fazendo o trabalho interno.

Eu franzi o cenho.

— Por quê? O que quer dizer que você não vai me deixar voltar? — Há ácido na minha voz.

Victor suspira e deixa cair as mãos no colo.

— Você não acha que eu sou capaz de volta ali, — Eu acuso. — Você acha que eu sou como todo mundo; isso porque eu passei por uma experiência traumática e que eu nunca seria capaz de me colocar nisso de novo, que eu nunca seria capaz de lidar com isso. Bem, você está errado — eu lanço uma mão no ar — Eu sou o oposto de todo mundo. Eu não tenho medo disso. De qualquer um deles. Eu sou mais forte agora do que nunca, e se alguém pode fazer este trabalho com perfeição, sou eu. Não Nora, mas eu.

— Não se trata de se provar, Izabel — diz Nora calmamente e gentilmente.

Eu olho para ela.

— Ninguém pediu sua opinião...

— Não, mas eu não sou o tipo que dar — ela devolve - Ah, mais aí estar a verdadeira Nora Kessler: audaz, loquaz e irritante.

James se esconde na cadeira um pouco para colocar alguma distância entre ele e Nora, provavelmente esperando que eu me jogue na mesa em qualquer segundo agora.

O deixo passar, inalo uma respiração longa, profunda e volto para olhar para Victor.

— Como você mesmo disse — Victor diz, — você não pode ser a única a entrar porque você não pode arriscar ser vista.

— Talvez haja uma maneira de contornar isso — eu digo. — Poderíamos...

— Izabel — Victor interrompe com um tom sombrio e firme, — você não vai voltar lá... você não pode lutar contra todos os homens naquele complexo que tentariam ter seu caminho com você.

— Ah, então é isso que se trata, — eu digo friamente. — Você acha que eu não posso evitar que eu seja estuprada — eu o olho diretamente nos olhos, sem piscar — confie em mim, eu poderia...

— Nora estará indo para a missão — diz ele, como se isso fosse o fim.

Esfregando os dentes, respiro fundo e me levanto da cadeira.

— Ela não pode entrar lá com fios, — eu assinalo. — Ela não pode levar uma câmera. Ela não terá acesso a um telefone. Eu não duvido de suas habilidades, mas se ela vai ser uma das garotas e torná-la crível, ela não pode se esgueirar para entrar em contato conosco — eles saberiam em poucos minutos que ela está desaparecida. — Eu olho para ela uma vez e digo: — Como você vai ser a única a descobrir quem Vonnegut é se eu sou a única que supostamente o viu? — Eu cruzo os braços e olho atentamente, os olhos correndo entre Nora e Victor.

— Vamos descobrir isso — diz Victor. — Temos vários meses para chegar a um plano.

Eu balanço a cabeça, minha boca se levantando de um lado.

— Victor, eu não sou estúpida para acreditar que você não conhece uma maneira certa de descobrir quem é Vonnegut.

Ele olha para mim, esperando.

— Através de mim — continuo. — No segundo Vonnegut me vê, eu saberei que é ele porque a compreensão de quem o está olhando irá piscar em seus olhos naquele instante. E eu iria vê-lo. Vonnegut está bem consciente de como eu pareço.

— Sim — Victor diz, — essa é a melhor maneira de descobrir quem ele é, mas vamos encontrar outro caminho. Você não vai entrar nesse complexo.

— É o único caminho.

— Outros viram você — ele me lembra, ficando irritado.

— Mas Javier e Izel estão mortos. Luis e Diego estão mortos e eles são os únicos outros irmãos de Javier que eu vi. Quem está correndo o lugar agora duvido saibam quem eu sou.

— Não podemos correr esse risco.

— Concordo — diz James. — É muito perigoso.

— Victor...

— Izabel! — Ele levanta as costas da cadeira — Eu não vou deixar você voltar lá! — ele respira fundo e acalma-se — Eu não estou arriscando você naquele lugar, Nora sim - Suas palavras cruéis não a perturbam nem um pouco; Ela não se importa com essas coisas. — Você quer fazer missões sozinha e isso já é risco suficiente, não importa o quão bom você seja, mas enviá-la em um lugar onde as pessoas podem se lembrar de você e quem vai matar você no local no segundo que eles percebam quem você é, não é um risco que estou disposto a correr.

Olho para a parede, desapontada e zangada, mas tocada por seus sentimentos e não posso simplesmente descartá-los como se eles não fossem nada.

— Me desculpe, — eu digo suavemente e Victor estende a mão para mim. Ele nunca mostra carinho comigo durante as reuniões, então o gesto me deixa surpresa.

Eu ando e pego sua mão. Ele me puxa para ficar ao lado dele. Ele beija o topo dos meus dedos.

— Vamos descobrir um caminho — ele diz gentilmente, — mas Nora será a de dentro.

Eu aceno com relutância.

Quanto tempo você vai se permitir cortar os cantos por mim, Victor?

— Vou ensinar a Nora tudo o que ela precisa saber — eu digo olhando para ela.

Então eu tomo meu assento outra vez.

— Você é a chave para fazer isso funcionar — diz Victor.

Quanto tempo você vai tomar a rota alternativa apenas para me manter fora de perigo?

— Vou fazer o que eu tenho que fazer para ajudar a derrubar este tirano — eu acrescento.

Quão mais…?

E farei o que Victor me pedir, mas uma grande parte de mim quer ser a do interior. Não porque eu sinto a necessidade de provar a mim mesma. Não porque ele está deixando Nora ir em vez de mim e eu sinto alguma sensação de ciúme — isso não tem nada a ver com ciúme, ou determinação imprudente; eu quero que seja eu porque eu passei nove anos da minha vida no México entre esses homens e sinto que, se qualquer missão deveria ser minha, é esta.

— Entretanto — Victor anuncia, — com a ausência de Niklas, e considerando as mudanças feitas nesta Ordem, Nora será a sua nova parceira.

Eu aceno com aceitação.

— E continuarei treinando você enquanto trabalho com você — diz Nora.

— Vocês duas irão em várias missões juntas antes da missão no México — diz Victor. — Vocês irão se concentrar em suas atuais missões por enquanto, mas estejam se preparando para o México da mesma forma.

O silêncio caí sobre o quarto quando cada um de nós pensar sobre o caminho a seguir.

— E Niklas? — Pergunto, decidido a não deixá-lo ser esquecido. — Estamos planejando todas essas missões sem ele?

— Por enquanto, sim — diz Victor. — Até que as coisas entre meu irmão e eu tenham sido resolvidas, é melhor assumir que ele não fará parte de nenhuma missão.

Concordo com a cabeça.

Nós cinco passamos os próximos trinta minutos discutindo os detalhes das nossas futuras missões, incluindo começar cedo no México. É muito estranho sentar nesta mesa sem Dorian e Niklas. E com Nora, em vez disso. Sinto falta do sarcasmo de Dorian e comentários ridículos sobre as mulheres que deviam me esfregar do jeito errado, mas nunca fazem. E eu sinto falta das minhas lutas com Niklas e seus olhares frios e o fedor de seus cigarros persistentes em sua jaqueta.

Finalmente, quando a reunião chega ao fim, Fredrik fica de pé da mesa.

Todos nós olhamos para ele.

— A menos que haja qualquer outra coisa, — ele diz, olhando apenas para Victor, — eu tenho um lugar que eu preciso estar.

— E o que você poderia, eventualmente, ter que fazer? — Nora pergunta, sua voz cheia de provocação, seus lábios vermelhos escuros espalhando-se num sorriso. — Um homem tão frio como você não pode ter qualquer tipo de vida fora desta Ordem. — Ela sorri docemente, perversamente.

Fredrik e Nora raramente falam um com o outro, mas de vez em quando, sua personalidade burlona escapa dela. Ontem ela se colocou como se ela não pudesse quebrar e como ela é agora a segunda mulher a vencê-lo. Ela está tentando consegui uma reação dele, eu realmente não tenho ideia porque ela quer uma, mas Fredrik está, como sempre, não se incomodando com suas provocações.

Até agora.

Ele tira a pasta da mesa.

— Almoço — ele diz simplesmente.

Os olhos castanhos de Nora se iluminam com sugestão.

— Oh? E vai comer sozinho neste almoço, ou gostaria de companhia?

Fredrik anda pelo comprimento da mesa. Ele nunca olha para ela, mas então ele nunca realmente olha para qualquer um de nós.

— Eu prefiro jantar sozinho — diz ele.

Nora apenas balança a cabeça, sorrindo. Nada parece incomodá-la, e admiro isso nela. Silenciosamente, é claro; eu nunca a deixarei saber disso.

Fredrik olha para Victor, esperando.

— Eu vou estar em contato — Victor diz a ele. — Se as coisas forem como planejado, você estará interrogando um homem até o fim da semana.

Fredrik acena, coloca a mão na porta e a empurra.

— Mas não deixe o país — Victor diz antes de Fredrik sair. — Eu acho que é seguro dizer que seu tempo sozinho acabou.

— Claro — diz Fredrik. — Eu estarei esperando por sua ligação. — A porta se fecha ligeiramente atrás dele quando ele sai do quarto.

Victor volta sua atenção para Nora.

— E que outras informações você tem para mim do FC-4? — Ele pergunta.

Nora escova seu cabelo loiro sedoso longe de seus ombros e dobra suas mãos juntos na mesa na frente dela; suas curtas unhas estão pintadas de vermelho para combinar com seu batom. James olha para ela brevemente, da mesma forma que faz a cada poucos segundos, mas tenta não torná-lo tão óbvio.

— Também no final da semana — ela diz, — vou ter tudo o que sei sobre eles à sua disposição.

Victor acena com a cabeça.

Então ele diz:

— Você tem um longo caminho a percorrer antes mesmo que eu começar a confiar em você; um caminho difícil pela frente.

— Sim, estou bem ciente — diz ela em troca. — Se você já confiasse em mim, eu não teria o respeito que eu tenho por você.

Nora olha para mim.

— Mas um pouco de confiança — diz ela, indicando o tipo que eu tenho por ela, — é muito apreciado.

Eu aceno, aceitando seus agradecimentos.

Victor olha entre nós, mas não diz mais nada. Nora é o meu projeto, a minha responsabilidade, meu fardo para carregar. Ele aceita isso e não me privará dela e do que eu preciso dela mesmo que ele temesse que ela seja um erro, mas eu sei que ele vai estar observando cada movimento dela.

— Bem, pela minha parte — James fala, — estou feliz por ter você a bordo. — Ele sorri estupidamente.

Nora lhe dá um olhar sensual, fazendo com que seu grande rosto redondo fique vermelho.

— Não sei como Niklas vai se sentir sobre isso — James acrescenta, — ou até mesmo Dorian, se e... ele alguma vez sai daquela cela, é claro — ele olha para Victor — mas eu suponho que o tempo dirá.

Sim, o tempo tende a conter as respostas para tudo. E, como as coisas estão agora, como as coisas tomaram um rumo tão drástico em nossa Ordem, estou ansiosa e com medo de ver o que o tempo revelará. Acho que a única coisa que posso fazer é esperar. Esperar que Niklas volte e segure a minha respiração como tudo o que está destinado a acontecer entre ele e Victor, aconteça. Espere pelo dia em que o destino de Dorian estará finalmente decidido. Esperar pelo momento que se, ou quando, Victor descobrir sobre a criança que eu tive com Javier, e abrace as consequências da verdade. Esperar para ver se meu julgamento está, de fato, totalmente errado e Nora acaba me fazendo uma tola, afinal.

Esperar. O tempo é uma cadela cruel.


Capítulo vinte e três

Fredrik

HÁ CERCA DE OITO ANOS...


Serafina. Meu anjo com asas pretas. Ela sorriu; um brilho carmesim nos lábios, emoldurado por cabelos tão negros como a minha alma, os olhos tão profundos como o poço sem fundo que é o meu coração. Ela se deitou perto do corpo quente, seus dedos longos e brancos enrolados no sedoso cabelo loiro da menina. Seus seios pródigos e cheios, pressionados contra os menores da menina. Ambos estavam nus, enrolados um ao lado do outro. Eles estavam esperando por mim.

— É muito simples — Seraphina disse e ela arrastou a ponta de sua língua através do pescoço da menina, olhando através do quarto para mim com aquelas piscinas escuras de pecado e salvação. — Nós fazemos tudo juntos, meu amor — sua língua traçou o lábio inferior da garota e a menina devolveu o gesto — meu diabo, meu príncipe negro.

Eu pisei para frente, quebrando os botões da minha camisa.

Seraphina prosseguiu:

— Nós buscamos vingança juntos. Nós fodemos, nós amamos, nós condenamos e destruímos juntos até o dia em que morreremos juntos.

Ela estendeu a mão delicada, mas mortal e gesticulou para mim, curvando seus dedos em direção à sua palma, lentamente e sugestivamente.

— Venha cá e prove-a — disse ela, e então deixou cair a mão entre as coxas da garota. — Você tem que prová-la.

A garota gemeu com o toque de Seraphina, sua cabeça loira pressionando o ombro da minha esposa, seus peitos pequenos e macios empurrando para a vista da luz fraca no pequeno qiarto.

Fiquei de pé ao pé da cama, observando-os, como os dedos de Seraphina se moviam com tanta precisão artística, como as pernas da menina se separaram para ela, expondo seu lugar mais secreto para mim e para o ar fresco da noite.

— Eu disse para você não trazê-las aqui. — Eu finalmente digo enquanto escorregava meu cinto dos laços da minha calça preta, o som do couro se movendo contra a tela em um movimento lento e deliberado. — Nunca sem minha permissão. E nunca aqui. — Eu estava furioso, mas mantive-o contido.

Os lábios vermelhos escuros de Seraphina se espalharam em um delicioso sorriso. A moça acariciou os seios de Seraphina, colocou a cabeça no seu pescoço; ela tentou tocar embaixo Seraphina, mas não foi permitida, então ela puxou a mão dela, arrastando as pontas dos seus dedos em seu estômago.

— Oh, Fredrik — disse Seraphina, levantando as costas da cama - você não pode dizer isso o tempo todo. Estou tentando te ajudar. Isso é apenas parte do processo.

— Mas, da mesma forma — disse eu — disse-lhe para não trazê-las para nossa casa.

Seraphina e eu compartilhamos um olhar, seu sorriso escurecendo com desapontamento; meu rosto sem emoção não tinha mudado. Mas minha esposa nunca desistir tão facilmente. Ela nunca fazia o que eu dizia com um estalar de dois dedos, porque ela era ousada e desafiante e eu adorava isso sobre ela.

Ela se levantou da cama.

A menina ficou alerta e sentou-se quando notou a tensão crescente na sala.

— Quero que você a foda — disse Seraphina. — Eu a trouxe aqui para você. Olhe para ela — ela acenou para a menina, que era muito bonita com lábios cheios e grandes olhos castanhos e quadris curvilíneos — Eu achei que você ia gostar dela. Eu gosto dela.

A menina olhou para trás e para frente entre nós nervosamente.

— Mas esta é a nossa casa, Seraphina. — Eu me aproximei de sua forma alta e nua. — Você sabe que eu não gosto de fodê-los aqui, onde dormimos, onde eu te fodo.

— Eu... acho que vou embora agora — disse a moça, levantando-se da cama.

— Não! — Seraphina estalou, apontando para ela. — Sente-se, caralho. — Ela olhou para mim, fulminando-me, rangendo os dentes. Seus olhos castanhos brilharam em seu rosto oval irritado; O preto de seu cabelo curto brilhando contra o branco cremoso de suas bochechas.

A menina estava com muito medo de se mover. Ela permaneceu na cama, puxando os joelhos para ela e cobrindo seus seios com seus longos cabelos.

— Você pode ir — eu disse a menina, empurrando minha cabeça para trás, indicando a porta aberta atrás de mim.

— Eu disse que ela fodidamente fica, Fredrik!

Seraphina começou a se esgueirar através da cama para a garota, mas eu a agarrei por trás, segurando-a firmemente em torno de sua cintura. A moça levantou-se rapidamente com os olhos arregalados e agarrou suas roupas do chão.

Seraphina lutou comigo a cada passo, a cada momento, até que a menina saiu correndo e ouvi a porta da frente de nossa pequena casa fechada atrás dela.

— Desgraçado!

Arrancando as mãos de Seraphina atrás de suas costas, eu a empurrei para a frente na cama.

— Por que você faz isso, Seraphina? — Eu perguntei a ela, minha voz sufocada de raiva e desespero. Ela lutou contra a cama, mas eu a segurei ainda, pisando entre suas pernas e separando-as com a minha. — É a minha única regra e você a quebrou. Por quê?

— Porque é uma regra fodidamente estúpida! — Ela gritou, uma face pressionada contra o colchão.

Inclinando-me sobre seu corpo com os pulsos ainda presos atrás dela em uma das minhas mãos, eu sussurrei em seu ouvido:

— É estúpido que eu te ame, Seraphina? — Meu aperto aperta em torno de seus pulsos — É estúpido que eu nunca queira compartilhar você ou eu com alguém em nossa casa?

— Que diferença faz? — Perguntou ela em uma voz mais calma, mas amarga. — Não importa onde nós fazemos.

— É importante para mim. — Eu beijei o lado de sua boca.

— Por quê?

— Porque deve haver limites — eu disse e me levantei novamente. — Nós não vamos foder, matar ou destruir qualquer pessoa em nossa casa. Você entende?

Ela balançou a cabeça ainda pressionada contra o colchão.

— Agora você vai ficar quieta ou eu vou ter que amarrar você?

— Vou ficar quieta — disse ela.

Eu soltei seus pulsos e ela moveu seus braços para fora e descansou-os sobre o colchão acima de sua cabeça.

— E por que você vai ficar quieta? — Perguntei quando peguei firmemente o cinto em minha mão.

— Porque eu mereço — ela disse, da mesma forma que ela havia dito as vezes antes que eu tinha que puni-la.

Agachei-me entre as pernas e, com ambas as mãos, separei um pouco mais para a expô-la a mim.

— Eu não sei o que vou fazer com você — eu disse e beijei a carne quente de seu traseiro.

— Você não sabe o que você faria sem mim — disse ela em troca.

Eu beijei a outra bochecha.

— Não, eu não, e eu nunca quero descobrir.

Ela gemeu e seu corpo se enrijeceu quando minha língua serpenteou para fora e lambeu seu clitóris.

Eu me ergui em uma posição e pisei de entre suas pernas. Ela ficou quieta, esperando, sabendo, preparando-se. Eu a observei por um momento. Ela empurrou os dedos dos pés um pouco, o suficiente para segurar suas pernas enquanto ela estava deitada de costas contra o colchão da cintura para cima. Eu queria tanto colocar meu pau nela, eu queria espremer seu traseiro em minhas mãos e fodê-la até que nenhum de nós pudesse ver em linha reta, mas ela tinha que ser tratada primeiro. Eu nunca poderia deixá-la ter seu caminho quando se trata dessas coisas ou ela se tornaria incontrolável. Seraphina pode ter me ajudando a controlar meus impulsos torturantes, meus impulsos assassinos, mas eu não era o único de nós que precisava ser ensinado, controlado e guiado por que Seraphina era uma mulher perigosa e perversa que poderia se perder em qualquer momento e nunca poderia ter muito controle.

O som da pele marcada pelo couro rasgou através do ar e Seraphina gritou alto. Mas ela não se mexeu. Duas vezes. Quatro vezes. Seis vezes. Dez vezes, o cinturão golpeou sua carne, deixando marcas em sua bunda. Ainda assim, ela nunca se moveu; apenas seus dedos se agarraram a cama, rasgando o lençol do colchão e esmagando-o em suas mãos.

Onze. Doze. Treze.

Eu não cedi. Eu nunca poderia deixá-la ver a fraqueza em mim ou eu iria perdê-la. Atacar Seraphina levemente, tendo piedade dela, só a desligaria. Era uma coisa boa porque eu nunca teria tido piedade dela. Eu gostava de infligir a dor tanto quanto ela gostava de tomá-la.

— Fredrik, por favor! — Ela implorou com uma voz chorar lágrima. — Por favor pare…

Eu bati o couro novamente, e novamente, e novamente até chegar a vinte. Era sempre vinte. Ela sabia que sempre haveria vinte chicotadas, não importa o quanto ela me implorasse para parar.

Eu coloquei o cinto de lado na cama e agachado entre suas pernas mais uma vez. Seu corpo tremia debaixo de minhas mãos cuidadas, resistido por apenas segundos sob meus lábios quentes. Eu beijei cada centímetro de sua dor, cada pedaço, cada minúsculo corte onde a pele tinha quebrado. E então eu delicadamente puxei seus lábios separados com meus dedos e arrastei a ponta da minha língua quente entre eles. Lentamente. Atentamente. Seraphina gemeu e choramingou e cavou seus dedos no colchão.

Ela já não sentia a dor.

Tudo que ela sabia era o prazer.

Eu a fodi duramente, a única maneira que qualquer um de nós queria sempre — duro e violento. E depois que eu gozei, eu deitei em suas costas, ainda enterrado dentro dela.

Eu a beijei de volta, sua coluna, seus ombros e seu pescoço. A lâmina de barbear me acenou na mesa de cabeceira, mas esperei. Só mais um pouco.

— Não há ninguém mais no mundo como nós, meu amor — ela disse em uma voz suave, olhando para nada com seu rosto pressionado contra o colchão. — Eu morreria sem você.

Distraidamente, eu continuei a me empurrar profundamente dentro dela lentamente.

— Você nunca estará sem mim — eu disse e beijei a nuca. — E como você disse antes, morreremos juntos.

— Você promete, Fredrik? Você vai junto comigo se eu morrer antes de você?

Eu beijei o lado de sua boca, pressionando meus quadris contra ela. Ela ofegou.

— Quando você morrer, eu também morro — eu sussurrei contra sua orelha. — Você é o amor da minha vida. Meu lindo cisne. E você será minha destruição.

Entrei dentro dela. Seus lábios se separaram em um gemido silencioso e ofegante e seus dedos encontraram o topo do meu cabelo escuro.

— Ninguém pode te amar como eu te amo — disse ela. — Nenhuma mulher neste mundo conhece você como eu conheço você, entende suas necessidades, sua dor, seu passado. Nenhuma mulher pode dar a você o que eu lhe dou.

E ela estava certa.

Eu empurrei mais e mais e, de repente, a lâmina de barbear estava presa entre as pontas dos meus dedos e o polegar.

Eu levantei meu peito de suas costas, apenas o suficiente para que eu pudesse vê-la.

Seraphina choramingou e agarrou a cama quando eu fiz o primeiro corte, verticalmente abaixo suas costas cerca de dois centímetros. Logo iria curar e tornar-se como as outras cicatrizes que eu tinha deixado lá. Então me inclinei e lambei o sangue que escorria da ferida com a língua. Seraphina levantou seu traseiro contra mim, me forçando mais fundo. Meus dedos feriram firmemente dentro de seu cabelo.

Inclinei-me mais um pouco, procurando sua boca com a minha, e eu a beijei longa, dura e sangrenta.

— Ninguém, Fredrik, — ela sussurrou e lambeu minha língua, — ninguém jamais te amará como eu.


Eu não sei quanto tempo eu estive olhando este jornal, as palavras impressas em tinta preta borradas em toda a minha visão. Por quanto tempo minhas memórias de Seraphina me torturarão? Oh sim, claro — até eu morrer junto com ela como eu prometi.

Minha pasta está no chão embaixo da mesa, sentada entre a parede e minhas pernas, escondida na escuridão. Os clientes neste restaurante, como em todos os lugares públicos, são inconscientes. Eles não têm percepção da verdade, a mesma verdade que os cerca todos os dias de sua vida tranquila e inocente — que o mal vive na porta ao lado, passa-os na calçada, prepara as refeições ou, neste caso, come apenas uma mesa com eles. Se eles soubessem apenas que segredos minha pasta tem, ou as coisas horríveis que estas mãos fizeram. Ou as lembranças vívidas e impiedosas que atormentam minha mente como uma ferida que nunca cura.

Enrolei dois dedos em torno da alça do meu café e trouxe a caneca para os meus lábios, suavemente soprando o vapor subindo do topo antes de tomar um gole cuidadoso. Mais uma vez, meus olhos examinam o jornal na mesa da cabine diante de mim — talvez desta vez eu realmente leia as palavras.

Eu vou colocar a caneca de volta para baixo, mas pouco antes de ele se instala de volta em segurança na mesa, o garoto sentado na cabine atrás de mim bate a cabeça contra a parte de trás do meu assento novamente. Algumas gotas caem da borda e sobre a mesa. Eu calmamente limpo-as com um guardanapo.

— Avery! — A mãe repreende. — Eu lhe disse para ficar quieto. Sinto muito.

Acho que o último comentário foi para mim.

Viro a cabeça apenas ligeiramente, não o suficiente para ver a mulher, mas o suficiente ela saber que a ouvi.

— Está tudo bem — eu digo e volto a ler o jornal.

Mais três vezes — além dos provavelmente dez outros antes daquela — o garotinho bate contra a parte de trás do meu assento, até que finalmente a mãe se apressa a sai com ele, pedindo desculpas novamente antes de ela se afastar com a mão de seu filho na dela. E mais uma vez, eu disse a ela que estava bem. O que eu não disse a ela, porém, é que eu, de uma forma estranha, me congratulo com o incômodo. Eu tendo a apreciar as coisas simples, e de outra forma irritante em vida depois de uma noite de torturar alguém, um menino inocente batendo a parte de trás da minha cadeira, sendo um menino, é uma boa mudança de atmosfera. Eu invejo este “Avery”. Que tipo de homem eu seria hoje se eu tivesse sido autorizado a jantar com a minha mãe e não me importar com o que o homem sentado atrás de mim pensaria com a minha cabeça batendo nas costas do seu assento? Talvez aquela pasta debaixo da mesa fosse preenchida com papel e um almoço embalado em vez de agulhas, facas, alicates, venenos e luvas de borracha. Talvez não haveria outra mulher no mundo que pudesse amar e me entender.

— Pronto para uma recarga? — Ouço uma voz doce dizer.

Olho para cima, puxando minha mente de volta para o momento, para ver a minha garçonete cujo nome lê “Emily” segurando um pote de café em uma mão.

— Não, obrigado.

Ela sorri para mim, um rosto de forma oval com lábios amáveis e olhos tipo avelã e pele de cor creme.

— Você vai pedido de sempre hoje? — Ela pergunta. — Dois ovos mexidos. Três fatias de bacon crocante e um copo de água com limão?

Eu olho para ela.

— Não, eu não vou tomar café hoje. — Eu olho de volta para o jornal.

O silêncio enche o espaço entre nós.

Finalmente, ela diz:

— Bem, talvez amanhã, então...

— Não, também não estarei aqui amanhã.

— Oh.

O silêncio começa a se esticar. Eu nunca olho para cima do papel.

— Bem, OK eu vou... deixá-lo para o seu café.

A garçonete chamada Emily, que tem sido minha garçonete todas as outras manhãs pelas últimas três semanas, começa caminhar, deixando sua personalidade brilhante no chão atrás dela.

— Espere — eu chamo em uma voz normal, e ela se detém para olhar para mim. — Eu uh... — Eu olho para a mesa, e então a minha caneca de café, e depois de volta para Emily — ... sim, eu acho que eu gostaria de ter o meu pedido habitual esta manhã.

Seu sorriso bonito retorna, seus olhos castanhos brilhando debaixo de seus cabelos marrom-dourados.

— Ótimo — ela diz balançando a cabeça, — Eu estarei de volta em alguns minutos.

Ela vem tentando falar comigo durante as duas semanas das três que eu vim aqui, mas eu sempre a evitei. Ela é linda, amável, doce e é precisamente por isso que eu não cedi a suas tentativas de conversa casual — ela não é o tipo de garota que eu poderia foder e ir embora, sem culpa por seus sentimentos feridos.

Não sei por que a parei.

Dez minutos depois ela volta com meu café da manhã com um prato em uma mão e um copo de água de limão na outra. Ela os coloca na mesa à minha frente enquanto eu afasto o jornal, dobrando-o e colocando-o no assento.

— Você trabalha aqui perto? — Pergunta ela, enquanto nota algo em seu tablet na palma da mão.

— Não — eu digo quando eu polvilhe pimenta nos meus ovos — estou apenas desfrutando do café da manhã. — E gosto muito do senso de normalidade que tomar café da manhã no mesmo restaurante todas as outras manhãs me dá, eu não digo em voz alta.

Ela rasga um bilhete e o coloca de face para baixo sobre a mesa.

— Bem, estou feliz por ser sua garçonete todas as manhãs — ela diz com um sorriso bonito que sugere algo mais.

Ela é tímida, mas ela está tentando ser corajosa e eu acho que é cativante.

O silêncio começa a se esticar novamente.

— Bem, desfrute da sua refeição — diz ela e então coloca o bilhete no bolso do avental.

— Obrigado — digo a ela e lhe dou um pequeno sorriso antes de voltar para a minha refeição.

Ela balança a cabeça e olha para o bilhete o tempo suficiente para eu pegá-lo. Sentindo como se ela quisesse que eu a olhasse antes de ela se afastar, eu o levo aos meus dedos e virei-o para encontrar um número de telefone escrito na frente, em vez da minha refeição ou quanto devo.

Ela cora sob seu sorriso.

— Você pode me ligar se quiser sair algum dia — seu rubor se aprofunda e só isso me intriga — isso é... se você for solteiro. Ou mesmo... interessado.

Ela está muito nervosa e ficando ainda mais enquanto mais ela fica ali e eu não digo nada.

— Quero dizer, você não é casado, tanto quanto eu posso dizer — ela olha nervosamente para o meu dedo anelar sem um anel — mas se você não está interessado...

— Você é uma mulher muito bonita — eu a cortei para que ela pudesse verter o arrependimento e a humilhação que ela começara a sentir. — E não, eu certamente não sou casado. Sou muito solteiro.

Ela sorri, com os lábios fechados. Noto outra garçonete de pé na caixa registradora, nos observando, e sorrindo. Ela olha para longe quando vê que eu notei.

Eu mantenho minha atenção em Emily.

— Você nunca perguntou a um homem antes, não é?

Seu rosto fica mais vermelho e ela mal pode olhar meus olhos mais.

— É tão óbvio? — Ela pergunta, enrugando seu pequeno nariz.

Eu deixei o sorriso em meus olhos tocar meus lábios mais.

— Sim, mas eu gosto.

Não dizemos mais nada por alguns segundos. Ela não consegue parar de sorrir e eu estou apenas confuso com a minha reação.

— Bem, eu tenho que voltar ao trabalho — ela diz e se vira sobre os calcanhares.

Eu aceno com a cabeça e então, pouco antes de ela ir embora, eu digo:

— Eu chego em casa às nove da noite. Eu ligo antes das nove e meia.

Eu acho que não pode machucar, pelo menos, falar com ela...

Seu sorriso de lábios fechados se ilumina, ela balança a cabeça e caminha até uma mesa onde dois novos clientes acabam de se sentar.

Eu como o meu café da manhã, coloco uma gorjeta grande sobre a mesa debaixo da xícara de café e depois saio em silêncio com a minha pasta na mão.


Perguntas para o leitor

Será que Izabel jamais contará a Victor o seu segredo? Ou ele vai descobrir por conta própria?


O que será de Dorian Flynn? Você acha que Victor deve levar Dorian em cima de sua oferta para trabalhar com a Inteligência dos EUA?


Será que o Niklas voltará à Ordem de Victor? Ele pode (ou deveria) perdoar seu irmão?


Que impacto você acha que Nora Kessler terá na Ordem de Victor, positiva ou negativa? E quanto a Izabel?


Será que Fredrik Gustavsson alguma vez encontrará o amor? Ou você acha que ele deveria ficar longe das mulheres completamente?


Você acha que Nora estava certa em dizer a Izabel que seu relacionamento com Victor está praticamente condenado?

CapÍtulo DEZENOVE

Izabel

Corro direto para os braços de Dina quando James entra no prédio com ela.

— Dina! Estou tão feliz que você está bem. — Meus braços a envolvem.

Ela beija minha cabeça e minhas bochechas e por um momento eu me sinto como uma menina de novo. Uma menina inocente feliz de ver sua mãe, que nunca foi uma escrava do sexo e que nunca matou ninguém.

— Estou bem, estou bem, querida — diz ela, me abraçando com força.

Está vestindo uma blusa cor-de-rosa clara enfiada em uma calça cor de canela. Seu cabelo cinza-aloirado está em rabo de cavalo alto em uma onda de cachos frouxos que caem em torno do seu rosto envelhecido onde há mais rugas ao redor dos olhos que da última vez que a vi.

Eu dou um passo para trás com as suas mãos entrelaçadas nas minhas e eu a olho.

— Você parece... bem — eu digo, tendo esperado — e temido — vê-la coberta de contusões e sangue, talvez alguns ossos quebrados.

— Bem, claro que sim, — ela diz como se eu já soubesse que ela estava bem o tempo todo.

Olho para James parado atrás dela com um olhar de profunda pergunta no meu rosto.

Victor entra na sala de reuniões atrás deles.

— O que está acontecendo? — Eu pergunto, olhando para Victor e depois para James.

— Bem, — James começa, — parece que Nora nunca machucou nenhum deles. Com a Sra. Gregory...

— Oh, por favor me chame Dina, — Dina interrompe, — as coisas apropriadas me fazem sentir velha.

Eu sorrio para mim mesma.

James também sorri e concorda.

— Nora disse a Dina que ela foi enviada por você e Victor para levá-la para a segurança.

— Oh, mas eu não acreditei nela imediatamente — diz Dina, sacudindo sua cabeça grisalha. — Eu sabia melhor do que isso e quando ela matou aquele bom homem que me observava muito da rua, eu estava com medo. Pensei que ela ia me matar em seguida.

Olho para trás e para frente entre Dina e Victor, esperando ansiosamente pelo resto da história.

— Não é necessário dizer, — Dina continua, — aquela mulher fez um show, eu acho, porque no momento que ela estava dizendo “para baixo!”, ela estava olhando para fora das janelas e eu estava realmente com medo de houvesse outros homens lá para me matar. Ela me disse que o homem no chão, ela matou era um traidor, ou eu acho que ela usou alguma palavra filme extravagante como conspirador ou infiltrado — Eu quero dizer a ela para ignorar todas essas coisas, mas eu não tenho o coração fazer isso — Ou algo assim — de qualquer maneira, ela me fez acreditar nela, isso é certo. Ela me tirou daquela casa e me colocou muito bem em outra e me disse para não saísse ou fazer qualquer telefonema. Ela pegou meu celular. Disse que era para o meu próprio bem. Mas eu tinha tudo o que eu precisava. — Ela penteia seus dedos longos e resistidos pelo comprimento do meu cabelo. — E eu não queria colocá-los em perigo, então fiquei como me disseram e esperei.

— Ela não a feriu?

Estou confusa com isso. Completamente confusa.

Dina sacode a cabeça.

— Não, — ela diz, — ela era uma verdadeira bondade. Então, imagine minha surpresa quando o Sr. Woodard aqui me disse que ia me matar. Eu simplesmente não podia acreditar.

Victor e eu olhamos brevemente um para o outro.

— Eu suponho que Tessa alimentou a mesma história? — Eu pergunto.

— Não, — James diz. — Bem, de certa forma. Depois que Nora convenceu Tessa que ela não estava lá para machucá-la, e depois de Tessa inconscientemente deu Nora a munição que ela precisava contra Dorian — tal como ela disse a Dorian que ela fez — Tessa acreditava que Nora erada Inteligência dos EUA e assim ela cooperou.

— Então Tessa também não estava machucada? — Eu pergunto.

— Não, — James responde.

— Onde ela está agora?

Victor aproxima-se e responde:

— Eu pedi que a levassem para casa. Ela não precisava ser trazida para cá. Ela não precisa saber nada sobre nós.

— Ela pensou que eu era um agente da CIA — diz James com uma leve gargalhada, mas com um ar orgulhoso. — Quanto às minhas filhas, bem, elas não eram tão fáceis de convencer. Elas estavam apenas com medo de suas mentes — elas pensam que eu trabalho com imóveis. Então, eu acho que Nora não teve escolha senão amarrá-las em algum lugar.

Eu olho direito para Victor.

— Então ela realmente estava trabalhando sozinha — eu digo sobre Nora.

— Parece dessa maneira — Victor diz com um aceno de cabeça.

— Estou com muita sede — Dina diz, apertando meu quadril com a mão. — Tem alguma coisa por aqui para beber?

Eu a abraço de novo.

— Claro — eu digo a ela e pego sua mão. — Eu vou levá-lo para conseguir alguma coisa.

Eu sorrio levemente para Victor enquanto saio com Dina da sala de reuniões e em direção à pequena cozinha no corredor.

Fredrik passa por nós no caminho enquanto ele se dirige para ver Victor. Ele não diz nada para mim, ou mesmo faz contato visual.

— Oh, ele é atraente, — Dina diz calmamente com os olhos grandes quando ela olha para trás para a sua altura em que terno caro. — A coisa que eu mais odeio em ser velha é que homens assim não me olham mais.

Oh, Dina, se você soubesse o que aquele homem em particular é capaz de fazer.

— Bem, eu acho que você é linda, — eu digo a ela, apertando sua mão fria e envelhecida. — Além disso, os homens hoje são provavelmente um pouco mais raros do que você estava acostumado.

— Ei, eu costumava ser uma prevenidab — diz ela com um sorriso.

— Dina! — Meu rosto torce com todo o tipo de formas e minhas bochechas começam a queimar. — Eu não preciso saber isso.

Nós dois rimos juntos e escorregamos dentro da sala de descanso, que é realmente apenas um quarto com um sofá de couro e cadeira correspondente com uma mesa de café em mármore e duas mesas nas extremidades, uma televisão de tela plana montada na parede e uma área de cozinha em um canto. Victor olhou para Woodard engraçado quando ele lhe pediu para colocar uma sala de descanso no prédio ("Uma sala de descanso? Este não é exatamente o trabalho em fábrica, Woodard."), Mas, no final, e depois de Woodard me explicar o que uma sala de descanso era e eu gostei da ideia, ambos tivemos o que queríamos. E eu não sou a única de nós que a usa com frequência — Niklas dorme aqui às vezes com as botas levantadas no braço do sofá. James traz seu laptop aqui e assiste coisas velhas na TV Land. Dorian... bem, ele sempre foi o único que manteve o frigorífico abastecido. Victor - OK, ele não vem aqui, exceto para encontrar um de nós.

Dina toma um assento no sofá enquanto eu pego dois dos refrigerantes de Dorian da geladeira.

— Então, exceto belas mulheres loiras ameaçando me matar para chegar até você — Dina começa de brincadeira, — o que mais tem acontecido com você, Sarai?

Dina é a única pessoa que eu permito me chamar pelo meu nome antigo. Eu tentei fazer com que ela me chamasse de Izabel uma vez, mas ela recusou, disse que eu cresci com ela me chamando de Sarai e que ela morreria me chamando de Sarai.

Dou-lhe uma garrafa de refrigerante e me sento ao lado dela, puxando uma perna para cima da almofada.

— É estranho ter conversas com você sobre minha vida — eu digo. — Não é como se eu pudesse te dizer sobre a última pessoa que eu vi morrer, tão casualmente como eu posso falar com você sobre conseguir o pedido errado em um drive-thru.

— Eu sei — ela diz e toma uma bebida, — mas o que está acontecendo com você e aquele homem bonito, misterioso seu?

Tomo uma bebida e depois olho para a parede atrás dela.

— As coisas estão bem — eu digo, tentando não chegar na verdade, não estou até mesmo certa qual é a verdade; O que está acontecendo entre mim e Victor não é exatamente o tipo típico de problema no paraíso.

Dina e eu conversamos um pouco sobre coisas simples. Ela me fala sobre o que está acontecendo com os personagens em seus programas de televisão favoritos, mas eu só ouço principalmente porque eu nunca assisto TV e realmente não tenho nada a acrescentar. Falamos sobre o pequeno jardim que ela plantou atrás de sua casa mais nova e como o único vegetal crescendo são os pepinos. Eu não sei nada sobre jardim e não saberia como fazer crescer os legumes, então novamente, eu principalmente apenas ouvir a sua conversa. E ela continua sobre as vendas nas lojas de departamentos que ela gosta de comprar e como ela conseguiu uma blusa de trinta dólares por nove dólares — eu não sei muito sobre as vendas porque com o dinheiro que Victor me dá — e que eu eu ganho — Eu não tenho que prestar atenção às vendas.

E enquanto Dina fala sobre uma variedade de coisas totalmente diferentes ao longo dos próximos trinta minutos, há uma coisa que eu noto que ela menciona em cada tópico — o Arizona.

— Eu costumava assistir a esse programa todas as noites antes de dormir no Arizona — ela havia dito. — Eu tinha a minha poltrona perto da janela e eu sempre a abria e deixava o calor entrar enquanto eu assistia ao meu programa.

E depois:

— Eu realmente não fiz muita jardinagem no Arizona.

E depois:

— Eu ia as tendas de promoções cada fim de semana quando eu vivia no Arizona. Tinha boas ofertas.

Finalmente, depois da quinta menção do Arizona, pergunto-lhe o inevitável:

— Você sente falta de casa, Dina?

Ela sorri levemente e coloca a garrafa de refrigerante na mesa final.

— Eu sinto, Sarai, eu realmente sinto.

Ela suspira e olha para mim, estendendo a mão e colocando-a no meu joelho esticado na almofada, enfiado debaixo da minha outra perna.

— Eu quero voltar para Tucson — diz ela. — Inclusive ao parque de trailers. Tenho saudade. Eu sinto falta dos malditos cães latindo à noite, as crianças correndo de um lado para o outro na rua causando incómodos. Eu só quero ir para casa. — Ela bate no meu joelho e depois se afasta, olhando para mim com olhos tristes, mas sorrindo.

— Mas Dina, não é seguro — eu levanto no sofá — você não pode voltar para lá. Veja o que aconteceu aqui, a razão que você está sentada nesta sala falando comigo agora. Se você voltar lá você estará onde qualquer um que quer encontrá-la, provavelmente olhará ali primeiro.

Seu sorriso aquece seu rosto inteiro.

— Oh, querida, eu não me importo com essas coisas, — ela diz como se para me consolar. — Eu me importei no início, mas era principalmente apenas por causa de você. Mas, eu não posso fazer isso mais, me mudando de um lugar para outro, tendo homens estranhos estacionados do lado de fora a cada casa, me observando o tempo todo. Estou velha demais para isso. Eu aprecio todas as coisas elaboradas que você e Victor me fornece? e as casas bonitas e... apenas tudo. Eu estou muito agradecia. Mas eu só quero ir para casa e viver o resto da minha vida do jeito que eu fiz antes — simplesmente.

Meu coração afunda cada vez mais fundo.

— Mas é perigoso. Eu não quero que nada aconteça com você.

— Nada vai acontecer comigo, querida. — Seu sorriso se alonga. Ela levanta a mão e bate no peito sobre a blusa cor-de-rosa fina onde está seu coração. — Se alguma coisa pode me matar, será o meu coração. Você sabe disso. — Ela sorri e bate no meu joelho novamente brincando e acrescenta: — Além disso, eu sei usar uma espingarda, lembra? E eu não tenho medo de explodir alguém se entrarem em minha casa.

Eu não posso evitar, mas sorrir de volta para ela, mesmo que eu queira lutar com ela nesta questão.

Dina se vira na almofada para me enfrentar completamente e ela leva minhas duas mãos para as dela.

— Eu quero que você me prometa algo — ela diz, olhando nos meus olhos. — E eu quero dizer isso, é uma verdadeira promessa e isso significa tudo para mim e se você nunca a quebrará, mesmo que eu nunca vá descobrir, você deve se sentir culpada por quebrar isso porque é tão importante para mim.

Isso está me assustando, mas eu aceno e concordo.

— O que foi, Dina?

Seus dedos agarram os meus com firmeza, como se para colocar ênfase nas palavras que ela está prestes a dizer.

— Quando eu voltar para casa, de volta a Tucson — diz ela, — eu quero que você me prometa que você não enviará ninguém para me vigiar ou me proteger. Ninguém. E eu também não quero que você faça isso. Você me dá sua palavra?

No começo tudo que eu quero fazer é dizer não — eu até começo a balançar a cabeça — mas ela aperta minhas mãos e força o meu olhar, o olhar em seus olhos tão intenso, e eu sinto quão importante é essa promessa para ela. Tanto quanto eu quero mentir para ela e dizer que, não, eu não vou mandar ninguém para cuidar dela... Eu não posso. Este é o seu desejo e devo-lhe tudo e sei que tenho de ceder a ele, não importa o quão difícil.

E antes que ela saia, enquanto eu digo adeus enquanto ela entra no táxi na rua para ir ao aeroporto de volta a Tucson, eu não posso evitar, mas sinto que esta será a última vez que eu a vejo.

— Eu te amo, garotinha! — Ela grita para mim da janela aberta do carro, seus dedos longos e ossudos acenando na brisa fresca de Boston.

Eu pressiono as pontas dos meus dedos contra meus lábios e envio-lhe meus beijos enquanto ela se afasta, e eu limpo as lágrimas dos meus olhos e tento muito manter o sorriso no meu rosto pelo amor de Dina. Porque ela merece ser feliz e ela não precisa de mais razões para se preocupar comigo mais do que ela já tem.

 

— Você já viu Niklas? — Eu pergunto a Victor na sala de reuniões com James. Eles estão olhando para fotografias e arquivos espalhados sobre a mesa alongada.

Eu ainda estou emocional por ter deixado Dina ir a uma hora atrás.

Victor olha para cima.

— Ele se foi, Izabel — ele responde solenemente e olha para baixo. — Mas não se preocupe com ele agora...

— O quê? — Eu passo mais para dentro do quarto e fico no final da mesa. — Victor, como você pode dizer isso? Já tentou falar com ele?

Ele tranca os olhos nos meus pelo comprimento da mesa.

— Vou falar com meu irmão quando for a hora certa — diz ele.

James olha para nós brevemente e finge estar mais interessado com as fotografias na frente dele. Ele parece desconfortável.

— Quando é qualquer hora certa? — Pergunto com um tom acusatório. — Agora é o melhor momento que qualquer outro dia será.

— Niklas precisa de tempo sozinho — ele diz e eu bato a palma contra a mesa antes que ele tenha a última palavra.

— Foda-se! — Eu digo com raiva.

Victor levanta-se rapidamente da mesa em um movimento rápido, enviando o papel que ele estava lendo em sua mão caindo no chão. Sua cadeira chia quando ela é empurrada para trás em seu caminho para cima.

James congela, olhando entre os nós dois sob nervosos olhos encapuzados.

— Woodard, — Victor diz exigente, — deixe-nos.

Sem hesitação, James se levanta, enfia o laptop debaixo do braço e sai.

Uma bola nervosa senta-se no meu estômago. Sei que ele está chateado comigo, mas eu sinto fortemente o que Niklas deve estar passando, e eu não consigo encontrar nenhuma razão aceitável para que Victor não estivesse tentando fazer as coisas direito entre eles, agora.

— É isso que você pensa de mim? — Ele pergunta, zangado, mas ao mesmo tempo ferido pela perspectiva. — Você acha que esses arquivos e estas fotografias — acena com uma mão na mesa — são mais importantes para mim do que o meu irmão? Olhe para mim —aponta os seus olhos com o seu indicador e dedo médio — e me diga: que você pensa isso de mim, porque é exatamente como se sente agora. Quero ouvir você dizer isso.

Engulo nervosa e começo a sacudir a cabeça. Eu raramente o vi assim antes, então eu sei que eu ultrapassei meus limites, que eu o machuquei, e já me sinto terrível por fazer ele se sentir assim.

— Eu sinto muito... Eu apenas...

Os ombros de Victor mergulham em um longo suspiro e ele olha para a mesa, mas não para as coisas espalhadas por cima. Ele cai pesadamente de volta em sua cadeira e encosta contra ela.

— Izabel — ele diz com mais calma, mas sem olhar para mim, — eu sabia que tinha que sair algum dia. Nem um dia se passou nos últimos seis anos quando eu olho para meu irmão e eu não me sinto como uma merda pelo o que eu fiz. Niklas talvez nunca me perdoe, mas ele vai entender.

Eu ando em sua direção pelo comprimento da enorme mesa.

— Você parece esquecer que ele tentou matar você — acrescenta Victor.

— Eu nunca me esqueci disso — digo, — e acho que nunca irei.

— Você não esqueceu ou perdoou, — Victor diz, — mas você entende.

Eu não esperava isso, então eu não digo nada no início.

— Eu me sinto culpada — eu finalmente respondo, ainda sentindo algum tipo de necessidade de confessar porque a culpa está pesando tão fortemente em meus ombros.

A cabeça de Victor levanta e ele me olha com um olhar de descrença e talvez até mesmo decepção.

Eu inclino minhas costas contra o fim da mesa na frente dele, cruzando meus braços.

— Por quê? — Pergunta ele asperamente. — Por que você se sente culpada? Se você disser que é porque você está viva e Claire não está, você é...

— Eu sou o que? — Eu salto de volta, desafiando-o. — Sou estúpida e fraca por ter consciência? Sou ingênua? Muito emocional? Vá em frente, Victor — aponto para os meus olhos com o meu indicador e meu dedo médio — Victor me diga o que realmente pensa de mim.

Seu olhar se desvia.

— Eu acho que seu coração é muito grande — ele diz e instantaneamente meu exterior duro vacila. — É por isso que eu sinto a necessidade de protegê-lo o tempo todo. Não porque você não tem habilidade ou porque eu não acredito em você, mas porque seu coração fica no caminho. E se há alguma profissão no mundo que você não pode e não deve colocar seu coração — aponta duramente para o chão — é esta.

Estou calada por apenas um momento, deixando suas palavras afundarem.

E então algo entra em minha mente que eu tenho mais medo de dizer a ele do que minhas acusações sobre Niklas — mas eu não posso segurar como eu realmente me sinto.

— As coisas seriam melhores para você se eu fosse... mais parecida com Nora, não é? — Eu fiz tudo que eu não pude fazer para parecer amarga ou acusadorq, porque eu não quero dizer isso dessa maneira.

Ele levanta os olhos para mim, e por um longo tempo ele não diz nada.

— Em um sentido profissional e emocional, sim, — ele responde com sinceridade, — mas não por qualquer outra razão. Mas se eu queria alguém como Nora ao meu lado, você não estaria aqui, ao contrário dela, eu não gosto de jogos, assim, por favor, não me acuse de ter uma atração selvagens por aquela mulher, ou a começar a sentir insegura que eu vou me desviar.

— Eu não acho isso em tudo — eu digo, e eu quero dizer isso. — Não é disso que se trata.

Eu levanto meu corpo para sentar na mesa na frente dele, minhas pernas, cobertas em meu traje preto apertado, pendurada sobre a borda da mesa nas curvas dos meus joelhos. Victor move sua cadeira para mais perto para sentar entre elas, colocando seus braços sobre as minhas coxas e ajustando suas mãos sobre minha cintura. As mangas da camisa estão enroladas até os cotovelos; Veias correm ao longo dos músculos duros de seus antebraços levemente bronzeados.

Corro todos os meus dedos pelo topo do seu cabelo curto e castanho.

— Você não confia em mim para cuidar de mim mesma em tudo, Victor? — Eu pergunto com preocupação e não com acusação. — Não há nada sobre mim — de um ponto de vista profissional e emocional — que você sente que não precisa... melhorar?

Victor suspira.

— Confio no seu julgamento, Izabel — diz. — Quando se trata de outros, você é um bom juiz de caráter. Você sabe inerentemente, antes mesmo que eu faça geralmente, sobre uma pessoa no interior. Mas eu não confio em você quando você está com raiva ou por vingança. Você tende a tomar decisões precipitadas, pular de cabeça em situações perigosas sem um plano, tome Los Angeles e Arthur Hamburg, por exemplo. Mas quando você está calmo e não agir por raiva ou vingança, você sabe o que está fazendo. E confio em você cem por cento.

Agradeço-lhe com os meus olhos.

Ficamos em silêncio por um longo tempo e então eu digo com uma voz suave:

— E se Niklas não voltar?

— Ele vai voltar, — responde Victor, mas na sua voz, sinto que ele não pode está tão confiante nessa suposição quanto ele gostaria. — Ele é meu irmão — continua ele, — e ele pode me odiar por um tempo ou até mesmo querer me matar, mas ele sempre será meu irmão e eu sempre farei qualquer coisa por ele e ele sabe disso.

Eu penso sobre isso por um momento, deixando a realidade da verdade me tomar, Victor está emocionalmente deficiente não por causa de apenas uma, mas duas pessoas em sua vida que ele ama. Espanta-me como ele pode suportar, como ele pode continuar a agir como se nada nunca o incomodasse, que ele não tem sentimentos, ou temores. Do lado de fora, Victor é frio, calculado e desapegado quase todo o tempo — quem não o conhece no nível que eu conheço poderia pensar que ele era como Fredrik, mas a verdade é que ele carrega um fardo maior do que qualquer um de nós. Victor se sente responsável por Niklas e eu. Ele teve que escolher, duas vezes agora, entre seu irmão e eu. E quando você tem que escolher entre duas pessoas que você ama, não importa qual caminho você vá lá estarão consequências dolorosas.

Eu me inclino sobre ele e beijo o topo de sua cabeça.

— Desculpe por duvidar de você — digo. — Eu realmente pensei que você ia deixar Dina morrer e eu sinto muito por não acreditar em você. — Eu estava querendo dizer isso a ele desde o momento em que ele confessou seu segredo para Nora, mas eu tenho evitado por vergonha e culpa. Mas, mais do que isso, eu precisava de tempo para pensar sobre tudo o que aconteceu por causa disso.

Ele olha para mim.

— E porque eu não vou mentir para você — diz ele, — assim como eu não pude mentir para Niklas sobre Claire, a verdade é que quase a deixou morrer.

Eu concordo. Porque eu entendo. Era uma escolha entre Niklas e eu. E nunca seria uma escolha fácil.

— Eu sei, — eu digo a ele e solto minhas mãos do seu cabelo.

Então ele enrola os longos dedos dele ao redor dos meus entre minhas pernas e levanta uma mão para seus lábios e beija os nós dos meus dedos.

— O que você vai fazer com Dorian?

Ele se levanta e toma o meu rosto em suas mãos, puxando meus lábios para encontrar os dele.

Depois que ele me beija, longo e macio, seus lábios são mornos e sua língua tão macia, ele diz:

— Tudo dependerá do que Fredrik tirar dele.

Um arrepio desconfortável se move através de mim.

— Você vai deixar Fredrik interrogar ele?

Victor se move de entre minhas pernas e começa a empilhar as fotografias na mesa em uma pilha pequena.

Ele não responde, o que é uma resposta por si mesma.

— Quando você vai matar Nora? — Ele pergunta, empilhando as coisas constantemente.

— Antes da manhã — digo. — Eu queria lidar com tudo antes de vê-la novamente.

Ele balança a cabeça.

