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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


TAMISHED KNIGHT / Bec Mcmaster
TAMISHED KNIGHT / Bec Mcmaster

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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Depois de um ataque de vampiro cruel, ele está lutando para controlar os desejos sombrios do vírus do desejo, John “Rip” Doolan pensa que está finalmente começando a dominar a escuridão interior. A única coisa que ameaça quebrar seu controle duramente conquistado é Esme, sua melhor amiga e a única mulher que ele sempre quis. Se a teimosa bela um dia percebesse exatamente o que estava passando em sua mente, sua amizade estaria arruinada.
Por seis meses, Esme esperou Rip se recuperar e tomá-la como sua serva, não ousando esperar mais. Com muito medo de colocar seu coração em risco, ela fica arrasada quando Rip revela que ele nunca teve qualquer intenção de torná-la sua.
Mas quando uma gangue selvagem de Golpeadores começa a causar estragos em Whitechapel, Rip e Esme não têm escolha. Eles devem enfrentar a profundidade da paixão que arde entre eles e forjar um novo relacionamento... ou correr o risco de se perderem para sempre.

 

 

 

 

Capitulo 1

 

—Por aqui, chefe.

O menino corria à frente de Rip, suas botas ásperas transformando a neve cheia de lama em pura lama. Ele continuou lançando um olhar por cima do ombro, totalmente ciente do que exatamente o espreitava atrás dele.

John “Rip” Doolan caminhava pelas ruas frias atrás do rapaz com as mãos enfiadas nos bolsos do casaco pesado. Os dedos de sua mão esquerda não paravam de se contorcer, tentando espalhar alguma aparência de calor no membro. À direita, tudo o que ele podia sentir era o forte puxão do sistema hidráulico em seu antebraço enquanto a mão mecânica flexionava. Trabalho duro. Trabalho de colônia. Mas serviu ao seu propósito. Embora o aristocrático Escalão que governava a cidade de Londres o considerasse menos homem por causa disso - menos que humano - ele não poderia executar esta linha de trabalho sem dois membros viáveis.

Jem Saddler parou no cruzamento à frente, soprando nas palmas das mãos em concha. Os dedos esfolados pelo trabalho atingiam a ponta de suas luvas. O menino perdera uma no ano anterior, quando o frio cortante chegou. Não é incomum em Whitechapel, onde apartamentos e cortiços caíam uns contra os outros como ripas em uma noite de inverno, buscando calor contra o frio intenso. Poucos aqui tinham moedas suficientes para manter o fogo aceso a noite toda e, pelo pequeno corte que se abria no tecido sob o braço do menino, o casaco já pertencera a outra pessoa. Roupas também eram difíceis de encontrar, exceto para os mais empreendedores.

Os olhos de Rip se estreitaram enquanto ele examinava Petticoat Lane e os becos fora dela. As cordas sempre presentes penduradas entre os andares superiores dos becos não tinham a sombra fantasmagórica da roupa suja. O fogo queimava em um barril no canto e um par de prostitutas se amontoava em torno dele, aquecendo suas mãos. Uma delas olhava para ele com cautela, um pequeno sorriso congelado gravando-se em seus lábios. Moeda era moeda, mas ele sabia como era. Não seria a primeira vez que um vagabundo esperava que ele fosse embora.

—Você fez a sua parte, — Rip disse, virando-se para Jem e fingindo que não percebeu o suspiro de alívio da prostituta. —Deve esperar aqui, caso eu precise que você envie uma mensagem para mim.

Jem estendeu a palma da mão, seu queixo estreito inclinando-se com um leve tremor enquanto olhava para Rip. Ele poderia ter ido embora assim que sua mensagem fosse entregue, mas a palma da mão do rapaz ainda não tinha sido untada.

A ação foi presunçosa, mas Rip tirou um par de xelins do bolso e jogou-as na direção do rapaz. Ele sabia o que era morrer de fome naquela idade. Era o tipo de coisa que um homem nunca esquecia.

Os olhos de Jem se arregalaram quando ele viu o quão generoso Rip tinha sido e ele deu um sorriso, os xelins desaparecendo como mágica. —Sim, chefe. Eu vou. — Ele olhou para a passagem estreita que corria entre os edifícios. A casa de Liza Kent. Não houve nenhum sinal dela em três dias e Jem tinha feito a coisa certa em rastreá-la sobre isso. —Achei que o velho pudesse ter dado o retoque, mas também não cheirei.

—Liza se machucou muito?

Não era da conta dele, mas o cabelo da nuca de Rip se arrepiou enquanto a escuridão dentro dele se agitava. A memória ergueu sua cabeça feia; sua mãe cambaleando de volta ao fogão enquanto seu cafetão a acertava com os punhos. Rip era pequeno, impotente. Ele não estava mais impotente, e não havia nada que ele desprezasse mais do que um homem que erguia a mão para uma mulher.

Jem deve ter sentido o deslizar da escuridão dentro dele porque ele engoliu em seco. —Não mais do que o normal, chefe.

Calma. Rip fechou os olhos com força e forçou a fome que sentia por ele a diminuir. Depois de seis meses vivendo com o aperto quente e torcido disso, ele estava começando a reconhecer o que a desencadeava e como evitá-la.

Tornar-se um sangue azul com sua sede anormal de sangue não teria sido sua escolha, se houvesse uma. Seis meses atrás, porém, um vampiro rasgou sua garganta e meio que o estripou. Ele podia se lembrar do respingo quente e úmido de seu próprio sangue quando a dor o percorreu como chamas encharcadas de conhaque. Deitado no telhado, seus calcanhares batendo nas telhas enquanto ele tossia úmido noite adentro. E então seu mestre, Blade, inclinando-se sobre ele com um sussurro desesperado. —Nós vamos te dar sangue. O vírus pode mantê-lo “vivo o suficiente” para curar suas feridas.

Ele sabia o que significava. Blade tinha perguntado antes se ele queria se tornar um sangue azul. Em seu pequeno mundo sombrio, a ameaça de morte ou ferimento incapacitante era uma constante e o vírus do desejo podia curar qualquer coisa, exceto a decapitação. Ainda assim, ele sempre disse não antes.

Até que Blade sussurrou a única coisinha que poderia ter mudado sua mente. — Se você não quiser, pisque. Se você fizer isso, aperte meus dedos. Mas saiba que isso vai devastar Esme.

Esme. A governanta de Blade. Cristo. Naquele momento ele viu um lampejo de seu rosto sério, com as asas escuras cortantes de suas sobrancelhas, e Rip não poderia ter dito não apesar de si mesmo. Ele sempre manteve distância dela, mas a onda repentina de desejo - o desejo de vê-la apenas mais uma vez - era muito forte para ele. E então ele apertou a mão de Blade.

No próximo minuto ele soube que estava deitado de costas em sua própria cama, com Esme montada em seus quadris, seus dedos firmes e práticos indo para os botões em sua garganta. A outra metade da equação começou a afundar. Sangue. E assim que ele percebeu para o que ela estava lá, uma necessidade dolorosa e feroz queimou por ele como um fogo incandescente, drenando a cor de sua visão até que tudo que ele podia sentir era a água violeta em sua pele e ver o pulsar inebriante de seu pulso em sua garganta. Mãos sobre ela, puxando-a para perto. E Blade o segurando. — Calma agora, rapaz. Você não quer assustá-la, quer?

O vírus do desejo o curou bem. Mas ele nunca pensou sobre a outra ponta da moeda. A fome feroz que ele mal conseguia controlar. Especialmente perto dela.

—Você não precisa que eu vá com você? — Jem perguntou um tanto nervoso e Rip percebeu que ele estava olhando.

Ele balançou a cabeça com força. —Vou verificar isso.

O rapaz lançou-lhe um sorriso trêmulo, então correu para uma porta próxima e se agachou para assistir.

Com as mãos nos bolsos e os ombros curvados, Rip começou a atravessar a rua, escorregando na neve derretida. O cheiro de castanhas assadas passou e uma risada rouca soou nas proximidades. Alguém pendurou um fio de azevinho sujo na janela. O Natal, ele lembrou, estava quase chegando.

Não o tipo de coisa que os sangues azuis do Escalão celebravam, já que a Igreja os excomungou, mas permaneceu nos remanescentes humanos da população. Um gesto desafiador. O Escalão governante pode ter queimado as igrejas na Inglaterra e prendido qualquer pessoa flagrada orando ou em solo consagrado, mas eles não podiam policiar tudo.

Nem poderiam prender metade de Londres.

A risada do vendedor de castanhas não foi o bastante para abafar os passos quase silenciosos que o seguiram. Rip olhou para baixo sob seus cílios, uma navalha deslizando em sua mão. Ele a manteve preso contra a palma da mão, escondendo-a contra a coxa. Ao dobrar a esquina, entrando na alcova sombreada do beco, ele pressionou as costas contra a parede e esperou.

A sombra atrás dele se alongou e Rip avançou, cortando com a lâmina. Ele sentiu um toque de almíscar no nariz e puxou o golpe, rosnando baixinho. —Maldito inferno.

Uma mão agarrou seu pulso. Rip olhou para os olhos dourados não naturais de um jovem alto, tentado por um momento a empurrar para trás. Mas essa era a fome nele, a fúria. E se ele fosse longe demais, ele sabia quem terminaria esta luta com o vencedor.

Nem mesmo um sangue azul poderia enfrentar um verwulfen sem consequências. Nas estranhas fúrias que os alcançavam, eles eram praticamente invencíveis.

Will se afastou dele. —O que você está fazendo aqui?

—Eu deveria te fazer a mesma pergunta. — Rip embainhou a lâmina, a raiva queimando lentamente seu sangue. Ele sabia a resposta, é claro. Blade deve ter enviado Will para vigiá-lo. Certificando-se de que ele não perca o controle no meio da colônia e derrame sangue no brilho sujo da neve derretida. Um arrepio correu por sua espinha, e sua boca lhe deu água. Tentador. Só para ceder, só uma vez...

—Pensei que você poderia precisar de uma mão. — Will murmurou, o calor queimando suas bochechas. Ele não esperava ser pego.

—Sim, — Rip disse, flexionando o aperto de aço de seus dedos. —Você está cerca de dez anos atrasado.

Um leve sorriso curvou-se na boca do jovem. Então Will passou, as narinas dilatadas enquanto ele examinava o beco. —O que você está a fim?

—Jem Saddler disse que Liza Kent não é vista por perto há três dias. Nenhum sinal do velho também. — Rip respondeu, colocando-se ao lado dele.

Will parou do lado de fora de uma porta de madeira, olhando para o símbolo pintado de um par de adagas cruzadas acima do lintel. A tatuagem correspondente estava marcada na parte interna dos pulsos de Rip e Will. Um sinal de propriedade, de proteção. A marca de Blade. As narinas de Will dilataram-se novamente.

—Você está cheirando alguma coisa? — Rip perguntou. Seus próprios sentidos haviam melhorado desde que ele se tornou um sangue azul, mas Will podia sentir o cheiro de dias que valem a pena.

—Estranho. — Will franziu a testa, seus ombros enormes curvando-se sob a lona oleada de seu casaco enquanto ele avançava. Ele esfregou o nariz. —Químico. Mas nada mais. Cheira ao laboratório de Honoria.

A nova esposa de Blade. Rip respirou fundo, encontrando um leve traço do cheiro forte de vinagre que o lembrou do laboratório, exceto por um leve lacrimejar. O cheiro era forte o suficiente para permanecer em suas narinas, eliminando os odores que se espalhavam pelas ruas. Empurrando a porta, ele franziu a testa quando ela cedeu facilmente. Sem trava.

Nem mesmo o ladrão mais desesperado cruzaria a soleira com a marca de Blade nela. Ainda assim... Esta era Whitechapel.

—Olá? — Rip chamou, sua voz ecoando pela sala. Ele sabia que o lugar estava vazio antes mesmo de dar um passo. O frio era cortante aqui, o vazio gelado de um lugar que não era ocupado há dias. Seu olhar duro percorreu a sala. Uma dor forte na pia, uma pilha de cerzido no canto... Alguém arrastou uma cortina fina sobre a porta que separava o quarto e de repente Rip sentiu o cheiro de outra coisa.

Sangue.

Não importa o que ele respirasse, ele sempre seria capaz de sentir o cheiro característico de cobre. Rip abriu a cortina. Um homem estava deitado de braços abertos no colchão fino, seu torso cortado do peito à virilha e intestinos se derramando como salsichas cruas. O sangue estava seco há muito tempo, o cheiro ainda estranhamente diluído. Rip engoliu em seco quando sua visão mergulhou, pintando o mundo em sombras de cinza e branco. Ele quase o controlou quando Will roçou em seu ombro e de repente ele sentiu o cheiro de outra coisa; sangue, quente e fresco, bombeando sob a pele do outro homem.

Rip passou por ele, cambaleando para o beco. Ele se alimentou no dia anterior, mas obviamente não o suficiente. O mundo girou ao seu redor, a risada do vendedor de castanhas raspando em sua pele. Sua cabeça se virou para lá, o predador dentro dele rastreando o homem apenas pelo som. Jem Saddler ergueu os olhos ao vê-lo e empalideceu. Rip fez uma careta e sacudiu a cabeça, observando enquanto o menino fugia. Parecia uma presa e sua visão estreitou novamente.

Inferno. Rip balançou a cabeça com força, seus dedos desajeitados arrastando um charuto do bolso e um pacote de fósforos. Ele acendeu o fósforo apressadamente, sabendo pelo som do silêncio atrás dele que Will estava assistindo.

—Você está bem?

—Tudo bem. — Ele retrucou, passando a mão de metal sobre a nuca. Era melhor aqui fora. Não tão perto. Os sons da rua próxima tornavam mais difícil detectar a pulsação do sangue nas veias de Will.

Will saiu da varanda, suas botas chapinhando na neve derretida. —Fez um número certo com ele. Devíamos contar a Blade.

Os dedos de Rip se apertaram no charuto. —Não. Deixe-o. — Este era o primeiro Natal do Cortiço e Blade estava determinado a torná-lo especial para Honoria. Ele tinha o suficiente para administrar. —Eu cuido disso.

Mesmo que apenas para provar a si mesmo que ele podia. Rip esteve quase inútil nos últimos seis meses. Muito atingido pela fome para ser útil a alguém. Ele tinha que provar que podia controlá-la e esta era sua melhor chance. Jogando o charuto na calçada, Rip o esmagou na lama úmida e saiu para a rua.

—Não acho que eu deva sair ainda. — Will murmurou.

De olho nele.

Rip enfiou as mãos nos bolsos e chamou a atenção da prostituta perto do cano de fogo. —Faça o que você quiser. — Sua boca encheu de água quando ele empurrou o queixo para ela. Era hora de cuidar da sede de sangue. Para que ele pudesse começar a pensar em quem matou o pai de Liza Kent e para onde diabos ela tinha ido.

 


O primeiro beijo frio na bochecha de Esme a fez olhar para cima. Flocos de neve macios caíram do céu tempestuoso, emaranhados em seus cabelos. Suas mãos se apertaram ao redor da cesta em suas mãos. Ela sempre amou neve. Quando ela veio pela primeira vez para a Capela depois que seu marido Tom morreu, ela desprezou os cortiços sombrios e choupanas imundas. Por quase um ano ela conseguiu juntar dinheiro suficiente para se alimentar, até que um vizinho muito amigável deixou claro que ele poderia encontrar outro trabalho para ela... se ela estivesse disposta a se deitar de costas. Ela odiava o mundo então, odiava a colônia. Quando ela foi até Blade pela primeira vez e implorou por proteção em troca de seu sangue, ele a assustou tanto quanto o resto do mundo. E não é de admirar. Quem não temeria um homem que se chamava o Diabo de Whitechapel?

Somente quando a neve veio, lavando a severidade e pintando o mundo de um branco plumoso, ela viu qualquer sinal de alegria ou riso neste mundo escuro. Blade tinha sido paciente com ela, oferecendo-lhe uma posição como sua governanta quando ficou claro que ela estava com tanto medo do derramamento de sangue que ela mal podia suportar a princípio. Mesmo os homens sombrios que trabalhavam para ele começaram a assustá-la menos à medida que ela os conhecia. Homem de Lata com o fino revestimento de metal sobre o couro cabeludo e sua incapacidade de falar; Will, o menino verwulfen feroz que Blade tinha resgatado da vida em uma gaiola e Rip, a quem ela quase desmaiou na frente quando viu o gigante de ombros largos pela primeira vez.

Ele a pegou enquanto ela balançava, puxando-a contra seu corpo duro e respirando fundo. Tudo que ela conseguia lembrar eram aqueles olhos verdes penetrantes olhando para ela com surpresa, e a sensação pesada do músculo em seu antebraço esquerdo quando ela o agarrou.

Em sua própria maneira tranquila, Rip conquistou a confiança dela ao máximo, acalmando-a com sua voz profunda e ajudando-a com suas tarefas. Alcançando coisas que eram muito altas para ela e acompanhando-a a uma distância respeitável sempre que ela tinha que sair. Uma presença silenciosa e sólida que a sombreava. Nunca falando muito. Raramente a tocando. E perigosamente brutal sempre que algum homem gritava um comentário obsceno para ela.

Eles pararam de fazer isso um mês após sua chegada ao Cortiço.

Rip nunca pediu nada em troca de sua ajuda e ela gradualmente percebeu que ele nunca pediria. Isso mais do que qualquer coisa a fez começar a confiar nos homens novamente.

Embora ele trabalhasse como um dos executores de Blade, Rip era gentil com ela, como se até ele temesse sua força. E ele tinha um senso de humor tão seco que muitas vezes demorava um momento para perceber que ele havia feito uma piada. Então aquele lento sorriso se espalhava pelo rosto dele, prendendo a respiração dela em seu peito e aquecendo partes dela que sentiam falta de um homem. Ele era seu amigo, e apenas isso, embora Esme fosse a primeira a admitir que ansiava por mais.

Ela lentamente se acostumou com o mundo em que viveu ao longo dos anos. Aceitando seu papel como governanta de Blade e até mesmo como sua serva de sangue. Antes de sua esposa Honoria chegar, é claro. Blade bebia seu sangue frio agora, por respeito a sua esposa e Esme... Bem, ela estava esperando que Rip a pedisse para ser dele.

Um homem saiu das sombras à frente, observando-a. Os lábios de Esme se curvaram em um sorriso genuíno quando ela viu Will. Ele a notou, é claro, seus olhos âmbar vagando pelas ruas com um interesse predatório. Os homens abriram caminho quando ele se levantou e sorriu para ela, ignorando-os. Ele tinha sido maior do que todos os outros desde que chegara ao viveiro como um menino. A maioria das pessoas via isso como perigoso, mas Esme sabia que ele nunca a machucaria. Will era verwulfen - claro que ele era perigoso - mas também era ferozmente protetor e essa proteção sempre se estendeu a ela.

—Will! — Ela estendeu a mão enluvada e ele ofereceu-lhe o braço. A mudança foi estranha, mas bem-intencionada. Mesmo através do oleado espesso de seu casaco, ela podia sentir o calor anormal de sua pele e a sugestão de tensão nos músculos grossos de seu antebraço.

Esme ergueu os olhos. —O que está errado?

—Nada...

—William Carver —, ela repreendeu. —Posso não ter sua audição ou seu olfato, mas sei quando você está mentindo para mim.

Um rubor avermelhado escureceu suas maçãs do rosto salientes. —Vamos. Eu te acompanho até em casa. — Um leve ruído, quase escocês, corrompeu as palavras, um sinal claro de que ele estava nervoso ou chateado. Ele raramente mostrava qualquer sinal de seu país de nascimento agora.

Esme plantou seus pés enquanto ele tentava conduzi-la rua abaixo. Longe do beco próximo. Ele estava escondendo algo.

Puxando-se para fora - embora na verdade ele a tenha deixado ir - Esme caminhou até a entrada do beco e olhou para baixo com curiosidade.

Havia um casal pressionado contra a parede de tijolos furada. A saia da prostituta estava arregaçada em sinal de disponibilidade; o cartão de visita de sua profissão. Cabelo loiro emaranhado caía em suas costas quando ela jogou a cabeça para trás com um suspiro, a longa coluna lisa de sua garganta brilhando pálida na luz fria da tarde. Seus braços se enroscaram nas costas do homem, suas unhas cravando-se nos músculos grossos de seus ombros. Inconscientemente, a mulher pressionou contra ele, seus quadris esfregando contra os dele como se fosse bom, tão bom - e a parte de Esme que uma vez serviu a Blade sabia exatamente como era. O sangue disparou por seu corpo, uma onda de necessidade. Então ela viu o metal brilhando quando os ásperos dedos de aço deslizaram pela nuca da mulher, apertando seu cabelo enquanto ele a segurava quieta. As características familiares de corte severo que lhe renderam uma reputação feroz. Características que ela frequentemente olhava quando pensava que ele não estava ciente disso. Sonhava em passar os lábios sobre...

Rip.

Sua boca percorreu a garganta da mulher, os lábios ainda brilhando com sangue. O calor saiu do rosto de Esme e desceu por seu pescoço, como se seu coração estivesse se contraindo em seu peito e puxando todo o sangue de seu corpo em um pequeno punho cerrado sob seus pulmões. Ela deu um passo para trás e tropeçou em algo. Recuperando o equilíbrio, ela viu a cabeça de Rip levantar bruscamente, a escuridão consumidora de suas pupilas abafando a cor de suas íris. Como se saísse de um torpor, seus olhos se fixaram nela. Uma respiração áspera rasgou sua garganta, seu corpo balançando na ponta dos pés como se por um momento ele tivesse se movido em direção a ela.

—Rip, — a prostituta sussurrou, deslizando uma mão possessiva por sua garganta e virando seu rosto para o dela. Ela estremeceu e deu uma risadinha ofegante. —Isso é incrível. Nunca pensei que diria isso, mas você quer mais? — Ela lambeu sua garganta. —Porque vou cuidar de você de graça.

Um punho de náusea subiu pela garganta de Esme. Cambaleando para trás, ela largou a cesta e levou a mão enluvada aos lábios. Ela tinha que fugir. Antes que ela pudesse ouvir qual seria sua resposta.

Virando-se, ela disparou direto no corpo rígido de Will, seus dedos se curvando cegamente no calor de sua camisa. —Sinto muito. — Ela deixou escapar, o mundo girando ao seu redor.

A mão de Will se enrolou em seu braço. —Calma aí, Esme. — Sua voz era surpreendentemente gentil. —Te peguei.

Curvando-se, ele pegou sua cesta e a aconchegou contra seu corpo. Ela precisava disso. Seus joelhos estavam ameaçando ceder sob ela, uma pulsação de raiva incandescente queimando a dor. O bastardo. Não quero sangue seu, Esme. Prefiro frio, fora da geladeira.

Todo esse tempo ela pensou que ele estava com medo de tomá-lo fresco da veia. Eles concordaram - ela e Blade - que era melhor deixar Rip aprender a se controlar bebendo seu sangue frio. Ele tinha sido gravemente ferido quando foi infectado... Sem sua própria resistência natural, o vírus do desejo o atingiu com força e eles praticamente tiveram que acorrentá-lo em seu quarto durante o primeiro mês para impedi-lo de dilacerar a colônia atrás de sangue.

Esme foi paciente. Seis meses atrás, quando Blade o carregou, carmesim gotejando de sua garganta e abdômen... ela pensou que o tinha perdido. Não importava se ela tivesse que esperar que ele controlasse a fome. Ela iria. Em sua cabeça, ela sempre soube que um dia ele ganharia o controle e então precisaria manter o desejo sob controle.

Ela teve uma ideia insana de que ele poderia finalmente recorrer a ela, depois dos últimos anos, quando ele se esforçou para manter uma distância amigável. Uma esperança tola.

E todo esse tempo, ele estava tirando sangue por conta própria. Partindo de... de prostitutas na rua, quando elas nem sabiam o básico de como lidar com ele quando ele estava no meio da fome. O bastardo egoísta e arrogante. Não só era perigoso, mas era totalmente insultuoso. Seus dentes cerraram-se furiosamente.

—Você está bem? — Will perguntou, sua voz soando como se viesse de uma grande distância.

Esme se endireitou, seus dedos travando em torno da cesta que ele ofereceu a ela. —Estou bem —, disse ela com firmeza, deslizando a mão na curva de seu braço. —Vamos.

Algo quente desceu por sua bochecha, mas pelo menos Will foi cavalheiro o suficiente para fingir não notar.


Capitulo 2

 

Rip passou pela porta dos fundos e entrou na enorme cozinha do Cortiço. Uma manta de calor o atingiu, o sangue ardendo em suas bochechas e seu coração disparado. Tudo o que ele podia ver era o olhar chocado no rosto de Esme enquanto ela estava na entrada do beco, olhando para ele como se ele a tivesse esfaqueado.

Inferno. Ele não queria que ela visse isso. Ele sabia exatamente o que ela estaria pensando. Ela deixou bem claro nos últimos dois meses que se ele desejava começar a tomar servas, então ela e Blade acharam melhor que ele começasse com alguém que tinha experiência com fomes voláteis de sangue azul. Sua. Não importava que o simples pensamento disso o deixasse nervoso de uma forma que qualquer outra mulher não faria. A amizade deles não teria sobrevivido; se ela soubesse exatamente o que ele pensava dela, ela ficaria horrorizada.

Esme ergueu os olhos da bancada cheia de cicatrizes onde estava preparando o jantar, então baixou o olhar. Will estava sentado do outro lado do banco, escarranchado em uma cadeira para trás com uma xícara de chá nas mãos. Olhos âmbar quentes pousaram em Rip de uma forma estranha e não muito amigável.

—Esme, — Rip murmurou. —Você tem um minuto?

De alguma forma, ele tinha que consertar isso. Explicar a ela que ele nunca teve a intenção de tomá-la como sua serva - que ele não ousava. Ela não devia nada a eles. Ela ganhou seu direito a esta família ao longo dos anos, não importa qual foi o acordo original de proteção que ela fez com Blade. Blade não precisava mais de seus serviços e Rip dificilmente faria novas exigências a ela. Ela estava livre de seu contrato de servidão.

Esme raspou uma pilha de salsa picada da tábua de cortar e colocou em uma panela borbulhante no fogão enorme. —Eu tenho que fazer o jantar.

Rip lançou a Will um olhar sombrio e apontou o queixo sugestivamente para a porta. —Eu vou ajudar. — Ele murmurou. Do jeito que ele costumava fazer.

Will sentou-se um pouco mais reto, colocando a xícara de lado. Seus dedos se enrolaram nas costas da cadeira. Não vou a lugar nenhum.

—Está tudo bem. Will pode me ajudar. — Esme colocou a tábua de cortar, apresentando-lhe as costas. Fios de cabelo preto desciam por sua nuca enquanto ela olhava para a prancha por uma fração mais do que o necessário.

Ela não olhou para ele. Os dentes de Rip cerraram-se, o pensamento da presença de Will desencadeou algo dentro dele, uma labareda de calor sombrio passando por seu intestino. Rip deu um passo em direção a ela, fechando a mão em um punho.

—Esme, você não deveria ver isso...

—Evidentemente. — Colocando um frango depenado no tabuleiro, ela pegou o cutelo e ergueu seu peso.

—Eu só quis dizer...

—Você disse que estava bem. — O cutelo cortou a tábua com um baque forte, separando a perna do corpo de uma galinha. —Que você não precisava de sangue fresco. Que você estava bebendo frio, com os suprimentos de Blade nos porões.

—Eu estava. — Ele retrucou, olhando para a rigidez entre suas omoplatas. Olhe para mim, maldita seja.

O cutelo fez outro movimento decisivo e Will estremeceu quando o impacto ecoou na cozinha cavernosa. Lentamente, ele se levantou. —Acho que vou deixar vocês dois sozinhos.

A cabeça de Esme se ergueu. —O que? Por que?

—Pense que você tem assuntos para resolver que não têm a ver comigo. — Will respondeu.

—William Carver...

Rip sacudiu a cabeça. —Fora.

Esme não gostou disso. Ela se virou para ele, seus olhos verdes brilhando de fúria, o cutelo enfatizando cada palavra. —Você não acha que pode mandá-lo sair da minha cozinha! Eu quero que ele fique. Eu quero que você saia.

Will aproveitou a chance e saiu correndo pela porta.

—Parece que a decisão foi tomada. — Murmurou Rip.

Assim que Will saiu, a cozinha de repente pareceu muito pequena. Rip passou a mão pela boca, sentindo o arranhão áspero de sua barba por fazer. Esme olhou para baixo, sua mandíbula cerrada enquanto ela começava a desmembrar o frango. Se ele não estava enganado, ele pensou ter ouvido um murmúrio “Covarde”, baixinho.

—Eu nunca quis que você fosse minha serva —, ele começou a dizer, observando enquanto o cutelo subia e se enterrava no tabuleiro. —Nunca foi minha intenção. — Ele engoliu em seco, lembrando-se da primeira noite quando ele colocou a boca em sua garganta e bebeu. O lampejo de fogo em suas veias como se alguém tivesse injetado ácido puro nele, uma onda de calor apertando em sua virilha até que ele sentiu que ia explodir... E Esme... Pequenos ruídos ofegantes e indefesos vindos de sua garganta enquanto ela a enrolava mãos em sua camisa e implorava, implorava, por mais. — Sim... sim... Oh Deus, John!

Se eles estivessem sozinhos, se Blade não estivesse lá... ele a teria levado. Empurrado para baixo em seus lençóis e enterrado seu pau pesado dentro dela, os dentes em sua garganta. O pensamento o assustou, porque ele não sabia onde teria parado.

Ou se ele tivesse parado antes que fosse tarde demais.

Mesmo agora, uma mão úmida percorreu sua espinha. Mais seguro para manter distância, para satisfazer seus desejos sombrios com uma prostituta. Tudo o que ele queria delas era sangue. De Esme... ele queria tudo. E tomá-la assim destruiria sua amizade.

—É só sangue —, disse ele. —Não quero dizer nada.

—Eu vi você, — ela disse, o cutelo pairando no ar. —Eu sei exatamente o que era. Você acha que eu não sei o que acontece entre um sangue azul e sua serva?

Isso marcou um golpe. —Blade? — Sua voz ficou áspera, embora soubesse que não tinha o maldito direito de se sentir assim. Como se ele quisesse ir atrás de seu mestre com uma lâmina.

—Blade? — Ela riu sem fôlego, voltando-se para o tabuleiro. —Não foi assim. Não entre nós. Claro que senti desejo, mas não era - era apenas a resposta do meu corpo à substância química em sua saliva. Em algum nível distante, eu sempre soube disso. E ele nunca... nunca fez exigências.

Rip franziu a testa, sua mão facilitando seu pulso por trás. Enrolando-se em torno de seu aperto no cutelo. —Quem então? Você esteve com outra pessoa? — Ele perguntou rispidamente.

—Estúpido, — ela sussurrou. —Você é tão estúpido, Rip

Seu polegar acariciou o dela, deslizando o cutelo de sua mão. —O que é isso de “Rip”? — Ela nunca o chamou assim. Não em anos. Uma pequena ponta de pânico o envolveu. —Você sempre me chamou de John.

Ele gostava do som de seu nome em seus lábios. Demais.

—Sim, eu chamava. — Disse ela em uma vozinha sem tom que fez o pânico aumentar.

Ele abaixou o cutelo, seu corpo duro enrolado ao redor dela com apenas uma polegada entre eles. Tão pequena em seus braços... Seu olhar caiu para o cacho que se soltou de seu coque e se arrastou contra a pele lisa de sua nuca. Desafiando-o a colocar os lábios ali. Mas por que diabos uma mulher tão bonita iria querer suas mãos feias sobre ela? Rip se preparou. —Esme, vamos lá. Nós somos amigos. Você sempre poderia me contar tudo.

—Eu costumava pensar o mesmo. — Libertando-se de seu aperto, ela passou em um redemoinho de saias verde-escuras. —Antes de eu percebi que não estava me dizendo tudo. — Quando ele estendeu a mão para ela, ela se afastou, as mãos fora de seu alcance. —Eu tenho que colocar esta sopa.

Rip pressionou a mão espalmada na bancada da cozinha e olhou para ela. —Não estou parando você. E sobre o que você está falando? Eu não sei o que está acontecendo. Você continua falando como se isso tivesse acabado - como se você não quisesse mais ser amiga minha. — Ele deu um passo em sua direção, mas ela recuou, com um olhar cauteloso no rosto. Rip ergueu as mãos incrédulo. —Eu não vou te machucar. Você sabe disso, né?

Não seria a primeira vez que uma mulher recuava, e doeu pra caralho que ela o fez. Ele nunca levantou a mão, nunca levantou a voz... Crescendo do jeito que ele cresceu, nas ruas onde ele aprendeu a ser brutal, aprendeu a usar seu tamanho e velocidade para cultivar uma reputação entre as gangues perigosas... Isso o protegeu, é claro, quando sua mãe não conseguiu. Mas também lhe custou.

O medo era apenas mais uma arma contra o lado sombrio do Cortiço, mas ele odiava o outro lance da moeda. O isolamento. A maneira como as mulheres o evitavam por medo de sua reputação e de seus filhos evitava seu grande tamanho. Ele sobreviveu ao que os outros não teriam quando criança, mas fez isso sozinho. Mesmo aqui no Cortiço ele tinha amigos, mas nenhuma mulher própria. E ele doía tanto por isso que doía fisicamente.

—É claro que sei disso —, disse ela. A frieza havia sumido de sua expressão, apenas por um momento, e ela realmente deu um passo à frente e deu um pequeno aperto em seus dedos antes de recuar. —Você nunca machucaria ninguém menor do que você. Você é um... homem gentil. Mesmo que os outros não vejam. — Seus ombros caíram.

Rip soltou a respiração que estava prendendo. Ele não achava que poderia lidar com isso se ela tivesse medo dele. —Então o que diabos é isso? Eu nunca menti. Eu disse há meses que estava resfriando meu sangue e estava. Só recentemente... Apenas três vezes. Nunca foi uma mentira, Esme. Simplesmente não parecia certo discutir isso com você. — Esfregando a mão sobre a barba por fazer em sua cabeça, ele olhou para ela, tentando forçá-la a ver a verdade. —Não é o tipo de coisa que eu falaria com uma senhora, entende?

O olhar em seu rosto fez a esperança morrer em seu peito.

—Esme? — Ele deu mais um passo em sua direção.

—Eu não posso mais fazer isso, — ela sussurrou. —Eu esperei e esperei... Eu só pensei que você precisava de algum tempo.

—Não pode fazer o quê? — Seus olhos se estreitaram, concentrando-se na parte da conversa que fez seu sangue gelar. Se ele pudesse entender o que diabos estava acontecendo em sua cabeça.

Ela deu uma risada ofegante. —Amigos, Rip. Amigos. Não importa. Esqueça o que eu disse. — Passando a mão pelo cabelo, ela olhou para a panela no fogão com um olhar vazio no rosto. —Sopa. Eu preciso colocar a sopa.

Ele a pegou pelo braço enquanto ela corria em direção ao fogão e a olhava fixamente. —Amigos? Você acredita em mim? Que eu nunca quis mentir para você? Você jura?

Esme olhou para sua mão. —Eu acredito em você. — Ela deu um pequeno puxão. —Afinal, por que diabos você estaria tentando esconder algo de mim? Não é como se eu tivesse qualquer tipo de controle sobre você.

—Verdade. — Ele disse suavemente. Seus olhos se encontraram e se fixaram, com Rip procurando desesperadamente por qualquer sinal de que ela pudesse ter sentido o contrário. Que ela queria que ele tivesse controle sobre ela. Qualquer coisa que pudesse tê-lo feito dar um passo à frente e inclinar o rosto dela para ele.

Os cílios escuros de Esme vibraram contra sua bochecha e ela olhou para baixo, enxugando as mãos no avental. —Então está resolvido. — Ela pigarreou. —Eu tenho a maior parte disso feito. Eu realmente não preciso de nenhuma ajuda.

Parecia longe de estar resolvido para ele, mas ele balançou a cabeça lentamente, deixando escapar o fôlego que estava prendendo. —Como quiser.

 


Mais tarde naquela noite, Rip começou a bater nas portas.

Nenhum dos vizinhos tinha visto nada na casa de Liza Kent e ela não mencionou que estaria longe de ninguém. O canto em que ela normalmente trabalhava estava frio e vazio e Rip ficou olhando para ele por um longo tempo antes de voltar para seu apartamento. Quase ninguém notaria seu desaparecimento e, se o fizesse, não se importaria. A esquina seria reivindicada por outra pessoa em pouco tempo e Liza Kent desapareceria na obscuridade de apenas mais um desaparecimento de Whitechapel.

Como sua mãe fez.

O corpo de Flash Jacky estava exatamente onde o haviam deixado. Normalmente Blade tinha homens que cuidavam da limpeza, mas Rip detestava envolvê-lo. E se ele fosse honesto consigo mesmo, ele precisava disso. Algo para manter sua mente longe da constante tortura da fome e de Esme. Dos dois, ele sabia qual pensamento doía mais. A discussão deles esta tarde parecia inacabada. Como se houvesse algo que ela não estava contando a ele.

Embora descobrir quem fez Liza desaparecer provavelmente seria mais fácil do que decifrar o que estava se passando pela mente de Esme.

Curvando-se, Rip puxou para o lado o corte aberto na camisa de Flash Jacky e examinou o ferimento. Parecia uma adaga, mas não era especialista em feridas. Apenas lidando com elas.

Felizmente ele conhecia alguém que era.

