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Series & Trilogias Literarias
CAPÍTULO 20
“As oportunidades nunca são perdidas. Alguém sempre vai aproveitar as que você perdeu.”
William Shakespeare
CHARLOTTE
No primeiro momento, eu simplesmente petrifiquei. Não conseguia acreditar que ele havia ido embora. Não Alex, o meu Alex, que fazia o mundo girar ao contrário apenas para me agradar. Voltei para o quarto e aguardei. Aguardei tempo demais.
Não consegui dormir, nem me mexer, nem mesmo pensar em mais nada. O cheiro dele ainda estava naquela cama, e as lembranças da nossa última noite me torturavam.
Ele não ligou no primeiro dia. Eu tentava fazer com que minha cabeça não se fixasse tanto no telefone, até tentei não conferir as mensagens ou chamadas a cada minuto, mas era impossível e, sempre que eu entendia que ele não ligaria, meu coração parecia querer parar. Por causa da minha ansiedade, voltei a ficar atenta ao telefone, tomando cuidado para que estivesse sempre carregado e que todas as mensagens fossem conferidas.
– Você precisa sair, querida – meu pai anunciou, fazendo-me perceber que já estava sentada na sala por tempo demais.
– Gosto de ficar em casa – respondi sem vontade, folheando uma revista sem muito interesse.
– Thomas tem ligado? Ele nunca mais apareceu depois daquele dia. – Era perceptível a forma desconfortável como meu pai tratava o assunto.
– Algumas vezes. Nao estou a fim de outro porre, se é o que quer saber. – Fechei a revista e o encarei.
Eu queria que aquela conversa seguisse outro rumo, e meu pai sabia muito bem disso.
– Ele não deveria...
– Sou maior de idade, pai – tentei não parecer rude. – Thomas não pode ser culpado por ter me levado para beber.
– Com certeza não pode. – Ele me encarou durante um tempo. – Mesmo assim, não gostaria que aquela noite se repetisse.
– Por causa do Thomas ou por causa da bebedeira? – provoquei, tentando amenizar a conversa, mas ele não riu.
– Você é uma mulher casada, Charlotte. Não se esqueça disso.
Engoli em seco.
– Não esqueci, pai.
Ele concordou e relaxou.
– Lana ligou. Disse que um fotógrafo e uma maquiadora estarão aqui amanhã cedo para te preparar para a foto do livro.
– Lana ligou? Por que não ligou para o meu celular? – Rapidamente, o assunto Thomas foi esquecido.
– Ela disse que estava fora de área. Deve ser esta sala. – Ele sorriu e saiu.
– Espere, pai. Aonde o senhor vai?
– Ao orquidário.
– Por quê?
– Porque não quero passar o dia inteiro enfurnado nesta casa. – Ele se virou para seguir, mas voltou. – E também porque as flores estão morrendo. Acho que estou fazendo alguma coisa errada. Não deveria ter prometido a sua mãe que cuidaria delas. Tudo o que sei é tratar de doentes e administrar hospitais, não entendo nada de flores, terra... – Deu de ombros e saiu.
Ainda levei um tempo assimilando o que ele tinha dito. Primeiro, meu celular estava fora de área, então poderia ser este o motivo de Alex não ter entrado em contato. Segundo, meu pai estava arrumando um jeito de ficar longe da casa, da dor, dos problemas, e eu me trancava em minha própria dor sem me preocupar em ser uma companhia melhor para ele. Droga!
– Espere, pai! Eu vou com o senhor.
Corri para buscar a bolsa e, no caminho, tentei ligar para Alex, deu caixa-postal e, quando desci para encontrar o meu pai, ele já tinha partido.
No dia seguinte, acordei cedo, ajudei meu pai a regar as plantas, conversamos sobre algumas técnicas que ele havia aprendido, tomamos café juntos e minha mente me levava o tempo inteiro ao celular e na falta da ligação do meu marido.
O fotógrafo chegou mais tarde do que eu previa, então fui arrumada, maquiada, posicionada e fotografada de todas as formas possíveis. Eu sabia que aquelas fotos chegariam às mãos do meu marido, então fiz questão de cooperar e de ficar ainda mais bonita para ele, quem sabe, assim, ele não mudaria de ideia.
A quem eu queria enganar? Alex não mudaria de ideia. Ele já havia decidido e restava somente a minha decisão. Só que eu não podia. Ainda não. Na verdade, adicionado a minha insegurança, existia agora um medo de voltar e ser rejeitada. De ver Alex se afastar a cada dia e de ser forçada a aceitar que não era a mulher certa para ele. Que se cansaria de mim e, mesmo me amando como dizia, chegaria a um limite ou, quem sabe, já tivesse chegado.
– Alex ligou – meu pai informou enquanto conferia as correspondências.
Uma empregada se aproximou, entregando-lhe a medicação da hora.
– Não preciso disso. Vou ficar sonolento.
– O médico mandou tomar, Sr. Middleton. – A mulher, Jaciara eu acho, estendeu a bandeja na direção dele.
– Pai! – esbravejei e ele, como uma criança mimada, fez cara feia, mas tomou o remédio. – E depois fala que eu sou a infantil.
– Você é infantil, Charlotte. Culpa da sua mãe, que fez todas as suas vontades. – Ele sorriu, com certeza se lembrando de alguma situação nossa onde a mamãe sempre tomava meu partido.
– Alex ligou? – tentei não parecer muito ansiosa. – Por que não ligou para o meu celular?
– Ele disse que não queria atrapalhar a sessão de fotos. Perguntou como você estava e me informou a respeito do seu livro. Pediu para te informar que, ainda esta semana, você receberá a revisão final. – Ele parou de falar e voltou a verificar a correspondência.
– Ele não disse mais nada? – Conferi meu celular para me certificar se havia alguma mensagem. Além das de Johnny e Miranda, não havia mais nenhuma.
– Disse que o dia estava quente por lá e que pretendia sair da reunião a tempo de pegar umas ondas. – Fez voz “maneira” como se Alex fosse realmente aquele tipo de surfista.
Alex estava mesmo seguindo a vida dele, como havia dito. Eu não teria “todo” o tempo.
– Vou... – Indiquei as escadas e meu pai fingiu não prestar atenção.
Eu começava a acreditar que ele estava ansioso demais para se livrar de mim.
Subi já com o número digitado e acionei o aparelho assim que tive certeza de que estava mesmo sozinha. O telefone tocou insistentemente e ele não atendeu. Que droga! Entrei no quarto ainda aguardando que ele atendesse e, quando desisti e já ia desligar, ouvi sua voz do outro lado.
– Charlotte?
Coloquei o aparelho outra vez na orelha, implorando para não perder a ligação.
– É...! Oi! – Senti-me ridícula por estar tão encabulada pela ligação.
– Aconteceu alguma coisa? – Ele não parecia reagir como eu, muito pelo contrário.
– Não. Quer dizer... Meu pai falou que você ligou, então...
– Deu tudo certo com as fotos?
– Sim. Tudo certo. – O que era aquilo? Que conversa fria e sem sentimentos era aquela que estávamos tendo?
– Que bom!
E ficou um silêncio insuportável.
Tive vontade de gritar, dar uma de louca, atirar o telefone na parede e sumir. Aliás, um buraco negro poderia se abrir bem embaixo dos meus pés e me engolir, assim eu nunca mais precisaria passar por uma situação tão constrangedora.
– Eu tenho que desligar, Charlotte. Estava entrando em uma reunião importante quando recebi sua ligação.
– Ah! Certo! Não quero te atrapalhar, eu só liguei porque...
– Porque...
Como assim “porque”? Eu podia ligar quando quisesse, não? Éramos casados. Nos amávamos... Droga! Dava para ser mais fácil?
– Porque você ligou e eu achei que tivesse alguma coisa importante para me dizer. – Minha voz saiu fraca e cansada.
– Eu só queria saber como você estava e como foi com as fotografias.
– Tá! Deu tudo certo, como eu já disse.
– E você está bem?
Pensei em tudo o que eu poderia dizer. Poderia falar que não, que eu estava péssima, com medo de perdê-lo, sentindo-me sozinha, que me sentia ridícula tendo aquela conversa e que estava sofrendo, querendo-o de volta para a minha vida. Mas não foi o que eu fiz. Alex tinha razão, eu estava me vitimizando, então o mais correto era dizer que estava tudo bem, que eu seguiria firme e superaria todas as minhas perdas, inclusive a dele.
– Está, sim, Alex – respondi sem ânimo. – Está tudo bem. Obrigada por perguntar.
Ele fez silêncio.
Tive esperança de que dissesse que sentia a minha falta ou que ainda me amava. Qualquer coisa que me deixasse mais feliz. Alex não fez isso.
– Certo. Eu tenho mesmo que desligar, desculpe. Falo com você amanhã, pode ser?
– Claro, ficarei aguardando.
E desligamos.
Assim, passamos dois meses, uma semana, três dias, quatro horas e vinte e oito minutos. Esse foi todo o tempo que eu tive. Naquele último dia, eu fiz tudo da nova rotina que havia criado para mim. Acordei muito cedo, ajudei meu pai com as flores, tomamos café juntos, fingi ler algum livro na sala enquanto ele dava telefonemas no escritório.
Alex estava cada vez mais distante. Primeiro ele ligava todos os dias, conversávamos pouco, basicamente ele queria saber como eu estava e era tudo. Depois ele passou a ligar uma vez ou outra e, naquele dia, completávamos oito dias inteiros sem trocarmos uma só palavra.
Eu já estava conformada. Aguardava o dia em que o seu advogado me procuraria com os papéis do divórcio, o que não significava que não me sentisse um lixo. Eu tentava ser forte, seguindo fielmente a minha rotina, conversava com meus amigos, ria de alguma bobagem na TV quando, na verdade, minha alma chorava.
Não havia como culpá-lo. Alex era jovem, bonito, bem-sucedido, incrível. Era perfeitamente normal que descobrisse que eu não era tão interessante quanto ele acreditava, ou até mesmo se interessasse por outra mulher mais madura. Qualquer coisa que o levasse para longe de mim.
Mas ele te ama, sua burra!, uma voz dentro de mim gritava, pedindo socorro, implorando para que eu reagisse, para que não me conformasse em perdê-lo. Alertava que eu deveria lutar pelo meu marido. Lutar pelo quê? Ele já tinha decidido e ponto final.
Além do mais, meu pai não estava bem o suficiente para ficar sozinho. Havia os remédios com os quais ele continuava implicando, como um velho ranzinza. Como eu poderia ir embora e abandoná-lo? Não se tratava apenas de mim, eu tinha obrigação de estar ao lado dele. Nem Miranda se deu a este trabalho. Johnny até tinha aparecido, passou alguns dias e foi embora, mas eu, a sua única filha, não podia deixá-lo.
Thomas foi outro problema que precisei administrar. Lógico que ele apareceu lá em casa assim que percebeu que sua barra estava limpa e ficou sabendo que Alex tinha voltado para o Brasil. Foi como combustível em um incêndio.
– Preciso cuidar do meu pai, Thomas. Foi para isso que fiquei – dei a desculpa e me afastei rapidamente.
– Não estou vendo Peter por aqui.
– Você entendeu. – Cruzei os braços e desviei o olhar.
– Eu acho é que você está com medo do que Alex vai pensar. – E deu risada. – Nunca imaginei que você escolheria casar com uma versão mais moderna do Peter.
– Não seja ridículo, Thomas! Alex é...
Ele ergueu uma sobrancelha, me desafiando enquanto eu procurava a palavra adequada.
Fechei os olhos e ouvi o seu risinho de vitória. Mas o que Thomas não entendia era que, naquele momento, eu apenas sentia. A saudade me invadiu com mais força do que foi capaz de atingir nos últimos tempos. Eu queria ver seus olhos, apreciar aquele sorriso que me atiçava, sentir seus dedos em meu rosto quando me acalentava, seus braços fortes me envolvendo e me dando segurança...
– Eu o amo – disse baixinho sem realmente desejar revelar o que sentia.
Naquele instante, Thomas ou qualquer outro problema havia perdido a importância para mim. Eu sentia falta do meu marido e estava sufocando com isso.
– Alex é o meu sopro de vida. Você nunca vai entender porque não sabe o que é isso, Thomas. Nunca encontrou um amor de verdade.
Ele riu outra vez, apesar de eu ter percebido que o atingi com aquelas palavras.
– Você mal o conhece. – Ficou um pouco mais sério. – Sabe o que eu acho, Charlotte? Ficou encantada com o cara mais velho, o que tornou seu sonho possível, mas o que não enxerga é que você poderia ter feito tudo sozinha. Você é milionária, poderia bancar a sua produção no mundo todo, aliás, duvido que alguma editora não se interessasse pelo livro de Charlotte Middleton.
– Alex acreditou em mim, mas não é isso que o torna especial para mim.
E as lembranças do nosso primeiro beijo, da forma como ele me ollhava naqueles primeiros tempos, da sua paciência, a maneira como me respeitou, como me amou.
– Ele não se parece em nada com você – rebateu, me provocando.
– Você não o conhece. E ninguém precisa ser igual ao outro para ser um casal perfeito. Ninguém seria perfeito para mim. – Dei de ombros.
– Eu seria perfeito para você. – Olhei para Thomas e seus olhos estavam intensos.
– Thomas, você não...
– Nós somos idênticos, somos do mesmo meio, nossas famílias se adoram, nos conhecemos, seríamos muito mais adequados. – O rancor em sua voz era perceptível.
– O amor não é adequado.
– Você não o ama de verdade, Charlotte. Ele foi embora e você ficou...
O barulho na escada nos interrompeu.
– Pode deixar aqui mesmo. – Ouvi a voz do meu pai e virei em sua direção.
Ele estava com dois empregados descendo bagagens e acomodando-as na porta de casa.
– O que você está fazendo?
– O que deveria ter feito há muito tempo. Colocando você para fora.
Ele olhou para Thomas e o cumprimentou com um aceno de cabeça. Os olhos estavam desconfiados, mas ele sorriu divertidamente.
– O quê? – Olhei mais uma vez para as bagagens e identifiquei que eram as minhas malas. O que aquilo significava?
– Isso mesmo, Charlotte. Não quero passar meus dias vendo você definhar de amor, seguindo meus passos como se eu fosse um velho babão que não consegue dar dois passos sozinho. Quero que você vá embora.
Olhei para Thomas, que acompanhava tudo sem entender e depois voltei a olhar para o meu pai. Eu já entendia. Meu coração acelerado me dizia o que estava acontecedo de fato.
– Mas, pai...
– Seu lugar não é aqui. Alex já esperou demais. Você fez a sua parte. É uma ótima filha e eu te amo, mas seu lugar é junto de seu marido. Não vou assistir você jogar seu casamento fora.
Meus olhos encheram de lágrimas. Eu queria ir. A saudade me sufocava. Só que eu não podia.
– Ela não pode ser forçada a...
– Este assunto não é seu, Thomas. Charlotte escolheu Alex. Se conforme com isso. – E seu sorriso demonstrava o quanto estava feliz em poder dar aquela resposta.
– Eu não posso ir. – Minha mente dava giros e eu não conseguia pensar direito no que estava fazendo. – Não posso deixá-lo.
– Ora, Charlotte! Eu estou muito bem, obrigado! Então não venha com esta desculpa de que é por mim.
– É pelo senhor!
– Não é. Você está com medo e está fazendo a maior de todas as suas bobagens. Vamos lá, o avião não vai te esperar a vida toda, muito menos Alex.
– Pai! – gritei para pará-lo.
– Charlotte. – Ele segurou em meus ombros, me encarando com determinação. – Filha, você fez a sua parte. Eu estou bem, estou feliz. Eu e sua mãe deixamos as nossas vidas ajustadas e, apesar da falta que ela me faz, estou seguindo como prometi que faria. Você também precisa seguir. Você ama Alex. Está na hora de construir uma vida ao lado dele.
– Mas Alex não me ama mais. – Uma lágrima escapou pelo simples fato de dizer aquelas palavras em voz alta. – Eu não tenho motivo para voltar.
Captei o sorriso de Thomas e me senti envergonhada.
– Alex sempre vai te amar, filha. – Seus olhos eram tão ternos. – Ele é o homem ideal para você.
– Como pode saber?
– Apenas sei. Agora, vá. Você precisa chegar logo.
Fiquei alguns segundos aturdida, sem saber se deveria sair correndo por aquela porta, pois a proposta ofertada, a possibilidade de recuperar o meu casamento, de estar de volta a minha vida com o homem que eu amava, chegava a me fazer deixar de enxergar todo o restante. Ainda assim, eu temia. Me sentia uma traidora, uma filha ingrata, uma insensível.
Como eu podia pensar em mim, no amor que sentia por Alex, quando sabia que há tão pouco tempo meu pai havia perdido seu grande amor? Que ele ficaria naquela casa sozinho.
– Vamos comigo – supliquei. – Vamos tocar nossa vida lá do Brasil.
Ele sorriu e eu vi Thomas se afastar incomodado. Ele sabia que, mesmo após a sua declaração, eu partiria. Voltaria para Alex, se ele ainda me quisesse de volta.
– Ainda tenho muito o que resolver aqui – meu pai revelou com um sorriso triste. – E você tem muito o que resolver por lá.
– Bom, então eu vou... – Thomas começou, só que não demos muita atenção ao que ele dizia. Ele não era mais nada. – Boa viagem. – E deu as costas, deixando a sala.
– Por falar em coisas para resolver, quase esqueci disso. – Ele me entregou um envelope pardo com a logomarca da editora do meu marido.
– O que é?
– Chegou hoje cedo. Lana ligou avisando sobre esta documentação. É tudo o que você precisa para a viagem para a Alemanha.
– Frankfurt?
Ele fez que sim com a cabeça.
– Eu havia me esquecido.
– Parece que seu trabalho começa lá, então ela precisa que assine alguns documentos.
Meus olhos marejados não deixavam o rosto do meu pai. Eu sentiria falta dele.
– Lana disse que fazia questão da sua presença e eu confirmei que você iria. Não se esqueça de levar os documentos assinados.
– Assino durante o voo. – Minha voz embargada me impedia de falar com mais firmeza.
– Agora vá de uma vez. – Ele me empurrou para fora sem me deixar alternativa.
– Mas, pai, eu estou vestida assim...
– Você está linda. Muito parecida com a sua mãe. – Ele sorriu com emoção nos olhos.
Limpei as lágrimas e o abracei.
– Prometa que vai tomar os remédios.
– Eu prometo. – Ele me abraçou, afagando minhas costas.
– Que vai ligar todos os dias. Que vai passar muitos dias lá comigo.
– Claro que sim! Esta semana volto a viajar visitando os hospitais, então logo estarei por lá atrapalhando a sua vida de casada.
– Eu te amo, pai.
– Eu te amo, Lottie!
ALEX
Fechei a última pasta e perdi um bom tempo encarando a tela do computador. Respirar era difícil, caminhar era difícil, comer, dormir, viver, qualquer atitude normal era difícil.
A espera estava sendo maior do que havíamos previsto. Charlotte não reagiu, ela, mais uma vez, parou e deixou a vida passar. E, apesar de amá-la loucamente, eu a odiava cada vez mais por permitir que aquilo acontecesse com a gente.
Todos os dias eu me perguntava até onde eu seria capaz de ir. Até que ponto deixaria chegar? E se nunca chegasse ao ponto que eu esperava ansiosamente? Se ela nunca voltasse? Eu suportaria?
Uma semana desde que enviei o tão decisivo documento e nenhuma resposta. Preferi ficar distante, aguardando que ela me ligasse, que reagisse nem que fosse para me gritar e xingar, qualquer coisa que demonstrasse que ainda estávamos no jogo, mas não. Uma semana era tempo suficiente para que Charlotte tomasse conhecimento da minha decisão.
Cansado de esperá-la, arrisquei tudo e liguei para Peter. Eu sabia que ele colaboraria, que entenderia a minha decisão e me apoiaria. Apenas ele poderia me dar uma visão real do que acontecia com ela.
– Alex. – Sua voz baixa me alertava que não era um bom momento. Ou que ele não estava realmente de acordo, como eu havia imaginado.
– Atrapalho?
– Estou em uma reunião importante, mas pode falar. Aconteceu alguma coisa?
Pigarreei incomodado.
– Enviei uma documentação para Charlotte e não obtive resposta. Sabe me dizer alguma coisa?
– Ah, sim. Recebemos, sim. Charlotte já está ciente e de acordo. Ela já assinou e em breve estará com Lana.
Fechei a mão com tanta força que quase quebrei o telefone. Ela estava de acordo. Merda! O que eu fiz?
– Ela está de acordo? – Ouvi uma voz chamando por Peter e me dei conta de que não poderia sobrecarregá-lo com mais aquele problema.
– Sim. Para falar a verdade, achei que isso a deixou mais aliviada e decidida.
Um bolo se formou em minha garganta e precisei de muita força para impedi-lo de me sufocar.
– Tudo bem, Peter. Não vou mais tomar o seu tempo.
– Eu preciso mesmo ir. Ligue para dar notícias.
– Claro. Até mais.
Desliguei sem saber se deveria permanecer sentado ou se levantava para colocar aquele sentimento para fora. Meu Deus, então era isso, chegávamos ao fim e Charlotte se sentia mais aliviada e decidida? O que eu havia feito?
– Alex, tudo certo para... – Lana entrou em minha sala como um furacão, mas parou imediatamente. – O que aconteceu?
Olhei para a minha irmã sem saber o que poderia dizer. Como contar a ela que havia acabado? Como fazer funcionar um divórcio e o lançamento do livro da Charlotte? E como eu sobreviveria a isso tudo?
– Preciso sair.
Levantei em um rompante, ainda atordoado e sem saber para onde deveria ir. Que lugar do mundo conseguiria fechar o buraco em meu peito?
– Como assim? O que aconteceu? – Ela se aproximou preocupada.
– Depois eu falo. Agora preciso... – Olhei ao redor, peguei o celular, as chaves e saí.
Dirigir não surtiu o mesmo efeito de sempre. Eu não me sentia mais relaxado, não havia conseguido pensar em nada, nenhuma saída, nada que me ajudasse a reverter a situação. Nada. Minha mente era um oco repetindo a mesma frase: ela aceitou, aceitou.
Puta que pariu! Por que fui me deixar envolver a tal ponto com uma menina mimada que nunca soube o que fazer da própria vida? Como me permiti acreditar que ela mudaria, que era forte o suficiente para viver tudo o que eu sonhei para nós dois? E por que inferno me apaixonei logo por ela? Tantas outras mais compatíveis, mais adequadas, e eu quis justamente ela. Ela!
Sentia raiva da minha vulnerabilidade, da forma frágil como conduzi a minha vida, como me deixei levar por um amor que sempre soube que não daria certo?
Eu queria nunca ter me envolvido, nunca ter aceitado aquela brincadeira, nunca ter permitido que ela entrasse, bagunçasse e abandonasse a minha vida. Deveria deixá-la longe, distante... mas eu não pude. Nunca pude.
Porque Charlotte simplesmente me dominou. Ela não apenas mudou a minha vida, ela me fez viver. E, mesmo a odiando de verdade naquele momento, eu a amava desesperadamente.
Parei o carro em frente a minha casa sem nem me dar conta de que seguia aquele caminho. Nem o trânsito absurdo conseguiu ganhar a minha atenção. Entrei na garagem e saí do carro sem me dar o trabalho de trancá-lo. Acendi a luz da casa, olhando para os lados ainda sem saber o que eu fazia ali. Tudo havia se transformado em Charlotte. Meu mundo era ela.
Cansado, fui até a cozinha e procurei algo que me distraísse. Uma cerveja me faria relaxar, então abri a primeira e sentei em um dos bancos. Ela não saía da minha cabeça. O que estava pensando? O que estava fazendo? Se se sentia mais aliviada e segura, então estava saindo com Thomas? Com outros caras? Ela havia realmente desistido ou estava apenas magoada por eu ter participado daquela mentira?
Quando me dei conta, cinco garrafas long-neck estavam sobre o balcão, e meu corpo ainda não estava em melhor estado. A sensação de relaxamento não me atingia. Procurei mais uma e não encontrei, só que eu precisava de mais álcool. Sair para comprar estava fora de cogitação, então o jeito era encontrar outra coisa, qualquer substituto.
Meu celular tocou insistentemente, mas preferi ignorar. Não estava em condições de conversar com qualquer pessoa que fosse. Abri o armário e encontrei a tequila que havia comprado para ela, Charlotte. Peguei um copo e tomei um longo gole. Aquela merda ardia e queimava a garganta que nem o inferno, mas era assim mesmo que eu me sentia, queimando, de raiva, amor...
Bebi e minha cabeça girou. Um porre seria muito bem-vindo. Me faria esquecer por algumas horas, quem sabe tirar as minhas forças, me impedindo de pensar, para encontrar respostas que eu nunca encontraria? Bebi mais, como há muito não me permitia fazer e, em determinado momento, comecei a me sentir mais leve, sem muita noção do que acontecia ao meu redor.
Alguém tocou a campainha, ignorei, no entanto, a pessoa insistiu, então, sem raciocinar direito, levantei e fui até a porta. A casa girava, mas eu continuava de pé, ainda sentia o buraco em meu coração e a confusão em minha mente. Quem quer que estivesse por trás daquela porta não conseguiria mudar a minha realidade.
Olhei para a figura diante de mim, cabelos escuros, um pouco mais curto do que o habitual, óculos de grau pendurados sobre o nariz, uma roupa que não combinava muito com ela, mas quem era eu para saber o que condizia a Charlotte? Ela não era mais a mesma.
– Charlotte? – Pisquei algumas vezes com a imagem ofuscando a minha mente.
Ela riu. Não era o seu riso. Não parecia feliz. Fechei os olhos com força e tentei fazer minha cabeça parar de rodar.
– Pelo visto, não está sendo nada fácil.
A voz também não era a dela. Abri os olhos, mas eu só conseguia ver seus cabelos escuros, lisos e os óculos. O sorriso parecia menos amplo, mas a brancura dos dentes era a mesma. Ri. Como comparar a brancura dos dentes de alguém?
– Você voltou? – E eu me senti ridículo fazendo aquela pergunta.
– Alex. – Ela suspirou. Charlotte sempre suspirava. – Acho que você está precisando de ajuda. – Ela se aproximou no exato momento em que a porta escapou das minhas mãos. – Cuidado!
Não senti o calor do seu corpo, apesar de ter consciência da sua presença bem próxima. Ela estava mais alta ou eram os saltos? Saltos. Charlotte estava usando coisas como estas nos últimos tempos. Eu preferia os seus tênis. Eram mais parecidos com ela.
– Charlotte.
Tentei encarar a minha esposa, minha mente girava, não me deixando enxergar com clareza. Vi quando ela ajeitou os óculos e riu baixinho. Charlotte sempre ria baixinho.
– Você voltou para mim – constatei enlevado.
Porra, como eu podia estar tão bêbado naquele momento? Ela não merecia ter que cuidar de mim no momento em que eu deveria cuidar dela.
– Me perdoe, amor.
Segurei seu rosto, ela tentou se desvencilhar.
– Alex, não...
– Eu amo você, Charlotte. Não me abandone.
Precisei segurá-la com mais força, pois não sentia o meu equilíbrio, e acho que acabei apertando a sua mandíbula forte demais. Ela gemeu e tentou tirar a minha mão.
– Desculpe! Eu não deveria ter pedido o divórcio. Desculpe.
– Você... pediu o divórcio? – Sua voz baixa me alertou para alguma coisa que eu não conseguia identificar.
Charlotte não parecia aborrecida. Era como se a surpresa a deixasse... feliz?
– Você quer isso? Foi o que veio me dizer?
– Não! – ela sussurrou rápido demais. – Quer dizer... Alex, espere. – Desvencilhou-se outra vez quando tentei beijá-la. – Você está bêbado. Não sabe o que está fazendo. Venha, vou te ajudar a deitar.
– Eu estou bem.
Mesmo assim, deixei que ela me conduzisse pelas escadas.
Fiquei olhando seu rosto atentamente. Tinha algo diferente que me intrigava, mas eu estava bêbado, tonto e ansioso demais para tentar descobrir o que era. Precisava recuperar a minha esposa o quanto antes. Fazê-la ver que nós dois precisávamos ficar juntos, que eu a amava, que só fiz aquilo para que ela voltasse. Ela tinha que me entender.
Senti a cama em minhas costas e depois Charlotte se afastar. Gemi enjoado. O perfume dela não era o mesmo, ou era e eu estava bêbado demais para notar?
– Amor, fique comigo. – Segurei seu braço para que ela não se afastasse. – Eu amo você. – Levantei, sentindo tudo girar, eu precisava fazê-la entender. – Não se afaste – supliquei e ouvi seu gemido.
Sim, ela me queria e eu só a queria.
Segurei sua cabeça para que nossos lábios ficassem próximos. Eu necessitava daquela mulher. Tanto tempo longe, sonhando com a sua volta, com o seu jeito, com o nosso amor. Porra, eu precisava fazê-la entender.
– Alex, não...
Mas eu a beijei mesmo assim.
CAPÍTULO 21
“Os homens deviam ser o que parecem ou, pelo menos, não parecerem o que não são.”
William Shakespeare
ALEX
Charlotte resistiu no começo, parecia assustada, em dúvida se deveria mesmo me beijar, mas logo em seguida se entregou. Não foi o beijo que eu esperava, tinha alguma coisa diferente, mas, porra, era Charlotte e eu precisava dela.
Com certeza, ela estava assustada, afinal de contas, eu estava bêbado, estava sendo insistente, despejando nela todos os nossos problemas de uma vez só. Seria natural a minha esposa se assustar, tentar recuar. Eu não podia permitir, por isso aprofundei mais o beijo, exigi a sua boca, a sua entrega e ela se rendeu com um gemido de prazer que me atiçou ainda mais.
Deitei Charlotte sobre a cama, puxando seu vestido para que seu corpo ficasse livre para mim. Ela colaborou puxando a minha camisa. Suas unhas correram minhas costas e novamente tive aquela sensação estranha, mas não parei muito para pensar nela. Eu estava ávido por Charlotte, precisava estar dentro dela o quanto antes.
Chutei os sapatos para longe enquanto ela tentava tirar minha calça, senti sua mão ansiosa empurrando minha cueca para baixo, se apossando do meu pau sem a familiar inocência ousada da minha esposa. Ela também estava com saudade, também me queria avidamente. E eu seria dela como nunca havia sido.
– Alex! – ela gemeu quando mordi seu pescoço.
O tom da voz não era o correto, mas quem se importava com a intensidade da voz quando estava vivendo o momento mais incrível da sua vida? Ela estava de volta, para mim e por mim.
Puxei seu sutiã, deixando os seios livres e rapidamente abocanhei cada um deles, chupando com tanto tesão que ela gritou. Não era o que normalmente acontecia, mas eu gostei mesmo assim. Seus seios estavam maiores, não cabiam em minha mão, como eu gostava de constatar, no entanto, este detalhe não ganhou a minha atenção, minha cabeça girava tanto, me deixando confuso e incapaz de raciocinar.
Meu único pensamento era que Charlotte estava ali comigo, nós transaríamos e, no dia seguinte, ficaria tudo bem. Eu estaria sóbrio e poderíamos conversar. Ali, naquele momento, eu queria apenas estar dentro dela, matar a saudade que sentia, deixar claro o quanto a amava e estava arrependido de cada passo dado desde que deixei a Inglaterra.
Enquanto eu ainda brincava com seus seios, desci uma mão e puxei a sua calcinha. Minha perna estava enroscada na calça, que insitia em não sair, ou eu não tinha equilíbrio suficiente para tirá-la. Charlotte me empurrou para o lado e, muito afoita, tratou de arrancar a calça e minha cueca. Recuperado do movimento rápido, que fez minha cabeça girar a toda velocidade e depois fazer o caminho de volta à velocidade da luz, peguei minha esposa pelas pernas e a deitei de volta no colchão. Ela deu um gritinho que não se parecia com os seus.
Eu estava confuso demais. Talvez sexo não fosse uma boa ideia. Parei sem conseguir respirar corretamente, o esforço me fazia engasgar, mas ela retirou a calcinha, que já estava no meio das suas pernas, e me puxou para o seu centro. Olhei minha esposa nua sem conseguir focar realmente em seu corpo. Minha cabeça era uma confusão só. Parei mais uma vez e ela me puxou com mais vontade, posicionando-me entre suas pernas.
– Charlotte, eu...
– Shhh! – ela me calou com um beijo, que me dividiu em dois.
Havia tanto desejo naquele beijo que poderia facilmente me fazer perder o fio da meada, no entanto, estava tudo muito estranho, muito diferente que me impelia a parar e esperar que minha cabeça voltasse ao normal. Charlotte não deixou.
Sua mão procurou meu pau. Era uma palma quente e esperta, se fechou em mim com sabedoria e iniciou o movimento de masturbação que me fez deitar o rosto em seus seios e gemer como um menino inexperiente. Porra, o que aquela menina conseguia fazer comigo?
Completamente entregue, alisei seu corpo, apalpando seus seios e sugando-os com vontade. Minha mão desceu, procurando seu sexo úmido, decidido a deixá-la pronta para mim. Me deparei com um sexo que não era o que eu realmente esperava. Charlotte se mantinha lisinha desde que descobriu o quanto me agradava, contudo, naquele corpo havia pêlos. Não grandes, nem nada que fosse absurdo, pelo contrário, eram bem tratados, baixinhos e concentrados em apenas um espaço. E estava tão úmida que me fez esquecer mais uma vez de qualquer detalhe estranho.
– Quero você – eu disse, abandonando seu seio e afundando meu dedo em seu sexo.
Ela gemeu, rebolando de leve, apenas para se permitir sentir. O prazer que escapava dos seus lábios era de saudade, de espera e de satisfação. Não esperei uma resposta, levantei o corpo e entrei nela sem nenhuma dificuldade. Alguma coisa estava errada. Parei, respirei e me mantive imóvel até que minha cabeça parasse de girar. Eu precisava do mínimo de equilíbrio mental para continuar.
Charlotte me segurou com suas pernas e rebolou ao me receber. Caralho! Aquilo foi tão gostoso! Foi quente e fez com que eu me afundasse ainda mais naquela loucura toda. Eu arremeti com força, sentindo meu corpo enrijecer e me indicar que não me seguraria por muito mais tempo. Podia sentir minhas células pedindo por alívio, no entanto, alguma coisa estava muito fora do lugar. Recomecei a investida, tudo parecia estranho demais. O toque, os gemidos, o conforto e o calor do seu sexo... tudo.
E então minha mente clareou, sugando minha respiração. Como se estivesse brincando comigo, afastou a nuvem que confundia os meus olhos. O quarto, de repente, não estava mais tão escuro. A luz do poste entrava pela cortina aberta, revelando nossos corpos nus. E então eu finalmente enxerguei e fiquei estupefato.
– Tiffany? – Minha voz quase não conseguiu sair quando constatei a realidade.
Ela abriu os olhos se dando conta de que finalmente eu descobrira.
– Alex! Não!
E mais uma vez a nuvem negra que me cegava e me entorpecia desceu sobre mim, me afundando de vez.
***
“Alex! Não!”
A voz entrou em meu sonho, como se estivesse me trazendo de volta à realidade. Abri e fechei as mãos sentindo-as como se fosse a primeira vez depois de muito tempo. Respirei fundo, sentindo a boca seca e a ânsia de vômito. Me movimentei incomodado.
“Alex, por favor, não!”
O choro foi tão real que me fez abrir os olhos. O quarto estava parcialmente iluminado. O silêncio me alertava de que ainda era muito cedo. Minha cabeça girou sem conseguir separar o que era real do que era sonho... ou pesadelo.
Senti o movimento e fiquei em alerta, sentando rapidamente.
– Puta que pariu!
Minha cabeça girou e a ânsia de vomitar quase fez com que eu perdesse o jogo. Respirei fundo e voltei a abrir os olhos.
Ela estava lá. Acuada em um canto, com o lençol protegendo-a, estava uma Tiffany assustada, os olhos vidrados em mim, como se desejasse que eu não tivesse acordado.
– Tiffany? – Eu estava muito confuso. Minha mente me confundia, não me deixando entender o que havia acontecido. – O que...
– Eu já estou de saída. – A voz embargada chamou a minha atenção e um flash de memória quase tirou meu ar.
– Tiffany, o que aconteceu?
Não precisava ouvir sua resposta, pois eu sabia o que tinha acontecido. Eu estava bêbado, mas não o suficiente para ter amnésia. O pouco que minha mente me mostrava era o suficiente para me deixar enojado. Levantei, sem me dar ao trabalho de me cobrir, e fui o mais rápido possível para o banheiro. Tive que vomitar na pia. Minha cabeça latejava.
Puta que pariu!
Encarei o espelho e vi quando Tiffany começou a se vestir. Ela fez uma careta quando precisou levantar os braços para colocar o vestido. O vestido, merda! Virei para ela e vi a marca roxa em seu seio. Fechei rapidamente os olhos sem conseguir acreditar no que minha mente me mostrava.
O que eu havia feito?
– Tiffany, eu... – Dei um passo vacilante em sua direção e ela se encolheu. Notei o rosto inchado, não somente pelo choro, mas por... Deus! – Eu não queria...
– Eu só preciso ir embora, Alex.
Ela não me encarava. Vi quando se encolheu quando passou a mão no ombro e sentiu a mordida clara que estava ali.
– Santo Deus, o que eu fiz? Nós precisamos conversar.
Novamente, me aproximei e ela tentou fugir de mim. Fui mais rápido, segurando-a com força em meu peito.
– Por Deus, Tiffany, nós precisamos conversar.
– Não. – Ela chorou copiosamente.
Abracei seu corpo frágil, mantendo-a perto e tentando apagar da minha mente o que ela insistia em mostrar. Acariciei seu cabelo. Eu precisava disso. Precisava mostrar para mim mesmo que eu não era aquele monstro.
– Alex, por favor, me deixe ir.
E a lembrança daquela mesma frase dita com mais desespero fez minhas pernas fraquejarem.
– Droga, Tiffany! – rosnei com raiva de mim mesmo e outra vez ela se encolheu amedrontada. – Eu não vou te fazer mal. Por favor, não faça isso – implorei, sentindo que meu corpo não aguentaria.
Ela fungou e finalmente levantou o rosto, revelando claramente o quanto tínhamos ido fundo. Fechei os olhos sem querer acreditar.
– Por que você deixou acontecer? – tentei não ser rude para não assustá-la ainda mais. – Por que não me impediu?
Seus olhos diziam tudo. Ela queria que eu estivesse com ela, mesmo acreditando que fosse outra pessoa. Merda! Até onde Tiffany iria por amor? Pelo que ela acreditava ser amor?
– Eu só quero ir embora. – Ela sorriu fraco, como se quisesse me transmitir segurança. – Podemos conversar melhor em outro momento.
Meus braços ainda a envolviam e ela parecia gostar disso. Me afastei um pouco, sentindo, pela primeira vez, vergonha pela minha nudez.
– Tudo bem. – Fui até a cama e puxei o lençol, procurando algo que me assustava mais do que os hematomas de Tiffany. – Nós usamos camisinha?
Ela me olhou alarmada, depois desviou o olhar, negando com a cabeça.
– Merda!
Joguei o lençol sobre a cama e encontrei minha cueca. Sentei na cama, segurando a cabeça entre as mãos. Era muita merda para uma noite só.
– Você ainda toma remédio?
– Sim. – Sua voz fraca demonstrava frustração.
O que ela estava pensando?
– Alex... – Tiffany se aproximou, mantendo uma distância segura. – Eu não vou contar. Juro! Não vou usar isso como arma contra você. Quando Charlotte voltar...
– Ela não vai voltar. – E a realidade me atingiu como um tiro. Meu ar ficou mais pesado e meus pulmões protestaram. O buraco ainda estava lá, imenso, me esmagando e me sufocando. – Ela... assinou o divórcio.
O silêncio me fez levantar a cabeça. Tiffany me encarava com receio, mas a alegria que a novidade lhe causava era nítida. Senti raiva. Muita raiva. Dela, de mim, de Charlotte...
– Não quero que seja um incentivo para você, Tiffany. O que aconteceu ontem... – Respirei fundo. Droga! Aquela merda nunca deveria ter acontecido. – Não vai voltar a acontecer. – Olhei para ela sem conseguir evitar a dureza das minhas palavras. – E você deveria ser grata por isso.
Vi o quanto ela ficou magoada, mas eu estava com razão. O que Tiffany estava pensando? Como ela pôde?
– Alex... – Mais um passo em minha direção, o que fez meu corpo todo enrijecer. – Eu não ligo. – Havia tanta dor em sua voz que tive vontade de... não.
Nunca mais eu poderia fazer o que fiz.
– Vá embora, Tiffany.
Levantei, vestindo minha cueca.
– Fuja enquanto ainda há tempo. – A ameça em minha voz deixava clara a presença da raiva, a mesma que senti quando descobri que era ela e que me levou a agir com tanta violência.
– Eu não vou fugir – rebateu. – Eu não ligo se você transa comigo pensando nela.
– O que está dizendo? – Deixei a raiva extravassar.
Ela recuou.
– Deixei acontecer, Alex. Tentei impedir no início, então acabei permitindo. Eu sabia que era nela que você pensava, quis mesmo assim.
– Você só pode ser louca – gritei incapaz de me conter. – Eu quase te matei – cuspi as palavras, sentindo o quanto minha mente repudiava minha atitude e o quanto conseguia afetá-la.
– Você não teve culpa – tentou me convencer, o que só contribuiu para aumentar mais a minha raiva.
Andei decidido até Tiffany e a segurei pelos ombros.
– Eu não quero que isso aconteça outra vez. Para seu bem, para o bem da sua integridade, desapareça, Tiffany. Fique longe de mim, pelo amor de Deus!
– Eu não ligo – choramingou.
– Vá embora! – gritei e bati a porta do banheiro atrás de mim. Desejei veementemente que, com essas palavras, ela entendesse nossa realidade.
Sentei no chão do banheiro sentindo minha cabeça girar, fazendo com que a ânsia de vômito voltasse. Merda! Eu odiava vomitar, odiava ficar bêbado, odiava não ter controle sobre meus atos, odiava o monstro que me tornei por causa disso tudo. E odiava Charlotte pelo que ela havia feito comigo.
Apesar de tudo, ainda a amava como se não restasse mais nada para mim no mundo. As lágrimas desceram com facilidade e eu me senti um merda por me permitir chorar. Tudo continuava lá, a realidade que me atirava ao fundo do poço, o divórcio assinado que chegaria a qualquer momento, a certeza de que não havia mais volta. Tudo estava lá para me assolar, me derrubar e me destruir.
Eu não queria que continuasse assim. Não queria mais ser um fraco. Eu vivi para Charlotte nos últimos meses, estava na hora de voltar a viver por mim. Fiz tudo o que foi possível, perdoei todos os seus deslizes, justifiquei todas as suas infantilidades, e para quê? Para ela me abandonar, desprezar o meu amor, me esquecer e seguir em frente, ficar aliviada com o divórcio.
Limpei o rosto, afastando as lembranças. Eu sabia o que precisava fazer. Primeiro, cuidaria da minha ressaca, depois daria seguimento a minha vida como se Charlotte Middleton nunca tivesse existido. Sairia para surfar, almoçaria fora, conheceria outras garotas e transaria com todas elas, obviamente sem beber, sem deixar chegar ao que aconteceu com Tiffany. Transaria com cada mulher que eu desejasse, até que nenhuma lembrança restasse.
Era o que eu faria.
CHARLOTTE
Ok. Até o momento eu sabia que precisava descobrir uma forma de voltar para Alex, só não tinha coragem nem de cogitar a ideia. Sentia-me culpada ao pensar em mim esquecendo que meu pai precisava da minha ajuda, então, por isso e por achar que minha mãe só descansaria se meu pai estivesse bem, fiquei com a vontade retida e aceitei o gosto amargo de perder o homem que eu tanto amava.
Também tive que aceitar e entender que eu me esquivava das situações onde precisava decidir minha própria vida. Não sei se por que a única certeza que eu tinha era em relação a minha carreira, porém eu entendia que parte desta minha conduta era pelo fato de nunca me sentir inserida em nada, como se não pertencesse àquele mundo. Como se eu não fizesse parte de nenhum cenário.
Apesar de ser bonita, eu não gostava de chamar atenção, então os carinhas nunca me notavam. Era inteligente, sem nunca ter feito parte do grupo de xadrez. Era rica, embora detestasse qualquer coisa superficial relacionada ao dinheiro. Eu simplesmente não me encaixava. Então permitia que as pessoas que eu amava decidissem por mim, pelo menos, com isso, eu me sentia parte de algo.
Foi assim com o meu casamento. Não era um arrependimento. Claro que não! Eu amava Alex e não tinha dúvidas disso, no entanto, me sentia sufocar quando parava para pensar na ideia de dividirmos uma casa, muito mais do que algumas horas, uma vida inteira.
Ao mesmo tempo, pensar na forma como tudo aconteceu, no amor que ele me dedicava, seu jeito tão perfeito de ser comigo, se esquecendo, inclusive, dele mesmo, me dava a certeza absoluta de que estávamos no caminho certo.
E daí se mal nos conhecíamos? E daí se eu não sabia a história de vida dele? E daí se Alex se sentia desconfortável com todo o dinheiro que fatidicamente eu herdaria? Nós nos amávamos, o que significava cinquenta por cento do caminho que teríamos que percorrer. Além do mais, eu abriria mão de uma vida ao lado de Alex simplesmente porque não conseguia ultrapassar os meus limites? Deixaria de viver cada segundo com ele só porque não tivemos tempo para ser namorados? Não. Eu nunca abriria mão de Alex Frankli.
Minha mãe tinha toda razão. Não importava se tivemos cinco dias, cinco meses ou cinco anos, importava apenas que meu coração o reconheceu como o amor de uma vida inteira, ou até mais, de uma eternidade. E foi pensando assim que peguei um táxi de volta a nossa casa tão logo desembarquei. Foi com esta certeza que parei a sua frente e, com a mesma intensidade, entrei naquela casa que havia sido palco de toda a minha felicidade.
Alex não estava lá, o que não me preocupou. Ele estava trabalhando, mesmo sendo sábado, afinal de contas, havia dedicado um bom tempo aos meus problemas, acumulando todo o seu trabalho. Então, após matar a saudade de cada detalhe, de imaginar como seria o nosso reencontro, sentei no sofá e aguardei.
Não demorou muito. Meu coração acelerou quando ouvi o barulho do portão eletrônico abrindo para dar passagem ao meu marido. Poucos minutos depois, ouvi a sua voz. Alex falava com alguém, provavelmente ao telefone. Quando a porta abriu, senti como se o próprio ar tivesse evaporado.
– Não vou demorar, vou só deixar estas compras.
Ele entrou com os braços segurando duas sacolas de papel com alguns produtos aparecendo. Sem perceber minha presença, caminhou até o balcão da cozinha, depositando as sacolas sobre ele. Usava uma bermuda descolada e uma camiseta um pouco justa. Os cabelos molhados e a cor bronzeada denunciavam que estivera na praia, provavelmente surfando. Mas seu rosto exibia uma expressão cansada. Um tanto quanto sofrida.
Levantei, alisando o vestido prensado e arrumando o cabelo. Não imaginei que teria a surpresa que tive. Não mesmo.
A risada dela chegou aos meus ouvidos antes mesmo que meus olhos captassem sua imagem. Uma mulher morena cor de jambo, um corpo magro e perfeito, usando shorts curtos e uma camiseta cor-de-rosa revelando o biquíni. Seus cabelos negros desciam até a cintura e também estavam molhados. Ela ria e ele sorria amplamente para ela.
Pensei que não suportaria. O que eu estava pensando? Que Alex me esperaria a vida toda? Que não encontraria alguém menos confuso e egoísta, menos infantil e, definitivamente, menos medroso? Eu estava enganada e a verdade estava ali, sendo esfregada na minha cara.
A garota foi a primeira a me ver, seu sorriso se desfez e ela deu um passo para trás, só então percebi que eles estavam muito próximos, como um casal ou como dois adultos com interesses sexuais. Algo dentro de mim se partiu em tantos e minúsculos pedaços que me perguntei se algum dia em minha vida conseguiria me recuperar daquela rasteira. Alex só me viu depois que seguiu o olhar da garota. Seu primeiro momento foi de surpresa e, em seguida, embaraço.
– Charlotte? – Passou a mão no cabelo e se afastou um pouco mais da garota, como se fosse realmente necessário.
Eu já tinha entendido tudo.
– Charlotte? – a garota repetiu, como se cobrasse uma explicação.
Um segundo se passou antes que eu pudesse reagir. Um segundo, que significou toda a minha vida.
CAPÍTULO 22
“Aprendi que são os pequenos acontecimentos diários que tornam a vida espetacular.”
William Shakespeare
CHARLOTTE
Passei a mão no cabelo, observando a cena diante de mim, ciente de que bastava apenas uma centelha para que eu explodisse. Ainda ri baixinho, nervosa, com raiva e ansiosa demais para disfarçar toda a minha dor.