— Você já pensou sobre isso? — Eu pergunto. — Sobre o que ela disse?

— Não — ele responde e se dirige para a pasta com as fotografias e os arquivos.

— Nem um pouco?

Ele olha para mim.

— Eu pensei sobre isso — ele diz, — mas não considerei, se é isso que você quer dizer. Eu admito, foi uma jogada ousada, mas ela deveria ter pensado mais sobre as consequências de suas ações do que ela fez. Ela matou um dos meus homens na casa da Sra. Gregory. Ela virou meu irmão contra mim. Sequestrou os seus entes queridos e os usaram contra você. E ela tem desperdiçado muito do meu tempo, francamente.

— Verdade — eu digo, franzindo os lábios contemplativamente, — mas ela meio que se provou no processo.

Victor ergue os olhos momentaneamente e fecha a pasta com dois cliques.

— Você está tentando me dizer alguma coisa? — Ele pergunta com suspeita.

Eu balanço a cabeça.

— Não é o que você provavelmente está pensando — eu não quero ela aqui tanto como qualquer um de nós — mas eu vi a maneira que você estava olhando para ela na sala de vigilância. Parece que você queria a chance de dissecá-la.

Um sorriso fraco, quase invisível aparece em seus lábios enquanto ele levanta a pasta da mesa com a mão apertada sobre a alça.

— Você viu isso, não é?

Eu encolho os ombros e sorrio.

— Sim, eu meio que vi.

— Bem, a resposta é não — ele diz andando em minha direção. — Ela causou problema bastante. Mate-a e termine com isso.

Ele me beija nos lábios mais uma vez e dirige-se para a porta.

— Eu volto em algumas horas, — ele diz da porta. Mas logo antes de sair, ele para e olha para mim.

— E vou falar com o Niklas em breve.

Eu aceno com um pequeno sorriso de apoio e ele sai.


CapÍtulo VINTE

Izabel

O piso da cela tem apenas dez celas que Victor queria manter por razões como esta — detém traidores e outros tipos de prisioneiros. As celas são nomeadas de A a J. Eu me dirijo para a cela C com um monte de emoções misturadas e um coração pesado. Eu não quero pensar sobre o que Dorian vai passar com Fredrik mais tarde, mas ao passar pelo corredor sombrio e pelas celas A e B que estão abertas e vazias, é tudo o que posso pensar. Eu não quero pensar que Dorian é um traidor, que talvez as coisas que ele disse a Victor fossem verdadeiras. Talvez ele não seja nosso inimigo e nunca pretendia ser. Mas ele mentiu. E ele trabalhou conosco sob falsos pretextos. E ele deu informações sobre nós ao governo e isso só é o suficiente para Victor para matá-lo.

Eu passo até a porta de aço pesada e empurro para cima em meus dedos do pé para ver dentro através da janela janelinha.

Dorian está deitado contra a cabeceira de uma cama de metal que se projeta da parede. Bandagens sangrentas estão envolvidas sobre ambos os ombros. Tudo o que ele está vestindo é sua calça jeans escura e seu Rolex. Suas botas foram chutadas para o chão, colocadas descuidadamente com as cordas longas espalhadas contra o azulejo.

Estendendo a mão, toco na janela com a ponta do meu dedo.

Dorian ergue a cabeça loira e depois de um segundo olhando para o rosto desfocado na janela e tentado distingui-lo, ele diz: "Izabel?" E com dificuldade força seu corpo ferido do berço para sentar-se ereto. Seu rosto se contorce de dor e ele para, respira fundo e empurra-se para seus pés e caminha até a porta.

Eu me agacho em frente a ela e deslize o metal que cobre sobre a abertura para comida que é longa e larga o suficiente para passar uma bandeja.

— Como você está? — Pergunto.

— Sinta-me como uma merda — ele diz e se senta no chão em seu traseiro, estremecendo com cada movimento abrupto. Tudo o que eu posso ver agora são seus olhos azuis brilhantes e sua testa através da abertura.

— Desculpe — eu digo. — Ei, eu queria vir aqui e dizer que Tessa está bem.

Seus olhos se iluminam um pouco e o alívio passa por cima dele, através de toda a dor e desconforto.

— Na verdade, — eu continuo, — ela estava bem o tempo todo. Nora não a machucou.

— Onde ela está agora?

— James a levou de volta para casa.

Dorian acena com a cabeça.

— Obrigada, Izabel. Por me deixar saber.

Eu aceno de volta.

Depois de alguns longos segundos que se parecem mais como minutos, quebro o silêncio com o inevitável.

— Você contou a verdade a Victor? Você sabe que ele vai descobrir, certo?

— Sim, eu sei, — ele diz. — Mas eu lhe disse a verdade. Há mais para contar a ele, como que tipo de informação eu passei para os meus superiores, mas eu não estava segurando nada disso. Acho que Victor não estava pronto para ouvir.

— Por que você quebrou depois de tudo? — Eu pergunto. — Quero dizer... bem, eu pensei que caras como você foram treinados para não quebrar, nem mesmo para salvar a vida de alguém que você ama. Ponha de lado mentir sobre quem você é; o fato de você quebrar deixa em seu caráter uma falha grave em seu personagem, Dorian. Você desistiu de sua identidade não só por nós, mas por uma civil inocente. Isso nos diz que você estaria disposto a se render sob certas circunstâncias.

Dorian sacode a cabeça.

— Eu sei que parece assim — ele diz, — mas como eu disse a Victor, eu ia eventualmente dizer a ele quem eu era, independentemente se me seria dada a autorização. Eu só tenho que fazer isso mais cedo do que o esperado.

— E se — eu digo, — você nunca recebesse essa autorização? Você admitiria?

Ele suspira.

— Se eu dissesse que não, você acreditaria em mim? — Não era realmente uma pergunta.

— E Tessa? Parecia fácil para você dizer a ela.

— Sim, bem, esse é um tipo diferente de fraqueza — admite. — Ainda uma imperdoável, mas não tão imperdoável como ser um traidor. Olha, eu sei que provavelmente vou morrer aqui. É um perigo nesta linha de trabalho. Aceito e não tenho medo, mas não quero morrer como um traidor.

Depois de um breve momento de pausa, eu digo:

— Eu gostaria de poder dizer que não acho que você é um traidor, mas o que você fez... Eu não sei, é difícil para mim pensar em você como qualquer outra coisa... mas como uma pessoa e um amigo, eu acho que você é genuíno.

— Obrigado.

Ele faz uma pausa e pergunta:

— Ela está morta?

— Vou matá-la em breve.

— Sim, bem, ponha uma bala no ombro daquela cadela antes de matá-la — ele agarra. — Faça a coisa toda dramática, diga a ela "isto é por Dorian!" — Ele ri da própria brincadeira, mas se encolhe e um barulho sibilante empurra seus lábios enquanto ele aspira uma respiração bruscamente em resposta a mais dor.

Eu sorrio e vejo seus olhos caírem para a abertura da porta enquanto ele abaixa a cabeça.

— Sua mãe vai ficar bem? — Ele pergunta.

— Sim, ela estava bem quando James a pegou, como todos os outros.

— Essa deve ter sido as quarenta e oito horas mais fodidas — diz ele. — Acho que você não tem a liberdade de me dizer qual era a grande confissão que ela queria, e de qual de nós?

Eu balanço a cabeça.

— Desculpa.

Ele balança a cabeça.

— Compreensível — ele diz e depois de alguns segundos tranquilos acrescenta: — Acho que isso significa que Gustavsson apareceu depois de tudo.

— Sim. — É tudo o que posso dizer; eu não posso suportar dizer-lhe o resto, onde se refere a ele e Fredrik estarem preocupados.

O som de sapatos batendo contra o chão ecoa pelo corredor — dois pares para ser preciso. Eu engulo incômodo e olho de volta nos olhos de Dorian através da abertura na porta. Ele sabe. Ele balança a cabeça e ri largamente.

— Ele sempre quis me torturar — diz ele. — Eu acho que o cara até tinha sonhos molhados sobre isso — ele não podia me suportar.

Eu me empurro para fora de uma posição agachada e fico de pé, fazendo uma careta de dor e da rigidez nas minhas pernas por estar na mesma posição por tanto tempo. Dorian está olhando para mim agora através da janela embaçada no topo da porta.

Fredrik e Victor contornam a esquina na extremidade distante do salão; dois homens altos e assustadores, todo negócios, em ternos escuros contra as sujas paredes e chão brancos. Juiz e carrasco. Sem emoção. Implacável.

Olho para Dorian.

— O que quer que aconteça comigo — ele diz, — faça-me um favor e certifique-se de que Tessa receba todo o meu dinheiro. A chave para minha caixa de depósito de segurança e outras coisas pessoais que eu gostaria que ela tivesse está escondido na sola da minha bota esquerda. Você vai dizer a Tessa que eu a amo e eu sinto muito por ser tão idiota?

— Eu vou — eu digo a ele.

Deixo Dorian e ando em direção a Victor e Fredrik enquanto eles abrem caminho pelo centro do salão.

— Posso falar com você por um minuto? — Eu pergunto a Fredrik, pisando bem na frente dele.

Estou cansada dele me evitando, e se eu não tentar forçá-lo a falar, eu sei que ele nunca vai e ele pode escapar deste edifício logo após o interrogatório de Dorian, e eu não vou vê-lo novamente por outro mês.

Fredrik começa a caminhar e passar por mim, mas eu o interrompi, parando-o em seu caminho.

— Izabel — diz Victor - temos assuntos importantes a tratar.

— Eu sei, mas isso vai demorar apenas alguns minutos. — Eu olho para Victor através de olhos suplicantes.

Ele não quer me deixar para trás, mas faz, indo na direção da cela de Dorian e me deixando sozinha com Fredrik. Eu ouço a chave chiar na porta da cela e então o som da porta fechando soando quando Victor vai para dentro.

— Eu não tenho tempo para isso — diz Fredrik.

— Faça tempo. Me dê dois minutos. É tudo que eu peço. Por favor.

Ele olha para mim agora, seus olhos azuis escuros enquadrados pelos cabelos escuros, perfurando-me com irritação.

— Eu não posso gastar dois minutos.

— Sim, você pode — eu digo atentamente.

Ele começa a passar por mim novamente, mas eu agarro o seu braço, o material de sua jaqueta preso entre os meus dedos. Sua cabeça se vira de lado para olhar para mim e sua expressão fica mais escura. Seus dentes estão rangendo atrás de um queixo raspado.

Finalmente, deixei o outro lado de mim assumir o lado que está doente da sua merda, e em vez de ter uma conversa de coração com coração com o homem que já foi meu irmão, não consigo parar de dizer-lhe em vez disso.

— Você é um idiota, — eu solto, empurrando as palavras através dos meus dentes. — Olha, eu entendo, eu realmente entendo, e se eu fosse você eu sei que provavelmente eu me sentiria da mesma maneira. Mas eu não iria empurrar as pessoas que se preocupam comigo. — Ele empurra mais contra mim, com a intenção de me ignorar, mas eu me movo na frente dele e empurro ambas as mãos contra seu peito, empurrando sua estatura alta e sólida, mas ele apenas se move. Ele apenas olha para o meu rosto furioso.

Mas ele para — não que ele queira ouvi-lo, mas que ele quer que eu termine com isso para que ele possa estar livre de mim.

— Faça o que quiser — eu digo com ácido em minha voz, — Eu não me importo mais. Se você quer me fechar para fora, tudo bem, mas eu vou dizer o que tenho a dizer antes de ir lá e... fazer a sua coisa. — Um grunhido manipula minha boca.

Fredrik só fica lá olhando para mim com sua pasta apertada ao seu lado.

— Nora Kessler disse a Niklas alguma coisa quando ele estava no quarto com ela, algo que ficou comigo por muito tempo depois que ele deixou. E por mais que a despreze, não posso negar que ela estava certa.

Aponto o dedo para o peito.

— Você precisa de amor para sobreviver, Fredrik — eu digo com convicção dura. — Você é esse homem escuro, assustador, que é tão frio para o exterior que o inferno congelaria se você fosse enviado para lá... mas, do lado dentro, você é um homem quebrado que precisa de amor mais do que alguém por causa da vida que você foi forçado a viver, por causa das coisas terríveis que você foi forçado a suportar. — Eu balancei minha cabeça com tristeza em meu coração. — Você precisa de amor mais do que qualquer coisa, porque é a única coisa que você foi privado. Você me empurrar para longe, porque eu queria dizer alguma coisa para você, porque de todos nós aqui, você pensou em mim como família. Você me ignorou por causa das quantidades de vezes que o amor o destruiu.

Dou um passo para mais perto e meus olhos nunca saem dele, a raiva neles nunca diminuem. Seu rosto frio, mas sem emoção, não mudou.

— Todos precisamos de algo para sobreviver, Fredrik, Victor precisa estar no controle; James precisa de aceitação; Niklas precisa de algo para chamar se dele; Dorian precisa fazer as pazes com ele mesmo... e eu... Eu preciso de um monte de coisas, mas eu ainda não descobri qual delas eu mais preciso. Mas você... você precisa de amor, e você não pode empurrá-lo para sempre. Não é da sua natureza.

Eu passo para trás e para longe dele e só para olhá-lo por um segundo, estudando seu rosto inflexível, seus profundos olhos azuis, procurando algo, qualquer coisa, mas ele não me dá nada. Estou tão zangada! Eu quero que ele diga alguma coisa. Discuta comigo, diga-me como estou errado. Diga-me que eu sou estúpida e jovem e eu não posso saber como ele está se sentindo ou o que ele está passando.

Absolutamente nada.

Balançando a cabeça com um olhar amargo no meu rosto e rendendo ao meu coração, eu gesticulo com a mão na direção da cela de Dorian.

— Eu acho que vou te ver por perto — eu digo, viro meus calcanhares e saio.

Eu não olho para trás enquanto ando pelo comprimento do longo corredor, mas posso sentir que Fredrik fica lá no mesmo lugar, pelo menos, até que eu vire a esquina no final.

O que está acontecendo conosco? A todos nós.

Niklas está longe de ser encontrado. Eu tentei ligar para ele, saí do prédio e dirigi por Boston, verificando os bares que ele gosta, mas é uma hora antes do amanhecer e eu ainda não encontrei nada. Niklas não quer ser encontrado e eu não posso deixar de me perguntar e me preocupar por quanto tempo. E se ele realmente nunca voltar? E se ele não puder "entender" porque Victor fez o que ele fez, e eles se tornaram inimigos? As coisas não podem ser deixadas desta maneira, elas apenas não podem...

Dorian pode estar morto, ou a caminho. Fredrik é uma causa perdida que eventualmente se autodestruirá. Niklas desapareceu. Pode a nossa organização, nossa família, se recuperar do que Nora Kessler fez, ou o que ela desempenhou em grande parte para fazer?

Estou começando a pensar que não pode.


CapÍtulo VINTE E UM

Izabel

Com minha arma na mão, eu abro a porta para a sala onde Nora estava enjaulado por mais de dois dias.

Ela olha para mim da cadeira.

— Vamos — eu digo a ela com uma inclinação para trás da minha cabeça.

— Para onde? — Ela diz, curiosa, enquanto ela se levanta em suas calças de couro, rosto manchado de sangue e cabelo loiro. Havia colocado também a blusa de seda, apesar dos cortes nas costas.

— Você sabe onde, — eu digo a ela calmamente.

Nora caminha até mim com seus pés descalços — seus saltos altos foram jogados contra o chão — e ela faz uma careta pela dor em suas costas e em qualquer outro que Fredrik a machucou, discutem com sua decisão de se mover.

— Por que você não atira em mim aqui? — Ela pergunta.

Eu não respondo, jogando fora como sem importância, mas a verdade é que antes de eu matá-la há algumas coisas que eu quero dizer a ela, coisas que eu não quero que ninguém ouça.

Caminhamos pelo corredor de forma lenta e deliberada, Nora na minha frente, eu em suas costas com minha arma no meu lado, e a conduzo para fora da parte de trás do prédio, na escuridão e no silêncio.

— De joelhos — eu digo a ela, apontando a arma para o chão ao lado de um lixo.

Sem dúvida, sem argumentos ou com um pingo de medo, ela cai de joelhos, já sabendo que devolverá a mim.

— Eu perguntaria por que você não vai implorar por sua vida — eu digo, apontando a arma na parte de trás da cabeça enquanto eu estou a poucos metros de distância, — mas eu já sei a resposta.

— Qual é a resposta? — Ela pergunta, olhando para a parede de tijolos na frente dela.

— Você nunca iria implorar por sua vida.

Eu enrolo meu dedo indicador em torno do gatilho.

— E você estaria certa — ela confirma.

O oceano e o som distante dos carros apressados sobre a autoestrada são fracos, mas são os únicos sons que são ouvidos. O fedor do deposito de lixo aos pés de Nora, e dos outros cinco que alinham na parte traseira dos edifícios próximos fazem sentir falta de ar. Uma única luz brilha a distância de um poste, radiante na entrada de uma garagem de estacionamento, mas a única luz aqui é da lua, fazendo a figura escura de Nora parecer como uma sombra, com exceção de seu cabelo loiro que cobre suas costas e ombros como uma bagunça desgrenhada de palha branca.

Eu olho para ela por um longo tempo, quase sentindo como se eu sevesse forçá-la a me enfrentar, porque se eu vou executá-la eu deveria ter a coragem de olhá-la nos olhos. Mas eu não tenho. Eu não sou corajosa o suficiente para olhar alguém nos olhos e então tirar a vida deles — não assim. Uma mulher desarmada. De joelhos. Atrás de um edifício. Ao lado de um lixo fedorento. Isso me assombraria para sempre.

O tempo passa e eu não percebo o quanto até Nora começa a virar a cabeça em um ângulo para obter um vislumbre de mim atrás dela.

— Algo me diz que você não tem medo de me matar — ela diz, — então, qual é da demora?

Faço uma pausa e digo:

— Eu queria te perguntar algo primeiro.

Ela riu levemente.

— Ah, claro, — ela diz sarcasticamente com o encolher de ombros, — porque eu estou tão inclinada a responder às suas perguntas antes de explodir meus miolos. — Ela olha para trás uma vez com um sorriso e se vira para a parede novamente. — Vá em frente e pergunte o que quiser, mas você pode esperar apenas um tipo de resposta de mim.

— Que tipo isso seria?

— O tipo verdadeiro — diz ela.

— Esse é o único tipo que eu quero.

- Então, por todos os meios - ela gira a mão com o dedo mindinho cortado no ar ao lado dela — pergunte.

Hesitando por um longo e tenso momento, penso na minha pergunta e no que sua resposta verdadeira poderia significar.

— Você acha que um homem como Victor Faust pode estar realmente apaixonado?

Nora está muito quieta, como se a minha pergunta tivesse tirado o sarcasmo dela e substituído por intriga. Então ela vira a cabeça para o lado novamente, permitindo-me ver o contorno de seu nariz e bochecha na escuridão enluarada que envolve ela.

— Essa é uma pergunta ousada — diz ela. — E uma que eu acho que você já sabe a resposta.

— Talvez sim, mas eu quero conhecer a sua.

— Você quer dizer — diz ela, como se para me corrigir, — você quer saber a razão por trás da minha resposta.

- O que quer que seja... basta me dizer.

Eu sinto ela sorrindo, mas eu não vejo isso em seu rosto, e eu não sinto qualquer rancor ou prazer nos sentimentos dela - apenas honestidade.

Ela olha para a parede na frente dela novamente.

— Qualquer um pode estar apaixonado, Izabel — ela diz com uma voz plana, — e posso dizer pelo olhar nos olhos daquele homem que ele é apaixonado por você — (eu quero estar satisfeito com essa resposta, mas eu não estou porque eu sei que não é tudo) — mas um homem como Victor Faust — continua ela, — não pode ficar apaixonado para sempre. Como o tipo de Fredrik não pode viver sem amor, o tipo de Victor não pode viver com ele. E por mais que ele fique no caminho de seus deveres, e quanto mais humano você o torna, mais perto você o empurra para o seu ponto de ruptura.

— O que é que isso quer dizer? — Minha mão com a arma está tremendo. — Você está dizendo que não importa o quê, ele vai acabar conosco?

— Não — ela diz, — mas se você quer mantê-lo e o que você tem com ele intacto, você precisa perder o que resta da sua vida pessoal, sua humanidade. Seu amor por Dina Gregory. Seu ciúme juvenil. Sua consciência. É o suficiente que ele te ame e tenha que protegê-lo, mas ele não continuará, não pode, protegê-la e levar em consideração tudo o que você arrastar com você do lado de fora.

— O que faz você pensar que ele não pode? — As lágrimas picam a parte de trás dos meus olhos, mas eu não as deixo cair.

Nora vira a cabeça para olhar para mim novamente.

— Porque ele é como eu — diz ela não com malícia, mas com verdade. — E de uma forma ou de outra, ele instintivamente fará o que for preciso para restaurar o equilíbrio da única vida que ele já conheceu.

Eu balanço a cabeça repetidamente, não querendo acreditar nela, querendo ir em frente e atirar nela apenas por dizer essas coisas para mim. Mas eu não posso. Ainda não.

Um nó duro desce pelo centro da minha garganta.

— Mas você amava Claire — eu aponto, me agarrando a qualquer coisa que eu possa para virar a verdade em sua cabeça. — Você teria feito qualquer coisa por ela.

— Sim — ela admite, — eu teria... e é por isso que todos os dias que ela estava viva eu contemplei em matá-la.

Meu coração para de bater, como se ela tivesse apenas puxado o tampão em mim.

— Eu amava tanto a minha irmã — ela começa, — que eu sabia que não podia deixá-la viva porque sempre me preocuparia com ela e estava me deixando fraca.

— Você ia matá-la? — Eu mal posso acreditar, mas mais uma vez eu posso. — Você ia matar a sua própria irmã? Sua irmã inocente que nunca fez nada para você e que não tinha ideia em que você estava envolvida? — Minhas palavras são atadas com descrença e nojo.

— Sim. Se Victor não tivesse matado Claire, eu teria feito isso sozinha, eventualmente, e sim, eu estava vingativa porque ele matou ela, mas ela era minha irmã e ela era minha para matar, não de Victor. — Ela faz uma pausa e diz com sinceridade, — Eu sei que é muito estômago, Izabel... eu sei. Eu sei que é impossível para você entender. Mas eu não sinto emoções ou vejo as coisas da maneira que você faz. Eu nunca vou, porque eu fui criado a partir do momento em que nasci, para ser do jeito que sou, não é diferente de você ser do jeito que é. Todos nós temos nossas falhas "imperdoáveis", eu suponho que isso só passe a ser mais aparente em mim.

Minha boca está incrivelmente seca. Meu coração não está batendo rápido ou lento, mas não está batendo bem, é como se ele não consegue descobrir como. Victor contempla me matar como Nora contemplou matar Claire? Ele poderia realmente se livrar de mim porque eu estou interferindo em sua vida como um assassino? Ele poderia matar Niklas? Uma parte de mim me diz que ela é apenas louca e que Victor pode ser como ela em muitos aspectos, mas não nos modos mais extremos — e eu acredito nisso! Meu coração me diz que ele nunca iria recorrer a isso. Ele me mandou embora uma vez, de volta ao Arizona, e não tinha intenção de me ver nunca mais... mas... mas ele fez. Ele cuidou de mim o tempo todo.

Não! Eu não posso deixá-la chegar a mim assim. Eu não vou deixá-la.

Tremo o meu queixo e recupero meu controle.

Nora provou que suas habilidades de manipulação ultrapassam as minhas ou de alguém que eu já conheci. Ela pode fazer uma pessoa acreditar apenas em qualquer coisa que ela queira, fazer a pessoa com a mente mais forte duvidar de si mesmo, ou a pessoa mais fraca de mente acreditar que ela é algo extraordinário. Eu sei como ela funciona — eu experimentei em primeira mão — e eu não vou cometer esse erro novamente. Talvez as coisas que ela está me dizendo não são uma tática de manipulação em tudo, e eles são verdadeiramente nada mais do que suas opiniões, mas eu não estou tomando quaisquer chances. Vou ouvir meu coração, e meu coração está me dizendo que... apenas algumas das coisas que ela está dizendo são verdadeiras... e a parte sobre perder o que resta da minha vida pessoal, creio que é uma delas.

— Ele não sabe... — eu digo, embora eu não tenho certeza por que eu estou dizendo a ela. Eu olho para a parede acima da sua cabeça; a arma ainda está apontada para ela, mas minha mente está em outro lugar.

— Ele não sabe o que? — Nora pergunta.

Muito tempo passa antes de eu responder.

— ... Ele desligou o áudio da sala quando eu confessei para você — eu digo distante, vendo apenas os tijolos na minha frente. — Ele não sabe que eu tive um bebê com Javier... que eu tenho um filho de sete anos ou filha lá em algum lugar.

— E você acha que é melhor manter assim. — Eu acho que é a maneira dela também de me dizer que ela vai manter meu segredo.

Olho para ela, surpresa por ela não ter se movido, porque no meu breve momento de distração, alguém com habilidade de Nora poderia ter reagido com rapidez o bastante para me derrubar dos pés e tirar a arma de mim.

Eu seguro a arma com mais firmeza, percebendo.

Ela olha para a parede novamente, esperando e pronta para eu matá-la. Sem medos. Sem arrependimentos. Nenhuma tentativa de salvar sua própria vida. Nora Kessler aceitou seu destino.

— Confio no seu julgamento, Izabel — diz. — Quando se trata dos outros, você é uma boa juíza de caráter.

Eu sinto como se estivesse presa dentro da minha própria mente giratória. Olho para o cano da minha arma e as costas da cabeça de Nora.

— Quão importante é a honestidade para você? — Eu pergunto a ela.

— Não tenho nenhuma razão para mentir — diz ela, — a menos que seja meu trabalho mentir, por que você pergunta?

— Então me diga — digo, ignorando seu inquérito, — vire-se e me enfrente para que eu possa ver seus olhos, e me diga por que você quer fazer parte de nossa organização.

Depois de um momento, Nora se vira, ainda de joelhos, para me encarar. Ela olha para mim com curiosidade.

Então ela sorri com descrença e sacode a cabeça.

— Antes que você se faça de idiota, Izabel — diz ela, — se você quer que eu fique por perto para treinar você só porque você quer manter Victor, você pode muito bem me matar.

Empurro a arma para ela ameaçadoramente.

— Apenas responda a pergunta — exijo.

Seus olhos curiosos estudam o meu rosto, minhas reações, e então ela diz:

— Eu entrei em um monte de problemas para me provar a Victor Faust — a todos vocês. Eu poderia ter ferido ou matado as pessoas que você ama, mas eu não fiz e não tive nenhuma intenção em fazê-lo. Eu posso ter forçado a todos vocês para expor pelo menos um dos seus segredos mais obscuros, e eu pode ter feito mais danos do que o pretendido, mas nenhum de vocês pode me culpar pelas coisas que você tem feito, os segredos você manteve um do outro - aqueles são os seus erros, não meus. — Ela faz uma careta e ajusta a sua posição ajoelhada apenas um pouco. — Mas para responder a sua pergunta, eu quero ser parte desta Ordem porque eu perdi o único lugar que eu pertencia quando eu deixei a FC-4. Eu não posso simplesmente sair para o mundo, encontrar um emprego, encontrar amigos, me apaixonar e agir como um ser humano normal. Porque eu não sou. E eu nunca serei. E eu não posso voltar para a Sect porque eles vão me matar no local por deserção. Para não mencionar por matar Solis. — Finalmente, senta-se completamente em seu traseiro, incapaz de permanecer em seus joelhos por mais tempo. — Eu nasci, literalmente, para fazer isso. É tudo que eu sei. E isso é tudo o que tenho a dizer.

Eu acredito nela. Independentemente de quão manipuladora ela seja, os fatos também não mentem.

— Então por que você não se mata? — Eu pergunto. — Se você não tem medo da morte, e você não pode viver de outra maneira, por que não acabar com ela?

— Porque o suicídio é o caminho do covarde.

Eu aceno com a cabeça e deixo isso assim.

— Mas o que o impede de tentar matar um de nós? — Inclino a cabeça pensativamente, olhando para ela com desafio. — Já que você parece não ter consciência.

— Eu sou toda negócios, Izabel, — ela responde imediatamente. — E eu sou leal. Está no meu sangue fazer o que me disseram os meus superiores. Eu faço isso sem questionar ou argumentar, e faço-o bem. E se eu quisesse te matar, eu poderia ter isso no segundo em que você me trouxe aqui. Eu poderia ter tomado essa arma de você momentos atrás, quando você estava fora na terra pensando nos segredos de vocês e decidir não contar Victor sobre isso, como se fosse fazê-lo. Provavelmente esta noite está prevendo dormir com ele. — (Como ela sabe essas coisas?) — Se eu quisesse matar qualquer um de vocês, eu não teria passado seis anos planejando esta noite. Eu teria matado você todas as vezes que eu segui você.

— Mas, e quanto a Claire? — Eu digo, ainda precisando de mais. — Ela comprometeu você. Você a amava. Você ia matá-la. E você deixou a única casa que você já conheceu, arriscou tudo, por causa dela. O que quer dizer que não vai acontecer de novo?

— Porque as pessoas como eu só amam uma vez — ela responde sem sequer ter que pensar sobre isso. — Para nós, a experiência é como uma criança tocando uma panela quente.

Eu não digo nada por um tempo.

— Mas quando você está calma e não agi por raiva ou vingança, você sabe o que está fazendo. E confio em você cem por cento.

— Você disse que me treinaria.

Nora acena com a cabeça.

— Eu fiz.

— Então por que você disse...

— Eu vou treiná-lo se a sua necessidade de aprender não é ditada pelo seu amor de um homem — ela corta. — Isso não é diferente de uma menina engravidar apenas para manter seu namorado, ou um homem casando-se com uma mulher que ele não ama porque a engravidou, nunca funciona. E não vou perder meu tempo com tolices.

— Victor não é a única razão pela qual quero aprender — digo. — Eu não vou mentir e dizer que ele não é parte dela, mas ele não é tudo isso. Eu sou diferente de você em quase todos os sentidos, — continuo — mas a única maneira que nós somos iguais é que eu sei que esta é a única vida para mim. Já fui por esse caminho normal e eu não acho que posso fazer isso de novamente. Esta é a minha vida, e eu só quero aprender para me manter viva nele por tanto tempo quanto que eu puder. Victor nunca teve muito tempo para me treinar como eu preciso ser treinada. Ou ele me enviou para outra pessoa — eu silenciosamente me lembro de Spencer e Jacquelyn no estúdio Krav Maga — ou começou a ficar tranquilo depois de um tempo, porque ele não queria me machucar.

— Eu nunca iria ser fácil com você. — Nora sorri.

— Eu sei.

Então eu digo:

— Mas lutar não é a única coisa que quero aprender — quero aprender tudo o que você pode me ensinar: técnicas de manipulação, controle da dor, tudo...

Nora levanta uma sobrancelha.

— Você nunca será capaz de aprender todas essas coisas — diz ela, — a menos que você queira perder a sua capacidade de amar alguém e ser capaz de matá-los em vez disso, mas vou ensinar-lhe o que eu puder.

— Mais uma pergunta.

— Hmmm?

— Apenas por curiosidade — começo, — quando confessei a você, você parecia... simpática. Até mesmo aos sentimentos de Niklas. Se você é tão... sem emoção... por que você parece se importar? Por que zombar do seu pai e seu dedo desencadeia tanta raiva que desencadeiam suas emoções tão controladas? E ausente.

— Eu ainda sou humana — ela diz simplesmente.

Eu penso nisso muito e muito. Sobre tudo.

E então dou a ela a minha arma.

Nora olha para ela brevemente e depois a leva para seus dedos manchados de sangue.

— Então, bem-vindo a bordo — eu digo.

E o fato de que ela não atira em mim nas costas ou foge para as ruas de Boston, quando eu a deixo sentada lá e volto para dentro, mais prova que ela está dizendo a verdade que eu já sabia.


CapÍtulo VINTE E DOIS

Izabel

Quatro dias depois...

Gostaria de poder dizer que as coisas estão voltando ao normal por aqui, mas isso não poderia estar mais longe da verdade. Niklas ainda se foi e nenhum de nós o viu ou ouviu falar dele — ele poderia estar em outro país, ou morando na parte de trás de um bar em algum lugar próximo, e qualquer um seria crível. Seus telefones celulares nem tocam mais: eles vão direto para o correio de voz ou me dizem que o usuário não tem uma caixa de correio configurada para deixar uma mensagem. Eu parei de ligar para ele dois dias atrás. Quando ele quiser ser encontrado, ele nos avisará. E eu vou me preocupar com o resultado disso até que isso aconteça.

Dorian, depois que Fredrik o interrogou por muitas longas horas, estou feliz em dizer que ainda está vivo. Ele ainda está aprisionado na cela C e provavelmente estará lá por um tempo até que Victor descubra o que fazer com ele. Mas de acordo com Fredrik, tudo o que Dorian disse a Victor parece ser verdade, e ele não escondeu nada mais do que sabemos. Mas, a coisa em Victor mantendo vivo, eu acredito, tem principalmente a ver com a Inteligência dos EUA e se eles vão retaliar em reação à morte de Dorian. Mas Victor disse que ele parece o tipo de contratante privado que Dorian é, se ele já fosse morto ou comprometido, os Estados Unidos não afirmariam que sabia algo sobre ele.

É que a inteligência dos Estados Unidos sabe sobre nós impossibilitando que Victor tome uma decisão de qualquer maneira. Dorian admitiu fazer o perfil de cada um de nós e deu essa informação a seus superiores, empregadores, o que quer que eles sejam chamados — eu estou no escuro quando se trata destas coisas e Victor não fala muito sobre isso... ou talvez ele tenha dito e eu acabei por estar muito envolvida no meu treino com Nora Kessler para notar.

Comecei no dia seguinte depois da noite em que a deixei entrar. E já sinto que tenho que cuidar das minhas costas a cada momento do cada dia — não porque ela não possa ser confiada, mas porque, como parte de seu treinamento, ela me ataca do nada. Não existe tal coisa como um descanso. A qualquer momento Nora poderia estar me testando, mentalmente ou fisicamente, ou de qualquer forma que ela achar conveniente. É o mesmo tipo de treinamento que comecei com Victor há mais de um ano, mas muito mais intenso. Ela fode com minha cabeça tantas vezes que eu não posso dizer a diferença quando ela está mentindo no meu rosto ou me dizendo a verdade — eu deveria ser capaz de descobrir isso. Aprender a confiar inteiramente nos meus instintos e ser capaz de reagir a qualquer situação em conformidade, sem nunca pensar nisso. — Se você tem que parar e pensar nisso, você já fodeu — disse ela durante uma das raras vezes em que me deu um conselho. E então: — Não é a mesma coisa que "pensar antes de reagir" trata-se de mudar a maneira de pensar e reagir naturalmente.

Eu nunca esperava que qualquer treinamento fosse assim. E está apenas começando.

Hoje Nora juntou-se à mesa para o seu primeiro encontro.

Victor não aprovou minha decisão de deixá-la se juntar a nós quando eu lhe disse o que eu tinha feito. Não de primeira de qualquer maneira. Eu tive que lembrá-lo que ele disse que confiava em mim, e embora eu pense no fundo ele não precisasse disso, eu sei que ele menos esperava que eu a deixasse viver e tudo veio como um choque para ele. Para mim também. Eu tinha toda a intenção de eliminar Nora naquela noite — eliminando; talvez eu esteja começando a me tornar mais como Victor — mas no último minuto, eu fui com meu istinto em vez do meu ódio por ela.

Entrei na sala de reuniões diante dos rostos de Victor, James e Fredrik. Nora estará atrasada se ela não estiver aqui em cinco minutos. Eu faço o meu caminho para a minha cadeira habitual perto de Victor, onde me sento e tento parecer confiante — sei que Nora não estiver de acordo com as expectativas de todos, isso estará sobre a minha cabeça, porque eu fui a única que a deixou se juntar a nós. Estar atrasada na sua primeira reunião não é uma boa maneira de começar.

A sala está repleta de silêncio. Quase nenhum movimento agita o ar suave que escorre das aberturas no teto. James olha para a tela do laptop. Fredrik senta-se solidamente, como um gigante deslumbrante melancólico com as duas mãos apoiadas na mesa. Victor se senta com as costas presas contra a cadeira e as mãos no colo — sempre o poderoso no quarto, e qualquer um saberia apenas olhando para ele, mesmo que nunca o tivessem visto antes. Eu sinto seus olhos em mim — embora não os de Fredrik — mas não consigo olhar para nenhum deles.

Finalmente, o som de saltos tocando contra o chão do outro lado da porta ecoa pelo corredor. A porta se abre e Nora, com suas longas pernas e com belos cabelos louros, entra na sala de reuniões, fechando a porta atrás dela. Ela está vestida, de todas as coisas, um terno de mulheres negras e altos saltos pretos. Uma camisa com um elegante babado que puxa sob o casaco do terno e fica perfeitamente sobre seu peito, puxado em torno de seu pescoço de uma forma delicada. Delicado — uma palavra que eu nunca teria pensado associar com os gostos de Nora Kessler.

— Chagando perto da hora — eu falo.

Nora senta-se ao lado de James, com as costas retas e refinadas.

— Sim, — ela diz com um sorriso de desculpas e então alcança o bolso da jaqueta e retira um telefone celular. — Mas eu encontrei Niklas.

Victor e eu olhamos um para o outro enquanto Nora desliza o celular sobre a mesa e ao alcance de Victor. Ele pega e olha para a tela, batendo uma vez com a ponta do dedo enquanto ela começa a se desvanecer em preto. Eu me inclino mais perto de Victor para obter uma visão melhor.

— Em Barlow, — Nora anuncia. — Ele parece estar gastando muito do seu tempo lá, bebendo — eu olho para a tela para ver várias fotos de Niklas sentado em um bar escuro iluminado com um tiro de uísque no bar à sua frente — uma garota diferente todas as noites nas últimas noites. Ele está ficando no hotel ao lado do bar.

— Isso é apenas trinta minutos daqui — eu digo, olhando para Victor ansiosamente.

— Bebendo e mulheres — James fala do outro lado da mesa. — Parece que ele não mudou, realmente. Acho que é seguro dizer que ele está bem.

Franzem o cenho para James.

— Ele não está tão bem — eu digo.

— Mas ele estará — diz Victor.

Ele desliza o telefone de volta para Nora. Ela o deixa sobre a mesa na frente dela.

Fredrik não diz nada.

Eu deslizo para trás em minha cadeira mais confortavelmente e viro a Victor.

— Você quer que eu vá falar com ele? — Eu pergunto. — Tentar trazê-lo de volta para cá para que você possa falar com ele?

Victor sacode a cabeça.

— Vamos discutir Niklas mais tarde — diz ele. — Primeiro, eu tenho algo mais que precisa ser tratado.

Victor e Nora trocam um olhar, dando a impressão de que são os únicos na mesa que já falaram sobre isso, seja lá o que for. Eu me sinto incrivelmente incômoda de repente, mas curiosa e ansiosa, também.

— O que é? — Eu pergunto.

Victor respira fundo e olha para todos nós.

— Haverá uma missão importante no futuro próximo — ele diz enigmaticamente e seus olhos caem sobre mim, — não no próximo ano, mas porque levará, pelo menos, esse tempo para se preparar para isso, ou melhor, para preparar Nora - Ele olha para ela por um instante.

— OK — eu digo, desconfiada, — que tipo de missão?

Ele fica quieto por um momento e depois diz:

— Preciso que você volte para o México.

Confusa, eu respondo:

— Por que o México? — Mas o que é tão confuso é o quão obscuro ele está sendo. — Não tenho problema em ir lá, Victor. Você me dá uma missão e eu vou executá-la. O México não me assusta. Já fomos lá uma vez. Pegamos dois dos irmãos de Javier e libertamos algumas das meninas deixadas no complexo. A missão não resultou como eu esperava e muitas das garotas com quem eu vivi quando eu era prisioneira lá, já haviam sido vendidas ou mortas quando chegamos.

Ele olha para longe dos meus olhos momentaneamente.

— Victor, o que é? Apenas diga.

Mais uma vez, sinto todos os olhos em mim, mesmo Fredrik desta vez, mas eu não olho para ninguém além de Victor.

— Esta missão vai exigir algo mais do que matar alguém e voltar — ele começa. — Nos próximos meses você estará treinando Nora para isso.

Minhas sobrancelhas se dobram rigidamente.

— Eu treinando ela? — Estou começando a entender, o que será toda esta missão , mas deixei Victor preencher as lacunas.

— Você estava por dentro, — ele diz para mim, — e você sabe como as coisas funcionam. Tudo. Desde a compra e venda de drogas, armas e meninas, até o modo como as meninas foram tratadas, até como elas foram mortas. Nora certamente pode lidar com qualquer tipo de missão dada a ela, mas mesmo ela precisa ser treinada para que ela saiba exatamente com o que ela está lidando.

Olho bem para Nora, que fica quieta, mas com confiança.

— Espere um segundo, — Eu o cortei — então você está dizendo que quer que eu a treine para ser uma escrava sexual? — De alguma forma eu não pode imaginar essa imagem na minha cabeça, não importa o quanto eu tente.

O rosto de James se ilumina com arrepiante prazer.

— Não necessariamente, — Victor diz. — Eu falei com ela longamente sobre isso e nós dois concordamos que a melhor maneira de abordar esse aspecto particular é para ela se tornar uma das meninas, não apenas desempenhar o papel.

— É melhor se tornar uma delas — diz Nora, — se eu conseguir ser uma delas, não que me ensine como ser uma delas.

Ficando mais confusa, eu olho entre Victor e Nora, procurando respostas.

— Eu sou capaz de assumir qualquer papel, até mesmo uma escrava do sexo, mas você precisa me dar dicas, me dizer sobre os bastidores, sobre como ser mais consciente, como não me matem.

Eu balanço a cabeça, já não gosto dessa ideia.

— Victor, imagino que as coisas não são mais as mesmas. Javier está morto. Izel está morta. Seus irmãos estão mortos.

— Elas podem estar — diz ele, — mas isso não significa que as coisas mudaram muito. Javier tinha seis irmãos que conhecemos. Dois deles ainda estão executando suas operações. O composto ainda está no mesmo lugar. Meninas, drogas e armas ainda são compradas e vendidas como se nada tivesse acontecido. Dentro de dois meses de nossa última missão lá, eles estavam funcionando novamente.

Eu já sabia a maior parte dessa informação, mas vejo por que agora ele tinha que repetir.

Balançando a cabeça com um olhar caído, inclino-me para a frente com os braços sobre a mesa.

— OK mas porquê? Por que voltar? Não me interpretem mal, não tenho nenhum problema em matar aqueles bastardos e libertar mais das meninas, mas...

— Essa não é a missão, Izabel — diz Victor.

Eu pisco, um pouco atordoada.

Nora e Victor trocam outro olhar de conhecimento.

Então Victor diz:

— Nora me disse alguma coisa, na última noite em que ela foi detida naquele quarto, antes dela se juntar a nós. Algo sobre você que eu queria ter mais certeza antes de eu dizer qualquer coisa.

Eu apenas olho para ele, sentindo a dor da traição, mesmo sabendo que ele não me traiu em tudo.

Victor continua:

— Além disso, depois de falar com Dorian quando ele foi detido pela primeira vez, a história de Nora parecia ter mais verdade. — Depois de uma pausa, ele diz: — A missão no México será descobrir quem é Vonnegut. Você pode ser a única pessoa entre nós que já viu o verdadeiro Vonnegut.

— O quê? — Eu não posso acreditar no que acabara de ouvir.

Ele balança a cabeça, e depois começa a falar, mas eu o interrompo.

— Você viu ele — eu aponto. — Do que está falando, Victor?

— O homem que encontrei em raras ocasiões, quando eu fazia parte da Ordem — ele começa, — onde eu era valorizado como um operário, tenho razões para acreditar que não era o verdadeiro Vonnegut. Ele era um chamariz. A verdade é que ninguém realmente sabe quem é o verdadeiro homem por trás da organização de assassinato mais antiga e maior ainda em funcionamento hoje. Nem mesmo a CIA ou o FBI — ninguém. Apenas quando eles pensam que têm uma identidade, descobrem apenas estavam correndo em círculos.

Victor me enche de tudo o que Dorian lhe contou, dos suspeitos de Vonnegut de vender armas a terroristas e de que seu negócio é muito mais do que matar por contrato. Ele continua a me falar sobre as coisas Nora lhe disse em segredo, e sobre o dispositivo de rastreamento que Victor me cortou quando nós estávamos nos escondendo.

— Niklas e eu sabíamos — diz Victor, — na noite em que tirei esse aparelho de você, que algo de tão alta tecnologia tinha que vir de uma fonte externa, que não havia ninguém como Javier Ruiz que fosse capaz de produzir ele mesmo.

— Enquanto eu estava espionando todos vocês, — Nora interrompe, — e mergulhando em informações da Ordem, eu descobri que Vonnegut estava lidando com meninas, também, e estava vendendo dispositivos de rastreamento de alta tecnologia como o que eles encontraram em você.

Victor acrescenta:

— Acredito que o dispositivo que foi colocado em você veio de Vonnegut. Acho que Vonnegut estava vendendo para Javier, e você estava lá no interior, mais perto de Vonnegut do que quase ninguém já esteve.

— Mas o que faz pensar que eu sei como ele se parece? — Eu atiro de volta, ficando mais oprimida por esta informação surpreendente.

— Os homens ricos que você viu quando Javier estava usando você como um troféu de braço — Victor diz, — um deles eu acredito que é o Vonnegut real.

Imediatamente, começo a pensar em todos os seus rostos, cada um movendo-se rapidamente através da minha mente como um borrão.

— Ele não pode ficar escondido para sempre — Victor continua. — Alguém o viu. Ele pode ser um fantasma, mas ainda é humano e os seres humanos por natureza precisam se associar a outros seres humanos, estar na presença de outras pessoas — acho que ele era um desses homens ricos, Izabel. E eu acho que Nora indo para esta missão será como nós finalmente o encontraremos, destronaremos e mataremos.

Ele faz uma pausa e acrescenta com profundidade,

— E então eu assumirei A Ordem, uma vez que ele está morto.

Não respondo ao seu último comentário, mas, pela primeira vez desde que entrei na sala, os olhos de Fredrik se fecham nos meus.

Esta é a primeira vez que eu ouvi Victor dizer algo assim. Assumir a ordem, a ordem... é uma conversa para outro dia. Neste momento meu cérebro está sobrecarregado com... tudo.

Estou em silêncio por um longo tempo, deixando todo o resto que ele me disse para assimilar. Ainda parece ser haver muito que foi deixado sem resposta, mas me leva vários minutos para descobrir quais são essas coisas.

— Mas por que mandar Nora? — Eu digo, olhando para ela por apenas um segundo. — Quero dizer... bem, acho que não posso ser a única a voltar porque muitos já sabem como eu pareço...

— Eu não deixaria você voltar de qualquer maneira — Victor me corta. — Você vai para o México e estará em uma cidade turística, mas Nora estará fazendo o trabalho interno.

Eu franzi o cenho.

— Por quê? O que quer dizer que você não vai me deixar voltar? — Há ácido na minha voz.

Victor suspira e deixa cair as mãos no colo.

— Você não acha que eu sou capaz de volta ali, — Eu acuso. — Você acha que eu sou como todo mundo; isso porque eu passei por uma experiência traumática e que eu nunca seria capaz de me colocar nisso de novo, que eu nunca seria capaz de lidar com isso. Bem, você está errado — eu lanço uma mão no ar — Eu sou o oposto de todo mundo. Eu não tenho medo disso. De qualquer um deles. Eu sou mais forte agora do que nunca, e se alguém pode fazer este trabalho com perfeição, sou eu. Não Nora, mas eu.

— Não se trata de se provar, Izabel — diz Nora calmamente e gentilmente.

Eu olho para ela.

— Ninguém pediu sua opinião...

— Não, mas eu não sou o tipo que dar — ela devolve - Ah, mais aí estar a verdadeira Nora Kessler: audaz, loquaz e irritante.

James se esconde na cadeira um pouco para colocar alguma distância entre ele e Nora, provavelmente esperando que eu me jogue na mesa em qualquer segundo agora.

O deixo passar, inalo uma respiração longa, profunda e volto para olhar para Victor.

— Como você mesmo disse — Victor diz, — você não pode ser a única a entrar porque você não pode arriscar ser vista.

— Talvez haja uma maneira de contornar isso — eu digo. — Poderíamos...

— Izabel — Victor interrompe com um tom sombrio e firme, — você não vai voltar lá... você não pode lutar contra todos os homens naquele complexo que tentariam ter seu caminho com você.

— Ah, então é isso que se trata, — eu digo friamente. — Você acha que eu não posso evitar que eu seja estuprada — eu o olho diretamente nos olhos, sem piscar — confie em mim, eu poderia...

— Nora estará indo para a missão — diz ele, como se isso fosse o fim.

Esfregando os dentes, respiro fundo e me levanto da cadeira.

— Ela não pode entrar lá com fios, — eu assinalo. — Ela não pode levar uma câmera. Ela não terá acesso a um telefone. Eu não duvido de suas habilidades, mas se ela vai ser uma das garotas e torná-la crível, ela não pode se esgueirar para entrar em contato conosco — eles saberiam em poucos minutos que ela está desaparecida. — Eu olho para ela uma vez e digo: — Como você vai ser a única a descobrir quem Vonnegut é se eu sou a única que supostamente o viu? — Eu cruzo os braços e olho atentamente, os olhos correndo entre Nora e Victor.

— Vamos descobrir isso — diz Victor. — Temos vários meses para chegar a um plano.

Eu balanço a cabeça, minha boca se levantando de um lado.

— Victor, eu não sou estúpida para acreditar que você não conhece uma maneira certa de descobrir quem é Vonnegut.

Ele olha para mim, esperando.

— Através de mim — continuo. — No segundo Vonnegut me vê, eu saberei que é ele porque a compreensão de quem o está olhando irá piscar em seus olhos naquele instante. E eu iria vê-lo. Vonnegut está bem consciente de como eu pareço.

— Sim — Victor diz, — essa é a melhor maneira de descobrir quem ele é, mas vamos encontrar outro caminho. Você não vai entrar nesse complexo.

— É o único caminho.

— Outros viram você — ele me lembra, ficando irritado.

— Mas Javier e Izel estão mortos. Luis e Diego estão mortos e eles são os únicos outros irmãos de Javier que eu vi. Quem está correndo o lugar agora duvido saibam quem eu sou.

— Não podemos correr esse risco.

— Concordo — diz James. — É muito perigoso.

— Victor...

— Izabel! — Ele levanta as costas da cadeira — Eu não vou deixar você voltar lá! — ele respira fundo e acalma-se — Eu não estou arriscando você naquele lugar, Nora sim - Suas palavras cruéis não a perturbam nem um pouco; Ela não se importa com essas coisas. — Você quer fazer missões sozinha e isso já é risco suficiente, não importa o quão bom você seja, mas enviá-la em um lugar onde as pessoas podem se lembrar de você e quem vai matar você no local no segundo que eles percebam quem você é, não é um risco que estou disposto a correr.

Olho para a parede, desapontada e zangada, mas tocada por seus sentimentos e não posso simplesmente descartá-los como se eles não fossem nada.

— Me desculpe, — eu digo suavemente e Victor estende a mão para mim. Ele nunca mostra carinho comigo durante as reuniões, então o gesto me deixa surpresa.

Eu ando e pego sua mão. Ele me puxa para ficar ao lado dele. Ele beija o topo dos meus dedos.

— Vamos descobrir um caminho — ele diz gentilmente, — mas Nora será a de dentro.

Eu aceno com relutância.

Quanto tempo você vai se permitir cortar os cantos por mim, Victor?

— Vou ensinar a Nora tudo o que ela precisa saber — eu digo olhando para ela.

Então eu tomo meu assento outra vez.

— Você é a chave para fazer isso funcionar — diz Victor.

Quanto tempo você vai tomar a rota alternativa apenas para me manter fora de perigo?

— Vou fazer o que eu tenho que fazer para ajudar a derrubar este tirano — eu acrescento.

Quão mais…?

E farei o que Victor me pedir, mas uma grande parte de mim quer ser a do interior. Não porque eu sinto a necessidade de provar a mim mesma. Não porque ele está deixando Nora ir em vez de mim e eu sinto alguma sensação de ciúme — isso não tem nada a ver com ciúme, ou determinação imprudente; eu quero que seja eu porque eu passei nove anos da minha vida no México entre esses homens e sinto que, se qualquer missão deveria ser minha, é esta.

— Entretanto — Victor anuncia, — com a ausência de Niklas, e considerando as mudanças feitas nesta Ordem, Nora será a sua nova parceira.

Eu aceno com aceitação.

— E continuarei treinando você enquanto trabalho com você — diz Nora.

— Vocês duas irão em várias missões juntas antes da missão no México — diz Victor. — Vocês irão se concentrar em suas atuais missões por enquanto, mas estejam se preparando para o México da mesma forma.

O silêncio caí sobre o quarto quando cada um de nós pensar sobre o caminho a seguir.

— E Niklas? — Pergunto, decidido a não deixá-lo ser esquecido. — Estamos planejando todas essas missões sem ele?

— Por enquanto, sim — diz Victor. — Até que as coisas entre meu irmão e eu tenham sido resolvidas, é melhor assumir que ele não fará parte de nenhuma missão.

Concordo com a cabeça.

Nós cinco passamos os próximos trinta minutos discutindo os detalhes das nossas futuras missões, incluindo começar cedo no México. É muito estranho sentar nesta mesa sem Dorian e Niklas. E com Nora, em vez disso. Sinto falta do sarcasmo de Dorian e comentários ridículos sobre as mulheres que deviam me esfregar do jeito errado, mas nunca fazem. E eu sinto falta das minhas lutas com Niklas e seus olhares frios e o fedor de seus cigarros persistentes em sua jaqueta.

Finalmente, quando a reunião chega ao fim, Fredrik fica de pé da mesa.

Todos nós olhamos para ele.

— A menos que haja qualquer outra coisa, — ele diz, olhando apenas para Victor, — eu tenho um lugar que eu preciso estar.

— E o que você poderia, eventualmente, ter que fazer? — Nora pergunta, sua voz cheia de provocação, seus lábios vermelhos escuros espalhando-se num sorriso. — Um homem tão frio como você não pode ter qualquer tipo de vida fora desta Ordem. — Ela sorri docemente, perversamente.

Fredrik e Nora raramente falam um com o outro, mas de vez em quando, sua personalidade burlona escapa dela. Ontem ela se colocou como se ela não pudesse quebrar e como ela é agora a segunda mulher a vencê-lo. Ela está tentando consegui uma reação dele, eu realmente não tenho ideia porque ela quer uma, mas Fredrik está, como sempre, não se incomodando com suas provocações.

Até agora.

Ele tira a pasta da mesa.

— Almoço — ele diz simplesmente.

Os olhos castanhos de Nora se iluminam com sugestão.

