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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


THE BITTERROOT INN / Devney Perry
THE BITTERROOT INN / Devney Perry

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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O passado dela. Seus segredos. Eles têm mais em comum do que ela sabe.
Maisy está feliz com a vida que construiu para si e para seu filho na pequena cidade de Prescott, Montana. Seu filho está crescendo feliz, seus negócios estão prosperando e sua família está mais próxima do que nunca. Mas quando um belo estranho entra no saguão de seu hotel, sua vida simples é arrastada em uma onda de carinho pelo coração gentil dele. Nenhum desses sentimentos pode ser confiável, no entanto. Ela cometeu esse erro antes com outro homem. O homem que ela assassinou.
Hunter era um homem diferente quando viu pela primeira vez Maisy Holt de longe. Ele olhou para ela e correu na direção oposta. Mas anos depois, ele está de volta a Montana e incapaz de manter distância. Ele não deveria ter tentado encontrá-la, mas nunca foi bom em rejeitar a tentação. A promessa do bem que ela poderia trazer para a vida dele é muito difícil de resistir. Talvez se ele puder disfarçar as mentiras e esconder o engano, ele possa impedi-la de descobrir a verdade. Porque sua única chance de um futuro com ela é enterrar seu passado.

 


 

 

— Este lugar está ocupado, senhora?

A idosa abandonou o livro que estava lendo e olhou para cima. As rugas ao redor dos olhos se aprofundaram com seu sorriso caloroso.

— Não, querido. Por favor sente-se.

— Obrigado. — Parei de girar as chaves do carro em volta do dedo indicador e as enfiei no bolso da calça jeans antes de afundar no sofá de couro e examinar a sala.

Para uma sala de espera de hospital, o espaço era especialmente agradável. As cadeiras em frente ao sofá de couro eram grandes e estofadas em um tecido de alta qualidade. As pinturas a óleo nas paredes eram emolduradas com um mogno que combinava com as mesas finais. As revistas na mesa central eram edições atuais e sem amassados. Esta era a melhor sala de espera que eu já vi, o que dizia alguma coisa, porque eu passava minha parte justa do tempo em hospitais, embora não em maternidades. Os avós, tias e tios expectantes podem contar com mesas de café com tampo de vidro. Ao contrário da sala de emergência em que eu estava há três dias atrás, as salas de espera nesta maternidade de Bozeman provavelmente não viram feridas jorrando ou projéteis de vômitos.

— O que o trás aqui? — A mulher idosa perguntou.

Uma pergunta inocente. Ela manteria seu convite se eu contasse a verdade?

Provavelmente não.

Eu sorri e fui com uma resposta vaga.

— Oh, apenas esperando boas notícias como todo mundo. E você?

— Minha neta está tendo seu primeiro bebê. Meu primeiro bisneto. — Seus olhos brilhavam quando ela os virou pelo corredor, onde sua neta provavelmente estava de joelhos abertos com um médico empoleirado entre as pernas.

— Parabéns. Ela terá uma menina ou um menino?

— Uma menina. — Ela sorriu, mas balançou a cabeça. — Vocês jovens hoje em dia não deixam nada ao acaso com seus ultrassons. Tive quatro bebês e cada um foi uma surpresa.

— Bem, eu não tenho filhos, mas por acaso concordo com você. Eu gostaria que fosse uma surpresa.

Ela deu um tapinha no meu antebraço.

— Bom para você.

No toque do elevador, nossa conversa parou e nós dois olhamos para as portas prateadas, esperando que elas se abrissem. Fiquei tenso e prendi a respiração, esperando que o motivo da minha visita ao hospital não estivesse prestes a entrar e me deixar arruinar seu dia especial.

Minhas mãos cavaram nas minhas coxas quando as portas do elevador começaram a se abrir. Que porra eu estava fazendo aqui? Como eu me deixei arrastar para fazer isso? Eu odiava minha maldita vida agora.

Um homem saiu do elevador primeiro, abaixando a cabeça enquanto entrou na sala. O boné de beisebol e a barba escura faziam pouco para esconder as sobrancelhas franzidas e a preocupação em volta da boca.

Por um segundo, relaxei minhas mãos, pensando que ele era um solitário, até que um de seus braços girou para trás para ajudar uma mulher a sair do elevador. Sua grande massa a havia escondido de mim.

Era ela?

Não. Não poderia ser ela. Não ela. Por favor, não deixe que seja ela.

Porque essa mulher era um sonho. Um anjo em pé no corredor de um hospital.

Seus cabelos loiros brilhantes emolduravam seu rosto delicado e perfeito como uma auréola. Seu sorriso estava cheio de dentes brancos e retos sob os lábios rosados e macios. Os olhos dela ficariam grandes demais na maioria dos rostos, mas, por estarem tão perfeitamente posicionados no topo das maçãs altas de seu rosto, eram sua melhor característica.

— Beau, — disse a mulher, puxando o braço do homem. — Você vai relaxar e desacelerar?

Ele não parou de se mover em direção à mesa das enfermeiras, puxando-a.

— Não é hora de desacelerar, Maisy.

Foda-me. Era ela. A respiração que eu estava segurando correu tão rápido que meu peito cedeu.

— Veja. — Maisy afroxou o aperto que tinha no braço de Beau e parou junto à porta da sala de espera. — É aqui que nos separamos. Esta é a sua sala. — Ela apontou para uma cadeira em frente ao meu sofá. — E eu vou para a minha. Mandarei uma mensagem para você daqui a pouco.

Ele franziu a testa.

— Você está tendo um bebê. Não vou ficar na sala de espera.

— Bem, você não vai entrar na minha sala. Eu te amo, mas há coisas que você não vai ver. Isso me inclui em um vestido de hospital com os pés em estribos.

— Você não fará isso sozinha, Maze.

— Mamãe estará aqui em breve e, uuuu. Uau! — Ela se inclinou sobre a barriga de grávida e soltou um longo suspiro através dos dentes apertados.

Eu comecei a levantar, mas eu parei antes que eu pudesse me levantar do meu assento. Não era meu trabalho confortá-la através de uma contração. Ela tinha o irmão e a família para isso. Eu era apenas um estranho.

Ainda assim, eu queria o emprego. Eu queria ser o homem esfregando suas costas e beijando seus cabelos. Eu queria segurar a mão dela e deixá-la apertá-la com todas as suas forças. Eu queria dizer a ela o quão bonita ela era quando seu bebê chegasse ao mundo.

Quão fodido era isso?

Eu a vi pela primeira vez por apenas um minuto, mas um olhar e tudo que eu conseguia pensar era fazê-la minha. Dois minutos antes, eu teria dito que essa merda não acontece na vida real. Homens como eu não acreditavam no amor à primeira vista.

Dois minutos antes, eu era um idiota.

— Você está bem? — Beau perguntou quando Maisy ficou em pé.

Ela olhou para a barriga, esfregando os lados enquanto um sorriso iluminava todo o rosto.

— Estou bem. Não parece ótimo, mas significa que ele estará aqui em breve.

— Deixe-me ir com você para fazer a entrada. Por favor? — Beau pediu, e quando ela assentiu, ele a levou em direção à mesa das enfermeiras e desapareceu da minha vista.

Minha mandíbula apertou quando a realização se estabeleceu.

Eu estava aqui na missão de um tolo.

Aquela mulher amava o bebê e nunca o abandonaria.

A mulher idosa ao meu lado disse algo que não entendi. Tão apanhado com Maisy, eu esqueci que não estava sozinho neste sofá.

— O que você disse? — Eu perguntei.

— Eu disse que não a invejo, — ela repetiu. — Se o bebê puxar o pai, ela terá um parto difícil. Ele é tão grande como uma montanha. Por ela, espero que ela consiga as drogas.

Balancei minha cabeça e murmurei:

— Ele não é o pai.

— Perdão?

Eu não me repeti. Em vez disso, levantei-me e saí da sala de espera o mais rápido possível, indo direto para as escadas, para não ter que esperar pelo elevador. No instante em que a porta da escada bateu forte atrás de mim, peguei meu telefone do bolso. Pressionei o nome mais recente no registro de chamadas e segurei o telefone no ouvido enquanto descia os degraus dois de cada vez.

— Ela vai manter o bebê. Deixe-a em paz.


Capítulo Um

Maisy

 

Três anos e meio depois...


— Você acha que eles vão superar isso? — Milo perguntou.

— Sobre eu ter renomeado o hotel?

— Sim.

Eu sorri e dei de ombros.

— Provavelmente não.

Milo e eu estávamos sentados em um estande no Prescott Café, espionando o Coffee Club enquanto eles se debatiam se a decisão de renomear meu hotel de The Fan Mountain Inn1 para The Bitterroot Inn2 iria me levar à falência. Eles estavam discutindo há mais de um ano e ainda não haviam chegado a nenhuma conclusão.

— Eu juro, esses caras estão ficando sem fofocas, — disse Milo. — Lembro que as reuniões deles eram muito mais informativas. Agora eles estão apenas reciclando tópicos antigos.

Eu ri.

— É só porque Seth Balan está de férias. Quando ele voltar, tenho certeza de que ele infundirá o grupo com material novo. Ele é o líder deles, você sabe disso.

Ele assentiu.

— Verdade.

O Coffee Club era a fundação de Prescott, o moinho de fofocas de Montana. Desde que me lembro, o grupo de homens locais vinha se encontrando aqui no café todas as manhãs para tomar um café. Desde que o clube era composto principalmente por agricultores aposentados e pecuaristas, eles bebiam sua primeira xícara discutindo o mercado de gado e os preços dos grãos, enquanto xingavam o tempo. Mas depois que esses tópicos eram resolvidos, todo o resto era um jogo justo. Como eles obtinham suas informações, eu não fazia ideia. Nem o clube de colchas da minha mãe conseguia entender como esses homens sabiam tanto.

— Então, você decidiu o que comprar para Sara para o aniversário dela? — Eu perguntei, mudando de assunto. Ele vinha se estressando há semanas sobre o que presentear sua esposa.

— Não. — Ele se recostou na cabine de vinil, virando-se para olhar pela janela ao nosso lado. — Ela é impossível de presentear, — ele disse ao copo. — Se ela quer alguma coisa, ela compra para si mesma, o que me deixa com cartões de presente de spa e joias que ela raramente usa. Eu quero algo especial para ela este ano. Fazer algo grande. Alguma ideia?

Eu balancei minha cabeça. Sara era uma boa amiga, mas Milo estava certo, ela era muito difícil de comprar um presente e eu estava lutando para conseguir um presente de aniversário para ela.

— Por que você não fala com Nick? — Eu sugeri. — Ele está sempre exagerando para Emmeline. Aposto que ele poderia pensar em algo grande.

Milo voltou para o estande e franziu a testa.

— Ele vai rir de mim se eu entrar na garagem e pedir ideias de presentes para minha esposa.

— Não, ele não vai. Ele ajudará totalmente. — Eu sabia que Nick Slate não amava nada além de fazer de tudo para tornar os dias especiais de Emmeline ainda melhores, e ele ajudaria Milo a qualquer momento. Eu tinha a suspeita furtiva de que Nick era o cérebro por trás de muitos dos presentes de aniversário ou datas comemorativas que minhas amigas receberam de seus maridos.

— Vou pensar sobre isso. — Milo tirou um punhado de dinheiro do bolso. — Eu pago o café hoje.

Eu sorri.

— Obrigada.

Ele deixou cair algumas notas sobre a mesa, depois deslizou do nosso estande e foi até o balcão para pagar os três dólares pela nossa garrafa de café.

Milo Phillips e eu estávamos nos reunindo para tomar café uma vez por semana desde que tínhamos vinte e poucos anos. Porque as nossas mães eram amigas íntimas, nós crescemos juntos. Quando jovens, nós perdemos o contato por alguns anos. Ele deixou Prescott para a academia de polícia e eu fui para a faculdade, mas quando voltamos para casa, começamos esse ritual semanal no café.

Naquela época, ambas as nossas mães tinham ficado fora de si que estávamos passando tempo juntos, aproveitando todas as oportunidades para sugerir de maneira não tão sutil do sonho delas para nos casarmos. Infelizmente para nossas mães, Milo sempre foi mais um irmão do que um interesse amoroso.

Além disso, no minuto em que ele trouxe Sara para Prescott, todo mundo viu que ele havia encontrado a mulher certa. Ela era a outra metade dele. Gentil e doce, ela amava Milo de todo o coração. Tudo o que ela queria era que ele fosse feliz, e fofocar comigo por uma hora o faz feliz.

Isso me faz feliz também.

Provocamos o Coffee Club implacavelmente, mas o fato era que Milo e eu não estávamos muito melhores. Não acontecia muita coisa em nossa pequena cidade que nenhum de nós dois não sabia. Porém, ao contrário do Club, fizemos o possível para não espalhar boatos. Quando éramos mais jovem, nós dois éramos mais fofoqueiros. Mas agora, na maioria das vezes, nossas fofocas ficaram entre nós e o estande regular em que nos sentávamos a cada semana.

Quando Milo se virou do balcão, peguei minha bolsa no banco e fui em direção à porta, acenando adeus à nossa garçonete, que estava atrás do balcão nos fundos do restaurante.

— Cavalheiros. — Cumprimentei o Coffee Club na fila de mesas quadradas que eles juntaram no centro do restaurante.

Um coro de “bom dia” e “oi, Maisy” encheu a sala.

— Quais são as notícias hoje? — Eu sorri, sabendo que ninguém iria responder e confessar o fato de que eles estavam fofocando sobre mim.

Como eu esperava, todos os olhos de repente acharam fascinantes os cardápios, os guardanapos de papel e os saleiros. Esses caras nunca pareciam perceber o quão alto eles falavam ou que Milo e eu éramos bisbilhoteiros crônicos.

— Talvez um dia desses vocês me convidem e a Milo para sua mesa. — Eu fiz o meu melhor para parecer esperançosa, embora estivesse brincando.

Dois homens murmuraram, mas Dean Taylor falou pelo grupo.

— Você sabe como é, Maisy. Ficamos aqui por horas. Você precisa se aposentar para ter tempo de se juntar a esse grupo de velhos.

— Bem, quando o hotel falir por causa de seu novo nome, talvez eu me qualifique. — Dois rostos coraram e a boca de Dean se abriu. Eu ri e acenei enquanto caminhava para a porta, gritando: — Tenha um bom dia! — Sobre meu ombro.

A campainha da porta tocou quando Milo a abriu para mim.

— Você não deve provocá-los.

Dei de ombros e saí para a calçada.

— Não é como se eles dissessem algo sobre mim que ainda não foi dito ou impresso no jornal semanal.

— Bom ponto. — Ele colocou seus óculos de sol e caminhou em direção a sua viatura.

Às vezes eu tinha que me lembrar de que Milo era um policial, não apenas o garoto esbelto com um corte na moda que costumava me perseguir pelo playground. Ele ainda tinha o corte e estava mais magro do que nunca, sua camisa bronzeada nunca parecia se encaixar em seu corpo magro, mas, ao lado do carro da polícia, ele parecia muito mais oficial e adulto.

— O que você está fazendo hoje? — Eu perguntei. Milo sempre esteve comigo sobre seu trabalho, tanto que isso o colocou em problemas alguns anos atrás. Eu ainda perguntei e ele ainda me disse, mas tomei mais cuidado em manter a boca fechada ao redor de outras pessoas, especialmente o chefe dele, o xerife, que por acaso era o marido da minha melhor amiga.

— Estou em patrulha hoje, então farei o check-in na delegacia e depois sairei.

— Então eu direi boa sorte. Que seu dia seja preenchido com uma infinidade de multas por excesso de velocidade.

— Obrigado. — Ele sorriu, mas parou quando olhou no banco do carro. — Merda. Eu tenho que correr para casa. Esqueci meu protetor solar e Sara fica chateada quando não o tenho nos dias de patrulha.

Meus olhos imediatamente encontraram a cicatriz enrugada na testa de Milo e debaixo da sua mandíbula. Seus braços estavam cobertos com mangas compridas, mas debaixo do algodão engomado havia um padrão de cicatrizes de queimaduras de uma explosão que ele tinha estado preso anos atrás. Uma queimadura de sol seria a pior coisa para suas cicatrizes e Sara era esperta em empurrar o protetor solar.

— Tudo bem, tchau. — Acenei. — Pense em conversar com Nick sobre o aniversário dela.

— Vou pensar. Tchau. — Ele acenou de volta antes de entrar em seu carro, saindo para a Main Street e seguindo em direção a sua casa.

Eu sorri com sua urgência. Poucos homens colocaria as diretrizes de cuidado com a pele de sua esposa acima de chegar ao trabalho na hora certa, mas Milo faria qualquer coisa para fazer Sara feliz. Se usar protetor solar a fazia sorrir o tempo todo, ele seria o primeiro a usá-lo.

Ver o relacionamento deles me fez desejar um. Eu queria que um homem honesto e forte caísse em minha vida. Eu queria um romance que me tirasse o chão. Mais do que tudo, porém, eu queria encontrar um homem em quem pudesse confiar completamente. Um homem que não esconderia coisas de mim.

Infelizmente, as colheitas eram escassas na pequena cidade de Montana e eu não estava disposta a me contentar com nada menos do que perfeito. Não era apenas o meu coração em risco. Eu tinha um garotinho a considerar primeiro. Meu filho de três anos, Coby, merecia o melhor e, desde que eu cometi erros suficientes com seu pai biológico, prometi não trazer um padrasto indigno para a mistura.

Mesmo que isso significasse que eu permanecesse solteira pelo resto da minha vida.

Se nada mais, eu tinha meus devaneios. No momento, eu esperava que um clone de Chris, Chris Evans, Chris Hemsworth ou Chris Pine, vagasse pela cidade e se apaixonasse loucamente por mim e meu filho. Se eu tivesse com os quartos de hotel ocupados no momento em que ele invadisse a cidade, eu ficaria feliz em oferecer a ele meu próprio quarto de graça.

— Bom dia, Maisy!

Afastei-me da rua e sorri para a Sra. Connelly quando ela abriu a porta de sua loja de cerâmica e utensílios de cozinha.

— Bom dia!

As lojas do centro da cidade não sobreviveriam na maioria das cidades pequenas, mas graças ao forte fluxo de turistas no verão, lojas como a dela estavam florescendo em Prescott.

— Você me faria um favor? — Ela perguntou. — Da próxima vez que você falar com sua mãe, deixe que ela saiba que acabei de adquirir o bloco de sal do Himalaia que ela está querendo experimentar.

— Sem problemas. — Eu sorri, depois fui para o hotel.

O ar do começo de abril estava frio, mas o sol estava brilhando, me mantendo quente em meus jeans, tênis e blusa de moletom cinza claro. Eu adorava manhãs assim quando podia deixar Coby na creche, Quail Hollow, e depois caminhar até o centro. Essas manhãs me deram a chance de apreciar minha pequena cidade.

Não mudou muita coisa em Prescott, e quaisquer mudanças que viessem levavam tempo. Previsibilidade foi o que fez esta casa. Em breve, os postes de luz à moda antiga seriam pendurados com cestos de flores. Itens de primavera em vitrines seriam trocados no verão. Os turistas inundavam a área pitoresca e enchiam as calçadas estreitas.

Com eles viria minha agenda lotada e eu não teria tempo para esses pequenos passeios matinais. Eu estaria muito ocupada no hotel, tentando freneticamente acompanhar os check-in e check-out. Eu precisaria de dez minutos extras para atualizar uma reserva ou dobrar um monte de roupas de cama.

O turismo não era bom apenas para as lojas do centro, era meu pão e manteiga também. Daqui a três semanas, a temporada turística estaria bem encaminhada, pois pessoas de fora da cidade voavam para Prescott a caminho do Parque Nacional de Yellowstone. Eu já tinha reserva sólida durante o verão e, quando o inverno passasse, eu trocava minhas caminhadas matinais por cochilos matinais, na tentativa de recuperar os meses de sono perdido.

Mas, por enquanto, eu estava gostando do ar da primavera e da minha rotina matinal mais leve.

— Bom dia, Maple, — eu disse quando a passei montando uma tábua de sanduíche do lado de fora de sua cafeteria.

Ela apareceu por trás da placa, cabelos grisalhos encaracolados voando por toda parte e sorriu.

— Olá querida.

— Tenha um ótimo dia! — Eu falei, não parando para conversar. Adorava minhas caminhadas, mas se não tomasse cuidado, poderia passar horas visitando todos na Main.

Main Street era o centro da cidade, seu coração. A rua em si começava em uma extremidade com uma lagoa de pesca comunitária e terminava na outra com dois postos de gasolina, cujos proprietários estavam trancados em uma batalha interminável para ter o menor preço do combustível ou cerveja especial. Passando pelos postos de gasolina e subindo uma ladeira arredondada, estava a estrada que levava para fora da cidade. Meu hotel era o negócio na rodovia mais próximo da Main Street, então eu orgulhosamente o considerava parte integrante do charme que era o centro da cidade de Prescott.

Ao me aproximar da estrada, verifiquei o tráfego e corri pela estrada quase deserta, parando um momento para apreciar minha posse material mais valiosa.

The Bitterroot Inn.

Cada centavo extra que eu conseguia juntar foi para melhorar meu hotel. Limpava os quartos, lavava as roupas de cama e esfregava os banheiros em vez de pagar por uma empregada em tempo integral. Fazia as reservas e toda a contabilidade para que eu não tivesse que contratar um gerente de escritório. E, em vez de pagar por empreiteiros profissionais, recebia ajuda de meus irmãos e amigos.

Se eu pudesse fazer isso com minhas próprias mãos, eu faria. Eu pintei. Troquei as luminárias. Eu até aprendi a colocar o azulejo do banheiro.

Eu trabalhei duro por quase três anos e meus esforços estavam finalmente começando a dar frutos.

As reservas eram mais altas do que jamais haviam sido, eu construí uma sólida reputação para os meus negócios e minha lista de melhorias a serem feitas estava quase completa.

Passando pela escada que levava ao sótão no andar de cima, onde Coby e eu morávamos, contornei a lateral do prédio e destranquei a porta do saguão de vidro. Virando a placa do saguão para ler Venha o hotel, atravessei a pequena sala, deixei minha bolsa atrás do balcão alto e examinei a lista de reservas que eu imprimi na noite passada.

Eu só tinha quatro hospedes no momento, com dois outros chegando amanhã para o fim de semana. A pouca ocupação significava que eu não iria passar minhas noites fazendo a lavanderia e, em vez disso poderia fazer mais progressos na renovação de outro quarto. Eu estava fazendo uma lista de tarefas para o dia quando a porta do saguão se abriu e meu irmão Beau entrou.

— Ei! — Abandonei minha lista para lhe dar um abraço. — O que você está fazendo aqui? Você não você deveria estar indo para Bozeman hoje para a prova do seu smoking?

Ele fez uma careta, mas assentiu.

— Sim, mas eu não tenho que sair por quinze minutos. Pensei em vir e verificar como o ladrilho ficou no quarto sete.

— Está incrível! — Eu dei um aplauso feliz. — Meu melhor trabalho por enquanto. Deixe-me pegar a chave. — Voltei para trás do balcão e puxei a chave do porta chaves. Enquanto não era mais comuns nos dias de hoje, o meu hotel ainda tinha as chaves de metal reais. Quando elas se perdiam, era um incômodo total mudar as fechaduras, mas o charme das chaves reais fazia todo o aborrecimento valer a pena.

— Eu conversei com Sabrina ontem à noite, — eu disse enquanto seguia Beau para fora. — Ela disse que você desistiu da banda ao vivo.

Ele suspirou e passou a mão sobre a barba grossa e escura.

— Isso a fará feliz.

— Você percebe que ela vai fazer você dançar, certo? — Com um metro e oitenta, ele era a montanha de um homem e, assim como nosso pai, Beau não tinha o físico para dançar graciosamente. O melhor que ele pôde fazer foi um piscar de olhos lento e dois passos.

— Estamos atualmente em negociações sobre a dança.

Puxei meus lábios para esconder meu sorriso, sabendo exatamente como essas negociações terminariam.

— Certo.

O casamento de Beau e Sabrina era em um mês e prometia ser um caso extravagante, algo raro nessas partes. Enquanto Sabrina adorava cada minuto do planejamento do casamento, meu irmão, que estava longe de ser extravagante, contava os milissegundos até a lua de mel.

Beau passou um braço em volta dos meus ombros em um abraço lateral enquanto passávamos pelo estacionamento retangular em direção ao quarto sete.

— Todo esse lugar está ótimo.

— Eu estava pensando nisso antes. Está realmente ficando do jeito que eu planejei. — Eu sorri enquanto olhava ao redor da frente do prédio de dois andares em forma de L.

Não era reconhecível como o hotel que eu havia comprado. O tijolo amarelo, que antes estava desbotado, agora era branco. Os postes que sustentavam a varanda do nível secundário foram despidos, lixados e pintados de um bronze natural. Suas bases foram confrontadas com um belo cinza e marrom.

Eu até gastei o dinheiro para substituir as portas brancas pré moldadas por portas de madeira maciça, pintadas para combinar com os postes. Com as venezianas pretas em todas as janelas dos quartos, as grades de ferro ao longo da varanda e as chapas extravagantes que eu pendurava do lado de fora dos catorze quartos, meu hotel estava longe do edifício estéril e liso que outrora fora.

— Então, o que está na sua lista para o fim de semana? — Beau perguntou, sabendo que minha lista de tarefas nunca era curta.

— Eu estava pensando em começar na preparação para o verão. O canteiro de flores ao redor do letreiro precisa de terra fresca e vou arrastar os vasos para fora do galpão. Espero limpar a lavanderia e a sala para começar a pintura aqui. — Coloquei a chave no quarto sete e empurrei a porta. O cheiro ruim que encheu meu nariz logo seria uma coisa do passado.

Eu tinha três semanas para terminar este quarto antes de precisar para reservas de clientes. Com a ajuda de Beau, eu já havia reformado o banheiro, mas ainda havia muito trabalho para terminar o quarto. Pintura. Tapete. Montar a mobília. Decoração. Seria um esforço para terminar tudo, mas eu confiava nas minhas agressivas listas de tarefas.

O tempo ocioso não era bom para minha saúde mental.

Beau passou por mim e foi direto para o banheiro nos fundos do quarto, parando na porta para contemplar minha última obra-prima.

— O banheiro mais incrível do mundo?

Ele riu.

— Caralho.

Eu tinha encontrado esse lindo azulejo artesanal com um intrincado padrão de arcos geométricos em carvão sobre um fundo branco. Oito peças juntas criaram dois padrões diferentes que deram caráter e classe aos pisos do banheiro. Quando o peguei, fiquei em êxtase.

— Estou orgulhoso de você, Maze.

— Eu também. Mas eu não teria chegado tão longe sem toda a sua ajuda.

Embora eu tenha feito o piso do banheiro, Beau passou inúmeras horas ajudando a remodelar outras partes do edifício. Todo o trabalho que ele fez tinha me salvado milhares de dólares. Eu costumava pagar a ele jantares gratuitos, mas agora que ele tinha Sabrina cozinhando para ele, eu teria que pensar em outra maneira de agradecê-lo por seu trabalho.

— Estou sempre feliz em participar, — ele disse. — Especialmente se você mantiver o prato de biscoitos no saguão cheio.

— Eu posso fazer isso. — Biscoitos para construção. Eu assaria uma dúzia do seu favorito hoje à noite.

Passei meus braços em volta da cintura dele para outro abraço. Eu amava meus dois irmãos, mas Beau sempre fora mais do que apenas um velho amor. Ele era meu herói, e eu estava muito feliz por ele ter encontrado Sabrina. Ela era uma amiga maravilhosa, tia e nova integrante de nossa família, mas, mais importante, ela fazia Beau mais feliz do que ele jamais esteve.

O toque de seu relógio inteligente interrompeu nosso momento e eu joguei minha cabeça para trás para dar um sorriso.

— Hora do smoking.

Ele gemeu e me soltou, passando a mão pelos cabelos escuros.

— Eu provavelmente não deveria perder este compromisso.

— Provavelmente não. — Dei um passo para trás e plantei ambas as mãos em suas costas, em seguida, assim como eu tinha feito quando era criança, eu tentei empurrá-lo ao redor. Usando toda a minha força, empurrei, cavando meus pés no chão. Como sempre, ele começou a rir, mas não se mexeu.

— Vá. — Eu resmunguei e empurrei ainda mais, mas mal o fiz se mover

— Não desistiu ainda? — Ele brincou.

— Nunca! — Reposicionei meus pés e dei a ele todo o meu peso, prendendo a respiração enquanto empurrava, mas ele ainda não se mexia.

— Vai desistir agora?

Um último empurrão sem sucesso e deixei cair minhas mãos, ofegando enquanto me endireitava.

— É como se você fosse feito de pedra.

Ele sorriu.

— Não, é porque eu sou um gigante.

Eu ri quando passei por ele pela porta. Coby e Beau tiveram um jogo de longa data de gigantes. Se eles estavam juntos, Coby estava sempre andando nos ombros de Beau, fingindo ser um gigante enquanto pisoteavam as casas de Lego em pedacinhos ou batiam em carros nas ruas imaginárias.

Depois de trancar o quarto, acompanhei Beau até sua enorme caminhonete verde.

— Bem, dirija com segurança.

— Pode deixar. Ligue-nos se você quiser ajuda neste fim de semana.

— Ok. — Acenei quando ele entrou em sua caminhonete, depois voltei para o saguão.

Minhas quintas-feiras eram reservadas para a contabilidade e eu tinha uma pilha de contas para pagar antes do almoço. Instalando-me no meu escritório fora do saguão, não perdi tempo mergulhando no meu trabalho. Duas horas depois, minha conta bancária estava mais leve e eu abandonei minha mesa em busca de mais cafeína na geladeira.

Abrindo um Dr. Pepper, pulei em uma das banquetas atrás do balcão do lobby e olhei pela janela em direção à placa do hotel.

É tão fofo! Como as pessoas podem não amar?

Há pouco mais de um ano, surpreendi a cidade inteira ao retirar a placa antiga. Era ostensiva demais, quase tão alta quanto uma luz de rua, e suas palavras haviam desaparecido por causa de anos de exposição ao sol. A placa que eu escolhi para substituí-lo era discreta, mas perfeita.

Localizada no centro de um canteiro de flores elevado, havia dois postes brancos curtos. Entre eles ostentava uma placa branca clássica de uma barra de ferro. Não era apenas a nova placa que causou o tumulto, era o que havia sido escrito em sua face em letras pretas limpas.

The Bitterroot Inn.

Aquela placa, exibindo o novo nome do hotel, fora publicada na primeira página do jornal semanal de terça-feira, duas semanas seguidas.

Até hoje, poucas pessoas entendiam por que eu queria mudar o nome do hotel, principalmente porque eu mantive o nome anterior por tanto tempo. Mas eu havia passado tanto tempo fazendo deste lugar meu, que também queria um nome.

A raiz amarga3 era a flor do estado de Montana e uma favorita pessoal. No momento em que anotei as palavras em um guardanapo no café, soube instantaneamente que estava certa.

No dia seguinte, eu pedi a nova placa.

E as fofocas começaram.

O hotel não foi a única coisa que mudou nos últimos três anos. Eu também havia mudado. Com cada golpe do meu pincel, cada golpe do meu martelo, cada rodada da minha chave de fenda, eu mudei.

Desapareceu a imaturidade de uma garota de vinte e poucos anos, ser mãe solteira e dona de uma empresa a expulsou. Foi-se a mulher ingênua que havia deixado um monstro entrar em sua vida, embora não antes de eu ter conseguido a única coisa boa que ele tinha para oferecer. Foi embora a jovem enfermeira cheia de espírito que falava incessantemente, eu aprendi a ouvir mais e a ter atenção às pessoas que vieram para nossas vidas.

Eu aprendi da maneira mais difícil o quão enganosas as pessoas podiam ser quando você estava muito ocupada conversando para prestar atenção às bandeiras vermelhas.

Respirando, saí dos meus pensamentos antes que eles pudessem ir para um lugar ruim. Peguei um bloco de desenho no balcão e virei para uma página vazia. Eu havia gasto todo o meu tempo e dinheiro reformando o hotel, mas não havia feito muito em meu próprio sótão. Agora que finalmente estava no meu último quarto de hóspedes, estava pensando em todas as coisas que queria fazer no quarto de Coby e em nossa casa.

Eu estava tão perdida nos meus desenhos que me encolhi quando a porta do saguão se abriu, e meu lápis derrapou para fora da página, deixando uma marca profunda que nem a borracha iria desfazer. Eu fiz uma careta por uma fração de segundo antes de olhar para cima, pronta para cumprimentar meu visitante com um sorriso de megawatt.

O sorriso caiu, junto com o meu queixo.

Meu visitante saiu direto de uma revista. Seu cabelo castanho claro estava preso em um coque elegante. Sua mandíbula forte estava coberta por uma barba bem cuidada. Seus olhos castanho-caramelo, emoldurados por cílios longos e escuros, estavam apontados para mim com tanta intensidade que quase me derrubaram do banquinho.

Quando ele se virou para fechar a porta, repentinamente percebi que não estava usando maquiagem e que minhas roupas eram tão tediosas quanto uma palestra sobre economia. Mas ei! Pelo menos você lavou o cabelo hoje. Graças a Deus eu não estava com o meu boné de beisebol azul normal.

Eu não pareceria um desleixo completo na frente desse homem.

Esse homem era todas as coisas boas dos meus Chrises reunidas em um. Esse homem deveria estar no meio de uma sessão de fotos para um outdoor de quinze metros, não parado no meu saguão do hotel.

Este homem estava prestes a obter a versão resmungona e desastrada de Maisy Holt, coisas que ninguém nunca tinha visto.

Super.


Capítulo Dois

Hunter


Que porra eu estava fazendo?

Eu precisava sair. Estar tão perto de Maisy era muito arriscado. Eu deveria estar invisível. Escondido. Eu deveria ser o homem nas sombras, fazendo o possível para protegê-la sem saber que eu estava aqui.

Entrar em seu hotel em plena luz do dia estava o mais longe possível de ser invisível.

A última vez que estive em Prescott, consegui evitar completamente Maisy. Eu resisti à tentação de vê-la e vivi como de costume, indo trabalhar todas as manhãs e depois imediatamente me retirando para casa todas as noites. Eu tinha comprado trinta minutos antes da Jamison Foods fechar à meia-noite, para não esbarrar nela acidentalmente nos corredores. Eu me afastei de todos os restaurantes, vivendo da minha merda de comida por um ano, só para não correr o risco de estar na mesma sala. Eu não passei quase nenhum tempo explorando Prescott apenas para evitar encontrá-la na rua.

Da última vez, eu fui forte.

Dessa vez, a tentação venceu.

Esta manhã, eu estava desesperado por uma refeição real e tinha enfrentado o café. Para os dois dias de carro de Illinois para Montana, eu tinha estado vivendo com barras de proteína, gummy worms azedo e colorido. Entrando em Prescott às duas da manhã, eu estacionei em um acampamento e dormi na minha caminhonete. Acordando com uma pontada no pescoço e com dores de fome, corri para o café, imaginando que as chances de Maisy entrar no restaurante enquanto eu comia um pouco de comida eram quase nulas.

Eu precisava rever a teoria do caos.

Porque enquanto eu colocava ovos mexidos e batatas fritas na boca, Maisy deslizou para dentro da cabine do café três abaixo da minha.

E foi aí que todo o meu plano de ficar longe se transformou em merda.

Tudo porque aquele policial a fez rir.

Escondido atrás de um jornal aberto, eu tinha roubado olhares dela falando e sorrindo com ele. Então ele contou uma piada e o toque melódico dela abafara todos os outros ruídos do café. Minhas mãos tinham amassado os lados do jornal sem reparo e eu havia perdido o controle de qualquer pensamento racional.

Maldito ciúme.

Toda essa manhã de loucura foi culpa do ciúme.

Porque, em vez de voltar para minha caminhonete e colocar algumas dezenas de quilômetros entre nós depois que ela deixou o café, eu a segui enquanto ela caminhava pela Main Street.

Eu tinha visto o rosto das pessoas se iluminar quando ela sorriu e acenava bom dia. Eu observei enquanto ela se movia com uma graça evidente ao longo da calçada. E eu vi a luz do sol viajar com ela.

Quando ela chegou ao hotel, eu estava sob seu feitiço.

Depois disso, voltei ao centro para pegar minha caminhonete e dirigir um pouco, esperando que algum espaço me levasse de volta aos trilhos, mas meus pneus pareciam se dirigir de volta ao The Bitterroot Inn.

De volta para Maisy.

Agora aqui estava eu. Não me escondendo. Não invisível. Em vez disso, eu estava olhando para ela e não querendo piscar. Eu estava fazendo o meu melhor para ignorar a voz da razão no fundo da minha mente.

Hunter, vire sua bunda.

Dei um passo adiante no saguão do hotel.

Não fale. Saia.

— Oi. — Cruzei a distância restante até o balcão.

— Hum, oi, — ela chiou, depois limpou a garganta. — Olá. Oi. Bom dia. — O fluxo das bochechas dela era tão fodidamente bonito, meu coração disparou duas vezes.

O que quer que você faça, idiota, não peça um quarto. Você tem um plano, lembra?

— Eu queria saber se você tem uma vaga?

Porra do caralho.

— Hum, tudo bem. Quero dizer, sim! — Ela deixou escapar. — Eu tenho uma vaga. Por quanto tempo? — Ela começou a mexer com uma pilha de papéis, espalhando-os pelo balcão e jogando alguns no chão.

— Três semanas?

— Ok. — As mãos dela freneticamente empurraram os papéis espalhados para o lado e depois pegaram uma agenda. — Claro. — Ela respirou fundo e estendeu a mão para tirar uma caneta de um porta canetas de vidro. — Três noites, — ela disse, escrevendo as palavras em seu livro.

— Não, três semanas.

Seus olhos se voltaram para os meus e ela corou novamente por seu erro.

— Semanas. Desculpe.

— Está tudo bem. — Meu sorriso a fez ofegar e soltar a caneta. Eu a estava atrapalhando, um efeito que tinha sobre muitas mulheres, mas essa foi a primeira vez que eu gostei disso. Eu não queria que Maisy ficasse desconfortável, mas eu realmente gostei que ela me achasse atraente.

Porque eu a achava incrível.

— Três semanas, — repetiu Maisy, olhando para o livro para evitar meu rosto. — Eu tenho um quarto de longa estadia aberto para o mês. Possui uma cozinha compacta para que você possa cozinhar, além de ter sua própria lavadora e secadora. O preço é quinhentos por semana, mais impostos. Os quartos standard são noventa e nove por noite, assim você economize algum dinheiro, desde que não se importe de que eu o limpe apenas a cada dois dias.

Quinhentos dólares eram três vezes o valor que eu planejara pagar por um trailer alugado, mas Maisy poderia ter cada último centavo que eu tivesse em meu nome.

— Tudo bem. Eu aceito.

— Certo, — ela sussurrou para o balcão. — Só preciso ver uma identificação e seu cartão de crédito.

Ela finalmente olhou para cima novamente, dando-me um breve vislumbre de seu sorriso, antes de caminhar para uma prateleira entalhada na parede para pegar alguma papelada. Quando ela voltou, seus olhos cinza-azulados encontraram os meus. Eu nunca estive perto o suficiente para apreciar sua cor única antes, só a vi à distância.

Eu memorizei a cor para que pudesse guardá-los para os meus sonhos quando ela se fosse.

Nós nos encaramos por um momento longo demais, o ar ficando mais denso enquanto respiramos. Caralho. Ela tinha todas as minhas terminações nervosas em disparada. Minhas mãos coçavam para estendê-las e tocar sua pele macia, mas este balcão estava me mantendo longe.

Eu não me mexi. Eu apenas continuei estudando seus olhos até que ela piscou e se afastou.

— Só preciso que você preencha isso. — Ela colocou a papelada e uma caneta no balcão e empurrou-as em minha direção.

Eu soltei seu feitiço.

— Desculpe por encarar. Você tem olhos lindos. — As palavras saíram da minha boca antes que eu pudesse trancá-las.

Ela estendeu a mão para prender uma mecha de cabelo atrás da orelha, usando o gesto para tentar esconder seu sorriso largo, mas eu ainda o vi e isso me atingiu bem no coração. Porra, essa mulher ia me destruir. Cinco minutos com ela e eu queria uma vida. Mas desde que eu nunca vou obtê-la, eu tinha que sair deste átrio. Rápido. Para minha própria sanidade.

Pegando minha carteira, peguei minha carteira de motorista e cartão de crédito.

— Aqui está. — Coloquei-os no balcão propositadamente, não querendo arriscar meus dedos roçando nos dela. Então peguei a caneta, focando a papelada em vez de Maisy. Eu escrevi meu nome, número de telefone e descrição do veículo enquanto ela fotocopiava minha licença e cartão de crédito.

— Hunter Faraday, — ela leu meu nome do meu documento de identidade quando o trouxe da copiadora.

— Está certo. — Estudei o rosto dela, esperando um flash de reconhecimento, mas não havia nenhum. Ela apenas sorriu e colocou as cartas de volta no balcão.

Bom. Quanto menos ela soubesse sobre mim, melhor. Se ela não reconheceu meu nome, significava que eu tinha feito um bom trabalho em permanecer sob o radar na última vez em que estive em Prescott.

Pena que eu não poderia dizer o mesmo desta vez.

— Eu sou... Maisy. Eu sou a proprietária do Bitterroot, então deixe-me saber se você precisar de alguma coisa. Se não estou no escritório, deixo meu número de telefone na porta.

— Ok. — Coloquei meus cartões de volta na carteira e enfiei-a no meu jeans.

— Aqui está. — Ela me entregou uma chave presa a uma pequena pulseira de couro trabalhado. — Você está no quarto oito. É o último quarto do lado longo do edifício. Primeiro andar.

— Obrigado. — Respirei profundamente seu doce perfume de lilás, depois assenti e saí da sala. Quando a porta do saguão se fechou atrás de mim, eu não perdi tempo arrastando minhas malas da minha caminhonete e para o meu novo quarto. Sentado no edredom branco, deixei cair os cotovelos até os joelhos e deixei meu corpo cair.

Maneira de manter o plano, Faraday.

Acho que eu ficaria no The Bitterroot Inn, afinal, vivendo a noventa metros da única tentação que eu não tinha chance de resistir.

— Que merda de plano, — murmurei no momento em que meu telefone tocou. Puxei-o do bolso e franzi a testa para o nome na tela. — Olá.

— Onde você está? — Ela perguntou.

— Você sabe onde.

— Hunter, isso é realmente necessário?

Eu zombei.

— Você me diz. É?

Silêncio.

— Foi o que eu pensei. Ouça, agora não é uma boa hora. Eu vou falar com você mais tarde. — Não esperei uma resposta ou um adeus antes de desligar.

Ficar no hotel de Maisy não seria fácil, mas se isso a mantivesse segura, eu ficaria aqui para sempre.

 

Maisy


Eu bati minha cabeça no balcão.

— Pior. Impressão. Sempre, — eu disse aos meus sapatos. — Sempre!

Isso tinha que ser um recorde para o número de ums e uhs que eu já disse em um período de cinco minutos. Eu não gaguejava muito desde que me pediram para participar de um debate improvisado na escola.

Hunter deve pensar que sou uma idiota completa. Apenas outra mulher desesperada bajulando seu belo rosto. Não é de admirar que a papelada dele estivesse cheia de rasuras. Ele estava com tanta pressa de escapar da dona do hotel, babando e maltrapilha, que ele mal fez seu roteiro legível. Se não fosse por sua carteira de motorista e cartão de crédito, eu não saberia o nome dele.

Mas que nome!

Hunter Faraday.

Eu me levantei e toquei meu queixo.

— Hunter Faraday, — sussurrei para a sala vazia. Onde eu já ouvira esse nome antes? Eu o conhecia?

Eu balancei minha cabeça. Não. Seu nome era vagamente familiar, mas não havia nenhuma maneira eu iria esquecer aquele rosto. Ou o corpo dele.

Pela primeira vez, eu estava com ciúmes de um suéter marrom claro. Eu queria me envolver com aqueles ombros do tamanho de nadadores olímpicos. Eu queria roçar contra seu estômago liso. Eu queria abraçar seus quadris estreitos. Aqueles jeans escuros não sabiam a sorte que tinham em cobrir aquelas pernas longas e sensuais, e deslizar por sua bunda impecável.

E o cheiro dele? Eu já tive homens que usavam colônia Armani antes, mas nunca cheirava tão bem. Quando flutuou pelo balcão, eu quase desmaiei e ele ainda estava a um metro de distância. Quem sabia que tipo de idiota eu me tornaria se ele chegasse mais perto do que isso?

— Não vá lá, Maisy Ann... — lembrei a mim mesma.

Hunter era meu hóspede e um cliente pagante. Eu precisava manter uma distância profissional. Três semanas dele no quarto oito pagariam pelo novo quarto de Coby no sótão e eu não podia me dar ao luxo de assustar Hunter e mandá-lo embora.

— Trabalho. Sempre há trabalho a ser feito. — Determinada a superar o nosso encontro, deixei de lado os pensamentos do lindo Hunter Faraday e voltei ao trabalho.

Enquanto pegava os papéis que havia jogado no chão, tentei não pensar no seu sorriso perfeito. Enquanto atualizava minha agenda com sua reserva, eu me recusei a imaginar seus lábios macios e cheios. Quando subi as escadas correndo para o sótão e almocei rapidamente, fiz o possível para ignorar o som de sua voz profunda tocando nos meus ouvidos, dizendo que ele achava meus olhos lindos.

No momento em que desci as escadas interiores que levavam do meu sótão ao saguão, eu havia me livrado do nervosismo ao conhecer Hunter. Bem... na maior parte. Ele não era o tipo de homem que você esquece facilmente. Hunter era um homem de referência, um que eu usaria para comparar a aparência física de qualquer homem no meu futuro.

Mesmo com seu coque de homem.

Eu nunca achei os coques masculinos particularmente atraentes antes. Certamente, algumas das famosas celebridades de Hollywood poderiam usá-los, meus Chrises certamente podiam, mas toda vez que eu via um pessoalmente, eles sempre pareciam tão magros e gordurosos. No entanto, o cabelo de Hunter era uma coisa de pura beleza. Era grosso e macio, nem um fio oleoso à vista. Os destaques loiros naturais ao redor de seu rosto eram mais visíveis por causa de seu comprimento, e a maneira como ele o puxara de volta, em um nó limpo e apertado, destacava os ângulos de seu rosto.

Ele é um hóspede. Ele é um convidado. Pare de sonhar acordada com o cabelo dele.

Eu só conheci alguns homens com uma presença magnética como a de Hunter. Todos tinham cicatrizes inferiores, especialmente o pai de Coby. E como mãe solteira com 29 anos e com um negócio a administrar, a última coisa que eu precisava era de outra ferida.

Outro motivo para evitar meu novo hóspede.

Então, como eu costumava trabalhar para ocupar minha mente, passei a tarde no meu computador retornando alguns e-mails em atraso. Horas mais tarde, eu estava na minha mesa, orgulhosa de que eu fui tão produtiva apesar de que algumas vezes pensar em Hunter tinha ameaçado me distrair. Peguei minhas chaves e bolsa do saguão, prestes a caminhar até Quail Hollow para pegar Coby, quando meu telefone tocou.

— Ei, — eu disse, cumprimentando meu irmão mais novo, Michael. — O que houve?

— Você se importaria se eu pegasse Coby na creche hoje?

Ele nunca pegou Coby antes.

— Uh, não. Eu acho que não.

Quando Coby era bebê, Michael sempre esteve nervoso ao seu redor, sempre preocupado em deixá-lo cair e sem saber como brincar com ele. Mas agora que Coby estava correndo e conversando, Michael estava trabalhando duro para construir um novo vínculo com meu filho. Eu amei que eles eram companheiros de brincadeira. Coby pode não ter um pai, mas entre meu pai e irmãos, não lhe faltaria modelos masculinos.

— Você quer vir pegar sua cadeirinha? — Eu perguntei. — Ou você vai andar?

— Estou dirigindo, mas parei na casa de mamãe e papai e peguei emprestado o Yukon com o assento.

— Ok. Então te vejo em alguns minutos?

— Sim. Vou levá-lo para uma rápida parada e depois estaremos aí.

— Legal! Divirta-se. — Michael deve ter algo especial planejado e eu mal podia esperar para ouvir tudo sobre isso quando Coby chegasse em casa.

Desliguei e olhei para o relógio na parede. Com trinta ou quarenta minutos extras, eu poderia limpar a lavanderia e retirá-la da minha lista de tarefas para amanhã.

Possuir e administrar umo hotel em uma cidade pequena não era tão fascinante. O trabalho poderia ser nojento e eu tinha ido através de mais luvas de borracha que eu poderia contar, mas o trabalho era honesto. Isso era real. Era algo que eu vim a apreciar e confiar.

Caminhando para fora e contornando as máquinas de venda externa do saguão, abri a porta da lavanderia e levei meu carrinho de limpeza para ter espaço para limpar a área pequena.

A lavanderia e meu escritório compartilhavam uma parede e, um dia, se eu quisesse, eu eliminaria completamente meu escritório e expandiria minha lavanderia. Eu trocaria com prazer o espaço da mesa por uma mesa real para dobrar lençóis e algum espaço extra na prateleira para estocar papel higiênico e sabão líquido para roupas.

Mas, pelo lado positivo, a lavanderia era muito fácil de manter limpa, porque era muito pequena. Quando limpei os eletrodomésticos e limpei o chão de cimento, ouvi uma porta de carro bater e uma doce voz gritar:

— Mamãe!

Joguei fora meu balde de água sanitária e corri para fora.

— Coby! — Ver seu rosto adorável era o brilho do meu dia, dando-me uma nova infusão de energia pelo resto da noite.

— Mamãe! Temos Picles! — Ele puxou a mão de Michael, tentando puxar seu tio grande mais rápido pelo estacionamento.

Michael levantou a mão livre e acenou. Quando ele saía assim, isso sempre me lembrava Beau. Michael parecia cada vez mais nosso irmão mais velho todos os dias, menos a barba.

Coby, por outro lado, era a imagem cuspida de seu pai. Eu gostaria que ele se parecesse mais comigo ou com meus irmãos, mas não compartilhávamos muitas características, exceto nosso sorriso.

— Ei amigo! — Esperei que ele corresse direto para as minhas pernas antes de me abaixar para lhe dar um abraço e escovar os cabelos castanhos da testa. — Como está meu homenzinho? Você teve um dia divertido na escola?

Ele assentiu loucamente.

— Mamãe! Temos Picles!

— Oh, realmente? Eu amo picles. — Eu sorri e olhei para Michael. — Vocês foram ao supermercado?

— Hum, não exatamente. — Os olhos de Michael se afastaram dos meus e voltaram para o SUV da mamãe.

— Filhote de cachorro! Cachorro! Cachorro! — Coby disse, pulando em meus braços.

— Um filhote de cachorro? Legal! — Michael já tinha um cachorro, mas ele amava animais, para que outro animal se encaixasse em sua casa. — O que você conseguiu? Eu quero ver. — Levantei-me e agarrei a mão de Coby, correndo com ele em direção ao Yukon.

— Maisy, espere! — Michael chamou atrás de nós, nos pegando rapidamente com seus longos passos.

— Menino ou menina? — Perguntei ao mesmo tempo que Coby gritou:

— Mamãe, Picles vive com a gente!

Meus pés deslizaram até parar na calçada.

Michael bateu nas minhas costas. O corpo de Coby correu para frente e, se não estivesse com a mão ainda presa à minha, seus joelhos teriam caído no asfalto. Eu o coloquei de pé e caí de joelhos.

— O que você disse? Picles vai morar com a gente?

— Sim! — Ele começou a pular de novo e de novo, seus olhos castanhos cheios de pura alegria. — Tio Michael disse que Picles pode ser meu cachorrinho!

— Realmente. — Eu levantei e olhei para Michael. — Você comprou um cachorro para ele? — Eu perguntei entre dentes.

Como ele pôde não falar comigo sobre isso? Queria que Michael fosse próximo de Coby, mas um filhote? Coby era jovem demais para cuidar de um animal e eu tinha muito o que fazer sem adicionar treinamento de filhotes à mistura.

— Eu posso explicar. — Ele levantou as mãos, afastando-se antes que eu pudesse socá-lo no estômago.

Eu coloquei as mãos no meu quadril.

— Estou ouvindo.

— Hum... — Michael deu outro passo para trás quando Coby começou a puxar meu braço.

— Um segundo, amigo, — eu disse ao meu filho sem romper o contato visual com meu irmão.

— Ok. Não fique brava comigo — disse Michael. — Isso foi tudo ideia do papai.

— Mamãe. Venha. — Coby puxou meu braço com cada palavra.

— Relaxe, cara. Só mais um minuto. — Apertei a mão dele, mas me concentrei no meu irmão. — Michael?

— Podemos entrar?

— Não. — Se Michael já tivesse prometido a Coby o cachorro, levá-lo embora seria brutal. Eu arriscaria quebrar o coração do meu menino se o cão entrasse em nossa casa. O segundo que o animal estava dentro? Eu nunca mais o tiraria. — É melhor você falar rápido.

Michael suspirou e passou a mão pelos cabelos escuros.

— Você ouviu que o Dr. Kelly está se aposentando?

Eu assenti. Todos na cidade só falavam que o veterinário de Jamison Country estava se aposentando.

— O que isso tem a ver comigo recebendo um filhote?

— Ele está vendendo seu consultório para a neta. Ela acabou de voltar para Prescott no mês passado.

Alana? Lembrei-me dela da escola, mas ela era alguns anos mais nova que Michael, que era dois anos mais novo que eu. Eu não a via desde antes de me formar e sair para a faculdade.

— Sim, Alana. Ela está de volta em Prescott. De qualquer forma, ela estava almoçando na lanchonete hoje, e papai e eu estávamos na fila atrás dela e ouvimos que ela tinha deixado esses filhotes na clínica. Algum criador estava olhando para vender alguns na cidade.

— Mamãe! — Coby gritou, ainda puxando meu braço.

— Mais um segundo. — Eu o levantei no meu quadril, esperando que segurando-o comprasse a Michael e eu mais alguns minutos para conversar. — Continue, — eu pedi Michael.

— Eu tinha uma grande queda por ela na escola, mas ela tinha um namorado. Eu estava falando para papai sobre ela no almoço e ele disse que eu deveria dar uma passada na clínica. Dar as boas-vindas de volta à cidade e convidá-la para sair. Papai pensou que se eu pegasse Coby e dissesse a ela que estava comprando um filhote para meu sobrinho, ela definitivamente diria sim para um encontro.

— Então você me comprou um cachorro porque estava tentando impressionar uma garota?

Ele olhou para mim como se minha pergunta fosse ridícula.

— Bem, sim. Ela não é apenas uma garota. Ela é a garota.

Eu olhei para ele por um momento, sem saber como responder. Michael nunca havia expressado tanto interesse por uma mulher antes. Ele realmente deve estar apaixonado por Alana Kelly, se ele estava desesperado o suficiente para seguir o conselho de namoro de papai .

Suspirei e me virei para Coby.

— Picles é o nome do cachorrinho?

— Eu escolhi!

Ele estava tão orgulhoso de si mesmo o que dificultava ficar brava com Michael.

— Esse é um ótimo nome, amigo. Bom trabalho.

Inclinando-me, beijei a bochecha gordinha de Coby. Suas mãos minúsculas chegaram ao meu rosto e apertaram meus lábios, algo que ele achava hilário. Ele começou a rir e eu fiz cócegas ao seu lado, enviando-o em um acesso de risadas. Ele estava ficando tão grande que eu não conseguia carregá-lo por muito tempo e definitivamente não quando ele estava se contorcendo, então eu o coloquei de pé novamente.

— Tudo certo. — Eu deixei ele me puxar para frente novamente. — Vamos ver esse cachorro.

— Yay! Picklo! — Seu grito soou mais como “Picklo” do que “Picles. Coby teve uma excelente enunciação para uma criança de quase quatro anos, mas ainda estávamos trabalhando em nossos décimos e oitavos sons.

Michael passou por nós e liderou o caminho para a traseira do SUV. Então ele abriu o porta-mala, retirou uma caixa de metal e colocou-a no chão. Os braços de Coby estavam batendo em todos os lugares enquanto esperava Michael abrir a caixa.

Dentro estava o filhote de cachorro beagle mais adorável que eu já vi. Todos os seus pés tinham faixas brancas. A ponta branca de seu rabo balançou com abandono quando ele saltou ao redor da caixa forrada de jornal. Seu pelo era brilhante e limpo, preto nas costas e marrom ao redor do rosto. Mas foram os doces olhos castanhos e orelhas flexíveis de Picles que foram minha ruína.

Droga. Eu tinha um filhote

— Ele está me lambendo! — Coby riu, passando os dedinhos pela grade de metal para Picles poder atacá-los.

— Comprei uma coleira e trela, — disse Michael, pegando grandes sacos de plástico do Yukon. — Há comida, brinquedos para mastigar aqui e algumas varas de couro cru. Eu já paguei antecipadamente as próximas cinco visitas do veterinário, mais uma para ele ser castrado na hora certa. Quando ele estiver sem comida de cachorro, me avise e eu comprarei mais.

— Eu posso comprar um cachorro, — eu disse a ele, assistindo Coby, que estava completamente fascinado pelo filhote. — Eu não estava pensando em comprar um até Coby ficar mais velho.

Os ombros de Michael caíram.

— Sinto muito. Eu sei que deveria ter lhe contado, mas fui pego ao ver Alana novamente.

— E você sabia que eu não diria não.

— Sim, — ele murmurou. — Eu posso pegar Picles se for demais.

— Não, veja como Coby está feliz. Aquele cachorro não vai a lugar nenhum. — Meu filho agora estava tagarelando com seu novo animal de estimação. Afastei meus olhos de Coby e olhei para meu irmão. — Você realmente gosta dessa garota, hein?

Ele assentiu, mas seus olhos suavizaram com adoração.

— Muito.

Alana era uma mulher de sorte por ter chamado a atenção do meu irmão. Ele a trataria como a realeza se ela deixasse.

— Você pelo menos conseguiu o seu encontro?

Seu sorriso iluminou todo o rosto.

— Sábado à noite. Vou levá-la para o Black Bull.

— Ooooh. Chique. Bem, eu não posso competir com seus bifes, estamos apenas comendo comida de criança hoje à noite, mas você pode ficar para jantar.

— Você está fazendo nuggets de frango? — Ele perguntou esperançoso.

— E macarrão com queijo.

— Da caixa azul?

— Dã.

— Estou dentro. — Ele passou um braço em volta dos meus ombros e me puxou para um abraço. — Você tem certeza que não está brava com Picles?

— Na verdade não. Ele é adorável e nós vamos fazer isso funcionar. Mas não diga ao papai, Ok? Vou fingir que ainda estou brava com vocês dois e culpá-lo para fazê-lo realizar o treinamento de filhotes.

— Boa ideia. Lembra o quão rápido ele treinou o cachorro da tia Regina?

— Sim, como um mês. — Papai tinha um toque mágico com cães, e se eu pudesse convencê-lo a treinar Picles, isso me salvaria de um mundo de aborrecimentos. — Vamos lá. Vamos para dentro. Você pode carregar a caixa?

— Certo. — Ele me soltou e enrolou os sacos de plástico em seu braço, depois se inclinou para pegar a caixa.

— Mamãe, Picles pode dormir no meu quarto? — Coby perguntou enquanto pegava minha mão.

— Não, desculpe, amigo. Vamos encontrar um lugar especial para Picles. — Nosso sótão era tão pequeno que seu quarto mal tinha espaço suficiente para sua cama e cômoda. Com o dinheiro que eu estava ganhando com a reserva de Hunter, eu ia construir um beliche no quarto de Coby para dar a ele mais espaço para brincar.

Seguimos Michael por trás do SUV, em direção ao saguão. Eu estava tão focada em balançar a mão de Coby para frente e para trás, pensando em onde eu ia guardar a caixa de Picles, que não notei o homem parado nas máquinas de venda automática até que eu estivesse a apenas um metro e meio de distância.

Hunter se virou no momento exato em que olhei para cima e nossos olhos se encontraram. Meus pés oscilaram até parar e minha respiração engatou, mas por algum milagre consegui um — Oi — arejado.

— Ei. — Seus olhos desceram até pousarem no meu braço. O braço preso ao meu filho.

— Mamãe! Por que você parou?

Por causa de um cara gostoso.

— Desculpe, amigo.

Eu olhei de volta para Hunter enquanto meus pés se moviam novamente. Mas ele não estava olhando para mim. Seus olhos caíram para Coby.

O rosto de Hunter mudou quando ele avaliou meu filho, mas antes que eu pudesse entender sua expressão, ele girou com suas botas marrons Frye e caminhou de volta para seu quarto.

Merda. Hunter estava assustado porque eu tinha um filho? Ou ele estava se afastando por causa da impressão que eu deixei anteriormente no lobby? Um nó ansioso se formou na minha barriga e eu respirei fundo, desejando que desaparecesse.

Isso não aconteceu.

Porque mesmo sendo um estranho e apenas mais um hóspede do meu hotel, eu queria que Hunter Faraday estivesse tão interessado em mim quanto eu nele.


Capítulo Três

Maisy


— Toc, Toc! Estamos aqui! — Chamei quando entrei na casa da fazenda.

— Cozinha! — Gigi falou de volta.

Soltei a mão de Coby e fechei a porta atrás de nós.

— Ok, amigo. Tire os sapatos e então você pode brincar.

Ele tirou os sapatos e correu para o quarto das crianças, gritando:

— Ben, eu tenho um Picles! — E então desapareceu.

Estávamos na fazenda para um churrasco no sábado, porque a única coisa que Gigi Cleary amava mais do que sua família, amigos e Halloween era dar festas. Ainda era cedo, apenas quatro da tarde, e Coby e eu fomos os primeiros a chegar. Eu estava aqui para bancar a chef enquanto ele passeava com o filho de Gigi, Ben, que era apenas alguns meses mais novo.

Pendurei minha bolsa em um gancho na entrada e caminhei em direção à cozinha nos fundos da casa.

— Ei, — eu disse, dando um abraço na minha melhor amiga e depois depositando minha sacola na ilha. — Trouxe tortilhas e mantimentos para o meu guacamole.

— Perfeito! Eu acho que tenho todos os hambúrgueres, linguiças e cachorros-quentes preparados. Fiz uma salada de frutas, uma salada de macarrão, uma salada verde, feijão e molho de espinafre. Ah, e alguns brownies.

Só haveria onze adultos e seis crianças aqui esta noite.

— Caramba. Estamos, provavelmente, ficando sem comida, — eu brinquei.

Ela sorriu .

— Provavelmente.

— Ei, Maze, — disse uma voz profunda atrás de mim.

O marido de Gigi, Jess, entrou na cozinha com a filha de quase dois anos, Adeline, sentada no braço.

— Oi, Jess. Ei, senhorita Adeline. — Aproximei-me e fiz cócegas no lado dela.

Ela riu e enfiou a cabeça no pescoço do pai.

— O que há de novo? — Jess perguntou, pegando um punhado da mistura de castanhas e uva passas que Gigi havia colocado na ilha.

— Não muito. Apenas me preparando para a temporada turística. E você? Prendeu alguém ultimamente, xerife?

Ele sorriu.

— Não. As coisas estão lentas.

— Apenas a maneira que nós gostamos. — Gigi deslizou para o lado livre de Jess e passou os braços em volta da cintura dele.

Eu sorri.

— Bom.

Feliz e despreocupado era uma ótima aparência para eles. Eu me dei um tapinha nas costas por ter unido esses dois. Eu brinquei de casamenteira com eles anos atrás, e embora eles tivessem começado brigando, eles encontraram paz e amor nesta fazenda.

— Maisy!

Eu me afastei da ilha e me preparei, pronta para receber um abraço da filha mais velha de Jess e Gigi.

— Rowen! — Desde pequena, os abraços de Rowen tinham sido selvagens e loucos. Por isso, certifiquei-me de que os meus fossem igualmente selvagens e loucos.

— Adivinha? — Ela gritou com os braços magros em volta da minha cintura. — Papai finalmente concordou em me deixar perfurar minhas orelhas! Mamãe e tia Lissy estão me levando para Bozeman no próximo fim de semana para fazer isso. Você pode vir também?

— Totalmente! Eu adoraria. — Roe não sabia, mas Gigi já havia me convidado para me juntar a ela e sua cunhada, Felicity, enquanto Jess olhava Coby. Tudo o que eu precisava fazer era convencer minha mãe, pai ou um dos meus irmãos a estar de plantão no Bitterroot, no caso de algo acontecer com um hóspede.

— Eu estou tão animada! — Ela me soltou e jogou seus longos cabelos castanhos sobre os ombros, para que ela pudesse sair pela cozinha, segurando as orelhas nuas. — Vou ganhar brincos de diamantes porque tia Lissy diz que são atemporais.

Engoli uma risada. Essa garota era a mais diva possível para uma criança de nove anos.

— Bem, ela está certa sobre isso.

— Roe, querida, você pode correr e verificar seu irmão e Coby? — Gigi perguntou, soltando Jess para começar a arrumar pratos e talheres.

— Claro, mamãe. — Ela sorriu e saiu da cozinha em suas sapatilhas de glitter rosa.

Soltei a risada que eu estava segurando.

— Você acha que ela ficará frustrada quando perceber que os “diamantes” no Claire do shopping são falsos?

Gigi zombou, fechando a gaveta dos talheres.

— Oh, eu não te disse? — Ela sacudiu o pulso em direção ao marido, que estava balançando a cabeça. — Jess voltou para casa com brincos de diamante para ela ontem à noite .Ele vai surpreendê-la amanhã.

Meu queixo caiu.

— Você está brincando. — Eu nem possuía brincos de diamante.

Gigi balançou a cabeça.

— Não. Diga a ela o nosso raciocínio — ordenou Jess.

Ele apenas deu de ombros e pegou outro punhado de mistura.

— Se eu definir o nível alto o suficiente, ela nunca encontrará um namorado que possa fazer jus a isso. Provavelmente não vai querer namorar até os trinta.

Comecei a rir. Agora, como eu poderia argumentar com isso? Gigi estava tentando esconder o sorriso atrás do copo de vinho.

— Quando Adeline tiver idade suficiente, ela também terá diamantes. — Jess deu um beijo nos cachos macios de seus cabelos castanhos. — Todas as minhas meninas ganham diamantes.

— Querido. — Gigi abaixou seu vinho e voltou para o lado de Jess, erguendo o queixo para que seus longos cabelos morenos caíssem pelas costas. Quando Jess deu um beijo no nariz sardento, senti uma pontada de ciúmes. Não seria a última vez que aconteceria hoje à noite.

Não era um tipo maligno de ciúmes, apenas um que se originava da solidão. Eu sou a única adulta solteira no jantar esta noite. Minhas amigas tinham encontrado homens incríveis para compartilhar suas vidas e eu ficaria cercada por casais felizes a noite toda.

Mulheres bonitas, adoradas por homens altos, fortes e bonitos.

Embora nenhum dos homens fosse tão lindo quanto Hunter.

Fazia dois dias desde que eu o vi na máquina de venda automática. Dois dias e eu ainda não podia tirar a sua imagem da minha cabeça. Estava claro como cristal. Na verdade, fiquei grata pelo alívio de dois dias. Eu estava usando esse tempo para superar meu constrangimento por me tornar uma adolescente chorona quando nos conhecemos. Na próxima vez em que o visse, estava determinada a parecer uma mulher normal.

O que seria muito mais fácil a partir da próxima semana. Minha ajudante de verão estava começando na próxima semana e eu estava atribuindo-a ao quarto de Hunter. Seria muito mais fácil manter a calma na próxima vez que eu o visse, se eu não estivesse trocando os lençóis da cama dele todos os dias, imaginando se ele dormia nu.

— Ei, você está se sentindo bem? — Gigi perguntou. — Você parece corada.

Levantei os olhos do balcão e sorri.

— Apenas estressada com a minha lista de tarefas, — eu menti. Normalmente, Gigi seria a primeira a quem eu iria contar sobre os hóspedes sexy do hotel, mas algo sobre Hunter parecia diferente. Eu queria mantê-lo para mim, só por um tempo.

— Qualquer coisa que podemos fazer para ajudar?

— Não, eu vou fazer tudo. Obrigada, no entanto.

— Coby deveria ter uma festa do pijama com Ben hoje à noite, — ela disse. — Você pode beber um pouco de vinho, para variar. Você pode ficar bêbada, Jess a levará para casa. Então amanhã você poderá dormir.

Coby acordava cedo e eu não conseguia me lembrar da última vez que dormi depois das seis. As manhãs haviam se tornado nosso tempo especial juntos, pois as noites eram sempre tão cheias de atividades. Mas uma manhã preguiçosa? Paraíso total.

— Você realmente não se importaria?

— Claro que não. Nós adoraríamos tê-lo.

— Nós ainda lhe devemos por olhar todas as crianças em nosso aniversário, — disse Jess.

Eu dei um aplauso feliz.

— Obrigada pessoal! Eu poderia usar uma recarga antes da estação movimentada.

— A qualquer momento. — Gigi deslizou um copo de vinho cheio sobre o balcão. — Saúde!

— Woo-hoo! Saúde! — Tomei um grande gole e comecei a preparar meu guacamole.

Duas horas depois, a cozinha estava cheia de mulheres bebendo vinho, as crianças se perseguindo por toda a casa da fazenda, e os homens estavam reunidos ao redor da churrasqueira do lado de fora, bebendo cerveja e grelhando carne.

— O que vocês duas estão cochichando? — Emmeline perguntou a Sara e Gigi.

Quando seus olhos pousaram em mim, eu sabia que estava com problemas.

— Oh, apenas uma ideia, — disse Sara, passando a franja loira-morango para o lado.

— Ah não. — Eu tinha visto esse olhar antes. Essas duas estavam tentando me arrumar um encontro às cegas.

Novamente.

— Você dará a ela mais vinho? — Gigi perguntou a Felicity.

Estendi meu copo, sabendo que eu precisaria de cada gota que ela derramasse para resistir a esse ataque. Minhas amigas haviam me arrumado encontros com todos os solteiros elegíveis no vale Jamison. Eu aprendi que todos eram elegíveis porque eram todos fracassados.

Emmeline era professora de jardim de infância na escola e já havia combinado que eu jantasse com o professor de música. Aquele cara enfiou o nariz no jantar e comeu sua partitura como aperitivo.

Felicity era uma agente imobiliária de modo que qualquer único homem mudando-se para Prescott não só tinha a sua ajuda na compra de uma casa, eles também tiveram a sua ajuda na obtenção de um encontro. O cara de Boise falou sobre seus dois gatos durante toda a refeição, o cara de Casper olhou para os meus seios a noite toda, e o cara de Dakota do Norte só fodia morenas, suas palavras exatas, mas ele prometeu abrir uma exceção para mim.

A única razão pela qual Sabrina ainda não havia tentado me arrumar um era porque ela era nova em Prescott e atualmente estava consumida com o planejamento do casamento dela e de Beau.

— Então, aquele novo médico está no hospital, — começou Gigi.

Um médico?

— Não. Absolutamente não.

— Ele é muito legal, — implorou Sara. — Ele trabalhou aqui antes, há alguns anos, mas foi embora para voltar à cidade. Ele é tão...

— Não tem jeito! Nunca vai acontecer.

— Mas...

— Não. — Interrompi Gigi, balançando a cabeça e pousando o copo de vinho. — Sem médicos. — Eu odiava ser tão firme, mas havia algumas coisas que eu nunca faria. Namorar outro médico era uma delas.

Esteve lá. Tentei isso. Tive o bebê dele.

Felizmente, Gigi não pressionou.

— Ok.

— Você está falando do doutor Calvin Klein? — Felicity perguntou. — Ele voltou?

Gigi e Sara assentiram.

— Acho que voltar à vida na cidade grande não foi tão emocionante quanto ele pensara.

— Ele precisa de uma casa? — Felicity perguntou. Seus olhos azuis se iluminaram com a possibilidade de encontrar um novo cliente.

Gigi deu de ombros.

— Eu não tenho certeza. Vou perguntar a ele na segunda-feira.

Felicity virou-se para mim.

— Você deve fazer uma exceção à sua regra de não médico. Dr. Calvin Klein é gostoso.

— Espera. — Sabrina falou antes que eu pudesse recusar. — Podemos tirar um momento para apreciar o fato de que minha melhor amiga de muitos e muitos anos apenas se referiu a alguém por um apelido? — Ela levantou o copo de vinho para brindar. — Para Felicity Grant. Estou tão orgulhosa de você. Casar com Silas. Ter a bebê Victoria. Esses momentos foram todos muito bons. Mas isso? Estou tão feliz. Durante anos, você me provocou por apelidar pessoas, recusando-se a reconhecer o quão incrível alguns deles eram. Fico feliz em ver que você percebeu o erro de seus caminhos e veio para o lado sombrio.

— Hilariante, — Felicity murmurou, tomando um longo gole de vinho enquanto o resto de nós ria.

Olhei para Sabrina e murmurei:

— Obrigada. — Ela colocou uma mecha de cabelo loiro atrás da orelha e piscou. Melhor futura cunhada de todos os tempos.

Felizmente para mim, a conversa não voltou à minha vida amorosa. Todos nós nos dividimos em amontoados menores e eu fui salva de mais discussões sobre namoro.

— Como você está se sentindo? — Eu perguntei a Emmeline, que estava ao meu lado. Ela estava linda, sua pele estava brilhando e seus longos cabelos ruivos estavam tão brilhantes quanto eu já vi. Mas eu sabia por experiência que esses sintomas da gravidez muitas vezes desmentiam os outros, como dores nas costas, azia e “minha favorita” incontinência urinária.

Ela olhou para a barriga redonda e sorriu.

— Bem agora. Sou grata por estar quase no verão e poder passar esses últimos três meses em casa relaxando e curtindo minha gravidez. Nick e eu decidimos que ela será a nossa última, então quero saborear desta vez.

Fiquei feliz por Nick e Emmeline, mas de volta veio a pontada de ciúmes. Estar grávida de Coby foi tudo menos relaxante. Os dois primeiros meses foram gastos em constante preocupação, porque seu pai queria que eu fizesse um aborto. Os sete meses depois disso, eu estava lidando com as consequências de matar o homem.

Empurrando profundamente essas memórias, concentrei-me em Emmeline e perguntas de bebês.

— Vocês escolheram um nome?

Ela se inclinou e sussurrou:

— Nora.

— Bonito! Oh meu Deus, eu amo isso — eu sussurrei de volta.

— Obrigada. Na verdade, deixamos Draven escolher. Nick escolheu seus dois primeiros nomes e então eu os meus. Decidimos que aquele que Draven poderia pronunciar melhor seria o vencedor.

Como se soubesse que ela estava falando sobre ele, Draven, o filho de dois anos de Nick e Emmeline, entrou correndo na sala, se escondendo atrás das pernas de sua mãe enquanto Ben e Coby o perseguiam. Tão rapidamente quanto os meninos entraram na cozinha, eles saíram correndo, rindo e gargalhando enquanto desapareciam.

— Mais vinho? — Felicity me perguntou.

— Por favor. — Estendi meu copo e decidi que seria o meu último antes do jantar. Se eu não comesse logo, ficaria arrasada quando Jess me levasse de volta ao hotel.

Eu queria aproveitar minha manhã preguiçosa sem uma ressaca perversa.

— Ok, — disse Felicity enquanto ela servia, — então eu acho que nós estabelecemos que você não namorará nenhum médico. Mas e um investidor rico que se divorciou recentemente e agora vive em Prescott?

Olhei para o céu e implorei:

— Salve-me.

— Esse cara é ótimo, — ela insistiu. — Eu o conheci há um tempo quando ele se mudou de Denver. Sofisticado, ele é um verdadeiro cavalheiro. Enfim, eu o encontrei no início desta semana e pensei que vocês dois poderiam se dar bem.

— Qual o nome dele? — Gigi perguntou.

— Warren Adams.

— Eu o conheço, — disse Emmeline. — Esse é o cara que comprou minha velha casa.

— Sim. — Felicity assentiu. — Ajude-me a convencê-la de que ele é uma boa escolha.

— Ele realmente parece legal, — disse Emmeline.

— Eu não posso confiar em nenhuma de vocês. — Tomei um gole de vinho e baixei minha taça. — Vocês podem ter encontrado maridos maravilhosos para si mesmas, mas estão em greve de três com essa garota. Só posso ter tantos encontros ruins.

— Por favor, — Felicity implorou. — Por favor, apenas um jantar.

Todo mundo se juntou ao pedido até que eu desmoronei sob suas boas intenções.

— Tudo bem! — Joguei minhas mãos no ar.

A cozinha inteira explodiu de alegria. Quando olhei para Gigi, sua boca estava em um sorriso. Não pude deixar de sorrir de volta. Ela estava com boas intenções; todas as minhas amigas estavam. Elas queriam que eu encontrasse um amor como elas tinham encontrado, e talvez Warren fosse o meu tiro. No mínimo, eu recebia uma refeição grátis.

Os homens começaram a entrar com Jess na retaguarda, segurando uma bandeja cheia da carne assada.

— O jantar está pronto.

Mães se dispersavam, correndo atrás das crianças para lavar as mãos e carregar os pratos. Com Rowen no comando da mesa das crianças na sala de estar, os adultos se aglomeraram ao redor da mesa da sala de jantar.

O jantar foi seguido por mais risadas e mais vinho. Quando o sol se pôs, minhas bochechas doíam de sorrir e eu estava bêbada. Não tanto que eu estivesse choramingando ou desequilibrada, mas uma bêbado feliz onde tudo era engraçado, eu estava conversando uma milha por minuto e dirigir para casa definitivamente não era uma opção.

Quando as pessoas começaram a se arrastar para fora da casa da fazenda, crianças exaustas a reboque, eu disse boa noite a Coby. Ele estava tão animado para passar a noite com Ben que eu mal consegui encurralá-lo para um beijo e dar um adeus.

Então Jess me levou para casa, esperando em sua caminhonete enquanto eu corria para o sótão para fazer uma mala para Coby. Quando ele se afastou do hotel, eu fui tirar Picles de sua caixa para sua viagem noturna para fazer suas necessidades.

— Aí. Você sentiu minha falta, garoto? — Enquanto eu o carregava escada abaixo, ele lambeu meu queixo como seu típico modo excitado. — Eu também senti sua falta. Aqui está. — Quando bati no degrau inferior, coloquei-o no chão e prendi a trela vermelha que combinava com o colarinho dele.

Na base da escada que levava ao meu sótão havia uma pequena área de cascalho onde estacionei meu Toyota Runner preto. Atrás da escada havia uma faixa estreita de grama que margeava toda a parte de trás do hotel. Saindo do cascalho e na grama, deixei Picles me puxar pela coleira, o nariz preto pressionado no chão enquanto ele procurava o lugar perfeito para fazer seu negócio.

— Vamos Picles. Venha. — Eu puxei a coleira depois que de ele fazer xixi. — Vamos entrar.

Já tínhamos andado por quase toda a extensão do hotel e, em vez de nos virarmos e voltarmos por onde viemos, conduzi Picles pela grama para podermos atravessar o estacionamento. O ar da noite estava frio e eu não tinha pensado em trazer um casaco. Eu estava apenas vestindo jeans, sapatilhas e uma camisa branca decotada no ombro que era fina demais para mais de cinco minutos do lado de fora.

