Era o desejo de qualquer mulher, e entretanto seguia sozinho e virgem. Seu mundo estava cheio de secretos e solidão, escuridão e perigos. Mas então uma mulher encontrou seu jornal e começou a desvelar seus segredos.
Quando a roteirista Morgan DeSilva descobriu aqueles velhos jornais, ficou apanhada pelo sedutor mundo de um homem morto que acreditava ser um vampiro. E embora a história a tinha feito rica e famosa, ela sentia que se estava consumindo por dentro. De noite sonhava com ele, suas fantasias eram tão reais que podia ver as marcas que lhe deixava no pescoço e sentir a sangue emanando de seu corpo. Tudo parecia tão real... Ele ia a ela de noite. Observava-a. Desejava-a.Sabia que com um beijo poderia salvar a da maldição de seu destino e de quão inimigos os espreitavam a ambos. Mas para salvá-la, teria que lhe confiar sua vida, seu amor… e sua imortalidade.
Supunha-se que os meninos estavam dormidos...
Mas despertamos, respondendo a uma chamada silenciosa. Arrastamo-nos até a entrada das lojas e das carretas, atraídos como traças às chamas da fogueira do acampamento e às sombras escuras e cambiantes que projetava aquela estranha mulher enquanto dançava.
Não havia música. Eu sabia, mas me parecia que a ouvia enquanto observava à mulher. Girava como um redemoinho e seus lenços a seguiam como fantasmas de cores. Seu cabelo, negro como a noite, brilhava à luz do fogo. arqueava-se, retorcia-se e dava voltas sobre si mesmo. Depois ficou imóvel, e seus olhos, ardentes como duas brasas, fixaram-se em meus. Seus lábios vermelhos se curvaram em uma terrorífica sorriso, e me assinalou com o dedo.
Eu tentei tragar saliva, mas tinha um nó na garganta. Umedeci-me os lábios e olhei às lojas e os carromatos de meus, e vi que os outros meninos também estavam observando-a. Alguns de minhas primos eram maiores que eu, e outros mais pequenos. Todos nos parecíamos: tínhamos a pele cítrica, os olhos muito grandes e redondos e o cabelo comprido e negro como as plumas de um corvo.
Fomos ciganos, e estávamos orgulhosos de sê-lo. A mulher que dançava... também era cigana. Sabia por seu olhar. Era uma dos nossos. E me assinalava com o dedo.
Dimitri, três anos maior que eu, olhou-me com superioridade e me sussurrou:
— Vê para ela! Não te atreve? Só para demonstrar que era mais valente que ele, ergui-me, saí da loja de minha mãe e caminhei descalço sobre o chão frio para ela. Enquanto me aproximava, outros, animados por meu exemplo, começaram a sair também. Lentamente, todos nos reunimos ao redor da bela estranha como pecadores que foram adorar a sua deusa. E quando o fizemos, ela sorriu ainda mais. levou-se um dedo aos lábios para nos indicar que guardássemos silêncio e se sentou em um tronco, ao lado do fogo.
— Quem é? —perguntei ao Dimitri em voz baixa.
—Tolo, é que não sabe nada? É nossa tia. chama-se Sarafina —sussurrou, sem apartar o olhar dela, fascinado—. Vem às vezes... embora você é muito pequeno para recordar sua última visita. Entretanto, supõe-se que ela não deveria estar aqui. Quando se inteirarem os majores haverá confusão...
— por que? —eu também olhava fascinado à misteriosa estranha enquanto ela se sentava no tronco, estendia suas saias de cores a seu redor e abria os braços para nos dar a bem-vinda aos pequenos, que nos aproximávamos ainda mais para poder nos sentar muito perto dela, no chão.
Eu fui o que se sentou mais perto, justo a seus pés. Nunca tinha visto uma mulher tão assombrosa. Mas também havia algo nela... algo que não era terrestre. Algo que dava medo. E seguia me olhando. Havia um segredo em seus olhos negros, mas eu não o entendia.
— por que diz que haverá confusão? —perguntei a minha primo, sem deixar de sussurrar.
— Porque a expulsaram da família!
Eu arqueei as sobrancelhas. Estava aponto de perguntar por que, mas a mulher, minha tia Sarafina, a quem nunca tinha visto em toda minha vida, começou a falar. E sua voz era como uma canção. Hipnótica, profunda, fascinante.
—Venham, pequenos. OH, quanto lhes senti falta de —seu olhar passou pelas caras de todos os meninos, cheia de emoção—. Mas a maioria de vós não me recordam, verdade? —Vacilou-lhe o sorriso—. E você, pequeno lhe Dêem. Quantos anos tem?
—Sete —lhe respondi eu, quase sem voz.
—Sete anos —replicou ela, com um suspiro—. Eu estava aqui o dia que nasceu, sabia?
—Não.
—Não importa. OH, meninos, tenho tantas coisas que lhes contar... Mas primeiro... —abriu sua bolsa, e dele começaram a sair coisas estupendas. Doces que nunca tínhamos provado, envoltos em papéis de cores. Quinquilharias e cadenetas... Pedras brilhantes, de tudas as cores, esculpidas em forma de animais. A que me deu era um morcego. Estremeci-me ao sentir a forma fria na palma da mão.
Quando sua bolsa se esvaziou e os meninos estiveram em silêncio de novo, começou a falar.
—Vi tantas coisas, pequenos... Coisas que não acreditariam. viajei às terras do deserto, e vi pirâmides tão grandes como montanhas, feitas com pedras maiores que os carromatos, suaves e perfeitas. Não se sabe quem as construiu, nem quando. Uns dizem que sempre estiveram ali. Outros dizem que são as tumbas dos reis do passado, e que seus corpos ainda descansam ali, rodeados de magníficos tesouros... —nós a escutávamos boquiabertos, e ela assentiu com força. Seus cachos negros se balançaram e seus compridos pendentes tilintaram—. cruzei o mar, para o sul, e vi criaturas com o pescoço tão largo como aquela árvore, douradas e com manchas negras, e com pequenos chifres na cabeça...
Eu sacudi a cabeça. Não podia acreditá-lo, aquilo tinham que ser contos para meninos.
—OH, Lhe dêem, é verdade —disse ela. E seu olhar sustentou a minha, e falou para mim só, eu estava seguro—: Um dia, você também verá essas coisas. Eu mesma lhe ensinarei isso, algum dia —se inclinou para mim e me acariciou o cabelo, me sussurrando ao ouvido—: Você é um menino muito especial, Lhe dêem. Entre você e eu há laços mais fortes que os que unem a sua própria mãe. Recorda minhas palavras. Voltarei por ti um dia. Quando me necessitar, voltarei.
Eu me estremeci sem saber por que. Então, fiquei rígido para ouvir um grito de minha avó.
— Emparelha! —uivou, saindo de sua loja como uma exalação, e fazendo gestos a Sarafina como se fora o demônio, com o dedo do meio e ele anular dobrados e o índice e o mindinho muito estirados para ela. Enquanto a assinalava, fazia um som sibilante com os dentes e estalava a língua.
Os meninos se levantaram e se afastaram. Sarafina se levantou lentamente, e só eu fiquei frente a ela. Quase sem pensá-lo, levantei-me também e me voltei para ver a cara de minha avó, como se queria proteger à encantada Sarafina. Como se pudesse. Eu estava de costas à mulher, e quando ela me pôs as
mãos sobre os ombros, senti-me como se tivesse crescido dez centímetros de um golpe.
Então minha avó me olhou fixamente, e pensei que poderia me reduzir ao tamanho de um grão de areia.
Nem sequer tolera minha presença depois de tantos anos, velha bruxa? —perguntou-lhe Sarafina. Sua voz já não era encantadora, nem suave, nem amável. Era profunda, clara Y... ameaçador.
Não tem nada que fazer aqui! —espetou-lhe minha avó.
—Sim —replicou ela—. Vós são minha família. E, você goste ou não, eu sou a sua.
—Você não é nada. Está maldita. Parte !
De repente estalou o caos a nosso redor, quando nossas mães, acordadas a causa do ruído, saíram das lojas e se apressaram a tomar a seus filhos das mãos e levar-lhe comportavam-se como se tivesse aparecido um lobo assassino no acampamento, em vez de como se aquela mulher fora nossa tia, muito belo e marginada, que nos trazia presentes exóticos e nos contava fantásticos contos.
Minha mãe também se aproximou correndo para mim, mas eu tive tempo de me esconder o pequeno morcego de ônix na manga. Ela se deteve ante a Sarafina antes de tomar em braços e a olhou aos olhos.
—Por favor —lhe disse.
Houve um momento de silêncio, enquanto algo passava entre as duas mulheres. Alguma mensagem sem palavras que deixou a minha mãe muito triste e com os olhos cheios de lágrimas.
Sarafina se inclinou e apertou seus lábios frios contra minha bochecha.
—Veremo-nos de novo, Lhe dêem. Não o duvide. Mas, no momento, vê com sua mãe —me empurrou brandamente e me soltou os ombros.
Eu me aproximei de minha mãe, odiando-a naquele momento por me obrigar a deixar a aquela misteriosa Sarafina antes de ter a oportunidade de aprender seus segredos. Agarrou-me com força o braço e correu para nossa loja, tão rápido que me levantou os pés do chão. Dentro, fechou o tecido da porta e tomou a cara nas mãos, ajoelhando-se ante mim.
— Há-te meio doido? —gritou—. Te marcou?
—Sarafina nunca rechearia dano, mamãe. É minha tia. É boa, e muito bonita.
Mas minha mãe não me escutava. Inclinou-me a cabeça de um lado a outro, me apartando o cabelo para me olhar a pele do pescoço. Cansei-me muito em breve, e me retorci para me liberar.
— Não te aproxime dela nunca mais! Ouviste-me, Lhe dêem? Se voltar a vê-la, tem que vir a meu lado imediatamente. prometa-me isso
— Mas por que, mamãe?
Então me deu uma bofetada muito forte. Doeu-me tanto que me tivesse cansado para trás de não ter sido porque ela me estava sujeitando o braço com a outra mão.
— Não me pergunte! prometa-me isso Lhe dêem! prometa-me isso por sua alma!
Eu baixei a cabeça com a bochecha ardendo e balbuciei minha resposta:
—Prometo-lhe isso —lhe disse, envergonhado pelas lágrimas que me ardiam nos olhos. Aquelas lágrimas eram devidas mais à surpresa que à dor. Minha mãe nunca me tinha pego nem me tinha demonstrado sua ira. Não entendia por que o tinha feito aquela noite. Pô-me as mãos nos ombros e aproximou sua cara à minha.
—É uma promessa que deve guardar, Lhe dêem. Sim a rompe, porá em perigo sua alma —então tomou ar profundamente, suspirou e me beijou a bochecha que acabava de esbofetear—. E agora, à cama —parecia que estava algo mais acalmada, e sua voz se aproximou de seu tom normal.
Eu, entretanto, estava longe de sentir calma. Algo me tinha acelerado a sangue nas veias aquela noite. Meti-me na cama e me tampei. Depois me tirei o pequeno morcego da manga e acariciei a superfície suave da pedra com o dedo indicador, baixo a manta, para que minha mãe não me visse. Mamãe me observou durante uns momentos. Depois apagou a vela e se deitou também, mas não em sua cama, a não ser no chão ao lado da minha, com uma manta por todo colchão.
No silêncio, eu me voltei para o lado da loja e me aproximei do pequeno buraco que tinha feito no tecido para poder observar aos majores quando se reuniam ao redor do fogo pelas noites. Por aquele pequeno buraco olhei e escutei a minha avó, a mulher mais velha e venerada da família, enquanto se enfrentava à mulher mais bela que eu tivesse visto em minha vida.
— por que nos atormenta vindo aqui? —perguntou-lhe a avó, com as chamas refletidas no rosto.
— Por que? Você, minha própria irmã, e me pergunta por que?
— Sua irmã! —disse a avó com desprezo, e cuspiu ao chão — Você não é minha irmã, a não ser um demônio. Emparelha! Maldita!
Eu sacudi a cabeça, sem entender nada. O que queria dizer Sarafina? Irmã? Ela não podia ser a irmã de uma velha...
— me diga por que vieste, demônio! Sempre procura os meninos quando volta. É por um deles,
verdade? Passaste-lhe sua maldição a um dos meninos! Não é certo? Não é certo?
Sarafina sorriu muito lentamente, com uma expressão angélica e demoníaca ao mesmo tempo, com o rosto banhado pela luz da fogueira.
— Venho porque vós são tudo o que tenho. E sempre voltarei, velha. Sempre. Muito depois de que você te tenha convertido em pó, seguirei vindo, trazendo presentes aos pequenos, para encontrar em seus olhos e em seus sorrisos o amor e a aceitação que meus próprios irmãos me negam. E não há nada que possa fazer para impedi-lo.
antes de que Sarafina se desse a volta, seus olhos passaram de comprimento à avó e se cravaram em mim. Como se durante todo o tempo tivesse sabido que eu estava ali, observando-a do pequeno buraco do tecido da loja. Não podia lombriga, e entretanto, tinha que me haver visto. Seus lábios se curvaram ligeiramente, e sua boca se moveu. Embora não emitiu nenhum som, eu soube qual era a palavra que tinha pronunciado. Recorda.
Depois se voltou e desapareceu na noite. Vi as cores de seus lenços atrás dela durante um segundo. Então, a negrume da noite se fechou onde ela tinha estado, e já não a vi mais.
Descansei a cabeça sobre o travesseiro e me estremeci de medo.
Era eu. Minha tia tinha ido por mim. Sabia no mais profundo de mim ser. Não entendia o que queria de mim, mas estava seguro de que tinha uma razão poderosa para enfrentar-se com tanto ódio.
E aquela razão... era eu.
Lenta, lentamente, a fumaça do acampamento cigano se dispersou. A luz das chamas se apagou, e o calor, tão real que tinha podido senti-lo no rosto, converteu-se em frio.
Morgan Da Silva saiu daquela fantasia. Já não estava observando a fogueira de um acampamento cigano através dos enormes olhos negros de um menino. Estava sentada no chão de uma água-furtada poeirenta, olhando as páginas amareladas de um velho jornal manuscrito, com as cobertas de couro, tão antigo que era suave como a manteiga baixo as gemas de seus dedos. A visão que tinham pintado aquelas palavras tinha sido vivida. Tinha sido... real. Tão real como se ela tivesse estado no acampamento cigano muito tempo atrás, em vez de na costa de Maine em mil novecentos e noventa e sete.
Morgan passou a página lentamente, ansiosa por continuar com a leitura...
Entretanto, o som do telefone o impediu. Com um suspiro de resignação, fechou o jornal e se levantou para guardá-lo de novo no velho baú. Ao fechar a tampa, o pó se expandiu pelo ar. Ela se sacudiu as mãos nos jeans e baixou as levantadas escadas da água-furtada de dois em dois.
Ao subir ali, não se tinha esperado encontrar outra coisa que telarañas e pó. Em realidade, explorar aquela casa desmantelada não tinha sido devido à curiosidade, a não ser a seu próprio trabalho. Desde não ter sido por ele, nunca se teria incomodado em percorrer aquele edifício antigo e abandonado.
E teria sido uma autêntica lástima.
Pensou, enquanto baixava os últimos degraus sem fôlego, que se era outro cobrador de faturas ou outro advogado o mandaria a passeio. A larga escada terminava em um enorme vestíbulo que devia ter sido glorioso em outros tempos, mas que naquele momento não continha nada mais que ecos de sons e cordas e cabos que penduravam do teto e dos que certamente teria pendido algum magnífico candelabro. além daquele vestíbulo estava seu refúgio. Seu... despacho. No momento, ao menos. Mas só até que recuperasse sua fortuna e voltasse para Os Anjos como uma triunfadora.
Exatamente o contrário a como tinha tido que partir.
Quando chegou ao final da escada, o coração lhe pulsava rapidamente pelo esforço e se sentia ligeiramente enjoada. Era ridículo que uma mulher de vinte anos se cansasse por tão pouco, mas assim era. Nunca tinha tido boa saúde e sabia que nunca ia ter a. Mas ao menos, sua condição física não tinha começado a piorar ainda. Era muito logo e tinha muitas coisas que fazer.
Por fim, Morgan respondeu a chamada. O telefone era tão antigo como o resto da casa. O auricular devia pesar um quilograma, mais ou menos. Todo aquilo parecia como uma brincadeira a seu gosto pela alta tecnologia.
Se sua voz ao responder soou irritada, era porque se estava morrendo de vontades de seguir lendo aquele jornal na água-furtada, para averiguar mais costure sobre seu autor. Era possível que estivesse a ponto de admitir que era uma escritorzuela sem nenhum talento, mas ainda reconhecia algo bem escrito quando o lia, e o que tinha estado lendo era bom. Muito bom.
— Morgan? por que demoraste tanto? Estava-me preocupando.
Sua irritação se dissipou quando ouviu a voz do David Sumner. Seu tio honorário, um título que tinha deixado de usar fazia muito tempo, era a única pessoa que não lhe tinha dado as costas quando ela tinha passado de ser a filha rica e malcriada à órfã arruinada em questão de horas. Era a única pessoa a que não lhe importava ouvir naquele momento.
—Olá, David —lhe disse—. Estava... explorando a casa. Este lugar é muito grande, sabe?
—Não, não sei, nunca o vi. Parece que não tem fôlego.
—Será pelos dois lances de escadas que baixei correndo.
Morgan notou que titubeava. Tinha a tendência a preocupar-se com ela mais do que deveria.
— Como é a casa? —perguntou-lhe ao fim.
—Parece uma ruína —lhe disse ela, em tom zombador. Em parte, estava tentando tranqüilizá-lo, e em parte, gostava de tomar o cabelo—. O qual te está bem empregado por comprar sem ver primeiro. Quem faria uma coisa assim?
Quase podia lhe ver a cara com o cenho franzido, as rugas dos olhos, o cabelo loiro. David tinha sido o melhor amigo da família desde fazia tanto tempo como ela recordava. Seus pais o tinham chamado assim, um amigo da família, mas ao Morgan sempre tinha parecido que se limitava a tolerá-los.
É obvio, ele sim conhecia a verdadeira vida de seus pais desde fazia muitíssimo tempo. Ela só se inteirou fazia muito pouco tempo, através dos titulares da imprensa sensacionalista e dos abutres, nos tribunais.
—Comprei-a por sua situação, e sabe —lhe disse David—. E confio em meu agente para este tipo de assuntos. O edifício está muito mal, de todas formas.
—Sim.
Ele ficou em silencio durante um instante.
— Realmente está tão mal?
Ela teve vontades de esbofetear-se a si mesmo. Algumas vezes era uma pequena egoísta...
—Não, não o está —disse rapidamente—. Só estava tomando o cabelo —e olhou a seu redor, pela habitação que tinha eleito habitar. Tinha sido a biblioteca ou o despacho de alguém, fazia muitíssimos anos.
Recordou ao menino sobre o que tinha estado lendo, e se perguntou se teria sido dele. Possivelmente, quando já era um ancião e tinha decidido escrever suas memórias.
—descreva-me isso lhe estava dizendo David.
— O que?
—A casa. descreva-me isso
—Pois... uma vez deveu ser incrível. A embocadura da chaminé é de madeira nobre e está esculpida, e embora agora está danificada, é esplêndida. As janelas são muito altos e os tetos tinham molduras das que agora faltam muitos partes... Este lugar tem... não sei. Algo.
—Entretanto, não se aproxima de nada do que você está acostumada —disse David.
—Sim, bom, não é Beverly Hills, mas se o fora não conseguiria trabalhar nada...
— Está-o conseguindo? adiantaste algo?
Morgan observou a tela azul de seu ordenador, que se tinha salvado dos credores só porque o tinha na universidade quando seus pais se mataram e tinha saído à luz a verdade da situação econômica da família. Estavam arruinados, e tinham tantas dívidas que Morgan logo que podia assimilar as cifras. Ao princípio não tinha podido entendê-lo. Seu pai era um diretor de cinema de êxito, e sua mãe era uma atriz que, fazia uma década, tinha alcançado o topo, e que na atualidade fazia papéis menores, mas que parecia contente com sua vida.
Ou isso era o que pensava Morgan. Logo soube que tinham estado vivendo em uma borbulha. O nível de cocaína que tinham em sangue a noite do acidente era tão alto que o forense se perguntou como as tinham arrumado para conduzir.
Eram drogados, e todo seu estilo de vida era uma grande mentira.
A casa e todas as demais posses tiveram que vender-se para cobrir uma parte da dívida, e Morgan tinha tido que deixar a universidade. Já deviam a matrícula e vários pagamentos. E aparentemente, seus amigos eram tão falsos como David sempre tinha tentado lhe dizer, porque uma vez que a verdade se soube, tinham-na abandonado como ao guarda-roupa do ano anterior, enquanto que aqueles aos que ela tinha considerado inferiores estavam divertindo-se em segredo com seus problemas. Os últimos dias no campus, Morgan tinha encontrado páginas dos periódicos e as revistas penduradas dos tablones de avisos de todos os corredores, revelando todos os detalhes da vida secreta de drogados de seus pais, que, entretanto, parecia que o tinham tudo. O pesadelo atrás do conto de fadas, e a pobre menina rica se ficou completamente reveste e arruinada.
Tinha saído da universidade e de Los Angeles com o rabo entre as pernas, e tinha acudido ao David. Lhe tinha ajudado a vender as poucas coisas que ficavam, como seu Maserati, que, graças a Deus, estava a seu nome, e a comprar um carro de segunda mão e a guardá-la diferença. Quando lhe havia dito que necessitava um lugar onde esconder-se e lamber suas feridas, lhe tinha respondido que podia fazê-lo naquele lugar de Maine, grátis, durante tanto tempo como necessitasse.
E não seria muito, pensou ela silenciosamente. Sempre tinha tido a intenção de converter-se em uma grande escritora de guias, só que ia ter que começar a tentá-lo um pouco antes do que tinha pensado. David era produtor. Ele a ajudaria a fazer os contatos precisos e possivelmente produzira o filme ele mesmo. Tinha-lhe prometido que lhe daria uma oportunidade. Que a ajudaria em tudo o que pudesse. Só necessitava... o material.
— Morgan? —A voz do David a tirou de seu ensimismamiento—. Me ouviste? Perguntei-te que tal vai o guia.
—Muito bem. Estupendamente —tão bem que tinha decidido ir explorar a casa em vez de seguir brigando com a tela vazia. A única tecla que estava apertando uma e outra vez era a de apagar. Desde que tinha chegado ali, só tinha escrito tolices.
— Sabe? É normal que tenha algum problema na hora de começar —lhe disse David—. Não pressione a ti mesma. passaste por muitas coisas, e necessita tempo para digeri-lo tudo.
Morgan se encolheu de ombros.
—Não é isso —lhe disse.
— Não?
—É obvio que não. Já aconteceram seis meses. Superei-o por completo.
— superaste completamente perder a seus pais, sua fortuna, sua casa, sua educação e tudo o que pensava que era sua identidade? —Disse ele, e estalou a língua—. Não acredito.
—Bom, pois é certo. E, para ser sincera, averiguar que era adotada me facilitou as coisas. Refiro-me a que... já sabe que meus pais nunca estiveram de tudo... implicados emocionalmente.
—Isso era a cocaína, carinho. Não a adoção. Não foi você.
Ela pigarreou ao notar que a garganta lhe fechava e se obrigou a reagir.
—E quanto ao resto, vou recuperar o tudo, David. Tudo o que perdi. E mais ainda. —Não o duvidei nem por um momento.
—Nem eu tampouco —respondeu ela, observando a tela vazia e sentindo que as dúvidas que estava tentando negar a asfixiavam. Demônios, por que escrever um guia de êxito não era tão fácil como ela sempre tinha acreditado? Havia visto muitas filmes e tinha pensado que poderia fazê-lo melhor inclusive dormida.
— E para quando terá o guia? —perguntou-lhe ele.
Ela se umedeceu os lábios. Oxalá soubesse. —Uma obra professora requer tempo. É algo imprevisível.
—Necessito um projeto para outono. Estou te reservando um oco, Morgan. Três meses. Necessito o material em três meses. Poderia fazê-lo? Poderia escrevê-lo durante o verão e me entregar isso em setembro? Ela levantou o queixo, tragou saliva e disse: — Sim. Terei-o terminado para setembro. Não há problema.
—Estupendo —lhe disse David—. vais fazer o muito bem, Morgan. Poderá com isso.
—É obvio.
— Necessita algo? Está bem de dinheiro?
Morgan se obrigou a mentir. Tinha deixado suas contas a zero, seguindo o conselho do David, antes de que os credores se lançassem sobre elas, e tinha o dinheiro do carro. Mas embora ali não tinha que pagar renda, havia outros gastos: o telefone, a eletricidade, a água... e tinha que comer. A verdade era que o dinheiro lhe estava acabando.
—Estou bem —lhe disse.
—De acordo —lhe disse David brandamente—. Bem. me avise se necessitar algo.
—Farei-o, David.
Ele ficou silencioso durante um momento.
— E que tal está de saúde?
Ela tomou ar e depois o deixo escapar com um suspiro.
— Já sabe que eu não gosto de nada que me tratem como se fora um ser doentio.
— Acaso te hei dito eu que fosse?
—Não.
— E que tal está?
Ela apertou os lábios.
—O ar fresco e limpo daqui me está sentando de maravilha —mentiu. O que ia dizer lhe? A verdade? Não podia lhe dizer que se resentía da umidade e do frio daquele lugar, embora já estivessem em abril—. Bom, David, tenho que te deixar —disse, tragando saliva de novo para tentar desfazer o nó que tinha na garganta—. Se quero terminar isto antes do outono, tenho que continuar.
—De acordo, carinho. me chame se necessitar algo.
—Farei-o, David. Obrigado.
Morgan pendurou o auricular e se mordeu o lábio inferior. Voltou a velha cadeira para a tela do ordenador e se sentou. Pôs ambas as mãos sobre o teclado e se disse que tinha que escrever algo aquele mesmo dia, ou deixá-lo e buscar um trabalho. O problema era que não sabia fazer nada.
Escrever era quão único tinha querido fazer, e no único no que tinha sido boa... Ou ao menos, isso acreditava. Na universidade, seus ensaios sempre tinham muito boas notas dos professores. O grupo de teatro incluso tinha representado alguma de suas obras. A todo mundo tinha encantado, aos críticos do campus, aos dos periódicos locais...
Mas isso tinha ocorrido quando ela era Morgan Da Silva, a brilhante filha de um aclamado diretor e de uma famosa atriz. Naquele momento não era mais que Morgan Da Silva, desgraçada, sem dinheiro e sem lar, virtualmente expulsa de sua cidade e com um futuro muito mais negro e vazio do que nunca tivesse imaginado.
Além disso, não sabia se seu talento era real ou se simplesmente tinha conseguido tudo aqueles louvores por seu sobrenome. Já não sabia nada, nem quem era, nem o que estava fazendo, nem por que tinham deixado de lhe chegar as palavras. Era como se o poço de que tinham brotado se secou ao acabar-se sua ilusão.
Fora, o vento uivava. A luz se foi e voltou em um instante. A velha casa grunhia quando o vento soprava forte. Provavelmente, se ela fosse tão velha também gemeria, pensou. E então se perguntou quantos anos teria aquilo.
Aquele jornal, aquelas memórias não tinham data, mas era evidente que se escrito fazia muitos, muitos anos. Ao menos, um século atrás... ou dois.
Aquele pensamento lhe recordou ao escritor, Lhe dêem. Teria vivido ali de adulto? Teria estado naquela mesma habitação, possivelmente passeando frente ao fogo, pensando enquanto sua pluma descansava naquele mesmo escritório? Teria esperado a sua musa igual a ela, frustrado quando não lhe chegavam as palavras?
Como se uma mão invisível a arrastasse, subiu à água-furtada e acendeu um par de velas. Depois levantou a tampa do baú e tirou o primeiro volume das memórias que tinha estado lendo. Abriu o tomo cuidadosamente e começou a ler. E, uma vez mais, perdeu-se na história.
Passaram treze largos anos antes de que voltasse a ver a Sarafina. Treze largos anos, nos que aprendi muitas coisas. Aprendi que, fôssemos onde fôssemos, sempre seríamos mal acolhidos. Que apesar de ser honestos sempre nos chamariam ladrões, inclusive as pessoas estranhas que não sabiam nada de nós. Por isso aprendi também a tomar o que queria e a lhes mandar a todos ao inferno. Pensei que estaria bem desfrutar dos frutos do que me atribuía. Se me apanhavam, pagaria por aqueles crímenes embora não os tivesse cometido. Era melhor pagar por meus próprios delitos que pagar pelos de algum payo que fingia ser honesto, porque sempre havia algum cigano perto a quem carregar com as culpas.
Mas, apesar de ter aprendido muitas coisas, havia um mistério que não tinha conseguido decifrar. Quem era Sarafina? por que tinha relação conosco? E por que a tinham expulso de nossa família? Tampouco tinha conseguido averiguar qual era a maldição que levava, conforme diziam todos. Não soube até a noite em que minha vida esteve a ponto de terminar. Até a noite em que minha vida realmente terminou, tal e como a conhecia, e começou uma nova. Era o outono de mil oitocentos e quarenta e oito.
Eu era jovem, um jovem exaltado e temerário. Minha família estava a ponto de recolher o acampamento e empreender a marcha de novo, não porque se cansaram do lugar no que viviam, mas sim porque os aldeãos nos tinham acusado de roubar ganho, e sabíamos que a lei viria por nós rapidamente.
antes de partir, decidi que conseguiria um pouco de carne dos animais daqueles que nos acusavam. Aquela noite havia lua nova; só se via um hilillo de prata no céu. Entrei no estábulo de um granjeiro. Não me importava o que encontrasse ali, sempre e quando pudesse roubar algo. Era para me ressarcir pelas injúrias para mim e para meus.
O primeiro animal que vi foi um macho caibro. Pu-lhe uma corda ao redor do pescoço e atirei dele brandamente. O animal se deixou levar até que chegamos à porta do estábulo; então, de repente, cravou as pezuñas no chão e emitiu um balido comprido e quejumbroso. Seu grito ressonou em metade da noite.
Eu devia ter deixado que o macho caibro voltasse para seu site, mas o orgulho de um homem jovem algumas vezes é muito forte, e além disso, em mim se combinava com a fúria e a frustração, assim continuei atirando da corda e arrastando ao animal pela erva. O granjeiro nem sequer avisou. Em um momento, eu estava atirando do maldito animal, e ao momento seguinte, estava de barriga para baixo no chão, com o som do disparo me retumbando nos ouvidos.
Uns segundos depois comecei a sentir a dor e o assombro. Durante uns instantes, notei a bala, como se fora de fogo, e depois a sangue cálida me empapando a roupa. Mas então senti algo muito pior.
O intumescimento se estendeu por meu corpo: primeiro as pernas, e depois o ventre, o estômago, os braços... Depois não senti nada. Não podia me mover. Nem sequer senti que o granjeiro me desse a volta com a ponta da bota e me deixasse de barriga para cima.
—Malditos ciganos —disse, e me cuspiu. Depois tomou seu macho caibro e partiu. Não me tinha matado.
O alívio, entretanto, transformou-se muito em breve em desespero, ao me dar conta de que morreria sozinho em poucos minutos. Notava que a sangue me escapava do corpo, e me dava conta de que cada vez estava mais fraco pela perda. Estava sentindo... como morria.
Ouvi os passados do granjeiro enquanto se retirava. Depois ouvi o ruído da porta do estábulo ao fechar-se. E depois não ouvi nada mais que o suave som do vento da noite, sussurrando entre as árvores. Sussurrava meu nome.
—OH, doce te Dêem —disse uma voz muito perto de mim. Aquela vez não era o vento—. Tem feito que este momento chegasse muito mais logo do que me teria gostado.
Abri os olhos. Sarafina estava a meu lado. Sua silhueta se recortava na negrume da noite, como se fora a de um anjo escuro. Eu tentei falar, mas as palavras eram tão suaves que soube que não poderia me ouvir. Ela se ajoelhou a meu lado e eu reuni todas minhas forças para lhe dizer:
—Sarafina... estou-me morrendo.
Sua mão suave me apartou o cabelo da frente.
—Não, Lhe dêem. Sabe muito bem que eu não o permitiria.
—P... mas...
—Shhh. Já quase chegou a hora. Quase te sangraste. Será questão de um momento. Eu abri muito os olhos de pânico.
Sarafina! Por favor!
Confia em mim, querido. Não morrerá. me escute: agora tem que fazer uma eleição, e não tem tempo para deliberar. Quer morrer, aqui e agora? Ou viver, embora isso signifique viver no exílio, como eu? A família te odiará e te jogará de seu lado.
Eu me sentia muito débil, e não entendia suas palavras.
— Vida ou morte, Lhe dêem? me dê sua resposta. Se demorar, perderá a oportunidade de escolher. Morrerá. diga-me isso agora: vida ou morte?
Eu lutei por pronunciar a palavra, mas não ouvi que emergisse de meus lábios. Tudo o que pude fazer foi pensar que queria pronunciá-la. Vida.
—Muito bem.
Ela se moveu. Eu tinha a visão imprecisa, assim não pude ver o que fazia. Depois apertou algo contra meus lábios, e eu senti uma assombrosa necessidade. Fechei a boca sobre a fonte que ela me tinha devotado e chupei dali como um bebê que mamava de sua mãe. Comecei a sentir que a vida se estendia de novo por meu corpo, junto com uma fome que nunca tinha experiente antes. Movi os braços e agarrei aquele obséquio, sujeitando-o contra a cara, enquanto mamava o líquido que se derramava por minhas veias.
— Já é suficiente!
Sarafina me agarrou por cabelo para me sujeitar a cabeça e atirou com força. E só então me dava conta de que o que eu tinha estado chupando tinha sido sua boneca, e o que tinha bebido com aquela sede tinha sido sua sangue. Horrorizado, notei que o estômago me dava um tombo, e levantei a mão para me limpar a boca.
—Não passa nada, Lhe dêem. Assim é como compartilhamos o dom.
Eu me olhei as mãos, manchadas de sangue. Mas estava vivo. Forte. Movi os dedos. Apertei os punhos.
— O que é isto? —perguntei-lhe brandamente—. O que significa? —enquanto falava, notava que meu corpo já não estava intumescido. Notava a brisa na pele e via com mais precisão da que nunca tivesse visto. Notava a força pelas veias. Incorporei-me, e então, ela me arrancou a camisa e a fez tiras.
—É um presente, jovem lhe Dêem, embora alguns o chamam uma maldição. É um dom que eu te concedi. Nunca morrerá. Nunca envelhecerá. E embora sua família se voltará contra ti, nunca estará sozinho como eu estive. Porque sempre estarei contigo. Sempre.
Eu a estava olhando por cima de meu ombro, porque estava a minhas costas, me colocando tiras de tecido na ferida, o que me causava uma imensa dor. Não entendia nada. Ela me atou várias tiras ao redor do peito para manter os pedaços de algodão em seu site, e depois me ajudou a me pôr em pé. Então, vi o granjeiro justo detrás dela. Abri a boca para avisá-la.
antes de que tivesse podido dizer uma palavra, a mulher bela e graciosa que me tinha deixado fascinado se deu a volta e tomou ao homem pelo pescoço da camisa. E antes de que eu pudesse reagir, atirou-se a sua garganta.
Ouvi os sons... E vi, claramente, na escuridão, o que estava fazendo Sarafina. Estava... bebendo-se sua sangue. Estava abarrotando-se em seu pescoço. Ao princípio, o granjeiro lhe deu murros nas costas, e patadas. Depois, simplesmente, rendeu-se. Ouvi como suspirava e vi como a abraçava. Deixou que sua cabeça caísse para trás, e vi como apertava seus quadris contra Sarafina enquanto ela bebia.
E depois, já não ficava vida nele.
Ela soltou a camisa e o corpo caiu ao chão. Morto. Completamente seco.
Sarafina se limpou os lábios delicadamente com um de seus lenços e se deu a volta para me olhar. Eu não podia pronunciar nenhuma palavra.
—Não te assuste, Lhe dêem. É que acaso acaba de te dar conta? Mmm? Somos Nosferatu. Não podemos morrer lambeu os lábios, inclinou a cabeça e me sorriu ligeiramente—. Vampiros —sussurrou, e me pareceu que o vento recolhia a palavra e a repetia mil vezes com minhas vozes diferentes.
Vampiros.
Uma brisa que provinha de alguma parte fez que a chama da vela vacilasse. Morgan apartou os olhos das páginas e olhou para detrás. Mas, é obvio, não havia ninguém. Não havia nada. Aquilo não era real.
—OH, Meu deus —sussurrou—. Isto não é... não são umas memórias. É ficção. É uma ficção incrível, impressionante!
OH, possivelmente não o tivesse sido para o homem que o tinha escrito. O artista que, com uma loucura deliciosa, tinha criado aquele conto e que, certamente, tinha-o acreditado. Um homem que tinha acreditado de verdade que era um vampiro. Um homem que tinha vivido ali, com toda probabilidade. Naquela mesma casa.
De repente, algo fez um ruído contra a janela. Morgan se assustou e se levou uma mão ao peito, ao lugar no que seu coração tinha dado um salto. Só tinha sido o ramo de uma árvore, dobrada pelo vento, que tinha raspado o cristal. Não uma criatura da noite que se chamava lhe Dê a si mesmo, que havia tornado a exigir que lhe entregasse suas memórias. É obvio que não. Os vampiros não existiam.
O repentino movimento e o susto a tinham deixado enjoada, e tinha o coração acelerado. Esperou a que lhe acontecesse e respirou fundo. Ao olhar a hora, deu-se conta de que levava horas sentada naquela água-furtada poeirenta, perdida no mundo imaginário de um louco, quando deveria ter estado trabalhando em seu próprio guia.
Deus, como ia ser capaz de escrever um bom guia, um que David pudesse vender, em só três meses? Sobre tudo a partir daquele momento, depois de ter lido aquela incrível historia.
Vagamente, perguntou-se quanto tempo teria demorado o imaginativo lhe Dêem em escrever suas memórias. Não muito, pensou... se todos os volúmenes daquele baú estavam cheios. Não entendia como era possível que o tivesse feito durante sua cabela vida.
Entretanto, estava morto. Tinha que está-lo, porque ela tinha encontrado, finalmente, uma data... E suas palavras, suas histórias, estavam ali, intactas. Tão vividas, tão maravilhosamente escritas, que era quase penoso que não as compartilhasse com o resto do mundo. Se ela tivesse escrito um pouco tão bom como aquilo e ninguém o tivesse visto, teria sido...
ajoelhou-se junto ao baú aberto. Que dano poderia fazer? te dêem tinha morrido fazia muito tempo, e não era possível que ninguém conhecesse a existência daqueles volúmenes. De outro modo, não estariam ali, comidos pela umidade. E havia tantos!
—meu deus —sussurrou—. Isto é uma mina de ouro. Estou sentada sobre uma mina de ouro.
Aquilo era algo mais que um baú cheio de histórias. Era o caminho para tudo o que desejava, a chave para recuperar tudo o que tinha perdido. Riqueza, poder, fama. Seu retorno triunfante aos Anjos. Aquilo era um presente que lhe tinha deixado um louco, morto fazia muito tempo, que se chamava a si mesmo lhe Dêem e que acreditava ser um vampiro.
Tomou o primeiro volume cuidadosamente e o apertou contra o peito. levantou-se e baixou ao despacho.
E naquela ocasião, quando pôs as mãos sobre o teclado, as memórias de lhe Dêem estavam abertas junto ao teclado. As palavras fluíram.
Maxine Stuart estava vendo JFK pela décima oitava vez na pequena televisão de sua habitação, com O guardião entre o centeio no regaço e uma lata de refresco médio vazia na mesinha de noite, quando ouviu as sereias. levantou-se rapidamente e foi para a janela. No céu da noite, para o sul, viu um brilho avermelhado no horizonte. Um Jipe tomou a curva do caminho para sua casa e, um segundo depois, ouviu que se abria a porta dianteira e que sua mãe falava com seus melhores amigos. Apagou a televisão e saiu de seu quarto.
Os encontrou no corredor e se deu conta de que ocorria algo grave. Jason não tremia facilmente, e estava tremendo. Storm, que em realidade se chamava Tempest, mas que odiava seu nome, estava completamente pálida. A mãe do Maxine os seguia.
— O que ocorre? O que é o que se está queimando? —perguntou Max.
—Spook Central —respondeu Jason—. E não parece que tenha remédio.
—É horrível —disse Stormy, com os olhos, azuis e brilhantes como duas jóias, cheios de lágrimas—. Não acredito que ninguém saia vivo.
Spook Central. A Central dos Espectros. Aquele era o nome preferido do Maxine para aquele centro governamental, um conjunto de barracões enormes que havia aos subúrbios da cidade, e que não tinha denominação oficial. O edifício principal era imenso, e estava bem afastado da cerca, muito alto, eletrificada e rodeada de câmaras de vigilância. Tudo estava envolto no mistério. O que a maioria da gente pensava era que se tratava de um laboratório de investigação onde se trabalhava para encontrar uma vacina contra ele sida, uma padre para o câncer, costure pelo estilo. Algo muito elevado para dedicar-se a bisbilhotar. Quem ia questionar uma missão tão sagrada?
Maxine tinha suas próprias teorias, como na maioria dos casos, e naquele momento esperava que sua versão estivesse equivocada. Sempre tinha pensado que aquele lugar era um laboratório militar e que ali se investigava sobre armas biológicas e químicas.
Entrou de novo em sua habitação, tomou sua jaqueta e voltou a sair ao corredor. —Vamos.
— Ir? Aonde? —perguntou-lhe sua mãe. Nenhum dos três respondeu, e Ellen os rodeou enquanto caminhavam para a porta para lhes cortar o passo—. Max, não vão. Entorpecerão o trabalho que estejam fazendo, e é provável que saiam feridos.
—Vamos, mamãe. Tenho vinte anos. Não vou incomodar aos bombeiros. Só quero saber o que é o que está ocorrendo.
—Então, lê-o no periódico de amanhã, como todo mundo.
—Deus, como pode ser tão inocente?
Ellen Stuart suspirou, preocupada, mas também resignada. Ninguém tinha sido capaz de fazer que Maxine Stuart trocasse de opinião a respeito de algo, e sua própria mãe o tinha experiente desde dia em que lhe levaram a órfã de três meses a sua casa.
—Tomem cuidado.
—Sempre tomamos cuidado —respondeu sua filha, e tomou sua pequena mochila do perchero da entrada.
Quando os três amigos estiveram sentados no carro, Maxine disse:
—Olhem. vê-se o fogo daqui. Olhem.
Stormy se estremeceu e baixou os olhos. Jason ficou olhando-o fixamente, e depois acendeu a rádio e procurou pelo dial.
—Sabia que quereria ir —disse—. Eu me inteirei por meu irmão. Se ele não fora bombeiro voluntário, provavelmente não saberia ainda.
— Não hão dito nada pela rádio, Jay? —perguntou-lhe Stormy, bastante nervosa. Ele seguiu movendo o dial, e depois sacudiu a cabeça, lentamente.
— Acreditava que foram dedicar lhe um especial, alguma porcaria dessas, mas não dizem nenhuma palavra.
—Dirão o que lhes ordenem que —disse Maxine—. Apesar do que minha mãe pense sobre os periódicos, estou segura de que não falarão disso, porque isto tem que ser alguma missão secreta do governo.
Stormy se encolheu de ombros e desviou o olhar. Aqueles temas sempre faziam que se sentisse incômoda, mas Maxine não se sentia incômoda falando deles. sentia-se mais incômoda por ter vivido virtualmente à sombra daquele enorme complexo misterioso e bem protegido, e não ter sabido nunca o que havia dentro.
Sim sabia uma coisa com certeza: aquilo não era um laboratório de investigação contra ele sida, e era possível que depois daquele incêndio ninguém soubesse o que tinha sido em realidade.
Quando chegaram ao ponto da estrada onde os veículos de emergência estavam estacionados, detiveram-se. Havia cercas que lhes cortavam o passo, assim baixaram do Jipe e observaram as chamas muito altos que subiam pelo céu noturno. Max notava o sabor da fumaça na boca cada vez que respirava.
—por aqui —disse, e caminhou pelo lado direito da estrada, além dos veículos estacionados. Seus amigos a seguiram. Chegaram à entrada do complexo, onde havia bombeiros por toda parte, completamente concentrados em seu trabalho. Maxine se agachou detrás de uma ambulância, e atirou do Jason e do Stormy. Os carros de bombeiros tinham acontecido dentro do complexo. A guarita de vigilância estava vazia, e a porta estava aberta. A cerca e a alambrada estavam rotas à esquerda e à direita, e as câmaras feitas pedaços. Os bombeiros voluntários, vestidos com trajes amarelos, dirigiam grandes mangueiras conectadas com os tanques de água dos carros. Cada vez que conseguiam que as chamas retrocedessem um pouco, os veículos se adiantavam mais, e os homens se aproximavam mais ao inferno.
—Não entendo como suportam o calor. Deus, eu o noto daqui —disse Storm, apertando-a palma da mão contra a bochecha.
—Surpreende-me que não lhes tenham fundido as mangueiras —disse Jason—. Se se aproximarem mais...
—Se se aproximarem mais —terminou Maxine—, poderemos entrar.
— O que? —perguntou-lhe Jason, enquanto Storm a olhava boquiaberta—. Tem que estar de brincadeira, Max. Não podemos entrar aí.
—Não há ninguém vigiando a entrada. Todos estão concentrados no fogo. Podemos entrar sem problema.
—Max, sei que podemos entrar. O que queria dizer é que não devemos fazê-lo.
Então, foi ela a que os olhou assombrada.
— Estão loucos? Desde que me dava conta de que essa estúpida história do laboratório de investigação sobre o câncer e ele sida era uma patranha, estive morrendo de vontades de atravessar essas portas.
—O qual significa desde que tinha seis anos — murmurou Stormy.
—Mas, é que não lhes dão conta? Esta é nossa oportunidade. Não há guardas, e por fim podemos saber o que há detrás dessa mentira.
— E crie que vai ficar algo que ver, Max? As chamas estão devorando-o tudo —apontou Jason.
—Não saberemos até que não entremos.
Ele suspirou, baixou a cabeça e se passou uma mão pelo crânio barbeado. Nenhum dos três falou de novo durante um bom momento, enquanto seguiam ali agachados, olhando. Finalmente, Max se levantou e saiu correndo para as portas. Seus amigos duvidaram, mas a seguiram. Os três passaram por diante da guarita e se esconderam depois das árvores que bordeaban o caminho.
—Bom, conseguimo-lo —disse Max.
—Se nos pilharem aqui, vão empapelar nos.
—Não o pense, Jason. Vêem aquele mastro? —perguntou-lhes, assinalando-o. Jason e Stormy olharam o mastro, e depois a olharam a ela de novo—. Uma vez que cheguemos até ali, podemos rodear o edifício e entrar pela parte de atrás.
—E então, a parede em chamas pode derrubar-se sobre nós, nos esmagando e nos assando ao mesmo tempo —disse Storm, com o reflexo do fogo lhe dançando nos olhos.
Max se tragou as dúvidas que tinha sobre se devia arrastar a seus dois melhores amigos a aquilo, dizendo-se que era por uma boa causa. Além disso, não sofreriam nenhum dano. Ela não o permitiria. Maxine Stuart cuidava de seus amigos.
Então saiu disparada até o final do caminho, onde terminavam os pinheiros, e eles a seguiram. Depois correram para a parte traseira do edifício. Era um montão do qual saíam chamas por toda parte, embora a maior parte do fogo se transladou à parte dianteira, e estava acabando com ela. Havia cinzas e fumaça. Haveria também gente ali?, perguntou-se Max. Corpos?
Max olhou a seu redor.
— Vêem aqueles arbustos? Estão afastados do fogo —lhes disse, assinalando-os—. me Espere ali. Prometo-lhes que não demorarei.
—Não, Max —lhe advertiu Jason. Parecia que estava zangado—. Não o faça.
—Cinco minutos. Só cinco minutos. Isto só ocorre uma vez na vida, Jay —e não esperou a que ele replicasse. Simplesmente, pôs-se a correr.
Fazia muito calor, e a fumaça lhe queimava o nariz. Correu até que chegou à parede traseira, tossindo e entrecerrando os olhos para conseguir ver algo através do fogo e das quebras de onda de calor insuportável. Nele estou acostumado a havia caixas rotas, ordenadores destroçados, queimados, feitos migalhas.
Acaso alguém os teria atirado pela janela em um esforço por evitar que se destruíram? Ou possivelmente para destrui-los? Max lhe deu uma patada a um. Teria dado algo por conseguir algum daqueles discos rígidos. Só Deus sabia o que poderia encontrar ali. agachou-se para tentar tomar algo de uma pilha de escombros, mas as partes estavam tão quentes que lhe abrasaram os dedos e retirou a mão de um puxão.
— Demônios!
levou-se os dedos queimados aos lábios, soprou-os e os sacudiu no ar enquanto seguia caminhando. Seu pé se chocou contra algo que rodou, e quando olhou para baixo, lhe aproximando, deu-se conta de que estava inclinada sobre um antebraço e uma mão carbonizados.
— meu deus!
Lhe acelerou a respiração, e embora seus pulmões recolhiam mais e mais fumaça cada vez que inalava, não podia evitá-lo. Continuou sua busca, e viu outros restos humanos entre o desastre. Mais e mais. Corpos. Partes de corpos. Era como se estivesse andando pelo inferno. Jesus, por que ninguém tinha podido sair vivo? Que demônios teria ocorrido ali?
Aquilo era uma estupidez. Tinha sido parva ao ir ali. Começou a dá-la volta para voltar com o Jason e Stormy, quando um movimento lhe chamou a atenção. ficou imóvel, com os olhos entrecerrados.
Pouco a pouco, o movimento tomou forma. Um homem com a roupa queimada e com a pele tão enegrecida que Max não soube se era branco ou negro. Estava curvado e caminhava inestablemente, se inclinando e erguendo uma e outra vez. Parecia como se estivesse recolhendo coisas, escapando do inferno sem querer deixar nada atrás. Ela estava a ponto de lhe oferecer sua ajuda quando ouviu que alguém gritava seu homem da distância.
O homem também ouviu a voz do Stormy, e voltou a cabeça para onde procedia o grito. Uma chama saltou em algum lugar próximo a ele e iluminou seu rosto durante um instante. Lhe tinha queimado por completo o cabelo de uma parte da cabeça, e tinha um lado do couro cabeludo e da cara completamente abrasada. Max tentou memorizar seus rasgos, sua cara redonda, a forma de seu queixo. Ele se meteu o que tinha tirado do chão nos bolsos, e correu como pôde, vacilante, para o Maxine.
Ela se agachou e conteve o fôlego, obrigando-se a permanecer imóvel. Não sabia com segurança se aquele homem era perigoso, mas se estivesse fazendo algo positivo, não fugiria. Possivelmente fora só um intrometido, como ela. Mas provavelmente não. Tinha estado dentro do edifício em chamas. Aquilo era evidente.
Quando ele passou coxeando a seu lado nem sequer se incomodou em olhá-la. Passou tão perto que Max percebeu o aroma de carne queimada e lhe deu um tombo o estômago. Ao homem lhe caiu algo da jaqueta. Em realidade, duas coisas. Entretanto, ele não se deu conta, e seguiu coxeando até que se perdeu entre a fumaça.
Maxine tragou saliva e tomou ambas as coisas. Uma delas era um CD-rOM, e a outra, uma espécie de placa de identificação. Notou que lhe tremiam as mãos enquanto o metia no bolso. incorporou-se e pôs-se a correr para o arbusto onde estavam seus amigos, sem olhar de novo o açougue que encontrou a seu passo. Ao chegar, caiu de joelhos sem fôlego.
— Graças a Deus que tornaste já! —disse-lhe Storm. agachou-se a seu lado e lhe pôs a mão sobre as costas, acariciando-a—. Está bem? O que aconteceu ali?
— encontraste algo? O que viu? —perguntou-lhe Jason.
Maxine levantou a cabeça e os olhou.
—É... havia... havia corpos.
—OH, Deus —disse Stormy, fechando os olhos.
Max se agarrou por antebraço do Jason, e ele a ajudou a levantar-se.
—Vamos daqui, de acordo? —disse-lhe Jason.
Ela assentiu e se levantou. Os três caminharam juntos, e quase tinham chegado à porta quando ouviram os sons de uns motores e chegaram uns veículos rugindo por toda a rua. detiveram-se na entrada. Ao menos um dos caminhões tinha montada uma metralleta em um trípode na parte de atrás. Em um segundo, várias dezenas de soldados armados se baixaram dos furgões e se estenderam por todo o terreno.
A uns metros deles havia um policial de costas a eles, observando os movimentos com a cabeça inclinada a um lado. «Minha polícia», pensou Maxine, com certo alívio. Jason também o viu e apertou o braço ao Max, lhe sussurrando:
—Um poli.
—Não passa nada. É Lou Malone.
Jason a olhou com o cenho franzido.
—Dá classes no curso de defesa para mulheres que estou fazendo.
—Tem que te lembrar, Jay —lhe disse Storm—. Trabalhava nas festas do instituto. É esse do que Max sempre esteve apaixonada.
—Ah, sim. Esse —e olhou ao Max para lhe perguntar se ainda gostava, mas ela se limitou a pôr os olhos em branco e olhar para outra parte.
De repente, alguém começou a falar por um megafone, e os meninos se sobressaltaram.
—Estas são instalações governamentais e portanto, esta é uma operação militar. Os bombeiros locais cessarão toda atividade imediatamente, e ninguém abandonará o lugar sem autorização. Por favor, formem uma fila ordenada perto da porta principal e serão escoltados fora da zona. Isso é tudo.
— O que está ocorrendo, Max? —Perguntou-lhe Storm, agarrando-a pelo braço—. Têm armas.
—Não vão usar as —disse Jason, tentando que sua voz soasse confiada—. Quero dizer que são soldados, e têm que levar armas. Entende?
Então observaram como os soldados separavam aos bombeiros dos caminhões tanque e tratavam de lhes tirar as mangueiras. Alguns obedeceram, mas aqueles que não se moveram o suficientemente rápido foram registrados ali mesmo e depois conduzidos até a porta. Alguns soldados registraram os caminhões.
—Não entendo nada —disse o oficial Malone para si mesmo—. Do que vai isto?
Maxine se aproximou dele e pigarreou. Ele se voltou rapidamente e ficou olhando atônito. Ela o queria. Tinha-o querido do instituto, e não lhe importava que tivesse uma cara áspera e com rugas, ou que fora dezoito anos maior que ela. Nem sequer importava que a considerasse uma cria pesada com muita imaginação.
—Mas bom, se for Mad Maxie Stuart, minha ruiva favorita —disse, sacudindo a cabeça brandamente—.. por que demônios não estarei surpreso de verte aqui?
—Olá, Lou. Só queria ver o incêndio. —Mm, mm —disse, ao ver seus dois amigos—. É que não têm o suficiente sentido comum como para não deixar que lhes arraste em seus planos?
Eles se encolheram de ombros e não disseram nada. —Lou, eu não gosto disto —disse Max—. o dos soldados. Estão registrando a todo mundo. —Sim, já o vejo.
—É só uma desculpa para colocar emano às garotas —disse Storm—. Se acreditarem que vão pôr me as mãos em cima, estão muito confundidos.
Maxine observou o olhar do Lou enquanto escutava ao Stormy, e soube que seu amiga tinha eleito a tática correta.
—Tampouco eu gosto da idéia de que esses me coloquem mão, Storm —enquanto falava, um soldado golpeou a um bombeiro que resistiu e o pôs contra a guarita. Lou o viu e piscou.
—Tenho medo, Lou. Quero sair daqui —lhe pediu Max.
Lou Malone apertou os lábios enquanto pensava. Finalmente, assentiu.
—Não é que vós, uns crios, sejam precisamente uma ameaça para a segurança nacional. Estes tios estão sendo muito meticulosos, parece-me . Olhem, há um buraco na cerca, justo detrás daqueles pinheiros. Vêem-no? Está ao lado da árvore mais alta. Saiam por ali. Eu não lhes vi. —Obrigado, Lou.
Ele assentiu com preocupação. Impulsivamente, Max ficou nas pontas dos pés e lhe deu um beijo na bochecha.
—lhes largue diretamente a casa, Mad Max. Não quero que lhes mesclem mais em assuntos de adultos, entendido? —Lhe prometemos —disse isso ela. Depois os três saíram correndo na direção que ele lhes tinha mostrado.
Quando Jason e Storm se partiram a casa, Max se tirou a placa de identificação e o disco rígido do bolso da jaqueta. Não havia dito nada a seus amigos sobre os troféus que tinha encontrado; não queria que nada pudesse lhes pôr em perigo, ou lhes converter em cúmplices se o que tinha feito era um crime. Aquela noite, muito tarde, limpou a placa, parcialmente derretida, para estudá-la. Tinha a fotografia de um homem, e dizia:
Frank W. Stiles. Nível de Segurança: Alfa. DIP.
Ela sabia o que significava nível de segurança alfa. Tinha-o averiguado a primeira vez que tinha tentado desentupir a verdade a respeito dos ovnis e das manobras do governo. Alfa era a palavra que se usava para indicar as autorizações de segurança de alto nível que concediam a certas agências que estavam baixo os auspícios da Cia Mas em todos aqueles anos de investigação, nunca se tinha encontrado com nenhuma referência sobre alguma agência ou operação chamada DIP.
Deus, o que seria o que tinha encontrado?
Estava quase tremendo quando lhe tirou a fuligem ao CD-rOM e o meteu no ordenador, rogando que o calor não o tivesse destruído. E não o tinha feito. Quando acessou a seu conteúdo, a tela ficou negra e apareceram umas letras em vermelho.
DOCUMENTOS DE ALTO SECRETO DA DIVISÃO DE INVESTIGAÇÕES PARANORMAIS. EXPEDIENTES DOS CASOS D 145.9-H376.51
Ao ler aquilo, ficou rígida e teve que dar-se ânimos para continuar. Pressionou o botão do camundongo, e na tela apareceu uma lista de nomes.
Damián, aliás Nantar.
Damián, aliás Gilgamesh.
Daniels, Matthew.
Daniella.
lhe dêem.
Devón, Josephina.
Evidentemente estava ordenada alfabeticamente, e a lista começava na letra d e terminava na letra H. Havia mais ou menos uns trezentos, calculou depois de ter percorrido todas as páginas do documento.
Voltou para princípio, e de repente seus olhos se fixaram em um nome que captou por completo sua atenção.
Drácula, Vlad (ver a biografia completa).
«Que demônios...». Fez um clique sobre o nome e apareceu um desenho. Era o retrato de um homem moderno, com o cabelo negro e comprido e os lábios extrañamente vermelhos.
O melhor conhecido de toda a espécie, nasceu nos Cárpatos e foi transformado, segundo nossas investigações, pouco depois de cumprir os vinte anos. Apadrinhado por um soldado inimigo desconhecido, provavelmente um turco. A última vez que lhe viu foi em maio de mil novecentos e noventa e dois, em Paris.
«A última vez?», perguntou-se ela, piscando enquanto olhava a tela e tentava assimilar o que estava lendo. «No noventa e dois?».