— Oh? E vai comer sozinho neste almoço, ou gostaria de companhia?

Fredrik anda pelo comprimento da mesa. Ele nunca olha para ela, mas então ele nunca realmente olha para qualquer um de nós.

— Eu prefiro jantar sozinho — diz ele.

Nora apenas balança a cabeça, sorrindo. Nada parece incomodá-la, e admiro isso nela. Silenciosamente, é claro; eu nunca a deixarei saber disso.

Fredrik olha para Victor, esperando.

— Eu vou estar em contato — Victor diz a ele. — Se as coisas forem como planejado, você estará interrogando um homem até o fim da semana.

Fredrik acena, coloca a mão na porta e a empurra.

— Mas não deixe o país — Victor diz antes de Fredrik sair. — Eu acho que é seguro dizer que seu tempo sozinho acabou.

— Claro — diz Fredrik. — Eu estarei esperando por sua ligação. — A porta se fecha ligeiramente atrás dele quando ele sai do quarto.

Victor volta sua atenção para Nora.

— E que outras informações você tem para mim do FC-4? — Ele pergunta.

Nora escova seu cabelo loiro sedoso longe de seus ombros e dobra suas mãos juntos na mesa na frente dela; suas curtas unhas estão pintadas de vermelho para combinar com seu batom. James olha para ela brevemente, da mesma forma que faz a cada poucos segundos, mas tenta não torná-lo tão óbvio.

— Também no final da semana — ela diz, — vou ter tudo o que sei sobre eles à sua disposição.

Victor acena com a cabeça.

Então ele diz:

— Você tem um longo caminho a percorrer antes mesmo que eu começar a confiar em você; um caminho difícil pela frente.

— Sim, estou bem ciente — diz ela em troca. — Se você já confiasse em mim, eu não teria o respeito que eu tenho por você.

Nora olha para mim.

— Mas um pouco de confiança — diz ela, indicando o tipo que eu tenho por ela, — é muito apreciado.

Eu aceno, aceitando seus agradecimentos.

Victor olha entre nós, mas não diz mais nada. Nora é o meu projeto, a minha responsabilidade, meu fardo para carregar. Ele aceita isso e não me privará dela e do que eu preciso dela mesmo que ele temesse que ela seja um erro, mas eu sei que ele vai estar observando cada movimento dela.

— Bem, pela minha parte — James fala, — estou feliz por ter você a bordo. — Ele sorri estupidamente.

Nora lhe dá um olhar sensual, fazendo com que seu grande rosto redondo fique vermelho.

— Não sei como Niklas vai se sentir sobre isso — James acrescenta, — ou até mesmo Dorian, se e... ele alguma vez sai daquela cela, é claro — ele olha para Victor — mas eu suponho que o tempo dirá.

Sim, o tempo tende a conter as respostas para tudo. E, como as coisas estão agora, como as coisas tomaram um rumo tão drástico em nossa Ordem, estou ansiosa e com medo de ver o que o tempo revelará. Acho que a única coisa que posso fazer é esperar. Esperar que Niklas volte e segure a minha respiração como tudo o que está destinado a acontecer entre ele e Victor, aconteça. Espere pelo dia em que o destino de Dorian estará finalmente decidido. Esperar pelo momento que se, ou quando, Victor descobrir sobre a criança que eu tive com Javier, e abrace as consequências da verdade. Esperar para ver se meu julgamento está, de fato, totalmente errado e Nora acaba me fazendo uma tola, afinal.

Esperar. O tempo é uma cadela cruel.


Capítulo vinte e três

Fredrik

HÁ CERCA DE OITO ANOS...


Serafina. Meu anjo com asas pretas. Ela sorriu; um brilho carmesim nos lábios, emoldurado por cabelos tão negros como a minha alma, os olhos tão profundos como o poço sem fundo que é o meu coração. Ela se deitou perto do corpo quente, seus dedos longos e brancos enrolados no sedoso cabelo loiro da menina. Seus seios pródigos e cheios, pressionados contra os menores da menina. Ambos estavam nus, enrolados um ao lado do outro. Eles estavam esperando por mim.

— É muito simples — Seraphina disse e ela arrastou a ponta de sua língua através do pescoço da menina, olhando através do quarto para mim com aquelas piscinas escuras de pecado e salvação. — Nós fazemos tudo juntos, meu amor — sua língua traçou o lábio inferior da garota e a menina devolveu o gesto — meu diabo, meu príncipe negro.

Eu pisei para frente, quebrando os botões da minha camisa.

Seraphina prosseguiu:

— Nós buscamos vingança juntos. Nós fodemos, nós amamos, nós condenamos e destruímos juntos até o dia em que morreremos juntos.

Ela estendeu a mão delicada, mas mortal e gesticulou para mim, curvando seus dedos em direção à sua palma, lentamente e sugestivamente.

— Venha cá e prove-a — disse ela, e então deixou cair a mão entre as coxas da garota. — Você tem que prová-la.

A garota gemeu com o toque de Seraphina, sua cabeça loira pressionando o ombro da minha esposa, seus peitos pequenos e macios empurrando para a vista da luz fraca no pequeno qiarto.

Fiquei de pé ao pé da cama, observando-os, como os dedos de Seraphina se moviam com tanta precisão artística, como as pernas da menina se separaram para ela, expondo seu lugar mais secreto para mim e para o ar fresco da noite.

— Eu disse para você não trazê-las aqui. — Eu finalmente digo enquanto escorregava meu cinto dos laços da minha calça preta, o som do couro se movendo contra a tela em um movimento lento e deliberado. — Nunca sem minha permissão. E nunca aqui. — Eu estava furioso, mas mantive-o contido.

Os lábios vermelhos escuros de Seraphina se espalharam em um delicioso sorriso. A moça acariciou os seios de Seraphina, colocou a cabeça no seu pescoço; ela tentou tocar embaixo Seraphina, mas não foi permitida, então ela puxou a mão dela, arrastando as pontas dos seus dedos em seu estômago.

— Oh, Fredrik — disse Seraphina, levantando as costas da cama - você não pode dizer isso o tempo todo. Estou tentando te ajudar. Isso é apenas parte do processo.

— Mas, da mesma forma — disse eu — disse-lhe para não trazê-las para nossa casa.

Seraphina e eu compartilhamos um olhar, seu sorriso escurecendo com desapontamento; meu rosto sem emoção não tinha mudado. Mas minha esposa nunca desistir tão facilmente. Ela nunca fazia o que eu dizia com um estalar de dois dedos, porque ela era ousada e desafiante e eu adorava isso sobre ela.

Ela se levantou da cama.

A menina ficou alerta e sentou-se quando notou a tensão crescente na sala.

— Quero que você a foda — disse Seraphina. — Eu a trouxe aqui para você. Olhe para ela — ela acenou para a menina, que era muito bonita com lábios cheios e grandes olhos castanhos e quadris curvilíneos — Eu achei que você ia gostar dela. Eu gosto dela.

A menina olhou para trás e para frente entre nós nervosamente.

— Mas esta é a nossa casa, Seraphina. — Eu me aproximei de sua forma alta e nua. — Você sabe que eu não gosto de fodê-los aqui, onde dormimos, onde eu te fodo.

— Eu... acho que vou embora agora — disse a moça, levantando-se da cama.

— Não! — Seraphina estalou, apontando para ela. — Sente-se, caralho. — Ela olhou para mim, fulminando-me, rangendo os dentes. Seus olhos castanhos brilharam em seu rosto oval irritado; O preto de seu cabelo curto brilhando contra o branco cremoso de suas bochechas.

A menina estava com muito medo de se mover. Ela permaneceu na cama, puxando os joelhos para ela e cobrindo seus seios com seus longos cabelos.

— Você pode ir — eu disse a menina, empurrando minha cabeça para trás, indicando a porta aberta atrás de mim.

— Eu disse que ela fodidamente fica, Fredrik!

Seraphina começou a se esgueirar através da cama para a garota, mas eu a agarrei por trás, segurando-a firmemente em torno de sua cintura. A moça levantou-se rapidamente com os olhos arregalados e agarrou suas roupas do chão.

Seraphina lutou comigo a cada passo, a cada momento, até que a menina saiu correndo e ouvi a porta da frente de nossa pequena casa fechada atrás dela.

— Desgraçado!

Arrancando as mãos de Seraphina atrás de suas costas, eu a empurrei para a frente na cama.

— Por que você faz isso, Seraphina? — Eu perguntei a ela, minha voz sufocada de raiva e desespero. Ela lutou contra a cama, mas eu a segurei ainda, pisando entre suas pernas e separando-as com a minha. — É a minha única regra e você a quebrou. Por quê?

— Porque é uma regra fodidamente estúpida! — Ela gritou, uma face pressionada contra o colchão.

Inclinando-me sobre seu corpo com os pulsos ainda presos atrás dela em uma das minhas mãos, eu sussurrei em seu ouvido:

— É estúpido que eu te ame, Seraphina? — Meu aperto aperta em torno de seus pulsos — É estúpido que eu nunca queira compartilhar você ou eu com alguém em nossa casa?

— Que diferença faz? — Perguntou ela em uma voz mais calma, mas amarga. — Não importa onde nós fazemos.

— É importante para mim. — Eu beijei o lado de sua boca.

— Por quê?

— Porque deve haver limites — eu disse e me levantei novamente. — Nós não vamos foder, matar ou destruir qualquer pessoa em nossa casa. Você entende?

Ela balançou a cabeça ainda pressionada contra o colchão.

— Agora você vai ficar quieta ou eu vou ter que amarrar você?

— Vou ficar quieta — disse ela.

Eu soltei seus pulsos e ela moveu seus braços para fora e descansou-os sobre o colchão acima de sua cabeça.

— E por que você vai ficar quieta? — Perguntei quando peguei firmemente o cinto em minha mão.

— Porque eu mereço — ela disse, da mesma forma que ela havia dito as vezes antes que eu tinha que puni-la.

Agachei-me entre as pernas e, com ambas as mãos, separei um pouco mais para a expô-la a mim.

— Eu não sei o que vou fazer com você — eu disse e beijei a carne quente de seu traseiro.

— Você não sabe o que você faria sem mim — disse ela em troca.

Eu beijei a outra bochecha.

— Não, eu não, e eu nunca quero descobrir.

Ela gemeu e seu corpo se enrijeceu quando minha língua serpenteou para fora e lambeu seu clitóris.

Eu me ergui em uma posição e pisei de entre suas pernas. Ela ficou quieta, esperando, sabendo, preparando-se. Eu a observei por um momento. Ela empurrou os dedos dos pés um pouco, o suficiente para segurar suas pernas enquanto ela estava deitada de costas contra o colchão da cintura para cima. Eu queria tanto colocar meu pau nela, eu queria espremer seu traseiro em minhas mãos e fodê-la até que nenhum de nós pudesse ver em linha reta, mas ela tinha que ser tratada primeiro. Eu nunca poderia deixá-la ter seu caminho quando se trata dessas coisas ou ela se tornaria incontrolável. Seraphina pode ter me ajudando a controlar meus impulsos torturantes, meus impulsos assassinos, mas eu não era o único de nós que precisava ser ensinado, controlado e guiado por que Seraphina era uma mulher perigosa e perversa que poderia se perder em qualquer momento e nunca poderia ter muito controle.

O som da pele marcada pelo couro rasgou através do ar e Seraphina gritou alto. Mas ela não se mexeu. Duas vezes. Quatro vezes. Seis vezes. Dez vezes, o cinturão golpeou sua carne, deixando marcas em sua bunda. Ainda assim, ela nunca se moveu; apenas seus dedos se agarraram a cama, rasgando o lençol do colchão e esmagando-o em suas mãos.

Onze. Doze. Treze.

Eu não cedi. Eu nunca poderia deixá-la ver a fraqueza em mim ou eu iria perdê-la. Atacar Seraphina levemente, tendo piedade dela, só a desligaria. Era uma coisa boa porque eu nunca teria tido piedade dela. Eu gostava de infligir a dor tanto quanto ela gostava de tomá-la.

— Fredrik, por favor! — Ela implorou com uma voz chorar lágrima. — Por favor pare…

Eu bati o couro novamente, e novamente, e novamente até chegar a vinte. Era sempre vinte. Ela sabia que sempre haveria vinte chicotadas, não importa o quanto ela me implorasse para parar.

Eu coloquei o cinto de lado na cama e agachado entre suas pernas mais uma vez. Seu corpo tremia debaixo de minhas mãos cuidadas, resistido por apenas segundos sob meus lábios quentes. Eu beijei cada centímetro de sua dor, cada pedaço, cada minúsculo corte onde a pele tinha quebrado. E então eu delicadamente puxei seus lábios separados com meus dedos e arrastei a ponta da minha língua quente entre eles. Lentamente. Atentamente. Seraphina gemeu e choramingou e cavou seus dedos no colchão.

Ela já não sentia a dor.

Tudo que ela sabia era o prazer.

Eu a fodi duramente, a única maneira que qualquer um de nós queria sempre — duro e violento. E depois que eu gozei, eu deitei em suas costas, ainda enterrado dentro dela.

Eu a beijei de volta, sua coluna, seus ombros e seu pescoço. A lâmina de barbear me acenou na mesa de cabeceira, mas esperei. Só mais um pouco.

— Não há ninguém mais no mundo como nós, meu amor — ela disse em uma voz suave, olhando para nada com seu rosto pressionado contra o colchão. — Eu morreria sem você.

Distraidamente, eu continuei a me empurrar profundamente dentro dela lentamente.

— Você nunca estará sem mim — eu disse e beijei a nuca. — E como você disse antes, morreremos juntos.

— Você promete, Fredrik? Você vai junto comigo se eu morrer antes de você?

Eu beijei o lado de sua boca, pressionando meus quadris contra ela. Ela ofegou.

— Quando você morrer, eu também morro — eu sussurrei contra sua orelha. — Você é o amor da minha vida. Meu lindo cisne. E você será minha destruição.

Entrei dentro dela. Seus lábios se separaram em um gemido silencioso e ofegante e seus dedos encontraram o topo do meu cabelo escuro.

— Ninguém pode te amar como eu te amo — disse ela. — Nenhuma mulher neste mundo conhece você como eu conheço você, entende suas necessidades, sua dor, seu passado. Nenhuma mulher pode dar a você o que eu lhe dou.

E ela estava certa.

Eu empurrei mais e mais e, de repente, a lâmina de barbear estava presa entre as pontas dos meus dedos e o polegar.

Eu levantei meu peito de suas costas, apenas o suficiente para que eu pudesse vê-la.

Seraphina choramingou e agarrou a cama quando eu fiz o primeiro corte, verticalmente abaixo suas costas cerca de dois centímetros. Logo iria curar e tornar-se como as outras cicatrizes que eu tinha deixado lá. Então me inclinei e lambei o sangue que escorria da ferida com a língua. Seraphina levantou seu traseiro contra mim, me forçando mais fundo. Meus dedos feriram firmemente dentro de seu cabelo.

Inclinei-me mais um pouco, procurando sua boca com a minha, e eu a beijei longa, dura e sangrenta.

— Ninguém, Fredrik, — ela sussurrou e lambeu minha língua, — ninguém jamais te amará como eu.


Eu não sei quanto tempo eu estive olhando este jornal, as palavras impressas em tinta preta borradas em toda a minha visão. Por quanto tempo minhas memórias de Seraphina me torturarão? Oh sim, claro — até eu morrer junto com ela como eu prometi.

Minha pasta está no chão embaixo da mesa, sentada entre a parede e minhas pernas, escondida na escuridão. Os clientes neste restaurante, como em todos os lugares públicos, são inconscientes. Eles não têm percepção da verdade, a mesma verdade que os cerca todos os dias de sua vida tranquila e inocente — que o mal vive na porta ao lado, passa-os na calçada, prepara as refeições ou, neste caso, come apenas uma mesa com eles. Se eles soubessem apenas que segredos minha pasta tem, ou as coisas horríveis que estas mãos fizeram. Ou as lembranças vívidas e impiedosas que atormentam minha mente como uma ferida que nunca cura.

Enrolei dois dedos em torno da alça do meu café e trouxe a caneca para os meus lábios, suavemente soprando o vapor subindo do topo antes de tomar um gole cuidadoso. Mais uma vez, meus olhos examinam o jornal na mesa da cabine diante de mim — talvez desta vez eu realmente leia as palavras.

Eu vou colocar a caneca de volta para baixo, mas pouco antes de ele se instala de volta em segurança na mesa, o garoto sentado na cabine atrás de mim bate a cabeça contra a parte de trás do meu assento novamente. Algumas gotas caem da borda e sobre a mesa. Eu calmamente limpo-as com um guardanapo.

— Avery! — A mãe repreende. — Eu lhe disse para ficar quieto. Sinto muito.

Acho que o último comentário foi para mim.

Viro a cabeça apenas ligeiramente, não o suficiente para ver a mulher, mas o suficiente ela saber que a ouvi.

— Está tudo bem — eu digo e volto a ler o jornal.

Mais três vezes — além dos provavelmente dez outros antes daquela — o garotinho bate contra a parte de trás do meu assento, até que finalmente a mãe se apressa a sai com ele, pedindo desculpas novamente antes de ela se afastar com a mão de seu filho na dela. E mais uma vez, eu disse a ela que estava bem. O que eu não disse a ela, porém, é que eu, de uma forma estranha, me congratulo com o incômodo. Eu tendo a apreciar as coisas simples, e de outra forma irritante em vida depois de uma noite de torturar alguém, um menino inocente batendo a parte de trás da minha cadeira, sendo um menino, é uma boa mudança de atmosfera. Eu invejo este “Avery”. Que tipo de homem eu seria hoje se eu tivesse sido autorizado a jantar com a minha mãe e não me importar com o que o homem sentado atrás de mim pensaria com a minha cabeça batendo nas costas do seu assento? Talvez aquela pasta debaixo da mesa fosse preenchida com papel e um almoço embalado em vez de agulhas, facas, alicates, venenos e luvas de borracha. Talvez não haveria outra mulher no mundo que pudesse amar e me entender.

— Pronto para uma recarga? — Ouço uma voz doce dizer.

Olho para cima, puxando minha mente de volta para o momento, para ver a minha garçonete cujo nome lê “Emily” segurando um pote de café em uma mão.

— Não, obrigado.

Ela sorri para mim, um rosto de forma oval com lábios amáveis e olhos tipo avelã e pele de cor creme.

— Você vai pedido de sempre hoje? — Ela pergunta. — Dois ovos mexidos. Três fatias de bacon crocante e um copo de água com limão?

Eu olho para ela.

— Não, eu não vou tomar café hoje. — Eu olho de volta para o jornal.

O silêncio enche o espaço entre nós.

Finalmente, ela diz:

— Bem, talvez amanhã, então...

— Não, também não estarei aqui amanhã.

— Oh.

O silêncio começa a se esticar. Eu nunca olho para cima do papel.

— Bem, OK eu vou... deixá-lo para o seu café.

A garçonete chamada Emily, que tem sido minha garçonete todas as outras manhãs pelas últimas três semanas, começa caminhar, deixando sua personalidade brilhante no chão atrás dela.

— Espere — eu chamo em uma voz normal, e ela se detém para olhar para mim. — Eu uh... — Eu olho para a mesa, e então a minha caneca de café, e depois de volta para Emily — ... sim, eu acho que eu gostaria de ter o meu pedido habitual esta manhã.

Seu sorriso bonito retorna, seus olhos castanhos brilhando debaixo de seus cabelos marrom-dourados.

— Ótimo — ela diz balançando a cabeça, — Eu estarei de volta em alguns minutos.

Ela vem tentando falar comigo durante as duas semanas das três que eu vim aqui, mas eu sempre a evitei. Ela é linda, amável, doce e é precisamente por isso que eu não cedi a suas tentativas de conversa casual — ela não é o tipo de garota que eu poderia foder e ir embora, sem culpa por seus sentimentos feridos.

Não sei por que a parei.

Dez minutos depois ela volta com meu café da manhã com um prato em uma mão e um copo de água de limão na outra. Ela os coloca na mesa à minha frente enquanto eu afasto o jornal, dobrando-o e colocando-o no assento.

— Você trabalha aqui perto? — Pergunta ela, enquanto nota algo em seu tablet na palma da mão.

— Não — eu digo quando eu polvilhe pimenta nos meus ovos — estou apenas desfrutando do café da manhã. — E gosto muito do senso de normalidade que tomar café da manhã no mesmo restaurante todas as outras manhãs me dá, eu não digo em voz alta.

Ela rasga um bilhete e o coloca de face para baixo sobre a mesa.

— Bem, estou feliz por ser sua garçonete todas as manhãs — ela diz com um sorriso bonito que sugere algo mais.

Ela é tímida, mas ela está tentando ser corajosa e eu acho que é cativante.

O silêncio começa a se esticar novamente.

— Bem, desfrute da sua refeição — diz ela e então coloca o bilhete no bolso do avental.

— Obrigado — digo a ela e lhe dou um pequeno sorriso antes de voltar para a minha refeição.

Ela balança a cabeça e olha para o bilhete o tempo suficiente para eu pegá-lo. Sentindo como se ela quisesse que eu a olhasse antes de ela se afastar, eu o levo aos meus dedos e virei-o para encontrar um número de telefone escrito na frente, em vez da minha refeição ou quanto devo.

Ela cora sob seu sorriso.

— Você pode me ligar se quiser sair algum dia — seu rubor se aprofunda e só isso me intriga — isso é... se você for solteiro. Ou mesmo... interessado.

Ela está muito nervosa e ficando ainda mais enquanto mais ela fica ali e eu não digo nada.

— Quero dizer, você não é casado, tanto quanto eu posso dizer — ela olha nervosamente para o meu dedo anelar sem um anel — mas se você não está interessado...

— Você é uma mulher muito bonita — eu a cortei para que ela pudesse verter o arrependimento e a humilhação que ela começara a sentir. — E não, eu certamente não sou casado. Sou muito solteiro.

Ela sorri, com os lábios fechados. Noto outra garçonete de pé na caixa registradora, nos observando, e sorrindo. Ela olha para longe quando vê que eu notei.

Eu mantenho minha atenção em Emily.

— Você nunca perguntou a um homem antes, não é?

Seu rosto fica mais vermelho e ela mal pode olhar meus olhos mais.

— É tão óbvio? — Ela pergunta, enrugando seu pequeno nariz.

Eu deixei o sorriso em meus olhos tocar meus lábios mais.

— Sim, mas eu gosto.

Não dizemos mais nada por alguns segundos. Ela não consegue parar de sorrir e eu estou apenas confuso com a minha reação.

— Bem, eu tenho que voltar ao trabalho — ela diz e se vira sobre os calcanhares.

Eu aceno com a cabeça e então, pouco antes de ela ir embora, eu digo:

— Eu chego em casa às nove da noite. Eu ligo antes das nove e meia.

Eu acho que não pode machucar, pelo menos, falar com ela...

Seu sorriso de lábios fechados se ilumina, ela balança a cabeça e caminha até uma mesa onde dois novos clientes acabam de se sentar.

Eu como o meu café da manhã, coloco uma gorjeta grande sobre a mesa debaixo da xícara de café e depois saio em silêncio com a minha pasta na mão.


Perguntas para o leitor

Será que Izabel jamais contará a Victor o seu segredo? Ou ele vai descobrir por conta própria?


O que será de Dorian Flynn? Você acha que Victor deve levar Dorian em cima de sua oferta para trabalhar com a Inteligência dos EUA?


Será que o Niklas voltará à Ordem de Victor? Ele pode (ou deveria) perdoar seu irmão?


Que impacto você acha que Nora Kessler terá na Ordem de Victor, positiva ou negativa? E quanto a Izabel?


Será que Fredrik Gustavsson alguma vez encontrará o amor? Ou você acha que ele deveria ficar longe das mulheres completamente?


Você acha que Nora estava certa em dizer a Izabel que seu relacionamento com Victor está praticamente condenado?

CapÍtulo DEZENOVE

Izabel

Corro direto para os braços de Dina quando James entra no prédio com ela.

— Dina! Estou tão feliz que você está bem. — Meus braços a envolvem.

Ela beija minha cabeça e minhas bochechas e por um momento eu me sinto como uma menina de novo. Uma menina inocente feliz de ver sua mãe, que nunca foi uma escrava do sexo e que nunca matou ninguém.

— Estou bem, estou bem, querida — diz ela, me abraçando com força.

Está vestindo uma blusa cor-de-rosa clara enfiada em uma calça cor de canela. Seu cabelo cinza-aloirado está em rabo de cavalo alto em uma onda de cachos frouxos que caem em torno do seu rosto envelhecido onde há mais rugas ao redor dos olhos que da última vez que a vi.

Eu dou um passo para trás com as suas mãos entrelaçadas nas minhas e eu a olho.

— Você parece... bem — eu digo, tendo esperado — e temido — vê-la coberta de contusões e sangue, talvez alguns ossos quebrados.

— Bem, claro que sim, — ela diz como se eu já soubesse que ela estava bem o tempo todo.

Olho para James parado atrás dela com um olhar de profunda pergunta no meu rosto.

Victor entra na sala de reuniões atrás deles.

— O que está acontecendo? — Eu pergunto, olhando para Victor e depois para James.

— Bem, — James começa, — parece que Nora nunca machucou nenhum deles. Com a Sra. Gregory...

— Oh, por favor me chame Dina, — Dina interrompe, — as coisas apropriadas me fazem sentir velha.

Eu sorrio para mim mesma.

James também sorri e concorda.

— Nora disse a Dina que ela foi enviada por você e Victor para levá-la para a segurança.

— Oh, mas eu não acreditei nela imediatamente — diz Dina, sacudindo sua cabeça grisalha. — Eu sabia melhor do que isso e quando ela matou aquele bom homem que me observava muito da rua, eu estava com medo. Pensei que ela ia me matar em seguida.

Olho para trás e para frente entre Dina e Victor, esperando ansiosamente pelo resto da história.

— Não é necessário dizer, — Dina continua, — aquela mulher fez um show, eu acho, porque no momento que ela estava dizendo “para baixo!”, ela estava olhando para fora das janelas e eu estava realmente com medo de houvesse outros homens lá para me matar. Ela me disse que o homem no chão, ela matou era um traidor, ou eu acho que ela usou alguma palavra filme extravagante como conspirador ou infiltrado — Eu quero dizer a ela para ignorar todas essas coisas, mas eu não tenho o coração fazer isso — Ou algo assim — de qualquer maneira, ela me fez acreditar nela, isso é certo. Ela me tirou daquela casa e me colocou muito bem em outra e me disse para não saísse ou fazer qualquer telefonema. Ela pegou meu celular. Disse que era para o meu próprio bem. Mas eu tinha tudo o que eu precisava. — Ela penteia seus dedos longos e resistidos pelo comprimento do meu cabelo. — E eu não queria colocá-los em perigo, então fiquei como me disseram e esperei.

— Ela não a feriu?

Estou confusa com isso. Completamente confusa.

Dina sacode a cabeça.

— Não, — ela diz, — ela era uma verdadeira bondade. Então, imagine minha surpresa quando o Sr. Woodard aqui me disse que ia me matar. Eu simplesmente não podia acreditar.

Victor e eu olhamos brevemente um para o outro.

— Eu suponho que Tessa alimentou a mesma história? — Eu pergunto.

— Não, — James diz. — Bem, de certa forma. Depois que Nora convenceu Tessa que ela não estava lá para machucá-la, e depois de Tessa inconscientemente deu Nora a munição que ela precisava contra Dorian — tal como ela disse a Dorian que ela fez — Tessa acreditava que Nora erada Inteligência dos EUA e assim ela cooperou.

— Então Tessa também não estava machucada? — Eu pergunto.

— Não, — James responde.

— Onde ela está agora?

Victor aproxima-se e responde:

— Eu pedi que a levassem para casa. Ela não precisava ser trazida para cá. Ela não precisa saber nada sobre nós.

— Ela pensou que eu era um agente da CIA — diz James com uma leve gargalhada, mas com um ar orgulhoso. — Quanto às minhas filhas, bem, elas não eram tão fáceis de convencer. Elas estavam apenas com medo de suas mentes — elas pensam que eu trabalho com imóveis. Então, eu acho que Nora não teve escolha senão amarrá-las em algum lugar.

Eu olho direito para Victor.

— Então ela realmente estava trabalhando sozinha — eu digo sobre Nora.

— Parece dessa maneira — Victor diz com um aceno de cabeça.

— Estou com muita sede — Dina diz, apertando meu quadril com a mão. — Tem alguma coisa por aqui para beber?

Eu a abraço de novo.

— Claro — eu digo a ela e pego sua mão. — Eu vou levá-lo para conseguir alguma coisa.

Eu sorrio levemente para Victor enquanto saio com Dina da sala de reuniões e em direção à pequena cozinha no corredor.

Fredrik passa por nós no caminho enquanto ele se dirige para ver Victor. Ele não diz nada para mim, ou mesmo faz contato visual.

— Oh, ele é atraente, — Dina diz calmamente com os olhos grandes quando ela olha para trás para a sua altura em que terno caro. — A coisa que eu mais odeio em ser velha é que homens assim não me olham mais.

Oh, Dina, se você soubesse o que aquele homem em particular é capaz de fazer.

— Bem, eu acho que você é linda, — eu digo a ela, apertando sua mão fria e envelhecida. — Além disso, os homens hoje são provavelmente um pouco mais raros do que você estava acostumado.

— Ei, eu costumava ser uma prevenidab — diz ela com um sorriso.

— Dina! — Meu rosto torce com todo o tipo de formas e minhas bochechas começam a queimar. — Eu não preciso saber isso.

Nós dois rimos juntos e escorregamos dentro da sala de descanso, que é realmente apenas um quarto com um sofá de couro e cadeira correspondente com uma mesa de café em mármore e duas mesas nas extremidades, uma televisão de tela plana montada na parede e uma área de cozinha em um canto. Victor olhou para Woodard engraçado quando ele lhe pediu para colocar uma sala de descanso no prédio ("Uma sala de descanso? Este não é exatamente o trabalho em fábrica, Woodard."), Mas, no final, e depois de Woodard me explicar o que uma sala de descanso era e eu gostei da ideia, ambos tivemos o que queríamos. E eu não sou a única de nós que a usa com frequência — Niklas dorme aqui às vezes com as botas levantadas no braço do sofá. James traz seu laptop aqui e assiste coisas velhas na TV Land. Dorian... bem, ele sempre foi o único que manteve o frigorífico abastecido. Victor - OK, ele não vem aqui, exceto para encontrar um de nós.

Dina toma um assento no sofá enquanto eu pego dois dos refrigerantes de Dorian da geladeira.

— Então, exceto belas mulheres loiras ameaçando me matar para chegar até você — Dina começa de brincadeira, — o que mais tem acontecido com você, Sarai?

Dina é a única pessoa que eu permito me chamar pelo meu nome antigo. Eu tentei fazer com que ela me chamasse de Izabel uma vez, mas ela recusou, disse que eu cresci com ela me chamando de Sarai e que ela morreria me chamando de Sarai.

Dou-lhe uma garrafa de refrigerante e me sento ao lado dela, puxando uma perna para cima da almofada.

— É estranho ter conversas com você sobre minha vida — eu digo. — Não é como se eu pudesse te dizer sobre a última pessoa que eu vi morrer, tão casualmente como eu posso falar com você sobre conseguir o pedido errado em um drive-thru.

— Eu sei — ela diz e toma uma bebida, — mas o que está acontecendo com você e aquele homem bonito, misterioso seu?

Tomo uma bebida e depois olho para a parede atrás dela.

— As coisas estão bem — eu digo, tentando não chegar na verdade, não estou até mesmo certa qual é a verdade; O que está acontecendo entre mim e Victor não é exatamente o tipo típico de problema no paraíso.

Dina e eu conversamos um pouco sobre coisas simples. Ela me fala sobre o que está acontecendo com os personagens em seus programas de televisão favoritos, mas eu só ouço principalmente porque eu nunca assisto TV e realmente não tenho nada a acrescentar. Falamos sobre o pequeno jardim que ela plantou atrás de sua casa mais nova e como o único vegetal crescendo são os pepinos. Eu não sei nada sobre jardim e não saberia como fazer crescer os legumes, então novamente, eu principalmente apenas ouvir a sua conversa. E ela continua sobre as vendas nas lojas de departamentos que ela gosta de comprar e como ela conseguiu uma blusa de trinta dólares por nove dólares — eu não sei muito sobre as vendas porque com o dinheiro que Victor me dá — e que eu eu ganho — Eu não tenho que prestar atenção às vendas.

E enquanto Dina fala sobre uma variedade de coisas totalmente diferentes ao longo dos próximos trinta minutos, há uma coisa que eu noto que ela menciona em cada tópico — o Arizona.

— Eu costumava assistir a esse programa todas as noites antes de dormir no Arizona — ela havia dito. — Eu tinha a minha poltrona perto da janela e eu sempre a abria e deixava o calor entrar enquanto eu assistia ao meu programa.

E depois:

— Eu realmente não fiz muita jardinagem no Arizona.

E depois:

— Eu ia as tendas de promoções cada fim de semana quando eu vivia no Arizona. Tinha boas ofertas.

Finalmente, depois da quinta menção do Arizona, pergunto-lhe o inevitável:

— Você sente falta de casa, Dina?

Ela sorri levemente e coloca a garrafa de refrigerante na mesa final.

— Eu sinto, Sarai, eu realmente sinto.

Ela suspira e olha para mim, estendendo a mão e colocando-a no meu joelho esticado na almofada, enfiado debaixo da minha outra perna.

— Eu quero voltar para Tucson — diz ela. — Inclusive ao parque de trailers. Tenho saudade. Eu sinto falta dos malditos cães latindo à noite, as crianças correndo de um lado para o outro na rua causando incómodos. Eu só quero ir para casa. — Ela bate no meu joelho e depois se afasta, olhando para mim com olhos tristes, mas sorrindo.

— Mas Dina, não é seguro — eu levanto no sofá — você não pode voltar para lá. Veja o que aconteceu aqui, a razão que você está sentada nesta sala falando comigo agora. Se você voltar lá você estará onde qualquer um que quer encontrá-la, provavelmente olhará ali primeiro.

Seu sorriso aquece seu rosto inteiro.

— Oh, querida, eu não me importo com essas coisas, — ela diz como se para me consolar. — Eu me importei no início, mas era principalmente apenas por causa de você. Mas, eu não posso fazer isso mais, me mudando de um lugar para outro, tendo homens estranhos estacionados do lado de fora a cada casa, me observando o tempo todo. Estou velha demais para isso. Eu aprecio todas as coisas elaboradas que você e Victor me fornece? e as casas bonitas e... apenas tudo. Eu estou muito agradecia. Mas eu só quero ir para casa e viver o resto da minha vida do jeito que eu fiz antes — simplesmente.

Meu coração afunda cada vez mais fundo.

— Mas é perigoso. Eu não quero que nada aconteça com você.

— Nada vai acontecer comigo, querida. — Seu sorriso se alonga. Ela levanta a mão e bate no peito sobre a blusa cor-de-rosa fina onde está seu coração. — Se alguma coisa pode me matar, será o meu coração. Você sabe disso. — Ela sorri e bate no meu joelho novamente brincando e acrescenta: — Além disso, eu sei usar uma espingarda, lembra? E eu não tenho medo de explodir alguém se entrarem em minha casa.

Eu não posso evitar, mas sorrir de volta para ela, mesmo que eu queira lutar com ela nesta questão.

Dina se vira na almofada para me enfrentar completamente e ela leva minhas duas mãos para as dela.

— Eu quero que você me prometa algo — ela diz, olhando nos meus olhos. — E eu quero dizer isso, é uma verdadeira promessa e isso significa tudo para mim e se você nunca a quebrará, mesmo que eu nunca vá descobrir, você deve se sentir culpada por quebrar isso porque é tão importante para mim.

Isso está me assustando, mas eu aceno e concordo.

— O que foi, Dina?

Seus dedos agarram os meus com firmeza, como se para colocar ênfase nas palavras que ela está prestes a dizer.

— Quando eu voltar para casa, de volta a Tucson — diz ela, — eu quero que você me prometa que você não enviará ninguém para me vigiar ou me proteger. Ninguém. E eu também não quero que você faça isso. Você me dá sua palavra?

No começo tudo que eu quero fazer é dizer não — eu até começo a balançar a cabeça — mas ela aperta minhas mãos e força o meu olhar, o olhar em seus olhos tão intenso, e eu sinto quão importante é essa promessa para ela. Tanto quanto eu quero mentir para ela e dizer que, não, eu não vou mandar ninguém para cuidar dela... Eu não posso. Este é o seu desejo e devo-lhe tudo e sei que tenho de ceder a ele, não importa o quão difícil.

E antes que ela saia, enquanto eu digo adeus enquanto ela entra no táxi na rua para ir ao aeroporto de volta a Tucson, eu não posso evitar, mas sinto que esta será a última vez que eu a vejo.

— Eu te amo, garotinha! — Ela grita para mim da janela aberta do carro, seus dedos longos e ossudos acenando na brisa fresca de Boston.

Eu pressiono as pontas dos meus dedos contra meus lábios e envio-lhe meus beijos enquanto ela se afasta, e eu limpo as lágrimas dos meus olhos e tento muito manter o sorriso no meu rosto pelo amor de Dina. Porque ela merece ser feliz e ela não precisa de mais razões para se preocupar comigo mais do que ela já tem.

 

— Você já viu Niklas? — Eu pergunto a Victor na sala de reuniões com James. Eles estão olhando para fotografias e arquivos espalhados sobre a mesa alongada.

Eu ainda estou emocional por ter deixado Dina ir a uma hora atrás.

Victor olha para cima.

— Ele se foi, Izabel — ele responde solenemente e olha para baixo. — Mas não se preocupe com ele agora...

— O quê? — Eu passo mais para dentro do quarto e fico no final da mesa. — Victor, como você pode dizer isso? Já tentou falar com ele?

Ele tranca os olhos nos meus pelo comprimento da mesa.

— Vou falar com meu irmão quando for a hora certa — diz ele.

James olha para nós brevemente e finge estar mais interessado com as fotografias na frente dele. Ele parece desconfortável.

— Quando é qualquer hora certa? — Pergunto com um tom acusatório. — Agora é o melhor momento que qualquer outro dia será.

— Niklas precisa de tempo sozinho — ele diz e eu bato a palma contra a mesa antes que ele tenha a última palavra.

— Foda-se! — Eu digo com raiva.

Victor levanta-se rapidamente da mesa em um movimento rápido, enviando o papel que ele estava lendo em sua mão caindo no chão. Sua cadeira chia quando ela é empurrada para trás em seu caminho para cima.

James congela, olhando entre os nós dois sob nervosos olhos encapuzados.

— Woodard, — Victor diz exigente, — deixe-nos.

Sem hesitação, James se levanta, enfia o laptop debaixo do braço e sai.

Uma bola nervosa senta-se no meu estômago. Sei que ele está chateado comigo, mas eu sinto fortemente o que Niklas deve estar passando, e eu não consigo encontrar nenhuma razão aceitável para que Victor não estivesse tentando fazer as coisas direito entre eles, agora.

— É isso que você pensa de mim? — Ele pergunta, zangado, mas ao mesmo tempo ferido pela perspectiva. — Você acha que esses arquivos e estas fotografias — acena com uma mão na mesa — são mais importantes para mim do que o meu irmão? Olhe para mim —aponta os seus olhos com o seu indicador e dedo médio — e me diga: que você pensa isso de mim, porque é exatamente como se sente agora. Quero ouvir você dizer isso.

Engulo nervosa e começo a sacudir a cabeça. Eu raramente o vi assim antes, então eu sei que eu ultrapassei meus limites, que eu o machuquei, e já me sinto terrível por fazer ele se sentir assim.

— Eu sinto muito... Eu apenas...

Os ombros de Victor mergulham em um longo suspiro e ele olha para a mesa, mas não para as coisas espalhadas por cima. Ele cai pesadamente de volta em sua cadeira e encosta contra ela.

— Izabel — ele diz com mais calma, mas sem olhar para mim, — eu sabia que tinha que sair algum dia. Nem um dia se passou nos últimos seis anos quando eu olho para meu irmão e eu não me sinto como uma merda pelo o que eu fiz. Niklas talvez nunca me perdoe, mas ele vai entender.

Eu ando em sua direção pelo comprimento da enorme mesa.

— Você parece esquecer que ele tentou matar você — acrescenta Victor.

— Eu nunca me esqueci disso — digo, — e acho que nunca irei.

— Você não esqueceu ou perdoou, — Victor diz, — mas você entende.

Eu não esperava isso, então eu não digo nada no início.

— Eu me sinto culpada — eu finalmente respondo, ainda sentindo algum tipo de necessidade de confessar porque a culpa está pesando tão fortemente em meus ombros.

A cabeça de Victor levanta e ele me olha com um olhar de descrença e talvez até mesmo decepção.

Eu inclino minhas costas contra o fim da mesa na frente dele, cruzando meus braços.

— Por quê? — Pergunta ele asperamente. — Por que você se sente culpada? Se você disser que é porque você está viva e Claire não está, você é...

— Eu sou o que? — Eu salto de volta, desafiando-o. — Sou estúpida e fraca por ter consciência? Sou ingênua? Muito emocional? Vá em frente, Victor — aponto para os meus olhos com o meu indicador e meu dedo médio — Victor me diga o que realmente pensa de mim.

Seu olhar se desvia.

— Eu acho que seu coração é muito grande — ele diz e instantaneamente meu exterior duro vacila. — É por isso que eu sinto a necessidade de protegê-lo o tempo todo. Não porque você não tem habilidade ou porque eu não acredito em você, mas porque seu coração fica no caminho. E se há alguma profissão no mundo que você não pode e não deve colocar seu coração — aponta duramente para o chão — é esta.

Estou calada por apenas um momento, deixando suas palavras afundarem.

E então algo entra em minha mente que eu tenho mais medo de dizer a ele do que minhas acusações sobre Niklas — mas eu não posso segurar como eu realmente me sinto.

— As coisas seriam melhores para você se eu fosse... mais parecida com Nora, não é? — Eu fiz tudo que eu não pude fazer para parecer amarga ou acusadorq, porque eu não quero dizer isso dessa maneira.

Ele levanta os olhos para mim, e por um longo tempo ele não diz nada.

— Em um sentido profissional e emocional, sim, — ele responde com sinceridade, — mas não por qualquer outra razão. Mas se eu queria alguém como Nora ao meu lado, você não estaria aqui, ao contrário dela, eu não gosto de jogos, assim, por favor, não me acuse de ter uma atração selvagens por aquela mulher, ou a começar a sentir insegura que eu vou me desviar.

— Eu não acho isso em tudo — eu digo, e eu quero dizer isso. — Não é disso que se trata.

Eu levanto meu corpo para sentar na mesa na frente dele, minhas pernas, cobertas em meu traje preto apertado, pendurada sobre a borda da mesa nas curvas dos meus joelhos. Victor move sua cadeira para mais perto para sentar entre elas, colocando seus braços sobre as minhas coxas e ajustando suas mãos sobre minha cintura. As mangas da camisa estão enroladas até os cotovelos; Veias correm ao longo dos músculos duros de seus antebraços levemente bronzeados.

Corro todos os meus dedos pelo topo do seu cabelo curto e castanho.

— Você não confia em mim para cuidar de mim mesma em tudo, Victor? — Eu pergunto com preocupação e não com acusação. — Não há nada sobre mim — de um ponto de vista profissional e emocional — que você sente que não precisa... melhorar?

Victor suspira.

— Confio no seu julgamento, Izabel — diz. — Quando se trata de outros, você é um bom juiz de caráter. Você sabe inerentemente, antes mesmo que eu faça geralmente, sobre uma pessoa no interior. Mas eu não confio em você quando você está com raiva ou por vingança. Você tende a tomar decisões precipitadas, pular de cabeça em situações perigosas sem um plano, tome Los Angeles e Arthur Hamburg, por exemplo. Mas quando você está calmo e não agir por raiva ou vingança, você sabe o que está fazendo. E confio em você cem por cento.

Agradeço-lhe com os meus olhos.

Ficamos em silêncio por um longo tempo e então eu digo com uma voz suave:

— E se Niklas não voltar?

— Ele vai voltar, — responde Victor, mas na sua voz, sinto que ele não pode está tão confiante nessa suposição quanto ele gostaria. — Ele é meu irmão — continua ele, — e ele pode me odiar por um tempo ou até mesmo querer me matar, mas ele sempre será meu irmão e eu sempre farei qualquer coisa por ele e ele sabe disso.

Eu penso sobre isso por um momento, deixando a realidade da verdade me tomar, Victor está emocionalmente deficiente não por causa de apenas uma, mas duas pessoas em sua vida que ele ama. Espanta-me como ele pode suportar, como ele pode continuar a agir como se nada nunca o incomodasse, que ele não tem sentimentos, ou temores. Do lado de fora, Victor é frio, calculado e desapegado quase todo o tempo — quem não o conhece no nível que eu conheço poderia pensar que ele era como Fredrik, mas a verdade é que ele carrega um fardo maior do que qualquer um de nós. Victor se sente responsável por Niklas e eu. Ele teve que escolher, duas vezes agora, entre seu irmão e eu. E quando você tem que escolher entre duas pessoas que você ama, não importa qual caminho você vá lá estarão consequências dolorosas.

Eu me inclino sobre ele e beijo o topo de sua cabeça.

— Desculpe por duvidar de você — digo. — Eu realmente pensei que você ia deixar Dina morrer e eu sinto muito por não acreditar em você. — Eu estava querendo dizer isso a ele desde o momento em que ele confessou seu segredo para Nora, mas eu tenho evitado por vergonha e culpa. Mas, mais do que isso, eu precisava de tempo para pensar sobre tudo o que aconteceu por causa disso.

Ele olha para mim.

— E porque eu não vou mentir para você — diz ele, — assim como eu não pude mentir para Niklas sobre Claire, a verdade é que quase a deixou morrer.

Eu concordo. Porque eu entendo. Era uma escolha entre Niklas e eu. E nunca seria uma escolha fácil.

— Eu sei, — eu digo a ele e solto minhas mãos do seu cabelo.

Então ele enrola os longos dedos dele ao redor dos meus entre minhas pernas e levanta uma mão para seus lábios e beija os nós dos meus dedos.

— O que você vai fazer com Dorian?

Ele se levanta e toma o meu rosto em suas mãos, puxando meus lábios para encontrar os dele.

Depois que ele me beija, longo e macio, seus lábios são mornos e sua língua tão macia, ele diz:

— Tudo dependerá do que Fredrik tirar dele.

Um arrepio desconfortável se move através de mim.

— Você vai deixar Fredrik interrogar ele?

Victor se move de entre minhas pernas e começa a empilhar as fotografias na mesa em uma pilha pequena.

Ele não responde, o que é uma resposta por si mesma.

— Quando você vai matar Nora? — Ele pergunta, empilhando as coisas constantemente.

— Antes da manhã — digo. — Eu queria lidar com tudo antes de vê-la novamente.

Ele balança a cabeça.

— Você já pensou sobre isso? — Eu pergunto. — Sobre o que ela disse?

— Não — ele responde e se dirige para a pasta com as fotografias e os arquivos.

— Nem um pouco?

Ele olha para mim.

— Eu pensei sobre isso — ele diz, — mas não considerei, se é isso que você quer dizer. Eu admito, foi uma jogada ousada, mas ela deveria ter pensado mais sobre as consequências de suas ações do que ela fez. Ela matou um dos meus homens na casa da Sra. Gregory. Ela virou meu irmão contra mim. Sequestrou os seus entes queridos e os usaram contra você. E ela tem desperdiçado muito do meu tempo, francamente.

— Verdade — eu digo, franzindo os lábios contemplativamente, — mas ela meio que se provou no processo.

Victor ergue os olhos momentaneamente e fecha a pasta com dois cliques.

— Você está tentando me dizer alguma coisa? — Ele pergunta com suspeita.

Eu balanço a cabeça.

— Não é o que você provavelmente está pensando — eu não quero ela aqui tanto como qualquer um de nós — mas eu vi a maneira que você estava olhando para ela na sala de vigilância. Parece que você queria a chance de dissecá-la.

Um sorriso fraco, quase invisível aparece em seus lábios enquanto ele levanta a pasta da mesa com a mão apertada sobre a alça.

— Você viu isso, não é?

Eu encolho os ombros e sorrio.

— Sim, eu meio que vi.

— Bem, a resposta é não — ele diz andando em minha direção. — Ela causou problema bastante. Mate-a e termine com isso.

Ele me beija nos lábios mais uma vez e dirige-se para a porta.

— Eu volto em algumas horas, — ele diz da porta. Mas logo antes de sair, ele para e olha para mim.

— E vou falar com o Niklas em breve.

Eu aceno com um pequeno sorriso de apoio e ele sai.


CapÍtulo VINTE

Izabel

O piso da cela tem apenas dez celas que Victor queria manter por razões como esta — detém traidores e outros tipos de prisioneiros. As celas são nomeadas de A a J. Eu me dirijo para a cela C com um monte de emoções misturadas e um coração pesado. Eu não quero pensar sobre o que Dorian vai passar com Fredrik mais tarde, mas ao passar pelo corredor sombrio e pelas celas A e B que estão abertas e vazias, é tudo o que posso pensar. Eu não quero pensar que Dorian é um traidor, que talvez as coisas que ele disse a Victor fossem verdadeiras. Talvez ele não seja nosso inimigo e nunca pretendia ser. Mas ele mentiu. E ele trabalhou conosco sob falsos pretextos. E ele deu informações sobre nós ao governo e isso só é o suficiente para Victor para matá-lo.

Eu passo até a porta de aço pesada e empurro para cima em meus dedos do pé para ver dentro através da janela janelinha.

Dorian está deitado contra a cabeceira de uma cama de metal que se projeta da parede. Bandagens sangrentas estão envolvidas sobre ambos os ombros. Tudo o que ele está vestindo é sua calça jeans escura e seu Rolex. Suas botas foram chutadas para o chão, colocadas descuidadamente com as cordas longas espalhadas contra o azulejo.

Estendendo a mão, toco na janela com a ponta do meu dedo.

Dorian ergue a cabeça loira e depois de um segundo olhando para o rosto desfocado na janela e tentado distingui-lo, ele diz: "Izabel?" E com dificuldade força seu corpo ferido do berço para sentar-se ereto. Seu rosto se contorce de dor e ele para, respira fundo e empurra-se para seus pés e caminha até a porta.

Eu me agacho em frente a ela e deslize o metal que cobre sobre a abertura para comida que é longa e larga o suficiente para passar uma bandeja.

— Como você está? — Pergunto.

— Sinta-me como uma merda — ele diz e se senta no chão em seu traseiro, estremecendo com cada movimento abrupto. Tudo o que eu posso ver agora são seus olhos azuis brilhantes e sua testa através da abertura.

— Desculpe — eu digo. — Ei, eu queria vir aqui e dizer que Tessa está bem.

Seus olhos se iluminam um pouco e o alívio passa por cima dele, através de toda a dor e desconforto.

— Na verdade, — eu continuo, — ela estava bem o tempo todo. Nora não a machucou.

— Onde ela está agora?

— James a levou de volta para casa.

Dorian acena com a cabeça.

— Obrigada, Izabel. Por me deixar saber.

Eu aceno de volta.

Depois de alguns longos segundos que se parecem mais como minutos, quebro o silêncio com o inevitável.

— Você contou a verdade a Victor? Você sabe que ele vai descobrir, certo?

— Sim, eu sei, — ele diz. — Mas eu lhe disse a verdade. Há mais para contar a ele, como que tipo de informação eu passei para os meus superiores, mas eu não estava segurando nada disso. Acho que Victor não estava pronto para ouvir.

— Por que você quebrou depois de tudo? — Eu pergunto. — Quero dizer... bem, eu pensei que caras como você foram treinados para não quebrar, nem mesmo para salvar a vida de alguém que você ama. Ponha de lado mentir sobre quem você é; o fato de você quebrar deixa em seu caráter uma falha grave em seu personagem, Dorian. Você desistiu de sua identidade não só por nós, mas por uma civil inocente. Isso nos diz que você estaria disposto a se render sob certas circunstâncias.

Dorian sacode a cabeça.

— Eu sei que parece assim — ele diz, — mas como eu disse a Victor, eu ia eventualmente dizer a ele quem eu era, independentemente se me seria dada a autorização. Eu só tenho que fazer isso mais cedo do que o esperado.

— E se — eu digo, — você nunca recebesse essa autorização? Você admitiria?

Ele suspira.

— Se eu dissesse que não, você acreditaria em mim? — Não era realmente uma pergunta.

— E Tessa? Parecia fácil para você dizer a ela.

— Sim, bem, esse é um tipo diferente de fraqueza — admite. — Ainda uma imperdoável, mas não tão imperdoável como ser um traidor. Olha, eu sei que provavelmente vou morrer aqui. É um perigo nesta linha de trabalho. Aceito e não tenho medo, mas não quero morrer como um traidor.

Depois de um breve momento de pausa, eu digo:

— Eu gostaria de poder dizer que não acho que você é um traidor, mas o que você fez... Eu não sei, é difícil para mim pensar em você como qualquer outra coisa... mas como uma pessoa e um amigo, eu acho que você é genuíno.

— Obrigado.

Ele faz uma pausa e pergunta:

— Ela está morta?

— Vou matá-la em breve.

— Sim, bem, ponha uma bala no ombro daquela cadela antes de matá-la — ele agarra. — Faça a coisa toda dramática, diga a ela "isto é por Dorian!" — Ele ri da própria brincadeira, mas se encolhe e um barulho sibilante empurra seus lábios enquanto ele aspira uma respiração bruscamente em resposta a mais dor.

Eu sorrio e vejo seus olhos caírem para a abertura da porta enquanto ele abaixa a cabeça.

— Sua mãe vai ficar bem? — Ele pergunta.

— Sim, ela estava bem quando James a pegou, como todos os outros.

— Essa deve ter sido as quarenta e oito horas mais fodidas — diz ele. — Acho que você não tem a liberdade de me dizer qual era a grande confissão que ela queria, e de qual de nós?

Eu balanço a cabeça.

— Desculpa.

Ele balança a cabeça.

— Compreensível — ele diz e depois de alguns segundos tranquilos acrescenta: — Acho que isso significa que Gustavsson apareceu depois de tudo.

— Sim. — É tudo o que posso dizer; eu não posso suportar dizer-lhe o resto, onde se refere a ele e Fredrik estarem preocupados.

O som de sapatos batendo contra o chão ecoa pelo corredor — dois pares para ser preciso. Eu engulo incômodo e olho de volta nos olhos de Dorian através da abertura na porta. Ele sabe. Ele balança a cabeça e ri largamente.

— Ele sempre quis me torturar — diz ele. — Eu acho que o cara até tinha sonhos molhados sobre isso — ele não podia me suportar.