Eu estava apenas contornando o canto atrás do prédio quando uma figura sombria entrou no meu caminho, agarrando os lados dos meus braços quando colidimos. Eu ofeguei, muito atordoada e aterrorizada para gritar, então eu reagi puramente por instinto. Levantando meu joelho o mais forte e o mais alto que pude, esmaguei a virilha da figura sombria.

Ataque direto.

O homem soltou meus braços enquanto ele dobrava ao meio, segurando sua virilha enquanto ele gemia e caía no chão.

— Oh, porra, — ele ofegou, tentando respirar fundo.

Ah, porra?

Oh, porra.

Eu conhecia aquela voz e conhecia aquele coque mal iluminado.

A realidade bateu e minha mão voou para a minha boca enquanto eu ofegava.

— Hunter?

Ele não respondeu. Ele apenas rolou e encarou o chão, balançando o corpo para frente e para trás enquanto sons de dor e agonia enchiam o ar.

— Ah não. — O medo virou culpa. — Sinto muito! Eu sinto muito. Eu não sabia que era você. Fiquei com medo e apenas reagi. Meu irmão, ele me ensinou um pouco de autodefesa, e temos praticado ultimamente e eu não pensei. Apenas aconteceu automaticamente. Eu pensei que você era um cara mau. Meu Deus! Eu sinto muito.

Minha boca não parava de se mover. As palavras saíram mais rápido que a água sobre as Cataratas do Niágara.

Cale a boca, Maisy!

Minha boca não escutou. As desculpas desmedidas continuaram chegando.

— Sinto muito. Então, sinto muito. O que eu posso fazer? Posso pegar algo para você? Uma bolsa de gelo? Ooh! Acho que tenho um saco de ervilhas no freezer. Eu vou buscá-lo. Você fica aí, eu voltarei em um instante. — Eu cuidadosamente evitei Hunter, pronta para correr para o sótão para minhas ervilhas, quando ele falou.

— Maisy, pare, — ele resmungou. — Apenas me dê um segundo.

— Ok. — Meus pés imediatamente pararam.

Fiquei de pé sobre Hunter, balançando nervosamente para frente e para trás, enquanto ele permanecia na posição fetal no chão. Quando Picles se lançou para uma chance de lamber o rosto de Hunter, puxei sua trela e o abracei.

Que desastre! Como eu ia me recuperar disso? Minha segunda impressão foi pior que a minha primeira.

Eu queria desesperadamente continuar me desculpando, mas consegui selar meus lábios. O zumbido do vinho que eu tinha minutos atrás estava desaparecendo rapidamente e ele, por causa do meu constrangimento, expulsou o frio. Tanto para remodelar o quarto de Coby. Tanta coisa para fazer Hunter Faraday gostar de mim. Eu esperava ver a chave do quarto dele na caixa suspensa quando acordasse amanhã.

Empurrando para fora do chão, Hunter se levantou lentamente e me encarou.

— Eu sinto muito. — Minha mão veio à minha boca novamente, segurando outro acesso de palavra.

— Não se preocupe com isso, — ele ofegou. — Eu vou viver, mas acho que vou aceitar aquelas ervilhas.

Eu balancei a cabeça e entrei em ação, pegando Picles e cruzando o estacionamento, depois subindo as escadas para o meu sótão. Com o filhote de volta em sua caixa e um saco de milho congelado na mão, bati a porta atrás de mim e corri de volta para Hunter. Eu virei a esquina do saguão e corri pelo estacionamento em direção a sua porta aberta, a luz do quarto dele saindo pela passarela.

Eu entrei direto no quarto dele. Hunter estava deitado na poltrona de couro perto da porta. Sua cabeça estava inclinada para trás e seus olhos estavam fechados.

— Aqui está. — Eu estava sem fôlego e as palavras saíram muito altas.

Os olhos de Hunter se abriram e ele estendeu a mão para que eu pudesse soltar o saco em sua palma grande.

— Obrigado.

— É milho. As ervilhas são as preferidas de Coby e eu nunca pareço comprar o suficiente. Ele odeia milho, mas deve funcionar para o seu... hum, bem, você sabe.

Merda! Eu estava divagando novamente. Como se ele se importasse com o vegetal preferido do meu filho.

Hunter pressionou o milho congelado na virilha, suspirando de alívio.

E eu apenas fiquei lá, saltando de um pé para o outro enquanto a realidade desta da noite afundava. Eu tinha acabado dar uma joelhada no homem, eu esmaguei suas bolas. Mortificação não era a palavra forte o suficiente para o que eu sentia no momento. Eu não sabia mais o que fazer, então eu me desculpei novamente.

— Como eu disse antes, eu vou viver. — Ele inclinou a cabeça para trás e fechou os olhos. — Seu filho está bem sozinho? Eu vou ficar bem se você precisa para voltar.

— Oh, ele está passando a noite na casa de um amigo hoje.

— Hmm. — O pomo de Adão balançou suavemente enquanto ele engolia.

Eu realmente queria correr minha língua para cima e para baixo na garganta de Hunter.

Realmente? Você acabou de agredir o homem!

Claramente, eu ainda estava bêbada porque não era um impulso apropriado neste momento. Eu balancei minha cabeça, empurrando todos os pensamentos de lamber de lado e lembrando por que eu estava em seu quarto no hotel.

— Posso conseguir mais alguma coisa? Eu tenho Advil ou Tylenol. Se você precisar de algo específico, eu poderia ir até o supermercado e...

— Maisy.

— Sim? — Eu me preparei, pronta para ele me dizer para sair do seu quarto.

— Sente-se.

— Certo. — Seu pedido me surpreendeu e imediatamente obedeci, sentando-me rigidamente na beira de sua cama. Nós dois ficamos calados, um milagre pessoal, e eu fiz o meu melhor para relaxar. Depois que meu batimento cardíaco finalmente saiu da zona vermelha, comecei a transpiração nervosa. Minha testa estava úmida e uma gota de suor deslizou pelo meu lado.

Eu realmente precisava sair daqui. Por que Hunter me pediu para sentar era um mistério, um que eu realmente não me importava em resolver. Tudo que eu queria era correr de volta para casa e me esconder. Isso foi pior do que o tempo na oitava série, quando acidentalmente toquei a virilha de Joey Marcus na fila do almoço.

— Autodefesa, hein?

A pergunta de Hunter me pegou desprevenida e eu estremeci, fazendo a cama pular.

— Hum, sim. Beau, meu irmão, ele pratica karatê desde a faculdade. Ele está me ensinando algumas coisas básicas há alguns anos. — Apertei meus lábios antes que eu pudesse deixar escapar a história da minha vida e a razão pela qual eu pedi a Beau para me ensinar autodefesa em primeiro lugar.

— Bem, — disse Hunter, — da próxima vez que você vê-lo, diga a ele que ele é um professor e tanto.

Eu estremeci, meus ombros levantando para os meus ouvidos.

— Desculpe.

— Você já se desculpou o suficiente. — Ele removeu o milho de entre as pernas. — Sinto muito por ter assustado você.

— Está tudo bem. Eu só não esperava ver ninguém do lado de fora tarde da noite. O que você estava fazendo lá fora, afinal?

— Eu estava correndo e pensei em voltar para me esticar na grama.

Agora suas roupas faziam sentido. Ele usava uma camiseta verde apertada que cabia em seus braços cinzelados como uma segunda pele. As calças de compressão pretas faziam o mesmo com as panturrilhas musculosas. O short preto que ele usava sobre as calças cobria suas coxas volumosas. Ele usava tudo muito bem, e aposto que parecia ainda melhor quando ele estava pegajoso de suor.

Engoli em seco, ignorando outro ataque de garotas sensuais de Hunter e fui para uma conversa simples.

— É muito tarde para correr.

Ele assentiu.

— Eu não tenho dormido bem. Pensei que uma corrida poderia me cansar para que eu pudesse dormir um pouco.

— É a cama? É desconfortável? — Minha voz estava cheia de pânico.

Eu gastei uma fortuna em camas novas para cada quarto. Eu dormi em uma, só para experimentar, mas quando se tratava de colchões, eu não era tão exigente. Eu geralmente estava tão cansada que conseguia dormir em pé. Mas uma cama desconfortável não era o feedback que eu queria de um dos meus hóspedes.

— Não é a cama, — disse Hunter.

Meus ombros caíram.

— Graças a Deus. Eu estava a cinco segundos de surtar.

Ele sorriu, enviando um arrepio na minha espinha e se levantou da cadeira.

Tomei isso como minha sugestão para sair e me levantei também.

— Eu vou sair de seu quarto. Tem certeza não há qualquer coisa que eu possa fazer por você? Limpeza? Toalhas extras? Conheço as manhas do ferro se precisar de uma camisa engomada.

Seus olhos suavizaram quando ele balançou a cabeça.

— Estou bem. Já me sinto melhor.

Eu realmente esperava que isso fosse verdade e ele ainda estaria aqui amanhã. Mais do que eu queria sua reserva, eu queria a chance de mostrar a ele que eu não era a pessoa louca. Talvez minha terceira impressão seja a vencedora. Eu realmente não me importo com o que um homem pensa de mim desde o pai de Coby. Mas Hunter? Eu realmente queria que ele gostasse de mim. Meu desejo por seu carinho era um pouco perturbador.

— Uma última vez, — eu disse. — Sinto muito.

Ele caminhou até a porta aberta e encostou-se na moldura.

— Você está perdoada.

— Obrigada. — Atravessei a sala e passei por ele pela porta. Estávamos tão perto de tocar, mas eu não me atrevi a deslizar contra ele. Do jeito que eu estava me sentindo, embriagada com vinho, adrenalina e a presença de Hunter, eu não deixaria de fazer algo tolo. O que eu precisava era chegar em casa e fingir que os últimos trinta minutos não haviam acontecido.

— Maisy? — Ele chamou antes que eu pudesse andar muito longe no estacionamento.

Eu parei e me virei.

— Sim?

Ele entrou no meio da porta, seu corpo grande preenchendo seu espaço aberto.

— Na verdade, eu tenho um pedido.

— Ok.

— Da próxima vez que você fizer ervilhas para o seu filho, talvez você possa me trazer algumas. Não sou muito bom cozinheiro e elas são as minhas favoritos também. — Ele me jogou o saco de milho congelado.

— Ervilhas. Você quer ervilhas?

Ele assentiu.

— Eu quero ervilhas.

Eu achava difícil acreditar que ele não podia aquecer legumes congelados, mas se era isso que ele queria, eu faria ervilhas.

— Ok. Boa noite, Hunter.

— Boa noite, Maisy.

Eu atravessei o estacionamento com um sorriso no rosto, não porque eu tinha um bom jantar com amigos ou porque eu tinha um próximo encontro com Warren Adams, mas porque eu precisava começar uma nova lista de compras.

Uma lista com ervilhas congeladas x 10 no topo.


Capítulo Quatro

Maisy


— Espero que você tenha gostado da sua estadia. — Eu sorri para o casal de meia-idade que estava saindo do hotel.

— Adoramos seu hotel e esta pequena cidade, — disse a mulher. — Nós já estamos planejando voltar no próximo ano.

— Maravilhoso! Eu adoraria tê-los de volta, mas vou avisá-los, enche rápido no verão. Assim que suas datas de viagem forem finalizadas, ligue para que eu possa reservar um quarto para vocês.

— Obrigado. — O homem assentiu. — Nós ligamos para você na próxima semana.

Enquanto eu lhes entregava o recibo, a porta do saguão se abriu e Hunter entrou. Ele segurou a porta aberta para os meus hóspedes que estavam saindo, sorrindo enquanto passavam, depois fechou a porta atrás deles.

Respirei fundo e soltei devagar quando ele não estava olhando, desejando-me agir normalmente. Fique tranquila. Seja você mesma.

Fazia quatro dias desde o incidente do joelho nas bolas e eu não tinha falado com Hunter. No momento em que eu carregava Coby pela porta todas as manhãs, a picape branca cara de Hunter já tinha ido para, onde eu assumi, era o seu trabalho. À noite, ele não voltava muito depois da hora de dormir de Coby. Espionando do meu sótão como uma adolescente ridícula, eu vivia para os momentos de vislumbre de seu andar do seu veículo para o quarto oito.

Mas agora ele estava aqui, às seis e meia da noite de quarta-feira, segurando dois recipientes vazios de Tupperware.

— Ei. — Ele balançou as caixas de plástico no ar.

Aquela voz sexy já estava me atrapalhando. Maisy. Seja. Legal. Respirei fundo e sorri.

— Oi.

— Eu vi você aqui e queria deixá-los e agradecer.

— De nada. Eu sei que você só pediu ervilhas na outra noite, mas a mãe em mim não se sentiu bem deixando você jantar sem representar adequadamente todos os grupos de alimentos.

Ele riu e se aproximou.

— Eu aprecio isso.

Duas noites atrás, eu tinha feito uma caçarola de frango e arroz para o jantar, depois coloquei algumas sobras de lado com as ervilhas de Hunter. Eu havia abandonado meu plano anterior de ter minha governanta cuidando de seu quarto e, em seguida, dei a ele minha atenção pessoal. Depois de limpar ontem de manhã, deixei algumas sobras na geladeira dele.

— Sua comida estava ótima. — Hunter colocou os recipientes no balcão do saguão. — Eu não tinha uma refeição caseira há mais tempo do que me lembro. Foi perfeito.

— Obrigada. Estou feliz que você tenha gostado. Se você está em busca de uma refeição, minha porta está sempre aberta e eu sempre tenho muita comida. Eu não sou muito boa em fazer refeições para um. Todas as minhas receitas vêm da minha mãe e ela cozinha para o meu pai e meus irmãos, três dos maiores humanos do planeta. Então, hum, sinta-se a vontade a qualquer momento.

Surgiram as palavras antes que eu pudesse realmente pensar nelas e imediatamente comecei a entrar em pânico. Um convite para jantar era muito estranho? Acabara de agredir o homem e depois deixei uma caçarola em seu quarto. Agora eu estava pedindo a ele para vir a minha casa? Isso parecia desesperado?

Louco!

Eu fiquei tensa, esperando ele sair correndo pela porta.

Ele me surpreendeu sorrindo e se inclinando para mais perto.

— Eu realmente gostaria disso. Obrigado.

Enquanto ele falava, meus olhos se voltaram para seus lábios macios e eu me perdi em seus movimentos. Sua cor era uma mistura pálida de pêssego e rosa, o inferior mais cheio que o superior. Pareciam os lábios perfeitos para um beijo quente e úmido. Uma onda de calor se juntou entre minhas pernas e eu afastei meus olhos da boca de Hunter quando percebi que estava olhando.

Seus olhos não estavam esperando pelos meus, como eu esperava. Eles estavam trancados na minha boca, fazendo algumas inspeções labiais.

Ele também queria me beijar? Com o pensamento, minha língua disparou automaticamente e umedeceu meu lábio inferior. Os olhos de Hunter brilharam e se voltaram para os meus. Ele segurou meu olhar por um momento, depois outro, antes de finalmente pigarrear e se recostar.

Grata por ele ter quebrado a tensão, eu aspirei um pouco de ar pesado e procurei por um tópico seguro de conversa. Um que não tinha nada a ver com os lábios. Ou beijando. Ou eu ainda me perguntando se ele dormia nu.

— Essa é uma ótima câmera. — Pendurada em seu peito largo, havia uma tira de nylon carregando uma câmera Canon cara.

— Obrigado. — Ele bateu na lente. — Comprei algumas semanas atrás e ainda não tive a chance de usá-la. Eu estava indo para as montanhas hoje à noite e ver se eu poderia tirar algumas boas fotos do pôr do sol.

— É isso que você faz? Você é um fotógrafo?

Ele balançou sua cabeça.

— Não, isso é apenas um hobby. Entrei nisso alguns anos atrás, mas raramente tenho tempo para praticar.

Eu balancei a cabeça em concordância.

— Eu sei como é. Eu costumava ter hobbies, mas com este lugar, mal tenho tempo para pensar nos dias de hoje. Não que esteja reclamando. Eu amo meu trabalho. — Eu iniciei uma caminhada e me parei antes de começar a virar. — Então, se você não é fotógrafo, o que faz aqui na cidade?

Eu estava sendo curiosa, mas não pude evitar. Normalmente, quando alguém novo se mudava para Prescott, eu ia começar a colher sobre eles a partir da fábrica de fofocas. Eu não ouvi uma única notícia sobre Hunter, mas eu queria que ficasse assim. Eu queria ouvir tudo sobre ele em primeira mão, começando com o que ele fazia da vida.

— Eu trabalho no...

— Maze! — Michael entrou no saguão com um grito alto e exuberante. Eu estava tão envolvida em ouvir a voz profunda de Hunter que nem tinha ouvido a picape de Michael parar. Mas o timing do meu irmão não poderia ter sido pior. Eu estava finalmente superando meu nervosismo com Hunter e provando que podia manter uma conversa normal, mas agora só precisava esperar a chance de tentar novamente outro dia.

Droga.

— Oi, Michael, — suspirei. — O que houve?

— Irei me casar!

Meu queixo caiu.

— O quê? Do que você está falando?

— Irei me casar. — Ele veio atrás do balcão e me pegou em um abraço. — Eu vou me casar com Alana Kelly. — Ele me colocou no chão e começou a sacudir meus ombros enquanto sorria.

Eu saí de seu aperto e dei um passo para trás antes que ele acidentalmente me pressionasse em sua excitação.

— Você pediu que ela se casasse com você? Você acabou de começar a namorar! Você vai assustá-la desde o Condado de Jamison!

Michael me ligou depois do jantar dele e de Alana no The Black Bull e me contou o quão ótimo tinha sido, mas isso foi apenas alguns dias atrás.

Ele revirou os olhos.

— Não, é claro que eu não pedi para ela se casar comigo, mas eu vou. Talvez em um ano ou algo assim. Ou seis meses. Ou quatro. Não sei, mas é ela.

— Obrigada Senhor. — Eu relaxei e sorri para o meu irmão mais novo, feliz por ele ter encontrado alguém especial. — Estou feliz por você.

— Estou feliz por mim também. — Michael finalmente olhou ao redor do saguão e notou Hunter olhando para nós. — Oh, ei. — Ele estendeu a mão. — Desculpe interromper. Michael Holt. Sou o irmão de Maisy.

— Não tem problema, — disse Hunter, apertando a mão dele. — Estávamos apenas conversando.

— Legal. — Michael assentiu e se sentou no balcão. — Bem-vindo a Prescott. Quanto tempo você está visitando?

— Estou realmente me mudando para cá, — disse Hunter. — Estou construindo um local, mas a equipe de construção ainda não terminou, então fico aqui por algumas semanas enquanto eles terminam.

— Legal, — disse Michael. — De onde você está se mudando?

— Chicago.

— Ótima cidade. — Michael contou uma história sobre suas férias em Chicago há alguns anos, enquanto eu pensava no meu cérebro, percorrendo mentalmente todas as novas construções na área. Eu realmente queria perguntar a Hunter sobre a sua casa, mas eu estava tentando suavizar a busca perseguidora. Então, em vez de procurar um endereço, sentei-me em silêncio, meio ouvindo a conversa, meio pensando sobre onde ele poderia morar.

Havia uma nova casa sendo construída no rio, mas eu conhecia os proprietários. Fora isso, toda a nova construção estava fora da cidade, no sopé das montanhas. Esses lotes eram enormes e comprados predominantemente por pessoas de fora que queriam uma “cabana” em Montana, cabanas que eram, no mínimo, vinte vezes o tamanho do meu sótão.

Até onde eu sabia, havia apenas três casas no sopé atualmente em andamento na Jamison Valley Construction. Se a de Hunter era o lugar que eu estava pensando, ele tinha dinheiro. Um monte de dinheiro, algo que eu já tinha suspeitado. Foi muito difícil não notar o Rolex que ele havia esquecido na pia do banheiro ou os suéteres de cashmere em seu armário quando eu estava limpando seu quarto.

O dinheiro não me incomodou, no entanto, especialmente porque Hunter parecia tão realista e modesto. Ele parecia o tipo de homem que menosprezaria sua riqueza apenas para ter certeza de que não fazia ninguém se sentir desconfortável. A maioria dos homens com dinheiro que eu conhecia sempre fizera questão de ostentar sua riqueza. O pai de Coby era médico e ele sempre fazia questão de dar dicas sobre sua fortuna.

Não vá lá.

Afastei os pensamentos do pai de Coby e foquei na discussão de Hunter e Michael.

— Você é um fotógrafo? — Michael perguntou.

Hunter sorriu para mim, depois olhou para Michael e disse:

— Não, eu sou um...

— Mamãe!

Coby estava abrindo a porta do saguão com a mamãe logo atrás.

— Ei! — Eu virei a esquina e me abaixei para lhe dar um abraço. — Como foi seu encontro com a Nana? — Toda quarta-feira à noite, mamãe tinha um jantar especial com Coby no café, apenas os dois.

— Eu tomei sorvete!

— Delicioso. Você trouxe alguns também?

Seus olhos se arregalaram de preocupação quando ele voltou para minha mãe.

— Nana, esquecemos o sorvete da mamãe. — Suas palavras ficaram confusas em pânico e “esquecemos” saiu mais como “esquece” e “Mamãe” foi um apressado “Mama.

— Está tudo bem, amigo. — Levantei-me e baguncei seu cabelo. — Eu tenho que jantar primeiro de qualquer maneira. O que vocês comeram?

— Cheeseburgers! — Ele e mamãe gritaram juntos. Eles sempre comiam cheeseburgers.

O sorriso de Coby ficou tímido quando ele olhou em volta e notou um estranho na sala. Mamãe notou Hunter também, mas, em vez de ficar tímida, ela deu uma avaliação completa da cabeça aos pés dele, depois virou os olhos para mim e murmurou:

— Uau.

Revirei os olhos e comecei as apresentações, esperando que mamãe parasse de se abanar em breve.

— Mãe, este é Hunter. Ele é um hóspede aqui. Hunter, esta é minha mãe, Marissa. Você pode vê-la de vez em quando, porque ela ajuda no escritório quando estou ocupada.

Ele se virou e estendeu a mão.

— Prazer em conhecê-la.

— Você também. — Mamãe disse sem soltar a mão dele. — Oh, você é um fotógrafo!

— Na verdade, eu sou...

— Você deve tirar fotos para os quartos! — Ela interrompeu, ainda segurando a mão dele.

— Mãe, solte-o.

— Embaraçoso. — Ela fingiu estar envergonhada, mas ainda estava segurando a mão dele.

— Mãe, a mão dele?

Relutantemente, ela o soltou.

— Desculpe. Enfim, como eu estava dizendo. Você deve tirar fotos para os quartos. Maisy, conte a ele sua ideia.

Apertei meus lábios e dei a ela o meu melhor olhar “idiota”, mas ela me ignorou completamente.

— Diga a ele sua ideia.

Os olhos de Hunter estavam esperando quando eu voltei para ele.

— Ideia para quê?

— A obra de arte nos quartos. No momento, tenho arte de hotel barata e padrão, obviamente, você sabe disso desde que tem um quarto. Enfim, eu tenho remodelado todos os quartos nos últimos anos, mas ainda não investi em arte porque quero encomendar algo especial. Eu estava pensando em fazer uma coleção de fotografias de lugares da cidade e arredores e depois fazer com que cada quarto fosse diferente.

— Diga a ele a parte do cartão postal, — disse Michael antes que Hunter pudesse comentar.

Dei a meu irmão o mesmo olhar de “idiota” que também foi ignorado, e olhei de volta para Hunter.

— Eu pensei em fazer cartões postais que correspondam à arte de cada quarto, e os hospedes receberiam um quando fizessem o check-in. Eles poderiam enviá-los aos membros da família ou recolhê-los em várias estadias. O que eles quiserem. Eu apenas pensei que seria algo único.

Explicar a ideia em voz alta sempre me atraiu. Todo mundo adorava minha ideia cartão postal, mas eu sempre oscilei. Alguns dias, pensava que fosse um golpe de gênio. Outros dias eu pensava que era coxo e idiota. Como eu realmente não queria que Hunter pensasse que eu era uma idiota, mordi meu lábio inferior enquanto esperava sua resposta.

— Eu gosto, — disse Hunter. — A coisa toda parece um toque legal. As fotos e os cartões postais. Acho que as pessoas realmente gostariam e é diferente do que você veria em qualquer hotel comercial.

Meu lábio caiu dos meus dentes.

— Você realmente acha?

Seu rosto se abriu em um sorriso largo de tirar o fôlego, mostrando seus dentes perfeitamente retos e brancos.

— Realmente.

Eu estava realmente fazendo esses cartões-postais.

— Excelente! — Mamãe bateu palmas. — Então você vai tirar as fotos?

— Mamãe! — repreendi ao mesmo tempo em que Hunter balançou a cabeça.

— Oh, eu não sou profissional. Este é apenas um hobby amador. — Ele olhou para mim. — Você provavelmente quer alguém com talento.

— Oh, elegante, — disse minha mãe. — Essa pode ser uma chance para você refinar sua arte. Que tal agora? Você tira algumas fotos e mostra para Maisy. Se ela gosta delas, ela vai comprá-las. Se ela não o fizer, você terá a chance de praticar.

— Mãe, você está sendo insistente. — Eu olhei para Hunter. — Sinto muito.

Ele riu.

— Está tudo bem.

— Então você vai fazer isso? — Mamãe disse, interpretando-o completamente.

— Eu realmente não conheço a área. Eu não teria ideia por onde começar.

— Tudo bem. Maisy pode mostrar a você. Por favor diga sim? Todos nós estávamos tão ansiosos para ver seus quartos finalmente terminados e ela trabalhou tanto. Ver aquela arte antiga naqueles quartos, apenas parte meu coração. Ela merece que terminem da maneira certa.

— Mãe, — murmurei ao mesmo tempo, Michael disse: — Um pouco grosseiro, mãe.

Hunter olhou para mim e eu dei de ombros. Não havia discussão com minha mãe na sala, não quando ela estava montada em uma ferrovia entre Hunter e eu juntos. Era assim que Gigi tinha se sentido quando eu joguei de casamenteira com ela e Jess? Nesse caso, eu estava ligando para ela no minuto em que chegasse no sótão e me desculpando.

— Vamos lá, o que você diz? Por favor? — Mamãe implorou.

— Não posso prometer que elas serão boas, — alertou Hunter.

— Yay! — Mamãe aplaudiu. — Isso será maravilhoso.

Antes que eu pudesse dizer a Hunter que poderíamos discutir os detalhes mais tarde, e dar a ele a chance de desistir, Coby puxou minha perna.

— Mamãe, posso brincar com Picles agora?

Meus olhos caíram para Coby, que estava falando comigo, mas olhando para Hunter. Coby era normalmente um garotinho alto e enérgico, mas com estranhos por perto, ele era tímido. Ele deve ter gostado de Hunter, se se sentia confortável o suficiente para falar.

— Claro, amigo. Mais um minuto. — Eu olhei de volta para Hunter. — Este é Coby, meu filho.

— Ei, Coby. — Hunter se agachou na nossa frente. — Prazer em conhecê-lo.

Eu assisti o rosto de Hunter com cuidado enquanto ele falava com Coby. A última vez que Hunter viu meu filho foi quando o ultrapassamos pelas máquinas de venda automática. Na época, ele deu a Coby um olhar estranho, mas agora o rosto de Hunter não era nada além de gentil e terno. Talvez ele não estivesse intimidado pelo meu status de mãe solteira, afinal.

— Você pode me dizer onde você conseguiu essa camisa? — Hunter perguntou. — Batman também é o meu favorito. Talvez a loja tenha uma do meu tamanho.

Coby soltou minha perna e estufou o peito coberto de Batman.

— O homem do pacote me deu isso.

O carteiro estava recebendo crédito? De jeito nenhum!

— Coby, eu comprei essa camisa para você. O carteiro entregou, mas isso foi um presente meu. — Coby estava convencido de que o carteiro era seu maior fã e a pessoa por trás de cada presente entregue da Amazon.

Coby franziu a testa para mim, depois se voltou para Hunter.

— Você pode pedir ao homem do pacote que lhe traga uma. Ele é muito bom e bom em dar presentes.

— Eu não posso ganhar, — eu murmurei.

Hunter riu e se levantou.

— Parece uma boa ideia. É melhor eu pegar a estrada. Mais uma vez obrigado pelo jantar. — Ele se despediu de Michael e mamãe e caminhou até a porta.

— Espere, — Mãe chamou antes que ele pudesse escapar. — Quando vocês vão começar as fotos?

— Ela não é nada senão persistente, — Michael murmurou ao meu lado.

Ele tinha esse direito. Mamãe não deixaria Hunter fora de vista até que este acordo fosse fechado com força e tivéssemos um encontro firme.

— Estou livre domingo, se isso funcionar, — disse Hunter.

Concordei, mais animada por uma tarde de domingo em anos.

— Funciona para mim.

— Perfeito! — A mãe disse. — Eu venho logo depois da igreja e olho Coby. Vocês dois podem almoçar tarde e depois saem.

— Ok. Vejo você no domingo. — Ele sorriu para mim antes de fechar a porta do saguão atrás dele.

Eu mantive o sorriso no meu rosto até saber que ele estava fora do alcance da voz e então olhei para mamãe.

— Obrigada por isso.

— De nada, querida. — Ela começou a se abanar de novo, alheia ao meu sarcasmo. — Ele é um sonho.

Ela tinha esse direito. Por mais que ela estivesse, não pude deixar de sorrir com a perspectiva de ver Hunter no domingo.

Talvez ele até aceitasse meu convite para jantar antes disso. Eu tinha um próximo encontro com Warren Adams em um restaurante chique e não conseguia conjurar um pingo de emoção, mas a ideia de que Hunter pudesse subir ao sótão para um jantar humilde na minha pequena mesa me deixou praticamente tonta.

Coby puxou minha mão.

— Mamãe, vamos lá.

— Você conseguiu, amigo. Deixe-me trancar. — Desliguei o computador e tranquei a porta do saguão, pendurando minha placa. — Vocês estão vindo, certo? — Eu perguntei a mamãe e Michael. Ambos assentiram e todos nós seguimos Coby pelas escadas.

No segundo em que entramos no sótão, eu me encolhi. Eu tinha esquecido que não tinha limpado antes de convidar mamãe para o andar de cima.

Trabalhei incansavelmente para manter o hotel impecável, mas às vezes perdia a força antes que eu pudesse limpar o sótão. Mamãe não se importava se estava bagunçado, mas ela também não conseguia ficar parada. Ela já fez muito por mim, entre olhar Coby e ajudar no hotel, eu odiava que ela limpasse minha casa também.

Assim como eu havia previsto, ela entrou e começou a trabalhar quando Coby passou correndo por nós para ir ao caixote de Picles pela porta dos fundos.

— Mãe, você não precisa fazer isso, — eu disse enquanto ela arrumava a pilha de sapatos perto da porta.

— Eu não me importo. — Com os sapatos arrumados, ela foi direto para a sala para afofar as almofadas na minha seção de veludo de algodão, que dividia a sala da cozinha à esquerda. Quando ela começou a colocar os brinquedos de volta em suas cestas embaixo do meu centro de entretenimento, corri para arrumar a cozinha antes que ela pudesse me derrotar.

Felizmente, minha cozinha era do tamanho de um dedal, então levei apenas alguns minutos para limpar as migalhas das bancadas de fórmica e carregar a louça suja na máquina de lavar louça.

— Eu vou pegar essa toalha, — mamãe disse e a tirou da pia. Então ela foi para a minha pequena mesa circular de quatro lugares da sala e começou a limpar.

— Mãe, eu vou limpar depois. Apenas deixe.

Ela continuou limpando.

— Isso levará apenas um minuto. Você tem tanto no seu prato, deixe sua mãe limpar. É importante para mim.

Suspirei.

— Tudo bem.

Mamãe havia me dito uma vez que ajudar seus filhos era seu objetivo na vida. Ela abandonado uma carreira para ficar em casa quando éramos mais jovens, e agora que Beau, Michael e eu éramos adultos, acho que às vezes ela se sentia um pouco perdida. Ainda precisávamos dela, eu e Coby, especialmente, mas era diferente do caos e do zumbido constante de ter três filhos em sua casa.

— Eu já volto, — eu disse a Michael, que estava bisbilhotando minha geladeira.

Apesar do meu protesto, mamãe não parava de limpar e eu não podia deixá-la fazer todo o trabalho sozinha. Passei pela sala e segui pelo corredor até o único banheiro no sótão. Peguei uma toalha do chão de linóleo e usei-a para limpar a pasta de dente azul de Coby da pia. Então fui para o meu quarto e tirei as roupas do chão, empurrando-as no cesto no closet do meu quarto. Com meu quarto apresentável, caminhei pelo corredor até o quarto de Coby para arrumar sua cama rapidamente e guardar os brinquedos que ele havia retirado hoje de manhã antes da creche.

Ele não estava limpo, limpo, mas foi uma melhoria e o suficiente para fazer minha mãe relaxar e me visitar por um tempo.

No meu caminho de volta para a sala, meus olhos flutuaram pela janela que dava para o estacionamento. Nos dias de hoje eles andavam muito para aquela janela, procurando algum sinal de Hunter. Como esperado, a picape foi embora, mas isso não me impediu de verificar de qualquer maneira. Eu estava me viciando na correria do meu coração e no meu estômago toda vez que vislumbrava o homem que havia me intrigado tanto.

Fazia muito tempo desde que eu me sentia assim por um homem. Não desde Everett. Talvez fosse um sinal de que eu finalmente estava pronta para seguir em frente, me comprometer com um relacionamento real, não apenas namorar casualmente quando forçada pelas minhas amigas. Talvez fosse um sinal de que eu estava pronta para deixar ir os medos que Everett tinha instalado.

Eu só esperava que, para o meu próximo relacionamento, eu não escolheria uma maçã tão ruim. Que eu não escolheria alguém tão cheio de veneno.

 

Hunter


Entrando no hotel, olhei para o sótão de Maisy, esperando vê-la na janela. Suas luzes estavam apagadas, nenhuma surpresa, já que passava das onze, mas eu verificava aquela janela todas as noites, independentemente da hora.

A maioria dos homens se afastava de uma mulher que os tinha dado uma joelhada nas bolas. Normalmente, um homem mandaria aquela mulher o mais longe possível dele. Em vez disso, fiquei desesperado por qualquer chance de estar perto dela, mesmo que isso significasse apenas olhar para sua casa e saber que ela estava lá dentro.

O que significava que eu estava fodido.

Eu tive a desculpa perfeita para interromper minha estadia no The Bitterroot Inn. Ter a sua masculinidade agredida pela proprietária era uma desculpa justificável para cancelar uma reserva, mas eu não consegui me fazer arrumar as malas.

Maisy Holt estava debaixo da minha pele.

Inferno, eu quase a beijei hoje.

Eu tenho estado em Prescott por menos de uma semana e ela era tudo que eu conseguia pensar. Eu olhava para a janela do sótão dela todas as noites, imaginando o que ela estava fazendo e rezando para que ela não estivesse com outro homem. Felizmente, ela não parece ser o tipo de trazer homens aleatórios em torno de seu filho.

Coby Holt não sabia a sorte de ter Maisy como mãe.

Ou Marissa como sua avó.

Sorrindo enquanto caminhava da minha picape para o meu quarto, repeti o flagrante de Marissa. Sua insistência foi desnecessária. No segundo em que ela me mencionou tirando aquelas fotos, eu queria tanto esse trabalho que era quase impossível fingir resistir.

Não estava fazendo o trabalho pelas fotografias. Queria isso pelo tempo gasto com Maisy.

Esta era a oportunidade perfeita para conhecê-la antes de eu sair. A chance de eu fazer algo especial, só para ela. Isso me daria tempo para memorizar seu rosto sorridente antes que ela descobrisse a verdade e nunca mais sorrisse para mim.


Capítulo Cinco

Maisy


— Tem certeza de que é assim que você quer passar sua sexta-feira de folga? — Eu perguntei a Gigi.

Ela estava do outro lado da cama que eu estava arrumando, colocando o lençol branco embaixo do canto do colchão.

— Tenho certeza. — Ela alisou o algodão. — Não tivemos muito tempo apenas nós duas ultimamente.

Entre as crianças, amigos e trabalho, eu não conseguia me lembrar da última vez que Gigi e eu fizemos algo sozinhas.

— História verdadeira. Mas poderíamos planejar algo especial, como um almoço ou pedicure à tarde. Você realmente quer passar o dia me ajudando a limpar e lavar a roupa?

— Sim. Sinto falta de trabalhar com você, então hoje trabalharemos juntas.

Eu sorri e joguei o edredom na cama.

— Eu sinto falta de trabalhar com você também.

Anos atrás, eu era enfermeira no Jamison Valley Hospital com Gigi. Nós nos conhecemos no primeiro dia de trabalho dela e nos demos bem imediatamente. Mas depois de tudo o que aconteceu naquele ano, depois daquela noite horrível, deixei o emprego e desisti da minha carreira de enfermagem.

— Posso te dizer uma coisa? — Ela perguntou.

— Sim. Sempre.

Gigi parou de endireitar o edredom e balançou a cabeça.

— Eu tive um pesadelo com isso na outra noite. Sobre... você sabe.

Sim, eu sabia.

— Não tenho um sonho assim há anos, — ela continuou. — Isso meio que mexeu comigo. Isso já aconteceu com você?

Eu assenti.

— Às vezes.

— Você quer falar sobre isso? — Havia uma hesitação em sua voz.

Gigi e eu não conversamos muito sobre esse tempo. Em vez de discutir juntas, ela confidenciava a Jess e eu tinha visto um terapeuta por um tempo. Foi traumático, para nós duas, e em vez de nos deter sobre as más recordações, nós escolhemos fazer o melhor possível e seguir em frente. Realizamos até uma festa todos os anos para marcar o aniversário do nosso sequestro. Mas depois de todo esse tempo, a dor daquela noite ainda estava fresca. As más lembranças que tentei prender em uma garrafa continuavam vazando.

Talvez fosse hora de abrir a tampa e esvaziar a garrafa.

Eu andei até o pé da cama e afundei no colchão.

— Não tenho pesadelos, mas às vezes tenho esses flashes estranhos. Como déjà vu, mas pior. Eles são mais real. Não sei como descrevê-los sem parecer uma pessoa louca.

Gigi sentou ao meu lado.

— Você não é uma pessoa louca.

Dei de ombros.

— Eu tento não pensar nisso. É muito fácil voltar para o lugar escuro, mas ultimamente parece estar surgindo em minha cabeça mais. Não gosto de falar sobre isso, mas talvez devêssemos.

Gigi estendeu a mão para segurar minha mão.

— Nós não precisamos.

— Não, talvez isso ajude. Mas você primeiro? Diga-me sobre o que era o seu sonho.

Ela apertou minha mão e respirou fundo.

— Foi como reviver tudo de novo. Eu estava na casa da fazenda e Everett apareceu e me levou. Então eu acordei no porão do hospital e ele trouxe você. A partir daí, tudo foi em câmera lenta. A luta. O bisturi. O sangue. — Ela estremeceu. — Ainda posso ouvir o chocalhar daquele frasco de comprimidos.

— Eu também, — sussurrei enquanto calafrios percorriam minha espinha. Eu odiava esse som.

— Sobre o que são seus flashes?

— Principalmente o mesmo, exceto que eles nem sempre permanecem fiéis ao que realmente aconteceu. Às vezes ele me leva a tomar as pílulas. Às vezes ele me apunhala. Não importa o que, eles são tão reais como se ainda estivéssemos naquele porão. Ainda sinto o cheiro. Ouço os sons. Sinto o frio no ar. Eles são tão reais.

A mão de Gigi apertou a minha com mais força.

— Oh, Maisy, eu sinto muito.

— Não se desculpe. — Eu balancei minha cabeça. — Ele era meu namorado. Eu deveria ter notado os sinais e visto como ele era mau, então nada disso teria acontecido conosco.

— Não é sua culpa. Nenhuma de nós viu quem ele realmente era. Ele era um mestre em manter seu verdadeiro eu escondido.

Eu disse a mim mesma a mesma coisa há anos, mas sempre me perguntava se poderia ter feito mais se não estivesse tão cega por sua bela fachada.

O dia em que Everett Carlson pisou em Prescott foi o dia em que minha vida mudou. Ele era um novo médico no hospital, lindo e charmoso, e eu fiquei completamente apaixonada por ele desde o início. Eu olhei para ele com estrelas nos meus olhos e não vi o engano escondido sob seu sorriso perfeito.

Mentiras. Tudo o que ele fez, tudo o que fingiu ser durante o nosso relacionamento, foram mentiras.

Na verdade, ele era traficante de drogas, contrabandeando pílulas do hospital e depois vendendo o medicamento pela cidade. Ele sequestrou Gigi porque achava que ela descobriu sua operação. Ele me sequestrou porque eu engravidei e me recusei a fazer o aborto que ele queria. Naquela noite, no porão do hospital, ele planejava matá-la e enfiar comprimidos suficientes na minha garganta para matar meu bebê.

Para matar Coby.

Everett não teve a chance. Gigi revidou e criou uma abertura para eu atacar. Matar o pai do meu filho.

Eu não tinha entrado no hospital desde aquela noite horrível. Havia muitas lembranças lá. Muitos lembretes de quão ingênua eu fui. Muitos lembretes de que eu havia tirado uma vida.

Muitos lembretes de que eu poderia ter perdido meu filho.

— Estou com medo do dia em que Coby pergunta sobre o pai, — eu sussurrei. Era o meu maior medo. — O que eu digo a ele?

Gigi balançou a cabeça.

— Eu não sei, mas quando essa hora chegar, eu sei que você dirá a ele a coisa certa.

— Eu espero que você esteja certa.

Ficamos sentadas juntas, de mãos dadas, até que um hóspede falando ao telefone passou pela sala e rompeu o silêncio.

— Bem, isso ficou sério. — Gigi riu. — Mudança de assunto?

Respirei fundo e assenti.

— Sim, por favor.

— Você está animada para o seu encontro amanhã?

— Ugh, — eu gemi, levantando-me para voltar a arrumar a cama. — Eu acho que sim.

— Felicity jura que esse cara é engraçado. Você nunca sabe, pode ser divertido.

— Você está certa. Eu não deveria ser tão cínica. — Uma vez, eu era animada com encontros. Eu planejava uma roupa especial. Eu me esforçava para esfoliar, fazer minhas unhas, passar mais tempo arrumando meu cabelo e maquiagem. Mas agora, eu simplesmente não conseguia encontrar a motivação.

— Você não é cínica. — Ela colocou um travesseiro no armário. — Você acabou de ser queimada por um relacionamento realmente ruim e alguns encontros ruins. Você tem boas razões para ser cautelosa, mas Maisy, nem todo cara é um assassino e traficante de drogas. Você só precisa manter a mente aberta e lembrar que alguns caras precisam de uma segunda chance. Lembro que você me disse isso uma vez quando escrevi para Jess como uma idiota.

Eu sorri. Quando Jess e Gigi se conheceram, Jess era uma idiota de primeira classe, mas eu jurei a Gigi que ele não era um idiota e a incentivei, implorei, que ela desse uma chance a ele. E com o tempo, ele a conquistou.

— Ok. Vou manter isso em mente.

— Você quer algo emprestado para vestir? Poderíamos terminar aqui, almoçar, depois ir para a fazenda e você pode invadir meu armário.

— Eu estava realmente pensando em usar apenas uma blusa preta e um jeans.

Ela me jogou um travesseiro.

— Preto? É primavera.

— O quê? O preto é um clássico, não importa a estação.

— Tudo bem. Você pelo menos vai usar saltos altos?

Eu torci o nariz com o pensamento dos dedos dos pés esmagados a noite toda em meus saltos pretos.

— Que tal sapatilhas? — Hoje eu era uma garota de tênis e tênis, mas tinha um par de sapatilhas que não eram tão ruins.

Gigi me olhou como mamãe e eu sabia que não haveria como vencer uma discussão sobre o meu calçado.

— Ok, eu vou usar saltos.

— Bom, — ela disse presunçosamente.

Sorri e voltei a limpar, feliz que Gigi estivesse aqui e poderíamos passar algum tempo atrasado juntas. Eu cresci em Prescott e tinha amigos na cidade que conhecia desde a infância. Mas meu relacionamento com Gigi era especial. Não apenas sobrevivemos a algo traumático juntas, mas nos conectamos em um nível mais profundo do que eu já tive com outra amiga. Se eu estava lutando, ela estava sempre lá com um abraço reconfortante. Quando descobri que estava grávida, fui direto a ela para pedir conselhos. Ao lado de minha mãe, ela era minha melhor amiga e confidente.

E, no entanto, por algum motivo, ao longo do dia, eu não mencionei uma única vez Hunter.

Normalmente, ela seria a primeira que eu contaria sobre os hóspedes quentes do hotel, mas algo sobre Hunter era diferente. Eu queria mantê-lo só para mim agora. Então fiquei de boca fechada por toda a manhã, enquanto limpávamos o quarto dele.

Mas quando voltamos à despensa para lavar a roupa antes do almoço, eu decidi pelo menos contar a ela sobre como iniciar meu projeto de fotografia.

— Então, acho que tenho um fotógrafo para começar a tirar fotos para novas obras de arte em todos os quartos.

— Realmente? — Ela me entregou uma pilha de lençóis para uma máquina de lavar. — Isso é demais! Quem é ele?

— Ele é um hóspede. — Liguei uma lavadora e depois mudei para a próxima. — Ele entrou no saguão outro dia com a câmera e começamos a conversar. Ele é meio inexperiente, então vamos apenas ver como vai acontecer, mas vou levá-lo no domingo para mostrar alguns lugares que achei que seriam bons para fotos de quartos.

— Espero que ele seja melhor do que o último fotógrafo que você se aproximou.

Eu zombei e joguei um pouco de sabão na máquina.

— Não pode ser muito pior.

Quando originalmente tive a ideia de fazer fotos locais com cartões postais correspondentes, aproximei-me do primeiro e único fotógrafo da cidade. Infelizmente, ele não esteve interessado em meu projeto, preferindo seus retratos de casamentos e aniversários, e em cima disso, eu tinha um orçamento pequeno. Então eu saí da cidade e contratei um fotógrafo barato para vir para Prescott.

O cara tinha a minha idade e era bonito com uma vibração hippie. Basicamente, ele era totalmente diferente de Everett. Ele também foi o primeiro e único homem com quem eu dormi desde Everett.

Na manhã depois que eu fiquei com o fotógrafo, ele deixou uma nota deixando o trabalho de fotografia. Gigi e eu tínhamos especulado que ele não queria se envolver com uma mãe solteira. Talvez ele tenha pensado que eu seria pegajosa ou pedisse um desconto nas fotos. Tanto faz. Até hoje, eu não tinha ideia.

Independentemente disso, ele foi embora e eu decidi adiar a substituição da arte. Agora eu estava ficando empolgada com o projeto novamente e esperava que as coisas com Hunter ficassem melhores.

— Eu pretendo me desculpar, — disse Gigi, me tirando daquelas memórias. — Eu não deveria ter mencionado aquele novo médico na outra noite. Não na frente de todas as outras.

Dei de ombros e comecei a dobrar uma cesta de toalhas.

— Está tudo bem. Desculpe, fiquei chateada com aquilo. Tenho certeza de que seu médico é legal, mas simplesmente não posso ir lá.

— Compreendo. — Ela pegou uma toalha também. — Eu deveria ter pensado melhor do que falar sobre aquilo, mas Sara estava tão animada que não pude dizer que não.

Está tudo bem. Eu sei que todo mundo estava com boas intenções.

— Nós só queremos que você seja feliz.

Coloquei a toalha dobrada.

— Estou feliz. Mesmo que seja apenas eu e Coby, estou feliz.

Ela me deu um sorriso triste, como se não acreditasse em mim.

— Ok.

Dobramos em silêncio por alguns momentos até Gigi perguntar:

— Onde você está pensando em levar o fotógrafo no domingo?

Qualquer lugar. Eu levaria Hunter Faraday para qualquer lugar, apenas pela chance de conhecê-lo.

As borboletas no meu estômago tremeram como loucas quando contei a Gigi sobre os lugares que eu havia pensado em ir no domingo. Quando fizemos uma pausa para o almoço, eu mal conseguia conter minha emoção.

E não era apenas pelas fotos. Eu estava radiante com a perspectiva de passar uma tarde com Hunter.

Warren Adams teria que trazer seu jogo A para o nosso encontro amanhã se quisesse ter alguma chance de conseguir um segundo, porque agora, eu era toda sobre Hunter Faraday. Olhei para o meu telefone pela vigésima vez nos últimos quarenta e cinco minutos e ainda não vi uma mensagem.

Warren Adams estava quase uma hora atrasado para o nosso encontro. Nenhum texto. Sem chamadas. Nenhum e-mail.

Não há nada.

Eu estava de pé.

E se isso não machucasse o ego de uma garota, eu não sabia o que machucaria.

Ah bem. Foi melhor. Ontem à noite, eu realmente considerei cancelar com Warren porque não achava justo namorar com ele quando estava completamente apaixonada por outro homem. Mas eu mantive o encontro, sentindo que um cancelamento de última hora seria rude. Então eu prometi a mim mesma que daria a Warren uma chance real.

Eu deveria ter cancelado totalmente.

Eu desperdicei produtos preciosos para cabelo e maquiagem por nada.

Agarrando meu telefone, eu estava no meio de enviar uma mensagem para Felicity, dizendo a ela que ela nunca me arrumaria um encontro novamente, quando minha garçonete apareceu.

— Não compareceu? — Ela perguntou.

Eu olhei para cima e balancei minha cabeça.

— Não. Acho que vou aproveitar e tomar o vinho.

— Pode apostar.

O sorriso simpático dela me fez sentir ridícula. Eu não precisava de um encontro para comer em um bom restaurante. Não precisava de um homem sentado à minha frente para pedir um bife barato. Dane-se e dane-se Warren Adams.

— Na verdade, — eu a chamei de volta antes que ela pudesse ir longe demais, — você me traz um cardápio e outro copo do vinho tinto da casa?

— Absolutamente. — Ela sorriu e me deu um aceno de encorajamento. — Volto já.

Eu sorri e me sentei um pouco mais alta na minha cabine de encosto alto. O jantar hoje à noite seria um presente para mim por todo o trabalho duro que eu estava fazendo para me preparar para a temporada turística deste ano.

Tomando um gole do meu vinho, relaxei no banco marrom densamente acolchoado e inspecionei minha mesa. Cada mesa do The Black Bull era única, feita da mesma madeira, mas carbonizada com diferentes marcas de gado. Juntamente com as paredes escuras com painéis de madeira de celeiro recuperadas e os lustres de chifres de animais, o restaurante alcançou o equilíbrio perfeito entre rústico e refinado.

Inspeção da mesa concluída, voltei ao meu telefone e terminei a mensagem de texto para Felicity. Eu tinha acabado de bater enviar quando uma figura apareceu no final de minha cabine. Eu olhei para cima, esperando ver minha garçonete, mas era Hunter.

— Oh. — Eu pisquei duas vezes. — Oi! — Minha saudação saiu muito animada e um toque muito alto.

— Ei.

Vestido com jeans e um suéter cinza suave, seus olhos brilhavam na penumbra. Seu cabelo estava preso em seu coque masculino, mas os fios que geralmente estavam soltos em suas orelhas estavam presos.

Era oficial. Toda vez que eu via Hunter, ele ficava mais sexy.

— Você está comendo sozinha? — Ele perguntou.

Percebendo que eu estava olhando, eu baixei meus olhos para a mesa. Quando olhei para cima, forcei um sorriso fácil para que ele pensasse que eu jantava sozinha o tempo todo. Realmente não queria que Hunter soubesse que eu estava aqui por um encontro.

— Sim. Só eu esta noite.

— Ele apareceu! — O tempo da garçonete foi péssimo.

Meu sorriso caiu quando minhas bochechas explodiram em chamas.

Ela colocou meu segundo copo de vinho na mesa.

— Antes tarde do que nunca.

— Você estava encontrando alguém? — Hunter perguntou enquanto ela se afastava.

Dei de ombros.

— Eu estava, mas ele não apareceu.

Ele apontou para o espaço vago na cabine.

— Posso?

— Hum, claro. — Eu me esforcei para puxar meu guardanapo para o meu lado da mesa e tirar meu vinho do seu espaço. Quando ele deslizou para dentro da cabine, limpei minhas mãos suadas nas calças debaixo da mesa, depois tomei um gole da minha água.

Seus pés estavam a centímetros dos meus. Eu podia sentir o cheiro da colônia dele do outro lado da mesa. Hunter ia comer comigo? Ou apenas me fazer companhia um pouco? Oh Deus. E se ele estivesse apenas passando o tempo comigo até o meu encontro chegar?

Ele provavelmente estava sentado aqui por pena, esperando seu encontro de supermodelo vir e reivindicá-lo.

— Seu encontro está atrasado?

Ele balançou sua cabeça.

— Não, eu estou aqui sozinho.

Sim! Eu bati o punho debaixo da mesa.

— Eu estava desejando um bife, — disse Hunter. — Você se importaria se eu me juntasse a você hoje à noite, já que nós dois estamos sozinhos?

Woo-hoo!

— De modo nenhum. — Eu me dei um tapinha mental nas costas por não deixar escapar minha resposta imediata.

Nossa garçonete voltou e entregou um cardápio a Hunter.

— Aqui está, — ela disse, olhando para ele, mas depois dando uma olhada dupla. Eu sorri enquanto ela corava, entendendo completamente sua necessidade de ficar boquiaberta.

Hunter era o tipo de homem que as mulheres olhavam mais de uma vez.

Depois de pedir uma cerveja, passamos alguns momentos estudando nossos cardápios. Não importa quantas vezes meus olhos se concentrem nas letras, eu perdi a capacidade de ler. Eu nunca senti esse tipo de atração estúpida por um homem antes, nem mesmo com Everett.

— Você está linda, — disse Hunter.

Meus olhos correram pelo cardápio e pousaram nos dele. A intensidade de seu olhar era tão de tirar o fôlego que tudo o que consegui controlar foi um agradecimento ofegante.

Ele sorriu quando nossa garçonete voltou para receber nossos pedidos e entregar a cerveja de Hunter. Usei o breve alívio para cruzar as pernas e me mexer no banco, na esperança de saciar um pouco do latejar entre as minhas coxas.

— Onde está Coby hoje à noite? — Hunter perguntou depois de tomar um gole de sua cerveja.

— Ele está com meu irmão Beau e sua noiva, Sabrina. Eles estão tendo um acampamento.

— Não está um pouco frio? Havia gelo no chão esta manhã.

Eu sorri.

— O acampamento deles é no porão de Beau. Ele tem uma barraca especial para Coby e tudo mais.

— Parece divertido.

— Sim, eles vão se divertir. Beau e Sabrina vão se casar no próximo mês e Beau é muito próximo de Coby. Sabrina ama os acampamentos porque eles lhe dão a chance de se relacionar com Coby como tia.

— E então você tem uma noite de encontro.

Eu bufei e tomei outro gole do meu vinho.

— Eu terminei com noites de encontro.

— Por quê?

— Eu não tenho tido muitos bons encontros ultimamente.

Ele assentiu.

— Eu sei como é isso.

— Você sabe? — Hunter era lindo e poderia ter qualquer mulher solteira que desejasse como companheira de jantar. Não deveria haver um encontro ruim no mundo dele. — Você teve muitos encontros ruins ultimamente?

— Mais ou menos.

Mais ou menos. Eu fiz uma careta com as palavras. A única resposta que eu odiava acima de todas as outras era “mais ou menos”.

Não costumava ser assim, mas Everett havia dito “mais ou menos” mais do que eu podia contar e ele me arruinou com a frase. Não era um sim. Não era um não. Era a resposta perfeita para evitar qualquer pergunta.

Mais ou menos. Nojento.

Engoli o gosto amargo na minha boca com mais vinho. Hunter não conhecia minha aversão a essa frase e eu certamente não explicaria esta noite, assim como não esperava que ele explicasse seu histórico de namoro. Se ele não quisesse falar sobre relacionamentos passados, eu não bisbilhotaria. Pelo que eu sabia, ele poderia ter acabado de se separar ou se divorciar.

Como esse tópico não era para iniciantes, decidi escolher outro. Este jantar foi a oportunidade perfeita para conhecer Hunter antes de partirmos para tirar fotos no domingo.

— Então você disse que outro dia você é de Chicago?

Ele assentiu.

— Nascido e criado.

— Por que você escolheu Prescott? É mais diferente de Chicago possível. Você não gosta da cidade?

— Não. Eu gosto de Chicago. Mudar-me para Prescott foi... necessário.

Necessário? O que isso significa? Eu esperei alguns momentos para ele elaborar, mas ele não o fez. O silêncio na mesa ficou estranho, então eu fui para um tópico diferente.

— Você já esteve aqui antes ou se mudou para cá cego?

— Eu estive aqui uma vez.

Mais uma vez, eu esperei. E esperei. E esperei um pouco mais.

O que estava acontecendo? Hunter era tímido? Ele com certeza não pareceu durante nossos outros encontros. Por que ele estava sendo agora?

Quando não tive mais nenhuma explicação, decidi tentar outro assunto, que fosse seguro e com certeza provocaria uma conversa natural.

— Quando você começou a tirar fotografia?

— Um tempo atrás.

Um tempo atrás. Outra resposta vaga que eu odiava tanto quanto “mais ou menos”. Ignorando a tensão subindo pela minha espinha, eu continuei falando, esperando ele se abrir.

— Eu sempre quis ter um hobby legal como a fotografia. Adoro tirar fotos, mas não há realmente onde aprender por aqui. Você aprendeu com alguém ou é autodidata?

— Eu tive um mentor. — Hunter sorriu, mas estava distante, não cheio do calor que costumava conter. Quando seus olhos se separaram dos meus, eu cedi.

Desisto.

Hunter estava se fechando. Eu conhecia essa linguagem corporal. Esse tom em sua voz. Era inteiramente familiar demais. Familiar e indesejável.

Hunter Faraday estava me enviando vibrações de Everett Carlson e eu realmente não gostei do lembrete.

Quando eu comecei a namorar Everett, nós nos demos bem perfeitamente. Nossas conversas sempre foram leves e impessoais, principalmente centrada em torno do hospital e os nossos colegas de trabalho, mas como o tempo passou, eu comecei a fazer as perguntas normais que uma namorada gostaria de perguntar. Quando é seu aniversário? De onde está você é? Você tem família?

Ele nunca me respondeu. Nunca. Nem para me dizer o nome do meio dele.

Everett só queria que eu fosse o rosto bonito que aquecia sua cama. Nada mais. Ele se fechava sempre que eu tentava chegar perto.

Por mais que eu gostasse de Hunter, não precisava passar por tudo isso de novo.

Então desisti de minhas perguntas e me sentei em silêncio, alternando goles de água e vinho enquanto Hunter estudava as marcas na mesa. Ele abriu a boca apenas uma vez para fechá-la novamente antes de falar.

Encontros são péssimos. De todos os jantares constrangedores que tive ultimamente, este foi de longe o pior. Eu queria tanto conhecer Hunter, para ver se havia mais entre nós do que apenas uma atração física. Mas não parecia que eu teria a chance.

Ele apenas ficou olhando para a mesa, sem falar.

Eu não era tímida. Ele poderia pelo menos fazer perguntas sobre mim.

Felizmente, nossas refeições chegaram alguns minutos depois e eu mergulhei no meu bife, mastigando cada pedaço suculento por mais tempo do que normalmente faria apenas para manter minha boca ocupada. Embora a comida fosse deliciosa, o nó no meu estômago me impediu de apreciar a refeição.

No momento em que terminei o jantar, decidi ir novamente, para dar a Hunter uma última chance de compartilhar um pouco sobre si mesmo.

— Sua família virá te visitar uma vez que você se mudar para sua nova casa?

Ele levantou os olhos do bife e encontrou meus olhos.

— Não.

Uma resposta de uma palavra.

Eu esperei com meus dedos cruzados, esperando que ele continuasse falando, mas ele deu sua última mordida e ficou quieto.

Bem, acho que foi isso.

Por mais que eu quisesse passar um tempo com Hunter, eu não seria ignorada. Eu não seria mantida à distância. Nunca mais.

Meus olhos procuraram a garçonete no restaurante. Quando ela olhou na minha direção, levantei a mão e sinalizei a conta.

— Bem, é melhor eu ir. Eu tenho algum trabalho a fazer esta noite. Obrigada por se juntar a mim, para não ter que me sentar sozinha. Eu não esperei a conta antes de mergulhar na minha bolsa para pegar minha carteira, pegando cinco notas de vinte dólares.

— Você não precisa se apressar. Você quer ficar para outra bebida ou sobremesa?

— Não. — Veja isso, Hunter? Também posso dar respostas de uma palavra.

Ele assentiu.

— Tudo bem, mas eu pago o jantar.

— Não era um encontro, então eu pago pelos meus pedidos. Obrigada embora. — Joguei meu dinheiro sobre a mesa e deslizei para fora da cabine, mas antes que eu pudesse escapar, sua mão gentilmente envolveu meu cotovelo.

Ofeguei com a eletricidade subindo pelo meu braço e meus pés pararam. Eu me virei e olhei para Hunter enquanto meus olhos seguiam todos os seus movimentos.

Ele pegou meu dinheiro, deslizou para fora da cabine e ficou bem no meu espaço. Meu queixo inclinou para trás para que eu pudesse manter seus olhos. Como eu nunca percebi o quão alto ele era? Quando a mão dele caiu do meu cotovelo, eu imediatamente a quis de volta. Como era possível ficar irritada com um homem, mas ainda assim querer abraçá-lo ao mesmo tempo?

— Maisy. — Sua voz estava de volta ao timbre quente, rica que ouvi em meus bons sonhos na semana passada. — Eu pago o jantar.

Engoli em seco.

— Ok.

— Obrigado por me deixar comer com você. Sinto muito por não ser muito falador esta noite. Acho que foi apenas um longo dia.

Como eu saberia se ele teve um longo dia? Ele não me disse nada. Na hora em que estávamos sentados juntos, eu não sabia mais sobre ele do que há dois dias atrás.

— Claro, eu entendo. Tudo bem. — Não estava, mas eu não disse a verdade. Eu queria algum espaço, algum tempo para lamentar outro encontro ruim. Algum tempo para enfrentar o fato de que essa química entre nós era tudo o que já compartilhamos. — Eu só estou saindo. Boa noite, Hunter.

— Espera. — Ele tocou meu cotovelo e, novamente, a resposta do meu corpo anulou a decisão do meu cérebro. — Encontro você no saguão amanhã à uma hora.

Merda. As fotos.

— Não se preocupe com isso. Você está dispensado. Agradeço por ter apaziguado minha mãe outro dia, mas você não precisa...

— Amanhã. Uma em ponto. Eu realmente gostaria da oportunidade de fazer este projeto.

Fiquei tentada a discutir, a dizer que esperaria um fotógrafo com mais experiência, mas a esperança em seus olhos derreteu minha determinação.

— Ok. Amanhã.

Nossa garçonete veio com a conta e eu usei a chegada dela como minha chance de sair, sem perder tempo correndo pelas portas e entrando no meu Runner. Que chatice. Quando cheguei em casa, eu estava pronta para a minha sobremesa. Sentei no meu sofá com um pote de sorvete Häagen-Dazs e disse a mim mesma que estava feliz.

Fiquei feliz por não ter contado a Gigi sobre Hunter. Fiquei feliz por não precisar ligar para ela e explicar que ele e eu não tínhamos conseguido nada depois de tudo. Fiquei feliz por ter aprendido tudo isso antes que meu coração pudesse se apegar.

Fiquei feliz que as coisas entre nós fossem simples.

Eu deixaria Hunter tirar fotos para o hotel. Eu o deixaria alugar o quarto oito por mais algumas semanas. Então eu me despediria de Hunter Faraday e espero que meus sentimentos por ele tenham desaparecido assim que ele saísse do meu hotel.


Capítulo Seis

Hunter


A três metros da porta do saguão do hotel, meu telefone tocou. Pegando no meu bolso, xinguei para o nome na tela. Nell.

Se eu não respondesse, ela continuaria ligando a tarde toda e eu não queria que ela me distraísse do meu tempo com Maisy. Apertei o botão aceitar e coloquei o telefone no meu ouvido.

— Sim?

— Eu estava ligando para verificar você. Ver se você está indo bem. Você parecia tão triste ontem à noite.

Estou bem. Eu te disse isso na noite passada.

— Oh, Hunter. Sinto tanta falta sua.

Que mentirosa! Sua voz suave e doce era tão falsa quanto o nariz.

— Existe uma razão para sua ligação? Eu tenho um lugar para estar.

— Tem certeza de que não quer voltar para Chicago?

— Tenho certeza. — Outra coisa que eu tinha dito a ela ontem à noite. — Minha casa estará pronta em breve. O trabalho está indo muito bem. Acho que Prescott é o lugar certo para eu me estabelecer e plantar algumas raízes. — Eu sabia que essa última parte iria deixá-la irritada, mas eu não me importo. Ela estava ligando sem parar desde o momento em que deixei Chicago e minha paciência se esgotou.

— Você não pode dizer isso.

— Eu posso. Eu ficarei aqui o tempo que for preciso para você deixar cair esta ideia ridícula.

— Não é ridícula, — ela cuspiu.

Agora a verdadeira Nell estava saindo. Seus dentes estavam à mostra e suas garras afiadas. Eu aposto que assim que eu desligar, ela terá um acesso de raiva épico. Eu me sentia mal pela governanta em dias como hoje, porque Nell falava e atacava, levando sua raiva de mim para qualquer pessoa da vizinhança.

— Vou desligar agora. Aproveite seu domingo.

— Hunter, não se atreva a desligar...

Eu encerrei a ligação e nem dois segundos depois ele tocou novamente.

— Chega, — eu respondi. — Pare de me ligar. Já contei como me sinto e não vou mudar de ideia. Recue antes que eu seja forçado a fazer algo drástico.

— Você está me ameaçando?

— Sim. Pare com isso, Nell. Último aviso.

— Você não me ameaça, Hunter. Lembre-se de com quem está falando, querido — ela sussurrou.

Lembrei-me. Minha lealdade a Nell era fraca, mas eu lembrei por que eu aceitei sua merda. Tínhamos muita história para esquecer e, por mais que eu gostaria de dizer adeus para sempre, não conseguia encontrar coragem para simplesmente tirá-la da minha vida.

Mas isso não significava que eu ficaria à toa e deixaria que ela fizesse algo tão errado.

— Afaste-se. — Meu coração estava disparado, mas consegui manter minha voz baixa. — Afaste-se agora ou tudo o que eu tenho mantido em silêncio por anos sairá tão rápido que você terá chicotadas.

— Você não vai, — ela ousou.

— Eu vou. Eu terminei com você. Não me empurre sobre isso e não me ligue novamente. A menos que seja para me dizer que você demitiu seu advogado. Adeus.

Encerrei a ligação e esperei, esperando que tocasse novamente, mas ficou em silêncio. Coloquei-o no meu jeans e respirei fundo algumas vezes, acalmando meu batimento cardíaco antes de continuar até o saguão.

Eu cometi um erro ao ameaçar Nell e ela iria até o fundo do poço, ou fiz algo que deveria ter feito anos atrás. Só o tempo dirá. Mas eu não podia me preocupar com Nell agora. Hoje, eu tinha que corrigir um erro diferente.

Eu tinha que reverter o dano que fiz na noite passada no jantar com Maisy.

Como ela conseguiu me fazer perguntas que eu realmente não conseguia responder? Meu passado não era algo que eu poderia falar ainda. Certamente não minha família. Eu a senti se afastar depois de algumas das minhas respostas e, a partir daí, o jantar foi ladeira abaixo rapidamente.

O que significava que hoje eu precisava explicar.

De alguma forma, eu tenho que descobrir como me abrir sem revelar muito.

 

MAISY

— Ei, — disse Hunter, abrindo a porta do saguão.

Ele aparou a barba desde a noite passada. A imagem de sua barba encurtada esfregando em meu rosto surgiu em minha mente e eu balancei minha cabeça, tentando tirá-la. Não era esse o caminho que eu queria seguir hoje. Eu ainda estava decepcionada com a forma como as coisas tinham acontecido no jantar, mas eu estava resignada a agir profissionalmente durante nosso passeio hoje. Afinal, isso era assunto oficial do hotel. Pensar na barba dele na minha pele era um não, não.

— Ei. Pronto para ir? — Peguei minha bolsa no balcão e a joguei por cima do ombro. Mamãe estava lá em cima com Coby e eu queria ir embora antes que ela viesse nos assediar sobre nossos planos para a tarde. Eu não duvido que ela forçaria algum tipo de jantar e não queria arrastar isso para fora.

— Pronto, — disse Hunter. — Você já almoçou?

Eu balancei minha cabeça.

— Apenas um lanche quando Coby comeu ao meio-dia. Pensei que talvez pudéssemos conseguir algo para comer no centro da cidade.

— Parece bom.

Fiz que sim com a cabeça para que ele saísse primeiro, para poder desligar minha placa e trancar a porta do saguão. Ele ficou perto, e quando a brisa aumentou, sua colônia encheu meu nariz. Despreocupadamente, respirei profundamente, depois bufei quando percebi o que tinha feito.

Apreciar seu cheiro era outro não, não.

— Tudo pronto. — Tranquei a porta e o segui até sua picape branca. Ele foi até minha porta primeiro, abrindo para eu pular para dentro e depois fechá-la quando eu estava sentada. Enquanto ele andava em volta do capô, olhei em volta da picape.

O banco da frente estava limpo, o couro novo e recentemente condicionado, mas a parte de trás estava uma bagunça. Havia sacolas esparsas vazias no banco e o assoalho estava coberto com embalagens de barras de proteína. Entre tudo isso, havia algumas sacolas brancas amassadas do café.

— Desculpe a bagunça, — disse Hunter enquanto deslizava ao volante.

— Sem problemas.

— Eu não sou bom em cozinhar sozinho, então só peguei comida no café ou sanduíches no posto de gasolina. Eu como muito aqui e não cheguei a tirar o lixo.

Nada disso me surpreendeu. Eu deveria limpar o quarto dele amanhã, mas já sabia o que encontraria: armários da cozinha vazios, pratos não utilizados e uma geladeira com várias garrafas de Vitaminwater.

Aposto que Hunter se arrependeu de ter entrado no meu estande na noite passada no Black Bull. Ele veio à procura de uma boa refeição, uma fuga de comida para viagem e de posto de gasolina e, em vez disso, tivemos um estranho encontro não marcado.

Caí no meu lugar. Eu tinha ido longe demais com todas as minhas perguntas? Eu provavelmente não deveria ter ficado tão irritada que ele não tinha contado toda a sua vida. Eu deixei algumas semelhanças vagas entre ele e o comportamento de Everett arruinar a noite.

Antes de Hunter colocar a picape na estrada, ele olhou para mim.

— Eu preciso me desculpar pelo jantar. Não estou acostumado a compartilhar muito de mim mesmo e não queria que as coisas ficassem desconfortáveis.

Eu poderia respeitar isso. Havia coisas que eu não gostaria de compartilhar com qualquer um. Então, engolindo meu orgulho, suspirei.

— Não, o jantar foi minha culpa. Eu estava sendo intrusiva. Me perdoa por ser intrometida?

— Não há nada a perdoar. — Ele sorriu, parecendo tão aliviado quanto eu. — Faça todas as perguntas que quiser, apenas saiba que talvez eu não responda. Não é fácil me abrir e pedirei desculpas antecipadamente, porque provavelmente vai acontecer novamente. Você pode viver com isso?

— Certo. — Eu realmente não gosto disso, mas eu poderia viver com isso. Pelo menos Hunter era honesto, algo que Everett nunca foi. E, como Gigi havia dito, nem todo homem era um assassino e traficante. Eu só precisava dar a Hunter algum tempo para se abrir. — Alguma chance de esquecermos o jantar e aproveitar o dia? — Começar de novo com Hunter parecia a melhor ideia que tive em anos.

— Eu realmente gostaria disso. — Ele sorriu para mim novamente e meu coração derreteu. — Como você se sente no almoço, Loirinha? O café ou a lanchonete?

— Uh, Loirinha?

Ele sorriu.

— Essa não pode ser a primeira vez que alguém te chama de Loirinha.

— Não, não por um longo tempo. — Eu ri. — E eu prefiro o café, se você não se importa.

— Eu não me importo.

Durante o resto da nossa curta viagem até o centro, meu sorriso estava firmemente fixo. Como foi que um apelido poderia me fazer sentir tão especial? Loirinha não era particularmente único ou criativo, mas realmente funcionou para mim na voz sexy de Hunter.

No momento em que estacionamos e entramos no café, todas as angústias que já senti haviam desaparecido. A pedra que se instalara no meu estômago ontem à noite se transformou em pó e minha paixão por Hunter estava furiosa de volta à vida.

— Então, qual é o seu plano para hoje? — Hunter perguntou quando nos sentamos em alguns bancos vazios ao lado do balcão do café, assistindo nossos sanduíches sendo feitos na cozinha.

— Pensei que poderíamos começar aqui na Main Street. Eu gostaria de fazer uma mistura de lugares icônicos da cidade e fotos de paisagens do condado. Poderíamos começar por aqui hoje, uma vez que está relativamente calmo. Eu estava pensando no cinema, com certeza. Talvez o café também?

Ele assentiu.

— Boa ideia. Uma foto dentro ou fora?

— Qualquer um está bem. Eu também adoraria ter uma chance de olhar para a Main Street. Talvez algo do ponto de vista elevado, se você pudesse administrar? Era a foto que eu mais queria, mas sabia que não seria fácil alugar um avião.

Ele pensou por um momento.

— Gostaria de saber se um dos postos de gasolina me deixaria subir no telhado deles.

— Isso seria alto o suficiente?

— Acho que sim.

— Legal! Vou ligar para os proprietários hoje à noite e ver se um deles permitiria. Tenho certeza que o Gas 'N' Go vai deixar. O filho do proprietário foi para a escola comigo e colocou chiclete no meu cabelo uma vez. Essa família me deve.

Ele sorriu para mim antes de começar a rir.

— Você conhece todos nesta cidade?

— Quase todo mundo. — Todos, exceto ele. Hunter era a pessoa mais misteriosa a se mudar para Prescott em anos.

Ele riu.

— Eu tenho que manter isso em mente. Onde mais estamos tirando fotos?

— Eu gostaria de fazer um dos lagos de pesca comunitária. É onde meu avô, meu pai e meus irmãos me ensinaram a pescar. Eu estava pensando que talvez pudéssemos fazer algo com Coby lá. Eu gostaria que fosse verdadeiro, talvez apenas a silhueta dele por trás ou algo assim?

— Espere. Você pesca?

— Eu pesco. Minhoca e tudo — declarei orgulhosamente. Eu tive meus momentos femininos, mas também abracei minha garota interior. — Por que você parece tão surpreso?

Ele apenas sorriu mais.

— Eu nunca conheci uma mulher que se parece com você, mas admite que ela deliberadamente tocaria uma minhoca.

— Isso é um elogio?

Os olhos dele se suavizaram.

— Um grande elogio.

Com o menor toque, ele arrancou um fio de cabelo do meu ombro. Formigamentos correram pela minha espinha, deixando arrepios em seu rastro. Como mãos tão grandes podem ser tão delicadas ao mesmo tempo? Eu queria saber o que elas poderiam fazer com a minha pele em lugares mais suaves.

Deus, eu estou apaixonada por esse cara. Mais forte do que nunca.

E, a julgar pelo olhar aquecido em seus olhos, ele também estava se apaixonando.

— Aqui está. — Nossa garçonete jogou um saco branco no balcão, rompendo o nosso momento. — São dezoito e cinquenta.

Afastei meus olhos dos de Hunter e mergulhei em minha bolsa para pegar minha carteira.

— Eu entendi. — Antes que eu pudesse pescar minha carteira, Hunter deixou uma nota de cem dólares no bar e enfiou a sacola debaixo do braço.

— Eu posso pagar por isso. Realmente. Eu deveria. Esta é uma despesa comercial...

— Maisy. — Ele me cortou. — Eu sempre pago pelas refeições. É apenas uma daquelas coisas que fui criado para fazer.

Papai havia ensinado a meus irmãos a mesma coisa. Mamãe havia me ensinado a deixá-los.

— Ok. Obrigada.

Eu pagarei Hunter com uma refeição caseira todos os dias pelas próximas duas semanas. O quarto de Hunter seria totalmente abastecido com Tupperwares quando ele saísse do meu hotel.

Acenando adeus para a pequena multidão no café no final do almoço, segui Hunter para a calçada, onde ele me entregou meu sanduiche de peru e depois pegou o dele de presunto. Cada um de nós desembrulhou e embrulhou o papel da delicatese em torno de nossos sanduíches para que pudéssemos caminhar e comer ao mesmo tempo.

— Tudo bem, então temos o teatro, o café, a rua principal e o lago de pesca, — ele disse depois de mastigar. — O que mais?

Engoli minha parte e falei o resto da minha lista de desejos.

— Gostaria de uma do rio Jamison, mas não sou exigente no local. Eu gostaria de fazer uma das margens, mas não até eu ver flores plantadas. Ah, e há um velho celeiro no rancho do meu amigo que é muito legal. Eu pensei que poderíamos ir dar uma olhada. E então eu esperava fazer uma no Lago Wade.

— São apenas oito. Você tem quatorze quartos no total?

— Sim, mas eu posso apenas dobrar. — Era pedir muito para eu conseguir catorze fotografias únicas em catorze locais e, como ele fazia isso em seu tempo livre, eu não queria impor. Eu apenas me contentaria com oito.

— Não. — Hunter parou na calçada. — Você não está dobrando. Você precisa pensar em outros seis pontos.

— Como nunca discutimos o preço do seu tempo, vamos com apenas oito. Eu não quero que você se sinta obr...

Com a mão livre, Hunter tocou meu braço.

— Mais seis fotos, Maisy. Vamos fazê-las no próximo fim de semana. — Sua voz era suave, mas firme. — Por mais que demore, isso não importa. Vou dar-lhe todo o tempo do mundo até chegar a isso exatamente do jeito que você quer.

— Você tem certeza?

Ele assentiu.

— Eu tenho certeza. Eu quero fazer isso. Por favor deixe-me?

— Obrigada. Muito obrigada. — Como eu tive essa sorte? Como foi que esse homem, um fotógrafo, entrou no meu hotel? Eu ficaria agradecendo à minha fada madrinha nos próximos anos se tudo desse certo.

Comemos mais algumas mordidas em nossos sanduíches enquanto passeávamos pelo centro da cidade. Quando Hunter terminou de comer, ele jogou as embalagens em uma lata de lixo e limpou as mãos das migalhas.

— Acho que terminei por aqui, a menos que você tenha algo específico para me mostrar.

— Não, — eu balancei minha cabeça, — nada específico aqui.

— Ok, então que tal você me levar até o lago Wade e me mostrar por aí?

— Parece bom.

Nós nos viramos e voltamos para a picape dele, eu comi rapidamente e descartei meu próprio lixo. Quando entramos na estrada e saímos da cidade, decidi fazer uma pergunta a Hunter. Eu não queria bisbilhotar sua vida pessoal, mas queria conhecê-lo mais. Desde que deixamos o hotel, nossa conversa era tão genuína e natural.

Eu não queria que isso parasse.

Cruzando os dedos no meu colo, respirei fundo.

— Falar sobre sua nova casa é um tópico seguro? Ou devo ficar com o clima?

Ele riu.

— A casa está segura.

Eu sorri com minha pequena vitória.

— Como está indo?

