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THE DUCHES OF CHOCOLATE / Sydney Jane Baily
THE DUCHES OF CHOCOLATE / Sydney Jane Baily

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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Entre na Rare Confectionery na New Bond Street, onde três irmãs talentosas criam guloseimas tão deliciosas para o paladar quanto atraentes aos olhos. Basta um gostinho para ser cativado...
O Duque de Pelham deseja um novo doce para conquistar a dama mais adorável da temporada. Naturalmente, ele recorrerá ao chocolatier principal de Londres para obter ajuda.
Amity nunca teve um cliente como o duque. Em status, ele está muito acima dos homens comuns, mas é um dos homens mais amigáveis, engraçados e mais atraentes que ela já conheceu.
Quando o duque entra no mundo delicioso da confeitaria, ele descobre que a chocolatier é tão deliciosa... e tentadora... quanto suas criações. Enquanto Amity cria o pedido perfeito de chocolate, seu coração começa a desejar que o duque seja sua própria recompensa de dar água na boca.
Junte-se a Amity e seu duque em um romance cheio de chocolate no coração de Mayfair, onde a nobreza geralmente age de maneira menos que nobre. O escalão superior da sociedade enervará sua felicidade e os manterá longe do mais doce dos finais?

 

 

 


 

 

 


Capítulo Um


Londres, 1877


A mulher que Henry procurava estava praticamente desfilando pela New Bond Street, trajada com um vestido cor de ameixa e um chapéu estiloso na cabeça, com a pluma de identificação azul safira, exatamente como lhe disseram para procurar. Ele gostou de sua aparência. Se fosse uma mulher séria e vestida de cinza, ele poderia se questionar sobre sua capacidade de criar a doce magia que tanto ouvira.

Henry bateu no teto da carruagem e seu condutor parou. Inclinando-se pela janela, ele chamou o nome dela com uma ligeira pergunta à voz, embora não tivesse dúvidas de que era ela.

— Senhorita Rare-Foure?

Ele esperou que ela se virasse e respondesse. Afinal, ele não queria ser acusado de abordar a mulher errada. Na verdade, ele não queria ser acusado de abordar nenhuma mulher nesse sentido. Ele esperava que depois que tivessem conversado, ela não o acusaria de nada, exceto um arranjo agradável.

Ele sorriu para si mesmo. De qualquer forma, ninguém acusa um duque de ser indecoroso. Ele poderia dizer com toda a certeza presunçosa do mundo, pois era verdade.

A mulher de vestido de ameixa parou, mal conseguindo se equilibrar contra a maré de transeuntes, e olhou diretamente para ele — olhos cor de mogno em pele cremosa, cabelos escuros escapando sob o chapéu de penas e uma expressão hesitante e questionadora.

Desde que ela carregava pacotes restringindo seus movimentos, ela não podia nem levantar a mão para passar pelo fio de cabelo que cruzava seu rosto quando se virou.

— Quem deseja saber?

Com essa declaração atrevida, ela pareceu reconhecer sua identidade, e então seu olhar disparou sobre o brasão de armas da carruagem dele, e ele observou seus olhos se arregalarem.

Sem esperar pelo criado, ele abriu a porta e saiu.

— Eu quero. — Henry fez uma reverência superficial, uma saudação que ela tentou devolver sob a forma de uma reverência profunda condizente com o status dele, mas ela mal conseguia lidar com os pacotes. Ela deveria ter um criado ajudando-a, ele pensou um pouco irritado por ela estar fazendo malabarismos com tantos itens.

Antes que ela pudesse derrubar qualquer coisa, ele estendeu a mão e pegou a bolsa, empoleirada em cima de uma caixa que ela segurava com as duas mãos.

— Oh, — ela deu um grito de surpresa e depois disse: — Muito obrigada, milorde.

Ele parou um pouco. Ninguém o chama de outra coisa senão “Vossa Graça” desde que seu pai faleceu, transformando Henry no Duque de Pelham.

— Você poderia entrar na minha carruagem para uma conversa particular? Quero dizer, com sua criada, obviamente. Ele olhou além dela para qualquer pessoa assim.

— Oh, — ela disse novamente em um tom ligeiramente diferente, seus ricos olhos castanhos olhando diretamente nos dele. — Isso é desnecessário, milorde.

— O quê? — Sobre o que a mulher estava falando?

— Uma conversa particular é, por natureza, uma discussão privada e, portanto, não há necessidade...

— Entendo o seu ponto de vista, — disse ele, não querendo ser corrigido. — Devo dizer que não tenho acompanhante, — admitiu-o, apontando para a carruagem. — Você tem uma acompanhante com você?

— Não, — disse ela, olhando além dele onde o cocheiro e o lacaio esperavam. — No entanto, entrarei em sua carruagem por dois motivos. Primeiro, você é um cavalheiro bem conhecido, com uma reputação antiga e impecável, e segundo, porque seu brasão é fácil de ver; portanto, obviamente, você não pode se envolver em nada remotamente nefasto. É claro que deixaremos as cortinas levantadas e as janelas abaixadas. Concordamos?

— Sim, naturalmente. — Ele a observou respirar. Ela era um turbilhão, mas esperançosamente não uma tagarela. Ele não tinha o dia todo.

— E se você puder me deixar na Rare Confectionery após nossa conversa, — acrescentou ela, — apreciaria muito isso, pois esse é o meu destino.

— Eu posso levá-la em um instante. Na verdade, acabei de sair da sua loja — ele admitiu, entregando a bolsa ao lacaio, antes de aliviá-la do resto de suas encomendas, que também despachou, para que pudesse ajudá-la pessoalmente a entrar em sua espaçosa carruagem.

— Foi assim que soube o que você estava vestindo e onde encontrá-la, — disse ele.

— Muito esperto de sua parte, milorde — disse ela, quando ele subiu atrás dela e fechou a porta.

Ordenadamente apropriado, ele pensou.

— Minhas compras? — Ela acrescentou, olhando pela janela.

— John irá mantê-las em segurança até chegarmos ao seu destino.

Ela assentiu, cruzou as mãos enluvadas, também de cor ameixa, no colo e esperou.

Quando a carruagem entrou em curso, manobrando entre as outras carruagens e os malditos coches que eram uma praga nas ruas, ele a avaliou, e duas palavras vieram à mente, inteligente e capaz, simplesmente por seus modos e olhar interessado em seu rosto.

Ele também pensou em outra palavra, bonita, mas isso não era importante para ele, então ele descartou.

Henry conhecia sua reputação como fabricante de chocolates, mais do que isso, como verdadeira artista de chocolate, uma Michelangelo do cacau, por assim dizer.

— Eu ouvi o que você está fazendo na sua pequena loja. Disseram-me que você tem uma maneira mágica de tornar os confeitos de chocolate tão deliciosos, que não se pode deixar de consumi-los, de olhos fechados, delirando com a qualidade, sob um encantamento de êxtase. Muito impressionante.

Suas maçãs do rosto altas coraram com um belo tom de rosa.

— Obrigada, milorde. Teria você provado meu doce?

— Infelizmente, não, ainda não. Mas espero remediar isso em breve. É a razão pela qual desejo falar com você. Como sabe Senhorita Rare-Foure, necessito de uma esposa.

Amity fechara sua boca tão rapidamente que seus dentes estalaram. Ela tinha certeza de que eles fizeram um som alto, mas isso poderia ter sido apenas em sua cabeça. De qualquer forma, seus ouvidos estavam cheios da batida de seu próprio coração retumbante.

Uma esposa, ela pensou. O Duque de Pelham estava falando com ela sobre a necessidade de uma esposa!

— É mesmo? — Ela perguntou quando poderia finalmente dar uma resposta calma e sensata. Lá dentro, ela estava gritando um duque, um duque, um duque!

Bom Deus! Ela estava andando em uma carruagem ducal com não apenas qualquer duque... embora qualquer duque fosse impressionante o suficiente... mas o Duque de Pelham, famoso por sua enorme fortuna, sua adorável casa em Londres em St. James Place, sua boa aparência, em evidência naquele exato momento, e seu sorriso gracioso, que ela ainda não vira, entre outras coisas.

Na verdade, ela não sabia mais nada sobre ele, exceto que ele tinha uma irmã recentemente casada, porque foi publicado nos jornais. O que ele gostava no café da manhã? Gostava de ler? Era gentil ou cruel, de bom humor ou de mau humor? Nada disso foi mencionado nos jornais de fofoca que ela desfrutava com sua xícara matinal de chocolate quente.

A carruagem do duque era ricamente luxuosa. O assento de couro macio e suave era firme embaixo dela, prometendo um passeio confortável, mesmo para uma longa jornada. As “cortinas” que ela mencionara mantendo abertas eram cortinas de um brocado grosso, atravessado com fios de ouro. E o interior cheirava celestialmente a alguma sedutora colônia viril.

Com o nariz quase tão bom quanto o paladar, Amity tentou captar todos os aromas individuais - íris e bergamota, cedro, almíscar, sândalo e muito mais, até algo floral, talvez jasmim. Fosse o que fosse, a rica fragrância do duque parecia envolvê-la em elegante caxemira e couro curtido, fazendo-a querer fechar os olhos e sonhar com algo especial no horizonte. E desejar isso!

Oh, querida, seus pensamentos estavam girando rapidamente. Ocasionalmente recebiam dignitários e nobres na loja, e assim ela e suas irmãs haviam aprendido um pouco sobre como manter o equilíbrio e um comportamento profissional calmo quando a nobreza aparecia de repente. Mais frequentemente do que não, porém, seus servos vinham.

Ela certamente não havia antecipado que os elogios a respeito de suas criações de chocolate gerassem uma proposta de casamento de um duque. Além disso, ela tinha um pretendente, se ao menos pudesse lembrar o nome ou o rosto dele naquele instante.

— E quando fiz minha busca em Londres, uma lady veio à mente.

Ele olhou favoravelmente para ela. Uma lady veio à mente? Ela mesma! Ele parecia sério.

— Porque você ama chocolate? — Ela perguntou. Por que mais ele a escolheria?

Ele riu, e o som a fez tremer. Que estranho. Ela geralmente só tinha essa resposta emocionante ao provar uma nova variedade de grãos de cacau ou ao criar um doce de chocolate novinho em folha.

— Não sou totalmente apaixonado por chocolate — disse ele. — Eu bebi meu quinhão como todo mundo, mas às vezes é oleoso, até pegajoso ou tem um sabor desagradável.

Pobre homem! Amity balançou a cabeça. Ninguém deve sofrer com chocolate inferior. O mundo havia se tornado um lugar melhor quando o cacau processado holandês foi trazido para a Inglaterra.

— Possivelmente, você está bebendo cacau impuro, milorde, com gordura animal e farinha de batata. Garanto-lhe que não há nada mais agradável e delicioso do que uma xícara de Essência de Cacau da Cadbury.

— O que eu comi também não foi melhor, — protestou ele. — Um pouco granulado, de fato. Um pouco amargo e grosseiro.

— Fry's Chocolat Delicious à Manger, — ela murmurou, pensando na barra de chocolate sólida da empresa. — Bastante desagradável para os padrões de hoje, — acrescentou. Chocolate tinha chegado tão longe desde então. Aparentemente, o duque ainda não havia desfrutado do melhor.

Ele assentiu.

— Entendo que você pode mudar minha opinião. Acredito que você pode fazer maravilhas com sua confeitaria e fazer qualquer um dizer sim a qualquer coisa... foi o que me disseram. É com isso que estou contando.

Ultimamente, ela recebia ótimas críticas de todos os setores, e até o palácio havia pedido meio quilo de seus quadrados de chocolate habilmente trabalhados, algumas recheadas de laranja e outras de licor de framboesa.

Alcançando sua bolsinha, que pendia de seu pulso, Amity o colocou no colo e abriu o fecho do cordão. Tirando um saco de papel muito pequeno e ligeiramente amassado, ela estendeu para ele.

— Vá em frente, milorde. Experimente um pedaço.

Ele olhou para o saco branco com a Rare Confectionery estampada em tinta azul.

— Você carrega chocolate com você?

— Quase sempre. Perdoe a aparência. Podem estar um pouco esmagados, mas as crianças parecem saber quem eu sou onde quer que vá por Mayfair, e esperam que eu tenha algo para elas provarem, da mesma maneira que conseguem provar na loja.

Ele abriu a parte superior do saco e olhou para dentro.

— Devem ter três ou quatro, milorde. Sortidas, então não posso garantir qual sabor, mas isso é metade da diversão, você não acha?

Olhando para ela brevemente, ele olhou novamente para o saco.

— É bastante divertido, — ele concordou, parecendo surpreso.

Por sua parte, ela adorava nada além de comer chocolate, exceto por fazê-lo, o que fazia quase diariamente no quarto dos fundos da loja adorável com as irmãs próximas e a mãe frequentemente no balcão.

— Se você não gostar desses, e se eu não tiver uma confecção do seu gosto em nossa loja, então posso criar uma, — ela insistiu.

Para o duque, seu novo marido, ela criaria uma linha especial. O Pelham, suave e cremoso, com uma pitada de...

— Parece que estamos pensando de maneira semelhante, Senhorita Rare-Foure. Eu quero um novo tipo de chocolate confeccionado, especialmente, para a ocasião. Veja bem, desejo me casar em um futuro não muito distante. Tudo está indo bem na minha vida, então é hora de pensar em casamento. O que você diz, Senhorita Rare-Foure? Você vai me ajudar com meu objetivo conjugal? Por favor, diga sim.

Ele estava inclinado para frente com tanta sinceridade, fazendo seu coração bater rapidamente em seu peito.

— Meu Senhor! — Ela exclamou.

— Sim? — Ele perguntou.

— Não, eu quis dizer o outro... isso é... — Ela fez uma pausa e apontou para o céu. — Apenas uma expressão, você sabe. Bom senhor, querido senhor, meu senhor!

— Ah, sim, entendo, — ele concordou, olhando-a como se ela estivesse um pouco desequilibrada na cabeça.

Amity precisava levar essa discussão de volta ao caminho do casamento antes que o duque abrisse a porta da carruagem e a mandasse voar junto com os suprimentos de confeitaria. Porque, embora fosse incomum em sua classe ser pedida em casamento por um homem que ela não conhecia, era mais comum na nobreza. Talvez para ele essa brusquidão fosse inteiramente normal. Além disso, ele parecia, à primeira, segunda e terceira olhada e depois de alguns minutos de discussão, alguém extremamente agradável. Seu tom não era nasal, nem duro. Sua maneira era amigável e agradável. Seus cabelos castanhos eram grossos e um pouco ondulados. E seus olhos... um tom vívido de verde, eram claros, não vermelhos com falta de sono ou muita bebida. Além disso, ele era um duque!

Por outro lado, era altamente improvável que ela pudesse continuar como chocolatier se ela se tornasse duquesa.

E assim, sua fantasia se esvariu. Nada era mais importante para ela do que estar com a família na Rare Confectionery e fazer chocolate.

— Quanto tempo levaria? — Ele perguntou, entrando em seus pensamentos oscilantes.

Amity franziu a testa. Muitos na classe alta ficaram noivos por um ano para provar que não havia uma indiscrição comprometedora causando uma corrida ao altar. Isso também permitiu que o casal se familiarizasse antes do casamento, já que eles geralmente não se conheciam no momento do noivado, assim como ela não conhecia o duque. Nesse caso, um ano ou um dia não importava.

— Sinto muito, milorde. Eu não posso fazer isso. — Sonhar em se casar com ele era uma ideia boba, mas era impossível não refletir sobre seu pedido emocionante. Afinal, ele era um impressionante duque.

— Você está tão ocupada em sua loja? Você não pode criar algo para mim em quinze dias? Vou fazer uma grande festa em duas semanas e quero que seja anunciado então.

Um noivado anunciado em duas semanas? De repente, Amity teve um pressentimento de que ela estava entendendo as coisas errado.

O duque assentiu, parecendo satisfeito.

— Eu ficaria feliz em ir à sua loja e ajudá-la a provar ou te dar minha opinião sobre a confecção perfeita.

Ele queria ir à loja dela?

— Quero algo original, nunca provado até agora, — continuou ele. — E em duas semanas, anunciaremos o chocolate na minha festa e atrairemos a lady em questão.

Ela estava começando a perceber que tinha feito uma suposição bastante grande e errônea. Geralmente não se considerava uma tola, Amity tinha que pôr a culpa em ser arrastada para dentro de uma carruagem e “aparentemente” receber uma oferta de um duque. Não havia outra explicação para permitir que seus pensamentos fantasiosos escapassem dela.

— Sim, — Amity mudou sua resposta, pensando no grande benefício que o patrocínio de um duque significaria para a loja de sua família. — Eu tenho tempo para criar um chocolate para você. Vá em frente e prove, milorde, — ela insistiu, lembrando-o de que ele ainda segurava o saco de chocolates.

Observando-o tirar um aleatoriamente, Amity nunca esperara que um cliente gostasse mais de sua confeitaria do que naquele momento. Seus olhos permaneceram fixos no olhar dela quando enfiou o quadrado inteiro na boca. Ela gostou disso, como ele foi direto.

— Nem uma beliscada ou mordida, — ela murmurou.

Ele fechou os olhos. Ela sabia que o chocolate estava derretendo rapidamente em sua língua, permitindo que todo o seu sabor doce e sutil fosse liberado.

— Mm, — disse ele, como um gemido baixo que a fez tremer. Em rápida sucessão, ele comeu o restante. Ela contou mais três. Cada vez que o doce estava em sua boca, ele fechava os olhos e saboreava o sabor. Como um verdadeiro conhecedor. Do jeito que a mãe fazia com o vinho que ela mais gostava ou o pai com o charuto favorito dele.

Quando o duque terminou, ele abriu os olhos e sorriu para ela. Ah, havia aquele sorriso famoso, tão bonito quanto ela ouvira. Com covinhas ainda por cima!

Ela balançou a cabeça e lembrou-se de seu comportamento profissional como chocolatier.

— O que você deseja, milorde? Chocolates em forma de cisnes são românticos? Talvez chocolates com recheios de cremes doces ou com nozes exóticas? Ou talvez chocolates em forma de coração para cortejar sua dama com seu gosto por doces?

Quando ele acenou ante as sugestões dela, quaisquer tentativas restantes de fantasia se dissiparam do cérebro de Amity.

— Talvez não na forma de um coração, — disse ele. — Isso parece óbvio demais. Ela gosta de coisas doces, no entanto.

— Espero que sua dama ainda tenha dentes na boca, — Amity acrescentou, pegando o saco vazio dos dedos dele e amassando-o antes de colocá-lo de volta em sua bolsa. — Embora no ritmo em que nossos compatriotas estejam consumindo açúcar, é de admirar que qualquer um de nós tenha algo além de lacunas em nossas gengivas e dores nos dentes restantes que temos.

Ele franziu a testa.

— Senhorita Rare-Foure, você começou dando-me água na boca, e acabou me deixando um pouco enjoado. Você realmente acha que o açúcar está arruinando os dentes da nossa nação?

Ela encolheu os ombros levemente.

— Quando era usado apenas pelos mais ricos, do final dos anos 1600... para fazer aquelas adoráveis vitrines esculturais, por exemplo, até algumas décadas atrás, as doenças dos dentes pareciam ser piores na nobreza e na realeza, incluindo dentes enegrecidos, abscessos e perda total dos dentes. Encontre um fazendeiro comendo carne e batatas, e eu lhe mostrarei um homem com mais dentes do que o rei Luís da França.

O duque a encarou, depois piscou.

— E que tal agora? — Ele perguntou. — Quase tenho receio de perguntar.

— Agora, vinte anos desde que os preços caíram e todos começaram a comer mais açúcar... mais de quinze quilos por pessoa em um ano, você não acha que vê mais pessoas desdentadas do que quando era criança? — Ela duvidava que ele pudesse discordar.

— Eu... eu... — O duque parou.

Amity mordeu o lábio. Ela era uma tola! Como ele não estava perto das massas, dificilmente estaria vendo mais ou menos pessoas desdentadas.

— Sorria para mim, — ele ordenou inesperadamente.

Ela não pôde deixar de revirar os olhos. Ele podia ser da nobreza, mas ela não era um cavalo que ele determinaria se compraria. No entanto, ela deu um sorriso largo.

— Dentes brancos perfeitos, — ele pronunciou. — No entanto, você deve gastar bastante tempo provando suas criações. Você escova diariamente?

— Claro. E eu tenho uma receita de pó dental altamente eficaz com óleo de hortelã. — Ela se inclinou para frente. — Aproxime-se.

Parecendo surpreso, mas intrigado, o duque fez o que ela sugeriu.

— Hah, — ela soprou o fôlego diretamente sobre ele. — Bem?

— Frescor e mentolado, devo dizer.

Ela recostou-se com um delicado levantamento do ombro.

— O que eu disse? — Então, antes que ela pensasse, Amity acrescentou: — Sorria para mim, milorde.

Ela poderia ter ido longe demais, mas, felizmente, o duque não parecia ofendido. Em vez disso, ele produziu um sorriso atraente que mostrava não apenas suas covinhas, mas seus dentes retos, e um conjunto inteiro deles também. Ela decidiu não salientar que ele tinha um pequeno pedaço de amêndoa preso entre dois deles de um de seus chocolates. Se ele escovasse diariamente, descobriria isso em breve.

— Satisfeita? — Ele perguntou, seus atraentes olhos verdes presos nos dela, fazendo com que seu estômago se revirasse estranhamente.

Ela assentiu.

— Não vou respirar na sua cara se você não se importar, — disse ele, — mas posso garantir que usei os melhores pós para dentes.

— Eu não tenho dúvida, milorde.

Parecia que ele ia dizer uma coisa, mas mudou de ideia e disse outra.

— Como você sabe tanto sobre açúcar?

— Meu pai fez sua fortuna no mercado de açúcar, milorde.

— Entendo. Foi por isso que sua família entrou no negócio de confeitaria?

— Sim, milorde. Minha mãe começou a Rare Confectionery quando ela e meu pai se casaram.

— Você vem de família de empreendedoras, ao que parece. E assim, de volta aos negócios, Senhorita Rare-Foure. Acredito que temos um acordo, sim? Antes de terminar os quinze dias, você criará uma guloseima de chocolate especificamente para a minha festa, e nós a nomearemos para a mulher com quem espero me casar.

Por que ele não disse isso em primeiro lugar? Ela não tinha lhe dado a chance, ela supôs, em vez de pular para uma suposição infeliz que a enviou em uma viagem emocional junto com o passeio de carruagem. Ainda bem que ela tinha um pretendente de reserva, por assim dizer. Jeremy Cole era definitivamente o nome que ela havia esquecido momentaneamente, e sua expressão afável apareceu na frente de seus olhos emoldurados por cabelos castanhos. Um homem perfeitamente bom.

— O nome, milorde?

— Lady Madeleine...

— Brayson, — ela adivinhou.

— Sim. Que notável!

— Não, na verdade não. — Amity deveria saber instantaneamente sem seguir sua jornada ultrajante de ilusão. — Todo mundo que mora perto de Mayfair ouviu como Lady Madeleine se tornou o sucesso da temporada. Por que você não ia querê-la?