Eu me empurro para fora de uma posição agachada e fico de pé, fazendo uma careta de dor e da rigidez nas minhas pernas por estar na mesma posição por tanto tempo. Dorian está olhando para mim agora através da janela embaçada no topo da porta.

Fredrik e Victor contornam a esquina na extremidade distante do salão; dois homens altos e assustadores, todo negócios, em ternos escuros contra as sujas paredes e chão brancos. Juiz e carrasco. Sem emoção. Implacável.

Olho para Dorian.

— O que quer que aconteça comigo — ele diz, — faça-me um favor e certifique-se de que Tessa receba todo o meu dinheiro. A chave para minha caixa de depósito de segurança e outras coisas pessoais que eu gostaria que ela tivesse está escondido na sola da minha bota esquerda. Você vai dizer a Tessa que eu a amo e eu sinto muito por ser tão idiota?

— Eu vou — eu digo a ele.

Deixo Dorian e ando em direção a Victor e Fredrik enquanto eles abrem caminho pelo centro do salão.

— Posso falar com você por um minuto? — Eu pergunto a Fredrik, pisando bem na frente dele.

Estou cansada dele me evitando, e se eu não tentar forçá-lo a falar, eu sei que ele nunca vai e ele pode escapar deste edifício logo após o interrogatório de Dorian, e eu não vou vê-lo novamente por outro mês.

Fredrik começa a caminhar e passar por mim, mas eu o interrompi, parando-o em seu caminho.

— Izabel — diz Victor - temos assuntos importantes a tratar.

— Eu sei, mas isso vai demorar apenas alguns minutos. — Eu olho para Victor através de olhos suplicantes.

Ele não quer me deixar para trás, mas faz, indo na direção da cela de Dorian e me deixando sozinha com Fredrik. Eu ouço a chave chiar na porta da cela e então o som da porta fechando soando quando Victor vai para dentro.

— Eu não tenho tempo para isso — diz Fredrik.

— Faça tempo. Me dê dois minutos. É tudo que eu peço. Por favor.

Ele olha para mim agora, seus olhos azuis escuros enquadrados pelos cabelos escuros, perfurando-me com irritação.

— Eu não posso gastar dois minutos.

— Sim, você pode — eu digo atentamente.

Ele começa a passar por mim novamente, mas eu agarro o seu braço, o material de sua jaqueta preso entre os meus dedos. Sua cabeça se vira de lado para olhar para mim e sua expressão fica mais escura. Seus dentes estão rangendo atrás de um queixo raspado.

Finalmente, deixei o outro lado de mim assumir o lado que está doente da sua merda, e em vez de ter uma conversa de coração com coração com o homem que já foi meu irmão, não consigo parar de dizer-lhe em vez disso.

— Você é um idiota, — eu solto, empurrando as palavras através dos meus dentes. — Olha, eu entendo, eu realmente entendo, e se eu fosse você eu sei que provavelmente eu me sentiria da mesma maneira. Mas eu não iria empurrar as pessoas que se preocupam comigo. — Ele empurra mais contra mim, com a intenção de me ignorar, mas eu me movo na frente dele e empurro ambas as mãos contra seu peito, empurrando sua estatura alta e sólida, mas ele apenas se move. Ele apenas olha para o meu rosto furioso.

Mas ele para — não que ele queira ouvi-lo, mas que ele quer que eu termine com isso para que ele possa estar livre de mim.

— Faça o que quiser — eu digo com ácido em minha voz, — Eu não me importo mais. Se você quer me fechar para fora, tudo bem, mas eu vou dizer o que tenho a dizer antes de ir lá e... fazer a sua coisa. — Um grunhido manipula minha boca.

Fredrik só fica lá olhando para mim com sua pasta apertada ao seu lado.

— Nora Kessler disse a Niklas alguma coisa quando ele estava no quarto com ela, algo que ficou comigo por muito tempo depois que ele deixou. E por mais que a despreze, não posso negar que ela estava certa.

Aponto o dedo para o peito.

— Você precisa de amor para sobreviver, Fredrik — eu digo com convicção dura. — Você é esse homem escuro, assustador, que é tão frio para o exterior que o inferno congelaria se você fosse enviado para lá... mas, do lado dentro, você é um homem quebrado que precisa de amor mais do que alguém por causa da vida que você foi forçado a viver, por causa das coisas terríveis que você foi forçado a suportar. — Eu balancei minha cabeça com tristeza em meu coração. — Você precisa de amor mais do que qualquer coisa, porque é a única coisa que você foi privado. Você me empurrar para longe, porque eu queria dizer alguma coisa para você, porque de todos nós aqui, você pensou em mim como família. Você me ignorou por causa das quantidades de vezes que o amor o destruiu.

Dou um passo para mais perto e meus olhos nunca saem dele, a raiva neles nunca diminuem. Seu rosto frio, mas sem emoção, não mudou.

— Todos precisamos de algo para sobreviver, Fredrik, Victor precisa estar no controle; James precisa de aceitação; Niklas precisa de algo para chamar se dele; Dorian precisa fazer as pazes com ele mesmo... e eu... Eu preciso de um monte de coisas, mas eu ainda não descobri qual delas eu mais preciso. Mas você... você precisa de amor, e você não pode empurrá-lo para sempre. Não é da sua natureza.

Eu passo para trás e para longe dele e só para olhá-lo por um segundo, estudando seu rosto inflexível, seus profundos olhos azuis, procurando algo, qualquer coisa, mas ele não me dá nada. Estou tão zangada! Eu quero que ele diga alguma coisa. Discuta comigo, diga-me como estou errado. Diga-me que eu sou estúpida e jovem e eu não posso saber como ele está se sentindo ou o que ele está passando.

Absolutamente nada.

Balançando a cabeça com um olhar amargo no meu rosto e rendendo ao meu coração, eu gesticulo com a mão na direção da cela de Dorian.

— Eu acho que vou te ver por perto — eu digo, viro meus calcanhares e saio.

Eu não olho para trás enquanto ando pelo comprimento do longo corredor, mas posso sentir que Fredrik fica lá no mesmo lugar, pelo menos, até que eu vire a esquina no final.

O que está acontecendo conosco? A todos nós.

Niklas está longe de ser encontrado. Eu tentei ligar para ele, saí do prédio e dirigi por Boston, verificando os bares que ele gosta, mas é uma hora antes do amanhecer e eu ainda não encontrei nada. Niklas não quer ser encontrado e eu não posso deixar de me perguntar e me preocupar por quanto tempo. E se ele realmente nunca voltar? E se ele não puder "entender" porque Victor fez o que ele fez, e eles se tornaram inimigos? As coisas não podem ser deixadas desta maneira, elas apenas não podem...

Dorian pode estar morto, ou a caminho. Fredrik é uma causa perdida que eventualmente se autodestruirá. Niklas desapareceu. Pode a nossa organização, nossa família, se recuperar do que Nora Kessler fez, ou o que ela desempenhou em grande parte para fazer?

Estou começando a pensar que não pode.


CapÍtulo VINTE E UM

Izabel

Com minha arma na mão, eu abro a porta para a sala onde Nora estava enjaulado por mais de dois dias.

Ela olha para mim da cadeira.

— Vamos — eu digo a ela com uma inclinação para trás da minha cabeça.

— Para onde? — Ela diz, curiosa, enquanto ela se levanta em suas calças de couro, rosto manchado de sangue e cabelo loiro. Havia colocado também a blusa de seda, apesar dos cortes nas costas.

— Você sabe onde, — eu digo a ela calmamente.

Nora caminha até mim com seus pés descalços — seus saltos altos foram jogados contra o chão — e ela faz uma careta pela dor em suas costas e em qualquer outro que Fredrik a machucou, discutem com sua decisão de se mover.

— Por que você não atira em mim aqui? — Ela pergunta.

Eu não respondo, jogando fora como sem importância, mas a verdade é que antes de eu matá-la há algumas coisas que eu quero dizer a ela, coisas que eu não quero que ninguém ouça.

Caminhamos pelo corredor de forma lenta e deliberada, Nora na minha frente, eu em suas costas com minha arma no meu lado, e a conduzo para fora da parte de trás do prédio, na escuridão e no silêncio.

— De joelhos — eu digo a ela, apontando a arma para o chão ao lado de um lixo.

Sem dúvida, sem argumentos ou com um pingo de medo, ela cai de joelhos, já sabendo que devolverá a mim.

— Eu perguntaria por que você não vai implorar por sua vida — eu digo, apontando a arma na parte de trás da cabeça enquanto eu estou a poucos metros de distância, — mas eu já sei a resposta.

— Qual é a resposta? — Ela pergunta, olhando para a parede de tijolos na frente dela.

— Você nunca iria implorar por sua vida.

Eu enrolo meu dedo indicador em torno do gatilho.

— E você estaria certa — ela confirma.

O oceano e o som distante dos carros apressados sobre a autoestrada são fracos, mas são os únicos sons que são ouvidos. O fedor do deposito de lixo aos pés de Nora, e dos outros cinco que alinham na parte traseira dos edifícios próximos fazem sentir falta de ar. Uma única luz brilha a distância de um poste, radiante na entrada de uma garagem de estacionamento, mas a única luz aqui é da lua, fazendo a figura escura de Nora parecer como uma sombra, com exceção de seu cabelo loiro que cobre suas costas e ombros como uma bagunça desgrenhada de palha branca.

Eu olho para ela por um longo tempo, quase sentindo como se eu sevesse forçá-la a me enfrentar, porque se eu vou executá-la eu deveria ter a coragem de olhá-la nos olhos. Mas eu não tenho. Eu não sou corajosa o suficiente para olhar alguém nos olhos e então tirar a vida deles — não assim. Uma mulher desarmada. De joelhos. Atrás de um edifício. Ao lado de um lixo fedorento. Isso me assombraria para sempre.

O tempo passa e eu não percebo o quanto até Nora começa a virar a cabeça em um ângulo para obter um vislumbre de mim atrás dela.

— Algo me diz que você não tem medo de me matar — ela diz, — então, qual é da demora?

Faço uma pausa e digo:

— Eu queria te perguntar algo primeiro.

Ela riu levemente.

— Ah, claro, — ela diz sarcasticamente com o encolher de ombros, — porque eu estou tão inclinada a responder às suas perguntas antes de explodir meus miolos. — Ela olha para trás uma vez com um sorriso e se vira para a parede novamente. — Vá em frente e pergunte o que quiser, mas você pode esperar apenas um tipo de resposta de mim.

— Que tipo isso seria?

— O tipo verdadeiro — diz ela.

— Esse é o único tipo que eu quero.

- Então, por todos os meios - ela gira a mão com o dedo mindinho cortado no ar ao lado dela — pergunte.

Hesitando por um longo e tenso momento, penso na minha pergunta e no que sua resposta verdadeira poderia significar.

— Você acha que um homem como Victor Faust pode estar realmente apaixonado?

Nora está muito quieta, como se a minha pergunta tivesse tirado o sarcasmo dela e substituído por intriga. Então ela vira a cabeça para o lado novamente, permitindo-me ver o contorno de seu nariz e bochecha na escuridão enluarada que envolve ela.

— Essa é uma pergunta ousada — diz ela. — E uma que eu acho que você já sabe a resposta.

— Talvez sim, mas eu quero conhecer a sua.

— Você quer dizer — diz ela, como se para me corrigir, — você quer saber a razão por trás da minha resposta.

- O que quer que seja... basta me dizer.

Eu sinto ela sorrindo, mas eu não vejo isso em seu rosto, e eu não sinto qualquer rancor ou prazer nos sentimentos dela - apenas honestidade.

Ela olha para a parede na frente dela novamente.

— Qualquer um pode estar apaixonado, Izabel — ela diz com uma voz plana, — e posso dizer pelo olhar nos olhos daquele homem que ele é apaixonado por você — (eu quero estar satisfeito com essa resposta, mas eu não estou porque eu sei que não é tudo) — mas um homem como Victor Faust — continua ela, — não pode ficar apaixonado para sempre. Como o tipo de Fredrik não pode viver sem amor, o tipo de Victor não pode viver com ele. E por mais que ele fique no caminho de seus deveres, e quanto mais humano você o torna, mais perto você o empurra para o seu ponto de ruptura.

— O que é que isso quer dizer? — Minha mão com a arma está tremendo. — Você está dizendo que não importa o quê, ele vai acabar conosco?

— Não — ela diz, — mas se você quer mantê-lo e o que você tem com ele intacto, você precisa perder o que resta da sua vida pessoal, sua humanidade. Seu amor por Dina Gregory. Seu ciúme juvenil. Sua consciência. É o suficiente que ele te ame e tenha que protegê-lo, mas ele não continuará, não pode, protegê-la e levar em consideração tudo o que você arrastar com você do lado de fora.

— O que faz você pensar que ele não pode? — As lágrimas picam a parte de trás dos meus olhos, mas eu não as deixo cair.

Nora vira a cabeça para olhar para mim novamente.

— Porque ele é como eu — diz ela não com malícia, mas com verdade. — E de uma forma ou de outra, ele instintivamente fará o que for preciso para restaurar o equilíbrio da única vida que ele já conheceu.

Eu balanço a cabeça repetidamente, não querendo acreditar nela, querendo ir em frente e atirar nela apenas por dizer essas coisas para mim. Mas eu não posso. Ainda não.

Um nó duro desce pelo centro da minha garganta.

— Mas você amava Claire — eu aponto, me agarrando a qualquer coisa que eu possa para virar a verdade em sua cabeça. — Você teria feito qualquer coisa por ela.

— Sim — ela admite, — eu teria... e é por isso que todos os dias que ela estava viva eu contemplei em matá-la.

Meu coração para de bater, como se ela tivesse apenas puxado o tampão em mim.

— Eu amava tanto a minha irmã — ela começa, — que eu sabia que não podia deixá-la viva porque sempre me preocuparia com ela e estava me deixando fraca.

— Você ia matá-la? — Eu mal posso acreditar, mas mais uma vez eu posso. — Você ia matar a sua própria irmã? Sua irmã inocente que nunca fez nada para você e que não tinha ideia em que você estava envolvida? — Minhas palavras são atadas com descrença e nojo.

— Sim. Se Victor não tivesse matado Claire, eu teria feito isso sozinha, eventualmente, e sim, eu estava vingativa porque ele matou ela, mas ela era minha irmã e ela era minha para matar, não de Victor. — Ela faz uma pausa e diz com sinceridade, — Eu sei que é muito estômago, Izabel... eu sei. Eu sei que é impossível para você entender. Mas eu não sinto emoções ou vejo as coisas da maneira que você faz. Eu nunca vou, porque eu fui criado a partir do momento em que nasci, para ser do jeito que sou, não é diferente de você ser do jeito que é. Todos nós temos nossas falhas "imperdoáveis", eu suponho que isso só passe a ser mais aparente em mim.

Minha boca está incrivelmente seca. Meu coração não está batendo rápido ou lento, mas não está batendo bem, é como se ele não consegue descobrir como. Victor contempla me matar como Nora contemplou matar Claire? Ele poderia realmente se livrar de mim porque eu estou interferindo em sua vida como um assassino? Ele poderia matar Niklas? Uma parte de mim me diz que ela é apenas louca e que Victor pode ser como ela em muitos aspectos, mas não nos modos mais extremos — e eu acredito nisso! Meu coração me diz que ele nunca iria recorrer a isso. Ele me mandou embora uma vez, de volta ao Arizona, e não tinha intenção de me ver nunca mais... mas... mas ele fez. Ele cuidou de mim o tempo todo.

Não! Eu não posso deixá-la chegar a mim assim. Eu não vou deixá-la.

Tremo o meu queixo e recupero meu controle.

Nora provou que suas habilidades de manipulação ultrapassam as minhas ou de alguém que eu já conheci. Ela pode fazer uma pessoa acreditar apenas em qualquer coisa que ela queira, fazer a pessoa com a mente mais forte duvidar de si mesmo, ou a pessoa mais fraca de mente acreditar que ela é algo extraordinário. Eu sei como ela funciona — eu experimentei em primeira mão — e eu não vou cometer esse erro novamente. Talvez as coisas que ela está me dizendo não são uma tática de manipulação em tudo, e eles são verdadeiramente nada mais do que suas opiniões, mas eu não estou tomando quaisquer chances. Vou ouvir meu coração, e meu coração está me dizendo que... apenas algumas das coisas que ela está dizendo são verdadeiras... e a parte sobre perder o que resta da minha vida pessoal, creio que é uma delas.

— Ele não sabe... — eu digo, embora eu não tenho certeza por que eu estou dizendo a ela. Eu olho para a parede acima da sua cabeça; a arma ainda está apontada para ela, mas minha mente está em outro lugar.

— Ele não sabe o que? — Nora pergunta.

Muito tempo passa antes de eu responder.

— ... Ele desligou o áudio da sala quando eu confessei para você — eu digo distante, vendo apenas os tijolos na minha frente. — Ele não sabe que eu tive um bebê com Javier... que eu tenho um filho de sete anos ou filha lá em algum lugar.

— E você acha que é melhor manter assim. — Eu acho que é a maneira dela também de me dizer que ela vai manter meu segredo.

Olho para ela, surpresa por ela não ter se movido, porque no meu breve momento de distração, alguém com habilidade de Nora poderia ter reagido com rapidez o bastante para me derrubar dos pés e tirar a arma de mim.

Eu seguro a arma com mais firmeza, percebendo.

Ela olha para a parede novamente, esperando e pronta para eu matá-la. Sem medos. Sem arrependimentos. Nenhuma tentativa de salvar sua própria vida. Nora Kessler aceitou seu destino.

— Confio no seu julgamento, Izabel — diz. — Quando se trata dos outros, você é uma boa juíza de caráter.

Eu sinto como se estivesse presa dentro da minha própria mente giratória. Olho para o cano da minha arma e as costas da cabeça de Nora.

— Quão importante é a honestidade para você? — Eu pergunto a ela.

— Não tenho nenhuma razão para mentir — diz ela, — a menos que seja meu trabalho mentir, por que você pergunta?

— Então me diga — digo, ignorando seu inquérito, — vire-se e me enfrente para que eu possa ver seus olhos, e me diga por que você quer fazer parte de nossa organização.

Depois de um momento, Nora se vira, ainda de joelhos, para me encarar. Ela olha para mim com curiosidade.

Então ela sorri com descrença e sacode a cabeça.

— Antes que você se faça de idiota, Izabel — diz ela, — se você quer que eu fique por perto para treinar você só porque você quer manter Victor, você pode muito bem me matar.

Empurro a arma para ela ameaçadoramente.

— Apenas responda a pergunta — exijo.

Seus olhos curiosos estudam o meu rosto, minhas reações, e então ela diz:

— Eu entrei em um monte de problemas para me provar a Victor Faust — a todos vocês. Eu poderia ter ferido ou matado as pessoas que você ama, mas eu não fiz e não tive nenhuma intenção em fazê-lo. Eu posso ter forçado a todos vocês para expor pelo menos um dos seus segredos mais obscuros, e eu pode ter feito mais danos do que o pretendido, mas nenhum de vocês pode me culpar pelas coisas que você tem feito, os segredos você manteve um do outro - aqueles são os seus erros, não meus. — Ela faz uma careta e ajusta a sua posição ajoelhada apenas um pouco. — Mas para responder a sua pergunta, eu quero ser parte desta Ordem porque eu perdi o único lugar que eu pertencia quando eu deixei a FC-4. Eu não posso simplesmente sair para o mundo, encontrar um emprego, encontrar amigos, me apaixonar e agir como um ser humano normal. Porque eu não sou. E eu nunca serei. E eu não posso voltar para a Sect porque eles vão me matar no local por deserção. Para não mencionar por matar Solis. — Finalmente, senta-se completamente em seu traseiro, incapaz de permanecer em seus joelhos por mais tempo. — Eu nasci, literalmente, para fazer isso. É tudo que eu sei. E isso é tudo o que tenho a dizer.

Eu acredito nela. Independentemente de quão manipuladora ela seja, os fatos também não mentem.

— Então por que você não se mata? — Eu pergunto. — Se você não tem medo da morte, e você não pode viver de outra maneira, por que não acabar com ela?

— Porque o suicídio é o caminho do covarde.

Eu aceno com a cabeça e deixo isso assim.

— Mas o que o impede de tentar matar um de nós? — Inclino a cabeça pensativamente, olhando para ela com desafio. — Já que você parece não ter consciência.

— Eu sou toda negócios, Izabel, — ela responde imediatamente. — E eu sou leal. Está no meu sangue fazer o que me disseram os meus superiores. Eu faço isso sem questionar ou argumentar, e faço-o bem. E se eu quisesse te matar, eu poderia ter isso no segundo em que você me trouxe aqui. Eu poderia ter tomado essa arma de você momentos atrás, quando você estava fora na terra pensando nos segredos de vocês e decidir não contar Victor sobre isso, como se fosse fazê-lo. Provavelmente esta noite está prevendo dormir com ele. — (Como ela sabe essas coisas?) — Se eu quisesse matar qualquer um de vocês, eu não teria passado seis anos planejando esta noite. Eu teria matado você todas as vezes que eu segui você.

— Mas, e quanto a Claire? — Eu digo, ainda precisando de mais. — Ela comprometeu você. Você a amava. Você ia matá-la. E você deixou a única casa que você já conheceu, arriscou tudo, por causa dela. O que quer dizer que não vai acontecer de novo?

— Porque as pessoas como eu só amam uma vez — ela responde sem sequer ter que pensar sobre isso. — Para nós, a experiência é como uma criança tocando uma panela quente.

Eu não digo nada por um tempo.

— Mas quando você está calma e não agi por raiva ou vingança, você sabe o que está fazendo. E confio em você cem por cento.

— Você disse que me treinaria.

Nora acena com a cabeça.

— Eu fiz.

— Então por que você disse...

— Eu vou treiná-lo se a sua necessidade de aprender não é ditada pelo seu amor de um homem — ela corta. — Isso não é diferente de uma menina engravidar apenas para manter seu namorado, ou um homem casando-se com uma mulher que ele não ama porque a engravidou, nunca funciona. E não vou perder meu tempo com tolices.

— Victor não é a única razão pela qual quero aprender — digo. — Eu não vou mentir e dizer que ele não é parte dela, mas ele não é tudo isso. Eu sou diferente de você em quase todos os sentidos, — continuo — mas a única maneira que nós somos iguais é que eu sei que esta é a única vida para mim. Já fui por esse caminho normal e eu não acho que posso fazer isso de novamente. Esta é a minha vida, e eu só quero aprender para me manter viva nele por tanto tempo quanto que eu puder. Victor nunca teve muito tempo para me treinar como eu preciso ser treinada. Ou ele me enviou para outra pessoa — eu silenciosamente me lembro de Spencer e Jacquelyn no estúdio Krav Maga — ou começou a ficar tranquilo depois de um tempo, porque ele não queria me machucar.

— Eu nunca iria ser fácil com você. — Nora sorri.

— Eu sei.

Então eu digo:

— Mas lutar não é a única coisa que quero aprender — quero aprender tudo o que você pode me ensinar: técnicas de manipulação, controle da dor, tudo...

Nora levanta uma sobrancelha.

— Você nunca será capaz de aprender todas essas coisas — diz ela, — a menos que você queira perder a sua capacidade de amar alguém e ser capaz de matá-los em vez disso, mas vou ensinar-lhe o que eu puder.

— Mais uma pergunta.

— Hmmm?

— Apenas por curiosidade — começo, — quando confessei a você, você parecia... simpática. Até mesmo aos sentimentos de Niklas. Se você é tão... sem emoção... por que você parece se importar? Por que zombar do seu pai e seu dedo desencadeia tanta raiva que desencadeiam suas emoções tão controladas? E ausente.

— Eu ainda sou humana — ela diz simplesmente.

Eu penso nisso muito e muito. Sobre tudo.

E então dou a ela a minha arma.

Nora olha para ela brevemente e depois a leva para seus dedos manchados de sangue.

— Então, bem-vindo a bordo — eu digo.

E o fato de que ela não atira em mim nas costas ou foge para as ruas de Boston, quando eu a deixo sentada lá e volto para dentro, mais prova que ela está dizendo a verdade que eu já sabia.


CapÍtulo VINTE E DOIS

Izabel

Quatro dias depois...

Gostaria de poder dizer que as coisas estão voltando ao normal por aqui, mas isso não poderia estar mais longe da verdade. Niklas ainda se foi e nenhum de nós o viu ou ouviu falar dele — ele poderia estar em outro país, ou morando na parte de trás de um bar em algum lugar próximo, e qualquer um seria crível. Seus telefones celulares nem tocam mais: eles vão direto para o correio de voz ou me dizem que o usuário não tem uma caixa de correio configurada para deixar uma mensagem. Eu parei de ligar para ele dois dias atrás. Quando ele quiser ser encontrado, ele nos avisará. E eu vou me preocupar com o resultado disso até que isso aconteça.

Dorian, depois que Fredrik o interrogou por muitas longas horas, estou feliz em dizer que ainda está vivo. Ele ainda está aprisionado na cela C e provavelmente estará lá por um tempo até que Victor descubra o que fazer com ele. Mas de acordo com Fredrik, tudo o que Dorian disse a Victor parece ser verdade, e ele não escondeu nada mais do que sabemos. Mas, a coisa em Victor mantendo vivo, eu acredito, tem principalmente a ver com a Inteligência dos EUA e se eles vão retaliar em reação à morte de Dorian. Mas Victor disse que ele parece o tipo de contratante privado que Dorian é, se ele já fosse morto ou comprometido, os Estados Unidos não afirmariam que sabia algo sobre ele.

É que a inteligência dos Estados Unidos sabe sobre nós impossibilitando que Victor tome uma decisão de qualquer maneira. Dorian admitiu fazer o perfil de cada um de nós e deu essa informação a seus superiores, empregadores, o que quer que eles sejam chamados — eu estou no escuro quando se trata destas coisas e Victor não fala muito sobre isso... ou talvez ele tenha dito e eu acabei por estar muito envolvida no meu treino com Nora Kessler para notar.

Comecei no dia seguinte depois da noite em que a deixei entrar. E já sinto que tenho que cuidar das minhas costas a cada momento do cada dia — não porque ela não possa ser confiada, mas porque, como parte de seu treinamento, ela me ataca do nada. Não existe tal coisa como um descanso. A qualquer momento Nora poderia estar me testando, mentalmente ou fisicamente, ou de qualquer forma que ela achar conveniente. É o mesmo tipo de treinamento que comecei com Victor há mais de um ano, mas muito mais intenso. Ela fode com minha cabeça tantas vezes que eu não posso dizer a diferença quando ela está mentindo no meu rosto ou me dizendo a verdade — eu deveria ser capaz de descobrir isso. Aprender a confiar inteiramente nos meus instintos e ser capaz de reagir a qualquer situação em conformidade, sem nunca pensar nisso. — Se você tem que parar e pensar nisso, você já fodeu — disse ela durante uma das raras vezes em que me deu um conselho. E então: — Não é a mesma coisa que "pensar antes de reagir" trata-se de mudar a maneira de pensar e reagir naturalmente.

Eu nunca esperava que qualquer treinamento fosse assim. E está apenas começando.

Hoje Nora juntou-se à mesa para o seu primeiro encontro.

Victor não aprovou minha decisão de deixá-la se juntar a nós quando eu lhe disse o que eu tinha feito. Não de primeira de qualquer maneira. Eu tive que lembrá-lo que ele disse que confiava em mim, e embora eu pense no fundo ele não precisasse disso, eu sei que ele menos esperava que eu a deixasse viver e tudo veio como um choque para ele. Para mim também. Eu tinha toda a intenção de eliminar Nora naquela noite — eliminando; talvez eu esteja começando a me tornar mais como Victor — mas no último minuto, eu fui com meu istinto em vez do meu ódio por ela.

Entrei na sala de reuniões diante dos rostos de Victor, James e Fredrik. Nora estará atrasada se ela não estiver aqui em cinco minutos. Eu faço o meu caminho para a minha cadeira habitual perto de Victor, onde me sento e tento parecer confiante — sei que Nora não estiver de acordo com as expectativas de todos, isso estará sobre a minha cabeça, porque eu fui a única que a deixou se juntar a nós. Estar atrasada na sua primeira reunião não é uma boa maneira de começar.

A sala está repleta de silêncio. Quase nenhum movimento agita o ar suave que escorre das aberturas no teto. James olha para a tela do laptop. Fredrik senta-se solidamente, como um gigante deslumbrante melancólico com as duas mãos apoiadas na mesa. Victor se senta com as costas presas contra a cadeira e as mãos no colo — sempre o poderoso no quarto, e qualquer um saberia apenas olhando para ele, mesmo que nunca o tivessem visto antes. Eu sinto seus olhos em mim — embora não os de Fredrik — mas não consigo olhar para nenhum deles.

Finalmente, o som de saltos tocando contra o chão do outro lado da porta ecoa pelo corredor. A porta se abre e Nora, com suas longas pernas e com belos cabelos louros, entra na sala de reuniões, fechando a porta atrás dela. Ela está vestida, de todas as coisas, um terno de mulheres negras e altos saltos pretos. Uma camisa com um elegante babado que puxa sob o casaco do terno e fica perfeitamente sobre seu peito, puxado em torno de seu pescoço de uma forma delicada. Delicado — uma palavra que eu nunca teria pensado associar com os gostos de Nora Kessler.

— Chagando perto da hora — eu falo.

Nora senta-se ao lado de James, com as costas retas e refinadas.

— Sim, — ela diz com um sorriso de desculpas e então alcança o bolso da jaqueta e retira um telefone celular. — Mas eu encontrei Niklas.

Victor e eu olhamos um para o outro enquanto Nora desliza o celular sobre a mesa e ao alcance de Victor. Ele pega e olha para a tela, batendo uma vez com a ponta do dedo enquanto ela começa a se desvanecer em preto. Eu me inclino mais perto de Victor para obter uma visão melhor.

— Em Barlow, — Nora anuncia. — Ele parece estar gastando muito do seu tempo lá, bebendo — eu olho para a tela para ver várias fotos de Niklas sentado em um bar escuro iluminado com um tiro de uísque no bar à sua frente — uma garota diferente todas as noites nas últimas noites. Ele está ficando no hotel ao lado do bar.

— Isso é apenas trinta minutos daqui — eu digo, olhando para Victor ansiosamente.

— Bebendo e mulheres — James fala do outro lado da mesa. — Parece que ele não mudou, realmente. Acho que é seguro dizer que ele está bem.

Franzem o cenho para James.

— Ele não está tão bem — eu digo.

— Mas ele estará — diz Victor.

Ele desliza o telefone de volta para Nora. Ela o deixa sobre a mesa na frente dela.

Fredrik não diz nada.

Eu deslizo para trás em minha cadeira mais confortavelmente e viro a Victor.

— Você quer que eu vá falar com ele? — Eu pergunto. — Tentar trazê-lo de volta para cá para que você possa falar com ele?

Victor sacode a cabeça.

— Vamos discutir Niklas mais tarde — diz ele. — Primeiro, eu tenho algo mais que precisa ser tratado.

Victor e Nora trocam um olhar, dando a impressão de que são os únicos na mesa que já falaram sobre isso, seja lá o que for. Eu me sinto incrivelmente incômoda de repente, mas curiosa e ansiosa, também.

— O que é? — Eu pergunto.

Victor respira fundo e olha para todos nós.

— Haverá uma missão importante no futuro próximo — ele diz enigmaticamente e seus olhos caem sobre mim, — não no próximo ano, mas porque levará, pelo menos, esse tempo para se preparar para isso, ou melhor, para preparar Nora - Ele olha para ela por um instante.

— OK — eu digo, desconfiada, — que tipo de missão?

Ele fica quieto por um momento e depois diz:

— Preciso que você volte para o México.

Confusa, eu respondo:

— Por que o México? — Mas o que é tão confuso é o quão obscuro ele está sendo. — Não tenho problema em ir lá, Victor. Você me dá uma missão e eu vou executá-la. O México não me assusta. Já fomos lá uma vez. Pegamos dois dos irmãos de Javier e libertamos algumas das meninas deixadas no complexo. A missão não resultou como eu esperava e muitas das garotas com quem eu vivi quando eu era prisioneira lá, já haviam sido vendidas ou mortas quando chegamos.

Ele olha para longe dos meus olhos momentaneamente.

— Victor, o que é? Apenas diga.

Mais uma vez, sinto todos os olhos em mim, mesmo Fredrik desta vez, mas eu não olho para ninguém além de Victor.

— Esta missão vai exigir algo mais do que matar alguém e voltar — ele começa. — Nos próximos meses você estará treinando Nora para isso.

Minhas sobrancelhas se dobram rigidamente.

— Eu treinando ela? — Estou começando a entender, o que será toda esta missão , mas deixei Victor preencher as lacunas.

— Você estava por dentro, — ele diz para mim, — e você sabe como as coisas funcionam. Tudo. Desde a compra e venda de drogas, armas e meninas, até o modo como as meninas foram tratadas, até como elas foram mortas. Nora certamente pode lidar com qualquer tipo de missão dada a ela, mas mesmo ela precisa ser treinada para que ela saiba exatamente com o que ela está lidando.

Olho bem para Nora, que fica quieta, mas com confiança.

— Espere um segundo, — Eu o cortei — então você está dizendo que quer que eu a treine para ser uma escrava sexual? — De alguma forma eu não pode imaginar essa imagem na minha cabeça, não importa o quanto eu tente.

O rosto de James se ilumina com arrepiante prazer.

— Não necessariamente, — Victor diz. — Eu falei com ela longamente sobre isso e nós dois concordamos que a melhor maneira de abordar esse aspecto particular é para ela se tornar uma das meninas, não apenas desempenhar o papel.

— É melhor se tornar uma delas — diz Nora, — se eu conseguir ser uma delas, não que me ensine como ser uma delas.

Ficando mais confusa, eu olho entre Victor e Nora, procurando respostas.

— Eu sou capaz de assumir qualquer papel, até mesmo uma escrava do sexo, mas você precisa me dar dicas, me dizer sobre os bastidores, sobre como ser mais consciente, como não me matem.

Eu balanço a cabeça, já não gosto dessa ideia.

— Victor, imagino que as coisas não são mais as mesmas. Javier está morto. Izel está morta. Seus irmãos estão mortos.

— Elas podem estar — diz ele, — mas isso não significa que as coisas mudaram muito. Javier tinha seis irmãos que conhecemos. Dois deles ainda estão executando suas operações. O composto ainda está no mesmo lugar. Meninas, drogas e armas ainda são compradas e vendidas como se nada tivesse acontecido. Dentro de dois meses de nossa última missão lá, eles estavam funcionando novamente.

Eu já sabia a maior parte dessa informação, mas vejo por que agora ele tinha que repetir.

Balançando a cabeça com um olhar caído, inclino-me para a frente com os braços sobre a mesa.

— OK mas porquê? Por que voltar? Não me interpretem mal, não tenho nenhum problema em matar aqueles bastardos e libertar mais das meninas, mas...

— Essa não é a missão, Izabel — diz Victor.

Eu pisco, um pouco atordoada.

Nora e Victor trocam outro olhar de conhecimento.

Então Victor diz:

— Nora me disse alguma coisa, na última noite em que ela foi detida naquele quarto, antes dela se juntar a nós. Algo sobre você que eu queria ter mais certeza antes de eu dizer qualquer coisa.

Eu apenas olho para ele, sentindo a dor da traição, mesmo sabendo que ele não me traiu em tudo.

Victor continua:

— Além disso, depois de falar com Dorian quando ele foi detido pela primeira vez, a história de Nora parecia ter mais verdade. — Depois de uma pausa, ele diz: — A missão no México será descobrir quem é Vonnegut. Você pode ser a única pessoa entre nós que já viu o verdadeiro Vonnegut.

— O quê? — Eu não posso acreditar no que acabara de ouvir.

Ele balança a cabeça, e depois começa a falar, mas eu o interrompo.

— Você viu ele — eu aponto. — Do que está falando, Victor?

— O homem que encontrei em raras ocasiões, quando eu fazia parte da Ordem — ele começa, — onde eu era valorizado como um operário, tenho razões para acreditar que não era o verdadeiro Vonnegut. Ele era um chamariz. A verdade é que ninguém realmente sabe quem é o verdadeiro homem por trás da organização de assassinato mais antiga e maior ainda em funcionamento hoje. Nem mesmo a CIA ou o FBI — ninguém. Apenas quando eles pensam que têm uma identidade, descobrem apenas estavam correndo em círculos.

Victor me enche de tudo o que Dorian lhe contou, dos suspeitos de Vonnegut de vender armas a terroristas e de que seu negócio é muito mais do que matar por contrato. Ele continua a me falar sobre as coisas Nora lhe disse em segredo, e sobre o dispositivo de rastreamento que Victor me cortou quando nós estávamos nos escondendo.

— Niklas e eu sabíamos — diz Victor, — na noite em que tirei esse aparelho de você, que algo de tão alta tecnologia tinha que vir de uma fonte externa, que não havia ninguém como Javier Ruiz que fosse capaz de produzir ele mesmo.

— Enquanto eu estava espionando todos vocês, — Nora interrompe, — e mergulhando em informações da Ordem, eu descobri que Vonnegut estava lidando com meninas, também, e estava vendendo dispositivos de rastreamento de alta tecnologia como o que eles encontraram em você.

Victor acrescenta:

— Acredito que o dispositivo que foi colocado em você veio de Vonnegut. Acho que Vonnegut estava vendendo para Javier, e você estava lá no interior, mais perto de Vonnegut do que quase ninguém já esteve.

— Mas o que faz pensar que eu sei como ele se parece? — Eu atiro de volta, ficando mais oprimida por esta informação surpreendente.

— Os homens ricos que você viu quando Javier estava usando você como um troféu de braço — Victor diz, — um deles eu acredito que é o Vonnegut real.

Imediatamente, começo a pensar em todos os seus rostos, cada um movendo-se rapidamente através da minha mente como um borrão.

— Ele não pode ficar escondido para sempre — Victor continua. — Alguém o viu. Ele pode ser um fantasma, mas ainda é humano e os seres humanos por natureza precisam se associar a outros seres humanos, estar na presença de outras pessoas — acho que ele era um desses homens ricos, Izabel. E eu acho que Nora indo para esta missão será como nós finalmente o encontraremos, destronaremos e mataremos.

Ele faz uma pausa e acrescenta com profundidade,

— E então eu assumirei A Ordem, uma vez que ele está morto.

Não respondo ao seu último comentário, mas, pela primeira vez desde que entrei na sala, os olhos de Fredrik se fecham nos meus.

Esta é a primeira vez que eu ouvi Victor dizer algo assim. Assumir a ordem, a ordem... é uma conversa para outro dia. Neste momento meu cérebro está sobrecarregado com... tudo.

Estou em silêncio por um longo tempo, deixando todo o resto que ele me disse para assimilar. Ainda parece ser haver muito que foi deixado sem resposta, mas me leva vários minutos para descobrir quais são essas coisas.

— Mas por que mandar Nora? — Eu digo, olhando para ela por apenas um segundo. — Quero dizer... bem, acho que não posso ser a única a voltar porque muitos já sabem como eu pareço...

— Eu não deixaria você voltar de qualquer maneira — Victor me corta. — Você vai para o México e estará em uma cidade turística, mas Nora estará fazendo o trabalho interno.

Eu franzi o cenho.

— Por quê? O que quer dizer que você não vai me deixar voltar? — Há ácido na minha voz.

Victor suspira e deixa cair as mãos no colo.

— Você não acha que eu sou capaz de volta ali, — Eu acuso. — Você acha que eu sou como todo mundo; isso porque eu passei por uma experiência traumática e que eu nunca seria capaz de me colocar nisso de novo, que eu nunca seria capaz de lidar com isso. Bem, você está errado — eu lanço uma mão no ar — Eu sou o oposto de todo mundo. Eu não tenho medo disso. De qualquer um deles. Eu sou mais forte agora do que nunca, e se alguém pode fazer este trabalho com perfeição, sou eu. Não Nora, mas eu.

— Não se trata de se provar, Izabel — diz Nora calmamente e gentilmente.

Eu olho para ela.

— Ninguém pediu sua opinião...

— Não, mas eu não sou o tipo que dar — ela devolve - Ah, mais aí estar a verdadeira Nora Kessler: audaz, loquaz e irritante.

James se esconde na cadeira um pouco para colocar alguma distância entre ele e Nora, provavelmente esperando que eu me jogue na mesa em qualquer segundo agora.

O deixo passar, inalo uma respiração longa, profunda e volto para olhar para Victor.

— Como você mesmo disse — Victor diz, — você não pode ser a única a entrar porque você não pode arriscar ser vista.

— Talvez haja uma maneira de contornar isso — eu digo. — Poderíamos...

— Izabel — Victor interrompe com um tom sombrio e firme, — você não vai voltar lá... você não pode lutar contra todos os homens naquele complexo que tentariam ter seu caminho com você.

— Ah, então é isso que se trata, — eu digo friamente. — Você acha que eu não posso evitar que eu seja estuprada — eu o olho diretamente nos olhos, sem piscar — confie em mim, eu poderia...

— Nora estará indo para a missão — diz ele, como se isso fosse o fim.

Esfregando os dentes, respiro fundo e me levanto da cadeira.

— Ela não pode entrar lá com fios, — eu assinalo. — Ela não pode levar uma câmera. Ela não terá acesso a um telefone. Eu não duvido de suas habilidades, mas se ela vai ser uma das garotas e torná-la crível, ela não pode se esgueirar para entrar em contato conosco — eles saberiam em poucos minutos que ela está desaparecida. — Eu olho para ela uma vez e digo: — Como você vai ser a única a descobrir quem Vonnegut é se eu sou a única que supostamente o viu? — Eu cruzo os braços e olho atentamente, os olhos correndo entre Nora e Victor.

— Vamos descobrir isso — diz Victor. — Temos vários meses para chegar a um plano.

Eu balanço a cabeça, minha boca se levantando de um lado.

— Victor, eu não sou estúpida para acreditar que você não conhece uma maneira certa de descobrir quem é Vonnegut.

Ele olha para mim, esperando.

— Através de mim — continuo. — No segundo Vonnegut me vê, eu saberei que é ele porque a compreensão de quem o está olhando irá piscar em seus olhos naquele instante. E eu iria vê-lo. Vonnegut está bem consciente de como eu pareço.

— Sim — Victor diz, — essa é a melhor maneira de descobrir quem ele é, mas vamos encontrar outro caminho. Você não vai entrar nesse complexo.

— É o único caminho.

— Outros viram você — ele me lembra, ficando irritado.

— Mas Javier e Izel estão mortos. Luis e Diego estão mortos e eles são os únicos outros irmãos de Javier que eu vi. Quem está correndo o lugar agora duvido saibam quem eu sou.

— Não podemos correr esse risco.

— Concordo — diz James. — É muito perigoso.

— Victor...

— Izabel! — Ele levanta as costas da cadeira — Eu não vou deixar você voltar lá! — ele respira fundo e acalma-se — Eu não estou arriscando você naquele lugar, Nora sim - Suas palavras cruéis não a perturbam nem um pouco; Ela não se importa com essas coisas. — Você quer fazer missões sozinha e isso já é risco suficiente, não importa o quão bom você seja, mas enviá-la em um lugar onde as pessoas podem se lembrar de você e quem vai matar você no local no segundo que eles percebam quem você é, não é um risco que estou disposto a correr.

Olho para a parede, desapontada e zangada, mas tocada por seus sentimentos e não posso simplesmente descartá-los como se eles não fossem nada.

— Me desculpe, — eu digo suavemente e Victor estende a mão para mim. Ele nunca mostra carinho comigo durante as reuniões, então o gesto me deixa surpresa.

Eu ando e pego sua mão. Ele me puxa para ficar ao lado dele. Ele beija o topo dos meus dedos.

— Vamos descobrir um caminho — ele diz gentilmente, — mas Nora será a de dentro.

Eu aceno com relutância.

Quanto tempo você vai se permitir cortar os cantos por mim, Victor?

— Vou ensinar a Nora tudo o que ela precisa saber — eu digo olhando para ela.

Então eu tomo meu assento outra vez.

— Você é a chave para fazer isso funcionar — diz Victor.

Quanto tempo você vai tomar a rota alternativa apenas para me manter fora de perigo?

— Vou fazer o que eu tenho que fazer para ajudar a derrubar este tirano — eu acrescento.

Quão mais…?

E farei o que Victor me pedir, mas uma grande parte de mim quer ser a do interior. Não porque eu sinto a necessidade de provar a mim mesma. Não porque ele está deixando Nora ir em vez de mim e eu sinto alguma sensação de ciúme — isso não tem nada a ver com ciúme, ou determinação imprudente; eu quero que seja eu porque eu passei nove anos da minha vida no México entre esses homens e sinto que, se qualquer missão deveria ser minha, é esta.

— Entretanto — Victor anuncia, — com a ausência de Niklas, e considerando as mudanças feitas nesta Ordem, Nora será a sua nova parceira.

Eu aceno com aceitação.

— E continuarei treinando você enquanto trabalho com você — diz Nora.

— Vocês duas irão em várias missões juntas antes da missão no México — diz Victor. — Vocês irão se concentrar em suas atuais missões por enquanto, mas estejam se preparando para o México da mesma forma.

O silêncio caí sobre o quarto quando cada um de nós pensar sobre o caminho a seguir.

— E Niklas? — Pergunto, decidido a não deixá-lo ser esquecido. — Estamos planejando todas essas missões sem ele?

— Por enquanto, sim — diz Victor. — Até que as coisas entre meu irmão e eu tenham sido resolvidas, é melhor assumir que ele não fará parte de nenhuma missão.

Concordo com a cabeça.

Nós cinco passamos os próximos trinta minutos discutindo os detalhes das nossas futuras missões, incluindo começar cedo no México. É muito estranho sentar nesta mesa sem Dorian e Niklas. E com Nora, em vez disso. Sinto falta do sarcasmo de Dorian e comentários ridículos sobre as mulheres que deviam me esfregar do jeito errado, mas nunca fazem. E eu sinto falta das minhas lutas com Niklas e seus olhares frios e o fedor de seus cigarros persistentes em sua jaqueta.

Finalmente, quando a reunião chega ao fim, Fredrik fica de pé da mesa.

Todos nós olhamos para ele.

— A menos que haja qualquer outra coisa, — ele diz, olhando apenas para Victor, — eu tenho um lugar que eu preciso estar.

— E o que você poderia, eventualmente, ter que fazer? — Nora pergunta, sua voz cheia de provocação, seus lábios vermelhos escuros espalhando-se num sorriso. — Um homem tão frio como você não pode ter qualquer tipo de vida fora desta Ordem. — Ela sorri docemente, perversamente.

Fredrik e Nora raramente falam um com o outro, mas de vez em quando, sua personalidade burlona escapa dela. Ontem ela se colocou como se ela não pudesse quebrar e como ela é agora a segunda mulher a vencê-lo. Ela está tentando consegui uma reação dele, eu realmente não tenho ideia porque ela quer uma, mas Fredrik está, como sempre, não se incomodando com suas provocações.

Até agora.

Ele tira a pasta da mesa.

— Almoço — ele diz simplesmente.

Os olhos castanhos de Nora se iluminam com sugestão.

— Oh? E vai comer sozinho neste almoço, ou gostaria de companhia?

Fredrik anda pelo comprimento da mesa. Ele nunca olha para ela, mas então ele nunca realmente olha para qualquer um de nós.

— Eu prefiro jantar sozinho — diz ele.

Nora apenas balança a cabeça, sorrindo. Nada parece incomodá-la, e admiro isso nela. Silenciosamente, é claro; eu nunca a deixarei saber disso.

Fredrik olha para Victor, esperando.

— Eu vou estar em contato — Victor diz a ele. — Se as coisas forem como planejado, você estará interrogando um homem até o fim da semana.

Fredrik acena, coloca a mão na porta e a empurra.

— Mas não deixe o país — Victor diz antes de Fredrik sair. — Eu acho que é seguro dizer que seu tempo sozinho acabou.

— Claro — diz Fredrik. — Eu estarei esperando por sua ligação. — A porta se fecha ligeiramente atrás dele quando ele sai do quarto.

Victor volta sua atenção para Nora.

— E que outras informações você tem para mim do FC-4? — Ele pergunta.

Nora escova seu cabelo loiro sedoso longe de seus ombros e dobra suas mãos juntos na mesa na frente dela; suas curtas unhas estão pintadas de vermelho para combinar com seu batom. James olha para ela brevemente, da mesma forma que faz a cada poucos segundos, mas tenta não torná-lo tão óbvio.

— Também no final da semana — ela diz, — vou ter tudo o que sei sobre eles à sua disposição.

Victor acena com a cabeça.

Então ele diz:

— Você tem um longo caminho a percorrer antes mesmo que eu começar a confiar em você; um caminho difícil pela frente.

— Sim, estou bem ciente — diz ela em troca. — Se você já confiasse em mim, eu não teria o respeito que eu tenho por você.

Nora olha para mim.

— Mas um pouco de confiança — diz ela, indicando o tipo que eu tenho por ela, — é muito apreciado.

Eu aceno, aceitando seus agradecimentos.

Victor olha entre nós, mas não diz mais nada. Nora é o meu projeto, a minha responsabilidade, meu fardo para carregar. Ele aceita isso e não me privará dela e do que eu preciso dela mesmo que ele temesse que ela seja um erro, mas eu sei que ele vai estar observando cada movimento dela.

— Bem, pela minha parte — James fala, — estou feliz por ter você a bordo. — Ele sorri estupidamente.

Nora lhe dá um olhar sensual, fazendo com que seu grande rosto redondo fique vermelho.

— Não sei como Niklas vai se sentir sobre isso — James acrescenta, — ou até mesmo Dorian, se e... ele alguma vez sai daquela cela, é claro — ele olha para Victor — mas eu suponho que o tempo dirá.

Sim, o tempo tende a conter as respostas para tudo. E, como as coisas estão agora, como as coisas tomaram um rumo tão drástico em nossa Ordem, estou ansiosa e com medo de ver o que o tempo revelará. Acho que a única coisa que posso fazer é esperar. Esperar que Niklas volte e segure a minha respiração como tudo o que está destinado a acontecer entre ele e Victor, aconteça. Espere pelo dia em que o destino de Dorian estará finalmente decidido. Esperar pelo momento que se, ou quando, Victor descobrir sobre a criança que eu tive com Javier, e abrace as consequências da verdade. Esperar para ver se meu julgamento está, de fato, totalmente errado e Nora acaba me fazendo uma tola, afinal.

Esperar. O tempo é uma cadela cruel.


Capítulo vinte e três

Fredrik

HÁ CERCA DE OITO ANOS...


Serafina. Meu anjo com asas pretas. Ela sorriu; um brilho carmesim nos lábios, emoldurado por cabelos tão negros como a minha alma, os olhos tão profundos como o poço sem fundo que é o meu coração. Ela se deitou perto do corpo quente, seus dedos longos e brancos enrolados no sedoso cabelo loiro da menina. Seus seios pródigos e cheios, pressionados contra os menores da menina. Ambos estavam nus, enrolados um ao lado do outro. Eles estavam esperando por mim.

— É muito simples — Seraphina disse e ela arrastou a ponta de sua língua através do pescoço da menina, olhando através do quarto para mim com aquelas piscinas escuras de pecado e salvação. — Nós fazemos tudo juntos, meu amor — sua língua traçou o lábio inferior da garota e a menina devolveu o gesto — meu diabo, meu príncipe negro.

Eu pisei para frente, quebrando os botões da minha camisa.

Seraphina prosseguiu:

— Nós buscamos vingança juntos. Nós fodemos, nós amamos, nós condenamos e destruímos juntos até o dia em que morreremos juntos.

Ela estendeu a mão delicada, mas mortal e gesticulou para mim, curvando seus dedos em direção à sua palma, lentamente e sugestivamente.

— Venha cá e prove-a — disse ela, e então deixou cair a mão entre as coxas da garota. — Você tem que prová-la.

A garota gemeu com o toque de Seraphina, sua cabeça loira pressionando o ombro da minha esposa, seus peitos pequenos e macios empurrando para a vista da luz fraca no pequeno qiarto.

Fiquei de pé ao pé da cama, observando-os, como os dedos de Seraphina se moviam com tanta precisão artística, como as pernas da menina se separaram para ela, expondo seu lugar mais secreto para mim e para o ar fresco da noite.

— Eu disse para você não trazê-las aqui. — Eu finalmente digo enquanto escorregava meu cinto dos laços da minha calça preta, o som do couro se movendo contra a tela em um movimento lento e deliberado. — Nunca sem minha permissão. E nunca aqui. — Eu estava furioso, mas mantive-o contido.

Os lábios vermelhos escuros de Seraphina se espalharam em um delicioso sorriso. A moça acariciou os seios de Seraphina, colocou a cabeça no seu pescoço; ela tentou tocar embaixo Seraphina, mas não foi permitida, então ela puxou a mão dela, arrastando as pontas dos seus dedos em seu estômago.

— Oh, Fredrik — disse Seraphina, levantando as costas da cama - você não pode dizer isso o tempo todo. Estou tentando te ajudar. Isso é apenas parte do processo.

— Mas, da mesma forma — disse eu — disse-lhe para não trazê-las para nossa casa.

Seraphina e eu compartilhamos um olhar, seu sorriso escurecendo com desapontamento; meu rosto sem emoção não tinha mudado. Mas minha esposa nunca desistir tão facilmente. Ela nunca fazia o que eu dizia com um estalar de dois dedos, porque ela era ousada e desafiante e eu adorava isso sobre ela.

Ela se levantou da cama.

A menina ficou alerta e sentou-se quando notou a tensão crescente na sala.

— Quero que você a foda — disse Seraphina. — Eu a trouxe aqui para você. Olhe para ela — ela acenou para a menina, que era muito bonita com lábios cheios e grandes olhos castanhos e quadris curvilíneos — Eu achei que você ia gostar dela. Eu gosto dela.

A menina olhou para trás e para frente entre nós nervosamente.

— Mas esta é a nossa casa, Seraphina. — Eu me aproximei de sua forma alta e nua. — Você sabe que eu não gosto de fodê-los aqui, onde dormimos, onde eu te fodo.

— Eu... acho que vou embora agora — disse a moça, levantando-se da cama.

— Não! — Seraphina estalou, apontando para ela. — Sente-se, caralho. — Ela olhou para mim, fulminando-me, rangendo os dentes. Seus olhos castanhos brilharam em seu rosto oval irritado; O preto de seu cabelo curto brilhando contra o branco cremoso de suas bochechas.

A menina estava com muito medo de se mover. Ela permaneceu na cama, puxando os joelhos para ela e cobrindo seus seios com seus longos cabelos.

— Você pode ir — eu disse a menina, empurrando minha cabeça para trás, indicando a porta aberta atrás de mim.

— Eu disse que ela fodidamente fica, Fredrik!

Seraphina começou a se esgueirar através da cama para a garota, mas eu a agarrei por trás, segurando-a firmemente em torno de sua cintura. A moça levantou-se rapidamente com os olhos arregalados e agarrou suas roupas do chão.