Baixo o retrato havia mais títulos para escolher: Assassinatos, Sócios, Guaridas, Biografia completa.
«O que é isto, no nome de Deus?».
Fez clique em outro dos nomes da lista, e de novo apareceu na tela outro retrato, naquela ocasião uma fotografia com a etiqueta de tomada antes da transformação.
Josephina Devon. Nascida do Brooklyn, Nova Cork, em mil novecentos e sessenta e dois. Transformada no verão de seus trinta aniversários, junho de mil novecentos e noventa e dois. Apadrinhada por R-532, aliás Rhiannon. O vampiro foi capturado pelos investigadores da Divisão em dezembro do mesmo ano. Foi transladada ao quartel geral da DIP no White Plains, Nova Iorque. Morreu em cautividad em mil novecentos e noventa e cinco.
De novo, oferecia mais informação, mas naquela ocasião com um aplique importante: Análise e provas realizados sobre o sujeito. Resultados.
Aquilo não podia ser real.
Quando fez clique sobre Biografia, encontrou um documento de mais de duzentas páginas, com detalhes que fizeram que sua mente girasse ao redor da impossibilidade de todo aquilo. Quando abriu o expediente que tratava os experimentos e as provas, pensou que ia vomitar. Aquela pessoa, aquela mulher, tinha sido um rato de laboratório. Tinham experiente com ela naquele edifício, em sua própria cidade.
Mas não. Não tinha acontecido, porque não era real. Os vampiros não existiam. E muito menos existia uma agência governamental dedicada a investigar sobre
eles.
Entretanto, ali tinha uma prova de que sim existiam.
E que demônios se supunha que tinha que fazer ela?
Ao dia seguinte soou o timbre da porta, mas quando Max abriu, não havia ninguém. Só um sobre marrom a seus pés. Sua mãe já se foi ao trabalho. Maxine tomou o sobre olhando a ambos os lados da estrada no caso de via algum veículo suspeito. Nada. Nenhuma palavra, nenhuma etiqueta, nem um selo.
Entrou na casa, fechou a porta e rasgou o sobre. Continha três fotografias polaroid. A primeira era do Jason, dormido profundamente, em sua própria cama! A segunda era do Stormy, de costas, enquanto tomava banho. A terceira era de sua mãe, saindo do carro, no estacionamento do hospital onde trabalhava como enfermeira.
Enquanto estava olhando as fotografias, com o cenho franzido e o coração acelerado, soou o telefone. Desprendeu o auricular e o levou a ouvido.
—Você gosta das fotografias, Maxine?
Aquela voz era um sussurro tão frio que fez que lhe gelasse a sangue.
—Quem demônios é? —Maxine se aproximou da secretária eletrônica e pôs a grabadora em marcha.
—Essas fotos se feito durante as últimas doze horas, sabe?
—por que? —agarrava com tanta força o auricular que tinha os nódulos brancos. Desejava que fora o pescoço daquele desgraçado. Como se atrevia? Deus, tinha estado na habitação do Jason. Na ducha do Stormy. E naquele estacionamento escuro, a sós com sua mãe.
—Para te demonstrar o fácil que me resulta sabê-lo tudo a respeito de ti, e o rápida e facilmente que posso chegar até a gente a que quer. Para dispará-los. Esta vez foi com uma câmara, mas...
—Se se meter com minha família ou meus amigos, matarei-o. Entende-me?
—Essa é uma boa ameaça, vindo de uma menina que acaba de sair do colégio —ele soltou uma gargalhada rouca e baixa, que degenerou em uma tosse.
Max apartou o telefone e o olhou, ao dar-se conta de que aquele homem era ele. Era o indivíduo que tinha visto sair do edifício em chamas com a cara queimada. Devia havê-la visto, depois de tudo. Quando deixou de tossir, ela se aproximou de novo o auricular.
—por que me chamou? O que quer de mim?
—Quero que esqueça tudo o que viu ontem à noite. Que atue como se nunca tivesse estado ali. Que não o diga a ninguém.
—Bem. Encantada. Se me disser o que ocorreu.
—Estou-te oferecendo um bom trato, Maxine. Esquece que me viu.
—Mas...
—me escute, estúpida entremetida! —ela se sobressaltou para ouvir a reação furiosa do homem—. Se chegar a lhe mencionar a alguém que me viu naquele incêndio, quão seguinte encontrará à porta de sua casa será um cadáver. Ou uma parte. Escolherei uma das fotografias ao azar. Entende-me agora?
—Sim! Sim, eu... olhe, não sei nada. Não sou nenhuma ameaça para você. E eu sou quão única o viu. Não o hei dito a ninguém. Eles não sabem nada —disse, tremendo. Teve que apoiar-se na parede.
—Isso está melhor. Procura que tudo siga assim. Estarei te vigiando, Maxine. E tenha por seguro que sei como fazê-lo. vou escutar tudo o que diga e a ver tudo o que você veja. Não me ponha a prova.
—Não o farei.
Ele pendurou.
Ela tragou saliva e pendurou também. Esteve a ponto de cair ao chão. sentia-se exposta e vulnerável. Estaria vigiando-a? Estaria vendo-a naquele momento? Teria posto câmaras e microfones em sua própria casa? Se aquele tipo era da RECUA, seguro que sabia como fazê-lo. disse-se a si mesmo que tinha que tranqüilizar-se e pensar. Estava claro que, se tinha tido tempo e forças para vigiar ao Stormy, ao Jason e a sua mãe, depois de haver-se queimado a cara e a cabeça no incêndio, poderia vigiá-la a ela com toda facilidade. Entretanto, não era provável que tivesse conseguido plantar as câmaras em sua casa ainda.
Bem.
Tirou a gravação da secretária eletrônica e foi para sua habitação. Ali guardou o conteúdo do CD-rOM em seu disco rígido e colocou o CD, junto com a placa de identificação daquele tipo e a cinta da secretária eletrônica em sua mochila. Não resultaria nada estranho que fora à universidade em um dia como aquele. Ao fim e ao cabo, tinha classe.
Não podia seguir com aquele assunto e pôr em perigo a vida de sua mãe e a de seus amigos. Não tinha nenhuma dúvida de que aquele homem cumpriria suas ameaças. Deus sabia que o governo tinha cometido atrocidades pelo estilo e nunca se soube. Sobre tudo, se o conteúdo daquele CD-rOM era verdadeiro.
Mas não esqueceria. E se asseguraria de fazer suficientes copia daquela prova e as esconder em diferentes lugares. Porque, algum dia, seria adulta e estaria em posição de atirar da manta. Algum dia, quando estivesse estabelecida, com a carreira de direito terminada e um doutorado em seu curriculum, e com influências, pediria respostas.
Mas não podia fazê-lo ainda. Naquele momento, só era Mad Maxie Stuart, a estudante de universidade de vinte anos com uma grande imaginação.
«E um corno, imaginação», pensou. Se alguma vez tinha necessitado a prova de que o governo estava fazendo algo sujo em sua própria cidade, já a tinha. E se aquele desgraçado do telefone pensava que suas ameaças foram fazer que perdesse interesse, estava confundido. Suas ameaças eram como uma validação do que tinha lido e visto. Não estava louca. Tinha razão.
Sempre tinha tido razão.
E saberia ser paciente.
Cinco anos depois:
Dêem despertou para ouvir os sons das chamas e perceber o aroma da fumaça. Pensou que era um pesadelo, mas ao sentir o calor e o picor nos olhos, soube que o fogo era real.
incorporou-se rapidamente na cama e se deu conta, sonolento, de que ainda não era de noite. Ainda se sentia fraco pela frouxidão do sonho do dia, e notava os membros pesados. levantou-se, completamente nu, e sentiu na planta dos pés a suavidade do luxuoso tapete. encaminhou-se para a porta da habitação, mas não chegou até ela. As chamas rangiam ao outro lado, e a superfície da madeira estava começando a suar.
A lhe Dêem lhe ardia o nariz da fumaça e tinha a cabeça cheia de perguntas. Aquilo não era uma coincidência. voltou-se para a janela e abriu as cortinas, mas teve que apartar-se porque os raios do sol lhe chamuscaram a pele nua.
Se saía à rua, assaria-se. Se ficava na casa, também.
A porta rugiu e se inchou até que estalou e as chamas entraram na habitação. A fumaça entrou como um enorme fantasma negro, e ele notou que a carne lhe queimava. Grunhindo, atirou de uma das pesadas cortinas e se envolveu nela. Depois se atirou pela janela.
O impacto contra ele estou acostumado a fez que os ossos lhe rangessem. Rodou, levantou-se como pôde e pôs-se a correr envolto no sudário, às cegas, enquanto notava que os raios do sol lhe queimavam a pele através do veludo. deu-se um golpe tremendo contra algo que certamente seria um carro, e depois ouviu um buzinada e uns insultos. Continuou movendo-se. Tinha que chegar ao mar. Estavam começando a formar-se o ampolas na pele.
Seguiu correndo pelo pavimento, e de repente ouviu um som e algo lhe cravou no braço. ficou imóvel ao sentir a incomensurável dor, tomando ar baixo a cortina. apalpou-se o ombro e notou um dardo, como uma espiga, e a sangue quente e espessa emanando da ferida.
—Dava-lhe! —gritou alguém.
Era a voz de um homem. «De um homem morto», pensou lhe Dê, com ferocidade. obrigou-se a seguir movendo-se, e aos poucos passos notou a água nos pie. A fria sensação era todo um alívio em sua pele ardendo. Deus, estava-se cozendo. uns quantos metros mais à frente, inundou-se. O frescor lhe acalmou a pele, mas não a dor do braço. deu-se conta de que a água a sua redor estava de cor rosa; olhou-se a ferida, e viu que estava perdendo muita sangue.
Aquele maníaco lhe tinha disparado com uma mola de suspensão. te dêem levantou o braço e viu a seta se sobressaindo por um lado. Fantástico.
Agarrou a flecha com uma mão e a tirou de um puxão, apertando os dentes com força. Deus, os mortais nunca conheceriam a dor da mesma forma que os vampiros. Nunca.
Soltou a flecha no oceano. Tinha que tapá-la ferida de alguma forma, antes de sangrar-se. Aquela ferida só lhe fecharia durante o sonho do dia, se sobrevivia até então. Tomou areia e a colocou por ambos os orifícios, e depois fez uma espécie de vendagem com umas algas.
sentia-se fraco da dor, e os pulmões lhe pediam ar. Sabia que não morreria por não respirar, mas era quase impossível obrigar-se a si mesmo a não inalar.
Quando olhou para cima de novo, o céu estava escuro. Lenta, muito lentamente, começou a subir para a superfície, e quando emergiu, tomou ar profundamente. Sentiu que lhe esclarecia cabeça. apartou-se o cabelo da cara e seguiu a borda com o olhar.
—Terá que sair, mais tarde ou mais cedo.
te dêem viu o homem que tinha falado. Estava movendo uma lanterna para iluminar a água, mas muito afastado do lugar onde ele se encontrava.
—Se sair agora, matará aos dois —disse o outro homem.
—Mas...
—fracassamos. Tem que aprender a admitir a derrota e partir, Raymond. Do contrário, não sobreviverá para tentá-lo de novo. Depois do anoitecer, eles têm o controle. Não o entende? A noite é nossa inimizade.
Olhando através da escuridão, Te dêem viu o segundo homem que estava na borda. Tinha o lado esquerdo da cara enrugado e cheio de manchas, e a pele lhe atirava do olho, confiriéndole uma expressão grotesca. Mais acima tinha uma mancha rosa, e o cabelo não lhe crescia.
—Apaga a luz —lhe disse o homem das cicatrizes a seu companheiro.
O outro obedeceu.
—Como é possível que resistência tanto tempo baixo a água? Não acreditava que pudessem respirar como se fossem peixes, ou algo assim.
—Não podem. Mas demorariam muito em morrer por falta de oxigênio.
te dêem começou a nadar silenciosamente, ansioso por lhes cravar as presas na garganta e deixá-los secos. Ele tinha perdido uma boa quantidade, e poderia recuperá-la a seus gastos. Aqueles dois estavam verdadeiramente granjeando-se toda sua ira. Entretanto, antes de que pudesse alcançá-los, correram para o carro e partiram. Então, Te dêem nadou rapidamente para a borda, sem preocupar-se de não fazer ruído. Saiu da água, completamente nu e frio como uma pedra, e olhou para trás, para a tocha que ardia em metade da noite. Aquele tinha sido um de seus lares favoritos.
—vou ter que matar a esses dois, sejam quem seja.
—lhe dêem?
Ele reconheceu aquela voz, e esperou ali, jorrando água, até que Sarafina saiu de entre as sombras. Estava tão bela como sempre, com seus lenços de seda de cores e seus maravilhosos cachos negros. aproximou-se, tomou pelos ombros e o beijou nas bochechas e nos lábios. Ele sentiu seu calor e notou em seu fôlego que acabava de alimentar-se.
—Está bem? —perguntou-lhe, quando finalmente o soltou.
—Tenho um buraco no ombro, mas se curará. Esses desgraçados me queimaram a casa.
—Viu-os?
— Sim. partiram-se. Se não, já estariam mortos.
—Havia um que tinha a cara queimada?
Olhando-a com toda sua atenção, Te dêem assentiu.
—Conhecia-os?
—Ao da cara queimada sim. Seguiu-me uma noite em Paris. Tivesse-lhe destroçado a garganta, se não se deu conta de que o tinha descoberto e tivesse fugido como um coelho.
te dêem suspirou.
—Esse homem é a peste.
—Esse homem está pedindo a gritos que o matem.
te dêem olhou ao céu e sorriu, a pesar da dor que estava sentindo.
—Você crie que terá que matar a todos os mortais.
—Trinta dos nossos morreram assassinados enquanto dormiam, Lhe dêem. E houve outros incêndios como este, que estiveram a ponto de acabar com a vida de outros tantos. Alguém conhece nossos segredos.
Ele se estremeceu.
—Vamos a algum site onde possa me secar —disse a Sarafina—. Falaremos ali.
— Sim. vais atrair a uma multidão, se seguir aqui nu.
Ela tomou pelo braço e o conduziu para uma limusine negra que estava estacionada em uma curva da estrada. Os dois entraram em assento de atrás, e lhe Dêem quase sorriu ante a extravagância.
O condutor não disse nada nem pareceu sentir saudades ao ver que sua chefa tinha pescado a um homem nu no oceano. Nem sequer a olhou diretamente aos olhos quando ela se dirigiu a ele. Estava muito bem instruído, pensou lhe Dê. Possivelmente muito bem. Sarafina apertou o botão para abrir um pouco o cristal que os separava dele e lhe disse:
—nos leve a casa, querido. E ponha a calefação aqui detrás.
O chofer se limitou a assentir brandamente enquanto o cristal voltava a fechar-se. Depois, o carro ficou em marcha.
Sarafina começou a-lhe secar a lhe Dêem os ombros, o peito e o cabelo com um xale negro.
—Acredito que é essa horrível DIP —disse—. Têm que estar detrás disto.
lhe dêem a olhou significativamente, e depois assinalou com a cabeça ao homem que conduzia.
—Não seja tolo, querido. Não pode nos ouvir com o cristal fechado, e inclusive embora pudesse, não repetiria nenhuma palavra.
te dêem olhou ao chofer de novo. Estava muito magro e muito pálido, e tinha o olhar vazio. Não podia lhe ver a garganta, mas o fato de que levasse um pulôver de pescoço alto baixo a jaqueta azul marinho falava por si só. te dêem voltou a olhar a Sarafina.
—supõe-se que não deveria usá-los como escravos, Fina. É de má educação.
Ela se encolheu de ombros.
—Ao menos não os Mato no ato, a menos que me desagradem. Deixa de trocar de tema. O que fazemos com esta organização?
Ele sacudiu a cabeça lentamente, pensando em se terminaria com a tristeza daquele pobre mortal quando terminasse o trajeto. Mas, do que serviria? Sarafina encontraria outro ao que poder dirigir a seu desejo. Quanto mais freqüentemente bebia um vampiro de um mortal sem matá-lo, mais viciado se voltava o humano, até que não era mais que um verme servil, como o chofer, que só desejava sentir as presas de sua senhora no jugular.
—O complexo da DIP foi destruído faz cinco anos, e o governo deixou de financiar a organizava. Já não existe.
—Então, quem se dedica a caçar vampiros?
Ele se encolheu de ombros e desviou o olhar.
—E ainda seria mais interessante saber quem lhes está proporcionando a informação sobre nós. Sabem onde descansamos, onde caçamos e onde vivemos. Nem sequer a DIP, com todas suas investigações, tinha tanta informação sobre nossas vidas —deixou o xale úmido no assento, entre eles, e continuou—: Essa é a pessoa a que temos que encontrar, Lhe dêem. Seja quem é, temos que matá-la... lentamente, acredito. Eu gostaria de ver como se murcha um pouco, primeiro.
Apertou o botão do cristal e o abriu.
—Sua boneca, querido. Sua senhora tem fome.
Sonriendo fracamente, o condutor lhe cedeu seu braço e ela levantou a manga da jaqueta e do pulôver. Depois afundou as presas na boneca e esteve alimentando-se dele durante comprido momento. te dêem olhou para outro lado, mas não pôde negar que tinha começado a sentir fome.
Ela levantou a cabeça e se lambeu os lábios manchados.
—Não quer um pouco, Lhe dêem? Está delicioso.
—É cruel, Sarafina. Mata-o e termina com isto.
Ela arqueou as sobrancelhas, como se aquelas palavras a tivessem feito mal, e lhe disse ao homem:
—Já chegamos, meu amor. Detén o carro.
Ele assentiu e freou. Depois saiu do veículo e abriu a porta da Sarafina.
Estavam em uma auto-estrada. O tráfico passava a toda velocidade a seu lado. Sarafina não se levantou. Sem olhá-lo, disse-lhe:
—Quero que faça algo por mim, amor.
—Algo —sussurrou o homem.
—Quero que te dê a volta e caminhe para o centro da estrada.
O condutor a olhou, mas não aos olhos, a não ser um pouco mais abaixo.
—Sarafina... —começou a dizer lhe Dê.
—Faz-o agora —disse ela.
te dêem fechou os olhos e soltou um juramento entre dentes. O condutor se voltou e saiu ao tráfico. Quando o atropelaram, o corpo saiu despedido uns metros mais à frente. Entretanto, para então, Sarafina já tinha posto o carro em marcha e se estava afastando. Nem sequer olhou para trás.
—Simplesmente, não entendo por que não volta para Os Anjos, Morgan. Tem tudo o que queria. Poderia voltar triunfante, exatamente como sempre tinha querido.
—Eu gosto de estar aqui —respondeu ela—. Vamos, David, tem que admitir que tenho feito maravilha deste lugar em cinco anos.
—Estou começando a me arrepender de haver lhe vendido —murmurou isso ele entre dentes. sentou-se em uma poltrona antiga e passeou o olhar por aquele enorme salão. Ela sabia que estava admirando o que via. Morgan fazia que lhe restaurassem as molduras dos tetos, e quatro querubins os observavam desde cada esquina superior.
Ela se sentou em frente do David e lhe tendeu um copo de água com gás. Seu próprio copo parecia idêntico, mas junto à água também tinha servido vodca. Necessitava forças. Queria muito ao David, mas, demônios, preferiria que partisse.
Já não lhe importava nada mais que voltar para os livros de lhe Dêem. Deus, reveste-a idéia de passar uma hora sem deleitar-se em suas fantasias era insuportável. Nunca havia tornado a afastar-se da casa. Não queria. E quando dormia... OH, Deus, quando dormia era muito melhor. Porque ele era muito mais real em seus sonhos.
— Eu acreditava que tudo estava decidido —continuou David—. foste esconder te aqui durante um tempo, a lamber suas feridas, escrever seu grande êxito e depois de fazer fortuna, foste voltar a reclamar tudo o que tinha perdido. Se tivesse sabido tudo isto, não te teria deixado vir, em primeiro lugar. Morgan apartou o olhar.
—David, não poderia escrever em outro lugar. Não da mesma maneira. Aqui encontrei mi... inspiração. Não poderia trabalhar em outro lugar, David. —Isso são tolices.
Não. Não o eram. te dêem estava ali. Ela o sentia ali. Suas memórias lhe haviam devolvido a vida, mas também lhe tinham roubado a mente e a alma de alguma forma escura que ela não entendia. te dêem era real para ela. Era muito mais que um lunático que tinha morrido fazia muito tempo e que tinha escrito todas suas fantasias de louco. Era real. Vivia... dentro dela, de algum jeito. Naquela casa.
Mas não podia lhe explicar nada daquilo ao David. Em vez disso, ficou olhando a grande arranha que tinha comprado e tinha feito pendurar no salão. perguntou-se se seria parecida com a que havia ali quando te Dêem estava vivo.
Não tinha sido fácil restaurar a casa. E não tinha sido barato. Mas graças ao êxito de bilheteria de seus dois-primeiros filmes, tinha podido permitir-se fazer exatamente o que queria. Tinha contratado a peritos no período para que a assessorassem e para que tudo resultasse o mais exato possível. Embora muito mais luxuoso.
Seu terceiro filme tinha saído fazia dois meses, e já tinha convertido ao Morgan em uma mulher tão rica que estava muito além de todas suas expectativas. E ao David, também. E só ficava esperar a ver o que outros sonhos seriam capazes de cumprir. Morgan olhou seu relógio. —Não é já a hora?
—Quase. Vamos —David se levantou e lhe tendeu a mão para ajudá-la—. Deus, Morgan, tem que engordar algo. Não é atriz, sabe?
Ela sorriu, tentando dissimular a debilidade que sentia, e o ligeiro enjôo que sofria sempre que se levantava de uma cadeira muito depressa.
—Nunca se está muito magra nem se é muito rica —replicou—. Além disso, se tudo for bem, tenho que estar em forma para poder me pôr um vestido de algum desenhista, em poucas semanas.
Claro. Como se fora a sair de sua casa, nem sequer para aquilo.
Entraram em seu escritório. A chaminé tinha sido substituída por uma de gás, e o primeiro que fez Morgan foi acendê-la. O estou acostumado a era de tablones de madeira de castanho, e estava talher de tapetes orientais. O escritório também tinha sido restaurado, e o ordenador era de última tecnologia.
As paredes estavam cobertas de retratos de lhe Dêem que ela mesma tinha feito a lápis-carvão. Não tinha posto fotografias dos filmes; o ator que fazia o papel de te Dêem tinha feito um grande trabalho, mas não era ele. Ela conhecia lhe Dêem.
—Isto é horripilante —disse David, estremecendo-se enquanto caminhavam através da enorme estadia e se sentava frente à televisão—. É que alguma vez te cansa dele?
Morgan se deteve ante um dos desenhos e ficou olhando-o.
—Conheço todos os rasgos de sua cara —sussurrou. Depois para romper o silêncio que seguiu a suas palavras, sorriu forçadamente e disse—: É obvio, isso é impossível. É o que minha mente criou que material que havia nas estúpido... em meus guias. Mas parece real. Vejo-o em meus sonhos, tão claramente como se fora real. Inclusive conheço o som de sua voz.
—Escritores —balbuciou ele. Apertou um botão e se abriram as portas da réplica de um armário antigo, onde havia uma grande tela de televisão. Acendeu-a e procurou o canal—. Eu me fartaria dele. Real ou não.
—Eu poderia me inundar nele e não me cansar absolutamente. Algumas vezes, acredito que é isso o que estou fazendo: me afogar nele.
David não respondeu, e ao olhá-lo, ela se deu conta de que a estava observando com estranheza. Morgan deixou escapar uma suave gargalhada para acalmar sua preocupação.
—Já sabe que os criativos são excêntricos. Não franza o cenho dessa maneira. Lhe vão sair rugas.
Ele desviou o olhar com um suspiro, e seus olhos ficaram cravados na tela da televisão. Tomou o mando a distância e subiu o volume.
— Aqui está!
O famoso casal que falava do estrado estava lendo uma lista. Morgan pensou que aquilo seria larguísimo Tomou um gole de sua bebida e esperou a que chegassem à parte que lhe interessava.
—Na categoria de melhor guia original, nomeado-los são...
Pareceu-lhe que um zumbido lhe enchia a cabeça e os ouvidos. Já não ouvia nada do que estavam dizendo, mas de repente viu seu nome na tela, com os outros cinco.
—Morgan Da Silva, pelo Twilight Hunger.
David ficou em pé de um salto, renda-se, e a abraçou. Morgan se rendeu à escuridão que invadiu sua mente, e se deprimiu em seus braços. Quando abriu os olhos de novo, estava tombada no sofá. David estava a seu lado, lhe dando golpecitos na mão.
— Shh. Tranqüila.. Suponho que isto significa para ti mais do que eu tinha imaginado.
—Não é isso... —começou a dizer Morgan.
Deus... Tinham-na eleito como candidata para receber o prêmio mais importante de toda a indústria cinematográfica por um trabalho que não era dele. Nunca teria acreditado que aquilo iria tão longe. E entretanto, era certo. As histórias eram muito boas como para que outros não o reconhecessem. Havia algo... transcendente nelas. Algo que comovia ao público.
—Encontra-te melhor?
Ela assentiu, mas não fez gesto de incorporar-se. Aquilo era muito estranho. supunha-se que devia sentir-se... exultante naquele momento. Então, por que se sentia tão vazia?
—Agora sim que vais ter que vir comigo aos Anjos —disse David, passando uma mão pelo cabelo loiro dourado, que começava a canear nas têmporas—. Haverá entrevistas, festas... tem que te deixar ver.
Ela sacudiu a cabeça, tentando controlar o pânico.
—Não posso partir agora.
—Mas...
—O novo guia está em um momento muito delicado, David. Não posso deixar de trabalhar e perdê-lo. E não posso trabalhar em nenhum outro site, assim tenho que ficar aqui.
Ele fechou os olhos lentamente, tentando assimilar o significado daquelas palavras.
—Terminarei para quando se celebrar a cerimônia de verdade. Irei então. Prometo-lhe isso.
Ele abriu os olhos.
—Mas... necessita um vestido, e te arrumar o cabelo, Y... carinho, a gente se passa meses preparando-se para essa noite única. Deus, se isto lhe tivesse ocorrido à garota que eu conhecia faz cinco anos, teria querido ir a Paris a comprar um traje. E provavelmente, teria se comprado três antes de tomar a decisão definitiva.
Ela se incorporou muito lentamente e o olhou aos olhos.
—Já não sou essa garota.
—Não —disse ele—. Não o é. trocaste, Morgan. E não para melhor. Converteste-te em uma ermitã.
Ela tentou controlar sua ira. David tinha razão. Se ela dissesse o que queria em realidade, pediria-lhe que partisse a casa, para poder voltar para sua reclusão. Arrastar-se entre a escuridão aveludada do mundo de lhe Dêem, para poder trocar suas memórias em linhas e frases que pudessem converter-se em realidade na tela. Era quase como se estivesse tentando ressuscitá-lo.
Mas não era suficiente. Nunca era suficiente.
—Zangaste-te comigo —lhe disse David.
—Não, não. Só estou... afligida —lhe respondeu, sonriendo—. Bom, vais levar me a comer por aí para celebrá-lo, ou não?
Ele arqueou as sobrancelhas e deixou escapar um suspiro.
—É obvio que sim. Quanto demorará para te arrumar?
Ela tentou aparentar que estava feliz, que estava ansiosa por celebrar seu êxito. Entretanto, a verdade era que não podia esperar a estar a sós com aquele homem que não existia, mas que a obcecava de noite e de dia. te dêem estava em posse de sua mente, de seu coração, de sua alma.
lhe dêem, o homem que tinha escrito suas memórias em primeira pessoa, e que certamente, teria acreditado até a última palavra do que escrevia.
O tinha acreditado que era um vampiro.
E ela quase desejava que tivesse sido certo.
te dêem estava fora, na escuridão da noite.
Chovia, e o vento lhe enredava o cabelo úmido. As ondas rompiam com força nas rochas, justo debaixo da casa. Sua casa. Ou ao menos, a que tinha sido sua casa uma vez. Agora havia alguém dentro. Ele sentia e saboreava sua presença da mesma maneira que percebia a chuva. Era uma mulher.
Quando tinha decidido voltar não estava seguro de no que estado a encontraria. A última vez que a tinha visto, estava quase em ruínas. Entretanto, agora estava completamente restaurada, grafite... Alguém se tinha tomado grandes moléstias em reabilitá-la. Aquele lugar parecia quase novo.
Havia dois carros frente à porta, no caminho de cascalho. Os duas eram de uma marca estrangeira, e caros. Naquele momento, o dinheiro vivia naquela casa. Uma mulher rica e jovem. Ele cheirou aquilo no vento, também.
Havia um homem. Maior, robusto, forte, ao contrário que a mulher, que levava a debilidade nela. lhe dêem não cheirou sexo no ar, assim supôs que a relação era platônica.
Tinha que admitir que sentia curiosidade. Estava ansioso por ver o que tinham feito dentro da casa. Além disso, não podia partir. Desde que tinha tido seu último encontro com o homem queimado, tinha encontrado todas suas guaridas vigiadas. Aquele homem conhecia seus segredos, inexplicavelmente. Assim te Dêem tinha tido que voltar ali, depois de um século, para encontrar segurança e paz, até que pudesse pensar o que faria.
Era evidente que tinha estado afastado daquela casa durante muito tempo. Entretanto, não tinha importância.
Rodeou a casa e encontrou o salgueiro na parte de atrás, enorme, grandioso. Deus, como passava o tempo. Ele mesmo tinha plantado aquela árvore fazia mais de cem anos.
Com facilidade subiu pelo tronco e pelos ramos e baixou ao balcão da habitação principal. Naqueles ventanales havia cortinas blanquísimas, finas, o suficientemente finas para poder ver através delas o que ocorria no dormitório.
A mulher estava dormida em sua cama com dossel. Tinha o cabelo da cor da canela, exuberante e comprido, estendido pelo travesseiro. Sua pele era branca, pálida, e o pescoço comprido e esbelto. lhe dêem se lambeu as presas e sentiu que despertava o desejo. Não tinha costume de provar sangue de inocentes. Ele matava, sim. Poderia viver de sangue-frio, guardada em bolsas de plástico, como faziam alguns. Mas não chamava a aquilo viver. Assim matava, mas só a aqueles indivíduos que realmente o mereciam. Em outras ocasiões, pagava para que seus desejos fossem satisfeitos. Havia mulheres discretas, especializadas em casos como aqueles. Se lhes pagava o suficiente, eram perfeitas.
Entretanto, aquela mulher não era assim... Mas se sentiu miserável para ela. Desejava-a.
Estava tão perto das janelas que seu fôlego, embora frio, formava bafo no cristal. Limpou-o e seguiu olhando-a, desejando que se tirasse o lençol para poder vê-la por completo. Queria saber com segurança se seu corpo estava talher por algo mais.
Quase antes de que aquele pensamento se completasse, a mulher levantou a mão até a parte superior do lençol e a baixou. Estava completamente nua, tal e como ele tinha suposto. E, por um momento, tudo o que pôde fazer foi beber-se sua beleza. Tinha os peitos pequenos, e os mamilos de cor rosa. Estava muito magra, tanto que lhe notavam as costelas baixo a pele. O pêlo de entre suas pernas era da mesma cor loira avermelhada que o de sua cabeça.
Passeou o olhar por seu corpo e seus olhos se fixaram em seus peitos. Pensou em como seria saboreá-los, e imediatamente, os mamilos da mulher se endureceram. Dêem ficou assombrado e franziu o cenho. Era possível que ela percebesse seus pensamentos, de alguma forma? Sabia que podia exercer controle mental sobre um mortal de vontade débil, mas ao menos deveria estar tentando-o. ..
Observou sua cara, e se perguntou o que ocorreria se pensava em que suas pernas brancas se separavam para ele... Ela as separou. lhe dêem se estremeceu de desejo e de fome, e também de medo. De repente, entendeu as sensações que estava experimentando.
Aquela mulher era um deles. Era um dos escolhidos.
lhe dêem se separou do ventanal e voltou a baixar pelo salgueiro até o chão. Durante uns momentos ficou ali, olhando a seu redor e depois por volta do mar, como se ali pudesse encontrar respostas. Se tivesse tido algum outro lugar no mundo para ir-se, partiu-se alegremente. Mas o sol sairia logo, e aquele lugar era o único refúgio que tinha. Poderia criar outros, mas isso lhe levaria tempo. Não. No momento, não podia fazer outra coisa que ficar ali.
Entretanto, evitaria por todos os meios encontrar-se com a mulher. Nunca tinha experiente aquele tipo de conexão mental com um mortal. Nunca. Nem sequer o tinha experiente com os de sua própria espécie. Que demônios significava aquilo?
Caminhou para o escarpado e olhou para baixo, uns metros mais abaixo. Havia um saliente na rocha, camuflado por matagais que ele mesmo tinha plantado fazia muito tempo. Esperava que o passadiço não se derrubou. E esperava que a estadia escondida baixo a velha casa não se converteu em pó depois de tanto tempo.
Estava sonhando com lhe Dêem de novo.
Ele estava de pé ao lado da cama, olhando-a. Não disse nada, nem a tocou.
Ela ficou olhando-o e tentou falar, mas se deu conta de que não podia, assim seguiu olhando-o. Era estranho que conhecesse tão bem seu rosto, pensou. Era anguloso e cruel. Tinha uma mandíbula aguda e o nariz aquilino, e o olhar tão profundo que parecia que provinha diretamente desde sua alma.
O queria vê-la e ela queria agradá-lo. Levantou uma mão e apartou o lençol e a manta sem nenhum pudor, e ficou ali, completamente nua, enquanto seus olhos escuros e intensos lhe queimavam a pele.
«me acaricie», pensou. «Pelo amor de Deus, me acaricie».
Então piscou, e ele já se partiu. Morgan despertou e se incorporou de repente. As mantas estavam no chão, e sentia o corpo vivo. Mas estava sozinha.
Deus, aqueles sonhos estavam tomando vida própria. Possivelmente tivesse que pensar em submeter-se a algum tipo de terapia. Aquela vez, o sonho tinha sido completamente real.
levantou-se e ficou a camisola, um objeto de cetim cor marfim, e caminhou para o balcão. Abriu as portas e saiu, inalando profundamente a brisa que provinha do mar. Era deliciosa.
Então ficou petrificada.
Havia um homem ao lado do escarpado, sacudido pelo vento igual a ela, olhando por volta do mar. Ela não podia lhe ver a cara, mas tinha a sensação de que havia algo familiar nele. A queda de seu cabelo. Sua postura. Algo.
Sentiu como se um punho lhe fechasse ao redor do estômago quando as nuvens se abriram e a luz da lua lhe iluminou o rosto.
«lhe dêem...».
E, como se ele o tivesse ouvido, voltou-se para ela e a olhou.
—Não pode ser —Morgan fechou os olhos e respirou fundo enquanto notava como seu coração lhe golpeava alocadamente o peito—. Não pode ser.
Abriu os olhos de novo.
Os escarpados, o mar, o céu e nada mais. Não havia ninguém mais ali.
Maxine estava em seu escritório, frente ao ordenador, quando a porta se abriu e entrou Stormy. Levava uma bolsa marrom na mão.
— Hora do descanso! —disse—. trouxe calorias e hidratos de carbono.
Max suspirou e se levantou. Aquela era sua antiga habitação, que tinha sido transformada em despacho. Havia estanterías cheias de pastas e de arquivos, e mesas cheias de ordenadores. Muitos ordenadores.
Stormy abriu a bolsa, repleta de donuts com todo tipo de cheio, e Maxine foi à cozinha a servir duas taças de café recém feito.
— Alguma vez te perguntaste quão inútil devo ser para continuar na mesma cidade, na mesma casa, no mesmo caminho, depois de tanto tempo?
-Não.
Max sorriu para ouvir o som da palavra, porque lhe chegou amortecido pelo donut. sentou-se junto a seu amiga, alargou-lhe sua taça de café e tomou um dos pão-doces.
— Importaria-te me dar uma resposta um pouco mais elaborada, por favor?
Stormy tragou e se lambeu os lábios.
— Quem não estaria nesta casa? Demônios, Max, sua mãe lhe cedeu isso. Teria estado louca se não a tivesse aceito. E pelo resto, agora dirige dois negócios, e devo acrescentar que os dois dão benefícios.
—Não muitos —balbuciou Maxine. Suspirou e molhou seu donut no café. Deu-lhe um bocado e quando tragou, soltou a seu amiga um dos duas explosões.
—O desenho de páginas Web me está começando a resultar muito aborrecido, Stormy. Para ser sincera, estou pensando em deixá-lo.
Stormy piscou.
— Deixá-lo? —Stormy deixou a taça sobre a mesa e ficou de pé—. por que? Com isso é com o que vontades a maior parte de seus ganhos.
—Sim, mas nunca foi o trabalho de minha vida. Refiro-me a que eu gosto, e sou boa nisso, mas não é o trabalho de meus sonhos. Nunca o foi.
—Mas eu acreditava que seu outro trabalho satisfazia a quão bisbilhoteira leva dentro, Max. Não o conseguiu?
—Não. Quão único conseguiu foi acrescentar minha curiosidade.
Max se tinha entrado no mundo das investigações sobre crímenes em Internet quase por acaso. Um de seus clientes de páginas Web lhe tinha pedido conselho sobre a melhor forma de enfrentar-se com um tipo que o tinha acossado por Internet um ano atrás. Após, tinha ajudado a descobrir a outra meia dúzia deles, supostamente anônimos e impossíveis de localizar devido a seus aliás na Rede. Inclusive tinha colaborado com a polícia no desmantelamento de várias redes de estelionatários, que publicavam em Internet todo tipo de patranhas sobre fenômenos paranormais e caça de fantasmas, e depois se dedicavam a assustar e a enganar a gente que pensava que necessitava ajuda para defender-se de ameaças sobrenaturais e contratava seus serviços. Todo aquilo lhe tinha dado ao Max a oportunidade de estar em contato com sua polícia favorito de vez em quando.
— O que te pareceria que te dissesse que estou pensando em começar outro negócio?
Stormy a olhou cautelosamente.
— O terceiro?
—vou deixar de fazer páginas Web, assim, em realidade, só seria um segundo negócio. E, de fato, seria me dedicar mais a fundo a outro que já tinha começado.
— O que pensaste?
Max se limpou o açúcar dos dedos nos jeans e foi para seu escritório. Abriu uma gaveta, tirou uma folha de papel e a tendeu ao Stormy.
—Olhe isto e me diga o que te parece.
Storm tomou e o leu em alto.
—Maxine Stuart, Investigadora Privada com Licença... Desde quando?
—Chegou-me hoje. Enviei a solicitude faz meses.
—Maxie...
—Olhe, sei. Parece uma loucura, mas se o pensa, estivemo-lo fazendo até agora. Só que no ciberespacio, em vez de fazê-lo na vida real.
—Mas no ciberespacio não lhe disparam —disse Storm, pondo os olhos em branco e olhando ao teto—. Quem mais sabe?
Max se encolheu de ombros.
—Maxine Stuart, quem mais sabe?
Max baixou os olhos.
—Bom... Lou sabe.
—Lou. Lou Malone. Me imaginava. Provavelmente, inclusive te animou, verdade?
—Bom, ele... ajudou-me com o processo de solicitude. Foi uma de minhas referências.
—Já.
—Olhe, sou boa nisto. E Lou já tem uns quantos casos que me encarregar.
—Demônios. Não sei por que não te lança sobre ele e termina com tudo isto, Max.
—É minha intenção, mas tenho que esperar ao ter encurralado —Stormy abriu uns olhos como pratos e Maxine sorriu encantada—. Mas uma coisa não tem nada que ver com a outra. Se estivesse fazendo isto só para me aproximar do Lou, me teria feito polícia. Teria sido muito mais fácil.
—Sim, claro. Não se supõe que esse vejestorio vai se aposentar dentro de muito pouco tempo?
Alguém pigarreou detrás delas, e as duas se deram a volta e viram o vejestorio na porta. Max não soube quanto tempo tinha estado ali, e se tinha ouvido a conversação.
— Estou interrompendo algo?
—Né... não. Entra, Lou —disse Max—. É que cheiraste os donuts?
Ele não sorriu nem lhe devolveu a brincadeira como fazia normalmente.
—É... algo um pouco delicado.
Maxine caminhou até ele com o cenho franzido. Ele não a esperou, mas sim se deu a volta e se dirigiu ao alpendre da casa. Quando ela esteve a seu lado, Lou fechou a porta atrás deles, e lhe disse:
—Convido a um café. Podemos falar ali. Parece-te bem?
—Parece muito grave.
—Sim. Necessito sua ajuda em um assunto. É algo que te interessará, Max, ou nunca lhe teria pedido isso.
— por que não?
— por que não o que?
— por que alguma vez me teria pedido isso?
Ele tomou ar e depois suspirou.
—Porque é novata nisto, e tinha a intenção de te dar um pouco mais singelo para começar.
—Tem muita fé em mim, né, Lou?
—É uma cria.
—Tenho vinte e cinco anos.
—Como já hei dito...
—te cale, Lou —disse Maxine, enquanto abria a porta do carro e se sentava no assento do co-piloto.
Lou conduziu até uma cafeteria e pediu dois cafés para levar. Quando os tiveram, dirigiram-se ao estacionamento mais próximo e ele apagou o motor e se voltou para o Max.
—Olhe, Lou, se queria me levar a um estacionamento, possivelmente tivesse sido melhor que tivesse eleito um lugar mais discreto.
Ele se ruborizou.
—Sim, claro.
—Este é o site ao que vinha toda a gente do instituto. Sabia?
Ele evitou olhá-la aos olhos.
—Pois claro que sabia.
—Mmm. Assim estiveste aqui.
—Sim. lhes dando luzes aos crios que deveriam ter mais sentido comum e ir-se casa com seus pais. E agora, quer falar de algo sério ou quer jogar, Max?
Ela queria jogar com ele. Naquele mesmo momento. Mas era evidente que ele se irritava quando ela paquerava com ele, embora só fora um pouco.
—Está bem. Adiante —lhe disse. apoiou-se no respaldo de seu assento e lhe deu um sorvo ao café.
—De acordo. Tenho uma amiga. Uma boa amiga. chama-se Lydia Jordão. Dirige Haven House.
Max tentou controlar o ataque de ciúmes e assimilar aquela informação.
— A casa de acolhida para garotas?
Ele assentiu.
—Mas eu acreditava que a levavam um par de ex-prostitutas.
De novo, ele assentiu.
Ela arqueou as sobrancelhas e o olhou fixamente.
— Essa amiga tua é prostituta?
—Era-o.
— E como demônios é possível que você a conheça tão bem? —perguntou-lhe, sem lhe importar como sonora seu tom de voz. Ele sorriu.
—Demônios, Maxie, se não fora tão major para ser seu pai, diria que está ciumenta.
—Você não é tão major para ser meu pai — replicou ela. Tecnicamente, sim o era, mas Maxine não estava disposta a admiti-lo.
Ele suspirou e sacudiu a cabeça.
—Conheci a Lydia a primeira vez que a prendi por exercer a prostituição. Eu era um novato, e ela não teria mais de dezoito anos. Devo havê-la metido no calabouço uma dúzia de vezes durante vários anos, até que se saiu da profissão. Não conhecia a Kimbra tão bem como a ela, mas sei que elas dois se fizeram amigas nas ruas e se ajudaram a começar uma vida nova.
— Essa é a sócia? A outra metade do dueto dinâmico?
Ele assentiu.
—Conseguiram trabalhos legais, estudaram, e uma vez que estiveram juntas para cuidar a uma da outra, decidiram ajudar a outras garotas como elas. Acredito que as duas passaram uma temporada no Haven House antes de que começassem a dirigi-la. De todas formas, isso já não importa.
— É obvio que importa. até que ponto é amigo desta Lydia, Lou?
Lhe lançou um olhar que Max tinha visto muito poucas vezes. Um olhar de aborrecimento, que lhe indicava claramente que estava transpassando a linha e que tinha que dar marcha atrás.
Ela suspirou e olhou para outro lado.
—Kimbra Sykes está morta. Assassinaram-na. E Lydia chegou à conclusão, não sei de que maneira, de que há forças sobrenaturais envoltas.
Maxine não parecia muito impressionada.
— Tomou muitas drogas quando era jovem?
—Não acredito que isto tenha nada que ver. É muito supersticiosa.
Max teve vontades de lhe perguntar por que demônios pensava que a ela devia lhe importar quão supersticiosa fora uma ex-prostituta. Tinha começado a odiar a aquela mulher instantaneamente.
— E por que pensa que posso fazer algo para ajudá-la?
Lhe pôs uma mão sobre o ombro. —Max, fiz algo para que te zangue comigo?
—Não —respondeu ela, sem olhá-lo.
— Então, por que te ficaste enrugada como uma passa no assento? —perguntou-lhe, e ao ver que não respondia, deixou escapar um suspiro—. Só pensava que... bom, você sabe muitas coisas destas. Lembra-te daquela- mulher que pensava que sua casa estava encantada, e que contratou a aquele cazafantasmas por Internet?
— E resultou que o que estava encantando a casa era ele mesmo? Sim, lembro-me.
—Você soube o que passava em seguida, e foi capaz de convencer à mulher, porque sabia muito daquele assunto. Explicou-lhe que um fantasma de verdade alguma vez se comportaria como o que ela acreditava que tinha em casa, lembra-te? Tinha-a comendo de sua mão!
Ela se encolheu de ombros, animada por sua adulação.
—E também conhece este outro assunto. Você, com sua mente cética, sempre tem que chegar à verdade das coisas que não lhe parecem coerentes. Sempre aprende tudo o que pode sobre o tema e depois consegue resolver o caso.
Ela se encolheu de ombros.
—Não é que não cria nos fenômenos paranormais, mas sei que o noventa e cinco por cento dos fantasmas, gnomos, videntes e médiums são estelionatários. Acredito naquilo que sou capaz de ver com meus olhos, não no que me diz a gente. E, inclusive quando o vejo com meus próprios olhos, não me acredito muito do que diz o governo, ou outra figura da autoridade. Se isso significar que sou cética, é que o sou.
—Sim.
Ela se encolheu de ombros.
—Ainda não entendo o que é o que quer que faça... por seu amiga.
—Quero que a convença de que a seu melhor amiga não a assassinou um vampiro.
Maxine levantou a cabeça muito lentamente e o olhou aos olhos para descobrir um olhar zombador. Entretanto, não lhe estava tirando o sarro.
— Um vampiro?
— Sim. É a maluquice maior que ouviste alguma vez?
Ela assentiu fracamente, mas sua mente tinha voltado para aquele edifício que se acendeu cinco anos atrás, com os soldados, a luz do fogo. Demônios. Sempre tinha sabido que voltaria a topar-se com aquilo. Sabia coisas que não deveria saber. Coisas que ninguém deveria saber.
— Quando posso conhecer a tal Lydia?
—Então, está disposta a fazê-lo? —perguntou-lhe Lou.
Ela o olhou aos olhos e tragou saliva.
— Por ti? Claro, Lou. Sabe que não posso te dizer que não. Entretanto, eu gostaria que te aproximasse de me pedir algo mais divertido, alguma vez.
Ele riu com certa insegurança, deu-lhe um golpecito em um ombro e apartou o olhar. Depois arrancou o carro e a levou a casa.
Dêem despertou na escuridão de sua tumba e olhou a seu redor, observando-o tudo.
Realmente não era uma tumba. Não exatamente, embora só fariam falta um par de corpos corrompendo-se para que o fora. Era uma estadia de cimento sem janelas nem ventilação. Só havia nela uma lanterna de querosene sobre uma pequena mesa e um ataúde.
Embora lhe resultava ridículo dormir seguindo aquele clichê, tinha suas vantagens. A primeira era que desanimaria a qualquer que encontrasse o lugar a seguir investigando, a não ser que fora um cazavampiros. Em segundo lugar, os ataúdes estavam feitos para durar muito, e aquele se conservava à perfeição; o forro de seda e o cheio não se danificaram pela umidade, e resultavam confortáveis. E a terceira vantagem era que baixo o féretro havia um segundo túnel. Nunca tinha tido que utilizar a trampilla que se abria no fundo do ataúde, mas estava bem saber que podia fazê-lo quando o necessitasse.
Aquele lugar era seguro, mas só era uma última opção, nada mais. viu-se obrigado a retirar-se ali para pensar no que faria.
Tinha que averiguar quem eram aqueles caçadores de vampiros e saber de onde tiravam a informação. Tinha que detê-los.
Alisando-as rugas da roupa, observou a escada de caracol que conduzia ao teto. Ali havia uma trampilla que era invisível do piso de acima. Mas quando havia tentando abri-la aguilhoado pela curiosidade de ver a mulher que ocupava sua casa, tinha encontrado uma barreira de madeira. Parecia que haviam posto novos tablones de madeira sobre o velho chão de seu escritório. Ele poderia havê-lo destroçado sem apenas esforço, mas o último que queria era anunciar-se daquela maneira.
Já era bastante inconveniente que ela o tivesse visto aquela primeira noite, justo antes do amanhecer. Tinha-o cuidadoso diretamente e tinha sussurrado seu nome. Ele a tinha ouvido com claridade apesar da distância. Seus sentidos estavam agudizados por séculos de imortalidade e, pensou também, por alimentar-se de sangue. A sangue viva era ele poder para os de sua raça.
Ela havia dito seu nome, e ele o tinha ouvido. Aquela chamada tinha despertado um intenso desejo nele. Mas aquilo não tinha sentido; nem sequer conhecia aquela mulher. Embora, aparentemente, ela sim o conhecia ele.
perguntou-se como era possível. Não o entendia. Teria visto seu nome em algum papel que tinha encontrado na casa? Não. Quando ele vivia ali usava um nome falso.
E embora tivesse lido seu nome em algum lugar, aquilo não explicava por que tinha estabelecido a conexão entre ele e aquele homem ao que tinha visto ao longe, em um escarpado, em plena noite. Tinha-o reconhecido, embora fora inexplicável Ela era um dos escolhidos, aquele reduzido número de mortais que levavam o estranho antígeno Belladonna na sangue. Era o mesmo antígeno que levavam os vampiros. Eram os únicos mortais que podiam ser transformados com êxito, e atraíam aos vampiros como as moscas ao mel. Muitos deles sentiam que era uma honra proteger aos escolhidos. Para lhe Dêem, aquilo era uma estupidez. Deixar-se atrair pelos mortais e preocupar-se com eles só fazia que os vampiros se debilitassem. dizia-se que era virtualmente impossível que os vampiros lhes fizessem mal, a menos que estivessem loucos ou enlouquecidos de paixão. Da luxúria da sangue, possivelmente.
Ele sabia que tinha que averiguá-lo tudo sobre aquilo e sobre a mulher que havia em sua casa. A pesar do fato de que já sentia a legendária atração entre sua raça e a dela, teria que controlar-se. O que precisava era informação.
Provavelmente, ela não saberia nada do antígeno que a fazia diferente do resto dos mortais. Nem sequer ele sabia muito, exceto se estabelecia uma forte conexão, e que os vampiros podiam inclusive cheirá-lo.
Ele mesmo o estava percebendo naquele momento! Ouviu passos no chão que havia sobre sua cabeça e olhou para cima, escutando com atenção. Era ela. Sentiu-a. A mulher caminhou e se deteve justo onde devia estar a chaminé.
Incapaz de resistir, Lhe dêem ficou exatamente baixo ela e levantou os braços sobre a cabeça para pôr as Palmas da mão contra o teto. Fechou os olhos e abriu a mente.
Morgan se agachou um pouco para acender a chaminé de gás. As chamas saltaram à vida e ficou um momento as admirando. Então, de repente, sentiu que lhe encolhia o estômago e que lhe acelerava o coração. estremeceu-se.
Apoiou os braços na embocadura e tentou controlar a respiração.
— Que demônios foi isso? —sussurrou.
ficou imóvel e se deu a volta muito lentamente.
— Quem está aí?
Ninguém respondeu. A casa estava vazia, em silêncio. David se tinha partido aos Anjos umas horas antes, mas entretanto, Morgan notava que não estava sozinha.
disse-se que não eram mais que imaginações e se obrigou a si mesmo a sentar-se ante o escritório. Acendeu o ordenador e abriu o documento. Trabalhava muito melhor de noite que pelo dia. Não era de sentir saudades, dado o tema do guia.
A cena que escreveu a sentiu em cada célula de seu corpo. Tinha-a vivido ao lê-la nas memórias, e a reviveu ao transferi-la ao ordenador, exceto naquela ocasião a narrou do ponto de vista da mulher, a vítima de lhe Dêem.
A mulher tinha visto o estranho observá-la na escuridão da noite. Havia algo perigoso nele, mas entretanto, também exercia nela uma atração irresistível. Ele a arrastou, falou-a, tentou-a a deleitar-se em pensamentos impuros sem que ela pudesse remediá-lo.
Quando foi ver a, aquela noite, ela estava dormida em sua cama. Sua boca sobre ela foi o que despertou, embora não estivesse realmente acordada. Uma voz em sua mente lhe dizia que aquilo só era um sonho no que era incapaz de resistir a ele. Ela respondeu de bom grau, inclusive ansiosamente a suas carícias, a suas ordens. Aquilo não era real, e pela manhã só o recordaria como um sonho culpado, e nada mais.
Enquanto escrevia aquela cena, Morgan se transformou na mulher mentalmente. Sentiu cada carícia que descrevia, sua língua invadindo-a, a umidade fria de sua boca enquanto percorria sua mandíbula e seu pescoço e seguia descendendo. Ofegou quando ele fechou os lábios sobre seu peito, sem lhe tirar a camisola.
Por um momento, sentiu o impulso de apartar o dela, sentiu a vergonha e a culpabilidade... Entretanto, aquilo não era mais que um sonho.
O prazer a percorreu por feitas ondas quando ele a chupou e lhe cravou ligeiramente o mamilo com em presa. Seguiu na cama, paralisada em seu estado de sonho, enquanto lhe Dêem lhe tirava a camisola habilidosamente e lhe acariciava todo o corpo, brincando em lugares nos que nunca outro homem tinha jogado. Ele invadiu todos seus lugares secretos. E ela desfrutou. Queria mais. Então, ele dirigiu seus dedos na úmida suavidade de entre suas pernas, e seu polegar encontrou a parte mais sensível. Pressionou-o e o acariciou enquanto seus dedos entravam e saíam dela, uma e outra vez. Ela abriu as pernas e ele seguiu enganando-a sem piedade enquanto seu corpo inteiro se retorcia em suas mãos. Ele separou os lábios e lhe beijou a garganta, e brandamente, mordeu. Suas presas se afundaram no pescoço, e o orgasmo se estendeu por ela.
Morgan deixou escapar um grito e sentiu que o corpo inteiro lhe tremia. levou-se a mão ao pescoço, jurando-se a si mesmo que notava uma boca que se estava alimentando dela. O coração lhe pulsava com força e estava úmida, embora ninguém a havia meio doido. Tomou ar e ficou em pé cambaleando-se, afastando do ordenador. Deus, aquilo tinha sido real. Havia sentido as presas mordendo-a. Havia sentido sua boca, suas mãos, seus dedos...
—Deus, o que ocorre? O que me está passando?
Olhou o relógio e se deu conta de que o tempo tinha passado rapidamente. Ao aproximar-se de novo ao ordenador, deu-se conta de que tinha escrito doze páginas de erotismo escuro, impossível de levar a tela. Revisou-as uma e outra vez, mas finalmente as selecionou com o camundongo e lhe deu à tecla de apagar. Em seu lugar, escreveu instruções para que os atores e o diretor construíram a cena.
Têm uma intensa relação sexual sem penetração. O se alimenta dela. Ela o recorda como um sonho a manhã do dia seguinte.
Quando terminou, guardou as mudanças e apagou o ordenador. Não podia fazer outra coisa que perguntar-se o que era o que a havia poseído aquela noite. Estava úmida, e tinha a pele ardente e os peitos firmes e sensíveis. O pulso lhe tinha acelerado.
Subiria as escadas e se daria um bom banho fresco antes de deitar-se. Devia estar mais frustrada sexualmente do que tinha pensado.
lhe dêem se moveu quando ela se moveu, apertando as mãos no teto de seu esconderijo, e se tinha ficado baixo o lugar onde ela se sentou, com a mente aberta.
O que tinha encontrado ali tinha feito que ficasse totalmente imóvel. Ela se estava imaginando a si mesmo. E como se via claramente em seu sonho, ele também podia vê-la. Em sua mente, não estava tão pálida nem tão magra como ele a conhecia em realidade. Estava mais sã. Tinha o cabelo igual, ruivo e espesso. E os olhos, que ele não tinha visto nunca, eram duas esmeraldas brilhantes.
viu-se claramente de pé ao lado de sua cama, observando-a. Espiono seu próprio rosto, e embora se movia e se escondia entre a névoa de sua imaginação, quando ela se concentrou, aquela neblina desapareceu e lhe Dêem se viu com precisão. Fazia muito tempo que não se olhava em um espelho e aquilo foi exatamente como se o estivesse fazendo. Lhe tinha esquecido quão sombria era sua cara. Quão profundos eram seus olhos. Quão larga era sua boca.
Então, a mulher se estremeceu e ele voltou a fixar sua atenção nela e a inundar-se em sua visão. viu-se si mesmo despi-la, e se ouviu lhe dizer que aquilo só era um sonho e que não tinha a culpa do que estava acontecendo. Pediu-lhe que dobrasse sua vontade e que se entregasse, e ela se deixou despir, incapaz de resistir.
O assistiu a aquela cena hipnotizado, apanhado, incapaz de apartar sua mente enquanto o fantasma de te Dêem tocava e acariciava todo o corpo daquela mulher. E quando se viu cravar os dentes em seu delicado pescoço, por um momento saboreou sua sangue na boca e notou a liberação daquela mulher enquanto gritava seu nome.
Então, a fantasia se fez pedacinhos. A mulher ficou de pé de um salto, e ele ficou ali abaixo, sem ver nada mais, tremendo.
apoiou-se no muro de cimento e lutou por recuperar o fôlego. O que estava fazendo aquela mulher? Como era possível que conhecesse seu rosto e sua voz, e muito menos os poderes que ele possuía? Como podia saber quem e o que era ele?
sentia-se excitado e faminto. Muito faminto. Sabia muito pouco a respeito daqueles mortais escolhidos e de sua conexão com os vampiros. Entretanto, deu-se conta de que era muito mais capitalista do que tinha imaginado.
Tinha que averiguar mais coisas.
E tinha que alimentar-se, mas não podia fazer o dela. Deus, se a fantasia tinha sido tão poderosa, como seria a realidade? Poderia matá-la. Se a acariciava, perderia o controle e tomaria tudo o que lhe oferecia. Seu corpo, sua sangue e sua vida.
desfez-se das imagens daquela mulher e caminhou para a saída do habitáculo. Depois, encaminhou-se para a cidade.
A alimentar-se.
Morgan encheu a banheira de água fria e se inundou nela, tentando tirar-se da mente aquelas imagens de lhe Dêem. Embora tinha sonhado muitas vezes com ele, acordada e dormida, sabia que naquela ocasião tinha sido algo mais que um sonho. Havia-o sentido. Havia sentido suas mãos na pele, sua respiração no pescoço, seus dentes lhe atravessando a carne, sua boca sugando.
