Criar uma Loja Virtual Grátis
Translate to English Translate to Spanish Translate to French Translate to German Translate to Italian Translate to Russian Translate to Chinese Translate to Japanese

  

 

Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


THE COPPER SITH FARM HOUSE / Devney Perry
THE COPPER SITH FARM HOUSE / Devney Perry

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblio VT 

 

 

Series & Trilogias Literarias

 

 

 

 

 

 

O advogado já deve ter lhe dito que você vai receber minha herança. Isto inclui uma casa na fazenda em Prescott, Montana, em que eu vivia anos atrás. Eu amava aquela casa e nunca pude esquecer isso. Eu era feliz lá.

Eu quero que você se mude para lá. Seja feliz também.
Eu sei que é um grande pedido, mas é hora de você começar uma vida nova. Para você e Roe. Spokane não tem mais nada para você além de memórias e túmulos.
Um homem chamado Brick tem vigiado a fazenda para mim desde que eu me mudei. Por dezenove anos, ele cuidou dela. Eu gostaria que você desse $ 50.000 a ele do dinheiro da propriedade. Ele sempre cuidou bem do lugar. Meu palpite, é que está em melhores condições hoje do que quando fui embora. Se não fosse por ele, eu teria que vender aquela casa e minhas garotas não teriam um lugar para começar sua nova vida. Então, Geórgia, faça-o aceitar o dinheiro. Isso me dará paz em saber que eu fiz a coisa certa por ele.
Te amo, minha garota Gigi. Amo minha Roe também. Com todo meu coração. Agradeço a Deus todos os dias que você entrou no meu quarto de hospital.
Vejo você do outro lado, Ben.

 


 


Capítulo Um

Nova cidade. Casa nova. Carro novo. Novo emprego.

Vida nova.

Foi o que Ben me pediu para fazer. Começar uma vida nova para minha filha de quatro anos, Rowen e uma nova vida para mim.

E tanto quanto eu gostaria de explicar que uma grande mudança na vida era completamente desnecessária, era difícil argumentar com um homem morto.

Então aqui estávamos nós em Prescott, Montana. Começando uma nova vida.

Rowen e eu fizemos a viagem de Spokane para Prescott hoje, chegando à cidade tarde da noite quente de verão.

Eu não tinha ideia do que esperar, tendo apenas desenraizado nossa vida para nos mudar para uma cidade onde eu nunca tinha estado e não conhecia uma pessoa. Ao passarmos por uma placa dizendo: – Bem-vindo a Prescott! População 823 – minha ansiedade chegou ao máximo.

Prescott não era uma cidade, era uma cidade pequena.

Correção. Era uma cidade muito pequena.

Prescott estava próxima do Parque Nacional de Yellowstone e localizada entre o sudoeste de Montana. Rodeada por montanhas, a cidade ficava ao longo do Rio em Jamison Valley.

Prédios começaram a surgir ao longo da estrada enquanto eu dirigia em direção a Prescott. Na extremidade mais distante ficava o hospital onde eu trabalharia, seguido por uma loja de autopeças, um empalhador e uma delegacia de polícia. Eu duvidava que já tivesse pisado em um dos últimos edifícios. Eu fiz uma anotação mental quando vi a mercearia embora. Passado o motel, a estrada desviou para a esquerda e o limite de velocidade diminuiu.

Eu rastejei pela Main Street para absorver o máximo que pude. Lojas e escritórios preenchiam a rua do centro de um lado para o outro. Intercalados entre eles haviam dois bares, um banco, um punhado de restaurantes e a loja de ferragens. Cestas de flores transbordando penduradas em postes antigos. Janelas limpas e arrumadas apresentavam indumentárias do faroeste e parafernália.

Eu estava ansiosa para passar um dia vagando pela rua e explorar as lojas.

Eu sonhei com a sensação de entrar em uma loja e ter o proprietário me cumprimentando pelo nome.

Eu ansiava por fazer parte dessa pequena comunidade. Para me sentir como se eu fosse parte de alguma coisa, não apenas sozinha e deixada para trás.

– Mamãe, olhe! Sorvete! – Rowen gritou do banco de trás, chutando as pernas descontroladamente.

– Uh-huh, – eu murmurei automaticamente.

Depois que passamos pela sorveteria e uma lagoa de pesca comunitária, parei de olhar em volta e foquei no endereço em minha mão, tentando dirigir para a nossa nova casa que era tão no interior que eu não poderia usar o GPS para encontrá-la.

– Podemos parar? Por favor? – Ela implora.

Eu olhei rapidamente por cima do meu ombro. – Desculpe, Roe. Hoje não. Mas vamos parar outro dia. Em breve, eu prometo. Eu realmente só quero ir para a fazenda de Ben e me acomodar para a noite. O caminhão de mudança chega aqui pela manhã e precisamos estar prontas.

Ela soltou um frustrado – humph –, o primeiro resmungão que ela me deu o dia todo. Ela foi um soldado durante a viagem de sete horas, me fazendo companhia enquanto eu dirigia e silenciosamente assistindo alguns filmes. Mas eu sabia que ela estava totalmente cansada dessa longa viagem. Que não aguentava mais. Eu também.

– Quando chegarmos à casa da fazenda, você pode começar a escolher o seu novo quarto –, eu disse no espelho retrovisor. – Isso não vai ser divertido? E se você quiser, podemos colocar o colchão de ar lá esta noite. OK?

– Tudo bem –, ela murmurou. Ela não estava muito animada, mas era melhor que outro grunhido.

Eu dirigi meu novo Ford Explorer cinza por duas estradas do condado antes de se transformar em um longo caminho de cascalho. A fazenda em si estava situada nas montanhas fora de Prescott. A terra à frente da casa, em direção à cidade, estava coberta por um campo de grama dourado. Atrás da casa havia um bosque perene.

Eu verifiquei duas vezes o endereço com o número na porta da frente. Uau, isso era realmente bom.... Meu coração acelerou.

Paraíso. Minha nova casa estava no meio de uma montanha paradisíaca.

Depois de estacionar na rotatória da entrada de cascalho, saí do carro e corri em volta para desatar Rowen de sua cadeirinha.

– Bem, o que você acha? – Perguntei.

– Parece legal! – Seu grande sorriso surgiu brilhantemente.

– Claro que sim – eu concordei, tocando o nariz coberto de sardas com o meu.

A fazenda tinha uma pegada antiquada simples. Janelas em ambos os níveis foram emolduradas com persianas pretas que se deparava com o espaço aberto do outro lado da entrada. O exterior era pintado de um clássico branco. Perpendicular à casa havia um antigo celeiro de madeira. Entre ele e a casa, duas enormes árvores sombreavam o quintal.

Peguei o essencial no carro, ansiosa para me instalar para a noite. Eu estava exausta da longa viagem e de ficar até tarde da noite arrumando as malas.

– Vamos entrar! – disse, balançando a mão de Roe na minha.

Subimos os cinco degraus da frente e atravessamos a ampla varanda contornada por suas colunas de madeira cor de chocolate. Eu destranquei a pesada porta de madeira para que Rowen pudesse entrar.

A porta da frente se abriu para uma entrada ladrilhada e uma longa escadaria que dividia a casa ao meio. À esquerda ficava a sala de estar e a sala de jantar. À direita estava o escritório e a cozinha. Um pequeno corredor ligava a sala de jantar e a cozinha na parte dos fundos da casa.

Meus moveis de couro escuro e almofadas aconchegantes combinariam perfeitamente com o assoalho de madeira cor de mel. E eu mal podia esperar para colocar minha velha poltrona de leitura na frente da lareira de tijolos no escritório.

Com exceção de um pequeno lavabo debaixo das escadas, os quartos e os banheiros ficavam no andar de cima. Eu solto um alto –Woo-hoo! – No closet da suíte principal.

Rowen escolheu seu quarto, e depois de encher um colchão inflável, nos instalamos para a nossa primeira noite na fazenda.

Eu aconcheguei minha menina mais próxima a mim e olhei para o teto. Estamos aqui. Eu realmente fiz isso.

Eu apenas me mudei para Montana!

Embora fosse aterrorizante estar em um lugar totalmente novo, era incrível começar de novo, iniciar uma aventura. Substituindo a solidão que sentia em Spokane com entusiasmo. Deixando todas as memórias ruins do passado para trás.

Aconchegando-me mais no colchão, dei um longo abraço na minha garota. – Você gostou da fazenda do Ben, querida?

– Eu amo isso – ela suspirou.

– Eu também.

Durante a viagem de hoje, eu tinha imaginado em que estado a casa estaria, o quão bem o zelador tinha feito o seu trabalho durante as últimas duas décadas. Eu tinha mentalmente me preparado para encontrar a casa infestada de ratos e insetos, mas a casa parecia um sonho. Limpa e livre de roedores.

Como o resto de Prescott, a fazenda tinha um caráter peculiar e único que você não podia encontrar em uma grande cidade comercializada. Eu aproveitaria meu café da manhã enquanto olhava para a bela Cordilheira das Montanhas Rochosas, em vez do shopping Center que ficava do outro lado da minha casa em Spokane. Não havia vizinhos para bloquear minha garagem ou olhar para mim quando eu demorava para cortar minha grama. Quando eu andava pela rua, as pessoas realmente diziam olá, não apenas olhavam para seus pés e evitavam contato visual.

Eu tinha espaço. Eu tinha privacidade.

Era perfeito.

– Eu te amo, Roe –, eu disse em seu cabelo.

Ela bocejou – Amo você também, mamãe.

E com isso, nós duas prontamente desmaiamos, dormindo tanto quanto podíamos antes de ter um dia ocupado para entrar oficialmente em nossa nova vida.


****

Depois de uma semana descompactando caixas e pintando o quarto de Roe porque ela declarou que – simplesmente não podia imaginar tentar dormir em um quarto sem paredes cor-de-rosa, tínhamos nossa casa organizada. Mesmo assim, estávamos indo para nossa primeira manhã de segunda-feira – normal –, um pouco cansada e um pouco tensa.

Rowen estava em sua pré-escola, Quail Hollow, e eu estava correndo para o Hospital Jamison Valley.

O longo prédio de dois andares era muito menor do que os imponentes hospitais de Spokane, aos quais eu estava acostumada. O pronto-socorro estava situado em uma extremidade e a entrada principal na outra. Eu tinha renunciado a alguns dos luxos de um grande hospital, mas eu trocaria com prazer a eficiência pela chance de conhecer todos os meus colegas de trabalho, sentir que eu fazia parte da equipe hospitalar da pequena cidade com seus três médicos e dez enfermeiras.

Depois de conhecer meu chefe de enfermagem e fazer a orientação padrão de RH, parti para começar meu treinamento.

– Oi! – Eu cumprimentei a enfermeira sentada na mesa do pronto-socorro. – Eu sou Gigi. Você é Maisy, certo? Eu acho que você vai ficar comigo o resto da semana e me mostrar os procedimentos.

– Ei! – Ela disse, apertando minha mão e piscando para mim um sorriso de um milhão de megawatts. – Sim, eu sou Maisy Holt. Estou super empolgada por você estar aqui! Normalmente temos que atender ao pronto socorro sozinhos porque Prescott não tem muitas emergências e é tão, tão chato –, ela disse. – Esta é a primeira vez que eu anseio estar aqui embaixo. E nós temos a semana inteira para tagarelar. Oh... E eu nunca treinei ninguém antes, então eu estou tipo feliz por ter conseguido.

Maisy era adorável, com cabelos loiros curtos. Seus grandes olhos eram de um azul acinzentado claro.

Eu não pude deixar de sorrir de volta. – Bem, eu estou animada para ser a primeira a experimentar as suas habilidades incríveis de treinamento.

– Obrigada! Então, há quanto tempo você é enfermeira?

– Quase dez anos –, eu disse, me sentando. – Eu trabalhei em um grande hospital em Spokane antes de vir para cá.

– Bem, eu sou enfermeira há três anos e só trabalhei aqui. Voltei logo para casa depois da faculdade. Ida, ela é a enfermeira sênior aqui. Ela me ensinou muito. Mas agora eu também posso aprender com você!

Passamos as próximas duas horas examinando o sistema do computador e nos conhecendo, embora eu tenha aprendido muito mais sobre ela do que ela sobre mim. Durante a primeira hora, ela alternou entre me mostrar o procedimento do prontuário e me falar sobre a cidade. Eu não pronunciei mais do que dez palavras naquela hora, principalmente apenas variações de –Sim –, –Ok – ou –Entendi – quando eu conseguia falar.

Ela deve ter finalmente percebido que estava dominando a conversa (ou ela ficou tonta de falar sem parar) e começou a perguntar sobre mim. Quando eu disse a ela onde estava morando, ela ficou tão animada que saiu da cadeira e agitou os braços acima da cabeça.

– Você mora na fazenda Coppersmith? Doçura! Aquele lugar é, tipo, incrível! Total vergonha estar vazio há tanto tempo, mas é legal você viver lá. Se você precisar de alguém para ajudar na mudança ou decoração, eu absolutamente irei ajudar. Eu ofereço meus irmãos para ajudar também se precisar de algum músculo. Vamos suborná-los com cerveja e pizza.

Essa garota era um amor total. Ela tinha energia. Ela era corajosa. Ela não disse nada sem um sorriso. Ela usava a palavra –tipo – demais. E eu a amei imediatamente.

Algumas horas depois, quase na hora do almoço, Maisy e eu estávamos juntas fofocando. Ela estava me contando sobre o novo médico –mais quente que Hades–. Ela ainda tinha que descobrir muito sobre o Dr. Everett Carlson, além de que ele tinha começado no hospital cerca de quatro meses atrás, ele não usava aliança de casamento, ele dirigia um BMW preto esportivo e comprara uma casa na cidade onde ele costuma ficar sozinho.

Um homem limpando a garganta nos assustou do nosso conluio. Cabeças e cabelos viraram para ver ninguém menos que o médico quente sorrindo para nós. Pelo menos eu assumi que ele era o médico gostoso.

Ele tinha olhos castanhos e cabelos castanhos no tom chocolate aparados e perfeitamente penteados. Ele tinha boa aparência, provavelmente na faixa dos 30 anos, embora não fosse o meu tipo. Seu visual era um pouco arrumadinho demais para o meu gosto, mas pude ver porque Maisy estava interessada.

E ele definitivamente sabia que estávamos falando sobre ele.

O rosto de Maisy ficou com um tom brilhante de vermelho. Felizmente, ela foi salva da conversa constrangedora iminente quando o telefone tocou e ela se afastou.

– Uh... Oi. Eu sou Gigi Ellars. – Minhas próprias bochechas estavam ficando rosadas. Era assim que eu causaria minha primeira impressão em um dos poucos médicos de Prescott?

Um canto de sua boca se contraiu quando ele apertou minha mão. – Everett Carlson. Prazer em conhecê-la.

Antes que eu tivesse que pensar em alguma coisa para dizer, Maisy nos chamou em voz alta e em pânico.

– A equipe de paramédicos está a caminho. Eles estarão aqui cerca de três minutos. Um homem quase foi espancado até a morte na noite passada! Eles o reanimaram duas vezes no caminho até aqui, mas ele tem um pulso muito fraco e perdeu muito sangue. – O rosto dela começou a empalidecer.

Dr. Carlson começou a dar ordens. – Eu vou encontrar a ambulância do lado de fora e pegar o relatório dos paramédicos. Se ele precisar de cirurgia, eu serei o médico no centro cirúrgico. Vocês duas terão que prepará-lo enquanto eu me higienizo.

– Tudo bem –, eu disse.

Maisy não se mexeu nem disse uma palavra.

– Maisy, entre em contato com o Dr. Peterson e diga a ele para vir e atender meus outros pacientes. Ida está aqui hoje. Certifique-se de que ela será a única na sala de cirurgia comigo se precisarmos fazer uma cirurgia. – Ele disse antes de correr para as portas do pronto-socorro.

Maisy estava parada, congelada em seu lugar. Normalmente eu a deixaria assumir a liderança porque ela tinha estabilidade no hospital, mas não tínhamos tempo para ela surtar e pela sua aparência, ela não iria tomar essa liderança tão cedo. Nós precisávamos começar.

– Maisy, você quer atender a ambulância com o Dr. Carlson?

Ela balançou a cabeça enquanto seus olhos se arregalaram.

– Ok, que tal você pegar o carrinho de emergência? Depois encontre o Dr. Peterson e Ida.

Depois que ela assentiu, eu me virei e segui o Dr. Carlson para fora, esperando a ambulância.

A próxima hora passou em um piscar de olhos.

Depois de fazer uma rápida análise das lesões internas do paciente, o Dr. Carlson decidiu que ele de fato precisaria de cirurgia. Maisy conseguiu se recompor e trabalhamos lado a lado para preparar o paciente para a cirurgia.

O homem tinha sido tão espancado que eu mal conseguia distinguir suas características faciais. Seu corpo inchado estava coberto de cortes e contusões, e havia cacos de vidro em uma das pernas do que parecia ser uma garrafa de cerveja quebrada. Maisy e eu cortamos suas roupas ensanguentadas e removemos o sangue seco endurecido de seu corpo. Quando a maior parte do sangue foi limpa, nós o levamos para a sala de cirurgia.

Eu fiz uma oração silenciosa para que meu primeiro paciente em Prescott conseguisse sobreviver.

De pé na sala de emergência, eu estava no meio de ensacar o que restava das roupas ensanguentadas do paciente quando olhei para Maisy. Ela deveria estar eliminando a roupa de cama ensanguentada antes de a equipe de limpeza entrar para higienizar o quarto, mas em vez disso, ela estava de pé ao lado da cama, segurando um travesseiro branco marcado com manchas vermelhas escuras.

– Maisy, você está bem? – Eu perguntei suavemente.

Quando ela não respondeu, eu caminhei para o lado dela.

– Maisy? Eu perguntei se você estava bem. – Eu toquei seu ombro.

Ela se encolheu e então se virou para mim, seus lindos olhos cheios de lágrimas. Quando dei por mim, ela estava chorando no meu ombro enquanto eu a abraçava.

Fiquei de coração partido por ela. Ela provavelmente nunca tinha visto um caso tão violento antes. Tinha me levado anos de trabalho no pronto-socorro para construir um estômago forte o suficiente para lidar com a visão dessas coisas em uma base regular.

– Você está bem?

– Sim. – Ela fungou.

– Você quer falar sobre isso?

– Eu nunca vi nada assim. Alguém fez isso com ele, tentou matá-lo. Quem faria algo assim?

– Eu não sei querida, mas infelizmente, nem todo mundo tem um bom coração.

Ela enxugou os olhos e fungou novamente. – Estou muito feliz por você estar aqui.

– Eu também – eu disse, esfregando suavemente o braço dela.

– Com licença? –

Um recém-chegado enfiou a cabeça pela cortina da baía. Ele vestia uma camisa bege de mangas compridas, jeans escuros e botas de cowboy. Um distintivo brilhava de um lado do cinto, uma arma do outro.

– Oi... Ah, Delegado?

– Assistente – ele corrigiu. Uma faixa encharcada de sangue foi enrolada em volta de sua mão direita, e o sangue manchava a frente de suas roupas.

– Assistente. Você está... – Comecei.

– Milo! – Maisy gritou por trás de mim, então correu para o lado dele. – Meu Deus! O que aconteceu com você?

– Maisy, acalme-se – disse ele. – Estou bem. Tenho um corte na minha mão que é pequeno, mas muito profundo, então eu preciso de alguns pontos.

– Como você conseguiu esse corte? – Ela perguntou.

– Eu cortei em um copo.

– Onde? Como? Você não estava no seu carro de patrulha a manhã toda? O que você estava fazendo hoje e onde você teve contato com vidro quebrado? – Ela perguntou, examinando seu braço ferido.

Ele abriu a boca para responder, mas ela o interrompeu.

– Meu Deus! Você encontrou o homem espancado, não foi? Ele tinha vidro em uma de suas pernas! – Ela estava gritando de novo.

– Você sabe que eu não posso responder a essa pergunta ou falar sobre o trabalho.

– Bem, hoje você vai. Diga-me o que aconteceu.

– Eu. Cortei. Isto. No. Vidro. Fim da história, Maisy.

– Onde. Estava. O. Vidro. Milo?

Desde que Milo estava sangrando e nenhum deles deu qualquer indicação de recuar, eu decidi interromper o impasse deles.

– Que tal se Milo for atendido antes que ele destrua o chão? Então vocês dois podem continuar esta conversa. – Eu apontei para as manchas de sangue aos nossos pés.

Ambos imediatamente baixaram os olhos, depois assentiram. A baia de emergência onde nós colocamos Milo estava cercada por uma longa cortina. Fechando atrás dela, Maisy me deixou com Milo para chamar o Dr. Peterson para os pontos. Eu puxei um banquinho e coloquei luvas de látex, me preparando para remover a faixa ensanguentada da mão de Milo e limpar sua ferida.

– Você é nova aqui.

– Sim, comecei hoje. Meu nome é Gigi.

– Desculpe por aquela cena com Maisy. Nossas mães são melhores amigas, então crescemos passando muito tempo juntos. Ela é como minha irmãzinha. – Milo suspirou.

Eu sorri. – Ah... por isso a briga.

– Milo Phillips. Fico feliz em conhecê-lo. – Ele sorriu de volta.

Ficamos sentados em silêncio por alguns momentos enquanto eu trabalhava.

– Com certeza foi um dia louco, hein? – Ele disse para o silêncio. Seus ombros magros se inclinaram e sua cabeça se virou, me dando uma visão de perto de seu corte de cabelo no estilo militar.

– Pode-se dizer que sim. Com certeza não foi o ambiente de trabalho tranquilo e calmo que me foi prometido, – Eu brinquei.

– Ha. Sim, eu aposto. Tenho certeza de que em duas semanas você ficará tranquila e calma. Hoje foi... diferente. Esta é a coisa mais louca que aconteceu comigo em meus dois anos como assistente aqui.

Milo tentava mascarar com um rosto corajoso, mas suas mãos tremulas revelavam seu choque.

Quando eu estava prestes a perguntar a Milo mais sobre ele, uma voz profunda e retumbante fora das cortinas interrompeu.

A mão de Milo bateu na minha e eu me virei quando as cortinas ao redor da cama voaram para o lado.

Eu abri minha boca para perguntar o que estava acontecendo, mas as palavras ficaram presas na parte de trás da minha garganta. Meu cérebro entrou em curto-circuito. Toda a minha atenção estava focada no homem em pé bem na minha frente.

Sentada no meu banquinho, eu tive que inclinar a cabeça para trás para examinar seu rosto. Eu pisquei algumas vezes porque esse homem era tão rudemente bonito que eu tinha que estar imaginando.

Ele tinha cabelos castanhos claros, longos e bagunçados no topo. Estava com a aparência despenteado como “eu apenas tomei banho e corri minhas mãos através dele. ” Como seria se minhas mãos fossem aquelas que lhe dessem esse estilo?

Ele tinha as maçãs do rosto definidas e uma mandíbula forte polvilhada com um pouco de barba por fazer. Junto com a arma e distintivo combinando, ele usava a mesma camisa bege que Milo. Mas em vez de vestir em forma quadrada certinha no meu paciente, o ajuste apertado sugeria músculos fortes e ombros largos.

Minha mente vagou das linhas da camisa de algodão engomada enfiada no jeans em seus quadris estreitos para o seu abdômen ondulado e o quão duro eles se pareceriam debaixo dos meus dedos.

De suas grandes coxas até suas botas quadradas, seus jeans desbotados se encaixam tão bem em suas longas pernas que pareciam feitos sob medida para ele e apenas para ele.

Eu não podia ter certeza, mas com base no resto de seu físico, ele provavelmente tinha uma ótima bunda. Não havia como um homem ter aquelas coxas poderosas, aquela barriga lisa e aqueles braços fortes sem ter uma bunda esculpida perfeitamente com músculos arredondados.

E eu adorava um homem com uma bela bunda. Uma bunda que apenas implorava para ser apertada enquanto ele estava em cima de você.

Mas o que o destacou de qualquer homem bonito que eu já vi antes era os olhos dele, olhos azuis claros salpicados de branco. Brilhante, como a cor do gelo. Eu nunca tinha visto um tom desse antes. Eles se derretiam quando ele beijava alguém, ou o gelo ficava ainda mais brilhante?

Balançando a cabeça um pouco, eu pisquei rapidamente. Eu estava sentada aqui, fanática e admirando esse cara. Eu precisava parar de olhar e voltar a ser uma profissional. Talvez tentar respirar novamente?

Felizmente, o homem perfeito não estava prestando a menor atenção em mim. Seu foco estava apenas em Milo. Ele tinha mesmo registrado minha presença? Não, mas no momento, isso era provavelmente uma coisa boa porque ele não estava feliz.

Ele firmemente plantou as mãos nos quadris e se inclinou para o rosto de Milo, disparando perguntas após perguntas.

– Milo, você quer me dizer por que demorou quase duas horas depois que você chegou ao Silver Dollar esta manhã para me informar sobre a situação?

Ele não esperou pela resposta de Milo.

– Por que não ligou para a delegacia? Por que você escolheu ligar para Sam do seu celular? Enquanto eu estava fazendo a papelada na minha mesa, Sam tem estado em pé ao redor da cena do crime perguntando onde diabos eu estava, enquanto você está sentado no hospital, esperando para ser costurado, eu tenho feito a porra da papelada?

O rosto de Milo empalideceu com o ataque verbal e ele olhou para as botas, murmurando: – Desculpe, xerife. Estou pirando. Essa cena de crime foi fodida. Eu nem me lembro de ligar para Sam ou de dirigir até aqui. Eu juro que pensei que estava na sala de espera por apenas alguns minutos.

O xerife se acalmou um pouco, já que não estava mais gritando, e soltou uma respiração audível. Então ele estendeu a mão e colocou uma mão grande no ombro de Milo.

– Você pira, Milo, você me chama. Eu vou ajudar você a resolver isso.

Milo assentiu.

Carrancudo, o xerife se virou para mim e me olhou da cabeça aos pés. Ele realmente parecia estar mais zangado comigo do que em Milo.

O que era aquilo?

– Você está quase terminando de babar em cima de mim para que você possa acabar de remendá-lo?

Minhas bochechas coraram instantaneamente. Minha língua inchou cerca de três vezes o tamanho normal e não consegui encontrar as palavras certas para responder.

Droga. Ele notou que eu estava olhando.

O que faz sentido. Ele era um policial. Ser observador provavelmente era parte do trabalho. Independentemente disso, ele não precisava ser tão rude ou me chamar a atenção. Ele podia apenas ter ignorado e ser legal.

Quando eu não respondi, ele arqueou as sobrancelhas, esperando que eu respondesse sua pergunta.

– Você pode falar? – Ele resmungou.

Estúpido!

Todos os pensamentos anteriores sobre sua perfeição foram forçados a regressar de volta para a minha mente. Você poderia ser muito quente por fora, mas se você fosse desagradável por dentro, toda a bondade exterior desapareceria.

Eu conheci um homem assim uma vez. Nate Fletcher. Ele era quente, arrogante e confiante.

Ele me ensinou essa lição. E a forma como ele a ensinou fez com que eu nunca me esquecesse. Nunca.

Eu respirei fundo e fechei minha boca. Porque as palavras que queriam sair dela não eram boas. Eu realmente queria chamá-lo de idiota e dizer a ele para ir para o inferno. Mas molestar verbalmente o xerife da cidade não estava na minha lista de coisas para fazer hoje, então eu reuni toda a coragem mental que eu tinha e engoli meus insultos.

– O médico não veio vê-lo ainda – eu disse, com meu doce sorriso. – Estou quase terminando de limpá-lo, mas o Dr. Peterson vai querer fazer os pontos.

O xerife olhou para mim por um momento, sua mandíbula cerrada.

– Bem. Faça isso rápido – ele murmurou, me dando um último olhar. – Quando você terminar aqui, vá até a delegacia – disse ele a Milo. – Eu vou encontrá-lo lá depois que eu falar com Sam.

Virando a sola de suas botas, ele saiu da sala, agarrando as cortinas e as fechando. Elas voaram no ar e caíram rapidamente, mas não antes de eu ter um vislumbre dele por trás.

Eu tinha razão. Ele tinha uma bunda ótima.

Droga.


Capítulo Dois


Um dia depois, o hospital ainda estava agitado. Depois que o xerife Jess Cleary saiu do hospital, tanto Maisy quanto Milo tinham feito questão de pedir desculpas por seu comportamento. E desde que ele não se incomodou em se apresentar antes de ser um idiota, eles também me disseram quem diabos ele era.

Ambos Maisy e Milo pareciam aliviados por eu não estar chateada com eles devido a experiência desagradável com Jess. Indiferente eu deixei isso de lado, culpando o comportamento de Jess por causa da importância do momento. Para eles, Jess estava na minha lista de “bom “.

Mas, do meu ponto de vista? Jess estava no segundo lugar na minha lista “Vá para o inferno “.

Surpreendentemente, o desconhecido que trouxeram para o pronto socorro ontem conseguiu sobreviver à cirurgia e estava atualmente em coma induzido. Dr. Carlson, que insistiu para eu começar a chamá-lo de Everett, decidiu que o coma duraria quatro dias inteiros, até sexta-feira, para permitir que o inchaço grave do homem diminuísse e dar ao seu corpo quebrado a chance de se curar.

Mesmo em coma, o desconhecido atraiu muita atenção do escritório do xerife. Três vezes por dia, um policial verificava sua recuperação. Felizmente, o grande xerife Jess Cleary estava acima dessas visitas pessoais e enviava outras pessoas em seu lugar. Às vezes era Milo, outras vezes era Sam ou Bryant, ambos muito amigáveis e simpáticos.

Aparentemente, o único idiota do Gabinete do Xerife da cidade de Jamison era o próprio xerife.

O desconhecido também atraiu a atenção do jornal local. O boletim semanal de terça-feira saiu esta manhã com toda a primeira página dedicada a história dele, ou a falta dela, vendo como ninguém sabia quem ele realmente era.

O desconhecido foi achado atrás da grande lixeira do Silver Dollar Saloon’s pelo homem que limpava o bar antes de abrir todos os dias. O desconhecido não tinha uma carteira em sua posse e nenhuma tinha sido encontrada aos arredores.

Nenhum dos outros clientes do bar conhecia sua verdadeira identidade. Todo mundo tinha acabado de assumir que ele era um dos muitos turistas que passavam por Prescott. Infelizmente para a investigação, ele também pagou em dinheiro, não deixando nenhuma pista de cartão de crédito.

Maisy e eu descobrimos tudo isso com Milo, que tinha parado esta tarde para ter seus pontos examinados. Maisy estava implacavelmente se bicando com ele desde o minuto que ele tinha atravessado a porta, e depois de perceber que não havia necessidade de manter isso em segredo e que ela absolutamente não ia parar de importuná-lo, ele nos contou como ele tinha se machucado.

– Quando a ligação veio do bar, eu estava dando apoio a recepção. Nosso recepcionista, ele estava, ah, indisposto. Então eu atendi e entrei em pânico. Eu escrevi uma nota para o recepcionista e então sai correndo. Cheguei ao Silver Dollar e descobri que o cara ainda estava vivo. Surtei e chamei a ambulância e liguei para Sam do meu celular, desde que eles não tinham chegado lá ainda. Perguntei onde eles estavam. Acho que deveria ter sido minha primeira pista de que ninguém viu o meu bilhete.

– Você acha?

– Cala a boca, Maze – disse Milo.

– Então o que aconteceu? – Eu perguntei antes que os dois começassem a brigar novamente.

– O corpo do cara foi empurrado bem atrás da caçamba de lixo, então eu tirei algumas fotos da cena e, em seguida, comecei a mover o lixo, pensando que iria ajudar os paramédicos a tirar ele de lá. Entre o telefone no meu ouvido e tentando empurrar uma caçamba pesada, eu perdi o equilíbrio e cai. Pousei em um grande pedaço de vidro. Cavou direto na minha mão.

– Agora, você não se sente melhor por nos dizer? – Maisy perguntou presunçosamente.

– Não realmente – disse Milo.

– Bem, eu me sinto melhor. – Ela sorriu e lhe deu um rápido beijo na bochecha.

Enquanto Milo e Maisy conversaram um pouco mais, comecei a arrumar minha bolsa. Eu estava planejando fazer uma rápida corrida antes de pegar Rowen em Quail Hollow.

– Eu vou embora! – Eu acenei um adeus e fui para o meu carro.

Correr era algo que eu não fazia muito mais, mas anos atrás, eu tinha sido uma viciada em corrida. Mas então minha mãe foi diagnosticada com câncer de mama e todo o tempo livre que passei foi gasto com ela, cuidando de suas tarefas domésticas. Seu corpo tinha ficado tão fraco enquanto lutava contra o câncer que ela precisava de ajuda. E com todo o trabalho extra, eu não tive tempo de correr mais.

Então, no meio disso tudo, eu engravidei, uma aventura de uma noite em um casamento. Ser mãe solteira de uma criança enquanto eu cuidava de tudo sozinha colocou um hiato a longo prazo na minha corrida.

Mas hoje eu estava tomando um tempo para isso. Estava tão bonito lá fora e eu queria passar algum tempo aproveitando o ar fresco.

Ben adorava ar fresco. Ele sempre me disse o quanto isso era bom para o seu corpo.

Sempre que me sentia doente ou triste, ele me empurrava para fora.

Eu sentia muito a falta dele. Eu queria que ele estivesse esperando na fazenda por mim, que em vez de uma corrida, poderíamos caminhar juntos e passear. Eu sentia falta da presença dele. Falar com ele. Rir com ele. Nossas brincadeiras.

Desde que nos conhecemos, ele e eu nos provocávamos um ao outro. Nosso relacionamento tinha sido fácil. Natural. Desde o dia em que entrei em seu quarto de hospital.


****


Três anos antes...

Meu pé estava me matando. A qualquer momento, a bolha na parte de trás do meu calcanhar esquerdo ia começar a jorrar sangue e eu sangraria aqui mesmo no chão de linóleo. Morte por bolha no calcanhar

Os doze Band-Aids que eu usei para tentar cobrir a maldita coisa não estavam ajudando.

Eu manquei em direção ao último quarto da unidade de reabilitação no sexto andar do Hospital Spokane Deaconess.

Normalmente eu era uma enfermeira do pronto socorro e amava seu ritmo acelerado. Infelizmente, hoje tinha sido um lento, e ao invés de organizar armários de suprimentos e limpar o posto de enfermagem, eu me ofereci para subir as escadas para a reabilitação.

Batendo com duas batidas rápidas, empurrei a porta e entrei no quarto 612 enquanto olhava para o iPad em minhas mãos exibindo o prontuário do paciente.

– Oi, ah... Sr. Coppersmith?

– Ben – ele murmurou.

Eu olhei para cima para ver o Sr. Coppersmith sentado em sua cama de hospital na escuridão. Apenas com uma luz fraca vindo do banheiro iluminando seu quarto. Cerca de seis travesseiros foram apoiados nas costas, e ele não estava dormindo ou assistindo TV. Ele estava sentado lá em sua cama, olhando para a parede, aparentemente perdido em pensamentos.

Estava escuro demais para dar uma boa olhada em Ben, então fui até as janelas. Em vez de ligar a luz fluorescente do teto, intensa e hostil, que fazia a pele parecer cinzenta e as pessoas doentes parecem mais doentes, deixei a luz quente do sol da tarde iluminar o quarto.

– Oi, Ben – eu disse depois que as cortinas estavam abertas. – Meu nome é Gigi. Como você está hoje?

– Pronto para sair daqui e ir para casa. – Sua voz não tinha convicção e seus olhos permaneceram focados na parede. Seus dedos brincavam nervosamente em seu colo.

Ben era um homem idoso, setenta e oito de acordo com o seu prontuário, mas eu teria pensado que era muito mais jovem, a julgar pela sua forma física. Sua estrutura só carregava uma pequena quantidade de peso extra no abdômen, e seus ombros e peito eram largos. Em linha reta, não curvados como a maioria dos pacientes idosos que eu vi. Suas pernas estendiam-se quase ao final da cama. Ele tinha que ser pelo menos sete ou oito centímetros mais alto que meus um metro e setenta e cinco. Ben tinha uma cabeça cheia de cabelos grisalhos escuros, bem penteados e não muito compridos. Sua pele era bronzeada e enrugada, provavelmente de passar anos ao ar livre.

Eu olhei para o prontuário novamente e fiz uma análise rápida para me familiarizar mais com sua estadia em reabilitação.

– Seu quadril está melhor? – Perguntei.

Ele foi atendido com ferimentos graves em todo o lado direito de seu corpo de uma queda. Seu quadril estava tão inchado que ele não conseguiu andar por uma semana. Onde diabos ele tinha caído para causar tal dano?

Ben não respondeu minha pergunta. Ele balançou a cabeça uma vez, mantendo os olhos fixos na parede.

– Há alguma coisa que eu possa dizer ao fisioterapeuta antes de você se encontrar com ela hoje pela última vez? Ela não terá muito o que fazer com você hoje, agora que seu quadril está de volta ao normal, mas eu poderia deixar uma observação para ela, se você quiser.

Silêncio. Seus olhos nem sequer se moveram.

Eu esperei alguns momentos desconfortáveis para ver se ele eventualmente responderia, mas ele permaneceu quieto.

– OK. Então isso significa que eu estou aqui para fazer uma última verificação dos seus sinais vitais e, se você quiser sair da cama, vou levá-lo para uma última caminhada. Você gostaria de dar um passeio?

Eu rezei que a resposta dele fosse não. O pensamento de passos extras me fez sentir náuseas agora que a dor no meu calcanhar estava irradiando através do meu pé e tornozelo.

Ele grunhiu. Não um sim ou um não. Apenas um grunhido em sua parede.

Eu não tinha certeza se sua mente estava em outras coisas ou se era apenas grosseria, mas Ben não estava absolutamente interessado em conversar comigo. Não que eu estivesse me sentindo particularmente tagarela.

– Tudo bem, Ben, aqui está o negócio. A última coisa no mundo que eu quero fazer agora é dar mais passos do que o absolutamente necessário. Eu tenho uma enorme bolha no meu calcanhar com a qual eu tenho andado por aí o dia todo. Uma volta em torno deste andar provavelmente me levará às lágrimas. Que tal eu verificar seus sinais vitais, então nós esquecemos sua caminhada?

Ele não respondeu.

– Eu vou sentar aqui com você e olhar para a parede por trinta minutos. Então eu vou passar para o quarto do seu vizinho. Ok?

Eu não esperei por uma resposta, não que eu tivesse planejado obter uma.

– Ou, se você quiser, pode me contar mais sobre como você conseguiu vir parar no hospital. Se você não fizer isso, bem, eu só vou ficar quieta. Tudo bem?

Mais uma vez, sem resposta.

– Que surpresa? Ele está sem palavras, – eu brinquei. –Realmente, Ben. Você tem que aprender a me deixar falar alguma palavra. É rude dominar toda a conversa. Agora, por favor, fique quieto por um minuto. Toda essa conversa está me dando dor de cabeça para acompanhar meu pé machucado.

Ben ficou em silêncio por um momento, depois virou a cabeça para mim, sorrindo. – E se nós darmos essa caminhada afinal de contas? Estou sentindo a necessidade de esticar minhas pernas. Acho que hoje eu poderia dar mais de uma volta.

O olhar derrotado e dolorido no meu rosto deve ter sido hilário porque seu sorriso transformou-se em um sorriso completo, expondo dentes retos porem amarelados.

– Brincadeira, menina. – Ele riu.

Alívio lavou todo o meu corpo.

– Você é um homem engraçado, Ben. – Eu sentei na cadeira de visitante. – Você sente vontade de me contar a história de como você caiu e aterrissou no hospital? – Perguntei, aproveitando sua piada como minha abertura para conhecer mais sobre Ben Coppersmith.

Ben se mexeu na cama de travesseiros para olhar em minha direção.

– Estava no meu telhado, consertando um vazamento na chaminé. Tentando me equilibrar, o balde de piche e minha espátula ao mesmo tempo. Não sei como, mas quando eu me movi para descer, perdi o equilíbrio e deslizei para baixo e para o lado. Consegui agarrar a calha na minha queda e diminuir o ritmo. Mas ainda cai cerca de dez metros e bati na calçada de cimento, – disse ele. – Ficando velho, garota. Anos atrás, provavelmente teria pousado em meus pés. Agora bem... meu corpo está começando a desmoronar.

Meus olhos se arregalaram. O que diabos ele estava fazendo em um telhado aos setenta e oito anos de idade? Sim, ele parecia estar em boa forma. Eu provavelmente teria pegado ele em meados dos anos sessenta se eu tivesse encontrado ele na rua. Mas apesar de seu físico, os homens idosos não devem subir em telhados.

– Ah... tudo bem, – eu disse. – Você com certeza não se parece com a maioria dos homens de setenta e oito anos que vejo no hospital, Ben. Mas, independentemente disso, ninguém com idade superior, bem, eu não sei... Quarenta e cinco, deveriam estar trepando pelos telhados. Você não tem família ou amigos que poderiam ter feito esse trabalho para você?

– Tenho muitos amigos. Nunca tive muita família. Nenhum deles seria capaz de fazer este trabalho embora. E eu sou muito velho e teimoso para pagar alguma empresa de telhados para sair e consertar algo que sei fazer e que poderia fazer em uma hora.

– Bem, só para salientar, você pode saber como consertar um telhado com vazamento, mas sua localização atual indica que você talvez não pudesse fazer isso sozinho. – Eu respondi. – Por quê seus amigos não poderiam fazer isso por você?

– Eles estão todos em Highland.

– Highland? Você é de lá? – Eu não conhecia nenhuma cidade perto de Spokane chamada Highland, mas talvez fosse fora do estado.

Ben voltou seus olhos castanhos para a parede. – Cemitério Highland. Único amigo que sobrou para ajudar vidas em Montana.

Se Ben não tinha ninguém para ajudá-lo com o telhado furado, quem iria ajudá-lo depois que ele chegasse em casa do hospital? Ou ajudá-lo a chegar em casa do hospital?

– Como você está planejando chegar em casa, Ben?

– Meu carro está em casa. A ambulância me trouxe aqui quando liguei para o 911. Acho que eu vou apenas chamar um táxi pela manhã assim que vocês me libertarem.

– E as roupas? Você tem algo para vestir em casa? – Ele não podia sair em um vestido hospitalar.

– Apenas usarei as que eu vim.

Minhas sobrancelhas se juntaram quando eu fiz uma careta. Fui ao seu armário e inspecionei suas roupas.

– Ben, você não pode usar essas roupas. Elas estão imundas e cobertas de sangue seco!

– Elas estão boas.

– E os vizinhos? Poderia um deles passar pela sua casa e pegar algo limpo para você vestir? Levar você para casa?

– Vivo no interior, o vizinho mais próximo é uma milha de distância. Nunca os conheci.

Nenhuma família, amigos ou vizinhos.

Foda.

Larguei as roupas e fiquei de frente para a janela. Mesmo que eu tivesse acabado de conhecer o homem, a situação de Ben estava realmente me afetando. Eu deveria deixá-lo e continuar com minhas rondas. Os dilemas de roupas e transporte de Ben não eram meus problemas para resolver. Ele tinha um plano embora um pobre, mas era um plano que o levaria para casa. O homem tinha conseguido permanecer vivo por setenta e oito anos; certamente ele poderia administrar uma viagem para voltar para casa do hospital. Eu tinha o suficiente dos meus próprios problemas para me preocupar. Eu não precisava assumir os de Ben também.

Mas algo sobre ele me chamou e eu tive que fazer mais. Ele não tinha ninguém próximo com quem ele pudesse contar e eu sabia que estava se sentindo muito bem. Eu não podia contar com qualquer outra pessoa para estar lá para mim também.

Então, quando eu me virei das janelas em direção a Ben, eu sabia que além dos meus próprios problemas, eu ia empilhar os de Ben Coppersmith.

– Essas são as suas chaves? – Eu perguntei a Ben, acenando para o chaveiro em sua mesa de cabeceira.

– Sim.

– Bom. Me dê e anote o seu endereço – eu disse, esticando minha mão.

Ele piscou duas vezes e balançou a cabeça. – Hã?

–Eu preciso do seu endereço e das chaves para entrar em sua casa. Dessa forma, eu posso ir lá amanhã de manhã e pegar algumas roupas limpas para você usar na volta para casa. Então eu volto aqui para entregar as roupas e levar você para casa.

Com a boca aberta, ele ficou quieto.

– Agora, além de suas chaves, endereço e instruções de como chegar em sua casa, no caso de ser difícil de encontrar, há alguma coisa que eu precise saber antes de ir lá amanhã? Animais de estimação, sistema de alarme? Código do portão? – Eu perguntei, abanando minha mão estendida.

Nós nos encaramos por alguns momentos até que o choque em seu rosto foi substituído por um abrandamento caloroso ao redor dos olhos dele.

– Aprecio você se oferecendo para fazer uma coisa tão legal para mim, garota. Mas acabamos de nos conhecer a quinze minutos atrás. Você tem coisas melhores para fazer do que andar com um velho. Você nem sequer me conhece.

– Você é um serial killer?

– Uh... Não.

– Criminoso de qualquer espécie?

– Não.

– Um idiota?

– Provavelmente fui chamado uma ou duas vezes disso. – Ele sorriu.

– Bem, tudo bem. Você estaria por conta própria se você tivesse dito sim para serial killer ou um criminoso. Mas um idiota eu posso lidar. Apenas tente diminuir isso e vamos ficar bem. Agora, que tal essas chaves?


****


Ben e eu nos tornamos amigos rapidamente.

Desde o dia em que o levei para casa do hospital até o dia em que ele morreu, ele tinha sido meu avô substituto.

Minha mãe tinha finalmente perdeu sua batalha contra o câncer de mama cerca de seis meses antes de eu ter conhecido Ben. Desde criança, sempre tinha sido apenas mamãe e eu. Até o dia que eu descobri que eu estava grávida, mamãe tinha sido meu mundo inteiro. Rowen tinha acabado de fazer um ano e eu estava lutando para cuidar dela enquanto lidava com a perda da minha mãe. Ben entrou na minha vida quando eu mais precisava dele. Quando eu mais me senti sozinha.

Agora Ben foi embora. Essa solidão estava de volta. E embora eu fosse uma pessoa ferozmente independente, eu sentia falta de ter outro adulto por perto para conversar.

Eu dirigi o Explorer para o estacionamento e parei. Eu suguei uma respiração irregular e pisquei as lágrimas.

Ar fresco.

Isso é o que eu precisava para fazer a dor no meu coração ir embora. Então sai, correndo ao longo de uma estrada do condado com as montanhas como pano de fundo.

Nem tanto apreciando o ar fresco como tentando desesperadamente sugá-lo. Com certeza não foi isso o que Ben quis dizer.

Eu odeio a altitude. Não consigo respirar.

Dê a volta agora. Apenas desista. Pode desistir. Ninguém precisa saber.

Eu posso fazer isso. Eu estou quase lá. Eu posso fazer isso.

Não você não pode.

Esses pensamentos estavam se repetindo enquanto eu chegava ao meio da minha corrida.

Essa corrida não era nada parecida com as do meu passado em Spokane. Eu estava infeliz. Minha cabeça estava latejando, meu coração quase saltando do meu peito, meus pulmões estavam em chamas, minhas pernas pareciam como gelatina, e eu estava encharcada de suor. A qualquer momento, eu ia vomitar.

Mas eu tinha que voltar para a casa da fazenda. Caso contrário, eu ia me atrasar para pegar Roe, e por cada minuto que você passava das seis horas, Quail Hollow cobrava dez dólares.

Dez dólares por minuto!

Roubo.

Então eu respirei fundo e engoli, provando sangue, enquanto eu empurrava meus pés para frente.

Você consegue.

Você consegue.

Você consegue.

Eu cantava a cada passo, esperando que minhas afirmações mentais positivas me levassem através dos próximos dois quilômetros e meio.

Eu olhei para o asfalto áspero e decidi que se eu mantivesse minha cabeça erguida, talvez isso fizesse a corrida ir mais fácil. Meu queixo se levantou no momento em que uma enorme caminhonete descia a estrada, vindo em minha direção. Eu passei para o outro lado da estrada, mas continuei correndo, esperando que o motorista me desse um largo espaço e me ultrapassasse.

Mas a caminhonete não era apenas uma caminhonet , era uma caminhonete policial gigante. O monstro marrom tinha um rack de luzes em cima da cabine, além de uma daquelas grades protetoras de para-choque ameaçadoras.

O emblema do xerife estava exibido com orgulho na porta do lado do motorista. E assim era o xerife no banco do motorista.

Po...

Quando parei, Jess parou ao meu lado. Ele começou a falar, mas o alto rugido do motor diesel abafou suas palavras.

– O quê? – Eu gritei assim que Jess desligou o motor de seu caminhão.

Ele se inclinou para fora da janela do lado do motorista. Seus olhos estavam cobertos por óculos de sol estilo aviador.

– Eu disse que você não deveria estar correndo aqui. É uma coisa idiota para fazer.

Será que esse cara continuava ficando melhor e mais bonito, ou o que?

Minha frequência cardíaca já estava bem acima do limite, com a intimidação do xerife, estava agora trovejando. Havia uma boa chance de que corresse para a casa da fazenda sem mim.

– Como é que correr em plena luz do dia no tempo quente é uma 'coisa idiota para se fazer’.

Eu ofeguei, jogando minhas mãos para cima em aspas.

– Essas antigas estradas do condado não recebem muito tráfego. As pessoas não prestam atenção para onde elas estão dirigindo. Você poderia ser atingida e ninguém teria a mínima ideia de por onde começar a procurar.

– Bem, obrigado pelo aviso, xerife, vou levar isso em consideração.

– Não precisa ser petulante sobre isso. Cristo, eu sinto muito por ter parado.

– Não tanto quanto eu. Então, por favor, não me deixe segurar você. Sinta-se à vontade para me deixar aqui na estrada e compartilhar sua atitude ensolarada com outros cidadãos na Cidade de Jamison. Eu não quero que você desperdice tudo comigo.

Ele apertou sua mandíbula e mesmo que eu não pudesse ver seus olhos por atrás dos óculos, eu sabia que ele estava me encarando.

– Falar desse modo com um policial, não é inteligente.

– O que você vai fazer, me multar por falar? Montana não respeita toda essa coisa de liberdade de expressão?

– Que tal eu te multar por estar do lado errado da estrada? Você deveria estar correndo aqui à direita.

– Bem. Me multe. Qual o valor da multa? Cinquenta centavos? Eu vou deixar na delegacia quando eu for trabalhar amanhã. Eu devo ser capaz de encontrar algumas moedas perdidas nas almofadas do meu sofá.

– Fique aí – ele ordenou, apontando para os meus pés. Então ele voltou para a cabine de seu caminhão e tirou um bloco de papel.

Este idiota seriamente vai me multar por correr no lado errado de uma estrada basicamente deserta?

Sim. Sim, ele vai.

Dois minutos depois, eu tinha um papel amarelo na mão com o meu nome rabiscado em cima.

Obviamente, ele aprendeu meu nome em algum momento do último dia, o que me deixou nervosa, ou ele perguntou sobre mim ou alguém na cidade estava falando de mim.

Abaixo do meu nome estava a boa quantia e não eram cinquenta centavos. Era cem dólares. As taxas atrasadas da creche não eram roubo. Isso era.

– Você só pode estar brincando comigo.

– O prazo para pagar é em dez dias. Os recursos devem ser apresentados antes do limite de dez dias. – Ele era só negócios agora que me deu a multa.

Antes que eu pudesse dispensá-lo, ele se inclinou um pouco mais para fora do caminhão. – Oh, e a palavra é porra. Não é po.

– Eu tenho uma criança de quatro anos. No meu mundo, a palavra é po. Estou livre para ir?

Ele não respondeu. Ele apenas se debruçou de volta em seu caminhão, trouxe de volta à vida e acelerou na estrada.

Eu não precisava de frases ou afirmações mentais positivas para o restante da minha corrida. Alimentada pela adrenalina e raiva, eu corri os dois quilômetros e meio de volta em tempo recorde, chegando a Quail Hollow quinze minutos antes de fechar.


****


– Eu preciso pagar uma multa – eu disse a um policial na delegacia do xerife.

– Gigi?

Eu me virei para ver Milo e Sam caminhando na minha direção.

Acenei. – Oi, Milo. Sam.

– O que você está fazendo aqui? – Sam perguntou.

Peguei o meu papel amarelo – correndo – e segurei para eles lerem.

Milo apenas murmurou – Uau –, enquanto Sam começou a rir.

– O que? O que é engraçado?

– Multa falsa, Gigi. Não há nenhuma lei indicando em qual lado da estrada você deve correr. O xerife estava brincando com você.

– Você está brincando.

Ele balançou a cabeça. – Desperdiçou uma viagem para a delegacia. Mas pelo menos você pode economizar cem dólares.

– Ha! – Milo riu. – Você teve um encontro enquanto fazia uma corrida. Um encontro com a lei? Enquanto você estava correndo? – Ele continuou rindo.

Sam achou que o trocadilho de Milo era hilário e ele também começou a rir.

Eu, no entanto, não achei engraçado. Nem um pouco.


Capítulo Três


A varanda circular era um dos atributos favoritos da casa da fazenda. Como eu fiz nas últimas noites, eu coloquei Rowen na cama e saí para o balanço da varanda de madeira para beber algumas taças de vinho enquanto observava o pôr do sol atrás das colinas.

Eu tenho mantido uma rotina constante para as atividades noturnas e a hora de dormir de Roe desde nossa mudança, na esperança de facilitar sua adaptação na antiga casa de Ben.

Embora Roe amasse sua mãe absolutamente, eu sempre vinha em segundo lugar atrás de Ben. Isso nunca me incomodou porque eu estava mais do que disposta a ficar em segundo plano em seu relacionamento para que ele pudesse sentir toda a força do amor incondicional de Rowen. Ela estava sentindo falta dele, mas se tivéssemos uma boa rotina noturna, ela poderia não ficar muito triste pensando em como estávamos morando em sua casa porque ele estava morto.

As noites ainda estavam quentes, mas eu estava com um cardigã cinza claro que pendia frouxamente por cima da minha blusa branca e shorts jeans desfiados. Eu adorava esse suéter com seus bolsos enormes e mangas compridas que caíam quase na ponta dos meus dedos. Era aconchegante e macio. Mas principalmente eu adorava porque tinha sido da minha mãe.

Enquanto eu balançava no balanço, pensava no que o amanhã reservaria para mim.

Tinha sido uma longa semana no hospital. Não só tinha sido a minha primeira semana, que significava que meu cérebro estava trabalhando horas extras para aprender os protocolos do hospital, mas a presença do desconhecido mantinha um fluxo constante de visitantes no balcão do pronto-socorro. As pessoas estavam constantemente parando para verificar seu estado e especular com Maisy sobre quem poderia ter lhe dado a surra.

A maioria dos nossos visitantes era do escritório do xerife e eu ficava tensa toda vez que via um camisa marrom. Eu não tinha visto Jess desde o incidente da multa, mas as chances de ele entrar no hospital amanhã eram enormes.

Hoje à noite, as enfermeiras estavam parando os remédios que mantinham o desconhecido em coma e ele provavelmente acordaria em alguma hora de manhã. Everett faria um exame completo e, em seguida, um oficial tomaria sua declaração.

Eu esperava estar arrastando meus pés para casa amanhã, mais do que pronta para um fim de semana tranquilo na fazenda com minha filha.

Empurrando os pensamentos de lado, respirei fundo e afundei ainda mais no balanço. Era hora de fazer algo que vinha adiando desde que cheguei a Prescott. Eu precisava entrar em contato com o zelador da fazenda.

No bolso do cardigã, tirei duas cartas. Ambas eram de Ben, uma endereçada para mim e outra para – Brick.

Tomando uma respiração profunda e fortificante, eu tirei minha carta enrugada de seu envelope batido para lê-la novamente. A carta de Ben sempre me deixava com um sentimento de vazio. Por que eu continuava lendo era meio que um mistério. Isso me deixava triste. Me fazia chorar. Isso me fazia sentir tanto a falta dele que meus ossos doíam. A leitura era uma tortura auto infligida ao meu coração, mas eu fiz isso inúmeras vezes nestas últimas seis semanas.

Mas esta noite não seria.

Eu leria uma última vez e depois guardaria em uma caixa de lembranças de Ben armazenada no sótão, guardando no caso de Rowen querer lê-la algum dia.

O advogado de Ben me deu as duas cartas após a leitura de seu testamento e pediu que eu entregasse a carta de Brick na minha chegada em Montana. Mas eu estava adiando. Principalmente porque eu estava tão ocupada com a mudança e na primeira semana de trabalho, mas em parte porque era uma das últimas coisas que Ben me pediu para fazer. Quanto mais eu adiava, mais tempo eu podia fingir que ele não foi verdadeiramente embora.

Meus olhos percorreram os rabiscos ásperos de Ben, lacrimejando enquanto eu lia a última linha.

Secando meus olhos marejados, peguei meu telefone. Era hora de enviar um texto para Brick. Não mais adiando o inevitável. Ben se foi e ele não voltaria. Eu precisava fazer seu desejo final.

Esse cara Brick cuidou da fazenda por quase duas décadas. Ele certamente já ouviu dizer que eu estava morando na fazenda. Uma coisa que eu aprendi nesta semana, notícias em Prescott viajavam rápido.

Eu: Oi. Meu nome é Georgia Ellars. O advogado de Ben Coppersmith me pediu para entrar em contato com você. Eu tenho algumas coisas do Ben que ele queria que você tivesse. Você estaria disponível para me encontrar na fazenda este fim de semana ou na próxima semana?

Sua resposta foi quase imediata.

Brick: Estarei aí em 5.

Esta noite? Era um pouco tarde, quase nove horas, e ele não perguntou se estava tudo bem se ele aparecesse. Mas eu poderia muito bem acabar com isso. Não deve demorar muito e Roe estaria adormecida. Eu realmente não a queria por perto dessa conversa.

Ela estava fingindo obedientemente que a morte de Ben não tinha acontecido, agindo como se estivéssemos em umas férias divertidas e quando tudo acabasse, a vida voltaria a ser como antes.

Ela teve um colapso total no dia em que eu lhe contei que ele tinha morrido, mas desde então, ela tinha fechado essa parte do mundo dela. Ela precisava de tempo para processá-lo em sua cabeça. Eu entendi isso, então eu não pressionei. Mas já fazia dois meses e eu estava ficando preocupada que nós estávamos à beira de um colapso iminente quando finalmente se instalar em seu coração que ele foi embora.

Talvez eu deva tentar falar com ela neste fim de semana.

Eu me levantei e entrei. Cinco minutos me deram tempo suficiente para passar um pouco de brilho labial, para dar um nó novamente no meu cabelo e encher minha taça de vinho.

Eu estava passando pela porta da frente, vinho na mão, quando o caminhão do xerife chegou com ninguém menos que o próprio xerife.

Apenas o que eu não precisava agora. Um confronto com o estúpido Jess pouco antes do meu encontro necessário com Brick.

Minha respiração engatou quando ele deu passos largos em minha direção. Sua calça jeans acentuava suas longas pernas musculosas e aquela camiseta branca era apenas um pouquinho apertada em seu peito. Seu rosto tinha um pouco de barba no queixo do dia.

Ele parecia bem, claro.

Droga.

Por que ele tem que ser tão perfeito? Não poderia ter ficado mais feio nos últimos dias?

Mas eu não ia deixar ele me perturbar. Ele era apenas um cara gostoso e eu precisava manter a calma e tirá-lo daqui. Porque apesar de ele ser gostoso, ele era um idiota completo.

Eu não queria discutir verbalmente com ele quando Brick aparecesse. Eu precisava causar uma boa impressão para que ele concordasse em pegar os cinquenta mil dólares de Ben.

Jess parou na parte inferior das escadas e cruzou os braços sobre o peito, puxando sua camiseta bem no bíceps. Minha respiração engatou novamente com a visão de seus braços volumosos e eu forcei meus olhos longe de seus músculos volumosos. Sua expressão carrancuda foi dirigida em minha direção.

Um sorriso o mataria?

Foi o seu olhar que mexeu por todo meu interior. Isso e as duas taças e meio de vinho que eu tinha bebido.

– Boa noite, xerife. Existe algo que eu possa ajudá-lo? Está aqui para me dar outra multa? Eu estava na mercearia mais cedo. Talvez eu estivesse empurrando meu carrinho pelo lado errado do corredor?

– Estou aqui, senhorita Ellars, porque você pediu para me encontrar.

Do que ele estava falando? – Estou certa de que teria me lembrado de pedir para me encontrar com você. Veja, Sr. Cleary, eu não sou sua maior fã. E eu não tenho o hábito de convidar pessoas que eu não gosto em minha casa. Nunca.

Ele estreitou os olhos e abriu a boca para falar, mas eu levantei a mão, a palma para fora e falei ao invés dele.

– Já entendi que, por algum motivo, você não gosta de mim. Bem. Tanto faz. Terei todo o prazer de evitá-lo para o resto da minha vida. Então, que tal você declarar gentilmente o seu propósito de destruir minha noite e seguir seu caminho? Eu estou esperando alguém a qualquer momento e eu gostaria de acabar com isso antes que ele chegue.

Ele começou a subir as escadas, vindo direto para o meu espaço quando chegou ao patamar. Quando ele levantou seu olhar para mim, estiquei meu pescoço para observar seu rosto.

Calor irradiava de seu peito e ele se elevou sobre mim em meus pés descalços. Ele tinha que ter pelo menos um metro e noventa. Talvez um metro e noventa e cinco, ainda maior do que eu tinha originalmente notado.

Seu corpo era como um ímã para o meu. Seu peito apertado, apenas um par de centímetros de distância do meu rosto me tentou a inclinar-me um pouco e passar os dedos pela camiseta dele. Sentir cada músculo se elevar e cair enquanto ele respira.

Eu estava completamente atraída por ele e isso estava me deixando tonta. Eu nem sabia como isso era possível, dada a sua personalidade. Ele era um idiota. Mas infelizmente, ele era um idiota que fez minhas mãos coçarem para tocar.

– Você me mandou uma mensagem, Sra. Ellars – disse ele, forçando meus pensamentos longe de tocá-lo. – Tem algo para mim de Ben? – Ele acenou com o celular na minha cara. – Eu não sei o quanto desse vinho você bebeu, mas se você não consegue se lembrar de me enviar um texto a menos de dez minutos atrás, talvez você deva encerrar a noite. Obtenha ajuda profissional.

Ele acabou de dizer que eu mandei uma mensagem para ele? Ele era Brick?

Sim. Sim, ele era.

Eu esperava alguém mais velho, alguém mais próximo da idade de Ben. Alguém que era realmente bom. Fiquei sem palavras, tão surpresa que não respondi à pergunta dele. Eu apenas fiquei lá piscando, com minha boca aberta.

Finalmente, meu cérebro reativou.

– Você é Brick? Eu pensei que seu nome era Jess Cleary.

Ele não mascarou o aborrecimento em seu rosto e revirou os olhos.

– É. E sim, eu sou Brick. Apelido de futebol no ensino médio. Me bater era como bater em uma parede de tijolos. Entende?

– Bem... não. Eu não assisto futebol, – eu disse, dando um passo para trás. – Você é o homem que cuidou da fazenda para Ben? Por dezenove anos?

– Sim. Agora, que tal você entregar o que quer que seja que Ben deixou para mim e eu posso seguir a porra do meu caminho? Então vamos seguir em frente com você me evitando. Gostei do som disso.

Estúpido!

– Certo – eu disse.

Como Ben poderia dizer que esse cara era um bom homem? Obviamente ele havia julgado mal Jess, o que era estranho porque Ben tinha sido um excelente juiz de caráter. E ele pensou que eu deveria confiar em Jess? Esse cara que tinha sido nada além de rude e ríspido para mim desde o momento em que coloquei os olhos nele? Uh... não.

Infelizmente, eu precisava dar a ele a carta e o dinheiro do Ben, então eu tinha que engolir e ser legal por alguns minutos.

– Você gostaria de se sentar? Posso pegar algo para você beber? – Perguntei, gesticulando em direção ao balanço.

– Não. – Ele se inclinou sobre a grade da varanda e cruzou novamente os braços. Enquanto eu me sentei no balanço, seus olhos se estreitaram em um olhar de desaprovação. Como se ele absolutamente não queria minha bunda em seu balanço.

Seja legal.

Seja legal.

Seja legal.

Eu silenciosamente cantava enquanto respirava fundo.

– Desculpe pela confusão quando você chegou aqui. Ben só se referiu a você como Brick. Ele na verdade nunca mencionou você para mim pessoalmente. Apenas em uma carta. Eu não conhecia Prescott, esta casa ou sabia que você existia até depois que ele morreu seis semanas atrás, – eu divaguei.

A postura de Jess não mudou e ele não reconheceu minhas desculpas. Ele nem sequer abrandou o olhar.

Ser legal com um idiota era muito, muito, muito difícil.

– Tanto faz. Continuando, – eu disse, balançando a cabeça.

Juntei as cartas e meu talão de cheques do banco do balanço.

– Ben deixou cinquenta mil dólares como pagamento pela manutenção da casa da fazenda estes anos. Eu tenho as receitas de sua propriedade na minha conta, e se estiver tudo bem para você, vou te fazer um cheque pessoal? Ou se preferir um cheque administrativo, posso ir ao banco amanhã e pegar um.

Jess alisou o corrimão. – Disse ao velho repetidamente que não mantive um olho em sua casa por dinheiro. Fiz porque era dele e ele era bom para mim. Fique com o dinheiro.

Ele começou a descer a varanda, mas depois de dois longos passos, ele olhou por cima do ombro e disse: – Ame esta casa. Trabalhei duro para fazer algo excelente. Me faz um favor? Não estrague tudo.

Eita.

Isso não foi apenas rude ou ríspido. Isso foi simplesmente maldade.

Claro, eu tinha sido uma espertinha para ele durante as nossas interações anteriores, mas não pensei que isso lhe daria o direito de ser tão maldoso. Ele nem me conhecia e sugeriu que eu destruiria a fazenda de Ben, algo que eu estava aprendendo a amar, era doloroso.

Doeu o suficiente para que eu instantaneamente decidisse que faria o que fosse necessário para tirar Jess –Brick – Cleary fora da minha propriedade de uma vez por todas. Se eu tivesse que implorar para ele pegar o dinheiro de Ben, que assim seja. Porque uma vez que o cheque fosse descontado, eu nunca mais falaria com ele.

– Por favor, espere! – Eu pulei do balanço da varanda. – Dar-lhe esse dinheiro era importante para Ben. Somente... Antes de morrer, ele escreveu uma carta para cada um de nós. Por favor, leia antes de você dizer não. Por favor?

Eu estendi as cartas para suas costas.

Jess virou e puxou as cartas do meu aperto, caminhando para o balanço antes de abrir sua carta.

– Eu vou apenas... dar-lhe algum tempo para si mesmo, – eu disse. – Apenas entre quando você tiver terminado.

– Fique – ele ordenou, sem olhar para cima.

Eu não discuti. Eu peguei minha taça de vinho e fiquei na grade da varanda, mirando meus olhos de volta ao pôr do sol.

Isso era um progresso. Pelo menos ele estava lendo as cartas. Talvez eu não precisasse persuadi-lo a pegar o dinheiro. Talvez o que quer que Ben tenha colocado em sua carta fosse convincente.

Esvaziei minha taça de vinho e coloquei no corrimão, me concentrando nas cores brilhantes do horizonte até que Jess pigarreou atrás de mim.

– Eu vou pegar o cheque.

– OK. Ótimo – Eu respirei, meu corpo relaxando.

Eu assinei o cheque, que ele colocou no bolso de trás da calça jeans junto com a carta, e voltou para o pôr do sol. Ele saiu sem outra palavra.

Eu não assisti ele ir embora. Eu não queria dar a Jess Cleary mais do meu tempo. Eu tinha feito o que Ben precisava que eu fizesse e agora Jess tinha seu dinheiro. E eu nunca teria que lidar com o xerife novamente.

Aliviada por ter passado pelo confronto, vi o sol se pôr, imaginando se Ben já tinha feito o mesmo.

Eu sorri. Ele provavelmente passou muitas noites neste mesmo lugar. Isso me fez sentir bem, tendo essa conexão com o Ben. Um vínculo que sempre teríamos através de sua fazenda.


Jess


Enquanto dirigia para casa, tudo em que conseguia pensar era na carta no bolso de trás.


Pegue o dinheiro, Brick. Não faça Gigi brigar com você. Ela vai fazer isso e não vai parar porque eu pedi a ela para não desistir. Ela é uma mulher teimosa.

Orgulhoso de ter te conhecido, garoto. Você se tornou um bom homem.

Cuide das minhas garotas. Deixe-as cuidar de você. Você não vai se arrepender.

Ben


Ao longo dos anos, Ben fazia questão de me ligar uma vez por mês. Nós não conversávamos por muito tempo e as conversas nunca foram sérias. Geralmente apenas checando e Ben perguntando se eu precisava de dinheiro para qualquer um dos trabalhos que eu estava fazendo na fazenda. Algo que eu sempre recusei.

Eu teria feito praticamente qualquer coisa por Ben Coppersmith. Cuidar da fazenda era o mínimo que eu poderia fazer para retribuir a gentileza que ele tinha me mostrado quando eu era uma criança. E depois de dezenove anos, aquela fazenda parecia mais a minha casa do que a casa onde eu realmente morava.

Se eu precisasse descontrair ou ter alguma perspectiva, é para lá que eu ia.

Três anos atrás, notei uma mudança nos telefonemas mensais de Ben. Ele começou a compartilhar coisas sobre sua vida ao invés de apenas me perguntar sobre a minha. E tudo o que Ben tinha para contar era sobre Georgia Ellars e sua filha. Eu não sabia muito sobre ela. Ben não compartilhou sobre seu passado. Mas ele me contou pequenas coisas. O que Gigi fez para o jantar na noite anterior. O que Rowen disse que o fez cair na gargalhada.

Eu estava feliz por Ben. Que ele não estava sozinho lá em Washington.

Eu gostei até o dia em que Ben me ligou seis meses atrás e me pediu para ter certeza que a fazenda estava em boas condições para Gigi morar lá.

Gigi acabou ficando com o dinheiro de Ben. Sua propriedade. Ela estava enganando um homem velho por causa de suas posses.

Eu mantive minhas opiniões para mim mesmo, na esperança de que Ben nunca iria ver suas verdadeiras cores. Que ele poderia viver seus últimos anos pensando que ela era a filha que ele nunca teve. Ben tinha suportado tristeza suficiente. Ele merecia alguns anos de felicidade em sua velhice.

Mesmo que tudo tenha sido um espetáculo de uma mulher gananciosa e exploradora de ouro.

Ben estava se deteriorando, e todos os dias eu conferia o obituário de Spokane. No dia que eu descobri que ele morreu, eu bebi uma garrafa inteira de uísque e desmaiei no balanço da fazenda.

Então eu observei e esperei.

Com Ben fora, eu sabia que aquela mulher logo chegaria para reivindicar o que não era dela.

E como de costume, eu estava certo.

Levou apenas duas semanas para começar a fazer ligações por toda Prescott, organizando para o seu próximo movimento. Duas semanas depois disso, ela entrou na cidade.

Eu sabia que ela tinha passado a semana passada se mudando para a casa da fazenda. Eu sabia que esta era sua primeira semana no hospital. Não havia muito que acontecesse em Prescott que o xerife não ficava ciente.

Mas o que eu não sabia era que ela estava sentada em um banquinho no pronto-socorro, limpando a mão de Milo, ela era a mulher mais linda que eu já tinha visto.

Ela tinha a verdadeira beleza, como nada que eu já tivesse visto antes. Algo que trazia homens como eu de joelhos. Algo que ia direto para o meu pau e desligava o meu cérebro.

Não havia nada de artificial nela. Sem bronzeamento artificial ou peitos falsos. Ela era perfeita sem toda a maquiagem pesada e cabelo escovado. E ela claramente comia mais do que alface e pílulas dietéticas. Não que ela fosse gorda. Ela tinha um corpo em forma com músculos tonificados em seus braços e pernas, mas curvas suaves ao redor de seus seios e quadris.

Um olhar para a Geórgia e eu não tinha certeza de que eu já vi turistas no estilo de Hollywood que normalmente levava para minha cama. Todo o dinheiro do mundo não poderia torná-las tão deslumbrante como a mulher vestida com um simples uniforme azul.

Ela tinha olhos azuis profundos da cor das safiras e cabelo castanho chocolate que caía em ondas longas e soltas até a cintura. Mas eram suas sardas que faziam sua beleza se destacar. Elas estavam espalhadas por toda a ponte do nariz e maçãs do rosto.

Verdadeira beleza.

E perigosa para caralho.

Eu não precisava me atrair por sua beleza e deixá-la me guiar pelas minhas bolas. Eu nunca poderia perdoar o fato de que ela tinha serpenteado seu caminho na vida de Ben para manipular seu dinheiro e roubar a fazenda debaixo do meu nariz.

Então eu fiz a única coisa que consegui pensar para que ela ficasse bem longe de mim. Eu a tratava como merda.

E agora, dirigindo para casa com essa carta e cheque no meu bolso, percebi o

completo e total idiota que eu tinha sido.

Eu me orgulhava da minha capacidade de ler as pessoas. Isso me fez um bom policial. Mas nunca na minha vida eu havia lido alguém tão incrivelmente errado.