Se os rumores eram verdadeiros, ela era a criatura mais bonita que agraciara os salões de baile de Londres nos últimos tempos. Amity nunca a tinha visto, mas não porque sua família não tinha dinheiro para um baile. Na verdade, ela não se importava com toda a noção de debutante e formação de casais de uma temporada. Parecia ultrapassado e um pouco degradante.

A carruagem parou e ela percebeu que eles deveriam estar na frente de sua própria loja.

— Detesto dizer isso, milorde, mas já existe um famoso doce chamado Madeleine, alguns chamam de bolo pequeno, outros de biscoito macio. Enfim, é uma delícia caseira, assada em um molde delicado em forma de concha. Todos no mundo da padaria ou pastelaria já ouviu falar deles.

Ele fez uma careta de insatisfação, mantendo-se tão bonito como sempre. Ela odiava desapontá-lo.

— Talvez o sobrenome dela, milorde. Poderíamos chamá-lo de Brayson.

— Não é tão bonito quanto uma Madeleine, — protestou ele.

Ela encolheu os ombros.

— Maddie, talvez?

Ele estremeceu um pouco.

— Vou pensar sobre isso, e vamos nomeá-lo mais tarde.

Acenando para o lacaio que olhava discretamente pela janela da carruagem, o duque esperou enquanto o homem abria a porta, descia os degraus e a ajudava na calçada.

Consciente de que, quando o duque parou diretamente atrás dela, Amity se virou para encarar seu novo patrono.

— John vai ajudá-la a entrar com seus pacotes, — insistiu o duque enquanto o criado pegava seus pertences na caixa de armazenamento. — Não vou entrar na sua loja novamente, porque criei um pouco de confusão na última vez.

Amity gemeu dentro de sua cabeça, imaginando como sua mãe e irmãs poderiam ter se comportado.

— Bom dia, milorde, não vou te decepcionar. — Uma coisa ridícula a dizer, ela se repreendeu, enquanto fazia uma reverência. Ela não era um diplomata parando uma guerra estrangeira. Apenas uma chocolatier desenvolvendo um doce para um homem excessivamente indulgente dar à bela mulher em quem ele mirara.

Sem dúvida, sua criação conquistaria a atraente Lady Madeleine a qualquer proposta que o Duque de Pelham fizesse durante ou depois da festa.

Ainda mais, Lady Madeleine não precisava de chocolate para ser convencida a casar com o duque.

— Bom dia, Senhorita Rare-Foure. Prazer em conhecê-la.

Virando-se, ela suspirou ante tanta beleza e entrou com o lacaio do duque atrás. E, como esperado, todo o inferno explodiu.

 

Capítulo Dois


Como o rei Luís XV, que preparava seu próprio chocolate quente nas cozinhas de seus aposentos particulares no palácio, Amity era considerada por sua família a maior amante dessa bebida deliciosa e cremosa. Independentemente da estação, do clima, ela começava o dia como uma realeza francesa com uma xícara de chocolate líquido fumegante e leitoso. Bem perto, seu pote fino de chocolate branco e dourado estava colocado delicadamente a um metro sobre a mesa.

Dependendo de seu humor, adicionava grãos de baunilha aromáticos ao leite fervente, cravo moído ou canela. Muitas vezes era suficiente mantê-la abastecida como um cavalo de trabalho até o início da tarde.

Às vezes, quando estava com pressa, usava a essência de cacau pura da Cadbury, que considerava superior a qualquer outro cacau existente no mercado. Aparentemente, o Duque de Pelham não teve a sorte de descobri-lo. De qualquer forma, acima de tudo, ela preferia sua própria mistura caseira de chocolate e leite suíço raspados.

Após a excitação de ontem, na manhã seguinte, Amity pensou que ela poderia precisar de uma pitada de fava de baunilha e um pouco de açúcar extra... e arriscar a cárie!

Assim que ela saiu da carruagem do duque para a loja de sua família na tarde anterior, ela foi atacada.

— Amity, você nunca vai adivinhar quem passou aqui, — sua mãe cantou para ela de trás do balcão, seu lugar de sempre, com um avental limpo preso sobre o vestido de dia. — Bonito como o novo dia, alto e com um tom de olhos...

— Mãe! — Isso de Beatrice, a próxima mais nova das duas irmãs de Amity, pois elas eram uma família abençoada por mulheres, o que era uma piada entre elas, pois seu pai havia dito que ele não podia acreditar que ele tinha outra bênção e depois outra.

Beatrice, com os únicos olhos azuis da família, estava olhando além de Amity para o lacaio que usava o uniforme ducal.

— Não interrompa, — disse a mãe.

— Mãe, — Beatrice tentou novamente, querendo impedi-la de dizer algo mais embaraçoso até depois que o lacaio partisse.

— Ooohhhh, — gritou Charlotte, a bebê da família aos dezessete anos e que acabara de chegar da sala dos fundos carregando uma bandeja de marzipãs recém-esculpidos. — O duque atraente e elegante voltou? Ou apenas seu servo?

Amity suspirou. Ela conseguia imaginar o pandemônio que havia perdido quando o próprio Duque de Pelham entrou na Rare Confectionery mais cedo, em busca dela. A natureza temperamental de seu pai, tão útil em casa, estivera ausente, pois ele sempre deixava o funcionamento da loja inteiramente nas mãos capazes de sua esposa e filhas.

Depois de pedir ao lacaio que colocasse os pacotes no balcão mais próximo, Amity o enviara de volta com um saco de quatro chocolates por seu trabalho. Ela não pôde deixar de observar pela porta de vidro quando ele subiu a bordo da carruagem que levou o duque dela para longe.

O duque dela! O duque de Lady Madeleine, na verdade. Mas por alguns momentos....

Amity suspirou, ainda pensando nisso na manhã seguinte. Na ensolarada sala de jantar da casa deles na Baker Street, com seu alegre papel de parede amarelo e creme, tudo estava perfeito. Ela tomou um gole de chocolate, desfrutando da paz e tranquilidade...

Charlotte entrou saltando, de alguma forma sendo barulhenta mesmo quando não dizia nada. O “não diz nada” não durou muito.

— Ontem não foi emocionante? — A irmã mais nova de Amity foi ao aparador e juntou o café da manhã em um prato, servindo-se de chá, ovos escalfados e torradas.

Amity sabia o que... e a quem, ela se referia.

— Foi, — ela concordou.

— Quando ele entrou, — continuou a irmã, sentando-se, — meus olhos quase saltaram da minha cabeça, e você deveria ter nos visto fazendo uma reverência tão baixa que meu queixo estava praticamente entre os meus seios.

E Charlotte tinha um amplo peito no qual seu queixo podia se aninhar, pensou Amity com tristeza, enquanto o seu era o que considerava meramente adequado.

No dia anterior, depois que o lacaio do duque partiu, todos começaram a falar ao mesmo tempo, e então um cliente entrou e outro e outro. Logo, a jornada de trabalho terminou e todos se dispersaram. A mãe delas foi à reunião da sociedade de jardinagem das damas, que passava mais tempo dando dicas de licores do que discutindo flores. Charlotte acompanhou ansiosamente uma amiga a uma aula de pintura, embora nenhuma delas pudesse imaginar o motivo, pois ela não parecia ter um pingo de talento para isso. Ela não havia apresentado um trabalho concluído há dois meses, e todos estavam começando a pensar que ela estava de olho no irmão mais velho da amiga, em vez de na tela em mãos. E Beatrice frequentara um salão literário na casa de Lady Turbity, como fazia duas vezes por semana sem falhas.

Amity passou a noite na cozinha brincando com várias receitas, imaginando o que representaria o chocolate Brayson perfeito. Tudo saiu desagradável e até amargo. Quando ela foi para a cama, sonhou com o Duque de Pelham percorrendo um rio grosso de chocolate para alcançá-la, apenas para que Lady Madeleine o pegasse em uma colher de prata antes de alcançá-la.

Amity olhou para a irmã, que estava entusiasticamente passando manteiga na torrada.

— Espero que vocês não tenham se comportado muito vulgarmente quando o duque entrou — disse Amity, mexendo preguiçosamente o molinet, o longo batedor repousando através de uma pequena abertura na guarnição articulada de sua panela de chocolate. Balançando o batedor impediu que o chocolate de assentasse ou separasse, garantindo que o segundo copo fosse tão bem misturado quanto o primeiro. E desfrutou muito de uma segunda xícara.

— Não, claro que não. Bem, talvez um pouco, — Charlotte sorriu, seus lábios docemente formados curvando-se para cima. — Mas quando ele perguntou pela talentosa chocolatier cuja reputação estava se espalhando por Londres, ficamos desapontadas ao dizer que você não estava lá.

— Não se preocupe. Você me descreveu para ele, e ele me encontrou. Foi um pouco chocante. — Amity sorriu para a irmã. — Eu andei em sua carruagem.

Charlotte assobiou com entusiasmo, um hábito desagradável que ninguém poderia mudar.

— Conte-me tudo, principalmente o que ele queria com você. Você vai se tornar a Duquesa do Chocolate?

Foi tão perto de sua própria interpretação errônea da proposta do duque que Amity engoliu sua bebida quente pelo caminho errado e começou a tossir.

— Não seja boba, — ela conseguiu quando pôde respirar. Agarrando o guardanapo do colo, ela limpou a boca. — O duque quer que eu crie um doce especial de chocolate para a mulher que tem como alvo.

— Um homem não tem um alvo, — a voz de Beatrice a precedeu na sala. Mais alta que a irmã mais velha ou mais nova, a irmã Rare-Foure do meio tinha um ar majestoso quando entrou sem pressa na sala de jantar, serviu-se do café da manhã e sentou-se. — Um homem está de olho em uma mulher. Uma mulher define seu alvo.

Amity olhou para Charlotte e elas reviraram os olhos.

— Muito bem, professora Bea, — disse Amity. — O Duque de Pelham está de olho em Lady Mad...

— Madeleine Brayson? De novo? — Exclamou Charlotte. — Bem, isso azeda a manhã.

As três irmãs riram e Beatrice concordou:

— Simplesmente abra o jornal de hoje e veja as páginas da sociedade. Estou certa de que haverá uma abundância de notícias de Lady Madeleine deslumbrando a boa sociedade, o suficiente para mantê-la em um mau humor durante todo o dia. Ela está em todo lugar ao que parece, e na língua de todos.

— E em breve, nossos doces também estarão na língua dela. — Amity queria que sua criação excedesse as expectativas mais loucas do duque.

Beatrice inclinou a cabeça e considerou.

— Um bombom de chocolate para ganhar uma lady? Boa ideia da parte do duque. Como ele vai apresentar a ela?

— Em sua casa durante uma festa, — Amity disse a elas, tentando não se sentir um pouco decepcionada. — Em quinze dias.

— Arranje convites para todas nós, — disse Charlotte. — O que há de errado nisso? — Ela exclamou quando suas irmãs a encararam. — Você não acha que, como a chocolatier que faz a mágica acontecer, deve estar lá para testemunhar o que sua criação faz no momento em que é anunciada?

Amity não tinha certeza se ela queria fazer isso, exceto pela curiosidade de ver a deslumbrante Lady Madeleine em pessoa. E ela poderia colocar essa mulher acima de todas as outras? O rosto, a figura ou a personalidade? Por que ela deveria ser elogiada mais do que Charlotte com seu temperamento doce e figura curvilínea, ou Beatrice com sua graça e inteligência, ou ela mesma, com... sua assombrosa capacidade de misturar o chocolate perfeito?

Amity drenou sua xícara.

— Mesmo se Amity pudesse ir, — começou Beatrice, — o que, na verdade, acho que deveria, por que você e eu iríamos? — Ela perguntou.

Charlotte deu de ombros.

— Ver dentro da casa do duque, é claro. Ouvi dizer que é além do luxo.

— Sim, eu sei disso, mas por que ele nos convidaria para esse fim, duas mulheres solteiras de meios modestos que nunca tiveram uma temporada ou foram apresentadas à sociedade? — Beatrice perguntou, sua voz ficando mais suave com cada palavra bastante triste. — Além disso, certamente ofuscaríamos a mulher que ele pretende fazer sua duquesa, — ela terminou, piscando para Amity.

Todos riram novamente. As irmãs Rare-Foure não tinham ilusões sobre seu status. O pai delas era o segundo filho de um barão francês. Foram criadas como ele havia sido, com gentileza e privilégio, mas não tinham título e não tinham a herança para prender um nobre.

Por outro lado, o que tinham era uma maravilhosa loja de doces na New Bond Street, situada entre as lojas mais luxuosas de Londres. E estavam tendo uma vida verdadeiramente maravilhosa.

Amity levantou-se, ansiosa para chegar à sua área de trabalho nos fundos da loja e reabastecer todos os chocolates que haviam vendido. Com isso realizado, ela tentaria a sorte, ou melhor, seu paladar, criando o Brayson.

Henry estava atrapalhado. Enquanto queria continuar a cortejar Madeleine, não queria deixar transparecer sua intenção de pedir a ela que se casasse com ele. Temia que ela adivinhasse se passasse muito tempo com ela até o dia da festa. Ela já sabia que era a convidada de honra e que ele convidara seus pais e irmão também.

Na verdade, provavelmente já sabia que ele iria fazer uma proposta pública desde que protestara pela primeira vez com a presença de seus pais com uma careta no rosto deslumbrante e as palavras:

— Por que seria? Eles podem ser cobertores tão molhados que caem sobre nossas chamas brilhantes de diversão e os extinguem.

Sua boca se abriu e ele não sabia o que dizer. Estavam passeando no Hyde Park, ao longo da Rotten Row, com sua experiente acompanhante andando a uma distância apropriada atrás. A princípio, ele pensou que ela estava falando em tom de brincadeira, pois parecia algo frio de se dizer sobre os pais.

Depois de uma pausa, ele disse:

— Acho que seria apropriado tê-los lá. Sem dúvida, eles aproveitarão a noite e todos os seus eventos. Eu sei que você vai querê-los lá também.

Lady Madeleine olhou com os olhos arregalados para ele, então um sorriso perspicaz transformou seu rosto no de uma deusa serena. Ela concordou imediatamente.

Hoje, ele pretendia ir à Rare Confectionery e ver o que a chocolatier inventara durante a noite. Ele supôs que era um pouco prematuro, mas tinha ideias e, antes que a Srta. Rare-Foure se demorasse muito em sua criação, pensou que ela gostaria de ouvir sobre elas.

Afinal, quem conhecia Madeleine melhor que ele? Muitas pessoas, de fato. Ele riu de sua própria piada. Dos bailes e jantares em que compareceram, ele sabia que ela gostava de coisas extremamente doces, como chá, pão de ló ou até limonada. Também sabia que ela gostava de dançar, mais a polca do que a valsa. E sabia que ela tinha vários desgostos fortes e uma opinião sobre praticamente tudo.

Ao contrário de muitas mulheres, ela não guardava seus pensamentos para si mesma, mesmo no primeiro encontro. Ele supôs que deveria admirar uma mulher que não escondia suas opiniões por trás do leque ou da fachada de indiferença educada.

Ocasionalmente, porém, ele desejava que ela retirasse essa fachada de indiferença, apenas por alguns minutos. Não era necessário proclamar tudo e, muitas vezes, de forma negativa. Ainda assim, ele esperava que fosse uma mente ativa que a tornasse tão... assertiva.

Henry deixou sua casa em St. James Place, saiu do coche exatamente onde a Old Bond Street se encontrava com a New Bond Street e respirou fundo. Ele tossiu, pois Londres era um pouco esfumaçada na melhor das hipóteses. E adorava mesmo assim, enquanto apreciava profundamente alguns meses, duas vezes por ano, estar em sua propriedade rural em Kent. Lá, ele podia absorver o ar do mar deliciosamente refrescante. Ora, ele praticamente podia ver os canais de seu aposento no terceiro andar!

A porta da confeitaria tinha uma campainha que tocava de uma maneira bonita quando ele entrou, exatamente como havia feito no dia anterior. Ele esperava que hoje não precisasse perseguir a chocolatier na rua.

Quando entrou, o aroma de chocolate rodou em torno dele. Depois de provar os confeitos da Senhorita Rare-Foure em sua carruagem, agora sabia o quão delicioso poderia ser o chocolate, e o aroma rico e decadente fez sua língua tremer. Logo, sabia que estaria apreciando o sabor novamente.

Seu olhar varreu a loja brilhante e arrumada, onde tudo era branco ou o azul brilhante do selo Rare Confectionery que estava nas latas e sacos. À sua esquerda, havia uma vitrine de prateleiras cheias de bandejas forradas de papel e atrás dele havia espaço para quem trabalhava lá. Diante dele, havia outra vitrine de confeitaria, e à direita, ancorada à parede, estantes e prateleiras de latas atraentes de vários tamanhos. Ele supôs que todos continham chocolates e caramelos selecionados, caso desejassem comprar mais do que um pequeno saco.

Ligado ao final da primeira vitrine, havia um balcão de mármore no qual uma das jovens que ele encontrara no dia anterior estava atualmente parada. Por uma semelhança familiar, Henry assumiu que ela era parente da chocolatier, provavelmente uma irmã.

Olhando com um sorriso no rosto, seus olhos se arregalaram em reconhecimento. Quando ela respirou fundo, chamando atenção para seu peito expansivo, ele pensou que ela iria gritar. Felizmente, ela soltou o ar e pareceu recuperar suas sensibilidades.

— Minha Graça, — ela começou, e seu rosto ficou vermelho como uma beterraba recém-fervida. — Quero dizer Vossa Graça, milorde.

— Apenas um dos dois serve, — disse ele, aproximando-se do balcão. — Você também é uma Senhorita Rare-Foure?

Ela ficou boquiaberta.

— Eu sou. — Então, no espaço de um segundo, ela desapareceu de vista.

Assustado, Henry esperou, mas ela não reapareceu. Ele tossiu para limpar a garganta, esperando o retorno dela. Não deu certo. Ela desmaiou com a noção de sua presença na loja?

Ele espiou por cima do balcão. Do outro lado, a jovem estava fazendo uma reverência profunda e, quando seu avental caiu para a frente, ela lhe deu uma excelente visão do generoso inchaço superior de seus seios e do atraente vale escuro entre eles.

— Por favor, — disse ele, tentando desviar os olhos e falhando, — pode se elevar?

— Sim, Vossa Graça. — E ela fez.

— Sua irmã está aqui? — Ele perguntou.

— Qual delas?

— A fabricante de chocolate, — ele esclareceu, pensando que isso seria óbvio.

— Oh, sim. Ela está, e trabalhando duro também. Acredito que tenha trabalhado no chocolate especial para sua festa. A propósito, você não acha que minha irmã deveria comparecer à festa?

Ele realmente não tinha pensado nisso. Agora que pensou, supôs, seria uma boa ideia. Pagaria bem pelos doces e acrescentaria a seriedade certa à ocasião para que a Senhorita Rare-Foure as apresentasse em uma bandeja de prata.

— Acredito, senhorita, que você está certa.

A jovem sorriu, e era muito atraente. Nem muito dentuça, nem grudenta. Ela se comportou exatamente como uma doce irmã deveria.

Até que ela arredondou os lábios carnudos e soltou um assobio estridente.

Ele deu um passo assustado para trás, incapaz de se conter. Que diabos?

Logo depois, a cortina que cobria uma abertura em direção à parte traseira da loja se abriu rapidamente, e a chocolatier apareceu.

— Charlotte, por que você...? — Então ela o olhou e parou. Pelo olhar em seu rosto, ela estava envergonhada por sua irmã.

— Milorde, — disse ela, oferecendo uma reverência, não tão profunda quanto a da irmã, nem com a mesma visão que a acompanhava. — Peço desculpas. Minha irmã tem uma maneira e tanto de expressar sua satisfação.

— Isso não importa, — explicou Henry. Contanto que ele não tivesse que ver sua satisfação com muita frequência, ele não se importava.

— Vossa Graça está aqui para convidá-la para a festa dele, — sua irmã deixou escapar.

Isso era uma mentira descarada, mas ele decidiu concordar.

— Sim, eu fui negligente em não fazer um convite para você quando nos falamos a última vez. Obviamente, é sua criação e você deve apresentá-la a Lady Madeleine.

Estranhamente, a Senhorita Rare-Foure não parecia emocionada.

— Honestamente, milorde, não gostaria de roubar os holofotes de você, como dizem. Não que pudesse. Afinal, quem sou eu? — Ela deu uma risada inquieta. — Apenas considere, é a sua noite especial para propor e, depois que você acertar a conta, os chocolates serão seus para apresentar. Eu estaria no caminho, na melhor das hipóteses.

Sua irmã estava olhando para ela como se tivesse crescido um terceiro olho, e ele entendeu o porquê. Poucas pessoas recusariam um convite direto para uma festa em sua casa.

— De jeito nenhum, — Henry disse para a chocolatier, determinado agora a continuar com a cena que estava imaginando. Após o jantar, todos os convidados iam da sala de jantar para o salão de baile, onde os músicos tocavam um pequeno concerto. Possivelmente um pianista. Um violinista também. Ele não conseguia lembrar exatamente do que sua mãe disse que era o plano da música, mas ela havia arranjado algo excelente. Sobre isso, ele não tinha dúvida.

E depois, quando as últimas notas musicais desaparecessem, a Senhorita Rare-Foure, vestida talvez com um avental como ela usava agora, embora mais limpa, é claro, entraria na sala. Ele não podia pedir para ela se ajoelhar na frente de Lady Madeleine, mas poderia pedir para ela estender silenciosamente a bandeja com um chocolate perfeito, enquanto mais servas, não sua irmã alta e assobiante, entrariam atrás dela com mais bandejas cheias com as guloseimas para os outros convidados.

— Ninguém deve provar uma ainda, — ele declararia com muita expectativa. Nesse momento, ele proporia a Madeleine e diria algo sobre como se ela pudesse declarar o chocolate terrível, então poderia recusá-lo.

Não, isso não estava certo. De qualquer forma, ele tinha quase duas semanas para planejar exatamente o que diria.

No entanto, a Senhorita Rare-Foure simplesmente deveria estar lá para apresentar. Ele havia se decidido.

— Insisto que você venha, — ele disse a ela em sua voz mais autoritária.

Ela respirou, suas narinas pareciam abrir um pouco mais e sua boca assumiu um olhar de desdém. Ele pensou que ela iria dizer não, algo que quase nunca aconteceu... na verdade, nunca aconteceu, desde que ele recebeu o título pelo trágico falecimento de seu pai. Mesmo antes disso, como marquês, ele raramente encontrara resistência a qualquer um de seus planos.

— E você provavelmente iria querer o resto da nossa família lá também, — acrescentou a Senhorita Rare-Foure, de peito maior, atrás do balcão.

— Não, — disse ao mesmo tempo que a chocolatier. Eles se entreolharam, o olhar dela travando no dele.

— Claro. — Senhorita Rare-Foure explicou, voltando-se para a irmã, — Acredito que sua senhoria disse que era um jantar modesto para seus amigos e familiares próximos.

— Receio que sua irmã esteja certa — disse Henry, esperando suavizar o golpe enquanto a jovem parecia bastante desanimada. — Não seria bom ter muitas damas Rare-Foure por aí. Meus outros convidados seriam superados pelo seu charme e beleza.

A moça atrás do balcão concordou com a cabeça, como se aceitasse que tal circunstância pudesse ser verdade.