Tinha sido real. E tinha sido incrível.
Suspirando, afundou-se mais na água, fechou os olhos e tentou pensar em outra coisa.
A cerimônia dos prêmios. O vestido que ainda tinha que escolher. O tempo que teria que acontecer Os Anjos. O menor tempo possível. Ali estava ocorrendo algo, e tinha que explorá-lo completamente antes de poder entendê-lo.
Não ia a nenhum site até que o entendesse.
Que demônios. Bem podia começar naquele mesmo momento.
Fechou os olhos e visualizou a cena que acabava de apagar de seu ordenador. Encolheu os joelhos até que se sobressaíram da água, deslizou a mão entre as coxas e começou a acariciar-se, pensando que era a mão de lhe Dêem a que o fazia. estremeceu-se e sussurrou seu nome.
—lhe dêem...
Podia viajar muito rapidamente quando a necessidade o assediava, como aquela noite. Em menos de uma hora estava no Bangor, caminhando pelas ruas, vigilante.
Encontrou-a com facilidade. Ela não precisava trabalhar, não com o generosamente que lhe pagava para que estivesse disponível. E aquela noite não tinha tempo de procurar uma vítima que se merecesse morrer. Aquela noite precisava sentir algo lhe gratifiquem com rapidez.
Ela abriu a porta e sorriu.
—Fazia muito tempo.
Ele assentiu, entrou e fechou a porta.
—Vêem aqui.
Ela se aproximou dele, pô-lhe as mãos no peito e deixou cair a cabeça para trás. lhe dêem não titubeou. Mordeu-a. Ela ofegou, ficou rígida, mas imediatamente se relaxou e se derreteu contra ele. Sua sangue se deslizou pela língua do vampiro, enchendo-o e lhe dando calor. A vida lhe percorreu as veias, e sentiu que o desejo sexual despertava, e deslizou suas mãos até os quadris da mulher para pegá-la a seu corpo. Deus, ansiava aquilo. Sua sangue lhe entrava na boca com cada pulsado de seu pulso, mas de repente, começaram a fazer-se mais lentos.
Ele se sentiu alarmado e levantou a cabeça, lambendo-os lábios. A cabeça da mulher loira caiu para um lado, e ele se deu conta de que estava muito pálida. Deus, a teria matado?
— Belinda? Vamos, acordada —a sacudiu brandamente e lhe deu uns golpecitos na bochecha.
Suas pálpebras tremeram, mas não abriu os olhos. Ele tomou em braços e a levou a sofá. Depois a tampou com uma manta.
Ela despertou, sonriendo fracamente.
—Demônios, faz-me bem —sussurrou.
— Como te encontra?
Inalando lentamente, ela se foi recuperando.
—Enjoada. Muito enjoada. Isto nunca me tinha passado antes —suas palavras soavam ligeiramente desfiguradas, como se estivesse bêbada. Ele tinha tomado muito.
—Sinto-o —lhe disse—. foi minha culpa. Eu... não voltará a ocorrer.
Ela sorriu de novo.
—eu gosto, mas eu gostaria que além disso fizesse o amor comigo. por que não quer?
—Isso não é parte do trato —disse ele, suspirando—. Estará bem. Dorme, de acordo? Tem que descansar.
—O que você diga, carinho. Você é o chefe —fechou os olhos e dormiu imediatamente.
lhe dêem ficou de pé e deixou dez mil dólares sobre a mesa. Dinheiro extra para a Belinda. Antes vendia seu corpo, mas um dia, quando ele a tinha encontrado, tinha começado a lhe vender sua sangue e ganhava muito mais. Era sua prostituta pessoal. Ele tinha tomado a determinação de não aproximar-se muito a ela, de não tocá-la mais do necessário. E só se alimentava dela algumas vezes ao ano. Tinha mais mulheres como aquela por todo o país, e na Europa. Mantinha-as em luxuosos apartamentos e lhes pagava generosamente. Elas nunca se queixavam.
Tinha-as encontrado na rua, no arroio. E quando se tirava alguém daquela pobreza, ninguém tinha nenhuma queixa, só gratidão e lealdade. A gente não podia confiar em alguém que tivesse nascido rico. Ao menos, essa era sua opinião.
Aquela mulher, a de sua casa de Maine, tinha nascido rica. Podia cheirá-lo. Não confiava nela.
Uma vez que teve satisfeito sua fome, pensou que o mais seguro era voltar ali. Olhar com mais atenção a aquela mortal que sabia tanto sobre ele.
Tinha que começar a tarefa de conhecer todos seus segredos.
Aquela noite, ele foi de novo a ela. E de novo, ela soube que só era um sonho.
Quando se tinha deitado, depois do banho, tinha deixado as portas do balcão abertas, quase como um desafio. Quase como se alguma parte ridícula de sua mente aceitasse a idéia de que ele poderia ser, de alguma forma, real.
Os personagens de ficção não cobravam vida e visitavam seus criadores, disse-se. Então, por que se tinha escovado o cabelo até que lhe doeu o braço e se pôs uma camisola negra e transparente?
Era uma parva. Estava obcecada, apaixonada por um homem que não existia. De fato, provavelmente nunca tinha existido. Era produto da imaginação de um escritor.
Entretanto, aquela noite ficou acordada durante muito tempo, lhe rogando em silêncio que fosse a ela. Finalmente, dormiu.
E então sentiu uma suave brisa que vinha do balcão e soube que ele estava ali. Em seu sonho, abriu os olhos e o viu, observando-a, e também soube que aquele sonho não era igual a outros. Se não soubesse que era impossível, teria acreditado que era real.
—Te dêem —sussurrou.
Ele levantou as sobrancelhas como se estivesse surpreso.
—A maioria das mulheres reagiriam de uma maneira muito diferente se despertassem e encontrassem a um estranho as olhando enquanto dormem.
—Você não é um estranho. Conheço-te.
—Isso me pareceu —sua voz era exatamente tal e como ela tinha sabido que seria. Profunda e muito suave. Erótica—. O que quero saber é como?
Ela se incorporou e apartou o lençol. Queria que a visse. E ele respondeu como ela desejava. Seu olhar se deslizou por sua pele, detendo-se ligeiramente no peito, visível através do muito fino tecido.
— Como chegaste a me conhecer? —perguntou-lhe ele de novo.
Ela fechou os olhos e sentiu que seu corpo reagia baixo seu olhar como se fora uma tocha.
—Nem sequer eu mesma estou segura. É como se me houvesse poseído por completo —abriu os olhos e os fixou nele—. Ou simplesmente, que quero que isso ocorra.
— De verdade?
Ela assentiu.
—É estranho. Nunca hei sentido nada parecido a isto por nenhum outro homem. E você só é uma fantasia. Só um sonho —o olhou e continuou—. Suponho que isso é o melhor. Assim ninguém se faz mal.
Ele inclinou a cabeça para um lado.
—Assim sou um sonho.
Ela assentiu.
Ele sorriu um pouco.
— É isso o que quer que seja? Um sonho? Como o que tiveste esta tarde?
Ela abriu muito os olhos e sentiu uma quebra de onda de desejo e de medo. Não respondeu, mas ele se aproximou da cama e atirou do lençol, deixando à vista as pernas do Morgan.
—me diga o que quero saber, e é possível que sinta prazer sentou a seu lado e fez que ela se reclinasse no cabecero. Lhe acariciou o peito com o dorso da mão, lhe roçando o mamilo com os nódulos—. Começando com seu nome.
—Morgan. Morgan Da Silva.
—Isso está bem —disse ele, e lhe deu um suave beliscão. Ela ofegou de prazer.
—Pergunto-me, Morgan, se seria tão permissiva se eu fosse real —lhe perguntou, lhe atirando brandamente do mamilo.
—Se fosse real, faria-me como você.
Aquelas palavras o deixaram assombrado. Deixou de lhe acariciar o peito por um momento e a olhou diretamente aos olhos.
— por que crie que faria isso?
—Porque parecemos o um para o outro, Lhe dêem. Você é parte de mim, e eu sou parte de ti —ela baixou os olhos—. Fantasia, sim. Mas se fosse real, estes sentimentos também o seriam. E não poderia resistir a eles mais que eu.
Por um instante, lhe pareceu que havia medo em seus olhos. Então lhe cobriu a mão que tinha sobre seu peito com a sua.
—Mas não é real. Nem sequer embora esta fantasia minha se converteu em um pouco mais real do que nunca tenha sido —disse, e olhou a mão de lhe Dêem sobre seu peito—. Te sinto.
Ele interrompeu suas delicadas carícias.
—Quero senti-lo todo contigo, Lhe dêem. Tudo o que imaginei.
Ele apartou sua mão.
—Impossível.
—É obvio que é possível. Tudo é possível em um sonho.
—Tenho que partir —se levantou, mas antes de que tivesse dado um passo para o balcão, ela se levantou também e lhe pôs uma mão sobre o ombro.
Ele se voltou, a contra gosto, e ela se tirou os suspensórios da camisola dos ombros e deixou que se deslizasse até o chão. ficou nua ante ele. te dêem percorreu seu corpo, inspecionando desvergonzadamente todos seus rincões. Ela o tirou da mão e o levou a cama de novo. tombou-se e lhe pediu:
—Tome, Lhe dêem —se apartou o cabelo do pescoço—. me Prove. Quero sentir de novo o que hei sentido antes. Quero que possua minha sangue, minha alma e meu corpo.
Ela viu como tremia, mas ainda tinha sua mão arranca-rabo, e atirou dele brandamente. Ele voltou a sentar-se ao bordo da cama. Morgan se incorporou e o beijou, lhe rodeando o pescoço com os braços.
Lhe devolveu o beijo, alimentou-se de sua boca, absorveu sua língua e a cravou brandamente com suas afiados presas, fazendo brotar diminutas gotas de sangue. Ao fazê-lo, tombou-a na cama e apertou seu corpo contra o dela enquanto devorava sua boca. Colocou um de seus joelhos entre as pernas do Morgan, e ela sentiu sua ereção através da barreira de seu jeans, lhe apertando seu sexo nu e aberto.
Ela alcançou a cremalheira de suas calças, mas lhe apartou a mão com delicadeza.
—Faria-te mal.
—Não. Este é meu sonho.
Ele se incorporou, recuperou o fôlego e sussurrou: —Fecha os olhos, Morgan, e te darei o que quer. Ela fez o que lhe tinha pedido. Ele se inclinou e lhe aproximou os lábios ao ouvido.
—lhe renda —lhe sussurrou—. te Abra para mim. me deixe entrar em ti, dentro de sua mente. — Sim —sussurrou ela.
Separou as pernas, mas ele não a tocou. E entretanto, sim o fez. De alguma forma, sem tocá-la, estava acariciando-a. Eram como os dedos de um fantasma, que não a roçavam mas estavam lhe acariciando todo o corpo de uma vez. Ela o via em sua mente, sentia-o como se fora real, mas sabia que ele não se moveu. Estava sentado na mesma posição, olhando-a.
—Assim —sussurrou ele—. te Abandone e me sinta, Morgan. Estou dentro de ti e ao redor de ti. Sente-me? -Sim!
—Estou-te possuindo, sou seu senhor. Seu corpo é meu e obedece minhas ordens.
Ela assentiu, retorcendo-se na cama, ansiando mais, muito mais.
—Vamos, Morgan —lhe sussurrou muito perto do ouvido.
O orgasmo explorou em seu corpo. Gritou seu nome e o abraçou, apertando-o contra ela. E então o sentiu. Notou que ele abria a boca e suas presas lhe cravavam no pescoço, e que a chupavam deliciosamente.
—Sim, sim, sim... —sussurrou, enquanto o clímax se repetia uma e outra vez, intensificado pelo fato de que ele estivesse bebendo dela.
Imediatamente, ela se deprimiu, completamente perdida nele.
lhe dêem se lambeu a sangue dos lábios e apartou a cabeça. Não deveria havê-la provado. Demônios, ele não queria fazê-lo-os braços do Morgan se deslizaram de seus ombros à cama. Lhe colocou a cabeça sobre o travesseiro e a tampou. Depois se voltou e fechou os olhos.
Só tinha querido lhe dar agradar com a força de sua mente. Mas Deus, aquilo tinha tido um efeito tão potente nele como nela. E quando ela o tinha atraído a seu pescoço, ele se tinha perdido em seu aroma. A sangue, justo debaixo da pele, suas mãos atraindo-o, seu pescoço arqueando-se para sua boca.
E ele a tinha tomado. Tinha fundo as presas em sua carne.
Só tinha sido um pouco, e ele poder que aquilo tinha exercido sobre lhe resultava incompreensível. O fazia tremer por dentro. O fazia desejar mais.
levantou-se da cama e deu dois passos para o balcão, antes de se obrigar a si mesmo a dá-la volta. Não. Não podia ir-se. Ela estava dormida, e tinha a oportunidade de averiguar mais coisas. Abriu a porta e se dirigiu ao despacho, observando, enquanto caminhava pela casa, o mobiliário e o trabalho de restauração. Aquela mulher o conhecia: tinha eleito peças muito parecidas com as que ele tinha comprado originalmente, do período medieval. Estudar aquele tema sempre tinha sido uma afeição para ele. Quando chegou ao despacho, abriu a porta dobro. Aquilo tinha sido, uma vez, seu refúgio contra o mundo. Quase estava temeroso de entrar, mas o fez. Era como se tivesse penetrado nele passado de novo. A chaminé e os móveis tinham sido restaurados, e havia um ordenador em cima do escritório que parecia estar desconjurado. Ali era onde ela tinha estado a noite anterior, quando ele tinha lido sua mente. Ali tinha fantasiado com ele, e havia sentido que tudo o que imaginava era real.
Naquele momento, viu algo que apanhou por completo sua atenção. Os desenhos das paredes. Havia uma dúzia deles... e todos eram retratos deles.
ficou assombrado e se aproximou deles contra sua própria vontade para examinar cada um dos traços que formavam o contorno de seu rosto. Resultava-lhe antinatural poder, ver-se daquela maneira, quando fazia tanto tempo que não via sua própria imagem. Séculos. Era sua cara tão angulosa? Tinha os olhos tão afundados e tão sombrios? Deus, parecia que estava enfeitiçado.
Como tinha chegado aquela mulher a conhecê-lo? Como?
A habitação lhe pareceu de repente muito pequena, e sentiu que lhe faltava o ar. Seria o shock, supôs, de haver-se visto retratado com tanta precisão. Abriu tudas as gavetas do escritório, mas não encontrou nada. E não sabia nada sobre ordenadores, assim procurar em seu conteúdo seria difícil. Mesmo assim, teria que tentá-lo.
Entretanto, primeiro precisava tomar ar. Ainda não tinha podido assimilar todo aquilo por completo. aproximou-se da janela e a abriu. Então aspirou profundamente a brisa da noite.
Um assobio agudo e te chiem rompeu o silêncio e fez pedacinhos sua recém recuperada compostura. Demônios, era um alarme. tampou-se os ouvidos com as Palmas das mãos e saiu pela janela aberta. Depois correu afastando-se da casa.
escondeu-se depois de uns arbustos para decidir o que ia fazer quando ela apareceu no balcão. Morgan. despertou-se com o alarme e tinha ido diretamente ao despacho. Como se o tivesse sabido. Deus, a conexão entre eles era muito forte.
Ela ficou aparecida, olhando para a escuridão, com uma expressão completamente confusa e vulnerável. Só podia recordar seu encontro como um sonho, e entretanto, parecia que sabia que alguém tinha estado na casa pela forma em que olhava para a escuridão, esquadrinhando como se tivesse a esperança de vê-lo, em vez de sentir medo.
Aquela mulher não conhecia a classe de poder com o que estava jogando. Não tinha nem a mais mínima idéia.
Ele fez gesto de partir dali, mas então viu que se movia, e algo na expressão de sua cara captou sua atenção. Ela se estava voltando, olhando-se no cristal do ventanal, e ficou uma mão no pescoço.
OH, Deus, o reflexo. Viu as pequenas feridas daquela noite, que teriam desaparecido com o primeiro toque do sol sobre sua pele. Viu as duas perfurações, e o diminuto hilillo de sangue em sua carne branca. Viu-o, e soube.
—Pessoalmente —disse Lou—, acredito que Lydia esteve vendo muitas filmes. Estas tolices
paranormais estão muito de moda.
— De verdade? —Max lhe jogou um olhar do assento do co-piloto. Foram no velho carro do Lou.
—Sim —respondeu ele—. É que não sabia? Eu imaginava que veria tudo os filmes de monstros ao minuto das estrear.
—Eu não gosto das que estão mau feitas —replicou ela—. Já não é o que era. Não há mais que navalhadas e golpes, e nenhuma classe. Entende-me?
—Sim, claro.
—Além disso —continuou ela—. Eu não gosto de ir ao cinema sozinha. E não é que tenha exatamente um batalhão de homens dispostos a sair comigo.
Ele sacudiu a cabeça.
—Não entendo por que não.
— Não? Bom, isso é muito agradável por sua parte, Lou. Mas a verdade é que não sou muito bonita.
Ele soltou um grunhido e lhe disse:
—E um corno que não.
Max voltou a cara, fingindo que olhava pelo guichê, para que ele não pudesse ver seu sorriso perverso.
—Bom, possivelmente seja pasablemente Mona —se arriscou—. Mas Mona não é quão mesmo sexy. Os homens não me vêem como alguém sexy.
—Os cegos, possivelmente.
Ela sorriu ainda mais, mas depois se obrigou a dissimular, arqueou as sobrancelhas como se estivesse surpreendida e se voltou para olhá-lo.
— Quer dizer que você pensa que sou sexy, Lou?
— Eu? —fechou a boca, franziu o cenho e então se deu conta de que lhe estava tirando o sarro—. Sabe? Não deveria te burlar de um velho. Não está bem.
—Eu não...
—Olhe, já chegamos —lhe disse, e deteve o carro para estacionar—. E agora recorda, carinho. Esta senhora é uma velha amiga minha, muito querida. Importa-me muito. Acaba de perder a seu melhor amiga e tenho que te dizer que não é a única coisa que perdeu na vida. Assim te leve bem. Estou falando de suas maneiras, Maxie. lhe demonstre respeito.
—Eeeh. Parece que te crie que vou entrar e vou cuspir no chão, ou algo assim.
— Só quero que a tranqüilize. Isso é tudo. Quero que a convença de que não há nada de vampiros, e que seja eloqüente. De acordo?
. Ela baixou a cabeça, levantou o olhar e o abanicó com as pestanas.
—O que você diga, Lou.
Lou olhou ao céu como se estivesse pedindo resignação, e saiu do carro. Tinham ido a uma cafeteria enorme que tinha vários ambientes e que estava bastante vazia no meio da amanhã. Max se figurou o motivo pelo que Lou tinha eleito aquele lugar. Os dois subiram as escadas que levavam a porta principal, que estava aberta, e entraram. Havia uma mulher sentada em um sofá junto a uma mesita, que esquadrinhou rapidamente ao Max e que, guando viu o Lou, levantou-se e esboçou um sorriso débil, tremente. Max, provavelmente, haveria sentido certa simpatia por qualquer pessoa que tivesse sorrido como ela, mas aquela mulher era uma loira tinta e pechugona que estava sonriéndole assim a sua polícia. Max reprimiu o impulso de lhe pôr má cara enquanto Lou a acompanhava até ali.
—Lydia —lhe disse Lou—. Que tal está, carinho? — disse-lhe, e lhe deu um carinhoso abraço, que fez que Max sentisse a sangue lhe golpeando nas têmporas.
—Estou bem. Obrigado por vir, Lou —lhe disse. Depois olhou ao Maxine.
—Lydia, esta é Maxine Stuart, a garota sobre a que te falei. Maxie, Lydia Morgan.
O sorriso da Lydia não vacilou, não se transformou em uma forçada e tensa, como Max se esperava. Certamente pensava que Max era muito jovem para representar uma competência para ela. Bem, pois já podia pensar-lhe melhor.
—Não posso lhe explicar quão agradecida estou porque tenha acessado a vir, Maxine —disse Lydia, e tomou uma mão do Max entre as suas—. Lou diz que você sabe mais a respeito deste tipo de coisas que nenhuma outra pessoa. E eu necessito a opinião de alguém como você, alguém em quem pode confiar por completo. Max piscou, um pouco surpreendida. Assim Lou tinha estado adulando-a, né? Estupendo. Estava muito bem saber isso. Jogou um olhar ao Lou, mas ele a evitou e olhou a uma cadeira.
Max se sentou em um extremo do sofá, Lou no outro e Lydia no meio. Fantástico. Depois apareceu uma garçonete que lhes deixou os menus sem dizer uma palavra e partiu.
—Vá, que faladora —comentou Max.
—Hei-lhes dito que necessitávamos privacidade — explicou Lydia, tragando saliva como se tivesse um nó na garganta. Olhou ao Max aos olhos e continuou—: Acredito que Lou já te contou algo. Minha companheira... mi... meu melhor amiga, Kimbra Sykes... foi assassinada quando voltava para casa de noite, faz duas semanas.
—Lou me ensinou suas notas sobre o caso — disse Max, em voz baixa, no caso de alguém os estava escutando. Não quereria por nada do mundo que Lou se metesse em problemas por aquilo—. Encontraram seu corpo à manhã seguinte, em um beco.
Lydia assentiu. Levava muito maquiagem, pensou Max com crueldade. As mulheres maiores estavam acostumados a fazer aquilo. Era um esforço por dissimular os rastros do tempo.
—Lou vai se zangar muito comigo por isso, Max, mas... —Lydia tirou uma sobre de uma maleta de couro negro que tinha a seus pés e o deu—. Consegui cópias das fotografias da cena do crime e do relatório da autópsia antes de que o FBI se fizesse cargo do caso.
— OH, Por Deus, Lydia! Como demônios...? —disse-lhe Lou; enquanto Max começava a abrir o sobre e Lydia levantava a mão para lhe indicar que esperasse.
—Eu vou à outra habitação a descansar, e assim lhes darei tempo para que vejam tudo isto com mais tranqüilidade.
—OH, sinto muito, não me tinha dado conta... —desculpou-se Max, detendo-se.
—Não importa. Adiante, isso é o que eu queria — se levantou e se foi para o outro ambiente da cafeteria.
— Não sabia que tinha isto? —perguntou- Max ao Lou enquanto tirava os documentos e as fotografias do sobre.
—Não, não tinha nem idéia. Os do FBI chegaram, levaram-se as provas e destruíram todas as cópias que havia.
Max o olhou fixamente.
— De verdade?
—Sim. Ocorreu assim. Ocorre algo estranho, Max, mas não sei o que pode ser. Minha teoria é que deve haver um assassino em série solto, que tem este modus operandi. Mas se disser uma palavra disto, eu o negarei.
—Graças a Deus que o Grande Irmão mantém à opinião pública bem informada —balbuciou ela. Deixou que o conteúdo do sobre se estendesse sobre a mesa e olhou as fotografias. Nelas aparecia uma mulher de uns quarenta anos, atirada no chão. Levava umas calças marrons, uma camiseta verde e o cabelo recolhido em um coque.
—Não lhe despenteou nem um cabelo —murmurou Max—. E olhe a roupa, Lou. Não está suja nem rota. E sua maquiagem, nem sequer lhe correu o carmim.
—Sei.
Depois olhou as fotografias da autópsia, que incluíam primeiros planos do pescoço da mulher. Havia duas perfurações diminutas em sua pele blanquísima. Max tomou o relatório da autópsia e o leu.
—A mulher morreu por perda de sangue —disse ao Lou—. Aqui diz que ficou uma quantidade de sangue ínfima, mas que não tinha nem alguém reveste ferida em todo o corpo. Nem um corte, nem um hematoma, nenhuma lesão interna... nada, exceto estes dois pequenos puntitos no pescoço. E tampouco havia uma gota de sangue na cena do crime.
Levantou o olhar e a cravou nos olhos do Lou.
Então, mais à frente, viu que Lydia se aproximava lentamente, e colocou os papéis e as fotografias no sobre. Ninguém deveria ver seu melhor amiga daquela maneira.
— E bem? —perguntou-lhe Lydia, detendo-se perto da mesa—. Qual é sua opinião?
— Posso ficar com isto? —pediu-lhe Max, lhe mostrando o sobre—. Eu gostaria de estudá-lo mais a fundo.
—Sim. Tenho umas cópias. Mas... o que pensa, Maxine? Crie que estou completamente louca por pensar que pôde ser...?
—Não está louca absolutamente. Ou alguém há tentando a sério que isto parecesse o trabalho de um vampiro, ou o foi em realidade.
—Maxie... —Lou a olhou como se queria estrangulá-la.
—Sinto muito, Lou, mas tem alguma teoria melhor? — Centenas! Demônios, Max, trouxe-te para que melhorasse as coisas, não para que as piorasse.
—Não lhe fale assim —lhe disse Lydia. Seu tom de voz era suave, mas firme—. Queria que me desse sua opinião mais honesta, e o tem feito a pesar do fato de que sabia que você te zangaria, Lou. Deixa-a —e voltou sua atenção por volta do Maxine—. O que crie que deveria fazer eu agora?
Maxie se sentiu um pouco enchente. Aquela mulher lhe estava pedindo conselho como se ela fora alguém cuja opinião importava. E em realidade, era certo. Ninguém poderia ajudar a Lydia melhor que ela. Mas, demônios, aquele era um tema sobre o que tinha tido a secreta esperança de que nunca teria que envolver-se de novo. Ao menos, não ainda. Recordou ao homem desfigurado, e o som de sua voz enquanto ameaçava às pessoas às que ela queria pelo telefone.
Sentiu um calafrio e se deu conta de que Lydia estava esperando uma resposta.
—O primeiro e o mais importante é que não diga a ninguém nada disto. A ninguém. Tem que fingir que crie todas as histórias que lhe contem a respeito da morte da Kimbra. lhes dê as obrigado e não lhes pergunte nada. Prometo-te que isso é vital.
Lydia parecia surpreendida, mas assentiu com veemência. Enquanto, Lou olhava ao Max com os olhos entrecerrados como se se tornou louca.
—Além disso, segue com sua vida normal. Não saia à rua de noite e fecha bem as portas de sua casa. Alguma companhia não seria má idéia. Só no caso de.
—Sim, claro —disse Lou—. Suponho que também vais sugerir lhe que pendure réstias de alhos e crucifixos ao redor de sua cama, verdade, Max?
Lhe jogou um olhar desdenhoso.
—Não acredito que funcionem muito.
Ele pôs os olhos em branco e suspirou.
—Lydia, vete a casa e te esqueça desta reunião. Deveria ter tido sentido comum e não ter trazido para o Mad Maxie Stuart como se fora a razão personificada. Deixa que as autoridades se ocupem disto e te prometo que terá respostas ao seu devido tempo. Só precisa ter paciência —depois se voltou—. Quanto a ti...
—Lou, por favor —lhe disse Lydia.
Max se afundou no sofá.
—Não passa nada, Lydia —lhe disse—. Adiante, segue com sua vida normal. Eu me ocuparei disto —e depois suspirou—. Possivelmente deveria ir agora. Acredito que Lou quer me gritar a sós durante um momento.
Lydia a olhou um instante e depois assentiu.
—Parece que pode dirigi-lo.
—Sim.
—Obrigado, Maxine. Obrigado. Chamarei-te.
Max se tirou um cartão do bolso e a deu a Lydia.
—É uma das antigas. Ainda não tenho feito as novas.
Lydia voltou a assentir, guardou-se o cartão. Depois deu um abraço ao Lou e partiu.
Max ficou de pé.
—Vamos, Lou.
— Aonde? —perguntou ele.
—A minha casa. Quero que veja algumas costure. E se ainda quer me gritar depois de ver o que te vou ensinar, é livre de fazê-lo. Mas se não, tem que me ajudar a investigar sobre isto.
—Não há nada que possa me ensinar que me convença de que lhe tem feito um favor a esta mulher, Max. Nunca lhe perdoarei isso.
—Sim o fará.
Ele alargou o braço para tomar o sobre da mesa, mas ela foi mais rápida.
—Isso é material classificado —lhe disse Lou.
—Sei —respondeu Max—. Tenho muito mais em minha casa, assim que isto não estará desconjurado.
Ele a olhou, esperando a que soltasse a bomba, mas ao ver que não o fazia, arqueou as sobrancelhas interrogativamente.
—Vamos —disse ela—. Lhe explicarei isso quando chegarmos ali.
Lou se tinha ficado atônito quando Max tinha corroborado as especulações da Lydia, em vez das demolir. Max era selvagem, sim. Impetuosa, também, Irreverente e um pouco egocêntrica. Mas, demônios, ele nunca tivesse pensado que ia falhar lhe quando a necessitasse.
Estava muito aborrecido, mas tinha que ter pensado que ela era uma menina. O que se podia esperar?
Entretanto, cada vez estava mais preocupado. Quando tinham saído da cafeteria, comportou-se como se alguém os estivesse vigiando. Olhou acima e abaixo na estrada, debaixo do carro antes de entrar, comprovou que não havia nada estranho no assento traseiro e durante todo o trajeto esteve atenta dos espelhos retrovisores.
— Que demônios ocorre? —perguntou-lhe.
Ela o olhou e sacudiu a cabeça.
—Para no banco. Preciso recolher uma coisa.
— Na caixa?
—Não, da caixa forte.
Aquilo fez que Lou se estremecesse. Em que demônios se colocou Max? Estacionou enquanto ela rebuscava em sua bolsa e tirava uma chave. Depois ambos entraram em banco, e ao segui-la, sentiu-se totalmente alerta por seu comportamento. Tinha-a visto comportar-se cínica, cética e ridiculamente, mas nunca a havia visto paranóica. E entretanto, havia uma parte dele, muito pequena, que pensava que possivelmente pudesse ter razão. comportou-se como se ela fora sua colega de trabalho e acabassem de entrar em uma habitação cheia de assassinos.
Ela se deu conta, e então ele notou que seus olhos desprendiam calidez e agradecimento. Tinha uns olhos enormes, verdes e brilhantes. Foram bem a seu cabelo vermelho. Era uma mulher em technicolor, física e espiritual-mente. Max lhe piscou os olhos um olho e esboçou um sorriso hermético enquanto ele empregado do banco a guiava para o depósito de segurança. Lou apertou os dentes e se aproximou, apoiando-se na porta pela que ela acabava de desaparecer, tentando não emprestar atenção a seu pulso, ligeiramente acelerado.
deu-se conta de que Maxie não tinha nem idéia do que o fazia quando paquerava com ele daquela maneira. Constantemente. Ela acreditava que ele era muito velho para reagir, que não representava um perigo nenhuma ameaça. Demônios, aquilo não era precisamente adulador, mas para ser sincero, ao Lou gostava que ela se sentisse segura com ele. Estava envergonhado pela maneira em que reagiam seu corpo e sua mente, que não sempre podia evitar. Preferia que o disparassem antes que admiti-lo ante ela. Não queria que pensasse que era outro velho verde.
Havia dezoito anos entre eles. Tecnicamente, poderia ser seu pai. Um pai jovem, mas de todas formas...
Ela voltou, e ele não viu que levasse nada nas mãos. Entretanto, sua bolsa estava mais cheia do que estava quando tinha entrado. Estava sendo muito cuidadosa.
Quando voltaram para carro e ele arrancou o motor, disse-lhe:
— Já pode me dizer o que ocorre, Max?
—Você é a única pessoa no mundo em quem confio o suficiente para lhe falar disto, Lou. Ninguém pode sabê-lo. Ninguém. Nem sequer o hei dito a minha mãe, nem ao Stormy... A ninguém.
—Entendido —respondeu ele.
—lhe queria dizer isso fazia muito tempo, mas estava preocupada porque pudesse te colocar em problemas. Além disso, poderia resultar perigoso.
Ele assentiu.
—Vamos a sua casa, de acordo? A minha não é segura. Storm sempre está ali, e além disso, eles sabem onde vivo.
— Quem sabe onde vive? Por Deus, Maxie, está começando a me assustar.
— Tem ordenador em casa? Com leitor do CD-rOM?
Ele assentiu. Havia algo que tinha realmente assustada ao Max, e ela não era tola. Lou não acreditava que pudesse exagerar tanto por algo insignificante.
— É isso o que tinha no banco, Max? Um CD-rOM?
— E um cartão de identificação.
Ele arqueou as sobrancelhas.
— Que tipo de cartão?
—Parecida com a tua, mas em vez de dizer Polícia Local, tem as siglas DIP.
—Nunca o tinha ouvido antes.
—Estou segura de que era uma unidade secreta dependente da RECUA, e que tinha seu quartel geral aqui mesmo, no White Plains. antes de que se queimasse, claro.
Ele ficou silencioso durante uns instantes, processando tudo o que lhe tinha contado. Então o entendeu.
— Refere a esses laboratórios de investigação contra o câncer que arderam faz cinco anos, mais ou menos?
Ela assentiu.
—Sim. Mas não estavam investigando sobre o câncer.
Ele estacionou frente a sua casa e se voltou a olhá-la.
— Aquela noite, você estava ali, bisbilhotando. Lembro-me de que me pediu que... —interrompeu-se ao entendê-lo tudo—. Tomou essas coisas do incêndio aquela noite, verdade, Max? Por isso necessitava que te ajudasse a sair sem que lhe registrassem.
—Agora o entendeste. E a coisa ainda melhora, Lou. Alguém, além de ti, viu-me bisbilhotando por ali aquela noite.
— Quem?
—O tipo ao que pertencia o cartão de identificação, acredito.
—Deus santo...
—E isto é só a parte acreditável da história. Vamos. Se lhe conto o resto, internará-me em um sanatório mental antes de que possa escapar. Tem que ver isto por ti mesmo.
Abriu a porta do carro, saiu e tomou sua bolsa. Lou saiu também. A cabeça lhe dava voltas. Não podia acreditar que Max tivesse roubado secretos de uma agência governamental. A gente ia ao cárcere por coisas muito menos graves que aquela.
Tomou pelo braço e a guiou até seu apartamento.
—Não sei em que demônios te colocaste esta vez, Max —lhe disse brandamente—. Só espero que possa te tirar.
Morgan trabalhava incansavelmente até muito tarde pelas noites, pelas noites, teclando em seu ordenador, ou passeando e falando consigo mesma, enquanto te Dêem vigiava todos seus movimentos.
Ele nunca viu que comesse. limitava-se a beber vodca com qualquer refresco que tivesse à mão. Fora o que fora o que estava escrevendo, tinha-a obcecada. E ele pressentia que tinha algo que ver com ele. Não queria acreditar que também tivesse que ver com que estava revelando seus segredos a seus inimigos.
Sua visita noturna tinha piorado as coisas, pensou. Poderia não havê-lo feito se ela não tivesse visto a prova de seu beijo de posse com seus próprios olhos. Teria desaparecido ao dia seguinte, e ela teria acreditado que o tinha sonhado tudo.
Mas era evidente que Morgan sabia que não. Ele não podia entrar naquele maldito despacho para averiguar no que estava trabalhando ela sem que o alarme se disparasse e avisasse ao Morgan e à polícia. Embora tivesse podido entrar, encontrar o que queria seria difícil. Tinha-a estado observando, noite detrás noite, escrevendo febrilmente. Ela o tinha guardado tudo no CD-rons e o tinha armazenado em uma caixa forte que havia depois de uma estantería.
Aquela noite a viu teclar freneticamente, como cada noite. Ele tinha tentado de novo, pondo as mãos baixo o lugar onde ela se sentava, conectar com sua mente, mas não o tinha conseguido. Ela tinha ereto barreiras de algum tipo. Ao menos, enquanto estava acordada. Mas, demônios, ele tinha medo de voltar a visitá-la enquanto dormia. Tinha medo de perder o controle.
Quase o tinha perdido a última vez...
Ela trabalhou durante a noite, e quando o deixou, apoiou-se no respaldo da cadeira como se estivesse completamente consumida.
Deus, era preciosa. Sua pele era de alabastro, e tinha o cabelo comprido, cor cobre, brilhante, como se tivesse luz própria. Estava muito magra. Fazia três dias desde que tinha estado na mesma habitação que ela, acariciando-a, e estava decidido a não voltar a fazê-lo. limitaria-se a observá-la do exterior, e mais tarde ou mais cedo a ela lhe esqueceria conectar o alarme ou pôr o ferrolho, ou possivelmente partisse da casa. Sua oportunidade chegaria.
Mas não aquela noite. Ela se levantou, ao fim, e olhou a hora. Ele sentia a proximidade do amanhecer, como todos os vampiros, assim sabia que deviam ser mais ou menos as duas da madrugada. Ao Morgan tremiam as pernas. te dêem estava começando a pensar que ela estava doente. De fato, parecia que a debilidade que ele tinha notado a primeira noite se estava incrementando por momentos, como sua palidez.
Inclusive embora se sentia muito mal, Morgan recordou que tinha que tomar o CD-rOM e guardá-lo na caixa forte. Era lhe frustre não poder ver os números da combinação desde seu lugar de observação, tão lhe frustrem como não poder ler o que ela estava escrevendo. Mas nenhuma das duas coisas era tão desesperador como estar tão perto dela e não poder acariciá-la de novo, e sentir que estava doente, mas não saber por que. Morgan apagou o ordenador e subiu a sua habitação. Ele rodeou a casa e subiu à árvore de ao lado de seu balcão para seguir observando-a pelo ventanal. Provavelmente, Sarafina riria dele se soubesse que se estava comportando daquela forma. Atribuiria suas tolices infantis à luxúria, e não estaria totalmente desencaminhada. Mas havia algo mais que desejo em todo aquilo. Existia aquele vínculo que ele queria negar, mas que entretanto, sentia fortemente. Tinha que saber como tinha chegado a conhecê-lo aquela mulher.
Ela entrou em sua habitação e depois ao banho. Abriu os grifos da banheira e se sentou no bordo, como se se tivesse ficado exausta só com aquele pequeno esforço. Não tinha fechado a porta do banho. Nunca a fechava. por que ia fazer o? Certamente, nunca lhe teria ocorrido que alguém poderia estar espiando-a desde aquela árvore.
Queria ficar e ver como se banhava, mas se o fazia, era provável que rompesse o cristal e fora para ela, apesar de sua determinação de não fazê-lo, assim saltou ao chão e baixou até a praia, para dar um banho no mar e um passeio pela areia, raciocinando consigo mesmo e lutando contra seu próprio desejo. Para quando voltou para balcão, esperava que ela estivesse já na cama, dormida.
E estava profundamente dormida, mas não na cama. Seguia na banheira, completamente pálida, deprimida, com a cabeça inclinada para um lado. Ele pensou que estava morta quando abriu de um golpe as portas do balcão e correu para o banho.
— Morgan?
Ela não respondeu.
Ele a tirou da banheira em braços e a envolveu em uma toalha para levá-la à cama. Estava viva. Soube imediatamente porque sentiu a vida nela. Morgan levantou a cabeça fracamente.
— lhe dêem?
— Sou um sonho. Só um sonho — sussurrou ele.
Ela se relaxou em seus braços, enquanto ele a deixava na cama e enquanto a secava com suavidade. Colocou-a entre as mantas procurando não olhar sua pele.
— por que está tão doente, Morgan?
Ela sorriu brandamente.
—Estou-me morrendo. Não sabia?
Ele ficou rígido e a olhou aos olhos.
— Morrendo ?
—Tenho um tipo de sangue muito estranho —lhe disse ela—. Os médicos dizem que todo aquele que a tem morre jovem, mas ninguém sabe o motivo.
—O antígeno Belladonna.
—Exatamente —confirmou ela, e afundou a cabeça no travesseiro—. Não me esperava que pioraria com tanta rapidez.
—Sinto-o —sussurrou lhe Dê—. Não sabia que era mortal.
—É obvio que sim sabia. Você vive dentro de mim. Sabe tudo sobre mim.
—Isto não.
Ela sorriu lentamente.
—Estou tão cansada... —lhe fecharam os olhos—. Espero que não seja esta noite. Espero ter umas quantas semanas mais. Tenho que terminar... e depois os prêmios...
Então se deixou levar pelo sonho, murmurando palavras que não tinham sentido para lhe Dêem. Ele tentou entrar em sua mente uma vez que ela dormiu, mas embora já não estava fechada para ele, Morgan estava tão exausta que não havia nada que ver. Dormia como os mortos.
te dêem tentou sentir a força da vida nela para averiguar quanto tempo ficava. Era muito débil. Demônios, não queria fortalecer o vínculo que já havia entre eles, mas se sentia obrigado a ajudá-la. Ela se estava desvanecendo. Podia senti-lo.
E se deu conta de que não queria deixar que partisse. arregaçou-se a camisa e se mordeu a boneca para atravessar a veia, embora não muito. Apertou a pequena ferida e a aproximou do Morgan aos lábios para lhe dar de beber. E ela bebeu. Separou os lábios e os fechou sobre as perfurações, quentes e úmidos. Ele sentiu o desejo como uma descarga elétrica. Morgan chupou, tragou, sugou com mais força. A lhe Dêem lhe acelerou a respiração, e sentiu que se excitava cada vez mais.
Finalmente, com os dentes apertados por uma espécie de angústia doce, sustentou-lhe a frente com uma mão e lhe tirou a boneca dos lábios. Tomou um lenço que havia na mesinha de noite, e ao fazê-lo atirou um livro ao chão. Recolheu-o e leu o título: Defesa psíquica. Não sentia saudades que, se Morgan tinha estado pondo em prática aquelas táticas, ele não tivesse podido entrar em sua mente. atou-se o lenço à boneca. Aquilo lhe serviria até ele amanhecer. Não ficava muito tempo, de fato.
Observou ao Morgan. Sua pele tinha uma cor mais rosada, e estava mais cálida. A manhã seguinte, estaria muito mais forte.
Entretanto, ela não podia saber o motivo. Tinha que recordar todo aquilo como se tivesse sido um sonho. E além disso, ele tinha que seguir tentando averiguar por que conhecia seus segredos. Possivelmente fora uma médium, e por essa razão era capaz de evitar seus intentos de penetrar em sua mente. Possivelmente ela tivesse podido recolher algum rastro que ele tinha deixado na casa.
De novo a olhou. Tinha rastros de sangue nos lábios. lhe dêem se inclinou e a beijou para lhe tirar as gotas. Ela abriu os olhos.
— Como é possível que esteja apaixonada por um homem que não existe? —sussurrou ela—. Sabe que é certo. Quero-te, Lhe dêem.
Ele sentiu medo.
—A última mulher que me disse isso esteve a ponto de fazer me pagar isso com a vida.
—Sei —disse ela, tombando-se sobre seu flanco e fechando os olhos de novo—. Laura Sullivan, a moça do Dunkinny.
Dêem ficou totalmente rígido.
— Como sabe seu nome? —perguntou-lhe, mas ela não respondeu—. Morgan? —lhe dêem não pôde fazer nada. Teria que despertá-la completamente se queria obter respostas, e já nunca poderia convencer a de que tudo era um sonho. Era muito arriscado. Em vez de despertá-la, pô-lhe as mãos na frente e se concentrou em sua mente, procurando.
E a encontrou. Bela, sã, olhando diretamente aos olhos de um homem, os seus, e sussurrando: «Nunca te trairei como fez Laura Sullivan, Lhe dêem».
Depois viu uma tela detrás deles, iluminada com imagens que se moviam e que voltavam a contar a história. Viu a mulher a que tinha amado, a única mortal em que tinha crédulo. Viu-a, e era igual a que tinha sido então. Liderava um grupo de aldeãos que levavam tochas acesas e lhes gritava:
— É uma besta! Tentou beber-se minha sangue e admitiu ante mim o que é. Temos que destrui-lo!
Então, os outros gritaram:
— Fogo, fogo, fogo!
E lançaram suas tochas contra o castelo no que vivia.
A tela ficou em negro. Na mente do Morgan, uma vez mais, só estavam os dois. «Já estou lista para saber o que é, Lhe dêem. Quero-te». E o beijou.
te dêem saiu de sua mente em estado de shock.
Era certo. Ela conhecia todos seus segredos. Todos.
Morgan dormiu profundamente até meio-dia. Quando, finalmente, despertou, incorporou-se rapidamente e se levou uma mão à frente, esperando a debilidade que sentia sempre que subia muito rápido as escadas, ou sempre que ficava de pé de um salto. Entretanto, não a sentiu. encontrava-se... melhor. Estava bem. Franziu o cenho e ficou de pé, provando seu equilíbrio, e esperando de novo a debilidade. deu-se conta de que não recordava como tinha chegado à cama a noite anterior. De fato, a última coisa da que se lembrava era o banho Y... e depois o sonho.
Fechou os olhos lentamente. lhe dêem. Tinha ido a ela de novo, em sonhos. Tentou recordar os detalhes, mas não viu nada com claridade. Só recordava sua voz profunda e aveludada, acalmando-a. Sua mão fria sobre a cara. Sua cercania e sua realidade. OH, e seu sabor!
Deus, realmente tinha sonhado aquilo? estava-se voltando louca. Estava completamente imersa na vida de um homem que não existia. Vivia suas histórias de dia, e sonhava com ele de noite. Ela era uma escritora muito famoso e aclamada, e entretanto, não lhe importava nada. O único que lhe importava era ele. Um homem que não existia!
Foi para o banho e ficou olhando a banheira, que ainda estava cheia de água. —Que estranho.
Era mais que estranho, disse uma voz de advertência. Era algo totalmente impróprio dela deixá-la banheira cheia de água. Era muito meticulosa com respeito a sua casa, porque para ela era a lápide de lhe Dêem. Seu monumento. Ela o adorava.
Supôs que seria outro sintoma de seu ataque de nervos. por que demônios teria dormido durante todo o dia? Demônios, não deveria queixar-se, porque encontrando-se tão bem, poderia recuperar o tempo perdido durante a noite.
Decidiu sair um momento à rua. ficou uns jeans, um pulôver e umas sapatilhas, e baixou correndo as escadas, com uma impaciência que não podia explicar-se. Ao descender o último degrau se deteve, recordando-se a si mesmo que logo estaria sem respiração se não o fazia. Entretanto, o coração nem sequer lhe tinha acelerado.
Possivelmente estivesse melhorando. Possivelmente fora a brisa do mar, ou que os suplementos de vitaminas que tomava por fim estivessem sortindo efeito...
Saiu da casa e baixou pela colina verde até o escarpado, e se deteve para sentir o vento, cada vez mais afresco à medida que o sol se ia pondo no horizonte, tingindo o mar turquesa de cor púrpura e dourada. ficou ali um bom momento observando o pôr-do-sol até que as primeiras estrelas começaram a brilhar no céu. Com um suspiro prazenteiro, aspirou o ar da noite. Era delicioso. Ainda não gostava de voltar para casa, assim baixou à praia e seguiu pela borda até o povo.
Easton era um povo pequeno. Era pitoresco, mas não o suficiente para converter-se em um parque turístico, ao menos, não ainda. Subiu ao passeio marítimo e o percorreu, olhando as cristaleiras das lojas, a maioria das quais já estavam fechadas.
Uma multidão lhe chamou a atenção, e ao enfocar a vista se deu conta de que estavam formando uma cauda para tirar as entradas no pequeno cinema do povo. Olhou a marquise e não pôde evitar sorrir. estava-se projetando seu último filme, e baixo o título as luzes de cores formavam uma mensagem que passava repetidamente: Morgan Da Silva, vizinha do Easton, nomeada para o melhor guia original! Veja o filme esta noite!
sentiu-se contente. Inclusive parecia que era toda uma celebridade no povo. Era estranho que ninguém se apresentou em sua casa e a tivesse incomodado, embora em realidade, ela era muito discreta e logo que saía. Seu número de telefone não aparecia na guia e tinha alarme. Possivelmente também podia dever-se a que a gente, naquele pequeno povo, respeitava a privacidade de outros.
Mas tinha que haver algo mais. Uma parte dela sabia, mas o resto se negava a reconhecê-lo. Era uma tolice pensar que a gente evitava aproximar-se daquela casa porque ainda emanava a energia do depredador que uma vez a habitou.
Decidiu ficar à cauda do cinema, e quando o fez, notou uma respiração fria na nuca e se voltou rapidamente. Entretanto, não havia ninguém atrás dela. Havia uma pessoa na outra calçada. Era um homem. Não podia vê-lo bem porque estava nas sombras, e entretanto... sua postura... sua silhueta, pouco mais que uma sombra escura na noite... Não. Estava deixando que sua imaginação tomasse ele poder de novo.
— Senhorita?
voltou-se e se deu conta de que tinha chegado à bilheteria.
—Sinto muito. Por favor, uma na última fila.
Deu-lhe o dinheiro à bilheteira, tomou as voltas e entrou na sala. sentou-se silenciosamente e se dispôs a ver os trailers.
Morgan tinha pensado que seria a última em entrar, mas as comporta se abriram aos poucos minutos e alguém mais entrou. De novo, ela sentiu aquele frio lhe dançando pelas costas, e se voltou para ver quem era.
Ele já se encaminhou para o extremo oposto da sala, mas também tinha pedido uma entrada na última fila. Levava um casaco muito comprido com o pescoço subido e óculos escuros.
Era uma tolice pensar em lhe Dêem ao ver aquele estranho. lhe dêem não existia. Nunca tinha existido. Só porque ela tivesse aquelas fantasias tão vividas, tão reais...
Só porque tivesse alucinado com aquelas marcas diminutas em seu pescoço...
« Estavam ali!», insistiu sua mente. «Comprovei-o no espelho da habitação, e estavam ali».
Entretanto, quando se tinha despertado não tinha notado nada estranho, recordou-se a si mesmo. Como ia ser capaz de pensar que não tinham sido outro sonho?
—lhe dêem não é real —se sussurrou a si mesmo—. E não está sentado neste cinema, vendo este filme.
E por que, então, sentiu que se afundava mais e mais no assento quando começou o filme, e os créditos lhe disseram ao público que ela, Morgan Da Silva, tinha criado aquela história?
Quando Lou viu o que Max tinha naquele CD-rOM, ficou muito momento sentado frente ao ordenador, inclusive depois de que ela tivesse fechado o arquivo e tivesse tirado o disco do leitor.
— Crie que se miras fixamente à origem do Bill Gates conseguirá encontrar a forma de que tudo isto tenha sentido?
O a olhou vagamente.
—me acredite, não funcionará. Passei-me duas horas olhando a tela de meu ordenador, como você, quando li o que havia no CD-rOM. Não me ajudou em nada.
—É uma loucura. É uma brincadeira.
—O homem ao que vi aquela noite naquele incêndio não era uma brincadeira, Lou. Era de verdade. E a ele lhe caíram o CD-rOM e o cartão de identificação ao chão enquanto saía dali. Aquele lugar, o suposto laboratório de investigação, sim era um laboratório de investigação, mas sobre vampiros.
O sacudiu a cabeça.
—Ainda não te contei o que ocorreu a manhã seguinte ao incêndio. Enviaram-me um sobre.
— E o que continha? —perguntou-lhe ele, com o cenho franzido.
—Fotografias de meus amigos. Jason Beck dormido em sua própria cama e Stormy na ducha. E também havia uma de minha mãe no estacionamento do trabalho. Tinham-nas feito aquela mesma manhã.
— Havia alguma nota?
—Não. Chamou-me por telefone.
— Chamou-te por telefone?
Maxine assentiu. Lou se havia posto furioso. Ela sabia que aquilo ocorreria. Era o tipo mais tranqüilo do planeta até que lhe faziam mal ou ameaçavam às pessoas que lhe importavam. Então se voltava perigoso. E lhe importava ela, embora fora muito obtuso para dar-se conta.
— É o mesmo tipo que te viu aquela noite?
—Acredito que sim. Tem que ser ele.
— O que te disse, Maxie? Sabia que tinha tomado estas coisas do chão?
Ela negou com a cabeça, lentamente.
—Não, mas sabia que o tinha visto ali. Deixou-me claro que podia chegar até meus amigos e minha mãe quando quisesse, e me disse que esquecesse que tinha estado ali e que o tinha visto, e que se contava a alguém que o tinha visto ou que tinha estado naquele lugar a noite do incêndio, saberia e faria que o lamentasse.
—Disse que lhe faria mal a sua mãe. Ela assentiu.
—Sim, e eu acreditei. Ainda acredito. E tenho a cinta dessa chamada, Lou. Pode escutá-lo você mesmo.
Tirou a cinta do sobre e a pôs na secretária eletrônica do Lou. Depois a pôs em marcha.
Lou balbuciou umas quantas maldições entre dentes e quando a cinta terminou, disse:
—Necessito uma cerveja.
—Também me viria bem uma —Maxine foi à cozinha e levou duas cervejas ao salão. Tendeu-lhe uma e abriu a sua. Depois lhe deu um bom gole.
Lou estava olhando-a com estranheza enquanto tragava.
— O que?
O se encolheu de ombros.
—Nunca te tinha visto beber antes.
—Faz anos que é legal que bebê, Lou.
—Claro. Simplesmente, nunca tinha pensado em ti desta maneira.
—Não me tinha dado conta —lhe disse ela, carregando suas palavras de tanta ironia como foi possível.
O ficou silencioso durante um comprido momento, tomando sua cerveja e estudando-a enquanto ela bebia a sua.
—Deve ter estado muito assustada, Max.
Ela se encolheu de ombros.
—Sim, um pouco.
—Deveria haver me contado isso.
— E o que podia ter feito você, Lou? Preencher um relatório? Esse tipo trabalha para a Cia
Ele suspirou.
—Inclusive se isso fosse certo...
—É certo. E se lhe tivesse contado isso, ele se teria informado. Se tivesse feito um relatório, ele o teria sabido, e possivelmente você também teria recebido ameaças, ou algo pior.
Ele se tornou para trás.
—Estava me protegendo.
—Não só a ti. Ao Jason, a minha mãe, ao Stormy...
—E a mim.
Ela se encolheu de ombros e desviou o olhar, porque era certo.
—Possivelmente seja que não confio nos polis.
—Sei que não confia nos polis. Mas sim confia em mim.
Maxine esboçou um ligeiro sorriso.
—Sim, e você confia em mim, não?
Ele apertou os lábios.
—Confia em mim —insistiu ela—. Assim confie em mim nisto também. Não há nenhuma pessoa corda em toda a cidade que cria que existem os vampiros. Mas se não existir, por que o governo tem investigações abertas sobre eles? por que os conhece por seu nome e sobrenomes, e têm suas histórias armazenadas? Isto é real, Lou. Existem.
Ele sacudiu a cabeça.
—Não consigo que minha mente o assimile, Max.
—Conseguirá-o. Demônios, me há flanco cinco anos. Por desgraça, você não tem tanto tempo. A amiga da Lydia a matou um deles, Lou. Não há dúvida disso.
—Era mais que seu amiga. E não pode lhe contar a Lydia nada disto, apesar disso.
— por que não? Que sentido tem mantê-lo em segredo?
—Não sei, mas tem que ter sentido, ou o governo não se teria tomado tantas moléstias em ocultá-lo.
Ela abriu muito os olhos e arqueou uma sobrancelha, incrédula.
—Demônios, Maxine, me deixe pensá-lo, de acordo?
—Está bem —ela terminou a cerveja, recostou-se no sofá e tomou distraídamente um periódico que havia sobre a mesinha. Tirou o dominical e o folheou. Ao momento, algo em uma das páginas captou sua atenção.
—Falando do rei de Roma.
— O que?
Com um sorriso irônico, ensinou ao Lou o artigo.
Um filme sobre vampiros consegue a ansiada nominação ao melhor guia.
Ele pôs os olhos em branco e sacudiu a cabeça, enquanto ela lia o artigo a toda pressa. Falava sobre a escritora, uma mulher que vivia encerrada em sua casa deste Costa, e também incluía uma sinopse do argumento do filme.
—Né... Lou?
—Ainda estou pensando.
—Sim, bom, pois pensa também nisto. Não era lhe Dê um dos nomes que havia no CD-rOM?
—Acredito que sim. por que?
—Possivelmente deveríamos lhe jogar outra olhada a esse. Y... né... possivelmente deveríamos sair. Ir ao cinema, por exemplo.
Na tela do cinema, um jovem se tirou a vendagem e o jogou no chão, junto a sua camisa ensangüentada. Já não estava débil, mas sim sua força havia tornado e lhe percorria o corpo. Olhou a sua tia Sarafina, cujos olhos negros brilhavam na noite. Sarafina não era humano. Sua pele era muito suave, imaculada. Seus lábios eram muito vermelhos, e seu cabelo tinha o mesmo brilho que seus olhos. Havia algo mais. Involuntária e instintivamente, ele inclinou a cabeça ligeiramente para trás e percebeu sua essência, inclusive sem farejar o ar. Algo exótico e acre, como uma mescla de sexo e sangue. Seu aroma.
—E o teu também —disse ela com suavidade. Ele se deu conta de que lhe tinha lido o pensamento e abriu imensamente os olhos, surpreso, assombrado. Depois se voltou e pôs-se a andar para o bosque.
— Onde crie que está indo, Lhe dêem?
—A casa. Ao povoado. Ao lugar ao que pertenço.
— Já não pode voltar —ela não o seguiu. ficou onde estava, e entretanto, não teve que gritar para que ele a ouvisse. Não o entendia. Seguia ouvindo-a, não importava o muito que se afastou dela.
—É um emparelha, igual a eu.
— Está mentindo!
Quando chegou ao povoado, sentiu saudades de não ouvir nenhuma música. Era sua última noite naquele acampamento. Todas as coisas estavam recolhidas, e aquela noite teria que haver uma enorme fogueira com música e baile, e com histórias de aventuras do passado. Entretanto, só percebeu o silêncio. Ouviu ele crepitar das chamas da fogueira e a cheirou muito antes de chegar. Quase ninguém falava. Só ouvia sussurros dispersos, e o suave som do tecido quando sua gente caminhava de um lado a outro nele povoado.
Saiu de entre as árvores e se deteve observar a sua família. Sua avó estava ajoelhada ante um caldeirão, moendo ervas em um morteiro. Suas primos não corriam nem jogavam. Estavam sentados ao redor da avó com os olhos úmidos e os ombros afundados. Os homens estavam agrupados ao final do acampamento com caras de ira, murmurando maldições. lhe dêem se perguntou por que motivo se teriam enfurecido assim. Parecia que estavam planejando violência. As mulheres estavam formadas redemoinhos ao redor de sua própria loja. E, além de todas elas, Te dêem ouviu o pranto e os soluços de sua mãe. Ele se aproximou.
— Mãe? —disse-lhe—. O que ocorreu?
Todas as cabeças se voltaram imediatamente para ele Ouviu sua mãe pronunciar seu nome entre soluços, e depois a viu abrir-se passo entre todas as mulheres. A avó se interpôs entre eles.
— Quieto! —ordenou-lhe a lhe Dêem, e manteve as mãos elevadas, com o mindinho e o índice estirados para ele, vaiando e repetindo o gesto—. Hei dito que te esteja quieto!
lhe dêem a olhou atônito.
—Avó... o que te ocorre? Sou eu, Lhe dêem. O que...?
Sua mãe apartou à velha e se aproximou dele.
— É realmente você, meu filho? Dimitri há dito que lhe mataram. Disse que lhe dispararam quando tentava roubar uma cabra.