Georgia não havia manipulado Ben. Cristo, ela nem sabia que Ben tinha uma casa em Prescott. Além disso, ela poderia facilmente ter ignorado o pedido de Ben para me pagar os cinquenta mil dólares e apenas ter mantido para ela mesma. Não foi como eu jamais teria imaginado.

– Você é um maldito babaca, Cleary – eu murmurei para o para-brisa.

Eu precisava consertar isso. Eu devia corrigir esse erro por ela e por Ben.

Eu mostraria a ela que eu era de fato o bom homem que Ben declarou.


Capítulo Quatro


Sentada atrás do balcão do pronto socorro, estudei a ficha de evolução do paciente em um iPad. Jamison Vale tinha conseguido fazer a transição para fichas eletrônicas, o que era impressionante para um hospital tão pequeno. O formato do arquivo era bastante simples, mas eu queria ter certeza que eu estava bem preparada para inserir sinais vitais, ingestão de medicamentos e outras notas sem Maisy do meu lado na próxima semana.

Minha chefe tinha parado pela primeira vez esta manhã e perguntou se eu estava pronta para começar meu rodízio por outras unidades. Vendo como o desconhecido e Milo foram meus únicos pacientes no pronto socorro, eu estava mais do que pronta. Com a tagarelice constante de Maisy e a excitação em torno do desconhecido, eu não estava entediada nesses últimos dias, mas estava pronta para ver mais pacientes.

Georgia Rae Ellars não foi feita para o trabalho de escritório.

Eu estava tão focada em meus estudos, o som de algo batendo no balcão me fez suspirar e pular.

Eu olhei para o azul gelo.

Jess.

Ainda não eram nove horas da manhã, e eu estava apenas na minha segunda xícara de café. Eu não tinha a energia ou níveis suficientes de cafeína no meu corpo para lidar com ele.

– Desculpa. Pensei que você tivesse me ouvido chegar – ele roncou.

Dei de ombros.

– Aqui. – Ele deslizou um copo de café de papel sobre o balcão.

Era um copo alto e branco com uma embalagem de café de papelão, tampa preta e dois canudos vermelhos. Em um lado, escrito em letra verde e uma caligrafia floreada, era um duplo com café com leite Irlandês.

Meu favorito.

Eu só tinha esbanjado uma vez esta semana, mas eu sabia que aquele rabisco verde e caligrafia era do café no centro da cidade, o Maple's.

Jess me trouxe meu café favorito.

O inferno tinha congelado na noite passada enquanto eu estava dormindo?

Porque é isso que eu imaginei que seria necessário para Jess Cleary falar de bom grado comigo, quanto mais me comprar um café. Antes que eu pudesse perguntar, Maisy veio correndo do corredor.

– Ei, Jess!

– Maze – disse ele antes de tomar a bebida de seu próprio copo.

O dele foi rotulado de preto. Não é de surpreender que Jess era o tipo de homem que foi para uma cafeteria onde você poderia comprar qualquer quantidade de deliciosas e complicadas misturas com cafeína e sair com um simples café preto.

– Você está aqui para interrogar o desconhecido? – Maisy perguntou.

– Sim. Encontro Sam aqui daqui a pouco. Pensei em vir cedo, trazer café para Georgia. Visitar ela antes de pegarmos o sinal de Carlson para subir as escadas.

– Doce – disse ela antes de desaparecer de volta no corredor. Para onde ela estava indo eu não tinha nenhuma pista. Ela deveria estar sentada comigo, revendo o gráfico do prontuário do paciente. Mas agora que ela me abandonou, eu estava presa aqui com um Jess que queria –visitar –.

– O café está ficando frio, Georgia. – Ele se inclinou sobre o balcão com os antebraços bronzeados e sinuosos. Antebraços que eu realmente queria tocar, com veias que eu realmente queria traçar enquanto serpenteavam pelo músculo.

Antebraços que eu não deveria estar pensando.

Eu precisava me concentrar. Minha missão? Tirar Jess do meu balcão de emergência.

– Você envenenou isso, xerife? – Eu perguntei, pegando meu copo.

Ele riu, mas não respondeu.

O xerife provavelmente não iria me envenenar e mais cafeína era uma necessidade, então eu tomei um gole saudável.

Felicidade.

– Obrigada – eu murmurei.

Eu não tinha vontade de me sentir em dívida com Jess, mas também não queria ser rude. Normalmente eu não era uma pessoa rude. Algo sobre ele trouxe isso em mim.

– Então, por que o café, xerife? E como você sabia do que eu gostava? – Minha curiosidade foi despertada.

Ele sorriu e tomou um gole de seu próprio copo. O que ele não fez foi me responder.

– Você percebe que um sorriso não é uma resposta.

Ainda sem resposta.

– Sério, o que está acontecendo?

Ele suspirou. Pela primeira vez, seus lindos olhos não estavam me encarando. Eles eram amáveis e gentis. Ele poderia me derreter com aqueles olhos.

Droga.

– Eu fiz algumas suposições erradas sobre o seu relacionamento com Ben. Fui um idiota esta semana. Desculpa.

Sim. O inferno havia congelado. Por que não estava no noticiário?

Em menos de vinte e quatro horas, Jess mudara de personalidade. Ele tinha sido totalmente malvado para mim na noite passada, e agora ele estava sendo legal, comprando café e pedindo desculpas.

Eu gostei de sua admissão, mas eu não ia baixar a minha guarda. Um pedido de desculpas não era o suficiente para apagar a maneira como ele me tratou. Por me fazer pensar que ele era tão maravilhoso como todos declaravam que ele era.

– Você se importaria de compartilhar um pouco dessas suposições? Estou interessada em saber que tipo de relacionamento você pensava que eu tinha com um homem de oitenta e um anos.

Sua resposta foi um largo sorriso cheio de perfeitos dentes retos e brancos.

Po.

Durante nossos encontros anteriores e bastante desagradáveis, eu não tinha visto Jess sorrir. Até agora, eu só tinha obtido carrancas, olhares e sorrisos. Mas maldição se o sorriso dele não era perfeito.

Calafrios surgiram em toda a minha pele. Minhas bochechas coraram e houve uma latejante sensação entre minhas coxas. Minha temperatura interna disparou algumas centenas de graus.

Eu estava quente para o xerife da cidade. Eu estava quente para um homem que eu absolutamente não gostava nem um pouco.

Ele não perdeu a minha reação e seu sorriso vacilou. Mas em vez de assumir a carranca padrão como de costume quando ele me pegou olhando, seu olhar aqueceu. Ele estava quente para mim também?

Ele segurou meus olhos com seu intenso olhar, seus olhos azul-gelo aquecendo. Então, eles se escureciam quando ele estava excitado.

O ar ao nosso redor estava carregado, quente e abafado. Eu praticamente podia ver as faíscas crepitando entre nós. E o resto do mundo desapareceu. Tudo o que eu pude sentir foi aquela atração magnética.

Meu coração estava batendo tão alto que eu tinha certeza de que ele podia ouvir. Eu segurei o ar nos meus pulmões para que ele não me visse respirar com dificuldade.

Isso era ruim.

Eu tirei meus olhos dos dele e concentrei toda a minha atenção no meu copo de café.

Eu precisava ficar longe de Jess Cleary. Nunca na minha vida eu senti uma atração tão intensa por um homem. Sua gostosura faz coisas comigo. Isso fez meu cérebro falhar e meu corpo querer coisas que não desejava em anos. E eu precisava do meu cérebro completamente envolvido quando ele estava por perto. Eu não gostava dele, mas o mais importante, eu não confiava nele. Eu não poderia ser estúpida o suficiente e me apaixonar por seu rosto perfeitamente bonito e corpo incrivelmente esculpido.

Nate me deslumbrou com sua aparência. E além de me dar Rowen, me arrependi de tudo o mais sobre a minha decisão de estar com ele.

Enquanto lutava para controlar meus hormônios, senti os olhos de Jess em mim. Felizmente eu fui salva de ter que encontrá-los novamente quando o som de passos chegou aos meus ouvidos.

Sam estava vindo em nossa direção.

– Bom dia, Gigi – ele disse.

Eu sorri e mexi meus dedos em um pequeno aceno antes de tomar outro longo gole de meu café.

Sam sorriu de volta e olhou para Jess. – Carlson me ligou há alguns minutos e quer que nós interroguemos o desconhecido agora. Ele está acordado e lúcido, mas daqui a uma hora, Carlson vai lhe dar mais analgésicos que podem derrubá-lo pelo resto do dia.

Jess assentiu e Sam entendeu a dica para seguir em frente. Mas antes que Jess saísse da mesa, ele sorriu, dizendo: – Volto daqui a pouco, Sardenta. Aproveite seu café.

Sardenta? Ele me apelidou com um nome de animal de estimação?

Ah não. Isso foi muito, muito, muito ruim.

Eu não tinha ideia de quanto tempo demorava para a polícia questionar a vítima de um intenso ato de violência. Provavelmente não muito tempo, talvez apenas uma hora. Eu precisava reativar meu cérebro, rápido e criar um plano de ação para lidar com esse novo e confuso Jess. Se ele estava tirando onda comigo, tentando brincar comigo usando sua extrema gostosura, eu precisava estar preparada.

Eu estava bem treinada em construir muros ao redor do meu coração. Deixá-lo ferido e desprotegido não era uma opção com tanta perda e desgosto como eu tinha experimentado na minha vida. Eu não podia arriscar deixar alguém entrar e me destruir. Rowen dependia de mim. Ela precisava dessas paredes tanto quanto eu.

Então eu tive uma hora. Uma hora para preparar um novo tijolo e argamassa.


****


Uma hora e meia depois, Jess e Sam desceram as escadas do segundo andar, onde o desconhecido estava sendo tratado. Ambos os homens pareciam perplexos. Sam estava falando baixinho para Jess enquanto eles contornaram a curva das escadas e se dirigiram para Maisy e eu.

Maisy havia retornado de suas andanças aleatórias não muito depois de Jess ter saído. Quando eu perguntei a ela onde ela tinha ido, ela deu de ombros e sorriu.

As pessoas de Montana geralmente respondem a perguntas sem realmente falar.

– Então o que ele disse? Ele sabe quem o atacou? – Maisy atacou Jess e Sam assim que estavam a menos de três metros do balcão.

Maisy tinha que perguntar porque ela não podia ficar sem saber o que aconteceu, era apenas quem ela era. Eu presumi que eles lhe ignorariam de forma educada. Certamente, quaisquer detalhes sobre um crime seriam mantidos muito quieto.

– O nome dele é Alex Benson – disse Sam.

Então, novamente, esta é Prescott. Não é de admirar que as notícias corram tão rápido aqui.

– Ele tem viajado por Montana nas últimas duas semanas para fazer caminhadas pelos parques nacionais. Passou sua primeira semana em Glacier e estava a caminho de Yellowstone. Foi acampar fora de seu carro no rio.

Pobre desconhecido. Ele estava de férias e foi espancado até quase morrer.

– Segunda à noite depois do jantar no Dollar, ele calcula que era por volta das oito ou oito e meia, um cara pulou nele no caminho para o banheiro. Arrastou-o para o beco. O atacante começou a espancá-lo, depois encontrou uma garrafa quebrada e esfaqueou-o na perna. Ele apagou depois disso. Não se lembra muito do atacante dele. Só que ele estava usando um chapéu, óculos escuros e um moletom cinza. Ele pensou que era tudo pelos oitenta dólares em seu bolso.

Maisy murmurou: – Huh. – Fiquei quieta.

– Ele tem buracos em sua história – disse Jess. – Nós dois achamos que ele sabe mais do que ele está deixando transparecer. Talvez ele esteja mentindo completamente. Uma surra daquela gravidade teria levado pelo menos cinco minutos. Talvez dez. E ainda estava claro às oito horas. Parece estranho que não houve testemunhas quando o centro de Prescott está cheio de pessoas durante o verão.

– Sim. E o Silver Dollar não é tão grande assim – disse Maisy. – Se ele foi atacado perto do banheiro e arrastado para fora, ele provavelmente teria berrado ou gritado por ajuda. Em um lugar tão pequeno, alguém o teria ouvido. Certo?

– Certo – disse Jess. – Meu palpite é que ele estava fazendo algo ilegal e não quis nos contar. Nós não pressionamos muito, porque ele tem uma semana ou mais internado aqui antes que ele possa deixar o hospital. Nós vamos deixá-lo descansar um pouco por um dia ou dois. Então Sam vai voltar e começar a pressionar com mais força.

Jess se virou para Sam. – Quando você voltar para a delegacia, escreva isso. Então puxe os arquivos dos três casos não resolvidos que tivemos neste verão e os coloque na minha mesa. Eu gostaria de revê-los novamente esta tarde.

– Claro, chefe. Você acha que eles estão relacionados? – Sam perguntou, sacudindo a cabeça em direção as escadas.

– Não sei, mas meu instinto está inquieto. Nunca tive tantos casos em tão pouco tempo. E eu odeio que estamos nos esforçando para resolve-los. Parece que estamos perdendo algo maior em jogo aqui.

– Que outros casos? – Perguntei. – Existe alguma coisa que eu deveria estar preocupada?

Os dois homens se viraram para mim e balançaram a cabeça, mas Maisy falou antes que eles pudessem.

– Oh, não é nada para se preocupar, Gigi – disse ela. – No mês passado, alguém invadiu um dos celeiros de Jack Drummond e roubou um monte de fertilizantes. Então houve um roubo na loja de joias no centro. Alguém quebrou a janela de trás e roubou um monte de prata. A maioria das coisas caras estavam trancadas, graças a Deus, mas a prata foi deixada em aberto. Oh... E algumas semanas atrás, Silas Grant relatou que invadiram seu rancho. Tão totalmente triste. Quem quer que tenha dirigido através de um dos seus pastos e acertou em um de seus bezerros filhotes e o matou.

Antes que eu pudesse absorver tudo, ela continuou.

– Eu estou supondo que o arrombamento no Drummond foi alguém fazendo metanfetamina nas montanhas e precisava de produtos químicos. Seria muito difícil revender o fertilizante roubado, as joias foram totalmente penhoradas por dinheiro. E a invasão poderia ter sido crianças estúpidas dirigindo por aí, mas eu duvido seriamente. Garotos locais nunca iriam se meter com Silas Grant. Ele é ex militar e, tipo, aterrorizante.

Quando ela terminou, eu dei uma risada com o olhar nos rostos de Jess e Sam. Sam estava com os olhos arregalados, enquanto Jess parecia chateado.

Maisy ou tinha perdido sua oportunidade como detetive da polícia ou um dos policiais, provavelmente Milo, tinha sido um pouco acessível com informações que deveriam ter ficado dentro das paredes do departamento do xerife.

Eu estava pensando que o oficial Milo Phillips estava prestes a ter uma conversa não tão divertida com seu chefe sobre o que era e o que não era apropriado compartilhar com Maisy Holt.

– Tudo bem, eu estou saindo. Vou dirigir e dar uma olhada no carro do Sr. Benson. Tenho certeza que ainda está no acampamento. Talvez consiga ser capaz de detectar algo, ou uma oportunidade para nos dar uma pista. Encontro você na delegacia, xerife. – Sam saiu com um aceno de dois dedos.

Antes que eu pudesse me desculpar e fugir de Jess - quero dizer, voltar ao trabalho, Maisy perguntou: – Jess, você ainda come no café toda sexta à noite, não é?

Ele abriu a boca, mas ela falou diretamente sobre ele.

– Porque Gigi estava me dizendo mais cedo que ela está planejando ir lá para o jantar esta noite. Você sabe, como uma celebração por sua primeira semana. E como uma pausa de cozinhar. Ah, e eu disse a ela que ela definitivamente precisava dar uma olhada nas sobremesas caseiras. Vocês devem jantar juntos.

Minha boca se abriu e eu olhei para ela, sem piscar.

Ela estava tentando me juntar com o estúpido Jess?

Sim. Sim, ela estava.

Maisy e eu tínhamos desenvolvido uma amizade rápida esta semana, e apesar da diferença de idade, nós tínhamos muito em comum. Mas nós não havíamos discutido sobre relacionamentos passados. Ela não sabia o suficiente sobre mim ou os homens anteriores da minha vida para começar a dar uma de cupido.

Além disso, ela sabia como eu me sentia sobre Jess. No dia seguinte em que ele me multou, eu vociferei com ela por uns bons vinte minutos sobre o quanto de um idiota eu achava que ele era.

Eu balancei a cabeça. – Eu não vou jantar com ele. Vou jantar com minha filha.

– Eu posso tomar conta de Rowen – disse ela. – Isso lhe daria a chance de comer com outro adulto. E estou morrendo de vontade de conhecê-la de qualquer maneira e ver a fazenda.

– Eu agradeço a oferta, mas Rowen não conhece você. Não me sinto bem com você a olhando.

No segundo que as palavras saíram da minha boca, eu sabia que elas saíam erradas.

–Você não confia em mim? – Ela sussurrou.

– Claro que confio em você. – Suspirei. – Não é que você não possa vê-la. É apenas...

– Seis e meia – anunciou Jess.

Ao mesmo tempo, perguntei: – Hã? – Maisy gritou: – Ótimo!

– Seis e Meia. Eu estarei na fazenda para buscá-la. Maze é boa com as crianças.

– Eu não vou jantar com você.

– Esteja pronta –, disse ele.

Eu abri minha boca para dizer a ele, novamente, que eu não estaria comendo com ele, mas ele não me deu a chance. Ele se virou e começou a andar até a porta.

– Eu não vou!

Ele continuou andando, mas levantou a mão para acenar. –Seis e Meia.

Eu cruzei meus braços enquanto ele passava pela porta. Ele estava longe demais para que eu continuasse gritando. Quem ele achava que ele era? Quem ele pensava que eu era? Eu não era uma mulher que gostava de receber ordens por aí e eu certamente não estava desesperada o suficiente para ir a um jantar com ele.

Quando me virei para Maisy, ela tinha um sorriso enorme no rosto.

– Você se importaria de me dizer por que você está dando uma de Yente hoje? – Eu perguntei.

– Yente? – Ela inclinou a cabeça enquanto suas sobrancelhas se uniam.

– Sim, Yente. Você sabe, de Um Violista no Telhado.

Sem resposta.

– Yente era a casamenteira em Um Violista no Telhado. – eu disse. – É um musical popular. Estou surpresa que o grupo de teatro do ensino médio de Prescott não tenha feito uma interpretação. Minha escola fazia isso a cada dois anos.

– A escola de Prescott não tem um grupo de teatro.

– Eles não têm? – Eu perguntei. – Deixa pra lá. Tanto faz. Isso é irrelevante. Por que você está me empurrando para jantar com Jess?

Ela encolheu os ombros. – Ele é um cara legal, Gigi. Mesmo que ele tenha sido um idiota para você esta semana. Mas ele me ligou esta manhã e perguntou de que tipo de café você gostava. Ele me disse que seria uma oferta de paz.

– Eu apreciei o café e sua desculpa, Maisy, mas isso não significa que eu quero ter uma refeição com o homem.

A boca de Maisy baixou e ela espiou para mim com olhos de corça debaixo dos seus cílios.

PO.

Eu não seria capaz de ficar com raiva daquele rosto.

– Eu realmente gosto de você, Gigi. Eu acho... Eu já penso em você como uma amiga. Vocês poderiam se dar bem e isso seria super legal. Quer dizer, ele cuidou daquela fazenda quase toda a sua vida. Quão incrível seria se ele ficasse com você e então ele poderia finalmente morar lá? Além disso, ele é muito quente e um verdadeiro cavalheiro. Ele pode ser tão bom para você. Se você apenas lhe der uma chance, você verá que ele não é o idiota que ele fingiu ser esta semana. Eu prometo. Ele é um cara legal.

– Eu realmente não sou uma fã de Jess Cleary. Mas eu entendo onde quer chegar. – Esperava que ela abandonasse essa ideia ridícula.

– Por favor? – Ela implorou. – Apenas considere ir? Eu sei! Não decida ainda. Tipo, veja como seu dia será e então decida hoje à noite quando ele vier buscá-la. Eu ainda vou aparecer para ficar com Rowen, apenas no caso.

– Isso não vai acontecer, Maisy, mas fique à vontade para aparecer – eu disse.

– Você não vai sequer considerar o jantar?

Deixando escapar uma respiração profunda, eu baixei meus olhos para os meus pés para pensar.

Eu estava curiosa porque Jess havia mudado de atitude hoje, e talvez em uma refeição rápida eu poderia descobrir qual era a sua intenção. Ele estava tentando se enganchar com a nova garota da cidade? Se gabar sobre sua conquista? Poderia essa fachada agradável durar mais de trinta minutos? Eu estava apostando que não podia.

– Vamos ver – eu disse. – Vou aceitar. – Um enorme sorriso instantaneamente substituiu seu olhar triste e patético.

Eu balancei a cabeça e mudei de assunto. – Se você quiser evitar um discurso hoje à noite, eu recomendo não contar a Rowen que Prescott não tem grupo de teatro. Em Spokane, ela fazia parte de um clube infantil chamado Glamour Girls, onde um grupo de meninas se encontrava uma vez por semana e fingiam ser atrizes e cantoras famosas. Ela tem um talento para o drama.

Maisy sorriu e fingiu fechar os lábios, em seguida, os abriu de volta para lançar a chave e engolir.

Eu ri com o gesto e a deixei para terminar meu estudo dos prontuários.

Uma hora depois, eu estava lendo a mesma linha pela centésima vez. Com tudo o que tinha acontecido esta manhã, eu estava tendo dificuldade em me concentrar.

A onda de crimes em Prescott era preocupante. Deixar Spokane significava deixar para trás uma cidade com alta taxa de criminalidade, mas agora parecia que a segurança que eu estava sentindo só porque Prescott era pequena e Montana era ingênua. Prescott certamente nunca seria tão ruim quanto Spokane, eu esperava, mas eu precisaria tomar mais cuidado do que eu tinha tomado até agora com minha segurança e a de Rowen. Eu não tinha nem trancado a porta da frente à noite. Só porque nós estávamos na zona rural da América não a tornaria automaticamente segura. Olhe o que tinha acontecido com o desconhecido.

O resto do espaço livre em minha mente estava girando em torno de Jess. Se eu decidisse ir para o jantar, o que eu poderia esperar? E eu poderia me controlar em torno de sua gostosura?

Eu não sabia por que ele queria me levar para jantar. Eu não era nada de especial, apenas uma mãe solteira, tentando estabelecer uma nova vida para ela e sua filha. Talvez fazer alguns novos amigos ao longo do caminho.

E Jess estava em uma liga totalmente diferente. Uma onde as meninas comuns e medianas, como eu não pertencia.

Então, por que eu?

Ele achava que um jantar era necessário para acompanhar o café que ele me trouxe? Eu o perdoaria?

O comentário de Maisy sobre Jess e a fazenda me fez pensar. Talvez o interesse de Jess em mim tinha mais a ver com a minha casa do que com a minha calcinha. Talvez ele estivesse trabalhando na intenção para manter a casa da fazenda. Afinal, que mulher não gostaria que o sonho de xerife se interessasse por ela? E ele mesmo me disse que amava aquela casa. Jantar ou não, eu ia descobrir o que Jess Cleary queria fazer.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


CAPÍTULO CINCO


Ficando na frente do meu espelho do quarto, avaliei minha roupa. Eu escolhi um dos meus conjuntos favoritos para aumentar a autoconfiança. Eu ia precisar disso para o inevitável confronto com Jess sobre o jantar.

Eu escolhi usar saltos com meu jeans skinny e top preto sem mangas. Os sapatos eram um risco em Montana, mas eles eram meu estilo.

Meu cabelo tinha sido preso em um coque hoje, então quando eu tirei, ele tinha ondas incríveis.

Rowen e eu tínhamos puxado ao cabelo da minha mãe. No final, mamãe perdeu todos os cabelos na quimioterapia, e depois que ela morreu, tomei a decisão de deixar meu cabelo crescer, pelo menos depois da minha cintura. Eu nunca quis dar valor para a sorte que tive em tê-lo, e quanta sorte eu tinha de que todos os dias eu pudesse olhar no espelho e ter um vislumbre de algo que mamãe me deu.

E hoje à noite, parecia muito com o dela quando era longo.

Eu endireitei meus ombros e ergui meu queixo, inalando e exalando uma profunda respiração.

Mas meus ombros caíram. Os nervos se acumulando no meu estômago indicavam que eu escolhi a roupa errada.

Quem se importava com o que eu estava vestindo para uma conversa de cinco minutos com Jess para lhe dizer que eu não ia ao café com ele?

Eu. Eu sempre me importei com o que eu estava vestindo.

Minhas roupas me ajudaram a lidar com minhas inseguranças. Eu não era uma deslumbrante supermodelo e eu poderia perder dez quilos - ou mais, como o pai de Rowen certamente me informara. Mas a única coisa que ele nunca fez foi ridicularizar minhas roupas. E quando eu saia com uma roupa de arrasar, me sentia bem. Mais segura de mim mesma.

– Pare de exagerar, Gigi – eu disse ao meu reflexo. – Afaste-se do espelho.

Dando a mim mesma um aceno com a cabeça, eu segui minhas próprias ordens.

Às seis da tarde, Maisy chegou com um enorme balde de plástico nos braços. Ela me informou que era seu –kit de babá – que ela usava durante todo o ensino médio.

– Você parece quente – disse ela. – Tudo pronto para o jantar?

– Eu não vou.

Ela sorriu. – Certo. É por isso que você está toda arrumada. Colar doce, a propósito.

– Talvez eu queira parecer bonita quando falar ao Jess para ir passear?

– Vamos ver como isso funciona para você – disse ela.

Roe veio pulando na entrada. – Oi! Você é Maisy?

– Sim. E você deve ser a linda Rowen de quem eu tanto ouvi falar.

Rowen sorriu quando seus olhos pousaram no balde. – Você me trouxe um presente?

– Bem... Não é um presente. Mas está totalmente cheio de coisas divertidas que podemos fazer juntas. Assim que sua mãe sair, vamos investigar, certo?

– Eu não vou sair.

A boca de Maisy formou um sorriso travesso e unilateral.

– Mamãe, eu posso mostrar a Maisy meu quarto? – Rowen perguntou.

– Claro, garotinha. Que tal darmos a Maisy uma visita a toda a casa?

– Oba! Eu vou mostrar a casa – ela gritou e nos guiou pelos próximos vinte minutos.


****


– Eu não acho que o jantar é uma boa ideia – eu disse no degrau mais alto da varanda.

O pé de Jess acabara de aterrissar no último degrau.

Maisy estava mantendo Rowen dentro. Eu não vi nenhum motivo para apresentá-la a Jess desde que eu estava me livrando dele e ele nunca estaria aqui novamente.

Não respondendo à minha declaração, Jess avaliou meu corpo da cabeça aos pés. Enquanto os olhos dele permaneceu nas minhas curvas, minha temperatura começou a subir. Eu mudei meu peso para frente e para trás entre meus pés, e meus dedos puxaram a bainha da minha camisa.

Eu podia sentir a queimadura do seu olhar nas minhas pernas. Quando ele encontrou meu olhar, seus olhos estavam aquecidos. Minha roupa era definitivamente um sucesso.

Minha barriga vibrou quando nos encaramos e eu lutei para afastar meus olhos dos dele.

Ele ainda estava usando o traje de xerife e não era menos deslumbrante. Quem poderia imaginar que uma camisa marrom desbotada, poderia parecer tão boa?

Como ele ficaria sem a camisa? A imagem mental me fez tremer.

– Você vai – Jess finalmente disse, quebrando o momento aquecido. – Mesmo que isso signifique que eu tenha que buscá-la e levá-la até o caminhão.

– Você não ousaria – eu assobiei.

– Me teste.

Minhas mãos se fecharam nos meus quadris. – Eu não vou.

Jess pulou os degraus e veio direto para o meu espaço, me forçando para trás. Depois ele se abaixou para que o nariz dele ficasse a centímetros do meu.

Eu estava esperando que ele me desse ordens de novo ou, na verdade, me pegasse e me levasse embora, então sua voz, gentil e suave, me pegou desprevenida.

– Georgia, me dê uma chance para mostrar a você que eu não sou o idiota que eu fui esta semana. Por favor?

Foi o – por favor – que fez isso. Eu tinha a sensação de que Jess não dizia muito essa palavra.

– Tudo bem – eu sussurrei, dando outro passo para trás.

Eu não conseguia pensar quando ele estava tão perto de mim. O aroma inebriante, limpo e fresco da sua pele me deixava tonta.

Correndo para dentro, eu disse um rápido adeus para Rowen e um presunçoso sorriso para Maisy. Então eu corri de volta para fora, baixando minha cabeça para que eu pudesse ver meus pés enquanto eu andava para o caminhão. Nos três minutos em que ele esteve aqui, eu já estava tentando manter a calma.

Meus dedos roçaram a maçaneta do caminhão, mas foram retidos quando Jess agarrou meu cotovelo, puxando gentilmente meu braço para que ele pudesse abrir a porta para mim.

Quando seus dedos tocaram minha pele, uma corrente passou por mim do meu cotovelo através do meu braço e até os meus pés.

Ele deve ter sentido algo também porque ele respirou fundo e não fez outro movimento para abrir a porta. Em vez disso, ele mudou seu corpo para mais perto do meu até que apenas um centímetro nos separava. Tudo que eu tinha que fazer era virar levemente e meu peito estaria pressionado contra o seu.

Antes de eu fazer algo estúpido, como envolver meus braços em volta do seu pescoço e esmagar meus lábios nos dele, murmurei um silencioso agradecimento e recuei. Ele abriu a porta e eu pulei dentro, tomando algumas respirações longas enquanto ele corria pelo capô.

Nós dirigimos para a cidade em silêncio. Normalmente eu teria tentado uma conversa fiada, mas eu não tinha nem ideia do que dizer. Meu cotovelo ainda estava formigando e a tensão sexual entre nós estava sufocante nos limites do caminhão.

Felizmente, a viagem foi curta e logo estávamos no café.

– Eu vou querer o especial, por favor – eu disse para a garçonete do café, entregando-lhe o meu cardápio.

– O mesmo especial para mim também. Obrigado, Tina. – Jess não tinha um cardápio. Tina não tinha nem trazido um para ele.

Nós estávamos sentados em uma cabine na janela da frente do Café Prescott, olhando para rua principal, tendo ambos há pouco pedido o wrap de galinha com batatas fritas.

As cabines eram protegidas por três paredes do Prescott Café enquanto as mesas quadradas só metade. Na parte de trás, bancos revestiam o balcão que separava a cozinha do chão do restaurante. Cerca de três quartos do café estavam cheios de clientes. Do meu lugar na cabine, eu podia ver a cozinheira trabalhando na cozinha atrás do balcão e da vitrine com cinco tortas e bolos ao lado do caixa. Meus olhos se concentraram no bolo de chocolate no segundo nível quando Jess resmungou: – Jesus.

– O que?

Ele inclinou a cabeça para a janela. Um casal mais velho estava do lado de fora, olhando para nós. Quando os encarei, os dois sorriram e o homem piscou. Eu não tinha certeza do que fazer, mas eles pareciam amigáveis, então eu sorri de volta e lhes dei um pequeno aceno com meus dedos.

– Você não está ajudando, Georgia.

– O que? Eles parecem legais. Você os conhece? – Eu perguntei.

– Seth Balan e sua esposa. Seth faz parte do Clube do Café. Você e seu pequeno aceno vai ser o único assunto no clube amanhã de manhã.

– Ah... O que é o Clube do café?

– Grupo local de velhos que se encontram aqui todos os dias para tomar café. Quando eles não estão falando sobre preços de grãos ou o mercado de gado, eles fofocam pior do que um monte de meninas adolescentes. Toda vez que eu preciso saber o que está acontecendo na cidade sobre algo, venho para o Clube para obter informações. Você sentada aqui comigo, com essa aparência, é tudo sobre o que eles vão falar amanhã.

– E daí? Eles vão falar sobre como jantei com você uma vez? Isso não parece tão ruim – eu disse.

Ele suspirou e se inclinou para frente. – Eu não como com ninguém nas noites de sexta-feira, Sardenta. Com ninguém. Eu prefiro sentar sozinho e faço isso há anos. Você é nova na cidade. Você é linda, especialmente nesses jeans e sapatos. E você está na minha cabine. Amanhã as nove da manhã, todos na cidade saberão sobre você e eu.

– Oh. – Corei e olhei para a mesa.

Havia muita coisa nessa declaração para eu processar. Eu sendo o tema quente no grupo de amigos de velhos fofoqueiros de amanhã. Jess comendo sozinho toda sexta à noite. Jess pensando que eu estava linda. Ele notou meus jeans e sapatos.

Foi doce e me fez sentir bem. Tão bem que minha barriga tremulou.

Nem uma vez desde que ele chegou na fazenda hoje eu tive a impressão de que ele estava fingindo qualquer coisa, fazendo um show ou escondendo segundas intenções. Na verdade, Jess não parece o tipo de homem que seria falso sobre qualquer coisa. E se isso fosse verdade, talvez eu estava lendo ele errado. Talvez a sua desculpa esta manhã tivesse sido sincera.

Mas eu não estava pronta para deixar de ser cautelosa. Nós não tínhamos passado tempo suficiente juntos para eu ter uma boa percepção de suas intenções ou perdoá-lo por como ele agiu em relação a mim no início da semana.

Meu melhor plano seria uma mudança de assunto. – Há quanto tempo você é xerife?

– Vai fazer cinco anos.

– Então você era muito jovem quando foi eleito. Isso é impressionante. Você tem o que, trinta e três, trinta e quatro?

– Trinta e quatro. Você?

– Trinta e um.

– O que sua família pensa de você se mudando para o meio de Montana? – Ele perguntou.

– Bem... Ah... Eu realmente não tenho família. Minha mãe faleceu há alguns anos atrás. Meu pai morreu quando eu era jovem.

– Desculpe – disse ele.

– Está tudo bem. Minha mãe era incrível. Eu raramente sentia como se estivesse perdendo por não ter uma grande família.

– Como ela morreu, se você não se importa de eu perguntar?

– Câncer de mama.

– Sinto muito – ele repetiu.

Eu apenas dei de ombros. Falar sobre minha mãe e sua batalha contra o câncer não era um assunto que eu queria entrar durante o jantar.

Ele não disse nada por alguns momentos, mas então ele estendeu a mão e cobriu a minha na mesa. O gesto foi tão amável que um nó se formou na minha garganta.

– Está tudo bem – eu disse. – Que tal mudar o assunto para algo mais leve? Nós não queremos que o grupo de velhos amigos fofoqueiros veja a primeira companheira de jantar que você teve na sexta-feira à noite em anos começar a chorar na mesa porque ela estava falando sobre sua mãe morta.

– Grupo de velhos amigos fofoqueiros? – Ele riu.

– De longe um nome melhor que Clube do café.

Isso me rendeu um sorriso. Um sorriso que eu não pude deixar de retribuir. Um sorriso que enviou uma onda quente de felicidade através do meu corpo, do topo da minha cabeça até as pontas dos dedos dos pés.

O resto da nossa conversa durante o jantar foi casual e fácil. Nunca, nenhuma vez tive a sensação que Jess estava fingindo ou que ele estava apenas dando um tempo até que ele pudesse me levar para a cama. Ele era verdadeiro. E estar junto com ele me deixou confortável. Relaxada. Natural.

Jess me contou sobre crescer em Prescott. Ele viveu aqui toda a sua vida, exceto por seu tempo na academia de polícia. O xerife anterior havia se aposentado, deixando para trás uma equipe de oficiais cujo mandato médio era de vinte e cinco anos. Como a maioria deles estava ansioso por sua própria aposentadoria, Sam e Jess eram os únicos candidatos locais viáveis. Sam não tinha vontade de ir para o cargo então Jess entrou na eleição, concorrendo contra um homem de Idaho.

Outra coisa que eu estava aprendendo sobre Prescott: havia uma clara divisão entre os moradores e todos os outros. Embora a comunidade fosse acolhedora, os estrangeiros eram tratados com um pouco de apreensão. Não era surpresa que as pessoas do condado de Jamison tivessem escolhido eleger o herói do futebol de sua cidade natal, mesmo que seu rival fora do estado possuísse mais experiência em aplicação da lei.

Nós dois sorrimos e rimos muito durante o jantar. Jess tinha um senso de humor seco e inteligência afiada. Nós brincamos um com o outro com brincadeiras inofensivas, e no final da nossa refeição, ele quase me fez esquecer o idiota que ele tinha sido no início da semana. Quase.

Jess insistiu em pagar e eu não discuti depois que eu fiz menção de pegar a minha bolsa. Depois de anos comendo com Ben, aprendi que homens viris pagavam e pronto. E Jess é muito parecido com Ben, era um homem viril.

Ao sair do café, Jess perguntou: – Você já esteve no centro da cidade?

– Na verdade, não. Eu adoraria passear um pouco. Você tem tempo?

Ele assentiu e partimos para passear pela Main Street.

– Você vai conseguir nesses sapatos? – Ele perguntou depois de termos andado por cinco minutos.

– Absolutamente. Eu amo meus saltos e eles me amam de volta. Eu poderia andar por milhas.

Suas sobrancelhas levantaram em descrença, mas ele não comentou. Ele apenas balançou a mão para que eu pudesse continuar andando.

Apesar de a maioria das lojas estarem fechadas, era bom espiar as vitrines e ter uma noção melhor do que Prescott tinha a oferecer. Havia algumas lojas de roupas. Outras com aparelhos de cozinha e óleos extravagantes. Uma loja de pescaria. Uma drogaria antiquada.

Nós andamos principalmente em silêncio confortável ao longo da calçada. Eu gostei que nós não precisamos preencher cada segundo com conversa.

Quanto mais passeamos, mais eu tinha que me lembrar de não estender a mão e segurar a sua, algo que eu queria fazer tão mal que finalmente enfiei a mão no bolso para que ela não tivesse vontade própria.

Voltando para o seu caminhão no lado oposto da rua, passamos pela porta do Claim Jumper, o segundo bar de Prescott. Dois homens abriram caminho e esbarraram comigo, me mandando para trás nos braços de Jess. Ele me pegou pelos quadris, ambas as mãos me firmando.

– Peguei você. – Ele me segurou até que eu recuperei meu equilíbrio.

– Merda. Desculpe, – Um dos homens disse.

Eu estava prestes a dizer que estava tudo bem quando Jess gritou, – Wes.

Ele não parecia nada feliz por estar vendo esse cara Wes.

– Bem, bem, bem. Se não é o xerife, – Wes disse.

– Estou tentando entrar em contato com você há algumas semanas. Precisamos conversar, Wes.

– Mamãe me disse que você deixou algumas mensagens em casa. Meio ocupado agora – Wes disse, dispensando Jess e se virando para mim.

– Ei, querida. Wes Drummond. – Ele me deu um sorriso torto antes de deslizar um pouco perto demais do meu espaço pessoal.

Wes era bonito. Loiro com olhos castanhos claros. Não tão alto ou largo quanto Jess. Não tão quente quanto Jess, mas de boa aparência. Eu estava apostando que a maioria das mulheres iria desmaiar se não estivesse sendo segurada pelo xerife da cidade.

Mas os olhos de Wes estavam vidrados e ele tinha uma presença ameaçadora. Arrogante. Talvez até um pouco perigoso. Seus movimentos eram muito confiantes e arrogantes.

Eu odiava arrogante. O pai de Rowen era arrogante.

– Gigi – eu disse, hesitante, apertando a mão de Wes. Jess irradiava tensão atrás de mim, e seus dedos cavaram em meus quadris no segundo que Wes tocou minha mão.

– Prazer em conhecê-la, Gigi. Você deve estar de passagem, se está com Brick. Ele sempre recebe as turistas bonitas. Mas como o Príncipe bom de Prescott provavelmente terá terminando com você no final da noite, você vem me encontrar. Vamos nos divertir de verdade antes de sair da cidade – ele disse com um sorriso maroto.

Neste ponto, Jess perdeu toda a calma e me empurrou para trás para ficar cara a cara com Wes. Eu recuei, intimidada pelos movimentos agressivos de Jess. A qualquer momento, ele estava indo para bater em Wes Drummond.

Jess falou com Wes em um tom baixo e ameaçador. – Fora dos limites, Wes.

Wes recuou alguns passos, levantando ambas as mãos em sinal de rendição, mas o risinho permaneceu em seu rosto. – Calma, Brick. Não queria ofendê-la. Ela é um docinho, cara. Posso ver por que você fez sua reivindicação.

Um docinho? Idiota.

Jess cerrou as mãos duas vezes e avançou para Wes. Eu me preparei, certa de que a qualquer momento um dos punhos de Jess ia voar no rosto de Wes.

Felizmente, o amigo de Wes agarrou um de seus braços e o puxou um passo para atrás.

– Vamos, Wes – disse seu amigo, ainda o afastando.

Wes sorriu para mim uma última vez, depois ergueu as sobrancelhas para Jess antes de finalmente sair.

Antes que ele estivesse fora do alcance da voz, Jess chamou seu nome. – Nós vamos conversar. Em breve. Seria melhor se você viesse para essa discussão. Você não vai gostar se eu tiver que ir te encontrar.

Wes não respondeu à ameaça de Jess. Em vez disso, ele olhou para ele e depois virou os olhos para mim. – Vejo você por aí, Gigi.

Meus pés estavam congelados na calçada. Aquela cena foi intensa. Eu fiquei longe de Jess, esperando que um pouco de espaço o ajudasse a se acalmar. A raiva ainda derramava de seu corpo em ondas.

Depois de alguns momentos, eu destranquei meus pés e gentilmente coloquei uma mão nas costas de Jess.

– Você está bem?

– Sim – ele cortou. – Vamos.

Ele pegou minha mão e me puxou de volta para sua caminhonete, me puxando em um ritmo tão rápido que eu tive que correr para acompanhar seus longos passos. Quando chegamos ao caminhão, ele me colocou no banco do passageiro e fechou a porta com força.

Fiquei quieta enquanto nos dirigíamos para fora da cidade, sem saber o que dizer. Mas uma vez que começamos a descer as estradas do condado, Jess quebrou o silêncio.

– Se você o ver de novo, você segue em outra direção. Ele está em alguma merda. Eu não quero você ao redor dele.

– Uh... Ok.

Em que diabos eu acabei de tropeçar?

Jess sentiu meu desconforto. – Não se estresse sobre isso. Só quero que você seja cuidadosa, ok? Se a notícia se espalhar pela cidade que estamos namorando, ele saberá que as pessoas estarão cuidando de você e ele vai recuar. Não é sobre você. Ele está apenas tentando me pegar.

Eu estava mais do que um pouco nervosa que alguém em –coisas ruins – estava interessado em me usar para irritar Jess. Mas além disso, agora eu estava com medo de que Jess pensasse que estávamos namorando.

Mesmo que tivéssemos tido um bom jantar, eu não tinha decidido ainda se gostava dele.

– OK. Eu vou evitar Wes. Sem problemas. Mas uma coisa... Eu apreciaria se você não disser às pessoas que somos um casal. Foi legal da sua parte me levar para jantar e eu me diverti, mas não acho que estaremos namorando.

– Você me acha atraente?

– Uh...

– Eu pensei assim – disse ele. – Já te disse esta noite que você era linda. Então, já que nós temos alguma química o importante é nós nos darmos bem, que tal cortar as besteiras e ver para onde isso vai?

Tomei um momento para juntar meus pensamentos e formular uma resposta. – Atração física não é uma ótima base para um relacionamento. Mais uma vez, obrigado pelo jantar. Mas com exceção de hoje à noite, até agora você passou mais tempo me insultando do que me tratando bem. Certamente você pode entender porque eu não acho que seríamos um bom par. Vamos encerrar depois que você me deixar em casa.

– Eu me desculpei e eu quis dizer isso. Eu fui um idiota esta semana. Agora supere essa porra.

– Você está tentando me irritar, xerife? – Eu disse. – Eu não gosto do seu tom. Você não consegue parar de me dar ordens e tomar a decisão que estamos namorando sem o meu consentimento. Isso é absurdo. Não funciona assim.

– Sim. E nós estamos. Exclusivamente, Georgia – disse ele, olhando para mim enquanto enfatizou seu último ponto.

– Espere um minuto. Deixe-me ver se entendi, – eu disse, minha paciência se esgotando. – Você não apenas me ignorou como também sentiu a necessidade de enfatizar que o relacionamento inexistente é exclusivo. Algo que se você me conhecesse, você nunca teria que enfatizar porque, em qualquer relacionamento, nunca fui nem nunca serei uma traidora.

Jess respirou fundo e soltou o ar lentamente. – Não estou dizendo que você é uma traidora. Jesus, Georgia, relaxe. Apenas dizendo que estamos exclusivamente juntos. Não quero pessoas pela cidade pensando que somos apenas amigos ou estamos apenas brincando. Nós vamos ver onde isso vai dar.

– Nós tivemos, tipo, um encontro Jess. E eu não nos chamaria de amigos.

– Porque nós não somos apenas amigos.

– Eu não estou namorando você. Eu nem gosto de você. Encontre alguém para lhe fazer companhia no café.

– Você gosta de mim. Posso ver em seus olhos quando você olha para mim.

– Fisicamente, sim. Mas pessoalmente, você é um idiota.

Ele puxou q caminhonete para o acostamento.

– O que você está... – Eu comecei, mas Jess chegou através da cabine, me agarrou na parte de trás do pescoço e bateu a boca na minha.

Eu queria protestar, eu realmente fiz. Para afastá-lo e me impor, então ele saberia que não podia apenas me deslumbrar com sua aparência e me confundir com seus beijos.

Mas ele totalmente podia.

E o idiota sabia disso também.

No início, seus lábios eram duros quando ele descarregou sua frustração no beijo. Porque eu estava no meio da frase, minha boca estava aberta, então ele aproveitou a oportunidade para empurrar a língua para dentro. Congelada por um momento, me sentei ali enquanto ele devastava minha boca com a língua.

Mas uma vez que o choque inicial passou, eu derreti nele, meus dedos arrastando em seus antebraços, sentindo os músculos que eu estava ansiosa para tocar.

Nós nos beijamos por um tempo, me inclinando sobre o console, até que o espaço era demais e ele estendeu a mão e desafivelou meu cinto de segurança. Então ele me puxou pela cabine, nunca nenhuma vez afastando sua boca longe da minha.

Estabelecendo-me em seu colo, minhas pernas montaram suas coxas musculosas. O ar no caminhão era escaldante. Nossas línguas duelaram e nossos dentes morderam os lábios um do outro. As mãos emolduradas em meu rosto me puxaram para mais perto e inclinei a cabeça para que ele pudesse ter acesso total à minha boca.

Eu segurei seu pescoço com as minhas mãos enquanto nos abraçávamos com abandono pelo que pareciam horas. Suas mãos viajaram do meu rosto para os meus ombros, até minhas costelas, mal roçando meus seios antes de se instalar em meus quadris. Ele me puxou ainda mais para ele e sua ereção pressionou contra o meu núcleo, onda após onda de calor pulsou através do meu corpo.

Nós nos separamos ao som de um veículo que passava, nossas cabeças voando para cima para ver o carro passar. Eu estava lutando para recuperar o fôlego e meu coração ainda estava batendo quando eu virei para olhar para Jess.

– Porra, baby! Você sabe beijar – disse ele.

Eu deixei minha cabeça cair para frente, então minha testa estava descansando na dele. Eu não pude acreditar no que acabou de acontecer. Eu apenas beijei o homem mais bonito que já vi na minha vida e foi incrível, como nada que eu já tivesse sentido antes.

– Nós vamos ver onde isso vai entre nós. – Um sorriso puxou os cantos de sua boca.

– Ok. – Quero dizer, o que mais havia para dizer? Aquele beijo estava mudando a vida. A partir de agora até o final da minha vida, eu compararia todos os primeiros beijos com os dele. E eu duvidava que qualquer homem no meu futuro jamais se compararia.

Ele me levantou pela cintura e eu voltei para o meu lugar, ainda tonta.

Eu não sabia exatamente o que fazer com Jess. Ele era tudo em um só em um cara confuso e gostoso. Ele tinha sido um cavalheiro. Ele foi brincalhão no jantar, me provocando e me fazendo rir. Quando confrontado com Wes, ele agiu como meu protetor.

Mas então, assim que eu discordei dele, ele se transformou em um idiota. Me dando ordens por aí. Não ouvindo o que eu estava dizendo a ele. E em vez de conversar, ele me sentou em seu colo me beijou.

Não que eu estivesse reclamando do beijo. Eu ficaria bem com um daqueles todos os dias para o resto da minha vida.

Droga.

Por que eu deixei ele me beijar? Eu não deveria ter deixado ele ganhar a discussão eu deveria ter me afastado. Eu estava confusa.

Eu esperava que indo jantar com Jess, eu teria uma ideia melhor do que ele estava fazendo. Saber mais sobre seus humores em constante mudança. Infelizmente, eu não tinha descoberto coisa alguma, exceto o que eu já suspeitava. Jess e eu temos uma química importante.

Quando entramos no caminho de cascalho, ele disse: – Preciso vir e cortar a grama amanhã.

– Não, tudo bem. Eu tenho um cortador e posso cuidar disso. Não há necessidade de que você continue cuidando da fazenda.

– Estarei lá em algum momento da tarde para cuidar disso. Cerca de três ou quatro. Vai me deixar louco se você fizer isso antes que eu chegue.

– Realmente, eu posso fazer isso.

Ele pegou minha mão do meu colo e entrelaçou seus dedos entre os meus. – Eu estou fazendo o gramado. Apenas deixe-me cuidar disso, ok? Cozinhe o jantar como um agradecimento.

– Bem. Se você quiser ficar todo suado e bruto cortando meu gramado, seja meu convidado – eu disse.

Espere. O que?

Eu cedi novamente! Não que eu quisesse cortar a grama. Mas dois desentendimentos seguidos, e ele conseguiu o seu caminho.

Normalmente eu tinha muito mais força de vontade. O que estava de errado comigo? Tinha que ser o beijo.

Minha cabeça ainda estava confusa. Eu precisava ter certeza de que não o deixaria me beijar novamente. Mas eu realmente queria que ele fizesse. Rapidamente, pensei em uma desculpa. Se eu cedesse para cortar a grama, não poderia ceder para o jantar.

– Eu não quero ter uma babá duas noites seguidas, então vamos ter que jantar outro dia – eu disse.

– Você tem um problema comigo conhecendo sua filha? – Ele perguntou.

– É um pouco cedo. Nós só saímos uma vez.

– Certo. Jantar amanhã depois que eu cortar. Você pode decidir a partir de agora como me apresentar a sua filha. Seja como o xerife da cidade ou algo mais. Sua filha, sua decisão. Mas no que diz respeito ao resto da cidade, somos mais.

Eu definitivamente ainda estava confusa com o nosso beijo, porque mais uma vez, embora eu tivesse apenas dito a mim mesma para ser forte, eu não coloquei nenhum tipo de luta. Eu apenas sussurrei: – Ok.


Capítulo Seis


Na manhã seguinte, eu estava consumida com preocupação, me perguntando se a aproximação de Jess era um erro. Nunca nenhuma vez eu trouxe um homem para casa para conhecer Rowen.

Eu realmente não namorava desde que ela nasceu. Quando ela era um bebe, eu tinha marcado dois encontros às cegas que tinham ido tão mal, eu jurei nunca mais participar de um novamente. Desde então, eu não conheci ninguém que valesse a pena ver. Até Jess.

Ele apareceu por volta das quatro da tarde com o uniforme que não era do trabalho: uma camiseta branca, jeans, tênis e um boné de beisebol verde desbotado. Rowen correu pela porta da frente e praticamente o atacou no segundo em que pisou fora de seu caminhão.

– Você é um policial? – ela perguntou, saltando em torno de suas pernas.

Ele riu. – Sim. Eu sou o xerife.

– Isso é tão legal! Você pega bandidos e os coloca na cadeia?

– Às vezes.

Antes que ela pudesse fazer sua próxima pergunta, eu interrompi: – Rowen, o que fazemos quando nós conhecemos novas pessoas?

Ela olhou para mim por um segundo antes de enfiar a pequena mão para Jess e recitar, – Oi. Meu nome é Rowen. Prazer em conhecê-lo.

Jess pegou a mão dela na dele. – Eu sou Jess. Prazer em conhecê-la também, Rowen.

– Como a prisão funciona? – Ela perguntou, inclinando a cabeça para o lado.

Ele sorriu para ela sem responder e então me deu um rápido beijo na bochecha. Somente aquele pequeno beijo e eu estava tonta novamente, balançando um pouco enquanto eu mudava de peso de um pé para o outro.

Droga.

Jess voltou para Rowen e lhe deu toda a sua atenção, respondendo a todas as perguntas sobre prisão, bandidos, multas por excesso de velocidade, distintivos e carros da polícia. Eu finalmente tive que afastá-la para que ele pudesse começar a trabalhar no corte e poderíamos ir para dentro para começar o jantar.

Roe selecionou o menu do jantar de cachorros-quentes envoltos em grandes biscoitos, macarrão com queijo, feijão verde (minha exigência) e melancia.

A conversa no jantar foi leve e fácil. Rowen apimentou Jess perguntando os seus –porquê– e quando eu finalmente consegui obter uma palavra, eu perguntei: – Roe, você sabia que o Papa Ben era amigo de Jess?

Ela me deu um longo olhar, mas não respondeu.

Voltando-se para Jess, ela disse: – Eu vou para Quail Hollow e o nome da minha professora é Srta Billie.

Jess e eu compartilhamos um olhar. Não foi perdido para ele que sua reação à menção de Ben foi estranha.

Dei de ombros e deixei que ela mudasse de assunto. Eu não ia pressionar. Não essa noite.

Depois do jantar, Roe mostrou a Jess ao redor da fazenda.

Lembrei-me do olhar que ele me dera na noite em que lhe entreguei a carta de Ben, o olhar de desaprovação que ele tinha quando eu sentei no balanço. Então, durante todo o passeio, eu o observei de perto, vendo se eu poderia ter um vislumbre do mesmo comportamento. Eu estava olhando para ele com tanta intensidade que eu tropecei duas vezes.

Mas nem uma vez ele demonstrou que conhecia a casa melhor do que ela ou eu. E eu nunca tive a impressão de que ele se sentia como se estivéssemos nos intrometendo em seu espaço. Que ele deveria estar morando aqui em vez de nós.

Eu estava dando muita importância sobre o comentário de Maisy sobre Jess morando na casa da fazenda?

Independentemente disso, eu não estava pronta para confiar em Jess. Suas ações no início da semana deixaram uma marca.

Eu havia dado a Nate minha confiança depois de uma noite. Um erro colossal. Até eu poder dizer com certeza que Jess não era um idiota, eu estava em alerta máximo.

Por volta das oito horas, Jess anunciou que era hora de ele ir para casa. Roe e eu o acompanhamos até a caminhonete, onde ele se ajoelhou para dizer adeus à minha garota. Ele pegou seu queixo entre o polegar e o lado do dedo indicador.

– Eu me diverti conhecendo você esta noite, Rowen.

Ela lhe deu um largo sorriso radiante e virou para mim. – Ele é como um príncipe dos meus filmes. Jess pode ser seu namorado, mamãe?

– Ah... veremos.

Deveria ter me deixado feliz por ele ser tão bom com ela. Que ela gostava dele. E no fundo, aconteceu. Meu coração inchou com sentimentos quentes e confusos porque ele era tão doce para ela.

Mas no fundo eu estava aborrecida. Minha própria filha acabara de frustrar meus planos.

Eu estava planejando manter alguma distância entre Jess e Roe, a usando como desculpa para controlar a velocidade do nosso relacionamento. Eu não estaria disponível para os encontros para jantar porque Roe tinha isso ou aquilo acontecendo. Eu estaria ocupada no fim de semana levando Roe para sair. Mas agora que ela declarou seu desejo de Jess ser meu namorado, ele veria através de todas as minhas desculpas

Jess se levantou e me deu um sorriso de cúmplice. – Sim. Veremos.

Ao contrário da minha resposta, não foi um desvio de sua pergunta. A sua foi um desafio. Ele estava me desafiando a tentar manter minhas paredes e bloqueá-lo. O olhar desafiador e determinado em seus olhos me disse que não importa quantas barreiras eu coloque em seu caminho, ele iria derrubar todas elas.

PO.

Roe e eu ficamos observando sua caminhonete enquanto ele dirigia pela estrada. Ela acenou como uma pessoa louca em suas lanternas traseiras até que ele não estava mais à vista.

Ela estava completamente apaixonada.

E se eu estava sendo honesta comigo mesmo, eu também, mas eu não ia ser honesta comigo mesma. Eu manteria minha guarda, só por precaução.

Nas duas semanas seguintes, Jess e eu caímos em uma rotina confortável.

Telefonemas para dizer olá. Textos para sabermos notícias um do outro. Almoços rápidos se ambos tivéssemos tempo. Jantares na fazenda uma ou duas noites por semana. Rowen, Jess e eu no café nas noites de sexta-feira.

Tudo o que descobri sobre ele me fez gostar mais dele. O que Ben, Maisy e Milo tinha dito sobre ele era verdade. Ele era um bom homem.

Mas eu ainda tinha reservas sobre o nosso relacionamento.

Eu só estava esperando pelo inevitável. Ele perceber que ele poderia arrumar alguém melhor. Ele tinha um bom emprego, era amado por sua comunidade e era o homem mais bonito que eu já coloquei os olhos. Eu apenas era... Eu.

Eu tinha que estar perdendo alguma coisa. Talvez se eu tivesse mais experiência de namoro, eu teria sido capaz de ver além de seu comportamento encantador e belo rosto. Mas como não era, eu não tinha a menor ideia.

Eu dormi com o pai de Rowen por causa de seu carisma. Isso e eu estava sozinha. Na época, os tratamentos da minha mãe não estavam funcionando e quando eu não estava no trabalho, eu estava cuidando dela. Foi extremamente estressante e emocionalmente desgastante. Então, quando um cara quente vestido com um smoking caro tinha começado a me regar de carinho, eu tinha acreditado que ele era sincero. Foi só depois que fizemos sexo que Nate mostrou suas verdadeiras cores.

Pelo menos com Jess, mantive alguma distância sexual. O máximo que estávamos fazendo era beijar.

Todos os dias eu me lembrava de agir com cuidado. Para colocar alguma distância entre nós. Para recuar e poder julgar mais objetivamente o personagem de Jess.

Mas o problema era que eu não podia ficar longe.

Talvez uma vez que eu o conheça um pouco mais, eu poderia entender Jess Cleary.

E eu disse a mim mesma que quando ele me der um pontapé, não doeria muito.

****


A propriedade da fazenda incluía vinte acres no total. Desde que eu não sabia que tipo de criaturas percorriam as áreas selvagens de Montana, Rowen e eu limitávamos nossas atividades ao ar livre para explorações nas áreas onde a grama era curta. E eu só passei alguns minutos no celeiro.

Hoje eu estava limpando o celeiro para que eu pudesse estacionar o carro lá neste inverno. Algum dia eu faria uma garagem, mas este ano não estava no orçamento.

O celeiro era uma construção antiga. O revestimento de madeira há muito havia perdido sua cor original e agora era um tom de cinza surrado com pequenas manchas de marrom muito teimosas para desaparecer. Manchas de ferrugem de pregos velhos pontilhavam as tábuas.

Eu abri uma grande porta decorada com painéis e avaliei o lugar. A área principal era espaçosa e vazia. Imundo, mas por outro lado vazio. Meus pés com chinelos estavam empoeirados dos centímetros de sujeira cobrindo o chão e meu nariz estava franzido pelo cheiro de mofo.

Na parte de trás do celeiro havia um velho estábulo que presumi ter sido construído para manter um cavalo.

Eu decidi que era por onde eu começaria minha limpeza. A pequena pilha de fardos de feno mofado e podre no canto era provavelmente a causa do cheiro.

Ao longo das paredes do estábulo havia fileiras de tiras e cordas de couro. Eu não sabia nada sobre cavalos então eles eram ou para montar ou para escravidão. A imagem de Ben praticando escravidão pulou na minha cabeça involuntariamente e eu descartei.

Eu me esforcei para ter pensamentos felizes. Qualquer coisa para substituir a imagem nojenta na minha mente.

Eu estava tão focada em pirulitos, unicórnios, borboletas e arco-íris, que eu não estava prestando muita atenção a qualquer outra coisa. Quando me inclinei para tirar um fardo mofado da parede, ouvi um silvo rápido, que foi seguido por uma dor aguda e ofuscante no antebraço direito.

Que diabos? Isso dói muito!

Eu ofeguei e puxei meu braço para o meu peito quando uma cascavel disparou na minha frente. Eu tropecei para trás e quase cai de bunda.

Oh meu deus, há uma cascavel no celeiro!

Puta merda! Você acabou de ser mordida por uma cascavel!

Tinha provavelmente cerca de um metro de comprimento e tão larga quanto um taco de beisebol. No segundo que me levou para perceber o que tinha acontecido com o meu braço, ela tinha deslizado para o canto e enrolado em si mesma. Sua cabeça estava a um pé do chão, sibilando através de presas medonhas, pingando veneno. Sua cauda estava espetada no ar, chacoalhando com tanta fúria.

Estava me avisando que estava pronta para atacar novamente.

E não precisava me avisar duas vezes.

Eu recuperei meu equilíbrio e me afastei para fora da baia, em seguida, girei e corri em direção as portas do celeiro tão rápido quanto meus pés com chinelo podiam ir.

As cobras perseguiam as pessoas? Correndo o mais rápido que pude, eu me amaldiçoei por escolher chinelos em vez de tênis. Por causa da minha pobre seleção de calçados, eu ia ser comida pela maior cascavel do planeta.

Eu bati a porta do celeiro e olhei por cima do meu ombro.

Eu relaxei ligeiramente quando vi que não estava me perseguindo.

Meu braço estava realmente começando a pulsar e o sangue corria em direção aos meus dedos, isso era ou o veneno ou a adrenalina correndo em minhas veias, mas minha visão começou a borrar e minha cabeça estava tonta.

Eu precisava me recompor. Eu precisava ir ao hospital. Eu precisava diminuir minha frequência cardíaca para que o veneno não se espalhe muito rápido.

Eu precisava respirar.

Então eu me forcei a respirar duas vezes bem devagar antes de me afastar do celeiro e andar direto para casa.

Por algum milagre, eu tive a perspicácia de manter Rowen fora do celeiro enquanto eu estava limpando. Ela estava atualmente reencenando a Bela Adormecida com um par de bonecas no jardim da frente.

– Rowen! – Eu gritei, correndo em direção à casa.

Ela olhou para mim e soube instantaneamente que algo estava muito, muito errado. Um olhar de puro terror surgiu em seu rosto e ela ficou branca como um fantasma.

Eu estava segurando meu braço para cobrir a marca da mordida, mas meu rosto estava pálido e meus olhos estavam arregalados. Eu não estava escondendo meus medos dela.

– Entre no carro, garotinha – eu disse tão calmamente quanto pude, o que significava que saiu instável e um pouco alto demais.

– Mamãe? – Seu lábio inferior começou a tremer e lágrimas começaram a se acumular em seus olhos.

– Eu estou bem, querida. Apenas faça o que eu digo, ok? Rápido, entre no carro e se afivele em seu assento.

Ela assentiu e eu passei correndo pelo carro enquanto corria para a casa. Eu levei dois segundos na entrada para parar e pensar no que eu precisava.

Chaves. Bolsa. Telefone.

Eu agarrei todos eles e voltei para o carro. Depois de olhar por cima do meu ombro para confirmar se Roe estava afivelada, eu coloquei o carro em movimento e voei pela estrada até o hospital.

Eu não surtei. Eu não chorei.

Eu apenas dirigi. Rápido.


****


– Tudo pronto, Gigi. Tente relaxar.

– Obrigado, Everett.

Ele tinha acabado de colocar um intravenoso no meu braço que administraria um anti-veneno mais alguma morfina para a dor. As marcas de perfuração no meu braço estavam cobertas com gaze e eu estava rezando para que elas não deixassem muita cicatriz.

Porque toda vez que eu pensava sobre aquela cobra, eu tremia. Dizer que eu estava com medo de cobras era um eufemismo. Insetos, roedores, alturas. Totalmente ok para mim.

Cobras?

Não, obrigada.

Eu não queria me lembrar desse incidente por anos por causa de duas cicatrizes circulares.

Eu estava no pronto-socorro há dez minutos e ia precisar sentar lá e deixar os medicamentos fazerem seu trabalho por uma hora.

Ida estava trabalhando no pronto-socorro hoje, e desde que estava calmo, ela levou Roe para pegar um lanche e andar um pouco enquanto Everett cuidava de mim. Ele era o médico de plantão do fim de semana e, felizmente, ele já estava no prédio quando eu cheguei, então não esperei muito para ser atendida.

Isso foi uma coisa muito boa. Porque eu tinha me mantido firme dirigindo na estrada para a cidade e quando expliquei a minha situação para Ida, mas quando eu estava sendo atendida na cama do PS, a adrenalina estava deixando meu sistema e a dor estava tomando os holofotes.

Meu desgaste extremo ia se revelar em breve e não queria assustar mais Rowen do que eu já tinha.

Ela era um soldado, minha garota. Eu estava absolutamente comprando aquela máquina de karaokê que ela vinha implorando para mim. O mínimo que eu poderia fazer para recompensá-la por um show tão estoico era ouvi-la cantar músicas da Frozen repetidamente por horas intermináveis a cada noite. Tortura para mim, sim, mas hoje ela ganhou isso.

Como Rowen ainda não estava de volta, decidi fechar os olhos por um minuto. Mal minha pálpebra superior se fechou um barulho forte chegou aos meus ouvidos.

Não é uma dor de cabeça.

Eu abri meus olhos para ver um extremamente infeliz Jess invadindo o corredor.

Ele parou alguns metros no compartimento de emergência, me deu uma olhada e plantou as mãos nos seus quadris. Hoje, ele trocara sua camiseta branca por uma azul-marinho. Isso fez seus olhos parecerem ainda mais azul que o normal. Azul, mas muito chateado.

– Ela está bem? – Ele perguntou a Everett.

– Ela vai ficar bem. Eu vou sair do seu caminho e ela pode te dar os detalhes – Everett respondeu, então correu para fora do quarto.

Covarde.

Jess se virou para mim e tirou as mãos de seus quadris para cruzá-las no peito.

– Onde está Rowen? – Ele perguntou.

– Ela está em casa, limpando e fazendo um bolo.

Os olhos de Jess se estreitaram e eu juro que o vapor começou a rolar do topo de sua cabeça.

– Brincando. Ela está bem atrás de você.

Eu fiz uma nota mental para não brincar com Jess quando ele estava com raiva.

Ele se virou para ver Roe se aproximando de nós com Ida.

Quando ela o viu, Roe correu os últimos passos em direção a ele e pulou em seus braços.

Nem Jess, nem Rowen disseram algo por alguns instantes. Ele apenas segurou ela quando ela enterrou o rosto em seu ombro e envolveu suas pequenas pernas em sua cintura até onde elas poderiam esticar.

Pelo que sei, Roe nunca abraçou Jess, então um salto rápido para um abraço de corpo inteiro significava que minha filhinha estava cem por cento apavorada.

PO.

– Você está bem, Pequena? – Ele perguntou suavemente em seu ouvido.

Ela assentiu e desembrulhou os braços do pescoço dele, se inclinando para mim.

Jess a depositou em meu colo e eu a embalei com meu braço bom.

– Tudo vai ficar bem. Eu vou ficar nova em folha, muito em breve. Promessa – eu sussurrei. – Você foi minha garota corajosa. Estou orgulhosa de você.

– Isso foi assustador, mamãe.

– Eu sei, querida. Eu sinto muito.

– Podemos ir para casa? – Ela perguntou.

– Em breve. Eu preciso ficar aqui por um tempo para que o remédio possa fazer o seu trabalho e me fazer sentir melhor. Então vamos para casa. Talvez devêssemos pegar uma pizza para o jantar? E sorvete?

Ela me deu um pequeno sorriso e assentiu. – Sorvete de chocolate.

– Está bem.

– Hora de se explicar, Georgia – disse Jess.

Suspirei e apertei Roe um pouco mais perto. – Eu estava no celeiro limpando o estábulo de trás. Havia uma cascavel atrás de um daqueles velhos fardos de feno. Eu não estava prestando atenção, então quando peguei o fardo de feno para jogá-lo fora, ela me mordeu.

Pensar nisso enviou uma nova onda de tremores no meu corpo. Rowen ficou tensa no meu colo enquanto ela tinha arrepios.

– Eu nunca vou no celeiro novamente. – Lágrimas encheram meus olhos.

– Eu também – disse Rowen.

A raiva de Jess desapareceu com a visão das minhas lágrimas e ele se mudou para nós, colocando uma mão na parte de trás do meu pescoço.

– Eu vou cuidar do celeiro. E da cobra. Certificar-me de que é seguro – disse ele.

Eu funguei e pisquei algumas vezes antes que as lágrimas pudessem cair.

– Isso é doce, Jess. Mas eu realmente não acho que posso entrar lá novamente. Cobras assustam a merda fora de mim. Esse lugar está contaminado para sempre. Você pode lacrar as portas? – Eu perguntei.

– Oh espere! Vamos queimar em vez disso. Podemos assar marshmallows no fogo.

Ele sorriu e apertou a mão no meu pescoço. – Temporada de fogo, querida. Acho que Nick do departamento de bombeiros iria desaprovar o xerife iluminando um celeiro e causando um incêndio na pradaria.

– Oh... Droga. Então vamos trancar as portas, e neste inverno, eu vou deixar um cigarro aceso ou doze lá fora. Eu não fumo, mas isso me dá cinco ou seis meses para começar.

– Não sou um grande fã de beijar um cinzeiro, Sardenta. Que tal você não se preocupar com o celeiro agora? – ele perguntou.

– Tudo bem.

Não pensar no celeiro era uma boa ideia. Mas ele estava sonhando se acha que eu voltaria lá. Aquele celeiro já era. Assim que eu pudesse pagar, eu contrataria alguém para derrubá-lo. Então eu ia construir uma garagem e estoca-lá com bebês suricatos. Porque qualquer pessoa que já tenha lido Rikki-Tikki-Tavi quando criança sabe que um suricato cuidaria das cobras. Então eu estava comprando muitos suricatos para a minha nova Garagem, assumindo que um suricato poderia viver em Montana, é claro.

Ele soltou a mão do meu pescoço. – Quanto tempo você precisa ficar aqui?

– Quarenta e cinco minutos, mais ou menos – eu disse depois de olhar para o relógio da parede.

– Certo – disse ele. —Vamos, Roe. Temos algumas coisas para fazer enquanto sua mãe termina aqui.

– Que coisas? – Rowen e eu perguntamos em uníssono.

– Tenho que levar meu caminhão até a fazenda para que eu possa levá-la para casa em seu carro. Pegar sorvete de chocolate e pizza. Essas coisas. Onde estão suas chaves?

– Jess... – Eu comecei, mas ele me interrompeu.

– Tem narcóticos nesse soro? – Ele inclinou a cabeça para o meu soro.

– Uh... Sim.

– Então você não está dirigindo. E Roe não pode andar na minha caminhonete sem sua cadeirinha.

Ele tinha um ponto.

– As chaves estão na minha bolsa. E algum dinheiro na minha carteira para o jantar – eu disse.

Ele apenas me deu uma olhada.

– Roe, vá pegar as chaves – disse ele.

Ele balançou a cabeça para mim e levantou as duas mãos para enquadrar os lados do meu rosto.

– Estou preocupado com você, querida – ele murmurou antes de se inclinar e me dar um suave beijo nos lábios.

Levantei a mão do meu braço bom e coloquei na sua bochecha.

– Estou bem.

Ele assentiu e me beijou levemente no nariz, depois pegou a mão de Rowen.

Seu gesto foi tão doce, tão perfeito, que me emocionou. Até agora eu não me permiti chorar, mas agora eu tinha um nó na garganta e sabia que era questão de segundos antes que eu não conseguisse conter as lágrimas.

Com a visão de Jess e minha filha se afastando de mim, de mãos dadas para fazer suas –coisas –, deixei as lágrimas caírem.


Capítulo Sete


Jess e Rowen chegaram para me buscar no hospital enquanto eu estava assinando os papéis da minha alta. Nós fomos para casa com uma pizza de calabresa, uma salada verde mista e um pote de sorvete de chocolate nas costas. Enquanto Rowen me deu os detalhes dos últimos quarenta e cinco minutos, Jess segurou minha mão no painel de controle toda a viagem para casa.

Bryant, um dos seus oficiais, ajudou Jess a levar seu caminhão para a fazenda. Roe tinha descoberto que Bryant tinha dois filhos. Sua filha tinha seis anos, perto da idade de Rowen, e Bryant a convidou para ir para uma festa de fim de semana (contanto que estivesse tudo bem comigo é claro).

Eu dei a ela o sinal verde e prometi entrar em contato com a esposa de Bryant e marcar em breve. Isso provocou um grito de alegria no banco de trás enquanto voltávamos para casa.

O terror de antes foi quase esquecido. Minha garota estava feliz novamente e Jess estava segurando minha mão. As coisas começaram a se corrigir no meu mundo e minhas pontas soltas estavam se juntando novamente.

– Você sabe quem é? – Perguntei a Jess depois do jantar.

Eu estava em pé na sala olhando um grande caminhão preto estacionar na casa.

– Sim – ele disse sem mais explicações, quando todos nós fomos para fora.

