A névoa flutuava misteriosamente saindo do bosque, grudando-se aos troncos das árvores fazendo que parecessem surgir da névoa. Largas e enormes faixas de brilhante branco. Redemoinhos e prismas de brilhantes cores opacas. Vagavam dentro e fora da cobertura aérea. Deslizando pelo céu, uma enorme coruja rodeava a grande casa de pedra construída no alto dos escarpados. Uma segunda coruja, depois uma terceira apareceram, silenciosamente desenharam preguiçosos círculos sobre os galhos das árvores e a casa. Um lobo solitário enorme, com uma espessa pelagem negra e olhos brilhantes, saiu das árvores, para a clareira, com passo tranqüilo.
Sobre o balcão da casa de pedra, uma figura deslizou para frente, esquadrinhando a noite. Abriu os braços num um gesto de boas vindas. Em seguida, o vento começou a se mover, numa suave e amável brisa. Os insetos retomaram seus cânticos noturnos. Os galhos das árvores balançaram e dançaram. A névoa se espessou e brilhou, dando forma às figuras, em meio à misteriosa noite. As corujas desceram. Uma sobre o chão, duas no balcão da casa e mudaram de forma enquanto o faziam. As plumas se fundiram a pele e as asas se expandiram em braços.
O lobo se contorceu enquanto saltava, mudando facilmente, até que um homem se tornou, sólido e inteiro.
- Bem-vindos.
A voz era formosa, melodiosa, a arma de um feiticeiro. Vladimir Dubrinsky, Príncipe dos Cárpatos, observou com pesar como seus leais congêneres, se materializavam a partir da névoa, de aves e lobos, até tornarem fortes e belos guerreiros. Todos e cada um deles, lutadores. Homens leais. De confiança. Nobres de coração. Estes eram seus voluntários. Estes eram os homens que estava enviando à morte. Sentenciava a cada um deles, a séculos de insuportável solidão, de incomparável desolação. Viveriam suas longas vidas até que não pudessem mais suportar. Estariam longe de seu lar, longe de suas famílias, longe do consolo e distração de sua terra natal. Não conheceriam a esperança, não teriam nada mais que sua honra para ajudá-los nos séculos vindouros.
Seu coração estava pesaroso, Vladimir pensou que se partiria em dois. A suavidade gotejou no frio de seu corpo e ele a sentiu movendo-se em sua mente. Samantha. Sua companheira. Ela compartilharia deste momento, sua hora mais escura, quando enviava estes jovens para seu horrível destino.
Reuniu-os a sua volta, silencioso. Semblantes sérios, sensuais e fortes. Olhos firmes e sem piscar, de homens nos quais podia se confiar. Homens leais e de confiança, homens que veriam centenas de batalhas. Os melhores.
A dor no corpo de Vladimir foi física, um remorso agudo em seu coração e sua alma. Profundo. Desumano. Estes homens mereciam muito mais que a horrorosa vida que devia lhes dar. Respirou fundo e deixou o ar escapar lentamente. Possuía o grande e terrível dom da premonição. Vira a desesperada luta de sua gente. Não havia outra escolha, que confiar em que Deus seria misericordioso ali, onde ele não podia ser.
- Agradeço a todos. Não os ordenei, mas acudistes voluntariamente, os guardiães de nossa gente. Cada um de voces tem feito a escolha de deixar para o lado, a oportunidade de viver para assegurar que nossa gente esteja a salvo, assim como as outras espécies do mundo. Afligem-me com vossa generosidade e me sinto honrado em lhes chamar meus congêneres, meus irmãos.
Havia um completo silêncio. A pena do Príncipe pesava como uma pedra em seu coração e compartilhando sua mente, os guerreiros captaram o tamanho de seu pesar. O vento se moveu gentilmente através da multidão, alvoroçando o cabelo de alguém, como o toque da mão de um pai amável, amoroso, roçando um ombro, um braço.
Sua voz, quando começou a falar novamente, foi dolorosamente formosa.
- Vi a queda de nossa gente. Nossas mulheres são cada vez mais escassas. Não sabemos porque não nascem meninas, mas se concebem menos que antes e menos ainda sobrevivem. Está se tornando muito mais difícil, manter vivos nossos filhos, meninos e meninas. A escassez de mulheres aumentou a crise. Nossos homens se convertem em vampiros e o mal se estende pela terra muito rápido, para que nossos caçadores possam contê-lo. Antes, em terras longínquas, os licántropos e a raça do Jaguar eram fortes para manter esses monstros sob controle, mas seu número baixou e não podem mais, conter a maré. Nosso mundo está mudando e devemos nos encarregar dos novos problemas que terá que enfrentar.
Vladimir se deteve mais uma vez e estudou suas faces. A lealdade e a honra estavam encravadas no sangue destes homens. Conhecia todos e cada um deles por seu nome, conhecia a força e as debilidades de cada um. Eles deveriam ter sido o futuro de sua espécie, mas ele os estava enviando a percorrer um solitário caminho de incomensurável dificuldade.
- Todos voces devem saber o que estou a ponto de dizer. Cada um de voces deve pesar sua decisão, antes que conferir a terra que guardar. Lá aonde irão, não haverá nenhuma de nossas mulheres. Suas vidas consistirão em caçar e destruir o vampiro, das terras aonde vou enviá-los. Não haverá nenhum compatriota que os auxilie, que seja seu amigo, mais que aqueles que envio com voces. Não terão o consolo da terra curadora dos Cárpatos para lhes oferecer conforto, quando estiverem feridos de suas batalhas. Cada morte os aproximará mais, do pior destino possível. O demônio interior crescerá e lutará por lhes controlar. Estarão obrigados a agüentar tanto quanto sejam capazes e então, antes que seja tarde, antes que o demônio os encontre, devem terminar com suas vidas. Pragas e dificuldades varrerão estas terras, as guerras são inevitáveis. Vi minha própria morte e a morte de nossas mulheres e crianças. A morte de mortais e imortais.
As palavras de Vladimir provocaram, primeiro, a paixão entre os homens, um protesto não expresso em voz alta, mas na mente, uma objeção coletiva deslizou por suas mentes unidas.
Vladimir elevou a mão.
- Haverá muita pena antes que nosso tempo se acabe. Os que vierem atrás de nós, virão sem esperança, sem o conhecimento, pelo que nosso mundo foi e o que significa uma companheira para nós. Para eles, a existência será muito mais difícil. Devemos fazer tudo o que possamos para assegurar que mortais e imortais estejam tão seguros quanto é possível.
Seus olhos percorreram os rostos, detendo-se em dois que pareciam iguais.
Lucian e Gabriel. Gêmeos. Filhos de seu segundo homem ao comando. Já trabalhavam incansavelmente para erradicar o mal de seu mundo.
- Eu sabia que se ofereceriam como voluntários. O perigo sobre nossa terra e nossa gente é tão grande como o perigo no mundo exterior. Devo pedir a voces, que permaneçam aqui, onde a luta será de irmão contra irmão e amigo contra amigo. Sem voces estarem guardando nossa gente, cairemos. Devem ficar aqui, nestas terras e proteger nosso chão até o momento em que percebam, que são necessários em algum outro lugar.
Nenhum dos gêmeos tentou discutir com o Príncipe. Sua palavra era lei, e tanto era o respeito e amor que professava sua gente, que obedeceram sem perguntar.
Lucian e Gabriel trocaram um longo olhar. Se, conversaram por seu vínculo mental privado, não compartilharam seus pensamentos com nenhum outro. Simplesmente assentiram com a cabeça. Juntos e de acordo com a decisão de seu Príncipe.
O Príncipe se voltou, com seus olhos negros perfurando, pondo a prova, procurando os corações e mentes de seus guerreiros.
- Nas selvas e nos bosques de terras longínquas, o grande Jaguar começou a declinar. Os Jaguares são uma raça poderosa, com muitos dons e grande talento psíquico, mas são criaturas solitárias. Os homens encontram e se emparelham com as mulheres e depois as abandonam e os jovens têm que se valerem, por si mesmos. Os homens Jaguar são sigilosos e nega-se a abandonar as selvas e misturar-se aos humanos. Preferem que os supersticiosos os reverenciem como divindades. As mulheres naturalmente, se tornaram vãs, para os que as amariam e cuidariam delas, os que as veriam como o tesouro que são. Também elas, por algum tempo, emparelharam-se com humanos e vivem como humanas. Sua ascendência se debilitou e cada vez existem menos deles em sua forma verdadeira. Perdem a suas mulheres porque não sabem o quanto importantes são. Nós perdemos às nossas, por causa da própria natureza. - Os olhos negros pousaram sobre um alto e belo guerreiro, um cujo pai havia lutado junto ao Príncipe, durante séculos e morrera nas mãos de um professor vampiro.
O guerreiro era alto e forte, com ombros largos e longos cabelos negros. Era um autêntico e implacável caçador, como tantos aos que estava sentenciando a uma horrível existência, esta noite. Este lutador havia sido posto a prova diversas vezes em batalha e era leal e inquebrável em seus deveres. Seria um dos poucos, que enviaria sozinho, enquanto que os outros, iriam em grupos ou casais para se ajudarem uns aos outros. Vlad suspirou pesadamente e se obrigou a dar a ordem. Inclinou-se respetuosamente para o guerreiro ao qual se dirigia, mas falou com voz alta, para que todos o ouvissem.
- Você partirá desta terra e percorrerá o mundo atrás dos monstros que nossos homens escolheram se converter. Deve evitar todo confronto com o Jaguar. Sua espécie, como a nossa, encontrará também uma forma de unir-se ao mundo ou se extinguir, como tantos outros antes de nós. Não os enfrentará em batalha. Deixa-os, a seu próprio destino. Evite o homem lobo, o melhor que possa. Como nós, eles lutam por sobreviver em um mundo mutante. Dou a você, minha bênção, o amor e a gratidão de nossa gente e que Deus te acompanhe na noite, em sua nova terra. Deve abraçar essa terra, fazê-la tua, convertê-la em seu lar.
-Depois que eu partir, meu filho tomará meu lugar. Será jovem e inexperiente e encontrará difículdade em comandar a nossa gente em tempos tão problemáticos. Não o darei conta, daqueles a que enviei ao mundo exterior como guardiães. Não pode se apoiar em ninguem mais velho que ele. Deve ter fé absoluta em sua habilidade para guiar nossa gente por sua própria conta. Recordem quem é e o que são. Voces são guardiães de nossa gente. Firmes, a última linha de defesa, que evita que sangue inocente seja derramado.
Vladimir olhou diretamente para os olhos do jovem guerreiro.
- Toma esta tarefa por vontade própria? Deve decidir. Ninguém pensará mal de você ou de qualquer um que deseje ficar. A guerra também será longa e difícil aqui.
Os olhos do guerreiro permaneceram firmes sobre o Príncipe. Lentamente assentiu aceitando seu destino. Nesse momento, sua vida mudou para sempre. Viveria em uma terra estrangeira sem a esperança de ter amor ou família. Sem emoção ou cor, sem luz que iluminasse a imcomparável escuridão. Nunca conheceria sua companheira, passaria a vida inteira caçando e destruindo o não-morto.
Hoje em dia
As ruas estavam sujas e cheiravam a decomposição e decadência. A lúgubre garoa não tinha possibilidades de dissipar o ofensivo mau cheiro. O lixo se acumulava nas entradas de decadentes edifícios. Esfarrapados refúgios de latão e estanho se empilhavam em cada beco, em todo lugar concebível, diminutos cubículos para corpos que não tinham nenhum outro lugar aonde ir. Os ratos corriam a toda pressa entre tambores de lixo e as canaletas, subindo para porões e paredes.
Falcon se movia através das sombras silenciosamente, invisível, consciente da vida que buliam nos baixios da cidade. Aqui era onde viviam os refugos da raça humana, os vagabundos, os bêbados, os predadores que se cevavam dos desamparados e incautos. Sabia que olhos o observavam, enquanto abria passo através das ruas, deslizando-se de sombra em sombra. Não podiam os divisar, seu corpo era fluidico, camuflando-se em parte da noite.
Esta era uma cena que havia interpretado mil vezes, em milhares de lugares. Estava se aborrecendo da previsível natureza humana.
Falcon retornava a sua terra natal. Durante muitos séculos estivera absolutamente sozinho. Tinha crescido em poder e havia crescido em força. Sua fera interior também e rugia para liberar-se continuamente, exigindo sangue. Exigia a morte.
Só por uma vez, durante um só momento, exigia sentir. Queria voltar para casa e sentir a terra gotejar através de seus poros, poder ver o Príncipe de sua gente e saber que havia cumprido com sua palavra de honra. Saber que o sacrifício que realizara, servira para alguma coisa. Houvira rumores de uma nova esperança para sua gente. Falcon aceitava que era muito tarde para ele, mas queria saber, antes que sua vida terminasse, que haveria esperança para outros homens, que sua vida servira para algo. Queria ver com seus próprios olhos à companheira do Príncipe, uma mulher humana, que havia sido convertida com êxito. Vira muita morte e muita maldade. Antes de terminar com sua existência, precisava ver sobre algo puro e bom e ver a razão pela qual lutara durante tantos séculos.
Seus olhos brilharam com uma estranha chama vermelha, reluzindo na noite, enquanto se movia silenciosamente pelas ruas sujas. Falcon não estava seguro se resistiria até voltar para sua terra natal, mas estava decidido a tentar. Tinha esperado muito e estava já a beira da loucura. Faltava pouco para que a escuridão que já se aproximava, consumisse sua alma. Podia sentir o perigo a cada passo que dava. Não emanando das sujas ruas e sombrios edifícios, mas sim do interior de seu próprio corpo.
Ouviu um ruído, como passos suaves. Falcon continuou, rezando enquanto o andava, pela salvação de sua própria alma. Estava precisando de alimento e em seu momento mais vulnerável. A fera rugia com ânsia, suas garras logo sairiam. Dentro de sua boca, as presas começaram a alongar-se com antecipação. Neste estado, se cuidaria em caçar entre culpados, não queria derramar sangue inocente, tirar o chapéu finalmente, incapaz de voltar às costas à escura chamada de sua alma. O som o alertou novamente. Muitos passos suaves, muitas vozes susurrantes. Uma conspiração infantil. Chegaram correndo até ele de um velho edifício de três andares, um enxame deles, equilibrando-se sobre ele, como uma praga de abelhas. Pediam comida e dinheiro, a gritos.
Os meninos o rodearam, uma meia dúzia e de todos os tamanhos. Suas diminutas mãos deslizaram sob seu casaco e remexeram seus bolsos. Suas vozes suplicavam e imploravam. Os mais jovens. Crianças. Sua espécie pouco podia manter seus filhos e filhas com vida, depois do primeiro ano. Poucos conseguiam, e ainda assim essas crianças, preciosas como eram, não possuíam ninguém que os apreciasse. Três eram meninas com enormes olhos tristes. Vestiam roupa rasgada e esfarrapada e estavam com barro e sujeira em seus rostinhos machucados. Podia ouvir o medo bombeando em seus corações, enquanto pediam comida, dinheiro, alguma coisa.
Todos pareciam esperar gritos dele e já estavam preparados para se esquivar ao primeiro sinal de agressão.
Falcon acariciou uma cabeça amavelmente e murmurou uma suave palavra de desculpa. Ele não precisava da riqueza que havia adquirido durante sua longa vida. Este teria sido o momento adequado para empregá-la, mas não levava nada consigo. Dormia na terra e caçava presas vivas. Não tinha precisava de dinheiro aonde ia. As crianças pareciam falar todos de uma vez, um assalto a seus ouvidos, quando um assobio baixo os deteve bruscamente. Houve um instante de silêncio. Dispersaram-se rapidamente e se fundiram entre as sombras, nas fissuras dos edifícios condenados e enclausurados, como se nunca estiveram ali.
O assobio era muito baixo, suave, embora ele o ouvia claramente através da chuva e da escuridão. Era levado pelo vendo diretamente até seus ouvidos. Um som intrigante. O tom parecia soar só para ele. Uma advertência, possivelmente, para as crianças, mas para ele uma tentação, uma sedução a seus sentidos. Esse suave e musical assobio o atraía. Intrigava-o. Chamava sua atenção como nada havia feito em séculos passados. Quase podia ver as notas dançando no ar úmido pela chuva. O som deslizou passando sua guarda e encontrou o caminho para o interior de seu corpo, como uma flecha dirigida diretamente a seu coração.
Outro ruído se ouviu. O som de vários passos pesados. Sabia o que se aproximava. Eram os vândalos das ruas. Os valentões que se acreditavam proprietários do lugar e pretendiam que tudo o que se atrevesse a pisar em seu território, pagasse um preço. Estudariam o corte de sua roupa, a marca de sua camisa de seda sob a capa ricamente revestida e teceriam sua armadilha, tal como ele sabia que fariam. Era sempre o mesmo. Em cada país. Cada cidade. Cada década. Sempre havia bandos que se congregavam para estender a destruição ou desejando o direito de tomar o que não lhes pertencia. Os incisivos em sua boca começaram a alongar-se mais uma vez.
O coração pulsava mais rápido que o normal, um fenômeno que o intrigava. Seu coração era sempre o mesmo, firme como uma rocha. Controlava-o casualmente, facilmente, como controlava cada aspecto de seu corpo. Mas a pulsação frenética de seu coração, neste momento, era incomum e toda diferença seria bem vinda. Estes homens, que tomavam suas posições o rodeando, morreriam a suas mãos esta noite. Não escapariam do predador e sua alma permaneceria intacta por causa de duas coisas, o suave assobio e seu coração acelerado.
Uma estranha figura emergiu de um portal diretamente as suas costas.
- Corra, senhor. - A voz foi baixa, rouca, a advertência clara. A estranha e encurvada figura voltou a fundir-se imediatamente em alguma greta escondida.
Falcon parou de caminhar.
Tudo nele ficou completamente, absolutamente imóvel. Não via cor há quase dois mil anos e mesmo assim, agora estava olhando fixamente uma pálida sombra da pintura vermelha e descascada nos restos de um edifício.
Era impossível, não era real.
Possivelmente estava perdendo a cabeça e igualmente, sua alma. Ninguém o havia dito que um dos sintomas de perda da alma era ver em cor. Os não-mortos teriam feito alarde de um fato semelhante. Deu um passo para o edifício onde o dono dessa voz tinha desaparecido.
Muito tarde. Os ladrões estavam estendendo um semicírculo a seu redor. Eram grandes e muitos deles levavam armas para intimidar. Viu o brilho de uma faca, de um tipo bastante manipulável. Queriam o assustar e se preparavam para roubar sua carteira. Havia sido testemunha desta mesma cena, muitas vezes, para não saber o que esperar. Em outro momento, teria sido a feras, alimentando-se deles até que a dolorosa fome fosse apaziguada. Esta noite era diferente. Estava quase desorientado. Em vez de ver em tons de cinza, Falcon podia vê-los em vívida cor. Camisetas azuis e púrpuras e uma de um laranja atroz.
Tudo parecia mais vivo. Sua audição estava mais aguda que o normal. As deslumbrantes gotas de chuva eram fios de prata brilhante. Falcon inalou a noite, tomando as fragrâncias, separando cada uma delas, até que encontrou a que estava procurando. Essa esquiva figura que o advertira, não era um homem, era uma mulher. E essa mulher já tinha mudado sua vida para sempre.
Agora os homens se aproximavam, o líder lhe estava gritando.
- Me dê sua carteira.
Não houve fingimento, nem preliminares. Foram diretamente ao roubo e o assassinato. Falcon elevou a cabeça lentamente até que se olhar encontrou o olhar arrogante do líder. O sorriso do homem decaiu, depois morreu. Ele podia ver a fera que se elevava, as chamas vermelhas que titilavam nas profundezas dos olhos de Falcon.
Sem aviso, a figura se colocou junto a Falcon, tentando alcançar sua mão, o atraindo.
- Corra, idiota, corra agora mesmo. – Ela puxava sua mão, tentando o arrastar para os escuros edifícios.
Urgência. Temor.
O medo era por ele, por sua segurança. Seu coração acelerou no peito.
A voz era melódica, entoada para enredar-se em volta de seu coração. A necessidade golpeou seu corpo, sua alma. Profunda, dura, e urgente. Trovejou através por sua corrente sangüínea com a força de um trem de cargas. Não podia ver sua face ou seu corpo, não tinha idéia de que aspecto era ou sequer sua idade, mas sua alma clamava pela dela.
- Você de novo. - O líder do bando afastou sua atenção do desconhecido e se voltou para a mulher. – Disse a você que se mandasse! - Sua voz era cheia de ameaça. Deu um passo ameaçador para ela.
A última coisa que Falcon esperava era que a mulher atacasse.
- Corra. - sussurrou ela novamente e se lançou para o líder. Atacou decidida, deslizando as pernas embaixo dele fazendo com que o homem caísse de costas. Chutou-o com força, utilizando a ponta de sua bota para jogar longe, a faca. O homem uivou de dor quando ela o chutou e a faca saiu disparada de sua mão. Ela chutou a faca de novo, enviando-a sobre a calçada até a boca-de-lobo.
Então fugiu veloz pelo beco escuro, fundindo-se entre as sombras. Seus passos eram ligeiros, quase inaudíveis até para o ouvido agudo de Falcon. Não queria perdê-la de vista, mas o resto dos homens estavam o cercando. O líder amaldiçoava ruidosamente, jurando arrancar o coração da mulher, gritando para seus amigos que matassem o turista.
Falcon esperou silenciosamente, que se aproximassem balançando os tacos de beisebol e barras de cano de ferro para ele. Moveu-se com velocidade sobrenatural. Sua mão pegou uma das barras, arrancou-a de mãos atônitas, e deliberadamente a dobrou até formar um círculo. Não fez muito esforço e não demorou mais que um segundo. Colocou-a em volta da cabeça do que o tinha ameaçado como se fosse uma gargantilha. Empurrou o homem com força casual e o enviou voando contra a parede de um edifício a uns dez metros de distância. O círculo de atacantes era agora mais cauteloso, temerosos em se aproximar dele. O líder ficou em silêncio, imóvel, segurando sua mão ferida.
Falcon estava distraído e sua mente ocupada na misteriosa mulher que arriscara sua vida para o resgatar. Não tinha tempo para uma batalha e sua fome mordia. Deixou-a o encontrar, o consumir. A fera se elevou provocando e uma neblina vermelha invadiu sua mente e as chamas brilharam avidamente em seus olhos. Girou a cabeça lentamente e sorriu, sentiu golpes nos braços quando pegou à primeira presa. Quase não valia a pena ondear a mão e exigir silêncio, para manter o grupo sob controle. Seus corações pulsavam a um ritmo frenético, palpitando tão ruidosamente, que a ameaça de um ataque do coração estava bem real. Ainda assim, não pôde encontrar piedade em seu interior para defender suas mentes.
Inclinou a cabeça e bebeu profundamente. A rajada foi rápida e aditiva. A adrenalina em seu sangue proporcionou uma espécie de falsa euforia. Sentiu que estava em perigo, que a escuridão o envolvia e parecia não poder encontrar a disciplina necessária para se deter.
Foi um pequeno som o que o alertou e indicou o quão longe havia chegado. Deveria ter sentido a presença dela imediatamente. Ela havia voltado por ele, havia voltado para o ajudar. Olhou para ela, seus olhos negros se fixaram sobre o rostinho ávido, resplandecendo com urgente necessidade. Chamas vermelhas titilando. A posse estava estampada ali.
- Quem é voce?
A suave voz da mulher o trouxe de volta à realidade, do que estava fazendo. Ela ofegou com surpresa. Estava a poucos metros dele, o estudando com olhos grandes e misteriosos.
- Quem é voce? – Ela perguntou novamente, e desta vez a nota de medo se registrou profundamente no coração do homem.
Falcon elevou a cabeça, um fio de sangue deslizou pelo pescoço de sua presa. Viu-se a si mesmo, através dos olhos dela. Presas enormes, cabelo revolto, chamas vermelhas em seus, por outra parte, vazios olhos. Parecia uma fera, um monstro. Estendeu a mão, precisando tocá-la, reconfortá-la, agradecer por o haver detido antes que fosse muito tarde.
Sara Marten retrocedeu, sacudindo a cabeça. Seus olhos estavam fixos no sangue que corria pelo pescoço de Nordov, até manchar sua absurda camiseta laranja. Depois deu a volta e correu por sua vida. Correu como se o demônio a perseguisse. E ele o fazia. Sabia. O conhecimento estava profundamente parecido em sua alma. Não era a primeira vez que via um monstro semelhante. Antes, tentava evitar à criatura, mas desta vez era muito diferente. Inexplicavelmente, havia se sentido atraída por ele. Havia voltado para se assegurar, de que ele ia conseguir escapar do bando. Precisava assegurar-se de que ele estava a salvo. Algo em seu interior exigia que o salvasse.
Sara correu atravessando a escura entrada do edifício de apartamentos, abandonado. As paredes se desmoronavam, o teto afundara. Conhecia cada buraco, cada via de fuga. Precisaria de todos. Esses olhos negros estavam vazios, com falta de todo sentimentos até que a... Coisa... Reconhecia a posse quando a via. Desejo. Esses olhos haviam voltado para a vida. Ardendo com uma intensidade que Sara nunca antes vira. Ardendo como se a tivesse marcado para si mesmo. Como sua presa.
Os meninos estariam agora a salvo, profundamente imersos nas bocas-de-lobo. Sara tinha que se salvar, se quizesse continuar os assistindo. Saltou sobre uma pilha de escombros e se agachou atravessando uma estreita abertura que conduzia a um buraco de escadas. Saltou os degraus de dois em dois, subindo ao seguinte andar. Havia um buraco na parede que a permitiu tomar um atalho entre dois apartamentos, empurrou uma porta e saiu para o balcão, pulou a gradezinha e se escondeu sob ele.
Tinha planejado centenas de fugas, antes de começar a percorrer as ruas, sabendo que seria uma parte essencial de sua vida. Praticava cada rota de fuga, economizando segundos, um minuto, procurando atalhos entre os edifícios e becos, Sara sabia de cor as passagens secretas. Agora estava sobre o telhado, fugindo veloz, sem sequer se deter antes de saltar sobre o teto do seguinte edifício. Moveu-se o atravessando e rodeou uma pilha de escombros para saltar a um terceiro telhado.
Aterrissou sobre seus pés, correndo já pelas escadas. Não se incomodou em descer, mas deslizou até o primeiro piso e se abaixou rapidamente passando através de uma janela velha. Um homem, deitado sobre um sofá quebrado, levantou a vista em meio à neblina induzida pelas drogas e a olhou. Sara gesticulou com as mãos enquanto saltava sobre as pernas. Viu-se forçada a evitar dois corpos deitados no chão. Passando sobre eles, saiu pela porta e atravessou correndo o vestíbulo, até o apartamento da frente. A porta estava pendurava em suas dobradiças. Atravessou-a rapidamente, evitando seus ocupantes enquanto cruzava o piso até a janela.
Teve que afrouxar o passo para passar pelos vidros quebrados. Os estilhaços prenderam sua roupa e ela teve que lutar um momento, com o coração acelerado e os pulmões clamando ar. Viu-se obrigada a utilizar preciosos segundo, para liberar sua jaqueta. Os pedaços de vidro cortaram suas mãos, arrancando a pele, mas ela se lançou ao ar livre e a garoa. Tomou um profundo e tranqüilizador fôlego, permitindo que a chuva molhasse seu rosto e limpasse as gotas de suor de sua pele.
De repente ficou quieta, cada músculo tenso, congelado. Um terrível estremecimento desceu por sua espinha. Ele estava em movimento. Rastreando-a. Sentia-o mover-se, rápido. Ela não tinha deixado rastros, através dos edifícios, foi rápida e cuidadosa, ainda assim ele nem sequer duvidava nas curvas do caminho. Rastreava-a infalivelmente. Ela sabia. De algum modo a pesar do terreno pouco familiar, o complexo de edifícios desmoronados, os pequenos buracos e atalhos, ele estava sobre sua pista. Inquebrável, sem estorvos e absolutamente seguro de que a encontraria.
Sara saboreou o medo em sua boca. Sempre conseguira escapar. Isto não era distinto. Possuía cérebro, habilidade e conhecia tudo ali e ele não. Com uma careta, limpou a testa com a manga da jaqueta, perguntando-se de repente, se ele poderia sentir seu cheiro em meio da decomposição e a ruína. A idéia era aterradora. Tinha visto, o que os de sua classe, podiam fazer. Tinha visto os corpos quebrados e drenados, brancos e imóveis, vestindo uma máscara de horror.
Sara empurrou para longe as lembranças, decidida a não se entregarao medo e o pânico. Seria o desastre. Procurou seu caminho de novo, movendo-se rapidamente, caminhando duro e mantendo suas pegadas ligeiras, respirando suave e controladamente. Correu rápido através de um estreito corredor entre dois edifícios, dobrou a esquina e passou através de uma greta da grade. Sua jaqueta era volumosa, e levou alguns segundos preciosos para passar través da pequena abertura. Seu perseguidor era grande. Nunca seria capaz de passar por esse espaço. Ele teria que rodear o complexo inteiro.
Chegou até a rua, correndo agora, balançando os braços. Seu coração pulsava com força, violentamente. Doía. Não entendia por que deveria sentir dor semelhante, mas ela ali estava de todos os modos.
As estreitas e horrendas ruas se ampliaram até que esteve nas imediações da cidade. Ainda estava na parte mais antiga da cidade. Não reduziu o passo, mas a cortou através dos estacionamentos, dobrando pelas lojas e caminhando infalivelmente para a parte alta da cidade. Os edifícios modernos surgiram. Eram enormes e se elevando no céu noturno. Ardiam seus pulmões, o que a obrigou a diminuir a carreira. Agora estava a salvo. As luzes da cidade começavam a aparecer, brilhantes e bem vindas. Não havia tanto trânsito quando se aproximou das zonas residenciais. Continuou correndo todo o caminho.
A terrível tensão estava começando a abandonar agora seu corpo, permitindo pensar, repassar os detalhes do que vira. Não a face dele, pois estava entre as sombras. Tudo nele tinha parecido sombrio e vago. Exceto seus olhos. Esses olhos negros cheios de chamas. Era muito perigoso e a tinha visto. Marcado. Desejando-a de algum modo.
Podia ouvir seus próprios passos marcando o ritmo de seu acelerado coração enquanto se apressava através das ruas, o medo a golpeava. De alguma parte chegou a impressão de uma chamada, um desatinado desejo, uma dolorida promessa turbulenta e primitiva, que parecia marcar o frenético bater de seu coração. Chegava, não de fora dela, mas de seu interior. Não do interior de sua cabeça, mas sim de sua alma.
Sara obrigou seu corpo a continuar em frente, movendo-se através das ruas e estacionamentos, pelas curvas e esquinas de bairros familiares até que alcançou sua casa. Era um pequeno bangalô, aninhado entre enormes arbustos e árvores, que lhe davam uma falsa impressão de privacidade no meio da populosa cidade.
Sara abriu a porta com mãos trêmulas e entrou tropeçando.
Deixou cair à jaqueta empapada de suor, no assoalho da entrada. Havia costurado vários pedaços de tecidos acolchoados na jaqueta extragrande, para que tornasse impossível dizer que aspecto tinha. Prendia o cabelo apertado contra a cabeça e sempre oculto sob um chapéu. Jogou as presilhas descuidadamente sobre o mostrador, enquanto se apressava a chegar ao banheiro. Tremia incontrolavelmente e suas pernas eram quase incapazes de sustentá-la.
Tirou a roupa molhada e suada e abriu a torneira de água quente. Sentou-se sob a ducha, abraçando-se a si mesma, tentando afastar as lembranças que bloqueara durante tantos anos. Era ainda uma adolescente, quando encontrou pela primeira vez o monstro. Tinha-o visto e ela a vira, também. Havia sido ela que atraiu o monstro até sua família. Ela era a responsável e nunca seria capaz de se absolver do terrível peso da culpa.
Sara podia sentir as lágrimas sobre sua face, misturando-se com a água que se vertia sobre seu corpo. Estava abaixada e enrodilhada sob a ducha, como uma menina. Sabia que não fazia bem. Alguém tinha que enfrentar os monstros do mundo e fazer algo a respeito deles. Era um luxo sentar-se e chorar, deixar se levar pela autocompaixçao e pelo medo. Devia a sua família mais que isso, muito mais. Naquela época, escondeu-se como a menina que era, escutando os gritos, as súplicas, vendo o sangue gotejando sob a porta e ainda assim não tinha saído para enfrentar o monstro. Escondeu-se, apertando-as mãos sobre os ouvidos, mas nunca poderia bloquear os sons. Poderia ouvi-los por toda a eternidade.
Lentamente pôs seus músculos sob controle, obrigando-os a trabalhar de novo, suportar seu peso e ficar relutantemente em pé. Lavou o medo de seu corpo junto com o suor da corrida. Sentia-se como estivesse correndo a maior parte de sua vida. Vivia entre as sombras, conhecia bem a escuridão. Sara s lavou o cabelo, passando os dedos entre as mechas tentando desenredá-los. A água quente a ajudou a sobrepor-se sua debilidade. Esperou até que conseguiu respirar de novo antes de sair da ducha e envolver-se em uma toalha grossa.
Olhou-se no espelho. Era toda olhos. De um azul escuro, quase violeta como se dois vívidos pensamentos tivessem sido introduzidos em sua face. Suas mãos ainda tremiam e ela as olhou com surpresa. A pele estava havia saído desde o pulso até a mão. Enfaixou-as e caminhou descalça até seu quarto. Depois de vestir a calça e uma blusa do pijama de seda, foi para a cozinha e preparou uma xícara de chá.
O velho ritual permitiu que a paz deslizasse outra vez a seu mundo e o emendasse. Estava viva. Estava respirando. Ainda havia meninos que precisavam desesperadamente dela e os planos que tinha esboçado há longo tempo. Estava quase conseguindo realizar seu sonho. Havia monstros por toda parte, em cada país, cada cidade e em cada camada social. Havia vivido entre os ricos e encontrado monstros ali. Caminhou entre os pobres e ali estavam. Agora sabia. Podia viver com esse conhecimento, mas estava decidida a salvar a quantos pudesse.
Sara se passou à mão por seu cabelo castanho, estendendo as pontas, para que se secasse. Com a xícara de chá na mão, foi para o diminuto alpendre, para sentar no balanço, um luxo sem o que não podia passar. O som da chuva era reconfortante e a brisa sobre seu rosto, bem-vinda. Sorveu o chá cuidadosamente, deixando que a quietude se sobreposse ao terror latente, para voltar a repassar cada um de suas lembranças, fechando solidamente as portas a todas elas uma por uma. Aprendera que havia algumas coisas era melhor deixar de um lado. Lembranças que nunca havia necessidade de voltar a reviver.