Batendo na porta do Doutor Creavey, ele prendeu a respiração para o fedor que estava começando a se espalhar pelo cobertor que ele enrolou em torno de Flash Jacky. Passos pesados soaram do outro lado da porta e, em seguida, Creavey olhou para ele através de seus óculos de meia-lua, seu olhar se estreitando no corpo que Rip jogou por cima do ombro. Seus olhos avermelhados estavam lacrimejantes e seu cabelo fino e crespo espetado em tufos cinza. Havia mais disso em suas costeletas de carneiro do que no topo de sua cabeça.

—Um quilo. — Creavey disparou.

Rip simplesmente olhou para ele.

Creavey amaldiçoou. —Já passou da hora, Rip. O homem tem que ganhar a vida.

—Depois do nossa? — Rip perguntou, apoiando-se na varanda. —Ou você e seus rapazes estavam apenas começando a sair.

—O que você quer dizer?

—Não seria bom se alguns de meus meninos aparecessem cavando. — Disse Rip deliberadamente, sabendo muito bem para que o desgraçado médico pagava alguns dos ladrões de túmulos locais. A obsessão de Creavey com a morte era até agora inofensiva; contanto que ficasse assim Blade pretendia deixá-lo sozinho. Ele tinha seus usos.

Creavey empalideceu. —Suponho que posso dispensar você alguns minutos. Por aqui, se você quiser.

O pequeno conjunto de quartos que Creavey alugou ficava acima de uma loja. Eles consistiam em dois cômodos separados para seus aposentos e uma pequena sala de estar, conectada ao seu consultório por um longo corredor com telhado de vidro que servia como seu laboratório. Aromas químicos permeavam o ar. Rip cheirou, mas não era exatamente o mesmo cheiro que tinha sido usado na casa de Liza Kent. Isso parecia queimar em suas narinas e obliterar qualquer chance de cheirar qualquer outra coisa por horas - esta foi uma combinação que o lembrou da pressa estonteante quando eles retiraram os restos destroçados de seu braço após o acidente e enxertaram a tomada de aço direto para a articulação do ombro. Os cômodos de Creavey sempre o deixavam inquieto, com a cabeça girando. Melhor acabar com isso rapidamente.

Ele entrou no laboratório e largou Flash Jacky na longa bancada que se alinhava à parede. Panelas e queimadores deslizaram para fora do caminho do corpo, uma variedade de implementos de metal espalhados em cada centímetro possível da bancada. Um rato morto estava preso à madeira, seus intestinos espalhados como se alguém o tivesse examinado com delicada curiosidade. Os lábios de Rip se curvaram. Coisas mortas. O lugar sempre lhe dava calafrios.

—Não aí. — Creavey suspirou exasperado. —Para a sala de cirurgia.

Com um grunhido, Rip puxou o corpo para cima e seguiu Creavey até a pequena sala. Duas folhas estavam colocadas sobre um par de formas estáticas nas mesas de exame de aço. Creavey o encaminhou para a última mesa e então tirou o avental manchado do gancho. Ele esticou sobre sua barriga arredondada.

Rip olhou para um dos outros corpos sob o lençol, sentindo o cheiro rançoso de sujeira ao lado do túmulo e podridão. —O que você tem aqui?

—Envenenamento por arsênico, — Creavey respondeu com uma voz distraída. —Um caso longo e lento disso, pela aparência das linhas brancas em suas unhas e seu cabelo ralo. A esposa, eu suspeito. Quase nenhum mistério. Então, o que você comprou para mim? — Creavey puxou um par de óculos de proteção sobre a cabeça.

—Diga-me você —, Rip respondeu, cruzando os braços sobre o peito e encostado no batente da porta. O cheiro era diferente aqui, lembrando-o um pouco do que havia caído na casa de Liza Kent. —Que cheiro é esse?

—Formaldeído. — Respondeu Creavey, apontando para as prateleiras e os potes de vidro com seus visores horríveis.

—Muitas pessoas colocam isso?

—Não é difícil comprar. A maioria dos médicos ou cirurgiões o terá. Alguns químicos.

Rip caminhou até o final do cômodo, tentado a esfregar os minúsculos pelos eretos de seu braço. Uma mão estranhamente pálida pendurada debaixo da mesa de exame distante, uma linha vermelha enrugada em todo o pulso. Não era difícil adivinhar qual foi a causa da morte. Rip se virou, enervado com a forma como a pele da mulher era branca. Drenada por suas próprias mãos.

Pendurando um lampião no alto contra um fundo espelhado que refletia a luz sobre o corpo, Creavey cortou o cobertor de Flash Jacky e se inclinou mais perto. Arrastando os óculos amplificadores sobre os olhos, ele espiou através deles, usando uma longa pinça de metal para puxar os restos de tecido para fora do caminho. —Hmm.

Creavey mediu o comprimento do corte. —Este foi um golpe para cima, — ele murmurou. —Canhoto, pelo que parece. — Inclinando-se mais perto, ele enganchou a ponta de sua pinça dentro da borda superior irregular do ferimento e olhou para dentro. —Jesus.

—O que é? — Rip perguntou, caminhando mais perto.

O bom médico empalideceu; o que quer que fosse, tinha que ser terrível. —Não tenho certeza ainda... Aqui, me dê esse bisturi.

Rip caminhou pelo chão de concreto perto do ralo enquanto o médico cortava Flash Jacky da garganta à pélvis para examinar o dano interno. Usando uma tesoura e uma serra, Creavey cortou a caixa torácica até que Rip teve que se virar e olhar para a parede. Ele não era estranho à violência, mas isso... isso era de alguma forma impessoal. Frio e calculista.

—Aqui, — Creavey chamou e apontou. —A arma subiu por baixo do esterno - um golpe para cima por lá... Mas também saiu aqui. Como se a lâmina fosse curva...

Rip franziu a testa. —Um gancho?

—Um gancho afiado —, disse Creavey, recuando e limpando o sangue dos dedos. Um pouco da cor havia sumido de seu rosto rosado. —O tipo comumente usado por pescadores, e também...

—Golpeadores — Rip finalizou, olhando para os horríveis restos mortais de Flash Jacky. —Os malditos Golpeadores.

—Eu teria que completar minhas descobertas, mas acredito que esta seja a causa da morte. — Creavey puxou as cordas do avental. —Eu pensei que Blade tinha acabado com as gangues de Golpeadores seis meses atrás?

—Ele acabou. — Rip respondeu, embora um vampiro tivesse realmente cuidado disso. Seu esconderijo ficava no Subterrâneo, o mundo escuro que uma vez foi a linha subterrânea da ELU antes que metade dos túneis desabasse. Apenas os pobres ou os muito desesperados viviam lá - ou as gangues de Golpeadores que antes corriam desenfreadamente por esta parte do East End. A iniciação em uma das gangues exigia o sacrifício de um membro, de preferência pelas próprias mãos de um homem. Cada um deles tinha sido aprimorado com um gancho de metal ou lâmina, a lâmina enxertada no antebraço em estilo de viveiro rudimentar. Alguns até tinham rodas no lugar dos pés ou olhos de vidro redondos que não focavam o mundo corretamente.

Os assassinos roubavam pessoas de suas camas e as arrastavam para baixo, onde drenavam um corpo de seu sangue para vender nas fábricas de drenagem do Escalão. O tipo de escória com que Rip não se importava de entrar em conflito - de preferência com sua própria lâmina.

—É o jeito de East End —, Rip explicou rispidamente. —Elimine um dos grupos no poder e outros brotam como cogumelos. — Ele pensou no apartamento de Liza Kent, com seu símbolo muito óbvio esculpido na porta. Nenhum Golpeador poderia ter perdido e estando nas bordas do gramado de Blade estava claro o que era. —Quem quer que sejam, eles estão desafiando Blade. Tirando um...

—Alguém sem interesse em continuar existindo —, murmurou Creavey. —Sim. — Rip deu um passo para trás. Isso explicava o desaparecimento de Liza Kent. Pobre garota. Sem dúvida, sua carcaça seca viria à tona nas ruas, sem todo o sangue. —Você não viu nada disso, entendeu?

Creavey não era um homem tolo. —Eu mesmo enterrarei o corpo. Certifique-se de que ninguém além de mim veja.

Rip olhou para ele. —Apenas certifique-se de enterrá-lo. Eu não envelheço com nada disso cortando cadáveres, você está me ouvindo?

—Está ficando difícil encontrar corpos, Rip.

Rip olhou para ele.

—De que outra forma um homem pode conhecer os segredos da morte? — Creavey protestou. —Você não sabe o quanto isso pode ajudar.

Rip deu um passo para trás, pronto para deixar o fedor da morte para trás. —Um dia alguém vai te mostrar uma primeira vez e dar uma olhada, se você continuar assim. Basta você pensar nisso.


Capitulo 3


Esme se jogou em sua cama estreita enquanto o amanhecer prateava o céu, então finalmente deu um suspiro e jogou as cobertas para trás. Não adianta ficar deitada aqui. Tudo o que ela faria era começar a pensar em Rip e esse tipo de pensamento a mantive acordada metade da noite.

Não fazia sentido chorar pelo leite derramado, a voz de sua mãe sussurrou em seu ouvido.

Fácil de dizer. Não era tão fácil de fazer.

Arrastando seu pesado robe de lã, Esme saltou pelo chão frio e afundou os pés em seus luxuosos sapatos. Com a respiração embaçada no ar, Esme correu para o corredor e desceu em direção às cozinhas. Ela precisava atiçar as brasas da enorme lareira para que houvesse água quente para se lavar e colocar as caldeiras para queimar. Elas bombeavam água quente pelas paredes e pisos para aquecer o Cortiço nesses meses mais frios.

A rotina era calmante. Esta era a hora do dia de que ela mais gostava, quando o mundo estava silencioso e ela estava completamente sozinha. Ela não tinha que pensar então. Oito anos atrás, quando seu marido Tom morreu, ela se jogou no trabalho assim também, tentando evitar seu próprio sentimento de luto. Funcionou. Por um tempinho. E embora essa situação fosse totalmente diferente, não fez com que doesse menos.

Encare Esme, você foi uma idiota, ela disse a si mesma enquanto corria escada acima para o banheiro e rapidamente realizava suas abluções matinais. Pensar que algo existia entre ela e Rip quando não existia. Ou talvez esperando. Ele esteve tão distante nos últimos seis meses, mas antes disso... As coisas mudaram na amizade deles. Ela não teria dito que ele a estava cortejando com precisão, mas eles passaram a maior parte de seus momentos livres juntos. Rindo juntos. Compartilhando coisas sobre suas vidas que ela achava que nenhum dos dois jamais havia contado para outra alma. Esme começou a assar bolo de chá e biscoitos porque ela sabia que ele sempre apareceria em sua cozinha logo após o almoço e ficaria até que ela tivesse que expulsá-lo ou arriscaria perder o jantar.

A dúvida a assaltou. Ela podia se lembrar do dia do ataque do vampiro como se tivesse acontecido ontem. Ele estava na cozinha com ela, encostado no banco e observando enquanto ela enrolava a massa. Olhando para ela com uma expressão que ela quase pensou que era de fome. E então ele estendeu a mão, seu olhar seguindo seus dedos enquanto ele acariciava sua bochecha. No nariz dela, um sorriso suavizou sua boca e aqueceu seus olhos. Esme não foi capaz de respirar, seu coração martelando em seu peito enquanto ela o olhava impotente.

—Farinha. — Ele murmurou e baixou a mão. Mas seu olhar permaneceu nela por outro longo momento, como se estivesse esperando por algo.

Ela nunca disse nada. Não tinha sido capaz. E então, na próxima vez que o viu, sua garganta estava meio rasgada e Blade foi forçado a infectá-lo com o desejo para salvar sua vida. Esse momento mudou tudo. Rip não a tocou mais. Suas visitas à cozinha pararam e as risadas desapareceram. Ela sabia que ele estava lutando para se controlar, para encontrar alguma sensação de paz com o desejo interior. Ela estava determinada a esperar.

Mas talvez o vampiro tivesse levado mais do que apenas a humanidade de Rip.

Esme beliscou as bochechas para dar-lhes alguma aparência de cor e voltou para baixo, com o cabelo bem arrumado e a saia azul meia-noite balançando ao redor de seus tornozelos. Acima dela, ela podia ouvir as pessoas começando a se mexer, a paz do dia ameaçando se estilhaçar. Embora ela amasse a pequena família estranha que Blade havia reunido ao longo dos anos, agora ela simplesmente desejava ser deixada em paz.

Agarrando seu xale e cesta, Esme empurrou para a manhã fria de inverno e parou, sua respiração presa no conjunto brilhante à sua frente. O mundo inteiro estava branco, o monte de flocos de neve flutuando lentamente no ar. A respiração de Esme fumegou e o frio cortante pegou em seus pulmões, mas mesmo isso era uma coisa bela. O ar tinha um gosto tão puro, tão limpo, como se a neve tivesse umedecido até mesmo a espessa nuvem de fumaça que se agarrava às torres de Londres.

Suas botas rangeram no pó macio enquanto ela enrolava o xale em volta do corpo, prendendo-o com força. Passaram-se anos desde que tiveram uma queda como esta. Uma moita deslizou de um telhado próximo e Esme levantou a cabeça. O silêncio de repente adquiriu uma sensação sinistra, todos os pelinhos de sua nuca se arrepiando.

Nada se moveu. Mesmo assim... a sensação de estar sendo observada aumentou. Puxando as luvas lentamente, ela olhou para a rua. Isso era ridículo. Todos no Cortiço sabiam que ela pertencia a Blade. Ninguém ousaria colocar um dedo nela.

Recuperando o fôlego, ela caminhou para a rua estreita... e diretamente para uma superfície quente e dura.

As mãos se fecharam ao redor de seus braços enquanto ela tropeçava, o cheiro de homem aquecido ondulando em suas narinas. O pânico cresceu quando ela imediatamente reconheceu quem era. Ela lavou suas camisas durante anos; ela reconheceria aquele cheiro distinto e ligeiramente picante de sua colônia em qualquer lugar.

De todas as pessoas que ela não queria ver esta manhã...

—Rip —, ela deixou escapar, inclinando a cabeça para trás para olhar para ele. —O que você está fazendo aqui fora?

—Nada — murmurou Rip, olhando para ela com uma expressão ilegível em seus olhos verdes. Linhas fracas marcavam os cantos enquanto seus olhos se estreitavam. —Então ainda não é “John”?

Não seria John novamente. Não poderia. Não até que ela conseguisse curar a ferida aberta dentro dela - ou se distanciar dela, pelo menos. —Você estará procurando sua cama então, — ela disse, evitando-o e colocando sua cesta contra seu abdômen. —Se você me der licença? Tenho coisas para fazer.

O suave arrastar de seus passos pesados ecoou os dela e uma onda de lágrimas quentes ameaçou derramar por suas bochechas. Por que ele não a deixava em paz?

—A água quente da caldeira está funcionando. Você vai querer um banho, eu acredito. — Ela jogou para trás por cima do ombro.

Dois longos passos e ele a alcançou, com as mãos enfiadas nos bolsos e o colarinho puxado para cima contra os flocos de neve. Olhos verdes perspicazes a percorreram. Rip nunca foi um tolo, embora a maioria das pessoas o considerasse apenas um músculo.

—Saiba que eu sei quando uma mulher está tentando me dar um gelo, Esme. — Ele olhou para frente. —Eu perguntaria por quê, mas acho que tem a ver com o que aconteceu ontem.

O silêncio foi uma parede repentina e estranha entre eles.

—Eu estava tentando ser atenciosa, — ela respondeu rigidamente. —Você vai ficar cansado.

—Pare de me dizer o que eu sinto e o que eu deveria estar querendo, — ele retrucou. —Você sabe que pode me dizer qualquer coisa, não é?

—É claro.

Quando ela não disse mais nada, os lábios dele se estreitaram. A luz suave do amanhecer suavizou a inclinação severa de sua sobrancelha e a fratura irregular em seu nariz, mas ele nunca seria considerado bonito. Ainda assim... Por um momento, seu coração se torceu em seu peito enquanto ela olhava para o perfil familiar dele. Tão forte. Tão teimoso. Ela olhou para aquele rosto por anos, perguntando-se que pensamentos ele entretinha por trás daqueles lindos olhos verdes.

Desviando o olhar, ela se concentrou na rua. Deles foram os únicos passos estragando o branco imaculado. Isso a fez se sentir terrivelmente sozinha com ele, seu corpo formigando com consciência perigosa. E isso só a deixou furiosa consigo mesma.

—Você ainda está com raiva de mim. — Disse ele rispidamente.

—Eu não deveria pensar por quê. — Esme avançou, querendo desesperadamente evitar essa conversa.

Uma mão de aço agarrou seu braço e quando ela girou, ele estava olhando para ela com aqueles olhos muito espertos. —Podemos dançar em círculos o dia todo, Esme, mas a única verdade é que não tenho a menor ideia de por que você está tão chateada. — Ele esfregou a testa, as pontas dos dedos deixando marcas brancas em sua pele morena. A frustração afiou sua voz. —Passei a noite toda pensando sobre isso.

—Deixe-me ir. — Ela disse calmamente.

—Não.

—Maldito seja, Jo.. Rip! — Ela jogou todo o seu peso contra o aperto dele e sentiu sua mão escorregar no tecido de suas mangas.

Ele as ergueu em sinal de rendição e ela recuou alguns passos. Os mastros finos e rígidos de sua mão direita refletiam a luz da manhã. Como se sentisse para onde o olhar dela estava atraído, ele o puxou para baixo, colocando-o no bolso, uma onda de calor tornando suas bochechas vermelhas. —Então, estou pensando direito sobre o que você disse ontem, e estou pensando que isso não tem nada a ver com a chamada mentira.

Esme engoliu em seco. —Entendo.

Aqueles olhos perversos se estreitaram com sua resposta evasiva. —Você está com raiva de mim —, disse ele lentamente. —Porque eu estava bebendo sangue de outra pessoa? Porque você pensou que seria minha serva? Eu deveria ter dito a você que não a deixaria responsável por isso. Você não precisa ser minha serva - você não precisa ser serva de ninguém.

Esme balançou a cabeça, tentando contorná-lo. Como dizer a ele que ela queria ser sua tão desesperadamente? Especialmente quando ele deixou claro que não pensava nela dessa forma. —Não importa...

Ele a agarrou novamente. —Droga, Esme. Estou tentando resolver isso. — Dedos duros - metal e carne - cavaram em seus braços enquanto ele olhava para ela. —Estou tentando. Por favor. Me diga o que está errado?

—O que está errado? — De repente, ela não conseguiu segurar mais. Era isso ou começou a chorar. Ela passou por ele. —Eu... eu tenho meu orgulho, John Doolan. Eu tenho! Eu não vou te implorar, droga. Você não me quer e eu não vou...

Ele dançou na frente dela e Esme cambaleou para ele, as mãos empurrando seu peito largo.

—Eu não quero você? — Ele demandou. —Eu não quero o seu sangue? — Um brilho escuro apareceu em seus olhos. —É isso, não é? É isso que está acontecendo? Porque eu não quero o seu sangue fodido?

Algo quente deslizou por sua bochecha e ela enxugou a lágrima, esperando que ele não visse. —Deixe-me em paz. — Disse ela com voz rouca.

A parede de seu peito enrijeceu. —Esme? — Ele perguntou. —Você está chorando?

—N-não.

De repente, a mão dele segurou sua mandíbula, o aço frio da direita escorregando contra sua pele. Esme fechou os olhos quando ele ergueu seu rosto para ele, uma última lágrima deslizando silenciosamente por sua bochecha. Ela não queria que ele visse, mas o aperto firme não lhe deu escolha.

Um polegar áspero traçou o caminho da lágrima. — Puta que pariu — disse ele em um tom sem fôlego e perplexo. —Cristo, amor. Não chore. Por favor, não chore. Eu não valho isso.

—Sim, você vale, — ela sussurrou. —Eu não vou deixar você se depreciar. — Todo mundo fez o suficiente disso.

Tão perigoso quanto o pecado, sussurravam as prostitutas da rua. Ah, sim, ela tinha ouvido e sabia que ele também. Mas em seu coração, o pecado não era nada atraente. Era o leve roçar de seu corpo duro contra o dela quando eles passavam na cozinha ou o sorriso lento e perigoso que ele dava a ela quando eles estavam sozinhos e ele estava roubando massa de sua mistura de bolo. Só ela conseguia ver o que ninguém mais via quando ele baixava a guarda e se deixava ser apenas um homem, em vez de forçar sua reputação e sua ameaça carrancuda goela abaixo das pessoas.

—Tudo bem, amor. Não vou dizer isso.

Seu corpo duro parecia envolvê-la, as pontas dos dedos acariciando sua mandíbula tão levemente que ela poderia ter escapado se quisesse.

Ele ainda não entendia qual era o problema. Ela poderia ir embora agora, sabendo que sua amizade permaneceria como sempre foi, que suas noites seriam passadas em uma tortura de desejo frustrado enquanto ele estava deitado do outro lado da parede, sem dúvida alheio a seus verdadeiros sentimentos.

Ela poderia se afastar. Ela deveria.

Era a coisa sensata a fazer. A coisa da Esme.

Se ela quisesse...

Seus dedos se afrouxaram de seu punho apertado e se flexionaram amplamente, pairando a uma polegada de distância de seu abdômen. Esme não conseguia acreditar no que estava pensando de repente. Ela estava tão cansada de esperar que ele notasse seus sentimentos. De ter medo de expressá-los.

Ela não queria mais ser sensata.

—Você quer saber por que estou tão chateada? — Esme sussurrou, forçando as palavras através dos lábios trêmulos. Se ela não pudesse dizer isso agora, ela nunca o faria.

—Sim. — Disse ele rispidamente, inclinando o rosto mais para baixo como se para encontrar as respostas em seus olhos.

—Porque eu queria que fosse eu. — Ela sussurrou, afundando o punho na gola da camisa dele e ficando na ponta dos pés para pressionar os lábios nos dele.

 


Rip congelou, sugando um silvo agudo de ar entre os lábios entreabertos.

Ele podia saboreá-la em sua boca, no calor de sua respiração... Tudo o que ele sempre sonhou e não podia acreditar estava realmente acontecendo.

O corpo macio de Esme caiu contra ele, os punhos dela enrolando em sua camisa e sua boca fechando sobre a dele com um pequeno gemido faminto. O dardo de sua língua chicoteou através dele, como se cintilasse diretamente sobre o comprimento de seu pênis. Ele estava duro em segundos, suas mãos deslizando na rigidez grosseira de sua agitação enquanto ele a puxava contra ele.

Esme.

Cristo. Rip hesitou, um furor de emoção rodando por ele. Perigoso. A batida inebriante de sua pulsação de repente ficou espessa em seus ouvidos. Ela puxou sua cabeça para baixo e capturou sua boca com uma devassidão que o empurrou direto para a borda. Rip cambaleou para frente, levando-a com ele. De alguma forma, suas costas bateram na parede e então ele estava pressionando contra ela, a mão em punho em sua saia e a necessidade queimando por ele como um rio furioso.

Um lampejo de vermelho varreu atrás de suas pálpebras fechadas e Rip gemeu, seus quadris empurrando inconscientemente contra ela. Forte. Ele forçou seus dedos a se soltarem em suas saias, mas Esme mordeu seu lábio, uma onda de dor e prazer passando por ele.

Sua respiração. Esfarrapada em seus ouvidos. O gosto dela, queimando através dele, acendendo todos os desejos de Rip. Seu pulso. Seu maldito pulso, trovejando agora. Rip gemeu, arrancando sua boca da dela. A mão de Esme enrolou em seu colarinho como se ela não estivesse preparada para deixá-lo ir, mas ele tinha que fugir. Se não o fizesse, estaria sobre ela, os dentes cravados na coluna lisa de sua garganta, sua mão caindo para a lâmina em sua cintura... Outro gemido quando o pensamento disparou seu sangue.

Caia fora. Agora.

Rip empurrou para trás e cambaleou para as ruas, piscando contra as sombras escuras de sua visão. Movimento gritou ao redor dele. O predador nele, a fome, estava tão furiosamente ciente de Esme, da pulsação de seu coração, que ele não ousou dar um passo em sua direção.

—John. — Ela sussurrou, tocando os lábios. Seus olhos estavam quase vidrados.

Esme deu um passo à frente, mas ele recuou, deslizando as mãos nos bolsos. Cristo. Ela não podia ver o quão perto do limite ele estava?

Ele balançou a cabeça abruptamente. —Não faça isso.

Esme congelou.

—Sinto muito —, disse ele. —Eu não posso. Não com você. — O olhar em seu rosto quase o esmagou. Como se ele a tivesse batido. —Tenho que ir. Eu só... eu não posso.

Em seguida, ele se virou e caminhou pelo vento constante de neve em direção ao Cortiço, ouvindo a ingestão aguda e dolorida de sua respiração enquanto ele tentava parar de sangrá-la até secá-la.


Capitulo 4


O pinheiro eriçado subiu, a ponta dobrando-se contra o teto. Will olhou por entre os galhos, seus braços em volta da folha perene e uma carranca no rosto enquanto lutava para colocá-la no lugar.

—Ela não é uma beleza? — Blade perguntou, dando um passo para trás e examinando-a.

Esme colou um sorriso no rosto e acenou com a cabeça enquanto os outros se reuniam para olhar. Ela podia sentir Rip olhando para ela do outro lado da sala, encostado na parede em silêncio. Ele mal se envolveu na luta contra a árvore dentro e nem ela. Os dois pairavam nas bordas da família, como se alguém os tivesse prendido do lado de fora de um daqueles globos de neve que os franceses exportavam, olhando para a família dentro. De alguma forma, o mundo parecia entorpecido, o som distorcido. Como se ela realmente não pertencesse a este momento.

Honoria riu quando Blade passou o braço em volta dela. Desde que se casou com Blade, ela engordou vários quilos, uma melhoria vital. O peso suavizou suas feições e a felicidade muitas vezes colocava um sorriso em seu rosto. Nos últimos seis meses, ela e Esme se tornaram muito próximas, embora Esme não pudesse ir até ela com isso. Ela não podia ir para ninguém, nem mesmo Blade, que uma vez foi seu confidente. Seu coração parecia estar se partindo, mas como ela poderia contar a seus amigos o que tinha acontecido?

Ela beijou Rip e ele disse que não a queria. Eu não posso. Não com você. Palavras que pareciam marcadas em seu coração. Ela as sentia borbulhar dentro dela, como um punho em sua garganta, ameaçando escapar. Mas se ela deixasse, as lágrimas não parariam. E Esme sempre foi boa em escondê-las.

Ela não chorou quando seus pais a cortaram após se casar com Tom e ela não chorou quando sua mãe a jogou na rua após sua morte. Em vez disso, ela se levantou da sarjeta e encontrou um emprego respeitável como costureira até que seu novo vizinho começou a tornar a vida insuportável. Ela poderia fazer isso de novo. Colar um sorriso nos lábios enquanto fingia que nada havia acontecido entre ela e Rip.

Ainda assim, a ideia de ser seu amigo agora era mais do que ela poderia suportar.

Duas crianças passaram correndo, gritando de tanto rir. Lark havia chegado ao Cortiço com o Homem de Lata, embora ninguém soubesse se ela era sua filha, um parente ou apenas uma jovem que ele tirou das ruas, e Charlie era o irmão mais novo de Honoria. Embora ele também tivesse sido atingido pelo desejo, ele se recuperou muito mais rápido do que Rip. Blade ficou de olho no garoto, mas ele parecia estar se controlando bem. Nos primeiros meses ele teve medo de ficar sozinho com qualquer humano, especialmente suas irmãs Honoria e Lena, por medo de ir para suas gargantas. Foi bom ouvir sua risada agora e vê-lo relaxar.

—Charlie! Devolva! — Lena entrou correndo na sala, o cabelo amarrado com uma fita vermelha e as bochechas coradas. Ela parou quando viu a árvore, seus olhos se arregalando. À beira de ser uma mulher, Lena ainda podia ser dada a momentos de alegria infantil, e sua vida tinha sido difícil o suficiente seis meses atrás para que ela aproveitasse cada momento como se pudesse ser o último.

—Meu Deus —, disse ela. —De onde veio isso? — Então seus olhos se estreitaram de alegria quando ela avistou Will, se esforçando para segurar a árvore no lugar. —Que decoração terrivelmente cabeluda. Talvez devêssemos colocar algumas fitas nela?

Will se jogou para fora dos galhos como se tivesse vergonha de ser pego. Ele enrijeceu assim que Lena entrou na sala.

A visão sacudiu Esme de sua miséria. Will nunca gostou muito de mulheres, desde que sua mãe o vendeu para um diretor viajante e ele passou dez anos em uma gaiola. Esme levou anos para quebrar seu comportamento desconfiado - principalmente roubando pedaços de rosbife e assando bolos de especiarias para ele. Aproximando-se dele, Esme deslizou a mão protetora sobre seu ombro. —Acho que vai aguentar. — Disse ela.

Seus olhos se encontraram. Os ombros de Will se suavizaram, como se estivesse aliviado em vê-la. Esme não era estúpida. Ela o via se esconder atrás dos edifícios para evitar Lena, enquanto Lena o caçava impiedosamente. Lena sabia que o deixava inquieto, mas não tinha percebido por quê.

Já era difícil para Will confiar em Esme e Honoria, mas em uma garota jovem e atraente que flertava com ele? Esme nunca o tinha visto com uma mulher, mas ela sabia quando um jovem desejava uma garota. E quando ele não sabia como lidar com isso.

—Venha me ajudar na cozinha. — Disse ela.

Rip observou-os irem, os braços cruzados sobre o peito e o olhar fixo nela com uma intensidade que a enervou. Ele se mexeu como se fosse segui-los, mas pensou melhor.

Bom.

Com as bochechas queimando, Esme passou por Blade - ignorando o olhar inquisitivo que ele deu a ela - e empurrou para a cozinha.

Uma parede de calor a atingiu. Confortável, caseiro... seu próprio retiro especial. Ela passou a última hora plantando milho enquanto os homens arrastavam a árvore para dentro e montes fofos dela enchiam uma tigela no banco para serem amarradas como enfeites para a árvore. Pequenas tortas de carne moída ainda quentes do forno davam sabor ao ambiente com seu aroma picante e os olhos âmbar de Will fixaram-se nelas.

—Aqui. — Esme murmurou.

A tensão o abandonou quando ele se sentou e começou a devorar tortas de carne moída. Esme estendeu a mão com um sorriso e afastou o cabelo de seus olhos. Ela nunca teve um irmão, mas Will era o mais próximo possível.

—Você não deveria deixá-la chegar até você. — Ela murmurou.

Ele enrijeceu instantaneamente.

—E antes de me contar uma mentira, por favor, tenha em mente que eu sou a única que notou.

—Não é nada —, disse ele, espanando as migalhas de massa de seus dedos. —Lena é apenas uma garota, jogando jogos que ela não pode pagar. Não pretendo fazer nada a respeito, embora deva, apenas para lhe ensinar uma lição.

—Você pode ser aquele que terá seus dedos queimados, — ela respondeu. —Honoria é protetora de sua irmã e, portanto, Blade também.

A frustração brilhou em seus olhos. O temperamento de um verwulfen sempre foi volátil e Esme rezou para que Lena aprendesse isso antes que Will fizesse algo que não queria fazer. Ele sempre foi tão ferozmente controlado, sabendo a devastação que poderia causar se se perdesse na fúria. Um verwulfen não era como um sangue azul, sedento por sangue, mas a raiva era quase tão perigosa quanto a fome de um sangue azul.

—Eu tento ficar longe dela, — ele murmurou, insinuando a Escócia em suas palavras. —É difícil quando ela mora aqui também. Estive pensando... talvez seja hora de encontrar um lugar meu, sim?

—Talvez você deva encontrar uma mulher.

Ele balançou a cabeça abruptamente. —Não. Isso não é para mim.

—Você já esteve com uma mulher? — Ela perguntou suavemente, sabendo a resposta. Embora Blade só tivesse falado sobre isso uma vez, ela sabia que houve aquele momento entre eles, quando Will fez dezoito anos e se tornou o servo de Blade. Ela só podia imaginar o quão confuso deve ter sido para Will, pois a alimentação o afetou pelo menos tanto quanto a ela.

De alguma forma, Blade havia resolvido o mal-entendido, mas Will ainda era cauteloso o suficiente com a maioria das mulheres que raramente as tolerava. A única pessoa que ele mostrou qualquer indício de atração estava na sala ao lado e alegremente inconsciente da confusão que ela estava causando.

—Cristo, Esme. — Os olhos de Will brilharam selvagens. —Eu não vou falar sobre isso com você.

—Você deveria falar com alguém, — ela repreendeu. —Talvez Blade?

—Ele me arrancaria a pele se soubesse o que eu estou pensando. — Will admitiu rispidamente.

—John? — Ela sugeriu.

A peculiaridade de uma sobrancelha castanha. —Porque ele obviamente sabe o que está fazendo.

—O que você quer dizer com isso?

Will estendeu a mão e deslizou sua mão sobre a dela no banco. —Não gosto de ver você sofrendo.

Essa onda quente de dor nadou por ela. Esme convocou um sorriso corajoso. —Estou bem, Will. Só não acredito que possa ser uma amiga de John no momento. Não... Ainda não.

O movimento cintilou no canto de sua visão. A porta se fechando. A cabeça de Esme se ergueu e ela olhou quando os olhos de Rip encontraram os dela. O calor subiu em suas bochechas quando seu olhar deslizou sobre sua mão, tão segura sob a de Will. Ele deve tê-la ouvido. Por um momento, sua mente disparou, tentando lembrar se mais alguma coisa havia sido dita.

O olhar de Rip caiu. —Blade quer sua ajuda com a árvore, — ele disse a Will. —Lena quer colocar um anjo no topo.

Will se levantou com graça fluida, suspirando baixinho. —Ela iria.

Quando ele saiu da sala, Esme brincou com os cordões do avental. —Eu não quis dizer...

—Eu ouvi você, — ele respondeu suavemente. —Talvez, talvez é o melhor.

Com um aceno sombrio em sua direção, ele girou nos calcanhares e desapareceu.


Capitulo 5


Rip rondava a noite, seu corpo no limite quase tanto quanto seus nervos. Passando a mão pelo couro cabeludo, ele olhou para os telhados cobertos de gelo. Cicatrizes ondulando sob a ponta de seus dedos; a razão pela qual ele raspava o cabelo tão curto. Se ele o deixasse crescer, grossas meias-luas prateadas brilhavam na escuridão grossa de seu cabelo e Rip preferia não parecer um idiota.

As pontas dos dedos traçaram a cicatriz mais profunda na base do couro cabeludo em um ritmo familiar que o ajudava a pensar. Um semicírculo. Com a forma do fundo de uma garrafa. Ou, mais precisamente, uma garrafa quebrada. As bordas irregulares da cicatriz são um testemunho disso.

Não importava o quanto ele tentasse manter sua mente no negócio em questão - ele tinha o turno da guarda da meia-noite - ele não conseguia parar de pensar em Esme. Jesus. O que diabos ele iria fazer? Ela o beijou na boca, seu corpo pressionando contra o dele como se ela estivesse quase ávida por ele. Na hora, ele estava com tanto medo de machucá-la que a surpresa nem começou a aparecer.

Mas ele teve o dia todo para pensar, sua mente correndo em círculos.

—Porque eu queria que fosse eu...

Seis pequenas palavras sussurradas que rasgaram seu peito em dois. Ela quis dizer que queria ser sua serva? Ela nunca deu a ele qualquer indicação de que sua amizade era algo mais - deu?

E agora ela não queria nada com ele.

O pior era que ele não sabia como consertar. Oh, ela sorria para ele e falava com ele, mas ele sentia como se houvesse uma parede entre eles. Tratando-o com cortesia educada até que ele engasgasse com isso.

As sombras piscaram à distância e a cabeça de Rip se ergueu enquanto ele olhava através dos telhados totalmente cobertos de neve. Um lembrete para manter sua mente na tarefa em mãos e não em uma bruxa de olhos verdes que amarrou seu coração no peito. A maneira mais fácil de se matar aqui.

As sombras derreteram ao luar, desaparecendo. Grande demais para ser um gato. Fosse o que fosse, elas tinham ido embora agora, mas a sensação desconfortável permaneceu. Quem mais estaria nos telhados à noite? Ou tinha direito a isso?

Suas pegadas deixaram sua marca atrás dele enquanto ele cruzava os telhados que serviam como sua própria rodovia particular aqui nas colônias. As ruas eram tortas como o sorriso de um velho e apertadas com lixo e o estranho humano trêmulo. Mas aqui em cima o mundo estava limpo e ele aparentemente podia ver a quilômetros.

Ele soube assim que atingiu o Angels Alley o que estava prestes a encontrar. O sangue estava espesso no ar, um cheiro metálico na noite gelada. Passos se misturaram no telhado, levando diretamente à borda da parede que circundava Whitechapel para manter o Escalão fora. Sul. Em direção à entrada mais próxima do Subterrâneo.

—Inferno. — Ele amaldiçoou, tentando respirar pela boca. Saliva se acumulou. Ir atrás dos Golpeadores? Ou verificar se havia alguém vivo lá embaixo?

Um gemido suave tomou sua decisão por ele. Tão quieto que nenhum ser humano normal ouviria. Quieto como um rato.

Balançando sobre a beirada do telhado, ele viu a janela no sótão e se jogou no parapeito, os músculos de seu antebraço protuberantes. Trabalho fácil para quebrar a trava. Ele cortou os dentes como um craque. Claro, era mais fácil quando seus ombros não eram tão largos.

Movendo-se silenciosamente, Rip passou pela janela estreita, aterrissando com um silêncio felino na ponta dos pés e nas pontas dos dedos. O cheiro de sangue era mais forte aqui; um maldito afrodisíaco. Sua cabeça girou, a fome agarrando suas entranhas com garras de ferro. Outro suspiro assustado e ofegante veio de baixo e ele rastreou o som, o leve soar de respiração e os soluços mal sufocados.