Nosso visitante era alto e atraente. Seu cabelo loiro estava saindo debaixo de um boné sujo de beisebol marrom. Ele era mais magro que Jess, mas aproximadamente da mesma altura.

– Geórgia, esse é Silas Grant. Silas, minhas garotas Gigi e Rowen – disse ele.

– Prazer em conhecê-lo, Silas – eu disse, tentando lembrar onde eu tinha ouvido o nome dele antes.

Eu conheci e ouvi falar sobre tantas pessoas desde que nos mudamos para Prescott, que não lembrei imediatamente. Finalmente, me ocorreu. Ele era o fazendeiro cujo bezerro havia sido morto misteriosamente, é o homem que Maisy descreveu como ex militar e, como aterrorizante.

Ela obviamente sabia mais sobre ele do que eu, porque à primeira vista, aterrorizante dificilmente era a palavra que me veio à mente. Na verdade, seus olhos castanhos escuros, olhando para a minha Roe, podem ter sido alguns dos mais gentis que eu já vi.

Silas abriu a porta traseira do caminhão, revelando uma grande caixa.

– O que tem aí? – Rowen perguntou.

Silas levantou da caixa um enorme gato preto e branco, o colocando rapidamente no chão. Ele saiu do seu caminhão enquanto colocava a caixa no chão. No fundo estavam três pequenininhos, adoráveis gatinhos pretos do tamanho da minha mão. Eles não poderiam ter mais do que duas semanas de idade.

– Gatinhos! – Rowen gritou, pulando para cima e para baixo. Ela foi direto para a caixa e imediatamente começou a brincar com os pequenos pacotes de pele. Nada existia em seu mundo naquele momento, exceto aqueles gatinhos.

– A mãe aqui é gentil com um comportamento calmo – disse Silas. – Ela não tem medo de pessoas e roda em torno da casa, especialmente se você adquirir o hábito de alimentá-los na varanda.

– Ok. – Eu balancei a cabeça.

– Os gatinhos são duas meninas e um menino. O menino é esse com as patas brancas. Eles são gatos de celeiro assim eles nunca foram vacinados ou foram para um veterinário. Mas eles vão manter os roedores longe.

– Desculpe, sou nova na vida do campo. Roedores são ruins porquê...?

– Os ratos atraem cobras, Sardenta – disse Jess.

Eu estremeci. Muitos roedores no meu celeiro. Daí a cobra.

E se houvesse ratos no celeiro, poderia haver algum que correria perto da casa, levando cobras dos limites do celeiro para o meu quintal, onde minha menina de quatro anos de idade adorava brincar.

– Ela gosta de brincar lá fora, Jess. Você não acha que cobras viriam aqui, não é? É seguro perto de casa?

– A maioria das criaturas, incluindo cobras, ficam longe das pessoas. Elas estão com mais medo de você do que você deles – disse ele.

– Eu duvido seriamente disso, querido. – O ‘querido’ apenas saiu, mas eu gostei.

– Querida, você estava perto demais, e você assustou aquela cobra no celeiro hoje. Ela não procurou você e te atacou cruelmente. Apenas reagiu por instinto. Nove em dez vezes, as cobras saíram antes que você chegasse perto. Pode ser que você estivesse quieta e não a ouviu. Poderia ter um ninho lá e não queria deixá-lo – disse ele.

– Ok, agora estou totalmente assustada de novo! – Acenei na direção do celeiro. – Um ninho? Significa que criaturas malignas em miniatura estão na minha propriedade?

– Vai ficar tudo bem. Eu disse que cuidaria do celeiro e o farei. Promessa. Apenas fique fora de lá – ele disse, envolvendo um braço em volta dos meus ombros.

– Em breve? – Perguntei.

– Amanhã.

– Ok. E para constar, essa cobra absolutamente me procurou e me atacou cruelmente. Não se atreva a defendê-la, – eu disse, apontando meu dedo indicador para o rosto dele.

Silas riu antes de tirar uma enorme sacola de comida de gato do caminhão. A sacola era duas vezes maior que Rowen.

– Que tal darmos uma olhada no celeiro? – Silas perguntou a Jess.

– Parece bom. Deixe-me pegar uma pá – disse ele e caminhou para o lado da casa.

– Para que conste, Gigi, os gatos ajudarão a manter as cobras longe. Não vi uma cobra pela minha casa ou celeiros em anos. Nem mesmo uma cobra de jardim.

– Obrigado. Isso ajuda – eu disse.

Ele acenou com a cabeça uma vez e saiu para acompanhar Jess.

Eu me agachei para examinar os gatinhos. Meus gatinhos. Eu nunca tive um animal de estimação antes. Nem um peixinho dourado.

– Como devemos nomeá-los? – Eu perguntei a Rowen.

– Mamãe, eu preciso pensar sobre isso. Eu não posso simplesmente dar-lhes nomes. Eu acabei de ganha-los, eu tenho que conhecê-los primeiro.

– Oh... Desculpa. Tolice minha assumir o contrário. Que tal nós levarmos eles até a varanda e você pode conhecê-los enquanto mamãe toma um copo de vinho? – Eu perguntei.

Enquanto caminhávamos, ela disse para as minhas costas: – Eu poderia conhecê-los ainda melhor se eles ficassem no meu quarto.

– Sem chance, Roe. Estes gatos ficarão do lado de fora.

Eu carreguei a caixa pelos degraus da varanda e entrei para pegar meu copo de vinho. Um grande copo.

Já estava quase no fim quando Jess e Silas saíram do celeiro com alguma coisa pendurada no final da pá de Jess.

Correção. Uma cascavel morta pendurada no final da pá de Jess.

Eu tenho arrepios com a visão do réptil agora morto.

Se Jess colocasse aquela coisa na minha lata de lixo, ele ganharia para si mesmo o dever do lixo por toda a vida. Eu nunca mais chegaria perto do lixo. Nunca. Mesmo depois de ter sido esvaziado cem vezes.

Felizmente, eles depositaram o cadáver na parte de trás do caminhão de Silas.

Eu esperei até que estivesse fora de vista, não querendo que Rowen olhasse e visse, então eu gritei para Jess, – Pode enviar aquela pá com Silas também. Nunca mais vou tocá-la.

Os dois sorriram enquanto Jess entregava a pá a Silas.

– Prazer em conhecê-la, Gigi – Silas disse, levantando a mão para mim. Eu acenei de volta antes dele apertar a mão de Jess e ir embora.

– Capitão Lewis – disse Rowen para Jess. Ele tinha acabado de pisar na varanda e ela imediatamente levantou o gatinho macho no ar.

– O quê? – Jess perguntou.

– O nome dele. É capitão Lewis.

Jess se inclinou e pegou o gatinho. Parecia ainda menor em suas grandes mãos.

– Capitão Lewis.

– Está ficando tarde, querida. Hora de se arrumar para dormir. Diga boa noite a Jess – eu disse.

– E os gatinhos? – Ela perguntou.

– Eu cuido disso. A mãe deles está em volta da casa. Eu vou movê-los para lá e colocar um pouco de comida. Eles estarão prontos para você brincar de manhã – disse ele.

– Obrigado, Jess – dissemos em uníssono antes de eu andar com Rowen para dentro para vestir o pijama nela.

Rowen caiu no sono rapidamente e quando eu desci as escadas, Jess estava sentado no sofá da sala, verificando algo em seu telefone. Seus olhos me seguiram quando me sentei ao lado dele.

– Você gostaria de algo para beber? – Eu perguntei.

– Água.

– Ok – eu disse, desenrolando minhas pernas para ficar de pé.

– Basta levar para a cama, Georgia.

– Uh... O que?

Eu afundei de volta no sofá, agora em pânico com a perspectiva dele passar a noite.

– Eu vou ficar aqui esta noite, Sardenta. Você teve um dia traumático e esteve no hospital. Eu não vou te deixar sozinha para ter um pesadelo.

– Jess, eu aprecio isso, mas o quarto de Roe está em frente ao meu. E eu não tenho uma cama de hóspedes ainda. Eu vou ficar bem. Você tornou tudo melhor hoje à noite, então eu não vou ter um pesadelo. Vá para casa.

– Eu vou ficar – disse ele e se levantou, me agarrando sob os braços e me puxando para cima.

No segundo que meus pés bateram no chão, sua boca desceu na minha e seus braços circularam minhas costas, me puxando para perto. O beijo foi longo, quente e úmido com muita língua. Quando ele finalmente me soltou, meus lábios estavam inchados e eu estava tonta.

– Água – disse ele. – Encontro você lá em cima.

Ele me rodeou, e então seus passos ecoaram pelas escadas.

Droga.

Se ele me beijasse durante cada debate, eu nunca iria ganhar.

Eu descongelei e caminhei até a cozinha, pegando um copo de água para nós e levando ao andar de cima. Ele desligou a luz do meu quarto e acendeu as duas lâmpadas de mesa. Ele também tirou a camisa, sapatos e meias.

Meus joelhos quase se dobraram com a visão dele em apenas um par de jeans. Jeans que caiam perfeitamente em seus quadris. Eu me atrapalhei com meu próximo passo e quase derrubei os copos de água.

Seu corpo era, perfeito, como esperado. Melhor do que eu tinha imaginado nas últimas duas semanas. Ombros fortes. Braços musculosos definidos. Um peito bem definido polvilhado levemente com pelos escuros. Ele tinha um pacote de seis em um abdômen esculpido e um rastro de pelos feliz em sua parte inferior do estômago que desaparecia sob o cós da calça jeans.

De pé ali sem camisa, ele instantaneamente aqueceu meu sangue. Eu o queria tanto que eu quase esqueci que Roe estava do outro lado do corredor. Quase.

Jess deve ter lido minha mente porque ele se aproximou de mim e removeu um copo de água da minha mão. Meu olhar estava colado ao seu peito, então ele enfiou o dedo sob o meu queixo, forçando minha cabeça para trás.

– Não esta noite, querida. Nós não vamos lá até termos a noite toda só para nós. Ok?

Eu balancei a cabeça, baixando meus olhos.

– Você entre em contato com a esposa de Bryant e consiga marcar aquela festa do pijama. Em breve.

Eu balancei a cabeça novamente.

Ele sorriu. – Prepare-se para dormir, Sardenta.

Eu fiquei parada. Eu estava trabalhando para encontrar a coragem para dar o meu próximo passo.

Inclinando-me, dei um beijo no peito nu dele, algo que eu queria fazer desde a noite em que ele veio e recebeu sua carta de Ben. Antes que ele pudesse ver minhas bochechas coradas, eu andei ao redor dele e entrei no banheiro.

Eu acabei de fazer isso? Não era meu costume ser atrevida com um homem. Com os dentes escovados, voltei para o quarto. Jess estava sentado ao pé da cama, seu jeans tirado e agora vestindo apenas um par de cuecas boxer pretas.

Eu balancei um pouco nos meus pés. Certamente ele tinha uma falha em algum lugar. Certo?

Suas pernas eram grandes e fortes, assim como o resto de seu corpo. Suas panturrilhas tinham uma sexy bola de músculo no topo que afinava até os tornozelos.

Ele se levantou, então passou por mim, escovando meu braço levemente. Esse pequeno toque percorreu todo o meu corpo, enviando arrepios para todos os lugares certos.

Eu pulei na cama e afundei no meu colchão macio. Minha mente estava correndo e eu estava à beira de um ataque de pânico na ideia de um homem dormindo na minha cama.

E não era qualquer homem. Era Jess.

Tentando relaxar, respirei fundo e girei minha cabeça, avaliando meu quarto.

Eu amava meu quarto. Era como meu próprio santuário pessoal. Meu rico edredom de carvão tinha todos esses pinos colocados aleatoriamente que se juntavam e se acumulavam de modo que se agitavam na minha cama. Minha cabeceira king size combina com minha cômoda e meus dois criados-mudos. Todos eles eram de um marrom escuro.

Meus abajures do criado mudo eram feitos de um metal bronze que tinha sido queimado com redemoinhos de vermelho, azul e cobre.

Além da cozinha, era o meu lugar favorito na casa.

Jess saiu do banheiro e veio para a cama. Toda a calma que encontrei momentos atrás evaporou.

Ele subiu, deitado de costas, e imediatamente me puxou para seu lado com um braço enrolado em volta dos meus ombros, o outro apoiado atrás da cabeça.

No começo, eu não sabia o que fazer. Cada músculo do meu corpo estava tenso. Jess também sentiu porque ele me sacudiu levemente. – Relaxe, Georgia. Durma.

– Eu não posso relaxar, Jess. Você está na minha cama.

– Estou ciente.

– Bem, pelo menos me deixe virar para o meu lado – eu disse.

– Não. Apenas relaxe. Você vai dormir aqui.

– Sério, Jess. Eu nunca dormi perto de ninguém além de Rowen antes. Eu não serei capaz de gostar disso.

– Sério? – Ele perguntou.

– Sério o que?

– Nunca dormiu ao lado de um homem antes?

– Uh... Não.

Droga.

Eu tinha acabado de abrir uma brecha para falarmos sobre meus relacionamentos anteriores, algo que eu não estava pronta para fazer. Obviamente eu não era virgem, tendo uma filha de quatro anos no outro lado do corredor, mas eu não achava que estivéssemos nesse ponto onde compartilhamos os detalhes íntimos de nosso passado.

E eu realmente não sentia vontade de falar sobre o meu. As palavras –Nate Fletcher – tinham um gosto azedo e me deixava doente.

– Bom – ele murmurou.

Bem, isso foi surpreendente. Eu imaginei que o xerife adoraria a chance de me interrogar. Eu estava tão aliviada que ele não fez, eu respirei fundo e me acomodei ao seu lado.

Demorei alguns minutos, mas a tensão finalmente deixou meu corpo. E quando aconteceu, eu estava chocada ao descobrir que dormir com Jess era confortável. Muito confortável.

Eu li sobre isso em romances e vi em filmes, mas sempre pareceu falso. Eu duvidava que qualquer mulher pudesse estar confortável espremida no corpo rígido de um homem. Dormir assim não era real, era apenas uma noção romântica.

Fiquei feliz por estar errada. Isso era legal.

Aproveitando seu calor, eu me enrolei ao lado de Jess e relaxei minha cabeça na curva de seu pescoço. Um dos meus braços estava debaixo de mim enquanto o outro descansava em seu torso.

O cheiro de Jess encheu meu nariz. Eu tinha recebido dicas antes, mas agora que eu estava deitada sobre ele, eu realmente podia respirar isso. Era incrível. Limpo e fresco.

–Que tipo de sabonete você usa? – Perguntei.

– Não tenho certeza. O mais barato que eles têm na loja. Maçã verde, eu acho.

– Hmm... Eu gosto disso.

Amanhã eu adicionaria sabonete de maçã verde na minha lista de compras.

Ficamos lá na escuridão silenciosa por alguns minutos e revivi os eventos do dia, conseguindo manter meu corpo relaxado quando pensei em ser mordida.

– Como você sabia que eu estava no pronto-socorro? – Perguntei.

Eu não tinha chamado ele no meu caminho para a cidade, e apesar de termos passado muito tempo juntos nessas últimas duas semanas, eu não acho que a população em geral sabia que éramos um novo casal.

– Bryant estava sentado em sua viatura fora da cidade. Viu você vir correndo. Decidiu segui-la em vez de te parar. Quando você chegou no pronto-socorro, ele me ligou.

– Oh – eu disse.

Se nosso relacionamento progredisse ao ponto em que estivéssemos juntos para dar grandes presentes de feriados e aniversários, eu precisaria fazer compras on-line ou fora da cidade. Jess tinha espiões em toda parte.

– Obrigada por ter vindo ao hospital e por estar lá para Rowen – eu disse. – Ela estava assustada. Foi legal da sua parte levá-la para que ela não precisasse sentar no pronto-socorro comigo. E obrigada por estar lá para mim também.

– Não é um sofrimento cuidar das minhas meninas – ele disse no meu cabelo.

Essa foi a segunda vez que ele nos chamou de minhas garotas e eu gostei ainda mais desta vez do que na primeira. Era possessivo, mas doce e carinhoso. Como se fôssemos os tesouros dele.

– Eu gosto quando você nos chama de suas garotas – eu sussurrei, sorrindo contra seu peito.

– Vocês são.

Meu sorriso ficou maior e eu envolvi meu braço firmemente em torno de seu torso.

Eu não sabia como, mas Jess havia transformado uma tarde ruim em uma noite maravilhosa. Nenhuma vez desde que ele chegou ao hospital, tentei colocar alguma distância entre nós. Eu apenas deixei as coisas acontecerem naturalmente, e foi ótimo deixá-lo cuidar de nós sem me preocupar com o que significava ou duvidando de suas intenções. Toda a preocupação e dúvida que eu mantive nestas últimas semanas foi cansativa.

Hoje, eu simplesmente não tive energia para sustentá-la.

Jess não parecia sobrecarregado pelo drama de hoje. Nem por um minuto. Talvez ele realmente gostava de nós e queria estar comigo, só por causa de, bem... De mim. Sem segundas intenções.

Ali estava ele na minha cama e não fizera nada para fazer sexo. E nada sobre os eventos de hoje sugeriram que ele estava tentando tirar a fazenda de mim. Inferno, se ele quisesse, tudo o que ele tinha que fazer era colocar uma cascavel na varanda da frente e eu nunca andaria pela porta novamente.

Eu estava começando a duvidar de mim mesma. Talvez fosse hora de começar a confiar em Jess e apenas deixar essa relação entre nós seguir seu curso.

Mas eu ainda não estava lá. Eu precisava de mais tempo.

Desligando minha mente, eu me aconcheguei mais fundo no peito largo de Jess, absorvendo a força de seu corpo. Eu respirei fácil. Limpo e fresco.

– E obrigada por nos arranjar bebês suricatos.


****

Jess


– Bebês suricatos? – Perguntei.

Quando ela não respondeu, eu inclinei meus olhos para baixo e vi que ela estava dormindo. Eu sabia que ela adormeceria ao meu lado se ela simplesmente desse o fora da sua cabeça.

Mas eu ainda tinha pensamentos correndo pela minha, então eu fiquei lá, sem dormir, com Georgia enrolada do meu lado.

Não é um mau lugar para estar.

Bryant me ligou mais cedo e disse que Geórgia estava entrando no pronto-socorro com sangue escorrendo pelo braço dela. Meu peito tinha se apertado tanto naquele momento que eu pensei que eu estava tendo um ataque cardíaco. O caminho para o hospital foi tenso. Nunca na minha vida eu estive tão preocupado. E isso estava dizendo alguma coisa, considerando como minha vida pessoal estava evoluindo.

Georgia e sua filha, morando na fazenda de Ben, estavam tomando conta da minha vida.

Eu era um homem que tinha evitado diligentemente apegar-me a qualquer coisa que não fosse meu trabalho na última década. Mas eu simplesmente não consegui afastá-las. Em vez disso, continuei tentando aproximá-las.

E toda vez que ela tentava colocar uma parede ou me distanciar, eu continuava puxando. Ela estava com medo, mas ela superaria isso. E quanto menos espaço ela tivesse para correr, melhor.

Cristo, nós não tínhamos feito sexo ainda. Algo que eu ia corrigir em breve.

Parte de mim queria dizer foda-se e tê-la aqui, esta noite. Mas pela primeira vez, eu queria sua atenção completa e incondicional. Eu queria que ela ficasse tão excitada que ela gritasse meu nome. E com Rowen do outro lado do corredor, sexo alto não era uma opção.

Eu precisava parar de pensar em foder Georgia. Meu pau duro estava a poucos centímetros de distância da perna dela. Então mudei o pensamento para o celeiro.

Uma mordida de cascavel.

Que. Porra. Foi. Essa?

Em todos os meus anos na fazenda, eu nunca tinha visto uma cobra aqui. Mas com certeza, quando Silas e eu fomos para o celeiro, lá estava. Exatamente onde ela disse que tinha sido picada. Provavelmente estava tentando construir um ninho atrás daquele fardo, mas não teve a chance de colocar seus ovos ainda. E isso nunca aconteceria. Eu estava mais do que feliz em cortar a cabeça da desgraçada.

Na segunda-feira, eu estava conversando com Ryan na Jamison Valley Construction sobre derrubar aquele celeiro. Eu pagaria extra para que fosse feito dentro de uma semana e então eu o teria construindo uma garagem em seu lugar. Georgia poderia manter seu carro dentro durante o inverno e eu me certificaria de que fosse grande o suficiente para os meus equipamentos também.

Porque no futuro não tão distante, eu estaria morando na casa da fazenda com minhas meninas.


Capítulo Oito


– Mamãe?

Eu pulei acordada e sai da cama. Eu dormi imóvel ao lado de Jess e ele também estava pulando para vestir seu jeans. Quando corri para a porta, olhei para o relógio.

Cinco horas

Destranquei a fechadura e abri, me ajoelhei na frente de Rowen.

– O que foi, garotinha? Você está bem? – Certamente deve haver algo errado se ela estava acordada tão cedo.

– O sol está nascendo, mamãe. Isso significa que posso sair da cama.

Quando ela tinha três anos, eu instituí uma regra que ela não podia sair da cama até o sol nascer. Ela tinha desenvolvido o mau hábito de levantar-se no meio da noite e entrar no meu quarto para dormir comigo. Bem, ela dormia. Eu era chutada no rosto, estômago e costelas.

Eu torci meu pescoço para as janelas. O sol definitivamente não estava alto.

– Uh, querida, o sol ainda não apareceu. Ainda está escuro. Você precisa voltar para a cama – eu disse.

Ela me ignorou completamente porque quando eu me virei para olhar as janelas, seus olhos tiveram um vislumbre de Jess.

– Jess teve uma festa do pijama?

Era cedo demais para ter essa conversa.

– Sim, Roe, eu tive uma festa do pijama. Você está bem com isso? – ele perguntou, pegando-a.

– Sim – disse ela, dando uma geral.

Suas sobrancelhas se juntaram no meio. – Esses são seus pijamas? Por que você dorme em jeans? Mamãe não me deixa dormir em nada além do meu pijama. Ela diz que se eu dormir em meus vestidos, eles ficarão destruídos.

Eu não pude deixar de rir.

– Roe, querida, que tal guardarmos as perguntas até que mamãe e Jess tenham algum café. Ok?

– Mas, mamãe...

– Sem, ‘mas’, Rowen. Deixe-me pegar um suéter e vamos descer para preparar o café da manhã, Ok? E então você pode fazer todas as perguntas que quiser.

– Ohhh-kaaay – ela fez beicinho.

– Estamos todos acordados cedo e é domingo. Apenas algumas semanas para desfrutar do verão. Que tal irmos para Wade Lake pescar? – Jess perguntou.

Eu resmunguei, – Pescar? – Ao mesmo tempo que Roe gritava – Pesca!

Ambos me olhavam com grandes sorrisos em seus rostos.

Eu acho que nós vamos ir pescar.


****


Encontrei Jess lá fora quando ele voltou para a fazenda com seu barco. Atrás de um caminhão azul mais velho estava um barco de alumínio prateado brilhante com varas e remos saindo dos lados.

O barco não foi uma surpresa desde que obviamente tínhamos que ter um para pescar. O caminhão foi um pouco chocante, mas só porque eu não tinha ideia de que ele dirigia outra coisa senão o gigante de bronze. Mas eu fiquei totalmente surpresa com o grande cachorro preto que ele trouxe também.

– Oakley – Jess chamou. O cachorro deu um salto para fora do caminhão e caminhou até o lado de Jess.

– Você tem um cachorro? – Perguntei.

Ele não teve a chance de responder. Roe saiu pela porta, carregando sua pequena mochila rosa, e congelou ao ver Oakley. Ela imediatamente correu atrás das minhas pernas, agarrando pela sua vida.

– Mamãe, isso é um bom cachorrinho ou um cachorrinho malvado?

Havia muitos donos de cachorros em Spokane e eu tinha visto meu quinhão de mordidas no PS, então eu ensinei a Roe desde o início que alguns cães eram legais e outros não. Ela precisava me perguntar antes de se aproximar de um estranho.

– Este é Oakley – Jess disse a ela. – Ele é legal. Você quer vir dizer olá?

Ela assentiu com hesitação e caminhou lentamente para ele.

Jess subiu os degraus e estalou os dedos para Oakley vir.

– Venha aqui, Pequena – disse Jess, ajoelhando-se perto do cão e estendendo a mão.

Quando ele chamou Roe de –Pequena –, isso aqueceu meu coração. Ninguém, exceto eu, nem mesmo Ben chamava ela por um apelido. Eu adorava que ela tivesse esse tipo de afeição especial de Jess.

– Veja? Bom – ele disse, a ajudando a acariciar a cabeça do cachorro.

Ela deu-lhe um pequeno sorriso, mas ainda estava apreensiva.

– Vamos indo, ok? Você e Oakley podem se conhecer um pouco melhor mais tarde – eu disse.

Uma hora depois, estávamos dirigindo em uma estrada de cascalho esburacada que serpenteava ao lado das montanhas através da floresta densa e verde. As árvores diminuíram e nós entramos em um largo, estacionamento de cascalho na margem do Lago Wade.

Eu respirei fundo enquanto meus olhos viajavam pelo cenário. Nós tínhamos acabado de chegar ao céu.

O lago se estendia à nossa frente. A água era impecável, como vidro, e nem um sopro de vento no ar perturbava sua superfície pacífica. A floresta descia abruptamente para encontrar a beira da água, sua superfície espelhada e maculada refletia as árvores verdes e o céu azul.

Magnífico.

– Bonito, hein? – Jess perguntou.

– Você poderia dizer que sim. – Eu estava em total admiração da beleza diante de mim.

Com o barco na água, um colete salva-vidas em Roe e Oakley dançando de um lado para o outro, nós partimos para o lago.

O vento passou pelos meus cabelos enquanto cortávamos as águas paradas, o único som era o zumbido do motor e do ar passando por nós.

Jess nos levou através da parte principal do lago e depois por um canal escondido atrás de uma grande colina. Ele desacelerou, depois desligou o motor, então estávamos flutuando e balançando no meio do lago. A bela água azul abaixo de nós gentilmente batia contra o barco de alumínio.

A floresta verde nos cercava à distância. O ar da montanha era fresco e refrescante, mas o sol brilhava, nos mantendo aquecidos.

Eu estava amando pescar e não tínhamos sequer colocado uma vara na água.

Jess nos ensinou a pescar enquanto ele nos mostrava ao redor do lago. Havia cinco diferentes canais em Wade Lake. Quando Roe ficava inquieta em um lugar, ele nos levava para um novo.

Jess pegou três peixes. Roe pegou dois. Eu estava contente em assistir e cuidar de Oakley.

Rowen estava tão animada na primeira vez que sua vara se mexeu que ela pulou e soltou a vara. Se Jess não tivesse prendido isto ao barco, teria ido para dentro do lago. Então enquanto ela estava girando a manivela de sua linha, ela começou a saltar para cima e para baixo tanto que Jess se preocupou que ela perderia o peixe. Ele deixou que ela abandonasse a situação e assumiu o controle para poder agarrar a lateral do barco e espiar pela beirada, esperando vê-la pegar.

Ela nem sequer tentou se recuperar no segundo peixe. Ela apenas pulou em sua cadeira e empurrou a vara para Jess para que ele pudesse assumir seu lugar e vê-lo trazer o peixe, Oakley bem ao lado dela, ambos olhando fixamente para a água.

Após cerca de dez minutos no barco, Roe tinha se entusiasmado com Oakley e eles ficaram amigos rapidamente. Ele era um cão doce com um temperamento ameno e obedecia a ordens melhor do que qualquer cachorro que eu já vi antes.

Jess me disse que Oakley não era realmente seu cachorro, mas pertencia à delegacia.

Ele passava a maior parte do tempo com Jess ou um oficial durante o dia, mas sua cama ficava na delegacia e ele ficaria as noites lá com quem estava de plantão para receber chamadas de emergência.

Juntamente com a pesca, passamos muito tempo à procura de vida selvagem. Jess normalmente encontrava os animais e pássaros e nos mostrava onde procurar. No total, vimos cinco cervos, uma tartaruga perto de uma das margens, uma mamãe pato e seus seis patinhos e uma águia careca voadora.

Mas não outras pessoas. Hoje o lago era nosso. Apenas Rowen, Jess e eu cercados por beleza que só Deus poderia criar.

Uma benção.

Enquanto nós estávamos dirigindo de volta para a fazenda, Roe dormindo no banco de trás, eu alcancei e peguei a mão de Jess.

– Obrigada, querido – eu disse, dando um aperto.

Ele entrelaçou seus dedos com os meus. – Ótimo dia.

Sim. Absolutamente era. – O melhor.


****

Jess


– O melhor – ela disse naquela doce e suave voz que costumava usar comigo com frequência. Logo depois de me chamar de –querido – algo de que gostei muito.

Eu nunca levei ninguém para Wade Lake antes.

A pesca me dava a chance de libertar minha mente, ignorar os fardos do meu trabalho, minha mãe e tudo o mais que pesava sobre mim. Apenas algumas horas em águas cristalinas para encontrar alguma paz. Esquecer tudo. Eu geralmente conduzia o barco para um canto silencioso e deserto e ficava lá o dia todo, imóvel.

Hoje certamente não estava quieto. Roe tinha tagarelado o tempo todo, revezando-se ao falar comigo, sua mãe ou o cachorro. Geórgia chamaria a atenção para animais, pássaros ou o que mais ela pensasse que Roe gostaria de ver. E eu passei a maior parte do dia conduzindo elas ao redor do lago inteiro. Cristo, eu usei mais gasolina hoje do que em todo o ano passado.

Mas, assim como os jantares de sexta-feira à noite no café, eu nunca iria pescar sozinho novamente. Porque o que eu pensava que era paz era apenas uma ilusão. Hoje, com a Geórgia e o Roe, aprendi o que era realmente paz.


****

Gigi


– Olá querida.

Eu estava na ilha da cozinha cortando legumes para o Yakisoba. Roe não gostava, então eu estava feliz que ela estava fora brincando com os gatinhos e não na cozinha reclamando sobre a minha escolha de jantar.

Era terça à noite, dois dias desde a nossa viagem de pesca e sua primeira festa do pijama, e Jess estava saindo do trabalho, vindo à fazenda para o jantar.

– Oi – eu disse, levantando minha bochecha para que ele pudesse dar um beijo rápido. – Como foi a luta contra o crime hoje xerife?

Ele recostou-se contra o balcão em frente a mim. Seus braços cruzados sobre o peito e suas pernas estavam esticadas, fazendo seu jeans puxar diretamente para as coxas. Ele tinha enrolado as mangas, revelando seus antebraços fortes. Sua postura era quente. Mas minha parte favorita de Jess estar aqui era o jeito que ele andava descalço. Isso sim era sexy.

Eu precisava abanar meu rosto agora corado, mas não queria que Jess visse.

Ele não tinha se barbeado esta manhã, então ele tinha barba por fazer no rosto bonito. Eu mal podia esperar para sentir essa barba contra a minha pele mais tarde hoje à noite. Nós tivemos algumas sessões de amassos muito quentes. Jess sempre nos parava antes que pudéssemos nos deixar levar, geralmente indo embora para a sua própria casa logo depois que parávamos de nos beijar.

No começo foi divertido. Como quando você começava a beijar na adolescência. Mas, depois de semanas, não era mais novidade. Queria mais, muito mais.

Nós dois queríamos desesperadamente aliviar a tensão sexual que continuava crescendo mais e mais. Mas ele era inflexível em esperar até que Rowen não estivesse em casa.

– Tive que arquivar o caso sobre Alex Benson hoje – disse Jess, puxando meus pensamentos para longe do sexo.

– Quem?

– Alex Benson. Cara que conseguiu essa surra no mês passado.

– Oh, certo. O desconhecido. Por que você teve que fechar o caso? Você descobriu quem o espancou?

– Não. Ele nunca deu a Sam mais nada para continuar. Ficou de boca fechada e depois saiu da cidade no dia em que ele foi liberado do hospital. Eu mantive o arquivo aberto por uma semana no caso de alguém vir com alguma informação, mas decidi hoje que estava morto. Marquei sem solução e tirei Sam da investigação. Não que ele estivesse achando muita coisa de qualquer maneira.

– Sinto muito – eu disse.

Ele encolheu os ombros. – Nada mais a fazer. Preciso de Sam trabalhando em outras merdas. É um saco. Eu porra odeio não resolver um caso. Isso me atormenta. Até este verão, eu estava com sorte. Dois anos com cem por cento de casos resolvidos.

– Mamãe? – Rowen chamou, interrompendo nossa conversa.

– Cozinha!

Ela veio correndo pela porta, carregando o capitão Lewis em seus braços.

– Mamãe...

– Rowen, você põe esse gatinho lá fora. Eles não vêm em casa. Nós conversamos sobre isto.

– Mas...

– Não. Lá fora agora.

– Tudo bem –, ela fez beicinho e bateu seus pezinhos pelo corredor.

Balançando a cabeça, eu disse a Jess: – Ela está um terror desde que eu a peguei de Quail Oca1 esta tarde. Vamos dormir mais cedo.

Ele se afastou do balcão e ajustou seu grande corpo nas minhas costas, envolvendo seus braços ao meu redor e inclinando-se para sussurrar no meu ouvido.

– Isso significa que temos tempo extra hoje à noite. Talvez tentar algo diferente de te beijar no sofá.

Meu corpo inteiro estremeceu quando ele beijou levemente meu pescoço naquele ponto escondido logo atrás da minha orelha. Eu nunca ia deixar meu cabelo solto novamente. Eu queria que ele tivesse acesso total a esse ponto a qualquer momento.

– Eu posso pensar em algumas coisas que poderíamos fazer – eu sussurrei.

Os passos de Rowen soaram no corredor enquanto ela se dirigia para a cozinha mais uma vez.

– Mamãe. Eu posso... – Ela olhou para Jess me segurando por um segundo e então seus olhos dispararam para a bancada. – O que vamos comer?

– Yakisoba.

– Não! Eu não gosto de Yakisoba! – Ela gritou. – Posso comer nuggets de frango? Por favor?

Eu me mexi do abraço de Jess. – Não, Roe. Estou fazendo o jantar para todos nós e vamos comer a mesma coisa. Você pode comer nuggets de frango no almoço amanhã na escola.

– Não! Eu quero eles agora! Eu não quero comer Yakisoba!

– Rowen Grace Ellars! Pare de gritar, – eu disse, usando a voz da minha mãe. – Já chega desse comportamento, mocinha. Você pode ir direto para a cama sem jantar ou parar de gritar comigo e comer Yakisoba com a gente. Agora, o que vai ser?

Ela apertou os lábios em uma carranca e olhou para os pés. Os braços dela cruzados sobre o peito quando ela soltou um –humph – com raiva.

– Bem? Qual a sua escolha?

– Jantar – ela murmurou.

– Boa escolha –, eu disse. – Agora, por que você não ajuda Jess a arrumar a mesa? Ele pode colocar os pratos e você pode colocar os talheres.

Nós jantamos em silêncio porque Rowen estava fazendo beicinho e não nos crivou com sua típica miríade de perguntas. Jess e eu não tínhamos muito a dizer, então nos concentramos em comer. O mau humor de Rowen havia infectado a atmosfera.

Depois de limpar os pratos, ordenei a Rowen que dissesse boa noite a seus gatinhos, mas depois voltasse para dentro.

Meu queixo estava cerrado quando ela pisou no corredor. Esta noite minha doce, tagarela, curiosa filha estava longe de ser encontrada. Em seu lugar estava uma pequena pirralha.

– Desculpe por Roe.

– Não é grande coisa, Sardenta. Ela é uma criança, elas podem ficar irritadas de vez em quando.

– Obrigada. – Eu estava grata por ele ser tão paciente com a minha garota.

Uma hora depois, a hora do banho estava terminada e eu estava andando pelo corredor até o quarto de Roe.

– Rowen, hora de dormir, garotinha. Você separou suas roupas para o recital de amanhã?

Eu parei abruptamente no segundo em que entrei em sua porta. O chão estava coberto com uma montanha de roupas. Camisolas, vestidos, calças, saias e camisas cobriam o chão.

Roupas que uma vez pendurei meticulosamente no armário ou dobrei bem na cômoda.

– O que está acontecendo...

Eu parei a minha pergunta quando um grito frustrado veio do armário e sua última peça restante veio voando pelo ar.

– Rowen. Saia daí agora.

Ela saiu do armário e pisou sobre as roupas para o meio do quarto.

– Essa bagunça não é legal. O que está acontecendo? – Eu perguntei.

– Não consigo encontrar minha saia rosa fofa em qualquer lugar! Eu queria usá-la para o recital! – Seus olhos inundaram e seu queixo estremeceu.

– Que saia fofa rosa? – perguntei, mesmo sabendo de qual saia que ela estava falando. E se eu estava certa, estávamos à beira de um colapso.

– A saia rosa felpuda com os pontos brilhantes prateados.

Meu pequeno super vulcão estava prestes a explodir.

PO.

– A que o Papa Ben lhe deu? – Perguntei.

– Sim! – Ela chorou. – Eu quero usá-la para o meu recital. – Seu peito arfava com uma respiração espasmódica.

Eu entrei mais no quarto, andando por cima das roupas espalhadas, me ajoelhando na frente dela. O que eu estava prestes a dizer a ela não ia ser divertido.

– Garotinha, aquela saia era bem pequena. Ben comprou para você quando você tinha três anos. Agora você tem quatro, é uma garota grande. Não cabia mais em você, então eu tive que dar para o Exército da Salvação com todas as suas outras roupas de três anos de idade.

– Nãooooo! – Ela gritou antes de entrar em um ataque de soluços.

Eu passei meus braços ao redor dela em um abraço apertado, gentilmente acariciando suas costas enquanto ela chorava.

Isso não era sobre a saia, isso era sobre Ben.

Ela se afastou para gritar comigo. – Ben deu essa saia para mim, mamãe. Por que você jogou isso fora? Eu preciso disso de volta! Ele me deu! Pegue de volta!

Eu tentei puxá-la para perto novamente, mas ela não estava aceitando isso. Ela começou a se contorcer e se afastar com seus braços pequenos.

– Eu sinto muito, Roe. Eu dei no ano passado. Tudo se foi e eu não consigo recuperá-la – eu disse.

– Eu quero o meu papa Ben! – Ela gritou. Então seu pequeno corpo desmoronou novamente no meu e ela chorou incontrolavelmente.

Eu a segurei com força, sentada no chão e a embalando no meu colo. Ela soluçou e soluçou e partiu meu coração. Mas tudo o que eu pude fazer foi abraçá-la e balançá-la para frente e para trás. Eu não suportava ver minha garota tão devastada e com o coração partido. Os sons que vem do seu corpinho estava tão cheio de dor que comecei a chorar também.

Ficamos sentadas ali chorando juntas até que dois grandes braços nos circularam, nos tirando do chão.

Jess nos levou para a minha cama, deitando Rowen e eu suavemente antes de deslizar atrás de nós. Então ele nos envolveu novamente em seus braços, nos dando sua força e seu calor. Eu me enterrei em seu lado enquanto Roe se agarrava ao meu peito, ainda soluçando.

Depois de um tempo, consegui controlar minhas próprias lágrimas e comecei a sussurrar no topo da cabeça de Roe, a encorajando a tentar parar com o choro dela.

Quando ela finalmente chorou o que precisava, ela ficou firme no meu colo. Sua bochecha estava descansando contra o meu coração e ela estava olhando por cima do meu ombro para Jess.

– Você está bem, Pequena?

Ela assentiu e fungou.

– E você, Sardenta?

– Estou bem.

Ele levantou a mão para o lado do rosto de Roe. Sua grande mão envolveu seu pequeno maxilar enquanto ele gentilmente acariciou o polegar em sua bochecha, secando as lágrimas.

– Não chore, Roe – ele disse a ela.

– Sinto falta do meu papa Ben – ela disse, chorando de novo. – Mamãe disse que ele está no céu com Vovó e os anjos.

– Tenho certeza que ele está – disse Jess, pegando as novas lágrimas.

Eu não sabia como aliviar sua dor. Como explicar a morte de uma maneira melhor. E eu não sabia como fazê-la passar por esse período difícil. Ela era tão jovem e inocente, e Ben tinha sido uma parte tão grande de sua vida. Tudo o que eu pude fazer foi abraçá-la e lembrá-la que eu a amava muito.

– Quer saber como eu conheci Ben? – Jess perguntou.

– Sim – Roe assentiu.

– Quando eu era criança, não tinha um pai em casa.

– Tipo como eu? – Roe perguntou.

– Sim. Mas minha mãe não é como sua mãe. Sua mãe é forte. Cuida muito de você. Minha mãe, bem, ela estava muito doente, então eu tive que cuidar dela. Grande trabalho para um garotinho. Um dia eu estava caminhando para casa do mercado com meus braços cheios de sacolas. Começou a nevar e eu tinha um longo caminho a percorrer. Uma caminhonete parou ao meu lado e Ben saiu. Ele me fez colocar as sacolas na traseira e ele me levou para casa.

– Ele fez? – ela perguntou.

– Sim.

– Quantos anos você tinha? – Perguntei.

Ele pensou nisso por alguns segundos. – Nove.

Eu estremeci. Nós não tínhamos conversado sobre sua família ainda, mas eu não podia acreditar que ele teve que assumir tais responsabilidades. Crianças de nove anos não deveriam comprar mantimentos. Mais cedo ou mais tarde, precisava perguntar sobre seus pais.

– Ben nunca me deixou ir até o supermercado novamente. Me pegava da escola todas as quartas e me levava para o supermercado. Então para minha casa – Jess disse.

– Mamãe sempre foi ao supermercado para Ben – Rowen disse a ele.

Jess sorriu. – Ainda bem que ela poderia ajudá-lo.

– O que mais vocês fizeram? – Roe perguntou.

– Bem... Ele me deixava vir aqui depois da escola. Deixou-me ajudá-lo a cortar a grama ou trabalhar em obras. Me ensinou muitas coisas. Como usar ferramentas, como consertar sua caminhonete. Ele vinha aos meus jogos de futebol. Às vezes também nos treinos.

– O que mais? – Roe perguntou.

– Ele me levou para pescar.

– Ele fez?

– Sim. No mesmo lugar que fomos. Era o seu lugar favorito. Disse que era onde ele pegou seu maior peixe.

– Mesmo?

– Sim – disse ele. – Que tipo de coisa você fazia com o Ben?

– Ele lia livros para mim. E nós coloríamos coroas. Ele construiu minha casa de bonecas para que elas tivessem um lugar para dormir – disse ela.

– Parece divertido – disse Jess.

Ficamos quietos por mais algum tempo, aproveitando o conforto de estarmos bem apertados juntos na minha cama macia. Então todos descemos para brincar com os gatinhos antes de dormir.

– Esses gatinhos precisam de nomes – eu disse.

Enquanto Rowen estava brincando com seus animais de estimação, eu estava reclinada no balanço da varanda, curtindo a vista do belo pôr do sol.

Jess estava sentado no chão, os gatinhos entre suas longas pernas esticadas. Rowen estava empoleirada a seus pés, seu bloqueio improvisado impedindo os gatinhos de escapar.

– Que tal nomes de flores? – Roe perguntou.

– Eu gosto disso. Quais flores?

– Você pode me dizer alguns nomes de flores?

– Bem... Há Rosa, Lírio, Peônia.

–Rhododendron2, – acrescentou Jess. (Azaleia)

–Row-da-nen-drum? – Roe riu. – Isso é engraçado. O que mais?

– Delphinium – disse ele.

Ela riu novamente. Música para os meus ouvidos, fazendo o meu sorriso maior.

– Del-se-ni-um? O que mais?

– Crisântemo.

Roe deu uma gargalhada e caiu contra o chão. – Chris-te-mamãe?

Meus olhos encontraram os de Jess. O enorme sorriso no meu rosto combinava com o dele, enquanto o riso de Roe enchia o ar.

Felicidade.

–Obrigada –, eu murmurei.

Ele não respondeu. Meu coração pulou quando o sorriso dele ficou maior.

– Ok, Pequena. Quais você vai escolher?

– Hmm... – disse ela, tirando um momento para controlar o riso. – Eu acho que Rose e Peônia.

– Excelentes escolhas – eu disse. – E a gata mãe?

– Jess, você pode escolher um nome? – Rowen perguntou.

Ele ficou olhando por um momento, depois falou: – Sra. Fieldman.

Eu ri ao mesmo tempo que Rowen perguntou: – Sra. Fieldman?

– Sim. Minha professora da quinta série, – ele disse.

– Ela era sua professora favorita? – Perguntei.

– Não. Mas ela parecia com aquele gato.

– Você é engraçado, Jess – disse Rowen através de suas risadas.

Ela voltou a brincar com os gatinhos e retomei minha apreciação do pôr do sol.

– Jess? – Roe chamou.

– Sim?

– Você pode vir ao meu recital amanhã?

– Claro.

Ela virou os olhos para mim e sorriu enorme.

Nós ficaríamos bem. Absorvendo seu sorriso, eu tinha certeza de que era verdade. Algum dia a dor de perder Ben não iria doer tanto. Eu sempre ficaria triste por Mamãe e Ben não poder estar conosco para ver Rowen crescer, mas a dor diminuiria.

– Georgia, você quer me pegar na delegacia? – Jess perguntou.

– Certo. O recital começa às seis. Vou pegar a Roe às cinco, voltar aqui para me trocar e depois vou buscá-lo até as cinco e meia. Tudo bem?

– Parece bom.

– Por que você sempre chama mamãe de 'Georgia' ao invés de 'Gigi' como todo mundo?

Rowen perguntou.

Eu notei sua preferência pelo meu nome completo, mas não lhe perguntei por quê.

Seus olhos brilhavam enquanto viajavam dela para mim. –Porque atrás de Rowen, aGeórgia é o nome mais bonito que já ouvi.

Nunca na minha vida um homem disse algo tão gentil e maravilhoso para mim e para a minha filha.

Outra onda quente de felicidade percorreu meu corpo e se instalou em meu coração.


Capítulo Nove


– Você ligou para Jess Cleary. Se esta for uma emergência, ligue para 9-1-1. Você também pode me encontrar no escritório do xerife. Caso contrário, deixe uma mensagem.

– Jess, – eu cortei. – Acabei de desligar o telefone com o Ryan. Ele disse que você já pagou a ele para derrubar o celeiro e, desde que começaram, não podem parar. Seria também perigoso deixar parcialmente derrubado. Então ele me informou que ele tem os planos elaborados para a nova garagem e sua equipe estará começando na próxima semana. Claro, eu disse a ele que sob nenhuma circunstância ele está autorizado a iniciar o projeto, visto que eu não tinha ideia sobre o que ele estava falando. Mas tarde demais. Você já assinou o contrato e pagou o depósito.

Eu suguei um pouco de ar. – Quando eu disse a ele que eu era a dona da propriedade, não você, ele disse algo sobre prioridade e você sendo o zelador a longo prazo e ter feito obras lá no passado, blah, blah, blah. Ele é basicamente um covarde e não quer desistir do contrato e te chatear. Ah, e então ele me informou que se eu fosse ter um conflito com o zelador, eu deveria registrar uma queixa oficial no escritório do xerife.

Outro suspiro e continuei com minha mensagem irritante. –Isso não está certo, Jess. Você não pode tomar essas decisões sem discuti-las comigo primeiro. Então, xerife, você pode tomar isso como minha reclamação oficial. Você também pode encontrar novos planos para a noite porque vou dizer a Maisy que ela não precisa se preocupar em tomar conta de Roe.

Eu desliguei o telefone e soltei um grunhido frustrado.

Era a sexta-feira seguinte ao recital de Roe, e eu estava sentada na sala da equipe no hospital.

Correção. Eu estava fervendo na sala da equipe.

– Ah, Gigi? Você está bem? – Maisy perguntou atrás de mim.

– Não. Eu não estou. Mas boas notícias para você, você está livre de ter uma festa do pijama com Rowen esta noite.

Ela sentou na cadeira em frente a mim.

A sala dos funcionários era uma pequena sala quadrada e incolor, sem janelas.

Eu não tinha passado muito tempo na sala. Eu acho que a maioria dos funcionários do hospital achavam a sala tão deprimente quanto eu, porque quase sempre estava vazia. As pessoas se moviam para pegar um pouco de café ou arrumar uma refeição na geladeira, mas eles tendem a encontrar um outro lugar para gastar seu tempo.

Eu não queria uma audiência para o meu telefonema então eu tinha entrado na sala, pensando que era a minha aposta mais segura. Mas a maneira como o meu dia estava indo, eu não estava totalmente surpresa que só isso não adiantaria. Eu deveria ter ido para o meu carro.

– Desculpe – eu disse. – Eu não quis dizer para você. Eu estou apenas assim... Assim... Puta! – Minhas mãos estavam cerradas e tremendo.

– Eu acho que você e Jess estão brigando?

– Oh sim, estamos brigando.

– O que aconteceu? – Ela perguntou.

Eu respirei fundo. – Bem, você sabe sobre o incidente no último sábado com a criatura do diabo.

Ela assentiu.

– No sábado, ele e Silas mataram a criatura do diabo, então eu estava pensando que estávamos todos bem, certo?

Ela assentiu novamente.

– Errado. Esta manhã, pouco antes de sair, três caminhões e uma caminhonete carregando uma enorme caçamba de lixo chegou na minha casa. Aparentemente, Jess contratou esse cara Ryan para vir derrubar meu celeiro.

– Ryan Edwards. Tipo, o cara mais legal de todos os tempos, – ela disse.

– Sim, ele parecia legal. Tanto faz. Isso é irrelevante. Jess nem sequer discutiu isso comigo. Ele apenas tomou a decisão. Sem me comunicar. Para o inferno com o que eu queria – eu disse, sacudindo meu pulso no ar.

– Isso é uma merda. Você gostava do celeiro? – Ela perguntou.

– Claro que não. Eu ia derrubar aquela coisa. Mas o ponto aqui é que ele não falou nada comigo. Eu odeio que alguém tome decisões por mim. Eu não sou uma criança. É a minha casa e deveria ter sido a minha escolha. Eu poderia ter conseguido derrubar essa coisa sem ajuda dele!

– Então, o que Jess disse quando você contou tudo a ele?

– Bem, quando liguei para dar a ele um pedaço da minha mente, ele não respondeu. Então eu deixei duas mensagens de voz bastante iradas em seu telefone. A primeira dizendo que eu estava chateada e o porquê. A segunda, bem...

– Sinto muito, Gigi – disse ela.

– Está bem. Obrigado por me deixar desabafar. Desculpe.

– A qualquer momento – disse ela.

– Me distraia. Diga o que há de novo com você. Tire minha mente desse negócio de celeiro.

– Bem... Eu estava realmente vindo para te encontrar porque eu tenho as melhores notícias de todos os tempos! – Ela se contorceu em sua cadeira. – Então você sabe como eu tomei o turno da noite extra na noite passada?

Eu assenti.

– Bem, o Dr. Carlson estava trabalhando até tarde também. Foi tão lento. Tipo, a noite mais lenta de sempre. Eu só tive dois pacientes no segundo andar e o resto das unidades estava vazia. Então depois que os pacientes dormiram, eu não tinha nada para fazer. Eu estava sentada no posto das enfermeiras lá em cima, entediada, e ele veio falar comigo por horas! Até o final do meu turno.

– Bom! – Eu disse.

– Eu pensei que ele poderia me convidar para sair porque havia muito flerte acontecendo. Ele não fez isso, então eu estava muito chateada. Mas eu esbarrei nele no corredor e ele me convidou para tomar uma bebida amanhã à noite. Não é a coisa mais incrível de todas?

– Sim é! Eu realmente gosto dele. Ele parece ser um cara legal e não é muito difícil de se olhar. – Eu pisquei.

Ela fez um daqueles aplausos femininos na frente de seu peito e saltou para cima e para baixo em sua cadeira. O sorriso no rosto dela era contagiante.

Nas últimas semanas, ela tentou fazer Everett notá-la. Nada muito na cara ou desagradável. Ela sempre se certificava de incluí-lo em conversas e perguntar como ele estava. Foi doce como ela o fez se aproximar.

– Então, o que você vai usar para sair? – Eu perguntei.

– Puxa, eu não sei. – Antes que ela pudesse continuar, seu telefone tocou em seu bolso.

Tirando isso, ela olhou para a tela e, em seguida, seus olhos foram direto para os meus.

– Olá – disse ela, soltando os olhos para os pés.

A outra pessoa estava falando porque Maisy não disse mais nada.

– Uh... Tudo bem, – ela murmurou antes de desligar. Ela olhou para mim e franziu o nariz dela.

– O quê? – Eu perguntei.

– Bem, isso foi, hum, Jess – disse ela.

Meu sangue ferveu e fechei os olhos para ouvir o que ela tinha a dizer em seguida.

– Ele disse que ainda está de pé para passar a noite com Rowen.

– O que? Ele está sonhando! – Minha cabeça ia explodir. – Você sabe o que? Bem. Ele quer uma festa do pijama, ele vai ter uma festa do pijama. Eu não sei o que vou fazer ainda. Mas oh cara... Ele está mexendo com a garota errada!

– Desculpe – disse Maisy.

– Oh, querida, não se desculpe. Eu não estou nem um pouco brava com você. Mas eu estou absolutamente lívida com o Xerife Cleary.

Respirando fundo, cerrei as mãos sem firmeza algumas vezes. Finalmente inspirando profundo pelo nariz, eu disse: – Se você ainda está bem com isso, venha às seis?

Ela assentiu.

– Ok, perfeito. Se você quiser vir às cinco e meia, você pode abrir meu armário e procurar uma roupa para o encontro no sábado.

– Perfeito! Eu estarei lá.

– Eu vou dar umas voltas no estacionamento para esfriar antes de ir de volta para a clínica. Venha me encontrar se mais alguma coisa incrível acontecer com Everett hoje, Ok?

– Está bem – disse ela.

Soprei-lhe um beijo rápido, então fui para fora, contemplando todas as maneiras que eu podia legalmente torturar o xerife do condado de Jamison.

Consegui controlar minha raiva em uma volta de estacionamento em vez de duas e caminhei de volta para a clínica.

Ficava no lado oposto do edifício do PS. A clínica principal do Dr. Seavers, especialista em medicina de família. Ela fazia o horário comercial tradicional, de segunda a sexta-feira, e só trabalhava fora da clínica se ele estivesse o fim de semana de plantão médico. Everett e o Dr. Peterson raramente trabalhavam na clínica. Em vez disso, eles ficavam cobrindo o resto do hospital.

As enfermeiras realizavam turnos semanais em quatro diferentes unidades hospitalares e a clínica era de longe o meu favorito. Eu secretamente desejei poder trabalhar aqui em tempo integral como o Dr. Seavers.

Nós não tivemos muito movimento dentro da clínica, mas era muito mais ativo que quaisquer outras rotações que eu completei. Hoje, eu vi uma mulher grávida vindo para uma rotina de check-up, dois estudantes do ensino médio fazendo seus exames de verão para esportes escolares no outono e uma criança com um resfriado.

Eu estava encerrando meus gráficos para o dia, tendo apenas trinta minutos restantes, quando uma mulher mais velha entrou pela porta.

Ela era da minha altura e provavelmente metade do meu peso. Sua estrutura era esquelética e ela tinha cabelos castanhos claros com listras de cinza emoldurando seu rosto. Seus olhos eram brilhantes, gelo azul.

Eu conhecia aqueles olhos. Eu passei muito tempo nas últimas três semanas olhando olhos assim como o dela. Eles pertenciam ao homem que estava no topo da minha lista de merda.

– Oi. Posso te ajudar? – Perguntei.

– Eu estava me perguntando se eu poderia ver o Dr. Seavers hoje – disse ela em uma voz tão fraca que eu tive que me esforçar para ouvir.

– Certo. Ele tem algum tempo livre agora. Deixe-me verificar. Qual é o seu nome?

– Noelle Cleary.

Sim, eu estava certa. Ela estava de alguma forma relacionada com Jess.

– Ok, Noelle. Sente-se e eu te chamo em um minuto.

Voltei para a mesa e verifiquei no sistema do hospital. Ela poderia ser tia de Jess, talvez? Certamente, ela não era sua mãe. Ela era muito frágil para ter tal filho grande e forte.

– Noelle? Venha – a chamei na sala de espera.

Ela me seguiu de volta para a sala de exame e subiu na mesa enquanto eu me sentava oposta a ela em um banco preto rolando.

– Tudo bem, Noelle. Meu nome é Gigi. Você pode me dizer o que te traz aqui? – Eu perguntei.

– Esta tarde fui ao banheiro, tropecei e caí no chuveiro eu acho que eu torci meu pulso – ela disse.

– Ah não. Eu sinto muito por ouvir isso. Vamos tomar sua pressão arterial e então eu vou chamar o Dr. Seavers para entrar.

O Dr. Seavers foi rápido em atender Noelle e, enquanto ela terminava seu exame, eu verifiquei a ficha do hospital de Noelle.

Eu passei por lesão após lesão. Ela parecia ser a visitante do Hospital Jamison Valley mais frequente.

Até agora, só este ano, ela tinha ido ver o Dr. Seavers três vezes, todos por diferentes doenças. Uma visita foi para tratar uma queimadura ruim em sua mão. Outra, um tornozelo torcido o mais recente, um cóccix machucado.

O que diabos estava acontecendo na casa dessa mulher? E como ela estava relacionada com Jess?

– Gigi, você pode pedir uma receita para a Sra. Cleary? –Perguntou o médico. – Eu quero que ela tome um analgésico enquanto seu pulso se recupera. Eu enfaixei, mas é provável que doa por um tempo.

– Claro, Dr. Seavers. Algo mais?

– Um vizinho a trouxe aqui e a deixou. Você pode ajudar a fazer arranjos para levá-la para casa?

– Sim, não há problema – eu disse antes de voltar para a sala de exames de Noelle.

– Sinto muito que você tenha machucado seu pulso, mas essa faixa e os analgésicos devem ajudar – eu disse a Noelle.

Ela me deu um pequeno sorriso, mas não falou.

– Dr. Seavers disse que um vizinho deixou você. Existe alguém que eu possa ligar para vir e levá-la para casa?

– Bem... Eu tenho tentado chamar meu filho o dia todo, mas ele não está respondendo ao telefone.

– Você gostaria que eu tentasse novamente para você?

– Se você não se importa – ela sussurrou.

– De modo nenhum. Qual é o nome dele? – Eu perguntei, mesmo que eu tivesse noventa e nove por cento de certeza de que sabia a resposta.

– Jess Cleary – disse ela e, em seguida, sacudiu o número de seu celular.

Devo dizer a ela que Jess e eu estávamos juntos? Não. Eu queria falar com ele primeiro. Havia absolutamente uma história aqui, uma que ele não estava confortável em compartilhar comigo ainda.

Nunca em um milhão de anos teria imaginado Noelle como a mãe de Jess. Tudo sobre ele era resistente. Sólido. Sua personalidade, sua voz, seu corpo. Tudo nela era exatamente o oposto. Ele disse que ela estava muito doente, mas eu não esperava que ela fosse tão frágil.

Eu a deixei para pegar as coisas dela enquanto eu me dirigia para o corredor dos fundos da clínica, puxando o nome de Jess no meu telefone enquanto eu andava. Seu telefone tocou três vezes e eu estava começando a ficar preocupada por ter caído em seu correio de voz novamente quando ele atendeu.

– O que, Georgia? – Ele retrucou. Eu sabia que ele tinha recebido minhas mensagens, mas agora eu sabia que ele não gostou muito delas.

– Jess – eu disse suavemente.

Ele estava obviamente esperando que eu ficasse chateada, então meu tom calmo o pegou de surpresa.

– Você está bem?

– Sim eu estou bem. Mas eu estou na clínica e sua mãe acabou de entrar.

– Porra. Ela se machucou? Ela está bem?

– Ela torceu o pulso, mas ela ficará bem. A coisa é que um vizinho a deixou aqui, mas ela precisa de uma carona para casa. Eu acho que ela está ligando, mas não conseguiu falar com você.

– Droga – disse ele. – Estou em Drummond. Eu vou demorar pelo menos meia hora. Provavelmente mais como uma hora. Ela vai ter que esperar no hospital por mim ou andar para a delegacia. Isso significa que quando eu a levar para casa e acomodá-la, cozinhar seu jantar, vai ser tarde. – Ele soltou um suspiro audível. – Porra. Eu acho que Maisy não precisa ser babá depois de tudo.

– São quase cinco horas – eu disse, olhando meu relógio. – Eu estou saindo daqui em poucos minutos para pegar Rowen. Maisy vai chegar às cinco e meia. Por que eu não levo sua mãe para a fazenda comigo? Ela pode esperar conosco até você voltar. Todos podemos comer juntos, depois iremos de lá.

– Não quero que você tenha que cuidar dela. Especialmente se ela está ferida – disse ele.

– Ah, Jess, você percebe o que eu faço para viver, certo?

– Georgia, ela é... Ela não está bem.

– São algumas horas. Não é grande coisa.

Ele respirou fundo novamente. – Eu odeio que você tenha que lidar com essa merda.

– E eu odeio que você esteja lidando com meu celeiro. Que tal pegarmos minha filha e sua mãe e resolver a noite, e então podemos discutir todas as coisas que preferiríamos não ter com a outra pessoa neste relacionamento.

Outra respiração profunda. – Ok, Sardenta.

– Você pode ligar para sua mãe e deixá-la saber o plano? Eu não contei a ela sobre nós. Eu não estava certa se você queria isso ou... Bem, eu só não tinha certeza – eu disse.

– Georgia, eu não contei sobre você a ela intencionalmente. Só não tive a chance de falar com ela pessoalmente. Assim que eu desligar com você, vou ligar para ela. Me dê cinco minutos e ela saberá o que você significa para mim.

– O que eu significo para você? – Eu sussurrei.

– Sim, querida. O que você significa para mim.

Eu fiquei no corredor por um minuto, pensando nas palavras de Jess e seu significado.

Jess também significava algo para mim. Mais e mais a cada dia, e tinha sido apenas três semanas. Nem mesmo um mês desde o nosso primeiro jantar de sexta-feira juntos no café.

Ele provou não ser o idiota que eu originalmente esperava.

Mas eu estava aprendendo que Jess queria as coisas feitas de seu modo. E até agora, todos as nossas discussões terminaram com ele vencendo. Eu estava deixando ele passar por cima de mim? Eu me perguntava o que aconteceria quando ele for longe demais.

Quando ele passar dos limites e eu não o deixar fazer o que quiser.

****


– Olá?

Todos nós olhamos para o corredor quando a voz profunda de Jess entrou na casa.

– Jess! – Rowen gritou e correu para fora da cozinha.

Dois segundos depois, ela estava de volta, desta vez empoleirada no quadril de Jess.

Ele parecia cansado e desgastado. Seus olhos estavam vermelhos e seus ombros estavam curvados. Ele ainda era totalmente bonito, mas eu poderia dizer que ele teve um longo dia.

Eu estava no fogão, mexendo o molho para o jantar. Nós estávamos tendo espaguete e almôndegas, pão de alho e salada verde.

Depois de terminar meu telefonema com Jess na clínica, eu tinha corrido para encerrar tudo para o fim de semana. Noelle tinha acabado de desligar o telefone quando saí para a sala de espera.

Ela manteve os olhos no chão enquanto se desculpava por ser um incômodo. Eu tinha assegurado a ela que não era problema e que eu estava ansiosa para passar um tempo com ela. Ela relaxou um pouco, mas não inteiramente. Mas no momento em que pegamos Rowen e voltamos para a fazenda, ela parecia muito mais à vontade.

Enquanto Rowen tinha entretido Noelle na sala de estar, eu tinha me trocado e comecei a preparar o jantar.

Maisy chegou bem na hora e invadiu meu armário. Ela tinha uma pilha de cinco roupas diferentes como opções para seu encontro com Everett na noite seguinte.

Então todos nós reunimos na cozinha. Eu tinha uma vibração ao meu redor, preparando o jantar, enquanto Maisy e Noelle estavam na ilha, observando Rowen entrar e sair com livros diferentes, brinquedos ou bichos de pelúcia para mostrar as nossas visitas.

Quando Jess alcançou a ilha, ele colocou Rowen no seu traseiro e beijou o topo da cabeça dela antes de passar por mim no fogão.

– Oi. – Com os pés descalços, eu tive que inclinar a cabeça para trás para olhar nos olhos de Jess.

– Hey, querido. – Ele se abaixou e me deu um beijo suave e curto nos lábios.

Em seguida, ele foi para sua mãe, jogando os braços grandes em torno de sua pequena estrutura em um longo abraço. – Oi, mãe. Você está se sentindo melhor?

– Sim. Muito melhor. Eu estive em boas mãos aqui.

Ele soltou o abraço, mas manteve-a debaixo do braço. – Ei, Maze.

– Oi, Jess. Parece que você teve um dia difícil.

– Você pode dizer que sim.

– Você pegou algum bandido hoje, Jess? – Perguntou Rowen.

– Não, – ele disse, balançando a cabeça. – Hoje não, Pequena.

– Eu almocei com o Milo hoje. Ele me disse que você estava indo para Drummond? – Maisy perguntou. – Você ainda está procurando o cara que roubou o fertilizante de Jack?

– Sim – ele disse, mas não se expandiu. Em vez disso, ele voltou sua atenção para Rowen. – Você já mostrou a minha mãe seu quarto, Roe?

Quando se deu conta de que ela não tinha, seu rosto se abriu em um grande sorriso. – Mamãe, posso mostrar a Noelle meu quarto?

– Claro. E enquanto você estiver lá em cima, que tal guardar alguns desses brinquedos que você pegou?

– Ohhh-kaaay –, disse ela, sua animação desaparecendo um pouco.

– Venha, Rowen. Me mostre seu quarto, – Noelle disse, pegando a mão dela depois que Jess a levantou da ilha.

Depois que eles saíram da cozinha, Jess disse: – Eu fui ao lugar de Drummond para ver se Jack finalmente falaria comigo sobre seu fertilizante roubado. Ele sabe mais do que está dizendo.

– Por que ele iria esconder isso de você? Ele não gostaria de recuperá-lo? Ou pelo menos descobrir quem fez isso? – Eu perguntei.

– Wes – disse Maisy.

Jess assentiu. – Tanto produto químico poderia fazer um monte de metanfetamina. E se Wes roubou, Jack não iria entregá-lo.

– Estou confusa – eu disse.

– Wes é filho de Jack – disse Jess. – Ele usa drogas há anos. Geralmente apenas andando com aquele pessoal. Ficando chapado. Mas recentemente ele começou a lidar com metanfetamina. Começou a controlar a produção também. Durante o ano passado, eu tenho tentado incriminá-lo com algo, mas ele tem sido cuidadoso. Eu estava esperando que Jack finalmente estivesse disposto a me dar uma pista para que eu pudesse pegar Wes.

– Ele ajudou? – Maisy perguntou.

– Não. – Jess suspirou. – Ele ficou tão de boca fechada agora como quando eu saí para investigar o roubo pela primeira vez. O que me diz que foi Wes.

– Por que você foi lá de novo? Algo mais aconteceu? – Eu perguntei.

– Sim. Na noite passada, Sam descobriu outro negócio de metanfetamina. O traficante que ele pegou sugeriu que o vale está prestes a ser inundado com o produto. Então eu voltei para o lugar de Drummond para ver se eu conseguia argumentar com Jack. Foi um tiro no escuro que Jack iria falar, mas eu tive que tentar.

Jess passou as mãos pelos cabelos.

– Algumas fontes dizem que Wes construiu um laboratório caseiro escondido nas montanhas. Nunca fui capaz de encontrá-lo e tive caras procurando por todo o verão. Se Wes estiver planejando cozinhar uma grande quantidade, é de onde a inundação virá.

– Oh meu deus – eu sussurrei.

Spokane tinha muitos viciados em metanfetamina e eu vi alguns entrarem no pronto-socorro. Os corpos deles estavam tão destruídos com os produtos químicos que eles estavam inalando era uma maravilha que eles poderiam até andar. Eu não queria isso para Prescott.

– Não se preocupe. Vamos parar antes que isso aconteça. Eu só tenho que encontrar o laboratório de Wes ou pegá-lo em um erro. – Jess virou-se para Maisy, seu olhar severo. – Você mantém tudo isso sob sigilo, a última coisa que preciso é que Wes fique nervoso porque acha que estou chegando perto. Entendeu?

– Claro, Jess. Não vou dizer nada –, prometeu ela.

– Nem mesmo para Milo.

Ela concordou com a cabeça e fez seu gesto de fechar o lábio e engolir a chave.

– Não quero que minha mãe saiba sobre isso também. Quando elas voltarem, não falaremos sobre isso de novo –, ele ordenou.

Maisy e eu assentimos simultaneamente.

Quando eu coloquei a mesa, eu fiz uma oração silenciosa que Jess iria parar Wes antes que ele pudesse inundar Prescott com metanfetamina. As drogas eram horripilantes e com elas vinham o desespero.

Os viciados estavam dispostos a cruzar qualquer linha necessária para sua próxima dose. Eu só esperava que quando as linhas fossem cruzadas, Rowen e eu estivéssemos seguras.


Capítulo Dez


– Vamos conversar, querida. Antes de voltarmos para a fazenda.

Jess e eu havíamos acabado de sair da casa de sua mãe, um velho trailer abandonado na periferia da cidade.

Maisy estava cuidando de Rowen até voltarmos para a fazenda e, em seguida, ela estava indo embora, provavelmente começar a se preparar para seu encontro com Everett. Enquanto invadia meu armário, ela tinha ido e vindo sobre esfoliação, depilação, pintura de unhas e tal. Com tudo o que ela tinha planejado fazer, eu percebi que ela precisaria de cada minuto das próximas vinte e quatro horas para conseguir ficar pronta para o encontro dela.

Jess e eu tínhamos originalmente planejado uma noite só para nós. Nós íamos comer no café e então eu teria minha primeira festa do pijama em sua casa enquanto Maisy ficava com Rowen.

E eu realmente queria isso. Todos os beijos e pegação que estávamos fazendo nas últimas três semanas me deixaram tão quente e incomodada que eu estava prestes a entrar em combustão.

Mas esse dia não havia saído como planejado. Nem mesmo perto. Começando com Ryan e sua equipe de construção e terminando com a minha primeira viagem hoje à noite para a casa de infância de Jess. E agora estaríamos adiando uma noite sozinhos novamente.

– Eu sei que você está louca por causa do celeiro, Geórgia. Não sou um grande fã de você me mandando mais mensagem de voz.

– Desculpa. Eu deveria ter esperado para falar com você, mas não consegui me segurar e o seu correio de voz era tudo que eu tinha, – eu disse.

– Talvez da próxima vez tente se conter até eu atender ao maldito telefone, hein? Pelo menos gritar para mim quando eu posso responder.

– Vou tentar, mas não posso fazer promessas.

– Bom o suficiente –, ele murmurou.

– Jess, eu não estou feliz com você derrubando o celeiro.

– Não sei se você percebeu, Sardenta, mas está quase pronto. A equipe de Ryan provavelmente terminará em metade de um dia de trabalho, no máximo. Na próxima semana, estará pronto. Além disso, não é isso que você queria? Você é aquela que estava disposta a arriscar um câncer de pulmão para queimá-lo.

– Você está certo. Deixe-me reformular meu protesto. Eu não estou feliz com a maneira em que você foi derrubar o celeiro – eu disse.

– Sim? E que maneira é essa? Fazendo isso para que você nunca tivesse que entrar lá de novo? Nunca tivesse que pensar sobre isso novamente?

– Eu entendo que você estava tentando fazer algo para me ajudar, Jess. E eu aprecio isso. Mas você não pode simplesmente tomar essas grandes decisões sem falar comigo primeiro. – Eu estava tentando manter a calma, mas seu tom estava fazendo a minha pressão subir.

– Georgia, você foi quem disse que queria que o celeiro fosse embora. Que você não poderia ir lá novamente. Agora você não precisa. Como isso é um problema?

– Bem, ele se foi. Você venceu. – Joguei minhas mãos no ar. –Mas você não está pagando por isso. Essa é minha responsabilidade.

– Estou ficando cansado de lembrar que eu que pago, Georgia. Jesus parece que eu tenho que lembrá-la a cada maldito dia.

– Isto não é um jantar Jess, ou café. Isto é um celeiro. E, aparentemente, uma garagem também.

– Eu. Pago.

– Não. Você. Não vai fazer isso! – Eu gritei. – Não com algo tão grande. É minha propriedade e, eu vou repetir, minha responsabilidade.

Em vez de responder, Jess puxou o carro para o lado da estrada e colocou em ponto morto.

– Você viu onde eu cresci esta noite, Georgia. Viu a bagunça. Viu a sujeira. Eu nunca tive uma casa que valesse a pena manter. Valesse a pena fazer algo legal. Porque eu me incomodaria consertando um buraco de merda? Eu poderia gastar milhares naquele lugar e ainda seria um buraco de merda. Então quando Ben me pediu para cuidar de seu lugar, aproveitei a chance de ter algo bom. Algo limpo. Algo que ela não iria negligenciar e arruinar. E eu tenho trabalhado nisso por quase vinte anos. Imagine minha porra de decepção quando pensei que tinha que desistir de tudo.

A fazenda. Era por isso que ele estava comigo. Por que ele se esforçou tanto para namorar comigo? Por que ele foi de um idiota para um namorado durante a noite. Por que, de repente, ele estava trazendo café e me levando para jantar. Por que ele estava chamando Rowen de Pequena e nos trazendo gatinhos. Ele não me queria. Por que ele iria? Ele poderia ter alguém muito melhor.