— Suponho que esteja certo. Esperançosamente, minha irmã não será uma grande distração, bonita como ela é. Em suma, os olhos de todos devem estar em Lady Madeleine em uma noite tão especial.

Henry teve que esconder seu sorriso. Como se qualquer mulher pudesse realmente desviar a atenção de Madeleine. Era risível! Voltando o olhar para a chocolatier, com uma mancha marrom na bochecha, ela pareceu ler seus pensamentos como se os tivesse dito em voz alta.

Além do mais, ela não parecia gostar do que ele estava pensando. Seu olhar tornou-se fulminante, enquanto ela passava as mãos no avental, deixando marcas de cacau em duas trilhas. Então ela colocou as mãos nos quadris.

— Precisamente, por que você está aqui, Lorde Pelham?

 


Capítulo Três


Amity desejou que sua pergunta ao Duque de Pelham tivesse saído soando um pouco mais cordial. Algo sobre esse arranjo a fazia sentir-se irritadiça, ou, como Charlotte dissera naquela manhã, azeda! E esse algo era sem dúvida Lady Madeleine. Ela pode ser uma pessoa perfeitamente sociável, inteligente e espirituosa, mas tudo o que alguém já falou foi sobre sua aparência incrivelmente adorável.

Amity reorganizou sua expressão até que ela ofereceu um sorriso amigável ao Duque de Pelham. Era melhor que ela mudasse de opinião sobre sua amada, ou nunca seria capaz de criar uma deliciosa guloseima de chocolate. E sua reputação estava em jogo, junto com a da Rare Confectionery.

— Vim dar a você minha opinião sobre os gostos de Lady Madeleine, — disse o duque, — para que você não adicione um sabor que eu sei que ela desaprovaria.

Amity assentiu.

— Quão prudente da sua parte, milorde. — Ela olhou para Charlotte, que estava pendurada em cada palavra, parecendo um filhote ansioso. A mãe delas não viria hoje, e Beatrice viria mais tarde para fazer seu famoso caramelo de melaço, que vendiam de panela cheia.

— Por favor, venha aqui atrás comigo e mostrarei algumas das opções que temos à nossa disposição. Farei anotações sobre as preferências da dama.

Ela notou pelo canto do olho quando a expressão de Charlotte se alterou para surpresa. Amity não costumava ter clientes na sala dos fundos, nem gostava particularmente das pessoas que a observavam enquanto ela se misturava e criava. No entanto, essa era uma circunstância especial.

Ele assentiu.

— Eu ficaria honrado em ver onde você faz seus confeitos.

As sobrancelhas de Charlotte se ergueram. Amity a ignorou.

— Por aqui, milorde. — Ela levantou a cortina, mantendo-a de lado enquanto caminhava logo trás, o familiar aroma densamente doce e delicioso de chocolate a relaxando imediatamente. Era extremamente estranho ter o Duque de Pelham no ambiente onde criava seus chocolates, e então ela olhou para a sala através dos olhos dele.

Oh céus!

— Está um pouco bagunçado — Amity admitiu, vendo seus esforços matinais pela luz da janela nos fundos, que dava para o pequeno beco. Sobre a placa do fogão, havia o banho-maria, com uma panela de chocolate sendo mantida à temperatura perfeita. Ela deixou colheres, um batedor e uma tigela de casca de laranja ralada no balcão de cobre ao lado da panela. Do outro lado da pequena sala, havia blocos de chocolate liso da Swiss Cailler e French Menier sobre o espaço de trabalho de mármore dela, a superfície que ela usava para esfriar o chocolate derretido e misturá-lo com o seu raspador largo. Pequenas garrafas de essências de frutas e uma lata aberta de leite condensado da Borden também disputavam espaço.

Na prateleira acima do mármore, óleos de hortelã, canela e laranja estavam alinhados em frascos. E ao lado de uma tigela de fondant3 de chocolate macio, que ela estava misturando com outros sabores, ela tinha algumas barras de chocolate Fry.

Nos caixotes e nas prateleiras estavam seus moldes e prensas, pequenos potes de nozes e amêndoas, um moedor e panelas pesadas. Facas foram colocadas sobre uma tábua de madeira sobre o mármore, junto com gengibre cristalizado em uma jarra de vidro.

— Bem! — Ele exclamou, seu olhar absorvendo tudo. — Parece tanto o espaço de um químico quanto o de um chocolatier, embora cheire melhor do que qualquer outra loja em que já entrei.

— Como você deve saber, milorde, todo chocolate na Inglaterra, principalmente chocolate líquido, começou a ser fabricado em farmácias para fins medicinais, assim como era no passado para Maria Antonieta e desde a fermentação amarga dos grãos de cacau moído dos Maias.

— Que interessante, — disse ele, parecendo sincero. — Há mais do que eu poderia imaginar. — Ele já tinha tirado a luva da mão direita e começou a esticar a mão “oh não!”, para pôr um dedo na direção de seu puro fondant, e ela se esforçou para puxar a tigela fora de seu alcance.

— Por favor, milorde, você não deve contaminar o chocolate.

— Desculpe, — ele murmurou, afastando-se da mesa.

Amity atravessou a sala até uma mesa embaixo da janela e pegou sua tabuleta de papel para fazer anotações. Ela já havia escrito algumas coisas com suas ideias na noite anterior. Tudo sob o título “Lady Mad4”, sublinhado com um ponto de exclamação. Ela a agarrou, virou-se para que ele não pudesse ler nada e pegou um lápis.

— Você gostaria de me contar algumas de suas ideias? — Ela perguntou. Depois disso, ele poderia ir embora e ela poderia começar a trabalhar. Ela certamente não podia fazer nada com a impressionante presença ducal ocupando a sala dos fundos. Além disso, com ele lá, achava difícil não se distrair com o cabelo escuro e ondulado dele, perfeito para passar os dedos. Ou olhar em seus olhos verdes e inteligentes. Um tom incomum, pensou.

E então havia a boca dele, que no momento estava falando.

— ...assim, sem passas, por favor.

Ela balançou a cabeça para limpá-la.

— Sem passas.

Por alguma razão, o duque notou as barras Fry.

— O que você faz com isso?

Que pergunta boba!

— Comê-los, é claro.

Ele deu uma risada.

— Na Rare Confectionery, você come barras de chocolate? — Ele sorriu para ela, e o estômago dela voltou a remexer como na carruagem. Muito perturbador. O estômago dela nunca remexeu quando Jeremy sorriu, mas Jeremy não tinha as covinhas devastadoras do duque.

Ela encolheu os ombros.

— Eu passo o dia inteiro provando, mergulhando, aquecendo e criando. Às vezes, quero comer um doce que outro já fez. Eles não são concorrentes. Ou melhor, não somos concorrentes para eles. Se você quer uma barra de chocolate comum ou um palito branco de creme mentolado e, “quem não gostaria”? Então você deve pegar um Fry. Eles são excelentes. Você gostaria de um?

— Francamente, prefiro provar algo que você fez.

— Você deve, mas voltando às minhas anotações. — Olhando para baixo, Amity percebeu que não havia escrito nada até agora. Ela escreveu em “sem passas”.

— De que sabores Lady Madeleine gosta?

— Porco assado e faisão, batatas, pão de ló, ostras.

Ela apertou os lábios. Ele estava tirando sarro dela?

— Nenhum desses combina com chocolate, exceto o bolo, milorde.

— Talvez o chocolate combinasse lindamente com uma batata, Senhorita Rare-Foure. Ou talvez com feijão verde ou ervilhas. E como seria em um pedaço de porco crocante?

Seu estômago revirou novamente, desta vez com uma sensação doentia, como se ela pudesse perder sua última xícara de chocolate quente em cima de suas botas brilhantes. Então ele inclinou a cabeça, os olhos brilhantes, e ela sabia que ele estava falando apenas de brincadeira.

— Sinto muito, milorde, mas não participarei dessas monstruosidades. Se você deseja comer chocolate em sua carne de porco, derreta uma barra de chocolate Fry ou Cadbury e mergulhe-a.

O duque deu de ombros, sem se importar com sua boca atrevida, mas ele parecia um pouco duvidoso.

— Não vejo como você criará algo especial se usar receitas e ingredientes semelhantes.

Amity sabia que sua mandíbula havia enrijecido quando seus dentes chiaram juntos. A diferença entre um de seus chocolates com uma pitada de essência de framboesa em comparação com uma barra de creme Fry com sabor de framboesa era como noite e dia.

— Como um cavalo pode ser melhor que outro quando todos eles têm juba, cauda e quatro patas? — Ela perguntou.

— Isso é diferente, — protestou o duque. — Alguns são criados para velocidade, outros para força. E alguns simplesmente têm um espírito especial por ser um grande cavalo.

— Exatamente. — Ela abriu um armário no fundo da sala e pegou uma bandeja de tamanho médio seguida por outra, que colocou na superfície de mármore em frente ao duque. Ele examinou os chocolates em várias formas e tamanhos.

— Este aqui, — disse ela, apontando para um disco pequeno e achatado de chocolate pálido do tamanho de um xelim no qual acrescentara uma pitada de canela. — Este é para velocidade.

Ele olhou para ela com olhos interrogativos.

— Vá em frente, — ela o encorajou. — Você pode pegá-lo e colocá-lo na boca.

O duque seguiu as instruções e ela o observou pegá-lo com dedos limpos e unhas igualmente limpas. Ela apertou as próprias mãos no avental, sabendo que tinha chocolate nas unhas e nos dedos.

Ele mal hesitou em examinar o doce do tamanho de uma moeda antes de colocá-lo entre os lábios. Pessoalmente, ela teria olhado, cheirado e provavelmente lambido uma ou duas vezes antes de realmente comê-lo. Embora só se estivesse sozinha, e fosse provar algo pela primeira vez.

Seus olhos se arregalaram e ele sorriu.

— Derreteu na minha língua tão rapidamente. Foi uma explosão de sabor e depois se foi.

— Como eu disse, esse é criado para velocidade. — Ela olhou por cima da bandeja e apontou para um chocolate mais grosso que continha nozes e lascas de caramelo da irmã. — Tente este. Cuidado, deixe um tempo na sua língua. E, pelo amor de Deus, não triture muito rápido ou você pode quebrar um dente.

— Eu não sabia que havia perigo de ferimentos envolvidos, — disse o duque com um tom de provocação antes de pegar o pedaço maior de confeito e colocá-lo na boca.

E que boca atraente era, ela pensou.

— Mm, — ele murmurou ao redor do chocolate em sua boca. — Mm, mm.

Enquanto isso, ela se virou para lhe servir um copo de água da jarra que mantinha para limpar o paladar.

Ele pegou dela, mas hesitou.

— Detesto lavar os sabores da minha boca. Isso foi surpreendentemente bom.

Ela sentiu o elogio dele da cabeça aos pés. Então ele tomou um gole da água e pousou o copo.

— Esse chocolate, se você seguir a nossa analogia, foi criado para força. Não derreteu rapidamente na língua. Permitiu que você trabalhasse nele, mastigável e crocante. É um dos nossos best-sellers. Algumas pessoas comem um par como lanche entre as refeições. Você descobrirá que isso lhe dá um impulso de energia, um verdadeiro impulso para o seu passo.

— Senhorita Rare-Foure, não vejo como você pode coroar esse clímax, mas sinto que algo puramente criado com espírito me espera.

— Indubitavelmente, — disse ela. Em vez do armário, ela se virou para a prateleira onde havia uma cúpula de vidro sobre outro prato de doces. — Elas são melhores em temperatura ambiente, mas não são mais quentes, nem, nesse caso, mais frias.

Erguendo o vidro, Amity deixou-o olhar para oito bolas redondas, polvilhadas com o melhor pó de cacau puro. Ele olhou para eles e olhou para ela.

— Estes são macios e amanteigados, garantidos para sujar os dedos, receio.

— Eu sei que valerão a pena, — disse ele. Sem mais hesitações, ele pegou uma e colocou entre os lábios. Depois de um instante, ele fechou os olhos, e ela pôde olhá-lo sem ser observada.

Um rosto interessante, com sobrancelhas bem formadas e arrumadas e cabelos escuros caindo sobre a testa, um nariz que claramente nunca fora quebrado e aquela boca! Lábios polvilhados com cacau sobre um queixo forte, sem uma pitada de barba por fazer. Naturalmente! Ele provavelmente tinha uma equipe de servos que cuidava de todos os aspectos do seu corpo.

Ao pensar em seu corpo, ela engoliu ao mesmo tempo que ele. Então seus olhos se abriram.

— Bom Deus! — Ele lambeu os lábios, passando a língua sobre o pó de cacau até que estivessem limpos. — Isso foi... totalmente fabuloso. Tinha espírito de sobra. Era... o que era exatamente?

— Uma receita secreta, mas basicamente chocolate derretido, creme e uma pitada de...

— Laranja? — Ele adivinhou.

— Licor de laranja.

Ele ergueu as sobrancelhas.

— Está perfeito.

— Talvez seja para Lady Madeleine? — Ela sugeriu.

— Você já os vende em sua loja? — Ele perguntou.

— Alguns, milorde.

— Infelizmente, não serve. Deve ser original, criado para ela.

Ela suspirou.

— Talvez algo semelhante em textura e forma, cremoso, macio, com um sabor diferente de laranja? — Amity precisava de alguma sugestão de ideia para trabalhar. Caso contrário, ela poderia ir em muitas direções. — Ninguém mais faz essas bolas de chocolate macio em Londres.

— Sim, eu gosto muito da sensação na minha boca. E a maneira como é firme, mas suave. É rico, mesmo decadente. Quero outro, mas sei que, com muitos, posso me sentir mal.

— Verdade. Como a maioria dos doces, deve-se conhecer a linha tênue sobre a qual, se você pisar, passa de provar algo delicioso, a doentiamente desagradável. No entanto você poderia ter outro, sem risco.

Ele sorriu de novo.

— Escolherei outro desses com espírito, — e ele pegou mais uma bola de cacau polvilhado.

Logo, tinha uma pequena lista de algumas frutas e nozes que Lady Madeleine gostava. Eles conversaram sobre amoras nativas e sabugueiro, ambos preferindo essas frutas como vinho ao invés de cobertas de chocolate. No entanto, Amity não conseguiu convencê-lo de que as groselhas silvestres encharcadas de chocolate eram deliciosas.

— A torta de frutas é uma surpresa aguda na língua quando cercada de doçura. Então, são melhores com um chocolate altamente adocicado e não com chocolate comum.

— Torta de frutas, — ele repetiu. — Você soa intrigante e espero que me ofereça uma amostra no futuro.

— Assim que eu tiver algum, milorde, então minhas criaçoes serão suas.

O que ela acabou de dizer? Parecia terrivelmente coquete, e ela estava certa de que suas bochechas estavam em chamas.

— Eu ocupei muito do seu tempo. Deveria ir embora.

Ela o assustou com suas palavras ridículas? Aparentemente não, pois embora o duque dissesse que estava saindo, ele não se moveu em direção à porta cortinada.

De fato, a Amity tinha muitos chocolates para fazer na loja e para outros clientes. Ela deveria começar, mas não podia pedir a um duque que fosse embora.

Em vez disso, ela sorriu para ele.

— Está tudo bem, milorde. Rare Confectionery aprecia seu patrocínio. E depois da sua festa, teremos muitos novos clientes. Estamos em dívida com você.

Henry considerou a jovem que estava diante dele com avental manchado de cacau. Ele gostava dela tremendamente até agora. Ela tinha um jeito fácil e um sorriso assimétrico quando sorria, como havia feito um momento antes. Ele também gostou quando ela falou de tortas e frutas, mas isso era apenas ele sendo um demônio. E infantil, para começar.

— Pelo contrário, — disse ele. — Se tudo correr bem, serei eternamente grato. — Porque ela o teria ajudado a obter Lady Madeleine, o prêmio de Londres.

— Minha esposa e eu teremos seus chocolates na nossa festa de casamento. — Seria apropriado convidar a Senhorita Rare-Foure para isso também? Ele não sabia se ela estaria disposta a servir chocolates a seus convidados ou se seria uma convidada de honra.

Independentemente disso, ele estava pensando em Madeleine no dia do casamento, não nessa chocolatier maravilhosamente talentosa.

— Farei presentes deles para minha esposa pelo resto de nossas vidas, — acrescentou. Cristo, isso parecia muito tempo.

— É claro, — ela disse um pouco gélida, e ele percebeu que o clima havia mudado.

— Eu virei à sua loja e vou escolher os chocolates, — acrescentou.

Ela lhe ofereceu um sorriso morno, e ele percebeu que tinha falado como um menininho pomposo, como se sua presença fosse um presente.

Ela estava batendo o pé agora, impaciente para se livrar dele. Ele! Um duque com quem todos desejavam passar o tempo. Mas a Senhorita Rare-Foure tinha trabalho a fazer.

— Vou deixar você e voltar amanhã.

Os olhos dela se arregalaram.

— Para que, milorde? Você não confia em mim?

Confiava! Sua habilidade era óbvia com as poucas amostras que teve. Mas ele queria fazer parte dessa criação. Nunca tinha feito algo assim antes.

— Sim, mas como esse é um presente tão pessoal, gostaria de supervisioná-lo. Isso será um problema?

Ela franziu a testa, mas dificilmente podia recusá-lo.

— Talvez amanhã, você possa me mostrar os vários tipos de chocolate. Eu sei que provei mais de um hoje. Estou certo de que posso descobrir mais do que Lady Madeleine gosta e relatar para você.

Agora, suas perfeitas sobrancelhas marrom-escuras se ergueram ao longo de sua testa lisa.

— Você deve ser como um sargento detetive da Polícia Metropolitana, milorde.

Ela estava zombando dele? Ele não se importava porque o sorriso dela estava de volta. Sua bochecha direita subiu mais alto quando seus belos lábios rosados se levantaram de uma maneira adocicada.

Ele não deveria estar notando os lábios dela. Ou o sorriso.

Então, um pensamento irritante passou por sua cabeça... ele não tinha ideia de como era o sorriso de Madeleine. De qualquer forma, sabia que não era nem um pouco desequilibrado, nem alterava a simetria perfeita de seu rosto requintado. Se tivesse, ele teria notado.

— Muito bem. Eu vou indo. Vou encontrar um amigo no White's. — Ele não sabia por que havia dito isso à Senhorita Rare-Foure. Ela continuaria trabalhando, embora em uma das melhores tarefas imagináveis, enquanto ele bebia café. Ela provavelmente o considerava alguém que queria dizer a última palavra, com certeza.

Dando-lhe uma reverência superficial, esperando enquanto ela fazia uma reverência, ele acrescentou:

— Vejo você amanhã.

Porque ele queria. Porque poderia. Porque era um maldito duque, e era melhor apreciar a presença dele.

Não que ele diria isso em voz alta.

 


Capítulo Quatro


Quando Henry deixou seu clube na St. James's Street, ainda estava maravilhado com a forma que o sabor restante de chocolate em sua boca havia feito a bebida rica em sua primeira xícara de café ficar ainda melhor. Talvez tudo estivesse melhor com chocolate. Talvez a Senhorita Rare-Foure estivesse incorreta e o chocolate pudesse cobrir carne de porco ou faisão, ou até mesmo uma simples couve de bruxelas. Talvez juntos inventassem algo inteiramente novo.

Não que ela precisasse da ajuda dele. Ele estava exaltanto os chocolates para seus dois amigos, Charles Jeffcoat e Daniel Waverly. Eles riram em sua exuberância e perguntaram se era realmente a própria chocolatier que o tinha em tal estado de excitação.

Ele revirou os olhos, mas, na verdade, não conseguia tirar a Senhorita Rare-Foure da cabeça. Além do mais, ele precisava se lembrar de que não importava o sorriso estranhamente atraente dela ou seus convidativos olhos castanhos. Eram as criações dela que importavam para ele. Aquele terceiro chocolate tinha sido sublime. Firme, mas derretido, cremoso com a amargura perfeita do cacau em pó polvilhado.

Se ela o tivesse inventado naquele momento, teria sido o presente perfeito para Madeleine, o Brayson, como ele passara a pensar nele, mesmo que esse nome o fizesse pensar em burros5.

A sua futura noiva tinha um nome do meio? Talvez fosse o nome perfeito para um doce. Para esse fim, e para determinar seus sabores favoritos, ele decidiu passar um tempo com ela naquele mesmo dia. Sentado em sua carruagem, Henry percebeu que não tinha a menor noção de onde ela poderia estar. Ele sabia onde cada um de seus amigos estava, quais deles estavam no Palácio de Westminster, participando do Parlamento ou em uma caçada no campo, e quem estava em seus clubes ou permaneciam na cama naquela hora tardia.

No entanto, de Madeleine, ou a maioria das damas nesse assunto, não fazia ideia. Elas não tinham clubes, pelo menos não do tipo que ele ia. Além do mais, não tinha ideia de quem eram seus amigos. Quando se conheceram em um baile, ela estava cercada por outros homens, a quem ele espalhou com um aceno de mão enluvada. Ele monopolizou o tempo dela e não conseguia se lembrar dela falando com outras mulheres que poderiam ser amigas.

Quando ele a pegou em sua casa na Tremont Street para um jantar, ela desceu as escadas e seus pais não apareceram, nem um irmão. Aparentemente, como ele era duque, eles não precisavam saber mais sobre ele.

Em sua carruagem, com a acompanhante sentada perto da janela, eles conversaram sobre o clima, e ela perguntou a ele sobre sua propriedade rural. Ele perguntou sobre o pai dela. Então eles chegaram a uma festa na casa de Lorde e Lady Lindsey, e a conversa foi mais geral entre o grupo. Depois de mais dois bailes e outro jantar, Henry percebeu que não sabia muito sobre ela, exceto por suas opiniões sobre outras pessoas, cavalos incontroláveis e a melhor cor para uma sala de estar. Cinza pomba.

Ele sabia que queria que ela agraciasse sua vida. Era extraordinariamente adorável e tinha um tom de voz muito agradável, mesmo quando defendia o que não gostava. Era uma excelente dançarina também. Ele teve que compartilhá-la com outros parceiros de dança, mas no terceiro baile, estava sendo reconhecido pelos outros que ela era dele. Ela era a dama superior na safra da temporada atual, e ele era o solteiro mais elegível; portanto, naturalmente, ele deveria tê-la. Mesmo se ele ainda fosse um marquês e seu pai estivesse vivo, Henry imaginou que teria superado todos os outros pretendentes.

Com um pouco de procura, não apenas por conta própria, mas por sua própria mãe e amigos, ele descobriu os pais de Lady Madeleine, Lorde e Lady Brayson, rastrearam sua linhagem até os normandos, possuíam propriedades em Yorkshire e Gales e possuíam sua casa na rua Tremont sem empréstimos bancários. Eles tinham a filha mais formosa do país e um filho, David, herdeiro do condado de seu pai, que havia frequentado Eton e queria se tornar primeiro-ministro. Ninguém no White's conseguia descobrir quais eram suas qualificações para sonhar com uma posição tão elevada, mas isso não estava aqui nem ali.

No entanto, tudo isso lhe dizia pouco sobre a própria dama. Hoje, ele estava determinado a se aprofundar um pouco mais em sua natureza, do que em seu prazer por champanhe sobre vinho tinto e ameixas sobre tâmaras. Não que sua preferência pelo chocolate fosse mais profunda, mas estava na hora de perguntar se ela gostava de crianças e cachorros, pois ele gostava um pouco de cada. Ele gostava de Londres, mas também passava um tempo em Kent. Ela estava disposta a deixar a cidade por um mês ou dois a cada ano?