Mais sangue. Ainda quente. Ele só tinha que encontrar a fonte disso...

Engolindo em seco, Rip apertou a cabeça nas palmas das mãos. Não seus pensamentos, mas o demônio dentro. Droga. Quando isso facilitaria? Quando ele iria parar de ver todos ao seu redor como meramente uma fonte de alimento?

Ou não?

Ele tinha visto a escuridão subir nos olhos de Blade muitas vezes. Era isso que ele tinha que esperar?

— Mamãe? — Uma vozinha sussurrou, no escuro.

Por um instante, todos os anos se passaram e era ele. Trancado no porão e ouvindo o som de punhos batendo na carne. Os suspiros abafados de sua mãe enquanto ela tentava poupá-lo do pior.

A fome era espessa e não saciada em sua garganta, mas de repente Rip descobriu que podia respirar através dela. Olhando para cima, ele respirou fundo e passou a mão pelo rosto. Vamos, seu bruto feio, ele rosnou para si mesmo. Quanto mais rápido você fizer isso, mais rápido poderá ir atrás dos Golpeadores.

E isso foi o suficiente para sufocar o último aperto desesperado dele. A fúria aumentou. Nada que ele odiasse mais do que Golpeadores.

Com um propósito frio queimando em seu peito, ele se endireitou e começou a descer as escadas. No meio do caminho, eles rangeram e os soluços sufocados congelaram. Nem mesmo uma respiração agora.

Ele podia sentir o cheiro de sangue, respingos de vermelho escurecendo sua visão. Rip deu cada passo com precisão, olhando para a pequena cozinha. Dois quartos se ramificavam dele. Uma verdadeira mansão aqui em Whitechapel.

—Eu não vou te machucar, — ele chamou. O silêncio tinha uma sensação de escuta. —Eu sou um dos homens de Blade.

Nenhuma coisa. Apenas um batimento cardíaco irregular batendo descontroladamente no escuro. Ele identificou sua localização - sob as tábuas do assoalho - e deu um passo devagar em sua direção. O tapete no meio do chão estava torto. Um homem estava deitado na madeira nua perto dela, seus olhos vazios olhando para o nada. Sem dúvida, ele comprou a vida de seu filho com sua morte.

Os restos de uma refeição repousavam sobre a mesa, a torta de arenque fria coagulando nos pratos de lata. A faca e o garfo na cabeceira da mesa foram colocados ao lado do prato de maneira ordenada, a cadeira dobrada para trás. Os outros dois assentos foram arrancados da mesa, um garfo caído desamparadamente no chão.

Rip examinou a sala. Uma das pinturas perto da porta estava torta. Uma luta então. Ele se abaixou, examinando o corpo do homem e tentando não respirar muito profundamente enquanto pensava no que havia acontecido. Alguém bateu na porta. O homem levantou-se para abri-la e, a julgar pelos nós dos dedos machucados, percebeu o que estava ali assim que ele a abriu. Ele lutou, o que deu aos outros dois tempo suficiente para se afastarem da mesa. Talvez para a mãe esconder o filho no pequeno alçapão debaixo do tapete.

A ausência de gritos da mulher contou a história. O estômago de Rip caiu como chumbo. Falta outro. Mas por que eles não levaram a criança?

Uma respiração em pânico soou sob seus pés. Rip puxou o tapete para trás e espalhou-o sobre o corpo do homem. Não havia sinal de fechadura no alçapão de corte quadrado. O que significava que estava trancado por dentro.

Talvez os Golpeadores o tivessem visto nos telhados ou não quisessem perder tempo?

Ou talvez eles tenham conseguido o que queriam. Ele estava começando a se lembrar de quem morava aqui agora, um jovem casal simpático com uma filha com cabelo curto. Oliver Tanner, sua esposa Annie e sua filha... Meggie? Maggie? Não, definitivamente Meggie. Espiando por trás da perna de seu pai quando ele veio pagar seu dízimo a Blade pelo custo da proteção.

Claro como a chuva, haveria um par de adagas cruzadas sobre o lintel.

Outra mensagem. Outra provocação.

Podemos pegar qualquer um que você alega proteger.

Rip afundou no chão ao lado do alçapão. —Meggie? — ele chamou baixinho, tentando abaixar a voz o máximo possível. — Meggie, preciso que você abra a porta. Estou aqui para ajudá-la.

Outro soluço trêmulo.

—Não vou te incomodar —, disse ele. —Eu vou te levar de volta para a casa de Blade, onde você estará segura. Nada pode chegar até você lá. — Silêncio. —Por favor, Meggie. Abra a porta.

Ele poderia destruí-la. Ele tinha força agora. Mas ele sabia o que era se esconder no escuro, sabendo que sua única segurança estava no pedaço de madeira da porta de um armário. Ele não tiraria isso dela. Ele não acrescentaria mais pesadelos aos que ela sem dúvida tinha.

—Meggie, não consigo encontrar sua mãe —, ele gritou. —Eu preciso tirar você daqui para que eu possa ir procurá-la. Você quer isso, não é? Você quer que eu tente encontrá-la?

—Eles a levaram...— Uma voz embargada deixou escapar. —Eu poderia — ouvi-la gritando.

Rip ouviu seu soluço assustado. —Eu vou atrás deles, querida. Eu só preciso que você me deixe entrar.

Silêncio. Em seguida, uma fechadura estalou.

Rip soltou a respiração que estava prendendo. —Ok, amor. Eu vou abri-la. Não tenha medo. — Ele molhou os lábios. Seu medo era uma coisa inebriante. —Eu sei que pareço cruel, mas só sou cruel com eles quando merece.

Lentamente, ele puxou o anel de ferro do chão, levantando a borda do alçapão. A luz brilhou no brilho úmido de um par de olhos assustados. Lentamente, ele se abaixou e ofereceu a ela sua mão esquerda. A de carne. Agora, se ela visse o metal frio de sua mão mecânica, ela poderia considerá-lo um Golpeador.

Um minuto se passou. Rip ficou parado, deixando que ela fizesse seus próprios julgamentos. Finalmente Meggie estendeu a mão e envolveu os dedinhos nos dele. Enquanto ele a arrastava para fora, ela olhou em volta, mas Rip segurou seu rosto e o pressionou contra o ombro. O luar brilhava pela janela, apenas o suficiente para destacar os respingos de sangue no chão e no corpo sob o tapete.

Ela não precisava ver isso.

—Silêncio, amor. — Ele sussurrou, acariciando seu cabelo enquanto ela chorava em seu ombro. Foi o máximo que ele pôde dispensá-la, depois de enterrar a própria mãe aos onze anos.

 


Meggie caiu na miséria, soluçando em seu ombro como se não pudesse ouvir nada do que ele dizia. Rip a envolveu em um cobertor e a levou para a única pessoa que ele sabia que poderia ser capaz de ajudar.

O Cortiço estava quieto a esta hora da noite. Rip bateu na porta de Esme, sentindo a garotinha se agarrar a ele com mais força, como se estivesse com medo de que ele fosse deixá-la ir. A confiança instantânea o deixou um pouco desconfortável - e infinitamente terno.

Passos cruzaram o chão e Esme abriu a porta, seu cabelo escuro em uma trança solta e um robe puxado por cima da camisola. Assim que o viu, aquele verniz frio tomou conta de suas feições, então ela viu a menina em seus braços.

—Oh — murmurou ela, erguendo as mãos para acariciar o cabelo de Meggie. —O que aconteceu?

Golpeadores, ele murmurou.

Os olhos de Esme suavizaram em angústia. —Aqui agora, querida, — ela murmurou, acariciando os cachos ruivos do rosto da garota. —Qual o seu nome?

—Meggie — respondeu ele, olhando para o peso quente. —Meggie, esta é Esme. Ela vai cuidar de você enquanto eu...

O aperto de mão de Meggie aumentou. —Não. Não me deixe!

A mão de Rip parou em seu cabelo. —Eu preciso encontrar sua mãe. Eu tenho que ir, querida. Esme irá mantê-la segura. — Ele acariciou os finos cachos ruivos. —Você tem que deixar ir, querida. Quanto mais rápido eu puder ir, mais chance terei de encontrá-la.

Ele não faria falsas promessas.

Ele podia sentir Esme o observando. —Você não se importa? — Ele perguntou.

—Claro que não. — Respondeu ela, estendendo a mão.

Rip se virou e colocou a criança nos braços de Esme. Ela era boa com crianças. Claro, ajudava o fato de ela sempre cheirar levemente a biscoitos assando, canela e especiarias. Se alguém pudesse cuidar da garotinha assustada, seria ela.

O cheiro quente da pele de Esme passou por suas narinas quando os braços dela roçaram contra ele. Pegando Meggie, Esme enterrou o rosto no cabelo ruivo da criança e cantarolou baixinho. —Está tudo bem, pequena. Se alguém puder encontrar sua mãe, será John. — Tirando o cabelo do rosto da menina. —Até os Golpeadores têm medo dele.

Um toque de orgulho nas palavras. Rip olhou para ela, perguntando-se se ela sabia o quanto sua voz tinha suavizado. Seus dedos estremeceram, querendo alcançá-la e tocá-la, perguntar o que era tão imperdoável. No entanto, não adiantaria. Ela recuaria, sem dúvida. Não. Suas mãos ásperas não eram para ela.

—Tenho que ir. — Disse ele.

Olhos verdes encontraram os dele. —É claro. — Enquanto o silêncio se estendia entre eles, os lábios de Esme se separaram, mas as palavras nunca saíram.

—Certo. — Ele murmurou, dando um passo para trás dela. Com um aceno de cabeça afiado, ele se virou e enfiou as mãos nos bolsos, sentindo o peito apertar de desespero. Inferno.

—Rip!

Rip fez uma pausa e olhou por cima do ombro.

—Tenha cuidado, — ela chamou, então hesitou. —Você cuide de suas costas esta noite. Você sabe como são os Golpeadores. Eu não quero ter que... lavar o sangue da sua camisa pela manhã.

Com um aceno áspero, ele começou a descer o corredor. Era hora de acordar Blade. Isso não era mais algo com que um homem pudesse lidar.


Capitulo 6


—Você deveria ter me contado antes.

As mesmas palavras que ele ouviu Blade repetir na última hora. A mandíbula de Rip apertou quando ele se abaixou e puxou a grade do esgoto para fora das pedras, seus bíceps se esticando. —Achei que eu poderia fazer isso.

E ele não tinha sido capaz, afinal.

Blade colocou ambas as mãos em cada lado da grade aberta e jogou seu corpo através dela. Apoiando a grade que cobria a parede, Rip se ajoelhou e o seguiu. A escuridão o engoliu inteiro quando ele pousou com um respingo.

O Subterrâneo era como uma toca de coelhos de túneis e quartos fechados com tábuas esculpidos no mundo abaixo do East End. Outrora uma tentativa de empurrar as linhas do trem subterrâneo para o leste, o esquema desabou com os túneis. Quase duzentos trabalhadores morreram nas profundezas sombrias, presos sob os escombros ou enterrados vivos nos pequenos nichos do túnel ainda abertos.

Rumores diziam que os túneis eram mal-assombrados, mas isso não impedia os pobres ou os sem-teto de se mudarem para lá. Ou as gangues de Golpeadores.

No entanto, este esgoto estava vazio de tudo, exceto ratos. Eles deslizavam no escuro, seus corações frenéticos batendo ruidosamente no silêncio enquanto Rip chapinhava na esteira de Blade.

Blade parou em um cruzamento, uma luz fraca fluindo de uma grade acima. Luzes sombrias cruzaram seus olhos fechados enquanto ele cheirava o ar. —Por aqui —, disse ele, virando-se com foco infalível para a esquerda. —Eu posso sentir o cheiro do sangue.

O fedor dos esgotos matou qualquer indício de sangue que Rip pudesse sentir, mas então, Blade tinha quase cinquenta anos sendo um sangue azul. E sua contagem de vírus era muito maior; perigosamente alta, na verdade. Como tal, seus sentidos eram quase tão refinados quanto os de Will.

—Deixe-me ir primeiro. — Disse Rip, passando por ele. Velhos hábitos eram difíceis de morrer e ele tinha sido guarda-costas de Blade por muito tempo para não ser cauteloso.

Enquanto ele seguia o túnel, ele finalmente captou uma sugestão de cobre. Sangue. Eles rastrearam a trilha da casa de Meggie. Alguém - provavelmente Annie - estava sangrando. Mas não muito. Ele quase podia imaginar a estranha gota carmesim espirrando na água turva, diluindo-se instantaneamente.

Pelo menos ela ainda estaria viva. Ela tinha que estar. Os Golpeadores precisavam de seu sangue fluindo em suas veias para extraí-lo adequadamente. Os sangues azuis recusavam-se a beber o que chamavam de “sangue velho”. Ou a bebida do homem morto, no vernáculo.

—Queria perguntar a você o que está acontecendo com Esme. — Blade disse de repente.

Os ombros de Rip ficaram tensos e ele fez uma pausa, olhando para trás por cima do ombro. —O que você quer dizer?

Blade passou chapinhando, como se suas palavras não tivessem jogado o gato entre os pombos. —Ela está sem cor ultimamente. Achei que você pudesse ter alguma ideia do porquê, vendo o quão próximos vocês dois são. Por que? — Blade olhou para trás. —Vocês dois brigaram?

Rip não se deixou enganar pela postura relaxada de seu mestre. A única coisa que Blade levava extremamente a sério era a saúde e felicidade daqueles que considerava sob sua proteção.

Ainda assim... se havia uma pessoa que poderia saber o que diabos estava acontecendo, era Blade. A experiência de Rip com as mulheres se limitava ao sexo. Ele soltou um suspiro áspero e o seguiu. —Não sei, ele admitiu. —Ela não está gostando de mim no momento. — O beijo de repente saltou à mente e ele estava feliz por Blade não ver o rubor que varreu suas bochechas.

—Você disse alguma coisa? — Enganosamente casual.

—Nada que eu saiba. — Uma pausa. Então, —Ela entendeu que eu queria que ela fosse minha serva. Eu tentei endireitá-la, mas ela entendeu errado.

—Você não quer isso?

—Jesus, — Rip praguejou. —Não. Não sei - somos amigos. Não quero nada entre isso. — Ele engoliu em seco. —Você sabe como é, a fome. Não quero assustar. — Outra maldição sob sua respiração. —Não é apenas a sede de sangue. Não quero que Esme pense que espero mais. Pensando que ela me daria direitos carnais.

—E se ela quiser ser sua serva?

Rip riu baixinho, um som incrédulo. —Sim. Exatamente o que toda mulher sonha.

—Você se subestima.

—Não. Eu não. Sei o que as pessoas veem quando olham para mim. — Um gigante feroz de um homem com um temperamento diabólico quando despertado. Ele os encorajava.

—Claro que eles veem. Esse é o problema de forjar uma reputação em nossa linha de trabalho. Não te conhecem, não é? — Blade perguntou. —Mas Esme sabe. Não a insulte, colocando-a com aquele bando de tolos.

Rip espirrou junto, o couro de suas botas úmido e miserável. Por que ela o beijou? Blade poderia estar certo?

—Ela disse alguma coisa? — Ele perguntou de repente. —Para você?

—Não estivemos muito tempo para ficar sozinhos ultimamente, — Blade respondeu. —Posso ver que ela está chateada. Vocês dois agindo como um par de cães vadios, jogados juntos em uma sala.

—Nós vamos resolver isso. — Ele esperava.

—Sim. — Blade fez uma pausa, inclinando a cabeça para ouvir. ——Ouviu isso?

Rip ficou imóvel.

Uma risada misteriosa de repente ecoou pelos túneis. A mão de Rip encontrou o punho de couro familiar de sua espada de caça enquanto ele caminhava para o lado de Blade. —Eles sabem que estamos aqui?

—Sim. — A expressão de Blade apertou. —Vamos cumprimentá-los.

Havia um buraco na parede dos esgotos, entulho derramando na água. Uma escada de ferro conduzia à escuridão abaixo. Rip espiou. Pode ser qualquer coisa esperando. Enquanto Blade se movia, ele pegou seu braço.

—Deixe-me ir primeiro.

—Espere qualquer coisa. — Blade disse com um breve aceno de cabeça.

Rip entrou pela abertura. A escada desapareceu no que parecia ser uma velha saída de ar. Abaixo ele podia ver as pás do ventilador girando lentamente. Dobrando os joelhos, ele saltou para a escuridão, o ar chicoteando por ele enquanto ele caia.

Aterrissando no meio do ventilador, ele se ajoelhou para absorver o choque, seus olhos se ajustando à luz fraca que fluía da abertura acima. As pás do ventilador antes eram cegas, mas agora as pontas afiadas brilhavam enquanto circulavam abaixo dele. Manchas cor de ferrugem as rodeavam.

Outra abertura tosca foi cortada na parede. Esta era uma parte do Subterrâneo que ele nunca explorou. Perto de onde o túnel do trem subterrâneo original desabou.

—Cuidado. — Ele falou.

Blade pousou ao lado dele, as pontas de seu casaco de couro batendo na parte de trás de suas coxas. Rip o firmou e acenou com a cabeça para o buraco na parede.

—Parece que alguém perdeu. — Blade notou as manchas de sangue.

—A menos que tenham sido jogados. — Rip empurrou o ombro pelo pequeno túnel.

Grande o suficiente para ele. Isso o deixou em desvantagem, pois ele mal conseguia balançar o braço, muito menos uma espada. Quando ele chegou ao fim, ele estaria suando se um sangue azul pudesse.

A luz acenou à frente. O estreito túnel se abriu em uma enorme caverna de sombras. Com a leve brisa, deve ter ocorrido um bom caminho. Quando seus olhos se ajustaram, Rip viu a plataforma do trem se estendendo à distância.

Uma das estações abandonadas que uma vez foram escavadas abaixo de Londres. Sem dúvida, o túnel que ele acabara de atravessar tinha sido cortado por alguém de natureza empreendedora, tentando desenterrar seu próprio pequeno esconderijo nas seções desabadas.

O movimento mudou. Rip enrijeceu quando um homem saiu da escuridão, arrastando uma jovem com um vestido cinza manchado. Cachos ruivos empoeirados caíram sobre sua testa manchada de sujeira e seus olhos estavam vidrados de dor e horror quando o homem afundou a mão em seu cabelo e puxou sua garganta para trás.

—Saiam, ratinhos. Eu vejo vocês, — o homem chamou, cheirando o ar viciado. —Eu cheiro vocês.

Alto o suficiente para preencher o casaco marrom que vestia. Rip o examinou implacavelmente. Quem quer que fosse, este homem sabia como lutar - e sujo. As pontas dos dedos foram cortadas de suas luvas, mas lâminas de barbear brilharam sobre seus últimos nós dos dedos, onde ele as cortou através do couro. Dê um soco com elas e elas rasgariam um homem em pedaços.

Uma boina cobria seu cabelo, suas bochechas esqueléticas e sujas, embora a maneira como ele se levantasse - como se ele fosse o rei daquele covil e seus suplicantes - desse a Rip uma ideia de seu caráter.

Atrás dele, Golpeadores rastejaram para fora das sombras, rastejando baixo em mãos e joelhos enquanto eles se espalhavam. Armados com uma variedade de lâminas e porretes, eles mostraram os dentes e rosnaram na direção de Rip.

—Vocês têm medo do Sangrador Bill Higgins? — O líder falou. —Vocês ouviram, não é? Observem o que ele pode fazer...

—Não posso dizer com certeza que sim —, disse Rip. —Golpeadores vêm. Golpeadores vão. — Um encolher de ombros. —Todos eles sangram da mesma cor no final.

O sorriso de Higgins morreu. —Você vai saber meu nome, porra, até o final disso. Vou esculpir na sua testa ensanguentada.

Atrás dele, Rip podia ouvir Blade se espalhando na outra direção.

—Tudo isso, — Blade chamou, —só para me chamar a atenção? Deveria ter acabado de deixar seu cartão de chamada. Eu posso chegar perto de você. No fim.

Uma adaga apareceu, pressionando a garganta de Annie. Higgins a puxou de volta contra o peito, sibilando por entre os dentes enquanto ela ofegava. —Esse era o meu cartão de visitas. Achei que você gostaria do sangue.

Rip parou, lançando um olhar para Blade. O homem estava nervoso. Zombe dele demais e ele cortará sua garganta apenas para provocá-los.

—Então, o que você quer? — Rip falou. —Por que os jogos?

—Eu quero o cortiço.

Blade riu. —Ele comeria você vivo, garoto.

A adaga cortou apenas o suficiente para romper a pele de Annie. —Por favor. — Ela sussurrou.

—Deixe-a ir — disse Rip, dando um passo mais perto. —Ela não teve nenhuma participação nisso.

Higgins pressionou os lábios em sua bochecha, sem tirar os olhos dos dois. —Ela é a isca. Os bons tempos. A diversão. — Fechando os olhos por um segundo, ele esfregou sua bochecha contra a dela, como se a cheirasse. Um longo fio de sangue escorregou pelo músculo de sua garganta e se acumulou em sua clavícula. Higgins o lambeu. —Você já drenou uma moça? Elas lutam no início. Chutando e gritando... Então você as vê começando a ficar com sono enquanto o sangue pinga. — Olhando para cima, ele sorriu. —Vocês, vorazes, pensam que são donos do mundo, mas têm medo dele, medo do poder. Vocês poderiam drenar o mundo ao seco e elas não seriam capazes de dizer não, mas você não. Mantendo suas servas vivas. Tomando goles quando vocês deveriam rasgar a maldita garganta de uma garota. — Uma luz louca surgiu em seus olhos. —Eu faria um sangue azul melhor do que todos vocês.

—Você quer ser um sangue azul? — Rip rosnou. —Então venha buscar sangue para mim.

—Nah. Quero que vocês coloquem suas armas no chão e chutem-nas. Gosto lento. Então eu pego o que eu quero.

Rip nem olhou para ver o que seu mestre estava fazendo. Ele ergueu as duas espadas de caça amarradas às coxas e as deixou cair, ouvindo o ping metálico. Um par de soqueiras se seguiu, então a adaga mais longa que ele usava embainhou sua espinha.

Chutando-as, ele esperou enquanto Blade fazia o mesmo.

Tudo o que precisavam fazer era esperar o momento em que Higgins soltasse Annie. Ela era tudo o que detinha sua mão.

Seu olhar deslizou para sua garganta e o lento gotejamento de sangue lá. Rip lutou contra a vontade de engolir. Sussurros da escuridão turvaram sua visão por um momento. Fome.

Pense em Meggie. Pense em levar a mãe para ela.

—Esse é o caminho. — Higgins sorriu e gesticulou para seus homens.

Eles se arrastaram para frente e agarraram o sortimento de armas. Blade ainda estava tirando adagas de suas botas e colete de couro. Quase meia dúzia deles.

Tolos. Nem ele nem Blade precisavam de uma lâmina para serem perigosos.

—Virem-se. — Disse Higgins.

—Vamos. — Rip respondeu.

—Vamos? — O bastardo riu. —Sim, vou deixá-la ir...

Ele puxou a adaga com força, cortando a pele interna de seu pulso. Annie gritou quando o sangue salpicou suas saias cinza. Caindo, ela colocou a mão em concha sobre a ferida, o sangue pingando entre seus dedos.

Rip deu um passo à frente e então enrijeceu quando seis Golpeadores se posicionaram na frente de Higgins.

—Derrube-os, — Blade disse suavemente. —Vou pegar a garota.

Isso. Isso ele poderia fazer. Rip deu um passo à frente, deixando a névoa vermelha, a raiva, a fúria lavá-lo. Por um segundo, o grito assustado de Annie soou como o de sua mãe, daquela última vez.

—Eu vou te matar. — Ele sussurrou, os punhos cerrados.

Um dos Golpeadores disparou para frente, balançando uma corrente com destreza letal. Ela chicoteou em direção a ele e Rip se esquivou, sua mão atacando e pegando a ponta dela. Os elos da corrente envolveram seu punho e ele puxou com força, trazendo o outro punho enquanto o Golpeador cambaleava em sua direção.

A forte pressão de seu punho na garganta do homem foi nitidamente satisfatória. O Golpeador caiu com um gorgolejo e Rip passou por cima dele, balançando a outra extremidade da corrente em sua mão mecânica e puxando os elos esticados. Três deles saltaram para ele, lâminas brilhando na luz fraca. Rip não pensou. Saltando para frente, ele enrolou a corrente em torno de uma de suas gargantas e puxou as pontas uma sobre a outra com força suficiente para quebrar o pescoço.

Um gancho cortou em direção a seu rosto, quebrando seu aperto. O corpo que ele segurava caiu, ainda se contorcendo e Rip balançou, bloqueando outro golpe. Agarrando o antebraço do Golpeador, ele enfiou a mão aberta no cotovelo do homem, então ele se dobrou e empurrou o gancho de volta para o homem.

Gritando, o Golpeador caiu com seu próprio anzol cravado no olho. Rip se abaixou quando o próximo homem saltou para ele e o jogou por cima do ombro.

Cada movimento era como uma dança, os homens se aproximando dele como se se mexessem numa valsa. Esse era um dos benefícios do desejo; aumento da velocidade. O demônio dentro de si uivou por liberação, mas ele o segurou, forçando-o a saciar sua fome de dor e não de sangue.

Em segundos, os seis Golpeadores caíram. Apenas aquele com o gancho ainda estava vivo.

As narinas de Higgins dilataram-se e ele gesticulou para os outros quatro à sua frente. —Matem-no. — Ele rosnou, recuando para as sombras do túnel do trem. Um corcunda ficou ali, segurando um pequeno lampião com venezianas.

Desta vez, Rip sorriu. Sua visão era apenas uma paisagem de sombras, em tons de preto e cinza. Homens vieram até ele e ele os abateu com pouco mais do que suas próprias mãos.

Sua reputação poderia impedir a maioria dos membros da Capela de se preparar para bagunçar com ele, mas ele ganhou em sangue e dor ao longo dos anos.

Atrás dele, ele ouviu Blade sussurrando para Annie. O sangue rugiu em suas veias, o vermelho correndo por seus olhos. Ver Higgins descer da plataforma para os trilhos do trem fez a fome rugir. Rip ergueu o último Golpeador sobre sua cabeça e o atirou atrás do bastardo.

—Covarde! — Ele retrucou, avançando. Caindo nos trilhos, ele passou por cima do Golpeador que acabara de lançar. —Você quer assustar garotinhas? Você quer sequestrar mulheres que não conseguem levantar a cabeça e para você... —E lá estava o rosto de sua mãe novamente, os olhos arregalados e implorando enquanto ela erguia os braços para proteger a cabeça.

Mamãe, não!

E Whitey, baixando a garrafa pela última vez. A última porra de vez...

A fúria rugiu através dele. Higgins empurrou o corcunda em sua direção e Rip mal parou para jogá-lo de lado.

—Você vem e luta, seu covarde de merda. Você luta contra mim, luta contra um homem.

Higgins voltou para a boca do túnel. A prata brilhava nas laterais, mas Rip estava furioso demais para se importar.

—Acho que não. — Disse Higgins. Ele deu um passo para trás, depois outro, os olhos brilhando de forma vigilante.

Rip deu um passo em direção à boca do túnel...

—Não se mexa! — Blade estalou.

Apenas anos respondendo a esse tom fizeram seu corpo congelar. Um lampejo de decepção passou pelos olhos de Higgins, então ele deu de ombros e deu outro passo para trás. —Outra hora, camarada. — Tirando uma pequena caixa de metal do bolso, ele apertou o botão no meio dela.

Com um gemido, uma das lâminas de prata na lateral do túnel caiu, balançando no nariz de Rip por um centímetro. Rip saltou para trás enquanto outras lâminas eram lançadas das laterais do túnel, passando com força mortal. Como o pêndulo oscilante de um relógio de pêndulo, cada lâmina movia-se independentemente das outras, de modo que tudo o que ele conseguia ver eram lampejos de Higgins, voltando lentamente através delas.

Uma luva inteira delas.

—Estive fazendo alguns ajustes na minha nova casa. — Higgins disse. Tirando a boina, ele deu um passo para trás, cortes dele aparecendo entre cada lâmina balançando. —Tique, taque, senhores. — Então, com uma risada, ele desapareceu na escuridão.

—Droga! — Rip chutou a lateral do túnel e lançou um olhar frustrado para seu mestre. —Eu muito bem poderia ter pego ele.

—Sim, ele também sabia — murmurou Blade, olhando fixamente para Higgins com os olhos semicerrados. —São do tipo que sempre foge quando o navio começa a afundar. Como ratos sangrando.

Blade se ajoelhou, pegando Annie em seus braços. Ele olhou para cima, os olhos negros brilhando. O sangue de seus pulsos gotejou por todo o vestido e ela soltou um gemido fraco. Rip percebeu que ele estava olhando.

—Eu peguei, — Blade disse, levantando o pulso dela até a boca e lambendo o ferimento. —Vá atrás dele. Enviarei Will para ajudá-los e encontrá-los de volta no Cortiço quando vocês dois terminarem.

A respiração de Rip ficou presa. Ele não conseguia desviar o olhar do sangue.

Os olhos de Blade se estreitaram quando ele colocou a boca no pulso da mulher e o sugou. —Vá —, ele retrucou. —Traga-me de volta a sangrenta cabeça dele.

Rip assentiu bruscamente, girando e encarando os pêndulos que balançavam. Blade podia fazer o que não podia; usar sua saliva para curar a pele ferida, com sorte antes que ela perdesse muito sangue. Rip nunca teria sido capaz de se controlar dessa forma.

Cada foice balançava em um padrão aleatório, deixando poucos centímetros entre elas. Não o suficiente para seu corpo descansar entre cada lâmina. Ele precisava cronometrar isso perfeitamente...

Respirando fundo, ele deu um passo à frente, sentindo uma brisa fresca em seu rosto quando a primeira foice passou. Outro passo, um estranho movimento de dança, de novo e de novo. Focalizando nitidamente cada lâmina até que ele finalmente estava no final da manopla. Respirando com dificuldade, Rip olhou para a escuridão. O mesmo cheiro forte de vinagre que ele cheirou no Flash Jacky cancelou todos os outros aromas, queimando por suas narinas até que seus olhos lacrimejaram e isso foi tudo o que ele podia sentir. Um copo de produto químico para obliterar qualquer vestígio de Higgins.

Não era possível rastreá-lo pelo cheiro então.

Bem, para ele estava tudo bem. Ele passou trinta e cinco anos sem sentidos aprimorados. Ele conhecia este mundo, de escuridão e fuligem. E ele não tinha medo do escuro. Não mais.

Na verdade, a escuridão deveria temê-lo.


Capitulo 7


A noite estava caindo.

Esme ergueu os olhos do fogão quando seus ouvidos captaram um leve indício de ruído. Engolindo em seco, ela colocou a colher de pau no banco e correu para a porta para espiar. O quintal estava vazio. Nenhum sinal de Rip. Blade havia retornado horas atrás com a mãe de Meggie, Annie, e um olhar assassino em seu rosto. Ele deu uma ordem a Will para sair e ajudar Rip a procurar os Golpeadores, então gritou para Honoria juntar seu kit de remédios e desapareceu em seus aposentos com as duas mulheres.

Depois de passar a maior parte da tarde no colo de Esme, Meggie havia recentemente subido com Lena para se sentar com sua mãe enquanto ela se recuperava. Não havia sentido em Esme estar lá também. Suas habilidades estavam em outra área e ela buscou seu próprio conforto assando esta noite enquanto as sombras se alongavam e Rip ainda não havia retornado.

Trancando a porta, ela suspirou baixinho e voltou para o fogão. O cheiro fresco de pãezinhos de canela fumegou no ar e Esme olhou além deles. Ela sempre se preocupava com Rip quando ele estava em patrulha, mas tinha sido pior desde que o vampiro o atacou. Antes disso, ele parecia tão grande, tão cheio de vida que parecia que nada deveria ser melhor do que ele.

Quando Blade o trouxe para casa, coberto de sangue e lentamente se afogando em todo o fluido de seus pulmões, ela quase se desfez. Ela enterrou um marido - ela não queria enterrar outro homem de quem ela gostava. Uma vez era o suficiente.

Não importava se as coisas estivessem tensas entre eles. Não importava se ele a visse como nada mais do que uma amiga.

Uma batida forte na porta a fez ofegar. Olhando para cima, Esme viu Will espiando através do vidro, e atrás dele o gibão de couro grosso que ela sabia pertencer a Rip.

—Oh, graças a Deus. — Ela disse, abrindo a porta para os dois. Seu olhar disparou passando por Will, passando por cima do grande corpo de Rip. Ele estava coberto de sangue, uma manga de sua camisa rasgada.

—O sangue não é dele. — Will a assegurou, passando por ela.

—Você os encontrou? — Esme perguntou, incapaz de aceitar sua garantia pelo valor de face. Mas, de fato, o sangue parecia mais com respingos, não como se pingasse dele em algum lugar.

—Nada. — Rip tinha uma carranca feroz o suficiente para fazer um homem adulto tremer. Quando ele passou por ela, ele parou, olhando para baixo. Seus olhos se encontraram e a respiração de Esme prendeu todas as coisas que ela de repente queria deixar escapar. Ela não pôde evitar estender a mão, tocá-lo, apenas para ter certeza de que ele estava realmente ali. As costas de seus dedos roçaram seu peito e Rip respirou fundo, uma pitada de vermelho lustrando suas maçãs do rosto. Ele olhou para cima e ela seguiu seu olhar para onde Will arqueou uma sobrancelha.

Então ela o cheirou. O cheiro era maduro o suficiente para fazer seu nariz enrugar.

O feitiço foi quebrado.

—Sim, — ele murmurou. —Eu cheiro mal. Subindo para me lavar. Desculpe pelo sangue. Vou jogar a camisa fora para que você não tenha que lavá-la.

E com isso ele passou, deixando-a sozinha com Will.

A boca de Esme trabalhou, mas nada saiu. Fodido homem. Ela tinha passado as últimas três horas com um sulco no chão de preocupação e ele mal conseguia falar com ela. Uma pontada de culpa desceu por sua espinha. Sua própria culpa. Foi ela quem decretou que eles não podiam ser amigos, pelo menos até que ela se recuperasse da dor de sentimentos não correspondidos.

Mas que tipo de amiga isso a tornava?

Will encolheu os ombros. —Ele ficou chateado por não podermos rastrear o homem. Deixe ele em paz. Ele está de mau humor esta noite.

Esme acenou com a cabeça, olhando para a escada que Rip havia subido. Ela nunca sentiu frio por muito tempo e mesmo agora a culpa a impeliu a correr atrás dele.

A dor brilhando em seus olhos... A sensação de fracasso que ela viu lá. Ele assumiria essa perda para o inimigo, pois esse era o tipo de homem que ele era.

Talvez ela pudesse deixar de lado seus sentimentos feridos e simplesmente tentar ser uma amiga?

Esme respirou fundo. Seu primeiro instinto foi ficar aqui, mas isso era covardia mais do que qualquer coisa. —Tem ensopado no forno, se você estiver com fome, — ela disse, dando um tapinha no braço de Will. —Eu tenho algo a fazer.

O olhar em seus olhos disse a ela que ele não estava enganado. Esme desamarrou o avental e o jogou na mesa, depois correu atrás de Rip.

Esme sabia onde o encontraria. Blade tinha suas próprias casas de banho privadas, mas o resto deles se contentava com uma casa de banho comum. A água era canalizada da caldeira atrás das cozinhas, pecaminosamente quente, e a banheira era grande o suficiente para duas pessoas.

Ela podia ouvir as torneiras correndo quando ela parou na porta, sua respiração presa com o nervosismo de último minuto. Mas não adiantava correr agora. Ele a teria ouvido.

Esme bateu forte, antes que ela pudesse se convencer do contrário, e esperou.

—Sim? — Rip chamou, a água mexendo quando ele se sentou.

—Você está decente? — Ela perguntou.

Houve um longo momento de silêncio. —Estou na banheira.

Bastante decente. Eles não cumpriam formalidades aqui no Cortiço. Esme respirou fundo e empurrou para dentro.

Rip afundou com um respingo e um grito, a água espirrando em sua cintura e estômago. —Cristo, Esme. O que diabos você está fazendo? — Um olhar de algo cru e quase violento cruzou seu rosto, e ele bateu com as mãos na virilha.

—Você não tem nada que eu não tenha visto antes, — ela o lembrou, fechando a porta atrás dela. —Eu sou uma viúva, John.

—Sim, bem, um homem não tem direito à sua privacidade? — Ele rosnou.

O primeiro indício de raiva que ela ouviu dirigido a ela. Esme o examinou. Não raiva. Não. Ela nunca o tinha visto tão desconcertado antes. Rip não era nada senão confiante.

Mas ela nunca o tinha visto totalmente nu antes. Ela sabia que ele não gostava de exibir o aço esquelético de seu braço mecânico. Aqui no East End, um membro mecânico significava que você era um Golpeador ou um dos mecanicistas que deveriam ser amarrados nos enclaves para pagar sua dívida da peça mecânica. De qualquer forma, era um sinal de que você não era exatamente humano, ou não era humano o suficiente para alguns.

Esme não se demorou muito em seu braço mecânico. O resto dele chamou sua atenção. Oh, ela poderia ter imaginado como ele seria por baixo daqueles pesados casacos impermeáveis que vestia, mas a realidade... a realidade era de tirar o fôlego.

Todos os músculos elegantes e fortes, ligeiramente corados pelo calor da banheira. Pele dourada que brilhava sob a luz do lampião. Ele havia raspado o cabelo e a barba novamente, de modo que o cabelo mal era restolho. Grosso e preto, dava a ele uma aparência vilã, mas ele era o vilão dela.