— Vai ser ótima, mas passei esta manhã e ainda há muito o que fazer. Liguei para o meu contratado e ele disse que eles estão atrasados.

— Caramba. Quanto tempo mais?

— Ele pensa duas semanas, o que provavelmente significa quatro. Eu não suponho que você tem um quarto aberto por mais um mês.

— Desculpe. Mais duas semanas e eu estou na temporada turística em pleno desenvolvimento. O único espaço vazio que tenho é o antigo quarto de uma empregada, e é mais como um armário do que um espaço de vida real. — Não tinha nem mesmo uma janela. Não foi nenhuma surpresa quando os proprietários anteriores me disseram que nenhuma empregada escolhera morar naquele quarto.

— Eu vou pegar.

Minha cabeça virou.

— O quê?

— O quarto da empregada. Eu aceito.

— Oh, Hunter, não. Eu estava brincando. Aquele quarto é horrível.

— Ei, eu estou desesperado aqui. Não quero alugar uma casa e não posso ficar na minha até que ela termine. Quão ruim pode ser? É apenas por um mês.

— Quão ruim pode ser? — Eu repeti. — Eu só o usei para armazenamento. É menor do que o meu quarto do dormitório da faculdade. E os acabamentos são... brutos. — Hunter exalava classe e estatura. Ele colidiria de todas as formas possíveis com o linóleo floral dos anos 70, o balcão do banheiro com cenoura e laranja e a cama de solteiro.

— Eu não ligo. Pelo menos tem banheiro?

— Sim, mas não há cozinha.

Ele riu.

— Considerando que não sei usar nove em cada dez utensílios de cozinha, acho que vou ficar bem.

— Nove em cada dez? Sério?

— Sério.

Abri minha boca para explorar isso mais, mas não me deixei ir por aquela trilha de coelhos.

— Enfim. Eu vou dizer uma coisa. Amanhã, eu vou ir limpar esse quarto um pouco e você pode verificá-lo. Se você ainda quiser ficar, é mais do que esperamos. Mas se você não quiser, eu posso dizer 'eu te disse'.

Ele olhou para mim e sorriu.

— Você tem um acordo, Loirinha.

— Mal posso esperar para dizer 'eu te disse'. — Eu olhei para o meu sorriso desenfreado no espelho lateral.

Quão louco foi isso? Eu esperava que hoje fosse estranho depois do jantar da noite passada, mas esse foi, sem dúvida, o melhor resultado possível para hoje. E a tarde ainda não havia terminado.

— Então, como você chegou a dona do hotel? — Hunter perguntou enquanto dirigia. — Uma carreira em hotelaria sempre foi o plano?

— Na verdade, eu fui para a faculdade de enfermagem. Fiz o programa de quatro anos, cheguei em casa e comecei a trabalhar no hospital, mas não foi para mim. — Isso foi bem simples, mas eu continuei. — Os proprietários anteriores do hotel estavam procurando um gerente, então eu disse: 'Que diabos?' e dei uma chance. Nos demos muito bem e, quando eles decidiram se aposentar, eles me fizeram uma oferta para comprar.

— Há quanto tempo foi isso?

— Três anos em junho. Os proprietários anteriores agora estão viajando pelo país em seu trailer, enviando-me cartões postais pelo caminho, e passei esses três anos atualizando o hotel.

— Ah sim? Que tipo de atualizações?

Sorri e me mexi no meu assento para poder enfrentá-lo melhor, depois comecei a contar histórias sobre projetos de reforma, passando o resto de nossa viagem ao lago Wade conversando sobre o Bitterroot.

A estrada de cascalho ficava mais acidentada quanto mais perto chegávamos do lago, e as árvores que ladeavam a estrada eram tão grossas que você não podia ver mais de quinze metros na floresta. Mas, quando chegamos à última subida, as árvores se abriram e o lago apareceu.

Hunter estacionou a picape no amplo terreno de cascalho que se encontrava na margem do lago.

— Eu posso ver por que você escolheria este lugar.

— É incrível. — Eu mantive meus olhos presos no cenário quando abri minha porta e saí.

A superfície da água estava coberta com pequenas ondulações hoje. A brisa açoitava as árvores que desciam as colinas íngremes para atender a borda da água. Com o sol brilhando, as pontas das leves ondas brilhavam enquanto rolavam.

Pegando uma pedra plana, eu a joguei na água, contando três pulos antes de afundar. Hunter fez o mesmo, sua pedra indo duas vezes mais longe que a minha.

— Que tipo de fotografia você está procurando aqui em cima? — Ele perguntou.

— Que tal um pôr do sol? Ou nascer do sol? — Fui até um pedaço grosso de madeira e me sentei.

— Certo. — Ele assentiu e seguiu, sentando-se ao meu lado enquanto nós dois olhávamos sobre a água.

Ficamos em silêncio por um tempo, apreciando a vista e o ar fresco e limpo. Era apenas hoje, o tempo ainda está muito frio para muita atividade no lago, mas logo isso mudaria. As pessoas corriam para o lago para aproveitar as férias de acampamento enquanto meu tempo livre evaporava com o sol do verão.

— Você já descobriu o que aconteceu com aquele cara que você deveria conhecer ontem à noite?

— Sim. — Eu fiz uma careta. — Acho que ele apareceu, mas deu uma olhada em mim e saiu. Aparentemente, eu o lembrei demais de sua ex-esposa.

— Ai.

— Esse não é o pior dos encontros que tive recentemente. — Sorri e contei a ele minhas piores histórias de encontros às cegas dos últimos anos. — E você? Você já teve algum encontro com quem come meleca ultimamente?

Ele balançou sua cabeça.

— Não. Minhas ex-namoradas eram melhores em esconder suas loucuras. Minha ex mais recente não deixou a dela aparecer até que estávamos namorando há seis meses. Ela começou a roubar dinheiro da minha carteira e dizer às pessoas que estávamos noivos. Depois que eu terminei com ela, ela entrou na minha casa à noite e se arrastou para a minha cama. Eu tive que mudar minhas fechaduras e obter uma ordem de restrição.

— Caramba.

Ele encolheu os ombros.

— Acabou agora. Enfim, desculpe pelo cara que abandonou você. Ele é um idiota.

Suspirei.

— Eu estive com uma série de idiotas ultimamente. — Uma sequência de cinco anos, para ser exata.

— Espero não estar incluído nessa série.

— Bem... — Inclinei-me e divertidamente esbarrei com meu ombro. — Como a noite passada não foi um encontro, acho que você não conta.

Ele riu.

— Isso é verdade. Talvez em uma dessas noites você me deixe levá-la para um encontro real e eu possa tentar quebrar essa série de idiotas.

Meu sorriso caiu.

Ele acabou de me convidar para sair?

Inferno sim, ele fez!

Engoli o desejo de pular de alegria, e por algum milagre, consegui me acalmar.

— Eu, hum, realmente gostaria disso.

— Eu também.

Sorrindo de novo, voltei para o lago, ainda incapaz de acreditar no quão incrível esse dia tinha acabado. A noite passada foi quase esquecida, Hunter estava quase tão animado com o meu projeto de arte quanto eu, e ele me convidou para um encontro.

— Obrigado por me trazer aqui hoje, — ele disse.

— De nada.

— Eu queria que meu pai ainda estivesse aqui. Ele adoraria ver um lugar como este.

Sua declaração me pegou tão desprevenida que eu não sabia o que dizer, então apenas olhei para o seu perfil, esperando e esperando que ele continuasse se abrindo.

— Papai adorava pescar, — ele disse. — Morando na cidade, ele não conseguiu ir muito, mas sempre que tinha chance, ele me levava a lagos como este. Algo quieto e isolado. Passamos muito tempo pescando em Michigan, mas esse teria sido um que certamente ele iria gostar também. Ele morreu quase seis anos atrás, mas às vezes parece que foi ontem.

— Eu sinto muito. — Eu não perdi um pai, mas poderia imaginar que era extremamente doloroso, especialmente se Hunter e seu pai eram próximos. — Se você não se importa que eu pergunte, como ele morreu?

— Câncer. Ele tinha câncer de pâncreas. No momento em que ele me contou, já havia progredido para o estágio quatro e ele só tinha algumas semanas.

— Eu sinto muito.

Hunter olhou para mim com um sorriso triste.

— Está tudo bem. Na verdade, ele foi quem me viciou em fotografia. Ele sempre levava uma câmera quando íamos pescar.

Agora fazia sentido porque ele não queria falar sobre seu mentor de fotografia na noite passada. E, em vez de respeitar seus limites, fiquei frustrada quando ele não quis compartilhar algo doloroso. A culpa, um sentimento que eu odiava, perdendo apenas para o medo, se instalou em meu intestino quando as palavras começaram a sair da minha boca.

— Me desculpe. Eu não devia ter trazido sua família na noite passada. Não admira que você não queria falar sobre eles. Quão imprudente! — Minha mão bateu na minha testa. — Sinto muito, Hunter.

Eu fui o pior encontro. Sempre.

Pior ainda que o apanhador de meleca.

— Ei. — Hunter riu e levantou minha mão da minha testa. — Você não sabia.

— Ainda assim. Me desculpe. — Comparar mentalmente Hunter a Everett era excepcionalmente injusto. — E eu sinto muito pelo seu pai.

— Obrigado. Erámos próximos, eu e o pai. Minha mãe morreu em um acidente de carro quando eu tinha sete anos, e só nos conhecemos por alguns anos até ele se casar novamente.

Dois pais. Hunter havia perdido dois pais.

— Eu continuo dizendo isso, mas não sei mais o que dizer. Eu sinto muito.

— Não precisa se desculpar. É só que, ver lugares como este que me faz pensar nele. E eu acho... eu só queria que você soubesse.

— Estou sempre feliz em ouvir. — Sempre que ele queria conversar, eu me certificava de que estava lá para prestar atenção.

Olhando para a água, retomamos nossa apreciação silenciosa da paisagem. Depois, tomei uma decisão. Eu não iria buscar informações ou interrogar Hunter com perguntas pessoais. Gigi deu a Jess tempo para se virar e agora eles eram um dos casais mais felizes que eu conhecia. Talvez tudo o que Hunter precisasse fosse tempo também. Eu lutaria contra meu instinto natural de bisbilhotar e respeitaria sua privacidade. Eu daria a ele alguma confiança de que ele me contaria em seu próprio tempo.

E pare de ser uma total hipócrita.

Meu armário estava cheio de esqueletos, esqueletos que eu não tinha intenção de deixar sair tão cedo em um relacionamento em potencial. Eu não podia esperar que ele revelasse seus segredos enquanto eu mantinha os meus.

Estava na hora de relaxar e deixar as coisas se desenvolverem.

Ficamos sentados em silêncio até que um aglomerado de nuvens soprou e tirou o brilho da água. Eu estava prestes a sugerir que voltássemos à cidade quando Hunter me surpreendeu com uma pergunta aleatória.

— Quantos anos você tem?

— Fiz 29 anos em março. Por quê?

Ele encolheu os ombros.

— Só curioso. Tenho trinta e quatro. Meu aniversario foi ontem.

Minha boca se abriu e depois fechou com um clique. Com um balanço completo do braço, eu o bati no peito.

— Que diabos, Hunter Faraday?

— O quê? — Ele se afastou, segurando seu peito para me impedir de bater nele novamente.

A guarda dele não funcionou. Acertei de novo, desta vez batendo em seu bíceps duro como uma pedra.

— Seu aniversário foi ontem? E agora estou sabendo isso?

— Você tinha minha carteira de motorista.

Eu bati nele novamente.

— Eu não estudo isso. Você sabe quantas carteiras de motorista eu copiei? Centenas. Agora não dê desculpas. Por que não me disse que era seu aniversário no jantar?

Ele encolheu os ombros.

— Eu não sei.

— Bem, — eu bufei. — Você está em apuros. Assim que voltarmos para o hotel, eu vou dizer a mamãe que era seu aniversário ontem. Esse é o seu castigo por não me dizer ontem à noite.

— Como isso é um castigo?

Meu sorriso era mau.

— Você vai ver. Vamos. — Levantei-me do tronco e estendi a mão para ajudá-lo. Quando ele deslizou seu grande aperto sobre a minha mão, consumindo meus dedos delgados, uma corrente elétrica subiu pelo meu cotovelo.

Hunter também sentiu, porque estremeceu um pouco quando se levantou.

— Hum, para onde agora?

Tirei minha mão da dele para formar frases coerentes.

— De volta ao hotel. Como você se sentiria com um refazer o jantar de aniversário?

— Você quer enfrentar outra noite no The Black Bull?

Eu balancei minha cabeça.

— Que tal uma refeição caseira?

Ele sorriu.

— Parece ainda melhor. Tem ervilhas? — Com uma piscada rápida, ele voltou para a picape.

Céus acima. Essa piscadela acabou de me arruinar para todos os outros homens.


Capítulo Sete

Maisy


— Estou de volta! — Falei para o sótão.

Hunter fechou a porta atrás de nós enquanto me seguia para dentro.

Pequenos passos bateram quando Coby veio correndo pelo corredor com Picles quente nos calcanhares.

— Mamãe!

— Ei amigo! — Inclinei-me para lhe dar um abraço. — Como foi sua tarde com Nana?

— Bom! Jogamos com o Play-Doh.

Meus olhos se voltaram para a mesa da sala de jantar para ver evidências da massa amaldiçoada. Super. Pequenas especificações de azul, verde e amarelo estavam espalhadas pela mesa, as cadeiras e o espaço circundante. Eu amava meu filho, por isso cedia ao seu amor por Play-Doh, mas era meu pior inimigo. Não importa o quanto eu limpasse, sempre perdi uma peça. Inevitavelmente, eu o encontraria dias depois, depois de pisar no caco seco e pontudo com os pés descalços.

— Droga. — Mamãe veio andando pelo corredor com uma toalha na mão. — Eu estava esperando que tudo fosse limpo por... — Seus passos vacilaram quando ela notou Hunter. Eu segurei uma risada quando ela corou. Tal mãe, tal filha. — Hunter! — Ela recuperou a compostura e alisou a blusa enquanto caminhava para a mesa. — Como você está? Você gostou da sua tarde explorando?

— Prazer em vê-la novamente, senhora Holt. E sim, nos divertimos muito. Sua filha é uma excelente guia de turismo.

— Sra. Holt. — Mamãe riu enquanto limpava. — Me chame de Marissa.

— Marissa. — Ele olhou para Coby e sorriu. — Ei, Coby.

Coby olhou para Hunter por um longo momento com olhos perspicazes.

— Coby, você se lembra de Hunter? — Eu perguntei.

Ele assentiu, mas não interrompeu o estudo do hóspede. Finalmente, ele piscou e inclinou a cabeça para o lado.

— Você tem cabelos compridos. Cabelos longos não é apenas para meninas?

— Amigo.

Lutei com uma risada ao mesmo tempo em que mamãe ofegou:

— Coby Lawrence Holt!

Hunter riu e se ajoelhou ao nível de Coby.

— É meio longo, não é? Você acha que eu deveria cortá-lo?

Não! Dessa vez foi a minha vez de ofegar.

Felizmente, Coby apenas deu de ombros.

— Não, está tudo bem.

Eu tinha certeza de que Hunter não usaria o cabelo de acordo com a opinião de meu filho de três anos, mas o pensamento dele cortando aquelas mechas marrom-claras era irritante. O coque masculino de Hunter era bonito, mas eu realmente queria a chance de ver o seu cabelo solto um dia. Eu nunca pensei que me sentiria atraída por um homem cujo cabelo era mais longo que o meu, mas cara, eu já estava.

Picles latiu e chamou a atenção de Coby e os dois correram para a sala para pegar mais brinquedos.

— O que vocês dois estão fazendo agora? — Mamãe perguntou.

— Jantar. Adivinha o que descobri hoje? — Lancei um olhar convencido para Hunter quando ele se levantou. — Ontem foi o aniversário de Hunter.

— Oh! — Mamãe se endireitou e abandonou a limpeza. — E você é novo na cidade. Não seria maravilhoso fazer um churrasco para comemorar seu aniversário tardio e recebê-lo na comunidade?

— Oh, isso não é necessário, — disse Hunter. — Eu não quero que você tenha nenhum problema.

— Problemas? Seria um prazer! Vou convidar o meu clube de acolchoado, é claro, e provavelmente o clube de Brock Skeet. Algumas pessoas da igreja. Hunter, você é religioso? — Ela não esperou a resposta dele antes de recitar mais potenciais convidados.

— Sério. Não sou de grandes festas. — Os protestos de Hunter caíram em ouvidos surdos. Mamãe estava agora fazendo um debate audível do cardápio.

Eu olhei de volta para Hunter, que estava olhando com os olhos arregalados para mamãe enquanto ela gritava. Eu cutuquei seu braço e me inclinei para sussurrar:

— Não se preocupe. Levará meses para planejar. A essa altura, toda a cidade terá sido convidada e a festa nem será mais sobre você.

— Você não estava brincando sobre isso como um castigo.

— Lembre-se disso. — Eu bati na minha têmpora. — Isso não é o pior que posso fazer.

— Anotado.

— Sinta-se em casa e eu vou começar o jantar. — Eu queria dar um tapinha em seu braço, tocá-lo de alguma maneira, mas resisti.

Caminhando para a cozinha, deixei minha bolsa cair no balcão e fiz um rápido inventário do meu suprimento de comida. Ervilhas, muitas ervilhas, e os suprimentos para o jantar, bacon com frango e batata frita. Não era chique, mas era algo que Coby comeria sem lembretes constantes para dar uma mordida.

Peguei os suprimentos e coloquei o bacon em uma frigideira. De volta à sala de estar, Hunter se sentou no chão com Coby quando Picles saltou sobre os dois. Coby havia trazido sua coleção de Hot Wheels e estava passando por cada carro, mostrando-os a Hunter um por um.

— Então? Como foi? Mamãe sussurrou, juntando-se a mim na cozinha.

— Bom. — Eu sorri. — Ele me convidou para sair.

Seu rosto se abriu em um sorriso enorme e ela atirou as mãos no ar. Eu ri enquanto ela dançava pela cozinha, seus cabelos balançando em volta dos ombros. Quando ela se acalmou, ela veio direto ao meu espaço para um abraço. 'Estou tão feliz por você. Ele é um barco dos sonhos.

— Um barco dos sonhos? — Eu zombei. — Por favor, não comece a chamá-lo assim, especialmente na cara dele.

— Eu não posso fazer promessas assim, querida.

Eu ri.

— Tente. Por favor.

Ela revirou os olhos azuis e fez uma cara azeda. Eu ri, sabendo que era exatamente assim que eu era quando fazia o mesmo gesto. Eu era uma versão mais jovem da minha mãe, nossa única diferença era a cor dos olhos. Os dela eram mais azuis que as íris azul-acinzentada que eu herdei do papai.

— Vou sair daqui para que vocês possam ter um tempo sozinhos. — Ela pegou as chaves e o telefone no balcão da cozinha. — Ligue-me amanhã e me diga como foi o jantar.

— Definitivamente.

Ela olhou para mim na sala de estar.

— Ele parece ser ótimo com Coby.

Olhei para ela e vi o que ela quis dizer. Hunter agora estava rolando carros no chão ao lado de Coby. Ambos estavam sorrindo e fingindo barulhos de motor.

Ufa. Meu coração inchou ao mesmo tempo que uma onda nervosa revirou meu estômago.

Esta foi a primeira vez que eu trouxe um potencial interesse amoroso para casa para conhecer Coby e o fiz sem pensar muito. Eu deveria ter esperado para conhecer Hunter mais antes de trazê-lo para casa? E se por trás daquele exterior bonito e doce houvesse uma alma maligna? E se...

Eu parei minha loucura mental. Coby e Hunter brincando na minha sala não era algo que eu precisava complicar. Tanto quanto meu filho precisava saber, Hunter era apenas mais uma presença masculina, como seus tios. Com o tempo, se as coisas se tornassem mais sérias, eu poderia apresentar Hunter a Coby como algo mais.

— Espero que ele seja tão bom quanto parece, — mamãe sussurrou tão baixo que eu duvidei que ela pretendesse dizer isso em voz alta.

— Eu também, — eu sussurrei de volta.

Mamãe me deu outro abraço, depois foi para a sala para se despedir de Coby e Hunter. Acenando, ela saiu e eu terminei de fazer o jantar.

— Ok. Estamos prontos! — Falei depois de pôr a mesa.

— Vamos lavar as mãos. — Hunter levantou-se do chão e estendeu a mão para Coby. — Você pode me mostrar o banheiro?

Um Coby sorridente puxou Hunter pelo corredor.

— É por aqui!

A visão deles desaparecendo no banheiro, de mãos dadas, conjurou uma onda familiar de preocupação. Coby perdia por não ter pai. Meu filho merecia ter um parceiro de brincadeira todos os dias, não apenas quando meus irmãos ou meu pai faziam uma visita. Ele merecia que um bom homem o colocasse na cama todas as noites. Ter um pai que ele poderia se gabar.

Eu tive isso com meu pai. Eu queria isso para o meu filho.

— Isso parece ótimo, — disse Hunter quando ele e Coby voltaram do banheiro e se sentaram.

— Obrigada. Ok, pessoal, vamos comer.

— Hunter... — Coby começou, mas sua boca estava cheia de batatas fritas, então eu o interrompi.

— Mastigue primeiro, amigo. Não fale com a boca cheia.

Ele torceu o nariz e mastigou tão rápido quanto sua mandíbula funcionaria. Com um grande gole de leite com chocolate, ele olhou para Hunter.

— Hunter, você sabe o que são botas grudentas?

— Não. O que são?

— São botas especiais para escalar paredes. Mickey Mouse tem.

Hunter balançou a cabeça.

— Eles parecem incríveis. Você tem alguma?

Coby fez um beicinho exacerbado.

— Não. Mamãe diz que elas são perigosas.

Hunter sorriu para mim, depois olhou para Coby.

— Ela provavelmente está certa sobre isso. Mães estão sempre preocupadas com coisas perigosas, não estão?

— Sim. — Coby enfiou outra batata na boca e continuou falando. — Você já dirigiu um caminhão monstro antes?

— Não. Você já?

Coby balançou a cabeça.

— Não. Você acha que formigas tossem?

— Hmm. — Hunter engoliu sua mordida. — Eu não sei muito sobre formigas. O que você acha?

— Eu acho que elas tossem.

— Você provavelmente está certo.

As perguntas de Coby continuaram a partir daí. Ficamos sabendo que Hunter achava que o emprego dos sonhos de super espião de Coby estava certo, que ele concordou que o T. Rex era o dinossauro mais legal e que nunca tinha visto o filme favorito de Coby, Carros4.

Fiquei feliz em silêncio durante o jantar, aproveitando as perguntas que Coby fazia e as respostas que Hunter dava.

— Vejo que ele herdou sua curiosidade, — brincou Hunter quando terminamos de comer.

Eu sorri.

— Isso ele herdou.

Hunter levantou-se da mesa e pegou seu prato.

— Coby, você quer me ajudar a lavar a louça?

— Ok! — Coby assentiu e saiu da cadeira, levando o prato verde de plástico com cuidado para a cozinha.

Levantei-me e peguei meu prato também.

— Você não precisa se preocupar com isso. Eu posso lavar a louça.

Hunter balançou a cabeça, pegando o prato da minha mão e acenando em direção à sala de estar.

— Faça uma pausa. Nós fazemos isso.

Recuei para a sala, afundando no meu sofá cinza e me virando de lado para poder espiar as atividades da cozinha. Enquanto Hunter ria, Coby parou em cima da máquina de lavar louça e apontou para o local onde Hunter depositava o prato.

Tudo o que eu pude fazer foi sorrir.

Coby estava apaixonado por Hunter. Seu sorriso e brilhantes olhos estavam cheios de alegria apenas uma cara que um criança poderia mostrar. Eu adorava ver meu filho tão feliz, mas, além disso, eu também gostei muito do olhar no rosto de Hunter .Ele parecia tão fascinado com Coby quanto meu filho estava com ele.

— Qual é o próximo? — Hunter perguntou a Coby enquanto secava as mãos.

— Agora temos que levar Picles para passear, — declarou Coby.

— Tudo bem. Lidere o caminho.

Coby correu para a caixa de Picles e pegou a trela. Também fui até lá e peguei uma sacola de cocô de cachorro. Então todos partimos para a caminhada noturna do filhote, descendo lentamente as escadas nos fundos do hotel enquanto Coby nos levava ao caminho da grama.

— Ele é um ótimo garoto, — disse Hunter enquanto Coby corria à frente. — Inteligente também. Eu não podia acreditar que todas as coisas que ele estava me dizendo quando estávamos brincando com seus carros. Como todas as cores? Ele era tão específico. Marrom. Cobre. Cobalto. A maioria das crianças diria vermelho, laranja e azul.

— Obrigada. Passamos muito tempo colorindo e ele sempre gosta que eu diga os nomes nos giz de cera. Eu acho que isso ficou preso.

O orgulho aumentou enquanto eu observava Coby acariciando Picles. De qualquer maneira, eu não era uma boneca, mas sabia que a maior parte do cérebro de Coby vinha do pool genético de Everett. Foi um bom lembrete de que nem tudo em Everett tinha sido ruim. Ele não queria ser pai, daí o impulso homicida por um aborto, mas ele me deu o meu maior tesouro. Por Coby, eu sempre ficaria grata a Everett.

Coby correu de volta para nós depois de alguns minutos, arrastando Picles.

— Podemos assistir Carros, mamãe?

Olhando para o meu relógio, vi que eram quase sete horas.

— Desculpe, não hoje à noite. — Pelo tempo que terminei com Picles e depois o banho de Coby, nós só tínhamos trinta minutos antes de ir para a cama para ler algumas histórias. Se fosse uma sexta à noite, não um domingo, eu abriria uma exceção para o filme, mas, como era, tínhamos uma semana movimentada pela frente e eu não queria começar a segunda de manhã com um garoto cansado.

— Mas mamãe, Hunter nunca viu. Ele não sabe sobre Relâmpago McQueen e Tow Mater.

— Desculpe. Não essa noite. — Eu odiava ver o rosto de Coby cair.

Hunter curvou-se ao nível dos meus olhos.

— Se está tudo bem com sua mãe, talvez eu possa voltar outra noite e assistir com você?

O rosto de Coby se iluminou. Ele pulou para cima e para baixo, me implorando silenciosamente enquanto esperava minha aprovação.

— Sim, — eu disse, — tudo bem para mim. Agora vamos entrar e nos preparar para o banho.

— Uau! — Lá fora, Coby correu com Picles tentando acompanhar.

No minuto em que entramos, Coby largou a trela do filhote e correu em direção ao seu quarto, tirando a roupa enquanto passava.

— Garotinhos e sua nudez. — Eu balancei minha cabeça. — Ele nem é meio tímido.

Hunter riu.

— Eu vou embora e deixo você levá-lo para a cama. Avise-me quando considerar que o quarto da empregada é aceitável o suficiente para me mostrar.

Revirei os olhos.

— Estou fazendo uma limpeza preventiva para o seu próprio bem. Confie em mim.

— Claro que você está, — ele disse secamente. — Eu acho que você tem essa ideia de que preciso de coisas extravagantes. Eu não. A fantasia é superestimada. Confie em mim.

— Bem, então eu estou fazendo isso por mim. Não quero que você veja minha bagunça.

— Maisy, você acha que uma bagunça vai me assustar? — Ele deu um passo mais perto, quebrando a barreira do meu espaço pessoal. O calor de seu peito largo aqueceu meu rosto e prendi a respiração, esperando o próximo movimento dele. — Se você ainda não entendeu, eu vou ficar até você me fazer sair.

Eu tremi quando a mão dele apareceu e tocou no meu queixo. Os formigamentos na minha bochecha se espalharam pelo meu pescoço enquanto seu polegar desenhava um pequeno círculo no canto da minha boca. Com o coração acelerado, meus lábios se separaram, convidando-o para um beijo. Eu não tinha sido beijada por tanto tempo. Eu queria que Hunter quebrasse essa sequência. Eu queria seus lábios macios, sua língua...

— Mamãe! Estou nu!

Hunter e eu nos afastamos, e o momento desapareceu.

— Desculpa. — Eu balancei minha cabeça para limpar a névoa. — É melhor eu ir até ele.

— Não tem problema. Eu verei você em breve. — Ele se inclinou para frente e beijou minha bochecha suavemente antes de sair.

Eu olhei para a porta com a mão pressionada na minha bochecha. Então eu fechei meus olhos e memorizei a sensação de seus lábios na minha pele.

— Mamãe!

Meus olhos se abriram e eu gaguejei em ação.

— Indo!

Corri para o banheiro e dei banho em Coby. Enquanto ele espirrava e soprava bolhas, eu repeti as palavras de Hunter.

Eu vou ficar até você me fazer sair.

Até que eu o fizesse sair? Eu duvidava que isso acontecesse.

— Isso é ridículo, — eu disse ao meu travesseiro. Esticando o pescoço, olhei para o meu despertador. 3:24

Três horas.

Eu estava deitada na cama, acordado, por três horas.

Depois do banho e da hora de dormir, Coby partiu imediatamente. Eu bebi uma taça de vinho, peguei os brinquedos, então fomos para a cama cedo. Erro. Eu estava acordada após a meia-noite e meu cérebro esteve ocupado desde então. Nada do que eu tentei poderia desligá-lo para dormir.

Primeiro, eu corria a gama das minhas preocupações padrão. Eu estava fazendo as escolhas certas para Coby? Eu estava passando tempo suficiente com ele? Eu estava fazendo o suficiente para garantir que ele não estivesse apenas sobrevivendo, mas prosperando?

Uma vez que essas perguntas foram esgotadas, sem conclusão, assim como todas as outras vezes que eu resolvi minhas preocupações como mãe, eu passei a me preocupar com o hotel. Eu passei a minha lista de coisas a fazer para as próximas duas semanas e todas as coisas que precisavam ser feitas. As reservas já estavam começando a aumentar e eu estava ficando sem tempo livre.

Eu preciso dormir! Eu tinha coisas para fazer amanhã. Coisas importantes. Coisas que precisavam que eu descansasse, não andando por aí como um zumbi.

Jogando e me virando por mais quinze minutos, eu finalmente desisti.

— Dane-se. — Chutei meu edredom branco de baixo das pernas e me levantei, estendendo a mão para acender minha lâmpada de cabeceira.

Se eu não conseguisse dormir, faria uma nova lista para reduzir um pouco o estresse. Minhas listas de tarefas eram minha sanidade. Normalmente, eu tinha três ou quatro versões da mesma lista de tarefas por vez, porque o ato físico de anotar minhas tarefas me ajudava a resolvê-las.

E por causa de noites como essa, eu aprendi a manter sempre canetas e papel na minha mesa de cabeceira. Abrindo minha gaveta, peguei um bloco de notas e, em seguida, voltei a entrar, procurando uma caneta. Meus dedos atingiram uma caneta fria de metal, mais pesada que a esferográfica de plástico padrão, e eu imediatamente congelei.

Minha visão ficou turva quando um flash de Everett consumiu minha mente.

Havia um bisturi na minha mão, não uma caneta, e eu estava no porão frio do hospital. Everett pairava sobre Gigi de joelhos porque ele tinha acabado de bater no rosto dela. E eu estava de pé atrás dele pronta para atacar. Meus movimentos daquela noite foram repetidos em câmera lenta. O movimento do meu ombro, o mergulho do bisturi no pescoço de Everett e o calor do seu sangue pegajoso enquanto cobria meu punho.

Naquela noite, Everett caiu no chão e Gigi e eu fugimos. Mas hoje à noite, no meu flashback, ele arrancou o bisturi do pescoço. Seus olhos castanhos, os olhos castanhos do meu filho, estavam presos nos meus quando ele se lançou.

Eu ofeguei, de pé na minha cama e me arrastando para trás. Quando minha bunda bateu no chão, o flashback acabou.

Droga do inferno.

Uma lágrima escorreu pela minha bochecha enquanto eu trabalhava para respirar e acalmar meu coração acelerado. Eu estava enlouquecendo. Quando esses flashes terminariam? Quantos anos levaria para eu esquecer aquela noite horrível? Esquecer aquele homem horrível?

Empurrando para fora do chão, me abaixei e peguei a caneta que havia caído no tapete. Indo direto para o banheiro, joguei-a no lixo antes de ir para a pia e jogar água fria no meu rosto. Eu o enxuguei com uma toalha e me olhei no espelho.

Você está se perdendo.

Era hora de voltar à terapia? Depois que matei Everett, meus pais insistiram em conversar com um terapeuta para ajudar a lidar com as consequências daquela noite traumática. A terapia realmente ajudou, mas eu parei de ir depois que Coby nasceu e eu comprei o hotel.

Meu terapeuta morava em Bozeman e, entre as duas horas de ida e volta e o tempo da sessão, a terapia demorava muito tempo. Eu tinha um recém-nascido para alimentar e uma empresa para construir de modo que terapia tinha sido um item fácil de cair fora da lista de prioridades. Mas com esses flashes tão vívidos como sempre, talvez eu precisasse reservar um tempo e tentar de novo

Mas, na ausência de alguém com quem conversar hoje à noite, optei pela minha distração de escolha: trabalho. O trabalho seria mais uma vez meu salvador.

Escovei os dentes, depois voltei para o meu quarto para pegar roupas, colocando um calça cinza e um moleton preto de zíper. Então coloquei um boné preto na cabeça, vesti o tênis fúcsia e fui para a cozinha com o telefone na mão.

Abrindo meu aplicativo de monitor de vídeo, verifiquei o quarto de Coby na tela. Com certeza, ele estava esparramado em sua cama e completamente dormindo. Infelizmente, noites como essa não eram incomuns, então eu investi em um monitor topo de linha para poder trabalhar no andar de baixo enquanto Coby dormia. Nove em cada dez e-mails que retornei foram enviados após a meia-noite e eu perdi a noção de quantas cargas de roupa eu havia lavado antes do amanhecer.

Fechando cuidadosamente a porta, desci as escadas pela escada interior até o saguão. O sótão tinha dois conjuntos de escadas. A escada do lado de fora era a que mais usamos, mas a interior foi útil tarde da noite. Como eu não gostava de me afastar do sótão em noites como essa, apenas no caso de Coby acordar, eu sempre ficava a trinta segundos de volta para a escada. Isso limitava meu raio de atenção ao saguão, ao escritório, à despensa e, convenientemente por hoje à noite, ao quarto da empregada.

Com minhas chaves mestras na mão, saí e fui direto para a despensa, coletando uma lata de lixo e duas sacolas. Então fui para o quarto da empregada ao lado para começar minha limpeza.

Abrindo a porta, fui assaltada por uma onda de mofo. Inclinei-me para dentro e peguei uma lata de tinta para manter a porta aberta antes de acender a luz, revelando pilhas de sobras de suprimentos para reforma.

O cômodo era longo e estreito, com um banheiro apertado e um armário estreito ocupando toda a largura do banheiro. A cama de solteiro estava apertada contra uma parede em frente a uma pequena cômoda carregada com suprimentos de tinta. Ao lado da cômoda, havia pilhas de ladrilhos não utilizados e rolos de restos de carpete. No pequeno suporte de TV, ao pé da cama, havia uma caixa cheia de ferramentas aleatórias.

Comecei com as coisas na cama primeiro, carregando a caixa de ferramentas que Beau havia me comprado para a despensa. Depois, usei um cesto de roupa suja para carregar minhas louças e maçanetas extras. Quando voltei, decidi levar os azulejos para o meu escritório. Pegando um dos pedaços de cimento, eu escovei meus dedos contra sua superfície branca e cinza. Eu estava perdida na minha inspeção do belo desenho quando uma mão pousou no meu ombro.

— Ahh! — Eu gritei e pulei, girando com o meu azulejo na frente. Ele se conectou primeiro, batendo antes que meus olhos pudessem ver a pessoa atrás de mim. Quando o fizeram, deixei cair o azulejo e ofeguei quando ele rachou no chão.

— Merda, Maisy. — Hunter deu um passo atrás e agarrou sua têmpora.

Isso não estava acontecendo. De novo não.

— Hunter?

— Sim, Hunter. Eu chamei seu nome. Não está me ouvindo?

— Não! — Eu gritei, agitando minhas mãos no ar. Pela segunda vez, eu agredi Hunter fisicamente, e, assim como da última vez, vieram as palavras. — Oh meu Deus! Por que você me esgueirou? Você sabe que eu reajo primeiro! Você está bem? Diga-me que você está bem. Merda. Estou tão triste! Então sinto muito. Você acha que tem uma concussão? Você está tonto? Oh meu Deus, você está sangrando!

Hunter afastou os dedos, vermelho na ponta dos dedos.

— Droga.

Eu corri para mais perto, minhas mãos indo para o rosto dele e torcendo para que eu pudesse ver melhor. O azulejo o havia cortado na testa cerca de cinco centímetros acima da têmpora.

— Vamos. — Peguei sua mão e o puxei para fora. Eu não parei para trancar o quarto de empregada ou até mesmo fechar a porta. Eu apenas o arrastei atrás de mim, pelo saguão e subi as escadas interiores para o sótão.

— Maisy, não é grande coisa. Você vai desacelerar? Estou bem.

— Não, não está. Vamos. — Eu continuei puxando. Toda vez que ele puxava para eu desacelerar, eu apenas puxava com mais força.

— Maisy, eu estou bem, — ele repetiu quando chegamos ao sótão.

— Você está sangrando. Isso não está bem, Hunter. — Puxei-o pela entrada e pelo corredor em direção ao banheiro. — Eu não posso acreditar que eu fiz você sangrar. Oh meu Deus, eu sinto muito. Eu realmente te machuquei dessa vez. Isto é ruim. Muito ruim.

— Maisy...

— Não está bem! — Bati a mão livre na boca e congelei. Eu acabei de gritar em frente do quarto de Coby.

Nós dois ficamos parados, olhando para a porta fechada de Coby e ouvindo se havia o som dele saindo da cama. Quando tudo ficou quieto, retomei a puxar a mão de Hunter para o banheiro.

— Sente-se. — Apontei para o banheiro enquanto fechei a porta e abri a torneira para aquecer a água . — Eu tenho um kit de primeiros socorros aqui.

Agachei-me e comecei a vasculhar meu armário embaixo da pia. Na minha pressa, fora vieram os absorventes e tampões, tanto que derramou fora de seus respectivos recipientes direito no chão nos pés de Hunter.

— Merda! — Isso poderia piorar?

A última coisa que eu queria era que Hunter estivesse na frente e centralizado com meus produtos femininos. Eu queria que ele pensasse em mim como sexy e sedutora, não sangrando e mal-intencionada.

— Aqui. — Hunter se inclinou para pegá-los.

— Não! Não toque neles! — Afastei as mãos dele enquanto tentava enfiar tudo de volta na caixa de absorventes azuis. — Desculpe. É só... eu os pego.

A risada profunda de Hunter encheu o banheiro.

— Não ria, — eu assobiei enquanto colocava a caixa de absorventes debaixo da pia e puxava o kit de primeiros socorros.

Ele apenas continuou rindo.

— Vamos lá, admita. É meio engraçado.

— Absolutamente não! Eu bati em você. Novamente! Isso é duas vezes agora que você me assustou e eu ataquei. Isto é ruim. Isso é tão, tão ruim.

— Maisy, eu estou bem, — ele disse, enquanto sua risada caía. — Eu só preciso de um pano e um curativo.

— Eu serei o juiz disso. Eu era enfermeira, lembra? — Peguei um pano de uma gaveta e o segurei sob a água morna.

— Sim? Bem, eu sou...

— Fique parado e não fale. — Entrei em seu espaço e puxei sua mão para longe de seu corte. — Se você precisar de pontos ou tiver uma concussão, precisamos descobrir isso imediatamente. Isso pode ser sério.

— Pela última vez, mulher, eu sou...

— Cale-se!

Hunter franziu a testa e olhou para mim, mas parou de falar.

— Ok. Aqui vai. — Respirei fundo e preparei a toalha. Gentilmente, pressionei-o em seu ferimento, limpando o corte e dando uma boa olhada. Não era profundo e não precisaria de pontos, e como ele não estremeceu ou se mexeu, não deve ter doído muito. Tudo o que ele precisava era de um curativo de borboleta e um pouco de pomada antibiótica.

— Você está bem, — eu respirei quando meus ombros caíram.

— Lembro-me de dizer isso uma ou duas vezes.

Eu ignorei o sarcasmo dele e continuei com o meu exame.

— Você está tonto? Zonzo? Está vendo manchas brancas?

— Eu estou. Bem. — Ele pegou o pano da minha mão e ficou de pé, passando por mim até a frente do espelho, em cima da pia. Ele vasculhou o kit de primeiros socorros, encontrou um curativo e fechou o corte. — Viu? Tudo melhor.

Enquanto meu pânico se desvanecia, um nível de vergonha do qual eu nunca tinha sentido antes tomou seu lugar. Afundei-me no assento do vaso sanitário e abaixei a cabeça, enterrando o rosto nas palmas das mãos.

— Sinto muito. Pelo corte. Por ficar um pouco, hum... louca. Deus, me desculpe.

Eu esperei pelo som da porta abrir e seus passos em retirada enquanto ele corria para longe, muito longe dessa louca senhora, mas ele se agachou na minha frente.

— Ei. — Ele puxou minhas mãos para longe do meu rosto. — Está tudo bem. Sinto muito por ter assustado você.

— Isso não é culpa sua.

— Sim é. O que você está fazendo limpando a essa hora, afinal? Está tudo bem?

— Como eu não conseguia dormir, decidi me levantar e trabalhar. E você?

— Também não conseguia dormir. Na verdade, eu estava saindo para o lago Wade. Pensei em me levantar e ver se conseguia ver o nascer do sol para a sua foto.

— Você estava? — Eu sussurrei.

Seus olhos gentis responderam à minha pergunta.

Esse cara era de verdade? Como ele ainda estava aqui?

Talvez eu tivesse pago minhas dívidas com os idiotas do mundo e Hunter Faraday fosse minha recompensa.

— Você quer acordar Coby e vir comigo? — Ele perguntou.

Despertar meu filho de três anos da cama antes do amanhecer seria a pior decisão como mãe. Dormir para crianças era muito crítico e algumas horas extras me colocariam na minha lista da semana.

Mas nenhum desses fatos me impediu de sussurrar:

— Sim.

Hunter sorriu e se levantou, estendendo a mão para me ajudar. Eu me dei duas batidas do coração para saborear a sensação de sua pele na minha, então eu fui para o quarto de Coby e peguei-o, agarrando seu cobertor favorito para a viagem para o meu carro. Coby não acordou, não enquanto eu descia as escadas ou quando o colocava no banco do carro e cobria os pés descalços.

Enquanto isso, Hunter correu para o estacionamento e pegou a câmera da caminhonete e, quando voltou, pegou as chaves do meu carro e nos levou ao lago Wade.

Sentado no capô do meu 4Runner com Coby dormindo no banco de trás, vi Hunter tirar sua primeira foto para o meu hotel. O nascer do sol sobre o lago era lindo, mas principalmente eu me sentei e olhei para Hunter.

Eu tinha esquecido o quão bom era se apaixonar por um homem.

Bom demais.

Eu só esperava que não fosse bom demais para ser verdade.


Capítulo Oito

Maisy


A semana depois que Hunter nos levou em nossa viagem matinal Ao lago Wade passou em uma bagunça frenética, cansativa e enlouquecedora.

Eu recebi um influxo de reservas instantâneas em cima das minhas reservas agendadas anteriormente. Além disso, minha empregada de meio período havia pegado uma gripe. Então, em vez de marcar os itens da minha lista de reforma, passei meus dias limpando e lavando roupas para passar os quartos.

No domingo, a minha contabilidade estava atrasada, meu apartamento estava um desastre, e o quarto da empregada para Hunter parecia exatamente o mesmo que esteve a noite que eu o cortei com um azulejo. Eu tinha desistido de qualquer coisa que eu considerasse não crítico, incluindo fazer minha maquiagem, almoçar e, infelizmente, espionar Hunter da janela do meu sótão.

Desde que Hunter voltou à sua rotina normal de manhã cedo, e tarde da noite, eu não o tinha visto a semana toda. Nossa única comunicação foi através de notas adesivas. Eu deixava para ele um sorriso ou um oi! nas refeições da Tupperware que eu deixava na geladeira dele todos os dias. Ele responderia com recipientes vazios e um obrigado rabiscado.

Exceto na sexta-feira. Sexta-feira, ele me deixou um bilhete com o número de telefone dele, pedindo para eu mandar uma mensagem.

Meus dedos nunca digitaram um texto tão rápido.

Nos últimos dias, sempre que meu telefone tocava, eu parava o que estava fazendo e corria para o meu telefone, sorrindo sempre que via o nome de Hunter na tela.

— Mamãe! — Coby chamou do seu quarto. — Ele já está aqui?

— Ainda não, amigo. Logo — gritei de volta da cozinha.

Hunter não estaria aqui por mais vinte minutos. Ele vinha passar mais uma tarde de domingo conosco e tínhamos planejado almoçar no café e depois ir ao lago para tirar algumas fotos da pesca de Coby.

Meu filho estava pulando fora das paredes animado.

Eu também.

Fazia apenas uma semana, mas eu sentia falta de Hunter. No domingo passado, ele causou uma impressão duradoura. Eu senti falta do seu sorriso. Eu sentia falta de ouvir sua voz. Senti falta do cheiro de sua colônia, que havia desaparecido do meu carro.

Vinte minutos. Eu só tinha que esperar vinte minutos e eu teria tudo de volta.

Voltei para a minha pilha enorme de pratos na pia, esperando tê-los lavados antes de Hunter chegar aqui, quando meu telefone tocou no balcão. Corri, mãos molhadas e tudo, esperando que fosse ele querendo vir mais cedo.

— Droga, — eu murmurei vendo o número desconhecido. Não era incomum receber chamadas de números bloqueados para o hotel, e desde que eu encaminhei o telefone do saguão para o meu celular, limpei a garganta para atender. — Obrigada por ligar para o Bitterroot Inn. Como posso ajudá-lo hoje?

A linha estava silenciosa, então eu esperei alguns segundos.

— Olá?

Ainda sem som. Eu levantei o telefone longe da minha orelha assim como a voz de uma mulher finalmente veio a linha.

— Olá. É o Bitterroot Inn localizado em Prescott, Montana?

Dupla merda. Não é um hóspede em potencial, mas provavelmente um operador de telemarketing. Tanto quanto eu queria apenas desligar, eu não podia fazê-lo. Então ouvi, multitarefa enquanto esperava o discurso de vendas que eu recusaria educadamente.

— Sim, é o Bitterroot Inn. — Coloquei o telefone entre meu ombro e bochecha e voltei para a louça.

— Posso falar com Maisy Holt, por favor?

— Aqui é Maisy

— A mesma Maisy Holt que assassinou Everett Carlson há quatro anos?

O prato em minha mão molhada escorregou para fora, colidindo com a prateleira inferior da máquina de lavar louça.

— Quem é?

A mulher não respondeu.

— Quem é? — Eu exigi entre dentes.

Quando ela não respondeu, desliguei. Jogando meu telefone de lado, apoiei meus braços no balcão e fechei os olhos, respirando fundo algumas vezes para me acalmar. Não foi a primeira vez que recebi um telefonema assim e eles sempre me irritaram.

No primeiro ano após o sequestro de Everett, eu fui perseguida implacavelmente pela imprensa. Todo mundo queria vender minha história, ou sua versão da minha história, esperando que isso lhes desse alguns dólares. O fato de que eu não quis comentar nada, sem exceção, só me fez muito mais interessante. Muito mais que um desafio.

Alguns repórteres foram cruéis em suas tentativas de fazer com que eu comentasse, dizendo tudo e qualquer coisa para me enlouquecer, para que eu escorregasse. Alguns repórteres eram mais agradáveis, oferecendo-me dinheiro ou uma exclusiva de TV, mas eu sempre os recusei.

Minha história era da minha conta e não apareceria nas manchetes. A única pessoa que obteria uma explicação era Coby, na hora certa.

Por que eu fui considerada notícia depois de todo esse tempo? Não há outros temas muito mais interessantes do que a minha vidinha simples? Com telefonemas como esse para trazê-lo de volta, como eu esqueceria aquela noite horrível com Everett?

Trabalho. Eu voltaria ao trabalho e me ocuparia até que minha raiva estivesse enterrada profundamente.

Fazendo exatamente isso, eu terminei de lavar a louça e limpei minha cozinha. Então espanei a sala de estar até ouvir uma batida na porta.

Coby voou para fora de seu quarto, passando por mim com Picles tentando acompanhar.

— Espere, amigo. — Corri até a porta enquanto ele tentava abri-la. — Está trancada.

Chequei o olho mágico primeiro, certificando-me de que era Hunter, e sorri quando vi seu coque. Puxando a trava, abri a porta para ver seu rosto bonito. Ele sorriu e meu mundo estava melhor. Desapareceu o estresse da semana passada e o aborrecimento da ligação telefônica daquela repórter.

— Hunter! — Coby gritou quando Picles latiu.

— Ei, Coby! O que está acontecendo? — Hunter perguntou, bagunçando os cabelos do meu filho quando ele entrou.

— Todos nós vamos pescar!

— Estou muito animado, — Hunter disse a ele. — Você acha que eu vou pegar o maior peixe?

Coby sacudiu a cabeça.

— De jeito nenhum.

— Talvez eu vá. — Minha declaração me rendeu dois olhares incrédulos.

Hunter se inclinou para beijar minha bochecha.

— Ei, estranho.

— Ei, de volta.

— Vocês estão prontos para ir?

Eu assenti.

— Sim. Eu só preciso pegar nossas coisas. — Eu estava prestes a pedir a Coby para pegar seus sapatos e boné, mas ele já havia sentado no chão para calçar seus Crocs.

Apressei-me à geladeira para pegar a caixa de isopor branca com minhocas que eu tinha desenterrado do meu canteiro ontem e, com ela na mão, peguei a vara de pesca de Coby no canto. Eu deslizei nas minhas persianas e tranquei a porta do sótão, seguindo Hunter até o 4Runner, onde ele já estava colocando Coby em seu assento.

Meu estômago estava cheio de nervosismo, mas do tipo bom. O tipo que só veio com uma queda.

— Você ainda quer almoçar? — Hunter perguntou enquanto dirigia.

— Sim, por favor. Estou morrendo de fome.

Ele nos levou direto para o café, onde a multidão de domingo após a igreja estava começando a diminuir, por isso tivemos a sorte de conseguir uma cabine perto da janela.

— Quer jogar jogo da velha? — Coby perguntou a Hunter, virando o tapete de papel e procurando uma caneta na minha bolsa.

O rosto chocado de Hunter veio ao meu.

— Ele pode brincar de jogo da velha?

Minha boca se abriu em um sorriso de mãe orgulhosa.

— Eu ensinei a ele alguns meses atrás. Ele está pegando o jeito. — Eu me inclinei mais perto para sussurrar. — Mas ele sempre precisa da praça do meio.

— Quadrado Oriente. Entendi.

Hunter e Coby jogaram algumas vezes, Coby sempre o vencedor, até que nossa garçonete trouxe um cardápio infantil e giz de cera. Com nossos pedidos feitos e Coby alegremente colorindo uma imagem de dinossauro, Hunter e eu conversamos com quão louco que havia sido meus últimos sete dias.

— Pensei que você dissesse que a temporada turística normalmente não começava até meados de maio.

Suspirei.

— Eu também. Mas eu sou apanhada. Eu sempre sou. — Eu não poderia dormir muito esta semana, mas eu iria passar minha lista. — E você? Como foi sua semana?

— Boa.

Eu sorri, embora sua resposta de uma palavra me fizesse estremecer por dentro. Se nossa amizade se transformasse em um relacionamento real, eu teria que dizer a Hunter o quanto eu odiava respostas de uma palavra. Mas, como estava, minha boca estava fechada. Se ele quisesse dizer “bom” e deixar por isso mesmo, eu sugaria.

A decisão que tomei na semana passada no lago Wade ainda estava forte. Eu não seria intrometida. Eu não sabia o que Hunter fazia para viver. Eu não sabia se ele tinha ido para a faculdade. Eu não sabia se ele preferia geleia de uva ou de morango. As perguntas estavam na ponta da minha língua, mas eu as engoli. Quando Hunter quisesse compartilhar, eu seria toda ouvidos.

Por enquanto, eu deixava a conversa sobre minha vida monopolizar nosso tempo.

— Sua empregada está se sentindo melhor? — Ele perguntou.

Eu assenti.

— Ela está, graças a Deus. Ela voltará amanhã e fará algumas horas extras esta semana. Eu também preciso disso. Ainda estou com um quarto a menos, porque estou tentando terminar a reforma.

— Qual quarto?

— Sete. Bem ao lado do seu. Vou pintá-lo hoje à noite depois que Coby for dormir. Michael já havia se oferecido para vir dormir no sofá, então eu não precisava me preocupar com Coby.

— Você vai pintar hoje à noite? — Hunter perguntou. — Por que não esperar amanhã?

— Minha culpa. Adiei por muito tempo. Eu tenho que pintá-lo hoje à noite, porque o tapete será instalado. Depois que tudo estiver pronto, ainda preciso mobiliá-lo, decorá-lo e limpá-lo. — Seria agitado, mas se eu pudesse dar um soco naquela quarto, levaria um peso enorme dos meus ombros.

— Posso ajudar com alguma coisa? Eu tenho bons músculos para carregar móveis.

Isso não era brincadeira. Eu podia ver os contornos entre os bíceps e tríceps debaixo da jaqueta de zíper que ele usava.

Eu sorri para mim mesma, percebendo que quase combinamos hoje. Jeans. Jaqueta de zíper cinza. Tênis. Pelo menos minha jaqueta era clara, enquanto a dele era quase preta e seus tênis não eram verde-limão como os meus.

— Maisy?

— Huh? Oh, desculpe. — Corei e sorri para o meu copo de água. — Eu estava percebendo que nossas roupas combinam hoje. De qualquer forma, eu já recrutei meu irmão para ajudar com os móveis. Obrigada mesmo assim.

Hunter ainda era um hóspede pagador e, embora estivesse tirando minhas fotos, não consegui pedir mais ajuda e arriscar-me a tirar vantagem.

— Como foi a sua reunião com o contratado ontem? — Eu perguntei.

Ele mandou uma mensagem e disse que eles estavam fazendo uma reunião e buscando os itens de construção restantes. Eu estava secretamente esperando que ele demoraria mais do que ele havia suposto apenas para que ele ficasse no hotel um pouco mais. Mesmo que eu não o visse muito, era reconfortante saber que ele estava lá, dormindo bem embaixo do meu apartamento.

— A reunião foi boa. Assim como eu imaginei, vai demorar mais um mês, pelo menos.

— Chato. — Bebi minha água para esconder meu sorriso.

— Vale a pena esperar. Eu disse que minha propriedade fica no sopé da estrada para Fan Mountain?

Eu balancei minha cabeça.

— Não, mas eu meio que adivinhei. Não há grande quantidade de novas construções em Prescott. Existem algumas casas bem grandes por ali. — Eu reduzi a casa dele a uma das duas que estavam sendo construídas naquela área. Uma era enorme e a outra era grande, mas de bom gosto. Eu realmente esperava que a dele fosse a última.

Ele assentiu.

— Sim, algumas são enormes. Acho que a minha será o menor por quilômetros.

Sim! Eu dei um soco embaixo da mesa, feliz por Hunter não ser do tipo que gosta de extravagância vistosa só porque ele tinha dinheiro.

A garçonete chegou com a comida, encerrando a conversa adulta. Em vez de uma conversa adulta, passamos o resto da refeição respondendo às perguntas de Coby. Graças ao interrogatório de meu filho, soube que Hunter não tinha medo de tubarões, ele nunca esteve na lua e sua cor favorita era azul.

Depois que Hunter pagou a conta do almoço, fizemos uma pequena viagem pela Main Street até a lagoa da comunidade.

— Afaste-se da água! — Falei para Coby quando ele correu pela grama em direção a sua pedra de pesca favorita.

— Ok, mamãe! — Ele gritou por cima do ombro.

— Local legal, — disse Hunter enquanto caminhávamos. — Toda essa água vem do rio?

— Sim. Foi construído nos anos cinquenta. A cidade cavou a lagoa e depois um canal para alimentar a água do Jamison. Eles o abastecem com peixe...

— Vamos lá, pessoal! — Coby gritou.

Hunter e eu rimos e aumentamos o ritmo. Corri para colocar Coby na vara de pescar, enquanto Hunter pegava sua câmera. Lançando a linha para Coby, eu recuei para que Hunter pudesse tirar algumas fotos sem mim na foto.

Depois que ele terminou as fotos, Hunter assumiu as poses de Coby. Isca após isca, não falamos muito até Coby pegar um peixe e nosso trio começar a aplaudir. Eu usei meu telefone para gravar um vídeo de Coby, com Hunter orgulhosamente ao seu lado.

— Sorria para uma foto. — Eu tirei uma foto de Coby e Hunter antes que eles soltassem o peixe e o libertassem.

— Foi divertido! — Coby aplaudiu.

— Com certeza foi. Você quer ficar mais tempo ou já terminou?

— Hum. — Suas sobrancelhas se juntaram enquanto ele considerava sua resposta. — Todos acabamos de pescar. Quando chegamos em casa, Hunter pode assistir carros comigo?

Hunter sorriu.

— Eu não tenho outros planos.

Eu sorri de volta.

— Então vamos assistir carros.

Coby gritou e correu de volta para o carro.

— Eu posso ficar com ele se você quiser avançar na sua pintura, — Hunter ofereceu enquanto caminhávamos para alcançá-lo.

— Obrigada, mas tudo bem. Eu farei isso hoje à noite quando ele estiver dormindo. Eu não tenho passado muito tempo de qualidade com ele esta semana e um filme com pipoca é mais importante.

Os passos de Hunter diminuíram, um olhar estranho no rosto. Foi o mesmo olhar que ele deu a Coby na primeira vez que viu meu filho nas máquinas de venda automática. Intrigada não era a palavra certa para descrevê-lo, embora as sobrancelhas foram tricotadas no meio. Surpreendido, talvez?

— O quê?

— Nada. — Seu rosto relaxou em um sorriso. — É só que, ele é um garoto de sorte. Você é uma boa mãe.

Eu estava acompanhando os elogios de Hunter.

Aquele acabou de chegar ao topo do gráfico.

— Obrigada.

Hunter correu à frente para colocar Coby no carro, e de costas para mim, pulei meus próximos três passos. Preocupava-me diariamente que estivesse sendo uma boa mãe para Coby, provavelmente sempre me preocuparia, mas o elogio de Hunter foi suficiente para banir essas inseguranças por hoje.

Chegando ao carro no momento em que Hunter estava fechando a porta de Coby, joguei a vara de pescar na traseira. Quando fechei o porta-malas, Hunter estava entrando no banco do motorista .

— Sabe, eu sei dirigir. Este é o meu carro.

— Loirinha, não finja protestar quando nós dois sabemos que você gosta de andar com passageira comigo ao volante. Eu vi aquele sorriso quando você entregou as chaves para mim conduzir até o lago na semana passada.

Ele me pegou nessa.

Então eu apenas sorri e entrei no banco do passageiro. Eu estava afivelando o cinto de segurança quando meu telefone tocou no meu colo.

Meu rosto enrugou em outro número desconhecido. Provavelmente, essa era uma ligação legítima para o hotel, mas, como eu ainda estava à beira da ligação da repórter mais cedo, eu a ignorei e a deixei ir para o correio de voz.

O banner de chamadas perdidas apareceu na tela ao mesmo tempo em que o telefone de Hunter começou a tocar. Ele tirou do bolso da calça jeans e franziu a testa.

— Você precisa atender isso? — Eu perguntei. — Podemos esperar no carro enquanto você atende lá fora.

— Não é ninguém importante. — Ele recusou a ligação e deixou o telefone cair no colo. Com um sorriso rápido para Coby atrás, ele girou a chave na ignição.

Estávamos quase de volta ao hotel quando meu telefone tocou novamente. Outro número desconhecido. Se este era o repórter, eu iria dar-lhe elogios por sua persistência. Com um grunhido, recusei esta ligação também.

— Tudo bem? — Hunter perguntou.

— Provavelmente apenas um operador de telemarketing.

Eu odiava mentir, mas hoje não era o dia de entrar na razão por que estava sendo perseguida por uma repórter. Essa história viria em outro momento. Hunter ainda não havia perguntado sobre o pai de Coby e fiquei feliz por isso, porque quando ele perguntasse, eu queria lhe contar a história completa. Eu queria que ele soubesse o que estava acontecendo conosco.

Eu só esperava que, uma vez que ele soubesse do meu passado, ele não fugisse para sua casa no sopé e ficasse longe para sempre.

Hunter


Eu estava a um telefonema de bloquear o número de Nell.

Ela ligou onze vezes durante Carros. Onze. Se eu não estivesse de plantão, teria desligado o maldito telefone, mas, como estava, tive que recusá-lo todas as vezes e dizer a Maisy que não era grande coisa quando ela se ofereceu repetidamente para pausar o filme.

Mas, finalmente, as ligações pararam quando nos sentamos para a pizza caseira de hambúrguer que Maisy havia feito para o jantar.

Três pedaços demolidos, voltei para um quarto.

— Esta é a melhor pizza que já comi. — Considerando a quantidade de pizza que eu tinha consumido durante a graduação e a faculdade de medicina, isso estava dizendo algo.

— Estou feliz que você gostou. — Maisy sorriu com orgulho e cavou sua própria fatia. — Coma o quanto quiser.

Eu dei um tapinha no meu estômago.

— Eu irei, mas correrei um quilometro extra amanhã. Pizza sempre foi uma das minhas fraquezas.

— A minha também. Isso e biscoitos.

Eu sorri. Eu adorava que Maisy não tivesse com medo de comer. Ela tinha um corpo incrível, provavelmente de trabalhar todos os dias, mas ela não insiste sobre calorias. Todas as refeições que tínhamos compartilhado, ela nunca pedia salada nem colocava pouco no prato.

— Os biscoitos estão lá em cima na minha lista, mas provavelmente não tanto quanto outras tentações.

— O que é uma tentação? — Coby perguntou.

— Uma tentação é algo que você não consegue resistir. Uma indulgência. — Ele ainda estava confuso, então continuei. — Algo que você enlouquece. Como pizza ou biscoitos.

Ele pulou em seu assento.

— Eu sei. Como cheeseburgers!

Eu ri. Droga, esse garoto era esperto.

— Como cheeseburgers. Ou vermes gomosos.

— Vermes gomosas? — Maisy e Coby perguntaram ao mesmo tempo.

Eu assenti.

— Não posso resistir. Eu sou um otário por vermes gomosos. Especialmente azedos. E batatas fritas 'da Lay. Eu costumava sobreviver sozinho na faculdade.

— Alguma outra tentação que eu deveria conhecer? — Maisy perguntou.

Fechei meu olhar com o dela.

— Você.

Ela sorriu, mas não desviou o olhar, mesmo quando suas bochechas coraram.

— Você gosta de brownies? — Coby perguntou, me forçando a me afastar de Maisy.

— Sim, amigo. Eu gosto de brownies. Especialmente aqueles com lascas de chocolate.

— Eu também.

Porra, isso foi legal. Era tudo o que eu conseguia pensar quando terminamos a refeição. Coby, Maisy e eu estávamos tão confortáveis um com o outro. Tudo foi fácil aqui. Se ao menos eu pudesse ignorar o mundo do lado de fora de sua porta e ficar neste sótão pelo resto da minha vida.

Maisy se levantou e levou os pratos para a cozinha antes que eu pudesse me oferecer para limpar.

— Eu lavo os pratos hoje à noite.

— Coby, amigo, por que você não pega a coleira de Picles e nós o levamos para passear?

— Ok! — Ele se afastou do assento.

Peguei seu prato amarelo e o levei para a cozinha, colocando-o no balcão.

— Obrigado pelo jantar hoje à noite e todas as outras noites desta semana.

— O prazer foi meu.

Inclinei um quadril contra o balcão, estudando seu perfil perfeito enquanto ela encarava a pia.

— Você não precisa cozinhar para mim, sabe? Você tem muita coisa acontecendo e me fazer comida não é necessária. Eu posso apenas comer no centro.

— Eu quero, — ela disse enquanto lavava um garfo. — Eu cozinho bastante para mim e Coby, então reservar um pouco para você não é grande coisa. Além disso, eu odeio a ideia de você sempre comer fora ou apenas comer comida lixo. Eu tenho muito da minha mãe em mim para deixar você sobreviver apenas com alimentos processados.

Abri minha boca para agradecê-la novamente, mas nada saiu.

Ela me deixou sem palavras.

Além de minha mãe, ninguém realmente se importava com o que eu tinha para comer. Eu nunca fiquei com fome, o chef da casa sempre se certificou de ter algo preparado, mas ele fez isso por obrigação, não por amor. Maisy estava me alimentando simplesmente porque se importava.

Todos esses anos atrás, quando eu tinha visto Maisy pela primeira vez na maternidade do hospital, eu tinha assumido sobre ela. Passando um tempo com ela nessas duas últimas semanas, agora eu sabia que estava certo.

Maisy Holt era pura alegria. Ela era bondade personificada. Ela era um raio de sol rompendo as nuvens da minha vida.

Eu me afastei dela naquela época.

Eu a evitei da última vez que morei em Prescott.

Eu nunca faria isso novamente. Eu não estava desistindo dela sem lutar.

Eu vim para Prescott com um plano: cuidar dessa bela alma. Meu plano havia mudado. Agora eu estava aqui para ganhar o coração dela.

Talvez, se ela pudesse se apaixonar por mim, ela não me afastaria quando soubesse a verdade. Talvez ela me amasse o suficiente para perdoar todas as omissões e meias-verdades.

Maisy merece a história completa. Toda a verdade.

Ainda não.

Até a hora certa, meus segredos eram meus encargos. Então, quando fosse o tempo certo, ela obteria tudo. Cada detalhe miserável. Ela poderia me fazer qualquer pergunta que seu coração desejasse e eu daria todas as respostas.

Mas ainda não.

Não até eu a conquistar completamente e ter uma chance de mantê-la para sempre.

Enquanto eu olhava para o perfil dela, a determinação percorreu minhas veias. Eu nunca havia enfrentado um desafio maior, mas eu nunca tive muito a ganhar. Três corações estavam em jogo aqui: Maisy, Coby e o meu, e eu faria o que fosse necessário para não quebrar todos eles.

— Pronto! — Coby saltou para a cozinha com a trela de Picles.

Afastei os olhos de Maisy e fiquei de pé, sorrindo para o cachorrinho super excitado e seu filho.

— Vou levar esses dois para passear.

Maisy parou de lavar e apertou o lábio inferior.

— Ah, hum... tudo bem. Todos nós podemos ir quando eu terminar com isso.

Merda. Ela não confiava em mim sozinho com Coby? Ela recusou a minha oferta para ficar com ele para que ela pudesse pintar, e agora isso. Conquistá-la seria muito difícil se ela não confiasse em mim com seu filho.

Mas, não querendo que ela se sentisse desconfortável, eu recuei.

— Eu entendi. É cedo demais para um homem estranho estar sozinho com seu filho. Sem pressão, eu só queria ajudar.

— Oh, não. Não é isso. — Ela riu. — Eu confio em você com Coby.

Uma frase e meus ombros caíram. Eu confio em você com Coby.

— Então o quê?

Ela torceu o nariz.

— Picles teve, hum... diarreia. Coby deu comida demais para ele ontem à noite e eu não queria que você tivesse que lidar com essa bagunça.

— Eu cuido do cachorro. — Peguei a trela de Coby e peguei Picles. — Você lava a louça e faz uma pausa de cinco minutos. — Eu pisquei para ela, amando como sempre a fazia sorrir, depois saí com meu próprio sorriso largo.

— Você sabe o que é especial, Coby?

— O quê? — Ele perguntou, descendo os degraus.

— O sorriso da sua mãe.

Ele olhou por cima do ombro.

— Por quê?

— Porque nunca para.

— Hã?

Eu balancei minha cabeça e ri.

— Não importa, amigo. Aqui. — Pousei o filhote na base da escada e prendi na coleira nele. — Você pode liderar Picles, mas eu cuidarei do cocô dele. Ok?

— Ok. — E lá foram eles para a grama.

Um dia, quando ele fosse um pouco mais velho, eu explicaria por que o sorriso de Maisy era especial. E então, quando ele fosse muito mais velho, eu explicaria a sorte que ele teve por herdar o sorriso dela e não de seu pai.

Coby era a imagem de Everett. O cabelo. Os olhos. O formato do seu rosto. Tudo, exceto aquele sorriso. O sorriso de Everett tinha sido sempre muito frio. Muito calculista. Um sorriso genuíno no rosto de sua imagem no espelho era muito melhor.

Características físicas à parte, Coby era cem por cento Maisy. Ele tinha sua natureza curiosa. Ele tinha a energia e o espírito dela. E a presença dele trouxe paz ao meu coração, assim como a mãe dele.

Maisy e Coby Holt eram pessoas notáveis, provando algo que eu sempre soube.

Everett Carlson foi um filho da puta estúpido.

Quatro horas depois, eu estava deitado na cama no meu quarto, ouvindo sons ao lado. No segundo em que ouvi um leve farfalhar através da parede, voei da cama e saí de calça jeans velha e camiseta branca.

— Maisy, sou eu, Hunter. — Eu sorri quando gritei da passarela do lado de fora do quarto sala. — Estou indo aí. — Eu dei alguns passos. — Aqui vou eu. — Mais um passo. — Eu não vou te atacar, então, por favor, não jogue um pincel na minha cabeça.

Entrei na porta e levantei minhas mãos para evitar um possível ataque.

— Ha ha, — ela murmurou. Abaixei minhas mãos para pegá-la revirando os olhos sorrindo. — Você é hilário, Faraday.

Entrando no quarto vazio, meus olhos imediatamente se deleitaram com as pernas nuas e tonificadas de Maisy. Ela usava shorts jeans e uma blusa branca, expondo sua pele macia e levemente bronzeada. Seu sutiã esportivo azul estava aparecendo por baixo da blusa e ela estava descalça, os dedos dos pés pintados do mesmo azul do sutiã.

Quando ela se inclinou para pousar a bandeja de tinta que estava segurando, eu rapidamente ajustei meu pau para que ela não visse a barraca no meu jeans.

— O que você está fazendo? — Ela perguntou.

Atravessei o quarto e peguei um pincel da caixa no meio do chão.

— Estou ajudando você a pintar.

— Você já pintou antes?

— Paredes? Não. A última vez que me lembro de pintar foi com aquarelas de lápis de cera na arte do ensino médio. Mas sou um cara inteligente, para que você possa me ensinar.

Ela suspirou.

— Hunter, você não tem que fazer isso. Eu realmente aprecio a oferta, mas você já está fazendo tanto com as fotografias e...

— Ei. — Eu a parei e entrei em seu espaço. — Deixe-me ajudar. Por favor.

Sua respiração parou quando eu me inclinei um pouco mais para perto. Ela cheirava tão bem. Tão doce. Porra, eu quero beijá-la. Eu queria envolvê-la em meus braços e pegar sua boca. Segurá-la a noite toda depois que eu a exaurisse completamente.

Mas hoje à noite, ela precisava pintar esse quarto, e se eu a beijasse, levaria um tempo.

Nosso primeiro beijo seria do tipo duradouro. O tipo que ela nunca esqueceria. O beijo que apagasse todos os outros do seu passado.

Hoje à noite, não tínhamos esse tipo de tempo, então, em vez disso, me inclinei e sussurrei em seu ouvido.

— Você vai me ensinar a pintar?

Ela estremeceu quando sussurrou de volta:

— Sim.

Eu sorri e forcei meus pés a dar um passo para trás. Então nós começamos a trabalhar.

Três horas depois, o teto estava branco, as paredes estavam, cinza pomba, e eu tinha manchas de tinta em todas as minhas roupas, cabelo e pele.

— Obrigado, — disse Maisy enquanto observava nosso trabalho. — Isso me levaria muito mais tempo sozinha. Agora, Michael pode realmente ir para casa e não dormir no meu sofá.

— A qualquer momento.

Eu quis dizer isso também. Eu a ajudaria a qualquer momento. O sorriso no meu rosto duraria a semana toda só porque eu passei a noite de domingo trabalhando lado a lado com Maisy.


Capítulo Nove

Maisy


Quando eu tinha doze anos, planejei o casamento dos meus sonhos. Meu primo tinha acabado de se casar e eu passei um dia inteiro de férias de verão preenchendo a melhor parte do meu diário com ideias e desenhos para o meu próprio casamento. Eu queria rosa. Tudo rosa. O bolo. As flores. Os vestidos. Muito e muito rosa.

Se eu tivesse visto a majestade do casamento de Beau e Sabrina naquela época, esse diário teria sido bem diferente.

Sabrina e Beau se casaram às seis horas em um campo aberto, não muito longe nas montanhas. Com o cheiro de pinho no ar da primavera e os brilhantes raios do sol desaparecendo lentamente, os dois ficaram juntos e trocaram seus votos. Não havia cadeiras, corredores e decorações sofisticadas. Apenas Beau e Sabrina em pé com o ministro, enquanto amigos e familiares próximos assistiam.

Beau e Sabrina estavam tão apaixonados, acho que nem sabiam que o resto de nós estava lá.

Depois do beijo e algumas fotos, todos voltamos à cidade para a recepção. Embora a cerimônia tenha sido simples e íntima, a recepção foi outra história. Sabrina fez todo o possível para planejar uma festa extravagante para centenas de convidados.

Não havia muitos grandes eventos na pequena cidade de Montana, então Sabrina estava limitada ao refeitório da escola. Ela tinha magicamente transformado o espaço. Agora, parecia mais um salão de baile chique em um hotel da cidade do que o ambiente onde eu comia meus almoços quando criança.

— Isso é outra coisa, — disse papai pela terceira vez, enquanto olhava ao redor do salão. Estávamos dançando no grande piso de madeira em frente ao palco onde a banda ao vivo estava tocando.

— Com certeza é. Está lindo.

Todo o teto estava coberto de luzes que davam um brilho suave ao salão. Mesas redondas e cadeiras, todas cobertas com forros elegantes, enchiam o espaço atrás e ao redor da pista de dança. As paredes lisas estavam escondidas com cortinas pretas que revestiam o salão inteiro. Arranjos florais impressionantes de verde e marfim adornavam todas as mesas.

— O que era esse jantar? — Papai perguntou.

— Eu comi demais. Coby estava muito ocupado brincando, então eu comi meu prato e o maioria do dele. Mas valeu totalmente a pena. — Costela, salmão do Copper River, batatas assadas, pãezinhos frescos e cerca de meia dúzia de saladas. Eu tentei tudo.

— Você acha que está tudo bem eu ir à mesa do bufê mais algumas vezes? — Papai perguntou.

Eu ri e o alcancei, alisando as linhas de preocupação em sua testa.

— Acho que o pai do noivo pode comer o quanto quiser. Eu não me preocuparia com isso.

Brock Holt não era um ser humano pequeno. Ele era do tamanho de Beau, exceto pela enorme barriga de cerveja que vinha crescendo nos últimos dez anos e, uau, papai podia comer.

— Obrigado. — Ele sorriu e me girou. — Seu irmão parece feliz.

— Ele com certeza está.

Nós dois olhamos para Beau dançando lentamente com Sabrina. Beau usava um terno simples, em vez de um smoking, algo que Sabrina o surpreendeu com a peça, e Sabrina estava em um lindo vestido branco, a metade superior toda de renda com meias mangas e um recorte aberto nas costas.

— Você está se divertindo? — Papai perguntou.

— Sim. Esta foi uma ótima noite.

— Você está linda, querida. Esse vestido combina com você.

Inclinei-me ainda mais em seu peito.

— Obrigada pai.

Eu amei meu vestido de dama de honra. Fiel a tudo o mais sobre este casamento, foi elegante. Um simples vestido de chiffon preto com decote em V e uma saia em linha cortada no comprimento do joelho. Não precisava usar Spanx, podia usar um sutiã normal e a saia tinha bolsos para o meu telefone e brilho labial.

Bônus, isso me fez sentir bonita.

— Coby com certeza parece adulto hoje em seu terno, — disse papai.

— Isso não é a verdade? Você pode acreditar que ele fará quatro neste verão? Parece que ontem eu o trouxe para casa.

Papai olhou com adoração por cima do meu ombro. Estiquei o pescoço para ver Coby e vários outros garotos correndo pelas mesas. Coby tirou a jaqueta para o jantar, mas se recusou a tirar a gravata borboleta que sua tia Sabrina havia comprado especialmente só para ele.

— É difícil para o seu velho acreditar que você é adulta, — disse papai, me puxando um pouco mais para perto. — Beau está casado. Michael mal olhou longe de Alana toda a noite. Você tem Coby e aquelo hotel. Eu estou ficando velho. Sinto falta dos dias em que vocês precisavam de mim por perto.

— Nós ainda precisamos de você, pai.

— Você precisa?

Eu assenti.

— Especialmente eu. Você tem que treinar meu cachorro.

Ele sorriu da minha piada e me girou novamente.

— Você não está brava com isso ainda, está?

— Não. Claro que não. Você sabe que não posso guardar rancor por muito tempo. No minuto em que alguém se desculpou comigo, a raiva e o ressentimento desapareceram.

— Isso é porque o coração da minha Maisy é muito doce para ressentimentos.

— Alguns podem me chamar de capacho.

Ele zombou.

— Absolutamente não. Você está perdoando, não sendo um capacho. E acho que essa é uma característica muito forte. Quando alguém te machuca, a coisa mais fácil a fazer é cortá-los, mas você não. Você dá uma segunda chance quando as pessoas provavelmente não as merecem. Você mantém seu coração aberto em vez de se tornar amarga e cansada. Não há nada de capacho sobre você.

— Ok, pai. — Dei um tapinha em seu peito, tentando detê-lo antes que ele se irritasse, mas ele continuou falando alto, chamando a atenção de alguns dançarinos por perto.

— Lembra daquela vez em que Jessica Cummings escreveu aquela nota ruim sobre você na sexta série e foi pega passando na classe? Poucas crianças teriam deixado isso passar. Sem mencionar o fato de que você se ofereceu para ser a parceira de debate dela porque ninguém mais poderia suportar a pirralha.

— Pai, — eu repreendi. — Jessica não era tão ruim. — Ela me chamou de sapatinho de dois olhos no bilhete, mas pediu desculpas no dia seguinte. Fizemos parceria para o debate e nos tornamos amigas até perdermos o contato após o ensino médio. Eu me pergunto o que ela está fazendo nos dias de hoje. Amanhã eu enviaria uma mensagem para ela no Facebook e a cumprimentaria.

— O que quero dizer é que você é uma das pessoas mais amorosas, uma das mais fortes, que eu conheço.

Eu sorri.

— Você é apenas tendencioso.

— Eu sou. Mas também estou certo.

— Obrigada. — Eu o abracei mais apertado quando terminamos nossa dança.

Quando a música terminou, passei meu braço pelo dele e o deixei me escoltar de volta à nossa mesa, onde mamãe estava em outra taça de champanhe com a mãe de Sabrina. Ambas estavam rindo e falando alto demais.

— Uh-oh, — papai murmurou.

— Você pode dizer isso de novo. É melhor você cortar a mãe logo ou ela nunca será capaz de fazer um café pela manhã.

— Eu acho que você está certa. — Ele me soltou e caminhou até a parte de trás da cadeira da mãe, esfregando suavemente os ombros dela. Papai não a cortaria. Ele deixava mamãe beber o quanto quisesse e a levava para casa. Amanhã de manhã, ele a acordava com café, suco de laranja e analgésicos.