—Se tiver mentido nisto... —disse-lhe em tom ameaçador o pai do Dimitri a seu filho.
— Não menti! Dispararam-no. O velho lhe disparou com um rifle.
— Você nem sequer estava ali! —disse lhe Dê, negando instintivamente a verdade. Sabia que se admitia o que tinha ocorrido, sua família acreditaria que era uma espécie de demônio. Um vampiro, como havia dito Sarafina. Mas não era certo. Não era certo!
—Segui-te, Te dêem —disse Dimitri. Tinha os olhos cravados nele, e seu olhar era desconfiado, inclusive temerosa—. Sabia que tinha saído de aventura, e queria me unir a ti. Então vi como o homem saía da casa e disparava. Vi-te cair.
—E depois pôs-se a correr, não? —Perguntou-lhe lhe Dê, aferrando-se a aquela ideia com desespero—. Admite-o. Ouviu o disparo, saiu correndo e me deixou sozinho.
—Saí correndo —admitiu Dimitri, envergonhado, e baixou a cabeça.
— Vêem-no? —te dêem forçou um sorriso nervoso enquanto olhava a sua mãe e a sua avó, e também aos homens, que se tinham aproximado. As mulheres tinham reunido a seus filhos e estavam afastando os dele tanto como era possível. Todos aqueles olhos negros estavam cravados nele —. Não ficou o suficiente para ver que o disparo não me alcançou. Só me assustei e me caí. Nem sequer me deu, e muito menos me matou.
Vários deles olharam ao Dimitri para que lhes confirmasse aquela versão. O moço elevou a cabeça e olhou a lhe Dêem.
—Vi a sangue. Você é meu irmão, Lhe dêem, e te quero, mas vi a sangue.
lhe dêem se estremeceu, sabendo o assustado que tinha que ter estado Dimitri ao presenciar todo aquilo. Olhou aos outros homens procurando apoio, mas só encontrou a suspeita em seus olhos. E vários deles nem sequer estavam ali.
—te volte, Lhe dêem —lhe disse sua avó—. Deixa que te veja as costas.
—Não vais encontrar nada.
— te volte!
A gente não podia desobedecer à avó. lhe dêem se voltou, rezando porque tivesse podido tirar-se toda a sangue e que não ficasse nenhum rastro. Todo mundo olhou. Ele torceu o pescoço para ver o que ocorria a suas costas e viu que sua avó o estava inspecionando minuciosamente.
—Não tem nenhuma ferida —disse—. E não vejo sangue, embora haja muita porcaria para estar seguro.
— por que não confiam em minha palavra? —Perguntou lhe Dê—. Dimitri se confundiu. Mãe, estava chorando porque acreditava que estava morto. É que não pode te alegrar agora que me vê com vida?
Ela o olhou com a esperança lhe brilhando nos olhos.
Tremendo, elevou a mão para lhe acariciar a cara, e te Dêem fechou os olhos esperando seu roce quente. Entretanto, a suas costas apareceram vários homens que saíam do bosque. Quando o viram, ficaram boquiabertos como se fora um fantasma. Dão olhou a sua mãe.
—Enviamo-los para que trouxessem seu corpo a casa, filho —lhe explicou.
—nos digam —lhes ordenou a avó—. O que encontrastes na granja?
O mais velho do grupo, Alexi, mostrou algo que levava nas mãos. Desenroscou um tecido, e lhe Dêem se deu conta imediatamente do que era. Sua camisa ensangüentada e a vendagem. Não pôde fazer nada para evitar que Alexi o mostrasse a todos.
—O granjeiro estava morto —disse Alexi, em voz baixa—. Tinha dois buracos aqui —e se destacou o pescoço com dois dedos. te dêem recordou que tinha visto a Sarafina lançar-se ao pescoço do homem.
— Nosferatu! —gritou a avó. Agarrou à mãe de lhe Dêem e atirou dela para afastá-la. Depois começou a gesticular de novo para afugentar a te Dêem—. nos Deixe em paz, demônio! Vete, segue seu caminho!
Como um sozinho, todos os membros do acampamento se afastaram dele, caminhando para a fogueira. Ele sacudiu a cabeça e levantou uma mão para eles, lhes rogando.
— Por favor! Eu não sou um demônio! Sou exatamente igual a antes. Sou lhe Dê —entre toda a multidão, encontrou os olhos de sua mãe—. Sou seu filho!
—Meu filho está morto —as palavras foram baixam, profundas, cheias de dor.
— Não!
—Foi Sarafina, verdade, filho? —Perguntou-lhe a avó—. Chegou a seu lado quando estava agonizando. Passou-te a maldição, verdade?
— Não!
A avó cuspiu no chão.
—Já o veremos, jovem demônio. O sol está a ponto de sair. A alma de nosso te Dêem descansará em paz quando seu corpo se queime.
A mãe de lhe Dêem se voltou para o este e olhou o céu, cada vez mais pálido. Depois correu para ele e lhe pôs as mãos no peito.
— Vete, Lhe dêem! Vete correndo. Não poderia suportar te perder duas vezes.
— Mãe? Eu...
— Vete! Tem que te cobrir!
—Não lhe faça favores, filha —murmurou a avó.
Então, Te dêem sentiu algo que nunca tinha experiente. Um calor insuportável que lhe abrasava a pele à medida que os primeiros raios de sol atravessavam o céu, disparados como flechas do horizonte, atravessando-o ali mesmo.
— Ah! —agachou-se e apertou os dentes. De seu corpo começaram a sair pequenas espirais de fumaça.
— Corre! Corre ao bosque, Lhe dêem! Tem que procurar um refúgio! —gritou-lhe sua mãe.
O calor era insuportável. lhe dêem se voltou e correu. As árvores lhe deram alívio, mas só durante uns segundos, enquanto corria para a espessura com o coração acelerado e a mente em um torvelinho. meteu-se baixo um montão de folhas quedas, tampando-se por completo. Ali ficou imóvel, esperando a que ele dor remetesse. Tinha que pensar. Tinha que entender o que lhe estava acontecendo.
Entretanto, sentiu pesadez na cabeça, e seus olhos, cheios de lágrimas, começaram a fechar-se o Lutou por manter-se acordado. Deus, como era possível que dormisse quando todo seu mundo acabava de derrubar-se? Mas não podia resistir o sonho.
De fato, não era sonho. Era, pensou aterrorizado, como morrer...
Morgan se levantou e saiu correndo do cinema. lhe dêem, que tinha estado vendo os eventos de sua própria vida recreados em uma tela, completamente atônito e cada vez mais furioso, viu-a partir e se levantou lentamente para segui-la. Ela tinha feito aquilo. De alguma forma, tinha conhecido seus segredos e os tinha contado ao mundo inteiro.
Ia pagar por isso. Aquela noite.
Lou tinha lido o expediente completo do DIP sobre ele suposto vampiro, Lhe dêem, antes de ver o filme que Mad Maxie tinha tantas vontades de ver. estreou-se fazia dois meses, mas naquele momento, com a nominação para o prêmio ao melhor guia, quase não havia nenhuma poltrona livre. Maxie as tinha arrumado para conseguir duas entradas em um cinema próximo a casa do Lou enquanto ele ficava em casa lendo, e ela havia tornado para lhe dizer que ainda ficavam duas horas até que começasse o filme.
Durante esse tempo, tinham estado repassando juntos o expediente, assim quando viram o filme, sabiam que era a mesma história. Não tão seca como na versão oficial, em realidade. Muito mais fascinante.
Entretanto, no principal ambas as versões coincidiam. Um moço cigano que recebia um disparo mortal e que era transformado em vampiro por uma tia exótica que nunca envelhecia. A única diferença era que o filme transmitia compreensão pelo vampiro. Aparecia como um ser ferido e solitário, maldito e açoitado. O expediente o retratava como um animal vicioso que tinha que ser exterminado.
Lou sabia que nunca poderia convencer ao Max de que ambas as versões eram estupidezes.
— Agora te dá conta do que estou falando, Lou?
Ele caminhava a seu lado enquanto saíam da sala.
—Do único que me dou conta é de que sua informação secreta não é tão secreta, ao fim e ao cabo.
—Se isso fosse certo, seria do domino público. Algum repórter de investigação teria dado com este relatório. Lou, isto é real. Temos os mesmos feitos contados por duas fontes diferentes. A escritora do guia sabe muito mais que nós a respeito de tudo isto. Temos que falar com ela.
Quando entraram no carro, Lou se voltou para ela.
—Não quero falar mais contigo sobre isto. Amanhã pela manhã, vou pedir uns quantos favores que me devem.
—Não.
—Tenho um amigo que trabalha para a Cia Não é um peixe gordo, mas de todas formas saberá a quem pode lhe perguntar sobre isto... Sobre este lixo do DIP.
—Lou, não.
—Sou polícia, Max. Não vou tragar me este conto. Não posso fazê-lo, sem provas.
Então tomou a cara entre as mãos e se aproximou muito a ele. Tanto, que Lou sentiu sua respiração. Cheirava a pipocas quentes, e era igual de tentadora.
—Não o diga a ninguém, Lou, por favor. É muito perigoso.
O se fixou em que aqueles enormes olhos verdes refletiam medo. E não tinha visto o Mad Maxie Stuart assustada muito freqüentemente. Quando aquilo ocorria, significava algo. Demônios, oxalá não se aproximasse tanto a ele. Suspirando, levantou uma mão e lhe revolveu o cabelo carinhosamente, afastando sua cara dele no processo.
—Está bem. De acordo. Não direi nada.
—E temos que procurar à escritora. Morgan Da Silva. E falar com ela.
Ele suspirou, pôs em marcha o motor e conduziu até casa do Maxie.
—Pensarei-o —lhe disse quando se despediram.
—Farei-o contigo ou sem ti, Lou.
—Escuta, Maxie. Tem que ter paciência. me dê uns quantos dias para revisar tudo isto —e blandió o dedo indicador ante seu nariz, como se fora seu pai—. E nenhuma palavra a Lydia enquanto isso, entendido?
— Nenhuma palavra a Lydia sobre o que, Lou? —perguntou uma voz.
Ele voltou a cabeça e viu a Lydia em pessoa, ao lado do carro. Parecia que tinha estado esperando a que Maxie chegasse a casa.
—Vêem comigo, Lydia —lhe disse Maxie enquanto saía do carro e se encaminhava para sua casa—. Lhe explicarei isso tudo. Vemo-nos logo, Lou.
—Mas...
—Até mais tarde, Lou —lhe disse Lydia.
Lou sacudiu a cabeça, perguntando-se como era possível que tivesse perdido tão rápido o controle da situação.
—Escuta, Lydia, diga-te o que te diga, não são nada mais que conjeturas.
Lydia pôs-se a andar detrás o Maxie sem lhe emprestar atenção.
— Não façam nada sem me chamar primeiro! Entendido?
Maxie olhou para trás por cima de seu ombro enquanto abria a porta.
—É obvio que não. Não seria divertido sem ti.
As duas entraram na casa e a porta se fechou.
Lou não se foi a casa. Voltou para a delegacia de polícia, porque ali era onde guardava todos os telefones dos contatos que tinha. Chamou a seu amigo e lhe pediu que averiguasse o que pudesse sobre uma suposta agência secreta da RECUA, chamada DIP.
Então voltou para casa do Maxie e estacionou perto para vigiar o lugar durante toda a noite.
Morgan sentiu que uma mão lhe posava no ombro com suavidade enquanto estava sentada na praia, chorando.
— por que chora?
Era a voz de uma mulher, profunda e rica, com um ligeiro acento. Morgan levantou a cabeça e se secou as lágrimas das bochechas. Quase não via a mulher. Era uma visão imprecisa de alguém alto e esbelto. Tinha o cabelo negro e levava um casaco de cor vermelha escura.
—OH, Deus, deve você pensar que sou idiota.
—Não. Também me afetou muito o filme. Não tanto como a ti, entretanto —disse, e se sentou na areia, junto ao Morgan.
— Estava você no cinema?
—Mmm. Vi-te sair correndo, chorando, e me preocupei.
Finalmente, ao Morgan lhe esclareceram olhos e pôde ver a mulher. O casaco lhe chegava quase até os pés, e levava umas botas de couro negro e luvas da mesma cor. Tinha o cabelo espesso e encaracolado, e ia muito maquiada, muito, para ele gosto do Morgan. Estava olhando ao mar.
— por que saíste correndo do cinema, dessa maneira?
Morgan baixou a cabeça e a sacudiu lentamente. Parecia que a mulher não sabia quem era ela, e preferia que as coisas continuassem assim.
—A história me parece muito real. Vi-a uma dúzia de vezes —e mais, em sua mente—. E cada vez, reajo da mesma forma cada vez que sua família o rechaça dessa forma. Enviam-no sozinho a um mundo de escuridão. Suponho que me afeta em algum sentido.
—Mmm. A mim também. Minha família me tratou da mesma forma —se voltou e olhou ao Morgan aos olhos—. Suponho que a ti também, verdade?
—Sim —respondeu ela, sem querer. Como se a mulher lhe tivesse tirado as palavras. Tinha uns olhos assombrosos, negros, brilhantes. Fazia tempo que tinha anoitecido, e as ondas rompiam com suavidade na borda, baixo o céu cheio de estrelas.
—Conta-me o lhe disse a mulher, com a voz baixa e suave. Persuasiva.
—Eu... nunca tive uma relação profunda com meus pais. Só depois de que morreram soube que era adotada.
—Ahh —disse a mulher, deixando escapar um suspiro—. Pobre. E você te perguntou por sua família real. Por sua sangue —enquanto falava, apartou- o cabelo do ombro ao Morgan, e seguiu com seu olhar a linha do queixo até o pescoço. Morgan sentiu que a pele lhe ardia.
— Sim —respondeu—. Me pergunto como eram.
—Possivelmente é por sua história pelo que sente tanta empatia com lhe Dêem, o vampiro do filme.
—Ou possivelmente seja porque vivo em sua casa.
A mulher abriu muito os olhos. Sua voz já não soou suave, a não ser um pouco crispada.
— O que quer dizer com isso, criatura?
No que estava pensando? Deus, uma metedura de pata como aquela poderia terminar com toda sua carreira. Nunca admitiria que o protagonista de seus filmes era a criação de outra pessoa, e muito menos que ela vivia em uma casa que tinha sido de lhe Dêem. Se o fazia, todo o resto se saberia também. saberia-se que tinha plagiado suas divagações e sua loucura para criar seu trabalho. Tentou sorrir, e sacudiu a cabeça.
—Refiro-me a que a casa de um dos filmes se parece muito à minha, isso é tudo.
—OH.
Morgan teve a sensação de que a mulher não a tinha acreditado. ficou de pé e se sacudiu a areia das calças, voltando-se para a mulher enquanto o fazia.
—Deveria ir, está-se fazendo tarde...
Não havia ninguém.
Morgan piscou e olhou em todas direções, inclusive para a água, mas não viu ninguém.
Deus, teria imaginado também a aquela mulher moréia? ficou uma mão na frente e fechou os olhos.
—Possivelmente seja que preciso escapar daqui durante uma temporada. Só uma temporada.
Mas, inclusive enquanto o dizia a si mesmo, sabia que aquilo não era possível. Não podia partir. Não era só uma questão de querer fazê-lo. No momento no que pronunciou aquelas palavras, sentiu-se doente, presa do pânico. Não podia... deixá-lo.
— Que demônios te crie que estava fazendo com essa garota, Sarafina? —perguntou-lhe lhe Dê, e seu tom era duro. Muito duro, possivelmente, porque fez que Sarafina arqueasse as sobrancelhas interrogativamente.
—Então, conhece-a. Mmm. O que é para ti?
—Nada —lhe soltou a resposta sem olhá-la, para que não se desse conta—. O que está fazendo aqui? Não podia acreditá-lo quando senti sua presença no cinema.
Sarafina se encolheu de ombros inocentemente, embora ele sabia muito bem que não havia nenhuma pingo de inocência nela.
—vim a verte. Não pude evitar sentir que estava na sala quando passava por ali, assim entrei. Imagine minha surpresa quando vi nossa história na tela.
Ele fechou os olhos, incapaz de responder a aquilo. ficou-se em estado de shock quando tinha visto sua vida no cinema. Parecia-lhe que era outra traição, especialmente, ao ter averiguado a verdade. Era Morgan. Ela tinha escrito o guia.
Uma vez mais, uma mulher que dizia que o queria o tinha traído contandoseus segredos a seus inimigos. A todos. Ao mundo inteiro.
—Parece que também tinha um efeito inquietante na moça, quem quer que fosse. Note na forma em que saiu correndo do cinema —Sarafina cravou seus olhos nele—. Lhe perguntarei isso de novo. O que é ela para ti, Lhe dêem?
—É uma mortal inocente, e nada mais —não lhe disse que tinha estado muito perto, escutando cada palavra da conversação que tinha tido com o Morgan. Tinha acreditado que teria que intervir.
—OH, é muito mais que uma mortal comum. Muito, muito mais —disse ela, e o tirou da mão. Passearam pela praia, a dois quilômetros do lugar no que Sarafina tinha estado falando com a garota—. Mas já chegaremos a isso. por que me interrompeste quando estava tendo uma conversação tão esclarecedora com a moça?
—Para evitar que saltasse a seu jugular, querida tia. É daqui, e a sentiriam falta de.
Para falar a verdade, ele tinha estado seguindo ao Morgan com a mesma idéia, destrui-la. Mas quando tinha visto a Sarafina, sedenta de sangue, a seu lado, havia sentido uma punhalada de medo e o instinto irresistível de protegê-la. Tinha-lhe gritado a Sarafina com a mente, e ela tinha respondido indo a seu lado com tanta rapidez que o olho humano não teria podido detectá-lo.
—Isto demonstra o mal que te ensinei —disse ela—, e o isolado que estiveste durante todos estes anos. Não poderia lhe haver feito mal embora tivesse querido. Ela é uma escolhida.
Ele assentiu.
—Isso já o deduzi por mim mesmo. Mas tenho que admitir que sei muito pouco sobre isso, além do fato de que compartilham o mesmo antígeno que nós, e de que podem converter-se no que somos. Suspirando, Sarafina assentiu. —Eu sabia que estava no cinema antes de que tivesse passado um segundo —disse. deteve-se quando chegaram a uma grande rocha, e se sentou em cima como se fora uma rainha sentando-se em seu trono. Dêem ficou a seu lado, olhando-a, enquanto ela olhava o mar—. Nós sentimos sua presença. Isso já sabe. E não podemos lhes fazer danifico.
— Não podemos? —ele refletiu sobre aquilo durante uns instantes—. Acreditava que não nos sentíamos inclinados a fazê-lo. O que ocorreria, por exemplo, se o tentássemos?
Ela o olhou rapidamente.
— Tem alguma razão para querer fazer machuco a essa garota?
—Quase não a conheço —respondeu ele, desviando o olhar.
Sarafina se encolheu de ombros de novo.
—Se o tentássemos... bom, não estou segura do que ocorreria. A verdade é que nos sentimos obrigados a protegê-los, quando nos cruzamos com eles.
Aquilo explicou seu impulso de interpor-se entre o Morgan e sua tia.
—E vivem muito pouco tempo, sabe?
Ele ficou surpreso. Morgan o havia dito, mas ele não o tinha acreditado.
—Não, não sabia —mentiu ele. Não queria lhe dizer a sua tia o muito que ele e Morgan se comunicaram.
—Mmm. Não vivem mais de trinta anos mortais, na grande maioria dos casos. Parece que ela se está deteriorando muito.
— E o que se pode fazer? —perguntou-lhe, lhe olhando a cara.
—Nada. Transformá-la, ou deixá-la morrer. É uma eleição muito fácil, em realidade. Dizem que por cada vampiro existe um eleito com o qual o vínculo psicológico é mais forte. Eu sempre pensei que isso é uma estupidez. É romantismo, e nada mais.
— OH, de verdade? Está-me dizendo que seu vínculo comigo não era assim?
—Meu vínculo contigo não era nada disso, Lhe dêem. Você é de minha família. É meu sobrinho. O único de meu clã que tinha conexão comigo. Eu te queria por essa razão —disse ela, olhando ao mar de novo. "O vento lhe apartou os cachos dos ombros—. Não. diz-se que este outro vínculo é muito mais forte, e que os vampiros podem inclusive comunicar-se mentalmente com seus escolhidos. Também se cria um extremo apetite sexual entre os dois, e se intensifica quando compartilham a sangue. Ela olhou a lhe Dêem e ele apartou o olhar.
— Está vivendo em sua casa, Lhe dêem?
Ele controlou sua expressão e dissimulou seus pensamentos.
—Sim.
—Então, onde está vivendo você? Ele não queria que Sarafina visse o interior da casa do Morgan. daria-se conta de que era ela a que estava escrevendo os guias dos filmes. Embora aquele segredo não poderia ser mantido durante muito tempo, se Sarafina ficava no povo. Entretanto, quanto mais tempo se mantivera, melhor. te dêem pensou que se alguém era capaz de passar por cima do instinto de proteger aos escolhidos, essa era Sarafina. E o faria, se averiguava a verdade. Mataria à garota, sem lhe importar as conseqüências.
—Em uma cova. Nada que te resultasse agradável. Ela arqueou uma sobrancelha.
— aluga-se uma casa muito perto daqui. Quer que a consiga?
Ele assentiu ligeiramente, pensando em quanto desejava ver o Morgan aquela noite, perguntando-se como demônios ia se liberar de sua tia.
—Essa será nossa missão esta noite —disse ela—. Manhã de noite veremos o filme de novo, inteira. E temos que averiguar quem lhe está contando a história aos produtores, e como conseguiu a informação. Parece que é deste povo, embora certamente o homem já se mudou a outra cidade mais glámurosa.
— O homem? —perguntou lhe Dê, franzindo o cenho.
—Morgan... não se o que. Amanhã lerei o nome completo —disse, e sorriu—. Mas esta noite temos que conseguir essa casa. Está bastante isolada. Podemos ficar ali hoje, e ninguém saberá.
te dêem assentiu lentamente, pensando.
—você vete primeiro —lhe sussurrou—. Eu irei de madrugada. Tenho que... me alimentar.
—Está bem. A casa estará preparada. Está ao norte do povo. É uma casa vitoriana, que agora pintaram que um horrível amarelo.
Ele assentiu. Sabia exatamente a que casa se estava refiriendo Sarafina.
—Francamente, surpreende-me que a estas alturas não a tenha alugado para ti.
E para que ia fazer o? Tinha estado vivendo baixo os pés da mulher que seu corpo ansiava. E já sabia por que a desejava tanto, embora aquilo não servisse para aplacar seu apetite.
—Eu necessito muito pouco para estar cômodo, Sarafina.
Ela se aproximou, agarrou-lhe o pescoço e o beijou nos lábios.
—Vêem antes do amanhecer, amor, ou sairei para te buscar.
—Farei-o.
Então, partiu. Ele esperou até que seus sentidos não puderam perceber sua presença nas cercanias, e foi se procurar ao Morgan. Já não podia jogar mais com ela. Necessitava respostas, naquele mesmo momento.
Eram as quatro da manhã quando soou o móvel do Lou, e o tirou do que tinha sido um pouco parecido a uma siestecita. Tinha estado sentado no carro durante toda a noite, vigiando a casa do Maxie. Pensou que possivelmente Lydia se ficou dormindo ali, porque ainda não se partiu. E, demônios, não a culpava, se era que Maxie lhe estava contando as histórias de vampiros que tinha ali.
Ele respondeu à chamada.
— Sim?
—Malone, onde demônios está?
Ele franziu o cenho para ouvir a voz familiar de seu companheiro.
— Denny?
—estive te buscando por toda parte, Lou. Escuta, será melhor que venha aqui, e rapidamente.
—Jesus, não estou de serviço... —olhou de novo o relógio.
—Não me refiro à delegacia de polícia. A sua casa, Lou. entrou alguém, Y... não é nada bonito.
Ele notou uma opressão na garganta. Pelo tom de voz do Denny soube que não lhe diria nada mais por telefone, assim não se incomodou em perguntar.
—Agora mesmo vou.
—Sim... né... estiveste com alguém esta noite, será melhor que venha contigo.
Lou piscou, separou-se o telefone da orelha e ficou olhando-o. Depois voltou a aproximar-lhe à cara.
— Está me dizendo que necessito um álibi, Denny?
—Pode que não seja má idéia.
Lou soltou um juramento.
— Que demônios está acontecendo ali?
Muito tarde. O sargento Dennis Kehoe já tinha pendurado.
Alguém deu um golpecito ao guichê do carro do Lou, e ele salto tanto que quase se deu com a cabeça no teto. Só era Maxie, sonriéndole e lhe ensinando uma taça de café que tinha na mão. O se guardou o telefone e baixou o guichê.
Se quer te acontecer a noite inteira me vigiando, Lou, poderia havê-lo dito. Não ia objetar nada.
Mas seria mais divertido se o fizesse desde mais perto.
— Assim sabia que estive aqui toda a noite?
Ela sacudiu a cabeça.
—Toda a noite não. Foi durante vinte minutos ao princípio, não te lembra?
—Demônios —claro que se lembrava. Tinha ido à delegacia de polícia a chamar a seu amigo da Cia
— O que ocorre, Lou?
— Onde está Lydia?
—Está dormida. por que?
—Entra em carro. Tenho que ir a minha casa um segundo.
—Está bem, está bem, Lou — Maxie rodeou o carro e entrou—. Não tem muito bom aspecto. Encontra-te bem?
—Contarei-lhe isso quando chegarmos a minha casa.
Resultou que nada ia bem. Soube assim que chegou a sua casa e nem sequer pôde entrar em estacionamento porque estava passado os laços. Havia cordão policial em todas as entradas, e uma ambulância se estava partindo naquele mesmo momento.
— Que demônios?
Lou pôs ao Maxie uma mão no ombro para acalmá-la. Parou o carro e saíram.
— Será melhor que espere aqui. Virei se te necessito.
—Não —lhe respondeu ela. aproximou-se dele e lhe agarrou por braço enquanto caminhava a seu lado.
—Malone —lhe disse o capitão Howard Dutton, o chefe do Lou, levantando a cinta para que pudessem entrar—. Preciso saber onde estiveste esta noite. Toda a noite.
—esteve comigo — Maxie soltou as palavras antes de que Lou pudesse abrir a boca—. Quem ia na ambulância?
O capitão piscou. Lou sabia que não estava acostumado a que lhe fizessem perguntas, e muito menos uma moça como Maxine Stuart. Voltou a olhar ao Lou.
— estiveste com esta mulher toda a noite?
—Não —respondeu Lou—. A deixei em casa por volta das dez. Fui à delegacia de polícia a procurar uma coisa que me tinha deixado no escritório, e depois voltei. Foram uns vinte minutos.
— Viu-te alguém durante esse tempo? Há alguém que possa verificar que não voltou aqui, ao apartamento?
Lou notou que lhe encolhia o estômago.
—Não.
— Sim, capitão —cortou Maxie de novo. Os dois homens a olharam com cara de poucos amigos. Max se encolheu de ombros—. Lou, admito-o. Acreditava que te tinha escapado para ir ver outra...
— A outra? — de que demônios estava falando?
—Assim que te segui. Vi-te entrar na delegacia de polícia e esperei a que saísse. Depois voltei para casa.
— E o oficial Malone não a viu, senhorita?
—Eu... estacionei e entrei por detrás. Ele não se deu conta de que tinha saído —disse, e se cruzou os braços sobre o peito—. E agora, por favor, poderia nos dizer o que ocorreu? Quem estava nessa ambulância?
O capitão suspirou e se dirigiu de novo ao Lou.
—viemos porque nos chamaram para nos dizer que havia alguém em seu edifício, Lou. Quando chegamos, a porta de seu piso estava aberta, tudo estava destroçado e atirado pelo chão, e havia uma mulher no chão. Tinham-na disparado na cabeça a quemarropa.
Encontramos uma pistola do calibre vinte e dois no chão, ao lado. Não havia rastros —se voltou—. Denny, onde está a arma?
— Aqui, senhor — Dennis levantou a bolsa da prova.
—É minha —disse Lou ao vê-la—. É a de reposto. Guardo-a no armário.
—Isso pensei eu —disse o capitão. voltou-se e os conduziu pelas escadas, para o piso—. Necessitamos que lhe jogue uma olhada, se por acaso falta algo.
Lou assentiu. Caminhou atrás do capitão, com o Maxie a seu lado.
— E o que passa com a mulher? —perguntou—. Está morta?
— vão tentar salvá-la, mas não acreditam que sobreviva a esta noite. Acreditam que esteve aqui durante cinco ou seis horas. Não encontramos ao intruso, mas um vizinho há dito que ouviu algo como um disparo às dez da noite. Acreditou que era o motor de um carro e não lhe deu importância. O carnê de identidade da vítima diz que se chama Tempest Jones. Conhecem-na?
Max deixou de andar. Lou se voltou a olhá-la enquanto processava o nome, que lhe resultava vagamente familiar. Então lhe esqueceu tudo, quando viu a cara do Max, pálida, sem poder articular palavra. Ela o agarrou fortemente do braço e lhe encheram os olhos de lágrimas.
—Stormy —sussurrou.
Stormy. A melhor amiga do Maxine. Max caiu de joelhos e ele a agarrou rapidamente para evitar que caísse de tudo. O capitão se voltou.
—Então, conhecem a vítima?
—É uma amiga —disse Lou. Max o tinha abraçado pela cintura para sustentar-se, e tinha enterrado a cabeça em seu ombro. Ele sentiu a umidade de suas lágrimas ali. Ela estava chorando silenciosamente.
—Escute, chefe, não poderia assegurar o piso e deixar a um homem vigiando? Eu preciso levar ao Maxie ao hospital.
O capitão pôs má cara, mas assentiu.
— Sim, claro. Mas me diga uma coisa, Lou. até que ponto conhecia você a essa garota, ao Tempest Jones?
Ele sacudiu a cabeça.
—O suficientemente bem para compartilhar café e donuts com ela. Não o suficientemente bem para reconhecer seu nome legal à primeira. Serve-lhe isso?
O capitão suspirou e inclinou a cabeça.
—Adiante.
—Obrigado —Lou se separou um pouco do Maxie e a guiou para o carro, abraçando-a, e a ajudou a entrar em assento do co-piloto.
De caminho, Maxie lhe perguntou, entre suaves soluços:
— Que demônios ocorreu? por que ia Stormy a sua casa?
—Não sei. Não tenho nem idéia, Max —lhe respondeu. Depois baixou a cabeça. Não gostava de pensar no que estava pensando, mas todo aquilo tinha ocorrido depois de que ele fizesse essa chamada a seu amigo da Cia E Stormy Jones era uma das pessoas às que esse tipo tinha ameaçado cinco anos atrás. Max o havia dito.
Não podia ter relação. Deus, não podia.
Quando Dão chegou a casa do Morgan aquela noite, começou a lhe picar a pele, mas naquela ocasião não era pela atração que sempre sentia quando se aproximava dela, mas sim de alerta. Olhou a seu redor e viu um carro estranho. Não cheirava a fumaça no ar, assim devia ter parado certo tempo. A pessoa que estava com o Morgan tinha estado esperando a que voltasse.
Fechou os olhos e afinou os sentidos. como sempre, a essência do Morgan era clara e fácil de localizar. A outra era mais difícil de perceber. Custou-lhe esforço, como se aquela pessoa, um homem, tivesse construído um muro ao redor de sua mente. Havia algo naquele estranho que desagradou a lhe Dêem. Sentiu que era... perigoso.
Aproximou-se da casa e pôs as Palmas das mãos nos muros para tentar entrar na mente do Morgan. Ao encontrar resistência, sussurrou-lhe: «te abra a mim, Morgan. Só sou eu. me deixe entrar».
E ela o fez imediatamente. Com um suspiro, relaxou-se e lhe abriu sua mente e sua alma. Ele se encontrou vendo com seus olhos e escutando com seus ouvidos. Não tomou o controle; nem sequer estava seguro de consegui-lo se o tentava. Aquele não era o propósito de aproximar-se tanto a ela. Queria protegê-la, o qual era estranho, considerando que se pôs o suficientemente furioso para matá-la.
O homem estava de pé, a costas do Morgan, observando a casa e assentindo falsamente.
—É muito agradável o que tem feito você com esta velha casa.
—Eu gosto de —replicou ela—. Mas há dito que tinha vindo a me entrevistar sobre meu trabalho, senhor Stiles.
—Por favor, me chame Frank. Dou-me conta de que deveria ir ao grão. Nunca a teria incomodado às quatro da manhã se não a tivesse visto entrando em casa. Não me cabe dúvida de que está cansada. foi muito amável por sua parte me deixar entrar.
—Bom, você há dito que conduziu durante seis horas para chegar a tempo para fazer a entrevista e poder inclui-la na tiragem desta semana. Mas, tal e como lhe hei dito, tem que ser breve. Quer sentar-se?
Não lhe ofereceu nada de beber, e ele tampouco o pediu. deu-se a volta e se sentou em uma poltrona. te dêem viu sua cara através dos olhos do Morgan e sentiu que o coração lhe dava um salto no peito. Ou era o coração do Morgan?
O lado esquerdo da cara do homem estava enrugado e rosa, como se fora uma boneca de borracha derretida. Não tinha cabelo nesse lado da cabeça, e tinha a pálpebra cansada e a orelha desfigurada.
O homem queimado sorriu ao Morgan, e ela, fazendo ornamento de sua educação, devolveu-lhe o sorriso. Mas ela também estava sentindo algo desagradável para o homem, e não era devido a sua aparência. Sentia que havia algo mau baixo sua aparência, da qual ele não tinha a culpa.
—Deve estar muito entusiasmada por sua nominação —lhe disse—. A merece.
—Obrigado. Sim, estou contente, e de uma vez afligida porque o filme tenha tido uma acolhida tão boa.
—É um bom filme —tirou uma caderneta e uma caneta como os que se supunha que levaria um repórter, mas aquilo não enganou a lhe Dêem—. Mas houve outras dois antes. por que pensa que esta teve muito mais êxito?
—As duas primeiras tinham muito menos pressuposto —respondeu Morgan—. Mas, inclusive assim, também tiveram um público de culto que esteve muito além de nossas expectativas. Isso, é obvio, facilitou-nos o fato de poder fazer a terceira com muitos mais médios.
O homem assentiu.
— Haverá uma quarta?
—É obvio.
O homem assentiu de novo, escreveu e sorriu, enquanto a lhe Dêem lhe faziam nós no estômago.
—Acredito que estes filmes têm um realismo de que carecem os outros filmes de vampiros. O personagem de lhe Dêem... é completamente verossímil. Muito real.
Morgan tragou saliva, incômoda. «Ele é real», sussurrou sua mente. E em alto, disse:
—Bom, essa é a chave da boa ficção, a verossimilhança.
— É obvio —disse o repórter—. Mas isto está além do acreditável. É... bom, quase como se fora uma história real. E quando soube que sua casa tinha sido uma vez de um homem chamado lhe Dê, bom, tenho que admitir que senti muita curiosidade.
Morgan ficou em tensão.
— Do que está falando, senhor Stiles?
—OH, vamos, é do domínio público.
Ela sacudiu a cabeça lentamente.
—Não, não o é —então, recuperou a compostura—. Não sei de onde tirou essa informação, mas é incorreta. Esta casa foi abandonada por seu proprietário anterior, o senhor Daniel Taylor. O Estado a reclamou quando ele morreu sem herdeiros, e meu tio David a comprou.
—Daniel Taylor é um dos muitos aliás que o vampiro te Dêem usou durante seus anos de vida.
—meu deus, você tem uma grande imaginação — disse ela, pondo cara de estar contemplando a um louco.
—É uma realidade. Exatamente igual aos fatos que se contam em seus filmes são reais também.
Ela ficou de pé.
—Está você mal da cabeça se pensar que os vampiros existem de verdade, senhor Stiles. E eu não gosto de entreter a estranhos instáveis em minha casa em plena noite. Já é hora de que parta.
—Eu acredito que já é hora de que você me diga a verdade. Os vampiros são reais, senhorita Da Silva. Você sabe, e eu também. E ele vai se zangar muito quando souber que você esteve fazendo filmes com seus escuros secretos.
Ela cruzou a habitação, dirigiu-se à porta principal e pôs a mão sobre o trinco. O homem a seguiu e pôs sua mão sobre a do Morgan no pomo.
—Não sou jornalista —lhe disse—. Trabalho para o governo. Passei-me a vida estudando a criaturas como lhe Dêem, senhorita Da Silva, e sei o suficiente para lhe advertir de que está você correndo um grave perigo. Se ele a encontrar...
— Saia —disse ela, e abriu a porta apesar de que ele a estava sujeitando—. Agora, Stiles!
— Como conseguiu toda essa informação sobre ele?
—Se não partir, vou chamar à polícia.
—Eu não vou permitir se o
Sua mão se moveu, rápida como um raio, e pulsou os números no painel da parede antes de que ele pudesse reagir.
—Já está. A polícia chegará em cinco minutos.
—Estou tentando ajudá-la. É um monstro, senhorita Da Silva. Encontrará-a e a matará, a menos que me deixe ajudá-la.
Ela se inclinou para ele e o olhou aos olhos.
—Os vampiros não existem —sussurrou, e depois sorriu para ouvir o som de uma sereia—. Mmm, mais rápido do que eu tinha pensado.
O homem deixou escapar um suspiro de frustração e saiu correndo da casa. Ela viu o carro afastar-se e memorizou a matrícula. Depois fechou a porta e jogou o ferrolho. Depois, lenta, muito lentamente, começou a pensar no que lhe havia dito o homem. Que te Dêem era real. Que ficaria furioso com ela por compartilhar seus segredos com o mundo. Que a mataria.
Mas ele não podia matá-la, pensou vagamente. Ele a queria. Não, corrigiu-se, ela o queria a ele. Se fosse real, ele a corresponderia, porque não se podia negar ele poder daquele vínculo. Mas lhe Dêem não era real. Não existia, assim não a queria. E certamente, não podia lhe fazer danifico.
lhe dêem se retirou de sua mente e começou a sentir seu próprio corpo de novo. Abriu os olhos e moveu as mãos, apertando os punhos várias vezes. O som da sereia se estava aproximando. Fazia uns minutos que Stiles se partiu, mas a polícia se estava aproximando e a aurora também. Entretanto, ele não se foi com a Sarafina, nem à casa que ela, sem dúvida, tinha preparado. Não se foi longe.
—Disse-me que era jornalista —lhe explicou Morgan à polícia. Era um homem amável e algo corpulento, que se chamava Sandy Gray.
—Assim que você lhe deixou entrar —disse Sandy—. Lhe ensinou alguma identificação?
Ela sacudiu a cabeça e lhe explicou à polícia que o homem se identificou como Frank Stiles e lhe contou parte da conversação que tinham mantido.
—Assim que —lhe perguntou Sandy ao final—, não lhe tem feito mal a você, nem o tentou?
—Não.
— E não se levou nada?
—Não.
—Então, não vejo que realmente se cometeu nenhum crime aqui. Não partir exatamente no momento no que você o pediu não é exatamente um comportamento criminal.
— Suponho que não —admitiu Morgan, com um suspiro—... Mas não é uma situação comum. Não é que tenha má intenção contra ele, mas eu sou famosa, e acredito que quer algo e que voltará.
Ele a olhou fixamente.
— Acredita que é um fã obcecado? Algo assim?
—Pois é possível, não?
Pareceu que aquilo funcionava muito melhor que qualquer outra coisa que lhe houvesse dito. O policial assentiu.
— por que não me dá uma descrição detalhada, senhorita? Farei que circule entre os agentes e que mantenham os olhos bem abertos.
Ela descreveu ao Frank Stiles com precisão, mas não mencionou que lhe havia dito que trabalhasse para o governo, nem aos vampiros, nem suas acusações de plágio.
—Também... né... memorizei o número de sua matrícula quando partia.
— De verdade?
Ela assentiu e o disse. O policial o tinha pontudo tudo em sua caderneta, e quando anotou o número ficou pensando. Depois a olhou.
— É de Maine?
—Não, de Nova Iorque.
—Hm. Estará você bem o resto da noite, aqui sozinha?
Teve o estranho pressentimento de que não estava sozinha, mas isso não tinha sentido absolutamente. Não entendia de onde tinha saído aquela idéia.
—Estarei perfeitamente. Tenho o sistema de segurança, e esta vez não deixarei entrar em nenhum estranho.
—Esse é um bom plano —disse o policial—. Faremos que passe um carro patrulha por aqui umas quantas vezes esta noite, de acordo?
—Muito obrigado, oficial Gray —lhe disse, e fechou com chave depois de que ele partisse.
Depois foi a sua habitação, deu-se uma ducha rápida, ficou uma camisola e se meteu na cama com outro dos volúmenes dos jornais de lhe Dêem.
Entretanto, não podia concentrar-se aquela noite. As palavras de outro homem, o homem queimado, lhe repetiam na mente uma e outra vez. «Os vampiros são reais... te dêem é real, e vai ficar furioso quando averiguar que...»
Suspirou e tentou voltar para a leitura. De repente, umas palavras lidas ao azar captaram sua atenção.
Trampilla... Baixo a casa... Ataúde...
estremeceu-se. Aquilo era algo que podia verificar facilmente. Fechou o livro, saltou da cama e baixou as escadas para o que tinha sido o despacho de lhe Dêem. Sua estadia favorita, e a do Morgan, também. Tragou saliva e tirou o tapete oriental que havia frente à chaminé.
O estou acostumado a estava perfeito. Não havia dobradiças nem a marca de uma trampilla, nem nada parecido. Entretanto, recordou que ela tinha feito instalar um soalho novo no chão. Além disso, muitas vezes tinha tido a sensação de que te Dêem estava perto dela, de que a acariciava, de que entrava em sua mente. Quantas vezes durante as últimas semanas? E, sobre tudo, quando estava naquela habitação.
Tomou o atiçador da chaminé e começou a dar golpecitos no chão. Tap, tap, tap, toe...
deteve-se, geada, perguntando-se se tinha ouvido algo diferente ou se só o tinha imaginado. Começou a dar golpecitos de novo e o som voltou a trocar no mesmo lugar, no lugar aonde se supunha que estava a trampilla.
Morgan se ajoelhou e colocou o bordo do atiçador entre as pranchas. Fez alavanca com todas suas forças e se apoiou com todo seu peso sobre o atiçador. Finalmente, um dos tablones cedeu e se levantou. Sem fôlego, suando, Morgan ficou ali, olhando baixo o tablón. Havia uma tabela mais velha, podre, e com um só golpe do atiçador a rompeu e fez um oco que dava diretamente ao negro vazio que havia baixo a casa. Quase sem poder respirar, Morgan foi por uma lanterna e voltou para iluminar para baixo. Havia uma escada de caracol justo debaixo dela.
ficou de pé e notou que o coração lhe pulsava tão forte que parecia que ia explorar lhe no peito.
—meu deus, será certo? É possível que seja real? lhe dêem? —sussurrou.
Tomou de novo o atiçador e levantou vários tablones. Depois rompeu a madeira podre, até fazer um buraco o suficientemente grande para poder entrar.
Tragou saliva, tomou o atiçador e a lanterna e baixou pela escada.
Morgan não estava em sua habitação quando te Dêem olhou pelas cristaleiras do balcão. Estava furioso com ela, sim, ansioso por enfrentar-se a ela e desatar sua raiva pelo que tinha feito. E igualmente ansioso, entretanto, por lhe fazer o amor com sua mente, inclusive embora fora uma tortura para seu corpo. Tinha fome dela, embora também queria estrangulá-la até sossegá-la para sempre.
Mas ela não estava na cama, esperando suas carícias ou sua fúria vampírica. Tampouco estava no quarto de banho, deixando que a água escorregasse por sua pele de alabastro na banheira para que ele pudesse vê-lo, ou afogá-la. De fato, seus sentidos lhe disseram que estava longe daquela parte da casa, e agitada em extremo.
Pensou no encontro que Morgan tinha tido com o homem queimado, e se sentiu preocupado. Parecia-lhe idiota, mas todas as células de seu corpo lhe doíam por ir com ela, por protegê-la e salvá-la. Ele já não sentia a presença do homem, mas sabia que Stiles não se renderia. Era o homem que tinha estado tentando caçar a lhe Dêem e aos de sua raça durante anos. Tinha que ser o filme o que lhe tinha conduzido ao Morgan. Stiles a usaria para chegar até ele se o necessitava.
Ao Morgan ocorria algo mau. te dêem sentiu uma dor terrível no estômago, que não era dele, notou que lhe cortava a respiração, notou que o medo o deixava petrificado. Não, o terror.
Não havia tempo para ser precavido. Respondeu a seu instinto e entrou por sua habitação. Baixou as escadas correndo e chegou ao despacho. Ali viu os tablones quebrados e o buraco junto ao tapete enrolado...
—OH, Meu deus, não...
lhe dêem não soube o que fazer. ficou gelado durante uns instantes, e então ouviu seu grito.
Morgan baixou as escadas com cautela até que se encontrou em uma sala escura, fria, e úmida. Moveu a lanterna para iluminar distintos rincões: o teto era de madeira e as paredes de pedra. A estadia continuava por um arco e se abria a outro ambiente mais pequeno. Pareceu-lhe estranho que não houvesse tecidos de aranha enquanto caminhava, quase nas pontas dos pés para o arco.
Entrou na pequena habitação, quase mais escura que a anterior, e viu uma lanterna de querosene e uns fósforos no chão. O farol estava limpo, e Morgan se aproximou e se agachou para acendê-lo. Quando se incorporava, viu como a luz amarela alagava a salita.
No outro extremo, sobre uma espécie de plataforma que a mantinha elevada do chão, havia uma caixa de madeira tão escura que parecia negra, com asas de prata brilhante nos flancos.
ficou ali olhando-a, enquanto sua mente recusava processar a informação que estavam recolhendo seus olhos. Entretanto, finalmente não pôde deixar de admitir a verdade: era um ataúde. Um grito de terror lhe escapou dos pulmões, ricocheteou nos muros e voltou a esconder-se em seus ouvidos.
mordeu-se o lábio inferior para silenciar-se e tentou controlar os batimentos do coração desbocados de seu coração. A tampa do ataúde estava fechada. Parecia antigo. Quanto tempo levaria ali? Deus, estaria ele dentro? Queria sabê-lo. Uma parte de sua mente lhe pedia que se aproximasse, que abrisse a tampa e que o visse... lhe dêem.
O resto lhe dizia que corresse. Entretanto, seu corpo não podia fazer nenhuma das duas coisas. Tremiam-lhe tanto as pernas que estava a ponto de cair. «Isto não é real. É outro de seus sonhos. Isso é tudo».
Mas não. Em seus sonhos ela era forte, vital, cheia de energia. Nunca sentia medo. E em seus sonhos, ele a queria.
Deus, seria possível que o homem queimado tivesse razão? Seria real a história que se relatava nos volúmenes da autobiografia? Seria possível que te Dêem estivesse descansado ali, naquele ataúde? Estaria perfeitamente conservado. Entre a vida e a morte. Imortal.
—Possivelmente não —murmurou—. Certamente, fez que o enterrassem aqui em segredo. Possivelmente só seja isso, o ataúde de um lunático rico e excêntrico que morreu faz cem anos. reduziu-se a ossos e pó. Isso é tudo.
E quando visse a prova de que lhe Dêem só tinha sido um homem normal com uma imaginação extraordinária e um grande talento para escrever, possivelmente isso fora suficiente para romper o feitiço que a obcecava.
Tomou ar e se aproximou do ataúde. Pôs as mãos com suavidade sobre a tampa, e se disse a si mesmo que tinha que abri-lo.
—Não o faça —a voz que pronunciou aquelas lavouras era rica, profunda, inquietantemente familiar. Ele estava detrás dela.
Morgan ficou imóvel e fechou os olhos. Ele tinha entrado silenciosamente. Ela não tinha ouvido uma pegada, nem um som. Nada.
—Deixa-o, Morgan. Não há nada que precise ver aí dentro.
Com os olhos ainda fechados, sussurrou:
— lhe dêem?
— Eu... —a voz titubeou, e Morgan abriu os olhos. Soube que quão seguinte dissesse seria uma mentira. Notou como passava o tempo enquanto ele tentava inventar algo convincente—. Sim, sou lhe Dê. Mas não sou o que você pensa. Ele era meu tatarabuelo.
—E está enterrado aqui —disse ela, continuando em seu lugar.
—Foi sua última vontade.
Ela assentiu.
— E por que está você aqui?
—Para verte. O filme que você escreveu era tão real, tão parecida com as ilusões daquele velho que quando soube que vivia na casa que ele tinha construído, soube que tinha conhecido suas fantasias, de algum modo, e que as tinha transformado em um guia. Ela não se voltou a olhá-lo. Não podia. Ainda não.
— Está dizendo que não são reais?
Ele forçou uma risada, a mais falsa que ela tivesse ouvido nunca.
—É obvio que não são reais.
— E você pudeste entrar em minha casa sem chamar?
—Estava a ponto de fazê-lo quando ouvi seu grito.
—Desde fora.
—Sim.
— E não se ativou o alarme quando entrou?
Ele não respondeu. Morgan tragou saliva, e seguindo um impulso levantou a tampa do ataúde. Estava vazio, forrado de cetim amarelado pelos anos. A tampa ficou levantada quando ela a soltou e se deu a volta, lentamente, para olhar a cara do amante de seus sonhos pela primeira vez.
Levava uns jeans e uma camisa negros, sem gravata nem jaqueta. Era muito moreno. Tudo nele era escuro, exceto sua pele branca. Tinha os rasgos afiados e os olhos afundados, de ébano.
Fez que lhe cortasse a respiração, porque o amava. Estava unida a ele de uma forma que não entendia. Era exatamente como ela o tinha imaginado. Familiar. Amado. Era dele.
—É real —sussurrou.
Ele a olhou em silêncio. Ela o sentiu, tentando penetrar em sua mente, para deixar ali a certeza de que todo aquilo era só outro de seus sonhos, para obrigá-la a acreditá-lo. Morgan abriu muito os olhos e sacudiu a cabeça.
—Deixa-o. Não é um sonho. Não conseguirá me convencer.
— por que está tão segura?
—Não merece a pena que o tente, Lhe dêem. Embora pudesse fazer o que quisesse em minha mente, quando despertasse encontraria os tablones do despacho, levantados e quebrados... não poderia arrumá-los antes de que se fizesse de dia.
Ele a observou com os olhos entrecerrados.
— Ou é muito valente ou muito estúpida, Morgan. Não sabe quão furioso estou pelo que tem feito? Deveria te matar.
—Então, faz-o.
Morgan se deu conta de que ele estava impressionado, mas não se deteve. baixou-se o pescoço da camisola, jogou a cabeça para trás e fechou os olhos.
—Faz-o, Lhe dêem.
O pulso lhe disparou, em resposta à sensação que lhe produziu sentir seus olhos no pescoço. Queria algo que não podia nomear. Sabia que, de todas formas, estava convocando-se, e se tinha que morrer, por que não fazer o da maneira que ele havia descrito com tanto erotismo em sua autobiografia? por que não podia morrer em um êxtase, enquanto ele apanhava sua essência?
E, de repente, ele a abraçou com força. Fechou a boca sobre seu pescoço e a mordeu sem lhe romper a pele, e sugou. Ela arqueou seus quadris contra ele e sentiu sua excitação. Morgan nunca havia sentido tanto fogo. Entrelaçou-lhe os dedos no cabelo e se retorceu entre seus poderosos braços, apertando seu corpo contra ele, arqueando a garganta contra sua boca faminta. Sentiu seus lábios, úmidos e quentes. Sua língua, acariciando-a e saboreando-a. A espetada suave e deliciosa de seus dentes mordendo-a um pouco, só um pouco.
Então, ele se separou dela com tanta violência que Morgan caiu ao chão sem fôlego. ficou ali, olhando-o aos olhos, que lhe brilhavam com um estranho luminescência. Tinha uma expressão de angústia infinita.
—Não tem nem idéia do inferno com o que está jogando, Morgan —lhe disse, com a voz rouca e tremente.
—Sei —respondeu ela, lutando por respirar—. Te conheço melhor do que nunca te tenha conhecido ninguém, Lhe dêem.
Ele ficou imóvel.
— Como?
Ela fechou os olhos e se desabou. De repente, encontrava-se muito débil. Todo aquilo era muito.
Ele soltou um suave juramento e se aproximou para tomá-la em braços. Subiu as escadas com ela e passou com cuidado pelo buraco na madeira do chão ao despacho.
—Está doente —lhe disse.
Ela assentiu e apoiou a cabeça em seu peito enquanto subiam pela escada para sua habitação.
— Sim. Mas não quero que troque de tema.
— Seriamente?
—Sim. Queria saber como cheguei a te conhecer.
Ele se inclinou para deixá-la sobre a cama. Sua cara estava a uns centímetros da do Morgan. Assentiu.
—Tenho que sabê-lo.
—Então, me faça o amor, Lhe dêem, e lhe direi isso.
Lhe cravou um olhar ardente nos olhos.
—Não posso fazer isso, Morgan. Está muito fraco.
—Não para isso —ela levantou um pouco a cabeça e o beijou no lábios—. Por favor...
Ele grunhiu brandamente. Devolveu-lhe o beijo e a atraiu contra seu peito. Acariciou-lhe os lábios com a língua e ela abriu a boca para recebê-lo, enquanto suas respirações se aceleravam. Saboreou-a e depois percorreu com a língua a linha de sua mandíbula e baixou até o pescoço, onde tinha estado antes, para beijá-la.
Depois a soltou.
—Não posso.
—Tem-no feito antes. Tem-no feito. Sei que era real, que não foi um sonho. Maldita seja, Lhe dêem, estiveste comigo, noite detrás noite.
—Não era real. Só estava em nossas mentes.
—Então, faz-o realidade!
Ele estava tremendo. Olhou para a janela e se deu conta de que ia amanhecer.
—Não diga a ninguém o que viu esta noite. Juro-lhe isso, Morgan: se disser uma palavra, morrerá. Entende-o? Não terei eleição.
— Realmente pensa que te trairia? meu deus, Lhe dêem, nunca o faria...
—Já o tem feito.
Ela piscou e se deu conta de que ele se referia aos filmes.
—Não é o que pensa.
—Contaste-lhe meus segredos ao mundo, Morgan. Alguns de meus melhores amigos morreram pelo que você revelou sobre minha raça em seus guias. Tentaram-me dar caça muitas vezes. O homem ao que conheceste esta noite me perseguiu desde muito perto.
Ela abriu muito os olhos, assombrada, aterrorizada.
—Não sabia. lhe dêem, eu nunca o teria feito se tivesse sabido que foi real! Tem que acreditá-lo!
Ele ficou de pé e foi para a janela.
—Tenho que partir.
Ela se levantou também, embora estava débil e exausta, e o agarrou pela camisa.
—Então, volta. lhe dêem, me prometa que virá para ver-me esta noite. Contarei-lhe isso tudo, juro-lhe isso.
—Ou possivelmente terá aqui ao homem, me esperando...
—Deixaria-lhe que me matasse, primeiro... —então caiu de joelhos, sem poder sustentar-se mais—. Morreria antes de te trair, Te dêem —disse em um sussurro.
lhe dêem se ajoelhou a seu lado e a abraçou contra seu peito. Depois tirou algo do bolso de sua calça. Era uma pequena cuchilla afiada, e se fez um corte no pescoço, deixando escapar um grunhido de dor enquanto o fazia.
Morgan ofegou e fixou o olhar nas gotas de sangue que brotaram. A essência chegou ao nariz, e sentiu uma luxúria fera no ventre. Lhe aproximou a cabeça a seu pescoço, mas Morgan não necessitava que o fizesse. Sabia o que necessitava.
Enterrou a cabeça na curva de seu pescoço e fechou a boca sobre o corte. Sugou com força, lambendo ansiosamente as gotas que lhe escapavam. Em um instante de loucura, lutou contra ele quando te Dêem tentou separá-la, apertando-se contra seu corpo, lhe cravando as unhas na mão, tentando roubar mais droga da que ansiava. Poderia lhe haver destroçado o pescoço com seus próprios dentes. Poderia havê-lo matado.
Ele a separou com facilidade, entretanto. Quando Morgan o olhou, viu em seus olhos a mesma fome e o mesmo brilho feroz. Deus, ele queria devorar a da mesma forma. Como um animal. Como um depredador.
Levou-a rapidamente à cama, foi para o balcão e desapareceu. Morgan ficou ali tombada, ofegando. Seu corpo se sentia vivo, palpitante, forte.
Aquilo, pensou, devia ser só um reflexo do que se sentia sendo... o que era lhe Dê. Um vampiro.
Ela queria sê-lo. De repente, queria sê-lo com todas suas forças. Queria ser uma vampiresa, e se perguntou se bebendo sua sangue chegaria a ser como ele.
Lhe dêem se dirigiu à casa que Sarafina tinha preparado a toda pressa. Encontrou-a ali, esperando-o. Saudou-a brandamente, sem deter-se em seu caminho para o porão.
— Onde estiveste? por que demoraste tanto? Jesus, é seu sangre o que estou cheirando?
—Um pequeno acidente.
— Não é certo! —agarrou-o pelo ombro para detê-lo, mas ele continuou andando e subiu à caixa que ela tinha preparado para ele. Ela tomou a tampa para impedir que ele se tampasse e conseguisse evitar suas perguntas.
Sabe muito bem que podemos nos sangrar com muita facilidade, Lhe dêem. por que foste tão descuidado?
—Tive um encontro com nossa caça vampiros desfigurado —lhe mentiu. Não podia lhe dizer a verdade. Se o fazia, ela exploraria. E nada, nem sequer o vínculo que Morgan tinha com eles, conseguiria proteger a da fúria da Sarafina. Sua tia era incrivelmente possessiva, não só escravos que mantinha, mas também também com ele. Ele era a única família que tinha, e aquilo significava muito para a Sarafina.
— O homem queimado? Está neste povo?
—Sim, assim tome cuidado —lhe Dê lhe pediu a tampa—. quanto antes durma, antes sanará a ferida, Sarafina.
Suspirando, e obviamente cheia de perguntas, Sarafina colocou a tampa sobre ele. Depois subiu a sua própria caixa e se tampou também.
O fechou os olhos e esperou. Entretanto, o sonho demorou para chegar. E inclusive quando finalmente chegou, Lhe dêem não pôde evitar que as imagens lhe invadissem a mente. Imagens dele e do Morgan, nus, entrelaçados. Seu corpo fundo no dela, seus dentes afundados em seu pescoço, sua sangue fluindo para suas veias. Deus, desejava-a. Queria possui-la inteira, sua alma, sua carne, sua sangue.
E sabia que a partir daquele momento, seria pior. Ela tinha bebido duas vezes dele, e ele a tinha provado, e sabia muito bem que voltaria a fazê-lo se não tomava cuidado. Se o fazia o amor, beberia sua sangue, e possivelmente toda. Não seria capaz de deter-se. E nele estado tão fraco em que se encontrava Morgan, mataria-a.
Não queria matar ao Morgan Da Silva. Queria... queria amá-la.
Mas havia um obstáculo insalvable: ele era incapaz de amar a ninguém.