Lágrimas começaram a encher meus olhos porque finalmente tudo fazia sentido.

– Eu sabia. Você está comigo por causa da fazenda – eu disse.

– O que? – Ele cortou, – Porra. Você nem está me ouvindo.

– Oh, eu estou ouvindo, Jess. E parece que você acabou de dizer que a casa em que estou vivendo tem sido seu santuário nos últimos vinte anos, e sua única chance de mantê-lo é ficando comigo.

Ele esfregou o rosto rudemente e gemeu nas palmas das mãos. Levantando as mãos para os lados do meu rosto, ele disse: – Por favor, querida. Por favor, me escute.

Lágrimas escaparam de ambos os meus olhos, mas consegui dar um pequeno aceno de cabeça.

– Eu pareço o tipo de homem que ficaria com você por sua casa? – Ele perguntou.

– Bem... Não.

– Não. Eu não sou. Se eu quisesse uma casa como essa, eu tenho dinheiro no banco para que eles comecem a construção amanhã. Construiria um lugar duas vezes maior, duas vezes mais agradável, com o dobro de terra. Estou com você porque você é você. Não por causa da porra da sua casa.

– Não faz sentido, Jess. Por que você estaria comigo? Sou somente eu. E você é você. A cidade inteira conhece você e ama você. Você é perfeito. Tão bonito que me tira o fôlego. E eu sou a simplesmente boa e velha eu. Claro que você estaria comigo pela casa, o que faz sentido.

Mais algumas lágrimas começaram a cair. Ele olha para mim por um minuto com o rosto sem expressão, mas então seus olhos se suavizaram. Gentilmente ele limpa minhas lágrimas com os polegares.

– Eu amo a fazenda, Georgia –, disse ele. – Ben ao me dar esse lugar para cuidar me deu um propósito. Me impediu de me meter em encrencas. E eu estou cuidando disso há muito tempo. Transmitir essa responsabilidade a alguém novo sempre será difícil para mim. Mas não tão difícil que eu escolheria estar com uma mulher só para tentar mantê-la. Como você poderia pensar que eu sou esse tipo de homem?

– Sinto muito, Jess. Eu só... Eu não queria te insultar. Mas a casa... – Comecei, mas ele me parou, gentilmente me sacudindo ainda em suas mãos.

– Preste atenção, – disse ele. – Eu estou com você porque você é com quem eu quero estar. Porque para mim, faz todo o sentido do caralho. Mesmo que você não veja ainda você tem beleza como eu nunca coloquei os olhos antes. Foi o primeiro pensamento que passou pela minha cabeça quando te vi na sala de emergência com Milo. Você não é simples. Tire essa merda da sua cabeça. Você é minha garota porque eu quero que você seja minha garota.

– Mas...

– Não. Nós não estamos passando por isso novamente. Você tem que entender em sua cabeça. Eu escolhi estar com você. Só por sua causa. Por favor, você pode tentar processar isso? – Ele perguntou.

Eu funguei e pisquei rapidamente para parar minhas lágrimas. Eu queria acreditar nele até o meu íntimo, eu queria acreditar em cada uma de suas palavras e confiar que o que ele estava me dizendo era a verdade. Mas eu precisava de mais tempo.

Meu cérebro simplesmente não conseguia compreender por que ele me queria.

Ele suspirou e levantou as palmas das minhas mãos para segura-las. – Três semanas atrás, eu estava sentindo muito a porra da sorte que a pessoa que assumiu a responsabilidade da fazenda acabou por ser minha garota. Então eu não só peguei ela, mas de certa forma eu consegui manter a fazenda também. E minha garota, ela é minha responsabilidade. Ela é mordida por uma merda de cascavel, ela consegue uma garagem onde essa merda nunca mais acontecerá.

– É muito dinheiro, Jess. Eu sou a única que deveria pagar por isso – eu disse.

– Querida, isso é algo que eu preciso fazer. Deixe.

– Jess...

– Eu tenho cinquenta mil dólares em minha conta corrente e não tenho intenção de guardar. Eu sempre planejei te devolver de alguma forma. Pagando por uma nova garagem vai fazer isso acontecer muito mais rápido do que comprar cafés e jantares. Até porque esses cafés custam uma fortuna.

Meus ombros caíram. – Ben queria que você tivesse esse dinheiro.

– E Ben me pediu para cuidar de suas meninas. Eu acho que ele ficaria bem com esse dinheiro indo para uma nova garagem. Não é?

Ben iria querer que eu tivesse uma garagem. E ele teria feito exatamente a mesma coisa que Jess. Faria arranjos para que o celeiro que me aterrorizava desaparecesse.

Droga.

– Eu sinto que estou sempre perdendo nossas discussões – eu disse.

Ele riu. – Não se preocupe, querida. Algum dia, você provavelmente vai ganhar uma.

Dei de ombros e olhei para nossas mãos unidas. Sua piada não me fez sentir melhor.

Brigar com Jess não era como eu planejava passar a noite. Isso foi péssimo. Claro, nós estávamos nos conhecendo e uma discussão aqui ou ali estava fadada a acontecer. Mas esta noite deveria ser sobre a nossa relação com o próximo estágio. Em vez de estarmos juntos e felizes, aqui estávamos no meu carro, encerrando uma briga.

Nós precisávamos seguir em frente. Nos conectar. Literalmente.

E eu não queria mais demorar. Jess nunca pressionaria para fazer sexo com Roe em casa, mas em algum momento isso vai acontecer. Nós não poderíamos limitar nossas atividades sexuais apenas para as noites em que ela não estava, por isso podemos começar esta noite.

– Eu realmente quero que você fique hoje à noite. Sem mais espera, – eu soltei.

Suas mãos empurraram nas minhas. Claramente, ele não esperava que eu dissesse isso. Honestamente, fiquei um pouco surpresa comigo mesma.

Seus olhos estavam me encarando intensamente, como se ele estivesse se impedindo de me arrancar do meu assento e ter o seu caminho comigo na parte de trás do meu carro. Em um piscar de olhos ele estava de volta ao volante e se afastando do lado da estrada, dirigindo para a fazenda na velocidade da luz.

Ele não disse uma palavra, mas eu sabia exatamente o que ele estava pensando.

Trancaríamos a porta do meu quarto esta noite.


****


– Não enlouqueça, Georgia. Não enlouqueça. É só sexo. Claro, sexo com o mais lindo homem que você já viu em sua vida. Mas ainda assim. É só sexo. Vai ficar tudo bem. Não há razão para pânico.

Eu estava me dando uma conversa estimulante no espelho do banheiro.

Não estava ajudando.

Jess e eu não falamos o resto do caminho de volta para a fazenda. Eu estava muito ocupada planejando como eu poderia tirar Maisy de lá e Rowen para a cama em tempo recorde.

Jess me deu um sorriso sexy depois de estacionar o carro e eu pisquei para ele antes de descer e me mover rapidamente para dentro da casa.

Depois de dar um rápido abraço em Maisy e dizer adeus, eu levei Roe ao andar de cima para um banho. Eu passei pelo banho e pela hora de dormir, tão focada em minhas tarefas que não tive tempo para começar a surtar. Mas depois que Roe tinha adormecido durante o tempo da história, eu escapei de seu quarto e fui ao meu banheiro para me preparar para a cama.

Correção. Preparar para o sexo. Algo que eu não tive em pouco mais de cinco anos. E da última vez, eu engravidei.

Então aqui estava eu, me encarando no espelho do banheiro. Dizer a Jess que eu queria que ele ficasse a noite foi um grande erro. Toda a confiança que eu tinha mais cedo no carro tinha evaporado.

Meu cabelo estava solto e eu estava usando uma blusa branca com alças finas e um par de calções azuis claros. Era a roupa de dormir mais atrevida que eu tinha.

Eu não possuía camisolas sexys, porque eu não precisava delas. Por que eu deveria? Além do domingo que Jess ficou aqui, a única pessoa a ficar na minha cama era Roe. Embora ela amava coisas bonitas, eu duvidava que ela realmente apreciasse um laço de seda caro de chemise.

Eu o ouvi entrar no meu quarto mais cedo. Ele e seus músculos perfeitamente esculpidos e corpo forte e surpreendente.

Meu corpo não era incrível. Meus seios não eram pequenos, mas também não eram grandes. Somente médios. E aqueles dez quilos extras foram distribuídos uniformemente pela minha barriga, quadris, coxas e bunda. Eu não estava gorda, mas também não era magra. Apenas mediana.

Era eu, a Gigi comum. E agora eu estava a poucos momentos de estar nua na frente do não tão comum Jess.

Questões de lado, eu também estava surtando porque eu não fazia sexo há cinco anos. Muito embora eu tenha engravidado de uma noite no casamento de um amigo, eu não era promíscua. Malditos smokings e tequila.

Antes do pai de Roe, eu tive três namorados, nenhum dos quais tinha professado que eu era um dínamo sexual.

Na verdade, Nate me disse repetidamente que eu era horrível na cama. Que a sua noite comigo foi a pior que ele já teve em sua vida.

Eu tinha certeza que Jess teve mais de quatro parceiras sexuais em seu passado e certamente aquelas mulheres sabiam o que estavam fazendo. E se Jess me largasse depois da noite porque eu era péssima no sexo?

– Não enlouqueça. Não enlouqueça. Não enlouqueça – eu recitei baixinho.

– Georgia, você está aí há trinta minutos falando sozinha. Estou entrando.

Eu acho que não estava tão quieta depois de tudo.

PO.

Antes que eu pudesse protestar, a porta se abriu e Jess caminhou diretamente para mim, se ajustando nas minhas costas. Ele se inclinou para falar suavemente no meu ouvido, apoiando o queixo no meu ombro.

– O que está acontecendo nessa sua cabeça?

– Nada – eu menti.

– Georgia.

– Eu estou bem –, eu menti novamente.

Nós nos encaramos através do espelho por alguns momentos até que eu não estava mais olhando para o nosso reflexo. Jess me virou e eu estava olhando para o peito nu dele. Eu não consegui olhar para ele por muito tempo porque segundos depois, ele se abaixou, me levantou na parte de trás das minhas coxas e me levou para fora do banheiro. Eu envolvi minhas pernas ao redor de sua cintura e meus braços ao redor de seus ombros para que eu não caísse quando ele me puxou direto para a cama.

Ele me deitou de costas e me seguiu enquanto nós dois afundamos no suave colchão. Eu estava prestes a avisá-lo que este provavelmente seria o pior sexo de sua vida quando sua boca desceu com força em cima da minha.

Jess tomou o controle da minha boca com a dele, e mesmo se eu pudesse lembrar o que eu ia dizer, o discurso teria me escapado. Toda a minha energia nervosa foi de repente substituída por desejo ardente. Agora, meu corpo estava no controle e precisava de Jess.

Meu cérebro poderia processar todas as outras coisas depois.

Nós nos beijamos sem hesitação. Nós não precisamos nos refrear nesta noite porque finalmente, não íamos parar.

Jess deixou minha boca e começou a beijar meu pescoço. Ele chupou e beijou desde minha mandíbula até a minha clavícula. Eu já estava quente com o beijo, mas quanto mais ele progredia no meu pescoço, mais eu inflamava. Minha boceta estava latejando como nunca e eu estava respirando profundamente, tentando sugar oxigênio suficiente para que eu não desmaiasse.

– Você trancou a porta? – Eu perguntei sem fôlego.

Jess murmurou, –Uh-huh –, contra o meu pescoço, arrastando a língua sobre o lóbulo da minha orelha. Seus dentes morderam levemente antes que ele chupasse em sua boca, enviando um arrepio direto para o meu núcleo.

Eu gemi baixinho e afundei na cama, esticando meu pescoço para dar a ele melhor acesso.

Seus beijos se arrastaram mais baixo no meu peito e no meu esterno até que ele se afastou para longe de mim. Eu imediatamente senti falta do calor e do peso do seu corpo em cima do meu.

Ele pegou a bainha da minha blusa e, com um vuum, minha blusa sumiu.

Eu caí de volta na cama e ele espalmou as mãos ao meu lado. Aqueles brilhantes olhos azuis dele estavam ardentes, me acolhendo. Com outro vuum, meus shorts e calcinhas de renda cinza também sumiram.

Deitei-me nua para ele, minhas pernas abertas, sustentando suas coxas.

Mais uma vez, seus lindos olhos percorreram meu corpo, mas desta vez, ele sussurrou: – A verdadeira beleza.

Minha respiração engatou e meu coração bateu com tanta força no meu peito que doeu. Eu esperava e desejava com tudo que eu tinha, ele estava sendo sincero. Que ele acha que eu sou linda. Que não é apenas conversa fiada.

Porque aquelas palavras poderosas eram como um bálsamo para o meu coração, curando o que tinha sido quebrado no passado. Eu queria desesperadamente que elas fossem reais.

Ele voltou de baixo em cima de mim e tomou minha boca em outro beijo profundo e úmido. Minhas mãos levantadas para os lados de seu rosto e meus dedos puxaram seu cabelo.

Ele se separou de mim mais uma vez para tirar sua cueca boxer preta. Eu peguei um vislumbre de seu pênis quando ele se moveu de volta para cima de mim. Jess era lindo. Cada centímetro. E havia muitos centímetros para admirar.

Meus olhos encontraram os dele quando ele estabeleceu seus quadris entre as minhas coxas. Seus braços ao meu lado, seu peso nos cotovelos, as mãos tocando o meu rosto. Ele gentilmente acariciou os dois lados da minha mandíbula com os polegares enquanto olhava profundamente nos meus olhos.

Jess se comunicava muito com os olhos dele. Raiva. Humor. Afeição. E naquele momento, seus olhos me disseram que eu era a mulher mais linda do mundo. Uma mulher desejada e querida.

– Você está pronta, querida? – Ele sussurrou.

– Sim. – Eu balancei a cabeça.

Ele me estudou por um momento para se certificar de que eu não estava mentindo. Então sua boca desceu na minha novamente. Não haveria mais conversas ou carícias gentis.

Eu lutei com sua língua na minha quando nosso beijo se tornou uma frenética mistura de lábios e dentes.

Suas mãos deixaram meu rosto e viajaram para os meus seios, acariciando com os dois polegares por todo o meu mamilo e enviando uma onda de choque entre as minhas pernas. A sensação de seu pau duro empurrado para cima contra o meu sexo me deixou encharcada e pronta para ele. Sua boca se afastou da minha enquanto ele chupava um mamilo em sua boca. Arrastando beijos molhados no meu peito, ele voltou sua atenção para o outro e deu-lhe uma forte sucção e um puxão com os dentes. Uma de suas mãos viajou pelo meu estômago e para o meu sexo. Ele me acariciou gentilmente, esfregando minha umidade ao redor como ele fez em meus mamilos com a boca. Eu virei minha cabeça para poder gemer no travesseiro enquanto eu saboreava a sensação dele brincando comigo.

Quando ele deslizou um dedo dentro de mim, eu deixei de ficar quente para ficar em chamas. Eu estava tão preparada e pronta, eu sofria com a necessidade de ele estar dentro de mim.

– Jess – eu gemi quando meus dedos puxaram seu cabelo.

Ele abandonou meus mamilos para pegar o pacote de papel alumínio da mesinha de cabeceira. Ele sentou-se de volta em suas panturrilhas, me abraçando e puxando o preservativo. Voltando para cima de mim, ele colocou um cotovelo na cama ao lado da minha cabeça enquanto sua mão guiava a ponta do seu pau para a minha entrada. Ele passava sobre o meu clitóris de vez em quando, cada vez me fazendo tremer.

Lentamente, ele empurrou para dentro. Ele se movia um centímetro e depois voltava. De novo e de novo. Isto era tortura. Tortura incrível. A dor no meu núcleo era tão forte que eu agarrei e arranhei os lençóis em minhas mãos.

Eu gemi quando ele saiu novamente. Sua boca formou um sorriso sexy antes de empurrar tudo até a raiz com um poderoso impulso.

Minhas costas arquearam da cama enquanto meus olhos se fecharam. Jess era grande e eu precisava de um segundo para me ajustar ao seu tamanho.

– Porra, querida – ele gemeu. – Tão apertada.

– Mova-se, Jess. – Eu tomei fôlego apenas o suficiente para emitir a ordem.

Ele empurrou seus quadris com força contra mim, enviando seu pau até o fundo.

Então ele estava entrando e saindo em um ritmo constante. De novo e de novo. Com cada impulso para dentro, ele atingia um ponto dentro de mim que fez minhas pernas tremerem. Meu corpo estava tremendo, construindo em direção a uma liberação ofuscante.

E então eu estava lá.

Ele se abaixou e encontrou meu clitóris com o dedo do meio. No segundo em que ele me tocou uma onda de calor viajou pelo meu corpo e eu explodi com o mais duro orgasmo da minha vida. Pontos brancos surgiram por trás dos meus olhos e meu corpo se apertou ao redor dele, pulsando intensamente enquanto minhas mãos seguravam firmemente os lençóis ao meu lado. Eu fechei minha boca, mordendo meu lábio inferior para segurar um grito.

Jess continuou empurrando através do meu orgasmo até que ele soltou seu peito no meu e enterrou seu rosto no meu pescoço e veio.

Nós ficamos conectados, minhas pernas enroladas em torno de seus quadris, enquanto nós dois trabalhamos para recuperar a respiração.

Ele me deu um aperto forte com os braços quando ele saiu, depois foi para o banheiro para se livrar do preservativo.

Eu olhei para o teto por um minuto antes de procurar minhas roupas. Eu consegui desligar meu cérebro enquanto fazíamos sexo, principalmente porque a boca, as mãos e o pau de Jess tinha desligado isso para mim. Mas agora estava funcionando novamente. E tudo em que eu conseguia pensar era como PO incrível tinha sido. Como nada que eu já senti antes.

Eu estava realmente esperando que Jess também pensasse assim. Que eu não fui uma decepção.

Todo meu nervosismo e ansiedade estavam de volta com força total.

Com minhas roupas de volta, eu me enterrei sob as cobertas. Minhas costas estavam do seu lado da cama enquanto eu deitei lá, entrando em pânico.

Eu ouvi Jess sair do banheiro, mas eu não virei para vê-lo pegar sua boxer e vestir. Eu não virei quando ele subiu na cama. E eu não virei quando ele apagou a luz do criado mudo.

Eu, no entanto, virei quando um de seus braços passou por mim ao mesmo tempo que o outro atravessou minha cintura e ele forçou meu corpo para o lado dele.

– O que há de errado, Georgia? Eu saí daqui há dois minutos e você estava bem. Volto e você está encolhida até agora no seu lado da cama, é uma maravilha que você não caiu na porra do chão.

– Eu estou bem – eu menti, sussurrando contra seu peito nu.

– Pare de mentir para mim, Georgia – disse ele. –Especialmente depois do que acabamos de ter.

– O que nós tivemos? – Eu perguntei, nervosa por sua resposta.

Todos os músculos do meu corpo se enrijeceram.

Eu repassei minhas palavras em minha mente e percebi que elas não tinham saído direito. De modo algum.

Droga.

– Eu estava esperando que você pensasse que foi o melhor sexo da sua vida, visto que é como eu me sinto. Talvez você tenha se sentido tão sortuda quanto eu agora, sabendo que nós não apenas nos relacionamos fora do quarto, mas também somos muito bons nisso. Que não temos que ter um sem o outro. Isso é o que eu pensei que acabamos de ter. Mas que porra eu sei? – Ele cortou.

Um peso de mil quilos desapareceu do meu peito. Ele acabou de dizer que eu era o melhor sexo de sua vida!

Eu não pude parar o sorriso que se espalhou no meu rosto.

– Ok, agora estou bem. E eu não estou mentindo desta vez. Eu estava pirando que você pudesse pensar que eu era ruim e então você me deixaria. Eu pensei que era muito, ah, PO muito grande também – eu disse.

Ele não respondeu e seu corpo não relaxou. Eu comecei a entrar em pânico novamente até sentir seu peito e ombros começarem a tremer.

Levantei a cabeça para olhar para o rosto lindo e risonho. Então eu também ri me sentindo aliviada, mas principalmente me sentindo feliz.

Depois que ele parou de rir, ele me pegou em um beijo profundo e quente que nos levou a fazer sexo novamente. Nós levamos nosso tempo explorando os corpos um do outro na segunda vez, construindo um ao outro lentamente. Ele me fez gozar com os dedos e depois novamente com o seu pau.

Três orgasmos surpreendentes depois e meu corpo estava tão relaxado quanto em anos. Eu estava totalmente contente e maleável. Mas minha mente ainda estava ativa, incapaz de desligar e encontrar o sono, pensando em tudo o que aconteceu hoje.

Jess também não estava dormindo. Seu braço embaixo de mim estava enrolado nas minhas costas e sua mão estava esfregando levemente meu quadril.

– O que está acontecendo com a sua mãe? – Eu estava enfiada firmemente ao lado de Jess, meu braço do outro lado do seu torso, dedos tamborilando levemente em seu peito.

– Ela não está sempre presente. Como se ela se perdesse em sua própria cabeça. Ficando completamente aérea. Nem percebe que ela está fazendo isso.

– É por isso que ela está tanto no hospital?

– Sim. Ela esquece que o forno está quente e o abre sem proteção. Vai para fora, não presta atenção por onde ela está andando e tropeça. Merda assim. Uma vez quando eu estava no ensino médio, ela saiu para pegar a correspondência quando estava nevando. Deve ter saído em algum momento no meio da manhã. Saiu de si e ficou na caixa do correio todo o maldito dia. Encontrei ela lá congelada quando cheguei em casa. Não estava vestindo um casaco ou sapatos. Levei-a para o hospital e ela teve queimaduras nos dedos, orelhas e dedos dos pés. Sorte ela não ter perdido nenhum.

Eu não sabia o que dizer. Minha mãe poderia ter ganhado consecutivamente o prêmio de mãe do ano. Eu não podia imaginar crescer sabendo que você não poderia depender de sua mãe. Mas estava começando a fazer sentido para mim porque Jess era do jeito que ele era. Sempre no comando. Sempre cuidando de todos. Ele começou a fazer isso cedo e provavelmente não sabia ser de qualquer outra maneira.

– Sempre foi assim?

– Minha vida inteira. Felicity e eu aprendemos desde cedo a não confiar nela – disse ele. – Não era que ela estava nos negligenciando de propósito. Ela simplesmente não consegue evitar. Ela nos ama. Tem um bom coração. Somente... Tem uma mente quebrada.

– Felicity? – Eu perguntei.

– Minha irmã. Mudou-se para Seattle no dia seguinte ao término do ensino médio. Não a vejo desde então. Ela é dois anos mais nova que eu, então foi quatorze anos atrás?

– Você fala com ela?

– Algumas vezes por ano. Tentamos ligar um para o outro em nossos aniversários e no Natal.

– E o seu pai?

– Ficou preso por oito anos e depois saiu. Mudou-se para o Billings para trabalhar na refinaria. Voltou para visitar de vez em quando por um par de anos. Mas então ele conheceu uma mulher lá e parou de vir completamente.

– Isso é terrível –, eu disse.

– Do jeito que era. Acho que ele acabou se cansando de cuidar da mãe.

– Então ele deixou seus filhos de oito e seis anos para fazer isso? Isso não está certo, Jess.

– Não –, ele concordou e deu um aperto firme no meu quadril com a mão. Ele poderia dizer que eu estava ficando irritada. – Mas isso não importa mais, Sardenta. Eu tive o que eu precisava dele quando criança, que eram os cheques que ele nos enviava duas vezes por mês. Depois que fui contratado na delegacia, eu escrevi lhe uma carta dizendo que ele não precisava mais enviá-los para a mãe. Nós terminamos com ele. Ele não tem um lugar na minha vida e não tem em anos.

– Sinto muito, querido –, eu sussurrei.

– Tudo bem.

Ficamos ali em silêncio, eu lentamente começando a adormecer. Estava ficando tarde e embora houvesse pensamentos ainda correndo na minha cabeça, meu corpo estava exausto e precisava desligar.

Pouco antes de eu acenar com a cabeça, Jess apertou meu quadril. – Georgia?

– Sim? – Eu bocejei.

– Mamãe se apegou à Roe hoje à noite. Falou sobre ela todo o caminho de volta para casa.

– Eu sei. Isso é uma coisa ruim?

– Ela vai querer ser babá. Sob nenhuma circunstância você deve deixar isso acontecer.

– Ok. – Eu balancei a cabeça.

Não se podia confiar na mãe de Jess com seus próprios filhos. Ele não precisa me dizer duas vezes para não deixá-la com a minha.


Capítulo Onze


Uma semana depois, Jess e eu passávamos nossas noites aprendendo mais sobre nossos corpos.

Hoje à noite, eu estava de costas na cama, com as pernas bem abertas, com os joelhos dobrados para cima. A boca dele estava em mim e eu estava quase lá. Minhas pernas tremiam e eu me contorcia no lençol.

Jess sabia como usar a boca dele. Eu nunca tinha tido um parceiro em mim antes, então eu não tinha nada para compará-lo. De qualquer forma, enviei uma oração silenciosa de gratidão para os céus. Foi PO glorioso.

Sua língua estava trabalhando no meu clitóris enquanto ele movia dois dedos para dentro e para fora.

– Oh meu deus – eu gemi. Meus quadris se contraíram quando ele deu um chupão duro no meu clitóris.

Ele aliviou e com um último movimento, eu me desfiz. Virando minha cabeça no meu travesseiro para não gritar, deixei meu corpo estremecer e explodir.

Minhas costas desabaram na cama quando desci, ofegando por ar.

Jess beijou seu caminho até meu estômago e se alinhou com a minha entrada. Com um poderoso impulso, seu pênis nu foi enterrado profundamente.

Eu adorava quando ele fazia isso.

Ele começou a entrar e sair com movimentos lentos e profundos. Para alcançar um segundo orgasmo, geralmente levava um tempo para ele me deixar no ponto novamente, mas hoje eu sabia que não demoraria muito para ele me levar lá de novo.

E isso não aconteceu.

Ele manteve seu ritmo sem pressa até que eu estava no limite.

– Eu estou quase lá, Jess – eu respirei.

– Sim, baby – disse ele. – Porra, você está tão gostosa. Tão apertada e molhada. Adoro foder a minha Geórgia.

Suas palavras sujas no meu ouvido me enviaram sobre a borda e meu orgasmo rasgou através de mim. Eu cobri minha boca com uma mão para abafar meus gemidos enquanto eu apertava firmemente ao redor do pau de Jess.

Ele desistiu de seu ritmo lento e começou a empurrar mais rápido e mais forte até que ele gemeu no meu pescoço e se deixou gozar.

Nossos corações batiam em sincronia quando ele soltou seu peso em cima de mim, me esmagando na cama. Eu amei a sensação dele deitado pesadamente em mim. Eu não aguentaria por muito tempo, mas enquanto eu podia saboreei. Minhas pernas enroladas em torno de suas coxas e eu trilhei minhas mãos sobre as suas costas musculosas, até a bunda dele.

Jess tinha uma bunda tão grande. Eu lhe dei um bom aperto e senti seu pênis voltar a vida dentro mim.

Ele riu no meu pescoço. – Estou tão feliz por não precisarmos mais de preservativos, querida.

– Hmm –, eu cantarolei. – Eu também.

Nós ficamos sem camisinha esta noite e decidimos não usar mais. Depois de ter Rowen, eu tomava pílulas anticoncepcionais para ajudar a regular meus períodos, e antes de Jess, eu não tinha feito sexo em meia década. Jess me assegurou que ele usava preservativos. Sempre. E desde que ele era o garoto propaganda da responsabilidade, eu sabia que estávamos seguros.

Jess beijou meu pescoço e lentamente puxou para fora para podermos ir ao banheiro.

Cada um de nós fez a nossa limpeza, e enquanto eu vestia minhas calças de pijama e blusa, ele engatinhava de volta para a cama com sua cueca boxer preta.

– Você possui alguma outra boxer colorida? – Perguntei.

Ele riu.

Eu acho que isso significava não.

Sorrindo, eu me enfiei ao lado de Jess.

Hoje passamos uma noite tranquila juntos. Nós três tínhamos ido em uma curta caminhada para aproveitar o clima de setembro. As montanhas estavam brilhantes com as cores. O inverno não estava longe e logo as folhas cairiam, então aproveitamos a curta temporada de outono.

– Adorei essa caminhada, querido. E o pôr do sol. – Depois da nossa caminhada, nós dirigimos para um mirante e vimos o pôr do sol enquanto bebia chocolate quente.

– Sim. Estou orgulhoso de Roe por caminhar isso tudo – disse ele.

– Ela está ficando tão grande. Parece que ontem ela estava apenas começando a andar. – Antes que eu pudesse ficar toda chorosa pensando em minha menininha crescendo, eu mudei de assunto. – Você está bem? Tem sido uma semana difícil, xerife.

Na noite de terça-feira, alguém tinha chegado à delegacia e cortado os pneus de todos os carros. Era permitido que a maioria dos oficiais levasse seus carros para casa com eles, mas os três extras deixados no estacionamento de trás foram atingidos. Doze pneus rasgados. Jess ficou furioso. Ele assistiu a filmagem da câmera de segurança cem vezes e ainda não conseguia reconhecer o bastardo que fez isso. Quem quer que fosse, sabia exatamente onde as câmeras estavam. Depois de cortar o último pneu, ele andou até a câmera, lhe deu uma saudação simulada, virou o dedo do meio e fez uma reverência.

Alguém estava provocando Jess. Ele assumiu que era Wes, e eu tinha certeza de que ele estava certo. Mas suas mãos estavam amarradas sem provas.

– Eu precisava disso hoje à noite, querida. Algum tempo longe da delegacia para limpar minha mente. Para ver minhas meninas. Isso ajudou. Tem sido uma merda de duas semanas. Parece que estou chegando a lugar nenhum e perdendo o controle da minha cidade.

Descansando meu queixo em seu peito, olhei em seus olhos azuis. – Você vai chegar ao fundo disto. Eu sei que você vai. Isso pode levar algum tempo.

– Sim – ele respondeu, não parecendo que ele acreditou em mim.

– E nós estaremos aqui sempre que você precisar de outra fuga. Ok?

– Tudo bem – disse ele, acariciando o lado do meu cabelo.

Eu deixei minha cabeça cair em seu ombro e torci minhas pernas para que elas estivessem entrelaçadas com as suas.

– Noite, querido – eu sussurrei.

– Noite, Sardenta.

Jess estava tão exausto que dormiu antes de mim.

Antes de me afastar, decidi começar uma nova rotina de sexta-feira até nevar. Uma semana no café. A próxima em uma caminhada, apreciando a beleza de Montana e o conforto de nossa pequena unidade.


****

 

Jess

– Xerife Cleary – eu atendi meu telefone de mesa.

– Jess. Frank aqui da loja da Pawn One. Acho melhor você vir aqui agora mesmo. Eu tenho uma criança na minha loja tentando me vender algumas joias que eu reconheço da Joalheria Big Sky.

– Estou indo – eu disse e corri para a única casa de penhores de Prescott.

O garoto da loja tinha provavelmente dezesseis ou dezessete anos. Ele ficou no balcão, olhando por cima de uma coleção de moedas de ouro trancada em uma vitrine. Ao lado dele havia uma pequena pilha de prata. À primeira vista, reconheci uma das pulseiras que o dono da joalheria havia descrito em sua lista de artigos roubados.

Eu andei por trás do garoto e bati uma mão no ombro dele, o fazendo girar ao redor com os olhos arregalados.

– Oh, merda – ele murmurou.

– Sim. Acho melhor você começar a explicar o que está fazendo com essa joia, garoto.

– Eu, ah, estava apenas... – Ele gaguejou.

– Você estava apenas tentando vender um punhado de prata roubada. Hora de fazer uma viagem a delegacia. Nós ligaremos para seus pais quando chegarmos lá – Eu disse, pegando minhas algemas.

Horas depois, o garoto confessou e foi liberado para seus pais. Eu tinha acabado de enviar o relatório preliminar para o advogado do condado e amanhã, o tribunal iria decidir a sua punição.

– Ei, chefe. Você tem um minuto? – Sam perguntou da porta do meu escritório.

– A qualquer hora, velho. Entre. – Eu estava arrumando as coisas por hoje, mas parei para sentar, assim, Sam relaxa um pouco.

Ele caiu em uma cadeira em frente à minha mesa.

– Aprecio você sentado comigo lá hoje. Sei que longas horas naquelas malditas cadeiras de metal são duras para suas costas, eu disse.

– Ah, não tem problema. Eu simplesmente não posso acreditar que estamos procurando outro traficante – disse Sam.

– A merda continua ficando mais profunda.

Depois de trazer Zander Baker e seus pais para a sala de interrogatório na delegacia, eu descobri porque ele havia roubado as joias.

Para comprar pílulas de prescrição ilegal.

Zander tomava alguns comprimidos, geralmente oxicodona, e depois revendia o restante com uma margem de lucro para seus amigos.

Então, não só eu estava tentando rastrear a operação de metanfetamina de Wes, agora eu estava procurando por uma fábrica de pílulas.

Caralho.

Depois de ouvir a confissão de Zander, tive mais perguntas do que respostas.

Zander não sabia de quem ele estava comprando as pílulas. As trocas foram feitas usando mensagens e deixados em locais isolados, e todos os dias estava em um novo local. Debaixo de uma pedra em um poste de luz. Atrás de uma lata de lixo de uma loja no centro. Em um envelope colado embaixo da caixa de correio.

Os números de telefone foram todos conectados a telefones descartáveis, o que tornava impossível o rastreamento do traficante usando textos. E as pílulas sempre foram coletadas fora da cidade. Além disso em diferentes locais durante cada acordo.

– Você acredita nele, que ele não atingiu o bezerro de Silas? – Sam perguntou.

– Ele confessou tudo mais. Até nos disse que ele foi lá para uma coleta de comprimidos. Não sei porque ele mentiria sobre isso. Poderia ter sido o traficante que matou o animal.

– Ou pior. Poderia ser um monte de outras crianças pegando pílulas – disse Sam, balançando a sua cabeça.

– Porra, Sam. Eu não quero os filhos de Prescott usando drogas. Nós temos que chegar a esses malditos distribuidores.

– Quais são as chances de Wes estar por trás das pílulas?

– Duvido – eu disse. – Não faz sentido que ele diversifique. Ele controla todos os aspectos de sua operação de metanfetamina. Ele faz produção, então ele não depende de um fornecedor. Provavelmente mantém de oitenta a noventa por cento de seus lucros. Comprimidos significaria uma fonte externa. Grandes cortes em sua margem de lucro. Eu não acho que ele faria isso.

– Sim – disse Sam. – Você provavelmente está certo. Você vai pegá-los, chefe.

Eu com certeza esperava que ele estivesse certo.

No fim de semana, nada havia mudado. Eu estava fazendo algumas horas extras fazendo papelada, então amanhã eu posso ir às ruas. Eu precisava estar mais presente na cidade. Ver o que estava acontecendo com meus próprios olhos.

– Trabalhando em um domingo, Brick? Parece que não há descanso para o Bom Príncipe de Prescott.

Wes entrou no meu escritório.

Eu resmunguei, mas não respondi. Em vez disso, eu pensei em demitir meu recepcionista por deixar um criminoso suspeito se aproximar de mim sem aviso.

– O que você quer, Wes? Está aqui para se entregar? Me desenhar um mapa para seu laboratório de metanfetamina? Ir para a reabilitação? – Eu perguntei.

– Do que você está falando? – Wes disse. – Eu só vim falar com meu velho amigo Jess.

– Cuspa, Drummond. O que você quer?

– Ouvi dizer que você saiu para conversar com meu pai na semana passada – disse ele.

– Onde quer chegar?

– Eles simplesmente amam você. Mamãe e papai. Tão desapontado que eu não fiquei mais parecido com você.

– Você sabe como eles se sentem sobre drogas. Nenhuma surpresa eles estarem desapontados. Talvez peça alguma ajuda e os torne orgulhosos. Assumir a fazenda como seu pai sempre quis.

Wes zombou. – Eu não estou assumindo aquela fazenda. E eu não preciso de ajuda.

Eu balancei a cabeça. Nós tivemos essa conversa muitas vezes para contar. Ninguém poderia chegar até Wes. Nem seus pais. Nem seus amigos. Talvez fôssemos todos estúpidos por esperar que ele mudasse sua vida.

– O que você quer, Wes?

– Você sabe, eu estou tão feliz por você, Brick. Encontrando Gigi. Ela está deslumbrante. E essa garotinha? Tão bonitinha.

Fiquei tenso na hora. Que porra ele estava fazendo ao mencionar Georgia e Rowen?

– Acontece que eu estive na área ultimamente quando Gigi pega a criança da escola. É legal assisti-las juntas. Tão legal, acho que vou fazer isso todos os dias – disse ele.

Eu saí da minha cadeira e me inclinei sobre a minha mesa.

– Fique longe delas. Se eu ouvir que você está incomodando ela, você está morto. Policial ou não, eu vou acabar com você.

Ele zombou e começou a recuar.

Então ele me deu uma saudação zombeteira, me virou o dedo do meio e fez uma reverência. Assim como o homem tinha feito na câmera na noite em que ele cortou os pneus dos carros.

Foi Wes. Eu sabia.

E eu não consegui fazer nada sobre isso.

Levantei-me e o observei sair da delegacia. Então eu peguei uma xícara na minha mesa e enviei voando contra a parede, o vidro quebrando no impacto.

– Porra!

Eu me dei alguns momentos para me acalmar. Então eu peguei uma pá para limpar o vidro antes que Oakley pudesse cortar suas patas. Quando terminei, acertei a máquina de refrigerantes para uma Soda antes de sentar de novo na frente da minha papelada.

Eu estava estressado ao máximo. Wes continuou me encurralando e tudo que eu queria fazer era empurrar de volta. Mas eu não poderia. Meu distintivo me obrigava a seguir as regras. Na maioria das vezes, eu gostava dessas regras. Do sistema. Hoje não.

Meu pavio era curto e eu sabia que não demoraria muito para explodir. Eu senti pena da pessoa que me empurrou para a borda.


****


Gigi


O fim de semana estava passando rapidamente. Enquanto Jess estava no trabalho, Rowen e eu passamos um tempo fazendo o trabalho de jardinagem. Também tínhamos limpado a casa inteira e lavado a roupa.

Foi bom ter um final de semana tranquilo com minha garota. Estávamos decididas depois da mudança a entrar em uma boa rotina. Nossas vidas estavam oficialmente aqui em Prescott e estava começando a me sentir em casa.

Rowen tinha feito coroas de princesa esta manhã e em vez de uma para mim, ela tinha feito uma –coroa da princesa de menino – para Jess. O dele foi decorado com canetas de glitter verde e azul, dela com amarelo e rosa.

Ela não o via desde a nossa caminhada na sexta-feira e ela perguntava sobre ele o dia todo, isto era tarde de domingo em outra semana movimentada. Mesmo que ele estivesse trabalhando, seria bom surpreendê-lo com uma visita rápida. Rowen poderia entregar seu presente e ele poderia tirar uma pequena folga da loucura.

Roe se remexeu em seu assento enquanto nos dirigíamos para a cidade, mal conseguindo conter sua excitação.

Suas pequenas pernas chutaram para trás e para frente descontroladamente toda a viagem.

A delegacia estava em silêncio. O recepcionista na frente era o único no prédio exceto por Jess.

Eu segurei a mão de Rowen enquanto caminhávamos pela entrada, mas quando chegamos perto do escritório de Jess no canto de trás, ela se afastou e correu em direção à sua porta, acenando com a coroa e gritando seu nome.

A frente de seu escritório tinha duas grandes janelas nos dois lados da porta. Deu-lhe uma visão aberta da entrada e dos oficiais em seu escritório.

Os gritos de Rowen assustaram Jess. O segundo antes dela começar a gritar, ele levantou uma lata de refrigerante para sua boca. Quando ela gritou, ele se encolheu e se atrapalhou com a lata, soltando em sua mesa bagunçada, derramando refrigerante por todo o mar de papéis.

PO.

Ele levantou de sua mesa tão rapidamente, sua cadeira voou para trás, colidindo com a parede.

Oakley ficou assustado e começou a latir quando Rowen entrou no escritório.

Eu corri atrás de Rowen para que eu pudesse ajudar Jess a limpar a bagunça, mas antes que eu pudesse entrar para o escritório, ele berrou: – Droga, Rowen! Cale-se!

Entre os gritos de Jess e os latidos de Oakley, Rowen se dissolveu em lágrimas. Eu alcancei a porta quando ela desabou de joelhos, a coroa de Jess caindo no chão.

– Qual diabos é o seu problema, Jess? – Eu me inclinei e peguei Rowen.

– Eu? Que merda vocês estão fazendo aqui? Olha essa porra de bagunça, Georgia! Um telefonema para me avisar teria sido muito fodido demais para perguntar? – Ele gritou.

O Jess idiota estava de volta.

Uma coisa era gritar comigo. Mas ser um babaca para minha filha? Uh... Não.

Eu empurrei minha mão, para fora, em sua direção.

– Ela estava trazendo aquela coroa que fez para você hoje – eu disse. – Ela estava animada para dar a você e queríamos que fosse uma surpresa. Bem, eu acho que a surpresa era para nós porque estou aqui, chocada por você ser tão idiota com uma garota de quatro anos. Eu sabia que você poderia ser um idiota para mim. Mas para Rowen?

– Geórgia... –, ele começou, mas desde que minha mão ainda estava levantada, acenei, parando suas palavras.

– Não. Nada está bem, Jess. Fique em sua casa por um tempo. Eu te ligo quando estiver pronta para conversar. É melhor. – Eu me virei e saí.

Ele me seguiu, Oakley em seus calcanhares.

– Geórgia, espere.

Mas com Rowen enterrada no meu peito, ainda soluçando, não havia como eu parar.

– Vamos falar sobre isso – ele implorou.

– Não. Sem conversa. Pense em mim como a NASA. Eu preciso de espaço. – Eu continuei andando, as pernas de Rowen balançando descontroladamente do meu lado enquanto eu corria para o estacionamento.

Jess não me seguiu.

Enquanto Rowen continuava a chorar, eu me repreendi na volta para casa. Como eu poderia ter sido tão idiota? Eu não fiz isso uma vez antes?

Nate disse coisas horríveis e desagradáveis para mim. Quando eu disse a ele que estava grávida

Ele jogou um copo de água no meu rosto. Eu fui humilhada, sentada em um restaurante chorando e encharcada.

Depois que ele cedeu os seus direitos de paternidade, eu prometi não deixar idiotas entrarem na minha vida ou na de Roe.

Eu tinha pensado que Jess era um idiota no começo, mas ele estava me provando errado. Eu acho que tinha sido bom demais para ser verdade. Se ele não conseguisse se controlar, eu não poderia confiar nele com Rowen. Ou com meu coração.

Eu tinha baixado minha guarda novamente. Estúpida.


Capítulo Doze


– Mamãe? – Gritou Rowen.

– Cozinha!

Nós já tínhamos tomado banho e nós duas estávamos vestidas para dormir. Eu vim para a cozinha para pegar um copo de vinho e me perdi em pensamentos.

– O que você está fazendo? – Rowen perguntou quando ela entrou.

– Só pensando, garotinha. Estou cansada.

– Pensando em Jess? – Ela perguntou.

– Sim. Sobre Jess.

Ela franziu a testa.

Saímos da delegacia no domingo e fomos direto para casa. Depois que eu acalmei Rowen nos sentamos juntas no sofá e me desculpei pelo comportamento de Jess. Seus sentimentos tinham sido feridos. Ele os machucou e os meus também.

Eu tive uma noite de sono agitada, sem dormir, o mais leve ruído me enviando de um lado para o outro nas janelas para que eu pudesse olhar para fora e me certificar de que não havia ninguém ali. Que Jess não estava lá.

O dia seguinte foi brutal. Eu chequei meu telefone pelo menos uma centena de vezes, esperando ver algum tipo de comunicação de Jess. Mas não havia nada.

Isso tinha sido há quatro dias e eu ainda não tinha ouvido falar dele.

Eu estava confusa e zangada. O silêncio de Jess estava me deixando nauseada. Só porque eu pedi espaço não significa que ele não poderia pedir desculpas.

Eu odiava não saber o que iria acontecer conosco. Eu estava brava com ele, mas isso não significava que meus sentimentos por ele haviam desaparecido. Essa separação entre nós me fez perceber o quanto doeria se terminássemos nosso relacionamento.

Mesmo que eu tenha dito que ligaria para ele, não encontrei coragem para pegar o telefone. Eu não sabia se queria romper com ele ou tentar resolver a situação.

Eu estava assustada. Com medo, novamente.

– Você quer ter uma festa de dança, mamãe? – Rowen perguntou, me puxando dos meus pensamentos.

– Pois não?

Ela sorriu grandemente e assentiu, saltando de um pé para o outro.

Quando ela tinha dois anos, eu tinha inventado festas de dança como uma maneira de animá-la ou distrair ela de uma birra. E nós as tínhamos desde então.

Eu colocava a música e dançávamos pela casa como loucas. Nós balançamos nossas bundas e rimos até que nossas bochechas doessem. A última festa de dança que tivemos foi antes que Ben morresse e nós estávamos precisando.

– Ok. – Eu sorri. – Vá buscar a caixa de som no escritório.

Ela correu o mais rápido que seus pés podiam carregá-la, gritando de alegria e me encontrou na sala de estar, empurrando o alto-falante Bluetooth em minhas mãos.

– Pronta? – Eu perguntei.

– Sim!

– The Middle – de Jimmy Eat World, começou a tocar na casa.

Enquanto nós dançávamos e ríamos, eu levantei meus braços acima da minha cabeça e saltei, pulando ao redor da minha linda filha enquanto ela ria e dançava com todo seu entusiasmo. A letra me lembrou do que eu precisava ouvir.

Tudo ia ficar bem.

Quando acabou, eu estava rindo e dançando tão forte que eu estava sem fôlego.

– Isso foi divertido! – Rowen gritou, radiante de felicidade.

– Sim, foi. – O sorriso no meu rosto era real e amplo.

– Eu gostei.

Ao som da voz de Jess, eu pulei para trás e agarrei minhas mãos para bater no meu coração.

Ele estava encostado na parede, as longas pernas cruzadas nos tornozelos, os braços descansando levemente no peito. E ele tinha um enorme sorriso no rosto.

– Jess! – Rowen gritou e lançou seu corpinho no dele. Ou ela tinha esquecido sobre o incidente na delegacia no domingo ou ela já tinha perdoado ele.

Ele a pegou e a jogou no ar um par de vezes. Ela riu histericamente quando ela voou. Ele a pegou no caminho e a plantou firmemente em seu quadril.

– Nós estávamos tendo uma festa de dança – disse ela.

– É isso que era?

Jess colocou Rowen para baixo e se ajoelhou na frente dela. –Pequena, eu não fui muito legal domingo, não é?

Ela inclinou a cabeça para o chão e sacudiu. – Você feriu meus sentimentos.

– Sinto muito, Rowen. Eu prometo que não farei isso de novo. Eu exagerei e apenas perdi o controle. Você me perdoa? – Ele implorou, levantando o queixo para que ela visse seu rosto de desculpas.

– Sim. – Ela sorriu e, em seguida, jogou os braços ao redor de seu pescoço.

Eu estava feliz por ele ter feito as pazes com Roe. Mas nós tínhamos muito o que conversar, então eu interrompi seu abraço. –Ok, garotinha. Hora de dormir. Vamos subir e ler uma história.

– Geórgia... – Jess começou, mas eu o interrompi.

– Podemos conversar depois que ela estiver na cama.

Ele fechou os olhos e baixou o queixo. Ele me deu um pequeno aceno de cabeça antes de eu levar Rowen para o andar de cima.

Eu fiz o meu melhor, mas foi difícil me concentrar nas histórias de dormir de Rowen. Minha mente estava no homem lá embaixo e o que a nossa próxima conversa traria.

Jess e eu sentamos no balanço da varanda e assistimos ao pôr do sol. Logo seria inverno e minhas noites lá fora acabariam até a primavera.

Ele estava vestindo seu casaco enquanto eu estava enrolada debaixo de um grande cobertor.

Ficamos em silêncio, nenhum de nós querendo começar a conversa.

– Sinto muito, Sardenta. Eu estraguei tudo – Jess finalmente disse.

– Eu não sei o que fazer – eu disse suavemente.

– Sobre o quê? – Ele perguntou.

– Sobre nós. Ela é minha vida, Jess. O que você fez com ela, eu não posso arriscar que isso aconteça novamente. Porque o que acontece da próxima vez? O que você vai dizer? Algo pior? Algo que a destruirá? Ela não tem pai em sua vida porque ele é um idiota e eu não vou permitir que ele a trate do jeito que ele me tratou.

Ele respirou fundo, enquanto deixava minhas palavras afundarem. – Você está procurando por uma oportunidade de me afastar. Primeiro, pensando que eu estava com você para ter a fazenda. Agora isso. Ainda não faz sentido para você? – Perguntou ele.

– O que você quer dizer com 'faz sentido'?

– Essas foram suas palavras, não minhas. Você disse que não fazíamos sentido juntos. Então você continua me afastando. O que significa que você ainda acha que não fazemos sentido. Se você soubesse, você estaria lutando muito mais para superar seus medos.

– Não vire isso contra mim, Jess. Você não estava aqui no domingo com ela.

– Não, eu não estava. Porque você precisava de espaço. Eu te dei quase uma semana para esfriar quando o que eu queria fazer era seguir sua bunda aqui da delegacia no domingo e resolver as coisas. Queria pedir desculpas a Rowen no minuto em que você saiu da porta da delegacia e fazer as coisas direito. Mas eu não consegui. Então tenho esperado que você termine com o seu espaço. Rezando que ela me perdoe por ser um idiota. E ela fez. Imediatamente. Porque eu quis dizer e ela sabe disso. Então, por que você não me perdoa?

– Doeu, Jess. – Lágrimas começaram a encher meus olhos. –Não apenas domingo. Como você me tratou quando nos mudamos para cá? Isso machucou. E então, ver você gritar com Rowen, ficou pior. O fato que você passou dias sem me procurar e se desculpar dói também.

Até este ponto, não nos tocamos. Mas ele teve o suficiente de distância e me mudou do balanço para o seu colo.

– Sinto muito, querida – ele disse no meu cabelo. – Eu não sei mais o que dizer. Eu não sabia se você queria que eu ligasse para você. Se eu tivesse escolha, estaria aqui no domingo à noite. Pensei que você queria que eu ficasse longe. Eu vou tentar, eu juro. Vou tentar não deixar acontecer de novo. Eu tinha muito na minha mente e eu explodi. Assim como você deixa explodir quando está chateada, eu faço o mesmo. Eu apenas preciso encontrar uma maneira de liberar isso sem machucar minhas garotas. E eu vou. Promessa. Apenas não desista.

Fiquei em seus braços e contemplei minhas opções. deixá-lo ir ou esquecer isso.

– Você está certo. Estou com medo – admiti. – Eu não confio que você não vai me machucar. Que você pode controlar seu temperamento e não vai quebrar nossos corações. Mas essa luta, dói também. Eu não gostei que você não estivesse aqui na semana passada. Eu estive doente do meu estômago, me perguntando se você voltaria ou se você já tinha terminado conosco. Eu não quero terminar, mas ao mesmo tempo, eu não quero me machucar. Eu sinto que estou dividida ao meio e nenhum dos lados sabe o que fazer.

Ele me puxou mais apertado em seu peito, então eu tive que virar meu rosto e descansar minha bochecha contra seu coração.

– Estou com você, querida. Eu juro que você está segura comigo. Me machucou estar longe também. Eu não sinto muita vontade de alguma vez fazer isso de novo. Você pode confiar em mim e eu vou provar para você. Mas você não pode desistir e me afastar. Você tem que me dar tempo para ganhar sua confiança e provar que fazemos todo sentido. Me perdoe por ser um idiota? Uma última vez?

Talvez compartilhar meus medos com ele tornasse mais fácil superá-los. Eu não tinha certeza, mas valeu a pena um tiro. Ele valeu a pena tentar.

Então eu sussurrei: – Ok.

Depois que terminamos nossa conversa, Jess me levou para dentro do balanço da varanda e me levou direto para a cama. Então ele me mostrou que não era exagero sobre sexo de reconciliação.

Agora estávamos prontos para dormir, conversando tranquilamente e nos recuperando da nossa semana de intervalo. Eu não estava na minha posição habitual, escondida ao lado de Jess. Em vez disso, seus braços estavam ao meu redor, puxando minhas costas firmemente contra sua frente. Quando ele falou, senti sua respiração no topo da minha cabeça.

– Uh... Quanto da festa de dança você viu? – Eu perguntei.

– Muito. – Seu peito tremia quando ele tentou abafar sua risada.

Eu estava completamente envergonhada por ele ter me visto balançando a minha bunda, dançando como um idiota na sala de estar.

Correção. Eu estava completamente mortificada. Minhas bochechas estavam tão quentes que eu tinha certeza que elas estavam tão vermelhas quanto uma maçã, então virei meu rosto para o travesseiro.

– Não fique envergonhada – disse ele. – Eu tive uma semana de merda sem você. Vir aqui e ver você rindo e dançando fez tudo ir embora. Além disso, agora eu sei que você sabe se mexer, Sardenta. Você está me escondendo coisas. – Ele apertou os braços um pouco mais apertado em volta do meu corpo.

– O quê? – Eu perguntei confusa.

Ele tirou os dedos dos meus e uma mão viajou sob as cobertas para o meu traseiro.

– Você pode agitar esta bunda, querida.

– Oh meu Deus – eu murmurei no travesseiro, agora ainda mais envergonhada. Jess não pode se segurar e começou a uivar. Sua risada encheu o quarto. E mortificada como eu estava, me senti ótima e, tê-lo de volta.


****


O toque estridente do telefone de Jess nos acordou de um sono profundo.

Ele alcançou rapidamente seu telefone enquanto eu me virava para olhar meu despertador. 2h23

PO.

Em todas as noites que Jess dormiu na minha cama, nem uma vez o telefone dele tocou em horários estranhos. A última vez que eu o vi receber uma ligação foi às nove da noite. Uma ligação para o xerife depois das duas da manhã não poderiam significar coisas boas.

– Sim – ele respondeu. Dez segundos depois, ele disse: – Estou indo.

Ele jogou as cobertas para trás e saltou da cama.

– Emergência na cidade, Geórgia. Há uma casa em chamas. Eu tenho que ir até lá.

– Ok – eu disse para suas costas.

Me sentei e esperei que ele saísse do closet.

Eu não fiquei surpresa quando ele saiu vestindo roupas diferentes das que ele chegou esta noite. Jess estava criando uma coleção de roupas no meu armário. Alguns pares de jeans, suéter e camisa extra de trabalho. Eu até comecei a colocar suas camisetas, cuecas boxer e meias na minha gaveta de cima. Eu não tinha perguntado, mas eu assumi que ele parou em sua casa algumas vezes por semana para recarregar a mochila que ele trazia com ele para a fazenda.

– Não sei quando estarei de volta. Eu vou trancar tudo quando eu sair. – Ele vestiu jeans e um casaco de lã marrom.

– Tenha cuidado.

Ele plantou uma mão na cama para se inclinar e me dar um beijo rápido. Então ele deu três passos largos e estava fora da porta. Vinte segundos depois, ouvi seu caminhão rugir para a vida e acelerar pelo caminho de cascalho. Para chegar ao seu caminhão tão rapidamente, ele deve ter corrido no momento em que ele chegou a porta da frente. E o som de pedregulhos se espalhando com o girar das rodas de seu caminhão significava que ele não estava diminuindo a velocidade.

As coisas não estavam boas em Prescott hoje à noite.


****


– Querida, acorde.

Eu despertei abruptamente e levei um segundo para perceber onde eu estava. Na minha cadeira no escritório.

Jess estava de joelhos, agachado na minha frente. Uma de suas mãos estava gentilmente me sacudindo acordada.

Depois que ele saiu, eu tentei voltar a dormir. Mas uma hora depois, eu ainda estava me revirando na cama. Eu finalmente desisti e fui ao escritório para ler. Eu devo ter caído no sono não muito tempo atrás, porque a última coisa que eu lembrava era a luz do amanhecer através das janelas da frente.

– Que horas são? – Perguntei.

– Quase seis.

Eu estava enrolada em minha cadeira de leitura em frente à lareira. Meus pés estavam enfiados em um lado e meus joelhos foram puxados para o meu peito. Desdobrando-me, me virei para inspecionar ele.

Ele estava uma bagunça. Seu cabelo estava espetado em todas as direções diferentes e seu rosto e as roupas estavam manchadas de fuligem. A única coisa que tiraria todas essas listras negras seria um banho. Sua estrutura estava curvada e seus olhos estavam vermelhos e inchados.

E ele cheirava a fumaça. Eu franzi o nariz depois de respirar.

– Desculpe – disse ele.

– Está bem. Está tudo bem?

Depois de um longo suspiro, ele murmurou: – Não.

Levantei minha mão para o lado do rosto dele, usando o polegar para esfregar uma mancha preta em sua bochecha. Ele encostou sua cabeça na minha e fechou os olhos.

– Quer falar sobre isso? – Eu perguntei.

– Que tal eu tomar um banho e depois te conto?

– Ok. – Eu balancei a cabeça.

Sua mão acariciou meu joelho uma última vez antes de sair.

Saí da cadeira e fui até a cozinha para ligar a cafeteira. Eu precisaria de muita cafeína para passar o dia. Quando ouvi o chuveiro ligar, subi as escadas para ver se Roe ainda estava dormindo. Ela estava apagada então eu decidi pular no chuveiro com Jess.

Tirando meu pijama, eu entrei silenciosamente no banheiro e abri a porta do chuveiro. Jess estava de pé embaixo do jato, a cabeça abaixada, deixando a água correr na parte de trás de sua cabeça e pescoço. Seus braços estavam acima de sua cabeça, descansando contra a parede do chuveiro, e seus olhos estavam fechados.

Encaixando-me nas suas costas, passei meus braços ao redor de sua cintura e fiz o meu melhor para aliviar a mente perturbada do meu homem enquanto eu limpei a fuligem de seu corpo, substituindo o cheiro desagradável por maçã verde limpa e fresca.

No momento em que saímos do chuveiro, eu precisava me apressar para chegar ao trabalho na hora certa. Eu tirei Rowen da cama e nos apressamos em nossa rotina matinal.

Jess saiu assim que ele estava vestido, então eu não recebi a informação dele depois de tudo. Mas ele sabia que eu estava ansiosa para ouvir o que tinha acontecido, então ele parou no hospital pouco depois das dez, trazendo um café irlandês triplo com ele. Sentados juntos na sala de espera, ele me contou sobre o fogo.

– Uma casa na Second Street foi incendiada na noite passada. O Cara que morava lá perdeu tudo, exceto o que estava em sua garagem.

Eu suspirei. – Meu Deus. Ele está bem?

– Sim. Apenas totalmente fodido. Quando digo que ele perdeu tudo, quero dizer tudo. Se você tiver alguma coisa sobrando da mudança para cá, me avise e eu vou levar as coisas para ele.

– Absolutamente. Acho que tenho algumas coisas de cozinha no sótão. Como o fogo começou?

Balançando a cabeça, ele disse: – Alguém jogou uma lata de gasolina através da janela da sua sala de estar, seguido de uma tocha acesa.

– O que? – Eu sussurrei, meus olhos se desviando. – Por que alguém queimaria sua casa? Ele poderia ter se machucado. Ou pior, morto!

– Eu não sei. Isso é completamente fodido. Conversei com ele por um tempo, mas ele estava em choque. Mal podia falar. Eu tenho que ir ao posto de bombeiros depois que eu sair daqui e ver se Nick descobriu algo novo. Então eu vou tentar falar com o cara novamente. Ver se ele tem qualquer inimigo que faria isso.

– Ele precisa de um lugar para ficar? – Perguntei.

Eu não estava realmente interessada em ter um estranho na minha casa, mas o pobre homem tinha perdido todas as suas posses em uma noite. Eu poderia aguentar um convidado por alguns dias, especialmente agora que eu tinha o quarto de hóspedes todo arrumado.

– Ele é um estranho, Geórgia – Jess repreendeu.

– Eu sei disso. Mas ele precisa de ajuda. Além disso, você conhece todo mundo. Você o conhece, certo? E ele é um cara mau?

– Não. Ele não é um cara mau. Bom o suficiente. Não o conheço muito bem. Trabalha como zelador na escola. Mas ele ainda não vai se hospedar na fazenda.

– Onde ele vai ficar então? – Eu perguntei.

– Ele só precisa encontrar um lugar para ficar enquanto espera pelo seguro. Tenho certeza que ele vai conseguir um pagamento. Provavelmente dentro de uma semana. Até lá, ele ficará com Everett Carlson.

– Everett?

Eu não tinha visto Everett ainda hoje, mas eu definitivamente iria encontrá-lo depois que Jess fosse embora.

– Sim. Ele mora ao lado. Estava lá a noite toda.

– Sério? – Eu disse. – Isso é legal de Everett hospedá-lo.

– Haha. Aposto que Maze não pensa assim. Na verdade, surpreendente que você não tenha conseguido receber a informação dela ainda. Ela estava com ele na noite passada. Veio para o lado de fora vestindo a camisa e o moletom.

– Você está brincando! – Eu pulei do meu lugar para me ajoelhar na cadeira.

– Não.

– Uau. Ela disse que eles saíram algumas vezes, mas que ele não parecia muito interessado em ser mais que amigos. Eu acho que isso mudou.

Jess checou o relógio e se levantou para sair. Nós tínhamos acabado de chegar às portas da frente e ele me deu um rápido beijo de despedida quando – Gigi! – soou atrás de mim. Jess rolou seus olhos e puxou seus óculos de sol, saindo, enquanto eu me virei para cumprimentar uma muito animada Maisy.


Capítulo Treze


–Então? O que você acha? – Ele perguntou

Estávamos explorando a minha nova garagem depois do trabalho. Ryan e sua equipe tinha acabado de terminar esta manhã.

– É, ah, grande.

E era. Enorme. Muito maior do que qualquer coisa que eu precisava.

– Eu não estou muito certa do porque eu preciso de todo este espaço extra. Eu poderia colocar dois veículos extra aqui mais todas as caixas que tenho guardadas no sótão com espaço de sobra.

Ele sorriu para mim como se soubesse de algo que eu não sabia.

– É bom, porém, – Eu disse. – Eu gosto que o exterior combine com a casa. E as pequenas janelas ao longo das laterais e na frente dão um toque agradável. Faz parecer menos garagem.

– Garagem?

– Garagem. Você sabe, não é bonita. Normalmente garagens são tão quadradas e práticas. Grandes portas brancas que não combinam com o resto de uma casa.

– Então você gosta que eu tenha feito ela ' bonita'.

– Sim. Eu gosto porque é bonita. – Eu mostrei minha língua para ele.

Ele podia me provocar o quanto quisesse. Eu não senti um pingo de vergonha que a estética da garagem era a minha parte preferida.

– Eu mandei colocar um sistema de aquecimento de água térmica para ela ficar fria no verão e quente no inverno. Não vai disparar sua conta de aquecimento. Será que isso é considerado acima de bonito?

– Não.

– Essa bancada foi construída sob medida para armazenar ferramentas. O carrinho e as gavetas especialmente introduzidas. Será que isso é considerado acima de bonito?

– Ferramentas? Não. Definitivamente não. – Eu ri.

Ele tomou uma respiração profunda e suspirou. – Então você está me dizendo que estaria bem com qualquer coisa que eu decidisse mandar construir, desde que você tivesse essas janelinhas elegantes, as portas de madeira na frente com dobradiças estilo europeia e as luzes caras que combinam com as da varanda da frente.

– Você está entendendo, xerife – eu disse, acariciando seu braço.

Fiquei contente pelo desastre da garagem ter acabado. Jess me seguiu para dentro e eu tirei meus sapatos.

– O jogo de futebol começa em breve. Nós temos que ir andando – disse ele.

– Hã? Futebol? – Perguntei. Eu tinha planejado ter uma boa noite relaxante na fazenda. Uma viagem não planejada para a cidade não estava no topo da minha lista de atividades divertidas na sexta à noite.

– Sim. Há um jogo em casa hoje à noite no colégio – disse ele.

–Vamos apenas ficar aqui. No caso de você não ter notado, querido, as meninas Ellars não são realmente o tipo que curte evento esportivo.

– Pense nisso como um evento social, então. Precisamos sair em 45’. Vamos só buscar cachorros quentes no jogo para o jantar.

– Como um jogo de futebol é um evento social?

– Toda a cidade vai para assistir e fofocar. Muita gente nos viu pela cidade, mas muitos não. Você e Roe serão o centro das atenções. Ela vai adorar –, disse ele.

– Ah... Pensei que estava tentando me convencer a ir. Eu não estou muito interessada em ser o assunto da fofoca de hoje. Isso não está ajudando o seu argumento.

– Eu tenho que ir. As pessoas esperam que o xerife participe dos eventos da cidade. Também esperam as garotas do xerife junto com ele.

Eu abri minha boca, mas ele me cortou.

– E eu não estou tentando te convencer a ir. Estou dizendo que você está vindo.

– Agora você está me deixando louca, Jess – eu disse, empunhando minhas mãos em meus quadris. – Você não comece a me dar ordens.

Eu estava doente até a morte de Jess me dizendo o que fazer. Era como a situação da garagem de novo. Bem, tipo isso. Claro, isso era apenas um jogo de futebol e nada para se preocupar. Foi o princípio da questão que me deixou com raiva.

Ele não escutou. Em vez disso, ele começou a desabotoar sua camisa. – Se troque.

– Espere. Eu não quero sentar do lado de fora no frio, assistindo a um jogo que não entendo. Nós não vamos.

Ele bufou. – Porra, você pode ser difícil.

– Eu não estou sendo difícil!

Jess me ignorou e inclinou a cabeça em direção às escadas, gritando: – Rowen!

– Sim – ela gritou de volta.

– Quer ir a um jogo de futebol? – Ele perguntou enquanto seus pezinhos desciam as escadas.

– Sim! – Ela gritou.

– Boa. Eu também. Sua mãe não quer. Acho que é só eu e você – disse ele.

Eu respirei fundo e fechei meus olhos, tentando diminuir meu batimento cardíaco acelerado. Eu não estava feliz que ele estava me dando ordens e em seguida usando Rowen para me fazer sentir culpada e ir.

Eu não estava ficando mais feliz aqui.

– Por que você não quer ir, mamãe? Eu quero ir com Jess, –Roe disse.

Traidora.

Eu inalei e me lembrei de não gritar com ela só porque estava com raiva de Jess.

– Bem, garotinha, estou cansada. Foi uma longa semana e não conseguimos gastar muito tempo com Jess desde que ele está trabalhando tanto. Eu achei que seria legal ficar em casa só nós três.

– Se você vier para o jogo de futebol comigo e com Jess, então seremos nós três, certo? – ela perguntou.

Um sorriso maroto se espalhou pelo rosto de Jess.

– Tudo bem – eu murmurei.

Mais uma vez, deixei Jess passar por cima de mim e fazer o que quer.


****


– Querida – disse Jess.

Eu não respondi. Meus olhos ficaram colados no para-brisa.

Eu estava com raiva de mim mesma por deixá-lo me empurrar para isso. Eu deveria ter resistido e ficado em casa.

– Sardenta – Jess chamou novamente.

Meu silêncio continuou.

Quando estávamos juntos, nunca dirigi meu carro. Ele sempre foi para o lado do motorista e eu permitia. E como eu era nova em Prescott, se ele dirigisse, ele não precisava dar instruções. Mas eu também sabia que era parte de seu jeito de homem másculo. Jess continuou dirigindo, finalmente, quando eu não respondi, ele parou ao lado da estrada.

Talvez eu precisasse repensar em deixá-lo sempre ser o motorista.

– O que há de errado? – Ele perguntou.

– Nada. Estou bem – menti.

– Você não está.

– Eu estou.

– Você precisa falar comigo – disse ele.

– Eu vou ficar bem – eu disse, tentando soar sincera. – Vamos apenas chegar ao jogo. Eu estou com fome.

– Geórgia, me diga. Por favor.

Eu me virei para olhar para ele, deslocando todo o meu corpo no assento.

–Jess, você tem trabalhado o tempo todo. Não há nada de errado comigo querer ficar em casa e passar algum tempo juntos, você sabe. Você nem me ouviu. Nós temos que decidir as coisas juntos.

– Eu deveria ter escutado. Mas esta noite será divertida. Você vai gostar.

– É futebol – eu disse, a palavra com sabor azedo.

– Tente? – Ele perguntou.

– Certo.

Ele se inclinou sobre o console para um beijo rápido antes de nos levar para a cidade.

Nós estacionamos em um enorme terreno de cascalho, já lotado, e caminhamos em direção ao estádio.

Roe estava no meio, segurando nossas mãos enquanto ela saltava em suas botas de camurça.

O estádio de futebol era muito maior do que eu imaginaria para uma cidade do tamanho de Prescott. Depois de passar por uma longa barraca de comida, subimos um lance de degraus que levava as arquibancadas acima de nós. Eu cheguei nas arquibancadas quase cheias e, em seguida, verifiquei novamente o meu relógio.

O jogo não deveria começar até as sete e eram apenas seis e meia. Eu percebi que era cedo, mas pela aparência da multidão, eu estava errada. Os únicos lugares vazios restantes localizavam-se nos lugares indesejáveis, no alto e nas bordas. Aparentemente, estar no horário para um jogo de futebol do ensino médio de Prescott, você tinha que chegar logo após o almoço.

Jess se inclinou para pegar Rowen, que envolveu as pernas ao redor de sua cintura com facilidade praticada. Então ele pegou minha mão e me puxou para trás para o meio das arquibancadas.

Cerca de cinco filas para cima, ele parou em uma fileira já bastante cheia de pessoas.

E é claro que os assentos eram perfeitos. Bem no meio. Alto o suficiente para ver todo o campo sem o corrimão no seu caminho.

– Ah, Jess, não deveríamos continuar subindo para uma fileira vazia? – Perguntei.

– Aqui é onde eu sento – disse ele. – Eles vão abrir espaço.

É claro que ele teria um lugar reservado no melhor local disponível. Meu palpite era que o povo de Prescott abriria espaço para ele, não importando onde ele quisesse se sentar.

Muitos rostos viraram em minha direção, me dando uma inspeção completa. Eu estava feliz em ver alguns que eu reconheci e me concentrei neles, em vez dos estranhos me encarando. Em nossa fila estava Silas Grant. Atrás dele e do lado estava Maisy.

– Brick, venha. Há muito espaço – um homem sentado em três lugares chamou antes de as pessoas começaram a se espremer juntas para fazer uma abertura.

Jess assentiu e se arrastou para o lado da fila, ainda carregando Rowen, até nós chegarmos ao espaço aberto ao lado de Silas.

– Gigi – disse ele.

– Oi, Silas.

– Primeiro jogo? – Ele perguntou.

Jess começou a rir, então eu lhe dei uma cotovelada nas costelas.

Ele soltou um –humph – enquanto eu dizia a Silas: – Sim, primeiro jogo.

– É um bom ano para se tornar um fã. Os Mustangs são uma ótima equipe este ano. Favorito para ganhar o campeonato estadual – disse ele.

– Qual deles são os Mustangs? – Roe perguntou.

– Time verde. É por eles que estamos torcendo. Bem na nossa frente – Jess disse.

– Quem são os caras vermelhos? – perguntou ela.

– Sheridan Pioneers. Queremos que o time verde faça a bola passar pelo time vermelho e levar na zona final lá embaixo – disse ele, apontando todos os pontos diferentes no campo.

– Oh. – Seu queixo caiu e seus olhos se encheram de lágrimas.

– O que há de errado, Roe? – Eu perguntei.

Ela não respondeu.

– Pequena? – Jess sussurrou. – O que é isso?

Roe finalmente olhou para cima e as lágrimas caíram em suas bochechas. – Os vilões são vermelhos e meu suéter é vermelho. Isso significa que não posso ser um Mustang?

– Claro que não, querida – eu disse, segurando uma risada. –Você pode torcer por eles, não importa se você está vestindo vermelho.

– Isto é importante! Eu não estou vestida direito! – Minha mini diva chorou novamente.

Nós estávamos começando a chamar atenção. – Você quer usar o seu casaco?

Era um roxo profundo e se misturava melhor com o mar de verde em que estávamos sentados.

– Ok. – Ela fungou.

– Quer um cachorro quente, Pequena? – Perguntou ele.

– Sim – ela disse, assentindo entusiasticamente, todos os sorrisos de novo agora que seu guarda-roupa apoiava melhor o time da casa.

– Geórgia? – Ele perguntou.

– Claro – eu disse. – E uma Coca-Cola. Suco para Roe.

– Ok. Volto logo.

Assim que ele desocupou seu assento, Maisy desceu de trás de nós e pegou seu lugar.

– Hey – ela disse. – Eu não sabia que vocês viriam hoje à noite. Impressionante!

– Ei, para você também! – Eu disse enquanto Roe pulou para lhe dar um grande abraço.

– Conheça minha família.

Atrás de nós estava um casal mais velho que eu assumi serem os pais de Maisy e dois homens, um de cada lado dos pais dela.

– Esta é minha mãe, Marissa e meu pai, Brock Holt – disse ela. Eu balancei as duas mãos e me apresentei.

– Estes são meus irmãos – continuou Maisy, – Beau e Michael.