E eu programaria o despertador duas horas mais cedo do que o planejado, para que eu pudesse ir à casa deles primeiro e ajudar mamãe com um café da manhã.

Agarrando minha cadeira, eu a virei da mesa para poder ver as pessoas na pista de dança. Cerca de dois segundos depois, Gigi surgiu por trás e deslizou uma cadeira ao lado da minha.

— Champanhe? — Ela me perguntou, pegando a garrafa atrás de nós.

— Não, obrigada. Se eu beber muito, terei uma dor de cabeça infeliz pela manhã.

Ela encheu o copo que trouxe e depois pegou o telefone do bolso do vestido.

— Quão bonito é isso? — Ela começou a tirar fotos da pista de dança onde Jess estava dançando com suas filhas, girando e girando-as para que elas rissem.

— Totalmente fofo. Ele é tão bom com elas.

Ela sorriu.

— Sim, ele é.

Uma pontada de inveja bateu forte. Não foi a primeira hoje à noite.

Eu queria um casamento chique com um homem que olhasse para mim como se eu tivesse pendurado a lua. Eu queria mais filhos. Talvez uma garotinha em quem eu pudesse vestir vestidos com babados e chinelos preciosos. Ou outro garoto que idolatrasse seu irmão mais velho. Eu queria um homem como meu pai que movesse montanhas para fazer sua família feliz.

Me assustou um pouco que quando eu imaginei tudo isso nos meus devaneios, o homem ao meu lado era Hunter. Éramos tão novos, tantas coisas podiam dar errado, mas eu estava mantendo meus dedos cruzados. Eu estava esperando que ele fosse o homem bom que eu estava esperando.

— Como foi o resto da sua semana? — Gigi perguntou.

Afastei meus olhos da pista de dança lotada e sorri para minha amiga.

— Bom, na verdade. Muito produtivo.

Eu tinha me arrebentado para realizar minha lista de tarefas no início da semana para poder ajudar com todas as coisas do casamento nos últimos dois dias. O sono foi escasso, mas valeu a pena para assinalar todas as caixas em algumas listas.

O quarto que eu havia pintado com Hunter estava pronto para as reservas programadas na próxima semana. O quarto de empregada estava todo arrumado, então ele tinha um lugar para ficar. Eu até consegui fazer uma viagem rápida a Bozeman para comprar um colchão novo, roupa de cama e uma tela plana para montar na parede.

— Eu me preocupo com o quanto você trabalha. — Gigi se inclinou, nossos ombros se tocando.

Eu me inclinei para trás.

— Eu gosto de trabalhar duro. Dá muita satisfação saber que sou a razão do sucesso do hotel.

— Eu sei e tenho muito orgulho de você. Mas eu apenas... — Ela parou e recostou-se na cadeira. — Não importa.

— Apenas o quê?

Ela suspirou.

— Eu apenas não quero que o hotel seja o outro significativo em sua vida. Quero que você encontre um pedaço disso. — Ela balançou a mão para a pista de dança, onde mais de nossas amigas se juntaram a Jess e suas filhas.

Silas e Felicity estavam dançando com Victoria entre eles. Nick estava girando cuidadosamente Emmeline e sua barriga de grávida. Sara ria histericamente de Milo, que estava tentando impressioná-la com seus movimentos de dança patetas.

Era justo que a banda estivesse tocando uma música de amor.

— Desculpe, — disse Gigi antes que eu pudesse responder. — Esqueça que eu disse alguma coisa. Esses casamentos sempre me fazem sentir idiota.

Virei minha cabeça e sorri.

— Não se desculpe.

— Não, eu não deveria ter dito nada. Eu lhe disse que eu ia parar de empurrar. Então, isso não é mais oficial.

Cheguei atrás de nós e peguei a garrafa para encher seu champanhe.

— Obrigada, — ela disse. — Então, o que está acontecendo com Michael e a nova veterinária?

— Oh, ele está apaixonado, — eu declarei.

— Qualquer tolo pode ver isso. Eu diria que o amor vai nos dois sentidos.

Michael e Alana estavam sentados sozinhos em uma mesa no fundo do salão. Eles estavam tão juntos que ela estava praticamente no colo dele.

— Você está certa sobre isso. Eu estou apostando que será seu casamento próximo.

— Hmm. Interessante. — Ela bateu em seu queixo. — Eu não sei. Eu tenho uma sensação de que vamos ter outro antes deles.

— Quem realmente? — Olhei em volta, inspecionando todos os casais. Todos aqui eram casados ou solteiros, e muito longe de encontrar, aquele.

— Eu não sei. É apenas um sentimento. — Gigi estendeu a mão para apertar. — Eu aceito sua aposta. A vencedora paga pedicure para nós duas?

Minha mão se encaixou na dela.

— Feito.

Olhei para Michael e Alana novamente. Estavam esgueirando-se pela porta de mãos dadas. Gigi viu também, isso e meu sorriso presunçoso.

Eu estava totalmente recebendo um tratamento de spa gratuito.

Gigi e eu conversamos por um tempo até Jess chegar e a reivindicar para dançar. Passei o resto da noite rindo com amigos e familiares. Quando a meia-noite chegou, a festa estava ficando turbulenta e o bar gratuito estava acabando com uísque.

Eu me mudei para uma mesa mais silenciosa no fundo da sala e segurei um Coby dormindo enquanto assistia a festa com um sorriso largo.

— Como você está, querida? — Mamãe apareceu ao meu lado, suas palavras enroladas.

— Acho melhor você se sentar, mãe. — Seu balanço estava me deixando nervosa.

— Boa ideia. — Ela sentou na cadeira ao lado da minha.

— Você se divertiu?

Ela cantarolou e descansou a cabeça no meu ombro.

— Tão divertido. Estou tão feliz por Beau.

— Eu também.

— Espero que eles tenham um bebê em breve. Coby está tão grande agora que quero outro neto para minha cadeira de balanço.

Sorri para meu filho e acariciei seus cabelos castanhos e macios. Não importa o tamanho dele, ele sempre seria meu bebê.

Mamãe bocejou.

— Quando você e Hunter se casarem, prometerão me dar mais netos? Eu quero muitos.

Meus dedos pararam nos cabelos de Coby.

— Mãe, nem estamos namorando. — A última coisa que eu precisava era de mamãe pensando que éramos um casal sério e espalhando isso pela cidade. — Por favor, não conte às pessoas sobre ele. Ok? Não até que eu realmente saiba se isso vai a algum lugar. — Eu esperei por uma resposta. — Mãe?

Ela desmaiou no meu ombro. Sorrindo, balancei a cabeça e voltei para as pessoas assistindo. Dama de honra de dia, travesseiro humano à noite.

— Quem precisa de um encontro quando eu tenho vocês dois?

No início desta semana, mamãe havia me implorado para convidar Hunter para o casamento, mas eu repetidamente disse a ela que não. Hunter e eu precisávamos de alguma definição antes de levá-lo à minha família e amigos. Queria algum tempo para que as coisas se desenvolvessem.

A última vez que trouxe um homem para minha família, as coisas não deram tão certo.

Everett estúpido.

Convidei Everett para a casa da minha família no Natal. Na época, as coisas entre nós tinham sido difíceis e eu estava preste a largá-lo. Na verdade, eu fui até a casa dele uma noite, pronta para terminar, mas ele se desculpou e foi gentil. Eu pensei que havíamos virado uma esquina em nosso relacionamento, então eu o convidei para o Natal. Erro. Ele terminou comigo na sala de estar dos meus pais trinta minutos antes do jantar de Natal.

Então não. Eu não estava pronta para desfilar Hunter na frente da minha família.

Hunter não era Everett, mas eu ainda estava sendo cautelosa.

— Aí está ela. — Papai estava em pé atrás do meu ombro, balançando a cabeça para minha mãe que estava roncando. — Voltei do banheiro e não a encontrei em lugar nenhum.

Eu sorri para ele.

— Eu acho que ela está pronta para dormir.

Ele zombou.

— Eu também acho.

Papai veio até a cadeira dela e gentilmente a pegou nos braços.

— Vamos, baby, — ele sussurrou para mamãe, depois olhou para mim. — Boa noite querida. Nos vemos no café da manhã.

— Nós estaremos lá. Boa noite Papai.

Eu os assisti partir, feliz que depois de todos esses anos juntos, ele ainda a chamava de baby.

Deslizando meu telefone do bolso do meu vestido, verifiquei a hora. Já passava da meia-noite agora e hora de levar meu filho para casa. Coloquei Coby em meus braços para me segurar melhor, depois me levantei. Cuidadosamente, fui até o cabide pegar nossos casacos e minha bolsa. Equilibrando-o e nossas coisas com praticidade, saí pela porta e fiz uma saída silenciosa para a noite.

Com Coby afivelado no banco do carro, subi no banco do motorista no momento em que meu telefone tocou com uma mensagem de texto.

Hunter: Como foi o casamento?

Meu coração acelerou quando digitei minha resposta.

Eu: Foi muito divertido. Na verdade, estamos saindo agora.

Hunter: Dirija com segurança.

A viagem da escola para o hotel era talvez um minuto, mas ele ainda me disse para dirigir em segurança.

Eu realmente gostei disso.

Hunter e eu não tínhamos passado nenhum tempo juntos esta semana, mas estávamos mandando mensagens. Ele me enviou uma mensagem todas as manhãs, agradecendo-me por qualquer refeição que eu havia deixado para ele no dia anterior. Eu mandei uma mensagem para ele sobre coisas engraçadas que Coby havia dito e coisas estranhas que as pessoas deixaram para trás em seus quartos após o checkout.

Nossas mensagens não eram sérias, mas havia uma intimidade lá. Fazíamos check-in um com o outro. Estávamos pensando um no outro. E gostei que ele estivesse pensando em mim hoje à noite.

Parei no meu estacionamento atrás do hotel e estendi a mão para o banco do passageiro para recolher minhas coisas. Quando levantei os olhos, gritei e puxei meu banco. Um homem estava do lado de fora da janela do meu carro. Eu apenas relaxei quando a figura se abaixou para dar um tapinha no vidro.

Hunter.

Minha respiração ainda estava difícil quando eu abri minha porta e saí.

— Você me assustou de novo.

Ele estremeceu.

— Desculpe, eu não quis te assustar. Eu apenas pensei que você poderia querer ajuda para carregar Coby para dentro.

Isso foi atencioso. Tão carinhoso que afugentou a adrenalina.

— Bem, pelo menos desta vez eu não pude retaliar fisicamente.

Ele sorriu.

— Minhas bolas são gratas.

Eu ri e cliquei nas fechaduras para que ele pudesse abrir a porta traseira e pegar Coby. Liderando as escadas, abri a porta do sótão e imediatamente chutei meus saltos quando Hunter passou por mim com Coby nos braços.

Eu os segui até o quarto de Coby e fiquei na porta, vendo Hunter deitar meu filho gentilmente em sua cama. Ele deu um passo atrás e eu entrei, tirando os sapatos, as meias e a gravata de Coby.

Com sua máquina de som ligada, sua luz noturna estrelada brilhando e ele escondido debaixo do cobertor, fechei a porta do quarto de Coby e segui Hunter até a sala de estar.

— Como foi a sua noite? — Eu perguntei.

— Quieta. Arrumei minhas coisas para que eu possa sair do quarto amanhã.

— Você quer a chave do quarto da empregada? Eu ia deixá-la de manhã, mas como você está aqui, posso dar a você agora.

— Certo.

Peguei minhas chaves da bolsa e puxei meu telefone do bolso, ligando o aplicativo de monitor de Coby. Com os pés descalços, conduzi Hunter pelas escadas interiores até o saguão. Pegando a chave do quarto, fomos para fora e descemos duas portas para seu novo espaço.

Antes de abrir a porta, me virei e encontrei seu olhar.

— Se você odeia, se é muito pequeno, não se sinta obrigado a ficar. Não vou me machucar ou chatear se você não quiser...

— Maisy. — Ele colocou a mão no meu ombro. — Vai ficar tudo bem.

— Ok. — Respirei fundo, virei a chave e abri a porta para ele entrar. Embora o quarto estivesse limpo, estava desatualizado e era apertado. Muito pequeno para alguém do tamanho de Hunter. — Trarei meu frigobar do saguão para que você possa guardá-lo no canto. A empresa de TV a cabo está programada para vir na terça-feira para ligar a TV. Mas sei que não é muito disso.

Ele passou por mim, inspecionando a cama a caminho do banheiro.

Fiquei nervosamente junto à parede enquanto ele avaliava o espaço. Este quarto não estava nem perto do tipo de quarto que eu queria dar a Hunter, mas era tudo o que tinha.

— Eu gosto, — ele disse depois de sair do banheiro. — Isso me lembra o meu dormitório da faculdade, exceto com seu próprio chuveiro e nenhum companheiro de quarto peidando em cima de mim.

— Isso é horrível. — Eu ri. — Você tem certeza que isso vai funcionar?

Ele assentiu.

— Eu tenho muita certeza.

A tensão que eu mantinha em meus ombros flutuou para longe.

— Então é todo seu pelo tempo que você precisar.

— Obrigado. Agradeço por você me deixar alugar isso.

— Oh, eu não vou deixar você pagar.

Hunter franziu a testa e cruzou os braços sobre o peito.

— Maisy...

Eu levantei a mão para parar seu protesto.

— Não há argumentos sobre isto, Hunter. Por favor? Não posso cobrar por este quarto. Está muito abaixo do padrão que quero definir aqui, então, por favor, não tente me pagar. Por favor? Por favor, por favor, por favor? Estou pedindo aqui. Pagar pelas refeições é importante para você. Isso é importante para mim.

Ele olhou para mim por um longo momento, mas depois deixou cair os braços e franziu a testa.

— Tudo bem.

Ufa. Eu vinha praticando esse discurso a semana toda.

— Obrigada. — Eu estava exausta e realmente devia ir para a cama, mas eu não disse boa noite e fui para casa. Em vez disso, cruzei os dedos atrás das costas. — Eu terei um copo de vinho antes de eu ir para a cama. Você gostaria de se juntar a mim?

— Gostaria disso.

Sim!

Quando me virei, sua mão encontrou as minhas costas. Ficou lá o tempo todo lá fora, de volta pelo saguão e enquanto subiamos as escadas para o meu sótão.

— Cerveja ou vinho? — Eu perguntei.

— Cerveja.

— Ok. Fique à vontade.

Ele foi para o sofá enquanto eu corria para a cozinha. A perspectiva de passar um tempo com Hunter me dera uma nova carga de energia. Eu me juntei a ele na sala de estar, entregando sua cerveja antes de me acomodar no canto do sofá com as pernas esticadas no espaço entre nós.

— Então você se divertiu hoje à noite? — Ele perguntou.

Eu assenti.

— Sim, foi incrível. Foi tipo, o casamento mais bonito que eu já vi. — No minuto em que a frase saiu da minha boca, belisquei minha perna automaticamente.

A picada na minha pele ainda estava ardendo quando Hunter tocou meu tornozelo.

— O que foi isso?

— Hã?

— Maisy, você apenas se beliscou com tanta força que seu corpo inteiro se encolheu.

— Oh. — Minhas bochechas coraram, mas eu acenei para ele. — Não é nada. Apenas um velho hábito.

Os olhos dele se suavizaram.

— Escute, eu sei que sou novo em sua vida, mas gostaria de ficar por aqui até não ser mais tão novo. Parte disso é se conhecer. Compreendo que você se importa por eu não falar muito sobre minha família e vida em Chicago. Sei que não falei nas últimas três semanas, mas acredite em mim quando digo que é temporário. Eu quero lhe dar a mesma atenção, mas você sentada aqui se machucando, isso não está bom para mim. Você precisa me dizer o que está acontecendo. Sou eu? Eu disse alguma coisa?

— O quê? Não! — Eu me sentei direito. — Não, não é você. — Fechei os olhos e admiti a verdade. — Me belisquei porque disse 'tipo'.

— Tipo?

Eu assenti.

— Tipo. Eu disse, ‘Foi, tipo, o casamento mais bonito que eu já vi’. Tipo. Uma garota do vale.

— Oh, — ele disse, agora entendendo. — E como isso leva você à se beliscar?

Eu respirei fundo. Eu não queria entrar no motivo esta noite, mas eu poderia dizer que ele não deixaria isso passar.

— Eu costumava dizer 'tipo' o tempo todo. Eu realmente nunca notei, eu acho. Ninguém jamais me disse que era irritante, até que o pai de Coby disse. Na noite em que ele terminou comigo, ele me acusou de dizer 'tipo' demais. Ele também disse que eu era muito jovem e não estava interessado em me dedicar tempo enquanto eu amadurecia. Tudo isso dito bem na frente dos meus pais e irmãos no dia de Natal. Enfim, levei suas palavras a sério e comecei a me beliscar para parar de dizer ‘tipo’.

Soou louco quando eu disse isso em voz alta.

No primeiro ano após a morte de Everett, minhas coxas estavam cobertas de pequenos hematomas, mas o treinamento havia sido eficaz. Lentamente, eu rompi meu hábito.

— Eu ainda digo 'tipo' de vez em quando. Eu não me importo tanto quanto costumava fazer, mas, infelizmente, o hábito de beliscar é mais arraigado do que dizer 'tipo' já foi.

Estudei meu copo de vinho, envergonhada por ter tido que admitir tudo isso para Hunter.

— Eu pareço louca.

— Não. De modo nenhum. — Sua mão ainda era gentil no meu tornozelo. — Maisy?

Eu forcei meus olhos para cima.

— Diga o que diabos você quiser, especialmente ao meu redor. Mas nunca se belisque assim novamente. Entendido?

Eu assenti.

— Diga, — ele ordenou. — Diga 'eu prometo não me beliscar novamente, Hunter.'

Eu lutei com um sorriso.

— Prometo não me beliscar novamente, Hunter.

— Bom. — Ele largou a cerveja e depois se aproximou. — É tarde e eu sei que você teve um longo dia, mas eu realmente gostaria de saber mais sobre o que aquele idiota fez com você.

Aquele idiota. Bem, ele tinha esse direito.

— Não é uma história divertida.

— Não tenho nada além de tempo para você. Se você quer me dizer hoje à noite, eu gostaria de saber. Se você quiser algum tempo, vou esperar o tempo que precisar.

Examinei minha taça de vinho enquanto considerava minhas opções. Eu podia esperar e contar a Hunter sobre Everett quando nos conhecêssemos melhor. Ou eu poderia dizer a ele agora. Ele estava em Prescott há quase um mês, e quanto mais nos víamos juntos no café ou na cidade, mais as pessoas conversavam, maior o risco que corria de alguém sentir a necessidade de informá-lo do meu passado.

E não queria que ele ouvisse essa história de ninguém além de mim.

— Tudo bem. Vou dar-lhe a versão abreviada. — Sentei-me ereta, colocando minhas pernas debaixo de mim e abrindo espaço para que Hunter pudesse se sentar ainda mais perto.

— O nome do pai de Coby era Everett Carlson. Ele e eu trabalhamos juntos no hospital quando eu era enfermeira. Começamos a namorar e, a princípio, tudo estava ótimo. Em seguida, ele não estava. Nós terminamos, e então eu descobri que estava grávida. Ele me pediu para fazer um aborto porque não tinha interesse em ser pai, mas eu recusei.

A mandíbula de Hunter pulsou quando ele cerrou os dentes.

— Ele decidiu me sequestrar porque eu não faria um aborto. Ele invadiu minha casa e veio atrás de mim com raiva. Tentei revidar, mas ele me nocauteou.

Por mais aterrorizante que tenha sido ter um lunático enlouquecido pela minha porta e me perseguindo pela minha sala de estar, não causou quase nenhum dano emocional como o que aconteceu no hospital. Ainda assim, quando tive a chance de sair daquele lugar e entrar no sótão do hotel, aproveitei a chance.

— Ele sequestrou minha amiga Gigi também e nos levou ao hospital. Soubemos naquela noite que ele era traficante de drogas e psicopata geral.

As mãos de Hunter estavam cerradas nas coxas e os dentes estavam rangendo.

— Calma aí. Você vai lascar um dente. — Minha tentativa de aliviar o clima funcionou.

A mandíbula de Hunter relaxou um pouco quando ele suspirou.

— Ok, continue.

— Quando acordei, ele tentou forçar várias pílulas na minha boca. Gigi lutou com ele, e desde que ele tinha esquecido de me amarrar quando eu estava inconsciente, eu fui capaz de encontrar um bisturi em um dos suportes de armazenamento. Ainda estava em sua embalagem estéril, mas essas coisas são realmente afiadas. Eu o acertei no pescoço e depois fugi. Quando os policiais chegaram, Everett já havia sangrado. Eu o acertei diretamente na carótida.

O silêncio dos próximos momentos foi insuportável. Hunter estava irritado, eu podia sentir as ondas de calor que irradiavam do peito ofegante, mas ele não falou. Eu queria tanto que ele ficasse, mas não o culparia se ele fosse embora. Minha bagagem poderia encher um porta-aviões. Eu não o culparia se ele quisesse encontrar uma mulher que só viajasse com pouca bagagem.

— Maisy. — Meu nome estava cheio de dor e pena . — Sinto muito.

— Você não precisa se desculpar. Eu tenho repetido aquela noite um milhão de vezes. Acho que não havia mais nada que eu pudesse ter feito, mas ainda assim gostaria que tivesse terminado de maneira diferente.

Hunter colocou a mão no meu joelho.

— Você fez o que tinha que fazer.

— É o que eu continuo dizendo a mim mesma, mas não facilita. Isso não faz os medos desaparecerem.

As sobrancelhas dele se franziram.

— Que medos?

— Eu tenho medo do dia em que Coby vai me perguntar sobre o pai, — eu sussurrei. — O que eu vou dizer a ele? A verdade? Que eu matei o pai dele porque a alternativa era uma overdose forçada que provavelmente teria matado a nós dois? — Eu balancei minha cabeça. — Não posso contar a verdade, mas preciso. Esta cidade é pequena demais para guardar segredos.

— Quando chegar a hora, você saberá o que dizer, — disse Hunter gentilmente.

— Eu espero que você esteja certo. — Desde que eu estava empolgada com a minha confissão, continuei. — Você quer saber o que me assusta ainda mais? Que as pessoas vão falar sobre Everett e de alguma forma Coby vai suportar os encargos de um homem que ele nunca conheceu. Eu não serei suficiente para protegê-lo de tudo. Eu não serei uma mãe boa o suficiente.

Minha garganta se fechou e lágrimas picaram meus olhos. Ninguém, nem Gigi, nem meus irmãos, nem minha mãe, sabia como eu estava aterrorizada de cometer grandes erros na vida de Coby. Ninguém sabia o quanto eu estava com medo de que Coby sofresse porque eu escolhi um criminoso para seu pai biológico.

Mas Hunter soube de tudo.

Agora ele sabia exatamente o que estava recebendo, se escolhesse ficar.

Pegando o vinho da minha mão, Hunter o colocou de lado e se aproximou. Com um braço em volta dos meus ombros, ele me puxou para o lado dele.

— Você não pode pensar assim, baby. Se você não consegue ver o quão maravilhosa mãe você é para aquele garotinho, eu lhe direi todos os dias. Você é o suficiente.

Eu me inclinei para trás, piscando a ameaça de lágrimas.

— Você me chamou de ‘baby’.

Em toda a série de frases brilhantes que Hunter acabara de proferir, essa palavra destacava-se como a mais brilhante.

Ele sorriu e me levou mais apertado ao seu lado.

— Sim, eu chamei.

— Eu gostei, — eu sussurrei.

Ele se inclinou para cheirar meu cabelo.

— É bom saber.

Soltei minhas pernas e coloquei minha cabeça em seu ombro. Com a mão dele gentilmente traçando círculos no meu braço, seu cheiro e calor me rodeando completamente, adormeci.

Na manhã seguinte, acordei sozinha. Ainda de vestido, sentei-me e encontrei um bilhete no criado-mudo.

Você é o suficiente.


Capítulo Dez

Maisy


Vou levá-lo de você.

Meus olhos se abriram, mas por outro lado, eu não me mexi. Deitei rigidamente, olhando para a mesa de cabeceira enquanto meu coração batia forte e a ameaça de Everett ecoou em minha mente. A clareza de sua voz me aterrorizou mais do que suas palavras. Era como se ele estivesse bem acima de mim, curvando-se para falar no meu ouvido, em vez de apenas uma invenção imaginária de um sonho.

Fiquei parada por alguns minutos tentando bloquear sua voz, e quando o choque do pesadelo passou lentamente, tirei minhas cobertas e me sentei na beira da minha cama. Fechando os olhos, respirei fundo algumas vezes e listei o silêncio na sala.

Everett está morto.

Eu o matei e ele nunca levará meu filho.

Foi apenas um Sonho.

Quando minha frequência cardíaca voltou ao normal, levantei-me e esfreguei as mãos sobre o rosto.

— Bem... isso era novo, — murmurei para o meu quarto escuro. Entre meus flashes quando eu estava acordada e a voz de Everett agora visitando meu sono, eu realmente estava perdendo a cabeça.

Procurando meu telefone, desconectei-o e verifiquei o horário: 1:46 da manhã.

Não havia como voltar a dormir, não depois daquele sonho, o que significava que eu estaria exausta amanhã.

Abri a tela bloqueada e vi que tinha duas novas notificações no Facebook e um alerta de chamada perdida desconhecida há três horas. Eu fiz uma careta e limpei o ponto vermelho no meu aplicativo de telefone.

Eu recebia as ligações de desconhecido pelo menos uma vez por dia desde a primeira ligação e me tornara especialista em recusar ligações antes que elas tocassem mais de uma vez.

Tanto faz. Esta repórter poderia ligar tanto quanto ela quisesse, porque eu não cederia.

Ligando o telefone, fui ao meu armário pegar um suéter para vestir sobre o tope de dormir. Depois fui para a cozinha, acendendo as luzes enquanto fazia um café. Com uma caneca fumegante na mão, fiquei na sala e avaliei meu sótão.

Noites sem dormir significavam reforma, mas, com meus projetos de hotel concluídos, eu poderia finalmente começar em minha própria casa. As ideias que eu vinha desenhando e sonhando por anos estavam voltando à vida.

E o quarto de Coby estava em primeiro lugar.

Mamãe e papai pediram uma festa do pijama para o neto depois do jantar de quarta-feira à noite, então Coby estava na casa deles hoje à noite. Fazia duas semanas desde o casamento Beau e Sabrina e agora que a loucura acabou, eles queriam algum tempo de qualidade com Coby. Picles também estava lá para poder começar o treinamento de filhote com papai logo pela manhã.

Com o sótão para mim e um pouco de agitação, eu poderia ter o quarto de Coby coberto e o teto pintado antes de precisar trabalhar. Então, amanhã, eu poderia conciliar um pouco minha agenda para pintar as paredes enquanto ele estava na creche.

Ele ficaria tão animado. Eu mal podia esperar para ver o rosto de Coby quando ele voltasse para as paredes azuis, e só de pensar em seu sorriso me fez sorrir também.

O quarto de Coby ia ter um tema de carro antigo. Como papai adorava arte antiga, ele também virou Coby para eles. Meu filho não queria nada além de ser como os avós e os dois vinham colecionando velhas placas ultimamente. Eu as estava escondendo no meu armário para pendurar nas paredes como decoração. Aqueles, junto com a cama preta que Beau ia construir para Coby, tornariam este lugar o pequeno santuário do meu filho. Ele tinha degraus no lugar de uma escada para a cama e um espaço de brincar embaixo da cama com prateleiras para seus livros e brinquedos.

Seria incrível, e a perspectiva de mergulhar me deu energia renovada. Quem precisava dormir? Não essa garota. Ela estava indo pintar.

Pegando mais café, coloquei minha xícara e desci para o meu escritório em busca de suprimentos. Como Hunter estava no quarto de empregada, meu escritório agora se tornara meu armário de suprimentos para reformas.

Com panos, rolos e tinta do teto na mão, levei tudo para o andar de cima. Então voltei para a minha escada. A cama e cômoda de Coby foram empurradas para o meio do quarto. Suas cestas de brinquedos e a cadeira do saco de feijão estavam jogadas no topo da pilha. Então cobri a pilha com plástico.

Voltei para a cozinha e engoli alguns grandes goles do meu café frio antes de sustentar a porta externa e abrir todas as janelas. Tirando minha blusa, voltei para o quarto de Coby e enchi minha bandeja de tinta. Coloquei a escada o mais próxima possível do meio da sala e subi. Equilibrando a bandeja de tinta em uma mão e meu rolo revestido na outra, deixo o movimento para frente e para trás aliviar minhas tensões.

A pintura se tornara meu mecanismo de enfrentamento favorito.

Eu me empenhei tanto em consertar esse prédio que me permitiu enterrar meus problemas. Como eu ia lidar com os flashes, sonhos estranhos e noites sem dormir quando meus projetos de reforma estivessem concluídos? Depois que o sótão fosse remodelado, eu ficaria sem espaço na parede para pintar.

Eu precisava encontrar uma nova distração.

Talvez eu comece a ler. Todas as minhas amigas eram leitores ávidas, Sabrina era até uma autora, mas eu nunca tive paixão por esse passatempo. A ideia era atraente embora. Eu poderia escapar de Everett desaparecendo em um livro.

Eu estaria disposta a tentar, mas felizmente agora, eu ainda tinha minha pintura.

Revesti meu rolo novamente e subi outro degrau na escada para que eu pudesse me esticar e atingir o espaço acima da cama de Coby. Fui estendida até o ponto de virada quando uma voz profunda encheu o quarto.

— O que você está fazendo? — Hunter perguntou.

— Ahh! — Eu gritei quando meus músculos estremeceram violentamente. O movimento repentino fez minha escada balançar sobre duas pernas e uma ponta para o lado, me fazendo bater para trás com a bandeja de tinta e o rolo ainda na mão. Mas antes que eu pudesse cair no chão, Hunter me pegou na cintura.

Ele também pegou o rolo.

Minha bandeja voou, inclinando-se em câmera lenta quando se virou e nos revestiu de branco pegajoso.

— Caralho, — Hunter amaldiçoou quando ele me firmou.

Meu coração ainda disparado, eu me virei e apontei o rolo em sua direção, enviando respingos de tinta por toda parte.

— Você me assustou! Novamente! O que você está fazendo aqui?

Os olhos dele se estreitaram.

— Estou aqui em cima, certificando-me de que você está bem. Ouvi um monte de barulho do meu quarto. Lembra? Aquele ali embaixo? — Ele apontou para o chão. — Então eu vim aqui e encontrei sua porta aberta. Que diabos? Qualquer um poderia ter vindo aqui. Você mantém essa merda bloqueada durante a noite, Maisy. Eu não dou a mínima se você está pintando. A porta fica fechada!

— Oh, não, você não ! Você não começa a ficar com raiva de mim. Isso é tudo sobre você. — Eu usei meu rolo para mostrar descontroladamente o desastre que era a nossa bagunça. — Pare. De. Me. Assustar!

Nós olhamos um para o outro enquanto nossos peitos inchavam para cima e para baixo. Lentamente, a carranca no rosto bonito de Hunter transformou-se em um sorriso. O branco de seus dentes combinava com a tinta em todo o peito. Eu ainda estava olhando furiosamente para ele quando ele olhou para a camisa rasgada, balançou a cabeça e depois riu.

A risada irrestrita de Hunter em sua voz suave e de tenor causou arrepios na minha pele. Seu pombo de adão era mais pronunciado quando ele ria. E sexy. Malditamente sexy. Eu estava tão obcecada em colocar minha língua naquele solavanco como sempre.

Eu não conseguia segurar meu olhar com seu lindo sorriso tão perto. Risos borbulharam no meu peito e, em segundos, eu estava rindo histericamente também. O som da nossa risada combinada encheu meu sótão, ecoando nas paredes do minúsculo quarto de Coby.

Eu estava rindo tanto que o rolo escorregou da minha mão e bateu nos dedos dos pés, apenas me fazendo rir mais. Pela primeira vez em meses, eu ri como se não tivesse uma preocupação no mundo, assim como Coby fazia quando eu fazia cócegas nele.

Eu ri como uma mulher feliz.

Uma mulher feliz coberta de tinta.

Finalmente me controlando, enxuguei as lágrimas dos cantos dos meus olhos.

— O objetivo da sua vida é me assustar até a morte?

— Não. — Ele usou o polegar para limpar uma gota de tinta da minha bochecha. — O objetivo da minha vida é manter esse sorriso em seu rosto.

Abri minha boca, mas a fechei antes de falar.

Céus acima.

Ele nem tinha me beijado ainda, mas eu estava totalmente apaixonada por esse homem. Eu estava apaixonada pelo jeito que ele me fazia sentir preciosa. Em como ele via o melhor de mim, especialmente quando eu não via por mim mesma. Pelo quão linda eu me sentia quando ele estava por perto, mesmo despenteada, em pijamas velhos enrugados e tinta.

— Você está corando, Loirinha, — ele sussurrou e se aproximou.

Minha respiração engatou e o rubor nas minhas bochechas ficou mais quente. Meu queixo se inclinou para que eu pudesse segurar seus olhos. O marrom estava mais escuro hoje à noite, não o caramelo normal, mas mais como chocolate ao leite. Mesmo na penumbra, eu podia ver as manchas de canela perto de seus centros.

— Você está determinada a terminar esta pintura hoje à noite? — Ele perguntou.

— Eu não, hum.. Hã?

Sua mão apareceu e colocou uma mecha de cabelo atrás da minha orelha.

— Eu realmente quero te beijar, mas vai demorar um pouco. Se você está decidida a pintar, então faremos isso.

Engoli em seco.

— Beijo.

No segundo em que a palavra saiu da minha boca, a dele me beijou. O calor suave de seus lábios derreteu os meus para que sua língua pudesse varrer por dentro. Os braços de Hunter envolveram minhas costas, me puxando com força e a tinta em nossas roupas nos colou. Segurando o material de sua camiseta nas costas, segurei enquanto ele saqueava minha boca.

Sua língua trabalhou tão suavemente contra a minha, acariciando e explorando, que quando ele mordeu meu lábio inferior, eu ofeguei. Hunter sorriu contra os meus lábios, depois fez de novo, desta vez enviando um pulso direto para o meu centro. Nós nos beijamos pelo que pareceram horas, permanecendo presos juntos, até que a tinta nos meus dedos começou a rachar. Quando finalmente nos separamos, meus lábios estavam maravilhosamente inchados e eu estava desesperada para encher meus pulmões de ar.

— Hunter, — eu gemi em uma inspiração quando seus beijos percorreram minha bochecha e chegaram ao meu ouvido.

— O que você quer, Maisy? — Sua pergunta era rouca e áspera, a vibração apenas tornando a dor no meu núcleo ainda mais forte.

— Você. Eu quero você. — Deixei a camisa cair nas minhas mãos e segui minhas mãos até sua bunda firme, apertando-a com força.

Ele rosnou no meu ouvido, pressionando sua ereção no meu quadril, depois mordeu o ponto sensível atrás da articulação da minha mandíbula. A picada fez o latejar entre as minhas pernas quase insuportável.

Minhas mãos deixaram sua bunda e chegaram à bainha do meu top pegajoso. Inclinei-me para puxá-lo pelo meu tronco, mas as mãos de Hunter pousaram nas minhas.

— Deixe-me.

Larguei a peça pegajosa e o deixei pegar a bainha.Com um puxão rápido, eu estava nua da cintura para cima. Meus mamilos já estavam duros como pedras pelo nosso beijo, mas o ar fresco que entrava pelas janelas os fez formigar. As mãos grandes de Hunter seguraram meus seios, apertando as curvas pequenas e macias enquanto ele passava os polegares pelos meus mamilos.

— Feche os olhos, — ele ordenou.

Eu obedeci, estremecendo enquanto ele focava nos meus seios. Com cada aperto, cada puxão, cada rolagem, a pulsação no meu núcleo se intensificava até eu ficar tonta. Quando uma das mãos dele correu pelo meu estômago até a cintura da minha bermuda, eu sabia que ele me encontraria molhada.

Seus dedos deslizaram entre as minhas dobras, circulando minha entrada e trazendo a umidade até meu clitóris. Quando ele deu ao meu amigo dois movimentos, eu quase desmaiei. O outro braço de Hunter abandonou meu peito e enrolou nas minhas costas, me segurando enquanto seu longo e talentoso dedo médio continuava entrando e saindo.

Minha cabeça caiu para trás, meu pescoço mole, quando sua boca se fechou sobre meu mamilo.

— Hunter, — eu ofeguei. Seus dentes morderam, então chuparam com força e minha boceta apertou uma vez em torno de seu dedo. Senti o sorriso dele na minha pele antes que ele deslizasse dois dedos para dentro e os enganchasse no lugar certo.

— Meu Deus. — Minhas pernas cederam completamente e sua boca se separou do meu mamilo para que ele pudesse ficar alto e me impedir de cair no plástico coberto de tinta.

— Eu tenho você, baby.

Forcei meus olhos a abrirem e encontrei meus pés.

— Cama. Vamos para a minha cama.

Ele assentiu, e quando seus dedos escaparam de mim, eu chiei. Um sorriso se espalhou pelo rosto de Hunter antes que ele desse um passo para trás. Chegando atrás do pescoço, ele puxou a camisa por cima da cabeça e a deixou cair no chão.

Ao ver seu peito nu, minha boca se abriu.

Roupas não faziam justiça a seu corpo. Nem mesmo perto. Seus ombros largos estavam envoltos em músculos sarados. Os abdominais e os quadris estreitos formavam aquele V. perfeito. O estômago tipo tábua de lavar era tão definido que eu podia passar o rolo de pintura por cima e perder todos os sulcos que separavam os quadrados.

— Seus pés estão encharcados, — ele disse.

— O quê? — Pisquei, quebrando o contato visual com o peito de Hunter para olhar para baixo. Tinta branca estava se acumulando entre os dedos dos meus pés do rolo que eu tinha deixado cair antes.

Antes que eu pudesse me curvar para limpá-los, Hunter caiu de joelhos. Usando sua própria camiseta cinza, ele cuidadosamente limpou meus pés. Quando eles não estavam mais revestidos, apenas levemente manchados de branco, ele olhou para cima.

Eu era um caso perdido.

Aqueles olhos. Aquele olhar suave e amoroso por trás dos cinzas escuros .Eu estava totalmente louca por esse homem.

Minhas mãos pegaram o rosto dele. As pontas dos meus dedos vasculharam sua barba curta. Minhas mãos percorreram suas bochechas, então seus cabelos. Com um puxão terno, tirei a liga elástica e sorri quando suas mechas onduladas caíram sobre seus ombros. Enfiando meus dedos perto de seu couro cabeludo, penteei suas madeixas suaves, puxando com força o suficiente para que seus olhos brilhassem.

Eu só passei a mão pelo cabelo dele uma vez antes de Hunter se levantar, plantando o ombro na minha barriga e me jogando sobre o ombro.

— Hunter! — Eu ri quando ele me carregou pelo corredor até o meu quarto. Com um lance, eu estava de costas no centro dos meus lençóis espalhados. Empurrei meus cotovelos quando Hunter tirou sua calça jeans, então a cueca branca.

Entrando na cama de joelhos, ele plantou uma mão no meu esterno e me empurrou para trás. Suas mãos vieram direto para o meu short, arrastando-os pelas minhas pernas e jogando-os no chão. Traçando a pele nas minhas panturrilhas, ele arrastou suas mãos gentis até minhas coxas.

Ele estava me torturando. Esfregar para cima e para baixo, para frente e para trás na parte interna das minhas pernas, mas nunca chegando perto do meu núcleo latejante. Na quinta passagem, comecei a me contorcer na cama.

— Hunter. Mais.

Suas mãos congelaram, seus olhos se fixaram nos meus quando ele agarrou meus joelhos e os afastou. Eu quase me desfiz. Ele me espalhou, abrindo espaço para seus quadris, e lentamente desceu por cima.

— Olhos em mim, baby.

Eu balancei a cabeça quando minha respiração entrou em trechos erráticos.

— Assista-nos juntos. — Seus quadris pressionaram na minha boceta e ele moeu sua ereção direto no meu clitóris, fazendo meus quadris dobrarem.

— Preservativo? — Ele perguntou.

Meu coração afundou quando o ar saiu dos meus pulmões. Eu não tinha camisinha.

Espera. Sim eu tinha!

Eu encontrei uma caixa de preservativos fechada em um quarto de hóspedes no ano passado e as escondi na minha mesa de cabeceira. Eu os mantive, desejando pensar que um dos meus encontros às cegas aconteceria e eu precisaria delas.

Graças a Deus. Se esse hóspede voltasse, ele conseguiria um desconto no quarto.

— Há uma caixa na minha gaveta, — eu respirei, sorrindo para o rosto bonito de Hunter.

Ele sorriu de volta antes de se inclinar e vasculhar a mesa de cabeceira, rasgando a caixa. Usando os dentes, ele rasgou o pacote de papel alumínio e enrolou a camisinha antes de voltar para cima de mim.

O sorriso de Hunter ficou maior quando ele alcançou entre nós. Com seu pau grosso em punho, ele trabalhou para cima e para baixo na minha boceta. Um arrepio percorreu minha espinha a cada golpe. Minhas pálpebras estavam pesadas, mas lutei para mantê-las abertas para que eu pudesse nos assistir juntos, como ele havia instruído.

— Eu vou te foder agora, baby. Vou te foder e você vai dizer meu nome quando gozar. — As palavras sujas de Hunter fizeram minha boceta apertar novamente. — Pronta?

Eu balancei a cabeça e fiquei tensa, esperando ele entrar. Eu nunca gostei dessa parte, o primeiro impulso do homem. Sempre ficaria melhor, mas não até que o doloroso alongamento no início se dissipasse.

Nossos olhos estavam trancados e sua mão ainda estava trabalhando seu pênis entre nós, mas ele não estava entrando. Por que estava demorando tanto? Eu levantei meu quadril, esperando que ele o movesse, mas ele afastou seus quadris dos meus.

— Respire fundo, Maisy.

Eu entrei e saí com um rápido suspiro.

Os olhos dele se estreitaram.

— Respire fundo desta vez.

Obedeci novamente, enchendo meus pulmões tão completamente que meu peito subiu e roçou o dele.

— O que há de errado? — Ele perguntou quando eu exalei. — Você quer parar?

Eu balancei minha cabeça.

— Não. Apenas, hum, dói no começo.

Seus olhos suavizaram quando seus lábios caíram para mim.

— Não desta vez.

Então ele me beijou, lento e molhado. Sua língua trabalhou tão suavemente contra a minha, fechei os olhos e apenas o deixei assumir. Tão perdida em seu beijo, eu não tive a chance de ficar tensa ou me preparar antes que seu pau deslizasse lentamente para dentro, me enchendo completamente. O alongamento ainda estava lá, mas não doeu. Foi... incrível.

— Porra, você se sente bem, — Hunter gemeu, se separando dos meus lábios para pairar acima de mim.

Eu cantarolei meu acordo e mantive meus olhos fixos nos dele enquanto ele se movia. Ele puxou seu pau, deixando apenas a ponta para dentro, depois empurrou de volta com um golpe lento. Ele fez isso mais três vezes antes que ele fez exatamente o que ele havia prometido. Ele me fodeu até que todos os meus músculos tremiam e seu nome era a única coisa em minha mente.

Meu orgasmo cresceu rápido e logo antes de eu gozar, as investidas de Hunter ficaram mais fortes.

— Eu estou... — Eu não consegui terminar minha frase, o acúmulo era muito poderoso.

— Meu nome. Você diz meu nome, baby.

Ele nem precisava pedir. Quando meu clímax se rompeu, eu gritei seu nome quando meu pescoço se arqueou no travesseiro. Segurando o lençol, peguei meu orgasmo pulsante quando ele me atingiu onda após onda de calor.

— Você é tão fodidamente linda, — ele gritou quando seus golpes ficaram ainda mais rápidos.

Após o orgasmo mais longo e mais intenso da minha vida, eu abri meus olhos e encontrei os de Hunter, querendo ver como ele era quando gozava. Quando suas pernas começaram a tremer e os músculos do pescoço se apertaram, eu me recusei a piscar. Minhas mãos deslizaram por seus braços apoiados nos meus lados, mergulhando nos contornos enquanto eles viajavam e depois para os cabelos dele. Coloquei-os de volta com um punho fechado, para que não atrapalhasse minha visão.

E que vista.

Quando puxei seu cabelo, a mandíbula de Hunter se fechou e ele gozou com um gemido rico do fundo de seu peito. Foi magnífico. Plantando-se profundamente, Hunter caiu no meu peito. Então ele deslizou as mãos sob as minhas costas e me segurou firme. Minhas mãos se desembaraçaram de seus cabelos e traçaram padrões em suas costas.

Céus acima. Isso acabou de acontecer? Eu olhei para o meu teto, até que a realização finalmente se fez presente. Hunter e eu tínhamos acabado de fazer sexo incrível.

Como eu tive tanta sorte que esse homem entrou no meu hotel?

Eu não tinha uma resposta, mas fiquei agradecida de qualquer maneira.

Com o cabelo de Hunter solto, ele envolveu nossos rostos enquanto relaxávamos. O cheiro era tão limpo e familiar que eu respirei fundo algumas vezes tentando senti-lo. Não era o shampoo e condicionador que deixava nos quartos. Eu sabia pela limpeza que ele estava usando aqueles quando estava no quarto oito. Não, isso era diferente. Era um cheiro que eu lembrava dos meus tempos de colegial.

— Essências de ervas?

Hunter riu e se levantou.

— Eu lhe dou um orgasmo incrível e a primeira coisa que você pergunta é a minha marca de xampu?

Eu sorri.

— Estou certa, não estou?

Ele respondeu com uma piscadela.

Então ele me beijou suave e docemente com pinceladas leves de seus lábios. Deslizando para fora, ele ficou em toda a sua glória nu e estendeu a mão para me ajudar a sair da cama.

— Vamos. — Puxando-me para trás dele com os dedos presos, fomos ao meu banheiro para tomar banho com sexo e a tinta. Quando estávamos limpos, voltamos ao meu quarto para pegar roupas.

— Você precisa pintar ou quer tentar dormir um pouco? — Hunter perguntou, vestindo sua cueca.

Dormir. Exceto que eu não poderia deixar o quarto de Coby como estava.

— Eu preciso pintar.

De pé no meu armário, de costas para ele, vesti uma calcinha limpa e uma blusa velha. Então, nervosa de encará-lo, falei com minhas roupas penduradas.

— Não, hum, sinta que precisa continuar. É tarde e tenho certeza que você está cansado. Eu posso lidar com a pintura sozinha e tenho certeza que você quer dormir na sua própria cama.

Prendi a respiração, esperando por sua resposta. Eu queria desesperadamente que ele ficasse, para provar que ele não era como o fotógrafo que me fodeu, depois fugiu, mas se Hunter quisesse sair, eu não ficaria chateada. Afinal, era tarde.

Eu não vou ficar chateada.

Seus passos vieram no meu caminho e então ele me envolveu em seus braços.

— Eu sei que acabamos de começar, mas estou em casa, Maisy. Estou falando sério sobre você. E sério significa que estou ajudando você a pintar o teto do seu filho. Isso significa que, quando terminarmos, vamos dormir juntos na sua cama. E sério também significa que, em algum momento, quero que você se sinta à vontade me apresentando a Coby como o homem que dorme em sua cama todas as noites.

Por sorte. Eu era uma garota de sorte.

— Eu também estou dentro.

— Bom. — Ele me abraçou com mais força e pressionou os lábios no meu pescoço.

Então ele me soltou e pintamos o teto de Coby com ele de cueca.


Capítulo Onze

Maisy


— Pare! — Eu gritei, lutando para me libertar das garras de Hunter.

Eu estava a trinta segundos de fazer xixi nas calças.

Ele estava sentado em cima dos meus quadris e suas mãos tinham meus pulsos presos acima da minha cabeça enquanto Coby estava implacavelmente fazendo cócegas nas minhas costelas.

— Pegue-a, Coby! — Hunter gritou com meus gritos de riso.

Os dedos do meu filho cavaram com mais força, depois viajaram até minhas axilas.

— Não! — Eu gritei e torci, tentando escapar, mas minha luta foi inútil. Hunter era muito grande e eu ria tanto que mal conseguia romper. Lágrimas escorriam pelas minhas têmporas e pelos meus cabelos. Os cantos da minha mandíbula estavam doendo e todos os músculos do meu núcleo estavam flexionados.

— Ok! Ok. Pare! Oh meu Deus, pare. — Minha bexiga estava prestes a ceder.

Coby teve pena de mim e parou de fazer cócegas, mas Hunter não me deixou sair.

— Quem come os dois últimos biscoitos?

— VocêS, — eu ofeguei. — Vocês pegam os dois últimos biscoitos. Desisto.

Hunter estava fora de mim rapidamente, levantando-se e levantando os braços triunfantemente no ar.

— Nós vencemos! — Então ele se inclinou para bater a palma da mão na palma de Coby. — Bom trabalho, amigo.

Coby bateu na mão de Hunter e começou a cantar:

— Mamãe é a perdedora. Mamãe é a perdedora, — e dançou ao meu redor ainda deitada no chão.

— Sim, sim, — eu murmurei, enxugando os olhos. — Vocês ganharam. Novamente.

Fazia duas semanas desde que Hunter e eu começamos a dormir juntos, e naquele tempo, ele e Coby se uniram ainda mais. A nova coisa favorita deles era se juntar contra mim. Tudo era votado nos dias de hoje. Jogos. Filmes. Até mesmo o menu de jantar. Eu me tornei uma perdedora perpétua, voto vencido 2 a 1 a cada momento. Sempre que eu tentasse e resistisse, eu seria torturada com cócegas até cair.

— Isso não é justo, — eu disse a Hunter, fingindo um beicinho.

Ele deu de ombros e sorriu para mim ainda no chão.

— Meninos dominam, meninas babam.

— Meu Deus. — Revirei os olhos quando Coby começou a cantar isso.

Eu sorri, realmente não me importando que eu fosse constantemente derrotada se isso aproximasse Hunter e Coby. Além disso, eu estava me divertindo também. Eu ri às lágrimas mais vezes em duas semanas do que em todos os meus vinte e nove anos juntos.

Com seu sorriso de vitória no lugar, Hunter estendeu a mão para me ajudar a sair do chão da sala.

— Obrigada. — Eu alisei meu cabelo, me livrando da estática do tapete e depois endireitei minha camisa de cambraia. Quando Hunter não estava olhando, eu rapidamente tirei minha calcinha e bermuda cáqui da minha bunda.

— Tudo bem, — eu disse. — Isso foi divertido e tudo, mas tenho que ir. Coby, você vai ser um bom garoto para Hunter, certo?

— Sim!

— Ele sempre é. — Hunter bagunçou os cabelos de Coby. — Nós ficaremos bem.

— Você tem certeza de que não se importa de trazê-lo para o rodeio? Eu sempre posso levá-lo comigo. Ele pode simplesmente sair no estande da mamãe e...

Hunter desceu e me cortou, roçando seus lábios nos meus com um beijo casto.

— Vá. Nos vemos em algumas horas.

Suspirei.

— Tudo bem.

Correndo para o meu quarto, vesti meus tênis azuis claros e coloquei alguns brincos de argola de prata. Depois de apertar meu colar favorito, uma corrente de prata simples com as iniciais de Coby gravadas em um disco de prata, voltei para a sala de estar.

Parei no corredor ao vê-lo no sofá.

Hunter estava no meio da seção, o controle remoto da TV em uma mão enquanto ele percorria os canais de desenhos animados. Seu outro braço estava em volta de Coby, mantendo-o dobrado ao seu lado. Meu filho estava sorrindo e balançando os pés descalços enquanto descansavam na coxa coberta de jeans de Hunter.

Onde está o meu telefone? Essa era uma imagem que vale a pena salvar.

Eu sorri e segui em frente, contornando o sofá para me sentar ao lado de Coby.

— Ei, amigo. — Eu dei um tapinha na perna de Coby para que ele desviasse os olhos da TV quando Hunter bateu no mudo. — Precisamos ter uma conversa rápida antes de eu ir. Você se lembra de algumas semanas atrás, quando eu lhe disse que Hunter seria meu namorado?

Coby assentiu.

— Porque ele lhe dá abraços, beijos e esquimós.

— Está certo. — Inclinei-me para esfregar o nariz. — Eu estava pensando que poderia ser divertido para Hunter começar a ter um pijama especial para dormir. Dessa forma, ele poderia tomar café da manhã conosco. O que você acha?

Meus olhos dispararam para o rosto surpreso de Hunter quando Coby começou a gritar.

— Sim! Ele pode dormir no meu quarto! — Coby saltou para o colo de Hunter. — Você pode dormir comigo!

— Sua cama é meio pequena, amigo, — disse Hunter. — Talvez sua mãe me deixe dormir na dela? É muito maior.

Coby olhou para ele por um segundo, considerando sua sugestão, e depois olhou de volta para mim.

— Ele pode ficar na sua cama, mamãe?

— Minha cama? Hmm. Eu acho que seria ótimo. Boa ideia. — Eu fiz cócegas no lado de Coby, fazendo-o cair no peito de Hunter enquanto ele ria.

— Você tem certeza? — Hunter colocou a boca sobre a cabeça.

Eu assenti.

— Eu tenho certeza.

Passamos quase todas as noites juntos nas últimas duas semanas, mas eu estava cansada de arrastá-lo pela porta ao amanhecer. Ele foi paciente, entendendo que eu não estava pronta para apresentar as noites de pijama a Coby ainda, mas chegou a hora.

Teríamos uma festa do pijama hoje à noite depois de tornarmos nosso relacionamento público.

Hunter e eu estávamos gostando da intimidade e privacidade de nosso novo relacionamento. Estávamos nos conhecendo no conforto da minha casa, evitando o café e outros restaurantes em favor de refeições caseiras na minha mesinha. Em vez de procurar entretenimento no centro, estávamos satisfeitos em passar as noites lá dentro, brincando com Coby e assistindo a programas infantis. E depois que Coby dormia profundamente, Hunter e eu passávamos nossas horas noturnas fazendo um ao outro gozar até que ambos desmaiamos, completamente exaustos.

Ninguém sabia que eu estava vendo Hunter, exceto mamãe, que eu implorei para ficar quieta, e nas últimas duas semanas, ela provou que milagres acontecem. Marissa Holt mantinha um segredo de boca fechada pela primeira vez. Tanto quanto eu sabia, o único outro membro da família que sabia sobre Hunter era o papai.

O segredo funcionou para nós, mas agora era hora de seguir em frente.

Hunter e eu estávamos fazendo nosso primeiro passeio público “oficial” como um casal no rodeio anual do condado de junho.

Eu estava nervosa. Muito nervosa.

Saber que poderíamos voltar para uma festa do pijama me daria algo pelo que esperar se a noite fosse uma porcaria.

— Devemos comer panquecas de manhã? — Eu perguntei a Coby.

— Com lascas de chocolate?

— Dã. E orelhas de Mickey Mouse. — Ele sorriu e eu me inclinei para beijar sua bochecha. Então me levantei do sofá e olhei para o relógio de parede ao lado da mesa da sala de jantar. 'Eu ainda tenho alguns minutos antes que eu preciso sair. Vou levar Picles para um passeio.

— Nós podemos fazer isso, — disse Hunter.

— Está tudo bem. Não vai demorar mais do que alguns minutos. Vocês podem voltar para seus desenhos animados.

Ele sorriu para mim antes de colocar Coby de volta ao seu lado e iniciar a TV.

Peguei Picles de seu lugar na cozinha, onde ele estava roendo um osso de couro cru.

— Vamos lá, cachorrinho.

Levando-o escada abaixo, eu o soltei na grama sem a trela. Sua formação com o papai estava indo tão bem agora que ele estava obedecendo “senta”, “ficar” e “vem”, então eu não tenho que mantê-lo na coleira em todos os momentos para evitar que ele fuja.

Eu o segui lentamente enquanto ele deixava o nariz levá-lo ao local perfeito para fazer xixi. Quando ele selecionou o local, ele levantou a perna e fez seus negócios, depois correu à frente para marcar mais grama.

— Venha, Picles, — eu o chamei quando ele terminou. Ele saltou e eu o peguei novamente para voltar para dentro.

— Olá! — a voz de uma mulher chamou quando eu subi as escadas.

Virei-me e vi uma das minhas hóspedes e o marido andando pela calçada, prontos para atravessar a estrada e seguir para a Main Street.

— Oi! — Acenei. — Como você está? Como está tudo bem no seu quarto?

— Nós estamos ótimos e o quarto é tão adorável. Estamos indo para o centro da cidade para explorar.

— Que bom! Aproveite a tarde ensolarada. Se você quiser se divertir mais tarde, verifique o rodeio do condado. Está fora do recinto de feiras. Apontei a estrada na direção oposta à da cidade e segui as direções.

Os dois assentiram ansiosamente, empolgados em conferir algo “ocidental” e depois continuaram em direção à Main Street.

E eu subi as escadas com um sorriso.

Esta época do ano era agitada. As reservas eram feitas o mais próximo possível, e em um determinado dia eu tinha pelo menos sete quartos para entregar. Mas as interações com meus hospedes felizes fizeram tudo valer a pena. Eu adorava fazer parte das férias em família, parte de viagens na lista de desejos. Eu adorava ajudar as pessoas a se familiarizarem com minha cidade natal.

Pegando Picles de volta com seu osso, eu recolhi minhas coisas da cozinha. Com a bolsa pendurada no ombro e uma enorme caixa de brownies de chocolate triplo na mão, voltei à sala de estar.

— Tudo bem. É melhor eu ir.

Hunter inclinou a cabeça para trás.

— Tchau, querida. Vou mandar uma mensagem quando chegarmos lá.

— Ok. — Eu escovei meus lábios nos dele. — As chaves do meu carro estão no balcão.

— Entendi.

— Tchau, amigo. Seja bom. — Toquei o cabelo de Coby e tive uma despedida:

— Tchau, mamãe.

Fui até a porta e peguei as chaves da picape de Hunter da mesa da sala de jantar. No momento em que minha mão tocou o aglomerado de metal, seu telefone, também no meio da mesa, se iluminou com uma notificação de texto. Um texto que meus olhos leram sem permissão.


Nell: O que acontece depois é sua culpa.


Eu pisquei, sem saber o que estava lendo. Então a tela ficou preta.

Nell? Quem era Nell? E por que ela estava ameaçando Hunter?

Eu retornei de volta para o sofá para perguntar, mas fechei minha boca antes que as palavras saíssem. Eu tinha acabado de invadir a privacidade de Hunter, olhando para o telefone, e tanto quanto eu queria saber sobre Nell, eu não poderia fazer a perguntar.

Hunter estava mais privado do que nunca sobre seu passado. Durante esse último mês, fui paciente, esperando que ele se abrisse sobre sua família e vida em Chicago, mas não descobri muito porque passávamos tão pouco tempo conversando.

Passamos nossas noites entretendo Coby e meu filho não se importava com a educação, a carreira ou a árvore genealógica de Hunter. E depois de Coby cair no sono, eu não tinha me importado tanto. Eu estava muito mais preocupada em deixar Hunter nu do que em conversas profundas e sinceras sobre seu trabalho ou educação infantil.

Quem era Nell e por que ela estava ameaçando Hunter?

Eu era a namorada dele, mas não tinha uma única pista.

— Maisy, você vai se atrasar.

— Hã? — Eu saí do meu estupor e foquei em Hunter. — Ah, certo. Tchau.

Saí pela porta e contornei o escritório, atordoada. Subindo na caminhonete de Hunter e ajustando o assento, entrei na estrada e fui em direção ao recinto de feiras, ainda na neblina.

Minha mente estava presa nesse texto.

Nell era uma ex-namorada? Talvez uma colega de trabalho de Chicago? Deus, Nell poderia ser uma ex-esposa? A ideia de outra mulher dizendo votos para Hunter fez meu estômago revirar.

O texto e a misteriosa Nell eram incômodos, mas não tanto quanto o fato de eu me colocar nessa posição. Eu iria apresentar Hunter aos meus amigos e familiares hoje à noite, eu o traria completamente para a minha vida, e eu mal o conhecia.

Merda. Eu nem sabia o que ele fazia da vida.

Eu perguntava:

— Como foi o seu dia?

Ele dizia:

— Bom. Como foi o seu?

Eu perguntava:

— Aconteceu alguma coisa emocionante no trabalho hoje?

Ele dizia:

— Não. Foi lento. O que aconteceu aqui?

E era isso.

Conversamos sobre mim, o hotel e Coby. Ele sempre priorizava minha vida e minhas atividades.

Isso era estranho? Que eu não soubesse em que ele trabalhava? Sim. Mas não tinha me incomodou até hoje. Eu estava aprendendo outras coisas sobre Hunter que pareciam... mais importante. Eu aprendi que ele fazia as vozes quando lia histórias para Coby. Eu aprendi que ele era alérgico a mariscos. Eu aprendi que ele nunca passou um dia sem me dizer que eu era especial.

Mas hoje à noite, as coisas estavam mudando.

Hunter prometeu que ele estava dentro. Ele havia prometido que estávamos sérios. Por isso, era seriamente hora de ele começar a compartilhar mais.

Meu limite de tempo para as perguntas curiosas tinha acabado.

Eu estava tão distraída pensando em todas as coisas que eu queria perguntar que, quando meu telefone tocou, eu nem reconheci o nome antes de pressionar Aceitar e pressioná-lo no meu ouvido.

— Obrigado por ligar para o Bitterroot Inn. Aqui é Maisy, como posso ajudá-la hoje?

— Você pode começar me dizendo como matou Everett Carlson.

Minha mão apertou o volante com as juntas brancas.

A repórter.

— Sem comentários, — eu disse com os dentes cerrados, depois apertei desligar.

A raiva substituiu a ansiedade e empurrei meu telefone de volta na bolsa antes de bater com o pé no acelerador. Quebrar o limite de velocidade não ajudava e eu ainda estava chateada quando parei no estacionamento.

Eu atravessei o parque de estacionamento para a arena. Ainda era cedo, o rodeo não iria começar por mais duas horas, mas todos os competidores estavam aqui cuidando de seus cavalos. Passando pelo lote de participantes cheio de trailers e caminhões grandes, atravessei a entrada em arco do recinto de feiras.

Estandes de metal erguiam-se acima de mim e eu podia ver trechos da ampla arena de terra do outro lado. Debaixo das arquibancadas, havia filas de estandes e uma cervejaria no final da fileira.

Não perdi tempo indo direto para minha mãe.

— O que há de errado? — Ela perguntou enquanto eu jogava minha bolsa e brownies no balcão do estande de vendas. Hoje, seu clube de colchas vendia assados para arrecadar dinheiro para o centro sênior e ela me pediu para ajudá-la a se organizar antes do início do rodeio.

Eu olhei para ela na caixa registradora e vi vários membros de seu clube empilhando assados em bandejas.

— Nada. Eu estou bem — eu menti.

— Maisy Ann, — ela avisou.

Suspirei e abri minha caixa de brownies. Tirando o maior que eu pude encontrar, retirei o celofane e enfiei um na boca. Eu precisava de chocolate antes de contar à mamãe sobre o telefonema da repórter .

Mamãe franziu a testa enquanto eu mastigava, depois se virou e caminhou até um baú de gelo. Ela pegou uma Coca-Cola e trouxe de volta para mim no balcão enquanto eu mordia a mordida número dois.

Engoli aquela mordida, depois abri a tampa do meu refrigerante, perseguindo meu brownie com um gole borbulhante.

— Obrigada.

— Certo. — Ela olhou por cima do ombro para confirmar que estávamos sozinhas. — Agora, o que há de errado? Aconteceu algo com Hunter?

Dei de ombros, mas não respondi. Antes de eu reclamar com ela sobre meus problemas com o sigilo de Hunter, eu queria discuti-los com ele em primeiro lugar. Então, ela ia receber meu discurso retórico sobre aquela repórter bisbilhotando.

— Aquela repórter está me ligando.

Mamãe ofegou.

— Não. De novo.

— Sim. — Eu assenti. — Ela é persistente. Já faz mais de um mês e ela não parou.

— Quem é ela?

— Caramba, se eu sei. Eu continuo desligando.

— Bom para você, — ela disse. — Dê um pouco mais de tempo. Tenho certeza que ela ficará entediada e parará em breve. E se não parar, talvez você devesse passar no escritório do xerife.

— Sim. Espero que você esteja certa e não chegue a isso, mas se continuar, direi a Milo ou Jess.

— Bom. — Ela deu um tapinha na minha mão. — Hunter ainda está trazendo Coby hoje à noite?

Concordei e voltamos ao meu brownie, desta vez dando uma mordida de tamanho normal. Então eu andei pela lateral da bancada e atravessei a porta estreita, sorrindo e cumprimentando todas as senhoras que estavam descarregando biscoitos, tortas e mais brownies.

Sem demora, eu comecei a trabalhar. Porque o trabalho era bom. O trabalho significava que eu não podia me debruçar sobre o texto no telefone de Hunter, sua carreira secreta ou por que essa repórter estúpida estava tão determinada em como eu havia matado Everett.

Uma hora e meia depois, me senti melhor. Cada centímetro do balcão estava coberto de doces e o clube da mamãe havia caído no modo de fofocas de verdade.

— Você ouviu que eles estão se divorciando? — Uma das mulheres sussurrou.

— Depois de trinta e quatro anos? — Outra ofegou.

— Ouvi dizer que ela o estava traindo.

— Não. — Isso chocou o clube inteiro.

Apenas balancei a cabeça e continuei carregando a caixa registradora com dinheiro. Elas estavam fofocando sobre o meu professor de matemática aposentado do ensino médio, cuja esposa estava tendo um caso secreto com o meu professor de ciências aposentado do ensino médio nos últimos seis meses. Eu sabia disso porque eles alugaram um quarto no hotel para um dos seus encontros tórridos. Pessoalmente, fiquei feliz pelo Sr. Palermo estar chutando a esposa até o meio-fio. Ele era um cara legal e merecia mais.

Suspirei enquanto carregava a caixa registradora com as notas.

O divórcio de Palermo não seria o único tópico de fofocas desta noite. O rodeio anual ficava em segundo lugar, atrás dos jogos de futebol do ensino médio para participação local. Quase todo o condado estaria aqui. Todo mundo vinha para curtir o evento e falar sobre seus vizinhos.

O brownie que eu peguei antes não estava tão bem no meu estômago ansioso. O que elas diriam sobre mim e Hunter? Como meus amigos reagiram ao meu namorado secreto?

Eu descobriria em breve.

Tirando meu telefone da bolsa, verifiquei a hora. Com menos de trinta minutos, a arena estava começando a se encher de pessoas. Hunter ainda não havia mandado uma mensagem, mas eu estava esperando ele e Coby a qualquer momento.

— Mamãe? — Eu dei um tapinha em seu ombro, roubando sua atenção das mulheres. — A caixa registradora está carregada. Eu vou sair.

— Tudo bem, querida. Obrigada por sua ajuda e os brownies. Você vai trazer Hunter e Coby mais tarde?

— Sim. — Sorri quando ela se virou e disse as companheiras de clube que eu estava namorando um “barco dos sonhos”. As mulheres explodiram em perguntas e vibraram, batendo palmas, mas eu as ignorei, dando adeus e saindo do estande.

Fui até as arquibancadas, sorrindo e conversando com as pessoas enquanto eu andava na fila e subia a rampa até as arquibancadas. Ao virar a esquina, fiquei na base da escada e procurei um espaço aberto.

Gigi me viu ao mesmo tempo em que a vi acima de uma fileira de metal vazia.

Acenei e subi as escadas.

— Olá, família Cleary! — Dei um abraço na minha melhor amiga antes de fazer o mesmo com os filhos dela.

— Maze, — Jess disse enquanto ele me abraçava também. — Onde está Coby?

— Ele está vindo. Ele está... — Eu olhei para Gigi quando parei.

O rosto bonito de Gigi sorriu para mim da fileira acima.

— Ele está o quê?

— Uh...

Por onde eu começava? Eu deveria ter dito a Gigi antes sobre Hunter. Meu anúncio sairia do nada e machucaria seus sentimentos, especialmente porque não era como se eu não tivesse tido a oportunidade de compartilhar. Gigi me visitava para almoços o tempo todo e conversávamos pelo menos duas vezes por semana ao telefone. Mas eu fiquei quieta o tempo todo. Eu até desisti de nossa noite de pedicure apenas para meninas porque não tinha energia para desviar as questões da vida amorosa.

Mas não haveria mais como evitar. Cercada por um mar de pessoas, eu tinha escolhido o pior momento possível para contar sobre o meu relacionamento.

Como eu poderia ter pensado que era uma boa ideia algumas horas atrás? Estúpido, Maisy Ann. Estúpido.

Era tarde demais para recuar agora, então, com uma respiração profunda, eu soltei:

— Ele está vindo com um cara que eu tenho visto.

O sorriso de Gigi caiu ao mesmo tempo em que Felicity e Silas entraram na minha fila.

— Oi! — Felicity disse, interrompendo minha explicação com um abraço. — Eu esperava que você estivesse aqui. Não nos vemos a muito tempo. Sentimos sua falta na noite da pedicure.

— Mais como noite de vinho, — Silas murmurou. — Oi, Maze. — Felicity passou por mim para que Silas pudesse me dar um abraço, então entregou Victoria para que eu pudesse lhe dar um beijo rápido antes de ela se contorcer por sua mãe. Entregando-a a Felicity, eu relutantemente voltei meus olhos para Gigi.

Os braços dela estavam cruzados no peito e os olhos estavam fixos em mim.

— O que você tem? — Felicity perguntou a Gigi, parada ao meu lado.

— Oh nada. — Gigi sacudiu o pulso. — Estou apenas esperando ouvir sobre esse cara que Maisy está namorando. O mesmo cara em quem ela confia o suficiente para trazer Coby ao rodeio.

— O quê! — Felicity girou em mim e eu me encolhi. — Quem?

— Eu...

— Ei pessoal! — Olhei para além de Silas e vi Beau e Sabrina se juntando ao nosso grupo.

Gah!

Todos nós nos embaralhamos, tendo tempo para trocar cumprimentos e descer a fileira para que nosso grupo pudesse se encaixar. O tempo todo Gigi ficou olhando estoicamente para mim, fazendo todos os outros se moverem ao seu redor.

Enquanto as crianças se arrastavam pelas pernas dos pais, os adultos convergiram. Jess estava colado ao quadril de Gigi, também esperando a minha explicação. Felicity se recusou a se mover do assento ao lado do meu enquanto Silas espiava por cima do ombro. Isso deixou Beau e Sabrina sem saber por que Gigi estava usando seu rosto infeliz.

— Ok, o que está acontecendo? — Sabrina perguntou.

— Derrame, — exigiu Gigi.

Tomei outra respiração profunda.

— Eu estou vendo um cara há algumas semanas.

— O quê? — Beau rugiu.

Eu estremeci.

— Calma, Golias — disse Sabrina, dando um tapinha no peito inchado do marido. — Vamos entender a história primeiro. Quem é ele?

— Ele é, hum, novo na cidade. Ele tem estado hospedado no hotel enquanto sua casa está sendo construída. Nós nos demos bem e nos conhecemos.

— E por que só agora estamos ouvindo sobre isso? — Beau cortou.

Eu o ignorei e olhei para Gigi.

— Eu só queria ter certeza. Antes de trazê-lo, eu queria ter certeza.

Eu não tinha vergonha de Hunter, de jeito nenhum, e nós realmente estávamos nos divertindo apenas nós dois. Mas parte da minha relutância em trazê-lo foi por causa de mais da bagagem de Everett.

Everett começou a ficar estranho logo depois que eu o apresentei a Jess e Gigi. Eu sabia agora que o comportamento dele tinha sido por causa do trabalho de Jess como xerife e de Everett como traficante de drogas, mas velhos medos ainda permaneciam. Eu estava com medo de que, uma vez que contasse a Hunter sobre meus amigos, as coisas entre ele e eu mudassem.

A dor brilhou no rosto de Gigi, mas ela não falou.

— Ele é ótimo, — eu disse. — Muito gentil e atencioso. Ele adora Coby.

— Você nunca escondeu um segredo de mim. — O sussurro de Gigi partiu meu coração.

— Eu sei. Me desculpe.

Meu telefone apitou no bolso do meu short, mas eu não atendi. Provavelmente era um texto de Hunter, dizendo que eles haviam chegado.

Esse ding significava que eu tinha minutos para me desculpar novamente e resolver as coisas com Gigi. Todos os nossos amigos dariam a ele o terceiro grau hoje à noite, especialmente meu irmão mais velho, e antes que Hunter fosse alimentado pelos tubarões, eu precisava do perdão de Gigi.

Eu precisava dela do meu lado.

— Sinto muito, — eu disse a ela. — Eu sei que este é um momento terrível para contar a você e eu deveria ter feito isso antes. Eu sou estúpida por esperar. Me perdoa? Por favor?

O grupo ficou quieto enquanto meus olhos suplicantes olhavam para Gigi em um pedido de desculpas silencioso. Quando os braços dela caíram do peito, soltei o ar que estava segurando.

— Qual o nome dele? — Ela perguntou.

Abri minha boca, mas Milo e Sara interrompem.

— Ei, pessoal!

A mudança de lugar começou de novo, e quando estávamos acomodados em nosso novo arranjo, sentados desta vez, Sara se inclinou do assento.

— Maisy, por que Coby está com o Dr. Faraday?


Capítulo Doze

Maisy


Dr. Faraday?

— O que você disse? — Eu perguntei a Sara.

— Dr. Faraday — ela repetiu. — Eu só estava me perguntando por que ele tinha Coby.

Meus olhos seguiram seu dedo apontando pelas arquibancadas para Hunter e Coby em pé na base da escada. Coby tinha um sorriso enorme no rosto enquanto apertava a mão de Hunter.

O Dr. Faraday estava examinando a multidão, procurando por mim.

— Você o conhece? — Ela perguntou.

Você o conhece?

Pergunta simples demais. Eu o conhecia?

Não. Não, eu realmente não conhecia.

Minhas mãos estavam úmidas e o sangue escorreu do meu rosto enquanto eu olhava para Hunter.

Ele ainda estava examinando a multidão com um sorriso. Ele ficou mais amplo quando ele me viu, mas caiu rápido enquanto estudava meu rosto. Exortando Coby a subir as escadas, ele fez a lenta escalada com as sobrancelhas preocupadas no meio.

— Maisy? — Gigi se inclinou para falar no meu ouvido. — Você está bem? Você ficou quieta.

Eu balancei minha cabeça, mas mantive meu olhar em Hunter.

— O quê? — Ela sussurrou. — Qual é o problema?

— Ele é médico, — eu sussurrei.

— Uh, sim. Suponho que, já que ele está com Coby, ele é seu namorado secreto?

Eu assenti.

— Bem, agora estou realmente confusa por que você não me contou sobre ele. Ele é o cara com quem queríamos que você saísse.

— Mas ele é médico.

— Sim. Nós estabelecemos isso.

— Eu não sabia, — eu assobiei.

— O quê? — Ela estava ficando mais alta quando falou bem no meu ouvido. — Como você pode não saber?

Eu me virei e acenei para que eu pudesse sussurrar em seu ouvido.

— Ele não fala de si mesmo. Como sempre. E tenho tentado respeitar sua privacidade. Lembra? Você me disse para manter a mente aberta?

— Sim, mas vocês não falam? Não entendo. Como o trabalho dele nunca apareceu?

— Eu nunca perguntei, Ok? E ele nunca ofereceu. Ele vem e nós brincamos com Coby. Você sabe como é com as crianças por perto. Eles dominam a conversa.

— É verdade, mas e depois que Coby está na cama? Vocês não falam, então?

— Não. — Inclinei-me para trás para verificar se ninguém mais estava ouvindo. — Nós não conversamos porque estamos ocupados fazendo outras coisas. Você sabe, coisas adultas? Então adormecemos e ele sai logo de manhã.

Hunter e eu estávamos naquele estágio do nosso relacionamento em que não podíamos tirar as mãos um do outro. Duas semanas e eu perdi a conta dos orgasmos que ele me deu. Na cama, conhecia Hunter Faraday muito bem. Pena que eu não poderia dizer o mesmo para quando estávamos completamente vestidos.

— Então, — Gigi sussurrou, — você tem estado muito ocupada fazendo sexo com o médico quente para saber que ele era um médico quente?

Eu assenti.

Ela se inclinou e murmurou:

— Aff, — no momento em que Hunter chegou ao nosso corredor.

Coby passou por Beau e Sabrina no final do corredor e subiu no meu colo. Ele ficou lá apenas por um segundo, simplesmente me usando como plataforma para subir na próxima fila.

— Oi Ben! — Ele aplaudiu, juntando-se às outras crianças enquanto brincavam com alguns brinquedos que Gigi havia trazido.

Os olhos de todo mundo estavam em mim, esperando por apresentações.

Eu os ignorei e simplesmente olhei para Hunter. O que mais eu não sabia sobre esse homem que estava dividindo minha cama?

Felizmente, Gigi veio em meu socorro.

— Dr. Faraday! Fico contente que você pôde se juntar a nós.

Seus olhos deixaram os meus e ele sorriu para a minha amiga.

— Oi, Gigi. Por favor, é apenas Hunter, lembra?

— Sim, claro. Hunter. Bem-vindo.

— Obrigado. — Seus olhos voltaram para mim e as linhas da testa se enrugaram mais profundamente.

Antes que Hunter pudesse deslizar pela fileira, Beau se levantou e bloqueou o caminho.

— Oi, eu sou Beau Holt, irmão de Maisy.

Hunter estendeu a mão.

— Hunter Faraday. Prazer em conhecer mais da família de Maisy.

— Mais? — Beau apertou a mão de Hunter, mas virou a cabeça para apontar sua pergunta para mim.

— Ele conheceu Michael e mamãe.

Os lábios de Beau se apertaram antes que ele se voltasse para Hunter e soltasse o tremor.

— Prazer em conhecê-lo. Eu gostaria de poder dizer que ouvi muito sobre você, mas desde que minha irmã tem mantido segredos ultimamente, ainda não ouvi nada sobre você.

— Beau, — Sabrina repreendeu, levantando-se da cadeira. — Não vamos exagerar. Tenho certeza que ela tinha suas razões. — Estendendo a mão, ela se apresentou a Hunter. — Oi. Sou Sabrina, esposa de Beau.

Hunter sorriu e pegou a mão dela.

— Parabéns pelo seu casamento. Maisy disse que foi lindo.

— Obrigada, — disse Sabrina. — É melhor deixá-lo sentar.

Hunter ainda estava preso na escada, forçando as pessoas a se aproximarem, mas não conseguiu sair do caminho porque Beau ainda estava bloqueando a entrada da nossa fila.

— Beau. — Sabrina pegou o bolso da calça jeans de Beau e puxou com força. — Mova-se, Golias.

Beau afundou em seu assento para que Hunter pudesse sentar entre mim e Felicity.

— Oi. — Ele colocou uma mão nos meus ombros. — Está tudo bem?

Eu balancei minha cabeça e olhei para os pés. Se eu olhasse nos olhos dele, aqueles belos olhos que eu via todas as noites antes de adormecer, eu desmaiaria.

Por que ele não se abriu para mim? Por que ele tinha que guardar segredos? Depois de tudo que eu confessei a ele, por que ele não estava disposto a confiar em mim com seu passado?

Eu odiava como isso estava trazendo de volta sentimentos de quando eu namorei Everett.