Como Alex era cretino, sacana, escroto... E aquela mulher? “Charlotte?” Desdenhei do seu jeito de falar em minha mente, esforçando-me muito para não desabar em lágrimas na frente daqueles dois escrotos ou, o que era mais provável, arrancar o fígado de Alex com minhas próprias mãos.
Mas eu estava de volta e decidida a salvar o meu casamento. Queria provar a Alex que foi apenas uma fase ruim e que eu era, sim, capaz de ser a mulher da sua vida.
Eu demorava a tomar uma decisão, mas, quando tomava, ninguém conseguia me persuadir a desistir. Eu sabia o que queria e não seria uma vagabunda de praia que levaria o meu marido de mim.
Arqueei os ombros, encarei os dois cretinos decidida a matar Alex assim que conseguisse expulsar aquela mulher da minha casa.
– Charlotte Frankli, a esposa. – Estendi minha mão em sua direção com o sorriso mais provocante que já consegui ostentar em toda a vida.
Ela me olhou com curiosidade, as sobrancelhas unidas, avaliando minha atitude. Mesmo assim, segurou em minha mão e me cumprimentou como deveria.
Era tão ridículo aceitar apertar a mão da amante do meu marido. Aquele Judas.
– E você seria...?
Mantive meus olhos firmes nela, enquanto captava um Alex ansioso demais, mal sabendo o que fazer com as mãos. Seria uma situação bem interessante se não fosse eu a vítima.
– Eu sou...
Alex segurou no braço da garota, impedindo-a de falar. Ele simplesmente estreitou os olhos e fez um gesto com a cabeça para que ela não me passasse nenhuma informação.
– Charlotte, esta é Aline, uma amiga. Você não avisou que viria.
Assim. Frio, distante, grosseiro, um perfeito exemplar de um filho da puta.
– Não sabia que precisava avisar meu marido que estava voltando para nossa casa. Principalmente quando ele mesmo afirmou estar me esperando.
Ok. Não houve como esconder a minha emoção quando falei isso. Minha voz saiu esganiçada e a raiva que eu sentia fez com que meus dentes se recusassem a cooperar. Gostaria de poder matar Alex. Queria poder matar aquela garota.
Ele recuou, perdendo, nem que fosse só uma parcela mínima, a sua postura altiva de senhor da autoridade.
– Só estou querendo dizer que não sabia que você viria. Digo... hoje. Não depois do que Peter me disse.
Como assim? Sacudi a cabeça, me negando a desviar a atenção do fato. Aquela maldita mulher na minha casa, ansiosa para fincar as garras no meu marido.
– E por isso resolveu que era o momento ideal para trazer uma... – Olhei a garota com todo o desprezo que sentia. – Amiga.
– Olha, Charlotte... – ela começou, novamente Alex a interrompeu.
– Aline, esta é Charlotte, a minha... – E ele me deu aquele olhar curioso, como se quisesse entender o que eu fazia ali. Pela milésima vez em minha vida, eu me senti excluída. Doeu. – Esposa? – Os olhos estreitos sinalizavam que ele não tinha mais tanta certeza.
– Uau! – Ela arqueou a sobrancelha e riu um pouco.
– O que foi? Ele não te contou que era casado? – Ela abriu a boca para responder, no entanto, fui mais rápida. – Aposto que não. – Sorri, sentindo meu equilíbrio desaparecer. – Não é de se estranhar, pelo que posso perceber do nível de amizade de vocês, não deve haver muita conversa nem confissões, não é?
– Charlotte! – Alex tentou me deter.
– Posso até apostar que quando ele te catou na praia... sim, porque não deve ter sido algo muito trabalhoso, ou complicado. Acredito até que um simples convite tenha sido o suficiente...
– O que está fazendo, Charlotte?
Ele segurou em meu braço, visivelmente nervoso, mas eu já tinha perdido o que restava da minha dignidade. Eu até poderia juntar a minha vergonha na cara e sair de lá por cima da situação, agora não existia mais esta possibilidade. O fio que mantinha meu equilíbrio emocional havia se rompido.
– Não toque em mim, seu cretino. – Com esforço, consegui me livrar de suas mãos. – Nem esperou o meu lado da cama esfriar para colocar uma vagabunda nela.
Pensei que a garota ficaria ofendida, isso não aconteceu. Ela riu alto e se afastou, observando a cena. Alex ficou furioso comigo. Eu pude ver pela maneira como ele me olhou, quase explodindo, mas tentando se segurar. Só que, além da fúria, havia algo mais. Havia uma vergonha que o fez recuar, como se eu tivesse ido direto ao alvo.
– Você me disse que ela era mimada e infantil, porém o que estou vendo aqui é uma mulher defendendo o seu território. – Os olhos da garota brilharam e minha vontade era de arrancá-los da cara dela.
– Você o quê?
Alex, outra vez, recuou com o meu grito.
– Você disse a uma... uma... uma vagabunda de praia que eu era mimada e infantil?
– Charlotte, não...
– Cale a boca, Alex Frankli! – gritei já totalmente transtornada. – Como teve coragem de usar este argumento para comer uma mulher qualquer? Como pôde passar por cima da minha dor, do meu sofrimento, apenas para conseguir sexo?
– Pare! – Ele tentou me deter e eu me afastei enojada demais.
Não consegui chorar, todo o meu sofrimento ficou retido pela raiva.
– Quer saber? Eu me enganei a seu respeito. Pode ficar com ele, Aline. Vocês se merecem.
Tentei recuperar um mínimo de dignidade e sair daquela sala, daquela casa, daquela situação tão ridícula, absurda... Sair da vida dele. Juntar todos os mínimos pedaços nos quais me parti desde que Alex adentrou naquela sala, e tentar, da maneira que fosse possível, me reconstruir.
No entanto, Alex não me deixou passar.
– Charlotte, espere. Você...
– Bem que você disse que ela também tinha uma veia dramática muito forte – a garota provocou.
– Aline! – Alex a recriminou enquanto tentava impedir a minha passagem.
Parei imediatamente. O que aquela garota ridícula estava falando a meu respeito? O que ela achava que conhecia de mim? E como Alex conseguiu ser tão cretino em tão pouco tempo? Como pôde me expor, me ridicularizar... eu o odiava. Preferi odiá-la mais. Por isso virei em sua direção decidida a resolver aquela situação.
– O que você disse?
– Que você está dramatizando.
– Por quê? Porque peguei meu marido com uma cadela como você? Olha, garota, nem vou me dar ao trabalho de acreditar que você seja capaz de compreender o que está acontecendo aqui. Assim como não vou subestimar a minha inteligência me convencendo de que ele precisou deste ou de qualquer outro argumento para te levar para a cama. Mulheres do seu nível não se importam com quem vão transar, muito menos precisam de justificativas. Alex pode ter dito a você todas estas asneiras, ele só esqueceu de te informar sobre um pequeno detalhe.
– É mesmo? – Ela sorriu, me olhando com os olhos arregalados. – E o que seria?
– Charlotte, não... – Mas foi tarde demais.
– Que eu sou louca – gritei, me jogando na direção dela.
Não queria parar para pensar em que daria aquela briga. Se eu bateria ou apanharia. Somente queria sentir seus cabelos em minha mão enquanto os arrancava do couro cabeludo, sua pele morena se desfazendo em minhas unhas, seus ossos se quebrando com os meus golpes. Eu queria sangue.
Não foi o que aconteceu.
Antes mesmo que eu conseguisse acertar o primeiro golpe na garota, mãos fortes agarraram minha cintura e me levantaram. Um muro maciço de músculos e carne se colocou entre nós duas e manteve-me longe daquela cobra que, apesar de ter muita coragem para me dizer aquelas coisas todas, não teve para se defender.
– Você está maluca? – Alex gritava enquanto tentava me conter.
Eu nem tenho coragem de descrever o meu estado. Mesmo com ele na minha frente, impedindo meus passos e recebendo meus golpes para defendê-la. Só sei que eu gritava e me debatia. Uma perfeita desequilibrada.
– Charlotte, pare! – Ele me segurou com força.
– Ah, Alex! Olha só você. Quem está sendo infantil agora? – ela gritou visivelmente divertida.
Senti tanto ódio. Tanto mesmo. Foi tanto que chorei. Minha dignidade não existia mais, minha coragem desceu pelo ralo. Eu estava humilhada. Terrivelmente humilhada. Ele não só tinha me trocado por qualquer uma, mas também tinha dito coisas terríveis a meu respeito. Tinha destruído minha imagem. Destruído a nossa história. Havia matado a minha vontade de amá-lo.
Sim, ele matou a minha vontade de amá-lo. Porque a minha capacidade nunca morreria. Eu amei aquele cretino. Amei o cara errado. E estava pagando o preço por ter sido tão burra.
Alex ainda me segurava enquanto eu chorava e respirava com dificuldade. Não tive coragem de olhá-lo. Não queria ver em seus olhos mais nenhuma das suas acusações. Eu só queria ir embora. Apenas isso.
– Eu vou embora – anunciei ciente de que minha voz não era mais nada.
– Charlotte... – ele tentou, mas eu não queria ouvir.
– Por favor, Alex! Não fale mais comigo.
– O quê? – Ele me segurou com mais força, tentando alcançar os meus olhos.
Aline riu baixinho.
– O que está dizendo? Vai dar uma de criança e ficar de mal comigo?
Mordi os lábios para não ter que enfiar a mão na cara dele. Não valeria a pena.
– Não. Vou ser madura e entender que você não vale a pena. Acabou.
– Charlotte, você está sendo... como assim acabou? Você assinou... eu não estou entendendo. Você é...
– O quê? – falei com raiva. – Infantil, criança, imatura, insegura, dramática. Quer saber? Vá se foder!
– Charlotte! – ele me repreendeu visivelmente abalado e me soltou como se meu xingamento o tivesse ferido.
– Vá. Se. Foder! – falei mais alto. Aliás, eu gritei mesmo. – Seu puto! Seu cretino! Mentiroso! Seu...
– Ai ,meu Deus! – Aline se aproximou de nós dois e eu recuei, ciente de que poderia outra vez atacá-la. – Alex, acabe logo com isso – ela disse séria pela primeira vez no dia. – Estava divertido, agora já passou dos limites.
Ele se afastou mais um pouco. Quando o olhei, senti mais raiva ainda. Alex estava com as mãos nos bolsos, encarava o chão visivelmente sem graça. Era a típica criança pega pelos pais após aprontar alguma coisa.
– Tudo bem que vocês dois estão tendo problemas – ela continuou. – E que você, Charlotte, bateu o recorde de infantilidade...
– Pegue a sua opinião e enfie na...
Ela levantou um dedo em minha direção, o que me fez calar.
Aline não estava mais divertida, muito menos cínica. Não estava tentando me provocar. Mais parecia uma mãe dando bronca nos filhos do que a amante do meu marido que estava adorando ver o circo pegar fogo.
– E você, Alex... Pelo amor de Deus! Não está sendo mais maduro do que ela.
Ele nada disse, continuou de cabeça baixa sem coragem de nos olhar diretamente, aceitando a bronca que levava.
– Deveria ter mais respeito pelo momento que Charlotte está enfrentando.
– Você provocou – ele rebateu.
– Apenas porque queria saber até onde ela poderia ir por você. E também porque sei que, se Charlotte fosse realmente uma menina mimada, uma garota infantil como descreveu, você não teria se apaixonado, ok? Não seja egoísta enxergando apenas o seu lado da situação.
– Espere um pouco – interrompi sem conseguir suportar aquele discurso todo. – Do que está falando? Que conversa é essa?
Ela olhou para mim e depois para Alex, suspirou e disse:
– Nós somos realmente amigos, Charlotte. Apenas amigos, se isso lhe interessa.
Não dei o braço a torcer tão fácil, mas confesso que meu rosto começou a ficar vermelho, acusando-me.
– Não é mesmo, Alex?
Ele me olhou rapidamente, tão envergonhado quanto eu e encostou-se na parede, passando uma mão do cabelo até o pescoço.
– Alex?
– É verdade – admitiu com a voz fraca. – Aline é minha amiga. – Engoliu com dificuldade.
– Ah, me poupem disso... – tentei rebater.
Ela continuou.
– Nós somos melhores amigos, garota! Somos amigos de infância.
Ele continuou calado, ficando cada vez mais constrangido. O motivo? Eu não fazia a mínima ideia.
– E por que eu nunca ouvi falar de você?
– Não sei. Vai ver Alex não é realmente este bom moço. – Ela cruzou os braços e estreitou os olhos, acusando-o.
Ele sorriu fracamente, ainda sem graça.
– Ou ele é um babaca que se envolve com as alunas, mas... Ele é meu amigo.
– Certo. – Respirei fundo, levantando as mãos, pedindo um tempo. Era coisa demais para tentar assimilar. – Vocês são amigos, eu entendi. E daí? Vai me dizer que foram namorados na adolescência, que viveram juntos o primeiro amor, que passaram um tempo longe, que agora se reencontraram e querem recuperar o tempo perdido. É isso?
– Charlotte, eu... – Alex tentou, mas o mínimo contato com a voz dele já me deixava mais irritada.
– Tá legal! Eu não quero mais ouvir explicações. Vocês até podem ser amigos, mas amigos também ficam, também transam e, principalmente, podem se descobrir apaixonados algum dia.
Ela revirou os olhos e sorriu.
– Pelo amor de Deus! Você é mesmo maluca, garota! – disse, sorrindo daquela maneira que tanto me irritava.
Se eu fosse um pouco mais forte, dava um soco na boca daquela menina.
– A culpa é dele.
Alex não respondeu.
– Para mim, já deu. Aproveitem a noite. Eu estou caindo fora.
Alex desencostou da parede e ia me segurar, então Aline me deteve com uma simples frase.
– Eu sou lésbica – revelou, fazendo com que todos congelassem naquela sala.
Ok! Vou recapitular. Eles entraram carregando compras. Alex disse que não demoraria muito, ela ria de alguma coisa, eles se olharam de uma maneira um tanto suspeita... puta merda!
Eu tinha xingado a garota de tudo quanto era nome ofensivo e ela era somente a melhor amiga de infância e, além disso, lésbica. Lésbica! Ou seja, não era amante do meu marido.
Puta merda!
Eu queria morrer.
– Não faça essa cara, Alex. Isso não é novidade para você – ela disse, se divertindo. – Charlotte, se eu tivesse que entrar nesta briga, com certeza não seria pelo Alex. – Arqueou uma sobrancelha e sorriu largamente.
Soltei o ar que estava preso em meus pulmões desde o momento em que Alex entrou naquela sala. Puta merda, puta merda! Caminhei até o sofá e sentei, sentindo o chão girar. Fechei os olhos e abaixei a cabeça, enterrando o rosto nas mãos.
– Charlotte, você está bem? – ele perguntou preocupado.
– Está vendo no que dá provocar ciúme de uma esposa maluca? – Aline provocou.
– Dá um tempo, Aline – ele esbravejou e ela riu.
– É só descarga de adrenalina, Alex. Charlotte deve estar com o corpo começando a relaxar com a descoberta de que você não está comendo ninguém. Pelo menos não está me comendo.
– Puta que pariu! Você não mudou nada. – E ele se afastou, sumindo.
Não olhei para saber do seu paradeiro, apenas continuei do jeito que estava.
– Alex é um grande homem, Charlotte, mas merecia uns tapas por ter te sacaneado assim. Eu tentei contar, ele não deixou. Você viu!
– Eu estou ouvindo, Aline. Dá para não complicar ainda mais a minha situação?
A garota riu e eu simplesmente não consegui descongelar.
Ouvi barulho na cozinha e deduzi que Alex buscava alguma coisa que pudesse me socorrer. Bom... Ele deveria estar correndo, porque, quando eu colocasse minhas mãos em Alex Frankli... senti que lágrimas quentes desciam pelo meu rosto, e não tive vontade de secá-las.
Merda! Era uma mistura de tudo. Raiva, indignação, humilhação, alívio... sei lá. Eu podia matá-lo. Ah, se podia!
– Aqui, Charlotte. Beba um pouco de água – ele disse muito próximo.
Levantei o rosto e encontrei seus olhos preocupados me avaliando.
Que belo filho da puta! Depois de me fazer acreditar que estava transando com outra mulher, que havia desrespeitado a nossa casa, nossa cama... que tinha me trocado... agora estava ali, parado na minha frente como o bom rapaz que era, preocupado com a minha saúde mental, a mesma que ele não teve nenhum cuidado de tentar não foder minutos antes.
– Não quero água. – Afastei o copo. Minha cabeça era uma confusão só. Eu entraria em parafuso, com certeza.
– Charlotte, não seja teimosa – ele disse sem perder a paciência.
– Eu disse que não quero a merda da água.
– Tá. – Alex levantou aborrecido, deixando o copo com água sobre a mesinha de centro. – E o que você quer, então?
Olhei meu marido com ironia. O que eu queria? Contava o que eu queria? Contou alguma vez? Era só: Charlotte faça assim, não seja infantil, comporte-se como uma pessoa madura.
Eu estava cansada! Mesmo assim, respirei fundo e levantei. Sem nada dizer, fui até a cozinha e peguei o litro de tequila que eu sabia estar no armário. Era importada e havia sido comprada há pouco tempo. Provavelmente após o nosso casamento, pois Alex sabia que eu gostava. Notei que ela estava pela metade e não me importei com este detalhe.
Peguei um copo e sentei em um dos bancos altos da bancada da cozinha. De longe, Aline me acompanhava, se divertindo com a situação, e Alex me olhava sem acreditar no que eu faria.
– Vai beber? – perguntou já me recriminando.
Apenas olhei para meu marido, fazendo minha melhor cara de poucos amigos, e entornei o copo de uma vez só. Senti a garganta queimar, o que foi ótimo, pois não me permitiu pensar em mais nada. Completei o copo, olhei para Alex de novo e, em uma atitude de rebeldia, bebi todo o líquido de uma vez só.
– Essa é das minhas – Aline riu se aproximando.
Pensei que meu corpo não suportaria.
ALEX
– Essa é das minhas.
Vi minha amiga se aproximar de Charlotte e tive medo do que a maluca poderia aprontar daquela vez. Minha esposa, ou ex-esposa, eu já não sabia mais, estava enfurecida. Aliás, somente uma vez vi Charlotte reagir tão mal quando confrontada e foi justamente no dia em que eu disse que não aprovaria o trabalho dela, e então estávamos casados, em crise e eu fazendo mais merdas para destruir o casamento.
Puta que pariu! Ela tinha voltado, não tinha? O que eu estava pensando quando decidi fazer ciúme em minha esposa usando a minha melhor amiga? Por que fui tão inseguro e infantil? E por que droga Peter não ligou avisando que ela finalmente decidiu voltar? Por que me fez acreditar que tudo havia acabado? E... merda! Ela nunca poderia desconfiar do que aconteceu na noite anterior. Eu nunca esqueceria, não havia como, mas teria que lutar com todas as armas para esconder aquela verdade de Charlotte.
Eu não podia perdê-la. Queria entender o que realmente aconteceu. O que ela havia assinado e se sentido relaxada? O porquê de estar ali depois de ter recebido o divórcio. Eram tantas perguntas, mas eu só conseguia me concentrar nela, no enjoo que o cheiro de álcool me causava e na situação em que ela estava se metendo bebendo sem nenhum cuidado.
Não dava para ignorar a ironia da situação.
– Vá com calma, Charlotte.
Ela segurou a garrafa em resposta ao meu pedido.
Seus olhos já indicavam a perda de foco. Merda! Tequila é muito forte, principalmente para alguém como Charlotte. Eu era o maior de todos os exemplos. Respirei fundo e Aline riu. Novamente, Charlotte bebeu de uma vez. Aonde aquilo iria parar?
Merda!
Álcool era a última coisa que eu queria naquele final de tarde.
– Aline – ela começou. – Eu sei que fui grosseira e que tentei quebrar a sua cara em vários pedaços. – A voz começava a enrolar, mas ela ainda estava séria e segura. – E sei que esta não é a melhor maneira de tratar a melhor amiga do meu marido, o que não vai me incomodar nunca mais, já que você é lésbica.
Aline sorriu amplamente e eu fiquei sem graça. O que significava aquilo?
– Mas você poderia nos dar licença?
– Claro! Eu nem podia demorar tanto. Alex, eu só preciso do álbum – falou sem se sentir ofendida.
Aline sempre foi o tipo de pessoa desencanada. Até mesmo quando assumiu sua sexualidade. Ela chegou e disse: sabe a Caroline, aquela garota que você ficou na semana passada? Pois é, fiquei com ela ontem. Assim, sem mais nem menos. Eu gostava dela do jeito que era e até agradeci por não haver interesse de ambas as partes, só achava que assumir este lado lhe causaria problemas.
Até nisso ela se deu bem. Assumiu sem perder sua meiguice, muito menos sua feminilidade, como ela dizia e, poucas vezes, precisei dar uns socos em alguém por tentar humilhá-la ou desrespeitá-la.
Depois ela foi embora para estudar em uma faculdade no Canadá. Trocávamos mensagens, ligávamos sempre que possível. Eu fui visitá-la em algumas oportunidades e ela veio poucas vezes ao Brasil durante esse período. Se apaixonou, sofreu, sumiu por um ano inteirinho e agora estava de volta e cheia de novidades. Estava amando de novo e iam se casar. Sem contar que a garota escolhida estava grávida, ou seja, Aline seria mãe, o que era maravilhoso.
Fui até o meu escritório e peguei um álbum que tinha mandado fazer logo que comecei a carreira no meio editorial. Um acúmulo de fotografias que contavam a nossa infância, adolescência e uma pequena parte depois de adulto, já quase sem a minha amiga, mas com Lana, Patrício e João Pedro, sem contar outros amigos que sobreviveram à nossa jornada de trabalho.
Eu tinha dado um igual para Aline quando a visitei há alguns anos. Ela havia adorado, mas, de uma forma bastante misteriosa, que nem ela mesma sabia explicar direito, o dela desaparecera, por isso precisava do meu. O cerimonial contratado para realizar a festa do casamento pedira fotos e ela não conseguia pensar em outras que não fossem aquelas.
Era sobre isso que conversávamos quando chegamos em minha casa e encontramos Charlotte me aguardando. Claro que antes, quando nos encontramos na praia, conversamos muito sobre nossas vidas, o que havia mudado, como nos sentíamos, essas confidências que só os amigos entendem.
Lógico que levei um bom tempo contando a minha saga ao lado da mulher com quem escolhi casar. Desabafei mesmo. Contei, inclusive, sobre Tiffany, sobre as merdas que fiz na noite anterior, sobre a dor que eu estava sentindo com o divórcio.
Minha relação com Aline era assim, podíamos ficar anos longe um do outro, porém, quando nos encontrávamos, era como se nenhum dia tivesse passado. Ela brincava sobre eu ter engordado e eu dizia que ela continuava gostosa, depois riamos e iniciávamos uma conversa mais madura, onde sabíamos que poderíamos contar sempre com o apoio do outro.
Voltei para a sala em tempo de ver as duas entornando mais um copo. Aline riu e Charlotte encostou a testa no tampo do balcão, já visivelmente alterada. Puta que pariu!
– Está aqui. Tome cuidado, este é filho único de mãe solteira. E eu o quero de volta.
– Deixa de ser fresco. – Tirou o álbum de minha mão já descendo do banco. – Vejo você depois?
– Bem depois. Tenho coisas para resolver.
– Que absurdo. Não se faz mais amigos como antigamente. – Bateu em meu ombro com o álbum e riu.
– Eu cresci, Aline. Tenho responsabilidades.
– Estou vendo. – E olhou discretamente para Charlotte, que encarava o copo sem prestar atenção em nós dois.
– Vou cuidar dela.
– É melhor cuidar. Vai que aparece alguma amiga lésbica... – E riu com vontade.
Eu também dei risada.
Quando adolescentes, eu e Aline nos vimos em uma disputa ridícula por causa de uma garota por quem nem eu nem ela morríamos de amores. Foi infantil, inconsequente e divertido. No final, nós dois conseguimos, e a amizade ficou ainda mais forte. Só que isso não aconteceria com a minha esposa. Além de sermos adultos agora, não brincávamos com nossos sentimentos. Aline respeitava o meu espaço, assim como eu o dela.
– Diga a João Pedro que estou na área. – Ela piscou, andando em direção à porta. – E manda um beijão para a Lana.
Minha amiga tinha uma queda pela minha irmã, o que assustava João Pedro consideravelmente. Nós nos divertíamos muito com isso, e Aline costumava pegar no pé dele todas as vezes que estávamos juntos. Lana, como sempre, se envolvia na brincadeira e deixava o marido furioso.
– Digo, sim. Aquele filho da puta vai ter que pagar os maus momentos que costuma me fazer passar.
– Tchau, Charlotte! – ela gritou da porta.
Minha esposa fez um gesto vago com a mão e simplesmente entornou a garrafa no gargalo.
– Puta que pariu! – reclamei.
– Este é um problema para o superprofessor Frankli – ela brincou, indo embora.
Fechei a porta e encarei a minha esposa. Merda! O que eu iria fazer com Charlotte tão bêbada?
CHARLOTTE
Oh, droga! Eu havia esquecido o quanto tequila era forte. Mesmo depois de um quase porre um pouco antes de Alex ir embora da Inglaterra.
Naquele momento, minha única preocupação era descobrir como fazer as coisas pararem em seu devido lugar. Pisquei várias vezes para conseguir foco e avistei Alex meio distante, me olhando com uma cara estranha. Engraçada, para ser mais sincera.
Procurei o copo e não o encontrei, por isso passei a beber direto da garrafa. Fazer o quê? Minha vida estava uma merda. Eu tinha estragado tudo enquanto me fechava em minha dor. O filho da puta do meu marido conseguiu me fazer ficar pior quando resolveu me fazer ciúme usando a amiga lésbica.
Merda! Eu chamei a garota de vagabunda e disse que qualquer um catava ela na praia. Comecei a rir descontroladamente.
– O que é tão engraçado? – Ele se materializou ao meu lado.
Me assustei com sua aproximação tão súbita, mas consegui segurar a garrafa, que ele tentou tirar de minha mão.
– Eu chamei sua amiga lésbica de vagabunda. – Não vi como ele reagiu ao que eu falei, pois parei para tomar mais um gole. – Disse que qualquer homem poderia catá-la na praia. – E desatei a rir novamente e, ao mesmo tempo, comecei a chorar.
– Você deveria parar de beber. – Ele tentou mais uma vez alcançar a garrafa.
– Não me diga o que devo fazer – rebati irritada.
Uma raiva acumulada durante muito tempo. Uma que apenas eu sabia que existia. Uma que me revoltava e, ao mesmo tempo, me tolhia. E Alex conseguiu alimentá-la.
– Você está sendo infantil mais uma vez. – Sua voz não era dura, embora tenha soado como a de um pai. Ri.
– Por que você não vai para o inferno?
Alex se assustou com a minha resposta.
– Aliás... – Peguei a garrafa e levantei do banco, contornando o balcão, com muita dificuldade, é verdade, mas conseguindo tomar a direção que me levaria até a porta de casa. – Por que vocês não vão todos para o inferno?
– Charlotte!
– Eu quero que você, meu pai, Johnny, Miranda, Lana, Aline, Tiffany, Anita e até mesmo a minha mãe, se explodam e me deixem em paz – gritei, sentindo a cabeça latejar e meu estômago revirar. – É sempre a mesma coisa: Charlotte, não seja infantil; Charlotte, vista-se adequadamente; Charlotte, não fale palavrão; Charlotte, siga este caminho; Charlotte, case; Charlotte, não perca a virgindade. QUE MERDA!
Ele recuou, deixando-me passar. Os olhos assustados não passaram despercebidos por mim, como eu já tinha deixado a fúria transbordar e não dava para voltar atrás. Minhas pernas fraquejaram. Os malditos saltos não colaboravam. Alex conseguiu me segurar a tempo, mas eu me desvencilhei dele e tirei os saltos, jogando-os longe.
– Vocês se acharam no direito de decidir por mim. Desde sempre. Eu era a garota frágil, a garota fraca, a garota boazinha, temente aos pais, que concordava com tudo e com todos. Foi só o que pude ser. Nem mesmo quando me tornei adulta me permitiram escolher. Decidiram tudo o tempo todo. Charlotte pode até fazer faculdade fora, mas terá que levar Miranda e Johnny junto; Charlotte pode ser escritora, mas terá que escolher um marido que possa cuidar da sua vida e da sua herança; Charlotte pode morar sozinha, mas precisa continuar virgem; Charlotte precisa de experiências, mas não serei eu a fornecê-las; Charlotte pode melhorar o livro dela, mas terá que se contentar com migalhas; Charlotte pode perder a porra da virgindade, mas terá que casar em dois dias; Charlotte pode ter uma festa de formatura, mas precisará entender que escolhemos esconder a doença da mãe dela, porque ela não podia escolher desistir dos seus planos; Charlotte pode sofrer a perda da mãe, mas não pode ser infantil e nem escolher o que fazer da própria vida. Charlotte é um grande saco de merda! Uma idiota! Uma cretina! – Chorei e ri ao mesmo tempo sem saber como tantas emoções podiam me dominar.
– Charlotte...
– Não toque em mim. – Solucei, sentindo o corpo inteiro tremer. – Eu estou cansada. Esgotada. O que vocês acham que eu sou? Uma boneca? Uma marionete? Uma pessoa incapaz de tomar as próprias decisões sem que precisem me acusar, me ameaçar, me amedrontar? Acham que podem realmente me acusar o tempo inteiro de infantilidade? De não ter maturidade para encarar as coisas que acontecem em minha vida? Não conseguem enxergar que esta redoma que colocaram ao meu redor, e que até hoje fazem questão de sustentar, mesmo que disfarçada com ameaças, que no fundo não passam de mais decisões que vocês tomam por mim, apenas me impede de crescer?
– Charlotte, você está alterada. Por que...
– Eu estou sofrendo, merda! – gritei sem permitir que ele me tocasse. – Em pouco tempo, eu descobri que tudo o que construí foram castelos de areia, que na verdade nunca tive nenhum direito sobre mim, que apenas me preocupei em ser a garota que todos desejavam que eu fosse, seguindo o curso, me enganei e me deixei ser enganada.
– Amor...
– E você ainda acha que podia me enganar me fazendo acreditar que tinha um caso com a sua amiga lésbica.
– Dá para parar de falar dela desse jeito?
– Como? – perguntei confusa e precisei me amparar no sofá.
– Como a minha amiga lésbica.
– E não é o que ela é?
– Você a está rotulando, Charlotte! E isso é feio.
Ri da forma como ele falou. Não. Eu gargalhei.
– Ops! A garotinha fez mais uma besteira. Foi mal! – Um arroto forte chegou até minha garganta e minha cabeça latejou. – Acho que não vou ter direito a sobremesa.
Não olhei para o meu marido, mas tenho certeza de que ele revirou os olhos com a minha rebeldia.
– Você não está em condições de conversar.
– Não, professor Frankli, você não está. Eu não sou uma garotinha que obedece às suas ordens, que endeusa as suas atitudes, que segue as suas orientações, até porque o que vi hoje não te faz mais maduro do que eu.
– Eu também erro, Charlotte.
Ele estava em algum lugar que não pude ver porque meus olhos se fecharam por tempo demais. Até que senti suas mãos em mim.
– Pare com isso, Alex. Sou maior de idade.
– Você está bêbada.
– “Você está bêbada” – desdenhei, repetindo sua fala. – E agora? A garotinha infantil está bêbada, simplesmente porque não suporta mais ser a garotinha infantil.
– Charlotte, venha aqui – ele disse manso. – Deixe-me ajudar – tentou, mais uma vez sem sucesso, pegar a garrafa de minha mão. – Se embebedar não vai ajudar em nada.
– Até parece, Alex Frankli. – Ouvi minha voz e nem acreditei que ela saiu tão embolada. Tentei sair, esbarrei no sofá e acabei subindo nele. – Quer saber? Agora só faço o que eu quero e, a partir de hoje, Charlotte Middleton é uma garota infantil, mimada e rebelde. A imprudente.
– É Frankli – ele me corrigiu, falando um pouco mais alto. – Charlotte Frankli. Você ainda está casada comigo. – Não entendi o porquê da sua afirmação com tanta veemência.
– Estou? – Estreitei os olhos, tentando enxergá-lo melhor. – Oh, estou! Vou me lembrar disso da próxima vez que você mentir para mim, seu traidor! – Bati em seu ombro quando ele se aproximou, me impedindo de cair do sofá. Nossa, eu estava mesmo tonta.
– Charlotte, eu vou cuidar de você. Venha.
Alex me segurou com força, como quem segura uma criança muito levada. Não tive forças para lutar contra. Meu mundo desmoronava diante de mim e digo isso literalmente, pois eu não conseguia mais sentir o chão, nem enxergar nada corretamente.
– Não preciso que cuide de mim. Não sou mais criança. – Mesmo assim, deixei que ele me abraçasse e assumisse o controle.
– Eu sei que não é – disse com a maior paciência, acariciando meus cabelos e me prendendo em seu peito.
Desta vez, ele conseguiu pegar a garrafa e afastar definitivamente de mim.
– Não sou infantil. – O choro voltou com força. Eu não conseguia mais lutar contra ele.
– Não? – Sua voz pareceu divertida. – Não, você não é. – E começou a me embalar.
– Eu só não sei conduzir muito bem as situações quando estou sob pressão. Foi coisa demais para assimilar. Mal descobri toda a mentira, tive que me conformar com a doença da minha mãe e, logo em seguida, com a sua morte. Você não sabe o que é isso. Não pode saber como dói, como tira o meu chão. Eu sinto a falta dela, Alex.
– Eu sei – sussurrou.
Seu tom amigável e seus dedos acariciando meu couro cabeludo me faziam querer falar sem parar e, ao mesmo tempo, me faziam querer deitar, dormir e esquecer.
– Não, você não sabe.
– Eu sei, Charlotte. Também já perdi uma pessoa importante.
Afastei-me para olhá-lo, exatamente nesta hora aconteceu o que eu deveria saber que aconteceria, no entanto, minhas parcas experiências não me permitiram evitar. Simplesmente, foi mais forte do que eu, me abaixei sem forças, vomitando tudo, inclusive a minha vida, nos pés do meu marido.
Puta. Merda!
CAPÍTULO 23
“Os covardes morrem várias vezes antes da sua morte, mas o homem corajoso experimenta a morte apenas uma vez.”
William Shakespeare
ALEX
Deixei Charlotte na cama, depois de fazê-la tomar um banho decente. Lógico que, primeiro, ela conseguiu vomitar na sala, no corredor, na escada, no quarto e no banheiro, sempre com um “Alex, me perdoe por isso”. Era inacreditável.
Mas o que eu poderia esperar de alguém como Charlotte? Abusei da sua capacidade, estiquei a corda até o limite e ainda não sabia se ela tinha partido ou não. Sem contar a enorme merda que fiz motivado pela confusão na nossa comunicação. Ela nunca me perdoaria.
Só chorava, falava da mãe, dizia que ninguém a entendia e que eu tinha ido embora. E, claro, falava da minha amiga incrivelmente linda e lésbica, além de debochada. Também acrescentava que me odiava por tê-la feito acreditar que a estava traindo.
Se Charlotte sequer sonhasse com o que eu havia feito... o pavor me dominava a todo momento. Mas, neste caso, e eu não deixaria de ser um cretino por isso, negaria até que não restasse mais argumentos. Utilizaria tudo o que Tiffany já fora capaz de fazer para nos destruir e confiaria no amor da minha esposa por mim. Era só no que eu poderia me apegar.
Depois de muito chorar, me acusar, tentar se desvencilhar, sem mais nem menos, adormeceu em meus braços, quando eu tentava enxugá-la. Peguei minha esposa no colo, deitei-a na cama e a cobri com um lençol fino. Era a hora da limpeza.
Eu já havia tomado alguns porres, por isso me mantinha longe das vodcas e da tequila, pelo menos até um dia antes, quando fiz a maior de todas as merdas de toda minha vida. Deveria ter impedido que ela bebesse, mas Charlotte parecia sentir atração pelo proibido e ia direto em sua direção, e claro que ela encontrou exatamente a merda da tequila.
Seria cômico se não fosse trágico.
Depois de limpar tudo, apesar de me sentir um merda por ter que fazer este trabalho logo depois de eu mesmo ter feito a mesma coisa e ficado satisfeito, vendo a minha casa limpa e cheirosa de novo, entrei no banheiro e tomei um banho relaxante.
Que merda eu fiz!
Ouvir Charlotte falar tudo o que falou com a ajuda do álcool, cobrar o fato de as pessoas sempre decidirem por ela, me fez enxergar uma realidade completamente diferente. Era a mais pura verdade. Eu tinha feito exatamente isso. Desde que começamos aquela loucura, acabei chamando para mim todas as suas responsabilidades sem que a minha aluna tivesse me pedido.
Era uma necessidade inexplicável de defendê-la, de cuidar dos seus passos... E, assim como os outros, não vi que, na verdade, confiscávamos dela o direito de decidir por si mesma.
O porquê de ter agido assim? Como eu disse: era inexplicável. Principalmente porque Charlotte sempre se mostrou forte, decidida, madura... não foi esta a garota que eu conheci e pela qual me apaixonei? Não foi ela quem disse que conseguiria o seu objetivo e lutou por ele até o final? Então por que eu simplesmente, no seu primeiro momento de fraqueza, decidi que ela teria que amadurecer na marra e a empurrei até o seu limite?
Aliás, cheguei ao meu limite deixando que acontecesse o que aconteceu na noite anterior. Merda! Eu precisava esquecer, deixar passar e me concentrar na volta da minha esposa.
Por que simplesmente não permaneci ao seu lado, aguardando que ela conseguisse se encontrar e retomar a sua vida? Não havia sido assim comigo? De quanto tempo eu precisei? A única diferença é que, na época, eu tinha 17 anos, e não 21. Mesmo assim, comparando a minha vida com a dela, nada mais natural alguém como Charlotte ter o mesmo comportamento adolescente que tive mesmo estando em fase adulta, afinal de contas, ela vivia em um conto de fadas.
Porra!
Desliguei o chuveiro, coloquei shorts soltos e deitei-me com ela. Charlotte parecia morta, fria, dormindo como uma pedra, sem nem se dar conta da minha presença. Abracei seu corpo frágil e adormeci.
CHARLOTTE
Todos os sentimentos e dores chegaram ao mesmo tempo. Este é o preço da tequila. Você bebe para esquecer, suportar, relaxar, se divertir, e depois paga caro. Eu sempre soube, só nunca havia sentido. Não com tanta precisão. Então meu corpo despertou antes mesmo que estivesse preparado para isso.
Se houvesse um paraíso para os bêbados, este seria um lugar onde você dormiria até que seu organismo se restabelecesse, vinte e quatro horas, por exemplo, sem precisar sentir a dor de cabeça, a boca seca, o gosto de cabo de guarda-chuva na garganta, a dor de estômago e a ânsia de vômito. Não sentiria nada. Se recuperaria durante o sono e, quando acordasse, precisaria se preocupar somente com o que fez ou o que deixou de fazer por conta da bebida, pois não tem como ser absolvido de todos os pecados de uma tacada só.
Por isso, de repente, eu me dei conta de que o enjoo era muito mais forte do que o sono, e que a dor de cabeça com certeza me mataria. Abri os olhos para o quarto escuro por causa das cortinas fechadas. Ainda consegui alguns segundos para me situar.
Alex... Aline... Tequila... Puta merda!
E então me dei conta do seu braço pesado sobre a minha cintura e da sua respiração bem pertinho de mim. Eu estava em casa, na cama, com Alex. Merda! O que tinha acontecido?
Não consegui ficar muito tempo pensando. A vontade de vomitar foi mais forte do que qualquer necessidade de respostas. Corri para o banheiro sem a certeza de que conseguiria chegar, mas consegui. Abri a tampa da privada e despejei até a minha alma lá dentro. No mesmo instante, minha cabeça latejou e meu estômago protestou com a falta de algo para colocar para fora.
Logo, mãos fortes estavam em minha cabeça. Sim, eu não conseguia mais sustentá-la, corria o risco de enfiá-la na privada e morrer afogada no vômito. Mas aquelas mãos estavam lá. Seguraram meu cabelo para trás e sustentaram meu corpo até que estivesse mais calmo.
– Vá embora, Alex – reclamei.
Quem, em sã consciência, deixaria um homem como Alex Frankli assistir a um espetáculo bizarro como aquele?
– Não quero você aqui – tentei fazer com que ele me soltasse e fui surpreendida com mais vômito.
– Não é hora para orgulho, Charlotte.
Não consegui responder. Minha cabeça doía muito e meu estômago protestava, então me vi chorando baixinho, sem conseguir evitar.
– Merda!
Ele riu de maneira carinhosa.
– Se quer se embebedar, precisa aprender primeiro.
– Desculpe, perdi essa aula na faculdade.
Ele riu outra vez.
– Você perdeu muita coisa, menina – afirmou pensativo enquanto me levantava do chão frio do banheiro, ajudando-me a caminhar até a pia para lavar a boca e o rosto.
Meu corpo parecia feito de gelatina e eu me senti um bebê nas mãos dele.
Alex abriu a torneira. Peguei água e lavei a boca, jogando um pouco em meu rosto, que estava pegajoso com o suor devido ao esforço. Olhei minha imagem no espelho enquanto ele me passava um copinho de enxaguante bucal. Gemi ao constatar que estava incrivelmente horrível. Minha pele estava verde, olheiras estranhas em meu rosto, minha boca roxa e meu cabelo... nem quero comentar.
– Vai passar – comentou enquanto eu colocava o líquido ardente na boca.
Cuspi e não voltei a me olhar. Já tinha visto demais.
– Como está se sentindo?
– Péssima. Se pudesse, não olharia nunca mais para você.
E não olhei mesmo. Minha vergonha era imensa. Eu tinha feito todas as bobagens que uma mulher poderia fazer na vida. Deveria até me arriscar a escrever o livro Como fazer o seu marido te detestar em 30 dias e, nele, eu deveria incluir o pedido humilhante para que ele tirasse a minha virgindade e a cena que entraria para o top five quando eu vomitei em seus pés. Era tudo com o que uma garota poderia sonhar.
Dei as costas e praticamente me arrastei de volta para a cama, e só então me dei conta de que estava completamente nua. Puta que pariu! Dava para apagar as horas anteriores da minha vida?
Puxei o lençol, me perguntando por que não reparei em minha nudez quando me olhei no espelho? Vá entender! Voltei a deitar e a me cobrir, escondendo o rosto e desejando morrer naquele momento. Tudo em mim doía.
Depois de um tempo, completamente coberta e escondida do mundo, o silêncio começou a ficar estranho. Onde Alex estava? Puxei o lençol bem devagar, com medo do que poderia encontrar.
Ele estava lá, sentado na poltrona, os cotovelos apoiados nos joelhos e as mãos escondendo o rosto. Não sabia se ele estava sofrendo ou cansado. Cansado era o mais provável, já que, com certeza, eu dei mais trabalho do que facilitei as coisas quando decidi encher a cara. Droga!
– Está muito aborrecido comigo? – perguntei baixinho, tomando cuidado para que minha própria voz não vibrasse dentro da minha cabeça.
Alex levantou o rosto e me encarou. Depois sorriu sem muita vontade.
– Eu pensei que você estivesse aborrecida comigo.
– Por que pensou isso?
Ele hesitou, respirou fundo, os olhos expressando uma culpa que, eu sabia, seria difícil de remover.
– Porque você disse que, se pudesse, não olharia mais na minha cara. – E me encarou com um misto de tristeza, cansaço e ansiedade. – Olha, Charlotte...
Minha cabeça latejou e precisei fechar os olhos para suportar. Ao mesmo tempo, meu estômago doeu tanto que pensei que alguma coisa estivesse me rasgando de dentro para fora. Tenho certeza de que, de verde, passei para branco papel.
– Acho melhor buscar um “kit ressaca” para você – ele disse, levantando.
– Kit ressaca?
– Volto logo. Por enquanto, o melhor a fazer é ficar deitada e quietinha.
Alex saiu e eu me deitei novamente. Ele estava triste porque eu disse que não queria mais olhá-lo? Eu não disse isso. Pelo menos não com este sentido. Droga! Minha cabeça doía demais. Eu falei porque estava me sentindo péssima por estar tão acabada na frente dele e, principalmente, porque, apesar de tentar corrigir as coisas, eu sempre fazia cada vez mais merda.
Depois de um tempo, ele voltou, trazendo uma bandeja. Deixou-a na poltrona e se aproximou para me ajudar a sentar na cama, colocando uma almofada grande e grossa em minhas costas. Sorri sem graça. Como eu poderia desejar que ele me visse como uma mulher se sempre o fazia cuidar de mim como uma criança? Alex pegou a bandeja e colocou em meu colo.
– Remédio para dor de cabeça, para enjoo, um sprite, água e café.
– Sprite? Refrigerante de limão? – argumentei em dúvida, afinal de contas, era um refrigerante em um estômago acabado.
– Um santo remédio para ressaca.
– E eu vou ficar boa tomando isso tudo?
Ele sorriu com mais entusiasmo.
– Primeiro: você não está doente, está de ressaca. Segundo: não. Vai apenas aliviar os sintomas.
Fiz uma careta, sentindo meu estômago protestar.
– E terceiro: é importante repor a água e os sais minerais que está perdendo.
– Você tem muita experiência em ressaca, hein?
Coloquei o primeiro comprimido na boca e o engoli com a água.
– Tenho, sim. Só que a minha rebeldia se manifestou na adolescência.
Me encolhi com a acusação e ele pareceu envergonhado. Era uma reação estranha em Alex.
Aproveitei o momento constrangedor e engoli o restante do que ele tinha levado. O tempo todo, achei que não conseguiria chegar ao final. O café, especialmente, quase me fez vomitar de novo. Estava amargo.
– Agora deite-se. Quando se sentir melhor, eu preparo um banho.
– Vai demorar para passar?
Ele me deu um olhar carinhoso.
– Um pouco. Imagino que, como você não tem o hábito de beber, deve demorar um pouco além do normal.
Fiz outra careta e deitei assim que ele retirou a bandeja do meu colo.
Dormi alguns minutos depois, quando o “kit ressaca” começou a fazer efeito.
ALEX
Eu estava na cozinha, preparando o almoço. Algo leve, para não sobrecarregar o estômago dela. E minha cabeça não parava de martelar. Estava tudo tão estranho! Charlotte parecia não querer me afastar, mesmo assim, disse que preferia nunca mais olhar na minha cara. E ainda havia as lembranças.
Claro que ela lembrava que era ridículo acreditar em algum envolvimento meu com Aline. Então do que se tratava? Será que o fato de eu ter vindo embora a machucou tanto assim? Não. Do contrário, não teria me aguardado voltar para casa. Será que ela tinha recebido os papéis do divórcio? Foi isso que Peter quis dizer, que ela ficou animada em corrigir a nossa situação, e eu acabei interpretando errado? Será que ela notara algo diferente no quarto? Algum sinal deixado por Tiffany?
Porra! Nem me dei ao trabalho de tentar encobrir qualquer pista. Estava tão ferido e magoado que ignorei os rastros, e agora Charlotte estava lá, deitada na mesma cama em que... Droga! Eu não podia me sufocar mais com este pensamento.
E Peter, que não ligava nem atendia o celular?
Não sabia o que fazer, o que poderia cobrar ou até mesmo como iniciar nossa conversa. Eu me sentia um menino perdido, quando, na verdade, deveria ser o maduro daquela relação e ter o controle.
Desliguei a panela com a sopa, tirei as torradas do forno, coloquei tudo em uma bandeja e subi para acordá-la. Charlotte já dormira demais. Passava de uma da tarde e ela só tinha ingerido um copo com água, refrigerante e uma pequena xícara de café.
Assim que cheguei ao quarto, encontrei a cama vazia. Fiquei meio assustado, embora soubesse que ela não poderia ter ido embora, então, após depositar a bandeja na poltrona, fui até a porta do banheiro e ouvi o som da torneira.
– Charlotte, está tudo bem?
– Não! – Sua voz fraca conseguiu chegar até mim, deixando-me ainda mais preocupado. – Estou me sentindo um lixo – ela disse, abrindo a porta e saindo do banheiro.
Estava enrolada na toalha, os cabelos molhados, descendo pelos ombros. Um pouco abatida com uma expressão de dor. Andou até a cama e sentou nela.
– Minha cabeça vai explodir – reclamou, choramingando.
– Você precisa se alimentar. Depois que tomar a sopa, eu pego mais um comprimido para dor de cabeça. – Fui em busca da bandeja.
– Posso te acusar de não ter me impedido de beber enquanto podia?
Respirei fundo antes de virar para ela.
– Dentre tantas coisas das quais você pode me acusar, a que menos me abalaria seria esta.
Ela se acomodou e eu coloquei a bandeja em seu colo.
Peguei uma colherada da sopa e levei em sua direção. Charlotte não protestou. Ela me olhava atentamente e aceitava o que lhe dava em silêncio. Às vezes, pegava uma torrada e comia bem devagar, corando com algum pensamento que eu nunca descobriria.
– Por que você acha que eu posso te acusar de muitas coisas? – indagou enquanto eu levantava para retirar a bandeja da cama.