—Achei que você precisasse de uma amiga. — Respondeu ela, indo lentamente para a banheira.

Rip a observou com cautela, a água escorrendo da torneira sobre seu joelho dobrado. Ele se mexeu, como se quisesse se cobrir melhor. —Agora você quer ser amiga? Cristo, Esme. Eu não entendo o que está acontecendo com você. — Sua voz diminuiu. —E você poderia ter melhor controle. Isso não é... não é decente.

A onda de calor ao longo de suas maçãs do rosto a fez sorrir, apesar de sua mágoa. —Nunca suspeitei que você fosse tão afetado.

Aqueles perversos olhos verdes encontraram os dela. — Quando você se despir e eu me vestir e veremos se você não se afeta?

—Há sabonete suficiente na banheira para mantê-lo decente.

Rip olhou para baixo, bolhas se enroscando em sua pélvis. Ainda assim, ele não afastou as mãos. —Ainda não está certo.

—Eu não sabia que você lia as Regras de Etiqueta de Dama Hammersley. — Apesar de si mesma, ela não pôde deixar de provocá-lo. —Além disso, você colocou sua boca na minha garganta, John. Isso é bem mais íntimo do que isso, você não concorda?

Ele desviou o olhar. Para não ser atraído por sua provocação. Uma parte dela murchou. —Por que você está aqui? — Ele perguntou.

Esme parou perto do suporte que continha os óleos de banho e sabonetes. Pegando um frasco de óleo de jacarandá, ela cheirou e tapou novamente. Blade sempre deixava as melhores coisas. A câmara de lavagem poderia ser encontrada em uma das casas do Escalão.

—Achei que você gostaria de conversar, — ela disse calmamente. —Você parecia chateado quando entrou pela porta.

Água espirrou quando ele alcançou a torneira e a fechou. Esme o observou avidamente, sentindo o cheiro do próximo óleo. Limão demais.

—Não estou chateado. Apenas... frustrado. — Ele se recostou na banheira, as pernas dobradas para caber em seu comprimento. As bolhas agarraram-se aos pelos grossos e escuros de suas coxas musculosas. —Estamos trabalhando nisso há alguns dias. Não contei a Blade até esta noite.

—Você sabia que os Golpeadores estavam por aqui?— Ela ergueu os olhos de outro frasco bruscamente, surpresa que Blade não estava mais zangado.

—Queria me mexer. — Rip repetiu com um grunhido.

—Blade disse alguma coisa?

—Sim. — Um aviso áspero para ela mudar de assunto.

Esme preguiçosamente cheirou outro frasco. Sândalo. Ela sempre gostou do cheiro. Pegando uma barra de sabão e um pano de lavagem, ela pegou o óleo e foi até o banho.

Rip não endureceu, mas ela podia sentir a tensão em seu corpo. Outra sacudida no coração. Sua desaprovação era clara.

—Relaxe. — Ela murmurou, sentindo isso fortemente em seu peito. A dor cresceu, mas ela o empurrou de lado. Esta noite não era sobre ela.

Sentando-se na borda da banheira, ela mergulhou a toalha na água. Rip quase saltou da banheira. —O que você está fazendo?

Esme ensaboou o pano. —Lavando suas costas, — ela respondeu, desejando que ele não soasse como se ela tivesse sugerido que ele rolasse em um gato morto. —Você não pode alcançar.

Endurecendo-se, ela colocou a mão em seu ombro e o empurrou para frente. Rip obedeceu, envolvendo os braços em volta dos joelhos com força.

Se ela pensava que seu braço era musculoso, ela nunca tinha visto suas costas. A massa de seu pescoço era tão grossa quanto uma de suas coxas. Esme esfregou a toalha suavemente em seu ombro, deixando um rastro de espuma para trás.

—Pensei que eu poderia fazer isso, — ele disse de repente. —Só queria... sei lá. Para provar que estava sob controle, que podia fazer isso. Tem sido tão inútil nos últimos meses.

A tensão percorreu seu corpo.

Esme lentamente ensaboou as costas de Rip, deslizando o pano por cima do ombro e pelo peito. Ela teve que descansar a mão em seu outro ombro para alcançá-la, as pontas dos dedos tocando o metal frio. As bordas de sua pele eram ásperas e enrugadas onde o aço as encontrava. Rip estremeceu como se sua pele fosse altamente sensível ali.

—Blade disse que você matou alguns dos Golpeadores. — Ela murmurou, acariciando a pesada laje de seus peitorais.

—Insuficiente.

—Você não deveria ser tão duro consigo mesmo. Cada um deles que você mata significa um a menos para ferir os inocentes.

—Gangues assassinas surgem como cogumelos —, ele murmurou. —Não posso me livrar deles. Sempre aqueles ardentes o suficiente para não verem outra maneira de viver. A moeda é uma boa isca.

—Você trouxe a mãe de Meggie para casa. — Ela o lembrou.

Rip suspirou. —Foi Blade. Eu não pude chegar perto dela. Não com todo o sangue.

—Sim, bem, Meggie pensa que você é um herói. Foi você quem prometeu a ela que tentaria encontrar sua mãe.

—Não sou nenhum herói.

—Você é para mim, — ela sussurrou. —Você salvou uma menina assustada e a mãe dela.

Seus olhos se encontraram e Rip não disse nada. Ainda assim, ela achou que ele parecia satisfeito com suas palavras. Ou aceitando, pelo menos.

Lentamente, ele relaxou contra a banheira, inclinando a cabeça para trás contra a borda. Os músculos de sua garganta trabalharam enquanto ele engolia, seus cílios escuros tremulando fechados contra suas bochechas.

Esme continuou seus movimentos lentos e hipnóticos, incapaz de tirar os olhos de seu rosto. Afundando o pano abaixo da água, ela o arrastou para cima, pingando água em seu peito ensaboado. Rip se moveu, seus olhos tremulando abertos enquanto ela mergulhava na água novamente, mas ele logo se acalmou quando percebeu que o movimento era inócuo.

—Isso é bom. — Ele admitiu.

—Eu costumava fazer isso por Tom, — ela meditou. —Ou às vezes eu subia com ele.

Quietude. —Você sente falta do seu marido.

—Claro que eu sinto. — Ela apertou o pano nas mãos, torcendo-o. —Mas foi há muito tempo. Outro mundo. — E ela preferia as arestas ásperas de Cortiço, com seu calor e alegria em comparação a viver com Tom e sua mãe, não importa o quanto ela o amasse. Um pensamento culpado, mas verdadeiro.

Rip parecia pensar nisso. —Estou surpreso que você nunca mais se casou. — Ele olhou para ela quando ela largou o pano no suporte e pegou o frasco de óleo de sândalo.

—Talvez ninguém tenha me perguntado. — Respondeu ela, com uma neutralidade cuidadosa.

—Aquele açougueiro em Abbott’s Lane gostava de você. — Suas palavras pareciam cuidadosas.

—Muitos homens “gostaram” de mim nos últimos anos. E nenhum deles reuniu coragem para fazer mais nada, com o sinal de proteção de Blade tatuado em meu pulso. — Ela deixou o óleo pingar na palma da mão em concha e, em seguida, colocou-o de lado, esfregando as mãos. —Incline-se para frente.

Rip olhou para as mãos dela. —O que você está fazendo agora?

—Você já me viu amassar massa? — Ela perguntou quando ele se sentou novamente. Deslizando mais perto, ela se acomodou diretamente atrás dele.

—Sim.

Esme estendeu a mão e deslizou a mão sobre seus ombros e pescoço, o brilho liso do óleo brilhando em sua pele. Ela foi generosa com isso, esfregando as palmas das mãos nos ombros dele e no peito, depois puxando-as de volta pelo braço. Rip se moveu, mas a rigidez havia sugado para fora dele novamente.

A sensação de sua pele era como seda áspera sob as palmas das mãos. Seu peito estava sem pelos, seus mamilos se contraíram enquanto ela passava os dedos sobre eles. Uma provocação que o fez perder o fôlego. Não totalmente imune a ela então.

Só não estava interessado.

Ela enterrou a dor e se concentrou em acariciar os músculos lisos de seu pescoço. Para agradá-lo. E, se ela fosse honesta consigo mesma, para agradar a si mesma. Ela gostava de tocá-lo, embora inocentemente. Ela gostaria de tocá-lo não tão inocentemente também. Mergulhar a mão sob a água e envolver seus dedos fortes ao redor de seu pênis.

Rip relaxou com seu toque quando o polegar de Esme deslizou sobre um nó duro acima de sua omoplata. Ela cravou os dedos, ganhando um grunhido, e o trabalhou delicadamente. Passando os nós dos dedos por seu pescoço e para baixo novamente.

—Você tem mãos fortes, — ele murmurou. Outro gemido gentil quando ele se recostou contra ela. —Deus, isso é bom.

—Mmm. — Bom demais. Momentos roubados. Toques roubados. Ainda assim, ele parecia gostar de ter as mãos dela sobre ele quase tanto quanto ela. Esme aliviou sua pressão, esfregando os polegares sob a marca de seu couro cabeludo.

Rip gemeu quando os dedos dela cravaram em seu couro cabeludo, sentindo o leve arrepio em seu cabelo. Sua cabeça caiu para trás contra sua coxa, os olhos fechados em êxtase absoluto enquanto ela amassava com os dedos.

Ele parecia não perceber que o óleo estava dissolvendo as bolhas na superfície da água. Elas desapareceram com entusiasmo até que o óleo brilhou na superfície, sugerindo o que se escondia abaixo. Esme não era virgem. Ela olhou e a visão a emocionou.

Ele não foi afetado. De jeito nenhum.

Inclinando-se, Esme pressionou os lábios em sua testa, seus dedos parando e seu coração batendo forte em seu peito.

Rip piscou sonolento. —Obrigado, — ele murmurou. —Você não precisava fazer isso.

—Eu gosto de cuidar de você. — Respondeu ela, olhando para aqueles lindos olhos. Tão perto. Tudo o que ela precisava fazer era inclinar-se para frente e pressionar os lábios nos dele...

—Você faz muito às vezes, — ele murmurou. —Você deveria nos deixar cuidar de você ocasionalmente.

—Eu sou a governanta. — Ela o lembrou.

—Isso não faz parte do seu trabalho.

Esme fez uma pausa, vagamente circulando suas têmporas com os dedos. —Talvez eu goste de cuidar de você.

Ele olhou para cima, olhos verdes sérios. —Você deveria se casar novamente, Esme. Você foi feita para ter um marido. Algum homem para... dar bebês a vocês. Fazer você “apetecível”.

As palavras a pegaram de surpresa. A dor queimou novamente e ela se endireitou, os pensamentos de beijá-lo fugindo de sua mente. Com que facilidade ele falou sobre ela se casar com outra pessoa. Como se o pensamento não o incomodasse de forma alguma. Se ele tivesse mencionado outra mulher, ela teria ficado com ciúme.

Isso só serviu para provar precisamente como ele a via. Uma amiga. Não uma amante. Não uma... uma esposa em potencial. Ou consorte. Sem dúvida, a agitação de seu corpo era simplesmente a reação de um homem ao ter uma mulher o tocando. Não porque ele a desejasse em particular.

A frieza percorreu sua pele. Uma sensação de vazio na boca do estômago. A realidade estava inundando ela. Ela esperava que ele pudesse sentir algo mais por ela. Mas ele não sentia isso. Amigos. Sempre amigos.

—Você está certo, — ela se encontrou murmurando. —Eu deveria casar de novo.

Em vez disso, ela esperou por ele. Perdeu os últimos anos esperando e esperando. Seu tempo estava se esgotando. Rip estava certo. Ela queria filhos. Desesperadamente. E agora ela tinha quase trinta e cinco anos e seus anos de gravidez se estreitavam rapidamente à sua frente.

Mas a ideia de levar outro homem para a cama a fez se sentir mal. Sempre que ela sonhava com bebês, eles tinham olhos verdes e cabelos pretos. Os olhos dele.

Esme se levantou lentamente, seus ombros afundando. A compreensão brutal de que ele não a queria - que ele nunca a desejaria - a invadiu como água gelada e ela não pôde evitar um arrepio. —Vou deixar você se vestir. — Ela murmurou.

Então ela se virou e saiu apressadamente da câmara de lavagem.

 


Rip deslizou para fora, o ar frio picando suas bochechas enquanto ele colocava as mãos em concha e acendia um charuto. Se ele inclinasse a cabeça, poderia ouvir o murmúrio silencioso da voz de Esme enquanto ela mostrava a Meggie, Lark e Charlie como amarrar milho estourado e bagas de azevinho para a árvore. Embora sua voz fosse suave o suficiente para embalar as crianças para dormir, isso o deixou nervoso esta noite.

Ele não a entendia. Mal conseguiu falar com ele o dia todo, depois entrou - enquanto ele estava nu - e o acalmou com palavras suaves e mãos gentis. Tocando-o como se ela se importasse, então alegremente anunciando que ele estava certo - talvez ela devesse se casar novamente.

Ele não poderia lidar com isso. A fome coçava sob sua pele, Esme o confundindo. Um homem quase pensaria que sua presença no banheiro era uma proposição.

Não seja idiota.

Ela deixou bem claro que não era.

Rip esmagou o charuto sob o calcanhar e puxou o casaco com força, enterrando a mão nas dobras quentes enquanto se encostava no arco sombreado da porta. O frio era quase cortante, mas ajudou a clarear sua cabeça. De alguma forma, ele tinha que consertar isso. Certificar-se de que ele entendia o que estava acontecendo em sua mente. Blade apenas turvou as águas, sugerindo que talvez houvesse mais do que Rip suspeitava. Fazendo-o esperar que houvesse mais.

Rip precisava falar com ela, mas com todos sob os pés, conseguir ficar sozinho com ela era uma lição de frustração.

A porta da cozinha se abriu, o calor e as risadas transbordando. Rip congelou, afundando ainda mais nas sombras quando o próprio objeto de sua confusão saiu para o quintal, suas botas esmagando a neve e as mãos enfiadas sob as axilas. Seu espesso cabelo preto estava preso em sua nuca, as asas escuras de suas sobrancelhas puxadas em uma carranca intensa. Aqueles olhos verdes translúcidos estavam distantes no entanto. Cegos para o mundo ao seu redor.

Olhos de bruxa. A primeira vez que o encontraram, ela lançou um feitiço sobre ele, como um soco no peito.

Agora era sua chance. Rip balançou na ponta dos pés, em seguida, congelou quando outro par de botas esmagou a neve derretida. Blade fechou a porta da cozinha atrás dele, o retângulo de luz que Esme estava desaparecendo. Com sua visão aprimorada, no entanto, Rip podia vê-los perfeitamente.

E ouvi-los.

Blade tinha que saber que ele estava lá. Rip mal ousava respirar.

—O que está errado? — Blade perguntou.

—Nada. — Esme respondeu.

Rip recuou para as sombras da saliência enquanto o silêncio pairava sobre o quintal. Depois de um momento, Blade suspirou. —Claro que não. Não pense que sou um idiota, Esme. Ou cego. Qualquer porcaria poderia ver que você está chateada e as pessoas estão começando a perguntar por quê.

Um farfalhar de suas saias soou. —O que você disse a eles?

—O mesmo que você me disse. Nada.

Mais silêncio. Rip pressionou as costas contra os tijolos, esforçando-se para assistir e ouvir.

—Você disse a ele? — Blade murmurou. —Sobre como você está se sentindo? Porque eu poderia...

—Não se atreva a dizer uma palavra a ele —, Esme engasgou. —Você prometeu que não faria. Deixe-me lidar com isso.

Rip franziu a testa.

—Fugir não é lidar com isso, Es.

—Eu não estou fugindo. — Os ombros de Esme caíram, um olhar de dor cintilando em seu rosto. —John não me quer.

Rip congelou. Ele. Eles estavam falando sobre ele.

Um raio de luz vindo da janela da cozinha cortou o rosto de Blade e suas sobrancelhas fulvas se arquearam.

—Ele não quer você? Ele te disse isso? — Mesmo à distância, as palavras eram incrédulas.

—Ele disse que não podia... Não comigo. — As palavras foram um sussurro sufocado. —Outro dia eu o beijei e ele me empurrou como se... como se...— Seu rosto se contorceu. —E esta noite... Ele praticamente me disse que eu deveria ter me casado com outra pessoa.

—Fodido. — Blade deu um passo à frente e a puxou para seus braços quando ela começou a chorar. —Não chore, amor. — Ele olhou para cima de repente, a luz brilhando em seus olhos enquanto eles cortavam diretamente nas sombras onde Rip estava observando. —Claro que deve haver uma razão para isso. O homem seria um tolo se não visse o que está logo abaixo do nariz.

O sangue de Rip parecia diminuir em suas veias. A visão dela chorando foi como uma espada no peito... mas ele não poderia ter se movido em direção a ela se tentasse.

Esme o queria? Não como amigo ou mestre, mas como amante? O mundo parecia girar em seu eixo, palavras e conversas entre eles adquirindo um novo significado. Por que diabos ela não disse a ele?

—Ele não quer meu sangue, — ela soluçou. —Ele me disse que nunca teve a intenção de me levar como serva

—Você já pensou que você queria mais do que ser sua serva? — Blade perguntou.

—Eu... eu já...— ela hesitou. —Eu não sou mais uma garota jovem, Blade. Enterrei um marido e me forcei a ficar de pé depois que sua mãe me jogou na rua. — Abaixando a cabeça, ela sussurrou: —Eu esqueci o que era ter esperança, sonhar. Eu deveria ter sabido melhor. Sonhos não existem. Aqui não.

Blade suspirou e beijou seu cabelo com afeto áspero enquanto ela afastava o rosto de seu ombro e esfregava a umidade de suas bochechas. —Não perca isso, Esme. De todos nós, eu deveria ser aquele que sabe o que é perder a esperança, mas eu a encontrei novamente. — Ele deu-lhe um último aperto. —Você vai resolver os problemas com Rip. Mas você diz a ele por mim que ele deve tratá-la bem. Fazer a coisa certa por você. — Sua voz baixou em advertência. —Se não.

E isso era para ele.

Esme limpou a última lágrima de seu rosto. —Não há nada para resolver —, disse ela com tristeza. —Eu não posso mais fazer isso, Blade. Eu não posso. — Sua voz caiu para um sussurro. —Não adianta sonhar com algo que não posso ter.

Blade parou, olhando para ela. —Dê um tempo, amor. As coisas podem mudar agora que ele tem um pressentimento em sua mente.

Esme recuou e enxugou os olhos, a exaustão machucando seus traços finos. —Eu não deveria ver por quê. Ele deixou suas intenções claras.

—Coisa engraçada... intenções. Talvez ele não tenha entendido as suas? — Blade recuou. —Você vem para dentro?

Ela balançou a cabeça, o cabelo escuro brilhando. —Ainda não. Não quero que ninguém veja que estou chorando.

Blade a encarou por um longo momento. Finalmente ele acenou com a cabeça. —Vejo você pela manhã então. Só... Não me odeie, amor.

—Te odiar pelo quê? — Esme franziu a testa.

Blade deu vários passos para trás, em direção à porta. —Interferindo.

—Como você... — Ela congelou então e Rip soube que ela percebeu que eles não estavam sozinhos. Ombros enrijecidos, ela se virou com um olhar horrorizado em seu rosto, os olhos disparando pelas sombras do quintal enquanto ela procurava por ele.

Blade aproveitou a chance para desaparecer dentro da casa. Covarde. Os punhos de Rip flexionaram enquanto Esme procurava por ele, o de metal rangendo enquanto as juntas apertavam.

A cabeça de Esme se inclinou em direção a ele como se tivesse ouvido, sua respiração presa.

—John? — Ela sussurrou.

Nenhuma chance de desaparecer enquanto ele lidava com a confusão repentina que o deixou quase sem fôlego. Rip saiu das sombras, deslizando as mãos nos bolsos. Instantaneamente, os olhos dela pousaram nele e eles se encararam do outro lado do quintal, o silêncio denso e pesado. Ele não conseguia respirar, de repente. Ela estava tão linda, mesmo com o rastro de lágrimas escorrendo pelo rosto. E assustada e confusa.

Ele não sabia o que dizer.

O olhar de Esme disparou em direção à porta como se fosse uma traição. Lentamente, ela olhou para ele, seus ombros enrijecendo com orgulho ferido. —Há quanto tempo você está parado aí?

—Antes de você sair. — Ele respondeu calmamente.

Seu queixo estremeceu. —Você ouviu tudo?

Ele assentiu.

—Misericórdia. — Ela sussurrou, dando um passo inconsciente em direção à cozinha.

Rip saltou para frente e agarrou o braço dela. —Não, — ele disse asperamente, a ponta de seu polegar acariciando a lã macia de sua manga. —Você e eu precisamos conversar.

O olhar de Esme caiu para a mão dele, mas ela estava exausta demais para lutar contra ele. Sem olhar para ele, ela assentiu. —Onde? — Um sussurro.

Rip olhou através do pátio para os velhos estábulos que Blade usava como depósito. —Por aqui. — Ele murmurou, sua mão deslizando na dela enquanto a arrastava em direção ao estábulo.

 


Blade passou pela porta da cozinha com um prato de tortas de carne moída e um punho cerrado ao redor do gargalo de uma garrafa de vinho de sangue. Ele parecia muito satisfeito consigo mesmo. Honoria pegou o prato dele e o passou para Lena com uma instrução rápida para oferecê-los.

—O que você está fazendo? — Ela murmurou, enquanto o marido descansava o quadril na beirada de uma poltrona e puxava a rolha do vidro verde espesso com um som úmido.

Blade piscou para ela, seu sorriso a aquecendo por completo. Ela nunca se cansava daquele sorriso. —Coisas ruins. — Ele disse, deslizando um braço em volta da cintura dela e puxando-a contra seu corpo enquanto colocava o vinho de lado.

Honoria colocou os braços em volta do pescoço dele. —Onde está Esme? — Ela percebeu quem mais estava faltando. —E Rip? O que é que você fez? Você disse a ela que não diria nada a ele.

—Não disse. — O sorriso de Blade aumentou ainda mais. —Isso não significa que não posso deixar que ela diga o quanto quiser, quando sei que ele está ouvindo.

—Você não fez isso!

Blade a arrastou para mais perto. —Considere-o um pequeno presente para Esme. Ela vai me agradecer assim que terminar.

—Ela não vai agradecer a você agora.

—Verdade. — Blade sorriu e beijou seus lábios. —Agora, por que você não me leva lá em cima e me dá meu presente.

Honoria cedeu. O homem era um demônio e ele sabia disso. —Não comprei nada para você. — Declarou ela.

—Está tudo bem, — ele ronronou. —Vamos pensar em algo.


Capitulo 8


A luz ganhou vida quando Rip riscou um fósforo e se agachou, deslizando o fósforo para dentro do lampião para que o pavio pegasse. As sombras se alongaram e retrocederam enquanto ele se concentrava com terrível intensidade na chama, no cheiro acre de fósforo no ar.

Esme olhou em volta, estremecendo um pouco. Não estava tão frio aqui como do lado de fora, mas ela não conseguia parar o leve tremor que desceu por sua espinha. Pavor, talvez. Quanto antes falassem disso, melhor.

Móveis antigos estavam empilhados contra as paredes, um grande tapete turco cobrindo o chão. Blade tinha pouco interesse em cercar bens roubados, mas sempre havia pessoas que precisavam desesperadamente de moedas. Ele frequentemente trocava moedas ou proteção pelos bens que ofereciam. A caridade aqui não teria ganhado nada mais do que um sorriso de escárnio.

Esme estremeceu. Sua garganta estava pesada com palavras não ditas; Eu não quis dizer isso, estava falando em ser sua serva, eu nunca deveria ter beijado você, amigos... apenas amigos. Tudo isso é mentira, mas eram mentiras seguras.

Ao abrir a boca, o pensamento despertou algo quente em seu peito. Ela não queria mais ser “apenas amiga”, não queria aceitar tudo que ela disse de volta. Finalmente estava no ar entre eles e embora ela estivesse com medo de sua falta de resposta, uma parte dela queria confrontá-lo sobre isso.

—Você está com frio? — Ele perguntou baixinho. Sua voz sempre foi mais profunda do que a da maioria dos homens; o tipo de voz que causava arrepios em sua pele. Ele raramente a levantava, mas às vezes ela desejava poder sentir o que ele estava sentindo. Para gritar ou se enfurecer, apenas uma vez.

Mas ela sabia por que ele não o fazia.

Esme acenou com a cabeça, seu olhar fixando-se em sua garganta e no músculo tenso enquanto ele engolia. Ela não era corajosa o suficiente para encontrar seus olhos. —Um pouco. — Ela sussurrou.

Onde estava sua coragem agora? Sua alegria desafiadora quando as palavras eram ditas? Rip deu um passo em direção a ela, tirando o casaco de couro e Esme não conseguiu evitar de dar um passo para trás. Sua camisa se esticava sobre as enormes placas de músculos que decoravam seu peito, pesados suspensórios marcando seus ombros. Uma camisa de operário; áspero, áspero... Mas ela conhecia a sensação disso, a maneira como isso causaria abrasão em sua pele.

Como se ela o tivesse golpeado, ele congelou.

E Esme percebeu que ele pensava que ela o estava rejeitando.

Dando um passo à frente, ela agarrou o casaco dele, girando nele como uma dançarina. As mãos de Rip pousaram em seus ombros levemente enquanto ele a ajudava a colocá-la no lugar, então se demorou. De costas para ele, o coração de Esme disparou de repente. Lentamente, ele recolheu o cabelo dela, com as mãos tão gentis que ela quase doeu, e puxou-o para fora da gola. A fita que ela usou para amarrá-lo se afrouxou e Rip puxou-a para fora, as pontas dos dedos deslizando pela seda de seu cabelo.

—John? — Ela sussurrou.

—Eu gosto disso, — ele murmurou. —Eu não gosto quando você me chama de “Rip”. Você é a única que não foge. A única que me vê como John. — Um dedo hesitante envolveu um de seus cachos negros e deu um pequeno puxão. —Você queria me punir? Sim, bem, você sabe como fazer.

Os dedos de Esme enrolaram na gola do casaco, segurando-o no lugar enquanto ela se encolhia. De repente, sua necessidade de machucá-lo como ele a machucou não parecia nada mais do que cruel. —Eu sinto muito.

Um suspiro áspero. —Eu também sinto. — Então a sensação do corpo dele mudou atrás dela, deixando Esme com frio.

Rip passou em direção ao lampião. Afundando no tapete vermelho empoeirado, ele apontou o queixo para ela. —Venha. Sente-se perto da luz. Fale comigo.

Seus pés não queriam se mover. De alguma forma, ela se forçou a cruzar o espaço tenso, manobrando entre cadeiras empoeiradas e lampiões. Coragem, Esme. Esta não foi a primeira batalha que ela lutou e não seria a última. Mas ela se sentiu quase mal do estômago quando ela rigidamente caiu de joelhos ao lado dele. Agarrando seu casaco para mantê-lo no lugar, seu olhar caiu.

Rip se moveu, puxando a mão de volta do joelho para as sombras de seu corpo e ela percebeu que era sua mão mecânica. Ela estava olhando além disso.

Estendendo a mão, Esme a pegou, sentindo o frio do metal sob sua palma. —Não faça isso. Você não deve esconder isso. — Os dedos flexionaram e os dela deslizaram entre eles, sentindo as juntas esféricas e macias de cada nódulo. Foi um trabalho duro; o sistema hidráulico em seu antebraço brilhava à luz quente das velas enquanto ele se mexia, um pistão sibilando o ar frio contra sua pele. Ele nunca a deixou tocá-la antes.

—Talvez devêssemos falar com Blade, — ela se pegou dizendo, como se o peso do silêncio fosse enterrá-la. —Certamente ele pode pagar por uma substituição. Eu vi algumas dessas novas melhorias mecânicas nos homens recém-saídos dos Enclaves. — Homens que tiveram que pagar por suas melhorias com anos de serviço nas ásperas fábricas movidas a vapor que não eram exatamente uma prisão. —Eles até têm pele sintética hoje em dia, embora nunca pareça real o suficiente...

—Esme. — Ele resmungou rispidamente.

Ele não estava aqui para falar sobre a mão.

Esme ficou em silêncio.

—Por que você não me contou?

Ela não pôde evitar olhar para cima então, encontrando seu olhar impotente. Cada olhar desesperado ao longo dos anos, cada vez que ela o procurava para se sentar com ele, as provocantes discussões na cozinha enquanto ele a provocava e roubava seus ingredientes... Ela se viraria e suas cenouras estariam perdidas, Rip protestando sua inocência, então habilmente que ela não pôde deixar de rir enquanto tentava descobrir onde ele as tinha escondido. Pressionando-se contra ele, suas mãos inteligentes se lançariam sob seu casaco - embora não inteiramente em busca de tudo o que ele roubou - até que suas bochechas ficassem vermelhas e ele as apresentasse com um floreio.

Assando sua torta de limão favorita, só para ele. Beijando sua bochecha quando ele trouxe uma nova fita e desejando que ela tivesse a coragem de voltar seus lábios aos dele. —Eu pensei que sim. — Ela sussurrou.

Seus dedos ainda estavam interligados. Rip deu uma risada suave e divertida. —Você nunca disse isso. Nunca. Eu teria me lembrado.

—Pensei ter mostrado a você - em tudo o que fiz, em tudo o que disse. — Suas bochechas aqueceram. —Eu praticamente me joguei em você na rua outro dia! E você me empurrou!

Seu polegar de metal acariciou o dela. Rip pensou nas palavras dela por um momento, franzindo a testa levemente, como sempre fazia quando queria acertar as próprias palavras. Um homem cauteloso. —Seis meses atrás, eu não a afastaria.

Ela observou a mão dele acariciando a dela. —O que mudou? O que...

E então ela soube.

A respiração de Esme parou quando seus olhos se encontraram.

—Eu sei que disse que estava bem. — Afastando-se, Rip raspou a mão de metal na parte de trás de seu pescoço musculoso. —Eu disse a Blade que estou sob controle. Eu só... Eu não aguentava mais ficar preso no Cortiço. Eu precisava sair. Começar a trabalhar novamente. Eu parecia inútil. — Aqueles olhos verdes dançaram para os dela e ela viu a labareda de fome neles, suas pupilas dilatando. Um olhar só para ela, que lhe disse tudo o que ela deveria saber. Um olhar que a despiu do pesado vestido de veludo e a deixou se sentindo nua. —Não é tão ruim, com outras mulheres. Só você. Você me joga do nada, Esme. Eu te quero tanto isso. E então eu posso sentir a fome rastejando, ameaçando assumir o controle. Eu não quero te machucar. — Ele balançou a cabeça enfaticamente. —Nunca.

Todo esse tempo ela pensou que ele não a queria. E ele teve medo de perder o controle, de tomar seu sangue - ou seu corpo - por medo de machucá-la. —Oh, John, — ela sussurrou. —Eu poderia ter ajudado você. Há anos que sou uma serva. Eu sei o que fazer. Às vezes, Blade iria...

O olhar cruel que ele lançou a ela a parou. O olhar de um homem que queria machucar alguma coisa - de preferência seu inimigo. Esme deslizou para mais perto, deslizando a mão sobre o joelho dele. —Você não tem nada para ter ciúmes, — ela o lembrou. —Era apenas sangue. — Ficando mais ousada, ela apertou o músculo duro em sua coxa enquanto se ajoelhava mais perto, cravando o polegar enquanto acariciava o couro macio de sua calça. Rip respirou fundo, os olhos brilhando.

—Então você me quer? — Ela perguntou, seu sussurro cheio de todos os tipos de pecado. —Só para esclarecer algum mal-entendido?

—Sim. — Voz áspera, seus olhos caindo para seu corpete. Rip soltou um suspiro áspero. —Cristo, eu sou apenas um homem.

Sua mão deslizou mais alto, acariciando o couro liso sobre sua coxa.

—Esme. — Um aviso.

Um que ela não deu atenção. Ela se sentia leve como um pássaro, um sorriso cruzando seus lábios enquanto ela se aproximava, empurrando entre os joelhos dele. Ele a queria. Do jeito que um homem deseja uma mulher. Do jeito que um sangue azul queria sua serva. Ela estava tão feliz que quase se sentiu tonta.

—E quando você falou sobre eu me casar esta noite... você estava falando de outra pessoa?

Aqueles olhos esmeralda brilharam. —Seria melhor você...

—Não. — Ela colocou o dedo nos lábios dele. —Já tive minha cota de mal-entendidos. Eu não vou sofrer mais. Você quer que eu me case com outro homem?

Ela leu a resposta em seu rosto. Feroz, quase violenta. Possessiva. Esme estremeceu, seu dedo iluminando os lábios dele. Ela deixou suas mãos caírem para os botões em sua garganta.

Esme tirou os ombros de seu casaco e puxou um dos botões. A sobrecasaca de veludo vermelho abotoada até a garganta, mas cabia nela como uma luva. E ele percebeu. Ela viu em seu rosto enquanto a observava desfazer vários botões, a fome severa apertando sua expressão com a necessidade demoníaca. Seus mamilos se endureceram, um calor feroz acendendo no fundo de sua barriga. Sua própria fome. Sua própria necessidade. Passaram-se anos desde que ela se deitou com um homem, e ela o queria tanto que doía.

Cada músculo de seu corpo ficou tenso, o couro rangendo suavemente sobre suas coxas. Ainda assim, ele não a alcançou, apenas olhou para ela com aquela expressão tensa.

—Você quer me tocar? — Esme sussurrou, os nós dos dedos roçando a curva suave de seus seios enquanto ela abria os botões. —Ou talvez... me provar?

Isso atraiu outro olhar acalorado que a incendiou. Ela não pôde evitar estender a mão, deslizando as mãos sobre a extensão fortemente musculosa de seus ombros. Um gemido molhou seus lábios. —Eu quero tocar em você —, ela sussurrou, inclinando-se mais perto. Um beijo leve contra sua garganta. —Eu quero provar você...

A língua dela disparou para fora e lambeu a veia dilatada em sua garganta. A pulsação dele bateu nos lábios dela, acelerando forte. Seu corpo poderia estar imóvel como uma estátua, mas ele sentiu isso. A tensão praticamente vibrava nele.

—Esme, pare. — Ele gemeu. Sua mão apertou em sua saia enquanto ele assobiava uma respiração afiada, a palma achatando seu traseiro enquanto ele a pressionava contra ele.

Ela beliscou sua garganta, bebendo o perfume masculino que conhecia tão bem, a barba por fazer de sua mandíbula raspando contra sua bochecha e lábios. Mãos se lançando, acariciando, cavando o músculo duro enquanto ela se pressionava contra ele. Desta vez, ela não sentiu nenhuma rejeição às palavras dele. Ela sabia exatamente o que estava por trás delas.

Lançando um olhar para seus olhos - eles não eram pretos ainda - ela capturou seu rosto em suas mãos e deslizou em seu colo. Suas saias subiam por suas coxas, amontoando-se entre ela e seus quadris. Ainda assim, não havia tecido suficiente para ela não senti-lo.

—Oh. — O sorriso de Esme se alargou quando ela se moveu contra ele, os joelhos enfiados no tapete embaixo deles. Desta vez, não havia como pará-la. Ela deslizou as mãos sobre a pele áspera de seu couro cabeludo e o beijou com força.

Sem hesitação. Não dessa vez. Rip a agarrou, puxando-a contra seu peito, seus quadris subindo nos dela. Em algum lugar distante, a chuva começou a tamborilar no telhado.

—Quero você, — ele rosnou. —Quero tanto você.

Ela afastou os lábios dos dele apenas por muito tempo para engasgar. —Eu quero você também. Eu sinto que sempre quis você.

Rip a apertou contra ele com força, como se não pudesse responder. Em seguida, as mãos dela estavam cavando em sua camisa, puxando-a para fora de sua calça. Lutando com seus suspensórios enquanto ela os tirava de seus ombros, sua boca ávida na dele, a língua se lançando contra a dele. Finalmente ela tirou a camisa da calça dele. Com as palmas das mãos apoiadas em seu abdômen ondulado, ela o empurrou de costas e respirou fundo.

Rip caiu de costas no tapete apoiado nos cotovelos, não tanto um sinal de submissão, mas uma aceitação... por enquanto. O olhar em seus olhos prometia que ela não teria essa chance novamente.

Esme não se importou. Seu sangue disparou quando ela rasgou sua camisa, expondo a pesada laje de seu peito para seu olhar. A pele lisa sem pelos encontrou seu olhar, a cor do mel. Ela sempre pensou que o calor de sua pele devia sua cor ao sol, mas embora suas mãos e rosto fossem mais escuros, seu corpo era dourado à luz do lampião. Um dia ele perderia isso, conforme o vírus do desejo colonizasse e desbotasse a cor de sua pele. Ou talvez não. Desde que Honoria descobriu que seu sangue vacinado baixava a contagem de vírus de Blade, Esme estava pensando em pedir a vacinação para si mesma. Para manter seu homem tão humano quanto ele poderia ser, com o vírus furioso nele.

Músculo espesso, seu abdômen esculpido enquanto se estreitava até os quadris. Ela não conseguia parar de olhar. Ela não achava que algum dia iria querer parar de tocá-lo.

—Esme. — Ele juntou as dobras de sua camisa, como se enervado com o olhar dela.

Esme pegou suas mãos. —Não —, disse ela. —Eu quero olhar para você. Eu amo seu corpo. — Suas unhas cravaram em seu abdômen. —Todo você. Tudo meu. — Inclinando-se, ela o beijou novamente, os lábios traçando os dele. Ele nunca seria bonito do jeito que a sociedade ditava, mas ela amava sua aparência. Duro, poderoso, cheio de uma graça perigosa e selvagem. Um homem. Não como aqueles dândis do Escalão, que enchiam os casacos ou usavam cintas. Rip era um músculo sólido.