Contemplou ausentemente a deslumbrante garoa. As gotas caíam suavemente, melódicamente sobre as folhas dos arbustos e brilhavam como prata no ar noturno. O som da água sempre a consolara. Adorava o oceano, os lagos e rios, onde quer que houvesse uma grande quantidade de água. A chuva suavizava os ruídos das ruas, reduzia o estridente som do tráfico, criando a ilusão de estar longe do coração da cidade. Ilusões como esta a mantinham lúcida.
Sara suspirou e colocou a taça de chá no corrimão do alpendre, levantando-se para passear por seus pequenos limites. Esta noite não dormiria, sabia que se sentaria em seu balanço, agasalhada com uma manta e observando como a noite se desvanecia até o amanhecer. Sua família estava muito perto, às lembranças. Eram fantasmas que enfeitiçavam seu mundo. Entregaria-lhes esta noite e depois os permitiria desvanecer-se.
Olhou fixamente para a noite, para os sombras das árvores. As imagens capturadas nesses espaços cinzas sempre a intrigavam. Quando as sombras se fundiam, o que havia ali? Olhou fixamente para as sombras vacilantes e de repente se estremeceu. Havia alguém... Não, algo nessas sombras cinza, como a escuridão, vigiando-a. Imóvel. Completamente imóvel. Então viu os olhos. Não piscavam. Implacáveis. Negros com brilhantes chamas vermelhas. Esses olhos estavam fixos nela, marcando-a.
Sara deu a volta, saltando para a porta, seu coração quase parou. A coisa se moveu incrivelmente rápido, aterrissando sobre o alpendre antes que ela pudesse sequer tocar a porta. A distância que os separava era grande, mas ele foi tão rápido, que conseguiu segurá-la entre seus braços. Sara sentiu que o fôlego a abandonava, quando seu corpo impactou contra o dele. Lançou o punho para a garganta dele, batendo com força, enquanto retrocedia para chutar sua perna. Só que não conseguiu. Seu punho falhou batendo no ar, junto à cabeça dele, que a arrastou contra ele, capturando facilmente suas mãos, com a mão enorme. Cheirava a perigo, selvagem, e seu corpo estava tão duro como o tronco de uma árvore.
Seu atacante abriu a porta da casa, seu santuário, com um empurrão e a arrastou para dentro, fechando a porta para evitar ser descoberto. Sara lutou, chutando e se retorcendo, apesar do fato de que ele a mantinha quase indefesa. Era muito forte. Tinha o desencorajador pressentimento, de que logo seria consciente de suas resistências. Estava perdendo as forças rapidamente e seu fôlego começava a faltar. Era doloroso lutar com ele, pois sentia o corpo machucado. Ele deixou escapar um ruído de impaciência e simplesmente a empurrou até o chão. Seu corpo prendeu o de Sara sob ele, mantendo-a imóvel com sua enorme força, o que a deixou olhando para cima. Para a face de um demônio... Ou um anjo.
Sara ficou imóvel sob ele, com o olhar para essa face. Por um instante o tempo parou. O terror retrocedeu lentamente, para ser substituído por misterioso assombro.
- Conheço você.
Sussurrou com assombro. Retorceu a mão, quase ausentemente, amavelmente, pedindo que ele a soltasse. Falcon a permitiu liberar as mãos e ela tocou sua face com a ponta de dos dedos. O cuidadoso toque de uma artista. Ela moveu os dedos sobre a face dele como se fosse cega e a lembrança dele estivesse gravada em sua alma em lugar de sua visão.
Havia lágrimas em seus olhos, obstinadas. Sara ficou com a respiração presa na garganta. Suas mãos trêmulas foram até o cabelo dele, penteando-o amorosamente, meigamente. Sustentou as sedosas mechas entre os punhos, recolhendo o espesso cabelo negro entre as mãos.
- Conheço você. Se. - Sua voz foi de completo assombro.
Conhecia-o. Cada ângulo e traço de sua face. Esses negros e misteriosos olhos, a riqueza do cabelo negro azulado que caía até seus ombros. Ele havia sido seu único companheiro desde que tinha quinze anos. Cada noite dormia com ele, cada dia ele estava com ela. Seu rosto, suas palavras. Conhecia sua alma tão intimamente como conhecia a própria. Conhecia-o. Anjo escuro. Seu sonho escuro. Conhecia suas belas e misteriosas palavras, que revelavam uma alma nua e vulnerável e tão dolorosamente solitária.
Falcon ficou completamente preso, capturado pelo amor que mostravam os olhos dela, sua intensidade. Brilhavam com uma felicidade que sequer tentava esconder dele. Seu corpo havia parado de lutar e estava em completa imobilidade. Mas agora havia uma sutil diferenca. Ela era completamente feminina, suave e incitante. Cada carícia de seus dedos sobre sua face enviava calor a sua alma.
Mas, rapidamente sua expressão mudou da confusão para o medo. Culpa, junto ao puro terror Falcon pôde sentir determinação. Sentiu o aumento da agressividade no corpo dela e lhe segurou as mãos antes que ela pudesse se machucar. Aproximando-se, prendeu seu olhar.
- Calma. Sei que te assustei e por isso me desculpo.
Deliberadamente, ele baixou a voz para que fosse uma suave, para consolar, para acalmar, para prender. - Não pode ganhar uma guerrinha de força entre nós, então não esbanje energias. - Sua cabeça baixou ainda mais, até que descansou, por um breve momento, sua testa contra a dela. - Ouça o som de meu coração pulsando. Permita que o teu siga sua liderança.
Essa voz era de uma beleza incomparável. Compreendeu que queria sucumbir a seu escuro poder. Seu toque era extraordinariamente gentil, terno e a sustentava com delicioso cuidado. Tomar consciência da enorme força, combinada com sua amabilidade, provocou chamas por sua pele. Estava presa para sempre nas insondáveis profundezas desses olhos. Não havia final ali, só uma queda livre que não podia evitar. Seu coração seguiu o dele, lentamente até que pulsaram exatamente ao mesmo ritmo.
Sara possuía uma vontade de ferro, formada pela dor do trauma e ainda assim, não podia se liberar desse escuro e hipnótico olhar, apesar de que, uma parte dela reconhecia que estava sob um feitiço de magia negra, nada natural. Seu corpo tremeu ligeiramente quando ele levantou a cabeça, quando levou a mão dela ao nível dos olhos para inspecionar a pele arranhada.
- Me permita curar isto por voce. – Disse ele com suavidade. Seu sotaque tornava à voz, uma torção sensual, que a percorria até os dedos dos pés. - Sabia que tinha feito mal a você em sua fuga.
Havia sentido a essência do sangue dela no ar noturno. Estava o chamado, o conduzindo na escuridão, como o farol mais brilhante.
Seus olhos negros ardiam sobre os dela. Falcon levou lentamente a mão de Sara a seus lábios. Ao primeiro toque de sua respiração, os olhos da Sara se abriram, tomados pela surpresa. Suavidade e calor. Era um toque sensualmente íntimo, além de sua experiência e tudo o que ele fizera, foi respirar sobre ela. Sua língua roçou uma suave e consoladora carícia no dorso de sua mão. Negro veludo, úmida e sensual. Seu corpo inteiro sentiu, derreteu-se sob ele.
Sara ficou sem fôlego. Para seu absoluto assombro, o remorso desapareceu quando o áspero veludo deixou um rastro sobre cada laceração deixando um formigamento. Os olhos negros vagaram pela face dela, intensamente, ardentes. Íntimos.
- Melhor? – Perguntou ele brandamente.
Sara o olhou indefesa durante uma eternidade, perdida em seus olhos. Obrigou o ar a passar por seus pulmões e assentiu com a cabeça lentamente.
- Por favor, me deixe levantar.
Falcon moveu seu corpo quase relutantemente, liberando a de seu peso, retendo sua mão para poder colocá-la em pé sem esforço, enquanto ele também se levantava correntemente.
Sara planejou cada movimento em sua cabeça, clara e concisamente. Sua mão livre foi procurar a faca escondida no bolso de sua jaqueta, que estava no chão a seu lado. Quando ele a levantou, lançou a faca, prendendo as pernas dele entre as suas, num movimento de tesoura e o fez cair, rodar e ficar embaixo dela. Ele continuou virando, até ficar uma vez mais sob ela, que tentou afundar a faca em seu coração, mas cada célula de seu corpo gritava em protesto e seus músculos se negavam a obedecer. Sara fechou os olhos, decidida. Não podia olhar essa face amada, enquanto o destruía. Mas o destruiria.
A mão dele prendeu as suas, impedindo todo o movimento. Ficaram os dois imóveis, as pernas dele mantinham as coxas dela contra o chão, com cuidado. Sara estava numa situação mais precária que antes, desta vez com a faca entre eles.
- Abra os olhos. - Ordenou ele.
Essa voz derretia seu corpo, deixando-a tão suave e moldável como o mel. Quis gritar em protesto. A voz era um jogo, com sua cara de anjo, ocultando o demônio interior. Negou com a cabeça.
- Não o verei assim.
- Como quer? – Perguntou ele com curiosidade. - Como é que reconhece meu rosto? - Ele a conhecia, com seu coração e sua alma. Nunca vira sua face ou seu corpo. Sequer sua mente. Tinha-lhe concedido à cortesia de não invadir seus pensamentos, mas se ela persistia em tentar o matar, não teria outra escolha.
- É um monstro sem igual. Vi aos de sua espécie, e não me deixarei enganar pela face que escolheste vestir. É uma ilusão como todo o resto em voce. - Manteve os olhos firmemente apertados. Não podia suportar se perder novamente, nesse negro olhar. Não podia suportar elevar o olhar para o rosto que tinha amado durante tanto tempo. - Se for me matar, faça-o já e acabemos com isto. - Havia resignação em sua voz.
- Por que acredita que quero te fazer mal? – Ele moveu os dedos gentilmente ao redor de sua mão. - Solte a faca, piccola. Não posso deixar que te faça mal. Não pode lutar comigo, não há como fazer. O que há entre nós é inevitável. Solta a arma, se acalme e conversaremos.
Lentamente Sara permitiu que seus dedos se abrissem. Afinal, não queria a faca, pois sabia que nunca poderia afundá-lo em seu coração. Sua mente, talvez poderia estar até disposta, mas seu coração nunca permitiria tal atrocidade. Esta falta de vontade não tinha sentido. Preparou-se tão cuidadosamente para este preciso momento, mas o monstro possuía o rosto de seu anjo escuro. Como poderia haver se preparado para um acontecimento tão improvável?
- Como se chama? - Falcon afastou a faca dos dedos trêmulos, pegando a folha facilmente com a pressão de seu polegar e lançando-a para o outro lado da sala. A palma de sua mão deslizou sobre a mão dela com um toque gentil, para aliviar a tensão.
- Sara. Sara Marten.
Ela endureceu-se para olhar o formoso rosto. Era a face de um homem perfeitamente esculpida pelo tempo, pela honra e integridade. Uma máscara insuperável em beleza artística.
- Eu me chamo Falcon.
Os olhos da Sara se abriram desmesuradamente, ante a revelação. Reconheceu seu nome. “Sou Falcon e nunca a conhecerei, mas deixei este presente para você. Um presente de coração”. Sacudiu a cabeça de novo com agitação.
- Isso não pode ser. - Seus olhos procuraram a face dele, as lágrimas brilhavam de novo neles. - Isso não pode ser. - Repetiu. - Estou perdendo a cabeça? - Era possível, possivelmente inevitável. Não havia considerado tal possibilidade.
As mãos dele emolduraram seu rosto.
- Você acredita que sou o não-morto. O vampiro. Viu a tal criatura. – Ele fez uma declaração, um fato certo. É obvio. Ela nunca o teria atacado de outro modo. Sentiu o súbito pulsar de seu coração, o medo elevando-se ao terror. Em todos os seus séculos de existência, nunca conhecera semelhante emoção. Ela havia estado sozinha, desprotegida e encontrara a mais malvada de todas as criaturas, nosferatu.
Ela assentiu lentamente, o estudando com cuidado.
- Escapei dele muitas vezes. Quase consegui matá-lo uma vez.
Sara sentiu que o grande corpo dele tremia ante suas palavras.
- Tentou algo semelhante? O vampiro é a mais perigosa das criaturas sobre a face da terra. - Havia uma reprimenda em sua voz. - Possivelmente deveria me contar toda a história.
Sara piscou.
- Quero me levantar. - Sentia-se muito vulnerável deitada no chão, sob ele, em uma grande desvantagem tendo que levantar o olhar para seu amado rosto.
Ele suspirou.
- Sara.
Só a forma em que ele pronunciava seu nome fazia encolher os dedos de seus pés. Ele respirava as sílabas. Sussurrava-as entre a exasperada indulgência e um ronronar de advertência. Fazia que seu nome soasse sedoso e sexy. Tudo o que ela não era.
- Não quero ter que te prender de novo. Não quero continuar vendo semelhante temor em seus formosos olhos quando me olha. - Queria ver esse olhar terno e amoroso, essa indefesa admiração transbordando em seus olhos brilhantes, como quando havia reconhecido pela primeira vez, seu rosto.
- Por favor, quero saber o que está se passando. Não vou fazer nada. - Sara desejou não ter sido tão suplicante. Estava deitada no chão de sua casa com um perfeito desconhecido sujeitando-a, um desconhecido que tinha visto beber o sangue de um ser humano. Um humano desprezível, mas ainda assim... Bebendo sangue. Tinha visto com seus próprios olhos. Como podia ele explicar?
Falcon ficou em pé, seu corpo era poesia em movimento. Sara teve que admirar a forma simples e fácil em que ele se movia, um ondeio casual de músculos. Uma vez mais estava em pé e seu corpo à sombra do dele, tão perto, que podia sentir o calor desse corpo. O ar vibrava com seu poder. Os dedos estavam amplamente envoltos, como um bracelete, ao redor de sua mão, sem lhe dar oportunidade de escapar.
Sara se moveu delicadamente afastando-se dele, precisava um pouco de espaço para si mesmo. Para pensar. Para respirar. Ser Sara e não uma parte de um Sonho Escuro.
Seu Sonho Escuro.
- Me conte como conheceu o vampiro. - Falcon pronunciou as palavras tranqüilamente, mas a ameaça que ocultava sua voz, enviou em estremecimento pelo corpo dela.
Sara não queria enfrentar essas lembranças.
- Não sei se lhe posso contar isso. – ela disse e inclinou a cabeça para trás para o olhar aos olhos.
No momento que seu olhar prendeu o dela, sentiu outra vez a curiosa sensação de caída. Conforto. Segurança. Amparo contra todos os fantasmas de seu passado.
Os dedos dele se apertaram ao redor de sua mão, gentilmente, quase uma carícia, seu polegar se deslizou meigamente sobre a pele sensível. Segurou ela com a mesma gentileza, que com freqüência parecia acompanhar seus movimentos. Ele movia-se lentamente, quase como se temesse assustá-la. Como se fosse consciente de sua relutância e do que estava pedindo.
- Não quero me meter, mas se achar mais fácil, posso ler as lembranças de sua mente sem que tenha que colocá-los em palavras.
Só se ouvia o som da chuva sobre o teto. As lágrimas em sua mente. Os gritos de sua mãe, seu pai e seu irmão ressonando em seus ouvidos. Sara rígida, em estado de choque, com o rosto branco e imóvel. Seus olhos eram maiores que nunca, duas brilhantes jóias violetas, enormes e assustados. Engoliu a saliva e resolutamente arrancou seu olhar dos olhos dele, dirigindo-a para seu peito.
- Meus pais eram professores de universidade. No verão, sempre foram a algum lugar exótico, de nome fantasioso, para uma escavação arqueológica. Eu tinha quinze anos e me parecia muito romântico. - Sua voz era baixa, completamente monótona. - Supliquei para ir e eles nos levaram, a mim e a meu irmão Robert. - Culpa. Pena. Tomava-a.
Ela ficou em silêncio, um longo momento, tão longo que Falcon pensou que poderia não ser capaz de continuar. Sara não afastava o olhar de seu peito. Recitou as palavras como se as tivesse memorizado de um livro de texto, a clássica história de terror.
- Eu adorei, é obvio. Foi tudo o que eu tinha esperado. Meu irmão e eu podíamos explorar a vontade e ir a qualquer lugar. Inclusive nos túneis que nossos pais haviam proibido. Estávamos decididos a encontrar nosso tesouro. - Robert tinha sonhado com cálices de ouro. Mas alguma outra coisa tinha chamado a Sara. Chamava-a, convocava, esmagando seu coração até que chegou a obcecar-se.
Falcon sentiu o pequeno tremor que a percorreu e instintivamente a arrastou mais perto, para que o calor de seu corpo gotejasse no frio do dela. Sua mão foi até a nuca, seus dedos aliviaram a tensão dos músculos.
- Não tem que continuar, Sara. Isto é muito inquietante para você.
Ela sacudiu a cabeça.
- Encontrei a caixa, já sabe. Sabia que estava lá. Uma formosa caixa, esculpida à mão e envolta em peles cuidadosamente curtidas. Dentro havia um diário. - Levantou a face, para fixar seus olhos nele. Para julgar sua reação.
Os olhos negros vagaram possessivamente sobre ela. Devorando-a. Companheira. A palavra se formou no ar entre eles. Da mente dela a mente dela. Estava gravada a fogo na mente de ambos para toda a eternidade.
- Era teu? - Foi uma suave acusação. Ele continuou olhando-a fixamente até que provocou a cor que subiu por pescoço e coloriu sua face. - Mas não pode ser. Essa caixa... Esse diário tem, no mínimo, mil e quinhentos anos. Mais ainda. Foi comprovado e autentificado. Se era teu, se você o escreveu, teria que ter... - deteve-se, sacudindo a cabeça. - Não pode ser. – Ela esfregou-se as têmporas latentes. - Não pode ser. - Murmurou de novo.
- Ouça meu coração, Sara. Escute a respiração entrando e saindo de meus pulmões. Seu corpo reconhece o meu. É minha autêntica companheira.
“Para minha amada companheira, meu coração e minha alma. Este é meu presente para ti”.
Sara fechou os olhos durante um momento. Quantas vezes lêra essas palavras?
Não adoeceria. Cambaleou ante ele, seus dedos formavam um bracelete ao redor de seu pulso, mantendo-os unidos.
- Está-me dizendo que você escreveu o jornal.
Ele chegou mais perto dela, até que seu corpo descansou contra o dele. Ela não pareceu notar que ele a estava abraçando.
- Me fale sobre o vampiro.
Ela sacudiu a cabeça, embora obedeceu.
- Chegou uma noite, depois de que eu encontreu a caixa. Eu estava traduzindo o jornal, e o senti ali. Não podia ver, mas estava ali, uma presença. Completamente má. Pensei que era a maldição. Os trabalhadores murmuravam sobre maldições e sobre homens que haviam morrido redescobrindo o que era melhor deixar em paz. Tinham encontrado um homem morto no túnel, uma noite antes, sangrado. Ouvi os trabalhadores contando a meu pai que isso estado acontecendo há anos. Quando se levavam coisas da escavação, acontecia. Na noite... Essa noite, eu sabia que estava ali. Entrei correndo no quarto de meu pai, mas estava vazio, assim fui aos túneis para lohe buscar, advertir. Então o vi. Estava matando outro trabalhador. Levantou o olhar e me viu.
Sara conteve um soluço e pressionou a ponta dos dedos com mais força contra as têmporas.
- O senti em minha cabeça, me dizendo que fosse com ele. Sua voz era terrível, grave e eu soube que me faria mal. Não sabia por que, mas sabia que assim seria. Fugi. Tive sorte, pois os homens começaram a entrar nos túneis e escapei em meio da confusão. Meu pai nos levou para a cidade. Ficamos ali dois dias até que ele nos encontrou. Chegou de noite. Eu estava no armário de roupa, ainda tentando traduzir o jornal com uma lanterna. Senti-o. Sabia que tinha vindo por mim. Escondi-me. Em vez de advertir meu pai, escondi-me ali entre as pilhas de cobertas. Depois ouvi meus pais e meu irmão gritando e me escondi com as mãos apertadas sobre os ouvidos. Sussurrava-me que fosse com ele. Ocorreu-me que se eu fosse com ele, podia ser que não os matasse. Mas não podia me mover. Não pude me mover, sequer quando o sangue correu por debaixo da porta. Era negro como a noite, não vermelho.
Os braços de Falcon a apertaram, abraçando-a com força. Podia sentir a dor irradiando dela, uma culpa muito terrível para suportá-la. As lágrimas encerradas para sempre em seu coração e sua mente. Uma menina, testemunha da morte brutal de sua família, nas mãos de um monstro insuperável em maldade. Roçou com os lábios uma singela carícia sobre seu cabelo.
- Eu não sou um vampiro, Sara. Sou um caçador, um destruidor deles. Passei várias vidas longe de minha terra natal e minha gente, procurando precisamente tais criaturas. Não sou o vampiro que destruiu a sua família.
- Como posso saber o que é ou não é você? Vi você tomar o sangue daquele homem. - afastou-se dele com um movimento rápido e ofendido, totalmente feminino.
- Não o matei. - Respondeu o simplesmente. - O vampiro mata a sua presa. Eu não.
Sara passou uma mão trêmula por suas mechas de cabelo sedoso. Sentia-se completamente consternada. Passeou intranqüila da sala para sua pequena cozinha e se serviu de outra xicara de chá. Falcon enchia a casa com sua presença. Era difícil manter-se longe dele. Observou-o mover-se por sua casa, tocando suas coisas com dedos reverentes. Deslizava-se silenciosamente, quase como se flutuasse a centímetros do chão. Soube em que momento ele o descobriu. Dirigiu-se pausadamente para seu dormitório e apoiou o quadril contra a soleira da porta, a observando simplesmente enquanto bebia o chá. Esquentava seu corpo e a ajudava a deixar de tremer.
- Você gosta? - Havia um súbito acanhamento em sua voz.
Falcon olhava fixamente para a mesinha situada junto à cama onde um formoso busto esculpido de sua própria face, o devolvia o olhar. Cada detalhe. Cada linha. Seus olhos escuros, os longos cabelos. Seu queixo e seu nariz. Era mais que o fato, de que ela tivesse captado cada pequeno detalhe perfeitamente, era como ela o via. Nobre. Elegante. Através dos olhos de amor.
- Você fez isto? – Perguntou Falcon, logo que pôde conseguir, que as palavras passassem o nó estrangulador que bloqueava sua garganta. Meu Anjo Escuro e companheiro de Sara. A inscrição era feita com uma caligrafia fina. Cada letra era uma obra de arte, uma carícia de amor, formosa como o busto.
- Sim. - Ela continuou o observando atentamente, feliz com sua reação. – Eu o fiz... Bem, quando toco as coisas, coisas antigas em particular, algumas vezes posso conectar com feitos ou detalhes do passado, que se derivam do objeto. Soa estranho. – Ela encolheu os ombros. - Não posso explicar como acontece, só acontece. Quando toquei o diário, soube o que significava para mim. Não era para ninguém mais, para nenhuma outra mulher. Estava escrito para mim. Ao traduzir as palavras de uma linguagem antiga, pude ver um rosto. Havia um escritório, uma pequena mesinha de madeira, e um homem sentado escrevendo. Ele voltou-se e me olhou com tanta solidão em seus olhos, que eu sabia que tinha que o encontrar. Não podia supoetar sua dor, o terrível vazio negro. Vejo essa mesma solidão em seus olhos. Foi sua face que vi. Seus olhos. Entendo sua solidão.
- Então sabe que é minha outra metade. - As palavras foram pronunciadas em voz baixa, uma rouca tentativa, por parte do Falcon, de manter as emoções pouco familiares sob controle. Seus olhos encontraram os dela através do aposento. Uma de suas mãos descansou sobre o busto e seus dedos encontraram o sulco exato da onda de cabelo que ela havia acariciado mil vezes.
Uma vez mais, Sara teve a curiosa sensação de cair no interior de seus olhos. Havia tanta intimidade na forma em que ele tocava suas coisas. Haviam passado quase quinze anos desde que ela estivera realmente perto de outra pessoa. Perseguiam-na e ela não se esquecia em nenhum momento. Tudo o que estivesse perto dela estaria em perigo. Vivia sozinha, mudava de direção com freqüência, viajava freqüentemente, e mudava continuamente seus padrões de comportamento. Mas o monstro a seguia. Duas vezes, ao ler sobre um assassino em série, solto em uma cidade em que ela estava, havia caçado ativamente à besta, decidida a desfazer-se de seu inimigo, mas nunca conseguira encontrar onde se escondia ou morava.
Não podia falar com ninguém, sobre oq eu havia acontecido, ninguém acreditaria. Todo mundo acreditava que um louco havia assassinado a sua família. E os trabalhadores locais estavam convencidos de que tinha sido a maldição. Sara herdara os bens de seus pais, uma fortuna considerável e era rica o bastante para viajar muito, sempre mantendo um passo adiante de seu perseguidor.
- Sara. - Falcon pronunciou seu nome mais uma vez, trazendo a de volta a ele.
A chuva fazia barulho sobre o teto. O vento golpeava as janelas, assobiando ruidosamente como se tivessem os advertindo de algo. Sara levou a xícara de chá aos lábios e bebeu, seus olhos estavam fixos nele. Com cuidado colocou a xícara no pires e a colocou sobre uma mesa.
- Como pode ter vivido tanto tempo?
Falcon notou que ela se mantinha a uma certa distância, tomou nota de sua pele pálida e sua boca trêmula. Sara possuía uma boca perfeita, mas estava a ponto de se desmoronar e ele não se atrevia a pensar em sua boca, ou nas luxuriosas curvas de seu corpo. Ela precisava dele necessitava e ele estava decidido a deixar de um lado sua furiosa fera interior e lhe proporcionar distração e paz. Amparo.
- Nossa espécie existiu desde o começo dos tempos, Sara, embora estejamos perto da extinção. Temos grandes dons. Somos capazes de controlar tempestades, mudar de forma, voar como corujas aladas e correr com nossos irmãos, os lobos. Nossa longevidade é de uma vez, um dom e uma maldição. Não é fácil observar o passo dos mortais, o passar das eras. É algo terrível viver sem esperança, em um negro vazio interminável.
Sara ouviu as palavras e fez tudo o que pôde para compreender o que ele estava dizendo. Voar como grandes corujas aladas. Adoraria voar alto sobre a terra e se ver livre do peso de sua culpa. Esfregou as têmporas novamente, franzindo o cenho com concentração.
- Por que você toma sangue, se não ser um vampiro?
- Tem dor de cabeça. – Falcon disse, como se essa fosse sua preocupação mais importante. – Permita-me te ajudar.
Sara piscou e ele já estava em pé perto dela, o calor desse corpo forte, imediatamente gotejando sobre sua pele fria. Podia sentir o arco de eletricidade saltando de seu corpo o dela. A química entre eles era tão forte que a aterrorizava. Pensou em afastar-se, mas ele já estendia a mão para ela. Essa mão emoldurou sua face e seus dedos foram acariciantes, gentis. O coração acelerou no peito, um curioso sobressalto que a deixou sem fôlego. As pontas dos dedos dele se moveram para suas têmporas.
Seu toque foi consolador, embora enviou um calor malicioso por seu corpo, provocando profundos arrepios. Sentiu sua quietude, sua respiração movendo-se através de seu corpo, através do corpo dela. Esperou numa agonia de incerteza, esperou até que as mãos dele se moveram sobre sua face e o polegar acariciou seu lábio superior. Então sentiu a presença dele em sua mente, compartilhando seu cérebro, seus pensamentos, o horror de suas lembranças, sua culpa... Sara deixou escapar um gemido de protesto, afastando, não desejava que ele visse as manchas que danificaram para sempre sua alma.
- Sara, não. – Ele a puxou de volta, suas mãos se negaram a soltá-la. - Eu sou a escuridão e você a luz. Não fez nada de mau. Não poderia ter salvado sua família, ele os teria matado diante de você.
- Deveria ter morrido com eles em vez de me esconder covardemente em um armário. – Ela cuspiu sua confissão, a verdade de seu terrível pecado.
- Ele não a teria matado. – Falcon pronunciou as palavras com cuidado, sua voz era tão baixa, que se moveu sobre a pele dela como uma aveludada carícia. - Fique aquieta só um momento e deixe que me ocupe de sua dor de cabeça.
Sara ficou quieta, sentia curiosidade de ver o que aconteceria e temendo por sua prudência. Tinha visto ele beber sangue, suas presas no pescoço do homem, as chamas do inferno ardendo em seus olhos, mas quando ele a tocava, sentia que o pertencia. Queria o pertencer. Cada célula de seu corpo clamava por ele. Precisava dele. Amado Anjo Escuro. Era o anjo da morte que vinha reclamá-la? Estava preparada para ir com ele, iria, mas queria completar seus planos. Deixar algo bom para trás, algo decente e correto.
Ouviu as palavras, um cântico em uma língua ancestral, longínquo em sua mente. Formosas e rítmicas palavras tão velhas como o tempo. Palavras de poder e de paz. Chegava de dentro de sua cabeça, não de fora. A voz dele era suave e mística como as primeiras horas da manhã, e de algum modo, o canto curador fez que sua dor de cabeça se desvanecesse como uma nuvem passageira.
Sara estendeu a mão para tocar sua face, sua amada face, tão familiar.
- Tenho tanto medo que você não seja real. - Confessou.
Falcon. Companheiro de Sara.
O coração de Falcon derreteu-se completamente. Trouxe-a para mais perto de seu corpo, gentilmente para que ela não se assustasse. Tremia de necessidade dela, enquanto emoldurava o rosto dela com as mãos, mantendo-a imóvel inclinando lentamente sua cabeça para a dela. Sara estava perdida nos insondáveis olhos. O ardente desejo. A intensa necessidade. A dolorosa solidão.
Sara fechou os olhos antes que a boca dela tomasse posse da dela. E a terra tremeu sob seus pés. Seu coração perdeu o compasso devido ao medo. Estava perdida para toda a eternidade, nesse escuro abraço.
Falcon a abraçou, aproximando-a ainda mais dele, até que cada músculo de seu corpo ficou impresso na suavidade do corpo dela. Sua boca moveu sobre a dela. O universo inteiro estremeceu e se moveu e Sara se entregou a esse beijo suplicante. Sua boca se derreteu, suave e flexível, como lava fundida fluindo através de seu sangue. Pertenceu-lhe, instantâneamente.
A boca deste homem era aditiva. Sara fez suas próprias demandas, ergueu os braços para o pescoço dele, para o aproximar mais. Queria o sentir, queria seu corpo forte e duro pressionado firmemente contra o dela. Real, não em sonho elusivo. Não podia conseguir o suficiente de sua boca, quente, ansiosa e tão faminta por ela. Sara não pensava em si mesma como uma pessoa sensual, mas com ele não tinha inibições. Moveu-se impaciente contra ele, desejando que ele a tocasse, precisando que ele a tocasse.
Havia um estranho barulho em seus ouvidos. Já não reconhecia mais seus pensamentos, somente a sensação da dura boca dele contra a sua, somente o puro prazer de sua boca tomando posse da dela, tão urgentemente. Entregou-se completamente às sensações de calor e chamas da rajada de fogo líquido que corria por suas veias, acumulando-se em seu corpo.
Ele aproximou-a mais e sua boca manteve a posse, sua língua brincando com a dela, enquanto com as mãos, acariciava seus seios, seu polegar acariciando o mamilo através do fino tecido da camiseta. Sara ofegou ante o delicioso prazer. Não vestia nada sob a pequena camiseta. O polegar afastou um dos ombros da blusa do pijama, numa caricia simples, mas malévolamente sexy.
Sua boca abandonou a dela para traçar um caminho de fogo ao passar por seu pescoço. A língua dele acariciou demoradamente sua pulsação. Ela ouviu o próprio gemido de desejo fundindo-se com o gemido de prazer dele. Dentes arranhavam gentilmente, eróticamente, sobre sua pulsação, enquanto o corpo dele ardiam em chamas e cada célula exigia a posse. Os dentes beliscavam, a língua aliviava a dor. Seus braços eram duas cintas de aço, abraçando-a para que ela pudesse sentir o desejo urgente, uma urgente demanda, firme contra ela.
Um estremecimento sacudiu o corpo de Falcon. Algo escuro e perigoso. Ergueu a cabeça. Suas necessidades o afligiam, arrastando-se ao limite de seu implacável controle. A fera rugiu e exigiu sua companheira. A fragrância dela acabou com toda sua aparência de civilização, provocando-o por um momento, que fosse puro animal, cada instinto vivo e escuramente primitivo.
Sara sentiu a mudança nele instantaneamente e sentiu o perigo, quando seus dentes tocaram sua pele. A sensação era erótica, o desejo nela tão grande como nele.
Confraternizando com o inimigo.
As palavras chegaram vindas de nenhuma parte. Com um lamento de recriminação e Sara fugiu de seus braços. Vira-o beber sangue de suas presa. Vira seus dentes enterrados profundamente no pescoço de um homem. Não importava quão familiar ele parecesse, não era humano e era muito, muito perigoso.
Falcon a permitiu afastar-se dele. Observou-a cuidadosamente, enquanto lutava para se controlar. As presas retrocederam em sua boca, mas seu corpo era todo dor.
- Se planejasse fazer mal a você, Sara, por que esperar? É o ser humano mais seguro sobre este planeta, porque é a única pessoa a quem protegeria com minha vida.
Sou Falcon e nunca a conhecerei, mas este presente trás para você, um presente de coração.
Sara fechou os olhos com força, pressionando uma mão trêmula sobre a boca. Podia o saborear, o sentir. Desejava-lhe. Como podia ser semelhante traidora, para sua família? Os fantasmas de sua mente gemeram com força, condenando-a. A condenação não evitava que seu corpo pulsasse de desejo, nem o calor que se movia por seu sangue como lava fundida.
- Senti... – Acusou-o. Os tremores corriam através de seu corpo mais como resultado de seu beijo letal que pelo medo das letais presas. Quase desejara que ele a mordesse. Durante um momento, seu coração parou, como se estivesse esperado durante toda a eternidade por alguma coisa que só ele podia dar. – Esteve muito perto de tomar meu sangue.