Maisy parecia exatamente com a mãe dela, exceto pelos olhos dela, que eram do seu pai. Brock tinha ombros largos e uma estatura enorme. Jess era um cara grande, mas mesmo sentado, o pai de Maisy e irmãos eram obviamente maiores.

Michael era mais jovem e ainda não tinha preenchido seu corpo. Mas Beau era construído. Montanhoso. Tudo sobre ele era quadrado e angular, seus ombros, mandíbula, mãos. Ele era uma versão mais jovem de seu pai, exceto pela barba marrom-escura que cobria sua mandíbula e a falta de uma barriga de cerveja protuberante.

– A mulher de Brick – disse Beau.

– Hum... Sim. — Gostava que Jess me chamasse de sua namorada e não de sua mulher. Eu não gostava de –Mulher –, isso me fez sentir velha.

– Você está gostando do hospital? – Marissa perguntou.

– Oh... Tem sido ótimo – eu disse, sorrindo. – Eu amo trabalhar com Maisy.

– Bem, com certeza já ouvimos muito sobre você, Gigi – disse ela. – Estamos felizes por vocês duas terem se tornado amigas tão rápido.

– Eu também.

Nós conversamos um pouco mais sobre as coisas gerais de Prescott até que eu vi Jess voltando para nossa fileira. Eu fiz um rápido inventário do estoque em seus braços.

Seis cachorros-quentes, dois refrigerantes, uma caixa de suco, balas, pipoca, M & Ms e algo verde debaixo do braço dele.

– Você deixou alguma coisa na barraca de comida para os outros clientes? – Perguntei.

Ele sorriu, colocando a comida no banco e depois cumprimentou Maisy e sua família.

– Você encontrou os montanhistas desaparecidos? – Jess perguntou a Beau.

– Sim. Encontrei-os a cerca de um quilômetro e meio do começo da trilha – disse Beau.

– Imaginei que não levaria muito tempo. – Jess riu, depois me disse: – Beau é chefe de Busca e Resgate em Jamison County. Atendemos as chamadas na delegacia e depois coordenamos com sua equipe.

– Entendi. – Eu balancei a cabeça.

– Eu também trabalho no escritório do Serviço Florestal. Se encaixa bem desde que a maioria dos nossos resgates são pessoas perdidas na floresta, – acrescentou Beau.

Jess e Beau conversaram um pouco mais antes de nos virarmos para comer nossa comida. Depois de comer quatro cachorros-quentes, Jess tirou o pacote verde que ele guardou debaixo do banco.

– Aqui, Pequena. Experimente, – ele disse, desdobrando uma pequena camiseta do Mustang.

– Sim! – Ela imediatamente começou a tirar o casaco.

– Jess, você não deve estragar ela – eu sussurrei.

Ele encolheu os ombros. – Ela vai ganhar uma eventualmente. Bem, poderia ser esta noite.

– Sim, mas eu não quero que ela pense que se ela jogar algum drama e lágrimas ela pode conseguir o que quiser.

Ele deu de ombros novamente. Fora isso, ele não fez nenhum reconhecimento de que ele tinha me ouvido, muito menos concordou comigo, o que significa que ele iria estragá-la. Outro exemplo dele não me escutando.

– Obrigada! – Rowen disse a Jess antes de se jogar em seu peito.

– Qualquer coisa para as minhas meninas – disse ele, beijando o topo de seu cabelo.

Então ele a levantou para que ele pudesse começar a tentativa frustrada de tentar ensinar as meninas Ellars sobre futebol.


****


– Então, o que há de novo com você e Everett? – Perguntei Maisy.

A primeira metade do jogo estava quase no fim e ela veio com Rowen e eu para os banheiros do estádio.

Antes da noite do incêndio, Maisy e Everett tinham saído algumas vezes, mas cada encontro foi completamente platônico. Ela começou a pensar que Everett estava precisando de uma amiga e não estava tão interessado em um relacionamento. Então a noite do incêndio aconteceu.

– Oh, ele é um sonho – ela desmaiou. – Nós passamos todas as noites juntos desde o incêndio. – Ele é realmente meio tímido. O que é estranho, certo? Ele é um médico gostoso. Quem teria pensado que ele seria tímido? Eu tenho que praticamente arrancar coisas dele. Nós estamos apenas gastando muito tempo juntos quanto possível. Principalmente na cama, onde ele definitivamente não é tímido, eu estava esperando que todos nós poderíamos sair juntos. Como um encontro duplo.

Eu não tinha ido a nenhum dos bares em Prescott, mas estava procurando por uma desculpa para dar uma olhada. Não que eu fosse uma grande frequentadora de bares. Não era pela bebida. Eu só queria ver como era um bar de cidade pequena.

– Parece divertido. Deixe-me falar com Jess.

– Bom! – Ela cutucou meu ombro quando saímos do banheiro com Rowen. – Assim, como é a sensação de ser a conversa da cidade?

– Hã?

– Uh, você não percebeu o lugar inteiro verificando você? – Ela disse.

– Eles estavam? Por quê?

– Gigi, você entrando no estádio de futebol nos braços de Jess é novidade. Grande notícia. Ele nunca trouxe ninguém aqui antes. As pessoas têm especulado sobre o quão sério vocês dois estão ficando. Ele trazendo você para o jogo na frente de toda a cidade? Significa que ele está fazendo uma declaração. Reivindicando você e Rowen oficialmente.

– Ah... Maisy, é só um jogo de futebol. Eu não acho que Jess queria que fosse algum tipo de ritual de 'reivindicação'.

–Deixe-me ensinar um pouco sobre os esportes da Escola de Prescott. Todo mundo vem para ver o que todo mundo está fazendo. Claro, todos nós torcemos pelas crianças e esperamos que elas vençam, mas essa é apenas um espetáculo. Nós realmente vemos o que as pessoas estão fazendo, como elas estão, se elas ganharam peso e com quem eles estão. É o segundo maior local de fofocas da cidade atrás do Clube do café.

– Sério? – Eu perguntei, de repente me sentindo muito exposta.

– Sim, sério.

– Então, ah, o que eles estão dizendo sobre mim? – Eu não tinha certeza se eu realmente queria a resposta.

– Que você é perfeita para Jess. Que ele parece mais feliz ao seu lado do que jamais esteve. Tipo nunca – disse ela.

– Isso não é tão ruim, eu acho. – Meu coração inchou com o elogio.

– Não, é incrível! Eles amam você. Bem... Quase todos. Algumas das garotas solteiras locais que tentam agarrar Jess há anos estão sendo totalmente putas.

– O que? Por quê?

– Elas são apenas invejosas. Falando sobre como você entrou na cidade, assumiu a fazenda e que Jess está com você porque ele sempre quis morar lá. Que se não fosse pela casa, ele ainda estaria com Andrea Merkuso. Eles estavam tendo uma aventura de longo prazo antes de você aparecer.

Eu não sabia o que dizer, então continuei andando. Toda a alegria que senti alguns segundos atrás desapareceu. Eu tinha sido feliz ignorando os relacionamentos anteriores de Jess. Mas ter Maisy dando um nome em seu passado fez meu peito doer. Uma parte era ciúmes. Outra parte era insegurança da minha parte, especialmente me sentindo como se estivesse sob um microscópio para toda a cidade.

– Não se preocupe, Gigi. É realmente só Andrea falando porcaria. Ela é uma vadia e tem amigas vadias também. Quem se importa com o que elas pensam? Só porque ela costumava ficar com Jess não lhe dá o direito de ser malvada, sabe? Vou mostrá-la se a vir hoje à noite.

– Ah... Ok –, eu murmurei.

As pessoas estavam saindo do estádio no intervalo e estávamos entrando e saindo da multidão. Minha mão apertou em torno de Rowen para garantir que eu estava a puxando para trás de mim.

Quase chegamos à escada quando uma mão segurou meu braço. Eu engasguei e girei, prestes a xingar a pessoa que tão rudemente me agarrou quando eu olhei para cima no rosto de Jess.

– Oh, oi – eu disse, relaxando.

– Ei. Eu estava chamando você. Você não me ouviu?

– Não, desculpe – eu disse, ainda um pouco atordoada.

– Você está bem? – Ele perguntou.

– Sim, ótima – eu menti.

– Geórgia.

– Mais tarde, Jess, ok?

Ele olhou para mim por alguns segundos e depois assentiu.

Roe estava admirando a multidão, mas quando ela finalmente percebeu que nós encontramos com Jess, ela pulou em seus braços para ter uma visão melhor.

Jess me levou a um grupo de homens amontoados ao lado das arquibancadas. Silas estava lá conversando com Beau e outro homem que eu nunca conheci.

– Nick. Conheça Gigi e sua filha, Rowen –, disse Jess.

– Prazer. – Nick apertou minha mão.

– Prazer em conhecê-lo, Nick.

– Nick dirige o corpo de bombeiros, Sardenta.

– Ah. Semana agitada para você então.

– Você pode dizer que sim. Nós não tivemos um incêndio na cidade em anos. Eu esqueci o quanto de papelada eu tenho que fazer. Normalmente, eu apenas ajudo Beau e o Serviço Florestal com incêndios florestais. Eles não conseguem lidar com eles sem mim, – ele brincou.

Este deveria ser o ponto de encontro quente, porque Nick era igualmente bonito como Beau e Silas. Jess ofuscava todos eles, mas o círculo deles era totalmente bonito.

O que explicava o grupo de garotas à espreita, tentando esconder seus olhares e rindo.

Nick parecia ser muito mais jovial do que qualquer outro homem do grupo. Ele tinha um sorriso travesso e uma barba castanha curta que combinava com a cor do cabelo desgrenhado.

Os homens começaram a falar sobre o time de futebol e me perdi em pensamentos.

Eu não pude deixar de olhar ao redor da multidão em movimento. Eu me perguntei se alguma das pessoas olhando para nós, pensava que eu estava indo além do meu alcance, tentando ficar com Jess. Ele tinha estado com alguma das mulheres andando por aí, olhando para nós?

Quando fechei os olhos, ouvi Nate Fletcher me chamando de prostituta feia. Lembrei-me do e-mail odioso que ele me enviou depois que eu lhe enviei uma foto da ultrassonografia do bebê Rowen. Ele tinha me acusado de estar desesperada para prendê-lo, porque essa era a única maneira que eu poderia obter um homem rico e bonito como ele. Quantas pessoas na multidão de Prescott estavam se perguntando o que um homem bonito como Jess estava fazendo comigo?

A mão de Jess estremeceu e eu sai da minha cabeça. Eu segui seu olhar para a multidão até que eu vi o seu alvo.

Wes.

Andando na nossa direção com uma loira de pernas longas em seu braço.

Todos os homens em nosso grupo tinham os olhos vigilantes em Wes quando ele se aproximou.

A tensão nublou o ar.

Jess estava chateado, seu corpo tenso, mas Silas era perigoso. Silas olhou para Wes como se ele quisesse cometer assassinato. Agora eu sabia porque Maisy achava que ele era aterrorizante.

Wes parou na frente do grupo e virou os olhos para mim, a loira em seu braço olhando diretamente para Jess.

Os olhos de Wes estavam de novo vítreos e com olheiras escuras. A pele do rosto dele estava manchada.

– Gigi. Eu vejo que você ainda não decidiu deixar o Bom Príncipe de Prescott, – Wes sorriu.

– Não é uma gracinha – disse ele para Rowen. – Qual é o seu nome, princesa?

Roe se enterrou no peito de Jess sem uma resposta.

– Para trás, Wes, – Jess avisou.

Nesse momento, a loira começou a falar. – Ei, Brick. Eu tentei ligar para você algumas vezes. Você recebeu minhas mensagens? Ela me lançou um sorriso falso.

Cadela.

Era descaradamente óbvio que eu estava com Jess, de pé aqui segurando a mão dele e me inclinando ao seu lado enquanto minha filha descansava em seu quadril.

– Sim, Andrea, eu recebi elas – disse Jess. – Eu não te ligar de volta deveria ter sido a primeira dica para me deixar em paz. Esta pode ser sua segunda. Esqueça. Meu. Número.

Andrea. A ex de Jess.

Meu coração despencou no meu estômago.

Claro que ela era linda. Um pouco falsa, mas muito bonita. Seu cabelo era comprido e liso, brilhante sob as luzes do estádio. Sua maquiagem era grossa, mas aplicada perfeitamente. E ela era magra. Aposto que ela não tinha uma grama de gordura extra nela, certamente não um extra de dez quilos.

–Agora, xerife, isso é maneira de tratar um de seus cidadãos? – Wes perguntou.

– Não é o lugar, Drummond – disse Nick.

– Ah... Nick Slater. Você encontrou alguma evidência sobre quem iniciou o incêndio? Aposto que foi alguém muito, muito mais esperto que você. Alguém que sabe exatamente como criar uma bomba caseira e não deixar vestígios –, disse Wes.

Wes tinha acabado de admitir que começou o fogo? Se não fosse ele, ele sabia quem foi.

– Chega – Silas rosnou.

O rosto de Silas era de granito e suas mãos estavam cerradas ao lado do corpo. Se ele perdesse o controle, Wes não tinha chance.

Eu estudei Wes, esperando que ele não abrisse a boca e empurrasse Silas ao limite. Não quero que minha filha testemunhe uma briga. Felizmente, a confiança de Wes vacilou e ele parou de apertar os botões dos homens. Com um último olhar de desprezo para Jess, ele agarrou o braço da loira e começou a recuar.

Jess estava errado sobre o futebol do Mustang. Não foi um evento esportivo e não era um evento social também.

Era uma maldita novela.


****


Eu estava deitada de bruços na cama, o lençol cobrindo a metade inferior do meu corpo nu.

Meus braços estavam cruzados debaixo do meu rosto e eu estava afastada de Jess. Ele estava apoiado em seu lado, traçando padrões invisíveis na minha pele nua.

Meu corpo parecia um macarrão mole, mas minha mente estava estressada.

Nós assistimos a segunda metade do jogo, principalmente em silêncio. Silas não tinha voltado, e mesmo que tivéssemos um espaço vazio ao nosso lado, Rowen tinha ficado no colo de Jess. Depois de uma vitória no Mustang, nós dissemos adeus, voltamos para casa e colocamos Roe na cama.

No segundo em que a porta do quarto dela tinha se fechado, Jess me pegou e me carregou para a cama. O orgasmo que ele me deu drenou minhas reservas de energia, e ao invés de ir para o banheiro como de costume, eu virei de barriga para baixo e voltei para minha cabeça, tentando envolvê-la em tudo que havia acontecido.

Wes Drummond era uma ameaça. Ele estava lutando com Jess e eu estava no meio. Eu não gostei que ele tivesse tentado falar com minha filha. Em absoluto. E eu tive a sensação de que ele trouxe Andrea para nós hoje à noite só para irritar a mim e a Jess.

Além de Wes, minha mente girou em torno de Jess e Andrea. Mesmo que eu desesperadamente queria parar, eu continuei os imaginando juntos. A cada vez meu estômago revirava. As imagens mentais estavam tocando em repetição. Ele tocando seu lindo rosto. Seu cabelo longo e brilhante envolto através de seu corpo. Ele a beijando. Seu corpo magro por baixo dele. Eu apenas continuava a vê-los juntos e isso estava me deixando louca.

– O que está acontecendo na sua cabeça? – Jess perguntou.

– Noite estranha.

– Sim – ele concordou. – O que aconteceu quando você levou Roe ao banheiro?

Eu pensei em ignorar por um minuto, apenas dizendo que estava cansada e não era grande coisa. Mas eu não queria mentir para Jess.

Além disso, ele farejaria uma mentira e me importunaria até eu desistir.

– Maisy me disse que as pessoas da cidade têm falado de mim. Sobre nós – eu disse.

– Entendi. Cidade pequena. Mas não é nada para se preocupar. Você já sabe pessoas nesta cidade falam. E não será a última vez. Tem que fazer um esforço e deixar rolar.

– Eu sei disso – sussurrei. – Não é isso. Quero dizer, é, mas não é.

– Então o que é?

– Ela disse que aquela mulher desta noite. Andrea? Que ela estava dizendo coisas desagradáveis sobre mim. Que você só estava comigo pela fazenda. Caso contrário, você estaria com ela.

Sua mão parou de se mover nas minhas costas. Em um movimento rápido, ele me agarrou pelos quadris e me virou de costas. Seu peito me segurou enquanto seus olhos ardiam nos meus.

– Já falamos sobre isso e não estou fazendo de novo. Você não tem nada para se preocupar com esta casa –, disse ele.

– Eu sei. – Eu suspirei. – Mas isso não significa que eu goste de ouvir isso como fofoca.

– Eu vou te dar isso. O que mais Maisy disse?

– Ela me contou sobre você e Andrea. Que vocês estavam juntos. E eu sei... – Eu levantei minhas mãos em sinal de rendição. –Eu sei que é apenas ciúmes mesquinho. Que você estava com ela antes mim. Mas ainda assim, não gosto disso. Eu não gosto de ter a imagem de você e ela juntos na minha cabeça. E eu não consigo tirar isso. Ela é tão bonita.

Ele olhou para mim por alguns segundos e depois jogou a cabeça para trás, rindo. O peito dele tremeu tanto que a cama começou a balançar.

– Jess! – Eu bati minhas mãos em seu peito. – Não é engraçado. Estou falando sério. Isto está realmente me incomodando.

– Sardenta, você acabou de fazer a minha noite.

– O que? Eu estar chateada apenas fez a sua noite? Isso é torcido, Jess. E não é muito legal.

– Querida, eu amo porra que você está com ciúmes.

– Hã?

– Eu tenho feito o meu melhor para manter a boca fechada quando andamos pela cidade e outros homens estão checando você. E eu fui paciente, não perguntando sobre o pai de Roe. Porque o pensamento de você com outra pessoa? Ter um bebê com outra pessoa? Eu não gosto disso.

Eu não gostei da ideia dele com outra mulher. Não, especialmente Andrea. Mas o fato de ele estar com ciúmes diminuía demais a dor. Embora eu tenha certeza que os homens da cidade não estavam me encarando pelas razões que ele pensava. Tenho certeza de que eles estavam apenas curiosos.

– Não foi muito divertido descobrir sobre ela por outra pessoa – eu disse. – Eu não estou dizendo que eu preciso de uma lista das mulheres que você teve na cama, mas no futuro, se estivermos por aí e você saber que alguém que você costumava dormir vai estar lá, um aviso prévio seria bom.

– Pode ser – disse ele. – Mas, baby, Andrea é a única com quem você precisa se preocupar. Não gosto muito de falar sobre isso, mas provavelmente precisamos.

– Falar sobre o quê? – Eu perguntei.

– O passado. Eu preferiria apenas seguir em frente, mas esta cidade é muito pequena para você não ouvir rumores. Eu prefiro que você saiba a verdade por mim.

– Ok, você está começando a me assustar de novo.

– Não fique assustada – disse ele. – Apenas ouça. Eu não namorei ninguém sério toda a minha vida. Sempre casual, sem compromissos. Nem uma vez em trinta e quatro anos. Não até você. Andrea e eu era apenas casual. Encontros de vez em quando por cerca de um ano. Além dela e uma garota que eu fiquei no colégio, nunca mais estive com a mesma mulher mais de uma vez. Sempre ficava com as mulheres passando pela cidade por uma noite para que não houvesse risco que eu a visse novamente.

Eu não gostava de ouvir isso, mas pelo menos agora eu sabia.

– Ok. – Eu suspirei. – Saia de cima de mim. Preciso me limpar e me vestir para dormir. Eu estou acabada.

Jess não se mexeu.

– O quê? – Eu perguntei.

– Não esta noite, querida. Mas logo eu preciso saber sobre o pai de Roe.

Eu balancei a cabeça, sussurrando: – Em breve, mas não esta noite.

Ele se afastou de mim para que eu pudesse me arrastar para o banheiro, temendo quando –em breve – se tornasse –Agora – e eu teria que compartilhar sobre o pai de Rowen, um homem que eu jurei nunca colocar os olhos novamente. Um homem cuja voz me disse na parte de trás da minha cabeça que eu não era boa o suficiente para Jess.


Capítulo Quatorze


– Eu não me importo com o que você está vendo nessa coisa. Está errado – gritou meu paciente. Ele estava apontando para o meu iPad e antes que eu pudesse responder, ele murmurou: – Idiota.

– Sinto muito, Sr. Johnson – eu disse. – Eu não estava aqui quando você pegou seus medicamentos, mas pelo que seu prontuário diz, não posso te dar mais nada agora. Pode ser perigoso para seu fígado se você tomar muitos analgésicos em um período tão curto de tempo.

Sua ficha indicava que ele já havia recebido oxicodona mais do que suficiente para dor em suas costas. Eu não sabia por que não tinha feito efeito ainda, mas lhe dar mais não era uma opção até eu conversar com um médico.

– Encontre outra pessoa. Você é burra demais para descobrir isso. Onde está Ida? Traga-a de volta.

Eu respirei longamente e tentei manter a calma. Eu não era um grande fã de alguém me chamando de burra ou idiota.

– Deixe-me verificar com o Dr. Carlson sobre seus medicamentos, ok?

O Sr. Johnson tinha vindo ao pronto-socorro esta tarde reclamando de dor nas costas tão violenta que estava o deixando nauseado. Ele entrou enquanto eu estava no meu horário de almoço, então Ida tinha atendido e lhe deu oxi por ordem de Everett.

– Bem. Tire sua bunda daqui e verifique com o médico, cadela. Eu não me importo com o que você vê nessa maldita coisa. Nada do que vocês me deram está ajudando.

Eu estava cheia. Eu ia deixar para lá as outras afrontas, mas este último insulto foi demais.

– Pare. Sinto muito que você esteja com dor, Sr. Johnson. Mas ser rude comigo não vai ajudar. Você vai me tratar com algum respeito. Chega de xingamentos e gritos, – eu disse, usando minha voz de mãe.

Ele bufou, mas não disse nada em resposta.

– Agora, se você me der licença, eu vou encontrar o Dr. Carlson.

Eu caminhei imediatamente para mesa das enfermeiras, onde fechei os olhos e tentei relaxar, minhas mãos, estavam em punhos apertados.

– Gigi? Você está bem?

– Ótima – eu brinquei, me virando para ver Everett. – Eu estava realmente procurando você, mas eu precisava de um minuto.

– Está tudo bem?

– Sim. – Eu soltei um suspiro alto e cedi meus ombros. – Sr. Johnson está no quarto três do pronto-socorro. Ele passou os últimos dez minutos gritando comigo porque ele ainda está com dor e eu não lhe dei mais oxicodona. Sua ficha dizia que ele tinha conseguido a dose máxima a uma hora atrás. Então eu disse a ele que viria falar com você e ver se havia algo mais que pudéssemos fazer.

– Estranho. A dose já deveria estar fazendo efeito – disse ele. – Mas deixe-me entrar e conversar com ele. Veja que tipo de sintomas ele está tendo.

– Parece bom. Vamos.

– Oh, eu posso lidar com isso se você quiser, Gigi. Se ele for rude ou inadequado, você não precisa lidar com ele novamente.

– Legal você oferecer, Everett. Mas eu quero estar lá para que, se houver ordem de acompanhamento, eu posso cuidar disso. E não quero que ele pense que pode me intimidar. Eu vou ficar bem.

Após outra verificação completa do Sr. Johnson, Everett decidiu lhe dar uma pequena dose de morfina por acesso intravenoso. Eu fiquei no fundo da sala, observando, até que Everett me deu a ordem. Eu achei que a morfina combinada com o oxi era uma enorme quantidade de medicação, mas eu não era médica e decidi confiar que Everett sabia o que ele estava fazendo.

E isso pareceu funcionar.

Quinze minutos depois, o idiota do Sr. Johnson se transformou em um legal Sr. Johnson e ele pediu desculpas por seu comportamento.

– Obrigada, Everett. Ele parece muito melhor agora – eu disse depois de caminhar até o balcão do pronto-socorro.

– Você não precisa me agradecer, Gigi. É meu trabalho. Estou feliz por ter ajudado.

– Por que você acha que o oxi não funcionou? – Perguntei.

– Eu estava realmente um pouco confuso com isso. Eu verifiquei o seu prontuário e a quantidade que Ida deu a ele deveria ter sido mais que suficiente. Mas eu vi que alguns pacientes têm uma alta tolerância – disse ele.

– Então, não demoraria mais para que a morfina funcionasse? Ele pareceu se sentir melhor instantaneamente assim que comecei o gotejamento.

– A morfina e o oxi são compostos basicamente diferentes. E pode ser que a morfina funcionou melhor porque a administramos por via intravenosa. Mas eu concordo, parece estranho que ele tenha reagido a um tão rapidamente e supostamente não ao outro, – ele disse.

– Supostamente?

Ele se aproximou para poder falar em voz baixa. – Eu já vi pacientes como ele antes, Gigi, quando trabalhei em hospitais maiores. Tenho certeza que você correu através deles durante o seu tempo em Spokane também. Eles vêm reclamando de uma dor ou dores. Algo quase impossível para um médico diagnosticar. Dor nas costas. Dor no joelho. Entorse nas articulações. Além de dar-lhes medicação e dizer para descansar, não há muito mais que podemos fazer para o tratamento. Eles sabem disso. Então eles entram com a mesma dor, mais e mais, e saem com uma nova prescrição.

– Oh – eu murmurei. – Você acha que ele é viciado em analgésicos? Que ele estava fingindo?

– Eu não sei. A única outra opção é que Ida cometeu um erro e não lhe deu Oxi suficiente – disse ele.

– Eu duvido. – Ida era a enfermeira sênior do hospital e a personificação do minucioso.

Ele assentiu. – Eu também. Ela provavelmente não cometeu um erro como esse. O Sr. Johnson me mostrou duas versões muito diferentes de si mesmo na última hora. Mas um viciado em analgésico? Ele não parecia do tipo.

– Um viciado? – Eu perguntei.

– Talvez. Eu estou apenas especulando. Os viciados que eu vi no passado vieram para o hospital em uma base bastante regular. Mas isso foi em hospitais muito maiores. Era mais fácil para eles. Eles poderiam evitar ver o mesmo médico várias vezes. Aqui, seria muito mais difícil.

– Sua ficha diz que ele esteve aqui algumas vezes, mas que isso foi ao longo de cinco anos.

– Verdade. Ele pode estar viajando para fora da cidade para outros hospitais. Eu simplesmente não sei. Pode ser que seu corpo simplesmente não respondeu à oxicodona – disse Everett.

Jess ainda estava tentando descobrir quem estava vendendo medicamentos controlados por receita médica em Prescott. Se eu não soubesse que havia um traficante à solta, minha mente nunca teria suspeitado do Sr. Johnson no abuso de drogas. Mas agora eu não conseguia descartar.


****

Nós estávamos sentados em frente um ao outro na cabine de Jess no café. Os Mustangs tinham um jogo fora da cidade e Rowen estava finalmente tendo uma festa do pijama com a filha de Bryant. Muito parecido com o nosso primeiro encontro, Jess e eu estávamos sozinhos para o jantar.

– Eu conheço Gus Johnson há anos. Ele não é viciado em drogas – disse Jess.

Os enfermeiros não deveriam compartilhar informações de pacientes com pessoas fora da equipe do hospital, juramento de Hipócrates e tudo. Então, se eu precisasse compartilhar algo sobre o meu dia com Jess, sempre usei termos gerais para descrever a situação. E eu nunca usava o nome do paciente.

Fiquei surpresa quando ele sabia exatamente de quem eu estava falando.

Correção. Fiquei chocada.

– Como você sabia de quem eu estava falando? – Perguntei.

– Eu estava na casa de Silas hoje quando Gus chegou e disse que ele torceu as costas.

– Oh. Bem. Ainda assim, você não sabe se ele não é um viciado. Ele pode ser um especialista em esconder isso – Eu disse.

– Sardenta, acredite em mim quando eu digo que ele não é viciado em drogas.

– Mas você não acha que é tudo muito suspeito? Quero dizer... Ele trabalha no rancho de Silas. Ele poderia ter pegado pílulas escondidas lá e sabia exatamente onde procurar. Talvez ele foi o único que atingiu e matou o bezerro. Além disso, ele tinha que estar fingindo quando ele disse que ainda estava com dor hoje. Nenhuma pessoa pode obter tanto oxi e não se sentir bem uma hora depois.

Ele riu.

– O que? O que é engraçado?

– Gus trabalha no rancho. Ele seria a última pessoa a atingir um bezerro com seu caminhão. Ele sabia exatamente onde eles estavam e ele ficaria longe.

– Oh – eu resmunguei. – Eu acho que isso faz sentido.

A garçonete veio e levou nossos pedidos enquanto Jess me falou sobre o dia dele. Ficamos tão envolvidos em nossa conversa que nós estremecemos de surpresa quando Wes Drummond entrou na nossa cabine. Ele deslizou ao meu lado, me empurrando mais para a parede e me prendendo.

Antes que Jess ou eu pudéssemos dizer qualquer coisa, ele levantou as duas mãos e disse: – Sem problemas, Brick. Eu juro.

– O que você quer, Wes? – Jess perguntou através de uma mandíbula cerrada.

Wes esfregou as duas mãos no rosto e depois as passou pelo cabelo, o deixando espetado em todas as direções. – Nada. Merda, eu não sei.

Wes não estava nublado com o seu habitual ar de confiança e desafio. Seus olhos estavam limpos. Vermelhos, mas não vítreos como eu tinha visto antes.

– Wes, não estamos falando com a Geórgia aqui – disse Jess.

Wes passou as mãos pelos cabelos novamente antes de dizer: –Eu liguei para Lissy.

O rosto de Jess ficou duro como pedra. Eu não tinha certeza de quem era Lissy, mas o fato de que Wes tinha ligado para ela claramente não era algo que Jess gostasse.

– Fique longe dela. Não ligue para ela. Ela se foi. Uma memória para você. Não empilhe sua merda nela.

– Eu sinto falta dela. Porra. Eu só precisava ouvir a voz dela. Abrir a mente. Merda está chegando rápido.

As divagações de Wes não faziam sentido e eu esperava que Jess entendesse.

– Wes, temos que falar sobre isso em outro lugar. Você precisa se limpar antes dessa merda cair na sua cabeça, – Jess disse.

– Não posso. Ele está se aproximando, Brick. Louco pra caralho. Não apenas sobre dinheiro. Quer a cidade. Poder. Ele é obcecado. Muito esperto. – Wes falou sem olhar diretamente para Jess. O corpo dele se contorceu e ele saltou no assento.

– Quem? Quem é Wes?

Wes se encolheu com a pergunta de Jess. Foi como uma luz acesa e ele percebeu onde ele estava. Tão rapidamente quanto ele entrou na cabine, ele deslizou para fora, murmurando – Desculpe. Alguns passos largos, e ele estava fora da porta.

Eu não sabia o que dizer então apenas fiquei sentada. Eu queria perguntar quem era Lissy e quem ela foi para Wes, mas não me atrevi a quebrar o silêncio. Jess estava chateado e precisava de um minuto para se acalmar.

Suas mãos estavam em punhos na mesa e ele estava olhando para o espaço entre elas.

Ele ficou em silêncio até que a garçonete nos trouxe nossa comida.

– Porra – Jess murmurou.

Estendi a mão esquerda e tapei o punho direito dele.

Ele forçou um sorriso. Apenas um lado da boca se inclinou para cima.

Comecei a tirar a mão, mas ele segurou antes que eu pudesse. Nenhum de nós teve mais alguma coisa a dizer depois disso. Nós apenas comemos nossos jantares com uma mão livre. Ele usando a sua esquerda, eu usando a minha direita.

Saindo do café, pedi a Jess que me levasse para sua casa. Eu estava curiosa e estava procurando uma desculpa para visitar. Sem Rowen, esta noite era perfeita. Ele sempre passou a noite na fazenda e parecia estranho que estivéssemos namorando por tanto tempo e eu não tinha estado lá ainda.

– Não é muito, Sardenta – disse ele.

– Eu não me importo. Eu só quero ver onde é, como é.

Nós saímos do café e nos dirigimos para o lado da cidade mais próximo do rio.

Quatro quarteirões da Main Street, nós viramos em um beco sem saída. Todas as casas combinadas cada uma com uma estrutura semelhante, mas todas em cores diferentes. Algumas delas tinham grandes garagens nos fundos. Uma delas tinha um grande balanço no quintal cercado.

Claro que a casa de Jess teria uma grande garagem. Não era tão grande quanto a minha, mas certamente não era pequena. A sua era uma garagem típica com uma grande porta branca.

A casa era térrea com um porão. O quintal estava bem conservado, mas não havia detalhes. Não há canteiros ou plantas.

Jess destrancou a porta e abriu, enquanto me deixava entrar primeiro.

– Vá em frente, Sardenta. Explore.

A única maneira de descrever o lugar de Jess era –casa de solteiro –. Todas as paredes eram brancas. O tapete era um marrom comum. Ele não tinha nada adicional. Nada de bugigangas. Sem tapetes de área para adicionar cor. Sem paredes pintadas. Nenhuma moldura de foto. Sem almofadas ou mantas confortáveis no sofá.

Apenas o essencial do homem viril. Cadeira reclinável. Geladeira para cerveja. TV grande.

– Eu gosto da sua casa de solteiro.

– Obrigado, querida – disse ele, folheando uma pilha de correspondência.

O que faltava na decoração de Jess era compensado pela limpeza.

– Você veio aqui e limpou hoje? Está impecável. Se você pode limpar assim, eu vou colocar você no rodízio de tarefas da casa com Rowen.

Ele riu. – A vizinha vem uma vez por semana e limpa para mim. Ela é dona da empresa de limpeza aqui da cidade. Limpa a delegacia também.

– Entendi. Bem, ela é talentosa. Eu não vejo uma partícula de poeira em qualquer lugar. Eu poderia ter que pegar seus conhecimentos do que ela usa.

– Quer que eu veja se ela pode limpar a casa da fazenda? – Ele perguntou.

– Uh... Não agora. Não é difícil de limpar. Eu apenas tento fazer um pouco todas as noites. Além disso, me dá tarefas para a Roe fazer. Você não percebeu?

– Sim. Percebi. Apenas pensei que poderia ser bom ter esse tempo extra. Ela é razoável, Sardenta. Não custaria muito.

Dei de ombros. – Veremos.

Se as coisas ficassem mais ocupadas, eu consideraria isso. Mas agora, eu gostava de limpar a casa da fazenda. Isto era um bom calmante e quanto mais eu limpava, mais familiar eu ficava com cada cômodo, fazendo a casa da fazenda parecer que era minha.

– Você está pronta para ir? – Ele perguntou.

– Acabamos de chegar aqui, Jess. Qual é a pressa? Você não quer ficar por um tempo? Na verdade, estar em sua própria casa pela primeira vez? – Perguntei.

– Não.

– Uh... Por quê? – Estendi a mão para tocar seu bíceps. – Você sabe, nós poderíamos ficar aqui esta noite e variar. Nós íamos ficar aqui há algumas semanas, mas isso nunca aconteceu. Agora nós poderíamos.

– Não.

– Você vai precisar me dar mais do que apenas 'não'.

Ele se virou, colocando uma mão no meu quadril quando a outra deslizou para baixo e espalmou minha bunda.

– Eu estive esperando para te foder por toda a fazenda. Agora é finalmente a nossa chance. Nós vamos aproveitar – disse ele.

Sexo em algum outro lugar além da minha cama na casa da fazenda? Quente.

– Hora de ir – eu soltei e caminhei direto para a porta. Jess e sua risada seguiu logo atrás.

Jess estava em cima de mim no instante em que a porta da frente se fechou. Ele atacou minha boca, sua língua saqueando implacavelmente. Eu correspondi a intensidade dele e nós freneticamente tiramos as roupas um do outro, as deixando em uma pilha na entrada. Quando nós dois estávamos nus, ele me empurrou para a casa em direção à sala de estar.

– Vire-se, querida – disse ele, quebrando o nosso beijo.

Eu me virei e vi que estava bem atrás do sofá. As mãos de Jess me envolveram por trás e começaram a massagear meus seios, seu polegar e seu dedo médio beliscando meus mamilos, os fazendo balançar muito.

Ele moveu a boca para o meu pescoço e começou a salpicar beijos atrás da minha orelha até o meu ombro, em seguida, trabalhando o caminho de volta, o tempo todo beliscando meus mamilos. Sua ereção cutucou minha bunda. Eu empurrei meus quadris para trás, moendo contra seu pênis duro. Eu gemi quando comecei a construir, grata por podermos ser tão barulhentos quanto queríamos hoje à noite.

Ele parou de me beijar. Suas mãos agarraram meus quadris.

– Curve-se.

Eu me curvei até a cintura e me inclinei para o sofá, meus antebraços me impedindo de cair. Ele se alinhou com a minha entrada, e com um golpe suave, ele estava profundamente enterrado. Demorei um minuto para me ajustar, mas logo minha umidade começou a nos deixar escorregadios e eu relaxei com a sensação dele dentro de mim.

– Vou fazer você gritar hoje à noite, Georgia – disse ele.

– Oh, Deus – era tudo que eu podia dizer. Eu queria isso. Desesperadamente. Para ser fodida ao extremo que quando eu explodisse, nada poderia parar meus gritos de êxtase.

Ele começou a bater em mim. Duro e rápido. Cada golpe batendo nossa pele juntos, o som ecoando pela sala de estar.

– Mais forte, Jess.

Ele aceitou meu pedido como permissão para soltar e liberar toda a restrição em seu corpo forte. Ele bateu em mim implacavelmente, cada golpe me levando mais e mais alto, suas mãos puxando meus quadris de volta para seu pênis enquanto ele empurrava para frente com seus quadris poderosos.

Eu me levantei na ponta dos pés e a mudança de ângulo me fez ultrapassar o limite. Eu gritei seu nome antes de eu enterrar meu rosto no sofá e explodir em torno dele, vindo mais duro do que eu já tive antes.

Ele continuou batendo no meu orgasmo enquanto minhas paredes internas se apertavam e pulsavam. Eu estava começando a me acalmar quando ele gemeu com sua própria liberação. Quando ele se esvaziou dentro de mim, ele plantou seu pênis profundamente e se abaixou assim seu estômago estava descansando nas minhas costas.

– Porra, querida – ele gemeu.

– Hmm. – Eu suspirei, totalmente relaxada e saciada.

Ficamos lá na sala por alguns minutos, nus com Jess dentro de mim.

Ter finalmente sido capaz de deixar ir e desfrutar dos corpos um do outro sem o medo da minha filha nos interromper.

– Mais festas do pijama – eu sussurrei.

Jess riu e lentamente se retirou.

Eu me levantei e virei para envolver meus braços ao redor de sua cintura e beijar seu peito.

– Eu gosto de ver o meu esperma nas suas pernas, Sardenta – disse ele.

– Então você começa a limpar sua bagunça, querido – eu provoquei.

– Só se você me deixar foder sua boca no chuveiro, é um negócio.

Jess tinha resistência. Eu tinha a sensação de que hoje à noite ele iria me mostrar o quanto.

Eu inclinei a cabeça para trás para olhar para o rosto dele. Então eu levantei minhas sobrancelhas e sorri. Ele sorriu de volta antes de me puxar para cima como um bombeiro me segurando.

Direto para o chuveiro.

Depois disso, descemos as escadas e fomos para a mesa da sala de jantar. Então a cozinha.

Estávamos absolutamente agendando mais festas do pijama.


Capítulo Quinze


– Se vocês duas quiserem chegar na cidade enquanto ainda houver doces, temos que ir. Agora! – Jess berrou do andar de baixo.

– Chegando! Só mais um minuto – eu gritei de volta. – Ok, Garotinha. O que você acha? Está tudo bem? – Eu perguntei a Roe.

– Eu amo isso, mamãe! – Ela gritou.

Ela estava em pé na frente do meu espelho de corpo inteiro, avaliando os toques finais que eu tinha apenas colocado em sua fantasia roxa de princesa.

Jess tinha me avisado que a previsão disse que vai nevar, então eu tive que fazer algumas modificações em sua fantasia de Halloween para que ela pudesse pedir doces ou travessuras sem pegar pneumonia.

Semanas atrás, Jess tinha destruído meus planos de Halloween, dizendo que a fazenda estava muito longe da cidade para participar do dia das bruxas. Eu adorava distribuir doces e eu tinha ficado decepcionada, mas depois ele ofereceu sua casa como um substituto e eu consegui trabalhar enquanto planejava.

Mas antes de irmos para a casa dele, participaríamos do evento anual do dia das bruxas da Main Street.

Coloquei meu chapéu e Rowen e eu corremos para o andar de baixo.

– Pronto! – Eu disse com um sorriso, ignorando sua desaprovação da minha roupa.

Eu nunca usava uma fantasia completa, mas gostava de adicionar toques de Halloween em minhas roupas normais. Hoje à noite, eu usava meias laranja e pretas, saltos pretos e um chapéu de bruxa frouxo.

– Roe, você tem o seu balde, – eu disse, vendo balançar descontroladamente ao seu lado. – OK, Vamos nessa.

Nós pisamos na varanda da frente, agora decorada com Dia das Bruxas rural elegante, e andamos pelo caminho até os degraus da frente, empilhados com onze abóboras. Sorrindo para o esplendor de dia das bruxas que eu tinha criado, corri para o carro em meus sapatos não tão práticos, tonta com animação.

Quinze minutos depois, nós pegamos a mãe de Jess e estávamos puxando para dentro da entrada de automóveis dele.

– Oh, céus – Noelle murmurou.

No começo da semana, eu perguntei a Jess se poderíamos convidar a mãe dele para vir brincar com a gente. Eu achei que seria bom conhecê-la melhor e com uma enxurrada de atividade de Halloween, seria fácil evitar silêncios constrangedores se ela tivesse espaço.

– Sim, mãe. Não é nem um pouco exagerado – Jess falou lentamente.

– Hey – eu disse, lhe dando uma batida no braço.

Jess achou que eu tinha ido longe demais com as decorações. Havia muito, mas eu não achava que era demais. Apenas algumas aranhas, teias, morcegos, fantasmas e luzes assustadoras. Eu também coloquei algumas lápides. E havia alguns esqueletos escalando a casa também.

– Eu não sei porque você está me batendo, Geórgia. Eu te disse para parar há dois dias. Você ouviu?

Em vez de responder, franzi o nariz.

Culpada.

Eu estava planejando parar. Mesmo. Mas eu continuei encontrando novas ideias de decoração no Pinterest.

Todas as noites, Rowen e eu nos esgueirávamos e aumentávamos a decoração assustadora e depois corríamos para a fazenda antes que Jess pudesse chegar lá para o jantar.

– Não. Você não fez. Eu vejo que tenho algumas novas adições desde que eu estive aqui na terça-feira – disse ele.

– Você sabe, eu não sei por que você está tão preocupado com isso. Roe e eu fizemos toda a decoração e eu já prometi a você que vamos limpar tudo. Além disso, olhe que maravilha! Eu só não vejo como isso está realmente afetando você. Mesmo. Você pode apenas sentar e aproveitar.

– Isso não está me afetando, né? Foi você quem teve que ameaçar David no jornal? Com uma noite em uma cela, se ele colocar uma foto da minha casa no jornal na semana que vem?

Ok, talvez tenha sido excessivo.

– Esta merda está chamando atenção para mim. Algo que eu não quero, Sardenta. E aqui está você me surpreendendo.

– Bem... Desculpa. Mas agora é tarde demais. Além disso, é quinta-feira. Você só tem que suportar por mais um dia e depois vamos limpá-lo no fim de semana. Não é como se você estivesse muito aqui de qualquer maneira.

Ele resmungou algo em voz baixa que eu não entendi, mas eu tinha certeza que incluiu a palavra com f.

Eu não ia deixar seu aborrecimento arruinar a noite. Ele só teria que superar isso. As meninas Ellars amavam todas as coisas de Halloween. Decorações. Fantasias. Doces. Tudo isso. E pronto.

Roe trouxe uma carga de doces da Main Street. Todo mundo comentou sobre o quão fofa ela estava em seu traje. Ela sorriu sob o elogio, girando e girando o vestido.

A cidade inteira de Prescott parecia estar na rua principal. Jess me apresentou para mais pessoas naquela hora do que eu conheci coletivamente em toda a minha vida. Até o final da viagem, comecei a avisar as pessoas que eu poderia misturar nomes.

Jess e Roe saíram para percorrer seu bairro enquanto Noelle e eu tripulamos a casa, distribuindo punhados de doces para todos os monstros, super-heróis, princesas e fadas que nos visitaram. A única menina que estava vestida como policial recebeu dois punhados.

Fechei a porta e me virei para sentar ao lado de Noelle no sofá. Jess não tinha vinho em casa, mas pensei em me antecipar e trouxe da fazenda. Eu estava no segundo copo, enquanto Noelle ainda estava bebendo o primeiro.

Eu tomei uma respiração longa, relaxando no sofá. Embora não seja grande coisa, o sofá de Jess era confortável.

– Você é uma boa mãe – disse Noelle.

– Uh... Obrigada.

Seu comentário me pegou desprevenida. Eu apreciei o elogio, mas eu não tinha certeza do que tinha trazido isto.

– Você sabe, Ben Coppersmith costumava me ligar toda semana – disse ela. – Nas terças. Ele nunca perdeu uma terça-feira. Não em dezenove anos. Eu sabia que ele tinha morrido quando ele não me ligou mais.

– Ele morreu em um sábado à noite – eu disse. – Em seu sono.

– Ele sempre esteve lá por Jess. Mesmo depois que ele se mudou. Praticamente deu a ele aquela casa. Exceto, claro, quando ele realmente deu a você. Aquela casa tem sido o orgulho e alegria da vida do meu filho. Gentileza de Ben dar isso a ele. Gentileza dele manter contato também. Verificar comigo para ter certeza de que Jess estava bem.

A campainha tocou de novo e eu pulei para atender, feliz por ter um alívio da conversa estranha.

– Eu nunca me lembrava do Halloween – Noelle disse quando me sentei de volta. – Eu não acho que as crianças já tiveram fantasias até que tivessem idade suficiente para consegui-las sozinhas.

Eu não sabia o que dizer para isso, então fiquei quieta.

– Eu não fui bem uma mãe para meus filhos. Eu tentei, mas...

Meu coração doeu por ela. Ela claramente amava seus filhos, mas ela simplesmente não era mentalmente capaz para cuidar deles adequadamente. Isso me deixou triste por Jess e sua irmã. Mas isso me deixou triste por Noelle também.

Ser a mãe de Rowen foi o maior presente da minha vida. Fazendo de tudo no dia das bruxas, cozinhando seus jantares favoritos, pintando seu quarto com a cor certa. Todas essas coisas me traziam alegria incomensurável. Noelle havia perdido isso.

Eu me inclinei para frente e gentilmente dei um tapinha no joelho dela.

– Eu não conheço sua filha, mas passei a maior parte destes três meses conhecendo seu filho. E ele é um homem maravilhoso. Eu me daria um pouco mais de crédito, – eu disse.

Ela me deu um pequeno sorriso relutante. – Obrigada, Gigi.


****

Tínhamos acabado de sair da casa de Noelle e estávamos indo para a fazenda. Roe estava elétrica. Mais do que elétrica. Ela estava pulando para cima e para baixo e chutando as pernas freneticamente para trás e para frente em sua cadeirinha no carro.

Não só Jess a levou através de seu bairro para coletar mais doces, mas ele também deixou ela comê-lo ao longo do caminho. Uma criança de quatro anos enchendo a cara com doces. Por mais de uma hora.

Estávamos quase no meu caminho de cascalho quando o telefone de Jess tocou. Ele escutou por um minuto antes de desviar para o lado da estrada, desligando as luzes do carro e colocá-lo em ponto morto.

– Jess, o que está acontecendo?

– Um segundo – ele murmurou, levantando um dedo.

Roe estava balbuciando lá atrás e eu me virei para dizer a ela para ficar quieta. Quando eu virei de volta para Jess, ele tinha encerrado a ligação.

– A central diz que há uma gangue de garotos punk que estão vandalizando casas de campo. Eles estão aproveitando que as pessoas estão na cidade para fazer marcas de rodas nos quintais com seus carros, quebrando abóboras, pichando portas.

– O que? – Eu engasguei. – Ah não. Eles fizeram isso na fazenda?

– Eu não sei ainda. Vocês duas fiquem aqui. Eu vou descer e dar uma olhada. Está com o seu telefone?

Eu assenti.

– Mantenha perto. Vou ligar se você puder descer. Você vê algo diferente de mim vindo na estrada, ligue para o 9-1-1 imediatamente e volte para a minha casa. Entendeu?

Eu balancei a cabeça novamente. – Seja cuidadoso.

Eu estava totalmente assustada que ele estava me deixando em um carro escuro com minha filha enquanto ele saia para a noite escura sozinho.

Ele estendeu a mão e tirou seu distintivo e um par de algemas do porta luvas. Depois que ele enfiou no bolso, ele deu um tapinha na minha mão rapidamente e saiu pela porta.

Ele já tinha a arma dele. Se estivéssemos indo para a cidade, ele quase sempre trazia. Ficava no cinto quando ele estava de uniforme. Se ele estivesse à paisana, ficava escondida, oculto debaixo de suas roupas. Esta noite, estava no coldre debaixo do braço ao lado dele, debaixo do suéter e do casaco.

– Onde Jess vai? – Roe perguntou.

– Ele está apenas checando algumas coisas, garotinha. Nós vamos ficar por aqui. Ok?

– Posso ir com ele? Por favor, – ela implorou.

– Não, querida. Que tal você me dizer que tipo de roupas você viu quando estava andando por aí com Jess?

Meu truque funcionou e ela tagarelou sobre os diferentes trajes que ela tinha visto esta noite enquanto eu me sentei na frente, segurando meu telefone, mal a ouvindo. A cada minuto que passava, ficava cada vez mais ansiosa.

Eu estava me contorcendo no meu lugar dez minutos depois, prestes a ligar para Jess, quando as luzes piscando vieram atrás de nós. Dois carros de polícia passaram voando até a fazenda.

PO.

Quando as luzes desapareceram das minhas vistas, eu deslizei para o banco do motorista, pronta para ligar o carro e dá o fora dali. Eu estava pegando as chaves quando meu telefone vibrou na minha mão. Eu pulei cerca de seis centímetros do assento e me atrapalhei no meu colo antes de ver que era Jess.

– Olá?

– Venha para cá. Prepare Roe. Os filhos da puta estavam aqui quando eu desci. Pequei três deles. Eles estão sentados algemados no seu gramado da frente. Esmagou todas as abóboras, mas é só isso.

– Oh meu deus – eu sussurrei. – Você está bem?

– Apenas porra chateado – disse ele.

– OK. Estarei aí em um segundo.

Eu virei para trás, não tinha certeza de como eu ia explicar o conceito de vandalismo para uma menina de quatro anos e avisá-la sobre ver criminosos algemados em nosso gramado da frente.


****


Rowen ficou lá dentro assistindo a um filme no sofá enquanto eu saía, observando a cena no meu gramado.

Jess estava conversando com seus dois assistentes, Milo e um homem mais novo que eu nunca conheci. Os três vândalos, vestidos inteiramente de preto, estavam sentados com suas bundas na grama e as mãos algemadas atrás das costas.

Jess nos encontrou no carro e imediatamente pegou Roe de sua cadeira e a carregou para dentro, protegendo os olhos do trio de idiotas juvenis e restos quebrados de onze abóboras espalhadas na grama. Ele havia me instruído para levá-la e acomodá-la e então voltar para fazer minha declaração oficial.

O clima no grupo de Jess estava tenso. Muito tenso, então tentei aliviar o ar. Eu estava irritada que essas crianças tinham feito uma bagunça? Estava. Mas era apenas abóboras despedaçadas. Nós não estávamos lidando com assassinos aqui.

– Bom, nós tínhamos muitas abóboras, querido. Deve ter levado bastante tempo para destruir todas elas. Me salvou de ter que limpar a tinta spray da minha porta da frente.

A mandíbula de Jess apertou firme. Milo e o outro policial tossiram para cobrir as risadas, o tornando ainda mais irritado.

Nota mental. Não brincar quando Jess está puto.

– Geórgia, preciso que você dê a Milo um rápido resumo para registro – disse Jess.

Meu resumo foi breve, tendo perdido a maior parte da ação enquanto eu estava sentada no carro.

Milo fez algumas perguntas e escreveu algumas anotações em seu pequeno bloco de notas em espiral. Depois ele e o outro adjunto disseram boa noite e começaram a carregar os vândalos para os carros.

Duas das crianças não me reconheceram quando foram escoltadas para a parte de trás dos carros de polícia. Seus olhares estavam firmemente fixados em seus sapatos, suas cabeças pendendo para baixo e seus ombros vergonhosamente caídos.

Mas como ele estava andando para a parte de trás do carro da polícia, o terceiro virou para mim com um olhar tão frio quanto gelo. Um lado de sua boca se transformou em um grunhido maligno, fazendo com que minha coluna arrepiasse.

Esse garoto era absolutamente o líder. Eu apostaria minha vida nisso. Ele olhou para mim como se eu fosse a única errada. Como se ele estivesse certo e tinha todo o direito de vandalizar minha propriedade. Como se eu fosse culpada por sua prisão e fosse minha culpa que ele tivesse sido pego quebrando a lei.

Enquanto ele se arrastava em direção ao carro da polícia, ele segurou meu olhar. Logo antes que ele pudesse ser empurrado no interior, ele se inclinou e cuspiu no meu gramado.

– Você vai se arrepender. Tome cuidado vadia, porque eu vou fazer você pagar por isso. Não deveria ter feito uma declaração.

Isso empurrou Jess ao limite. Ele saiu do meu lado e entrou direto no espaço do garoto, se inclinando tanto que o garoto teve que se inclinar para trás em sua cintura.

– Não me empurre, garoto. Eu acabo contigo. Acha que você pode vir até a minha casa, vandalizá-la, então ameaçar minha garota? Se você pensar mais sobre ela ou nesse lugar novamente, eu vou foder com você.

O garoto perdeu a atitude e teve o bom senso de parecer apavorado, sabendo muito bem que Jess cumpriria sua promessa. Sem lhe dar uma chance para responder, Jess o agarrou pela parte de trás da cabeça e o obrigou a entrar no carro.

Meu coração trovejou e parei de respirar, não recomeçando até que as lanternas traseiras do carro tinham desaparecido.

De pé no meu gramado, atordoada, eu mal registrei Jess me puxando com força para o lado dele.

Meus braços estavam cruzados no meu estômago e eu estava com frio. A temperatura caiu e mesmo com o calor do seu corpo para me manter aquecida, eu estava tremendo.

Começou a nevar enquanto estávamos fora. Flocos redondos e gordos flutuavam do céu escuro acima, descansando de maneira leve e pacífica onde eles pousavam. Qualquer outra noite, eu teria pensado que eles eram os mais belos flocos de neve que eu já vi.

Mas não esta noite.

Não quando eu estava cercada por um oceano de abóboras quebradas. Não quando minha filha estava trancada dentro da minha casa para mantê-la segura. E não com o olhar ameaçador daquele garoto imbecil queimando no meu cérebro.

Eu tremi novamente. E não tinha nada a ver com a neve.


****


O dia das bruxas foi difícil. Depois de uma boa noite de sono, eu acordei cedo para começar a pegar as abóboras. Felizmente, não tinha nevado muito e as partes quebradas não foram congeladas na grama.

Eu deixei uma Roe exausta em Quail Hollow e fui trabalhar, feliz por ter uma distração do drama. Eu deixei os pacientes e seus problemas consumirem minha manhã. Eu deixei eles me distraírem das preocupações que rodam na minha cabeça.

Tudo que eu queria era uma vida tranquila e pacífica. Desde que me mudei para Prescott, eu tive mais confronto em um período de três meses que eu poderia ter imaginado possível.

Isso queria dizer alguma coisa, considerando o quanto Nate, seus pais e seus advogados me fizeram passar.

O sétimo e oitavo meses da minha gravidez foram gastos enviando e-mails aos advogados e lendo acordos legais. Os Fletchers tinham certeza de que eu engravidei de propósito para roubar sua fortuna. Todas as noites fui para a cama estressada e ansiosa.

Mas no pior dos casos, eu sempre soube que acabaria por passar. Que as coisas se estabeleceriam. E isso aconteceu. Uma vez que os resultados do teste de paternidade foram entregues, os ataques pararam e Nate assinou sua fuga para fora da vida de Rowen.

Mas isso era diferente.

Eu não via um fim.

Nossas conversas à noite sempre seriam passadas discutindo sobre traficantes de drogas? Nossas pausas para o almoço são gastas falando através de um caso de incêndio criminoso?

Eu era a namorada do xerife e sempre seria um alvo. Pessoas como Wes e estas crianças punk sempre viriam para mim ou Rowen para brincar com Jess.

E ele sempre seria um policial. Ele era quem ele era e eu estava orgulhosa de estar ao seu lado.

Mas até a noite passada, eu não tinha percebido exatamente como isso afetaria minha vida ou de Rowen.

E eu não sabia se era forte o suficiente para isso.

Ele precisava de uma mulher que pudesse ficar ao seu lado e apoiá-lo nos dias ruins. E eu estava fazendo o meu melhor, mas eu não tinha certeza se era o suficiente. Se eu era forte o suficiente para ele.

Eu não pude deixar de pensar que ele poderia encontrar alguém melhor.

No final do dia, minha cabeça estava latejando e meu coração estava perturbado. Mas, de alguma forma, eu reuni forças para deixar minhas preocupações de lado e deixar Jess me dar uma atualização sobre o vandalismo.

– As crianças vandalizaram seis casas diferentes, incluindo a casa da fazenda. A pior delas alguns quilômetros de distância da minha, tinha conseguido toda a frente de sua casa pintada de spray com obscenidades.

– Isso é horrível – eu disse. – Eu me sinto tão mal pelas pessoas pobres que precisam repintar sua casa inteira. Em que tipo de problema as crianças vão se meter?

– Eles são todos menores de dezoito anos, então eles vão enfrentar acusações de delito como juvenis. Provavelmente acabe com uma multa e algumas horas de serviço na comunidade. Dois deles confessaram. Seus pais vão puni-los muito pior do que a lei jamais poderia nessa idade. Eles vão aprender sua lição – disse ele.

– E o terceiro garoto, ele não confessou?

– O terceiro foi o merda que te ameaçou. Eu não conheço ele nem os pais dele. Eles são novos na cidade. Construiu uma monstruosidade de uma casa no pé das montanhas. Não os vejo muito por perto da cidade. Normalmente, quando eles estão aqui, eles agem como se fossem bons demais para Prescott. O garoto ficou quieto até que seus pais chegaram à delegacia e exigiram um advogado. Eles simplesmente não podiam crer que o seu precioso anjo faria tal coisa.

Meus olhos se arregalaram e minha boca se abriu. – Ele vai se safar com isso?

– Não. Ele será punido. Mas com os advogados acrescentando burocracia, vai demorar um pouco. Não há como ele fugir com isso. Não depois que o peguei no ato.

– Bem, eu estou feliz que acabou. Tendo ido embora as abóboras, será uma boa motivação para eu tirar os enfeites de Halloween e colocar as coisas do Dia de Ação de Graças.

– É sério?

– Sério, o que? – Eu perguntei, confusa.

– Decorações de Ação de Graças?

– Bem, sim. Eu decoro para cada feriado.

– Do que estamos falando aqui? O Dia de Ação de Graças é maior ou menor do que o Dia das Bruxas?

– Ação de Graças, tem menos decoração. Natal, você nem queira saber.

Ele se levantou para levar seus pratos para a pia da cozinha, resmungando algo em voz baixa. Não entendi. Mas desta vez eu pude distinguir claramente a palavra com f.


****


Nós seguimos a rotina normal da hora de dormir e uma vez que Roe estava dormindo, eu desci para encontrar Jess no sofá, assistindo TV. Eu queria falar com ele sobre minha conversa com sua mãe e seus telefonemas com Ben, mas com todo o drama, eu tinha esquecido na noite passada.

– Querido? – Eu disse, me sentando de lado no sofá.

– Sim?

– Então, ontem à noite, sua mãe disse algumas coisas que foram, bem, aleatórias.

– É ela. O que ela disse?

– Bem... Primeiro ela me disse que eu era uma boa mãe, o que foi doce da parte dela dizer, – eu disse.

– Você é. Uma ótima mãe.

– Obrigada. – Corei um pouco e não pude deixar de sorrir. Eu sabia que era uma boa mãe, mas Jess dizendo isto com tal confiança e convicção fez meu coração inchar com orgulho.

– De qualquer forma, ela começou a me contar sobre Ben. Como ele te deu essa casa. Que é seu orgulho e alegria e...

Jess pulou do sofá, e usando toda a força que ele tinha em um braço, jogou o controle remoto em uma das grandes cadeiras. Se não fosse pelas almofadas grossas, o controle remoto teria despedaçado. Ele inclinou a cabeça para mim com olhos irritados.

– Não foda isso de novo.

– Qu...

– O que eu tenho que fazer, Geórgia? Hã? O que eu tenho que fazer para te convencer de que eu não quero essa porra de casa? –ele gritou.

– Jess...

– Venda.

– O quê? – Eu perguntei, sem fôlego.

– Venda. Ligue para o corretor de imóveis amanhã. Você e Roe vão morar comigo neste final de semana.

– Vender a fazenda?

– Tanto quanto eu posso dizer, a venda deste lugar vai ser a única coisa que posso fazer para mostrar a você que eu te quero e não isso – disse ele, levantando a mão no ar.

Eu me levantei do sofá e me aproximei dele com as mãos gentis. – Querido... – Comecei, mas fui interrompida quando ele me cortou. Novamente.

– Eu quero dizer isso, Geórgia. Eu acabei de brigar com você sobre isso. E se vender este lugar é o que é preciso, então estamos fazendo isso. Jesus. É só uma porra de casa!

Jess idiota estava fazendo uma aparição. Não só ele estava deixando seu temperamento obter o melhor dele, mas ele não estava me ouvindo. E eu tive o suficiente. Eu estava cansada dele falando sobre mim. Sempre conseguindo o que queria. Não dessa vez.

– Pare. – Eu enfiei a palma da mão no rosto dele.

Ele não gostou muito disso. Seus olhos ficaram maiores e seu rosto ficou vermelho. Mas antes que ele pudesse abrir a boca, eu disse: – Eu não estava falando sobre a casa, Jess. Algo que você saberia se não tivesse me interrompido cem vezes. Eu sei que você não está comigo pela casa. Entendi. O que eu ia lhe dizer era que a sua mãe estava me contando sobre Ben. E que Ben ligava para ela há anos. Eu queria saber se você sabia disso. Ok? Isso é o que eu ia te dizer.

Sua raiva evaporou e ele levantou os braços para tocar meus ombros, mas eu os encolhi.

– Georg...

– Não, — eu disse. – Você não começa com sua conversa doce para conseguir sair dessa. Você estragou tudo, Jess. Não. Grite. Comigo. Cuidado com esse seu temperamento e pare de me dar ordens. Eu entendo que você está no comando a maior parte do tempo, mas você não pode perder as estribeiras aqui. Eu não vou tolerar gritos. Eu não vou receber ordens. Já tive o suficiente disso de outros homens e não vou aceitar isso de você.

E com isso, subi as escadas.

Eu fui imediatamente para o banheiro, onde comecei a reclamar para mim mesma.

– Aquele homem me deixa tão louca! Eu só queria falar com ele sobre a mãe dele. Mãe dele. Mas não. Ele salta para conclusões e grita comigo. É assim que sempre acontece. E então eu fico tão brava que sou forçada a gritar de volta. Eu não gosto de gritar. Estou cansada de gritar! Estou cansada de ser pressionada!

Jess tinha acabado de perder nossa discussão e me perguntei como ele reagiria. Nossa última competição de gritos, aquela depois que ele gritou com Rowen, nos deixou sem nos falarmos durante quase uma semana. O que estava reservado para mim esta noite?

Ouvi a porta do quarto fechar e sete segundos depois, a porta do banheiro se abriu.

Pressionando contra minhas costas, Jess me envolveu e soltou um suspiro alto.

– Desculpe – disse ele.

Isso foi inesperado. Eu estava pronta para ele ser todo bom e doce. Para me beijar tanto que eu cederia e ele conseguiria o que queria. Em vez disso, ele assumia seu erro. Fiquei impressionada.

– Eu não quero brigar, Geórgia – disse ele, se inclinando para sussurrar no meu ouvido.

– Eu não comecei, Jess.

– Desculpa. Não deveria ter tirado conclusões precipitadas. E me desculpe, que eu gritei. – Eu relaxei meu peso nele.

– Eu sinto como se eu não pudesse falar sobre a fazenda ou a minha história aqui sem você ficar assustada. Eu não sei o que fazer além tentar fazê-la entender que o que nós temos não é sobre a casa – disse ele.

– Demorei um pouco, mas entendi. Você está conosco por nós. Por mim – eu disse. – Eu quero que você seja capaz de compartilhar. Este lugar significa muito para você. Para nós dois. Não se segure porque você acha que vai me assustar. Não vai.

– Ok. – Ele segurou meus olhos no espelho.

– Você não pode falar assim comigo. Eu não suporto isso – eu disse. Isso me lembrou de Nate e a última coisa que eu queria era ver alguma semelhança entre ele e Jess.

– Você está certa. Eu sinto muito.

– Eu odeio brigar.

– Eu também – disse ele. – Estamos conversados?

Eu assenti.

– Bom – ele disse antes de me girar e abaixar a boca na minha.

Ele me beijou até que eu mal conseguia ficar em pé sozinha, minhas pernas fracas e cambaleantes. Então ele me segurou e me beijou um pouco mais até eu ficar tão excitada, implorando para ele me levar para a cama.


****


– O tempo acabou, Sardenta – Jess sussurrou.

Como na maioria das noites, eu estava ao lado de Jess e estávamos conversando em silêncio antes de adormecemos. Ele falando para o topo da minha cabeça, eu falando em seu peito.

– O tempo acabou para o quê? – Eu perguntei.

– Eu sinto que estamos chegando lá. Para um lugar onde você sabe que eu não vou te machucar. Onde você sabe que pode confiar em mim. Mas algo ainda está no ar. Eu sei que você ainda tem dúvidas. Eu preciso saber do que você está se protegendo. Acho que tem a ver com o pai de Roe, mas você tem que me dizer.

Eu tomei uma respiração lenta, enchendo completamente meus pulmões e segurando até arder. Então eu explodi e caí no lado de Jess. Isso não ia ser uma conversa divertida, mas ele estava certo, ele precisava saber.

– Eu fiquei bêbada no casamento de uma amiga. Tive um caso de uma noite com um padrinho. Fiquei grávida.

– Estou assumindo que ele não aceitou bem — disse Jess.

– Isso seria um eufemismo. Se eu soubesse que idiota ele era, eu nunca teria dormido com ele. Mas não me arrependo porque tive Roe.

– O que ele fez?

– Sua família tinha dinheiro. Eles pensaram que eu estava atrás disso. Ou que eu estava tentando prendê-lo em um casamento. Eu não sei. Mas eles apenas me atacaram. Disse que Roe não era dele. Me chamou de garimpeira e de prostituta. Quando eu enviei um e-mail para Nate para lhe dizer que teríamos uma menina, eles registraram acusações de assédio contra mim. Foi uma loucura e durou meses e meses. Finalmente, quando ela nasceu, pudemos fazer um teste de paternidade.

– Então o que? – Jess perguntou.

– Eles me ofereceram dinheiro para ir embora.

– Porra – ele murmurou.

– Sim. Boas pessoas, – eu brinquei. – Eu disse a eles que eles poderiam mantê-lo contanto que Nate renunciasse os seus direitos e prometesse nunca entrar em contato comigo ou com Rowen.

Jess ficou quieto por um tempo, assimilando minha história.

–Qual é o sobrenome dele? – Finalmente perguntou.

– Fletcher. Por quê?

– Só quero ter certeza de que, se alguma vez o encontrar, apertar sua mão. A porra do idiota trouxe a mulher mais bonita do mundo para a minha vida. Lhe devo minha gratidão. – Jess disse.

Eu o apertei um pouco mais forte.

– Isso é doce, querido. Mas se você alguma vez encontrá-lo, eu prefiro vários socos na cara dele em vez de um aperto de mão. Ok?

Ele riu. – Qualquer coisa para a minha garota.

Capítulo Dezesseis


– Oi, xerife – chamei, entrando no escritório de Jess.

– Sardenta – ele disse, levantando de sua cadeira de couro preto para me cumprimentar.

– Eu acho que a escrivaninha fica mais bagunçada toda vez que eu venho visitá-lo.

Ele grunhiu antes de se inclinar para dar um beijo rápido na minha bochecha.

Uma coisa que eu gostava sobre o nosso relacionamento era que nem Jess nem eu sentimos a necessidade de demonstrar afeto em público. Não é que eu tenha um problema com casais que gostavam de se agarrar na frente de estranhos. Se eles precisassem disso para que seu relacionamento funcionasse, para lhes dar mais energia. Cada um sabe de si. Jess e eu simplesmente não precisamos disso.

Nós éramos o tipo de casal mais de segurar na mão, beijo na bochecha, braços em volta um do outro. E eu gostava. Não que eu não gostasse quando Jess atacava minha boca ou me puxava ao redor no quarto. Eu gostava. Muito.

Mas havia algo especial e doce em seus toques gentis quando estávamos em público. Eu sentiria o beijo dele na minha bochecha por horas, os formigamentos demorando onde ele roçava seus lábios macios para minha pele.

Eu estava visitando a delegacia para tentar convencer Jess de que deveríamos sair hoje à noite com Maisy e Everett. Desde o primeiro jogo dos Mustangs, Maisy perguntava repetidamente quando poderíamos ter um encontro duplo. Eu a estava dispensando, não porque eu não quisesse ir, mas porque havia muita coisa acontecendo. Jess trabalhando turnos extras quando ele não tinha um agente. Passando noites na minha mesa de jantar, criando decorações de Halloween. Limpando a bagunça causada pela demolição de onze abóboras.

Mas Maisy tinha me perguntado novamente esta semana e eu não queria afastá-la novamente. Havia apenas dois obstáculos no caminho de uma noite fora: encontrar uma babá e convencer Jess. Se eu conseguisse ultrapassar os dois, eu diria a ela que estaríamos prontos para isso.

Eu achava que encontrar a babá seria a mais difícil das minhas duas tarefas, acabou por ser em um piscar de olhos. Uma das professoras de Rowen na Quail Hollow se ofereceu.

Agora tudo que eu precisava fazer era convencer Jess a ir em uma noite no Bar Silver Dollar. Teríamos alguns drinks, compartilharíamos algumas risadas e veríamos a cena do bar de Prescott.

Então aqui estava eu, de pé no escritório de Jess com uma caixa de donuts na mão.

– O que você tem aí? – Ele perguntou.

– Donuts. Policiais gostam de rosquinhas.

Ele me olhou desconfiado. – Você trouxe donuts? Por quê?

– Um dos mais novos cidadãos de Prescott não pode trazer a equipe local de aplicação da lei uma caixa de donuts para mostrar sua gratidão por seu serviço?

– Geórgia – ele resmungou.

– Ok. É suborno. Maisy realmente quer que a gente saia com ela e Everett hoje à noite para algumas bebidas. Nós podemos? Por favor? – Eu empurrei a caixa de donuts na cara dele, esperando que o cheiro incrível de barras de maple recém-assadas faria com que ele dissesse sim.

– E quanto a Roe? – Ele perguntou.

– Resolvido. A babá está chegando às sete e meia – falei.

– Já tem uma babá, hein?

Droga. – Ah... Sim?

Ele respirou fundo, mas ao expirar disse: – Tudo bem.

– Oba! – Eu gritei. Eu fiquei na ponta dos pés, procurando um beijo, e logo antes de nossos lábios se tocarem, vi seu pequeno sorriso.

Jess pegou a caixa de donuts e voltou para sua cadeira. Tirando a tampa da caixa, ele comeu uma barra de maple em cinco mordidas enormes.

– Como está o dia de folga? – Ele perguntou, limpando as migalhas da boca.

– Excelente.

Desde a mudança, eu não tinha tirado um único dia de folga e precisava começar a usar minhas férias. Então, hoje, eu estava tendo uma sexta-feira da Gigi. Roe estava na pré-escola e eu tive o dia para mim mesma.

Eram apenas dez da manhã e eu já tinha limpado a casa, comprado mantimentos, incluindo uma parada na padaria para donuts, e abastecer meu carro. Eu não tinha tarefas a fazer, mas talvez uma carga de roupa suja. Então, depois do almoço eu estava planejando assar biscoitos, pintar minhas unhas dos pés e me enrolar em frente à lareira com um livro.

Glória.

– Quer ir almoçar comigo hoje? – Perguntei.

– Provavelmente deveria ter me perguntado antes de eu comer aquela barra – disse ele.

– Hmm... Bem, eu precisava que você devorasse o donut, então você concordaria em me levar hoje à noite. Se isso significa que eu tenho que desistir de um almoço, que assim seja.

Ele riu. – Me pegue em algumas horas. Eu estou apenas trabalhando para por esta papelada em dia hoje. Eu vou ficar louco até o meio-dia.

– Você consegue, xerife – eu disse, lhe dando uma saudação de dois dedos. – Ok, querido. Pela aparência do desastre que é sua mesa, você tem muita coisa para fazer. Vou largá-los na recepção quando sair.

Levantando-se de sua cadeira desconfortável, inclinei para pegar a caixa de donuts.

Sua mão bateu tão rápido no topo da caixa que me fez pular para trás.

– Nem pense nisso – disse ele.