Seraphina lutou comigo a cada passo, a cada momento, até que a menina saiu correndo e ouvi a porta da frente de nossa pequena casa fechada atrás dela.

— Desgraçado!

Arrancando as mãos de Seraphina atrás de suas costas, eu a empurrei para a frente na cama.

— Por que você faz isso, Seraphina? — Eu perguntei a ela, minha voz sufocada de raiva e desespero. Ela lutou contra a cama, mas eu a segurei ainda, pisando entre suas pernas e separando-as com a minha. — É a minha única regra e você a quebrou. Por quê?

— Porque é uma regra fodidamente estúpida! — Ela gritou, uma face pressionada contra o colchão.

Inclinando-me sobre seu corpo com os pulsos ainda presos atrás dela em uma das minhas mãos, eu sussurrei em seu ouvido:

— É estúpido que eu te ame, Seraphina? — Meu aperto aperta em torno de seus pulsos — É estúpido que eu nunca queira compartilhar você ou eu com alguém em nossa casa?

— Que diferença faz? — Perguntou ela em uma voz mais calma, mas amarga. — Não importa onde nós fazemos.

— É importante para mim. — Eu beijei o lado de sua boca.

— Por quê?

— Porque deve haver limites — eu disse e me levantei novamente. — Nós não vamos foder, matar ou destruir qualquer pessoa em nossa casa. Você entende?

Ela balançou a cabeça ainda pressionada contra o colchão.

— Agora você vai ficar quieta ou eu vou ter que amarrar você?

— Vou ficar quieta — disse ela.

Eu soltei seus pulsos e ela moveu seus braços para fora e descansou-os sobre o colchão acima de sua cabeça.

— E por que você vai ficar quieta? — Perguntei quando peguei firmemente o cinto em minha mão.

— Porque eu mereço — ela disse, da mesma forma que ela havia dito as vezes antes que eu tinha que puni-la.

Agachei-me entre as pernas e, com ambas as mãos, separei um pouco mais para a expô-la a mim.

— Eu não sei o que vou fazer com você — eu disse e beijei a carne quente de seu traseiro.

— Você não sabe o que você faria sem mim — disse ela em troca.

Eu beijei a outra bochecha.

— Não, eu não, e eu nunca quero descobrir.

Ela gemeu e seu corpo se enrijeceu quando minha língua serpenteou para fora e lambeu seu clitóris.

Eu me ergui em uma posição e pisei de entre suas pernas. Ela ficou quieta, esperando, sabendo, preparando-se. Eu a observei por um momento. Ela empurrou os dedos dos pés um pouco, o suficiente para segurar suas pernas enquanto ela estava deitada de costas contra o colchão da cintura para cima. Eu queria tanto colocar meu pau nela, eu queria espremer seu traseiro em minhas mãos e fodê-la até que nenhum de nós pudesse ver em linha reta, mas ela tinha que ser tratada primeiro. Eu nunca poderia deixá-la ter seu caminho quando se trata dessas coisas ou ela se tornaria incontrolável. Seraphina pode ter me ajudando a controlar meus impulsos torturantes, meus impulsos assassinos, mas eu não era o único de nós que precisava ser ensinado, controlado e guiado por que Seraphina era uma mulher perigosa e perversa que poderia se perder em qualquer momento e nunca poderia ter muito controle.

O som da pele marcada pelo couro rasgou através do ar e Seraphina gritou alto. Mas ela não se mexeu. Duas vezes. Quatro vezes. Seis vezes. Dez vezes, o cinturão golpeou sua carne, deixando marcas em sua bunda. Ainda assim, ela nunca se moveu; apenas seus dedos se agarraram a cama, rasgando o lençol do colchão e esmagando-o em suas mãos.

Onze. Doze. Treze.

Eu não cedi. Eu nunca poderia deixá-la ver a fraqueza em mim ou eu iria perdê-la. Atacar Seraphina levemente, tendo piedade dela, só a desligaria. Era uma coisa boa porque eu nunca teria tido piedade dela. Eu gostava de infligir a dor tanto quanto ela gostava de tomá-la.

— Fredrik, por favor! — Ela implorou com uma voz chorar lágrima. — Por favor pare…

Eu bati o couro novamente, e novamente, e novamente até chegar a vinte. Era sempre vinte. Ela sabia que sempre haveria vinte chicotadas, não importa o quanto ela me implorasse para parar.

Eu coloquei o cinto de lado na cama e agachado entre suas pernas mais uma vez. Seu corpo tremia debaixo de minhas mãos cuidadas, resistido por apenas segundos sob meus lábios quentes. Eu beijei cada centímetro de sua dor, cada pedaço, cada minúsculo corte onde a pele tinha quebrado. E então eu delicadamente puxei seus lábios separados com meus dedos e arrastei a ponta da minha língua quente entre eles. Lentamente. Atentamente. Seraphina gemeu e choramingou e cavou seus dedos no colchão.

Ela já não sentia a dor.

Tudo que ela sabia era o prazer.

Eu a fodi duramente, a única maneira que qualquer um de nós queria sempre — duro e violento. E depois que eu gozei, eu deitei em suas costas, ainda enterrado dentro dela.

Eu a beijei de volta, sua coluna, seus ombros e seu pescoço. A lâmina de barbear me acenou na mesa de cabeceira, mas esperei. Só mais um pouco.

— Não há ninguém mais no mundo como nós, meu amor — ela disse em uma voz suave, olhando para nada com seu rosto pressionado contra o colchão. — Eu morreria sem você.

Distraidamente, eu continuei a me empurrar profundamente dentro dela lentamente.

— Você nunca estará sem mim — eu disse e beijei a nuca. — E como você disse antes, morreremos juntos.

— Você promete, Fredrik? Você vai junto comigo se eu morrer antes de você?

Eu beijei o lado de sua boca, pressionando meus quadris contra ela. Ela ofegou.

— Quando você morrer, eu também morro — eu sussurrei contra sua orelha. — Você é o amor da minha vida. Meu lindo cisne. E você será minha destruição.

Entrei dentro dela. Seus lábios se separaram em um gemido silencioso e ofegante e seus dedos encontraram o topo do meu cabelo escuro.

— Ninguém pode te amar como eu te amo — disse ela. — Nenhuma mulher neste mundo conhece você como eu conheço você, entende suas necessidades, sua dor, seu passado. Nenhuma mulher pode dar a você o que eu lhe dou.

E ela estava certa.

Eu empurrei mais e mais e, de repente, a lâmina de barbear estava presa entre as pontas dos meus dedos e o polegar.

Eu levantei meu peito de suas costas, apenas o suficiente para que eu pudesse vê-la.

Seraphina choramingou e agarrou a cama quando eu fiz o primeiro corte, verticalmente abaixo suas costas cerca de dois centímetros. Logo iria curar e tornar-se como as outras cicatrizes que eu tinha deixado lá. Então me inclinei e lambei o sangue que escorria da ferida com a língua. Seraphina levantou seu traseiro contra mim, me forçando mais fundo. Meus dedos feriram firmemente dentro de seu cabelo.

Inclinei-me mais um pouco, procurando sua boca com a minha, e eu a beijei longa, dura e sangrenta.

— Ninguém, Fredrik, — ela sussurrou e lambeu minha língua, — ninguém jamais te amará como eu.


Eu não sei quanto tempo eu estive olhando este jornal, as palavras impressas em tinta preta borradas em toda a minha visão. Por quanto tempo minhas memórias de Seraphina me torturarão? Oh sim, claro — até eu morrer junto com ela como eu prometi.

Minha pasta está no chão embaixo da mesa, sentada entre a parede e minhas pernas, escondida na escuridão. Os clientes neste restaurante, como em todos os lugares públicos, são inconscientes. Eles não têm percepção da verdade, a mesma verdade que os cerca todos os dias de sua vida tranquila e inocente — que o mal vive na porta ao lado, passa-os na calçada, prepara as refeições ou, neste caso, come apenas uma mesa com eles. Se eles soubessem apenas que segredos minha pasta tem, ou as coisas horríveis que estas mãos fizeram. Ou as lembranças vívidas e impiedosas que atormentam minha mente como uma ferida que nunca cura.

Enrolei dois dedos em torno da alça do meu café e trouxe a caneca para os meus lábios, suavemente soprando o vapor subindo do topo antes de tomar um gole cuidadoso. Mais uma vez, meus olhos examinam o jornal na mesa da cabine diante de mim — talvez desta vez eu realmente leia as palavras.

Eu vou colocar a caneca de volta para baixo, mas pouco antes de ele se instala de volta em segurança na mesa, o garoto sentado na cabine atrás de mim bate a cabeça contra a parte de trás do meu assento novamente. Algumas gotas caem da borda e sobre a mesa. Eu calmamente limpo-as com um guardanapo.

— Avery! — A mãe repreende. — Eu lhe disse para ficar quieto. Sinto muito.

Acho que o último comentário foi para mim.

Viro a cabeça apenas ligeiramente, não o suficiente para ver a mulher, mas o suficiente ela saber que a ouvi.

— Está tudo bem — eu digo e volto a ler o jornal.

Mais três vezes — além dos provavelmente dez outros antes daquela — o garotinho bate contra a parte de trás do meu assento, até que finalmente a mãe se apressa a sai com ele, pedindo desculpas novamente antes de ela se afastar com a mão de seu filho na dela. E mais uma vez, eu disse a ela que estava bem. O que eu não disse a ela, porém, é que eu, de uma forma estranha, me congratulo com o incômodo. Eu tendo a apreciar as coisas simples, e de outra forma irritante em vida depois de uma noite de torturar alguém, um menino inocente batendo a parte de trás da minha cadeira, sendo um menino, é uma boa mudança de atmosfera. Eu invejo este “Avery”. Que tipo de homem eu seria hoje se eu tivesse sido autorizado a jantar com a minha mãe e não me importar com o que o homem sentado atrás de mim pensaria com a minha cabeça batendo nas costas do seu assento? Talvez aquela pasta debaixo da mesa fosse preenchida com papel e um almoço embalado em vez de agulhas, facas, alicates, venenos e luvas de borracha. Talvez não haveria outra mulher no mundo que pudesse amar e me entender.

— Pronto para uma recarga? — Ouço uma voz doce dizer.

Olho para cima, puxando minha mente de volta para o momento, para ver a minha garçonete cujo nome lê “Emily” segurando um pote de café em uma mão.

— Não, obrigado.

Ela sorri para mim, um rosto de forma oval com lábios amáveis e olhos tipo avelã e pele de cor creme.

— Você vai pedido de sempre hoje? — Ela pergunta. — Dois ovos mexidos. Três fatias de bacon crocante e um copo de água com limão?

Eu olho para ela.

— Não, eu não vou tomar café hoje. — Eu olho de volta para o jornal.

O silêncio enche o espaço entre nós.

Finalmente, ela diz:

— Bem, talvez amanhã, então...

— Não, também não estarei aqui amanhã.

— Oh.

O silêncio começa a se esticar. Eu nunca olho para cima do papel.

— Bem, OK eu vou... deixá-lo para o seu café.

A garçonete chamada Emily, que tem sido minha garçonete todas as outras manhãs pelas últimas três semanas, começa caminhar, deixando sua personalidade brilhante no chão atrás dela.

— Espere — eu chamo em uma voz normal, e ela se detém para olhar para mim. — Eu uh... — Eu olho para a mesa, e então a minha caneca de café, e depois de volta para Emily — ... sim, eu acho que eu gostaria de ter o meu pedido habitual esta manhã.

Seu sorriso bonito retorna, seus olhos castanhos brilhando debaixo de seus cabelos marrom-dourados.

— Ótimo — ela diz balançando a cabeça, — Eu estarei de volta em alguns minutos.

Ela vem tentando falar comigo durante as duas semanas das três que eu vim aqui, mas eu sempre a evitei. Ela é linda, amável, doce e é precisamente por isso que eu não cedi a suas tentativas de conversa casual — ela não é o tipo de garota que eu poderia foder e ir embora, sem culpa por seus sentimentos feridos.

Não sei por que a parei.

Dez minutos depois ela volta com meu café da manhã com um prato em uma mão e um copo de água de limão na outra. Ela os coloca na mesa à minha frente enquanto eu afasto o jornal, dobrando-o e colocando-o no assento.

— Você trabalha aqui perto? — Pergunta ela, enquanto nota algo em seu tablet na palma da mão.

— Não — eu digo quando eu polvilhe pimenta nos meus ovos — estou apenas desfrutando do café da manhã. — E gosto muito do senso de normalidade que tomar café da manhã no mesmo restaurante todas as outras manhãs me dá, eu não digo em voz alta.

Ela rasga um bilhete e o coloca de face para baixo sobre a mesa.

— Bem, estou feliz por ser sua garçonete todas as manhãs — ela diz com um sorriso bonito que sugere algo mais.

Ela é tímida, mas ela está tentando ser corajosa e eu acho que é cativante.

O silêncio começa a se esticar novamente.

— Bem, desfrute da sua refeição — diz ela e então coloca o bilhete no bolso do avental.

— Obrigado — digo a ela e lhe dou um pequeno sorriso antes de voltar para a minha refeição.

Ela balança a cabeça e olha para o bilhete o tempo suficiente para eu pegá-lo. Sentindo como se ela quisesse que eu a olhasse antes de ela se afastar, eu o levo aos meus dedos e virei-o para encontrar um número de telefone escrito na frente, em vez da minha refeição ou quanto devo.

Ela cora sob seu sorriso.

— Você pode me ligar se quiser sair algum dia — seu rubor se aprofunda e só isso me intriga — isso é... se você for solteiro. Ou mesmo... interessado.

Ela está muito nervosa e ficando ainda mais enquanto mais ela fica ali e eu não digo nada.

— Quero dizer, você não é casado, tanto quanto eu posso dizer — ela olha nervosamente para o meu dedo anelar sem um anel — mas se você não está interessado...

— Você é uma mulher muito bonita — eu a cortei para que ela pudesse verter o arrependimento e a humilhação que ela começara a sentir. — E não, eu certamente não sou casado. Sou muito solteiro.

Ela sorri, com os lábios fechados. Noto outra garçonete de pé na caixa registradora, nos observando, e sorrindo. Ela olha para longe quando vê que eu notei.

Eu mantenho minha atenção em Emily.

— Você nunca perguntou a um homem antes, não é?

Seu rosto fica mais vermelho e ela mal pode olhar meus olhos mais.

— É tão óbvio? — Ela pergunta, enrugando seu pequeno nariz.

Eu deixei o sorriso em meus olhos tocar meus lábios mais.

— Sim, mas eu gosto.

Não dizemos mais nada por alguns segundos. Ela não consegue parar de sorrir e eu estou apenas confuso com a minha reação.

— Bem, eu tenho que voltar ao trabalho — ela diz e se vira sobre os calcanhares.

Eu aceno com a cabeça e então, pouco antes de ela ir embora, eu digo:

— Eu chego em casa às nove da noite. Eu ligo antes das nove e meia.

Eu acho que não pode machucar, pelo menos, falar com ela...

Seu sorriso de lábios fechados se ilumina, ela balança a cabeça e caminha até uma mesa onde dois novos clientes acabam de se sentar.

Eu como o meu café da manhã, coloco uma gorjeta grande sobre a mesa debaixo da xícara de café e depois saio em silêncio com a minha pasta na mão.


Perguntas para o leitor

Será que Izabel jamais contará a Victor o seu segredo? Ou ele vai descobrir por conta própria?


O que será de Dorian Flynn? Você acha que Victor deve levar Dorian em cima de sua oferta para trabalhar com a Inteligência dos EUA?


Será que o Niklas voltará à Ordem de Victor? Ele pode (ou deveria) perdoar seu irmão?


Que impacto você acha que Nora Kessler terá na Ordem de Victor, positiva ou negativa? E quanto a Izabel?


Será que Fredrik Gustavsson alguma vez encontrará o amor? Ou você acha que ele deveria ficar longe das mulheres completamente?


Você acha que Nora estava certa em dizer a Izabel que seu relacionamento com Victor está praticamente condenado?

CapÍtulo DEZENOVE

Izabel

Corro direto para os braços de Dina quando James entra no prédio com ela.

— Dina! Estou tão feliz que você está bem. — Meus braços a envolvem.

Ela beija minha cabeça e minhas bochechas e por um momento eu me sinto como uma menina de novo. Uma menina inocente feliz de ver sua mãe, que nunca foi uma escrava do sexo e que nunca matou ninguém.

— Estou bem, estou bem, querida — diz ela, me abraçando com força.

Está vestindo uma blusa cor-de-rosa clara enfiada em uma calça cor de canela. Seu cabelo cinza-aloirado está em rabo de cavalo alto em uma onda de cachos frouxos que caem em torno do seu rosto envelhecido onde há mais rugas ao redor dos olhos que da última vez que a vi.

Eu dou um passo para trás com as suas mãos entrelaçadas nas minhas e eu a olho.

— Você parece... bem — eu digo, tendo esperado — e temido — vê-la coberta de contusões e sangue, talvez alguns ossos quebrados.

— Bem, claro que sim, — ela diz como se eu já soubesse que ela estava bem o tempo todo.

Olho para James parado atrás dela com um olhar de profunda pergunta no meu rosto.

Victor entra na sala de reuniões atrás deles.

— O que está acontecendo? — Eu pergunto, olhando para Victor e depois para James.

— Bem, — James começa, — parece que Nora nunca machucou nenhum deles. Com a Sra. Gregory...

— Oh, por favor me chame Dina, — Dina interrompe, — as coisas apropriadas me fazem sentir velha.

Eu sorrio para mim mesma.

James também sorri e concorda.

— Nora disse a Dina que ela foi enviada por você e Victor para levá-la para a segurança.

— Oh, mas eu não acreditei nela imediatamente — diz Dina, sacudindo sua cabeça grisalha. — Eu sabia melhor do que isso e quando ela matou aquele bom homem que me observava muito da rua, eu estava com medo. Pensei que ela ia me matar em seguida.

Olho para trás e para frente entre Dina e Victor, esperando ansiosamente pelo resto da história.

— Não é necessário dizer, — Dina continua, — aquela mulher fez um show, eu acho, porque no momento que ela estava dizendo “para baixo!”, ela estava olhando para fora das janelas e eu estava realmente com medo de houvesse outros homens lá para me matar. Ela me disse que o homem no chão, ela matou era um traidor, ou eu acho que ela usou alguma palavra filme extravagante como conspirador ou infiltrado — Eu quero dizer a ela para ignorar todas essas coisas, mas eu não tenho o coração fazer isso — Ou algo assim — de qualquer maneira, ela me fez acreditar nela, isso é certo. Ela me tirou daquela casa e me colocou muito bem em outra e me disse para não saísse ou fazer qualquer telefonema. Ela pegou meu celular. Disse que era para o meu próprio bem. Mas eu tinha tudo o que eu precisava. — Ela penteia seus dedos longos e resistidos pelo comprimento do meu cabelo. — E eu não queria colocá-los em perigo, então fiquei como me disseram e esperei.

— Ela não a feriu?

Estou confusa com isso. Completamente confusa.

Dina sacode a cabeça.

— Não, — ela diz, — ela era uma verdadeira bondade. Então, imagine minha surpresa quando o Sr. Woodard aqui me disse que ia me matar. Eu simplesmente não podia acreditar.

Victor e eu olhamos brevemente um para o outro.

— Eu suponho que Tessa alimentou a mesma história? — Eu pergunto.

— Não, — James diz. — Bem, de certa forma. Depois que Nora convenceu Tessa que ela não estava lá para machucá-la, e depois de Tessa inconscientemente deu Nora a munição que ela precisava contra Dorian — tal como ela disse a Dorian que ela fez — Tessa acreditava que Nora erada Inteligência dos EUA e assim ela cooperou.

— Então Tessa também não estava machucada? — Eu pergunto.

— Não, — James responde.

— Onde ela está agora?

Victor aproxima-se e responde:

— Eu pedi que a levassem para casa. Ela não precisava ser trazida para cá. Ela não precisa saber nada sobre nós.

— Ela pensou que eu era um agente da CIA — diz James com uma leve gargalhada, mas com um ar orgulhoso. — Quanto às minhas filhas, bem, elas não eram tão fáceis de convencer. Elas estavam apenas com medo de suas mentes — elas pensam que eu trabalho com imóveis. Então, eu acho que Nora não teve escolha senão amarrá-las em algum lugar.

Eu olho direito para Victor.

— Então ela realmente estava trabalhando sozinha — eu digo sobre Nora.

— Parece dessa maneira — Victor diz com um aceno de cabeça.

— Estou com muita sede — Dina diz, apertando meu quadril com a mão. — Tem alguma coisa por aqui para beber?

Eu a abraço de novo.

— Claro — eu digo a ela e pego sua mão. — Eu vou levá-lo para conseguir alguma coisa.

Eu sorrio levemente para Victor enquanto saio com Dina da sala de reuniões e em direção à pequena cozinha no corredor.

Fredrik passa por nós no caminho enquanto ele se dirige para ver Victor. Ele não diz nada para mim, ou mesmo faz contato visual.

— Oh, ele é atraente, — Dina diz calmamente com os olhos grandes quando ela olha para trás para a sua altura em que terno caro. — A coisa que eu mais odeio em ser velha é que homens assim não me olham mais.

Oh, Dina, se você soubesse o que aquele homem em particular é capaz de fazer.

— Bem, eu acho que você é linda, — eu digo a ela, apertando sua mão fria e envelhecida. — Além disso, os homens hoje são provavelmente um pouco mais raros do que você estava acostumado.

— Ei, eu costumava ser uma prevenidab — diz ela com um sorriso.

— Dina! — Meu rosto torce com todo o tipo de formas e minhas bochechas começam a queimar. — Eu não preciso saber isso.

Nós dois rimos juntos e escorregamos dentro da sala de descanso, que é realmente apenas um quarto com um sofá de couro e cadeira correspondente com uma mesa de café em mármore e duas mesas nas extremidades, uma televisão de tela plana montada na parede e uma área de cozinha em um canto. Victor olhou para Woodard engraçado quando ele lhe pediu para colocar uma sala de descanso no prédio ("Uma sala de descanso? Este não é exatamente o trabalho em fábrica, Woodard."), Mas, no final, e depois de Woodard me explicar o que uma sala de descanso era e eu gostei da ideia, ambos tivemos o que queríamos. E eu não sou a única de nós que a usa com frequência — Niklas dorme aqui às vezes com as botas levantadas no braço do sofá. James traz seu laptop aqui e assiste coisas velhas na TV Land. Dorian... bem, ele sempre foi o único que manteve o frigorífico abastecido. Victor - OK, ele não vem aqui, exceto para encontrar um de nós.

Dina toma um assento no sofá enquanto eu pego dois dos refrigerantes de Dorian da geladeira.

— Então, exceto belas mulheres loiras ameaçando me matar para chegar até você — Dina começa de brincadeira, — o que mais tem acontecido com você, Sarai?

Dina é a única pessoa que eu permito me chamar pelo meu nome antigo. Eu tentei fazer com que ela me chamasse de Izabel uma vez, mas ela recusou, disse que eu cresci com ela me chamando de Sarai e que ela morreria me chamando de Sarai.

Dou-lhe uma garrafa de refrigerante e me sento ao lado dela, puxando uma perna para cima da almofada.

— É estranho ter conversas com você sobre minha vida — eu digo. — Não é como se eu pudesse te dizer sobre a última pessoa que eu vi morrer, tão casualmente como eu posso falar com você sobre conseguir o pedido errado em um drive-thru.

— Eu sei — ela diz e toma uma bebida, — mas o que está acontecendo com você e aquele homem bonito, misterioso seu?

Tomo uma bebida e depois olho para a parede atrás dela.

— As coisas estão bem — eu digo, tentando não chegar na verdade, não estou até mesmo certa qual é a verdade; O que está acontecendo entre mim e Victor não é exatamente o tipo típico de problema no paraíso.

Dina e eu conversamos um pouco sobre coisas simples. Ela me fala sobre o que está acontecendo com os personagens em seus programas de televisão favoritos, mas eu só ouço principalmente porque eu nunca assisto TV e realmente não tenho nada a acrescentar. Falamos sobre o pequeno jardim que ela plantou atrás de sua casa mais nova e como o único vegetal crescendo são os pepinos. Eu não sei nada sobre jardim e não saberia como fazer crescer os legumes, então novamente, eu principalmente apenas ouvir a sua conversa. E ela continua sobre as vendas nas lojas de departamentos que ela gosta de comprar e como ela conseguiu uma blusa de trinta dólares por nove dólares — eu não sei muito sobre as vendas porque com o dinheiro que Victor me dá — e que eu eu ganho — Eu não tenho que prestar atenção às vendas.

E enquanto Dina fala sobre uma variedade de coisas totalmente diferentes ao longo dos próximos trinta minutos, há uma coisa que eu noto que ela menciona em cada tópico — o Arizona.

— Eu costumava assistir a esse programa todas as noites antes de dormir no Arizona — ela havia dito. — Eu tinha a minha poltrona perto da janela e eu sempre a abria e deixava o calor entrar enquanto eu assistia ao meu programa.

E depois:

— Eu realmente não fiz muita jardinagem no Arizona.

E depois:

— Eu ia as tendas de promoções cada fim de semana quando eu vivia no Arizona. Tinha boas ofertas.

Finalmente, depois da quinta menção do Arizona, pergunto-lhe o inevitável:

— Você sente falta de casa, Dina?

Ela sorri levemente e coloca a garrafa de refrigerante na mesa final.

— Eu sinto, Sarai, eu realmente sinto.

Ela suspira e olha para mim, estendendo a mão e colocando-a no meu joelho esticado na almofada, enfiado debaixo da minha outra perna.

— Eu quero voltar para Tucson — diz ela. — Inclusive ao parque de trailers. Tenho saudade. Eu sinto falta dos malditos cães latindo à noite, as crianças correndo de um lado para o outro na rua causando incómodos. Eu só quero ir para casa. — Ela bate no meu joelho e depois se afasta, olhando para mim com olhos tristes, mas sorrindo.

— Mas Dina, não é seguro — eu levanto no sofá — você não pode voltar para lá. Veja o que aconteceu aqui, a razão que você está sentada nesta sala falando comigo agora. Se você voltar lá você estará onde qualquer um que quer encontrá-la, provavelmente olhará ali primeiro.

Seu sorriso aquece seu rosto inteiro.

— Oh, querida, eu não me importo com essas coisas, — ela diz como se para me consolar. — Eu me importei no início, mas era principalmente apenas por causa de você. Mas, eu não posso fazer isso mais, me mudando de um lugar para outro, tendo homens estranhos estacionados do lado de fora a cada casa, me observando o tempo todo. Estou velha demais para isso. Eu aprecio todas as coisas elaboradas que você e Victor me fornece? e as casas bonitas e... apenas tudo. Eu estou muito agradecia. Mas eu só quero ir para casa e viver o resto da minha vida do jeito que eu fiz antes — simplesmente.

Meu coração afunda cada vez mais fundo.

— Mas é perigoso. Eu não quero que nada aconteça com você.

— Nada vai acontecer comigo, querida. — Seu sorriso se alonga. Ela levanta a mão e bate no peito sobre a blusa cor-de-rosa fina onde está seu coração. — Se alguma coisa pode me matar, será o meu coração. Você sabe disso. — Ela sorri e bate no meu joelho novamente brincando e acrescenta: — Além disso, eu sei usar uma espingarda, lembra? E eu não tenho medo de explodir alguém se entrarem em minha casa.

Eu não posso evitar, mas sorrir de volta para ela, mesmo que eu queira lutar com ela nesta questão.

Dina se vira na almofada para me enfrentar completamente e ela leva minhas duas mãos para as dela.

— Eu quero que você me prometa algo — ela diz, olhando nos meus olhos. — E eu quero dizer isso, é uma verdadeira promessa e isso significa tudo para mim e se você nunca a quebrará, mesmo que eu nunca vá descobrir, você deve se sentir culpada por quebrar isso porque é tão importante para mim.

Isso está me assustando, mas eu aceno e concordo.

— O que foi, Dina?

Seus dedos agarram os meus com firmeza, como se para colocar ênfase nas palavras que ela está prestes a dizer.

— Quando eu voltar para casa, de volta a Tucson — diz ela, — eu quero que você me prometa que você não enviará ninguém para me vigiar ou me proteger. Ninguém. E eu também não quero que você faça isso. Você me dá sua palavra?

No começo tudo que eu quero fazer é dizer não — eu até começo a balançar a cabeça — mas ela aperta minhas mãos e força o meu olhar, o olhar em seus olhos tão intenso, e eu sinto quão importante é essa promessa para ela. Tanto quanto eu quero mentir para ela e dizer que, não, eu não vou mandar ninguém para cuidar dela... Eu não posso. Este é o seu desejo e devo-lhe tudo e sei que tenho de ceder a ele, não importa o quão difícil.

E antes que ela saia, enquanto eu digo adeus enquanto ela entra no táxi na rua para ir ao aeroporto de volta a Tucson, eu não posso evitar, mas sinto que esta será a última vez que eu a vejo.

— Eu te amo, garotinha! — Ela grita para mim da janela aberta do carro, seus dedos longos e ossudos acenando na brisa fresca de Boston.

Eu pressiono as pontas dos meus dedos contra meus lábios e envio-lhe meus beijos enquanto ela se afasta, e eu limpo as lágrimas dos meus olhos e tento muito manter o sorriso no meu rosto pelo amor de Dina. Porque ela merece ser feliz e ela não precisa de mais razões para se preocupar comigo mais do que ela já tem.

 

— Você já viu Niklas? — Eu pergunto a Victor na sala de reuniões com James. Eles estão olhando para fotografias e arquivos espalhados sobre a mesa alongada.

Eu ainda estou emocional por ter deixado Dina ir a uma hora atrás.

Victor olha para cima.

— Ele se foi, Izabel — ele responde solenemente e olha para baixo. — Mas não se preocupe com ele agora...

— O quê? — Eu passo mais para dentro do quarto e fico no final da mesa. — Victor, como você pode dizer isso? Já tentou falar com ele?

Ele tranca os olhos nos meus pelo comprimento da mesa.

— Vou falar com meu irmão quando for a hora certa — diz ele.

James olha para nós brevemente e finge estar mais interessado com as fotografias na frente dele. Ele parece desconfortável.

— Quando é qualquer hora certa? — Pergunto com um tom acusatório. — Agora é o melhor momento que qualquer outro dia será.

— Niklas precisa de tempo sozinho — ele diz e eu bato a palma contra a mesa antes que ele tenha a última palavra.

— Foda-se! — Eu digo com raiva.

Victor levanta-se rapidamente da mesa em um movimento rápido, enviando o papel que ele estava lendo em sua mão caindo no chão. Sua cadeira chia quando ela é empurrada para trás em seu caminho para cima.

James congela, olhando entre os nós dois sob nervosos olhos encapuzados.

— Woodard, — Victor diz exigente, — deixe-nos.

Sem hesitação, James se levanta, enfia o laptop debaixo do braço e sai.

Uma bola nervosa senta-se no meu estômago. Sei que ele está chateado comigo, mas eu sinto fortemente o que Niklas deve estar passando, e eu não consigo encontrar nenhuma razão aceitável para que Victor não estivesse tentando fazer as coisas direito entre eles, agora.

— É isso que você pensa de mim? — Ele pergunta, zangado, mas ao mesmo tempo ferido pela perspectiva. — Você acha que esses arquivos e estas fotografias — acena com uma mão na mesa — são mais importantes para mim do que o meu irmão? Olhe para mim —aponta os seus olhos com o seu indicador e dedo médio — e me diga: que você pensa isso de mim, porque é exatamente como se sente agora. Quero ouvir você dizer isso.

Engulo nervosa e começo a sacudir a cabeça. Eu raramente o vi assim antes, então eu sei que eu ultrapassei meus limites, que eu o machuquei, e já me sinto terrível por fazer ele se sentir assim.

— Eu sinto muito... Eu apenas...

Os ombros de Victor mergulham em um longo suspiro e ele olha para a mesa, mas não para as coisas espalhadas por cima. Ele cai pesadamente de volta em sua cadeira e encosta contra ela.

— Izabel — ele diz com mais calma, mas sem olhar para mim, — eu sabia que tinha que sair algum dia. Nem um dia se passou nos últimos seis anos quando eu olho para meu irmão e eu não me sinto como uma merda pelo o que eu fiz. Niklas talvez nunca me perdoe, mas ele vai entender.

Eu ando em sua direção pelo comprimento da enorme mesa.

— Você parece esquecer que ele tentou matar você — acrescenta Victor.

— Eu nunca me esqueci disso — digo, — e acho que nunca irei.

— Você não esqueceu ou perdoou, — Victor diz, — mas você entende.

Eu não esperava isso, então eu não digo nada no início.

— Eu me sinto culpada — eu finalmente respondo, ainda sentindo algum tipo de necessidade de confessar porque a culpa está pesando tão fortemente em meus ombros.

A cabeça de Victor levanta e ele me olha com um olhar de descrença e talvez até mesmo decepção.

Eu inclino minhas costas contra o fim da mesa na frente dele, cruzando meus braços.

— Por quê? — Pergunta ele asperamente. — Por que você se sente culpada? Se você disser que é porque você está viva e Claire não está, você é...

— Eu sou o que? — Eu salto de volta, desafiando-o. — Sou estúpida e fraca por ter consciência? Sou ingênua? Muito emocional? Vá em frente, Victor — aponto para os meus olhos com o meu indicador e meu dedo médio — Victor me diga o que realmente pensa de mim.

Seu olhar se desvia.

— Eu acho que seu coração é muito grande — ele diz e instantaneamente meu exterior duro vacila. — É por isso que eu sinto a necessidade de protegê-lo o tempo todo. Não porque você não tem habilidade ou porque eu não acredito em você, mas porque seu coração fica no caminho. E se há alguma profissão no mundo que você não pode e não deve colocar seu coração — aponta duramente para o chão — é esta.

Estou calada por apenas um momento, deixando suas palavras afundarem.

E então algo entra em minha mente que eu tenho mais medo de dizer a ele do que minhas acusações sobre Niklas — mas eu não posso segurar como eu realmente me sinto.

— As coisas seriam melhores para você se eu fosse... mais parecida com Nora, não é? — Eu fiz tudo que eu não pude fazer para parecer amarga ou acusadorq, porque eu não quero dizer isso dessa maneira.

Ele levanta os olhos para mim, e por um longo tempo ele não diz nada.

— Em um sentido profissional e emocional, sim, — ele responde com sinceridade, — mas não por qualquer outra razão. Mas se eu queria alguém como Nora ao meu lado, você não estaria aqui, ao contrário dela, eu não gosto de jogos, assim, por favor, não me acuse de ter uma atração selvagens por aquela mulher, ou a começar a sentir insegura que eu vou me desviar.

— Eu não acho isso em tudo — eu digo, e eu quero dizer isso. — Não é disso que se trata.

Eu levanto meu corpo para sentar na mesa na frente dele, minhas pernas, cobertas em meu traje preto apertado, pendurada sobre a borda da mesa nas curvas dos meus joelhos. Victor move sua cadeira para mais perto para sentar entre elas, colocando seus braços sobre as minhas coxas e ajustando suas mãos sobre minha cintura. As mangas da camisa estão enroladas até os cotovelos; Veias correm ao longo dos músculos duros de seus antebraços levemente bronzeados.

Corro todos os meus dedos pelo topo do seu cabelo curto e castanho.

— Você não confia em mim para cuidar de mim mesma em tudo, Victor? — Eu pergunto com preocupação e não com acusação. — Não há nada sobre mim — de um ponto de vista profissional e emocional — que você sente que não precisa... melhorar?

Victor suspira.

— Confio no seu julgamento, Izabel — diz. — Quando se trata de outros, você é um bom juiz de caráter. Você sabe inerentemente, antes mesmo que eu faça geralmente, sobre uma pessoa no interior. Mas eu não confio em você quando você está com raiva ou por vingança. Você tende a tomar decisões precipitadas, pular de cabeça em situações perigosas sem um plano, tome Los Angeles e Arthur Hamburg, por exemplo. Mas quando você está calmo e não agir por raiva ou vingança, você sabe o que está fazendo. E confio em você cem por cento.

Agradeço-lhe com os meus olhos.

Ficamos em silêncio por um longo tempo e então eu digo com uma voz suave:

— E se Niklas não voltar?

— Ele vai voltar, — responde Victor, mas na sua voz, sinto que ele não pode está tão confiante nessa suposição quanto ele gostaria. — Ele é meu irmão — continua ele, — e ele pode me odiar por um tempo ou até mesmo querer me matar, mas ele sempre será meu irmão e eu sempre farei qualquer coisa por ele e ele sabe disso.

Eu penso sobre isso por um momento, deixando a realidade da verdade me tomar, Victor está emocionalmente deficiente não por causa de apenas uma, mas duas pessoas em sua vida que ele ama. Espanta-me como ele pode suportar, como ele pode continuar a agir como se nada nunca o incomodasse, que ele não tem sentimentos, ou temores. Do lado de fora, Victor é frio, calculado e desapegado quase todo o tempo — quem não o conhece no nível que eu conheço poderia pensar que ele era como Fredrik, mas a verdade é que ele carrega um fardo maior do que qualquer um de nós. Victor se sente responsável por Niklas e eu. Ele teve que escolher, duas vezes agora, entre seu irmão e eu. E quando você tem que escolher entre duas pessoas que você ama, não importa qual caminho você vá lá estarão consequências dolorosas.

Eu me inclino sobre ele e beijo o topo de sua cabeça.

— Desculpe por duvidar de você — digo. — Eu realmente pensei que você ia deixar Dina morrer e eu sinto muito por não acreditar em você. — Eu estava querendo dizer isso a ele desde o momento em que ele confessou seu segredo para Nora, mas eu tenho evitado por vergonha e culpa. Mas, mais do que isso, eu precisava de tempo para pensar sobre tudo o que aconteceu por causa disso.

Ele olha para mim.

— E porque eu não vou mentir para você — diz ele, — assim como eu não pude mentir para Niklas sobre Claire, a verdade é que quase a deixou morrer.

Eu concordo. Porque eu entendo. Era uma escolha entre Niklas e eu. E nunca seria uma escolha fácil.

— Eu sei, — eu digo a ele e solto minhas mãos do seu cabelo.

Então ele enrola os longos dedos dele ao redor dos meus entre minhas pernas e levanta uma mão para seus lábios e beija os nós dos meus dedos.

— O que você vai fazer com Dorian?

Ele se levanta e toma o meu rosto em suas mãos, puxando meus lábios para encontrar os dele.

Depois que ele me beija, longo e macio, seus lábios são mornos e sua língua tão macia, ele diz:

— Tudo dependerá do que Fredrik tirar dele.

Um arrepio desconfortável se move através de mim.

— Você vai deixar Fredrik interrogar ele?

Victor se move de entre minhas pernas e começa a empilhar as fotografias na mesa em uma pilha pequena.

Ele não responde, o que é uma resposta por si mesma.

— Quando você vai matar Nora? — Ele pergunta, empilhando as coisas constantemente.

— Antes da manhã — digo. — Eu queria lidar com tudo antes de vê-la novamente.

Ele balança a cabeça.

— Você já pensou sobre isso? — Eu pergunto. — Sobre o que ela disse?

— Não — ele responde e se dirige para a pasta com as fotografias e os arquivos.

— Nem um pouco?

Ele olha para mim.

— Eu pensei sobre isso — ele diz, — mas não considerei, se é isso que você quer dizer. Eu admito, foi uma jogada ousada, mas ela deveria ter pensado mais sobre as consequências de suas ações do que ela fez. Ela matou um dos meus homens na casa da Sra. Gregory. Ela virou meu irmão contra mim. Sequestrou os seus entes queridos e os usaram contra você. E ela tem desperdiçado muito do meu tempo, francamente.

— Verdade — eu digo, franzindo os lábios contemplativamente, — mas ela meio que se provou no processo.

Victor ergue os olhos momentaneamente e fecha a pasta com dois cliques.

— Você está tentando me dizer alguma coisa? — Ele pergunta com suspeita.

Eu balanço a cabeça.

— Não é o que você provavelmente está pensando — eu não quero ela aqui tanto como qualquer um de nós — mas eu vi a maneira que você estava olhando para ela na sala de vigilância. Parece que você queria a chance de dissecá-la.

Um sorriso fraco, quase invisível aparece em seus lábios enquanto ele levanta a pasta da mesa com a mão apertada sobre a alça.

— Você viu isso, não é?

Eu encolho os ombros e sorrio.

— Sim, eu meio que vi.

— Bem, a resposta é não — ele diz andando em minha direção. — Ela causou problema bastante. Mate-a e termine com isso.

Ele me beija nos lábios mais uma vez e dirige-se para a porta.

— Eu volto em algumas horas, — ele diz da porta. Mas logo antes de sair, ele para e olha para mim.

— E vou falar com o Niklas em breve.

Eu aceno com um pequeno sorriso de apoio e ele sai.


CapÍtulo VINTE

Izabel

O piso da cela tem apenas dez celas que Victor queria manter por razões como esta — detém traidores e outros tipos de prisioneiros. As celas são nomeadas de A a J. Eu me dirijo para a cela C com um monte de emoções misturadas e um coração pesado. Eu não quero pensar sobre o que Dorian vai passar com Fredrik mais tarde, mas ao passar pelo corredor sombrio e pelas celas A e B que estão abertas e vazias, é tudo o que posso pensar. Eu não quero pensar que Dorian é um traidor, que talvez as coisas que ele disse a Victor fossem verdadeiras. Talvez ele não seja nosso inimigo e nunca pretendia ser. Mas ele mentiu. E ele trabalhou conosco sob falsos pretextos. E ele deu informações sobre nós ao governo e isso só é o suficiente para Victor para matá-lo.

Eu passo até a porta de aço pesada e empurro para cima em meus dedos do pé para ver dentro através da janela janelinha.

Dorian está deitado contra a cabeceira de uma cama de metal que se projeta da parede. Bandagens sangrentas estão envolvidas sobre ambos os ombros. Tudo o que ele está vestindo é sua calça jeans escura e seu Rolex. Suas botas foram chutadas para o chão, colocadas descuidadamente com as cordas longas espalhadas contra o azulejo.

Estendendo a mão, toco na janela com a ponta do meu dedo.

Dorian ergue a cabeça loira e depois de um segundo olhando para o rosto desfocado na janela e tentado distingui-lo, ele diz: "Izabel?" E com dificuldade força seu corpo ferido do berço para sentar-se ereto. Seu rosto se contorce de dor e ele para, respira fundo e empurra-se para seus pés e caminha até a porta.

Eu me agacho em frente a ela e deslize o metal que cobre sobre a abertura para comida que é longa e larga o suficiente para passar uma bandeja.

— Como você está? — Pergunto.

— Sinta-me como uma merda — ele diz e se senta no chão em seu traseiro, estremecendo com cada movimento abrupto. Tudo o que eu posso ver agora são seus olhos azuis brilhantes e sua testa através da abertura.

— Desculpe — eu digo. — Ei, eu queria vir aqui e dizer que Tessa está bem.

Seus olhos se iluminam um pouco e o alívio passa por cima dele, através de toda a dor e desconforto.

— Na verdade, — eu continuo, — ela estava bem o tempo todo. Nora não a machucou.

— Onde ela está agora?

— James a levou de volta para casa.

Dorian acena com a cabeça.

— Obrigada, Izabel. Por me deixar saber.

Eu aceno de volta.

Depois de alguns longos segundos que se parecem mais como minutos, quebro o silêncio com o inevitável.

— Você contou a verdade a Victor? Você sabe que ele vai descobrir, certo?

— Sim, eu sei, — ele diz. — Mas eu lhe disse a verdade. Há mais para contar a ele, como que tipo de informação eu passei para os meus superiores, mas eu não estava segurando nada disso. Acho que Victor não estava pronto para ouvir.

— Por que você quebrou depois de tudo? — Eu pergunto. — Quero dizer... bem, eu pensei que caras como você foram treinados para não quebrar, nem mesmo para salvar a vida de alguém que você ama. Ponha de lado mentir sobre quem você é; o fato de você quebrar deixa em seu caráter uma falha grave em seu personagem, Dorian. Você desistiu de sua identidade não só por nós, mas por uma civil inocente. Isso nos diz que você estaria disposto a se render sob certas circunstâncias.

Dorian sacode a cabeça.

— Eu sei que parece assim — ele diz, — mas como eu disse a Victor, eu ia eventualmente dizer a ele quem eu era, independentemente se me seria dada a autorização. Eu só tenho que fazer isso mais cedo do que o esperado.

— E se — eu digo, — você nunca recebesse essa autorização? Você admitiria?

Ele suspira.

— Se eu dissesse que não, você acreditaria em mim? — Não era realmente uma pergunta.

— E Tessa? Parecia fácil para você dizer a ela.

— Sim, bem, esse é um tipo diferente de fraqueza — admite. — Ainda uma imperdoável, mas não tão imperdoável como ser um traidor. Olha, eu sei que provavelmente vou morrer aqui. É um perigo nesta linha de trabalho. Aceito e não tenho medo, mas não quero morrer como um traidor.

Depois de um breve momento de pausa, eu digo:

— Eu gostaria de poder dizer que não acho que você é um traidor, mas o que você fez... Eu não sei, é difícil para mim pensar em você como qualquer outra coisa... mas como uma pessoa e um amigo, eu acho que você é genuíno.

— Obrigado.

Ele faz uma pausa e pergunta:

— Ela está morta?

— Vou matá-la em breve.

— Sim, bem, ponha uma bala no ombro daquela cadela antes de matá-la — ele agarra. — Faça a coisa toda dramática, diga a ela "isto é por Dorian!" — Ele ri da própria brincadeira, mas se encolhe e um barulho sibilante empurra seus lábios enquanto ele aspira uma respiração bruscamente em resposta a mais dor.

Eu sorrio e vejo seus olhos caírem para a abertura da porta enquanto ele abaixa a cabeça.

— Sua mãe vai ficar bem? — Ele pergunta.

— Sim, ela estava bem quando James a pegou, como todos os outros.

— Essa deve ter sido as quarenta e oito horas mais fodidas — diz ele. — Acho que você não tem a liberdade de me dizer qual era a grande confissão que ela queria, e de qual de nós?

Eu balanço a cabeça.

— Desculpa.

Ele balança a cabeça.

— Compreensível — ele diz e depois de alguns segundos tranquilos acrescenta: — Acho que isso significa que Gustavsson apareceu depois de tudo.

— Sim. — É tudo o que posso dizer; eu não posso suportar dizer-lhe o resto, onde se refere a ele e Fredrik estarem preocupados.

O som de sapatos batendo contra o chão ecoa pelo corredor — dois pares para ser preciso. Eu engulo incômodo e olho de volta nos olhos de Dorian através da abertura na porta. Ele sabe. Ele balança a cabeça e ri largamente.

— Ele sempre quis me torturar — diz ele. — Eu acho que o cara até tinha sonhos molhados sobre isso — ele não podia me suportar.

Eu me empurro para fora de uma posição agachada e fico de pé, fazendo uma careta de dor e da rigidez nas minhas pernas por estar na mesma posição por tanto tempo. Dorian está olhando para mim agora através da janela embaçada no topo da porta.

Fredrik e Victor contornam a esquina na extremidade distante do salão; dois homens altos e assustadores, todo negócios, em ternos escuros contra as sujas paredes e chão brancos. Juiz e carrasco. Sem emoção. Implacável.

Olho para Dorian.

— O que quer que aconteça comigo — ele diz, — faça-me um favor e certifique-se de que Tessa receba todo o meu dinheiro. A chave para minha caixa de depósito de segurança e outras coisas pessoais que eu gostaria que ela tivesse está escondido na sola da minha bota esquerda. Você vai dizer a Tessa que eu a amo e eu sinto muito por ser tão idiota?

— Eu vou — eu digo a ele.

Deixo Dorian e ando em direção a Victor e Fredrik enquanto eles abrem caminho pelo centro do salão.

— Posso falar com você por um minuto? — Eu pergunto a Fredrik, pisando bem na frente dele.

Estou cansada dele me evitando, e se eu não tentar forçá-lo a falar, eu sei que ele nunca vai e ele pode escapar deste edifício logo após o interrogatório de Dorian, e eu não vou vê-lo novamente por outro mês.

Fredrik começa a caminhar e passar por mim, mas eu o interrompi, parando-o em seu caminho.

— Izabel — diz Victor - temos assuntos importantes a tratar.

— Eu sei, mas isso vai demorar apenas alguns minutos. — Eu olho para Victor através de olhos suplicantes.

Ele não quer me deixar para trás, mas faz, indo na direção da cela de Dorian e me deixando sozinha com Fredrik. Eu ouço a chave chiar na porta da cela e então o som da porta fechando soando quando Victor vai para dentro.

— Eu não tenho tempo para isso — diz Fredrik.

— Faça tempo. Me dê dois minutos. É tudo que eu peço. Por favor.

Ele olha para mim agora, seus olhos azuis escuros enquadrados pelos cabelos escuros, perfurando-me com irritação.

— Eu não posso gastar dois minutos.

— Sim, você pode — eu digo atentamente.

Ele começa a passar por mim novamente, mas eu agarro o seu braço, o material de sua jaqueta preso entre os meus dedos. Sua cabeça se vira de lado para olhar para mim e sua expressão fica mais escura. Seus dentes estão rangendo atrás de um queixo raspado.

Finalmente, deixei o outro lado de mim assumir o lado que está doente da sua merda, e em vez de ter uma conversa de coração com coração com o homem que já foi meu irmão, não consigo parar de dizer-lhe em vez disso.

— Você é um idiota, — eu solto, empurrando as palavras através dos meus dentes. — Olha, eu entendo, eu realmente entendo, e se eu fosse você eu sei que provavelmente eu me sentiria da mesma maneira. Mas eu não iria empurrar as pessoas que se preocupam comigo. — Ele empurra mais contra mim, com a intenção de me ignorar, mas eu me movo na frente dele e empurro ambas as mãos contra seu peito, empurrando sua estatura alta e sólida, mas ele apenas se move. Ele apenas olha para o meu rosto furioso.

Mas ele para — não que ele queira ouvi-lo, mas que ele quer que eu termine com isso para que ele possa estar livre de mim.

— Faça o que quiser — eu digo com ácido em minha voz, — Eu não me importo mais. Se você quer me fechar para fora, tudo bem, mas eu vou dizer o que tenho a dizer antes de ir lá e... fazer a sua coisa. — Um grunhido manipula minha boca.

Fredrik só fica lá olhando para mim com sua pasta apertada ao seu lado.

— Nora Kessler disse a Niklas alguma coisa quando ele estava no quarto com ela, algo que ficou comigo por muito tempo depois que ele deixou. E por mais que a despreze, não posso negar que ela estava certa.

Aponto o dedo para o peito.

— Você precisa de amor para sobreviver, Fredrik — eu digo com convicção dura. — Você é esse homem escuro, assustador, que é tão frio para o exterior que o inferno congelaria se você fosse enviado para lá... mas, do lado dentro, você é um homem quebrado que precisa de amor mais do que alguém por causa da vida que você foi forçado a viver, por causa das coisas terríveis que você foi forçado a suportar. — Eu balancei minha cabeça com tristeza em meu coração. — Você precisa de amor mais do que qualquer coisa, porque é a única coisa que você foi privado. Você me empurrar para longe, porque eu queria dizer alguma coisa para você, porque de todos nós aqui, você pensou em mim como família. Você me ignorou por causa das quantidades de vezes que o amor o destruiu.

Dou um passo para mais perto e meus olhos nunca saem dele, a raiva neles nunca diminuem. Seu rosto frio, mas sem emoção, não mudou.

— Todos precisamos de algo para sobreviver, Fredrik, Victor precisa estar no controle; James precisa de aceitação; Niklas precisa de algo para chamar se dele; Dorian precisa fazer as pazes com ele mesmo... e eu... Eu preciso de um monte de coisas, mas eu ainda não descobri qual delas eu mais preciso. Mas você... você precisa de amor, e você não pode empurrá-lo para sempre. Não é da sua natureza.

Eu passo para trás e para longe dele e só para olhá-lo por um segundo, estudando seu rosto inflexível, seus profundos olhos azuis, procurando algo, qualquer coisa, mas ele não me dá nada. Estou tão zangada! Eu quero que ele diga alguma coisa. Discuta comigo, diga-me como estou errado. Diga-me que eu sou estúpida e jovem e eu não posso saber como ele está se sentindo ou o que ele está passando.

Absolutamente nada.

Balançando a cabeça com um olhar amargo no meu rosto e rendendo ao meu coração, eu gesticulo com a mão na direção da cela de Dorian.

— Eu acho que vou te ver por perto — eu digo, viro meus calcanhares e saio.

Eu não olho para trás enquanto ando pelo comprimento do longo corredor, mas posso sentir que Fredrik fica lá no mesmo lugar, pelo menos, até que eu vire a esquina no final.

O que está acontecendo conosco? A todos nós.

Niklas está longe de ser encontrado. Eu tentei ligar para ele, saí do prédio e dirigi por Boston, verificando os bares que ele gosta, mas é uma hora antes do amanhecer e eu ainda não encontrei nada. Niklas não quer ser encontrado e eu não posso deixar de me perguntar e me preocupar por quanto tempo. E se ele realmente nunca voltar? E se ele não puder "entender" porque Victor fez o que ele fez, e eles se tornaram inimigos? As coisas não podem ser deixadas desta maneira, elas apenas não podem...

Dorian pode estar morto, ou a caminho. Fredrik é uma causa perdida que eventualmente se autodestruirá. Niklas desapareceu. Pode a nossa organização, nossa família, se recuperar do que Nora Kessler fez, ou o que ela desempenhou em grande parte para fazer?

Estou começando a pensar que não pode.


CapÍtulo VINTE E UM

Izabel

Com minha arma na mão, eu abro a porta para a sala onde Nora estava enjaulado por mais de dois dias.

Ela olha para mim da cadeira.

— Vamos — eu digo a ela com uma inclinação para trás da minha cabeça.

— Para onde? — Ela diz, curiosa, enquanto ela se levanta em suas calças de couro, rosto manchado de sangue e cabelo loiro. Havia colocado também a blusa de seda, apesar dos cortes nas costas.

— Você sabe onde, — eu digo a ela calmamente.

Nora caminha até mim com seus pés descalços — seus saltos altos foram jogados contra o chão — e ela faz uma careta pela dor em suas costas e em qualquer outro que Fredrik a machucou, discutem com sua decisão de se mover.

— Por que você não atira em mim aqui? — Ela pergunta.

Eu não respondo, jogando fora como sem importância, mas a verdade é que antes de eu matá-la há algumas coisas que eu quero dizer a ela, coisas que eu não quero que ninguém ouça.

Caminhamos pelo corredor de forma lenta e deliberada, Nora na minha frente, eu em suas costas com minha arma no meu lado, e a conduzo para fora da parte de trás do prédio, na escuridão e no silêncio.

— De joelhos — eu digo a ela, apontando a arma para o chão ao lado de um lixo.