E era hora de beijá-la. Passou da hora, de fato. Ele tentou uma vez e recebeu a bochecha de Madeleine por seu esforço. Ou ela não se deixaria beijar antes de um noivado formal ou ele tinha sido lamentavelmente prematuro na tentativa. De repente, ele teve o terrível pensamento de que ela era uma daquelas mulheres que gostariam de esperar até o casamento para trocar um simples beijo.

Isso não faria. Determinar isso era mais importante do que descobrir sua preferência por chocolate. Ele ordenou que o motorista o levasse prontamente à casa de Brayson. Ele estava arriscando muito por aparecer sem ser convidado, mas não conseguia pensar em outra maneira de encontrá-la.

Trinta minutos depois, ele estava sentado na sala de estar de Lorde Brayson. Sozinho. Ele estava esperando por dez minutos, sentado em um sofá rígido de brocado de ouro. O mordomo não tinha sido específico sobre se o conde ou sua condessa estava em casa, mas o homem disse que Lady Madeleine concordava com sua visita.

Então, Henry esperou, não habituado a ser deixado esperando.

Por fim, ela entrou, seguida por sua criada pessoal, e todas as dúvidas, se tivesse alguma, evaporaram-se ao vê-la. Como poderia uma mulher ser tão adorável? Cabelos loiros, ambos amontoados em cachos, olhos cor de safira, lábios rosados e pele clara sem manchas de cacau... por que isso surgiu em sua cabeça?

Madeleine usava um vestido de seda azul com uma camisa prateada, parecendo como ele imaginou que Afrodite poderia ter aparecido. Ele levantou ante sua chegada. Ela fez uma pausa para oferecer uma reverência esplendidamente graciosa antes de estender as mãos para ele.

— Vossa Graça, — disse ela quando ele as segurou. Dedos longos e graciosos, perfeitos para tocar harpa ou pianoforte, os quais ele sabia que ela tocava, e sem um pedacinho de chocolate em lugar nenhum, nem debaixo das unhas. Mãos boas ao toque que claramente deveriam ser as de uma duquesa, ele lembrou a si mesmo.

— Como você está? — Ele perguntou, quando a criada dela foi para o outro lado da sala e sentou-se.

— Eu estou bem. A que devo esta maravilhosa surpresa?

Uma saudação mais agradável do que a Senhorita Rare-Foure havia lhe dado antes, com certeza, quando a chocolatier praticamente exigiu que ele declarasse sua intenção como se a estivesse incomodando.

— Eu simplesmente queria te ver e falar com você. Ou seja, se não estiver muito ocupada.

— Nunca estou muito ocupada para você. Mais tarde hoje, vou tomar um chá na Marlborough House. Tenho certeza de que a princesa de Gales estará lá, e talvez o próprio príncipe. Passei a manhã decidindo o que vestir.

Como ela poderia questionar sua perfeição?

— O vestido que você escolheu está precisamente certo.

Num piscar de olhos, essa afirmação ganhou um olhar fulminante.

— Este? — Ela perguntou depreciativamente. — Este é o meu vestido de dia para ver você e outros visitantes. Eu nunca usaria isso na Marlborough House!

Ele não sabia o que dizer. De alguma forma, ela o insultara como sendo menos importante que sua reunião de chá, mesmo que fosse com a realeza. Por outro lado, ele supôs que isso significava que ela estava confortável o suficiente com ele e não estava preocupada em parecer o seu melhor.

— De qualquer forma, querida senhora, não consigo imaginar você parecendo melhor do que está agora.

O sorriso dela retornou, e era um sorriso perfeitamente simétrico. Quão perfeito! E, no entanto, ele não tinha certeza de que iluminava seus olhos, não da maneira como o sorriso assimétrico da Senhorita Rare-Foure fazia seus suaves olhos castanhos brilharem.

Ricos olhos castanhos o fizeram pensar em chocolate delicioso, lembrando-o de sua missão. No entanto, perguntar a Madeleine sobre seu gosto em confeitaria de repente pareceu ser inapropriado. Melhor começar com as banalidades.

— Você vai se sentar?

Henry esperou que ela se sentasse, depois sentou-se em frente, percebendo imediatamente que estavam muito afastados. Exceto pela única vez em sua carruagem, quando sua acompanhante voltou correndo para dentro pelos chinelos de dança esquecidos de Madeleine e ele tentou um beijo apressado... e foi rejeitado, ele não encontrou uma oportunidade de ficar sozinho com ela ou até perto. A dama parecia sempre ter um muro de decoro que a envolvia. Alguns podem dizer que ela tinha ar de frigidez, mas ele apreciava uma pequena reserva em sua mulher. Um pouco.

Ele não queria que ela fosse uma princesa do gelo, nem de virtude duvidosa, apenas algo prazerosamente no meio.

Pensando que ele deveria testar as águas e ver a receptividade dela, de repente se levantou e deu a volta na mesa baixa entre eles, sentando-se ao lado dela no sofá. Ela não vacilou nem se encolheu, mas pareceu prender a respiração e olhar desconfiada.

— Estou deixando você desconfortável? — Ele perguntou.

— Confio em você, Vossa Graça. Só que eu não gostaria de nenhum indício de escândalo.

— Não acredito que compartilhar um sofá possa causar um. — Ele achou que beijar estava fora de questão, mesmo que a criada não estivesse lá.

— Além disso, eu não gostaria que você pensasse mal de mim. Se me sentasse perto de você, o que me impediria de sentar perto de outro homem?

Ele franziu a testa. Esperançosamente, seu respeito por ele, algum carinho em seu coração, talvez, a detivessem. Como esse era um pensamento que ele não podia dizer em voz alta, ele assentiu.

— Confio em que você mantenha distância de qualquer pessoa do sexo oposto, exceto quando estiver dançando, — acrescentou. Henry tentou se lembrar de ela ter permitido abraçá-la de perto quando valsavam, mas parecia recordar que ela mantinha espaço entre eles até então.

Como ele saberia o que ela fazia por causa das aparências, ou se era porque ela não tinha nenhum interesse nele?

Pela primeira vez, ele se perguntou se sua proposta poderia ser recusada. Então rapidamente descartou a incerteza sombria. Ele era um duque e jovem. Ele tinha todos os cabelos e dentes. O que mais ela poderia querer?

Não era um homem vaidoso, Henry tinha todos os motivos lógicos para acreditar que era mais do que suficiente para conquistá-la, mesmo sem o presente de chocolate, que era planejado mais como uma brincadeira do que como uma oferta séria. Enquanto ela tinha um alto nível de beleza, ele não era um troll da ponte. Tampouco se importaria quando um dia seus cabelos escuros se tornassem brancos nas têmporas e seu rosto forrado com as alegrias e tristezas da vida. Seja como for, ele sabia que atualmente eles formariam um casal adequado.

— Lady Madeleine, você tem outro nome? Além do seu sobrenome, quero dizer.

Franzindo a testa, o que, se possível, a fez parecer ainda mais bonita, ela disse:

— Tenho. Por quê?

— Apenas curioso. — Ele não tinha como saber se ela sabia o nome dele, nunca havia perguntado muito sobre ele, mas supôs que isso aconteceria mais tarde.

— Elizabeth, pela nossa rainha virgem dos séculos passados, — disse ela com orgulho.

Eles dificilmente poderiam nomear o chocolate com o nome de Rainha Elizabeth, pois isso obscureceria Madeleine. Ele teria que se contentar com Brayson. Ainda assim, ele poderia fazer suas outras perguntas.

— Você gosta de ficar na cidade o ano todo? — Ele perguntou a ela. — Ou você também é favorável à vida no campo?

Ela piscou.

— Suponho que não pensei muito, Vossa Graça. Não tenho dúvida de que sua propriedade em Kent não seria inconveniente em deixar a cidade valiosa.

Então, ela estava pensando em misturar suas vidas. Aquilo foi um bom sinal.

— Prefiro carruagens, — continuou ela, — a andar a cavalo, como você sabe.

Sabia?

— E eu não gosto muito do ar rarefeito. Eu acho que o ar mais denso de Londres tem mais substância. Também não ligo para animais de fazenda, mas imagino que se você tiver rebanhos, não precisarei me aproximar deles. O cheiro deles pode ser tão ofensivo, você não acha?

Ao contrário do fedor do Tamisa de Londres?

Ele ainda estava tentando imaginar o que ela pensava ser “ar rarefeito” quando ela acrescentou:

— Eu também não ligo para viagens de carruagem tanto quanto de trem. Presumo que sua propriedade esteja em uma das linhas ferroviárias?

Ele havia aprendido muito sobre o que ela não gostava, como sempre. Carruagens sobre cavalos, mas trens sobre carruagens.

— Existe uma estação não muito distante, isso é verdade. Meus rebanhos, como você os chama, estão todos contra o vento. O ar não é muito rarefeito, pois minha propriedade fica perto do mar. Eu acho que o sal o engrossa? — Ele sabia que saiu como uma pergunta, mas se perguntou se ela concordaria.

Ela assentiu e, assim, animado, ele acrescentou:

— Acredito que você achará o ar perfeitamente satisfatório.

Essa declaração o deixou se sentindo um pouco tolo. Interiormente, suspirou. Mais uma vez, ela contou mais sobre seus desgostos do que seus gostos, e ele foi reduzido a uma tagarelice insignificante. Deveria se esforçar mais.

— Quais são seus sentimentos sobre as crianças?

Lady Madeleine engasgou e colocou a mão no peito.

— Essa pergunta pode ser considerada descarada, — protestou ela.

Pode? Henry não conseguia ver como. A menos que sua mente tivesse voado diretamente da existência dos filhos para a criação deles. Interessante! Talvez uma natureza apaixonada estivesse enterrada... profundamente enterrada, sob a superfície de seu exterior gentil e frio.

— No entanto, — continuou ela, — já que acredito que estamos caminhando em direção a um entendimento, responderei. — Madeleine olhou para a frente em vez de olhar para ele. — Estou preparada para fornecer um herdeiro e dois extras, apenas em caso de tragédia. E vou exigir uma ama de leite e uma babá.

Isso parecia razoável, se bem que bastante metódico, para uma mulher falando sobre seus próprios filhos, aqueles que ele esperava que ela adorasse com todo o carinho que pudesse reunir.

Por sua vez, ele levaria seus filhos para a Rare Confectionery, onde os deixaria comprar o que quisessem. Ele poderia até perguntar à irmã Rare-Foure mais dotada, como ela fez aquele assovio penetrante. Ele imaginou que seria útil chamar seus filhos se eles estivessem em outra parte da casa ou convocar um cachorro, aliás.

— E sua opinião sobre os cães? — Ele poderia muito bem perguntar.

Sua cabeça girou e seus olhos finalmente brilharam com paixão.

— Eu não posso tolerá-los. Coisas fedorentas e grosseiras, sempre arranhando, bocejando ou se aliviando. Meu pai teve um por um curto período de tempo, e depois de duas semanas eu o fiz se livrar dele.

— Ah, bem então. Talvez um gato?

Ela balançou a cabeça e se lançou em mais mordacidades sobre excreções, arranhos e vomitos. Ela permitiu que sua mãe mantivesse um gato por três semanas inteiras uma vez!

Ele decidiu não perguntar sobre os animais de estimação mais incomuns que encontrara em algumas das melhores casas da Inglaterra, como esquilos, corujas ou macacos. Seus filhos teriam que crescer sem a diversão de um amigo de quatro patas, exceto seus cavalos.

De repente, ele teve um pensamento terrível.

— Lady Madeleine, você gosta do sabor do chocolate?

Ela deu a ele seu sorriso perfeito novamente.

— Claro, Vossa Graça. Alguém teria que ser incivilizado para não gostar.

— Não me refiro ao tipo de bebida comum, — esclareceu. — Estou falando do tipo sólido de chocolate, como uma caixa de chocolates Cadbury ou mesmo uma barra de creme Fry. Você já comeu um?

— Sim. Eles são deliciosos. A doçura da barra de creme é uma delícia.

Internamente, ele deu um suspiro de alívio. Seu plano parecia bom. E ele diria a Senhorita Rare-Foure, quanto mais doce, melhor.

— O chocolate é exatamente o oposto de uma laranja, você não acha? — Ela adicionou.

Ele franziu a testa.

— Não tenho certeza se entendi o seu significado.

Ela levantou um ombro delicado.

— Quero dizer que gosto quase tanto de chocolate doce quanto desgosto de laranja amarga.

Ele assentiu, embora se lembrasse do terceiro chocolate cremoso com infusão de laranja com muito carinho. Além do mais, nunca em sua vida ele considerou a fruta doce como amarga, mas aparentemente Lady Madeleine o considerou.

Amity acabara de despejar o creme fervido de noz-moscada em uma tigela de pedaços de chocolate quando sua mãe a chamou pela cortina.

— Vejo que a carruagem do Duque de Pelham parou. E aí está ele. Ele está entrando. Mais uma vez. — A sra. Felicity Rare-Foure tinha um tom cantado de aprovação. Ela gostava que sua loja fosse frequentada pelas classes mais requintadas.

Amity ouviu o tilintar da campainha da loja e tirou o avental para parecer mais apresentável, desejando imediatamente que ela não se importasse com nada, se ele a achava assim ou não.

Quando ela atravessou a cortina, sua mãe já estava falando com o duque. A visão dele deu a ela a mesma emoção que um novo carregamento de Chocolats au Lait Gala Peter, uma bebida de chocolate com leite pronta da fábrica de Monsieur Peter, na Suíça. Antecipação formigou através dela.

— Aqui está ela, milorde, — disse a mãe.

Amity deu um passo à frente e fez uma reverência.

— Eu não esperava vê-lo novamente tão cedo.

— Eu disse que voltaria, — ele a lembrou, parecendo o cavalheiro perfeito em um terno matinal cinza-carvão. Seu lenço estava meticulosamente amarrado.

Na verdade, ela assumiu que ele encontraria outra coisa para ocupar seu tempo entre ontem e hoje.

— E não há nada mais importante do que isso, — acrescentou.

Ah, sim. Quando um homem estava em uma missão para conquistar o coração de uma dama, isso superava todos os outros interesses.

— Eu entendo, milorde, — disse ela. — Ainda não tive a chance de fazer algo novo. Eu tinha um pedido para preencher para o palácio.

— De fato! Que emocionante. Definitivamente, escolhi a chocolatier certa, — ele disse, aquecendo as bochechas dela com seus elogios. — Eu tenho informações que podem ajudar na sua arte, — disse ele. Parando, ele olhou além dela em direção à cortina.

Ele realmente queria voltar para a sala de trabalho dela? Que homem estranho! Não conseguia imaginar outro duque em todo o mundo que quisesse passar um tempo no fundo de uma confeitaria.

— Muito bem, milorde. — Ela olhou para a mãe, sabendo que ela já estava inventando fantasias em sua cabeça. Ao ver o duque retornar à sua loja, Felicity Rare-Foure provavelmente diria ao marido que um casamento aristocrático era iminente.

— Vamos trabalhar na surpresa de chocolate para a lady especial de sua senhoria, — ela lembrou à mãe, na esperança de tirar todas as ideias tolas da cabeça.

— Claro que sim.

Revirando os olhos quando ela se virou para que o duque não a visse, Amity o levou através da cortina. Ela pegou o avental recentemente descartado e o prendeu na parte superior antes de amarrá-lo na cintura.

— Você gostaria de um avental, milorde?

— Não se minha vida dependesse disso, — disse ele, depois sorriu.

Os anjos começaram a cantar? Amity teve que desviar o olhar para não corar, tão forte era sua atração por ele e suas covinhas.

— Não me culpe se você sair daqui com manchas de chocolate, — disse ela, pegando seu caderno. — Se você chegar muito perto de mim ou da minha mesa de trabalho, está fadado a ficar sujo.

Para sua surpresa, ele se aproximou, passando os braços em volta dela. Ela ofegou, sentindo o calor dele ao longo da frente dela.

Olhando nos olhos dela, ele disse:

— É um risco que estou mais do que disposto a correr.

 


Capítulo Cinco


Amity estava prestes a fechar os olhos e elevar a cabeça para um beijo, quando ele arrancou um chocolate do balcão de mármore ao lado dela e recuou.

Colocando-o entre os lábios, ele fechou os olhos e saboreou.

Isso lhe deu tempo para recuperar o equilíbrio e os sentidos. O Duque de Pelham queria oferecer casamento à mulher mais bonita de Londres. Ele dificilmente desmaiaria aos pés da filha de um lojista. Ou roubaria um beijo, nesse caso.

— Isso é delicioso, — disse ele quando olhou para ela novamente.

— Foi isso que foi ao palácio, — disse ela. — Quando Sua Alteza não está comendo tutano cozido na torrada, ela gosta de quadrados de melaço com chocolate.

— Aposto que você aprende um pouco sobre seus clientes.

— Aqueles como nós com interesse em servir a rainha, e especialmente em obter o selo real de aprovação, costumam fazer de nossa função, descobrir seus gostos e desgostos.

— Os cozinheiros da rainha derramam uma boa fofoca, não é? — O duque perguntou.

— Pela quantidade certa de chocolate, sim, eles fazem.

— Espero, Senhorita Rare-Foure, que você não fofoque sobre meus gostos e aversões.

Ela piscou.

— Absolutamente não, milorde. Na verdade, sei muito pouco sobre eles.

Ele levantou uma sobrancelha perfeita.

— E mesmo se soubesse, — ela acrescentou, — não iria tagarelar sobre você. Você é um cliente. Também não divulgarei nada sobre Lady Madeleine.

— A rainha não é uma cliente? — Ele perguntou. Amity podia ver pelo sorriso brincando em seus lábios que ele a estava provocando.

— A rainha é completamente diferente, outros quinhentos.

— Suponho que ela é. Ela também pode não gostar de saber que alguma vez foi descrita como “outros quinhentos”.

— Suponho que não. Se você guardar meu segredo na próxima vez em que vir a rainha, guardarei o seu.

— Trabalhamos muito bem juntos, — disse ele, olhando novamente para o balcão de mármore para ver o que mais ele podia provar.

Amity não pôde deixar de rir.

— Não fizemos muito trabalho até agora, milorde. Você simplesmente começou a comer meus chocolates. — Ela seguiu o olhar dele, viu o creme aquecido derretendo o chocolate e pegou o batedor.

— Eu devo terminar isso, milorde. Isto é, se você puder esperar.

— Sim, claro. Se você não se importa, assistirei.

Tentando fingir que ele não estava lá, ela bateu a mistura repetidamente até que estivesse brilhante, suave e completamente misturada.

— Você tem um braço forte, — ele comentou no silêncio.

— Não é tão forte quanto de um padeiro, — comentou, pensando nas histórias que sua mãe contava sobre o avô Rare com bíceps como galhos de árvores por amassar massa.

Ele riu.

— Suponho que não. O que você está batendo tão impiedosamente?

— Duas partes de chocolate para uma parte de creme de leite, — explicou Amity.

Ele ficou em silêncio novamente enquanto ela dava mais agitação ao chocolate antes de colocar a tigela na caixa fria, uma estrutura de madeira com gelo em bandejas escondidas acima e abaixo. Imprensado no amplo espaço entre as bandejas de gelo, havia prateleiras de metal onde ela guardava manteiga, creme, leite e agora a tigela de chocolate. Outra tigela já estava lá esfriando rapidamente.

— Ele precisa ficar pelo menos uma hora, enquanto se torna como pasta ou um creme muito grosso. Eu o uso para fazer o centro mole do chocolate com sabor de laranja que você gostou. Alguns fabricantes de chocolate no exterior estão chamando de fondant, e, assim, eu também. Independentemente disso, nos dá tempo de sobra para conversar sobre a confecção para Lady Madeleine.

— Eu sei que você disse que não teve chance de criar nada, mas isso é bom porque eu tenho novas informações.

— Mesmo?

— Sim, eu visitei Lady Madeleine ontem.

Que soberbo! Ele foi vê-la com cacau nas mãos e no rosto, com o avental manchado sobre o vestido sem adornos, e depois foi para a cintilante Lady Madeleine.

— Eu descobri que ela definitivamente não gosta de laranja, mas ela gosta de chocolate, quanto mais doce, melhor. Isso ajuda, não ajuda?

— Muito mesmo, milorde. — Ela limpou as mãos em um pano. — Gostaria de provar mais dos confeitos que já fiz, e podemos começar de lá?

Os olhos dele brilharam, e ela soube que ele era viciado em chocolate. Para um homem que disse que não se importava muito com isso, não demorou muito tempo depois que experimentou seus produtos de confeitaria bem feitos.

— Um momento. — Ela correu para a frente da loja, evitou a mãe que estava ajudando os clientes, pegou um prato de degustação e serviu-se de dois chocolates de leite com diferentes sabores e dois simples.

Quando ela voltou, ele tinha sua caixa fria aberta, deixando todo o frio sair.

— Feche-a, — ela ordenou antes que pudesse se conter. Quando ele se assustou e olhou por cima do ombro, ela acrescentou: — Por favor, milorde.

Ele fez isso de uma só vez, depois se virou, parecendo desgostoso.

— Minhas desculpas, Senhorita Rare-Foure. Eu deveria saber que não devia. Estava muito curioso.

— Não deveria ter falado rispidamente com você. Isso é mais como minha irmã.

— Aquela que conheci ontem?

— Não, você conheceu nossa caçula, Senhorita Charlotte, e ela quase nunca é mal-humorada. Não importa, vamos ver se podemos solucionar esse problema.

Ela estendeu o prato para ele.

— Vou deixar você provar e descobrir por si mesmo.

Ele considerou.

— Algum deles é de frutas cítricas?

— Sim, um com limão cristalizado. — Ela apontou para ele.

— Como ela não gosta de laranja, provavelmente devemos pular limão também. — Com essa afirmação, ele pegou e comeu, fazendo-a sorrir e balançar a cabeça.

— O quê? — Ele perguntou inocentemente. — Não queremos que seja desperdiçado.

— Não teria, milorde. Eu o teria devolvido à vitrine onde provavelmente teria sido vendido até o final do dia. — Enquanto falava, ouviu a campainha tocar e o que pareceu dois pares de sapatos.

Ele realmente corou um pouco.

— Desculpe. Eu sabia que seria bom.

— Está tudo bem. Vou cobrar uma fortuna pelos chocolates para sua festa.

— Você vai? — Ele perguntou e deu um sorriso largo. — Gosto de uma mulher com bom senso nos negócios, principalmente uma franca. Você pode dizer quando vou ser depenado.

— Como disse? Você não será depenado. Meus chocolates valem cada centavo, garanto.

— Eu já lhe devo alguns guinéus, pelo menos, — ele brincou.

— Pelo menos, — ela concordou. — Você já ouviu falar do povo maia, milorde?

Ele levantou uma sobrancelha.

— Eu tive uma educação completa, juro, e os professores conseguiram colocar um pouco de geografia e conhecimento das civilizações antigas em minha cabeça dura.

Amity ignorou seu tom um pouco ofendido. Ela estava aprendendo que os duques podiam ser espinhosos quando a superioridade deles era questionada.