Alheio à minha frustração, Hunter tocou as costas da mão na minha bochecha. Um médico inspecionando seu paciente.

— O que está errado? Você está doente? Você parece pálida.

Eu balancei minha cabeça.

— Muito açúcar na venda de bolos. — Gigi me resgatou novamente. — Então, Hunter, eu sei que já faz alguns anos, mas você se lembra de Jess, meu marido?

Hunter virou de lado e apertou a mão de Jess.

— Oi. Bom te ver de novo.

Antes que Jess pudesse responder, Gigi continuou com as apresentações.

— E você se lembra da minha cunhada, Felicity Grant, e do marido dela, Silas?

— Oi. — Hunter acenou para Felicity e Silas sentado do outro lado. — É bom ver vocês dois novamente. A última vez que estive aqui vocês ainda não estavam casados. Parabéns. E vejo que vocês estão expandindo a equipe Grant.

— Sim, esta é Victoria. — Felicity colocou a filha nos joelhos.

Todos conversaram por alguns minutos, mas tudo em que eu conseguia pensar era que Hunter conhecia meus amigos. Meu estômago apertou mais e eu fechei os olhos.

Hunter conhecia meus amigos.

E eles o conheciam, provavelmente melhor do que eu. Hunter tinha dito uma vez que ele esteve em Prescott antes. Isso tinha sido um eufemismo. Ele realmente viveu aqui. Todo esse tempo, eu estava pensando que ele era novo na cidade, que ele só esteve aqui para visitar uma vez antes, mas todas as minhas suposições estavam erradas. Ele fazia parte da comunidade. Minha melhor amiga era sua colega de trabalho. A mãe de Jess e Felicity tinha sido sua paciente.

Ele era o “novo médico” que ouvi falar um ano atrás. Ele era o “novo médico” que havia decidido voltar para Prescott. E eu não estava evitando o “novo médico” como eu pensava.

Eu estava dormindo com ele.

Não é de admirar que o nome dele soasse familiar no primeiro dia em que nos conhecemos. Eu ouvi isso passando pela cidade.

Droga. De todas as profissões do mundo, por que ele tinha que ser médico? E por que não ele não me disse? Esse era um detalhe que eu precisava saber.

— Hunter! — Coby se jogou em nossas costas, nos empurrando para frente. — Já está na hora dos cachorros-quentes?

— Não exatamente, amigo. Vamos esperar até o rodeio começar e depois vamos jantar. Está tudo bem para você? — Hunter me perguntou.

— Tudo bem, — eu murmurei.

Tudo bem. As coisas estavam longe de ficar bem.

Hunter era o médico que havia sido contratado para a vaga de Everett. Ele era o médico que minhas amigas chamavam de Dr. Calvin Klein.

E eu não tinha noção.

Eu estava respeitosamente respeitando sua privacidade.

Ele estava obedientemente me mantendo no escuro.

Trechos de conversas passaram pela minha mente. Eu repeti as discussões na mesa de jantar. Todos os horários perfeito para ele me dizer sobre o seu trabalho ou que ele viveu em Prescott antes. Inferno, eu perguntei a ele à queima-roupa no The Black Bull.

— Você já esteve aqui antes ou se mudou para cá cego?

A resposta dele?

— Eu estive aqui uma vez.

Um eufemismo de um homem comprometido em me manter à distância.

Assim como Everett.

E quem eu era? Eu era a mulher estúpida que não tinha aprendido sua lição com o primeiro médico que namorou.

— Senhoras e senhores, — o locutor soou sobre os alto-falantes. — Por favor, levantem e tirem seus chapéus para o nosso hino nacional.

Todos nós obedecemos e ficamos de pé, cruzando as mãos direitas em nossos corações enquanto assistíamos a rainha do rodeio cavalgando seu cavalo pela arena com a bandeira americana.

— Coby, fique quieto, por favor. — Virei para fazer o meu pedido ao mesmo tempo em que Jess calava Ben.

Como o Banner Estrelado por Estrelas encheu o ar, respirei fundo algumas vezes, aliviada pelos centímetros que me separava de Hunter.

A surpresa de descobrir sobre o trabalho de Hunter estava desaparecendo. Agora eu estava brava e não havia nada que eu pudesse fazer sobre isso.

Eu teria que sofrer essa noite. Por mais que eu quisesse respostas de Hunter, o rodeio, com todo o condado de Jamison assistindo, não era o lugar para brigar.

Então, quando o hino parou, sentei-me, fechei a boca e deixei Hunter envolver o braço em volta de mim novamente. Então vi o rodeio entrar em pleno andamento e meus amigos rindo e conversando.

— Você está gostando de Prescott desta vez? — Silas perguntou a Hunter.

— Tem sido ótimo, — ele respondeu, esfregando meu braço. — Perdi o ritmo mais lento quando estava em Chicago. O ano em que estive aqui antes me deixou viciado.

— Você se foi por um ano? — Felicity perguntou.

— Um ano e meio.

Fechei os olhos e respirei fundo, lentamente, tentando acalmar meu temperamento. Que conversa informativa. Talvez eu soubesse mais sobre Hunter se o tivesse trazido com meus amigos mais cedo. A privacidade que ele parecia desejar havia desaparecido em boa companhia.

— Você tem uma casa? — Felicity perguntou.

— Sim, eu estou construindo um no sopé.

— Up Fan Mountain Road? — Silas perguntou.

Hunter assentiu.

— A equipe está realmente terminando esta semana. Eu fiquei no hotel enquanto eles terminam a construção.

Ei! Algo que eu realmente sei sobre o meu namorado. Aparentemente, a única coisa que ele sentiu vontade de conversar comigo foi sobre a casa dele.

— Você está gostando do hospital? — Sabrina perguntou.

— É ótimo. Um dos melhores que eu já trabalhei. É pequeno, mas eles têm uma ótima configuração. — Hunter olhou para trás e sorriu para Sara e Gigi. — Isso e eu tenho colegas de trabalho incríveis.

A conversa continuou e, com ela, minha frustração. Trinta minutos depois do rodeio, a equipe do evento estava trocando o cano pelas corridas de cavalo e eu estava desesperadamente precisando de uma folga.

Eu levantei e me inclinei para minha bolsa.

— Vou descer para jantar.

Hunter se levantou.

— Você quer ajuda?

— Vou pegar para você, — disse Beau. — Coby, quer vir comigo para comprar cachorros-quentes?

— Não, eu vou...

— E batatas fritas! — Coby abandonou seus companheiros de brincadeira em favor de seu tio.

— Vocês querem alguma coisa? — Beau perguntou a mim e a Hunter.

— Eu posso descer, realmente, — insisti, mas Beau apenas balançou a cabeça.

— Se você não está se sentindo bem, deve ficar. Estou com fome de qualquer maneira. Volto rapidamente. — Ele levantou Coby sobre seus ombros e eles desceram as escadas, roubando meu alívio.

Eu me deixei cair de volta no banco e chutei minha bolsa debaixo do meu assento. O braço de Hunter encontrou meus ombros de novo e eu mantive meus olhos no rodeio. Um cavaleiro estava sentado em cima de um cavalo em uma rampa do outro lado da arena.

Alguns minutos depois, a campainha tocou e o portão da rampa se abriu quando o cavalo saiu, com os cascos traseiros a pelo menos um metro e oitenta da terra. O braço livre do cavaleiro disparou atrás para se equilibrar enquanto ele lutava para manter seu assento, mas o cavalo era demais .Com um giro forte, o cavaleiro voou para o lado, perdendo o controle do cordame

Mas antes que ele pudesse sair do cavalo, o animal se virou e empinou novamente, batendo os cascos no lado do cavaleiro .O cavalo se moveu novamente, mas o cavaleiro não. Ele ficou imóvel com o rosto na terra.

Um silêncio imediato caiu sobre a multidão enquanto as pessoas sentavam nas bordas de seus assentos. Todos os olhos estavam fixos no corpo imóvel. O único movimento foi da equipe de rodeio que estava encurralando o cavalo para o lado oposto da arena para liberar sua cinta do flanco.

Ao mesmo tempo em que o cavalo saiu correndo da arena, a ambulância do condado entrou correndo.

Hunter se levantou e tirou as chaves do meu carro do bolso, jogando-as no meu colo.

— Eu vou descer.

— Ok. — Eu balancei a cabeça, grata pelo interesse do cavaleiro que Hunter era um médico. Enquanto eu balançava meus joelhos, Hunter deslizou por perto. — Vou deixar as chaves de sua picape na tampa do acelerador.

Ele me reconheceu com um aceno logo antes de descer os degraus dois de cada vez. Quando ele bateu no parapeito, ele plantou as mãos na barra superior e saltou pela borda e desceu dois metros na terra. Então ele correu para se juntar aos paramédicos e avaliar o cavaleiro.

As arquibancadas estavam mortalmente silenciosas, até as crianças pararam de fazer barulho. Todos nós ficamos parados, enquanto a equipe de emergência e Hunter amarravam o cavaleiro em uma prancha e o carregaram na ambulância destinada ao hospital.

O único alívio veio logo antes das portas da ambulância se fecharem e o cavaleiro levantou uma mão e acenou.

Centenas de suspiros aliviados se juntaram à brisa do início da noite.

— Espero que ele esteja bem, — disse Sabrina.

Eu assenti.

— Eu também.

Ficamos sentadas, inclinadas juntas, enquanto o mestre de cerimônias pedia um momento de silêncio antes do rodeio recomeçar.

O acidente com o cavaleiro embotou o humor da multidão e me deu um desejo ainda mais forte de fugir. Gigi iria querer a história completa sobre o meu relacionamento com Hunter, mas eu não tenho respostas. Não mais.

— Acho que vou embora. — Peguei minha bolsa.

— Você tem certeza? — Sabrina perguntou.

— O quê? Ainda não — disse Gigi . — Nós precisamos conversar.

Eu ignorei seus protestos e acenei adeus.

— Eu te ligo mais tarde. Prometo.

Correndo escada abaixo, encontrei Beau e Coby quando eles subiam a rampa para as arquibancadas.

— Onde você vai? — Beau perguntou.

— Casa. Coby, amigo, vamos lá. — Eu guiei seu ombro na outra direção.

— Mas mamãe! — Ele choramingou. — Eu não quero ir ainda.

Peguei seu cachorro-quente.

— Eu sei, mas está na hora.

— Maze...

Cortei Beau e continuei andando.

— Eu te ligo mais tarde.

Ele franziu a testa, mas me soltou.

— Eu queria brincar, mamãe, — protestou Coby enquanto se arrastava ao meu lado.

— Eu sei, mas acabamos de brincar por hoje.

Sua boca abriu e ele começou a chorar.

Merda. Eu poderia chorar também? Agora me senti culpada por arruinar a noite do meu filho .

Parei de andar para me ajoelhar ao lado dele.

— Sinto muito, Coby. Eu realmente sinto, mas precisamos sair. Eu vou fazer isso para você. Que tal pegar um biscoito no estande de Nana antes de irmos?

Ele assentiu e caiu no meu peito.

Eu o envolvi para um abraço apertado antes de levantar e pegar sua mão enquanto caminhávamos para o posto de vendas da mamãe.

— Oi! — O sorriso da mamãe caiu quando ela viu meu rosto e as lágrimas de Coby. — Qual é o problema?

— Nós estamos indo embora. Posso pegar alguns biscoitos?

— Certo. — Ela foi para a direita para M & M biscoitos monstro favorito de Coby. — Onde está Hunter?

— No hospital com aquele cavaleiro.

Ela congelou e olhou para mim com olhos culpados.

— Você sabia, — eu imaginei. — Você sabia que ele era médico.

Ela assentiu e seu rosto empalideceu.

— Mãe, por que você não me contou?

— Eu sabia que você não daria uma chance a ele.

Eu zombei.

— Sim. Você estava certa sobre isso.

— Sinto muito, querida. Eu não lhe disse em primeiro lugar, porque eu queria que ele tivesse a chance de ganhar mais de você. Então durou tanto tempo, pensei que talvez você soubesse e estivesse bem com isso.

— Não, eu não sabia. — Peguei os biscoitos da mão dela e os enfiei na minha bolsa. — Como você pôde não me contar? Você de todas as pessoas? Você viu como era difícil lidar com tudo depois de você sabe quem. Eu esperaria que você entendesse se ninguém mais o fizesse.

Ela abaixou a cabeça.

— Você está certa. Eu deveria ter lhe contado.

Abri minha boca para continuar repreendendo, mas preferi calar a boca. Brigar com mamãe sempre me dava dor de estômago e eu já tinha o suficiente para lidar.

Eu estava confusa e com raiva.

Eu estava assustada.

As emoções presentes estavam se misturando com as do passado e eu não sabia como classificá-las.

— Podemos conversar mais tarde, — murmurei. — Vamos, amigo.

Levei Coby ao estacionamento e, por algum milagre, não precisei andar por todos os corredores para descobrir onde Hunter havia estacionado meu carro. Eu bati no meu chaveiro e as luzes traseiras piscaram no final de uma linha. Nós subimos, e com Coby afivelado e comendo seu cachorro-quente, eu atravessei os portões do parque de diversões e dirigi.

Eu dirigi para casa.

— Papai? — Chamei quando entrei na casa dos meus pais.

— Aqui!

Coby passou correndo por mim para a sala de estar.

— Vovô!

Encontrei papai em sua poltrona, vestindo pijama xadrez e uma camiseta surrada. Uma garrafa de Budweiser estava em sua mesa lateral. Estava ao lado do controle remoto da TV e do prato vazio que mamãe provavelmente preparara antes de partir para o recinto da feira.

Coby subiu no colo do papai, imediatamente empurrando o controle remoto para ele.

— Podemos assistir meus shows?

— Claro, neto. — Papai pegou um dos filmes da Disney gravados por Coby.

— Carros! — Coby aplaudiu e se contorceu na cadeira, estendendo-se no chão com o queixo apoiado nas mãos, completamente consumido por seu filme favorito.

— O que vocês estão fazendo aqui? — Perguntou o pai. — Eu pensei que você estaria no rodeio.

Eu balancei minha cabeça e afundei na poltrona da mamãe ao lado da dele.

— Eu não quero falar sobre isso.

— Ok. Está tudo bem?

Dei de ombros.

— Eu estou apenas... — Eu procurei a palavra certa. — Triste.

— Qual o problema, querida?

Meus olhos se encheram de lágrimas ao mesmo tempo em que as palavras saíram. Contei a papai tudo sobre Hunter, deixando de fora os detalhes classificados e usando um codinome para Everett. Mas, por outro lado, eu soltei tudo, a partir do momento em que Hunter entrou no meu hotel até ele correndo para o resgate no rodeio.

Quando terminei, papai fez o que papai faz melhor. Ele não comentou ou ofereceu conselhos. Ele não falou mal de Hunter por guardar segredos. Ele apenas me acenou em sua cadeira para um abraço.

E, assim como eu havia feito inúmeras vezes antes, quando criança doente, uma garota com joelhos arranhados ou uma mulher grávida com um coração muito pesado, eu me levantei da cadeira e me aconcheguei ao seu lado.

Porque mesmo aos 29 anos, eu ainda precisava do meu pai.

— Vai ficar tudo bem, — ele disse no topo da minha cabeça.

Eu acreditei nele.

— Você está certo. Podemos ficar aqui esta noite?

— Como eu sempre te disse, querida, esta é sua casa. Venha e vá como quiser.

Eu sorri e me aconcheguei mais fundo em seu peito, deixando o abraço de papai acalmar meus nervos.

Esta noite, eu estava deixando minhas preocupações de lado.

E quando meu telefone tocou com a ligação de Hunter, eu o empurrei também.

Rosa. Branco. Vermelho. Amarelo. Laranja.

Rosa era a próxima. Peguei uma petúnia rosa da caixa e a enfiei no buraco que eu tinha acabado de cavar.

Era a manhã seguinte ao rodeio e eu estava enchendo o canteiro de flores embaixo da placa no hotel. Coby estava com meus pais na escola dominical e eu voltei para o hotel para mergulhar no trabalho.

Apunhalando a terra com minha espátula, marquei outro buraco na terra e enfiei um amor perfeito branco. O sol do meio da manhã expulsara o ar fresco da noite e o suor escorria pela minha testa.

Acordei louca na casa dos meus pais.

Louca de raiva.

Com raiva de Hunter e com raiva de mim mesma.

Eu deixei a aparência bonita e o charme de outro médico me enganarem. Eu estava tão preocupada em afastá-lo com minha curiosidade natural que me tornei complacente. Eu deixei um estranho entrar em minha casa, minha cama e a vida do meu filho.

Que vergonha.

E vergonha para Hunter por me alimentar com tanta besteira nos últimos dois meses.

Durante toda a manhã, estive pensando em todas as coisas que queria dizer. Quando uma sombra caiu sobre o meu rosto, eu sabia que agora era minha chance.

Hunter estava parado em cima de mim com as pernas bem abertas e os braços cruzados sobre o peito.

— Onde você esteve?

Eu olhei para cima, depois voltei para minha terra, empurrando uma petúnia vermelha.

— Trabalhando.

— E ontem à noite? Eu estava preocupado, Maisy.

— Como está o cavaleiro? Ele está bem?

— Ele vai ficar bem. Agora responda minha pergunta. Onde você estava? — Sua sombra mudou e eu olhei para cima novamente. Seus braços estavam pendurados ao lado do corpo e seu rosto estava gravado de preocupação.

Eu ignorei a pontada de culpa e cavei outro buraco.

— Eu estava na casa de mamãe e papai.

— E eles não têm serviço de celular? Por que você não respondeu quando eu liguei?

— Eu precisava de um tempo sozinha para pensar.

— Para pensar? Sobre o quê?

Enfiei minha espátula na terra, levantei-me e tirei minhas luvas verdes do jardim.

— Você é médico.

— Sim. E daí?

— E daí? — Eu imitei. — Durante todo esse tempo, você não pensou em me contar sobre o seu trabalho?

— Você era enfermeira, Loirinha. Eu não posso falar sobre trabalho. Confidencialidade do paciente? O juramento de Hipócrates? Os médicos precisam respeitar isso.

— Você deveria ter me contado. Eu tive que descobrir sobre isso com meus amigos.

— Eu pensei que você soubesse. Você sabe tudo mais sobre as pessoas desta cidade. Eu assumi que você sabia que eu também era o novo médico. Quero dizer, você fala com Gigi o tempo todo. Como eu nunca apareci?

Porque eu o mantive em segredo.

— Bem... simplesmente não. — Meus braços se agitaram quando minha voz ficou mais alta. — E você nunca trouxe isso à tona. Você nunca traz nada à tona! E como prometi não ser intrometida, não sei nada sobre você.

Ele franziu a testa.

— Sim, você sabe. Você sabe muito sobre mim. Talvez nem todos os detalhes da minha infância, mas você sabe as coisas importantes. Eu ser médico não muda isso.

— Sim. — Eu plantei minhas mãos nos meus quadris. — Hunter, eu não posso estar com um médico.

— O quê? — Ele estava olhando para mim como se eu fosse louca. — Você está brincando, certo? Isso é uma piada?

— Eu não vou namorar um médico. De novo não.

Sua mandíbula apertou.

— Eu não sou Everett.

— Bem, você com certeza tem muito em comum. — Meus braços estavam se agitando novamente. — Ele era o mestre do segredo e você é também.

— Não segure a merda dele na minha cabeça. — Hunter apontou para o meu peito. — Prometi contar tudo e vou contar. Eu só preciso de tempo.

Meu coração estava disparado quando as palavras saíram.

— Tempo. Mais tempo. Tempo para quê? Tempo para me usar para o sexo e depois me chutar quando você estiver satisfeito? Tempo para entrar no coração do meu filho, então quebrá-lo quando você decidir partir? Não, isso não vai funcionar para mim. Nós precisamos terminar. Eu quero terminar. Precisamos terminar isso agora antes que Coby se machuque.

— De onde diabos isso vem, Maisy? Tudo isso porque eu sou médico? Porque eu tenho a mesma profissão que o imbecil do seu passado? Isso é besteira e você sabe disso. Você está assustada e me comparando com Everett.

Eu balancei minha cabeça.

— Isso não é sobre mim. Isso é sobre você.

— Que porra é essa. Eu não sou Everett! — Ele rugiu.

— Então quem é você! — Eu gritei de volta.

A raiva de Hunter desapareceu.

— Eu sou o homem que se apaixonou por você, Maisy. Eu sou o homem que se apaixonou por seu filho.

Lágrimas se juntaram quando eu sussurrei:

— É muito familiar. Não posso estar com outro médico que guarda segredos.

— Entendi, mas estou pedindo que você dê um salto de fé comigo. Confie em mim com seu coração.

— Então você pode esmagá-lo? — Isso foi injusto. Eu sabia no segundo que saiu. Segundo antes que a dor cortou o rosto de Hunter.

— Se você realmente acha que eu esmagaria seu coração, então você está certa. Você nem me conhece.


Capítulo Treze

Maisy


Marquei duas vezes a caixa suspensa, esperando ter perdido uma nota ou algo da primeira vez que verifiquei. Estava vazio. A única coisa lá dentro era a chave agora descansando na minha mão.

Hunter saiu do meu hotel.

Eu não tinha notícias dele desde que o assisti sair do hotel ontem depois de nossa briga no canteiro de flores.

Não deveria me surpreender que ele tenha deixado a chave. A casa dele estava arrumada e eu sabia que ele planejava sair esta semana, mas isso não facilitava as coisas.

— Mamãe, você está triste?

Eu funguei e enxuguei as lágrimas.

— Um pouco, amigo. Mas eu vou ficar bem.

Forçando um sorriso, me abaixei e beijei sua testa e depois guardei a chave no meu quadro.

— Vamos, amigo. Vamos fazer o jantar e brincar com Picles. — Guiei Coby em direção à escada.

— Hunter está vindo?

Eu balancei minha cabeça.

— Não, ele não está.

— Por quê?

— Apenas porque não. Você acha que Picles pode querer dar uma caminhada extralonga hoje à noite? Talvez até a sorveteria?

— Sim!

Eu segui Coby no andar de cima, feliz por ter conseguido evitar as perguntas dele sobre Hunter por mais uma noite. Respondê-las traria apenas as lágrimas que eu estava lutando o dia todo.

— Vamos, Coby. Ajude-me a guardá-las, por favor. — Eu estava de joelhos, pegando Hot Wheels espalhados pela sala de estar.

Ele pegou um carro e o levou pelo tapete até a banheira.

— Hunter pode ter uma festa do pijama hoje à noite?

Outro dia se passou e eu passei a noite toda respondendo perguntas de Coby sobre Hunter.

— Não, amigo. Lembra o que eu te disse?

— Ele está em sua própria casa agora, — ele pensou alto.

— Ainda podemos fazer coisas divertidas. Depois de guardá-los, devemos fazer um banho especial? Talvez use um sabão colorido?

— Sim! Um azul! — Ele largou o carro e tirou a roupa enquanto corria para o banheiro.

Fechei os olhos e suspirei. Dois dias desde a nossa briga e eu não tinha falado com Hunter. Ele havia chamado e me deixou uma mensagem de voz. Ele pediu para eu ligar de volta para que pudéssemos conversar.

Mas eu fiquei em silêncio.

Eu me joguei no trabalho nos últimos dois dias, esperando que minha rotina pré-Hunter normal me ajudasse a entender tudo. Eu esperava que, depois de alguns dias, eu soubesse o que queria dizer.

Mas, pela primeira vez em anos, o trabalho não ajudou.

Não importava o quanto eu tentasse, tudo em que eu conseguia pensar era em Hunter.

Ele estava em minha mente enquanto eu lavava os banheiros e enquanto fazia as camas. Ele estava em minha mente enquanto eu ficava acordada à noite, incapaz de dormir.

Tudo o que eu pensei por dois dias foi se eu tinha coragem de aceitá-lo de volta.

Dia três depois da minha briga com Hunter e eu estava uma bagunça.

Meu corpo inteiro doía, meus olhos estavam cheios de olheiras e meu estômago estava tão atado que eu não conseguia comer.

Mas eu estava colocando uma boa frente pelo bem de Coby. Pelo menos eu estava tentando.

— Mamãe, Hunter ainda virá ao meu jogo de bola amanhã?

Colocando o cobertor em volta dos ombros de Coby, suspirei.

— Talvez, amigo. Mas Hunter tem um trabalho muito importante e ele pode não ser capaz de fazê-lo. Você não sabe o que ele faz?

Ele assentiu e aconchegou-se ainda mais no travesseiro.

— Hunter é médico. Ele trabalha no hospital ajudando pessoas doentes. Às vezes, isso significa que ele pode não ser capaz de sair com a gente ou ir aos jogos de bola, porque ele está trabalhando. Mas isso não é incrível? Que ele pode ajudar outras pessoas a se sentirem melhor? Ele é um super-herói, ajudando outras pessoas como os policiais.

— E o Capitão América.

Eu assenti.

— E o Capitão América.

A testa de Coby franziu.

— Mas se todas as pessoas estiverem melhores, Hunter pode vir ao meu jogo, certo?

Acariciei seu cabelo.

— Talvez. — Quebrou meu coração que eu ia colocar um espaço entre Hunter e Coby, mas antes que eu pudesse rasgar, eu mudei o assunto. — Agora, me diga o que você quer sonhar hoje à noite. Monster trucks? Dinosaurs?

— Cobras!

— Cobras! Blech. — Eu me encolhi. — Sem cobras. — Eu fiz um som de assobio e deslizei meus dedos ao longo de seu pescoço até que ele riu. — Boa noite, amigo. Eu te amo.

— Amo você também.

Beijando sua testa, eu o abracei mais apertado e depois saí do seu quarto. Assim que a trava fechou, meus ombros caíram. Cada célula do meu corpo estava cansada. A única coisa que três dias trabalhando até a exaustão tinha feito era me fazer perceber o quanto eu havia exagerado.

Hunter não era Everett.

Eu estava segurando coisas contra Hunter que não eram culpa dele. Eu tinha medo de me machucar, então o afastei. Mas nesses últimos três dias, eu aprendi que tinha algo maior a temer.

Perder Hunter.

O que significava que o correio de voz que eu estava prestes a retornar estava com dias de atraso.

Fui ao banheiro e escovei os dentes, depois coloquei uma calça de pijama e uma camiseta velha para subir na cama. Enfiada profundamente debaixo dos meus cobertores, eu abri meu telefone e disquei o número de Hunter. Quando o toque começou, meus pés começaram a bater embaixo dos lençóis.

Responda por favor.

No terceiro toque, o salto nos meus pés se espalhou pelas minhas pernas e a cama inteira estava tremendo.

— Ei.

Minhas pernas pararam de se mover e lágrimas inundaram meus olhos com o som de sua voz.

— Oi, — eu engasguei.

Nós dois ficamos em silêncio por um momento até Hunter falar primeiro.

— Sinto muito, Loirinha.

Eu respirei fundo e sussurrei:

— Eu também sinto muito.

Ele suspirou.

— Eu sinto sua falta.

— Também sinto sua falta. — Três dias de estresse e ansiedade foram apagados com apenas uma ligação simples.

— Eu não deveria ter ficado tão chateado no domingo, e eu realmente sinto muito por não ter lhe dito que eu era médico. Por favor, acredite em mim quando digo que honestamente pensei que você sabia. Quero dizer, você é a melhor amiga de Gigi. Você fala com ela o tempo todo. Eu sempre tenho meu telefone, caso esteja de plantão. Apenas assumi que você sabia e entendia por que não podia falar muito sobre o trabalho.

Eu apenas presumi que ele estava tão ligado ao telefone quanto eu e a maioria das pessoas no mundo.

— Está tudo bem. Lamento muito. Não foi justo da minha parte comparar você com o Everet. Eu apenas... eu odeio segredos, Hunter. Everett era tão reservado. Eu não estou tentando comparar vocês. Só estou lhe dizendo por que isso me assusta.

— Eu entendo e sei que é difícil. Há muita coisa que você não sabe sobre mim, mas estou implorando aqui, fique comigo. Por favor? Nos dê um tempo. Dê-me um tempo e prometo que me conhecerá melhor do que qualquer outra pessoa.

Eu balancei a cabeça no meu travesseiro.

— Ok.

Dar tempo ao Hunter não seria um problema. Esses últimos dias foram tão infelizes que eu faria qualquer coisa para não passar por uma separação novamente.

— Obrigado, — ele respirou.

— Você pode fazer algo por mim?

— Diga.

— Apenas me conte mais sobre o seu dia. Não preciso de detalhes específicos dos pacientes, mas apenas um pouco mais sobre como foi o seu dia.

— Feito.

Eu sorri.

— E não há mais respostas de uma palavra. Elas me fazem estremecer.

Ele riu.

— Farei o meu melhor para usar frases prolixa a partir de agora.

Não era tudo. Mas era alguma coisa.

— Obrigada.

— Você já está na cama?

— Sim. Tive dificuldade para dormir.

— Eu também, querida. Essa briga? Eu estou destruído. Eu não tenho dormido desde antes do rodeio. Aparentemente, preciso de você em meus braços para dormir agora.

Eu sorri. Ele precisa que eu durma em seus braços.

— Posso ir vê-la amanhã durante o almoço?

Eu bocejei.

— Sim, por favor.

— Como está Coby?

— Bem, mas ele sente sua falta. Ele está perguntando sobre você sem parar.

— Eu também sinto falta dele. Eu estava planejando me esgueirar para assistir ao jogo de bola dele amanhã.

— Não é permitido esgueirar-se. Vamos apenas juntos. — Eu bocejei novamente, mas não queria desligar ainda. — Como está sua casa?

Ele riu.

— Vazia. Realmente vazia. Eu estava lhe dando mais um dia para se refrescar e depois eu iria ao hotel na sexta-feira. Meu plano era implorar por seu perdão e, em seguida, suborná-la com decoração de interior para conquistá-la de volta.

— Gosto dos sons desse suborno. Talvez eu ainda esteja brava com você, então, — eu provoquei.

— Bem, acho que vou ter que lhe dar meu cartão de crédito e liberdade para fazer o que quiser em minha casa.

Meu sorriso ficou maior.

— Continue falando.

— Eu preciso de móveis. Tudo o que tenho é uma cama.

— O que mais?

— Todas as paredes são brancas. Você pode pintá-los da cor que quiser.

Eu ri. Este homem tinha me amarrado.

— Combinado.

Conversamos um pouco sobre nada. Eu contei a ele sobre meus convidados nos últimos dias e Coby. Hunter me disse o quanto ele gostava de trabalhar no hospital com Gigi.

Quando bocejei pela terceira vez, Hunter considerou que era hora de dormir.

— É melhor você dormir um pouco.

— Sim. Te vejo amanhã?

— Sim. Durma bem, querida.

— Hunter? — Eu perguntei antes que ele pudesse desligar.

— Sim?

— Eu estou me apaixonando por você também.

Ele suspirou.

— Aí. Agora vou conseguir dormir.

Desliguei e coloquei o telefone de lado, depois me aconcheguei no meu travesseiro com um sorriso.

Ainda estava no meu rosto quando acordei depois de uma longa noite de descanso.

 

Hunter


— Hunter, — Maisy ofegou quando suas costas se curvaram para fora da cama.

No segundo em que ela atingiu seu orgasmo, eu agarrei seus quadris e a prendi no colchão enquanto minha língua acariciava seu clitóris ainda mais rápido. Ela resistiu e torceu enquanto seus gemidos enchiam o quarto. Quanto mais alto ela ficava, mais eu chupava quando meus dedos se curvavam por dentro e acariciavam suas paredes pulsantes. Quando ela caiu na cama, eu abandonei seu clitóris e comecei a tomar seus sucos enquanto seu corpo se contorcia com tremores secundários.

— Eu senti falta do seu gosto na minha língua. — Eu beijei o interior de suas coxas, depois me levantei para usar o lençol para secar minha barba.

— Uau. — Seus olhos ainda estavam fechados e seu peito arfava.

Eu ri e saí da cama.

— Esse foi o melhor almoço que já tive em dias.

— Hunter! — Ela riu e sentou-se, pegando um travesseiro para jogar na minha cabeça. — Eu não acredito que você disse isso!

— O quê? — Peguei o travesseiro e joguei de volta. — Eu só estou dizendo. Sua boceta é muito melhor do que refeições congeladas na sala de descanso do hospital.

— Meu Deus. — Ela corou e saiu da cama, pegando a calcinha e o jeans que eu tirei no segundo em que atingimos o quarto dela.

— Eu tenho que voltar, — eu disse, — mas tenho uma tarde leve, então vou encontrá-la aqui antes do jogo de Coby.

— Espere. E você? — Ela se aproximou e enfiou as mãos no bolso da frente da minha calça jeans. Quando as pontas dos dedos encontraram meu pau duro através do algodão, ela esfregou a ponta.

Eu assobiei, meus quadris puxando para trás quando minhas mãos chegaram às dela e as pararam antes que ela pudesse ir mais longe.

— Mais disso e nunca mais voltarei ao hospital. — Inclinei-me e escovei meus lábios nos dela, sabendo que ela teria seu próprio gosto. — Não se preocupe. Eu vou deixar você fazer isso para mim esta noite.

Ela sorriu contra os meus lábios.

— Vou passar a tarde pensando em algo criativo.

Meu pau ficou mais duro. Depois de dias sem ela, eu serei criativo também. Eu só esperava que ela tivesse dormido o suficiente ontem à noite porque ela não dormiria muito hoje.

Com os dedos entrelaçados nos meus, ela me acompanhou até o saguão. Após um longo beijo, ela ficou ao lado da placa e acenou quando eu saí do estacionamento.

Foda-se, ela era linda.

Ela era o peixe grande.

Era o que papai sempre dizia sobre minha mãe. Ele usou analogias de pesca para me ensinar sobre mulheres.

Pegue o peixe grande, filho. E quando você pegar, não a deixe ir, não importa o quanto ela lute.

Maisy ia lutar muito quando soubesse do meu passado. Eu só esperava que ela encontrasse perdão para mim também. Eu não estava apenas apaixonando por Maisy Holt. Eu estava de cabeça para baixo.

Se eu estragasse tudo, se a perdesse? Meu coração nunca se recuperaria. Então, meu tempo tinha que ser justo. Eu não podia contar-lhe tudo muito cedo. Não até eu saber que ela me amava e estar disposta a seguir em frente. Eu não podia contar-lhe tudo demasiado tarde. Se eu esperasse mais do que o absolutamente necessário, ela nunca esqueceria os segredos.

Realmente, eu deveria ter confessado anos atrás. Mas agora é muito tarde, aqui estava eu esperando que Maisy não me pedisse para sair depois que ela descobrisse a verdade. Quando ela descobrir sobre Nell.

Nell, porra.

Tirei meu telefone do bolso e bati no número dela. Ela me ligou a manhã toda, mas eu a ignorei. Ela não tinha nada original para dizer, apenas mais textos e mensagens de voz ameaçadores.

O que acontece depois é sua culpa.

Essas conversas sempre foram uma variação do mesmo. Ameaças inócuas.

Mas desta vez, eu as estava chamando de blefe. Se ela não retaliou até agora, eu duvidava que ela fosse. Eu só esperava que um dia, espero que logo, ela se cansasse e passasse a torturar outra pessoa.

— Estava na hora de você retornar minha ligação, — ela retrucou após o primeiro toque.

— O que você quer, Nell? Sua mensagem disse algo sobre as minhas coisas?

— Sim. Encontrei algumas de suas coisas antigas hoje. Preciso saber para onde devo enviá-las.

— Doe para caridade. Jogue-as no lixo. Eu não dou a mínima. Já te disse, não quero nada disso.

— Nada? Você não quer nada?

— Isso mesmo. Nada. — Eu peguei tudo o que eu precisava. Eu tinha roupas. Eu tinha minha câmera. Eu tinha a foto do casamento dos meus pais. Eu tinha uma foto do meu pai e eu pescando dois verões antes de ele morrer. Eu gostaria de ter encontrado o anel de casamento da mamãe, mas, como estava perdido, o que mais Nell tivesse encontrado nas minhas coisas antigas, ela poderia ter.

— Eu não acredito nisso. Eu não posso acreditar em você! — Ela gritou.

— Acredite. — Eu encerrei a ligação e continuei dirigindo.

Ela estava me irritando, mas eu não deixaria isso estragar o meu dia. No momento em que entrei no hospital, eu já havia esquecido a ligação de Nell e estava pronto para terminar meu dia para que eu pudesse ir ao jogo de Coby.

— Alguém teve um bom almoço. — Gigi me cumprimentou enquanto eu caminhava pelo balcão na sala de emergência.

Eu sorri.

— Não foi tão ruim. — Muito delicioso, na verdade.

— Considerando que ela acabou de me mandar uma mensagem e disse que vocês dois resolveram as coisas, acho que esse sorriso presunçoso tem a ver com a minha melhor amiga.

— Sim.

Ela sorriu.

— Bom. Ela precisa de um cara legal como você.

Gigi e eu nos vimos durante essa semana, mas não tivemos a chance de discutir meu relacionamento com Maisy. Eu estava esperando Gigi comentar, então eu a observei por um momento, esperando, mas ela apenas ficou lá sorrindo.

— É isso aí? — Eu perguntei. — Sem interrogatório? Nenhuma ameaça sobre fazê-la feliz?

Ela balançou a cabeça.

— Não de mim, mas não se preocupe. Você vai ter em abundância de seus irmãos. Se você machucá-la, Beau e Michael irão esfolá-lo vivo. E sei que Beau poderia esconder seu corpo em um lugar que ninguém jamais o encontraria.

— Certo. — Mensagem recebida. — Não posso prometer que não vou estragar tudo, mas o que sinto por Maisy é real. Estou fazendo tudo com os sentimentos dela em mente e tudo o que posso para fazê-la feliz.

— Tenho certeza que você faz. — Ela deslizou um iPad por cima do balcão. — Eu inseri algumas novas anotações de pacientes para as rondas da tarde.

— Obrigado. — Peguei o iPad e caminhei em direção às escadas, mas antes que meus pés batessem no primeiro degrau, parei e me virei para Gigi. — Ela não curou.

Gigi balançou a cabeça.

— Não, ela enterrou tudo. Ela deixa o hotel administrar sua vida e concentra toda sua energia no Bitterroot e Coby. Ela coloca um sorriso. Ela diz a todos que ela está feliz. Mas não, ela não curou. Ela nem sabe o que está perdendo.

— Eu vou ajudá-la a curar, — prometi.

Ela estudou meu rosto.

— Está vendo aquela porta ali?

Olhei por cima do ombro para a porta de metal que levava ao porão, o porão onde Everett tentara matar a mulher que eu amava.

— Se você conseguir com que ela passe por essa porta, — disse Gigi, — talvez tenha uma chance. Ela tem que enfrentar o que aconteceu. Ela pensa que é uma assassina. Ela não vê que é uma salvadora. Faça-a ver isso, Hunter.

Eu assenti.

Se fosse a última coisa que eu fizesse, eu a faria ver.

— Hunter! — Coby correu em direção às minhas pernas. — Você veio ao meu jogo?

Inclinei-me e o peguei antes que ele pudesse cair de joelhos. Então eu o peguei e o joguei alto.

— Pode apostar que eu vim! Eu tenho que estar lá para torcer quando você for bem-sucedido.

O sorriso de Coby era contagioso. Por mais que eu amasse Maisy, eu estava tão profundamente envolvido com esse garoto.

Eu o coloquei no meu quadril e o deixei envolver os braços em volta do meu pescoço.

— Senti sua falta nos últimos dias, amigo.

— Também senti sua falta. — Ele me abraçou mais forte. — Mamãe disse que você estava cuidando de outras pessoas porque você é médico. Ela disse que você é como o Capitão América.

Maisy estava me gabando? Agora isso foi incrível.

Eu olhei para ela na porta e pisquei.

— Obrigado, Loirinha.

Ela sorriu e tornou meu mundo um pouco mais brilhante.

Apertei Coby novamente e o coloquei no chão, alisando a camiseta do Prescott Café T-Ball.

— Onde está sua luva?

— Meu quarto.

— Vá buscar.

Quando Coby fugiu, me abaixei para pegar Picles, que estava atacando meus pés. Este era um bom dia. Até o cachorro tinha sentido minha falta. Coloquei Picles de volta no chão e fui até Maisy, puxando-a para o meu lado.

— Não há mais noites separados. Mesmo que brigarmos, nós temos que trabalhar com isso. Não posso deixar vocês por tanto tempo.

Sua cabeça caiu no meu peito e sua mão deslizou no meu bolso traseiro.

— Não há mais noites separados.

Eu beijei sua têmpora e a soltei no momento em que Coby voltou correndo pelo corredor.

— Pronto!

Depois de depositar Picles em sua caixa, peguei as chaves do carro de Maisy e carreguei minha garota e meu garoto para levá-los ao jogo de T-ball5.

— Tio Beau! — Coby gritou no minuto em que o levantei da cadeira.

— Coby, lembre-se de que você deve chamá-lo de treinador Holt hoje à noite, — disse Maisy, saindo do 4Runner.

— Opa. — Ele riu. — Treinador Holt!

— Espere, espere, espere. — Maisy agarrou a mão de Coby antes que ele pudesse sair correndo. — Você está em um estacionamento.

Ele bateu a palma da mão na testa.

— Ops. Eu esqueci.

— Pateta, — brincou Maisy. — Vamos lá. Olhe para os dois lados, então podemos ir.

Ela colocou a mão na minha e atravessamos o estacionamento de cascalho.

Examinei as pessoas que estavam amontoadas na grama verde e reconheci alguns rostos. Vi Beau e Jess, os co-treinadores do time, conversando com um grupo de rapazes encostados na cerca de arame que margeava o campo. Gigi e suas meninas estavam sentadas em um banco de madeira, enquanto Ben corria as bases com outras crianças.

— Este é um complexo agradável, — eu disse a Maisy enquanto caminhávamos.

— Eu também pintei. Prescott pode não ter muitas crianças, mas a comunidade é ótima em apoiar as equipes que temos.

Era uma das coisas que eu amava nesta cidade. Era uma das muitas coisas que eu amava sobre Maisy. O orgulho que ela tinha em sua cidade. O preço que ela tinha no The Bitterroot Inn. Ela trabalhou duro para criar um lugar que os cidadãos de Prescott estimassem.

E eles não amavam apenas seu hotel. Eles a amavam.

Nos últimos dias, a notícia de que Maisy e eu estávamos juntos se espalhou como fogo. Alheios a nossa briga, todos os pacientes que eu tinha visto nos últimos quatro dias não fizeram nada a não ser cantar seus louvores.

— Você sabe, você faz parte disso, — eu disse a ela. — As pessoas têm muito orgulho do que você fez no hotel.

— Oh, eu não sei, — ela disse olhando para seus chinelos. — Acho que as pessoas ainda estão esperando que eu falhe.

Eu balancei minha cabeça, desejando que ela soubesse o quão especial ela era.

— Eles têm orgulho do que você construiu.

Ela deu de ombros e acenou para os pais, que estavam montando cadeiras de acampamento na elevação gramada atrás da base inicial.

Eu abandonei a conversa no hotel, mas silenciosamente prometi fazê-la ver o quão notável ela era. Assim como eu estava dizendo a ela durante o último mês a sorte que Coby tinha por tê-la como mãe.

Com o tempo, eu a faria ver tudo.

— Oi pessoal! — Marissa disse quando chegamos ao lugar deles. Ela terminou de colocar um enorme cobertor de brim na grama, depois foi até Coby para dar um beijo em sua bochecha. Ela abraçou Maisy, depois se virou para mim. — Estou tão feliz que você está aqui, Hunter.

— Eu também.

Marissa me deu um abraço, depois olhou por cima do ombro para chamar o pai de Maisy.

— Brock! Venha aqui conheçer Hunter.

Um homem grande, do tamanho de Beau, mas com uma barriga um pouco maior, veio andando com Michael ao seu lado.

Estendi minha mão enquanto ele fazia o mesmo.

— Sr. Holt. Prazer em conhecê-lo. Eu sou Hunter Faraday.

Ele pegou minha mão e apertou-a de volta com dois apertos fortes.

— Brock Holt. Que bom que você veio.

Ele me soltou e eu estendi minha mão para Michael.

— É bom ver você de novo.

— Você também. Que bom que você veio.

Os dois homens Holt deram um abraço em Maisy e depois se apaixonaram por Coby.

— Lembre-se, — Michael disse ao sobrinho, — você precisa correr primeiro assim que bater na bola. Não pare. Corra pela base.

Coby assentiu.

— Eu pratiquei com o Ti-treinador Holt.

— E não se esqueça, neto, — disse Brock. — Eles podem não estar mantendo a pontuação, mas eu estou.

— Pai, — Maisy repreendeu ao mesmo tempo que meus olhos se voltaram para Brock.

— O quê? — Eu perguntei. — Eles não estão anotando? Então quem vence?

— Exatamente! — Brock explodiu, movendo as mãos. — Quem diabos sabe? Por que você não iria marcar a pontuação? Ensine essas crianças sobre ganhar e perder. Não, todos aqui são vencedores.

— Agora, Brock. Não fique empolgado, — disse Marissa.

— Tarde demais, — Michael murmurou quando Brock ignorou completamente sua esposa e começou a me contar tudo sobre os problemas com o esporte infantil na sociedade de hoje.

— Droga — murmurou Maisy, de pé enquanto as equipes em campo se preparavam para começar o jogo. — Eu esqueci as águas no carro. Chaves?

Tirei-as do meu bolso e joguei-as na mão estendida.

— Volto logo.

Quando ela estava fora do alcance da voz, Michael olhou por cima do ombro do assento abaixo de mim.

— Beau vai lhe dar um sermão completo, mas vou apenas dizer o seguinte: se você machucar minha irmã, eu o ajudarei a esconder seu corpo.

Gigi não estava muito longe no alerta.

— Eu não vou machucar sua irmã. — Eu não me importei que seu irmão estava me ameaçando. Fiquei feliz por Maisy ter uma família tão leal. Olhei à minha direita para Brock, esperando o mesmo tipo de aviso, mas ele apenas balançou a cabeça.

— Você não receberá um aviso meu. Meus meninos cuidarão da irmã deles, mas eu direi isso. — Ele se aproximou para falar baixinho. — Minha garota, ela precisa saber que é seguro se apaixonar. Ela precisa ver que pode confiar em um homem. Seja esse homem para ela, Hunter. Proteja-a das merdas deste mundo. Deus sabe, ela viu o suficiente. Está na hora de ela ter um pouco de paz.

Eu balancei a cabeça e voltei para o jogo de T-ball, onde Coby e sua equipe estavam praticando em campo enquanto a equipe adversária estava encolhida no banco deles.

Quando ele olhou para cima, Coby acenou com a bola e gritou:

— Veja isso, Hunter! — Ele balançou e jogou da segunda base para a primeira com todas as suas forças. Chegou a cerca de três quartos do caminho antes de bater na terra e rolar até parar.

Eu aplaudi e gritei:

— Bom trabalho, amigo! Boa jogada!

Ele sorriu e eu acenei novamente.

Aquele garoto. Ele era incrível.

Quando meus olhos encontraram os de Brock, seus pensamentos eram transparentes.

Ele não queria apenas um homem para sua filha. Ele queria um pai para seu neto.

Eu assenti.

Esse homem seria eu.


Capítulo Catorze

Maisy

 

Dois dias após o jogo de T-ball, Coby e eu estávamos no meio da sala vazia de Hunter.

— O que você acha? — A voz de Hunter ecoou no espaço aberto.

Eu me virei e absorvi tudo. Pisos de madeira escura. Vigas expostas no teto abobadado. Pedra bruta ao redor da lareira.

— É lindo. — A equipe da Construtora de Jamison Valley Construction havia se superado. — Eu sei que demorou mais do que você esperava, mas eu diria que se este é o produto final, valeu a pena a espera.

Hunter sorriu.

— Estou feliz que você gostou.

— Hunter, observe isso! — Coby gritou antes de zunir um de seus Hot Wheels pelo chão vazio. Como não havia móveis para bloquear o caminho, o carro se afastou da cozinha, passando pelo espaço onde uma mesa da sala de jantar pertencia e para nós na sala de estar.

— Bom! — Hunter ajoelhou-se no chão e pegou o carro, acelerou e o fez correr de volta.

— Você tem certeza que quer que eu decore? — Eu perguntei. — Os móveis arruinariam sua pista.

Hunter sorriu e se levantou.

— Não. Nós vamos apenas correr em torno dele. Certo, amigo?

Coby assentiu enquanto recuava para a parede mais distante da cozinha e fazia o carro voar novamente.

Enquanto Hunter dirigia o carro mais algumas vezes, eu explorei o resto da sala principal. Eu amei o piso plano aberto. Eu amei a ilha enorme que separava o espaço da cozinha da área de jantar e dos armários cinza claro. Eu amei a quantidade de luz natural inundada pela abundância de janelas.

Eu amei esta casa.

Exceto pelas simples paredes brancas, algo que eu felizmente consertaria, essa era uma casa dos sonhos.

— Devemos continuar o passeio? — Hunter perguntou.

— Sim por favor. — Corri meus dedos pelas bancadas frias de granito antes de seguir Hunter em direção à escada.

— Você quer ficar e brincar ou subir as escadas? — Eu perguntei a Coby.

— Andar de cima. — Ele saiu do chão e passou correndo por mim para alcançar Hunter, ficando perto do seu lado enquanto visitávamos o espaçoso segundo andar.

A cada quarto que Hunter nos mostrava, eu me apaixonava cada vez mais por sua casa vazia. Os quartos de hóspedes eram grandes e arejados. O banheiro de Jack e Jill6 que separava dois deles estava iluminado por uma claraboia brilhante. A sala de bônus acima da garagem para quatro carros de Hunter era enorme, perfeita para um home theater e uma sala de jogos.

Se eu já não estivesse apaixonada, a suíte master teria conquistado meu amor.

— Isto é... — Eu não tinha a palavra certa.

A parede dos fundos estava cheia de janelas com vista para as árvores atrás da casa de Hunter. Os tetos tinham sido abobadados e um lustre de ferro pendia do centro. A única peça de mobiliário de Hunter, uma cama king-size da Califórnia, parecia pequena demais para o espaço amplo.

— É uma casa grande, — disse Hunter, olhando pela janela. — Você acha que é ostensivo?

Eu balancei minha cabeça.

— É perfeita. — Enquanto seus vizinhos tinham casas que gritavam “dinheiro”, a casa de Hunter era a mistura perfeita de luxo e conforto. Todos os acabamentos eram de primeira linha, ficou claro que ele havia investido dinheiro aqui, mas eram de bom gosto. E não era muito grande.

— Banheiro? — Apontei para a porta no canto mais distante do quarto, então deixei meus pés seguirem meu dedo. Meu queixo caiu enquanto eu observava o espaço. — Isso é melhor do que um spa.

Hunter riu da porta atrás de mim enquanto eu inspecionava o piso de mármore do chão ao teto. Então eu abri a porta do closet adjacente.

— Ok. Isso não é justo. Seu armário é um pouco menor que o meu quarto inteiro.

— Deixe-me ver. — Coby passou pelo meu quadril e entrou no armário. Ele dirigiu o carro pelas prateleiras personalizadas e depois voltou. — Ainda não está na hora do jantar? Quando podemos pegar meu cheeseburger?

Eu balancei minha cabeça e murmurei:

— Sem apreciação.

— Hã? — Ele perguntou.

— Nada, homenzinho. Vamos jantar.

— Vamos correr! Eu vou ganhar! — Ele gritou quando saiu correndo do quarto e desapareceu no corredor.

— Agora que você já viu tudo, vai me ajudar a tornar isso habitável? — Hunter perguntou enquanto nós lentamente seguimos Coby.

— Totalmente. — Eu sorri. — Estou super animada para gastar todo o seu dinheiro.

Ele riu e pegou minha mão.

— O que você pensaria em criar um desses quartos para Coby? — Ele apontou para um quarto de hóspedes enquanto caminhávamos pela porta.

Perdi o equilíbrio e colidi com o lado dele. Ele tinha acabado de nos pedir para morar aqui? Ele achava que estávamos prontos para isso? Porque eu não estava. Ainda não.

— Para festas do pijama, — Hunter esclareceu enquanto me ajudava a recuperar o equilíbrio.

— Oh, entendi. Então sim. — Eu assenti. — Tenho certeza que ele gostaria de ter seu próprio lugar.

— Eu não quero apressar as coisas.

— Nem eu.

— Mas... eu gostaria que você pensasse em morar aqui um dia. Quando estiver decorando, escolha as coisas que você gostaria em sua própria casa. Precisamos de algum tempo, mas no futuro, quero você e Coby comigo.

Eu enrosquei meus dedos nos dele.

— Eu posso fazer isso.

Precisávamos de tempo e fiquei feliz por Hunter ter reconhecido isso também. Enquanto eu não tinha intenção de terminar nosso relacionamento, morar juntos seria rápido demais. Sim, Hunter estava praticamente morando no sótão, mas ainda tínhamos casas separadas. Eu não estava pronta para compartilhar um endereço.

Ter uma festa de pijama aqui, por outro lado? Isso estaria começando assim que chegasse os móveis essenciais. Eu mal podia esperar para passar uma noite aqui, depois fazer um grande café da manhã em sua cozinha chique.

— Você pode morar aqui? — Hunter perguntou enquanto eu o seguia descendo as escadas.

— O que você quer dizer?

— Acho que não pensei no hotel. Você precisa morar na cidade?

— Huh, — eu cantarolava. — Eu realmente nunca pensei tão longe. Imaginei que estaria no sótão até Coby partir para a faculdade e ser apenas eu.

Hunter parou em um passo e se virou.

— Não é mais apenas você, baby.

Não. Não, não era.

Como ele estava no nível dos olhos, eu me inclinei para frente e dei um beijo suave em seus lábios.

— Mamãe! Hunter! — Coby gritou do andar de baixo. — Está na hora dos cheeseburgers?

Eu beijei Hunter mais uma vez antes de ele continuar descendo as escadas.

— Eu não acho que tenho que estar na cidade, mas acho que seria bom ter alguém no hotel, — eu disse. — Apenas por precaução. Alguém em quem eu poderia confiar em caso de emergência.

— Como gerente?

— Eu não posso pagar um gerente, — suspirei. — Pelo menos não até que meu financiamento seja pago. Mas talvez eu consiga alguém para morar no sótão e descontar o aluguel se ficar de olho nas coisas e me ligar se houver algum problema.

Isso poderia funcionar totalmente. Quanto eu poderia cobrar pelo aluguel? Quem eu poderia pedir para morar lá? Quando números e possíveis candidatos a aluguel começaram a correr pela minha mente, eu sorri mais.

Talvez eu estivesse pronta para morar com Hunter mais cedo do que eu pensava. A ideia parecia menos chocante do que há um minuto atrás. Agora parecia o próximo passo certo.

— Coby! — Chamei quando entramos na cozinha. Ele não respondeu, apenas riu por trás da ilha, onde ele estava escondido. — Coby! Oh, não, Hunter. Perdemos Coby. Acho que vou ter que beber seu milk-shake Oreo, já que ele não pode jantar.

— Aqui estou! — Coby saiu de trás da ilha e correu para a porta da frente.

Segui meu filho para fora para colocá-lo em seu assento enquanto Hunter trancava a porta atrás de nós. Enquanto saímos lentamente da longa estrada que se encontrava com a estrada principal, vi através do espelho retrovisor a casa de Hunter desaparecer entre as árvores.

O revestimento de cedro estava manchado de marrom, o exterior perfeito para uma casa nas árvores. Os frontões acima do arco coberto adicionavam um toque de elegância suave ao exterior rústico. As colunas de pedra entre a entrada ficariam lindas com barris de flores em suas bases.

Sim, eu quero morar aqui um dia.

Não apenas pela casa, mas porque com a casa vinha o homem.

Olhei para Hunter no banco do motorista e sorri quando meu telefone tocou em um porta-copos central. Ainda bem que não era o desconhecido, quem tinha sido tão persistente como sempre, eu respondi.

— Oi mãe.

— Maisy.

Sentei-me o mais reta que meu cinto de segurança me permitia.

— O quê? O que há de errado?

— Você precisa vir ao hospital agora. — A voz dela estava trêmula. — Seu pai... — Ela parou quando começou a chorar.

— Mamãe? — Meu coração trovejou. — O que há de errado com o papai?

— Ele... ele teve um ataque cardíaco — mamãe sussurrou.

Minha mão voou para a minha boca quando eu ofeguei.

— Ele está com o Dr. Peterson agora, — mamãe disse. — Eles estão fazendo alguns testes.

— Mas ele está bem? Ele está vivo? — Eu engasguei as palavras enquanto meus olhos inundavam de lágrimas.

— Sim, — mamãe sussurrou e começou a chorar novamente.

Graças a Deus.

— Ok. Estamos a caminho. Eu te amo. — Desliguei e olhei para Hunter através dos olhos embaçados. — Precisamos ir ao hospital.

Ele assentiu e acelerou.

— O que aconteceu?

— Papai teve um ataque cardíaco. — Lágrimas caíram pelas minhas bochechas, embora eu estivesse tentando segurá-las pelo bem de Coby. Mas a ideia de perder meu pai era demais e minha respiração engatou com um soluço alto.

Minha mão voltou à minha boca para abafar meus gritos.

— Respire, — disse Hunter.

Eu balancei a cabeça e puxei ar, mas não ajudou.

Eu não conseguia imaginar minha vida sem papai. Eu precisava dele. Eu precisava dele para me ajudar a criar Coby para ser um bom homem. Eu precisava que ele me acompanhasse pelo corredor se algum dia eu me casasse. Eu precisava dos abraços dele quando me sentisse triste.

— Mamãe? — a voz de pânico de Coby me fez bater furiosamente no meu rosto enquanto eu respirava lentamente.

— Está tudo bem, amigo. — Eu soltei meu cinto para que eu pudesse virar e esfregar o joelho do meu filho. — Vai ficar tudo bem.

Ele assentiu, mas lágrimas se formaram em seus cílios inferiores.

— O que sua mãe disse? — Hunter perguntou.

Eu me virei novamente.

— Só que eles estão fazendo alguns testes.

— Peterson está de plantão. Ele é bom. — Ele pegou minha mão e segurou-a com força.

— Ok. — Hunter estava certo. O Dr. Peterson trabalha no hospital por tanto tempo quanto eu me lembro e ele tinha visto tudo. Além de Hunter, eu confiava nele mais do que qualquer outro médico.

— Nós não podemos levar Coby — eu sussurrei.

A resposta de Hunter foi pegar o telefone no meu colo e puxar um nome.

— Gigi, é Hunter. Temos uma emergência com o pai de Maisy e precisamos ir ao hospital. Você pode ficar com Coby? — Ele a ouviu por um segundo e disse: — Tudo bem. Estaremos lá em alguns minutos. — Ele desligou o telefone e perguntou. — Para onde eu vou?

— De volta à estrada, depois em direção à cidade.

Enquanto Hunter dirigia mais rápido, fiz uma oração silenciosa por meu pai e dei outro suspiro trêmulo antes de voltar para Coby.

— Amigo, precisamos ir ao hospital para verificar o vovô, porque ele está doente. Você pode brincar com Ben por um tempo?

Ele assentiu com mais lágrimas.

— Ok.

— Vovô vai ficar bem, — eu disse a nós dois.

— Você vai consertá-lo? — Coby perguntou a Hunter.

Hunter olhou pelo espelho retrovisor.

— Eu farei o meu melhor.

Por favor, deixe-o ficar bem. Por favor. Por favor.

Minha oração era suplicante.

Dirigimos para a fazenda em silêncio, além de eu dar instruções a Hunter. Quando chegamos, Jess e Gigi estavam esperando por nós lá fora. Jess foi direto para os fundos para tirar Coby e Gigi alcançou minha janela aberta para um abraço.

— Nós vamos cuidar dele, — disse Gigi.

— Obrigada. — Olhei por cima do ombro dela e vi a cabeça de Coby apoiada no ombro forte de Jess. — Ainda não jantamos.

Ela me dispensou.

— Nós cuidaremos de tudo. Apenas vá.

— Obrigado. — Hunter acenou e saiu da entrada de cascalho, apontando o carro em direção à cidade. Com uma mão no volante, ele me deixou agarrar a outra com força no meu colo. Quanto mais perto chegamos do hospital, mais forte meu aperto se tornava. Quando entramos no pátio do Jamison Valley Hospital, meu corpo inteiro tremia.

A última vez que estive neste estacionamento, Jess estava me afastando do corpo morto de Everett.

Meu coração estava acelerado e o suor batia nas minhas têmporas, mas um calafrio rastejou sob minha pele. Não importa quantas vezes eu tenha sugado, não consigo encher meus pulmões.

— Você consegue fazer isso. — Hunter tirou a mão do meu aperto e abriu a porta.

Eu posso fazer isso. Eu tenho que fazer isso.

Dentro do hospital estava meu pai. Eu precisava estar lá por ele. Pela minha mãe. Pelos meus irmãos. Eu tinha que entrar em um prédio que continha todas as minhas memórias mais temidas.

Meus dedos se atrapalharam com a maçaneta do carro, mas consegui me segurar e empurrei a porta com o pé. No momento em que meus tênis atingiram a calçada, meus joelhos enfraqueceram. Usando a lateral do meu carro para me equilibrar, fechei a porta e dei um passo. Então outro.

Eu posso fazer isso.

Hunter deu a volta na lateral do carro e estendeu a mão.

— Estou com você o tempo todo.

Eu balancei a cabeça e coloquei minha mão na dele. A cada passo no asfalto, meus pés ficavam mais pesados. A pouca força que eu tinha era usada para me manter de pé, porque o medo de atravessar as portas de vidro deslizante do Pronto Socorro na minha frente era estonteante.

— Você pode fazer isso, baby.

Eu balancei minha cabeça.

— Eu não posso.

— Sim, você pode. Um passo de cada vez. Faça isso pelo seu pai.

Eu poderia fazer isso pelo pai.

— Ok, — eu sussurrei.

Atravessar o estacionamento era lento, mas finalmente conseguimos. Quando atingimos o censor acima das portas de correr e elas se abriram, o cheiro do hospital me atingiu no rosto e meu estômago revirou. Cinco anos desde que eu tinha estado aqui, mas ainda podia me lembrar do cheiro. Eu podia fechar os olhos e fingir que estava em outro lugar, mas o cheiro não iria embora.

— Hunter, — implorei. Meus pés estavam presos novamente.

— Um passo, — ele disse. — Basta dar mais um passo.

Apertei sua mão com força e movi meu pé direito.

— Bom. Mais um.

Meus passos mal eram um embaralhar, mas ele conseguiu me fazer passar pelas portas.

— Pense nas coisas boas que você tinha aqui. Apenas as coisas boas.

Eu assenti. Boas, coisas boas.

Meus olhos dispararam pelo saguão do pronto-socorro. À minha frente estava o balcão onde conheci Gigi em seu primeiro dia de trabalho. Eu estava fofocando sobre Everett, sobre o quão bonito eu pensava que ele era e como eu tinha tanta queda pelo novo médico. Maisy jovem e estúpida. Eu não tinha visto um louco por baixo do exterior bonito dele.

Meus pés pararam novamente.

— Diga-me uma coisa boa.

Engoli em seco e olhei nos olhos preocupados de Hunter. Ele sabia que eu estava a cerca de três segundos de um ataque de pânico completo. Tudo que eu queria fazer era fechar os olhos e fugir, mas como se ele pudesse sentir que eu queria fugir, ele puxou sua mão da minha para envolver seu braço em volta dos meus ombros.

— Diga-me uma coisa boa, — ele repetiu.

Inclinei-me para o lado dele, usando-o como minha âncora enquanto demos outro passo.

— Eu conheci Gigi ali. — Apontei para o balcão de emergência.

— Bom. Diga-me mais uma coisa.

— Abri meu primeiro salário real neste local. — Eu apontei para o chão.

— Eu estava no meio do saguão do pronto-socorro, tonta por ter acabado de terminar minhas duas primeiras semanas de trabalho como enfermeira. Sem minha conta bancária liberada ainda, eles me deram um cheque real. Eu nunca estive tão animada para abrir um envelope.

— Você está indo muito bem, — disse Hunter, tomando o cuidado de diminuir seu passo para que eu não me sentisse apressada. — Continue. Mais coisas boas.

— Minha prima teve um bebê aqui quando eu estava no ensino médio e tive que vir vê-los.

— Menino ou menina? — Ele perguntou enquanto me guiava em direção à sala de espera.

— Menina.

Eu estava pensando em outra boa experiência hospitalar quando minha família na sala de espera nos viu. Mamãe pulou da cadeira e correu para mim, seguida por Beau, Sabrina e Michael.

— Você pode levá-la? — Hunter perguntou a Beau.

Beau assentiu enquanto Hunter gentilmente me transferiu para o lado do meu irmão. Eu amava Beau, mas no minuto em que o toque de Hunter se foi, meu pânico aumentou. Mas por mais que eu quisesse que ele ficasse comigo, era melhor que ele desse uma olhada no papai.

— Fique firme, — disse Hunter. — Eu voltarei assim que puder. — Ele apertou o ombro da minha mãe antes de correr pelo balcão de emergência e desaparecer em direção às salas de exame.

— Vamos lá, Maze, — Beau disse suavemente.

Fechei os olhos, apagando os lembretes visuais do tempo flertando com Everett na sala de espera, e deixei cegamente meu irmão me levar a uma cadeira.

— Estou orgulhosa de você, — mamãe disse, sentada na cadeira ao lado da minha e agarrando minha mão.

Orgulhosa de mim? Ela tinha muito com que se preocupar com o papai, ela não devia precisar estar orgulhosa de mim. Eu deveria estar aqui confortando-a, não o contrário. Eu não precisava que as pessoas se preocupassem comigo quando deveriam se concentrar no papai.

A vergonha substituiu o pânico.

Everett estava morto há anos, mas eu estava deixando ele controlar minha vida. Eu deixei minha lembranças dele manchar este hospital. Eu o evitei a todo custo, com medo do que estar dentro dessas paredes faria com a minha sanidade.

Abri os olhos e olhei em volta.

Em vez de imaginar Everett nesta sala de espera, vi Beau e Sabrina se confortando. Eu vi Michael batendo o pé enquanto conferia o relógio. Então vi mamãe, que estava pálida e à beira de mais lágrimas.

Eu bloqueei Everett do hospital e vi exatamente o que era. Um hospital. Um prédio. Um lugar com boas e más lembranças.

Era hora de deixar ir alguns medos e focar na minha família.

— O que aconteceu? — Eu perguntei a mamãe.

Ela fungou e enxugou os olhos.

— Nós estávamos apenas jantando. Ele se levantou da cadeira para levar o prato para a cozinha. Ele não limpa seu próprio prato há anos.

Eu sabia disso. Mamãe servia papai. Ela gostava de fazer isso e ele gostava de deixá-la.

— Ele voltou da cozinha e começou a esfregar o peito. A próxima coisa que sei é que ele estava me dizendo para ligar para o 9-1-1 porque achava que estava tendo um ataque cardíaco. Então eu corri para o banheiro e peguei aspirina para ele. Então nos sentamos juntos no sofá e rezamos até a ambulância chegar alguns minutos depois.

— Quanto tempo você esteve aqui antes de nos ligar? — Beau perguntou.

— Apenas alguns minutos. Eles começaram medicando Brock na ambulância e o Dr. Peterson estava apenas um minuto atrás de nós quando chegamos ao hospital. Eles começaram a fazer o teste de eletrocardiograma e eu saí para ligar para vocês. Quando voltei, eles me disseram que eu tinha que esperar aqui fora.

Ela começou a chorar de novo, então me inclinei para tirar um lenço de renda da bolsa.

Ela enxugou os olhos.

— Obrigada.

Michael começou a esfregar as costas dela.

— Vai ficar tudo bem, mãe.

Eu rezei para que ele estivesse certo.

Todos nós nos sentamos em silêncio e olhamos para o corredor onde Hunter havia desaparecido, abraçados uns aos outros. Quando Hunter saiu do salão quase uma hora depois, nós nos levantamos e agarramos as mãos uns dos outros.

Hunter caminhou direto para mamãe e colocou a mão no ombro dela.

— Ele está bem. Ele ficará bem.

Todos desinflamos, depois nos abraçamos a mamãe.

— O ataque cardíaco não foi grave e, desde que você chegou imediatamente, o Dr. Peterson conseguiu abrir a artéria bloqueada. O medicamento anticoagulante não estava trabalhando o suficiente para Dr. Peterson colocar um stent7. Tivemos que dar um leve sedativo a Brock, então ele está zonzo, mas assim que o colocarmos em um quarto no andar de cima, vocês podem vê-lo.

— Quanto tempo ele tem que ficar? — Beau perguntou.

— Pelo menos essa noite — disse Hunter. — Se as coisas parecerem boas amanhã, vocês provavelmente poderão levá-lo para casa.

— E então ele fará dieta, — mamãe declarou.

— Ele vai amar isso, — Michael zombou. — Chega de frituras às sextas-feiras.

— Está certo. — Mamãe assentiu, depois olhou para Hunter. — Acho que vou ficar esta noite, se estiver tudo bem?

— Isso é bom.

— Você tem certeza, mãe? — Beau perguntou. — Você não acha que ficaria mais confortável em casa?

Ela balançou a cabeça.

— Eu ficarei bem.

Mamãe dormia ao lado do pai há décadas. Não havia como ela ir para casa sem ele.

— Vamos. — Hunter estendeu a mão para ela. — Eu vou te levar.

— Eu sei o caminho. — Mamãe caminhou em direção à escada com Michael, Beau e Sabrina seguindo atrás. Hunter e eu seguimos todos eles, de mãos dadas.

Ele se inclinou para beijar meu cabelo.

— Como você está?

— Melhor agora que papai vai ficar bem.

Melhor agora que eu tinha tomado uma decisão.

Enquanto estávamos sentados na sala de espera, eu tomei uma decisão. Eu não sairia deste hospital hoje à noite até que eu pudesse voltar amanhã e visitar meu pai sem Hunter ter que praticamente me arrastar através das portas.

Antes de sair hoje à noite, eu voltaria para o lugar onde meus pesadelos começaram. Eu estava indo ao porão.

Mas primeiro, eu queria abraçar meu pai.

Quando chegamos ao quarto de papai no segundo andar, o enfermeiro estava saindo do quarto e ele acenou para nós entrarmos.

— Oh, Brock, — mamãe ofegou e colocou as mãos nas bochechas.

Papai estava piscando para nós como se tivesse acabado de acordar.

— Ei, querida.

O carinho de papai trouxe uma nova onda de lágrimas e eu enterrei meu rosto no lado de Hunter para ficar em silêncio. Ele apenas me segurou firme, sussurrando no meu cabelo que tudo ficaria bem. Quando recuperei a compostura, entrei no quarto de papai entre minha família. Então, um por um, todos abraçamos o papai.

— Eu amo você, pai, — eu disse em seu pescoço.

— Amo você também.

— Vamos deixar você descansar um pouco.

— Marissa, podemos pegar alguma coisa? — Sabrina perguntou.

Mamãe balançou a cabeça e pegou a mão do papai.

— Eu tenho tudo o que preciso.

— Voltaremos logo de manhã. — Sabrina se inclinou para beijar a bochecha de papai e depois abraçou mamãe em despedida.

Beau fez o mesmo antes de me abraçar e apertar a mão de Hunter.

— Obrigado.

Hunter assentiu e depois deu um abraço em Sabrina.

— Eu vou ficar por um tempo, — disse Michael. Isso significava que ele ficaria a noite toda. Não havia como ele deixar mamãe dormir aqui sozinha.

— Obrigada, — eu murmurei.

Ele assentiu e se sentou em uma das duas cadeiras para visitantes.

Hunter e eu nos despedimos de Michael, mamãe e papai, depois os deixamos em paz.

— Eu preciso fazer algo antes de irmos, — eu disse a Hunter enquanto caminhávamos pelo corredor. — Mas vou precisar da sua ajuda. Eu não acho que posso fazer isso sozinha.

De alguma forma, Hunter sabia o que eu queria dizer sem ter que explicar.

— Você tem certeza de que fará isso hoje à noite? Já foi difícil vir ate aqui.

Eu assenti.

— Quero fazer isso enquanto estou corajosa o suficiente.

— Ok baby. — Sua mão descansou nas minhas costas. — Então eu estarei aqui.

Descendo as escadas, agarrei o corrimão com mais força a cada passo. Minha mão livre tremia quando cheguei ao primeiro andar.

— Tudo bem? — Hunter perguntou.

Eu balancei a cabeça e dei outro passo em direção à porta do porão. Quando meus dedos envolveram a alça de metal, eles mal tiveram força para pegar a maçaneta e girar.

Felizmente, não estava trancada e a porta pesada chiou quando eu a abri. O ar frio e mofado do porão soprou no meu rosto. Com Hunter sustentando a porta aberta, atravessei o batente e parei no patamar acima da escada.

Eu posso fazer isso. Eu posso fazer isso.

Eu faria isso.

E então talvez eu estivesse livre.

Um passo de cada vez, com a mão de Hunter me lembrando que ele estava lá, desci as escadas de cimento no porão dos meus terrores. Então, lentamente, caminhei para o depósito mortal no final do corredor.

Olhando por cima do ombro, recebi um aceno tranquilizador de Hunter, depois me virei e entrei na sala cinza.

Nada mudou realmente em todos esses anos. Algumas coisas haviam mudado. Outros não. Ainda era frio e cheirava a concreto. Eu não andei mais para o espaço do que apenas na porta. Eu não precisava andar mais. Deste local, eu pude examinar a sala inteira.

Esperando um dos meus flashes, preparei-me quando meus olhos atingiram o local onde eu esfaqueei Everett.

Quando não chegou, esperei mais alguns batimentos cardíacos. Então mais um pouco.

Ainda assim, nada aconteceu.

Meus olhos varreram o lugar mais duas vezes e então me virei .Eu não precisava ficar mais tempo. Eu tinha feito o que eu precisava fazer. Eu peguei um pequeno pedaço de mim de volta, um pedaço que Everett tinha roubado anos atrás. Ele não me tiraria mais o hospital. Era meu novamente.

— Eu acabei aqui.

Hunter assentiu e, sem comentar, segurou minha mão para me levar para fora do porão. Quando chegamos ao saguão, ele fechou a porta do porão e me puxou para seus braços.

— Estou orgulhoso de você. Isso não deve ter sido fácil.

— Não foi. — Eu pressionei minha bochecha em seu coração. — Obrigada por vir comigo e por me ajudar a entrar mais cedo. Eu não seria capaz de fazer isso sem você.

— Você teria encontrado uma maneira, mas estou feliz por poder ajudar. Como você está se sentindo?

Exausta. Entorpecida. Estranha.

— Eu pensei que seria diferente. — Foi mais difícil atravessar as portas do pronto-socorro do que olhar para o lugar onde eu havia tirado a vida de um homem.

— Diferente como?

— Acho que pensei que seria mais difícil. Talvez mais emocional? Mais final?

— Dê-lhe tempo. — Ele me soltou e pegou minha mão. — Vamos pegar o Coby.

— Ok. — Enquanto caminhávamos, olhei por cima do ombro para a porta do porão.

Eu esperava sentir algum tipo de fechamento por entrar naquele porão, algum tipo de final, mas não senti.

Algo ainda estava faltando. Algo com relação ao Everett ainda estava inquieto.

Inacabado.

Eu simplesmente não sabia o quê.


Capítulo Quinze


— Boa noite, amigo. — Eu beijei o cabelo de Coby e saí do quarto dele.

Fazia um mês desde o ataque cardíaco de papai e a vida estava voltando a um novo normal.

Pela promessa da mãe, ela colocou o pai em uma dieta, algo que ele não protestou nem um pouco. Ele já havia perdido cinco quilos e estava comprometido com o estilo de vida mais saudável que todos estávamos apoiando.

Beau começou a levar papai para caminhadas regulares nas montanhas, Michael trocou todas as cervejas Budweiser de papai por Michelob ULTRA, e eu substituí o prato semanal de biscoito que eu levava para papai há anos por tigelas de frutas frescas.

Levou quase o mês inteiro, mas meu medo de perder o pai estava finalmente começando a desaparecer. E sempre que eu ia começar a me preocupar, Hunter estava ao meu lado. Ele me puxava em seus braços e me assegurava que as pessoas se recuperavam de ataques cardíacos o tempo todo e continuavam vivendo muitos, muitos anos mais.

Sem Hunter, toda essa provação teria sido infeliz. Sem Hunter... bem, eu não gostei de pensar nisso. Eu o tinha e não o deixaria ir.

— O que você está fazendo? — Eu me sentei no meu sofá ao lado de Hunter.

Ele virou o notebook para que eu não pudesse ver a tela. É uma surpresa. Coby dormiu?

— Como um anjo. Qual a sua surpresa? — Eu alisei meu pescoço para dar uma olhada, mas Hunter fez cócegas nas minhas costelas. Eu gritei e me sentei quando afastei sua mão.

— Quieta. — Ele riu. — Você vai acordar Coby.

Eu fiz uma cara de “sim, certo”. Coby mal tinha conseguido ler duas páginas do seu livro antes de apagar. Ele estava no fundo da terra dos sonhos, junto com Picles, que estava dormindo no chão ao seu lado.

— Vamos lá, me mostre sua surpresa. É para Coby? Porque sou excelente em manter as surpresas em segredo. — Fechei meus lábios com força, fechei a fechadura e abri a boca para jogar a chave.

Hunter riu e se inclinou para roçar seus lábios nos meus.

— É impossível negar algo para você.

Eu sorri quando ele entregou o notebook.

— A surpresa é para você, mas ainda não terminei de editar.

— Estas são minhas fotos? — Eu quase saí do sofá e estava tão animada.

— Sim. Basta clicar para a direita.

Eu me sentei de volta, pairando sobre o notebook, com um enorme sorriso no rosto. Ocupando a tela inteira havia uma foto de Coby de costas, enquanto ele pescava na lagoa da comunidade.

— Hunter, — eu sussurrei, balançando a cabeça em descrença. — Isto é...

Era exatamente a foto que eu imaginei em minha mente, mas melhor. A luz havia sido retocada e havia um raio de sol caindo sobre a água. A grama estava borrada para dar à foto uma borda mais suave. E de alguma forma Hunter conseguiu capturar o suficiente do perfil de Coby para ver que meu filho estava muito feliz.

— Você não precisa usá-las, — disse Hunter. — Não vai machucar meus sentimentos se você decidir que elas não são boas o suficiente. Podemos conseguir que um fotógrafo profissional as faça novamente.

Afastei meus olhos da fotografia.

— Não. Isso é incrível. Tipo, a melhor foto que eu já vi.

— Realmente?

— Totalmente. — Corri meus dedos por sua mandíbula com barba. — Hunter, essa foto é inacreditável. É apenas tão boa quanto qualquer profissional poderia ter feito. Eu estou apenas... — Larguei minha mão e olhei de volta para o notebook. — Estou tão orgulhosa que você fez isso. Isso torna todo esse projeto muito mais especial.

Um sorriso assumiu o belo rosto de Hunter.

— Posso ver o resto? — Eu perguntei.

Ele assentiu e se aproximou para assistir.

Eu cliquei nos slides das fotos, meu trabalho crescendo a cada foto.

— Oh meu Deus! Este é perfeita! — Eu não pude deixar de gritar. A foto que Hunter havia tirado do topo do posto de gasolina era incrível e merecia um par extra de decibéis. Ele capturou toda a Main Street com a ponte saindo da cidade ao fundo. Era tudo o que eu amava na minha cidade, capturada em uma única foto.