Sem dúvida, sem argumentos ou com um pingo de medo, ela cai de joelhos, já sabendo que devolverá a mim.

— Eu perguntaria por que você não vai implorar por sua vida — eu digo, apontando a arma na parte de trás da cabeça enquanto eu estou a poucos metros de distância, — mas eu já sei a resposta.

— Qual é a resposta? — Ela pergunta, olhando para a parede de tijolos na frente dela.

— Você nunca iria implorar por sua vida.

Eu enrolo meu dedo indicador em torno do gatilho.

— E você estaria certa — ela confirma.

O oceano e o som distante dos carros apressados sobre a autoestrada são fracos, mas são os únicos sons que são ouvidos. O fedor do deposito de lixo aos pés de Nora, e dos outros cinco que alinham na parte traseira dos edifícios próximos fazem sentir falta de ar. Uma única luz brilha a distância de um poste, radiante na entrada de uma garagem de estacionamento, mas a única luz aqui é da lua, fazendo a figura escura de Nora parecer como uma sombra, com exceção de seu cabelo loiro que cobre suas costas e ombros como uma bagunça desgrenhada de palha branca.

Eu olho para ela por um longo tempo, quase sentindo como se eu sevesse forçá-la a me enfrentar, porque se eu vou executá-la eu deveria ter a coragem de olhá-la nos olhos. Mas eu não tenho. Eu não sou corajosa o suficiente para olhar alguém nos olhos e então tirar a vida deles — não assim. Uma mulher desarmada. De joelhos. Atrás de um edifício. Ao lado de um lixo fedorento. Isso me assombraria para sempre.

O tempo passa e eu não percebo o quanto até Nora começa a virar a cabeça em um ângulo para obter um vislumbre de mim atrás dela.

— Algo me diz que você não tem medo de me matar — ela diz, — então, qual é da demora?

Faço uma pausa e digo:

— Eu queria te perguntar algo primeiro.

Ela riu levemente.

— Ah, claro, — ela diz sarcasticamente com o encolher de ombros, — porque eu estou tão inclinada a responder às suas perguntas antes de explodir meus miolos. — Ela olha para trás uma vez com um sorriso e se vira para a parede novamente. — Vá em frente e pergunte o que quiser, mas você pode esperar apenas um tipo de resposta de mim.

— Que tipo isso seria?

— O tipo verdadeiro — diz ela.

— Esse é o único tipo que eu quero.

- Então, por todos os meios - ela gira a mão com o dedo mindinho cortado no ar ao lado dela — pergunte.

Hesitando por um longo e tenso momento, penso na minha pergunta e no que sua resposta verdadeira poderia significar.

— Você acha que um homem como Victor Faust pode estar realmente apaixonado?

Nora está muito quieta, como se a minha pergunta tivesse tirado o sarcasmo dela e substituído por intriga. Então ela vira a cabeça para o lado novamente, permitindo-me ver o contorno de seu nariz e bochecha na escuridão enluarada que envolve ela.

— Essa é uma pergunta ousada — diz ela. — E uma que eu acho que você já sabe a resposta.

— Talvez sim, mas eu quero conhecer a sua.

— Você quer dizer — diz ela, como se para me corrigir, — você quer saber a razão por trás da minha resposta.

- O que quer que seja... basta me dizer.

Eu sinto ela sorrindo, mas eu não vejo isso em seu rosto, e eu não sinto qualquer rancor ou prazer nos sentimentos dela - apenas honestidade.

Ela olha para a parede na frente dela novamente.

— Qualquer um pode estar apaixonado, Izabel — ela diz com uma voz plana, — e posso dizer pelo olhar nos olhos daquele homem que ele é apaixonado por você — (eu quero estar satisfeito com essa resposta, mas eu não estou porque eu sei que não é tudo) — mas um homem como Victor Faust — continua ela, — não pode ficar apaixonado para sempre. Como o tipo de Fredrik não pode viver sem amor, o tipo de Victor não pode viver com ele. E por mais que ele fique no caminho de seus deveres, e quanto mais humano você o torna, mais perto você o empurra para o seu ponto de ruptura.

— O que é que isso quer dizer? — Minha mão com a arma está tremendo. — Você está dizendo que não importa o quê, ele vai acabar conosco?

— Não — ela diz, — mas se você quer mantê-lo e o que você tem com ele intacto, você precisa perder o que resta da sua vida pessoal, sua humanidade. Seu amor por Dina Gregory. Seu ciúme juvenil. Sua consciência. É o suficiente que ele te ame e tenha que protegê-lo, mas ele não continuará, não pode, protegê-la e levar em consideração tudo o que você arrastar com você do lado de fora.

— O que faz você pensar que ele não pode? — As lágrimas picam a parte de trás dos meus olhos, mas eu não as deixo cair.

Nora vira a cabeça para olhar para mim novamente.

— Porque ele é como eu — diz ela não com malícia, mas com verdade. — E de uma forma ou de outra, ele instintivamente fará o que for preciso para restaurar o equilíbrio da única vida que ele já conheceu.

Eu balanço a cabeça repetidamente, não querendo acreditar nela, querendo ir em frente e atirar nela apenas por dizer essas coisas para mim. Mas eu não posso. Ainda não.

Um nó duro desce pelo centro da minha garganta.

— Mas você amava Claire — eu aponto, me agarrando a qualquer coisa que eu possa para virar a verdade em sua cabeça. — Você teria feito qualquer coisa por ela.

— Sim — ela admite, — eu teria... e é por isso que todos os dias que ela estava viva eu contemplei em matá-la.

Meu coração para de bater, como se ela tivesse apenas puxado o tampão em mim.

— Eu amava tanto a minha irmã — ela começa, — que eu sabia que não podia deixá-la viva porque sempre me preocuparia com ela e estava me deixando fraca.

— Você ia matá-la? — Eu mal posso acreditar, mas mais uma vez eu posso. — Você ia matar a sua própria irmã? Sua irmã inocente que nunca fez nada para você e que não tinha ideia em que você estava envolvida? — Minhas palavras são atadas com descrença e nojo.

— Sim. Se Victor não tivesse matado Claire, eu teria feito isso sozinha, eventualmente, e sim, eu estava vingativa porque ele matou ela, mas ela era minha irmã e ela era minha para matar, não de Victor. — Ela faz uma pausa e diz com sinceridade, — Eu sei que é muito estômago, Izabel... eu sei. Eu sei que é impossível para você entender. Mas eu não sinto emoções ou vejo as coisas da maneira que você faz. Eu nunca vou, porque eu fui criado a partir do momento em que nasci, para ser do jeito que sou, não é diferente de você ser do jeito que é. Todos nós temos nossas falhas "imperdoáveis", eu suponho que isso só passe a ser mais aparente em mim.

Minha boca está incrivelmente seca. Meu coração não está batendo rápido ou lento, mas não está batendo bem, é como se ele não consegue descobrir como. Victor contempla me matar como Nora contemplou matar Claire? Ele poderia realmente se livrar de mim porque eu estou interferindo em sua vida como um assassino? Ele poderia matar Niklas? Uma parte de mim me diz que ela é apenas louca e que Victor pode ser como ela em muitos aspectos, mas não nos modos mais extremos — e eu acredito nisso! Meu coração me diz que ele nunca iria recorrer a isso. Ele me mandou embora uma vez, de volta ao Arizona, e não tinha intenção de me ver nunca mais... mas... mas ele fez. Ele cuidou de mim o tempo todo.

Não! Eu não posso deixá-la chegar a mim assim. Eu não vou deixá-la.

Tremo o meu queixo e recupero meu controle.

Nora provou que suas habilidades de manipulação ultrapassam as minhas ou de alguém que eu já conheci. Ela pode fazer uma pessoa acreditar apenas em qualquer coisa que ela queira, fazer a pessoa com a mente mais forte duvidar de si mesmo, ou a pessoa mais fraca de mente acreditar que ela é algo extraordinário. Eu sei como ela funciona — eu experimentei em primeira mão — e eu não vou cometer esse erro novamente. Talvez as coisas que ela está me dizendo não são uma tática de manipulação em tudo, e eles são verdadeiramente nada mais do que suas opiniões, mas eu não estou tomando quaisquer chances. Vou ouvir meu coração, e meu coração está me dizendo que... apenas algumas das coisas que ela está dizendo são verdadeiras... e a parte sobre perder o que resta da minha vida pessoal, creio que é uma delas.

— Ele não sabe... — eu digo, embora eu não tenho certeza por que eu estou dizendo a ela. Eu olho para a parede acima da sua cabeça; a arma ainda está apontada para ela, mas minha mente está em outro lugar.

— Ele não sabe o que? — Nora pergunta.

Muito tempo passa antes de eu responder.

— ... Ele desligou o áudio da sala quando eu confessei para você — eu digo distante, vendo apenas os tijolos na minha frente. — Ele não sabe que eu tive um bebê com Javier... que eu tenho um filho de sete anos ou filha lá em algum lugar.

— E você acha que é melhor manter assim. — Eu acho que é a maneira dela também de me dizer que ela vai manter meu segredo.

Olho para ela, surpresa por ela não ter se movido, porque no meu breve momento de distração, alguém com habilidade de Nora poderia ter reagido com rapidez o bastante para me derrubar dos pés e tirar a arma de mim.

Eu seguro a arma com mais firmeza, percebendo.

Ela olha para a parede novamente, esperando e pronta para eu matá-la. Sem medos. Sem arrependimentos. Nenhuma tentativa de salvar sua própria vida. Nora Kessler aceitou seu destino.

— Confio no seu julgamento, Izabel — diz. — Quando se trata dos outros, você é uma boa juíza de caráter.

Eu sinto como se estivesse presa dentro da minha própria mente giratória. Olho para o cano da minha arma e as costas da cabeça de Nora.

— Quão importante é a honestidade para você? — Eu pergunto a ela.

— Não tenho nenhuma razão para mentir — diz ela, — a menos que seja meu trabalho mentir, por que você pergunta?

— Então me diga — digo, ignorando seu inquérito, — vire-se e me enfrente para que eu possa ver seus olhos, e me diga por que você quer fazer parte de nossa organização.

Depois de um momento, Nora se vira, ainda de joelhos, para me encarar. Ela olha para mim com curiosidade.

Então ela sorri com descrença e sacode a cabeça.

— Antes que você se faça de idiota, Izabel — diz ela, — se você quer que eu fique por perto para treinar você só porque você quer manter Victor, você pode muito bem me matar.

Empurro a arma para ela ameaçadoramente.

— Apenas responda a pergunta — exijo.

Seus olhos curiosos estudam o meu rosto, minhas reações, e então ela diz:

— Eu entrei em um monte de problemas para me provar a Victor Faust — a todos vocês. Eu poderia ter ferido ou matado as pessoas que você ama, mas eu não fiz e não tive nenhuma intenção em fazê-lo. Eu posso ter forçado a todos vocês para expor pelo menos um dos seus segredos mais obscuros, e eu pode ter feito mais danos do que o pretendido, mas nenhum de vocês pode me culpar pelas coisas que você tem feito, os segredos você manteve um do outro - aqueles são os seus erros, não meus. — Ela faz uma careta e ajusta a sua posição ajoelhada apenas um pouco. — Mas para responder a sua pergunta, eu quero ser parte desta Ordem porque eu perdi o único lugar que eu pertencia quando eu deixei a FC-4. Eu não posso simplesmente sair para o mundo, encontrar um emprego, encontrar amigos, me apaixonar e agir como um ser humano normal. Porque eu não sou. E eu nunca serei. E eu não posso voltar para a Sect porque eles vão me matar no local por deserção. Para não mencionar por matar Solis. — Finalmente, senta-se completamente em seu traseiro, incapaz de permanecer em seus joelhos por mais tempo. — Eu nasci, literalmente, para fazer isso. É tudo que eu sei. E isso é tudo o que tenho a dizer.

Eu acredito nela. Independentemente de quão manipuladora ela seja, os fatos também não mentem.

— Então por que você não se mata? — Eu pergunto. — Se você não tem medo da morte, e você não pode viver de outra maneira, por que não acabar com ela?

— Porque o suicídio é o caminho do covarde.

Eu aceno com a cabeça e deixo isso assim.

— Mas o que o impede de tentar matar um de nós? — Inclino a cabeça pensativamente, olhando para ela com desafio. — Já que você parece não ter consciência.

— Eu sou toda negócios, Izabel, — ela responde imediatamente. — E eu sou leal. Está no meu sangue fazer o que me disseram os meus superiores. Eu faço isso sem questionar ou argumentar, e faço-o bem. E se eu quisesse te matar, eu poderia ter isso no segundo em que você me trouxe aqui. Eu poderia ter tomado essa arma de você momentos atrás, quando você estava fora na terra pensando nos segredos de vocês e decidir não contar Victor sobre isso, como se fosse fazê-lo. Provavelmente esta noite está prevendo dormir com ele. — (Como ela sabe essas coisas?) — Se eu quisesse matar qualquer um de vocês, eu não teria passado seis anos planejando esta noite. Eu teria matado você todas as vezes que eu segui você.

— Mas, e quanto a Claire? — Eu digo, ainda precisando de mais. — Ela comprometeu você. Você a amava. Você ia matá-la. E você deixou a única casa que você já conheceu, arriscou tudo, por causa dela. O que quer dizer que não vai acontecer de novo?

— Porque as pessoas como eu só amam uma vez — ela responde sem sequer ter que pensar sobre isso. — Para nós, a experiência é como uma criança tocando uma panela quente.

Eu não digo nada por um tempo.

— Mas quando você está calma e não agi por raiva ou vingança, você sabe o que está fazendo. E confio em você cem por cento.

— Você disse que me treinaria.

Nora acena com a cabeça.

— Eu fiz.

— Então por que você disse...

— Eu vou treiná-lo se a sua necessidade de aprender não é ditada pelo seu amor de um homem — ela corta. — Isso não é diferente de uma menina engravidar apenas para manter seu namorado, ou um homem casando-se com uma mulher que ele não ama porque a engravidou, nunca funciona. E não vou perder meu tempo com tolices.

— Victor não é a única razão pela qual quero aprender — digo. — Eu não vou mentir e dizer que ele não é parte dela, mas ele não é tudo isso. Eu sou diferente de você em quase todos os sentidos, — continuo — mas a única maneira que nós somos iguais é que eu sei que esta é a única vida para mim. Já fui por esse caminho normal e eu não acho que posso fazer isso de novamente. Esta é a minha vida, e eu só quero aprender para me manter viva nele por tanto tempo quanto que eu puder. Victor nunca teve muito tempo para me treinar como eu preciso ser treinada. Ou ele me enviou para outra pessoa — eu silenciosamente me lembro de Spencer e Jacquelyn no estúdio Krav Maga — ou começou a ficar tranquilo depois de um tempo, porque ele não queria me machucar.

— Eu nunca iria ser fácil com você. — Nora sorri.

— Eu sei.

Então eu digo:

— Mas lutar não é a única coisa que quero aprender — quero aprender tudo o que você pode me ensinar: técnicas de manipulação, controle da dor, tudo...

Nora levanta uma sobrancelha.

— Você nunca será capaz de aprender todas essas coisas — diz ela, — a menos que você queira perder a sua capacidade de amar alguém e ser capaz de matá-los em vez disso, mas vou ensinar-lhe o que eu puder.

— Mais uma pergunta.

— Hmmm?

— Apenas por curiosidade — começo, — quando confessei a você, você parecia... simpática. Até mesmo aos sentimentos de Niklas. Se você é tão... sem emoção... por que você parece se importar? Por que zombar do seu pai e seu dedo desencadeia tanta raiva que desencadeiam suas emoções tão controladas? E ausente.

— Eu ainda sou humana — ela diz simplesmente.

Eu penso nisso muito e muito. Sobre tudo.

E então dou a ela a minha arma.

Nora olha para ela brevemente e depois a leva para seus dedos manchados de sangue.

— Então, bem-vindo a bordo — eu digo.

E o fato de que ela não atira em mim nas costas ou foge para as ruas de Boston, quando eu a deixo sentada lá e volto para dentro, mais prova que ela está dizendo a verdade que eu já sabia.


CapÍtulo VINTE E DOIS

Izabel

Quatro dias depois...

Gostaria de poder dizer que as coisas estão voltando ao normal por aqui, mas isso não poderia estar mais longe da verdade. Niklas ainda se foi e nenhum de nós o viu ou ouviu falar dele — ele poderia estar em outro país, ou morando na parte de trás de um bar em algum lugar próximo, e qualquer um seria crível. Seus telefones celulares nem tocam mais: eles vão direto para o correio de voz ou me dizem que o usuário não tem uma caixa de correio configurada para deixar uma mensagem. Eu parei de ligar para ele dois dias atrás. Quando ele quiser ser encontrado, ele nos avisará. E eu vou me preocupar com o resultado disso até que isso aconteça.

Dorian, depois que Fredrik o interrogou por muitas longas horas, estou feliz em dizer que ainda está vivo. Ele ainda está aprisionado na cela C e provavelmente estará lá por um tempo até que Victor descubra o que fazer com ele. Mas de acordo com Fredrik, tudo o que Dorian disse a Victor parece ser verdade, e ele não escondeu nada mais do que sabemos. Mas, a coisa em Victor mantendo vivo, eu acredito, tem principalmente a ver com a Inteligência dos EUA e se eles vão retaliar em reação à morte de Dorian. Mas Victor disse que ele parece o tipo de contratante privado que Dorian é, se ele já fosse morto ou comprometido, os Estados Unidos não afirmariam que sabia algo sobre ele.

É que a inteligência dos Estados Unidos sabe sobre nós impossibilitando que Victor tome uma decisão de qualquer maneira. Dorian admitiu fazer o perfil de cada um de nós e deu essa informação a seus superiores, empregadores, o que quer que eles sejam chamados — eu estou no escuro quando se trata destas coisas e Victor não fala muito sobre isso... ou talvez ele tenha dito e eu acabei por estar muito envolvida no meu treino com Nora Kessler para notar.

Comecei no dia seguinte depois da noite em que a deixei entrar. E já sinto que tenho que cuidar das minhas costas a cada momento do cada dia — não porque ela não possa ser confiada, mas porque, como parte de seu treinamento, ela me ataca do nada. Não existe tal coisa como um descanso. A qualquer momento Nora poderia estar me testando, mentalmente ou fisicamente, ou de qualquer forma que ela achar conveniente. É o mesmo tipo de treinamento que comecei com Victor há mais de um ano, mas muito mais intenso. Ela fode com minha cabeça tantas vezes que eu não posso dizer a diferença quando ela está mentindo no meu rosto ou me dizendo a verdade — eu deveria ser capaz de descobrir isso. Aprender a confiar inteiramente nos meus instintos e ser capaz de reagir a qualquer situação em conformidade, sem nunca pensar nisso. — Se você tem que parar e pensar nisso, você já fodeu — disse ela durante uma das raras vezes em que me deu um conselho. E então: — Não é a mesma coisa que "pensar antes de reagir" trata-se de mudar a maneira de pensar e reagir naturalmente.

Eu nunca esperava que qualquer treinamento fosse assim. E está apenas começando.

Hoje Nora juntou-se à mesa para o seu primeiro encontro.

Victor não aprovou minha decisão de deixá-la se juntar a nós quando eu lhe disse o que eu tinha feito. Não de primeira de qualquer maneira. Eu tive que lembrá-lo que ele disse que confiava em mim, e embora eu pense no fundo ele não precisasse disso, eu sei que ele menos esperava que eu a deixasse viver e tudo veio como um choque para ele. Para mim também. Eu tinha toda a intenção de eliminar Nora naquela noite — eliminando; talvez eu esteja começando a me tornar mais como Victor — mas no último minuto, eu fui com meu istinto em vez do meu ódio por ela.

Entrei na sala de reuniões diante dos rostos de Victor, James e Fredrik. Nora estará atrasada se ela não estiver aqui em cinco minutos. Eu faço o meu caminho para a minha cadeira habitual perto de Victor, onde me sento e tento parecer confiante — sei que Nora não estiver de acordo com as expectativas de todos, isso estará sobre a minha cabeça, porque eu fui a única que a deixou se juntar a nós. Estar atrasada na sua primeira reunião não é uma boa maneira de começar.

A sala está repleta de silêncio. Quase nenhum movimento agita o ar suave que escorre das aberturas no teto. James olha para a tela do laptop. Fredrik senta-se solidamente, como um gigante deslumbrante melancólico com as duas mãos apoiadas na mesa. Victor se senta com as costas presas contra a cadeira e as mãos no colo — sempre o poderoso no quarto, e qualquer um saberia apenas olhando para ele, mesmo que nunca o tivessem visto antes. Eu sinto seus olhos em mim — embora não os de Fredrik — mas não consigo olhar para nenhum deles.

Finalmente, o som de saltos tocando contra o chão do outro lado da porta ecoa pelo corredor. A porta se abre e Nora, com suas longas pernas e com belos cabelos louros, entra na sala de reuniões, fechando a porta atrás dela. Ela está vestida, de todas as coisas, um terno de mulheres negras e altos saltos pretos. Uma camisa com um elegante babado que puxa sob o casaco do terno e fica perfeitamente sobre seu peito, puxado em torno de seu pescoço de uma forma delicada. Delicado — uma palavra que eu nunca teria pensado associar com os gostos de Nora Kessler.

— Chagando perto da hora — eu falo.

Nora senta-se ao lado de James, com as costas retas e refinadas.

— Sim, — ela diz com um sorriso de desculpas e então alcança o bolso da jaqueta e retira um telefone celular. — Mas eu encontrei Niklas.

Victor e eu olhamos um para o outro enquanto Nora desliza o celular sobre a mesa e ao alcance de Victor. Ele pega e olha para a tela, batendo uma vez com a ponta do dedo enquanto ela começa a se desvanecer em preto. Eu me inclino mais perto de Victor para obter uma visão melhor.

— Em Barlow, — Nora anuncia. — Ele parece estar gastando muito do seu tempo lá, bebendo — eu olho para a tela para ver várias fotos de Niklas sentado em um bar escuro iluminado com um tiro de uísque no bar à sua frente — uma garota diferente todas as noites nas últimas noites. Ele está ficando no hotel ao lado do bar.

— Isso é apenas trinta minutos daqui — eu digo, olhando para Victor ansiosamente.

— Bebendo e mulheres — James fala do outro lado da mesa. — Parece que ele não mudou, realmente. Acho que é seguro dizer que ele está bem.

Franzem o cenho para James.

— Ele não está tão bem — eu digo.

— Mas ele estará — diz Victor.

Ele desliza o telefone de volta para Nora. Ela o deixa sobre a mesa na frente dela.

Fredrik não diz nada.

Eu deslizo para trás em minha cadeira mais confortavelmente e viro a Victor.

— Você quer que eu vá falar com ele? — Eu pergunto. — Tentar trazê-lo de volta para cá para que você possa falar com ele?

Victor sacode a cabeça.

— Vamos discutir Niklas mais tarde — diz ele. — Primeiro, eu tenho algo mais que precisa ser tratado.

Victor e Nora trocam um olhar, dando a impressão de que são os únicos na mesa que já falaram sobre isso, seja lá o que for. Eu me sinto incrivelmente incômoda de repente, mas curiosa e ansiosa, também.

— O que é? — Eu pergunto.

Victor respira fundo e olha para todos nós.

— Haverá uma missão importante no futuro próximo — ele diz enigmaticamente e seus olhos caem sobre mim, — não no próximo ano, mas porque levará, pelo menos, esse tempo para se preparar para isso, ou melhor, para preparar Nora - Ele olha para ela por um instante.

— OK — eu digo, desconfiada, — que tipo de missão?

Ele fica quieto por um momento e depois diz:

— Preciso que você volte para o México.

Confusa, eu respondo:

— Por que o México? — Mas o que é tão confuso é o quão obscuro ele está sendo. — Não tenho problema em ir lá, Victor. Você me dá uma missão e eu vou executá-la. O México não me assusta. Já fomos lá uma vez. Pegamos dois dos irmãos de Javier e libertamos algumas das meninas deixadas no complexo. A missão não resultou como eu esperava e muitas das garotas com quem eu vivi quando eu era prisioneira lá, já haviam sido vendidas ou mortas quando chegamos.

Ele olha para longe dos meus olhos momentaneamente.

— Victor, o que é? Apenas diga.

Mais uma vez, sinto todos os olhos em mim, mesmo Fredrik desta vez, mas eu não olho para ninguém além de Victor.

— Esta missão vai exigir algo mais do que matar alguém e voltar — ele começa. — Nos próximos meses você estará treinando Nora para isso.

Minhas sobrancelhas se dobram rigidamente.

— Eu treinando ela? — Estou começando a entender, o que será toda esta missão , mas deixei Victor preencher as lacunas.

— Você estava por dentro, — ele diz para mim, — e você sabe como as coisas funcionam. Tudo. Desde a compra e venda de drogas, armas e meninas, até o modo como as meninas foram tratadas, até como elas foram mortas. Nora certamente pode lidar com qualquer tipo de missão dada a ela, mas mesmo ela precisa ser treinada para que ela saiba exatamente com o que ela está lidando.

Olho bem para Nora, que fica quieta, mas com confiança.

— Espere um segundo, — Eu o cortei — então você está dizendo que quer que eu a treine para ser uma escrava sexual? — De alguma forma eu não pode imaginar essa imagem na minha cabeça, não importa o quanto eu tente.

O rosto de James se ilumina com arrepiante prazer.

— Não necessariamente, — Victor diz. — Eu falei com ela longamente sobre isso e nós dois concordamos que a melhor maneira de abordar esse aspecto particular é para ela se tornar uma das meninas, não apenas desempenhar o papel.

— É melhor se tornar uma delas — diz Nora, — se eu conseguir ser uma delas, não que me ensine como ser uma delas.

Ficando mais confusa, eu olho entre Victor e Nora, procurando respostas.

— Eu sou capaz de assumir qualquer papel, até mesmo uma escrava do sexo, mas você precisa me dar dicas, me dizer sobre os bastidores, sobre como ser mais consciente, como não me matem.

Eu balanço a cabeça, já não gosto dessa ideia.

— Victor, imagino que as coisas não são mais as mesmas. Javier está morto. Izel está morta. Seus irmãos estão mortos.

— Elas podem estar — diz ele, — mas isso não significa que as coisas mudaram muito. Javier tinha seis irmãos que conhecemos. Dois deles ainda estão executando suas operações. O composto ainda está no mesmo lugar. Meninas, drogas e armas ainda são compradas e vendidas como se nada tivesse acontecido. Dentro de dois meses de nossa última missão lá, eles estavam funcionando novamente.

Eu já sabia a maior parte dessa informação, mas vejo por que agora ele tinha que repetir.

Balançando a cabeça com um olhar caído, inclino-me para a frente com os braços sobre a mesa.

— OK mas porquê? Por que voltar? Não me interpretem mal, não tenho nenhum problema em matar aqueles bastardos e libertar mais das meninas, mas...

— Essa não é a missão, Izabel — diz Victor.

Eu pisco, um pouco atordoada.

Nora e Victor trocam outro olhar de conhecimento.

Então Victor diz:

— Nora me disse alguma coisa, na última noite em que ela foi detida naquele quarto, antes dela se juntar a nós. Algo sobre você que eu queria ter mais certeza antes de eu dizer qualquer coisa.

Eu apenas olho para ele, sentindo a dor da traição, mesmo sabendo que ele não me traiu em tudo.

Victor continua:

— Além disso, depois de falar com Dorian quando ele foi detido pela primeira vez, a história de Nora parecia ter mais verdade. — Depois de uma pausa, ele diz: — A missão no México será descobrir quem é Vonnegut. Você pode ser a única pessoa entre nós que já viu o verdadeiro Vonnegut.

— O quê? — Eu não posso acreditar no que acabara de ouvir.

Ele balança a cabeça, e depois começa a falar, mas eu o interrompo.

— Você viu ele — eu aponto. — Do que está falando, Victor?

— O homem que encontrei em raras ocasiões, quando eu fazia parte da Ordem — ele começa, — onde eu era valorizado como um operário, tenho razões para acreditar que não era o verdadeiro Vonnegut. Ele era um chamariz. A verdade é que ninguém realmente sabe quem é o verdadeiro homem por trás da organização de assassinato mais antiga e maior ainda em funcionamento hoje. Nem mesmo a CIA ou o FBI — ninguém. Apenas quando eles pensam que têm uma identidade, descobrem apenas estavam correndo em círculos.

Victor me enche de tudo o que Dorian lhe contou, dos suspeitos de Vonnegut de vender armas a terroristas e de que seu negócio é muito mais do que matar por contrato. Ele continua a me falar sobre as coisas Nora lhe disse em segredo, e sobre o dispositivo de rastreamento que Victor me cortou quando nós estávamos nos escondendo.

— Niklas e eu sabíamos — diz Victor, — na noite em que tirei esse aparelho de você, que algo de tão alta tecnologia tinha que vir de uma fonte externa, que não havia ninguém como Javier Ruiz que fosse capaz de produzir ele mesmo.

— Enquanto eu estava espionando todos vocês, — Nora interrompe, — e mergulhando em informações da Ordem, eu descobri que Vonnegut estava lidando com meninas, também, e estava vendendo dispositivos de rastreamento de alta tecnologia como o que eles encontraram em você.

Victor acrescenta:

— Acredito que o dispositivo que foi colocado em você veio de Vonnegut. Acho que Vonnegut estava vendendo para Javier, e você estava lá no interior, mais perto de Vonnegut do que quase ninguém já esteve.

— Mas o que faz pensar que eu sei como ele se parece? — Eu atiro de volta, ficando mais oprimida por esta informação surpreendente.

— Os homens ricos que você viu quando Javier estava usando você como um troféu de braço — Victor diz, — um deles eu acredito que é o Vonnegut real.

Imediatamente, começo a pensar em todos os seus rostos, cada um movendo-se rapidamente através da minha mente como um borrão.

— Ele não pode ficar escondido para sempre — Victor continua. — Alguém o viu. Ele pode ser um fantasma, mas ainda é humano e os seres humanos por natureza precisam se associar a outros seres humanos, estar na presença de outras pessoas — acho que ele era um desses homens ricos, Izabel. E eu acho que Nora indo para esta missão será como nós finalmente o encontraremos, destronaremos e mataremos.

Ele faz uma pausa e acrescenta com profundidade,

— E então eu assumirei A Ordem, uma vez que ele está morto.

Não respondo ao seu último comentário, mas, pela primeira vez desde que entrei na sala, os olhos de Fredrik se fecham nos meus.

Esta é a primeira vez que eu ouvi Victor dizer algo assim. Assumir a ordem, a ordem... é uma conversa para outro dia. Neste momento meu cérebro está sobrecarregado com... tudo.

Estou em silêncio por um longo tempo, deixando todo o resto que ele me disse para assimilar. Ainda parece ser haver muito que foi deixado sem resposta, mas me leva vários minutos para descobrir quais são essas coisas.

— Mas por que mandar Nora? — Eu digo, olhando para ela por apenas um segundo. — Quero dizer... bem, acho que não posso ser a única a voltar porque muitos já sabem como eu pareço...

— Eu não deixaria você voltar de qualquer maneira — Victor me corta. — Você vai para o México e estará em uma cidade turística, mas Nora estará fazendo o trabalho interno.

Eu franzi o cenho.

— Por quê? O que quer dizer que você não vai me deixar voltar? — Há ácido na minha voz.

Victor suspira e deixa cair as mãos no colo.

— Você não acha que eu sou capaz de volta ali, — Eu acuso. — Você acha que eu sou como todo mundo; isso porque eu passei por uma experiência traumática e que eu nunca seria capaz de me colocar nisso de novo, que eu nunca seria capaz de lidar com isso. Bem, você está errado — eu lanço uma mão no ar — Eu sou o oposto de todo mundo. Eu não tenho medo disso. De qualquer um deles. Eu sou mais forte agora do que nunca, e se alguém pode fazer este trabalho com perfeição, sou eu. Não Nora, mas eu.

— Não se trata de se provar, Izabel — diz Nora calmamente e gentilmente.

Eu olho para ela.

— Ninguém pediu sua opinião...

— Não, mas eu não sou o tipo que dar — ela devolve - Ah, mais aí estar a verdadeira Nora Kessler: audaz, loquaz e irritante.

James se esconde na cadeira um pouco para colocar alguma distância entre ele e Nora, provavelmente esperando que eu me jogue na mesa em qualquer segundo agora.

O deixo passar, inalo uma respiração longa, profunda e volto para olhar para Victor.

— Como você mesmo disse — Victor diz, — você não pode ser a única a entrar porque você não pode arriscar ser vista.

— Talvez haja uma maneira de contornar isso — eu digo. — Poderíamos...

— Izabel — Victor interrompe com um tom sombrio e firme, — você não vai voltar lá... você não pode lutar contra todos os homens naquele complexo que tentariam ter seu caminho com você.

— Ah, então é isso que se trata, — eu digo friamente. — Você acha que eu não posso evitar que eu seja estuprada — eu o olho diretamente nos olhos, sem piscar — confie em mim, eu poderia...

— Nora estará indo para a missão — diz ele, como se isso fosse o fim.

Esfregando os dentes, respiro fundo e me levanto da cadeira.

— Ela não pode entrar lá com fios, — eu assinalo. — Ela não pode levar uma câmera. Ela não terá acesso a um telefone. Eu não duvido de suas habilidades, mas se ela vai ser uma das garotas e torná-la crível, ela não pode se esgueirar para entrar em contato conosco — eles saberiam em poucos minutos que ela está desaparecida. — Eu olho para ela uma vez e digo: — Como você vai ser a única a descobrir quem Vonnegut é se eu sou a única que supostamente o viu? — Eu cruzo os braços e olho atentamente, os olhos correndo entre Nora e Victor.

— Vamos descobrir isso — diz Victor. — Temos vários meses para chegar a um plano.

Eu balanço a cabeça, minha boca se levantando de um lado.

— Victor, eu não sou estúpida para acreditar que você não conhece uma maneira certa de descobrir quem é Vonnegut.

Ele olha para mim, esperando.

— Através de mim — continuo. — No segundo Vonnegut me vê, eu saberei que é ele porque a compreensão de quem o está olhando irá piscar em seus olhos naquele instante. E eu iria vê-lo. Vonnegut está bem consciente de como eu pareço.

— Sim — Victor diz, — essa é a melhor maneira de descobrir quem ele é, mas vamos encontrar outro caminho. Você não vai entrar nesse complexo.

— É o único caminho.

— Outros viram você — ele me lembra, ficando irritado.

— Mas Javier e Izel estão mortos. Luis e Diego estão mortos e eles são os únicos outros irmãos de Javier que eu vi. Quem está correndo o lugar agora duvido saibam quem eu sou.

— Não podemos correr esse risco.

— Concordo — diz James. — É muito perigoso.

— Victor...

— Izabel! — Ele levanta as costas da cadeira — Eu não vou deixar você voltar lá! — ele respira fundo e acalma-se — Eu não estou arriscando você naquele lugar, Nora sim - Suas palavras cruéis não a perturbam nem um pouco; Ela não se importa com essas coisas. — Você quer fazer missões sozinha e isso já é risco suficiente, não importa o quão bom você seja, mas enviá-la em um lugar onde as pessoas podem se lembrar de você e quem vai matar você no local no segundo que eles percebam quem você é, não é um risco que estou disposto a correr.

Olho para a parede, desapontada e zangada, mas tocada por seus sentimentos e não posso simplesmente descartá-los como se eles não fossem nada.

— Me desculpe, — eu digo suavemente e Victor estende a mão para mim. Ele nunca mostra carinho comigo durante as reuniões, então o gesto me deixa surpresa.

Eu ando e pego sua mão. Ele me puxa para ficar ao lado dele. Ele beija o topo dos meus dedos.

— Vamos descobrir um caminho — ele diz gentilmente, — mas Nora será a de dentro.

Eu aceno com relutância.

Quanto tempo você vai se permitir cortar os cantos por mim, Victor?

— Vou ensinar a Nora tudo o que ela precisa saber — eu digo olhando para ela.

Então eu tomo meu assento outra vez.

— Você é a chave para fazer isso funcionar — diz Victor.

Quanto tempo você vai tomar a rota alternativa apenas para me manter fora de perigo?

— Vou fazer o que eu tenho que fazer para ajudar a derrubar este tirano — eu acrescento.

Quão mais…?

E farei o que Victor me pedir, mas uma grande parte de mim quer ser a do interior. Não porque eu sinto a necessidade de provar a mim mesma. Não porque ele está deixando Nora ir em vez de mim e eu sinto alguma sensação de ciúme — isso não tem nada a ver com ciúme, ou determinação imprudente; eu quero que seja eu porque eu passei nove anos da minha vida no México entre esses homens e sinto que, se qualquer missão deveria ser minha, é esta.

— Entretanto — Victor anuncia, — com a ausência de Niklas, e considerando as mudanças feitas nesta Ordem, Nora será a sua nova parceira.

Eu aceno com aceitação.

— E continuarei treinando você enquanto trabalho com você — diz Nora.

— Vocês duas irão em várias missões juntas antes da missão no México — diz Victor. — Vocês irão se concentrar em suas atuais missões por enquanto, mas estejam se preparando para o México da mesma forma.

O silêncio caí sobre o quarto quando cada um de nós pensar sobre o caminho a seguir.

— E Niklas? — Pergunto, decidido a não deixá-lo ser esquecido. — Estamos planejando todas essas missões sem ele?

— Por enquanto, sim — diz Victor. — Até que as coisas entre meu irmão e eu tenham sido resolvidas, é melhor assumir que ele não fará parte de nenhuma missão.

Concordo com a cabeça.

Nós cinco passamos os próximos trinta minutos discutindo os detalhes das nossas futuras missões, incluindo começar cedo no México. É muito estranho sentar nesta mesa sem Dorian e Niklas. E com Nora, em vez disso. Sinto falta do sarcasmo de Dorian e comentários ridículos sobre as mulheres que deviam me esfregar do jeito errado, mas nunca fazem. E eu sinto falta das minhas lutas com Niklas e seus olhares frios e o fedor de seus cigarros persistentes em sua jaqueta.

Finalmente, quando a reunião chega ao fim, Fredrik fica de pé da mesa.

Todos nós olhamos para ele.

— A menos que haja qualquer outra coisa, — ele diz, olhando apenas para Victor, — eu tenho um lugar que eu preciso estar.

— E o que você poderia, eventualmente, ter que fazer? — Nora pergunta, sua voz cheia de provocação, seus lábios vermelhos escuros espalhando-se num sorriso. — Um homem tão frio como você não pode ter qualquer tipo de vida fora desta Ordem. — Ela sorri docemente, perversamente.

Fredrik e Nora raramente falam um com o outro, mas de vez em quando, sua personalidade burlona escapa dela. Ontem ela se colocou como se ela não pudesse quebrar e como ela é agora a segunda mulher a vencê-lo. Ela está tentando consegui uma reação dele, eu realmente não tenho ideia porque ela quer uma, mas Fredrik está, como sempre, não se incomodando com suas provocações.

Até agora.

Ele tira a pasta da mesa.

— Almoço — ele diz simplesmente.

Os olhos castanhos de Nora se iluminam com sugestão.

— Oh? E vai comer sozinho neste almoço, ou gostaria de companhia?

Fredrik anda pelo comprimento da mesa. Ele nunca olha para ela, mas então ele nunca realmente olha para qualquer um de nós.

— Eu prefiro jantar sozinho — diz ele.

Nora apenas balança a cabeça, sorrindo. Nada parece incomodá-la, e admiro isso nela. Silenciosamente, é claro; eu nunca a deixarei saber disso.

Fredrik olha para Victor, esperando.

— Eu vou estar em contato — Victor diz a ele. — Se as coisas forem como planejado, você estará interrogando um homem até o fim da semana.

Fredrik acena, coloca a mão na porta e a empurra.

— Mas não deixe o país — Victor diz antes de Fredrik sair. — Eu acho que é seguro dizer que seu tempo sozinho acabou.

— Claro — diz Fredrik. — Eu estarei esperando por sua ligação. — A porta se fecha ligeiramente atrás dele quando ele sai do quarto.

Victor volta sua atenção para Nora.

— E que outras informações você tem para mim do FC-4? — Ele pergunta.

Nora escova seu cabelo loiro sedoso longe de seus ombros e dobra suas mãos juntos na mesa na frente dela; suas curtas unhas estão pintadas de vermelho para combinar com seu batom. James olha para ela brevemente, da mesma forma que faz a cada poucos segundos, mas tenta não torná-lo tão óbvio.

— Também no final da semana — ela diz, — vou ter tudo o que sei sobre eles à sua disposição.

Victor acena com a cabeça.

Então ele diz:

— Você tem um longo caminho a percorrer antes mesmo que eu começar a confiar em você; um caminho difícil pela frente.

— Sim, estou bem ciente — diz ela em troca. — Se você já confiasse em mim, eu não teria o respeito que eu tenho por você.

Nora olha para mim.

— Mas um pouco de confiança — diz ela, indicando o tipo que eu tenho por ela, — é muito apreciado.

Eu aceno, aceitando seus agradecimentos.

Victor olha entre nós, mas não diz mais nada. Nora é o meu projeto, a minha responsabilidade, meu fardo para carregar. Ele aceita isso e não me privará dela e do que eu preciso dela mesmo que ele temesse que ela seja um erro, mas eu sei que ele vai estar observando cada movimento dela.

— Bem, pela minha parte — James fala, — estou feliz por ter você a bordo. — Ele sorri estupidamente.

Nora lhe dá um olhar sensual, fazendo com que seu grande rosto redondo fique vermelho.

— Não sei como Niklas vai se sentir sobre isso — James acrescenta, — ou até mesmo Dorian, se e... ele alguma vez sai daquela cela, é claro — ele olha para Victor — mas eu suponho que o tempo dirá.

Sim, o tempo tende a conter as respostas para tudo. E, como as coisas estão agora, como as coisas tomaram um rumo tão drástico em nossa Ordem, estou ansiosa e com medo de ver o que o tempo revelará. Acho que a única coisa que posso fazer é esperar. Esperar que Niklas volte e segure a minha respiração como tudo o que está destinado a acontecer entre ele e Victor, aconteça. Espere pelo dia em que o destino de Dorian estará finalmente decidido. Esperar pelo momento que se, ou quando, Victor descobrir sobre a criança que eu tive com Javier, e abrace as consequências da verdade. Esperar para ver se meu julgamento está, de fato, totalmente errado e Nora acaba me fazendo uma tola, afinal.

Esperar. O tempo é uma cadela cruel.


Capítulo vinte e três

Fredrik

HÁ CERCA DE OITO ANOS...


Serafina. Meu anjo com asas pretas. Ela sorriu; um brilho carmesim nos lábios, emoldurado por cabelos tão negros como a minha alma, os olhos tão profundos como o poço sem fundo que é o meu coração. Ela se deitou perto do corpo quente, seus dedos longos e brancos enrolados no sedoso cabelo loiro da menina. Seus seios pródigos e cheios, pressionados contra os menores da menina. Ambos estavam nus, enrolados um ao lado do outro. Eles estavam esperando por mim.

— É muito simples — Seraphina disse e ela arrastou a ponta de sua língua através do pescoço da menina, olhando através do quarto para mim com aquelas piscinas escuras de pecado e salvação. — Nós fazemos tudo juntos, meu amor — sua língua traçou o lábio inferior da garota e a menina devolveu o gesto — meu diabo, meu príncipe negro.

Eu pisei para frente, quebrando os botões da minha camisa.

Seraphina prosseguiu:

— Nós buscamos vingança juntos. Nós fodemos, nós amamos, nós condenamos e destruímos juntos até o dia em que morreremos juntos.

Ela estendeu a mão delicada, mas mortal e gesticulou para mim, curvando seus dedos em direção à sua palma, lentamente e sugestivamente.

— Venha cá e prove-a — disse ela, e então deixou cair a mão entre as coxas da garota. — Você tem que prová-la.

A garota gemeu com o toque de Seraphina, sua cabeça loira pressionando o ombro da minha esposa, seus peitos pequenos e macios empurrando para a vista da luz fraca no pequeno qiarto.

Fiquei de pé ao pé da cama, observando-os, como os dedos de Seraphina se moviam com tanta precisão artística, como as pernas da menina se separaram para ela, expondo seu lugar mais secreto para mim e para o ar fresco da noite.

— Eu disse para você não trazê-las aqui. — Eu finalmente digo enquanto escorregava meu cinto dos laços da minha calça preta, o som do couro se movendo contra a tela em um movimento lento e deliberado. — Nunca sem minha permissão. E nunca aqui. — Eu estava furioso, mas mantive-o contido.

Os lábios vermelhos escuros de Seraphina se espalharam em um delicioso sorriso. A moça acariciou os seios de Seraphina, colocou a cabeça no seu pescoço; ela tentou tocar embaixo Seraphina, mas não foi permitida, então ela puxou a mão dela, arrastando as pontas dos seus dedos em seu estômago.

— Oh, Fredrik — disse Seraphina, levantando as costas da cama - você não pode dizer isso o tempo todo. Estou tentando te ajudar. Isso é apenas parte do processo.

— Mas, da mesma forma — disse eu — disse-lhe para não trazê-las para nossa casa.

Seraphina e eu compartilhamos um olhar, seu sorriso escurecendo com desapontamento; meu rosto sem emoção não tinha mudado. Mas minha esposa nunca desistir tão facilmente. Ela nunca fazia o que eu dizia com um estalar de dois dedos, porque ela era ousada e desafiante e eu adorava isso sobre ela.

Ela se levantou da cama.

A menina ficou alerta e sentou-se quando notou a tensão crescente na sala.

— Quero que você a foda — disse Seraphina. — Eu a trouxe aqui para você. Olhe para ela — ela acenou para a menina, que era muito bonita com lábios cheios e grandes olhos castanhos e quadris curvilíneos — Eu achei que você ia gostar dela. Eu gosto dela.

A menina olhou para trás e para frente entre nós nervosamente.

— Mas esta é a nossa casa, Seraphina. — Eu me aproximei de sua forma alta e nua. — Você sabe que eu não gosto de fodê-los aqui, onde dormimos, onde eu te fodo.

— Eu... acho que vou embora agora — disse a moça, levantando-se da cama.

— Não! — Seraphina estalou, apontando para ela. — Sente-se, caralho. — Ela olhou para mim, fulminando-me, rangendo os dentes. Seus olhos castanhos brilharam em seu rosto oval irritado; O preto de seu cabelo curto brilhando contra o branco cremoso de suas bochechas.

A menina estava com muito medo de se mover. Ela permaneceu na cama, puxando os joelhos para ela e cobrindo seus seios com seus longos cabelos.

— Você pode ir — eu disse a menina, empurrando minha cabeça para trás, indicando a porta aberta atrás de mim.

— Eu disse que ela fodidamente fica, Fredrik!

Seraphina começou a se esgueirar através da cama para a garota, mas eu a agarrei por trás, segurando-a firmemente em torno de sua cintura. A moça levantou-se rapidamente com os olhos arregalados e agarrou suas roupas do chão.

Seraphina lutou comigo a cada passo, a cada momento, até que a menina saiu correndo e ouvi a porta da frente de nossa pequena casa fechada atrás dela.

— Desgraçado!

Arrancando as mãos de Seraphina atrás de suas costas, eu a empurrei para a frente na cama.

— Por que você faz isso, Seraphina? — Eu perguntei a ela, minha voz sufocada de raiva e desespero. Ela lutou contra a cama, mas eu a segurei ainda, pisando entre suas pernas e separando-as com a minha. — É a minha única regra e você a quebrou. Por quê?

— Porque é uma regra fodidamente estúpida! — Ela gritou, uma face pressionada contra o colchão.

Inclinando-me sobre seu corpo com os pulsos ainda presos atrás dela em uma das minhas mãos, eu sussurrei em seu ouvido:

— É estúpido que eu te ame, Seraphina? — Meu aperto aperta em torno de seus pulsos — É estúpido que eu nunca queira compartilhar você ou eu com alguém em nossa casa?

— Que diferença faz? — Perguntou ela em uma voz mais calma, mas amarga. — Não importa onde nós fazemos.

— É importante para mim. — Eu beijei o lado de sua boca.

— Por quê?

— Porque deve haver limites — eu disse e me levantei novamente. — Nós não vamos foder, matar ou destruir qualquer pessoa em nossa casa. Você entende?

Ela balançou a cabeça ainda pressionada contra o colchão.

— Agora você vai ficar quieta ou eu vou ter que amarrar você?

— Vou ficar quieta — disse ela.

Eu soltei seus pulsos e ela moveu seus braços para fora e descansou-os sobre o colchão acima de sua cabeça.

— E por que você vai ficar quieta? — Perguntei quando peguei firmemente o cinto em minha mão.

— Porque eu mereço — ela disse, da mesma forma que ela havia dito as vezes antes que eu tinha que puni-la.

Agachei-me entre as pernas e, com ambas as mãos, separei um pouco mais para a expô-la a mim.

— Eu não sei o que vou fazer com você — eu disse e beijei a carne quente de seu traseiro.

— Você não sabe o que você faria sem mim — disse ela em troca.

Eu beijei a outra bochecha.

— Não, eu não, e eu nunca quero descobrir.

Ela gemeu e seu corpo se enrijeceu quando minha língua serpenteou para fora e lambeu seu clitóris.

Eu me ergui em uma posição e pisei de entre suas pernas. Ela ficou quieta, esperando, sabendo, preparando-se. Eu a observei por um momento. Ela empurrou os dedos dos pés um pouco, o suficiente para segurar suas pernas enquanto ela estava deitada de costas contra o colchão da cintura para cima. Eu queria tanto colocar meu pau nela, eu queria espremer seu traseiro em minhas mãos e fodê-la até que nenhum de nós pudesse ver em linha reta, mas ela tinha que ser tratada primeiro. Eu nunca poderia deixá-la ter seu caminho quando se trata dessas coisas ou ela se tornaria incontrolável. Seraphina pode ter me ajudando a controlar meus impulsos torturantes, meus impulsos assassinos, mas eu não era o único de nós que precisava ser ensinado, controlado e guiado por que Seraphina era uma mulher perigosa e perversa que poderia se perder em qualquer momento e nunca poderia ter muito controle.

O som da pele marcada pelo couro rasgou através do ar e Seraphina gritou alto. Mas ela não se mexeu. Duas vezes. Quatro vezes. Seis vezes. Dez vezes, o cinturão golpeou sua carne, deixando marcas em sua bunda. Ainda assim, ela nunca se moveu; apenas seus dedos se agarraram a cama, rasgando o lençol do colchão e esmagando-o em suas mãos.

Onze. Doze. Treze.

Eu não cedi. Eu nunca poderia deixá-la ver a fraqueza em mim ou eu iria perdê-la. Atacar Seraphina levemente, tendo piedade dela, só a desligaria. Era uma coisa boa porque eu nunca teria tido piedade dela. Eu gostava de infligir a dor tanto quanto ela gostava de tomá-la.

— Fredrik, por favor! — Ela implorou com uma voz chorar lágrima. — Por favor pare…

Eu bati o couro novamente, e novamente, e novamente até chegar a vinte. Era sempre vinte. Ela sabia que sempre haveria vinte chicotadas, não importa o quanto ela me implorasse para parar.

Eu coloquei o cinto de lado na cama e agachado entre suas pernas mais uma vez. Seu corpo tremia debaixo de minhas mãos cuidadas, resistido por apenas segundos sob meus lábios quentes. Eu beijei cada centímetro de sua dor, cada pedaço, cada minúsculo corte onde a pele tinha quebrado. E então eu delicadamente puxei seus lábios separados com meus dedos e arrastei a ponta da minha língua quente entre eles. Lentamente. Atentamente. Seraphina gemeu e choramingou e cavou seus dedos no colchão.

Ela já não sentia a dor.

Tudo que ela sabia era o prazer.

Eu a fodi duramente, a única maneira que qualquer um de nós queria sempre — duro e violento. E depois que eu gozei, eu deitei em suas costas, ainda enterrado dentro dela.

Eu a beijei de volta, sua coluna, seus ombros e seu pescoço. A lâmina de barbear me acenou na mesa de cabeceira, mas esperei. Só mais um pouco.

— Não há ninguém mais no mundo como nós, meu amor — ela disse em uma voz suave, olhando para nada com seu rosto pressionado contra o colchão. — Eu morreria sem você.

Distraidamente, eu continuei a me empurrar profundamente dentro dela lentamente.

— Você nunca estará sem mim — eu disse e beijei a nuca. — E como você disse antes, morreremos juntos.

— Você promete, Fredrik? Você vai junto comigo se eu morrer antes de você?

Eu beijei o lado de sua boca, pressionando meus quadris contra ela. Ela ofegou.

— Quando você morrer, eu também morro — eu sussurrei contra sua orelha. — Você é o amor da minha vida. Meu lindo cisne. E você será minha destruição.

Entrei dentro dela. Seus lábios se separaram em um gemido silencioso e ofegante e seus dedos encontraram o topo do meu cabelo escuro.

— Ninguém pode te amar como eu te amo — disse ela. — Nenhuma mulher neste mundo conhece você como eu conheço você, entende suas necessidades, sua dor, seu passado. Nenhuma mulher pode dar a você o que eu lhe dou.

E ela estava certa.

Eu empurrei mais e mais e, de repente, a lâmina de barbear estava presa entre as pontas dos meus dedos e o polegar.

Eu levantei meu peito de suas costas, apenas o suficiente para que eu pudesse vê-la.

Seraphina choramingou e agarrou a cama quando eu fiz o primeiro corte, verticalmente abaixo suas costas cerca de dois centímetros. Logo iria curar e tornar-se como as outras cicatrizes que eu tinha deixado lá. Então me inclinei e lambei o sangue que escorria da ferida com a língua. Seraphina levantou seu traseiro contra mim, me forçando mais fundo. Meus dedos feriram firmemente dentro de seu cabelo.

Inclinei-me mais um pouco, procurando sua boca com a minha, e eu a beijei longa, dura e sangrenta.

— Ninguém, Fredrik, — ela sussurrou e lambeu minha língua, — ninguém jamais te amará como eu.


Eu não sei quanto tempo eu estive olhando este jornal, as palavras impressas em tinta preta borradas em toda a minha visão. Por quanto tempo minhas memórias de Seraphina me torturarão? Oh sim, claro — até eu morrer junto com ela como eu prometi.

Minha pasta está no chão embaixo da mesa, sentada entre a parede e minhas pernas, escondida na escuridão. Os clientes neste restaurante, como em todos os lugares públicos, são inconscientes. Eles não têm percepção da verdade, a mesma verdade que os cerca todos os dias de sua vida tranquila e inocente — que o mal vive na porta ao lado, passa-os na calçada, prepara as refeições ou, neste caso, come apenas uma mesa com eles. Se eles soubessem apenas que segredos minha pasta tem, ou as coisas horríveis que estas mãos fizeram. Ou as lembranças vívidas e impiedosas que atormentam minha mente como uma ferida que nunca cura.