- Não sou humano, Sara. - Replicou ele, amavelmente e seus olhos escuros escondiam milhares de segredos. Sua cabeça permanecia erguida e de modo algum, envergonhado de seus escuros desejos. Era um ser forte e poderoso, um homem de honra. - Tomar sangue é natural para mim, e você é minha outra metade. Sinto muito, se te assustei. Você teria gostado, achado erótico e nada desagradável. Não teria sofrido nenhum mal.
Sara não sentira medo dele. Sentira medo de si mesma. Medo de o desejar tanto, que os gemidos de sua família se apagariam em sua mente e nunca encontraria a forma de levar a justiça, seu assassino. Medo de alcançar algo do que realmente não sabia nada. Medo de que fosse tão pecaminoso e maravilhosamente erótico.
Minha amada companheira, meu coração e minha alma. Este é meu presente para você.
Foram suas formosas palavras, que capturaram seu coração para sempre. Sua alma clamava pela dele. Não importava ter visto chamas vermelhas, de loucura, em seus olhos. A pesar do perigo, suas palavras os uniam com milhares de diminutos fios.
- Como é que vieste para a Rumania? É americana, não é? - Ela estava muito nervosa e Falcon queria encontrar um assunto seguro, algo que aliviaria a tensão sexual entre eles. Precisava de uma pausa, das urgentes demanda de seu corpo, tanto como Sara precisava de seu espaço. Estava tocando sua mente ligeiramente e podia ouvir os ecos das petições de justiça de sua família.
Sara podia ficar uvindo sua voz para sempre. Com temor reverencial, tocou-se. Sua boca ainda formigava pela pressão da dele. Fechou os olhos brevemente e saboreou o sabor dele que conservava ainda em sua língua. Sabia o que ele estava fazendo, distraí-la da urgente tensão sexual, de seus medos justificados. Mas o agradeceu.
- Sou americana. - Admitiu. - Nasci em São Francisco, mas mudávamos muito. Passei grande parte de minha vida em Boston. Esteve por lá, alguma vez? – O ar ainda lutava por encontrar a forma de entrar em seus pulmões, só para tomar a fragrância dele profundamente dentro de seu corpo.
- Nunca viajei para os Estados Unidos, mas espero que no futuro o façamos. Podemos viajar juntos para minha terra natal e ver meu Príncipe e sua companheira antes de viajar a seu país. – Deliberadamente, Falcon baixou o ritmo de seu coração e pulmões, tomando o controle dos corpos de ambos, que pediam alívio, mantendo-os outra vez sob controle.
- Um Príncipe? Quer que vá com você para conhecer seu Príncipe? - Apesar de tudo, Sara se encontrou sorrindo. Não podia imaginar-se conhecendo um Príncipe. Rudo lhe parecia fantástico, um sonho escuro no qual estava presa.
- Mikhail Dubrinsky é nosso Príncipe. Conheci seu pai, Vladimir, antes que a ele, mas não tive o privilégio de me encontrar com Mikhai,l em muitos anos. - Não nos últimos mil anos. Conte-me como chegou aqui, Sara. – Interrompeu-se Falcon. O Príncipe não era um tema absolutamente seguro. Se, Sara começasse a pensar muito no que era ele, chegaria imediatamente à correta conclusão de que Mikhail, o Príncipe de sua gente, também pertencia à mesma espécie que Falcon. Humano, mas não humano. Era a última coisa em que queria que ela pensasse.
- Vi um especial na televisão, sobre as crianças da Rumania abandonados em orfanatos. É de doer o coração. Tenho tanto dinheiro que jamais utilizarei. Sabia que tinha que vir aqui e ajudar, se pudesse. Não podia afastar a imagem dessas pobres crianças de minha mente. Requereu muitos planos de minha parte, vir a este país e me estabelecer aqui. Pude encontrar esta casa e começar a fazer conexões.
Sara traçou o caminho das gotas de água que caíam contra a janela, com a ponta de um dedo. Algo na forma em que o fez, provocou o corpo dele, até o ponto de dor. Ela era intensamente provocadora sem saber. Sua voz era suave na noite, uma melancólica melodia acompanhada pelos sons da tempestade lá fora. Cada palavra que surgia de sua boca, a forma em que movia seu corpo, a forma em que a ponta de seu dedo acompanhava a trajetória da gota, introduzi-se nele até que não pode pensar em mais nada. Até que seu corpo doeu e sua alma gritou e a fera nele lutou pela supremacia.
- Trabalhei durante um tempo em orfanatos e parecia uma tarefa interminável... Não havia fornecimentos médicos suficientes, nem pessoas para atender e consolar aos pequenos. Fiquei tão doente, que foi impossível ajudá-los. Pensei que havia pouca esperança de ajudar de verdade. Estava tentando estabelecer conexões para acelerar procedimentos de adoção quando conheci uma mulher, alguém que, como eu, tinha visto o especial de televisão e tinha vindo aqui para ajudar. Ela apresentou-me a um homem que me mostrou os meninos de rua. - Sara afastou para o lado, o brilhante cabelo, até que este ficou encaracolado e ondulado sobre sua cabeça. A luz brilhava sobre cada mecha, fazendo que Falcon ansiasse por tocar as sedosas ondas. Havia um terrível toque em sua cabeça e um frenesi em seu corpo.
- Os meninos que assobiaram a advertência esta noite. – Ele tentou não pensar em quão excitante Sara parecia quanto estava despenteada. Falar era tudo o que podia faze,r para não enterrar as mãos na suavidade dos cabelos dela e encontrar sua boca novamente. Ela continuava a passear intranqüila pelo aposento e as luxuriosas curvas de seu corpo, atraíam seu olhar como um ímã. A fina camiseta era de cor marfim e os mamilos se divisavam escuros e incitantes. O fôlego pareceu abandonar seu corpo uma vez mais e ele ficou duro, ardente e incômodo, com um desejo que beirava o desespero.
- Bem, é obvio esses são alguns poucos. São excelentes aliviando bolsos de turistas e incautos. - Sara lhe deu um sorriso antes de voltar a olhar uma vez mais para fora pela janela, para a chuva torrencial. - Tentei que se recolhessem mais cedo, antes que escurecesse, porque é mais perigoso estar nas ruas de noite, mas se não conseguem uma certa quantidade, podem estar em autênticos problemas. - Suspirou brandamente. - Existe uma pequena cidade no sub-mundo. É uma vida perigosa. Os mais velhos controlam aos jovens e eles têm que formar bandos para manter-se a salvo. Não é fácil ganhar sua confiança ou os ajudar. Tudo o que a gente dá, pode facilmente matá-los. Alguém poderia os assassinar por uma camiseta decente. – Ela voltou a fitá-lo sobre seu ombro. - Não posso ficar no mesmo lugar muito tempo, assim sei que nunca poderia ajudar realmente aos meninos, da forma em que precisam.
Havia uma sensação de tristeza que fazia parte dela, embora ela não procurasse piedade. Sara aceitava sua vida com tranqüila dignidade. Havia tomado suas decisões e vivia com elas. Ela ficou ali, com a janela atrás de seu corpo e a chuva caindo, emoldurando-a como um quadro. Falcon quis envolvê-la nos braços e abraçá-la por toda a eternidade.
- Me fale dos meninos. - Deslizou-se silenciosamente para a mesa em que ela mantinha uma fila de velas aromáticas. Podia enxergar claramente na escuridão, mas Sara precisava da luz artificial de seus abajures. Se ela precisava de luzes, ele preferia a chama de uma vela. A luz das velas tinha uma forma de elaborar as sombras, fundir luz e escuridão. Seria capaz de falar com Sara, que era preciso falar na luz amortecida, falar do futuro e o que significava para cada um deles.
- Encontrei sete meninos com interessantes talentos. Não é fácil ou cômodo ser diferente e compreendi que era minha diferença que atraíra esse horrível monstro para mim. Quando toquei essas crianãs, soube que eles também o atrairiam. Sei que não posso salvar a todos os órfãos, mas estou decidida a salvar a estes sete. Estive planejando um esquema para conseguir dinheiro para que essa mulher ajude crianças de rua, mas quero uma casa para meus sete. Sei que não poderei estar com eles sempre. Não até que encontre a forma de acabar com o monstro que me espreita, mas ao menos posso estabelecê-los em um lar com dinheiro e educação e alguém de confiança que cuide de suas necessidades.
- O vampiro só se interessaria pelas meninas com talentos psíquicos. Os meninos seriam dispensáveis, de fato, veria-os como rivais. Seria melhor colocá-los a salvo tão rapidamente o quanto é possível. Vamos para as montanhas de meu país natal e estabeleceremos ali, uma casa para as crianças. Serão apreciados e protegidos por muitos dos nossos. - Falcon falava com firmeza, desejando que ela aceitasse o que lhe dizia sem fazer muitas perguntas. Surpreendia-o, que ela já tivesse conhecimento sobre vampiros, e que pudesse aceitar tão tranqüilamente o que acontecia entre eles. Falcon não podia sentir calma.
O coração da Sara pulsava fora de ritmo, de medo ante o reconhecimento dele, de que as conclusões às que Sara tinha chegado eram certas. O vampiro iria trás de seus meninos e ela inadvertidamente os havia colocado diretamente em seu caminho.
Sara o estudou curiosamente, enquanto Falcon olhava fixamente para as velas. Os dedos da mão direita dele se moveram ligeiramente e toda a fila de velas tomou vida. Sara sorriu.
- Magia. Realmente pode fazer magia? – Ela era seu amado feiticeiro, o anjo escuro de seus sonhos.
Ele se voltou para fitá-la, os olhos negros vagaram sobre sua face. Moveu-se então, incapaz de seguir sem tocá-la, suas mãos emolduraram essa face.
- É você a que faz magia, Sara. – Disse a ela. Sua voz foi um sussurro de sedução na noite. - Tudo em você é pura magia. - Sua coragem, sua compaixão. Sua pura determinação. Seu riso inesperado, apesar do que enfrentava. Monstro sem igual. E pior ainda, Falcon estava começando a suspeitar, que seu inimigo era um dos mais temidos vampiros. Um autêntico antigo.
- Eu falei que mim. Conte-me algo sobre você, sobre como pode ser tão velho, como pode ter escrito o diário. - Mais que tudo, ela queria saber a história do diário. Seu livro. As palavras que ele escrevera para ela, as palavras que haviam saído da alma dele, até a dela e a tinham enchido de amor, de desejo e necessidade. Queria esquecer a realidade e apoiar-se nele, tomar posse dessa boca perfeita.
Sara precisava averiguar como suas palavras podiam ter cruzado a barreira do tempo até encontrá-la. Por que se sentira atraída à escuridão desses antigos túneis? Como soubera exatamente onde encontrar a caixa esculpida à mão? O que havia em Sara Marten, que conduzira criaturas como ele até ela? O que conduzira um deles até sua família?
- Sara. – Falcon respirou seu nome, num sussurro de veludo, de tentação. A chuva agora era suave sobre o teto e sua companheira estava a escassos centímetros dele, tentando-o com suas luxuriosas curvas, com seus exóticos lábios e os enormes olhos violeta. Relutantemente, permitiu que suas mãos caíssem, abandonando a face dela. Obrigou seu olhar a afastar-se desses lábios, quando precisava senti-la novamente, tão desesperadamente. - Estamos bem perto das Montanhas dos Cárpatos. Ainda são terras selvagens, mas é para lá aonde iremos. Se você planeja estabelecer uma casa para as crianças, o melhor será fazê-lo ali. Poucos vampiros se atrevem a desafiar o Príncipe de nossa gente em nossas próprias terras. – Ele queria que ela aceitasse suas palavras. Sabia o que significava estar com ela e ajudá-la com o que fosse necessário, para vê-la feliz. Se ela quer uma casa cheia de órfãos, estaria a seu lado e amaria e protegeria as crianças, com ela.
Sara retrocedeu vários passos. Medo.
Não eram muitos, os homens que exsudavam perigo e poder, enchendo a casa com sua presença, enchendo sua alma de paz e sua mente de confusão. Tinha medo de si mesma. De sua reação ante ele. Medo da terrível dor de precisar dele. Apertou-se contra a parede, quase paralisada de medo.
Falcon permaneceu imóvel, reconhecendo que ela lutava com sua própria reação para ele, com a feroz química que existia entre eles. A chamada de suas almas, uma pela outra. A fera nele era forte, uma coisa apavorante que se esforçava por lhe controlar. Precisava de sua âncora, de sua companheira. Devia, pelo bem de ambos, completar o ritual. Ela era uma mulher forte que precisava encontrar seu caminho até ele. Queria permitir essa liberdade, mesmo assim não possuíam muito tempo. Sabia que a fera se fazia mais forte e suas agora emoções só acrescentavam fogo à resistência. Sara sorriu de repente, com um inesperado humor em seus olhos.
- Temos este fato estranho entre nós. Não posso explicar, mas sinto sua luta. Precisa me contar alguma coisa, mas é resistente a fazê-lo. O curioso é que não há nenhuma expressão real em sua face e não posso ler a linguagem de seu corpo, tampouco. Só sei que há algo importante que não me está contando e está preocupado por isso. Não sou uma mulher tola. Acredito em vampiros, na falta de uma palavra melhor para chamar a tais criaturas. Não sei o que você é, mas acredito que não é humano. Ainda não decidi se é ou não um deles e tenho medo de estar presa em alguma fantasia que teci sobre você.
Os olhos escuros de Falcon se tornaram tão negros de desejo, que durante um momento, só pôde fitá-la. Seu desejo era tão forte que não podia pensar com claridade. Rugia através dele com a força de um tornado, sacudindo os alicerces de seu controle.
- Estou muito perto de me converter, Sara. Os homens de nossa raça são predadores. Com o passar dos anos, perdemos toda habilidade de sentir, e de ver cor em tudo. Nosso mundo fica negro e cinza Não temos emoções, somente nossa honra e as lembranças do que sentíamos para nos manter durante os longos séculos. Aqueles de nós, que caçam o vampiro e leva justiça, aceitamos uma vida dura. Isso se acrescenta à carga de nossa existência. Cada morte estende a escuridão sobre nossa alma até que nos consome. Podemos viver até quase dois mil anos, e meu tempo faz já muito que passou. Estava retornando a minha casa para terminar com minha existência, antes de me converter na mesma coisa que cacei incansavelmente. – Ele disse-lhe a crua verdade, sem embelezamento.
Sara tocou os lábios, seus olhos nunca abandonaram a face dele.
- Sente emoções, sim. Nunca poderia ter fingido esse beijo. - Havia um rastro de temor em sua voz.
Falcon sentiu que seu corpo relaxava, a tensão o abandonou, ante o tom dela.
- Quando encontramos nossa companheira, ela restaura nossa habilidade de sentir emoção. Você é minha companheira, Sara. Sinto-a em tudo. Voltei a sentir emoções e ver cores. Meu corpo precisa do teu e minha alma necessita da tua, desesperadamente. Você é minha âncora, o único ser que pode evitar que a escuridão me engula.
Ela havia lido seu diário e os fatos que ele estava expondo, não eram conceitos novos para ela. Ela era a luz para sua escuridão. Sua outra metade. Tinha sido sua formosa fantasia, um sonho. Agora estava enfrentando a realidade. Este homem, que estava em pé diante dela, tão vulnerável, era um poderoso predador, perto de se converter na mesma coisa que caçava. Sara acreditou. Sentiu a escuridão obstinada a ele. Sentiu o predador nele, com as garras prontas e as presas preparadas. Havia vislumbrado os fogos do inferno em seus olhos. Os olhos violetas encontraram com os dele, sem titubear.
- Bem, Sara. – Ele perguntou, brandamente. – Vai me salvar?
A chuva caía no teto de sua casa e o som era um ritmo sensual que provocava seu corpo, que tamborilava em seu coração. Não podia afastar o olhar.
- Me diga como te salvar, Falcon. - Porque cada palavra que ele havia pronunciado era verdade. Sentia que era. Sabia que era, instintivamente.
- Se não nos unirmos com as palavras rituais, não tenho esperança. Uma vez que as diga a minha autêntica companheira, estaremos unidos por toda a eternidade. Parece-se muito a uma cerimônia de matrimônio humano, embora seja muito mais.
Ela conhecia as palavras ancestrais. Ele as havia dito, as tinha sussurrado mil vezes no meio da noite. Palavras formosas. “Reclamo-te como minha companheira. Pertenço a você. Ofereço-te minha vida. Dou-te meu amparo, minha lealdade, meu coração, minha alma, e meu corpo. Tomo em mim os teus, para guardá-los do mesmo modo. Sua vida, felicidade, e seu bem-estar serão apreciados e colocados sobre meus próprios, sempre. É minha companheir e está, unida a mim por toda a eternidade e sempre a meu cuidado”.
Ela havia trabalhado na tradução, a muito tempo, desejando cada palavra perfeita em sua beleza, com o significado exato que ele pretendera dar. As palavras haviam viajado do coração dele para o dela.
- E se consideraria que estamos casados?
- É minha companheira, nunca haverá outra. Estaríamos unidos, Sara, verdadeiramente unidos. Precisaríamos tocar nossas mentes, unir nossos corpos com freqüência. Eu não poderia estar sem voce, nem você sem mim. Nunca.
Ela reconheceu que não havia compulsão nessa voz. Ele não estava tentando influenciá-la, mesmo assim sentiu profundo em seu interior, o impacto dessas palavras. Elevou o queixo, tentando escrutinar sua alma.
- Se não nos unirmos, realmente se converterá em um monstro como o que matou a minha família?
- Luto com a escuridão em cada momento de minha existência. - Admitiu ele. Um raio iluminou o céu noturno e durante um momento iluminou a face dele e Sara pode ver claramente sua luta gravada ali. Uma certa crueldade em sua boca sensual, as linhas, planos e ângulos de sua face, o negro vazio de seus olhos. Então uma vez mais desceu a escuridão, amortecida pelo resplendor das velas. Uma vez mais, era o mesmo rosto de seus sonhos. Seu próprio anjo escuro.
- Não tenho outra eleição que terminar com minha vida. Essa era minha intenção enquanto voltava para minha terra natal. Já estava morto, mas você voltou a infundir vida a minha alma maltratada. Agora está aqui, um milagre, em pé ante de mim. Pergunto novamente, Sara. Está disposta a salvar minha vida e minha alma, Sara? Porque uma vez que as palavras sejam pronunciadas entre nós, não há como voltar atrás. Tem que saber dusso. Não posso as desfazê-las. E não te deixaria partir. Sei que não sou tão forte. É você é suficientemente forte para compartilhar sua vida comigo?
Sara queria dizer que não. Não o conhecia e ele era um desconhecido que acabava de tomar o sangue de um homem. Mas o conhecia. Conhecia seus pensamentos mais íntimos. Havia lido cada palavra de seu diário. Estava sozinho. Completa e absolutamente sozinho e ela sabia, melhor que ninguém, o que era estar sozinho. Nunca poderia afastar-se dele. Ele havia estado ali para ela todas aquelas longas e vazias noites. Todas essas noites, nas quais os fantasmas de sua família reclamavam vingança, justiça. Ele estivera ali com ela. Suas palavras. Sua face.
Sara colocou uma mão sobre o braço dele e seus dedos se fecharam.
- Tem que saber que não abandonarei as crianças. E ainda existe meu inimigo. Ele virá. Sempre me encontra. Nunca fico num lugar muito tempo, por causa dele.
- Sou um caçador do não-morto, Sara. - Recordou ele, mas as palavras significavam pouco para ele. Só foi consciente do toque dela, de sua fragrância, a forma em que ela o olhava. Seu consentimento. Estava esperando. Todo seu ser esperava. Inclusive o vento e a chuva pareciam vacilar. A dolorosa necessidade e a terrível fome estavam evidentes em sua voz. - Sara...
Fechando os olhos, desejando este sonho, Sara ouviu sua própria voz na quietude.
- Sim.
Falcon sentiu uma onda de júbilo. Puxou-a contra ele, enterrando a face na suavidade do pescoço dela. Seu corpo tremeu de alívio por que ela o aceitava. Quase não podia acreditar na enormidade de seu achado de poder se unir a sua companheira, nos últimos dias de sua existência. Beijou-a suavemente, com os lábios trêmulos e levantou a cabeça para fitá-la aos olhos.
- Reclamo-te como minha companheira. - As palavras surgiram dele, remontando sua alma. – Pertenço a vocee. Ofereço-te minha vida. Dou-te meu amparo, minha lealdade, meu coração, minha alm, e meu corpo. Tomo em mim os teu, para guardá-los do mesmo modo. Sua vida, sua felicidade e seu bem-esta serão apreciados e colocados sobre meus próprios, sempre. É minha companheira e está unida a mim por toda a eternidade e sempre a meu cuidado. – Ele enterrou o rosto uma vez mais, contra a suave pele dela, respirando sua fragrância. Sob seus lábios, a pulsação dela fazia gestos, sua força vital o chamava, tentando. Tentadora.
Ela sentiu a diferença, no momento, uma dor em seu corpo. Seu coração e sua alma doíam antes tão vazios, súbitamenteestavam inteiros e completos. A sensação a encheu de júbilo e a aterrorizou ao mesmo tempo. Não podia ser sua imaginação. Sabia que havia uma diferença.
Antes de poder se assustar das conseqüências de seu compromisso, Sara sentiu os lábios, suave veludo, movendo-se sobre sua pele. O toque afugentou todo pensamento e ela se entregou voluntariamente, a seu cuidado. Os braços dele a sustentaram mais perto de seu coração, dentro do amparo de seu corpo. Seus dentes arranharam ligeiramente, um toque erótico que provocou um estremecimento, um arrepio que desceu por todo o seu corpo. Sua língua provocou um diminuto ponto de fogo que ela sentiu através de seu sangue. Por própria vontade, os braços de Sara subiram até envolver a cabeça dela. Não era uma jovem temerosa de sua própria sexualidade. Sara agora era uma mulher adulta que havia esperado durante muito tempo, seu amante. Desejava a sensação de seus lábios e suas mãos. Desejava tudo o que ele estivesse disposto a lhe dar.
As mãos de Falcon se moveram sobre ela, empurrando para um lado, a fina barreira de seda, da camisa do pijama, para tocar sua pele. Era mais suave que tudo o que havia imaginado. Sussurrou uma poderosa ordem antes de seus dentes cravarem profundamente e látegos de relâmpago atravessaram seu corpo até o dela. Calor branco. Fogo azul. Ela era doce e especial, um sabor celestial. Desejava cada centímetro dela. Precisava enterrar seu corpo profundamente no dela, encontrar seu santuário, seu refúgio. Alimentou-se bem ou nunca poderia ter encontrado a vontade necessária para reprimir sua força. Requereu-lhe cada grama de seu controle, deter-se. Tomou o suficiente para um intercâmbio. Seria capaz de tocar a mente dela, de reconfortá-la. Seria absolutamente necessário para a comodidade e segurança de ambos.
Cortou o próprio peito, pressionou a boca dela para seu sangue poderoso e ancestral, o que o levou mais perto do limite de seu controle. Desejava-a, precisava dela e no momento em que soube que ela havia tomado o suficiente para o intercâmbio, sussurrou a ordem para ela deixar de alimentar-se. Fechou as incisões cuidadosamente e tomou posse de seus lábios, deslizando sua língua pela dela, para que assim, quando ela emergisse do encantamento, encontrasse só a força de seus braços, o calor de seu corpo e a sedução de sua boca.
Sem advertência a tempestade cresceu em intensidade, golpeando as janelas. Os relâmpagos se estrelaram contra a terra com tal força, que o chão estremeceu. O pequeno refúgio da Sara tremeu, as paredes sacudiram. O trovão rugiu até encher o espaço da casa, num som ensurdecedor. Sara escapou dos braços dele, apertando-as mãos contra os ouvidos e olhou com horror para fora, para o desdobramento de fúria. O trovão estalou diretamente no alto, arrancando um suave e assustado lamento da garganta da Sara.
Antes que pudesse lhe escapar outro som, a mão de Falcon cobriu gentilmente sua boca, em advertência. Sara não precisava falar, ele já sabia. Seu inimigo a tinha encontrado outra vez mais.
- Tem que sair daqui. – ela sussurrou contra a palma da mão dele.
Falcon inclinou a cabeça, até que sua boca tocou a pequena orelha.
- Sou um caçador do não-morto, Sara. Não fujo deles. - O sabor dela permanecia ainda em sua boca, em sua mente. Ela era uma parte dele, agora inseparável.
Sara jogou a cabeça para trás para o olhar fixamente, fazendo uma careta quando o vento uivou e chiou com força suficiente para causar pequenos tornados na rua e o pátio, lançando papéis, folhas e ramos para o ar, numa rajada de fúria.
- É bom matando a essas coisas? – Perguntou ela, com um tom incrédulo. Havia um desafio em sua voz. - Preciso saber a verdade.
Pela primeira vez, que pudesse lembrar, Falcon quis sorrir. Algo inesperado ante a iminente chegada do vampiro, mas a dúvida na voz dela o fez desejarsorrir.
- Ele envia sua ameaça adiante. Zangaste-o. Você tem um escudo, algo estranho. Ele não pode te encontrar quando esquadrinha, então busca uma fraqueza, uma onda de medo, para você saiba quem é ele. É assim como ela a rastreia. Enviarei-lhe minha resposta para que seja consciente de que está sob meu amparo.
- Não! – Sara segurou-lhe do braço, com dedos repentinamente tensos. – É nossa oportunidade. Se ele não souber nada de voce, virá então por mim. Podemos fazer uma armadilha.
-Não preciso utilizar você como isca. - Sua voz era tranqüila, mas havia um indício de alguma emoção inominável que a fez estremecer. Falcon era incrivelmente gentil com ela, seu tom sempre suave e baixo, seu toque terno. Mas havia algo profundo dentro dele, terrivelmente perigoso e muito escuro.
Sara se encontrou tremendo, mas firmemente abraçada a Falcon, temendo que ela a deixasse, para sair à raivosa tormenta. Ele estaria perdido para ela.
- É a melhor maneira, Falcon. Ele virá por mim, sempre vem por mim. - Agora que seu laço com Falcon era forte, não podia suportar a idéia de que algo acontecesse a ele. Devia o proteger dessa coisa terrível que destruíra sua família.
- Esta noite não. Esta noite eu irei atrás dele. - Falcon a afastou, gentilmente. Podia ver claramente seus temores e sua feroz necessidade de se assegurar de que ele estaria a salvo. Ela não fazia idéia do que era ele, das milhares de batalhas que tivera com estes monstros. Homens dos Cárpatos que tinham esperado muito ou que haviam escolhido entregar suas almas, pelo fugaz momento de prazer que oferecia a morte. Seus irmãos. Sara o segurou pelo braço.
- Não saia. - Havia uma tensão em sua voz. - Não quero estar sozinha esta noite. Sei que ele está aqui e pela primeira vez, não estou sozinha.
Ele se inclinou para beijá-la. Ali estava a sensação de união, a promessa de sedoso calor e êxtase que nunca se atrevera a sonhar.
- Está preocupada com minha segurança e busca me reter contigo. – Falcon pronunciou as palavras em seus lábios. – Agora vivo dentro de você e somos capazes de compartilhar pensamentos um com o outro. Esta é minha vida, Sara. Isto é o que faço. Não tenho outra escolha. Sou um homem dos Cárpatos enviado pelo Príncipe de minha gente ao mundo, para o proteger destas criaturas. Sou um caçador. A honra é o único que me resta.
Outra vez, Sara notava a dolorosa solidão em sua voz. Ela havia estado sozinha durante quinze anos. Não podia imaginar o que seria estar sozinha durante tanto tempo, como tinha ele, vendo como passava o tempo interminável, as mudanças do mundo, sem esperança ou refúgio. Sentenciado a destruir a sua própria gente, possivelmente seus amigos. Honra, ele utilizara essa palavra com freqüência em seu diário. Tinha visto sua implacável resolução, a intensidade desse redemoinho que se ocultava perigosamente perto da superfície de sua calma. Nada que ela pudesse dizer o deteria. Sara suspirou e assentiu.
- Acredito que há muito mais que honrar em você, que só suas habilidades de caçador, mas entendo. Há coisas que devo fazer embora não sempre quero, mas sei que não poderia viver comigo mesma, se não as fizesse. – Ergueu os braços, em torno do pescoço e pressionou seu corpo contra o dele. Por um momento já não esteva sozinha no mundo. Ele era sólido e seguro. - Não deixe que ele te faça mal. Ele destrói a todos os que me importam.
Falcon a abraçou, embalando seu corpo com os braços, cada célula dele precisava dela. Era uma loucura caçar quando estava tão perto de se converter e o ritual não havia sido completado, mas não tinha escolha. O vento golpeou a janela e os ramos das árvores balançaram contra a casa, com fúria.
- Voltarei logo, Sara. - Assegurou-lhe tranquilamente.
- Deixe que eu vá contigo. - Disse ela de repente. – Já o enfrentei antes.
Falcon sorriu. Sua alma sorriu. Ela parecia tão formosa, quase incrível. Preparada para enfrentar um monstro a seu lado. Inclinou-se uma vez mais e encontrou sua boca. Uma promessa. Muito séria. Uma promessa de vida e de felicidade. E depois se foi, abrindo a porta enquanto ainda podia, enquanto sua honra era forte o bastante, para vencer as necessidades de seu corpo. Simplesmente se dissolveu em névoa, misturando-se com a chuva para se camuflar e voou através do céu noturno, longe do refúgio e da tentação do corpo e do coração dela.
Sara saiu para alpendre atrás dele, ainda piscando, sem estar segura de onde ele fora. Ele saíra tão rapidamente.
- Falcon!
Seu nome foi um lamento que retorceu sua alma. O vento sacudiu seu cabelo com frenesi. A chuva molhou sua roupa, até que ficou quase transparente. Estava absolutamente só outra vez.
- Nunca voltará a estar sozinha, Sara. Eu moro dentro de você, como você dentro de mim. Fale comigo, utilize sua mente. A ouvirei.
Sara conteve o fôlego. Era impossível. Sentiu uma onda de alívio e se recostou contra a coluna varanda, em busca de apoio. Não questionou como a voz dele podia estar em sua mente, clara, perfeita e sexy. Aceitou-a porque precisava dele. Colocou o punho na boca para evitar chamá-lo de volta a ela, esquecendo por um momento que ele devia estar lendo seu pensamento.
Falcon sorriu, em sua voz, uma carícia arrastada.
- Você é uma mulher assombrosa, Sara. Ser capaz de traduzir as cartas que escrevi para voce. Escrevi-as, em vários idiomas. Grego, hebreu. A língua ancestral. Como conseguiu?
Ele viajava veloz cruzando o céu noturno, esquadrinhando cuidadosamente, procurando perturbações que assinalariam a chegada do não-morto. Algumas vezes espaços em branco revelavam a guarida do vampiro. Outras vezes era uma onda de poder ou um inesperado êxodo de morcego de uma cova. Os pequenos detalhes podiam dar pistas a alguém que sabia onde procurar. Sara ficou em silêncio um momento, com a pergunta em sua cabeça. Estivera obcecada para traduzir os estranhos documentos envoltos tão cuidadosamente em pele curtida. Perseverança. Precisava traduzir essas palavras. Palavras sagradas. Recordava a sensação que a possuía cada vez que tocava as páginas. Seu coração pulsava mais rápido, seu corpo voltava para a vida e seus dedos acariciaram as fibras, centenas de vezes. Descobrira o que essas palavras significavam para ela. E vira sua face. Vira seus olhos, a forma de seu queixo e seu cabelo comprido. A dolorosa solidão nele. Ela sabia que só ela encontraria a tradução correta.
- Meus pais me ensinaram grego e hebreu e a maior parte das línguas antigas, mas nunca tinha visto algo como as letras e símbolos que havia ali. Fui a vários museus e a todas as universidades que pude, mas não queria mostrar o diário para ninguém mais. Parecia que era só para mim.
Sabia que as palavras eram íntimas, só para seus olhos. Tinha visto a poesia nessas palavras, mesmo antes de as traduzir. Sara sentiu as lágrimas se acumular em seus olhos. Falcon. Agora sabia seu nome. Cuidara em ver em seus olhos e sabia que ele precisava dela. De ninguém mais. Só Sara. - Estudei o diário durante vários meses, traduzindo o que podia, mas sabia que não era de todo correto, palavra por palavra. E então você veio para mim. Senti que estava bem. Agora não posso explicar, mas soube exatamente em que momento me encontraria com a chave.
Falcon sentiu o curioso encolhimento de seu coração. Ela podia encher sua alma de ternura, de uma sensação tão intensa, que ele já não era o poderoso predador, mas um homem disposto a fazer tudo por sua companheira. Ela humilhava-o com sua generosidade e sua aceitação do que ele era. Havia escrito aquelas palavras, expressando emoções que já não podia sentir. Escrever o diário tinha sido uma compulsão que não conseguira ignorar. Não esperava que ninguém o lesse, embora tampouco o destruíra, nunca foi incapaz.
Faltavam algumas horas para o amanhecer e o vampiro ainda seria letal. Mais que provavelmente estava procurando guaridas, rotas de fuga e recolhendo informação. Falcon havia caçado e lutado com êxito contra o vampiro durante séculos, mas se sentia claramente inquieto. Deveria ter captado o rastro, mas não havia nenhum sinal incomum que indicasse que o não-morto havia passado pela cidade. Poucas criaturas podiam obter tal façanha. Só um vampiro antigo e muito poderoso, teria semelhante habilidade.
- Você é meu coração e minha alma, Sara. As palavras que deixei para você eram certas. É minha companheira, saberia como encontrar a chave para desentranhar o código e traduzir a língua ancestral. - Sua voz estava carregada de admiração e de um amor tão intenso, que a envolveu. - Devo me concentrar na caça. Este vampiro não é um aprendiz, é um antigo com força e poder. Requer toda minha atenção. Se precisar de mim, busca me com sua mente e a ouvirei.
Sara cruzou os braços sobre o peito, retrocedendo para o interior do alpendre, observando a cortina de chuva cair como fios de prata. Sentia a intranqüilidade de Falcon mais que ouvi-la em seu tom.- Se precisar de mim, irei a voce. - Ela falava a sério, com cada célula de seu corpo e com o coração. Sara sentia-se mal em deixar Falcom lutar sozinho, as batalhas que correspondiam a ela.
O coração de Falcon se aliviou. Ela iria a sua ajuda se a chamasse. Seus laços eram realmente fortes e cresciam com cada momento que passava. Sara representava o milagre concedido a sua espécie. Uma Companheira.