Lentamente, ela beijou sua bochecha, a língua traçando a pesada cicatriz em sua sobrancelha. A respiração de Rip ficou difícil, seus quadris flexionando sob ela.

—Você não sabe o que faz comigo. — Ele sussurrou.

Deslizando a mão entre eles, ela a segurou ao redor de sua ereção. —Tenho uma ideia.

—Se você não parar com isso, vou colocá-la de costas. — Sussurrou Rip.

Tentador. Ela olhou para cima e ele viu em seus olhos. Sua própria escuridão se estreitou, sugando para fora das pupilas como se fosse engolir suas íris. A fome.

Pegando seus quadris, ele os rolou e Esme caiu para trás com uma risada ofegante. Prendendo seus pulsos no tapete, ele pairou sobre ela, seus quadris descansando entre os dela. Sem se importar com a queda de suas saias, ela prendeu as pernas ao redor de seus quadris, as meias deslizando contra o couro macio de suas calças.

Olhos negros encontraram os dela. A fome em toda a sua ascendência. Esme ficou imóvel, rendendo-se a ele completamente. Ela sabia como controlar a fúria feroz dentro dele.

Por longos segundos, ele respirou duramente, cerrando os olhos como se fosse lutar. Esme simplesmente relaxou, deixando-o controlá-la. O desejo por sexo e sangue guerreava dentro dele. Ela só tinha que dar um pequeno empurrão na direção certa.

—Toque-me, — ela sussurrou, arqueando as costas apenas o suficiente para pressionar seus quadris contra os dele. A fricção a fez perder o fôlego. —Eu quero suas mãos em mim.

Seus olhos encontraram os dela; demônio. —Onde?

—Desfaça meus botões.

A complexidade da tarefa o fez se concentrar. Esme deslizou as mãos pelo pescoço dele, deleitando-se com a sensação dos nós dos dedos contra sua pele enquanto ele soltava cada botão. A sobrecasaca se abriu, a cintura da camisa pressionada contra a pele.

Rip se inclinou e roçou sua boca contra a dela. Ela podia sentir os tremores em seu corpo, o aço rígido de seus braços enquanto ele se mantinha imóvel. Lentamente, ele tirou a camisa dela, deixando apenas um espartilho e uma camisa. O cheiro de sua água violeta ficou mais forte quando ele desfez a barbatana que descia pela frente de seu espartilho e Esme engasgou contra seus lábios quando a mão dele curvou-se sobre seu seio.

—Sim. — Ela sussurrou, seus quadris flexionando contra os dele.

Lento. Gentil. Torturante. Rip baixou a boca para a garganta dela, mas apenas brevemente. Com uma exalação afiada, ele rapidamente se moveu para baixo, seus lábios percorrendo a curva de cada seio rechonchudo, seus lábios arrastando sua camisa para baixo. Puxando-o para baixo, sua língua disparou sobre seu mamilo enquanto ele lentamente o sugava em sua boca.

Esme gemeu. Fazia tanto tempo que ela não tinha sido tocada que ela não conseguia se lembrar se alguma vez havia se sentido tão bem assim. Os dentes arranharam seu mamilo e ela não conseguiu segurar mais.

—John —, ela sussurrou. —Oh, Deus, John. Quero você. Agora. — Passando a mão entre eles, ela alcançou os botões da calça dele.

Rip a afastou. —Não —, ele murmurou. —Preciso estar no controle. Apenas deixe-me... —Ele tomou sua boca novamente, respirando com dificuldade contra seus lábios. —Deixe-me ir devagar.

A chuva sacudiu o telhado de zinco. Ela deveria estar com frio, mas Esme mal percebeu o frio contra sua pele nua. Tudo o que ela podia ver era Rip, seus ombros encobrindo o mundo inteiro. Tudo o que ela podia sentir eram os dedos dele, deslizando por suas saias e puxando-as para cima. Punhos cerrados no veludo.

O frio mordeu suas pernas, mas ela gemeu em sua boca, segurando suas bochechas e beijando-o sem fôlego. Suas mãos deslizaram sobre suas meias e Esme abriu suas coxas. —Sim. — Um suspiro.

Os dedos tremeram em sua liga, depois na pele lisa de sua coxa. Quando ele encontrou o algodão úmido de suas calçolas, ele soltou outro suspiro áspero. Puxando-os para abri-las, encontrando-a, molhada e pronta e arqueando sob ele...

Foi uma bênção. Esme gemeu, virando a cabeça e afundando os dentes na carne de seu ombro enquanto as pontas dos dedos dele disparavam sobre sua carne aquecida. Uma luz branca explodiu atrás de seus olhos, o mundo desaparecendo até que tudo o que restava era Rip e o rugido maçante da chuva no telhado. Seu corpo tremendo, tremendo... No precipício.

Então sua mão se foi. Esme piscou. Não.

—Tire isso. — Ele fez uma pausa e puxou suas roupas íntimas. Lutando com elas livremente. Ela teve um último vislumbre do negro de seus olhos, então ele enfiou as duas mãos sob seu traseiro e deslizou mais para baixo.

O calor úmido de sua boca quase a fez gritar. Esme estremeceu, seus dedos afundando nos músculos rígidos de seus ombros. Rastreando o aço de seu membro mecânico. Ela mordeu o lábio enquanto ele a lambia, forte e profundamente, sugando seu clitóris e levando-a ao limite novamente com determinação implacável.

Esme se espatifou. Demorou muito, deixando-a ofegante e sem fôlego, Rip se afastando para arrastar sua própria respiração trêmula. Ela se encolheu quando as pontas dos dedos dele percorreram sua coxa, tão sensíveis e torcidas que ela mal podia suportar. —Oh Deus, oh Deus. — Ela sussurrou, de novo e de novo.

Rip deslizou por seu corpo, arrastando-a em seus braços. Ela sentiu vontade de chorar de novo, como se ele a destruísse totalmente. E então ela foi e ele a puxou com mais força, travando seu rosto contra seu peito como se pudesse escondê-la do mundo. —Calma, amor, — ele sussurrou, dando um beijo em seu cabelo. Ele soltou uma risada áspera. —Fazendo um homem pensar que errou.

—Não. — Ela enrolou os dedos em sua camisa e olhou para cima, as lágrimas cravando em seus cílios. —Isso foi incrível. Eu só... eu só...

Um lento sorriso curvou-se em seus lábios. —Sim. Você está oprimida, não é?

Esme acenou com a cabeça, pressionando os lábios em sua garganta. Ela podia sentir a dureza de sua ereção entre eles. Isso ainda não estava terminado. Deslizando a mão entre eles, ela o segurou através das calças.

Rip respirou fundo e a rolou de costas, vindo sobre ela. Apoiado nos cotovelos, ele brincou com o cabelo dela, olhando para ela com um olhar de nítido desejo no rosto. —Eu quero —, ele admitiu com voz rouca. —Te quero tanto.

—Mas? — Ela sussurrou, ouvindo a palavra não dita.

Rip fechou os olhos negros com um estremecimento. —Eu mal conseguia me controlar com isso, — ele admitiu. —Eu não posso arriscar, Esme. Ainda não.

—Eu confio em você. — Ela disse, acariciando seu rosto.

Ele estremeceu. —Eu não posso, Esme. Eu não posso.

A dor da necessidade era quase insuportável. A frustração a percorreu. Mas ela podia sentir a linha tensa em seus ombros enquanto acariciava suas costas cobertas pela camisa, acalmando-se e sussurrando baixinho.

—Vou esperar por você, John —, ela sussurrou. —Sempre.

 


Vou esperar por você.

Algo se torceu com força no peito de Rip, como uma mão fechando em torno de seu coração. Ter esperança? Uma descrença incrédula? Um vira-lata como você não poderia ter tanta sorte. Mas foi a voz de cafetão de sua mãe que ele ouviu. Ele tinha que acreditar que merecia isso, que Esme poderia realmente ser dele. Caso contrário, ele teria acabado olhando para o mundo através de uma garrafa anos atrás, com a voz de Whitey ecoando em seus ouvidos.

Rip se enrolou contra ela, dobrando seu corpete e certificando-se de que ela estava quente. Ela era tão pequena contra ele, sua respiração se acalmando enquanto ela adormecia. Rip ouviu a chuva diminuir no telhado. Ele se sentia o homem mais sortudo do mundo.

Havia apenas uma coisa que estragava sua felicidade.

Se ele não conseguisse aprender a se controlar, então ele nunca seria capaz de dar a Esme o que ela mais queria. Ela disse que esperaria, mas quanto tempo? Ele não mentiu quando afirmou que ela seria mais feliz como esposa de alguém, mãe de alguém.

Ela tinha quase trinta e cinco anos. Muito depois de seus melhores dias de procriação. E se ele não pudesse dar filhos a ela antes que fosse tarde demais? E se demorasse muito para se controlar o suficiente? Blade admitiu que se passaram anos antes que ele mesmo pudesse se alimentar diretamente da veia sem ingerir muito, embora não tivesse ninguém para ensiná-lo a controlar o desejo.

Rip a abraçou com mais força, pressionando um beijo em seu cabelo. Ele falaria com ela sobre isso. Mas agora não. O Natal estava a apenas alguns dias e ele sabia o quanto ela estava ansiosa por isso. Depois que tudo acabasse, ele a faria sentar e lhe ofereceria a chance de parar com isso antes que fosse tarde demais para os dois.

Mesmo se isso fosse matar uma parte dele por dentro.

 

Capitulo 9


Faltavam três dias para o Natal. Depois, dois. E então um. Os homens passaram a maior parte do tempo caçando no Subterrâneo e mantendo guarda no cortiço enquanto Annie se recuperava. Esme se ocupou com as outras mulheres e crianças, preparando o Cortiço para seu primeiro Natal.

Não havia sinais disso no coração da cidade onde o Escalão governava, mas traços de alegria brotaram por toda parte no East End.

O visco parecia balançar em todas as vigas do Cortiço; Esme suspeitou de quem era a mão de quem tinha feito isso quando viu Blade rindo arrancando outro beijo de Honoria. Na verdade, ele conseguiu atrair Esme e Rip para baixo uma ou duas vezes, onde eles foram forçados a compartilhar um beijo casto. Nenhum deles mencionou o que tinha acontecido naquela noite e isso irritou Blade ao extremo.

—Eu só quero o que é melhor para você, Es. — Ele lhe ensinava.

—Eu sei o que é melhor para mim. — Ela respondia com uma cara séria enquanto se ocupava de seu trabalho. Só quando ela se virasse ela se daria a oportunidade de sorrir enquanto Blade suspirava exasperado atrás dela. Não havia maneira mais segura de chegar até ele do que esconder algo dele.

Todas as noites ela entrava furtivamente no quarto de Rip de camisola e adormecia em seus braços. Do outro, embora ele desse a ela tanto prazer quanto podia, ele nunca a deixaria tocá-lo.

Seu sorriso desvaneceu-se ligeiramente enquanto ela enchia o ganso, pronto para o amanhecer. Isso iria acontecer. Quando Rip não estava mais com medo, ele a machucou. Ainda assim, ela não conseguia afastar a sensação de que ele não estava exatamente dizendo algo a ela.

 


O Natal veio em uma explosão de branco. Tinha nevado novamente durante a noite e Esme acordou nos braços de Rip, observando o movimento disso através de sua janela de vidro.

—Preciso de uma cama maior. — Ele murmurou, aconchegando o rosto contra o cabelo dela.

—Eu não sei —, respondeu ela, enterrando-se em seus braços. —Eu gosto bastante desta. — Erguendo a cabeça, ela deu um beijo em seus lábios. Seus cílios se abriram. —Feliz Natal.

Um sorriso lento se espalhou por sua boca fazendo o coração de Esme palpitar. —Por que é assim, — ele falou lentamente. —Você quer seu presente?

—Depende do que é. — Ela respondeu com um sorrisinho travesso.

Os olhos de Rip escureceram. —Rapariga. — Derramando-a sobre o estômago com uma risada, ele estendeu a mão e arrastou algo debaixo da cama. A pressão de seu corpo a empurrou para o colchão e Esme quase gemeu.

—Aí está —, disse ele, entregando-lhe uma pequena caixa embrulhada em cores vibrantes. —Seu outro presente está lá embaixo, debaixo da árvore, mas eu queria te dar isso antes...

Antes que mais alguém pudesse ver.

Esme se sentou, os cobertores acumulando em seu colo. Seu coração gaguejou quando ela alcançou a pequena caixa. Era uma joia. Tinha que ser. E embora ela dissesse a si mesma para não esperar nada, ela não pôde deixar de lembrar a maneira como ele falara sobre casamento.

—O que é isso? — Ela sussurrou.

—Abra. — Seu sorriso era quase alegre e ela percebeu que ele provavelmente nunca tinha feito nada assim antes.

Puxando o papel brilhante, Esme abriu a caixa de veludo. Então engasgou. Um pequeno “E” prateado piscou na luz com uma tira de veludo preto para amarrar em volta do pescoço.

—Você gostou?

—Oh, John, — ela sussurrou. —É perfeito. — Seus dedos trêmulos acariciaram a letra. Ela nunca tinha recebido nada parecido.

Estendendo a mão, ela o beijou nos lábios, sentindo a irritação de sua barba por fazer contra suas bochechas. Rip sorriu de maneira preguiçosa, então capturou seu rosto com as duas mãos, o aço frio de seu membro mecânico uma sensação surpreendente. Ele a beijou profundamente, tornando-a quente e forte, sua língua acariciando a dela. Esme derreteu contra ele com um gemido suave.

Estava acabado antes de começar. Rip recuou, sua testa apoiada na dela enquanto ele lutava para recuperar o fôlego. Esme acariciou seu peito. —Deixe-me agradá-lo, — ela sussurrou. —Eu poderia...

—Não. — Ele se afastou, seu rosto inexpressivo. A escuridão brilhou em seus olhos; a fome.

Uma dor aguda preencheu o peito de Esme. A necessidade feroz não deveria ter despertado tão rapidamente. Rip tinha um controle melhor do que isso. A menos que fosse verdade... a menos que ela fosse seu calcanhar de Aquiles. E sempre seria.

—Eu vou esperar, — ela sussurrou, afundando em seus joelhos. Ela colou um pequeno sorriso em seus lábios enquanto amarrava a fita em volta de sua garganta. —Obrigada pelo meu presente.

Rip desviou o olhar. Fechado. Ela quase teve vontade de estender a mão para perguntar se essa era a única coisa que o incomodava. —Sim, — ele disse. —Não era muito. Mas você deve ter suas próprias coisas bonitas. Vamos. Eu posso ouvir as pessoas se agitando ali em baixo.

 


No momento em que Esme tentou colocar o avental, Rip o puxou. Amassando em seu punho, ele o jogou no peito de Will. —O avental é seu, moça. — Ele chamou.

—Mas rosa combina muito melhor com a sua cor. — Will atirou de volta, em seguida, jogou-o no rosto de Rip.

Blade o pegou no ar no meio do caminho e o pendurou ao redor de seus quadris. —Não quero sujar meu colete. — Disse ele, tirando um fiapo imaginário do colete de veludo vermelho. Com uma piscadela diabólica, ele arrastou a panela com o ganso do banco e se dirigiu ao forno.

—O que está acontecendo? — Esme riu sem fôlego.

Um segundo depois, ela gritou quando Rip a jogou por cima do ombro, uma mão plantada firmemente em seu traseiro. —Pensei que você deveria tirar o dia de folga, — ele disse, o estrondo de seu barítono estremecendo sob seus quadris. —Vamos preparar o almoço.

—Mas vocês não sabem o que estão fazendo!

Rip a empurrou pela porta da sala de estar com Honoria e Lena olhando surpresas com sua aparência. As bochechas de Esme queimaram.

—Eu te olhei várias vezes. Juro que não vou queimar o pato.

—É um ganso! — Esme deslizou por seu corpo enquanto ele a balançava sobre uma poltrona estofada. Com os braços deslizando ao redor de seu pescoço, ela olhou em seus olhos quando os dedos dos pés encontraram a borda da poltrona. A pressão de seu corpo fez coisas perversas em sua respiração. Duro contra sua suavidade.

Ele também sentiu, brasas de calor ganhando vida em seus olhos. Um sorriso lento e devastador curvou-se sobre sua boca. —Olha isso, — ele murmurou, levantando o olhar. —Visco.

Esme olhou para cima. —Que conveniente. — Ela respondeu.

Quando ela olhou para baixo, seus olhos se encontraram. Lentamente, ele estendeu a mão e deu um beijo casto em seus lábios, seu hálito frio a provocando. O breve dardo de sua língua molhou seus lábios e Esme amoleceu, afundando contra ele. Ela o queria tanto, embora ela não pudesse esquecer as outras pessoas na sala.

Rip recuou, um olhar de conhecimento ardendo em seus olhos semicerrados. — Mais tarde. — Ele murmurou.

Esme deixou seus braços caírem e encontrou seu equilíbrio na poltrona. —Não queime meu ganso —, disse ela, tentando recuperar o fôlego. —Ou o pernil de boi. — Seu rosto empalideceu. —Você precisa colocar isso no forno primeiro. Diga a Blade para pegar...

Rip recuou. —Sente-se, — ele advertiu. —Beba um pouco de vinho quente e relaxe. — Havia um desafio em seus olhos. —Isso é uma ordem.

Esme desistiu. Quando Rip saiu da sala, ela trocou um olhar indefeso com Honoria.

Honoria ergueu as mãos. —Eu também fui banida. — Um olhar perverso encheu seus olhos. —Embora eu esteja bastante satisfeita com as circunstâncias agora. Que desenvolvimento curioso.

Ela não estava falando do ganso.

—Lena —, Honoria mal virou a cabeça. —Por que você não vai e arrasta Charlie e Lark para fora da cama. Já passou da hora de eles se levantarem.

Com um suspiro, Lena ficou de pé. —Eu não sou uma criança, você sabe. Por que não posso ficar para ajudar a interrogar Esme? Atrevo-me a dizer que farei um trabalho melhor do que você. Afinal... —Ela deu a Esme um sorriso atrevido. —Estou ciente disso há semanas.

Honoria arqueou uma sobrancelha e Lena ergueu as mãos em sinal de derrota. —Culpada.

—Agora —, disse Honoria, levantando-se e enchendo uma taça com vinho quente enquanto Lena trovejava escada acima. Ela entregou a Esme. —O que você não disse a Blade? Ele está desesperado para saber o que está acontecendo.

Esme aceitou a taça com um suspiro de resignação. —Promete que não vai contar a ele?

O sorriso de Honoria se alargou. —Só se você revelar tudo.

Então Esme fez.

A manhã passou numa fúria de risos e sussurros, com Lena, o Homem de Lata e as crianças se aventurando a sentir o formato das caixas embrulhadas debaixo da árvore. Meggie decidira ficar com a mãe no quarto, pois Annie ainda estava muito abalada para sair da cama.

Esme se encolheu na poltrona, o vinho quente relaxando seus sentidos até que ela mal deu a sua cozinha um pensamento.

O jantar foi servido com um floreio, Blade curvando-se na cabeceira da mesa enquanto tirava seu avental rosa e o jogava de lado com gosto. Cortar o ganso e a carne - ambos bem dourados, mas não cozidos demais - se transformou em um ato de teatro até que Honoria, rindo, tirou a faca de Blade e a entregou a Rip. Rip terminou a escultura com economia rápida.

—Isto, — Blade chamou, erguendo sua taça de sangue e imitando os tons precisos do Escalão, —é o nosso primeiro Natal.

Todo mundo ergueu suas taças.

—Uma prática inteiramente pagã, — Blade continuou, em um inglês zombeteiramente perfeito, —mas uma que eu poderia continuar. — Ele olhou para baixo com um sorriso caloroso enquanto perdia o sotaque. —Vocês vão ter que agradecer Honoria, por essa prática de seu pai comemorar com sua família. E pensei, considerando que nossa família cresceu recentemente, que deveríamos começar nossas próprias tradições. Então, sem mais delongas...

—É claro que haverá mais delongas —, interrompeu Honoria, — pois o conhecemos muito bem.

Blade sorriu para ela. —Pela a família.

—Hmmm. — Ecoou o grupo ao redor da mesa.

Taças tilintaram, pratos foram distribuídos e todos começaram a comer.

—Como está? — Rip perguntou, deslizando um braço ao longo das costas da cadeira de Esme.

—Delicioso, — ela respondeu com um olhar de soslaio enquanto provava o ganso. —Quase... suculento.

Seu olhar aqueceu enquanto ele bebia sua taça de vinho na mão, sangue manchando a taça transparente. —Isso é porque eu certifiquei que você pegasse o peito.

—Essa costumava ser sua parte favorita, — ela respondeu inocentemente, dando outra mordida no ganso. —É uma pena que você não participe mais.

—Ainda é minha parte favorita, — ele murmurou, seus dedos se esticando e roçando sua nuca. —E eu não pretendo participar. Completamente.

Inclinando-se para frente, ele levou o garfo dela aos lábios e mordeu um pedaço fumegante de carne. —Você está certa. É delicioso.

Esme o empurrou com uma risada, notando o olhar penetrante que Blade lançou para ela, sua curiosidade galopante. Honoria escondeu um sorriso ao seu lado.

A tarde passou como um borrão feliz. As crianças tiraram os pratos e Rip se certificou de que a taça dela estivesse sempre cheia. Muito cheia às vezes. Ela não conseguia parar de sorrir, especialmente quando os presentes foram distribuídos. O presente de Rip provou ser uma cópia de um romance gótico, e ele sorriu ao entregá-lo a ela, sem dúvida pensando no colar que lhe dera.

Os presentes de Blade eram extravagantes e atraíam suspiros, embora os presentes de Lena atraíssem mais atenção. Certa vez, ela fora aprendiz de relojoeiro e sua habilidade com engrenagens criaram incríveis brinquedos mecânicos para as crianças. Até Meggie desceu para brincar com eles, evocando um sorriso ocasional quando um ratinho de metal disparou em círculos pelo chão. Esme puxou a criança para o colo e apoiou o queixo no cabelo, respirando o doce cheiro de menina.

Blade se acomodou ao lado dela no sofá, esticando-se para puxar os cachos de Meggie. A menina levou a mão à cabeça e ergueu os olhos.

—Olhe o que encontrei no seu ar. — Disse ele, segurando um bombom embrulhado em papel com fingida inocência.

Meggie o pegou com um sorriso e Blade a indicou uma tigela de doces sobre a mesa.

O segundo interrogatório havia chegado.

Esme se recostou no sofá, observando-o languidamente.

—Você parece... atraente.

—Eu sou, — ela respondeu. —Esta foi uma ideia sensacional, Blade.

—Sim. — Seu olhar percorreu a sala, observando todos que ele governava com certo orgulho. —Achei que todos nós merecíamos um pouco de alegria depois do ano que conquistamos. — Seu olhar escureceu. —O vampiro cortando Rip... E Honoria, perdendo o pai dela assim.

Esme seguiu seu olhar para onde sua esposa se enrolava sonolentamente em uma cadeira. —Ela parece contente.

O sorriso de Blade suavizou - palavras suficientes. Então ele se virou e deu-lhe um olhar direto. —Considerando que você não tirou a pele de mim na outra noite, suponho que vocês dois se reconciliaram?

Seu olhar baixou para sua taça de vinho. —Talvez eu esteja apenas planejando minha vingança contra você.

—Você se lembra —, ele perguntou levemente, —quando você roubou os diários de Honor? Acredito que o termo que usei então foi intromissão.

—Eu preferiria que você não fizesse. — Ela disse a ele com firmeza.

Blade sorriu, sabendo que tinha sido perdoado. —Você vai me dizer o que está acontecendo?

—Rip e eu chegamos a um acordo —, respondeu ela, levantando-se. —E isso é tudo que vou dizer.

—Você é um demônio, Esme.

Ela sorriu para ele ao cruzar a sala.

Horas depois, as crianças começaram a subir para a cama.

—Eu estou subindo também. — Rip se espreguiçou com indiferença, seus olhos encontrando os dela por apenas um segundo antes de ele desviar o olhar. Esse segundo foi o suficiente para chamuscar todo o seu corpo.

Esme olhou para sua xícara de chá enquanto ele se levantava. Ela podia sentir os olhos de Blade nos dois. Ela demoraria na cozinha, deixaria Rip se aposentar muito antes que ela mesma subisse as escadas. Pondo de lado a xícara de chá, ela acenou com a cabeça para ele. —Tenha uma boa noite de sono.

Seus olhos brilharam. —Eu irei.

Varrendo para a cozinha, Esme ouviu o som de conversas atrás dela enquanto examinava a bagunça. O chá ajudou a clarear sua cabeça, mas ela não estava com vontade de limpar.

Quem se importava se Blade a visse? Hora de relaxar, de ir para a cama e talvez ver até onde ela poderia empurrar seu amante...

Ainda assim, velhos hábitos morriam dificilmente e Esme levou o par de velhas garrafas de leite para colocá-las perto do arco na alvenaria que dava para a rua atrás do Cortiço. Elas seriam recolhidas pela manhã e a tarefa não esperaria.

Abaixando-se, ela aninhou as garrafas de leite na velha caixa deixada lá para serem coletadas. Um ruído soou atrás dela e Esme levantou a cabeça, olhando para o escuro.

—Olá? — Ela chamou. —Tem alguém ai?

Apenas o silêncio suave dos flocos de neve à deriva respondeu a ela. Ainda assim, ela não conseguia escapar da sensação de que não estava sozinha.

Seu batimento cardíaco acelerou e Esme puxou o xale para perto de seus ombros. Dando um passo nervoso para trás, ela continuou olhando ao redor.

O movimento mudou atrás dela, uma mão tapando sua boca e puxando sua cabeça para trás. Ela foi empurrada com força contra o corpo esguio de um homem, algo afiado pressionando em sua garganta e acalmando o grito que ferveu lá.

Esme congelou.

—Isso mesmo, pomba —, sussurrou um homem em uma gíria gutural. Ele fedia a podridão, como se ele próprio tivesse rastejado direto do cemitério. Ou talvez ele tenha trabalhado com alguma forma de morte? —Faça um som e eu cortarei sua garganta, você entendeu?

Esme assentiu com cuidado. O que ela poderia fazer? Enquanto seus olhos rolavam, ela teve um vislumbre da luz quente brilhando nas janelas de sua cozinha. Tão perto da segurança...

E ainda assim.

O hálito quente agitou-se em sua orelha e a mão de seu agressor relaxou, embora não tenha deixado seus lábios. —Meu nome é Bill Higgins e eu queria ter uma palavrinha com você. — Ele riu asperamente. —Seus homens pensam que são tão espertos, não é? Sim, bem, eles deveriam cuidar de suas costas um pouco mais de perto. — Uma mão deslizou sobre seus seios, fazendo-a estremecer. Ele riu de novo, o som áspero como cascalho. — E aqui estou eu, roubando sua joaninha bem debaixo de seus narizes. Não são tão espertos agora, são?

Lágrimas quentes e úmidas deslizaram por suas bochechas enquanto ele beijava sua garganta. O gancho se cravou na carne tenra e algo quente deslizou para baixo em sua clavícula. Higgins o lambeu, sugando a pele com ternura e fazendo-a se encolher. Sob as saias, ela raspou um A na neve com o dedo do pé, movendo-se lenta e cuidadosamente. Então o J e o U.

—Agora, venha comigo e fique quieta —, ele sussurrou. —Vamos nos conhecer um pouco melhor, certo?

Ela nunca teve a chance de rastrear a letra D e A.


Capitulo 10


Rip relaxou de volta na cama, colocando a cabeça na mão. Seu braço mecânico estava frio e imóvel na cama ao lado dele. Olhando para o teto, ele ouviu cada rangido enquanto as pessoas procuravam suas camas, sua respiração presa a cada som, em seguida, liberando quando ele percebeu que não era Esme.

A casa ficou imóvel.

Nada além de silêncio, seus ouvidos quase zumbindo enquanto ele tentava ouvi-la. Seus aposentos ficavam diretamente acima da cozinha e, embora ele normalmente pudesse ouvi-la se movendo lá embaixo - na verdade, ele havia passado muitas noites ouvindo-a - não havia som agora.

Ela não teria ido para a própria cama, não é?

Rip franziu a testa. Aquele olhar que ele deu a ela falou muito e o pequeno sorriso que ela tentou esconder foi uma resposta que ela poderia ter proferido.

Ele tirou as pernas da cama e pegou a camisa. Vestindo-se rapidamente, ele abriu a porta de seu quarto e foi procurá-la.

Não em seu quarto. Nem a parte inferior da casa. A lareira da cozinha brilhava nas sombras, o avental de Esme caído desamparadamente no banco. Rip o pegou, mas o material estava frio. Um formigamento incômodo percorreu sua nuca.

A porta dos fundos sacudiu sob seu toque. Bloqueada. Ela não poderia estar lá fora. Virando-se, ele passou o olhar pela cozinha como se isso lhe dissesse onde ela estava.

O que ela costuma fazer? Suas panelas foram todas guardadas, algumas ainda descansando na pia para amanhã. Abrindo a porta que levava ao porão e a sala de gelo onde Blade mantinha seu sangue gelado, ele tentou cheirá-la. Nenhuma coisa.

Talvez ela tenha caído? Ele desceu correndo as escadas, mas não havia sinal dela. A batida de seu coração começou a bater um pouco mais forte.

—Esme? — Ele sussurrou, mas ninguém respondeu.

Passando a mão pela barba por fazer, ele subiu de volta para a cozinha. Passos rangeram na escada principal que levava para cima e ele soltou um suspiro aliviado. Finalmente.

Empurrando para a sala de estar, ele parou em seu caminho enquanto Blade diminuía a velocidade, olhando-o com curiosidade da escada.

—O que você está fazendo? — Blade perguntou.

—Você não viu Esme? — Ele perguntou, seu peito apertando. —Ela não esteve com você? — Não era esperado agora que Blade tomasse seu sangue de Honoria, mas valeu a pena a pergunta.

Blade balançou a cabeça. —Não. Não a vi. — Sua voz endureceu. —Por que?

—Ela deveria ficar comigo esta noite, — Rip deixou escapar. —Não consigo encontrar ela.

Os nós dos dedos de Blade se apertaram nos trilhos da escada enquanto eles se encaravam. —Ela estava na cozinha, — ele disse finalmente. —Guardando as coisas pela última vez que a vi. Você continua procurando. Vou acordar os rapazes, ver se alguém sabe.

Seu tom permaneceu uniforme, mas Rip viu o olhar nos olhos de seu mestre e o gelou profundamente.

Blade trovejou escada acima e Rip voltou para a cozinha. Talvez ela tenha sido trancada? Blade ou um dos rapazes costumava fazer uma última verificação em todas as portas antes de ir para a cama. Ele a abriu e olhou para o quintal.

A neve brilhava ao luar. O suficiente para ele ver o leve rastro das saias de alguém.

Rip caminhou para fora, seus nervos coçando ao longo de sua pele. Pela fraqueza da impressão, ela ficou do lado de fora tempo suficiente para que a neve começasse a enchê-la.

As garrafas de leite estavam todas empilhadas ordenadamente em sua caixa. Ele se ajoelhou na sombra do arco, as pontas dos dedos pressionando em uma linha estranha. Quase... uma letra. Graças a Deus Esme o ensinou a ler um pouco. Ele traçou o A com uma carranca. J, outra que quase foi apagada pelas saias dela. AJ?

AJU...

Seu sangue gelou. Ajuda. Com uma onda de suas coxas, ele se endireitou e saiu para a pista de trás. Não havia ninguém à vista, mas o rastro de suas saias se arrastava em direção à rua. Rip deu três passos antes de sentir o cheiro.

Sangue.

Uma pequena gota de sangue na neve.

—Blade! — Ele estava correndo antes que percebesse, seus pulmões parando no peito. Não, não, não. Este foi seu pior pesadelo. Ele soube imediatamente o que havia acontecido e como. Higgins. Isso era exatamente o que o idiota vingativo faria agora que Rip e Blade mataram vários de seus homens.

O pensamento o fez sentir-se mal. Esme não. Qualquer um menos Esme. Por que diabos ela não gritou? A única razão pela qual ela não teria, seria se ela não pudesse.

Ofegante, ele cambaleou para a rua. Os sulcos das rodas e os passos transformaram a neve em lama, o rastro de Esme desaparecendo com o eco de milhares de outros. Rip girou nos calcanhares, embora soubesse o que iria encontrar. Ele estava na cama há quase meia hora. Tempo mais do que suficiente para desaparecer com ela se alguém soubesse como.

Foda-se. Ele passou as mãos pela cabeça. Nenhuma alma permaneceu nas ruas e as cortinas estavam fechadas na maioria das janelas. Ele perderia seu tempo - e fôlego - questionando as pessoas. Whitechapel era o tipo de lugar onde ninguém nunca via nada.

—Rip? — Blade diminuiu a velocidade no final da pista, Will em seus calcanhares. —Você a viu?

Ele balançou a cabeça, a garganta tão grossa que mal conseguia falar. — Não. — A palavra saiu rouca e quase inaudível. Ele tentou novamente. —É aquele Golpeador. Eu sei isso. Eu vi um pouco de sangue na neve lá atrás... —Ele perdeu a habilidade de falar novamente, sua garganta fechando completamente.

—Sim, — Blade murmurou, batendo a mão em seu ombro. —Bem, é um erro desta vez. — Com os olhos brilhando, ele examinou a rua. —Nós vamos pegá-la de volta, Rip. Juro. E então vou esfolá-lo vivo por isso.

 


Uma hora depois, eles se encontraram novamente no cruzamento de Petticoat Lane. Rip estava encharcado na água gelada dos esgotos, tremendo tanto que ele mal conseguia ficar em pé. A raiva nele estava crescendo, a fome rastejando sobre ele como o peso ameaçador de uma avalanche. A única coisa que o mantinha sob controle era o pensamento de que, se ele perdesse o controle, nunca a encontraria. Ele precisava ser racional para isso.

—Sem sinal? — Blade perguntou.

—Químico, — ele conseguiu sufocar, sua garganta e nariz queimando com o cheiro. Ele sentiu que nunca iria tirar o cheiro de seu nariz. —Uma daquelas bombas químicas que eles têm usado.

Will se ajoelhou na neve, seus olhos âmbar brilhando ao luar. Tão perto do limite quanto Rip à sua maneira. —Não encontrei nada, — ele rosnou em frustração, seus próprios olhos avermelhados. —Cada túnel fede a produtos químicos. Não posso cheirar nada agora.

—Ele planejou isso, — Blade murmurou, olhando para a rua. —Sabia quais são os nossos pontos fortes. Ai nós trabalhamos. Foda-se.

—O que você quer que façamos? — Will perguntou. —Despertar as ruas? Ver se alguém viu algo?

—Isso vai levar horas. — Rip retrucou. — E Esme não tem tanto tempo.

Quanto tempo Higgins levou para levá-la de volta ao seu covil escondido? Quanto tempo para prendê-la à mesa, para inserir as agulhas em suas veias que lentamente roubariam sua vida? Quanto tempo até que ela não fosse nada mais do que uma casca seca da mulher que ela tinha sido?

Rip girou e chutou uma pilha de caixotes contra o canto, enviando restos e lixo pelos ares. As ruas ficaram pretas e brancas; a cor de um cemitério.

Alguém agarrou seu pulso mecânico e ele girou, preparado para atacar. Will pegou seu punho antes que pudesse pousar, puxando seu braço para trás e Rip olhou para o rosto de seu mestre.

—Ela precisa de você, — Blade disse, deixando sua mão mecânica ir. —Controle-se. Agora.

Rip fechou os olhos e respirou fundo. Queria matar. Queria destruir algo, qualquer coisa para parar esse terror indefeso e maldito. Seus ombros caíram quando a raiva e a fúria saíram dele. Blade estava certo. Ele não ajudava Esme nessa condição.

Piscando, a cor do mundo estalando de volta sobre ele novamente, ele se virou para encarar o olhar ardente de Will. —Deixe-me ir.

Will o deixou ir e deu um passo para trás, fora de alcance. —Alguém precisa saber onde o Higgins está escondido. Se ele for um Golpeador, estará vendendo o sangue nas fábricas de drenagem. Alguém lá compra às escondidas; eles saberão como contatá-lo.

—Vá, — Blade rebateu. —E seja rápido. Vou olhar aqui embaixo novamente, ver se consigo descobrir algum rastro de cheiro. Talvez esse produto químico esteja passando. — Ele acenou com a cabeça para Rip. —Você vai se juntar a mim?

Químico.

Rip olhou para ele. —De onde ele está tirando o produto químico? — Ele deu um passo para trás, sua mente girando de repente. Está ficando difícil encontrar corpos, Rip. A súbita lembrança da sala de exames do Dr. Creavey veio à mente. E o cheiro de tirar o fôlego de tudo o que ele usava para preservar aqueles espécimes em todos os frascos.

A mulher na mesa de exame, seus pulsos cortados e seu corpo assustadoramente pálido. Como se sua vida tivesse sido drenada. Rip praguejou baixinho. Sob seu nariz o tempo todo e ele não percebeu até agora.

Qual a melhor maneira de esconder os corpos drenados do que dá-los a alguém que se certificaria de que nunca mais fossem vistos? E provavelmente pagaria por eles no processo.

—Tive uma ideia, — ele rosnou. —Vou visitar um velho amigo.

Blade acenou com a cabeça. —Mova-se rápido e fique atento. Estarei no Subterrâneo.

—Sim. — Todos eles acenaram um para o outro.