Maxine e Lou estavam sentados na sala de espera do hospital. Levavam quatro horas ali, e já estava amanhecendo. Os pais do Stormy tinham sido avisados, e depois os tinham conduzido a uma habitação privada para que esperassem ali as notícias, mas ninguém tinha ido falar com eles no momento. Aquilo era a pior forma de tortura que ocorria ao Lou. Ter aos pais de uma moça ferida encerrados em uma habitação sem lhes dizer como estava sua filha.
—Deveria avisar ao Jay. Jason Beck —disse Max—. Certamente quereria sabê-lo.
Ao Lou não gostava de ver o Max daquela maneira. Estava pálida e tremente. Recordou ao menino ao que se estava refiriendo. Tinha sido a terceira parte do trio inseparável que tinham formado durante todo o instituto e a universidade.
— Sabe como localizá-lo?
Ela sacudiu a cabeça lentamente e ficou imóvel durante um momento. Depois, finalmente, falou de novo.
—Provavelmente, é melhor assim.
E ao Lou custou um momento dar-se conta de que ainda estava falando do Jason Beck. perguntou-se vagamente como as teria arrumado Max para perder o contato com alguém com quem tinha estado tão unida. Mas o tempo passava, e aquelas coisas ocorriam.
— por que diz isso?
—Vamos, Lou. Sabe do que vai isto tão bem como eu. averiguaram que te contei o que sabia sobre a DIP.
Ele desviou o olhar.
—É o único que tem sentido. Matam ao Stormy e lhe incriminam. É uma mensagem para mim. Uma lição. Serve para assegurar-se de que não o direi a ninguém mais. Destroem a duas das pessoas às que quie... que me importam. É exatamente o que Stiles me disse que faria. A questão é, como sabe ele que lhe contei isso?
Lou se umedeceu os lábios e a olhou aos olhos.
—Ontem à noite fiz uma chamada.
Ela ficou imóvel e não disse nada. Simplesmente o olhou, lhe rogando com os olhos que não lhe dissesse o que estava pensando.
—Chamei a meu amigo da Cia Lhe pedi que averiguasse o que pudesse sobre a DIP. Disse-lhe que suspeitava que era uma agência que tinha tido uma missão encoberta no White Plains até que seu quartel geral se queimou faz cinco anos. Não mencionei a ti, nem ao homem ao que viu.
—Não tinha que fazê-lo —disse ela tragando saliva—. Te disse que não o contasse a ninguém, Lou. Como pudeste me fazer isto?
—Né, Max. Vamos. Não podia saber que ele resultado seria algo como... como isto.
— Não podia sabê-lo? Dava-te minha palavra. Disse-te que ele tinha ameaçado a meus amigos e a minha mãe, e você vai diretamente Y... —interrompeu-se—. OH, Deus. Minha mãe.
levantou-se e foi correndo para o telefone público. Lou ficou ali sentado, fundo, e se passou a mão pelo cabelo. Ela tinha razão. Toda a razão. Se tivesse sido outro policial o que lhe tivesse pedido que mantivera silêncio, o teria feito. Mas ele tinha subestimado ao Max. Mad Maxie, a teórica da conspiração, que sempre via problemas onde não os havia.
Muito bem. Possivelmente, por uma vez, ela não estava tão desencaminhada.
De repente se abriram as portas do elevador e Lydia foi correndo para ele.
— O que ocorreu? Lou, está bem? Onde está Max?
—Não se preocupe. Estamos bem os dois —ele se levantou e lhe deu um bom abraço.
—Quando despertei esta manhã, não havia ninguém em casa do Max, assim chamei a sua casa e um policial me disse que estavam no hospital. Jesus, Lou, assustei-me muitíssimo.
Naquele momento, Max se aproximou, e Lydia caminhou para ela e a abraçou como se fossem amigas desde fazia muito tempo, embora só se conhecessem desde fazia muito pouco.
—OH, carinho, tem muito mau aspecto.
—Não me encontro muito bem.
— Que tal está sua mãe, Max? —perguntou-lhe Lou.
—Bem. Possivelmente em Califórnia esteja a salvo. Possivelmente não saibam onde está. Ou possivelmente não têm ele poder suficiente para atuar ali e aqui ao mesmo tempo. Pode que só seja o homem ao que vi —se passou uma mão pelo cabelo—. Deus, nem sequer sei com o que nos estamos enfrentando. Não sei a quem temer mais, se aos vampiros ou aos caçadores de vampiros.
Lydia a soltou e deu um passo para trás, olhando-a, enquanto Lou se certificava de que não havia ninguém perto que tivesse podido ouvir o comentário.
—Fala mais baixo, quer? vai aparecer alguém com um bilhete de ida para o manicômio se te ouça dizer estas coisas.
— Algum dos dois poderia me dizer o que ocorreu? —perguntou Lydia.
—É meu amiga Stormy, minha sócia. Encontraram-na em casa do Lou com uma bala na cabeça. Deixaram-na ali acreditando que estava morta, mas não o estava. Destroçaram a casa do Lou, e usaram sua pistola para dispará-la. Arrumaram-no tudo para que parecesse que tinha sido ele.
—meu deus —disse olhando ao Lou—. Espera um minuto. Stormy? Deixou uma mensagem em sua secretária eletrônica. Esta manhã, quando despertei, vi a luz das mensagens acesa e pensei que seria um teu, me dizendo onde estava, assim que o pus.
—Não olhei as mensagens do com testador ontem à noite — Max tomou as mãos a Lydia—. O que dizia?
Lydia olhou a seu redor e baixou a voz.
—Dizia que tinha recebido uma chamada muito estranha do Lou lhe pedindo que fora a sua casa, e que lhe queria dizer isso no caso dele estava metido em alguma confusão. Disse que lhe parecia divertido —acrescentou, sacudindo a cabeça—. Acredito que isso era tudo, mas ainda está na cinta de sua secretária eletrônica.
—A cinta também grava a hora da chamada. Recorda a que hora foi isso?
—Às nove —disse Lydia.
—Não era Lou. Lou estava comigo, vendo um filme no cinema, e depois vigiando minha casa enquanto nós estávamos dentro. Alguém a chamou. Enganou-a para que fora ali e a recebeu com o disparo de uma pistola do calibre vinte e dois.
—Graças a Deus que só era uma vinte e dois. Outro maior a tivesse matado.
—Mas, por que? por que têm feito isso?
—Tem que ver com... —Max se interrompeu ao ver que um médico saía da sala de cuidados intensivos onde estava Stormy. Ao mesmo tempo, uma enfermeira se aproximava com os pais do Stormy. Todo mundo se formou redemoinhos na sala de espera.
—Está viva —disse o médico—. Mas está em estado de vírgula.
— É morte cerebral, doutor? nos diga a verdade —perguntou o pai, destroçado.
—Não. Tem atividade cerebral. Embora seja mínima, está aí.
— Quanto tempo estará em vírgula? —Perguntou Max, dando um passo adiante e tomando a mão à senhora Jones—. Um dia? Uma semana?
—Não podemos sabê-lo. Nem sequer sabemos se sairá do vírgula —respondeu o médico—. Mas sempre e quando houver atividade cerebral, há esperança.
Todos esperaram a que lhes dissesse algo mais. Lou sabia o que queriam ouvir. Quanta esperança, exatamente? Quando se poderia saber algo com certeza? Viu na cara do homem que não tinha as respostas que queriam.
—Olhem —lhe disse o médico, brandamente—, tive casos assim nos que o paciente esteve em coma durante meses, inclusive anos. Algumas vezes despertam, outras não. quanto mais tempo permaneça em estado comatoso, as possibilidades de recuperação serão menores. Entretanto, houve gente que despertou depois de períodos muito compridos e que se recuperou. Não podemos sabê-lo.
— E o que passará quando despertar? —Perguntou a senhora Jones—. Terá danos cerebrais?
—Tampouco podemos sabê-lo, senhora. Depende do tempo que permaneça em vírgula. Como já lhes expliquei, quanto antes desperte, melhor.
—despertará —disse Max. O disse ao médico, e depois aos pais, do Stormy—. despertará e estará bem. Dizem que a gente em estado de vírgula pode ouvir o que lhes diz. É certo, doutor?
Ele assentiu.
—Em alguns casos. Vi reações nos encefalogramas quando a gente querida de pacientes em vírgula falou com eles.
—Então, isso é o que temos que fazer — disse Max—. Acredito que alguém deveria estar com ela todo o tempo, lhe falando. E se ninguém pode estar, poremo-lhe sua música favorita, ou vozes falando. Não deixaremos que se vá.
—Pode ser uma boa idéia —disse o médico—. Mas recordem que também devem deixar que descanse.
—Se quer descansar, que desperte —disse Maxine, com os olhos cheios de lágrimas. A senhora Jones lhe acariciou a bochecha.
—É uma boa garota, Maxine. E uma boa amiga —depois olhou ao Lou e baixou os olhos.
—Tem que saber, Jane, que Lou estava em minha casa ontem à noite. Não estava mentindo quando lhe disse isso. Você sabe o muito que quero ao Stormy. Não lhe mentiria nisto. Alguém quis incriminá-lo.
A senhora Jones assentiu.
—Conhecemos oficial Malone a muito tempo tempo —disse seu marido—. Faria falta algo mais do que nos hão dito para que acreditássemos que é capaz de fazer algo assim.
—O agradeço —disse Lou ao homem—. E lhe juro que vou fazer todo o possível porque esse miserável vá ao cárcere para toda a vida.
—Sim. E eu também —acrescentou Maxie, olhando ao Lou enquanto o dizia. E ele soube que o dizia de verdade. foram fazer aquilo a sua maneira. Com sua ajuda ou sem ela, Max ia encontrar a aquela escritora e lhe tirar toda a informação que pudesse a respeito de... Deus, quase não pôde conter o sorriso ao pensá-lo, os vampiros.
—É possível que necessite outra transfusão de sangue, senhora Jones —disse o médico, mas assim que a mãe começou a ficar de pé, ele elevou uma mão—. Não, senhora. Você não pode doar mais hoje. Temos reservas, não se preocupe.
—Preferiria conhecer a fonte —disse a mulher—. Já sei que hoje em dia as reservas de sangue são mais seguras que nunca, mas de todas formas...
—Eu sou A-positivo —disse Maxie.
— Eu também —acrescentou Lydia.
O médico sacudiu a cabeça.
—Não é a que necessitamos para ela, embora as doações nunca vêm mau. Alguém tem A-negativo?
Lou levantou a mão como um menino no colégio.
—Você é o eleito —o doutor mandou ao Lou a doar sangue acompanhado de uma enfermeira, e ele pensou que era bastante irônico que se estivesse rendo da idéia de que os vampiros fossem reais, quando lhe foram tirar um litro de sangue.
— Podemos vê-la? —perguntou a mãe do Stormy.
—É obvio —disse o médico, e ficou de pé para acompanhar aos pais. Max notou uma dor aguda no estômago quando viu como o senhor Jones abraçava a sua mulher a seu lado, mas ao mesmo tempo, apoiando-se nela, como se necessitasse algo de sua força.
Suspirou e se voltou para a Lydia.
—Temos que falar.
—Pobre —Lydia a abraçou de novo—. Sei pelo que está passando. Quando Kimbra morreu, eu...
—Ela era algo mais que seu melhor amiga, verdade?
Lydia a olhou durante um momento e sorriu com tristeza.
— É tão evidente?
—Vi a foto que tem na carteira quando a abriu o outro dia. Estão as duas juntas, tiradas do braço. Fixei-me em como a olhava.
—Queria-a —disse Lydia, brandamente—. Era minha vida inteira. E, inclusive embora não seja o mesmo, dou-me conta de que você quer muito ao Stormy. Vejo a dor em seus olhos.
Max se secou as lágrimas.
—Não temos tempo para fazer uma cena de tristeza. Temos que fazer que nossas histórias sobre ontem à noite concordem. E depois temos que nos desfazer dessa cinta de minha secretária eletrônica.
Lydia franziu o cenho.
— Fazer que as histórias concordem?
—Lou esteve sentado em seu carro fora de minha casa durante toda a noite —lhe explicou Max, e ela assentiu.
—Sim. Lembrança que comentou que o tinha visto. Pareceu-me muito doce por sua parte.
—Exatamente. Assim já somos dois as que podemos declarar que nunca o perdemos de vista.
—Mas sim o fizemos —disse Lydia—. Não te lembra? depois de te deixar em casa, foi durante um momento. Foi muito pouco, mas...
—Sim, e o muito parvo o disse à polícia. Tenho que pensar depressa, porque eu os pinjente que quando Lou se foi eu o segui. Inventei-me um conto de que o estava seguindo porque acreditava que me ia pegar isso com outra, e confirmei o que ele me disse, que tinha ido à delegacia de polícia e depois havia tornado diretamente a minha casa.
Lydia assentiu lentamente.
—Não sabia que Lou e você estivessem juntos.
—Não o estamos.
—Assim que lhe mentiu à polícia.
—Sei que não o fez. E você sabe também. Lydia se voltou, tomou ar e finalmente deixou escapar um suspiro.
—É obvio que sei —disse, e olhou ao Max de novo—. depois de tudo, eu estava ali quando você te partiu para segui-lo. Tentei te convencer de que Lou é homem de uma reveste mulher, mas você tinha que te assegurar.
Max se mordeu o lábio.
—Podia ter estado dormida, sem te dar conta de nada.
—Duas testemunhas são melhor que um. Sobre tudo, se se supuser que é a amante do suspeito, Maxine.
—Obrigado.
—De nada. Tenho- muito carinho ao Lou. Somos amigos a muito tempo tempo. Uma coisa mais, temos que apagar a mensagem da secretária eletrônica.
—Sim... mas também poderia nos servir como prova. Deveríamos guardar uma cópia, ou pôr uma cinta nova, e fazê-lo rápido, antes de que a polícia se dita a registrar minha casa.
—Eu me ocuparei disso. Você fique aqui para ver seu amiga.
Max assentiu.
—Paga com dinheiro em efetivo. E compra a cinta em algum lugar muito concorrido, como Wal-Mart, onde não possam te recordar depois. E não faça que seu aspecto seja muito memorável.
Lydia se mordeu o lábio e franziu o cenho com preocupação.
—Só me diga com o que nos estamos enfrentando, carinho.
—Com o governo. Com uma parte da RECUA, acredito. Uma agência secreta que já não existe. O homem que disparou ao Stormy formava parte dela.
—Chamou-os... caçadores de vampiros.
—Isso é exatamente o que eram. Possivelmente ainda o sejam. Olhe, contarei-te tudo o que sei, mas não pode dizer-lhe a ninguém. Por isso é pelo que dispararam ao Stormy.
—Está bem. Entendido. Mas não agora. Este não é o melhor lugar. Ocuparei-me do da cinta e falaremos logo.
—Veremo-nos na delegacia de polícia —disse Max—. Certamente teremos que fazer declarações juradas.
— A meio-dia?
—De acordo.
—Então, até mais tarde.
depois de que Lydia partisse, Max esperou até que Lou voltou de doar sangue com um esparadrapo no braço. Ele a olhou como se estivesse tentando averiguar que tal estava suportando todo aquilo. E, embora sua metade de mulher independente pensou que aquilo era antiquado, o resto dela adorou a idéia de que ele se preocupasse.
—Estou bem —lhe disse, antes de que ele se incomodasse em perguntar.
—Não, não o está. Onde está Lydia? —perguntou, olhando a seu redor.
—Tinha coisas que fazer. Vai à delegacia de polícia a meio-dia, para que façamos as declarações.
—E depois, o que?
Ela se encolheu de ombros.
— Eu vou casa a gravar cintas com minha voz para que a mãe do Stormy as ponha, e a tomar alguns compactos e o reprodutor. Depois vou fazer a bolsa.
— A bolsa?
—Não quero me separar do Stormy, Lou. Mas, por isso pude encontrar em Internet, essa escritora vive em Maine, e temos que falar com ela. É a única pista que temos, além do Stiles, e a ele não podemos encontrá-lo.
—Se souber algo desses filmes, certamente também o encontraremos em Maine.
— Encontraremo-lo? Quer dizer que vais vir comigo?
—Sim.
— Deixarão-lhe fazê-lo antes de que este caso esteja resolvido?
—Não. Terei que escapar. Menos mal que tenho a uma perita para me ajudar —lhe disse, e esboçou um sorriso, triste e torcida, mas real.
Ela teve vontades de abraçá-lo, mas os pais do Storm se aproximavam pelo corredor para eles. Ela estava chorando em silêncio, e ele a abraçava.
—Vê você agora, Maxie —lhe disse o pai—. Os dois pensamos que lhe fará muito bem ouvir sua voz, e falamos com o médico. É a habitação duzentos e sete.
—Está bem. Vocês precisam descansar e comer algo. Sei que querem estar aqui, mas também precisam desconectar. depois de tudo, se ficarem doentes não poderão ajudar ao Stormy.
—Estaremos bem. Agora vá ver a.
Ela olhou ao Lou.
—Vamos, Maxie. Tome seu tempo. Eu estarei aqui te esperando.
Max assentiu em sinal de agradecimento e se foi à habitação duzentos e sete. Quando entrou, pareceu-lhe por um momento que se confundiu. Aquela que estava tombada na cama não se parecia com o Stormy. Entretanto, fez-lhe caso ao sentido comum e se aproximou. Seu amiga estava pálida e imóvel. Tinham-lhe tirado o piercing da sobrancelha, e lhe tinham barbeado a cabeça. Não ficava nem rastro de seu cabelo cabelo e loiro baixo as vendagens.
Entretanto, a cara de duende era a do Stormy. Estava conectada a várias máquinas e a um dispensador
de soro.
A enfermeira da habitação sorriu ao Max.
—Bom, Tempest, tem visita. Que agradável, verdade?
—Chame-a Stormy —disse Max com firmeza—. E diga-lhe às outras enfermeiras também. Não responderia no nome do Tempest nem que estivesse completamente acordada.
A enfermeira assentiu.
— E eu que pensava que o nome do Tempest é fantástico! eu adoro! —disse, e se encolheu de ombros—. Embora Stormy também é bonito —se inclinou para a cama para ajustar os lençóis e continuou falando com o Stormy como se a moça pudesse escutar cada palavra do que lhe dizia.
Ao Max gostou da enfermeira. Gostou de sua atitude e o carinho que se refletia em seus olhos. —Meu nome é Maxine —lhe disse.
— E não tem nenhum apodo que você goste mais, também?
—Mad Max, mas não o diga a ninguém.
A enfermeira riu, e deu um golpecito ao Stormy no ombro.
— ouviste isso? Mad Max. Menina, caem-me bem seus amigas. Bom, sente-se, Mad Max, e lhes deixarei sozinhas um momento.
Max se sentou e a enfermeira saiu da habitação. Os assobios constantes dos monitores eram quase hipnóticos.
—Parece-me que vamos ter que lhes pedir que apaguem o som de todos estes aparelhos, Stormy. Não te parece? —aproximou-se mais e tomou a mão—. Sou Max, carinho. Estou aqui, e sei o que ocorreu. Sei que não foi Lou. Não quero que se preocupe por isso.
Não houve resposta. Stormy seguiu completamente imóvel e silenciosa.
—Sei que está aí, Stormy. Sei que pode me ouvir — então começou a falar em voz mais baixa e mais firme—. Tudo vai bem. Seus pais estão bem, e eu também. E o homem que te fez isto o vai pagar. Ouve-me?
Nada. Só os monótonos assobios das máquinas.
—Tem que concentrar todas suas energias em despertar. Ouve-me, carinho? É nisso no que tem que pensar. E tem que saber que não terá um momento de tranqüilidade até que o faça. vou trazer te seus compactos favoritos, e sempre vai haver alguém aqui, te falando e te brocando os ouvidos até que desperte. Ninguém te vai deixar sozinha. Entendeste-o?
Então, o ritmo dos assobios trocou. Pareceu que se aceleravam um pouco.
Max olhou as máquinas, e se deu conta de que algo tinha agitado ao Stormy. Tinha sido o que acabava de dizer? «Ninguém vai deixar te sozinha».
— Assusta-te ficar sozinha?
De novo, o ritmo se acelerou.
—Ninguém vai deixar te sozinha. Sempre vai haver alguém vigiando a porta, e alguém mais contigo aqui dentro, as vinte e quatro horas do dia. Prometo-lhe isso. Está a salvo aqui. De acordo?
Não soube se aquilo teria tranqüilizado ao Stormy, mas os assobios recuperaram seu ritmo normal.
A enfermeira voltou e disse ao Max que já se cumpriu o tempo da visita. Max assentiu.
—Tenho que ir um momento, carinho, mas te prometo que não lhe deixaremos sozinha. Prometo-lhe isso —se voltou para a enfermeira e lhe perguntou—: Poderia você ficar aqui até que volte sua mãe?
—É obvio que vou ficar me. Não se preocupe.
—Não te assuste, Stormy —lhe disse—. Até mais tarde. Voltarei logo, de acordo?
A enfermeira assentiu em sinal de aprovação e Max saiu da habitação. Voltou para a sala de espera e apoiou a cabeça no peito do Lou, com a esperança de que ele não se queixasse. Não o fez. Abraçou-a.
—Temos que pôr guardas na porta de sua habitação, Lou. Se averiguar que está viva, é possível que volte.
—Não teria nenhuma razão para fazê-lo. — E se o viu?
—Maxie, você também o viu. Sabe como é e como se chama. Não ser identificado não está entre suas preocupações, por algum motivo.
—Mesmo assim...
—Está bem. Arrumarei-o.
Ela fechou os olhos.
— Temos tempo de tomar o café da manhã algo?
—Sim. chamei à delegacia de polícia e hei dito que estaríamos ali a meio-dia para fazer as declarações. Ainda ficam um par de horas —tomou pelo braço e foram juntos para o elevador.
Morgan dormiu até muito tarde aquele dia, mas despertou sentindo um delicioso bem-estar. estirou-se e abriu os olhos lentamente. Notava uma deliciosa sensibilidade no pescoço, e se levantou rapidamente para examinar-lhe no espelho.
Tinha um pequeno hematoma e as marcas de suas presas, mas não feridas. Não. Ele não tinha provado sua sangue, mas a tinha alimentado com a sua própria. Notava seu sabor na língua.
O que significava aquilo?, perguntou-se. Como se convertia um em vampiro, se era possível? Estaria trocando ela? Não sabia se a vitalidade que sentia era uma parte daquela transformação ou só um efeito temporário do fato de ter bebido dele.
Só sabia que se foi debilitando cada vez mais até que ele tinha ido a ela. Naquele momento se sentia mais forte. Pensou que era muito possível que tivesse morrido sem a intervenção de lhe Dêem. Sem sua sangue. Ele a mantinha com vida.
Mas, até quando? Tinha que sabê-lo. E sabia onde encontrar as respostas. Nos jornais de lhe Dêem. Ainda ficavam um par de volúmenes que não tinha lido por completo. Isso era o que ia fazer durante o resto da tarde, pensou. tirou-se a camisola quebrada, ficou a bata de cetim branca e baixou ao despacho, onde tinha os jornais na caixa forte.
Entretanto, quando abriu a porta da estadia viu as madeiras rotas e o buraco do chão. Aquele era o passadiço que ela mesma tinha feito a noite anterior. Se era certo que o homem queimado queria apanhar a lhe Dêem, e se voltava e via aquilo...
—Maldita seja —sussurrou.
Tinha que arrumá-lo. tomou banho e se vestiu rapidamente e depois voltou a baixar ao despacho e tomou uma das pranchas. Foi ao povo e, em um centro de bricolagem, comprou tablones da mesma madeira, uma serra, um martelo e pregos para arrumar o buraco.
Normalmente, aquele tipo de trabalho físico tivesse sido muito duro para ela, e teve suas dúvidas sobre se poderia fazê-lo; entretanto, ao final da tarde tinha desencravado as pranchas rotas, tinha talhado e parecido os tablones e tinha reparado o buraco. O chão não ficou perfeito. Os tablones que tinha colocado eram mais claros e se notava que eram novos; além disso, não estavam tão bem ensamblados como o resto. Mas aquilo era o melhor que podia fazer no momento.
Só ficava uma hora para que ficasse o sol. Morgan se deu conta de que estava suarenta e de que tinha o cabelo e a roupa cheia de serrín. Não queria que lhe Dêem a visse assim, se voltava.
—Tenho que me arrumar —sussurrou—. Para ele.
Quase não teria tempo de ler nada. Entretanto, era importante que o fizesse.
Meia hora depois voltou para despacho, recém tomada banho, com o cabelo limpo e perfumado de lavanda, solto sobre os ombros. Levava a bata branca de cetim, ia descalça e se feito uma bule de chá de ervas que, supostamente, daria-lhe energia.
Acendeu a chaminé, tirou um volume da caixa forte e se sentou em uma poltrona frente ao fogo. serve-se uma taça de chá e começou a ler. Em um instante esteve imersa nas histórias do vampiro, as escutando com tanta claridade como se as estivesse narrando a voz rica e profunda de lhe Dêem.
Sarafina tentou me advertir.
—Nunca te mescle com os mortais. Nunca —me disse ao princípio de minha educação—. Nossa raça deve viver sozinha.
— E o que passa com os escolhidos?
Eu conhecia a palavra, e acredito que aquilo a deixou surpreendida porque eu não a tinha ouvido de seus lábios. Estávamos sentados ao lado de uma fogueira, como o tínhamos feito em nossas vidas mortais. Acredito que, ao princípio, isso era o que Sarafina tinha desejado. Uma banda de dois... vampiros ciganos, vivendo como o tinham feito antes. Acredito que estava tentando recuperar algo do que tinha perdido quando tinha perdido a sua família e a seu clã. Mas, é obvio, aquilo era impossível. Eu o tinha aceito fazia muito tempo.
—Escolhido-los são humano que têm uma conexão conosco —me respondeu—. Sabemos quais são porque o sentimos. Sentimo-nos atraídos para eles, e algumas vezes, eles para nós. Mas não devemos nos dar a conhecer, Lhe dêem. Deve entender e aceitar isso. Não devemos fazê-lo.
—Podem converter-se em vampiros. Como nós —disse eu.
—Sim. E sabe o que ocorre quando se transformam?
Eu sacudi a cabeça.
—voltam-se loucos.
Disse-o como se fora um fato ineludible.
— Todos? —perguntei-lhe eu, embora sabia que não era certo. Eu não havia me tornado louco, nem Sarafina tampouco.
—Alguns se voltam tão taciturnos que se negam a alimentar-se até que seus corpos se convertem em cascas que jazem como se estivessem mortas durante séculos, com suas almas apanhadas dentro. Outros ficam tão aturdidos com o descobrimento de seus novos poderes vampíricos que se entregam a orgias insaciáveis de morte e deixam tantos cadáveres em seu despertar que os humanos se dão conta do que está acontecendo e nos dão caça como animais vingativos. Eles também morrem. Nós mesmos os matamos, se é que não o fazem antes os humanos.
Eu estava ali sentado, escutando-a absorto.
—Outros se limitam a abri-las veias e a sangrar-se até morrer. Outros entram deliberadamente em uma fogueira como esta e se queimam.
Eu a observei durante um comprido instante, admirando como o reflexo das chamas dançava em seus olhos.
—Eu era um dos escolhidos. Você o sentiu e me transformou.
—Não tinha eleição. Estava morrendo.
—Sim tinha eleição. Podia ter deixado que morrera.
Ela apartou o olhar e se encolheu de ombros como se minhas palavras não tivessem sentido.
—Acredito que sempre teve a idéia de me converter, Sarafina. Por isso voltou para a família e me escolheu.
Ela cravou seus olhos em mim e me transpassou com o olhar.
—Possivelmente seja certo que o desejasse, Lhe dêem, mas não o teria feito sem pensá-lo cuidadosamente. Esta não é uma vida fácil. Sei que lhe pode parecer isso neste ponto, mas não o é.
— De verdade crie que esta vida me parece fácil? perdi tudo o que amava, Sarafina. A minha mãe, a minha família, minha forma de vida. Tudo o que conhecia o perdi aquela noite. É muito difícil, e entretanto, eu não me tornei louco nem me hei suicidado.
—Fará-se mais duro e difícil.
Eu refleti sobre aquilo durante um momento. Havia-o dito com total convencimento. Era ela tão infeliz, então? Comecei a me dar conta de quão sozinha devia ter estado durante todos aqueles anos antes de que eu me tivesse unido a ela.
—A maioria dos mortais não suportam o shock que supõe a mudança. A perda que supõe. Inclusive entre aqueles que se adaptam e o aceitam, há alguns que não o conseguem. Em um século, ou possivelmente dois, quando a realidade da vida eterna se revela tal e como é, com tanta maldição como bênção, com tanto dor como prazer, muitos decidem não continuar.
— E o que fazem os que decidem continuar?
Ela ficou silenciosa durante um momento.
—Esses... suponho que finalmente, encontram uma maneira de estar em paz com o que são. Deixam de lutar contra isso. Deixam de esperar que existam uma padre que os converta em mortais de novo. Deixam de procurar razões que expliquem sua existência ou que a justifiquem. E, simplesmente, assumem-no.
— Você o conseguiste? —perguntei-lhe.
Ela olhou aos olhos e sacudiu a cabeça.
—Não. Mas vi essa aceitação nos olhos de alguns majores. Ouvi-os falar disso. E estou decidida a sobreviver, a minha maneira, até que o consiga.
Eu pensei que o conseguiria. Mas no momento, procurava sem descanso essa paz da que falava, e possivelmente algo mais. Eu não podia sabê-lo.
—Então, o que faz, Sarafina? —perguntei-lhe—. Para ter... companhia.
—Temo-nos o um ao outro.
—Não refiro a isso —tive que olhar a outro lado. Sentia-me incômodo com os aspectos luxuriosos do que eu era, e não o entendia naquele estádio tão cedo de minha vida imortal. Não podia olhá-la enquanto falava—. Quando me alimento dos humanos... especialmente das mulheres, embora algumas vezes também com os homens, sinto... bom...
—Desejo —disse ela, terminando a frase por mim—. Já entendo o que é o que precisa saber. Como saciá-lo.
Eu assenti, com os olhos fixos no fogo.
—Não te envergonhe, Lhe dêem. Somos criaturas sensuais. Está em nossa natureza. Todas as sensações se intensificam até um ponto que os humanos não poderiam suportá-lo. Sentimos as coisas mil vezes mais que antes. A dor, sim. Até um ponto em que pode nos paralisar. Mas o prazer também. Deus, a forma em que experimentamos o clímax físico está além de toda compreensão.
me secou a garganta, e senti que o desejo despertava em mim.
—A luxúria da sangue e a do sexo estão intimamente ligadas em nossa raça —continuou ela—. Não pode experimentar uma sem a outra. Se tentasse ter relações sexuais com uma mortal, acabaria por mordê-la profundamente e te beber toda sua sangue. O êxtase de beber sangue realça o êxtase sexual, e viceversa. A combinação de ambos é um prazer tão poderoso e entristecedor que alguém se abandona totalmente à sensação. Faz-lhes mal, e finalmente os matas.
Eu a observei com os olhos entrecerrados.
—Não te acredito.
— Não?
—Não. Certamente, acredito que algo do que está dizendo é certo, mas não que esse prazer físico poderia conseguir que não me controlasse mesmo. Isso não.
—Possivelmente —disse ela, lentamente—. É muito menos provável que matasse a um dos escolhidos, embora exista o risco. Será melhor que te limite ao sexo com outros vampiros, ou que te faça algumas pulseiras.
—Pulseiras —repeti a palavra com desprezo.
Ela sempre tinha alguns escravos ao seu dispor. Eram mortais, não da casta dos escolhidos. Convertia-os em zombis completamente dedicados a ela. bebia-se sua sangue até que estavam a ponto de morrer, e depois lhes administrava uma módica quantidade da sua. O fazia uma e outra vez, mantendo-os prisioneiros até que o vínculo ficava forjado e sua existência só estava destinada a agradá-la. Não sei como as arrumava para manter relações sexuais com aqueles indivíduos sem matá-los. Acredito que sempre terminava fazendo-o, ao final, mas como os mantinha vivos enquanto isso não o entendo. Não suportava a presença daqueles seres, e não tinha nenhum desejo de saber que fazia com eles.
Quanto a mim, conhecia minha própria alma. E sabia que nunca poderia me embebedar tanto de prazer para matar a um inocente.
—Não te acredito —lhe disse—. Acredito que só está me dizendo isto para me manter afastado de outros, para que esteja sempre contigo.
Ela arqueou as sobrancelhas.
— De verdade?
—Sim. Possivelmente você não tenha o controle necessário para manter relações sexuais e não matar a seu companheiro, mas eu sim.
—Bem. Está muito bem saber isso.
Eu não me dava conta então, mas minha querida benfeitora tinha um plano em memore para me ensinar de uma vez por todas qual era a verdade. Tudo ocorreu semanas depois. Fomos hóspedes de um homem maior e muito rico, que estava totalmente apaixonado por Sara-fina. Eu não gostava de me mesclar daquele modo com os mortais, mas não lhe importava absolutamente. escondia-se detrás de uma fachada de mentiras e jogava a ser seu amiga e sua convidada. Não sentia nada por eles, nem tampouco se alimentava deles. Entretanto, eu estava seguro de que tinha estado caçando camponeses no povo do lado. Tinham desaparecido três pessoas desde que tínhamos chegado ali.
Eu não gostava de pensar que minha tia estivesse caçando inocentes, mas aquela era sua eleição. Eu não podia me entremeter em sua vida; ela teria que enfrentar-se a sua própria culpa, a seu carma, ou a seu pecado, ou a qualquer que fossem os resultados de suas ações.
Uma noite estava pensando naquelas coisas quando alguém chamou brandamente a minha porta. Não me incomodei em abrir minha mente e reunir impressões, um engano que cometia freqüentemente em meus primeiros dias, temo-me. Simplesmente assumi que seria Sarafina a que estava chamando, e pinjente:
—Adiante.
A porta se abriu e entrou uma faxineira jovem que eu tinha visto várias vezes durante os jantares que compartilhávamos com nosso anfitrião e seus demais convidados.
noite detrás noite, em veladas que pareciam não terminar nunca. A moça levava tão somente uma camisola tão fina que cada milímetro de seu cálida carne mortal era visível a meus olhos. Levava uma palmatória. Tinha o cabelo espesso, loiro da cor do mel, brandamente encaracolado, e o levava solto pelos ombros. Seus lábios estavam úmidos e separados. Seu corpo era terminante e exuberante.
Obriguei-me a olhar a à cara e lhe perguntei:
— O que quer de mim?
—Você o entendeu mau, milord. Vim a lhe fazer a mesma pergunta a você.
—Temo-me que não te entendo.
Ela entrou na habitação e deixou a palmatória sobre uma escrivaninha. Depois fechou a porta e me olhou com calma.
—Dei-me conta de como me olhe, milord. Cansei-me que esperar a que me peça algo, e pensei que poderia me atrever a oferecer-lhe
Era certo. Aquela moça levava uns decotes tão pronunciados que era impossível não olhar o que me sobressaía de seus peitos por cima do tecido de sua uniforme. E ela se assegurava de me pôr isso bem perto do nariz enquanto me servia. Senti-me tentado e intrigado, de uma vez.
—Você não é tímido, verdade, milord? —Não. Não o sou.
—Dará-se conta de que eu tampouco —e me demonstrou isso. aproximou-se, e enquanto cruzava a habitação para mim, deslizou-se os suspensórios da camisola pelos ombros e deixou que se deslizasse até o chão. ficou orgulhosamente nua a uns centímetros da poltrona onde eu estava sentado, frente ao fogo.
Eu percebi todas suas essências. Estava poda, recém banhada para mim, pensei. Seu cabelo cheirava a henna, e sua pele a aloe. E cheirei também sua excitação, e soube que estava úmida. E nem sequer a tinha acariciado.
Lambi-me os lábios de impaciência. Deus sabe que fazia anos desde que não tinha estado com uma mulher. Tinha bebido a sangue de muitas delas, sim, em pequenas quantidades que sempre me deixavam faminto e tremendo de desejo. Ia a elas de noite, e lhes ordenava que me recordassem como um sonho.
Sarafina me havia dito que não poderia fazer nada mais sem as matar. Eu não acreditava. Certamente podia tocá-la. A moça ficou de joelhos frente a mim, acariciou-me e sentiu minha ereção. Sorriu e me desabotoou a calça para me acariciar. Eu me estremeci de prazer, e ela se aproximou para tomar em sua boca úmida e cálida. Pô-me os braços ao redor da cintura. Eu senti que a luxúria da sangue me invadia como uma fome escura que se acrescentava com o prazer que ela me proporcionava. Ouvia a sangue correr por suas veias. Cheirava-a.
Tomei pelo cabelo e a obriguei a separar-se de mim e a levantar-se para que se sentasse escarranchado em meus joelhos. Tomei pelos quadris e me afundei profundamente nela, tão profundamente que gritou, não sei se de dor, ou de prazer, ou de ambas as coisas de uma vez- Começou a expulsar sobre mim. Eu tinha em mente sua garganta, seu doce jugular, mas seus peitos movendo-se frente a minha cara fizeram que trocasse de opinião.
Estirei o pescoço e tomei um com a boca para lamber-lhe Ela chiou de prazer, e eu lhe cravei uma das presas na ponta e suguei com força o hilillo de sangue que brotou.
Assim que tocou minha língua, estive perdido. A sensação de necessidade, a fome que aflige qualquer indício de lógica me invadiu o pensamento e mordi mais forte para tirar dela tudo o que queria, fazendo caso omisso de seus chiados.
Levantei-me, ainda dentro dela, com suas pernas me rodeando a cintura e seu mamilo sangrando em minha boca e caminhei para a cama. Deixei-me cair sobre ela e soltei seu peito para entrar nela com tão força que a cama se moveu com minhas investidas. Ela estava gritando alto da paixão, e temi que a ouvissem. Tampei-lhe a boca com a mão e afundei as presas em seu outro peito, mordendo inverificado, sugando tudo o que brotava. Empurrei com força, grosseiramente, e mordi sua carne deliciosa uma e outra vez até chegar à garganta. Minhas presas afiadas se afundaram em seu pescoço como se fora de manteiga, rompendo a cartilagem e atravessando a veia. Afundei-me nela por completo enquanto seu coração bombeava sua sangue para que eu me bebesse seu sacrifício. Devorei-a e alcancei o climax, e foi mil vezes mais intenso que todos os clímax que tinha experiente quando era humano. um milhão de vezes. Meu corpo esteve a ponto de fazer-se pedacinhos. Fiquei cego por uns momentos. Surdo. Meu ser estava por completo apanhado nos dois pontos de união com ela, pelo sexo e pela sangue. Sentia dois arcos de eletricidade, como raios. Era um prazer tão intenso que parecia uma agonia. Gritei, liberando sua garganta, jogando a cabeça para trás para poder rugir em um êxtase selvagem.
Quando a sensação se desvaneceu por fim, fiquei ali em cima dela, adorando a sensação de sua vida me percorrendo as veias e a satisfação do clímax sexual. Sentia o calor de sua sangue me dando poder.
Pouco a pouco fui consciente do som rítmico de uns aplausos lentos detrás de mim. Levantei a cabeça, enfoquei os olhos e vi a Sarafina ao outro lado da habitação, aplaudindo.
—Bem feito, Lhe dêem. Muito bem feito.
Olhei à mulher que tinha debaixo de mim. Tinha os olhos completamente abertos e fixos. E eu lhe tinha destroçado a garganta. Tinha-lhe aberto a carne e a veia, arrancado o músculo e deixando sua noz à vista. Levantei-me e me joguei para trás, e então vi com claridade minha obra. Tinha feridas mais pequenas nos peitos, os braços, os ombros, inclusive na mandíbula. Tinha sangrado, mas só um pouco. Eu tinha deixado escapar muito poucas gotas do néctar que corria por suas veias.
Levei-me uma mão à boca, em estado de shock, mas a retirei com sangue. Tinha-a pela cara. Sabia que me tinha enterrado em -aquela ferida para tentar tirar mais e mais dela. As provas estavam em meu peito e em minhas mãos.
Voltei-me para a Sarafina, horrorizado, e lhe sussurrei:
— por que não me deteve? por que?
— te deter? —ela sacudiu a cabeça—. Lhe enviei isso eu, Lhe dêem. Há algumas lições que só se aprendem com a prática. Agora já sabe o que ocorre quando compartilha sua paixão com uma mortal. Será melhor que lhe guarde isso. As únicas opções válidas que ficam são os escravos ou outros vampiros, se está decidido a não matar. Embora também poderia trocar sua opinião nisso, agora que comprovaste quão bom é.
—Eu não Mato.
—Agora sim. Como um lobo, ou como um tubarão, ou como qualquer depredador, provaste-o, Lhe dêem. E voltará a fazê-lo. Somos depredadores. É o que somos. Mas deixemos a discussão para mais tarde. Agora temos que ir daqui antes de que descubram isto. Envolve à moça em um lençol e vá lavar te. Eu recolherei nossas coisas.
—Mas...
—Mas nada. Provavelmente não se darão conta até que alguém entre aqui, amanhã. A ela não a buscarão. Tem escrito uma nota dizendo que escapava com uma moço dos estábulos. Disse-lhe que, uma vez que provasse seu corpo, lhe quereria levar isso conosco —jogou a cabeça para detrás e riu delicadamente—. Seriamente, Lhe dêem, não sabia que fosse semelhante semental.
—te cale, Sarafina —disse envergonhado e espantado, e me subi as calças rapidamente—. É minha tia, pelo amor de Deus.
—Deus não tem nada que ver com isto, menino. E não sou só sua tia, mas também sua mãe, sua senhora e sua irmã. Os laços de sangue do passado já não significam nada. Agora somos outra classe de família. E eu poderia suportar tudo o que deste a ela e mais, sem nenhum dano.
Eu a olhei com frieza.
—Os laços de sangue do passado sim têm significado para mim, Sarafina. Prometo-te que nunca estaremos juntos desta maneira.
Eu vi a dor e a ira em seus olhos. Possivelmente ela levava morta em vida tanto tempo que tinha perdido a noção do que era aceitável segundo o código dos mortais. Mas eu não. Fiz-lhe mal com minhas palavras, mas era o que pensava e o que sentia. E embora odiava o que me tinha feito aquela noite, tive que reconhecer que tinha aprendido uma lição muito importante.
Não podia ter relações sexuais com os mortais.
Morgan fechou o livro, espantada. Havia exceções. Tinha falado algo sobre escravos, o qual não parecia nada apetecível ao Morgan. E algo sobre «os escolhidos», que entendia ainda menos. E outros vampiros.
Nada de como um vampiro transformava a outro. Nada útil, exceto que tinha averiguado por que lhe Dêem se negou a deitar-se com ela. Não queria matá-la, e ela, certamente, não queria que a matasse.
Olhou-se e se deu conta de que tinha que trocar-se. Rapidamente ficou de pé, colocou o volume na caixa forte e colocou a falsa estantería em seu lugar. Depois saiu do despacho e subiu correndo as escadas. Tinha que ficar outra coisa, porque não queria tentá-lo e que... que... que lhe fizesse aquilo mesmo.
Entretanto, no mesmo momento em que fechou a porta de seu dormitório, ouviu-o. Ouviu-o dentro de sua mente.
«Morgan».
Não lhe emprestou atenção, e abriu uma gaveta da cômoda.
« Morgan!».
As portas do balcão se abriram, empurradas por uma rajada de vento. Ela se deu a volta, assustada. Entretanto, ele não estava ali, como se esperava. Morgan apareceu e então, viu-o. Estava abaixo, a meio caminho entre a casa e o escarpado. Estava-a olhando.
«Sal aqui. Vêem comigo».
Realmente era possível que estivesse ouvindo-o sem um som? Pensou em lhe dizer que só demoraria um minuto, mas ouviu a palavra final.
«Agora».
sentiu-se arrastada. Não pôde convencer-se de não obedecer e saiu da casa. Caminhou descalça pela erva úmida até que esteve frente a ele.
te dêem deslizou o olhar por seu corpo. Ela sentiu a carícia e se estremeceu.
— Agora temos tempo. De fato, temos a noite inteira. E vais dizer me, Morgan, como é possível que saiba tantas coisas de mim.
Ela o olhou aos olhos e se deu conta de que era incapaz de pensar com coerência. Não havia nada mais que submissão em sua cabeça. Obediência. Custou-lhe um tremendo esforço apartar seu olhar da dele para evitar que lhe obrigasse a lhe dizer tudo o que sabia, mas o conseguiu. Olhou por volta do mar. Sua mente lhe sussurrou que se lhe falava dos volúmenes que havia na casa, ele os levaria. E, Deus, não podia perder seu único vínculo com ele.
— Como o tem feito? —perguntou-lhe em um sussurro.
— O que? te chamar para que viesse aqui? —perguntou-lhe, e quando ela assentiu, ele suspirou—. Sou um vampiro. Dos velhos.
— aprendeste a controlar a mente com os anos?
—Até certo ponto, sim.
—Então, poderia chamar a qualquer e fazer que viessem, inclusive se não quererem? —perguntou-lhe, olhando para o chão. Tudo com tal de evitar seus olhos.
Lhe levantou o queixo brandamente com um dedo.
—Você sim queria.
Ela se estremeceu.
—É mais difícil convencer a alguém de que faça algo que não quer. Mas me dá a impressão, Morgan, de que poderia te convencer de fazer algo que eu quisesse.
—Eu... Ouvi sua voz em minha mente, quase tão claramente como se estivesse a meu lado, me falando.
Ele assentiu.
— Isso ocorre também com todo mundo?
Naquela ocasião, foi ele quem apartou o olhar.
—vim aqui a fazer perguntas, não às responder.
—Mas eu também tenho perguntas, e necessito as respostas tanto como você.
Ele ergueu os ombros.
—Então, suas condições trocaram.
—Eu não...
—Ontem à noite me me ofereceu contar isso tudo se tomava. Hoje já está lista para intercambiar essa informação em troca de sexo.
Quando ele pronunciou as palavras «se tomava», a mente do Morgan se encheu de imagens. «Se tomava». Aquilo implicava submissão, disposição. Implicava que ele teria a autoridade e seria dono dela de qualquer forma que desejasse. Ela desejava todo aquilo, e mais. Suas mãos lhe sujeitando as bonecas, sua boca movendo-se por seu corpo, beijando-a, provando-a e mordiscando-a, saboreando sua carne e sua sangue enquanto ela gemia de dor e de prazer.
— Basta!
Sua voz, rouca e profunda, tirou-a de seus pensamentos. Ele se tinha dado a volta e tinha os dedos apertados contra as têmporas e os olhos fechados.
—Vejo seus pensamentos tão claramente como você, e tenho que te advertir que meu controle tem um limite.
—Sinto muito.
Ele ficou imóvel durante um momento, recuperando sua compostura. Finalmente, tomou ar e se ergueu de novo, encarando-a.
—Rogo-te que me conte o que sabe agora. quanto mais tempo passo perto de ti, mais perigo corre.
Ela controlou o sentimento de medo.
— Perigo do que, Lhe dêem? De morrer? É um risco pequeno, seriamente. Estou-me morrendo de todas formas. Não sei se teria sobrevivido hoje se você não me houvesse... —recordou como tinha bebido de seu pescoço e rapidamente apagou a lembrança de sua cabeça—. Preciso saber umas quantas coisas antes.
— Para poder as usar em seu próximo guia?
Ela baixou a cabeça.
—Quando escrevi o guia, não sabia que foi real. Acreditava que estava usando as ilusões de um velho louco que provavelmente tinha morrido fazia muito tempo.
Suspirando, ele se voltou e começou a andar para o escarpado. Seus passos eram poderosos e largos, e ela teve que dar dois por cada um de lhe Dêem.
—Tem que me acreditar, Lhe dêem. Nunca te trairia. Já não.
— E por que não?
—Porque estou apaixonada por ti.
Chegaram ao bordo do escarpado e ele se deteve quando ela pronunciou aquelas palavras. ficou ali, olhando-a fixamente.
—Não me conhece. Não sabe o que sou em realidade. Sua mente de escritora criou uma fantasia de um mito banhado de romantismo que não tem nada que ver com a realidade. Tem que fixar isto em sua mente mortal, Morgan. Os vampiros são depredadores. Assassinos. E os mortais som nossas presas.
— Foi assim com a Laura Sullivan? Ela também era sua presa?
Lhe lançou um olhar frio.
—Eu era jovem e estava apaixonado. Acreditei que poderia controlar minhas tendências naturais com ela. Felizmente, voltou-se contra mim antes de que tivesse a oportunidade de averiguá-lo —disse ele—. Aquela foi a segunda parte de uma lição vital, Morgan. Os vampiros e os mortais são inimigos mortais. Crie que uma cobra e uma mangosta poderiam amar-se? Seu amor estaria exposto ao fracasso. Um deles destruiria ao outro.
Ela se tragou o medo.
— O que significa ser um eleito? —perguntou-lhe.
— Onde ouviste o término?
—No mesmo site onde averigüei as demais costure sobre ti. Sei que certos humanos som chamados os escolhidos. E sei que há algo em sua sangue que faz que os vampiros o sintam e sejam protetores para eles.
—Então, já sabe quão mesmo eu.
—Não acredito.
—Isto é uma perda de tempo. Parto-me — disse, e se voltou.
— Sou uma deles? Significa que não tenho que morrer?
O ficou em silêncio.
Ela se aproximou e lhe pôs as mãos nos ombros.
—Quando você me alimentou de seu corpo, Lhe dêem, senti-me... viva. Meus sentidos se agudizaron e me senti viva e forte. Mas não durou. Quero me sentir assim durante todo o tempo. Quero ser o que você é.
—Assim já chegamos à essência da questão. Vê a entrada ao mundo dos imortais. Isso é o que significam em realidade todas essas declarações de amor e de desejo. Não tem a força de caráter suficiente para agüentá-lo, Morgan. Estaria morta em menos de um ano.
—Isso é um ano mais do que tenho agora.
—Não o farei —disse ele, sacudindo a cabeça—. Não quero curar esta loucura com outra.
—Então, é possível. Sou uma escolhida!
Ele suspirou, frustrado e exasperado.
— Sim, maldita seja, sim. Tem o antígeno Belladonna na sangue. Por isso está te apagando tão logo. Todos os de sua casta morrem jovens.
Ela assentiu, processando a informação e revisando a história que tinha lido em sua mente. Era pouco provável, segundo o que lhe tinha contado sua demoníaca tia, que lhe fizesse mal a uma escolhida.
— Como se faz?
lhe brilharam os olhos na escuridão. Estava zangado com ela por lhe obrigar a seguir seu jogo, mas ao mesmo tempo se sentia excitado com a perspectiva. Seu olhar se posou na garganta do Morgan.
—Afundo as presas em seu pescoço branco, Morgan, e me bebo sua sangue. Bebo até que está ao bordo da morte. Se tomo muito, morrerá. Depois, quando está te debatendo entre a vida e a morte, eu te alimento com minha sangue. Bebe de minhas veias, e tragas minha maldição.
O vento soprou com força desde mar.
— E isso é tudo?
—Depois, dorme. Desperta. Alimenta-te. E o ciclo está completo.
Ela assentiu firmemente.
—Muito bem. Então, faz-o-se apartou o cabelo do pescoço e dos ombros e inclinou a cabeça para trás, lhe oferecendo a garganta.
Ele a olhou com um brilho feroz nos olhos. Com o dedo indicador, percorreu brandamente a pele de seu pescoço e amadureceu muito baixo, como um animal da noite.
— Sim, quer fazê-lo. Sabe que quer —lhe sussurrou.
A respiração de te Dêem era entrecortada, como se estivesse lutando com ela, com sua própria fome e com seu desejo. Naquele momento recordou o que tinha lido: que o desejo sexual e a fome de sangue eram uma mesma coisa para os mortos em vida.
Ele voltou a cara para não olhá-la.
Então, Morgan se desabotoou a camisola a toda pressa e o vento o arrancou dos ombros. ficou nua, sentindo o vento gelado no corpo.
O olhar de te Dêem voltou a posar-se nela. Morgan se aproximou e lhe rodeou o pescoço com os braços. Depois o beijou.
Com um suspiro, tremendo, lhe devolveu o beijo, sustentando seu corpo com ternura. Percorreu-lhe a mandíbula com os lábios e chegou ao pescoço, onde a beijou e a lambeu. Com um grande esforço, levantou a cabeça.
—Por favor, não me obrigue a te fazer danifico. Não poderia suportá-lo, não o entende? E sei que te farei mal.
— Comigo será diferente. Sou uma escolhida. Quero-te, e sei. Não deixarei que me faça mal, Lhe dêem. —Não poderia me deter.
—Não tenho nada que perder. Por favor, Lhe dêem, por favor...
Grunhindo, ele abriu a boca e afundou as presas em seu pescoço. Morgan sentiu uma dor aguda e, quase imediatamente, quebras de onda de êxtase enquanto ele se alimentava em seu pescoço.
Houve um som, um assobio no ar e um golpe. te dêem gemeu de dor e a soltou, cambaleando-se para trás. Morgan caiu ao chão, enjoada e débil.
— Tenho-te, maldito! —gritou uma voz.
Morgan olhou para cima e viu um dardo parecido no ombro de lhe Dêem. A sangue brotava ao redor da ferida. Depois, olhou para o outro lado e viu o homem das cicatrizes aproximar-se correndo com uma mola de suspensão na mão.
—Morgan...
—Estou bem. Corre, Lhe dêem. Vete. Agora!
E ele o fez. desvaneceu-se em um só movimento, um salto pelo escarpado. Quando saltou, Morgan gritou de puro instinto. E então, o caçador se ajoelhou a seu lado, olhando para baixo. Ela também apareceu, mas lhe Dêem não estava ali.
Ela ficou de joelhos e lhe deu um golpe débil ao homem.
— Imbecil! Que demônios está fazendo?
O homem passeou seu olhar por seu corpo nu na escuridão, tanto como quis. Então, ela se levantou e viu sua bata atirada no chão a uns metros de distância. Tomou e a pôs.
— Acabo de lhe salvar a vida! —gritou-lhe o homem, andando detrás dela.
—disparou a meu noivo, e provavelmente o matou —lhe soltou ela—. vou chamar à polícia.
— Não vai chamar a ninguém! —tomou pelo ombro e a obrigou a dá-la volta. Ela se envolveu na bata, agarrando bem o pescoço para tampar-se—. Ao menos, até que não me tenha ensinado a garganta.
—Já teve a oportunidade de ver o que quis —replicou ela—. Deveria havê-la aproveitado.
—Estava bebendo-se sua sangue. E você o estava permitindo. Desgraçada!
—Você está louco —Morgan começou a andar para a casa, mas os joelhos lhe falharam e teve que apoiar-se no tronco de uma árvore para tomar ar.
—Ele tomou muito —disse o homem—. A teria matado se eu não tivesse chegado.
— Estou em estado de shock, por ter visto como você disparava a meu noivo com uma mola de suspensão e ele caía pelo escarpado, lunático! —então, Morgan acreditou ouvir o ruído de um carro e de uma porta que se fechava. Ao segundo viu claramente as luzes.
Ele a agarrou de novo pelo braço.
— me diga a verdade, maldita seja!
— Né! O que está ocorrendo aqui? —gritou a voz de um homem, enquanto se aproximavam três figuras—.
Sou polícia, senhor, e será melhor que solte à senhorita antes de que me dita a lhe colocar um balaço no traseiro.
O homem das cicatrizes a soltou, voltou-se e saiu correndo.
O recém-chegado balbuciou uma maldição e saiu a persegui-lo. As outras duas pessoas eram mulheres. Elas se aproximaram do Morgan e lhe perguntaram se estava bem.
Ela não pôde levantar a cabeça. Manteve a bata bem arranca-rabo para evitar que elas vissem as marcas que tinha no pescoço.
—Não sei quem som, mas estou contente de que tenham chegado tão oportunamente —murmurou.
—nos diga onde está a porta mais próxima —disse uma delas—. A levaremos dentro.
Ela assentiu e assinalou a porta traseira, a da cozinha, e as mulheres a levaram quase em braços. Morgan não ergueu a cabeça e manteve a bata bem arranca-rabo a seu pescoço.
—me esperem aqui, por favor. Necessito um minuto...
arrastou-se pelas escadas a sua habitação. encontrava-se muito débil. A interrupção daquele miserável podia significar o fim de tudo. tirou-se a bata e ficou um pijama de seda e um pulôver de pescoço alto negro por cima. Quando ficou frente ao espelho, viu uma mulher pálida e frágil. baixou-se um pouco o pescoço do pulôver e viu as duas marcas, diminutas, vermelhas.
Tragou saliva e ficou o pescoço do pulôver em seu lugar. Depois se escovou o cabelo, enquanto se perguntava quem seriam aqueles estranhos. Teria que baixar as escadas e falar com eles em questão de minutos. Como, se nem sequer era capaz de manter-se de pé?
Teria que arrumar-lhe
Com os olhos cheios de lágrimas, aproximou-se da janela e olhou ao céu da noite.
—Deus, Lhe dêem, está bem? me diga que está vivo. me diga algo. Se tiver morrido por minha culpa...
«Morgan».
Ouviu sua voz claramente na mente, e ao mesmo tempo sentiu uma dor insuportável. apertou-se as mãos na cabeça e caiu de joelhos.
«Voltarei».
Era uma promessa, feita com outro golpe de dor.
—lhe dêem, onde está? —disse em voz alta—. me Deixe te ajudar. me deixe fazer algo.
Mas não houve resposta. Nada. E ela soube que não lhe diria nada mais, porque cada vez que lhe enviava seus pensamentos, também lhe enviava sua agonia. Como podiam estar tão conectados? Possivelmente o fato de que tivesse bebido dela aquela noite tivesse algo que ver.
—Quero-te, Te dêem —sussurrou—. Te juro que não sabia que esse homem ia vir. Juro-lhe isso. Eu o matarei com tal de te proteger. Farei-o —Deus, não podia suportar que ele acreditasse que ela tinha planejado todo aquilo para matá-lo.
Lhe derramaram as lágrimas pelas bochechas. Entrou de novo na habitação, deixando as portas do balcão abertas no caso dele queria voltar. Depois se deu a volta, ergueu os ombros e se dispôs a enfrentar-se com os estranhos.
Maxine caminhava pela enorme cozinha do Morgan Da Silva observando todos os detalhes da decoração e o mobiliário. Havia uma ilha no meio com uma pia e quatro tamboretes, e Lydia ocupou um deles. Max não podia sentar-se. Não enquanto Lou estivesse aí fora em metade da noite, tentando caçar a Deus sabia o que ou quem.
— Viu quão mesmo eu? —perguntou-lhe, embora estava segura da Lydia sim o tinha visto.
— O que? —perguntou-lhe a mulher.
—No pescoço da bata que levava.
Lydia a olhou sem compreender, e depois sacudiu a cabeça.
—Sangue, Lydia. Só um pouco, uma ou duas gotas. Mas estava aí. Por isso ela se apertava a bata ao redor do pescoço.
—Eu pensei que tinha frio, ou medo. Possivelmente as duas coisas.
Max agitou a cabeça com veemência.