Foi cauteloso enquanto se movia pelo céu, utilizando a tempestade para encobrir-se. Era hábil e capaz de defender sua presença facilmente. Começou a examinar as áreas que mais provavelmente esconderiam ao não-morto. Na cidade, seriam os velhos edifícios desertos com porões. Fora da cidade, seria qualquer cova, qualquer buraco na terra que o antigo vampiro pudesse proteger. Falcon não encontrou rastros de seu inimigo, mas a intranqüilidade começou a crescer em seu interior. O vampiro já teria atacado a Sara se estivesse seguro de onde ela estava. Obviamente, tinha folgado sua fúria porque não a tinha encontrado esperara assustá-la, para que traísse sua presença. O fato provocou outra inquietação em Falcon. Teria que encontrar à vítima do vampiro e o seguir a partir de ali. Seria um processo lento e meticuloso e teria que deixar Sara sozinha, durante um momento. Estendeu-se para ela.
- Se se sentir intranqüila, me chame em seguida. Por Deus, Sara, me chame.- Sentiu-a sorrir.
- Estive consciente deste inimigo durante meia vida. Sei quando está perto, e consegui escapar dele uma e outra vez. Cuide-se, Falcon, e não se preocupe por mim.
Sara vivera sozinha por longo tempo e era uma mulher independente, auto-suficiente. Estava muito mais preocupada com Falcon que por ela mesma.
A chuva estava forte e o vento soprava as gotas em pesadas e deprimentes cortinas. Falcon não sentia frio, na forma em que tinha tomado. Se estivesse em seu corpo natural, teria regulado a temperatura de seu corpo com facilidade. A tormenta era um impedimento na busca de seu inimigo por meio do aroma, mas conhecia os costumes do vampiro. Encontrou à vítima infalivelmente. O corpo estava num beco, não longe de onde as crianças de Sara o tinham abordado. Sua intranqüilidade crescia. Obviamente, o vampiro se tornou muito hábil encontrando Sara. Conhecia seu padrão de comportamento e lhe tirava proveito. Uma vez que encontrou o país e a cidade em que ela se estabeleceu, o vampiro iria aos lugares que Sara acudiria cedo ou tarde. Refúgios para os perdidos, às crianças não desejadas e mulheres maltratadas. Sara trabalharia em áreas onde pudesse ajudar antes de ter que se mudar. O dinheiro significava pouco para ela. Era só algo que a permitia manter-se em movimento e fazer o que podia para ajudar os outros. Vivia com humildade e gastava pouco. Igual a Falcon, havia estudado os vampiros para aprender seus costumes, este vampiro estudara Sara. Mesmo assim, ela conseguira o evitar. A maior parte dos vampiros não eram conhecidos por sua paciência, embora este havia seguido Sara incansavelmente, durante quinze anos.
Era um milagre que ela conseguisse evitar ser capturada. Um tributo a sua natureza valente e engenhosa.
A forma de Falcon reluziu e se solidificou em meio d lúgubre garoa junto ao homem morto. A vítima do vampiro havia morrido duramente. Falcon estudou o cadáver, cuidando em não tocar nada. Queria o aroma do não-morto, a sensação. A vítima era jovem, um drogado. Havia uma faca no chão com sangre na folha. Falcon podia ver que a folha já se enferrijava. Ele hvia sido torturado, provavelmente em busca de informação sobre Sara. O vampiro procurara saber se o infeliz a tinha visto na região. Os ecos de violência rodeavam Falcon. Não podia permitir que ficasse nenhuma evidência para a polícia. Ele suspirou e começou a reunir a energia no céu. Látegos de relâmpago dançaram brevemente, golpeando o beco. Crepitaram e rangeram, ardentemente brancos. Dirigiu a energia para o corpo e a faca. Incinerou a vítima até finas cinzas e limpou a folha antes de fundi-la.
A labareda de poder o rodeou completamente e o relâmpago ardeu como uma chama laranja do chão e de volta às escuras e ameaçadoras nuvens, em radiantes pontos de calor branco azulado. Falcon levantou a cabeça de repente e olhou em volta, notando pelo poder que vibrava no ar, que não estava sozinho. Saltou para trás, longe das cinzas enquanto as ruínas enegrecidas tornavam para a vida. Uma aparição horrorosa se elevou, com uma cabeça chapada e buracos desumanos em vez de olhos.
Falcon se moveu tarde, por uma fração de segundo, para livrar-se do autêntico ataque. Uma garra pegou perto de seu olho e raspou a têmpora. Garras afiadas como navalhas, deixaram quatro largos sulcos em seu peito. A dor foi execrável. Um mau cheiro horrível explodiu em seu rosto e cheirou a carne podre, mas a criatura era um borrão, desapareceu quando Falcon golpeou instintivamente para o coração. Seu punho roçou a pele espessa e depois o vazio.
Em seguida, a fera interior do Falcon se elevou, ardente e poderosa. Sua força o sacudiu. Havia uma neblina vermelha ante de seus olhos, o caos invadiu sua mente. Falcon deu a volta para lançar-se no céu, evitando os arcos de energia que enegreciam o beco e arrancavam partes dos flancos dos edifícios. O ruído era ensurdecedor. A fera abraçou a violência. Falcon lutava consigo mesmo e com o vampiro, batalhando com essa fome que nunca se apaziguaria.
- Falcon? - A voz dela foi um sopro de ar fresco, afastando para o lado, a chamada da morte. – Me diga onde está. Sinto o perigo para você. - Havia uma preocupação nua em sua voz, que o permitiu controlar a fera e sucumbir o desejo de violência.
Falcon golpeou rápido e com força, um risco calculado, voando para a horrenda figura de cinza, com o punho estendido ante ele. As cinzas se pulverizaram em redemoinhos, elevando-se para o alto, como uma torre grotesca. Por um instante uma forma brilhou no ar enquanto o vampiro tentava colocar uma barreira entre eles. Falcon se lançou para a estrutura, de novo sentindo um toque, desta vez de carne, mas a criatura se dissolvera novamente. O vampiro desapareceu, desvanecendo-se tão rapidamente como havia aparecido. Não havia rastro do monstro, sequer o inevitável vazio. Falcon comprovou o lugar cuidadosamente, procurando a mínima pista. Quanto mais procurava, mais seguro estava de que Sara estava sendo perseguida por um autêntico antigo. Um professor vampiro que conseguira evitar todos os caçadores, através dos séculos.
Falcon se moveu pelo céu cautelosamente. O vampiro não o atacaria outra vez. Havia sido colocado a prova e o antigo tinha perdido a vantagem da surpresa. O inimigo sabia agora que enfrentava com um caçador experiente muito versado na batalha. Ele iria para a terra, evitando o contato, com a esperança de que Falcon o esquecesse. Um trovão ecoou no céu. Uma advertência. Uma escura promessa. O vampiro estabelecia sua reclamação, apesar de saber havia um caçador na região. Não renunciaria a Sara. Ela era sua presa.
Sara esperava por Falcon no pequeno alpendre, estendendo anciosamente, os braços para ele. Seu olhar o percorreu temerosamente, avaliando o dano. Falcon quis segurá-la entre os braços e sustentá-la contra seu coração. Nunca alguém o recebera, preocupada com ele, com esse olhar em sua face. Ansiosa. Amorosa. E era mais bela do que se lembrava. Ela estava com a roupa molhada pela chuva, o cabelo despenteado e os olhos enormes. Não podia afastar os olhos dela. Podia se derreter com o calor de sua acolhida.
- Entre em casa. - Disse Sara, puxando-o com mãos gentis, percorrendo seu corpo, precisando o sentir. Levou-o para o interior de sua casa, longe da chuva. – Conte-me. – Ela urgiu.
Falcon olhou para a pequena e simples casa. Era consoladora. Reconfortante. O contraste entre sua existência desagradável e vazia e este momento era extremo, quase chocante. O sorriso de Sara, seu toque e a preocupação de seus olhos... Não trocaria essas coisas por nenhum tesouro de que tivesse tido conhecimento, em todos os seus séculos na terra.
- O que aconteceu, Falcon? E não refiro a seus ferimentos. - O medo que tinha sentido por ele, no profundo de sua alma tinha, havia sido aterrador nos momentos prévios à comunicação.
Falcon passou uma mão pelo cabelo comprido. Precisava lhe contar a verdade. O demônio nele era mais forte que nunca. Tinha esperado muito, participado de muitas batalhas, levado a cabo muitas mortes. - Sara. - Disse brandamente. - Temos algumas opções, mas devemos atuar com rapidez. Não temos tempo de esperar até que entenda completamente o que está acontecendo. Quero que fique tranqüila e escute o que tenho a dizer, e depois tomaremos nossas decisões.
Sara assentiu seriamente, com os olhos fixos em sua face. Ele lutava, podia notar claramente. Sabia que temia por sua segurança. Queria aliviar as linhas esculpidas tão profundamente em seu rosto. Gotejava sangue por sua testa, um fio que só acentuava as profundas linhas de cansaço em volta de sua boca. Estava com a camisa amarrotada e ensangüentada, com quatro rasgos bem definidos. Cada célula de seu corpo gritava que o abraçasse, que o reconfortasse, mas se sentou muito quieta, esperando o que viria a seguir.
- Atei-nos na vida e na morte. Se algo me acontecer, será muito difícil você continuar sem mim. Devemos chegar às Montanhas dos Cárpatos e a minha gente. Este inimigo é um vampiro antigo e muito poderoso. Está decidido que você seja dele e nada lhe dissuadirá de caçá-la. Acredito que estará em perigo tanto nas horas de luz como nas de escuridão.
Sara assentiu. Não ia discutir com ele. O vampiro tinha sido implacável em sua perseguição. Havia sido afortunada em suas escapadas, correndo ante o mínimo sinal de que ele estivesse por perto. Se o vampiro tivesse a espreitado sigilosamente, a teria pegado, estava segura, mas ao parecer não podia dar crédito a sua habilidade para ignorar suas chamadas.
- Ele já utilizou criaturas durante o dia, antes. – Ela baixou o olhar para suas mãos. - Queimei uma dela. - Admitiu-o em voz baixa, envergonhada de si mesmo.
Falcon, sentindo a culpa dela como um golpe, tomou suas mãos e colocou um beijo no centro de cada palma.
- Os ghouls do vampiro, na realidade já estão mortos. São criaturas sem alma, vivem de carne e de sangue poluído do vampiro. Teve sorte em escapar deles. Matá-los é mostrar misericórdia. Acredite-me, Sara, não podem ser salvos.
- Me diga que escolha temos, Falcon. Aproxima-se o dia e estou ansiosa por você. Seus ferimentos são sérios. Precisa se ocupar deles. – Quase não podia olhar para ele, ferido. Estava coberto de sangue e tão fraco que se encurvava. Com os dedos, penteou para trás, as mechas de cabelo negro.
- Meus ferimentos não são realmente sérios. – Ele encolheu os ombros, com um gesto casual. - Quando for para a terra, ela me ajudará a curar. Enquanto eu estiver na terra, você estará sozinha e vulnerável. Durante certas horas do dia estou em meu ponto mais vulnerável e não posso ir a sua ajuda. Ao menos não fisicamente. Preferiria que ficasse a meu lado sempre para saber que está a salvo.
Ela abriu os olhos, mais que o normal.
- Quer que vá clandestinamente contigo? Como seria possível? - Tinha coisas que fazer, coisas que precisava fazer durante o dia.
- Tem que te converter completamente em alguém como eu. – Disse ele, rigorosamente. - Teria todos os dons de minha gente, e também as debilidades. Seria vulnerável durante as horas diurnas e também precisaria de sangue para se manter com vida.
Ela ficou em silêncio um momento, pensando nas palavras, no que ele dissera.
- Presumo que se fosse como você, isso não seria tão aborrecido. Desejaria ardentemente sangue?
Ele encolheu de ombros.
-É um fato de nossas vidas. Não matamos, mantemos nossa presa tranqüila e ignorante. Eu proverei para você e o faria de tal forma que não achasse incômodo.
Sara assentiu, enquanto sua cabeça voltava para uso que ele tinha dado à palavra presa. Ela havia vivido entre as sombras do mundo dos Cárpatos durante quinze anos. Suas palavras não a surpreendiam. Sentou Falcon no pequeno banco e pegou um estojo de primeiros socorros. Ele a seguiu, porque podia sentir que ela precisava cuidar dele. E gostava da sensação de suas mãos.
- Não posso tomar uma decisão como esta numa noite, Falcon. – Disse Sara, como se fosse a coisa mais normal do mundo - Tenho coisas sem terminar e precisarei pensar nisso. - Não precisava muito. Desejava-o com cada fibra de seu ser. Já havia aprendido no curto tempo em que ele perseguia a seu inimigo o que seria viver sem ele.
Sara se inclinou para frente e o beijou na garganta.
- Que mais? - Seus seios turgentes roçaram contra o braço dele, quentes, incitadores. Gentilmente limpou e atendeu as lacerações de sua testa, limpando o sangue. Os ferimentos do peito eram mais profundos. Parecia como se um animal o tivesse arranhado o peito com suas garras, rompendo a camisa e riscando quatro largos sulcos em sua pele.
-Estive muito perto de perder o controle esta noite. Preciso completar o ritual para que sejamos um e você minha âncora, Sara. Você sentiu o perigo para mim e me chamou de volta a você. Uma vez que o ritual se complete, esse perigo não existirá. – Ele fez a confissão em voz baixa, seu desejo era evidente no tom rouco. Não podia pensar corretamente quando ela estava tão perto, sua mente afogava tudo, exceto as necessidades de seu corpo. Sara tomou seu rosto entre as mãos.
- É isto? Esta é a grande confissão? - Seu sorriso foi lento e formoso, iluminando seus olhos profundamente violetas. – Desejo você, mais que tudo nesta terra. - Inclinou a cabeça e tomou posse de sua boca, pressionando seu corpo mais perto, a blusa de seda, molhada pela chuva era quase inexistente, seus seios empurravam contra ele, doloridos de desejo. Uma tentação. Um encantamento. Havia fome em seu beijo, aceitação, excitação. A boca dela era ardente, por causa do próprio desejo, igualando as exigências dele. Cru. Carnal. Real. Ela elevou a cabeça, fixando seu olhar ardente sobre ele.
- Fui tua durante os últimos quinze anos. Se me desejar, Falcon, não tenho medo. Nunca te tive medo, na realidade. - Suas mãos tiraram a camisa rasgada, expondo o peito largo, marcado pelos quatro ferimentos.
- Tem que entender a classe de compromisso que está aceitando, Sara. - Advertiu ele. Precisava dela, desejava-a. Estava Faminto por ela, mas não perderia sua honra com a pessoa mais importante de sua vida. - Uma vez que o ritual se complete, se não estiver comigo, clandestinamente na terra enquanto durmo, liberará uma terrível batalha por sua prudência. Enlouquecerá com minha falta. Não desejo isso para voce.
Sara piscou, atraindo a atenção. Seu olhar foi firme.
- Tampouco eu, Falcon... - Sua voz era um sedutor convite.-...Mas prefiro lutar minhas batalhas brevemente, que perder você. Sou forte. Acredite-me. - Inclinou a cabeça, pressionando um beijo no ombro dele e em sua garganta. - Não está tomando nada que eu não te entregue voluntariamente.
Como podia contar para ele, explicar que ele tinha sido sua única salvação em todas aquelas longas e intermináveis noites em que odiou a si mesma, se odiou por estar viva e que sua família estivesse morta? Todos esses anos abraçou suas palavras mantendo-a junto a ela, encerrando-as em seu coração, em sua alma. Sabia que pertencia a Falcon. Sabia, apesar do que ele era. Não a importava que ele fosse diferente, que sua forma de vida fosse diferente. Só a importava que ele fosse real, vivo, de pé diante dela com a alma nos olhos. Sara sorriu, num doce e provocador convite e se tirou à blusa do pijama, pela cabeça, para que ele pudesse ver seu corpo, as curvas plenas e luxuriosas, os bicos escurecidose intumescidos de seios. Sara atirou a blusa no chão sobre a camisa dele. Elevou o queixo, tentando ser valente, mas ele pôde ver que seu corpo tremia ligeiramente. Nunca havia feito algo tão escandaloso em sua vida.
Falcon encontrou seu pescoço e seus dedos se fecharam possessivamente, enquanto a puxava para perto. Seus ferimentos estavam esquecidos… E seu cansaço. Nesse momento, tudo ficou esquecido exceto Sara, que estava se oferecendo a ele, colocando sua vida e seu corpo em suas mãos.
Generosamente. Incondicionalmente.
Falcon pensou que ela era a mulher mais sexy que vira em todos os anos de sua existência e ela o olhava com olhos enormes, tão vulneráveis, que suas vísceras se fundiram. O fôlego abandonou seus pulmões de repente. Seu corpo estava ardente, duro, tão tenso, que temia que pudessese se romper. Embora não podia deter-se. Sua mão desceu pela garganta dela até embalar o seio. A pele era incrivelmente suave, o mais suave que tinha visto. Surpreendia-o, a forma em que se sentia em relação a ela, pura intensidade. Ali onde nada havia desejado ou precisado, ali onde ninguém tivera importância, agora estava Sara para encher cada espaço vazio. Seus dedos roçaram a curva do seio, o toque de um artista, explorando as linhas do corpo amado, voltando a embalar a luxuriosa oferenda.
O negro olhar ardeu possessivamente sobre ela, abrasando a pele, provocando chamas que a percorreram seus seios, sua garganta, seus quadris... E então ele inclinou a cabeça e provou um dos mamilos endurecidos.
Sara gemeu, segurando a cabeça dele, seus dedos se enredaram no sedoso e espesso cabelo negro e seu corpo estremeceu de prazer. Sentiu o erótico e forte impulso dos lábios dele, no interior do corpo. Estirou-se, dolorida.
Falcon deslizou a mão para baixo pela linha das costas dela.
- Está segura, Sara? Está segura de que deseja a completa intimidade de nosso ritual de união?
Sara enviou a imagem que tomava sua mente. A boca dele, sobre seu pescoço, sobre sua pulsação e a intensidade de seu desejo físico por ela. Num átimo, ele já estava colando-se a ela, devorando sua pele e as luxuriosas curvas, tão diferentes dos duros ângulos de seu próprio corpo.
Se Sara quisesse voltar atrás, já era tarde, pois estava perdido em meio a uma faiscante eletricidade, o relâmpago que dançava em seu sangue. As imagens e o angustiante prazer da mente dele, escuramente erótico, só acrescentavam fogo à tormenta que aumentava no corpo dela.
Sara nunca experimentara algo tão elementar, completamente certo e completamente primitivo. Precisava estar perto dele, pele com pele. E essa necessidade consumia tudo, quente como o próprio sol, uma procela de fogo dançando, culminando, até que restou só Falcon. Só a sensação. Somente sua feroz posse. Embalou a cabeça dele, arqueando-se profundamente, com os lábios completamente tomados pelos dele, enquanto seu corpo se convertia em líquido ardente. O anseio a provocou a erguer uma perna ao redor dos quadris dele, empurrando-se contra sua coxa, procurando o delicioso atrito, movendo-se intranqüila, procurando alívio. Suas mãos tiravam a roupa dele, enquanto essa boca deixava chamas em seu pescoço, em seus seios. As mãos dele deslizavam pela curva de seus quadris, baixando a calça do pijama de seda por suas coxas, até que o tecido amontoou no chão. Falcom segurou sua perna e a colocou em volta de seus quadris para que ela estivesse aberta para ele, apertada, ardente e úmida, firme contra ele.
A boca de Falcon volrou a encontrar a sua, numa série de vários beijos, cada um mais inflamado que o outro. As mãos dele eram possessivas sobre seus seios e sobre seu estômago, deslizando-se para seu traseiro e depois, para o interior de suas coxas.
Ela estava quente e úmida de desejo por ele, sua fragrância o chamava. O corpo dele ardia em chamas. Sara não tinha inibições sobre deixá-lo saber o que queria dele e esse, era um poderoso afrodisíaco. O pequeno corpo se apertava contra o dele, esfregando-se, aberto a sua exploração.
Sara tirava as roupas de Falcon, tentando o aproximar, colocando sua boca sobre o peito dele, sua língua acariciando-o, a fim de saborear sua pele. Ele afastou a restante barreira de sua roupa, à singela maneira de sua gente, utilizando a mente, para que as mãos dela pudessem encontrar seu membro já grosso, duro e latente de desejo. Logo, os dedos de Sara o acariciava e pequenas bombas explodiram em seu sangue.
Ela o conhecia intimamente, conhecia seus pensamentos e seus sonhos. Conhecia sua mente, o que ele gostava, o que precisava e o que queria. E ele a conhecia. Cada forma de agradá-la. Uniram-se em calor e fogo em toda a enorme força dele, em seu desejo desesperado, seu toque, sua terna exploração com uma reverência, que quase lhe arrancava lágrimas, apesar de saber o quanto ele estava tomado. Sua boca estava em todas partes, ardente e selvagem, provocando, incitando, prometendo coisas que ela não podia acreditar.
Sara se colou a ele, enredando os braços em volta de sua cabeça, com lágrimas brilhando como diamantes em seus olhos.
- Estive sempre sozinha, Falcon. Não vá nunca. Não sei se você é real ou não. Como poderia algo tão formoso como você ser real e para mim?
Ele parou e elevou a cabeça, seus olhos negros deslizaram sobre sua face.
- Você é minha alma, Sara, minha vida. Sei o que é estar sozinho. Vivi séculos sem lar ou família. Sem você para me completar, a melhor parte de mim, me faltava. Não desejo me afastar nunca de voce. – Ele segurou o rosto dela entre as mãos. – Olhe-me, Sara. Você é meu mundo. Não conseguiria mais estar neste mundo sem você. Acredite-me. – Ele inclinou a cabeça para tomar sua boca, fazendo que a terra tremesse para os dois.
Sara não soube como, mas termonarame em seu quarto. Foi vagamente consciente de estar apertada contra ele, recebendo selvagens beijos embriagadores, com a pele ardente e o corpo tomado pormãos exploradoras. Sua pele estava tão sensível, que ofegou com a urgência de seus desejos.
Os lábios dele abandonaram os seus, para traçar um caminho por seu corpo, por seus seios novamente e sua língua deixava um rastro de fogo. As mãos dele separaram suas coxas, sustentando-a enquanto seu corpo explodia, fragmentando-se ante o primeiro toque acariciante de sua língua.
Sara gritou e suas mãos se envolveram no cabelo dele, enquanto se contorcia sob ele, seu corpo se estremecia com tremores.
- Falcon. - O nome escapou numa súplica sussurrada.
- Quero-te preparada para mim, Sara. – Disse ele e sua respiração a provocou, a esquentou ainda mais, sua língua tentando-a uma e outra vez, roçando, acariciando, brincando até que não suportando mais a caricia erótica, ela gritou, arqueando os quadris para ele.
O corpo de Falcon cobriu o seu. Pele com pele e seus pesados músculos, se pressionaram firmemente contra o suave corpo dela até que se encaixaram. Falcon foi cuidadoso com ela apesar da tormenta selvagem em seu interior. Em momento algum, ele afastou os olhar de sua face, quando começou a invadir o interior de seu corpo. Ela estava quente, suave veludo e sua intimidade apertada o clamava, urgia que ele completasse sua posse. Nunca imaginara que pudesse existir, tamanha sensação e tamanho prazer, tomando cada célula e cada nervo de seu corpo. Ela gemeu, respirou, clamou, e... Cada gemido o agradava.
O pedido da mente dela, o fez penetrá-la tão profundamente, que ela se entregou aos gemidos. Até que seu corpo se apertou volta do membro dele. Até que cravou as unhas em suas costas. Ela era acolhedora. Começou a mover-se, observando seu rosto, observando-a perder o controle, sentindo a selvageria crescer nele, revelando sua habilidade em agradá-la. Investiu mais duro, profundo e seguidamente, observando-a elevar-se para encontrá-lo, investida após investida. Seus seios incitavam, tentando, seduzindo-o num exuberante convite.
Falcon inclinou a cabeça e seu cabelo escuro deslizou sobre a pele dela, fazendo-a estremecer-se de prazer, fazendo-a gritar com o inesperado choque de outro orgasmo, rápido e furioso.
Sara sentiu em que momento a boca dele tocou sua pele. Abrasando-a. Sabia o que ele faria e seu corpo se arrepiou de antecipação. Desejava-o selvagem e fora de controle. A língua dele encontrou o mamilo, lambendo-o gentilmente. Sua boca era ardente e ávida e ela se ouviu ofegar seu nome. Abraçou-o, arqueando seu corpo para oferecer os seios, seus quadris se moviam numa cadência perfeita, com os dele.
A boca dele se moveu até a plenitude de seu seio, sobre o coração e seus dentes o arranharam gentilmente, sua língua brincando. Sara pensou que explodiria em fragmentos. Seu corpo estava quente, apertado e dolorido. Esperava completar a posse.
- Falcon... - Respirou seu nome, numa súplica. Precisava ver cumpridos todos os seus desejos.
As mãos dele prenderam seus quadris e enterrou profundamente seu membro nela, tomando posse de seu corpo e de sua mente, enquanto seus dentes cravaram-se nela, provocando que um relâmpago branco e ardente a atravessasse, atravessasse a ele, até que se consumiram em seu fogo. Devorada por ele, Sara embalou-lhe a cabeça, mas seu corpo estremecia de tanto prazer, que pensou que morreria. Um prazer, longo e interminável.
A língua de Falcon formou ligeiramente, pequenos círculos sobre lê eas reveladoras incisões. Estava tremendo e sua mente era uma neblina de paixão e desejo. Sussurrou geltilmente uma ordem, enquanto levantava a cabeça dela até a tentação de seu próprio peito.
Falcon sentiu a boca de Sara se mover contra sua pele. Seu corpo se tencionou, uma dor... Beirava o prazer, quase além do suportável. Com Sara firmemente cativa em seu feitiço, foi indulgente consigo mesmo, persuadindo-a com pequenos pedidos, para que tomasse seu sangue, o suficiente, para um verdadeiro intercâmbio. Seu corpo estava duro, quente e dolorido pela necessidade de aliviar-se, pela necessidade do êxtase da consumação final. Fechou a incisão em seu peito e tomou posse da boca dela enquanto ela despertava da compulsão.
E então se inundou nela, selvagem e fora de controle, aproximando-os a beira de um grande precipício. Sara se segurou a ele e seu corpo suave se elevou para encontrar-se com o dele em sua selvagem investida. Falcon elevou a cabeça para fitá-la, desejando ver amor em seus olhos, ver a intensa necessidade que ela tinha dele. Só dele. De nenhum outro. E ele estava ali, como a primeira vez que ela o havia reconhecido. Estava profundamente enterrado em sua alma, brilhando em seus olhos para que ele o visse. Sara lohe pertencia. E ele pertencia a ela.
O fogo os atravessou. Uma fina camada de suor cobriu suas peles. As mãos se encontraram. Então eles se moveram juntos, rápido e duro e incrivelmente terno. Falcon sentiu-a deslizar-se dentro dele, viu ela procurar seus olhos e seu próprio corpo enrijeceu, músculos esticando-se e ondeando de vida. Ela ficou com seu nome preso na garganta. Ele sentiu o ar abandar seus pulmões, enquanto explodiam na maior sensação que um coração cheio de amor podia experimentar. O êxtase.
Ficaram calados por um longo tempo, abraçados. Seus corpos entrelaçados, pele contra pele, as coxas dele sobre os dela, entre as dela, lábios e mãos ainda explorando.
Sara se prendeu a ele, com lágrimas nos olhos, ainda sem poder acreditar que ele, seu sonho escuro, estava em seus braços, em seu corpo. Um só ser. Nunca estaria sozinha. Ele enchia seu coração e sua mente da mesma forma que enchia seu corpo
- Encaixamos. - Murmurou ele suavemente. - Encaixamos perfeitamente.
- Sabia que seria assim, tão maravilhoso? - Ele se moveu então, levantando-se da cama e levando-a com ele até o banheiro. Enquanto tomavam banho, ele bebeu a água da garganta dela, seguindo o caminho de várias gotas ao longo de seu corpo. Sara se vingou, saboreando a pele dele, limpando as gotas de água enquanto corriam por seu estômago plano e duro. Sua boca era tão ardente e incitante, que Falcon a possuiu outra vez. E outra vez. Possuiu-a no vanheiro. Possuiu-a no quarto de vestir, onde ele encontrou no espelho, a visão do seu traseiro perfeito, difícil de ser ignorado. Ela estava receptiva, ardente e tão desejosa quanto ele, que não desejavam que a noite terminasse.
As primeiras luzes da manhã se filtravam através das cortinas fechadas. Estavam deitados sobre a cama conversando, abraçando-se, mãos e lábios trocando carícias entre as palavras. Sara não podia se lembrar de ter rido tanto. Falcon não sabia que soubesse sorrir. Finalmente, relutantemente, inclinou-se para beijá-la.
- Devemos ir, se vamos fazer o que combinamos, Sara. Quero-a nas Montanhas dos Cárpatos antes que caia a noite. Elevarei-me e irei diretamente a você.
Sara deslizou-se para fora da cama, para ficar em pé junto ao busto que havia feito dele, há tantos anos. Não queria o deixar. Queria ficar a seu lado durante o resto de sua vida.
Falcon não precisava ler sua mente para saber o ela estava pensando, pois estava claro no rosto transparente. Por alguma razão, sua dúvida tornava mais fácil deixá-la e levar a cabo seus planos. Ficou em pé, seu corpo aproximando-se do dela. Precisava dormir. Precisava ir para a terra e curar-se completamente. Acima de tudo, precisava estar com a Sara.
- Tenho medo de que se for, nunca possa conseguir as crianças. Os burocratas estão nervosos porque estive perguntando por sete deles e não estão registrados. - Sara se retorceu os dedos com agitação.
- Mikhail se encarregará da papelada burocrática por nós. Tem muitos negócios nesta zona e é bem conhecido. - Falcon levou os dedos dela aos lábios, para acalmá-la. - Não venho a minha terra natal há muitos anos, mas sou bem consciente de tudo o que está acontecendo. Ele poderá nos ajudar.
- Como sabe tanto, se esteve longe? - Sara não estava preparada para confiar num completo estranho, num ponto tão importante como as crianças.
Ele sorriu e acariciou o cabelo dela.
- Nós, da raça dos Cárpatos, conversamos através de um vínculo mental comum. Ouvia-os quando os caçadores percorriam a terra. Ouvi quando nosso Príncipe quase perdeu sua companheira. Não uma, mas em duas ocasiões. Soube quando perdeu seu irmão e depois o recuperou. Mikhail nos ajudará. Quando alcançar a região, ele a encontrará e você estará sob seu amparo. Elevarei-me logo que seja possível e irei imediatamente a você. Ele nos ajudará a encontrar uma boa localização para nossa casa. Você estará perto dele e sob o amparo de todos os Cárpatos. Marquei o caminho para você nas montanhas. - Falcon inclinou a cabeça para a tentação do seio dela e sua língua acariciou o tenso e rosado mamilo. No ato, seu cabelo deslizou sobre a pele dela, como seda. - Deve ser muito cuidadosa, Sara. Não pode pensar que está a salvo por ser de dia. O não-morto está na terra, mas é capaz de controlar seus serventes. Este vampiro é antigo e muito poderoso.
O corpo dela ardia em chamas novamente, mais que isso, chamas líquidas se lançaram através de sua corrente sanguínea.
- Serei mais que cuidadosa, Falcon. Sei o que podem fazer. Não vou fazer nenhuma tolice. Não tem que se preocupar. Depois de entrar em contato com meus amigos e fazer uma chamada para meu advogado, irei diretamente para as montanhas. Encontrarei sua gente. - Assegurou-lhe ela. Seu coração pulsava um pouco muito rápido, ante essa idéia e ela sabia que ele o ouvia. Sua própria audição era mais aguda que antes e a idéia de comer a faziam sentir doente. Estudara os Cárpatos por vários anos. Sabia. Já estava mudando e separar-se de Falcon era aterrador. Sara elevou o queixo decididamente e lhe deu um sorriso tranqüilizador. - Uma vez me ocupe de tudo, colocarei-me em marcha. - Seus dedos deslizavam continuamente sobre o busto de Falcon, seguindo amorosamente os sulcos feitos pelas ondas de seu cabelo.
Observando-a, sabendo que essa estátua havia sido sua distração em anos passados, Falcon sentiu que seu coração acelerava no peito. Abraçou-a apertadamente. Seu toque era possessivo, terno e tão amoroso como podia.
- Não estará sozinha, Sara. Estarei atento a sua chamada, mesmo em minha hora mais vulnerável. Se sua mente começará a te mentir, dizendo que estou morto para voce, me chame e responderei.
Sara moldou seu corpo contra o dele, colando-se a ele, abraçando-o para poder sentir que ela era real, forte e muito sólido.
- Algumas vezes, penso que sonho há tanto tempo com você, que estou alucinando, que de um momento a outro, desaparecerá. - Confessou ela, brandamente.
Os braços dele quase a esmagam contra ele, embora havia uma grande ternura na forma em que ele a abraçava.
- Eu nunca me atrevi a sonhar, nem sequer a esperar. Já havia aceitado minha existência vazia. Era a única forma de sobreviver e levar a cabo minha tarefa com honra. Nunca a abandonarei, Sara. - Não disse que o aterrorizava a idéia de ir para a terra, enquanto ela enfrentava o perigo na superfície. Era uma mulher forte, e tinha sobrevivido a um duelo longo e mortal com o vampiro, por sua própria conta. Não podia insistir em que fizesse as coisas a sua maneira, simplesmente por sua tranqüilidade.
Sara estava tocando sua mente, podia ler seus pensamentos, a intensidade de seu medo pela segurança dela. Uma onda de amor a engoliu. Levantou a face para ele, procurando seus lábios, desejando prolongar seu tempo com ele. A boca dele era ardente e dominante, tão faminta como a dela. Exigente. Uma feroz reclamação. Ele beijou-lhe o queixo, a garganta e encontrou seus lábios novamente, devorando-a como se nunca fora a conseguir suficiente dela. Agora havia medo em seu beijo, havia dor. Necessidade.
A perna da Sara deslizou para cima pela dele enredando-se em sua cintura. Pressionou-se contra ele, esfregando-se, a fim de que ele sentisse seu convite, sua exigência, ardente, úmida e latente de desejo.
Falcon simplesmente a levantou nos braços, e lhe enredou as pernas dela em volta de seu quadril. Com as mãos sobre os ombros dele, ela jogou a cabeça para trás, baixando seu corpo até a grossa ereção.