—Você vê algo e assobia. — Blade disse, referindo-se ao assobio que atravessaria cada um de seus ouvidos a quilômetros de distância. Nada humano iria ouvi-los, mas o som faria os cães latirem e passassem por Rip como um furador de gelo até o cérebro.

—Se você não encontrar nada, então nos encontraremos de volta aqui e no nosso ponto. — Disse Rip, rezando baixinho para não vê-los novamente até que Esme fosse encontrada.

 


Rip recuou e deu um chute forte no meio da porta. A madeira estilhaçou com um estrondo satisfatório e ele abriu caminho. —Creavey? — Ele gritou. —Você está aqui?

Uma luz ganhou vida quando alguém acendeu apressadamente uma lamparina. O olhar predador de Rip focou nele com uma intensidade mortal. Ele estava se movendo antes de pensar, empurrando a porta para os aposentos pessoais de Creavey.

Fotografias cobriam as paredes. Imagens granuladas de corpos nas mesas de exame e os frascos no laboratório de Creavey. Rip desviou o olhar com nojo e encontrou sua presa encolhida junto a uma poltrona estofada em sua camisola manchada. A lamparina queimava em uma pequena mesa, ao lado de um livro sobre dissecação e um bule de chá.

—Cristo —, disparou Creavey. — Você quase me matou de susto, Rip. O que você está fazendo aqui a esta hora?

Rip avançou e agarrou o médico pelo pescoço. Ele o jogou contra a parede, as fotos flutuando como mariposas morrendo no chão enquanto ele rosnava.

—De onde vocês vêm tirando seus corpos? — ele perdeu a cabeça. —Você tem dado a alguém frascos de formol?

A cor sumiu do rosto de Creavey. —Não sei do que você está... falando...— ele engasgou.

Rip se inclinou para frente, seus dedos mecânicos se fechando mais apertados quando Creavey fez um som estrangulado. —Tentando encontrar corpos —, ele retrucou. —Isso é o que você disse e eu vi aquela garota o que eu pensei que fez a mesma coisa. Dreno de sangue. Você ainda tem ela? Eu ficaria curioso para saber se há alguma marca de agulha em seus cotovelos, ou mais cortes em sua garganta e coxas. É assim que eles fazem. — Ele bateu Creavey contra a parede. —Isso é o que os Golpeadores fazem quando amarram alguém.

De repente, ele imaginou Esme deitada na mesa de exame de Creavey, seu corpo pálido e leves marcas de sangue em seu pulso. Não. Ele não chegaria muito tarde. Ele não iria. O pensamento o atravessou como uma espada e, enquanto piscava, percebeu que Creavey estava ficando roxo.

Rip o soltou e deu um passo para trás quando o homem caiu no chão, prendendo a respiração pela garganta gravemente machucada. Ele se ajoelhou, olhando nos olhos aterrorizados do homem. —Agora, eu não tenho muito tempo. Nem paciência. — A escuridão cintilou por trás de sua visão, mas ele a controlou. Mais tarde. —Você conhece a governanta de Blade?

Creavey acenou com a cabeça bruscamente.

—Os Golpeadores a pegaram, — Rip disse em uma voz calma e mortalmente suave. —E eu quero ela de volta. Um homem chamado Higgins. Você ouviu falar dele? Você sabe onde ele mora?

O fedor de urina inundou a sala. — Não— engasgou Creavey. —Disse que me mataria se eu dissesse alguma coisa.

A escuridão obliterou tudo. A próxima coisa que Rip soube foi que Creavey estava gritando quando Rip o empurrou para baixo em uma das mesas de exame de aço frio no laboratório. Prendendo-o pela garganta, ele puxou uma pequena mesa com rodinhas para mais perto, com sua bandeja de instrumentos de aparência maligna.

—Ele está com a minha mulher —, ele se ouviu dizer. —E você acha que é o maior perigo no momento? — Sua mão fechou-se sobre algo afiado. Ele o ergueu. —Ele pode matar você. Alguns diriam que seria uma misericórdia para o que pretendo.

Enquanto Creavey gritava, Rip ergueu o aparelho. Uma pequena roda afiada como uma navalha, de alguma descrição. Ele girou a manivela presa ao cabo e a navalha de repente começou a girar, a luz brilhando em suas pontas com um zumbido.

—Agora eu, — ele sussurrou. —Eu não pretendo matar você de jeito nenhum.

Os dedos de Creavey envolveram o aço frio de sua mão mecânica. —Eu vou... contar...— A espuma borbulhava em seus lábios enquanto seu olhar se fixava no aparelho que Rip segurava.

Rip deu um passo para trás.

O médico pulou da mesa para o canto da sala, onde se encolheu. —Não consegui pegar os corpos. — Ele começou a chorar. —Os casacos de metal do Escalão começaram a patrulhar os cemitérios à noite. O que eu deveria fazer?

Rip olhou para ele. Como qualquer homem poderia fazer uma coisa tão vil estava além dele. Ele jogou a serra circular de lado. —Então você começou a comprá-los dos malditos Golpeadores? — Ele chutou a mesa com rodinhas para o lado e os implementos de metal espalhados por toda parte. —Sabe o que eles fazem às pessoas?

—É mais fácil examinar os tecidos —, sussurrou Creavey. —Sem todo o sangue do corpo.

Uma veia na têmpora de Rip latejava. —Onde está?

—Não sei —, soluçou Creavey. —Eu não. Eu juro que não! Acabei de entregar o formaldeído na parte de trás de um boticário em Bethnal Green. Eles têm os corpos ali, escondidos em um galpão nos fundos. Eu acho... eu acho que há um túnel que desce para o Subterrâneo no galpão.

Os pensamentos correram por seu cérebro; um mapa das ruas próximas. —Por boticário, você quer dizer antro de ópio? Madame Lius?

Creavey assentiu.

Fortemente defendido por uma das gangues que comanda essa parte da cidade. O punho de Rip cerrou-se. —Não saia da área —, ele retrucou. —Ainda tenho palavras para falar com você.

Então ele se virou e deixou o médico tremendo atrás dele.


Capitulo 11


—Não! — Esme chutou quando o homem a empurrou de volta contra a maca. —Não! — Ela gritou quando ele puxou seu braço para trás e apertou uma tira de couro em torno dele.

A sala estava úmida e fria, escondida nas profundezas do Subterrâneo. Eles passaram por dezenas de Golpeadores no caminho, espalhando líquido incolor por todos os túneis de enormes potes de vidro. O fedor tirou seu fôlego e ela sabia qual era seu propósito.

Ninguém seria capaz de rastreá-la pelo cheiro. Blade não. Não Will. Nem mesmo Rip.

Ela mexeu no algodão das mangas para tentar deixar fios para trás, mas o esgoto estava escuro e a água lavou o algodão. Enquanto Higgins a puxava através de um túnel, Esme arrancou o cetim preto de sua garganta e enrolou a mão em torno do pequeno “E” prateado até encontrar um local adequado. Então ela deliberadamente tropeçou e deixou cair o colar pouco antes de Higgins empurrá-la profundamente no sistema de túneis que gerou sua casa.

—Fique quieta. — Higgins rosnou, acenando o gancho em sua mão para ela em advertência.

O medo dela há muito havia desaparecido. Se ele conseguisse prendê-la, ele a mataria de qualquer maneira. Ela deu um chute e Higgins cambaleou de volta para uma bandeja de implementos enferrujados. Ele olhou para ela com um brilho assassino nos olhos e Esme rolou, tentando puxar a alça em seu pulso esquerdo.

O gancho afundou na mesa de aço a alguns centímetros de seu nariz e Esme gritou e recuou. Higgins se aproximou dela e agarrou seu pulso direito, prendendo-o com uma eficiência brutal.

—Eu te mataria por isso, — ele disse, então de repente riu. —Mas nós vamos fazer isso de qualquer maneira. E eu sempre digo, não desperdice, não queira.

Puxando suas saias, ele agarrou um de seus tornozelos e esticou-o. Esme se contorceu. As tiras de couro em torno de seus pulsos não cederam. Seu coração trovejou. Não. Por favor, não... Não assim.

Calhas corriam ao longo das bordas da mesa até um buraco na extremidade onde um tubo sifonava todo o líquido que espirrava em um enorme frasco de vidro que ficava no canto, quase da altura dela. A parte inferior estava aninhada em uma máquina de cobre reluzente.

Esme puxou novamente, seus olhos marejados de lágrimas. Rip. Onde estava Rip? Ela estava tão assustada que mal conseguia respirar, mas sabia que ele tinha vindo para ela. Assim que ele percebesse que ela estava faltando...

E se ele tivesse adormecido? Ou pensou que ela queria dormir em sua própria cama? Esme puxou novamente e a fivela que ela havia afrouxado em seu pulso esquerdo escorregou uma fração de centímetro.

Ela se acalmou, observando enquanto Higgins se virava para a bandeja de implementos. Um pequeno corcunda observava do canto, os olhos brilhando avidamente para ela. Esme não se atreveu a se mover. A criaturinha feia não tinha falado até agora, mas se visse que a correia se soltou um pouco, poderia soar o alarme.

Haveria apenas uma chance para isso.

Higgins pegou uma seringa hipodérmica de vidro com uma longa agulha oca. Ela tinha visto algo assim antes. A mãe de Tom frequentemente se injetava com morfina ou tinturas de ópio para aliviar a gota.

Os Golpeadores corromperam a seringa, no entanto, usando-a para tirar sangue em vez de injetar. Um tubo de borracha se estendia da extremidade dele em direção ao dispositivo de coleta no canto. —Modo, acione o dispositivo de filtração. — Higgins comandou.

O corcunda correu para a máquina e pôs as mãos enormes na manivela. Ele começou a girar, seu rosto tenso com o esforço. Ele acelerou e a caldeira estalou. Higgins abriu uma saída de ar e a caldeira tossiu, ganhando vida quando o oxigênio atingiu a pequena fogueira de carvão lá dentro. A coisa toda vibrou quando o corcunda parou de girar a manivela.

O barulho era horrível. Esme tentou deslizar o pulso para fora da alça de couro enquanto os dois observavam o dispositivo, mas prendeu na parte carnuda de sua mão. Não muito solto.

Venha. Ela puxou novamente, não chegando a lugar nenhum. Não importava para onde ela olhasse, seu olhar continuava se demorando na bandeja com sua terrível variedade de implementos; as seringas enganchadas no dispositivo de filtração, navalhas afiadas para cortar as veias e um enorme cutelo. Ela sabia para que era isso. Livrando-se de quaisquer corpos, os Golpeadores não queriam chamar atenção indesejada de volta para eles.

—Quase pronto, — Higgins murmurou, passando seu gancho sobre a vasilha de vidro brilhante com um guincho de aço. Ele olhou para ela. —É uma pena que estejamos tão mal, querida. Adoraria ficar e demorar um pouco. — Seu sorriso não deixou dúvidas sobre o que ele se referia. —Para torcer aquela lâmina um pouco mais fundo para ele. Ainda assim, adivinhe quando ele encontrar você - ou pedaços de você - não será o mesmo. — Higgins se aproximou, um sorriso sonhador em seus lábios. —Tenho pensado em enviar-lhe um pacote por mês. Um pequeno frasco cheio de formaldeído e talvez uma língua. Ou uma orelha.

—Isso se Rip não encontrar você. — Ela olhou de volta, forçando-se a nem mesmo pensar sobre as imagens que as palavras dele conjuravam. Se ela cedesse ao terror transformando seu peito em um vício, ela começaria a gritar e nunca pararia. —É por isso que você está com tanta pressa, não é? Porque você tem medo que ele encontre você.

Os olhos de Higgins se estreitaram. —Não vai me encontrar, bichinho. Enterrei a trilha bem e de maneira adequada. — Ele tocou os lábios dela com a ponta do gancho. —Matou muitos de meus homens, ele fez. Não me levou a sério. Não me considerou uma ameaça. — Suas palavras ficaram mais altas, os olhos brilhando. —Agora vou mostrar aquele mecanicista-bastardo o erro de seus caminhos. Tenho assistido. Vi vocês dois uma ou duas vezes. Vi você beijá-lo na rua quando eu estava planejando meu ataque. — Ele sorriu. —Agora vamos ver qual de nós vai acabar rindo.

Ele pegou uma das seringas. Esme se esforçou, mas ele conseguiu rasgar sua manga com o gancho e puxou um pequeno torniquete de couro ao redor de seu braço. A dor ao apertar fez sua visão nadar. Blade nunca tinha sido tão rude com ela quando costumava usar um torniquete nela.

Esme gritou quando Higgins prendeu seu braço impiedosamente com a pressão do gancho, deslizando a agulha em sua veia com a outra mão. A sucção súbita e gananciosa da máquina encheu o frasco da seringa em segundos, então o sangue jorrou na base da enorme lata no canto.

—Não! — Seus dedos estavam ficando frios até que ele soltou o torniquete com uma chave inglesa. A sensação da agulha formigou nela, um suor frio brotando por toda sua pele. Esme estava impotente para assistir enquanto ele se virava em direção à bandeja para buscar outra seringa.

Um rugido sem palavras ecoou pela sala. A cabeça de Esme empurrou em direção à porta.

—John! — Ela gritou. —John!

Seu coração trovejou para a vida em seu peito e ela puxou novamente. Sua mão deslizou um pouco mais pela correia de couro enquanto Higgins se movia em direção à porta.

—O que é isso? — Ele perdeu a cabeça.

A porta explodiu para dentro e Higgins voou para trás quando um homem foi arremessado por ela. Ambos derrubaram a bandeja de implementos, o pescoço do outro homem torcido em um ângulo alarmante.

Rip empurrou a porta com os ombros, seus olhos negros fixos nela. A respiração de Esme prendeu em um soluço e ela se contorceu contra as restrições, as lágrimas a cegando.

—Tenha cuidado —, ela gritou. —Por favor, seja cuidadoso.

Higgins veio para cima dele e Rip rugiu de fúria novamente, agarrando o gancho e enterrando-o bem fundo na mesa no canto. Higgins o puxou com os dentes à mostra, mas o gancho estava preso. Rip deu um passo à frente e deu um soco nele, dentes e sangue espirrando por toda parte.

O braço de Esme estava ficando frio. Ela olhou para o tubo e viu seu sangue sendo sugado para a máquina. —Depressa. — Ela chamou.

Rip se virou, seu olhar travando em seu braço. Então ele estava ao lado dela, arrancando a agulha de sua veia e pressionando o pequeno orifício. O sangue molhou seus dedos e Rip ergueu a mão, olhando para ele sem fôlego.

—John.. — Ela sussurrou.

Ele piscou e pressionou novamente.

—Cuidado com o...

Rip rugiu quando algo o atingiu por trás. Seu joelho esquerdo cedeu e ele atacou atrás de si enquanto o corcunda arrancava a adaga de sua coxa e a erguia de novo.

O corcunda voou pela sala, chocando-se contra a vasilha de vidro. Vidro choveu por toda parte enquanto ele era empalado em uma peça particularmente afiada.

—Não! — Higgins gritou, vindo da direita e afundando o gancho na lateral de Rip. Os dois lutaram, Rip cambaleando sobre a perna machucada.

Esme puxou a restrição de couro, a dor roubando seu fôlego enquanto sua pele raspava e rasgava. Então sua mão finalmente se soltou. Ela não perdeu tempo, alcançando a outra restrição e rasgando o couro.

Rip empurrou Higgins para a mesa, que se estilhaçou com o peso deles. Esme assistiu com horror quando Higgins dirigiu o gancho alto e o enterrou nas costas de Rip.

Ele vai se curar, ela disse a si mesma enquanto puxava as correias ao redor de seus pés. Era incrivelmente difícil matar um sangue azul. Mesmo assim... Não era impossível.

Empurrando para fora da mesa, ela cambaleou enquanto sua cabeça girava. Higgins ergueu o gancho novamente, a mão de Rip cerrada ao redor de sua garganta enquanto ele o segurava. Esme não precisava nem pensar. Ela viu o cutelo no chão a seus pés e o pegou, levantando o peso em sua mão como um velho amigo. Isso ela sabia.

O gancho de Higgin era como um frango depenado espalhado em sua prancha. Esme ergueu o cutelo bem alto enquanto o gancho descia e cortava seu braço até o osso.

Higgins gritou quando o sangue espirrou em seu rosto, quente e úmido. O cutelo estava preso e Esme o puxou, com bile na garganta. Ou talvez não exatamente como uma galinha. Ela engoliu em seco e ergueu-o novamente, determinada a concluir o trabalho. Seu homem já estava ferido. Nada mais iria machucá-lo.

O cutelo cortou desta vez e o gancho saiu voando. Toda a luta deixou Higgins e ele se debateu e gritou até que Rip puxou seu pescoço bruscamente para o lado.

Rip ergueu os olhos quando ela cambaleou. —Jesus.

Seu olhar travou no cutelo e Esme o deixou cair com um estremecimento, seu estômago revirando secamente. Ela não conseguia olhar para o gancho ainda se mexendo com o coto do braço ensanguentado. Em vez disso, ela pegou Rip por baixo do ombro e o colocou em uma posição sentada.

—Você está bem? — Ela sussurrou, observando o brilho negro sumir de seus olhos.

Rip piscou para si mesmo, como se acabasse de notar seus ferimentos. Ele provavelmente estava. Enquanto nas garras do desejo, um sangue azul era impenetrável a qualquer coisa que não fosse seu alvo pretendido.

Esme examinou seu lado, encorajando-o a se inclinar para frente. O sangue manchava sua camisa e o ferimento estava fechando lentamente. —Você não tem bebido sangue suficiente, — ela murmurou. —Isso deveria ter sarado.

Respirando fundo, ela pegou uma das navalhas que ainda estava na bandeja no chão.

—Não. — Rip pegou a mão dela, balançando a cabeça, seus olhos negros como a noite novamente. —Não.

Ele estava cambaleando, entretanto, a perda de sangue e a privação forçada o tornavam mais fraco do que deveria. Esme montou em suas coxas, trazendo a navalha em seu pulso em um pequeno movimento afiado que a fez silvar entre os dentes.

—Você precisa disso. — Ela disse a ele, levando o pulso à boca dele.

As narinas de Rip dilataram-se e ele tentou, sem entusiasmo, afastar a mão dela novamente. Mas o cheiro de seu sangue atraiu seu olhar como uma cobra sendo hipnotizada e de repente ele não estava mais a afastando.

Seus lábios se fecharam sobre seu pulso, um gemido áspero enchendo o ar. Esme engasgou quando a língua dele deslizou sobre sua pele, o calor inundando seu corpo. Cada doce puxão de sua boca era como uma mão quente acariciando entre suas pernas. Abrindo os lábios, ela balançou contra ele, montando em sua coxa. —Sim, — ela sussurrou, sentindo a queimadura profunda. — Sim.

Ela podia sentir o batimento cardíaco dele batendo contra ela como se fosse seu. Ecoando a pulsação entre suas coxas, acendendo seu sangue até que ela se sentiu como se estivesse pegando fogo.

Seus dedos formigaram, lembrando-a de que ele não era o único que perdeu sangue hoje. —Rip —, ela sussurrou. —Você tem que parar.

Não importa o quão bom isso seja. Quão perto do limite ela estava. A pequena morte, em toda a sua realidade. Esme mordeu o lábio. —John!

Rip engasgou, empurrando a mão dela. O sangue manchou seus lábios e ele os lambeu, olhando para ela com aqueles olhos negros perversos. Suas narinas dilataram-se como se farejassem sangue. —Cubra-o —, ele murmurou roucamente. —Antes que eu não consiga me impedir.

Esme arrancou uma tira de sua saia. A ferida já estava cicatrizando, cortesia de sua saliva. Poucas servas possuíam cicatrizes; apenas aquelas cujo mestre pouco se importava para limpar a ferida depois ou cujos níveis de vírus não eram fortes o suficiente. Ela suportaria esta, ela imaginou, pois ela não ousaria pedir a ele para lambê-la.

Um sinal de sua marca em seu corpo.

Para sempre.

Esme sorriu e encostou a testa na dele, seu corpo subindo e descendo com a respiração dele. Ela segurou seu rosto e beijou seus lábios levemente, saboreando cobre, afiado e doce. —Eu sabia que você viria, — ela sussurrou. —Eu sabia o tempo todo que você viria por mim.

Rip a beijou com força. —Sempre meu amor.


Capitulo 12


Esme cantarolava baixinho enquanto cortava uma cenoura em cubos, empunhando a faca quase tão facilmente quanto Rip podia com uma adaga. É claro que a maneira como ele usava era totalmente diferente para ela. Ou talvez não. Seu sorriso se desvaneceu quando um lampejo do cutelo cortando o osso sólido a atingiu.

Semanas atrás. Mas a memória ainda estava fresca como ontem. E tão inquietante quanto.

A porta da cozinha se abriu e as sobrancelhas de Rip arquearam quando ela se encolheu, seus dedos se curvando sobre a faca. Ele bateu os sapatos na porta, se livrando da neve e então puxou o colarinho para cima. A maior parte da neve derreteu, mas a noite anterior deixou cair um último cobertor branco sobre Londres.

Ele apreciou a propagação de vegetais em cubos e cordeiro. —Escondidinho. Costumava ser meu favorito. — Ele raramente comia agora; ele não precisava. Às vezes, só mordidas, para saborear o sabor.

—Costumava ser? — Ela perguntou com um sorriso enquanto ele passava os braços em volta dela e a puxava de volta contra o peito.

—Mmm. — Rip respirou seu perfume, a aspereza de sua barba por fazer áspera seu pescoço. —Eu tenho uma nova favorita agora.

Ela. O pensamento a emocionou. Na noite anterior, eles compartilharam outro derramamento de sangue controlado. Ele ainda bebia a maior parte de seu sangue frio, mas estava se tornando mais fácil para ele se controlar. E talvez o medo de machucá-la fosse maior do que o risco real. Não importa o quanto a fome o levasse, mesmo seu lado mais sombrio parecia protetor com ela.

—Você deveria vir para fora —, disse ele. —Tenho algo para mostrar a você.

—Eu tenho que fazer o jantar. — Ainda assim, ela se inclinou em seu abraço enquanto seus lábios traçavam o lado de seu pescoço. —Talvez... Talvez só por um momento. — Um suspiro, e então ele a soltou.

—Pedi a Lena para cozinhar —, disse ele. —Você merece uma tarde de folga e o que tenho para lhe mostrar pode demorar mais do que um minuto.

Esme se virou em seus braços. —Um presente?

Um olhar divertido suavizou a aspereza de seu rosto. —Você está ficando ‘gananciosa”.

Ele a enchia de presentes desde que a recebeu de volta. Livros que encontrava nos mercados, pedaços de fita, um par de luvas que deve ter custado uma pequena fortuna... Os presentes eram avassaladores, mas Esme não teve coragem de repreendê-lo. Ela viu o prazer que ele sentia em encontrar algo para agradá-la e sabia que ele nunca tivera isso antes. Alguém em quem dedicar sua atenção. Braços quentes que se abriam toda vez que ele se virava para ela. E um sorriso e um beijo especialmente para ele.

Seu gigante gentil. Tão feroz por fora e estranhamente macio por baixo.

—Mostre-me. — Ela sussurrou.

Com um sorriso quase infantil, Rip deslizou seus dedos mecânicos pelos dela e a conduziu até a porta. O gesto não passou despercebido por ela.

Do lado de fora, as crianças brincavam, Meggie observava melancolicamente da varanda enquanto Lark empurrava Charlie de rosto para baixo e colocava um punhado de neve nas costas de sua camisa. Ele pode ser um sangue azul agora, mas Lark conhecia todos os truques sujos do livro.

Contornando o quintal, Rip a conduziu aos velhos estábulos. —Vire-se. — Ele murmurou.

—Por que?

Um lenço de seda se desemaranhou em seus dedos e então ele o envolveu em seus olhos, vendando-a efetivamente. A seda farfalhou sobre sua pele. Esme respirou fundo quando ele deu um nó atrás de sua cabeça. —John?

—Confie em mim.

—Sempre. — Ela admitiu, deixando-o pegar sua mão novamente. Ele a levou para frente e Esme hesitante o seguiu.

—Há um passo. — Ele murmurou, tentando ajudá-la.

As botas de Esme escorregaram na borda e ela tropeçou. No próximo segundo ele a ergueu em seus braços.

—Isso é melhor.

—Eu concordo. — Ela respondeu, descansando as pontas dos dedos contra o peito dele. Seu batimento cardíaco acelerou em um bom ritmo. Estranho. Como se ele estivesse nervoso.

A porta se fechou e Rip empurrou a trava no lugar. Travando-os. Mesmo com a queda repentina da escuridão, Esme podia sentir a luz bruxuleante. Talvez velas.

—John, o que você está fazendo?

—Você pode tirar a venda agora. — Ele disse simplesmente.

Esme puxou-a quando ele a colocou no chão, seus olhos se arregalando enquanto ela olhava para o lugar. Foi transformado. Toda a mobília armazenada havia sumido, substituída por um punhado de peças entalhadas de bom gosto e uma cortina de damasco dourada que cobria metade do cômodo, acenando provocadoramente para algo além. Centenas de pequenas velas foram colocadas em potes velhos até que ela se sentiu como se estivesse no centro de um lustre. Elas estavam em todas as superfícies disponíveis e um caminho delas conduzia em direção à cortina.

—O que - o que tudo isso significa? — Ela sussurrou, girando em círculos e examinando o cômodo. Parecia quase uma sala de estar, com a velha lareira limpa e um par de sofás bordados sobre um tapete.

—Achamos que precisávamos de um lugar só para nós —, disse Rip, uma das mãos apoiada na viga suspensa acima. Ele a observou atentamente, como se tentasse examinar sua expressão. —No entanto, é perto de casa - agradável e segura. Só... —E aqui ele tropeçou, notas de vermelho subindo por suas bochechas enquanto seus olhos caíam. —Se você quisesse. Pensei que nós dois...

As palavras sumiram.

—Eu amei isso. — Disse ela, ainda girando em pequenos círculos. Ela amava o Cortiço com todo o seu barulho e risos agitados, mas nunca tivera um lugar próprio. Um lugar só para eles.

—Você gostou? — Ele soltou um suspiro de alívio e a seguiu enquanto ela se dirigia para a cortina.

—O que você está se escondendo aqui? — Ela puxou-a para trás e olhou para a enorme cama de ferro fundido branco, com sua colcha rosa e branca imaculada e o monte de travesseiros fofos. Velas arrastavam-se pela secretaria polida e pela enorme banheira de cobre no canto. Uma nova torneira brilhou na parede. Água quente, só para ela.

—Honoria me ajudou a escolher todas as almofadas e enfeites. — Admitiu Rip.

—Como diabos você conseguiu tudo isso sem eu saber? — Ela deu um passo à frente, arrastando os dedos sobre a colcha macia. Era bonito. Perfeito. A luz das velas turvou enquanto as lágrimas de felicidade inundaram seus olhos.

—Lembra daquelas vezes que Lena levou você às compras nas últimas semanas? — Diante do olhar incrédulo dela, ele riu. —Blade e Will me ajudaram com as coisas importantes. Homem de Lata também. Só quando você não estava aqui.

As viagens de compras. Percorrendo a chapelaria enquanto Lena tagarelava, procurando o tom exato de algodão que queria para o vestido. Algodão que nunca pareceu da cor certa.

—Não acredito que vocês estavam conspirando contra mim —, disse ela, girando de novo. O lenço de seda pendurado em seus dedos. Esme olhou para baixo, um sorriso suave surgindo em seus lábios. —Como eu poderia te agradecer?

Novamente suas bochechas coraram. —Você não tem que me agradecer, — ele disse rispidamente. —Eu gosto de fazer você sorrir.

Esme deslizou para a beira da cama, suas saias de veludo farfalhando sobre a colcha. Ela deu um tapinha na cama ao lado dela. —Talvez um beijo, para começar?

Rip se ajoelhou na cama, suas mãos agarrando as dela enquanto a colocava de costas. Esme olhou para ele, a luz das velas aquecendo sua pele. —Eu não direi não. — Ele brincou e se inclinou para roçar seus lábios nos dela.

Doendo, doce e tão tenro. Mas não era terno o que ela queria, não agora. Suas unhas cravaram nas costas de suas mãos enquanto seus dedos se apertavam, suas coxas se separando para dar as boas-vindas ao seu peso em cima dela.

Rip recuou, respirando com dificuldade. O brilho de obsidiana de seus olhos refletiu em uma centena de velas. Esme se livrou de seu aperto, seus braços deslizando ao redor de seu pescoço musculoso. Puxando sua cabeça para baixo, ela o beijou com força, roubando seu fôlego, sua língua correndo sobre a dele. Seus quadris deram uma pequena flexão provocante, levando-a para o colchão macio.

Esme virou o rosto, beijando sua bochecha e acariciando sua orelha. Seus dentinhos afiados se enredaram no lóbulo carnudo e ele engasgou, seus quadris empurrando com força, um som quase de angústia escapando de seus lábios.

—Você gosta disso? — Ela sussurrou, lambendo a marca de seus dentes.

—Gosto disso? — Ele estremeceu. —Eu amo isso.

Esme colocou a mão em seu ombro e empurrou. —Role.

Ele obedeceu, caindo de costas com ela montada nele. A ironia de ver seu gigante feroz deitado em meio a centímetros de algodão branco e rosa fofo a fez sorrir. Passando as mãos por baixo do casaco dele, ela o colocou sobre os ombros dele, prendendo-o efetivamente.

—E agora você é todo meu. — Ela sussurrou, inclinando-se para frente e desamarrando o lenço vermelho em sua garganta. Seus dedos ágeis dispararam sobre os botões de sua camisa e quando cada centímetro da tentadora pele dourada foi revelada, ela o lambeu, girando a língua em torno de seus mamilos e os pegando entre os dentes.

—Esme. — A mão dele deslizou pelo cabelo dela, destruindo seu coque. Não para afastá-la ou puxá-la para mais perto, mas simplesmente para abraçá-la. Como se ele não conseguisse decidir o que fazer.

Ela beijou sua garganta e então sussurrou em seu ouvido: —Eu te amo. Todo você. Cada centímetro perversamente delicioso.

Os braços de Rip enrolaram em torno dela e ele a segurou perto, seu corpo rígido, como se ele não pudesse acreditar nas palavras. Esme aproveitou a chance de deslizar a mão entre eles, os dedos correndo sob a cintura dele.

Ele prendeu a respiração entre os dentes. —Esme, eu não...

—Shhh. — ela sussurrou, seus dedos fechando sobre a suave sensação dele. Tão grosso e firme. Latejando sob seu toque. Desejando-a tanto que uma pérola escorregadia de sua semente brilhava úmida em sua ponta. Ela passou o polegar sobre ele, uma e outra vez e Rip jogou a cabeça para trás com um gemido.

—Eu vou parar se você não conseguir controlar isso —, ela sussurrou, —apenas me deixe agradar você.

A mão dele deslizou pelo cabelo dela, tremendo. Então ele acenou com a cabeça.

Esme puxou seus dedos livres e alcançou o comprimento de seda. —Segure-se na cama —, disse ela. —Eu vou amarrar você.

—Não vai me segurar. — Voz áspera. Olhos perversos.

—Eu sei. É um lembrete. Então, se você sentir que está chegando ao limite, pode ser capaz de se controlar. — Ela correu o comprimento da seda pelas mãos, seu sorriso se alargando. —Acho que gosto bastante de dizer a você o que fazer.

—Você? — Sua expressão prometia retribuição.

—Eu gosto.

Rip olhou para ela, então lentamente estendeu a mão para trás, o músculo em seu bíceps flexionando e as veias finas subindo pelo braço. Esme se inclinou para frente e rapidamente amarrou seu pulso na cama. Então ela usou a outra extremidade para amarrar sua mão mecânica.

Lentamente, suas mãos deslizaram para os botões de seu casaco. Rip observou com uma intensidade que a fez estremecer enquanto ela tirava o casaco e a camisa.

A saia demorou mais e exigiu que ela se levantasse. Cada camada lentamente formou uma poça na cama enquanto ela tirava a saia, a camisola e a anquinha. Esme se sentiu malvada enquanto se despia lentamente, deixando seu cabelo cair das tranças e cair em ondas soltas por suas costas.

—Cristo. — Os olhos de Rip a comeram, seus dedos se fechando em punhos. —Você é tão bonita.

E ela sentiu isso também, a maneira como ele olhou para ela. Selvagem, livre e totalmente sensual. Nenhuma governanta ou amiga, mas uma amante, seu olhar acariciando-a, tão líquido quanto qualquer toque.

—Mais. — Ele sussurrou e as mãos dela foram para a barbatana de metal duro de seu espartilho.

Ela puxou-a para fora até que ela vestisse apenas a camisola e as calçolas. Em seguida, elas também se agruparam em torno de seus tornozelos até que ela ficou acima dele na cama, sua pele brilhando pálida à luz das velas. Ela tinha um corpo de mulher, exuberante e cheio, sua barriga ligeiramente arredondada por provar cada prato que preparava. E ele adorou. Ela viu seu olhar travar em seus seios enquanto passava as mãos para cima e sobre eles, segurando seu peso rechonchudo.

Respirando com dificuldade, Rip se esforçou contra a seda.

Esme montou nele, as pontas escuras de seus mamilos implorando por sua boca. Rip lambeu um, os músculos de seu pescoço tensos. Seus dentes rasparam sobre ela, a forte pressão de sua ereção empurrando contra sua coxa. Esme gemeu e abaixou as mãos, puxando seus botões até que seu pênis se projetou livre. Ele derramou em suas mãos ansiosamente e Esme cerrou os dedos, trabalhando em seu comprimento enorme.

Ela adorava vê-lo se contorcer embaixo dela, os olhos fechados e a boca entreaberta enquanto ela arrancava cada suspiro dele. Ajoelhando-se, ela beijou seu estômago, puxando suas calças para baixo sobre seus quadris. Suas botas bateram no chão com um baque, então ela tirou as calças dele e deslizou entre suas coxas. Rip a observou com curiosidade e Esme lançou-lhe um sorriso malicioso.

Inclinando-se, ela pegou sua ereção na mão. —No entanto, posso agradecer?

—Esme. — Ele rosnou em advertência quando ela bombeou a mão sobre ele.

—Talvez você queira que eu te beije. — Inclinando-se, ela pressionou os lábios contra a pele macia de seus quadris. —Aqui?

Sua única resposta foi o som de sua respiração áspera.

—Ou talvez aqui? — Ela perguntou, arrastando a língua pela ranhura de seu quadril e contra a base de suas bolas. —Não? — Olhando para cima, ela sorriu para sua expressão atordoada. —Onde você quer que eu te beije?

—Você sabe onde...

—Diga.

—Meu pau. — Ele rosnou.

—John, — ela sussurrou em um tom chocado. —Que homem perverso você é.

—Sim, não acho que sou o único perverso...

O calor escaldante de sua boca sobre ele roubou seu fôlego e suas palavras. Esme tomou tanto dele quanto pôde, sua língua traçando círculos preguiçosos ao redor da cabeça dele.

—Cristo, Esme. — Ele estremeceu, sua ereção empurrando seus lábios. —Cristo, você é o diabo, mulher.

Outro suspiro.

Ela o trabalhou de forma úmida, amando cada momento disso. Vê-lo perder o controle, puxando inconscientemente suas amarras. Desesperado por ela. Ofegante. Amaldiçoando ela.

Ela não conseguiu se conter. Ela queria mais, queria senti-lo entre suas coxas. Deslizando as mãos sobre o peito dele, ela montou nele novamente.

—Esme. — Ele jogou a cabeça para trás, a espinha arqueando e ela estava perdida, doendo tanto que não conseguia parar de esfregar sua própria umidade secreta sobre ele.

Rip sibilou baixinho quando a ponta de seu pênis a separou. Uma mão se soltou da seda, depois a outra, apertando a pele lisa de seu traseiro. Empurrando-a para baixo até que ele se enterrou ao máximo dentro dela.

Esme jogou a cabeça para trás e gritou. —Sim. — Dedos curvando-se nos músculos rígidos de suas omoplatas quando ele se sentou. A ação a levou mais para baixo até que ela estava tão cheia, muito cheia dele.

Seus lábios frios em seu seio, dentes raspando, lambendo, sugando-a até que ela quisesse gritar. Ela mal podia se mover, mas ele a encorajou, as mãos massageando seu traseiro. Cada movimento de seus quadris a empurrava contra ele, a base de seu eixo cavalgando sobre a carne delicada entre suas coxas até que ela estremeceu. Tão perto de se separar, de se estilhaçar completamente.

—Mais. — Ele rosnou.

Mas ela mal conseguia se mover, ela estava tremendo muito. —Eu não posso... — Dentes afundando em seu lábio, ela gritou quando ele a raspou novamente.

Então ela caiu sobre as mãos e os joelhos quando ele saiu de dentro dela e ficou de joelhos atrás dela. Com as mãos firmes em seus quadris, ele dirigiu dentro dela até que Esme gritou de prazer, seus dedos enrolando na colcha. Tão profundo. Como se ele procurasse enterrar sua semente em seu corpo.

Um punho enrolou em seu cabelo, puxando-a suavemente. Ela se curvou para trás contra seu corpo, seus quadris arqueando obscenamente enquanto ele corria sua mão mecânica sobre seu estômago e para cima, segurando seus seios. O ângulo suavizou o impacto de suas estocadas. Então sua outra mão deslizou para baixo, separando seus cachos e mergulhando na umidade entre suas coxas.

—John. — Ela sussurrou, a sensação a percorrendo. Ela se apertou mais perto, querendo sentir cada centímetro, os músculos de sua coxa contra as costas dela e os dedos acariciando-a com fria posse. Saber exatamente onde tocar, exatamente o que fez seu corpo apertar, fogo líquido acendendo em suas veias.