— Essa é a minha quarta favorita, — ele disse.

— Quarta? — Além da foto de Coby, esse era a minha número dois.

Ele sorriu.

— Continue.

Eu cliquei novamente, então ofeguei. A próxima era da nossa viagem de manhã cedo ao lago Wade.

Isso roubou meu fôlego.

Hunter havia feito quase o impossível. Ele havia tirado uma foto que fez justiça ao cenário. Ele havia capturado as cores ricas da madrugada. A luz do sol mal alcançava o cume da montanha. A água vítrea refletindo as nuvens acima. Ele entendeu tudo perfeitamente.

— Essa ficou ótima, — ele sussurrou.

— Não, incrível. — Ótima é subestimada.

Eu cliquei nas duas próximas fotos, mas congelei quando a última foto encheu a tela. Era uma foto minha e Coby em uma cabine no café. Coby e eu tínhamos nossos narizes pressionados juntos em um beijo esquimó. Nós dois estávamos sorrindo e sua mão pequena estava em cima da minha na mesa. Eu nem me lembrava de Hunter tirando.

— Esse não é para o hotel, — ele disse. — Essa é apenas para mim. — Hunter sorriu para a tela. A adoração em seus olhos derreteu meu coração.

Ele nos amava. Sem dúvida, ele nos amava.

A maneira como ele estava olhando para aquela foto era a forma como meus pais ainda se entreolhavam. Era assim que Beau olhava para Sabrina. Era como Jess olhava para Gigi e seus filhos.

Hunter nos amava.

E nós o amávamos.

Eu o amava.

— Eu te amo. — Mais uma vez, eu tinha provado que tudo o que vinha à minha cabeça mais frequentemente do que não, saía correndo da minha boca.

Os olhos de Hunter se voltaram para os meus e ele me encarou por três batimentos cardíacos torturantes. Então, um sorriso apareceu nos cantos de seus lábios.

— Eu também te amo.

Por algum milagre, o notebook não caiu quando nossos corpos colidiram. Com seus lábios se movendo contra os meus, eu subi em seu colo enquanto ele deslizava sua língua para dentro. Eu amo beijar esse homem. Tudo em sua boca era delicioso. Ele alternava acariciar minha língua e chupar meu lábio inferior. Quando inclinei minha cabeça para um acesso mais profundo, ele me recompensou com um morder de seus dentes.

Seus braços musculosos cruzaram minhas costas enquanto ele me esmagava contra seu peito. Eu dei todo o meu peso, colocando meus quadris contra a ereção sob seus jeans. Ele empurrou os quadris para cima, enviando uma sacudida de calor direto para o meu núcleo quando seus lábios deixaram os meus para rastrear beijos de boca aberta pelo meu pescoço.

— Hunter, — eu gemi quando seus dentes roçaram minha clavícula.

— Deus, eu amo esse som. — Ele beijou a cavidade do meu pescoço e meus quadris balançaram com mais força, procurando por algum atrito para aliviar meu clitóris dolorido. — Moa com força, querida.

Eu obedeci, circulando meus quadris com força em seu colo. Ele gemeu e empurrou mais forte, enviando outra corrente pulsante para o meu núcleo.

— Cama. Preciso que você me leve para a cama. — Meu pedido provocou um estrondo da garganta dele.

— Você quer meu pau, baby? — Sua voz áspera, suas palavras sujas, suas mãos amassando minha bunda enviaram um arrepio pelo meu corpo. — Sim, — ele disse contra o meu pescoço. — Você quer meu pau.

Hunter se levantou rápido, seus braços fortes me colocando em pés instáveis para que ele pudesse me arrastar para o quarto. No segundo em que a porta se fechou, comecei a tirar minhas roupas. Quando meus dedos trêmulos se atrapalharam com o botão do meu jeans, eu bufei de frustração, tentando limpar a névoa do beijo de Hunter para que eu pudesse ficar nua.

Mas esse maldito botão!

Antes que eu pudesse arrancar o disco de metal da casa de botão, eu estava voando pelo ar. Minhas costas saltou sobre a cama de Hunter. Meu peso ainda estava instável quando as mãos dele chegaram às minhas calças e ele puxou o botão traidor. Então, com um puxão forte nos meus tornozelos, ele arrancou minhas calças das minhas pernas, me libertando do jeans. Enquanto ele rapidamente tirava suas próprias roupas, eu mexi na minha calcinha de renda.

— Porra, Maisy. Veja como você está molhada. — O colchão afundou quando Hunter subiu na cama se ajoelhando entre minhas pernas. Seus dedos arrastaram minhas panturrilhas até os joelhos, as pontas mal roçando minha pele. Quando ele alcançou meus joelhos, ele agarrou com força, cavando minha carne enquanto ele empurrava meus joelhos mais abertos.

Um ruído estrangulado saiu da minha garganta e meus olhos reviraram. Minha respiração agitada ecoou em meus ouvidos enquanto eu estava lá, completamente espalhada e aberta para a inspeção de Hunter.

— Você é linda. Tão bonita. — Seus dedos encontraram meu centro molhado e eu ofeguei quando ele mergulhou dois dedos dentro.

Ele esfregou meu ponto sensível e meus quadris resistiram. Se ele continuasse, eu iria gozar, mas queria que estivesse ao redor de seu pênis.

— Hunter, eu preciso de você. Por favor.

Sem demora, a cabeça de seu pau grosso e lindo pressionou contra a minha entrada. Seu peito desceu para descansar contra o meu enquanto seus cotovelos me mantinham embaixo dele. Então, com uma pressão lenta, ele afundou profundamente, me enchendo completamente.

— Sim, — eu gemi em seu ouvido quando ele puxou para fora, então bateu com força. Nós paramos de usar preservativos a um tempo atrás e a sensação dele nu dentro de mim era nada menos que incrível.

Hunter trabalhou seu pau em um ritmo em constante mudança, forte e rápido, depois profundo e lento, exatamente do jeito que eu gostava. Ele conhecia meu corpo, minhas pistas, tudo. Ele sabia como me levar até o limite e depois me arrastar para longe, uma e outra vez, até que eu estivesse uma bagunça trêmula e completamente à sua mercê.

— Você está pronta para gozar, baby?

Eu balancei a cabeça quando ele afundou sua boca quente e molhada na minha para outro beijo.

Seu pênis empurrou fundo e ficou enraizado para poder moer a base no meu clitóris latejante. Então ele se recostou, ajoelhando-se. Com as mãos embaixo das minhas coxas, ele as levantou, o ângulo mudando para que ele pudesse me foder mais fundo.

Quando ele se afastou e bateu de volta para dentro, minha cabeça e ombros saltaram para frente, saindo da cama e depois voando de volta para baixo.

— Eu vou gozar, — eu ofeguei quando o prazer inchou, se espalhando do meu núcleo em uma onda de calor formigante.

Logo antes do meu orgasmo chegar, eu estendi a mão e enfiei meus dedos nos cabelos de Hunter, puxando o elástico e segurando suas madeixas pelo couro cabeludo. Forte. Manchas brancas surgiram atrás das minhas pálpebras quando eu deixei a explosão vir. Meu corpo inteiro pulou, apertando-o enquanto ele se movia mais rápido, puxando meu orgasmo da maneira mais forte que ele já havia construído.

— Caralho, — ele assobiou. — Eu amo você. — Minhas paredes ordenhavam seu pau até que seu próprio lançamento estava derramando em mim com jatos quentes. Forcei meus olhos a abrirem para assistir o orgasmo de Hunter, saboreando a visão de seus olhos fechados com prazer e o pomo de Adão balançando enquanto sua garganta retumbava.

Eu amava esse homem. Eu confiava neste homem. Quer fosse para cuidar do meu coração ou satisfazer meu corpo quando estávamos fazendo sexo quente, eu confiava nele para me amar como eu o amava.

Abnegadamente.

O peito pesado de Hunter desabou em cima de mim enquanto seus braços serpenteavam atrás das minhas costas para segurar firme. Mole, eu mal tive forças para envolver meus braços em suas costas e acariciar sua pele suada.

— Eu te amo, Maisy Holt, — ele disse no meu pescoço. — Como tive a sorte de ganhar você?

Superada com amor por esse homem, minha respiração engatou e lágrimas vazaram dos cantos dos meus olhos.

— Eu também te amo, Hunter Faraday.

Nós dois tivemos sorte. A partir de agora até o fim da minha vida, eu contaria o meu dia de maior sorte quando ele entrou no meu hotel. Todo o mal, toda a porcaria que Everett me fez passar, eu faria tudo de novo se isso significasse que esse homem era minha recompensa.

— Não chore. — Hunter rolou para o lado e me puxou com força contra o peito. Seu pênis ainda estava enterrado profundamente dentro de mim. — Não chore, baby

Meu coração nunca se sentiu tão cheio. Tão completo. A felicidade era tão forte e avassaladora que eu não sabia como processá-la além de chorar.

— Eu só... eu amo você Estou muito feliz.

Ele beijou minha testa.

— Eu sei como você se sente.

Ele me segurou forte, me dando alguns minutos para me acalmar, antes de sair. Então ele foi ao banheiro e trouxe de volta uma toalha para limpar suavemente entre as minhas pernas.

Quando ele caiu na cama, enredamos nossos corpos nus juntos. Eu estava deitada ao seu lado, seu braço atrás do meu pescoço e minha bochecha pressionada em seu peito. Meu pé estava subindo e descendo em sua panturrilha enquanto sua mão estava enfiada com a minha na barriga tanquinho.

— Obrigada por tirar minhas fotos, — eu disse ao seu peito nu.

— De nada. Vou terminar a edição e pedir as telas.

Eu me aconcheguei mais fundo e fechei os olhos.

— Obrigada.

— Você vai me fazer um favor quando elas forem entregues?

— Certo.

— Gostaria de pendurar a foto sua e de Coby no escritório da minha casa.

Eu sorri e beijei o vale entre seus peitorais.

— Eu posso fazer isso.

— E eu estou pagando por todos elas.

Meu sorriso diminuiu.

— De jeito nenhum.

— Maisy, — ele avisou.

— Hunter. — Eu imitei o tom dele. — Este é o meu hotel e essas fotos são uma despesa comercial.

— Essas fotos são um presente para a mulher que amo.

— Droga, — eu murmurei. Eu não conseguiria derrubar isso e ele sabia disso. — Boa jogada, Dr. Faraday.

Ele riu.

— Seus móveis devem chegar aqui no início da próxima semana, — eu disse. — Talvez, assim que arrumarmos tudo, possamos começar nossas festas do pijama?

— Eu gostaria disso. Eu gostaria muito disso.

— Bom, então está resolvido. — Eu sorri, animada com o que estava prestes a ser entregue.

Como não havia uma grande variedade de artigos para casa em Prescott e eu não tinha tido tempo de ir a Bozeman para fazer compras, pedi a maioria dos móveis de Hunter online. Os sofás e as cadeiras da sala chegariam primeiro. Em seguida, a cama para o quarto de Coby. E então a mesa que eu tinha feito sob encomenda para o escritório dele e a enorme mesa da sala de jantar.

Eu mal podia esperar para surpreendê-lo com tudo. Eu já tinha combinado que Beau e Michael me ajudariam a arrumar tudo para que na próxima semana eu pudesse levá-lo até lá sob o ardil de desembalar as remessas quando, na verdade, tudo já estaria pronto.

Eu até recrutei mamãe para me ajudar a mobiliar a cozinha desde que eu estava tão ocupada no hotel. Ela tinha tido uma explosão de comprar pratos, panelas e tudo mais que uma cozinha poderia precisar. Eu estava escondendo tudo na garagem dela, que estava cheia de sacolas e caixas, para que Hunter não soubesse da minha surpresa.

— Que horas precisamos estar no centro da cidade para o desfile amanhã? — Hunter perguntou, afastando meus pensamentos da decoração.

— Começa às dez, mas se queremos um bom lugar, precisamos estar lá às nove.

— Ok, — ele bocejou. — Você ativou um alarme?

— Não, eu esqueci. — Eu rolei fora dele e peguei meu telefone na mesa de cabeceira. Sorri para a tela em branco quando a abri.

Já fazia mais de um mês desde que eu recebi uma ligação desconhecida. Aquela repórter finalmente desistiu. Agora eu só esperava que ela tivesse sido a última. Que os repórteres do mundo haviam encontrado melhores notícias e, com o tempo, eu receberia o fechamento que procurava desde que matei Everett.

Eu venci meus medos do hospital. Agora, se eu pudesse superar os flashes aleatórios, eu ia sentir como se Hunter, Coby e eu pudéssemos realmente seguir em frente. Eu não tinha um flash há algum tempo, o último aconteceu quando eu estava limpando algumas semanas atrás, então eu estava mantendo meus dedos cruzados que os tempos entre eles estavam ficando mais longos. Talvez um dia eles desapareçam completamente.

— Ligado. — Ajustando meu alarme para seis, eu me encolhi de volta no lado de Hunter e beijei seu peito. — Boa noite.

Ele beijou meu cabelo.

— Boa noite, Loirinha.

Eu sorri.

Boas noites. Tudo que eu queria era uma vida inteira de boas noites com Hunter ao meu lado.

E se as coisas continuassem como estavam, eu poderia apenas conseguir meu desejo.

 

Hunter


O tempo acabou.

Ela me amava, o que significava que era hora de contar a verdade a Maisy. Estava na hora de contar a ela sobre o meu passado. Sobre Nell.

Sobre Everett.

Estava na hora de lhe contar tudo e depois se agarrar aos seus pés quando ela tentasse fugir.

— Quem é Nell?

A pergunta de Maisy fez minhas mãos tremerem no volante. O carro saltou para o lado antes de eu nos endireitar de volta na estrada em direção à garagem de Nick e Emmeline Slater para sua festa anual do Dia da Independência.

— Uau. Tudo bem? — Maisy perguntou.

— Sim. Desculpe, eu pensei que eu vi um animal na estrada, — eu menti.

— Oh.

Ela ficou quieta por um minuto e eu esperava que ela deixasse de lado sua pergunta anterior. Talvez ela tenha desistido de perguntar sobre Nell novamente, já que estávamos a poucos minutos do nosso destino.

— Quem é Nell? — Ela repetiu.

Porra.

Sua pergunta era outro sinal de que era hora de contar a verdade.

Minhas mãos agarraram o volante com mais força. Respirei fundo e abri a boca, mas antes que eu pudesse responder à sua pergunta, Maisy acenou com as mãos no ar.

— Desculpe. Esqueça. Eu não deveria mencionar isso. Vi o nome dela no seu telefone há um tempo e fiquei curiosa. Eu não quis bisbilhotar, mas ele apareceu com um texto quando eu estava passando e o texto não era muito legal. Eu meio que esqueci tudo, mas depois encontramos o Mitchells no desfile mais cedo e a filha deles se chama Nellie e eu lembrei do texto e...

— Ei. — Peguei a mão dela para impedi-la de tagarelar nervosa. — Está tudo bem. Nell é... bem, ela não é um tópico divertido.

— Eu imaginei.

Pensei em todos os textos de Nell. A maioria era Ligue para mim ou Pare de me ignorar. Exceto por um.

O que acontece depois é sua culpa.

Esse deve ser o texto que Maisy tinha visto.

Nell, porra.

Ela parou de me assediar e eu estava esperando que finalmente terminamos e ela realmente processou minha escolha de morar aqui. Eu esperava que ela percebesse que eu nunca mais voltaria e ela seguisse em frente com sua própria vida e me deixasse na minha. Esperança tola.

Seria muito mais fácil contar a Maisy sobre Nell se isso fosse verdade.

— Vou falar sobre ela, mas agora não é a hora. — Eu sinalizei com meu queixo de volta para Coby, que estava chutando as pernas descontroladamente, nervoso por causa de todos os doces do desfile que ele havia consumido após sua soneca da tarde.

— Mas você está bem? — Maisy perguntou. — Ela não está ameaçando você ou o que seja?

— Não. Ela não está. E eu estou ótimo. — Eu trouxe a mão dela na minha boca para um beijo.

— Eu não deveria ter olhado. Desculpa.

— Não peça desculpas. Nunca peça desculpas. Sua curiosidade é uma das coisas que amo em você.

Isso e a paciência dela. Todo esse tempo e ela tinha mantido sua promessa de não perguntar sobre minha família ou relacionamentos passados. Ela me deu mais liberdade do que qualquer outra mulher teria em sua posição.

Mas ela não precisaria por muito mais tempo.

Eu diria a verdade, então me ajoelharia e imploraria que ela me perdoasse pelas mentiras e omissões. Ela me amava e era minha pequena esperança que nós realmente pudéssemos superar tudo isso juntos.

— Espero que o show de fogos de artifício corra bem para Michael hoje à noite, — disse Maisy, mudando de assunto. — Ele está tão nervoso. Ele já fez isso antes, mas acho que está preocupado que algo dê errado e Alana veja.

Eu ri.

— Ele vai ficar bem.

Aos olhos de Alana, Michael não podia fazer nada errado. Seu espetáculo de fogos de artifício poderia consistir em um diamante e uma flor de lótus flamejante, e ela diria que era o evento mais espetacular da história de Prescott.

— Estamos aqui! — Coby gritou quando entrei no estacionamento em frente à garagem Slater.

Maisy sentou-se ereta no assento e soltou o cinto de segurança. Ela estava do lado de fora antes mesmo de eu estacionar o 4Runner no estacionamento.

Então ela foi atacada pela horda de mulheres.

Depois que as mulheres se dispersaram, Gigi foi direto para o banco de trás para soltar Coby para que ele pudesse correr e encontrar as outras crianças. Felicity e Sabrina abriram a parte de trás do carro para pegar os biscoitos que Maisy havia feito para a sobremesa. Quando Emmeline saiu da garagem com a barriga muito grávida, estávamos prontos para entrar.

— Você vai pegar a caixa térmica? — Maisy me perguntou enquanto caminhava com Emmeline.

— Sim. — Acenei e fui para o banco de trás para as bebidas.

Com o conteúdo da caixa depositado na geladeira na garagem, juntei-me aos caras amontoados em torno de um clássico Camaro preto que Nick estava restaurando.

— Ei. — Apertei a mão de Nick. — Obrigado por nos receber.

— Bem-vindo. Que bom que você conseguiu vir

Apertei a mão de Jess, Silas e Beau. Eu já conhecia alguns dos outros caras antes, incluindo o pai e o irmão de Nick, que estavam na cidade no fim de semana e ficaram no Bitterroot.

— Isso é delicado, — eu disse a Jess, passando a mão pelo capô do carro.

— Não brinca. Me faz querer um.

Eu assenti.

— Seria divertido comprar um antigo e reconstruí-lo. Talvez faça isso junto com Coby.

A conversa parou e todos os olhos estavam em mim.

Minha coluna ficou reta.

— O quê?

À minha frente, Beau estava sorrindo.

— Que bom que você está intensificando.

Eu relaxei e sorri de volta. Foda-se sim, eu estava intensificando. O tempo de Beau como figura paterna de Coby terminou.

Esse era o meu trabalho.

— Eu...

O grito de uma mulher interrompeu minha frase e todas as cabeças se voltaram para as portas abertas da garagem na frente da loja. Jess e eu nos movemos primeiro, nós dois treinamos ao longo dos anos para reconhecer o som da dor. Nick passou correndo por nós, conhecendo o som do choro de sua esposa. Quando saímos, todas as mulheres pairavam sobre Emmeline, que estava curvada e segurando a barriga.

— O que aconteceu? — Eu perguntei quando cheguei ao lado de Emmeline.

— Contração, — Emmeline assobiou. — Um grande problema.

— Quão distanciadas elas estão?

— Dez minutos mais ou menos. Eu as tive o dia todo, mas nada muito perto, então eu não estava preocupada. Mas esse veio em cima... uh-oh.

Um filete de água escorreu por sua perna.

— Ok. Hora do hospital. Você está pronta para conhecer sua filha?

Ela olhou para Nick ao seu lado e sorriu.

Então o caos irrompeu quando a festa foi encerrada, os Slaters rugiram para o hospital e eu beijei Maisy na bochecha antes de seguir.

Nove horas depois, saí do quarto de hospital de Emmeline, deixando ela, Nick e o bebê Nora sozinhos para descansar.

O Dr. Peterson era o médico de cuidados primários de Emmeline, mas eu fiquei por aqui, querendo aprender com um médico com uma experiência incrível. Eu não tinha trazido muitos bebês fora da minha residência e, como estava em Prescott indefinidamente, acabaria sendo o médico sênior do Jamison Valley Hospital. Eu não podia ter escolhido um bebê melhor para acolher a esta comunidade. Nora Slater era tão perfeita quanto os recém-nascidos.

Correndo para o vestiário, tirei a roupa e peguei meu telefone no bolso da calça jeans. Então liguei para Maisy. Eram três da manhã, mas eu não me importei que eu iria acordá-la. Ela também não.

— Ei, querida, — eu disse quando ela respondeu.

— Oi. Está tudo bem?

— Menina saudável. Três quilos e meio. Dez dedos nas mãos e dez dedos nos pés.

Ela suspirou.

— Oh, bom. Você está vindo para casa?

Casa. Eu sorri.

— Estou a caminho.

— Ok, — ela bocejou. — Vejo você em breve.

Corri para casa e para a cama, enrolando minha Maisy em meus braços.

Então eu me fiz uma promessa.

Amanhã, eu providenciaria que Coby passasse a noite com Brock e Marissa uma noite esta semana para que eu pudesse contar tudo a Maisy.

Assim que minha confissão estivesse para trás, poderíamos seguir em frente. Ela usaria meu anel, Coby seria meu filho e meu bebê estaria crescendo em sua barriga.

Esta era a última marca de giz em uma lousa quase limpa e estava na hora de finalmente limpá-la.

— Ei, — eu chamei no saguão do hotel.

— Oi! — Maisy correu de trás do computador no balcão para me dar um beijo. — O que você está fazendo aqui?

— Vim ver se você queria almoçar. Eu tive uma folga.

— Ok, certo. Você quer ir a algum lugar ou apenas comer no andar de cima?

Dei de ombros.

— Não importa.

— Gostaria de terminar as sobras do jantar na noite passada. Especialmente se Coby estiver passando a noite com mamãe e papai hoje à noite. Dessa forma, podemos ir comer em qualquer lugar.

— Tudo certo.

Fazia dois dias desde o nascimento de Nora Slater e minha decisão de contar a Maisy a verdade estava mais forte do que nunca. Hoje à noite, ela saberia tudo. Então eu lutaria contra as lágrimas, os gritos e a dor para nos levar para o outro lado.

A porta atrás de mim se abriu e me virei para ver um homem de terno cinza entrar no saguão.

— Oi, — Maisy cumprimentou. — Como posso ajudá-lo?

— Estou procurando — ele olhou para o envelope pardo na mão, — Maisy Holt.

— Sou eu.

— Posso ver alguma identificação, senhora? — O homem perguntou.

Os cabelos na parte de trás do meu pescoço formigaram. Alguma identificação? Que porra esse cara queria? Ele não fazia contato visual comigo, para que eu não pudesse ter uma boa leitura dele, mas meu instinto estava me dizendo que algo ruim estava por vir.

Maisy foi até sua bolsa no balcão e pegou sua carteira para obter sua carteira de motorista. Quando o homem olhou, ele devolveu junto com o envelope.

— Maisy Holt, você foi notificada.

Ele não perdeu tempo saindo do saguão enquanto Maisy e eu encarávamos o envelope. Com as mãos trêmulas, ela rasgou o selo e tirou os papéis. Enquanto seus olhos examinavam os papeis brancos, seu rosto empalideceu e sua boca se abriu.

— O quê? — Movi-me para ficar ao lado dela e ler as páginas, mas elas caíram no chão quando Maisy sussurrou.

— A mãe de Everett está buscando a custódia de Coby.


Capítulo Dezesseis

Maisy

 

— Nós precisamos conversar, baby.

— Não, nós não temos. — Eu contornei Hunter na sala de estar da casa dos meus pais.

Antes que eu pudesse escapar para o pátio dos fundos, seus braços envolveram meus ombros, me prendendo contra seu peito.

— Maisy...

— Não, Hunter. Não. — Eu balancei minha cabeça. Ele estava insistindo em ter uma “conversa” no último mês, mas eu sempre o negava. — Eu disse a você. Eu não quero saber. Se o que você tem a dizer só vai doer, não quero saber.

— Por favor, — ele implorou. — Eu tenho que contar algumas coisas sobre o meu passado.

— Não. — Eu me contorci de seu abraço e me virei, colocando as mãos nos quadris. — Eu te amo. Eu preciso de você. Eu não posso fazer isso se você não estiver do meu lado. E se você precisar me dizer algo que vai me fazer querer mandá-lo embora, não quero saber.

Sua mandíbula apertou com força.

— Você não sabe o que está pedindo.

— Sim eu sei. — Eu me aproximei e cobri sua bochecha barbuda com a palma da mão. — Eu sei que tudo o que você vai me dizer vai nos arruinar. Vai nos separar. Eu vejo isso nos seus olhos toda vez que você pede para conversar. Mas eu estou mal pendurada por um fio aqui. Por favor, não corte.

Ele suspirou e fechou os olhos.

Caí em seu peito e passei meus braços em volta de sua cintura.

— Você me ama?

— Você sabe que eu amo. — Ele passou os braços em volta das minhas costas.

— Então, por favor, faça isso por mim. Eu confio em você.

Ele beijou meu cabelo.

— Você não vai.

Meu coração caiu.

— E é por isso que eu não quero saber.

Era tolice e ingenuidade enfiar a cabeça na areia sobre o nosso relacionamento, eu não me importei.

Eu deslizei para trás este mês, a cada dia perdendo cada vez mais a confiança que eu tinha encontrado nestes últimos anos. O progresso que fiz para superar as ações de Everett havia desaparecido, e a única coisa que me impedia de sair completamente dos trilhos era Hunter. Quaisquer segredos que ele tivesse que confessar sobre seu passado ou a família teria que esperar até que eu soubesse o destino de meu filho.

Coby precisava de toda a força que eu pudesse reunir. Ele precisava de toda a minha inteligência e meu foco. Eu não podia deixar Hunter partir meu coração quando Coby precisava que ele permanecesse intacto.

Então, como eu estava dizendo a Hunter várias vezes, eu precisava dele ao meu lado. Ele fazia parte da cola mantendo todas as minhas peças juntas. Depois de segunda-feira, quando o juiz tomasse sua decisão sobre a petição, deixarei todas as peças desmoronarem.

— Jantar! — Mamãe chamou da cozinha.

Hunter soltou um suspiro profundo.

— Eu vou pegar Coby. — Ele beijou meu cabelo uma última vez, depois me soltou, saindo da sala e em direção ao pátio dos fundos, onde meus irmãos estavam assistindo Coby brincar no quintal com Picles.

Eu me virei e caminhei até a sala de jantar, a montanha de estresse em meus ombros fazendo meus passos pesados.

Fazia trinta e seis dias desde que a mãe de Everett, Eleanor Carlson, me notificou com uma petição de custódia. Trinta e seis dias de choro espontâneo. Trinta e seis dias de pular refeições porque a comida raramente ficava bem no meu estômago atado. Trinta e seis dias me cumprimentando no espelho do banheiro pela manhã com olheiras.

Trinta e seis dias de espera de um juiz para decidir meu destino.

Se não fosse por Hunter, eu nunca teria sobrevivido a este mês. Eu tinha perdido a conta do número de vezes que ele me tranquilizou que as coisas ficariam bem. O número de vezes que ele me puxou em seus braços porque sabia que eu estava à beira das lágrimas. Além de quando ele ia trabalhar, ele estava constantemente ao meu lado. Ele foi a todos os compromissos com Stuart Redhill, meu advogado.

Incluindo o que eu tive esta tarde.

Eu não estava ansiosa para contar à minha família sobre minha reunião com Stuart, mas era por isso que estávamos aqui. Este jantar especial de sexta-feira à noite era para preparar todos antes da audiência de custódia na segunda-feira de manhã.

— Mamãe! — Coby entrou correndo, seguido por Hunter e meus irmãos. — Tio Michael disse que está me levando com ele para o parque!

— Fantástico! — Eu fingi estar chocada, embora já tivéssemos combinado que Michael distraísse Coby para que Hunter e eu pudéssemos conversar com os outros sobre o caso de custódia. — Você só precisa comer um grande jantar primeiro, para ter muita energia, Ok?

— Ok. — Coby sorriu largamente, depois correu em direção ao banheiro.

Eu o observei até que ele desapareceu, memorizando tudo sobre a maneira como seus cabelos caíam quando ele corria. O que eu faria sem ele? Eu não faria nada sem ele. Aquele menino era meu mundo inteiro. A ideia de ele passar uma noite longe de mim e com aquela mulher era demais para suportar.

Meu nariz começou a arder e meus olhos lacrimejaram quando me sentei à mesa. Beliscando um pouco de pele sob a barra do meu short, apertei com força e torci. Engoli um “ai” e deixei a dor me tirar da minha festa de piedade.

A autopunição que eu costumava usar para parar de dizer “tipo” agora me impedia de chorar na frente de Coby. Quando ele estava na creche ou dormindo, todas as apostas estavam fora, mas eu trabalhei diligentemente para me manter sob controle na frente dele. Tanto quanto meu filho sabia, a vida era boa. Ele não sabia nada sobre essa audiência de custódia e não saberia, a menos que o impensável acontecesse e ele fosse forçado a conhecer sua “avó”.

Um rosnado se formou nos meus lábios.

Eleanor Carlson era o diabo.

Eu não odiava muitas pessoas, mas odiava aquela mulher por tentar levar meu filho.

— Uh-oh, — Michael brincou enquanto se sentava na cadeira do outro lado da mesa. — Aposto que sei para quem é esse olhar.

— Sim, — eu murmurei e soltei meu rosnado. — Isso parece ótimo, mãe.

Ela colocou minha salada de batata favorita.

— Obrigada. Coma o quanto quiser. — Ela estava preocupada com os cinco quilos que perdi este mês e estava indo além para fazer minhas comidas favoritas e deixá-las no sótão.

— Eu vou. — Desde que eu não tinha comido nada o dia todo, eu estava realmente com fome.

— Estou morrendo de fome, — disse papai, sentado em seu assento normal na cabeceira da mesa. Ele pegou uma colher enorme de salada de batata, mas depois parou, suspirando quando largou a colher e voltou para uma porção menor, colocando apenas uma colher no prato.

— Estou orgulhosa de você, pai. — Ele havia perdido quase cinco quilos desde o ataque cardíaco, há dois meses.

— Eu também, — disse Sabrina enquanto se sentava.

Ele sorriu para nós duas.

— Obrigada, meninas.

Todos os outros se sentaram à mesa, Hunter e Coby cada um tomando uma cadeira ao meu lado, e depois que Coby fez a oração, todos nós nos servimos de uma refeição deliciosa. A conversa silenciou enquanto todos nós comemos até Beau quebrar o silêncio.

Ele limpou a garganta e cobriu a mão de Sabrina sobre a mesa.

— Temos algumas novidades.

Garfos e colheres tilintaram nos pratos e todos os olhos pousaram em meu irmão, cujo rosto estava dividido em um sorriso bobo.

— Você está grávida! — Mamãe gritou, ficando de pé ao lado de papai.

— Eita. — Papai estremeceu e esfregou uma orelha. — Marissa, você deixaria eles falarem?

Ela ficou de pé e olhou para Sabrina, esperando.

Finalmente, minha cunhada tirou a mãe de sua miséria.

— Estou grávida.

— Sim! — As mãos da mamãe voaram em direção ao teto.

Um brinde encheu a sala de jantar.

— Parabéns! — Eu bati minha lata de Dr. Pepper com a cerveja de Beau e a água de Sabrina.

Quando me virei para Hunter, ele piscou para mim. Se eu já não estivesse sorrindo, eu teria por reflexo. Essa piscadela foi o catalisador para a maioria dos meus sorrisos no mês passado, que ele daria isso para mim, pelo menos uma vez por dia. Além de me oferecer conforto, me fazer sorrir havia se tornado a missão de Hunter na vida.

— Eu te amo, — eu murmurei.

Os olhos dele se suavizaram.

— Também te amo.

Nós dois voltamos para nossos pratos e, a pedido de mamãe, eu comi uma segunda porção de salada de batata enquanto todos discutíamos sobre Sabrina e oferecíamos nomes de bebês.

Que bebê sortudo. Ele ou ela teria pais dedicados e avós que o adorariam. Fiquei feliz por Beau e Sabrina nunca serem colocados na bagunça pela qual a mãe de Everett estava me arrastando.

— Coby, você está pronto? — Michael perguntou quando ele deu uma última mordida.

Coby quase saiu da cadeira.

— Está na hora de ir ao parque?

Michael assentiu e se levantou.

— Vamos fazer isso.

— Divirta-se. — Eu beijei o cabelo de Coby antes que ele descesse da cadeira e corresse para a porta para colocar os sapatos.

Mamãe e eu limpamos alguns pratos enquanto Michael segurava Picles na coleira, mas no momento em que a porta se fechou, sentamos novamente e não perdemos tempo indo direto ao assunto.

— Ok. O que Stuart disse? — Perguntou o pai.

Hunter apertou minha mão quando comecei a recapitular a mensagem do meu advogado.

— Para começar, todos precisamos estar no tribunal antes das oito e meia da manhã de segunda-feira. Stuart nos quer em nossos lugares e prontos para que, quando o juiz iniciar o processo às nove, não entraremos ou saímos com pressa.

Papai assentiu.

— Estaremos lá antes das oito.

As portas nem estariam abertas até as oito, mas como eu chegaria cedo também, eles poderiam me fazer companhia na calçada.

— O que mais? — Beau perguntou.

— Todos vocês terão reuniões preliminares com Stuart. Ele queria que eu os lembrasse de manter a honestidade. Não tentar memorizar um discurso, apenas falar com o coração. Diga a eles que tipo de mãe eu sou e sua opinião sincera de como Coby reagiria se ele fosse colocado com Eleanor.

— Ele seria infeliz, — mamãe disse, balançando a cabeça. — A casa dele é aqui. Ele não tem nenhum negócio vivendo em Michigan.

E ele não tinha negócios com Eleanor Carlson.

Eleanor impressionou bastante durante nossas interações mandatadas pelo tribunal no mês passado. Basicamente, ela provou que era uma cadela desagradável sem um osso amoroso, nutritivo, brincalhão ou de avó em seu corpo.

Na semana seguinte ao recebimento da petição de custódia, Eleanor e eu comparecemos perante o juiz do distrito para que ele pudesse explicar como o caso seria tratado. Dada a natureza de cidade pequena do sistema judicial de Prescott, tinha sido uma reunião informal. O juiz havia explicado que, porque essa petição de custódia não se devia ao divórcio dos pais, mas ao invés de uma avó solicitar a custódia, e não apenas a visita, o processo seria único.

Ele ordenou que Coby fosse avaliado por um psicólogo infantil em Bozeman. Ele ordenou que Eleanor apresente qualquer evidência que me considere uma mãe “inapta”. E ele ordenou que nós duas meditássemos para determinar se poderíamos chegar a um acordo fora da sala do tribunal.

Eleanor mal falou comigo durante a primeira aparição na corte. E nas poucas vezes em que fizemos contato visual, fui recebida com um olhar zangado. Stuart tinha conversado em meu nome e eu apenas fiquei lá sentada durante a reunião de trinta minutos, tentando o meu melhor para não chorar.

A mediação foi ainda pior.

Eleanor se recusou a ceder uma polegada em sua petição. Ela estava pedindo para Coby morar com ela em Michigan por seis meses. Seis meses. Ela se sentou em silêncio enquanto o mediador tentava convencê-la a comprometer-se com algo mais razoável. Mas toda vez, Eleanor acabava de dizer não, depois me atirava seu rosnado maligno.

Finalmente, depois de três horas, o mediador desistiu.

— Stuart teve o relatório final da psicóloga? — Perguntou o pai.

Eu assenti.

— Sim, e tudo voltou bem. Ela chamou Coby de “menino delicioso e feliz”. Stuart pensou que, com o relatório da psicóloga, mais o fato de Eleanor não ter nenhuma prova que eu sou uma mãe inadequada, ela não receberá a custódia que está procurando. Mas...

— Uh-oh, — mamãe murmurou.

Essa foi a parte da recapitulação que eu não quis dar.

— Stuart foi muito honesto conosco hoje. Há uma boa chance de o juiz lhe conceder algum tempo. Talvez um fim de semana por mês. Talvez um mês nas férias. O juiz Tubor será justo, mas no final das contas, Eleanor é a avó de Coby. Se for do seu interesse vê-lo, o juiz permitirá.

— Mas não é do seu interesse! — Mamãe voou da cadeira. — Como atrair alguém relacionado a esse monstro pode ser do seu interesse? Não me importo se Eleanor é a avó de Coby. Ela é a mãe de Everett. Ponto. A última coisa que meu neto precisa é ficar confuso com o pai biológico. Coby não sabe nada de Everett e deve continuar assim até que fique mais velho. Isto é... este é ridículo, porra!

Bocas ao redor da mesa se abriram. Eu podia contar com três dedos as vezes que mamãe tinha dito a palavra porra na minha presença e o xingamento não soou bem em sua voz doce.

— Mãe, sério? — Beau disse, sufocando uma risada. — Por favor, nunca diga isso de novo.

Ela bufou e sentou-se, cruzando os braços.

Eu lutei para conter minha risada, mas o rosto da mãe estava tão hilário, vermelho, que eu perdi a batalha. No minuto em que comecei a rir, a mesa inteira caiu na gargalhada. Papai foi o único que tentou esconder com tosse.

A questão era que mamãe não estava errada.

Isso era ridículo. Caralho, muito ridículo.

Tanto que, em vez de gritar como eu queria por trinta e seis dias, deixei minha frustração sair por meio de risadas histéricas. Risos que encheram a sala por alguns minutos, aliviando parte da tensão anterior.

Quando minha risada desapareceu lentamente, limpei os cantos dos meus olhos.

— Obrigada mãe. Eu precisava disso.

Ela fez beicinho.

— Que bom que eu pude ajudar.

— Oh, Marissa, — papai repreendeu, puxando mamãe para o lado dele com um movimento brincalhão. Ela relaxou e desfranziu a testa.

— Enfim, o que mais Stuart disse? — Ela perguntou.

— Não muito. Principalmente, só queria que todos nós estivéssemos preparados.

— Mas ele está confiante? — Beau perguntou. — Stuart está confiante de que Eleanor não vai conseguir a custódia como que ela pediu?

Eu assenti.

— Ele está confiante.

Embora ainda houvesse uma pequena chance de que ela pudesse realizar seu desejo, Stuart não tinha dúvida de que o juiz Tubor negaria esse pedido.

— Você acha que isso faz parte da estratégia dela? — Sabrina perguntou. — Ela pede seis meses, o juiz se sente mal e concede a ela mais do que ela teria conseguido?

— Talvez. — Dei de ombros. — Tudo o que sei é que ela é o diabo.

— Nós descobrimos por que agora? Por que Eleanor quer a custódia depois de todo esse tempo?

— O juiz perguntou isso a ela em nossa primeira aparição. Ela lhe disse que é por causa do aniversário de Coby. Que ela não aguentava mais perder o aniversário de seu neto.

— Explicação absurda. — As mãos da mãe apertaram o guardanapo em uma bola de papel bem apertada. — Se ela quisesse fazer parte da vida de Coby, ela teria feito um esforço anos atrás. Isso é tudo mentira.

— Mentira total, — eu concordei.

Por mais que me doesse, nunca teria negado o acesso de Eleanor a Coby. Tudo o que ela precisaria fazer era me procurar e pedir. Ela poderia ter vindo e visitado nos meus termos. Em vez disso, através dos documentos de seu advogado foi a primeira vez que eu ouvi dela.

E que primeira impressão.

O polegar de Hunter começou a acariciar as costas da minha mão.

— Vai ficar tudo bem.

Inclinei-me para o lado dele e descansei minha cabeça em seu ombro.

— Tudo vai dar certo.

A segurança sempre presente de Hunter.

— Mal posso esperar para que isso acabe, — disse mamãe.

Suspirei.

— Só mais alguns dias.

Eu não tinha certeza se deveria temer segunda-feira ou se gostaria que fosse mais rápido. Até segunda-feira, Coby seria meu e só meu, mas eu estaria vivendo com o desconhecido. Depois de segunda-feira, eu conheceria nosso destino, mas Coby poderia ser obrigado a passar um tempo com Eleanor.

— Falando em coisas que acabaram, eu pretendo perguntar. — Mamãe olhou para mim. — As ligações da repórter pararam?

— Repórter? — Hunter e Beau perguntaram em uníssono.

Eu levantei minha cabeça do ombro de Hunter para encontrar seu olhar.

— Uma repórter estava me ligando alguns meses atrás, querendo detalhes sobre Everett. Esta não foi a primeira vez que um repórter me ligou, então eu só lhes ignoro. Mas elas finalmente pararam. Acho que encontraram alguém realmente digno de ser noticiado.

— Espera. — Sabrina levantou a mão. — Isso me parece estranho. Sua história estava morta anos atrás. Por que isso interessa agora?

— Não sei. Alguma ideia? — Sabrina já foi jornalista investigativa em Seattle. Se algum de nós soubesse por que minha história ainda estava despertando interesse da imprensa, seria ela.

Antes que Sabrina pudesse responder, Hunter perguntou:

— O que ele disse?

— Era ela, na verdade, e eu só falei com ela duas vezes. Na primeira vez, ela perguntou se eu era a Maisy Holt que havia assassinado Everett Carlson. Na segunda vez, ela perguntou se eu estava pronta para falar sobre isso.

— De onde vieram as ligações? Qual meio de comunicação? — Hunter perguntou.

Eu balancei minha cabeça.

— Eu não sei. Eu nunca perguntei. Por quê?

— Apenas curioso. — Seus olhos caíram no prato e ele olhou para longe. — Você tem o número dela?

Eu balancei meu corpo novamente.

— Não, sempre surgiu como desconhecido.

A testa dele franziu.

— Por que você não me contou?

— Eu não sei. Acho que imaginei que eles parariam.

— E agora eles pararam, graças a Deus. — Mamãe se levantou e começou a limpar os pratos. — Vamos apenas esperar que esse tenha sido o último repórter.

Sabrina ainda parecia confusa, como se quisesse continuar discutindo o repórter, mas papai veio em meu socorro e mudou de assunto.

— Vamos conversar sobre a festa antes que Coby volte. Está tudo pronto para quinta-feira?

Eu assenti.

— Sim, eu só preciso pegar alguns balões. Gigi está fazendo os cupcakes. Mamãe tem todos os outros alimentos. Eu tenho as decorações.

Eu me recusei a deixar essa audiência de custódia impactar o aniversário de Coby na quinta-feira e, não importa o que o juiz dissesse, ele teria uma festa. Nas outras três festas de aniversário que ele teve, fizemos um churrasco na casa de mamãe e papai. O tema deste ano era a água. Michael estava construindo um Slip'N Slide e nós daríamos a todas as crianças armas de água, e depois diríamos para elas enlouquecerem. E amanhã, Beau, Michael e Hunter estavam construindo meu presente para meu filho.

O beliche dele.

— O que vocês darão a Coby esse ano? — Beau perguntou a mamãe quando ela voltou da cozinha.

— Pegamos aqueles conjuntos de camisa e shorts de neon que ele tanto ama e alguns sapatos que acendem quando ele anda.

Era o presente perfeito. Coby era obcecado por roupas de neon, algo que sua avó sabia muito bem, diferente de Eleanor Carlson. Por quê? Porque ela nunca tinha feito um esforço. Ela apenas registrou uma disputa de custódia como uma covarde.

— Hunter, o que você comprou? — A pergunta de Beau parou meu discurso interno.

Hunter, que estava olhando distraidamente para o prato, não ouviu a pergunta.

— Desculpe. O que é que foi?

— O que você comprou para Coby? — Beau repetiu.

— Uma nova vara de pescar.

Sabrina sorriu.

— Ele vai amar isso.

Hunter sorriu de volta.

— Ele também vai amar o novo barco de pesca que comprei na semana passada.

— Espere. O quê? — Minha boca se abriu. — Você comprou um barco? Quando? Como eu não sabia disso?

Além de trabalhar duro no hotel, eu quase terminei de decorar a casa de Hunter. Nós tivemos uma festa do pijama duas noites atrás. Como eu tinha perdido um barco?

Ele riu.

— Você precisa passar mais tempo na garagem, Loirinha. — Ele se levantou e se inclinou para beijar minha testa. — Eu preciso fazer uma ligação rápida. Já volto.

— Por que eu iria a garagem? — Eu perguntei a Sabrina. — Espere, as garagens precisam de decoração? Devo comprar algumas dessas prateleiras industriais ou algo assim?

Beau e papai trocaram um olhar.

Acho que isso significa não decorar a garagem.

Virando-me, vi Hunter caminhar em direção à sala de estar. Seus ombros estavam curvados para frente e, quando pressionou o telefone no ouvido, ele beliscou a ponta do nariz.

— Estou com dor de cabeça, — Sabrina murmurou para Beau.

Eu me virei para vê-lo beijar sua têmpora.

— Desculpe, Bolinho.

— Abstinência de cafeína. Eu gostaria de poder tomar alguma coisa.

— E o Tylenol? — Eu perguntei.

Ela assentiu.

— Posso, mas não tenho nenhum e ainda não fui a farmácia.

— Eu tenho Tylenol, — disse mamãe, voltando para a mesa. — Um segundo. — Ela procurou analgésicos seguros para a gravidez.

— Já volto. — Eu me levantei e fui em direção à sala de estar para encontrar Hunter.

Atrás de mim, na cozinha, minha mãe disse:

— Encontrei! — E sacudiu o frasco de comprimidos.

Aquele barulho...

Um calafrio percorreu minha espinha e minha mente se voltou para um lugar diferente.

— Maisy, amor. — Everett atravessou o chão frio em minha direção. A cobertura de plástico na cama do hospital embaixo de mim enrugou quando eu empurrei meus cotovelos. — Quero que você entenda que suas ações trouxeram isso a você. Você deveria ter terminado esta gravidez. Eu lhe disse que não tinha interesse em ter um filho. Mas não importa. O feto não ficará vivo por muito mais tempo.

O que ele estava dizendo? Ele ia matar meu bebê? Nosso bebê?

Everett enfiou a mão no bolso e tirou um frasco de prescrição âmbar com uma tampa branca.

— Você vai tomar isso. — Os comprimidos sacudiram quando ele balançou a garrafa. — Você pode sobreviver a eles. Esse feto não vai.

— Não! — Eu gritei, mas fui interrompida quando a mão dele bateu na minha bochecha, me atordoando em silêncio.

— Você vai, — ele rosnou. — Ou cortarei a garganta de Gigi bem na sua frente.

Eu balancei minha cabeça, freneticamente me arrastando para trás na cama. Eu tinha que fugir. Eu tinha que correr. Eu tinha que proteger meu filho.

Mas, apesar das perguntas em pânico correndo pela minha mente, eu ainda podia ouvir aquele som de chocalho acima de todos os outros. A garrafa sacudiu quando Everett inclinou seu corpo sobre o meu, me prendendo na cama. Chocalhava quando ele lutou para abrir minha boca. Ele chocalhou quando chutei, arranhei e torci, tentando me libertar.

Chocalhava...

Maisy?

A boca de Everett formou meu nome, mas foi a voz de Hunter que saiu.

Eu pisquei uma vez. Então duas vezes. Poof, o flash se foi. Eu estava de volta na casa dos meus pais, parada no corredor do lado de fora da sala de estar. Minha foto de formanda estava na parede ao lado da de Michael e Beau. A foto de Coby bebê estava emoldurada do outro lado do corredor. E Hunter estava parado na minha frente, com as mãos nos meus ombros.

— Maisy? O que há de errado?

Eu não respondi. Eu ainda estava muito ocupada inspecionando a sala. As paredes bege. A guarnição branca. O tapete marrom felpudo.

— Maisy?

— Hã? — Eu pisquei, focando meus olhos em Hunter. — Oh, desculpe.

Ele franziu a testa e agarrou meu cotovelo, gentilmente me levando para a privacidade da sala de estar. Quando estávamos fora do alcance dos outros, ele colocou as mãos nos quadris.

— O que foi aquilo? Você estava branca como um fantasma e me olhou como... como se você estivesse com medo de mim.

Fechei os olhos e respirei fundo.

Essa explicação não seria divertida.

— Não era você. Foi hum... Everett.

— Everett?

— Eu meio que tenho esses, hum, flashes às vezes, daquela noite. Eles simplesmente surgem na minha cabeça, como dé jà vu, mas mais real. — Olhei para os meus pés, envergonhada por ter tido que contar a Hunter sobre minha loucura. Além de Gigi e meu terapeuta de anos atrás, ninguém sabia sobre meus flashes.

Seu dedo fisgou sob o meu queixo e o levantou.

— Flashes? Como flashbacks?

— Sim. Eu acho.

— Há quanto tempo você tem flashbacks? A audiência de custódia os trouxe à tona?

Eu balancei minha cabeça.

— Eu os tive o tempo todo.

Ele deixou cair meu queixo.

— Desde aquela noite?

Eu assenti.

Ele fechou os olhos. Quando eles se abriram, seus olhos estavam cheios de preocupação.

— Eu sei que é loucura, — falei, — mas, por favor, não me envie para o hospício. Isso foi realmente um dos mais curtos que eu já tive. Então, isso é uma coisa boa. Quanto menor, melhor. Bem, às vezes. Fico feliz que você não seja “menor”. Em um certo lugar.

Ele sorriu com a minha piada. Com um puxão rápido, ele me puxou para seus braços.

— Isso é demais. Você tem muita coisa acontecendo aqui. — Ele beijou minha testa. — Acho que precisamos arranjar alguém para conversar.

Eu me aconcheguei em seu peito, absorvendo seu conforto.

— Eu concordo, mas não até que todas as coisas com Eleanor terminem e a temporada turística acabe. Não posso fazer qualquer outra coisa agora. Eu estou apenas... estou no limite.

— Eu sei que você está no limite, baby, mas eu realmente preciso dizer...

— Não. — Eu o cortei e o abracei mais apertado. — Não. Apenas me abrace e diga que tudo ficará bem.

Os braços dele se apertaram com força.

— Vai. Eu prometo. Eu farei ficar bem.

 

Hunter


— Stuart. — Apertei a mão dele. — Obrigado por me encontrar no sábado. Peço desculpas por interromper seu fim de semana.

Usando jeans e uma camisa branca, Stuart parecia pronto para uma partida de golfe ou um piquenique à tarde.

— Não tem problema nenhum, — ele disse. — Sua ligação ontem parecia um pouco urgente. Está tudo bem?

— Eu vou deixar você decidir.

Ele acenou com a cabeça em direção ao seu escritório.

— Então é melhor você entrar.

Enquanto ele caminhava atrás de sua mesa, sentei em uma das cadeiras de clientes com as quais me familiarizei muito no mês passado.

— Posso trazer-lhe alguma coisa para beber? — Ele perguntou.

Eu balancei minha cabeça.

— Não, obrigado.

Não tinha muito tempo para ficar por aqui. Eu deveria estar na loja de ferragens comprando outra caixa de parafusos e depois pegando o almoço. Beau e Michael estavam atualmente no sótão, emoldurando o beliche de Coby. Maisy estava limpando alguns quartos do hotel com Coby como seu assistente.

Isso significava que não tinha tempo de conversar com Stuart. Eu precisava ir direto ao ponto e dar o fora daqui antes que eles percebessem que eu estava fora por muito tempo.

Stuart apoiou os antebraços na mesa e inclinou-se para a frente.

— Estou pronto quando você estiver.

— Eu preciso que você tenha acesso a alguns registros telefônicos. Você pode fazer isso antes de segunda-feira?

— Hum, eu posso solicitá-los. Antes de segunda-feira? Isso vai ser difícil. Por quê?

Respirei fundo. Se Maisy não queria saber do meu passado, eu pelo menos diria ao advogado dela. Então foi o que eu fiz. Passei os trinta minutos seguintes confessando meus segredos a Stuart Redhill.

Segredos que destruiriam a confiança de Maisy em nosso relacionamento.

Mas segredos que manteriam Coby fora do alcance de Eleanor Carlson.


Capítulo Dezessete

 

Maisy


— Esta cadeira é desconfortável, — papai resmungou.

— O meu tem um guincho. Veja? — Atrás de mim, mamãe balançou a cadeira com tanta força que as pernas de madeira estalaram no chão e os guinchos, que não haviam sido tão perceptíveis antes, ecoaram por toda a sala.

Abri minha boca para repreender meus pais, mas Beau me venceu.

— Você não está ajudando.

— Desculpe, — papai murmurou ao mesmo tempo que mamãe parou. — Estamos apenas nervosos.

Nervosa. Apreensiva. Irritada.

Não havia uma palavra forte o suficiente para descrever meu nível de ansiedade. Eu estava enlouquecendo.

Sentada na pequena sala do tribunal do condado, eu batia meus dedos na mesa de madeira na minha frente. Stuart estava à minha direita. Mamãe, papai, Beau e Sabrina estavam na fila atrás de nós. Jess, Gigi e Michael estavam por trás deles. Havia apenas um lugar vazio na minha metade do tribunal.

O assento onde a bunda perfeita de Hunter deveria estar sentada.

Olhei por cima do ombro, olhando para a porta pela centésima vez na última meia hora. Onde ele estava? Ele nunca se atrasava. Ele estava bravo por causa dessa manhã?

Hunter havia tentado anteriormente, mais uma vez, descarregar sobre seu passado. E - mais uma vez, eu o interrompi. Eu dei um beijo de despedida em seus lábios suplicantes e fechei a porta em sua cara. Tudo o que ele tinha para me dizer poderia esperar até depois da audiência. Se era sobre sua família ou uma ex-namorada ou nosso relacionamento, poderia esperar.

A audiência de Coby vinha primeiro.

Mas mesmo que Hunter estivesse bravo, ele poderia pelo menos chegar a tempo.

Suspirei e me virei para frente, observando a outra metade da sala. O lado de Eleanor Carlson estava vazio. O próprio diabo, suas testemunhas e seu advogado ainda não haviam chegado.

Olhei para o relógio branco na parede atrás do banco do juiz: 8h50. A audiência começaria em dez minutos e os principais funcionários ainda não haviam chegado, incluindo o juiz. A única outra pessoa na sala era um estenógrafo instalando sua máquina na frente. Os outros não acreditavam em ser rápidos? Havia algo de errado em começar as coisas alguns minutos antes do previsto? Porque se essa audiência não começasse a tempo, as chances de eu enlouquecer completamente eram muito, muito altas.

Mas pelo menos eu não ficaria sozinha quando enlouquecesse. Eu podia sentir a perna de papai pulando no chão e mamãe estava se contorcendo em sua cadeira estridente novamente.

— Onde está Hunter? — Mamãe sussurrou.

Eu apenas dei de ombros. Boa pergunta. Onde estava Hunter?

— Ele estará aqui, — disse Stuart à mãe.

Eu me virei para olhar as portas de madeira novamente, desejando que uma delas se abrisse com Hunter do outro lado. Ele era minha presença calmante, minha mão firme para segurar, e eu precisava desesperadamente de um pouco de força agora.

Abra. Abra. Abra.

Eu olhei para as portas por mais um segundo enquanto desejava que elas abrissem, mas o mogno escuro permaneceu fechado.

Voltando para frente, examinei a decoração pela vigésima vez. Era um requisito que todos os tribunais fossem decorados em madeira e somente madeira? Era para ser reconfortante e calmante? Nesse caso, estava tendo o efeito oposto em mim. Eu me senti presa nessa cadeira de madeira atrás desta mesa de madeira nesta sala de madeira.

Painéis escuros cobriam as paredes do chão ao teto. A bancada de carvalho da mesa do juiz elevava-se acima de nós. O assento de madeira ao seu lado estava entre parênteses de eixos de madeira. A única coisa na sala que não era de madeira era o piso de linóleo recém encerado, que brilhava sob as luzes fluorescentes acima.

Eu estava no meio de um episódio de Law & Order8.

— Respire fundo. — Stuart cobriu minha mão com a dele para parar meus dedos tamborilados.

Eu obedeci, enchendo meus pulmões de ar antes de empurrá-lo com um suspiro:

— Sinto muito.

— Vai ficar tudo bem. Confie em mim.

Eu balancei a cabeça, e quando ele soltou minha mão, deslizei para baixo da minha coxa.

O ar mudou quando as portas se abriram e minha metade da sala girou para ver quem estava entrando. Por favor, seja Hunter. Meu olhar esperançoso se voltou para um olhar irritado quando Eleanor Carlson entrou pela porta, seguida por seu advogado. Olhei para o homem baixo e careca, esperando ver uma ou duas testemunhas, mas o casal estava sozinho.

Não há testemunhas? Eu não iria reclamar. Nenhuma testemunha para ela era uma coisa boa para mim.

Porque sem testemunhas e evidências mostrando que eu era incapaz de ser mãe de Coby, seria a palavra de Eleanor contra a minha. O juiz Tubor pode ter menos motivos de dar a ela um tempo com Coby se ela parecer como a cadela que claramente era.

Os saltos altos de Eleanor estalaram bruscamente no linóleo enquanto ela caminhava para a frente da sala. O blazer preto e a saia lápis mostravam a silhueta fina de uma modelo. O botão de cima da blusa preta sob o blazer devia estar sufocando-a. Com o cabelo escuro amarrado em um coque apertado, as linhas finas de sua testa foram esticadas até quase a invisibilidade. Eu daria a Eleanor uma coisa. Ela era uma mulher bonita. Ela parecia bem mais jovem que seus anos e claramente tinha dinheiro para se manter. Seu nariz tinha uma rigidez que estava longe de ser natural.

Com o queixo levantado, Eleanor caminhou até a mesa em frente à nossa. Somente quando ela se sentou ela se deu ao trabalho de fazer contato visual. Ela me deu um olhar desagradável antes de se sentar em sua própria cadeira de madeira.

Esse olhar era muito revelador.

Cheguei a uma conclusão após nossa primeira aparição no tribunal e nossa terrível tentativa de mediação. Esta batalha pela custódia não era sobre Coby, era sobre mim. Eleanor Carlson estava me punindo por matar o filho dela. Eu só esperava, pelo bem de Coby, que o juiz Tubor também visse. Meu filho não merecia ser usado como um peão nessa guerra entre adultos.

Quando o advogado de Eleanor se acomodou em sua própria cadeira, olhei para o relógio.

Cinco minutos.

Cinco minutos e essa provação estaria em andamento.

Cinco minutos para Hunter trazer seu traseiro ao tribunal.

Onde ele estava? Aconteceu alguma coisa no hospital? Ele havia sido chamado para uma emergência?

Inclinei-me para a bolsa debaixo da mesa e senti o meu telefone. A tela estava em branco. Disparando um Onde você está? mandei uma mensagem para Hunter, verifiquei pela quarta vez se meu dispositivo estava no silencioso antes de guardá-lo.

Então fiquei sentada mortalmente. O silêncio na sala era ameaçador. Eu estava tendo problemas para respirar fundo e, por mais que precisasse sugar um pouco de oxigênio, não me atrevi. Respirar seria muito alto.

Dois minutos se passaram, mas poderiam ser vinte, até que a porta do tribunal se abriu atrás do banco e ele saiu.

Era isso. A espera terminou.

Engoli a bile que havia subido na minha garganta e me concentrei no juiz para não vomitar.

O juiz Tubor era um homem mais velho, provavelmente com cinquenta e poucos anos, e morara em Prescott a vida toda. Seu cabelo era totalmente grisalho, mas seu rosto jovem traía sua idade. A pele verde-oliva de seu rosto estava quase sem rugas, exceto por algumas de risadas ao redor dos olhos.

Ele era o juiz distrital de Jamison Country desde que me lembro. Nossa comunidade o amava e nenhum desafiante jamais fora capaz de vencê-lo em uma eleição. Ele sempre ganhou meu voto por causa de seus julgamentos justos, mas firmes, mas se ele levasse Coby para longe de mim, nunca mais votaria nele.

— Bom dia. — O juiz Tubor acenou com a cabeça para todos nós e depois sentou-se no banco, ajeitando a túnica preta antes de colocar os óculos de leitura para ler os papéis em sua mesa.

Com o juiz não olhando para nós, dei uma última olhada para as portas dos fundos bem a tempo de ver o amplo corpo de Hunter deslizar de lado.

Finalmente. Meus ombros relaxaram enquanto eu suspirei.

— Desculpe, — ele murmurou antes de tomar o último assento vazio na parte de trás.

Eu balancei a cabeça e virei para frente. Quando me virei, tive um vislumbre de Eleanor olhando novamente. Mas desta vez, seu rosnado não estava voltado para mim, mas para Hunter.

Ok, estranho.

Uma pontada de desconforto picou minha nuca, mas eu a ignorei quando o juiz começou a falar novamente.

— Tudo bem. Vamos começar. — Ele acenou com a cabeça para baixo para o taquígrafo, cujos dedos começaram a voar quando ela registrava cada palavra jurídica dita pelo Juiz Tubor. Ele deu início ao processo com um resumo da petição de custódia e das atividades que ele determinou durante nossa primeira aparição.

— Entendo que nenhum acordo entre Carlson e Holt possa ser alcançado fora do tribunal. Corrija-me?

— Sim, Meritíssimo, — responderam o advogado de Eleanor e Stuart em uníssono.

— Ok. — O juiz Tubor ergueu os olhos das anotações e tirou os óculos de leitura do rosto. — Então, eu vou tomar uma decisão de custódia esta manhã. Sra. Carlson, uma vez que você está apresentando esta petição, vamos começar com você. Farei algumas perguntas e você terá a oportunidade de apresentar testemunhas em seu nome.

Eleanor e seu advogado assentiram.

Então o juiz olhou para mim e meu bando.

— Depois que Carlson apresentar sua declaração e testemunhas, Holt, você terá a chance de responder e apresentar suas próprias testemunhas.

Stuart e eu assentimos.

O juiz se inclinou para frente.

— Antes de começarmos, gostaria de lembrar a todos que minha preocupação é e continuará sendo a criança. Minha decisão será tomada a fim de proporcionar o melhor ambiente possível para garantir que a criança tenha todas as oportunidades possíveis de prosperar.

Eu fiz o meu melhor para manter meu rosto impassível, mas com cada “criança”, meu queixo apertou mais. O juiz Tubor conhecia minha família. Ele ia à nossa igreja. Sua esposa ajudava minha mãe a organizar domingos de festa. E ele conhecia Coby. Chamar meu filho de “criança” era impessoal e não fez nada para aliviar a bola de tensão em meu intestino.

— Com isso entendido, vamos começar, — declarou o juiz Tubor. — Sra. Carlson, seu pedido é bastante incomum para uma avó. Você está buscando seis meses de custódia total com visitação limitada durante esse período da mãe da criança. Você não tem evidências sugerindo que Holt é uma mãe inadequada. Você pode explicar por que sente que precisa ter a criança por um período tão prolongado longe de casa?

A criança. Sério?

— Meritíssimo, sinto que meu neto viveria bem comigo uma boa parte do ano. Isso nos daria a chance de nos relacionarmos e recuperar o atraso de todos os anos que perdi, porque ele só esteve com sua mãe.

Engoli um grunhido. Esse “vínculo” que faltava era inteiramente de Eleanor. Ela poderia ter vindo anos atrás. Enviar meu filho para Michigan não era a resposta.

— Por que você acha que morar com você em Michigan é a única maneira de você se atualizar? — O juiz perguntou, como se estivesse lendo meus pensamentos. — Você não poderia planejar mais visitas aqui para não interromper a vida em casa de Coby?

— Acho que a separação é necessária, — respondeu Eleanor. — Eu preciso que ele fique longe dela para ter certeza de que meu neto está recebendo uma educação moral adequada.

Educação moral adequada? Eu quase saí da minha cadeira e teria, se a mão de Stuart não tivesse pousado na minha. Mamãe estava ficando irritada também porque atrás de mim, sua cadeira começou a chiar novamente.

Eu balancei minha cabeça enquanto fechava minha boca.

Eleanor Carlson era doida. Ela pensou que poderia ensinar ao meu filho uma educação moral adequada? Seu próprio filho havia se tornado traficante de drogas e pensava que matar mulheres inocentes era aceitável.

Antes que eu pudesse murmurar uma resposta sarcástica sobre suas próprias habilidades parentais, o juiz Tubor continuou.

— Sra. Carlson, você está sugerindo que a Sra. Holt é imprópria para criar Coby ainda que você não tem nenhuma evidência provando que ela não lhe fornece uma casa adequada. A psicóloga infantil me enviou seu relatório e, de todas as formas, Coby é uma criança feliz e bem ajustada. O plano de parentesco que você está propondo causaria uma perturbação extrema em sua vida doméstica. Por que eu deveria atender ao seu pedido quando você não me deu nenhum motivo para tirar Coby da mãe dele por seis meses no ano?

Inclinei-me para olhar o perfil de Eleanor. Ela estava se debatendo um pouco, seus olhos castanhos se arregalando enquanto procurava uma resposta no advogado.

Eu sorri com a falta de resposta dela. Não havia pensado nas perguntas que o juiz faria? Ela não praticou resposta após resposta em seu espelho como eu? Ela honestamente achava que entraria aqui e obteria a custódia de Coby sem provar que merecia?

Talvez eu tenha passado o último mês me preocupando por nada. Talvez Eleanor não fosse apenas louca, mas também estúpida.

O advogado de Eleanor acabou por falar.

— Meritíssimo, se eu puder...

— Talvez não. — O juiz o cortou. — Gostaria que Carlson respondesse à pergunta.

Eleanor se endireitou e limpou a garganta.

— Não tenho provas específicas de que ela seja uma mãe imprópria. O que eu sei é que a mulher não sabia nada sobre o meu filho. Se eu não tiver a chance de afastar Coby dela, ele nunca terá a oportunidade de aprender sobre seu pai. Ele sofrerá uma lavagem cerebral ao pensar que meu maravilhoso Everett era um monstro.

— Eu nunca, nem uma vez, disse nada depreciativo sobre Everett para Coby. — As palavras saíram da minha boca antes que eu pudesse pensar nelas.

Os olhos do juiz se voltaram para os meus e ele franziu o cenho.

Eu me encolhi de volta na minha cadeira.

— Desculpe.

— Você terá sua chance, Srta. Holt. — O juiz Tubor me dispensou e voltou para Eleanor.

— Se controle, — Stuart sussurrou, batendo na minha mão.

Eu balancei a cabeça e respirei.

— Senhora Carlson — continuou o juiz, — esta petição parece uma solução extrema para suas preocupações de que ele não aprenderá sobre o pai. Gostaria de saber por que você não passou um tempo ensinando Coby sobre o pai dele enquanto ele permanecia em casa.

— Eu não posso estar perto dessa mulher. — O estalo de Eleanor surpreendeu a todos nós, a fachada calma que ela trouxera para o tribunal estava caindo aos pedaços e rapidamente. Nós estávamos aqui apenas dez minutos e ela já estava desmoronando?

— Por quê? — O juiz perguntou, ainda pressionando por mais.

— Por que você acha? Ela matou meu filho!

Com a explosão de Eleanor, mamãe ofegou e eu puxei minha cadeira. Eleanor poderia muito bem ter me dado um tapa.

A pior parte disso foi que eu não tive uma refutação.

Eu havia matado Everett. Eu não o havia assassinado a sangue frio, mas havia tirado a vida do filho dela. E mesmo que eu a odiasse, eu podia ver o quão difícil seria para Eleanor estar na mesma sala comigo.

— Vamos todos tomar um minuto, — disse o juiz calmamente. — Entendo que é uma situação emocional, mas lembre-se, estamos fazendo isso por Coby. Concordo com você, Sra. Carlson, que a melhor maneira de ele aprender sobre seu pai é de alguém que o conheceu bem. Como avó de Coby, sua influência pode ser muito benéfica na vida dele e ajudá-lo a fazer uma conexão com a memória de seu pai.

Sobre o meu cadáver. A última coisa que Coby precisava era ser introduzido na memória de Everett.

— Obrigada. — Eleanor fungou e enxugou o canto do olho. Talvez ela não estivesse tão cansada quanto eu pensava um segundo atrás. Talvez tudo isso fizesse parte de seu plano. Dramática, falsidade. Derramava algumas lágrimas. Fazer com que o juiz tenha pena dela.

Ele não estava comprando, estava?

Não. Oh Deus, não. Meu coração disparou ainda mais rápido quando o sangue escorreu do meu rosto. Apenas a ideia de Coby estar perto de Eleanor fez minha cabeça girar.

Se Eleanor afundasse suas garras em Coby, ela não faria nada além de confundi-lo. Ela iria pintar Everett como o brilhante doutor gênio incompreendido e eu a enfermeira puta que ficou grávida e o assassinou depois concebeu. Coby nunca entenderia. Meu pequeno cheio de amor, carinho e gentileza estava prestes a ser colocado no meio de uma situação que a maioria dos adultos teria dificuldade em compreender.

Por favor, juiz Tubor. por favor, não faça isso com ele.

Ele se sentou em seu banco, ignorando meus pedidos silenciosos.

— Você tem mais alguma coisa que gostaria de dizer antes de começarmos a conversar com testemunhas? — Ele perguntou a Eleanor.

Ela balançou a cabeça.

— Não, Meritíssimo.

— Tudo bem. Você pode continuar chamando suas testemunhas.

O advogado dela pigarreou.

— Não temos testemunhas no momento, Meritíssimo.

A sobrancelha do juiz franziu.

— Nenhuma?

— Não, Meritíssimo, — respondeu seu advogado.

Sim! Fiz um pequeno punho de vitória para os Holt.

— Certo. — O juiz olhou para mim, mas antes que ele pudesse começar o interrogatório, a voz de Hunter encheu a sala.

— Meritíssimo? — Eu virei minha cabeça. Hunter estava de pé, um braço levantado. — Peço desculpas pela interrupção. Meu nome é Dr. Hunter Faraday. Sou o enteado da senhora Carlson e gostaria de dizer algumas palavras, se você não se importa.

Espera, o que ele disse?

Os olhos de Hunter vieram aos meus enquanto eu repetia suas palavras.

Eu sou enteado da Sra. Carlson.

Enteado? Meu coração despencou no meu estômago quando minha boca se abriu, as palavras passando pela minha mente repetidamente.

O que diabos estava acontecendo?

Hunter era enteado de Eleanor? Era isso que ele estava tentando me dizer? Por que se era verdade, isso significava que ele conhecia Everett.

Todo esse tempo.

E ele tentou me dizer, mas eu não permiti.

Eu não conseguia respirar. Eu não podia pensar. Tudo o que eu podia fazer era sentar e olhar para o homem no fundo da sala que tinha acabado de me chocar completamente.

— Dr. Faraday, por favor, avance.

Meus olhos seguiram Hunter quando ele obedeceu ao comando do juiz. Eu não podia desviar o olhar. Na minha periferia, Beau estava furioso, mamãe ficou atordoada em silêncio, e os olhos feridos de papai estavam em mim. Mas eu apenas mantive meu olhar fixo em Hunter.

O homem que eu amava. O homem que mentia para mim há meses. O homem que tentou confessar isso esta manhã.

— Por favor, sente-se. — O juiz acenou com a cabeça para a cadeira ao seu lado. — Eu acho que gostaria de ouvir o que você tem a dizer.

— Isso faz de nós dois, — papai murmurou.

— Respire fundo — Stuart sussurrou. — Isso é uma coisa boa.

Meus olhos se voltaram para o meu advogado. Stuart sabia. Quando Hunter não pôde me dizer, ele contou a Stuart.

Fechei os olhos quando uma mistura de emoções me deixou tonta. Eu estava ferida. Eu estava com raiva. Eu fui uma tola. Nunca em um milhão de anos eu teria esperado que este fosse o grande segredo de Hunter. Nunca. Agora eu realmente gostaria de tê-lo deixado explicar.

Quando abri meus olhos, eles foram direto para Hunter. Ele estava sentado, solene, na frente da sala, seus olhos suplicantes implorando por uma chance de explicar.

Não. Eu não queria a explicação dele. Ele estava tentando me dar uma recentemente, mas ele teve meses antes que esse drama de custódia se resolvesse. No entanto, ele ficou quieto. A raiva venceu as outras emoções e o sangue rugiu nos meus ouvidos. Eu dei a Hunter o menor aceno de cabeça e desviei o olhar, não ousando olhar para ele, caso contrário eu gritaria.

Sentei-me congelada na minha cadeira de madeira e ouvi, meus olhos grudados nos dedos voadores do estenógrafo enquanto os meus seguravam os apoios de braços da minha cadeira com tanta força quanto pude reunir.

— Tudo bem, — disse o juiz. — Sempre que você estiver pronto.

— Obrigado. — Hunter assentiu. — Como eu disse, Eleanor Carlson é minha madrasta. E em divulgação completa, estou em um relacionamento com Maisy Holt. Estamos namorando há cerca de três meses, pouco tempo depois que me mudei para Prescott.

E durante todo esse tempo, ele não se incomodou em mencionar que sabia exatamente quem era o pai de Coby.

Meus dentes cerraram com força quando o olhar de Hunter passou pelo meu rosto, mas eu desviei o olhar para o estenógrafo. Eu mal estava segurando minhas emoções, e se eu olhasse para Hunter, eu me perderia. Coby não podia me ter enlouquecendo.

Engoli uma risada seca. Que ironia. Ultimamente, eu estava pensando em como seria maravilhoso se Hunter pudesse se tornar o pai de Coby um dia. Eu não precisava me preocupar com isso, porque ele era tecnicamente o tio de Coby.

Meu coração continuou afundando enquanto outras perguntas inundavam minha mente. Nosso relacionamento tinha sido um ardil? Isso foi parte do plano maligno de Eleanor para levar o meu filho? Hunter estava brincando comigo esse tempo todo?

A dor estava ganhando e meu coração estremeceu. Fazendo a única coisa que pude pensar para impedir que as lágrimas caíssem, eu belisquei minha perna. Forte. Agora não era o momento de pensar sobre a traição de Hunter. Eu poderia processar isso depois de conhecer o destino do meu filho.

Enquanto a picada na minha perna queimava, a voz de Hunter vacilou, e eu não pude deixar de olhar para ele. Sua boca estava abaixada em uma carranca triste.

Ele tinha visto aquele beliscão.

— Dr. Faraday, você está falando em nome da Sra. Carlson hoje ou em nome da Sra. Holt? — Perguntou o juiz Tubor.

— Na verdade, eu gostaria de falar em nome de Coby hoje.

Uma frase e toda a minha raiva desapareceu em uma lágrima quente escorrendo pelo meu rosto.

Hunter amava Coby. A sala inteira de madeira ecoou com esse amor em sua voz.

O que apenas fez suas mentiras doerem muito mais. O pensamento fugaz de que tudo isso poderia ser um ardil passou pela minha mente. Hunter poderia ter me traído, mas ele estava sendo fiel a Coby.

Pelo menos havia isso.

— Conheci Coby cerca de quatro meses atrás, quando conheci Maisy, — disse Hunter. — Naquele tempo, tive a honra de passar um tempo com ele. Ele é um filho notável. Ele tem a inteligência do pai. E o coração da mãe.

Minha fortaleza vacilou. Os olhos de Hunter, cheios de arrependimento e desculpas, estavam esperando pelos meus. Seus ombros ficaram tensos antes de olhar para Eleanor.

— Meritíssimo, se sua preocupação é apresentar Everett a Coby, vou garantir que isso aconteça. Mas não consigo, em sã consciência, ficar quieto sobre o caráter de Nell. Coby não se beneficiaria de passar um tempo em Michigan.

Nell?

O juiz fez a mesma pergunta.

— Nell, seu nome preferido, — esclareceu Hunter.

Eleanor era Nell.

Os golpes continuaram vindo e eu afundei, derrotada, na minha cadeira dura. Eu tinha perguntado Hunter especificamente sobre Nell e ele me calou. Essa teria sido a oportunidade perfeita para ele confessar.

— Vamos ouvir sobre essas questões de caráter, — disse o juiz.

Hunter assentiu.

— Coby precisa de amor e carinho. Ele não é diferente de qualquer outra criança. Nell não tem como dar a ele o amor que ele precisa. Não é apenas uma parte de sua personalidade. Nell se casou com meu pai quando eu tinha dez anos e, nos vinte e quatro anos em que a conheço, ela nunca me deu um abraço. Ela nunca me fez uma refeição ou me disse que se importava. Todas essas coisas, essas coisas maternais que Coby recebe de Maisy, estarão totalmente ausentes no tempo que ele passar com Nell.

Por mais destruída que eu estivesse por que Hunter tinha mantido seus segredos, meu coração ainda estava triste por sua infância. A mãe dele também morreu. Seu pai teve que lidar com a perda de sua esposa. Hunter ficara preso com uma madrasta fria e Everett como meio-irmão.

Mas ele mentiu. Eu não conseguia esquecer isso.

— Coby é uma criança feliz, Meritíssimo, — continuou Hunter. — Separá-lo da mãe só causaria estresse em sua jovem vida. Se Eleanor tivesse sido mais amorosa na minha juventude, eu concordaria que a influência de uma avó poderia ser benéfica para Coby, mas não acho que seja esse o caso aqui.

A sala ficou em silêncio quando as últimas palavras de Hunter soaram pela sala. Todos ficaram imóveis, digerindo sua afirmação.

Momentos depois, o juiz Tubor perguntou.

— Gostaria de responder, Srta. Carlson?

Eleanor olhou chocada para Hunter, piscando algumas vezes enquanto formulava sua resposta.

— Meu chef faz refeições deliciosas e o garoto teria uma excelente babá para as outras partes.

— Coby, — disse Hunter. — Não ‘o garoto’. O nome dele é Coby.

Surpresa virou ódio e seu rosto se torceu em um rosnado.

— Eu odeio esse nome. Se ela não tivesse assassinado Everett, ele teria um nome decente.

Cada Holt na sala ofegou.

— Peço desculpas, Meritíssimo, — o advogado de Eleanor falou depois de calar a cliente.

— Seria do seu interesse, Srta. Carlson, deixar suas opiniões sobre a morte de seu filho fora desses procedimentos.

— É claro, — respondeu seu advogado.

— Você tem mais alguma coisa que gostaria de acrescentar, Dr. Faraday? — O juiz perguntou.

Hunter balançou a cabeça e assentiu para Stuart.

— Não. Obrigado pela oportunidade de falar.

— Você está dispensado.

Hunter assentiu e se levantou da cadeira. Quando ele passou por mim, eu estudei a mesa até que ele voltou ao seu lugar. Quando ergui os olhos, o juiz Tubor estava encarando o advogado de Eleanor.

— Você tem outras testemunhas?

O careca balançou a cabeça.

— Certo. — O juiz Tubor procurou Stuart. — Sr. Redhill. Você pode prosseguir com suas declarações de testemunhas.

— Antes de entrarmos em declarações de testemunhas, Meritíssimo, gostaria de trazer outra coisa à sua atenção.

O quê? O que mais havia além de nossas testemunhas? Quando é que vamos ficar sem as malditas surpresas? Abri minha boca, mas a fechei quando Stuart me lançou um olhar sufocante.

Ele puxou uma pequena pilha de papéis debaixo do bloco de anotações e levantou-se, levando-os ao juiz.

— Meritíssimo, minha cliente e eu estamos muito preocupados com a história de assédio da senhora Carlson.

Assédio? O que ele estava falando?