— Maravilhoso. Então você já deve saber como o povo maia usava grãos de cacau como dinheiro; portanto, em essência, estamos trocando uma forma de moeda por outra.

— Essa é uma maneira divertida de ver isso, — ele concordou.

Eles estavam perto, suas cabeças inclinadas sobre a bandeja, trocando brincadeiras. Ela gostava muito desse homem, especialmente quando ele sorria para ela.

— Você acha que Lady Madeleine vai gostar do gengibre?

— Se é doce. Posso?

Ela assentiu e apontou para a correta.

Ele comeu.

— Oh isso é bom. Devemos manter esse sabor entre os candidatos.

— Experimente a framboesa, milorde, — e ela indicou qual.

Ele engoliu, inclinou a cabeça e franziu a testa.

— Você não gostou? — Amity não podia acreditar.

— Oh, gostei. Muito, mas nunca provei nada parecido. O chocolate era mais doce e... — Ele seguiu, procurando a palavra.

— Chama-se chocolate ao leite, — disse ela. — Acho que sou a única chocolatier em Londres, talvez em toda a Grã-Bretanha, que o possui. Pego na Suíça, na fábrica do Sr. Peter em Vevey. Ele ainda está aperfeiçoando, tentando fazê-lo durar mais tempo na prateleira, pois o leite tende a azedar. Mas essas vendem tão rápidas que não me preocupo.

— Chocolate ao leite, — pensou o duque. — Posso? — Ele apontou para o outro confeito mais leve.

— Sim. Aquele tem figos no recheio.

Ele comeu.

— Estranho como o chocolate é mais doce, mas o figo não era tão doce quanto o limão, que eu esperava que fosse azedo.

— Não era um figo, mas com figos. Eu usei uma base de ameixa. Um recheio com figos também pode ser tâmaras ou passas, por exemplo. E o limão é cristalizado e, portanto, mais doce.

Ele assentiu, absorvendo a informação.

— A propósito, também gostei com figos, principalmente do chocolate ao leite.

Ela lembrou:

— Você gostou de todos eles.

Ele sorriu.

— É verdade. Gostei.

Ela largou o prato e escreveu em seu caderno para evitar laranja e limão, mas talvez incluísse gengibre ou framboesas. Depois, acrescentou “sem figo”, pois parecia maçante em comparação com os outros sabores de frutas.

— Você acha isso terrivelmente entediante? — Ele perguntou de repente.

— Ah não. Eu amo meu trabalho.

Ele insistiu:

— Você já se cansou de provar chocolate?

— Novamente, não. Eu amo meu trabalho. — Não conseguia imaginar um dia em que provasse chocolate e sentisse algo menos que prazer.

Concordando com a resposta dela, ele perguntou.

— Você sempre soube que faria isso?

— Sim, — ela confessou. — Tenho um bom paladar para isso, conforme diz meu pai, desde o início. Quando minhas irmãs enfiavam um doce em suas bocas, mesmo aquelas bolas horríveis de cor fervida que todos detestam por sua má qualidade, eu era mais exigente.

Mantendo o rosto inespressivo, ela perguntou:

— E você? Você sempre soube que seria duque?

Ele piscou, abriu a boca, entendeu a piada um instante depois e depois riu ruidosamente.

Amity sentiu uma onda de calor percorrê-la por ter divertido esse homem. Dava-lhe um prazer genuíno fazê-lo feliz.

— Água, por favor, — disse ele quando sua última risada desapareceu.

Ela serviu-lhe um copo, que ele bebeu rapidamente, provavelmente com sede de tanto chocolate. Ele pousou e limpou a parte de trás da boca na mão, parecendo inteiramente em casa na sala de trabalho dela.

Ela se endireitou. Não deveria permitir-se ficar muito confortável com ele. Não era uma amizade real, e a associação deles terminaria sem dúvida em menos de quinze dias.

— Suponho que devemos nos concentrar na textura do terceiro chocolate de ontem. Você pensou que tinha mais espírito e, para o seu objetivo de conquistar a Lady Madeleine, acho que precisamos de um com espírito, não é?

Ele estava olhando para ela e simplesmente assentiu concordando.

Sentindo-se um pouco irritada com o escrutínio dele, ela continuou:

— Aquele era chocolate puro com licor de laranja. O Brayson será simples, porque não queremos arriscar o chocolate ao leite e nem o sabor de laranja. Posso criar algumas amostras com os outros sabores que discutimos. Acha que você... ou melhor, ela... gostaria de recheio, como um pedaço de gengibre cristalizado, ou devo manter a mesma suavidade cremosa no meio e adicionar um xarope ou óleo com sabor?

— Suavidade cremosa, — disse ele, olhando para ela.

Amity estava certa de que o olhar dele caiu em sua boca quando ele falou, e um frisson de emoção chiou pela sua espinha.

— Trabalharei em alguns depois, talvez com suco de gengibre ou essência de pêra, que pode ser bom...

— Por que não agora? — Ele perguntou.

— Com você parado aqui? — O pensamento a perturbou. — Não será um desperdício terrível do seu tempo?

O duque balançou a cabeça.

— Se não estou atrapalhando, gostaria muito de ficar. — Ele olhou ao redor. — Vou sentar naquele banquinho, e se você precisar que prove alguma coisa.

Um pedido estranho, mas dificilmente poderia contrariar um duque. Também não queria, pois gostava muito da companhia dele. Se ele a encarasse e a deixasse nervosa, no entanto, ela teria que mandá-lo embora.

Em vez disso, ele contou-lhe histórias da alta sociedade que a manteve rindo pela próxima hora e, no meio, ela mostrou a ele como derretia chocolate sólido em seu banho-maria. Ele ficou perto e observou enquanto ela explicava como o chocolate era delicado demais para entrar em contato diretamente com o fundo de uma panela quente, daí o método da panela dentro de uma panela de água. Ela até o deixou mexer, incapaz de não sorrir para ele, pois parecia uma criança ajudando na cozinha pela primeira vez.

Com um sobressalto, ela percebeu que provavelmente era sua primeira vez em um fogão. Virgem Maria! Ela colocou um duque para trabalhar sobre um fogão.

— Você realmente deveria me deixar colocar um avental em você, — ela ofereceu novamente.

Ele lhe lançou um olhar desdenhoso e perguntou:

— Está feito, você acha? Posso provar?

— O sabor será exatamente como antes de derreter, exceto que estará quente. Então, a resposta é não. Haverá muito para você provar em um minuto. Agora, despeje dois terços no mármore.

— Diretamente nele?

— Sim, limpei enquanto você estava mexendo. Continue. Despeje em um grande círculo, uma poça. Não se preocupe, ele não escorrerá do mármore. Vai começar a esfriar rapidamente.

Como lhe foi dito, ele derramou até que ela lhe disse para parar. No entanto, quando ele quase colocou a panela sobre o mármore italiano, ela gritou.

— Não! — Ela agarrou o pulso dele para contê-lo. Seus olhares travaram. — Quero dizer, por favor, milorde, coloque na chapa. Precisaremos disso novamente em breve. — Ela o soltou, incapaz de acreditar que havia posto as mãos no braço de um duque. Parecia como qualquer outro homem, firme e forte. Como o de Jeremy, ela lembrou a si mesma. O homem com quem ela se casaria.

O duque fez o que ela instruiu, e então o deixou puxar o banquinho para o balcão.

—Você não deseja se sentar? — Ele perguntou, pairando sobre o banquinho azul alegremente pintado que Beatrice gostava de usar ao fazer caramelo. — Eu não posso me sentar se você não fizer.

Suas maneiras cavalheirescas o impediram de violar as regras da galanteria.

— Prefiro ficar de pé quando trabalho, — disse Amity. — Posso alcançar facilmente tudo o que preciso e me mover rapidamente pela sala. — Ela fez uma careta. — Talvez possamos concordar em deixar os padrões de decoro na cortina, — disse ela, apontando para o rico azul pendurado que os separava do resto do mundo.

— O que acontece aqui, — ele sugeriu, — pode ser uma exceção aos comportamentos rígidos da chamada sociedade adequada.

Ela assentiu.

— Aqui, nos comportaremos como amigos à vontade. Combinado?

Ele mal hesitou.

— Concordo, — disse ele, sentando-se no banquinho de Beatrice, que chiou um pouco.

Amity esperava que o duque não caísse de costas no chão.

— Agora, temperaremos o chocolate.

Henry não se lembrava de quando se divertiu tanto. Ele a observou empunhando duas ferramentas de formas diferentes, uma com uma lâmina longa e estreita, uma com uma mais curta e mais larga, mas também não eram afiadas. Ela raspou o chocolate do mármore várias vezes, sacudiu-o e depois espalhou-o sobre o mármore novamente. Quando ela parecia satisfeita, ela segurou a panela com o pouco chocolate restante na borda e raspou toda a mistura mais grossa e resfriada. Mexeu até criar uma mistura deliciosamente brilhante.

— Temperar cristaliza a manteiga de cacau no chocolate. Estou fazendo isso primeiro, aquecendo na temperatura certa, depois com o movimento. A manteiga de cacau no chocolate temperado é transformada em uma forma estável.

— Significando? — Ele perguntou, inclinando-se para olhar a panela.

— Eu garanto que, quando esfriar, em questão de minutos, o chocolate manterá a forma, quebrará com um estalo satisfatório e terá um brilho bonito.

— E agora? — Ele perguntou, percebendo que estava falando baixinho, como se estivesse assistindo uma peça.

Ela mordeu o lábio inferior.

— Isso endurece em cerca de três a cinco minutos, por isso precisamos enrolar nossas bolas e mergulhá-las.

— Nós? — Ele perguntou, mas lavou as mãos na pia e deixou que ela o colocasse para trabalhar.

Usando o agora firme fondant de chocolate da caixa fria, que se tornara uma pasta cremosa como ela lhe dissera, eles o enrolaram em bolas com as palmas das mãos. Em seguida, rapidamente mergulharam cada bola diretamente no chocolate temperado com os dedos e as colocaram em bandejas forradas com papel manteiga. Ele não esteve tão bagunçado desde que era pequeno. Francamente, ele adorou.

— Eu deveria ter feito as bolas primeiro antes de temperar o chocolate, — disse a Senhorita Rare-Foure, trabalhando silenciosa e rapidamente, fazendo duas ou três bolas para cada uma dele.

— Por que você não fez?

Ela mal olhou para ele.

— Estava distraída, — ela murmurou, mexendo o chocolate temperado para mantê-lo fluido até que terminassem.

Por ele? Ele continuou trabalhando até que consumiram todo o chocolate macio, mas ainda tinham um pouco do temperado. Ele queria beber antes que endurecesse. Ele a observou dar mais algumas agitadas vigorosas e pegar uma bandeja de caramelo de melaço endurecido. Para sua surpresa, ela derramou o chocolate restante em cima e colocou a bandeja na caixa fria.

— Aí, — disse ela com satisfação. — Feito e polvilhado, como se costuma dizer, e nada desperdiçado. E agora para o Brayson. Recuperando uma tigela menor de fondant de chocolate da caixa fria, ela a colocou no mármore. — Vamos misturar uns e ver se você gosta de algum.

Quando a Senhorita Rare-Foure não estava silenciosamente concentrada, enquanto jogava pequenas quantidades de essência em pequenas colheres de chocolate ou mexia em uma especiaria, ela mordiscava ou entregava uma colher para ele experimentar, esperando com uma expressão curiosa por sua opinião...

— Se estou fazendo uma bandeja inteira, como acabamos de fazer, adiciono o que estiver misturando ao chocolate em um estágio anterior, como fiz antes de você chegar hoje. Aqui, tente uma das bolas que você fez.

Henry pegou uma, espantado com o quão duro o chocolate temperado se tornara, como uma casca ao redor do rico recheio de fondant. Ele deu uma mordida.

— É como mágica. Quando você colocou a noz-moscada?

Ela sorriu para ele, e ele sentiu suas entranhas darem um salto.

— Noz-moscada estava no creme fervendo que derramei sobre os pedaços de chocolate quando começamos. Você tem um bom paladar, milorde.

Suas palavras o agradaram mais do que qualquer elogio que ele já recebeu. Ela experimentou chocolate com um pouco de água de rosas, enrolou um pouco do fondant de chocolate pegajoso em torno de um pedaço de tâmara picada e até acrescentou açafrão e cardamomo a outro. Ele gostou do jeito que ela ocasionalmente inchava as bochechas quando pensava.

Ela também parecia achá-lo divertido, o que lhe dava uma sensação feliz, principalmente quando podiam rir juntos. Senhorita Rare-Foure riu abruptamente e sem proteger a boca como muitos, como se achassem pecado mostrar verdadeira alegria.

— E pensar, — ela comentou a certa altura, — para mim, tudo começou com minha leitura da cartilha divertida infantil. Você conhece esse, da Senhora Lovechild? “A História das Abelhas” me enviou em busca de mel em nossa cozinha, e nossa cozinheira na época o manteve com o açúcar e as latas de cacau. Naturalmente, comecei a experimentar. Havia também a história sobre os meninos trabalhando juntos. “O Porco Espinho”, não foi? — Ela sorriu com a lembrança, e ele facilmente se lembrou das histórias que ela mencionou no mesmo livro no berçário de sua infância.

— Eu intimidei minhas irmãs, exatamente a lição oposta da cartilha, — acrescentou, — ao decidir trabalhar na loja de nossa mãe, cada uma de nós fazendo algo diferente para ajudar. Beatrice, ela é minha irmã mais nova, me bateu na cabeça com a cartilha da Sra. Lovechild uma tarde, quando ela estava cansada de lições morais e pregadoras. Acho que foi a última vez que vi esse livro.

Ela era encantadora. Antes que ele percebesse, chegara a hora de partir, pois ele tinha um compromisso no final da tarde com a mãe no banco deles. Ele não podia decepcionar a duquesa viúva de Pelham, desde que assumiu o papel de duque e administrava suas propriedades. Por dois anos, ele tentou tornar as coisas o mais fácil possível para sua mãe enlutada.

— Acredito que desenvolvemos alguns novos e promissores chocolates, que experimentarei na loja nas próximas semanas, mas acho que você não amou nenhum deles o suficiente para sua amiga.

Senhorita Rare-Foure era sua amiga. Esse pensamento irracional passou por sua cabeça. Pelo menos, ele acreditava que eles criaram uma espécie de amizade, apesar de ele ser um cliente. Ele não previa o tempo, mesmo depois de ficar noivo de Madeleine, ia querer dar uma passada e visitar a chocolatier. Seria diferente, é claro, quando ele permanecesse na frente da loja, entrando simplesmente para comprar uma lata de chocolates.

— Sou grato por você ter me permitido entrar atrás e vê-la trabalhar.

— Você foi muito útil, — disse ela. Ela estava encostada no balcão de mármore e esfregando as costas. Seus dedos formigaram, e ele queria estender a mão e esfregar os músculos doloridos para ela.

— Eu fui? Sinceramente? — Ele perguntou, olhando como as mãos dela massageavam logo acima da curva de seus quadris.

— Bem, — ela começou quando se endireitou, virou-se para ele e fez uma careta irônica.

Ele não pôde deixar de rir quando ela o provocou, e foi bom fazê-lo livremente. A maioria das pessoas era inteiramente tão correta ao seu redor, como se no momento em que ele se tornasse duque, ele também se tornasse conservador e ficaria ofendido por pessoas agindo com muita familiaridade ao seu redor.

— A loja parece ser um negócio estável, — disse ele, — pelo som da campainha e por todo o barulho.

— Sim. Temos sorte.

— Habilidade, — ele corrigiu, enquanto se levantava, tornando seus corpos subitamente muito próximos. Ela corou por seu elogio ou proximidade, ele não podia dizer, e então ela caminhou em direção à cortina.

Impulsivamente, ele estendeu a mão para impedi-la de puxá-la para o lado.

— Depois que deixarmos este espaço, teremos que seguir as regras novamente. — Ele disse isso de ânimo leve, como outra brincadeira.

Ela assentiu. — Ah, sim, as regras da sociedade de decoro e cavalheirismo, e se você não pode sequer sentar-se quando eu não.

Ele olhou para ela e ela para ele, e Henry juraria até o dia da sua morte que um vínculo ou afinidade especial se passou entre eles naquele instante. Seus olhos se arregalaram e seus lábios se separaram, enquanto ela ofegava muito suavemente. Sem dúvida, a chocolatier viu algo em seus olhos e notou sua própria expressão de surpresa.

Henry sabia que era melhor passar pela cortina imediatamente. Ela era muito atraente, com seus adoráveis olhos cor de mogno e sua doce boca arrebitada. Ele estava pronto para tomá-la em seus braços. Na verdade, desejava senti-la contra ele e reivindicar seus lábios sob os dele.

Afastando a cortina, ele disse:

— Espero vê-la amanhã, embora possa ter outros compromissos que me afastem. Gostei muito da sua companhia.

— Obrigada, milorde. Como eu gostei da sua. — Ela o precedeu pela abertura, e ele a seguiu até a loja.

— Como vocês dois se deram? — Sua mãe perguntou. — Você criou a mágica para Lady Madeleine?

— Estamos inquestionavelmente nos aproximando, — disse a Senhorita Rare-Foure à mãe.

Henry olhou-a bruscamente. Ela quis dizer isso como uma mensagem para ele? Ele quase podia acreditar que era um duplo sentido, pois ele definitivamente se sentia mais perto dessa mulher do que alguns dias antes.

Se possível, ele estaria lá novamente no dia seguinte.

 

Capítulo Seis


Depois que Lorde Pelham saiu da loja, e nenhum outro cliente havia entrado, sua mãe lançou-lhe um olhar aguçado.

— O que foi? — Amity perguntou a ela. — Você parece irritada.

— Você não deve deixá-lo voltar para lá com a cortina fechada. Se tivéssemos uma loja cheia de gente quando você saiu com o rosto todo rosado e sorridente, e sua senhoria dizendo que ele tinha gostado da sua companhia, imagine!

— Mas ele é um duque, — protestou Amity, franzindo o nariz, — na oficina de uma loja de chocolates.

— Exatamente. Por que motivo alguém poderia imaginar que o Duque de Pelham estaria aqui, exceto para passar um tempo com você.

Amity fechou a boca no protesto que ela estava prestes a fazer. A mãe dela estava certa. A aparência era decididamente imprópria.

— Se tivéssemos algum outro membro da nobreza aqui, eles o reconheceriam e as línguas teriam abanado. Logo, toda Londres estaria se perguntando o que você estava oferecendo naquela sala dos fundos.

— Mãe!

— Amity, não seja ingênua. Eu odeio dizer isso, mas o duque pode realmente estar esperando algo nesse sentido. E a ruína estaria do seu lado, não dele. Ele seria considerado irrepreensível, enquanto você seria rotulada como vagabunda.

Ela sentiu o sangue escorrer de seu rosto.

— Eu não pensei claramente. — Naquele momento, ela estava muito feliz por ter uma mãe carinhosa.

— Às vezes acho que você esquece o quão adorável você é.

Com isso, ela deu de ombros.

— Eu levarei seu aviso a sério, e isso não acontecerá novamente, mas lembre-se de que estou fazendo um chocolate especial para ele dar a Lady Madeleine na noite em que ele pretende propor. Você leu os relatos brilhantes de sua beleza. Por que o duque quer brincar comigo quando está de olho nela?

Sua mãe revirou os olhos e balançou a cabeça.

— Amity, Amity, Amity. Sei que você é minha filha mais velha, mas às vezes, juro, Beatrice parece mais velha em comparação a você.

Elas deixaram por isso mesmo, e Amity voltou para os fundos da loja, uma sala que agora cheirava à masculinidade do duque e... ela cheirou... o cheiro persistente de sua água de toalete. Estranho, quando ele estava ao lado dela, ela estava concentrada no chocolate e em outros sabores, e não havia notado sua fragrância.

Agora, reentrando no pequeno espaço, ela respirava a fragrância complexa de qualquer perfume masculino de luxo que ele estivesse usando, exatamente como quando ela subiu na carruagem dele. O perfume floral exuberante e picante estava sobre uma cama de sândalo, cedro e almíscar limpo e sabão. Amity decidiu que o duque cheirava a céu. Céu masculino!

Sentada no banquinho que ele desocupou, ela considerou o olhar que ele lhe dera diretamente antes de saírem da sala. Ela era ingênua, como dizia a mãe, e, é claro, inexperiente, exceto por alguns beijos com Jeremy, que tinham sido agradáveis com certeza. Mesmo assim, sabia que tinha visto algo na expressão do duque brilhando nos olhos dele, respeito, até admiração... ou, talvez, atração.

Ela podia admitir para si mesma que, pelo menos, havia sentido um chiado de desejo.

Seu corpo queria estar perto do Duque de Pelham.

Ela e todas as outras mulheres em Londres, sem dúvida!

Ela balançou a cabeça com sua fantasia tola e depois voltou ao trabalho.

No dia seguinte, apesar de dizer a si mesma para não fazê-lo, Amity manteve os ouvidos atentos à campainha e ficou decepcionada cada vez que percebeu que era um cliente regular respondendo à saudação de Charlotte.

Sua mente estava apenas metade no que estava fazendo. Isso ficou claro quando escaldou um lote de chocolate, algo que não fazia desde os dez anos de idade.

— Pare com isso! — Ela murmurou, enquanto fazia uma bandeja de chocolates em forma de peixe que ia a um jantar na noite seguinte. Infelizmente, eles acabaram parecendo salsichas, e ela sabia que teria que refazê-las. Para sua contínua angústia, seus cisnes elegantes saíam como galinhas de pescoço comprido.

O duque havia dito que ele talvez não pudesse vir. Nem ela deveria estar esperando por ele. Ele era uma distração. Pior, depois de apenas alguns encontros, ela estava ficando apegada, o que era mais do que estúpido.

Amity tirou o avental, arrumou e se preparou para fazer suas tarefas. Ela estava de olho em um novo molde, em forma de noz, que levaria uma quantidade decente de chocolate e um grande pedaço de noz no centro. A Rare Confectionery precisaria cobrar mais por esses chocolates por causa do tamanho, mas a forma os tornaria populares no outono e durante a temporada de Natal.

Com sua capa cor de ameixa favorita e o chapéu preso no lugar, ela abriu a porta e correu diretamente para o Duque de Pelham.

— Estou muito atrasado, — disse ele, estendendo um braço para segurá-la.

— Bom dia, milorde. — Amity olhou para o rosto bonito e sentiu arrependimento. Mesmo se ele tivesse chegado mais cedo, ela não o teria permitido entrar na sala dos fundos, como havia feito em momento anterior. Não após a repreensão de sua mãe.

— Você terminou sua arte para o dia, Senhorita Rare-Foure?

Quando alguém tentou empurrá-los para entrar na loja, ele se afastou e a levou com ele. Que estranho ter as mãos dele no braço dela como se fossem um casal. No entanto, por estarem na rua pública, Amity mexeu o braço até ele soltá-lo.

— Não, milorde. Vou comprar alguns suprimentos e esticar as pernas.

Ele olhou para cima e para baixo na calçada, depois de volta para ela.

— Posso acompanhá-la?

— Hum... por quê? — Ela mordeu o lábio assim que falou, esperando não parecer terrivelmente rude.

Ele riu.