Segurando minhas mãos em sinal de rendição, saí da sala. Então eu lhe soprei um beijo e sai da delegacia.

Por um impulso, eu apareci no salão do centro da cidade. Milagrosamente, eles foram capazes de me pegar para pedicure sem precisar marcar horário. Sentada em uma cadeira de massagem, deixo a água quente encharcando meus pés, trabalhar sua mágica e relaxar minha mente.

Sexta-feira da Gigi era absolutamente a melhor.


****


–Eu amo este lugar! – Eu disse a Maisy, sentando-me à nossa mesa. Jess e eu acabamos de chegar ao bar Silver Dollar.

O bar era uma enorme ferradura que ocupava o meio da sala quadrada. As paredes por trás estavam cobertas de espelhos e garrafas de bebidas alcoólicas. Havia bancos velhos e bambos em todos os lugares e não um par igual para ser visto. Mas a parte mais legal era o próprio topo do bar.

A coisa toda estava coberta de cobre brilhante.

O bar estava escuro e mofado e os pisos de cimento estavam manchados e ligeiramente pegajosos. Se eu tivesse que usar o banheiro, eu absolutamente estaria pairando minha bunda sobre o assento. De jeito nenhum minha bunda nua iria tocar uma superfície neste lugar. E mesmo que era agora um bar de não-fumantes, as décadas de fumo dos anos passados tinham penetrado nas paredes. Quando saímos, eu vou cheirar a um velho cinzeiro.

Foi PO incrível!

– Estou tão feliz que vocês estão aqui! – Maisy disse, fazendo uma avaliação rápida da minha roupa. – Bela jaqueta.

Eu estava em um par de jeans skinny preto, uma blusa creme e saltos altos. Por cima da minha blusa eu tinha colocado minha jaqueta de couro favorita.

– O que você quer? – Jess perguntou.

– Uma vodca cranberry com limão, é claro.

– Claro – ele zombou, indo para o bar.

Nós nos sentamos e observamos com Maisy e Everett por um tempo. Principalmente Maisy e eu conversamos enquanto Jess e Everett se sentaram e escutaram. Everett estava tão quieto, depois de uma hora, eu não achei que ele havia dito mais de quatro palavras, apesar das tentativas malsucedidas de Maisy e eu de inserir ele na conversa. Eu nunca o vi agir tão tímido.

Enquanto Jess só tinha bebido duas cervejas, ele se certificou de que meu copo de bebida nunca estivesse vazio.

Depois de uma hora, Maisy e Everett desistiram. Maisy parecia desapontada (um pouco chateada com Everett) por estar saindo tão cedo. Mas Everett estava agindo de forma tão estranha que se tornou constrangedor.

– Quer jogar bilhar? – Jess perguntou depois que eu abracei Maisy para dizer adeus.

– Sim!

Meu copo de bebida sem fundo estava começando a me afetar, então havia uma boa chance de eu estar gritando ao invés de falar em um intervalo normal de decibéis. Mas eu não me importei. A jukebox em o canto estava tocando a noite toda, tocando country clássico tão alto quanto eles conseguiam sem afastar as pessoas. Pelo menos eu não estava mais alta que a música.

Enquanto seguia Jess, agarrei um punhado de sua camisa branca, depois empurrei minha outra mão no bolso de trás da sua calça jeans. Eu estava bêbada e feliz. Apalpar um pouco a bunda gostosa de Jess parecia totalmente apropriado.

Nós não ficamos no bar até tarde.

Depois de mandar a babá para casa, eu puxei Jess para o andar de cima e o despi rapidamente como eu pude. Ele me deixou tomar o controle e montá-lo até que eu gozei. Então ele me virou e assumiu até que ele veio. Nós ainda estávamos excitados, então fomos novamente no chuveiro.

Sexo bêbado com Jess foi quente acima da média.

Rastejando na cama, eu assumi minha posição de dormir padrão ao lado de Jess.

– Onde você aprendeu a jogar sinuca? – Ele perguntou.

– Ben me ensinou.

Ele bufou antes de seu peito começar a tremer.

– O que é engraçado?

– Acho que Ben refinou sua técnica de ensino entre o tempo que ele me ensinou e o tempo ele te ensinou. Você é boa, baby. Nunca perdi um jogo para ninguém antes. Exceto Ben – ele disse.

Meu sorriso se esticou no meu rosto. – Eu acho que Ben costumava me deixar ganhar, só assim eu continuava jogando.

– Talvez. – Jess sorriu.

Eu cruzei minhas mãos em seu peito, descansando meu queixo em meus dedos para que eu pudesse manter minha visão nos incríveis olhos azuis de Jess enquanto conversávamos. – Você sabe o que eu venho me perguntando? Ben disse em sua carta que ele amava isso aqui. Prescott e a casa. E ele tinha você. Por que ele iria se mudar para Spokane?

Jess segurou a parte de trás da minha cabeça e envolveu o outro braço em volta dos meus ombros.

Ah não. Isso não era um bom sinal.

– Ben era casado.

Eu chupei em uma respiração curta. Eu não tinha ideia de que o homem que tinha sido como um avô para mim já tinha sido casado.

– Sua esposa, Claire, era ótima. Doce, do tipo amorosa. Gastava tempo na igreja fazendo refeições para os abandonados. Colchas feitas para pessoas internadas no hospital. Sempre fez o jantar para mim suficiente para eu levar muito para casa quando saísse. Sempre cuidando das pessoas. – Ele me deu um aperto. –Tipo como você.

Eu inclinei meu queixo para lhe dar um leve beijo em seu peito.

– Eu perguntei a Ben uma vez por que eles não tiveram filhos. Eu acho que Claire não podia. Sempre desconfiei que isso foi parte da razão pela qual ele me levou para sua asa – disse Jess.

– Hmm... Talvez, – eu sussurrei, mas sabia que não era verdade. Ben poderia ter tido uma centena de crianças e ainda teria procurado por Jess. Esse é apenas o tipo de homem que ele era.

– De qualquer forma. Claire estava tendo alguns problemas com uma de suas pernas. Não consigo lembrar o que. Mas eles a levaram para a cirurgia. Eu lembro de vir depois que ela estava em casa e trazer flores para ela. Ela parecia feliz, descansada. Bem. Então, dois dias depois, um coágulo de sangue se formou e viajou para seu cérebro. Teve um derrame e morreu.

Lágrimas começaram a correr pelo meu rosto, caindo em seu peito.

– Ele amava Claire. Com tudo o que ele tinha. Ela era o mundo dele. Eu não acho que ele poderia ficar aqui sem ela. Então, cerca de um mês depois que ela morreu, ele encontrou um emprego em Spokane e se mudou. Não levou quase nada com ele. Doou quase tudo para Igreja de Claire. Me pediu para cuidar da fazenda.

Eu estava de coração partido por Ben. Eu gostaria de ter sabido, mas eu entendi porque ele não tinha dito para mim. Mesmo depois de vinte anos, a perda de sua esposa ainda era muito dolorosa para discutir.

– Faz sentido por que ele manteve este lugar – eu sussurrei, secando meus olhos.

– Sim. Claire está enterrada no grande bosque. Aquele no canto norte da propriedade.

– Meu Deus. Ela está? – Eu sussurrei.

– Sim.

Eu deixei cair minha testa no peito de Jess. – No testamento de Ben, ele pediu para ser cremado e suas cinzas foram dadas para mim. Dizia para mantê-las até que eu soubesse onde colocá-las. Eu não sabia o que ele quis dizer. Então eu as empacotei e agora elas estão no sótão. Agora podemos colocá-los onde pertencem.

A dor no meu peito ficou mais forte e eu cedi a um novo lote de lágrimas. Lágrimas da perda para Ben. Por mim. Lágrimas de júbilo que Ben poderia finalmente descansar com sua amada Claire.

Jess acariciou meu cabelo úmido e beijou o topo da minha cabeça. Ele sussurrou garantias que tudo ficaria bem. E ele me segurou em seus braços fortes até que meu choro diminuiu e se transformou em pequenos soluços.

– Você vai me levar lá amanhã? – Eu perguntei.

– Sim.

– Obrigado, querido.

– Qualquer coisa para a minha garota.


****

Jess


– Este é um lugar bonito – disse Geórgia.

Nós ficamos ao lado da lápide branca de Claire, cercada por um alto bosque de árvores balançando pradaria gramínea aos nossos pés, as montanhas cobertas de neve como pano de fundo.

– Com certeza é – eu concordei.

Eu sempre pensava em Ben e no que ele me ensinou quando eu era jovem. Todas as coisas que um pai ensinaria a um filho. A lição mais importante que Ben já me ensinou foi a que ele tinha feito sem palavras. Era como ele amava sua esposa.

Ben não precisava de nada no mundo, desde que ele tivesse sua Claire. Quando ele estava em volta dela, ele se iluminava.

Nunca houve uma mulher que acendeu uma luz na minha alma. Não até Geórgia.

Começou na primeira noite em que cheguei à casa da fazenda e ela estava na varanda, me dando merda. Sua massa de cabelos empilhados em uma bagunça. Vestindo o suéter mais feio que eu já vi na minha vida. Um que eu a vi vestir inúmeras vezes desde então.

Ela era a luz que eu estava procurando.

Agora eu só precisava ter certeza que ela sabia disso. Que eu desfiz todos os danos que o idiota tinha feito. E então eu poderia trabalhar para fazê-la tão feliz quanto Ben tinha feito Claire.


****


– Mas que PO, Jess! – Gritou Geórgia. – Você está apenas me dizendo isso agora? Isso foi semanas atrás. Você deveria ter me contado então. Como você pôde esconder isso de mim?

Ela estava na cozinha, batendo e chocando panelas e frigideiras enquanto preparava o jantar.

Eu tinha acabado de dizer a Geórgia sobre a visita de Wes à delegacia no domingo em que eu tinha gritado com Rowen. Wes tinha acabado de brincar comigo, então eu planejei manter isso em segredo. Eu não queria que ela ficasse assustada e preocupada.

Mas, graças a Milo, ela descobriu esta noite.

Só porque eu não esperava que Wes fizesse um movimento não significava que eu não tivesse tomado precauções. Alguém da delegacia vigiava Quail Hollow todas as tardes até Geórgia pegar Rowen.

Normalmente, eu fazia questão de eu mesmo ir. Eu estacionava alguns quarteirões abaixo e observava até que ambas estavam dirigindo em segurança para casa. Mas se eu não pudesse fazer isso, pedia a Sam ou Bryant para tomar o meu lugar. Mas hoje todos nós estávamos ocupados, então eu pedi a Milo.

Eu dei a ele um rápido resumo e pedi para ele ser discreto, o que para ele significava parar do lado de fora da porta do Quail Hollow e escoltar Geórgia até o carro dela. Claro, quando ela perguntou a ele o que estava acontecendo, ele havia contado.

Maldito Milo.

Se eu não gostasse tanto dele, eu chutaria a bunda dele.

– Desculpe não ter lhe dito antes. Eu só não queria que você se preocupasse – eu disse.

– Você não decide isso sozinho. Você não pode continuar tomando decisões por mim Jess! Especialmente com algo assim. Quando envolve minha segurança ou da Rowen, você não tem o direito de passar por cima de mim.

Porra.

Meus ombros caíram. Ela estava certa.

– Estou acostumado a tomar as decisões sem opiniões. No trabalho. Com minha mãe. Eu não estava tentando passar por cima de você.

– Então pare de fazer isso – disse ela. – Você tem que falar comigo ou isso nunca vai funcionar.

– Eu vou – eu prometi.

Eu estava fazendo coisas erradas com Geórgia. Ela não era como minha mãe. Ela não queria que as coisas fossem feitas por ela ou que fossem deixadas no escuro. Se eu fosse mantê-la na minha vida, fazê-la feliz, eu tinha que começar a incluí-la na tomada de decisões.

Ela parou de andar e colocou as mãos na ilha, deixando cair a cabeça na direção do chão.

– Eu não posso fazer isso – ela sussurrou.

– O que? – Eu disse. – O que você quer dizer?

Ela iria tentar romper comigo só por causa disso? Ela estava errada pra caralho se ela pensasse que eu a deixaria. Ela era minha e eu não a deixaria me afastar.

– Eu não sou forte o suficiente para você – disse ela. – Você precisa estar com uma mulher que pode viver com as ameaças. As histórias sobre traficantes de drogas e... O que mais vier. Alguém que não vai surtar.

Minhas mãos se fecharam na ilha. Eu queria agarrar seus ombros e colocar algum bom senso nela. Que porra ela quis dizer que não era forte o suficiente? Ela era a mulher mais forte que eu já conheci.

Mas respirei fundo e acalmei meu humor, me lembrando de ser paciente. Ela estava apenas com medo e isso era apenas outra coisa que ela poderia usar para me afastar. Ela só precisava de tempo, tempo para ver que eu não ia machucá-la. Para ver que ela era a única mulher para mim.

– Geórgia, olhe para mim – pedi do outro lado da ilha. – Você é forte o suficiente. Quando eu preciso de você, você está lá. Nem uma vez você me decepcionou.

– Sim, mas...

– Não, – eu disse. – Você é. Você pode não ver agora, mas você vai. Além disso, tudo isso vai se resolver. As coisas agora estão... loucas. Não é assim normalmente.

– Mas Jess...

– Pare – eu disse, contornando a ilha.

Tomando seu rosto em minhas mãos, eu pressionei minha testa na dela.

– Por favor, apenas me dê tempo. Por favor? Você vai ver, – eu sussurrei.

Sua respiração saiu em um longo suspiro. Seus ombros relaxaram e ela inclinou a cabeça nas minhas mãos.

– Tudo bem – ela sussurrou.

Eu me abaixei, roçando meus lábios nos dela.

Tempo. Nós precisávamos de tempo. E eu precisava retomar o controle de Prescott. Então ela veria que seus medos eram por nada.

Nós voltaríamos aos tempos chatos. Para os dias em que teríamos sorte de ter duas multas em uma semana. Eu nunca pensei que sentiria falta daqueles dias, mas foda-se eu sentia.

Geórgia não teria nada para se preocupar assim que eu colocasse um fim a toda essa merda com o traficante de pílulas e com Wes. E eu faria. Agora mais do que nunca, eu estava determinado a prender Wes. Ele não ia sair destruindo minha cidade e assustando minhas meninas.


Capítulo Dezessete


Os dias de novembro passaram em um borrão feliz.

Eu estava dando a Jess o tempo que ele pediu, tentando não me preocupar e confiando que ele manteria Rowen e eu em segurança.

Jess passou a maior parte de seus dias de trabalho nas montanhas, procurando sinais de movimento para a casa de metanfetamina de Wes. Ele investiu em dias extenuantes, trilhas para caminhadas e procurando sinais nas montanhas nevadas. Infelizmente, ele não encontrou um rastro. Ainda.

O Dia de Ação de Graças foi o único dia que ele folgou, então eu organizei um grande banquete. Noelle passou o dia com a gente. Eu estava feliz por receber a visita dela porque aparentemente, o Dia de Ação de Graças também significava assistir futebol. Embora eu tivesse vindo aproveitar o aspecto social dos jogos do Mustang, ver futebol na TV era excruciante.

Então, enquanto Jess descansava no sofá da sala, nós, meninas, tínhamos planejado onde colocar minhas decorações de Natal. Hoje, pela primeira vez, eu estava pulando a honrosa manhã de tradição de compras na Black Friday. Isso é como eu estava empolgada em decorar a minha fazenda.

– É besteira. Você sabe disso? Essas grandes lojas continuam tentando enfiar goela abaixo em nossas gargantas cada vez mais cedo a cada ano. Natal aparece antes do Dia das Bruxas. Eles não podem nem mesmo deixar o Halloween em paz! Quero dizer, pelo menos esperem até novembro. E depois liquidam em janeiro. Essas pessoas que deixam luzes multicoloridas em suas janelas e suas calhas até o Dia dos Namorados são loucos. Quero dizer, é somente pura PO de ganância que as lojas colocam coisas de Natal muito cedo e pura PO preguiça quando as pessoas não conseguem comprar suas coisas quando as férias acabam.

Eu estava falando comigo mesma sobre o momento apropriado da decoração e a falta da decoração de Natal.

Enquanto eu estava tagarelando com ninguém, eu estava em pé em uma escada muito alta, segurando uma enorme, guirlanda verde que eu estava amarrando na beirada da varanda da frente. A guirlanda combinava com a grande guirlanda que eu já havia colocado na porta da frente.

Desde que eu estava falando comigo mesma e carregando uma guirlanda pesada e um martelo o tempo todo de pé em uma escada muito alta, eu não estava prestando muita atenção ao meu pé.

E porque eu não estava prestando muita atenção ao meu pé, eu logo não me encontrei mais em pé na escada muito alta. Em vez disso, eu estava na minha bunda, no chão, na neve. A parte inferior da escada bem na frente do meu rosto.

Meu pulso latejava porque eu o usei para amortecer minha queda. A guirlanda pesada e martelo não estava mais em minhas mãos, mas na neve, junto com a minha bunda.

PO.

****


– Não é suposto que as mulheres deveriam fazer compras na Black Friday, Gigi? Não cair de escadas? – Dr. Peterson acabara de terminar de enfaixar meu pulso torcido no pronto-socorro.

– Para o inferno com a Black Friday. Eu levo minha decoração de Natal muito a sério, Dr. Peterson. Fazer compras deve esperar. Eu sorri.

Ele grunhiu uma risada. – Parece que sim.

Eu tinha aprendido minha lição com o incidente da cascavel e chamei Jess assim que pude arrastar minha bunda do chão. Ele estava com Roe na loja de artigos esportivos no centro da cidade.

Eles tinham saído pouco antes de eu começar a decorar para escolher um trenó para Rowen.

Então eu esperei na varanda da frente, segurando meu pulso até que eles chegaram em casa.

Quando Jess me ajudou a tirar as decorações de Natal do sótão ontem à noite, eu absolutamente deveria ter ouvido quando ele disse que iria pendurar as coisas altas.

– Eu pedi uma receita de analgésico para você na farmácia. Mas você conhece o procedimento. Gelo se ficar inchado. Compressa quente se estiver dolorido. Tente não usá-lo por alguns dias – Dr. Peterson disse.

– Farei. – Eu pulei da cama do pronto-socorro. – Obrigada, Dr. Peterson.

Jess e Roe estavam sentados no saguão esperando por mim. Eu apontei meus pés nessa direção e me dirigi para encontrar um Jess com raiva da Geórgia porque ela não o escutou e um louco com sua mãe, porque ela se machucou e agora nós não podemos ir andar de trenó com Rowen.

Jess não falou comigo no caminho de volta para a casa. Nem Roe.

O silêncio de Roe terminou quando chegamos em casa e ela pediu para brincar com os gatos. Jess tinha criado uma área na garagem para a Sra. Fieldman, Rose, Peony e Capitão Lewis. Ele tinha até mesmo colocado uma porta de gato para que eles pudessem entrar e sair à vontade. Roe achou que ficou incrível, porque ela poderia passar por isso também.

Enquanto a raiva de Rowen foi curta, de Jess durou muito mais tempo. Ele havia desaparecido em algum lugar depois que chegamos em casa e voltou logo antes do almoço. Ele tinha comido em silêncio completo, nem mesmo falando com Roe.

– Sinto muito, querido. Eu deveria ter esperado por você, – eu disse quando Jess trouxe seu prato do almoço na cozinha.

– Sim, você deveria.

– Eu não queria que isso acontecesse. Foi um acidente.

Ele respirou com raiva e soltou o que ele claramente estava mantendo guardado nessas últimas horas.

– Você sabe, eu tenho cuidado de pessoas toda a minha vida. Minha mãe. Minha irmã. Esta cidade. Porque se não sou eu, então quem? Então porque é que a única pessoa que eu realmente quero cuidar não me deixa?

Eu não consegui responder antes que ele começasse a gritar.

– Porra! Estou tão furioso com você, Geórgia! Você poderia ter quebrado o seu pescoço! E então o que? O que teria acontecido com Rowen? Comigo?

Eu não tinha pensado nisso dessa maneira. Lágrimas inundaram meus olhos quando me dei conta desta constatação. Eu poderia ter deixado minha filha hoje sem ninguém no mundo para cuidar dela.

– Eu vejo que está percebendo – ele retrucou antes de ir embora.

Eu assumi tanto esses últimos anos. Não que eu tivesse muita escolha. Eu penso muito parecido com Jess, se não eu, então quem? As únicas pessoas que eu tinha dependido eram minha mãe e Ben. Agora os dois se foram. E mesmo quando eles ainda estavam conosco, mamãe tinha ficado doente e o corpo envelhecido de Ben não poderia ter feito tudo o que sua mente achava que poderia fazer.

Então isso significava que tudo havia recaído sobre mim.

Cozinhando. Limpando. Lavando. Compras de supermercado. Jardinagem. Decoração de férias. Tudo.

O que mais eu deveria fazer?

Mas Jess estava certo. Eu não podia me dar ao luxo de ser imprudente com minha segurança ou minha vida. Eu era tudo que Rowen tinha. Eu não podia arriscar abandoná-la apenas para pendurar um enfeite de Natal.

E eu tinha Jess. Por que eu não o deixei ajudar?

Porque eu fui idiota. Extremamente idiota. E teimosa.

Meu estômago revirou. Toda vez que Jess e eu estávamos brigando, eu ficava doente. E junto com meu latejante pulso, eu estava ficando com dor de cabeça. Era hora de uma pílula para dor e uma soneca.

Eu coloquei Rowen em um filme e mudei para uma calça confortável e suéter. Minha pílula fez efeito logo após que Enrolados começou a passar e eu caí em um profundo sono no sofá.

Acordei um pouco confusa, meus olhos secos e nublados, e vi o relógio no suporte da lareira. Eu tinha dormido por cinco horas. Não me admira que o filme acabou e Roe não estava mais no sofá.

A voz doce da minha garota ecoou na cozinha.

– Jess, você pode me dar banho e ler minhas histórias hoje à noite?

– Uh, Roe, eu não sei quais são as regras com as meninas e a hora do banho – disse ele.

– Não há regras, bobo. – Ela riu. – Você apenas se diverte! Exceto que mamãe não me deixa jogar água fora da banheira.

– Roe, não é o que... Eu te digo uma coisa. Vá colocar o seu traje de banho. Você pode usar isso no seu banho hoje à noite – disse ele.

– Oba! – Ela gritou, pulando para cima e para baixo.

Eu ri da porta e os dois se viraram para me ver de pé ali. Roe veio pulando e me abraçou quando ela gritou: – Jess está me dando o meu banho!

– Ótimo – eu sorri, me inclinando para beijar o topo de seu cabelo. Quando eu me levantei, Jess estava sorrindo, meu sinal de que ele estava pronto para me perdoar. Eu apertei Roe antes que ela fugisse para fora do quarto. Então eu fui direto para Jess, envolvendo meus braços ao redor de sua cintura.

– Eu sinto muito. Você estava certo. Eu fui estúpida e imprudente. Eu me acostumei a fazer as coisas sozinha. É um hábito difícil de quebrar.

– Você me tem, Geórgia. Ok? – Ele me puxou mais apertado em seu peito.

Eu relaxei em seu corpo e assenti. Eu estava feliz por ele ter aceitado minhas desculpas e nós poderíamos parar de brigar. O nó no meu estômago começou a se soltar.

– Você sabe, eu quero cuidar de você também. Se você me deixar, – eu disse.

Ele soltou um suspiro longo e frustrado. – Você faz, Geórgia. Todo dia. Criando um lugar quente para eu vir todas as noites. Deixando-me descarregar depois do trabalho. Empurrando de volta quando eu sou um idiota. Discutindo comigo. Me chamando de 'querido'. Sendo minha garota. Todas essas coisas são o que eu preciso, é como você cuida de mim. E se você aceitasse isso, parasse de duvidar de mim, você veria que eu tenho deixado você cuidar de mim o tempo todo.

Droga.

Ele estava certo. Novamente.

– Bem... Eu acho que vou continuar fazendo isso então, – eu murmurei.

Ele riu enquanto nos abraçávamos. Eu olhei para cima e tranquei meus olhos com os dele. Eu nunca me canso dessa cor azul brilhante.

Roe veio pulando de volta para a cozinha, vestindo seu maiô de babados rosa e seus óculos laranja.

– Você vai beijar a mamãe? – Roe perguntou a Jess.

– Eu estava pensando sobre isso. Tudo bem para você?

– Sim! Eu gosto quando você a beija. É como quando o príncipe beija a princesa. Você é uma princesa, mamãe?

Jess e eu rimos da minha garota maravilhosa. Então Jess se inclinou e apertou seus lábios contra os meus. Sua língua disparou e a ponta tocou meu lábio inferior.

– Você sabe, Jess, ela tem apenas quatro anos. Você pode lhe dar um banho sem o traje – eu sussurrei.

Ele sorriu e sussurrou de volta, – Nah. Ela está animada, talvez na próxima vez.

Jess saiu da cozinha, de mãos dadas com a minha filha. Estava na ponta da minha língua para dizer a ambos: – Eu te amo. Porque eu amava. Eu amava eles. Eu o amava.

Eu nunca tinha amado um homem. Talvez se eu tivesse mais experiência, eu teria percebido isso mais cedo. Parecia estranho que nós não tivéssemos dito as palavras um ao outro ainda, mas olhando para trás, ele estava lá há algum tempo.

Com cada toque, cada beijo, era simplesmente não dito. Sem palavras, mas nunca faltando.


****


Maisy e eu estávamos sentadas à mesa da minha sala de jantar, embelezando suéteres de Natal. Faltava algumas semanas para o Natal e esses suéteres seriam nossos trajes para a festa de Natal que eu estava oferecendo na fazenda em dois dias.

Tecnicamente, era a festa de Jess, não minha. Todos os anos ele dava uma festa na delegacia para seus oficiais e suas famílias. Planejamento de festas não era seu forte, ele sendo um homem viril e tudo, então quando ele pediu minha ajuda eu imediatamente assumi o controle.

Eu tinha recrutado Maisy para me ajudar em troca de um convite para a festa no sábado à noite. Ela, como eu, estava totalmente envolvida.

– Everett está animado para a festa? – Eu perguntei.

– Eu acho – ela murmurou, anexando uma série de luzes com uma bateria para o cós do suéter dela.

– Ele não é um fã de festa de Natal? Ou é o suéter? Jess está irritado com o tema feio do suéter.

Ela baixou as luzes e se mexeu. – As coisas não estão indo muito bem nestas últimas semanas. Desde aquela noite que saímos para beber, ele está distante. Sempre dando uma desculpa no último minuto para cancelar nossos planos. Não vem me encontrar no trabalho para falar como ele costumava. Ele só está me ignorando. Só a noite, ele garante que eu esteja lá com ele. Nós fazemos sexo, o que ainda é ótimo, mas depois ele ainda não fala comigo. Apenas vira e adormece.

– Sinto muito, querida – eu disse.

– Está bem. Quero dizer, não é como se ele falasse muito antes, sabe? Talvez ele esteja apenas realmente ocupado. E isso faz parte de passarmos para uma nova fase.

– Talvez.

Jess e eu estávamos juntos mais tempo do que Maisy e Everett e ainda nos desejávamos, gastando nosso tempo aproveitando para conhecer um ao outro. Embora quanto mais estivéssemos juntos, mais eu me perguntava se algum dia iríamos nos cansar.

– Vamos ver. Não é como se eu fosse largá-lo ou algo assim. Eu só não sei como falar com ele sobre isso sem ele ficar com raiva de mim ou me ignorar ainda mais. – Seus ombros caíram. – O que você faria, Gigi?

Eu estendi a mão e dei um tapinha na mão dela. – Eu acho... Que tentaria falar com ele. Ser honesta sobre como eu estou me sentindo. Perguntar a ele se havia algo que eu havia feito.

– Sim – ela murmurou.

– Seja você mesma, Maisy. Se isso não funcionar para ele, então talvez ele não seja o cara para você. Ok?

Ela assentiu.

Voltamos a trabalhar em nossas blusas em silêncio.

Eu esperava que Maisy e Everett resolvessem seus problemas. Eles formavam um casal fofo e ela queria tanto que as coisas funcionassem. Se ele não quisesse vê-la mais, eu esperava que ele encontrasse coragem para dizer a ela e que esse comportamento distante não fosse sua maneira de acabar com isso. Maisy era um bom partido. E se ele não podia ver isso, ela estava melhor sem ele.


****


Jess e eu estávamos nos divertindo depois da festa. Meu rosto estava no travesseiro, meus braços embaixo dele e apoiado na cabeceira. Eu estava de joelhos, minha bunda inclinada no ar.

Ele estava batendo em mim por trás, puxando meus quadris para ele com cada impulso para que ele pudesse me foder duro. Muito forte. Incrivelmente rígido e eu estava amando isso.

Eu já tinha vindo duas vezes e ele estava me levando para uma terceira vez. O primeiro veio de sua boca quando ele caiu sobre mim no minuto em que chegamos ao quarto. Ele nem se incomodou em me levar para a cama. Ele só me empurrou contra a porta e caiu de joelhos.

Depois que eu gozei, ele me pegou e me jogou na cama. Ele se despiu rapidamente, jogando suas roupas em todo o lugar, e então puxei meu suéter feio sobre minha cabeça, enviando na direção da lata de lixo. Nem bem atingiu o chão antes que ele estivesse dentro de mim. Meu segundo orgasmo me rasgou enquanto eu estava de costas, a boca de Jess presa aos meus mamilos e seu pau definindo um ritmo rápido e profundo.

E agora eu estava pressionada para frente, gostando muito de ter Jess atrás de mim.

– Oh Deus, Jess, continue. Mais duro – eu disse, virando a cabeça de lado no travesseiro.

– Sim, querida – disse ele, obedecendo ao meu comando.

Quando ele acelerou o ritmo, ele alcançou meus quadris para encontrar meu clitóris com seu dedo médio.

Com mais alguns movimentos fortes e eu estava pronta. Meus olhos se fecharam e eu plantei meu rosto no travesseiro para que eu pudesse gemer através da minha liberação, meu sexo apertando em torno de seu pênis enquanto ele continuou ficando cada vez mais duro.

– Porra, Geórgia – ele gemeu quando o meu orgasmo desencadeou o dele. Ele se inclinou para frente, ainda empurrando, e me deixando segurar seu peso quando ele despejou dentro de mim.

Ficamos assim por um minuto até que eu não aguentei mais o peso dele e me movi debaixo dele. Ele me soltou e caiu na cama, deitado de lado, de frente para mim. Eu virei de frente para que eu pudesse respirar fundo e fazer um pouco de oxigênio fluir de volta para minhas veias.

– Estamos totalmente fazendo sexo com mais frequência. Mesmo que isso signifique que você precise ser embriagado aqui em uma noite de quarta-feira aleatória, eu não me importo – eu disse, ainda tentando pegar minha respiração.

– Mantenha o estoque de cerveja e você consegue um acordo.

Nós dois começamos a rir antes de nos limpar e deslizar na cama para o nosso pós-sexo, afago pré-sono.

– Obrigado pela festa, Sardenta.

– De nada querido. Foi divertido. Você gostou?

– Sim. Foi uma boa noite.

– No ano que vem, sem gemada – eu disse. – Ninguém bebeu e me senti culpada jogando fora tudo. Mas não havia como eu manter isso. Que nojo.

Ele riu e me puxou com mais força para o lado dele.

– O que há com Everett e Maze?

– Ah, ela disse que ele está meio distante. Por quê? – Fiquei surpresa que ele se importaria com a vida amorosa da minha amiga.

– Vi ele com ela, tive um pressentimento ruim. Primeiro no bar. Então esta noite.

– Sim. Ele tem sido um pouco estranho quando estamos ao redor deles ultimamente. Ele é apenas tímido, eu acho, o que é muito diferente do que ele é no trabalho. Talvez ele apenas faça um bom show para pacientes, eu não sei. Mas ela é bem... Maisy é o completo oposto de tímida. Eles são muito diferentes.

– Hmm – Jess murmurou.

Ficamos em silêncio por mais alguns minutos até que eu lembrei da minha conversa com Sam mais cedo na festa. Ele tinha me dito o quanto ele gostava da fazenda agora que tinha sido modernizada. Ele não tinha aparecido nela desde que Ben viveu aqui. E do jeito que ele falou, soou como se muita coisa foi mudada ao longo dos anos.

– Que tipo de reformas você fez na casa depois que Ben se mudou? – Perguntei.

– Muitas. Por quê?

– Sam disse que estava ótima. Ele fez parecer que o lugar era completamente diferente. Eu estava apenas curiosa se ainda restava alguma coisa que fosse de Ben e Claire.

– Como eu te disse, eu passei muito tempo aqui, mantendo isso limpo e arrumado. Quando eu ainda era criança, eu fiz as coisas que não custavam muito, mas somente o meu tempo. Então, depois que voltei da academia e tinha um salário, comecei a fazer mais. Coloquei um novo revestimento e grades por fora das janelas. Telhado na lavanderia e na varanda. Banheiros novos. Novas cozinhas. Eu não mudei a estrutura, mas fora isso, tudo é diferente de quando Ben estava aqui.

– Por quê? – Perguntei.

– Queria que fosse diferente se ele voltasse. Eu achei que ele não iria querer a mesma casa que era dele e da Claire – disse ele.

Fiquei feliz por ele ter feito isso por Ben porque acho que ele teria razão.

– Você fez um trabalho incrível, querido. Eu amo esse lugar.

Eu estava feliz por ele não ter que desistir depois de tudo. Que nós dois podemos desfrutar da casa e nosso tempo que aqui passamos juntos. Eu me perguntei se era o objetivo de Ben desde o início.


Capítulo Dezoito


Era a semana após a festa de Natal e eu estava no trabalho, sentada na enfermaria no segundo andar. Com o Natal a pouco mais de uma semana, tivemos um fluxo intenso de visitantes, pessoas chegando para ver os membros da família que foram internados no hospital durante as férias.

Eu nunca tinha visto tantas flores de natal antes, fora de uma floricultura. Nem um único quarto na unidade estava sem pelo menos duas. Uma senhora idosa tinha cinco e ela me deu uma linda rosa para levar para casa hoje à noite depois do trabalho.

Meus últimos dois rodízios foram concluídos e eu estava verificando novamente se eu tinha feito tudo quando meu telefone tocou.

– Oi, querido – eu respondi, vendo que era Jess na tela.

– Geórgia.

Meu ritmo cardíaco disparou instantaneamente e eu comecei a entrar em pânico. Sua voz estava cheia de dor.

– O que? O que aconteceu? É Roe? É sua mãe? – Eu perguntei.

– Ambas estão bem – disse ele. – É Wes.

Eu soltei uma respiração profunda, meu pânico imediatamente diminuindo, sabendo que com minha filha estava tudo bem e nada tinha acontecido com sua mãe.

– O que aconteceu com Wes? – Eu perguntei.

– Preciso que você venha para a delegacia – disse ele. – Agora.

– Ok. Devo pegar Rowen primeiro? Ou teremos terminado a tempo para eu pegá-la?

– Deixe-a na escola.

– Ok, eu estou saindo. Diga-me, porém, você está bem? –Perguntei.

– Não.

Eu dirigi nervosamente do hospital para a delegacia. Meu estômago estava em nós apertados.

Entrando, fui direto para o escritório de Jess. Eu dei acenos rápidos para todos, mas eu não me incomodei em parar.

Toda vez que eu vinha à delegacia, as persianas do escritório de Jess estavam abertas.

Agora elas estavam fechadas. Quando cheguei à porta, Jess estava atrás de sua mesa, sua cabeça em suas mãos, apoiado por ambos os cotovelos.

– Oi – eu disse, fechando a porta atrás de mim.

O olhar no rosto de Jess foi devastador. Seus olhos estavam vermelhos, como se ele estivesse esfregando eles o dia todo. Seu cabelo estava uma bagunça, espetado em todas as direções de correr as mãos através dele repetidamente. A única vez que seu cabelo ficava assim era quando estávamos na cama juntos e a pessoa passando as mãos pelos cabelos dele era eu. Aquele visual era sexy como inferno. Esse não era absolutamente.

Eu andei em torno da beirada de sua mesa e direto para o seu espaço.

Ele virou a cadeira para me encarar com as pernas bem abertas. Quando cheguei perto o suficiente, seus braços vieram ao redor da minha cintura e ele me puxou para o espaço entre suas pernas. O topo da sua cabeça foi direto para a minha barriga e suas mãos se espalharam nas minhas costas.

Eu passei meus braços ao redor dele, meus dedos mergulhando em seu cabelo. Então me inclinei para beijar a parte de trás de sua cabeça. Eu não disse nada, apenas segurei ele enquanto ele me segurava.

Ele me diria quando ele estivesse pronto.

– Wes foi encontrado morto esta manhã – disse ele.

Eu ofeguei e meus músculos ficaram tensos.

Assassinato em Prescott? Coisas assim não deveriam acontecer aqui.

E não era uma pessoa sem nome e sem rosto. Era Wes. Eu o conhecia. Não que eu fosse amiga dele. Mas ainda assim eu o conhecia.

Enquanto tentava processar as palavras de Jess, ele se afastou, mas manteve as mãos nas minhas costas.

– O que aconteceu? – Perguntei.

Ele me apoiou na beira da mesa para nos encararmos. Tristeza derramou de seus olhos azuis.

– Silas me ligou hoje de manhã. Ele estava dirigindo em uma antiga estrada do condado para sua casa e viu um corpo no riacho ao lado da estrada. Foi checar, viu que era Wes, – ele disse.

Eu apertei meus olhos fechados por um segundo e respirei fundo. Eu precisava ser forte para Jess. Esta era a minha chance de provar a ele e a mim mesma que eu tinha o que era preciso para ser namorada de um policial. Jess confiava em mim para ser essa pessoa. Eu não queria decepcioná-lo.

Jess ia segurar a cidade inteira. Todo mundo contaria com ele para tornar Prescott segura e colocar o assassino atrás das grades. Ele assumiria o fardo de todo o condado em Jamison County para fazer isso acontecer.

Eu enterrei meus medos profundamente e endureci minha espinha.

– Fui até lá, vi Wes no riacho. Pela aparência, ele esteve lá a noite toda. Sangue por toda parte. Três golpes diferentes em seu intestino – disse ele.

– Facadas?

Ele assentiu.

– Você tem alguma ideia de quem fez isso?

Ele assentiu novamente. – O legista tinha acabado de chegar quando Milo chamou, aqui da delegacia. Disse que um garoto tinha acabado de entrar para relatar um assassinato.

– O assassino entrou na delegacia?

– Não, foi uma testemunha. Cristo, Geórgia. Ele é apenas um garoto. Dezenove, vinte anos talvez. Ele estava enlouquecido e contou a história toda.

– O que aconteceu?

– Ele estava na casa de um amigo. Fumando metanfetamina, ficando chapado. Quando ficou tarde, o lugar esvaziou, exceto por essa mulher e um cara mais velho que ele nunca tinha visto antes. Esta mulher começou a se vangloriar sobre como ela conhecia Wes e podia conseguir mais drogas.

À menção do nome de Wes, ele abaixou a cabeça e levou um minuto para se recompor.

Eu não conseguia imaginar como ele estava se sentindo. Ele conhecia Wes há muito tempo, mesmo que eles fossem inimigos.

– Eu acho que até aquele ponto, o cara mais velho tinha se mantido bastante quieto. Mas assim que o nome de Wes entrou na mistura, ele começou a ficar realmente louco. Ele disse a esse garoto e para a mulher que Wes lhe devia 400 dólares. Então ele sacou uma arma e forçou a mulher a arranjar uma reunião com Wes. É por isso que eles estavam todos onde Silas encontrou o corpo de Wes.

– Então esse cara mais velho matou Wes por quatrocentos dólares?

Jess assentiu.

Quatrocentos dólares? Não parecia real. – Se esse cara tinha uma arma, por que ele iria esfaquear Wes? – Eu perguntei.

– Não tenho certeza. Quando eles chegaram ao local de encontro, a mulher fugiu assim que a arma não estava apontada para o rosto dela, e o garoto correu para se esconder nas árvores. Ele não podia ouvir o que aconteceu, mas em um minuto este cara mais velho estava conversando com Wes e no próximo ele puxou uma faca e o apunhalou.

Bile subiu pela parte de trás da minha garganta, mas eu engoli tudo.

– Por que demorou tanto para o garoto vir aqui? – Perguntei. – Se Wes tinha sido esfaqueado, talvez ele pudesse ter sido salvo.

– Ele não tinha uma carona. O assassino partiu no caminhão de Wes. O garoto teve que sair através da floresta, quase congelou até a morte.

– Oh meu Deus – eu sussurrei.

Jess assentiu e ficamos em silêncio por alguns instantes.

– Eu já disse a você que Wes e eu costumávamos ser melhores amigos quando éramos crianças?

Meus olhos se arregalaram em choque. Dois segundos atrás, se alguém tivesse me perguntado se eu poderia ficar mais atordoada, minha resposta teria sido absolutamente não. Não depois de Jess ter descrito os detalhes de um assassinato odioso e sem sentido. Mas aqui estava eu, sem palavras. Eu não consegui fazer minha boca funcionar, então eu apenas balancei a cabeça.

– Sim. Nós crescemos juntos. Eu, Wes e Silas sempre fomos próximos – disse ele.

– Eu sinto muito, Jess.

– Ferimentos de faca no estômago não vão te matar instantaneamente. – Seus olhos olhavam fixamente para os meus joelhos. – Significa que Wes sangrou até a morte. Deitado lá sozinho no frio. Sobre o que você acha que ele estava pensando?

Os cantos da minha boca se fecharam quando meu queixo começou a tremer. Meu coração estava partido por Jess. Ele passou a manhã olhando para o cadáver de seu amigo de infância. E então a tarde descobrindo sobre como seu ex amigo tinha sido assassinado.

– Eu não sei, querido – eu disse, estendendo a mão para acariciar seus cabelos. – Mas espero que tenha sido coisas boas. Memórias dos tempos em que ele era feliz.

Ele me puxou para o seu colo e me apertou com tanta força que me esforcei para respirar. Mas eu não disse uma palavra. Eu apenas sentei lá e fiz o meu melhor para permanecer forte.

Saí da delegacia cerca de uma hora depois de chegar, precisando pegar Rowen. Jess teria uma longa noite à sua frente e duvidava que chegasse em casa antes da meia-noite.

Sam tinha rastreado a mulher da festa e tomou sua declaração, que combinou com a do garoto. Bryant encerrou a cena do crime e conseguiu um alerta para o assassino de Wes. Com alguma sorte, o assassino era burro o suficiente para continuar dirigindo por aí no caminhão de Wes.

Então, enquanto seus oficiais estavam trabalhando no caso do assassinato e eu estava dirigindo para casa, Jess estava dirigindo para a fazenda dos Drummond para dizer a Jack e sua esposa, Annie, que seu filho foi morto.

Eu orei o caminho todo para casa, ainda chocada que isso estivesse acontecendo.

Eu rezei para que Jess passasse por essa noite horrível e que ele encontrasse o assassino de Wes rapidamente. Que ele poderia conseguir o fechamento para a família de Wes, ele e a cidade.

Eu rezei para que ele encontrasse forças para dizer aos pais de seu amigo que eles nunca mais veriam seu filho.

E rezei para que Rowen crescesse saudável e feliz. E que eu nunca fosse a destinatária desse tipo de mensagem.


****

Dois dias depois, o assassino de Wes não foi encontrado.

Jess estava sendo inundado com perguntas de cidadãos preocupados. Pessoas paradas pela delegacia o dia todo para ver o que ele estava fazendo para encontrar o assassino. Repórteres estavam sugando tanta informação dele quanto podiam.

O jornal de Prescott publicou uma edição especial esta manhã. Eu estava curiosa sobre a quanto estava sendo contado ao público, mas depois de ler o jornal, eu sabia que não era muito.

O jornal tinha três páginas e dedicava-se inteiramente a cobrir o assassinato. Considerando quanta informação Jess tinha liberado para a imprensa, o jornal tinha dez por cento de especulações sobre os detalhes do assassinato e noventa por cento de um relatório sobre a vida de Wes Drummond.

Eu pensei que a coisa toda era totalmente desnecessária. Cerca de uma hora depois o clube do café se reuniu na manhã de ontem, todos no condado sabiam que Wes havia sido assassinado.

Amanhã, o assassinato de Wes seria notícia nos maiores jornais de domingo em Montana.

Repórteres de Bozeman, Billings e Missoula ligaram para Jess ontem para pegar o comunicado de imprensa oficial.

Rowen e eu não nos aventuramos longe da fazenda este fim de semana. Além de uma viagem necessária para o supermercado, estávamos sumidas. Eu não queria que as pessoas se aproximassem de mim enquanto eu estava com minha filha e perguntando o que eu sabia sobre o assassinato de Wes. Então ficamos em casa e esperamos cada noite para Jess voltar.

Jess chegou tarde na quinta-feira da casa dos Drummond. Rowen tinha adormecido a muito tempo quando ele entrou, mas eu tinha ficado pronta para dormir e esperei por Jess, lendo no sofá da sala. Assim que eu ouvi a caminhonete dele descendo a estrada, eu corri para a porta da frente e o encontrei na entrada. Depois que ele tirou o casaco, nós nos abraçamos e seguramos firme, de pé do lado de dentro da porta, imóvel.

A noite passada foi uma repetição do mesmo.

Esta noite, eu tinha trocado o sofá da sala pela minha cadeira de escritório. Mais cedo, acendi o fogo, que deixava quente, mas ainda estava acomodada debaixo de um cobertor aconchegante. Eu devo ter cochilado porque um minuto eu estava lendo e no minuto seguinte eu estava nos braços de Jess e ele estava me carregando para cima para a cama.

– Desculpe, caí no sono.

– Está bem.

– Você quer me colocar para baixo para que eu possa andar? – Eu perguntei.

– Não.

Passei meus braços ao redor de seus ombros e enterrei minha cabeça na curva de seu pescoço, contente em deixá-lo me levar para cima em seus braços grandes e fortes.

Quando chegamos ao quarto, Jess me colocou de pé, mas não me deixou ir. Ele apenas me segurou perto de seu peito com um braço ao redor dos meus ombros, seu olhar tão intenso que minhas bochechas coraram.

– Jess? – Eu perguntei.

Ele não respondeu. Ele apenas manteve os olhos nos meus pelo que pareceu uma eternidade até que finalmente, ele quebrou o silêncio.

– Tive alguns dias horríveis. Não sei como eu teria feito isso se não tivesse você para voltar todas as noites. Eu te amo, Geórgia.

Eu fiquei ali imóvel, segurando seu olhar azul-gelo enquanto suas palavras ecoavam em meus ouvidos. Eu não estava com medo ou sem saber o que dizer, eu só não queria quebrar o silêncio. Porque o som de Jess dizendo que ele me amava em sua voz profunda era algo que eu queria lembrar para o resto da minha vida.

Quando eu coloquei suas palavras permanentemente na memória, sorri.

– Eu também te amo.

Um sorriso enorme se espalhou por seu rosto bonito. Eu peguei, colocando na memória também, antes que sua boca sorridente caísse intensamente na direção da minha.

Na manhã seguinte, eu cozinhei para todos nós um grande café da manhã de domingo. Enquanto Jess e Rowen estava na sala de estar assistindo TV, eu fiz ovos mexidos, bolinhos de salsicha, batatas de café da manhã e torradas.

Quando nós acordamos, Jess tinha me dito que ele não estava indo para a delegacia. Não era porque ele não tinha uma montanha de trabalho para fazer, mas porque precisava de um dia de folga. Um dia para dar um passo para trás e recolher-se antes de outra semana brutal como o xerife do condado.

Depois que Jess anunciou seus planos, eu declarei que era um dia de pijama. Nós não estávamos saindo de casa e não estávamos nos vestindo. A única exceção é para Roe. Ela poderia vaguear para fora da garagem e brincar com os gatos se ela quisesse, mas fora isso, nós ficaríamos e estávamos descansando na sala de estar vestindo calças de moletom.

E se isso significava que eu tinha que assistir futebol de manhã, tarde e noite, que assim seja.

– Obrigada, querida. Isso estava ótimo – disse Jess depois de demolir um prato enorme de nachos, sua escolha para um lanche no tempo do jogo.

Jogos, na verdade. Eu aprendi que o Sunday Night Football começa às onze da manhã com vários jogos antes daquele oficialmente chamado de jogo da noite.

Eu estava de costas no sofá, minhas pernas estendidas, então meus pés estavam descansando no topo das coxas de Jess. Rowen estava sentada no chão na mesa de café, canetas brilhantes e marcadores espalhados por toda parte para que ela pudesse colorir em um dos doze livros de colorir de princesas Disney que ela tinha. Ela acabara de pintar uma página, muito bonita que eu estava orgulhosa de ver.

– Isso é para o seu escritório. – Ela empurrou a foto na cara dele. – É uma bagunça e precisa de algumas figuras.

Eu comecei a rir. – Deixei isso para uma criança de quatro anos para lhe dizer como realmente é.

Jess resmungou, mas os cantos de sua boca apareceram.

Fiquei feliz em vê-lo sorrindo e relaxado. Eu queria perguntar mais sobre seu relacionamento com Wes, mas não até estarmos juntos e confortáveis. Quando ele estivesse aqui conosco em um lugar seguro e não houvesse interrupções em nossa conversa.

– Você disse outro dia que você e Wes eram amigos – eu disse.

– Sim. Até onde me lembro. Deve ter começado quando eu era pequeno. Acho que meu o pai e o Jack costumavam se encontrar. Nos levavam para brincar. Por quê?

– Eu só estava me perguntando o que aconteceu. Você acabou, bem... Você – eu disse, jogando uma mão para indicar toda a bondade que tinha meu Jess. – E Wes, bem, ele pegou um caminho escuro.

– Honestamente? Eu não sei. Pensei muito sobre isso, especialmente porque ele continuava se afundando cada vez mais. Ele era uma pessoa diferente enquanto crescia. Durante todo o ensino médio, ficamos juntos. O pior que fizemos foi beber. Eu saí para a academia. Voltei dois anos depois e ele estava diferente. Eu tentei puxá-lo para fora. Pegá-lo de volta. Mas... Era como se ele não se importasse. Sobre qualquer coisa. Família. Amigos. Nada. Eu perguntei a Lissy sobre isso centenas de vezes, mas ela nunca me diria o que aconteceu.

– Lissy? – Eu lembrei Wes mencionando o nome dela no café há alguns meses atrás, mas eu nunca me lembrara de perguntar a Jess quem ela era.

– Felicity. Minha irmã.

Certo. Irmã dele. Ele raramente falava sobre ela e eu queria saber mais, mas eu não quero interrompe-lo enquanto ele estava falando sobre Wes.

– Como ela saberia o que aconteceu com Wes? Só porque ela estava morando aqui? – perguntei.

– Não. Wes e Felicity namoraram por anos. Começaram quando ela era caloura no ensino médio. Ficaram juntos até o dia em que ela foi embora. Eu cheguei em casa uma semana antes de sua formatura. Imaginei que ele estaria propondo a ela. Ela estaria se mudando para a fazenda dos Drummond, se preparando para criar os bebês dela e de Wes. Me chocou pra caramba quando cheguei em casa e ele estava um desastre. Não acreditei quando ela o deixou no dia seguinte à formatura.

– Huh – eu murmurei.

– Sim. Faz quatorze anos e ela ainda não me conta o que aconteceu. Silas também não vai.

– Você me confundiu de novo. Silas?

– Silas ficou por aqui depois que nos formamos. Começou a trabalhar no rancho de sua família. Ele sabe o que aconteceu enquanto eu estava fora, mas ele é tão discreto quanto Lissy. E logo depois que ela saiu, ele se juntou ao exército. Cumpriu dez anos. Chegou em casa bem quando eu estava concorrendo para xerife.

– Eu não entendo porque ele não vai contar o que aconteceu. Especialmente se tivesse algo a ver com a sua irmã – eu disse.

– Sim. Eu também. Eu perguntei a ele tantas vezes que perdi a noção. Finalmente parei quando ele ficou tão chateado comigo uma noite que ele me deu um soco. Não são muitos homens que poderiam ter uma vantagem sobre mim, exceto Silas e talvez Beau. Quebrou meu nariz.

– O que? – Eu engasguei. – Ele bateu em você?

– Quem bateu em você? Não é bom bater – Rowen entrou na conversa do chão, minha explosão tirando a atenção dela da coloração.

– Oh. Ah, ninguém, querida. Nós só estávamos conversando sobre futebol – gaguejei.

– Há muita coisa no futebol, mamãe – disse Rowen, comprando totalmente minha mentira descarada. – Mas Jess disse que estava tudo bem porque eles são adultos e porque é parte do jogo. Ele disse que eles recebem um bom dinheiro para receber os golpes duros. Se os maricas não aguentarem eles deveriam ser expulsos da liga.

Meu queixo caiu aberto. Minha filha de quatro anos tinha acabado de dizer –maricas –.

– Ah... Roe. Eu pensei que nós conversamos sobre manter nossas conversas na garagem em segredo. Somente entre eu e você. Lembra-se? – Jess disse.

– Segredos não são bons, Jess – ela repreendeu.

– Merda – ele murmurou.

Fechei meus olhos e fechei minha boca, contando até dez. Então eu tive que contar para trás porque quando eu acertei dez, eu ainda estava muito, muito, muito brava.

– Então, Sardenta – Jess começou, mas eu parei ele empurrando minha palma em seu rosto.

– Vou deixar isso passar – eu disse. – Com um lembrete de que ela é uma esponja. Ela vai sugar qualquer coisa que você diga, mesmo quando você não acha que ela está prestando atenção. Agora para eu deixar isto para lá, vou subir para tomar um longo banho quente. Quando terminar, terei superado isso e não estarei mais com raiva de você. Mas eu prometo a você isso, xerife. O dia em que qualquer professor me ligar para discutir a linguagem de Rowen, vou dar o seu número. Você consegue lidar com isso.

Ele sorriu, claramente divertido com a minha declaração.

Ele sabia muito bem que eu teria uma conversa com Rowen mais tarde sobre o uso de palavrões e que se a professora dela alguma vez me ligasse, chateada com a linguagem dela, eu pediria desculpas profundamente e prometeria que isso nunca aconteceria novamente.

– Amo você – disse Jess enquanto eu estava de pé para tomar o meu banho.

– Sim. Sim. Sim. Amo você também. Seja como for, – eu murmurei.


Capítulo Dezenove


O natal era em quatro dias e Jess estava nos levando para o funeral de Wes Drummond. Eu queria ficar assando biscoitos. Ou embrulhando presentes. Eu não queria ir para um funeral de traficante de drogas.

Mas era importante para Jess, então Rowen e eu iríamos.

Noelle também estava conosco. Ela conhecia Wes muito bem desde que ele tinha sido o melhor amigo do filho dela e namorado de sua filha, e seu assassinato estava cobrando seu preço em sua mente já frágil.

A cidade inteira provavelmente estaria no funeral, então estava sendo realizado no auditório. Não havia igrejas grandes o suficiente para acomodar o grande público.

Eu nunca tinha estado no auditório antes, era muito parecido com o estádio de futebol, eu estava impressionada com o seu tamanho. Havia duas fileiras de assentos no meio da sala, outra para a esquerda do palco e uma quarta para a direita.

O caixão estava no centro do palco. Era de um modelo simples, feito de madeira reluzente. Grandes fotos em molduras de Wes foram colocadas em cada lado, algumas dele quando era criança com sua família, alguns de seus anos de adolescente. Nenhuma se parecia com o homem de trinta anos que eu conhecia.

O serviço começou pontualmente às duas da tarde, mas antes do pastor se aproximar do palco, ele escoltou um casal mais velho para os assentos na primeira fila. O rosto da mulher estava vermelho e inchado. O rosto do homem estava inexpressivo e sua pele estava pálida.

– Pobre Jack e Annie – Noelle sussurrou.

Jack e Annie. Os pais de Wes.

Meu coração doeu instantaneamente por eles, e a dor continuou piorando conforme o serviço avançava. O pastor falou principalmente sobre as coisas boas da vida de Wes, mas eu apreciei o seu reconhecimento de que Wes não tinha sido um homem perfeito e tinha se perdido no caminho.

O funeral terminou e todos começaram a se dirigir em direção ao refeitório para a recepção. O gargalo nas portas me deu uma chance de observar as pessoas.

Pequenos grupos de três a quatro pessoas se amontoavam nos corredores e um grupo maior estava em volta dos pais de Wes na frente.

Uma mulher ficou sozinha na frente, olhando para uma das fotos. Ela estava de perfil, mas ela estava deslumbrante. Seu cabelo loiro-mel foi puxado para trás em um coque no final da nuca dela. Sua figura fica perfeita, sua silhueta em uma saia lápis preta e blusa de seda. E mesmo que estivéssemos lá dentro, ela estava usando um par de enormes óculos de sol.

Havia algo familiar sobre ela, como se eu a tivesse visto pela cidade antes, mas eu não conseguia me lembrar.

Eu estava apenas abrindo a boca para perguntar a Jess quem ela era quando um flash loiro veio do nada e colidiu com seu corpo.

Andrea Merkuso.

Correção. Andrea Merkuso com os braços ao redor da cintura de Jess e sua loira cabeça enterrada em seu peito.

Eu pisquei um par de vezes e apertei meus dentes para impedir meu queixo de cair aberto.

Será que esta mulher seriamente teve a ousadia de colar seu corpo no dele enquanto eu estava de pé ali mesmo?

Sim. Sim, ela teve.

Eu acho que ela era sem noção depois de tudo.

Os braços de Jess imediatamente voaram para os lados, como se ele estivesse com medo de tocá-la. Mas depois que o choque diminuiu, ele tirou os braços da cintura e a pegou com força a colocando a um pé de distância. Ela tropeçou um pouco antes de recuperar o equilíbrio.

– Que porra é essa? – Ele rugiu.

Ela pareceu surpresa. O que ela estava esperando? Jess puxá-la em seus braços e expressar seu amor eterno?

– Eu só achei que você poderia precisar de mim – ela chorou. – Nós dois conhecemos Wes por um longo tempo.

Nunca na minha vida eu tinha sido do tipo ciumenta ou possessiva antes. Mas quando se trata de Jess, eu não podia evitar. Eu era a única que tinha que tocar nele. Eu era a única que tinha que chegar com os braços em volta dele.

Eu.

Eu respirei fundo e fechei os olhos, me lembrando que a última coisa que eu precisava era virar fofoca por começar uma briga em um funeral.

Quando abri os olhos novamente, Jess estava perto de perder a calma também. Ele estava inclinado no espaço de Andrea com um olhar que era além de assustador.

– Andrea, entenda isso na sua cabeça. Terminamos. Fique longe de mim. Eu estou com Geórgia. A mulher parada bem ali.

Eu dei a ela um sorriso malicioso e um pequeno aceno com os dedos.

Seu rosto se perturbou em uma carranca.

Revirei os olhos e me afastei da cadela para olhar para Jess.

– Está pronto, querido?

Ele fechou os olhos e seu peito se expandiu com um longo suspiro. Ou ele ainda estava bravo ou ele estava tentando segurar o riso porque achou a combinação do meu rolar de olhos, aceno de dedos e sorriso divertido. Era provavelmente um pouco dos dois.

– Sim. Vamos, – ele disse.

E todos nós caminhamos para o refeitório, deixando uma Andrea Merkuso com o rosto vermelho e fumegante atrás.


****

– Você quer mais alguma coisa para comer, querida? – Eu perguntei a Rowen.

– Não, eu terminei.

Nós estávamos sentados em uma das mesas compridas do refeitório e tínhamos acabado de terminar um lanche rápido na infinidade de bandejas de comida de recepção. Rowen e eu estávamos esperando por Jess e Noelle, que estavam prestando seus respeitos aos pais de Wes.

Por duas horas nós estivemos aqui, principalmente em pé enquanto Jess foi abordado vez após vez por vários moradores de Prescott. Cada um perguntando como ele estava indo com sua investigação. Eu percebi que havia apenas um punhado de pessoas no prédio que não tinha falado com ele ainda, significando que com alguma sorte, nós estaríamos livres para sair em breve.

Rowen foi seu eu habitual, uma guerreira. Quando ela se cansava de ficar em pé, Jess ou eu pegávamos ela um pouco. Mas depois de horas, ela estava ficando entediada e inquieta. Havia um limite que uma criança de quatro anos poderia aguentar ficar parada.

– Você está indo muito bem, garotinha. Obrigado por ser minha boa menina. Eu sei que isso não é muito divertido – eu disse.

– Podemos ir? – Ela implorou.

– Ainda não, Roe. Mas logo.

– Tudo bem – ela fez beicinho.

Decidindo que precisávamos mudar de assunto, comecei a conversar com ela sobre o Natal. A cada três dias ela mudava de ideia sobre o que ela queria que o Papai Noel trouxesse. Felizmente, ela listou três coisas que já estavam embrulhadas e escondidas no meu armário.

– Sua filha está destruindo meu casaco – uma voz feminina atrás de mim estalou.

Em pé atrás da minha cadeira estava a mulher loira do auditório, com ambas as mãos plantadas firmemente em seus quadris.

Agora que ela estava mais perto e não mais de perfil, percebi que ela não era apenas deslumbrante. Ela era linda. Ela tinha maçãs do rosto altas, nariz perfeitamente reto e lábios carnudos. Eu não podia ver os olhos dela porque ainda usava óculos de sol, provavelmente para cobri-los se ela estava chorando.

– Sinto muito, seu casaco? – Eu perguntei.

– Está sob o assento da garota – disse ela, sacudindo o queixo na direção de Rowen enquanto seu lábio enrolava.

Eu fiz uma careta. Havia muitas outras maneiras que ela poderia ter anunciado que havia um problema com o casaco dela. Muitas maneiras melhores e mais agradáveis.

Dobrando-se para olhar debaixo da cadeira de Rowen, vi que havia um casaco de lã preta debaixo dos pés, mas eu não diria que Rowen estava destruindo isso. Ela não estava nem tocando.

E não era como se o chão estivesse molhado ou coberto de terra. O lugar todo estava impecável. A equipe de zeladoria provavelmente havia limpado menos de três horas atrás, quando o último grupo de crianças saiu depois da hora do almoço.

Puxando o casaco debaixo da mesa, dei uma rápida olhada nele. Não havia nada de errado com isso e não estava sujo. Mas antes que eu pudesse entregá-lo para a mulher, ela o arrebatou.

– Ela o destruiu.

– Uh... Não, ela não fez. E ela não derrubou no chão. Não estava em nenhuma das nossas cadeiras quando nos sentamos e eu não percebi debaixo da mesa. Caso contrário, eu teria pego.

Eu me levantei da minha cadeira. Ter sua altura sobre mim não ia funcionar. Eu queria estar em pé de igualdade, embora em pé, ela era alguns centímetros mais alta que eu.

Rowen também se levantou e se escondeu atrás de uma das minhas pernas. Eu me virei e coloquei minha mão em seu ombro, a puxando contra mim.

– Você obviamente não tem ideia do quanto esse casaco custa. Se você soubesse, você e sua garota não estariam tratando isso como lixo.

Cadela.

Eu ia dizer a ela que não dava a mínima para o casaco dela e, até onde eu estava preocupada, ela poderia enfiar na bunda dela. Mas eu não tive essa chance porque, assim que eu estava abrindo minha boca, meus olhos pegaram o movimento por cima do ombro dela.

Silas entrou no meio da nossa conversa.

– Gigi – disse ele.

– Oi, Silas.

Aqui estava eu de novo: em um funeral lidando com uma vadia loira e tentando me acalmar.

A mulher bufou e se virou para Silas, sua boca apertou com força, e mesmo que eu não podia ver seus olhos, imaginei que eles estavam atirando lasers nele.

– Ela é sua? – Perguntou a mulher.

O olhar de Silas era furioso. A única vez que eu o vi parecer mais assustador foi quando ele enfrentou Wes durante o jogo de futebol. Desta vez não foi tão assustador, mas foi um segundo lugar.

– Ela é minha. – O calor do corpo de Jess estava nas minhas costas.

– Felicity? – Noelle ofegou.

Nenhuma maneira da PO. Eu quase tinha entrado em um ataque verbal com a irmã de Jess?

– Oi, mamãe – disse Felicity.

PO.

Noelle soltou um ruído estrangulado e abraçou a filha. Pela primeira vez, o rosto da cadela da Felicity se suavizou e ela parecia genuinamente feliz em abraçar sua mãe.

Elas se abraçaram por um minuto até que Noelle se afastou, enxugando as lágrimas de ambos os olhos, o sorriso no rosto dela se esticava.

Eu estava feliz por Noelle. Depois de anos de espera, ela finalmente conseguiu abraçar sua filha.

Eu me aproximei e dei um pequeno aperto em Rowen com a mão.

Silas não disse outra palavra. Ele simplesmente se virou e foi embora. Obviamente ele não era fã da irmã de Jess. Mas eu senti que havia uma história lá. Algo tinha acontecido entre aqueles dois e eu suspeitava que o que quer que fosse, envolvia Wes.

– Há uma razão pela qual você não nos disse que viria hoje? Por que nós não vimos você em quatorze malditos anos e você não nos deixa saber que você está na cidade? Então quando nós encontramos você, você está sendo uma vadia para as minhas garotas? – Jess perguntou.

Ele deve ter ouvido muito mais do que eu pensava inicialmente, porque ele não estava feliz.

– Bem, olá para você também, irmão mais velho.

– Lissy – Jess advertiu em seu tom ameaçador.

Se ele tivesse falado comigo com aquela voz, eu teria dito a ele qualquer coisa que ele quisesse saber. Mas não Felicity. Ela apenas ficou ali, com o rosto em branco quando sua advertência passou, a deixando completamente inalterada. Talvez ela não estivesse com medo porque ela tinha crescido com ele. Talvez eu me acostumaria com esse tom também e um dia eu estaria imune.

Felicity se voltou para Noelle, tomando as próprias mãos da mãe, novamente amolecendo suas características antes de falar.

– Eu estarei aqui até o ano novo, mãe. Eu voei no último minuto esta manhã, mas eu consegui algumas semanas fora do trabalho – disse ela.

– Você vai ficar em casa comigo? – Noelle perguntou esperançosa.

–O motel tinha um quarto. Vou me registrar e ficar lá. Não é que eu não queira ver você logo. Eu só não queria atrapalhar você durante as férias e lhe dar trabalho extra por você ter um convidado. Mas estou planejando passar com você todos os dias. Ok?

– Oh... Ok, – Noelle disse. Ela baixou a cabeça e olhou para o chão por alguns momentos, ainda segurando as mãos de Felicity. Então ela olhou para mim com olhos preocupados. – Oh, ah, Gigi, sobre o Natal... – Noelle começou, mas parou.

Nós estávamos tendo um grande jantar de Natal na fazenda em três dias. Muito parecido com o de Ação de Graças, ia ser eu, Jess, Rowen e Noelle.

– Vocês duas são bem-vindas para vir para o dia – eu disse. – Eu já fiz as compras e teremos comida suficiente para um exército.

Eu me afastei de Jess, indo em direção a Noelle e Felicity. Estendendo a mão, eu me apresentei à irmã de Jess.

– Olá, eu sou Gigi. Acho que começamos com o pé errado. Talvez devêssemos começar de novo? – Esperava que ela fosse agradável, se não fosse por mim ou por Jess, pelo menos por sua mãe.

Ela inclinou a cabeça para baixo em direção à minha mão com uma pequena careta nos lábios. Eu pensei por um segundo que ela iria rejeitar minha oferta de paz, mas então seus dedos com a manicure perfeita tocaram os meus para um leve cumprimento.

– Felicity. Prazer. – Não foi dito gentilmente, mas certamente era uma melhoria.

– Esta é a minha filha, Rowen – eu disse, apresentando Roe, que agora estava agarrada a perna de Jess.

– Hmm – disse Felicity, inclinando a cabeça na direção de Rowen.

– Lissy – disse Jess. – Porra. Você pode tirar esses óculos? Caso você não tenha notado, estamos dentro.

– Jess! Olha a língua – eu disse.

– Relaxe, Geórgia. Roe sabe que há palavras que ela não pode dizer. ‘Porra’ sendo uma delas. Certo, Pequena? – Ele perguntou a ela.

– Certo – ela confirmou com um único aceno de cabeça.

Eu joguei minhas mãos no ar, murmurando –tanto faz –.

– Lissy – Jess começou, mas ela o interrompeu balançando a cabeça e inclinando o queixo para o chão.

– Hoje não, Jess. Por favor – ela implorou baixinho.

Ela levantou a cabeça e tirou os óculos de sol do rosto e colocou nos cabelos.

Eu estava certa, os óculos de sol escondiam seus olhos. Eles estavam vermelhos brilhantes e rodeados com círculos roxos profundos por baixo. Felicity não tinha derramado algumas lágrimas por Wes, ela tinha chorado um rio.

Jess ficou tenso e recuou de encher sua irmã.

– Ok. Hoje não. Mas vamos esperar por você no Natal. Se você quiser me encontrar antes então, me ligue, – ele disse.

Ela deslizou os óculos de volta para o rosto.

– Ok. Eu ia fazer umas compras amanhã. Andar pelo centro e ver o que há de novo. Talvez pudéssemos nos encontrar para o almoço?

– Meio dia. Encontro você no café.

– Bem. Agora, se me der licença, preciso ir e prestar meus respeitos a Jack e Annie.

Ela abraçou Noelle uma última vez e saiu do nosso amontoado, diretamente em direção aos pais de Wes.

Quando Felicity se aproximou, Annie começou a chorar e correu para abraçá-la. Felicity ficou parada rigidamente enquanto Annie soluçava em sua camisa de seda preta. Jack se aproximou das mulheres e jogou os braços em volta de ambas. O afeto dele parecia relaxar Felicity um pouco e ela passou a mão em volta da cintura dele e apoiou a cabeça em seu ombro.

Um caroço formou na parte de trás da minha garganta. Observá-los juntos foi comovente.

Jess os observou por um minuto e depois se abaixou para levantar Rowen em seu quadril. Agarrando minha mão, ele disse: –Hora de levar minhas garotas para casa – e nos guiou para fora.

– Vamos fazer algo divertido – sugeri na volta para casa depois de termos deixado Noelle

– Hoje? – Jess perguntou.

– Sim. Hoje. Depois do funeral da mamãe, levei Rowen para um carrossel e nós andamos por horas. E depois que o Ben morreu, nos dirigimos para um parque de diversões e passamos o dia na montanha russa.

– Ok. Como o que? – Jess perguntou.

– Que tal trenó?

– Escorregar na neve! – Rowen gritou.

Eu comecei a rir. Seria trenó.

Uma hora depois, nós estávamos agasalhados e nos divertindo muito, a tristeza de mais cedo praticamente, desaparecendo.

– Você pode ir comigo desta vez, mamãe? – Rowen perguntou.

– Sim! – Eu disse.

Estávamos de trenó no pé das montanhas atrás da casa da fazenda.

A colina que Jess nos encontrou não era muito grande, mas para Roe e seu trenó de plástico roxo, estava bom. Ela foi agasalhada com tantas camadas que ela mal podia gingar seu caminho para subir esta colina como estava. Até agora, Jess carregou seu trenó até o morro e desceu com ela enquanto eu estava no fundo e tirando fotos.

Agora era a minha vez.

Roe e eu subimos a colina de mãos dadas. No topo, ela prontamente colocou seu pequeno traseiro no trenó enquanto eu manobrava atrás dela e esticava minhas pernas ao redor de seus lados.

– Pronta? – Eu perguntei.

– Sim! Vamos! – Ela aplaudiu e começou a balançar seu corpo, tentando passar o trenó da beirada. Eu plantei minha mão enluvada na neve e nos dei um solavanco.

Nós voamos colina abaixo. A neve fofa voou e explodiu em nossos rostos. Roe saltou no ar sempre que nos deparamos com um solavanco. Quando passamos por Jess no final, eu coloquei meus pés e nos desaceleramos. Então eu agarrei Roe e nos derrubei de lado, rindo e fazendo cócegas nela enquanto rolamos na neve.

Sem fôlego, deitei de costas e olhei para o céu azul e ensolarado.

O inverno em Montana era maravilhoso. Frio, mas majestoso. Tudo brilhava como se todo mundo estivesse coberto de glitter. E era brilhante, quase ofuscante.

Eu temia que os invernos fossem frios e deprimentes, que, para a melhor metade do ano, ficássemos presas dentro de meias de lã e nos aconchegássemos sob cobertores. Não que isso não era frio. Isso era. Mas a luz do sol fez parecer mais quente do que era, e enquanto não era uma nevasca, Rowen e eu poderíamos passar muito tempo fora neste inverno curtindo o ar fresco.

– Você está viva? – Jess perguntou, de pé em cima de mim para sombrear meu rosto.

– Sim. Como você está?

– Eu estou bem. – Ele sorriu.

Eu sorri de volta antes de virar para Roe no chão ao meu lado. – Vamos novamente.


Capítulo Vinte


Quando meu despertador tocou às seis horas, Jess rolou para longe de mim e enterrou seu rosto nos travesseiros.

– Acorde – eu pedi, beijando o espaço entre as omoplatas.

– Geórgia, você não precisa da minha ajuda para colocar a costela no forno. – Ele bocejou.

– Não preciso colocar por mais uma hora. Mas precisamos nos levantar para que possamos acordar Roe e abrir os presentes.

– O que? Não. Ela pode vir nos acordar, – ele disse no travesseiro.

– Jess, esta é a nossa tradição.

– Nova tradição. Nós dormimos no Natal.