Outra vez, respirei fundo, pensando no que poderia dizer. O que realmente deveria confessar estava fora de cogitação.
– Não sei, Charlotte. – Desviei o olhar sem saber realmente o que dizer naquele momento. – Coloquei suas malas no closet.
– Ah! Certo! Eu tenho que arrumá-las. Pegar o que vou precisar.
Olhei minha esposa e meu coração acelerou. Ela iria embora? Tinha realmente acabado?
– Eu acho que... – Engoli em seco. – Acho que precisamos conversar, Charlotte. – Tomei coragem e a encarei.
Ela parecia tão nervosa quanto eu.
Charlotte arrumou a toalha no corpo e se ajeitou na cama, se posicionando de maneira mais confortável. Se é que existia uma posição mais confortável em uma situação como a nossa. Eu pretendia começar a falar, explicar minha atitude, o motivo de ter ido embora, de ter pedido o divórcio, porém minha esposa começou a falar, calando-me completamente.
– Alex, sei que tenho sido difícil. Que não fui muito justa com você, com o nosso relacionamento. Sei que tenho levado nossa relação ao limite, desgastando-a antes de ela começar. Não sei como me justificar, apesar de achar que meus motivos são justos. Em pouco mais de um mês, vi minha vida girar descontroladamente, sem me dar a chance de me agarrar em alguma coisa. Eu queria dar conta de tudo e não pude. Também não vou ficar aqui me desfazendo em desculpas, pois já repeti isso tantas vezes que até eu já estou cansada de ouvi-las. Também não tenho mais esperança de que alguém me compreenda.
– Eu compreendo – disse, segurando sua mão. Estava aliviado.
Ela não se afastou.
– Não, você não compreende, Alex. Você me ama, é o meu marido e, como tal, se sente na obrigação de fazer isso, mas nunca vai entender o que eu estou sentindo.
– Eu compreendo – falei firme, olhando em seus olhos. – Mas não é porque compreendo que vou me calar e ficar do seu lado assistindo a sua ruína. Sei o quanto a dor nos paralisa, sei o quanto é difícil ser jogado em uma realidade que sequer sonhávamos. Acredite em mim: eu sei. Só que, se eu simplesmente aceitasse e ficasse calado, permitindo que você vivesse a sua dor, talvez agora ainda estivesse naquele estado catatônico e vegetativo. Sempre precisamos de alguém para nos dar um choque de realidade. Desculpe por ter sido eu.
Ela sorriu e mordeu o lábio inferior, movendo os dedos contra os meus. Senti como se a nossa conexão estivesse voltando. Como se Charlotte finalmente estivesse de volta para mim, infelizmente, não havia como ter esta certeza. Não ainda.
– Quanto ao divórcio...
– Divórcio? – ela me interrompeu com o olhar confuso.
E só aí me dei conta. Charlotte não sabia, não havia recebido o fatídico documento. Fiquei perdido, sem saber o que fazer, o que dizer.
– Charlotte...
– Você pediu o divórcio? – Ela se afastou e me encarou com ansiedade.
– Não! Quer dizer... – Olhei para a minha esposa e decidi que uma mentira era mais do que o suficiente para o nosso relacionamento. Nenhuma mais. – Eu queria chamar a sua atenção. O tempo estava passando, você não voltava...
– Você quer o divórcio? – Seus olhos marejados fizeram meu coração acelerar.
– Não quero – avancei, ficando mais próximo dela e voltando a segurar sua mão. – Eu me sinto perdido, Charlotte – confessei. – Não estou preparado para uma separação. Não estou preparado para te perder. Nosso casamento pode ter sido uma loucura, devido às circunstâncias, pode ter sido precipitado para você, mas eu nunca me arrependi. Nunca achei que foi um erro, porque nunca duvidei dos meus sentimentos.
Ela levantou o rosto e me encarou muito séria.
– Talvez eu não seja a mulher ideal para você.
– Charlotte... – ia começar a contestar, mas ela me calou, colocando a ponta dos dedos em meus lábios.
– Eu sei que ainda não sou. Já tivemos provas demais disso. Mas quero ser. Quero aprender a merecer o seu amor.
Sorri, fechando os olhos para melhor saborear o que aquelas palavras causavam em mim.
– Me perdoe por não ser o suficiente e, por favor, permita que eu possa tentar mais uma vez.
– Eu amo você – disse emocionado.
– E eu amo você demais, Alex!
Beijei Charlotte, permitindo que todo meu ser reagisse a ela. Minha esposa se entregou ao momento também, gemendo baixinho quando nossos lábios se encontraram. Ela se levantou, sem desfazer nosso beijo, sentando-se em meu colo, cruzando as pernas em minha cintura. Corri as mãos em suas coxas, subindo pela lateral até alcançar sua bunda.
Deus, como pude confundi-la? Como pude me condenar a uma miséria tão grande? Como não reconheci seu corpo, seu cheiro... O tesão que eu sentia por Charlotte jamais deveria me deixar seguir em frente com outra mulher. Infelizmente, não foi o que aconteceu.
Apesar de estar com a mulher que eu amava nos braços, nua, com apenas uma toalha entre nós dois, com seu corpo colado ao meu em uma entrega deliciosa, eu sabia que ela não estava em condições. Ou talvez eu não estivesse em condições. A culpa me consumia.
– Não posso abusar de você – falei ao abandonar seus lábios.
– Por favor, abuse! – ela sussurrou em uma súplica que mais parecia música aos meus ouvidos.
Voltamos a nos beijar com mais intensidade. Eu precisava esquecer. Tirar da minha mente as lembranças. Merda, era ela se esfregando vagarosamente em mim. Como uma dança sensual. Minhas mãos vagavam pelas suas costas, puxando-a em direção a minha ereção, que já pulsava dolorida, dentro da bermuda. Sim, eu desejava Charlotte, apesar de tudo.
Droga, eu sentia falta de sexo. Sexo com Charlotte, logicamente. Não o que havia ocorrido com Tiffany, onde a lembrança era apenas da parte mais sombria, e não da prazerosa. Se é que foi prazerosa em algum momento.
Tinha ido embora da Inglaterra deixando a mulher que amo para trás, mas deixei para fazer isso depois de transarmos, e esta foi a minha ruína porque, quando fechava os olhos, minhas lembranças não traziam uma Charlotte frágil e chorosa, me pedindo para ficar. Eu sempre pensava nela embaixo de mim, se entregando ao prazer, me dando todo o seu amor.
Nem preciso dizer que isso me enlouquecia. Eu dormia e acordava duro. Por duas vezes, precisei de alívio, de me masturbar como um adolescente, e confesso que foram as duas vezes que mais senti raiva da minha esposa. Era para ela estar lá comigo e não tão distante, presa a seu sofrimento. Então passava o dia fodido. Talvez este tenha sido um dos fatores que me fizeram deixar acontecer com Tiffany. Era lamentável.
Mas ali, com ela deliciosamente se entregando, me pedindo para fazer o que quisesse com ela... Puta que pariu! Eu era louco por aquela menina! Com cuidado, levantei Charlotte pelas coxas, deitando-a no colchão. Retirei a minha camisa e a toalha que a cobria. Admirei seu corpo perfeito, seu rosto corado... eu adorava a forma como ela ainda corava ao ficar nua na minha presença.
Passei a mão pela sua coxa, subindo um pouco mais, adorando senti-la prender a respiração. Charlotte também sentia minha falta, disso eu nunca duvidei. Naturalmente fogosa, minha esposa nunca decepcionava. Estava sempre pronta, sempre com vontade, sempre disposta e ansiosa.
Mais uma vez, foi impossível não me culpar pelo ocorrido. Eu vi as diferenças nos corpos delas duas, senti o tempo inteiro a dúvida me cercar, mesmo assim, me deixei levar, me permiti acreditar que era ela de volta e, com isso, cometi aquele erro absurdo. Ainda não me conformava. Como eu poderia desejar algo diferente? Como me permiti enganar?
Deixei que meus dedos brincassem com seu sexo, incapaz de não compará-la. Fechei os olhos, tentando me controlar. Eu sentia raiva de tudo, mas precisava deixar acontecer, recuperar minha vida com Charlotte e manter o passado longe de nós dois. Por isso, me forcei a continuar esfregando os dedos no sexo dela e arrancando os seus gemidos que me convenciam cada vez mais do quanto fui um idiota. Já estava no meu limite e Charlotte também, a umidade que consegui capturar a deixava incrivelmente mais gostosa. Gostosa ao extremo.
Inclinei-me sobre ela, tomando um dos seios na boca. Desta vez, no tamanho correto, com todas as semelhanças que eu recordava. Ela gemeu abertamente. Mordisquei, lambi, chupei até que ele estivesse rijo, bem arrepiado na ponta da minha língua. A sensação era indescritível. Maravilhosa.
Puxei a bermuda para baixo, ciente de que era uma necessidade vital penetrá-la. Unir os nossos mundos, fundir nossos corpos, sentir que tudo voltava ao normal, que ela era outra vez minha. Só minha. Assim como eu era apenas dela.
No mesmo instante, o pânico me invadiu. Tiffany. Nós não havíamos nos prevenido. Não usamos camisinha. Olhei para Charlotte, que começava a abrir os olhos, estranhando meu comportamento, deitado sobre ela, encarando o seu rosto, com medo do que mais aquele deslize poderia destruir do meu mundo. Eu não podia fazer isso. Não com Charlotte.
No entanto, como dizer que precisávamos usar camisinha se nunca usamos antes? Se este era o nosso maior vínculo? Se nos orgulhávamos de confiar um no outro a esse ponto? Droga!
– O que foi?
Encarei seus olhos, sentindo meu coração afundar. As palavras não saíam. O que eu poderia dizer?
– Alex? – ela insistiu.
Pisquei várias vezes e me afastei um pouco.
– A injeção – comecei a formular a desculpa em minha mente, rezando para que Charlotte não se sentisse mal com o assunto ou com a minha recusa. – Você perdeu a data outra vez?
E, pela primeira vez, comecei a rezar para que a mente da minha esposa continuasse confusa e distraída como sempre. Ela corou, mordeu o lábio e eu quase agradeci aliviado. Eu não merecia, mas Deus ainda estava do meu lado.
– Esqueci, desculpe. – Charlotte se moveu incomodada. – Não podemos...
– Vamos usar camisinha.
Eu já estava levantando quando ela segurou em minha mão.
– Camisinha?
Vi em seus olhos que aquela não era a melhor opção. Charlotte sabia que eu não gostava de ter o preservativo entre nós dois, e ela não era uma garota burra. Lógico que estranharia. Deitei outra vez sobre ela e beijei seus lábios com cuidado, pedindo perdão intimamente por ter sido tão canalha.
– Não acho que seja o melhor momento, amor. Você ainda não está pronta para engravidar. – Ela deitou e encarou o teto, visivelmente contrariada. – Você quer isso?
– Você não?
Levei longos segundos para responder.
Porra! Lógico que eu queria. Eu queria tudo o que fosse possível com aquela menina, mas não daquela forma, não colocando a saúde dela em risco.
– Eu quero, só acho que não é o momento. Você ainda está se recuperando, temos o lançamento do seu livro, adaptação à vida de casado, não podemos...
Ela colocou um dedo em meus lábios, me calando.
– Tudo bem. Vamos usar camisinha. – Mas não havia tanta certeza em sua voz.
– Charlotte!
– Nunca usamos, Alex. Eu só estou estranhando, mas a culpa é minha.
Merda! Era terrível deixá-la acreditar que era culpada por estarmos estragando nossa intimidade.
– Vamos agendar uma consulta. – Segurei sua mão e beijei com carinho. – E eu vou ficar responsável por te lembrar todos os meses, combinado?
Ela concordou e sorriu de leve.
– Vamos encarar isso como uma oportunidade para que conheça mais alguns brinquedinhos.
– Brinquedinhos?
– Já volto.
Saí da cama, indo para o closet. Eu precisava da gaveta de brinquedinhos, lá havia uma variedade interessante de camisinhas. Peguei a gaveta e levei tudo para a cama. Charlotte estava coberta com o lençol, me encarou meio sem graça enquanto eu a deixava ver tudo o que possuíamos.
– Aqui. Temos muitos tipos de camisinhas. Muita variedade.
Ela arqueou uma sobrancelha, me encarando.
– Variedade?
– Usar camisinha também é divertido. – Beijei seu pescoço, fazendo-a ceder e esquecer o problema. – E prazeroso.
– Vamos ver.
– São essas. – Separei um monte de pacotinhos para que ela não perdesse tempo atiçando a curiosidade com outros acessórios. – Temos com sabores: morango, uva...
– Sabores? – Ela riu.
– Sexo oral. Com pessoas estranhas, é bom não arriscar. Veja essa – Peguei uma que oferecia a promessa de ser retardante.
– Não! – Foi categórica e eu entendi a sua ansiedade.
Deixei minha esposa se aventurando com o que tínhamos na gaveta e aproveitei para alisar o seu corpo. Como eu sentia a sua falta! Corri as mãos em suas costas, conferindo a magreza devido ao sofrimento. Sua pele ficou arrepiada, deixando-me ainda mais excitado. Puxei o lençol e acariciei seus seios. Ela fechou os olhos e mordeu o lábio.
– Já escolheu? – Continuei acariciando seus seios, sentindo um tesão enlouquecedor.
– O que é isso? – Ela me mostrou um objeto.
– Uma capa peniana com reservatório. – Beijei outra vez seu pescoço e desci em direção aos seios.
– É uma camisinha? E essas bolinhas.
Levantei. Charlotte era curiosa demais para esquecer aquilo.
– Capa peniana possui estas saliências que servem para atiçar os pontos sensíveis da vagina. Esta aqui possui o reservatório que serve para que não precise ser retirada e trocada por uma camisinha comum, então exerce esta função também.
– Você gosta?
– Gosto. Mas não acho que seja para agora. – Tirei da sua mão e coloquei de volta na gaveta.
– Por que não?
Ri. Aquela, sim, era a minha Charlotte.
– Porque ela aumenta o diâmetro do pau, Charlotte. Você ainda é muito apertada e eu... – Inclinei a cabeça para que ela entendesse.
Minha esposa corou significativamente.
– Você precisaria de uma dose extra de estímulo e, ainda assim, tenho certeza de que vai acabar machucada.
Ela apenas concordou, sem me encarar de fato.
– Vamos usar esta. – Segurei uma e coloquei a gaveta no chão.
Ela deitou de volta.
– Como é esta?
– Tem uma função que você gosta. – Comecei a abrir o pacotinho.
– E qual seria?
– Ela esquenta e esfria por um tempo.
Seu sorriso tímido me encantou.
Desenrolei a camisinha em meu pau sob o seu olhar atento e ansioso. O gelo previsto me fez fechar os olhos e gemer. Era mesmo gostoso. Acariciei meu membro e, com a outra mão, brinquei com o clitóris de Charlotte. Ela gemeu, se entregando, e suas pernas relaxaram, abrindo-se um pouco mais.
Deitei sobre ela e, sem esperar nem mais um segundo, me encaixei entre suas pernas e me enfiei em seu sexo. Charlotte arfou, sentindo o gelo que a camisinha nos proporcionava.
– Ah, Alex! – Ela se contorceu embaixo de mim e mordeu o lábio involuntariamente.
– Frio?
Ela concordou com a cabeça.
– Vamos esquentar então.
Comecei a me movimentar, ciente de que as estocadas fariam com que a camisinha trocasse o frio pelo calor. Para variar, antes de conseguir consumar o ato, a campainha tocou.
Por que tinha que ser sempre assim?
CAPÍTULO 24
“As pequenas mentiras fazem o grande mentiroso.”
William Shakespeare
CHARLOTTE
Oh, Deus! Eu estava tão ansiosa, tão necessitada que poderia gozar apenas com suas carícias em meus seios. Quando Alex puxou a bermuda e eu pude sentir seu pênis roçando a minha entrada, sorri largamente pensando que a vida não poderia ser mais generosa comigo.
No entanto, a história da camisinha me desconcertou. Também, com tantos problemas, a doença e a morte da minha mãe, o medo de deixar meu pai sozinho, o afastamento de Alex... Putz! Era impossível me lembrar de uma merda de injeção de anticoncepcional.
O que me deixou mais incomodada foi que, lá na Inglaterra, quando transamos pela última vez, Alex não pareceu incomodado, nem temeroso em relação a gravidez. Então, depois de tanto tempo separados, ele simplesmente conseguiu ser mais forte do que a saudade e foi racional. Isso realmente me intrigou.
Alex não queria que eu engravidasse porque não confiava mais em mim. Não tinha mais tanta certeza da nossa relação nem podia contar com uma pessoa inconstante como eu. Isso me doeu, mas, o que eu poderia esperar? Que ele me recebesse de braços abertos, que continuasse passando a mão em minha cabeça?
Então, decidida a não ser mais a garotinha infantil e demonstrar a ele que poderíamos, sim, voltar a acreditar naquele relacionamento, coloquei as dúvidas e receios de lado e concordei com o uso da camisinha. E a escolha não poderia ser a mais perfeita, apesar de eu ter ficado realmente interessada naquela capa peniana. Se, sem os carocinhos, já era espetacular, imagine com aquilo tudo tocando todos os lugares ao mesmo tempo?
O friozinho da camisinha, que gelava como o gel que tínhamos experimentado certa vez, fez meu corpo entrar em um estágio que me impedia de raciocinar. Caraca! Eu amava todas as novidades que meu marido me apresentava, mesmo que fosse uma camisinha.
Senti meu corpo sendo preenchido, o gelo se espalhando, ganhando espaço no corpo quente e fazendo minhas terminações nervosas entrarem em parafuso.
Aí a campainha tocou.
Merda! Segurei meu marido, agarrando as suas costas para mantê-lo sobre mim. Não dava para parar. Não dava para esperar até que, quem quer que fosse lá fora, entrasse, conversasse e saísse. Tinha que ser naquela hora, naquele minuto e naquele segundo.
Alex me olhou atentamente, entendendo o que eu disse sem utilizar palavras. Então, beijando meus lábios com doçura, ele deslizou para dentro de mim, fazendo-me arfar. Foi tão gostoso que todo meu corpo ficou arrepiado. Gememos fortemente.
A campainha tocou novamente. Ele gemeu, mas continuou se movimentando, entrando e saindo, sem muita urgência e com muita vontade. Aproveitando cada investida, saboreando cada contato. Cruzei minhas pernas em sua cintura, dando-lhe mais espaço e me deleitando com suas investidas. Alex entrou mais duro, levantando o corpo para observar seus movimentos. Uma onda de calor me percorreu. Sim, o gelo cedia e eu já conseguia sentir aquele fogo que esquentava tudo por dentro. A luxúria me lambia enquanto eu era observada por aqueles olhos quentes. Senti-me viva.
Quem estava do lado de fora continuava insistindo. Alex se afastou, parando as investidas e olhando para a janela.
– Não pare – implorei, tocando em seu rosto, trazendo-o de volta para mim. – Não pare, Alex!
Ele piscou algumas vezes e, como se estivesse acordando de um sonho muito bom, sorriu lindamente e voltou a me beijar. Senti seu sexo entrando até o limite e arfei, achando que nunca, em momento algum da minha vida, algo foi tão gostoso quanto transar com Alex Frankli.
E ele era meu. Todo meu e só meu. Nada de amigas lésbicas, de mulheres fácies da praia nem colegas de trabalho... Alex era apenas meu e nada mais importava.
A campainha insistia. Quem estava lá fora não desistiria e estava cada vez mais insistente. Pensei que Alex não suportaria a pressão, porém ele simplesmente ignorou o mundo e construiu uma bolha para nós dois. Agarrei-me a esta oportunidade, deixando que tudo ficasse de fora, me concentrando apenas em nós.
– Charlotte, que saudade!
Distribuiu beijos apaixonados em meu rosto, descendo até alcançar meus seios, dedicando-se a eles. Gemi sem nenhum pudor, esfregando-me no homem que eu amava e que, naquele momento, desejava somente ser tudo para mim, assim como eu desejava ser tudo para ele.
Nosso ritmo foi aumentando à medida que nos entregávamos. Ele arremetia e eu me movimentava para melhor recebê-lo e expulsá-lo, deixando que a sensação de prazer varresse cada centímetro de nossos corpos. Ele se fartava em meus seios e pescoço, brincando com suas mãos grandes e famintas, que deslizavam em minha pele, deixando rastros de fogo puro.
E, quando eu percebi que a ansiedade que crescia em meu ventre explodiria se espalhando por cada parte minha, abracei seu tronco, puxando-o para mim e gemendo, para que ele entendesse que estava no meu limite.
– Oh, Deus! Charlotte! – ele gemeu em meus lábios e se entregou também.
Gozamos juntos, colados. Todo o meu corpo se fragmentou, espalhou, flutuou e depois voltou, se solidificando nos braços do meu eterno professor. Ele arfou com o rosto enterrado em meu pescoço, ainda se movimentando lentamente, como se quisesse arrancar de si mesmo a última gota de prazer, como se não pudesse deixar escapar nada.
Respirei fundo, sentindo minha boca seca. O leve enjoo ainda estava lá, mas quem se importava? Eu estava com Alex. Ele levantou a cabeça, buscando meus olhos, e sorriu. Tão lindo! Levemente corado e suado pelo esforço. O cabelo bagunçado, os olhos azuis penetrantes. Era a visão da perfeição.
– E a dor de cabeça? – Acariciou meus cabelos sem desfazer o nosso contato visual.
– Vai passar.
Ele sorriu ainda mais largo, encostando os lábios nos meus, então a campainha tocou não apenas uma vez, a pessoa que queria entrar esqueceu o dedo nela, fazendo um barulho infernal que, rapidamente, fez com que o meu marido levantasse. Todo o meu corpo sentiu o vazio que era estar longe dele.
– Quer apostar quanto que é Lana? – disse, pegando a bermuda no chão do quarto. – É melhor eu descer ou ela vai arrombar a porta.
Ele vestiu a cueca, a bermuda e já estava colocando a camisa quando parou para me olhar, deitada, nua, apenas observando a paisagem, sem nenhuma vontade de fazer o social.
– Você não vai descer? – Havia certa dúvida em suas palavras.
Olhei para Alex e meu coração se encheu de amor. Ele tinha medo do que eu faria em relação a nós dois.
– Deixar de recepcionar a minha cunhada? De forma alguma.
Ele sorriu amplamente, me deu um selinho dizendo:
– Vejo você lá embaixo.
A campainha continuava tocando.
– Ela vai saber que você estava transando – avisei ao constatar que ele continuava com a cara de quem havia gozado bem gostoso, o rosto corado e suado, além dos cabelos bagunçados.
– É bom que saiba o que atrapalhou – ele disse antes de sair pela porta e sumir no corredor.
Sorri como uma boba e me joguei no colchão, sentindo-me uma adolescente que beijou o garoto dos seus sonhos pela primeira vez. Precisei morder o travesseiro para conter minha euforia, depois, colaborando com o que Alex tinha dito, vesti uma calcinha, uma camisa solta do meu marido e um shortinho. Deixei o cabelo amassado, o rosto corado e a pele levemente suada. Tinha certeza de que nossos corpos cheiravam a sexo e adorei este detalhe.
***
– Não é justo você me deixar tanto tempo lá fora. Está chovendo – ela bradava e eu conseguia ouvir mesmo estando ainda dentro do quarto. Sorri. – Sabe o quanto eu estou preocupada. Você não está nos seus melhores dias, Alex.
– Eu estou ótimo, Lana – meu marido respondeu, mantendo o tom calmo. Apesar de não poder vê-lo, podia jurar que ele sorria.
– Ótimo até demais – João Pedro completou com seu tom debochado.
Um silêncio tomou conta do ambiente por alguns segundos, até que Lana recomeçou.
– Não acredito nisso. O que estava fazendo? Meu Deus, Alex! E Charlotte? Você é um cretino! Não consigo acreditar!
– Fale baixo, Lana – meu marido a interrompeu.
Mais silêncio e então ela falou ainda mais alto.
– Dá para parar de me olhar assim? O que estava fazendo? Não. Não fale. Dá para saber só de olhar para você. O que é isso? Disputa de ego? Charlotte passa por uma fase ruim e o que você faz é se divertir? Sinceramente, não acredito que seja meu irmão. Minha vontade é de...
– Lana, seja coerente – João Pedro tentou apaziguar, mas sua esposa estava bastante nervosa.
Desci as escadas lentamente, sem fazer barulho, e os vi na sala. Alex estava de pé, próximo ao sofá. Ele não parecia nervoso nem nada parecido, já Lana... Nossa! Ela andava de um lado para o outro e apontava para o irmão, como se ele fosse o caçula.
– Pois suba e mande essa... mande-a embora agora mesmo. Não quero desculpas, Alex. Mande-a embora e ponto final.
Alex riu e, finalmente, João Pedro me viu.
Ele me olhou, inclinou a cabeça para o lado, como se quisesse ter certeza do que via, e sorriu. Depois se voltou para a esposa e contribuiu com a confusão.
– Deixe ele se divertir, Lana. Pare de ser a irmã chata.
Meu marido riu novamente.
– O quê? Não estou acreditando nisso, João! Quer dizer então que, se eu passar por uma fase difícil, você vai se achar no direito de comer outra mulher? – Ela realmente ficou revoltada.
Tive medo de que eles não conseguissem contornar a situação.
– Só estou dizendo que Alex é homem e sabe o que faz.
– Olha, João Pedro... – Ela parou, respirou e desistiu. – Converso com você em casa – vociferou. – E você, Alex, suba agora e mande a vagabunda embora ou então subo eu e faço este trabalho. Você pode ser meu irmão mais velho, mas, pelo visto, é um idiota completo.
– Uau! – Meu marido brincou, levantando as mãos em rendição. – Não posso mandá-la embora, Lana. Sinto muito!
Sorri. Alex estava tão bem, leve e relaxado, que me deu vontade de abraçá-lo.
– Mande-a embora AGORA! – ela explodiu e eu decidi que era hora de acabar com aquela farra.
– E por que eu iria embora da minha própria casa, Lana? – Desci o último degrau, ficando visível para todos eles.
Minha cunhada se assustou, parou, me observando, depois sorriu largamente, relaxando os ombros visivelmente.
– Eu acho que sou o tipo de vagabunda que o seu irmão prefere – brinquei.
– Charlotte! – Ela soltou o ar e riu. – Desculpe, eu... Nossa senhora! Você nem imagina o quanto estou feliz em te encontrar aqui. – Embora ela tenha me abraçado com tanta força que quase me sufocou, gostei da sua alegria.
– Tudo bem, Lana, mas ainda preciso respirar – falei, e ela me largou de uma vez só.
Alex veio ao meu encontro imediatamente, colocando a mão em meu braço para me amparar. Meu marido achava mesmo que eu era uma figura quebrável, que precisava de apoio o tempo todo. Mesmo assim, sorri para ele e aceitei a sua ajuda.
– Não acredito que está aqui. E vocês...
Ela olhou para mim, que mantinha aquela aparência de quem tinha realmente acabado de transar, e depois para Alex, que estava do mesmo jeito que eu. Levou a mão à boca e começou a rir.
– Ai, meu Deus! Perdão! Eu não sabia que você... ninguém me avisou! Por que você não ligou contando a novidade? – questionou o irmão.
– Porque eu não tive tempo. – Alex coçou a cabeça e sorriu encabulado, olhando diretamente para mim.
João deu uma risada alta e Lana ficou sem graça.
– Já volto – Alex saiu em direção à cozinha e eu apenas o segui com os olhos.
– Como você está?
Acariciou meus braços, com uma cara de preocupação. A típica cara de quem não sabe o que fazer com quem perdeu alguém que ama tanto. Senti uma dor aguda no peito. Doía muito pensar em minha mãe, respirei fundo, evitando que a tristeza me invadisse.
– Superando – tentei manter minha voz firme.
– Aqui, Charlotte. – Alex se aproximou, me entregando um copo com água. – Beba. – E me olhou daquele jeito de quem sabia o que estava fazendo.
Peguei o copo e obedeci, bebendo toda a água. Assim que terminei, ele pegou o copo e o colocou sobre a mesa. Lana me olhou com uma expressão divertida e sorriu sem nada dizer. Então João começou a rir e ela logo o acompanhou.
– O que foi? – Alex perguntou, encostando-se no sofá. Ele também sorria amplamente.
– Vocês dois – Lana começou a dizer e seus olhos brilhavam. – É que... eu estou feliz que esteja aqui, Charlotte – disse por fim e Alex me olhou com olhos cheios de ternura, carinho, amor... – Tudo bem – ela disse ainda rindo. – Eu só vim saber se estava tudo bem com você, Alex. Nem acredito que Charlotte chegou a tempo de nos acompanhar na viagem para a Alemanha. Você vai, não é?
Alex me olhou curioso. Não tínhamos conversado sobre este assunto. Sorri e concordei com a cabeça. Ele sorriu aliviado. Era tão lindo! E eu o amava! Puxei o ar com força, admirando meu marido. Tão meu!
– Perfeito! – Lana pulou e bateu palminhas como uma criança feliz.
– Então ótimo! Você não esqueceu do jantar hoje na casa dos nossos pais, não é, Alex? Eles fazem questão.
– Eu tinha me esquecido deste detalhe – meu marido disse, voltando a me olhar sem jeito.
Eu nunca tinha ido à casa dos pais do meu marido. Também, tudo aconteceu tão rápido que nem deu tempo de conhecer a vida dele, que dirá a casa dos pais?
– Será ótimo! – respondi para tranquilizá-lo. – Eu ainda preciso desarrumar a mala e depois decidir o que levar na viagem.
– O quê? Você ainda não fez isso? Não acredito. E vai dar tempo?
Lana era engraçada. Como assim não daria tempo? Ainda faltava muito para embarcarmos. Ri da forma como ela tratava o assunto “malas”.
– Lana, nem todo mundo leva a casa na mala – João Pedro se intrometeu e Alex começou a rir.
Lana não gostou nadinha, fazendo cara feia para o marido.
– Não vou levar muita coisa, Lana. Gosto de comprar o que preciso, e não de levar o que eu preciso. – Ri e ela sorriu amplamente.
– Então será uma viagem perfeita.
João revirou os olhos e Alex me observou atentamente.
Eu não soube identificar o que significava aquele olhar, ele parecia me analisar como se não me conhecesse. E não conhecia mesmo. Ainda tínhamos tanto que aprender um sobre o outro!
– Vamos, minha princesa?
João se aproximou, puxando a esposa para seus braços e beijando o seu pescoço. No mesmo instante, eu e Alex nos olhamos e foi tão... mágico! Não sei. Foi como se ele quisesse fazer o mesmo, mas ele continuou encostado no sofá, de braços cruzados, apenas me observando. E eu me vi ansiosa demais para ser tocada.
– Vamos. Charlotte e Alex ainda têm muito assunto para colocar em dia – ela enfatizou o assunto, como se estivesse deixando claro que entendia o que faríamos assim que eles saíssem. – E cuide para que Alex leve tudo o que precisa.
– Vou fazer isso. – Ri enquanto ela me abraçava.
– Eu já sou bem crescidinho – Alex rebateu, abraçando a irmã que praticamente se pendurou em seu pescoço.
– Vamos, Lana! – João bradou.
– Ah, eu já ia esquecendo – Alex falou, chamando a atenção de João. – Aline voltou e mandou lembranças.
Vi a cara de animadinho de João se desfazer em poucos segundos. Ele encarou Alex e depois olhou para Lana. O que estava acontecendo? Lana sorriu amplamente, agarrada ao braço do meu marido.
– Quanto tempo ela vai ficar? – Minha cunhada quis saber.
– Ela voltou para ficar. Não vai mais embora. Vamos ter todo o tempo do mundo agora. – E Alex sorriu, encarando o cunhado, que continuava sério demais. – Mandou um beijo para você, Lana. Disse que está ansiosa para te reencontrar.
Lana riu com gosto.
– Isso não tem graça – João Pedro bradou.
– Eu também estou ansiosa para encontrá-la – Lana disse, encarando o marido com um sorriso sem tamanho. – Aline sumiu, nem acredito que está de volta!
– Lana, eu já te disse... – João começou.
Minha cunhada o interrompeu.
– Não posso fazer nada se quiser implicar com a minha amiga, príncipe. Aline é uma amiga muito querida e não será você quem vai me impedir de conviver com ela.
– Eu sei que tipo de amizade ela quer de você – João Pedro rebateu e abriu a porta da casa.
– Então supere, porque sei muito bem que tipo de amizade pretendo com ela.
– Vamos conversar sobre esse assunto lá em casa.
– Não vamos mais conversar sobre isso – ela disse sem se importar com a implicância do marido. – Vejo vocês mais tarde.
E saiu como se não tivesse nenhum problema. João ainda lançou um olhar cheio de coisas que ele gostaria de dizer e não podia. Alex continuou sorrindo para ele sem se importar. Então ele foi embora sem se despedir e mantendo a cara de mau.
Assim que ele saiu, eu comecei a me sentir estranha. Não sabia ao certo o que seria, era como se estivesse naquela sala com um estranho com quem acabara de ir para a cama. De repente, foi como se todas as nossas diferenças caíssem sobre nós como um elefante branco no meio da sala.
Olhei para o meu marido e ele me olhou, mordendo os lábios. Havia constrangimento das duas partes. De alguma forma, eu sabia que aquele sentimento e qualquer outro que estivesse entre a gente precisava ser resolvido. Eu estava decidida a fazer aquele casamento dar certo, fugir ou ignorar os problemas não era a melhor solução.
– Charlotte – ele começou meio sem jeito.
Continuei parada no mesmo lugar, apenas observando. Alex balançou a cabeça, visivelmente envergonhado.
– Desculpe por ontem. Eu... não sei. Foram dias difíceis e hoje eu me sinto um imbecil.
– Infantil – eu disse sem acusá-lo. Ele sorriu, sem graça, e passou a mão pelos cabelos.
– Isso. Fui infantil.
– Muito infantil – acrescentei. – Me fazer acreditar que estava tendo um caso com a sua amiga lésbica foi mais do que infantil.
– Eu sei, só não acho legal se referir a ela dessa maneira.
Revirei os olhos. Alex e suas teorias.
– Ela é lésbica, não é?
– É. Aline não é a minha amiga lésbica. Ela é a minha amiga e pronto. Sem precisar deste rótulo.
Eu sorri. Sabia que aquilo o aborrecia, fazer o quê se eu era infantil a ponto de gostar de aborrecê-lo?
– Ok! Vamos deixar uma coisa bem definida em nossa relação, Alex.
Ele piscou, me observando parecendo aguardar mais problemas. Eu não estava disposta a continuar sendo o seu problema.
– Não existe espaço para duas pessoas infantis neste casamento, então precisamos definir os papéis de maneira a um não invadir o espaço um do outro.
– Charlotte...
Levantei um dedo, impedindo-o de continuar.
– Eu sou a mais nova, a mais inexperiente e a mais mimada, então tenho direito ao papel de infantil. – Seus lábios fizeram uma linha fina, enquanto ele se esforçava para não rir. – Você é muito mais velho – acusei com certo repúdio, o que o fez estreitar os olhos. – É muito mais experiente e, definitivamente, não é nada mimado, então se atenha ao seu papel de tutor e seja o maduro desta relação, assim, vamos evitar conflitos e manter a paz nesta casa.
Ele riu, balançando a cabeça.
– Tudo bem! – concordou, demonstrando estar mais aliviado.
– E nada de amigas lésbicas fingindo ser sua amante.
– Charlotte!
– Nem lésbicas, nem vagabundas, nem vadias de praia. Nenhuma mulher fazendo o papel de sua amante, Alex Frankli. Para o bem da sua masculinidade.
– Falando assim, é impossível não concordar. – Ele veio em minha direção, me tomando em seus braços. – Se é para manter a minha masculinidade... – Me beijou com vontade.
Foi um beijo incrivelmente gostoso. Daqueles que te deixam leve, que fazem você se sentir amada e o seu coração quase explodir de tanto amor. Foi um beijo de entrega sem reservas, um beijo no qual pude ver, sentir e entender que Alex não era apenas o certo para mim, ele era tudo o que havia em mim, tudo o que sempre sonhei e busquei. Como seu número certo de jeans, aquele com o corte ideal, que se encaixa em seu corpo, modelando-o com perfeição, aquele que você se olha no espelho e diz: Uau!
Era exatamente isso. Alex era o meu “uau”!
Ele abandonou meus lábios e encostou a testa na minha, respirando com dificuldade devido à intensidade do nosso beijo.
– Como está seu enjoo? – Acariciou minha cabeça, procurando meus olhos.
– Fraco. Acho que nunca mais beberei tequila na vida.
Ele deu uma risadinha rouca, linda e sensual e beijou meu pescoço.
– Duvido muito, amor.
Brinquei, empurrando seu ombro, e ele riu.
– Ontem você pegou pesado. – Acariciou meu rosto, me observando com atenção.
– Acho que eu estava precisando.
Ele concordou sem nada acrescentar.
– Tenho que ligar para Miranda.
– Agora? – Sua carinha foi tão linda que tive vontade de lhe fazer um afago. Alex parecia uma criança perdida.
– Tenho que desarrumar a mala, ligar para Miranda, para o papai e ficar pronta para, finalmente, conhecer a casa dos seus pais.
– Não sabia que era tão importante para você conhecer a casa dos meus pais.
– Alex, sou a sua esposa – o repreendi e ele riu. – Acha mesmo isso normal? Digo, somos casados. E não conheço quase nada a seu respeito, nem mesmo a casa dos seus pais.
– E eu acho isso tudo muito sexy – ele disse, me puxando para os seus braços. – Estou dormindo com uma maluca, mimada, infantil e totalmente estranha para mim. Sabe Deus quando você vai surtar, quando vai ter outro ataque de rebeldia ou de imaturidade, quando vai novamente se sentir culpada por amar seu marido e decidir ir embora... É realmente um casamento que nunca vai conhecer a palavra rotina, então é mesmo muito sexy.
– Alex!
Ele riu, me prendendo em seus braços sem me deixar escapar. E voltou a me beijar.
Certo. Desta vez, não foi apenas um beijo apaixonado, foi um beijo carregado de desejo. Um beijo que descrevia com todas as letras tudo o que ele ansiava fazer comigo naquele momento. Senti o sangue ferver e a mente não conseguir formular nenhum pensamento coerente. O que eu precisava fazer mesmo?
Minha mão se fechou em seus cabelos e minha língua exigiu mais daquele beijo. Alex gemeu em meus lábios e, ao mesmo tempo, escorregou as mãos pelas minhas costas até alcançar minha bunda, puxando-me mais para perto. Senti sua ereção em meu ventre e, de repente, minha boca ficou seca.
Não era para ser assim. Não mesmo! Contra minha vontade, eu senti minha cabeça rodar, meu estômago protestar e minha garganta arder. O enjoo me fez regurgitar, então me afastei dele com a mão na boca. Puxei o ar com força.
– Charlotte? – Ele me segurava.
Abri os olhos e encontrei o meu marido preocupado.
– Você está pálida.
– Maldita tequila! – esbravejei, voltando a fechar os olhos e buscando apoio em seu corpo. – Por favor, não me deixe beber tanto novamente.
Ele riu sem muita vontade.
– Não sei se já percebeu, mas, quando coloca na cabeça que quer fazer alguma coisa, torna-se impossível demovê-la do seu objetivo.
Tive que rir.
Foi exatamente este pequeno detalhe da minha personalidade birrenta e mimada que havia nos levado até ali. Alex acariciou minhas costas, mantendo-me firme em seus braços.
– Vamos pegar leve por enquanto – disse, sussurrando em meus cabelos. – Ainda temos muito tempo.
CAPÍTULO 25
“Se você se sente só, é porque ergueu muros em vez de pontes.”
William Shakespeare
CHARLOTTE
– Pensei que você estivesse brava comigo – Miranda disse, mantendo a voz baixa.
Segundo ela, Patrício estava no banho, o que me fez perceber o quanto a minha amiga estava aproveitando a liberdade longe do meu pai.
– E por que eu ficaria?
Ela ficou em silêncio por alguns segundos, o que me deixou intrigada.
– O padrinho ligou ontem para dizer que você estava de volta.
– Foi? E por que ele ligou para te avisar? Não seria mais fácil eu fazer isso? Ou ele...
– Charlotte... – Miranda hesitou.
– Qual é o problema, Miranda?
– Como foi com Alex? – tentou colocar empolgação na voz, no entanto, eu sabia que a minha amiga estava me escondendo algo.
Estava tão cansada de sempre descobrir que as pessoas escondiam algo de mim. Como se não bastasse toda a história da doença da minha mãe.
– Estamos bem. Agora, você vai me contar o que está tentando esconder ou vai deixar que eu descubra da pior maneira possível?
Minha amiga suspirou do outro lado da linha.
– Não me odeie por isso, por favor!
– Conta logo de uma vez, Miranda!
– O padrinho praticamente me colocou para fora de casa... lá na Inglaterra.
– Meu pai te colocou para fora de casa? – Fiquei confusa. O que Miranda tinha feito daquela vez para que meu pai a colocasse para fora de casa? – Não estou entendendo, Miranda. Você voltou para nos visitar...
– Você não entendeu mesmo. – Ela me parecia mais constrangida.
Levantei, sentando na cama e tentando me concentrar o máximo possível na conversa, e não no que Alex fazia andando de um lado para o outro do quarto, levando coisas para o banheiro e do banheiro para o closet. Baixei a voz e cogitei a hipótese de sair do quarto, quando meu marido fechou a porta do banheiro, se trancando lá dentro, o que me deu mais privacidade.
– Conte.
– Tudo bem, Charlotte. Olha, eu não estava de acordo, mas o padrinho disse que, se ficássemos lá, deixando que você continuasse afundando na tristeza, você nunca voltaria ao normal. E vamos combinar que você era uma morta-viva. Até seus olhos platinados pareciam opacos.
– Eles são opacos o tempo todo – rebati, me sentindo incomodada com aquela conversa.
– Charlotte... – ela falou meio impaciente. – Você estava se enterrando junto com a madrinha, então o padrinho nos mandou embora. Eu, Johnny... Todos, inclusive, Alex. Ele foi mais persistente e acabou ficando.
– Meu pai mandou Alex embora? O que deu nele? – Imediatamente, levei a mão para ajustar os óculos.
– Acho que vontade de te fazer viver – ela disse um pouco mais baixo, envergonhada por ter participado daquilo tudo. – Desculpe, sei que deveria ter ficado do seu lado...
Fiquei em silêncio, absorvendo suas palavras.
– Charlotte?
– Estou ouvindo. – Minha voz não indicava como eu realmente me sentia. Aliás, eu mesma não sabia como me sentia com aquela história toda.
– Quando nem Alex conseguiu te fazer reagir, eles combinaram que Alex voltaria para casa. O padrinho achava que isso a faria acordar... O medo de perder seu marido... Sei lá... Ele me proibiu de abrir a porta para você... caso você não fosse para a sua casa... A sua com Alex... estou me sentindo patética com tudo isso. E agora você me odeia.
– Claro que não! – afirmei com veemência.
Meu pai era mesmo inacreditável.
Dava para odiar as pessoas que me amavam e me suportavam mesmo eu tendo consciência de que estava sendo mais do que complicada? Não dava para culpar ninguém por aquela história, mesmo sendo ela tão absurda. E eu estava realmente cansada de ser sempre jogada no meio daquelas mentiras, por mais bem-intencionadas que fossem.
– Só não gosto dessa ideia de vocês sempre armarem pelas minhas costas.
– Eu não tive escolha. Quis ficar com você, mas...
– Eu sei. – Puxei o ar com força e vi Alex sair do banheiro envolvido na toalha. Os cabelos molhados e o cheiro de sabonete e shampoo que invadiram o quarto me fizeram perder um pouco o foco. – Eu preciso desligar agora. Ligo para você amanhã, tudo bem?
– Jura que não está chateada comigo?
– Não estou. Juro pelas estrelinhas do céu.
Ela riu aliviada. Esta era a nossa brincadeira quando éramos crianças. O nosso juramento eterno.
– Então também juro por todas as estrelinhas do céu que não tive como agir de forma diferente.
– Eu acredito em você. – Acompanhei Alex com o olhar enquanto ele entrava no closet. – Agora preciso realmente desligar.
– Amo você! – ela disse com a voz emocionada.
– Eu também amo você, Miranda! Tchau!
– Tchau!
Fiquei sentada na cama sem saber como digerir tudo aquilo sem causar mais problemas ao meu casamento. Eu não entendia por que meu pai preferia sempre fazer as coisas pelas minhas costas. Não entendia por que Alex sempre topava, mas, definitivamente, não criaria caso por causa disso.
– Tudo bem? – Ele surgiu usando apenas uma bermuda marrom. – Quer um pouco de água?
Pisquei, organizando meus pensamentos.
– Não. Na verdade, eu queria conversar com você.
– Aconteceu alguma coisa? – Sentou-se ao meu lado na cama e me olhou com bastante atenção.
Respirei fundo. Precisava fazer tudo certo, sem perder a calma ou a paciência. Alex não merecia que eu fosse infantil naquele momento. Na verdade, eu não queria ser, por isso, ter aquela conversa me incomodou mais do que o normal.
– Alex... – Engoli em seco. – Eu queria te pedir uma coisa... – Desviei o olhar sem saber como conduzir a conversa. – Na verdade... – Tomei coragem e o encarei. – Eu queria fazer um acordo.
– Um acordo? – Ele me encarou confuso. Parecia esperar que eu estivesse prestes a causar mais problemas.
– Sim. – Tentei sorrir, falhando totalmente. – Alex, eu descobri o seu acordo com o meu pai.
Ele me encarou ainda meio perdido, então a compreensão foi chegando e o seu semblante foi se desfazendo. Ele levantou, se afastando, encostando-se na porta da varanda.
– Charlotte... – Seus olhos demonstravam toda a sua preocupação.
– Eu entendo os seus motivos para se aventurar em mais um plano mirabolante do meu pai. Na verdade, entendo até os motivos que fizeram o meu pai chegar a este ponto, mas... Droga, Alex! Não vai dar certo se continuarmos agindo assim.
Ele tentou falar, o impedi.
– Não existe casamento baseado em mentiras, em meias verdades. Sei que fui infantil, mas... caramba! Eu estava sofrendo! Não dava para ser diferente, então, por favor! Por favor! Não faça mais isso.
– Eu pensei que fosse te perder – confessou, sofrendo por estarmos tendo aquela conversa.
– Então que fosse embora por sua vontade. Fizesse tudo o que fez por acreditar que estava seguindo o seu coração. Se revoltasse contra mim, terminasse tudo... por favor, não faça mais nada contra a sua vontade apenas para me mostrar o que é certo. Não sou mais nenhuma criança e nunca vou conseguir amadurecer enquanto vocês insistirem em me tratar como uma incapaz.
– Não é nada disso, Charlotte.
– Claro que é – retruquei impaciente, parando abruptamente de falar para não dizer nada que não fosse necessário. – Eu só não quero ter que toda hora descobrir uma mentira.
– Desculpe! – Ele ainda se mantinha distante. – Peter me disse que era o melhor a ser feito e eu apenas o segui. Não sabia mais o que fazer. Você estava tão...
– Eu estava sofrendo! – Desisti de tentar me explicar. – Você nunca vai entender.
– Eu entendo, Charlotte.
Suspirei. Ele não entendia.
– Acontece que suas emoções sempre são mais afloradas. Você não apenas sofre, você se esquece de viver. Um problema mais sério, sempre tira você do foco e a coloca fora da estrada.
– E você acha que não tenho capacidade de retomar o controle da minha vida? Acredita mesmo que vou sempre precisar destes subterfúgios para tomar uma decisão? Já parou para pensar que esta pode não ser a minha escolha?
Ele me encarou sem responder e eu entendi a dor que sentiu com as minhas palavras.
– Não é o que você quer? – Ele continuava no mesmo lugar, me observando com cautela.
– Eu nunca desistiria de você, Alex. Nem mesmo se Aline não fosse lésbica e realmente estivesse tendo um caso com você. Nem mesmo se você realmente estivesse seguindo em frente com a sua vida. Eu voltaria e lutaria por você porque também sei o que quero. Não estou tão perdida quanto aparento.
Ficamos em silêncio. Ele estava tão constrangido que não conseguia me encarar.
– Eu não casei por pressão, nem para te agradar, nem mesmo para fazer a vontade dos meus pais. Casei porque te amo. E voltei porque te amo e vou continuar junto com você porque te amo.
Ele sorriu ligeiramente.
– Então, por favor, sem mentiras de agora em diante. Confie mais em mim, acredite mais um pouco em minha capacidade.
Ele concordou com a cabeça, soltando o ar preso nos pulmões.
– Agora, vou tomar banho.
– Eu ia encher a banheira – disse ainda sem jeito.
– Prefiro um banho rápido, tenho muito que fazer ainda.
E fui para o banheiro, deixando meu marido com os seus pensamentos.
ALEX
Tá! Eu não tinha por que entrar naquele clima de culpa de novo, mas... Puta que pariu! Como não me sentir péssimo com tudo aquilo que ela acabara de dizer?