— Por que, de fato? Estou atrapalhado, suponho. Eu terminei alguns negócios esta manhã o mais rápido que pude e pretendia passar um tempo com você. Para tratar do chocolate, — ele acrescentou rapidamente. — Assim, tenho tempo de sobra e não tenho planos.

Ela dificilmente podia recusá-lo, apesar de não ter acompanhante, e nunca teve para cumprir suas tarefas rápidas na vizinhança. Afinal, o que poderia ser mais seguro do que o distrito comercial mais exclusivo de Londres? Ainda assim, sua mãe poderia não aprovar.

Amity ergueu o queixo. Ela não era criança, e o duque não representava absolutamente nenhuma ameaça.

— Suponho que estaria tudo bem? — Suas palavras saíram como uma pergunta nervosa.

O sorriso dele se apagou.

— Eu não desejo me impor a você.

— Oh não, milorde, estou muito satisfeita em vê-lo. — Gracioso, isso parecia muito ansioso. — É a possível indecência de nos ver juntos que me preocupa.

— Acredito que em plena luz do dia, dadas as nossas duas reputações estelares, ninguém conseguiria encontrar uma falha conosco andando ao lado do outro e entrando em uma loja ou duas. Por que eu poderia ser seu acompanhante, — ele sugeriu. — Pense em mim como sua criada ou lacaio.

Ela riu e gesticulou para que começassem a andar enquanto criavam mais uma cena encolhendo-se contra a janela da frente da Rare Confectionery.

— Como você não se parece com nenhuma das nossas criadas e não temos um criado, simplesmente pensarei em você como meu amigo.

— Perfeito, — disse ele em sua voz rica, como chocolate quente para os ouvidos dela.

Balançando a cabeça com a ideia ridícula e bastante nojenta de chocolate derramado em seus ouvidos, ela sabia que era melhor parar seus pensamentos extravagantes.

— Minhas tarefas não são muito emocionantes, — ela o alertou.

— Não importa. Confesso que aprecio sua companhia.

Seus passos vacilaram brevemente. Quando ele dizia algo assim, esses pensamentos extravagantes voltavam correndo.

— Para onde vamos? — Ele perguntou. — E precisamos do meu condutor?

— Não, tudo hoje está a uma curta distância. A maioria dos nossos suprimentos a granel é entregue. Ocasionalmente, vou para o East End...

— Como assim? — Ele perguntou, parecendo preocupado.

— Nunca sozinha e nunca depois do anoitecer, garanto. Mas os armazéns de grãos de cacau estão na doca de St. Katherine, perto do mar. Às vezes, tenho a sorte de saber de um novo tipo de grão. Obviamente não é novidade para quem a cultiva. — Ela riu da arrogância dos europeus pensando que eles descobriram algo novo quando a árvore foi cultivada por séculos. — Mas novo para nós. De qualquer forma, é um prazer ser uma das primeiras na Grã-Bretanha a cheirar o grão ou até mastigar um.

— Você os mastiga inteiros?

— Sim, milorde. Amargo, mas eu os aprecio mesmo assim. Às vezes cru, às vezes assado.

Ele assentiu e não disse nada sobre isso. Ele deve considerá-la uma mulher inegavelmente estranha. Depois de mais alguns metros, ele perguntou:

— Você faz seu próprio chocolate?

Ela desejou poder dizer que sim.

— Não, mas é porque eu não pude fazê-lo ainda.

Os passos dele vacilaram um pouco ao lado dela, e ela se virou para ele.

— Estou surpreso, — ele confessou.

— É mais complexo produzir chocolate suave e de qualidade do que você pode imaginar. Os grãos são torrados e as cascas removidas para revelar os nibs e, em seguida, como no café, devem ser finamente moídas. O resultado é uma pasta de cacau, que é pressionada para extrair a manteiga de cacau, a parte viscosa quando sobra muito em seu pó de cacau.

— Então, a pasta é chocolate sólido? — Ele perguntou, parecendo interessado.

— Bem, é, — ela disse, enquanto passavam pelas vitrines das lojas, caminhando lentamente pela multidão de pedestres. — No entanto, não é muito agradável comer. Para fazer uma barra de chocolate comestível, é necessário adicionar mais manteiga de cacau e, é claro, açúcar. E você deve misturar isso por séculos para torná-lo suave e delicioso. Nossa loja compra blocos prontos de chocolate, principalmente da Suíça e da França, porque é superior ao que eu poderia criar.

De fato, a Rare Confectionery tinha um relacionamento maravilhoso com os fabricantes de chocolate que forneciam para sua loja. Quando ela renunciou à temporada, sua família gastou o dinheiro economizado para vestidos de baile e ingressos para festas em viagens. Seu primeiro destino fora para a Suíça, onde Amity aprendeu os segredos de Monsieur Peter, o homem que inventara o chocolate ao leite e agora o vendia a ela.

Depois, passaram um tempo com os avós na França. Lá, Amity visitou a famosa loja de chocolates Debauve e Gallais na 30 Rue des Saints-Pères, em Paris, onde já existia há sessenta anos. Ela voltou para casa com as chamadas “moedas” criadas para Maria Antonieta para evitar dores de cabeça.

Outro destaque foi o passeio pela fábrica de chocolate Menier em Noisiel, situada diretamente no rio Marne, para que as rodas d'água pudessem acioná-lo.

— A própria fábrica ornamentada de ferro e tijolo parece uma guloseima de confeitaria, — Amity disse a ele, lembrando o quão encantada esteve por sua fachada. — Voltei para casa com sua versão popular de beber chocolate para meu próprio consumo, e foi excelente. Menier abriu recentemente uma fábrica aqui em Londres em Shoreditch. Mais conveniente, milorde.

Amity esperava que não estivesse aborrecendo-o, mas adorava compartilhar o que sabia sobre a melhor coisa do mundo.

— Não podemos ter mais sorte do que viver neste momento, — declarou ela.

— Por causa do chocolate? — Ele perguntou, um tom de provocação em sua voz.

— Exatamente, — ela concordou. — Hoje, pretendo comprar alguns moldes na loja de artigos acabados do latoeiro na Cork Street. Você conhece? Também pegamos nossas latas para presentes lá.

Uma expressão estranha surgiu no rosto do duque.

— Confesso que não conheço nenhum latoeiro em nenhuma rua em lugar nenhum. Você pensa menos de mim?

Ela começou a rir. Quando se recuperou, disse:

— Espero que você também não conheça o melhor lugar para comprar o açúcar mais puro ou a manteiga mais cremosa.

— Ambos aparecem como por mágica na minha mesa de jantar, conforme necessário. — Então ele estalou os dedos. — Eu sei onde comprar o melhor conhaque.

— E charutos também, garanto, — adivinhou Amity.

— Certamente, — ele concordou. — E definitivamente, grãos de café. Embora normalmente envio meu criado para comprar todos esses itens.

— Como deveria. Assim, nós dois temos nossas áreas de interesse, não temos?

— Nós temos, — disse ele amigavelmente, segurando seu olhar por um longo momento.

Ela caminhou pela Clifford Street e, depois de um pequeno quarteirão, eles entraram na Cork Street. A segunda vitrine da esquina brilhava com moldes de estanho.

Quando eles entraram, ela apreciou como ele imediatamente se interessou pelo ambiente.

— Eles têm todas as formas e tamanhos, — ele se maravilhou.

— Existem moldes para sabão, velas, doces e até mesmo se quiser ficar chique com seu manjar branco ou geleia.

Ele hesitou e olhou para ela.

— Quero dizer sua cozinheira, milorde. Você não, — ela alterou apressadamente, caso o ofendesse.

— Não, não foi isso que me fez hesitar. Apenas a noção de geleia chique. Eu nunca me importei com nada gelatinoso. Prefiro chocolate em uma forma decorativa invés de geleia. — Ele estremeceu.

— Concordo. Hoje, quero comprar doze moldes de nozes, e se você vir algo que gostaria para Lady Madeleine, podemos decidir entre o recheio de fondant de chocolate, que deve ser enrolado à mão em uma bola, e vou fazer chocolates moldados.

— Muito bem. Vou procurar, mas se encontrar alguma coisa, comprarei, — ele insistiu, — não você.

Ela não iria discutir com ele, já que ele provavelmente não permitiria que ela o usasse novamente depois de criar o original chocolate Brayson.

Quando ele escolheu um molde em forma de flor para sua dama, ela explicou que precisava de uma bandeja de pelo menos uma dúzia na qual pudesse derramar chocolate temperado.

— Veja isso, — disse ela, mostrando-lhe uma bandeja de coelhos com dobradiças para unir as partes frontal e traseira e criar um coelho totalmente formado. — Mas seus moldes devem estar achatados na parte inferior, portanto não há dobradiças.

Ela observou o duque passear de novo, exclamando um após o outro, até que ele encontrou uma bandeja de flores que julgava adequada.

Quando ele pegou um veado bem feito, ele ficou quieto. Amity atravessou a loja ao seu lado.

— Você gosta disso? — Ela perguntou.

— Isso me lembra meu pai, — ele disse suavemente. — Ele tinha um quadro de um veado como esse em seu escritório, que agora é meu. Isso me faz pensar em quando fomos caçar juntos.

O duque tinha um tom melancólico em sua voz, e Amity decidiu voltar e comprar uma bandeja inteira de moldes de veado. Quando terminasse o chocolate de Lady Madeleine, prepararia para ele um doce especial em forma de veado.

— Aonde iremos agora? — Ele perguntou quando eles terminaram de fazer suas compras.

Assim, ela se viu acompanhada por uma escolta do mais alto escalão da nobreza britânica, enquanto comprava metros de fita azul que sua mãe queria amarrar ao redor dos sacos brancos da Rare Confectionery. A estranheza desapareceu rapidamente, e eles conversaram como amigos, apontando itens nas vitrines. Amity teve a sensação de que ele não via vitrines com frequência ou fazia muitas compras. No entanto, o duque parecia se divertir.

— É a dama do chocolate, — veio uma voz jovem em seu cotovelo. Ela nem sempre reconhecia seus clientes mais jovens, mas eles a reconheciam absolutamente.

Alcançando sua bolsinha, ela tirou um saco de papel. Hoje, ela tinha bolas de fondant de chocolate com um pequeno recheio de marzipan escondido dentro. Entregando uma ao garoto, que agradeceu e fugiu, ela olhou para cima e viu o duque olhando fixamente para o saco, como um cachorro faria com um osso.

Rindo, ela ofereceu-lhe um.

— Oh, — ele exclamou depois de devorá-lo. — Isso é muito bom.

— É o marzipan da Senhorita Charlotte, — disse ela, — elevando o humilde chocolate a algo completamente diferente.

— Eu acredito que é o delicioso chocolate elevando o humilde marzipan, — ele brincou.

— Bom Deus! Não deixe minha irmã ouvir você dizer isso.

— Não, eu não sonharia com isso. — Então, de repente, ele congelou.

— Pelham! — Exclamou um homem bem vestido que parou na frente deles.

— Waverly, — o duque retornou com menos entusiasmo, parecendo estranhamente cauteloso.

Eles apertaram as mãos enquanto o olhar do outro homem pousava em Amity, um olhar interrogativo em seu rosto.

— Senhorita Rare-Foure — disse o duque, — este é o Visconde Waverly.

Ela fez uma reverência.

— Waverly, esta é a Senhorita Rare-Foure, cuja família é proprietária da Rare Confectionery.

O visconde inclinou a cabeça para ela.

— Eu acredito que você a mencionou antes, — ele comentou, seus olhos dançando com alegria, aumentando a curiosidade de Amity.

O Duque de Pelham a mencionara ao amigo?

— No entanto, você falhou em dar uma descrição precisa da beleza dela, — acrescentou Lorde Waverly.

Mesmo sabendo que o homem estava sendo um bajulador sem vergonha, Amity sentiu suas bochechas aquecerem.

— Waverly — advertiu o duque, — não tente encantar a Senhorita Rare-Foure. Ela tem uma cabeça melhor do que se apaixonar por suas bobagens.

Ele realmente achava palavras efusivas sobre a aparência dela um absurdo?

— Cuidado, Pelham — disse o visconde. — Pela carranca no rosto dela, você pode ter insultado a Senhorita Rare-Foure. Não há nenhum absurdo na beleza dela.

Odiando como esse homem leu sua expressão tão facilmente, ela de repente falou.

— Se os cavalheiros me dão licença, devo voltar à minha loja. Tenho trabalho a fazer esta tarde.

— Deixe-me levá-lo de volta, — o duque ofereceu.

— Não, obrigada. Como eu disse, tenho trabalho a fazer e não posso entretê-lo ao mesmo tempo. — Parecia cruel, mas ela estava subitamente sentindo-se irritada. — Eu não sou uma dama desocupada, entenda.

Os olhos do duque se arregalaram e seu amigo tossiu atrás da luva, que ela suspeitava que era para esconder o riso dele. O outro significado para o termo a atingiu um segundo depois... como a própria vagabunda de que sua mãe falara.

— Bom dia, milordes. — Com as bochechas em chamas escarlate, ela pegou os pacotes das mãos do duque, fez uma reverência para os dois e se apressou. Felizmente, ele não veio atrás dela.

HENRY voltou-se para o amigo que estava rindo abertamente agora que a Senhorita Rare-Foure havia saído em estado de mortificação. Isso não foi bem.

— Por que acho que foi tudo culpa sua? — Henry perguntou. — E pare com seu riso insípido, maldito.

— Eu digo, ela é uma coisa mal-humorada, não é? — Daniel Waverly observou. — Colocando você no seu lugar sobre mantê-la longe do trabalho dela e mencionando a classe ofensiva de levianas. Dama desocupada, de fato. — Ele começou a rir novamente.

— Ela não pretendia, — Henry disse, sentindo-se irritado. — De qualquer forma, o que você quis dizer com sua lisonja e dizendo que tinha falado dela com você. Você a envergonhou.

— Você deveria ter se juntado e a elogiado. Toda mulher em Londres é sensível a sua aparência desde que Lady Madeleine fez sua estreia. Mas ouso dizer que apreciaria a doçura da sua chocolatier, além dos benefícios.

— Você está tentando me fazer defender a honra dela e socar seu nariz?

Waverly balançou a cabeça.

— Eu quis dizer apenas o benefício de um suprimento ilimitado de chocolate de qualidade. Tive o prazer de um doce da Rare Confectionery. Não sei o que você pensou que quis dizer, mas acredito que você está envolvido com a noção romântica de estar com a filha de um lojista.

Eles começaram a andar na direção oposta à qual a chocolatier havia disparado.

— Ela não é filha de um lojista. Bem, acho que tecnicamente ela é, mas é muito mais do que isso, — insistiu Henry. — Ela é química, artista e chef, tudo na confeitaria. Além disso, ela é muito inteligente e divertida. Em suma, ela é uma boa companhia.

— Você não se defendeu da minha alegação de que está pensando romanticamente nela.

Henry deveria tê-lo dissuadido disso imediatamente.

— Porque é absurdo demais dignificar-me com uma observação.

— É claro, — disse o amigo.

Henry revirou os olhos. Waverly diria qualquer coisa para fazê-lo se afastar de sua busca por Lady Madeleine. Na primeira noite em que ela apareceu em um salão de baile, foi Waverly quem a apontou e se perguntou em voz alta quem seria a bela criatura.

Quando Waverly descobriu que era filha de um conde, ele gostou mais dela. No entanto, Henry o superara e, portanto, triunfaria, com toda a probabilidade, se houvesse alguma competição entre pretendentes. Não houve. Todos se afastaram para permitir sua perseguição, e ele se tornou o único cortejador, por assim dizer.

Ele suspirou. Pareceu um pouco mercenário quando considerou. Ele acreditava ter passado mais tempo conversando com a Senhorita Rare-Foure do que com Lady Madeleine. Teria que remediar isso em um futuro próximo.

— Então, Pelham, — veio a voz divertida de Waverly, — você está realmente apenas experimentando o chocolate Rare ou pretende provar também a chocolatier?

 


Capítulo Sete


Henry não poderia espancar Waverly no meio da Bond Street, embora estivesse muito tentado. Em vez disso, continuou andando e pensou que a melhor defesa da reputação da Senhorita Rare-Foure era fingir que seu amigo devia estar brincando.

— Divertido, Waverly. Minhas vistas, como você bem sabe, estão firmemente fixadas em Lady Madeleine. Você espera me afastar e atrapalhar meu processo com insinuações ridículas para limpar o campo para sua própria perseguição pela filha de Brayson?

Waverly riu.

— Talvez. Mas a Senhorita Rare-Foure é certamente bonita o suficiente para uma aventura.

Indignação e um desejo inesperadamente forte de protegê-la surgiram em Henry.

— Ela é bonita o suficiente, e também decente e inteligente o suficiente para justificar um marido que a preza. Ter uma aventura com a filha de um lojista é mais para a década passada, não acha Waverly?

O amigo dele deu de ombros.

— Eu suponho. Veja Lorde Langley se casando com aquela ninguém da América, em vez de simplesmente dormir com ela.

— Uma ninguém com fortuna, — observou Henry, contente por terem voltado a conversar sobre outras pessoas e não sobre a Senhorita Rare-Foure. Na verdade, ele já havia passado muito tempo pensando nela e não precisava gastar mais tempo analisando suas virtudes com seus amigos.

Ele havia planejado seu caminho conjugal, e era benéfico para ambas as partes. Ele conseguiria uma bela esposa com um dote de bom tamanho, criada para ser uma excelente anfitriã. Em particular, ele esperava que Madeleine fosse tão interessante e amigável, inteligente e alegre e agradável como a Senhorita Rare-Foure. Ele não tinha motivos para acreditar que, quando eles se conhecessem, esse não seria o caso.

— Onde estamos indo? — Waverly perguntou.

— Não faço a mínima ideia, — Henry disse a ele, e eles riram. — Você vai comparecer ao jantar de Lady Peabody hoje à noite?

— Absolutamente não. Eles tentaram me associar com uma debutante da última temporada, Senhorita Alguém ou Outra. Honestamente, isso não importa. Quando você chegar com Lady Madeleine, ninguém olhará para nenhuma outra mulher.

— Hum, — Henry disse, pois estava pensando em como seria bom escoltar a Senhorita Rare-Foure para algum lugar especial. Ele queria saber o que ela pensava sobre tudo, incluindo a comida e os outros convidados. Ele queria levá-la ao Gunter's, um restaurante da moda em Mayfair, na Berkeley Square, e saborear cremes e sorvetes com ela. Gostaria da mousse de açafrão ou do sorvete de bordo?

— Você está me ouvindo, Pelham?

— Não, — ele disse sinceramente. Sentindo-se culpado por seu foco não estar apenas em Madeleine, sua mente voltando à confeitaria e pensando em comprar um pequeno presente para ela. Pensando bem, ele decidiu não fazê-lo. Henry queria que seu presente de chocolate fosse uma surpresa completa, e a festa estava a pouco mais de uma semana.

— Acho que vou comprar uma lembrança para Lady Madeleine, algo feminino e rendado.

— Como calções e camisas? — Waverly perguntou, uma expressão perversa em seu rosto.

— Por que não? Vou até ela com seus pais na sala e darei a ela calções de renda belga. Isso deve acabar bem.

Eles riram de novo e passaram na frente de um armarinho.

— Acho que um lenço — disse Henry, entrando na loja, sem se importar se Waverly o seguia.

— Aproveite suas compras, — Waverly falou atrás dele e continuou ao longo da rua.

Amity vestia seu vestido de noite cor de ameixa favorito. Felizmente, combinava perfeitamente com seu vestido de dia cor de ameixa, para que pudesse usar a capa correspondente. Sua mãe insistiu para que ela vestisse a peça, mesmo não sendo convidada para a festa de hoje à noite, mas apenas entregando os chocolates.

— Pela porta da frente, — Felicity Rare-Foure insistiu. — Nós não somos servos. Lorde Peabody deveria ter enviado alguém para pegar os chocolates. Aconteça o que acontecer, você não deve ir atrás dos estábulos e bater na porta dos fundos como lavadeira ou leiteiro.

— Sim, mãe. — E ela enviou a Delia, sua criada-faz-tudo, um olhar de desculpas, caso se sentisse ofendida pela difamação geral dos empregados. A mulher de meia idade, no entanto, deu de ombros, aparentemente despreocupada, e entregou as luvas de Amity.

Por causa do grande interesse de sua irmã mais nova pelos lares e hábitos dos ricos, Amity levou Charlotte como companhia, vestida igualmente bem em um vestido cor de rosa.

— Por favor, mantenha a calma, — implorou Amity à irmã quando a carruagem parou na frente de uma casa na Charles Street, no lado oeste da elegante Berkeley Square.

No entanto, fervilhando de excitação como se fossem realmente homenageadas e sentariam à mesa de jantar, Charlotte assobiou sua felicidade. Amity ofegou.

— Pelo amor de Deus, não faça isso, não importa o quão animada você fique, não importa quem você veja, ou quão agradável alguém seja com você. Você me entendeu?

— Sim, — disse a irmã, seus olhos castanhos brilhando.

Amity agarrou seu braço quando Charlotte disparou em direção à porta da frente.

— Eu falei sério, — ela reiterou. — Comporte-se ou direi à mãe que você não pode sair na sociedade civilizada. Nem futuras Guy Fawkes também. Nenhuma fogueira com seus amigos.

Charlotte diminuiu o passo e suspirou.

— Muito bem. Obrigada por me deixar vir.

Com isso, Amity sorriu. Ela sabia quanto prazer sua irmã caçula teria ao ver dentro da luxuosa casa da cidade, mesmo que não estivesse mais longe do que o vestíbulo.

A porta se abriu antes de baterem, já que o mordomo estava sem dúvida na entrada para receber convidados. Isso seria absurdamente cedo, no entanto, como a mãe deles dissera que a festa não começava por mais uma hora.

Pelo som das muitas vozes vindas da sala de estar, a mãe deles tinha estado flagrantemente enganada. Amity esperava que os chocolates fossem para depois do jantar, pois parecia que os convidados já estavam tomando bebidas.

O mordomo tentou pegar seus mantos, mas Amity o dissuadiu.

— Nós não vamos ficar. Trouxemos os chocolates encomendados por Lady Peabody, — ela sussurrou, não querendo que nenhum dos convidados ouvisse. — Se você pudesse nos direcionar para a cozinha, — acrescentou.

— Mamãe não quer que nós vamos para a cozinha, — disse Charlotte, com a voz um pouco alta demais, depois se virou para o mordomo. — Nós não somos servos, entenda. — Ela soara exatamente como a mãe delas.

Amity quis calar a irmã antes de ofender o homem. Mas Charlotte deu-lhe um grande sorriso e continuou:

— Não que haja algo errado em ser um servo, entenda. Especialmente não um mordomo. Você tem uma casa inteira para supervisionar. Minha irmã, aqui, ela supervisiona a fabricação de todos os nossos chocolates. Ela é como o mordomo da Rare Confectionery. Esse é o nome da nossa loja.

O mordomo suspirou como se ouvir uma moça tagarelar estivesse além de seus deveres.

— Você gostaria de levar os chocolates? — Amity perguntou a ele. — Ou talvez você pudesse buscar a governanta?

Antes que ele pudesse responder, uma voz estridente os chamou da porta aberta da sala de estar.