Seu homem. Todo dela.

Ela gozou com um suspiro, estremecendo quando suas estocadas diminuíram e ele a forçou a cavalgar com uma lentidão requintada. Então ela caiu nas mãos, incapaz de suportar por mais tempo. —John, oh Deus, John.

Rip agarrou seus quadris, empurrando longo e forte. Ela podia sentir a tensão nele, seus dedos apertados na carne de seu traseiro, como se ele lutasse para se segurar. E ela não queria isso. Ela o queria ali com ela, perdendo-se no momento. Provando a si mesmo que sim. Chegando para trás, Esme segurou suas bolas, ouvindo sua exalação suave enquanto ele empurrava um pouco mais forte, um pouco mais fundo.

Seu corpo se apertou ao redor dele, um punho úmido e sedoso, enquanto ele estremecia e cavalgava sobre algo quente e sensível dentro dela. Esme estremeceu, seu corpo apertando novamente enquanto seus dedos inteligentes brincavam sobre ele.

—Meu Deus, amor. — Um suspiro rasgado de seus lábios. Sua vitória. Em seguida, ele empurrou com mais força, os dedos cavando enquanto ela apertava ainda mais...

Ela gritou de novo, apoiando a testa contra o antebraço na cama, sentindo um estremecimento profundo quando os dois gozaram. Ofegante, Rip desabando sobre ela... De alguma forma, eles se desembaraçaram e então ela estava em seus braços enquanto tentavam recuperar o fôlego. O suor alisando sua pele, sua semente molhando suas coxas.

—Esme, você é maravilhosa. — Rip beijou seu ombro, arrastando-a de volta em seus braços. —Tão linda, tão apertada pra caralho. — A barba por fazer raspou sua pele e ela ouviu uma risada suave. Como se ele não pudesse acreditar no que tinha acontecido.

Rolando, ela apoiou o queixo no peito dele e sorriu para ele. Um delicioso arrepio percorreu sua espinha quando o tremor percorreu seu corpo. —Você parece eminentemente satisfeito consigo mesmo.

Rip beijou seu nariz. —Eu estou. — Ele riu. —Comecei a pensar que nunca teria você. — Seu olhar ficou sério, a voz ficando rouca. —Não te incomodei, não é? Não posso mais julgar minha força.

—Eu acredito que vou ter hematomas em formato de impressão digital em meus quadris, mas sobrevivi. — Ela sorriu e o beijou. —Eu sou feita de uma matéria mais dura do que você acredita.

—Eu sei que você é. — As pontas dos dedos dele percorreram sua bochecha. —Você acha que fizemos um bebê? — Ele sussurrou, a voz áspera com desejo não suprimido.

—Você gostaria disso? — Ela perguntou, um pouco de hesitação a enchendo.

Eles nunca falaram sobre isso antes, mas ele tinha que saber os sentimentos dela sobre o assunto. Ela não conseguia olhar para uma criança sem sentir uma pontada de doce tristeza por dentro. E Rip... ele a conhecia tão bem. Às vezes, ela nem precisava falar por ele para saber o que ela estava pensando.

Exceto quando se tratava de seus sentimentos por ele, é claro.

Ela sorriu e traçou sua boca.

—Sim, eu gostaria, — ele respondeu rispidamente. Uma mão acariciou seu quadril com uma ternura que quase trouxe lágrimas aos seus olhos. Então seu sorriso se alargou; aquele sorriso perverso que sempre a fazia perder o fôlego. O único que ela conseguiu ver. —Acho que vou ter que providenciar para que eu engravide você. — Ele rolou sobre ela, patinando com as pontas dos dedos em seu estômago sensível. —Tenho quase certeza de que estou à altura do desafio.

Esme deslizou as mãos sobre os ombros dele. —Eu não serei uma mulher decaída, sabe?

—Sim, eu sei. — Ele beliscou seu ombro. —Tentando estragar todas as minhas surpresas, mulher?

—Surpresas?

Ele beijou seus seios, a barba por fazer raspando contra sua pele sensível. —Debaixo da cama, amor. Comprei outro presente para substituir o que você perdeu. Achei que desta vez o colocaria em um lugar mais seguro. Talvez seu dedo, sim? — Pegando a mão esquerda dela, ele a levou aos lábios e chupou o dedo anelar dela em sua boca, observando-a com aqueles olhos divertidos.

A respiração de Esme ficou presa. —Você está me pedindo em casamento?

—Sim. — Sua voz tornou-se áspera em um rosnado. —Sou um homem antiquado. Não um do Escalão com seus contratos de consorte. Eu nasci na rua e, aqui na rua, quando um rapaz gosta de uma garota, e pede para ficar, é isso e a garota é única.

Esme olhou para o lado da cama. Sua curiosidade era desenfreada para ver o anel e ele sabia disso. —Toda sua então?

—Minha—, ele concordou prontamente. —Se você vai me levar?

Ela respondeu com um beijo.


Decisão de Lena


Capitulo 1


Deslizando pela claraboia para o telhado acima, Lena Todd soltou um suspiro ao perceber que estava vazio. Parte dela - uma parte que ela estava ficando desconfortável até mesmo admitindo - esperava encontrar Will aqui.

O enorme guarda-costas verwulfen costumava usar os telhados como um ponto de observação para observar a colônia de Whitechapel. As pessoas se esqueciam de olhar para cima, então ele e o resto dos homens de Blade poderiam ficar de olho neles sem serem observados.

A indiferença combinava com Will e sua natureza. Apesar de agora viver sob o mesmo teto que ele, ela o via raramente. Se Lena fosse tão tola como às vezes fingia ser, quase pensaria que ele a estava evitando.

Improvável, ela pensou, sentando-se com a testa franzida e ajeitando suas lindas saias amarelas em volta dos tornozelos. Will mal a notou. A ideia de ele sair de seu caminho para evitá-la parecia o tipo de baboseira espumosa que ela lia nos romances franceses que Esme, a governanta de Blade, comprava.

—... fique quieto... e pare de flexionar o braço...

Lena estremeceu com a rapidez das palavras, olhando ao redor. Ela reconheceu a voz instantaneamente. Honoria. Se sua irmã mais velha a encontrasse no telhado, ela teria palavras a dizer sobre como isso poderia ser perigoso. Não importava que o telhado fosse o único lugar em Cortiço em que Lena pudesse realmente ficar sozinha para pensar.

—Eu não estou flexionando —, alguém respondeu, em um tom aristocrático que levou Lena anos de volta à época em que ela e sua família viviam na orla do Escalão. —Você está vindo em minha direção com uma seringa hipodérmica. Considerando que você apenas começou a me perdoar, posso estar um pouco tenso.

—O que te faz pensar que eu já te perdoei? — Honoria retrucou e o silêncio caiu.

Parecia vir da outra claraboia, que estava rachada alguns centímetros. Lena se inclinou mais perto com curiosidade. A sala abaixo pertencia ao laboratório de Honoria, onde ela passava a maior parte das tardes.

—Você concordou em me oferecer uma consulta. — O homem respondeu em um tom mais baixo. Não foi bem uma pergunta.

Quem diabos era? Blade era notoriamente protetor com sua esposa. Parecia completamente diferente dele permitir que Honoria recebesse homens em seu laboratório sozinha.

Deitando-se de bruços, Lena se aproximou e tentou espiar pela janela.

Tudo o que ela podia ver era uma faixa das saias vermelhas de sua irmã e as pernas balançando de um cavalheiro. Quem quer que fosse, ele estava sentado na mesa de exame de sua irmã. E ele estava usando botas de luxo. O corte de suas calças era feito sob medida primorosamente. Definitivamente um aristocrata ou alguém que tinha dinheiro.

Uma pequena vibração de excitação começou no peito de Lena.

A vida no limite do Escalão tinha sido uma coisa inebriante. Seu pai tinha sido um cientista cavalheiro que ganhou o patrocínio de duas das grandes casas do Escalão. Embora os Todd nunca fossem aceitos nas fileiras aristocráticas, esperava-se que ela assistisse às aulas de etiqueta com Vickers, o duque que tinha a licença de patronato de seu pai. Lena pode nunca ter feito sua estreia, mas ao se juntar a outras jovens em suas aulas, ela foi apresentada a vários de seus familiares. Eventualmente, ela pode ter chamado a atenção de um jovem primo ou irmão. Ou pelo menos essa era sua compreensão da situação.

Tudo mudou na noite em que seu pai foi assassinado e Honoria levou Lena e seu irmão, Charlie, para um esconderijo. De repente, ela foi varrida para longe do mundo brilhante e cintilante que ela estava à beira. Em vez disso, ela foi jogada na miséria do East End e forçada pelas circunstâncias a trabalhar seus dedos até o osso apenas para colocar comida na mesa. Ela nunca se ressentiu de sua irmã por esse fato, mas ela odiava as circunstâncias. E agora que ela não tinha mais que trabalhar do amanhecer ao anoitecer ou racionar-se com comida, ela ainda achava que não estava muito feliz.

Ela amava o Cortiço com os membros excêntricos da família adotiva de Blade, mas estava ficando muito claro que ela não tinha lugar aqui. Sem futuro. Embora ela tivesse talento para o mecanismo do relógio e muitas vezes buscasse projetos em seu tempo livre para seu antigo empregador, o Sr. Mandeville, ela sabia exatamente o que queria da vida.

Um marido que a amava tanto quanto Blade amava sua irmã. Pelo menos quatro, crianças gordas e felizes que a adoravam, e uma casa própria pelo menos na parte elegante da cidade, onde era seguro.

O fim da cidade de onde o homem abaixo tinha vindo.

Sua voz parecia familiar e ela teve a sensação de que deveria conhecê-lo. Mas que sangue azul do Escalão ousaria entrar na relva de Blade? Embora tivesse se passado dois anos desde que ele foi nomeado cavaleiro pela Rainha, sua desconfiança do Escalão - e sua desconfiança dele - não diminuiu.

—Você sabe por que concordei com a consulta. — Murmurou Honoria, afastando-se do homem com uma seringa cheia de sangue.

Lena recuou, mas não totalmente. Ela teve um vislumbre do queixo bem barbeado do homem e da boca firme. Ele tirou o paletó e vestia apenas uma camisa, as mangas arregaçadas no braço direito para permitir que Honoria tivesse acesso às suas veias.

—Porque...

—Você salvou a vida do meu marido, — ela continuou, naquele tom abrupto oh-então-Honoria. —Se você acha que há algo mais nisso, então você está errado. — O metal raspou contra o vidro quando ela descarregou a seringa em um de seus frascos. —Embora você devesse pelo menos ter mencionado isso antes. Sua pele está muito acinzentada. As pessoas devem ter notado.

Lena quase podia simpatizar com o estranho. Ela havia chegado ao fim desse tom muitas vezes ao longo dos anos.

—Honor, eu...

—Há quanto tempo você injeta nitrato de prata?

—Se você me deixar terminar uma frase, talvez eu possa te dizer. — Ele respondeu, no tom de voz mais neutro.

O fato de ele ter chamado sua irmã pelo mesmo nome de Lena a fez franzir a testa. Isso implicava familiaridade, talvez mais.

—Meus níveis de vírus de desejo têm estado altos nos últimos cinco anos. Não sei por quê. Eu mal tenho vinte e nove. — Por fim, um toque de frustração transpareceu em sua voz. —Venho injetando nitrato de prata desde que foi lançado no mercado como uma solução para baixar os níveis de vírus.

—Não funciona.

—Você acha que eu não sei disso? — O estranho gritou e praguejou baixinho quando Honoria ficou em silêncio. —O cabelo do seu marido está ficando mais escuro. Sua pele também. Tenho certeza de que outros notaram, mas possivelmente sou o único que pode suspeitar por que os efeitos do Desvanecimento parecem estar se revertendo nele. Você encontrou o diário do seu pai, não é? Ele encontrou a cura? A cura para o vírus do desejo?

Um diário que seu pai morreu para proteger. Lena congelou, suas unhas cravando-se nas telhas do telhado. Muitas poucas pessoas sabiam desse fato.

—Ou você sempre teve isso? — A voz do estranho se suavizou. Uma pitada de raiva se agitou nele.

Honoria voltou à vista, as saias batendo com raiva nos tornozelos. —Eu consegui —, respondeu ela, inclinando o queixo para cima para que o derramamento de cabelo escuro como tinta emoldurasse seu rosto pálido em forma de coração. —Embora não haja cura.

—Mentirosa. — O homem deslizou para fora da mesa e se aproximou, olhando para Honoria. —Blade estava no limite do Desvanecimento. Mais alguns meses e ele teria começado a evoluir para um vampiro. Como eu estou.

Desta vez, Lena teve uma visão completa de seu rosto. Leo Barrons, o herdeiro do duque de Caine. Praticamente um degrau abaixo do próprio Príncipe Consorte.

Uma vez, anos atrás, o pai de Lena havia trabalhado para ele. Lena cresceu na Casa Caine, até que Vickers roubou o patrocínio de seu pai. Ou pelo menos... ela não conseguia se lembrar do que tinha acontecido. Ela era muito jovem.

—Você ainda não está nesse nível. — Honoria retrucou. —A porcentagem do seu vírus é de sessenta e cinco. Você ainda tem um ou dois anos.

—Até eu começar a cheirar a podridão —, respondeu ele com firmeza, agarrando o pulso de Honoria. —Como ele fez.

—Me deixe ir.

A mandíbula do Barrons se apertou. —É assim que você vai me punir? Me fazer sofrer como seu pai? Olho por olho. Você acha que eu mereço isso? — Algo dolorido o sacudiu. —Maldição, Honoria. Nunca quis dizer o dano que causei. Eu queria uma maneira de me vingar dele pelo que ele fez comigo. Nunca pensei que infectaria outra pessoa.

—Bem, você fez —, Honoria o empurrou um passo para trás, parecendo furiosa. —E agora Charlie é um sangue azul por causa de você...

Lena engasgou, depois bateu com a mão nos lábios e se abaixou para passar pela claraboia. Este homem infectou seu irmão mais novo? Lágrimas queimaram seus olhos. Todos os meses que ela e Honoria passaram lutando contra a doença, lutando para salvar Charlie antes que o inevitável acontecesse. Charlie quase perdeu o controle e foi para um deles antes de Blade terminar a transformação e ensiná-lo a controlar seus impulsos sanguinários.

Depois disso, Charlie passou meses os evitando, como se ainda tivesse medo de ficar sozinho com qualquer um deles. Só recentemente ele conseguiu ficar perto de Lena, onde eles já foram tão próximos quanto gêmeos.

O bastardo!

—Você ouviu alguma coisa? — Perguntou Barrons.

—Provavelmente é Esme, terminando suas tarefas ou um dos servos zangões, — murmurou Honoria, os instrumentos batendo contra o metal. —Ninguém acordou ainda que possa nos ouvir. Blade ainda está na cama. Onde você deveria estar.

—Eu não durmo muito mais.

O tom de Honoria se suavizou. Apenas uma dica. —Você está horrível.

—Obrigado. — Respondeu Barrons secamente. A própria polidez de seus tons parecia ecoar no ar. Como se ambos soubessem que uma discussão havia sido evitada por pouco.

—Você já tomou uma decisão? — Ele perguntou. O tecido farfalhou, como se ele estivesse rolando pela manga. —Sobre se você vai me ajudar?

—Claro que vou te ajudar —, respondeu Honoria, parecendo cansada. —Uma parte de mim nunca vai te perdoar por infectar meu pai com o vírus do desejo - por infectar Charlie - mas não vou ficar parado vendo você se tornar um vampiro.

—Você não sabe como estou aliviado em ouvir isso. Como... Como isso funciona?

—Eu disse que não é uma cura —, advertiu Honoria. —Não completamente. Mas eu quero que você traga sua serva a mim para ser vacinada contra o desejo. Quando você bebe seu sangue, ele começa a neutralizar os efeitos do vírus em seu corpo. O nível do vírus deve cair - deveria, eu o aviso. Não parece fazer nada para Charlie, embora talvez seus níveis não sejam altos o suficiente em primeiro lugar. — Uma pausa, onde Lena quase pôde ouvir Honoria franzindo a testa. —Não sei o suficiente sobre a doença. Eu só tenho três contribuintes para pesquisa, e mal se passaram dois anos.

—Mas funcionou para Blade.

—Sim, — ela respondeu. —Funcionou para Blade, embora seus níveis de vírus pareçam estar estáveis agora. Talvez se eu tivesse mais cobaias para examinar...

— Não faça isso.

A palavra afiada caiu na conversa como uma pedra. Lena se levantou novamente para ter um vislumbre do quadro abaixo.

Barrons agarrou Honoria pelo braço, seu corpo quase impiedosamente a bloqueava de vista.

—O que você está...

—Faça o que fizer —, alertou ele, —não deixe que a notícia disso se espalhe.

—Pode ajudar muita gente —, respondeu Honoria. —O Escalão executa quase cinco sangues azuis por ano para entrar no Desvanecimento. Imagine...

—Imagine o que eles farão para colocar as mãos nesse conhecimento. — Ele interrompeu com uma voz mortalmente suave.

—Isso é o que Blade disse.

—Quem detém a cura, detém o poder. Existem homens que matariam para controlar isso. Ou para controlar você. A única razão pela qual o Escalão não foi à guerra contra Blade é porque eles não têm certeza de como as perdas podem ser. Se eles tivessem alguma ideia do que ele tem, da cura, então eles queimarão Whitechapel e levarão você e sua pesquisa a sete chaves. Eles vão colocá-la em um laboratório, Honor, e vão mantê-la lá. Você nunca mais verá seu marido ou sua família novamente.

A cor acinzentada do rosto de Honoria combinava com a de Lena. Ela não conseguia parar de pensar em quantas pessoas no Cortiço sabiam do segredo de Honoria. Muitas. Oh, Lena confiava em todos eles, mas havia alguns - como Charlie - que poderiam não ver mal em falar sobre isso.

Ela teve que avisá-lo para manter a boca fechada. Se ele a ouvisse. Dezesseis parecia uma idade irritante para os jovens. Especialmente jovens arrogantes de sangue azul que podiam superar a maioria dos homens adultos hoje em dia.

Abaixo dela, Honoria respirou fundo. —Eu não vou dizer uma palavra sobre isso, — ela murmurou. —Venha, eu te acompanho até a porta. Traga as servas de volta aqui amanhã à uma hora, e eu injetarei a vacina nelas se elas quiserem. Diga a elas que é uma vacina contra a varíola ou algo assim.

—Eu irei.

Os dois deixaram a sala abaixo e Lena sentou-se lentamente, o ar fresco e maduro da colônia espalhando-se ao seu redor.

Que descoberta a fazer. Ela não se sentia nem um pouco culpada por espionar, já que Honoria nunca lhe disse nada importante, mas ela não pôde deixar de passar a mão trêmula pelo rosto.

Abaixo dela a porta se abriu e Barrons saiu para o pátio de tijolos na parte de trás da colônia. Ele estava longe o suficiente para que Lena não pudesse ouvir o que era dito entre ele e alguém na varanda - Honoria, sem dúvida.

Refugiando-se atrás de uma chaminé, Lena soltou um pedaço de tijolo do tamanho de uma pedra e esperou até que ele saísse para a rua. Então, com uma pontaria que deixaria a maioria dos meninos orgulhosos, ela o atirou diretamente na nuca dele.

 


Will Carver caminhava pelas ruas com as mãos enfiadas nos bolsos, as pessoas se afastando dele como se ele estivesse cercado por uma aura invisível de violência. Com uma carranca, ele ignorou a maioria deles e tentou esquecer a coceira sob sua pele.

Uma coceira que uma hora de caminhada não poderia coçar. Provavelmente nem mesmo uma sessão da tarde no salão de boxe de Blade.

À sua frente, um cavalheiro saiu pelo arco de tijolos que levava ao pátio atrás do Cortiço. Will parou em seu caminho enquanto os dois se esquivavam. Barrons.

—Muito tempo, Carver. — Barrons assentiu para ele com a menor inclinação de sua cabeça. Ele parecia distraído e Will podia sentir o cheiro de sangue e produtos químicos nele.

O laboratório de Honoria então. Por um segundo ele se perguntou se Blade sabia. Então o pensamento se dissolveu. Claro que seu mestre sabia. Sem dúvida ele o encorajou. Blade gostava muito de se intrometer, e só Will sabia da tensa relação entre Honoria e Barrons e a causa disso. Não que algum deles soubesse disso.

Olhos escuros encontraram os dele. —Parece que voltarei amanhã, — respondeu Barrons. —Você acha que eu poderia trazer a carruagem através do Ratcatcher Gate?

—Se você quiser. — Will respondeu, seus lábios se contraindo. Sua senhoria não gostava de sujar as botas, se Will se lembrava. Embora ele o faria, se necessário. Essa era uma das únicas razões pelas quais ele tolerava a presença do outro homem. Isso e o fato de que Barrons não falava com ele como se fosse um pedaço de merda sob seu calcanhar, como a maioria dos sangues azuis. Ele realmente tratava Will como se ele fosse um homem e não verwulfen. —Embora pareça muito caridoso.

—Caridade?

—Você traz sua carruagem chique aqui, — Will acenou com a mão para indicar a colônia. —E não sobrará muito ouro até o final da visita.

—Blade amolecendo na velhice? — Havia um brilho provocante nos olhos do outro homem que tirou o fio das palavras.

Ninguém zombava de seu mestre. Mas Barrons ajudou a salvar a vida de Blade e os dois tiveram um relacionamento estranho. Aliados que competiam na maioria das questões. Ou dois galos no mesmo quintal, se um fosse mais preciso.

—Ele lhe concedeu passagem — Will corrigiu. —Isso não significa que você tem a proteção dele.

A ideia de estar sob a proteção de Blade quase fez as bochechas do outro homem ficarem vermelhas de indignação. Então ele sorriu. —Você está brincando comigo.

Não foi uma pergunta. Will deu de ombros, sentindo um sorriso rastejar em seu rosto. —Amanhã você pode andar. O mesmo que qualquer outro cavalheiro aqui.

—Vejo você amanhã então. — Respondeu Barrons.

Virando-se, Will começou a passar pelo arco. Ele pegou um lampejo de saias amarelas com o canto de sua visão e olhou para o telhado, seu corpo enrijecendo instintivamente. Inferno. Então, um pedaço de tijolo passou assobiando.

—Barrons! — Ele perdeu a cabeça.

Ambos giraram, Barrons agarrou o pedaço de tijolo do ar, sua postura defensiva. Will imediatamente o reconheceu como alguém que sabia lutar, apesar de sua elegante sobrecasaca de veludo preto e os anéis de rubi cintilantes em seus dedos.

Barrons examinou a peça de tijolo, a tensão lentamente diminuindo de seus ombros quando percebeu que nada mais a seguia. —Alguém que não gosta de sangue azul. — Seu olhar percorreu as ruas enquanto ele jogava o pedaço de tijolo para cima e para baixo em sua mão. Um estranho lampejo de escuridão varreu seus olhos. Uma sugestão do predador interno.

—Oh, ela não se importa com sangue azul, — Will murmurou, pegando o pedaço de tijolo no ar. —Pode-se dizer que ela os prefere.

Seus olhos se encontraram, Barrons franziu o cenho. —Eu não...

—Lena. — Will esclareceu, olhando para cima novamente. Ninguém mais usava algodão amarelo estampado com sangue aqui. Nem tinham inclinação para subir no telhado. Embora ele tivesse pensado que era mais provável que ela desmaiasse aos pés ensanguentados de Barrons do que lançar uma pedra sobre ele.

Obviamente Barrons pensava o mesmo. —Por que ela jogaria algo em mim?

—Não sei. Talvez a colônia esteja passando para ela. — Seu punho cerrou-se ao redor do tijolo. —Mas eu vou lidar com isso.

—Talvez eu deva?

Will balançou a cabeça. —Não vá mexer o formigueiro quando acabou de ser convidado de volta. Vou bater um papo com ela, descobrir o que está acontecendo naquela cabecinha dela. — Ele olhou para o céu escuro. —Além disso, você deveria ir. Eles na cidade estarão agitando agora. Não seria bom que ninguém adivinhasse onde você passou a tarde.

—Não, — Concordou Barrons brandamente. —Não iria. — Ele assentiu. —Meus agradecimentos. Vejo você amanhã.

Então ele se virou e desceu a rua, deixando Will com um pequeno problema para resolver.

Sem evitá-la agora.


Capitulo 2


Lena ouviu passos no corredor e agarrou um livro enquanto mergulhava em direção ao sofá-cama. Rasgando o romance, ela tentou reorganizar suas saias e parecer que estava encantada com a história quando a porta se abriu.

Ela esperava Honoria, mas quando o silêncio se estendeu, espesso e pesado, sua pele formigando sob o peso dos olhos de outra pessoa, ela soube imediatamente quem era.

Will.

A respiração de Lena prendeu e ela ergueu o olhar lentamente. Will se encostou no batente da porta com os braços cruzados sobre o peito largo, os bíceps flexionados sob sua camisa cinza empoeirada e seus olhos se estreitaram em fendas enquanto a observava. Faíscas douradas dançaram em suas íris, uma sugestão do lobo dentro. Nunca desencadeado, mas sempre cavalgando logo abaixo da superfície. Uma dica de que a violência poderia derramar deste homem sem um segundo aviso e varrer tudo em seu caminho.

Perigoso. Predatório. Tão grande que ele quase pairava sobre ela. Isso a assustou e enervou no início, porque ela não estava acostumada com homens assim, mas também a fascinou.

E ela não sabia por quê.

Ela sempre preferiu um tipo de homem mais bonito. Vestido em uma alfaiataria requintada com mãos suaves e bem cuidadas e charme de sobra. Will era o oposto disso. Ele não dava a mínima para o que parecia ou vestia, suas mãos tinham calosidades de trabalho duro e ele e o charme eram apenas vagamente conhecidos.

Ainda assim, sua presença sempre a deixava sem fôlego. E ela não conseguia parar de se perguntar como seriam aquelas mãos ásperas de calos em sua pele. Qual seria o gosto da barba por fazer de sua mandíbula contra seus lábios. Uma pergunta perigosa, pois não eram os sentimentos remotos e flertes que ela geralmente associava aos homens.

Não. Falava de noites escuras e lençóis macios, do sussurro de pele sobre pele e todos os tipos de coisas que ela não deveria saber.

—Will, — ela disse, sua voz embaraçosamente rouca. —Você está acordado e quase cedo.

Ele se endireitou, seu punho enrolado em torno de algo. Lena congelou quando ele rolou um pedaço de tijolo na palma da mão e o jogou levemente no ar.

—Não consegui dormir, — ele admitiu. —Decidi dar um passeio.

Aqueles olhos sonolentos e perigosos a observavam com as pálpebras semicerradas. Apenas esperando que ela se incriminasse quando ele pegasse o pedaço de tijolo.

—Entendo. — Ela limpou a garganta e fechou o livro suavemente, alisando a capa. Estava de cabeça para baixo. Segurando a mão sobre o título para esconder esse fato, ela olhou para ele por baixo dos cílios e liberou toda a força de seu sorriso sobre ele.

Isso sempre parecia funcionar.

Will se moveu, fechando a porta atrás dele. Como de costume, ele baixou o olhar e a ignorou, uma ligeira carranca apertando sua testa enquanto ele vagava pela sala.

A porta fechada era incomum. E ele não fugia ao ver o sorriso. Os lábios de Lena enrijeceram. Encrenca.

—Nunca soube que você tinha um braço tão bom para atirar em você. — Ele disse, quase coloquialmente. Outro lançamento casual da peça de tijolo.

—Eu não, — ela mentiu com uma cara séria. —Do que você fala?

Outro olhar perigoso em sua direção. —O problema com o amarelo é que é visível a uma certa distância. Ninguém mais usa amarelo por aqui.

Ele a tinha visto. Lena engoliu em seco. —Na verdade, algumas moças fazem agora. Parece que comecei uma moda.

—Por que você jogou o tijolo, Lena?

—Você está me acusando de jogar isso? — Ela respondeu, colocando o livro de lado em uma indignação praticada. —Por que diabos eu faria isso? E para quem?

—Minha pergunta precisamente. — Ele o pegou novamente, seus grandes dedos o sufocando. —Você ficará satisfeita em saber que não atingiu o alvo. Barrons o pegou antes que o atingisse.

Lena arqueou uma sobrancelha enquanto ele se aproximava. —Claro que estou emocionada. Não gostaria que alguém arruinasse seu cabelo perfeitamente penteado.

Will parou na frente dela, inclinando-se para prendê-la contra o sofá-cama com as duas mãos. Lena recostou-se nas almofadas macias, mal ousando respirar. Este era um lado dele que ela nunca tinha visto antes. Ele nunca se trancou em um cômodo com ela, nunca se aproximou dela. Se ela roçasse nele, ele geralmente fugia como um gato escaldado.

Tão perto, ela podia sentir o cheiro inebriante de sua pele, aquecida pelo sol e ligeiramente almiscarada. Calor irradiava dele. O tipo que a fez querer se enrolar contra ele. Do tipo que avisou que ela poderia queimar os dedos...

—Por que? — Ele murmurou, o brilho selvagem em seus olhos.

Ela estava presa. Pressionada contra as almofadas, seus pulmões travando com força em seu peito enquanto cada instinto antigo e primitivo surgia à frente. Will sempre foi um pouco perigoso, mas ele controlava a fúria dentro dele com tanta força que ela raramente tinha mais do que um vislumbre dela.

Isso foi mais do que um vislumbre. Esta era a fúria olhando para ela.

—Eu não sei, — ela deixou escapar, mal conseguindo sustentar seu olhar. Mas baixar os olhos significava derrota de uma forma inexplicável. Seus ombros caíram. —Ou talvez eu sei. Eu estava no telhado para tomar um pouco de ar fresco - um pouco de paz - e ouvi Honoria e Barrons falando em seu laboratório. — Lena engoliu em seco contra o aperto na garganta. —É culpa dele que Charlie pegou o desejo! Ambos admitiram!

A quietude o invadiu. O predador ainda estava lá, mas algo o assustou.

—O que mais você ouviu? — Ele perguntou asperamente.

—Eles estavam falando sobre a cura para o vírus do desejo —, ela respondeu. —Barrons advertiu Honoria para não deixar vazar notícias. Ele disse que se o Escalão descobrisse, seria perigoso.

Will deu um aceno áspero. —Sim. Faz sentido. Esses bastardos gostam de controlar as coisas.

Lena não conseguiu evitar o cenho franzido. —Você acha que podemos confiar nele? Barrons faz parte do próprio Conselho dos Duques. Por que ele manteria essa informação em segredo?

—Podemos confiar nele. — Will se afastou dela, deixando-a respirar. Os dedos de Lena tremiam enquanto ele andava de um lado para o outro no tapete à sua frente.

Então ela percebeu que o equilíbrio de poder na sala havia mudado. Will enfiou as mãos nos bolsos com uma carranca vazia, como sempre fazia quando se sentia encurralado.

Ou estava escondendo algo.

—O que te deixa tão certo disso? — Ela perguntou lentamente. Sua mente disparou. —E por que Honoria confiaria nele, quando ela sabia o que ele fez a Charlie? — As perguntas continuaram se encaixando. Ela tinha estado muito distraída por suas emoções antes. —Por que ela o trataria? Eu sei que ele ajudou Blade, mas foi mais do que isso. Ela o conhecia. Muito bem, parecia.

Oh sim, ela definitivamente o deixava nervoso. Will passou a mão pela nuca.

—Seu pai não foi o prodígio do duque de Caine uma vez? — Um encolher de ombros solto que pode não ter significado nada. —Honoria teria conhecido ao Barrons desde criança. Há apenas alguns anos entre eles.

Os olhos de Lena se estreitaram. —Você percebe que nunca olha para mim quando está mentindo?

Seu olhar disparou para o dela.

—E você fica com uma contração...— Ela apontou para a sobrancelha direita. —Aqui. Quando você está nervoso.

—Eu não estou mentindo.

Lena se levantou, as saias caindo em volta dos tornozelos. —Você é tão... — Ela estava subitamente certa disso. —Você sabe algo sobre Barrons. Por que você não vai me contar? Afinal, isso tem a ver com minha família!

Will olhou para ela de sua grande altura. A emoção apertou seu rosto e fez suas narinas dilatarem quando ela se aproximou, agarrando seu pulso. O calor marcou seus dedos. Como verwulfen, a temperatura de Will era vários graus mais alta que a dela.

Seus olhares se encontraram. Esta foi a primeira vez que ela o tocou em muito tempo. Talvez... pela primeira vez. Apesar de sua raiva, Lena deixou que seu polegar acariciasse as costas de sua mão, maravilhada com a textura sedosa e quente de sua pele e a carícia áspera dos finos pelos dourados em seu braço. Os homens do Escalão usavam luvas e, embora ela muitas vezes tivesse visto as mãos de Will nuas, ela nunca tinha realmente pensado sobre a sensação de seu toque.

A respiração de Lena ficou presa na garganta, uma dor lânguida e líquida tomando conta de seu abdômen. O olhar dela caiu para os lábios dele. Lábios ásperos e esculpidos que estavam desenhados em uma linha fina agora. Um grunhido curvou-se em sua garganta, os olhos brilhando como ouro derretido com calor e fome. A mão de Will se fechou em um punho e os músculos de seu antebraço ficaram tensos sob seu toque.

—O que você está escondendo de mim? — Ela sussurrou, e por um momento ela não tinha certeza do que ela estava se referindo.

—Pergunte a Honoria. — Ele retrucou, e arrancando o braço de seu aperto, ele se virou e caminhou em direção à porta.

 


Will cerrou os punhos e socou a bolsa de couro dura que balançava no salão de boxe de Blade. O suor umedecia sua garganta e peito nu, mas tudo o que ele podia ver era a bolsa. Tudo o que ele podia ouvir era o som carnudo de seus punhos cravando nele, uma e outra vez.

Ele se jogou na rotina, sentindo a dor furiosa por dentro lentamente começar a desaparecer. Ele nunca mais perdeu essa vantagem, não com ela em casa, mas se ele se concentrasse, poderia encontrar alguma aparência de controle.

Cristo. O que ela estava pensando ao tocá-lo assim? Os dedos dela deslizando sobre as costas da mão dele enquanto ela olhava para ele seriamente, aqueles lábios rosados entreabertos.

Ele não conseguia se lembrar da última vez que ele foi tocado. Não gostava disso. Esme costumava dar-lhe um abraço de irmã, mas isso foi antes de ela se casar com Rip. Agora era mais fácil não pressionar os instintos protetores de Rip. Rip pode ter começado a controlar seus desejos, mas ele sempre ficava tenso sempre que Will e Esme se tocavam.

Mas Lena... Já era ruim o suficiente com ela na mesma casa. Sentindo o cheiro de madressilva em todos os cômodos, sabendo que vinha de seu sabonete. Imaginando. O sabonete deslizando sobre sua pele pálida e impecável no banho. Acima de cada curva saborosa...

Will gemeu, curvando a cabeça quando ele pegou o saco de areia que balançava e pressionou a testa contra ele. O couro era frio e macio contra sua pele, mas sem alívio. Seu pênis doía.

Ele não poderia continuar fazendo isso. Escondendo-se dela. Correndo pelos telhados à noite, tentando usar a exaustão para tirar o nervosismo dele. A fúria dentro pulsava, empurrando contra sua pele por dentro com garras afiadas até que ele sentia como se fosse cortar seu caminho para fora. Ele nunca teve medo de perder o controle e escorregar para uma das fúrias pelas quais os verwulfen eram famosos. Ele aprendeu a controle em uma gaiola de ferro, sob o chicote duro do homem que o trouxe para seus shows de viagem. Mas agora sussurrava sombriamente através dele, coçando sob sua pele, fazendo-o duvidar de si mesmo.

Ele poderia machucá-la. Matá-la até. Ou pior, ser incapaz de se impedir de tomá-la.

—Não —, ele sussurrou em pânico, respirando fundo até que seus pulmões queimassem. —Você é melhor e isso. Você pode controlar isso.

Will soltou o ar com um ruído áspero e trêmulo, depois respirou fundo. E outra vez. Ele não pensaria nela. Apenas continuaria evitando-a do jeito que ele fazia. Inferno, se esforce mais. Corra mais rápido. Empurre Blade para o ringue de boxe com ele com mais frequência. Isso funcionaria. Ele controlou a fúria antes e faria isso de novo, mesmo se ele tivesse que correr até a exaustão todas as noites.

Passando a mão pelo cabelo suado, ele se afastou do saco de pancadas. A borda estava ficando mais apertada dentro dele novamente. Inclinando-se para trás, ele colocou toda a sua força em um golpe, seu punho martelando na bolsa.

A areia espirrou em todos os lugares, mas pelo menos o fez se sentir muito melhor.


Capitulo 3


As perguntas comeram em Lena durante toda a tarde e boa parte da noite, quando o resto da casa estava se mexendo. Ela jantou em silêncio, ouvindo as risadas e conversas que giravam ao seu redor, sentindo-se intocada por tudo isso. A única pessoa que pareceu notar sua distração foi Will. Ocasionalmente, seus olhos se encontravam do outro lado da mesa antes que seu olhar voltasse para o prato. Uma ligeira carranca parecia gravada entre suas sobrancelhas grossas.

Ajudar Esme a limpar os pratos significou que Honoria já havia escapado quando Lena voltou para a mesa. Blade também não estava em lugar nenhum.

Will inclinou sua cadeira para trás em uma perna, sua bota contra a perna da mesa para se equilibrar enquanto ouvia Rip discutir uma brecha nas paredes que circundavam Whitechapel com o resto dos homens. Seu olhar se fixou nela por um momento. Perturbado. Avaliando.