Ele pressionou-se contra a úmida entrada, fazendo-a ofegar, gemer enquanto lentamente, centímetro a centímetro, enchia-a completamente. Sara jogou a cabeça para trás, fechando os olhos enquanto se entregava, perdendo-se completamente na escura paixão de Falcon.
Um feroz calor os envolveu. Estavam em perfeita união, lendo a mente um do outro, movendo-se, ajustando-se, entregando-se completamente, um para o outro. Quando terminaram, apoiaram-se contra a parede e se abraçaram, seus corações pulsando ao mesmo ritmo, com lágrimas nos olhos.
A cabeça de Sara descansou sobre o ombro dele e a de Falcon sobre a dela.
- Não pode permitir que nada te aconceça, Sara. - Advertiu ele - Agora tenho que ir. Não posso esperar muito mais. Sabe que não posso estar sem voce. Lembrará de tudo o que eu disse?
- Tudo. - Sara apertou seu abraço. - Sei que é uma loucura, Falcon, mas o quero. De verdade. Sempre estiveste comigo quando precisei. Amo você.
Ele a beijou, longa e meigamente. Incrivelmente terno.
- É meu amor, minha vida, Sara. – Sussurrou ele, baixinho, antes de desaparecer. Sara permaneceu apoiada contra a parede, com os dedos apertados contra a boca durante alguns minutos. Depois entrou em ação.
Trabalhou rapidamente, empacotando um pouco de roupa e colocando-as em sua mochila, fazendo várias ligações, para pedir a seus amigos que ficassem de olho nas crianças, até que ela pudesse voltar. Tinha toda a intenção de voltar por elas, logo que solucionasse a papelada e tivesse uma casa para eles.
Estava na estrada, conduzindo-se para as Montanhas dos Cárpatos, em menos de uma hora, depois.
Precisava da escuridão dos óculos de sol, embora o dia era de um lúgubre cinza com ameaçadoras nuvens no alto. Sua pele estava ardendo, por causa dos raios do sol que atravessavam a espessa cobertura das nuvens, para tocar seu braço enquanto conduzia. Tentou não pensar em Falcon, profundamente na terra. Seu corpo estava maravilhosamente machucado. Podia sentir seu toque sobre ela, sua posse e só em pensar nele, fazia sentir ardente e renovado desejo. Não podia evitar que sua mente procurasse continuamente a dele.
Cada vez que tentava, tocava o vazio, seu coração se contraía dolorosamente, e lhe requeria um tremendo esforço controlar sua dor desenfreada. Cada célula de seu corpo exigia que ele voltasse, que a encontrasse, que se assegurasse de que estava a salvo.
Sara elevou o queixo e continuou dirigindo. Passou por várias cidades e pequenos povoados, até que finalmente encontrou a região escassamente povoada. Deteve-se duas vezes, para descansar e estirar as pernas, mas continuou firmemente, sempre conduzindo para a região que Falcon tão cuidadosamente havia marcado para ela. Estava tão concentrada em encontrar o caminho que conduzia ao território selvagem que quase bateu em outro veículo que a alcançava. Ultrapassou-a como um relâmpago, a toda velocidade, um caminhão grande e pesado, coberto por uma lona. Viu-se forçada a afastar-se da estrada, para evitar que ele a empurrasse. O veículo passou tão rapidamente, que quase não pôde ver os pequenos rostos espiando-a pela janela da lona. Quase havia perdido o som dos gritos desvanecendo-se no bosque.
Sara congelou. Sua mente tomada pela surpresa e seu corpo quase paralisado. As crianças. Seus pequenos, que tinha prometido salvar e oferecer uma casa. Estavam em mãos de uma marionete. Um ghoul. O morto vivente. O vampiro tomara um humano, escravizara e havia programado à criatura para pefgar suas crianças como isca. Deveria ter pensado, deveria ter suposto que ele os descobriria. Lançou-se em sua perseguição, pelo estreito e serpenteante caminho, obstinada ao volante, enquanto sua caminhonete ameaçava partir-se.
Duas horas depois, estava completa e desesperadamente perdida. O ghoul obviamente era consciente de que ela o seguia e simplesmente a conduziu para onde nenhum veículo seria capaz de ir, correndo perigosamente através de curvas e mais curvas, através da vegetação. Sara tentou o seguir, conduzindo a velocidade suicida através de uma série de curvas, com as rodas jogando cascalho em todas as direções Encontrou uma árvore caída, diretamente em seu caminho e teve que entrar com sua caminhonete, profundamente no bosque, para contorná-lo. Estava segura de que o ghoul havia derrubado a árvore para lhe bloquear, para atrasá-la. As árvores estavam cada vez mais juntas umas das outras e arranhavam a pintura dos dois lados da caminhonete. Não podia acreditar que estivesse passando por isso, que tivesse perdido o outro veículo e ão havia mais estradas por onde andar.
Tentou por duas vezez, olhar o mapa que estava no assento junto a ela, mas com a terrível estrada cheia de buracos era impossível enfocar a vista. Os galhos batiam no pára-brisa e se quebravam com um som ameaçador.
Com os braços doloridos e o coração martelando no peito, Sara manobrou a caminhonete de volta a um atalho tênue, que podia levá-la de volta a estrada. O atalho era muito estreito e corria por uma ravina profunda, que parecia uma cratera na terra. Em alguns lugares, rochas enormes e arredondadas mostravam suas cicatrizes, como se ali tivesse acontecido uma guerra. Os galhos golpeavam sua caminhonete enquanto ela abria passo através das árvores pela sinuosa estrada. Precisava parar e consultar o mapa que Falcon havia lhe dado.
Seu nome imediatamente trouxe uma onda de dor, de medo que ele estivesse perdido para ela, mas Sara tentou empurrar a falsa emoção para um lado, o agradecendo mentalmente, que a tivesse preparado para semelhante possibilidade. Um soluço fluiu, estrangulando-a e as lágrimas nublavam sua visão, mas secou-as, girando o volante decididamente, quando a caminhonete quase se saiu da estrada por causa de um buraco particularmente profundo.
Isto não podia estar acontecendo. As crianças, suas crianças em mãos da perversa marionete do vampiro. Um ghoul que comia carne fresca. Sara quis continuar conduzindo tão rápido como pudesse, temendo que se detivesse, nunca seria capaz de alcançá-los. Era consciente de que já avançava a tarde e uma vez que o ghoul entregasse as crianças ao vampiro, tinha poucas esperanças de salvá-los.
Sara suspirou e diminuiu a velocidade da caminhonete com grande cuidado, parando a um lado do caminho. Um escarpado íngreme se elevava a sua esquerda. Requereu-lhe uma tremenda disciplina, obrigar-se a parar o veículo e olhar o mapa. Precisa encontrar os lugares onde podia ter perdido o caminhão. Sentiu-se que estava quase morrendo de dor. Abriu a porta e saiu do veículo correndo e procurou onde pudesse respirar ar fresco e frio.
Falcon. Respirou seu nome. Desejando-lhe. Limpando-as lágrimas, Sara pegou o mapa do assento e fixou o olhar na rota claramente marcada. Onde desaparecera o ghoul? Como o tinha perdido? Tinha conduzido tão rápido como pôde e mesmo assim, perdera de viata as crianças.
Uma terrível sensação de fracasso a assaltou. Estendeu o mapa sobre o capô da caminhonete e olhou fixamente as marcas, esperando inspiração, a mínima pista. Suas unhas golpeavam com um pequeno ritmo frustrado sobre o capô de metal. Tudo o que ouvia seu redor era o som do vento soprando através das árvores e sobre os escarpados para o espaço vazio. Mas um sexto sentido a advertiu de que não estava sozinha.
Sara girou a cabeça. A criatura avançava para ela, sua expressão vazia era um horrendo aviso de que já não era mais um humano. Não havia forma de raciocinar com ele, nem de suplicar. Havia sido programado por um professor em astúcia e maldade. Deixou escapar o fôlego lentamente, cuidadosamente, centrando-se em si mesma, para enfrentar o ataque. Sara se agachou apoiando-se na ponta dos pés, com a mente limpa e tranqüila enquanto a coisa se aproximava. Ele estava com os olhos fixos nela e seus dedos abriam e fechavam, enquanto arrastava os pés para frente. Não permitiria que ele colocasse suas mãos nela. Seu mundo se limitava à coisa que se aproximava dela, a sua mente limpa, sabia o que tinha que fazer.
Esperou até que a criatura esteve quase sobre ela antes de se mover. Utilizou sua velocidade, retorcendo-se num giro, tomando força enquanto estendia a perna, a ponta de sua bota encontrou o joelho do ghoul, num ataque de violência. Correu, afastando-se a toda pressa, fora do alcance dessas mãos como garras. A criatura uivou ruidosamente, cuspindo o ar, uma baba espessa caía pela lateral de sua boca. Os olhos permaneciam mortos e fixos nela enquanto que a perna se dobrava com um barulho audível. Incrivelmente, ele cambaleava para ela, arrastando a perna imprestável, mas avançando teimosamente para ela.
Sara sabia que a rótula estava quebrada, embora a coisa seguia avançando para ela. Já esnfrentara algo semelhante antes e sabia que ele continuaria insistindo embora tivesse que se arrastar pelo chão. Ziguezagueou, rodeando o ghoul pela esquerda, na intenção de passar por ele. Preocupava-a não poder ouvir as crianças, que nenhum deles estivesse chorando ou pedindo ajuda, a gritos. Com a audição tão aguda, Sara estava segura de que teria sido capaz de ouvir sussurros que viessem do caminhão do ghoul, mas havia um silêncio ameaçador.
Agüentou, sacudindo os braços para mantê-los relaxados. O ghoul tentou acertá-la com o braço comprido, um punho como um martelo passou perto de seu rosto, enquanto ela se agachava e o golpeava com o pé, na virilha, depois lançou um direto em seu queixo. A marionete uivou, o som foi alto e horrendo, o corpo se sacudiu sob o assalto, mas ele cambaleou para trás e saltou para ela. Sara teve que sair fora de seu alcance.
Era uma lição de pura frustração. Não importava quantas vezes o acertasse, a criatura se negava a cair. Uivava, cuspia saliva pela boca, mas seus olhos eram sempre os mesmos, planos e vazios, fixos sobre ela. Era uma máquina implacável que nunca se deteria. Como último recurso, Sara tentou o conduzir para a beirada da ravina, com esperança de poder empurrá-lo, mas ele se deteve durante um momento, respirando trabalhosamente e depois se voltou inesperadamente, afastando-se dela e internando-se entre os arbustos e árvores.
Sara entrou apressadamente em sua caminhonete. O coração martelava trabalhosamente. Um choque ensurdecedor a fez voltar à cabeça. Para seu horror, o pesado veículo do ghoul se movia esmagando arbustos e pequenas árvores, rodando pelo bosque como a carga de um elefante, dirigindo-se diretamente ao flanco de sua caminhonete. Mais por reflexo, que por causa de um pensamento racional, seu pé pisou com força o acelerador.
A caminhonete saiu do caminho retrocedendo, as rodas cuspiram pó. O coração ddea Sara quase parou, quando o enorme veículo continuou diretamente para ela. Pôde ver a cara do motorista, quando este se aproximou ameaçadoramente. Era como uma máscara, os olhos mortos e planos. O ghoul parecia babar incontrolablemente. Podia ouvir os gritos das crianças, assustadas e sozinhas no meio da loucura de um mundo que não tinham esperança de entender. Pelo menos, ainda estavam vivos. Sara temera que o silêncio anterior significasse que o ghoul os tivesse matado.
O caminhão golpeou a lateral de sua caminhonete, afundando a porta para dentro e empurrando seu veículo mais perto do pronunciado da ravina. Sara sabia que ele ia lançá-la sobre o escarpado. A pequena caminhonete s deslizava, o metal se retorcia, as crianças gritavam, o ruído era um assalto a seus sensíveis ouvidos. Uma estranha calma a invadiu, uma sensação do inevitável. Seus dedos não soltavam o volante, embora não podia girá-lo, não podia evitar que a caminhonete deslizasse centímetro a centímetro para beira do abismo.
Duas rodas passaram e o carro inclinou e então caiu, dando voltas no ar, estrelando-se contra a ravina, deslizando-se. O cinto de segurança a sustentou, um duro puxão que mordeu sua carne, acrescentando-se à dor que já a intumescia. Falcon.
Seu nome foi um suave gemido de arrependimento em sua mente. Uma súplica de perdão.
Falcon se retorceu em sua sonolência, seu coração martelava, seu peito s comprimia de sufoco. Estava longe da Sara, incapaz de ajudá-la. Produziria uma monstruosa tormenta que ajudasse a proteger seus olhos para poder elevar-se antes, mas mesmo assim não poderia alcançá-la a tempo. Sara. Sua vida. Seu coração e sua alma. O terror o invadiu. O peso o esmagou. Sara. Sua Sara, com sua coragem e sua capacidade de amar.
Ela estava nas Montanhas dos Cárpatos, capturada na armadilha que o vampiro havia tecido. Não tinha escolha. Todos os que compartilhavam o sangue dos Cárpatos o ouviriam e isso incluía o não-morto. Era um risco, uma aposta. Falcon era um antigo que todos supunha morto. Nunca havia jurado lealdade ao novo Príncipe e podia ser que ele não acreditasse, mas era a única oportunidade de Sara.
Falcon convocou toda sua força e enviou sua chamada.
- Ajudem-me, irmãos. Minha companheira está sendo atacada nas montanhas, perto de vocês. Por Deus, ajudem-na rapidamente, eu estou longe dela. Está sendo caçada por um antigo inimigo que enviou sua marionete para pegá-la. Por Deus, elevem-se e ajudem-na. Apelo a todos que ouvirem. Sou Falcon, do antigo sangue dos Cárpatos e só procuro protegê-la.
Havia um torvelinho de medo na mente da Sara, na dele. Falcon atravessou a terra como um foguete e irrompeu no céu. A luz assaltou seus olhos sensíveis e fez arder sua pele, mas não importava. Nada importava exceto Sara que estava em perigo. Havia fundido sua mente com a dela e encontrara um negro vazio. Teve uma eternidade para sentir o horror impotente entupindo em sua garganta, um punho apertando seu coração como um ferrolho, o vazio que havia sido seu mundo, agora insuportável, inconcebível, impensável, uma blasfêmia depois de tê-la conhecido.
Falcon obrigou sua mente a funcionar, estendendo-se incansavelmente nesse negro vazio mental em busca sua alma. Por sua vida. Por seu amor.
- Sara. Sara, por Deus, me responda. Desperte já. Deve despertar. Estou a caminho, mas deve despertar. Abra os olhos por mim. - Manteve a voz tranqüila, mas a compulsão foi forte, a necessidade nele era extrema.
A voz era longínqua, chegava de dentro de sua palpitante cabeça. Sara ouviu o próprio gemido, um som estranho. Estava arranhada e ferida por toda parte. Não queria obedecer a suave ordem, mas havia nela uma nota que não podia resistir. A voz trouxe com ela a consciencia, e com a consciencia chegou à dor. Seu coração começou a martelar de terror.
Não fazia idéia de quando tempo ficara inconsciente entre os restos da caminhonete, mas podia sentir o metal pressionando suas pernas e o vidro cortando seu corpo. Estava presa entre o metal retorcido, com cacos de vidros rodeando-a por toda parte, e sangue escorrendo por sua face. Não queria se mover, nem quando ouviu movimento perto dela. Apertou os olhos com força e rogou por voltar sigilosamente para a inconciencia.
O alívio espalhou-se no coração e na mente de Falcon, através dele, o sacudindo. Durante um momento ficou perfeitamente imóvel, quase caiu do céu, quase era incapaz de manter a imagem que precisava para seguir. Sua mente estava completamente unida a de Sara, enterrado nela, comprovando, examinando, quase louco de felicidade. Ela estava viva. Ainda estava viva! Falcon lutou para controlar a reação de seu corpo, ante o puro terror de perdê-la, ante o incrível alívio de saber que ela estava viva. Requereu toda sua disciplina, normalizar os batimento de seu coração, deter seus terríveis tremores. Ela estava viva, mas presa e ferida.
- Sara, piccola, faz o que te peço, abra os olhos. - Manteve a voz amável, Falcon não lhe deu escolha, colocando compulsão na pureza de sua voz. Sentia a dor deslizando-se pelo corpo dela, uma sensação de claustrofobia. Ela estava desorientada e doía muito sua cabeça. O medo de Falcon voltava com toda sua força, embora ele escondesse dela. Em vez disso, manteve-o preso em seu coração, no fundo de sua alma. Um terror tal, como não conhecera antes. Movia-se rápido, cruzando o céu tão veloz quanto era possível, sem se preocuparcom as perturbações de poder, sem se preocupar com todos os antigos da região, que saberiam que ele estava correndo para as montanhas. Ela, sua mulher. Ela, sua Sara, estava sozinha, ferida, presa e perseguida.
Os olhos de Sara obedeceram a suave ordem. Notou a sua volta, os vidros quebrados, os restos retorcidos e a parte superior de sua caminhonete. Não estava segura de estar ainda dentro do veículo. Já não podia reconhecê-la como um carro. Estava aos pedaços. O sol estava caindo nas montanhas, uma sombra se estendia pelo terreno rochoso.
Ouviu um ruído, o raspar de algo contra a lateral esquerda da caminhonete e seguidamente, estava vendo o rosto de uma mulher. A visão de Sara era imprecisa, e ela levou alguns segundos para enfocar a mulher. Sara lembrou sua situação e assustou pensar quanto tempo podia ter passado, quão perto poderia estar o ghoul. Tentou se mover e olhar além da mulher. Quando se moveu, seu corpo gritou em protesto e uma chuva de cristais caiu a seu redor. Tinha perdido os óculos de sol, e ardiam seus olhos, como se choravam continuamente.
- Fique quieta. - Disse a mulher, com voz consoladora e amável. - Sou médica e devo avaliar a seriedade de seus ferimentos. - A desconhecida franziu o cenho enquanto tomava ligeiramente a mão de Sara.
Sara se sentia desorientada, e podia saborear o sangue em sua boca. Requeria muito esforço levantar a cabeça.
- Não pode ficar aqui. Algo me persegue. De verdade, me deixe aqui, estarei bem. Tenho alguns ferimentos, nada mais, mas você não está a salvo. - Sentia a língua grosa e pesada e seu tom de voz a surpreendeu, fina e débil, como se sua voz chegasse de muito longe. - Não está a salvo. - Repetiu, decidida a fazer se ouvir.
A mulher a estava examinando cuidadosamente, quase como se soubesse o que Sara estava pensando. Sorriu tranquilizadoramente.
- Meu nome é Shea, Shea Dubrinsky. O que está a perseguindo, podemos nos ocupar dele. Meu marido está perto e nos ajudará se for necessário. Vou colocar as mãos sobre voce e comprovar seus ferimentos. Se pudesse ver sua caminhonete, saberia que é um milagre que tenha sobrevivido.
Sara estava se desesperando. Shea Dubrinsky era uma mulher formosa, de pele pálida e cabelo vermelho como o vinho. Parecia irlandesa. Estava serena apesar das circunstâncias. Foi então quando registrou o nome.
- Dubrinsky? Seu marido se chama Mikhail? Estou procurando Mikhail Dubrinsky.
Algo piscou nos olhos de Shea Dubrinsky atrás de seus óculos de sol. Havia compaixão, mas também algo mais, algo que fez Sara s estremecer. As mãos da doutora se moviam sobre ela de forma impessoal, mas amável e meticulosa. Sara sabia que esta mulher, esta doutora, era uma deles. Os outros. Shea Dubrinsky se estava comunicando com alguém mais, da mesma maneira que Sara fazia com Falcon. Isso assustou a Sara quase tanto como o encontro com o ghoul. Não podia distinguir entre amigo e inimigo.
Falcon.
Estendeu-se para ele. Precisando senti-lo. Desejando que estivesse com ela. O acidente a tinha sacudido tanto que resultava difícil pensar com claridade. Doía-lhe a cabeça terrivelmente e seu corpo estava fraco, tremulo, além de sua habilidade para controlá-lo. Era humilhante para alguém com a forte natureza de Sara.
- É um deles.
- Estou aqui. Não tenha medo. Ninguém pode te fazer mal. Olhe-a diretamente e eu verei o que você veja.
Havia uma confiança total na voz de Falcon, que a encheu de segurança, da sensação de fortes braços a sua volta, aproximando-a, abraçando-a a ele. A sensação era muito real e lhe deu confiança.
- Fala com outro. Diz que seu nome é Dubrinsky e seu marido está perto. Sei que está falando com ele. Está o chamando para nós.
Sara disse com completa convicção. A mulher parecia tranqüila e profissional, mas Sara sentia o que estava acontecendo, sabia que Shea Dubrinsky estava se comunicando com alguém mais, apesar de que Sara não poder ver ninguém.
Ofegou quando as mãos da mulher tocaram as zonas machucadas. Tentou sorrir.
- Na realidade estou bem, o cinto de segurança me salvou, embora doa como o demônio. Tem que sair daqui. – Ela estava se sentindo desesperada procurando sinais do ghoul. Sara tentou se mover e gemeu quando cada músculo de seu corpo protestou. A cabeça doía tanto que doíam também seus dentes.
- Aquiete-se. - Disse Shea brandamente, persuasivamente e Sara reconheceu um ligeiro "empurrão" para a obediência. Falcon estava ali com ela, compartilhando sua mente, já não estava tão assustada. Acreditava nele. Sabia que ele viria, que nada evitaria que ele fosse para seu lado.
- Mikhail Dubrinsky é o irmão de meu marido. Por que o busca? - Shea falava casualmente, como se a resposta não tivesse importância, mas uma vez mais, aí estava o "empurrão" para a verdade.
Sara tentou levantar a cabeça, desejando tirar os vidros quebrados do cabelo. A cabeça doía tanto que a deixava doente.
- Por alguma razão, a compulsão não funciona muito bem comigo. Assim se for usá-la, terá que utilizar uma muito mais forte. – Ela estava lutando por manter os olhos abertos.
- Sara! Concentre-se nela. Mantenha-a enfocada! - A ordem de Falcon foi aguda. - Enviei uma chamada a minha gente para os alertar e pedir que a encontrassem. Mikhail tem irmãos, mas deve permanecer alerta. Devo ver através de seus olhos. Deve permanecer acordada.
Shea estava sorrindo abertamente, um pouco arrependida.
- Está familiarizada conosco. – Disse ela. Nesse caso, quero que se mantenha muito quieta enquanto te ajudo. O sol está entrandorapidamente. Se estiver sendo caçada por uma marionete do não-morto, o vampiro estará perto e esperando que caia o sol. Por favor, permaneça tranqüila enquanto faço isto. - Shea estava estudando o rosto de Sara, em busca de uma reação.
Houve um movimento atrás da Shea, que voltou a cabeça com um sorriso amoroso.
- Jacques, encontramos o que procurávamos. É uma companheira. Ele está nos observando através de seus olhos. É uma de nós, embora não de tudo ainda. - Por cortesi, Shea falou em voz alta. Havia amor em sua voz, uma intimidade que sussurrava a respeito de um compromisso total. Voltou-se novamente para Sara. - Tentarei que se sinta mais cômoda e Jacques vai tirar voce da caminhonete para que possamos partir e nos colocar a salvo. - Havia uma completa confiança em seus tons gentis.
Sara desejava que o terrível batimento de sua cabeça acabasse. Não podia mover as pernas, pois as ferragens estavam prendendo-a como um ataude. A presença de Falcon em sua mente, evitava que ela deslizasse de volta à bem-vinda escuridão. Lutou para permanecer alerta, estudando cada movimento de Shea. O desconhecido Jacques não havia entrado em sua linha de visão, mas ela não sentia uma ameaça imediata.
Shea Dubrinsky era graciosa e segura e parecia absolutamente profissional, apesar da estranha forma em que estava curando Sara. Sara já sentia à outra mulher dentro dela, e uma energia fluindo através de seu corpo aliviando as terríveis dores, curando-a de dentro para fora. Assombrou-a, que sua cabeça realmente estava aliviando a dor. As náuseas desapareceram. Shea se inclinou e desabotoou o cinto de segurança que se cravava no peito da Sara.
- Seu corpo sofreu um trauma. - Disse. - Há grandes ferimentos, mas é muito afortunada. Uma vez que estejamos a salvo, poderei fazer com que se sinta melhor.- Ela deu passagem, para permitir seu companheiro acessar aos restos da caminhonete.
Sara se encontrou levantando o olhar para um homem com um rosto singularmente formoso. Seus olhos, quando tirou os óculos de sol, eram velhos como o tempo, como se tivesse visto de tudo. Sofrido muito. Ele colocou os óculos sobre a face de Sara, proporcionando alívio a seus olhos que ardiam. Shea roçou a mão de Jacques com a sua, o mais ligeiro dos gestos, mas tão íntimo, que nada que Sara houvesse presenciado. Podia sentir a imobilidade de Falcon, podia o sentir reunir forças.
- Não se mexa. - Advertiu Jacques maciamente. Sua voz sustentava uma pureza familiar que parecia ser parte da espécie dos Cárpatos.
- Ele está com as crianças. Vá atrás dele. Se for como Falcon, tem que ir atrás dele e trazer de volta as crianças. Ele vai levá-las para o vampiro. Deve encontrar as crianças e protegê-las do vampiro. – Sara começava a sentir pânico, pensando claramente, agora que a dor estava cedendo.
Jacques segurou direção e a retorceu, exercendo força até dobrá-la, afastando-a dela, proporcionando mais espaço para respirar.
- O ghoul não alcançará o vampiro. Mikhail se elevou e evitará que a marionete alcance seu amo. - Havia uma completa confiança na suave voz de Jacques. - Seu companheiro deve estar em caminho, possivelmente já está perto de nós. Todos nós ouvimos sua chamada, embora seja um desconhecido para nós. - Era uma declaração, mas Sara ouviu a pergunta que encerravam suas palavras.
Observou suas mãos empurrar o metal retorcido, de volta de suas pernas, para que pudesse se mover. O alívio foi tão grande, que pôde sentir lágrimas em seus olhos. Sara afastou o rosto, do minucioso olhar do desconhecido. A calma fluiu em sua mente.
- Estou contigo, Sara. Sinto seus ferimentos e seu temor pelas crianças, mas este homem não te mentiria. É o irmão do Príncipe. Ouvi falar dele, é um homem que suportou muita dor e dificuldades, que foi enterrado vivo por fanáticos humanos. Mikhail não fracassará em resgatar as crianças.
- Vá você, não se preocupe por mim. Assegure-se de que as crianças estejam a salvo!
Ela não conhecia príncipe. Conhecia Falcon e confiava nele. Se as crianças pudessem ser arrancadas das mãos do vampiro, seria ele quem o faria. E agora que ele estava perto, sentia-se segura. Sua presença era muito mais forte e já requeria pouco esforço comunicar-se com ele.
- Vou ajudar voce a sair daí. - Advertiu Jacques.
Sara estava desejando desesperadamente ficar livre das ferragens, mas agora, enfrentada o medo de se mover. Não lhe parecia a melhor das idéias.
- Acredito que simplesmente ficarei sentada aqui o resto de minha vida, se não se importar. - Disse.
Para sua surpresa, Jacques lhe sorriu. Um relâmpago de dentes brancos que iluminou seus olhos devastadores. Era a última coisa que esperaria dele e se encontrou devolvendo o sorriso.
- Não se assusta facilmente, verdade? - Perguntou ele, gentilmente. Não dava sinais de que a luz do dia danificasse seus olhos, mas ela podia ver que estes estavam vermelhos e nublados. Suportava-o estoicamente. Sara levantou uma mão ao nível dos olhos e a viu tremer. Os dois riram juntos.
- Sou Sara Marten. Obrigado por vir me resgatar.
- Não podíamos fazer outra coisa, com seu companheiro enchendo os céus com sua declaração. - Os dentes brancos resplandeceram de novo, desta vez ele a fez lembrar de um lobo.
- Eu sou Jacques Dubrinsky. Shea é minha companheira.
Sara sabia que ele estava estudando-a atentamente para ver que efeito produzia nela suas palavras. Ela sabia que Falcon estava estudando Jacques através de seus olhos, captando cada matiz, avaliando o outro homem. E Jacques Dubrinsky também era bem consciente disso.
- Vou levantar você e a tirar daí, Sara. - Disse Jacques, amavelmente. -Me deixe o trabalho. Nunca deixei cair Shea, assim não tem com que se preocupar. - Brincou.
Sara voltou à cabeça para olhar à outra mulher e arqueou uma sobrancelha.
- Não acredito que isso possa que me tranqüilizar muito. Ela é bem menor que eu.
Shea sorriu, um sorriso rápido e cativante que iluminou todo seu rosto.
- Oh! Creio que ele pode com a tarefa, Sara.
Jacques não lhe deu muito mais tempo para pensar nisso. Levantou-a e a carregou facilmente até um ponto plano, onde sua companheira se inclinou sobre ela solícitamente. O movimento deixou Sara sem fôlego, enviando dor a todo seu corpo. Shea tirou com cuidado, os vidros de seu cabelo e de sua roupa.
- Avise seu companheiro que vamos levar voce a casa de Mikhail. Estará segura lá e Raven e eu cuidaremos de voce enquanto Jacques se une aos homens, na perseguição das crianças perdidas.
- Quero que o homem fique perto de ti enquanto eu estou ausente.
Sara ouviu a ironia subjacente na voz de Falcon e sorriu. A idéia de qualquer homem perto de Sara era desconcertante para, mas ele precisava saber que ela estava a salvo. O alivo de Sara ao saber que Falcon estava perto e procurando as crianças foi enorme. Podia respirar novamente, embora, inexplicavelmente, queria chorar.
Shea ajoelhada junto a ela, olhou-a nos olhos.
- É uma reação natural, Sara. - Disse brandamente. - Agora tudo vai estar bem, tudo vai estar bem. – Ela usou sua voz como ferramenta, para apaziguar à outra mulher. - Não estará sozinha, realmente podemos ajudar.
- Falcon diz que o vampiro é antigo e muito poderoso. - Disse Sara em advertência. Esforçava-se por aparentar tranqüilidade e controlar o tremor de seu corpo. Era humilhante estar tão fraca diante de desconhecidos.
Jacques girou a cabeça ao redor, em alerta, com seus olhos negros e brilhantes, toda sua postura mudou. Pareceu-lhe ameaçador.
- Pode viajar, Shea?
Shea estava endireitando-se lentamente, com um olhar cauteloso em sua formosa face. Uma revoada de nervos floresceu no estômago de Sara.
- Ele está aqui, não é? O ghoul? – Ela mordeu o lábio e fez um esforço supremo para ficar em pé. - Se estiver perto de nós, então também estarão as crianças. Não pode tê-las entregado ao vampiro. - Para seu horror, Sara só conseguiu ficar sobre um joelho antes que começasse a formar redemoinhos-se alarmantemente perto.
- O ghoul está abrindo passo rapidamente para seu amo. - Corrigiu Jacques. – Provavelmente o vampiro o convocou. O não-morto envia sua advertência, um desafio a tudo o que se atreva a interferir em seus planos.
Shea deslizou um braço ao redor de Sara para evitar que caísse.
- Não tente se mover até, Sara. Não está preparada. - A mulher se voltou para seu companheiro. - Podemos movê-la, Jacques. Acredito que é melhor ardarmos logo.
- Eles sabem que algo que eu não. - Sara esfregou a cabeça palpitante, frustrada por ser incapaz de ver ou ouvir os sinais que anunciavam o perigo. - Algo está errado?
Em seguida, ela pôde sentir a tranqüilidade de Falcon e seus fortes braços. Sua ternura fluindo até ela, embora estivesse a milhas de distância. – O vampiro está preso dentro de sua guarida, mas envia seus serventes pela terra para buscá-la. O homem quer te levar a lugar seguro.
- Realmente quer que vá com ele? Sinto-me tão indefesa, Falcon.
- Sim, Sara, é o melhor. Estarei contigo em cada momento.
O céu estava escurecendo-se, não porque o sol estivesse se pondo, mas porque o vento se levantava, soprando rápidamente, acumulando pó, sujeira e lixo, formando com eles uma massa de altura imponente. Enxames de insetos se reuniam, massas deles, o ruído de suas asas rivalizavam com o vento.
As crianças deviam estar assustadas. Sara se estendeu em busca de tranqüilidade.
Falcon quis estar com ela, abraçá-la, defendê-la das batalhas que certamente teriam que enfrentar. Enviou-lhe ternura, amor.
- Encontrarei-os, Sara. Deve permanecer alerta para que possa se proteger enquanto estejamos separados.
Por alguma razão, as palavras de Falcon a envergonharam. Queria estar junto dele. Precisava estar junto a ele.
Jacques Dubrinsky se inclinou para Sara.
- Entendo como se sente. Desgosta-me estar longe de Shea. Ela é um tesouro, muito importante para nossa gente. – Ele olhou para sua companheira, enquanto erguia Sara facilmente, nos braços. Sua expressão era terna, cheia de orgulho e respeito. - É muito distraída. Concentra-se só no que está fazendo no momento. – Jacques sorriu, compartilhando sua confissão candidamente.
- Espere! - Sara sabia que sua voz estava invadida pelo pânico. - Há uma mochila na caminhonete, não posso deixá-la. Não posso. - O diário de Falcon estava na caixa de madeira. Levava-o a todas partes com ela. Não ia deixá-lo sob nenhum conceito.
Shea a fitou como se fosse discutir, mas obsequiosamente, revolveu entre os restos do veículo até sair triunfante com a mochila. Sara tinha os braços estendidos e Shea a entregou.
Jacques arqueou uma sobrancelha.
- Agora está preparada? Feche os olhos, viajar rápido pode te incomodar.
Antes que pudesse protestar, ele estava levando-a através do espaço, movendo-se tão rápido que tudo a seu redor se rabiscou. Sara se alegrou de afastar-se dos restos de sua caminhonete, da ferocidade do vento e dos enxames de insetos que enegreciam o céu. Deveria sentir medo, mas havia algo tranqüilizador em Jacques e Shea Dubrinsky. Sólido. De confiança.
Captou a impressão de uma enorme casa com colunas e balcões por toda parte. Não teve tempo de obter mais que uma rápida olhada, antes que Jacques entrasse. O interior era ricamente adornado e com amplos espaços abertos. Por toda parte havia obras de arte, vasos, belíssimas tapeçarias e formosos móveis. Sara se encontrou num comprido saguão, sentada em um dos luxuosos sofás. Pesadas cortinas estavam baixadas, afastando toda luz exceto as das suaves velas que iluminavam o aposento, um alívio para seus olhos sensíveis do sol.