— Nos últimos meses, Carlson fez um número extremo de ligações para Holt. Como você pode ver nesses registros que o xerife Cleary recebeu ontem à noite, o número registrado para Carlson ligou para o número de Holt pelo menos uma vez por dia durante um período de quase dois meses. Ela perguntou à Sra. Holt sobre a morte de seu filho, à qual Maisy não respondeu.

Minha cabeça estava girando novamente. Eleanor, não uma repórter, me ligou a primavera inteira? Eleanor desviou os olhos culpados do advogado de rosto vermelho.

— Como ela demonstrou hoje, — continuou Stuart conversando com o juiz, — Carlson tem pouca reverência pela Holt. Esses telefonemas obsessivos nada mais são do que assédio. Acreditamos que Carlson está buscando esses períodos prolongados e sem supervisão com Coby para afastá-lo de sua mãe.

O juiz franziu a testa enquanto continuava inspecionando os registros telefônicos. Quando os colocou na mesa, apoiou os cotovelos na mesa.

— Senhora. Holt, você se oporia a permitir visitas supervisionadas a Sra. Carlson com Coby uma vez por mês?

Eu balancei minha cabeça.

— Não, Meritíssimo.

— Muito bem. Senhora Carlson, estou negando seu pedido de custódia dividida. Irei atribuir-lhe uma visita supervisionada por mês com Coby. A localização, supervisão e duração dessas visitas serão determinadas pela Sra. Holt. Alguma pergunta?

Eleanor começou a falar, mas seu advogado estendeu a mão.

— Sem perguntas.

— Sr. Redhill?

— Não, — disse Stuart. — Obrigado, Meritíssimo.

— Então este assunto está encerrado. — Ele bateu o martelo no bloco e ficou de pé, olhando para o estenógrafo. — Terminou cedo. Vamos torcer para que o resto do dia fique dentro do cronograma também. — Então ele saiu apressado da sala.

No instante em que a porta dele se fechou, Eleanor, seguida pelo advogado dela, se levantou da mesa e avançou em direção à porta. Ela a abriu, mas parou para zombar de Hunter.

— Seu pai teria vergonha de você por me trair.

— Adeus, Nell, — foi sua única resposta.

Ela deixou a sala do tribunal e, se minha série de sorte continuasse, ela partiria de Montana antes do anoitecer.

Stuart deu um suspiro de alívio quando a porta se fechou.

— Batalha vencida.

Quando me levantei do meu assento, uma parede de grandes corpos se formou na fila atrás de nós. Pai, Beau, Michael e Jess, todos nós estamos de pé ombro a ombro. Eu não conseguia ver seus rostos de costas para mim, mas sabia que eles não estavam sorrindo.

E além deles estava Hunter. Ele estava olhando através deles para mim.

Stuart estava certo. Nós vencemos uma batalha.

Mas estava prestes a haver outra.


Capítulo Dezoito

Maisy

 

— Dê a ele uma chance de explicar. — Stuart se inclinou para sussurrar.

Meu queixo bateu em resposta quando peguei minha bolsa e a joguei por cima do ombro.

— Há quanto tempo você sabe sobre as chamadas?

Stuart levantou as mãos.

— Eu apenas soube que era uma possibilidade no sábado. Hunter teve um pressentimento de que elas eram de Eleanor, então ele me mandou puxar os registros. Nós não sabia ao certo até tarde ontem à noite. Você estava tão assustada esta manhã que achei melhor não lhe contar. Não precisava que você tentasse arrancar os olhos de Eleanor na frente do juiz.

Minha cabeça caiu.

— Provavelmente foi uma boa decisão.

Irritada como eu estava com os segredos, eu não poderia estar chateada com o resultado do caso. Eleanor provavelmente passaria algum tempo com Coby, mas pelo menos agora esse tempo estava sob meu controle.

— Por favor, deixe-me saber se há mais alguma coisa que eu precise fazer para encerrar isso, — eu disse a Stuart.

— Eu vou. A bola está no campo de Eleanor agora. Se ela entrar em contato, você pode definir os termos para ela ver Coby.

Eu assenti.

— Obrigada.

— Não me agradeça. — Stuart recolheu seus papéis e maleta. — Agradeça a Hunter.

Eu gostaria.

Por Coby.

Stuart apertou minha mão e saiu, cutucando o bloqueio de corpos. Seu espaço vazio ao meu lado foi imediatamente preenchido com Gigi.

— Estou supondo que tudo isso foi novidade para você hoje? — Ela perguntou.

— Sim. — Embora com toda a justiça, isso era apenas novo porque eu me recusei a ouvir os pedidos de Hunter. Maior falha da minha parte por não ouvi-lo. Maior falha dele por esconder esse segredo por muito tempo.

Ela olhou para trás e franziu a testa.

— O que você vai fazer?

— Eu não tenho nenhuma pista. Por enquanto, estou indo para o hotel e acompanhar os checkouts de fim de semana. Então eu vou pegar Coby e levá-lo para uma festa hoje à noite, apenas nós dois. Ele não saberá o que estamos comemorando, mas eu não ligo.

— E Hunter? Você não pode evitá-lo para sempre, querida.

Suspirei, a exaustão da última hora caindo pesadamente sobre meus ombros.

— Eu nem sei como me sinto agora. Não posso falar com ele até descobrir isso primeiro.

Ela me deu um sorriso triste e apertou minha mão.

— Obrigada por estar aqui hoje. Mesmo se você não tivesse que dizer nada.

— Eu estou sempre aqui. Sempre que você precisar.

— Maze? — Beau chamou por cima do ombro.

— Sim?

Ele acenou com a cabeça para o fundo da sala onde mamãe havia caminhado até Hunter.

— Uh-oh, — Gigi murmurou.

Eu me preparei, esperando mamãe dar um tapa em Hunter ou começar a repreendê-lo, mas ela não o fez. Ela apenas passou os braços em volta do corpo tenso dele.

— Obrigada. — Tão rapidamente quanto o abraçou, ela o soltou, caminhando imediatamente para a porta. — Brock, hora de ir.

Papai não disse uma palavra enquanto a seguia. Ele acenou com a cabeça para Hunter, abriu a porta para mamãe e a escoltou para fora.

Ambos sabiam que eu falaria com eles mais tarde. E ambos sabiam que o lugar deles não era no meio do meu relacionamento.

— Seus pais são os melhores, — disse Sabrina, juntando-se a mim e Gigi.

— Sim, eles são, — Gigi e eu concordamos em uníssono.

— Precisa de alguma coisa? — Sabrina perguntou.

— Não. Obrigada por terem vindo hoje.

— Sem problemas. — Ela sorriu para mim e anunciou: — Beau, é hora de partir. — Ela caminhou até as costas dele e colocou a mão na dele. Quando ele não se mexeu, ela empurrou o braço dele, mas ele ainda não se mexeu. — Beau. — O tom de Sabrina foi afiado. — Nós precisamos sair. Isto não é da sua conta.

Ele bufou.

— Não é da minha con...

Ela levantou a mão e o interrompeu. Seus movimentos eram firmes, mas sua voz era um sussurro suave.

— Esta não é sua luta. Maisy pode fazer isso sozinha.

Os ombros de Beau caíram quando ele olhou para sua esposa, depois olhou para mim.

— Ligue-me se precisar de alguma coisa?

Eu assenti.

— Eu vou. Obrigada por estar aqui hoje.

— Ok. Te vejo em breve. — Ele se virou e deu um tapa nas costas de Michael, depois o empurrou pelo corredor atrás de Sabrina. Sem uma palavra, eles passaram por Hunter e saíram da sala.

Gigi me deu um abraço de despedida, depois passou a mão pela de Jess.

— Vamos, xerife.

Quando a porta se fechou atrás deles, Hunter e eu ficamos em nossos lugares, separados por duas fileiras de cadeiras de madeira desconfortáveis. Depois de alguns momentos, o silêncio se tornou demais e nós dois falamos ao mesmo tempo.

— Eu preciso ir trabalhar.

— Eu sinto muito.

Dei um passo em direção ao corredor e repeti:

— Eu preciso ir trabalhar.

— Podemos conversar?

Eu balancei minha cabeça e comecei a caminhar em direção à porta.

— Maisy? — Ele sussurrou quando minha mão bateu na maçaneta da porta.

Eu parei, mas não me virei para olhá-lo.

— Eu preciso de um tempo para pensar.

— Por favor, deixe-me explicar.

Meus olhos lagrimejaram quando olhei para a porta de madeira.

— Obrigada por falar por Coby hoje. — Antes de começar a chorar, puxei a maçaneta e abri a porta.

— Maisy, por favor. Deixe-me explicar.

— Eu deveria ter ouvido você, mas Hunter, você teve meses antes de tudo isso. — Eu fechei a porta, mas mantive minha mão firmemente envolvida na maçaneta. — Meses para explicar. Por que você esperou tanto tempo? — Uma lágrima caiu e eu a limpei com a mão livre.

— Eu não queria te perder. No segundo em que eu lhe dissesse quem eu era, você teria batido a porta na minha cara.

— Isso não é...

— É. Você sabe que é.

— Então você deveria ter me feito te ouvir.

— Eu estraguei tudo, — ele sussurrou. — Eu deveria ter me esforçado mais e sinto muito.

Eu assenti. Ele deveria ter tentado mais. Ele deveria ter me prendido na cama, fechado minha boca e forçado uma explicação para mim. Um tribunal não era o lugar para eu e minha família descobrirmos que ele era parente de Everett.

— Eu vou. — Eu abri a porta novamente.

— Maisy, eu amo você.

Eu também o amava. Apesar da minha cabeça confusa e frustrada, meu coração amava Hunter. Outra lágrima caiu e eu sabia que mais estavam prestes a seguir.

— Eu não posso fazer isso aqui. Apenas... me dê um tempo.

— Ok. — Ele me surpreendeu por não discutir. — Vá trabalhar. Perca-se em uma lista de tarefas, mas posso ir hoje à noite? Por favor?

Eu assenti e abri a porta completamente, fazendo a minha fuga.

E então, como Hunter sabia, fui para o hotel e me perdi no trabalho.

Sentada no patamar da escada do sótão, minhas costas estavam na parede e minhas pernas estavam esticadas no último degrau. Um copo de vinho descansava na minha coxa e minha cabeça estava inclinada para trás para que eu pudesse estudar o céu. Mesmo depois das nove horas e depois da hora de dormir de Coby, ainda estava claro nesta época do ano. Eu raramente me sentava e apreciava o pôr do sol do verão, geralmente estava muito ocupada com as tarefas do hotel, mas hoje à noite eu estava sem energia, então eu me afastei para as escadas.

— Ei.

Abaixei minha cabeça do céu que desaparecia. Hunter estava no degrau mais baixo.

— Oi.

Ele começou a subir as escadas.

— O que você está fazendo aqui fora?

— Eu só queria um pouco de ar. — E um pouco de paz. Gigi assistia ao pôr do sol quase todas as noites, porque ela dizia que encontrava paz, e como o trabalho não me ajudou hoje, eu estava disposta a tentar qualquer coisa.

— Você quer entrar para conversar? — Hunter perguntou quando ele estava a três passos do patamar.

Eu balancei minha cabeça.

— Ok. — Hunter subiu os últimos degraus, sentando-se também no degrau mais alto. Com minhas pernas esticadas entre nós, meus pés estavam no quadril dele e eu tive a visão perfeita de seu belo perfil.

Tomei um gole do meu copo.

— Você quer um pouco de vinho?

— Não, eu preciso ir para casa.

Era um alívio ele já ter planejado ir para casa. Depois que Hunter me desse sua explicação, eu precisaria de espaço. Minha cama era oficialmente uma zona livre de Hunter até novo aviso.

— Por onde você quer que eu comece?

Respirei fundo e bebi o último vinho.

— Por que você não me contou antes?

— Lembra do dia em que você recebeu os documentos de Nell? Eu tinha planejado lhe contar naquela noite.

Essa foi a noite em que ele providenciou para Coby passar a noite com meus pais. Eu estava tão empolgada naquele dia, pensando que Hunter tinha algo especial planejado para nós dois, mas no momento em que recebi a petição de Eleanor, tudo isso caiu no esquecimento.

— Por que não antes? — Eu perguntei. — Por que não logo depois que nos conhecemos?

— Eu não queria te perder. Eu estava com medo que você me pedisse para sair. Eu sabia que deveria ter dito a você, mas eu não queria que você me afastasse. Desde o momento em que você começou a falar comigo no saguão do hotel naquele primeiro dia, eu só queria fazer parte da sua vida.

Eu também o queria na minha vida. Muito.

— Foi real?

— É real. Eu te amo, Maisy. A única coisa que eu escondi de você foi o passado, mas tudo o mais era real.

O nó no fundo da minha garganta inchou. Eu também o amava. Apesar das mentiras e das omissões, eu também o amava.

— Você deveria ter me dito imediatamente, — eu sussurrei. — Isso foi demais para manter em segredo.

Ele abaixou a cabeça.

— Eu sei. Eu fui um covarde e você não me deve nada, mas posso explicar?

Eu respirei. Estava na hora de responder minhas perguntas.

— Comece do começo.

Ele passou a mão pelo cabelo, afastando alguns dos fios que haviam caído do coque.

— Alguns anos depois que minha mãe morreu, papai começou a namorar. Ele também era médico, então a maioria de seus encontros era com mulheres que trabalhavam com ele no hospital. Foi onde conheceu Nell. Ela estava trabalhando no refeitório, papai a conheceu no almoço um dia e quatro meses depois eles se casaram.

Peguei meu copo de vinho, franzindo a testa quando me lembrei de que estava vazio.

— Eles se casaram rápido, principalmente porque acho que papai estava desesperado para preencher o buraco que mamãe deixou quando morreu. Então, eu herdei uma madrasta que estava mais do que feliz em deixar o emprego de merda e gastar o dinheiro do papai junto com um meio-irmão que não gostava de ter um irmão mais novo.

— Você e Everett não se deram bem?

— Não, — ele zombou. — Nós nos odiávamos. No começo, pensei que poderíamos ser amigos. Papai trabalhava tanto, pensei que talvez Everett pudesse me fazer companhia, mas, em vez disso, brigávamos.

— Sobre o quê?

— Tudo. Ele me provocava implacavelmente e eu provocava de volta. Eu era jovem, chateado por papai os ter trazido para a minha vida. Eu queria voltar aos dias de apenas eu e papai. Principalmente, eu queria minha mãe de volta. Eu levei muito da minha raiva para Everett. Ele fez o mesmo comigo.

— E Nell?

— Nell me tratou como um fardo. Everett também. Eu quis dizer o que disse hoje no tribunal. Ela não tem um osso maternal em seu corpo. Assim que ela recebeu os salários do pai, ela contratou uma babá, não que precisássemos de uma. Eu tinha dez anos e Everett tinha quatorze quando se mudaram, mas uma babá na equipe significava que ela poderia nos ignorar.

— E seu pai?

— Papai levou Nell para casa como uma desculpa para passar mais tempo no hospital. Ele recebeu uma promoção, subiu para chefe de cirurgia. Ele vinha para casa uma vez, talvez duas vezes por semana antes que eu estivesse dormindo. Só quando fizemos nossas viagens de pesca que ele realmente me dava muita atenção.

O que significava que Hunter crescera zangado, triste e sozinho.

— Por que você nunca contou ao seu pai como estava se sentindo? Pelo que você me disse, ele te amava. Ele não teria tentado melhorar as coisas?

Hunter suspirou.

— Sim. Ele teria. Mas, apesar de todos os seus defeitos, papai amava Nell. Apenas não tanto quanto minha mãe. Nell não fez nenhum esforço comigo e Everett, mas ela era toda sobre papai. Tentando fazê-lo amá-la mais do que a memória de uma mulher morta.

Senti uma pequena pontada de simpatia por Nell, mas ela desapareceu rapidamente.

— E ela estava tão focada em seu pai, que negligenciou seu próprio filho?

— Praticamente. Honestamente, eu não sei quão próximos eles eram antes que eles se mudaram. Ambos eram tão gananciosos e egoístas. Acho que ficou mais fácil para Nell ignorar Everett depois que ela se estabeleceu como esposa de um médico rico.

Meu interior se torceu com emoção mista. Por um lado, Everett. Eu detestava sua memória. Mas por outro lado, me senti mal que ele nunca tinha tido uma mãe amorosa e orgulhosa.

— Devo sentir pena de Everett?

— Caralho, não. — Ele se virou para me olhar bem nos olhos. — Everett era um garoto podre e cresceu e se tornou um adulto podre. Ele fez suas escolhas, não Nell. Ela não foi responsável por transformá-lo em um psicopata de tráfico de drogas. Tudo isso, foi o filho da puta ganancioso.

Claramente, mesmo como homens adultos, eles ainda se odiavam.

— Então, eu acho que você e Everett nunca se tornaram amigos?

— Não. As coisas entre nós ficaram cada vez piores. Ele voltava da faculdade e tentava seduzir as minhas amigas do ensino médio. Ele comprava cerveja para os meus amigos, mas apenas se eles não me dissessem onde estavam festejando. Estou convencido de que a única razão pela qual Everett se tornou médico foi porque ele sabia que eu queria seguir os passos de papai e isso me irritaria.

Quanto mais Hunter falava, mais sentia pena de sua infância. Eu não podia imaginar o stress de ter esse tipo de animosidade na minha casa. De viver em uma casa sem amor. Eu cresci com pais e irmãos que me adoravam.

— Eu sinto muito.

— Está tudo bem. Everett era um idiota, mas eu cresci e cheguei ao ponto em que simplesmente o ignorei. Quando comecei a faculdade, me distanciei e, graças a Deus, ele se mudou.

Eu não estava tão agradecido pela mudança de Everett para Prescott. A única coisa boa que veio de sua época aqui foi Coby.

— Por que Everett veio a Montana para contrabandear comprimidos dos hospitais do condado? Se ele era um médico da cidade grande, não teria feito mais dinheiro apenas trabalhando? Médicos em Chicago ganham um bom dinheiro, certo?

Everett entrou em três hospitais diferentes de Montana, recrutando enfermeiras para roubar remédios que mais tarde ele revenderia. Eu sabia que as pílulas podem trazer um monte de dinheiro, mas o suficiente para competir com o salário de um médico? Não deu certo .

— Ele ganhou um bom dinheiro em Chicago, mas provavelmente não tanto quanto você imagina. Essas pílulas o atraíram. Mas acho que foi mais do que apenas dinheiro. Eu acho que era sobre poder. Ele queria provar que era mais esperto do que todos nós. E acho que foi um grande ‘foda-se’ para mim e para papai.

— Por quê?

— Quando papai morreu, Nell herdou o pagamento do seguro. Ela obteve o seguro. Eu obtive todo o resto. Seu dinheiro. A casa. Tudo. Everett não recebeu um centavo. Tivemos uma grande briga após o funeral do pai e ele foi embora. Ele disse que não ia trabalhar toda a sua vida. Que ele ficaria rico mais rápido do que eu ou papai.

— E foi quando ele veio aqui para Prescott?

Hunter assentiu.

— Por toda sua inteligência, ele foi um idiota. Ele tinha tanto poder intelectual, mas, em vez de usá-lo, estava sempre planejando um atalho.

O último atalho de Everett lhe custou a vida.

— Tudo bem, — eu disse. — Então avançe rápido agora. Faz anos desde a morte de Everett. Por que Nell veio para Coby depois de todo esse tempo? Por que ela esperou tantos anos para registrar a petição de custódia?

Hunter passou a mão no cabelo novamente e quando ele olhou para cima, eu não gostei do olhar torturado em seu rosto.

— Não era só agora.

Meus músculos ficaram tensos.

— Como assim?

— A primeira vez que te vi foi no dia em que você teve Coby. Eu estava sentado na sala de espera quando Beau levou você para o hospital em Bozeman.

— O quê? — Meu queixo caiu. — Por quê?

— Nell me enviou para pedir Coby. Ela queria que você o entregasse a ela. Ela estava de luto. Ela queria aquele pedaço de Everett, mas não queria estar perto de você, então fui em seu lugar. A única razão pela qual eu concordei em ir ao hospital e perguntar a você foi porque ela disse que você lhe enviou uma carta e que estava pensando em dar Coby para adoção.

— Isso é uma mentira! — Eu gritei. — Eu nunca desistiria do meu filho.

— Eu sei disso, — ele disse calmamente. — Eu olhei para você e sabia que você nunca iria desistir dele, então eu saí.

— Por que você pensaria em deixá-la tomar um bebê se ela era uma mãe tão horrível?

Ele colocou uma mão gentil no meu joelho.

— Eu disse a Nell que ia te pedir, mas realmente, eu ia convencê-la a ficar com o bebê.

— Oh. — Eu caí contra a porta.

— Depois disso, eu disse a Nell para deixá-la em paz e que não apoiaria o caso dela se ela tentasse obter a custódia de Coby. Milagrosamente, ela deixou passar por um tempo e se mudou para Grand Rapids para sair de Chicago. Terminei minha residência e assumi uma posição de assistente no hospital onde meu pai trabalhava. Eu pensei que era o fim disso.

— Mas não foi.

Ele balançou sua cabeça.

— Não. Nell decidiu ir atrás de Coby novamente. Por acaso, fiquei sabendo quando encontrei uma de suas antigas amigas no hospital. Fui a Grand Rapids para confrontar Nell naquela noite.

— E você a convenceu a desistir. Caso contrário, eu teria notícias dela, certo?

— Não exatamente, — ele disse. — Ela não ia largar, então me mudei para cá pela primeira vez. Eu queria estar perto caso ela viesse para Prescott. E foi minha ameaça silenciosa que, se ela fizesse uma briga pela custódia, eu exporia seu segredo.

Mais segredos? Isso era cansativo. Nós conseguiríamos passar por todos eles?

— Que segredo?

— Que Nell já tinha gastado o dinheiro do seguro do meu pai e estava vivendo com o dinheiro da droga de Everett.

Chocada, pisquei algumas vezes ao reproduzir sua última declaração.

— Ela sabia sobre o tráfico de drogas de Everett?

— Não. Talvez. Eu não tenho certeza.

— Estou confusa. Como ela estava vivendo com o dinheiro dele, se não sabia?

— Everett só tinha uma conta corrente quando morreu e o saldo correspondia perfeitamente ao seu salário no hospital.

Isso fazia sentido. Ele não seria capaz de esconder sua fábrica de comprimidos se estivesse mantendo seu dinheiro à vista.

— Então, onde ele estava colocando seu dinheiro das drogas?

— Em uma conta em nome de Nell.

— Então ele escondeu seu dinheiro com sua mãe.

Hunter assentiu.

— Isso é certo. Agora, eu não tenho certeza se Nell sabia que era das drogas ou se ela simplesmente pensou que ele estava cuidando dela desde que meu pai tinha ido embora. Independentemente disso, depois que ele morreu, ela seria capaz de fazer as contas e descobrir de onde vinha esse dinheiro.

— Como você descobriu? — Se eu fosse Nell, teria guardado toda essa informação para mim.

— Por acidente. Você vê, quando meu pai morreu, eu fiquei com a nossa casa, mas eu não chutei Nell para fora. Imaginei que fosse a casa dela também e papai esperaria que eu ajudasse a cuidar dela. Então ela ficou em casa e eu fiquei na casa da piscina. Eu morei lá durante minha residência, porque não tinha vontade de comprar minha própria casa até saber onde minha carreira iria me levar.

— Ok. — Eu ainda estava seguindo, mas apenas por pouco. — Então você ficou morando ao lado de Nell depois que seu pai morreu. Everett veio para Montana e depois morreu.

— Certo. E como Nell lida com sua dor? Dois dias depois do funeral de Everett, ela tira um período de três meses de férias no México. Ela apenas se levanta e sai, deixando apenas um bilhete que eu encontrei dias depois na cozinha. Como morava lá, recebia o correio. Depois de um mês, a correspondência estava empilhada em todos os lugares, então decidi que seria melhor passar por tudo, caso houvesse algo importante. Encontrei extratos bancários e fiquei curioso. Então, encontrei um último envelope de dinheiro e fiquei realmente curioso, pois tinha um carimbo de Montana.

— A última remessa de dinheiro de Everett para a conta secreta de sua mãe?

— Ele deve ter enviado pelo correio no dia em que morreu. Comecei a juntar dois e dois e percebi de onde vinha todo esse dinheiro.

Inclinei minha cabeça de volta para o céu agora escuro e estudei as estrelas enquanto deixava tudo afundar.

— Por que você não entregou esse dinheiro? Então Nell teria ficado sem dinheiro.

— Por sua causa.

Abaixei minha cabeça rapidamente.

— Minha causa?

Ele assentiu.

— Tudo o que eu tinha para proteger você e Coby era meu conhecimento sobre esse dinheiro. Você está certa, se eu entregasse esse dinheiro às autoridades, elas teriam limpado Nell. Mas esse dinheiro é a única coisa que ela quer mais do que qualquer outra coisa. Sem isso como alavanca, eu não tinha nada para impedi-la de assediar você. Eu jogaria todas as minhas cartas.

— Acho que elas não eram muito boas cartas para começar. Ela ainda veio atrás de Coby.

— Sim, — Hunter murmurou. — Eu pensei que ela ficaria longe comigo morando aqui novamente, mas acho que não.

— Por que desta vez?

— Eu não sei. Talvez o dinheiro acabou? Talvez ela não se importe mais? Eu não tenho certeza.

— Você vai entregá-la agora?

Ele balançou sua cabeça.

— Se ela tentar pegar Coby novamente, eu vou. Mas espero que ela desapareça de uma vez por todas.

— Por que você não contou ao juiz nada sobre dinheiro?

— Stuart disse que isso não importaria. Ele imaginou que o juiz ainda teria decidido por alguma visita a seu favor. Ele concordou que eu deveria manter isso em silêncio, a menos que fosse vitalmente necessário. Apenas no caso de eu precisar usá-lo mais tarde.

Inspecionei meu copo de vinho vazio enquanto pensava em tudo.

— Não importa o que você fez, Nell sempre planejou se vingar, hein? Essa era a maneira dela de me punir por matar Everett. O que significa que você se mudou para cá por nada.

— Não. — A mão de Hunter ainda no meu joelho segurou mais apertado. — Não por nada. Eu poderia não ter percebido isso na época, mas me mudei para cá por você. Eu era um homem diferente quando fiquei esperando naquela maternidade todos aqueles anos atrás. Eu estava focado na minha carreira e não queria nada mais do que seguir os passos do meu pai. Mas tudo mudou quando eu te vi. Levei um tempo, mas percebi que eu queria coisas diferentes para a minha vida. Eu vim aqui pensando que estava cuidando de você, quando realmente estava procurando por você.

— Então por que você não me encontrou na primeira vez que morou aqui? E por que você se afastou apenas para voltar?

Seu polegar desenhou um círculo na minha pele nua.

— Eu ainda estava amarrado a Chicago. Tirei apenas um período sabático do meu trabalho e o hospital aqui me contratou apenas temporariamente. Não vim e a encontrei porque sabia que iria embora novamente. Principalmente, eu não queria trazer toda essa merda para sua vida.

— Por que foi diferente desta vez? O que mudou?

— Eu não tinha planejado vê-la. Eu tinha planejado voltar temporariamente até Nell recuar, como na última vez. Mas no dia em que cheguei a Prescott, vi você no centro. A partir daquele momento, não pude ficar longe. Então você me chutou nas bolas e eu sabia que estava apaixonado por você.

Eu sorri com a piada dele. Se eu não sentisse essa forte atração entre nós, eu poderia ter duvidado de suas razões, mas, como era, eu sabia exatamente como ele se sentia.

— Eu preciso de você, Maisy. — Ele chegou mais perto. — Por favor acredite nisso. Sei que estraguei tudo, mas, por favor, fiz tudo por você. E eu faria de novo.

— Isso é fodido, Hunter, — eu sussurrei. — Você é meio-irmão de Everett. Você é o tio de Coby. Eu apenas... não posso fazer tudo isso, é loucura. Eu não posso aceitar todos os segredos.

Ele pegou minhas mãos.

— Eu te disse uma vez, só sairia se você me fizesse. Eu quero dizer isso ainda. Eu não estou indo a lugar algum, mas esta é a sua decisão. Eu vou lutar, não me entenda mal. Não vou desistir facilmente, mas se você realmente não conseguir superar, eu irei.

— Eu te amo, Hunter, — eu admiti. — Mas eu não confio em você.

— Eu vou ganhá-la de volta. Eu vou provar que eu sou o único homem que você realmente precisa e eu nunca, nunca mais vou esconder nada de você de novo.

Não duvidei da determinação dele. Eu duvidava da minha capacidade de confiar nele novamente.

— Eu preciso de tempo.

— Pegue o quanto quiser. Estarei aqui quando estiver pronta.

Eu assenti.

— Ok.

Ele se levantou do degrau, curvando-se para beijar minha têmpora.

— Boa noite.

Eu olhei para as estrelas quando seus passos ecoaram pela escada e trituraram o cascalho quando ele deu o último passo.

— Eu amo você, Maisy. Diga-me que você acredita nisso.

Eu não desviei meu olhar do céu.

— Eu acredito nisso, Hunter. Só não sei se posso acreditar em mais alguma coisa.


Capítulo Dezessete

Maisy

 

— Por que seu sobrenome é Faraday e não Carlson?

Hunter riu ao telefone.

— Olá para você também.

Fiquei quieta, esperando ele responder.

Mais de um mês se passou desde o confessionário da escada de Hunter e, naquele tempo, ele me deu espaço. E respostas. Sempre que uma questão surgiu na minha cabeça, eu ligava e perguntava. Ontem, eu chamei duas vezes com perguntas sobre sua família. Hoje, eu queria saber sobre o sobrenome dele.

— Faraday era o nome de solteira da minha mãe, — ele disse. — Mudei meu nome de Carlson para Faraday antes de começar a faculdade de medicina, porque não queria que o nome de papai pesasse na minha carreira.

— Então você era Faraday, mas Everett era Carlson, mesmo que ele não fosse o filho biológico do seu pai?

— Isso mesmo. Nell forçou Everett a mudar seu sobrenome quando se casou com papai. Ela queria que todos na casa compartilhassem o mesmo sobrenome. Everett odiava até chegar à faculdade, mas então eu acho que ele decidiu que não era tão ruim. Ele jogava o nome do papai como um doce em um desfile. Não sei se isso fez diferença para Everett ou não, mas não queria nenhum favor especial dos professores ou da administração. Então eu me tornei Hunter Faraday.

Gostei do orgulho de Hunter e de ele querer ter sucesso em suas próprias realizações. Eu duvidava que seus professores fossem favorecê-lo, mas era admirável que ele se importasse o suficiente para ter sucesso por seu próprio mérito.

— Onde você estudou na faculdade? — Eu perguntei.

— Noroeste. Escola de Medicina também.

Uma imagem surgiu em minha mente de um Hunter mais jovem andando pelo campus. Aposto que as meninas se jogavam no aspirante a médico com o cabelo sexy. Meu sorriso caiu com a imagem mental das mãos de outra mulher puxando os fios de seus cabelos. Hunter e eu não tivemos a conversa de amantes do passado, porque essa era uma área em que eu estava cem por cento sem curiosidade.

— Algo mais? — Ele perguntou.

Eu estava sem perguntas por enquanto.

— Hum, não. Tchau.

— Ok, — ele suspirou. — Tchau.

Desliguei o telefone e o coloquei no balcão do saguão. Ele parecia triste e solitário. Devo ligar de volta para ele? Talvez o convide para jantar? O que ele estava comendo ultimamente? Ele estava cozinhando ou apenas fazendo sanduíches de manteiga de amendoim e geleia?

Embora eu não gostasse do pensamento dele sobrevivendo de marmitex e PB & Js, não levantei meu telefone do balcão.

Por mais que eu sentisse falta de Hunter, não estava pronta para tê-lo de volta.

Eu ainda estava com muita raiva e decepcionada.

Toda vez que eu pensava nele vindo para minha maternidade e não me alertando sobre a obsessão de Nell, eu via vermelho. Quando imaginei Hunter morando em Prescott por um ano, trabalhando no hospital com meus amigos sem se apresentar, minhas mãos fecharam em punhos. Quando pensei em todas as noites em que ele fez amor comigo e me enrolou em seus braços para dormir, o gosto amargo da traição encheu minha boca.

Não podia deixar Hunter voltar ao meu coração até que esses sentimentos desaparecessem, e esse foi o motivo dos meus telefonemas de perguntas e respostas, em vez de falar com ele pessoalmente.

Eu amava Hunter. Sentia falta de Hunter. Mas ele me machucou e agora eu o mantinha a distância.

Mais uma vez, o Bitterroot Inn se tornara meu salvador das turbulências emocionais da minha vida. Eu havia passado o último mês de volta na minha rotina pré-Hunter, rebentando minha bunda para terminar a temporada turística.

Olhando para o meu livro de reservas, folheei as páginas do fim de semana. Pela primeira vez em meses, havia dois quartos vazios. O verão estava acabando e o outono estava chegando. Os turistas estavam de volta ao trabalho, as crianças estavam de volta à escola e eu estava aproveitando a pausa do começo de setembro na atividade de hotel.

A temporada de caça começaria em breve e as reservas voltariam a subir novamente, mas até então, eu tinha algumas semanas para desfrutar de um ritmo ligeiramente mais lento. Eu poderia encontrar Milo para nosso café semanal de fofocas. Eu poderia ter longas ligações telefônicas com Gigi à noite. Eu poderia fazer pausas para o almoço com Hunter.

Exceto, eu não estava vendo Hunter.

Meu ressentimento desapareceria mais rápido se passássemos mais tempo juntos? Eu encontraria a confiança que estava perdendo? Talvez. Suspirei e me inclinei contra o balcão, apoiando meu queixo na mão. Minha convicção de manter alguma distância estava diminuindo.

— O que você acha, Picles?

Meu filhote crescendo olhou para cima do couro cru que ele estava mastigando aos meus pés. Seus grandes olhos castanhos piscaram uma vez antes de voltar a mastigar.

— Você não ajuda.

Sem pensar, peguei meu telefone.

Hunter atendeu no primeiro toque.

— Oi.

— Eu estou indo ao jogo de futebol hoje à noite. É o primeiro da temporada e sempre é muito divertido. Se você estiver indo ao jogo, fique à vontade para sentar conosco. Eu sei que Coby realmente gostaria disso.

— E você? Você gostaria disso?

Eu assenti.

— Eu não posso te ver, Loirinha. Você está assentindo?

Eu assenti novamente.

— Eu vou assumir que sim e até a noite. Tchau.

Quando ele desligou, desliguei o telefone e olhei de volta para o meu cachorro.

— Feliz agora?

Ele apenas continuou mastigando. Picles pode não se importar se eu tivesse acabado de abrir a porta para Hunter voltar, mas Coby estaria em êxtase.

Meu garotinho estava tão confuso quanto eu. Ele não entendeu por que as festas do pijama haviam parado ou por que Hunter não estava na nossa mesa de jantar. Eu odiava que ele tivesse sido afetado por tudo isso, mas, para crédito de Hunter, ele fez o possível para diminuir o impacto de nossa pausa em Coby.

Hunter esteve na festa de aniversário de Coby na semana do processo judicial. Com pouquíssimos membros da minha família conversando com ele, Hunter passou a maior parte da festa sozinho. Mas ele ficou o tempo todo, por Coby. Ele estava parado estoicamente no canto, me observando e sorrindo sempre que eu fazia contato visual. Ele até mesmo fez questão de pedir desculpas aos meus pais e irmãos. Finalmente, senti pena dele e fiquei em silêncio ao seu lado enquanto assistíamos Coby abrir os presentes.

Depois disso, Hunter havia combinado um tempo a sós com Coby algumas vezes por semana. Eles foram pescar no novo barco. Eles tiveram seus próprios encontros no café. Hunter chegou a acampar com Coby em seu quintal em um fim de semana.

Eu fiz o meu melhor para explicar essa mudança como “coisa de adulto”, mas Coby não estava comprando. Ele sabia que as coisas estavam tensas. Eu simplesmente não sabia como descrever a situação de uma maneira que ele entenderia. Como você explica a um menino de quatro anos a importância da confiança? Ou quão difícil era perdoar? Ou quanto dano seu pai biológico causou ao meu coração?

Outra pergunta surgiu na minha cabeça e peguei meu telefone.

Hunter respondeu de novo imediatamente.

— Você está ligando para retirar o seu convite para o jogo? Porque, se estiver, eu estou desligando.

— Não. — Eu sorri, mas hesitei antes de fazer minha pergunta. — Eu estava, hum, me perguntando se você sabia por que Everett não gostaria de ser pai.

Everett tinha sido tão inflexível quanto a não ter um filho, tanto que estava disposto a me matar. Tinha que haver alguma motivação por trás disso. Algo que estava faltando. Porque quem não gostaria de Coby?

Hunter soltou um longo suspiro.

— Eu não sei. Eu gostaria de ter uma resposta para você, mas eu não tenho. Talvez porque seu próprio pai nunca esteve na foto. Talvez porque Nell fosse uma mãe muito ruim. Talvez porque ele era tão egoísta. Não sei por que ele não quis filhos.

— Hmm. — Eu queria outra resposta. Algo mais definitivo.

— Maisy, ele perdeu e nunca saberá quanto.

Essa era a verdade.

— Ok. É melhor eu não te atrapalhar.

Ele me parou antes que eu pudesse desligar.

— Maisy?

— Sim?

— Eu sei.

— Você sabe o quê?

— Eu sei o quanto eu perderia se não tivesse Coby. Ou você.

Um nó se formou no fundo da minha garganta. Em vez de tentar limpá-la para falar, apenas desliguei o telefone.

Então pensei em Everett, na infância de Nell e Hunter, esperando que outra pergunta surgisse na minha cabeça para que eu pudesse ligar de volta.

— Mamãe! Mamãe, é o Hunter! — Coby pulou de seu assento no estádio de futebol e começou a acenar.

Quando Hunter nos viu de sua posição na parte inferior das arquibancadas, ele acenou de volta enquanto caminhava em direção à escada cheia de pessoas.

— Você sabia que ele estava vindo? — Gigi perguntou do seu assento atrás de mim.

Eu me virei e assenti.

— Eu o convidei para sentar conosco.

Ela sorriu. Gigi não foi nada além de apoiar minha pausa com Hunter. Ela sabia que eu precisava de algum tempo para superar todos os segredos dele, mas depois de um mês, ela pensou que meu tempo deveria acabar.

Eu me virei para olhar Hunter enquanto ele subia as escadas. Estávamos a cerca de sete fileiras do parapeito que separava as arquibancadas do atletismo. Alto o suficiente me deu tempo para fazer uma inspeção completa de Hunter enquanto ele subia.

Ele usava jeans e um suéter azul marinho, uma roupa tão simples e chata que acentuava seu apelo sexual, em vez de prejudicá-lo. Ele levantou as mangas do suéter, revelando o bronzeado e os braços musculosos. Seus jeans estavam desbotados nas pernas e, a cada passo da arquibancada, suas grossas coxas puxavam o jeans, moldando seus quadris poderosos. As três mulheres subindo as escadas atrás de Hunter tinham os olhos firmemente fixos em sua bunda linda.

Peguem a sua, senhoras, essa é minha. Bem, talvez.

Não que eu pudesse culpar aquelas mulheres por se deleitarem com seu corpo sexy. Eu estava me banqueteando também. Algo que Hunter sabia quando meus olhos viajaram pelo estômago liso para o rosto sorridente. Pega. Com uma piscadela, ele sorriu mais.

Baixando os olhos para a bolsa aos meus pés, fingi pegar alguma coisa até que a temperatura do meu rosto voltou ao normal. Como foi que eu fiquei anos sem sexo, nunca desejei nenhuma vez, e apenas um mês sem Hunter e eu estava tão excitada quanto um garoto adolescente que acabara de descobrir a Playboy? Eu cruzei minhas pernas, mudei um pouco, mas a dor no meu núcleo ainda estava lá.

— Hormônios estúpidos, — murmurei para minha bolsa.

— O que foi?

Minha cabeça levantou. Hunter já tinha chegado ao meu lado. Ele deve ter pulado alguns passos com aquelas pernas longas.

— Nada. — Eu sorri e corri um pé para dar espaço.

— Coby! — Hunter pegou Coby enquanto ele voava pelas minhas pernas. Em um movimento rápido, Hunter levantou meu filho no quadril.

— Hunter! Olhe para minha nova camiseta. — Coby se recostou e esticou a camisa nova.

— Isso é demais. Você acabou de comprar?

Coby assentiu.

— Mamãe comprou para mim.

Quando chegamos ao estádio, as líderes de torcida do ensino médio estavam vendendo camisetas. Havia uma camiseta de criança em verde neon com Prescott Mustangs escritos na frente e eu não pude resistir. Coby tirou a camiseta mais rápido do que eu poderia pegar o meu cartão de crédito para pagar pela nova.

— Eu estava pensando em comprar alguns Mustangs. Você quer descer mais tarde e me ajudar a comprar um boné? — Hunter perguntou a Coby.

— Sim! Também posso usar boné?

— Coby, — eu repreendi. — Você não deve pedir presentes, amigo.

— Sua mãe está certa, — Hunter concordou, — mas ainda vamos conseguir um boné para você.

Ele colocou Coby no chão e sentou no banco, inclinando-se para beijar minha bochecha.

— Oi. Você está bonita.

Eu estava apenas vestindo um jaqueta de moletom e um jeans verde escuro Mustang, mas eu tirei tempo para fazer minha maquiagem e cabelo.

— Obrigada.

Havia olhos em mim de todas as direções, mas me virei para o campo de futebol e os ignorei. Todos haviam mostrado hoje à noite a religião que era o futebol de Prescott High. Os caras eram fanáticos por equipes. As meninas toleraram o jogo porque todos gostávamos de socializar e fofocar.

O fato de ter trazido Hunter para essa mistura era mais revelador do que ele provavelmente sabia. Eu estava deixando ele voltar ao jogo e esse jogo era uma maneira de dar permissão a meus amigos e familiares para deixar de lado seus erros.

— Hunter, — disse o pai, virando-se e estendendo a mão. — É bom ver você.

Hunter pegou a mão do papai.

— Obrigado, Brock. É bom estar aqui.

— Hunter, você jogou futebol? — Beau perguntou quando eles apertaram as mãos.

— Joguei, fui quarterback9 no ensino médio.

— Não brinca? — Jess perguntou atrás de nós. — Você era bom?

— Eu me segurei. Eu recebi algumas ofertas de algumas escolas menores da divisão um, mas não queria jogar bola na faculdade.

Silas assentiu para Jess.

— Bom momento.

Todos os caras trocaram um olhar antes de Beau estragar o grupo.

— Estamos procurando um quarterback para o nosso time da liga. Existem apenas três equipes, assim não é uma temporada longa ou qualquer coisa, na sua maioria apenas jogando a bola ao redor nos fins de semana antes de nevar. Você está interessado?

— Estou dentro. — Hunter balançou a cabeça antes de ser atacado por mais apertos de mão, dando-lhe as boas-vindas ao time.

A solidão que eu tinha ouvido na voz de Hunter antes se foi. Convidá-lo foi a decisão certa. E o nervosismo que senti por ele se juntar a nós hoje à noite desapareceram no momento em que ele se sentou ao meu lado.

— Eu estou com fome. — Coby se contorceu quando se sentou no joelho de Hunter.

— O que você quer? — Hunter perguntou.

— Posso ter um cachorro-quente?

— Claro, amigo. O que você quer? — Ele me perguntou.

— Eu vou querer um cachorro-quente também.

— Ok. Volto logo.

— Eu posso ir? — Coby perguntou.

Hunter respondeu estendendo a mão enquanto se levantava e, juntos, eles desceram as escadas. Ao meu redor, a conversa foi retomada. Os caras começaram a falar de futebol. Mamãe estava conversando com Sabrina sobre sua gravidez. Papai estava conversando com Alana sobre a clínica veterinária.

E sentei-me em silêncio, apreciando a vista de Hunter e meu filho de mãos dadas.

— Há algo verdadeiramente mágico em um homem que se apaixona por seu filho, não é? — Gigi sussurrou no meu ouvido.

— Totalmente. — Isso tornou quase impossível ficar longe de Hunter quando ele olhava para Coby do jeito que meu pai olhava para mim.

Logo desapareceram de vista, retornando dez minutos depois sobrecarregados com comida não saudável da barraca de venda. A vista dos dois subindo as escadas era tão boa quanto a vista da descida. O sorriso de Coby era tão largo quanto havia sido durante toda a semana e o amor que ele tinha por Hunter estava escrito em todo o seu pequeno rosto.

A culpa arranhou meu interior. Eu não podia mais deixar Coby sofrer com esse limbo. Eu precisava tomar uma decisão. Hunter estava em nossas vidas ou fora.

Quando ele chegou à nossa fila, Coby me entregou meu cachorro-quente.

— Aqui está, mamãe.

— Obrigado parceiro.

— Temos doces também, — ele anunciou.

Hunter deixou cair um saco de Skittles na minha mão, junto com uma barra de Snickers. Meus dois favoritos. Considerando que eu nunca disse a ele qual era meu doce favorito, fiquei impressionada.

— Como eu fui? — Ele perguntou.

— Bom. — Muito bom.

Hunter se sentou em seu lugar e todos começamos a comer enquanto as equipes entraram em campo para se aquecer antes do início.

— Quer alguma coisa para beber? — Hunter perguntou. — Eu esqueci de pegar água.

Eu balancei a cabeça e engoli minha última mordida de Snickers.

— Dr. Pepper.

— Ok. Volto logo.

Ele se levantou e correu escada abaixo. Meus olhos instantaneamente se fixaram em sua bunda. A aparência de sua bunda naqueles jeans deve ser fotografada diariamente. Tão firme. Tão absolutamente firme. Parecia mais pedra cinzelada do que músculo arredondado. Maravilhada com o quão bem o bolso de sua calça jeans emoldurava sua bunda deliciosa, eu saltei de surpresa quando uma mão apareceu na minha linha de visão.

Havia uma mão na bunda de Hunter. Uma mão que definitivamente não era minha.

— Qual o efeito? — Gigi perguntou.

— Coby, fique aqui. — Eu estava fora do meu lugar e desci as escadas antes que alguém pudesse me parar, indo direto para Hunter, que estava parado no parapeito tentando se afastar da mulher que o apalpava.

— Oh, me desculpe, — disse a mulher, sorrindo e rindo como a tola que ela era. — Eu apenas tropecei. — Ela estendeu a mão. — Eu sou Renée. Não acredito que nos conhecemos.

Deslizei para o lado de Hunter, batendo a mão dela com o meu cotovelo. Então eu estendi a minha em troca.

— Oi. Eu sou Maisy. Renée, não é?

O sorriso dela caiu quando ela vacilou, mas ela se recuperou.

— Sim. Renée. Prazer em conhecê-la.

Ela pegou minha mão e eu apertei a dela um pouco demais.

— Você é nova na cidade?

— Eu, uh, acabei de me mudar para cá no mês passado, — ela gaguejou, tentando sair do meu aperto.

— Bem-vinda a Prescott, — eu disse com falsa alegria. — Esses jogos de futebol são uma ótima maneira de conhecer pessoas. — Olhei para Hunter e deslizei a mão no bolso de trás da calça jeans. — É melhor seguirmos em frente se quisermos tomar nossas bebidas antes do jogo.

— Claro baby. — O peito de Hunter começou a tremer com uma risada silenciosa quando ele acenou um adeus a Renée. — Prazer em conhecê-la.

— Oh, hum, você também. — Com as bochechas vermelho-beterraba, ela desapareceu de volta ao seu lugar.

— Vamos. — Marchei em direção à saída.

O braço de Hunter veio ao redor dos meus ombros e ele me levou pelas escadas em direção ao barraca de venda.

— Muito ciumenta, Loirinha?

Uma labareda de irritação atravessou meu corpo. É claro que eu estava com ciúmes. O que ele esperava? Por que ele não estava mais irritado com o comportamento daquela mulher?

— Ela foi rude e estava praticamente atacando você, — eu bati e me afastei do lado dele. — Mas se isso não te incomoda, tudo bem. Talvez as mulheres se jogando sobre você não seja um grande problema. Quero dizer, você é solteiro ou o que for, então acho que você pode fazer o que quiser..

— O que foi isso? — Sua mão agarrou meu cotovelo e me girou na frente dele, parando meu discurso desmedido. — Diga isso de novo. Solteiro? Você acha que eu estou solteiro?

Dei de ombros.

— Eu acho.

Sua mandíbula se fixou em uma carranca zangada.

— Você acha que está solteira?

— Eu, hum... não.

— Então por que diabos você acha que eu estou solteiro?

Voltei minha mão para as arquibancadas.

— Você não ficou muito bravo com a mão de Renée na sua bunda e nós não estamos juntos...

— Pare de falar. Agora mesmo. — Ele agarrou minha mão para me arrastar para trás dele quando ele se virou na outra direção e se afastou das barracas de vendas.

Minhas pernas não conseguiam acompanhar seus passos largos, então eu tive que correr para acompanhar.

— Hunter...

— Pare de falar, Maisy.

Eu calei a boca por um segundo, mas quando ele se aproximou das arquibancadas e do portão de saída, eu não consegui ficar quieta.

— Para onde estamos indo? Não podemos sair. E o Coby?

Ele não respondeu. Ele continuou me puxando até chegarmos ao portão, mas em vez de passar pelo estacionamento de cascalho, seguiu a pequena seção da cerca de arame em direção à área escura sob as arquibancadas. Eu pensei que ele iria parar por aí, na sombra das arquibancadas altas, mas ele continuou, passando por cima de uma barra de metal e andando por baixo dos altos assentos de metal.

— Hunter, — eu assobiei e me contive. — Nós não podemos estar aqui embaixo.

Ele apenas puxou minha mão com mais força, então eu segui.

Acima de nós, as pessoas estavam rindo e conversando. Dois copos de bebida derramados espalhados pelo chão. Os bancos acima rangeram quando as pessoas levantaram para a apresentação do hino nacional.

— Hunter, eu acho...

Ele me calou e continuou puxando, todo o caminho até o canto mais distante, que estava quase escuro como breu. Deste lado, as arquibancadas eram sustentadas por uma parede de blocos de concreto, e não pelos postes de metal abertos como onde havíamos entrado. Quando chegamos ao cimento, Hunter me puxou na frente dele, posicionando minhas costas contra os blocos frios.

Abri minha boca, mas ele falou primeiro.

— Você não é solteira. Nem eu. — Então sua boca bateu na minha, terminando qualquer chance de discussão.

Enquanto os alto-falantes tocavam e o estádio acima de nós se encheu de The Star-Spangled Banner, Hunter encheu minha boca. Ele inclinou a cabeça e sua língua mergulhou profundamente, explorando com fome. Explorando como se tivessem passado anos, não apenas um mês desde que seus lábios estavam nos meus.

Fiquei atordoada por um segundo, sem esperar um beijo, mas o choque não durou muito. Meu desejo pela boca de Hunter queimou.

Minhas mãos correram pelo peito duro e pelo pescoço, puxando-o para mais perto e mais fundo. Ele se curvou para que eu pudesse colocar meus braços em volta da parte de trás de seus ombros e meu peito pressionado contra o dele.

Eu senti falta de beijar esse homem. O gosto dele. O cheiro dele. A maneira como ele geme em minha boca. Eu tinha perdido tudo isso.

Enquanto nossas línguas giravam e duelavam, suas mãos envolveram minha cintura, deslizando até minha bunda para apertar com força meu jeans. Eu gemi em sua boca, querendo mais quando ele me puxou em sua ereção.

Inclinei minha cabeça, querendo um novo ângulo para chupar seu lábio inferior, mas ele se afastou, me deixando ofegante quando eu limpei meus lábios.

— Vire-se, — ele ordenou.

Eu imediatamente obedeci, apoiando minhas mãos no cimento frio no meu rosto.

As mãos de Hunter chegaram aos meus jeans e apertaram o botão de cima, depois apressadamente desabotoou. Com um empurrão, ele puxou minhas calças e calcinha, deixando o ar frio penetrar na minha pele nua.

Seu hálito quente fez cócegas no lóbulo da minha orelha quando ele se inclinou para sussurrar:

— Eu vou te foder aqui para que você lembre-se de que nenhum de nós é solteiro. Entendido?

Minha boceta apertou. Deus, eu também senti falta de suas palavras sujas.

— Entendido? — Ele repetiu, sua voz rouca vibrando contra o meu pescoço.

Eu estava tão excitada, tudo que eu podia fazer era assentir.

Estava barulhento acima de nós, mas eu ainda podia ouvir o som dele desabotoando seu botão. Suas mãos chegaram aos meus quadris, levantando-os para que ele pudesse posicionar aquele pau grosso bem na minha entrada antes de empurrar para dentro em um golpe duro.

Um gemido alto escapou dos meus lábios quando ele me encheu completamente.

Seus braços deixaram meus quadris para envolver meu peito.

— Caralho, Maisy. Você é muito gostosa.

Eu arqueei mais alto.

— Mais forte, — implorei. Ele estava se segurando, não me dando tudo, e eu queria tudo. Eu queria que ele se descontrolasse como eu e se perdesse no meu corpo.

— Eu não vou durar muito, querida.

Eu balancei minha cabeça.

— Nem eu. — Apenas o fato de Hunter estar me fodendo enquanto centenas de pessoas estavam sentadas acima de nós já me fazia tremer. Assim que ele se soltasse, eu iria direto ao limite.

Ele beijou meu pescoço gentilmente e recuou. Suas mãos grandes voltaram para os meus quadris e me ergueram para que meus dedos mal roçassem o chão enquanto ele me martelava em golpes longos e fortes. Porra, perfeito.

O ângulo era tão certo que minha cabeça caiu para frente.

— Oh, merda, — eu respirei.

— Você é toda minha. — A voz de Hunter ecoou na parede de cimento para o meu rosto. — Entendeu?

Eu balancei a cabeça e virei minha cabeça para que eu pudesse gemer em meu braço.

— Diga, Maisy.

— Eu sou toda sua, — eu respirei.

— Porra sim, você é. E quem é a dona desse pau? — Ele bateu com força e ficou enraizado. — Quem?

Eu suspirei.

— Eu.

— Está certa. — Ele se afastou e começou a bater novamente.

Acima de nós, as arquibancadas começaram a aplaudir quando o jogo começou. Meu orgasmo atingiu naquele momento exato para que eu pudesse gritar quando gozei. Pulso após pulso, minhas mãos agarraram a parede de cimento, meus braços tremiam enquanto eu explodia longamente e com força. Com minha boceta apertando-o com força, Hunter me fodeu ainda mais.

— Maisy, — ele gemeu quando gozou, sua voz áspera enviando um formigamento em meus braços de borracha. Eu caí na parede quando ele caiu nas minhas costas. Seus braços deixaram meus quadris e voltaram para o meu peito para me abraçar enquanto nós dois nos recuperávamos.

— Oh meu Deus, — eu murmurei. — Não acredito que acabamos de fazer isso.

Hunter riu quando ele saiu.

— Você não gostou?

— Você sabe que eu gostei. — Eu me endireitei, puxando minha calcinha e jeans enquanto rezava para que ninguém estivesse atrás de nós com uma câmera de vídeo. Com minhas roupas de volta no lugar, me virei e olhei atrás de Hunter para ver que estávamos sozinhos. Ufa.

— Venha aqui. — Os braços de Hunter me envolveram e ele me puxou para seu peito.

Eu caí nele, ainda fraca do meu orgasmo e usando seu corpo forte para me sustentar.

— Precisamos voltar. — Tomei uma longa inspiração da colônia em seu suéter.

— Mais um segundo.

— E Coby? — Eu perguntei, mas não fiz um movimento para deixar ir.

— Ele está bem. Há cerca de vinte pessoas lá em cima, observando-o.

— Meus pais. Oh meu Deus, meus pais. — Minhas bochechas coraram com mortificação, e desta vez eu dei um passo para trás. — Eles vão saber que acabamos de fazer sexo. E meus irmãos estão lá em cima. E todos os meus amigos. Eles vão dar uma olhada no meu rosto e...

— Maisy. — Hunter me interrompeu e me puxou de volta para seus braços. — Pare de falar.

Eu suspirei alto e afundei em seu peito.

— Eu ainda estou magoada. — Ele precisava saber que, apesar do sexo quente no estádio de futebol, eu ainda hesitava em voltar para nós.

Ele beijou meu cabelo.

— Eu sei.

— Como superamos tudo isso?

— Um dia de cada vez, — ele sussurrou. — E quando você estiver pronta para começar de novo, eu estarei aqui.


Capítulo Vinte

Maisy

 

— Estes são incríveis.

Balancei a cabeça enquanto olhava por cima do ombro de Beau.

— Eles com certeza são.

Beau estava ajoelhado no chão no saguão do hotel, olhando através das telas que estavam encostadas na parede.

Hoje, todas as fotografias que Hunter havia tirado chegaram e, quando o entregador as deixou, eu imediatamente comecei a abrir as caixas, frenética ao ver todas as minhas fotos em uma tela real.

Caixas e papéis artesanais estavam espalhados por todo o chão e as telas estavam empilhadas contra a parede. Com cada caixa que eu abri, meu sorriso crescia, até que eu abri a última caixa e ela desapareceu quando eu caí em lágrimas.

Nessa última caixa estavam meus cartões postais e uma estante para a parede do saguão.

Nós não tínhamos conversado sobre meus cartões postais, exceto uma primeira vez, há alguns meses, mas Hunter se lembrou. Ele pegou um sonho, algo que eu sempre quis, mas nunca pensei que realmente iria conseguir, e o tornou realidade.

Meus cartões postais e essas impressões eram tão bonitos, tão especiais para mim, que eu fui completamente vencida.

Beau entrou no saguão no momento em que eu estava olhando. Quando ele me perguntou por que eu estava chorando, tudo o que consegui fazer foi apontar para as fotos. O meu irmão me puxou para um abraço até que eu finalmente tinha o controle. Enquanto eu assoava o nariz e secava os olhos, ele começou a inspecionar as fotografias de Hunter.

— Eu adoro esta. — Beau deslizou uma foto.

Era uma em preto e branco em que Hunter havia pegado a placa na frente. O Bitterroot Inn ficava na frente e no centro da tela, com meu lindo hotel desbotado em um borrão suave ao fundo.

— Você deveria pendurar essa aqui. — Beau acenou com a cabeça em direção a uma parede vazia na parte de trás do saguão.

— Boa ideia. — Fui correndo, direto para o meu escritório pegar um martelo e alguns pregos.

Ele riu.

— Não agora.

— Sim! — Eu falei do escritório. — Agora e você vai ajudar. Esta obra de arte tem que aparecer nas minhas paredes imediatamente.

Duas horas depois, eu tinha pendurado quase todas as cópias impressas, destinadas aos quartos ocupados. A pilha de papel e caixas no saguão havia sido limpa e apenas mais algumas impressões estavam empilhadas contra a parede.

— Aonde essa vai? — Beau perguntou, segurando a foto que Hunter havia tirado de mim e Coby.

— Oh, hum, essa é do Hunter. Ele quer essa em sua casa.

Ele assentiu e soltou a impressão.

— Como vão as coisas com vocês dois? Você está trabalhando nisso tudo?

Dei de ombros.

— Estamos em um lugar estranho. — Eu não vi Hunter desde o jogo de futebol, há uma semana. Nós enviamos uma mensagem algumas vezes, mas não conversamos, principalmente porque eu simplesmente não sabia o que dizer.

— Vocês pareciam bem no jogo de futebol na última sexta-feira — murmurou Beau.

Meu rosto ficou vermelho e eu me afastei do meu irmão, indo para a mini geladeira para esconder meu constrangimento. Todos, exceto as crianças, sabiam exatamente o que Hunter e eu estávamos fazendo quando voltamos às arquibancadas sem as bebidas que havíamos ido buscar.

— Quer um refrigerante? — Eu perguntei a Beau.

— Certo.

Peguei duas Cocas e coloquei no balcão. Então eu puxei meu banquinho e me sentei enquanto Beau apoiava seus enormes braços no balcão.

— Então, como vai? — Ele pegou seu refrigerante. — Por que vocês estão em um lugar estranho?

— Eu não sei. Eu acho que estou apenas com... medo. — Foi realmente muito bom dizer isso em voz alta.

— Medo de quê?

— Tudo? Eu honestamente não sei como explicar isso. Eu apenas sinto medo.

— Você ama o cara? — Beau perguntou.

Eu assenti.

— Sim, mas ele escondeu muito de mim. Como podemos superar todas essas coisas?

— Ele ainda está mantendo segredos?

— Não. Sempre que eu pergunto algo, ele realmente responde. Desde que seu passado veio à tona, Hunter não me negou nenhuma informação.

Ele assentiu e tomou um gole.

— Você está com medo porque não confia nele?

— Talvez. Não, eu não sei. — Eu caí contra o balcão e comecei a falar tudo. — Eu confio nele com Coby. E confio nele para me dizer a verdade. Quando penso, vejo agora que a verdade nunca foi o problema. Ele nunca mentiu para mim. Ele apenas deixou as coisas de fora. Coisas importantes.

— Mas você sabe tudo agora.

Eu assenti.

— Eu acho que sim. Eu odeio que ele não me disse mais cedo. Acho que estou com medo de que algo mais aconteça e, em vez de confiar em mim como sua companheira, ele vai esconder.

— Escute, o que ele fez foi uma coisa idiota, mas depois que você nos sentou e explicou tudo, posso ver por que ele fez isso. Sinceramente, acho que foi um acordo único. Se ele está aberto com você agora, por que você acha que ele começaria a esconder as coisas novamente?

Agora que Beau tinha feito a pergunta à queima-roupa, não achei que Hunter guardaria segredos de mim novamente.

— Você acha que estou sendo idiota? Arrastando isso sem motivo?

O rosto de Beau se suavizou.

— Não, claro que não. Todos nós entendemos que isso pode não ser fácil. Você está sendo cuidadosa e pensando no futuro. O resto de nós está seguindo sua liderança. Se você acha que nunca vai passar por isso, estaremos lá. Se você quiser deixá-lo voltar, também estamos bem com isso.

Eu sorri para o meu irmão.

— Obrigada. — Não faz muito tempo, fui eu quem lhe dei conselhos de relacionamento quando ele estava tentando ganhar Sabrina. Agora que nossas posições estavam invertidas, não consegui pensar em ninguém melhor para confiar.

— Eu não sei se estou realmente tão machucada, — admiti, — mas ainda me sinto louca às vezes. Quando penso em quantas oportunidades ele teve para confessar, sinto que a raiva começa a borbulhar. E se isso nunca desaparecer?

— Você quer saber o que eu faço quando fico chateado com Sabrina?

— O quê?

— Eu digo a ela que a amo.

— Quando você está bravo? — Eu levantei minha cabeça. — Por quê?

— Porque ela sempre diz isso de volta e então eu não me sinto mais tão bravo.

Meu coração derreteu.

— Essa pode ser a coisa mais fofa que você já disse.

— Ei! — Ele franziu a testa. — Não é fofo.

— Oh, é totalmente.

Ele manteve o cenho franzido e levantou a Coca-Cola, mas antes que a borda tocasse seu lábio, vi o começo de um sorriso. Depois de um longo gole, largou a lata e voltou-se para as fotografias ainda no chão atrás dele. A da frente da pilha era a da pesca de Coby.

— Não há problema em ter medo, Maze, mas não deixe que esse medo a impeça de ser feliz.

Saí do meu carro e respirei fundo enquanto olhava para o hospital.

Eu te amo.

Isso é tudo que eu preciso dizer. Eu só esperava que a tática de Beau com Sabrina também funcionasse para Hunter e para mim, porque depois de uma tarde conversando com meu irmão e expressando meus medos, eu estava pronta para terminar essa separação de Hunter.

Com um último suspiro fortalecedor, abri a porta traseira do 4Runner e puxei a tela de Hunter. Quando a porta se fechou, meus pés começaram a atravessar a calçada. Uma pequena pontada de ansiedade correu pela minha espinha, uma mistura de medos residuais do que aconteceu com Everett e o nervoso sobre Hunter bateram. Isso não me parou. Marchei direto pelas portas de vidro deslizantes e deixei o cheiro do hospital me acertar no rosto.

Sara estava trabalhando no balcão de emergência e quando me viu, veio correndo pela esquina.

— Ei! É tão bom te ver aqui. — Como ela havia preenchido minha vaga de enfermagem depois de se mudar para Prescott com Milo, Sara nunca tinha me visto dentro do hospital antes.

— Obrigada. — Eu sorri e dei-lhe um abraço rápido, seu abraço quente acalmando meus nervos um pouco. — Você sabe se Hunter está ocupado? Eu queria deixar isso para ele. — Eu levantei a foto.

— Isso. É. Lindo. Você tirou isso?

Eu balancei minha cabeça.

— Não, Hunter tirou.

— Ele também é fotógrafo? — Ela perguntou. — Boa captura, garota.

Ele era um bom partido. E era hora de eu pegá-lo de volta e levá-lo para casa.

Eu sorri.

— Obrigada. Ele realmente fez uma série de fotografias para o hotel. Você terá que aparecer e dar uma olhada nelas.

— Com certeza. — Ela se virou e apontou para o corredor dos fundos. — Eu o vi um minuto atrás andando pelo salão dos funcionários. Ele ainda pode estar lá. Você quer que eu mande uma mensagem para ele?

— Não, está tudo bem. Tudo bem se eu for lá e checar?

— Claro.

— Obrigada. — Acenei adeus e depois fui em direção ao salão dos funcionários.

Eu caminhei, esperando que Hunter ainda estivesse no salão. Na verdade, foi um dos poucos lugares no hospital onde Everett e eu não passamos tempo juntos, seja pessoal ou profissional. Lá, minha reconexão com Hunter não seria manchada pelo passado.

Com passos rápidos, atravessei o pronto-socorro e voltei para o salão. No segundo em que entrei pela porta, Hunter se levantou da geladeira, com a garrafa de água na mão.

Ele virou-se para a porta com um salto e apertou a garrafa de água aberta com muita força, enviando um grande jato direto para a camisa.

Eu torci meu rosto.

— Desculpe assustá-lo.

Ele balançou a cabeça e começou a rir enquanto pegava uma toalha de papel.

— Não se desculpe. Esta é realmente uma boa mudança de eventos. Quando você me assusta, eu apenas me molho. Quando eu te assusto, eu acabo sangramento ou me contorcendo no chão de dor. Isso eu vou levar.

Eu sorri e entrei mais na sala.

— O que houve? Está tudo bem? — Ele perguntou, secando a camisa.

— Sim, eu só queria deixar isso. — Eu levantei a tela.

Hunter largou a água e jogou a toalha de papel no lixo, depois atravessou a pequena sala incolor.

Tirando a foto da minha mão, ele inspecionou a peça.

— Eles fizeram um bom trabalho na tela. Como foram as outras?

— Incríveis. Eu pendurei todas e a exibição de cartão postal. Obrigada por isso. Você não precisava disso também.

— Claro que sim. — Ele colocou a foto em uma das mesinhas. — Esse era o seu sonho, certo? Você não pode ter as fotos sem os cartões postais.

Eu sorri e olhei para o ponto molhado em sua camisa de botão azul bebê. Ele arregaçou as mangas da maneira típica de Hunter para mostrar aqueles antebraços fortes e hoje ele usava calça cinza em vez de jeans.

Meus dedos roçaram contra a mancha molhada.

— Você está bonito hoje.

— Obrigada. Esta era a única calça limpa na casa. Eu preciso lavar a roupa.

Eu fiz uma careta. Antes de tudo ficar tão confuso, eu estava lavando a roupa de Hunter. Você pensaria que, ao lavar minha própria roupa, as de Coby, além de tudo no hotel, eu ficaria cansada de lavar roupas, mas agora, eu sentia falta de lavar a roupa de Hunter. Eu sentia falta de cozinhar para ele. Eu sentia falta de como cuidávamos um do outro.

E agora era minha chance de fazer o que vim fazer aqui.

— Eu te amo. — Eu olhei da camisa dele para seus olhos cor de caramelo lindos, esperando que ele dissesse de volta para que eu pudesse terminar de ficar brava.

Ele sorriu.

— Eu também te amo.

Hã. Funcionou. Eu devia a Beau um lote de seus galões favoritos.

— Você pode ir em frente e me beijar agora, — eu sussurrei.

O sorriso de Hunter desceu lentamente sobre o meu. Seus lábios macios roçaram os meus em uma provocação preguiçosa quando ele sussurrou:

— Diga mais uma vez.

— Eu te amo.

— Fico feliz em ouvir isso, Loirinha.

Então, bem no meio da sala dos funcionários, com a porta aberta para todos que passavam ver, Hunter e eu nos beijamos como se estivéssemos sozinhos no meu quarto. Quando finalmente paramos, saí do hospital com o maior sorriso que tive em meses e a primeira coisa que fiz quando entrei no meu carro foi mandar uma mensagem para Beau.

Você estava certo.

Em meados de outubro, mais de um mês depois da minha viagem inesperada ao hospital para me reunir com Hunter, a vida era boa.

Eu estava feliz em voltar a lavar as roupas e cozinhar para Hunter. Ele voltou a me dar massagens noturnas nos pés e orgasmos. E Coby ficou muito feliz por ter nós dois.

Puxa, estou feliz. Tipo, muito feliz. De pé no fogão na cozinha dos sonhos de Hunter, olhei para uma panela fervendo, incapaz de me lembrar da última vez que estive tão feliz. Não que eu tivesse sido infeliz antes, mas este era mais do que apenas fácil contentamento. Esse era o tipo de felicidade que as pessoas ansiavam profundamente em sua alma. O tipo que a pessoa procurava, mas raramente encontrava.

O tipo que não vinha fácil e me fez apreciar ainda mais.

— Ei.

Levantei os olhos da panela e sorri quando Hunter entrou na cozinha.

— Oi. Como foi o seu dia?

Coby e eu fomos até a casa dele e começamos cedo a lavar a roupa e a preparar o jantar.

— Tudo bem, — disse Hunter, embora suas sobrancelhas estivessem franzidas. — Você está bem? Você estava bem distraída agora. Foi outro flashback?

— Não, eu só estava pensando em como...

Hã. Esquisito.

Eu não tinha um dos meus flashes Everett há meses. Não desde a noite na casa dos meus pais, na frente de Hunter. Eu estava tão ocupada que nem percebi, mas nunca fiquei tanto tempo sem ele antes.

— Maisy? — Hunter perguntou. — O quê?

— Oh, — sacudi a cabeça, — desculpe, eu estou bem. Não era um flash e eu estava pensando que fazia muito tempo desde que eu tive um.

Seus ombros e rosto relaxaram.

— Isso é uma coisa boa.

— Não brinca. Por que você acha que eles pararam?

— Eu não sei. — Ele jogou as chaves no balcão. — Por que você acha?

Era porque eu sabia muito mais sobre Everett agora? Ou talvez porque eu não estava tão estressada como eu costumava estar? Ou foi porque Hunter me fez sentir muito mais fundamentada e segura? Eu procurei no meu interior por aquela sensação inquieta que tive durante anos, mas ela se foi. Seja qual for o motivo, fiquei agradecida.

Everett tinha me assombrado o suficiente.

— Não sei por que, — falei, — mas não sentirei falta deles se eles nunca voltarem.

Hunter deu a volta na ilha e beijou minha têmpora.

— Se o fizerem, prometa me dizer, Ok? Ainda acho que pode ser bom você falar com alguém sobre tudo isso.

— Eu prometo.

Ele foi até a geladeira e pegou um refrigerante.

— Conte-me sobre o seu dia.

Antes que eu pudesse responder, seu telefone tocou. Quando ele olhou para a tela, todo o seu corpo ficou tenso.

— É Nell. — Ele colocou o telefone no ouvido e atendeu enquanto entrava na sala de estar.

Nell?

Desliguei o fogão e o segui.

— Sim. Ela está aqui — disse Hunter ao telefone, depois fez uma pausa. — Não, você não pode falar com ela até me dizer o que tem a dizer.

Nell queria falar comigo? Por quê? Ela tinha meu número, por que ela não me ligou diretamente?

Meu estômago apertou. Nell basicamente desapareceu desde a audiência de custódia. Tanto quanto eu sabia, ela não estava ligando para Hunter e eu certamente não tinha notícias dela. Eu gostei dessa maneira. Nada de bom poderia advir de sua ligação.

— Tenho certeza que ela concordaria com isso, — disse Hunter.

— Concorda com o quê? — Eu sussurrei.

Ele levantou um dedo para eu esperar.

— Tudo bem. Eu passarei um texto com os detalhes depois que eu conversar com Maisy. — Ele desligou e veio direto para mim, descansando as mãos nos meus ombros.

Oh-oh. Meus braços envolveram meu estômago.

— O quê?

— Ela gostaria de conhecer Coby.

— Ah Merda. — Meu coração caiu. Eu não desejava que aquela mulher estivesse perto do meu filho, mas também era obrigada a deixá-la fazer suas visitas. — Eu não posso dizer não.

Ele balançou a cabeça e esfregou meus braços.

— Não, você não pode.

Durante o processo judicial, fiquei emocionada com a ideia de visitas de fim de semana de Nell contra meses sem Coby. Mas agora? Depois que descobri muito sobre ela com Hunter, não tive mais vontade de ver o rosto daquela mulher novamente.

Infelizmente, não tinha escolha.

— Ok. Quando ela quer conhecê-lo?

— Este fim de semana. Ela disse que voaria de Grand Rapids para Bozeman na sexta-feira. Então iria dirigir até aqui no sábado.

Tanto por um bom fim de semana de outono.

— Tudo bem. — Eu assenti. — O que devemos fazer com ela? Trazê-la aqui? Ou para o hotel? Talvez devêssemos fazer isso em público. Isso seria melhor? Oh meu Deus, isso é péssimo!

Os braços de Hunter me puxaram em seu abraço antes que eu pudesse enlouquecer completamente.

— Relaxe. Você está no controle das visitas, lembra? Vamos começar com uma breve reunião. Talvez ela se junte a nós no café para almoçar ou jantar. Se tudo correr bem, da próxima vez talvez ela possa vir aqui.

— O almoço pode funcionar. Eu sei que você não gosta dela, então se você não quer vir...

— Pare. Eu não gosto dela, mas eu te amo. Não há como deixar você lidar sozinha com ela.

Eu relaxei em seu corpo, enrolando meus braços em suas costas.

— Obrigada. — Eu poderia fazer isso sem Hunter? Sim, mas eu realmente não queria.

— De nada. — Ele beijou meu cabelo. — Agora me dê um sorriso para que eu saiba que você está bem.

Recostei-me e dei-lhe o maior e mais extravagante sorriso que pude esticar, mostrando-lhe todos os meus dentes.

— Você tem espinafre nos dentes desde o almoço.

Meus lábios se fecharam quando minha língua imediatamente começou a procurar ao redor.

Ele riu.

— Estou brincando.

Eu ri e belisquei seu lado, fazendo-o gritar.

— Aí. Aqui está o meu sorriso.

Eu sorri mais largo.

— É melhor eu voltar para o jantar.

— Ok. — Ele me beijou e foi brincar com Coby antes da hora de comer.

Voltei para o fogão e retomei minha comida, pensando no que esse fim de semana implicaria. A chamada de Nell tinha ondulado as águas, mas com Hunter ao meu lado, eu sabia que poderia lidar com isso. Ele não deixaria sua família louca arruinar nossa felicidade.

Que ironia. Everett tinha a intenção de destruir minha vida, mas no final, ele apenas fez tudo melhor. Eu tinha Coby. Eu tinha Hunter. Tudo por causa dele. Talvez fosse por isso que meus flashes pararam. Eu parei de ter medo de Everett, e comecei simplesmente agradecer por todo o bem que ele, sem saber, proporcionou.

Agora eu só tinha que lidar com sua mãe do mal.


Capítulo Vinte e Um

Maisy

 

— Nell. — Hunter se levantou do nosso estande no café e cumprimentou Nell quando ela atravessou a porta.

— Hunter.

Eles não se abraçaram nem se tocaram. Eles apenas assentiram um para o outro.

Não é de admirar que Everett tenha sido tão frio. Esta mulher era gelada. No minuto em que chegássemos em casa, eu perguntaria a Hunter o que seu pai havia visto em Nell. Pelo que eu aprendi, Hunter era muito parecido com seu pai e eu não podia imaginar Hunter se apaixonando por alguém como Eleanor Carlson.

Hunter estendeu a mão e gesticulou para Nell para a nossa mesa.

Eu sorri e acenei do meu assento enquanto colocava Coby ainda mais perto do meu lado. Hoje cedo, Hunter e eu o sentamos e explicamos a ele sobre sua outra avó. Felizmente, ele não fez nenhuma pergunta sobre Everett. Ele só queria saber por que Nell não havia lhe enviado um presente de aniversário, se ela era avó.

Deus abençoe meu filho por sua resiliência.

— Olá, Nell, — cumprimentei quando chegaram ao estande.

Ela apenas franziu a testa.

Super.

Hunter entrou no nosso estande primeiro, seguido por Nell ao seu lado. Ela estava usando todo preto de novo, desta vez calça com um suéter de gola alta. Ela realmente me lembrou uma Audrey Hepburn mais velha, com o cabelo em um toque francês.

Quando ela se sentou, os olhos de Nell estudaram a mesa, a água e os talheres. Ela ajustou tudo em seu lugar, até que fosse exatamente do jeito que ela queria, e o tempo todo, ela não se incomodou em olhar para mim ou Coby.

Não que Coby se importasse. Ele apenas começou a se ajoelhar no banco acolchoado, pronto para encarar a situação.

— Oi vovó! Mamãe e Hunter dizem que você é minha nova avó e isso significa que você precisa me dar um presente de Natal. Eu gosto de caminhões e tratores. E Legos. E vi isso no meu iPad para fazer dinossauros de Play-Doh.

Puxei meus lábios para esconder um sorriso. Sério, esse garoto. Ele estava completamente alheio à atitude de Nell.

Os olhos de Eleanor finalmente deixaram seu tapete e, quando pousaram em Coby, ela se encolheu.

Meus olhos se voltaram para Hunter e começamos uma conversa silenciosa.

O que foi isso, Hunter?

Caralho se eu sei?

É melhor que ela seja legal.

Se ela não for, vamos embora.

— Você quer jogar o jogo da velha? — Coby perguntou a Nell, que ainda o encarava com os olhos arregalados.

Quando ela não respondeu, Coby se ajoelhou e se inclinou sobre a mesa.

— Vovó? Estou falando com você. — Ele acenou com a mão no rosto dela.

— Coby... — Comecei a dizer para ele se sentar, mas Eleanor me interrompeu.

— Everett. Sente-se. É rude inclinar-se sobre uma mesa.

Que diabos? Everett?

— Nell, este é Coby, — disse Hunter, depois olhou para Coby. — Na sua bunda, homenzinho. Não queremos derramar água.

— Ok. — Ele imediatamente obedeceu.

— Por que você não faz um desenho para Nell? — Eu perguntei, deslizando sobre os giz de cera.

Ele assentiu e começou a ver as fotos do menu infantil.

— Everett, fique dentro das linhas, — disse Nell.

Coby continuou colorindo, ignorando-a completamente porque ele não conhecia Everett.

Meus olhos voltaram para Hunter, mas ele estava olhando para sua madrasta em choque completo.

— Coby, — ele disse a ela. — O nome dele é Coby.

Ela sacudiu o pulso para afastá-lo.

— Foi o que eu disse.

— Não, — Hunter insistiu, — você disse Everett. Duas vezes.

— Não corrija uma anciã, Hunter, — ela retrucou. — É rude e eu te criei melhor do que isso.