Porra, eu havia dormido com Tiffany. Quase fiz uma desgraça em nossas vidas. Mesmo com a desculpa do álcool, nada seria justificável. Entrei em pânico. Charlotte não merecia nada daquilo, mesmo tendo certa responsabilidade em todas as merdas que fiz. Ela não merecia.
E o pior de tudo era que eu teria que conviver com mais aquela mentira mesmo tendo prometido não mentir mais.
Eu sabia de todos os pontos e detalhes negativos da personalidade da minha esposa, no entanto, nada disso foi suficiente para me fazer desistir de ficar com ela. No fundo, eu sabia que nada me faria desistir, então por que eu simplesmente não admitia que não poderia ter o controle de tudo e aceitava e compreendia o tempo que Charlotte precisava para se restabelecer?
Droga!
Ela parecia realmente aborrecida e, mesmo assim, eu vi, e era importante lhe dar mérito por este fato, que ela não pretendia fazer daquilo um novo pesadelo para nós dois. Respirei mais aliviado. Não estava em meus melhores dias para travar outra batalha com a minha esposa.
Fiquei encostado à porta da varanda pensando em tudo o que ela tinha me dito até que Charlotte, finalmente, saiu do banheiro. Ela não parou para conversar, apenas me olhou, sem mágoas, raiva ou qualquer outra coisa do tipo, seguindo para o closet em silêncio.
Aguardei que ela voltasse, Charlotte não voltou. Intrigado, fui até ela e a encontrei sentada no chão, separando algumas coisas em sua mala, esvaziando algumas e arrumando outras.
– Oi – falei sem jeito.
– Oi. – Ela sorriu depois de se assustar com a minha presença. – Precisa de ajuda com suas coisas?
– Não.
Fui até ela e sentei ao seu lado.
– Você precisa de ajuda com as suas?
Ela sorriu amplamente.
– Como eu disse, gosto de comprar o que preciso e não levar o que preciso. Acho terrível ter que escolher coisas aqui que nem sei se vou usar quando chegar lá.
– Tem lógica.
– Não que eu goste de ser consumista, não se trata disso, mas, sinceramente, veja estas botas. – Levantou um par de botas que estava dentro de uma das malas. – Eu tinha deixado na Inglaterra da última vez que passei alguns dias lá, meu pai acabou me despachando com tudo desta vez e elas vieram. Não sei se serão de muita utilidade, sem contar que, com certeza, já estão fora da moda.
Ri.
Nunca imaginei que presenciaria Charlotte falando sobre suas roupas estarem ou não na moda. Ela era sempre tão básica. Quer dizer... ela era, quando não estava na presença dos pais e, definitivamente, deixou de ser após perder a mãe.
– Eu acho que existem ótimas lojas no hotel, caso não consiga sair para fazer compras.
Ela concordou, retirando as botas da mala. Pegou um casaco, que parecia ser de pele e, sem pestanejar, colocou-o na que eu acreditei ser a mala que levaria.
– Lana tem razão. Não dá para levar só uma mala.
– São somente quatro dias.
– Roupa de frio faz volume. Não tem mala que acomode tudo o que tenho realmente que levar.
– Verdade. Podemos comprar uma mala nova lá, além de casacos novos e botas novas. Pronto, tudo resolvido.
Ela riu.
– E terminamos todo o trabalho antes de sairmos para jantar com meus pais. Ganhamos tempo.
– Ansioso por tempo, meu marido? – Ela sorriu lindamente.
Sem conseguir me conter, levantei a mão e acariciei o seu rosto.
Charlotte era tão jovem. Conservava aquele rosto de anjo, de inocência que me deixava até constrangido por pensar em coisas tão eróticas com uma menina como ela. Por outro lado, ela era a minha menina, então como não pensar? Seus olhos brilhavam e suas bochechas coravam de uma maneira que me deixava louco, porque eu sabia o quanto ela ainda era jovem e mesmo assim, mesmo tendo esta consciência, eu a amava, como nunca fui capaz de amar outra mulher.
Então eu entendia, só quando olhava o seu rosto de anjo, que Charlotte podia até ser realmente uma menina, infantil, confusa e perdida, mas ela havia se tornado a única mulher que conseguira me domar, acorrentar e me submeter a todas as suas vontades, sem que isso fosse doloroso ou sacrificante.
Eu amava qualquer coisa que vinha dela.
Charlotte fechou os olhos e inclinou a cabeça em direção a minha mão, aprovando o carinho e se rendendo a ele.
– Na verdade, eu queria aproveitar o tempo para conversar com você.
Ela abriu os olhos e me encarou em dúvida.
– Como você disse, conhecemos pouco um do outro e, como eu falei muitas vezes, entendo a sua dor, mas você nunca vai entender nem acreditar se realmente não me conhecer melhor. – Fiz uma pausa e ela continuou calada, quietinha, aguardando o que eu diria. – Acho que chegou a hora de te contar o porquê de eu entender a sua dor.
Charlotte se acomodou melhor, virando-se um pouco para mim e me encarando. Ele parecia ansiosa, embora não fizesse nada para me apressar, simplesmente aguardava o meu tempo. Encostei-me na parede e dobrei uma perna, apoiando meu braço no joelho.
– Quando eu tinha 13 anos, sofri um acidente enquanto ia de bicicleta de casa para a praia com a prancha equilibrada em um dos braços.
Ela fez uma careta engraçada, sem se atrever a rir ou fazer comentários desnecessários, afinal, o assunto era sério.
– Meus pais detestavam que eu fosse de bicicleta, mas eu ainda não tinha idade para dirigir, apesar de saber e de pegar o carro escondido inúmeras vezes. – Ela estreitou os olhos e continuou tentando conter o riso. – Era um saco entrar em um ônibus com uma prancha, então...
– Se você não morreu, devo deduzir que sua grande perda seja a prancha?
Ri e ela finalmente começou a rir também.
– Não, engraçadinha. Deixe-me continuar. Eu sofri este acidente, fui atropelado e a situação foi grave. Meu pai, o Dr. Adriano Frankli foi o primeiro a chegar ao local e eu lembro até hoje do desespero em seus olhos. Bom... resumindo, quebrei as duas pernas, um braço, levei alguns pontos na testa e tive hemorragia, já que tive algumas fraturas expostas.
Ela, finalmente, ficou assustada. Eu sorri para aliviar a tensão da história.
– O fato é que precisei de uma transfusão de sangue, e é neste ponto que a minha história começa.
– Como assim?
– Charlotte, como a boa nerd que você é, deve saber que, quando a mãe possui sangue do tipo A negativo e o pai AB negativo, é impossível gerar um filho O positivo, não?
Ela me encarou sem entender, então rapidamente se deu conta do que eu falava. Charlotte piscou algumas vezes, seu rosto ficou vermelho e ela olhou para todos os lugares, menos para mim.
– É isso, eu não sou filho do Dr. Adriano Frankli.
– Mas...
– Minha mãe conheceu o meu pai nas férias em que viajou com as amigas. Antônio, o homem que é o meu pai biológico, era um homem da vida, segundo a minha mãe. Ele era bonito, alto, mesmo cabelo e cor dos olhos que eu carrego e um sorriso lindo... surfava.
– Um você.
Eu sorri, concordando em existir a semelhança absurda entre nós dois, e ela também, depois mordeu os lábios para não interromper a minha narrativa.
– Ganhava o mundo com uma mochila nas costas. Eles se apaixonaram e minha mãe não precisou de mais do que um convite para segui-lo. Pouco tempo depois, ela engravidou. Quando isso aconteceu, Dana já tinha tido tempo suficiente para se arrepender de ter largado tudo para seguir aquele homem desconhecido. Antônio a amava, só não sabia viver um relacionamento duradouro. Quando eu nasci, ele não aguentou a pressão e a responsabilidade.
Ela suspirou pesadamente, sem concordar com a forma como tudo foi conduzido. Imediatamente, sua mão alcançou a minha. Agradeci o toque, apesar de aquele ser um problema muito bem resolvido para mim.
– Minha mãe voltou para a casa dos pais e Antônio voltou a sua vida de explorador do mundo. Um ano depois, quando acompanhava meu avô ao hospital, conheceu Adriano Frankli. O resto você deve deduzir.
– Você é adotado – ela disse com a voz fraca.
– Sou.
– E você sente o fato de seu pai não ter ficado – tentou adivinhar.
– Não é este o ponto. Deixe-me continuar. Quando descobri o problema da doação do sangue, simplesmente surtei. Eu era muito novo e não consegui assimilar o que eles realmente haviam feito por mim. Até então, eu não sabia de nada e me corroí em raiva quando soube que tudo o que havia vivido até ali foi uma mentira, e assim eu pensava.
– Alex...
– Eu culpei minha mãe e passei a desafiar o meu pai, o Adriano. Meus irmãos eram pequenos demais e não entendiam por que o tão certinho e amoroso Alex passou a ser um problema insuportável. Simplesmente não aceitava mais a presença do meu pai, recusava a sua autoridade, desfazia tudo o que minha mãe dizia. Resumindo, transformei minha casa em um inferno. Foi quando comecei a beber e fumar. Minha mãe quase morreu quando me viu com um cigarro na boca a primeira vez.
Ri da lembrança, ela não me acompanhou. Charlotte estava com uma expressão sofrida, como se fosse capaz de sentir a minha dor.
– Quando eu fiz 15 anos, coloquei na cabeça que tinha que conhecê-lo. Minha mãe ficou louca, dizia que ele tinha ido embora, que não sabia nada mais a seu respeito. Meu pai, lógico, ficou muito magoado. Ele fazia tudo por mim, nunca me tratou diferente e me ama como se eu fosse o seu filho.
– E você é filho dele.
– Eu sei. – Acariciei seus dedos, me sentindo triste por fazê-la ouvir aquela parte ruim da minha vida.
– Vou resumir um pouco mais. Procurando com as poucas informações que minha mãe tinha e usando a internet a meu favor, consegui descobrir os meus avós em uma cidadezinha do México. Adriano não queria, porém eu disse que iria de qualquer jeito, então minha mãe, com medo de que eu fizesse mais alguma bobagem, financiou minha ida até a casa dos pais do Antônio. Lá, eu descobri que ninguém sabia da minha existência. Ele nunca havia contado que teve um filho, dá para acreditar?
Ela negou com a cabeça. Mesmo com a pouca luz do final do dia, deu para perceber que Charlotte estava com os olhos cheios de lágrimas.
– Eu consegui, por meio de um amigo do irmão dele, um endereço no Havaí. Foi de onde veio seu último postal. Liguei para minha mãe e contei. Ela me implorou para não ir, mas eu não desistiria, então consegui mais um pouco de dinheiro e fui atrás do Antônio.
– Você o conheceu? – Ela ficou alerta.
– Eu esperava chegar naquele endereço e encontrar um coroa surfando. Cheio de gírias e manias. Um homem que me diria que a vida era assim mesmo e que eu não deveria tê-lo procurado.
– E não foi o que aconteceu – ela sentenciou, fazendo-me concordar com a cabeça.
– No endereço que eu tinha em mãos, me indicaram uma hospedaria velha, jogada em um lugar esquecido. Fui até lá, procurando o Antônio, um surfista mexicano. A mulher reconheceu em mim os traços dele e resolveu me ajudar. Eu o encontrei em um pequeno quarto, abafado e não muito limpo. O homem que conheci não era nada do que eu esperava. Era alto, como eu, mas estava magro demais, quase sem cabelo, um aspecto doentio que me assustou consideravelmente.
– Ele estava doente?
– Tinha AIDS.
Charlotte levou a mão à boca e me olhou com aflição, sem saber o que dizer.
– Eu o encontrei em seu estágio mais avançado. Na época, ter AIDS não era como hoje. Não era fácil conviver com a doença, nem com a discriminação. Antônio não demonstrou desprezo nem qualquer outro sentimento ao me conhecer. Apenas falou que nunca imaginou que eu o procurasse um dia, e comentou que eu não tinha nada da minha mãe, que saí totalmente parecido com ele. Não sei se isso me revoltou mais do que o fato de ele não demonstrar nenhuma emoção quando me viu.
– Eu sinto muito.
– Fiquei arrasado, Charlotte. Não queria simplesmente chegar lá, mostrar a ele o que eu era, o que ele tinha deixado para trás, eu queria respostas... sei lá o que eu queria exatamente. Só sei que coloquei minha mochila no canto do quarto e fiquei sentindo muita raiva. “Você vai se arrepender de ficar, moleque”, ele disse sorrindo, sem se incomodar.
– Meu Deus, Alex!
– Depois da primeira noite, na qual eu acordava por segundos com ele tossindo, como se os pulmões não correspondessem, liguei para a minha mãe e contei tudo. Ela exigiu que eu voltasse, enquanto Adriano preferiu me ensinar tudo o que eu precisava saber sobre a doença do Antônio e me orientou como conviver com ele. Foi naquele momento que o meu pai, o Dr. Adriano Frankli, me mostrou o homem incrível que ele era, e eu entendi o quanto havia sido injusto com ele.
– Eu entendo – ela sussurrou, deixando escapar uma lágrima.
– Vivi um ano e dois meses com o Antônio. Ele não era um exemplo de pai. Na verdade, era mais para um colega de quarto, um amigo de bar, do que um pai realmente, mas ele me respeitou. Conversamos muito, em muitos momentos, e ele conseguiu me explicar os seus motivos. Não que eu aceitasse ou concordasse, só fui ficando. Surfamos juntos, pescamos, trocamos algumas ideias, e seu estado foi deteriorando cada vez mais. Duas semanas antes da sua morte, precisei hospitalizá-lo. Antônio estava muito debilitado, falava pouco, parecia se entregar à morte. Uma semana antes, meus pais resolveram viajar para me encontrar. Meu pai acompanhou o quadro do Antônio e soube que nada mais poderia ser feito, pois ele estava com uma infecção grave e generalizada. Logo depois, Antônio morreu.
– Sinto muito.
– Eu posso não ter conhecido o Antônio a minha vida toda, mas no tempo em que passamos juntos, ele me ensinou a amá-lo da forma como ele era, Charlotte. Nunca vou entender os motivos de ele ter me abandonado e também não posso esquecer o amigo que ele foi quando estivemos juntos e a forma como encarava a vida.
– Eu sei.
– Antes de ele morrer, no último dia antes de precisarmos interná-lo em um hospital, ele me disse que minha mãe era uma mulher incrível e que a melhor coisa que ele pôde fazer por ela foi ter ido embora. Ela nunca seria feliz ao lado dele e ele nunca seria capaz de fazer de mim uma pessoa melhor. Ele foi embora e minha mãe conheceu o cara certo, juntos, eles fizeram um ótimo trabalho comigo. Disse que eu era um garoto do bem, que era uma pessoa boa e generosa, que, se ele pudesse, agradeceria pessoalmente ao homem que foi meu pai de verdade, e foi o que ele fez. Antes de perder totalmente a consciência, me disse que se orgulhava de ter um filho como eu, me pediu para ser um homem de bem, uma pessoa correta e nunca parecer com ele em nada. – Sorri, apesar de saber o quanto aquela parte me machucava. Como não ser igual a ele se eu era a sua cópia?
– Sinto muito, Alex. Sinto muito mesmo. – Ela se aproximou e me abraçou.
– O lado bom disso tudo foi que voltei para casa e me tornei outra pessoa, Charlotte. Entendi a minha dor, compreendi o quanto foi necessária. Amadureci com ela. Meu pai voltou a ser o meu melhor amigo e eu acho que nunca antes eu tinha pensando em minha mãe com tanto orgulho.
– Você é um filho incrível – ela disse emocionada.
– Eu me tornei. Devo isso a eles. Acho que só me rebelei quando escolhi minha carreira profissional.
Ela riu em meus braços.
– Agora você sabe que também perdi alguém importante. Ele pode não ter sido o meu pai, mas foi parte fundamental da minha vida e senti muito a sua morte.
– Isso é triste – ela fungou em meu peito.
– A vida não pode ser sempre alegre, nem conter somente histórias de sucesso... seria muito sem graça, Charlotte. – Acariciei seus cabelos, acolhendo-a ainda mais, sem conseguir tirar da cabeça o pesadelo que era a minha história com Tiffany.
– Eu sinto tanto a falta dela. Às vezes me pego pensando quando poderei ouvi-la outra vez, ou em que momento ela vai passar por aquela porta... Sei que a vida tem que continuar, só não sei o que fazer com a dor que sinto.
– Clarice Lispector uma vez disse “há momentos na vida em que sentimos tanto a falta de alguém que o que mais queremos é tirar essa pessoa de nossos sonhos e abraçá-la”.
– Charlotte levantou a cabeça e me olhou com atenção, eu sorri e acariciei seu rosto.
– Posso ser sincero com você?
Ela concordou com a cabeça.
– Esta dor nunca vai passar. Você vai voltar a sorrir de verdade, a se sentir feliz, continuará a viver sua vida sem que este seja o seu entrave, mas, lá no fundo, bem lá no fundo, vai se lembrar dela e de como gostaria de dividir aquele momento com ela, ou vai pensar em como seria se ela estivesse por perto e, posso garantir que, muitas vezes, vai se surpreender contando a ela o que pensa a respeito de muitas coisas. Esta é a parte boa, amor. Sua mãe, assim como o Antônio, fez a parte dela, marcou a sua vida da forma como pôde, e nem a morte vai conseguir impedi-los de continuar, porque eles estarão aqui. – Toquei o peito dela, no lugar do coração. – E aqui. – Coloquei a mão sobre o meu. – E nós temos obrigação de continuar por eles. Por todos os que continuam aqui.
– Obrigada! – Ela se agarrou em meu pescoço, chorando. – Obrigada, Alex!
– Pelo quê? – Ri baixinho, abraçando-a com vontade.
– Por ser o meu príncipe encantado. Por me salvar sempre do castelo, do dragão e de mim mesma. Por ser sempre tão incrível, o que só faz com que meu amor aumente e, um dia, ele não vai mais caber em mim.
– Eu também te amo, Charlotte. Muito!
E me deixei consumir em culpa.
CAPÍTULO 26
“Não se deixe levar pela distância entre seus sonhos e a realidade. Se você é capaz de sonhá-los, também pode realizá-los.”
William Shakespeare
CHARLOTTE
Alisei pela milésima vez o meu vestido rosa-chá. Ele era bem-comportado, apesar de acentuar a cintura, descia solto pelos quadris e tornava-se esvoaçante, ganhando movimentos ao andar. Alex o havia aprovado, apesar de eu ter percebido um sorriso estranho em seus lábios, como se ele desconhecesse aquele meu outro lado.
Claro que estava nervosa. Apesar de conhecer Dana e Adriano, de eles serem meus sogros e tudo o mais, eu não sabia como seria na casa deles, embora tivesse a certeza de que nada de errado poderia acontecer... Droga! Era a primeira vez que eu seria recebida de maneira formal como a esposa do filho mais velho deles.
– Não tem motivo para ficar tão nervosa, amor – ele disse logo atrás de mim, enquanto aguardávamos o elevador. – Adriano e Dana sabem se comportar. – E havia um “quê” de deboche em sua voz.
– É estranho só conhecer a casa dos seus pais tanto tempo depois de termos nos casado.
– Não é estranho. – Com a mão na minha cintura, ele me conduziu para dentro da luxuosa cabine. – Tudo em nosso relacionamento foge do padrão. Não poderia ser diferente
Virei para Alex e ele sorriu lindamente. Tive que sorrir para ele, como se seu sorriso fosse só o que me bastava.
– Tudo bem, então. – Voltei a ficar de costas. – Avisou a Dana que eu sou alérgica a condimentos?
– Você é alérgica a condimentos? – Ele pareceu preocupado e o meu sorriso ficou imenso.
– Ah, sim! Muito alérgica mesmo. Da última vez que colocaram pimenta cominho em minha comida, meu rosto ficou deformado e minha garganta fechou. Foi um horror! Quase morri.
– Está falando sério?
– Aham! Ah, e abacaxi costuma me deixar toda empolada.
– Empolada?
Mordi os lábios para não rir alto.
– Eu nem sei o que eles prepararam, mas é importante avisar assim que chegarmos.
– Claro! Quando fico empolada é tão ruim que ninguém pode encostar um dedo em mim por uma semana.
– Está brincando, não é?
– Não. Eu fico toda empolada mesmo. Até... lá... você sabe. – E virei para olhá-lo.
Alex me encarou sem saber o que fazer com a minha informação. Mantive o rosto sério o máximo possível.
– É mesmo?
– Sim. E nem vai acreditar o que melhora quando fica empolado... lá... embaixo. – Fiz cara de inocente e o vi engolir em seco.
– E o que seria?
– Saliva.
Alex levou um tempo me avaliando, depois, lentamente, seus olhos ficaram estreitos e aquele sorriso preguiçoso se esticou em seus lábios.
– Puta merda, Charlotte! Você é muito safada. – Seus olhos ficaram quentes.
Mordi os lábios e voltei a olhar a porta do elevador. Estávamos quase lá. Alex me segurou pela cintura, me puxando de encontro aos seus quadris. Um volume cheio de promessas estava lá, cutucando minhas costas.
– Vou dar um jeito de só deixar você comer abacaxi esta noite.
Ri sem conseguir me conter. O elevador começou a parar com uma luz piscando no painel.
– É sério. Você é alérgica a alguma coisa?
– Falta de sexo conta?
Ele se prendeu ainda mais em mim e seus lábios pressionaram meu pescoço.
– Conta. Vou te levar para conhecer o quarto de TV.
– Alex, eu falei brincando...
A porta se abriu, ele me manteve firme e me fez sair do elevador.
Adriano e Dana já nos aguardavam com a porta aberta, duas taças e sorrisos encantadores. Eu estava vermelha, arfante e nervosa, ainda mais nervosa. O que Alex pretendia fazer?
– Charlotte! – Dana me abraçou, me entregando uma das taças. – A noite hoje é em sua homenagem. Não faz ideia do quanto estamos felizes por vê-la de volta.
– Todos nós estamos. – Dr. Frankli me deu um beijo rápido no rosto e sorriu para o filho.
Depois de saber de toda a história deles dois, eu não podia deixar de olhá-los e me emocionar. Era tão lindo saber que existiam pessoas como eles e como os meus pais, que amavam incondicionalmente, que eram capazes de aceitar o que a vida lhes oferecia e fazer o seu trabalho da melhor maneira possível. Ele era o verdadeiro pai de Alex, o que o fez ser aquele homem lindo e incrível, e eu era grata por tudo o que ele havia feito pelo meu marido.
– Será mais um sucesso? – perguntou ao filho enquanto entravam.
Claro que se referia à feira, e Alex ficou animado, deixando para trás a nossa conversa e a sua promessa.
– Temos mais duas convidadas – Dana anunciou eufórica.
Passamos pelo pequeno corredor que nos levava para o interior do apartamento, encontramos uma pequena sala e, ao passarmos por ela, encontramos uma sala imensa, com diversos ambientes muito bem decorados, um piano de cauda e um violão exposto ao lado. Havia um bar completo, um sofá enorme, uma porta de correr que dava acesso a uma varanda gourmet e ao fundo o mar.
Do outro lado, outra sala com móveis diferenciados e uma escada que levava ao andar de cima. Muitos quadros, jarros e tudo o que poderia existir de decoração para deixar o ambiente o mais moderno possível.
Vi João Pedro em um canto, um copo de uísque na mão e, no rosto, uma expressão carrancuda. Alex se aproximou e nem assim ele se animou. Tentei imaginar o motivo daquele jeito tão fechado, já que o professor João sempre foi o mais entusiasmado.
Assim que ouvi a risada de Lana e meus olhos a encontraram, entendi o motivo do mau humor de João Pedro. Aline estava lá. Linda, risonha, cheia de charme, encantadora em seu vestido branco que só a tornava ainda mais maravilhosa com aquela pele cor de jambo. Ela era realmente linda. Sorri largamente ao me dar conta de que eu não havia ficado abalada em nada com a sua presença.
Uma garota com traços asiáticos, magra, cabelos negros escorridos e cortados na altura das orelhas estava ao lado dela. Ela sorria educadamente e se mantinha atenta a tudo o que Aline fazia. Lana conversava com as duas enquanto ria de tudo o que Aline dizia. O telefone tocou e Dana precisou me deixar para atender.
Fui até o grupo das meninas e Lana me recebeu com alegria.
– Já conhece a Aline? – perguntou enquanto me abraçava.
– Claro que já nos conhecemos. Charlotte quase me bateu pensando que eu estivesse transando com Alex. – A garota asiática sorriu e Aline lhe lançou um olhar cheio de ternura. Entendi que ela era a sua garota. – Como estão as coisas? E a ressaca?
– Ressaca? – Lana quis saber, me encarando com divertimento.
– A garota aqui é boa de copo. Nem acredito que hoje ficará apenas no vinho.
Olhei para a minha mão e senti o enjoo tentando se apresentar.
– Na verdade. – Entreguei a taça a Lana. – Acho que vou ficar apenas com água,
Aline riu abertamente enquanto Lana entregava a taça a um garçom que circulava discretamente entre os convidados.
– Água, por favor – pediu educadamente.
– Charlotte, esta é Sayuri, minha noiva.
A oriental me estendeu a mão com um sorriso brilhante.
– Está vendo? Você não tem mais motivos para querer me bater.
– Oh, meu Deus! Eu me sinto horrível por tudo aquilo – revelei, sentindo meu rosto corar.
– Preciso saber todos os detalhes sórdidos – Lana rebateu, recebendo o copo com água e me entregando.
– Água? – Alex se aproximou, me abraçando pela cintura.
– É melhor evitar outro ataque como o de ontem – Aline provocou e sua noiva deu risada junto com Alex.
– Nós não corremos este risco – ele disse todo orgulhoso. – Você é Sayuri? – Ele apertou a mão da noiva da sua melhor amiga e sorriu educadamente. – Aline sempre teve bom gosto.
Ok! Eu podia matá-lo?
– Não provoque – Aline advertiu e depois riu. – Não somos mais adolescentes, Alex.
E eles trocaram um olhar cheio de cumplicidade que despertou a minha curiosidade. O que aqueles dois andaram aprontando na adolescência?
– Pelo visto, já conhece a minha esposa – Alex falou e Aline revirou os olhos, virando-se para a noiva.
– Até parece que só ele tem uma esposa aqui. Dá para acreditar em um cara mais besta? – E sorriu apaixonadamente para a noiva.
Aline era intrigante. Era a típica mulher fatal. Linda, meiga, divertida, abusada e sensual na medida certa, como o decote que usava e abusava naquela noite; mas era lésbica, o que me confundia um pouco.
– Estou me coçando de vontade de te abraçar, Lana – ela disse, rindo. – Só para ver os olhos do João arregalarem.
– Para com isso. – Mas minha cunhada também ria. – João continua sendo o mesmo tolo ciumento de sempre, vai acabar se acostumando, já que você veio para ficar.
– Assim espero. Não abro mão de você. – Aline piscou e eu percebi certo olhar inseguro por parte da Sayuri.
Neste momento, Patrício e Miranda entraram na sala e eu fiquei mais do que feliz em poder abraçar a minha amiga. Ela estava linda e todos no recinto concordaram com a minha opinião. Miranda vestia um vestido simples, preto, justo ao corpo, sem decotes, mas abusava dos acessórios que enfeitavam toda a sua produção, sem contar os saltos altos e os cabelos presos que a deixavam ainda mais bonita. E ela sorria largamente, como se a felicidade habitasse nela.
– Chegou sua amiga – Alex disse baixinho em meu ouvido, em um tom de reprovação.
O que ele tinha contra ela? Não tive tempo para perguntar, pois Patrício se aproximou cheio de graça para Aline.
– Deusa! – brincou, fazendo a minha amiga apertar minha mão com força. – Nem acredito que ficou mesmo neste caminho. Com todo respeito. – E beijou a mão da noiva de Aline, que sorriu como se soubesse como ele era.
– Digamos que seria complicado ficar em um relacionamento tão cheio de competição. – E ela deu uma olhada cheia de significados para Miranda, que se encolheu nada confortável.
Todos riram, deixando o clima mais leve.
Bom... todo mundo tem problemas, não?
– Vou levar Charlotte para conhecer a cobertura – Alex anunciou e tudo dentro de mim começou a se agitar. Para o lado bom e quente, é claro. Afinal de contas, a promessa do quarto de TV ainda estava no ar. – Aliás... – Ele se virou, procurando alguma coisa na sala. – Mãe? – Dana se virou em sua direção, sorrindo. – Teremos algum prato com abacaxi hoje?
Meu rosto virou um pimentão. Não um pimentão qualquer, mas um pimentão pegando fogo. Tive vontade de beliscar Alex. Ele continuava com aquela cara de garoto levado, um perfeito filho da mãe que dedicava seus segundos a me fazer passar vergonha no meu primeiro dia na casa dos seus pais.
– Abacaxi? – Dana repetiu confusa.
– Sim. Se não tiver algo nos pratos, pode providenciar algumas fatias para depois do jantar? Charlotte está ansiosa por um pedaço.
E eu pedi a morte.
– Não, Dana – tentei desfazer o que o cretino fazia comigo naquele momento, mas minha sogra era muito atenciosa e jamais deixaria passar um pedido meu. Merda!
Eu até já podia imaginar Alex passando a língua em mim para evitar que eu ficasse empolada. Porra! Eu já estava quente, ansiosa, úmida... E queria aquilo.
– Posso arrumar tudo agora mesmo. Por sorte, fui à feira esta semana. Adriano sabe que gosto de acompanhar a Sabrina para escolher os melhores produtos. Comprei três abacaxis que vão deixar você salivando.
– Ótimo! – Alex respondeu. – Eu já estou salivando. Sorte sua, amor – completou bem baixinho em meu ouvido. – Ninguém vai morrer de alergia por aqui hoje.
Ele me conduziu em direção às escadas. Seus dedos firmes em minha cintura e seus passos decididos. Mas... E o abacaxi?
– Alex? – Dana o chamou antes que conseguíssemos deixar a sala. – Vou mandar servir o jantar. E já providenciei o abacaxi, Charlotte.
Puta que pariu!
Seguimos todos até a sala de jantar, que era tão elegante quanto todo o restante da casa. Uma mesa para doze pessoas estava perfeitamente arrumada. Todos sentaram como se soubessem os seus devidos lugares e eu acabei ficando entre Aline e Alex.
– Que conversa é essa de abacaxi? – ela sussurrou em meu ouvido sem chamar a atenção de ninguém.
– Não sei, Aline.
Mas meu rosto entregava todo o meu constrangimento. Ela riu abertamente.
– Ainda vou descobrir do que se trata. Pode acreditar nisso – gemi sem conseguir esconder meu descontentamento. – Não seja tímida. É bom compartilhar as novidades com as amigas. Assado? Não acredito, Dana! Como soube que eu implorava pelo seu assado?
Ela mudou de assunto assim, sem mais nem menos, e me deixou incapaz de dizer qualquer coisa.
A conversa girou sobre vários assuntos, demorando mais na viagem que faríamos e em como a editora conseguia se manter no topo em um mercado tão competitivo. Claro que ninguém quis conversar sobre a morte da minha mãe, no entanto, eu me lembrei dela e de toda a sua alegria em eventos como aquele, fiz muito esforço para não me deixar abater.
Quando um pratinho contendo abacaxi foi colocado diante de mim, senti que minha mente não conseguiria mais focar em nada. Alex me olhou de maneira divertida enquanto todos os outros se deliciavam com as outras sobremesas.
– Não vai comer? – ele perguntou baixinho, para que somente eu ouvisse, mas Aline estava atenta.
E eu não poderia estar mais constrangida e ansiosa.
– E se eu tiver mesmo alergia? – tentei não chamar a atenção de ninguém.
Alex sorriu lindamente, pendendo a cabeça para o lado.
– Eu posso te salvar. – E suas palavras estavam cheias de promessas, luxúria, desejo...
Meu corpo correspondeu na mesma hora, deixando-me úmida no mesmo segundo em que sua língua umedeceu seus lábios.
– Coma.
Peguei um pequeno pedaço e coloquei na boca, mastigando sob o seu olhar atento, que parecia mais querer me devorar do que me salvar. Naquele momento, e de uma forma impossível, as duas palavras, devorar e salvar, tornavam-se sinônimas.
– Mais um pouco. – E meus pelos ficaram eriçados enquanto eu comia mais um pedaço da fruta saborosa que deixava a minha boca mais cheia de água do que o normal. – Assim.
Ele assentiu, deixando-me cheia de pensamentos pecaminosos.
– E vocês já estão com tudo pronto? – Adriano rompeu nossa bolha.
Alex o olhou como se nada tivesse feito.
– Sim. Eu gostaria de mostrar a cobertura a Charlotte.
– Claro! – Dana disse, se levantando.
– Não precisa, mãe. Eu faço questão de contar cada história que vivi aqui.
Neste momento, Aline deu uma risadinha cínica que me fez ter a certeza de que ela sabia o que faríamos. Recuei como a boa covarde que eu era.
– Pode ficar para depois. – Segurei forte em sua mão.
– Vai ser rápido. O apartamento nem é tão grande assim. – E ele me puxou sem se importar com a minha vontade, aliás, existia a minha vontade, mas não a minha coragem.
Enquanto ele me conduzia pela mão, com a segurança dos grandes mestres e a ansiedade dos adolescentes, eu me perguntava o porquê de ter inventado aquela brincadeira e o que me aguardaria quando chegássemos ao quarto de televisão.
– Você tem certeza de que quer mesmo fazer isso?
Ele parou, olhou para mim e me presenteou com aquele sorriso preguiçoso, que se estendia lentamente para um canto do seu rosto, deixando tudo muito mais sexy e tentador.
– O quê? Salvar a minha esposa?
– Alex, você sabe que foi mentira. – Revirei os olhos, sentindo que meu corpo entrava em uma crise existencial.
Por um lado, eu estava ansiosa e úmida. Desejando, mais do que qualquer outra coisa, viver aquela aventura com meu marido. Principalmente depois de tudo o que passamos e que quase nos levou ao fim. Eu queria poder atender a todas as suas expectativas, saciar as suas vontades.
Por outro lado, aquilo seria extremamente desrespeitoso.
Que espécie de nora eu seria ao permitir que Alex me envolvesse naquela loucura? E se Dana ficasse ofendida? Isso, claro, se ela chegasse a desconfiar. Mas e se desconfiasse? Era a primeira vez que eu ia à casa deles, então simplesmente me deixar ser conduzida era aceitar correr riscos que eu sabia que seriam irremediáveis. Caso fôssemos flagrados, lógico!
– Eu não sabia que a minha esposa mentia para mim. – E continuou sorrindo, no entanto, seu sorriso se tornou algo mais perverso.
Engoli em seco.
– Você... – Fechei os olhos, tentando organizar os pensamentos. – Você está me confundindo.
– Deve ser o efeito do abacaxi. – E voltou a andar, me puxando pela mão.
– O efeito não seria me deixar empolada?
Passamos por uma parede repleta de quadros interessantes que ganharam imediatamente a minha atenção.
– Vai entender os efeitos de uma alergia, não? Pelo menos sabemos qual o melhor remédio.
Puta que pariu! Alex conseguia me deixar com as pernas bambas com aquelas palavras cheias de promessas.
– Este era o meu quarto – ele indicou, passando por uma porta simples, de madeira clara, que estava fechada. – Já pedi para minha mãe transformá-lo em alguma coisa mais produtiva, mas ela teima em manter os quartos como eram. Quem sabe, agora que estamos casados, ela mude de ideia.
– Não vai me levar para conhecê-lo?
Ele me olhou rapidamente, ainda sorrindo como um menino travesso.
– Não agora. Nós vamos para lá. – E apontou para as portas duplas, grandes, no final do corredor, bem distante.
Longe de curiosos. Arfei.
– É a sala de TV?
– Exatamente. Você vai gostar.
– Tenho certeza de que sim. – E sorri também sentindo meu corpo se entregar cada vez mais à sensação de antecipação dos fatos.
– Animada? – Ele me olhava e sorria enquanto continuava andando, só que com mais pressa para alcançarmos a porta.
– Não sei ao certo. – Olhei para os lados para verificar se estávamos realmente sozinhos. – Existe alguma chance de alguém...
– Duvido muito. – Ele abriu a porta, parando antes de acender as luzes. – Minha mãe jamais seria tão indiscreta e meu pai, com certeza, nos apoiaria, independentemente do que estivermos fazendo.
Ele me puxou para dentro, envolvendo-me em seus braços e tomando meus lábios com a sede de um homem perdido no deserto. Rapidamente, meu corpo se acendeu, apesar do receio, e eu retribuí o beijo, como se minha vida dependesse dele.
A escuridão que nos cercava deixava tudo ainda mais místico. Eu sentia as suas mãos me buscando, me explorando com a mais pura luxúria. Minhas costas estavam encostadas na parede fria, apesar disso, meu corpo estava quente.
Porra, eu sentia meu sangue borbulhar! Minha pele esquentar a uma temperatura tão absurda que, por um instante, acreditei que a alergia fosse real e ansiei pelo antídoto que apenas meu marido poderia me dar.
– Agora, sim, você está animada, Charlotte – ele disse com a voz ofegante.
– E você parece um adolescente ansioso para transar com a namoradinha na casa dos pais – provoquei.
Meu marido se afastou e acendeu as luzes. A claridade me fez fechar os olhos. Logo em seguida, os abri e contemplei a imensa sala, com um sofá que acomodava quinze pessoas tranquilamente e uma tela de TV tão grande que poderíamos comparar o local a um cinema particular. Ao canto, uma mesa de cartas e outra de pebolim, com aqueles bonequinhos presos em uma vara que os meninos adoravam perder o tempo fingindo ser um time inteiro. Sorri, imaginando se Alex ainda brincava nele.
As paredes eram forradas com papel creme com pequenas flores e, no chão, de frente para o sofá que se fechava em um “c”, havia um tapete felpudo e atraente. Grandes cortinas vedavam as janelas, permitindo que o ambiente ficasse completamente escuro.
– Gostou?
– Sim. Vocês ficam muito aqui?
– Muito. Eu, pelo menos, ficava bastante. Ainda nos reunimos aqui de vez em quando.
– É? Legal demais!
– Você é engraçada. – Ele riu baixinho.
– Por quê?
– Porque uma pessoa com o dinheiro que você tem não deveria ficar deslumbrada com tanta facilidade.
Ri. Alex realmente não sabia muito a meu respeito.
– Tínhamos uma sala de TV quando morávamos todos juntos. Quando entrei para a faculdade, preferimos morar em um lugar menor, que fosse mais a minha cara e da Miranda, já que meus pais estavam sempre viajando e Johnny decidiu que deveria ter a vida dele separada da nossa. Já faz tanto tempo que a que tínhamos não se comparava a esta. – E suspirei, sentindo saudade de quando a vida não era tão complicada e eu não precisava conviver com a ausência da minha mãe.
– Você é muito simples para alguém que vai herdar uma fortuna, Charlotte.
Olhei para o meu marido e seus olhos estavam tão focados nos meus que me vi presa. Ele me olhava com ternura, admiração, e ainda havia um pouco de orgulho... não sei ao certo. Aquele olhar fez o meu coração inflar. Eu amava quando Alex conseguia transpassar minha alma apenas olhando para mim.
– Eu não vivo pensando no dinheiro que vou herdar, Alex. Não me deslumbro com facilidade, apenas gosto de sentir a harmonia dos ambientes. Este aqui seria algo gostoso de descrever. Não sei por que você vive esperando que eu demonstre ser a garota rica, que gosta de usufruir do que o dinheiro pode me proporcionar. Eu não sou assim. Não posso dizer que minha vida não é muito mais fácil tendo sempre dinheiro para satisfazer todas as minhas vontades e realizar todos os meus desejos, mas, de verdade? Minhas vontades não ultrapassam o limite de algumas viagens, livros e pizzas aos finais de semana.
Ele sorriu e acariciou meu rosto.
– Você é uma menina linda! – Ele me puxou para seus braços com um carinho impossível de não ser sentido. E me envolveu como quem envolve a uma criança.
ALEX
Como não amar ainda mais a minha Charlotte? Ela era tão incrível, linda, simples, leve, tão perfeita que eu me via obrigado a pensar no quanto me sentia grato e sortudo por tê-la, e um grande filho da puta por ter bebido e transado com Tiffany. Tá legal que minha esposa muitas vezes abusava da infantilidade e também não posso negar que, quando ela tinha um problema, também se tornava um problema, porém o que eu podia exigir de alguém com um histórico como o dela?
Nada.
E, para falar a verdade, eu gostava de Charlotte do jeitinho como ela era. Se ela não fosse aquela menina cheia de vontades, nunca teria me feito embarcar naquela loucura. Eu realmente não teria aceitado, porque, verdade seja dita, eu também soube criar um dramalhão que me fez arriscar demais o nosso relacionamento. E eu merecia a morte por ter feito tal merda.
Por isso, quando a vi com olhos brilhantes, encarando aquela sala como se fosse algo realmente encantador, perdi completamente o foco. Charlotte era uma menina linda!
– Mas não foi para isso que você me trouxe aqui.
Sorri largamente.
– Eu sei que sou linda, que sou uma garota legal, que você adora ficar com esta cara de bobo me olhando como se eu fosse o centro do seu mundo, só que a minha pele está empolando, professor Frankli. – E ela me olhou com aquela carinha inocente que fazia meu sangue circular com mais velocidade.
– Está? – Estreitei os olhos, segurando os braços da minha esposa para conferir. – Acho que este caso é grave.
– Gravíssimo! – ela completou séria, representando o seu papel.
Charlotte era incrível!
– Vamos ver o que posso fazer para minimizar seu incômodo.
Levei seu antebraço aos lábios, beijando a pele da parte externa, deixando que minha língua brincasse na região. Charlotte estremeceu e se movimentou angustiada.
– Melhor assim?
– Não, professor. Acredito que o senhor pode fazer melhor.
– Melhor?
– Sim. Muito melhor.
– Vou dar um jeito nisso.
Me afastei, indo até a porta para trancá-la. Eu sabia que ninguém subiria para nos incomodar, mas o seguro morreu de velho, não? Era melhor não abusar da sorte.
– Venha aqui! – chamei minha esposa enquanto andava em direção ao sofá, procurando um lugar mais confortável.
Charlotte obedeceu imediatamente.
– Aqui.
Segurei-a pelos quadris, posicionando-a de forma a deixá-la encostada no fundo do sofá, onde suas mãos poderiam encontrar apoio.
– Agora me deixe ver a extensão do seu problema.
– Alex! – Ela arfou quando levei minhas mãos para dentro do seu vestido, alcançando facilmente a calcinha.
– Preciso investigar o seu caso, Charlotte. – E notei em minha voz o quanto minha excitação correspondia ao que fazíamos. – Fique quietinha que vou verificar a gravidade da situação.
Ajoelhei a sua frente, levantando o vestido e abaixando a calcinha ao mesmo tempo. Vi quando minha esposa segurou firme no encosto do sofá e quando a sua pele ficou arrepiada.
– Puta merda, Alex! – Ela gemeu em expectativa. Depois riu baixinho enquanto eu tocava as laterais do seu corpo. – Desculpe, é impossível não pensar em um palavrão.
– É uma boa hora para xingar, Charlotte.
Deixei que meus dedos brincassem em seu sexo já úmido, esfregando o líquido por toda a região e me deleitando com a maneira como ela facilmente se entregava. Olhando-a atentamente, vi quando seus olhos se fecharam de prazer e sua cabeça tombou ligeiramente para trás. Era um show e tanto!
– Ah, Deus! – Ri em deleite ao sentir Charlotte movimentar os quadris em meus dedos, mesmo que timidamente.
– Seu corpo está ardendo?
Levantei, mantendo meus dedos lá, brincando com o juízo da minha esposa.
– Oh, merda, Alex! Está... sim, está – ela sussurrou entregue, fazendo-me entrar em júbilo.
– Onde arde?
Charlotte abriu os olhos e me encarou. Mordeu o lábio inferior e se movimentou um pouco mais.
– Acho que... – gemeu quando deixei um dedo entrar em sua carne.
– Onde?
– Aqui! – Tocou o seio, me indicando por onde eu deveria começar a curá-la.
– Aqui? – Apalpei seu seio ainda por cima do vestido e ela apenas concordou com a cabeça, deixando a boca um pouco aberta de prazer. – Mostre-me.
Charlotte entendeu meu pedido e, com a mão, puxou o vestido para o lado, deixando o seio escapar. Imediatamente o tomei na boca e minha esposa gemeu mais alto, sua mão afundando em meus cabelos e me levando para perto.
Senti o bico já rijo na ponta da minha língua e a pele cheirosa e saborosa da minha esposa em minha boca. Chupei o seio, ouvindo seus gemidos de prazer e, quando mordi o mamilo, afundei meu dedo em seu sexo.
– O outro – pedi e ela prontamente me atendeu, afastando o tecido para liberar seu outro seio.
Segurando e acariciando um, brinquei com o outro até que os dois estivessem extremamente sensíveis. Charlotte gemia baixinho, como se não quisesse que alguém nos ouvisse, no entanto, continuava com as mãos em meus cabelos, mantendo-me cativo em seu corpo, enquanto rebolava em meus dedos, bem lentamente, de forma a aumentar o prazer que corria em suas veias.
Subi os lábios pelos seios e alcancei o pescoço, indo até a orelha. Charlotte estremeceu, virando o rosto, me oferecendo maior acesso. Mordi a pele, lambi com delicadeza, vendo-a suspirar e se contorcer manhosamente.
– Até aqui está tudo certo – informei ao lamber o lóbulo da sua orelha.
Ao mesmo tempo, retirei os dedos de dentro dela, acariciando levemente os lábios e pressionando o clitóris. Charlotte gemeu, puxando o ar com força.
– Mais algum lugar para ser inspecionado?
Mordi o lábio para não rir, vendo-a tão entregue, e apertei um pouco mais o seu clitóris, só para vê-la estremecer.
– Ah! – Ela gemeu. – Não sei. O que sugere? – Me olhou daquela forma que me fazia perder a noção do que era certo ou errado. Inocente e ousada ao mesmo tempo. A mistura perfeita.
– Podemos verificar um pouco mais abaixo. O que me diz?
Antes que ela pudesse me responder, desci, ajoelhando diante dela, levantando o vestido para verificar o seu estado. Charlotte se movimentou ansiosa quando meus dedos a abandonaram; nada disse, apenas aguardou.
A calcinha estava baixa, presa em suas coxas roliças, revelando o seu sexo úmido, a pele levemente brilhosa e o pontinho inchado, implorando para ser tocado, lambido, chupado. Porra! Senti a boca salivar de desejo.
– Alex... – ela gemeu, esfregando uma perna na outra.
– Onde arde?
– Eu...
Olhei para a minha esposa, que estava com os olhos fechados e mordia o lábio inferior.
– Puta que pariu!
Sorri satisfeito.
– Vou te ajudar. É aqui que arde? – Toquei suas coxas, deixando que meus dedos apertassem e se esfregassem nelas.
Charlotte se contorceu mais quando meus lábios encostaram em sua pele. Beijei e lambi uma coxa, chegando bem perto do seu sexo, que já exalava um cheiro fantástico de desejo e excitação. O cheiro que apenas Charlotte tinha, que havia se tornado o meu perfume predileto nos últimos meses. Fiz o mesmo na outra coxa, lambendo a parte interna e deixando a língua experimentar a junção da sua coxa com o seu sexo. O sabor era perfeito.
– Melhorou? – Olhei mais uma vez para a minha esposa e ela negou com a cabeça, mordendo os lábios e mantendo os olhos fechados. – Talvez aqui...
Passei a língua em seu sexo, concentrando-me apenas nos grandes lábios, sem tocar na parte mais sensível. As pernas de Charlotte fraquejaram.
– Assim ficou melhor?
– Muito melhor – ela sussurrou e seus dedos se fecharam em meus cabelos. – Mais um pouco.
– Assim? – Fechei a boca no meio da vagina, saboreando os grandes e pequenos lábios, introduzindo a língua para que a brincadeira ficasse completa.
– Porra, Alex! – grunhiu, me puxando com força de encontro ao centro entre as suas pernas.
Chupei mais um pouco a carne, sentindo seu prazer escorrer em meus lábios, se alojando em minha língua, com um sabor sem igual. Então Charlotte rebolou em minha boca e foi a minha vez de gemer. Corri a mão entre suas coxas e acariciei minha esposa, introduzindo o polegar em sua entrada enquanto a chupava avidamente.
Ela abriu mais as pernas, alojando minha cabeça bem no meio delas, aproveitei para virar a mão, mantendo o polegar em sua vagina. Fechei os dentes em seu clitóris e deixei que meu dedo do meio chegasse a sua bunda, acariciando aquela entrada também.
– Oh, Deus! Alex! – gemeu com força.
O rebolado ficou mais intenso, pois Charlotte se esfregava em minha boca, enquanto empinava a bunda para que meu dedo a alcançasse com mais propriedade. Senti aquele ponto que eu tanto desejava, passei o dedo por ele, ouvindo o quanto ela gostava daquele contato. Lambi o clitóris, pressionando ligeiramente. Logo em seguida, fechei os lábios nele e chupei com voracidade, sentindo que minha esposa estava no limite.