Enrolei dois dedos em torno da alça do meu café e trouxe a caneca para os meus lábios, suavemente soprando o vapor subindo do topo antes de tomar um gole cuidadoso. Mais uma vez, meus olhos examinam o jornal na mesa da cabine diante de mim — talvez desta vez eu realmente leia as palavras.

Eu vou colocar a caneca de volta para baixo, mas pouco antes de ele se instala de volta em segurança na mesa, o garoto sentado na cabine atrás de mim bate a cabeça contra a parte de trás do meu assento novamente. Algumas gotas caem da borda e sobre a mesa. Eu calmamente limpo-as com um guardanapo.

— Avery! — A mãe repreende. — Eu lhe disse para ficar quieto. Sinto muito.

Acho que o último comentário foi para mim.

Viro a cabeça apenas ligeiramente, não o suficiente para ver a mulher, mas o suficiente ela saber que a ouvi.

— Está tudo bem — eu digo e volto a ler o jornal.

Mais três vezes — além dos provavelmente dez outros antes daquela — o garotinho bate contra a parte de trás do meu assento, até que finalmente a mãe se apressa a sai com ele, pedindo desculpas novamente antes de ela se afastar com a mão de seu filho na dela. E mais uma vez, eu disse a ela que estava bem. O que eu não disse a ela, porém, é que eu, de uma forma estranha, me congratulo com o incômodo. Eu tendo a apreciar as coisas simples, e de outra forma irritante em vida depois de uma noite de torturar alguém, um menino inocente batendo a parte de trás da minha cadeira, sendo um menino, é uma boa mudança de atmosfera. Eu invejo este “Avery”. Que tipo de homem eu seria hoje se eu tivesse sido autorizado a jantar com a minha mãe e não me importar com o que o homem sentado atrás de mim pensaria com a minha cabeça batendo nas costas do seu assento? Talvez aquela pasta debaixo da mesa fosse preenchida com papel e um almoço embalado em vez de agulhas, facas, alicates, venenos e luvas de borracha. Talvez não haveria outra mulher no mundo que pudesse amar e me entender.

— Pronto para uma recarga? — Ouço uma voz doce dizer.

Olho para cima, puxando minha mente de volta para o momento, para ver a minha garçonete cujo nome lê “Emily” segurando um pote de café em uma mão.

— Não, obrigado.

Ela sorri para mim, um rosto de forma oval com lábios amáveis e olhos tipo avelã e pele de cor creme.

— Você vai pedido de sempre hoje? — Ela pergunta. — Dois ovos mexidos. Três fatias de bacon crocante e um copo de água com limão?

Eu olho para ela.

— Não, eu não vou tomar café hoje. — Eu olho de volta para o jornal.

O silêncio enche o espaço entre nós.

Finalmente, ela diz:

— Bem, talvez amanhã, então...

— Não, também não estarei aqui amanhã.

— Oh.

O silêncio começa a se esticar. Eu nunca olho para cima do papel.

— Bem, OK eu vou... deixá-lo para o seu café.

A garçonete chamada Emily, que tem sido minha garçonete todas as outras manhãs pelas últimas três semanas, começa caminhar, deixando sua personalidade brilhante no chão atrás dela.

— Espere — eu chamo em uma voz normal, e ela se detém para olhar para mim. — Eu uh... — Eu olho para a mesa, e então a minha caneca de café, e depois de volta para Emily — ... sim, eu acho que eu gostaria de ter o meu pedido habitual esta manhã.

Seu sorriso bonito retorna, seus olhos castanhos brilhando debaixo de seus cabelos marrom-dourados.

— Ótimo — ela diz balançando a cabeça, — Eu estarei de volta em alguns minutos.

Ela vem tentando falar comigo durante as duas semanas das três que eu vim aqui, mas eu sempre a evitei. Ela é linda, amável, doce e é precisamente por isso que eu não cedi a suas tentativas de conversa casual — ela não é o tipo de garota que eu poderia foder e ir embora, sem culpa por seus sentimentos feridos.

Não sei por que a parei.

Dez minutos depois ela volta com meu café da manhã com um prato em uma mão e um copo de água de limão na outra. Ela os coloca na mesa à minha frente enquanto eu afasto o jornal, dobrando-o e colocando-o no assento.

— Você trabalha aqui perto? — Pergunta ela, enquanto nota algo em seu tablet na palma da mão.

— Não — eu digo quando eu polvilhe pimenta nos meus ovos — estou apenas desfrutando do café da manhã. — E gosto muito do senso de normalidade que tomar café da manhã no mesmo restaurante todas as outras manhãs me dá, eu não digo em voz alta.

Ela rasga um bilhete e o coloca de face para baixo sobre a mesa.

— Bem, estou feliz por ser sua garçonete todas as manhãs — ela diz com um sorriso bonito que sugere algo mais.

Ela é tímida, mas ela está tentando ser corajosa e eu acho que é cativante.

O silêncio começa a se esticar novamente.

— Bem, desfrute da sua refeição — diz ela e então coloca o bilhete no bolso do avental.

— Obrigado — digo a ela e lhe dou um pequeno sorriso antes de voltar para a minha refeição.

Ela balança a cabeça e olha para o bilhete o tempo suficiente para eu pegá-lo. Sentindo como se ela quisesse que eu a olhasse antes de ela se afastar, eu o levo aos meus dedos e virei-o para encontrar um número de telefone escrito na frente, em vez da minha refeição ou quanto devo.

Ela cora sob seu sorriso.

— Você pode me ligar se quiser sair algum dia — seu rubor se aprofunda e só isso me intriga — isso é... se você for solteiro. Ou mesmo... interessado.

Ela está muito nervosa e ficando ainda mais enquanto mais ela fica ali e eu não digo nada.

— Quero dizer, você não é casado, tanto quanto eu posso dizer — ela olha nervosamente para o meu dedo anelar sem um anel — mas se você não está interessado...

— Você é uma mulher muito bonita — eu a cortei para que ela pudesse verter o arrependimento e a humilhação que ela começara a sentir. — E não, eu certamente não sou casado. Sou muito solteiro.

Ela sorri, com os lábios fechados. Noto outra garçonete de pé na caixa registradora, nos observando, e sorrindo. Ela olha para longe quando vê que eu notei.

Eu mantenho minha atenção em Emily.

— Você nunca perguntou a um homem antes, não é?

Seu rosto fica mais vermelho e ela mal pode olhar meus olhos mais.

— É tão óbvio? — Ela pergunta, enrugando seu pequeno nariz.

Eu deixei o sorriso em meus olhos tocar meus lábios mais.

— Sim, mas eu gosto.

Não dizemos mais nada por alguns segundos. Ela não consegue parar de sorrir e eu estou apenas confuso com a minha reação.

— Bem, eu tenho que voltar ao trabalho — ela diz e se vira sobre os calcanhares.

Eu aceno com a cabeça e então, pouco antes de ela ir embora, eu digo:

— Eu chego em casa às nove da noite. Eu ligo antes das nove e meia.

Eu acho que não pode machucar, pelo menos, falar com ela...

Seu sorriso de lábios fechados se ilumina, ela balança a cabeça e caminha até uma mesa onde dois novos clientes acabam de se sentar.

Eu como o meu café da manhã, coloco uma gorjeta grande sobre a mesa debaixo da xícara de café e depois saio em silêncio com a minha pasta na mão.


Perguntas para o leitor

Será que Izabel jamais contará a Victor o seu segredo? Ou ele vai descobrir por conta própria?


O que será de Dorian Flynn? Você acha que Victor deve levar Dorian em cima de sua oferta para trabalhar com a Inteligência dos EUA?


Será que o Niklas voltará à Ordem de Victor? Ele pode (ou deveria) perdoar seu irmão?


Que impacto você acha que Nora Kessler terá na Ordem de Victor, positiva ou negativa? E quanto a Izabel?


Será que Fredrik Gustavsson alguma vez encontrará o amor? Ou você acha que ele deveria ficar longe das mulheres completamente?


Você acha que Nora estava certa em dizer a Izabel que seu relacionamento com Victor está praticamente condenado?

CapÍtulo DEZENOVE

Izabel

Corro direto para os braços de Dina quando James entra no prédio com ela.

— Dina! Estou tão feliz que você está bem. — Meus braços a envolvem.

Ela beija minha cabeça e minhas bochechas e por um momento eu me sinto como uma menina de novo. Uma menina inocente feliz de ver sua mãe, que nunca foi uma escrava do sexo e que nunca matou ninguém.

— Estou bem, estou bem, querida — diz ela, me abraçando com força.

Está vestindo uma blusa cor-de-rosa clara enfiada em uma calça cor de canela. Seu cabelo cinza-aloirado está em rabo de cavalo alto em uma onda de cachos frouxos que caem em torno do seu rosto envelhecido onde há mais rugas ao redor dos olhos que da última vez que a vi.

Eu dou um passo para trás com as suas mãos entrelaçadas nas minhas e eu a olho.

— Você parece... bem — eu digo, tendo esperado — e temido — vê-la coberta de contusões e sangue, talvez alguns ossos quebrados.

— Bem, claro que sim, — ela diz como se eu já soubesse que ela estava bem o tempo todo.

Olho para James parado atrás dela com um olhar de profunda pergunta no meu rosto.

Victor entra na sala de reuniões atrás deles.

— O que está acontecendo? — Eu pergunto, olhando para Victor e depois para James.

— Bem, — James começa, — parece que Nora nunca machucou nenhum deles. Com a Sra. Gregory...

— Oh, por favor me chame Dina, — Dina interrompe, — as coisas apropriadas me fazem sentir velha.

Eu sorrio para mim mesma.

James também sorri e concorda.

— Nora disse a Dina que ela foi enviada por você e Victor para levá-la para a segurança.

— Oh, mas eu não acreditei nela imediatamente — diz Dina, sacudindo sua cabeça grisalha. — Eu sabia melhor do que isso e quando ela matou aquele bom homem que me observava muito da rua, eu estava com medo. Pensei que ela ia me matar em seguida.

Olho para trás e para frente entre Dina e Victor, esperando ansiosamente pelo resto da história.

— Não é necessário dizer, — Dina continua, — aquela mulher fez um show, eu acho, porque no momento que ela estava dizendo “para baixo!”, ela estava olhando para fora das janelas e eu estava realmente com medo de houvesse outros homens lá para me matar. Ela me disse que o homem no chão, ela matou era um traidor, ou eu acho que ela usou alguma palavra filme extravagante como conspirador ou infiltrado — Eu quero dizer a ela para ignorar todas essas coisas, mas eu não tenho o coração fazer isso — Ou algo assim — de qualquer maneira, ela me fez acreditar nela, isso é certo. Ela me tirou daquela casa e me colocou muito bem em outra e me disse para não saísse ou fazer qualquer telefonema. Ela pegou meu celular. Disse que era para o meu próprio bem. Mas eu tinha tudo o que eu precisava. — Ela penteia seus dedos longos e resistidos pelo comprimento do meu cabelo. — E eu não queria colocá-los em perigo, então fiquei como me disseram e esperei.

— Ela não a feriu?

Estou confusa com isso. Completamente confusa.

Dina sacode a cabeça.

— Não, — ela diz, — ela era uma verdadeira bondade. Então, imagine minha surpresa quando o Sr. Woodard aqui me disse que ia me matar. Eu simplesmente não podia acreditar.

Victor e eu olhamos brevemente um para o outro.

— Eu suponho que Tessa alimentou a mesma história? — Eu pergunto.

— Não, — James diz. — Bem, de certa forma. Depois que Nora convenceu Tessa que ela não estava lá para machucá-la, e depois de Tessa inconscientemente deu Nora a munição que ela precisava contra Dorian — tal como ela disse a Dorian que ela fez — Tessa acreditava que Nora erada Inteligência dos EUA e assim ela cooperou.

— Então Tessa também não estava machucada? — Eu pergunto.

— Não, — James responde.

— Onde ela está agora?

Victor aproxima-se e responde:

— Eu pedi que a levassem para casa. Ela não precisava ser trazida para cá. Ela não precisa saber nada sobre nós.

— Ela pensou que eu era um agente da CIA — diz James com uma leve gargalhada, mas com um ar orgulhoso. — Quanto às minhas filhas, bem, elas não eram tão fáceis de convencer. Elas estavam apenas com medo de suas mentes — elas pensam que eu trabalho com imóveis. Então, eu acho que Nora não teve escolha senão amarrá-las em algum lugar.

Eu olho direito para Victor.

— Então ela realmente estava trabalhando sozinha — eu digo sobre Nora.

— Parece dessa maneira — Victor diz com um aceno de cabeça.

— Estou com muita sede — Dina diz, apertando meu quadril com a mão. — Tem alguma coisa por aqui para beber?

Eu a abraço de novo.

— Claro — eu digo a ela e pego sua mão. — Eu vou levá-lo para conseguir alguma coisa.

Eu sorrio levemente para Victor enquanto saio com Dina da sala de reuniões e em direção à pequena cozinha no corredor.

Fredrik passa por nós no caminho enquanto ele se dirige para ver Victor. Ele não diz nada para mim, ou mesmo faz contato visual.

— Oh, ele é atraente, — Dina diz calmamente com os olhos grandes quando ela olha para trás para a sua altura em que terno caro. — A coisa que eu mais odeio em ser velha é que homens assim não me olham mais.

Oh, Dina, se você soubesse o que aquele homem em particular é capaz de fazer.

— Bem, eu acho que você é linda, — eu digo a ela, apertando sua mão fria e envelhecida. — Além disso, os homens hoje são provavelmente um pouco mais raros do que você estava acostumado.

— Ei, eu costumava ser uma prevenidab — diz ela com um sorriso.

— Dina! — Meu rosto torce com todo o tipo de formas e minhas bochechas começam a queimar. — Eu não preciso saber isso.

Nós dois rimos juntos e escorregamos dentro da sala de descanso, que é realmente apenas um quarto com um sofá de couro e cadeira correspondente com uma mesa de café em mármore e duas mesas nas extremidades, uma televisão de tela plana montada na parede e uma área de cozinha em um canto. Victor olhou para Woodard engraçado quando ele lhe pediu para colocar uma sala de descanso no prédio ("Uma sala de descanso? Este não é exatamente o trabalho em fábrica, Woodard."), Mas, no final, e depois de Woodard me explicar o que uma sala de descanso era e eu gostei da ideia, ambos tivemos o que queríamos. E eu não sou a única de nós que a usa com frequência — Niklas dorme aqui às vezes com as botas levantadas no braço do sofá. James traz seu laptop aqui e assiste coisas velhas na TV Land. Dorian... bem, ele sempre foi o único que manteve o frigorífico abastecido. Victor - OK, ele não vem aqui, exceto para encontrar um de nós.

Dina toma um assento no sofá enquanto eu pego dois dos refrigerantes de Dorian da geladeira.

— Então, exceto belas mulheres loiras ameaçando me matar para chegar até você — Dina começa de brincadeira, — o que mais tem acontecido com você, Sarai?

Dina é a única pessoa que eu permito me chamar pelo meu nome antigo. Eu tentei fazer com que ela me chamasse de Izabel uma vez, mas ela recusou, disse que eu cresci com ela me chamando de Sarai e que ela morreria me chamando de Sarai.

Dou-lhe uma garrafa de refrigerante e me sento ao lado dela, puxando uma perna para cima da almofada.

— É estranho ter conversas com você sobre minha vida — eu digo. — Não é como se eu pudesse te dizer sobre a última pessoa que eu vi morrer, tão casualmente como eu posso falar com você sobre conseguir o pedido errado em um drive-thru.

— Eu sei — ela diz e toma uma bebida, — mas o que está acontecendo com você e aquele homem bonito, misterioso seu?

Tomo uma bebida e depois olho para a parede atrás dela.

— As coisas estão bem — eu digo, tentando não chegar na verdade, não estou até mesmo certa qual é a verdade; O que está acontecendo entre mim e Victor não é exatamente o tipo típico de problema no paraíso.

Dina e eu conversamos um pouco sobre coisas simples. Ela me fala sobre o que está acontecendo com os personagens em seus programas de televisão favoritos, mas eu só ouço principalmente porque eu nunca assisto TV e realmente não tenho nada a acrescentar. Falamos sobre o pequeno jardim que ela plantou atrás de sua casa mais nova e como o único vegetal crescendo são os pepinos. Eu não sei nada sobre jardim e não saberia como fazer crescer os legumes, então novamente, eu principalmente apenas ouvir a sua conversa. E ela continua sobre as vendas nas lojas de departamentos que ela gosta de comprar e como ela conseguiu uma blusa de trinta dólares por nove dólares — eu não sei muito sobre as vendas porque com o dinheiro que Victor me dá — e que eu eu ganho — Eu não tenho que prestar atenção às vendas.

E enquanto Dina fala sobre uma variedade de coisas totalmente diferentes ao longo dos próximos trinta minutos, há uma coisa que eu noto que ela menciona em cada tópico — o Arizona.

— Eu costumava assistir a esse programa todas as noites antes de dormir no Arizona — ela havia dito. — Eu tinha a minha poltrona perto da janela e eu sempre a abria e deixava o calor entrar enquanto eu assistia ao meu programa.

E depois:

— Eu realmente não fiz muita jardinagem no Arizona.

E depois:

— Eu ia as tendas de promoções cada fim de semana quando eu vivia no Arizona. Tinha boas ofertas.

Finalmente, depois da quinta menção do Arizona, pergunto-lhe o inevitável:

— Você sente falta de casa, Dina?

Ela sorri levemente e coloca a garrafa de refrigerante na mesa final.

— Eu sinto, Sarai, eu realmente sinto.

Ela suspira e olha para mim, estendendo a mão e colocando-a no meu joelho esticado na almofada, enfiado debaixo da minha outra perna.

— Eu quero voltar para Tucson — diz ela. — Inclusive ao parque de trailers. Tenho saudade. Eu sinto falta dos malditos cães latindo à noite, as crianças correndo de um lado para o outro na rua causando incómodos. Eu só quero ir para casa. — Ela bate no meu joelho e depois se afasta, olhando para mim com olhos tristes, mas sorrindo.

— Mas Dina, não é seguro — eu levanto no sofá — você não pode voltar para lá. Veja o que aconteceu aqui, a razão que você está sentada nesta sala falando comigo agora. Se você voltar lá você estará onde qualquer um que quer encontrá-la, provavelmente olhará ali primeiro.

Seu sorriso aquece seu rosto inteiro.

— Oh, querida, eu não me importo com essas coisas, — ela diz como se para me consolar. — Eu me importei no início, mas era principalmente apenas por causa de você. Mas, eu não posso fazer isso mais, me mudando de um lugar para outro, tendo homens estranhos estacionados do lado de fora a cada casa, me observando o tempo todo. Estou velha demais para isso. Eu aprecio todas as coisas elaboradas que você e Victor me fornece? e as casas bonitas e... apenas tudo. Eu estou muito agradecia. Mas eu só quero ir para casa e viver o resto da minha vida do jeito que eu fiz antes — simplesmente.

Meu coração afunda cada vez mais fundo.

— Mas é perigoso. Eu não quero que nada aconteça com você.

— Nada vai acontecer comigo, querida. — Seu sorriso se alonga. Ela levanta a mão e bate no peito sobre a blusa cor-de-rosa fina onde está seu coração. — Se alguma coisa pode me matar, será o meu coração. Você sabe disso. — Ela sorri e bate no meu joelho novamente brincando e acrescenta: — Além disso, eu sei usar uma espingarda, lembra? E eu não tenho medo de explodir alguém se entrarem em minha casa.

Eu não posso evitar, mas sorrir de volta para ela, mesmo que eu queira lutar com ela nesta questão.

Dina se vira na almofada para me enfrentar completamente e ela leva minhas duas mãos para as dela.

— Eu quero que você me prometa algo — ela diz, olhando nos meus olhos. — E eu quero dizer isso, é uma verdadeira promessa e isso significa tudo para mim e se você nunca a quebrará, mesmo que eu nunca vá descobrir, você deve se sentir culpada por quebrar isso porque é tão importante para mim.

Isso está me assustando, mas eu aceno e concordo.

— O que foi, Dina?

Seus dedos agarram os meus com firmeza, como se para colocar ênfase nas palavras que ela está prestes a dizer.

— Quando eu voltar para casa, de volta a Tucson — diz ela, — eu quero que você me prometa que você não enviará ninguém para me vigiar ou me proteger. Ninguém. E eu também não quero que você faça isso. Você me dá sua palavra?

No começo tudo que eu quero fazer é dizer não — eu até começo a balançar a cabeça — mas ela aperta minhas mãos e força o meu olhar, o olhar em seus olhos tão intenso, e eu sinto quão importante é essa promessa para ela. Tanto quanto eu quero mentir para ela e dizer que, não, eu não vou mandar ninguém para cuidar dela... Eu não posso. Este é o seu desejo e devo-lhe tudo e sei que tenho de ceder a ele, não importa o quão difícil.

E antes que ela saia, enquanto eu digo adeus enquanto ela entra no táxi na rua para ir ao aeroporto de volta a Tucson, eu não posso evitar, mas sinto que esta será a última vez que eu a vejo.

— Eu te amo, garotinha! — Ela grita para mim da janela aberta do carro, seus dedos longos e ossudos acenando na brisa fresca de Boston.

Eu pressiono as pontas dos meus dedos contra meus lábios e envio-lhe meus beijos enquanto ela se afasta, e eu limpo as lágrimas dos meus olhos e tento muito manter o sorriso no meu rosto pelo amor de Dina. Porque ela merece ser feliz e ela não precisa de mais razões para se preocupar comigo mais do que ela já tem.

 

— Você já viu Niklas? — Eu pergunto a Victor na sala de reuniões com James. Eles estão olhando para fotografias e arquivos espalhados sobre a mesa alongada.

Eu ainda estou emocional por ter deixado Dina ir a uma hora atrás.

Victor olha para cima.

— Ele se foi, Izabel — ele responde solenemente e olha para baixo. — Mas não se preocupe com ele agora...

— O quê? — Eu passo mais para dentro do quarto e fico no final da mesa. — Victor, como você pode dizer isso? Já tentou falar com ele?

Ele tranca os olhos nos meus pelo comprimento da mesa.

— Vou falar com meu irmão quando for a hora certa — diz ele.

James olha para nós brevemente e finge estar mais interessado com as fotografias na frente dele. Ele parece desconfortável.

— Quando é qualquer hora certa? — Pergunto com um tom acusatório. — Agora é o melhor momento que qualquer outro dia será.

— Niklas precisa de tempo sozinho — ele diz e eu bato a palma contra a mesa antes que ele tenha a última palavra.

— Foda-se! — Eu digo com raiva.

Victor levanta-se rapidamente da mesa em um movimento rápido, enviando o papel que ele estava lendo em sua mão caindo no chão. Sua cadeira chia quando ela é empurrada para trás em seu caminho para cima.

James congela, olhando entre os nós dois sob nervosos olhos encapuzados.

— Woodard, — Victor diz exigente, — deixe-nos.

Sem hesitação, James se levanta, enfia o laptop debaixo do braço e sai.

Uma bola nervosa senta-se no meu estômago. Sei que ele está chateado comigo, mas eu sinto fortemente o que Niklas deve estar passando, e eu não consigo encontrar nenhuma razão aceitável para que Victor não estivesse tentando fazer as coisas direito entre eles, agora.

— É isso que você pensa de mim? — Ele pergunta, zangado, mas ao mesmo tempo ferido pela perspectiva. — Você acha que esses arquivos e estas fotografias — acena com uma mão na mesa — são mais importantes para mim do que o meu irmão? Olhe para mim —aponta os seus olhos com o seu indicador e dedo médio — e me diga: que você pensa isso de mim, porque é exatamente como se sente agora. Quero ouvir você dizer isso.

Engulo nervosa e começo a sacudir a cabeça. Eu raramente o vi assim antes, então eu sei que eu ultrapassei meus limites, que eu o machuquei, e já me sinto terrível por fazer ele se sentir assim.

— Eu sinto muito... Eu apenas...

Os ombros de Victor mergulham em um longo suspiro e ele olha para a mesa, mas não para as coisas espalhadas por cima. Ele cai pesadamente de volta em sua cadeira e encosta contra ela.

— Izabel — ele diz com mais calma, mas sem olhar para mim, — eu sabia que tinha que sair algum dia. Nem um dia se passou nos últimos seis anos quando eu olho para meu irmão e eu não me sinto como uma merda pelo o que eu fiz. Niklas talvez nunca me perdoe, mas ele vai entender.

Eu ando em sua direção pelo comprimento da enorme mesa.

— Você parece esquecer que ele tentou matar você — acrescenta Victor.

— Eu nunca me esqueci disso — digo, — e acho que nunca irei.

— Você não esqueceu ou perdoou, — Victor diz, — mas você entende.

Eu não esperava isso, então eu não digo nada no início.

— Eu me sinto culpada — eu finalmente respondo, ainda sentindo algum tipo de necessidade de confessar porque a culpa está pesando tão fortemente em meus ombros.

A cabeça de Victor levanta e ele me olha com um olhar de descrença e talvez até mesmo decepção.

Eu inclino minhas costas contra o fim da mesa na frente dele, cruzando meus braços.

— Por quê? — Pergunta ele asperamente. — Por que você se sente culpada? Se você disser que é porque você está viva e Claire não está, você é...

— Eu sou o que? — Eu salto de volta, desafiando-o. — Sou estúpida e fraca por ter consciência? Sou ingênua? Muito emocional? Vá em frente, Victor — aponto para os meus olhos com o meu indicador e meu dedo médio — Victor me diga o que realmente pensa de mim.

Seu olhar se desvia.

— Eu acho que seu coração é muito grande — ele diz e instantaneamente meu exterior duro vacila. — É por isso que eu sinto a necessidade de protegê-lo o tempo todo. Não porque você não tem habilidade ou porque eu não acredito em você, mas porque seu coração fica no caminho. E se há alguma profissão no mundo que você não pode e não deve colocar seu coração — aponta duramente para o chão — é esta.

Estou calada por apenas um momento, deixando suas palavras afundarem.

E então algo entra em minha mente que eu tenho mais medo de dizer a ele do que minhas acusações sobre Niklas — mas eu não posso segurar como eu realmente me sinto.

— As coisas seriam melhores para você se eu fosse... mais parecida com Nora, não é? — Eu fiz tudo que eu não pude fazer para parecer amarga ou acusadorq, porque eu não quero dizer isso dessa maneira.

Ele levanta os olhos para mim, e por um longo tempo ele não diz nada.

— Em um sentido profissional e emocional, sim, — ele responde com sinceridade, — mas não por qualquer outra razão. Mas se eu queria alguém como Nora ao meu lado, você não estaria aqui, ao contrário dela, eu não gosto de jogos, assim, por favor, não me acuse de ter uma atração selvagens por aquela mulher, ou a começar a sentir insegura que eu vou me desviar.

— Eu não acho isso em tudo — eu digo, e eu quero dizer isso. — Não é disso que se trata.

Eu levanto meu corpo para sentar na mesa na frente dele, minhas pernas, cobertas em meu traje preto apertado, pendurada sobre a borda da mesa nas curvas dos meus joelhos. Victor move sua cadeira para mais perto para sentar entre elas, colocando seus braços sobre as minhas coxas e ajustando suas mãos sobre minha cintura. As mangas da camisa estão enroladas até os cotovelos; Veias correm ao longo dos músculos duros de seus antebraços levemente bronzeados.

Corro todos os meus dedos pelo topo do seu cabelo curto e castanho.

— Você não confia em mim para cuidar de mim mesma em tudo, Victor? — Eu pergunto com preocupação e não com acusação. — Não há nada sobre mim — de um ponto de vista profissional e emocional — que você sente que não precisa... melhorar?

Victor suspira.

— Confio no seu julgamento, Izabel — diz. — Quando se trata de outros, você é um bom juiz de caráter. Você sabe inerentemente, antes mesmo que eu faça geralmente, sobre uma pessoa no interior. Mas eu não confio em você quando você está com raiva ou por vingança. Você tende a tomar decisões precipitadas, pular de cabeça em situações perigosas sem um plano, tome Los Angeles e Arthur Hamburg, por exemplo. Mas quando você está calmo e não agir por raiva ou vingança, você sabe o que está fazendo. E confio em você cem por cento.

Agradeço-lhe com os meus olhos.

Ficamos em silêncio por um longo tempo e então eu digo com uma voz suave:

— E se Niklas não voltar?

— Ele vai voltar, — responde Victor, mas na sua voz, sinto que ele não pode está tão confiante nessa suposição quanto ele gostaria. — Ele é meu irmão — continua ele, — e ele pode me odiar por um tempo ou até mesmo querer me matar, mas ele sempre será meu irmão e eu sempre farei qualquer coisa por ele e ele sabe disso.

Eu penso sobre isso por um momento, deixando a realidade da verdade me tomar, Victor está emocionalmente deficiente não por causa de apenas uma, mas duas pessoas em sua vida que ele ama. Espanta-me como ele pode suportar, como ele pode continuar a agir como se nada nunca o incomodasse, que ele não tem sentimentos, ou temores. Do lado de fora, Victor é frio, calculado e desapegado quase todo o tempo — quem não o conhece no nível que eu conheço poderia pensar que ele era como Fredrik, mas a verdade é que ele carrega um fardo maior do que qualquer um de nós. Victor se sente responsável por Niklas e eu. Ele teve que escolher, duas vezes agora, entre seu irmão e eu. E quando você tem que escolher entre duas pessoas que você ama, não importa qual caminho você vá lá estarão consequências dolorosas.

Eu me inclino sobre ele e beijo o topo de sua cabeça.

— Desculpe por duvidar de você — digo. — Eu realmente pensei que você ia deixar Dina morrer e eu sinto muito por não acreditar em você. — Eu estava querendo dizer isso a ele desde o momento em que ele confessou seu segredo para Nora, mas eu tenho evitado por vergonha e culpa. Mas, mais do que isso, eu precisava de tempo para pensar sobre tudo o que aconteceu por causa disso.

Ele olha para mim.

— E porque eu não vou mentir para você — diz ele, — assim como eu não pude mentir para Niklas sobre Claire, a verdade é que quase a deixou morrer.

Eu concordo. Porque eu entendo. Era uma escolha entre Niklas e eu. E nunca seria uma escolha fácil.

— Eu sei, — eu digo a ele e solto minhas mãos do seu cabelo.

Então ele enrola os longos dedos dele ao redor dos meus entre minhas pernas e levanta uma mão para seus lábios e beija os nós dos meus dedos.

— O que você vai fazer com Dorian?

Ele se levanta e toma o meu rosto em suas mãos, puxando meus lábios para encontrar os dele.

Depois que ele me beija, longo e macio, seus lábios são mornos e sua língua tão macia, ele diz:

— Tudo dependerá do que Fredrik tirar dele.

Um arrepio desconfortável se move através de mim.

— Você vai deixar Fredrik interrogar ele?

Victor se move de entre minhas pernas e começa a empilhar as fotografias na mesa em uma pilha pequena.

Ele não responde, o que é uma resposta por si mesma.

— Quando você vai matar Nora? — Ele pergunta, empilhando as coisas constantemente.

— Antes da manhã — digo. — Eu queria lidar com tudo antes de vê-la novamente.

Ele balança a cabeça.

— Você já pensou sobre isso? — Eu pergunto. — Sobre o que ela disse?

— Não — ele responde e se dirige para a pasta com as fotografias e os arquivos.

— Nem um pouco?

Ele olha para mim.

— Eu pensei sobre isso — ele diz, — mas não considerei, se é isso que você quer dizer. Eu admito, foi uma jogada ousada, mas ela deveria ter pensado mais sobre as consequências de suas ações do que ela fez. Ela matou um dos meus homens na casa da Sra. Gregory. Ela virou meu irmão contra mim. Sequestrou os seus entes queridos e os usaram contra você. E ela tem desperdiçado muito do meu tempo, francamente.

— Verdade — eu digo, franzindo os lábios contemplativamente, — mas ela meio que se provou no processo.

Victor ergue os olhos momentaneamente e fecha a pasta com dois cliques.

— Você está tentando me dizer alguma coisa? — Ele pergunta com suspeita.

Eu balanço a cabeça.

— Não é o que você provavelmente está pensando — eu não quero ela aqui tanto como qualquer um de nós — mas eu vi a maneira que você estava olhando para ela na sala de vigilância. Parece que você queria a chance de dissecá-la.

Um sorriso fraco, quase invisível aparece em seus lábios enquanto ele levanta a pasta da mesa com a mão apertada sobre a alça.

— Você viu isso, não é?

Eu encolho os ombros e sorrio.

— Sim, eu meio que vi.

— Bem, a resposta é não — ele diz andando em minha direção. — Ela causou problema bastante. Mate-a e termine com isso.

Ele me beija nos lábios mais uma vez e dirige-se para a porta.

— Eu volto em algumas horas, — ele diz da porta. Mas logo antes de sair, ele para e olha para mim.

— E vou falar com o Niklas em breve.

Eu aceno com um pequeno sorriso de apoio e ele sai.


CapÍtulo VINTE

Izabel

O piso da cela tem apenas dez celas que Victor queria manter por razões como esta — detém traidores e outros tipos de prisioneiros. As celas são nomeadas de A a J. Eu me dirijo para a cela C com um monte de emoções misturadas e um coração pesado. Eu não quero pensar sobre o que Dorian vai passar com Fredrik mais tarde, mas ao passar pelo corredor sombrio e pelas celas A e B que estão abertas e vazias, é tudo o que posso pensar. Eu não quero pensar que Dorian é um traidor, que talvez as coisas que ele disse a Victor fossem verdadeiras. Talvez ele não seja nosso inimigo e nunca pretendia ser. Mas ele mentiu. E ele trabalhou conosco sob falsos pretextos. E ele deu informações sobre nós ao governo e isso só é o suficiente para Victor para matá-lo.

Eu passo até a porta de aço pesada e empurro para cima em meus dedos do pé para ver dentro através da janela janelinha.

Dorian está deitado contra a cabeceira de uma cama de metal que se projeta da parede. Bandagens sangrentas estão envolvidas sobre ambos os ombros. Tudo o que ele está vestindo é sua calça jeans escura e seu Rolex. Suas botas foram chutadas para o chão, colocadas descuidadamente com as cordas longas espalhadas contra o azulejo.

Estendendo a mão, toco na janela com a ponta do meu dedo.

Dorian ergue a cabeça loira e depois de um segundo olhando para o rosto desfocado na janela e tentado distingui-lo, ele diz: "Izabel?" E com dificuldade força seu corpo ferido do berço para sentar-se ereto. Seu rosto se contorce de dor e ele para, respira fundo e empurra-se para seus pés e caminha até a porta.

Eu me agacho em frente a ela e deslize o metal que cobre sobre a abertura para comida que é longa e larga o suficiente para passar uma bandeja.

— Como você está? — Pergunto.

— Sinta-me como uma merda — ele diz e se senta no chão em seu traseiro, estremecendo com cada movimento abrupto. Tudo o que eu posso ver agora são seus olhos azuis brilhantes e sua testa através da abertura.

— Desculpe — eu digo. — Ei, eu queria vir aqui e dizer que Tessa está bem.

Seus olhos se iluminam um pouco e o alívio passa por cima dele, através de toda a dor e desconforto.

— Na verdade, — eu continuo, — ela estava bem o tempo todo. Nora não a machucou.

— Onde ela está agora?

— James a levou de volta para casa.

Dorian acena com a cabeça.

— Obrigada, Izabel. Por me deixar saber.

Eu aceno de volta.

Depois de alguns longos segundos que se parecem mais como minutos, quebro o silêncio com o inevitável.

— Você contou a verdade a Victor? Você sabe que ele vai descobrir, certo?

— Sim, eu sei, — ele diz. — Mas eu lhe disse a verdade. Há mais para contar a ele, como que tipo de informação eu passei para os meus superiores, mas eu não estava segurando nada disso. Acho que Victor não estava pronto para ouvir.

— Por que você quebrou depois de tudo? — Eu pergunto. — Quero dizer... bem, eu pensei que caras como você foram treinados para não quebrar, nem mesmo para salvar a vida de alguém que você ama. Ponha de lado mentir sobre quem você é; o fato de você quebrar deixa em seu caráter uma falha grave em seu personagem, Dorian. Você desistiu de sua identidade não só por nós, mas por uma civil inocente. Isso nos diz que você estaria disposto a se render sob certas circunstâncias.

Dorian sacode a cabeça.

— Eu sei que parece assim — ele diz, — mas como eu disse a Victor, eu ia eventualmente dizer a ele quem eu era, independentemente se me seria dada a autorização. Eu só tenho que fazer isso mais cedo do que o esperado.

— E se — eu digo, — você nunca recebesse essa autorização? Você admitiria?

Ele suspira.

— Se eu dissesse que não, você acreditaria em mim? — Não era realmente uma pergunta.

— E Tessa? Parecia fácil para você dizer a ela.

— Sim, bem, esse é um tipo diferente de fraqueza — admite. — Ainda uma imperdoável, mas não tão imperdoável como ser um traidor. Olha, eu sei que provavelmente vou morrer aqui. É um perigo nesta linha de trabalho. Aceito e não tenho medo, mas não quero morrer como um traidor.

Depois de um breve momento de pausa, eu digo:

— Eu gostaria de poder dizer que não acho que você é um traidor, mas o que você fez... Eu não sei, é difícil para mim pensar em você como qualquer outra coisa... mas como uma pessoa e um amigo, eu acho que você é genuíno.

— Obrigado.

Ele faz uma pausa e pergunta:

— Ela está morta?

— Vou matá-la em breve.

— Sim, bem, ponha uma bala no ombro daquela cadela antes de matá-la — ele agarra. — Faça a coisa toda dramática, diga a ela "isto é por Dorian!" — Ele ri da própria brincadeira, mas se encolhe e um barulho sibilante empurra seus lábios enquanto ele aspira uma respiração bruscamente em resposta a mais dor.

Eu sorrio e vejo seus olhos caírem para a abertura da porta enquanto ele abaixa a cabeça.

— Sua mãe vai ficar bem? — Ele pergunta.

— Sim, ela estava bem quando James a pegou, como todos os outros.

— Essa deve ter sido as quarenta e oito horas mais fodidas — diz ele. — Acho que você não tem a liberdade de me dizer qual era a grande confissão que ela queria, e de qual de nós?

Eu balanço a cabeça.

— Desculpa.

Ele balança a cabeça.

— Compreensível — ele diz e depois de alguns segundos tranquilos acrescenta: — Acho que isso significa que Gustavsson apareceu depois de tudo.

— Sim. — É tudo o que posso dizer; eu não posso suportar dizer-lhe o resto, onde se refere a ele e Fredrik estarem preocupados.

O som de sapatos batendo contra o chão ecoa pelo corredor — dois pares para ser preciso. Eu engulo incômodo e olho de volta nos olhos de Dorian através da abertura na porta. Ele sabe. Ele balança a cabeça e ri largamente.

— Ele sempre quis me torturar — diz ele. — Eu acho que o cara até tinha sonhos molhados sobre isso — ele não podia me suportar.

Eu me empurro para fora de uma posição agachada e fico de pé, fazendo uma careta de dor e da rigidez nas minhas pernas por estar na mesma posição por tanto tempo. Dorian está olhando para mim agora através da janela embaçada no topo da porta.

Fredrik e Victor contornam a esquina na extremidade distante do salão; dois homens altos e assustadores, todo negócios, em ternos escuros contra as sujas paredes e chão brancos. Juiz e carrasco. Sem emoção. Implacável.

Olho para Dorian.

— O que quer que aconteça comigo — ele diz, — faça-me um favor e certifique-se de que Tessa receba todo o meu dinheiro. A chave para minha caixa de depósito de segurança e outras coisas pessoais que eu gostaria que ela tivesse está escondido na sola da minha bota esquerda. Você vai dizer a Tessa que eu a amo e eu sinto muito por ser tão idiota?

— Eu vou — eu digo a ele.

Deixo Dorian e ando em direção a Victor e Fredrik enquanto eles abrem caminho pelo centro do salão.

— Posso falar com você por um minuto? — Eu pergunto a Fredrik, pisando bem na frente dele.

Estou cansada dele me evitando, e se eu não tentar forçá-lo a falar, eu sei que ele nunca vai e ele pode escapar deste edifício logo após o interrogatório de Dorian, e eu não vou vê-lo novamente por outro mês.

Fredrik começa a caminhar e passar por mim, mas eu o interrompi, parando-o em seu caminho.

— Izabel — diz Victor - temos assuntos importantes a tratar.

— Eu sei, mas isso vai demorar apenas alguns minutos. — Eu olho para Victor através de olhos suplicantes.

Ele não quer me deixar para trás, mas faz, indo na direção da cela de Dorian e me deixando sozinha com Fredrik. Eu ouço a chave chiar na porta da cela e então o som da porta fechando soando quando Victor vai para dentro.

— Eu não tenho tempo para isso — diz Fredrik.

— Faça tempo. Me dê dois minutos. É tudo que eu peço. Por favor.

Ele olha para mim agora, seus olhos azuis escuros enquadrados pelos cabelos escuros, perfurando-me com irritação.

— Eu não posso gastar dois minutos.

— Sim, você pode — eu digo atentamente.

Ele começa a passar por mim novamente, mas eu agarro o seu braço, o material de sua jaqueta preso entre os meus dedos. Sua cabeça se vira de lado para olhar para mim e sua expressão fica mais escura. Seus dentes estão rangendo atrás de um queixo raspado.

Finalmente, deixei o outro lado de mim assumir o lado que está doente da sua merda, e em vez de ter uma conversa de coração com coração com o homem que já foi meu irmão, não consigo parar de dizer-lhe em vez disso.

— Você é um idiota, — eu solto, empurrando as palavras através dos meus dentes. — Olha, eu entendo, eu realmente entendo, e se eu fosse você eu sei que provavelmente eu me sentiria da mesma maneira. Mas eu não iria empurrar as pessoas que se preocupam comigo. — Ele empurra mais contra mim, com a intenção de me ignorar, mas eu me movo na frente dele e empurro ambas as mãos contra seu peito, empurrando sua estatura alta e sólida, mas ele apenas se move. Ele apenas olha para o meu rosto furioso.

Mas ele para — não que ele queira ouvi-lo, mas que ele quer que eu termine com isso para que ele possa estar livre de mim.

— Faça o que quiser — eu digo com ácido em minha voz, — Eu não me importo mais. Se você quer me fechar para fora, tudo bem, mas eu vou dizer o que tenho a dizer antes de ir lá e... fazer a sua coisa. — Um grunhido manipula minha boca.

Fredrik só fica lá olhando para mim com sua pasta apertada ao seu lado.

— Nora Kessler disse a Niklas alguma coisa quando ele estava no quarto com ela, algo que ficou comigo por muito tempo depois que ele deixou. E por mais que a despreze, não posso negar que ela estava certa.

Aponto o dedo para o peito.

— Você precisa de amor para sobreviver, Fredrik — eu digo com convicção dura. — Você é esse homem escuro, assustador, que é tão frio para o exterior que o inferno congelaria se você fosse enviado para lá... mas, do lado dentro, você é um homem quebrado que precisa de amor mais do que alguém por causa da vida que você foi forçado a viver, por causa das coisas terríveis que você foi forçado a suportar. — Eu balancei minha cabeça com tristeza em meu coração. — Você precisa de amor mais do que qualquer coisa, porque é a única coisa que você foi privado. Você me empurrar para longe, porque eu queria dizer alguma coisa para você, porque de todos nós aqui, você pensou em mim como família. Você me ignorou por causa das quantidades de vezes que o amor o destruiu.

Dou um passo para mais perto e meus olhos nunca saem dele, a raiva neles nunca diminuem. Seu rosto frio, mas sem emoção, não mudou.

— Todos precisamos de algo para sobreviver, Fredrik, Victor precisa estar no controle; James precisa de aceitação; Niklas precisa de algo para chamar se dele; Dorian precisa fazer as pazes com ele mesmo... e eu... Eu preciso de um monte de coisas, mas eu ainda não descobri qual delas eu mais preciso. Mas você... você precisa de amor, e você não pode empurrá-lo para sempre. Não é da sua natureza.

Eu passo para trás e para longe dele e só para olhá-lo por um segundo, estudando seu rosto inflexível, seus profundos olhos azuis, procurando algo, qualquer coisa, mas ele não me dá nada. Estou tão zangada! Eu quero que ele diga alguma coisa. Discuta comigo, diga-me como estou errado. Diga-me que eu sou estúpida e jovem e eu não posso saber como ele está se sentindo ou o que ele está passando.

Absolutamente nada.

Balançando a cabeça com um olhar amargo no meu rosto e rendendo ao meu coração, eu gesticulo com a mão na direção da cela de Dorian.

— Eu acho que vou te ver por perto — eu digo, viro meus calcanhares e saio.

Eu não olho para trás enquanto ando pelo comprimento do longo corredor, mas posso sentir que Fredrik fica lá no mesmo lugar, pelo menos, até que eu vire a esquina no final.

O que está acontecendo conosco? A todos nós.

Niklas está longe de ser encontrado. Eu tentei ligar para ele, saí do prédio e dirigi por Boston, verificando os bares que ele gosta, mas é uma hora antes do amanhecer e eu ainda não encontrei nada. Niklas não quer ser encontrado e eu não posso deixar de me perguntar e me preocupar por quanto tempo. E se ele realmente nunca voltar? E se ele não puder "entender" porque Victor fez o que ele fez, e eles se tornaram inimigos? As coisas não podem ser deixadas desta maneira, elas apenas não podem...

Dorian pode estar morto, ou a caminho. Fredrik é uma causa perdida que eventualmente se autodestruirá. Niklas desapareceu. Pode a nossa organização, nossa família, se recuperar do que Nora Kessler fez, ou o que ela desempenhou em grande parte para fazer?

Estou começando a pensar que não pode.


CapÍtulo VINTE E UM

Izabel

Com minha arma na mão, eu abro a porta para a sala onde Nora estava enjaulado por mais de dois dias.

Ela olha para mim da cadeira.

— Vamos — eu digo a ela com uma inclinação para trás da minha cabeça.

— Para onde? — Ela diz, curiosa, enquanto ela se levanta em suas calças de couro, rosto manchado de sangue e cabelo loiro. Havia colocado também a blusa de seda, apesar dos cortes nas costas.

— Você sabe onde, — eu digo a ela calmamente.

Nora caminha até mim com seus pés descalços — seus saltos altos foram jogados contra o chão — e ela faz uma careta pela dor em suas costas e em qualquer outro que Fredrik a machucou, discutem com sua decisão de se mover.

— Por que você não atira em mim aqui? — Ela pergunta.

Eu não respondo, jogando fora como sem importância, mas a verdade é que antes de eu matá-la há algumas coisas que eu quero dizer a ela, coisas que eu não quero que ninguém ouça.

Caminhamos pelo corredor de forma lenta e deliberada, Nora na minha frente, eu em suas costas com minha arma no meu lado, e a conduzo para fora da parte de trás do prédio, na escuridão e no silêncio.

— De joelhos — eu digo a ela, apontando a arma para o chão ao lado de um lixo.

Sem dúvida, sem argumentos ou com um pingo de medo, ela cai de joelhos, já sabendo que devolverá a mim.

— Eu perguntaria por que você não vai implorar por sua vida — eu digo, apontando a arma na parte de trás da cabeça enquanto eu estou a poucos metros de distância, — mas eu já sei a resposta.

— Qual é a resposta? — Ela pergunta, olhando para a parede de tijolos na frente dela.

— Você nunca iria implorar por sua vida.

Eu enrolo meu dedo indicador em torno do gatilho.

— E você estaria certa — ela confirma.

O oceano e o som distante dos carros apressados sobre a autoestrada são fracos, mas são os únicos sons que são ouvidos. O fedor do deposito de lixo aos pés de Nora, e dos outros cinco que alinham na parte traseira dos edifícios próximos fazem sentir falta de ar. Uma única luz brilha a distância de um poste, radiante na entrada de uma garagem de estacionamento, mas a única luz aqui é da lua, fazendo a figura escura de Nora parecer como uma sombra, com exceção de seu cabelo loiro que cobre suas costas e ombros como uma bagunça desgrenhada de palha branca.

Eu olho para ela por um longo tempo, quase sentindo como se eu sevesse forçá-la a me enfrentar, porque se eu vou executá-la eu deveria ter a coragem de olhá-la nos olhos. Mas eu não tenho. Eu não sou corajosa o suficiente para olhar alguém nos olhos e então tirar a vida deles — não assim. Uma mulher desarmada. De joelhos. Atrás de um edifício. Ao lado de um lixo fedorento. Isso me assombraria para sempre.

O tempo passa e eu não percebo o quanto até Nora começa a virar a cabeça em um ângulo para obter um vislumbre de mim atrás dela.

— Algo me diz que você não tem medo de me matar — ela diz, — então, qual é da demora?

Faço uma pausa e digo:

— Eu queria te perguntar algo primeiro.

Ela riu levemente.

— Ah, claro, — ela diz sarcasticamente com o encolher de ombros, — porque eu estou tão inclinada a responder às suas perguntas antes de explodir meus miolos. — Ela olha para trás uma vez com um sorriso e se vira para a parede novamente. — Vá em frente e pergunte o que quiser, mas você pode esperar apenas um tipo de resposta de mim.

— Que tipo isso seria?

— O tipo verdadeiro — diz ela.

— Esse é o único tipo que eu quero.

- Então, por todos os meios - ela gira a mão com o dedo mindinho cortado no ar ao lado dela — pergunte.

Hesitando por um longo e tenso momento, penso na minha pergunta e no que sua resposta verdadeira poderia significar.

— Você acha que um homem como Victor Faust pode estar realmente apaixonado?

Nora está muito quieta, como se a minha pergunta tivesse tirado o sarcasmo dela e substituído por intriga. Então ela vira a cabeça para o lado novamente, permitindo-me ver o contorno de seu nariz e bochecha na escuridão enluarada que envolve ela.

— Essa é uma pergunta ousada — diz ela. — E uma que eu acho que você já sabe a resposta.

— Talvez sim, mas eu quero conhecer a sua.

— Você quer dizer — diz ela, como se para me corrigir, — você quer saber a razão por trás da minha resposta.

- O que quer que seja... basta me dizer.

Eu sinto ela sorrindo, mas eu não vejo isso em seu rosto, e eu não sinto qualquer rancor ou prazer nos sentimentos dela - apenas honestidade.

Ela olha para a parede na frente dela novamente.

— Qualquer um pode estar apaixonado, Izabel — ela diz com uma voz plana, — e posso dizer pelo olhar nos olhos daquele homem que ele é apaixonado por você — (eu quero estar satisfeito com essa resposta, mas eu não estou porque eu sei que não é tudo) — mas um homem como Victor Faust — continua ela, — não pode ficar apaixonado para sempre. Como o tipo de Fredrik não pode viver sem amor, o tipo de Victor não pode viver com ele. E por mais que ele fique no caminho de seus deveres, e quanto mais humano você o torna, mais perto você o empurra para o seu ponto de ruptura.

— O que é que isso quer dizer? — Minha mão com a arma está tremendo. — Você está dizendo que não importa o quê, ele vai acabar conosco?

— Não — ela diz, — mas se você quer mantê-lo e o que você tem com ele intacto, você precisa perder o que resta da sua vida pessoal, sua humanidade. Seu amor por Dina Gregory. Seu ciúme juvenil. Sua consciência. É o suficiente que ele te ame e tenha que protegê-lo, mas ele não continuará, não pode, protegê-la e levar em consideração tudo o que você arrastar com você do lado de fora.

— O que faz você pensar que ele não pode? — As lágrimas picam a parte de trás dos meus olhos, mas eu não as deixo cair.

Nora vira a cabeça para olhar para mim novamente.

— Porque ele é como eu — diz ela não com malícia, mas com verdade. — E de uma forma ou de outra, ele instintivamente fará o que for preciso para restaurar o equilíbrio da única vida que ele já conheceu.

Eu balanço a cabeça repetidamente, não querendo acreditar nela, querendo ir em frente e atirar nela apenas por dizer essas coisas para mim. Mas eu não posso. Ainda não.

Um nó duro desce pelo centro da minha garganta.

— Mas você amava Claire — eu aponto, me agarrando a qualquer coisa que eu possa para virar a verdade em sua cabeça. — Você teria feito qualquer coisa por ela.

— Sim — ela admite, — eu teria... e é por isso que todos os dias que ela estava viva eu contemplei em matá-la.

Meu coração para de bater, como se ela tivesse apenas puxado o tampão em mim.

— Eu amava tanto a minha irmã — ela começa, — que eu sabia que não podia deixá-la viva porque sempre me preocuparia com ela e estava me deixando fraca.

— Você ia matá-la? — Eu mal posso acreditar, mas mais uma vez eu posso. — Você ia matar a sua própria irmã? Sua irmã inocente que nunca fez nada para você e que não tinha ideia em que você estava envolvida? — Minhas palavras são atadas com descrença e nojo.

— Sim. Se Victor não tivesse matado Claire, eu teria feito isso sozinha, eventualmente, e sim, eu estava vingativa porque ele matou ela, mas ela era minha irmã e ela era minha para matar, não de Victor. — Ela faz uma pausa e diz com sinceridade, — Eu sei que é muito estômago, Izabel... eu sei. Eu sei que é impossível para você entender. Mas eu não sinto emoções ou vejo as coisas da maneira que você faz. Eu nunca vou, porque eu fui criado a partir do momento em que nasci, para ser do jeito que sou, não é diferente de você ser do jeito que é. Todos nós temos nossas falhas "imperdoáveis", eu suponho que isso só passe a ser mais aparente em mim.

Minha boca está incrivelmente seca. Meu coração não está batendo rápido ou lento, mas não está batendo bem, é como se ele não consegue descobrir como. Victor contempla me matar como Nora contemplou matar Claire? Ele poderia realmente se livrar de mim porque eu estou interferindo em sua vida como um assassino? Ele poderia matar Niklas? Uma parte de mim me diz que ela é apenas louca e que Victor pode ser como ela em muitos aspectos, mas não nos modos mais extremos — e eu acredito nisso! Meu coração me diz que ele nunca iria recorrer a isso. Ele me mandou embora uma vez, de volta ao Arizona, e não tinha intenção de me ver nunca mais... mas... mas ele fez. Ele cuidou de mim o tempo todo.

Não! Eu não posso deixá-la chegar a mim assim. Eu não vou deixá-la.

Tremo o meu queixo e recupero meu controle.

Nora provou que suas habilidades de manipulação ultrapassam as minhas ou de alguém que eu já conheci. Ela pode fazer uma pessoa acreditar apenas em qualquer coisa que ela queira, fazer a pessoa com a mente mais forte duvidar de si mesmo, ou a pessoa mais fraca de mente acreditar que ela é algo extraordinário. Eu sei como ela funciona — eu experimentei em primeira mão — e eu não vou cometer esse erro novamente. Talvez as coisas que ela está me dizendo não são uma tática de manipulação em tudo, e eles são verdadeiramente nada mais do que suas opiniões, mas eu não estou tomando quaisquer chances. Vou ouvir meu coração, e meu coração está me dizendo que... apenas algumas das coisas que ela está dizendo são verdadeiras... e a parte sobre perder o que resta da minha vida pessoal, creio que é uma delas.