Sara tirou os óculos de sol de Jacques, com mão trêmula. .
- Obrigado. Foi uma consideração ter me esprestado eles.
Jacques sorriu, seus dentes de um brilhante branco, seus olhos escuros quentes.
- Sou um homem muito considerado.
Shea gemeu e ergueu os olhos.
- Também acredita que é encantador.
Outra mulher, pequena e de cabelos compridos, deslizou-se até o interior do aposento e seu braço esbelto rodeou a cintura de Jacques com facilidade, com gesto afetuoso.
- Você deve ser Sara. Shea e Jacques me alertaram com tempo, de que a trariam para minha casa. Bem-vinda. Fiz um chá. É de ervas. Shea acredita que seu estômago o tolerará. - Assinalou ela, para a formosa xicara de chá colocada em um pires sobre a mesa. - Sou Raven, a companheira de Mikhail. Shea diz que estava procurando Mikhail.
Sara olhou fixamente o chá, apoiou-se para trás nas almofadas e fechou os olhos. Palpitava-lhe a cabeça dolorosamente e se sentia doente de novo. Queria poder dormir. Chá e conversas soavam cansativas.
- Sara! - A voz de Falcon foi mais forte que nunca. - Deve se manter concentrada até que esteja a seu lado, para a proteger. Não conheço esta gente. Acredito que não farão mal, mas não posso a proteger se precisar, a menos que permaneça alerta.
Sara fez um esforço enorme para se concentrar.
- Tive um vampiro me perseguindo durante quinze anos. Ele matou toda a minha família e agora levou as crianças, que sabe significam muito para mim. Todos vocês estão, também, em grande perigo.
As sobrancelhas de Jacques se elevaram.
- Evitaste um vampiro por quinze anos? - Havia ceticismo em sua voz.
Sara virou a cabeça para olhar Shea.
- Ele não é nem de perto tão encantador, quando está a sua volta, não é?
Shea e Raven se desfizeram em risos.
- Ele cresce ante você, Sara. - Confidenciou-lhe Shea.
- O quê? - Jacques tentou parecer inocente. - É bastante estranho que alguém escape de um vampiro por quinze anos, e ainda mais uma simples humana. É perfeitamente razoável pensar que houve um engano. E eu sou encantador.
Raven sacudiu a cabeça para ele.
- Não conte muito com isso, Jacques. Eu sou uma autoridade na inclinação de te enfrentar, com freqüência. E os humanos são bastante capazes de fazer coisas extraordinárias. – Raven retirou vários pedaços de vridros da roupa de Sara. - Deveu ser amedrontador para você.
- Ao princípio, sim. - Sara concordou, com cansaço. - Mas depois se converteu em uma forma de vida. Fugir, sempre permanecendo adiante dele. Sem saber por que estava tão obcecado comigo.
Shea e Raven estavam acendendo velas aromáticas, produzindo uma fragrância consoladora que inundou a pele de Sara, abrindo passo até seus pulmões, seu corpo e aliviando os dores.
- Sara. - Disse Shea, calmamente. - Tem uma contusão e um par de costelas quebradas. Coloquei as costelas no lugar, mas tenho que trabalhar mais um pouco para me assegurar de que se curará rapidamente.
Sara suspirou. Só queria dormir.
- O vampiro virá, se averiguar que estou aqui e todos vocês estarão em perigo. É muito mais seguro que eu siga.
- Mikhail encontrará o vampiro. - Disse Jacques com completa confiança.
- Permita que a mulher a cure, Sara. Ouvi rumores. Era uma doutora humana antes que Jacques a reclamasse.
Sara franziu o cenho enquanto olhava para Shea.
- Falcon há ouviu falar de você. Está me dizendo que você foi médica.
- Ainda sou médica. - Tranqüilizou-a Shea, amavelmente. - Obrigado por sua advertência e sua preocupação por nós. Mas posso te assegurar que o vampiro não vai nos fazer mal algum aqui. Deixe que eu cuide de você, até que chegue seu companheiro. - Suas mãos eram gentis, quando se moveram sobre o corpo de Sara, deixando atrás um formigamento quente. - Curar como um Cárpato, em vez de como médica humana, não é tão diferente. É mais rápido, porque curo de dentro para fora. Não te farei mal, mas sentirá calor.
Raven continuava tirando pedaços de vidro da roupa de Sara.
- Como conheceu Falcon? É um desconhecido para nós. – Ela estava utilizando uma voz suave e amigável, desejando acalmar Sara, lhe assegurar que estaria a salvo em sua casa. Também queria qualquer informação disponível que pudesse transferir a seu próprio companheiro.
Sara se apoiou nas almofadas e seus dedos se apertaram ao redor da alça da mochila. Podia ouvir o vento, o implacável e horrendo vento que uivava e gemia, gritando e sussurrando. Havia uma voz no vento. Não podia distinguir as palavras, mas conhecia o som. A chuva açoitava as janelas e o teto, golpeando as paredes como se exigisse a entrada. Sombras escuras se moviam fora das janelas... O suficientemente escuras e malvadas, a ponto de perturbar as pesadas cortinas. O tecido não podia evitar que as sombras entrassem. Elas arquearam-se e rangeram faíscas, golpeando algo que não podiam ver. Os uivos e gemidos se incrementaram, um assalto para os ouvidos.
- Jacques. - Shea pronunciou o nome de seu companheiro, como talismã. Deslizou uma mão, para a de seu companheiro, levantando o olhar para ele com amor brilhando em seus olhos.
O homem abraçou sua companheira aproximando-a ebeijando gentilmente, a palma de sua mão.
- As salvaguardas agüentarão.
Ele mudou de lugar, deslizando seu corpo entre a janela e o sofá, onde estava sentada Sara. O movimento foi sutil, mas Sara foi consciente dele.
O som da chuva mudou, convertendo-se e golpeando as janelas, apedrejando a estrutura. Raven deu meia volta, para olhar para a grande lareira de pedra. Centenas de corpos brilhantes desceram pela chaminé, caindo com horrendos barulhos sobre, onde brilhantes chamas voltaram para a vida, queimando os insetos, quando estes tocavam as pedras. Um aroma nocivo se elevou com a fumaça negra. Um inseto particularmente enorme, se equilibrou diretamente para a Sara, com seus olhos redondos fixos nela com malevolência.
Falcon, na forma de uma coruja, esquadrinhou a terra abaixo dele. Podia ver o caminhão do ghoul através da espessa vegetação. Ele estava inclinado em ângulo, com uma roda pendurando precariamente sobre o precipício. Uma segunda coruja saiu silenciosamente das nuvens, sem se preocupar com o malévolo vento e o açoite da chuva. Falcon sentiu uma quietude em sua mente, depois uma rajada de prazer, de triunfo, um brilho de orgulho por sua gente. Conhecia bem essa descida preguiçosa e crédula, recordava bem. A coruja era Mikhail, o filho de Vladimir Dubrinsky e possuía a elegância de seu pai.
Falcon remontou o vôo para voar em círculos para a outra coruja. Fazia muito tempo desde que falara com outro Cárpato. A alegria que sentiu foi indescritível. Compartilhou-a com Sara, sua companheira, sua outra metade. Ela se merecia saber o que havia feito por ele. Por ela e por causa dela, era capaz de sentir emoções. Falcon baixou a terra, aterrissando enquanto mudava sua própria forma.
Mikhail se parecia com o pai. O mesmo poder se acirrava nele. Falcon fez uma profunda e elegante reverência. Depois ergueu o corpo, estreitando o antebraço com Mikhai,l segundo o costume dos velhos guerreiros.
- Dou-te minha lealdade, Príncipe. O teria reconhecido em qualquer parte. Parece muito seu pai.
Os perspicazes olhos negros de Mikhail se esquentaram.
- Resulta-me familiar. Eu era jovem na época. Ficou perdido para nós repentinamente, como tantos de nossos maiores guerreiros. Você é Falcon, pensamos que sua linhagem se perdera, quando desapareceu. Como é que está vivo e eu não tinha conhecimento algum de você? - Seu aperto de mão foi forte, quando devolveu a antiga saudação dos guerreiros de sua espécie. Sua voz foi calma, tranquila inclusive, embora a sutil reprimenda não passou despercebida a Falcon.
- Seu pai previu muitas coisas naqueles dias, uma sombra obscurecia o futuro de nossa gente. - Falcon se voltou para o caminhão que balançava precarioamente. Começou a caminhar para o veículo, com o Mikhail, em perfeita sincronização. Moviam-se juntos, quase como bailarinos, fluída e graciosamente, cheios de poder e coordenação. – Ele reuniu-nos uma noite, a muitos de nós e pediu voluntários para ir para terras estrangeiras. Vlad não nos ordenou partir, mas era muito respeitado e aqueles de nós que escolhemos sair daqui quando ele pediu, nunca pensamos em negar. Ele sabia que você seria Príncipe. Sabia que você enfrentaria à extinção de nossa espécie. Era necessário que tivesse fé em suas próprias habilidades e que toda nossa gente acreditasse em você. E que você não recorresse a aqueles de nós que eramos mais velhos. Não podíamos confrontar uma divisão. - A voz de Falcon foi amável, prática.
Os olhos negros de Mikhail se fixaram sobre a face de granito de Falcon, os ombros largos e a forma casual em que se movia.
- Possivelmente um conselho teria sido bem-vindo.
Um débil sorriso tocou a boca esculpida de Falcon, levando um pouco de alegria em seus olhos.
- Possivelmente, nossa gente precisava uma perspectiva nova e sem a carga do que foi uma vez.
- Possivelmente. - Murmurou Mikhail amável.
O ghoul havia descido do caminhão e rodeava o veículo enquanto o examinava. Não levantou a vista para os dois homens dos Cárpatos, ou reconheceu sua presença, de algum modo. De repente, ele colocou as costas contra o caminhão e enterrou os pés no terreno rochoso e começou a fazer força.
O céu cuspiu insetos negros, tantos que o ar pareceu gemer ante o grande número deles que choviam do céu com uma fúria que se igualava a uma tempestade. Dentro do caminhão, as crianças começaram a gritar quando o metal rilhou. O veículo estava sendo empurrado, lenta, mas inexoravelmente, para a beira do precipício.
Falcon se converteu num borrão de velocidade sobrenatural, pegando o ghoul pelo ombro e lançando-o para longe do caminhão. Confiou em que Mikhail evitaria que as crianças caíssem. Os insetos o golpeatan, picando, mordendo, batendo em seu corpo, dirigindo-se a seus olhos, nariz e ouvidos. Falcon se viu obrigado a dissolver-se em vapor, erigindo uma rápida barricada ao redor de si, quando reapareción depois do ghoul.
A criatura deu a volta com estupidez, arrastando uma perna enquanto tentava voltar-se para enfrentar Falcon. Seus olhos brilhavam com um vermelho demoníaco. Estava emitindo estranhos ruídos, em algum lugar entre um grunhido e um gemido. Golpeou Falcon com unhas afiadas, falhando por centímetros. Falcon permaneceu fora de seu alcance, observando-o atentamente. O ghoul era uma marionete estúpida utilizada por seu amo. O vampiro devia saber que Falcon era um antigo, que destruiria facilmente uma criação semelhante, assim fizesse pouco sentido, que a criatura tentasse lutar contra ele eera exatamente o que fazia o ghoul. A macabra marionete pegou Falcon, tentando para fechar as mãos em volta de seu pescoço.
Falcon rompeu facilmente a garra, fazendo-a em pedaços, os ossos e retorcendo a cabeça do ghoul. O som foi audível apesar da intensidade do vento e do ruído dos insetos golpeavam a terra. O ghoul pareceu brilhar durante um momento, os olhos se iluminaram de um estranho laranja na escuridão, a pele se desfez como se a criatura fosse mais uma serpente que um homem.
- Tire as crianças daqui. – Gritou Falcon gravemente, retrocedendo para longe da criatura. A luz que saía de dentro do ghoul estava se tornando mais brilhante, produzindo uma luminescência peculiar. - É uma armadilha.
Mikhail estava colocando as crianças em terreno seguro. Três garotinhas e quatro meninos. Saltou fora do caminho, enquanto o caminhão balançou precariamente e depois caía pelo precipício. Mikhail defendera a mente das crianças, sabendo que estiveram aterrorizados a maior parte do dia. A maior das crianças, uma garota, não podia ter mais que oito anos. Mikhail sentiu que cada um deles era especial de algum modo, todos possuíam habilidades psíquicas.
Choviam insetos do céu, caindo em volta deles, para formar espessas e grotescas pilhas. Embora Mikhail tivesse erguido uma barreira sobre eles e defendera suas mentes, as crianças olhavam com os olhos totalmente arregalados, a causa do horror, os insetos.
Mikhail ouviu a suave advertência de Falcon, olhou para o ghoul, e imediatamente mudou de forma, convertendo-se numa enorme e alada criatura, o legendário dragão. Utilizando sua mente controlou as crianças, obrigou-as a subir em suas costas. Elas grudaram-se a ele, com os pequenos corpos trêmulos, mas aceitaram o que estava acontecendo, sem compreendê-lo realmente. Mikhail se ergueu no ar, lançando para baixo uma longa labareda alaranjada, incinerando todos os horrendos insetos, a seu alcance.
- Levarei aos meninos a um lugar seguro.
- Vá logo!
Falcon estava preocupado pelo Príncipe, preocupado pelas crianças. O ghoul estava dando voltas, criando um peculiar movimento com reminiscências de um minitornado. Os ventos eram furiosos, soprando os insetos em todas direções e, inclusive sugando-os para o céu. O brilho cresceu a ponto de ferir os sensíveis olhos de Falcon.
- Em todos meus longos séculos de batalhas com o não-morto e seus servos, este é um fenômeno.
- Também para mim.
Mikhail voava veloz através da luz decrescente do céu, lutando contra a ferocidade do vento e as espessas massas de insetos que o atacavam desde todas direções.
- O não-morto é certamente poderoso, se pode criar este desastre, enquanto ainda jaz dentro de sua guarida. Sem dúvida é um antigo.
- Enviei uma advertência a seu irmão para que não lute com ele, estou seguro de que este é tão velho e experiente como eu. Espero que ele ouça Sara.
Mikhail, no corpo do dragão, suspirou. Também ele esperava. Imediatamente tocou a mente de Jacques, confiando em que ele tivesse refletido e tirado suas próprias conclusões.
Falcon se moveu cuidadosamente longe do ghoul, tentando colocar distância entre eles.
- O não-morto fez uma armadilha, conduziu-nos para longe de Sara, utilizando as crianças e o ghoul. Irá atrás dela. – Em qualquer direção que Falcon escolhia para ir, a grotesca criatura se movia com ele num ritmo perfeito, igualando seus fluidos movimentos como se fossem um casal de bailarinos. - Sal já daqui, Mikhail. Não me espere. Esta coisa se pegou a mim como uma sombra. Um feitiço letal e difícil de romper. É uma bomba. Vá com Sara.
- Não me alegraria se uma criatura tão desprezível te fizesse mal, Falcon. - Havia um rastro de humor na suave voz de Mikhail. E também um rastro de preocupação.
- Sou um antigo, Mikhail. Esta coisa não me derrotará. Só estou preocupado por sua segurança e a das crianças. E pelo atraso em alcançar Sara.
Era a verdade. Falcon podia não ter visto algo semelhante antes, mas tinha suprema confiança em suas próprias habilidades. Já estava trabalhando em acabar com o que se grudava a suas células. Era uma sombra profunda, de algum modo o ghoul conseguira incrustar suas moléculas em Falcon. Falcon tentou vários métodos, mas não pôde encontrar o lugar onde a coisa estava impressa em seu corpo. O ghoul era agora de um ardente branco, florescendo como um cogumelo e emitindo um estranho zumbido baixo. Acabava-se o momento.
Falcon passou às mãos pelos braços e pelo peito e sentiu a estranha sensação que emanava de seu peito. Estava claro. Os quatro largos sulcos que o vampiro lhe tinha infringido no peito! O não-morto havia deixado seu feitiço sobre o peito de Falcon, marcando-o para que o ghoul o reconhecesse, para que se aderisse a ele. Falcon transmitiu a informação imediatamente ao Príncipe, enquanto apressadamente começava a separar-se da monstruosa bomba relógio.
O zumbido se fez mais forte, agudo e muito mais alto quando os insetos o golpearam com mais intensidade. Sofriam uma espécie de frenesi, voando em todas direções, golpeando, tentando entrar através da barreira que Falcon erguera em volta de si. Não tinha tempo de pensar nos insetos venenosos, tinha que concentrar sua atenção em eliminar a sombra de seu corpo. Os rastros do vampiro estavam gravados profundamente sob a pele de Falcon.
Falcon deslizou rapidamente para a ravina, conduzindo o ghoul para longe do bosque. Enquanto se movia de um lado a outro, levando a marionete do vampiro com ele a cada passo, examinava seu corpo, do interior. Havia passado por cima esdasas marcas que danificavam sua pele, profundamente impressas no interior das lacerações que já tinham se curado. Tão pequenas e letais. Concentrou-se em eliminar as marcas quase invisíveis sob sua pele. Levou-lhe uma tremenda disciplina, trabalhar enquanto se movia, utilizando sua mente e conduzindo o macabro ghoul diretamente para beira do precipício. Agora estava flutuando sobre o espaço aberto, incitando à ímpia criatura a dar o último passo que o enviaria a cair sobre as rochas, lá em baixo. A explosão, quando chegasse, poderia ficar contida dentro da ravina. Falcon trabalhou rapidamente, sabendo que se o ghoul estivesse ligado a ele, a explosão o mataria.
Agora o ghoul estava no ar com ele, e Falcon começou a descer lentamente, levando a horrorosa criatura onde não pudesse fazer mal a mais ninguem, enquanto continuava procurando cada marca nos sulcos em seu peito. O látego de ardente luz súbitamente piscou, titubeou, como se estivesse preso por poucos e precários fios. O zumbido chegava a um ponto febril, um implacável e incomparável grito em sua mente, que estava sendo difícil pensar.
Falcon ensurdeceu o ruído, incrementando sua velocidade, sabendo que estava perto de se livrar do ghoul, sabendo que estava perto do final de sua carreira. O vampiro estava esperando o pôr-do-sol, mantendo Falcon longe de Sara, tão certamente, como estava ele encarcerado. O ghoul palpitou com uma luz vermelho alaranjada, através do brilho ardentemente branco, quando Falcon acabou com a última marca do vampiro. A marionete começou a cair, enquanto Falcon se elevava rapidamente para as nuvens turvas.
Falcon se dissolveu em névoa, enquanto se apressava em afastar-se da bomba. A explosão foi monumental, uma força que lançou partes de insetos em todas as direções, produzindo uma cratera dentro da ravina e queimando os arbustos e árvores a sua volta. Falcon imediatamente dirigiu a chuva para as chamas, dirigindo as pesadas nuvens sobre o profundo gradeando, enquanto voltava para a casa de Mikhail, extraindo o caminho da mente do Príncipe.
Quando Falcon fez contato com o Mikhail, encontrou-o enredado numa conversa com um humano, advertindo o homem que protegesse as crianças. Falcon sabia que não tinha que se preocupar com as crianças, pois Mikhail nunca os colocaria em situação perigosa.
- Sara, estou algo longe, mas a alcançarei logo.
- Falcon!
Sara se endireitou apesar de seu enjôo, olhando com horror o horrendo inseto que corria a toda pressa pelo chão, para ela. Dirigia-se diretamente para ela, observando-a, marcando-a. E ela sabia o que era. E Falcon podia ver através de seus olhos, o que acontecia a seu redor. O vampiro estava utilizando o inseto. O mau cheiro era atroz, pois ao descer pela lareira, o fogo o pegara, mas ele se movia infalivelmente para ela, com os olhos fixos sobre ela.
- Ele sabe que estou aqui. Matará a toda esta gente.
Ela estava aterrorizada, mas não podia viver com mais culpa. Se este monstro a queria tanto, possivelmente a solução era simplesmente sair pela porta e o encontrar.
- Não! A voz de Falcon foi forte, dominante. - Fará o que te digo. Avise ao irmão do Príncipe, queeste inimigo é um antigo, provavelmente um dos guerreiros enviados para fora, pelo pai de Mikhail e que se converteu em vampiro. O sol ainda não se pôs, dispomos de poucos minutos. Deve utilizar táticas dilatórias até que cheguemos para o ajudar.
Jacques simplesmente pisou no enorme inseto, com chama e tudo, esmagando à coisa sob seu pé, afogando as chamas. Sara limpou a garganta e olhou para Jacques, com pena nos olhos.
- Lamento tanto. Não tinha intenção de conduzir este inimigo até vocês. É um antigo, conforme diz Falcon, é provavelmente que seja um dos guerreiros que o pai do Mikhail enviou para longe.
Raven jogou para trás o cabelo da Sara, com dedos gentis. Jacques se abaixou até ficar no mesmo nível que Sara. Sua expressão era tranqüila como sempre.
- Me diga o que sabe, Sara. Ajudará-me na batalha.
Sara sacudiu a cabeça e teve que reprimir um gemido, quando esta palpitou e pulsou de dor.
- Falcon diz que atrase a batalhe, que espere por ele, e por Mikhail.
- Cure-a, Shea. - Ordenou Jacques amavelmente. - O sol não se pôs ainda e o vampiro está na terra. Sabe onde está ela e virá a por nós, mas as salvaguardas o atrasarão. Temos tempo. Mikhail estará a caminho e seu companheiro chegará logo. Este antigo inimigo é poderoso.
- As crianças, Falcon. O que tem que os meninos? Sara não estava conseguindo pensar, com os grotescos restos do inseto sobre o imaculado piso de madeira.
- As crianças estão a salvo, Sara. Não se preocupe por eles. Mikhail os levou a uma casa segura. Um homem, um humano, que o conhece e conhece nossa gente, está lá para cuidar deles. Estarão a salvo enquanto caçamos nosso inimigo.
Sara inalou profundamente. O vampiro tinha penetrado as salvaguardas e a tinha encontrado, observara-a através dos olhos de seu servente. Agora, as crianças que queria adotar estavam sendo entregues a um desconhecido.
- Quem é este homem? O que sabe dele, Falcon? Possivelmente deveria ir lá seu mesmo. Devem estar muito assustadas.
- Mikhail confia neste homem. Seu nome é Gary Jansen, um amigo de nossa gente. Ocupará-se das crianças até que tenhamos destruído o vampiro. Não podemos nos arriscar a conduzir o não-morto até eles pela segunda vez. Mikhail não os deixará assustados. É capaz de ajudá-los a aceitar este homem e sua nova situação.
Sara elevou o queixo, tentando ignorar a terrível dor em sua cabeça.
- Conhecem alguém chamado Gary? Mikhail está lhe entregando aos meninos. - Sabia que soava ansiosa, mas não podia evitar.
Shea sorriu.
- Gary é um gênio, um homem muito envolvido com seu trabalho. Chegou dos Estados Unidos para me ajudar num projeto importante em que estou trabalhando. - Enquanto falava, Shea fez gestos silenciosamente a seu companheiro, para que levantasse Sara e a levasse a uma das câmaras subterrâneas sob a casa. - Desejaria estar ali para ver sua expressão, quando Mikhail apareceu na estalagem com várias crianças assustadas. Gary é um bom homem e muito dedicado, ajuda-nos a descobrir por que nossas cruanças não sobrevivem, por que tão poucos das crianças que nascem são meninas, mas não posso imaginá-lo tentando cuidar de crianças, ele mesmo.
- Está adorando a idéia. - A risada de Jacques foi baixa, um som agradável em contraste com os ruidosos e aterradores ruídos de fora da casa. - Não posso esperar a contar ao humano, o quanto feliz está com seu novo rol.
- Mas ele cuidará delas? - Sara procurava que a tranqüilizassem, quando Jacques a levantava em braços.
Raven assentiu, enfaticamente.
- Oh, sim. Não há necessidade de se preocupar. Gary nunca abandonaria as crianças e todos os Cárpatos estão obrigados protegê-las, se precisar. As crianças estarão a salvo, Sara. - Enquanto se moviam através da casa, Raven assinalou um quadro emoldurado na parede. - Esta é minha filha, Savannah. Gary salvou sua vida.
Sara olhou o quadro quando passaram por ele. A jovem era formosa, mas parecia ter a mesma idade que Raven. E lhe parecia vagamente familiar.
- É sua filha? Parece ter sua idade.
- Savannah já tem um companheiro. - Raven tocou o quadro, com gesto amoroso. - Quando são pequenas, nossas crianças parecem muito jovens, mas seus corpos crescem à mesma velocidade que o de uma criança humana, em seus primeiros anos. É só quando nossa gente alcança a maturidade sexual que nosso envelhecimento se ralentiza. Essa é a razão pela qual temos problemas de reprodução. É estranho que nossas mulheres sejam capazes de ovular até cem anos após ter um bebe. Acontece, mas é estranho. Shea acredita que é uma forma de controle de população, igual os que têm em outras espécies. Como os Cárpatos vivem tanto, a natureza, ou Deus, se preferir, construiu uma salvaguarda. Savannah voltará para casa logo. Teriam voltado imediatamente depois de sua união, mas Gregori, seu companheiro, recebeu notícias de sua família perdida e desejava conhecê-los primeiro. - A voz de Raven carregava um sotaque de excitação. - Gregori é necessário lá. É o segundo homem ao comando de Mikhail. É um homem muito poderoso. E, é obvio, feito sob encomenda para Savannah.
Sara súbitamente se conscientizou de que estarem percorrendo velozmente uma passagem. O bate-papo de Raven a havia distraído de sua dor de cabeça e do perigo, e ainda do fato de que estavam se movendo decididamente para baixo, clandestinamente. Sentiu saltar seu coração no peito e instantaneamente procurou o Falcon. Mente a mente. Coração a coração.
- Só podemos ter uma criança a cada cem anos.
Disse a primeira coisa que lhe veio à cabeça, depois se envergonhou de ter sussurrado um sonho secreto, agora um pesar. Desejava uma casa cheia de crianças. Com amor e risos. Com todas as coisas que havia perdido. Todas as coisas que a tanto aceitara que nunca teria.
- Temos sete crianças, Sara. Sete crianças abandonadas, meio mortas de fome e muito assustadas. Precisarão que cuidemos de todos os seus problemas, que amemo-os, e os ajudemos com seus inesperados talentos. As três meninas podem ser ou não, companheiras para o Cárpatos, em extrema necessidade, mas todos precisarão de guia. Teremos crianças a quem ama,r nos anos vindouros. O que você sonhar, também sonho eu. Teremos uma casa e a encheremos de crianças, risos e amor. Ele estava perto, estava em caminho para ela. Sara se envolveu em seu amor, em suas palavras.
Este é meu presente para voce. Um sonho escuro que abraçaria. Que tentaria alcançar.
- Aonde me levam? - A ansiedade de Sara era embaraçosa, mas ao que parecia, não podia mantê-la sob controle. Falcon tinha que ser capaz de encontrá-la.
Ouviu a tranqüila e suave risada dele.
- Não há lugar em que possam levá-la e onde eu não a encontraria. Estou em você, como você está em mim, Sara.
- O que está sentindo é normal, Sara. - Disse Raven com meiguiçe. - Os companheiros não podem estar separados um do outro sem que seja incômodo.
- E ela ainda tem uma contusão.- Lembrou-a, - Estamos levando você, a um lugar onde estará a salvo. – Shea a tranqüilizou, - calmadamente, pacientemente.
A passagem se introduzia profundamente no interior da terra. Jacques levou Sara através do que parecia uma porta na rocha sólida, até uma enorme e formosa câmara. Para a alegre surpresa de Sara, parecia um dormitório. A cama era enorme e incitante. Deitou-se sobre ela, no momento em que Jacques a baixou, fechando os olhos e desejando só dormir.
Sentia que alguns poucos minutos de descanso fariam com que se sentisse melhor. A colcha era grossa e possuía desenhos incomuns. Encontrou-se traçando os símbolos.
As velas acenderam-se, titilando e dançando, produzindo sombras nas paredes e enchendo a câmara com um aroma maravilhoso. Sara, em seguira sentiu o toque curador de Shea, que tinha toda a precisão de um cirurgião. Só podia pensar em Falcon. Só podia esperá-lo, profundamente clandestinamente, esperando que todos estivessem a salvo até que ele chegasse.
O ataque chegou imediatamente depois do pôr-do-sol. O céu choveu fogo. Nervuras de vermelho e laranja caíram como chumbo para a casa e os terrenos doslados. Apareceram longos sulcos na terra, movendo-se rapidamente, dirigidos como flechas para a fazenda. Tentáculos irromperam perto das enormes colunas que rodeavam a propriedade. Bolhas estalaram na terra, cuspindo ácido para a cerca de ferro forjado. Caíram insetos das nuvens, saíram insetos das árvores. Os ratos escalaram a cerca, um exército deles, com olhos redondos e brilhantes como miçangas. Havia tantos corpos, que o solo enegrecera.
Jacques elevou a cabeça, alerta. Sua companheira estava levando acabo sua arte curadora. Seus olhos se encontraram com os de Raven sobre a cabeça de Sara.
- O antigo enviou seu exército para anunciar sua chegada. A casa está sendo atacada.
- As salvaguardas agüentarão? - Perguntou Raven com sua costumeira tranqüilidade. Já estava estendendo-se para o Mikhail. Estavam separados por muitas milhas, embora sua ternura a encheu imediatamente.
- Contra seus serventes, as salvaguardas certamente agüentarão. O antigo tenta debilitar as salvaguardas para poder penetrar com mais facilidade em nossas defesas quando chegar. Sabe que Mikhail e o companheiro da Sara estão a caminho. Acredita que conseguirá uma vitória rápida e fácil antes que cheguem. - Jacques estava tranqüilo e seus olhos negros, se mostravam tranqüilos e frios. Descartava toda emoção, preparando-se para a batalha. Seus braços rodeavam a cintura de Shea e seu corpo se achegou a ela, protetoramente para ela. Sob a cabeça, a beijou no pescoço, numa ligeira e breve carícia antes de afastar-se.
Raven o segurou pelo braço, evitando que ele saísse da câmara.
- Mikhail e Falcon dizem que este vampiro é perigoso, um autêntico antigo, Jacques. Espere por eles, por favor.
Ele baixou o olhar para ela.
- Todos são perigosos, irmazinha. Farei o que for necessário para proteger às três. – Gentilmente, ele afastou a mão de Raven, da sua, dando-lhe um tapa tranqüilizador. Um gesto que contrastava com sua elegância.
Raven sorriu.
- Quero você, Jacques. Ao igual a Mikhail. Não lhe disse...
- Não é necessário pronunciar as palavras, Raven. Shea me ensinou muito ao longo dos anos. O vínculo entre nós é forte. Luto muito por viver, tenho muito que esperar. Finalmente convenci minha companheira de que um filho merece a dor e o risco que poderemos passar.
O rosto de Raven se iluminou e seus olhos brilhavam com lágrimas.
- Shea não me disse nenhuma palavra. Sei que sempre quis ter um bebê. Alegro-me pelos dois, de verdade.
Shea voltou para seu próprio corpo, vacilando porcausa do intenso esforço de curar Sara. Cambaleou para o Jacques.
Ele a segurou, atraindo-a gentilmente até seus braços, enterrando o rosto na massa de cabelos vermelhos.
- Sara ficará bem? - Perguntou ele, amorosamente. Havia de orgulho em sua voz, um profundo respeito por sua companheira.
Shea se apoiou nele, elevando a face, para que ele a beijasse.
- Sara estará bem. Só precisa de seu companheiro. – Ela olhou fixamente os olhos de Jacques. – Igual a mim.
- Nem você nem Raven parecem ter muita fé em minhas habilidades. Estou escandalizado! - O olhar de Jacques provocou gargalhadas nas duas mulheres, apesar da seriedade da situação - Tenho meu irmão tentando me impor seu rol de Príncipe, me ordenando a não enfrentar o inimigo até que Sua Majestade retorne. Minha própria companheira, brilhante como é, não parece compreender que sou um guerreiro sem igual. E minha amada cunhada me atrasa deliberadamente. O que pensa disto, Sara? – Ele arqueou uma sobrancelha para ela.
Sara se sentou lentamente, passando uma mão pelo cabelo despenteado. A cabeça já não doía e suas costelas pareciam estar perfeitamente. Inclusive as dores dos hematomas haviam desaparecido.
- Não sei nada sobre seu status de guerreiro sem igual, mas sua companheira é uma trabalhadora milagrosa. – Satã tinha o pressentimento de que Raven e Shea passavam tempo sorrindo quando estavam juntas. Nenhuma das duas parecia intimidada por Jacques, apesar da severa aparência deste.
- Nisso posso concordar com você. – Disse, Jacques.
Shea sorriu ampliamente para Sara, com o rosto ainda pálido.
- Tem que dizer isso. Sempre é melhor elogiar o próprio companheiro.
- E é por isso que você e Raven estão a tranquilizando com minhas capacidades na batalha. - Uma vez mais Jacques beijou sua companheira. Com sua aguda audição, podia ouvir o assalto sobre a fazenda.
Sara podia ouvi-lo também e retorcia os dedos, ansiosamente.
- Ele está vindo. Sei que é ele.
- Não o tema, Sara. – Shea apressou-se a tranqüilizá-la. - Meu companheiro lutou com muitos não-mortos e continuará por muito tempo, depois de que este se for. - Voltou o olhar para seu marido. - Raven proverá por mim enquanto você atrasa este monstro. Voltará para mim ileso.
- Te ouço, pequena ruiva e não posso fazer outra coisa que obedecer. - Sua voz foi suave, uma íntima carícia. Simplesmente se dissolveu em vapor e saiu da câmara.
Sara fez um esforço para fechar a boca e não ofegar completamente atônita. Raven, com o braço ao redor da cintura da Shea, sorriu.
- Os Carpatos tendem um pouco a ser assim. Eu deveria saber.
- Devo me alimentar. - Disse Shea com o olhar fixo em Sara. – Alarmará voce?
- Não sei. - Disse Sara honestamente. Sem razão alguma, em algum ponto sobre seu peito, seu coração começou a pulsar com força. Encontrou-se ruborizando. - Suponho que devo ir me acostumando. Falcon e eu estamos esperando até que consiga esclarecer as coisas com as crianças antes de... - procurou a palavra correta - Finalizar as coisas. - Elevou o queixo. – Mas estou bem comprometida com ele. - Parecia uma pálida forma de explicar a intensidade de suas emoções.