Sugando-a com mais intensidade, deixei que meus dedos brincassem em suas duas entradas e subi a outra mão até o seu seio, apertando-o até ouvi-la choramingar de prazer. E então, aproveitando que Charlotte abriu ainda mais as pernas, se inclinando sobre o encosto do sofá, introduzi o dedo em sua bunda e senti sua carne se retesar, prendendo-me ali.
Chupei seu pontinho com mais determinação, ela estremeceu e relaxou. Enfiei e tirei o dedo, até conseguir mais mobilidade e perceber que ela estava relaxada ali. Porra, Charlotte gostava! Enfiei com mais vontade, unindo o movimento a uma chupada mais intensa e a puxada que dei em seu mamilo, beliscando-o.
Charlotte gozou em minha boca e foi delicioso. Prazeroso demais! Ela se contorceu, gemeu alto e ofegou, sentindo o prazer lamber seu corpo enquanto minha boca trabalhava em harmonia com minhas mãos. Suguei tudo o que minha esposa me oferecia e, assim que o corpo cedeu ao encanto do orgasmo, ela despencou com as pernas enfraquecidas, forçando-me a segurá-la por alguns segundos.
– O que foi isso? – gemeu, ainda incapaz de se manter de pé.
Ri baixinho, lambendo os lábios e sentindo seu gosto, que ainda me embriagava.
– Acho que a dose que utilizei para combater a sua alergia foi além da conta.
Ela sorriu, tirando os cabelos do rosto.
– Você é incrível, Alex! – E me olhou com aqueles olhos brilhantes que me tornavam seu escravo.
– Eu me esforço. – Beijei seus lábios com carinho. – Melhor agora?
– Muito melhor, professor Frankli.
E ela estava mesmo recuperada.
Charlotte me envolveu em seus braços, aprofundando o beijo. Eu estava excitado demais. Meu pau latejava e implorava pela minha esposa, porém eu sabia que seria arriscar demais. Já estávamos há muito tempo longe de todos. Seria abusar deixar que aquilo se estendesse.
Não foi o que Charlotte pensou.
Ela me cercou com seus braços e uma perna subiu pela minha, fazendo com que eu a buscasse e alisasse sua coxa. Seu sexo molhado, empatado pela calcinha enrolada que ainda estava lá, tentava encontrar o meu, que estava ansioso, brigando contra a cueca e quase explodindo em minha calça.
– É melhor voltarmos – alertei, me afastando dos seus lábios ansiosos.
– Não! – Ela me prendeu com mais força, exigindo meus lábios, que logo a atenderam.
Beijamo-nos com ardor. O desejo fluindo, nos envolvendo, nos prendendo um ao outro. Mas eu sabia que não podia, não era correto.
– Menina, não podemos ficar tanto tempo. Vamos esperar mais um pouco.
– Nada disso, Alex! Agora é a minha vez – resmungou, deixando claro que não aceitaria ser contrariada.
Suspirei.
– Charlotte, logo alguém vai procurar a gente.
– Você acha que pode fazer isso? – Nos girou, deixando-me entre o encosto do sofá e seu corpo. – Me trancar aqui nesta sala... – Começou a desafivelar meu cinto. – Me chupar até que meu cérebro se dissolva... – Enfiou a mão em minha cueca até encontrar meu pau e segurá-lo. – Me fazer gozar como se eu estivesse solta no universo... – Abriu minha calça. – E depois me dizer que temos que ir?
– Charlotte! – gemi ao senti-la me puxar para fora. Meu pau pulou, ganhando liberdade, e minha esposa imediatamente começou a me masturbar. – Olha o que você está fazendo!
– Estou olhando. – Aproximou-se, mantendo o movimento da mão, e beijou meu pescoço, roçando os dentes no local. – E estou adorando a vista.
A outra mão se juntou para me enlouquecer, segurando com propriedade meu pau pela base, enquanto a outra subia e descia, captando o pré-gozo que gotejava e espalhando-o por toda a minha extensão, facilitando o movimento. Eu estava muito excitado.
Sem conseguir pensar no risco que corríamos, segurei-a pela cintura, mantendo-a próxima, e busquei seus lábios em um beijo quente. Eu gemia em seus lábios e me deliciava com a promessa do que seria aquela brincadeira.
– Eu quero chupá-lo, Alex – ela murmurou cheia de luxúria.
Eu gemi, gostando de como ela fazia.
– Tem horas em que eu sou incrivelmente grato pela sua boca suja.
Ela sorriu e umedeceu os lábios.
– Gosta que eu diga que quero chupá-lo, professor.
– Hum-hum! – Mordi o lábio inferior e me permiti sentir o aperto mais firme que ela me dava.
– Gosta que eu fale sacanagem?
– Gosto, menina levada. Mas hoje, especificamente, vou adorar apenas vê-la com a boca ocupada enquanto me chupa. Vou adorar foder a sua boquinha esperta e, principalmente, vou amar calá-la com o meu gozo.
– Adorei a proposta. – Ela sorriu com aquela inocência atormentadora e, imediatamente, caiu de joelhos, me enfiando em sua boca até chegar ao seu limite.
Senti seus lábios roçando minha carne e todos os meus nervos foram acionados. O prazer que me deu era impossível de descrever. Ela me engoliu lentamente e, quando começou a me retirar de sua boca, me olhou, fazendo-me assisti-la chupar até que apenas a cabeça estivesse entre seus lábios.
Gemi descontrolado quando senti sua língua brincar com a parte sensível e sua boca me sugar com gosto, mantendo apenas aquela pequena parte cativa. Depois, fechando os olhos, ela me engoliu de novo, correndo os lábios por toda minha extensão.
– Ah, Charlotte, assim!
Segurei seus cabelos, prendendo-os em minha mão, até que eu pudesse controlar seus movimentos conforme o meu desejo. Charlotte entendeu o meu recado e se deixou conduzir.
Segurando a sua cabeça pelos cabelos, me enfiei na boca da minha esposa, sentindo um prazer absurdo por poder fodê-la daquela maneira. Ela me recebia, deixando-me entrar com vontade e, quando eu saía, ela sugava, me acariciando com sua língua quente e aveludada.
Gemi intensamente.
Charlotte subiu as mãos pelas minhas pernas e, com muita ousadia, acariciou minhas bolas. Ah, eu adorava quando ela me pegava daquele jeito! Acariciou e brincou até que meu gozo ameaçou escapar. Parei um pouco, respirando com dificuldade.
Eu queria prorrogar o prazer, atrasar o máximo possível o gozo, mas ainda tinha consciência de que não tínhamos tempo e que, logo, Lana estaria batendo na porta. Não seria nada agradável parar antes de gozar, nem constranger Charlotte em uma situação tão delicada. Por isso, me permiti continuar enfiando-me naquela boca pequena, quente e deliciosa, cada vez com mais intensidade.
Minha esposa continuava me recebendo sem reclamar, engolindo-me até o último milímetro e me chupando como se meu pau fosse o doce mais saboroso que ela já colocou na boca. Porra, era uma delícia assistir nós dois naquela situação!
Encostei-me no sofá e deixei que Charlotte terminasse o serviço. Ela assumiu o controle e, voltando a me segurar com firmeza pela base, continuou a me chupar com intensidade. Senti meu gozo se aproximando, o prazer tomando conta de mim enquanto os lábios da minha esposa me levavam ao paraíso.
– Assim! Continua.
Ela sugou, me enfiando e tirando da sua boca. Lambendo a cabeça, chupando e me libertando. Era gostoso demais. Delicioso! Movimentei os quadris para aumentar o contato e, quando ela me fechou outra vez em seus lábios, me chupando, eu gozei sem aviso prévio.
Charlotte me tomou por completo, bebendo tudo o que meu gozo lhe entregava, até que meu corpo se partiu em espasmos e eu me vi fora daquele quarto, do mundo, da realidade. Éramos apenas eu, ela e o orgasmo que me devastava com luxúria. Uma delícia!
– Hum! Agora, sim, – Charlotte levantou, lambendo os lábios, e sorriu. – Agora podemos ir.
– Porra, Charlotte! – Me apoiei no sofá e respirei profundamente. – Você consegue me fazer perder o juízo.
– É bom. – Ela me olhava com atenção, como se quisesse captar alguma coisa em mim.
– É arriscado – comecei a arrumar minhas roupas. O medo de sermos descobertos martelava em minha cabeça.
– Você me chupa, deixa eu te chupar e depois fica com esta cara de pavor? Isso é tão adolescente, Alex! – E riu sem se importar em esconder aquela carinha de quem tinha acabado de gozar.
– É exatamente como eu me sinto ao seu lado, Sra. Frankli. Um adolescente apaixonado. – Puxei minha esposa para meus braços e enterrei o rosto em seus cabelos. – Tira a calcinha e me entrega – pedi com a mente cheia de pornografias. Coisas que apenas Charlotte me fazia pensar.
– Minha calcinha? – Ela continuou rindo enquanto eu cheirava seus cabelos e pescoço.
– Sim – sussurrei com a voz rouca. – Deixa eu ficar com esta. Deixa eu voltar para casa com ela em meu bolso.
Charlotte levantou a cabeça e me encarou com uma expressão divertida.
– Que tarado!
Mas ela adorou a ideia.
– Quero colocar a mão no bolso, senti–la em meus dedos e dormir sabendo que minha boca passeou em seu corpo. Passar a noite revivendo tudo o que fizemos aqui.
– Isso é bem coisa de tarado, Alex.
Charlotte se afastou e, me encarando, retirou a calcinha, colocando-a em minha mão. Levei a peça ao rosto e cheirei. Era inebriante. Sexo, excitação, gozo, desejo, prazer, tudo misturado.
– Nossa, isso, sim, é coisa de tarado – ela provocou.
– Muito tarado. – Voltei a puxá-la para mim enquanto me alimentava daquele cheiro que eu queria guardar para sempre. – Morro de tesão por você.
– Espero que seja só por mim, professor.
Por um segundo, perdi o fio da meada. Respirei fundo me recuperando.
– Só por você, menina birrenta! Você me enlouquece.
E a prendi em meus braços, capturando seus lábios mais uma vez, parei no meio do caminho ao ouvir a voz da minha irmã ainda distante, mas no segundo andar da cobertura.
– Vamos ou Lana vai sacar o que nós fizemos aqui.
Coloquei a calcinha no bolso, verifiquei nossas roupas e saí como se nada tivesse acontecido e com a pequena peça rendada queimando em meu bolso.
CAPÍTULO 27
“Não sujes a fonte onde aplacaste tua sede.”
William Shakespeare
CHARLOTTE
Bom... O que posso dizer... foi meio complicado sair do carro, acho que posso começar assim.
Depois do jantar na casa de Dana, nós tivemos dias de paz, mas aquela noite havia um clima todo especial. Eu havia passado a manhã com Johnny e Miranda, já que viajaríamos naquela noite, enquanto Alex trabalhou na editora, animado demais com os últimos detalhes do meu livro, mas, no horário do almoço, ele me pegou no meu antigo apartamento e fomos para um delicioso restaurante italiano.
Ele estava excessivamente carinhoso e romântico, sempre com olhares quentes, cheios de promessas, porém sem avançar ou passar dos limites. Tão logo Alex se viu seguro, em sua propriedade, imaginou que estivesse livre para iniciar o cumprimento de sua promessa silenciosa.
Eu usava uma calça jeans, uma bata branca com mangas compridas, presa por um laço nas costas e saltos altos, o que dificultou um pouco as coisas para ele. Por isso, depois de um rápido amasso no carro, onde ele só conseguiu passar a mão em muitas partes do meu corpo, acabou desistindo e aceitando que precisaríamos sair.
– Vamos entrar – o alertei antes que me alcançasse.
O que Alex estava pensando? Era dia, não havia nenhuma barreira e uma babá caminhava calmamente empurrando o carrinho de uma criança. Não dava para arriscar. Ele rosnou, mas caminhou a minha frente, e eu sabia que, assim que estivéssemos do lado de dentro, nada mais o deteria.
E foi o que aconteceu.
Ele abriu a porta, me segurou pelo braço, como se eu pudesse fugir se me deixasse livre, e a trancou, puxando-me para seus braços e se apoiando na porta.
Voltamos a nos beijar. Suas mãos afoitas estavam em todos os lugares ao mesmo tempo. O laço da minha camisa foi desfeito e rapidamente pude senti-lo em minha pele, apertando, amassando e roçando. Seus lábios também brincavam comigo, ora em minha boca, ora em meu pescoço, e eu não conseguia mais pensar em nada.
– Não podia ter colocado uma roupa mais fácil? – reclamou quando tentou tirar minha camisa e se confundiu com os botões da frente. – Vou rasgar esta porcaria – ameaçou seriamente.
– Não! – Segurei suas mãos. – Eu tiro.
– Charlotte...
– Uma coisa, Alex. – Me afastei e ele ameaçou me puxar de volta, o impedi. – Dê um fim na campainha.
Ele arqueou a sobrancelha sem entender.
– Vamos nos atrasar, então desligue todos os telefones.
Vi meu marido abrindo aquele sorriso sacana, cheio de promessas, tão preguiçoso e encantador que fodia com o meu juízo.
– Enquanto isso, vou lá para cima, preparar tudo para você.
– Preparar?
– Sim – tentei ser o mais sensual possível e tive medo de estar sendo ridícula.
Eu era muito mais o tipo estabanada, desajeitada e descoordenada.
– Porra, Charlotte! – Passou a mão pelo cabelo. Os olhos quentes, o desejo latejando em seu corpo. – Tudo bem, mas não vou demorar – alertou.
– Nem eu. – Sorri e dei as costas para tentar colocar meu plano em prática.
Entrei no closet, separei tudo o que precisava, perfumei as peças, troquei de roupa e aguardei meu marido. As cortinas fechadas, o quarto iluminado parcialmente, o som pronto para ser acionado e a música já escolhida “Touch my body”.
– Estou subindo – ele gritou da escada, todo animadinho.
Sorri, me perguntando se realmente conseguiria fazer.
Alex abriu a porta, olhou o ambiente e, então, me encontrou em um canto, vestindo um robe preto, o mesmo quase transparente que usei na noite em que descobri os seus brinquedinhos, usava meias finas e saltos altos. Ele sorriu torto e começou a caminhar em minha direção, o impedi.
– Na cama, professor Frankli. – Ele olhou para a cama e depois para mim. – Sem roupas.
Riu baixinho e começou a se despir, ficando apenas de cueca. A ereção já presente. Sentou confortavelmente para me observar.
– O que vai fazer?
Aumentei o som, ele estreitou os olhos, mas gostou da música. Umedecendo os lábios, recostou-se um pouco mais e cruzou os braços. Comecei a me movimentar lentamente. Não tinha coragem de levantar os olhos para encará-lo, então simplesmente dancei, tomando o cuidado para seguir o ritmo da música, tocando o meu corpo devagar, virando para que ele pudesse acompanhar todos os movimentos.
Sem muita coragem, ergui um pouco os olhos, enquanto levantava o robe para mostrar a renda da meia, e vi meu marido me olhando atentamente, os olhos quentes, a boca apertada, as mãos fechadas, como se precisasse disso para impedi-lo de avançar e estragar a minha brincadeira.
Nossos olhos se encontraram, sorri timidamente, passando um dedo por meu ombro, deslizando a seda para revelar a alça do sutiã. Ele estreitou levemente os dele, a tensão presente, se esforçando o máximo para aguentar um pouco mais. Eu podia sentir a sua ansiedade.
Virei de costas, rebolando, nada muito chamativo, apenas para movimentar de acordo com a música e sua proposta. Deslizei o tecido, segurando-o na cintura. Voltei a olhar para trás. Alex estava com a cabeça meio inclinada, olhando diretamente para a minha bunda. Ele mordeu o lábio, sem deixar de me olhar.
Meu corpo perdeu aquela guerra quando o vi alisar o pau, por cima da cueca, uma ação involuntária, como se ele não precisasse pensar para fazer aquilo; era uma necessidade, tudo sem deixar de me olhar.
Virando em sua direção, e tomando cuidado para não revelar demais, caminhei sensualmente. Ele foi para a beirada da cama, pronto para me receber em seus braços e usufruir de mim como bem quisesse.
Aconteceu rápido demais. Eu, pensando em provocá-lo mais, resolvi virar e fazer algo do tipo “dança no colo”, ou qualquer coisa parecida. Alguns passos antes de estar ao seu alcance e rebolei, deixando o robe cair no chão. Quando fui girar para que ele pudesse admirar a minha bunda, o salto prendeu no tecido, meu pé escorregou e eu me vi caindo.
Exatamente!
Como alguém consegue um feito como este? Basta este alguém ser eu.
Onde eu estava com a cabeça quando achei que conseguiria fazer uma dança sensual durante longos três minutos, usando saltos altos sem que nada acontecesse. No mínimo, eu cairia e, no máximo, faria Alex entrar em coma com traumatismo craniano.
Alex me alcançou rapidamente. Ele levantou correndo da cama assim que notou a besteira que eu fazia, me segurando com força pela cintura, e me jogou sobre o colchão, caindo por cima de mim. Primeiro, seus olhos buscaram os meus para se certificar de que estava tudo bem e, assim que teve a certeza, começou a rir. Levei as mãos ao rosto e me escondi, sentindo-me ridícula.
– Ai, meu Deus! – gemi envergonhada enquanto ele ria sem parar. Alex tentou tirar minha mão do rosto, eu neguei. – Pare, eu estou me sentindo ridícula demais.
– Não, amor! Você foi ótima! – A risada estava contida, embora ainda existissem sinais de divertimento em sua voz. – Você estava linda, amor! – Gemeu com humor e beijou meu pescoço.
– Linda? Eu caí! Puta merda, Alex! Eu caí!
Tirei a mão do rosto para protestar e encontrei seu sorriso imenso. Alex tirou meus cabelos do meu rosto, ajeitando-os. Havia um brilho encantador em seus olhos.
– Se você não tivesse caído – sorriu torto –, não seria a minha Charlotte.
Minha vergonha cedeu lugar ao amor que eu sentia por aquele homem. Ele era tão incrível! Tão perfeito! E o que eu fazia por ele além de ser infantil, egoísta e cair quando tentava ser sensual? Tive que rir com este pensamento e ele riu também.
– Pelo menos você se diverte comigo – eu disse ainda rindo.
– Eu amo você, Charlotte e, para mim, tudo o que você faz é maravilhoso. – Estreitou os olhos, tentando ficar sério, falhou vergonhosamente e riu outra vez.
– Claro! Até as minhas quedas.
– Sua incapacidade de girar no próprio eixo é... sexy – brincou, enfiando o rosto em meu pescoço e beijando minha pele.
– Deve ser mesmo. – Me encolhi, sentindo aquele delicioso formigar que meu ventre começava a expressar quando ele me tocava.
– Ah, é, sim. – Voltou a me olhar, acariciando meu rosto, a expressão mais séria, quente. – Vai dançar mais?
– Não. Chega de arriscar minha vida por hoje.
Ele sorriu.
– Então deixe eu te mostrar uma forma de permanecer bem protegida. – Ele se acomodou melhor sobre mim, voltando a me beijar.
Alex me prendeu com seus lábios, mantendo-me entretida com seus beijos apaixonados e repletos de desejo. Ele se apoiava em um braço, pelo cotovelo, a outra mão corria livre pelo meu corpo atirando fogo por toda a minha pele.
O tecido leve do sutiã, com abertura no meio, não apenas facilitou seu trabalho, como o surpreendeu. Alex abriu a fenda, tocou o bico e me olhou com aquela cara de quem acabou de descobrir o leito condensado, louco para se acabar nele.
Ele brincou com os dedos em meu seio, apertando, puxando e beliscando, enquanto beijava e mordia o volume com tanta ânsia que me fazia arfar. Depois seus lábios provaram um seio, em seguida o outro, sugando até que meu corpo estivesse prestes a se partir de tanto prazer.
Então, como se não bastasse a tortura, enquanto mordiscava o bico rígido, sua mão desceu, correndo espalmada pela minha barriga, brincando com o pequeno laço da borda da calcinha e se alojando no meio da minha perna. Foi quando novamente me olhou surpreso.
A calcinha, que fazia conjunto com o sutiã com as fendas, possuía uma abertura no meio, uma forma de “facilitar as coisas”, como a vendedora havia me instruído naquela tarde em que, pensando que meu professor havia desistido de me ensinar, fui às compras com Miranda e comprei todo o meu arsenal.
– Aqui também?
Sua voz rouca cheia de excitação colaborava com seus dedos, que brincavam em meu sexo úmido, em uma carícia delicada, subindo e descendo, sem se aprofundar. Mordi o lábio com força e fechei os olhos, rebolando em seus dedos.
– Interessante – gemeu, voltando toda a sua atenção para a fenda e o trabalho dos seus dedos.
– A vendedora disse que era a lingerie “secretária”.
Ele voltou a me olhar e sorriu.
– Muito conveniente. – E desceu o rosto até o meio das minhas pernas, tomando-me com desejo e chupando-me como se não existisse o amanhã.
Gemi extasiada, jogando a cabeça para trás, arqueando o corpo. Seus lábios se fecharam em meu sexo, sugando minha excitação em um beijo maravilhoso. Quando sua língua percorreu minha carne, acariciando cada nervo, pensei que não conseguiria mais me segurar. Alex, decidido a me enlouquecer, mordeu meu clitóris, sem muita pressão, apenas o suficiente para que eu gritasse de prazer, e brincou com a língua no pequeno ponto já tenso.
Eu gozei, sentindo meu corpo todo receber aquela sensação reprimida pelos longos dias em que passamos separados. Meu ventre pulsou e explodiu, espalhando chamas pelo meu corpo, que me lambiam em luxúria, fazendo-me esquecer do resto do mundo.
– Porra, Charlotte, nunca vou deixar de sentir saudade do seu gozo!
Ele entrou em mim antes mesmo que eu estivesse recuperada, antes que minha alma voltasse a se juntar ao meu corpo. Eu o senti abrindo caminho, se enfiando em mim até o seu limite e gemendo de puro prazer. Foi como uma libertação. Como se Alex estivesse preso por muitos dias e apenas ali, fundindo nossos corpos, ele tivesse voltado a viver.
Colando-se a mim buscou meus lábios. Então ele começou a se mover. A princípio, apenas rebolou, aquele movimento de quadris que eu tanto amava, que tinha todo o jeito do Alex, a sua marca registrada, rapidamente a ansiedade o consumiu.
Ele estocou mais forte, testando e saboreando, depois mais forte ainda, levantando o tronco para nos observar. Entre as minhas pernas, abertas de forma a recebê-lo completamente, ele entrava e saía de mim, gemendo descontrolado.
Eu também gemia. Meu corpo faminto não estava satisfeito. A saudade absurda me fazia acompanhá-lo, trilhando o mesmo caminho de necessidades intermináveis. E eu me vi outra vez pulsando, formigando e ansiando por mais um orgasmo.
Os movimentos ficaram mais intensos e urgentes, as investidas mais fortes. O ambiente estava climatizado, mesmo assim, nossos corpos estavam levemente úmidos. Eu o sentia escorregar para dentro de mim com uma intensidade descomunal.
– Vem assim, amor.
Com a voz carregada de tesão, ele saiu de dentro de mim e me girou no colchão, colocando-me de costas. Passou a mão na parte de baixo da minha barriga e me levantou. Imediatamente, fiquei de joelhos, enquanto suas mãos ajustavam meus quadris para recebê-lo. Olhei para trás e vi Alex segurar seu membro. Empinei a bunda e ele gemeu forte, entrando com tudo o que podia.
Os movimentos recomeçaram, estocando e gemendo, preso em um mundo só dele, e que me levava junto, pois a cada entrada eu me sentia mais perto, mais próxima de partir, pulverizar e flutuar naquele universo de cores, sentimentos e luxúria.
Ele correu as mãos em mim. Uma por baixo, buscando meus seios e me puxando em sua direção, a outra em meus cabelos, agarrando-os e me conduzindo. Ele entrou mais forte, arfou, saiu já tremendo e entrou novamente, gozando deliciosamente.
Um gemido gutural escapou dos seus lábios enquanto ele gozava e suas mãos me apertavam com força. Eu estava muito perto. Minhas paredes inchadas apertavam o sexo de Alex dentro de mim, uma ansiedade se instalava no centro das minhas pernas e eu me sentia quase lá, então a sua mão me fez perder o juízo.
Ainda arfando, Alex se afastou ligeiramente, rebolou e entrou em mim em uma investida dura e certeira, no mesmo instante, sua mão se fechou apertando meu clitóris com a pressão exata, e eu gozei sentindo meu corpo se desmanchar.
ALEX
Charlotte estava deitada sobre meu peito e eu acariciava suas costas nuas. Meu corpo dava sinais de que poderíamos continuar, mas eu queria que ela descansasse um pouco, apesar de acreditar que exauri-la ajudaria a dormir durante o voo.
Sorri largamente.
Minha esposa era mesmo uma doidinha! Estava tão linda dançando para mim, tão gostosa e sensual e, então, ela caiu. Puta merda! Aquela era mesmo a Charlotte que eu conhecia e amava.
– Do que está rindo? – Tentei disfarçar, sem consegui impedir minha risada. – Está rindo de mim, não é?
Gargalhei.
– Que merda, Alex! É por isso que eu sempre prefiro me machucar, as pessoas ficam com pena, preocupadas e se esquecem de rir. Se eu quebrasse o pé, por exemplo, você não estaria rindo agora.
– E nem transando – completei ainda rindo.
– Pois é. Só tem um pequeno detalhe, eu não preciso de um pé quebrado para lhe dar mais alguns meses de castigo. – Ela tentou levantar, porém se enroscou no lençol e ficou toda perdida.
Ri ainda mais e ela começou a rir também.
– Porra! – gritou enquanto gargalhava. – Eu não consigo fazer nada direito!
Enxuguei a lágrima que descia em seu rosto, fruto do riso descontrolado.
– Você faz muita coisa direito, Charlotte! E sempre com muito jeito, bem graciosa. – Beijei seus lábios. – Deliciosamente certo. – Beijei-a mais e ela foi parando de rir.
– Eu tive um ótimo professor – provocou, me abraçando.
– O melhor.
Ela riu baixinho.
– E único. – Mordi seu lábio inferior e puxei. – Que fique bem claro.
– Hum! Transar com personagens literários conta?
– Eu não acredito nisso, Charlotte! Mal casamos e você já pensa em outros homens quando estamos na cama?
Ela me encarou séria.
– Eu nunca penso em outro homem quando estou com você, Alex – disse com bastante seriedade. – O problema é quando não estou com você. – Sorriu com inocência e eu tive vontade de fodê-la fazendo-a gritar meu nome sem parar.
– Sabe o que eu faço com mulheres “saidinhas” como você?
– Não. Também não tenho tempo para descobrir. Miranda já deve ter ligado umas cem vezes para se despedir. Ela disse que faria isso. E estamos atrasados. – Ela levantou, sentando na cama e puxando o lençol para não cair outra vez.
– Claro, Miranda.
Charlotte me encarou, entortou a boca e voltou a deitar em meu peito.
– Desistiu?
– O que você tem contra ela? – Sua voz saiu doce.
Fiquei tenso na mesma hora.
– Nada. – Passei a mão em seu cabelo, tentando disfarçar.
– Eu sei que tem e não é justo me esconder o que pensa. Principalmente depois de tudo o que passamos.
Fechei os olhos. Ela tinha razão, mesmo assim, não valia a pena levantar aquele problema depois de tanto tempo.
– Não é nada de mais, Charlotte. Eu só acho Miranda muito fútil.
– Fútil? – Levantou o rosto para me encarar. – Não vai mesmo me contar a verdade?
Abri a boca para confirmar minhas palavras, ela me deteve.
– Miranda não tem nada de fútil e você sabe muito bem disso. É preferível que me diga que não quer contar do que tentar me fazer de idiota com histórias como esta – rebateu ofendida.
Droga!
– Charlotte... Eu não quero criar um clima ruim entre você e sua amiga.
Vi quando minha esposa ficou tensa, mas ela se manteve firme, aguardando pelo que eu diria.
– Tá legal! Miranda dava em cima de mim – ela continuou me encarando sem nada dizer. Aguardei um tempo, como não houve nenhuma reação, continuei. – Dar em cima de mim não é a expressão mais adequada. Ela se atirava mesmo. Vivia inventando desculpas para me cercar na sala dos professores, descobriu meu e-mail e usava os meios mais absurdos para chamar a minha atenção, até me enviou uma foto só de calcinha e, no dia seguinte, me interceptou fingindo constrangimento e disse que havia errado o endereço, dá para acreditar?
Ela continuou séria, me encarando como se o que eu contava não a ferisse em nada.
– Não sei como ela sempre descobria a praia onde eu estava e, quando eu saía do mar, lá estava Miranda, com um biquíni minúsculo, fazendo de tudo para chamar a minha atenção. E eu tenho que dizer, ela fazia isso tudo mesmo quando estava saindo com alguém, não se importava. Resumindo, não me sinto confortável perto dela. Era horrível, para mim, estar interessado em você com ela sempre por perto, depois nós ficamos juntos, casamos, e o histórico de Miranda sempre me perseguindo me assustava, porque eu vivia com medo de ela te contar estas merdas, só que na versão fantasiosa dela.
Charlotte continuou quietinha. Na mesma hora, me arrependi de ter falado tanto. Era uma merda estarmos retomando nossa vida sexual e ainda termos que vencer mais este problema. Então ela riu. Um riso baixo, balançando a cabeça e, em seguida, seu riso aumentou mais e mais, até que estivesse gargalhando.
– Charlotte?
Porra, aquilo foi demais para ela. Minha esposa tinha enlouquecido de vez. Graças a Deus, não contei o que mais incriminava a amiga. Isso eu ainda não poderia revelar. Nem para ela nem para o meu irmão.
– Ai, meu Deus! – ela falou, tentando conter o riso. – Alex, eu sempre soube disso.
Riu, limpando as lágrimas que desciam pelo seu rosto.
– Oh, Deus, Alex! Quem você acha que é a única pessoa que Miranda confia no mundo?
Recuei, me sentindo envergonhado e imaginando se Charlotte conhecia aquele segredo que eu tanto guardava. E o pior: será que ela achava correto, que compactuava? Tentei não ficar com esta dúvida na cabeça, mas fiquei intrigado.
– Eu sempre soube. Ela era doidinha por você, fazia mil loucuras para chamar a sua atenção, mas tudo não passava de fogo de palha, porque ela queria você como queria todo cara interessante que aparecesse. Eu acho que Miranda queria mesmo era vencer a barreira erguida por você, mostrar que ela era capaz, sei lá. – Sorriu sem deixar que aquela admiração com que sempre me olhava sumisse. – Foi por causa dela que o escolhi para ser o meu orientador. O plano era conseguir fazer você me enxergar como escritora e a minha amiga como mulher. – Mordeu o lábio, deixando o rosto corar.
– Puta merda! – xinguei, colocando toda tensão para fora. – Você... Porra, Charlotte! E eu todo preocupado com receio de ela inventar alguma coisa, contar algo que nunca aconteceu.
– Miranda nunca faria isso. Ela é meio inconsequente, mas não a este ponto.
– Que bom. Porque eu não suportaria te perder por causa de mentiras.
– Ah! A história da foto. – Riu sem graça. – Ela enviou sem querer mesmo. Estávamos juntas. Ela tirou a foto para eu colocar em um aplicativo onde podemos nos ver vestidos com várias roupas para escolher a que fica melhor. Como Miranda não sabia mexer no aplicativo, pedi para ela enviar a foto para mim, só que eu estou cadastrada no e-mail dela como alemã, lógico que é por causa da cor – riu sem graça – e, na hora de enviar, ela trocou e entrou Alex. Sem prestar atenção, enviou para você. Como não chegou em minha caixa, eu a questionei, e descobrimos a besteira que ela havia feito.
– É sério isso? – Eu não conseguia acreditar naquela história.
– É sério. – Ela levantou a mão direita. – Palavra de escoteira.
– Você foi escoteira?
Charlotte riu.
– Não! Mas é um bom juramento.
– Nossa, como você é boba, Charlotte.
Empurrei minha esposa no colchão e me deitei sobre ela.
– Isso é loucura, mas gosto do fato de não precisar mais carregar este peso – revelei, já passando minha mão pelo corpo dela.
– Pode até ser loucura, mas adoro o fato de você ser só meu. – Ela prendeu uma perna na minha e acariciou minhas costas. Nossos sexos já bem próximos. Rebolei, procurando me encaixar. – Estamos atrasados – disse já entregue.
– Não estamos. – Segurei seu punho, evitando que ela olhasse o relógio. Charlotte riu e não tentou escapar.
E eu entrei nela como se estivesse entrando no céu.
CAPÍTULO 28
“Tão impossível é avivar o lume com neve, como apagar o fogo do amor com palavras.”
William Shakespeare
CHARLOTTE
Depois de algumas horas, estávamos desembarcando em Frankfurt. Se existia uma coisa que eu detestava era passar muito tempo dentro de um avião. Mesmo tendo viajado durante a madrugada e dormido a noite toda, não era o mesmo que dormir em uma cama ou na minha cama com o meu marido.
Quando, finalmente, chegamos, eu estava cansada, com frio e irritada. Sem contar que Alex estava ao meu lado o tempo todo, o que me fazia ansiar pelos seus braços. Estávamos separados pelas poltronas que, apesar de confortáveis, me impediam de dormir abraçada com ele.
E a minha calcinha estava em seu bolso. Esta era a sua mais nova mania. Como transamos um pouco antes da nossa partida, consequência do tempo que ficamos separados, ele acabou ficando com a minha calcinha, alegando precisar dela para conter a ansiedade.
Puta merda!
Todas as vezes que via Alex colocar a mão no bolso e suspirar, meu corpo esquentava de maneira absurda. Depois ele me olhava com tanto carinho, eu podia sentir o calor daqueles olhos em mim, então minha vontade era pular para a sua poltrona e tentar me acomodar naquele espaço, mesmo que a comissária passasse a viagem toda reclamando.
Assim, ao desembarcarmos em Frankfurt, eu estava também com uma saudade imensa do meu marido.
O sol que clareava o céu não aquecia minha pele. Estava frio. Pelo menos, eu tinha os braços do meu marido em meus ombros e os seus cuidados que me mimavam mais do que os meus pais conseguiram. Abri a bagagem de mão e retirei as luvas, enquanto via Alex colocar o casaco grosso que o deixava ainda mais bonito. Ele me olhou e sorriu. Um sorriso cheio de promessas.
– Nossa primeira viagem juntos. Quer dizer... – sussurrou antes de me beijar com cuidado. – Uma viagem com um propósito mais alegre. Mas não é a nossa lua de mel.
– E nós ainda vamos ter uma? – Ri enquanto ele segurava a minha bagagem para me ajudar a entrar no táxi.
– Claro que teremos! – ele disse assim que entrou e se acomodou ao meu lado, dando espaço para Lana e João.
– É bom saber que você está com tanta disposição, professor Frankli.
– Disposição para quê? – Lana se intrometeu e Alex revirou os olhos.
– Sabia que é feio prestar atenção na conversa dos outros? – perguntou à irmã, ela estreitou os olhos e me olhou.
– É um pouco sem lógica querer privacidade dentro de um táxi.
– Privacidade você pode querer em qualquer lugar, é só uma questão de educação e respeito – Alex rebateu e eu comecei a rir da cara que Lana fez.
– Você está querendo dizer que sou mal-educada?
– Estou. – E eles se encararam como somente irmãos conseguem fazer.
– Estávamos falando de compras, Lana. – Eu sabia que isso desviaria o foco e amenizaria o clima entre os dois. – Eu quero tentar comprar alguma coisa ainda hoje, será que teremos tempo?
– O importante é ter tempo para comer, Charlotte – João interferiu. – Eu estou faminto.
– Eu também. – Minha cunhada se virou para o marido e sorriu com cumplicidade. Depois ele acariciou o rosto dela e eles se beijaram. Foi estranho e bonito ao mesmo tempo.
– Eu também estou com fome – meu marido falou diretamente para mim e me olhou como se eu fosse o prato principal. Depois, como se não quisesse nada, colocou a mão no bolso e umedeceu os lábios.
Que cretino!
Um cretino maravilhoso, delicioso e perfeito!
– Eu não. – E sorri maliciosamente.
Nós ainda brincamos e ele implicou muitas vezes com Lana enquanto seguíamos para o hotel. Ele me mostrou alguns pontos da cidade que já conhecia, afinal de contas, não era a primeira vez dele na feira, mas era a minha. Alex estava bastante empolgado e até mesmo as implicâncias com a irmã eram divertidas.
– Vocês não inventem de ficar mais tempo do que o necessário no quarto – Lana avisou assim que nossas malas foram colocadas dentro do quarto que ocuparíamos. – Eu estou faminta. Só vou mesmo tomar um banho e descer. Sem contar que, se quiser mesmo fazer compras, Charlotte, teremos que sair logo, porque preciso verificar se está tudo de acordo com o nosso espaço na feira.
– Não se preocupe, Lana. Encontro vocês lá embaixo. – Lancei um olhar cheio de significados para Alex, que fez muxoxo entrando no quarto.
– Lana sabe ser irritante quando quer. – Alex colocou o cartão na porta, trancando-a, e levou nossas malas até o closet.
– Você está implicando com ela. O que te deu?
– Digamos que eu não pretendia sair deste quarto antes da hora. – Ele voltou e me abraçou, exigindo os meus lábios. Eu entendi os seus motivos. – E eu tinha a certeza de que minha querida irmãzinha conseguiria te arrancar de mim.
Dei risada, deixando que ele avançasse a mão pelo meu vestido.
– Onde conseguiu esta calcinha? – Alex se afastou, buscando meus olhos.
– Comprei no aeroporto quando você e João foram comprar revistas.
Meu marido deu um passo para trás e retirou a minha calcinha de dentro do bolso da sua calça.
– Você quebrou o meu encanto, Charlotte – disse com uma voz debochada.
– E você foi muito ingênuo acreditando que eu viajaria sem calcinha.
Cobri a distância entre nós dois e abracei meu marido, erguendo o rosto para lhe oferecer meus lábios. Ele, ainda com aquela cara falsa de decepção, me abraçou com cuidado e me beijou de leve.
– Se eu fosse tomar um banho e você me acompanhasse, quanto tempo levaríamos?
Ele arqueou uma sobrancelha me observando sem entender nada.
– Leve em consideração que você demora muito mais do que eu no banho.
– Não demoro nada. Sou muito prático. Você é quem demora, isso, sim.
Revirei os olhos teatralmente.
– Quanto tempo, Alex?
– Não sei. Uns quarenta minutos, talvez, uma hora.
– Quarenta minutos então. Vamos? – Segurei em sua mão e o puxei em direção ao banheiro.
– Vamos para onde? Charlotte? – Ele deu risada se deixando levar.
– Se eu for explicar, vamos perder alguns minutos preciosos.
Virei para o meu marido, já retirando o seu casaco. Ele levou alguns segundos para entender minha intenção, então, tendo conhecimento do que eu pretendia, simplesmente começou a me ajudar com as roupas.
As dele e as minhas.
ALEX
Olhei minha esposa penteando os cabelos enquanto se olhava no espelho. Ela se preparava para secá-los. Eu me enxugava, relembrando o banho, e me sentia abençoado por tê-la de volta.
– Você vai demorar? – perguntei já pensando em Lana, que com certeza reclamaria do tempo que gastamos.
– Não – ela disse simplesmente e sorriu. – Se quiser descer na frente...
– Vou ver o que tem na TV – avisei, saindo do banheiro.
Peguei as roupas que tínhamos deixado largadas pelo chão do quarto e levei tudo para o closet. Retirei a calcinha dela, a que eu tinha feito questão de guardar comigo quando me permiti viver os meus instintos mais primitivos, e a coloquei dentro da mala, em um compartimento reservado. Depois eu iria devolver, aquele ainda não era o momento certo.
Escolhi uma calça jeans, uma camisa cinza de mangas compridas e um blazer preto. Coloquei as meias e os sapatos e voltei ao banheiro para pentear o cabelo. Charlotte estava com o secador ligado e seus cabelos balançavam, ganhando mais volume. Ela me olhou rapidamente, sem parar o que estava fazendo.
Abracei-a pelas costas e desfiz o nó do seu roupão. Ela desligou o secador, me observando em silêncio pelo espelho. Beijei seu ombro, deslizei os dedos pelo seu ventre liso e acariciei sua cintura, sentindo a pele macia.
– Quer mesmo provocar Lana? – ela sussurrou.
Sorri, pressionando meus lábios em seu ombro.
– Não. – Me afastei para deixá-la terminar o serviço.
Meia hora depois, deixávamos o quarto para encontrar minha irmã e meu amigo. Eles já nos aguardavam, aparentemente não se importando com o nosso atraso. Lana estava estranha, meio dengosa demais, e João estava como sempre, sendo o mais atencioso possível com a esposa. Aliás, para falar a verdade, ele estava mais atencioso que o habitual.
– Você comeu isso tudo? – provoquei João, que apenas olhou para a minha irmã e sorriu.
– Eu disse que estava com fome.
– E você, Lana? Não disse que estava com fome? Pelo visto, não tanto quanto ele.
Ela sorriu timidamente, o que não era natural para alguém como Lana.
– A fome é inimiga de todas as mulheres.
– Menos minha – Charlotte respondeu, rindo enquanto terminava de comer. – Graças a Deus, não engordo com facilidade, ou então estaria uma baleia.
– Uma linda baleia – brinquei, beijando minha esposa com carinho.
Lana e João se olharam e sorriram.
– Ter uma baleia como esposa tem as suas vantagens – meu amigo brincou, acariciando o rosto da minha irmã. Fiquei incomodado, e não sei exatamente por quê, mas aqueles dois não estavam agindo como sempre.
– Você é um bobo – Lana respondeu, sustentando a timidez.
– E você é linda! – João se aproximou para beijá-la.
– E vocês dois são um nojo – rebati, colocando um pouco de patê em minha torrada. – Vou pedir um pouco de vodca em meu café, para ver se consigo passar a manhã toda do lado desses dois.
Charlotte riu baixinho e colocou a mão sobre a minha. Um pedido mudo para que eu tivesse mais paciência. Claro que eu teria, afinal de contas, eles não estavam fazendo nada de mais. Eu só não entendia por que estava tão aborrecido com aquela demonstração de carinho, quando eu também fazia o mesmo com a minha esposa.
– Vamos fazer compras. – Lana bateu palmas. Charlotte não parecia tão empolgada, porém estava determinada a encontrar uma bota nova. – Preciso de uma bota e, pelo visto, de uma boina mais elegante. Qualquer coisa que cubra minhas orelhas, ou irei perdê-las.
Eu e João rimos e o clima voltou a ficar bom entre a gente.
Passamos parte da manhã andando pelas ruas frias e molhadas, procurando alguma coisa que Lana não dizia o que era, apenas entrava de loja em loja, olhava tudo e saía, muitas vezes sem comprar nada. Charlotte achou as botas na terceira loja e tudo o que precisava para se proteger do frio. João e eu compramos um casaco cada um e eu escolhi um perfume que gostava muito.
Quando pensei que era hora de irmos embora, meu amigo me chamou para acompanhá-lo a uma joalheria enquanto as garotas entravam em mais uma loja.
– Joias? – perguntei assim que nos vi longe o suficiente. – Você não acha que está mimando demais a Lana?
– Nunca é demais para alguém como a minha esposa – ele respondeu simplesmente e sorriu como um bobo.
– Qual é o problema de vocês dois? De repente, deu um surto de amor eterno e incontido... – Dei de ombros sem saber como descrever o que eu via neles dois. – Sei lá, cara! Vocês dois estão insuportavelmente doces.
– Claro! Falou o cara que não aguenta ficar dois dias longe da esposa. Isso é amor, Alex. Você está reclamando porque não precisa assistir seu olhar apaixonado para Charlotte todas as vezes que ela respira.
Sorri, entrando na loja.
– E o que você vai comprar?
– Um anel.
– Outro?
– Quantos eu achar que ela merece. – Ele apontou para alguns anéis que estavam expostos e a vendedora logo nos atendeu.
– E ela merece tanto assim? – Levantei a etiqueta, mostrando o valor exorbitante. Ele olhou e sorriu como o idiota que era.
– Muito mais. Qual é o problema? Estamos falando da sua irmã. – Ele pegou justamente o que eu havia mostrado e entregou à vendedora.
– Nada. Só estou achando tudo muito estranho.
– Eu amo Lana, Alex!
– Eu sei.
– Você ama a Charlotte?
– Claro! Que pergunta!
João, então, arqueou uma sobrancelha e eu entendi o que ele dizia.
Eu daria o mundo a Charlotte, se fosse possível.
– E tem algum motivo especial? Algo que eu tenha me esquecido, tipo aniversário dela ou de casamento de vocês?
– Tem um motivo muito especial, só que você não vai saber agora. – Ele deu um tapinha em meu ombro e saiu para pagar a pequena fortuna que comprava para a minha irmã.
– Tá, então eu vou... – Olhei rapidamente para o mostruário. – Vou levar este par de brincos para a Charlotte.
Com isso, fiquei um pouco mais pobre.
CHARLOTTE
Lana me segurou pelo braço, puxando-me para outra loja, assim que os rapazes viraram a esquina, e entramos como se fôssemos cometer um delito. Ela olhou para os lados, meio assustada e animada. Só então percebi onde estávamos.
– O que fazemos aqui?
Ela sorriu de uma maneira tão tímida que nem acreditei que minha cunhada seria capaz.
– Posso confiar em você para guardar um segredo?
– Você está falando em relação a Alex ou geral?
– Geral, mas Alex principalmente. Pelo menos por enquanto.
– Tudo bem – respondi sem muita certeza se estava fazendo a coisa certa. – Agora me conta o que está acontecendo.
– Não dá para perceber? – Lana abriu os braços e gesticulou para a loja, fazendo-me prestar mais atenção ao ambiente.
Tenho certeza de que fiz uma careta.
– Hum! Quem teve ou vai ter um filho?
– Charlotte! – Ela me olhou sem acreditar no que eu dizia. Eu não estava entendendo nada. – Pelo amor de Deus!
Só então me dei conta. Porra, Lana estava grávida! Levei as mãos à boca enquanto ela sorria docemente e seus olhos se enchiam de lágrimas. Confesso que fiquei sem saber o que dizer. Claro que parabéns era o adequado e demonstrar empolgação, já que ela estava confiando em mim, era o mais justo, porém eu me peguei observando a minha cunhada sem conseguir me expressar.
– Você... – Ela ficou desanimada.
– Ai, Lana! Desculpa! – Abracei minha cunhada, sentindo que lágrimas se formavam em meus olhos. – Desculpa! Eu fiquei surpresa. Não esperava por uma notícia como esta.
Ela riu, me abraçando também.
– Eu estou tão feliz!
– Claro que sim! Como não ficar? Conta para mim, vocês planejaram ou foi um descuido? João já sabe, né? Por isso aquela demonstração de amor tão grudenta no restaurante.
Ela riu de maneira infantil e recomeçou a circular pelas araras, onde havia vários conjuntos para recém-nascidos.
– Nós queríamos muito e estávamos tentando há algum tempo, mas não acontecia. Então fizemos alguns exames e descobrimos que precisávamos de ajuda para que acontecesse. Resolvemos tentar uma clínica de fertilização, já estávamos na terceira tentativa e não tinha dado certo ainda. Ontem recebemos a notícia de que dois óvulos conseguiram se fixar. – Ela parou, olhou para as roupas e sorriu largamente. – João ficou tão emocionado! Como ainda corremos risco, você deve saber como funciona, por isso não queremos contar. Eu conheço Alex, ele vai ficar preocupado, vai achar que deve assumir a editora outra vez e eu não quero isso. Alex precisa terminar o livro dele e curtir um pouco mais o casamento. – Piscou e foi impossível não sorrir. – Vocês dois precisam de um tempo para organizar a vida.
– Você não poderá esconder por muito tempo uma coisa como esta. Alex vai adorar a notícia!
– Eu sei, vou contar quando tiver certeza de que tudo vai dar certo.
– Vai dar certo. – Apertei a mão da minha cunhada. Eu queria que desse certo.
Nunca pensei em Lana como mãe. Na verdade, filhos eram uma realidade tão distante para mim que eu não conseguia me imaginar com crianças nos meios em que eu vivia, no entanto, assim que Lana me contou a novidade, e que eram gêmeos, meu coração se encheu de uma alegria tão grande que eu já conseguia imaginar as duas criaturinhas correndo na praia, enquanto João e Alex surfavam. Eu podia até ver Lana reclamando do trabalho, mas com os olhos brilhantes, contando as peripécias dos dois, cheia de orgulho.
E Alex? Eu podia sentir a emoção dele ao descobrir que seria tio. Podia visualizar sua alegria com os sobrinhos, a nossa casa bagunçada, ele reclamando de tudo o que Lana faz ou deixa de fazer por causa dos filhos. E então lembrei da conversa que eu e Alex tivemos alguns dias antes. Quando ele insistiu em usar a camisinha, e era o que fazíamos desde então, até a última noite, quando, finalmente, decidiu que não usaríamos mais, sem respeitar o tempo necessário para o anticoncepcional.