– Até a minha mãe morrer, não me lembro de um único Natal, mesmo quando eu estava na faculdade, que ela não me acordou cedo e me arrastou para fora da cama para começar a abrir presentes. E eu amei isso. Eu adorei tanto que sempre fiz o mesmo por Rowen –, eu disse.

Ele esperou cerca de dez segundos antes de atirar as pernas para o lado da cama e se virar. Então ele me agarrou sob minhas axilas, me puxando para cima, então eu estava ajoelhada na cama.

– Você vai acordá-la, eu vou começar o café.

Ele beijou minha testa e foi para o banheiro. Horas depois, xícara de café na mão, eu estava cercada por uma montanha de papel de embrulho amassados e caixas abertas. Jess e eu estávamos sentados no chão do escritório e tinha acabado de assistir minha menina abrir seus presentes de Natal. Ela tinha gritado com prazer a cada vez que ela descobriu o que estava sob o papel. Então ela pegaria seu presente, abraçaria e daria as boas-vindas para a casa dela.

Ela era hilária. Minhas bochechas doem de sorrir.

Não importa o que aconteceria o resto do dia, eu sabia que este Natal na fazenda seria o meu segundo melhor Natal de todos os tempos - sendo que o primeiro foi o último Natal com minha mãe, que também foi minha primeira vez com Rowen.

Jess estragara completamente Roe com um monte de presentes menores e seu item mais caro, um novo iPad. Ela ficou tão feliz quando abriu que se jogou nos braços de Jess e o beijou pelo menos vinte vezes na bochecha. Ele começou a fazer cócegas nela e eles acabaram rindo juntos, desabaram no chão no meio da montanha de papel.

Eu tinha tirado uma foto rápida e a menos que estivesse desfocada, ela estava subindo na sala de estar ao lado da foto de mamãe e Rowen na manhã de Natal.

– Hora de começar a guardar seus presentes e então precisamos nos trocar, menina – Eu disse a Roe.

– Tudo bem – ela concordou.

– Eu vou tomar um banho, então vou para casa e pegar algumas coisas – Jess disse.

– Não! – Rowen gritou e se agarrou a uma das pernas de Jess.

– Não vá embora.

– Relaxe, estou voltando Pequena. Eu tenho mais alguns presentes escondidos em casa que eu preciso trazer.

Ela pulou de alegria com a menção de mais presentes.

Mas eu não estava animada. Eu estava enjoada. Minha pele estava fria e minhas mãos estavam ficando úmidas. A sensação veio de repente e começou quando Jess tinha dito a palavra ‘casa’.

Eu odiava que ele chamasse aquela casa na cidade de sua casa. Ele estava errado. Sua casa era aqui na fazenda. Conosco.

– Rowen, você pode por favor começar a levar seus presentes para cima? – Eu murmurei, mas minha voz soou fraca e chiada.

Ela concordou e empilhou seus pequenos braços cheios de coisas novas, bamboleando seu caminho em direção a porta e subindo as escadas.

– O que há de errado? – Jess perguntou.

– Esta é a sua casa – eu disse na minha voz estranha.

– O quê? – Ele perguntou.

Eu respirei fundo e encontrei minha voz regular. – Esta é a sua casa.

Ele me encarou por alguns instantes, imóvel, confuso com minha declaração ou ainda não está pronto para dar um grande passo em nosso relacionamento. Eu esperava que fosse o primeiro porque eu estava cem por cento pronta para Jess morar com a gente. Ele praticamente já morava.

Mas eu não queria assustá-lo, não no Natal, então comecei a recuar.

– Quero dizer... Eu quero que você pense nisso como sua casa. E se algum dia você quiser se mudar oficialmente, bem... Isso seria bom. Mas se você não está pronto para isso, se é também cedo entendo completamente. Nós podemos apenas...

Jess parou meu divagar batendo seus lábios nos meus e imediatamente tomando vantagem da minha boca aberta. Suas mãos emolduraram meu rosto e a doença desapareceu do meu corpo. Eu estava me sentindo muito bem.

Eu estava me sentindo incrível.

Ele queria morar aqui conosco e fazer desta sua casa. Eu estava tão feliz e aliviada que eu me agarrei aos seus ombros com as mãos e me encostei em seu grande corpo, inclinando minha cabeça para que pudéssemos nos fundir.

Ele me beijou completamente com paixão e amor, me dizendo sem palavras o quanto meu pedido para esta casa ser sua casa significava para ele. Eu derramei tanto sentimento e emoção em nosso beijo como pude. Meu corpo começou a formigar todo e eu esqueci de respirar.

Jess se afastou da minha boca quando Rowen entrou na sala e perguntou: – Vocês estão se beijando? Novamente?

– Sim – dissemos simultaneamente, nossos rostos pressionados juntos, sorrindo.

– Vocês com certeza beijam muito. Por que os adultos se beijam nos lábios? Você gosta de beijar? Como você respira? Jess conseguiu cuspir em você, mamãe?

Enquanto ela tagarelava, ela coletou mais presentes para levar para o andar de cima. Eu respirei fundo algumas vezes entre meus risos, mas mantive o enorme sorriso no meu rosto.

– Eu entendo que você vai se mudar?

– Sim – disse Jess.

– Ótimo.

– Vou tomar meu banho e ir para a cidade. Talvez pegue o resto das minhas roupas enquanto eu estou lá. Amanhã podemos limpar a garagem. Não há muito mais que eu quero. Está tudo bem para você? – Ele perguntou.

– Não.

Ele inclinou a cabeça e as sobrancelhas se juntaram.

– Eu quero sua lavadora e secadora – eu disse.

Ele sorriu. – Algo mais?

– Meu presente de Natal. – Eu estendi minha mão com a palma para cima. – Passa para cá, xerife.

– Quarto. Gaveta na minha mesa de cabeceira – disse ele.

– O seu est...

– Em cima do seu armário de especiarias.

– O que você está fazendo com meus temper... deixa para lá. Desde que você sabe onde você está, você pode ir buscá-los sozinho. Isso vai me salvar de subir a escada.

Eu corri para o andar de cima enquanto ele caminhava até a cozinha. Sentada na beira da cama, eu abri a gaveta.

Dentro havia uma caixa fina, comprida e lindamente embrulhada. O papel de folha de ouro foi amarrado com um arco intrincado feito de fios prateados, dourados e brancos.

Eu cuidadosamente puxei os fios e o papel. Quando eu olhei dentro da caixa, meus olhos turvaram com lágrimas.

– Você gosta deles? – Jess perguntou atrás de mim.

Eu me virei e o vi na porta.

– Merda. – Ao ver minhas lágrimas, ele correu para o meu lado.

– Eles são lindos, Jess. Adoro eles. Obrigada.

Dentro da caixa havia um colar e brincos que eu usaria o tempo todo. O colar estava em uma fina corrente de ouro branco. Bem no meio estava um único diamante solitário, a joia da menos de um quilate. Não muito grande e ostensivo, mas certamente não é um chip. Quando eu o colocar, o diamante ficará perfeitamente na base da minha garganta.

Era exatamente o tipo de colar que eu escolheria para mim. Eu poderia usar para trabalhar e não me preocupar com isso ficar muito baixo e ficar no caminho.

Os brincos eram dois brincos de diamante solitário. As pedras eram ligeiramente menores que o diamante do colar e, a menos que a ocasião pedisse um par de brincos maior, eu usaria quase todos os dias também. Mesmo nos dias do pijama.

– Jess, eles são demais – eu disse.

– Não muito em tudo.

– Não foram baratos. Mais tudo que você comprou para Roe... – Eu parei mentalmente contando a quantia que ele gastou conosco no Natal.

– Eu tenho esperado trinta e quatro anos para encontrar a mulher certa. Finalmente fiz. Agora eu vou mimar ela, então apenas se acostume com isso.

– Por quê? – Eu sussurrei.

– Porque o que?

–Por que eu? Por que você me escolheu como sua garota? Quero dizer, sou apenas eu e você... Bem... Você é perfeito.

Ele respirou fundo e fechou os olhos por alguns instantes. Quando ele os abriu, seus olhos haviam mudado. Eles não eram mais suaves e gentis. Eles eram firmes e determinado.

– Eu não tenho certeza de onde você tirou isso e colocou em sua cabeça que eu sou bom demais para você. Porque do jeito que eu vejo, é o contrário. E isso acaba hoje. Não mais.

As mãos de Jess emolduraram meu rosto, seus polegares acariciaram meu queixo gentilmente.

– Querida, você tem o maior coração do que qualquer pessoa que eu já conheci. Eu nunca conheci uma alma que teria tomado conta de um homem idoso apenas para que ele não ficasse sozinho. Alguém precisa de ajuda, a primeira coisa que você pensa é em como você pode fazer isso. Cristo, você se ofereceu para abrigar um estranho com você, então ele teria um lugar para morar depois que sua casa foi incendiada. E você também criou a garotinha mais preciosa do planeta. Quando você olha para ela, você vê beleza, não é?

– Bem... Claro. Ela é minha filha. – Ele balançou a cabeça algumas vezes.

– Ela é você – disse ele. – Em todos os sentidos, ela é você. Quando você olha para ela e sente aquele orgulho no peito? Quando você olha para o rosto dela e em seus olhos e faz seu coração doer porque ela é tão bonita? Geórgia, é assim que eu sinto quando olho para você.

Suas palavras, descrevendo exatamente como eu me sentia sobre a minha filha, me emocionaram tanto que eu comecei a chorar de novo, completamente incapaz de parar a emoção.

Passando os dedos nas lágrimas enquanto elas caíram, ele sussurrou: – Eu amo tudo em você. Como você não recua durante uma discussão. Como você cuida de Rowen. Cuida de mim. Que você não se importa de incluir minha mãe. Como você convida minha irmã para o Natal minutos depois dela te tratar mal. Então me deixa te comprar o que diabos eu quero no Natal, aniversários ou apenas quando eu quiser. Ok?

Eu balancei a cabeça e funguei.

– Ok.

As palavras de Jess penetraram profundamente em meu coração.

Nós ficamos juntos por meses e eu sempre duvidei de nós. Mas nós fizemos sentido. Eu achava que ele era perfeito. Ele era. Mas o que suas palavras finalmente me fizeram perceber foi que ele achava que eu era perfeita também. Nós éramos perfeitos juntos.

Muito perfeitos.

Eu funguei uma última vez e torci minha cabeça para fora de suas mãos para pegar meu colar. Depois que eu coloquei, eu prendi meus brincos.

Ele levantou um dedo para a joia na minha garganta e murmurou: – Beleza verdadeira.

Minha garganta se apertou de novo e se eu não mudasse de assunto, começaria a chorar como um bebê novamente. E eu não queria mais chorar. Não no Natal.

– Eu não sabia que passaríamos um Natal importante, querido. Eu não te dei muito – eu disse.

Comparado com as joias, o que eu tinha comprado para ele era amendoim. Eu comprei para ele apenas um par de belas luvas de couro, uma nova camisa de flanela xadrez e uma foto emoldurada dele e Rowen para o trabalho. Apenas pequenas coisas.

Ele riu por um segundo, mas depois cresceu e cresceu até que ele estava gargalhando. Seu som alto e estrondoso encheu o quarto.

– O que? O que é engraçado?

Ele balançou a cabeça e estendeu um dedo para tocar a ponta do meu nariz.

– Você me deu uma casa hoje. Eu diria que sou eu quem tem muito a fazer.

– Oh – eu murmurei.

– Sim, 'oh'.

Eu não tinha pensado sobre a fazenda como um presente, mas eu podia ver porque ele iria. – Eu amo você também, você sabe? – eu sussurrei.

– Sim. Eu sei – ele sussurrou de volta.


****

Jess


– Obrigado por levar mamãe para casa – eu disse à minha irmã enquanto estávamos juntos na varanda de casa.

Nós estávamos esperando do lado de fora enquanto mamãe pegava suas coisas e se despedia da Geórgia e Rowen.

Geórgia nos preparou um jantar de Natal incrível, o primeiro Natal em casa que eu já tive, uma vez que mamãe e eu normalmente íamos a uma churrascaria local. Depois da nossa refeição, sentamos e interagimos. Nós tínhamos dado presentes a mamãe e Geórgia tinha encontrado tempo para comprar algo para Lissy também.

Eu fiquei feliz que Lissy deixou cair sua atitude de vadia e foi tão legal para a Geórgia e Rowen esta noite. Minha irmã agia terrivelmente às vezes, mas ela tinha um bom coração. Eu não tinha certeza porque ela colocou essa fachada. Talvez tenha sido por causa de papai. Ou Wes. Ela nunca conversou comigo sobre isso, então eu não tinha ideia.

– Sem problemas. Obrigada por nos receber. Foi legal. Muito bom – disse Felicity.

– Melhor Natal que eu já tive.

– Você a ama? – Ela perguntou.

– Com todo meu coração.

– Estou feliz por você, Jess. Eu gosto dela. E da garota.

– Você ainda está trabalhando em casa? – Eu perguntei, mudando de assunto.

– Uh... Sim. Por quê?

– Você poderia trabalhar em Prescott. Tem uma casa na cidade que é sua se você quiser – eu disse.

A única coisa que poderia tornar meu dia melhor seria convencer Lissy a voltar para casa. Eu não tinha percebido o quanto sentia falta dela nos últimos 14 anos. Mas tendo ela de volta, especialmente agora que eu encontrei Geórgia e Rowen, seria como ter os pedaços do meu coração por perto. Minha família.

– Tem sido estranho estar de volta aqui. Eu acho... Bem, eu acho que pensei que seria diferente. Não familiar. Que as coisas teriam mudado tanto que eu não me sentiria em casa. E há algumas coisas novas, mas na maior parte... Eu não sei. Ainda parece como costumava parecer –, disse ela.

– Pense sobre isso? – Eu perguntei.

– Eu vou. Mas se eu decidir voltar, não vou usar sua casa. Mas obrigada.

– Não é como se eu estivesse morando lá, Lissy.

– Quando você se mudou para cá? – Ela perguntou.

– Hoje. Eu vou pegar minhas últimas coisas amanhã.

– Huh – ela respondeu e começou a rir.

– O que?

– Aposto que o velho Ben Coppersmith deu uma olhada nela e sabia que ela seria perfeita para você – Felicity disse, ainda rindo e olhando para Geórgia através das janelas.

Caralho.

Eu não tinha pensado nisso assim, mas ela provavelmente estava certa. Cristo, eu ainda me lembro de Ben me perguntando de vez em quando se eu já conheci alguém.

– Venda sua casa, Jess. Coloque o dinheiro para o fundo da faculdade da criança. Tem muita coisa que eu teria que decidir antes de voltar. Muita história para superar. Então vamos ver. Mas não tenha esperanças. Ok? Eu tenho uma vida em Seattle. Eu gosto de lá.

– Ok. Ficarei feliz contanto que você considere isso.

– Eu prometo.

Nossa conversa terminou quando mamãe passou pela porta da frente. Todos disseram adeus e eu ajudei a levar presentes e uma enorme caixa de sobras de comida para o carro alugado de Felicity.

Voltando até os degraus, eu puxei Geórgia apertado para o meu lado enquanto Rowen descansava no alto do meu quadril. Juntos, nós três nos despedimos de minha mãe e irmã.

Então nós entramos para desfrutar de algum tempo juntos. Só nós três. Minha família na minha casa.

Sem dúvida, foi o melhor Natal que eu já tive.


****

Gigi


– Olá – eu disse ao telefone.

– Gigi?

– Oi! – Eu disse para Maisy. – Como você está? Você teve um bom Natal?

Eu estava contente que ela ligou. Eu não tinha conversado com Maisy desde antes do funeral de Wes. Eu estava sentindo falta de seu sorriso brilhante e ensolarado que eu estava ansiosa para ver todos os dias.

– Uh... não. Na verdade, não. Você acha que eu poderia ir até aí? – Ela perguntou.

A voz de Maisy era fraca, sem a habitual exuberância.

– Certo. Nós não vamos fazer muito hoje, então venha quando quiser. Jess e Rowen saíram a pouco tempo atrás para ir a sua casa na cidade. Ele está oficialmente se mudando, então ele foi pegar uma carga de coisas.

– Oh, isso é ótimo. Eu acho que se estiver tudo bem, eu vou ir agora? – Ela disse.

Eu esperava que ela fosse gritar ao telefone. Ela estava torcendo para Jess e eu desde o começo. O fato de que ele estava se mudando para a fazenda deveria tê-la deixado em uma histeria alegre.

Algo definitivamente não estava certo no mundo de Maisy Holt.

Maisy chegou cinco minutos depois de seu telefonema e até agora ainda não tinha me olhado nos olhos. Ela evitou minha tentativa de lhe dar um abraço e continuou falando com seus pés.

– Você gostaria de um café? – Eu perguntei enquanto ela se sentava na sala em uma enorme cadeira.

– Sim, por favor – disse ela. – Não. Espera. Sem café. Eu não quero café.

– Ah ok. Você gostaria de um pouco de água? – Perguntei.

– Não. Eu estou bem – disse ela. Ainda sem contato visual.

Sentando-me no sofá ao lado dela, eu enrolei meus pés debaixo de mim e tomei um longo gole do meu café. – Como foi seu natal? Você parece um pouco... distante. Está tudo bem com sua família?

– Sim. Eles estão bem, – ela murmurou.

Eu calmamente bebi meu café. Eu percebi que quando ela estivesse pronta, ela me diria o que estava acontecendo. Mas depois de cinco minutos de silêncio bastante desconfortável, o ar ao nosso redor começou a ficar pesado. Eu não aguentava mais, então eu quebrei o silêncio.

– Maisy? O que está errado?

Ela finalmente olhou para cima e seus grandes olhos se encheram de lágrimas.

– Não. Eu não estou bem. Oh Deus, Gigi. Este foi apenas o pior Natal da minha vida! – ela chorou.

A barragem que continha suas palavras quebrou e sua explicação veio à tona.

– Então você sabe como Everett estava super distante antes da festa do suéter feio, mas depois foi ótimo naquela noite?

– Sim. Parecia que vocês dois estavam de volta ao normal – eu disse.

– Estávamos. Até o dia seguinte. Ele me expulsou de sua casa na manhã seguinte. Ele na verdade, me acordou e disse que eu tinha que sair. Então saí, pensando que estava acabado. Quem precisa de um namorado que te expulsa? Jess nunca faria isso com você. Certo?

– Certo – eu disse.

Eu tinha assumido que as coisas estavam indo bem com Everett. Aparentemente não.

E Maisy estava certa. Jess nunca iria me chutar para fora de sua cama e ela não precisava de um namorado que achava isso aceitável.

– Sim. Então eu decidi terminar com ele. Eu simplesmente não aguentei todo o drama, você sabe? Estava me drenando. Eu estava exausta e cansada e totalmente me sentindo doente com o estúpido Everett Carlson. Então eu voltei naquela noite para dar um pontapé na sua bunda. Mas então ele se desculpou. Disse que ele apenas tinha muita coisa em mente. Voltamos ao normal e fiquei super feliz. Eu até o convidei para o Natal na casa da minha família.

– Bem, isso é bom – eu disse.

– Também achei. Mas ele estragou tudo!

Maisy começou a soluçar de novo. Eu sabia onde isso estava indo. – Desculpe. – Ela fungou e enxugou algumas lágrimas.

– Tudo bem, querida. Você leva o tempo que precisar e chora o quanto quiser.

– Então Everett decidiu nos levar para a casa dos meus pais. Ele disse que queria seu carro no caso do hospital ligasse. Bem. Nada demais. Se ele fosse chamado, eu poderia ligar para um dos meus irmãos para me levar para casa. Então ele me pegou e durante toda a viagem no carro, ele não disse uma palavra. Nem uma palavra. Nem olá. Nem mesmo Feliz Natal.

– O que? Isso é estranho.

– Eu sei, não é?! Quando chegamos na casa de meus pais, perguntei se ele estava bem e ele nem sequer respondeu. Ele apenas saiu do carro e entrou. Nenhuma palavra! Então eu estou, tipo, enlouquecendo.

– Ele ficou assim o tempo todo? – Perguntei.

– Ha – ela bufou. – Não. Porque três minutos depois que chegamos lá, ele me largou. Na frente da minha família!

– De jeito nenhum – disse enquanto meus olhos saiam das orbitas.

Everett Carlson estava agora no topo da minha lista de idiotas. Bem, não o topo, mas perto. Depois de todo esse tempo, o bom médico de quem eu gostava e respeitava acabou por ser um idiota. Um imenso PO imbecil.

–Sim, desse jeito. – Suas lágrimas tinham secado e ela estava se movendo para o estágio de raiva após a separação. – Ele me disse que simplesmente não funcionamos. Eu sou muito jovem e ele está muito ocupado tentando estabelecer sua carreira aqui em Prescott. E ele disse que eu tinha muito a fazer para crescer. Que ele não estava interessado em esperar o tempo passar enquanto eu amadurecia. Ah, e minha parte favorita. Que eu digo 'tipo' demais.

Droga.

Sim, Maisy era jovem, mas ele sabia disso quando começou a namorar com ela. Dizendo que ela precisava crescer ultrapassou os limites. Everett deveria ter guardado isso para si mesmo.

– Você acredita nisso? Ele foi muito maricas para terminar antes das férias, mas ele encontra coragem no Natal? Quem faz isso? – Ela me perguntou retoricamente.

– Eu sinto muito – eu disse.

Ela ficava sentada mais ereta enquanto ficava mais furiosa e irritada. Mas agora que a história dela acabou, seus ombros caíram e ela voltou para se encostar.

– Ele partiu logo depois disso. O que provavelmente foi bom porque acho que Beau estava pronto para bater nele. Eu só... eu não sei, foi tão humilhante.

– Eu não acho que você precise se sentir envergonhada, Maisy. Isso foi tudo Everett.

– Quero dizer, todo esse tempo ele esteve distante. Por que ele não poderia simplesmente terminar e dizer que não queria namorar?

– Eu não sei – eu disse. – Mas, a longo prazo, é bom que tenha acabado. Você não quer estar com alguém que iria tratá-la assim.

Maisy sentou-se em silêncio por um segundo antes de irromper em mais lágrimas, deixando cair o rosto nas mãos dela.

Levantei do sofá e me sentei na beira da mesa de café, me inclinando para frente acariciando seu ombro.

– Está bem. Você vai superar ele. Você só precisa dar um tempo.

– Estou grávida – ela sussurrou entre soluços.

PO.

Bem, isso foi inesperado.

Agora a reação dela estava fazendo mais sentido. Os soluços e como ela não olhou em meus olhos quando ela chegou. Isso não era apenas sobre o rompimento. Ela estava lidando com problemas de importância maior.

– Você tem certeza? – Eu perguntei.

– Sim – ela disse.

– O que eu vou fazer? Como vou contar para ele? Estou no controle de natalidade. Eu tomo a injeção religiosamente a cada três meses. Eu não planejei isso. E se ele me acusar de fazer isso de propósito?

– Ele é um médico, Maisy. Ele saberá que o controle de natalidade nem sempre funciona – eu disse.

– E minha família? Eles ficarão tão desapontados comigo. Tenho apenas vinte quatro anos. Eles tinham planos para mim. Eu tinha planos para mim. Agora eles estão arruinados.

Eu puxei suas mãos nas minhas e olhei em seus olhos tristes. Não muito tempo atrás, eu tinha estado em seu lugar, então eu lhe ofereci o melhor conselho que pude.

– Um dia de cada vez. Isso é tudo que você pode fazer. Você pode estar certa e sua família pode ficar desapontada, mas não durará para sempre. Eles virão e estarão lá para te apoiar. E seus planos vão mudar, mas eles não precisam terminar. Você só tem que fazer alguns ajustes – eu disse.

– Obrigada, Gigi.

– A qualquer hora, querida.

– Eu não sei como dizer a Everett – disse ela.

– Quanto antes melhor. Mas se eu pudesse fazer uma recomendação, faça isso em particular. Dizer ao pai de Rowen em um restaurante não funcionou tão bem para mim.

– Tudo bem – disse ela.

E ela ficaria bem. Um dia, ela perceberia que isso não era o fim de sua vida. Isto era apenas o começo de uma vida diferente.


Capítulo Vinte e Um


– A máquina vai para o lixo – Jess disse enquanto entrava na cozinha.

Era sexta e véspera de ano novo. Estávamos sendo anfitriões de uma festa do pijama especial na fazenda para a filha de Bryant e três das amigas de Rowen de Quail Hollow. No momento, cinco garotinhas, todas com seis anos de idade ou mais novas, estavam no andar de cima, no quarto de Rowen, cantando hinos das princesas da Disney em sua máquina de karaokê.

Como eu havia prometido enquanto estava no hospital após o incidente do celeiro, comprei a Roe sua máquina de cantar. Não foi surpresa que ela tenha ficado encantada por tê-la. Ela usou algumas vezes, mas depois guardou em seu armário. Eu acho que não era muito divertido cantar karaokê sozinha. E desde que foi posta de lado, Jess não tinha ouvido ainda.

Hoje à noite, as meninas estavam usando continuamente pelas últimas duas horas e meia e ele ouviu o suficiente.

Eu estava na cozinha, fazendo para as meninas chocolate quente com marshmallows e alguns lanches. Já passava da hora normal da cama, mas de que serventia tem festa do pijama se você tivesse de ir dormir na hora certa?

Depois do chocolate e do lanche, as meninas iam brincar de salão de beleza na sala de jantar. Eu coloquei uma pilha de sombras e glitter para os cabelos delas.

– Se você jogar fora a máquina de karaokê, Rowen pode insistir para você se mudar para a garagem, – eu disse a Jess.

– Não é um problema. Não há a porra de karaokê lá fora.

– Só me deixe fazer esses lanches e vou trazê-las aqui, ok? Sem mais cantoria – eu disse.

– Tudo bem. – Ele foi até a geladeira e tirou uma cerveja.

Meus olhos se arregalaram quando sua garganta engoliu a garrafa inteira em quatro enormes goles. Quando a garrafa foi esvaziada, ele jogou no lixo e pegou outra. Desta vez, só levou três goles para secá-la.

– Uh... você está bem? – Perguntei.

Ele soltou um enorme arroto. Foi alto e longo. Eu nunca o ouvi fazer isso antes, então meus olhos ficaram ainda maiores e meu queixo caiu.

– Melhor – disse ele.

Seu telefone tocou antes que eu pudesse dizer qualquer coisa.

– Lissy – ele respondeu, parecendo cada vez mais irritado quanto mais ouvia a sua irmã.

– Tudo bem – disse ele antes de desligar.

– Lissy e mamãe estão vindo. Lissy queria dizer adeus antes de sair domingo e pensei que vocês meninas poderiam beber um pouco de champanhe – Jess disse, não soando feliz que sua família estava chegando.

– Uh... você disse a ela que há cinco meninas aqui? Ela não parece realmente... gostar muito de crianças.

– Então eu acho que elas não vão ficar por muito tempo.

– Jess! Isso não é legal.

Ele resmungou algo baixinho e saiu da cozinha.

Quinze minutos depois, Felicity e Noelle se juntaram a nós. Felicity deu uma olhada na mesa da sala de jantar cheia de meninas e imediatamente fui abrir o champanhe. Muito parecida com seu irmão, ela tomou seus dois primeiros copos sem hesitação. Noelle apenas sorriu para ela docilmente e observou as crianças brincarem.

Jess não estava à vista. Ele desapareceu logo após dizer olá à mãe e irmã.

Eu estava bebendo minha segunda taça de champanhe quando meu telefone tocou. Era Maisy.

Ela deve ter dito a Everett que estava grávida e estava ligando para me dar um resumo.

– Eu preciso atender a isso, desculpe – eu disse a Felicity e Noelle, indo para o escritório.

– Oi – eu respondi.

– Gigi? – Ela disse, chorando.

– Uh-oh. Eu estou supondo que você falou com Everett? – Eu perguntei.

– Sim. E foi horrível! – Soluçou ela.

– Você quer vir aqui e falar sobre isso?

– Você tem certeza? – Ela perguntou.

– Claro. Venha para cá. Mas vou avisá-la que estamos tendo uma festa do pijama com quatro das amigas de Rowen. E Noelle e Felicity também estão aqui – eu disse.

– Oh... bem, não tenho certeza...

– Venha para cá. Nós podemos conversar na cozinha. E talvez algum tempo de garotas faça você se sentir melhor.

Eu terminei nossa ligação e saí do escritório, colidindo com o peito de Jess. Eu não tinha certeza para onde ele estava indo, mas notei outra cerveja na mão.

– Oh... Oi querido. Maisy está chegando – eu disse.

– Tudo bem – ele murmurou e, em seguida, caminhou em volta de mim para desaparecer de novo, a garrafa virou para seus lábios.


****

– Ele foi tão clínico. Como se eu fosse uma paciente. Ele agiu como se não fosse mesmo seu bebê que nós estávamos falando. Como se ele não tivesse participação em sua concepção. Ele apenas sentou lá e calmamente me disse para pensar em fazer um aborto. Eu estava olhando para ele e nem o reconhecia – ela disse, de pé na ilha da cozinha.

– Sinto muito, Maisy. – Embora fosse muito melhor do que o modo como Nate Fletcher reagiu, ainda não foi ótimo.

– Você já fez isso? – Ela perguntou baixinho.

– Eu já fiz, o que? – Ela virou a cabeça em todas as direções para se certificar de que estávamos sozinhas.

– Pensou em fazer um aborto?

Eu estava fazendo uma xícara de chocolate, mas parei com a pergunta dela.

– Não, – eu disse. – Embora estivesse com medo e nervosa, sabia que queria meu bebê. Eu escolhi os nomes desde o início. Rowen se fosse uma garota, Coby se fosse um garoto. E depois disso, o bebê era real. Era o meu bebê com um nome. Então não, nunca pensei em aborto. Não foi uma opção para mim.

Ela ponderou o que eu havia dito por alguns momentos, depois sorriu. – Coby, eu gosto disso. Você se importaria se eu usar esse nome se o bebê for um menino?

Eu também sorri.

Sua vida nunca seria a mesma. Seria melhor depois que ela pular alguns obstáculos.

– De jeito nenhum – eu disse. – Coby Holt. Eu amo esse!

– Eu também – ela disse, seus olhos brilhando.

– Como você acha que vai funcionar? Com Everett? Se ele não quer nada comigo ou com o bebê, o que vai acontecer? Não é como se ele pudesse nos evitar. Nós moramos em Prescott.

– Essa é a pergunta de um milhão de dólares. Ele terá que aceitar isso. Ou então eu acho que ele não vai. O pai de Rowen abriu mão de todos os seus direitos parentais. Talvez Everett vá faça o mesmo. Nós apenas teremos que esperar e ver, – eu disse.

– Sim – ela murmurou.

– Mas não se preocupe muito com isso agora. Esta é uma grande novidade para ele. Não desista ainda. Vocês dois não funcionaram como casal, mas nunca se sabe. De algum tempo para ele refletir, ele pode reconsiderar. Ser um pai melhor do que um namorado.

– Sim – ela murmurou novamente.

– E você tem uma forte máquina de suporte. Não esqueça disso. Você tem uma ótima família, todos morando perto. E amigos. Eu. Farei o que puder para ajudá-la a passar através disso. Já estive no seu lugar. Não é fácil, mas vale a pena, – eu disse.

– Sim – ela disse novamente, desta vez soando mais confiante.

– Quando você vai dizer a sua família?

Ela respirou fundo. – Amanhã, eu acho.

– Boa ideia – eu disse.

– Melhor agora do que depois.

– Você disse a Jess? – Ela perguntou.

– Não. E eu não vou. Não até que você esteja bem com as pessoas sabendo.

– Você pode dizer a ele. Depois de amanhã, todo mundo que eu precisar contar pessoalmente saberá.

Eu voltei a misturar seu chocolate para que pudéssemos voltar para a sala de estar com Felicity e Noelle.

– Gigi? Você gosta do nome Mabel para uma garota?

Eu dei a ela um enorme sorriso largo. – Adoro.


****

Jess e eu estávamos finalmente na cama.

As garotas se desgastaram e caíram por volta da meia-noite. Elas estavam todas dormindo no chão da sala de estar em uma –cabana –. Eu fiz uma enorme cobertura sobre os moveis da sala de visitas com alguns lençóis e cobertores. Então no chão, nós empilhamos todos os cobertores e travesseiros extras que pude encontrar.

Elas sorriram e riram em suas camas improvisadas enquanto eu me sentava no escritório lendo, esperando até ouvir a última conversa delas para poder subir até Jess.

Ele finalmente emergiu de onde quer que estivesse se escondendo cerca de vinte minutos antes de sua irmã e mãe irem embora. Então ele subiu para escapar do bando de garotas.

Eu subi na cama ao lado dele quando ele desligou a luz.

– Feliz Ano Novo. – Eu deslizei firme em seu lado e joguei minha perna sobre a dele.

– Para você também, querida – disse ele, se inclinando para beijar minha testa.

– Onde você desapareceu esta noite? – Eu perguntei.

– Hã. Eu não vou dizer.

Eu ri em seu peito nu.

– Precisamos fazer um acordo, Sardenta. Sem mais festa do pijama de inverno. Faça somente quando não houver neve no chão para que eu possa sair e ir acampar. Evitar a tortura.

Minha risada continuou. – Eu posso fazer isso.

– E estamos colocando uma capacidade feminina máxima no lugar. Não mais do que uma proporção de quatro para um em relação entre mulheres e homens – disse ele. – Inclui crianças.

– Então, eu tenho algumas notícias de bebê – eu disse quando meu riso diminuiu. – Espero que você esteja animado. Eu estou.

Seu corpo ficou tenso, me fazendo tirar meu braço de seu torso e segurá-lo no ar.

– Você está grávida? – Ele perguntou.

– Huh? – Eu disse. – Ah não. Eu não. Maisy está grávida. E Everett terminou com ela no Natal. Então ele pediu a ela para fazer um aborto. Você acredita nisso?!

Ele não respondeu. Ele apenas olhou para o teto com a mandíbula cerrada.

Eu sabia que ele não era um fã de Everett, mas eu não achava que ele ficaria chateado. Eu coloco as duas mãos em seus peitorais e sacudo seu peito. – Jess? O que foi?

– Eu pensei que sua notícia de bebê era você me dizendo que estava grávida – disse ele.

– Ah... não. – Eu repassei o último minuto na minha cabeça.

Ele pensou que eu estava dizendo a ele que eu estava grávida e todo o seu corpo ficou tenso. Cada músculo. Ele não queria filhos? Eu já tinha Rowen, mas isso não significava que eu não tinha pensado em ter mais filhos um dia.

Ele era ótimo com Rowen e seria ótimo com um filho próprio. Eu não iria empurrar ele para ter filhos se ele não quisesse, mas eu ficaria desapontada. Eu tinha uma única criança e eu não queria isso para Roe.

– Você não quer filhos? – Eu perguntei.

– O que? Onde diabos você tirou isso?

– Bem, você ficou todo tenso. E você acabou de dizer que achava que era porque eu estava dizendo que estava grávida. Então... isso – eu disse, acenando com a mão no ar.

Ele suspirou e relaxou. – Eu fiquei tenso porque eu estava me segurando para não rolar em cima de você e comemorar. Se você estivesse tendo meu bebê, eu faria um trabalho sério para mostrar o quanto feliz que me faria. Mas não podemos fazer sexo esta noite porque há um tesouro de garotas no andar de baixo. Então eu fiquei tenso. E então você disse que não era você.

– Então você quer ter filhos? – Eu perguntei.

Ele levou os dedos até o meu rosto e os passou pelo meu queixo. Então a mão dele viajou pelo meu cabelo até a parte de trás do meu pescoço.

– Baby, do jeito que estamos indo eu já tenho uma criança. Ela está lá embaixo. E sim acrescentar um casal a mais para a nossa família é algo que eu com certeza quero fazer algum dia.

Meu coração inchou tanto que eu tinha certeza que ia explodir. Jess tinha dito muitas coisas maravilhosas para mim antes. Dizendo que eu tinha beleza verdadeira. Dizendo que ele me amava. Mas dizer que Rowen era sua filha superou todos as outras.

Era tudo.

– Eu te amo, Jess – era tudo que eu podia dizer quando um enorme sorriso se espalhou no meu rosto.

– Eu acho que você está bem com a ideia de ter mais alguns bebês? – Ele perguntou, sorrindo.

– Eu te amo, Jess – repeti. Eu definitivamente estava bem em ter alguns bebês de Jess.

– Pare de dizer isso, Geórgia. Acabei de te dizer que não posso te foder. Pare de me fazer querer.

Eu levantei minha mão e lhe dei uma saudação de dois dedos.

– É isso aí, xerife.

– Cristo, ela nunca escuta. Por que eu não poderia ter uma garota que me ouve? – Ele perguntou teto.

Eu desmoronei em seu peito e comecei a rir novamente.

– Também te amo, Sardenta – ele disse para o topo da minha cabeça.

E assim como as garotinhas acampadas na sala de estar, eu adormeci rindo e sorridente.


****

– Geórgia? – Jess chamou.

– Lavanderia!

Eu estava movendo uma carga de roupas da lavadora para a secadora, uma carga que levou a quantidade normal de tempo para lavar, agora que Jess tinha substituído a minha lavadora de roupas antiga com a melhor de sua casa. Eu estava ansiosa para voltar em quarenta e cinco minutos para uma carga seca de roupas ao invés de um monte úmida que precisava de outro ciclo.

Felicidade.

Ele virou na curva da cozinha.

– Acabei de receber uma ligação do meu corretor de imóveis. Tenho uma oferta na casa – disse ele.

– O que? Já? Isso é incrível! Faz apenas uma semana.

– Sim. Você conhece o cara cuja casa foi incendiada? É ele. Ele é o comprador – Jess disse. – O corretor de imóveis disse que conseguiu sua reivindicação de seguro. Não quer o incômodo de construir um lugar então ele só vai comprar. Ofereceu dinheiro para a casa, cinco mil a menos do que o preço que eu pedi, mas ele pode fechar este mês. Ele quer mobiliado também, então eu não tenho que vender todas as minhas coisas ou encontrar armazenamento. Ele vai ficar com tudo.

– Bem? O que você acha?

– Acho que seria idiota recusar – ele disse.

– E você não é um homem estúpido.

– Isso nos daria algum dinheiro extra. Eu estava pensando que poderíamos colocar uma adição fora do lado da casa. Expandir o escritório. Adicionar um quarto ou dois. Talvez outro banheiro.

– Não, Jess, esse é o seu dinheiro. Você deveria guardá-lo. Compre algo que você quer. Um novo barco ou, eu não sei, uma caminhonete melhor para transportar o barco que você já tem – eu disse.

Ele estreitou os olhos e franziu a testa. – Às vezes eu sinto vontade de bater na sua bunda.

Minha espinha se ergueu em linha reta. Uma palmada? Agora eu estava chateada. – O que diabos isso significa?

– Significa que você não me ouviu na semana passada no Natal. Ou ontem à noite na cama – disse ele.

– Oh, certo. Eu não te ouvi. Isso é engraçado porque eu me lembro completamente de cada uma das nossas conversas, Jess. Mas por favor, explique para mim novamente. Porque eu posso te dizer agora mesmo se você tentar levantar o dedo mindinho na direção da minha bunda, vou me certificar de que... bem, vou me certificar... – Eu gaguejei, tendo dificuldade em encontrar uma ameaça que transmitisse o quão sério eu falava.

– Sim? Você vai ter certeza de quê?

– Eu vou... Eu vou ter certeza que você tenha que comer sua própria comida podre, nojenta e horrível nos próximos doze meses. Um ano inteiro de macarrão desagradável e sanduíches estranhos de salame. Exceto nos feriados. Ninguém deveria ter que comer isso nos feriados. Mas todos os outros dias, você come sua própria comida.

Ele só cozinhara para nós uma vez, mas isso já bastava. Estremeci e engasguei só de pensar nisso.

Ele rugiu de rir.

– Eu estou falando sério, Jess! – Eu gritei.

Mas ele continuou rindo.

Saí da lavanderia, pensando que precisava de biscoitos, mas ele me seguiu.

– Agora escute, Sardenta – disse ele, me levantando e plantando minha bunda no balcão da cozinha.

Eu abri minha boca para dizer para parar, mas antes que eu pudesse dizer as palavras, ele apertou uma das suas grandes mãos em cima da minha boca.

Eu não podia acreditar que Jess tinha acabado de colocar a mão na minha boca para me impedir de falar. Meus olhos ficaram tão arregalados que me preocupei que eles saíssem.

– Eu te disse no Natal para se acostumar comigo mimando minhas garotas. Isso foi no mesmo dia que você me disse que esta era a minha casa. Então, colocando uma adição com o dinheiro da minha casa anterior é gastar em algo que eu quero. Estou gastando na minha casa – disse ele. – Então, como eu disse na lavanderia, você não me ouviu. Você está me entendendo agora?

Eu não podia responder porque sua grande mão ainda estava cobrindo minha boca. Então eu estreitei meus olhos e dei a ele meu olhar mais forte.

– Vou tomar isso como um sim – disse ele. – Agora sobre essa coisa de cozinhar.

– Ei! O que vocês estão fazendo? Por que você tem a mão na boca da mamãe, Jess? – Rowen nos interrompeu.

– Bem, Pequena, eu precisava fazer uma observação a sua mãe. Pensei que teria uma chance melhor se ela não estivesse falando de volta. Mas colocar a mão na boca de outra pessoa é algo que você só pode fazer se você for um policial. Então não faça isso na escola ou eu vou ter que prendê-la – ele mentiu.

Eu revirei meus olhos.

– Oh. Ok, Jess. Eu não farei isso.

– Agora eu tenho uma pergunta para você – ele disse a ela. – O que você achou daquele jantar? Preparado para você e sua mãe há algum tempo?

– Eca. Foi nojento. Realmente nojento. Mas mamãe me comprou aquele novo filme da Tinker Bell porque eu comi três mordidas de tudo.

Traidora.

– Hã. Entendo.

Neste momento eu estava com a mão dele cobrindo minha boca, então eu fiz a única coisa que eu pude pensar que poderia fazer ele removê-la. Eu coloquei a língua pra fora e lambi a palma dele.

Ele puxou a mão para trás rapidamente, surpreso com a minha tática.

– Ha! – Eu gritei vitoriosamente, levantando ambos os braços no ar.

Ele limpou a palma da mão enquanto seus ombros começaram a tremer. Ele fez o seu ponto, embora o método em que ele tinha feito não fosse o melhor. Mas esta era a nossa casa agora. Então, se ele quisesse construir uma adição para potencial novos membros da família, que assim seja.

– Eu desisto, xerife. Meu único pedido é que se você tiver que cortar o escritório para fazer um corredor, deixe espaço suficiente para a minha cadeira em frente à lareira – eu disse.

– Fico feliz por termos resolvido isso – disse ele, sorrindo.

– Eu também. Agora, se você me deixar descer, voltarei para a lavanderia. Desde que eu não estou mais com raiva de você, não preciso fazer cinco dúzias de biscoitos.

– Que tal você me deixar te irritar de novo, mas apenas o suficiente para você sentir a necessidade de fazer uma dúzia? De chocolate? – Ele perguntou.

Eu dei a ele um último revirar de olhos, e então eu o empurrei para longe para poder sair do balcão.

E então eu fiz um monte de biscoitos de chocolate.


****


Eu estava em pé na pia da cozinha, limpando os pratos do jantar, quando vi um lampejo de luz fora do quintal e nas árvores.

Por um minuto, achei que a luz devia ser um reflexo na janela da cozinha. Mas então eu vi de novo.

Apenas um flash rápido caminhando de volta na floresta, como se alguém estivesse andando lá fora com uma lanterna para guiar seu caminho.

Mas isso era uma loucura. Quem estaria andando na floresta à noite no auge do inverno? Estava apenas vinte graus negativos lá fora. Eu devo ter imaginado isso. Então eu fiquei lá na janela por cinco minutos e esperei a luz piscar novamente.

Isso não aconteceu. Não havia nada lá fora. Sem luzes. Não há pessoas nas minhas árvores. Nada.

Eu estava paranoica.

Eu dei de ombros e terminei minhas tarefas para que eu pudesse ver o que Rowen e Jess estavam fazendo.

Foi um erro ignorar isso. Eu deveria ter dito algo para Jess. Mas no momento em que eu percebi que foi um erro, era tarde demais. Muito tarde.


Capítulo Vinte e Dois

Jess


– Geórgia – eu chamei em meu telefone.

– Oi, xerife – disse ela. – Você já jogou alguém na prisão ainda hoje?

Eu ri. Ela sempre achava alguma nova piada ou maneira de me provocar por ser policial. Eu amava. Eu adorava que ela fosse inteligente e tivesse um raciocínio rápido. Que ela me mantinha motivado.

– Ainda não – eu disse. – Mas parece que vai ser um bom dia.

– Oh sim? O que está acontecendo?

– Tenho uma pista. Dois caras estavam de moto de neve nas montanhas e cruzaram com uma cabana velha. Tinha um cheiro químico forte, então eles não se aproximaram muito, mas acharam que valia a pena relatar. Estou pensando que eles tropeçaram no laboratório de Wes.

– Sério? – Ela perguntou.

– Sim. Estou indo agora. Milo e Beau vão atrás de mim.

– Isso é ótimo, querido. Espero que você o ache. Mas por que Beau está indo com você? Não parece ser uma verdadeira coisa de busca e resgate para fazer – disse ela.

Eu ri novamente. – Busca e Resgate. – Não é tão engraçado quanto –garagem –, mas ainda me faz rir.

– Beau é do serviço florestal, Sardenta. Os motociclistas relataram que a cabana estava em terras do parque nacional.

– Entendi – disse ela. – As casas de metanfetamina não são extremamente perigosas? Você deveria se aproximar disso?

– Estamos apenas checando. Se for o laboratório, chamaremos as autoridades do estado. Então teremos uma equipe especializada para entrar e dar uma geral.

– Ok. Tenha cuidado, – ela disse.

– Eu não vou poder te encontrar para o almoço hoje.

Esta manhã, eu peguei ela no banho antes de Rowen acordar. Então eu assisti ela se preparar para o trabalho, algo que eu tentei fazer todos os dias. Adorei vê-la curvar-se sobre a pia enquanto ela colocava sua maquiagem, sua bunda para cima quando ela se inclinou em direção ao espelho. Mas minha parte favorita era vê-la arrumando o cabelo. Ela iria secar e quando estivesse pronto, estaria cheio e macio. Dentro de uma hora, ele iria se assentar e assumir seu volume natural. Mas naquele momento, em nosso banheiro, com seu cabelo comprido todo grande e seu corpo enrolado em uma toalha, ela parou meu coração.

E me deu um pau duro. Geralmente, eu levava todo o caminho para o trabalho para recuperar o controle.

Esta manhã, enquanto eu a observava, tínhamos feito planos para almoçar juntos na delicatessen do centro. Agora que eu estava indo para as montanhas, eu teria sorte se eu voltasse para casa antes do jantar.

Mas perder o almoço valeria a pena se eu encontrasse o laboratório. Eu precisava desse descanso. Eu precisava para fazer algum progresso em todos esses casos abertos. As perguntas não respondidas estavam assolando minha mente e eu estava começando a ter problemas para dormir.

Já fazia mais de duas semanas desde o assassinato de Wes, e tanto o assassino quanto o caminhão de Wes tinha desaparecido da face da terra.

Além de ter um assassino à solta, eu não fiz nenhum progresso em encontrar o traficante de pílulas de analgésicos. Eu tinha policiais à paisana andando por toda a cidade por um mês. Eles perambulavam procurando por pacotes suspeitos escondidos em lugares estranhos e olhando para as pessoas andando em torno de áreas estranhas da cidade. Mas nada tinha surgido.

E depois havia o caso de invasão de Silas. Eu tinha marcado como não solucionado, mas ainda estava me incomodando. Eu odiava casos não resolvidos, especialmente aqueles envolvendo um amigo. Nós provavelmente nunca encontraríamos quem matou o bezerro de Silas. Nenhuma testemunha se apresentou e, a menos que o fizessem, seria impossível fazer qualquer prisão.

Então, encontrar o laboratório de Wes, mesmo depois que Wes estava morto, seria um bom dia. Realmente bom dia pra caralho. Eu não teria que me preocupar com alguém se aproximando e assumindo o local de produção de Wes.

– Eu acho que destruir a fonte de uma quantidade desconhecida, mas provavelmente grande, de metanfetamina supera um encontro de almoço com sua companheira de quarto – disse Geórgia.

– Companheira de quarto? – Perguntei.

– Só experimentando.

– Tente outra coisa.

– Vou fazer, xerife.

– Ok. Vejo você à noite.

– Te amo. Tchau – ela disse e desligou o telefone.

Ela terminou a ligação antes que eu pudesse dizer que também a amava. Mas eu percebi que eu poderia dizer para ela esta noite quando chegasse em casa.

Errado.

****

Porra, cheirava mal.

Nem mesmo o ar limpo da montanha combinado com o cheiro de pinheiros das árvores dominava o fedor de produtos químicos que queimavam minhas narinas.

Nós subimos na cabana da montanha cerca de quarenta e cinco minutos depois de passar por trilhas sinuosas entre as árvores. Não é de admirar que semanas e semanas de busca pelo laboratório não tivesse resultado em nada. Wes tinha construído aquele filho da puta tão longe das trilhas que percorremos que foi um milagre que encontramos hoje. Um par de vezes na unidade, eu tive que parar algumas vezes e sair para ter certeza de que estava seguindo os rastros da moto de neve.

Mas depois de uma última curva acentuada, lá estava ela, sentada em uma pequena clareira de pinheiros. Era uma casa velha de trailers de merda com um cômodo. As paredes externas eram de uma cor quase branca com manchas de água marrom em alguns lugares. A porta e todas as janelas estavam tampadas com folhas de madeira compensada.

Escondido em volta das árvores, a cerca de duzentos metros da casa, tinha um cilindro de gás Propano. Wes deve ter usado gás para cozinhar metanfetamina no fogão e aquecer o trailer.

– Essa merda fede – disse Milo ao meu lado, cobrindo o nariz.

– Não me diga.

– Acho que tenho algumas bandanas extras no caminhão. Vou buscá-las – disse Beau e correu para longe.

Quando cheguei mais perto, tive um pressentimento. Alguma coisa estava errada. Um nó estava se formando no meu intestino.

Eu diminuí meu progresso e andei com mais cautela, olhando ao redor da casa para ver se eu conseguia identificar o que estava me deixando nervoso.

Eu conhecia esse sentimento.

Quando éramos crianças, Silas, Wes e eu tínhamos jogado ‘Capturar a Bandeira’ na Fazenda Drummond. Cada um de nós escondia uma bandeira e partia para descobrir onde os outros garotos haviam escondido a deles. O vencedor era o primeiro menino a voltar ao nosso ponto de partida com uma das bandeiras do seu oponente. Silas e eu normalmente escondíamos nossas bandeiras em cantos escuros ou atrás de grandes árvores. Nossa estratégia era semelhante. Encontrar um bom esconderijo, e depois, procurar tão rápido quanto você poderia para encontrar a bandeira de um oponente antes que alguém encontrasse a sua.

Mas não Wes.

Wes sempre colocou sua bandeira em uma área razoavelmente aberta. Ele abria mão de localizar o esconderijo perfeito e gastava tempo para montar armadilhas. Uma vez, ele colocou uma armadilha e pegou Silas pelo tornozelo. Eu encontrei Wes rindo enquanto observava Silas balançando de cabeça para baixo em uma árvore.

Andar até o laboratório parecia andar até uma das bandeiras de Wes.

Eu desviei do meu caminho original para a porta e fui em direção a uma janela. Antes de abrir aquela porta, eu queria dar uma olhada melhor ao redor. Talvez eu pudesse arrancar o compensado de uma janela e espreitar dentro da cabana.

Mas Milo não percebeu minha mudança de direção. Ele apenas continuou andando em linha reta até a porta da frente e estendeu a mão para girar a maçaneta.

E foi quando eu vi. Um gatilho na porta.

–Milo, pare! – Eu gritei.

Mas era tarde demais. Milo se virou para olhar para mim, confusão misturada com medo escrita em seu rosto. Ele deu um passo para trás, mas o dano já havia sido feito. Eu ouvi o clique. E então o cilindro de gás nas árvores explodiu.


****


Gigi


– O que ele disse? – Sussurrei para Maisy.

Estávamos sentadas atrás do balcão do pronto-socorro onde eu estava na escala durante a semana. Everett tinha evitado Maisy desde que ela ligou para ele no dia do Ano Novo para dizer a ele que ela estava mantendo o bebê, mas eles finalmente se encontraram hoje.

– Ele estava normal. Foi estranho. Ele agiu como se tivéssemos no verão passado, quando começamos a namorar. Ele estava muito sério, mas agradável pelo menos. Ele só me perguntou como estava indo o trabalho na clínica e se tínhamos tido pacientes interessantes esta semana. Estranho, né? – Ela perguntou.

– Sim. Bem, eu acho que é melhor do que ser desconfortável e esquisito quando estão perto um do outro. Ou ele ser um idiota. Sempre que o pai de Rowen me via, ele me chamava de vagabunda e vaca - exatamente o que uma mulher grávida quer ouvir. Se eu fosse você, eu aceitaria o muito sério Dr. Carlson – eu disse.

– Você precisa me contar sobre o pai de Rowen. Você me contou algumas pequenas partes semana passada, mas acho que preciso saber tudo.

– Ok – eu ri. – Embora não haja muito para contar. Ele é um idiota supremo. Eu nunca planejei ver o rosto dele novamente. E acabou. Você teve notícias de seus pais esta semana, desde que você disse a eles que estava grávida?

– Sim. Mamãe me ligou todos os dias desde então, perguntando como eu estava me sentindo e se eu precisava de qualquer coisa. Ela tem sido ótima. Você estava certa. Depois que o choque diminuiu, acho que ela começou a ficar animada em ser vovó – disse Maisy, sorrindo. – Ótimo. Fico feliz.

– Eu tenho que voltar para a clínica. Quer almoçar ainda esta semana? – Ela perguntou.

– Sim, me deixe saber o dia – eu disse.

Ela não tinha conseguido chegar a um metro do balcão quando ouvimos pneus estridentes nas portas do pronto-socorro. No meio da entrada de ambulâncias havia um caminhão grande, verde-floresta. Na porta do lado do motorista tinha um escudo com as palavras –Serviço Florestal dos EUA –.

Eu perdi a visão do escudo quando a porta do motorista se abriu e Beau Holt pulou fora do caminhão.

Beau, que deveria estar com Jess e Milo nas montanhas à procura do laboratório metanfetamina de Wes.

Beau, que estava correndo para o outro lado do caminhão.

Beau, que viu Maisy e gritou para ela trazer algumas macas para fora.

Fiquei paralisada atrás do balcão do pronto-socorro enquanto Beau tirava duas pessoas do caminhão. Ambos inconscientes. Ambos imóveis. Ambos cobertos de sangue.

Meus olhos ficaram trancados em Beau quando essas duas pessoas foram levadas por Maisy e outras enfermeiras para duas baias ER diferentes. Eu podia ouvir o Dr. Peterson e Everett começando os procedimentos de triagem de emergência em ambas as salas do PS.

Beau andou até mim, ainda congelada no balcão do pronto-socorro, com dor e tristeza no rosto. Suas mãos estavam cobertas de sangue que não era dele.

Eu mantive meu foco completamente em Beau. Porque se eu me permitisse olhar para outro lugar, eu sabia que eu veria Milo na sala de emergência com Everett. E Jess na sala de emergência dois com o Dr. Peterson, que estava usando as pás do desfibrilador no peito nu de Jess para tentar ressuscitar seu coração sem vida.

Então continuei olhando para Beau até não conseguir mais vê-lo. Até que eu não pude ver mais nada, além das costas das minhas pálpebras. Porque eu tinha fechado meus olhos com tanta força que tudo que vi era preto.

Recomponha-se.

Recomponha-se.

Recomponha-se.

Cerca de um minuto depois de fechar meus olhos, comecei a cantar. E depois de um minuto que eu comecei a cantar, eu consegui.

De alguma forma eu consegui separar meu coração do meu cérebro para que eu pudesse começar a trabalhar. A última coisa que Jess e Milo precisavam era estar em um hospital onde uma das poucas enfermeiras disponíveis estava paralisada, congelada na recepção.

Então eu deixei anos de prática e experiência assumir e entrei no quarto de Jess completamente no piloto automático.

Foi a coisa mais difícil que já fiz.

Eu fiquei no piloto automático até que fiquei sozinha horas depois, em um dos três piores dias da minha vida.


****


– O que aconteceu? – Sussurrei para Beau.

Estávamos sentados de costas contra uma parede no segundo andar do hospital. Meus joelhos estavam dobrados e eu tinha meus braços em volta das minhas canelas. Beau estava sentado ao meu lado, seus braços cobrindo o topo de seus joelhos dobrados.

– Eu não sei. Nós estávamos todos caminhando juntos até a cabana. Todos os três. O cheiro era tão forte que minha garganta estava queimando. Então eu disse a Milo e Jess que eu iria pegar bandanas para nós no meu caminhão. Eu estava inclinado e procurando no banco de trás e ouvi Jess gritar: – Pare. Eu me levantei, então tudo que vi foi a explosão. Um grande cilindro de gás propano simplesmente explodiu perto da cabana. Jogando tudo para o ar, as chamas estavam por toda parte. A próxima coisa que eu sabia era que eu estava deitado de costas. Desse jeito, – ele disse, estalando os dedos.

–Foi como uma onda de calor empurrada para fora do fogo e jogada no ar. Me bateu direto nas costas. Todas aquelas árvores perto do cilindro, os troncos, eles simplesmente quebraram. Pareciam um palito ao meio. Quando me levantei e olhei em volta, vi Milo primeiro.

Beau parou por um minuto para fechar os olhos e inclinar a cabeça contra a parede. Eu não o incitei ou lhe pedi que continuasse. Neste momento, desejei que ele parasse. Basta deixar a próxima parte não dita. Porque eu sabia o que ele ia me dizer e eu não queria ouvir isso.

Mas ele continuou, alheio ao meu desejo silencioso. – Jess estava chegando perto. Ele estava de costas, olhando para cima e para mim. Ele foi jogado direto em uma árvore caída. Pousou com tanta força que um dos galhos estava saindo do lado de seu corpo. Nós embalamos com um pouco de neve e ajudei Jess no caminhão. Coloquei o máximo de neve que consegui em Milo. Eu não sei se foi o suficiente...

Eu forcei uma respiração e fechei meus olhos.

– Dirigi o mais rápido que pude. Entrando em pânico o tempo todo. Milo ainda estava lá atrás. Jess estava xingando. Ele disse que se Wes ainda estivesse vivo, ele o mataria por isso. Eu estava tão focado em dirigir, Gigi, que eu não percebi quando ele parou de falar. Mas logo antes de chegarmos ao hospital, ele disse: 'Amo Geórgia. Ela é minha luz’. Então foi isso. Ele fechou seus olhos e caiu contra a porta.

Meus olhos estavam vazando um fluxo constante de lágrimas, mas eu não estava chorando ou soluçando. Eu não tinha nada disso sobrando. O dia havia me drenado completamente. Emocionalmente e fisicamente. Tudo o que me restava eram lágrimas silenciosas.

– Eu deveria ter ido primeiro a Jess – disse Beau.

– Não – ouvi de cima de nós.

Everett estava de pé contra a parede à nossa frente.

– Milo foi a escolha certa para socorrer primeiro. Envolver neve em suas queimaduras foi inteligente. Se vocês não tivessem feito isso para tirar um pouco do calor, elas teriam sido dez vezes piores. Você salvou sua vida – disse Everett.

Beau não respondeu. Ele apenas levantou a cabeça da parede e se virou para mim. – Você precisa de uma carona para casa? – ele perguntou.

– Não – eu sussurrei. – São apenas oito. Rowen ainda estará acordada e eu não posso... eu não posso explicar tudo isso para ela esta noite.

Como eu ia contar a ela sobre Jess? Eu não conseguia pensar nisso. Foi demais. Contar a ela tornaria esse dia real demais.

– Certo – disse Beau e se levantou. Ele começou a andar pelo corredor, mas não antes de parar e encarar Everett. Pelo menos Everett teve a inteligência de olhar para seus pés e não o encarar. Com tudo o que Beau passou hoje, um desafio do ex-namorado da irmã teria empurrado ele para o limite. Não que Everett fosse o tipo desafiador.

– Deixe-me saber se você precisar de alguma coisa, Gigi – disse Everett, empurrando a parede para sair.

– Everett? Obrigada. Você salvou a vida deles hoje. E eu sempre serei grata pelo que você e o Dr. Peterson fizeram por Jess. Que ele está vivo lá por sua causa – eu disse, inclinando minha cabeça em direção a sala de recuperação de Jess.

– É o meu trabalho, Gigi – disse Everett.

– Obrigada por fazer o seu trabalho – eu sussurrei, minha voz embargada.

– Não tem de que. Boa noite.

Eu precisava de um pouco de tempo sozinha, algum espaço para repassar o dia e entende-lo na minha cabeça. Amanhã, eu precisaria contar a Rowen sobre a lesão de Jess. Noelle também. Quando Beau trouxera Milo e Jess, eles estavam em péssimo estado. Minutos de distância da morte. Estremeci ao pensar no que teria acontecido se Beau não tivesse conseguido chegar ao hospital tão rápido. Se ele tivesse encontrado algum obstáculo ou demorasse mais, hoje teria terminado muito, muito pior. E isso estava dizendo algo porque, como foi, foi realmente PO ruim.

Milo fora tratado por queimaduras e uma concussão. As queimaduras foram tão graves que o Dr. Peterson e Everett o sedaram para que ele não acordasse. Então eles ligaram para o serviço de transporte aéreo para transportar Milo para a unidade de queimados de Spokane.

Era provável que ele ficasse lá por meses, e até mesmo quando ele estivesse curado, era provável que ele nunca mais pareceria o mesmo. Seus braços e torso haviam sofrido as piores queimaduras. Ele poderia cobri-los com roupas. Mas ainda havia queimaduras no rosto que deixaria cicatrizes.

Jess havia perdido muito sangue. A perfuração da árvore atravessou por seu corpo, deixando um buraco do tamanho de uma bola de golfe de uma ponta a outra. Porque ele perdeu muito sangue, seu coração parou de bater logo antes de Beau chegar ao hospital. Dr. Peterson suspeitou que ele tinha ficado apenas um minuto sem oxigênio para o cérebro e eles tinham sido capaz de reanimá-lo antes de levá-lo para a cirurgia.

Seis horas. Jess tinha estado em cirurgia por seis horas, recebendo um corte para reparar seu fígado e outro para parar um sangramento interno. Quando os médicos saíram da sala de cirurgia, eles me disseram que Jess tinha sido extraordinariamente sortudo. Se esse galho tivesse passado um centímetro mais perto do centro de seu corpo teria cortado sua medula espinhal, o deixando paralisado. Como foi, ele estava agora estabilizado e acabaria por fazer uma recuperação completa. Tudo o que ele teria que lidar era com algumas cicatrizes.

Ele estava sem os remédios de sedação, mas não tinha acordado ainda. Eu queria estar aqui quando ele perguntasse por mim, pedi a Maisy se ela poderia pegar Rowen e levá-la para casa. Ela tinha ficado mais do que feliz em ajudar e se ofereceu para passar a noite na fazenda para que eu pudesse ficar com Jess.

Beau ficou ao meu lado o dia todo, esperando ouvir que seus amigos iriam viver e me dando apoio silencioso. Eu não o conhecia bem, mas depois de hoje, eu seria eternamente grata. Os Holts eram pessoas boas. As melhores. E eu estava feliz por estar aqui em Prescott onde eles poderiam fazer parte da minha vida.

Eu não estava mais sozinha.

Levantando-me do chão, entrei no quarto de Jess.

Ele estava em uma roupa de hospital branca debaixo de um cobertor azul fosco. Ele parecia menor deitado na cama do hospital. Seu corpo grande ainda ocupava a maior parte do espaço e seus pés estavam pendurados no final, mas ainda assim, ele parecia menor. Menor que o meu Jess, que se erguia sobre mim e me pegava como se eu não pesasse mais do que uma pena.

Doía olhar para ele. A dor no meu peito era sufocante.

Eu levei uma cadeira até a cama dele e peguei uma das mãos dele na minha. – Estou aqui, Jess. Sempre que você acordar. Estarei aqui. Apenas acorde, querido. Por favor, acorde logo. Eu não quero te perder. Eu não posso te perder. Rowen não pode te perder. Nós precisamos de você. Então volte para nós. Volte para mim, – eu sussurrei.

Eu coloquei minha cabeça ao lado de sua coxa, mas mantive sua mão apertada firmemente na minha. Não importa o quanto demorasse, eu seria a primeira coisa que Jess veria quando acordasse do pesadelo de hoje.


****

Os olhos de Jess se abriram e vasculharam a sala. Ele virou a cabeça e o olhar fixo azul gelo encontrou meu olhar.

– Oi, querido – eu sussurrei.

Finalmente, ele finalmente estava acordado. Parecia que eu tinha esperado um ano para ver aqueles lindos olhos abertos.

Eram cinco horas da manhã do dia seguinte à explosão. Eu fiquei acordada a noite, sentada do lado de Jess, segurando a mão dele e pensando em todas as razões pelas quais ele era tão especial para mim. Como eu trabalharia todos os dias pelo resto da minha vida para ter certeza que ele sabia disso.

– Ei, querida – ele sussurrou de volta.

Sua voz era irritada e áspera. Não soava nada como seu profundo estrondo normal. Mas estava perfeita.


Capítulo Vinte e Três


– Geórgia – Jess chamou da porta do quarto.

– Closet! – Eu estava pendurando suas camisas e arrumando uma cesta de roupa suja.

Fazia quase um mês desde a explosão. Jess passou uma semana amuado no hospital seguido por uma semana amuado em casa. Mas uma vez que ele pode começar a se movimentar mais uma vez, seu ânimo se dissipou e ele passou as duas semanas seguintes projetando nossa adição na casa.

Hoje, ele tinha voltado ao trabalho, ansioso para ficar a par das coisas, embora eu não soubesse por que ele se sentiu fora de circulação. Seus oficiais tinham o verificado constantemente.

Ele bateu na porta do armário e disse: – Que porra é essa?

– O que PO é o que? – Eu me virei.

Ele estendeu um cartão postal e eu me inclinei para lê-lo.

– Bem, você é o policial, mas isso parece um cartão postal de aniversário do meu dentista, xerife – Eu disse.

– Quer me dizer por que diz que seu aniversário foi na quarta-feira passada?

– Ah... porque foi.

– Há uma razão pela qual você não me contou? – Ele perguntou.

– Eu não queria um aniversário este ano.

– Você não queria um aniversário?

– Sim. Eu não queria um aniversário – eu disse.

– Isso não é realmente sua escolha.

– Eu não concordo, já que era meu aniversário. Tudo que eu queria era que passasse como qualquer outro dia – eu disse.

– Bem. Nenhum aniversário. Que tal você me dizer por que você está agindo de forma estranha? Desde a explosão?

– O que? Eu não estive agindo de forma estranha, – eu menti.

Eu estava agindo de forma estranha. Eu sabia. Ele sabia disso.

Eu simplesmente não pude evitar.

Todos os dias eu lutava para afastar os medos que rodavam na minha cabeça, medos que tinham me assombrando pelo último mês.

Toda vez que eu olhava para Jess, tudo que eu via era o corpo dele coberto de sangue. Quando ele conversava comigo, ouvia o sinal sonoro do monitor cardíaco.

– Você tem agido estranha desde a explosão. Não minta para mim. Eu moro aqui. Eu vejo isso. Então o que está acontecendo?

– Nada. Estou bem – menti de novo.

– Geórgia.

Eu não respondi. Acabei voltando para a lavanderia porque não ia contar a ele. Ele podia me atormentar o quanto quisesse, mas eu não estava pronta para falar sobre isso ainda.

– Tudo bem – ele cortou.

Eu me abaixei para pegar uma pilha de suas camisetas, mas assim que meus dedos tocaram o algodão, eu fui puxada para trás e enviada voando, os braços de Jess em volta da minha barriga, minhas mãos e pernas batendo.

– Jess! Seja cuidadoso! Você vai se machucar! – Eu gritei.

Ele me ignorou e continuou se movendo. Quando chegamos à cama, ele me jogou de costas.

– O que você está fazendo? – Eu me apoiei em meus cotovelos.

Ele pegou a bainha de sua camiseta preta com as duas mãos e puxou por cima de sua cabeça. Então ele desabotoou sua calça jeans e despiu junto com sua cueca.

Nós não fazíamos sexo desde a manhã da explosão e meu corpo instantaneamente aqueceu com a visão de um Jess nu de pé sobre mim. Mesmo que ele tenha perdido um mês de exercícios, seus músculos ainda estavam salientes. Seu pau estava começando a ficar duro enquanto meus olhos viajavam abaixo do seu corpo.

Eu senti falta do sexo.

Ele agarrou meus tornozelos e me puxou para a beira da cama, seus dedos indo direto para o botão no meu jeans. Em um piscar de olhos eles foram embora, junto com minha calcinha. Em seguida foi meu top e sutiã.

Jess veio em cima de mim com força, sua boca colando na minha enquanto seus dedos freneticamente se moviam por todo o meu corpo. Ele começou na parte de cima, acariciando o caminho dos meus ombros até meus seios. Ele deu aos meus mamilos cada um duro puxão e continuou indo para baixo.

Suas mãos atravessaram minhas costas e então deslizaram sobre meu estômago para descansar em meus quadris. Elas deslizaram pelas minhas coxas até chegarem a parte de trás dos meus joelhos, onde ele se inclinou em volta da sua cintura. Meus tornozelos se juntaram em suas costas.

Sua boca nunca saiu da minha enquanto suas mãos esfregavam e pressionavam meu corpo. Foi áspero e forte, seu toque quase machucando quando ele trabalhou suas mãos e dedos sobre a minha pele.

– Jess – eu engasguei, sofrendo por ele.

– Vou te foder forte, querida. Duro e profundo. Tão áspero que você vai me sentir o dia todo amanhã. Então você vai me dizer o que diabos está acontecendo na sua cabeça. Porque porra você está me excluindo.

Eu não pude responder. Tudo que eu pude fazer foi gemer. Eu adorava quando ele dizia coisas assim para mim, quando ele me contava como ia me foder antes de fazer exatamente isso. Adorava tanto que meu corpo inteiro estremeceu.

– Jess, por favor – eu implorei.

Ele alinhou seu pau com a minha entrada e empurrou um centímetro.

– Jess, agora.

– Você vai me dizer o que eu quero saber, querida. Diga, – ele ordenou.

Eu balancei a cabeça. Eu não ia contar a ele.

Ele empurrou outro centímetro doloroso, seu pau me provocando. Não foi o suficiente para ajudar a aliviar a dor. Eu precisava de tudo dele.

– Diga, Geórgia.

– Ok – eu respirei.

No segundo que a palavra deixou meus lábios, ele empurrou seus quadris para frente e enterrou todo seu pau.

Eu gemi em seu pescoço quando minha cabeça se ergueu e colidiu com seu ombro. Eu continuei gemendo quando ele me fodeu como ele disse que faria: duro e profundo. Suas mãos se moveram grosseiramente sobre meu corpo enquanto seu pênis empurrava para dentro e para fora sem moderação.

Minhas pernas começaram a tremer atrás de suas costas e uma onda de calor se derramou sobre mim enquanto eu gozei forte e rápido.

– Porra. Tão apertada. Senti falta da sua boceta, querida, – Jess disse em meu ouvido.

Ele acelerou o ritmo, batendo em mim, de novo e de novo.

– Jess, é demais – eu sussurrei.

– Tome isso, Geórgia. Apenas relaxe, – ele ordenou, não diminuindo a velocidade.

Eu esvaziei minha mente e me soltei, gozando novamente tão poderosamente que meu corpo se dividiu em dois.

– Foda-se – Jess gemeu no meu cabelo quando ele gozou também. Eu senti sua liberação quente dentro de mim. Ele plantou seu pau profundamente para manter nossa conexão depois que ele terminou de gozar.

Com o peso dele em cima de mim, deixei minhas mãos passearem por suas costas musculosas. Eu tinha sentido muito a falta dele no mês passado, senti falta do seu peso pesado em cima de mim, como ele me mantinha fixa a ele. Nos unindo.

E eu senti falta de sentir o corpo dele ligado ao meu. Mesmo que o que acabamos de ter foi uma foda, pura e simples, era também ele fazendo amor comigo. Mostrando-me com suas mãos, sua boca e seu pau que eu era seu amor.

Minhas mãos subiram e desceram pelas suas costas e depois pelos lados. Meus dedos congelaram quando eles atingiram sua cicatriz. Eu não conseguia ver, mas não precisava. Eu sabia exatamente qual era a aparência. Era áspera e irregular. A pele ainda estava levantada e avermelhada.

Eu tracei a linha onde seus pontos tinham estado há apenas três dias atrás, levemente indo e voltando sobre a marca em suas belas costas. Uma marca que ele teria para sempre. Um lembrete de que ele quase perdeu a vida e quase o perdi na minha.

Meu queixo estremeceu. O tempo acabou. Não havia como manter meu colapso por mais tempo. Jess não precisaria tirar isso de mim porque já estava saindo pelas lágrimas nos meus olhos.

– Esqueça, baby. – Ele rolou de costas, puxando-me em cima dele.