— Jovens senhoras! Moças bonitas! Venham aqui. A festa começou.


Amity tinha quase certeza que quem falou era Lorde Peabody, pois ela ouvira a voz dele na sala externa da loja quando ele parou com Lady Peabody para pedir os chocolates.

— Milorde, — disse ela e fez uma reverência. Olhando de lado, ela percebeu que Charlotte estava congelada e rapidamente puxou o manto de veludo preto da irmã até que ela também se abaixou.

Depois que seu senhorio assentiu em troca, eles se levantaram.

— Vocês devem ser as irmãs St. Germain. Travessas, travessas, vocês estão atrasadas. Seus parceiros de jantar esperam por vocês no salão. Gerald, pegue suas capas.

Mais uma vez, o mordomo se aproximou delas e, novamente, Amity o afastou.

— Perdão, Lorde Peabody, mas não somos as irmãs St. Germain, nem somos convidadas.

— Elas são da Rare Confectionery, — veio outra voz. Desta vez, Lady Peabody atravessou o vestíbulo. Ela passou a mão pelo braço do marido. — Eu me perguntei onde você poderia estar, meu amor, — disse ela, olhando com carinho para o senhor mais velho. — Agora entendo, pois você é atraído por um rosto adorável do jeito que uma abelha vai para uma flor, e aqui temos duas jovens adoráveis.

Lorde Peabody riu.

— Você sabe que eu só olho para você, meu amor.

Amity trocou um olhar com Charlotte.

— Milady, — ela começou de novo, — nós temos os chocolates que você pediu. Deve ter havido um mal-entendido, porque nos disseram que sua festa não começaria por mais uma hora. Nós nunca teríamos entrado se soubéssemos que já havia começado.

— Mas então não teríamos nossos deliciosos chocolates, não é? — Lady Peabody perguntou, totalmente despreocupada com sua chegada tardia.

Ao toque da campainha, o mordomo se moveu rapidamente do pequeno grupo para a porta, retornando com uma nota que ele entregou à sua senhoria.

— O que diz? — Lady Peabody perguntou.

— Sem irmãs St. Germain, meu amor. Uma está com dor de cabeça e a outra pensa que pode ter uma a qualquer momento. Elas enviam desculpas.

Um olhar de aborrecimento cruzou o rosto de Lady Peabody.

— Que incômodo! Nos meus dias, se alguém tinha uma vertigem, simplesmente a suportava com coragem e continuava, especialmente se alguém tivesse um compromisso. — Então ela olhou para Amity e Charlotte. — Gerald, pegue suas capas. Não devemos deixar nossos outros convidados esperando.

Charlotte riu nervosamente, mas Amity agarrou sua capa com a mão livre enquanto a outra ainda segurava o saco contendo três latas grandes de chocolates.

— Minha senhora, o que a senhora está dizendo? — Ela perguntou.

— Senhorita Rare-Foure, você é uma jovem respeitável, vestida adequadamente para a noite, assim como sua irmã. Alguma de vocês está noiva?

— Não, milady, mas...

— Considero vocês duas enviadas dos céus. Tenho dois cavalheiros solteiros na minha sala esperando ter parceiras para o jantar. E agora terão.

— Oh, não, — começou Amity, — isso dificilmente parece...

— Por favor, minha irmã, — Charlotte pediu, — fomos convidadas. Não devemos ser rudes com nosso anfitrião e anfitriã, e não vou assobiar, prometo. Nossa mãe iria querer que ajudemos Lady Peabody, não acha?

Amity olhou para a irmã, que de repente amadureceu em uma pessoa razoável.

— Sim, por favor, — Lorde Peabody disse, com uma nota de provocação que fez sua esposa cravar o cotovelo no lado dele.

— Muito bem, — disse Amity, finalmente dando ao mordomo seu manto como Charlotte já havia feito. — Nesse caso, agradeço por nos permitir fazer parte da sua noite. Os chocolates — ela lembrou, retirando as latas do saco, que ela também deu ao mordomo.

— Pegue-os, meu amor, — Lady Peabody ordenou ao marido. — Oh, recipientes tão bonitos. Vamos colocá-los no aparador para depois do jantar. Os chocolates vão tão bem com porto ou xerez. Você conseguiu fazê-los parecer elefantes?

Lady Peabody não esperou por uma resposta quando ela e o marido os levaram para a sala de estar. Amity se sentiu um pouco tonta. Apesar de seu comportamento no vestíbulo, Charlotte às vezes era levada a um comportamento bobo. Além disso, ela própria era igualmente inexperiente nos modos de uma festa chique com...

Lorde Pelham!

Seus olhos o encontraram assim que ela entrou na sala e seus anfitriões se afastaram.

— Temos uma surpresa adorável, — Lady Peabody disse aos reunidos, e Amity sabia que suas bochechas eram da cor de framboesas. Ela e Charlotte dificilmente poderiam ser uma surpresa adorável ou bem-vinda para qualquer pessoa, especialmente o crème de la crème da sociedade londrina.

— Muito adorável — acrescentou Lorde Peabody, ganhando outra cutucada na lateral da esposa.

Lady Peabody continuou:

— Perdemos duas convidadas e quase instantaneamente conquistamos outras duas em seu lugar. Nossa reputação de hospedagem manteve sua taxa perfeita de parceria.

Os outros convidados levantaram os copos, alguns riram da pequena piada de Lady Peabody e outros disseram:

— Bravo.

Para espanto de Amity, Charlotte passou por ela como se pertencesse ao local, e pegou uma taça de vinho de um criado cujo único trabalho parecia ser ficar perfeitamente imóvel com uma bandeja de taças de vinho cheias. Então, naturalmente, sua irmã foi em direção à única pessoa que reconheceu.

— Vossa Graça, que bom vê-lo novamente.

Os olhos de Amity se arregalaram com a calma de Charlotte. Pegando uma taça para si mesma, esperando que isso lhe desse um pouco de coragem da irmã, tomou um gole saudável e a seguiu.

— Uma surpresa agradável, — disse o duque, um sorriso brincando em seus lábios. Ela sentiu que ele entendeu seu desconforto. E um pensamento agradável a atingiu. Ele era um dos cavalheiros solteiros de quem Lady Peabody falara? Ele parecia estar sozinho.

Como se estivessem em uma peça de teatro e uma sugestão tivesse sido dada, um silêncio atravessou a sala ao mesmo tempo em que Lorde Peabody disse:

— Aí está você, querida garota. Você se perdeu ao encontrar o banheiro?

Palavras menos românticas nunca foram ditas, Amity tinha certeza, pelo menos não para esta dama. Entrara uma jovem radiante com a tez mais clara e o cabelo loiro mais claro que ela já vira. Ela usava seda azul claro que parecia pegar a luz da lâmpada e fazer uma auréola ao seu redor.

A lady, por seus modos e roupas tinha título, permitiu que seu olhar varresse a sala, talvez certificando-se de que todos os olhos estivessem nela, como certamente estavam. Então, finalmente, seu olhar pousou em Amity, revelando um impressionante par de olhos azuis. E de repente soube quem era... Lady Madeleine Brayson.

As descrições dos jornais não mentiram. Ela era deslumbrante, como uma boneca feita de porcelana e agraciada com a cor de olhos mais bonita que se possa imaginar.

O olhar de lady Madeleine passou por ela para Charlotte, pairou brevemente e se estabeleceu em Lorde Pelham. Nesse momento, seu rosto se abriu em um sorriso deslumbrante, e até Amity ofegou suavemente com sua beleza.

— Um anjo, — Charlotte murmurou ao lado dela.

Amity olhou para Lorde Pelham para ver que ele estava completamente fascinado, olhando para a mulher que ele pretendia tornar sua esposa quando ela se aproximava. Quem poderia culpá-lo?

Quando ela chegou perto o suficiente, o duque fez apresentações. Embora educada, Lady Madeleine estava desinteressada na melhor das hipóteses. Felizmente, Lady Peabody veio para bancar a anfitriã.

— Deixe-me apresentá-las aos seus companheiros de jantar. — Com isso, ela levou Amity e Charlotte para longe da dama e de seu duque apaixonado.

Do outro lado da sala havia dois jovens, cabelos castanhos e cabelos cor de areia, respectivamente, bem vestidos, que assentiram educadamente enquanto se aproximavam.

— Lorde Greenley, esta é a Senhorita Rare-Foure. — O homem de cabelos mais pálidos olhou brandamente para Amity e assentiu depois que ela fez uma reverência.

— E esta também é a Senhorita Rare-Foure, — acrescentou Lady Peabody. Ela olhou para Charlotte, que estava sorrindo amplamente. — Este é Lorde Ridley. Vou deixar as senhoras sob seus cuidados. Agora que você salvou meu arranjo de assentos, devo dizer ao cozinheiro que estamos prontos.

A anfitriã os deixou com os estranhos, e Amity estampou seu rosto de vendedora, agradável e acolhedora. Eles conversaram sobre nada, o que foi um alívio, até que Lorde Ridley perguntou sobre o nome da família.

Amity não tinha certeza sobre a etiqueta correta. Ficariam ofendidos ao saber que haviam sido confrontados com as filhas dos lojistas? Quem quer que fossem as irmãs St. Germain, sem dúvida não vendia mercadorias na New Bond Street.

Antes que Charlotte pudesse responder com algo embaraçosamente honesto, Amity disse:

— Nosso pai é do baronato de Foure na França. — Não era preciso dizer que ele não estava na linha do título de barão. — Nossa mãe é da família inglesa muito antiga da Rare. — Principalmente uma longa linhagem de padeiros, mas também não havia necessidade de mencionar isso.

A família deles sempre flertava com o escalão superior, por assim dizer, sendo ocasionalmente acolhida em sua companhia, como era hoje à noite, enquanto permanecia firmemente enraizada na classe média. Eles não tinham nada do que se envergonhar.

Então, por que Amity expressava o status de sua família em omissões e meias-verdades?

— Fascinante — disse Lorde Ridley, parecendo nem um pouco fascinado e olhando além dela para o resto dos convidados.

Lorde Greenley, por sua vez, não fez nada além de encarar o vestido da irmã da altura superior dele. Era o curso inevitável das coisas, Amity supunha.

Sentindo-se protetora, ela se esforçou para desviar sua atenção do amplo peito de Charlotte.

— Você é parente dos Greenleys na Hyde Park Street, não é? — Eles pediram meses antes, uma grande quantidade de chocolate da casa dos Greenley. O pagamento não havia sido efetuado sem que dois avisos de conta saíssem.

— De fato — disse Lorde Greenley. Ela imaginou que ele se lembrou do incidente, pois perguntou: — Você é parente dos proprietários da Rare Confectionery na Bond Street?

— Sim, — Charlotte falou, ansiosa para conversar e falar com os dois homens elegíveis. — Nosso pai é o dono.

A atenção de Lorde Ridley voltou ao pequeno grupo.

— Sua família é dona de uma confeitaria?

— Minha irmã é nossa chocolatier, — disse Charlotte e gesticulou para ela, como se houvesse alguma pergunta a quem ela se referisse. — Amity é muito talentosa. Ela dedica-se por horas na sala dos fundos e sai com as criações mais deliciosas.

Os olhares dos ricos, nobres cavalheiros, voltaram-se para ela, examinando-a como se ela fosse de outra espécie, e Amity queria afundar-se sob o piso ricamente acarpetado e se esconder.

 


Capítulo Oito


Alheia às reações deles, Charlotte continuou:

— Trouxemos alguns chocolates conosco. Obviamente, não os trouxemos à esmo. Lady Peabody ordenou, e minha inteligente irmã os criou. Assim, você provará nossas criações depois do jantar.

Amity estava feliz por sua irmã ter orgulho dela. No entanto, naquele momento, ela preferiria que Charlotte não a referisse como alguém que dedica-se na sala dos fundos. Ela poderia muito bem estar vestida com seu avental manchado de chocolate e os cabelos sob um lenço.

— Fascinante — disse Lorde Ridley novamente, parecendo ainda menos impressionado. Claramente, ele queria fazer parceria com qualquer outra pessoa do grupo que não fosse as humildes lojistas Rare-Foure.

— Mal posso esperar para provar seu chocolate — disse Lorde Greenley a Charlotte, arqueando a sobrancelha esculpida sobre um olho e piscando o outro.

Charlotte deu de ombros levemente, sem qualquer sugestão, e Amity quis dar um tapa no rosto dele.

Felizmente, Lady Peabody anunciou o jantar. Quando Amity se virou, encontrou Lorde Pelham olhando diretamente para ela, mesmo enquanto ele segurava o braço de Lady Madeleine.

Ele sorriu e ela sorriu de volta, feliz por ele estar lá. Ele pode não ser realmente seu amigo, e estava evidentemente apaixonado por sua bela dama, mas haviam compartilhado algumas interações agradáveis. Ela não pôde deixar de considerá-lo um aliado entre a elite de Londres. Esperançosamente, estaria sentado perto no jantar.

Embora parecesse que Lady Peabody a apresentara a Lorde Greenley, aquele homem pegou o braço de Charlotte, forçando Lorde Ridley, com seu palpável ar de tédio, a tomar o de Amity.

O anfitrião e a anfitriã foram os primeiros, seguidos por Lady Madeleine e o Duque de Pelham, indubitavelmente os convidados mais importantes da sala, e todo mundo seguiu em frente.

A sala de jantar estava decorada com vermelhos e dourados luxuoso, tanto no papel de parede quanto nos tecidos, espelhando a mania atual de tudo que fosse oriental. A mesa comprida estava enfeitada com um lindo pano de renda, quase invisível sob a variedade de castiçais, pratos, peças centrais floridas, múltiplos garfos, colheres e facas em todos os lugares, cada um contendo um prato enorme com um prato menor e uma tigela em cima, junto com taças de todos os tamanhos e formas.

Quantos pratos e quanto tempo duraria essa refeição, Amity mal podia imaginar. Os convidados andavam de um lado para o outro, procurando seus nomes em pequenos cartões brancos.

— Olha, — exclamou Charlotte, — temos cartões de lugar. Quão inteligente de Lady Peabody substituí-los por nós depois que chegamos.

Apesar de Foure não ter sido escrito incorretamente, Amity concordou que era bondade de sua anfitriã. Sentada, ela se viu do outro lado da mesa de Lorde Pelham. Ela duvidava que eles pudessem conversar, no entanto, com a floresta de vasos cheios de rosas e candelabros entre eles. Havia até um abacaxi inteiro exibido, o que a lembrou dos chocolates que ela trouxe. Aparentemente, Lady Peabody gostava de mostrar sua riqueza, e abacaxi era seu luxo de escolha.

Enviando-lhe um olhar sociável, o duque deu de ombros e ela sorriu novamente. Então Lady Madeleine chamou sua atenção e o jantar começou.

Depois de tirar as luvas e colocá-las no colo, Charlotte se inclinou sobre o companheiro de jantar, Lorde Greenley, e bateu na mão de Amity.

— Hoje não há sacos de carne — sussurrou Charlotte, alto o suficiente para o homem ouvir. Isso não importava. Amity podia dizer que Lorde Greenley usava apenas um de seus cinco sentidos, dada a boa vista dele sobre o decote de sua irmã.

Tudo o que Amity pôde fazer foi sorrir um pouco. Certamente, à mesa dos Peabodys, não haveria salsichas a que sua irmã se referiu tão grosseiramente. Em vez disso, a anfitriã anunciou cada novo prato em francês, enrolando muito seus R 's. Felizmente, com os avós franceses e uma boa educação, Amity sabia o que estava comendo. Desde a tartaruga e a sopa primavera, até o filé de linguado, ostras e badejo à milanesa durante a etapa do peixe, passando pelo frango e carne assada, as costeletas de cordeiro e codornas à milanesa, os figos e aspargos assados, a refeição continuou.

Amity percebeu pela etapa principal durante o qual a carne foi servida, é que deveria dar a menor mordida em cada prato ou nunca chegaria nas sobremesas. E ela adorava sobremesas sofisticadas. Seria uma pena estar cheia demais.

Lançando um olhar para Charlotte, ela largou o garfo e esperou que a irmã seguisse o exemplo. Ela também deu uma espiada do outro lado da mesa. Por acaso, o duque ergueu os olhos de seu frango à la régence.

Com o menor movimento de sobrancelha, Lorde Pelham perguntou como ela estava. Respondendo com um elevar de seu ombro, indicou que estava bem. Foi a melhor troca que ela teve durante a refeição até agora. Em outro minuto, Lorde Ridley finalmente tentou demonstrar interesse, questionando onde seu pai estudou, Eton ou Harrow, e de que parte da Inglaterra a família Rare originara.

Depois que as respostas dela pareciam descontentá-lo, ele procurou à direita por outra pessoa com quem conversar. Assim, Amity ficou quieta durante muito tempo, sentindo-se evitada e um pouco triste por si mesma.

Com o ombro de Lorde Ridley firmemente em sua direção, ela sabia que sua única esperança de escapar do isolamento era engajar Lorde Greenley em uma conversa. Ela quase desejou que o decote do vestido fosse baixo. No entanto, com metade da refeição ainda por vir, e enquanto Charlotte conversava com o cavalheiro à extrema esquerda, Amity fez uma tentativa valente.

— Milorde.

Ele se virou devagar, seu olhar caindo para o seio dela e as rendas do decote que obscureciam sua visão. Quando seu olhar se voltou para o rosto dela, ele lhe deu um sorriso fraco, nada parecido com Lorde Pelham, mas pelo menos parecia se lembrar de uma cortesia comum e falar.

— Como você está desfrutando da refeição? — Ele perguntou.

— Muito, — ela retornou. — E você?

— É melhor que alguns, não tão bom quanto outros. Em uma palavra, serve.

— Meu Deus, milorde, seu paladar deve ser extremamente meticuloso para não achar que isso seja uma refeição suntuosa. Não consigo encontrar falhas em um único prato.

Ele fungou, torceu a boca em uma expressão de repugnância leve e se dignou a parecer tão impossivelmente arrogante que Amity riu alto.

Absolutamente inesperado, o riso explodiu antes que ela pudesse se conter. Para seu horror, pareceu causar uma interrupção imediata de todo o barulho na sala, exceto pelo barulho de um garfo caindo descuidadamente em um prato.

Voltando-se para o som, Amity percebeu que tinha vindo de Charlotte, que agora a encarava com olhos grandes e alarmados.

Oh céus! Oh céus! Oh céus!

A boca de Amity ficou seca. Alcançando rapidamente seu vinho, ela conseguiu derrubá-lo, fazendo a anfitriã exclamar enquanto algumas damas zombavam de sua falta de jeito. Um dos lacaios correu para limpá-lo, removeu a taça e substituiu-o por um cheio, tudo em cerca de trinta segundos.

Os trinta segundos mais longos da vida de Amity, como os outros ficou completamente em silêncio. Ela só podia ficar eternamente agradecida pelo vinho ter sido branco.

— Ninguém ri mais em um jantar? — Lorde Pelham perguntou de repente. Amity olhou para ele com gratidão, e ele piscou para ela. — Eu, por exemplo, estou encantado com o som feliz e estou pronto para rir junto com a adorável jovem senhorita.

— Talvez se soubéssemos o que causou a explosão de bom humor, — disse Lady Peabody, sem qualquer malícia, soando como se ela realmente quisesse fazer parte da piada.

Porcaria e porcaria dupla! Amity dificilmente poderia dizer que foi a expressão azeda de Lorde Greenley que gerou seu riso involuntário. De fato, pelo olhar em seu rosto, ele sabia que ela estava rindo dele, e não parecia nem um pouco satisfeito.

Esticando a mão devagar desta vez, Amity pegou sua taça de vinho, ciente de todos os olhos focados nela. Ela tomou um pequeno gole de chardonnay, tomando cuidado para não engolir ou tossir. Por fim, ela falou.

— Eu estava pensando em uma piada que li no jornal outro dia, — ela mentiu. Afastando qualquer um que lhe perguntasse o que era, ela olhou diretamente para Lorde Pelham. — Tenho certeza de que todos vocês já o leram. Talvez alguém tenha uma história divertida ou uma piada para contar.

Isso soou como a declaração de uma retardada, mas foi o melhor que Amity pôde fazer, além de enviar ao duque um olhar suplicante, que infelizmente Madeleine também capturou, fazendo-a levantar uma sobrancelha delicadamente perfeita.

— Pensarei em um, — disse ele, — se você criar o próximo, seja uma história ou uma piada.

O homem infernal! Ela quase conseguiu tirar toda a atenção de si mesma, e então ele teve que dizer isso.

A tensão na sala relaxou, no entanto, quando o duque começou a contar uma história sobre sua própria desgraça no verão anterior, envolvendo um remo perdido e um casco com vazamento. Era autodepreciativo e divertido, e logo todos estavam rindo junto com ele.

Enquanto isso, Amity considerou o que ela diria. Suas irmãs sempre a consideravam uma boa contadora de histórias. Mas fazer isso em privado era muito mais fácil do que estar em exibição na sala de jantar dos Peabodys.

Seu estômago ficou tenso quando o olhar do duque pousou sobre ela mais uma vez. Ele inclinou o copo de vinho na direção dela. Sua vez, ele parecia dizer.

Quando a atenção dos outros convidados retornou a ela, ela respirou fundo, fingiu que todos eram simplesmente clientes ansiosos e começou a contar uma história sobre um confeiteiro na Suíça cujo grande barril de chocolate derretido quebrou sobre a mesa na frente dele.

— Fazendo dele o primeiro chocolatier coberto de chocolate, — concluiu.

Foi um sucesso. E quando todos estavam rindo da imagem do homem coberto com uma bagunça quente e marrom, Lady Peabody perguntou:

— Há mais alguém que queira nos contar uma história de humor? Eu gosto muito deste jogo na mesa. Mas o resto de vocês deve continuar comendo ou ficaremos terrivelmente para trás. Então o cozinheiro começará a enviar travessas empilhadas uma sobre a outra para nos punir. Além disso, temos chocolates nos esperando na sala de estar.

Amity olhou para Charlotte, que tinha ficado rosada de prazer. Eles estavam se misturando bem com a alta sociedade. Sem dúvida, sua irmã mais nova mal podia esperar para contar a Beatrice, que ainda mantinha um pouco de ressentimento por ter sido desprezada em sua própria loja há pouco tempo. Ela tentara conversar com uma lady apenas para ser informada pela criada que sua senhora não falava diretamente com as lojistas. Beatrice havia dito em voz alta à moça que não vendia doces para ninguém cuja cabeça era tão grande.

A criada quase riu, o que provavelmente teria causado seu assassinato. A lady insultada deu um tapinha no cabelo como se para confirmar que o tamanho da cabeça era normal, antes de sair da loja sem dizer uma palavra.

— Boa viagem, — dissera Beatrice, também em voz alta. — Eu gostaria que pudéssemos dar um pedaço de chocolate para a criada. Você consegue se imaginar servindo a uma criatura tão pomposa?

Os senhores Ridley e Greenley teriam aplaudido aquela lady altiva, pensou Amity. Além do mais, algumas pessoas na sala poderiam ter agido exatamente da mesma maneira, virando o nariz para Beatrice.

Suspirando baixinho, Amity desejou não sentir como se ela e Charlotte estivessem atuando. Apesar de falarem bem e usarem vestidos bonitos, realmente não se encaixavam. Pior ainda, ela estava nervosa por medo de cometer um erro terrível, especialmente na frente do duque, e parecer tola.