– Você está bem? – Lana me perguntou, se aproximando.
– Estou, sim. – Peguei um conjuntinho azul e branco e o admirei por um tempo. – Você acha que Alex quer filhos? Digo... pra já. – E minha careta deixou claro que aquilo não estava em meus planos, não ainda, só estranhava a maneira como ele vinha agindo.
Claro que, quando ele me pediu em casamento, precisou me contar os seus planos e, neles, estavam os supostos filhos que ele prometeu cuidar para que eu pudesse continuar escrevendo, mas eu nunca pensei naquela possibilidade. Pelo menos não em um futuro imediato.
– Eu acho que ele quer filhos. – Ela sorriu sem revelar muito. – Mas acredito que vá querer aproveitar um pouco a vida de casado antes. O que está te intrigando?
– O remédio. – Puxei o ar com força. – Eu não me lembrei de que precisaria tomar outra injeção. Essa confusão toda, minha mãe, meu tempo de luto... Alex lembrou na noite que voltei ao Brasil e insistiu para usarmos camisinha. O argumento dele era justamente que não era o momento certo para arriscarmos uma gravidez. – E então me dei conta. Meus olhos ficaram imensos. – Merda!
– Calma, Charlotte! Isso é perfeitamente normal. Alex se preocupa com você, não quer que fique outra vez sobrecarregada com os acontecimentos, precisa de uma trégua.
– Não é isso. – Olhei para frente com a minha mente fazendo contas sem parar. – O problema é que eu não voltei a tomar a injeção, perdi a data quando descobri que minha mãe estava doente.
– Se vocês estão usando camisinha, qual é o problema?
– Nós transamos na noite anterior à partida de Alex, na Inglaterra. – Meu rosto ficou tão quente que precisei ficar de cabeça baixa.
Era estranho conversar coisas tão pessoais com qualquer pessoa que não fosse Miranda ou o meu próprio marido.
– Sem camisinha?
Sinalizei que sim com a cabeça. Lana respirou ruidosamente.
– Quando você menstruou a última vez?
– Deixe–me ver... Acho que no enterro da minha mãe eu estava menstruada, ou foi logo após. Não lembro. Droga! Droga! Droga!
– Podemos comprar um teste de farmácia e descobrir se já temos uma criança a caminho.
– Ah, Deus! – Escondi o rosto nas mãos, me esforçando para conter a tontura.
Eu queria ter filhos do Alex, mas não naquele momento. Era coisa demais para assimilar, viver e aprender em um espaço muito curto da minha vida. Eu só tinha 21 anos. Quem, em sã consciência, engravida aos 21 anos? E tudo o que nós ainda tínhamos que viver? E a vontade clara dele de não deixar acontecer?
Merda!
– Charlotte, se você estiver grávida, esta reação não é muito legal.
Porra, Lana estava grávida! Eu não podia reagir de forma tão negativa sabendo da luta dela para gerar um filho. Além do mais, ela tinha razão. Se já tivesse acontecido, eu não podia fazer mais nada, a não ser aceitar. Respirei fundo e passei a mão na testa.
– Certo. Vamos comprar um teste de farmácia, mas este será o nosso segredo. – E pensei se seria justo esconder de Alex aquela suspeita.
ALEX
Lana e Charlotte esperavam por nós dois em um café que ficava em uma pracinha perto de onde as deixamos. Lana continuava radiante, cheia de amor e alegria, como se o mundo não pudesse ser mais perfeito, já Charlotte parecia tensa e não dava para ignorar seu estado. Fiquei preocupado.
– Tudo bem? – Sentei, passando os dedos em seu rosto.
– Tudo, sim. – Ela desviou o olhar.
Olhei para a minha irmã e ela sorriu largamente. O que estava acontecendo?
– Pra você, linda princesa. – João deu a caixinha para a minha irmã, que ficou emocionada.
– Que lindo! – Ela tirou o anel, colocando-o imediatamente no dedo. – É lindo, amor!
– Como você. – Eles trocaram carinhos e eu me forcei a desviar a atenção deles.
– Comprei um presente para você também. Espero que goste – falei baixinho, colocando a caixa no colo da minha esposa.
Ela me encarou por um tempo, depois pegou a caixa e abriu.
– Alex! – Encarou o par de brincos e depois voltou a me olhar. – Mas é...
– Como seus olhos. Achei que ficaria lindo em você, para sua estreia no mundo literário.
Vi os olhos da minha esposa ficarem marejados e ela morder o lábio inferior contendo a emoção.
– Obrigada!
Ela se aproximou e me beijou com carinho. Não foi a reação que eu esperava, afinal de contas, Charlotte não tinha um bom histórico com presentes caros, e ela me abraçou e parecia não querer mais largar. E eu adorei!
– Nós podemos almoçar em algum lugar próximo ao hotel, eu tenho pouco tempo. Quero verificar se está tudo certo para amanhã, quando finalmente vamos aparecer – Lana quebrou o nosso clima em uma explosão de empolgação.
– Eu prefiro ir para o hotel. Estou cansada.
Charlotte falou diretamente para a minha irmã, que a olhou como se quisesse dizer alguma coisa. Não entendi, porém aquela troca de olhares foi o suficiente para que Lana aceitasse, o que, definitivamente, era estranho.
– Tudo bem. Vocês voltam para o hotel e eu e João vamos procurar um restaurante e, de lá, iremos trabalhar um pouco, não é, amor?
– Tudo o que você quiser – ele disse com aquela cara de bobo que já estava me deixando irritado. Ninguém precisava se comportar como um idiota só porque amava a mulher.
– Vamos, então – Charlotte levantou, demonstrando ansiedade.
– Você está bem mesmo? – Segurei em sua cintura enquanto a conduzia até o táxi.
– Estou. – Foi só o que ela disse e, durante todo o caminho, ficou calada fingindo ouvir o que eu dizia.
Deixei que Charlotte fingisse estar tudo bem, embora tivesse certeza de que não estava. Mesmo assim, permiti que ela deitasse em meu ombro e observasse a rua. Falei sobre os diversos assuntos que vinham em minha mente, até que finalmente entramos no quarto, onde poderíamos conversar melhor.
– Vem cá. – Puxei-a até a cama. Ela ficou tensa. – O que está acontecendo? – Sentei, colocando–a em meu colo. Charlotte olhou para a cama com receio. – Nós não vamos transar, se é isso o que está te afligindo.
Ela soltou o ar e encostou a testa na minha.
– Desculpe! É que estou preocupada e não teria condições de...
– Com o quê? – Acariciei o seu rosto e o puxei para que ela me encarasse.
– Não sei como te dizer isso – revelou, desviando o olhar.
– Mas precisa me dizer, não é?
– Não sei. O ideal seria que eu tivesse certeza primeiro, no entanto, eu me sinto péssima não dividindo isso com você.
– Você acha que está grávida?
Meu coração disparou e meus dedos congelaram em seu rosto. Minha resposta não chegou com palavras, eu soube que era aquilo quando Charlotte me encarou com olhos arregalados e seus lábios ficaram mais claros, além do seu rosto pálido.
– Alex...
– Você acha ou tem certeza?
– Nem desconfiava, mas hoje... – Ela hesitou, entortando os dedos uns nos outros. – Conversando com Lana, me dei conta de que o atraso da injeção não foi lembrado a tempo e nós transamos sem camisinha, lá na Inglaterra. – Sua voz morria à medida que continuava com os argumentos.
– Você menstruou um dia após o enterro da sua mãe.
Ela gemeu baixinho e concordou.
– Depois disso, tivemos algumas semanas sem contato.
Ela concordou outra vez.
– E tivemos o tempo que ficamos separados.
– Isso.
– Ou seja, você já deveria ter menstruado novamente, Charlotte.
– Droga! Desculpe-me, Alex! Eu não estava com cabeça para me preocupar com essas coisas.
– Você está se desculpando por ter engravidado? – Ri, saboreando a sensação.
– Não temos certeza – ela rebateu, ficando ainda mais assustada. – E você preferiu usar camisinha nas últimas semanas.
Meu sorriso se desfez ao me lembrar do real motivo para usarmos camisinha. Eu era um canalha.
– E então? – Deixei que minha esposa encontrasse suas próprias respostas. Não era hora de conduzi-la, e sim de deixá-la amadurecer.
– Você disse que não era um bom momento... não sabemos ainda, não é? – Encarei minha esposa sem saber o que dizer. - Comprei um teste de farmácia. Eu quero fazer agora – ela revelou e seu rosto corou. Charlotte não me encarava.
– Tudo bem, antes precisamos conversar.
– Conversar? – ela repetiu meio agitada.
– Charlotte, se este exame der positivo, o que você pretende fazer?
Lógico que um aborto nunca seria discutido. Eu nunca permitiria. Mas eu precisava entender o que se passava pela cabeça dela, como Charlotte encarava a ideia.
– Eu estou assustada com a possibilidade, Alex. Ter um filho não estava em meus planos. Pelo menos não agora. E você disse...
– E se der positivo?
Ela me olhou assustada, logo em seguida alinhou a coluna e ficou mais concentrada.
– É nossa responsabilidade. Nós causamos isso e somos os responsáveis por este filho. Não sei o que você pretende, Alex, só devo dizer que não passa pela minha cabeça a ideia de abortar. Se eu estiver grávida, vou ter esta criança e aceitar o que tiver que ser.
Vi em seus olhos um lampejo de insegurança. Não quanto a sua decisão, e sim em relação à minha. Sorri.
– Eu também quero este filho – sussurrei e voltei a acariciar seu rosto. – Claro que isso muda muita coisa... mas, como a vida é feita de mudanças... Vamos fazer esse exame.
– Tem certeza? Você disse...
– Eu sei o que disse – cortei sem querer ficar me lembrando do quanto eu era filho da puta. – Falei por você e não por mim. Eu quero este filho, Charlotte. Quero muito.
Charlotte respirou profundamente, então levantou, alcançou a bolsa e tirou uma caixinha de dentro dela. Depois voltou para o meu lado.
– Você sabe como usar?
Ela concordou, encarando a caixa em suas mãos.
– Lana me ensinou.
– Ótimo! Porque eu não entendo nada de Alemão.
Ela sorriu.
– Eu entendo um pouco – revelou, mordendo os lábios.
Claro que ela entenderia. O que mais Charlotte não sabia fazer sendo criada como foi?
– Eu imagino que você também toque piano e saiba bordar, ou até mesmo que tenha feito curso de pintura.
Ela riu, quebrando o clima tenso.
– Na verdade, eu toco um pouco de piano, minha mãe gostava, no entanto, meu instrumento mesmo era o saxofone. Eu adorava!
– Sério? Porra, Charlotte! Você foi criada como uma riquinha, tipo uma princesinha em um mundo só seu.
Eu ri e ela corou, ainda sorrindo.
– Verdade, só que música não tem classe social. Existem comunidades pobres onde as crianças aprendem a tocar um instrumento, a cantar, até mesmo pintar.
– Então... devo acreditar que você borda.
– Lindamente.
Gargalhei e me deixei cair no colchão.
– Isso é muito o seu mundo.
– O meu mundo é você, Alex. Você é a minha realidade.
Abri os olhos e encarei minha esposa, que se inclinou em minha direção entrelaçando nossos dedos.
– Eu amo você, Charlotte – sussurrei, sentindo uma bolha se fechar ao redor de nós dois. Ela também era o meu mundo e aquele filho, se é que ela estava mesmo grávida.
– Eu também. – Ela hesitou e olhou para o banheiro. – Vou fazer o exame. – Levantou cheia de coragem.
– Estarei aqui.
Ela apertou meus dedos e soltou minha mão, entrando no banheiro e fechando a porta.
CAPÍTULO 29
“Desperdicei meu tempo, agora o tempo desperdiça a mim.”
William Shakespeare
ALEX
Charlotte demorou mais do que deveria. Seriam apenas dois minutos que se transformaram em vinte. Eu aguardei, deitado na cama, encarando o teto e imaginando como seria a nossa vida caso minha esposa estivesse realmente grávida.
Lógico que pensei em Tiffany e temi. Nós não usamos preservativo, o que significava que... não. Eu tinha que implorar para que não houvesse esta possibilidade. E se ela contasse? Seria uma guerra, mas eu mentiria até o último segundo. Sustentaria a minha versão. E se Charlotte estivesse grávida? Como Tiffany encararia? Como a própria Charlotte encararia?
Porra, se Charlotte estivesse grávida, meu mundo ficaria perfeito.
Era algo para temer e glorificar.
Temer porque eu conhecia muito bem Charlotte, apesar do pouco tempo, e sabia que um pequeno problema se transformava em um problemão todas as vezes que ela não conseguia encontrar uma solução. Um filho não é como uma boneca que você pode colocar de volta na caixa quando se cansar de brincar. Um filho é algo muito sério e eu não sabia se ela teria maturidade suficiente para enfrentar uma situação como aquela.
Por outro lado, um filho colocaria muita coisa em seu devido lugar. Eu tinha certeza de que Charlotte o amaria incondicionalmente e esta poderia ser a chave para colocá-la no caminho certo. Ser mãe exigiria dela muita responsabilidade, algo que a faria pensar várias vezes e a impediria de tomar decisões intempestivas. Quem sabe não seria o caminho para seu amadurecimento pleno.
Quanto a mim, eu não tinha dúvidas. Ser pai era um sonho que eu queria realizar o quanto antes, principalmente sendo Charlotte a mulher que estaria comigo. E uma criança... puta merda, uma criança faria com que meus dias fossem perfeitos! Eu até já podia imaginar aquela voz infantil gritando pela casa e rindo, fazendo gato e sapato de mim.
Oh, sim! Eu seria um pai capaz de qualquer coisa pelo meu filho.
A porta abriu e Charlotte saiu com cara de assustada. Meu coração disparou ao observar seus olhos avermelhados. Ela havia chorado, mas por quê?
Charlotte, sem dizer nada, seguiu em direção ao closet, vestindo um roupão maior do que o seu corpo. Sentei na cama e aguardei. Não sei por quê, só sabia que aquele era o momento dela e o mais correto seria esperar até que minha esposa quisesse falar sobre o assunto. Mesmo eu estando com o coração na mão e ansioso para saber o resultado do teste.
Poucos minutos depois, ela voltou, usava calça jeans, uma camisa preta de mangas compridas, os cabelos soltos e os pés descalços. Ela caminhou até parar diante de mim, me encarando com olhos vermelhos. Nos encaramos por poucos segundos e, então, com um suspiro, ela começou a falar.
– Eu já imaginava a resposta, mesmo assim fiz. – Parou me observando, mordendo o lábio inferior.
– E então? – Fui cauteloso.
O que acontecia com Charlotte eu não sabia, me questionava se ela estava em pânico por estar grávida ou triste por não estar? Nos dois casos, a reação não me deixava confortável.
– Deu negativo – respondeu com os olhos baixos e a voz rouca.
– Tem certeza? – Ela balançou a cabeça, afirmando. – E o bastão?
Minha esposa olhou em direção ao banheiro e logo em seguida voltou a me olhar.
– Joguei fora. – Deu de ombros, estreitando os olhos e me avaliando. – Por quê?
– Nada. – Sentei mais próximo da beirada e acariciei seu braço. – Está tudo bem com você? – Ela suspirou de novo, colocando os fios lisos atrás da orelha.
– Sim. Eu só... não sei, Alex! Não sei como estou me sentindo.
– E por que está tão triste?
– Não triste. Eu estou... preocupada.
– Preocupada? – Segurei-a com as duas mãos, puxando-a para ficar entre as minhas pernas.
Ela respirou profundamente e sentou no meu colo.
– Se eu não estou grávida, por que não menstruei?
Encarei Charlotte até me dar conta do que ela estava querendo me dizer. Confesso que respirar se tornou um ato complicado. Meus olhos ficaram imensos e minhas mãos congelaram no corpo dela.
– Minha mãe morreu de câncer – ela completou.
Puxei o ar com força, pensando em como eu deveria tratar aquele assunto. Claro que seria dramático demais começar a sofrer sem nem ao menos sabermos a verdade. Charlotte poderia estar com qualquer coisa, até mesmo um problema hormonal, embora tenha que ser honesto e admitir que pensar nesta possibilidade foi a minha única reação.
O silêncio era tão pesado que nos cobriu como um manto. Meu coração acelerado tentava encontrar alguma resposta óbvia. Então, como se meu corpo tivesse decidido por mim, minha mão reiniciou a carícia nas costas dela e eu consegui sorrir fraco.
– Tem certeza de que deu negativo?
– Alex! – Ela revirou os olhos e me empurrou.
– Você deveria ter me deixado ver o bastão.
Consegui rir da reação de Charlotte. Ela ficou vermelha e encarou as mãos sobre o colo.
– Não sou tão idiota assim – falou à meia voz.
– Claro que não! – Acariciei a ponta dos seus cabelos que desciam até a sua cintura. – Só meio... desatenta.
– Alex! Eu vi. Deu negativo. Que coisa!
– Tudo bem, Charlotte. – Puxei minha esposa em um abraço apertado, tentando expulsar o medo que me espreitava.
– Então...
– Seu pai jamais deixaria que qualquer coisa passasse despercebida – eu disse sem saber ao certo o que dizer para fazê-la esquecer, mesmo que temporariamente, o assunto.
– Ele não conferia o meu ciclo menstrual.
Revirou os olhos. Ri.
– Claro, apenas a sua virgindade.
– Onde falhou miseravelmente – sorriu me olhando com carinho. – Você conseguiu burlar as regras.
– Só inverti. A ordem dos fatores não altera o resultado.
– E depois eu que sou nerd. – Aproximei meu rosto do dela e beijei seus lábios com calma. – Sério. Não acha que deveríamos investigar? – Ela se encostou em meu peito e continuou falando, tentando esconder o seu temor.
– Como eu ia dizendo: Peter com certeza pedia exames periódicos, não?
– Anuais.
– Então! – Tentei beijá-la ela recuou.
– O que tem isso de mais? Minha mãe descobriu o câncer e morreu rapidamente, e ela também fazia exames, até mais do que eu.
Fitei minha esposa e me senti péssimo. O que mais Charlotte ignorava sobre a saúde da mãe?
– Amor... – Sentei, ajeitando-a em meu colo e procurando manter nossos olhos firmes. – Sua mãe já sabia da doença há um tempo. Ela tentou muitos tratamentos, por isso eles sempre estavam viajando, infelizmente não conseguiram bons resultados. O que você viu... – Fiz uma pausa, respirando fundo ao verificar os olhos marejados da minha esposa. – Foi realmente o fim. Quando eles decidiram que não mais lutariam e quando não havia mais nada a ser feito. Sinto muito!
Ela baixou os olhos e mordeu o lábio inferior. Depois fungou e limpou uma lágrima com a mão. Acariciei suas costas e braços e aguardei até que Charlotte estivesse melhor.
– Por que será que eu já esperava isso? Que continuaria descobrindo a verdade? – Sua voz rouca cortou meu coração.
– Eu lamento – consegui dizer baixinho.
Ela fungou, levantou o rosto e puxou o ar com força.
– E você não está doente, Charlotte!
– Vou acreditar que não – ela falou um pouco mais corajosa.
– Ainda acho que eu deveria verificar aquele bastão.
– Alex! – Fingiu revolta e tentou sair do meu colo. – Quanta falta de confiança!
– Mas nada que nos impeça de tentar, não é?
Ela me encarou com os cílios molhados e os olhos vermelhos. A ponta do seu nariz também estava mais vermelha e eu achei que ela continuava linda mesmo assim.
– Tentar o quê? – indagou sem entender, a cabeça levemente inclinada e uma expressão atenta.
– Um filho. Nós podemos tentar.
– Ah! – Pareceu confusa e depois seus olhos ficaram marejados outra vez.
– Você quer um filho agora? Digo... tão cedo?
– Não que seja uma exigência, só gosto da ideia. – Fiquei tenso. Um filho não era o que preocupava a minha esposa, e sim a possibilidade de gerar um e depois descobrir que estava doente. – Você não está doente, amor! – Tentei ser mais convincente.
– Mesmo assim, quando voltarmos, irei procurar minha ginecologista para descobrir o que está acontecendo.
– Por mim, tudo bem. – Soltei o ar que estava preso. – Podemos treinar então.
Beijei seu pescoço.
Eu precisava desesperadamente tirar aquela ideia da cabeça de Charlotte ou também surtaria com a possibilidade. Na verdade, já estava em meus planos investigar, só não pretendia conversar com ela antes de estarmos de volta.
– Treinamento – ela disse com o rosto corado, depois mordeu o lábio inferior e o rubor ficou ainda mais acentuado. – De camisinha – completou.
– Se você não engravidou até agora...
– Eu prefiro evitar. – Ela me olhou com firmeza. – Enquanto não tivermos a certeza...
– Tá certo – concordei meio contrariado. O que eu poderia cobrar? A ideia da camisinha começou por causa do meu deslize, então... – O que quer fazer?
– Podemos ficar aqui no quarto? Está frio e eu queria dormir mais cedo hoje.
Forcei um sorriso, encarando minha esposa.
– Podemos, sim. Mas não tem camisinhas aqui – alertei e sorri.
Charlotte ficou ainda mais ruborizada e eu adorei.
– Nem a capa peniana?
– Podemos conseguir uma amanhã.
– Você fala em... comprar?
Concordei com a cabeça.
– Mas, e Lana? João Pedro não vai me deixar em paz, Alex. – Seu rosto ficou cada vez mais vermelho. – E nós vamos entrar mesmo em uma loja... digo, uma que venda essas coisas. Ai, meu Deus!
Ri, saboreando a sua reação. Como ela podia ser tão destemida e determinada quando estávamos somente nós dois e tímida e envergonhada na presença dos outros?
– Vamos esperar voltarmos para o Brasil então.
Ela concordou e eu ri ainda mais.
CHARLOTTE
A madrugada estava congelante. Ficamos no quarto durante a tarde e noite. Assistimos a dois filmes, jantamos, recebemos Lana e João para uma conversa sobre como seria no dia seguinte e eu contei a minha cunhada que fora um alarme falso, sem revelar meus temores.
Na verdade, quase não pensei nas possibilidades que desfilavam em minha mente. Alex me cercou de cuidados e carinhos, no entanto, eu sabia que o medo também habitava nele e, para ser bem sincera, muitas vezes eu me lembrei da dor do meu pai quando perdeu minha mãe e, nesses momentos, implorava a Deus para que isso não acontecesse com o meu marido.
Lógico que o drama faz parte da minha natureza e eu tinha consciência de que era cedo demais para pensar em qualquer diagnóstico, muito menos em minha morte e no sofrimento do Alex, mas, depois da experiência traumática que tive com a minha mãe, não conseguia desvincular um fato do outro e, de tempos em tempos, me perguntava como seria.
Olhando pela janela do hotel, eu me concentrava no vazio da madrugada em Frankfurt, no silêncio das suas ruas e na escuridão quebrada apenas pelas parcas luzes de alguns painéis e pela imensa lua que banhava as ruas vazias. Mesmo diante de tal situação onde a paz possibilitaria um conforto maior, eu estava inquieta.
Precisava de respostas, de certezas, e apenas uma única pessoa poderia me ajudar.
Caminhei lentamente sem querer despertar meu marido. Aquele era um momento em que ele não me acrescentaria nada, então que continuasse dormindo tranquilamente. Entrei no closet, peguei minha bolsa, encontrei meu celular e saí rapidamente, voltando para a janela onde eu estava antes.
“Acordado?”
Não precisei aguardar muito para que a mensagem fosse visualizada.
“E por que não estaria?”
Sorri.
Meu pai não parecia ser o tipo de homem que se interessasse por tecnologia, mas esta era a sua realidade. Um homem de meia-idade que adorava inovações, os avanços dos meios de comunicação, tudo que envolvesse tecnologia de ponta.
“Não sei. Velhos dormem cedo.”
“Você deveria ter se dedicado mais a geografia e fusos horários.”
Com essa, eu desisti de tentar provocá-lo.
“Por que não ligou?”
Ele insistiu. Não precisei responder. No mesmo instante, recebi uma ligação pelo FaceTime. Meu pai era incrível! Olhei em direção ao quarto, onde Alex dormia, decidindo me arriscar.
– Oi, pai! – falei baixinho.
– Tá escuro aí – ele disse, sorrindo. – Perdeu o sono ou está com tanta saudade que não conseguiu esperar?
– Sempre sinto saudade. – Olhei em direção ao quarto. – Alex está dormindo, por isso não liguei.
Ele concordou com a cabeça.
– Se quiser...
– Não. Eu queria... eu quero... quero conversar, pai. Preciso te contar uma coisa e ouvir de você algumas verdades.
Ele ficou atento, me observando.
– Aconteceu alguma coisa? Alex...
– Não é nada com ele. É comigo.
Vi quando meu pai deixou de ficar apenas atento, ficando em estado de alerta. Como se tivesse certeza de que algo de errado estava acontecendo.
– Pai, primeiro preciso da sua opinião como médico.
Ele estreitou os olhos.
– Minha menstruação atrasou. Eu deveria ter tomado a injeção, acabei esquecendo por causa do problema da mamãe.
Ele piscou e depois sorriu amplamente. Fiquei tão envergonhada que tenho certeza de que, mesmo com a imagem escura, ele podia ver o meu rubor.
– Você pode fazer um exame.
– Eu fiz. – Engoli para manter minha voz estável. – Deu negativo.
Vi o sorriso do meu pai se desfazer, mas ele me olhou com carinho.
– Como já tem muito tempo de atraso, então...
– Pode ser um monte de coisas, filha.
– Eu sei...
– Coisas que podem não ter nenhuma grandiosidade.
– Eu sei, pai.
– Você tem certeza de que este exame deu negativo?
Revirei os olhos. Não era possível que todo mundo agisse comigo como se eu fosse uma inútil, incapaz até de fazer uma porcaria de teste de farmácia.
– Tudo bem. Tudo bem. – Ele respirou profundamente. – Não dá para saber do que se trata, com você tão longe. Existem mulheres que levam meses sem menstruar, existem as que menstruam durante a gravidez...
– Um câncer.
Ele se calou na hora em que falei.
– Apresenta este sintoma? Existe alguma possibilidade...
Meu pai passou uma mão no cabelo e fechou os olhos.
– Não sei, Charlotte. Preciso verificar, mas, acredite, não há nada de errado com você. Eu saberia se...
– Pai, como soube que mamãe estava doente?
– Ela estava sempre fraca, reclamando de cansaço. Então surgiu a febre, perda do apetite e, como consequência, começou a perder peso. Em seguida, começaram as dores abdominais e os exames indicaram um inchaço no baço.
– Nem sempre são os mesmos sintomas, não é?
– Normalmente não, para o tipo de câncer que ela teve foi isso, filha. Existem diversos tipos, uns raros, outros mais comuns. Você não tem câncer, Charlotte.
E eu via em seus olhos o medo estampado. Não de eu ter herdado aquela carga genética, e sim de que, de alguma forma, eu acabasse partindo também.
– Eu só fiquei preocupada, mas pode ser que o problema esteja em meu útero ou nos hormônios.
– Pode ser qualquer coisa, ou nada. Olha, faça o seu trabalho, aproveite a viagem e, quando voltar, cuidarei de você, está bom assim?
Encarei a tela do meu celular e vi um homem tão assustado quanto eu. Então sorri, mesmo que forçadamente. Meu pai já tivera dores suficientes e eu não precisava dar a ele mais algumas.
– Você está no Brasil?
Ele sorriu.
– Cheguei hoje. Não quis te contar porque você inventaria alguma coisa para não viajar.
– Eu não faria isso – rebati indignada. – Não perderia a minha viagem por nada neste mundo.
Ele riu e eu também. Nós dois sabíamos que era mentira. Respirei fundo e continuei.
– Alex quer um filho. – Sorri, desviando completamente o assunto. – E acho que está muito cedo.
Deu certo, ele sorriu também e foi verdadeiro.
– Bom... É cedo para você, sem dúvida. Para mim, está exatamente na hora. – Sorriu mais. – Ter um neto seria fechar minha vida com chave de ouro.
– Vai demorar muito para o senhor fechar sua vida.
– Ora, Charlotte, pensei que você tivesse me chamado de velho.
– Um velho na flor da idade.
Ele riu com gosto.
– Certo. Por que não deita e tenta dormir? Será um grande dia.
– Vou fazer isso. Obrigada, pai!
– Por nada. Eu estava mesmo ansioso para saber como você estava.
Claro que ele estava. Quando, em sã consciência, Peter Middleton perderia a vontade de saber sobre mim? Nunca. Sorri, sentindo-me amada e protegida.
– Eu estava aborrecida porque o senhor e Alex conspiraram pelas minhas costas, e ainda mais por saber que vocês gostaram disso.
Ele riu.
– Algumas vezes, você pede por isso, filha.
Suspirei.
– Da próxima, apenas converse comigo, ok?
Ele balançou a cabeça, concordando, não tão convicto quanto deveria.
– Vá dormir, Charlotte! E ligue amanhã para contar como foi.
– Eu ligo. Amo você!
– Também te amo, Lottie.
Desliguei e me assustei com a figura alta parada na entrada do quarto. Alex estava lá, braços cruzados, encostado na parede e, apesar da escuridão, eu sabia que olhava para mim.
– Ele conseguiu te convencer? – Continuou parado onde estava enquanto eu me recuperava da surpresa de vê-lo
– Acordei você?
Ele ficou um tempo quieto, depois desistiu e andou até mim.
– Perdeu o sono? Por causa dessa bobagem?
Respirei profundamente.
– Estava frio, então acabei acordando.
Ele me envolveu com seus braços e beijou meu rosto com carinho.
– Eu sou o seu cobertor – sussurrou em meu ouvido. – Venha, vou te aquecer.
Segurou minha mão e me levou para a cama. Eu estava com receio. Tinha evitado transar durante todo o dia. Não pelo medo de engravidar, eu já tinha desencanado depois que Alex apresentou todas as suas justificativas ou mesmo depois de entender que as coisas sempre vão acontecer, independentemente da nossa vontade.
Só que eu não estava no clima. Claro que meu marido conseguiria criar o clima perfeito e tal, mas, durante a tarde, enquanto eu ainda digeria todos os meus pensamentos loucos e tentava me convencer de que eram realmente loucos, não conseguia pensar em fazer amor com ele sem estar realmente pronta. Sem que todos os meus desejos e anseios estivessem voltados para aquele homem incrível.
Bom, não dava para saber se isso era normal, eu queria acreditar que sim. Nem tudo era perfeito, mesmo entre os casais muito apaixonados, e eu continuava perdidamente apaixonada por ele, nem sempre havia disposição ou tesão para transar.
– Alex...
Puxei um pouco minha mão, ele não desistiu, nem se voltou para mim. Alex sentou na cama e me fez subir nela, arrumou o meu travesseiro e, sem dizer uma palavra, me fez deitar nele, depois me cobriu, ajeitou o edredom e se deitou me abraçando com cuidado.
– Alex... – tentei outra vez.
Ele me impediu, enterrando o rosto em meu pescoço, fazendo cócegas.
– Não vamos mais falar sobre esse assunto. – Levantou e segurou em meu rosto para que eu prestasse atenção. – Não podemos nos torturar por algo que nem sabemos se existe. – Seus dedos percorreram meu rosto em uma carícia que me fez relaxar completamente. – Amanhã é o seu grande dia. – Pela pouca luminosidade, pude ver aquele sorriso lindo, grandioso e perfeito. – Vamos aproveitar! Fazer com que seja especial. Amanhã, finalmente, você será conhecida como uma escritora. Não era o seu sonho?
– Não.
– Não? – Ele riu e eu também.
– Era.
– Era ou não era?
– Era até eu te conhecer, depois disso, você passou a ser o meu sonho.
Ele riu e se afastou.
– Puta merda! Você me diz isso mesmo sabendo que estou louco para fazer amor e que sabe que vai recuar.
Ri pela forma como ele falou, como se fosse um menino reclamando a falta do doce.
Levantei a mão e foi a minha vez de acariciar o rosto do meu marido. A barba por fazer pinicou a ponta dos meus dedos. Ele se inclinou, aceitando o carinho, e eu entendi que realmente estava sendo egoísta e infantil, mais uma vez. Porque eu o amava tanto que não entendia como podia ocupar qualquer que fosse a fração dos meus pensamentos com algo que não fosse ele.
E porque não havia forma de trair o meu corpo e me negar ao homem que eu amava quando ele era todo o meu mundo. Quando ele era capaz de entender meus temores, minhas recusas sem que eu precisasse dizer nada e, ainda assim, tornar tudo perfeito, lindo e encantador.
Alex era único. Era perfeito. E, se ele não estivesse ali, na minha frente, o corpo colado ao meu e o rosto em minha mão, eu poderia fechar os olhos e jurar que era um sonho. Que ele não passava de um personagem fictício de um romance, onde a escritora conseguia colocar em um papel a fórmula perfeita para o ser masculino.
Ele segurou minha mão e a levou até a boca para beijar a palma.
– Você tem razão – eu disse após os segundos em que ficamos em silêncio. – Não vamos mais falar sobre este assunto. Não vamos mais nem mesmo pensar nele.
Alex sorriu.
– Vamos aproveitar o dia, comemorar e fazer amor.
– Gosto muito desta última parte – ele disse, já me puxando com malícia.
– Eu também. – Ri, sentindo meu marido assumir o controle da situação.
ALEX
Eu ainda não conseguia entender como Charlotte conseguia passar tão rapidamente de um estado de espírito para outro. Certo que ela sempre foi uma garota confusa, e isso eu soube desde o nosso primeiro contato, então nunca fui enganado a este respeito, mas, sinceramente, às vezes eu ficava zonzo com a velocidade da sua mudança de humor.
Como naquele momento, por exemplo. Ela estava tensa, cheia de medos e dúvidas, que tenho que confessar que também me assolavam. Como eu não queria estragar tudo pensando em algo que nada poderíamos fazer para solucionar, pelo menos não até voltarmos para casa, minha vontade, naquele momento, era de simplesmente fechar os olhos e esquecer.
Charlotte sorriu quando me aproximei e beijei o cantinho dos seus lábios. Ela ainda estava tensa, eu podia sentir, também estava disposta a fazer como combinamos, e eu não recuaria.
– Lembra aquela noite em que eu fui te salvar lá no rancho – eu disse, lembrando-me da noite em questão, de como ela começou desastrosa e acabou de maneira perfeita.
– Lembro-me de quando você achou que eu precisava ser salva e se arriscou para me encontrar – ela rebateu, sorrindo. Charlotte nunca admitiria.
– Sei... – Levantei o corpo, sustentando o peso pelo cotovelo e a encarei com mais firmeza.
– Eu tinha tudo sob controle – minha esposa continuou, tentando me convencer a desistir da ideia de príncipe encantado.
– Claro que sim. Como a chave que você nem sabia onde estava. – Ri da careta que ela fez. – E da noite que você passaria no frio e no escuro, só porque tinha tudo sob controle.
Ela suspirou, revirou os olhos e depois sorriu.
– Se espera que eu admita que precisava ser salva, pode desistir.
– Não – respondi, fingindo desinteresse. – Eu não quero que admita algo tão humilhante.
– Vá direto ao ponto, Alex! Você está me enrolando para não transar comigo, é isso? – Encarei minha esposa e não pude segurar o sorriso largo que se instalou em meu rosto. Charlotte era tão confusa!
– O que uma coisa tem a ver com a outra?
– Não sei, só achei que, quando eu disse “Vamos aproveitar o dia, comemorar e fazer amor”, seria a sua deixa.
– Tá, Charlotte! Você está mais confusa que o habitual hoje. – Comecei a rir, ela ficou ofendida e me empurrou para me afastar. Segurei minha esposa, impedindo-a de fugir de mim.
– Você tem cinco minutos para falar logo o que tanto quer dizer – ela ameaçou, mantendo a expressão fechada.
Quando eu disse que Charlotte mudava de humor à velocidade da luz, eu não estava brincando.
– Amor, vem cá – tentei ser mais romântico para desfazer a armadura que ela acabou vestindo. – Eu não sabia que você estava tão desesperada para fazer amor.
Ela bateu em meu braço com força e eu voltei a gargalhar.
– Você acha certo se divertir com a minha cara?
– Eu acho certo – admiti ainda rindo. – Até porque você fica linda quando tenta ficar séria, enquanto está morrendo de vontade de rir. Dá vontade de morder este biquinho.
Ela abriu um sorriso encantador e começou a rir junto comigo.
– Você é inacreditável, Alex!
Charlotte se virou, me abraçando com os braços e uma perna, prendendo o seu corpo ao meu. Corri um braço por debaixo do seu tronco e, com o outro, me segurei a sua perna, mantendo-a firme em mim. Nossos lábios se juntaram em um beijo carinhoso e romântico. Com minha esposa completamente entregue e relaxada.
– O que você queria falar mesmo? – Ela interrompeu o beijo, com a voz divertida.
Pigarreei limpando a garganta e tentando voltar a me concentrar.
– Deixa eu pensar.
Ela riu e eu fiquei ainda mais encantado com o seu riso doce e delicado. Charlotte aproximou o rosto e beijou meu pescoço.
– Bom... Eu acho que... – Com a ponta dos dedos, ela acariciou meu peitoral pela abertura do pijama. – Hum!
– A noite em que finalmente fizemos amor, Alex – brincou sem descolar os lábios do meu pescoço traçando trilhas de beijos em direção ao meu peito.
– Isso. – Ri divertido. – A noite em que te salvei da chuva.
– E de uma eternidade virgem – provocou sem interromper o que fazia.
– Isso também. – Acariciei seu cabelo. Sentindo seus dedos me explorarem com mais profundidade, descendo pela minha barriga e deixando uma promessa que me desligava do mundo.
– E então?
– E então... – Mordi o lábio ao sentir sua mão acariciando o pé da minha barriga, os dedos brincando com o elástico da calça e ameaçando ultrapassar a barreira. – E então eu não sei mais o que ia dizer. – Girei o corpo, agarrando Charlotte com força. Ela soltou um gritinho e começou a rir, se encolhendo em minhas mãos afoitas.
Voltamos a nos beijar. Ela se apertou em mim, sentindo-me com mais intensidade e gemeu baixinho, passando as mãos pelas minhas costas, levantando minha camisa para sentir melhor a minha pele aquecida pelo desejo. Movimentando-me com cuidado, me alojei entre as suas pernas deixando nossos sexos se encontrarem, e me esfreguei em minha esposa, sem nenhum pudor.
Ela gemeu forte quando descolei nossas bocas e mordisquei seu pescoço, descendo os lábios na direção do seu decote. Ao mesmo tempo, deixei que minha mão brincasse em sua coxa, acariciando a parte interna até quase alcançar seu sexo. Eu adorava quando minha esposa estava de camisola, apesar de sempre ficar ansioso demais para tirá-la.
Quando pensei que Charlotte estava rendida e já começava a me envolver a ponto de me esquecer do restante do mundo, senti seus braços me empurrando com força até que eu ficasse de costas no colchão. Ela rapidamente subiu em mim, sentando-se em meus quadris, as pernas abertas prendendo-me como seu refém.
Charlotte se inclinou, segurando minhas mãos para cima, se aproximando do meu rosto. Ri enlevado e sem a menor vontade de me rebelar. Lentamente, ela rebolou, roçando meu sexo em uma fricção maravilhosa. Umedeci os lábios, observando aquela garota determinada que tanto me surpreendia.
– Tem certeza de que não lembra o que ia dizer?
– Tem certeza de que quer mesmo conversar? – Forcei um pouco o meu sexo contra o dela, mostrando o quanto eu já estava duro e ansioso.
Ela sorriu maliciosamente.
– Sou uma mulher curiosa, professor Frankli.
– E eu sou um homem cheio de tesão – rebati, tentando beijá-la.
Charlotte riu, se afastando, continuou rebolando lentamente, apertando meu sexo contra o dela.
– Vai me contar ou não?
Precisei morder o lábio, sem conseguir conter um gemido que escapou ao senti-la tão firme, se esfregando como uma gata manhosa. Eu estava louco para entrar em Charlotte e esquecer qualquer conversa.
– Não se você continuar me torturando desse jeito.
Ela sorriu e parou de se esfregar, arqueou as costas e me fitou.
– Melhor?
– Não, mas, pelo menos assim, eu consigo pensar.
– E precisa pensar muito? É algo tão importante assim?
– Primeiro, eu preciso encontrar alguma lógica em tudo. Você se aborreceu porque comecei a conversar ao invés de fazer amor, e agora está me torturando para que eu converse e pare de tentar transar. Definitivamente, tem alguma coisa errada com você, Charlotte!
Ela liberou minhas mãos e cruzou os braços no peito. Aproveitei a liberdade e acariciei suas coxas.
– Eu ia falar sobre o quanto você estava errada quando pensou que eu estava apenas brincando e decidiu me deixar, fugindo no meio daquela tempestade, colocando nós dois em perigo. – Minha voz estava calma e gentil, então Charlotte não reagiu mal às minhas palavras.
– E o que tem isso tudo?
– Tem que eu queria te mostrar que você tende sempre a ter reações exageradas, a se perder em suposições e sofrer antecipadamente pelas coisas.
Ela ficou bem quietinha, seus olhos perderam o foco, Charlotte parecia pensar no que eu dizia. Por um segundo, achei que nossa noite iria terminar ali, que minha esposa escolheria se culpar ou ficar irritada e que eu precisaria de muita habilidade para mudar seu estado de espírito antes da sua participação na feira do livro.
Não foi o que aconteceu.
Charlotte ficou algum tempo perdida em seus próprios pensamentos, em seguida, me olhou com carinho e sorriu. Foi um sorriso meigo, cheio de amor, ternura e confiança.
– Você tem razão.
– Eu sei que tenho – respondi cauteloso, sem saber ao certo o que ela faria.
– Mas – Charlotte voltou a se inclinar, se aproximando mais do meu rosto –, se você parar para pensar, se eu não tivesse enlouquecido com aquela confusão, se não tivesse fugido no meio daquela tempestade, nós nunca teríamos a nossa primeira transa, pelo menos não daquela forma tão perfeita, e você não teria ficado desesperado a ponto de querer casar comigo a qualquer custo. – Riu como uma garotinha. – E eu não teria aceitado com tanta facilidade.
– Você não aceitou com facilidade. – Ela me beijou levemente enquanto eu subia as mãos pelas suas coxas, alcançando sua bunda e apertando-a suavemente.
– Acredite em mim, foi muito fácil para você. – Ela riu de novo, fazendo-me rir também.
– Eu faria tudo novamente. Enfrentaria a tempestade, o rio, a escuridão... só para tê-la em meus braços.
– E eu fugiria sempre que possível, só para ser salva pelo meu eterno professor.
– Eu amo você, minha eterna aluna! – sussurrei, sentindo-me em júbilo por aquelas palavras.
– Eu sei. – Ela sorriu amplamente e se permitiu ser amada por mim.
CAPÍTULO 30
“Somos do mesmo material do que se tecem os sonhos.”
William Shakespeare
CHARLOTTE
Alex me beijou. Não foi um beijo feroz, nem cheio de ansiedade. Foi calmo, carinhoso e cheio de luxúria. Seus lábios se moviam contra os meus, como se estivessem degustando algo muito saboroso. Sua língua pediu passagem, não com a necessidade dos casais apaixonados, e sim com a certeza dos amantes que compartilham o amor.
Durante um tempo, apenas desfrutamos do nosso beijo e o leve roçar das nossas mãos. As dele em minhas costas e coxas. Apenas as pontas dos dedos subindo e descendo, deixando marcas quentes por onde passavam e eu me senti como se meu corpo tivesse rastilhos de pólvora. As minhas mãos brincaram em seu peitoral e barriga, quase sem tocar, pois meu cérebro se concentrava naqueles lábios e naquela língua doce.
E, em poucos segundos, o frio já não mais existia naquele quarto.
Lentamente, me movimentei sobre o meu marido, sentindo o seu membro rijo sob a calça de moletom. Alex gemeu baixinho, sem desgrudar os lábios dos meus. Sua língua entrou em minha boca, um sabor indescritível, um dançar suave profundo que me transportava para longe.
Senti suas mãos mais firmes, seus gestos mais fortes. Ele me segurou pelas costas e me puxou ao encontro dos seus quadris, levantando-o até que nossos sexos roçassem. Senti como se formigas brincassem em meu íntimo, deixando tudo mais sensível.
Foi a minha vez de gemer e, como resposta, Alex mordeu meu lábio inferior. Não doeu, embora tenha acionado alguma coisa dentro de mim que me deixou mais aflita e ansiosa. Aprofundei nosso beijo, fazendo minha língua encontrar a dele com mais urgência, puxando-o para aquele labirinto em que eu me aprofundava sem nenhum temor.
Meu marido correu os dedos pelas minhas coxas e, lentamente, levantou minha camisola, deixando as pontas dos dedos roçarem minha pele, causando calafrios. Senti o bico dos seios ficarem duros e todos os meus pelos se arrepiarem, sem contar o familiar formigamento e umidade entre as minhas pernas.
Levantei-me ligeiramente para facilitar a retirada da camisola. Ele a tirou e seus olhos encontraram meus seios. Havia certa devoção naquele olhar de um azul penetrante, que me fazia desejar que ele continuasse me olhando, me consumindo aos poucos. Queria ficar exposta exclusivamente para o seu deleite e tal constatação me deixou ainda mais excitada.
Alex levantou, fazendo nossos corpos se encontrarem. Ele retirou meus cabelos do ombro direito, levando os lábios a ele, onde tocou levemente, apenas provocando com seu hálito doce, até que encontrou meu pescoço e sua língua assumiu o trabalho de me provocar até que não me restasse nenhum vestígio de sanidade.
Ele subiu uma das mãos pelas minhas costas, alcançando meus cabelos, levantando-os e me segurando pela nuca ao mesmo tempo em que sua boca buscava a minha.
O beijo foi urgente, ansioso e excitante.
Minhas mãos também reagiram, percorrendo sua pele, explorando cada detalhe dos seus músculos tão perfeitamente definidos. Ele se permitiu ser tocado desfrutando a sensação de ser tão desejado, endeusado. Sim, porque Alex, quando me dominava e conduzia daquela maneira, eu o comparava a um deus, ou a um ser mitológico, que me tirava da realidade e me transportava para um caminho de nuvens, rosas e sonhos.
E era perfeito!
Ele se tornou mais intenso, sua mão espalmada se esfregando em minha pele, descendo até que estivesse completamente dentro da minha calcinha, em minha bunda, os dedos longos subindo e descendo, tocando cada parte daquela região e me fazendo arfar.
A ponta do seu dedo do meio tocou minha entrada úmida e pulsante, uma pequena amostra do que poderia acontecer. Rebolei involuntariamente e ele escorreu em minha umidade ao mesmo tempo em que gemia em êxtase.
De repente, me vi sendo retirada da cama. Alex me levantou e me colocou em pé do lado de fora, entre as suas pernas e sem me dar chance de reagir, levou os lábios a minha barriga, o que me fez arfar ainda mais e me agarrar em seus cabelos sedosos. Ao mesmo tempo, ele começou a baixar minha calcinha.
Sua língua brincando em minha pele, seus dedos roçando minhas coxas e meu sexo ficando livre e entregue a suas carícias. Ele pegou por trás do meu joelho, forçando-me a flexioná-lo, até que o tecido passasse pelo meu pé, e depois repetiu o processo com o outro até que minha calcinha estivesse longe.
Então ele se afastou. Outra vez, aqueles olhos azuis penetrantes me observando como se eu fosse o ser mais bonito, maravilhoso e iluminado que ele já foi capaz de ver. Novamente, eu tive uma vontade incontrolável de ser admirada e desejada pelo meu marido.
Umedeci os lábios com a língua e depois mordi para conter a ansiedade que já me consumia.
– Ah, Charlotte, você é tão linda!
Suas mãos subiram pelas minhas coxas, uma carícia que começava pela parte de trás, indo em direção a minha bunda. Seus lábios voltaram para a minha barriga, onde sua língua brincou com a minha sanidade mental. Um arrepio angustiante se apossou de mim quando senti seus dedos chegarem bem perto.
Ele afastou uma mão, logo recomeçando, aumentando a minha angústia, porque me acariciava com uma mão por trás e a outra foi diretamente para o meu sexo, onde ele tocava, brincava e esfregava os dedos sem se importar com o efeito que causava em mim.
Gemi alto. Aí Alex decidiu me torturar um pouco mais. Sua mão que estava em minha bunda me puxou para mais perto, abocanhando um dos meus seios e meu corpo inteiro se acendeu. Aliás, incendiou.
Ainda com as mãos em seus cabelos, minha única reação foi apertar os dedos nos seus fios lisos e puxá-lo mais para perto, mantendo-o cativo, simplesmente porque eu o queria ali, sua boca em meu seio, chupando, mordendo, lambendo, saboreando e se deleitando.
Alex brincou comigo. Sim, ele brincou.
Ele desfrutou do meu corpo, com a sua boca devorando meus mamilos, suas mãos explorando minha carne, seus dedos invadindo meu sexo, roçando minhas paredes e espalhando a sua umidade. E eu não aguentava mais de tanto desejo.