—Estava escondendo algo. Não viu quão rápido correu para escapar daqui? —Estava desgostada, Maxine. —Você arrumado o que queira a que baixa com algo que lhe tampa o pescoço —caminhou para a porta de atrás de novo e apartou a cortinilla para ver algo—. Deus, oxalá já houvesse tornado —disse com um suspiro de frustração, agarrando o pomo—. Ao demônio. Vou buscá-lo —e justo quando abriu a porta, Lou estava subindo as escadas, ofegante.
Max se controlou para não abraçá-lo, mas o olhou bem para assegurar-se de que não tinha sofrido nenhum dano.
— Apanhaste-o?
—foi-se. Não há nem rastro dele.
—Maldita seja.
Lou se deixou cair em um dos tamboretes, mas se levantou os poucos segundos, ao ver que a mulher a que tinham resgatado sem querer entrava na cozinha. Max olhou diretamente a seu pescoço e viu o pulôver negro de pescoço alto. Então lançou a Lydia um sorriso auto-suficiente. Entretanto, Lydia não estava olhando-a. Ela e Lou estavam olhando à mulher como se tivessem visto um fantasma.
Com o cenho franzido, Max voltou a olhá-la. Então piscou, boquiaberta.
—meu deus...
— Quais são? O que é isto? —perguntou a mulher, olhando ao Max com cara de perplexidade.
Max a compreendia, porque ela tinha as mesmas perguntas.
— São idênticas! —disse Lou, como se ninguém se deu conta.
«Não, não o somos», pensou Max. Morgan Da Silva estava pálida como um fantasma, muito magro e tinha o cabelo muito comprido, suave e brilhante. Maxine não era assim.
Levava o cabelo cabelo, e se o deixava crescer um pouco, lhe frisava. E ela tinha cor na cara, ao menos, o suficiente para distinguir a de um cadáver. Mas além daquelas diferenças... aquela mulher poderia ser sua irmã geme-a.
Max se sentou em um tamborete e a palavra «geme-a-se repetiu como um eco em sua cabeça. Deus, seria possível?
—É Morgan Da Silva —disse Lou, afirmando-o.
—Sim. Mas não entendo do que trata tudo isto. por que...? O que...
—Senhorita Da Silva, por favor, isto é uma impressão tão grande para nós como para você —disse Lou, brandamente, e ao ver que estava tremendo, agarrou-a pelos braços dessa maneira em que ele o fazia, agradável, sem ameaçar.
—Venha, sinta—lhe disse, e ela o fez.
Então ele olhou ao Max, sem saber se era para animá-la a que dissesse algo ou para certificar-se de que estava bem. Possivelmente um pouco das duas coisas. Ela o olhou sem saber o que dizer. Lou o entendeu, e começou a falar ele mesmo.
—Meu nome é Lou Malone —disse ao Morgan—. Sou polícia, do White Plains, estado de Nova Cork. Ela é Maxine Stuart, e ela Lydia Jordão. São amigas minhas.
Olhando ao Max sem piscar, Morgan lhe perguntou:
—Você também é polícia?
—Investigadora privada —respondeu ela.
—É adotada?
—Sim. E você?
Morgan assentiu.
—Quando nasceu?
—Em quatro de maio de mil...
—Novecentos e setenta e sete —terminou Morgan.
Max viu pela extremidade do olho que Lydia se estava levantando, assimilando-o com a única parte de seu cérebro que era capaz de assimilar algo mais que à mulher que tinha em frente.
—Lydia? —perguntou Lou.
—Isto é um pouco privado, Lou. Deveriam estar sozinhas.
Assentindo, Lou pôs uma mão ao Max no ombro e o apertou.
—Vamos dar um passeio. nos dêem um grito se nos necessitarem.
Ela assentiu vagamente. Quando a porta se fechou, estava a sós com aquela mulher pálida e frágil que teria podido ser seu gêmea. Que possivelmente o fora.
—Não posso acreditá-lo. Eu sabia que era adotada, mas ninguém se incomodou em me dizer que tinha uma irmã geme-a por aí.
Morgan a olhou.
—Quer dizer que esta visita surpresa não é a culminação de algum tipo de busca?
Demônios, tinha um tom de voz um pouco hostil.
—Não, não é a culminação de nada. Até que não te vi a cara não sabia nada.
—Alguma vez me tinha visto antes?
—Não, é a primeira vez que venho a Maine.
—Refiro aos periódicos e a televisão.
Então Max o entendeu.
—Ah, claro. Agora deve ser famosa, com o da nominação.
—um pouco —disse ela, desdenhosamente.
Parecia que estava tentando adotar uma postura autoritária, muito erguida, com a cabeça muito alta e os olhos cravados nela. Mas Max notava que lhe estava custando muito esforço, o qual danificava o efeito.
—Então, se não sabia nada de mim, o que está fazendo aqui?
—Deus, é que isso tem importância? —Max se levantou e se aproximou dela. Levantou uma mão e roçou a cara ao Morgan com as pontas dos dedos—. São irmãs. Não posso acreditá-lo, é... Morgan baixou o olhar.
—Compartilhamos um útero durante nove meses. Não é para tanto.
Max deixou que a mão lhe caísse ao lado do corpo.
—Não significa nada para ti?
—Obviamente nossa mãe não pensou que tivesse importância. por que demônios nos teria dado em adoção e além disso, separadas, se não? É só uma coincidência biológica.
—É uma bruxa sem sentimentos, não?
Morgan atravessou ao Max com o olhar.
—por que não me diz o que quer de mim para que possamos ir diretamente ao grão?
—O que quero de ti?
A mulher pálida arqueou as sobrancelhas com uma atitude espectador.
Max pôs os olhos em branco.
—OH, já o entendo. Tem dinheiro. Êxito. Pensa que estou aqui por isso, que quero tirar algo.
—Acabo de ser nomeada para um grande prêmio. publicou-se em todos os periódicos e as revistas. É que quer que me cria que isso não tem nada que ver com seu repentino interesse por mim?
—Já te hei dito que não sabia que existia até que te vi —Max disse aquilo com tanta firmeza como pôde, mas sem gritar—. A razão pela que vim não tem nada que ver com sua maldita nominação. Deus, quem demônios te criou?
—Um par de cocainómanos de Hollywood, embora não seja de sua incumbência —fechou os olhos e a cabeça lhe caiu para diante. Não tentou levantá-la—. Uma vez mais, para que vieste?
—Porque meu melhor amiga está no hospital, com uma bala no cérebro, em vírgula, e provavelmente não se recupere. E quero saber quem é o que a pôs aí.
Morgan piscou. Parecia que finalmente Max tinha conseguido penetrar na dura couraça que rodeava a alma daquela mulher.
—Sinto muito. Mas não entendo o que tem que ver isso comigo.
—Tem que ver com os vampiros, Morgan.
Ela se estremeceu, e Max o notou, embora houvesse tentando dissimulá-lo.
—Isso é ridículo. Os vampiros não existem.
—Não estou falando de vampiros de ficção. Estou falando dos de verdade, como o de seu filme.
—Hoje tive um dia muito difícil —disse Morgan, brandamente—. Não quero ser mal educada, mas tenho que te pedir que te parta.
Aquela mulher não se encontrava bem, era evidente.
—Partirei-me assim que te tenha contado uma história muito cabela, de acordo?
Morgan assentiu, olhando ao Max aos olhos durante um segundo.
— Sempre e quando for curta...
—Tão cabela que ainda não tem final. Em minha cidade havia uns edifícios do governo, onde se dizia que havia uns laboratórios que investigavam sobre enfermidades como ele sida e o câncer. Era um complexo fechado que estava ali desde que eu tive uso de razão. Entretanto, faz cinco anos ardeu por completo. Eu me penetrei no incêndio sem que me vissem os bombeiros, com a esperança de conseguir uma pista que me dissesse o que se esteve fazendo em realidade naqueles edifícios.
Morgan a interrompeu.
— E por que pensava que havia algo estranho ali, além dos laboratórios de investigação?
—Porque havia guardas armados, câmaras de vigilância, veículos com matrículas do governo a todas as horas... As cercas tinham alambradas eletrificadas, e havia cães. Quando entrei, encontrei duas coisas: um cartão de identificação e um CD-rOM cheio de informação sobre vampiros. Alguém se chamava lhe Dê, e a informação sobre sua vida que encontrei no disco era muito similar a de seu filme.
Morgan a estava olhando com muita atenção. Já não parecia que estivesse sofrendo ao ter que escutar aquela historia para livrar-se de sua narradora. Estava absorta.
—E o cartão de identificação?
—Era de um tipo chamado Frank W. Stiles, um agente da Divisão de Investigações Paranormais, que acredito que é uma agência secreta da Cia
—Frank W. Stiles —sussurrou Morgan.
—A razão pela que encontrei aquelas coisas foi que caíram a um homem que tinha estado no incêndio e que tinha a cara e a cabeça muito queimadas. Quando tentei sair, o lugar estava rodeado pelos militares, mas me arrumei isso para escapar com as duas coisas. Entretanto, o homem me viu. Ao dia seguinte, alguém me chamou para me dizer que se alguma vez repetia algo do que tinha visto, mataria a meus melhores amigos e a minha mãe. A minha mãe adotiva.
—E essa garota a que dispararam é seu melhor amiga?
—Sim.
—E crie que tem relação? Há dito que esse incidente ocorreu faz cinco anos.
—Há mais. Recentemente, houve um assassinato em nossa cidade. Morreu uma mulher muito próxima a Lydia Morgan. Parecia o trabalho de um vampiro, e me dava conta de que não podia seguir ocultando a informação que tinha. Não, se havia gente que estava morrendo. Assim que disse ao Lou o que sabia e lhe ensinei o CD-rOM. Quão seguinte ocorreu foi que encontraram a meu amiga no apartamento do Lou. Tinham-na disparado na cabeça com uma pistola que ele guardava de reposto em sua casa. Sei que Lou não o fez, mas está bastante claro que alguém tentou incriminá-lo. Sei que foi Frank Stiles. Sei.
—Quando ocorreu isto?
Max se perguntou que importância podia ter aquilo.
—Ontem à noite, entre as nove e as dez da noite. por que?
—E quanto se demora para vir de carro até aqui? viestes de carro, verdade?
—Sim. Umas seis horas, mais ou menos.
Morgan assentiu lentamente. Parecia que já não tinha tantas vontades de livrar-se da irmã a que acabava de encontrar.
—Então, a quem está perseguindo? Ao vampiro que matou a essa mulher ou ao homem desfigurado que disparou a seu amiga?
Max ficou perplexa.
—Eu não hei dito que estivesse desfigurado.
Morgan baixou a cabeça, sacudindo-a rapidamente.
—Não, mas disse que se queimou muito. É o mesmo.
—Não o é.
—Eu acreditei que...
—Viu-o. Demônios, é obvio que o viu. Provavelmente, ele fez a mesma conexão que eu quando viu o filme.
—Está pondo palavras em minha boca. Eu nunca hei dito...
—Só quero saber a verdade.
— Eu não sei a verdade! —disse Morgan, e se cambaleou. Teve que agarrar-se ao mostrador para não cair.
—Parece que não te encontra bem, Morgan. Está doente?
—É... algo crônico. Tenho um antígeno na sangue, a Belladonna. Embora, se somos as gemam, supõe-se que você também deveria o ter.
—Não. Eu sou do grupo A positivo. Tudo normal.
—Isso é possível?
—Não sei —respondeu Max—. Suponho que teremos que lhe perguntar a um médico, ou algo assim —baixou a cabeça de novo para olhá-la, e depois lhe perguntou—: Quem era o que te estava atacando? Era lhe Dê?
Morgan sacudiu a cabeça lentamente. afastou-se do Max tremente, arrastando os pés.
—Era Stiles. Como você, ele pensa que te Dêem é real e que eu posso lhe conduzir até ele. E, embora o fora...
Então, enquanto se desabava, Max tomou pelos braços para que não caísse ao chão.
—Você sabia, verdade, Lou?
Ele olhou a Lydia à cara enquanto caminhavam pelo bordo do escarpado. Embora sua cara tinha perdido o viço da juventude, continuava sendo uma mulher muito bonita. Aspirou o ar do mar _ sentiu a umidade na cara. Gostava do oceano ali. Era selvagem.
—Suspeitava-o —admitiu, finalmente—. Do Maxie. Por isso lhes apresentei. Sinceramente, não acreditava que fora a apoiar a teoria dos vampiros como o está fazendo. Era só uma desculpa para que lhes conhecessem e lhes dessem conta do que para mim era óbvio.
—E Morgan? —perguntou ela.
—Não sabia nada dela, Lydia. Juro-o.
—De todas formas, tinha que me haver dito o do Maxie.
—Pareceu-me que era algo que tinham que descobrir vocês mesmas —lhe pôs um braço sobre os ombros—. Sinto havê-lo feito mal, carinho. Sabe que quero o melhor para vocês.
—Sei.
—vais dizer se o
Ela suspirou.
—Não sei. Preciso pensá-lo.
Os dois se voltaram para a casa para ouvir que Max os chamava. Lydia agarrou ao Lou pelo braço.
—Haverá tornado?
—Vamos —disse Lou, e ambos puseram-se a correr. Quando entraram pela porta da cozinha, viram o Morgan inconsciente no chão e ao Max ajoelhada a seu lado, muito assustada.
—O que ocorreu?
— Acaba de deprimir-se!
Lydia se aproximou e se ajoelhou junto ao Max.
—Está geada —disse, tocando a cara ao Morgan.
—Acredito que está doente —disse Max—. Lou, poderia levar a à cama? vou ver se encontro o número de telefone de algum médico, ou algo assim.
Lou assentiu e tomou ao Morgan em braços. Pesava como uma pluma. Depois subiu as escadas com ela e começou a procurar a habitação.
Max se sentou junto à cama daquela estranha mulher e a observou. Eram as duas da madrugada. Lou se tinha ido dormir a uma das habitações, e Lydia a outra. Naquela casa havia umas doze habitações, todas preparadas, que aparentemente não se usavam muito. Não havia signos de que sua irmã tivesse muita companhia.
Tudo era muito estranho. Max seguiu observando sua cara, pensando em que necessitava respostas, e que uma delas estava baixo o pescoço alto do Morgan.
umedeceu-se os lábios com nervosismo e se inclinou para diante, muito devagar. Seus dedos roçaram o tecido negro.
«Com cuidado», disse-se a si mesmo. «Não lhe toque a pele, ou despertará. Cuidado...»
Beliscou o tecido com dois dedos e atirou dela tão brandamente como pôde. inclinou-se ainda mais para poder ver o que havia debaixo.
Ali estavam. Exatamente como ela tinha imaginado que seriam. Duas marcas diminutas de cor vermelha.
—lhe dêem, nooo —gemeu Morgan, em sonhos.
Max se sobressaltou tanto que soltou o pescoço do pulôver de repente e deu um passo para trás.
—te afaste! —disse Morgan, com aspereza. Começou a mover a cabeça pelo travesseiro—. Não, Lhe dêem, não venha —então começaram a cair as lágrimas.
Max não pôde evitar sentir uma dor nas vísceras. Aquela era sua irmã, a que um vampiro tinha atacado. Max não sabia por que demônios Morgan insistia em negá-lo, mas as provas estavam ali, das marcas de seu pescoço até os pesadelos nas que lhe pedia ao monstro que não voltasse.
—Não, não!
Max se inclinou para ela de novo e tomou pelos ombros.
—Tranqüila. Não passa nada, está a salvo. A mulher deixou de lutar. ficou imóvel e sua respiração começou a acalmar-se.
—Não passa nada —sussurrou Max.
Morgan piscou e abriu os olhos. Custou-lhe um momento recordar quem era Max. Aquele breve instante de shock foi seguido de uma pergunta:
—Ainda está aqui?
—Deprimiu-te no piso de abaixo. Lou te trouxe aqui acima e te deitou.
Ela assentiu, enquanto lhe fechavam os olhos.
—Estou bem. Já te pode ir.
—Isso não é o que há dito seu amigo David.
Ela abriu muito os olhos de novo.
—David? falastes com ele? Mas... como?
—Estava tentando encontrar um número de telefone de um médico, ou de algum membro de sua família, ou algo, e não estava tendo muita sorte, quando soou o telefone. Era um homem chamado David Sumner, que parecia muito preocupado por ti. Expliquei-lhe o que tinha passado...
—Não tinha por que havê-lo feito —sussurrou Morgan.
—Chegará aqui amanhã pela manhã. Pediu-me que ficássemos aqui até que ele chegasse. Assim que o fizemos.
—Não necessito que me vigiem.
—Sei o de te Dêem —disse Max.
—E eu também. É um personagem de ficção.
—Refiro-me aos lhe Dêem de verdade. que te deixou as marcas no pescoço.
Morgan ficou a mão no pescoço para ocultá-lo, mas quando sentiu o pescoço alto, franziu o cenho.
—Não tenho...
—Deixa-o, hermanita. Olhei-o.
Com um profundo suspiro, Morgan disse:
—Não o entende.
—por que não me explica isso?
Morgan se incorporou lentamente e se sentou. Max a ajudou a ficá-la travesseiro nas costas e quando seus olhos se cruzaram, sentiu uma conexão, pela primeira vez.
—Não tem que te enfrentar a isto reveste nunca mais —lhe disse—. Tem família. Isso significa algo para mim, embora para ti não seja nada. É minha irmã, e não vou permitir que ninguém te faça mal.
Morgan se recostou no travesseiro e baixou os olhos.
—Para mim também significa algo. É só que... estava assustada. Não queria ser fria.
—Tinha tido uma noite difícil.
—Mas não foi lhe Dê. Ele não me faria mal.
—Não? —Max tentou não demonstrar seu júbilo porque, ao fim, Morgan tivesse admitido que te Dêem era real.
—Não. É o homem desfigurado. Ele é o inimigo. Ele é quem me atacou. Tinha... —então se deteve para conter um soluço—. Tinha uma mola de suspensão.
—Deve ter sido horrível.
—Foi-o. Deus, eu tinha muito medo. E ainda não sei se... —deteve-se e se mordeu o lábio.
—Não sabe se o que? Se for voltar? Não tem por que preocupar-se disso. Tem um policial, uma investigadora privada e uma conselheira de adolescentes em sua casa. Entre todos poderemos nos enfrentar ao que ocorra. Ele não vai aproximar se mais a ti.
Morgan olhou ao Max durante um momento, quase como se queria discutir, mas se limitou a assentir.
—Não quer tirar nada de mim, verdade?
—Não. Não quero —Max tomou ao Morgan uma de suas mãos geladas entre as suas.
Morgan lhe devolveu o apertão.
—Agora descansa. Sentirá-se melhor pela manhã.
Assentindo, Morgan fechou os olhos e se afundou no sonho.
Aquela manhã, alguém entrou na habitação e Max despertou assustada. Entretanto, não era nenhum vampiro, nem o homem das cicatrizes o que se aproximou brandamente a ela. Era Lou, e estava com um homem muito alto, loiro, que olhava ao Max como se não pudesse acreditar o que estava vendo.
—Maxie, este é David Sumner —disse Lou, em voz muito baixa.
Assentindo, Max se levantou da cadeira em que estava e se deu conta de que tinha arranca-rabo a mão do Morgan. Cuidadosamente, colocou-a em cima da colcha e olhou a sua irmã antes de voltar-se por volta dos dois homens.
—vamos falar abaixo. Está profundamente dormida, e não quero despertá-la.
Lou assentiu e se deu a volta para a porta, mas Sumner não o fez. aproximou-se do Morgan, inclinou-se sobre ela e a olhou com a preocupação refletida nos olhos. Acariciou-lhe a bochecha com ternura, posando sua mão ligeiramente. Ela suspirou, mas além daquilo, não houve mais resposta.
O homem sacudiu brandamente a cabeça, voltou-se e saiu da habitação. Max o seguiu e fechou a porta da habitação atrás dela, e foi todo um acerto, porque assim que estiveram fora, Sumner começou a fazer perguntas imediatamente.
— O que lhe ocorreu? por que está tão pálida? meu deus, tem a cara tão fria que parece de gelo. Y...
—Uma pergunta depois de outra, senhor Sumner — disse Max, lhe fazendo um sinal com a palma da mão para que se detivera, e apertando-a frente com a outra—. Ainda não me tomei nenhum café, e não dormi muito esta noite.
Sumner assentiu, desculpando-se.
—Sinto muito. Deus. Não posso me acreditar o parecido. O oficial Malone...
—Lou. Meu nome é Lou.
—...falou-me de ti quando cheguei, mas... não posso acreditá-lo.
Max entendeu aquela reação perfeitamente.
—estive olhando ao Morgan durante toda a noite, e eu tampouco posso acreditar me disse isso—. Não sabia que tivesse uma irmã, e muito menos que fora geme-a.
—Eu tampouco —admitiu Sumner.
Chegaram à cozinha, onde Max cheirou o café que estava no fogão, e se dirigiu diretamente para ele. Não viu a Lydia por nenhuma parte, e se perguntou onde estaria. Os dois homens se sentaram à mesa, e Max se serve uma taça de café e se uniu a eles.
—Sinto muito, mas ainda não entendo muito bem qual é sua relação com o Morgan, né... David, não?
—Sim, David. Sou, bom, seu padrinho. Conheço-a desde que tinha um ano. Quando os pais do Morgan morreram... eu era o único que ficava.
—E também produziste seus filmes —observou Lou, tomando seu último gole de café.
— Sim, também. Tenho que dizer que ao princípio não me esperava que fossem tão boas. Mas quando vi o primeiro guia, disse-lhe que tinha que oferecer-lhe a mais gente, e ficar com o melhor postor. Mas ela não o fez. Queria que eu lhe produzira seu primeiro filme. E já chegamos à terceira.
Lou assentiu lentamente.
— E que tal estava ela a última vez que a viu?
—Não como agora —disse David, olhando seu relógio—. Não podemos dar com seu médico até as dez. Chamaremo-lo então.
—Então, esteve doente? —insistiu Lou.
David tomou ar.
—Escutem, a estrela do Morgan está começando a subir. Não quero que isto se saiba.
—Não estamos procurando uma historieta para lhe vender aos periódicos sensacionalistas, David. Se isso fosse verdade, seria suficiente contando que somos irmãs as gema. Há algo que não concorda em tudo isto, e eu... nós só queremos ajudá-la.
—Temo-me que não se pode fazer muito por ela. Sua saúde não é boa. Tem um antígeno estranho na sangue, que tem aos médicos confundidos. Ninguém sabe por que, mas os indivíduos que o têm começam a debilitar-se sobrei os vinte anos, e raramente sobrevivem mais de trinta.
— Isso quer dizer que...? — perguntou-lhe Max, olhando-o aos olhos.
—Sinto muito. Sei que isto deve ser todo um shock. Ela sabe desde que era uma adolescente —continuou, baixando o olhar—. Por isso é tão inflexível em seu trabalho. Por isso queria fazer um filme tão jovem, porque sabia que não tinha muito tempo.
Max o estava olhando fixamente. Ardiam-lhe os olhos e a cabeça lhe dava voltas. —Não pode ser verdade. —Max —lhe disse Lou.
— Não pode ser, Lou! —disse-lhe, e olhou de novo ao David Sumner—. Está dizendo que vai se morrer?
—Não nos esperávamos que piorasse tão rápido, mas...
—OH, Deus —murmurou Lou.
Max ficou ali sentada, cada vez mais furiosa. Finalmente, deu um murro na mesa.
—Isto não tem nenhum sentido. Olhe, não sei o que é o que lhe ocorre, mas a razão pela que está neste estado é que um vampiro a atacou ontem à noite.
David Sumner ficou em silêncio, olhando-a, depois olhando ao Lou, e depois a ela de novo.
—Isso não tem graça.
—Vi-lhe as marcas no pescoço. Olhei-as enquanto ela estava dormida, e quando despertei, admitiu-o ante mim —falava muito depressa, e se deu conta de que estava assustando muito ao Sumner—. te Dêem é real. Ela mesma o admitiu! Embora também insistiu em que não é nenhuma ameaça para ela.
Sumner ficou de pele muito agitado.
—Possivelmente agora que estou aqui, vós dois deveriam partir. Estou muito agradecido por sua ajuda, mas...
—Agora se acredita que somos um par de loucos, Maxie. É que alguma vez ouviste que terá que ser sutil?
Ela cravou os olhos no Lou.
—trouxeste o CD-rOM, não?
—Sim.
—Pois enséñaselo.
Lou assentiu e se levantou da cadeira.
—Só será meia hora. Se ainda pensa que somos um par de lunáticos quando lhe tivermos ensinado isso, partiremo-nos. Sem incomodar mais. De acordo?
—Está bem. Tenho o ordenador portátil no carro. Ao Morgan não gosta que ninguém entre em seu escritório —disse Sumner com um pouco de insegurança.
—Muito bem. Vamos por ele —disse Lou, e olhou ao Max—. Será melhor que você te jogue um momento. Vi que a cama de sua habitação está sem desfazer.
Ela assentiu. Estava muito cansada.
—Possivelmente o faça —disse—. Onde está Lydia, a propósito?
—Saiu muito cedo. Foi ao povo para comprar comida, disse-me. Voltará depois.
Max franziu o cenho e pensou em ir dar uma volta pelos arredores. Possivelmente o ar fresco despertasse. Entretanto, suas pálpebras e seus músculos não secundaram o plano, assim que se serve outra taça de café. Não tinha intenção de dormir.
Morgan despertou débil. Sentia um tremendo vazio que emanava de suas vísceras. Sentia um desejo entristecedor por lhe Dêem. Estava mais à frente do amor humano. Era uma dor, uma necessidade se desesperada e interminável.
Apertou os dentes contra aquele esvaziou, levantou-se e, ao dar-se conta de que a luz do dia se derramava na habitação através das finas cortinas da habitação, amaldiçoou-a em silêncio. lhe dêem não poderia ir ver a. Não durante o dia.
arrastou-se cansadamente até o banho e se deu uma ducha, apoiando-se na parede e quase sem poder levantar a cabeça. Deus, não poderia passar todo o dia daquela forma... Necessitava...
Sabia o que necessitava. Necessitava a lhe Dêem. Necessitava-o dentro dela, seu fogo lhe percorrendo as veias e lhe dando a vida. Ele tinha tomado muito dela. Sabia que não tinha sido para feri-la, mas sim ele tinha querido fazer o que lhe tinha pedido. Beber-se sua sangue e depois preenchê-la com sua própria vida. A interrupção do Stiles lhe havia flanco muito cara.
De repente ouviu um som. Havia alguém mais na casa? Acaso os estranhos da noite anterior ainda estavam ali?
Tinha que admitir certa debilidade pela mulher que dizia ser sua irmã. Mas ninguém que queria lhe fazer machuco a te Dêem podia ser seu amigo. Ela o protegeria. Não importava quanto tivesse que lutar.
Saiu da ducha e se secou. Depois ficou uma camisola de cetim vermelho, com a esperança de que aquela cor lhe desse algo de sua energia. Estava pálida, magra, débil. Não entendia como era possível que lhe Dêem a desejasse naquele estado.
olhou-se ao espelho para buscá-las marcas de suas presas. Entretanto, não havia marcas, só dois diminutos puntitos rosas que se desvaneceram quando ela os estava observando.
—Foi real —sussurrou—. Sei que foi.
escovou-se o cabelo e, embora estava exausta, baixou as escadas para enfrentar-se aos intrusos. Tinha que convencer os de que estava bem e livrar-se deles. Do contrário, Lhe dêem não poderia ir ver a de novo.
Ao final das escadas, Morgan se deteve e viu que as portas de seu refúgio estavam abertas. Deu-lhe um tombo o coração e cruzou como uma flecha o vestíbulo para entrar no despacho.
Maxine estava ali, bela e cheia de vida. Estava olhando os desenhos de lhe Dêem que havia nas paredes, sem tocar nada, sem procurar, só olhando.
—Estas portas estão fechadas com chave por uma razão —disse Morgan em voz baixa, controlando sua ira.
Max se sobressaltou e a olhou com os olhos muito abertos.
—Tem razão. Sinto muito, eu... não pude remediá-lo —então se aproximou dela e lhe pôs uma mão sobre o ombro—. Não deveria te haver levantado. Ainda está muito débil.
—Estou bem —disse, e lhe apartou o braço, obrigando-se a permanecer furiosa e a não sentir nada por aquela mulher—. Este é meu escritório privado. Ninguém pode entrar.
—Hão-me isso dito. Por isso entrei —se encolheu de ombros—. Sei que invadi sua privacidade, mas pensei que possivelmente encontrasse algo aqui que pudesse te salvar a vida.
Morgan não pôde sustentar o olhar do Max porque a sinceridade que viu em seus olhos a comoveu, e não queria sentir aquilo.
—Nada pode conseguir isso. Nada.
—Tem que ter mais tempo —disse Max—. Tem que o ter, Morgan. Acabo de te encontrar.
Morgan se voltou e negou a pontada de dor que aquelas palavras lhe tinham causado.
—Durante muito tempo pensei que isso podia ser verdade, mas só me conduziu à decepção, Maxine. Não quero desejá-lo de novo. aceitei os fatos —e era certo, pensou. Mas não os fatos tal e como os conhecia sua irmã. Morgan sabia que não poderia viver uma vida normal. Tinha pensado que só podia aceitar a morte, mas entretanto, tinha terminado por encontrar outra opção: uma vida de noite, interminável. Poderia ser possível. Se pudesse viver o suficiente para obtê-lo...
Max ficou em silencio durante um comprido instante. Quando falou de novo, tinha a voz áspera.
—Estes desenhos são assombrosos.
Morgan se voltou a olhá-la.
—Obrigado. São exatamente o que minha imaginação me ditou sobre o personagem.
—Vamos, Morgan. Ontem à noite admitiu que era real. Não te lembra? Eu te vi as marcas.
Com uma expressão inocente na cara, Morgan levantou o queixo e separou o pescoço de sua camisola.
— Que marcas?
Max franziu o cenho e se aproximou dela para lhe inspecionar o pescoço.
—Mas... mas estavam aí. Maquiaste-lhe isso.
Percorreu com o dedo o lugar onde tinham estado as marcas, mas quando se olhou a gema não encontrou nem rastro de maquiagem.
—Não o entendo.
—Não tem que entendê-lo.
—Morgan, se esse vampiro... está-se alimentando de ti, o tempo que ainda fica verá mais reduzido, não o entende? David me disse que a última vez que te viu, estava...
-David? David?
— Não te lembra? Ontem te disse que ia vir. Morgan franziu o cenho, tentando ordenar a confusão de sua mente.
—Está aqui —lhe disse Max—. No saloncito que há ao lado do vestíbulo, com o Lou.
Morgan foi para a estadia, mas se voltou para tomar ao Maxine da mão e levá-la com ela.
— Como entraste no despacho? —perguntou-lhe.
Timidamente, Max se tirou uma chave do bolso dos jeans.
—Estava em sua mesinha.
Morgan tomou a chave e fechou as portas do despacho. Depois cruzou o vestíbulo e entrou na sala em que estavam aquele polícia e seu querido David. Quando entrou, os dois homens estavam concentrados na tela do portátil do David, e os dois a olharam.
—David —disse ela, forçando um sorriso carinhoso.
— OH, carinho —ele se levantou e lhe deu um forte abraço—. Carinho, como está? Quando cheguei, parecia muito doente Y...
—David, tenho que falar contigo. A sós —disse, e se voltou para o Maxine—. Por favor.
—É obvio, Morgan. Não somos a Gestapo. Queremos o melhor para ti.
Lou se levantou e saiu da sala com o Max. Morgan fechou a porta e se voltou para o David. Sabia que ele faria algo por ela. Algo. Olhou-o aos olhos e lhe disse:
—Quero que partam.
Max ficou assombrada quando David, com expressão de culpabilidade, pediu-lhes que partissem. Morgan havia tornado diretamente a sua habitação, quase sem olhá-la, e David lhes havia dito que tinham que ir-se.
Lou assentiu ligeiramente.
—Entendo-o.
— Eu não! —disse Max ao homem, desdenhosamente—. E você tampouco deveria, David. Não, se é que ela te importa. meu deus, é minha irmã. A irmã que nem sequer sabia que tinha. É meu gêmea, Por Deus.
—Sei. Sinto muito, Maxine. É o que ela quer.
— De verdade pensa que é ela a que está falando? Não o é —insistiu Max—. É ele. O vampiro. Tem-na baixo uma espécie de...
—Max, vamos —Lou a cortou brandamente—. Estou de seu lado, mas inclusive me parece que isto é um pouco exagerado.
— Você crie?
—Tenho que admitir —disse David— que as provas que têm são convincentes. Não estou dizendo que o cria, mas entendo por que vós sim. Entretanto, Morgan- está muito excitada, não é ela mesma.
—Vá, pergunto-me por que —balbuciou Max.
— Acredito que, dado seu estado, seria melhor que a agradássemos nisto. Ao menos, até que possamos chegar ao fundo do que está ocorrendo aqui.
Max deixou de franzir o cenho e arqueou as sobrancelhas lentamente.
—Parece que realmente não quer que nos partamos.
—Em realidade não. Ela está muito doente, e não acredito que pudesse me enfrentar ao que lhe está ocorrendo eu sozinho.
—E mesmo assim, está-nos jogando.
—Da casa, sim. Mas eu gostaria que ficassem um par de dias. Poderiam fazer isso? —Ao ver que Max ia negar se, levantou uma mão e continuou—: Eu pagarei os gastos. Alojarei-lhes no povo. Há alguns hotéis muito agradáveis.
Max sentiu um pouco de alívio.
—Aceitarei a habitação, mas nada do resto.
—Aceitará-o tudo —cortou Lou.
—É minha irmã —disse Max.
—E é rica. Você vai atirando, eu estou a ponto de me aposentar e Lydia tampouco está flutuante. E onde está Lydia, a propósito?
—Não tornou ainda. Teremos que encontrá-la antes de partir —disse Max, preocupada—. vais ter que vigiá-la com muita atenção, sobre tudo pelas noites. Se quiser, poderíamos voltar para ajudar, nos mantendo a certa distância da casa.
David tomou ar e olhou para cima das escadas.
—Eu não gosto da idéia de espiá-la. Entretanto... estou preocupado —suspirando, continuou—: Não quero trai-la. Eu a vigiarei. Possivelmente o doutor lhe receite algo manhã, algo como um sedativo para que durma bem de noite.
Max quis protestar, mas Lou a parou. —Vamos, então. Por favor, nos chame se necessitar algo. E além disso, tenha em conta que não podemos ficar aqui indefinidamente. Max sacudiu a cabeça. —Eu não gosto disto.
—A mim tampouco, para ser sincero —respondeu David—. por que não sobe a lhe dizer adeus, Max?
— Se queria me dizer adeus, ela o teria feito enquanto estava aqui —olhou aos dois homens, e depois deixou escapar um suspiro de exasperação—. O tentarei.
David começou a lhe explicar ao Lou onde estava o hotel no que ele se alojava algumas vezes quando ia ao povo, e enquanto, Max começou a subir as escadas. Quando chegou à porta da habitação, chamou brandamente.
—Morgan, sou Max. vou entrar —esperou uns segundos e abriu a porta. Morgan estava sentada em uma cadeira ao lado do balcão, olhando pelo ventanal. Max cruzou a habitação e se aproximou dela. —Há uma vista muito bonita daqui —lhe disse. via-se uma enorme pradaria verde e depois, o mar, e mais à frente, o céu azul com algumas nuvens blanquísimas que passavam flutuando. Morgan não respondeu.
—Vou, Morgan. David nos há dito que quer que nos partamos, assim que vamos. Só subi a me despedir.
Nada. Nem sequer a olhou.
—Suponho que te importa um cominho, verdade? Não sei por que me incomodei em subir —disse, dando a volta e encaminhando-se à porta. —Sinto muito, Maxine. Ela se deteve.
— De verdade? —ao ver que Morgan não respondia, voltou-se lentamente—. E por que nos está jogando da casa, Morgan?
Morgan olhou os olhos do Max durante um segundo, e depois desviou o olhar rapidamente.
— Quais lhe criaram? —perguntou-lhe, ao fim. Max ficou surpreendida, mas respondeu. —John e Ellen Stuart. O casal de classe média mais encantada do mundo. Morgan assentiu ligeiramente. — E que tal foi sua vida com eles? —Maravilhosa. Fomos uma família. Queriam-me. O único mau que ocorreu foi que meu pai morrera. Ocorreu no ano em que comecei a universidade. Foi um ataque ao coração.
— E eles estavam... envoltos em sua vida? —Minha mãe ia a todas as reuniões do colégio, aos bailes algumas vezes, íamos de excursão... Meu pai nunca se perdeu um partido de basquete nenhuma peça de teatro —disse, quase sonriendo—. Sim, estavam interessados em minha vida. Eu sempre soube que era adotada. Não era nada secreto. Queríamo-nos.
— Eu também queria a meus pais —disse Morgan, escolhendo cuidadosamente as palavras—. Mas ainda não estou segura de por que me adotaram. Não tinham tempo para mim. Era quase como se eu fora um acessório que tinham comprado para completar sua imagem. Tinha babás e tutores, e tinha ao David. Mas meus pais nunca estiveram realmente aí. foram de viaje sem mim. Tentavam me compensar me dando dinheiro, presentes caros, carros, roupa. Tive meu primeiro cartão de crédito antes de cumprir os quatorze.
—Sinto que fora tão duro —disse Max.
— Diz-o com sarcasmo?
—Não. Digo-o de verdade. Sinto-o por ti.
—Não quero sua compreensão. Só estou tentando te explicar por que a palavra família não tem as mesmas conotações para mim que para ti.
—Possivelmente não. Eu pensaria que alguém que não teve uma família de verdade necessita uma de verdade. Mas já vejo que não é assim.
—O momento não é o mais apropriado —disse Morgan—. Me estou morrendo. Realmente, não tem sentido que... comecemos algo agora.
—Agora é o único momento que temos.
Morgan fechou os olhos e baixou a cabeça.
—Tenho algumas costure que resolver, e preciso fazê-lo sozinha.
—Pois será melhor que o faça depressa, Morgan, porque se pensar que vou afastar me, está confundida. Parto-me por agora, mas não vou longe, e voltarei. E seguirei voltando. Não me importa todas as vezes que tente me jogar. Entende-me?
Morgan levantou a cabeça lentamente.
—Não,
— Não? Alguma vez tiveste a ninguém perto dessa forma, verdade?
—Só ao David, e acredito que é porque eu lhe dava pena. Não tenho a ninguém mais.
—Possivelmente ele tenha estado perto de ti porque realmente lhe importa —lhe disse Max—. Como —ficou olhando a sua irmã durante um comprido momento, e depois, com um suspiro, saiu da habitação.
Lydia observou a seus dois companheiros afastar-se. Morgan estava sentada ao lado da janela, olhando o mar. David Sumner saiu da casa, sentou-se em uma cadeira e acendeu um charuto.
Lydia ficou muito direita e se aproximou dele, caminhando lentamente.
Ele a viu aproximar-se e a saudou com a mão para lhe dar a bem-vinda.
—Você deve ser Lydia —lhe disse.
Ela assentiu e continuou caminhando.
—Eu sou David.
—Já sei.
—Maxine e Lou se foram ao povo, a um hotel. Disse-lhes que te levaria se voltava aqui.
Ela assentiu.
—Pensavam que te tinha ido ao povo. Acredito que tinham a esperança de encontrar-se contigo Y...
Então ficou calado, até que ela se deteve dois passos dele. Entrecerró os olhos e franziu o cenho.
—Olá, David. passou muito tempo.
—OH, Meu deus. meu deus.
Morgan estava tombada em uma maca com uma camisola de papel e com uma via no braço, conectada a uma bolsa de soro. Entretanto, sabia que aquilo não a ajudaria. Sabia o que necessitava, e não era soro por via intravenosa.
O doutor Hillman entrou na habitação muito sério. David estava sentado ao lado. Tinha saído durante o exame, mas havia tornado a entrar imediatamente. Morgan não tinha tido os ânimos suficientes para jogá-lo. Ela o queria, e sabia que ele a queria também. Tinha a molesta sensação de que estava tramando algo, embora sabia que devia confiar nele. De fato, era a única pessoa em que confiava, além de lhe Dêem.
Entretanto, tinha visto o David aquele dia, falando com a Lydia, a mulher loira. Tinham estado juntos durante muito tempo, falando, e a atmosfera que se criou a seu redor desprendia uma intensa energia. Morgan não sabia por que. Tinha ouvido o motor do carro depois da emocionante despedida do Maxine, e tinha pensado que ao baixar as escadas encontraria ao David sozinho. Entretanto, tinha-o encontrado com a Lydia, e os dois se ficaram silenciosos quando a tinham visto. Aquilo ainda incomodava ao Morgan. Do que teria estado falando David com aquela estranha?
David se levantou quando apareceu o doutor.
— E bem?
O doutor Hulmán tomou ar e depois suspirou.
—Sinceramente, Morgan, eu gostaria de te ingressar.
— No hospital? —perguntou ela, piscando.
—Só para te observar. Tem anemia e não está bem.
— Não me podem fazer uma transfusão de sangue e me mandar para casa?
Ele intercambiou um olhar com o David.
—Se pudéssemos encontrar a um doador apropriado, sim. Mas sabe que tem um tipo muito estranho de sangue.
—Sim, já sei. Sabe? Tenho uma irmã. Uma gêmea. Entretanto, ela não tem o antígeno. Como é possível?
Ele a olhou muito surpreso.
— Uma irmã? Está segura de que é geme-a, ou pode que seja gêmea?
—Somos idênticas.
—Às vezes, os irmãos gêmeos são muito parecidos também. Está segura de que não tem o antígeno?
—Está muito sã. Robusta.
Ele baixou a cabeça e a sacudiu lentamente.
—Não entendemos a Belladonna, Morgan. Não se comporta como outros antígenos.
Ela assentiu. Já esperava aquela resposta.
—Olhe, doutor, se ficar no hospital, quão único vai ocorrer é que me ponha pior do que estou. Quero ir a casa. Quero estar em minha casa. Preciso estar ali.
O médico entrecerró os olhos e se inclinou sobre ela. Tirou-lhe a via do braço e lhe pôs um esparadrapo com uma atadura.
— por que?
—Se for morrer, é o lugar onde quero estar. E se não ir morrer, quero passar o tempo que fica ali.
—De verdade, Morgan —disse David—, se for só durante uma noite...
—É minha vida. Quero ir a casa —disse, e ficou de pé—. Não podem me obrigar a ficar no hospital. Sou uma adulta, e me parto aproximou do mostrador onde estava sua roupa e tomou—. Se quiserem, podem ficar aqui olhando como me visto, ou sair.
—Está bem, está bem —o médico e David saíram pela porta enquanto ela já se estava pondo as calças.
Assim que ficou a sós, agarrou-se ao mostrador para não cair. Estava enjoada e débil. Demônios, levantou-se muito rapidamente. Lentamente, recuperou o equilíbrio e o enjôo remeteu o suficiente como para que pudesse enfocar sua atenção ao que estavam dizendo os dois homens ao outro lado da porta.
—... algo para dormir? —estava perguntando David.
—Darei-lhe um sedativo.
E um demônio. Não ia dormir, e muito menos durante a noite. A noite era o que tinha estado esperando. Tinha que ver lhe Dêem e lhe demonstrar que não o tinha traído.
—me diga a verdade, doutor. Quanto tempo acredita que fica?
—Sabe que não posso sabê-lo com segurança.
—Mas terá uma idéia. Vamos, doutor, meses? — Houve uma pausa—. Semanas?
O doutor continuou em silêncio.
—meu deus, dias? —perguntou David brandamente.
— Possivelmente. Sinto muito, David. Sei o muito que a quer.
—Tem que haver algo que possamos fazer.
—Teríamos que encontrar um doador —disse o médico—. Isso lhe daria um pouco mais de tempo.
—Então, isso é o que temos que fazer.
—Mas... só estaríamos ganhando um pouco de tempo. Ao final...
—Sei, mas não posso aceitá-lo. Não posso.
A dor da voz do David atravessou o coração ao Morgan.
O médico suspirou.
—Farei tudo o que possa por prolongar o tempo que fica, David. O prometo.
Max tentou falar com a voz alegre enquanto explicava os últimos sucessos pelo telefone.
—É algo terrível, Stormy. Parecia que queria que ficasse, mas ao mesmo tempo, não podia esperar para livrar-se de mim. Digo-te que você é para mim uma irmã de verdade, muito mais que ela —fez uma pausa—. De todas formas, Lou e eu viemos ao hotel que Sumner nos recomendou. Ele chamou com antecipação, e deve ter influência, porque deveria ver o site, Stormy. É uma suíte com duas camas, um salão e uma quitinete. E as vistas... pfff, nunca tinha visto nada igual. Tem uns ventanales enormes que dão ao mar. Vejo as ondas rompendo no escarpado. Há navios e gaivotas. Espera, vou tirar o auricular pela janela para que as ouça —lhe disse, e o fez. Sentiu a brisa fresca e salgada na pele ao aparecer Ouviste? —Perguntou, sabendo que não haveria resposta—. Você e eu vamos voltar aqui quando estiver melhor. Nos vamos ficar neste hotel. Embora não é nada comparado com a casa de minha irmã, mas é muito bonito. E quando viermos, conhecerá o Morgan. Não imagina o que se parece comigo. É mais magra e mais bonita, e é muito rica, mas está sozinha e não é feliz. Não sei se o foi alguma vez.
E estava doente, pensou Max. Doente, e possivelmente moribunda. Exatamente igual a Stormy. Naquele momento, sentiu uma pressão enorme nos ombros e no pescoço, pesada, lhe esmaguem. Resultava-lhe difícil respirar.
—Bom —continuou, com a voz mais rouca—. Finalmente, Lydia apareceu e David a trouxe para o hotel. Depois ele partiu porque tinha que acompanhar ao Morgan A... uma entrevista.
Estava tendo muito cuidado de não mencionar nada negativo nem preocupem-se. Não só pelo Stormy, mas também também porque sabia que sua mãe estaria ouvindo a maior parte da conversação enquanto lhe sustentava o telefone a sua filha junto ao ouvido. Não queria desgostar à mulher. E, sobre tudo, não queria mencionar a razão pela que estava em realidade em Maine.
—Quero-te, Storm. Quero que desperte. Sabe? Assim poderia me responder e me dar conselhos, e tomar o cabelo sobre o Lou. Não é justo que eu esteja falando durante todo o momento. Será melhor que desperte antes de que eu volte para casa. De acordo, Stormy? Desperta...
Naquele momento, teve que deter-se. As lágrimas lhe estavam derramando pelas bochechas e lhe doía a garganta. Tentou controlar-se e tomou ar um par de vezes.
—Tranqüila, Maxie, tranqüila —Lou lhe pôs as mãos, grandes, ásperas, sobre os ombros brandamente.
Ela olhou para cima e o viu. Não o tinha ouvido entrar. Lhe deu uma ligeira massagem. Aquele era todo o contato físico que ela tinha conseguido dele. Tornou-se um pouco para trás e apoiou as costas em seu peito firme e quente. Quase queria sustraer algo daquela solidez para lutar contra a debilidade e o frio que sentia. Como ia suportar perder a sua irmã e a seu melhor amiga ao mesmo tempo?
—Maxine?
Sobressaltou-se, assustada para ouvir a voz que vinha do outro lado da linha. Durante um momento pensou que... Mas não. Era a mãe do Stormy.
—Jane, que tal está? De verdade não houve nenhuma mudança?
Houve uma pausa.
—Não piorou.
«Mas tampouco melhorou», pensou Max.
—Crie que está me escutando?
— Sei que sim, Maxine.
—De verdade? notaste algum movimento enquanto eu lhe falava?
—Não preciso notar nada. Sou sua mãe e sei. Você significa muito para ela, e sei que esteve escutando tudo o que dizia.
Max assentiu e se secou uma bochecha com o dorso da mão.
—Não estarei durante muito mais tempo aqui. Um dia ou dois mais, no máximo.
—Faz o que necessite. Eu... ouvi o que contaste ao Tempest sobre que encontraste a sua irmã. Isso foi a mão de Deus, jovencita. Conduziu-te até ali. Não o duvide.
—Não o duvido.
Jane suspirou.
—Pomo-lhe as cintas com sua voz, e a música que trouxe, Maxine. E esta noite poremos a televisão um momento. Dão seu programa favorito. nos chame de novo quando puder, filha.
—Farei-o —Max se despediu e pendurou o auricular.
—Que tal está? —perguntou-lhe Lou.
—Não houve nenhuma mudança —disse ela, e se deu a volta lentamente. Abraçou-o pela cintura e apoiou a bochecha em seu peito. Ele a abraçou e a balançou com suavidade.
—Só aconteceu um dia.
—Cada dia que passe é pior —disse ela contra o tecido da camisa—. vou perder a duas irmãs de uma vez, Lou. Não estou segura de que possa agüentá-lo.
—É forte, Max. A garota mais forte que conheci. E eu estou aqui contigo, para te apoiar. Sabe, verdade?
Ela assentiu.
—Lydia está te preparando um bom banho quente e uma taça de chá. Quero que te meta na banheira e tome a infusão. Depois quero que te jogue uma sesta.
Ela levantou a cabeça. Sentia que lhe ardiam os olhos, e pensou em quão feia estaria naquele momento.
—Quando anochezca...
— Vamos voltar para casa do Morgan a vigiar — disse ele—. Embora David e ela não queiram.
Max assentiu.
—Pensa que me conhece muito bem, verdade?
—E tenho razão?
—Sim.
—Por isso sei que precisa descansar neste momento —disse ele, e lhe aconteceu a palma da mão pelo cabelo. Depois tomou a cara pelo queixo com ternura—. Eu não gosto de verte assim, Maxie. Eu não gosto de nada.
Ela sorriu cansadamente.
—Isso é porque está louco por mim, embora seja muito obtuso para te dar conta —se inclinou por volta dele e o beijou brandamente durante um instante. Depois se deu a volta e entrou em banho.
Lou suspirou enquanto se sentava no sofá da habitação. Lydia estava tomando um chá, dando golpecitos no chão com a planta do pé, nervosa.
—Ela te necessita, sabe? —disse-lhe.
Lydia o olhou, preocupada.
—Está-o acontecendo muito mal, e não o merece. É uma boa garota.
—Seque o é.
—Tem que dizer-lhe
—E crie que lhe beneficiará em algo saber que sua mãe era uma prostituta? Né?
—Vamos, Lydia, isso não é o que você é.
—Fui-o.
—Foi uma cria, estava sozinha no mundo. Agora é uma heroína.
Ela pôs os olhos em branco e olhou para cima.
—Crie que não? Saiu do arroio e em vez de te afastar da realidade, começou a ajudar a outras garotas a sair também. Uma atrás de outra, as sacas do mesmo barro no que você estiveste e lhes dá uma casa, um lugar seguro. Um lugar que você mesma criaste. Depois te dá a volta e volta por mais. Mancha-te e sofre no processo, mas isso não te detém. Segue e segue.
Ela tinha os olhos cheios de lágrimas.
—Isso era o que dizia Kimbra. Via o que fazíamos como algo nobre. Para ela era como uma espécie de chamada divina.
—É-o. O que você faz por essas garotas às que não conhece é algo nobre. E agora tem a oportunidade de fazer algo por ti mesma, por suas meninas.
—Já não são umas meninas, Lou —disse ela, e pôs a taça sobre a mesinha.
Ele se encolheu de ombros.
—Necessitam a sua mãe. Max sente que está perdendo tudo o que lhe importa, e Morgan... Deus, essa garota não tem a ninguém além do Sumner. Se não o diz agora, é possível que não tenha a oportunidade de fazê-lo.
Ela apartou o olhar, certamente para ocultar as lágrimas, pensou Lou.
—Ela nem sequer quis abraçar a sua irmã geme-a. O que te faz pensar que eu lhe importaria algo?
—Não saberá nunca se não o tentar, Lyd.
— As arrumaram sem mim durante toda sua vida, Lou.
—Agora estão a ponto de derrubar-se.
Ela se mordeu o lábio, e ele se sentiu mal por pressioná-la tanto. Decidiu ceder um pouco.
—Ao menos, dei-te algo no que pensar.
—Está bem. vamos deixar o no momento. Será melhor que descanse. Maxie quer acontecer toda a noite perto da casa de sua irmã, e sei que você não te vais ficar aqui.
—Você tampouco —replicou ela.
—É obvio que não —ele se levantou e se dirigiu à cozinha para servir uma taça de café.
—Ela te quer. Sabe, verdade?
As palavras da Lydia o deixaram seco no site. Pensou que lhe tinha parado o coração, mas não era certo. Pulsava-lhe tão forte que parecia que lhe ia escapar, e lhe enviava toda a sangue à cara. Então, disse:
—Pensa que me quer. Mas só acreditará até que chegue um tipo de sua idade e a volte louca. Até então, eu fingirei que não me dou conta de nada.
—Por seu próprio bem?
—E pelo meu.
—Porque pensa que os dois acabariam lhes fazendo danifico ao final?
Ele não respondeu. Limitou-se a seguir caminhando para a cozinha e se serve uma taça de café.
—Sabe? Algumas vezes penso que se tivesse podido conhecer o futuro e saber que me apaixonar pela Kimbra ia causar me esta dor que me corrói as vísceras, possivelmente lhe tivesse dado as costas o dia em que a conheci. Possivelmente não me tivesse arriscado.
Ele assentiu.
—E então me dou conta —continuou ela— de que isso tivesse sido o maior engano de minha vida. Deus, quando recordo toda a alegria que compartilhamos... Os dias e as noites... —deteve-se, e quase soluçou—. Não. Sofreria algo em troca do amor que compartilhamos. Algo. Não o trocaria nem que toda esta dor se desvanecesse sem deixar rastro.
Lou lhe deu um sorvo ao café e fingiu que aquela mensagem não ia com ele. É obvio, sim lhe afetava. De cheio. Mas podia fingir o contrário.
—Mas se nem sequer anoiteceu.
—Sei —disse David brandamente—. Mas Morgan, está esgotada —seu tom, seus olhos, seu rosto, tudo refletia preocupação e amor. E entretanto, ela sabia que lhe estava ocultando algo. E era algo mais que o fato de que estivesse tentando drogaria para que dormisse aquela noite.
Não permitiria que o fizesse.
—Vamos, carinho. Tome a tila e depois vete à cama. Tem que descansar.
Ela olhou a taça. Certamente, a infusão estava mesclada com a droga que o doutor Hilman lhe tinha dado. Deus, se ele soubesse que sua vida dependia de que pudesse ver lhe Dêem aquela noite, e de que voltasse a convencer o de que a fizesse imortal...
Levantou a taça e fingiu que bebia. Depois voltou a deixá-la sobre a mesa e se limpou os lábios com um guardanapo.
—Farei o que me diz, David, se me explicar o que era o que estivestes falando você e essa mulher loira.
Ele a olhou fixamente.
—Já lhe hei isso dito. Estava-lhe dizendo onde estavam seus amigos e me oferecendo a levá-la ao povo com eles.
—Parecia um pouco mais que isso.
Ele se encolheu de ombros para fingir despreocupação, mas não a olhou aos olhos.
—Não era fácil lhe explicar que tinha jogado a sua irmã de casa, Morgan. Se parecia algo mais, era porque estava tentando encontrar algum modo de justificar seu comportamento.
Aquilo queria ser um sarcasmo, e deu no branco. Doeu-lhe um pouco que a única pessoa que nunca lhe tinha feito mal a atacasse de repente daquele modo.
Ele se levantou e a tirou da mão.
—Não queria te fazer danifico, amor. É só que me pareceu impróprio de ti ser tão pouco amistosa.
—Tampouco é próprio de ti te voltar contra mim —sussurrou ela.
—OH, Morgan, não. Nunca me voltaria contra ti.
—Então, sobre o que estavam conspirando essa mulher e você? Ficaram calados quando entrei. Estavam falando sobre algo que não queriam que ouvisse.
—Só era porque não queria te desgostar estando tão doente como está. Não queria que te pedisse explicações, e não queria que você tivesse que dar-lhe Isso é tudo.
Ela piscou para evitar que as lágrimas lhe derramassem dos olhos, dizendo-se que não importava que seu amigo mais querido estivesse tentando lhe mentir. Não o necessitava. Só necessitava a lhe Dêem.
—te beba a tila, querida.
E lhe ofereceu a taça.
Ela tomou a taça e assentiu.
—Acredito que seguirei seu conselho de me deitar. Levarei-me isso acima e me tomarei na cama.
—É uma boa idéia.
Ele a ajudou a ficar de pé e a acompanhou até a escada. Subiram os dois juntos e David lhe deu um beijo na porta de seu dormitório.
—boa noite, carinho. Descansa —se deteve, abriu a porta e lhe cedeu o passo. Lhe devolveu um beijo na bochecha, entrou e fechou atrás dela.
Suspirando, olhou a cama. Pensou que teria que fazê-lo convincente, porque David não era tolo. Sem perder um segundo, deixou a taça na mesinha, tirou-se a roupa e ficou a bata branca de cetim. Depois colocou um dos travesseiros baixo as mantas e a tampou. moveu-se para a porta para ter o mesmo ponto de vista que David quando aparecesse para comprovar que ela estava bem. Perfeito. Parecia que estava dormindo acurrucada de costas à porta.
Finalmente, tomou um xale do armário e o pôs pelos ombros, e ficou também umas sapatilhas de veludo. Depois teve que deter-se para que sua respiração se acalmasse. Era muito acelerada e sonora para passar desapercebida. Só com o que tinha estado fazendo durante os cinco últimos minutos já quase não podia respirar. Cada vez estava pior.
Esperou a recuperar um ritmo normal e abriu a porta do dormitório. Onde estaria David? Não o ouvia, nem tampouco o via de acima. Começou a baixar as escadas lentamente, e quando chegou ao vestíbulo ficou imóvel. Então escutou pisadas no piso de acima. David ia pelo corredor para a escada, certamente para baixar ao vestíbulo, assim antes de que aparecesse, Morgan correu para a porta de seu escritório, abriu, entrou e voltou a fechar sigilosamente.
Em um segundo tirou da caixa forte três dos volúmenes de lhe Dêem e o disquete que continha a única cópia do novo guia, no que ela tinha estado trabalhando durante meses.
Fechou os olhos e tentou controlar a respiração de novo. Estava fazendo o correto. Ela tinha lido a história escrita pelo mesmo lhe Dêem, de como a mulher em que tinha crédulo o tinha traído e tinha estado a ponto de conseguir que o matassem. Ela tinha que lhe provar que não ia fazer o mesmo. Aquele gesto... o demonstraria.
Saiu e correu para a cozinha. Na porta de atrás se fixou em que o painel do alarme tinha a luz vermelha acesa. David tinha conectado o alarme. Ela não conseguia recordá-lo naquele momento de nervosismo. Quando demônios lhe havia dito o código? Demônios, embora não seria muito difícil para ele deduzi-lo. Eram a data do aniversário do Morgan.
Bem, seu aniversário. Apertou os botões e a luz vermelha trocou pela verde. David estava aproximando-se para a cozinha. Morgan ouvia seus passos cada vez mais perto. Abriu a porta e saiu sem fazer o menor ruído, com os três livros apertados contra o peito. Esperou escondida ao lado da porta para ver se David abria para ver o que estava ocorrendo. Mas ele não o fez. Nem sequer a tinha visto.