Então ele deu um movimento rápido de sua cabeça e colocou as pernas da cadeira no chão. O resto dos homens ergueu os olhos quando ele se levantou, elevando-se sobre eles.

—Eu voltarei em breve. — Ele murmurou, tão loquaz como sempre.

A conversa foi renovada. Apesar da mistura de emoções dentro dela, Lena não pôde evitar um sorriso enquanto o seguia até a porta. Algumas coisas sobre Will nunca mudariam.

O corredor estava iluminado por uma lamparina quente. Lavou o rosto de Will, dando a sua pele um brilho encharcado de mel. Ele era muito mais escuro do que ela. Fora da moda. E sem dúvida ele fez a barba esta manhã, mas a aspereza da barba grossa alinhava sua mandíbula. Lena não conseguia parar de olhar para ele. Cada pequena parte que o compunha era o oposto do que ela sempre achou atraente, e ainda assim, no geral, ela não conseguia desviar o olhar.

Exceto para deixá-lo cair mais baixo. A camisa de linho áspera que ele usava estava aberta no pescoço, uma garra de prata brilhante pendurada em uma tira de couro em volta do pescoço. Cabelo dourado enrolado até a base de sua garganta e de repente uma onda de calor a percorreu.

Como se sentisse isso, Will lançou um olhar penetrante para ela, a luz destacando suas maçãs do rosto. —Eles estão na sala de estar —, ele murmurou, inclinando a cabeça. —Parece seguro o suficiente para você interromper.

O calor floresceu em suas bochechas. Honoria sempre a pareceu a própria personificação da castidade, até que ela se casou com Blade. Não seria a primeira vez que os dois seriam pegos em uma situação embaraçosa.

—Obrigada. — Ela hesitou. —Você está me deixando com medo do que vou descobrir.

—Não é nada ruim. Mas isso vai mudar... muitas coisas.

—E se ela não me contar?

Seus olhos âmbar dourado encontraram os dela. —Então eu vou.

—Prefiro ouvir de você de qualquer maneira. — Lena se apressou em acrescentar, estendendo a mão para pousar a mão em seu braço.

—Não é meu lugar. — Suas narinas dilataram e ele puxou a mão. Enfiando as mãos nos bolsos, Will inclinou o queixo em direção à sala de estar. —É melhor você se apressar. Não vai demorar muito para que eles não façam nada de bom.

Se recompondo, Lena respirou fundo e se dirigiu para a sala de estar. Ela amava sua irmã. Mas Honoria sempre achou que ela sabia melhor. Mesmo que isso significasse manter Lena no escuro.

A porta da sala de estar estava aberta vários centímetros. Honoria estava deitada na espreguiçadeira ao lado da lareira, a cabeça apoiada no colo do marido. Blade olhava para as chamas, sua mente a um milhão de quilômetros de distância enquanto acariciava suavemente o cabelo de Honoria. Honoria parecia sonolenta, relaxada. O momento era incrivelmente pessoal e por um segundo Lena não quis se intrometer.

Então Blade olhou para cima e ela percebeu que ele estava ciente dela o tempo todo.

—Posso entrar? — Lena perguntou baixinho.

Honoria ergueu a cabeça e depois se sentou, alisando a saia. O momento foi quebrado e Lena empoleirou-se desajeitadamente na beirada da poltrona de frente para eles enquanto eles se reorganizavam rapidamente.

Blade se levantou e se espreguiçou. —Você quer uma bebida antes de dormir, amor? — Ele perguntou, olhando para sua esposa.

Honoria arqueou uma sobrancelha, olhando entre os dois. —Por que? Você acha que vou precisar?

Ele sorriu. Blade tinha um sorriso bastante diabólico quando queria. —Você se lembra daquela conversa que falamos sobre segredos aparecendo? — Quando os olhos de Honoria se arregalaram, ele se encaminhou para a porta. —Vou trazer a garrafa.

O fogo estalou no silêncio quando ele fechou a porta atrás de si. Os olhos de Lena se estreitaram. Parecia que certos homens verwulfen não conseguiam manter a boca fechada quando deveriam.

—Nós vamos? — Honoria respirou fundo e disse rispidamente. —Você tem aquele olhar em seu rosto. Como se você estivesse com medo de me dizer algo.

Apesar de seu tom, Honoria parecia nervosa.

Lena apertou as mãos cerradas entre os joelhos. —Eu estava no telhado esta manhã. Eu ouvi tudo o que foi dito entre você e Barrons.

Ela praticamente podia ver a mente de sua irmã correndo, tentando se lembrar do que havia sido dito.

—Vou poupar algum tempo para você — disse Lena. —Você disse que ele foi o responsável pelo que aconteceu com Charlie. — Sua voz falhou. —É verdade?

Honoria suspirou. —É verdade. Leo - Barrons - sabia que o pai estava trabalhando em uma vacina para o vírus do desejo. Ele trocou o vírus desativado por uma amostra do vírus vivo. Papai tinha sido o responsável direto por sua própria infecção e Leo queria vingança. Ele nunca soube que o pai injetou a mesma vacina em Charlie até que fosse tarde demais.

—Então por que você o está ajudando? — Lena gritou. —Você não se lembra de todos aqueles meses em que Charlie chorava de dor porque estávamos tentando ajudá-lo a lutar contra o vírus? Charlie nem mesmo fica na mesma sala que eu porque tem medo de me atacar! Como você pode?

Lágrimas brilharam nos olhos de Honoria. —Porque Leo é meu irmão também.

As palavras pareciam rugir em seus ouvidos. A boca de Lena se moveu, mas não saiu nada. Apenas um pequeno som estrangulado que parecia quase de natureza animal.

Leo Barrons? O herdeiro do duque de Caine era irmão dela? —Mas como? Por que?

Então Honoria estava sentada na beirada da poltrona, envolvendo os braços em volta de Lena. Ela beijou o cabelo com delicadeza, como fazia quando Lena era pequena. —Eu sinto muito, Lena. Eu sabia que deveria ter contado a você, mas jurei que manteria isso em segredo para ele. Se alguém descobrir que Leo é ilegítimo... Haverá consequências terríveis para ele. O Escalão não gosta de ser ridicularizado. Ele seria nomeado um sangue azul renegado no mínimo, como Blade. Despido de tudo o que ele tem. Ou mesmo executado. Não se pode julgar a mente do Príncipe Consorte, mas ele não gosta de ser enganado.

Uma lágrima quente desceu pela bochecha de Lena. Honoria a balançou suavemente, virando o rosto de Lena em seu ombro. Com a sensação familiar dos braços da irmã em volta dela, Lena não conseguiu conter as lágrimas. Fazia muito tempo que ela não era abraçada e ela estava muito confusa com tudo no momento.

Finalmente ela conseguiu se afastar e enxugar os olhos ardentes. —Então é por isso que o contrato de meu pai com o duque de Caine terminou?

Honoria acenou com a cabeça. —O duque descobriu sobre o caso. Ele estava absolutamente furioso... eu me lembro... eu estava na sala. O duque olhou para mim por tanto tempo que pensei que ele fosse quebrar minha boneca de brinquedo. Então seu rosto mudou. A raiva saiu dele e ele disse ao pai para sair e levar mamãe e eu com ele antes que ele fizesse algo de que se arrependesse. Acho que sou a única razão pela qual meu pai sobreviveu.

—E... Leo? — Lena sussurrou. Parecia estranho chamá-lo assim. Ela mal o conhecia, embora ele tivesse sido educado com ela quando conversou naquela manhã.

—Leo foi criado como herdeiro do Duque de Caine. Não acredito que tenha sido uma educação gentil.

Um irmão que ela nunca soube que tinha. Lena olhou para os punhos cerrados em seu colo. Ela ainda estava com muita raiva dele pelo que acontecera com Charlie, mas era mais difícil agora, saber a ligação entre eles. Um irmão mais velho.

—Você está muito zangada comigo? — Perguntou Honoria.

—Não sei o que pensar —, admitiu Lena. —Não sei o que sinto. — Principalmente entorpecimento. Sua mente não conseguia encaixar a imagem de Barron em como ela sentia que um irmão mais velho deveria ser. —Acho que gostaria de ficar um pouco sozinha. Para organizar meus pensamentos.

Honoria acariciou seus cabelos. —Esta informação é muito perigosa para ele, Lena.

—Eu não vou compartilhar isso com ninguém, — ela retrucou. —Você realmente me acha uma idiota?

—Claro que não acho você uma idiota. Só queria que você soubesse por que neguei a verdade.

Lena acenou com a cabeça. Depois de um momento, ela ouviu outro suspiro suave e, em seguida, o som das saias de Honoria farfalhando sobre os tapetes em direção à porta.

Assim que fechou, ela deixou sua cabeça cair em suas mãos, pressionando as palmas das mãos contra seus olhos quentes. De todas as coisas que ela esperava, esta não era uma delas.

E Will sabia. Blade também. Uma conspiração de pessoas que pensaram em esconder a verdade sobre seu próprio irmão. Ela podia entender os motivos de Honoria, embora a irritasse que sua irmã não confiasse nela, e Blade fez o que Honoria pediu, mas Will... Ele poderia ter mencionado isso pelo menos, embora por que ela esperaria que sua lealdade mentisse com ela, ela não sabia.

Como se o pensamento o convocasse, a porta se abriu e ele apareceu. Lena enxugou os olhos apressadamente. Não havia ajuda para isso. Ela provavelmente parecia uma bagunça e a vermelhidão não desapareceria por muito tempo de sua pele pálida.

Inclinando o queixo para cima, ela olhou para ele. Ela estava começando a sentir algo agora. Raiva. E Will era um alvo tão bom quanto qualquer outro.

—Por que eles te contaram? — Ela exigiu. —Por que contar a você e não a mim?

Will fechou lentamente a porta atrás de si com um clique. Cada movimento era preciso, controlado. Quando ele se virou, o calor em seus olhos âmbar era quase magnético.

—Blade me contou, — ele respondeu. —Pensei que sua senhoria fosse amante de Honoria antes de perceber a verdade. Coloquei-o totalmente fora de controle.

A ideia de Honoria afetada e adequada tendo um velho amante era ridícula. —Blade não pensou muito na minha irmã, não é?

Isso fez os olhos de Will se estreitarem. —Pensava muito nela. — Ele fez uma careta. —Os homens fazem coisas estúpidas quando estão cegos pelo amor.

—Como você saberia? Você nunca amou ninguém. — Oh sim, ela estava começando a sentir algo agora.

—Já vi o suficiente de suas tolices para entender. — Will afundou no sofá e se recostou nele, descansando seus longos braços ao longo da parte superior como se fosse o dono.

—Você sempre observa o que as pessoas fazem. Ainda não me convence de que você entende isso.

—Você está tentando bancar a dona de peixe ou sou apenas o pobre coitado que vai suportar o peso de sua raiva?

O queixo de Lena caiu. Will olhou para ela com uma expressão dura e fria no rosto e ela percebeu que o pressionou demais. Ele não era humano e sabia disso. Observar como as pessoas agiam era a única maneira que ele poderia fingir algum tipo de humanidade.

—Eu sinto muito. Isso foi cruel da minha parte. — A vergonha queimou em sua garganta. —Estou com fome. Eu não deveria descontar em você. Você estava apenas tentando ajudar.

O ouro derretido em seus olhos chamejou e depois morreu de volta ao seu âmbar dourado normal. Will parecia confuso enquanto se sentava, cruzando os braços sobre o peito. —Sim. Estou acostumado com isso.

—Acostumado com o quê?

—A coleira de sangue azul é minha, Lena. Não é a primeira vez que sou chamado menos que “humano”.

Lena engoliu em seco. Ela nunca tinha sido uma garota indelicada, mas ela nunca teve que lidar com tantas emoções indesejadas antes. Sua vida nas margens do Escalão tinha sido simples, feliz. Cheio de risos, luz e dança. Garotas que riam de suas aulas, vestidos de seda e leques esvoaçantes. Ela nunca foi obrigada a pensar muito, ou mesmo esperada, e ninguém estava com raiva ali. Não era educado exibir tais emoções.

—Eu gostaria de poder voltar — ela sussurrou. —Eu gostaria de não ter que saber tudo isso... para me sentir... assim. Sinto muito, Will. Eu nunca pensei em você como menos do que humano. — Lentamente, ela se levantou, as saias caindo em um círculo ao redor de seus tornozelos. Elas balançaram contra suas pernas como uma carícia farfalhante enquanto ela cruzava em direção a ele.

Will olhou para cima, uma expressão cautelosa em seu rosto áspero. Ele congelou quando ela estendeu a mão, não exatamente um estremecimento, mas uma imobilidade repentina que a alertou. Não me toque, seu corpo disse. Seus olhos, entretanto, iluminaram-se como uísque derretido, uma carranca unindo suas sobrancelhas grossas.

A mão de Lena pairou sobre seu rosto. Algo em sua expressão ficou preso em seu peito. Quase como se uma parte dele ansiasse por seu toque.

Isso era ridículo. Will tinha deixado bem claro que não queria nada com ela. Ainda...

Lena soltou a respiração que estava prendendo. Ela ousaria? Talvez ela estivesse errada? Ela não conseguia lê-lo, o que era incomum para um homem.

Com o coração batendo forte na garganta, ela estendeu a mão e deixou seus dedos traçarem sua bochecha. Um som estrangulado ecoou em sua garganta, mas ele não se moveu. Na verdade, a quietude parecia escoar por todo o seu corpo, seus olhos selvagens enquanto vasculhavam a sala para escapar.

Seus dedos dançaram sobre a raspagem de sua barba por fazer. Uma pontada de cócegas que a fascinou. E ele não disse não.

Virando a palma da mão, ela segurou sua bochecha, inclinando seu rosto em sua direção. Seus olhos se encontraram, o calor dele queimando em sua palma. Ela queria correr as mãos por todo o corpo dele, rolar naquele calor, capturá-lo. Para finalmente sentir que não estava mais sozinha, em um mundo cheio de pessoas.

—Lena. — Ele rosnou, capturando seu pulso.

O toque queimou por ela. Lena afundou em sua direção, sua saia caindo sobre seus joelhos quando ela deslizou em seu colo. Will a deixou ir como se ela o tivesse atacado, suas mãos subindo entre eles, impotentes, empurrando o ar na frente dela como se ele não ousasse tocá-la.

Seus olhos estavam selvagens. Procurando os dela. —Lena, você tem alguma ideia do que está fazendo...?

—Eu tenho. — Certeza queimou por ela. Ela estava tão confusa com todo o resto; ela queria pelo menos parar com essa confusão. Para entender por que ele nunca conseguia parar de olhar para ela, por que a evitava.

—Você está tentando me provocar?

Ela se inclinou mais perto, deslizando as mãos pelo peito largo. Will respirou fundo como se doesse. Suas mãos agarraram seus pulsos novamente, segurando-a lá.

—Eu vou te beijar. — Ela sussurrou.

—Foda-se. — Ele murmurou, as narinas dilatadas quando seu olhar caiu para os lábios dela.

Dificilmente as declarações românticas com que ela sonhou. Mas Will não era nada parecido com os devaneios de contos de fadas com os quais ela se divertia. Ele parecia tão real sob seu toque, muito mais vibrante. O calor de seu corpo embaixo dela não era nada como um sonho. Real. Dela. Tudo o que ela precisava fazer era estender a mão e pegá-lo.

E foi o que ela fez.

Lena roçou os lábios nos dele. Will soltou um suspiro áspero, sua respiração queimando-a. Ela respirou fundo, o aperto dele afrouxando em seus pulsos e seu corpo afundando nas almofadas do sofá. Lentamente ela o seguiu, seus quadris deslizando ainda mais até que seus joelhos se enterraram no encosto do sofá e ela pôde sentir a aspereza da fivela do cinto contra sua coxa. Mãos deslizando sobre seus ombros, afundando na luxuosa riqueza de seu cabelo.

Ela abriu a boca sobre a dele, uma especialista em beijos. Provando a firmeza de seus lábios. Ele não retribuiu muito, mas um pequeno rosnado impotente soou em sua garganta e quando ele abriu a boca para dizer algo mais, ela o lambeu.

De repente, suas mãos não estavam mais empurrando para ela. Uma segurou a espessura de sua agitação, montando seus quadris com mais força contra ele. Os olhos de Lena se arregalaram quando ela sentiu outra coisa roçar em sua coxa.

Ela teve um vislumbre do âmbar assustado de seus próprios olhos, então ela cerrou os punhos em seus cabelos e o beijou de boca aberta, sua língua lançando-se contra a dele, desafiando-o a retrucar.

A tensão em seu corpo irradiou através dela, as mãos tremendo enquanto deslizavam sobre as curvas de seu vestido. Will fez outro som indefeso.

—Lena... — Um suspiro. Um apelo.

Ela não se importou. Era bom. Beijando-o, desejando que ele a beijasse de volta.

Mas ele não fez isso. As mãos dele agarraram as saias dela, juntando o tecido cada vez mais alto, até que suas panturrilhas estivessem à mostra. Will afastou a cabeça, tremendo, seus olhos queimando tanto que ela quase engasgou. Seu olhar percorreu suas panturrilhas, sobre a curvatura de seu corpete e então sua boca. Ambos respirando com dificuldade.

Lena estendeu a mão para ele novamente...

O mundo virou. Ela se viu tombada de costas no sofá, as saias caindo ao redor de suas pernas nuas. Will lançou-lhe um olhar severo e se jogou para longe dela, tremendo com alguma emoção reprimida.

O clima na sala ficou mais tenso. Lena pegou um punhado de suas saias e se sentou, olhando para ele. Não era isso que ela queria. Ela se sentia sem fôlego e toda tonta e ele parecia furioso.

Seu coração caiu em seu peito quando a memória a inundou. Nenhuma vez ele a beijou de volta. Ele segurou seus pulsos como se tivesse suportado o beijo, mas não retaliou.

Will olhou para a parede, suas costas tremendo. Ela se sentou muito, muito quieta, sentindo-se muito fria sem seu calor furioso ao redor dela.

—Will. — Ela sussurrou.

Ele se virou para ela com um grunhido, apunhalando o dedo em sua direção. —Nunca mais faça isso!

A raiva absoluta a fez recuar para o sofá. De repente, ela não podia suportar que suas saias caíssem ao seu redor. Ela as alisou, lágrimas quentes queimando atrás de seus olhos. Ela estaria condenada se ela o deixasse vê-las, mas...

—Eu sei que temos que viver sob o mesmo teto, mas eu preferiria que você não se jogasse em mim. — Ele disse friamente.

Então ele se foi, deixando-a olhando sem palavras para a porta, uma lágrima silenciosa deslizando por sua bochecha em chamas.

 


Will correu pela noite, o corpo se esforçando e o coração batendo forte no peito. Ele correu por horas sobre os telhados, até que pôde sentir seus músculos tremendo e o esforço começar a cobrar seu preço. Ainda não era o suficiente. Ele estava começando a se perguntar se algum dia seria.

Especialmente agora que ele sabia exatamente o gosto dela, apenas como ela se sentia, contorcendo-se em seu colo, os braços deslizando ao redor dele...

Will gemeu. A linha do telhado da cidade o cercava, chaminés à espreita na noite calma e os vestígios de Whitechapel bem atrás dele enquanto ele cambaleava até parar. Não era o lugar para um homem como ele desabar e estava claro que ele se empurrou para as bordas da fúria que afligia sua espécie. A exaustão latejava por ele, embotando os limites de seu temperamento.

Ele ainda podia saboreá-la. Queimando em seus lábios. Tentando-o, desafiando-o. A sensação de sua língua marcada na sua. Mas pior do que isso, a sensação de sua mão deslizando sobre sua mandíbula na mais leve das carícias. Um toque doce, quase mais atraente do que o gosto de sua boca. Um toque que o deixou faminto por algo que ele nunca poderia ter.

Will deu um gemido impotente e caiu de joelhos. O que diabos ela estava pensando? Empurrando-o assim, beijando-o, sem saber o quanto doía por dentro afastá-la. Ele não estava pensando. Tão chocado com a sensação de sua boca na dele e seu corpo aninhado em seu colo que ele perdeu o controle, apenas por um minuto. A próxima coisa que ele soube, ele teve sua mão em sua bunda, incitando-a contra ele, seu pênis doendo como a porra de um aríete em suas calças. Teria sido tão fácil pressioná-la de volta no sofá e embainhar sua carne dolorida dentro de seu calor úmido.

Tão fácil...

Tão perigoso.

Will soltou um soluço, passando a mão pelo cabelo enquanto balançava para frente e para trás. Demorou longos minutos antes que a fúria diminuísse dele, o suficiente para ele cambalear e olhar para Whitechapel.

Pela primeira vez na vida, ele não queria voltar.

 


Will agarrou a garrafa de uísque contra o peito e olhou para a noite escura, tentando ignorar o leve respingo de chuva gelada. O Cortiço estava silencioso abaixo dele, um fato que ele estava furiosamente ciente. Ele não podia enfrentar ninguém agora, nem mesmo Blade.

Engolindo outro gole de uísque, ele o sentiu queimar todo o seu corpo com o eco de uma antiga memória de casa. Seu verdadeiro lar, onde ele nasceu. Visões dançaram em sua mente; seu pai o balançando em ombros largos enquanto examinavam a névoa sobre os vales cobertos de urze, rindo de sua irmã enquanto ela o perseguia pelo quintal, o olhar no rosto febril do estranho quando ele se lançou em Will, aqueles rudes e amarelados dentes rasgando sua garganta... Disso ele se lembrava muito bem.

Esta era a sua casa agora. Por tantos anos ele não conheceu nada de bondade, e quando Blade o trouxe aqui pela primeira vez, ele desconfiava de tudo e de todos, Blade acima de tudo. Ele era apenas um rapaz, mas algumas memórias estavam gravadas em sua alma. Você não pediu nada, porque era aí que te chicoteavam. Você não implorou por mais comida, porque eles riram e zombaram de você. E você nunca esperava um toque gentil, uma mão gentil em seu rosto, um beijo...

Seus dedos tremeram em torno da garrafa. Por um momento, ele quis tanto que doeu. Um tipo diferente de dor para a bagunça que o beijo descuidado de Lena o deixou. Uma dor por algo mais.

Ele pensou que tinha encontrado uma vez. As primeiras vezes que Blade veio até ele depois de tomá-lo como um servo, houve uma sensação de proximidade ali. Will não tinha entendido. A bebida de sangue despertou seu corpo, seu próprio sangue, mas a dor tinha sido mais forte do que isso. A sensação de outra pessoa o tocando. Alguém que cuidou dele.

Ele agarrou Blade então, um momento horrível que o deixou apenas envergonhado. Blade ficou chocado, mas não cruel.

—Não gosto disso, rapaz. Nós não. Você vai entender, um dia.

E agora ele entendia e a realização era um tormento em si. Porque ele não poderia tê-la. Nunca.

Ele ergueu a garrafa de uísque e a secou. O licor queimou através dele, mas só o deixou com uma sensação de vazio e com necessidade de urinar. Ele não entendia como as pessoas ficavam encharcadas. A pior bebida que já bebeu e o deixou com sede.

Um sussurro de som alcançou seu ouvido, bem abaixo. Uma conversa murmurada no escuro. Ele mal conseguia entender as palavras até que ouviu uma que fez seu corpo inteiro ficar imóvel.

—...Lena...

O silêncio reinou, quebrado apenas pelo latido solitário de um cachorro várias ruas adiante. Will baixou a garrafa, a cabeça inclinada para escutar. A voz era de mulher, mas naquele tom ele não sabia se era Honoria ou Esme.

—Ush, agora, amor. — Essa voz ele reconheceu. Blade. O que significava que a mulher era Honoria. —Vou ficar de olho neles. Will é um bom rapaz... —Mais palavras perdidas na distância.

Eles estavam falando sobre ele. E Lena. Will não conseguia se mover. Ele queria desesperadamente ouvir o que eles estavam falando.

—Mas você tem certeza que ele não vai machucá-la? — Honoria murmurou. —Você o viu esta noite, quando ele saiu correndo daqui. Você a viu. Eu sei exatamente o que aconteceu naquela sala, Blade, e se...

—Não vai.

—Blade, — a voz de Honoria ficou mais forte. —Você pode me prometer que ele não vai machucá-la? Ela é minha irmã... Você confia nele com ela? Eu sei que ele não gostaria de machucá-la, mas e se...?

Will se esforçou para ouvir, certo de que seu mestre responderia. O momento se estendeu. Mais tempo. Ainda mais.

E não houve nenhum som.

—Sim, — Blade soltou um longo suspiro. —Eu vou falar com ele. Ele tem estado no limite ultimamente. Talvez fosse melhor se ele encontrasse outro lugar, por um tempo...

Pela segunda vez em sua vida, Will sabia o que não era para ser desejado. A traição o atingiu com dedos afiados e gananciosos, tornando difícil respirar. Mais difícil ainda segurar a garrafa. Ela escorregou de seus dedos, deslizando sobre a inclinação do telhado e desaparecendo. Um segundo depois, o estilhaçar de vidro quebrado rasgou o silêncio da noite.

O cachorro começou a latir novamente, outros se juntando a ele. Will não conseguia se mover. Ele se sentiu ainda mais vazio, como se as palavras de Blade tivessem esculpido algo mais dentro dele. Seu senso de valor, de lugar, estava se estreitando rapidamente.

Encontrasse outro lugar... Ele sabia a verdade por trás dessas palavras. Não desejado. Aqui não. Para o caso de ele colocar as mãos em Lena e machucá-la.

Você não pode tocar, seu pequeno vira-lata. Um pé chutando a gaiola para ele queimou em sua memória.

Mas ele confiava em Blade. Blade o comprou dos Sturrett e deu a ele sua liberdade. E agora Blade não confiava nele.

De alguma forma, ele encontrou seus pés, movendo-se automaticamente. Ele nem tentou esconder o som de seus passos no telhado. Uma luz dourada inundou o quintal abaixo quando alguém espiou pela janela para ver de onde o vidro quebrado tinha vindo.

Will parou na borda da empena, olhando para Blade, onde espiou pela janela. Seus olhos se encontraram e um arrepio de conhecimento sombrio passou pelos olhos de seu mestre. Ele abriu a boca para falar, mas Will o adiantou.

—Vou encontrar outro lugar para morar. — Ele disse calmamente, então saiu da beirada do telhado e pousou no quintal frio abaixo.


Capitulo 4


Will se foi.

Lena espiou pela vidraça, observando a chuva tamborilar no parapeito do lado de fora, com uma sensação horrível de torção no peito. Ela sabia apenas os fatos básicos do que havia ocorrido, mas temia que a discussão entre Blade e Will tivesse surgido do que ocorrera entre eles na sala de estar. Aquele momento terrível quando ela quase se jogou sobre Will e ele a rejeitou.

Não saber era uma sensação angustiante enquanto observava e esperava para ver se Blade traria Will para casa. O que ela fez? A culpa doía dentro dela, quase não era páreo para a dor aguda da rejeição.

Uma batida forte soou na porta da sala de estar.

—Entre. — Ela chamou, nem mesmo se preocupando em erguer a cabeça do encosto do sofá em que ela caiu. Todo mundo estava pisando em ovos hoje no Cortiço e Blade estava de mau humor antes de ir encontrar Will e arrastá-lo para casa. Uma tarefa que ela não o invejava.

A porta se abriu com dobradiças silenciosas. —Perdoe-me por me intrometer.

A cabeça de Lena disparou ao ouvir a voz suave e culta. Uma voz de homem que ela reconhecia agora.

Leo Barrons fechou a porta atrás dele com um clique controlado, a renda pingando da manga de seu casaco. A renda era o único adorno; o casaco de veludo amassado era negro como a meia-noite e trazia uma gola mandarim rígida. Apenas um belo rubi pendurado em sua orelha dava provas de sua posição.

Ela não podia se mover, a respiração presa em sua garganta, mesmo enquanto seus olhos procuravam por sinais de familiaridade na expressão dele. Isso era uma sugestão de seu irmão, Charlie, em torno de seus olhos e linha do cabelo? Ou seu pai?

Eles se encararam, os momentos se estendendo estranhamente. Então Leo cruzou a sala em sua direção. —Minhas servas estão tomando suas vacinas com Honoria. Ela me informou que você nos ouviu ontem.

O calor floresceu em suas bochechas, deixando-a com a língua presa. A fúria da emoção roubou até a última sagacidade. O que ela poderia dizer a este homem? Irmão dela. Um irmão mais velho que ela nunca soube que tinha.

Como se sentisse a turbulência de seus pensamentos, ele parou na frente do sofá em frente a ela e apenas olhou para trás, o pensamento inescrutável dançando por trás daqueles olhos castanhos escuros.

—Lamento que a verdade tenha te chateado, — Leo murmurou. —Você deve saber que eu carreguei minha própria quota de noites sem dormir desde que todo esse drama se desenrolou. — Ele olhou para baixo, para as mãos em concha. —Eu nunca teria desejado essa maldição sobre Charlie se eu soubesse das consequências de minhas ações. Você tem todo o direito de não me perdoar. Eu nunca vou me perdoar. — Com isso, ele olhou para cima novamente. —Embora eu gostaria muito de conhecer você. Você se parece tanto com Honor - mas não é. Eu costumava observar você nas bordas do Escalão e me perguntar como você era. Você parecia tão cheia de vida e risos.

—Uma vez —, ela sussurrou, puxando os joelhos até o peito. —A muito tempo atrás.

Virando-se para o lado, ele caminhou até a janela e olhou para fora dela. —Tenho outra confissão a fazer, embora me deteste admiti-la. No entanto, parece que os segredos têm uma maneira de voltar e... criar confusão. —Um sorriso amargo se contorceu em seus lábios. — Sua irmã implorou por minha ajuda quando veio pela primeira vez a Whitechapel e eu a recusei. Eu temia que o Escalão descobrisse nossa conexão e eu - eu não entendia em que dificuldades vocês estavam. Mais uma decisão que gostaria de poder mudar. — Desta vez, seus lábios se estreitaram, uma luz fraca manchando seu perfil enquanto ele olhava para a chuva. —Mas eu não posso. Só posso oferecer minhas mais profundas desculpas pelo que todos vocês sofreram. E eu sei que não é suficiente, mas prometo que farei tudo ao meu alcance para garantir que você nunca mais sofra.

—Por que você está se desculpando?

—Você jogou um tijolo em mim. — Respondeu ele.

Lena se endireitou, alisando as saias enquanto suas bochechas esquentavam. Ela ignorou o olhar em seus olhos. —Honoria pediu sua ajuda? — Ela devia estar desesperada por dinheiro, de fato. Na época, Lena estava tão focada em sua própria miséria e na doença de seu irmão que talvez não tivesse entendido verdadeiramente o que sua irmã sofreu.

—Ela pediu dinheiro quando perdeu o emprego. Eu disse não e então ela fez um contrato de servidão com Blade. — Sua voz ficou em silêncio, então ele admitiu calmamente. —Passei a maior parte da minha infância odiando Honoria. Talvez uma pequena parte de mim tenha ficado aliviada ao vê-la sofrer, só um pouquinho.

—É uma coisa terrível de se dizer.

—Sim eu sei. Uma coisa terrível de se pensar. — Leo olhou para longe. — O duque me possui há tanto tempo que às vezes temo começar a pensar como ele. E isso me assusta mais do que qualquer outra coisa neste mundo. Que ele finalmente conseguiu me refazer à sua imagem. — Ele arrastou um dedo ao longo do parapeito da janela. —Foi talvez o jato de água gelada no rosto que eu precisava, então tentei enganar Vickers quando ele estava procurando por você. Eu coloquei várias trilhas falsas e certifiquei-me de que ele não sabia onde vocês estavam. Não pode redimir, mas... eu tentei. A ideia de que ela me perdoou por nada disso ainda me surpreende.

—Por que você a odiava?

Leo lançou-lhe um olhar franco. —Seu pai nunca deu a mínima para mim. Mas ele adorava sua filha. Eles viviam sob o mesmo teto e cada vez que os via juntos, eu queria tanto trocar de lugar com ela.

—Mas você é o herdeiro de um duque.

Ele deu uma risada fraca e ligeiramente amarga. —Eu teria trocado tudo para ter um pai que não via um bastardo cada vez que olhava para mim. Para ter uma família.

Lena puxou os joelhos até o peito e apoiou o queixo neles. Ele pareceu tão solitário por um momento, olhando para a distância e brincando com o anel de ouro em seu dedo. —Você tem uma família —, disse ela. —Você nos tem.

Ela viu imediatamente que ele não acreditava nela. Mas ele balançou a cabeça lentamente. —Você é muito gentil. Mas você deve saber que eu não posso ser o irmão que você deseja que eu seja. — Ele ergueu a mão quando a viu começar a discutir. —É muito perigoso, para todos nós. Se alguém descobrir minha ilegitimidade... —Seu olhar se aguçou. —Você entende o mundo em que vivo, Lena. Você sabe o que aconteceria.

Ela engoliu em seco e acenou com a cabeça.

—Não posso ser visto visitando aqui com muita frequência —, continuou ele. —Mas se houver alguma coisa que eu possa fazer por você...

—Você poderia me levar com você. — Ela deixou escapar.

O fogo crepitava na lareira enquanto ele se enrijecia.

—Como sua pupila, — ela continuou rapidamente. —Eu poderia... eu poderia fazer minha estréia com você como meu guardião.

—As pessoas fariam perguntas.

—Então diga a eles que seu pai salvou sua vida quando você era criança. Você sente uma dívida de gratidão para com ele.

Ela pensou por um segundo que tinha ido longe demais e se amaldiçoou. No calor do momento, ela fez uma exigência que cruzou todas as linhas. Afinal, ela mal o conhecia. O que ela estava pensando? Leo diria não, com certeza.

—Por que você deseja deixar sua família? — Ele perguntou em vez disso, com uma expressão curiosa.

—Não há nada aqui para mim —, respondeu ela. Will imediatamente saltou à mente, a memória daqueles olhos âmbar queimando-a. O olhar de Lena baixou. Ela era uma idiota por considerar isso um motivo para ficar. Ele deixou seus sentimentos por ela bem claros. —Desejo encontrar um pouco do que minha irmã encontrou. Eu quero que alguém me ame. E não há ninguém aqui para mim.

Leo afundou-se no sofá, as mãos entrelaçadas enquanto a olhava fixamente. —Mesmo com meu apoio, você só seria considerada adequada para ser uma serva. Sua linhagem não é boa o suficiente para fazer um contrato de consorte.

Um pequeno arrepio desceu por sua espinha, mas ela o acalmou. Ser uma serva não era ser impotente e as experiências de Honoria com Blade devem ter sido agradáveis o suficiente para ela continuar doando seu sangue para ele. Talvez nem sempre tenha sido horrível? Talvez ela pudesse aprender a tolerar isso? —Eu sei. Eu só... eu não pertenço aqui. Tudo o que sei é que a última vez que estive verdadeiramente feliz, estava prestes a fazer minha estreia.

—Você falou sobre isso com sua irmã?

—Céus, não. A ideia só me ocorreu naquele momento. — Lena ofereceu-lhe um sorriso fraco. —Você não tem que concordar. Eu não iria usar isso contra você, eu só... esperava.

Um suspiro cruzou seus lábios. Então ele sorriu. Isso mudou todo o seu rosto; de severo e intransigente a algo quase infantil. Ele parecia tão com Charlie naquele momento. —Você ia me deixar contar para sua irmã, não é? — Ele perguntou secamente.

—Você está aceitando?

—Para contar a Honoria ou para tomá-la como minha pupila?

—Bem, ambos talvez? — Ela deu a ele um sorriso diabólico, seu coração começando a bater em seus ouvidos.

Os olhos de Leo se estreitaram. —As pessoas subestimam você, não é?

—Frequentemente.

Ele se levantou e estendeu a mão para ajudá-la a se levantar. —Vou aceitá-la como minha pupila, Lena, porque estou em dívida com você. Mas não estou me oferecendo para contar a sua irmã. Esse é o seu preço a pagar.

A mão fria dele envolveu a dela e Lena se levantou. Ele era muito mais alto do que ela e algo em seus modos indicava que geralmente preferia que as pessoas não o tocassem. Mas Lena estava tão feliz que não resistiu a abraçá-lo e dar um beijo em sua bochecha. —Obrigada.

Ela estava indo para o mundo do Escalão. A ideia de deixar Charlie e Honoria, até mesmo o resto da casa, foi uma pontada repentina em seu peito, mas ela ignorou. Ela sempre poderia visitar. E então Will poderia voltar para casa e toda essa bagunça seria consertada. Pela primeira vez em meses, ela finalmente tinha um futuro em mente.

—De nada. — Leo respondeu, um pouco tenso.

—Venha, — ela disse, pegando sua mão. —Eu conheço alguém que gostaria de conhecê-lo. Charlie sempre desejou um irmão. E então podemos contar a Honoria nossos planos.

—Você pode contar a Honoria, — Leo corrigiu. Ele hesitou. —Eu não acho que deveria conhecer seu irmão ainda. Afinal, eu era o responsável pela infecção dele.

—Você não pode se esconder dele para sempre. Venha.

Ele a deixou conduzi-lo para fora da sala e Lena sorriu para si mesma enquanto corria pelo corredor. Tantas amigas que ela havia deixado para trás... Ela podia vê-las novamente e rir e fofocar durante o chá e esquecer todo esse pesadelo horrendo. E ao fazer isso, ela resolveria este problema que causou entre Will e Blade.

Seu sorriso sumiu com o pensamento, um par de olhos âmbar em chamas a assombrando. Ela esqueceria Will Carver, se fosse a última coisa que ela fizesse.

Não importava o quanto uma pequena parte dela se encolheu com o pensamento.

 

 

                                                   Bec McMaster         

 

 

 

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