Meu corpo protestava, agia por vontade própria, rebolando em seus dedos perturbadores, meu ventre se contraía, minha mente girava e meus seios ardiam ao serem sugados com tanta voracidade. Eu sabia que era questão de tempo. Pouco tempo. E eu logo estaria entregue ao prazer, me desfazendo em suas mãos.
Aparentemente, um orgasmo rápido não estava nos planos do meu marido. Por isso ele se afastou. Não abruptamente, bem devagar. Retirou as calças, revelando sua ereção. Suas mãos, como se não quisessem nada, subiram em direção aos meus quadris. Ele voltou a se deitar na cama e me conduziu à nossa posição inicial, deixando-me por cima.
Mordi o lábio e fiquei vermelha imediatamente, mas não iria recuar. Eu nunca recuaria. Além do mais, seus olhos continuavam em mim em uma súplica excitante, um desejo selvagem estampado naquela profundidade azul, a luxúria tangível que exalava de nossos corpos.
Montei em meu marido. Ele manteve uma mão em minha cintura e a outra segurou o próprio membro para melhor me conduzir. E, enfim, o senti, deslizando com lentidão, me completando, preenchendo e me fazendo perder a noção de tempo e de espaço.
Eu apenas o sentia roçando minhas paredes molhadas, alcançando o meu limite, até que estivéssemos completamente conectados.
Ainda mordendo o lábio, olhei para o meu marido. Sua boca estava meio aberta, a respiração entrecortada e os olhos semicerrados. Uma visão perfeita do pecado. Ficamos alguns segundos apenas assim, sentindo, nos adaptando ao prazer, usufruindo do toque das nossas peles, até que ele se movimentou.
O leve subir dos seus quadris em direção ao centro entre as minhas pernas, fazendo-me acompanhá-lo, me despertou instantaneamente. Busquei firmeza no tronco, corri as mãos em seu peitoral e comecei a me movimentar, ditando o ritmo.
Minha carne protestou, inchando e dificultando o movimento; isso não era um empecilho, era um estímulo. Alex gemeu forte, fechando os olhos, segurando mais firme em meus quadris, me puxando para que seu sexo tivesse mais espaço dentro de mim, proporcionando a ele um prazer ainda mais intenso.
Rebolei, aceitando a pressão que se formava em meu interior. O roçar forte do seu pênis duro em minhas paredes inchadas atiçava minha mente e meu corpo. Uma corrente elétrica descontrolada e fulminante brincava dentro de mim com seus fios desencapados, prontos para causar um curto-circuito.
Nossos olhos se encontraram e se prenderam por um longo tempo. Eu assistia ao prazer do meu marido e, com isso, permitia que ele tivesse direito ao mesmo tipo de espetáculo, só que ofertado por mim. Fui pura, única e exclusivamente eu mesma, deixei-me levar, me entreguei totalmente, queria que Alex tivesse o que existia de mais verdadeiro em mim. Então, sem medo ou culpa, me doei sem reservas, me entreguei sem limites e fui dele, porque não havia como ser diferente.
Cavalguei meu marido até que ele, finalmente, fechou os olhos e gemeu entregue, se forçando para dentro de mim, aceitando meus movimentos, desfrutando do prazer. Ele apertou os dedos em meus quadris, como se quisesse se assegurar de que eu não pararia.
Rebolei, saboreando as suas entradas e saídas, aumentando o ritmo, sentindo cada centímetro alcançado, minhas paredes sendo tocadas em todos os ângulos, os choques que elas recebiam e que se espalhavam com uma agitação que partia do centro entre as minhas pernas e corria minhas veias, acionando os mecanismos que me fariam embarcar naquele caleidoscópio de emoções.
Então, sem aviso, eu me vi gozando intensamente, sentindo minha pele ser lambida pelo mais poderoso fogo, partida, rasgada e esmigalhada, solta, rodopiando pelo ar e, ao mesmo tempo, tendo consciência do todo, da fusão de nossos corpos, dos nossos movimentos e dos gemidos intensos do meu marido, que também se entregava, se liquefazendo em mim, em um gozo profundo, completo e extasiante.
Ele gemeu mais uma vez e se movimentou, se aprofundando ainda mais em mim, aproveitando os últimos segundos do seu prazer e desfrutando do latejar pulsante do meu sexo.
Respirei fundo, aguardando. Alex sorriu antes mesmo de abrir os olhos. Foi um sorriso lindo, encantador. Como se ele estivesse confirmando o quanto estava saciado e o quanto tinha sido maravilhoso para ele também.
Quando abriu os olhos, me encontrou sorrindo, retribuindo a magnitude que era vê-lo sorrir. Nos fitamos com intensidade e não precisamos de palavras.
***
– Nós vamos nos atrasar – gritei pela milésima vez.
Alex estava trancado no closet e eu não tinha ideia do que ele tanto fazia lá dentro. Eu já estava pronta, devidamente vestida com o meu vestido preto básico, que descia até os joelhos, meias que ajudariam a manter a temperatura adequada e minhas botas cano longo recém-adquiridas completando o meu visual.
O sobretudo estava sobre a mesa próxima da porta, juntamente com minha bolsa, luvas e o cachecol. Poderia até ser exagero, mas era melhor não abusar.
– Alex! Você está bem? Lana já ligou três vezes querendo saber a que horas vamos chegar.
– Estou pronto. – Ele abriu a porta e saiu do closet.
Olhei o meu marido com curiosidade. Ele vestia um terno completo e havia um sobretudo preto em seu braço. Os cabelos estavam arrumados, a barba feita e seu cheiro impecável.
– Aconteceu alguma coisa?
– Não. Por quê? – Ele andou pelo quarto procurando sua carteira e celular. Havia alguma coisa errada.
– Porque você demorou uma eternidade!
– Não demorei, não. Estava me barbeando, escolhendo a roupa e... – Mordeu o lábio e me encarou meio divertido.
– E?
– Ok, Charlotte! Você me pegou. Eu tentei achar o bastão para verificar se estava tudo certo, não o encontrei.
O quê? Demorei longos segundos me adaptando à sensação de invasão que tentava me dominar. Respirei fundo, encarando o meu marido.
– Eu o joguei na privada e dei descarga, satisfeito? Existe algum motivo para você duvidar de mim? – Cerrei os dentes, tentando controlar a raiva que as palavras dele provocaram.
– Eu acredito, amor! É só que... – Ele sentou na cama, com os ombros baixos em sinal de derrota e sem conseguir me encarar direito. – Sinto-me um imbecil! Perdão!
– Deu negativo, Alex! Por que eu mentiria sobre um assunto tão sério quanto este?
– Eu não acho que está mentindo. Eu só... – Me olhou com vergonha, depois desistiu. – Prefiro descobrir que você errou do que saber que está doente. É isso.
Outra vez aquele assunto. Novamente, a tensão e o medo me congelando por dentro. Eu não queria voltar àquele clima. Eu queria a paz que encontrei nos braços do meu marido no restante da noite que tivemos. Queria acreditar nas promessas que fizemos e no início de dia animador.
Por isso, e apenas por isso, não permiti que meu medo se alojasse em mim. Não permiti que Alex fosse atirado naquele turbilhão de incertezas que só servia para nos paralisar. Eu faria o que havia prometido. Faria com que Alex não pensasse mais naquilo.
– Eu não estou doente!
– E quero acreditar nisso. Merda! Eu tenho que acreditar nisso. – Ele parecia uma criança amedrontada. Foi tão ruim vê-lo daquele jeito que meu coração afundou.
– Até ontem você acreditava – rebati, tentando ser mais otimista.
– Ontem – ele gemeu. – Ontem, Charlotte, quando abri os olhos e voltei à realidade, me dei conta de que você é tudo o que sempre desejei e esperei para mim. Apesar dos problemas, de sua cabeça confusa, suas infantilidades, de tudo o que você faz para me tirar do sério, não quero que minha vida seja diferente. Merda! Eu não quero te perder! Não consigo imaginar...
Coloquei o dedo na boca do meu marido para impedi-lo de surtar de vez.
– Calma! – Encarei seus olhos para que não restassem dúvidas. – Respire, Alex! Você está parecendo... – Procurei a palavra e não encontrei uma adequada. – Eu!
Ele riu, relaxando um pouco e me abraçou pela cintura.
– Tem razão! Perdão!
– Olha, eu não perdi o apetite, não sinto fraqueza nem desânimo, não tenho inchaços, nem manchas pelo corpo, não existe nada que possa me colocar na lista. Minha menstruação atrasou, porém pode ser um distúrbio e não uma doença. Eu posso ter ovários policísticos, por exemplo.
– Charlotte! – ele gemeu e passou a mão pelos cabelos bagunçando tudo.
Suspirei.
– Qual é o problema?
– Que diabos significa "ovários policísticos"?
Sorri.
Meu marido podia até ser perfeito, mas era um homem, e homens sempre se intimidam com doenças ou, no caso de Alex, com síndromes. Sentei ao lado dele e segurei em sua mão.
– Os ovários aumentam e produzem cistos. É fácil de descobrir e, caso seja recente, de conviver também.
– Conviver? – Bom, eu não queria dizer que não existia cura, pois sabia que isso poderia aterrorizá-lo ainda mais. – E isso, nos ovários, compromete... – Ele me olhou sem saber como terminar.
– Pode ser que sim, mas não tenho como afirmar com certeza. O ideal é consultarmos minha médica assim que voltarmos. – Ele soltou o ar com força e seus olhos se arregalaram. – Esqueça isso, Alex! Eu andei pesquisando e você pode fazer o mesmo. Existem milhares de motivos para uma menstruação atrasar, inclusive não ser nada. Uma pessoa pode simplesmente começar a ter atrasos e pronto. Eu me sinto ótima! – Sorri animadamente.
– Tá! Certo, então! – Ele me olhou em dúvida. – Desculpe pelo que fiz. – Alex parecia um menino envergonhado por ter sido flagrado fazendo travessuras.
Ri.
– Precisamos ir. Lana vai ficar maluca se não aparecermos logo na feira. E ainda precisamos almoçar.
– Tudo bem. Charlotte, eu não queria ficar tão apavorado e sei que este não é o melhor momento para que eu seja a parte fraca deste relacionamento, só que eu... – Seus dedos ficaram mais firmes nos meus. – Eu não quero que nada de ruim te aconteça. Não posso conviver com a hipótese de que isso seja uma realidade, e me sinto péssimo por estar tão vulnerável em vez de estar sendo forte.
– Você não precisa ser forte o tempo todo – sussurrei. – E não existe forma de me perder.
– Como pode ter tanta certeza? – ele questionou com a mesma intensidade.
– Porque acredito em contos de fadas, príncipes encantados que enfrentam tempestades para salvar a sua princesa.
Alex riu.
– Em triciclos brancos poderosos. – Empurrei-o com o ombro. – Se não fosse para vivermos este amor com tudo o que temos direito, com certeza você não estaria lá para me salvar.
Ele riu e me puxou para um beijo que fez todo o meu corpo estremecer.
ALEX
Tudo bem, confesso que fraquejei e quase estraguei tudo. Por muito pouco, não coloquei Charlotte outra vez naquela nuvem de medo e insegurança. Mas... puta que pariu! Eu não sou de ferro. Estava sendo forte e, de verdade, não estava tão cismado quanto a minha esposa. Pensava na possibilidade, apenas nisso.
Então, quando fizemos amor e a vi tão entregue, tão minha e quente em meus braços... Era tanto amor que o medo me atingiu antes que eu pudesse evitá-lo e acabei fazendo papel de otário. A minha sorte, e eu nem sabia explicar por que a vida se adequava desta maneira para nós dois, quando eu resolvia ser o infantil da vez, ela era incrivelmente madura.
– Pronta? – perguntei assim que chegamos à entrada da feira do livro.
Estava lotado! Charlotte respirou profundamente, encarando o local, fechou os olhos e sorriu. Um sorriso lindo! Daqueles que as pessoas só dão quando entendem que deu tudo certo. Imediatamente, relaxei. Ela se permitiu aproveitar aqueles segundos só dela, de olhos fechados, sentindo o prazer da realização.
– Sempre estive – respondeu com a voz rouca de emoção.
Quando Charlotte abriu os olhos, foi como se ela tivesse evoluído cem anos. Sua postura havia mudado, a maneira como ela olhava o ambiente, como andava com a coluna ereta e a segurança que eu pensava não existir nela. Charlotte era outra pessoa.
Não mais a minha esposa, muito menos a garota doidinha que um dia me procurou com uma proposta indecorosa. Aquela era a Charlotte escritora, que conhecia, entendia e acreditava em seu trabalho. Era uma mulher segura, conhecedora do seu potencial e que me transformava no marido mais orgulhoso do mundo.
– Bom... – Segurei em sua mão e olhei para os lados. – Temos que descobrir onde ela está.
– Você não sabe?
Olhei minha esposa e sorri.
– Eu nunca sei. – Puxei Charlotte pela mão e começamos a andar.
Muitas pessoas estavam por lá. Caminhavam, paravam para olhar as novidades, para ouvir alguns autores, faziam filas, compravam todos os livros que achavam interessantes ou baratos o suficiente para correr o risco.
Muitos espaços estavam perfeitamente arrumados, com imagens de livros, entradas mirabolantes e atendentes sorridentes. Estavam muito bem organizados.
Encontrei o nosso tão logo avistei um painel alto simulando letras escapando pelo ar. Sorri. O efeito ficou muito bom.
– É ali. – Apontei enquanto Charlotte tentava avistar por cima das demais pessoas que se aglomeravam no corredor em que estávamos.
– Onde? – ela perguntou bastante animada e começou a dar pulinhos para conseguir visualizar.
– Venha, logo você verá. – Acelerei o passo e abri passagem.
Quando vencemos o corredor, demos de cara com um espaço aberto, com livros arrumados de maneira decorativa e banners, um com a imagem de Charlotte, outro com a do seu livro, o que me deixou bem feliz. Lana estava dentro, conversando animadamente com um rapaz alto, muito loiro, e o dispensou rapidamente quando nos viu. Fiquei feliz ao ver o número de pessoas interessadas em nossos livros com o mesmo fervor que tinham por livros de outras editoras.
– Vocês demoraram! – esbravejou quando nos alcançou. – Logo vamos ter muitos repórteres por aqui. Consegui uma entrevista com uma grande revista e quero falar sobre a Charlotte e na aposta que estamos fazendo em seu livro. Nossa, Charlotte, adorei o seu vestido! – falou, mudando completamente o assunto.
Lana era assim, me deixava atordoado, porém eu a amava e gostava do seu trabalho, só por isso a tolerava. Mentira! Mas que ela era insuportável com suas mudanças súbitas de humor, ela era.
– Como estão as vendas? – perguntei, me adiantando em direção ao espaço.
– Ótimas! Os livros da Tiffany são os mais procurados, já dei algumas entrevistas e estão especulando que o novo lançamento dela não será conosco.
– E o que você disse?
– Que no momento estamos pensando nos novos projetos e falei sobre Charlotte. – Ela sorriu como uma diabinha.
– Fez bem. – Olhei para as pessoas que estavam atendendo os nossos clientes. – A roupa ficou excelente – continuei observando. – Onde está João?
– Ah! – Ela olhou discretamente para Charlotte. – Foi acompanhar Tiffany em uma coletiva.
– Tiffany está aqui? – Charlotte se virou para Lana com os olhos arregalados. Pronto, foi o suficiente para que parte da sua segurança evaporasse.
– Ela é nossa autora, amor – tentei ser o mais natural possível.
– Foi por isso que você aceitou com tanta facilidade ficar no quarto o dia todo? – perguntou para mim, mas rapidamente se virou para Lana, atacando. – E foi por isso que você nem se importou?
Lana abriu a boca e fechou imediatamente, assumindo a sua culpa.
– Claro que não! – menti descaradamente. – Você não estava bem, lembra?
Charlotte piscou algumas vezes e depois relaxou.
– Tiffany é nossa autora, Charlotte. Não tem como participarmos de um evento desta magnitude sem que esteja presente – tentei ser o mais natural possível.
Ela estreitou os olhos, engoliu com dificuldade e acabou concordando.
– Vamos, temos que começar a te apresentar – e assim desviei a atenção dela.
Deus sabia o quanto eu também estava apreensivo com a presença de Tiffany. Contava com o seu bom senso para que tudo corresse bem e nada fosse dito.
Charlotte passou alguns minutos conhecendo o local, sendo apresentada a algumas pessoas, conversando sem nenhuma dificuldade, ora em inglês, ou no próprio alemão. Havia muitos brasileiros por lá. E, em nenhum momento, pareceu precisar de mim. Respirei aliviado. Lana tinha assumido o cargo de editora-chefe, no entanto, era a minha imagem que ainda estava vinculada à editora, então eu tinha muito trabalho a fazer.
João voltou sozinho, assumindo o lugar da minha irmã como assessor da Charlotte, e Lana se juntou a mim para uma pequena e informal reunião com alguns livreiros. A conversa fluiu e foi bastante promissora e só fomos interrompidos pelo meu cunhado para avisar que levaria minha esposa para conversar com alguns meios de comunicação. Acenei para Charlotte e continuei concentrado em nossa conversa.
Quase uma hora depois, eu estava livre. Lana, como não poderia deixar de ser, continuou com todo gás e não parou um só minuto. Ela me apresentou a um autor que havia lançado um livro promissor com uma editora pequena da Alemanha, que não possuía distribuição, e minha irmã pensava em trabalhar com ele, traduzindo o livro e lançando no Brasil, sem contar que assumiríamos os seus lançamentos nos demais países. Conversamos sobre os livros enquanto eu acompanhava o movimento.
Foi quando Tiffany chegou. Ela estava acompanhada de leitores que a cercavam, como se ela fosse uma celebridade. Tiraram algumas fotos, conversaram, ela autografou os livros então entrou na sala destinada apenas aos funcionários e autores. Ela me viu e sorriu.
– Alex! Pensei que nunca conseguiria te encontrar.
Sorriu amigavelmente, sem se atrever a se aproximar muito. Eu também fiquei constrangido. Não tínhamos conversado nem nos visto depois do que aconteceu, e encará-la era, no mínimo, embaraçoso. Eu ainda não conseguia acreditar no que tinha feito com ela, por isso a dificuldade para encará-la.
– Parabéns pelo sucesso – tentei ser cortês e distante.
Tiffany, apesar de continuar sorrindo, estava estranha, o que me encabulava ainda mais. Ela mantinha as mãos juntas, torcendo os dedos nervosamente.
– Aceita alguma coisa? – Dei um passo para trás com a desculpa perfeita para me afastar. – Uma água...
Ela sorriu, entendendo o meu recado.
– Não, obrigada! – Virou para o lado e sentou na poltrona. – Dei tantas entrevistas que estou esgotada.
– Isso é ótimo! – Sentei no sofá defronte, ficando mais afastado, só um pouco, o local era pequeno. – Para você a para a gente. – Não dava para simplesmente me afastar e ignorar Tiffany. Eu devia o mínimo de consideração a ela depois do que a tinha feito passar.
– Com certeza. – Ela olhou para fora e acenou para uma fã. – Por que demorou tanto a chegar? Vai se afastar tão rápido assim da editora?
– Não. Na verdade, não vou me afastar, só não estarei mais no cargo de editor-chefe.
– Compreendo. Que bom que conseguiu resolver os problemas com Anita. Ela me contou – completou ao ver a minha cara de curiosidade. – Minha prima, às vezes, não tem limites. – E lá estava a insegurança, o medo e todas as incertezas que ainda nos rondavam.
– Verdade. – Mudei de posição, incomodado com o rumo da conversa.
– No final, deu tudo certo. Vocês vão lançar o livro da menina.
Fiquei ainda mais incomodado.
– Lana me disse que o livro é ótimo, então estou bem curiosa.
– O livro é muito bom realmente – me limitei a dizer. – Bem... – Levantei, surpreendendo-a. – Eu vou procurar Charlotte, ela está... dando algumas entrevistas.
Vi o rosto tão bem composto de Tiffany perder a máscara. Ela estreitou os olhos, como se estivesse surpresa com as minhas palavras, sua boca abriu em descrença, fechou rapidamente engolindo em seco. Então recuperou a postura, engoliu em seco e olhou para os lados, confirmando a nossa privacidade.
– Charlotte está aqui?
– Sim, como convidada. Achei que seria interessante e Lana concordou, já iniciamos a campanha para divulgação do livro dela.
– Eu vi o banner. Ficou muito bonito, só não imaginei que ela estaria viajando como autora da editora, já que o livro ainda não foi lançado.
– Arriscamos.
Ela olhou para fora e depois para os pés.
– Então vocês... – não concluiu, apenas me olhou com intensidade.
– Estamos juntos – afirmei, sabendo exatamente o que ela queria saber – Eu vou procurar Charlotte. Vejo você depois.
– Espere – me interrompeu.
Respirei fundo, já de pé, aguardando que Tiffany colocasse um ponto final naquela conversa angustiante.
– Precisamos conversar.
– Não aqui, Tiffany – alertei, sentindo o meu coração acelerar.
– Mas é importante. – Seus olhos apreensivos demonstravam que ela estava nervosa.
– Não mais do que manter esta merda embaixo do tapete.
Ela recuou e engoliu com dificuldade, passando a mão no pescoço como se o nó a impedisse de continuar.
– Você deveria me ouvir, Alex. – Não me encarou.
– O que você quer conversar? Foi um erro. Eu estava bêbado, pensei que fosse Charlotte, sabe disso... merda, Tiffany! Sabe o quanto foi horrível. O que eu fiz foi imperdoável, então não comece com aquela história de que você não liga, porque eu ligo, eu...
– Estou grávida.
Levei infinitos segundos até que a mensagem chegasse realmente a minha mente. O chão tremeu e meu peito empedrou, dificultando a minha respiração.
– Desculpe! Eu não sabia que Charlotte estaria aqui. Pensei que seria mais fácil conversarmos sobre isso, e...
– Você o quê? – Minha voz quase não saía. A apreensão começava a me deixar enjoado.
– Eu estou grávida, Alex. Desculpe! Não foi minha intenção.
– Você o quê? – falei mais alto sem conseguir acreditar.
Milhares de informações me invadiam e minha mente trabalhava a todo vapor. Não, ela não poderia estar grávida.
– Desculpe!
– Desculpe? – Fechei a mão em punho, me controlando para não passar outra vez do limite com ela.
Tiffany se encolheu na poltrona, o medo estampado em seu olhar.
– Alex, eu não queria, eu...
– É mentira. Você usa anticoncepcional. Disse isso. Me garantiu!
– Eu sei. Eu...
– É mentira! – Controlei minha voz e raiva. Não podia permitir que aquela mentira chegasse aos ouvidos de outras pessoas. – Não tem vergonha de se humilhar tanto? Não cansa de armar para estragar a minha vida com Charlotte?
Tiffany limpou uma lágrima discretamente e sorriu.
– Eu não pretendia deixar acontecer. Você estava bêbado, mas sabe que tentei evitar o quanto pude. Não fui à sua casa para transar naquela noite, Alex. Você fez isso. Não pense que estou feliz, que me sinto vitoriosa. Eu não estou. – Ela controlava a raiva na voz. Tiffany era muito melhor do que eu quando o assunto era manter a compostura. – Mas aqui está. – Ela levantou um envelope em minha direção. – O exame positivo. Fiz logo porque queria realmente me livrar da possibilidade. Também fui pega de surpresa. Não sei como você vai fazer com Charlotte, só acho que não será fácil esconder um filho. Ainda bem que este não é um problema meu. – Ela levantou, me encarando com mais segurança.
Abri o envelope, conferindo a veracidade das suas palavras. Não podia ser. Aquilo era um pesadelo. Não podia estar acontecendo.
– Eu não estou mentindo.
– Esse filho não é meu. – Encarei minha ex-namorada determinado a encerrar a conversa.
Ela recuou com a minha acusação, visivelmente ofendida.
– Não vou entrar nesta briga com você agora, Alex. Acredite no que quiser. Conserte o seu casamento, trabalhe Charlotte ou a engane. Quando meu filho nascer, poderemos comprovar a sua paternidade e, depois disso, não poderá mais me ofender com as suas acusações.
– Você planejou tudo muito bem, não foi?
– Não! – rosnou, avançando em minha direção. – Você me agarrou. Me levou para cama porque é um babaca cheio de si. Porque é um imbecil comandado por uma garotinha que sequer te respeita.
– Não fale...
– Eu não queria. Quis em um determinado momento, porque sou tão idiota quanto você. Porque, nesta brincadeira, eu sou para você o que você é para Charlotte, um cachorrinho. Cedi porque te amo, e porque sinto a sua falta.
– Tiffany...
– Mas eu desisti. Sabe disso. A culpa em seus olhos não te deixa negar.
Recuei imediatamente.
– Eu não queria mais. Tentei te impedir. Foi você...
– Chega! – Fechei os olhos horrorizado com as imagens em minha cabeça. Eu não conseguia acreditar que chegamos àquele ponto. – Não posso mais ficar aqui. – Respirei fundo, sentindo o mundo se fechar. – Não posso continuar esta conversa.
– Tudo bem. Faça como quiser. Em pouco tempo, não haverá mais como fugir. Não se preocupe, vou te dar o tempo que precisar.
– Não... – Virei de costas envergonhado e assustado demais. – Não comente com ninguém, Tiffany. Eu... vou procurar você quando chegar o melhor momento.
– Então tire Charlotte do meu caminho – ameaçou, caminhando de volta à poltrona. – Sabe o quanto ela consegue me irritar.
– Não faça isso – praticamente implorei. – Primeiro preciso ter certeza de que é meu.
Seu olhar magoado mais uma vez me sufocou.
– Como eu disse: não é problema meu.
Saí da sala e respirei fundo. Estar naquele pequeno recinto ao lado da minha ex-amante me sufocou. Eu não conseguia mais acreditar na gentileza dela, muito menos em sua resignação. Sabia que Tiffany continuava ressentida pelo meu casamento, pelo ocorrido entre nós dois, pela minha recusa a acreditar que o filho era meu, além de não concordar com toda a atenção que dávamos ao livro da minha esposa, o que me incomodava mais do que o normal.
Por isso, andei o mais rápido possível, ansioso para encontrar Charlotte e me certificar de que estava tudo bem. Tirá-la de lá o quanto antes e mantê-la longe de Tiffany enquanto eu pudesse.
Meu mundo virou um inferno.
CAPÍTULO 31
“Cuidado para com a fogueira que acendes contra teu inimigo; ela poderá chamuscar a ti mesmo.”
William Shakespeare
CHARLOTTE
-– E o que te inspirou a escrever um romance erótico? – A blogueira diante de mim sorria com entusiasmo após uma longa conversa na qual ela confessou amar romances eróticos.
Imediatamente, meus pensamentos se voltaram para o meu marido. Lembrei-me do nosso primeiro encontro, da forma como conduzimos a situação constrangedora, do tanto que ele lutou contra o que sentíamos, das nossas aulas... minha pele ficou arrepiada e eu me vi sorrindo.
– Na verdade, eu não tive uma inspiração específica. Eu simplesmente sentia falta de algo mais profundo. Quando os casais dos romances que lia eram mais maduros, eu achava que não cabia apenas dizer que eles transaram. Havia a necessidade de algo mais, de descrever o amor.
– O amor? – Ela arqueou uma sobrancelha, levando o gravador em sua direção.
Ri.
– Desculpe, eu escrevo romances, então ainda não aprendi a separar o sexo do amor. Para mim, esta é a fórmula perfeita. A leitura fica mais bonita e gostosa quando os dois se amam, mesmo que ainda não tenham percebido.
– Obrigada, Charlotte! Seu livro com certeza parece ser muito interessante. Desejo sucesso!
– Obrigada!
Ela desligou o gravador, guardou na bolsa e voltou a me olhar sorrindo.
– Você fala com muita paixão. É bom conhecer autores assim.
– Obrigada! – Apertei a sua mão e João se aproximou.
– Esse é o último por hoje, Charlotte. Vamos voltar?
Bebi mais um gole de água para hidratar a garganta e levantei.
– Vamos, sim.
Ele colocou uma mão em minhas costas, de maneira protetora, e começamos a sair.
– O que achou?
– Achei ótimo! Você foi muito segura. Fiquei surpreso.
– Ah é? – Estreitei os olhos, ele riu.
– Não... calma! Pensei que você teria medo, ou ficaria tímida, porém, mesmo corando muitas vezes, conseguiu se manter tranquila.
Continuei rindo.
– Esqueci de te dizer que estou muito feliz por vocês dois.
Ele me olhou rapidamente surpreso com a minha revelação.
– Lana te contou?
Concordei com um aceno de cabeça e ele sorriu de uma forma tão linda e plena que meu coração se alegrou. Ele merecia aquela felicidade.
Pensei em como Alex reagiu à nossa suspeita de gravidez e tive a certeza de que ele teria a mesma reação se eu realmente estivesse esperando um bebê.
– Você contou a ele?
– Não. Lana disse que ainda não era o momento.
– Bobagem dela, no entanto, eu estou respeitando. Ela... – Ele parou me olhando sem muita certeza se deveria falar. – Ela está com medo de perder os bebês.
– E o que você acha?
– Eu acho que eles são nossos. – E voltou a sorrir com tanta doçura e segurança que eu também tive certeza.
– Eu também acho.
– Obrigado!
– Então... – continuei andando. – Vocês vão ter girinos.
Ele me olhou confuso, logo entendeu e começou a rir.
– Ou príncipes.
– Ou princesas. Ou um príncipe e uma princesa.
– Isso – ele disse ainda com aquele sorriso bobo. João pai seria realmente uma figura.
– Como foi com Tiffany? – Ele fez uma careta e continuou olhando para frente.
– Como sempre. Ela tem muita habilidade com o público. As pessoas amam os livros dela. – Me olhou de esguelha. – Seria ótimo se conseguíssemos os próximos livros.
– Desculpe por isso – fiquei desconfortável com a revelação dele.
– Não, Charlotte! Você é uma promessa e Tiffany foi muito infantil querendo vincular uma coisa a outra.
– No entanto, a recusa do Alex fez vocês perderem sua melhor autora.
– Não. Não pense assim. Nós estamos felizes com a maneira como tudo se resolveu.
Mordi o lábio sem querer acrescentar nada. Eu não queria que fosse diferente, e confesso que ter Tiffany longe era uma maravilha, no entanto, saber que por minha causa a editora poderia ser prejudicada não era algo legal para pensar.
– Então... amanhã posso comprar duas roupinhas com os dizeres Ctrl C, Ctrl V? – Ele riu alto.
– Acho que vai ser difícil esconder um presente assim do seu marido.
– Você está falando com Charlotte, mestra em esconder coisas ilegais.
Ele me olhou enviesado e eu ri.
– Como meu relacionamento obscuro com meu professor.
– Hum! Verdade. – E continuou rindo, seu sorriso se desfez aos poucos e, quando acompanhei o seu olhar, entendi o motivo.
Tiffany.
Merda! Eu não estava preparada para encontrar com a ex-candidata a atual amante do meu marido. Pelo menos não para encontrá-la tão perfeita, linda e soberana. Uma beleza fresca, como se tivesse acabado de chegar. Maquiagem impecável, corpo incrível, um vestido que cabia muito bem na personagem que interpretava para sustentar a sua imagem de moça educada e superior.
E ela se movia com uma graciosidade imperdoável, como se os saltos altíssimos não a incomodassem em nada. Notei de imediato a cor do cabelo modificada. Um castanho dourado, quase semelhante ao meu. Também não passou despercebido que ela estava deixando crescer e, imediatamente, me perguntei se era uma tentativa ridícula de se assemelhar a mim e, com isso, ganhar a atenção de Alex. A frustração foi imediata.
Vários fãs tiravam fotos, conversavam e admiravam a estrela amigável que não media esforços para atendê-los. Não sei se odiei mais a ela ou a mim por ter escolhido usar algo tão sóbrio.
– Por que não aguarda um pouco na sala, Charlotte? Eu vou procurar Alex.
Concordei. João saiu em direção a Lana, que conversava com dois rapazes e uma mulher gorda e baixinha. Passei pelas mesas repletas de livros, olhei mais uma vez para o banner com minha foto e o livro, o que me fez sentir um pouco melhor e entrei na sala, que estava vazia.
Peguei um copo com água, sentei na poltrona próxima à porta, encostei a cabeça e fechei os olhos. Eu estava cansada demais para pensar no que Tiffany significava para mim, mas, pelo visto, ela não estava.
– Charlotte! – Ouvi aquela voz que nunca me soou tão falsa e estremeci. Respirei bem fundo antes de abrir os olhos para encará-la.
– Tiffany – falei sem emoção, fitando-a.
Ela sorria e eu a odiei um pouco mais.
– Como vai? – Não me dei ao trabalho de ser educada a ponto de me levantar para cumprimentá-la.
– Estou ótima! Uma feira como esta sempre renova minhas energias. O contato com os fãs, o carinho deles, o amor pelos meus livros... – Passou a mão na barriga, ajustando o vestido impecável.
Eu entendi que ela estava tentando me atingir, por isso fiquei calada, apenas ouvindo e fingindo interesse. Tiffany não merecia que eu me desse ao trabalho. Ela falou por longos minutos e depois, aparentemente cansada de tentar me vencer pela inveja, sentou e ficou olhando para os lados, meio agitada.
– Eu pensei que não te veria por aqui – falou por fim.
Algo no seu tom de voz ou na forma como me olhou me fez estremecer.
– Por que não? – fiquei mais alerta, endireitando a coluna e encarando minha colega de editora enquanto aguardava sua resposta.
Ela me olhou como se não soubesse como me responder, desviou o olhar e encarou as próprias mãos, mudando de posição, visivelmente incomodada.
– Bom... sua mãe acabou de falecer... – Me olhou sem jeito.
Puxei o ar, sentindo o baque que era ser lembrada da morte da minha mãe. Principalmente quando eu ainda estava com tantas dúvidas e depois de ter visto Alex tão vulnerável, atingido pelo medo de me perder.
– Eu sinto muito – ela disse com aquela voz de anjo que eu bem sabia não ser verdade. – Embora tenha conhecido pouco a sua mãe, ela me pareceu ser uma boa pessoa.
– A melhor – respondi com a garganta ardendo.
Ela me encarou, parecendo resignada.
– Com certeza.
– Já faz algum tempo e ela sabia do meu sonho, então não havia por que perder esta oportunidade.
– Eu entendo – falou, levantando para pegar um pouco de água também. – Aceita mais um pouco? – Olhei para minha mão, lembrando-me do copo.
– Não, obrigada! – Ela virou de volta para pegar a garrafa dentro do frigobar.
– Alex me disse que você tinha ido embora.
Parei no mesmo instante com o copo a caminho da boca.
– Desculpe, ele não te contou, não foi?
Continuei calada, observando.
– Nós nos encontramos... algumas vezes... na praia. – Pareceu pensar no assunto. – Uma vez em um restaurante que adoramos.
Me segurei para não quebrar o copo em minha mão e fiz muito esforço para me manter impassível.
– Conversamos muito e ele me contou sobre o seu sofrimento e da sua decisão de ficar com o seu pai. Por isso não pensei que a encontraria aqui.
Ok! Alex não havia me contado sobre estes encontros, muito menos eu conseguia entender para que merda aceitara se encontrar com Tiffany na praia e no restaurante, e isso não descia. Eu estava tão entalada que não conseguia responder, tenho certeza de que meu rosto ficou tão vermelho que qualquer pessoa menos absurda do que aquela mulher começaria a gritar por ajuda, pois eu estava a ponto de passar mal.
Não Tiffany. Ela estava adorando a minha reação. Estava amando tentar me fazer acreditar que Alex tinha mesmo ficado com ela. Porra! Eu odiava aquela situação. Odiava saber que ela tinha armas para me afetar e que eu não as tinha para atacá-la.
Ou tinha?
– Eu passei alguns dias com o meu pai. Precisava cuidar dele, afinal de contas, minha mãe morreu. Alex foi muito compreensivo.
– Sei. – Ela sorriu e isso me irritou ao extremo. – Ele me contou que vocês estavam estremecidos.
Puta. Que. Pariu!
Eu mataria Alex. Mataria, com certeza.
– Ele te disse isso? – Minha voz saiu rouca e carregada.
Ela desviou o olhar, tentando esconder o sorriso.
– Nós conversamos, Charlotte!
Pensei comigo, e se eu atirasse o copo nela? Seria um prejuízo muito grande para a imagem da editora? Será que Alex encararia como mais um momento de infantilidade? Também pensei se matar Tiffany me traria prazer suficiente a ponto de não me importar com a reprimenda do meu marido?
Ele tinha criado aquela merda. Deveria eliminá-la.
– O que eu posso dizer, Tiffany? Minha mãe morreu, eu estava em uma fase ruim, meu pai precisava de mim e Alex me apoiou, mesmo que não sendo exatamente a vontade dele, afinal, não é segredo para ninguém o quanto meu marido faz questão de estar comigo, o que, na minha opinião, faz parte da sua personalidade egoísta, então... eu estou aqui e estamos juntos.
Consegui encará-la e falar sem tremer, gaguejar ou ficar com o rosto prestes a explodir de tão vermelho. Ela não sorria mais, apenas me encarava de volta, os olhos estreitos e a mão fechada firmemente no seu copo. Foi a minha vez de sorrir.
– Eu fico pensando... – ela recomeçou, me dando as costas e caminhando até a divisória de vidro que nos separava do ambiente externo. – Até quando Alex vai ser feliz tendo que enfrentar tantos problemas? Não me entenda mal, Charlotte, é que ele pareceu tão aborrecido naquela noite em que nos encontramos! – E voltou a me olhar.
Reconsiderei a hipótese de atirar o copo nela. Se pegasse em seu rosto e acabasse com aquela expressão superior, já seria o suficiente.
– Alex tem outros problemas. Nem tudo o que o aborrece está diretamente ligado a mim ou a nossa relação.
– É mesmo?
– Sim. Problemas que ele enfrenta e se aborrece, como todas as vezes que precisa explicar sobre as suas vontades ou decisões. Sabe, nem todo mundo consegue entender imediatamente o que ele quer, ou o que ele não quer – falei mais firme. – Algumas vezes ele precisa lidar com pessoas que utilizam de joguinhos para persuadi-lo ou que estão tão inconformadas com suas decisões que acabam aborrecendo-o cada vez mais. Pessoalmente, acho que Alex é muito claro quando fala sobre o que deseja e o que não deseja, como, por exemplo, casar comigo. Ele sabia exatamente o que queria, nunca voltou atrás em sua decisão, sempre foi bastante explícito quanto a isso.
Pela primeira vez, eu vi Tiffany se esquecer de manter a pose. Ela mordeu o lábio e estreitou os olhos. Eu me senti realmente ameaçada. Ela puxou o ar com força, as dobras dos dedos esbranquiçadas enquanto os apertava com raiva.
Tiffany parecia alguém que tinha perdido o juízo, então, no mesmo segundo em que consegui visualizar todos estes detalhes, ela conseguiu se recompor e sorrir.
– Eu entendo – disse por fim. – Quando o seu livro será publicado? – Mudou de assunto já totalmente recuperada. – Eu queria poder ler, quem sabe escrever uma nota, porém Lana disse que já estava com tudo pronto.
– Logo. Ainda não definimos uma data. – Esfreguei uma mão na outra, me sentindo ansiosa demais para continuar conversando.
– Estou escrevendo um livro novo – continuou. – Estou apostando tudo neste.
– É mesmo? – Não conseguia sentir interesse, nem fingir me importar. Estava tão sufocada que precisava sair dali o quanto antes.
– Sim. Vou contar a história de uma garota que reencontra o amor da sua vida depois de um longo período separados e ele está casado.
Puta merda! Eu queria poder acabar com a vida dela e me livrar daquele aborrecimento. Que garota chata, mal-amada, insuportável! Tive vontade de gritar tudo isso em sua cara, me contive e apenas sorri, tentando ser tão dissimulada quanto ela.
– É mesmo?
Ela riu meio empolgada.
– Sim, mas ele ainda a ama e os dois vão ter que decidir se podem ou não viver este amor. Ah, ela engravida dele. Vai ser um romance lindo!
Loucaaaaaaaaaaaaa!
Minha mente gritou enquanto eu me esforçava para manter um sorriso educado e uma cara de boa garota.
– Acredito que sim.
Levantei. Não dava mais para ficar ali.
– Já vai?
Eu ia responder, ela me cortou.
– Espere um pouco. É a primeira vez que participamos juntas de uma feira e isso merece um brinde. Poderíamos conversar, existem muitos pontos que eu adoraria te contar. Eu já volto. – E saiu tão rápido que não consegui negar.
Aproveitei a sua saída intempestiva e escapei. Saí da sala determinada a encontrar Alex, ou ir embora, já que não suportaria nem mais um minuto ao lado daquela louca. Ele que procurasse se resolver comigo depois.
ALEX
– Será muito bom. O mercado está bem aquecido. Lógico que a pirataria continua sendo um problema, ainda assim, acredito que é vantajoso para todos os lados – Rose, gerente local de uma grande empresa que comercializava e-books, falava animadamente.
Olhei para os lados, procurando Charlotte, não a encontrava em nenhum lugar. Também não podia sair e deixar para trás uma pessoa que com certeza era importante para a minha editora, além de precisar manter o contato para um futuro promissor.
No entanto, nada conseguia captar a minha atenção. Nada. O exame entregue por Tiffany queimava no bolso da minha calça. Eu não podia acreditar. Custava a crer que minha vida viraria o inferno que estava se aproximando. Não. Tiffany estava mentindo. Não podia ser outra coisa.
– Estudaremos a proposta e logo entraremos em contato. Nossos contratos englobam também o controle dos e-books, uma vez que precisamos que a mesma qualidade seja oferecida para ambos os públicos, por este motivo acredito que a parceria seria uma ótima alternativa.
– Com certeza, Sr. Frankli...
E ela continuou falando e falando sem me dar chance de encontrar a minha esposa. Merda! Eu precisava encontrar Charlotte e levá-la para bem longe daquilo tudo. Um bolo fechava a minha garganta, uma pedra estava sobre meus pulmões e minha cabeça começava a entrar em parafuso.
Eu precisava também terminar aquela conversa com Tiffany. Pressioná-la mais até arrancar dela a informação correta. Fazê-la confessar que era mentira, que o filho era de outro cara, não meu.
Porra!
Quando consegui encerrar o assunto, após uma promessa de parceria, saí em direção ao salão onde ela poderia estar, não a encontrei mais. Pudera, eu tinha extrapolado o tempo.
Voltei para o corredor, onde estava o nosso estande, o local ainda estava bastante movimentado e todos os funcionários trabalhavam com afinco. Fiquei satisfeito.
Avistei minha irmã conversando com um grupo e, assim que ela me viu, veio ao meu encontro.
– Onde você estava? Mandei João atrás de você, mas ele não te encontrou em lugar algum – ela parecia aflita, o que me deixou em alerta imediatamente.
– Onde está Charlotte?
– Pois é! Onde está Charlotte?
– Ela não está aqui?
– Claro que não! Ela voltou, João saiu para te procurar e ela acabou ficando sozinha com Tiffany na sala para os autores.
– Puta que pariu!
Passei a mão pelo cabelo correndo meus olhos por todos os lugares. O que a maluca da Tiffany havia dito? Eu sabia que não precisava de muito para fazer a minha esposa enlouquecer. Merda!
– Encontrei com ela quando estava chegando no estande. Charlotte estava nervosa, disse que iria te encontrar e saiu sem que eu conseguisse impedi-la.
– Merda, Lana! Onde ela pode estar?
– Por que você não ficou aqui? – ela questionou nervosa.
– Porque Tiffany estava me torrando a paciência – respondi irritado.
Charlotte poderia estar em qualquer lugar, inclusive no aeroporto, indo embora.
– Não é possível que Tiffany tenha feito alguma coisa. – Minha irmã parecia bastante nervosa e eu imaginava como Charlotte deveria estar, pois Lana estava realmente preocupada.
– Vá por mim, ela fez.
Voltei a olhar o local, na esperança de encontrá-la voltando, então avistei Tiffany ao fundo, caminhando em direção à sala dos autores.
– Eu vou descobrir onde Charlotte está. – E saí em direção a minha ex-amante. – Tiffany! – chamei antes que ela entrasse no ambiente reservado.
– Alex! – Tiffany me olhou assustada.
Respirei fundo, me concentrei em não matá-la e continuei andando em sua direção, disposto a conseguir qualquer informação sobre o que ela havia dito a Charlotte para causar tamanha confusão. Tiffany sorriu, não estava calma, mas tentava disfarçar e segurava duas taças de champanhe. Fiquei curioso.
– Onde está Charlotte? – ela perguntou, olhando para os lados. Percebi um fio de nervosismo em seu olhar, que ela escondia muito bem. – Nós íamos fazer um brinde...
– Você está maluca? – Segurei em seu braço com força. – O que disse a ela?
– Nada – ela rebateu com mais raiva, só que baixo, sem despertar a atenção dos outros. – Eu não disse nada, Alex... ainda. – E me olhou com desafio.
– O que está tentando fazer?
– O que você acha?
– Eu disse que era para esperar.
– Você disse que o filho não era seu. Como se eu fosse uma cadela que sai transando por aí com qualquer um. Depois do que fez comigo naquela noite, o mínimo que poderia fazer era ter mais consideração pelo meu estado.
Soltei seu braço horrorizado.
– Não vamos discutir esse assunto aqui.
– O que está acontecendo? – Lana se aproximou, sustentando um sorriso falso. Sua mão tocou meu braço e o apertou como um aviso.
– Nada – falei sem vontade de compartilhar a minha angústia.
– Nada? – Tiffany me encarou, arqueando uma sobrancelha.
– Não me provoque, Tiffany – ameacei.
– Alex! – Lana me fez recuar. – Estão olhando em nossa direção. Pelo amor de Deus!
– Vou procurar Charlotte. Caso ela volte antes de mim, não deixe que Tiffany encoste em minha esposa.
– Não vou precisar disso, Alex. Com o tempo, ela vai acabar descobrindo a verdade.
– A verdade? Que verdade? – Lana ainda sorria daquele jeito falso, como se quisesse mostrar para as outras pessoas que estávamos brincando.
– Nenhuma – calei Tiffany. – Não se atreva.
– Por quê? Será que devo temer outra noite como aquela?
– Que noite? Do que estamos falando?
– Tire Charlotte daqui o mais rápido possível.
E saí decidido a encontrá-la.
CHARLOTTE
Procurei Alex até não conseguir mais me encontrar dentro daquele imenso espaço repleto de pessoas. Eu estava perdida. Literalmente perdida. E já sentia meu rosto corar pela vergonha de ter que assumir tal fato. Alex não deixaria passar barato. Eu até já podia imaginá-lo todo preocupado se certificando de que não me perderia de vista outra vez. E as suas indiretas infinitas.
Uma droga!
Peguei o celular para tentar falar com ele ou com Lana, qualquer pessoa que conseguisse me enviar um sinal de fumaça, indicando onde ficava o estande. Foi quando verifiquei que a porcaria estava sem sinal. Sem sinal! Dá para acreditar em tamanha confusão?
Continuei andando, sempre virando à direita, como se eu estivesse em um labirinto, tentando decorar os nomes e cores por onde eu passava, para me certificar de que não estava dando voltas em torno de mim mesma.
À medida que alcançava mais o fundo do espaço, mais aglomerado ficava e, devo confessar, lugares cheios de gente, grandes multidões, realmente me causavam pânico. Era angustiante, sufocante, fazia com que meu cérebro acreditasse que eu não conseguiria mais o ar necessário para respirar.
– Fecharam o corredor? – Ouvi uma garota com o cabelo metade azul, metade loiro, falando em um alemão perfeito, logo a minha frente. – Por que isso?
– Deve ser alguém famoso – a que estava do seu lado, de cabeça raspada e orelha repleta de brincos falou sem se importar muito.
Tentei verificar o que havia na frente, foi impossível. As pessoas continuavam andando, passos lentos, cada vez mais lentos, enquanto a multidão se aglomerava ainda mais. Foi um pesadelo. Aproveitei um pessoal que estava desistindo de continuar e voltei, seguindo-os em fila indiana.
Assim que me vi longe do aglomerado, respirei aliviada. Apesar do frio, minhas mãos ficaram suadas. Quem estava do outro lado da multidão eu nem fazia ideia, mas não aguardaria para verificar. Sem pensar duas vezes, saí para o espaço aberto decidida a voltar para o hotel. No caminho, eu conseguiria avisar Alex para que me encontrasse lá.
Eu tinha certeza de que ele se aborreceria, se preocuparia mais do que o necessário, mas ninguém poderia dizer que eu não havia tentado voltar. Entrei no táxi, passei o endereço e tentei ligar. Nada. O celular dele estava desligado. Merda! Tentei o de Lana, que chamou até cair na caixa-postal. Decidi deixar uma mensagem.
“Podem rir, mas eu me perdi. Como não consegui voltar, fui para o hotel, espero vocês lá. Bjs.”
Mandei para minha cunhada e meu marido e me senti mais tranquila. Uma hora alguém iria visualizar a mensagem.