- Assombra-me que ele a permita esperar. Deve estar extraordinariamente seguro de suas habilidades para a proteger. - Disse Raven. - Se alimente, Shea. Ofereço-lhe livremente, para que possa repor outra vez suas forças. - Estendeu a mão casualmente para a Shea. - Os homens dos Cárpatos, normalmente passam um mau pedaço no começo, quando recuperam suas emoções. Têm que conter os ciúmes, o medo, a louca necessidade de proteger sua companheira e o terror de perdê-la. Tornam-se dominantes e possessivos e geralmente são um incômodo. - Raven sorriu, compartilhando a conversação com seu companheiro.
Sara pôs sentir como seu coração se acelerava, enquanto observava com horrorizada fascinação, como Shea aceitava a nutrição de Raven. Embora fosse estranho, não pôde ver nada de sangue. O ato completamente desinteressado entre as duas mulheres, quase foi reconfortante. Sara se sentia surpeendida pelo dom curador de Shea. Pela forma em que havia sido aceita tão completamente em seu círculo. Eram uma família unida oferecendo-se para ajudá-la, colocando suas vidas em perigo por ela.
- De verdade, estão planejando ter uma criança? - Perguntou Raven, enquanto Shea fechava as diminutas incisções, com sua língua. - Jacques diz que finalmente a convenceu. - Havia uma leve duvida na voz de Raven.
Sara observou que uma sombra cruzava as delicadas feições de Shea. Sara sempre desejara ter filhos e sentia que a resposta da Shea seria importante para seus sonhos também.
Shea respirou profundamente e deixou-o escapar lentamente.
- Jacques deseja um filho desesperadamente, Raven. Tentei pensar como médica, porque os riscos são altos, mas é difícil quando tudo em mim deseja um filho e quando meu companheiro sente o mesmo. Foi um milagre que Savannah sobrevivesse, você sabe, sabe o quanto difícil que foi. Requereu todo um ano de luta para Gregori e para mim, igual para Mikhail e você. Melhorei a fómula para as crianças, já que não podemos alimentá-los com o que uma vez foi a fórmula perfeita. Não sei por que a natureza se tornou contra nossa espécie, mas lutamos por averiguar mais, a cada criança que nasce. Ainda assim, saber tudo isto não evita que eu deseje filhos. Agora sei que se algo me acontecer, Jacques respeitaria meu desejo e educaria nosso filho até que ele ou ela tivesse uma família. Escolherei o momento logo e espero que tenhamos êxito com a gravidez e a mantenhamos viva depois.
Sara ficou em pé cuidadosamente, um pouco cautelosa, com o cenho franzido. Podia ouvir o barulho do fogo encontrando-se com água, de insetos e outras coisas arrepiantes das quais não tinha conhecimento. Podia ouvir claramente, mesmo sem ver a batalha de fora, o exército do mal que tentava romper as salvaguardas que protegiam os que estavam dentro das paredes da casa. Mesmo assim, se sentia a salvo. Profundamente clandestina, sentia a cercania das duas mulheres. E sabia que Falcon estava a caminho. Viria a ela. Por ela. Nada o deteria.
Era uma loucura, embora perfeitamente natural, estar nesta câmara conversando intimamente com Raven e Shea enquanto, em cima s, o antigo vampiro tentava entrar.
- Terei poblemas para ter um filho, uma vez que me converta completamente? - Perguntou Sara. Não lhe ocorrera que seria incapaz de ter um filho, uma vez fosse uma Cárpato.
Shea e Raven estenderam ambas suas mãos para ela. Um gesto de camaradagem, de compaixão, de solidariedade.
- Estamos trabalhando duro para encontrar as respostas. Savannah sobreviveu, e também outros dois meninos, mas nenhuma menina. Temos muito que averiguar ainda e tenho várias teorias. Gary veio dos Estados Unidos para me ajudar, e Gregori o seguirá em umas semanas. Acredito que podemos encontrar a forma de manter os bebês vivos. Inclusive acredito estar perto de encontrar a razão por que nascem tão poucas meninas, mas não estou segura disso. Embora conheça a causa, não posso remediar a situação. Acredito que toda mulher que tenha sido humana tem uma boa oportunidade de ter uma menina. E esse é um presente de valor incalculável para nossa raça agonizante.
Sara passeou pausadamente pela câmara, precisando urgentemente de Falcon. Quanto mais tempo passava longe dele, pior parecia ser. Necessidade. Abria passo através dela, retorcendo seu estômago, roubando o fôlego. Aceitava e sabia que a necessidade aumentaria ainda mais, antes que visse Falcon. Tinha levado seu diário a todas partes com ela tinha suas palavras impressas na mente e no coração. Precisava dele, como se uma parte dela estivesse morta sem ele.
- Toque a mente dele com a tua, Sara. - Aconselhou Raven, olhando-a amorosamente. - Ele está sempre aí para você e não se preocupe, Sara, nós também estamos aqui para te ajudar. Nossa vida é maravilhosa, cheia de amor e assombrosas habilidades. Um companheiro bem vale o que deixamos para trás.
Sara passou a mão pelo cabelo, despenteando-o ainda mais.
- Não tinha uma grande vida, Raven. Falcon permitiu que eu volte a me atrever sonhar. Com uma família. Com uma casa. Pertencendo a alguém. Não tenho medo. - De repente ela sorriu. - Bom... Possivelmente estou nervosa. Claro que estou um pouco nervosa.
- Falcon deve ser um homem incrível. - Disse Shea.
- Não tão incrível. - Jacques nunca renunciava a seu toque sobre a Shea. Através dos anos, conseguira voltar a aprender muitas coisas que uma vez haviam sido apagadas de sua mente, mas precisava de sua companheira, o ancorando todo o tempo. Antes, havia sido ciumento e enloquecedor; agora havia uma um toque de humor em sua voz.
Shea sorriu para ele. Intimamente. Enviando seu toque e imagens eróticas de trançar seu corpo ao dele. Foi suficiente. Ela era sua companheira. Seu mundo.
Sara observou a expressão cruzar a delicada face de Shea, sabendo exatamente que acontecia entre Shea e seu companheiro. Fez com que sentisse que era parte de alguem, parte de uma família outra vez. E Raven tinha razão. No momento em que se estendeu para Falcon, ele esteva ali, em sua mente, envolvendo-a com amor e com tranqüilidade. Rodeou-se com os próprios braços, para o reter perto dela, o sentindo em sua mente, ouvindo os suaves sussurros, as promessas, a suprema confiança em suas habilidades. Esteva tudo ali.
- Sara. - Raven atraiu a atenção de Sara, de volta às mulheres, decidida a mantê-la concentrada nelas, em vez da batalha lá fora. - De quem são essas crianças que o vampiro teve tantos problemas para conseguir?
Sara sorriu de repente, sua face se iluminou.
- Suponho que agora são meus. Encontrei-os vivendo nas ruas. Eles são diferentes da maioria. Todos eles têm habilidades psíquicas. Três garotinhas e quatro meninos. Nenhum deles tem o mesmo talento, mas ainda assim sabem, jovens que são, que precisam uns dos outros. Sinto uma grande empatia por eles, porque também eu cresci me sentindo diferente. Queria dar a elas uma casa onde pudessem se sentir normais.
- Três meninas? - Shea e Raven trocaram um largo e jubiloso sorriso. Shea sacudiu a cabeça atônita. - É um autêntico tesouro. Traz-nos um antigo guerreiro. Temos muito que aprender com ele. Tem sete pequenas crianças com talento psíquico e é uma companheira. Diga-me como é que aceita nosso mundo tão facilmente.
Sara encolheu de ombros.
- Por causa do vampiro. Eu o vi ele matando nos túneis de uma escavação arqueológica em que trabalhavam meus pais. Dois dias depois, ele matou toda a minha família. - Elevou um pouco o queixo, como se se preparasse para que a condenassem, mas ambas as mulheres parecia tristes eseus olhares compassivos. - Perseguiu-me durante anos. Sempre me mantinha em movimento para permanecer adiante dele. Os vampiros foram parte de minha vida há muito tempo. Só não entendia a diferença entre vampiros e Cárpatos.
- E Falcon? - Interrompeu Raven.
Sara ouviu um súbito silêncio fora da casa, como se o vento estivesse contendo o fôlego. As criaturas da noite paralisaram. Sara estremeceu e seu corpo tremia. O sol já havia traçado sua rota diária. Era noite. O vampiro se elevou e se apressava através do espaço, para alcançar a fazenda antes que Falcon e Mikhail tivessem oportunidade de voltar.
Sara estava segura de que as mulheres, também eram conscientes da sublevação do vampiro, mas permaneciam tranqüilas, embora com as mãos entrelaçadas. Respirou fundo, desejando seguir seu exemplo e manter a tranqüilidade.
- Falcon foi minha salvação durante quinze anos. Só que não sabia que era real. Encontrei algo que o pertencia. - Este é meu presente para ti Sara, companheira do Falcon. Proferiu as palavras, firmemente abraçadas a ela. – Eu o vi claramente, seu rosto, seu cabelo, sua expressão. Senti como se pudesse ver o interior de seu coração. Sabia que devia estar com ele, embora vivera há muito tempo atrás e eu tinha nascido muito tarde.
Falcon, abrindo o espaço com toda pressa através da noite que caía, sentiu sua dor. Estendeu-se para ela, enchendo sua mente com a pura intensidade de seu amor por ela.
- Não nasceu muito tarde, meu amor. Aceito o que Deus nos deu. Um grande dom, um presente de valor incalculável. Estou com você agora e para sempre.
- Quero-te com todo meu coração, com minha alma.
- Então acredite que não permitirei que este monstro nos separe. Resisti séculos de solidão, uma existência vazia sem sua presença. Não a separará de mim. Sou de uma linhagem ancestral e muito hábil. Nosso inimigo é certamente poderoso, mas será derrotado.
O coração da Sara começou a abandonar sua frenética carreira, desacelerando-se, para igualar o firme batimento do coração de Falcon. Deliberadamente, ele respirou para ela, para os dois, uma sombra em sua cabeça mais por sua própria paz mental que pela dela. Era bem consciente de que o vampiro se movia rapidamente para a casa para encontrar sua Sara. O pestilento mau cheiro estava espalhado pelo vento noturno. As criaturas da noite sussurravam, apressando-se se esconderem, para evitar o perigo. Falcon não tinha como se comunicar com o Mikhail e Jacques sem que o vampiro o ouvisse. Podia utilizar o vínculo telepático padrão utilizado por sua gente, mas o vampiro certamente o ouviria. Mikhail e Jacques compartilhavam um vínculo de sangue e tinham seu próprio vínculo privado de comunicação que o não-morto não podia compartilhar. Isso tornava a batalha contra o antigo vampiro mais fácil.
Sentiu o calor formando redemoinhos em seu cabelo, quando o primeiro ataque real foi arrojado pelo vampiro. As vibrações de violência enviaram surpreendentes ondas através do céu, remontando os picos das montanhas até as maliciosas veias de relâmpago que golpeavam as negras e arredondadas nuvens.
A forma aérea que estava utilizando não poderia resistir semelhante força. Girou no céu, caindo para a terra. Falcon abandonou a forma e se converteu em vapor. O vento mudou bruscamente, por causa da força do vendaval e as gotas foram sopradas na direção oposta aonde desejava ir. Falcon tomou a única opção segura que restava. Desceu para a terra, aterrissando-se na forma de um lobo, correndo para sua companheira e para a fazenda do Príncipe.
Apesar das milhas que os separavam, Mikhail se encontrava com o mesmo problema. Já não era seguro viajar pelo ar. Na terra, tornou-se um enorme e peludo lobo, correndo a máxima velocidade, afastando facilmente os obstáculos de seu caminho.
Jacques examinou o céu espesso por causa dos insetos. As flechas chamejantes e nuvens negras veteadas pelo tridente dos relâmpagos eram ameaçadores. Grossos tentáculos erupcionavam da terra ao longo do perímetro interior das grades, um pequeno inconveniente que anunciava a primeira fresta nas salvaguardas. Estava tranqüilo enquanto murchava os tentáculos e protegia a estrutura do fogo e triturava os insetos. Começou a levantar barreiras, pequenas e frágeis, que se tomavam tempo para crescer, mas que ao vampiro levaria tempo para as destruir. Agora os minutos contavam. Cada momento que levasse para atrasar o antigo vampiro dava ao Mikhail e Falcon, uma oportunidade de alcançá-los.
- Já estive em muitas batalhas, mas esta é a primeira vez que encontro um vampiro tão decidido a atravessar savalguardas tão óbvias. - Jacques enviou a informação a seu irmão. – Ele sabe que esta é a casa do Príncipe e que as mulheres estão protegidas por mais de um homem e ainda assim persiste. Acredito que deveríamos enviar às mulheres profundamente ao interior da terra e você deve se afastar até que este inimigo seja derrotado.
- E a mulher humana? - O conselho não reduziu a velocidade de Mikhail. O lobo corria a toda pressa, uma perfeita máquina da natureza.
- Eu a protegerei até que chegue seu companheiro. Nós derrotaremos juntos, o vampiro. Mikhail, você tem um dever para com sua gente. Se Gregori estivesse aqui...
- Gregori não está aqui. - Interrompeu Mikhail, sardônicamente. - Está fora com minha filha, descuidando de seu dever de proteger o Príncipe. - Havia um tom de riso em sua voz.
Jacques estava exasperado. - Este não-morto é distinto a qualquer outra coisa com que tenhamos enfrentado. Não se sobressaltou por nada do que lancei contra ele. Seu ataque nunca vacilou.
- Parece que este antigo inimigo está muito seguro de suas habilidades.
A voz de Mikhail foi uma ameaça, uma arma de destruição se incomodasse em utilizá-la. Havia nela uma nota decidida que Jacques reconheceu imediatamente. Mikhail corria através do bosque, tão rapidamente que suas patas apenas roçavam a terra. Sentiu a presença de um segundo lobo perto. Cheirou o penetrante cheiro do lobo macho. Um animal enorme saiu dos espessos arbustos, equilibrando-se sobre ele, em diagonal ,para lhe cortar o passo.
Mikhail se viu obrigado a alterar sua velocidade para evitar uma colisão. O lobo mais pesado rebolou, ondeou, tomando a forma de um homem. Mikhail também o fez.
Falcon observou o Príncipe com olhos cautelosos e pensativos.
- Acredito que seria prudente por nossa parte intercambiar sangue. A habilidade de nos comunicar, privadamente, poderá ser mais um item a nosso favor, nessa batalha.
Mikhail assentiu para mostrar seu acordo, tomou a mão que Falcon oferecia como gesto de compromisso para o Príncipe. Mikhail sempre saberia onde estava Falcon, o que ele estava fazendo, se assim o desejasse. Tomou o suficiente para um intercâmbio e tranqüilamente ofereceu seu próprio braço.
Falcon não havia tomado o sangue de um antigo, em muitos séculos, e este correu por seu sistema como uma bola de fogo, uma rajada de poder e força. Cortesmente fechou as incisões e examinou o filho de Vladimir.
- Sabe que não deveria se colocar em perigo. Ocorreu-me que poderia ser você o objetivo principal. Se uma criatura semelhante o matasse, nossa gente sucumbiria. O vampiro teria a oportunidade de fazer uma chave estranguladora no mundo. É melhor que vá a terra, como nossa última linha de defesa. Seu irmão e eu destruiremos o não-morto.
Mikhail suspirou.
- Já tive esta conversa com Jacques e não tenho intenção de repeti-la. Lutei em incontáveis batalha e minha companheira está em perigo, igual aos habitantes do povoado, que são meus amigos e estão sob meu amparo. - Sua forma já estava ondeando.
- Então não me deixa outra escolha, que te oferecer meu amparo, já que seu segundo homem não está presente. - Havia um fio na voz de Falcon. Seu corpo se contornou, surgindo pelos e inclinando-se, enquanto pés e mãos se convertiam em patas.
- Gregori está nos Estados Unidos recolhendo sua companheira. - Foi uma reprimenda e uma advertência.
Falcon não se deixou intimidar. Era um antigo, sua linhagem velha e sagrada, a lealdade e o sentido do dever estavam profundamente arraigados nele. Seu dever era para com o Príncipe. Sua honra exigia que protegesse este homem de tudo o mal, sem importar o custo.
Estavam correndo novamente, rápidos e fluídicos, saltando obstáculos, apressando-se silenciosos e letais através dos pequenos arbustos, enquanto do céu choviam insetos e a névoa se espessava em um banco que caía baixo pelo chão. Os lobos confiaram em seu agudo sentido do olfato quando se fez impossível enxergar.
Irromperam a clareira do bosque. A terra erupcionou, com massas de tentáculos. Os serpenteantes apêndices se estenderam para eles, retorcendo-se pelo céu em busca de suas presas. Os dois lobos saltaram quase diretamente para o ar, a fim de evitá-los. Dançaram pelas paredes de espinhos, até deterem-se perto das altas grades de ferro forjado.
Falcon se colocou perto de Mikhail, inserindo seu corpo entre o Príncipe e o homem alto e elegante que apareceu e cuja cabeça se desfigurou até tomar uma forma de cunha com olhos vermelhos. A boca se abriu de par em par, revelando filas de dentes afiados como adagas. A criatura rugiu, expelindo uma feroz chama que atravessou a grosa névoa dirigindo-se para eles.
Jacques saiu da casa, saltando a distância até as grades, depois saltou a terra no ponto onde o não-morto havia estado. O vampiro utilizou sua velocidade para se mover, fora de alcance. Gritou pelo ar noturno, uma pestilenta e venenosa mistura de som e veneno. O vampiro formava redemoinhos em volta de sua forma sólida. A explosão encheu o ar com um olor nauseabundo. O vapor se dissolveu em milhares de gotas de água, estendendo-se no vento, numa nuvem de deprevação.
Os caçadores pressionaram-se para diante, no céu espesso. Falcon murmurou e suas mãos seguiram um intrincado padrão. O ar se encheu de uma estranha substância branco leitosa, fosforescente. O rastro deixado pelo não-morto era facilmente visível como manchas escuras deixadas no brilhante branco. Falcon subiu para as nuvens, uma tarefa difícil com o ar tão espesso e nocivo. As manchas se pulverizavam pelos céus, pequenas manchas que pareciam estender-se e crescer em todas direções, como escuros cometas cruzando o céu noturno.
O vampiro só podia ir numa direção, mas as manchas se pulverizavam por toda parte, ao este e ao sul, ao norte e ao oeste e para o povoado, a grande altura sobre bosque, através da montanha, diretamente para cima como uma pestosa torre e caindo para terra, escura como chuva ácida.
Sobre o chão os ratos e insetos retrocediam, as paredes de espinhos vacilavam e caíam, os tentáculos voltavam. Perto da esquina da grade, um enorme rato cravou perversamente seus olhos na casa, durante vários momentos. Despindo os dentes, o roedor retrocedeu até a grade antes de rodeá-la e correr. O ferro forjado chiou e fumegou, a saliva corroeu o metal e deixou um pequeno buraco enegrecido. Mikhail enviou uma chamada a todos os Cárpatos da região, para que cuidassem dos habitantes do povoado. Tentariam cortar a fonte de alimento do vampiro. Com toda a região em alerta, ele esperava encontrar a guarida do vampiro rapidamente. Fez gestos aos outros dois caçadores para voltar para a casa. Perseguir o vampiro quando não estava claro seu rastro era um trabalho sem sentido. Reagrupariam-se e formulariam um plano de ataque.
- Certamente este é um antigo. - Disse Jacques enquanto voltavam para suas autênticas formas, no terraço da casa do Príncipe. - É mais poderoso que qualquer outro com o que tenha cruzado.
- Seu pai enviou para fora muitos guerreiros. Alguns ainda vivem, alguns escolheram o amanhecer e uns poucos se converteram em vampiros. - Concordou acoro Falcon. - E não há dúvida de que este aprendeu muito com os anos. Mas teve quinze anos para encontrar Sara e ainda assim ela escapou. Uma humana, uma menina. Pode e será derrotado. - Olhou fixamente para a grade. - Deixou atrás sua marca venenosa. Cuspiu-a enquanto chegávamos. E, Jacques, obrigado por encontrar Sara tão rapidamente e colocá-la a salvo. Estou em dívida contigo.
- Temos muito que aprender uns com os outros. - Disse Mikhail. - E a desagradável tarefa de destruirao malvado, mas Sara deve ser capaz de ir clandestinamente. Ele deverá ser capaz de ir para a terra. Está embaixo, em uma das câmaras. Para seu amparo é melhor que a converta imediatamente.
Os olhos negros de Falcon encontraram os de seu Príncipe.
- E está seguro de que pode fazer? Em minha época tal coisa nunca se tentou, exceto pelo não-morto. Os resultados foram aterradores.
Mikhail assentiu.
- Se ela for sua autêntica companheira, deve ter habilidades psíquicas. Pode ser convertida sem perigo, mas não sem dor. Saberá instintivamente o que fazer por ela. Precisará supri-la com sangue. Deve utilizar a minha, já que não tiveste tempo de sair a caçar uma presa.
- E a minha. - Ofereceu Jacques generosamente. - Necessitaremos da conexão na próxima batalha.
Sara estava esperando na enorme e formosa câmara. Havia velas por toda parte, chamas que vacilavam fazendo que brilhassem luzes e sombras sobre as paredes. Estava sozinha, sentada na beirada da cama. As outras mulheres haviam sido convocadas por seus companheiros. Sara saltou quando Falcon entrou. Ela estava vestida somente com uma camisa masculina de seda, as abas chegavam quase aos joelhos. Um só botão mantinha unidos os extremos. Era a coisa mais bela que Falcon já vira. Fechou a porta tranqüilamente e se apoiou contra ela, simplesmente bebendo dela. Ela estava viva. E era real.
Sara levantou o olhar para ele, com o coração nos olhos.
- Parece como sempre.
Sua voz era suave e o encheu com a força de um furacão, fazendo seu pulso bater acelerado e seus sentidos se revelarem. Ela estava o esperando. Ela era real. Era real e só para ele.
Falcon estendeu as mãos para ela, precisando tocá-la, comprovar que estava com vida e bem, que a curadora tinha feito seu milagre.
- Não quero voltar a experimentar nunca um horror semelhante. Encerrado no interior da terra me senti impotente para o ajudar.
Sara foi para seu lado, sem duvidar. Tocou sua face com dedos trêmulos, acariciando cada amada linha... A curva de sua boca, suas sobrancelhas escuras... E acariciou seu queixo sombreado.
- Mas veio me ajudar. Enviou outros até mim e sempre esteve comigo. Não estava sozinha. Mais ainda, sabia que você salvaria as crianças. - Havia tanto amor em sua voz que lhe roubou o coração.
Ele inclinou a cabeça para tomar posse de seus tentadores lábios. Era suave cetim e um sonho escuro de futuro. Demorou beijando-a várias vezes, saboreando a forma em que ela se fundia a ele, a forma em que era tão parte dele.
- Está preparada para ser como eu? Ser uma Cárpato e caminhar a meu lado para sempre? - Não podia dizer em voz alta, então sussurrou intimamente na mente dela, enquanto seu coração parou e conteve o ar em seus pulmões. Esperando. Só esperando sua resposta.
- É meu mundo, Falcon. Não acredito que possa suportar ficar sem você. – Sara respondeu-lhe, à maneira de sua gente, desejando o reconfortar.
- É isto o que quer, Sara? Sou eu o que quer? Esta segura disto... Não é fácil. A conversão é dolorosa. - Falcon a apertou possessivamente, mas precisava dizer a verdade.
- Estar sem você é mais doloroso. - Seus braços avançaram até rodear o pescoço dele. Apoiou seu corpo contra o dele, seus seios suaves empurraram contra o peito dele e seu corpo se amoldou ao dele. - Isto é o que quero, Falcon. Não tenho reservas. Pode ser que esteja nervosa, mas não tenho medo. Quero uma vida a seu lado. - Sua boca encontrou a dele, pequenos beijos que tentaram o sorriso dele, seus dentes o morderam no lábio inferior. O corpo de Sara estava ardente, intranqüilo e dolorido por ele. Seus beijos eram fogo e paixão, ardentes e cheios de promessas. Entregou-se a ele sem reservas.
Ele se rendeu por dentro. Foi uma instantânea e completa fusão, suas vísceras se suavizaram e seu corpo endureceu. Ela o rasgava por dentro como nada havia feito. Ninguém nunca penetrara a armadura que rodeava seu coração. Estivera frio por séculos. Morto. Agora estava vivo. Seu coração bombeava o sangue alvoroçado, ante o amor dos olhos dela, o toque de seus dedos, a generosa recepção de seu corpo, a total confiança em que ela o brindava, quando sua vida estivera cheia de tanta desconfiança.
Seu beijo foi possessivo, exigente. Ardente e urgente, como a sensação de seu corpo. Levou as mãos à cintura dela numa suave carícia. Logo, as deslizando para cima, para acariciar os seios túrgidos. Mas sua boca era fogo, selvagem e ardente, mesmo com as mãos tão tenras. Desabotoou o único botão da camisa de seda e o fôlego ficou preso em sua garganta. Ele retrocedeu um passo para ver o luxurioso corpo, a tentação dos seios imaculadamente brancos.
- Tudo em você é belíssimo, Sara. Amo você acima de tudo. Espero que saiba. Espero que esteja lendo minha mente e saiba que é minha vida. - Seus dedos passearam dos seios dela, até o umbigo. Seu corpo reagiu em urgente demanda. Deixou acontecer.
Sara observou como mudavam os olhos amados, observou a forma em que o corpo dele endurecia e sorriu, sem temor à selvageria que brilhava nele. Desejando-o. Desejando que ele ficasse louco por ela. Desabotoou-lhe a camisa e deslizou-a pelos ombros largos. Inclinando-se, pressionou os lábios nos músculos definidos, sua língua dançou em volta de cada mamilo. Sorriu para ele enquanto esfregava uma mão sobre o tenso tecido de sua calça, os dedos liberando-o habilmente, dos apertados limites. Sua mão envolveu a grossa ereção, sustentando-a durante um momento, desfrutando da liberdade de ser capaz de explorar. Depois, incitante e dasafiadoramente, baixou-lha a calça. - Eu sabia o quanto você é formoso, Falcon. - Admitiu ela. - E sei que te amo.
Falcon envolveu a estreita cintura dela com um braço, atraindo-a para ele, sua boca fundindo-se com a dela, sempre agressiva, exigente, primitiva. Sara enfrentou beijo com beijo. As mãos dele estavam por toda parte em seu corpo, igual às dela.
Falcon deslizou a mão sobre o estômago dela, desejando sentir seu filho, crescendo ali, desejando tudo de uma vez… Desejando Sara, sua mulher e um filho, uma família, tudo o que nunca tivera. Tudo o que acreditara que nunca teria. Seus dedos se moveram para baixo para inundar-se no sexo apertado, enquanto sua boca devorava a dela.
- Sei que deveria ir mais devagar. – Ele deixou escapar.
- Não há nenhuma necessidade. - Respondeu ela, sentindo exatamente a mesma sensação de selvagem urgência. Precisava dele, urgentemente. Desejava cada centímetro dele, enterrado profundamente dentro dela, fundindo suas duas metades. Formando um só corpo.
As sombras dançavam sobre a parede, procedentes das velas vacilantes, provocando um brilho tênue sobre a face de Sara. Ele elevou a cabeça enquanto lentamente, cuidadosamente, empurrava dois dedos dentro dela. Queria observar o prazer em seus olhos. Sara ofegou, seu corpo se contorceu, fechando-se ao redor dos dedos, ardente e necessitada. Moveu-se contra a dureza dele, uma lenta e sexy cavalgada, jogou a cabeça para trás para expor a garganta, seus seios eram um brilhante convite à luz das velas.
Falcon penetrou-a profundamente com os dedos, sentindo a instantânea onda em resposta, cálida umidade. Lentamente inclinou a cabeça para a garganta de Sara. Sua língua brincou prazerosamente. Seus dentes arranharam. Não escondeu nada, sua mente empurrou-se dentro da dela, compartilhando com ela o perfeito êxtase do momento, a reação de seu corpo e o frenesi de sua acalorada paixão. Os dedos penetraram o canal apertado e convidativo, enquanto enterrava os dentes em sua garganta. O relâmpago os atravessou, ardente e branco, numa dor que imediatamente deu passo a um fogo erótico. Ela era doce e tão selvagem quanto ele. Falcon cuidou em manter seu apetite sob controle, tomando sangue suficiente para um intercâmbio. Sua boca deixou a garganta dela, com uma consoladora caricia de sua língua. Levantou-a, com um braço enredado ao redor da cintura e a levou para a cama. Todo o tempo, seus dedos se deslizavam dentro dela, sua boca permanecia fundida com a dela, o prazer florescia e se propagava como um fogo selvagem através dos dois.
Ela esperava que beber sangue a desgostasse, mas foi erótico, quase como se ele tivesse arrojado um véu sobre sua mente, enredando-a em sua escura paixão, embora compartilhasse de sua mente e sabia que ele não estava fazendo. Também compartilhava a intensidade do prazer que extraía dele, do ato e isso lhe deu coragem.
- Não é suficiente, Falcon. Quero mais, quero-te dentro de meu corpo, quero que estejamos juntos. - Sua voz foi ofegante contra os lábios dele, suas mãos se deslizaram sobre ele ansiosamente, urgindo seus quadris para as dela.
Falcon beijou-a provocantemente na garganta, nos seios, deslizando a língua sobre seus mamilos, ao longo de seu abdomem. Então ela ofegou, elevando-se da cama, suas mãos seguravam a cabeça dele, enquanto a saboreava. Ela sentia-se romper com a pura intensidade de seu prazer. Falcon podia trasporta-la a outros mundos, lugares de beleza, emoção e êxtase físico.
Ele se elevou sobre ela. Um homem escuro, bonito, com longos cabelos negros e selvagens e hipnotizadores olhos. Pensou que morreria de prazer, quando ele a se posicionou, separou suas coxas e a penetrou profundamente, unindo-os como devia ser, lançando-a para longe com ele. Começou a se mover a cada investida selvagem, enchendo-a de calor e fogo.
Ela se elevou para lohe encontrar, desejando ardentemente o contato, ansiando senti-lo profundamente em seu interior. Todo o tempo, seu corpo se apertava mais a ele, apressando-se para a elusiva perfeição.
Sara ofegou quando ele investiu-se mais profundamente ainda, a feroz posse arrepiava cada músculo de seu corpo, enchia cada célula de selvagem êxtase. Então ele fundiu suas mentes, empurrando-se profundamente, enquanto seu corpo tomava o dela. Sara sentiu seu prazer, ele sentiu o dela, corpo, mente e coração. Uma dança eterna de alegria e amor. Elevaram o vôo juntos, explodindo, fragmentando-se em ondas de êxtase, sacudindo a terra, fazendo com que se colassem um ao outro com os corações batendo alucinados e compartilhando sorrisos.
Falcon a abraçou com força, enterrando a face em seu pescoço, sussurrando suaves palavras de amor, de ânimo antes de separar seus corpos relutantemente.
Deitados... Esperavam. O coração e o fôlego de Sara, também estavam acelerados, mas ela tentou fingir corajosamente que tudo era perfeitamente normal. Que seu mundo inteiro não estava a ponto de mudar para sempre.
Falcon a sustentou entre os fortes braços, desejando reconfortá-la, precisando da cercania, muito mais que ela.
- Sabe por que escrevi o diário? - Beijou-a na têmpora, respirando sua fragrância. - Há mil anos, as palavras fluíram de meu interior, quando não podia sentir nada, nem ver nada mais que imagens cinzas. As emoções e as palavras abraçavam minha alma. Senti a necessidade de escrevê-las, para assim recordar sempre a intensidade de meus sentimentos por minha companheira. Por voce, Sara. Porque, mil anos antes que tivesse nascido, eu já sentia sua presença em minha alma. Uma pequena chama e precisava que ela me iluminasse o caminho. – ele beijou-a gentil e meigamente. - Suponho que não tem muito sentido. Mas te senti dentro de mim e tinha que te dizer o quanto me importava.
- Essas palavras salvaram minha vida, Falcon. Não teria sobrevivido sem seu diário. - Sara apoiou-se nele. Sobreviveria a isto também. Era forte e podia.
- Estremeço ao pensar os problemas que as crianças estão dando a esse pobre desconhecido que foi recrutado para o serviço. – brincou Falcon, desejando vê-la sorrir.
Sara lhe mordiscou a garganta.
- Quanto tempo levará, para colocarmos as crianças numa uma casa de verdade? A nossa casa?
- Acredito que rapidamente. - Assegurou-lhe Falcon, seus dedos se deslizavam através do sedoso e espesso cabelo dela, adorava a sensação dessas mechas. - O bom de nossa gente é que são bem dispostos a compartilhar o que têm. Eu tenho jóias e ouro escondido. Ia entregar a Mikhail para ajudar a nossa gente de qualquer forma possível, mas podemos pedir uma casa.
- Uma casa grande. Sete crianças requerem uma casa grande
- E muito pessoal. Teremos que encontrar alguém de confiança para vigiá-los durante o dia. - Assinalou Falcon. - Estou seguro de que Raven e Shea conhecerão a pessoa mais adequada. As crianças têm necessidades muito especiais. Temos que os ajudar...
Ela voltou à cabeça, franzindo o cenho.
- Quer dizer manipulá-los.
Falcon encolheu seus largos ombros, imperturbável ante sua irritação.
- É nossa forma de viver neste mundo. Devemos defender aqueles que nos alimentam, ou viveriam aterrorizados. Os burocratas que não queriam nos entregar as crianças serão facilmente persuadidos. Evitar que vivam com medo e os permitir acostumar melhor a seu ambiente e aceitar facilmente um novo estilo de vida, será necessário. É um dom útil, Sara, e um de que dependemos para evitar que nossa espécie seja descoberta.
- Os meninos querem viver comigo. Discutimos em muitas ocasiões. Levaria-os a minha casa imediatamente, para construir um lar seguro para eles, um refúgio onde poderia vê-los sem colocá-los em perigo. Mas os assistentes colocavam, continuamente, travas em meu caminho, a maioria das vezes para conseguirem mais dinheiro. Mas as crianças sabiam que eu estava tentando. Acreditam em mim, e não terão medo de começar uma nova vida.
- Você não estará com eles durante o dia, Sara. Devemos nos assegurar de que confiam nos humanos que teremos que contratar para guardá-los durante essas horas.
Nesse momento, uma onda de fogo atravessou o corpo de Sara. Ela colocou as mãos sobre o estômago e voltou à cabeça, encontrando o olhar escurecido de Falcon. Ele colocou suas mãos sobre as dela. Inclinou-se para beijá-la. Um beijo de pesar, de desculpa.