Suspirando de alívio, afastou-se da casa e caminhou para o lugar onde tinha visto lhe Dêem por última vez. Reviveu a cena da noite anterior em sua cabeça. Ele se tinha ficado tenso pela dor. Tinha começado a lhe sair a sangue a fervuras da ferida, e depois tinha cansado, desabou-se para o vazio.
Teria sobrevivido?
Mas ele não era humano. Em realidade não estava vivo.
mordeu-se um lábio e olhou para baixo. E ali viu algo que não tinha visto antes na escuridão. Um saliente na rocha, um balcão natural sobre o mar. Ele devia ter cansado ali.
Franziu o cenho, olhou a seu redor e escolheu um ponto. Depois se deixou cair do bordo, sujeitando os jornais e o disquete com todas suas forças, e aterrissou no saliente. Ali, pensou. Ele também devia ter cansado ali. Percorreu a rocha com as Palmas das mãos, como se ainda pudesse senti-lo. Mas não podia. Seriam as manchas que via sobre a pedra a sangue de lhe Dêem? Também poderiam ser de água salgada, ou de chuva, ou de rocio.
— Onde foste, Lhe dêem? —olhou a sua esquerda e a sua direita, mas não viu nada. Abaixo só estavam as rochas e o mar. Não era possível que ele tivesse cansado ao mar, verdade?
Suspirando, perguntando-se se poderia arrumar-lhe para subir para cima, deteve-se e se fixou em um matagal e em um oco que havia detrás.
—Uma cova —suspirou.
Separou os ramos com uma mão e entrou pela abertura. Ali só havia escuridão e frio. envolveu-se bem no xale e começou a andar, sentindo a pedra fria e dura através de suas sapatilhas. Teve a sensação de que ali encontraria seu fim, de uma ou outra maneira. Com cada passo que dava, pensava que a terra ia afundar se baixo ela, mas não foi assim.
Sua cabeça continuava lhe dizendo que se desse a volta, mas ela só podia obedecer à entristecedora necessidade de alcançar a lhe Dêem. Não havia nada que temer, disse-se. O que era quão pior podia lhe passar? Podia morrer? Já estava morrendo, de todas formas.
Apoiou a palma da mão na parede do passadiço para guiar-se pelo tato, e se deu conta de que a pedra se curvava para formar uma área maior. Ela se deteve para orientar-se, e decidiu seguir a parede com os dedos. Respirou fundo, e aos poucos passos seus dedos tocaram algo diferente à pedra. Era madeira. Uma enorme porta que tinha um aro de ferro.
Morgan soube que não ia ser fácil, mas atirou com todas suas forças até que, sem fôlego, conseguiu que se abrisse o justo para poder deslizar-se à outra parte. Então, lentamente, tentando acalmar os batimentos do coração de seu coração, sentiu algo. Algo como... uma presença. Estava perto de lhe Dêem. Ele estava ali, em algum site. Levantou a cabeça, buscando-o com a mente, percebendo-o com mais força.
—te dêem —sussurrou com o coração na garganta. Seguiu andando, apalpando a parede, e notou de novo que a parede se curvava e que naquela estadia o aroma era diferente. golpeou-se a coxa com algo e se deteve.
Era uma mesa pequena. E ainda por cima havia... uma lanterna. Então, tinha que estar em...
Sim, ali havia uns fósforos. Acendeu a lanterna e a colocou sobre a mesa enquanto a luz o alagava tudo.
O ataúde estava ali. Vazio?
Tragou saliva e se aproximou. deu-se conta de que havia sangre no chão. Deus, ele tinha perdido muita.
Apoiou as mãos na tampa da caixa e fechou os olhos. Respirou fundo para reunir valor e a levantou. As dobradiças, oxidadas pelo tempo, chiaram.
te dêem estava dentro, convexo, imóvel, completamente branco. Seu rosto não tinha vida.
—lhe dêem... —disse enquanto lhe acariciava a carne geada com as gemas dos dedos. Estaria morto? Teria morrido ali sozinho, sangrado?
Lhe encheram os olhos de lágrimas e apartou a olhe dá de sua cara. Tinha uma vendagem no braço, à altura do ombro.
—OH, Lhe dêem, por favor. Necessito-te. Necessito-te — lhe sussurrou aquelas palavras tomando a cara entre as mãos, e o beijou. Suas próprias lágrimas lhe umedeceram as bochechas, mas ele não respondeu.
As palavras que ela tinha lido em seus jornais lhe chegaram flutuando à mente. Havia poucas coisas que causassem a morte de um vampiro. Uma delas era a perda de sangue. Sua ferida tinha que haver-se curado já, durante o dia. A menos que te Dêem tivesse morrido antes.
Morgan lhe desatou a vendagem do braço e comprovou que não havia ferida, só sangre seca. Tinha sanado. Os livros diziam a verdade.
Então também devia ser correta a noção de que a sangue que ele tinha perdido só podia ser substituída de uma maneira.
—De mim —sussurrou ela—. Sim, de mim. Sei que você não me deixaria morrer, Lhe dêem. Sei que você faria o que está bem, converteria-me no que você é, não deixaria que me desvanecesse e morrera. Confio em ti —se inclinou para ele e lhe beijou a frente. Depois se incorporou e colocou a mão em um de seus bolsos. Ali encontrou o que estava procurando: uma diminuta navalha com a manga de ônix. Abriu-a e a observou enquanto pensava que não devia correr o risco de sangrar-se ela mesma. Tinha que tomar cuidado. Não podia cortá-la boneca, nem o pescoço.
Tomou ar e apertou com força o punho ao redor da cuchilla. O fio se cravou na palma de sua mão e ela sentiu que a dor se estendia por todo seu corpo até lhe fazer gritar. Abriu a mão e a sangue brotou em abundância, e Morgan observou a lhe Dêem. Tremeram-lhe as aletas do nariz e as mãos.
—Está bem, meu amor. Está bem —então ela fechou o punho de novo para evitar que a sangue se derramasse e o aproximou de lhe Dêem à cara, deixando cair umas gotas em seus lábios.
Ele as apanhou com a língua, e imediatamente, suas mãos agarraram com força a boneca do Morgan. antes de que ela pudesse dar-se conta, ele tinha fechado os lábios sobre o corte de sua mão e estava sugando com força na ferida, bebendo-se sua sangue.
Ela teve de novo a sensação de estar viva, e uma luxúria desconhecida lhe percorreu as veias. Sentiu as presas de lhe Dêem e sua língua lambendo cada gota.
E de repente, abriu os olhos. Abriu-os por completo, mas não via nada. Só havia neles um brilho feroz, de depredador.
Sem separar a mão do Morgan de sua boca, de um salto, ficou de pé a seu lado. Atraiu seu corpo contra o dele e apertou seus quadris contra seu corpo, percorrendo seu pescoço com a boca, lhe acariciando a pele com os dentes, mordiscando-a e atraindo a sangue. Aquela dor era uma doce tortura, e ela se arqueou contra ele. Com uma mão, as arrumou para desatar o laço da bata e ele a abriu e lhe despiu os ombros.
—Toma o que necessite de mim, Lhe dêem.
Então ele a empurrou com seu corpo até que os dois caíram ao frio e duro chão. Tomou pelas coxas, os colocou ao redor da cintura e entrou nela, enchendo-a enquanto lhe afundava as presas no pescoço. Os trallazos de prazer e de dor lhe golpearam o corpo e a mente ao Morgan, até que gritou enquanto chegava ao clímax, tremendo pela insuportável força de sua liberação, e enquanto, ele continuava sugando e bebendo-a vida de suas veias.
Ela se pendurou dele e lhe sussurrou que o queria e que morreria por ele, e então se temeu que estava a ponto de demonstrar-lhe.
Lou e Maxine estavam sentados no carro, a uns quantos metros da mansão do Morgan. Era um bom ponto de observação. Tinham uma boa vista da esplanada de grama que chegava da parte de atrás da casa até o escarpado, de um lateral e da fachada do edifício. Max não acreditava que ninguém pudesse chegar ou partir sem que eles o vissem. O céu estava púrpura pelo horizonte, e se fazia mais escuro segundo o olhar ascendia. As cores se refletiam na superfície do mar.
— Que horas são? —perguntou ao Lou.
—vai amanhecer em pouco tempo.
—Disso já me dou conta —disse ela. Algo captou sua atenção e olhou para a fachada da casa. Lydia acabava de chegar, e quando Sumner abriu a porta, falou com ela durante um segundo e se apartou para deixá-la passar—. entrou —disse Max.
— Crie que tem algum problema?
Max se encolheu de ombros.
— Sumner disse que não viéssemos para deixar tranqüila ao Morgan. Não acreditava que acolhesse a Lydia com os braços abertos.
—É uma mulher muito bonita —respondeu Lou.
—Sim, mas não gosta dos homens.
—Toda uma pena —murmurou Lou.
Max lhe deu um murro em um ombro, possivelmente um pouco mais forte do que o tivesse feito se só tivesse estado jogando.
—Refiro-me a que é uma pena para o Sumner, Max. Shh —disse, esfregando o ombro.
—Aposto-me dez dólares a que Lydia sairá dali em cinco minutos —disse ela, trocando de tema brandamente.
—Aceito-te a aposta.
Ela o olhou com cara de poucos amigos.
— O que há entre vós, de todas maneiras?
— Entre quem? Entre a Lydia e eu?
Ela assentiu.
— Alguma vez...?
—Não gosta dos homens.
—Mas antes sim —replicou Max.
— Como sabe?
—Disse-me que tinha tido um bebê com um tipo — disse, e Lou ficou muito surpreso—. É que não sabia?
—Claro que sabia. Mas não sabia que ela lhe havia isso dito.
Ela se encolheu de ombros.
— Que mais te há dito?
—Nada —respondeu Max, e soube, pelo olhar do Lou, que havia algo mais—. Deus, Lou, me diga que não foi você.
— O que? —Ele piscou duas vezes e sacudiu a cabeça—. Não. Eu não tenho nada que ver com esses bebês.
— Bebês? Eram mais de um?
Ele se umedeceu os lábios nervosamente.
—Isso não é nosso assunto, Max. Se quer saber algo do passado da Lydia, pregúntaselo a ela.
—Está bem, mas não ponha à defensiva, de acordo? Só queria saber se tinha tido algo com ela.
Ele a olhou com impaciência.
—Não.
—Não é que seja meu assunto.
—Isso é certo.
—Porque nós tampouco temos nada fixo.
—Nem fixo, nem nada absolutamente.
—Bom, a noite é jovem, Lou. Não dê nada por sentado.
Lou jogou a cabeça para atrás e deu uns golpecitos contra ele repousa cabeças do assento. Max voltou a cara para que ele não pudesse ver seu sorriso malvado. Deus, adorava tomar o cabelo a aquele homem. Sabia que lhe causava excitação, sem que pudesse evitá-lo. E tinha a intenção de tomar o cabelo tudo que fora possível. Aquela era uma oportunidade muito boa para deixá-la passar. Estavam sozinhos no carro. O que faria ele, perguntou-se Max, se lhe pusesse uma mão sobre o regaço? Provavelmente, sairia do carro e poria-se a correr pelas colinas. olhou-se a mão que tinha apoiada no assento, entre eles, e a aproximou um pouco para a perna do Lou.
— Quem demônios é esse? —perguntou ele, olhando a alguém com os olhos entrecerrados.
Ela resistiu o impulso de soltar um juramento e notou algo como uma alerta por todas as costas. deu-se a volta e viu uma figura escura que se dirigia à casa. Quando passou ao lado de uma das luzes, sua cara se iluminou durante um segundo.
— É o homem queimado! —disse Max.
— É o mesmo homem que viu a noite do incêndio?
—Não sei. Isso foi faz cinco anos, não te lembra? —soltou-lhe ela—. bateu na porta. Vamos, será melhor que nos movamos.
Abriu a porta do carro e saiu. Lou saiu rapidamente e ficou a seu lado.
—Fique detrás de mim, Max.
Ela não respondeu, mas não estava disposta a usá-lo como escudo humano. Estavam chegando à porta justo quando Sumner abria.
— Quem demônios é você?
—É o homem que estava atacando ao Morgan a noite que chegamos —disse Max.
Os dois homens dirigiram o olhar para eles. Lou tinha a pistola na mão. Não apontava a ninguém, mas se assegurou de que a vissem.
—Acredito que já é hora de que falemos, senhor Stiles.
O homem assentiu, ensinando as mãos com as Palmas para cima.
—Sou Frank Stiles —disse—. E vim para isso: para falar —olhou ao Sumner—. Com todos vocês. Não acredito que saibam com o que se estão enfrentando.
Sumner olhou ao Lou.
— O que opina?
Lou se aproximou até o homem.
—Acima as mãos, amigo —o homem levantou as mãos um pouco mais e Lou deu a arma ao Max para poder registrá-lo. depois de comprovar que não ia armado, tomou a arma de novo—. Sumner, quer ouvir o que este tipo tem que lhe dizer?
—Acredito que deveríamos, não?
Lou assentiu a contra gosto.
— Se tentar algo, não duvidarei. Entende-me?
—Não vim a fazer machuco a ninguém —disse Stiles brandamente—. Só quero ajudar.
Então Sumner lhes fez aconteço e todos entraram em vestíbulo.
— Ajudar? —Perguntou-lhe Max—. Era isso o que estava fazendo com minha irmã quando eu cheguei a outra noite? Ajudá-la?
—Estava comprovando se a tinham mordido.
Max baixou a cabeça enquanto todos foram para uma pequena sala que havia ao outro lado do salão. Ela se imaginou que seria para que Morgan não os ouvisse se por acaso baixava as escadas.
— Onde está Lydia? —perguntou Max quando todos se sentaram.
—Acaba de subir a ver que tal está Morgan —disse Sumner, e se voltou para o Stiles—. Se tiver alguma explicação por ter atacado a essa garota, senhor, sugiro-lhe que nos dê isso quanto antes.
—Tenho que começar pelo princípio. Se me derem cinco minutos, poderei fazer que entendam...
— Seguro? —Perguntou-lhe Max—. vai conseguir que entenda por que lhe colocou uma bala no cérebro a meu melhor amiga?
Stiles a olhou.
—Eu estava ali, é certo, mas não fui o que disparou a seu amiga. Foi ele.
— Quem?
—lhe dêem. O assassino ao que estou tentando apanhar.
—Os vampiros não disparam às pessoas, Stiles.
—Sim o fazem, se estão tentando incriminar a alguém. Como a mim.
— Assim lhe Dêem o incriminou a você? Pois é divertido, porque a polícia pensa que Lou foi quem o fez. Ele foi a pessoa a que incriminaram.
—Ele é um policial. Eles souberam que não o tinha feito quase imediatamente. A seguinte opção fui eu —a expressão do Max era de incredulidade, mas Stiles continuou—. Por favor, me escute.
—Está bem —disse ela.
—Durante vinte anos fui agente da Divisão de Investigações Paranormais da RECUA, uma agência secreta. Nosso quartel geral estava do White Plains. Nossa missão era apanhar e eliminar vampiros.
Max assentiu. Ela já sabia todo aquilo. Sumner ficou completamente assombrado. Olhou ao Lou, e depois outra vez ao Stiles.
—meu deus, quer dizer que tudo isto é real?
—O que estou dizendo é certo. Os vampiros atacaram o quartel e o queimaram, e mataram a grande parte de nossos agentes. Aquilo ocorreu faz cinco anos. Foi um desastre. Retiraram-nos ele presuposto e a Divisão se fechou. Alguns agentes que sobreviveram se ocultaram rapidamente, como eu.
— por que? —perguntou Max.
—Para evitar ter que dar parte de nossa missão. Nós sabemos muitas coisas, e o governo não pode arriscar-se a que se façam públicas —continuou, olhando ao Max—. Por isso a ameacei aquela noite. Não podia permitir que ninguém se inteirasse de que eu sigo vivo.
—E quando eu o disse a alguém, inclusive embora tivessem acontecido cinco anos, você se inteirou de algum modo.
—Ainda tenho alguns contatos na Cia Um de meus conhecidos me disse que o oficial Malone tinha chamado.
—Assim foi a casa do Lou, enganou a meu amiga para que fora também e lhe disparou para me ensinar uma lição.
— Não! Fui a sua casa para tentar averiguar o que ele sabia. O vampiro estava ali, esperando. E a garota estava inconsciente no chão. antes de que eu pudesse fazer nada, lhe disparou. Depois me sorriu como um demônio e partiu —sacudiu a cabeça lentamente e continuou—. Sabia que viria pelo Morgan depois, e por isso vim diretamente a vê-la. Para lhe advertir.
— E por que ia fazer lhe Dê algo assim? —perguntou ela.
—Ele sabe o que estive fazendo —respondeu Stiles—. estive procurando os membros da DIP que sobreviveram e tentando reagrupá-los para formar uma unidade de élite perita de caçadores de vampiros — suspirou e baixou a cabeça—-. Te dêem quer me tirar de no meio. Imaginou que se me incriminava no assassinato de seu amiga, você e o oficial Malone conseguiriam me colocar no cárcere.
Max se apoiou no respaldo de sua cadeira, tentando digerir tudo o que tinha ouvido.
—Isso não explica que fazia lhe Dêem no apartamento do Lou, em primeiro lugar.
O homem sacudiu a cabeça e disse:
— É que não o entende? Você e Malone estavam tentando encontrar ao assassino da amiga da Lydia Jordão. Deve ser lhe Dê. Devia ter medo de que o descobrissem e o denunciassem.
—um pouco rocambolesco —disse Max, suspirando enquanto pensava em todo aquilo.
—O que não entendo é por que quer você seguir matando vampiros —disse Lou. Ao ver que todo mundo ficava um pouco surpreso, continuou—. Se forem como Morgan os retrata em seus guias, não são tão maus.
—Morgan está baixo o controle de um poderoso vampiro, oficial Malone —respondeu Stiles—. Confie em mim, sei do que é capaz. Tem-na completamente hipnotizada. Ela fará tudo o que ele diga, inclusive voltar-se contra a gente a que quer para protegê-lo.
—Isso não o entendo —disse Max—. Como é possível?
— Sua irmã tem um antígeno chamado Belladonna na sangue —disse Stiles—, e isso a está matando lentamente.
— Como sabe isso sobre ela? —perguntou Sumner, ficando de pé.
—Quando o antígeno se identificava na sangue de qualquer pessoa mortal, essa informação se transmitia aos expedientes da DIP. Não há muita gente com o antígeno, mas aqueles que o têm atraem aos vampiros como o mel às abelhas. alimentam-se deles e lhes roubam a vida. Por isso sempre morrem jovens. Não é o antígeno, a não ser o vampiro ao que atraem o que os mata. E, a menos que matemos ao vampiro, continuará alimentando-se de sua irmã até que mora. Se o detivermos, ela viverá.
Sumner apartou o olhar, mas Max viu as lágrimas em seus olhos.
—O médico diz que é seu sangre o que a está matando.
—Mas não sabe por que, nem como. Todo aquele que tem este tipo de sangue morre jovem e os doutores não sabem por que, Sumner. É porque são vítimas dos vampiros.
Max o olhou fixamente.
— Está-me dizendo que se pode salvar? Que pode melhorar?
—Sim. Mas teríamos que protegê-la do vampiro.
Piscando, Max olhou ao Lou, lhe pedindo em silêncio que lhe dissesse que podia acreditar naquele homem. Deus, queria acreditá-lo.
Mas Lou fez um gesto negativo quase imperceptível. antes de que pudesse falar, entretanto, Lydia entrou correndo na habitação, sem fôlego.
Não está! —gritou—. Morgan se foi!
O corpo de Dêem despertou com prazer, mas não com vigor. Tinha uma sensação estranha. sentia-se satisfeito, mas enjoado, débil. Possivelmente só tinha sonhado os prazeres da posse...
Levantou a cabeça e tentou esclarecê-la vista. Estava no chão, com o braço apoiado no muro de pedra. E a lanterna estava acesa. Não recordava havê-la aceso, nem haver despertado.
Não levava camisa, e tinha as calças desabotoadas. Sentia o sabor da sangue na boca.
E então a viu, nua, tombada no cetim branco.
— Morgan! —lhe dêem ficou de pé, mas voltou a cair de joelhos devido ao enjôo. aproximou-se dela arrastando-se—. Deus, Morgan —tomou pelos ombros e lhe deu a volta, tombando-a sobre as costas. Viu, horrorizado, que estava totalmente pálida e que tinha os olhos fechados. Lhe encheram os olhos de lágrimas. Lágrimas. Não recordava a última vez que tinha chorado por alguém, e muito menos por um mortal. Na garganta, Morgan tinha as marcas de seus dentes. E havia mais. Em seus peitos, nos ombros, inclusive no ventre. Tinha-a tomado por completo, tinha tomado seu corpo e sua sangue.
—Morgan, o que tenho feito? Não é possível que te tenha feito isto. Por favor, acordada —disse, e escutou perto de seu nariz, espejando ouvir sua respiração. Era débil, mas respirava.
Ela abriu os olhos e esboçou um sorriso.
—OH, meu amor...
—Shh. Não tente falar. Deus, Morgan, sinto muito.
—Hei-te... gasto algo.
Ele sacudiu a cabeça sem entender o que dizia, mas então seguiu sua mão e viu uns livros sobre a mesa.
—Seus jornais.
—Meus jornais... —procurou em sua memória—. Lhe deixei instruções a um advogado... O baú ia ser guardado em um armazém... OH, demônios, o que importa isso agora?
—Sim importa —sussurrou ela. Apertou a mandíbula e tragou saliva—. O guia também está aí. Destrói-o, Lhe dêem.
Ele a olhou, sacudindo a cabeça.
—Tem que saber que pode confiar em mim. Trouxe-lhe isso para lhe demonstrar isso
— Está preocupada se por acaso não confio em ti? Olhe o que te tenho feito, Morgan.
—Fez o que eu te pedi que fizesse —sussurrou ela. Fracamente levantou uma mão e lhe acariciou—. Lágrimas? Está chorando?
lhe tremeram as mãos em seu cabelo ao aproximar sua cabeça e apoiar-lhe no regaço, sem poder conter sua angústia.
— Como pode perguntar isso? meu deus, Morgan, sinto-o muitíssimo —lhe quebrou a voz e não pôde seguir falando pela emoção enquanto a abraçava.
—Arruma-o —disse ela—. me Dê de sua sangue. me faça imortal, como você.
te dêem inclinou a cabeça para trás, apertando a mandíbula.
—lhe dêem, por favor. Não me deixe morrer. Sei que não o faria.
A ele lhe escorregou uma lágrima pela bochecha quando baixou a cabeça para olhá-la.
—Não posso fazê-lo agora, Morgan. Estou muito fraco. Não sobreviveria, e se por algum milagre o fizesse, só seria um zombi sem a capacidade de pensar.
Ela deixou escapar um suspiro tremente.
—Não o entendo... Eu acreditava...
—Converter a alguém requer que um vampiro seja forte. Inclusive então fica muito débil. Ontem à noite estive a ponto de me sangrar antes de que pudesse me curar com o sonho do dia.
—Mas bebeste que mim.
Ele baixou a cabeça.
—É porque estou doente, verdade? Minha sangue já não tem vida. É isso, verdade?
Ele assentiu.
—Vi o que ocorre quando se transmite o dom com sangue débil, Morgan. Os novos vampiros são corpos sem razão, sem pensamento nem personalidade e que só existem para alimentar-se. São monstros de verdade. Não posso te amaldiçoar e te condenar a essa existência. Não estou disposto. Sinto muito, Morgan. Seriamente o sinto.
—Bem, tem-no feito de novo, não, carinho?
Sarafina se aproximou deles pelo passadiço da cova. lhe dêem a olhou. Levava uma saia vermelha até os pie, um casaco negro e jóias suficientes para agradar a uma rainha.
—Fina. Graças a Deus.
—Não lhe dê as graças a Deus por mim, Lhe dêem. Não tem nada que ver com minha existência —entrecerró os olhos ao olhá-lo à cara—. São lágrimas isso que vejo? meu deus, te olhe. ficaste reduzido a chorar por uma mortal.
—Tem que ajudá-la —disse lhe Dê. Notava a ira da Sarafina, envolvendo-a como uma nuvem quente, mas tinha que tentá-lo—. Morrerá, a menos que você a transforme.
Ela soltou o ar que tinha nos pulmões e moveu desdenhosamente a mão, fazendo que os braceletes soassem em seu braço.
—Se a desejas tanto, faz-o você mesmo.
—Não posso. Estou muito fraco.
—OH, vamos, Lhe dêem. Também a quereria se fosse uma imbecil. Obedeceria-te em tudo, seria sua pulseira, inclusive muito melhor que uma mortal. Caçaria para ti e te serviria. Você não gostaria disso?
Ele levantou a cabeça orgulhosamente.
—É a ti a que gosta dos idiotas, não a mim.
—Não, mas parece que você é o mais propenso a manter relações sexuais com os mortais até matá-los. Quantas vão até a data, dois?
—Não está morta.
—Estará-o em uma hora.
— por que não quer me ajudar?
Sarafina arqueou as sobrancelhas.
—Porque me tornaste as costas, Lhe dêem. Sim realmente quer minha ajuda, me deixe que mate a essa por ti. Desfrutaria de muito me Devendo o que tenha deixado de sangre em seu cuerpucho débil e pálido.
Iracundo, Te dêem deixou brandamente a cabeça do Morgan no chão e se levantou para encarar-se com a Sarafina.
—Antes te matarei.
Ela se estremeceu de dor. Ele o viu. Foi um relâmpago em seus olhos.
—E isso demonstra o que hei dito. Mataria-me , sua companheira na vida, por ela.
—Você não é minha companheira. Nem minha mulher, nem meu amante.
—Eu te fiz —sussurrou ela.
— E por isso é minha proprietária?
Ela ficou tensa e rígida, e depois lhe disse:
— Maldito seja por me trair, Lhe dêem! Maldito você seja e o resto de minha raça! Não lhes necessito a nenhum! —e girou em um redemoinho de tecido. Voou para a porta e desapareceu.
O suspiro suave mas desesperado do Morgan atraiu sua atenção. Não podia lhe emprestar atenção à dor da Sarafina, embora também lhe doesse. Não podia dedicar-se ao sofrimento de sua mãe escura. Só podia dedicar-se ao Morgan.
—Isto é tudo... por minha culpa —sussurrou ela.
— por que fez isto, Morgan? por que?
Ela sacudiu a cabeça.
—Estava muito débil, e acreditei que poderia morrer.
— E não te ocorreu que você poderia morrer muito mais facilmente que eu? —Então se ajoelhou de novo a seu lado e a abraçou—. Não. Você pensou que eu não deixaria que ocorresse. E não vou permitir o.
Então tomou em braços e a levou pelo passadiço para a saída.
—Os jornais —sussurrou ela—. Deve trazê-los, Lhe dêem. E tem que ir à casa por outros.
—Podemos fazê-lo juntos, quando estiver bem.
—Estão na caixa forte, no despacho. A combinação é o ano em que te encontrei. Mil novecentos e noventa e sete.
—Não vou deixar que morra, Morgan —se sentia muito débil, mais e mais a cada segundo que acontecia, mas tinha que salvá-la.
—Não é tua culpa, Te dêem —murmurou Morgan.
Ele saiu da cova e as arrumou para subir até a esplanada de erva como pôde, com ela em seus braços. Depois começou a andar para a casa.
— lhe dêem? Não! Não me leve com eles. Quero ficar contigo.
—Morrerá sem ajuda, Morgan.
—Então, morrerei em seus braços. Tomarei meu último fôlego contra seus lábios. Lhe dêem, não me leve ali...
Ele se deteve e olhou à mulher que tinha arriscado sua própria vida para salvá-lo e que tinha crédulo nele, entregando-se por completo. Nunca tinha acreditado que ninguém pudesse amar o daquela forma. Sua própria família havia lhe tornado as costas, e tinha vivido sua vida sem confiar em ninguém. Entretanto, sim confiava nela, e se deu conta, muito tarde, de que sabia que podia fazê-lo muito antes de que lhe entregasse os jornais. antes de que se deixou a vida tentando salvá-lo a ele. Queria-a.
Inclinou-se e a deixou no chão. Brandamente, com ternura, beijou-a.
—Vive, por mim, Morgan. Só uma noite, para que possa me alimentar e me fortalecer de novo. Depois voltarei por ti, juro-lhe isso. Ninguém me poderá impedir isso
Beijou-a de novo, mas se deu conta de que ela tinha perdido o sentido. Então ouviu as vozes de seus amigos, que saíam da casa com lanternas, chamando-a. Levantou a cara e os chamou: — Aqui! Está aqui!
E começou a andar para o escarpado. Aos três passos, sentiu uma flecha na perna, e uma dor insuportável o derrubou ao chão. Notou que a sangue lhe escapava pela ferida, e aos poucos segundos, alguém o sujeitou pelo ombro.
O homem das cicatrizes o olhou e sorriu.
—OH, Deus —disse Max, ajoelhada ao lado de sua irmã.
Morgan jazia no chão, envolta em seda branca, com as duas marcas no pescoço.
— Vêem-nas? Estão as vendo?
A seu lado, Lydia assentiu e gaguejou:
—As... vejo. Não posso acreditá-lo, mas as vejo.
David não podia dizer nada. O medo não lhe deixava falar.
Lou tinha a boneca do Morgan entre os dedos. Olhou para cima e assentiu.
—Está viva.
Max começou a soluçar de alívio, sem poder conter-se.
—vamos levar a à casa.
Lou olhou mais à frente, à grama, franziu o cenho e se levantou.
—Leva-a, David. Será um segundo.
Max seguiu seu olhar até onde estavam Frank Stiles e o homem escuro que tinha feito aquilo ao Morgan. Lou se aproximou, e Max o seguiu.
—Fica com —disse a Lydia, e pôs-se a andar.
Stiles estava dizendo:
—Por fim te tenho. E esta vez não te vais escapar.
Quando Max olhou além da horrível careta do Stiles, ficou sem respiração. Aquele homem era exatamente igual às imagens que Morgan tinha desenhado e que estavam na parede de seu escritório.
— É lhe Dê?
Ele assentiu, mas era evidente que estava sofrendo muito. Lhe olhou a perna.
—Deve lhe haver dado na artéria. Meu deus, está-se sangrando...
—os de sua raça se sangram muito rápido. Morrerá em poucos minutos —disse Stiles, lhe cuspindo.
—Se morrer, Morgan também morrerá —disse lhe Dê.
—Não te atreva a ameaçar a minha irmã —disse Max, em um sussurro raivoso.
— Não acredito que seja uma ameaça, Maxie —disse Lou.
Ajoelhou-se, agarrou a flecha e olhou a lhe Dêem. Ele assentiu uma vez, e Lou empurrou a flecha com força até que a tirou de sua perna. Quando o fez, Te dêem jogou a cabeça para trás e uivou de dor. Depois, Lou lhe fez um torniquete na coxa com seu próprio cinturão.
—Não entendo por que está ajudando-o —disse Max—. por que, depois do que tem feito ao Morgan?
—Não, não, Lou tem razão —disse Stiles, brandamente—. Será muito útil para minha gente vivo.
Dão olhou ao Lou, e Max se surpreendeu de ver o medo em seus olhos.
Lou captou sua atenção, entretanto, ao começar a falar.
—Trouxe-nos para o Morgan e nos chamou para que viéssemos a procurá-la. Ao fazê-lo, recebeu um disparo na perna com esse artefato dele. De onde tirou isso, Stiles? Registrei-o na casa.
—Estava em meu carro. Tomei quando soubemos que Morgan não estava na casa.
—Ele a trouxe de volta —disse Lou—, e não tinha por que fazê-lo. Se estivesse tentando matá-la, para que se teria incomodado?
Stiles soltou um juramento e apartou o olhar.
—Não importa. Agora é meu prisioneiro. Me vou levar isso. A vocês não voltará a incomodá-los mais.
—Não vai levar o a nenhuma parte, Stiles —disse Lou—. Vá-se casa com outros, ou largue-se.
—Este é meu projeto, Malone. Sou um agente federal.
—É um ex-agente federal. Eu, entretanto, sou polícia em ativo, e a menos que queira acabar sendo meu prisioneiro, sugiro-lhe que me deixe dirigir este assunto.
Max viu que Lou a olhava. Então tomou ao Stiles pelo braço e atirou dele para a casa. Ele não resistiu muito, e lhe sentiu saudades.
—Se lhe der uma oportunidade a essa besta, matará a sua irmã. Exatamente igual a fez com seu amiga.
— por que não se vai e nos deixa dirigir isto?
—OH, não. Não vou partir me a nenhum site.
—Se ficar, terá que jogar segundo nossas regras. Do contrário, Lou não terá que prendê-lo, porque eu farei algo pior. Entende-o?
Ele a olhou despreciativamente e assentiu.
—Obrigado —disse o vampiro.
—Não me dê as obrigado. Não posso deixar que se vá e sabe.
—Tem que me deixar.
Lou sacudiu a cabeça.
— O que queria dizer com que se você morrer, ela também morrerá?
O vampiro o olhou tentando ler a expressão de sua cara.
— supõe-se que vai acreditar o que eu lhe diga? —Não acredito nada disto, mas quero ouvi-lo. Dêem ficou em silêncio, pensativo. Depois lhe disse:
—Eu sou o único que pode salvá-la. — Como? —perguntou Lou. —Não posso dizer-lhe Só posso lhe dizer que preciso me curar, me alimentar de novo e recuperar minha força para ajudar ao Morgan.
— Tem que ir-se morder a outro inocente e deixá-lo como ao Morgan, ou pior? Eu não posso fazer isso —lhe disse, enquanto o ajudava a levantar-se para ir para a casa. deu-se conta de que estava sofrendo muito. —Eu não Mato.
— E se o fizesse, admitiria-o ante mim? lhe dêem se estremecia de dor com cada pequeno movimento.
—Não. Suponho que não.
—Tenho a responsabilidade de mantê-lo baixo custódia —disse Lou, raciocinando enquanto caminhavam—. Parece bastante claro que você atacou ao Morgan, assim é meu principal suspeito. Ao menos, tenho que mantê-lo encerrado em um lugar onde não possa fazer mais danifico até que pense em algo.
te dêem suspirou, mas Lou não soube se foi por desespero ou por docilidade.
—Quão único têm que fazer é mantê-la com vida —disse.
— dá-se conta de quão doente está? Embora sobrevivesse esta noite, não duraria muito mais... O vampiro fechou os olhos. —me prometa que a manterão com vida... Lou assentiu.
—Farei tudo o que possa. O vampiro assentiu. Depois, disse:
—Parece você um homem decente, para ser um mortal. Isso faz que o sinta ainda mais...
Lou franziu o cenho.
— Sentir o que? —então sentiu algo como um punho, pensou, embora lhe pareceu uma bala de canhão, na cabeça, e caiu ao chão sem sentido.
Todos estavam ao redor do Morgan, que, tombada no sofá do salão, gemia e murmurava coisas sem sentido, e mencionava o nome de lhe Dêem cada instante. Ao Max lhe estava rompendo o coração. Olhou para o vestíbulo para ouvir que a porta se abria. Lou entrou, sozinho.
— Lou?
—Sinto-o —disse, esfregando-a cabeça—. conseguiu escapar.
Uma enxurrada de maldições invadiu a habitação, e Max cravou os olhos no Stiles, que tinha estado sentado nas sombras, observando-o tudo. Tomou sua mola de suspensão do chão e se dirigiu para a porta.
Lou se interpôs em seu caminho.
—Não é coisa sua —lhe disse.
—Ele voltará a matar se o permitimos. Tem que fazê-lo, porque do contrário, ele mesmo morrerá. Já viu quão débil estava.
—Não acredito que vá matar a ninguém —disse Lou. Olhou ao Max e continuou—: Poderia ter matado ao Morgan, e poderia me haver matado agora mesmo, se tivesse querido.
—Lou, e o que passa se está confundido? —sussurrou-lhe Max.
— E se não? —Perguntou-lhe Lou—. Max, diz que pode salvá-la. O que acontece é ele o que está dizendo a verdade?
—OH, pelo amor de Deus. De verdade crie? Acredita na palavra de uma besta antes que na minha, que sou de sua raça?
— Senhor Stiles, não acredito que ninguém desta habitação seja de sua raça —disse Lydia.
David Sumner a olhou, e depois olhou de novo ao Stiles.
—Lydia, não pode estar de parte do vampiro nisto. Deus, olhe ao Morgan.
—Estou olhando-a, David. E estou escutando-a, também. Ela o quer. Está morrendo, e só pode pensar nele. Isso não te diz nada?
—Diz-me que está em transe, como Stiles nos explicou.
—Ou que Stiles está mentindo e Morgan sabe a verdade —replicou Lydia.
David ficou de pé de um salto.
— Tem-lhe feito dois buracos no pescoço a sua filha, Por Deus, Lydia!
Ela sacudiu a cabeça e abriu muito os olhos. Max acreditou que lhe tinha parado o coração. Não podia deixar de olhar ao David e depois a Lydia, e outra vez ao David.
— O que há dito? —perguntou ao Lou—. O que... há dito?
David se tampou a cara com as mãos.
—Sinto muito. É só que... sinto muito.
Max se aproximou da Lydia e a olhou atentamente, estudando seus rasgos. Eram inclusive mais viçosos que os seus, mas de repente, encontrou similitudes.
—Você... você é nossa mãe?
—Não queria que soubessem.
— por que?—perguntou Max.
Lydia fechou os olhos e sacudiu a cabeça rapidamente.
—OH, vamos. É esta sua fantasia, Maxine? Inteirar-se de que sua mãe era uma adolescente que se vendia na rua para sobreviver?
Ao Max lhe encheram os olhos de lágrimas.
—Isto é muito de uma vez. Não posso contudo —piscou e se secou os olhos—. Jesus, onde está essa maldita ambulância? — aproximou-se da janela, apartou a cortina e olhou. Depois se voltou para a Lydia—. Você sabia? Por isso fez que Lou nos apresentasse?
Lou falou antes de que Lydia o fizesse.
—Ela não sabia, Max. Eu... eu tinha a suspeita. Sabia que seu aniversário era o mesmo dia em que Lydia acende uma vela e se passa o dia chorando pelos bebês aos que teve que dar em adoção. E por isso lhes apresentei, para que pudessem deduzi-lo por vocês mesmas.
Max o olhava com as lágrimas lhe correndo pelas bochechas.
—Tinha que me haver isso dito, Lou. Como pudeste não me dizer isso
—Bom, tudo isto é muito comovedor —cortou Stiles, aproximando-se da porta—, mas quanto mais fique aqui escutando este culebrón, mais se afastará essa besta de mim —e continuou andando.
Lou lhe cortou o passo de novo.
—Tire-se de meu caminho, Malone.
—me dê a mola de suspensão.
Stiles esboçou um sorriso malvado e sacudiu a cabeça.
—você tome-a, se puder.
Sem lhe dar tempo a que dissesse nada mais, Lou tirou sua pistola e a pôs ao homem no estômago com um movimento suave.
—Posso dê-me isso
Stiles pôs as mãos por cima de sua cabeça e Lou lhe tirou a mola de suspensão de uma delas. Então, Stiles o olhou fixamente, mas voltou para seu site. Naquele momento, ouviu-se uma sereia na lonjura, e aos poucos segundos, a ambulância tinha chegado à porta da casa. Lou guardou a arma e abriu a porta para que pudesse entrar a equipe médica. Max ficou ali, observando como ocorria tudo, mas sem ver nada. Estava desorientada, confusa e furiosa.
E Lou se aproximou A. ela para abraçá-la.
—Parece que está em estado de shock.
—Me deveria haver isso dito, Lou.
—Já tinha suficiente.
—Não me diga tolices —respondeu ela.
Mentalmente, repassou os sucessos dos últimos dias. Tinha descoberto que tinha uma irmã geme-a que se estava morrendo. Tinha visto seu melhor amiga em coma por um disparo. Tinha descoberto que sua mãe natural era uma ex-prostituta com o coração de ouro. E aquela mesma noite tinha conhecido a um vampiro.
—Vê o hospital com sua irmã, e protege a dele.
— De lhe Dêem ou do Stiles?
—Dos dois. Melhor dizendo, não se preocupe pelo Stiles. Manterei-o a meu lado.
— Aonde vai?
—A procurar a lhe Dêem.
O médico e os enfermeiros tinham posto ao Morgan em uma maca e foram levá-la à ambulância. Max os observou durante um momento, e disse:
—Lou, acaba de impedir ao Stiles que vá lhe Dêem, algo pelo que poderia te dar uma patada. E agora vai você mesmo atrás dele, e te levar ao Stiles?
—Eu não quero que Stiles o cace como a um animal, e que o mate, ou algo pior. Isso não é o que eu vou fazer.
—Não, vais apanhar o como a um ser humano, verdade? vais ler lhe seus direitos.
Lou baixou a cabeça.
—Sim, algo assim.
—tentou matar a minha irmã, e não é um ser humano.
—Sei.
—Pois também tem que saber isto —lhe disse ela, lhe tirando a mola de suspensão das mãos enquanto a equipe médica tirava o Morgan pela porta—. Pode protegê-lo se quiser, mas se tenta aproximar-se do Morgan outra vez, matarei-o eu mesma. E não deixarei que ninguém me o límpida. Nem sequer você.
Depois se deu a volta e se tropeçou com o Stiles. Ele assentiu aprobatoriamente e lhe pôs um cartão de negócios na mão.
—Meu número de telefone móvel. É a única que vê as coisas com claridade. É possível que me necessite.
Ela o apartou e foi para a porta. No caminho, tomou uma jaqueta do perchero da entrada e envolveu a mola de suspensão para escondê-la, e depois se meteu o cartão do Stiles no bolso dos jeans. No último momento se voltou e disse a Lydia:
—Você e David venham detrás, no carro, de acordo? Eu quero ir com ela na ambulância.
Lydia ficou assombrada, e com um sorriso de alívio, respondeu:
—Iremos justo detrás de vocês.
A meio caminho para a ambulância, Max se voltou e disse:
— Lou? Tome cuidado, de acordo? Não lhe dê as costas a essa serpente do Stiles nem um segundo. Nem a lhe Dêem, tampouco.
—Não tinha intenção de fazê-lo.
Ela o olhou aos olhos. Odiava-o por ter deixado que aquele animal escapasse. Não, não o odiava em realidade.
— Senhorita?
Max apartou o olhar, voltou-se para o médico que lhe sustentava as portas da ambulância e entrou no veículo.
Lou observou como partia sentindo-se muito mal. Tinha-lhe falhado ao Max. Ela tinha acreditado que ele ficaria de seu lado, que vingaria a sua irmã. Demônios, uma parte dele queria fazê-lo, mas não se passou vinte anos trabalhando de polícia para fazer caso omisso naquele momento de tudo o que tinha aprendido.
O instinto lhe dizia que Stiles não era de confiar. te dêem tinha algo que não encaixava no perfil que o homem das cicatrizes se empenhava em desenhar ante eles. O instinto lhe dizia que o monstro era, em realidade, um bom tipo.
Não tinha sentido, mas assim era.
Quando a ambulância e o carro da Lydia e David desapareceram pela estrada, Lou entrou na casa de novo.
Mas naturalmente, Stiles se tinha partido fazia um bom momento.
Em circunstâncias normais, Te dêem teria viajado muito rápido a pé. Mas aquela noite necessitava um carro. A pesar do torniquete, continuava sangrando muito, e a dor que sentia era cegador.
Percorreu a calçada em busca de um carro no que o dono tivesse tido o descuido de deixar as chaves postas. Não havia sorte. Parecia que o destino estava conspirando contra ele, por tudo o que lhe estava ocorrendo.
De repente, apareceu um Ford Mustang branco. O casal adolescente que o ocupava ia ligeiramente bebida, e a lhe Dêem lhe resultou fácil entrar na mente do menino para intensificar sua pressa por levar-se a garota a seu apartamento. Em um momento, o menino estava fora do carro, tinha-o rodeado, renda-se, e lhe tinha posto à garota o braço sobre os ombros enquanto se afastavam do carro alegremente.
lhe dêem se retirou da mente do jovem sem fôlego. Aquele simples uso de sua energia o tinha deixado exausto.
aproximou-se arrastando a perna ferida e abriu a porta do carro. As chaves estavam postas. Subiu ao veículo e o pôs em marcha.
Necessitava sangue e necessitava que lhe costurassem a ferida para evitar sangrar-se antes de que chegasse o dia. Sarafina o tinha abandonado, embora certamente, segundo seu ponto de vista, ele a tinha abandonado a ela primeiro. Tinha que chegar a casa da Belinda, a mulher do Bangor.
Demorou uma hora em chegar a seu apartamento.
Ele tinha o cartão de entrada ao edifício, e a do apartamento. Quando chegou a seu piso, apoiou-se sem forças na porta e golpeou brandamente com o punho. Ela não respondeu, assim que ele abriu e entrou cambaleando-se.
Belinda estava tombada no sofá. Estava vestida de vermelho e lhe deu a bem-vinda com um olhar de morte. Não. Não levava nada. Tinha as bonecas abertas e sua sangue tinha alagado o chão e o sofá. Inclusive tinha manchado as paredes. E era sangue velha, sangue morta. Perdida.
— Acreditava que não sabíamos nada dela, Lhe dêem?
lhe dêem se deu a volta rapidamente e esteve a ponto de cair.
Stiles estava ali, sonriéndole com aquela cara de maldade.
—Não podia deixar vivo a seu banco de sangue humana. Necessitava-a muito. Sabia que viria aqui esta noite.
—Ela era inocente. Deus, é um miserável sem vísceras —te Dêem tentou lhe dar um murro, mas não o alcançou, e teve que agarrar-se a uma mesa para não cair.
—O fim justifica os meios, entretanto. O que você não sabe é que reagrupei a alguns dos homens que trabalhavam para a DIP. OH, não somos muitos, só um punhado. Os sobreviventes daquele famoso incêndio no White Plains. te dêem sacudiu a cabeça. —O governo...
—Não tem nada que ver conosco. Somos financiados por mãos privadas. os de sua classe deveriam ter mais cuidado na hora de alimentar-se, Lhe dêem. Aos ricos gosta da vingança, e podem permitir o luxo de pagá-la. E quando não nos pagam, fazemo-lo só por diversão —Stiles entrou no piso com outros três homens armados.
A gente tinha uma pistola, outro uma mola de suspensão e o terceiro uma estaca. te dêem fechou os olhos e sacudiu a cabeça ao ver o terceiro com aquele clichê nas mãos. —Vejo que tem a um novato na equipe. Stiles soltou uma gargalhada suave e perigosa. —Alegra-me comprovar que tem bom humor em um momento como este —disse—. Não, Lhe dêem, não é um novato. A estaca foi tratada com um novo produto químico que, segundo nossos estudos, terminará com os de sua classe. Mas, é obvio, não saberemos com segurança até que o provemos —se aproximou de lhe Dêem e lhe levantou o queixo com a mão—. Quem crie que vai ser nossa cobaia?
te dêem usou todo ele poder que ainda ficava para lhe cravar ao Stiles o punho no estômago. Stiles se dobrou e se cambaleou para trás, e os outros três homens deram um passo para diante. —Quietos aí.
Lou Malone, o policial, estava na soleira com sua pistola na mão, e os homens ficaram imóveis.
— Atirem isso ao chão! —gritou-lhes Lou.
As armas caíram ao piso.
—E agora, contra a parede. Vamos, lhes mova. As mãos detrás da cabeça e as pernas separadas. Assim, muito bem.
Fez-lhe a lhe Dêem um gesto com a cabeça. te dêem assentiu e caminhou coxeando para a porta. No meio do caminho se deteve e se agachou com dificuldade para agarrar a estaca. Assim que fechou a mão ao redor da madeira, a pele começou a lhe queimar, e a soltou. agarrou-se a boneca e observou assustado que saía fumaça da pele abrasada. ficou de pé e seguiu coxeando até o vestíbulo.
— Tenho o carro fora —disse Lou—. Ponha em marcha e espera dentro. Eu sairei em um segundo — Lou tomou o telefone e marcou o número da polícia.
Te dêem saiu.
Lou lhes deu um golpe aos homens na cabeça com a culatra da arma. Depois lhes pôs as algemas a dois deles e as sujeitou ao radiador. Fechou a porta e baixou ao carro, suponiéndose que aquilo lhe daria tempo suficiente à polícia local para chegar e encontrá-los ali. Tempo suficiente como para que ele pudesse levar-se a seu prisioneiro sobrenatural são e salvo. Supunha também que teria que seguir a lhe Dêem de novo, mas ao menos Stiles não os incomodaria. Entretanto, ficou surpreso ao ver que o vampiro não tinha fugido e estava esperando-o no carro.
Conduziu a toda pressa até o hotel e levou a lhe Dêem à habitação sem que ninguém os visse. Entrou diretamente ao banho e deixou ao vampiro no chão, apoiado na parede.
Estava imóvel. Possivelmente tivesse morrido. Demônios, ele não sabia como certificar-se. Tinham pulso os vampiros?
Encontrou umas tesouras e uma agulha e fio na nécessaire da Lydia. Ao menos, poderia lhe costurar a ferida. A sangue que lhe escapava já tinha formado um atoleiro no chão do banho.
Com umas tesouras, Lou lhe cortou os jeans justo debaixo do torniquete, e ao ver a ferida, levantou-se por um par de garrafas do minibar. Whiskey e vodca. Deu-lhe um gole a de whiskey e derramou um pouco de vodca pela ferida. te dêem grunhiu de dor e abriu os olhos.
—Estava começando a pensar que estava morto.
— Que demônios me está fazendo?
—me corrija se me equivocar, mas está te sangrando. Acredito que isso é mau, inclusive para um vampiro.
—Especialmente para um vampiro —disse lhe Dê, fechando os olhos de novo.
—Isso me pareceu —Lou tomou a agulha e o fio, e o empapou de vodca.
—Isso não é necessário —disse lhe Dê—. Não vai se infectar.
— Nunca se sabe —disse Lou, encolhendo-se de ombros—. Lá vou —dar o primeiro ponto, o vampiro soltou um uivo de dor—. Demônios, nem sequer eu gritaria assim. Acreditava que foi mais duro.
Entre dentes, Lhe dêem lhe disse:
—As sensações são muito mais... intensas em minha raça.
—OH. Não sabia —Lou observou seu rosto desencaixado de dor—. Quer que pare?
—Não.
Aquela vez, quando atravessou a carne do homem com a agulha, ao Lou também doeu. Deu quatro pontos bem tensos e fechou a ferida. Depois assentiu, satisfeito.
—Há outra igual... ao outro lado —conseguiu dizer lhe Dê.
—Deus —Lou tomou a garrafa de vodca, tomou o que ficava e ajudou a lhe Dêem a dá-la volta.
Era agonizante inflingirle aquela dor a qualquer ser, vampiro ou não. Lou estava a ponto de vomitar quando terminou, e seu paciente não era mais que um montão tremente. Entretanto, os pontos resistiram, inclusive quando Lou o ajudou a meter-se na banheira para lhe tirar a sangue como pôde. Depois o secou com uma toalha e o levou a cama.
Imaginou que se Derem sobrevivia a aquela noite, estaria bem. De sua conversação anterior tinha chegado à conclusão de que os vampiros se curavam durante o dia, enquanto dormiam. Ele foi se limpar o banho e depois se acomodou em uma cadeira ao lado da cama, com a intenção de velar ao vampiro até que saísse o sol; ia ser uma noite muito larga. Suspirando, chamou o hospital e pediu que lhe pusessem com o Max.
Sua voz, quando respondeu, soava afogada. Cansada e velha. Muito velha para ser a de uma garota tão jovem. Queria lhe dizer algo que a fizesse sentir-se melhor. Queria confortá-la, mas não sabia como.
— Que tal está Morgan? —quando formulou a pergunta, deu-se conta de que era uma estupidez. Como ia estar?
—Estão-lhe dando soro, mas não podem lhe fazer uma transfusão porque não encontram doadores. E o necessita, ou morrerá —disse, e lhe quebrou a voz.
—Sinto muito, Max.
— Encontraste-o?
— A lhe Dêem? Sim. Tampouco está muito bem. Fiz o que pude. Agora está descansando.
— E Stiles?
—Ele e seus amigos passarão a noite com a polícia local, se tudo for como eu planejei. Não acredito que nos incomodem, ao menos, até manhã pela manhã. Possivelmente mais tempo.
—Assim que minha irmã está a salvo esta noite. —Que eu saiba, sim.
Houve um silêncio no outro lado da linha. —Max... Sinto te haver falhado. Ela não respondeu. Ele baixou a cabeça, tentando pensar em uma forma de romper o silêncio. Finalmente,
Ele disse:
—Estou na suíte. Tem o número, verdade?
—Sim.
—Eu vou vigiar a lhe Dêem até que se faça de dia. Conforme tenho entendido, de dia não será nenhum problema, verdade?
—Por isso tenho lido nesses expedientes, não.
—Então, deixarei-o às escuras e enquanto pensaremos o que fazer depois. De acordo?
—De acordo.
—Se necessitar algo, me chame.
—Não necessito nada.
Aquilo lhe doeu. Parecia que já não confiava nele, como se ao lhe falhar tivesse cansado de seu pedestal.
—Bom —ele tomou ar e suspirou.
—boa noite, Lou.
O silêncio lhe pareceu asfixiante. Suspirando, ele pendurou o auricular no telefone. Depois deu outra volta pela suíte, assegurando-se de que a porta e as janelas estavam bem fechadas. Depois tomou as duas expulse-hitas de álcool vazias e as pôs frente à porta. Se alguém abria, cairiam e se golpeariam uma contra a outra, e despertariam se dormia.
Finalmente voltou para a habitação, sentou-se em uma cadeira junto ao vampiro ferido e fechou os olhos.
—Está sendo muito dura com ele, sabe?
Maxine se deu a volta no mostrador de enfermeiras da UCI e viu que Lydia estava olhando-a fixamente.
— É um conselho maternal ou uma opinião?
Lydia se estremeceu.
—Suponho que, desde sua perspectiva, mereço-me isso.
Max suspirou ao sentir uma pontada de culpabilidade. Entretanto, tentou lhe fazer caso omisso.
— Como está Morgan?
—Igual —disse Lydia, e baixou os olhos. Entretanto, Max se deu conta de que os tinha avermelhados, como se tivesse estado chorando toda a noite—. Deus, espero ter a oportunidade de... contar-lhe
— O que você é sua mãe? —Perguntou-lhe Max—. Já teve a oportunidade, Lydia, mas não nos disse nenhuma palavra. Nem ao Morgan, nem a mim.
A mulher levantou a cabeça.
—Espero ter a oportunidade de lhe dizer que a quero. Isso é tudo. Não tinha intenção de lhes dizer o resto.
Max se tragou o nó de culpabilidade que tinha na garganta.
— por que?
—Acreditei que já lhe tinha explicado isso. Como se sente ao saber que sua mãe era uma prostituta?
Naquela ocasião, a que se estremeceu foi Max. Foi como se a mulher a tivesse esbofeteado com suas palavras.
—Está envergonhada do que foi.
—Não, não estou envergonhada. Mas sabia que você e sua irmã sim o estariam se soubessem.
— Conhece-nos tão bem para sabê-lo, embora só tenham acontecido uns dias?
Naquele momento, uma enfermeira se aproximou, e as duas ficaram silenciosas enquanto ela ordenava uns papéis.
— Importaria-lhe me passar as chamadas o telefone da habitação de minha irmã a partir de agora?
—Sinto muito, não há telefones nas habitações da UCI. Mas há um telefone na sala de espera, e também uma televisão. Está justo ao final do corredor da habitação de sua irmã.
Ela assentiu.
—Se recibo outra chamada, me poderiam passar isso ali?
—Claro.
Max olhou a Lydia, inclinou a cabeça e se dirigiu para a sala de espera. Quando passaram pela habitação do Morgan, através do cristal, viram o David lhe sujeitando a mão e falando com ela.
—Mesma cena, diferente hospital —murmurou Max.
—Aqui é.
Max olhou a Lydia, que estava sujeitando a porta da sala. Entraram, e Max viu uma máquina de café, uma televisão e uma rádio. Também havia um telefone, várias cadeiras e dois sofás, e uma mesa de centro. Max se sentou em um dos sofás, e Lydia jogou umas quantas moedas na máquina de café. Depois esperou a que o copo de plástico se enchesse.
—Há-me dito que não está envergonhada pelo que fez para viver faz tantos anos —disse Max, brandamente—. Tenho curiosidade sobre isso.
Lydia tomou o copo cheio, deu-lhe um sorvo e fez um gesto de desagrado.
—Fiz-o porque não tinha eleição.
Max esperou, mas não parecia que Lydia tivesse vontades de continuar.
—Vamos, Lydia, não te parece que tenho direito ou seja a história?
Lydia se aproximou de uma das cadeiras e se sentou. Tomou outro sorvo de café e o deixou sobre a mesa.
—Suponho que sim, mas não é nada bonita.
—A verdade não está acostumada sê-lo.
Assentindo, Lydia começou a contar-lhe
—Quando tinha dez anos, meu pai morreu. Quando tinha onze, minha mãe voltou a casar-se. Meu padrasto era um homem violento.
Max pensou que aquilo soava frio e clínico.
— Pegava-te?
—Pegava-me e abusava de mim. Fez-me mal de todas as formas possíveis, e a minha mãe também. Ela não podia deixá-lo, mas eu sim.
— Foi de casa? Quantos anos tinha? —Quatorze. Esse foi o tempo que me custou me dar conta de que minha mãe não ia proteger me, porque nem sequer podia proteger-se a si mesmo. E as coisas foram piorando. Pensei que, se não ia logo, terminaria me matando.
— Aonde foi? —perguntou-lhe Max enquanto a observava. Seus olhos estavam vazios.
—A nenhum site. Não tinha nenhum site onde ir. Perdi-me na cidade. Vivi nas ruas e fiz amigos ali. As drogas me ajudavam a suavizar a dor, e a gente me ensinou como sobreviver. Ao princípio me pareceu horrível a idéia de vender meu corpo por dinheiro, mas quando tive fome de verdade, comecei a ver o de maneira diferente. Era muito melhor que o que me ocorria em casa. Ao menos, eu tinha o controle de quando, e como e com quem. Ao menos, isso era o que me dizia mesma. Além disso, pagavam-me — se encolheu de ombros—. Sobrevivi assim durante um tempo, até que fiquei grávida.
Max sentiu um nó no estômago. — Não lhes pedia... que usassem preservativo? —Não lhes pedia que fizessem nada, Max. Se incomodava ao tipo equivocado, podia acabar com cicatrizes, ou coisas piores.
—Tem sorte de que tudo o que te ocorresse fora ficar grávida.
—Sim.
— E o que ocorreu depois?
Lydia baixou a cabeça.
—Havia uma mulher maior, Mary Agnes Brightman, a que todo mundo chamava Nanna. Tinha uma casa enorme no White Plains. dizia-se que acolhia a garotas grávidas, assim que lhe fiz uma visita.
—E te acolheu?