— Ele não sabe... — eu digo, embora eu não tenho certeza por que eu estou dizendo a ela. Eu olho para a parede acima da sua cabeça; a arma ainda está apontada para ela, mas minha mente está em outro lugar.

— Ele não sabe o que? — Nora pergunta.

Muito tempo passa antes de eu responder.

— ... Ele desligou o áudio da sala quando eu confessei para você — eu digo distante, vendo apenas os tijolos na minha frente. — Ele não sabe que eu tive um bebê com Javier... que eu tenho um filho de sete anos ou filha lá em algum lugar.

— E você acha que é melhor manter assim. — Eu acho que é a maneira dela também de me dizer que ela vai manter meu segredo.

Olho para ela, surpresa por ela não ter se movido, porque no meu breve momento de distração, alguém com habilidade de Nora poderia ter reagido com rapidez o bastante para me derrubar dos pés e tirar a arma de mim.

Eu seguro a arma com mais firmeza, percebendo.

Ela olha para a parede novamente, esperando e pronta para eu matá-la. Sem medos. Sem arrependimentos. Nenhuma tentativa de salvar sua própria vida. Nora Kessler aceitou seu destino.

— Confio no seu julgamento, Izabel — diz. — Quando se trata dos outros, você é uma boa juíza de caráter.

Eu sinto como se estivesse presa dentro da minha própria mente giratória. Olho para o cano da minha arma e as costas da cabeça de Nora.

— Quão importante é a honestidade para você? — Eu pergunto a ela.

— Não tenho nenhuma razão para mentir — diz ela, — a menos que seja meu trabalho mentir, por que você pergunta?

— Então me diga — digo, ignorando seu inquérito, — vire-se e me enfrente para que eu possa ver seus olhos, e me diga por que você quer fazer parte de nossa organização.

Depois de um momento, Nora se vira, ainda de joelhos, para me encarar. Ela olha para mim com curiosidade.

Então ela sorri com descrença e sacode a cabeça.

— Antes que você se faça de idiota, Izabel — diz ela, — se você quer que eu fique por perto para treinar você só porque você quer manter Victor, você pode muito bem me matar.

Empurro a arma para ela ameaçadoramente.

— Apenas responda a pergunta — exijo.

Seus olhos curiosos estudam o meu rosto, minhas reações, e então ela diz:

— Eu entrei em um monte de problemas para me provar a Victor Faust — a todos vocês. Eu poderia ter ferido ou matado as pessoas que você ama, mas eu não fiz e não tive nenhuma intenção em fazê-lo. Eu posso ter forçado a todos vocês para expor pelo menos um dos seus segredos mais obscuros, e eu pode ter feito mais danos do que o pretendido, mas nenhum de vocês pode me culpar pelas coisas que você tem feito, os segredos você manteve um do outro - aqueles são os seus erros, não meus. — Ela faz uma careta e ajusta a sua posição ajoelhada apenas um pouco. — Mas para responder a sua pergunta, eu quero ser parte desta Ordem porque eu perdi o único lugar que eu pertencia quando eu deixei a FC-4. Eu não posso simplesmente sair para o mundo, encontrar um emprego, encontrar amigos, me apaixonar e agir como um ser humano normal. Porque eu não sou. E eu nunca serei. E eu não posso voltar para a Sect porque eles vão me matar no local por deserção. Para não mencionar por matar Solis. — Finalmente, senta-se completamente em seu traseiro, incapaz de permanecer em seus joelhos por mais tempo. — Eu nasci, literalmente, para fazer isso. É tudo que eu sei. E isso é tudo o que tenho a dizer.

Eu acredito nela. Independentemente de quão manipuladora ela seja, os fatos também não mentem.

— Então por que você não se mata? — Eu pergunto. — Se você não tem medo da morte, e você não pode viver de outra maneira, por que não acabar com ela?

— Porque o suicídio é o caminho do covarde.

Eu aceno com a cabeça e deixo isso assim.

— Mas o que o impede de tentar matar um de nós? — Inclino a cabeça pensativamente, olhando para ela com desafio. — Já que você parece não ter consciência.

— Eu sou toda negócios, Izabel, — ela responde imediatamente. — E eu sou leal. Está no meu sangue fazer o que me disseram os meus superiores. Eu faço isso sem questionar ou argumentar, e faço-o bem. E se eu quisesse te matar, eu poderia ter isso no segundo em que você me trouxe aqui. Eu poderia ter tomado essa arma de você momentos atrás, quando você estava fora na terra pensando nos segredos de vocês e decidir não contar Victor sobre isso, como se fosse fazê-lo. Provavelmente esta noite está prevendo dormir com ele. — (Como ela sabe essas coisas?) — Se eu quisesse matar qualquer um de vocês, eu não teria passado seis anos planejando esta noite. Eu teria matado você todas as vezes que eu segui você.

— Mas, e quanto a Claire? — Eu digo, ainda precisando de mais. — Ela comprometeu você. Você a amava. Você ia matá-la. E você deixou a única casa que você já conheceu, arriscou tudo, por causa dela. O que quer dizer que não vai acontecer de novo?

— Porque as pessoas como eu só amam uma vez — ela responde sem sequer ter que pensar sobre isso. — Para nós, a experiência é como uma criança tocando uma panela quente.

Eu não digo nada por um tempo.

— Mas quando você está calma e não agi por raiva ou vingança, você sabe o que está fazendo. E confio em você cem por cento.

— Você disse que me treinaria.

Nora acena com a cabeça.

— Eu fiz.

— Então por que você disse...

— Eu vou treiná-lo se a sua necessidade de aprender não é ditada pelo seu amor de um homem — ela corta. — Isso não é diferente de uma menina engravidar apenas para manter seu namorado, ou um homem casando-se com uma mulher que ele não ama porque a engravidou, nunca funciona. E não vou perder meu tempo com tolices.

— Victor não é a única razão pela qual quero aprender — digo. — Eu não vou mentir e dizer que ele não é parte dela, mas ele não é tudo isso. Eu sou diferente de você em quase todos os sentidos, — continuo — mas a única maneira que nós somos iguais é que eu sei que esta é a única vida para mim. Já fui por esse caminho normal e eu não acho que posso fazer isso de novamente. Esta é a minha vida, e eu só quero aprender para me manter viva nele por tanto tempo quanto que eu puder. Victor nunca teve muito tempo para me treinar como eu preciso ser treinada. Ou ele me enviou para outra pessoa — eu silenciosamente me lembro de Spencer e Jacquelyn no estúdio Krav Maga — ou começou a ficar tranquilo depois de um tempo, porque ele não queria me machucar.

— Eu nunca iria ser fácil com você. — Nora sorri.

— Eu sei.

Então eu digo:

— Mas lutar não é a única coisa que quero aprender — quero aprender tudo o que você pode me ensinar: técnicas de manipulação, controle da dor, tudo...

Nora levanta uma sobrancelha.

— Você nunca será capaz de aprender todas essas coisas — diz ela, — a menos que você queira perder a sua capacidade de amar alguém e ser capaz de matá-los em vez disso, mas vou ensinar-lhe o que eu puder.

— Mais uma pergunta.

— Hmmm?

— Apenas por curiosidade — começo, — quando confessei a você, você parecia... simpática. Até mesmo aos sentimentos de Niklas. Se você é tão... sem emoção... por que você parece se importar? Por que zombar do seu pai e seu dedo desencadeia tanta raiva que desencadeiam suas emoções tão controladas? E ausente.

— Eu ainda sou humana — ela diz simplesmente.

Eu penso nisso muito e muito. Sobre tudo.

E então dou a ela a minha arma.

Nora olha para ela brevemente e depois a leva para seus dedos manchados de sangue.

— Então, bem-vindo a bordo — eu digo.

E o fato de que ela não atira em mim nas costas ou foge para as ruas de Boston, quando eu a deixo sentada lá e volto para dentro, mais prova que ela está dizendo a verdade que eu já sabia.


CapÍtulo VINTE E DOIS

Izabel

Quatro dias depois...

Gostaria de poder dizer que as coisas estão voltando ao normal por aqui, mas isso não poderia estar mais longe da verdade. Niklas ainda se foi e nenhum de nós o viu ou ouviu falar dele — ele poderia estar em outro país, ou morando na parte de trás de um bar em algum lugar próximo, e qualquer um seria crível. Seus telefones celulares nem tocam mais: eles vão direto para o correio de voz ou me dizem que o usuário não tem uma caixa de correio configurada para deixar uma mensagem. Eu parei de ligar para ele dois dias atrás. Quando ele quiser ser encontrado, ele nos avisará. E eu vou me preocupar com o resultado disso até que isso aconteça.

Dorian, depois que Fredrik o interrogou por muitas longas horas, estou feliz em dizer que ainda está vivo. Ele ainda está aprisionado na cela C e provavelmente estará lá por um tempo até que Victor descubra o que fazer com ele. Mas de acordo com Fredrik, tudo o que Dorian disse a Victor parece ser verdade, e ele não escondeu nada mais do que sabemos. Mas, a coisa em Victor mantendo vivo, eu acredito, tem principalmente a ver com a Inteligência dos EUA e se eles vão retaliar em reação à morte de Dorian. Mas Victor disse que ele parece o tipo de contratante privado que Dorian é, se ele já fosse morto ou comprometido, os Estados Unidos não afirmariam que sabia algo sobre ele.

É que a inteligência dos Estados Unidos sabe sobre nós impossibilitando que Victor tome uma decisão de qualquer maneira. Dorian admitiu fazer o perfil de cada um de nós e deu essa informação a seus superiores, empregadores, o que quer que eles sejam chamados — eu estou no escuro quando se trata destas coisas e Victor não fala muito sobre isso... ou talvez ele tenha dito e eu acabei por estar muito envolvida no meu treino com Nora Kessler para notar.

Comecei no dia seguinte depois da noite em que a deixei entrar. E já sinto que tenho que cuidar das minhas costas a cada momento do cada dia — não porque ela não possa ser confiada, mas porque, como parte de seu treinamento, ela me ataca do nada. Não existe tal coisa como um descanso. A qualquer momento Nora poderia estar me testando, mentalmente ou fisicamente, ou de qualquer forma que ela achar conveniente. É o mesmo tipo de treinamento que comecei com Victor há mais de um ano, mas muito mais intenso. Ela fode com minha cabeça tantas vezes que eu não posso dizer a diferença quando ela está mentindo no meu rosto ou me dizendo a verdade — eu deveria ser capaz de descobrir isso. Aprender a confiar inteiramente nos meus instintos e ser capaz de reagir a qualquer situação em conformidade, sem nunca pensar nisso. — Se você tem que parar e pensar nisso, você já fodeu — disse ela durante uma das raras vezes em que me deu um conselho. E então: — Não é a mesma coisa que "pensar antes de reagir" trata-se de mudar a maneira de pensar e reagir naturalmente.

Eu nunca esperava que qualquer treinamento fosse assim. E está apenas começando.

Hoje Nora juntou-se à mesa para o seu primeiro encontro.

Victor não aprovou minha decisão de deixá-la se juntar a nós quando eu lhe disse o que eu tinha feito. Não de primeira de qualquer maneira. Eu tive que lembrá-lo que ele disse que confiava em mim, e embora eu pense no fundo ele não precisasse disso, eu sei que ele menos esperava que eu a deixasse viver e tudo veio como um choque para ele. Para mim também. Eu tinha toda a intenção de eliminar Nora naquela noite — eliminando; talvez eu esteja começando a me tornar mais como Victor — mas no último minuto, eu fui com meu istinto em vez do meu ódio por ela.

Entrei na sala de reuniões diante dos rostos de Victor, James e Fredrik. Nora estará atrasada se ela não estiver aqui em cinco minutos. Eu faço o meu caminho para a minha cadeira habitual perto de Victor, onde me sento e tento parecer confiante — sei que Nora não estiver de acordo com as expectativas de todos, isso estará sobre a minha cabeça, porque eu fui a única que a deixou se juntar a nós. Estar atrasada na sua primeira reunião não é uma boa maneira de começar.

A sala está repleta de silêncio. Quase nenhum movimento agita o ar suave que escorre das aberturas no teto. James olha para a tela do laptop. Fredrik senta-se solidamente, como um gigante deslumbrante melancólico com as duas mãos apoiadas na mesa. Victor se senta com as costas presas contra a cadeira e as mãos no colo — sempre o poderoso no quarto, e qualquer um saberia apenas olhando para ele, mesmo que nunca o tivessem visto antes. Eu sinto seus olhos em mim — embora não os de Fredrik — mas não consigo olhar para nenhum deles.

Finalmente, o som de saltos tocando contra o chão do outro lado da porta ecoa pelo corredor. A porta se abre e Nora, com suas longas pernas e com belos cabelos louros, entra na sala de reuniões, fechando a porta atrás dela. Ela está vestida, de todas as coisas, um terno de mulheres negras e altos saltos pretos. Uma camisa com um elegante babado que puxa sob o casaco do terno e fica perfeitamente sobre seu peito, puxado em torno de seu pescoço de uma forma delicada. Delicado — uma palavra que eu nunca teria pensado associar com os gostos de Nora Kessler.

— Chagando perto da hora — eu falo.

Nora senta-se ao lado de James, com as costas retas e refinadas.

— Sim, — ela diz com um sorriso de desculpas e então alcança o bolso da jaqueta e retira um telefone celular. — Mas eu encontrei Niklas.

Victor e eu olhamos um para o outro enquanto Nora desliza o celular sobre a mesa e ao alcance de Victor. Ele pega e olha para a tela, batendo uma vez com a ponta do dedo enquanto ela começa a se desvanecer em preto. Eu me inclino mais perto de Victor para obter uma visão melhor.

— Em Barlow, — Nora anuncia. — Ele parece estar gastando muito do seu tempo lá, bebendo — eu olho para a tela para ver várias fotos de Niklas sentado em um bar escuro iluminado com um tiro de uísque no bar à sua frente — uma garota diferente todas as noites nas últimas noites. Ele está ficando no hotel ao lado do bar.

— Isso é apenas trinta minutos daqui — eu digo, olhando para Victor ansiosamente.

— Bebendo e mulheres — James fala do outro lado da mesa. — Parece que ele não mudou, realmente. Acho que é seguro dizer que ele está bem.

Franzem o cenho para James.

— Ele não está tão bem — eu digo.

— Mas ele estará — diz Victor.

Ele desliza o telefone de volta para Nora. Ela o deixa sobre a mesa na frente dela.

Fredrik não diz nada.

Eu deslizo para trás em minha cadeira mais confortavelmente e viro a Victor.

— Você quer que eu vá falar com ele? — Eu pergunto. — Tentar trazê-lo de volta para cá para que você possa falar com ele?

Victor sacode a cabeça.

— Vamos discutir Niklas mais tarde — diz ele. — Primeiro, eu tenho algo mais que precisa ser tratado.

Victor e Nora trocam um olhar, dando a impressão de que são os únicos na mesa que já falaram sobre isso, seja lá o que for. Eu me sinto incrivelmente incômoda de repente, mas curiosa e ansiosa, também.

— O que é? — Eu pergunto.

Victor respira fundo e olha para todos nós.

— Haverá uma missão importante no futuro próximo — ele diz enigmaticamente e seus olhos caem sobre mim, — não no próximo ano, mas porque levará, pelo menos, esse tempo para se preparar para isso, ou melhor, para preparar Nora - Ele olha para ela por um instante.

— OK — eu digo, desconfiada, — que tipo de missão?

Ele fica quieto por um momento e depois diz:

— Preciso que você volte para o México.

Confusa, eu respondo:

— Por que o México? — Mas o que é tão confuso é o quão obscuro ele está sendo. — Não tenho problema em ir lá, Victor. Você me dá uma missão e eu vou executá-la. O México não me assusta. Já fomos lá uma vez. Pegamos dois dos irmãos de Javier e libertamos algumas das meninas deixadas no complexo. A missão não resultou como eu esperava e muitas das garotas com quem eu vivi quando eu era prisioneira lá, já haviam sido vendidas ou mortas quando chegamos.

Ele olha para longe dos meus olhos momentaneamente.

— Victor, o que é? Apenas diga.

Mais uma vez, sinto todos os olhos em mim, mesmo Fredrik desta vez, mas eu não olho para ninguém além de Victor.

— Esta missão vai exigir algo mais do que matar alguém e voltar — ele começa. — Nos próximos meses você estará treinando Nora para isso.

Minhas sobrancelhas se dobram rigidamente.

— Eu treinando ela? — Estou começando a entender, o que será toda esta missão , mas deixei Victor preencher as lacunas.

— Você estava por dentro, — ele diz para mim, — e você sabe como as coisas funcionam. Tudo. Desde a compra e venda de drogas, armas e meninas, até o modo como as meninas foram tratadas, até como elas foram mortas. Nora certamente pode lidar com qualquer tipo de missão dada a ela, mas mesmo ela precisa ser treinada para que ela saiba exatamente com o que ela está lidando.

Olho bem para Nora, que fica quieta, mas com confiança.

— Espere um segundo, — Eu o cortei — então você está dizendo que quer que eu a treine para ser uma escrava sexual? — De alguma forma eu não pode imaginar essa imagem na minha cabeça, não importa o quanto eu tente.

O rosto de James se ilumina com arrepiante prazer.

— Não necessariamente, — Victor diz. — Eu falei com ela longamente sobre isso e nós dois concordamos que a melhor maneira de abordar esse aspecto particular é para ela se tornar uma das meninas, não apenas desempenhar o papel.

— É melhor se tornar uma delas — diz Nora, — se eu conseguir ser uma delas, não que me ensine como ser uma delas.

Ficando mais confusa, eu olho entre Victor e Nora, procurando respostas.

— Eu sou capaz de assumir qualquer papel, até mesmo uma escrava do sexo, mas você precisa me dar dicas, me dizer sobre os bastidores, sobre como ser mais consciente, como não me matem.

Eu balanço a cabeça, já não gosto dessa ideia.

— Victor, imagino que as coisas não são mais as mesmas. Javier está morto. Izel está morta. Seus irmãos estão mortos.

— Elas podem estar — diz ele, — mas isso não significa que as coisas mudaram muito. Javier tinha seis irmãos que conhecemos. Dois deles ainda estão executando suas operações. O composto ainda está no mesmo lugar. Meninas, drogas e armas ainda são compradas e vendidas como se nada tivesse acontecido. Dentro de dois meses de nossa última missão lá, eles estavam funcionando novamente.

Eu já sabia a maior parte dessa informação, mas vejo por que agora ele tinha que repetir.

Balançando a cabeça com um olhar caído, inclino-me para a frente com os braços sobre a mesa.

— OK mas porquê? Por que voltar? Não me interpretem mal, não tenho nenhum problema em matar aqueles bastardos e libertar mais das meninas, mas...

— Essa não é a missão, Izabel — diz Victor.

Eu pisco, um pouco atordoada.

Nora e Victor trocam outro olhar de conhecimento.

Então Victor diz:

— Nora me disse alguma coisa, na última noite em que ela foi detida naquele quarto, antes dela se juntar a nós. Algo sobre você que eu queria ter mais certeza antes de eu dizer qualquer coisa.

Eu apenas olho para ele, sentindo a dor da traição, mesmo sabendo que ele não me traiu em tudo.

Victor continua:

— Além disso, depois de falar com Dorian quando ele foi detido pela primeira vez, a história de Nora parecia ter mais verdade. — Depois de uma pausa, ele diz: — A missão no México será descobrir quem é Vonnegut. Você pode ser a única pessoa entre nós que já viu o verdadeiro Vonnegut.

— O quê? — Eu não posso acreditar no que acabara de ouvir.

Ele balança a cabeça, e depois começa a falar, mas eu o interrompo.

— Você viu ele — eu aponto. — Do que está falando, Victor?

— O homem que encontrei em raras ocasiões, quando eu fazia parte da Ordem — ele começa, — onde eu era valorizado como um operário, tenho razões para acreditar que não era o verdadeiro Vonnegut. Ele era um chamariz. A verdade é que ninguém realmente sabe quem é o verdadeiro homem por trás da organização de assassinato mais antiga e maior ainda em funcionamento hoje. Nem mesmo a CIA ou o FBI — ninguém. Apenas quando eles pensam que têm uma identidade, descobrem apenas estavam correndo em círculos.

Victor me enche de tudo o que Dorian lhe contou, dos suspeitos de Vonnegut de vender armas a terroristas e de que seu negócio é muito mais do que matar por contrato. Ele continua a me falar sobre as coisas Nora lhe disse em segredo, e sobre o dispositivo de rastreamento que Victor me cortou quando nós estávamos nos escondendo.

— Niklas e eu sabíamos — diz Victor, — na noite em que tirei esse aparelho de você, que algo de tão alta tecnologia tinha que vir de uma fonte externa, que não havia ninguém como Javier Ruiz que fosse capaz de produzir ele mesmo.

— Enquanto eu estava espionando todos vocês, — Nora interrompe, — e mergulhando em informações da Ordem, eu descobri que Vonnegut estava lidando com meninas, também, e estava vendendo dispositivos de rastreamento de alta tecnologia como o que eles encontraram em você.

Victor acrescenta:

— Acredito que o dispositivo que foi colocado em você veio de Vonnegut. Acho que Vonnegut estava vendendo para Javier, e você estava lá no interior, mais perto de Vonnegut do que quase ninguém já esteve.

— Mas o que faz pensar que eu sei como ele se parece? — Eu atiro de volta, ficando mais oprimida por esta informação surpreendente.

— Os homens ricos que você viu quando Javier estava usando você como um troféu de braço — Victor diz, — um deles eu acredito que é o Vonnegut real.

Imediatamente, começo a pensar em todos os seus rostos, cada um movendo-se rapidamente através da minha mente como um borrão.

— Ele não pode ficar escondido para sempre — Victor continua. — Alguém o viu. Ele pode ser um fantasma, mas ainda é humano e os seres humanos por natureza precisam se associar a outros seres humanos, estar na presença de outras pessoas — acho que ele era um desses homens ricos, Izabel. E eu acho que Nora indo para esta missão será como nós finalmente o encontraremos, destronaremos e mataremos.

Ele faz uma pausa e acrescenta com profundidade,

— E então eu assumirei A Ordem, uma vez que ele está morto.

Não respondo ao seu último comentário, mas, pela primeira vez desde que entrei na sala, os olhos de Fredrik se fecham nos meus.

Esta é a primeira vez que eu ouvi Victor dizer algo assim. Assumir a ordem, a ordem... é uma conversa para outro dia. Neste momento meu cérebro está sobrecarregado com... tudo.

Estou em silêncio por um longo tempo, deixando todo o resto que ele me disse para assimilar. Ainda parece ser haver muito que foi deixado sem resposta, mas me leva vários minutos para descobrir quais são essas coisas.

— Mas por que mandar Nora? — Eu digo, olhando para ela por apenas um segundo. — Quero dizer... bem, acho que não posso ser a única a voltar porque muitos já sabem como eu pareço...

— Eu não deixaria você voltar de qualquer maneira — Victor me corta. — Você vai para o México e estará em uma cidade turística, mas Nora estará fazendo o trabalho interno.

Eu franzi o cenho.

— Por quê? O que quer dizer que você não vai me deixar voltar? — Há ácido na minha voz.

Victor suspira e deixa cair as mãos no colo.

— Você não acha que eu sou capaz de volta ali, — Eu acuso. — Você acha que eu sou como todo mundo; isso porque eu passei por uma experiência traumática e que eu nunca seria capaz de me colocar nisso de novo, que eu nunca seria capaz de lidar com isso. Bem, você está errado — eu lanço uma mão no ar — Eu sou o oposto de todo mundo. Eu não tenho medo disso. De qualquer um deles. Eu sou mais forte agora do que nunca, e se alguém pode fazer este trabalho com perfeição, sou eu. Não Nora, mas eu.

— Não se trata de se provar, Izabel — diz Nora calmamente e gentilmente.

Eu olho para ela.

— Ninguém pediu sua opinião...

— Não, mas eu não sou o tipo que dar — ela devolve - Ah, mais aí estar a verdadeira Nora Kessler: audaz, loquaz e irritante.

James se esconde na cadeira um pouco para colocar alguma distância entre ele e Nora, provavelmente esperando que eu me jogue na mesa em qualquer segundo agora.

O deixo passar, inalo uma respiração longa, profunda e volto para olhar para Victor.

— Como você mesmo disse — Victor diz, — você não pode ser a única a entrar porque você não pode arriscar ser vista.

— Talvez haja uma maneira de contornar isso — eu digo. — Poderíamos...

— Izabel — Victor interrompe com um tom sombrio e firme, — você não vai voltar lá... você não pode lutar contra todos os homens naquele complexo que tentariam ter seu caminho com você.

— Ah, então é isso que se trata, — eu digo friamente. — Você acha que eu não posso evitar que eu seja estuprada — eu o olho diretamente nos olhos, sem piscar — confie em mim, eu poderia...

— Nora estará indo para a missão — diz ele, como se isso fosse o fim.

Esfregando os dentes, respiro fundo e me levanto da cadeira.

— Ela não pode entrar lá com fios, — eu assinalo. — Ela não pode levar uma câmera. Ela não terá acesso a um telefone. Eu não duvido de suas habilidades, mas se ela vai ser uma das garotas e torná-la crível, ela não pode se esgueirar para entrar em contato conosco — eles saberiam em poucos minutos que ela está desaparecida. — Eu olho para ela uma vez e digo: — Como você vai ser a única a descobrir quem Vonnegut é se eu sou a única que supostamente o viu? — Eu cruzo os braços e olho atentamente, os olhos correndo entre Nora e Victor.

— Vamos descobrir isso — diz Victor. — Temos vários meses para chegar a um plano.

Eu balanço a cabeça, minha boca se levantando de um lado.

— Victor, eu não sou estúpida para acreditar que você não conhece uma maneira certa de descobrir quem é Vonnegut.

Ele olha para mim, esperando.

— Através de mim — continuo. — No segundo Vonnegut me vê, eu saberei que é ele porque a compreensão de quem o está olhando irá piscar em seus olhos naquele instante. E eu iria vê-lo. Vonnegut está bem consciente de como eu pareço.

— Sim — Victor diz, — essa é a melhor maneira de descobrir quem ele é, mas vamos encontrar outro caminho. Você não vai entrar nesse complexo.

— É o único caminho.

— Outros viram você — ele me lembra, ficando irritado.

— Mas Javier e Izel estão mortos. Luis e Diego estão mortos e eles são os únicos outros irmãos de Javier que eu vi. Quem está correndo o lugar agora duvido saibam quem eu sou.

— Não podemos correr esse risco.

— Concordo — diz James. — É muito perigoso.

— Victor...

— Izabel! — Ele levanta as costas da cadeira — Eu não vou deixar você voltar lá! — ele respira fundo e acalma-se — Eu não estou arriscando você naquele lugar, Nora sim - Suas palavras cruéis não a perturbam nem um pouco; Ela não se importa com essas coisas. — Você quer fazer missões sozinha e isso já é risco suficiente, não importa o quão bom você seja, mas enviá-la em um lugar onde as pessoas podem se lembrar de você e quem vai matar você no local no segundo que eles percebam quem você é, não é um risco que estou disposto a correr.

Olho para a parede, desapontada e zangada, mas tocada por seus sentimentos e não posso simplesmente descartá-los como se eles não fossem nada.

— Me desculpe, — eu digo suavemente e Victor estende a mão para mim. Ele nunca mostra carinho comigo durante as reuniões, então o gesto me deixa surpresa.

Eu ando e pego sua mão. Ele me puxa para ficar ao lado dele. Ele beija o topo dos meus dedos.

— Vamos descobrir um caminho — ele diz gentilmente, — mas Nora será a de dentro.

Eu aceno com relutância.

Quanto tempo você vai se permitir cortar os cantos por mim, Victor?

— Vou ensinar a Nora tudo o que ela precisa saber — eu digo olhando para ela.

Então eu tomo meu assento outra vez.

— Você é a chave para fazer isso funcionar — diz Victor.

Quanto tempo você vai tomar a rota alternativa apenas para me manter fora de perigo?

— Vou fazer o que eu tenho que fazer para ajudar a derrubar este tirano — eu acrescento.

Quão mais…?

E farei o que Victor me pedir, mas uma grande parte de mim quer ser a do interior. Não porque eu sinto a necessidade de provar a mim mesma. Não porque ele está deixando Nora ir em vez de mim e eu sinto alguma sensação de ciúme — isso não tem nada a ver com ciúme, ou determinação imprudente; eu quero que seja eu porque eu passei nove anos da minha vida no México entre esses homens e sinto que, se qualquer missão deveria ser minha, é esta.

— Entretanto — Victor anuncia, — com a ausência de Niklas, e considerando as mudanças feitas nesta Ordem, Nora será a sua nova parceira.

Eu aceno com aceitação.

— E continuarei treinando você enquanto trabalho com você — diz Nora.

— Vocês duas irão em várias missões juntas antes da missão no México — diz Victor. — Vocês irão se concentrar em suas atuais missões por enquanto, mas estejam se preparando para o México da mesma forma.

O silêncio caí sobre o quarto quando cada um de nós pensar sobre o caminho a seguir.

— E Niklas? — Pergunto, decidido a não deixá-lo ser esquecido. — Estamos planejando todas essas missões sem ele?

— Por enquanto, sim — diz Victor. — Até que as coisas entre meu irmão e eu tenham sido resolvidas, é melhor assumir que ele não fará parte de nenhuma missão.

Concordo com a cabeça.

Nós cinco passamos os próximos trinta minutos discutindo os detalhes das nossas futuras missões, incluindo começar cedo no México. É muito estranho sentar nesta mesa sem Dorian e Niklas. E com Nora, em vez disso. Sinto falta do sarcasmo de Dorian e comentários ridículos sobre as mulheres que deviam me esfregar do jeito errado, mas nunca fazem. E eu sinto falta das minhas lutas com Niklas e seus olhares frios e o fedor de seus cigarros persistentes em sua jaqueta.

Finalmente, quando a reunião chega ao fim, Fredrik fica de pé da mesa.

Todos nós olhamos para ele.

— A menos que haja qualquer outra coisa, — ele diz, olhando apenas para Victor, — eu tenho um lugar que eu preciso estar.

— E o que você poderia, eventualmente, ter que fazer? — Nora pergunta, sua voz cheia de provocação, seus lábios vermelhos escuros espalhando-se num sorriso. — Um homem tão frio como você não pode ter qualquer tipo de vida fora desta Ordem. — Ela sorri docemente, perversamente.

Fredrik e Nora raramente falam um com o outro, mas de vez em quando, sua personalidade burlona escapa dela. Ontem ela se colocou como se ela não pudesse quebrar e como ela é agora a segunda mulher a vencê-lo. Ela está tentando consegui uma reação dele, eu realmente não tenho ideia porque ela quer uma, mas Fredrik está, como sempre, não se incomodando com suas provocações.

Até agora.

Ele tira a pasta da mesa.

— Almoço — ele diz simplesmente.

Os olhos castanhos de Nora se iluminam com sugestão.

— Oh? E vai comer sozinho neste almoço, ou gostaria de companhia?

Fredrik anda pelo comprimento da mesa. Ele nunca olha para ela, mas então ele nunca realmente olha para qualquer um de nós.

— Eu prefiro jantar sozinho — diz ele.

Nora apenas balança a cabeça, sorrindo. Nada parece incomodá-la, e admiro isso nela. Silenciosamente, é claro; eu nunca a deixarei saber disso.

Fredrik olha para Victor, esperando.

— Eu vou estar em contato — Victor diz a ele. — Se as coisas forem como planejado, você estará interrogando um homem até o fim da semana.

Fredrik acena, coloca a mão na porta e a empurra.

— Mas não deixe o país — Victor diz antes de Fredrik sair. — Eu acho que é seguro dizer que seu tempo sozinho acabou.

— Claro — diz Fredrik. — Eu estarei esperando por sua ligação. — A porta se fecha ligeiramente atrás dele quando ele sai do quarto.

Victor volta sua atenção para Nora.

— E que outras informações você tem para mim do FC-4? — Ele pergunta.

Nora escova seu cabelo loiro sedoso longe de seus ombros e dobra suas mãos juntos na mesa na frente dela; suas curtas unhas estão pintadas de vermelho para combinar com seu batom. James olha para ela brevemente, da mesma forma que faz a cada poucos segundos, mas tenta não torná-lo tão óbvio.

— Também no final da semana — ela diz, — vou ter tudo o que sei sobre eles à sua disposição.

Victor acena com a cabeça.

Então ele diz:

— Você tem um longo caminho a percorrer antes mesmo que eu começar a confiar em você; um caminho difícil pela frente.

— Sim, estou bem ciente — diz ela em troca. — Se você já confiasse em mim, eu não teria o respeito que eu tenho por você.

Nora olha para mim.

— Mas um pouco de confiança — diz ela, indicando o tipo que eu tenho por ela, — é muito apreciado.

Eu aceno, aceitando seus agradecimentos.

Victor olha entre nós, mas não diz mais nada. Nora é o meu projeto, a minha responsabilidade, meu fardo para carregar. Ele aceita isso e não me privará dela e do que eu preciso dela mesmo que ele temesse que ela seja um erro, mas eu sei que ele vai estar observando cada movimento dela.

— Bem, pela minha parte — James fala, — estou feliz por ter você a bordo. — Ele sorri estupidamente.

Nora lhe dá um olhar sensual, fazendo com que seu grande rosto redondo fique vermelho.

— Não sei como Niklas vai se sentir sobre isso — James acrescenta, — ou até mesmo Dorian, se e... ele alguma vez sai daquela cela, é claro — ele olha para Victor — mas eu suponho que o tempo dirá.

Sim, o tempo tende a conter as respostas para tudo. E, como as coisas estão agora, como as coisas tomaram um rumo tão drástico em nossa Ordem, estou ansiosa e com medo de ver o que o tempo revelará. Acho que a única coisa que posso fazer é esperar. Esperar que Niklas volte e segure a minha respiração como tudo o que está destinado a acontecer entre ele e Victor, aconteça. Espere pelo dia em que o destino de Dorian estará finalmente decidido. Esperar pelo momento que se, ou quando, Victor descobrir sobre a criança que eu tive com Javier, e abrace as consequências da verdade. Esperar para ver se meu julgamento está, de fato, totalmente errado e Nora acaba me fazendo uma tola, afinal.

Esperar. O tempo é uma cadela cruel.


Capítulo vinte e três

Fredrik

HÁ CERCA DE OITO ANOS...


Serafina. Meu anjo com asas pretas. Ela sorriu; um brilho carmesim nos lábios, emoldurado por cabelos tão negros como a minha alma, os olhos tão profundos como o poço sem fundo que é o meu coração. Ela se deitou perto do corpo quente, seus dedos longos e brancos enrolados no sedoso cabelo loiro da menina. Seus seios pródigos e cheios, pressionados contra os menores da menina. Ambos estavam nus, enrolados um ao lado do outro. Eles estavam esperando por mim.

— É muito simples — Seraphina disse e ela arrastou a ponta de sua língua através do pescoço da menina, olhando através do quarto para mim com aquelas piscinas escuras de pecado e salvação. — Nós fazemos tudo juntos, meu amor — sua língua traçou o lábio inferior da garota e a menina devolveu o gesto — meu diabo, meu príncipe negro.

Eu pisei para frente, quebrando os botões da minha camisa.

Seraphina prosseguiu:

— Nós buscamos vingança juntos. Nós fodemos, nós amamos, nós condenamos e destruímos juntos até o dia em que morreremos juntos.

Ela estendeu a mão delicada, mas mortal e gesticulou para mim, curvando seus dedos em direção à sua palma, lentamente e sugestivamente.

— Venha cá e prove-a — disse ela, e então deixou cair a mão entre as coxas da garota. — Você tem que prová-la.

A garota gemeu com o toque de Seraphina, sua cabeça loira pressionando o ombro da minha esposa, seus peitos pequenos e macios empurrando para a vista da luz fraca no pequeno qiarto.

Fiquei de pé ao pé da cama, observando-os, como os dedos de Seraphina se moviam com tanta precisão artística, como as pernas da menina se separaram para ela, expondo seu lugar mais secreto para mim e para o ar fresco da noite.

— Eu disse para você não trazê-las aqui. — Eu finalmente digo enquanto escorregava meu cinto dos laços da minha calça preta, o som do couro se movendo contra a tela em um movimento lento e deliberado. — Nunca sem minha permissão. E nunca aqui. — Eu estava furioso, mas mantive-o contido.

Os lábios vermelhos escuros de Seraphina se espalharam em um delicioso sorriso. A moça acariciou os seios de Seraphina, colocou a cabeça no seu pescoço; ela tentou tocar embaixo Seraphina, mas não foi permitida, então ela puxou a mão dela, arrastando as pontas dos seus dedos em seu estômago.

— Oh, Fredrik — disse Seraphina, levantando as costas da cama - você não pode dizer isso o tempo todo. Estou tentando te ajudar. Isso é apenas parte do processo.

— Mas, da mesma forma — disse eu — disse-lhe para não trazê-las para nossa casa.

Seraphina e eu compartilhamos um olhar, seu sorriso escurecendo com desapontamento; meu rosto sem emoção não tinha mudado. Mas minha esposa nunca desistir tão facilmente. Ela nunca fazia o que eu dizia com um estalar de dois dedos, porque ela era ousada e desafiante e eu adorava isso sobre ela.

Ela se levantou da cama.

A menina ficou alerta e sentou-se quando notou a tensão crescente na sala.

— Quero que você a foda — disse Seraphina. — Eu a trouxe aqui para você. Olhe para ela — ela acenou para a menina, que era muito bonita com lábios cheios e grandes olhos castanhos e quadris curvilíneos — Eu achei que você ia gostar dela. Eu gosto dela.

A menina olhou para trás e para frente entre nós nervosamente.

— Mas esta é a nossa casa, Seraphina. — Eu me aproximei de sua forma alta e nua. — Você sabe que eu não gosto de fodê-los aqui, onde dormimos, onde eu te fodo.

— Eu... acho que vou embora agora — disse a moça, levantando-se da cama.

— Não! — Seraphina estalou, apontando para ela. — Sente-se, caralho. — Ela olhou para mim, fulminando-me, rangendo os dentes. Seus olhos castanhos brilharam em seu rosto oval irritado; O preto de seu cabelo curto brilhando contra o branco cremoso de suas bochechas.

A menina estava com muito medo de se mover. Ela permaneceu na cama, puxando os joelhos para ela e cobrindo seus seios com seus longos cabelos.

— Você pode ir — eu disse a menina, empurrando minha cabeça para trás, indicando a porta aberta atrás de mim.

— Eu disse que ela fodidamente fica, Fredrik!

Seraphina começou a se esgueirar através da cama para a garota, mas eu a agarrei por trás, segurando-a firmemente em torno de sua cintura. A moça levantou-se rapidamente com os olhos arregalados e agarrou suas roupas do chão.

Seraphina lutou comigo a cada passo, a cada momento, até que a menina saiu correndo e ouvi a porta da frente de nossa pequena casa fechada atrás dela.

— Desgraçado!

Arrancando as mãos de Seraphina atrás de suas costas, eu a empurrei para a frente na cama.

— Por que você faz isso, Seraphina? — Eu perguntei a ela, minha voz sufocada de raiva e desespero. Ela lutou contra a cama, mas eu a segurei ainda, pisando entre suas pernas e separando-as com a minha. — É a minha única regra e você a quebrou. Por quê?

— Porque é uma regra fodidamente estúpida! — Ela gritou, uma face pressionada contra o colchão.

Inclinando-me sobre seu corpo com os pulsos ainda presos atrás dela em uma das minhas mãos, eu sussurrei em seu ouvido:

— É estúpido que eu te ame, Seraphina? — Meu aperto aperta em torno de seus pulsos — É estúpido que eu nunca queira compartilhar você ou eu com alguém em nossa casa?

— Que diferença faz? — Perguntou ela em uma voz mais calma, mas amarga. — Não importa onde nós fazemos.

— É importante para mim. — Eu beijei o lado de sua boca.

— Por quê?

— Porque deve haver limites — eu disse e me levantei novamente. — Nós não vamos foder, matar ou destruir qualquer pessoa em nossa casa. Você entende?

Ela balançou a cabeça ainda pressionada contra o colchão.

— Agora você vai ficar quieta ou eu vou ter que amarrar você?

— Vou ficar quieta — disse ela.

Eu soltei seus pulsos e ela moveu seus braços para fora e descansou-os sobre o colchão acima de sua cabeça.

— E por que você vai ficar quieta? — Perguntei quando peguei firmemente o cinto em minha mão.

— Porque eu mereço — ela disse, da mesma forma que ela havia dito as vezes antes que eu tinha que puni-la.

Agachei-me entre as pernas e, com ambas as mãos, separei um pouco mais para a expô-la a mim.

— Eu não sei o que vou fazer com você — eu disse e beijei a carne quente de seu traseiro.

— Você não sabe o que você faria sem mim — disse ela em troca.

Eu beijei a outra bochecha.

— Não, eu não, e eu nunca quero descobrir.

Ela gemeu e seu corpo se enrijeceu quando minha língua serpenteou para fora e lambeu seu clitóris.

Eu me ergui em uma posição e pisei de entre suas pernas. Ela ficou quieta, esperando, sabendo, preparando-se. Eu a observei por um momento. Ela empurrou os dedos dos pés um pouco, o suficiente para segurar suas pernas enquanto ela estava deitada de costas contra o colchão da cintura para cima. Eu queria tanto colocar meu pau nela, eu queria espremer seu traseiro em minhas mãos e fodê-la até que nenhum de nós pudesse ver em linha reta, mas ela tinha que ser tratada primeiro. Eu nunca poderia deixá-la ter seu caminho quando se trata dessas coisas ou ela se tornaria incontrolável. Seraphina pode ter me ajudando a controlar meus impulsos torturantes, meus impulsos assassinos, mas eu não era o único de nós que precisava ser ensinado, controlado e guiado por que Seraphina era uma mulher perigosa e perversa que poderia se perder em qualquer momento e nunca poderia ter muito controle.

O som da pele marcada pelo couro rasgou através do ar e Seraphina gritou alto. Mas ela não se mexeu. Duas vezes. Quatro vezes. Seis vezes. Dez vezes, o cinturão golpeou sua carne, deixando marcas em sua bunda. Ainda assim, ela nunca se moveu; apenas seus dedos se agarraram a cama, rasgando o lençol do colchão e esmagando-o em suas mãos.

Onze. Doze. Treze.

Eu não cedi. Eu nunca poderia deixá-la ver a fraqueza em mim ou eu iria perdê-la. Atacar Seraphina levemente, tendo piedade dela, só a desligaria. Era uma coisa boa porque eu nunca teria tido piedade dela. Eu gostava de infligir a dor tanto quanto ela gostava de tomá-la.

— Fredrik, por favor! — Ela implorou com uma voz chorar lágrima. — Por favor pare…

Eu bati o couro novamente, e novamente, e novamente até chegar a vinte. Era sempre vinte. Ela sabia que sempre haveria vinte chicotadas, não importa o quanto ela me implorasse para parar.

Eu coloquei o cinto de lado na cama e agachado entre suas pernas mais uma vez. Seu corpo tremia debaixo de minhas mãos cuidadas, resistido por apenas segundos sob meus lábios quentes. Eu beijei cada centímetro de sua dor, cada pedaço, cada minúsculo corte onde a pele tinha quebrado. E então eu delicadamente puxei seus lábios separados com meus dedos e arrastei a ponta da minha língua quente entre eles. Lentamente. Atentamente. Seraphina gemeu e choramingou e cavou seus dedos no colchão.

Ela já não sentia a dor.

Tudo que ela sabia era o prazer.

Eu a fodi duramente, a única maneira que qualquer um de nós queria sempre — duro e violento. E depois que eu gozei, eu deitei em suas costas, ainda enterrado dentro dela.

Eu a beijei de volta, sua coluna, seus ombros e seu pescoço. A lâmina de barbear me acenou na mesa de cabeceira, mas esperei. Só mais um pouco.

— Não há ninguém mais no mundo como nós, meu amor — ela disse em uma voz suave, olhando para nada com seu rosto pressionado contra o colchão. — Eu morreria sem você.

Distraidamente, eu continuei a me empurrar profundamente dentro dela lentamente.

— Você nunca estará sem mim — eu disse e beijei a nuca. — E como você disse antes, morreremos juntos.

— Você promete, Fredrik? Você vai junto comigo se eu morrer antes de você?

Eu beijei o lado de sua boca, pressionando meus quadris contra ela. Ela ofegou.

— Quando você morrer, eu também morro — eu sussurrei contra sua orelha. — Você é o amor da minha vida. Meu lindo cisne. E você será minha destruição.

Entrei dentro dela. Seus lábios se separaram em um gemido silencioso e ofegante e seus dedos encontraram o topo do meu cabelo escuro.

— Ninguém pode te amar como eu te amo — disse ela. — Nenhuma mulher neste mundo conhece você como eu conheço você, entende suas necessidades, sua dor, seu passado. Nenhuma mulher pode dar a você o que eu lhe dou.

E ela estava certa.

Eu empurrei mais e mais e, de repente, a lâmina de barbear estava presa entre as pontas dos meus dedos e o polegar.

Eu levantei meu peito de suas costas, apenas o suficiente para que eu pudesse vê-la.

Seraphina choramingou e agarrou a cama quando eu fiz o primeiro corte, verticalmente abaixo suas costas cerca de dois centímetros. Logo iria curar e tornar-se como as outras cicatrizes que eu tinha deixado lá. Então me inclinei e lambei o sangue que escorria da ferida com a língua. Seraphina levantou seu traseiro contra mim, me forçando mais fundo. Meus dedos feriram firmemente dentro de seu cabelo.

Inclinei-me mais um pouco, procurando sua boca com a minha, e eu a beijei longa, dura e sangrenta.

— Ninguém, Fredrik, — ela sussurrou e lambeu minha língua, — ninguém jamais te amará como eu.


Eu não sei quanto tempo eu estive olhando este jornal, as palavras impressas em tinta preta borradas em toda a minha visão. Por quanto tempo minhas memórias de Seraphina me torturarão? Oh sim, claro — até eu morrer junto com ela como eu prometi.

Minha pasta está no chão embaixo da mesa, sentada entre a parede e minhas pernas, escondida na escuridão. Os clientes neste restaurante, como em todos os lugares públicos, são inconscientes. Eles não têm percepção da verdade, a mesma verdade que os cerca todos os dias de sua vida tranquila e inocente — que o mal vive na porta ao lado, passa-os na calçada, prepara as refeições ou, neste caso, come apenas uma mesa com eles. Se eles soubessem apenas que segredos minha pasta tem, ou as coisas horríveis que estas mãos fizeram. Ou as lembranças vívidas e impiedosas que atormentam minha mente como uma ferida que nunca cura.

Enrolei dois dedos em torno da alça do meu café e trouxe a caneca para os meus lábios, suavemente soprando o vapor subindo do topo antes de tomar um gole cuidadoso. Mais uma vez, meus olhos examinam o jornal na mesa da cabine diante de mim — talvez desta vez eu realmente leia as palavras.

Eu vou colocar a caneca de volta para baixo, mas pouco antes de ele se instala de volta em segurança na mesa, o garoto sentado na cabine atrás de mim bate a cabeça contra a parte de trás do meu assento novamente. Algumas gotas caem da borda e sobre a mesa. Eu calmamente limpo-as com um guardanapo.

— Avery! — A mãe repreende. — Eu lhe disse para ficar quieto. Sinto muito.

Acho que o último comentário foi para mim.

Viro a cabeça apenas ligeiramente, não o suficiente para ver a mulher, mas o suficiente ela saber que a ouvi.

— Está tudo bem — eu digo e volto a ler o jornal.

Mais três vezes — além dos provavelmente dez outros antes daquela — o garotinho bate contra a parte de trás do meu assento, até que finalmente a mãe se apressa a sai com ele, pedindo desculpas novamente antes de ela se afastar com a mão de seu filho na dela. E mais uma vez, eu disse a ela que estava bem. O que eu não disse a ela, porém, é que eu, de uma forma estranha, me congratulo com o incômodo. Eu tendo a apreciar as coisas simples, e de outra forma irritante em vida depois de uma noite de torturar alguém, um menino inocente batendo a parte de trás da minha cadeira, sendo um menino, é uma boa mudança de atmosfera. Eu invejo este “Avery”. Que tipo de homem eu seria hoje se eu tivesse sido autorizado a jantar com a minha mãe e não me importar com o que o homem sentado atrás de mim pensaria com a minha cabeça batendo nas costas do seu assento? Talvez aquela pasta debaixo da mesa fosse preenchida com papel e um almoço embalado em vez de agulhas, facas, alicates, venenos e luvas de borracha. Talvez não haveria outra mulher no mundo que pudesse amar e me entender.

— Pronto para uma recarga? — Ouço uma voz doce dizer.

Olho para cima, puxando minha mente de volta para o momento, para ver a minha garçonete cujo nome lê “Emily” segurando um pote de café em uma mão.

— Não, obrigado.

Ela sorri para mim, um rosto de forma oval com lábios amáveis e olhos tipo avelã e pele de cor creme.

— Você vai pedido de sempre hoje? — Ela pergunta. — Dois ovos mexidos. Três fatias de bacon crocante e um copo de água com limão?

Eu olho para ela.

— Não, eu não vou tomar café hoje. — Eu olho de volta para o jornal.

O silêncio enche o espaço entre nós.

Finalmente, ela diz:

— Bem, talvez amanhã, então...

— Não, também não estarei aqui amanhã.

— Oh.

O silêncio começa a se esticar. Eu nunca olho para cima do papel.

— Bem, OK eu vou... deixá-lo para o seu café.

A garçonete chamada Emily, que tem sido minha garçonete todas as outras manhãs pelas últimas três semanas, começa caminhar, deixando sua personalidade brilhante no chão atrás dela.

— Espere — eu chamo em uma voz normal, e ela se detém para olhar para mim. — Eu uh... — Eu olho para a mesa, e então a minha caneca de café, e depois de volta para Emily — ... sim, eu acho que eu gostaria de ter o meu pedido habitual esta manhã.

Seu sorriso bonito retorna, seus olhos castanhos brilhando debaixo de seus cabelos marrom-dourados.

— Ótimo — ela diz balançando a cabeça, — Eu estarei de volta em alguns minutos.

Ela vem tentando falar comigo durante as duas semanas das três que eu vim aqui, mas eu sempre a evitei. Ela é linda, amável, doce e é precisamente por isso que eu não cedi a suas tentativas de conversa casual — ela não é o tipo de garota que eu poderia foder e ir embora, sem culpa por seus sentimentos feridos.

Não sei por que a parei.

Dez minutos depois ela volta com meu café da manhã com um prato em uma mão e um copo de água de limão na outra. Ela os coloca na mesa à minha frente enquanto eu afasto o jornal, dobrando-o e colocando-o no assento.

— Você trabalha aqui perto? — Pergunta ela, enquanto nota algo em seu tablet na palma da mão.

— Não — eu digo quando eu polvilhe pimenta nos meus ovos — estou apenas desfrutando do café da manhã. — E gosto muito do senso de normalidade que tomar café da manhã no mesmo restaurante todas as outras manhãs me dá, eu não digo em voz alta.

Ela rasga um bilhete e o coloca de face para baixo sobre a mesa.

— Bem, estou feliz por ser sua garçonete todas as manhãs — ela diz com um sorriso bonito que sugere algo mais.

Ela é tímida, mas ela está tentando ser corajosa e eu acho que é cativante.

O silêncio começa a se esticar novamente.

— Bem, desfrute da sua refeição — diz ela e então coloca o bilhete no bolso do avental.

— Obrigado — digo a ela e lhe dou um pequeno sorriso antes de voltar para a minha refeição.

Ela balança a cabeça e olha para o bilhete o tempo suficiente para eu pegá-lo. Sentindo como se ela quisesse que eu a olhasse antes de ela se afastar, eu o levo aos meus dedos e virei-o para encontrar um número de telefone escrito na frente, em vez da minha refeição ou quanto devo.

Ela cora sob seu sorriso.

— Você pode me ligar se quiser sair algum dia — seu rubor se aprofunda e só isso me intriga — isso é... se você for solteiro. Ou mesmo... interessado.

Ela está muito nervosa e ficando ainda mais enquanto mais ela fica ali e eu não digo nada.

— Quero dizer, você não é casado, tanto quanto eu posso dizer — ela olha nervosamente para o meu dedo anelar sem um anel — mas se você não está interessado...

— Você é uma mulher muito bonita — eu a cortei para que ela pudesse verter o arrependimento e a humilhação que ela começara a sentir. — E não, eu certamente não sou casado. Sou muito solteiro.

Ela sorri, com os lábios fechados. Noto outra garçonete de pé na caixa registradora, nos observando, e sorrindo. Ela olha para longe quando vê que eu notei.

Eu mantenho minha atenção em Emily.

— Você nunca perguntou a um homem antes, não é?

Seu rosto fica mais vermelho e ela mal pode olhar meus olhos mais.

— É tão óbvio? — Ela pergunta, enrugando seu pequeno nariz.

Eu deixei o sorriso em meus olhos tocar meus lábios mais.

— Sim, mas eu gosto.

Não dizemos mais nada por alguns segundos. Ela não consegue parar de sorrir e eu estou apenas confuso com a minha reação.

— Bem, eu tenho que voltar ao trabalho — ela diz e se vira sobre os calcanhares.

Eu aceno com a cabeça e então, pouco antes de ela ir embora, eu digo:

— Eu chego em casa às nove da noite. Eu ligo antes das nove e meia.

Eu acho que não pode machucar, pelo menos, falar com ela...

Seu sorriso de lábios fechados se ilumina, ela balança a cabeça e caminha até uma mesa onde dois novos clientes acabam de se sentar.

Eu como o meu café da manhã, coloco uma gorjeta grande sobre a mesa debaixo da xícara de café e depois saio em silêncio com a minha pasta na mão.


Perguntas para o leitor

Será que Izabel jamais contará a Victor o seu segredo? Ou ele vai descobrir por conta própria?


O que será de Dorian Flynn? Você acha que Victor deve levar Dorian em cima de sua oferta para trabalhar com a Inteligência dos EUA?


Será que o Niklas voltará à Ordem de Victor? Ele pode (ou deveria) perdoar seu irmão?


Que impacto você acha que Nora Kessler terá na Ordem de Victor, positiva ou negativa? E quanto a Izabel?


Será que Fredrik Gustavsson alguma vez encontrará o amor? Ou você acha que ele deveria ficar longe das mulheres completamente?


Você acha que Nora estava certa em dizer a Izabel que seu relacionamento com Victor está praticamente condenado?

 

 

                                                                                                    J. A. Redmerski

 

 

 

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