Ele bufou.

— Você sabe o que é mais rude? Chamar alguém pelo nome errado.

— Está bem. — Eu levantei minhas mãos para que eles não discutissem na frente de Coby. — Vamos seguir em frente.

Hunter abriu a boca, mas eu dei-lhe um - Não piore as coisas brigando com sua madrasta!

Ele franziu a testa e tomou um gole de água para ficar quieto.

E quieto ficou.

Nell olhou para Coby durante toda a refeição. Ela não comeu. Ela não bebeu. Ela respondia a perguntas com respostas de uma palavra enquanto olhava incessantemente para meu filho.

Eu estava tão assustada quando a conta chegou, eu não esperei Hunter pagar antes de sair do nosso estande.

— Obrigada por nos encontrar hoje. Coby, é hora de partir.

— Tudo bem, — ele murmurou, ainda deprimido. Ele ficou empolgado com a perspectiva de outra avó, e embora ela o estivesse olhando durante o almoço, ela quase não disse uma palavra. Ele poderia ter apenas quatro anos, mas entendia uma rejeição quando via uma.

Por decepcionar meu filho, não gostei de Nell ainda mais.

— Encontro você no carro, — disse Hunter, empurrando Nell para fora da cabine. — Nell, eu vou levá-la até o seu carro.

— Vamos. — Inclinei-me para segurar a mão de Coby. — Vamos para casa e fazer biscoitos.

Ele se animou.

— Pedaços de chocolate triplos?

— Você conseguiu, cara.

Acenei adeus à nossa garçonete e me apressei para o lado de fora, colocando Coby em seu assento, depois entrei para esperar Hunter. Quando ele se sentou no banco do motorista, suas linhas de preocupação eram muito mais profundas do que no almoço.

— O quê? — Eu perguntei baixinho.

Ele balançou sua cabeça.

— Mais tarde.

Mais tarde era três horas depois, depois de um lote duplo de biscoitos, brincadeiras na banheira e cinco histórias, enquanto Hunter e eu colocávamos Coby na cama.

— Bem? — Perguntei a ele quando fechei a porta do meu quarto no sótão.

Ele tirou a camisa e o jeans, jogando-os no cesto. Então ele subiu na cama e esfregou as mãos sobre o rosto.

— Algo está errado com ela.

— O que você quer dizer? — Tirei a roupa e vesti uma calça de pijama e uma blusa.

— Era mais do que seu nível normal de loucura. Quando a acompanhei até o carro, ela começou a me dizer o quanto Everett precisava aprender boas maneiras. Quanto Everett precisava de um corte de cabelo. Quanto Everett precisava comer mais vegetais. Everett, não Coby.

Eu afundei no lado da cama. A última coisa que precisávamos era outro Carlson louco em nossas vidas.

— Isso não é bom. O que devemos fazer?

— Eu acho que ela precisa de alguma ajuda. Talvez ela nunca tenha realmente lidado com a morte de Everett ou algo assim, eu não sei. Mas aquilo não foi normal.

— Você acha? — Eu disse secamente, em seguida, subimos na cama e me enrolei ao lado de Hunter. — Não podemos tê-la por perto de Coby se ela vai chamá-lo de Everett.

— Concordo. — Ele me abraçou mais perto. — Vou ligar para a equipe da casa de Grand Rapids e ver se há mais coisas acontecendo do que eu sei.

— Eu acho que é uma boa ideia.

Porque se Eleanor tivesse pirado, ela não chegaria nem perto do meu filho, por ordem judicial ou não.

— Como ela soou? — Perguntei a Hunter no segundo que ele abriu a porta do meu carro e sentou no banco do motorista. Ele estava lá fora, andando na frente do capô enquanto falava ao telefone com Nell.

— Distante.

Eu fiz uma careta.

— Apenas distante? Preciso de mais do que uma resposta de uma palavra.

— Ela estava distraída, — ele disse enquanto ligava o carro. — Convidei-a para vir conosco hoje e ela recusou. Ela disse que tinha planos.

— Planos? Que planos? Depois do almoço de ontem, Nell voltou para Bozeman, onde estava hospedada, — ela não havia pedido um quarto no Bitterroot e eu não tinha oferecido. Eu esperava que depois de visitar Prescott e conhecer Coby, ela estivesse no primeiro voo de volta a Grand Rapids. Eu tinha um sentimento incômodo sobre ela ficar em Montana com “planos”.

— Eu não sei, — respondeu Hunter. — Ela desligou antes que eu pudesse perguntar, mas não vamos nos preocupar com Nell hoje, Ok? Vamos nos divertir.

— Ok. — Sorri e estendi a mão para pegar a mão livre de Hunter.

Ele saiu do estacionamento do hotel e começou a nos levar em direção ao labirinto de milho. Hoje, estávamos levando Coby à Howell Farm para explorar seu famoso labirinto de milho e apanhar algumas abóboras no local. Nós três estávamos fazendo o maior número possível de aventuras ao ar livre para desfrutar dos últimos dias do outono. No final de outubro, o inverno estaria chegando, ou já aqui.

— Chegamos? — Coby perguntou do banco do carro trinta minutos depois. Hunter acabara de sair da estrada do condado para uma estrada de cascalho que levava à fazenda.

— Sim. — Eu me virei para sorrir para Coby. — Parece divertido, não é, amigo?

— Sim! Vou pegar a maior abóbora de todos os tempos!

— Não se eu conseguir primeiro, — eu provoquei.

— E se todos nós tivermos uma? De quantas abóboras precisaremos se conseguirmos uma para cada um de nós? — Hunter perguntou a Coby pelo espelho retrovisor.

— Um, — Coby contou e apontando para nós enquanto avançava. — Dois. Três.

— Isso mesmo! Bom trabalho! Você está ficando muito bom em contar.

Coby sorriu diante dos elogios de Hunter.

Estacionando no longo terreno de cascalho, Hunter fez uma rápida pesquisa na fazenda.

— Este lugar é incrível. Eles fazem isso todos os anos?

— Sim. — A fazenda Howell sempre fora um dos meus lugares favoritos. — Quando eu era criança, era apenas o canteiro de abóboras e o labirinto, mas eles aumentaram ao longo dos anos.

Os Howells transformaram uma fazenda levemente lucrativa em um local público de grande sucesso. Todo outono, famílias de todo o condado de Jamison vinham visitá-la. As crianças corriam pelo labirinto de milharal, os adultos experimentavam a cidra de maçã e todos saíam com abóboras. Uma grande atração para os moradores locais, e estava começando a atrair visitantes de fora da cidade.

A expansão mais recente dos Howells foi para os negócios de casamento. Eles haviam limpado seu celeiro atrás do canteiro de abóbora e agora alugava para recepções de casamento. Era pequeno demais para a festa de casamento de Beau e Sabrina, mas, para algo pequeno e íntimo, seria perfeito.

Talvez Hunter e eu possamos nos casar aqui.

— O que é esse sorriso? — Hunter perguntou.

— Huh? Oh, nada. — Soltei o cinto de segurança e saí do carro antes que ele pudesse ver meu rubor. Talvez fosse presunçoso pensar que nos casaríamos, mas eu não conseguia me imaginar com outro homem.

A semente havia sido plantada e, enquanto caminhávamos em direção a portaria, eu não conseguia parar de pensar em coisas de casamento. Meus olhos estavam fixos naquele celeiro, avaliando mentalmente seu potencial para um casamento de inverno. Poderíamos trazer aquecedores se estivesse muito frio. O caminho podia ser alinhado com lanternas, para que os hóspedes encontrassem seu caminho no escuro. As vigas do celeiro podiam ser amarradas com luzes cintilantes para dar ao lugar um brilho dourado.

Eu estava me adiantando completamente, mas não pude evitar. Eu pude ver tudo perfeitamente. Eu em um vestido de renda de mangas compridas. Coby de mini-terno. Hunter lindo em um smoking.

— Mamãe! — Coby bateu na minha perna.

Saí do meu planejamento de casamento e olhei para baixo.

— Sim?

— Eu disse, é hora de ir no labirinto.

Hunter riu.

— Você tem estrelas em seus olhos, Loirinha. Você deseja compartilhar algo?

— Não! — Eu soltei, então limpei minha garganta para falar com um decibel normal. —Não. Apenas pensando. Pronto para ir?

Coby correu direto para a entrada do labirinto. Hunter apenas sorriu e colocou a mão nas minhas costas. Ele sabia o que eu estava pensando? Eu juro pelo sorriso que sabia.

— Você precisa esperar por nós! — Eu gritei quando meu filho riu e desapareceu em um canto do labirinto. — Coby!

Eu corri para pegá-lo. No segundo em que virei, ele apareceu e gritou:

— Boo!

Eu pulei, segurando meu peito, então franzi o cenho para ele ajoelhado na passarela de palha.

— Não assuste as pessoas hoje.

No último mês, Coby havia descoberto uma nova atividade “divertida”. Alguém, o querido tio Michael, havia ensinado Coby a assustar as pessoas. Eu perdi a noção das vezes que ele me assustou. Para um garotinho que falava sem parar, ele dominara o silêncio e a paciência em seu esforço para me fazer gritar. E não importa quantas vezes eu dissesse para ele parar, não importa quantos minutos ele passasse de castigo, ele não ouvia.

Eu estava a dois sustos de dar um tapa na bunda dele.

— Tudo bem? — Hunter perguntou quando nos alcançou.

— Sim, — eu murmurei. — Vamos, Coby. Lidere o caminho.

— Ok! — Coby pulou do chão e começou a correr pelo labirinto.

E então mais sustos começaram. Meu aviso foi por nada.

— Coby! — Eu repreendi pela quinta vez. — Eu disse, sem assustar as pessoas. Isso não está certo.

Ele acabara de pular em um grupo de garotinhas que agora estavam fugindo, gritando.

Ele riu.

— É divertido!

— Coby, você precisa ouvir sua mãe. — Hunter estava de pé sobre ele com uma careta.

— Vamos lá. Está na hora de ir — eu anunciei. Estávamos no meio do labirinto, mas com o comportamento de Coby, eu estava pronta para mudar de atividade.

— Não! — Coby protestou.

— Sim. Estamos todos terminando com o labirinto. Se você não pode me ouvir sobre assustar as pessoas, então não podemos ficar. Vamos pegar abóboras.

— Ok! — Coby gritou, feliz novamente quando fugiu.

Nem um minuto depois, Hunter e eu o perdemos no labirinto.

— Droga, — eu murmurei. — Para onde ele foi agora?

— Tenho certeza que ele vai...

— Boo!

À nossa frente, Coby pulou de trás de uma fileira de espessos pés de milho e assustou uma mãe com uma criança nos braços.

— Oh meu Deus, — eu disse, correndo para pegar meu filho. — Sinto muito, sinto muito. — Comecei a me desculpar profusamente com a mãe que, felizmente, estava rindo disso.

— Coby Holt! — Eu me virei, as mãos cerradas nos quadris para começar minha palestra, mas Hunter me venceu.

— Coby, isso é o suficiente. — A voz de Hunter era tão severa como o seu dedo indicador. — Se você fizer de novo, vamos embora. E você ouve sua mãe. Entendido?

O rosto de Coby empalideceu quando ele olhou para Hunter. Lágrimas brotaram nos olhos do meu filho e seu queixo tremia incontrolavelmente antes que ele chorasse e plantasse a cara nas minhas pernas.

Pisquei algumas vezes antes de me abaixar e acariciar os ombros de Coby. Além de mim, ninguém nunca havia realmente disciplinado Coby. Mamãe e papai ocasionalmente o repreendiam, mas, na maior parte, ele era um bom garoto e não precisava de muito mais do que um lembrete gentil para se comportar. Hunter disciplinando Coby não tinha chocado apenas meu filho ainda chorando, mas eu também.

— Sinto muito, — disse Hunter, passando a mão pelo cabelo. — Eu não quis tirar sua autoridade, mas... merda.

— Hunter, é..

Ele me interrompeu e começou a divagar.

— Isso vai acontecer, sabe? Eu me sinto mal, mas nós vamos ter que discipliná-lo. Eu não estou fazendo testes para seu tio favorito aqui, Maisy. Estou tentando ser pai e ele precisa saber que vou atrás dele de vez em quando. Por favor, não fique brava comigo por isso.

Ele queria ser o pai de Coby.

Meu choque evaporou e eu peguei a mão dele.

— Não estou brava. De modo nenhum.

— Você não está? — Ele perguntou sobre Coby estar chorando. Seu olhar ainda estava torcido de dor enquanto olhava para Coby. Hunter estava aprendendo que a paternidade nem sempre era fácil.

— Eu não estou brava. — Eu não conseguia imaginar Coby tendo um pai melhor que Hunter, e se ele queria o emprego, era dele.

— Oh. — A preocupação desapareceu de seu rosto e ele se inclinou para tirar Coby das minhas pernas. — Ouça, amigo. Eu não gostaria de repreendê-lo, mas você tem que nos ouvir. Ok?

Coby assentiu e caiu no peito de Hunter. Hunter ainda parecia infeliz e Coby ainda estava chorando, mas eu não pude deixar de pensar que isso era uma coisa boa. Isso fazia parte deles formando um vínculo pai-filho.

Olhando para eles, cheguei a uma conclusão. Eu tinha feito isso. Eu tinha encontrado o melhor pai possível que Coby poderia querer. Nós não estávamos mais sozinhos. Eu não era mãe solteira. Hunter e eu éramos uma equipe e, com Coby, uma família.

Lágrimas de imensa alegria inundaram meus olhos, mas eu as pisquei.

— Devemos ir buscar abóboras agora?

Hunter inclinou Coby para trás e enxugou as lágrimas do rosto minúsculo.

— Chega de assustar as pessoas, Ok?

— O-ok, — Coby gaguejou.

Hunter deu um sorriso triste.

— Devemos nos divertir?

Coby assentiu e voltou a abraçar Hunter. Eles se abraçaram por mais um momento até Coby se recompor. Então, de mãos dadas, eles caminharam juntos pelas fileiras de milho enquanto eu os seguia.

— Uau. Ficou realmente lotado, — falei quando saímos do labirinto.

O número de pessoas quadruplicou enquanto estávamos no labirinto. Havia uma fila na barraca de limonada com dez pessoas e um grande grupo de pessoas na entrada do fardo de palha do canteiro de abóboras. Todos os adultos estavam olhando as crianças enquanto corriam por toda parte.

— Posso brincar? — Coby perguntou a Hunter.

Ele assentiu.

— Claro, amigo. Não vá longe demais.

Ele saiu correndo, seu castigo esquecido.

Deslizei para o lado de Hunter e abracei sua cintura.

— Isso é péssimo, — ele murmurou.

Eu ri.

— Não é divertido ser o cara mau. Bem-vindo ao clube.

— Maisy! — Eu olhei para cima e vi um amigo do ensino médio se aproximando.

— Oi! — Acenei e soltei Hunter, pegando sua mão para levá-lo para as apresentações.

Pelos próximos vinte minutos, apresentei Hunter a uma grande quantidade de pessoas quando elas vieram nos cumprimentar. Pessoas que eu conhecia da igreja de meus pais vieram para dizer olá. Amigos do ensino médio queriam conhecer Hunter. Os colegas empresários com quem trabalhei na câmara de comércio perguntaram como estavam as coisas no hotel.

— Você realmente conhece todo mundo, — disse Hunter enquanto as pessoas com quem estávamos conversando se afastavam.

— Quase todo mundo, — eu provoquei. — Acostume-se, Dr. Faraday. Você é parte da comunidade agora. Onde quer que vamos, você vai conhecer alguém também. Seus dias de ser apenas mais um rosto bonito na multidão de Chicago acabaram.

— Eu gosto disso. — Ele sorriu e meus joelhos tremeram.

Esse sorriso sempre me deixava tonta.

Por mais que amasse o sorriso, amava que ele estivesse ao meu lado. Que ele era meu. Que as pessoas em nossa cidade sempre pensariam em nós como uma unidade.

Hunter, Maisy e Coby.

Meus olhos foram para o canteiro de abóboras ao pensar em meu filho. Eu o olhava periodicamente, observando de longe enquanto Coby corria para inspecionar todas as abóboras. Só que desta vez, quando examinei as linhas, não vi Coby.

Meu sorriso caiu e eu andei do nosso lugar em direção ao canteiro. Meus olhos percorreram cada fileira, mas meu filho não estava à vista.

— Coby! — Eu chamei, examinando toda a área novamente. Meu coração estava disparado e meus olhos procuravam freneticamente.

Hunter veio ao meu lado.

— Coby! — O pânico em seu rosto e em sua voz combinava com o meu.

— Coby, onde você está? — Eu gritei.

Saí do canteiro de abóboras e comecei a olhar para as outras áreas da fazenda. Eu não o vi no celeiro ou na fileira de banheiros químicos. Ele não estava pela banca de limonada ou pela loja de presentes. E eu não o vi na entrada do labirinto.

— Coby! — Eu estava gritando agora. Outros rostos estavam olhando, mas eu não me concentrei neles. Eu estava muito ocupada procurando meu filho desaparecido.

Como isso pôde acontecer? Ele estava aqui.

— Coby! — Hunter gritou novamente.

— Quem é que você está procurando? — Um homem perguntou ao meu lado.

— Meu filho. — Eu não olhei para ele enquanto eu falava, mas apenas continuei procurando. — Você viu um garotinho? Cabelo castanho. Ele está vestindo uma camiseta verde neon e jeans.

— Não, mas eu vou ajudá-la a procurar.

No fundo, eu o ouvi descrever Coby para outras pessoas que começaram sua própria busca.

Por favor Deus. Deixe-me encontrá-lo. Onde ele está?

— Coby! — Hunter e eu chamamos repetidamente, sem resposta.

— Vou verificar o labirinto, — disse Hunter. — Você checa pelo celeiro.

Concordei e comecei a correr em direção ao celeiro, procurando freneticamente pelo meu filho. O sangue correu em meus ouvidos enquanto eu procurava em pânico completo. Terror correu por minhas veias. Nada, nem mesmo a noite em que Everett me sequestrou, poderia se comparar ao medo de perder Coby. Minhas pernas e braços formigavam enquanto eu procurava no celeiro. Meu sistema estava tão excitado com a adrenalina que tropecei algumas vezes enquanto corria.

— Coby! — Eu gritei o nome dele várias vezes, mas ele não apareceu.

Ele não estava se escondendo de novo, estava? Ele não estaria tentando me assustar agora, não depois que Hunter o repreendeu, não é?

De jeito nenhum. Eu conhecia meu filho e ele me conhecia. Se ele pudesse ouvir o pânico na minha voz, ele não teria ficado escondido.

Saí do celeiro e quase colidi com duas mulheres entrando com os filhos.

— Você viu um garotinho com uma camiseta verde neon?

Quando as duas balançaram a cabeça, eu as empurrei e corri de volta para a área principal. Outras pessoas chamavam o nome de Coby enquanto olhavam em torno de fardos de feno e cantos, mas ele não estava em lugar algum.

Pronta para gritar no topo dos meus pulmões, abri a boca, mas parei quando uma luz piscou no lado oposto do estacionamento de cascalho. Foi rápido, apenas um brilho verde neon, mas chamou minha atenção. Eu conhecia aquela luz. Era o lampejo dos sapatos iluminados de Coby, que meus pais compraram para o aniversário dele.

— Coby! — Eu gritei e comecei a correr. — Hunter. Ele está no estacionamento! — Gritei por cima do ombro enquanto continuava correndo, meus tênis levantando pequenas pedras enquanto me movia.

Hunter me alcançou rápido, seus longos passos passando por mim no cascalho.

— Coby! — Ele gritou.

Por que Coby não estava respondendo? Ele deveria estar gritando “mamãe” ou “Hunter” e voltar correndo para nós o mais rápido possível. Onde ele estava?

Eu contornei a traseira de um caminhão grande no momento em que a camiseta verde do meu filho desapareceu no banco traseiro de um sedan preto.

No momento em que Eleanor Carlson bateu a porta e correu para o banco do motorista.

No momento em que ela partiu com meu filho, Hunter disparou através de uma nuvem de poeira, tentando pegá-los sem sucesso.


Capítulo Vinte e Dois

Hunter


Quando corremos para o carro de Maisy e saímos da fazenda Howell, Nell já se foi. Nós seguiu rastro de poeira sobre o cascalho, mas quando ela bateu as estradas municipais pavimentadas, o rastro dela desapareceu. Em qualquer outro lugar, poderíamos encontrá-la, mas as estradas que levavam à Fazenda Howell formavam um labirinto mais complicado que o labirinto de milho.

Fiz um palpite, escolhendo a estrada que levava de volta à cidade, mas Nell deve ter escolhido uma rota diferente porque seu sedã preto não estava à vista.

Coby se foi.

Tudo o que vi foi a estrada quando voei de volta para a cidade. Estrada vazia e Maisy tremendo no banco do passageiro. A cor desapareceu de sua pele e seus olhos estavam vazios. Quando apertei a mão dela, estava gelada.

— Nós o encontraremos. — Apertei sua mão antes de soltá-la e pegar meu telefone. Meu pé pressionou com mais força o acelerador enquanto voava em direção à cidade, ligando para o 9-1-1 enquanto dirigia.

Quando chegamos ao posto do xerife em Prescott, o lugar estava fervilhando. No minuto em que uma ligação foi enviada, cada policial abandonou os planos de domingo à tarde e correu para a delegacia.

Jess estava esperando por nós. Ele arrastou-nos para uma sala de conferências e começou a fazer perguntas. Maisy e eu tínhamos dado a ele uma recapitulação, descrevendo as roupas de Nell e Coby e o carro de Nell, então ele nos deixou para dar o alerta de rapto de criança e dar ordens à equipe.

Deixando Maisy e eu sozinhos, forçados a assistir a atividade através de uma longa janela.

Os policiais, todos vestidos à paisana, zumbiam na sala aberta, a maioria ao telefone. Eles faziam chamadas para outros departamentos de justiça do condado, contando com o suporte para configurar bloqueios. Eles também notificaram os aeroportos e a estação de trem sobre a situação e transmitiram as descrições de Nell e Coby.

O tempo todo, Maisy e eu sentamos impotentes.

Sentados em cadeiras giratórias pretas, nos sentamos fodidamente impotentes.

— Nós o encontraremos. — Puxei sua cadeira o mais perto possível da minha, as rodas se tocando e deslizei meu braço atrás do pescoço dela.

Ela assentiu, mas não disse uma palavra. O tremor nas mãos dela estava piorando, então com a minha mão livre, eu segurei as duas no colo dela.

— Tudo bem, — Jess disse, voltando para a sala de conferências e sentando em frente a nós. — O alerta será lançado em breve. Estamos fazendo ligações para todos os centros de transporte conhecidos em Montana. Temos patrulhas estacionadas em todas as estradas que entram em Wyoming e Idaho. Metade dos meus policiais vai começar a vasculhar as antigas estradas do condado. Nós a pegaremos.

— O que podemos fazer? — Eu perguntei.

Ele balançou a cabeça.

— Odeio dizer isso, mas apenas sentem-se e fiquem firmes.

Sentem-se e fiquem firmes.

A última coisa que eu queria fazer era me sentar.

— Maze, — Gigi está vindo. Quer que ela traga alguma coisa?

Ela balançou a cabeça e baixou o olhar vidrado para a mesa.

— Maze, olhe para mim, — Jess murmurou. Os olhos dela deixaram seu colo e trancaram em Jess. — Nós vamos encontrá-lo.

Uma lágrima deslizou por sua bochecha e a dor no meu peito apertou forte.

Porra. Eu não podia vê-la assim. Eu não podia apenas sentar aqui e não fazer nada, além de vê-la sofrer. Ela me odiaria por isso? Ela deveria. Eu trouxe Nell para a vida dela e agora seu filho se foi.

O pânico que eu senti antes estava começando a se transformar em raiva ofuscante.

Nell, minha própria madrasta, havia roubado Coby. Ela o levou bem debaixo do nosso nariz.

O que diabos havia de errado com ela? O que ela estava fazendo com ele agora? Se ela machucasse um fio de cabelo na cabeça daquele garoto, eu mesmo a estrangularia. A ideia de que ela poderia estar machucando-o fez meu estômago revirar.

Não imagine o pior. Não imagine o pior.

Imagens terríveis inundaram minha mente, apesar da minha vontade de mantê-las fora. Eu havia passado muitas noites em uma sala de emergência em Chicago para não saber com o que o impensável parecia. Como era quando um adulto tentava quebrar os ossos de uma criança. Ou o que acontecia quando um corpo humano era jogado de um veículo em movimento.

Meu estômago revirou novamente enquanto as imagens tocavam minha mente. O sangue escorreu do meu rosto quando a bile subiu, mas eu a engoli.

Eu tinha que parar de pensar o pior. Eu tinha que parar de pensar no pior e ser forte, porque Maisy precisava de mim.

Pare. Somente. Porra. Pare. Ele ficará bem.

Por favor. Por favor, deixe-o ficar bem.

Um grito solitário da boca de Maisy interrompeu meus pedidos silenciosos. Ela bateu com a mão sobre sua boca e apertou os olhos com força, causando mais algumas lágrimas a cair.

— Respire, baby. Só respire. — Minha mão deslizou pelas costas dela e esfregou suavemente. — Apenas respire.

A mão na boca dela caiu.

— Ele é meu filho. Ele é meu. Meu bebê. Eu sou sua mãe e ele precisa de mim. Eu sou uma boa mãe. Uma mãe muito boa. E ele precisa de mim.

— Você é uma boa mãe. A melhor. — Engoli em seco. — Vamos recuperá-lo.

Minha garganta estava queimando, pois ameaçava fechar com força. Maisy estava desmoronando, e não havia nada que eu pudesse fazer para impedir isso. Então eu apenas fiquei sentado, observando como o amor da minha vida, a mulher mais forte que eu já conheci, se desfez completamente. Seus ombros caíram quando ela chorou em suas mãos, dobrando-se naquela cadeira giratória preta.

— Baby. Baby, por favor, respire. Só respire.

Isso só a fez chorar mais.

Sem saber o que mais fazer, levantei-a da cadeira, coloquei-a cuidadosamente no meu colo e a segurei firme. Ela enterrou o rosto no meu pescoço e continuou chorando. Todo o seu corpo tremia, cada músculo, e nenhum número de palavras calmantes ou sussurros gentis poderiam fazê-la parar.

Meus olhos dispararam para Jess, cujo rosto estava vincado de preocupação.

— Vá. Encontre-o — murmurei.

Ele acenou com a cabeça uma vez, depois nos deixou em paz, retornando ao marcador para conversar com seus contatos.

— Nós vamos recuperá-lo, — eu sussurrei nos cabelos de Maisy. Nem mesmo seu doce cheiro lilás era um conforto, mas continuei sussurrando. — Eu prometo. Vamos recuperá-lo.

Meu telefone tocou na mesa da sala de conferências ao mesmo tempo em que o de Maisy que estava na bolsa. Era um alarme alto e estridente, não meu toque normal. Eu o peguei mesmo sabendo o que a tela diria.


Alerta AMBER: Condado de Jamison.


Meu coração despencou. Nenhum pai nunca deve ver o nome da sua criança em um Alerta AMBER. Nenhum pai deveria ter que sentir esse tipo de impotência incapacitante.

— Vamos recuperá-lo, — repeti novamente. Repetidas vezes, porque era o único poder que eu tinha. Fiz uma promessa porque não podia fazer mais nada.

Não importa quanto tempo levasse, eu pegaria Coby de volta. Eu procuraria para sempre para encontrar meu filho.

Ele era meu filho

Everett poderia ter doado o esperma, mas Coby Holt era meu, tanto quanto ele era de Maisy.

— Vamos recuperá-lo.

O tempo passou muito devagar enquanto nos sentávamos e esperávamos. E esperamos. E esperamos.

O que pareceu dias foram apenas alguns minutos enquanto o relógio na parede batia com um barulho ensurdecedor. O tempo todo, Maisy ficou tremendo no meu colo. O choro dela parou, apenas para piorar a agitação.

— Gigi está aqui, — eu disse quando vi sua amiga correndo em nossa direção.

Maisy não se mexeu. Ela apenas continuou tremendo. O choque se instalou em seus ossos e ela estava se desligando. O medo de perder Coby a deixou paralisada.

— Oi. — Gigi atravessou a porta. Ela não disse mais nada, apenas chegou à cadeira que tinha sido de Maisy e a aproximou. Então ela pegou as mãos de Maisy e inclinou a cabeça para rezar.

Felicity e Emmeline entraram em seguida, de pé atrás de nós, quando seus maridos se juntaram à multidão. Quando Beau e Michael entraram, eles acenaram para mim e fundiram-se com os policiais restantes de Jess para fazer chamadas telefônicas. Os pais de Maisy chegaram por último com Sabrina, os três tomando as cadeiras em frente à mesa. Eles pareciam perturbados quando entraram na sala de conferências, mas ao ver a filha, tão perturbada, ficaram petrificados.

Eles pareciam tão impotentes quanto eu.

Uma hora se passou. Então outra. Os pensamentos que eu tentei banir, aqueles onde o corpo minúsculo de Coby estava deitado sem vida ao longo de uma estrada de cascalho, não paravam de atormentar minha mente.

Por favor. Por favor, traga-o de volta vivo.

Eu odiava ficar preso aqui, indefeso, quando tudo que eu queria era estar procurando meu filho. Mas não me atrevi a me mexer. O tremor de Maisy tinha parado e agora ela era praticamente sem vida. Algumas vezes durante as últimas duas horas, eu coloquei a minha mão em seu peito só para ter certeza de que ela ainda estava respirando. Então, por mais que eu quisesse ajudar na busca, não poderia deixá-la sozinha.

Mais tempo se passou até Jess aparecer no batente da porta da sala de conferências e chamou minha atenção. Ele sacudiu o queixo e eu me sentei direito. Todos os olhos estavam sobre Jess, mas ele não disse uma palavra. Olhei para Brock do outro lado da mesa e depois para Maisy. Seu pai se levantou e deu a volta na mesa, tomando o assento ao meu lado. Com o máximo de cuidado que pude, entreguei Maisy ao pai dela, vendo como ela se enrolava no colo dele como se tivesse feito isso mil vezes.

— Voltarei. — Inclinei-me para beijar seus cabelos, depois saí correndo da sala.

— Você o encontrou? — Perguntei a Jess no segundo em que estávamos fora do alcance da voz.

Jess assentiu.

— Sim, nós o encontramos.

Soltei um suspiro, mas não senti essa descarga de alívio.

— Ele está bem? — Minha voz falhou. — Diga-me que ele está bem.

— Ele está um pouco chateado, mas está bem.

— Chateado? O que isso significa?

Ele balançou sua cabeça.

— Não conheço os detalhes, mas não me disseram nada sério. Resumindo, Faraday, ele está bem.

Eu me apoiei no braço de Jess quando o alívio quase me levou de joelhos. Ele está bem. Meu filho estava bem.

— Precisamos ir buscá-lo, — disse Jess. — Você vem ou devo ligar para o Dr. Peterson?

— Estou indo. — Voltei para a sala de conferências e olhei para Maisy.

— Vá, — Brock murmurou enquanto consolava sua filha. Por mais que eu quisesse levá-la, ela estava muito frágil. Em vez disso, eu traria Coby de volta para ela.

Fiz que sim com a cabeça para Brock e depois segui Jess para fora da delegacia.

— A ambulância nos encontrará lá, — Jess disse enquanto eu subia em sua picape.

— Certo. Dirija rápido.

Quarenta e cinco minutos depois, Jess estacionou a picape do xerife com luzes piscando em uma pequena pista de pouso em um condado.

A grama ao redor da pista áspera era marrom, não aparada e as linhas na calçada haviam desaparecido há muito tempo para quase a invisibilidade. A placa de lata que outrora brilhava em prata agora estava manchada de ferrugem. Um avião velho de três lugares estava estacionado no meio da pista.

E o sedã preto de Nell colidiu com uma fileira de barris de areia no outro extremo da pista. Estava cercado por três viaturas do condado vizinho.

Jess parou no aglomerado e, antes mesmo que ele estacionasse sua picape, eu saí pela porta, correndo em direção ao menino que estava sentado no capô de um carro da polícia.

— Coby! — Eu gritei.

Ele deslizou para fora do carro rapidamente, passando pela polícia para correr em minha direção.

— Hunter!

Rasguei os joelhos do meu jeans quando aterrissei, derrapando até parar para envolver meu garoto em um abraço. Ele caiu no meu peito, seus braços girando em volta do meu pescoço enquanto eu envolvia seu pequeno corpo.

— Você está bem, — eu desmoronei. — Você está bem. Eu estou aqui.

E eu sempre estaria.

Ele começou a chorar e eu o abracei mais apertado. Enquanto eu vivia o pesadelo dos pais, Coby passou três horas aterrorizado. Seus ombros arfaram quando ele chorou e se agarrou a mim com cada grama de força em seus pequenos braços magros.

— Eu quero a mamãe, — ele chorou no meu pescoço.

— Ok. Nós vamos buscá-la. — Tirei-o do meu peito e fiz uma inspeção grosseira, percorrendo cada centímetro de seus braços, pernas e tronco. — O que dói? — Ele tinha um pequeno corte na testa e outro no braço.

— Minha cabeça dói aqui. — Ele apontou para o corte. — E minha mão.

— Mostre-me.

Ele apontou para a mão esquerda. Palpei-o com cuidado, fazendo o meu melhor para não movê-lo muito, caso estivesse quebrada.

— Eu acho que você apenas torceu. Uma vez que a ambulância chegue aqui, vamos ter tudo verificado. Ok?

Ele assentiu enquanto mais lágrimas gigantes escorriam por suas bochechas.

Puxei-o de volta em meus braços ao mesmo tempo em que a sirene da ambulância tocava à distância. Eu o segurei mais apertado, virando-me para sussurrar em seu ouvido:

— Eu te amo, Coby.

— Eu também te amo.

Jurei naquele momento dizer a ele todos os dias. Eu nunca tive dúvida de que meu pai me amava, mas ele raramente dizia as palavras. Coby saberia sem dúvida.

— Como ele está? — Jess perguntou, vindo para o meu lado.

Peguei Coby e o levantei. Suas pernas envolveram minha cintura e seus braços em volta do meu pescoço apertaram ainda mais, quase me sufocando.

— Assustado principalmente. Dois cortes e provavelmente um pulso torcido. Pode estar quebrado. O que aconteceu?

Jess estava tão focado em acelerar para a pista de pouso que nossa viagem até aqui esteve em completo silêncio. Agora que eu tinha Coby de volta em meus braços, eu estava pronto para respostas.

— O piloto ligou. — Jess apontou para os policiais que estavam em pé ao redor de uma viatura e conversando com um homem de macacão marrom. — Ele viu o alerta AMBER e, quando ela apareceu com Coby, ele a deteve. Os policiais chegaram aqui e ela tentou fugir. Acho que ela pegou Coby e o colocou de volta no carro. Eles a bloquearam, mas ela tentou romper a barreira. Em vez disso, ficou presa.

Tirei Coby do meu peito um pouco.

— Sua cabeça dói? Você está tonto? Você vê manchas brancas?

Ele balançou sua cabeça.

Eu o faria checar uma concussão, independentemente, assim que voltássemos a Prescott.

Nell estava sentada atrás de uma viatura. Os pulsos algemados estavam na frente do rosto enquanto ela pressionava uma gaze branca na testa.

— Eu posso vê-la? — Eu perguntei a Jess.

Ele hesitou.

— Por favor. Eu só preciso perguntar o porquê.

— Não é protocolo e esta não é minha equipe. — Ele soltou um suspiro alto. — Diga a eles que você é médico e que deseja verificar o corte na cabeça dela antes de a ambulância chegar aqui. Melhor se apressar.

— Ok. — Eu desci Coby de novo. — Fica com Jess por apenas um minuto, Ok, amigo? — Ele resistiu, mas eu o entreguei a Jess de qualquer maneira antes de caminhar para a parte de trás da viatura.

Eu balancei a cabeça para os policiais, contei que eu era médico e acenei. Eu me agachei na frente da porta aberta na parte de trás do carro.

Nell deixou cair os braços, a gaze descendo também. O corte na cabeça, provavelmente de bater no volante, precisaria de sete pontos, mas já começara a coagular.

O rosto dela estava pálido e manchado. Seu cabelo, que sempre fora tão arrumado, era uma bagunça total. Ela parecia com o coração partido. Ela não se parecia em nada com a beleza com que meu pai se casou ou com a mulher com quem cresci.

— Por que Nell? Por que você levou Coby?

— Hunter. — Ela me segurou com os pulsos algemados. — Eu posso fazer melhor desta vez. Eu posso fazer um trabalho melhor com Everett. Eu só preciso de algum tempo e você vai ver. Ele verá. Eu posso ser melhor.

— Nell, esse é o Coby. Meu filho.

Ela balançou a cabeça freneticamente, o grampo no cabelo agora caindo completamente.

— Eu só preciso tentar novamente. Everett vai me amar. Vou fazê-lo me amar e ele vai ficar bem.

— Nell... — eu me parei. Nada do que eu dissesse importaria.

O estado de saúde mental de Nell se foi. Algo aconteceu no último ano que a deixou completamente louca. Toda a raiva que eu tinha para ela evaporou. Em seu lugar, uma profunda piedade se estabeleceu, uma piedade além de qualquer coisa que eu já tive por outro ser humano.

— Ok, Nell, — eu disse gentilmente.

Seu frenético aceno de cabeça parou quando uma lágrima escorreu por sua bochecha.

— Você vai com esses homens, Ok? Eles vão tratar seu corte.

— Mas então eu posso tentar de novo? — Ela perguntou. — Posso tentar novamente com Everett?

Eu sorri e dei um tapinha no joelho dela.

Então me levantei e assenti para os policiais, voltando para pegar Coby do colo de Jess.

— Vamos, amigo. Vamos para casa e pegar a mamãe.


Capítulo Vinte e Três

Hunter

 

— Isso é tudo, senhor?

Eu assenti.

— Sim. Obrigado.

O homem acenou com a cabeça e depois fechou uma das grandes portas do caminhão, dando adeus quando ele subiu no banco do motorista.

Quando ele se afastou do meio-fio, fiquei em pé, olhando para uma casa vazia. Todos os seus pertences estavam agora a caminho do armazenamento. Todas as coisas do meu pai e da minha mãe que eu queria guardar foram encaixotadas e carregadas na traseira da minha caminhonete. Todas as pontas soltas estavam agora amarradas.

Fazia duas semanas e meia desde que Nell sequestrou Coby. Duas semanas e meia desde que eu deixei Prescott. Duas semanas e meia de trabalho duro para fechar o livro da minha vida anterior.

Agora que meu trabalho aqui estava feito, era hora de ir para casa.

Casa. Um lugar que eu realmente não tive desde que minha mãe morreu. Um lugar que eu tinha agora, graças a Maisy e Coby.

Sorrindo com o pensamento da minha família, puxei meu telefone do meu jeans.


Eu: Tudo pronto. Indo para casa.


Sua resposta foi instantânea.


Loirinha: Estaremos esperando.


Deslizei o telefone de volta no bolso, pegando as chaves da minha caminhonete. Então, pela centésima vez hoje, enfiei a mão no meu outro bolso. Escondido na parte inferior estava a melhor surpresa eu tinha encontrado toda a semana. Garantido que estava seguro, tirei do meu jeans e fui para a minha picape.

Depois fui para casa.

 

Maisy


— Senti sua falta, — eu disse a Hunter pela milésima vez desde que ele pisou em sua casa. Como toda vez antes, ele me puxou em seus braços e disse de volta.

— Eu também senti sua falta. Estou feliz por estar em casa.

Eu beijei seu peito por cima de sua camiseta e depois o deixei para terminar de cozinhar nossa refeição.

Coby e eu fomos à casa de Hunter mais cedo hoje para começar a preparar um bom jantar. Eu sabia que Hunter estaria cansado, dirigindo desde Grand Rapids até Chicago nos últimos dois dias, então viemos aqui para garantir que ele tivesse um lar de boas-vindas.

Nas quase três semanas que se passaram desde o sequestro de Coby, eu não deixei meu filho sair da minha vista. Na primeira, ele se agarrou a mim também, mas depois de semanas comigo, me observando limpar os quartos e dobrar lençóis, ele estava ficando entediado. Ele estava me implorando para levá-lo de volta a Quail Hollow, mas eu não estava pronta.

Agora que Hunter estava de volta, eu conseguia encontrar respostas para todas as minhas perguntas e, espero, deixar a tarde horrível de semanas atrás para trás. Talvez se eu pudesse entender as ações de Nell, não teria tanta dificuldade em deixar Coby voltar à sua rotina normal.

— Então? Como foi tudo? — Eu questionei.

Hunter e eu não tivemos a chance de conversar muito enquanto ele estava fora e eu queria obter mais do que os detalhes que ele havia fornecido através de atualizações rápidas de texto e breves telefonemas.

Mas antes que Hunter pudesse me contar sobre sua viagem, Coby entrou voando na sala.

— Hunter, olhe! — Debaixo do braço estava o carro de controle remoto que Hunter trouxera de presente.

Coby pousou o carro e deu um passo para trás, colocando o controle remoto nas mãos. Então ele começou a pressionar as alavancas e os botões até que o carro pulou para a vida. Ele ainda não havia pegado o jeito de dirigir, então ricocheteou na geladeira e girou na outra direção, e como a mão de Coby ainda estava no gatilho, o carro bateu nos meus pés descalços.

— Ai, amigo. — Inclinei-me para massagear meu pequeno dedo ferido. — Não vamos usar isso nas pessoas, Ok?

— Desculpe, mamãe. — Ele veio atrás do carro e o colocou para o outro lado.

Hunter sorriu quando Coby correu pela sala.

— Esse carro é perfeito para esta casa.

Mesmo com a casa totalmente mobiliada e a decoração completa, ainda havia uma tonelada de espaço em madeira para as corridas de carros dos meus homens.

— Realmente. — Eu balancei a cabeça para Hunter me contar sobre sua viagem.

Ele puxou um banquinho e sentou-se na ilha, esfregando os olhos cansados.

— Foi uma longa viagem, mas estou feliz por ter ido. Era a coisa certa a se fazer.

— Como Nell se estabeleceu no novo local?

— Bem. Melhor do que eu esperava. Decidimos tratá-la por três anos e, depois disso, vamos reavaliar.

Suspirei.

— Bom.

Nell não poderia nos incomodar novamente por três anos. Ela passaria esse tempo como a mais nova moradora de Shimmering Waters, uma instituição particular de saúde mental nos arredores de Chicago.

O dia em que ela sequestrou Coby tinha sido o pior dia da minha vida. Eu nunca senti medo paralisante assim antes. Eu esperava que eu nunca sentisse novamente. Somente quando Hunter trouxe Coby de volta da pista de pouso que eu saí do meu transe. Caindo de joelhos, eu segurei meu filho em meus braços enquanto toda a minha família convergia, cercando-me, e a Coby e Hunter em um enorme abraço em grupo onde todos derramaram lágrimas de alívio.

Quando finalmente nos separamos com os rostos molhados, Jess pediu um momento com Hunter e eu para explicar nossas opções para lidar com Nell.

Com Coby sentado do lado de fora da sala de conferências com meus pais, Hunter havia me contado o que Nell havia dito quando falou com ela na traseira do carro de polícia.

A mulher não estava em sã consciência. Poderíamos insistir e exigir que ela passasse um tempo na prisão, mas Hunter não se sentia bem em mandá-la para um lugar onde seu estado mental iria se deteriorar ainda mais. Ela era a família dele, afinal.

Então, em vez de prestar queixa criminal, nós a acusamos e concordamos em levar Nell para uma instituição mental. Ela precisava de ajuda. Algo havia quebrado em sua mente fraca e ela precisava de profissionais adequados para ajudá-la a recolocar os pedaços, se ela alguma vez se recuperasse.

— Você está se sentindo bem com isso? — Eu perguntei. — Sem arrependimentos?

Ele balançou sua cabeça.

— Sem arrependimentos. Isso é o melhor. Pelo menos, é isso que eu continuo dizendo a mim mesmo. O lugar que ela está é muito bom. O médico dela parece ser um cara legal e a equipe é muito profissional.

— Talvez em alguns meses, você possa ir visitá-la. Tenho certeza que ela gostaria disso.

Ele encolheu os ombros.

— Vamos ver.

Eu ainda estava com raiva por Nell ter levado Coby? Sim. Mas eu simplesmente não podia encontrar em mim mesma força para odiá-la por mais tempo. Ela não tinha ninguém no mundo para cuidar dela, exceto Hunter. Ela perdeu tudo: seu dinheiro, sua casa e sua mente.

Nell machucou muito Hunter ao levar Coby, eu só estava orgulhosa de que ele tinha conseguido deixar essa dor de lado e cuidar dela como um ser humano. Seu pai também ficaria orgulhoso. Eu não iria pressionar Hunter para vê-la se ele não quisesse, mas também não faria objeção se ele decidisse visitá-la. Era uma decisão dele e eu o apoiaria de qualquer maneira.

— Você descobriu o porquê? — Eu perguntei.

No momento, todas as ações de Nell ainda estavam me incomodando. Eu não tinha dúvida de que a morte de Everett tinha sido o catalisador da ruptura mental dela, mas por que agora? Everett estava morto há anos. Por que ela de repente ficou louca nesse ano?

— Foi minha culpa, — disse Hunter. — Ela enlouqueceu por minha causa.

— O que você quer... ai!

O carro de Coby bateu no meu pé descalço novamente.

— Desculpe, mamãe, desculpe! — Ele falou antes que eu pudesse repreendê-lo.

Eu fiz uma careta.

— Shoo. Fora da cozinha.

Ele veio e pegou seu carro, depois saiu correndo.

— Ok. — Eu me virei para Hunter. — Continue. Por que a culpa é sua de Nell enlouquecer?

— Porque eu me mudei para cá.

Minhas sobrancelhas se uniram.

— Eu não estou entendendo.

— Lembra que eu te disse que estava morando na casa da piscina na casa do papai?

Eu assenti.

— Durante sua residência.

— Sim, e depois também. Eu morei lá até me mudar para cá pela primeira vez. Mesmo depois que deixei Chicago, fiquei com a casa antiga de papai. Nell já havia se mudado para Grand Rapids, mas ela tinha deixado quase tudo na casa de Chicago. Ela gastou a maior parte do seguro de vida do pai em uma casa nova e novo mobiliário. Todas as coisas acabei deixando lá. Quando voltei para Chicago depois que estive aqui pela primeira vez, voltei para a casa da piscina, pois a maioria das minhas coisas ainda estava lá.

Eu ainda estava confusa em como o fato de ele ter se mudado pela segunda vez para Prescott havia enviado Nell à beira do abismo, mas fiquei quieta quando Hunter se levantou de seu banquinho para pegar um copo de água e sentou-se novamente.

— Quando voltei para cá, decidi vender a casa do papai. Eu saí sem saber quanto tempo ficaria aqui, mas... chame isso de um sentimento. Eu só sabia que era hora de limpar todas as coisas e deixar para lá.

Hunter balançou a cabeça e arrancou o elástico do cabelo, arrumando o coque para prender alguns dos cabelos que estavam soltos.

O suspense estava me matando, mas fiquei quieta e esperei que ele continuasse explicando. Hunter parou de guardar segredos, mas uma coisa que eu aprendi sobre meu homem era ser paciente. Quando as coisas estavam difíceis para ele falar, ele precisava de um tempo extra.

Eu poderia dar a ele todo o tempo do mundo.

Eu daria qualquer coisa a ele.

— Contratei uma empresa para ir até a casa e embalar tudo, — ele disse. — Tudo foi enviado para Nell porque percebi que ela não tinha mais nada, ela poderia resolver o que fazer com o resto. Peguei minhas coisas pessoais, o que poderia caber na picape, e ela ficou com o resto.

Ele tomou outro gole de água e parou sua história enquanto Coby voltava para demonstrar como ele acabara de aprender a fazer o carro ir em um círculo giratório.

— Bom trabalho, amigo, — disse Hunter. — Você pode entrar na sala e brincar por um segundo enquanto mamãe e eu terminamos de conversar? Então eu vou ir com você e podemos praticar juntos.

— Ok. — Coby sorriu e saiu correndo.

— Coby? — Eu chamei antes que ele desaparecesse. — Eu amo você. — Eu estava dizendo o máximo que podia.

Ele continuou correndo.

— Também te amo! E Hunter!

— Eu senti sua falta, — disse Hunter quando ele desapareceu.

— Ele também sentiu sua falta.

Coby perguntou por Hunter mais vezes em um dia do que eu poderia contar. Agora que ele estava de volta, nos três passaríamos algum tempo juntos. E eu finalmente dormiria um pouco. Quando ele se foi, a cama estava fria e vazia demais. Eu estive rolando e virando na cama por semanas.

— De qualquer forma, — disse Hunter, continuando sua história. — Everett tinha um diário antigo em seu quarto. Nenhum de nós se deu ao trabalho de limpar o quarto dele porque estava muito vazio, mas quando os carregadores chegaram para guardar todas as coisas, encontraram um diário antigo em seu armário. Eles enviaram junto com todo o resto.

— E Nell encontrou.

Ele assentiu.

— Estava na cama dela em Grand Rapids. Quando cheguei à casa dela, comecei a arrumar as coisas, procurando por razões pelas quais ela teria pirado e levado Coby, e achei esse diário.

— O que havia nele?

Ele suspirou e balançou a cabeça.

— Estava cheio de página após página de coisas odiosas sobre ela. Eu não tinha ideia de que Everett a odiava tanto, mas ele havia anotado tudo. Que mãe horrível ela tinha sido. Como ele a achava feia. Todas essas coisas horríveis.

Eu nunca tinha ouvido falar de um garoto mantendo um diário antes, mas acho que não era impossível, especialmente se ele era jovem.

— Quantos anos ele tinha quando escreveu?

— Essa é a parte louca. Ele era apenas um garoto, um pré-adolescente zangado cuja mãe havia acabado de se casar com um cara novo, e ele conseguiu um irmão mais novo que não queria. Muito disso era como ele queria que as coisas voltassem a ser como eram quando era apenas os dois.

— Então Nell encontrou esse diário e começou a se questionar como mãe.

— Exatamente, — disse Hunter. — Acho que minha declaração na audiência de custódia reforçou algumas coisas que já passavam por sua cabeça.

Eu sabia tudo sobre a culpa de mãe. Se Nell leu esse diário várias vezes, eu poderia ver como isso a deixaria louca. Ela viu Coby como sua segunda chance na maternidade e o levou para tentar novamente.

— Entendi. — Eu assenti. — Eu não a perdoo por levar Coby, mas entendo.

— Sim. Eu também. — Hunter abaixou a cabeça. — Eu gostaria de saber antes sobre esse diário. Talvez eu pudesse ter impedido que isso chegasse tão longe.

— Talvez. Talvez não. Acho que, se Nell estivesse em sã consciência, ela poderia ter passado por esse diário. Eu acho que havia mais coisas acontecendo na cabeça dela do que você jamais saberá.

Hunter suspirou.

— Você provavelmente está certa.

— Você acha que foi por isso que ela pediu a custódia de Coby? Por causa do diário? Na época, eu pensei que era apenas uma maneira de me punir por matar Everett, mas agora, eu não tenho tanta certeza.

— Parcialmente. Eu acho que as coisas sobre as quais conversamos antes ainda são verdadeiras. Ela queria sua vingança. Quero dizer, ela queria antes do diário. Talvez descobrir o diário apenas a fez empurrar com mais força. E então, quando ela realmente viu Coby...

— Ela pirou.

Ele assentiu.

— Encontrei uma foto antiga de Everett na casa dela. Eles se parecem muito com essa idade, é estranho. Acho que quando ela o viu no café, foi a gota d'água.

Não pela primeira vez, tive pena de Nell. Ela não tinha sido uma ótima mãe, mas claramente se arrependeu e nunca teria a chance de fazer as pazes com Everett.

— Foi tão triste ver as coisas dela. — Ele vendeu tudo dela em Grand Rapids, além dos seus pertences pessoais agora armazenados. — Ela realmente amava papai. Ela enviou cartas de amor para ele e ficou com todas. Ela mantinha todos os aniversários, dia dos namorados ou cartão de aniversário que ele já lhe deu. E acho que, à sua maneira, ela também amava Everett. Ela era orgulhosa dele. Ela mantinha caixas cheias de seus projetos de arte e boletins.

— Então por que ela era tão fria?

Ele balançou sua cabeça.

— Eu não sei. Não sei se ela realmente esteve sã mentalmente. Ela demonstrou uma confiança tão grande que acho que sua mente estava muito mais quebrada do que qualquer um de nós jamais soube.

Suspirei.

— Então é bom que ela esteja em Shimmering Waters. Talvez eles possam ajudá-la a juntar as peças.

— Talvez.

Voltei a cozinhar, enchendo uma panela com água para o molho. Eu não sabia o que aconteceria com Nell depois que ela deixasse a instituição mental. Eu nunca a perdoaria por ameaçar meu filho, mas, felizmente, não tinha que tomar essa decisão hoje.

E se eu tivesse que enfrentar Nell, teria Hunter ao meu lado. Eu não estaria mais sozinha lutando batalhas. Eu não estaria confiando em minha própria força para seguir em frente. Eu não seria a única encontrando a coragem para perdoar.

Hunter e eu enfrentaríamos a vida juntos.

— Você já pensou em alguém que poderia se mudar para o sótão? — Hunter perguntou.

— Não. Ainda não. Por quê?

Ele sorriu.

— Liguei para Beau na volta de Michigan e perguntei a ele se seria difícil mover o beliche de Coby. Ele disse que poderíamos fazer isso amanhã.

O batedor na minha mão caiu no balcão.

— O quê?

— Eu também chamei Michael. Acontece que Alana realmente quer sair do porão dos seus pais. Acho que Michael está ficando cansado de entrar e sair à noite. — Suas sobrancelhas tremeram e eu coloquei meu dedo em meus lábios para ele ficar quieto. — Alana poderia pegar o sótão.

Meu coração disparou quando percebi o que ele estava dizendo, mas tentei ficar calma, batendo no queixo.

— Onde diabos Coby e eu vamos morar?

Ele riu.

— Eu tenho uma ideia.

Perdi o controle do meu sorriso e ele se estendeu.

— Você tem certeza de que nos quer aqui?

— Tenho certeza que quero vocês aqui.

— Ok. — Fácil assim. Agora todos nós moramos aqui juntos.

Um sorriso sexy e largo dividiu seu rosto.

— Vou contar ao Coby. — Hunter deslizou da cadeira e piscou para mim antes de entrar na sala de estar.

Meus dedos procuraram meu telefone para que pudesse mandar uma mensagem instantânea para todas as minhas amigas para dizer que Hunter tinha acabado de nos pedir para virmos morar em sua casa. Quando o telefone começou soar com Yay!, Parabéns! e de Gigi Eu totalmente vou ganhar a nossa aposta. Ele vai pedir para você se casar antes de Michael e Alana, eu ri.

Minha risada foi interrompida quando o carro de Coby bateu de volta no meu pé.

— Pelo amor de Deus! Coby, — rosnei. — Vamos tirar um tempo deste ca... — Eu me inclinei para pegar o carro e parei no meio da frase.

Amarrado à antena do carro havia um anel.

Um anel que não existia antes e definitivamente não era algo que poderia ter vindo da loja de brinquedos por engano.

Eu fiquei de pé, com o carro na mão, enquanto Hunter e Coby espiavam por trás do sofá.

— Mamãe, você quer se casar com Hunter?

Hunter bateu a mão na boca de Coby rindo.

— Eu te disse, eu ia perguntar, seu monstrinho! — Ele começou a fazer cócegas no meu filho, não, nosso filho, até as lágrimas escorrerem pelas bochechas de Coby e ele implorar para que Hunter parasse.

Lágrimas corriam pelo meu rosto também. Porque Hunter está me pedindo para casar com ele através de Coby?

Melhor. Proposta. Sempre.

Com Coby ainda rindo no chão, Hunter se levantou e entrou na cozinha. Seu jeans pendia perfeitamente nas pernas, pernas que eu enrolava nas minhas todas as noites. Sua camiseta estava esticada sobre o peito largo, o peito que eu usaria como meu travesseiro favorito. Seus calcanhares bateram no chão quando ele caminhou em minha direção com pés descalços, pés que manteria os meus quentes quando esfriassem.

Meu noivo.

— O que você diz, Loirinha? — Hunter pegou o carro de mim e o colocou no balcão. Então ele emoldurou meu rosto com as mãos. — Você quer se casar comigo?

— Sim.

Seus lábios estavam nos meus antes que a palavra tivesse tempo de se estabelecer em nossos ouvidos. Nós nos beijamos, usando nossas bocas, línguas e dentes, até Coby nos separar.

— Vocês, — ele gemeu. — Posso ter meu carro de volta?

Eu ri na boca de Hunter quando ele riu na minha.

— Claro, amigo. — Hunter nos separou para desatar o anel de brinquedo de Coby. — Esse era o anel da minha mãe. Eu não achava que Nell tivesse guardado, mas ela tinha uma caixa inteira de joias da mamãe escondida em Grand Rapids.

Respirando com dificuldade, lutei para conter minhas lágrimas felizes quando ele deslizou o anel no meu dedo. O diamante não passava de um quilate e o anel de ouro era simples. Entre o solitário de diamante estavam duas ovais, cada uma incrustada com outro pequeno diamante. Era um anel clássico. Despretensioso.

Isso era perfeito.

Hunter se aproximou, me puxando de volta para seus braços enquanto meus olhos ficavam presos no meu anel.

Para mim, significava muito que tinha sido da mãe de Hunter, e eu o usaria com orgulho até o final dos meus dias. Se Hunter oferecesse um novo para um aniversário ou data especial, eu recusaria educadamente. Esse anel era o único que eu usaria na minha mão esquerda.

— Ei! Devolva meu carro! — Coby gritou, tentando se espremer entre nós para pegar seu brinquedo. Hunter e eu começamos a rir quando Coby puxou o carro da ilha e o levou de volta para a sala de estar.

Sorrindo, pressionei minha bochecha no peito de Hunter e o envolvi com força.

— Eu amo você.

Seus lábios macios roçaram no meu cabelo.

— Eu também te amo.

Nós nos abraçamos por algum tempo quando Coby nos deixou, finalmente nos separando quando ele exigiu que Hunter brincasse com ele e resmungou sobre estar com fome.

Enquanto eles corriam o carro em volta dos móveis, voltei a preparar o jantar, mandando mensagens para minhas amigas, uma atualização entre amassar batatas, ervilhas para micro-ondas e molho de carne.

Não era chique, mas era tudo o que eu sempre quis para minha vida.

Uma vida feliz.

Uma vida cheia de mais amor do que algumas pessoas encontraram na vida inteira.

Uma vida com um homem que sempre me faria sorrir.


Epílogo


Sete anos depois....


— Porra, baby, goze. Rápido — Hunter rosnou, depois mordeu o lado do meu pescoço.

A sensação de dor foi direto do meu pescoço para o meu clitóris. Quando Hunter chupou o mesmo lugar que acabara de morder, minhas pernas já formigantes começaram a tremer.

Minhas costas estavam pressionadas contra o mármore frio em nosso chuveiro, minhas pernas estavam em volta dos quadris de Hunter e meu marido estava batendo com seu pau em mim sem restrição enquanto a água caía por suas costas. Com o som da nossa pele batendo e a água correndo, sua boca arrastou beijos de boca aberta até minha mandíbula e até meus lábios que esperavam.

Minhas mãos começaram a arranhar suas costas, pedindo que ele fosse mais e mais rápido.Com um estrondo no fundo do peito, ele obedeceu, me fodendo o mais forte que pôde sem me deixar cair.

— Estou tão perto, — eu disse contra seus lábios. — Eu preciso...

Eu não tive que articular. Depois de anos esgueirando-se em sexo no chuveiro enquanto nossos filhos estavam dormindo, ele sabia exatamente o que eu precisava. Depois de uma lambida lenta no meu lábio inferior, ele chupou em sua boca e meu orgasmo bateu. Ele manteve entre os dentes enquanto eu chorava, minhas costas arqueando para longe do azulejo enquanto minhas paredes internas se apertavam em torno de seu pau.

— Esprema-me. Bem desse jeito. — Suas palavras eram quase inaudíveis sobre meus sons estrangulados ecoando nas paredes do chuveiro. — Apenas. Assim. — A cada palavra, ele empurrava com mais força, encontrando seu próprio orgasmo. Seu gemido ecoou o meu enquanto ele soltou meu lábio e inclinou a cabeça para trás.

Inclinei-me para frente e lambi a água de seu pescoço, fazendo seus dedos cravarem ainda mais minhas coxas quando ele soltou sua semente.

Quando nós dois estávamos exaustos, ele soltou minhas pernas e os meus pés de volta no chão de ladrilhos. Eu mantive um aperto em seus ombros até as manchas brancas em minha visão clarearem e eu recuperei meu equilíbrio.

— Uau, — eu disse, sem fôlego. Meus braços e pernas pareciam borracha e agora eu poderia tirar uma soneca.

Hunter riu.

— É melhor você se apressar ou vamos nos atrasar.

Eu golpeei seu braço.

— Se estamos atrasados, a culpa é sua. Você interrompeu meu banho, Dr. Faraday.

— Você está realmente reclamando, Loirinha? Porque eu tenho certeza que sua boceta está feliz que o médico apareceu.

Eu puxei meus lábios para esconder um sorriso, então eu bati em sua bunda e passei por ele para pegar meu xampu.

Ele riu de novo e pegou a garrafa da minha mão, como eu esperava. Uma coisa que Hunter sempre fazia durante nossos chuveiros sujos era lavar meu cabelo. E então eu lavava o dele.

Era um gesto simples, lavar o cabelo um do outro, mas significava tudo para mim.

Era o cuidado que Hunter tomava comigo. Era assim que as pontas dos dedos cavavam um pouco, afastando qualquer tensão. O jeito que ele se curvava e beijava meu ombro quando eu estava ensaboada. A maneira como ele me derrubava de volta à água, suportando meu peso com um braço forte enquanto o outro impedia a água de correr nos meus olhos.

E por todo o cuidado que ele me dava, eu devolvia.

Adorava o cabelo dele, massageando-o suavemente com os dedos antes de enxaguar. Todos esses anos e eu ainda estava tão obcecada com os cabelos de Hunter quanto no primeiro dia em que ele entrou no saguão do hotel.

Nos lavamos e terminamos nosso ritual antes de Hunter sair do chuveiro para se preparar para a festa. Corri para depilar minhas pernas, milagrosamente, sem deixar cortes, e corri para passar um pouco de tempo extra, não tanto quanto eu havia planejado, na frente do espelho do banheiro, no meu cabelo e maquiagem.

Coloquei um jeans, um belo suéter preto e um cachecol para encobrir a mordida de amor de Hunter. Com minhas botas até os joelhos, puxadas por cima das minhas roupas escuras, fiz uma última inspeção no espelho de corpo inteiro em nosso closet antes de sair do quarto em busca de minha família.

Eu encontrei Coby em seu quarto com Grayson, exatamente onde eu os havia deixado para a hora obrigatória de “tempo de silêncio”, já que os dois estavam velhos demais para dormir hoje em dia.

Grayson estava no beliche de Coby, assistindo algo em seu tablet. Coby estava com o nariz em um livro. Embora a leitura ainda não fosse meu passatempo favorito, ela se tornou a última obsessão de Coby. Ele e Hunter se uniram ao primeiro Harry Potter e agora meu filho raramente era visto sem um ou dois livros debaixo do braço.

— Ok rapazes. Vocês precisam se vestir para ir.

— Estamos vestidos, mãe, — disse Coby, sem desviar os olhos do livro.

— Amigo, está muito frio para calções. Você poderia vestir jeans ou algo assim?

Ele franziu a testa e largou o livro, depois desceu as escadas do beliche superior. Mesmo com onze anos, Coby ainda amava seu beliche. Estava um pouco mais apertado em cima do que costumava ser, mas quando Hunter se ofereceu para trocá-lo, Coby recusou-se veementemente.

Era o seu espaço especial.

E de Picles, que estava dormindo no canto ao lado de Grayson.

— Gray você também. Desça daí.

Meu filho mais novo assentiu, esfregou a orelha de Picles e pousou o iPad.

Eu baguncei seu cabelo castanho claro quando ele pulou do último degrau. Estava muito longo, mas quando eu tentei cortar, ele recusou. Grayson estava em uma fase em que ele fazia tudo o que seu pai fazia. E como papai tinha cabelos compridos, ele tinha cabelos compridos. Se ele pudesse ter crescido uma barba, ele teria.

— Eu tenho que trocar, mãe? — Grayson perguntou. Ele parecia tanto com Hunter, exceto por seus olhos, ele os puxou de mim.

— Não, você está bom. — Ele usava jeans e uma camiseta de mangas compridas, assim como Hunter usava antes. No minuto em que chegamos em casa da expedição de trenós da família hoje, ele trocou para combinar com seu pai. Eu não tinha ideia de por que Coby trocou suas roupas quentes por shorts, considerando que estava um pouco acima de zero lá fora. — Vá pegar seus sapatos, amigo.

— Ok. — Grayson correu para fora do quarto de Coby em direção ao seu no fim do corredor.

— Mãe, você acha que papai me levaria para comprar um livro novo amanhã?

— Tenho certeza que ele faria se você pedisse. Agora vista-se. — Saí para que Coby pudesse ter alguma privacidade para se trocar e continuei em direção ao quarto de Layla. Minha filha de três anos estava descansando no peito de Hunter, esfregando os olhos e bocejando, ainda grogue de sua soneca.

Atravessei o quarto até a cadeira de balanço branca e dei um beijo em seus cabelos loiros.

— Você tirou uma boa soneca?

Ela assentiu e se curvou ainda mais em Hunter.

Enquanto Grayson, de cinco anos, puxou Hunter, Layla me puxou. Tínhamos os mesmos olhos e cabelos. A mesma forma para o nosso rosto. A única diferença era o formato do nariz, mais parecido com o da minha mãe do que o meu. Quando nós três estávamos juntas, não havia como confundir sua base genética.

— Ela precisa se trocar? — Hunter perguntou.

— Sim. — Layla ainda usava as leggings e o suéter de futebol Mustang da nossa viagem de trenó.

Fui até o armário e olhei minhas opções. Enquanto mantinha os quartos dos meninos de bom gosto e não específicos da idade, perdi a cabeça decorando o quarto de Layla. As paredes eram de um rosa pálido, até o interior do armário. A guarnição branca combinava perfeitamente com os postes da cama e sua cômodo recortada. O tapete floral rosa no centro da sala estava centrado diretamente sob um lustre de cristal.

Ela odiaria este quarto quando ficasse um pouco mais velha, mas por enquanto, era o ideal para minha princesa.

Puxando um suéter tricotado e jeans bordado com flores combinando, eu os coloquei na cama.

— Aqui está. Ela pode usar suas botas UGG.

Hunter sorriu enquanto continuava balançando sua filhinha e eu saí do quarto para pegar nossas contribuições para a festa na cozinha. Reunindo um prato de biscoitos e a tigela Tupperware da salada de ervilhas de Hunter, eu tinha tudo pronto quando os meninos desceram correndo as escadas, seguidos por Hunter carregando Layla.

— Tudo pronto? — Hunter perguntou.

Eu sorri.

— Tudo pronto.

Então a família Faraday partiu para a festa que eu esperava há mais de um mês.

— Jess está totalmente enlouquecendo, — eu disse a Gigi quando saí para a varanda da fazenda e entreguei a ela um copo cheio de vinho.

— Por que você acha que eu tive que vir aqui? — Gigi perguntou. — Receio que, se não interceptar o pobre Mason Drummond, Jess o assuste antes que ele possa bater na porta.

Jess estava andando pela sala, observando as janelas e esperando a chegada do primeiro encontro de Rowen. Seu rosto era uma mistura de angústia dolorosa e assassinato a sangue frio.

Era meio adorável.

Eu ri e sentei ao lado de Gigi no balanço da varanda da frente, tremendo enquanto me aproximava para pegar um canto do cobertor que ela estava oferecendo para cobrir meu colo.

— Isso é divertido. Fico feliz que você tenha planejado esta festa.

— Eu também.

Gigi havia planejado essa festa para Jess, não para Rowen. Todos os nossos amigos estavam aqui em um esforço para distrair Jess do fato de que sua filhinha estava indo para seu primeiro baile.

— Você pode acreditar que minha filha tem dezesseis anos e vai a um encontro? — Ela perguntou.

Eu sorri e tomei um gole do meu próprio vinho.

— Eles não são mais bebês. Quando isso aconteceu?

— Quando piscamos.

Muita coisa aconteceu quando piscamos.

Casamento. Bebês. Vida.

Hunter e eu tivemos nosso casamento de inverno pouco depois de ele ter proposto. Eu alistei toda a minha família e amigos para ajudar a planejá-lo e realizamos o casamento dos meus sonhos em um mês. Com o apoio de Hunter, eu pude colocar o sequestro do pai de Coby no passado e nos casamos no celeiro da Fazenda Howell. Eu consegui o meu vestido de renda branca de mangas compridas. Hunter estava mais lindo do que nunca em seu smoking. E Coby foi o pajem mais bonito da história do mundo. Foi uma noite cheia de amigos, amor e risos.

Como na maioria dos dias desde então.

Um mês depois do nosso casamento, o dia em que a adoção de Coby por Hunter havia sido aprovada, Coby e eu havíamos mudado nosso sobrenome para Faraday.

Dois meses depois, eu estava grávida de Grayson.

Dois anos depois que ele nasceu, tivemos Layla.

Então eu pisquei e os dois estavam sem fraldas. Grayson estava na aula de jardim de infância de Emmeline Slater, e antes de muito tempo, Layla seria admitida. Ela não seria mais minha princesinha, passando as manhãs em Quail Hollow e depois as tardes comigo no hotel. Ela teria sua própria vida, seus próprios amigos e suas próprias danças formais de inverno.

— Eu posso sentar aqui e observar Mason, — eu disse a Gigi. — Você não quer entrar e ajudar Roe a se arrumar?

Gigi balançou a cabeça.

— Não, está tudo bem. Fiquei emocionada mais cedo quando a ajudei a se vestir. Eu não quero estragar sua noite me tornando um caso perdido, porque ela está crescendo. Jess está enlouquecendo e um de nós tem que ficar calmo. Um pouco de tempo aqui no ar frio será bom para eu me acalmar.

— Você pode chorar quando ela sair e depois ficar bêbada. Eu trouxe mais vinho.

— E é isso, — ela bateu nossas taças — é por isso que somos melhores amigas.

— Roe está tão bonita. — Eu dei uma espiada na sala onde Felicity estava fazendo a maquiagem de Rowen. Roe escolheu um vestido sem alças azul-escuro, a cor combinando perfeitamente com seus olhos, e Gigi enrolou seus longos cabelos em belas ondas que pendiam até sua cintura. Como Felicity era a principal artista de maquiagem do grupo, ela e Roe haviam se colocado em quarentena no banheiro de Jess e Gigi no andar de cima, para que todas as outras crianças não as incomodassem. A única outra pessoa permitida no banheiro era Adeline, que adorava a irmã mais velha e adorava a tia Felicity.

Todos os outros foram banidos para o andar principal.

— Esta fazenda mal acomoda a todos nesses dias, — disse Gigi. Todos os nossos amigos vieram hoje à noite, exceto Michael e Alana, que estavam de férias para o aniversário, e Milo e Sara, que estavam em casa com o recém-nascido de duas semanas.

Nós duas olhamos por cima dos ombros para espiar lá dentro. As crianças estavam brincando em todos os lugares. Os pais estavam bebendo cerveja e rindo. Mães estavam bebendo vinho e sorrindo.

— Sim, mas eu gosto muito, — ela disse. — Além disso, se ficarmos sem espaço, mandarei Jess construir outra adição na garagem.

— Bom plano. Talvez um projeto de construção mantenha sua mente ocupada demais para planejar o assassinato de Mason Drummond.

Nós duas rimos e continuamos espionando todo mundo lá dentro.

— Grayson se parece cada vez mais com Hunter todos os dias, — disse Gigi.

Meu filho estava sentado ao lado do pai na mesa da sala de jantar, jogando cartas com Silas e o filho de Silas, Liam.

— Ele com certeza parece, mas todos os meninos se parecem com seus pais.

Era a única coisa que eu sempre ganhava no grupo. Todos os meninos estavam cuspindo imagens de seus pais grandes e durões e, na maioria das vezes, as meninas puxavam suas mães.

Gigi riu.

— Genes fortes.

— Essa é a verdade.

Nós nos viramos e relaxamos no balanço, observando o céu escuro enquanto esperávamos o encontro de Rowen chegar.

— Como Nell está se saindo? — Gigi perguntou.

Suspirei.

— Até agora tudo bem. Eu a verifico todos os dias, mas ela parece estar indo bem. Ela é realmente muito boa em limpeza.

— Ainda não consigo acreditar que a mulher que sequestrou seu filho agora está trabalhando para você no hotel.

— Você e eu.

Eleanor Carlson passou seis anos, não três, na instituição mental, reparando o que havia sido quebrado em sua mente. E quando ela emergiu, saiu uma pessoa diferente. Ela ficou humilhada. Ela teve a chance de sofrer. Ela recebeu uma segunda chance.

Em Prescott.

Porque ela não tinha outro lugar para ir, Hunter a convidou para cá. Nell estava vivendo em meu velho sótão, fazia a limpeza para mim no hotel para que eu não tenha que trabalhar tanto. Seu relacionamento com Hunter era mais forte do que nunca, e o mais importante para ela, ela estava construindo uma conexão com Coby.

Ela estava se tornando vovó Nell.

Alguns dias eram melhores que outros, mas ela estava tentando se perdoar pela maneira como tratara seu filho e o meu.

E, graças à ajuda do terapeuta que eu havia visto por três anos após o sequestro de Coby, eu pude colocar tudo no passado. Tudo. Eu havia passado pelo sequestro. Eu passei pelos flashbacks. E eu não beliscava minha perna há anos.

Everett não passava de uma lembrança distante e desagradável.

Faróis saltando pela estrada de cascalho até a fazenda interromperam nossa conversa.

Respirei fundo enquanto Gigi bebia o resto de seu vinho.

— Aqui vamos nós. — Eu fiquei de pé ao mesmo tempo que Gigi, afastando o cobertor e deixando-o no balanço.

Bem a tempo, Gigi interceptou Jess quando ele saiu correndo pela porta da fazenda.

— Xerife, — Gigi alertou, — respire.

Seu peito largo inchou e ele abriu a boca, mas ela o parou com um dedo pressionado nos lábios.

— Esta é sua noite especial, Jess.

Todo o ar saía de seus pulmões e, com uma voz de dor, ele sussurrou:

— Porra, isso é difícil, Sardenta. — Então ele puxou a esposa nos braços e segurou firme.

Passei por eles e entrei para encontrar meus filhos. Coby estava assistindo a um vídeo com Ben no telefone de alguém. Layla estava seguindo as outras garotas ao redor com um sorriso radiante. E Grayson ainda estava com Hunter na mesa.

— Mason está aqui? — Hunter perguntou.

Eu assenti.

— Sim. Vou subir e contar para Roe.

Quando eu subi as escadas, o resto da festa se reuniu na sala de estar e todos os homens foram atrás de seus “adereços”.

Silas trouxe uma corda.

Nick, uma chave inglesa.

Beau, um machado.

Hunter, uma serra de osso.

E, claro, Jess voltou para dentro com a arma firmemente presa ao quadril.

Pobre Mason.

Era bom que ele fosse um adolescente incrível com uma espinha dorsal robusta. Pegar Roe com cinco homens grandes e superprotetores na sala não seria fácil.

Cheguei ao quarto principal da fazenda ao mesmo tempo em que Rowen saiu do banheiro.

— Bem? — Ela girou, o sorriso no rosto brilhante e lindo.

Como essa jovem linda era a mesma garotinha que eu cuidava durante o primeiro encontro de Jess e Gigi?

— Você está deslumbrante, — eu disse, sufocando as lágrimas. — Ele está aqui.

— Ótimo! — Ela sorriu mais forte, aplaudindo enquanto corria para um abraço e depois desapareceu escada abaixo.

Atrás dela, Felicity saiu do banheiro, enxugando os olhos, com Adeline correndo para seguir sua irmã.

— Pronta para isso? — Eu perguntei.

Ela balançou a cabeça.

— Estou tão feliz que Victoria tenha mais alguns anos. Acho que ainda não aguento.

Eu assenti.

— Você e eu. — Layla teria sorte se convencesse Hunter a deixá-la ir a um encontro aos dezesseis anos. Ele era mais quieto em sua proteção do que Jess, mas não menos feroz.

Passei o braço no de Felicity e descemos as escadas, onde nossos amigos estavam bajulando Rowen e os homens pairando sobre Mason.

E abençoe o coração de Mason, ele nem percebeu os homens. Seus olhos estavam fixos em Rowen de uma maneira que fez o rosto já perturbado de Jess cair ainda mais.

Jess viu. Todos nós vimos.

Aos dezesseis anos de idade, Mason Drummond estava apaixonado por Rowen Cleary. Não importa quantos homens furiosos estivessem por perto com suas armas de escolha, isso não iria assustá-lo.

— Oh, senhor, Jess está com problemas, — Felicity sussurrou.

— Acho que vamos ver muito mais de Mason por aí.

Ela cantarolou concordando quando chegamos ao último degrau. Rowen deu um último abraço à mãe e um beijo na bochecha do pai antes de sair pela porta com Mason a reboque.

— Vamos comer! — Gigi anunciou, fungando enquanto liderava o caminho para a cozinha.

— Acho melhor abrir outra garrafa de vinho, — murmurou Sabrina, seguindo Gigi. — Ou três.

A festa recomeçou enquanto passávamos a noite comendo, bebendo, rindo e contando as horas até Rowen voltar para casa.

Era quase dez horas, a festa ainda estava forte, exceto para Layla, que havia adormecido no sofá no colo de Hunter.

— Você quer que eu vá deitá-la?

Ele balançou sua cabeça.

— Estou bem. Você me traria outra cerveja?

— Certo. — Fui à cozinha buscar sua bebida e depois a trouxe de volta, exatamente quando Nick se juntou a ele no sofá.

— Para onde Gigi foi? — Eu perguntei a Hunter.

— Lá fora, eu acho.

Estava muito frio, e se ela estivesse lá fora, algo deveria estar incomodando-a.

— Eu vou dar uma olhada nela.

Ele me deu sua piscadela de natureza, a que ainda fazia meu coração pular.

— Ok, baby. Amo você.

— Também amo você. — Inclinei-me para roçar meus lábios nos dele e depois fui para a varanda. Estremeci e corri para o balanço para me arrastar de volta para debaixo do cobertor de Gigi. — Ei. Você está bem?

Ela sorriu e assentiu.

— Talvez um pouco embriagada, mas por outro lado, bem. Eu estava pensando em quando Roe e eu nos mudamos para cá. Esse foi o começo de nossa felicidade.

Eu sorri.

Todos nós tivemos nossos lugares especiais.

Para Jess e Gigi, era a casa da fazenda.

Para Nick e Emmeline era a capela onde se casaram.

Para Silas e Felicity, era o rancho deles.

Beau e Sabrina sempre amariam o posto avançado onde haviam passado os primeiros meses juntos.

E para mim, meu felizes para sempre começou no dia em que Hunter Faraday entrou no The Bitterroot Inn e mudou minha vida para sempre.

 

 

                                                   Devney-Perry         

 

 

 

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