—Sim. Ela não o fazia oficialmente, não tinha licença. Só aquela enorme casa e um grande coração. Quando eu estive ali, fomos seis garotas vivendo permanentemente, e havia outras muitas que entravam e saíam. Nanna nos dava de comer, vestia-nos e nos falava como a seres humanos inteligentes. Algumas decidiam abortar, e quando o faziam, ela o pagava, levava-as a um bom médico. Outras decidiam ter os meninos e tentar criá-los. E outras decidiam dar aos meninos em adoção. Nanna tinha um filho que era advogado, e ajudava às garotas a arrumá-lo tudo sem cobrar nada.
Assentindo lentamente, Max disse:
—E essa foi a eleição que você fez.
—Sim. Nanna e seu filho, Brian, levaram-me a ver um casal que queria adotar a meu bebê. Não cheguei a conhecê-los nem a falar com eles, só os vi de longe. Estavam às compras. Sabiam que estavam os primeiros na lista de espera do Brian, assim provavelmente teriam um bebê em pouco menos de um ano. Estavam comprando móveis, um berço, uma banheira... E eu os observei. A ela lhe enchiam os olhos de lágrimas cada vez que via um osito de peluche, ou que tomava um trajecito. E lhe dizia um pouco divertido, brincava sobre os nomes ou alguma coisa assim até que ela sorria de novo. Pareciam... tão bons. Sabe? Agradáveis. Normais. E aquela mulher, Deus, queria tanto um filho... —Lydia tomou ar—. Aquela noite, Brian me ensinou algumas fotos de sua casa, embora não me disse onde estava, e eu não sabia que era no White Plains. Sabia que seriam felizes ali.
Max tinha vontades de chorar.
—Mas não quiseram às duas?
—Não tiveram a oportunidade de escolher isso. Quando soube que ia ter gêmeos, Brian deixou que eu pensasse que as duas iriam à mesma casa, mas não foi assim. Ele fez que sua irmã fora a outra casa.
—Por que?
—OH, pensou que estava fazendo algo bom. Queria ajudar a seu amigo da costa oeste que queria ter um filho desesperadamente. Não acredito que queria fazer machuco a ninguém, mas o fez. Eu não soube a verdade até que Nanna morreu, nove anos mais tarde. Ela o tinha averiguado, e estava furiosa com seu filho por isso. Deixou-me sua casa, com a justificação de que me tinham enganado quando ela só tinha querido me ajudar, e que me devia aquela reparação.
—E você continuou com seu trabalho —disse Max.
—Tenho-o feito enquanto o reunia com outros trabalhos. Trabalhos legítimos. Uma das condições que Nanna punha na hora de ajudar a garotas como eu era que não voltássemos para essa vida, e eu fui uma das poucas que o conseguiu. Kimbra também. Conheci-a em casa da Nanna. Quando Nanna morreu e me deixou a casa, eu sabia tanto de levá-la como ela. E resultou que Kimbra tinha uma grande cabeça para os negócios. Ajudou-me a criar uma organização sem ânimo de lucro, Haven House. Assim obtínhamos subvenções do governo.
Max respirou profundamente e olhou a Lydia aos olhos.
—E você creíste que Morgan e eu nos envergonharíamos dessa história?
Lydia apartou o olhar.
—Do princípio, sim.
— De nada —Max, impulsivamente, tomou a mão—. Tinha razão a respeito desse casal. Tive a infância idília que queria que tivesse. E se esse advogado não a tivesse levado a outra parte, Morgan também a tivesse tido. Meus pais adotivos foram maravilhosos, Lydia. Nunca sofri a falta de nada. E muito menos de amor.
Lydia fechou os olhos.
—Não sabe o que significa para mim te ouvir dizer isso. me separar de vocês... foi tão difícil...
—Me imagino. Mas acredito que fez o correto, e te estou muito agradecida.
—O correto para ti, possivelmente, mas não para o Morgan...
As duas olharam ao outro lado do corredor. Lydia disse:
—vou sentar me com ela durante um momento.
Lydia se levantou. Então, Max se levantou também e, com um pouco de estupidez, deu-lhe um abraço. Lydia a apertou forte, e depois a soltou.
—Acredito que vou voltar a chamar o Lou.
—Boa idéia —assentiu para lhe dar ânimos e saiu ao corredor.
Lou estava dormido na cadeira com a cabeça pendurando para um lado e a orelha pressionada no ombro. Algo despertou. Duas coisas. Alguém foi o som do telefone. A outra foi a voz de lhe Dêem. E vinha desde muito perto. Justo ao lado de sua cara.
—Sinto muito ter que fazer isto, Malone, mas não tenho eleição.
Lou abriu os olhos e viu o vampiro inclinado em cima dele. Estendeu os braços para apartá-lo, mas a cadeira caiu para trás e te Dêem caiu em cima. Afundou as presas na garganta do Lou, enquanto ele lutava desesperadamente por tirar-lhe de cima.
Lou agitou um braço e golpeou a mesinha de noite. O telefone caiu e se desprendeu, e Lou escutou vagamente como uma voz repetia seu nome.
—Deus! —disse, apertando os dentes contra a sensação de que lhe sugassem a sangue—. Te salvei a vida! —tentou gritá-lo, mas não foi mais que um som débil—. Te ajudei!
Pulsava-lhe o coração mais do que ele considerava saudável, e ainda assim continuou lutando para tirar-se à criatura de cima. Seus esforços foram inúteis.
Finalmente, Te dêem levantou a cabeça e deixou ao Lou apoiar-se no chão.
—Ainda está me ajudando —lhe disse. Parecia... diferente. Mais forte. Brilhavam-lhe os olhos, e tinha a cara cheia de vida.
«De minha vida», pensou Lou.
lhe dêem se limpou a boca com o dorso da mão. Depois levantou o Lou do chão e o deixou sobre a cama. voltou-se, tomou o auricular do chão e o pôs nele ouvido.
—Seu noivo te necessita, Max. Está te esperando no hotel. Será melhor que te dê pressa. Não me bebi toda sua sangue, mas tinha muita sede.
E pendurou o telefone.
Lou gemeu e tentou alcançá-lo. Sabia muito bem o que pretendia o vampiro. Queria que Max se afastasse de sua irmã para poder aproximar-se ele. Maldito.
lhe dêem o olhou e lhe disse:
—De verdade, sinto-o muito. Não há outra maneira.
Lou tentou sentar-se enquanto lhe Dêem se dava a volta, mas só conseguiu incorporar um pouco o corpo antes de cair para trás de novo, na escuridão.
— Espera!
A linha se cortou, e durante um instante, Max sentiu o pânico maior de sua vida. Depois o sacudiu, ergueu as costas e correu para a porta. Tinha que ajudar ao Lou.
Então, ficou imóvel ao lado da habitação de sua irmã, vendo-a tombada na cama, indefesa. por que lhe tinha contado aquilo lhe Dêem? Porque era muito bom? Não. Queria que deixasse a sua irmã desprotegida.
Como se supunha que ia escolher entre sua irmã e Lou?
Pensou que, realmente, não tinha que escolher.
Voltou para a sala de espera, tomou o telefone e marcou o número de emergências. Disse-lhes onde estava Lou, e que estava a ponto de morrer por perda de sangue.
Depois procurou no bolso do vaqueiro o cartão que lhe tinha dado Stiles. Marcou-o, com a esperança de que fora o que fora o que tivesse feito Lou para mantê-lo pacote até que chegasse a polícia não tivesse servido de nada.
Morgan despertou lentamente, sentindo dor por lhe Dêem. Deus, onde estaria? por que não tinha ido procurar a?
Não podia levantar a cabeça para procurar pela habitação do hotel, e não ouvia bem, como se todos os sons estivessem amortecidos. Viu, borrosamente, como Max falava com a Lydia e com o David.
—vão trazer para o Lou em um minuto. Por favor, baixem e esperem. E se... se... está muito mal, venham a me buscar. Do contrário...
—Entendemo-lo —disse David—. Tome cuidado, Max.
Max assentiu, e Morgan se perguntou o que estava ocorrendo. O que lhe tinha ocorrido ao Lou Malone? E por que David advertia ao Max que tomasse cuidado?
Devia ter medo de que lhe Dêem fora por ela. « OH, Deus, deixem que venha por mim!», pensou.
depois de que David e Lydia saíssem da habitação, Maxine abriu a porta do armário, meteu-se dentro e voltou a fechá-la.
O que...
A janela se abriu de repente, e uma suave brisa moveu as cortinas. Uma figura escura entrou na habitação. O coração lhe deu um salto no peito ao Morgan quando te Dêem aterrissou com suavidade no chão. Quando ele a olhou, teve a sensação de que seu corpo despertava. Quis gritar, falar, saltar a seus braços, mas não podia. Uma lágrima lhe rodou pela bochecha. lhe dêem o viu e correu a seu lado com o amor lhe brilhando nos olhos. Tirou-lhe o cabelo da cara com sua larga mão, e Morgan viu que ele também estava chorando.
—Estou aqui —sussurrou—. Tudo irá bem agora, meu amor. Estou aqui.
inclinou-se sobre ela e a beijou, e ela saboreou seu beijo brevemente. A porta se abriu violentamente e te Dêem voltou a cabeça.
Frank Stiles, o homem das cicatrizes, apareceu com seus três acompanhantes. Dois estavam no banheiro, e o terceiro depois da cortina da cama. As armas apontavam a lhe Dêem, e Maxine saiu do armário.
—te afaste dela, Lhe dêem —lhe disse.
—Não sabe o que está fazendo —respondeu ele brandamente, olhando fixamente ao Morgan com os olhos cheios de lágrimas. Ela levantou ligeiramente uma mão para protestar, mas ninguém lhe fez caso—. Por favor, está morrendo, Maxine. Sua irmã vai morrer, a menos que me deixe ajudá-la.
—Sinto muito, mas não acredito uma palavra do que há dito, Lhe dêem. Não posso, depois do que tem feito ao Lou.
Lou? O que lhe tinha feito lhe Dêem ao Lou?, perguntou-se Morgan.
«te acalme, meu amor. Malone está bem, prometo-lhe isso». Os pensamentos de lhe Dêem entraram em sua mente e a tranqüilizaram. «Voltarei por ti, juro-lhe isso».
Então se deu a volta para ir para a janela.
Stiles disparou sua arma, e ao Morgan lhe cortou a respiração. Um dardo se cravou no ombro de lhe Dêem. Fora o que fora, funcionou instantaneamente. te dêem caiu de joelhos, olhando ao Max.
—Pelo amor de Deus, não deixe que ocorra isto.
Max se aproximou dele.
—perdeste qualquer simpatia por minha parte ao atacar ao Lou. Ele era o único que te concedeu o benefício da dúvida, o único que queria te ajudar. E você o traiu.
—Não te dá conta do que tem feito —lhe disse, e olhou ao Morgan, lhe jurando sem uma palavra que encontraria o modo de voltar para ela.
—Com exceção de se, senhorita Stuart. Levaremo-nos isso. Foi uma sorte que não nos detivera a polícia, finalmente. Seu noivo só tinha um par de algemas, e não pôde nos atar a todos. Um de meus homens nos liberou antes de que aparecesse a polícia. Desde não ter sido assim, este animal se teria saído com a sua.
Enquanto Stiles falava, seus homens tinham pacote a lhe Dêem, embora já estava completamente inconsciente. Tiraram-no da habitação silenciosamente, sem que nenhuma das enfermeiras o visse.
Quando partiram, Maxine suspirou e se aproximou de sua irmã para tomar a mão. Ao olhá-la, deu-se conta de que Morgan tinha os olhos cravados nela.
Lutou por pronunciar umas palavras, e finalmente o conseguiu, em um sussurro.
—Consegue que volte —lhe disse com raiva—, ou morrerei te odiando por isso, Max. Juro-lhe isso.
Os captores de lhe Dêem estavam sentados ao redor de uma mesa, fumando e falando em voz baixa. lhe dêem se ficou temporalmente inconsciente pela droga, e ao despertar encontrava muito débil. Pareceu-lhe que estava convexo sobre uma mesa, pacote sobre uma maca. Só percebia o aroma de tabaco, a umidade e a mofo da casa em que estavam. Seria uma casa desabitada?
—A droga funciona, Frank. Conseguiste-o.
—Funciona —respondeu a odiada voz do Stiles—, mas não sei se funcionar bem, nem durante quanto tempo faz efeito.
— Bom, o monstro está inconsciente —disse outro—. Isso é tudo o que preciso saber.
—Então é que é um idiota.
Os homens ficaram em silencio durante um momento. Depois um deles perguntou:
—E o que vamos fazer com ele, chefe? Disse que não íamos fazer nenhum prisioneiro.
—E não vamos fazer o. vamos executar os a todos, vamos eliminar a raça. Aí é onde nossa missão se diferencia a da DIP. Entretanto, vamos manter a este com vida até que vejamos como funciona a droga. Depois, abriremo-lhe as veias e deixaremos que se sangre.
te dêem reprimiu um calafrio. Aquele homem estava reorganizando por sua conta a Divisão, de um modo muito mais feroz que o governo. Brandamente, deu-lhe um puxão às correias da maca. Eram fortes, e sentiu que ainda não tinha força suficiente para as romper. Entretanto, perguntou-se para que tinha que tentá-lo. Se não podia salvar ao Morgan, que sentido tinha? Deus, por que tinha esperado tanto para reconhecer que havia um vínculo entre os dois? Ela não o tinha feito. Ela sabia desde o começo o que era aquilo. Era dela. Tinha demorado séculos em encontrá-la, e a foram tirar sem que pudesse fazer nada por evitá-lo.
—vá ver se ainda está inconsciente —lhe ordenou Stiles a um deles.
Uns passos se aproximaram, e te Dêem relaxou a expressão e ficou completamente imóvel.
—Inconsciente —confirmou o homem.
—lhe assegure —lhe disse Stiles.
O homem ficou quieto um momento. te dêem ouviu que lhe dava umas imersões fortes ao charuto, e depois sentiu calor perto do pescoço. A sensação se fez mais forte até que notou a ponta do charuto. Apertou a mandíbula para evitar gritar enquanto lhe abrasava a pele. A dor era lacerante, mas não reagiu. Se o fazia, matariam-no.
Tinha que sobreviver, escapar e chegar ao lado do Morgan.
O homem apartou o charuto, mas sua queimadura permaneceu ali, hiriente. te dêem cheirou sua própria carne queimada.
—Estou seguro —disse o homem—. Está inconsciente.
Morgan estava imóvel na cama, observando, muito fraco para fazer outra coisa. Nem sequer podia falar. Não ia viver muito, mas não lhe importava. O único que lhe importava era lhe Dê. Se não podia estar com ele, a morte era muito mais desejável que a vida. Entretanto, não podia suportar pensar que tinha cansado nas mãos daqueles homens. Não o suportava.
Lhe derramaram as lágrimas pelas bochechas, mas era incapaz de uivar sua angústia. Quase não escutava a sua suposta irmã enquanto a garota estava sentada a seu lado, lhe explicando todas as razões pelas que tinha que trair ao homem ao que amava. Tinha disparado a seu melhor amiga, dizia. Tinha atacado ao Lou. Era um assassino. Todo aquilo eram palavras. Palavras muito menos convincentes e comovedoras que as que tinha escrito um louco em seu jornal.
A porta se abriu, e Morgan viu como entrava Lou com uma vendagem no pescoço. Estava bem. Saudável. Tinha cor.
—Lou! —Max saltou da cadeira e se tornou em seus braços—. Está bem? Não posso acreditar que te fizesse isso. depois de tudo o que tem feito por ele... —deixou que as palavras se desvanecessem—. Onde estão David e Lydia? —perguntou.
—Enviei a casa para que descansem um pouco —lhe disse Lou. Entretanto, não a estava olhando a ela, a não ser ao Morgan. Lhe sustentou o olhar e tentou falar.
—te dêem —sussurrou.
—Acreditava que já teria chegado —disse Lou, e se voltou para o Max para lhe perguntar—. O viu?
—Ver quem? A lhe Dêem?
Lou assentiu.
— Supus que viria com o Morgan —fechou os olhos—. Tinha muito medo a que te interpor em seu caminho. converte-se em alguém muito perigoso em tudo o que se refere a ela. Não acredito que haja nada que não fora capaz de fazer...
Max baixou a cabeça.
—veio —admitiu—. Eu sabia que viria, e chamei o Stiles e a seus homens.
Lou piscou e olhou ao Morgan, que tinha a cara coberta de lágrimas.
—Mataram-no? —perguntou, voltando-se lentamente para o Max.
—Dispararam-no com um dardo. Não acredito que o matassem, mas não estou segura. O levaram rapidamente.
—Aonde?
—Não sei. Jesus, Lou, não se preocupe tanto por ele. Tentou te matar.
—Não. Não o fez.
—O que quer dizer? Lhe... mordeu-te. bebeu-se sua sangue.
—E te disse onde me encontraria. Têm-me feito uma transfusão de menos de um litro, Max. O médico me disse que teria estado perfeitamente embora não houvessem me trazido para o hospital. Teria estado enjoado, cansado e débil durante um par de dias, mas bem.
—Atacou-te e disparou ao Stormy.
—assegurou-se de que me encontrariam e de não tomar muito para me fazer danifico.
Ela sacudiu a cabeça.
—Veio aqui. Veio por minha irmã.
—Embora sabia que tinha muitas possibilidades de que fora uma emboscada. Sabe que não é tola, Max. Certamente, pensou que poderia te enganar para que fosse daqui, mas que a possibilidade era muito pequena. E veio, de todas formas. Arriscou-o tudo por vir até ela.
—Para matá-la —soltou Max.
—Ou possivelmente para salvá-la.
—Não. Está equivocado. Tem que estar equivocado.
Ao Morgan lhe acelerou o coração. estavam-se aproximando muito. «Por favor, Deus, deixa que o salvem desses homens».
Alguém bateu na porta, e uma enfermeira apareceu a cabeça.
—Senhorita Stuart? Tem uma mensagem no mostrador, de... Lydia. Disse que alguém estava tentando chamá-la o móvel, mas que o tem apagado. Tem você que chamar a este número —disse, e deu uma nota ao Max.
—É certo, tinha-o apagado porque há um sinal de proibição.
A enfermeira assentiu.
—Podem interferir com as equipes eletrônicas do hospital. Mas... bom, como exceção, pode usá-lo aqui dentro, mas perto da janela.
—Obrigado —Max abriu a nota e leu o número, enquanto a enfermeira saía e fechava a porta—. É do hospital do White Plains —fechou os olhos—. OH, Deus, deve ser Stormy. Deve ter morrido. OH, Deus, morreu.
Lou a abraçou.
—Será melhor que chame —lhe disse—. Sua mãe quererá falar contigo.
Chorando, Max marcou o número em seu móvel e esperou. Depois, disse:
—Sim? Jane, sou Maxine.
Houve uma pausa. Então Maxine apartou um pouco o telefone para lhe dizer ao Max:
—Há-me dito que espere um momento. Alguém me vai dizer isso —e de repente, abriu muito os olhos e começou a falar de novo—: Né... Stormy? É você?
Então começou a balbuciar, e a chorar e a rir ao mesmo tempo, lhe dizendo umas quantas palavras a seu amiga. Quando, finalmente, recuperou o controle, disse-lhe:
—Quero que saiba que temos ao homem que te fez isto. Alguma vez mais vai fazer machuco a ninguém —fez uma pausa—. Sim, sim, estou segura —então, olhou ao Lou—. me Poderia descrever isso E então, Max empalideceu e se voltou para o Morgan—. Não. Não. Tudo vai bem, Stormy. Descansa. Ponha forte de novo. Tenho que pendurar, mas te chamarei logo de novo. De acordo?
Por fim pendurou.
—O homem que disparou ao Stormy tinha a cara desfigurada e cheia de cicatrizes.
—Stiles —grunhiu Lou—. E se mentiu sobre isso, mentiu sobre tudo o resto.
Max se voltou para o Morgan.
—Deus, o que tenho feito? Morgan, sinto muito. Sinto-o muitíssimo.
Morgan a olhou suplicante.
—Por favor...
—Sei, sei —disse ela, e se voltou para o Lou—. Temos que resgatar a lhe Dêem.
—Mas onde vamos encontrar o? Stiles pode haver o levado a qualquer parte.
Pela segunda vez aquela noite, a janela da habitação do Morgan se abriu, e uma forma escura entrou. Entretanto, não era lhe Dê. Morgan reconheceu a Sara-fina. Era assombrosa. Tinha uma juba de cabelo escuro e brilhante, os olhos negros, os lábios vermelhos e a pele branca como a neve. Levava um vestido comprido de veludo da cor da sangue, e seu olhar era tão penetrante que fez que se estremecessem. —Tenho uma sugestão.
—Quem demônios é você? —perguntou-lhe Max, interpondo-se entre ela e a mulher.
—Valente, para ser uma mortal. Meu nome é Sarafina. Sou a irmã de lhe Dêem. E sua tia, e sua mãe.
—É uma vampiresa —disse Max, acusando-a.
—Seus poderes de observação são assombrosos — respondeu a mulher, sarcásticamente—. Sim, sou uma vampiresa. E será melhor que me ajudem a resgatar a lhe Dêem, ou pagarão o que lhe têm feito com sua vida. Está claro?
Max não cedeu.
—E como sei que podemos confiar em ti?
Sarafina arqueou as sobrancelhas.
—Bom, o fato de que me ofereça como ceva para o caçador de vampiros deveria ser garantia suficiente, não te parece?
Max e Lou a olharam assombrados.
—É a única maneira. lhe dêem não me envia sinais mentais o suficientemente fortes como para que saiba onde está. Entretanto, sinto que está vivo.
—Vivo —sussurrou Morgan, chorando.
—Sim. O qual é mais do que se pode dizer de ti, mortal.
Morgan sorriu fracamente. Não lhe importava estar a ponto de morrer, sempre e quando te Dêem estivesse vivo.
—Vamos, temos pouco tempo —deu Sarafina ao Max—. Chama o homem desfigurado e lhe diga que tem outro vampiro. Que está ferido, que não pode mover-se e que o ataste para entregar-lhe lhe diga que me vais levar a casa dos escarpados. Depois, leva ali a sua irmã tão rapidamente como pode.
Depois se voltou para o Lou.
—Enquanto ela a leva, me ate e me leve aos escarpados a esperar ao caçador.
—Lou, não acredito que deva ir sozinho com ela.
—Tem medo de que o mate? —perguntou-lhe Sarafina, pondo os olhos em branco e suspirando—. Mortais. Está bem, se quiser que esteja o suficientemente fraco como para que não seja uma ameaça, também podemos arrumar isso —tirou uma pequena adaga do bolso de seu vestido—. Tão somente tenta que não perca muita sangue —e se levou a adaga à boneca.
Lou tomou o braço e impediu que se cortasse.
—Não! —olhou ao Max—. Temos que confiar nela, Max. Necessitamos que tenha todas suas forças ou nos arriscamos a perder a luta. Stiles tem três homens trabalhando com ele, e possivelmente mais, todos eles armados.
—Por não mencionar que estão treinados —disse Max. Então fez uma pausa e se voltou para Sara-fina—. Pode ajudar a minha irmã? te dêem diz que pode salvá-la. você pode também?
A mulher olhou ao Morgan.
—Sinceramente, temo-me que está muito fraco para sobreviver à transformação neste momento. Além disso, se o tentar, eu também me debilitaria e não poderia lutar durante horas, e para então, Te dêem teria morrido —disse, e apartou o olhar.
—Mas há uma oportunidade.
— Sim. Mas eu não o farei. —E esperas que confie em ti? —perguntou-lhe Max. Lou tomou pelo braço.
—Sei razoável, Maxie. Se o tentar e fracassa, perderemo-los aos dois. Se o tentar e funciona, Morgan sobreviverá, mas lhe Dêem não. Crie que é isso o que quer Morgan?
Morgan tentou dizer que não, mas não pôde.
—Se fizermos o que ela diz, temos uma oportunidade de salvá-los aos dois.
Max fechou os olhos, baixou a cabeça e assentiu, finalmente. Depois abraçou ao Lou.
—Tome cuidado, por favor.
—Terei-o.
Max se voltou para a Sarafina.
—Não me importa um corno o que seja. Se lhe fizer mal, encontrarei-te e te matarei.
A mulher pareceu surpreendida e divertida ao mesmo tempo.
—Verdadeiramente acredito que o tentaria —depois se voltou para o Lou—. Vamos —disse. O jogou ao ombro como se fora um boneco e saltou pela janela.
Max gritou e apareceu para olhar para baixo. Depois suspirou de alívio.
—Chama —sussurrou Morgan—. Chama.
—Sim. Agora mesmo.
Max tomou o móvel e marcou de novo.
—Stiles. Graças a Deus que está aí. Escute, não sei que demônios fazer. Temos... temos outro.
— O que?
—Temos uma vampiresa —Max tragou saliva enquanto falava—. Acredito que a enviou ele. Tentou matar ao Morgan. Lou estava aqui, lutaram e ela terminou caindo pela janela. Ele não queria empurrá-la, mas ocorreu. Esteve a ponto de cair também.
— Está ferida?
—Sim. Parecia que estava bastante mal. ficou inconsciente e a atamos, mas não estou segura de quanto tempo poderemos retê-la. Se se acordada...
— Onde está?
—Lou a levou a casa para a ter vigiada. Disse-me que a teria nos escarpados.
—Estarei ali em vinte minutos —respondeu Stiles, e pendurou.
Assentindo lentamente, Max se guardou o telefone no bolso e se sentou junto a sua irmã, lhe acariciando o cabelo.
—Agüenta um pouco mais, carinho. Só um pouco mais.
Morgan moveu a cabeça quase imperceptivelmente. Naquele momento, a porta se abriu e o doutor Hillman entrou.
—Maxine, queria lombriga?
—Sim —disse ela. ficou de pé, levantou o queixo e estirou as costas—. Quero me levar ao Morgan a casa.
—Impossível —respondeu ele, rapidamente, sem pensá-lo.
—Sim é possível. Possivelmente não seja aconselhável, mas sim é possível.
—Não sei se sobreviverá ao trajeto, Maxine.
—Vamos, doutor. Não acredita que vá passar de esta noite?
—Sinceramente, não —respondeu o médico, tristemente.
—Então, que diferença há? Ela quer morrer em sua casa, em sua cama. Não há nada que se possa fazer por ela aqui, exceto prolongar sua vida umas quantas horas mais. Mas você pode fazer algo por ela: lhe conceder seu último desejo. Eu aceitarei a responsabilidade.
Ele baixou a cabeça sem dizer uma palavra.
— Se me disser que não, levarei-me isso de todas formas.
Com um suspiro, o médico se aproximou do Morgan e lhe acariciou a bochecha.
— É isso o que quer, Morgan? Quer voltar para casa?
Ela pôde assentir, inclusive esboçar um sorriso moribundo.
O doutor se incorporou e respirou profundamente.
—Está bem. Encarregarei-me da papelada.
—O tempo é muito importante.
—Farei-o rapidamente.
E o fez. Assombrosamente rápido. Dez minutos depois, Morgan estava em um táxi, envolta em uma manta, com o Max a seu lado. Quando chegaram à casa, Morgan deixou escapar um suspiro de alívio. Estava claro que aquilo o era tudo para ela.
Max pagou ao taxista e bateu na porta. Lydia e David saíram, e David tomou ao Morgan em braços e a meteu em casa. Depois a subiu a sua habitação e a deitou. Max se sentou a seu lado e tomou as mãos.
—Agüenta, Morgan. Se sentir que te está desvanecendo, pensa em lhe Dêem, e pensa em que vai vir por ti. Eu mesma vou trazer o, prometo-lhe isso.
Um ligeiro gesto de assentimento. Um suspiro de alívio. Um sussurro.
—Dê pressa.
Max olhou a Lydia e ao David.
—Fica com ela.
—Sabe que o faremos. Tome cuidado, Max —disse Lydia, e lhe deu um abraço.
Max lhe disse ao ouvido:
—Diga-lhe Pode que seja sua última oportunidade.
Sarafina estava tombada de flanco no chão frio e úmido, ao lado do bordo do escarpado. Tinha postas umas algemas e os pés atados com cinta de embalar. Estava imóvel com os olhos fechados e o cabelo despenteado. manchou-se a cara e o vestido com barro, com a esperança de que tudo resultasse mais convincente na escuridão.
Lou sentiu certa admiração por aquela mulher. Era valente. Tinha razões para sê-lo, porque era mais forte que dez homens de uma vez. Entretanto, aquilo era correr muitos riscos. Era evidente que queria muito a lhe Dêem.
—Ainda não tenho clara sua relação com lhe Dêem — lhe disse Lou, brandamente. Estava de pé, a seu lado, escutando atentamente para saber quando chegava Stiles—. Há dito que é sua irmã, sua mãe e sua tia. Como demônios pode ser isso?
Ela abriu os olhos e o olhou sem mover a cabeça.
—Sou sua irmã porque todos os vampiros o somos. Vamos da mesma fonte, compartilhamos a mesma sangue com o antígeno que nos faz únicos. Mãe, porque eu sou a que o converteu. Transformei-o de um mortal agonizante a uma poderosa criatura imortal. Eu lhe dava sua nova vida.
— E sua tia?
—Pelo método normal. Sou tataratía, se quer dizê-lo tecnicamente. Eu era a irmã de seu tatarabuela.
—Assim que o trocou porque...
— Shhh! Estão aí! —Sussurrou Sarafina—. Ele sabe que com as algemas não será suficiente, assim tentará me dragar, como fez com lhe Dêem. Não pode permitir-lhe
Lou agudizó os ouvidos e a vista, mas não conseguiu perceber nada. Certamente, os sentidos daquela mulher eram muito mais agudos que os dos humanos. Finalmente, começou para ouvir os passos do Stiles, e o homem emergiu da escuridão. aproximou-se cautelosamente a Sarafina, da mesma forma que alguém se aproximaria de um tigre dormido.
—Está inconsciente —o tranqüilizou Lou—. Se deu um golpe muito forte ao cair.
—Isso foi o que a ruiva me disse por telefone —disse Stiles. tirou-se uma seringa de injeção do bolso e lhe pôs uma agulha. Depois deu um passo para a Sarafina, e outro, e depois se retirou.
—OH, Por Deus, quer fazê-lo já? —disse-lhe Lou.
Finalmente, Stiles se aproximou dela, ajoelhou-se e aproximou a agulha ao braço da Sarafina. De repente, deu um cabaçada ao Stiles no peito e o atirou ao chão. A seringa de injeção caiu ao chão. Lou se atirou sobre ela e lutaram durante um momento enquanto ele conseguia tomar a seringa de injeção e apertava o êmbolo para jogar o conteúdo ao chão, ocultando suas ações do Stiles.
—Já está, maldita seja —grunhiu Lou.
Sarafina fingiu que ficava inconsciente e Lou se levantou. Tendeu ao Stiles a seringa de injeção e ele a olhou.
—Obrigado —lhe disse.
—Esse monstro tentou me matar —disse Lou—. E isso fazem duas vezes, esta noite. Tinha você razão sobre eles, Stiles.
O homem assentiu.
—Ela não o tentará mais vezes —atirou a seringa de injeção ao chão e tomou em braços a Sarafina—. Recorde disse ao Lou enquanto se aproximavam da caminhonete do homem, que estava estacionada na parte dianteira da casa—. Não o diga a ninguém. Isto terminou. Você e todos os que estão envoltos nisto têm que esquecer-se disso. Entendido?
—Não o esquecerei —respondeu Lou—. Mas me guardarei isso —e esboçou um sorriso forçado—. E, de todas formas, quem ia acreditar me?
—Exato.
Quando Stiles jogou na Sarafina à parte traseira da caminhonete, Lou se estremeceu.
—Não voltará para ver-me.
—Não se ofenda, Stiles, mas espero que tenha razão —respondeu Lou, e lhe disse adeus com a mão enquanto o carro se afastava. Em quando as luzes traseiras desapareceram na curva, Max apareceu no carro do Lou e ele saltou ao assento do passageiro.
—Passou muito tempo —disse Lydia, passeando pela habitação do Morgan uma hora mais tarde—. por que não tornaram já? Deus, vai amanhecer dentro de muito pouco.
David lhe pôs uma mão sobre o ombro.
—Tenta ter fé, Lyd. Tudo vai sair bem. Tem que sair bem.
Lhe sorriu de uma maneira que disse ao Morgan que havia algo entre eles. Algo que lhe tinham oculto.
—Max tem razão —lhe disse David com suavidade—. Deveria dizer-lhe
Lydia se aproximou da cama, sentou-se junto ao Morgan e tomou a mão. Olhando-a aos olhos, disse-lhe:
—Morgan... eu sou a mulher que lhes trouxe para o mundo a ti e ao Max. Sou... sou sua mãe.
—Mãe... —Morgan sussurrou a palavra. Não estava totalmente assombrada pela notícia. perguntou-se por que Lydia e Max estavam tão unidas, e por que Lydia se preocupava tanto por ela, quando acabavam de conhecer-se. Tinha visto a mulher chorando no hospital a seu lado e, sabendo que era adotada, não tinha sido muito difícil de deduzir.
—Dava-lhes em adoção porque pensei que seria o melhor. Queria que tivessem uma boa vida. Disseram-me que iam à mesma família, e passaram dez anos até que me inteirei de que não tinha sido assim.
Suspirando, Morgan assentiu com os olhos. Estava muito fraco para mover a cabeça. Então, olhou ao David.
— É você meu pai? —conseguiu sussurrar.
—Não —respondeu David—. Embora o pensei durante algum tempo. Poderia havê-lo sido —ele também se aproximou e se sentou sobre a cama—. Eu era um dos clientes da Lydia. Sempre eu gostei. Quando me disse que estava grávida, acessei a me fazer as provas. Quando soube que não foram filhas minhas me... parti-me. Foi um engano, Morgan. Aquilo me obcecou. Procurei a Lydia um ano mais tarde, e ela me disse que tinham sido adotadas, embora não sabia os detalhes, sabia que foram felizes. Eu contratei a um detetive privado para lhes encontrar. Maxine estava bem, em uma boa família. Mas você... —sacudiu a cabeça—. Eu não gostava do ambiente no que estava crescendo, e não sabia como desfazer o que já se feito, assim que me mudei à costa oeste e me fiz o melhor amigo de seu pai. Era o único que podia fazer para estar perto de ti e te vigiar. Sentia-me obrigado a nascê-lo. Não voltei a chamar a Lydia para dizer-lhe porque... bom, porque sabia que morreria se se inteirava de que te tinha adotado uma gente como aquela —se inclinou para lhe beijar a bochecha—. O sinto, carinho. Sinto não te haver dito a verdade.
Ela fechou os olhos.
—Quero-te —murmurou.
David tinha os olhos cheios de lágrimas. Morgan queria lhes dizer aos dois que não tinha nada contra eles, que tudo estava bem. Mas não podia. Aquela maldita debilidade lhe tinha roubado a capacidade de fazer as coisas. Tentou dizer-lhe com os olhos. Era o único que podia fazer assim que os abriu para olhá-los.
— por que estão demorando tanto?
Max freou quando viu que Stiles tinha diminuído a marcha. Tinha estado conduzindo sem luzes, guiando-se só pelas luzes traseiras da caminhonete do Stiles na distância. Era muito arriscado e estúpido, mas o fazia por sua irmã. Não podia acreditar que ela mesma tivesse quebrado as coisas. Tinha que arrumá-lo. Estacionou fora da estrada e abriu a porta do carro.
—Já chegamos —disse ao Lou.
—Não. Você não. Vete no carro a pedir ajuda. Não me importa o que vás dizer, só quero que avise à polícia. vou entrar sozinho.
— E um corno —então tirou seu móvel e chamou à polícia—. Não temos cobertura.
—Assim, como te hei dito, tem que ir em busca de ajuda.
—Embora o fizesse e viéssemos a toda pressa, não chegaríamos a tempo. Temos que fazê-lo agora, Lou. Você e eu. Possivelmente com um pouco de ajuda do dueto da morte que está aí dentro o conseguiremos —deixou as chaves postas, saiu do carro e, sem esperar a que Lou respondesse, começou a andar. Ele a alcançou imediatamente.
—Poderia sair ferida, Max, e eu não poderia viver com isso.
—Minha irmã se está morrendo, Lou. Eu o provoquei. Tenho que fazê-lo. Se não o fizer, e ela morre, como demônios crie que eu vou viver com isso?
Ele tragou saliva e a olhou na escuridão.
—Maldita seja, é muito obstinada.
—Sim, e você adora.
—Aqui tem —disse ele, e lhe pôs sua pistola na mão. Era a pistola pequena.
— E você?
Ele levantou o outro braço e ela viu, pela primeira vez, a forma escura da arma que levava. Era uma pistola enorme.
—Imaginei-me que tinha chegado a hora das armas grandes.
—Bem pensado.
Caminharam por um lado da estrada até que viram o carro do Stiles ao lado de uma casa apartada, quase em ruínas. Parecia abandonada, mas havia luz dentro.
— Crie que Sarafina ainda está na caminhonete? —perguntou-lhe Max, sussurrando.
—Stiles teria sido um idiota se a tivesse deixado ali.
Quando estavam chegando à casa, Max notou o canhão de uma arma nas costas.
—te mova e a Mato —disse o homem.
Ela se inclinou ligeiramente e viu o Lou olhando-a com uma expressão de horror.
—Está bem, está bem, tranqüilo —disse—. Somos amigos.
—Tira a arma.
Lou se inclinou e pôs a pistola no chão. Depois se ergueu de novo.
—Você também, bonita.
Max deixou cair a pistola que tinha na mão.
—Agora, dentro. Os dois.
Lou e Max entraram na casa e o homem os guiou para uma habitação em que havia um farol aceso. Ali estavam Stiles e os outros dois homens, sentados em uma mesa.
—Bom, o que é o que temos aqui? —perguntou Stiles, levantando-se.
Através de uma porta aberta que havia a sua esquerda, Max viu te Dêem pacote em uma maca, e a Sarafina em outra. Ela fingiu que não se dava conta.
—Impressionante —disse ao Stiles—. Assim que este é o novo quartel geral da DIP? Isto sim que é alta tecnologia.
—É algo temporal —disse Stiles—. Querem morrer agora, ou prefere me explicar primeiro por que viestes?
Lou falou antes de que Max pudesse lhe dar ao Stiles outra resposta sarcástica.
—Seguimo-lo. —Sabia.
—Se sabia, por que partiu?
— Do que está falando?
Lou se umedeceu os lábios.
—depois de que você partisse, tomei a seringa de injeção do chão e vi que ainda ficava a metade da droga. Preocupei-me de que ela pudesse despertar e atacá-lo na caminhonete, e devi advertir se o
Stiles arqueou as sobrancelhas, assentindo enquanto Lou mentia. Assobiou quando acabou a explicação.
—E eu que acreditava que tudo isto era para tentar tirar lhe Dêem daqui. me diga, Lou, onde deixou seu carro? Não lhe ouvi entrar no caminho.
—Ficamos sem gasolina. Está estacionado na estrada, um pouco mais à frente.
—Já —Stiles olhou ao homem que estava detrás deles—. Leva-os fora e mata-os.
Max olhou ao Lou e se deu conta de que ele tinha medo. Por ela, não por ele. Então, o homem e outro de seus companheiros os agarraram e os tiraram da casa pela porta de atrás. Puseram-nos um junto ao outro de costas a eles.
—lhes ajoelhe.
—Morrerei de pé, obrigado —disse Max.
—Como quer —o canhão da pistola se moveu desde suas costas até a nuca.
De repente, Lou se agachou e lhe deu ao outro homem uma cotovelada no estômago. Então se voltou e se atirou sobre o que estava apontando ao Max. A pistola saltou pelos ares e se disparou. Embora Max sentiu um ruído ensurdecedor, não notou nenhuma dor, assim supôs que o disparo não a tinha alcançado. encontrou-se no chão, provavelmente pelo shock do disparo tão perto de seu ouvido, mas se levantou quando viu que um dos tipos estava arrastando-se para chegar até sua pistola. Ela também foi por ela, mas ele tomou primeiro e a apontou. Lou estava lutando com o outro homem, rodando pelo chão entre os arbustos.
Max levantou uma mão instintivamente, e o homem, que a estava apontando ao peito, disparou. Quando o fez, uma figura escura se interpôs entre ela e o pistoleiro, como um raio negro. ouviu-se outro disparo que provinha de detrás. Lou tinha ganho a luta pela outra pistola e disparou a seu assaltante no peito. O homem caiu ao chão. detrás do Lou, seu cupincha estava inconsciente e ensangüentado.
Ela ouviu os pneumáticos de um carro que derrapava. Stiles e seu outro homem estavam escapando, sem dúvida, mas Max estava muito horrorizada para ir atrás deles. lhe dêem, a única esperança de sua irmã, o homem que acabava de interpor-se entre a bala e ela, jazia no chão, sangrando, ofegando, agarrando o peito.
—OH, Deus —sussurrou ela.
—lhe tampe disse ele, entre dentes—. Consegue que pare antes de que perca muita sangue.
Assentindo, ela rompeu parte de sua camisa, fez uma bola de tecido e a apertou contra a ferida.
—Agora... me leve com o Morgan.
—Lou, traz o carro —lhe disse.
Lou saiu correndo. Sarafina saiu da casa, olhando ao Max e a lhe Dêem em seus braços. Ainda tinha as algemas nas bonecas, mas a cadeia estava rota.
— Se tenta transformá-la esta noite, não terá êxito —lhe disse fríamente.
—Não sabe.
—Está muito débil. E agora você está ferido. Não tem toda a força necessária. —Farei que funcione.
—Pode que o fato de tentá-lo acabe contigo.
—Então, morrerei.
Sarafina fechou os olhos e baixou a cabeça. O carro se aproximava a toda pressa. Sarafina voltou para a casa, e Max se perguntou por que. Quando voltou, Lou vinha a seu lado, e ela trazia a cinta de embalar que ele tinha usado para lhe amarrar os tornozelos. A lançou ao Max.
—Ponha mais tecido na ferida, e átasela bem com a cinta ao redor do ombro e do peito.
Max não perguntou nada e fez exatamente o que lhe havia dito.
Então, Sarafina disse: —te aparte.
Max deixou a lhe Dêem sobre o chão com suavidade, e Sarafina se aproximou e se ajoelhou a seu lado.
—Fez sua eleição, Lhe dêem, entre mim e essa mulher a que ânsias. Escolheste-a a ela.
— por que tenho que escolher?
— Viria comigo agora? Deixaria-a?
—Não posso.
—Então, escolheste-a a ela —disse. levou-se a boneca aos lábios, mordeu-se e depois a pôs a lhe Dêem na boca. Ele a agarrou e bebeu.
—Esta é a última vez que te ajudo, Lhe dêem. Nunca terá a oportunidade de me trair de novo.
Ela apartou a boneca, tomou uma parte de tecido que Max tinha deixado no chão e a enfaixou.
—Não te traí, Sarafina. Espera...
Sem dizer uma palavra mais nem olhar atrás, ela desapareceu na escuridão. te dêem fechou os olhos. De dor, pensou Max.
—Vamos, Lou. vamos levar o a carro. Temos que levá-lo com o Morgan.
Lou olhou ao céu enquanto ajudavam a lhe Dêem a caminhar entre os dois.
—vai amanhecer em seguida.
—Ela não sobreviverá um dia mais. Tem que ser agora. Se é que já não é muito tarde —então, olhou a te Dêem—. Era certo o que ela dizia? É possível que não funcione?
—Se ela estiver muito perto da morte, ou eu estou muito fraco... —te dêem suspirou e se separou deles para caminhar até o carro por si mesmo. sentou-se no assento traseiro—. Funcionará. Tem que funcionar.
Lou saiu à estrada principal e pisou a fundo o acelerador.
Te dêem saiu do carro e olhou a casa. O medo que sentia era tão intenso que quase ultrapassava a dor que lhe causava a bala. Sentia ao Morgan. Sua essência era débil, tênue, e se desvanecia mais e mais cada vez que tomava fôlego. Seu próprio corpo se balançava de debilidade, lhe recordando quão vinculados estavam o um ao outro. Max o agarrou pelo braço para apoiá-lo.
— Está bem?
—É ela. Está muito débil.
—Sei. Vamos.
Lhe permitiu que o guiasse e se deu conta de que Lou ficava atrás quando chegaram às escadas. Não podia deixar de pensar que, se Morgan morria, seria culpa dela. Devia havê-la escutado desde o começo. Deveria havê-la trocado naquele momento, quando ela estava forte. Se conseguia transformá-la naquele momento, se conseguia salvá-la, nunca conheceriam a força preternatural que ela teria tido se ele tivesse atuado antes.
odiava-se por seu egoísmo. Por seu medo. Sim, ele tinha tido medo dela. Medo do poder que tinha sobre ele. Podia lhe fazer danifico, destrui-lo. Faria-o, se morria.
Na habitação, David e Lydia estavam ao lado da cama, mas lhe Dêem apenas os olhou enquanto se aproximava do Morgan. OH, Deus. Já quase parecia um fantasma.
Max se aproximou da Lydia e ao David e lhes disse algo em voz muito baixa. lhe dêem os observou enquanto cada um deles se inclinava para lhe dar ao Morgan um beijo na frente. Depois saíram da habitação.
Então, Max se inclinou também para ela.
—Trouxe-o, tal e como te prometi.
lhe dêem se aproximou, e Morgan lhe sorriu fracamente.
—Obrigado —sussurrou.
Max assentiu.
—Não voltarei a verte, verdade?
Morgan não respondeu, e Max a abraçou brandamente. Depois se afastou dela.
—Sei feliz.
te dêem olhou para o ventanal. Estava a ponto de amanhecer. Brandamente, tomou ao Morgan em braços e a levou até o balcão. antes de sair, voltou-se para o Max.
—Obrigado por nos ajudar.
— Só desejaria me haver dado conta muito antes dos quais eram os monstros em realidade.
te dêem saiu pelas portas do balcão e se deixou cair até o chão. Enquanto caminhava para o escarpado, sentiu os olhos do Max sobre eles. E também sentiu suas lágrimas.
Levou ao Morgan a seu refúgio baixo a casa. Ele estava seguro de que não lhe tinha contado a ninguém, nem sequer a sua irmã, que aquele lugar existia. Ali estariam a salvo. Entretanto, não a poria no ataúde. Ela estava a ponto de morrer, e devia estar muito assustada. Em vez daquilo, arrancou o forro de seda branco e o cheio e fez um leito sobre o chão. Ali posou ao Morgan e se tombou junto a ela. Depois a beijou.
Lhe devolveu o beijo. Ele o sentiu, sentiu sua resposta embora ela não pudesse mover-se apenas. Lhe acariciou o queixo.
—Estará comigo para sempre, Morgan. Jamais voltarei a duvidar de ti.
— Sim —sussurrou ela.
Ele levantou seu queixo e apertou a cara contra seu pescoço. Mordeu-a e lhe atravessou o jugular. A sangue fluiu para sua língua, e ele sentiu que a excitação despertava em seu corpo, inclusive naquele estado tão débil. E a fome o possuiu, como sempre possuía aos de sua raça.
Mas não podia tomar muito, recordou-se a si mesmo. Só um pouco. Bebeu profundamente, até que a transladou ao reino escuro entre a vida e a morte. O coração do Morgan fraquejou, e então, rapidamente, ele se abriu a boneca com as presas e a aproximou dos lábios. Ela bebeu até que lhe Dêem se sentiu enjoado. Então atirou firmemente da boneca e a enfaixou com uma parte de tecido.
Morgan caiu para trás, com os olhos fechados.
—Por favor, não morra. Não. Deus, faz que isto funcione. Por favor.
Lhe sussurrou ao ouvido:
—me faça o amor... por última vez.
Ele fechou os olhos de pena.
—Não pode ser a última vez, meu amor. Não pode ser.
Tirou-lhe a camisola e lhe fez o amor, com ternura, devagar, brandamente. Nunca tinha amado assim a ninguém. Em nenhuma de suas duas vistas.
Ainda estavam unidos quando saiu o sol. E quando ela dormiu, Lhe dêem não soube que estava morta... ou era imortal.
E então ele dormiu também.
Um mês depois
Maxine, vestida de ponta em branco, sentou-se e desfrutou da visão do Lou com um smoking. Estava sentada entre ele e Lydia. Lydia também estava maravilhosa aquela noite. Tudo era maravilhoso, mas agridoce.
—Isto é incrível —disse Stormy, sonriéndole ao Max—. Não posso acreditar que me conseguisse uma entrada.
—Os candidatos ao prêmio ao melhor guia original são...
Stormy voltou a sentar-se em seu assento e todos fixaram sua atenção no cenário. David estava sentado ao outro lado da Lydia, e pela expressão de sua cara Max soube que estava igual de nervoso que ela.
A apresentadora continuou:
—E o ganhador é... —abriu o sobre—: o Morgan Da Silva!, pelo Twilight Hunger
O público estalou em aplausos. A favorita tinha ganho. A gente se levantou, incluídos eles cinco. abraçaram-se. Max e Lydia gritaram de alegria, e David subiu ao estrado enquanto a apresentadora anunciava:
—Recolherá o prêmio, em nome do Morgan Da Silva, David Sumner, seu produtor, diretor e amigo.
Ele assentiu tristemente quando tomou o prêmio da mão da preciosa mulher e levantou a estatueta dourada para que a gente a admirasse. Quando os aplausos cessaram, uma enorme fotografia do Morgan antes de que a enfermidade tivesse feito estragos nela foi projetada na enorme tela.
—Era tão bonita —disse alguém detrás do Max—. E tão jovem.
Lentamente, o público voltou a sentar-se em silencio para escutar as palavras do David.
—Obrigado. Morgan se houvesse sentido emocionada e agradecida por isso. Oxalá ela tivesse podido recolher este prêmio. Este filme, e as outras três, eram-no tudo para ela. Obrigado. Muito obrigado.
Os aplausos ressonaram de novo, enquanto um par de modelos o acompanhavam fora do cenário.
Lou acompanhou ao Max ao cemitério de madrugada. Uma vez que chegaram à porta, ele ficou ali, para lhe deixar espaço.
Com a estatueta nas mãos, Max se aproximou da preciosa lápide de granito. O nome do Morgan estava gravado na pedra, junto a sua data de nascimento e a de sua morte. Com lágrimas nos olhos, Max aproximou o prêmio à tumba.
—Conseguiu-o, irmana minha. ganhaste.
Morgan saiu de detrás da lápide. Não podia tirá-la sorriso da cara ao tomar a estatueta e abraçá-la contra seu peito.
—Consegui-o, verdade? OH, é incrível! ganhei! ganhei! —disse, e girou sobre si mesmo, renda-se, desfrutando de do som de suas gargalhadas suaves na noite.
lhe dêem também saiu de entre as sombras e a abraçou, detendo seu movimento.
—Não esqueçamos de quem era em realidade a história.
—OH, por favor —disse ela, sonriéndole—. Não tinha vida até que eu o converti em um guia.
—Seu guia não teve vida até que encontrou minhas histórias —brincou ele.
—Estupendo. Então, compartilharemos o troféu.
lhe dêem a beijou, e sua risada cessou momentaneamente.
—Como o compartilhamos tudo —sussurrou ele, e sua voz profunda ao lado do ouvido fez que Morgan se estremecesse.
Max pigarreou exageradamente, e Dão liberou a sua irmã.
—Você pode vê-la muito mais que eu —disse Max, abrindo os braços—. Te importa?
te dêem fez um gesto de rendição e as duas irmãs se abraçaram. Sua irmã. Sua própria irmã. Morgan não podia acreditar quanto tinha chegado a querer ao Max em tão pouco tempo. Mas parecia que, uma vez que sobreviver tinha deixado de ser sua obsessão principal, tinha tido tempo de pensar no que realmente significava ter ao Maxine em sua vida.
—Está maravilhosa —lhe disse Max, enquanto posava seus olhos verdes no rosto de sua irmã—. Saudável. Vibrante. um pouco pálida, é certo, mas suponho que as coisas são como são.
—Sinto-me maravilhosa —respondeu Morgan—. Melhor do que nunca estive, Max. Forte, poderosa e mais viva que quando realmente o estava. E toda graças a ti.
Max baixou a cabeça.
—Eu estive a ponto de te causar a morte —sussurrou.
—Não, carinho. Você me salvou. Apareceu quando mais te necessitava, e ficou a meu lado apesar de que eu tentei te jogar. Manteve-me com vida e resgatou a meu amor para trazê-lo comigo —lhe disse Morgan. Entretanto, Max ainda tinha a cabeça encurvada. Morgan tomou o queixo e fez que elevasse a cara—. Querida, se não tivesse vindo, Stiles nos teria matado aos dois. Embora te custasse um pouco reconhecer o verdadeiro, foi seu presencia a que marcou a diferença. Estou convencida.
Max a abraçou de novo.
—Sinto não te haver escutado desde o começo.
—Eu também cometi esse engano, Maxine —disse lhe Dê, brandamente—. De fato, acredito que Malone foi o único que viu as coisas claras desde o começo.
—Ao final, tudo saiu bem —disse Lou, que finalmente se aproximou—. estivemos muito perto de perder o pele.
—É certo —lhe Dêem lhe tendeu a mão para saudá-lo.
Morgan tomou ao Max pelo braço e a afastou um pouco, enquanto os dois homens ficaram conversando junto à tumba.
—Temos que falar —lhe disse.
— Sobre o que?
—Sobre a casa —respondeu Morgan, enquanto caminhavam entre as árvores do cemitério, entre as tumbas e as flores—. Quase não estiveste ali desde... bom, desde meu funeral —uma suave brisa fria lhe acariciou o pescoço, e se estremeceu—. Deus, é inclusive divertido dizer isso.
—É sua casa, Morgan. Necessita um site no que viver. Não lhe quero tirar isso Quero dizer, que tudo foi uma formalidade. É minha só sobre o papel.
—Não, não é verdade. Quero que seja tua —respondeu Morgan—. Além disso, eu não posso habitá-la abertamente e me arriscar a ser descoberta. Quero que você viva aqui, e que a use. Pode estabelecer aqui seu negócio, se quiser. Seria o melhor para as duas.
—Para as duas, né? —Perguntou Max—. No que lhes beneficia a ti e a lhe Dêem? Ter parentes por toda parte não é o melhor para um casal tão apaixonado. Vós estão completamente atordoados, como dois recém casados.
—Não lhe imagina. Ele é incrível —sussurrou—. Nunca acreditei que tudo pudesse ser tão... completo. Nunca em toda minha vida tive a ninguém... só ao David. E agora, de repente, tenho a ti, e tenho a este homem que... que morreria por mim. Quer-me tanto, que quase não o assimilei ainda.
—Você mesma me está dando a razão para preservar mais sua intimidade —disse Max—. A vós dois não lhes beneficiaria nada.
—Sim. Que você estivesse aqui seria nossa coberta.
— Coberta?
— Sim. Desta forma, tenho que ter muitíssimo cuidado para que ninguém me veja. Se você estivesse aqui e alguém me visse, a gente pensaria que sou você. Poderia sair em público alguma vez. Ir a um filme, ou inclusive de compras —então se deteve e tomou as mãos ao Max—. Sobre tudo, se a casa está ocupada por minha família, os estranhos não se aproximarão.
— veio gente a bisbilhotar?
—OH, de vez em quando. Fãs, curiosos, meninos do povo... Né, sou famosa. ganhei um prêmio importante, sabe?
Max sorriu.
—Sim, já o tinha ouvido.
— E? O que me diz?
Max o pensou durante um comprido momento.
—Realmente, seria um lugar estupendo para estabelecer a empresa. Mas... Stormy é minha sócia. Ela também teria que vir.
Morgan assentiu. Tinha visto a garota loira de longe.
— Ela sabe algo de mim?
—Não o contei —disse Max—, mas acredito que o suspeita. E eu confio nela. Não nos trairá.
Morgan sorriu.
—E além disso, está Lou. Também tenho que pensar nele —continuou Max.
— Crie que quererá mudar-se aqui e trabalhar contigo?
Max se encolheu de ombros.
—Acredito que não seria difícil convencê-lo, porque vai retirar se da polícia dentro de pouco, e me falou sobre ir viver a uma casita na praia, e ter um navio para sair a pescar...
—Então, o que é o que te detém, Max? Vamos, faz-o. Eu te sinto falta de, e se estivesse aqui, poderíamos recuperar todos os anos que perdemos.
—Não sei... Se você estiver segura de que nos quer aqui...
—É minha irmã. Sabe que quero que esteja aqui.
Finalmente, Max assentiu.
—Está bem. Virei, então. O Serviço de Investigações Sobrenaturais terá seu quartel geral no Easton, Maine.
—SIS —disse Morgan—. Eu gosto de como sonha.
—Pensei que você gostaria.
Tiradas do braço deram a volta e caminharam de novo até a tumba. Morgan se acurrucó nos braços de lhe Dêem e ele a abraçou com ternura.
—vai amanhecer, carinho —lhe disse.
—Sei —respondeu Morgan. Sorriu a sua irmã e ao Lou—. Veremos logo?
—Muito em breve —prometeu Max.
Morgan e lhe Dêem se perderam entre as sombras.
—Acredito que agora é mais feliz do que nunca foi —disse Max, observando como partiam—. Tem muita sorte.
— por que diz isso? —perguntou Lou. Começou a andar para o carro, e Max o alcançou imediatamente, encolhendo-se de ombros.
— Não é evidente? São almas as gema. Louca, selvagem e eternamente apaixonados. Não posso imaginar o lhe gratifiquem que deve ser ter um homem que te queira como Dão quer ao Morgan. O que têm é muito especial.
—Suponho que tem razão —disse Lou, pondo o braço ao Max sobre os ombros despreocupadamente enquanto se dirigiam ao estacionamento—. Alguns tipos se passam a vida sem encontrar isso.
—Sim. E há outros que o têm justo debaixo do nariz e não querem vê-lo.
— Você crie? —perguntou-lhe, olhando-a.
Max pôs os olhos em branco e sacudiu a cabeça.
—Sim —respondeu ela—. Isso acredito.
Lou se encolheu de ombros e continuou caminhando.
Das sombras, Sarafina observou a lhe Dêem enquanto falava e ria com os mortais e depois partia abraçando a seu amante.
—Quererei-te sempre —sussurrou ao Morgan—. Acredito que, de algum modo, já te amava.
—Parecemos o um para o outro, Lhe dêem. Sabe agora, verdade?
—Sempre o soube, inconscientemente. A primeira vez que o disse, estremeci-me —a beijou brandamente—. Sinto que me custasse tanto.
Ela sorriu e lhe devolveu o beijo.
—Está bem, mas não deixe que volte a acontecer — então, afastou-se dele, com a vida e o amor lhe brilhando nos olhos—. Te jogo uma carreira até a casa! —e, girando e rendo, saiu disparada tão rápido como o tivesse podido fazer Sarafina.
te dêem saiu correndo atrás dela sem olhar atrás.
Assim que aquilo era o que queria. Tinha uma nova família. havia lhe tornado as costas. lhe dêem, o último vínculo que ficava com sua família, sua herança, sua sangue.
Maldito fora.
Tinha-a traído, exatamente igual ao resto de seus familiares.
Sarafina pensou que não importava. Caminhou até encontrar um lugar iluminado pelos raios da lua e se sentou no chão. Era uma vampiresa. Não necessitava uma família. Não necessitava a ninguém absolutamente. E nunca o necessitaria.
Jamais.
Maggie Shayne
O melhor da literatura para todos os gostos e idades