Entrei no quarto, tirei o casaco e as botas, largando tudo desajeitadamente sobre o sofá. Eu precisava ser rápida, ou Alex me surpreenderia no meio da ação. Só queria que ele descobrisse o que eu tinha em mente quando realmente chegasse a hora. E Lana não ligava para me ajudar com o plano.
Liguei o computador, entrei no site desejado, comprei tudo o que precisava, ajustei cada detalhe e me senti confortável com aquela decisão.
Fui ao closet, peguei as malas e comecei a arrumá-las. As coisas do Alex eram mais fáceis, ele mantinha tudo perfeitamente arrumado, cada coisa em seu devido lugar. O que deu trabalho mesmo foi a minha mala. Porque eu espalhava tudo o que levava, então tinha coisas no closet, no banheiro, no quarto e na sala. Uma bagunça total.
Atirei de qualquer jeito na mala e rezei para conseguir fechá-la. Levei tudo para a sala e fui para o banho. Tive o cuidado de deixar apenas um conjunto de roupas dele sobre a cama, além das que eu usaria.
Demorei no banho apenas o suficiente para aquecer o corpo e me sentir limpa. Ainda pensava nos delírios da Tiffany e o tempo todo pensando sobre ter aquela conversa com Alex. Ele precisava saber o que estava acontecendo. A mulher não estava em seu juízo perfeito, só podia ser isso. Ou então estava tão magoada e amargurada com o meu casamento que não deixaria escapar nenhuma chance de me envenenar contra o meu marido.
Se fosse em outra época, com certeza eu cairia naquela armadilha. Acreditaria em tudo o que Tiffany tentou insinuar e criaria um problemão em meu casamento. Tudo bem que ainda queria saber sobre os tais encontros, embora eu acreditasse que foram forjados pela natureza obsessiva da garota, e não pela vontade do meu marido.
Além do mais, a última coisa que eu queria naquele momento era me indispor com Alex.
Vesti um roupão. Estava frio. Mais do que deveria para um quarto aquecido. Saí do banheiro esperando encontrar o meu marido, estranhamente ele não estava lá. Procurei o celular, verificando cinco chamadas não atendidas. Todas de Lana, nenhuma do Alex, nem mesmo uma mensagem.
Retornei à ligação, mas não completava. Troquei de roupa, coloquei um jeans justo, uma camisa de lã e minhas botas. Tentei ligar mais uma vez e não consegui. Peguei minha bolsa, juntei toda a documentação necessária, deixando para fazer o check-out quando Alex chegasse.
Sentei no sofá, peguei o controle e, quando liguei a TV, alguém bateu na porta do quarto. Levantei assustada, não havia pedido nada. Poderia ser Alex. Ele estava sem o nosso cartão de acesso. Levantei e ele bateu outra vez, com mais força, uma urgência que me assustou.
– Calma! – falei bem próxima a porta. – Já estou...
– Charlotte!
Alex passou por mim desesperado. Seus olhos estavam enormes e assustados, o que rapidamente fez meu coração acelerar. Meu primeiro pensamento foi Lana. Droga! Não poderia ser o que eu estava pensando.
– O que aconteceu?
Ele me olhou assustado, conferiu minhas roupas e só então notou as malas prontas na sala.
– Ela te contou?
– Ela o quê? – tentei entender o que estava acontecendo. – Lana? Você fala de Lana?
Meu marido passou a mão no cabelo, respirando com dificuldade.
– Ela disse que não era para te contar, então...
– O que tem Lana? – Foi a vez de ele ficar confuso. – Charlotte, espere. – Fechou os olhos e puxou o ar com força. – O que Tiffany te contou? Por que você foi embora sem dizer nada? – Mais uma vez, ele olhou para as malas.
– Você está muito confuso, Alex. O que aconteceu?
– Tiffany – ele continuou. – O que ela te disse?
Ah, sim. Então ele estava preocupado com a minha conversa com Tiffany.
– Que vocês se encontraram algumas vezes enquanto eu estava fora do país.
Vi seus olhos tentarem encontrar alguma resposta em meu rosto.
– O que mais? – A aflição de Alex estava me deixando nervosa.
– Por que isso tudo?
– O que mais ela disse? – Parou diante de mim, segurando meus braços. Era como se exigisse a resposta. Não gostei daquela atitude.
– Por que, Alex? O que está me escondendo?
Ele escrutinou meu rosto, relaxando.
– Nada. Por que as malas estão na sala? – Ainda havia o pânico em sua voz e eu não conseguia me sentir melhor.
– Me diga o que está acontecendo?
– Nada. – Ele se afastou, indo até as malas. – O que está acontecendo?
Suspirei. Não dava para me concentrar depois de uma tempestade como aquela. Alex estava muito estranho, com atitudes estranhas e me deixando nervosa.
– Era uma surpresa – acabei revelando sem a empolgação que eu tinha planejado.
– Surpresa?
Confirmei enquanto tentava organizar meus pensamentos.
– Era... é o meu presente de casamento. Uma viagem de lua de mel. Você disse que...
– Ótimo!
E mais uma vez a sua reação me deixou desorientada. Eu estava preparada para persuadi-lo, para insistir, e ainda contava com a ajuda da minha cunhada, que faria de tudo para que Alex entendesse que ela poderia dar conta da editora sem ele. Mas não foi assim. Ele simplesmente concordou, sem pestanejar, sem argumentar, sem ao menos perguntar qual seria o nosso destino.
Alguma coisa estava muito estranha naquela conversa.
Ele se aproximou e me abraçou com força. Fiquei sem reação. Definitivamente, eu precisava descobrir o que Alex escondia de mim. Então ele me beijou. Um beijo desesperado, o medo exalando por todos os seus poros.
– Quando vamos partir? – disse ao me deixar, o que fez minha cabeça girar confusa.
– Bom... – Busquei apoio na cama, sentando para conseguir coordenar minha mente. – Ainda temos três horas até o horário do voo. A minha ideia era partir o quanto antes.
– Ótimo! Eu só preciso... – Ele olhou para os lados, como se procurassealguma coisa. – Só preciso de um banho. É isso. Um banho e podemos partir.
Fiquei observando o meu marido. Ele não me olhava, não parecia estar em seu perfeito juízo. Respirava com dificuldade e suas mãos não paravam um segundo no mesmo lugar.
– Alex, você está bem? Não vai me contar o motivo para esse desespero todo?
Ele arregalou os olhos e, mais uma vez, passou as mãos nos cabelos.
– Você sumiu – revelou, deixando o pavor em sua voz se apresentar. – Lana me disse que Tiffany passou um tempo com você, então pensei que ela pudesse ter dito alguma coisa que a fizesse ir embora. Me deixar outra vez.
– E eu deveria estar preocupada com alguma coisa que Tiffany pudesse me contar?
– Não! – respondeu rápido demais. – É só que ela parece estar determinada a te atingir. A nos atingir.
– Como nas vezes em que se encontraram quando eu ainda estava na Inglaterra? – eu o desafiei.
Ele piscou algumas vezes e desviou o olhar.
– Isso não aconteceu.
– Não? Mas ela me disse que foi você quem contou a ela sobre os problemas que estávamos tendo.
– Não é verdade.
– Tudo bem, Alex. Eu não quero perder meu tempo pensando em Tiffany ou em qualquer besteira que ela possa falar para tentar nos desestabilizar. Vamos esquecer tudo. Agora vá tomar banho. Ainda precisamos fechar a conta do hotel.
– Não vou demorar.
Ele aceitou rápido demais. Como se quisesse qualquer motivo para deixar o assunto “Tiffany” de lado. Ainda sentada na cama, vi meu marido desfazer o nó da gravata, tirar o paletó, a camisa e, com uma expressão cansada, tirar os sapatos, as meias e deixar a calça cair no chão.
Sem olhar para mim, caminhou até o banheiro e se trancou lá. Logo em seguida, ouvi o barulho do chuveiro. Com um suspiro cansado, levantei para catar as suas roupas e colocá-las na mala. Fui dobrando tudo, deixando sobre a poltrona sem prestar muita atenção, foi quando um papel caiu no chão. Ele estava no bolso da calça, dobrado sem muito cuidado.
Deixei a calça de lado e, sem saber ao certo por que fiz aquilo, peguei o papel, reconhecendo a logomarca de um laboratório conhecido no Brasil. Sem entender o que se passava, abri o papel.
A primeira coisa que meus olhos me mostraram foi a palavra em letras garrafais. Estava escrito “POSITIVO”, em negrito. Sem conseguir entender, voltei ao início do documento e vi, estupefata, o nome de Tiffany.
O nome de Tiffany e a palavra positivo. Meu coração perdeu uma batida. “Ah, ela vai engravidar dele”, as palavras dela voltaram a minha memória como um aviso. Não podia ser. Não era possível.
“Lana me disse que Tiffany passou um tempo com você, então eu pensei que ela pudesse te dizer alguma coisa que a fizesse ir embora.”
Não! Não podia ser verdade.
Cambaleei até a sala e sentei no sofá. Precisava pensar melhor, juntar as peças. “É só que ela parece estar determinada a te atingir. A nos atingir.” O que eu podia fazer? Como ler aquele documento e manter a calma necessária para discutir aquele assunto?
Eu não sabia. Me mantive ali, naquela sala, sem conseguir contar o tempo, ou agir para resolver. Eu apenas aguardei. E então ele chegou.
– Charlotte. – Sua voz seca e fria deixava claro que eu não precisaria questioná-lo.
Levantei os olhos e encarei meu marido. Seu rosto já me dava todas as respostas. Seu sofrimento confirmava a traição.
Minha vida tinha acabado.
CAPÍTULO 32
“O sábio não se senta para lamentar-se, mas se põe alegremente em sua tarefa de consertar o dano feito.”
William Shakespeare.
ALEX
Era como se o meu mundo estivesse despencando em minhas costas.
Quando saí do banheiro, eu já estava mais tranquilo, acreditando que a vida não poderia ser mais perfeita me dando a oportunidade de levar Charlotte para longe daquela merda toda. Nós teríamos tempo. Eu poderia convencer Tiffany a fazer um exame de DNA e, se realmente o filho fosse meu, poderia arrumar um jeito de convencer Charlotte do meu amor, do meu arrependimento... qualquer coisa que não a fizesse me abandonar.
Porém, assim que cheguei ao quarto vi a minha esposa sentada no sofá da sala, a cabeça baixa, respiração ofegante e o ar tão pesado que chegava a sufocar. E então eu vi. Ela segurava o papel. Aquele maldito papel que coloquei no bolso enquanto tentava encontrá-la. O mesmo que eu deveria ter dispensado na primeira lixeira que encontrasse.
Ela havia achado o papel e tudo estava perdido. Não havia perdão para mim. Não havia como reverter a situação. Independentemente de aquela criança ser meu filho ou não. Eu a traí. Dormi com o seu maior pesadelo. Não importavam as circunstâncias, a bebida, a confusão que o álcool causou em minha mente. Nada mais importava.
– Charlotte.
Ela me olhou e o que vi foi a confirmação de que tudo estava acabado. Charlotte partiria. Escaparia pelas minhas mãos. Ela desmoronaria. Eu tinha acabado com a vida dela, com a nossa, com os seus sonhos... eu não merecia o seu amor. Não merecia mais nada.
– Então era esse seu medo?
Vi que minha esposa tentava ser forte. Que procurava respostas. Mas não havia nada mais que pudesse ser feito. Não cabia mais mentiras, ou eu corria o risco de nunca mais ouvir a sua voz, ver seus olhos... Ela fugiria de mim como o diabo foge da cruz. E eu mereceria cada segundo de desprezo dela.
– Responda, Alex!
Sem conseguir encará-la, apenas baixei a cabeça e concordei. O que mais poderia fazer?
– É seu? – O rancor em sua voz fazia meu coração sangrar.
– Quero acreditar que não – revelei incapaz de esconder mais nada. Charlotte merecia a verdade, nada menos do que isso.
– Quer acreditar que não – ela disse, refletindo sobre a minha resposta. – Então devo concluir que vocês dormiram juntos?
– Charlotte...
– Vocês transaram?
– Por favor! – Dei um passo em sua direção e ela imediatamente levantou, se afastando.
– Transaram?
– Não como você está pensando. – Eu sentia o meu coração martelar no peito. Meu desespero aumentava a casa segundo. – Charlotte, só escute.
– Como é possível? – Sua voz ficou mais alta. – Eu juro que não entendo, Alex. Como podem ter transado, mas não como estou pensando?
– Amor...
– Não! – Ela levantou um dedo em minha direção e a primeira lágrima desceu pelo seu rosto.
– Eu estava bêbado.
– Meu Deus! – Charlotte fechou os olhos, deixando o choro cair.
– Charlotte, eu juro. Eu tinha mandado os papéis do divórcio.
Ela soluçou.
– Liguei para Peter e ele, não sei por quê, me fez acreditar que você tinha assinado o divórcio.
– E você transa com Tiffany para passar a mágoa? Que ótimo! Eu deveria ter transado com Thomas quando você foi embora e me deixou sozinha na Inglaterra, sofrendo pela morte da minha mãe – gritou sem se controlar. Senti raiva de mim, e dela também.
– Não fale besteira – esbravejei.
– Besteira? Você transou com Tiffany. Ela está grávida!
– O filho não é meu – gritei de volta.
Charlotte se afastou.
– E no que isso importa? – Sua voz ficou mais fraca, o horror chegando a sua realidade. – Qual é a diferença Alex? Você transou com ela. Você me traiu. Com Tiffany! – As lágrimas desciam sem parar.
– Eu não te traí. Foi uma confusão.
– Claro! – Ela andou pela sala. Eu sabia que não havia mais argumento. Eu tinha perdido Charlotte para sempre. Foi a minha vez de chorar.
– Eu amo você, Charlotte – sussurrei sem conseguir colocar as palavras para fora.
– Um amor que trai não pode ser considerado amor – rebateu com raiva.
– Não foi assim, Charlotte. Você não entende.
– Não entendo. – Ela me olhou, mantendo-me preso a seu olhar.
Havia tanta mágoa, desilusão, desespero que pensei se não seria melhor deixá-la partir logo em vez de mantê-la ali, revivendo aquele pesadelo, enquanto eu buscava motivos para ser perdoado pelo que não havia perdão.
– Você destruiu tudo, Alex. Matou a nossa história, acabou com todos os meus sonhos. Desfez de mim, do meu amor, da minha vida...
– Charlotte, espere. Deixe eu explicar melhor.
– Não existe explicação para isso!
Ela não gritava mais. Não conseguia. O horror esmagava as palavras ainda em sua garganta, assim como fazia com as minhas. Charlotte estava com raiva, sim, estava. Magoada até não haver mais espaço dentro dela para qualquer outro sentimento. No entanto, o que eu podia ver ali, parada a minha frente, chorando sem conseguir contar as lágrimas, era que ela sentia o mesmo que eu. O fim.
O peso de ver o fim de algo que nunca deveria acabar. A dor por precisar desistir. Os sonhos que seriam enterrados, os planos que nunca seriam colocados em prática. A confiança que foi pisoteada deixando-a sem rumo, sem direção certa na vida.
O que seríamos de agora em diante se havíamos sido apenas um o outro? Que caminho seria mais apropriado se havíamos entrelaçado nossas vidas de maneira que nunca nos desencontrássemos. Como assistir aos nossos últimos minutos indo embora sem que nada pudéssemos fazer para prolongá-los?
O desespero me paralisava. Ao mesmo tempo, eu sabia que aquilo precisava ser feito. Eu não queria. Juro que não queria abrir mão dela, deixar de ter a nossa vida, de viver o nosso casamento. Se houvesse como, eu voltaria no tempo, me impediria de beber tanto naquela noite, de abrir a porta para que o fantasma da minha esposa pudesse entrar me iludindo e me jogando na pior e mais trágica de todas as armadilhas. Não havia como. Eu tinha transado com Tiffany e isso era um fato. Ela estava grávida e este também era um ponto que não poderia ser esquecido ou deixado de lado. E eu me odiava.
– O que vai fazer? – questionei, já sabendo a resposta.
– O que acha que devo fazer?
Sua expressão perdida quase me fez esquecer de tudo o que era certo e mantê-la presa em meus braços até que ela entendesse que, apesar de não merecer, eu precisava desesperadamente do seu perdão.
– O que eu acho? – Charlotte se afastou outra vez, querendo manter o máximo de distância de mim. – Não posso dizer o que eu acho, Charlotte. Eu... – Dei as costas sem saber ao certo o que dizer. – Se pensa que estou me achando certo ou injustiçado pelo ocorrido, está muito enganada. Eu me condeno todos os dias, me odiei a cada segundo que precisei manter esta merda longe de você, que precisei me olhar no espelho e encarar o quanto fui idiota. Naquele momento, eu acreditava que havia perdido você, não conseguia mais ver a sua volta e estava revoltado. Não justifica. Não mesmo! Infelizmente, aconteceu, mesmo eu estando muito bêbado, sem saber ao certo o que estava fazendo, e...
– Chega, Alex! – ela rosnou, deixando a raiva transparecer. – Não justifique a sua falta de caráter com as minhas ações. Não use o meu sofrimento para tentar me ludibriar, como se eu fosse a culpada pelo que fez. Se fosse o contrário? Se eu tivesse dormido com outra pessoa quando descobri a mentira que a minha vida era e que você fez questão de participar me mantendo cega? E se eu tivesse transado com Thomas naquela noite em que bebemos?
Fechei os olhos com força sem querer pensar na possibilidade e entendendo o tamanho da sua dor.
– E se fosse o contrário, Alex? O que você faria? Você me perdoaria?
– Charlotte, eu não... Merda!
– Não me culpe por ser tão canalha!
Sua raiva não me dava chance de contestar, nem explicar melhor a situação, no entanto, eu não a julgava. Não havia como sair daquela situação de uma forma melhor.
– Você não é a culpada, Charlotte – gritei mais alto, tentando fazê-la ao menos me escutar. – Na verdade, a única vítima desta história toda é você. Apenas você.
Ela soluçou, chorando ainda mais.
– E tem razão. Eu sou um canalha. Não por opção, porém não vou ser absolvido pelo que fiz, então não mereço nada mais do que o seu desprezo.
Vi minha esposa passar as mãos nos cabelos, em busca de um pouco de equilíbrio que, tanto ela quanto eu, sabíamos que não havia. Ela chorava como se estivesse ferida, e realmente estava. O que fiz não foi justo, não foi certo e ela não merecia tanto sofrimento.
– Acabou – lamentou, fechando os olhos.
– Charlotte...
– Acabou, Alex! – Ela me encarou dividida entre a raiva e a tristeza. – Não me peça para ser diferente.
– Eu sei que não tenho este direito. – As lágrimas desciam pelo meu rosto sem me deixar envergonhado.
– Não tem – ela disse baixinho, sem força.
– Mas não posso deixar que vá embora.
Ela recuou, indo até a janela.
– Não posso abrir mão de você, Charlotte. Não posso deixá-la ir. Eu não vou suportar.
– Pelo amor de Deus – ela gemeu, voltando a chorar com força. – Eu não vou suportar continuar com você.
– Eu te amo. – Me aproximei com medo de ela se afastar outra vez. – E você me ama. Não podemos simplesmente deixar acabar assim...
– Você vai ser pai. Pai do filho da Tiffany. – Foi mais como um lamento. Um reconhecimento da derrota, a mais humilhante de todas as derrotas. – Não existe nenhuma possibilidade de eu suportar viver com isso.
– Não sabemos se o filho é meu – tentei mais uma vez, mas as palavras não tinham mais força.
– É o que menos importa neste momento. E, sinceramente, não acho que Tiffany seria burra a este ponto. Ela sabia o que estava fazendo. – Limpou as lágrimas, mas novas desceram. – Não vamos ficar aqui procurando justificativas porque não vamos encontrar. Eu vou... – Olhou para o quarto até encontrar as malas. – Eu preciso ir.
– Não! – implorei sem receio. – Charlotte, por favor!
– Não faça isso – ela voltou a chorar copiosamente. Logo em seguida, parou, respirando fundo. Tomando coragem para agir. – Não me peça para ficar. Não me impeça de sair, Alex. Você sabe que não vou suportar, então... – Respirou fundo outra vez, olhando para cima para conter as lágrimas. – Apenas me deixe ir. – Sua voz saiu tão fraca que não consegui acreditar nas suas palavras. – Por tudo o que vivemos, pelo amor que sentimos, apenas me deixe ir. Você conseguiu me ferir mortalmente, então não permita que eu morra, não me faça agonizar na sua frente até que não reste mais nada de mim, nada do que consegui ser, do que conquistei para viver ao seu lado.
– Não! – Eu não conseguia fazer mais nada, só implorar.
Eu sabia que ela ia embora. Sabia que tinha acabado mesmo antes de ela voltar. Sabia que seria assim e Charlotte tinha razão, ficar comigo apenas porque me amava não era justo com ela, com ninguém. Ela não suportaria o peso de um filho meu com Tiffany, então, para que prorrogar o inevitável?
– Eu amo você, Charlotte! Nunca se esqueça disso. Eu nunca, nunca vou deixar de te amar, porque você foi a melhor coisa que me aconteceu. E, mesmo que doa, mesmo que você sofra, nunca se permita acreditar que a culpa foi sua, ou porque eu não fui capaz de te amar, porque este amor vai me acompanhar e me fazer pagar pelos meus erros enquanto eu viver. Se tivesse uma forma de corrigir, não descansaria até encontrá-la, para minha desgraça não há, então não posso ser tão egoísta com você. Não com você.
Ela me olhava com atenção enquanto deixava as lágrimas correrem livremente pelo rosto.
– Seja feliz, porque este foi o meu único objetivo neste pouco tempo ao seu lado. Sua felicidade foi tudo para mim. E se for possível, algum dia nesta vida, me perdoe.
Charlotte levou as mãos ao rosto, se permitindo chorar sem medo. Caminhei até ela, abraçando-a. Ela não se desvencilhou, apenas se permitiu ser abraçada uma última vez. Choramos juntos. Eu sabia que eram nossos últimos segundos e implorava para que nunca acabassem.
Ela me afastou com as mãos, sem me repreender. Limpou as lágrimas e foi até as malas, sem me olhar em nenhum momento. Não consegui conter o choro desesperador. Eu queria segurá-la, mas não seria justo. Queria me ajoelhar e implorar, mas do que adiantaria? Não era disso que Charlotte precisava. Então a deixei ir.
Minha esposa arrastou as malas até a porta do quarto, parou um segundo, respirou algumas vezes buscando forças, sem olhar para trás:
– Adeus, Alex – sussurrou.
– Adeus, Charlotte!
Fechei os olhos para não vê-la partir e apenas ouvi a porta batendo devagar.
Abri os olhos para um quarto vazio. A dor em meu peito era insuportável. Contive a vontade de correr atrás dela. Charlotte precisava ir, precisava ficar longe de mim, e eu respeitaria a sua vontade pela primeira vez desde que me coloquei em seu caminho. Era necessário.
Fiquei sozinho no quarto, o mesmo que havia me enchido de esperança, no qual fizemos planos, no qual nos permitimos acreditar que daria certo. Doía demais, mesmo assim, eu precisava tomar as últimas decisões. A última coisa que faria por Charlotte.
– Lana – pigarreei ao telefone para não assustar a minha irmã. – Charlotte precisa de você.
– O quê? – Ela pareceu confusa. – O que aconteceu.
– Ela vai te contar. Apenas, por favor, corra que ela deve estar deixando o hotel neste momento.
– Alex...
– Descubra para onde ela está indo e avise ao Peter. Ele vai ficar preocupado.
– Merda, o que você fez?
– Eu destruí tudo. Não perca tempo, vá atrás dela.
– Estou descendo neste exato momento. – Ela falou com João rapidamente enquanto eu ainda estava na linha. – Certo. Vou tentar encontrá-la. Droga! Eu ligo quando souber de algo.
Desliguei. Lana não precisaria me contar nada a respeito de Charlotte. Seria melhor assim para nós dois, mas este detalhe eu não podia mencionar ainda. Não podia fazer minha irmã perder mais tempo. Não seria nada justo abandonar uma Charlotte transtornada em uma cidade estranha, sem nem saber do seu paradeiro. Era o mínimo que eu poderia fazer por ela.
Uma coisa e eu poderia me enterrar no sofrimento. Ainda com o celular na mão, liguei para João Pedro. Ele atendeu no primeiro toque.
– Estou esperando o elevador para ir aí. O que aconteceu?
– Não venha. Preciso de uma informação.
– O que aconteceu, Alex?
– Não posso falar agora, João. – Andei até a cama, pegando as roupas que Charlotte tinha colocado para mim. – Preciso saber onde Tiffany está hospedada.
– Tiffany? Merda, cara! O que aconteceu? O que Tiffany tem a ver com isso tudo?
– Onde, João?
– Droga! Anota aí.
***
A porta estava aberta quando cheguei. Mesmo precisando ser anunciado, eu não esperava que ela me recebesse assim. Entrei, fechando-a. Tiffany já me aguardava na sala. Usava um roupão do hotel, mas maquiada e, pelo brilho dos seus olhos, entendi que ela esperava muito da minha visita.
– Confesso que não esperava que conversássemos tão cedo – disse cheia de confiança.
Respirei fundo, sentindo raiva de cada segundo ao seu lado, de cada detalhe. Ela me olhou, entendendo o meu estado de espírito.
– Você contou?
Fiquei calado, encarando-a.
– Pela sua cara, imagino que não tenha sido nada fácil – demonstrava uma preocupação que, se eu não a conhecesse tão bem, pensaria ser verdadeira.
– Você conseguiu. Charlotte foi embora – informei, segurando o nó em minha garganta.
Tiffany não me veria chorar. Não. Para ela, ficaria apenas a minha raiva.
– Alex...
– Eu só... – Puxei o ar para me controlar. – Eu só vim te dizer que você conseguiu, Tiffany. Destruiu o que havia de melhor em minha vida.
– Você transou comigo. Não usou camisinha – falou na defensiva, me repreendendo.
– Eu sou tão culpado quanto você. Apesar do meu erro, nada me leva a crer que você apareceu lá em casa inocentemente. Não se desvencilhou quando teve tempo. Você viu, no meu momento de fraqueza, a oportunidade para me destruir.
– Não seja ridículo. Você sabe o que aconteceu naquela noite, sabe como tudo aconteceu.
Me encolhi sob suas acusações. Sim, eu sabia o que tinha feito. Sabia o peso dos meus atos e colhia as consequências. Contudo, não era o suficiente para abrandar a sua parcela de culpa.
– Você teve chance de escapar e não o fez.
– Porque eu te amo – rebateu com raiva.
Ri com sarcasmo.
– Você não ama ninguém, Tiffany. Falou tanto de Charlotte, da sua infantilidade e, veja só, a garota mimada, que nunca aceitou perder e que jogou sujo todas as vezes que pôde, foi você.
– Eu não engravidei de propósito – falou alto, ofendida demais para se conter. – Você me forçou a fazer isso. É o único culpado, Alex. Aposto que não contou a sua esposa a forma como este filho foi gerado, não foi? Não. Eu aposto que se fez de vítima, que fez de tudo para que ela acreditasse que eu causei este transtorno. Quer mesmo saber? Não me arrependo. Eu estou grávida e vocês dois vão precisar conviver com isso.
– Pois eu te odeio – falei sem precisar me alterar. – Não pense que algum dia em nossas vidas isso vai mudar. Você não pensou em ninguém, nem mesmo em você quando permitiu que acontecesse. Olha o tamanho da merda que fez. Vai ser mãe de uma criança indesejada.
Tiffany levou as mãos à barriga, como se quisesse defender o filho.
– É o seu filho. Como pode...
– E como acha que vou conseguir conviver com isso? Como acha que vou ser capaz de amar uma criança que levou de mim a pessoa que mais amo no mundo? Como acha que vou ser pai, o pai que esta criança merecia, se todas as vezes que olhar para ela vou me lembrar de como aconteceu, de tudo o que perdi simplesmente porque você não soube aceitar que eu não te quero.
– É uma criança, Alex. – Ela chorou assustada com as minhas palavras. – Como pode culpá-la pelos seus erros?
– Nossos erros. Não se esqueça disso. A sua incapacidade de aceitar a minha vontade vai ser a responsável pela metade do sofrimento desta criança. Você a condenou a isso.
– Meu Deus! – Tiffany soluçou, sentando no sofá. – Não fale assim. Ele não tem culpa.
– Não, não tem. Mas você tem, e eu nunca vou ser capaz de superar o mal que você me causou.
– Você é um monstro!
– Eu sou o que você procurou todo este tempo, Tiffany. Sou o que me transformou.
– O que veio fazer aqui? Se não quer o próprio filho, por que simplesmente não faz como muitos homens e ignora? Por que não vai embora e o abandona?
– Porque você nunca me deixaria fazer isso, não é mesmo? E eu não sou tão canalha assim. Se o filho for meu, vou assumir, só não espere minha colaboração com a construção do seu conto de fadas. Não pense que viverá um dos seus romances porque isso nunca vai acontecer. Nós três estamos condenados a esta infelicidade. – Dei as costas, indo até a porta. – Coitada desta criança – resmunguei.
– Vai se arrepender, Alex – gritou quando eu abri a porta.
– Não precisa esperar tanto para que aconteça. Eu já estou arrependido. Não só daquela noite, e sim de todas que me permiti passar com você. Você deveria se tratar, Tiffany. Essa criança não merece uma mãe como você... um pai como eu. Não é justo com ela.
Fechei a porta quando um jarro se espatifou nela. Deixei Tiffany no quarto de hotel consumida pela raiva. Eu sabia que não era justo. Pelo menos não totalmente justo. Eu tinha forçado a barra, era tão culpado quanto ela, mas, se Tiffany tivesse aceitado a minha decisão, se tivesse respeitado a minha escolha desde o princípio, jamais chegaríamos a este ponto.
E agora estávamos presos um ao outro, com uma criança que seria usada pela mãe para impor a sua vontade e rejeitada pelo pai, por nunca ter a sua respeitada.
Deus, eu queria não pensar assim, não queria nutrir nenhum sentimento ruim por aquela criança, mas não conseguia. Simplesmente não conseguia. Eu pensava na gravidez de Tiffany, na minha culpa pelo ocorrido e no quanto a odiava. Eu a odiava.
Queria simplesmente ir embora, deixando-a sozinha com o peso daquela gravidez, infelizmente não podia. Meu lado justo e bom me impedia de abandoná-la naquele momento, mas não me impedia de acusá-la, de culpá-la, mesmo reconhecendo a minha culpa. Eu estava tão frustrado que não me permitia parar de odiar Tiffany.
Seria um inferno e nenhum de nós merecia passar por algo tão ruim. Principalmente aquela criança. No entanto, como conter o ódio que me impulsionava? Como não acusar Tiffany de todo o meu sofrimento? Como voltar para casa e aceitar que Charlotte não mais faria parte da minha vida, deixando lugar para Tiffany e um filho que nunca desejei, e ainda por cima sorrir?
Como imaginar que algum dia na minha vida eu poderia olhar para aquela criança e não lembrar do que eu tinha perdido para que ela existisse?
Entrei no táxi, sentindo o ar faltar. Eu estava destruído, desgastado, cansado demais para continuar. Eu não queria continuar. Não mais. Minha vida tinha acabado. Foi levada embora junto com as malas que ela retirou daquele quarto. Pegou o mesmo avião e sumiu. Desapareceu no mundo.
O PROFESSOR – LIVRO 4
ALEX
“Não, Alex! Por favor!”
Ouvi a voz de Tiffany de uma forma estranha. Ela ecoava no quarto enquanto eu fazia amor com Charlotte. As mãos da minha esposa não estavam em minhas costas, como há segundos, mas em meu peito, e não me puxava, me empurrava.
“Alex!”
Sua voz chorosa não estava exatamente onde deveria estar. Não embaixo de mim, e sim em algum lugar do quarto. Parei atordoado, sentindo uma raiva incomum me invadir. De repente, eu me vi com as mãos no pescoço daquela mulher. Não era mais Charlotte, era Tiffany, e eu estava dentro dela, com um ódio mortal. Senti o gozo me atingindo enquanto a vontade de matá-la praticamente me cegava.
“Alex!”
Charlotte choramingou, chamando a minha atenção. Tiffany, ainda embaixo de mim, me olhava com medo e mágoa. Procurei minha esposa sem conseguir encontrá-la, até que meus olhos captaram os dela.
O quarto escuro certamente me impediria de enxergar, mesmo assim, eu a via. O rosto sofrido, as lágrimas descendo incessantemente, as mãos que cobriam a boca evitando o grito de desespero.
– Charlotte?
E então a vergonha caiu sobre mim. Tiffany se encolheu na cama enquanto eu me conscientizava da gravidade da situação. Olhei para a mulher, machucada e horrorizada, depois para minha esposa, mortificada com a descoberta.
– Não! Charlotte, por favor...
Minha súplica não foi o suficiente. Ela se virou e foi embora, sem ao menos me deixar explicar.
– Charlotte!
Gritei, levantando da cama. Assustado e suado, olhei ao redor reconhecendo o pesadelo que há alguns meses me acompanhava. O quarto escuro e vazio estava absurdamente abafado, deixando meu corpo banhado de suor. Um som estridente ecoava enquanto minha mente tentava assimilar a realidade.
Ela não estava mais ali. Foi embora quando descobrimos a gravidez de Tiffany e, desde então, eu nada mais sabia a respeito da minha esposa. Na manhã seguinte, eu assinaria o divórcio. Talvez por isso a constância dos pesadelos, ou talvez porque eu ainda sentia a sua falta, a cada segundo, milésimo de segundo que se passou desde então.
O som agudo continuava, me deixando tonto. Só então percebi se tratar do meu celular. Ainda atordoado, procurei o aparelho, encontrando-o no bolso da calça que eu tinha largado no chão do quarto. Peguei, sentei na cama e atendi sem me dar ao trabalho de identificar quem seria.
– Alô – pigarreei para espantar o pavor na minha voz.
– Alex? – A voz de Anita me deixou em alerta.
– O que houve?
– Tiffany. Ela não está muito bem.
Respirei fundo, tentando ordenar meus pensamentos.
Pouco tempo depois de desembarcarmos no Brasil, Tiffany iniciou a sua perseguição. Ela me ameaçava de todas as formas, depois mudava de estratégia e procurava se aproximar. Eu não a queria por perto, não queria dividir aquele momento com a mulher que arruinou a minha vida e ela sempre fazia a mesma coisa, me acusava, jogava na minha cara o que eu havia feito, me cobrava, e o ciclo recomeçava, ela ameaçava, se arrependia e voltávamos sempre ao mesmo ponto.
Eu sabia que era culpado, mas não conseguia digerir tudo o que ela já havia feito para me afastar de Charlotte, e a mágoa sempre falava mais alto.
Foi em uma noite, após discutirmos por quase duas horas, e eu ir embora deixando-a para trás sem me importar com o seu sofrimento, que ela fez a maior loucura da sua vida. Deprimida, Tiffany atentou contra a própria vida, o que apenas me enterrou mais fundo na culpa e ressentimento.
Droga, o que ela estava pensando? Como podia ser tão leviana com a criança que carregava no ventre? Por que sempre me colocava em primeiro lugar em sua vida quando eu não merecia sequer a sua consideração? Não quando havia feito o que fiz.
Naquela madrugada, sentado no corredor daquele hospital, sem saber se meu filho sobreviveria à besteira feita pela mãe, encarando Anita, que me olhava sem me acusar, eu descobri a verdade sobre Tiffany, e toda a minha forma de encará-la mudou. Depois de dois meses sentindo apenas ódio, comecei a entender que Tiffany só buscava companhia para dividir sua carga com alguém. Com a família longe, e eu nem sabia até que ponto eles sabiam o que estava acontecendo, ela só podia contar com Anita.
Tiffany sofria de depressão e foi diagnosticada como bipolar, o que não era nenhuma novidade, falando leigamente, já que ela conseguia sempre demonstrar dois lados bem díspares, muito antes da gravidez.
Anita estava preocupada com a prima. A situação só piorava. Tiffany não pensava no filho, apenas em como me fazer aceitá-los em minha vida. Não era pela criança, e sim pelo amor que ela dizia sentir por mim. Estava cada vez mais magra, não cuidava do corpo para melhor atender as necessidades da criança que se desenvolvia em seu ventre. Falou muitas vezes em aborto, e isso eu não conseguia admitir.
Cansado e tentando me conformar com os acontecimentos, comecei a lhe dar um pouco de assistência, na tentativa de acalmá-la. Às vezes, eu acreditava que ela estava melhorando. Quando eu chegava para visitá-la ou para levar alguma coisa que fosse da sua necessidade, ela sorria e conversava, então, quando entendia que não passaria daquilo, nossos problemas recomeçavam.
E eu preciso ser honesto. Não havia como esconder o ressentimento. Não tinha nenhuma possibilidade de fingir não estar aborrecido com aquela situação. Acredito que isso a fazia piorar, mas era muito mais forte do que eu.
Tiffany queria uma família, e eu só queria que aquele pesadelo acabasse.
Ela parou de escrever, foi definhando com a falta do amor que eu jamais poderia lhe dar, mesmo tentando ser o mais presente possível. Ela não se conformava e, assim, foi se afundando cada vez mais na depressão.
Anita pediu licença do trabalho para cuidar da prima. Eu contratei uma enfermeira para acompanhá-la de perto, afinal de contas, todo cuidado era pouco.
– O que aconteceu?
– A chuva de ontem parece ter cobrado os efeitos – revelou com a voz preocupada. – Ela não está conseguindo respirar direito, está ardendo em febre.
– Merda!
Um dia antes, Tiffany fez mais uma de suas loucuras. Grávida de sete meses, aproveitou a distração da enfermeira e saiu para a rua no meio de um temporal. Só conseguimos encontrá-la quase três horas depois, descalça e vestindo apenas uma camisola fina. Ela ficou exposta demais, principalmente por já estar frágil.
A situação se agravou ainda mais quando Tiffany se revelou hipertensa, de uma maneira extrema, o que preocupou os médicos a tal ponto que ela teve que ficar em constante repouso. Sua vida e a do nosso filho estavam em risco.
– E a pressão? Fátima está com você?
Fátima era a enfermeira da noite, que dormia com ela para ajudar em momentos como aquele.
– Muito alta. Estamos preocupadas. Ela está sentindo dor e não está falando coisa com coisa.
– Chamou a ambulância?
– Chamei, mas eles estão demorando demais. – Pelo tom de voz de Anita, eu entendia que era algo realmente grave. – Estamos com medo de removê-la sem a devida assistência.
– Estou indo. Se a ambulância chegar, me avise.
– Certo. Obrigada!
Desde que Tiffany começou a dar sinal de insanidade, eu e Anita nos tornamos mais próximos, unindo forças para cuidar dela, mas até isso se tornou um problema para Tiffany, que passou a fantasiar que algo estava acontecendo entre mim e a prima.
Eram muitos problemas. Como eu sabia que a culpa era minha, então aceitava e me resignava, tentando sempre fazer o melhor para acalmá-la.
Desliguei, peguei a calça do dia anterior, vesti e fui em busca de uma camisa limpa. Precisava ser rápido e prático. Calcei um tênis, peguei a carteira, as chaves e saí para uma noite gelada, o que agradeci, já que ainda estava com o corpo suado devido ao pesadelo.
Dirigi o mais rápido possível e, quando cheguei, a ambulância já estava na porta do prédio onde Tiffany morava. O porteiro já me conhecia, então consegui passar sem burocracia. Encontrei Anita na porta do quarto, o rosto assustado e preocupado. Fátima estava com o médico e mais um enfermeiro, que se preparavam para remover a mãe do meu filho.
– Eles vão levá-la – Anita me informou sem desgrudar os olhos da prima. – Parece que o caso é grave.
– Sempre foi – rebati sem conseguir controlar a minha mágoa.
Ela me olhou brevemente, depois voltou a olhar a prima, meneando a cabeça, como se estivesse concordando comigo.
– Assim que a maca chegar, vamos removê-la – o médico se aproximou, falando diretamente com Anita.
– Este é o pai da criança, doutor. – Ela apontou para mim.
– Entendi. Ela será internada – ele começou a falar diretamente comigo. – A pressão está muito alta: 160/120. Precisamos de um ultrassom para saber como está a criança. Ela está sentindo dores que me levam a acreditar que sejam contrações, mas só no hospital teremos certeza de qualquer outro quadro.
– Contrações? Ela está com sete meses apenas – questionei apreensivo.
– Sim, o que é preocupante. A paciente tem histórico de complicações durante a gestação, por isso não queremos aguardar. Só um momento que preciso resolver a parte burocrática. Um acompanhante pode vir na ambulância com a gente, o outro deve seguir para o hospital o mais rápido possível.
– Vá você com ela – eu disse a Anita, e ela negou com a cabeça.
– Você é o pai. Ela precisa de você agora, Alex.
Respirei fundo e acabei concordando. O médico se afastou e, no mesmo instante, a maca entrou no apartamento. Assisti Tiffany ser preparada sem muito esforço. Ela estava muito magra. Então a acompanhei até o elevador. Seus olhos demonstravam medo e insegurança, mas se mantiveram em mim durante todo o tempo. Comovido com a sua fragilidade, segurei sua mão e ela, enfim, relaxou, fechando os olhos.
***
– Como ela está? – Anita chegou alguns minutos depois ao hospital. Levava duas malas pequenas, que deduzi serem referente ao parto. – Para o caso de o bebê nascer antes da hora. – Se desculpou, indicando as malas.
Concordei.
– Eles chamaram de Síndrome Hellp.
– Síndrome Hellp? O que diabos é isso?
Eu ainda tremia com o medo de que algo desse errado, por isso mantinha as mãos no bolso da calça.
– É grave. Pediram um exame mais específico, e ela está fazendo uma ultrassonografia. Precisei resolver a burocracia do plano de saúde e não a acompanhei. Estou aguardando voltarem.
Neste momento, o médico que assumiu o caso de Tiffany passou pela porta que nos separava. Ele olhou para mim e caminhou em minha direção. Pelo seu olhar, percebi que era mesmo grave.
– Precisamos antecipar o parto – começou sem se dar ao trabalho de nos preparar para a notícia. – Vai ser uma situação delicada. A febre alta é um agravante, a secreção em seus pulmões certamente complicará o quadro.
– O que aconteceu? – questionei preocupado.
– Houve um abrupto descolamento da placenta. É prematuro para acontecer, por isso estamos preocupados. Precisamos remover a criança o quanto antes.
– Eles vão sobreviver? – Anita se intrometeu com os olhos marejados.
– É arriscado dar qualquer certeza em uma situação como esta. Precisamos dos exames para conferir as plaquetas. Só antecipo que podemos perder os dois.
– Não! – Ela choramingou.
– Onde ela está? – Minha cabeça dava voltas e mais voltas. – Preciso ver Tiffany, doutor.
– Sim, estamos preparando-a para levá-la para o centro cirúrgico a qualquer momento. Ela está em uma sala de observação. Só pode entrar uma pessoa. Venha comigo.
Fui levado para uma sala, onde precisei me preparar com roupas específicas para que pudesse estar em contato com Tiffany. Depois me levaram para uma sala, onde ela repousava em uma cama de hospital. Muitos aparelhos ligados a ela. Tiffany parecia dormir, esgotada. Me aproximei e segurei em sua mão. Ela abriu os olhos. O terror ainda estava lá.
– Alex! – sussurrou com ansiedade.
– Calma. Vai dar tudo certo. – Vi quando uma lágrima desceu dos seus olhos.
– Ele não pode nascer agora. É cedo demais.
– Os médicos sabem o que estão fazendo, Tiffany. Vai ser melhor para vocês dois.
– Não. Não vai. – Ela chorou, voltando a respirar com dificuldade.
– Fique calma. – Mas eu mesmo não conseguia encontrar a minha.
– Eu não vou conseguir – revelou, chorando. – Você tinha razão o tempo todo. Essa criança é uma coitada. Não fui forte o suficiente por ele, não consegui ser a mãe que ele precisava.
– Não pense assim. Nós estamos aqui por ele, vamos fazer tudo dar certo, Tiffany. Você só precisa ficar calma.
Ela balançava a cabeça, negando as minhas palavras.
– Você não o quer. – Fui pego de surpresa. – Eu deixei que acontecesse porque fui burra. Queria que você ficasse comigo. Queria Charlotte longe de nós dois.
– Não pense nisso agora. Já passou, Tiffany. É passado. Vamos nos concentrar no nosso filho. – Eu tentava animá-la em vão, tudo indicava que aquele era mais um dos seus picos de depressão. Ela apertou meus dedos e me olhou com aflição.
– Me perdoe – chorou, suplicando. – Me perdoe, Alex! Eu sei que errei.
– Tiffany.
Segurei seu rosto, encarando-a firmemente.
– Eu errei com você. Não aja como se não fosse a vítima desta história.
– Não. – Soluçou. – Eu forcei a barra, mereci...
– Não faça isso, por favor! Não tente tirar a culpa de mim, não é justo. – Respirei fundo e passei a mão no cabelo, me deparando com a touca. Droga! – Não vamos voltar a este assunto, Tiffany. Nosso filho vai nascer.
– Um filho que você não quer. Que você não ama. Eu nada mais poderei fazer por ele, Alex. – Sua voz fraca estava esganiçada pelo choro. – Ele vai ficar sozinho, como você disse. Não terá a mim, não terá o seu amor.
– Não vai ser assim. Nós dois estaremos aqui, juntos! Vamos dar a ele o amor que ele merece. Vamos cuidar dele, Tiffany. Juntos! Então fique calma, pelo amor de Deus!
Os aparelhos ligados a ela começaram a apitar. Céus! Eu estava com tanto medo!
– Tiffany, olhe para mim. Tente se acalmar. – Olhei para a porta aflito.
– Por favor, prometa que vai cuidar dele. Prometa que vai amá-lo mesmo ele sendo meu filho, mesmo vindo nas circunstâncias que veio, mesmo te roubando a pessoa que mais amava.
Engoli em seco, sentindo a mágoa empedrar em meu peito.
– Prometa, Alex!
– Tiffany...
– Se não conseguir amá-lo... se for demais para você... deixe que Anita o leve para longe.
– É meu filho, Tiffany. – E as palavras já começavam a embolar em minha garganta. – O que está dizendo?
– Você não o quer – ela sussurrou, perdendo a força.
– Claro que quero. – E me vi surpreso com a minha afirmação. Nunca antes parei para pensar em perdê-lo, mas, naquele momento, havendo essa possibilidade, eu estava em pânico.
– Você vai cuidar dele?
– Nós vamos – eu me negava a acreditar que ela iria desistir.
– Prometa que vai amá-lo e perdoá-lo por ter sido concebido da forma como foi. – A voz ainda mais fraca me alertou.
Olhei outra vez para a porta e vi que enfermeiros se aproximavam. O aparelho apitava cada vez mais.
– Prometa...
– Prometo. Eu vou amar este filho e cuidar dele da maneira que ele merece.
Ela sorriu, fechando os olhos.
– Obrigada, Alex! – Eu quase não conseguia mais ouvi-la. – Obrigada.
– Tiffany?
– Eu amo você. – Não ouvi as palavras, só as identifiquei pelos movimentos dos seus lábios.
Neste momento, eles cercaram a cama, me afastando. Eu não conseguia assimilar o que acontecia, só sabia que era grave e que Tiffany não estaria conosco quando nosso filho chegasse.
AGRADECIMENTOS
Bom, mais uma vez chegamos até aqui. O que sinto é complicado de ser descrito. São muitos sentimentos que me cercam e que compõem tudo o que precisei passar até que este livro estivesse pronto. O maior deles e o mais correto para ser empregado é o de gratidão.
Sou grata a todos os meus leitores, os que me seguem, que aguardam ansiosamente por cada pedacinho que escrevo. Os que estão comigo aos domingos, aguardando pelos docinhos na página oficial. Os que se aglomeram nas livrarias a cada lançamento, os que atormentam a minha assessoria em busca de uma data, qualquer coisa que acalme o coração. Este é para vocês e por vocês.
Sou extremamente grata a minhas fiéis amigas, Mariza Miranda e Janaina Rico, por mais este trabalho realizado, por mais uma vez acreditarem e confiarem em mim. Eu amo vocês!
Minha gratidão também existe por toda a equipe da editora Pandorga. Pelo respeito ao meu trabalho, por todo empenho e entusiasmo a cada lançamento. Temos a fórmula perfeita e me orgulho em fazer parte desta família.
Sempre serei grata as minhas amigas, a irmandade de maritacas. Sem elas, eu não teria sanidade para continuar escrevendo. Mesmo distantes, elas conseguem me dar equilíbrio, ajustam o meu eixo e me mantêm no caminho. Serei eternamente grata a Deus por ter permitido que eu encontrasse vocês.
Não poderia deixar de ser grata a minha família, minhas irmãs, meus irmãos, minha mãe – fã número um, meu marido e meus filhos, sobretudo Davi, que estava em minha barriga quando comecei a escrever este livro e nasceu exatamente no dia em que coloquei o ponto final. Mamãe agora é todinha de vocês.
Por cada palavra escrita, por cada sentimento empregado, por cada experiência sonhada, eu serei grata a todos vocês, hoje e sempre.
Obrigada! Obrigada! Obrigada!
Tatiana Amaral
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