– Eu quase perdi você – eu soluçava em seu pescoço. – Tudo o que posso ver é o sangue, Jess. Eu não consigo parar de ver isso. Ver você naquela maca com sangue pingando no chão. Ver o Dr. Peterson reanimar seu coração, seu corpo sacudindo na maca quando ele te deu choque. Eu não consigo parar de ver isso.

Ele não disse nada. Ele apenas passou os braços em volta das minhas costas e me segurou firme.

– E se isso acontecer de novo? O que faríamos se fosse pior? Eu não sei se eu poderia sobreviver perdendo você. Eu não quero ficar como Ben. Vagando por aí, vivendo uma vida sem vida. Estou com tanto medo que está me paralisando. Se eu não me mantenho distraída e exausta, volta. Eu simplesmente não consigo parar de ver e me pergunto quando isso vai acontecer novamente.

– Querida, você não pode pensar assim – Jess sussurrou.

– Você não estava lá, Jess. Você não viu isso. Ver como foi ruim.

– Eu gostaria que não tivesse acontecido, que você não estivesse lá. Mas aconteceu e você estava. Nós temos que passar por isso. Voltar para onde estávamos. Você tem que se reengajar conosco. Pare de se afastar de mim.

– Eu não sei como – eu sussurrei.

– Sim, você sabe – ele disse, me dando uma pequena sacudida. – Tudo que você precisa fazer é me deixar entrar. Deixar eu te mostrar a saída, para que não vivamos uma vida com medo, com medo de que a cada movimento isso acabe. Isso poderia acontecer novamente, Geórgia. Você sabe disso. Nenhum de nós sabe quando é a nossa hora.

Eu assenti.

Ele estava absolutamente certo. E não era como se eu não soubesse disso antes. Vidas podem ser interrompidas, mas isso não significa que ainda não era aterrorizante.

– Eu não quero perder você. Toda minha vida eu tenho perdido pessoas. Meu pai antes mesmo de que eu pudesse conhecê-lo. Minha mãe antes de chegar a hora. Ben. E eu sobrevivi a todos eles. De alguma forma eu consegui superar. E cada vez, eu sabia que era forte o suficiente para fazer isso. Mas eu não sei se eu poderia sobreviver se eu perdesse você, Jess. Eu não acho que sou forte o suficiente – eu disse baixinho.

– Você é mais forte que qualquer pessoa, homem ou mulher, que eu já conheci, Geórgia. Eu não quero que você tenha que sobreviver sem mim, mas se for preciso, você fará isso. Porque você terá que fazer por Rowen e quero que você seja feliz, mesmo que eu não esteja aqui para compartilhar isso com você.

Suas palavras trouxeram um novo lote inteiro de lágrimas. Eu odiava pensar na vida sem ele. Eu não seria feliz, eu não poderia ser, se ele não estivesse aqui.

– Mas isso não vai acontecer – disse ele. – Estou bem. Vai ficar tudo bem. Nós vamos viver bem enquanto podemos. E minha vida é boa com você. Com Roe. Nós finalmente conseguimos ser felizes. Então eu preciso que você esteja comigo, não deixando seus medos te afastarem.

– Ok – eu respirei. Foi uma respiração profunda, meus ombros caíram para frente, liberando toda a tensão que eu estava segurando neles no mês passado.

– Saia de cima de mim. Eu preciso ver seu rosto, – ele ordenou. – Precisamos conversar sobre essa coisa de aniversário, –ele disse uma vez que eu estava de costas.

– Não é grande coisa, querido. Eu não celebrei meu aniversário desde que minha mãe morreu.

–Grande coisa para mim, Geórgia. Aniversários. Feriados. Minha chance de torná-lo especial para você. É difícil para mim fazer isso quando nem sei quando é o seu aniversário.

– Bem... agora você sabe e você pode fazer algo no próximo ano. 26 de janeiro. Rowen é 05 de março. Eu já sei que seu aniversário é 13 de abril. Eu perguntei a Noelle no Dia de Ação de Graças eu certamente não esqueceria disso.

– Primeiro ano juntos. Eu queria fazer algo especial.

– Isso é doce – eu disse, levantando a mão para acariciar sua bochecha. – Mas faça isso no próximo ano. Eu posso esperar.

– Eu não posso. Então, acho que vamos fazer agora.

– Fazer o que agora? – Perguntei.

– Colocar o meu anel no seu dedo.

– Como? – Eu respirei.

– Tenho um anel dentro do cofre de armas na garagem. Você sente vontade de usá-lo para o resto de sua vida?

Eu pisquei algumas vezes e repeti as palavras dele na minha cabeça para ter certeza de que o ouvi bem. Então meu rosto se abriu em um largo sorriso quando meu coração inchou de uma felicidade esmagadora. Assentindo, eu sussurrei: – Sim.

A proposta de Jess não foi um grande show com flores e diamantes. Ele não tentou me impressionar com um grande acontecimento ou uma surpresa chique. Mas Jess foi autêntico. Ele sentiu vontade de fazer isso ali mesmo, então ele fez isso.

E foi perfeito.

Seu largo sorriso branco combinava com o meu. Seus olhos azuis gelo estavam brilhando. Ele se inclinou para me beijar, mas não conseguiu unir nossos lábios. Meu sorriso era permanente.

– Amo você, querida – ele disse em meus dentes.

– Amo você também.

– Você quer que eu vá para a garagem e pegue o seu anel?

– Mais tarde – eu disse.

Eu forcei meus lábios juntos para que eu pudesse beijá-lo.

Depois que ele fez amor comigo novamente, ele vestiu algumas roupas e foi pegar meu anel.

Em uma noite, Jess ajudou a apagar meus medos. Porque quando eu olhava para ele agora, eu não via o buraco do seu lado nem todo o sangue. Eu não ouvia os seus batimentos cardíacos parando.

Eu o ouvi perguntando se eu queria usar o anel dele pelo resto da minha vida. E eu vi a luz dançando em seus olhos depois que eu disse sim, de bom grado, sabendo que o anel não deixaria o meu dedo até o final dos meus dias.

Ele estava certo. Qualquer coisa poderia acontecer conosco, mas enquanto nós tivermos a oportunidade, nós viveríamos bem. Juntos. Com Jess como meu marido e eu como sua esposa. Com Rowen como nossa filha e, um dia, seus irmãos que faremos juntos.

Nós absolutamente íamos viver bem. Ao máximo.


****


Rowen e eu estávamos na mesa da sala de jantar na manhã seguinte, tomando nosso café da manhã.

Já que eu tinha alguns minutos com ela antes da pré-escola, eu poderia falar com ela sobre o meu casamento com Jess. Eu queria que ela fosse a primeira a saber.

E queria contar para ela sozinha.

Não que eu não achasse que Jess seria ótimo com ela, mas tinha sido apenas nós duas por tanto tempo, queria ter certeza de que ela soubesse que eu a amava e que casar com Jess nunca mudaria isso.

– Roe? – Eu chamei quando ela terminou de mastigar seu cereal.

– Sim, mamãe?

– Eu queria falar com você sobre algo, garotinha. Algo sobre mim e Jess.

– O que é?

– Bem, Jess me perguntou se eu me casaria com ele na noite passada. Em um casamento. Isso significa que ele se tornaria uma parte da nossa família para sempre. Eu quero casar com ele, mas também quero que você fique bem com isso.

– Ele já não faz parte da nossa família? – Perguntou ela.

Eu soltei uma pequena risada.

– Sim docinho. Eu acho que ele já faz parte da nossa família.

– Se você vai casar com Jess, isso significa que eu posso usar um vestido bonito?

– Claro. Qualquer vestido que você quiser, – eu prometi.

– Oba! Pode ser roxo?

– Pode apostar. O que você quiser.

Eu sorri quando ela voltou para o cereal. Não muito intimidada minha Rowen. Ou talvez ela não entendeu o que eu estava dizendo a ela. Mas isso não importava. Ela entenderia eventualmente. Tudo o que ela precisava saber agora é que éramos a família dela e a amávamos.

Enquanto ela terminava de comer, dei ao meu anel reluzente outra inspeção completa.

Um diamante de lapidação redonda, com cerca de um quilate e meio, estava em uma sólida aliança de ouro branco. As bordas do diamante estavam envoltas em ouro branco para que a pedra não se prendesse a qualquer coisa. A própria aliança tinha diamantes menores em toda a sua volta, inseridos no metal.

– Mamãe? – Rowen chamou, tirando minha atenção do meu anel.

– Sim?

– Isso significa que Jess pode ser meu pai? – Ela perguntou baixinho. Seus dedos estavam tamborilando na mesa e ela não estava olhando para cima de seu cereal.

– Você quer que ele seja seu pai, Roe?

– Sim. Se ele quiser, – ela disse.

– Eu acho que ele realmente gostaria disso, querida. Talvez esta noite quando ele chegar em casa, você pode perguntar ele.

Um enorme sorriso atravessou seu rosto. – Ok.

Eu sorri também, deixando uma onda quente de felicidade fazer o percurso através do meu corpo e se estabelecer direto no meu coração.


****


– Socorro! Eu preciso de ajuda! Meu filho está com problemas! – Ouvi gritar das portas do pronto-socorro.

Um homem alto e magro entrou correndo com um adolescente ao seu lado. O garoto mal se mexia. O pai dele o segurava por baixo de um dos braços, o outro apoiado atrás das costas. A cabeça do garoto estava pendurada e seus pés estavam se arrastando no chão.

Eu levantei de trás da mesa e corri para a parede para pegar uma cadeira de rodas, a empurrando o mais rápido que pude para que o pai pudesse deixar seu filho no assento.

– Venha por aqui – eu ordenei, imediatamente levando o adolescente para uma sala de emergência. No segundo que eu empurrei a porta, apertei o botão de chamada para Everett.

Quando entramos no quarto, o pai me ajudou a levar a criança para a cama. Uma vez ele foi deitado de costas contra o travesseiro, dei uma olhada no rosto do garoto.

Ele?

Era o rosto do garoto idiota que tinha ido à minha casa no Halloween e quebrou todas as minhas abóboras. O mesmo idiota punk que me ameaçou no meu gramado antes que Jess o tivesse empurrado para a parte de trás de um carro da polícia.

PO.

Eu me virei para o pai dele.

– Você pode me dizer o que há de errado com ele, senhor? – Eu perguntei.

Seu pai passou as mãos pelo cabelo castanho curto. –Scottie. Seu nome é Scottie. E eu não sei o que está errado. Ele deveria estar na escola. É uma sexta-feira. Por que ele não estava na escola? Eu só não sei o que ele estava fazendo em casa. Ele saiu para a escola de manhã e eu fui me encontrar com minha esposa em Bozeman. Eu estava dirigindo para buscá-la no aeroporto. Mas eu esqueci minha carteira, então tive que retornar. Eu cheguei em casa vi o carro dele na garagem. Então eu o encontrei desmaiado no sofá da sala.

Parando para procurar no bolso da frente de sua calça cáqui de veludo, ele puxou um punhado de pílulas vermelhas e amarelas.

– Aqui – disse ele, entregando para mim. – Estas estavam na mesa de café. Uma delas estava aberta e havia pó por toda parte.

Eu peguei as pílulas e as coloquei em uma bandeja ao mesmo tempo que Everett veio correndo para dentro do quarto.

– Você me bipou? – Ele perguntou.

– Sim. Este é o sr...

– Pierce. Scott Pierce.

– Sr. Pierce encontrou seu filho desmaiado em casa há pouco tempo. Essas pílulas estavam ao lado dele, – eu disse a Everett.

Everett começou a fazer ao Sr. Pierce uma série de perguntas depois de me pedir para administrar um acesso intravenoso no braço de Scottie.

– Você vai fazer uma lavagem estomacal nele? – Perguntou Pierce a Everett.

– Não, eu não acho que precisaremos. Aqueles se parecem com comprimidos de oxicodona. Se ele os tomou ou estava inalando o seu conteúdo, então podemos nos livrar dos opióides em seu corpo usando um antídoto. Você tem alguma ideia de quanto ele usou? – Everett perguntou.

– Eu não sei. Por que ele está tomando pílulas? Ele é um bom garoto. Por que ele está usando drogas? – Perguntou ao quarto.

– Sr. Pierce, me desculpe por perguntar. Mas você achou uma nota com essas pílulas? Qualquer indicação que isso foi uma tentativa de suicídio? – Everett perguntou.

– O que?! Não. Scottie não faria isso. Nunca. Ele é um bom garoto.

Eu tinha a sensação de que o Sr. Pierce não sabia tanto sobre Scottie quanto gostava de pensar. Afinal, há três meses atrás, ele vinha vandalizando as casas de outras pessoas, inclusive a minha, sem levar em conta os sentimentos dos proprietários ou as consequências de suas ações.

– OK. Nós vamos começar com o antídoto. Vai demorar um pouco para fazer efeito no organismo de Scottie. Gostaria que ligássemos para alguém para você? – Perguntou Everett.

– Ah... não. Vou sair e ligar para minha esposa – ele disse e saiu do quarto.

– Gigi, vamos dar a dose máxima do antídoto – Everett ordenou. – Se ele não acordar em uma hora, me ligue. Eu vou passar aqui antes, apenas se eu puder, mas eu tenho alguns pacientes no andar de cima para ver. Pode demorar um pouco para terminar com eles. Basta me ligar se qualquer coisa surgir.

Eu trabalhei nos quinze minutos seguintes para colocar o Scottie no soro e admiti-lo no sistema do hospital. Seu pai não havia retornado ao seu quarto ainda. Ele estava andando de um lado para o outro na sala de espera com o telefone preso ao ouvido.

Onde Scottie pegou as pílulas? Ele tinha conseguido elas no armário dos remédios dos pais dele? Ou eram do mesmo vendedor que Jess estava procurando?

A menos que ele confessasse comprá-las ilegalmente e concordasse em discutir isso com a polícia, eu não achava que houvesse qualquer coisa que Jess pudesse fazer. E esse garoto não parecia o tipo de confessar qualquer coisa. Ele não confessou ter vandalizado as casas de campo no Halloween, por que ele confessaria a participação no tráfico ilegal de drogas? Mas talvez uma overdose e uma viagem para a sala de emergência iria assustá-lo e colocar algum juízo nele, ou pelo menos algum bom senso em seus pais.

Scottie gemeu quando entrei em seu quarto.

– Scottie? Você pode me ouvir? – Eu perguntei.

Ele balançou a cabeça lentamente e abriu os olhos, gemendo novamente.

Eu fiquei ao lado dele por alguns minutos até que ele finalmente começou a acordar.

– Onde eu estou? – Ele perguntou grogue.

– Você está no hospital, Scottie. Seu pai te encontrou em casa. Você tomou algumas pílulas? – Eu perguntei.

– Quem é você? – Ele perguntou. – Espera. Eu conheço você. Você é aquela vadia que mandou me prender. Foda-se você. Onde está meu pai?

Ok, então uma viagem para a sala de emergência não tinha colocado nenhum juízo nele. Ele ainda era um idiota punk.

– Bom – eu murmurei. – Seu pai está na sala de espera. Eu irei chamar ele.

Mas quando eu estava prestes a sair de seu quarto, ele disse: –Você conta para esse seu namorado policial sobre isso, puta, eu vou te pegar. Sua filha também.

Eu congelei na porta, de costas para Scottie. Eu estava feliz por ele não poder ver o efeito de suas palavras no meu rosto, que ele não podia ver o terror que ele causou.

Eu não conseguia fazer minha boca funcionar para responder e não tentei encontrar coragem para tentar. Eu apenas forcei um pé na frente do outro e continuei andando. Com cada passo, meu coração batia tão alto que bloqueou todos os outros sons.

Everett estava vindo na minha direção. Ele deve ter visto o pânico no meu rosto porque ele parou de repente e olhou para mim.

Mas eu não parei para falar com ele. Eu apenas continuei andando direto para o escritório da minha supervisora onde eu disse a ela que precisava terminar o dia. Ela sabia que algo estava errado, mas ela não fez perguntas. Ela apenas me deixou ir.

Então fui direto para Quail Hollow e peguei minha filha. Era um exagero, mas eu precisava dela comigo, perto de mim para que eu pudesse ter certeza de que nada aconteceria com ela. Que eu poderia protegê-la.

No segundo que Jess chegasse em casa hoje à noite, ele ia saber tudo sobre Scottie Pierce e suas ameaças contra mim e Rowen. Porque se eu não pudesse protegê-la, eu sabia que Jess podia.


Capítulo Vinte e Quatro


Era um pouco depois das cinco e eu estava esperando Jess há uma hora. Eu não queria fazer nossa refeição rotineira de sexta à noite no café. A ameaça de Scottie Pierce ainda estava fresca demais. Eu precisava ficar dentro de casa, onde me sentia segura.

Eu também não queria discutir a ameaça de Scottie com Jess em público. Eu não sabia exatamente como ele reagiria, mas não seria bom. Provavelmente, ele ficaria furioso e gritaria obscenidades por dez minutos. Isso, ou ele ficaria todo silencioso e assustador e com aquele olhar ameaçador nos olhos dele.

As palavras de Scottie estavam em meus ouvidos, e toda vez que eu as ouvia, um arrepio correria pelas minhas costas. Eu estava enjoada desde que saí do hospital.

Eu não sentia um pingo de simpatia por Scottie, não importa o quão mal Jess reagisse. O punk não podia falar com pessoas assim. Se seus pais não lhe ensinaram essa lição, Jess iria.

Já que não vamos sair hoje à noite, eu estava na cozinha trabalhando no jantar enquanto Rowen estava em seu quarto assistindo em seu iPad.

Eu estava em pé na pia da cozinha, lavando minhas mãos, quando um lampejo de luz pegou meu olho da janela. O sol se punha não muito depois das cinco horas durante estes dias de inverno, então a luz era fácil de ver na escuridão.

Era como a luz que eu vi no mês passado. Mas desta vez, não estava indo embora e não havia apenas uma luz, mas duas, ambas se movendo em direção à casa da fazenda, aumentando cada vez mais à medida que surgiam na minha frente.

Meu coração trovejou quando as luzes se aproximaram. Meu nervosismo virou pânico total quando corpos surgiram, ligados a ambas as luzes. Eu não conseguia identificar nenhum deles, mas eu sabia que eram homens. Homens saindo da floresta, segurando lanternas e caminhando para minha casa através da neve.

Não estava certo, eu podia sentir isso. Esta situação estava errada. As pessoas não se escondiam na floresta e caminhavam até uma casa no escuro. A preocupação e o medo tomaram conta da minha mente e eu permaneci na pia, em pânico, os observando se aproximarem.

O que diabos eu estava fazendo? Os homens estavam vindo para minha casa e eu estava de pé aqui, assistindo?

Eu saí do meu transe. Os homens ainda não tinham atravessado o quintal, então eu tinha um minuto, talvez dois, antes que eles estivessem na minha porta.

Um minuto não era o suficiente para eu pegar Rowen e sair correndo de lá, mas foi o suficiente para eu tirar minha filha da casa.

Corri para o andar de cima, meu coração batendo no meu peito, eu a peguei de sua pequena cama. Ela começou a protestar quando tirei o iPad de suas mãos, mas ela olhou para o meu rosto e sabia que as coisas não estavam bem.

Eu precisava que ela se escondesse, mas não podia ser em casa. E se eles viessem e procurassem por ela? No calor do momento, decidi mandá-la para a garagem. Estava trancada e ela poderia entrar rastejando pela porta do gato.

– Roe, eu preciso que você faça exatamente o que eu disser –, eu disse enquanto a carregava escada abaixo. – Sem perguntas, garotinha. Apenas faça. Há alguns homens andando até a casa e está assustando a mamãe porque eu não sei quem eles são. Eu preciso que você corra para a garagem, querida. Rasteje através da porta dos gatinhos. Esconda-se com a Sra. Fieldman e os gatinhos até Jess chegar em casa ou até que eu chegue lá. Não saia para mais ninguém. Apenas eu ou Jess. Ninguém mais. Mesmo se você os conhecer. Entendeu?

Senti a respiração de Rowen em pânico contra a minha bochecha, mas não parei de me mexer.

– Entendeu, Roe? – Eu repeti.

Ela assentiu.

– Bom. Essa é minha boa menina. Eu te amo. Você consegue.

Eu a empurrei para fora da porta da frente, feliz por ela não ter tirado suas botas quando tínhamos chegado casa.

– Corre. Rowen, corra. – Eu esperava que quem quer que estivesse se aproximando não tivesse alcançado a casa ainda.

Seus olhos se encheram de lágrimas, mas ela se virou e correu para a garagem.

Fechei a porta e rastejei para a sala de estar, agachada perto da janela enquanto a observava atravessar o gramado da frente.

Eu tinha acabado de enviar minha menina para fora sozinha e no escuro. O pânico se transformou em horror. Eu fiz a escolha certa? Ela estaria segura?

Quando seu pequeno traseiro desapareceu pela porta do gato, eu soltei um leve suspiro de alívio. Eu nunca menosprezaria aquela garagem novamente, ou o fato de que Jess a tinha construído rapidamente.

Ela estava segura. Até que eu soubesse o que estava acontecendo, ela estava segura.

Saí da janela e me enrolei no canto da sala de estar. Então eu esperei. Esperei por algo ruim que eu sabia que estava vindo em minha direção.

O tique-taque do relógio na lareira estava aumentando, muito parecido com o meu coração.

Por que eu não peguei meu telefone? Eu deveria ter pego meu celular. Estúpida!

Eu estava tão preocupada com Rowen que o deixei no balcão da cozinha.

Estúpida. Estúpida. Estúpida!

Antes que eu pudesse correr para a cozinha, botas bateram quando os homens fizeram o seu caminho sobre a varanda. Cada passo era como um tremor, aumentando exponencialmente o meu medo com cada baque.

A campainha tocou.

O que? Eu não sabia o que eu esperava, talvez que eles chutassem a porta ou quebrassem através do vidro da janela, mas não uma campainha tocando.

Eu estava sendo paranoica? Teria a ameaça de Scottie Pierce me empurrado para a beira da sanidade?

Eu me forcei a ficar de pé e caminhar até a porta.

Até eu saber exatamente o que estava acontecendo, eu não queria que esses estranhos vasculhassem a casa. Eu especialmente não queria que eles fossem para qualquer lugar perto da garagem. Eu precisava que eles focassem em mim e ficassem longe de onde minha garotinha estava escondida.

Eu olhei através do vidro da janela de vitral, na esperança de ver quem estava aqui. Um homem estava de costas para à porta, mas meu pânico diminuiu um pouco no rosto familiar do outro. –Everett? – Eu perguntei, abrindo a porta.

– Oi, Gigi.

– O que você está fazendo aqui? E por que você veio pela floresta?

Mas antes que ele pudesse responder, o homem com quem ele estava se virou.

O desconhecido.

O homem que foi brutalmente espancado no meu primeiro dia de trabalho no Hospital Jamison Valley. O que diabos estava acontecendo aqui? Por que Everett estava com o desconhecido? E qual era seu nome verdadeiro?

Minha mente buscou em seus arquivos de memória. Benson, Alex Benson. Esse era o nome dele.

– Nós precisamos ir, Carlson. O policial geralmente chega em casa por volta das cinco e meia ou seis. Você quer que eu pegue a garota? – Benson perguntou a Everett.

– Não! – Eu gritei. Puro terror percorreu minhas veias.

– Deixe-a. Ela não tem importância e não há tempo – disse Everett.

Meu pânico diminuiu ligeiramente agora que eu sabia que ele não estava interessado em Rowen. Um brilho maligno brilhava nos olhos castanhos de Everett. – Hora de ir, Gigi.

Sua mão brilhou antes de dois pinos ser cravados em minhas costelas, em uma fração de segundos antes de todo mundo ficar negro.

****

Jess


Algo não estava certo.

Eu podia sentir isso. Clicando no botão do visor, comecei a empurrar o caminhão para dentro da garagem, mas pisei no freio quando o corpinho de Rowen veio correndo ao redor do capô.

Abrindo a porta, eu fiz uma careta para ela.

– Rowen, você não pode correr em volta de um carro quando...

Que porra é essa?

Sua pele estava pálida e coberta de grandes manchas vermelhas. Lágrimas escorriam pelo rosto dela enquanto todo o seu corpo tremia.

– O que há de errado? – Eu perguntei, ajoelhando na frente dela.

– Mamãe – ela soluçou e caiu no meu peito.

– Mamãe, o que, Roe? – Eu pressionei, gentilmente sacudindo seus pequenos ombros.

– Mamãe veio ao meu quarto e disse que eu tinha que vir aqui e me esconder. Ela me fez rastejar pela porta do gatinho e me esconder com eles, porque havia homens assustadores vindo para a casa. Mas ela não veio me pegar. Onde ela está? Eu quero mamãe! –Ela gemeu.

O que diabos estava acontecendo? Quem veio aqui em casa e onde estava a Geórgia?

Eu peguei Rowen e corri com ela agarrada ao meu pescoço em direção à casa.

A porta da frente estava aberta. Quem quer que tenha vindo aqui não fechou completamente quando eles saíram. Eu abri com a minha bota e comecei a andar com cuidado pela a entrada.

– Shh, Roe – eu sussurrei em seu ouvido. – Você pode ficar aqui por um minuto enquanto eu olho ao redor da casa?

Ela assentiu e eu a coloquei atrás da porta.

Eu deveria ter deixado ela na garagem enquanto eu verificava a casa, mas ela não me permitiria. Ela estava assustada, então a entrada era o melhor que eu ia conseguir.

Eu deslizei minha arma de seu coldre, rastejando silenciosamente para dentro da casa. Eu chequei a sala de visitas primeiro, depois atravessei o escritório em direção à cozinha. O fogão estava ligado e tudo o que a Geórgia estava cozinhando estava fervendo. O telefone dela estava no balcão perto a pia.

O nó no meu intestino estava apertando. Não havia como ela deixar o telefone se ela não tivesse em pânico. Ela teria levado com ela e desligado o fogão. A menos que o que quer que ela tenha visto a assustou tanto que tudo o que ela fez foi se concentrar em levar Rowen a garagem.

Porra.

Eu rastejei rápido e silenciosamente pelo resto da casa, mas não havia sinal dela. Nada. E nada estava fora do lugar.

Guardei minha arma e voltei para Rowen. Ajoelhando na frente dela, eu lhe fiz uma pergunta atrás da outra sobre o que aconteceu.

Ela não sabia muito. Depois que ela chegou na garagem, ela fez como sua mãe tinha pedido e se escondeu na alcova do gato. De lá, ela não viu ou ouviu nada acontecendo na casa.

Eu a coloquei na sala de estar sob o cobertor de lã favorito da Geórgia, esperando que o calor e o cheiro persistente do xampu de baunilha de sua mãe a ajudariam a parar de tremer.

Então eu fui para a cozinha e dei uma olhada melhor ao redor.

Ela deve ter estado aqui quando ela ficou assustada. Meus olhos correram para o relógio. Cinco e meia. Geórgia não poderia ter desaparecido há muito tempo porque a panela no fogão estaria queimando, não apenas fervendo. E ela geralmente não chegava em casa até pouco depois cinco.

Geórgia dissera a Rowen que os homens estavam caminhando para a casa. Mas quem?

Eu desliguei o fogão e peguei a lanterna do armário em cima da geladeira antes de correr para fora.

Cheguei ao gramado e vi dois conjuntos de pegadas, uma em direção para a porta e outra na direção oposta. Ambas indo pelo mesmo caminho, passando pela lateral da casa e pelo quintal.

Puxando meu telefone, liguei para a central. Eu precisava de ajuda. Eu precisava dos meus oficiais para me ajudar a encontrar minha noiva.

Uma hora depois de eu ter feito a ligação, a fazenda estava cheia de gente.

Todos os meus oficiais vieram, cada um abandonando seus planos de sexta à noite para vir em meu auxilio. Sam estava andando pela casa, procurando por qualquer coisa que eu poderia ter perdido em minha rápida vistoria. Bryant estava com Rowen, conversando com ela novamente para ver o que mais ela poderia lembrar. E o resto dos meus oficiais estavam telefonando pela cidade, perguntando se alguém tinha visto Geórgia.

Nick apareceu cedo, depois de ouvir a chamada chegar pelo posto dos bombeiros. No caminho, ligou para Beau e Silas, que chegaram pouco tempo depois.

Nós quatro partimos para seguir as trilhas na neve, esperando que isso nos levasse a uma pista sobre onde Geórgia tinha sido raptada ou quem a tinha levado.

Enquanto procurávamos pistas, deixei Beau assumir a liderança. Ele era o melhor rastreador nesta parte do estado e muitas vezes foi chamado fora de Prescott para ajudar outras equipes de busca e resgate quando eles estavam tendo problemas para encontrar um turista ou alpinista perdido.

Nós seguimos as trilhas pelo gramado coberto de neve e pelo bosque de árvores além do quintal. Nós tínhamos acabado de acertar a linha das árvores quando Silas chamou. Nick e eu corremos para seu lado enquanto Beau continuava rastreando.

– Você encontrou alguma coisa? – Eu perguntei, correndo para o lado dele.

– Não. Mas olhe para esta área. Alguém esteve aqui durante um tempo, não apenas hoje. Toda esta área foi percorrida por várias vezes. Aquele pedaço lá está coberto de gelo. Um cara provavelmente ficou lá há alguns dias atrás durante o degelo. Isso congelou novamente quando a temperatura caiu ontem.

Beau correu em nossa direção depois que ele terminou sua busca.

– As trilhas passam pelas árvores até uma clareira. Há marcas de pneus por toda parte. Alguém dirigiu por lá muitas vezes e estacionou atrás daquela subida para que você não visse o veículo da casa – disse ele.

– Então eles devem ter andado até aqui e se esconderam –, disse Nick. – Observaram a casa dessa distância. Com qualquer par de óculos decente, eles podiam ver através de todas as janelas dos fundos. Eles provavelmente a observaram na pia da cozinha.

– Caralho – eu murmurei. – Quem iria vigiar a casa? E por que levar Geórgia? A única pessoa que eu poderia pensar que faria isso tinha morrido antes do Natal. E até mesmo Wes não teria cruzado essa linha. – Porra. Porra. Porra!

Eu estava ficando louco. Meu estômago estava tão apertado que eu quase me curvei.

O telefone de Beau tocou e ele se afastou do nosso grupo.

– Alguém fez alguma ameaça para você ultimamente? – Nick perguntou.

Eu quebrei a cabeça. – Wes. O único outro que me vem à mente é aquele garoto que esmagou as abóboras na varanda no Halloween. Disse algumas coisas para Geórgia. Mas ele é apenas um garoto punk. Um filho da puta rico que foi mimado.

– É melhor verificar ele. Qual o nome dele? Eu vou correr atrás, Sam vai falar com ele – Silas disse.

– Scott Pierce, Jr. – eu disse. – Vive no vale nessa nova área de desenvolvimento. Maior casa da colina. Ele é um idiota, mas ele não poderia ter feito isso sozinho.

– Entendi – disse Silas e se virou para sair.

–Silas? – Eu chamei. – Vá com Sam. Se seus pais lhe derem qualquer problema, diz que você é um oficial. Pressione-os com firmeza. Eles vão querer chamar seu maldito advogado, mas não permita. Interrogue esse garoto. Se ele souber de alguma coisa, faça-o falar. Eu cubro suas costas se der errado.

Se o garoto Pierce soubesse de alguma coisa, Silas tiraria isso dele. Sam era um bom interrogador, mas Silas iria deixar o garoto se mijando de medo até que ele cuspisse o que quer que ele saiba.

– Maisy também foi levada – Beau disse para mim e Nick.

– Que porra é essa? – Nick disse ao mesmo tempo que eu amaldiçoei.

– Mamãe passou para vê-la, – disse Beau, – Ver se ela estava se sentindo bem. Sua casa foi destruída. Parece que ela tentou lutar contra eles. Suas coisas estavam por todo o chão. A porta da frente estava escancarada. Mamãe me ligou logo depois que desligou o telefonema com a central.

Eu não podia acreditar que isso estava acontecendo. Quem diabos levaria Geórgia e Maisy? Eu podia ver alguém levando Geórgia se eles estavam tentando chegar a mim. Mas Maisy? Não faz sentido.

– Eu preciso voltar para Roe – eu disse. – Beau, você e Nick levam Bryant para a casa de Maisy. Veja o que você pode encontrar. Tem que ser as mesmas pessoas. Não há como duas enfermeiras serem levadas de suas casas na mesma noite por pessoas diferentes.

– Entendido, Brick – disse Nick.

E todos correram para fora da fazenda.

Uma hora depois, eu não estava mais perto de encontrar a Geórgia do que quando eu tinha chegado em casa. E eu não tinha ouvido falar de Beau, Nick ou Silas.

Eu queria desesperadamente estar lá fora procurando por ela. Ficar andando pela casa estava me matando. Mas quando acabei a revista pelo quintal, no segundo em que entrei pela porta, Rowen tinha se agarrado ao meu lado e não tinha soltado.

E eu não queria deixá-la. Eu não poderia deixá-la, não sozinha nesta casa sem mim ou a mãe dela.

Eu odiava pensar no que estava acontecendo com Geórgia. Enquanto eu estava andando de um lado para o outro, ela estava sendo espancada? Ou pior? Ela estava viva?

Deixei esses pensamentos passarem por minha mente por um segundo até que os afastei. Eu não me permitiria pensar o pior. Eu precisava me concentrar em encontrá-la e cuidar de Rowen. Geórgia gostaria disso. Que eu cuidasse de Roe primeiro, antes de mais nada. Então isso é o que eu faria.

Eu a peguei no colo enquanto andava checando os policiais e fazendo ligações telefônicas. Nem uma vez eu a coloquei no chão e nem uma vez ela soltou o aperto firme que ela tinha no meu pescoço.

– Jess? – Rowen sussurrou.

– Sim?

– Se a mamãe não vier para casa, eu ainda posso morar com você? – ela perguntou.

– Mamãe está voltando para casa Roe. Ok? Eu prometo. Nós vamos pegá-la de volta.

– E se ela não voltar? – Lágrimas rolavam sobre suas bochechas, pousando na minha camisa.

– Você sempre estará comigo. Não importa o que aconteça. Você é minha garota – eu disse.

– Então você será meu pai? – Ela perguntou.

– Eu já sou Pequena.

Ela enterrou o rosto no meu pescoço e eu beijei o topo de seu cabelo.

Falar sobre a possibilidade de não encontrar Geórgia estava me deixando doente. Eu tive que me sentar. O pânico era incapacitante.

Foi assim que Geórgia se sentiu quando me viu na sala de emergência? Porque se foi, eu tinha sido muito duro com ela. Eu tinha afastado seus medos e disse a ela que tudo ia ficar bem.

Eu não tinha a mínima ideia do caralho.

Isso não poderia ter acontecido. Eu precisava dela de volta. Eu precisava da minha luz.

Eu engoli o nó na garganta.

Se eu me descontrolar, Rowen também o faria. E por algum milagre ela estava se segurando. A força dessa garota nunca deixou de me surpreender.

Afastando Rowen, peguei meu telefone enquanto tocava.

– Silas.

–Os pais de Pierce estavam em casa. O garoto teve uma overdose hoje. O pai o encontrou desmaiado esta tarde e correu para o hospital. Parece que ele andou cheirando analgésicos. Gigi era sua enfermeira no pronto-socorro hoje. Carlson era o médico dele. O garoto ainda está lá, ficará no hospital a noite toda por ordem de Carlson.

– O que? Como não ouvimos nada disso? – Perguntei.

– Eu não sei – Silas murmurou.

– Carlson deveria ter ligado. Os médicos são obrigados a notificar as autoridades quando menores são internados por abuso de drogas – eu disse.

Pense Jess. Pense.

– Tem que ter algo a ver com esse garoto. Meu instinto está me dizendo que ele é a ligação. Eu estou indo ao hospital para falar com ele pessoalmente. Encontre-me lá com Sam, – eu pedi.

Desde que tenho uma Rowen relutante situada com minha equipe, entrei no meu carro e voei para Cidade. Scottie Pierce me diria o que diabos estava acontecendo, mesmo que eu tivesse que bater nele.


Capítulo Vinte e Cinco


Acordei sozinha em um chão de cimento frio, deitada de lado com as mãos amarradas atrás das minhas costas.

Everett e Benson me levaram para um porão, a julgar pelo pequeno retângulo com janelas no alto das paredes de blocos de concreto. Prateleiras altas de metal se alinhavam no quarto, empilhadas com suprimentos médicos extras. No canto, uma cama estava envolvida em plástico.

Nós estávamos no hospital.

Eu nunca tinha estado no porão do hospital antes. Durante meu primeiro plantão, minha supervisora tinha apontado para a porta do porão, mas não tinha me trazido até aqui. A porta do porão era bem na escada que levava ao andar de cima para o segundo andar. Eu passei por essa porta inúmeras vezes, mas nunca através dela.

Meu corpo tremia violentamente, tanto pelo frio como pelo medo. Quando Everett me levou de casa, eu não estava usando um casaco e meus pés estavam descalços. Estava congelando aqui no chão de cimento deitada em apenas um par de jeans rasgados e uma blusa de manga comprida.

Quanto tempo eu estava aqui? Eu tirei meu relógio para preparar o jantar. Nenhuma luz vinha das janelas do porão, mas escurecia tão cedo nesses dias que isso não me diria muito. Poderia ser seis horas da tarde ou três horas da manhã.

Eu esperava que Rowen estivesse bem e Jess a encontrasse na garagem. Que Everett não tivesse mudado de ideia e ido atrás dela uma vez que eu apaguei.

Como Jess ia me encontrar? Meu telefone estava no balcão da cozinha. Meu carro estava estacionado na entrada da garagem. E a menos que Everett tenha deixado um rastro de migalhas de pão para Jess seguir, o que eu duvido muito, ele não saberia por onde começar a me procurar.

Eu deitei minha cabeça no chão e enrolei minhas pernas firmemente em meu peito, tentando me manter o mais quente possível. Ergui minha cabeça para a porta quando um barulho de porta de metal fechou com força. O som de botas ecoou nas paredes de cimento, cada vez mais alto, passos vieram em minha direção.

Everett entrou no depósito, seguido por Benson. Ele estava carregando uma mulher em seus braços. Mas não era apenas uma mulher.

Era Maisy.

Sua cabeça loira estava inclinada para trás, um corte na têmpora. Seus braços e pernas estavam balançando ao lado dela.

Meu Deus! Por favor, permita que esteja viva.

– Bem, bem. Olha quem está finalmente acordada – disse Everett com um sorriso malicioso.

– O que está acontecendo? – Eu perguntei.

Ele me viu lutar para me sentar. Seu olhar estava cheio de ódio. Eu estava olhando para um desconhecido.

Ele não era o Everett que eu conhecia, o bom e bonito médico com quem trabalhei por mais de seis meses. Ele não era o homem quieto ou tímido que Maisy namorara no outono. Não havia um traço de compaixão ou bondade que eu tinha visto nele antes.

Desapareceu tudo.

Substituído pela raiva e arrogância. Seus olhos eram astutos e malignos. Isso não era absolutamente o Everett que eu conhecia.

– Gigi, sempre tão curiosa – disse ele. – Teria sido melhor para você ser como a nossa querida Maisy aqui. Estúpida. Benson, a coloque ali, – ele ordenou, apontando para a cama de hospital.

Benson jogou Maisy na cama. Ela se inclinou para baixo, sem mover um músculo, mas seu peito se expandiu com uma respiração. Inconsciente, mas viva. Eu esperava que tudo o que eles fizeram não estivesse machucando o bebê dela.

– Por favor, Everett. Não nos machuque. Eu não sei o que está acontecendo, mas por favor nos deixe ir – Eu implorei.

– Scottie contou a você sobre mim, não foi? Eu sabia quando vi você sair do quarto dele. Você estava juntando as peças.

– Juntando que peças? – Eu perguntei.

– Não seja burra, Gigi. Não combina com você. Você sabe muito bem que eu sou o único abastecendo os viciados na cidade com pílulas, sem mencionar a metade dos estudantes do ensino médio. Scottie não podia ficar de boca fechada, podia? Bem, nós vamos cuidar dele também esta noite. – O rosnado em seu rosto era do puro mal.

– O que? Ele não me contou nada! Eu juro, Everett! Eu não sei o que está acontecendo. Por favor. Por favor, deixe eu e Maisy ir –implorei.

– Não minta, Gigi.

– Eu não estou mentindo. Eu juro! Eu não sei de nada. Por favor, Everett, por favor, não nos machuque. Maisy está grávida. Eu tenho uma garotinha que precisa de mim. Apenas nos deixe ir, – eu implorei novamente, meus olhos se enchendo de lágrimas.

– Não. Essa prostituta não vai ter um filho. Eu não vou permitir isso. Ela teve sua chance. Ela poderia ter feito um aborto e nada disso estaria acontecendo com ela. Mas ela não fez. Então agora ela pagará o preço por sua desobediência.

Ele era louco. Totalmente louco.

Eu não podia argumentar com ele. Implorar não estava funcionando. O que eu ia fazer? Eu precisava pensar. Eu precisava sair dessa PO de lugar. Mas eu não deixaria Maisy aqui sozinha.

Minha mente correu, formando, depois descartando diferentes planos de fuga. Nada que eu pensei podia funcionar. Eu procurei no quarto freneticamente, mas nada cortaria as amarras dos meus pulsos.

– Benson, – disse Everett, – Vá visitar Scottie. Ele está no segundo andar. Descubra o que ele disse para Gigi. Em seguida, enfie o oxigênio em sua garganta para que ele nunca mais volte a acordar.

Isso não estava acontecendo. Eu não tinha acabado de ouvir Everett ordenar a um homem que matasse um garoto adolescente.

– Everett, não! – Eu gritei. – Ele não me contou nada sobre você. Ele apenas disse que se eu contasse a Jess que ele estava tomando pílulas que ele iria me machucar e a minha filha. Eu juro. Por favor. Você não precisa matá-lo. Ele é só uma criança! Deixe-o em paz!

– Tarde demais, Gigi – disse Everett. – Scottie achou que poderia se juntar à minha equipe. Este foi o teste dele. Ele falhou e agora está fora. – Ele apontou para a porta. – Benson, vá.

Isso era um pesadelo. A qualquer momento eu acordaria em casa segura na fazenda com Jess. Isso não poderia estar acontecendo.

– Por quê? – Perguntei a Everett. – Por que você está fazendo isso?

– Eu quero dinheiro e vender pílulas é dinheiro rápido. Especialmente sem concorrência. Eu estou cansado de resolver problemas de outras pessoas, então eu vou explorá-los em vez disso, me alimentar das fraquezas dos pobres e idiotas. Em breve vou embora, talvez mudar para as Maldivas e nunca olhar para trás.

Concorrência? Ele tinha que estar falando de Wes. Ele era o único outro traficante de drogas em Prescott. Pelo menos era o que eu esperava. Com Wes fora do caminho, qualquer um que quisesse drogas teria que passar por Everett.

– Você matou Wes? – Eu engasguei.

– Eu sou um homem extremamente inteligente, Gigi. Claro que não matei Wes. Mr. Benson matou Wes. Além disso, ele tinha sua própria dívida para resolver depois da surra que Drummond lhe deu este verão.

– Wes te espancou? Por quê? – Eu perguntei.

– Eu estava entrando no que Wes considerou seu território. Sua surra foi destinada a ser uma mensagem. Uma ameaça. E eu não respondo bem às ameaças. Algo que o falecido Sr. Drummond aprendeu muito bem.

– Mas porque eu? Porquê Maisy? O que você vai fazer conosco?

– Temo que você tenha se informado muito bem. Eu tive Benson em sua casa mantendo um olho em você e seu amado xerife –, disse ele.

Eu pensei que estava imaginando essas luzes na primeira noite em que as vi. Eu que deveria ter mencionado algo para Jess. Estúpida.

– Jess vai me encontrar. Ele está lá fora agora procurando. Eu sei disso. Você não vai se safar desta.

– Agora, Gigi. Eu já disse que não respondo bem a ameaças. O xerife não está em lugar algum perto daqui. Ele tem estado tão concentrado em Wes que eu passei completamente despercebido. E fiz questão de agir como um rato tímido e acanhado sempre que ele estava por perto, – ele disse arrogantemente.

– Ele sabe que há alguém na cidade vendendo pílulas –, retruquei.

– Sim. Ele sabe. Mas ele está tão longe do meu rastro que levará anos para ele chegar até mim.

Meses atrás, naquele dia com Gus Johnson, fiz a suposição errada. Ele sabia porque ele era o traficante. E maldição, eu não tinha contado a Jess sobre isso também. Ele poderia ter visto de um ângulo diferente.

Um peso se instalou em meu coração. Se eu não fugisse, eu estava morta. Everett era um psicopata com a intenção de me matar. Eu nunca mais sentiria os braços da minha filha enrolados em volta do meu pescoço ou ouvi-la dizer que me amava. Eu nunca mais sentiria o beijo de Jess na minha cabeça enquanto eu dormia aconchegada do seu lado.

Fechei meus olhos e tentei acalmar meu coração acelerado.

Pense. Pense. Pense.

Você consegue fazer isso.

Encontre uma saída.

Eu poderia fazer isto. Eu só precisava me manter calma e esperar por uma oportunidade. Everett era tão arrogante que com certeza ele cometeria um erro. Certo?

Por favor, deixe-o cometer um erro. Por favor. Por favor. Por favor.

Da minha posição encostada na parede do fundo, pude ver através da porta do depósito e do corredor. Se eu conseguisse sair e subir as escadas, estaria livre. Lá pessoas estavam trabalhando no andar de cima. Eu só tinha que chegar até elas.

Se fosse o turno da tarde, alguém estaria no pronto-socorro. Se fosse o turno da noite, os enfermeiros estariam no segundo andar. Mas mesmo que eu não visse nenhum dos funcionários, se pudesse subir as escadas para um telefone, eu estaria segura.

Concentrei-me em encontrar minha oportunidade, tentando desesperadamente bloquear o medo em minha mente. Eu ia dar um jeito de escapar, disse. Ele não tinha amarrado minhas pernas, então mesmo que eu não conseguisse ter meus braços livres, eu ainda podia correr. Talvez eu tenha que voltar por Maisy.

Ao som da porta da escada se abrindo novamente meus olhos miraram para a entrada. Eu estava esperando Alex Benson entrar com outra vida em suas mãos. Mas não era Benson, era Ida.

– Ida! – Eu gritei. – Ajude-nos! Corra, por favor, peça ajuda! –Espero que meu alerta lhe dê alguns segundos a mais e ela teria uma vantagem inicial em Everett.

Meu grito parou quando ela sorriu para mim. Ela não estava correndo. Ela estava aqui embaixo de propósito.

– Passamos Scottie – disse Everett.

– Benson saiu para preparar um lugar para essas duas. Aqui está mais uma dúzia de comprimidos. Ela entregou um saquinho cheio de oxicodona.

– Bom – disse Everett. – Esconda-os junto com os outros e depois volte ao andar de cima. Espere por minha ligação. Preciso fazer algumas coisas aqui antes de estarmos prontos para sair.

Meu coração despencou no meu estômago com uma decepção esmagadora. Toda a esperança foi perdida.

Não Ida. Por favor, ela também não. Eu a respeitava. Eu gostava dela. Eu confiava nela. Agora isso tudo tinha morrido. Ela era uma perversa desconhecida que traiu a mim e Maisy.

Esse pesadelo continuava piorando.

Com sua tarefa completa, ela olhou para mim e rosnou: –Tchau, Gigi.

Seu sussurro enviou arrepios pela minha espinha. O peso no meu peito estava ficando mais e mais pesado. A cada minuto que passava as coisas pioravam e o medo continuava aumentando.

Há quanto tempo ela ajudava Everett a roubar comprimidos de pacientes? Ela tinha estado contrabandeando debaixo de todos nós. Não é de admirar que o Sr. Johnson não tenha respondido ao oxi. Ele não tinha recebido nada.

Pensar em todos os pacientes que esses dois haviam visto no último ano, toda a dor que eles suportaram porque receberam pílulas falsas. Era doente e cruel.

Minha cabeça virou para Maisy enquanto ela se agitava na cama, o plástico amassando e chiando quando ela se mexeu.

– Oh, bom. Agora que ela está acordada, podemos mudar isso – Everett anunciou.

Maisy olhou para Everett e depois para mim no chão. Seus olhos se encheram de pânico quando ela viu as braçadeiras de plástico em volta dos meus pulsos.

– Maisy, amor – disse Everett, caminhando para a cama. – Eu quero que você entenda que suas ações trouxeram você até aqui. Você deveria ter interrompido essa gravidez. Eu te disse que não tinha interesse em ser pai de um filho. Mas não importa. O feto não estará vivo por muito mais tempo.

Ele enfiou a mão no bolso e tirou um frasco de remédio.

– Você vai tomar isso – disse ele. As pílulas chocalharam quando ele sacudiu a garrafa. – Você pode sobreviver a isso. Esse feto não vai.

– Não! – Ela gritou, mas parou quando ele levantou a mão e deu um tapa nela.

– Você irá. Ou eu vou cortar a garganta de Gigi bem na sua frente.

Ela balançou a cabeça freneticamente e se afastou o mais longe que podia.

Isso não era um pesadelo. Isso era o inferno. Maisy e eu havíamos sido sequestradas e levadas direto para o inferno.

Ele inclinou seu corpo sobre o dela, a prendendo na cama, e começou a abrir a boca.

– Pare! – Ele gritou.

Ela estava chutando e arranhando as mãos dele, torcendo a cabeça para fora do aperto dele.

O som de seus gritos encheu meus ouvidos. Eu tinha que nos tirar daqui. Eu tinha que parar com essa loucura. Eu não deixaria ele forçar essas pílulas em sua boca e nos levar para o –lugar – que Benson estava preparando.

Com Maisy lutando, Everett não estava prestando atenção em mim.

Talvez juntas pudéssemos parar Everett por tempo suficiente para fugir. Nós apenas tínhamos que chegar a um telefone. Isso é tudo que precisávamos. Um telefonema e Jess nos salvaria.

Silenciosamente, encostei na parede e a usei para me levantar. Meu plano era louco, mas era tudo em que consegui pensar. Eu recuei alguns passos e endireitei meus ombros. Então, dobrando meus joelhos, me preparei para o meu ataque. Tudo que eu tinha era meu corpo. Não era muito, mas com força suficiente, talvez eu pudesse bater em Everett e jogá-lo fora de Maisy.

Jess passou meses me ensinando sobre futebol, as estratégias, as regras... E como os jogadores caiam com aqueles lances de bloqueio corporal. Como um jogador menor poderia derrubar um adversário maior.

Então respirei fundo e fui em frente.

Eu corri a uma curta distância entre eu e Everett. Abaixando minha cabeça em um ombro, eu batendo em sua cintura com o outro.

O impacto nos enviou ambos rolando para o chão. Eu caí com um baque duro, Everett apenas centímetros de distância. Levou um segundo para perceber o que tinha acontecido, mas então eu estava freneticamente lutando para voltar para os meus pés.

– Gigi! – Maisy gritou.

– Corra, Maisy! Corra! – Eu gritei.

Ela pulou da mesa quando Everett recuperou o equilíbrio. Ele virou para mim, agora em pé, e levantou o punho. Uma fração de segundo depois, meu rosto rebentou, seu punho se movendo rápido demais para ver.

A dor ofuscante irradiava através da minha bochecha e dos meus olhos. Meus joelhos desmoronaram e racharam contra o chão de cimento.

Everett estava furioso, seu corpo pairando sobre mim enquanto eu estava de joelhos, tentando limpar os pontos brancos da minha visão. – Sua puta estúpida. Eu vou arrancar seu coração por isso.

Do canto do meu olho bom, eu vi Maisy freneticamente procurando nas prateleiras ao lado da cama. Everett estava de costas para ela enquanto ele gritava na minha cara. Algo em uma caixa deve ter chamado sua atenção, porque imediatamente foi para ela.

– Foda-se você! Foda-se, Everett! Você vai pagar por isso –, eu gritei para dar a Maisy mais alguns segundos para o que ela estava fazendo.

O lábio de Everett se curvou. Ele levantou o punho novamente e meus olhos dispararam para Maisy atrás dele. Na mão dela havia um bisturi ainda na embalagem estéril. Ela estava segurando em seu punho com tanta força que os nós de seus dedos estavam brancos.

Everett notou que meus olhos vagaram e ele começou a se virar. Mas no momento em que ele fez, Maisy enfiou o bisturi na garganta de Everett.

Sangue espirrou de seu pescoço enquanto ele gritava, agarrando freneticamente o bisturi que estava o sufocando. Eu não sabia onde ela tinha golpeado ele, mas se não fosse profundo o suficiente ou se ele conseguisse retirar o bisturi, ele poderia vir atrás de nós.

Maisy estava congelada atrás de Everett, com os olhos arregalados. Seu rosto e mão estavam salpicados com o sangue dele.

– Maisy! – Eu gritei, em pé. – Maisy, vamos embora!

Ela deu um grande passo para trás, ainda observando Everett, mas depois seus olhos arregalados encontraram os meus.

– Corra! – Eu gritei de novo. Ela sacudiu o choque e nós duas saímos pelo depósito, correndo o mais rápido que pudemos. Meus braços amarrados nas minhas costas estavam me atrasando, mas eu apenas continuei em movimento. Maisy tentou o seu melhor para evitar que eu caísse no chão enquanto corríamos. Pelo longo corredor. Subindo as escadas. Pela porta.

A cada passo, eu rezava para que Everett Carlson não estivesse apenas a um passo atrás.


****

Jess


Encontrei Silas e Sam na entrada do pronto-socorro e marchei direto por eles, direto pelas portas de vidro para as escadas para encontrar Scottie Pierce. Eu segurei o corrimão, mas antes do meu pé pudesse dar o primeiro passo, uma porta ao lado da escada se abriu.

Geórgia veio voando, Maisy em seus calcanhares.

– Geórgia! – Eu me joguei para frente para pegá-la quando ela tropeçou.

Ela desmoronou em meus braços, suas mãos amarradas atrás das costas. Um lado do rosto dela estava fodido. Uma mancha vermelha e inchada cobria sua bochecha e seu olho estava quase inchado.

Maisy me acertou em seguida. Ela se agarrou à minha camisa, tentando não cair de joelhos. Seu rosto estava coberto de sangue.

Porra.

Eu levantei Geórgia com um braço enquanto amparava Maisy com o outro. Quase caí com as duas até que Silas agarrou Maisy, a pegando e apertando contra o peito dele.

Eu ergui Geórgia em seus pés, então peguei meu canivete.

– Everett! – Gritou Geórgia. – Jess, ele está lá embaixo. Ele ia nos matar, mas Maisy esfaqueou ele para que pudéssemos fugir e ele está vendendo as pílulas na cidade e Alex Benson matou Wes e ele nos deixou para drogar Scottie e Ida também está nisso...

Ela estava falando tão rápido que eu mal conseguia entendê-la.

– Respire, baby – eu disse, tentando acalmá-la. As veias do seu pescoço estavam visivelmente latejando de seu pulso acelerado.

Ela respirou fundo e começou a tremer. Enquanto ela tentava se acalmar, eu priorizei, processando rapidamente toda a merda que ela acabara de me contar.

– Onde está Carlson? – Eu perguntei a ela calmamente.

– Lá embaixo no depósito.

– Sam, suba as escadas. Encontre uma enfermeira, qualquer outra pessoa além de Ida. Ajude o Scottie. Chame Peterson ou Seavers aqui, agora.

– Cuidarei disso – disse Sam.

– Silas, você fica aqui com Maisy. Ligue para o Bryant. Traga-o aqui para prender Ida. Depois peça que ele coloque um mandado de busca para Benson – Pedi. Silas não respondeu, ele apenas pegou o telefone e começou a discar.

– Geórgia, você fica aqui com o Silas. Se Peterson ou Seavers chegarem aqui antes de eu voltar, os leve para cima, – eu disse.

– Ok – ela assentiu.

Dei-lhe um beijo rápido na testa e a soltei.

– Rowen está bem? – Ela perguntou.

– Ela vai ficar agora – eu disse.

Seus olhos se fecharam em alívio. Um último abraço e eu a deixei. Lentamente, com minha arma na mão, eu me esgueirei pelo depósito, sendo cauteloso no caso de Carlson ter alguma surpresa esperando.

Mas não havia nenhuma. Everett estava deitado em uma poça de seu próprio sangue. Morto.

Eu me ajoelhei ao lado de Everett para dar uma olhada mais de perto na ferida da garganta dele. Era profunda. Maisy havia empurrado a porra do bisturi fundo, e isso deve ter atingido uma grande artéria. Ele engasgou com seu próprio sangue.

Já foi tarde.

****


Gigi


Prescott vibrou por semanas após os eventos no hospital.

Todos na cidade estavam falando sobre Everett Carlson e Alex Benson. Como eles eram de fora, suas ações não tinham sido tão perturbadoras quanto as de Ida, uma residente de Prescott ao longo da vida. Os bons cidadãos de Prescott ficaram indignados com o fato de um dos seus próprios ter se envolvido em tal traição.

Bryant chegou ao hospital pouco depois de Jess ter entrado no depósito. Ele tinha prendido Ida e ela imediatamente confessou ajudar Everett no contrabando de drogas de dentro do hospital. Ela também disse que a operação de Everett tinha ido além de Jamison Valley em municípios vizinhos com pequenos hospitais. Quatro outras enfermeiras estavam atualmente presas pelo seu envolvimento.

Como parte de sua confissão, Ida havia entregado o paradeiro de Alex Benson. Bryant o encontrou em um local remoto nas montanhas onde Benson estava cavando duas covas rasas.

Ida estava atualmente aguardando a sentença, mas Benson foi imediatamente transferido para a penitenciária estadual onde ele estava cumprindo a primeira das duas sentenças de prisão perpétua pelo assassinato de Wes Drummond e a tentativa de assassinato de Scottie Pierce.

Sam tinha chegado ao Dr. Peterson a tempo de salvar a vida de Scottie. Eles lhe fizeram uma lavagem estomacal e administraram um antídoto para os narcóticos que Benson tinha forçado para baixo da sua garganta. Não muito depois de sua libertação, Scottie e seus pais haviam deixado Prescott. Sua mansão foi colocada para venda no dia seguinte à sua partida.

O Dr. Seavers também veio naquela noite e conferiu Maisy. Um ultrassom mostrou que nenhum mal tinha acontecido para o bebê de Maisy durante o sequestro de Everett, mas Maisy era um desastre emocional. Seu ex-namorado e o pai de seu filho não nascido tinham a intenção de assassinar seu bebê e provavelmente ela.

Doeu meu coração pensar no que ela estava passando. Eu tentei ligar para ela todos os dias, mas sua mãe, que havia se mudado com ela até que se sentisse melhor, sempre atendia e me dizia que Maisy não queria falar ainda. Eu não pressionei muito. Eu sabia que no seu devido tempo ela se reaproximaria, agora ela só precisava de algum espaço. Eu poderia dar isso a ela.

Por pouco tempo.

Jess fez o melhor que pôde para passar o maior tempo possível comigo depois do incidente. Mas foi um tempo ocupado para o xerife. Não só ele tinha resolvido o assassinato de Wes, mas o caso de incêndio criminoso também.

Durante a confissão de Benson, ele disse que Wes tinha sido o único a começar o fogo na casa do zelador. Wes pretendia ir atrás de Everett, mas recebeu o endereço errado. Ele destruiu desnecessariamente as posses de um homem porque ele não se preocupou em confirmar o número da casa.

Enquanto Jess trabalhava, fiquei perto da fazenda.

Na primeira semana depois daquela horrível noite de sexta-feira, não saí de casa. Meu rosto precisava de tempo para curar, e eu queria manter Rowen perto de mim. Ela não sentia a necessidade de se afastar muito de sua mãe, então passamos muito tempo nos divertindo juntas no sofá, tendo uma maratona de filmes de princesa da Disney.

Mas depois de uma semana, eu sabia que não poderia mais me esconder. Eu tinha que voltar para a cidade e sair de casa. Eventualmente, eu precisaria voltar para o hospital e enfrentar meus medos.

Mas não agora.

Minha primeira viagem à cidade seria para o jantar no café.


****

– Oi, papai! – Rowen gritou pela porta do escritório de Jess.

– Ei, Pequena – disse ele, levantando da cadeira e a pegando.

Na última semana, Rowen só tinha chamado Jess de papai. Eu não tinha certeza se eles tinham falado sobre isso ou o que, mas eu não me importava. Eu estava PO adorando isso. Toda vez que ela dizia isso, eu sorria e olhava para Jess, que estava sempre sorrindo de volta.

– Estávamos pensando em comer no café hoje à noite. Tudo bem para você, xerife? – Perguntei.

– Qualquer coisa para as minhas meninas – disse ele, deslocando Rowen para um lado e se inclinando para me dar um beijo leve.

– Você pode sair agora ou devemos ir matar algum tempo?

– Vamos – ele disse e pegou minha mão, me puxando atrás dele e fora da porta da frente da delegacia.

Ele colocou Rowen em seu assento e, em seguida, abriu a porta para mim. Mas antes que eu pudesse entrar, ele colocou a mão na minha barriga e me empurrou para trás, deslizando na minha frente.

E depois ele me beijou.

Um beijo tão longo e profundo, que esqueci tudo sobre as coisas ruins da vida e apenas me lembrei das boas. Porque nós tivemos muitas. E nós iríamos vivê-la bem juntos.

– Parem de beijar! Vocês estão sempre se beijando. Eu estou cansada disso. Vamos! Estou com fome de batatas fritas! – Rowen gritou.

Jess afastou os lábios, mas não fez outro movimento. Ele apenas ficou lá, segurando meus olhos com os seus, gelo azul brilhando para mim com mais amor do que eu esperava encontrar na minha vida.

– Você está bem, querida?

– Eu estou agora – eu disse.

Porque eu absolutamente estava. Enquanto ele estivesse comigo, eu sempre ficaria bem.

– Eu te amo, Geórgia.

– Amo você, Jess.


Epílogo


Um ano e oito meses depois...


– Gigi? – Maisy chamou.

– Sala de jantar!

Eu estava sentada à mesa, enchendo pequenos saquinhos de abóboras com biscoitos caseiros para a festa de Halloween da primeira série de Rowen amanhã.

– Hey – ela disse.

– Oi! – Levantei da mesa e estendi a mão para Coby. Ela o entregou e eu comecei a fazer cócegas e beijá-lo até que ele se contorceu e protestou tanto que eu tive que colocá-lo no chão. Maisy e eu o seguimos até a sala de estar enquanto ele caminhava até a pilha de brinquedos infantis no canto, caindo em seu traseiro para brincar.

– Onde está Benny? – Maisy me perguntou quando ela se largou no sofá.

– Ele está com Jess e Roe na garagem. Ele estava fazendo uma enorme confusão de biscoitos, então o levei para fora e disse à Jess que ele tinha que vigiá-lo por pelo menos uma hora. Mas eu vou ir lá e pegá-lo para que ele possa brincar com Coby, – eu disse, correndo para fora para buscar meu filho.

Benjamin Coppersmith Cleary nasceu exatamente nove meses depois que Jess e eu nos casamos.

Eu parei meu controle de natalidade uma semana antes do nosso casamento desde que Jess e eu decidimos que não queríamos esperar muito tempo para ter um bebê. Nenhum de nós queria que Rowen fosse muito mais velha que seus futuros irmãos. Quando eu parei de tomar minhas pílulas, achei que tínhamos pelo menos seis meses até que elas saíssem do meu organismo. Mas pelo meu cálculo, só tive seis dias.

– Jess? – Eu chamei na garagem.

– Aqui em cima! – Ele gritou.

Jess tinha ficado nervoso neste verão sem qualquer tipo de projeto de construção. Nosso projeto de ampliação tinha sido concluído antes de Ben nascer, e depois de seis meses de nada para ele trabalhar, ele declarou que estava construindo um espaço de escritório acima da garagem. A escada contra a parede dos fundos estava pronta e agora ele estava terminando a sala que se estendia ao final do prédio para que a garagem ainda fosse bonita, meu único pedido no projeto.

Subindo as escadas, ouvi Rowen falando com Ben.

– Não, Benny! Essa é a chave de soquete do papai. Você não pode pegar isso. Aqui, você pode pegar essa, uma de sua própria caixa de ferramentas – disse ela.

– Maisy está aqui, querido, então eu vou levar Benny para dentro de casa para que ele possa brincar com Coby.

– Ok, eu quero terminar de prender essa placa de gesso, então eu vou entrar – disse ele.

Inclinando-me para pegar o bebê Ben, eu o levantei no meu quadril. Ele era a perfeita mistura de mim e Jess. Ele tinha o meu cabelo, que atualmente estava coberto de poeira de gesso, e minhas sardas. Mas ele tinha conseguido os olhos azuis de seu pai e ele ia ser alto como Jess. Com menos de um ano de idade, e ele já pesava o bastante para que eu não pudesse carregá-lo por muito tempo.

– Rowen, você quer entrar? – Perguntei.

– Posso ficar com o papai? – Ela não só tinha pó de gesso em seu cabelo, mas também cobrindo seus braços e rosto.

– Claro, garotinha – eu disse e lhe soprei um beijo.

Rowen tinha se tornado a menininha do papai. Onde quer que Jess fosse, Rowen não estava muito atrás. E logo depois que nos casamos, ele a adotou legalmente. Durante semanas ela insistiu que nós a chamássemos pelo seu nome completo, Rowen Grace Cleary.

Voltando para dentro de casa, aproveitei meu minuto sozinha com Ben e implacavelmente beijei suas bochechas rechonchudas. Assim que chegássemos, ele perderia imediatamente o interesse em sua mãe em favor de brinquedos e seu amiguinho.

Maisy e Coby vieram para jantar, algo que tentamos fazer pelo menos um domingo ao mês. Isso dava aos garotos, que tinham apenas quatro meses de diferença, a chance de brincar juntos e Maisy e eu a chance de fofocar.

Maisy passou por um período difícil nos primeiros meses após o incidente do hospital, mas seus pais insistiram para ela começar a ver um terapeuta e isso parecia ajudá-la a lidar não apenas com o sequestro de Everett, mas também com o fato de tê-lo matado.

Uma noite, pouco antes de Jess e eu nos casarmos, ela veio à fazenda para conversar. Foi a primeira vez que ficamos cara a cara desde a noite no hospital.

Ela me perguntou se eu achava que havia algo mais que ela poderia ter feito, alguma outra maneira de incapacitar Everett, uma maneira de mudar o resultado. Eu tinha respondido honestamente. Everett estava louco. Ele nunca teria parado até que tivesse conseguido nos matar. Eu tinha certeza disso.

Nossa amizade aumentou desde aquela noite, e apesar de eu ter feito muitos novos amigos em pouco tempo em que vivíamos em Prescott, Maisy era a minha mais próxima. Minha melhor amiga e confidente. Ela também foi a dama de honra no meu casamento.

Jess e eu nos casamos logo após o incidente no hospital. Nós tivemos uma simples cerimônia na igreja e depois servimos um jantar para a família e amigos na fazenda.

Felicity tinha voltado a Prescott para o casamento e com seus dois filhos perto, Noelle estava mais feliz do que eu alguma vez já tinha visto. Silas tinha sido o padrinho de Jess, ambos vestindo ternos pretos simples. Rowen e Maisy estavam ao meu lado em vestidos de chiffon cor de lavanda.

Meu vestido era branco simples com um toque grego. Eu usei os diamantes que Jess me deu e meu cabelo tinha sido puxado para trás em um monte de nós e voltas intrincadas.

Nosso casamento foi simples, mas perfeito. Rowen e eu andamos de mãos dadas pelo corredor e para Jess onde dissemos nossos votos.

Minha foto favorita do dia do nosso casamento foi emoldurada e pendurada na parede entre a sala de estar e a sala de jantar. Rowen estava de perfil, beijando a bochecha de Jess. Eu estava olhando para eles e rindo. E Jess, com um braço em volta dos meus ombros, estava olhando para a câmera com um enorme sorriso no rosto. Sempre que eu olhava para aquela foto, o que era muito, uma onda quente de felicidade passava por mim.

Eu coloquei Ben com Coby para que eles pudessem brincar com legos e afundei no sofá ao lado de Maisy.

– Então, caso você não saiba, sua cunhada é uma vadia – disse Maisy.

Eu ri. – Eu a vi em ação, lembra? O que aconteceu?

– Silas veio para o motel hoje porque estava me ajudando a consertar uma pia quebrada. Quando ele terminou, estávamos conversando na recepção. Ela estaciona seu carro chique e sai, indo para o quarto dela. Mas então ela olha e para de repente quando ela vê Silas comigo. Eu juro, Gigi, se ela pudesse ter ficado verde, ela teria. Ela deve pensar que há algo acontecendo comigo e Silas. Ela me deu o olhar mais mal-intencionado que eu já vi no rosto de qualquer mulher. Nunca. Bem... Exceto Andrea Merkuso. Ela é cadela mor. Mas Felicity não está muito atrás no ranking.

– Há algo entre esses dois, Silas e Felicity. Tenho certeza disso, – eu disse.

– Ha! Bem, então você vai adorar a próxima parte. Ele não sabe que eu o vi, mas ontem à noite, Silas entrou no quarto dela por volta das onze e saiu depois da meia-noite. Coby não estava dormindo, então eu estava fazendo alguma papelada no escritório.

– De jeito nenhum! – Eu gritei, pulando no sofá. – Eu sabia!

– Sim. – Maisy sorriu.

– Eu amo que você possui o motel. Você tem as melhores fofocas.

Após o ataque, Maisy nunca mais voltou ao hospital. Nem uma vez. Nem mesmo para ter Coby. Quando ela começou a entrar em trabalho de parto, Beau a levou para um hospital em Bozeman. E sempre que Coby precisava de um check-up ou estava doente, ela o levava para Bozeman ou pedia ao Dr. Seavers para fazer uma visita domiciliar.

Maisy superou muito no que se refere a Everett. Sua força e resiliência eram inspirador. Coby era a imagem de seu pai, mas isso nunca a abalou. Todos os dias, ela ignorou a semelhança e só via seu lindo menino. Então, se desistir de sua carreira de enfermagem era algo que ela precisava fazer para viver uma vida mais feliz com seu filho, tinha todo meu apoio. Embora eu tenha sentido falta de trabalhar com ela.

Sua posição no hospital havia sido preenchida por uma enfermeira da unidade de queimados em Spokane que tratou de Milo após a explosão. O nome dela era Sara e ela era uma garota jovem gentil e tímida. Perfeita para Milo. Eles se apaixonaram enquanto ele estava lá e no dia em que ele voltou para Prescott, ela veio com ele.

Depois que ela largou o emprego no hospital, Maisy assumiu a gerência do Fan Mountain Inn, o único motel de Prescott. Os proprietários estavam à beira de se aposentar e queriam passar mais tempo viajando. Quatro meses atrás, eles lhe fizeram uma ótima proposta para comprar o motel.

– Então, o que mais está acontecendo no motel? Algum fotógrafo quente passou por lá? – Eu perguntei, dando um sorriso e levantando as sobrancelhas.

Ela riu e nós fofocamos enquanto nossos garotos brincavam juntos no chão.

Eu adorava esses domingos com minha família e meus amigos na fazenda. Embora tenha sido um começo difícil, essa nova vida que Rowen e eu tínhamos arriscado a viver em Prescott era um sonho que se tornou realidade.

Eu nunca teria a chance de contar a Ben o quanto sua fazenda mudou minha vida. Mas eu esperava que quando eu fosse visitá-lo, enterrado ao lado de sua Claire, ele pudesse me ouvir lá de cima.


****


Jess e eu estávamos deitados na cama. As crianças estavam dormindo no andar de baixo.

Ele tinha acabado de me fazer gozar duas vezes, uma vez com a boca e depois novamente com seu pau, e eu estava nas minhas costas, tentando recuperar o fôlego.

Meu marido estava com calor. Tão PO quente e eu não conseguia o suficiente dele. Ele conhecia o meu corpo por dentro e por fora e ele usava esse conhecimento com a maior frequência possível para me fazer gemer seu nome. Algo que ele achava ser PO gostoso.

– Caralho, amor. Isso foi intenso.

– Hmm... são todos esses hormônios, – eu disse, sorrindo.

Ele rolou de lado e se apoiou em um cotovelo.

– Hormônios? – Perguntou.

Meu risinho se transformou em um largo sorriso.

– Se for uma menina, podemos nomeá-la como minha mãe?

A percepção brilhou em seus olhos azul gelo. Eu amava seus olhos. Eu também não me cansava deles.

No estilo habitual de Jess, ele não respondeu a minha pergunta. Em vez disso, ele bateu a boca para baixo da minha. Demorei cerca de dois segundos e meio para conseguir ficar excitada além de excitada, e começamos de novo.

Eu estava tomando o seu beijo como um sim à minha pergunta anterior.

Felicidade.

Como eu tinha feito todas as noites da nossa vida de casados, eu adormeci no lado de Jess, mas não sem antes de sussurrar – Te amo, querido – em seu peito.

E assim como ele tinha feito todas as noites da nossa vida de casados, ele sussurrou de volta: – Amo você, Sardenta.

Oito meses depois, Adeline Claire Cleary nasceu.

 

 

                                                   Devney-Perry         

 

 

 

                          Voltar a serie

 

 

 

 

      

 

 

O melhor da literatura para todos os gostos e idades

 

 

 

 

                                                

 

 

 

                                                   Devney-Perry         

 

 

 

                          Voltar a serie

 

 

 

 

      

 

 

O melhor da literatura para todos os gostos e idades