- Compartilharia contigo esta dor com você, se pudesse. – Sussurrou ele, contra sua pele. Seu corpo tremia contra o dela.
Sara segurou a mão dele, entrelaçando os dedos de ambos. Suas vísceras estavam ardendo alarmantemente.
- Toda vai ficar bem, Falcon. Sabíamos que ia ser assim. – ela queria o reconfortar, quando cada músculo estava com cãibras e seu corpo estremecia de dor. - Posso fazer isto. Quero fazer isto. - Não permitiu que nada mais entrasse em sua mente. Nem o medo. Nem o crescente terror. Não havia lugar para nada, só para sua completa fé nele, neles. Em sua decisão. Uma convulsão elevou seu corpo, e o deixou cair. Sara tentou afastar-se dele, mas Falcon a segurou, sua mente firmemente arraigada na dela.
- Juntos, piccola. Estamos juntos nisto.
Ele podia sentir a dor retorcendo seu corpo e respirou profundamente, brandamente, decidido a respirar pelos dois, protegendo-a o melhor que podia. Desejava, necessitava afastar a dor dela, mas nem com sua força e todos seus poderes, não podia aliviar o terrível ardor dos órgãos dela enquanto se reformavam. Só podia carregar sobre seus ombros uma parte da terrível dor e compartilhar seu sofrimento. Abraçou-a enquanto seu corpo se livrava de toxinas. Nenhuma só vez detectou um só momento no que ela o culpasse ou vacilasse em sua escolha de unir-se a ele.
Para o Falcon, o tempo passou lentamente, uma eternidade, mas se obrigou a permanecer sereno em sua mente, decidido a aceitar tão bem como Sara. Decidido a ser tudo o que ela precisava, tudo o que podia fazer era acreditar que tudo sairia bem. Nos séculos de sua existência, misturou-se a humanos e fôra testemunha de extraordinários momentos de coragem, mas a firme coragem de Sara lohe deixava atônito. Compartilhou sua admiração por ela, à fé em sua habilidade para sobrepor-se às ondas de dor e as convulsões que possuíam seu corpo. Ela tomava cada momento por separado, procurando reconfortar a ele, quando cada onda remetia, deixando-a esgotada e exausta.
Ela sorriu-lhe e sussurrou. Ele não pôde ouvi-la, mesmo com sua fenomenal audição.
- Ter um bebê vai fichinha depois disso.
Havia um humor sardônico nessa voz suave, que roçava as paredes de sua mente. Falcon girou a cabeça para evitar que ela visse as lágrimas em seus olhos, ante a prova de seu profundo compromisso para com ele.
No momento em que soube que era seguro enviá-la a dormir, Falcon ordenou, abrindo a terra e permitindo que suas propriedades curativas a ajudassem. A terra dos Cárpatos, mais que nenhuma outra, rejuvenescia e curava sua gente, embora podiam utilizar qualquer outra disponível, como havia feito ele durante séculos. Havia esquecido o grande consolo de sua terra natal. Falcon limpou cuidadosamente a câmara de sono, eliminando todo risco de enfermidade e evidência da conversão de Sara. Trabalhou, confiando nos outros dois homens dos Cárpatos, para manter a vigília contra possíveis assaltos por parte do antigo vampiro. Havia passado muito tempo, desde que estivera em casa, desde que havia conhecido o conforto e estado com sua própria gente, o luxo de ser capaz de depender dos outros. Falcon tomou a substância oferecida por Jacques, novamente agradecido pelo poderoso sangue proporcionado por um antigo de grande linhagem. Descansou uma hora, profundamente na terra, rodeando a Sara com seus braços.
Quando Falcon esteve seguro de que Sara estava curada completamente, levou-a para a superfície, deitando-a cuidadosamente sobre a cama, seu corpo nu estendido, limpo e fresco. A luz das velas proporcionavam uma fragrância consoladora e curadora. Seu coração batia forte e ele estava com a boca seca. - Sara. Minha vida. Meu coração e minha alma. Acorda e vêem para mim. – Ele inclinou a cabeça para capturar seu primeiro fôlego como Cárpato. Sua outra metade.
Sara despertou em um mundo diferente. Os vívidos detalhes, os aromas e sons eram quase muito para confrontá-los. Abraçou-se a Falcon, encaixando seu corpo confidencialmente no dele. Ambos podiam ouvir seu coração palpitando ruidosamente, freneticamente.
Ele a beijou, esfregando seu queixo sobre as sedosas mechas de seu cabelo.
- Meu amor... Respire comigo. Deixe que seu coração siga o ritmo do meu.
Sara podia ouvir tudo. Tudo. O murmúrio de vozes na noite. O suave e sufocado vôo de uma coruja. O sussurro de roedores num arbusto próximo. Apesar de estar longe sob a terra, numa câmara construída com grossas paredes e rochas, ela podia ouvir tudo.
Falcon sorriu, seus dentes imaculadamente brancos.
- É verdade, Sara. – Ele esteve monitorando facilmente seus pensamentos. - Aprendemos a ter discrição, com pouca idade. Aprendemos a fazer ouvidos surdos ao que não é nosso assunto. Converte-se numa segunda natureza nossa. Você e eu estivemos sozinhos por muito tempo e agora voltamos a ser parte de alguem. Fazer os ajustes necessários levará um pouco de tempo, mas agora, a vida será uma viagem excitante, com voce a meu lado.
Contra seu ombro, Sara sorriu.
- Mesmo antes de passar pela conversão, eu podia ler sua mente como a um livro aberto. Deixe de ter medo por mim. Sou forte, Falcon. Tomei a decisão faz quinze anos, de que você fosse parte de minha vida. É tudo para mim. Esteve comigo em meus sonhos, meu amante escuro, meu amigo e confidente. Esteve comigo em minhas horas mais escuras quando tudo era vazio e desesperança e não tinha a ninguém. Todos meus dias, todas minhas noites, você estava em meu coração e minha mente. Conheço-o. Vivi por suas palavras. Nunca teria sobrevivido sem seu diário. Conhece minha mente e sabe que digo a verdade. Não temo minha vida com você. Desejo estar contigo.
Ele se sentiu agraciado por sua tremenda generosidade, por seu presente. Respondeu-lhe da única forma que podia, seu beijo foi terno e amoroso, expressando com seu corpo, a profunda emoção que não podia descrever com palavras.
- Ainda não posso acreditar que a tenha encontrado. – Ele sussurrou brandamente.
Sara envolveu o pescoço de Falcon com os braços, seus seios firmemente pressionados contra o peito dele. Moveu as pernas num convite, desejando o corpo dele no seu. Desejado a âncora forte de sua força.
- Eu ainda não posso acreditar que seja real e não fantasia minha. O amante sonhado que me inventei.
Falcon sabia o que ela precisava. Ele precisava da mesma tranqüilidade. Sara. Sua Sara. Nunca temia parecer vulnerável ante ele. Nunca temia mostrar o que queria. Sua boca encontrou a dela, alterando os céus para os dois. O corpo dela era quente e acolhedor, seu santuário, um refúgio, um lugar de intimidade e êxtase. O mundo caiu longe deles. Só restaram as chamas vacilantes das velas e os lençóis de seda. Seus corpos e longas e pausadas explorações. Só gemidos de prazer, enquanto acessavam a cada uma de suas fantasias.
Muito, bem mais tarde, Falcon estava deitado na cama, com a cabeça no colo dela, desfrutando da sensação do ar fresco sobre seu corpo, da forma em que os dedos da Sara brincavam com seu cabelo.
- Não posso me mover.
Ela sorriu.
- Não tem que te mover. Eu gosto de você, onde está. - Sua respiração se alterou, capturada em sua garganta, enquanto ele soprava um ar quente e tentador sobre suas coxas. O corpo inteiro arrepirou em reação, tão sensibilizado pela continuidade de seu ato de amor, que Sara não podia acreditar que se recuperasse nunca.
- Ahh, mas tenho que me mover, meu amor. Temos que caçar nosso inimigo. Não duvido de que ele esteja perto e muito ansioso para terminar seu trabalho e deixar estas montanhas. Não pode se permitir esperar pacientemente. - Suspirou Falcon. - Há muitos caçadores nesta área. Ele vai querer partir logo que seja possível. Enquanto ele viver, as crianças e você nunca estarão a salvo. – Ele girou a cabeça ligeiramente para brincar com a língua, deixando uma pequena carícia na face interna da coxa dela. Seu cabelo se deslizou sobre a pele de Sara, fazendo-a pulsar e arder em reação.
- Deixe de tentar me distrair. - Disse ela, envolvida pelo braço dele, a palma de sua mão acariciava seu Ele draseiro, massageando gentilmente, insistentemente. Distraía-a, deixando-a quase incapaz de pensar racionalmente.
- E todo este tempo eu pensando que era você que me distraía. - Sua voz estava melódica, por causa do riso. Deliberadamente, ele deslizou um dedo pelo úmido sexo dela. - Está incrivelmente quente, Sara. Você entra em minha mente enquanto fazemos amor? Sente como me aperta? Como seu corpo reage ante o meu quando estou rodeado por seu calor? Sente seu fogo? – Ele colocou dois dedos no interior dela, numa lenta invasão. – Sente como seus músculos se apertam a meu redor? - Deixou escapar seu fôlego lentamente. – Sim.e. Assim mesmo. Não há nada como isto no mundo. Adoro todo seu corpo. A forma em que me olha. - Retirou os dedos, levando-os à boca. – Adoro seu sabor.
O corpo da Sara voltou para a vida enquanto observava Falcon colocar os dedos na boca como se a devorasse uma vez mais. Ele sorriu, sabendo exatamente o que estava fazendo. Sara gargalhou feliz.
- Se voltarmos a fazer amor, estou segura de que partirei em centenas de partes. E você, homem louco, não estará em muito boa forma para ir perseguir vampiros se me tocar outra vez. Assim se está decidido acabar como nosso inimigo, se comporte.
Falcom beijou sua coxa.
- Eu acreditava que me estava comportando muito bem.
Ela ergueu a cabeça dele.
- O que eu acredito é que precisa de mim, para apanhar ao vampiro. Para o atrair diretamente para a você.
Falcon se sentou de repente, seu olhar negro era cauteloso.
- Ficará aqui mesmo onde saiba que está perfeitamente a salvo.
- Eu não sou das que ficam a salvo, Falcon. Acredito que já sabia isso. Espero uma relação igualitária e não estou disposta a me conformar com menos. – Disse ele, firmemente.
Ele a estudou durante um longo momento, estendendo a mão para acariciar a forma de seu seio, enviando um arrepio pelo corpo de Sara, ante seou toque ligeiro como uma pluma.
- Eu não quereria menos que uma relação igualitária, Sara. - Respondeu honestamente. - Mas não compreende completamente o que aconteceria se algo sair errado.
Ela riu dele, seus olhos de repente faiscavam como jóias.
- Não acredito que você compreenda completamente o que aconteceria se algo acontecesse a voce.
- Sou um caçador, Sara. Por favor, confie em meu julgamento.
- Mas como confio em seu julgamento, se é parcial neste momento, certo? Não tem sentido não utilizar à única pessoa pela qual ele ficaria a descoberto. Sabe que se me perseguiu durante quinze anos, não vai parar. Falcon... – Ela colocou uma mão sobre o peito dele, apoiando-se para frente, para lhe beijar o queixo. – Ele se mostrará se acreditar que tem uma boa oportunidade de me conseguir. Se não me utilizar como isca, continuaremos estando em perigo. Nossas crianças estão assustadas e aos cuidados de um completo desconhecido. Estas pessoas nos trataram bem e não queremos colocá-los eles e às pessoas do povoado em problemas. – Sara passou a mão por seu cabelo. - Sei que posso o atrair a campo aberto. Tenho que tentar. Não posso ser responsável por mais mortes. Cada vez que ele me seguia a uma cidade, aconteciam assassinatos em serie e eu lia nos jornais. Sentia-me como se eu o tivesse atraído. Deixe-me fazer isto, Falcon. Não pareça orgulhoso e intimidante. Sei que entende por que tenho que fazer isto.
Os duros traços de Falcon se suavizaram lentamente. Sua boca, perfeitamente esculpida, se curvou num sorriso. Ele emoldurou a face dela com as mãos e inclinou a cabeça para beijá-la.
- Sara, você é um gênio. - Beijou-a novamente. Lentamente. - Isso é exatamente o que faremos. Vamos usar você como isca e apanharemos, nós mesmos, o professor vampiro.
Ela arqueou uma sobrancelha, sem confiar no repentino sorriso aberto que mostrava a face de Falcon.
Sara estava sentada sobre uma rocha arredondada, molhando a mão numa pequena poça de água e contemplando o céu noturno. As nuvens eram espessas e escuras, apagando as estrelas, mas a lua persistia corajosamente tentando brilhar. Brancos farrapos de névoa se frisavam aqui e lá ao longo do bosque, dando uma estranha aparência de noite. Uma coruja posou no alto dos ramos de uma árvore a sua direita, completamente imóvel e muito consciente de cada movimento do bosque. Vários morcegos revoavam no alto, lançando-se à caça de insetos que voava pelo ar. Um roedor se escondeu entre as folhas, procurando comida, atraindo a atenção da coruja.
Sara já estava fora algum tempo, simplesmente inspirando a noite. Seu perfume favorito, misturado com sua fragrância natural era carregado através do bosque para que a fauna que ali habitava fossem consciente de sua presença. Ficou em pé lentamente e vagou de volta para a casa. Estranhas flores que floresciam na noite chamaram sua atenção e ela parou para examinar uma. Sua fragrância fresca se misturou com a da flor e foram levadas pela brisa, flutuando pelo bosque até o alto das árvores. Uma raposa inalou o ar e tremeu, encurvando-se no interior dos espessos arbustos perto da rocha onde a humana havia estado. Ouviu-se um suave som de vegetação perto dos pés dela. Sara congelou, observando o grande rato que saiu dos arbustos, bem perto dela. Muito perto. Entre ela e a casa.
Retrocedeu longe do roedor, de volta para o interior do bosque. Olhou para a rocha, julgando seu peso. Os vampiros eram uma coisa, os ratos eram outra muito distinta. E ela se sentia um pouco afetada quanto a ratos.
Quando Sara voltou a olhar, havia um homem de pé observando-a. Alto. Magro. Com a pele cinza e o cabelo comprido e branco. O vampiro a olhou fixamente com brilhantes olhos vermelhos. Olhos cheios de ódio e raiva. Não havia falsa pretensão de amizade. Sua amarga inimizade se mostrava em cada profunda linha de sua face devastada.
- Após todos estes anos esbanjados, enfim eu a tenho. Há me desafiado mais do que nunca saberá. Estúpida e penosa mulher. Como algo tão ridículo como você tenha sido um espinho em meu flanco. Desgosta-me.
Sara retrocedeu afastando-se dele, refazendo o caminho pelo qual havia chegado até ali. Com grande dignidade, voltou a sentar-se na rocha e o observou em silêncio. Os dedos que se retorciam eram o único sinal de temor. Este era o monstro que havia assassinado a sua família, levando a todos os que amava, virtualmente levando sua vida. Este homem alto e fraco com bochechas fundas e olhos venenosos.
- Tenho poder quase ilimitado, mas preciso de um pequeno verme como você, para completar meus estudos. Agora o mau cheiro de Falcon está sobre voce. Enoja-me. - O vampiro gargalhou, cuspindo no ar. - Não acreditava que soubesse quem é ele, mas o conheci bem nos velhos tempos. Um bom servente que cumpria a vontade do Príncipe. Vladimir viveu muito tempo com Samantha, mas nos enviou para longe, para vivermos sozinhos. Seus filhos ficaram atrás, protegidos por ele, mas nos enviou para morrer sozinhos. Eu não escolhi morrer, abracei a vida e estudei muito. Há outros como eu, mas serei o único que controle. Agora que te tenho, serei um deus e nada me tocará. O Príncipe se ajoelhará perante mim. Todos os caçadores tremerão em minha presença.
Sara elevou a cabeça.
- Sei Embora pense em você mesmo como um ser todo poderoso, um deus, ainda precisa de mim. Seguiste-me durante quinze anos, a uma penosa mulher humana, uma menina quando me encontrou, embora não pôde me capturar.
Ele sibilou, um som horrendo e arrepiante, uma promessa de brutal represália.
Sara franziu o cenho para ele, de repente a compreensão iluminou seus olhos.
- Você precisa que eu encontre algo para você. Algo que não pode fazer por você mesmo. Matou a todos os que eu amava e ainda assim pensou que eu te ajudaria. Não acredito. Em vez disso, tenho intenção de o destruir.
- Não tem idéia da dor que posso te infringir. As coisas que posso fazer com voce. Terei enorme prazer em te dobrar a minha vontade. Não faz idéia do quanto sou poderoso. – Com a paródia de um sorriso, o vampiro expôs seus dentes manchados e afiados. – Gostarei de vê-la sofrer, já que foste uma praga para mim durante tanto tempo. Não se preocupe, querida, manterei-a viva durante muito tempo. Encontrará a tumba do professor mago e o livro de conhecimento que me dará poder inexprimível. Adquiri vários de seus pertences e você saberá onde está o livro quando o procurar. Os humanos não sabem o verdadeiro tesouro que são. Encerram-nos em museus que poucos visitam e ninguém vê seu autêntico valor. Acreditam que os magos e a magia são contos de fadas e vivem em sua ignorância. Os humanos merecem serem governados com punho de ferro. Humanos são presas, comida para os deuses.
- Possivelmente essa sua impressão dos humanos, mas é falsa. De outro modo, como eu poderia ter evitado você durante quinze anos? - Perguntou Sara, aparentemente sem medo. - Não sou tão insignificante como você gostaria de acreditar.
- Como te atreve a rir de mim! - O vampiro gritou, suas feições desfiguradas de ódio. Subitamente, olhou a seu redor, cautelosamente. - Como é que está sozinha? Seus guardiães são tão inaptos que permitiriam você caminhar por aí desprotegida?
- Por que acredita que eles não estão me protegendo? Estão todos a minha volta. – Sara soava sincera.
Os olhos dele se entrecerraram e ele apontou uma unha afiada para ela. Se ela tivesse negado, ele teria sido mais cauteloso, mas Sara havia sido muito rápida, delatando aos caçadores.
- Não ponha a prova minha paciência. Nenhum caçador Cárpato utilizaria a sua companheira como isca numa uma armadilha. Ele esconderia você profundamente na terra, covarde como é, sabendo que sou muito poderoso para que me detenha. – Ele sorriu. Um som horrendo. - Foi sua própria arrogância que vai causar sua queda. Ignorou suas ordens e saiu à noite sem que ele soubesse ou o consentisse. Essa é uma fraqueza de mulher. Não pensam com lógica, sempre choramingando e querendo tudo a sua maneira. - Sua unha afiada como uma adaga, lhe fez gestos. – Venha para mim, agora.
Ele utilizou sua mente. Uma aguda e forte compulsão própria para fazer mal, para exercer uma tremenda pressão sobre o cérebro enquanto exigia obediência.
Sara continuou sentada serenamente. Com um ligeiro sorriso em sua boca. Suspirou e sacudiu a cabeça.
- Isso nunca funcionou comigo. Por que ia agora?
Amaldiçoando, o vampiro levantou o braço, depois mudou de opinião. A vibração de poder teria atraído imediatamente os caçadores Cárpatos. Caminhou para ela, cobrindo a curta distância que os separava, com passos decididos. Sua face, uma máscara de raiva ante a rabugice da mulher.
Sara ficou sentada perfeitamente imóvel e o observou vir para ela. O vampiro inclinou sua alta forma, estendendo seus dedos ossudos para ela. Sara entrou em ação, só que foi o punho de Falcon que golpeou com força o peito do não-morto, enquanto voltava para sua verdadeira forma. Enquanto Falcon fazia isto, o vampiro, com um olhar de pura incredulidade, tropeçou para trás conseguindo que o punho apenas penetrasse em seu peito. No alto, Jacques, na forma de uma coruja, lançou-se dos ramos e voou diretamente para o não-morto com as garras estendidas. A pequena raposa cresceu em estatura, tomando a forma de um caçador alto e elegante e as mãos de Mikhail já estavam ondeando um feitiço para evitar que o vampiro mudasse de forma ou desvanecesse.
Pressionado pelo ar, capturado entre dois caçadores e incapaz de escapar, o vampiro lançou seu próprio ataque, arriscando tudo com a esperança de derrotar o único Cárpato cuja morte poderia obrigar os outros dois pararem. Convocando cada grama de poder e conhecimento que possuía, lançou seu peito contra o cotovelo de Falcon, fazendo em pedaços, o osso. Depois se revolveu, seu corpo replicou-se várias vezes, até que houve cem clones do não-morto. A metade dos clones iniciaram ataques utilizando estacas ou lanças de pontas afiadas. Outros escaparam em diversas direções.
Jacques, na forma de coruja, dirigiu as garras diretamente à cabeça de um clone, atravessando ar vazio, o que o obrigou a tomar altura rapidamente antes de golpear o chão. O ar vibrava, com violência e ódio.
Cada um dos clones que atacava ondeava um feitiço diferente, e as salpicaduras de sangue enchiam ao ar que os rodeava como um crisol tóxico. A mente de Falcon se desconectou de seu cotovelo destroçado enquanto avaliava a situação no que durava um batimento do coração. Isso foi tudo o que teve. Tudo o que teria nunca. Nesse átimo de tempo, viu os séculos de sua vida passada, vazia e árida, estendendo-se interminavelmente até a Sara. “Este é meu presente para ti”. Ela era sua vida. Sua alma. Seu futuro. Mas estava sua honra. Estava o que e quem era ele, o que defendia. Ele era o guardião de sua gente.
Ela estava ali com ele. Sua Sara. Ela entendia que não tinha outra escolha. Isso era tudo o que ele era. Sem arrependimento, Falcon introduziu seu corpo entre seu Príncipe e o vampiro que se aproximava para matar. Dezenas de lanças afiadas transpassaram o corpo de Falcon, tirando o ar de seus pulmões, derramando sua força vital até o chão, em rios escuros. Enquanto caía, ele estendeu os braços, golpeando com as mãos abertas, a fonte escarlate do peito do vampiro, deixando suas marcas como um sinal de néon para que os outros caçadores fixassem o objetivo.
Sara, compartilhando a mente do Falcon, reagiu com tranqüilidade, sabendo já que fazer. Tinha que fazer bom uso do conhecimento de Falcon e deter o coração e os pulmões dele instantaneamente, assim ele ficaria tão imóvel como morto sobre o campo de batalha. Concentrou-se, sujeitando-o a ela, numa luz vacilante e apagada que queria retirar da dor.
Não havia tempo para a pena. Não havia tempo para as emoções. Sujeitou-o a ela com a mesma feroz determinação que o mais fino guerreiro dos Cárpatos, enquanto a batalha vibrava em volta dele.
Makhail viu cair ao guerreiro ancestral, seu corpo cheio de buracos. O Príncipe já estava em movimento, rompendo lanças como fósforos enquanto avançava, dirigindo Jacques com sua mente. Os clones tentavam reagrupar-se tentando despistar aos caçadores, mas era muito tarde. O vampiro se revelou em seu ataque e Mikhail fixou nas marcas de Falcon, tão seguras como rastros digitais.
O não-morto grunhiu de ódio, chiando sua fúria, mas o feitiço se colava a ele. Não podia mudar de forma, já era muito tarde. O Príncipe enterrou o punho profundamente, seguindo o retorcido caminho que o antigo guerreiro havia marcado. Jacques tomou a dianteira, esfaqueando limpamente, uma tática dilatória para dar a seu irmão tempo de extrair o negro e pulsante coração.
Do céu choviam insetos, grandes insetos presos pelo gelo e pela chuva. Mikhail convocou tranqüilamente uma carga de energia nas nuvens turvas. Enquanto isso, o negro coração saltava e se arrastava cegamente, procurando seu amo. Surgiram bolhas na terra e sobre seus braços, quando a salpicadura escarlate se incrustou em suas peles. A fúria do vento os bateu, gemendo e vaiando uma escura promessa de vingança.
Mikhail continuou serenamente, chamando à natureza, dirigindo uma feroz bola de fogo do céu até o coração do nosferatu, que ficou incinerado com um cheiro nocivo e uma nuvem negra de fumaça.
O corpo do vampiro se sacudiu, sua cabeça rodou, os olhos olharam para a forma imóvel de Falcon com um ódio além do que nenhum dos caçadores havia presenciado. Uma mão se moveu, a garra afiada se estendeu para o guerreiro caído, para o levar com ele à morte. A bola laranja de energia golpeou o corpo, incinerando-o imediatamente, depois saltou à cabeça para reduzi-la a finas cinzas.
Jacques se ocupou de limpar a terra, e depois suas próprias peles, apagando toda evidência da pestilenta criatura que fôra contra a natureza.
Raven se encontrou com seu companheiro na porta, tocando seu braço, compartilhando seu profundo pesar, oferecendo seu consolo.
- Shea se adiantou à câmara de cura, abrindo a terra e levando as velas que precisaremos. Jacques levou Falcon para lá. A terra é rica e a ajudará a trabalhar. Convoquei nossa gente para que se una a nós, no canto curador. – Ela se voltou para olhar Sara. Sara ficou em pé lentamente. Podia ver compaixão, inclusive pena, na face de Raven. As lágrimas desciam pela face de Raven e ela estendia as mãos. - Sara, nós o levamos ao melhor lugar possível, um lugar de poder. Shea diz... – Ela conteve um soluço e pressionou um punho contra a boca enquanto pegava a mão da Sara entre as suas. - Deve vir conosco rapidamente à câmara de cura.
Mikhail caminhava atrás, evitando seus olhos. Seu rosto era uma máscara de granito, mas Sara sabia o que ele estava pensando. Tocou-lhe o braço brevemente, para atrair sua atenção.
- Eu estava compartilhando sua mente quando ele tomou a decisão. Foi uma decisão consciente, uma que não duvidou fazer. Não minimize seu sacrifício sentindo-se culpado. Falcon acredita que o senhor é um grande homem e a perda de sua vida seria intolerável para ele, para sua gente. Sabia exatamente o que estava fazendo e o quanto poderia lhe custar. Estou orgulhosa dele, orgulhosa de quem é. É um homem honorável e sempre o será. Apoio totalmente sua decisão.
Mikhail assentiu.
- É a companheira adequada para um antigo tão honorável como Falcon. Obrigado por sua amabilidade em semelhante hora negra, Sara. É um privilégio contar com você, entre nossa gente. Devemos ir até ele rapidamente. Não tiveste tempo de saber dos costumes de nossa gente, então pergunto se me permite tomar seu sangue. O sangue de Falcon corre em minhas veias. Devo ajudá-la a mudar de forma para chegar ao lugar de cura.
Ela sustentou o olhar negro, firmemente.
- Honra-me, senhor.
Os dedos de Raven se apertaram nos de Sara para mantê-la perto, mas Sara logo pôde sentir o contato. Sua mente estava firmemente arraigada na de Falcon, o sujeitando a ela, negando-se a permitir que ele deslizasse para longe apesar da gravidade de seus ferimentos. Sentiu a espetada dos dentes de Mikhail em sua mão, sentiu o tranqüilizador aperto da mão de Raven. Nada importava a Sara exceto a luz vacilante e tão longínqua.
Mikhail colocou a imagem de uma coruja em sua mente e ela sentiu seus ossos retorcerem, seu corpo mudando e a súbita rajada de ar quando empreendeu o vôo. Mas só existia Falcon emsua mente e ela não se atrevia a deixar partir essa luz que se apagava para se fixar num mundo que a afastava dela, enquanto voava para a câmara de cura.
Profundamente sob a terra, o ar era pesado e espesso pelo aroma de centenas de velas aromáticas. Sara foi para Falcon, surpreendida pelos terríveis ferimentos de seu corpo, por sua pele branca e quase translúcida. O corpo de Shea era uma casca vazia. Sara estava sendo vividamente consciente dela no corpo de Falcon, reparando corajosamente o extenso dano. O som do canto ancestral, formosas palavras numa língua que reconhecia, embora não a compreendesse, enchiam a câmara. A língua ancestral dos Cárpatos. Aqueles que não estavam pressentem ali não obstante, uniram-se mente com mente, enviando seus poderes de cura, dirigindo suas energias, ao guerreiro caído.
Sara viu o Príncipe dar seu sangue, muito mais do que podia permitir-se, afastando os outros. Ele cedeu seu sangue, até estar fraco e pálido, e seu irmão o obrigou a reabastecer o que havia proporcionado. Ela observava a cada um dos Cárpatos, desconhecidos para ela, alimentando reverentemente, generosamente, seu companheiro, prestando uma espécie de homenagem. Sara tomou a mão de Falcon entre as suas e observou como Shea voltava a seu próprio corpo.
Shea, cambaleante pelo cansaço, fez gestos aos outros para que cobrissem os ferimentos de Falcon com saliva e a profunda riqueza da terra. Ela se alimentou brevemente de seu companheiro e voltou para a monumental tarefa de fechar e reparar os ferimentos.
E as horas passavam. Fora da câmara, o sol estava já saindo, mas nenhum deles fraquejou em sua tarefa. Sara sustentou Falcon, à força de pura vontade e quando Shea emergia, olhavam-se a uma à outra sobre o corpo de Falcon, ambas cansadas, ambas com lágrimas brilhando em seus olhos.
- Devemos colocá-lo na terra e esperar que ela opere sua magia. Fiz tudo o que pude. - Disse Shea baixinho. - Agora toca a você, Sara.
Sara assentiu.
- Obrigado, Shea. Devemos muito a você. Seus esforços não serão em vão. Falcon viverá. Não permitirei nenhuma outra coisa. – Ela inclinou-se perto de seu companheiro. - Não morrerá, está me ouvindo, Falcon? - Exigiu Sara, com lágrimas descendo por sua face. - Agüentará e viverá por mim. Por nós. Por nossas crianças. Exijo isso de você. – Disse ela, apegando-se ferozmente a ele, a seu coração, a sua mente e alma.
Gentilmente, tocou o amado rosto, traçando as linhas marcadas. – Está me ouvindo? – Ela sentiu o mais débil movimento em sua mente. Um sutil toque. Um suave, e esgotado toque de humor.
- Quem não te ouviria, meu amor? Não posso fazer mais fazer outra coisa
A cara era enorme, construída em pedra e com colunas belíssimas. O terraço envolvia a estrutura inteira formando uma varanda inferior. Um balcão similar, de ferro forjado, rodeava o piso superior. Janelas de cristais coloridos saudavam a lua, peças formosas e únicas que consolavam a alma. Sara adorava cada pequeno detalhe na fazenda. Os arbustos crescidos e as filas das grossas árvores. A profusão de flores que apareciam por toda parte. Nunca se cansava de se sentar no balanço de seu alpendre e contemplar o bosque circundante.
Ainda era difícil de acreditar, mesmo depois de tantos meses, que o vampiro estivesse realmente fora de sua vida. Ela havia estado firmemente na mente de Falcon enquanto ele assumia sua forma. Seus pensamentos e emoções o guiaram para disfarçar seu corpo. Falcon estava tão entranhado, que o vampiro não teria conseguido o detectar. O plano funcionara e o vampiro havia sido destruído, mas ainda levaria muito tempo até poder despertar sem sentir medo. Só podia esperar que o livro que o vampiro estivera procurando, permanecesse oculto, perdido para mortais e imortais. O fato de que o não-morto houvesse chegado a tais extremos para encontrar o livro, só podia significar que seu poder era tremendo. Em mãos equivocadas, esse livro poderia significar o desastre tanto para mortais como para imortais.
Falcon havia contado a Sara, que conheceu vampiro quando eram jovens. Vladimir o enviara ao Egito enquanto Falcon havia ido para a Itália. Em algum lugar, no passar do caminho, Falcon escolhera a honra, enquanto seu amigo de infância desejara o poder último. Sara se balançou, permitindo que a paz da noite empurrasse os pensamentos desagradáveis para fora de sua mente.
Podia ouvir o pessoal na cozinha, conversando tranqüilamente e suas vozes eram reconfortantes. Podia ouvir as crianças, escada acima, em seus dormitórios, murmurando e gargalhando, enquanto começavam a se preparar para ir para a cama.
A voz de Falcon era amável enquanto brincava com eles. Não demorara, para estourar uma guerra de travesseiros, como acontecia com freqüência. Quase era uma tradição noturna.
- Você é um menino.
As palavras apareceram na mente de Falcon, envolvendo-o com um profundo amor. Sara adorava que ele se divertisse, que desfrutasse de todas as coisas simples que perdera em sua longa vida. E era consciente de que Falcon a amava, também por isso e pela forma em que ela desfrutava de cada momento de sua existência compartilhada, como se cada hora fosse brilhante e nova.
- Esses pequenos patifes me atacaram.
Sara podia ver a imagem dele brincando e sorrindo, atirando travesseiros tão rápido, como eles.
- Bem, quando acabar com sua guerra, sua companheira tem outras ocupações para você.
Sara se reclinou para trás no balanço, batendo o pé impacientemente, enquanto um pequeno sorriso bailava em seus lábios. Deliberadamente pensou em sua última fantasia. O pequeno lago que havia descoberto na queda de um escarpado isolado. Jogaria displicente, sua roupa para um lado. Caminharia nua pela pedra arredondada estendendo os braços num convite à lua. Voltaria à cabeça para sorrir para Falcon quando ele chegasse até ela. Inclinaria o corpo para frente, para pegar uma pequena gota de água que percorria o peito dele, descendo por seu estômago, depois mais embaixo, mais embaixo...
O ar brilhou tenuemente durante um momento e ele estava diante dela, com a mão estendida e um sorriso na face. Sara levantou o olhar até ele, tomando nota de seu longo e sedoso cabelo e seus hipnotizadores olhos escuros. Ele parecia em forma e de aparência saudável, gritante e selvagemente masculino, embora ela soubesse que ainda restavam finas cicatrizes em seu corpo. Estavam gravadas em sua mente, mais profundamente que na pele dele.
Sara foi a ele, fluiu para ele, derreteu-se nele, elevando a face para que ele a beijasse, sabendo que ele moveria a terra para ela.
- Quero dar uma olhada nesse lago que descobriu. - Sussurrou ele, maliciosamente contra os lábios dela. Suas mãos passeavam sobre o corpo de Sara, gentil, mas possessivamente.
Ela sorriu, derretendo-se. Entregando-se.
- Eu sabia que sim...
Christine Feehan
O melhor da literatura para todos os gostos e idades