Meio ouvindo as outras histórias sendo contadas, de servos fora de lugar, contratempos com vestidos, a conveniência de trens a vapor, ela comeu uma garfada do merengue com Chantilly e uma das carolinas com bananas. Como alguns convidados teriam espaço para chocolates? Independentemente disso, ela estava mais do que pronta para ir para casa e desejava conhecer a etiqueta de quem podia sair, quando e em que ordem.

De repente, ela percebeu que Charlotte estava falando. Desde que ela não assobiasse, Amity supôs que sua irmã era inofensiva, até que ela ouviu seu próprio nome mencionado. Querendo jogar o conteúdo do copo de vinho em cima da cabeça da irmã, qualquer coisa para impedi-la de falar, Amity não conseguiu fazer nada, mas ficou sentada enquanto a história se desenrolava entre ela e um cavalo, terminando com ela sendo derrubada por um galho baixo.

Amity supôs que não era a pior coisa que já havia acontecido com ela. Ela olhou para o duque, que tinha uma expressão divertida, embora não cruel. Infelizmente, ao lado dele, Lady Madeleine parecia ao mesmo tempo desaprovadora e quase com pena. Entre esses cavaleiros e amazonas que passavam o tempo livre trotando pelas montarias por Rotten Row, ela provavelmente parecia a mulher mais tosca. Pelo menos não era a história da patinação no gelo...

— Uma vez, nós três estávamos patinando no gelo, — Charlotte começou de novo.

— Minha irmã, — Amity interrompeu, — não é educado monopolizar a conversa. — Ela olhou para ela, fazendo Charlotte fechar firmemente a boca.

Certamente ela ouviu o duque rir, quando Amity olhou para ele, era a imagem da inocência, piscando para ela.

— Nós terminamos? — Lorde Peabody perguntou, empurrando a cadeira para trás e circulando a mesa para que ele pudesse puxar a cadeira de sua esposa. Quando os outros começaram a se levantar, o anfitrião e a anfitriã os levaram da sala.

Amity pensou que Lorde Ridley poderia tê-la esquecido completamente, mas no último momento, ele puxou a cadeira dela. Ela não colocou as luvas de volta, pois notou que outras mulheres também não. Ela supôs que a ameaça de chocolates sujar as luvas de alguém era obstáculo suficiente.

Segurando-os na mão direita, ela apoiou o outro no antebraço de Lorde Ridley.

— Está quase acabando — ele murmurou, embora Amity não tivesse certeza se estava falando com ela ou consigo mesmo.

— Graças a Deus, — ela sussurrou de volta, caso ele estivesse, de fato, conversando com ela.

Com isso, ele deu seu primeiro sorriso genuíno da noite e a acompanhou de volta à sala de estar. Ninguém estava ansioso para se sentar após as longas horas de jantar, então todas as mulheres encontraram um lugar para ficar, o que não era difícil na sala espaçosa. Lorde Peabody, enquanto isso, levou os homens para outro lugar por conhaque e charutos.

Amity suspirou, ponderando quanto mais havia para a noite interminável. Ela se aproximou de Charlotte, que em vez de parecer entediada, estava bebendo tudo com muita alegria. Com a expressão idêntica de felicidade como quando ela comeu um pedaço de manjar turco, sua irmã parecia ansiosa pelo que viria a seguir.

— Xerez, porto ou madeira? — Veio a pergunta da anfitriã e, em seguida, como que por mágica, os criados chegaram com as bandejas dos três.

Amity trocaria todos eles por uma bela xícara de chocolate bem feito com um pouco de conhaque, sabendo que isso iria escandalizar todas as mulheres se ela o pedisse. Decidindo sobre o porto, notando que Lady Madeleine tinha madeira, Amity se perguntou se os chocolates esperariam o retorno dos homens ou...

— Você gostaria de fazer as honras? — Lady Peabody perguntou, e levou um instante para Amity perceber que ela estava se dirigindo a ela.

Oh! Sua mãe não ficaria emocionada ao ver sua filha mais velha servindo chocolates na festa. Aparentemente, Charlotte também não, pensou, pois ela balançou a cabeça.

— Por acaso, minha senhora, você tem um prato, — Amity perguntou a ela, — de preferência louças, não prata, nas quais sua cozinheira poderia organizá-los?

— Certamente, — Lady Peabody concordou, e ela tocou a campainha. — Eles são todos iguais? — Ela perguntou a Amity.

— Eles são exatamente como os pedidos, — disse ela. — Meio chocolate ao leite, meio liso — tudo na forma específica que você solicitou com a fatia de abacaxi cristalizado por cima. — Ela teve que gastar a maior parte do lucro comprando as frutas espinhosas miseráveis, para não mencionar o problema que ela teve em localizar uma em pouco tempo.

— Espere até você ver, — Lady Peabody disse às outras senhoras, embora Amity não pudesse imaginar por que a anfitriã pensaria a forma tão divertida.

Quando a criada entrou, Lady Peabody apontou para as latas e deu suas instruções. Em pouco tempo, a garota voltou com dois grandes pratos de porcelana, os chocolates mais leves em um e os mais escuros no outro.

— Elefantes! — Lady Madeleine foi a primeira a comentar. — Tão inteligente.

Amity olhou para Charlotte, que piscou de volta para ela. Também não tinha ideia de por que os chocolates em forma de elefante eram considerados “inteligentes”, mas todas as senhoras murmuraram concordar e Lady Peabody sorriu.

— Certamente, é o sabor que você mais gosta, — disse Amity.

Algumas das senhoras riram, e Amity fechou a boca, determinada a não passar vergonha novamente naquela noite. Em vez disso, tomou um gole do porto, pegou um dos elefantes de chocolate ao leite para o puro conforto que o sabor proporcionava e esperava que os homens voltassem logo, para que a noite chegasse ao fim.

Após cerca de vinte minutos, com intermináveis conversas insípidas sobre estilos de roupas, as melhores novas fragrâncias ou a seda de cores perfeitas para cada tom de cabelo, os homens se juntaram a eles. O olhar de Amity instintivamente procurou o duque, que parecia estar olhando para ela também, até que ela percebeu que estava no caminho de seu ponto de vista de lady Madeleine.

Rapidamente, afastando-se, ela olhou para Charlotte e a encontrou conversando com outra mulher e parecendo perfeitamente à vontade. Até os Lordes Greenley e Ridley estavam acompanhando o outro lado da sala. Amity acabou sozinha em pé perto de um vaso de palmeira, aliviada por tomar um segundo copo de vinho quando o criado passou. Ela assistiu de seu ponto estratégico enquanto os convidados do sexo masculino comiam sua parte dos chocolates.

Esperando que a noite estivesse quase no fim, ela rezou para que Lady Peabody não anunciasse o início dos jogos de salão. Amity duvidava disso. Essas pessoas pareciam muito enfadonhas para interpretar O Gato do Ministro ou Snap-dragon6.

Ao terminar o seu porto, Amity se permitiu apreciar os elogios acumulados em seus chocolates, embora todos os convidados que ela ouviu parabenizassem Lady Peabody e a “forma espirituosa”. Exceto por um.

Quando o duque apareceu de repente ao seu lado, ela se assustou.

— Os chocolates são deliciosos, — elogiou ele, — e você criou um elefante perfeito. Presumo que são de um molde de estanho.

— São, e ainda não tenho ideia por que o design é divertido para todos, — confessou.

— Verdadeiramente? — Ele perguntou, e ela se levantou um pouco mais ereta, sentindo-se deslocada novamente.

— Não acredito que foi porque nossa anfitriã simplesmente gosta deles, — ela supôs.

— Não, — disse o duque. — É um soco na rainha. Alguns não gostam que ela se declare Imperatriz Indiana. Da mesma forma, não há um homem aqui que não daria a vida por Victoria.

E nem uma dama que não daria os dentes para se tornar uma imperatriz, pensou Amity. Elefantes, de fato!

Quando o duque finalmente acompanhou Lady Madeleine até a porta, ele fez isso sem olhar para trás. Mesmo com seus sentimentos feridos, Amity não podia culpá-lo. Todos devem parecer tão chatos em comparação com a lady.

Por fim, os demais estavam livres para se despedir apressadamente e desaparecer na noite enevoada e esfumaçada de Londres.

Henry pensou que devia ser açoitado. Durante a maior parte da festa, em vez de se dedicar à mulher com a qual pretendia se casar, estava observando outra. Não tão descaradamente como Greenley cobiçara os seios da jovem Senhorita Rare-Foure, mas ainda assim, ele havia encarado bastante. Era estranho e maravilhoso ver a chocolatier fora de sua loja e no meio do mundo dele. Indiscutivelmente, ela teve uma ou duas falhas, mas terminou a noite encantando seus anfitriões e os outros convidados com sua história e seus chocolates.

Amity o pegou olhando para ela mais de uma vez.

Pensamentos dela na rica seda ameixa que complementava seus cabelos escuros e grudavam em seu corpo o acompanharam para a cama nas primeiras horas da manhã, quando ele finalmente chegou em casa.

Ao despertar para o sol do meio da manhã, sua primeira ideia foi vê-la. Em meio à confeitaria, ele podia relaxar e conversar com ela, desfrutar da companhia dela e sonhar com...

Não, não, não, ele se repreendeu. Seus sonhos devem ser sobre a mulher mais bonita e cobiçada de Londres, talvez de todo o mundo. Lady Madeleine havia expressado seu gosto pelos chocolates e, como Lady Peabody se apegara à ideia exata de apresentar uma bandeja deles na festa dela, isso não invalidava de forma alguma sua própria surpresa. Afinal, seus chocolates seriam mais especiais. Amity cuidaria disso.

Para esse fim, ele tinha todo o direito, quase um dever, de voltar à confeitaria e discutir sua festa com a chocolatier. Ele só esperava que Lady Madeleine não tivesse notado sua atenção errante. Ele dificilmente poderia explicar para ela, já que não podia explicar para si mesmo.

Saltando da cama, Henry pediu ao criado que lhe trouxesse uma xícara de café e esperava ir para Bond Street. Duas horas depois, entrou na Rare Confectionery, sentindo-se em casa. Acenando para Charlotte e feliz que a sra. Rare-Foure, mais velha, não estava em evidência, pois tinha um indício de que estava sendo um pouco impróprio, ele abriu a cortina na sala dos fundos.

Havia sua chocolatier... nos braços de outro homem.

 

Capítulo Nove


Henry congelou quando o casal diante dele se separou apressadamente.

As bochechas da Senhorita Rare-Foure ficaram escarlate, e seu avental manchado de chocolate estava enrugado por ser mantido contra o corpo do homem.

Querendo rasgar membro por membro do estranho, felizmente, a civilidade de Henry o impediu de fazer qualquer coisa precipitada. A boca da Senhorita Rare-Foure se abriu de surpresa, ou talvez porque ela estivesse prestes a se deixar beijar, e como o jovem parecia que estivesse chocado, Henry falou primeiro.

— Minhas desculpas por invadir. — Ele não disse desculpas sinceras porque não se sentia nada sincero. — Presumi que você estaria trabalhando em suas criações de chocolate, não... ou seja, voltarei em outro momento.

— Não, por favor, milorde — disse a Senhorita Rare-Foure, encontrando a voz dela e dando um passo na direção dele. — Deixe-me apresentá-lo ao meu... meu amigo. Este é o Sr. Cole. Ele voltou recentemente de uma viagem à Escócia. O Sr. Cole é advogado.

Ela sorriu, olhando entre ele e o detestável advogado, e acrescentou:

— Este é Vossa Graça, o Duque de Pelham.

O advogado empalideceu e estendeu a mão, curvando-se ao mesmo tempo. Foi muito lamentável e constrangedor. Henry assentiu, arrancou a luva direita e pegou a mão do homem, apesar de sentir uma aversão instantânea por ter que olhar para o topo da cabeça.

Naquele momento, ele queria levar a Senhorita Rare-Foure para sua própria casa e deixá-la fazer chocolates em sua cozinha. E quando ela não estava fazendo confeitos, a vestiria com os melhores vestidos e a exibiria por toda Mayfair.

O que esse advogado poderia oferecer a ela?

O homem levantou a cabeça e Henry soltou a mão.

— É um prazer conhecê-lo, milorde, — disse o homem. — Amity me contou sobre o chocolate especial que ela está fazendo para você.

Amity? Henry percebeu que nem sabia o nome dela. Ele pensou nela como muitas coisas, incluindo a sua chocolatier, mas o nome dela combinava perfeitamente com ela. Ele adorava tudo, exceto por ouvir dos lábios deste outro homem. O que importava que esse advogado erroneamente chamou Henry de “milorde” em vez de “Vossa Graça”, assim como o resto das Rare-Foures? O Sr. Cole pode não ter todas as sutilezas sociais, mas aparentemente a considerava com carinho.

O homem logo seria seu noivo?

— Não quebrei a confiança levemente, senhor — jurou a Senhorita Rare-Foure. — Sr. Cole não sabe para quem estamos fazendo os chocolates, nem falaria disso com ninguém.

Henry apreciou sua garantia.

— Eu confio em você, — disse ele e falou sério. Mas não confiava nesse advogado oleoso, que provavelmente passaria a vida na temida Corte de Chancelaria e ficaria com cara pálida, careca e trêmulo. Ele não conseguia imaginar sua adorável chocolatier, tão cheia de criatividade e vida, vivendo em uma casinha apertada longe da cidade, onde eles poderiam se dar ao luxo de ganhar sua subsistência, onde ela poderia ter que dar à luz a seus pirralhos.

Por que estava se sentindo tão abominavelmente hostil em relação ao Sr. Cole?

Não poderia ser porque o homem a estava tocando. Poderia?

Sim, poderia!

— Procurador ou advogado? — Henry perguntou secamente.

— Procurador, milorde. — Cole disse isso sem o menor embaraço, apesar de ter seguido o caminho mais humilde com menos prestígio, dinheiro e influência. Que idiota míope!

Henry sabia que estava perto de dizer algo totalmente inapropriado, então era melhor ficar longe.

— Voltarei amanhã, — anunciou ele, não querendo estar no pequeno espaço com esses dois pombinhos.

— Oh não, milorde. Por favor, fique. O Sr. Cole estava prestes a sair, — ela disse. — Estou mais do que feliz em discutir sua criação de chocolate no momento. Talvez você tenha tido algumas ideias depois da noite passada.

— Noite passada? — Perguntou o advogado.

Noite passada, Henry choramingou as palavras em sua cabeça. Que cara intrometido!

— Senhorita Rare-Foure e eu comparecemos ao mesmo jantar, — Henry disse ao homem, sem esconder o triunfo de sua voz.

— Realmente? — O advogado virou-se para ela. — Quando você disse que esteve fora para jantar, não imaginava que você estivesse em uma grande festa com um duque. — Então o homem sorriu. — Bom para você. Espero que tenha se divertido. Você trabalha demais.

O Sr. Cole estava sendo um pouco gentil demais. Provavelmente não quis dizer uma palavra disso. Provavelmente estava se queimando de ciúmes com a ideia.

— Vejo você mais tarde, — acrescentou, e a Senhorita Rare-Foure assentiu.

E para intenso desagrado de Henry, este... este... advogado estendeu a mão e apertou o ombro da Senhorita Rare-Foure. O atrevimento! Naturalmente, o Sr. Cole não estava com ciúmes... ele a veria mais tarde.

— Se você tiver a chance de visitar a Berry Brothers na St James's, você traria o vinho espanhol de que minha mãe gosta? — Senhorita Rare-Foure perguntou a ele. — Vamos comemorar o seu retorno.

— Farei de meu dever conseguir o vinho, — assegurou o homem. — Um prazer conhecê-lo, milorde. — Com uma reverência na direção de Henry, o homem sério partiu.

Cara de sorte! Ele jantava com a família dela e era íntimo o suficiente para conhecer o vinho favorito da Sra. Rare-Foure.

De repente, Henry se sentiu tolo por pensar que ele e a chocolatier tinham algum tipo de amizade. E, considerando sua própria noite à frente, ele até se sentiu um pouco sozinho. Mais uma razão para ele segurar a mão de Lady Madeleine e tomá-la como esposa. Quanto antes melhor.

Durante a festa, eles tiveram algumas discussões agradáveis. Não obstante, ele não conseguia se lembrar de nada muito significativo, algo sobre ela passear pelos jardins zoológicos ou encontrar um porco-espinho no jardim ou algo parecido.

Ele realmente não estava ouvindo. Ele estava muito fascinado com a mulher em frente a ele, que agora esperava que ele falasse. Sua obsessão... pois era claramente isso que era, tinha que parar.

— Você fez algum progresso? — Ele perguntou um pouco bruscamente.

Em vez de se irritar, ela ofereceu um sorriso doce e assimétrico.

— Sim, hoje de manhã, usei os moldes das flores para criar algo novo. Veja se pode dizer o que eu adicionei?

— Mas eles estão polvilhados, — Henry apontou, quando ela lhe apresentou a bandeja.

Ela riu e ali estava o som agradável que ele não ouvia há muito tempo. Horas, de fato, que pareciam anos.

— Eu os polvilhei com cacau em pó. Prove um.

Tirando a outra luva, ele enfiou as duas no bolso do casaco. Então ele escolheu um dos chocolates, deixando o pó de cacau amargo se misturar com o chocolate derretido.

— Estou experimentando algo parecido com fragrância suave, mas muito agradável. — Ele percebeu o que era assim que engoliu. — Gin!

— Muito bom! — Senhorita Rare-Foure bateu palmas. — O que você acha?

— Não tenho certeza. — Ele odiava desapontá-la, mas parecia terrivelmente arriscado. — Eu não sei o que a lady acha sobre o gin. — Ele não sabia o que Madeleine achava sobre muitas coisas.

A chocolatier estufou as bochechas e soltou o ar com um som de exasperação. Ele achou a coisa mais encantadora que já vira, especialmente quando o suave cacho na têmpora dela subiu e depois caiu.

— Sua lady é uma questão difícil de resolver. — Ela largou a bandeja novamente.

Eu quero que você seja minha lady. Esse pensamento terrivelmente escandaloso passou por seu cérebro e desapareceu antes que ele percebesse. Mas mesmo depois que se foi, ele a encarou e percebeu que poderia ser verdade.

— Sr. Cole é seu pretendente? — Ele deixou escapar.

Ela arregalou os olhos e rapidamente baixou o olhar.

— Ele será, no devido tempo. — Seu tom era suave, e ela parecia estar falando ao chão.

— No entanto, vocês não estão formalmente noivos? — Ele bisbilhotou, se perguntando por que estava perguntando. — O que está causando o atraso?

Diante dessa pergunta impertinente, o olhar dela se ergueu e trancou no dele.

— Você deseja discutir chocolate ou os detalhes pessoais da minha vida? Se for o primeiro, você pode ficar. Se for o último, devo pedir-lhe que se retire.

Ele sorriu ao seu tom adequadamente ofendido.

— Muito bem, será Chocolate. Embora, se você me perguntar, eu responderis que o seu Sr. Cole é um idiota por esperar.

Amity Suspirou.

— Não é culpa dele. Ele queria... — Ela fechou a boca. — Oh, você quase me enganou.

— Eu não fiz isso, — disse o duque inocentemente, mas ela podia ver pela expressão dele que tentara fazê-la falar mais sobre Jeremy. Eles se conheciam há quase um ano e meio, mas ela não tinha pressa em se casar. Ela tinha ido com o pai para o Lincoln's Inn um dia, quando ele falava com seu advogado e conhecera o atraente Sr. Cole. Desde então, ele passou pelo exame da ordem e montou seu escritório. Ela pensou que ele estava sugerindo um noivado de Natal, o que seria... legal.

— Sr. Cole não tem nada a ver com você e seu chocolate. E ele não é um estúpido.

— Você está falando muito mais confortavelmente comigo aqui do que ontem à noite.

Amity suspirou.

— Que assustador que foi! — Ela começou.

Quando ele pareceu surpreso, ela acrescentou:

— Quero dizer, estávamos lá simplesmente para deixar as latas. E se minha irmã e eu não estivéssemos vestidas adequadamente?

— Por que você estava vestida adequadamente para a festa? — Ele perguntou, ociosamente arrancando outro gin-doce da bandeja.

Ela definitivamente, cobraria mais por todas as amostras. Depois de passar uma noite no mundo em que ele habitava, sabia que ele nem notaria se ela dobrasse o preço.

— Minha mãe tem orgulho, — disse Amity, observando-o engolir. — Ela não queria que suas filhas aparecessem em roupas de trabalho.

O duque assentiu. Suas próximas palavras a surpreenderam.

— Você estava linda.

Seus olhares se prenderam, e ela não conseguiu desviar o olhar quando o calor se espalhou por todo o corpo. O Duque de Pelham achou que ela estava linda. Mal podia acreditar, especialmente quando Lady Madeleine estava ao lado dele.

— Você e sua irmã, — ele alterou lentamente, mas a maneira como seu olhar intenso se fixou no dela, ela se sentia como a única mulher no mundo.

— Obrigada. — Sua voz saiu rouca. Ela limpou a garganta.

Antes que ela pudesse levar a discussão de volta ao chocolate, no entanto, ele disse:

— Peço desculpas em nome de seus parceiros de jantar. Você certamente ficou presa em algumas brincadeiras.

Ela não pôde deixar de sorrir.

— Eles não teriam sido minha primeira escolha de companheiros. — O homem em pé na frente dela teria sido. Não! Jeremy teria sido. Claro!

— Suas habilidades de conversação estavam praticamente ausentes, e Lorde Ridley... — ela se interrompeu, percebendo que estava prestes a criticar um dos colegas do duque. Isso poderia levá-la a problemas rápidos.

— Ridley o quê? — Ele persistiu. — Eu pensei que sua queixa principal seria com os olhos itinerantes de Greenley.

Amity não pôde deixar de corar, mesmo que fosse por conta de Charlotte.

— Tive a sorte de não estar sob seu escrutínio. — Sorte? Não ter um peito cheio o suficiente, mesmo para um senhor lascivo? Ela sentiu suas bochechas ficarem ainda mais quentes. — Quero dizer, pelo menos eu quase consegui conversar com ele. Lorde Ridley nem tentou, mas apenas me ignorou.

— Lorde Ridley é um tolo que não consegue ver além da grande colher de prata saindo de seus lábios finos.

Amity não pôde evitar a risada.

— Acho que ele não é um dos seus favoritos.

— Dificilmente. Eu tenho uma irmã, Penelope, e ela se achou apaixonada por aquele idiota até ouvir o motivo mercenário dele para cortejá-la.

— Isso é terrível. — Ela estava feliz por ela e Jeremy estarem em pé de igualdade em sabedoria e financeiramente, pois sabia que o carinho dele era genuíno. — Espero que sua irmã tenha se recuperado de ser tão maltratada.

— Sim. Foi um solavanco leve em sua visão romântica do mundo, e desde então se casou e é feliz. Eu gostaria que você a conhecesse. Vou trazê-la em outro momento. Eu acho que ela gostaria de você.

— E ela gosta de Lady Madeleine? — Amity perguntou antes que ela pudesse se conter. Afinal, isso era muito mais importante do que a irmã do duque a conhecer.

Ele pareceu surpreso.

— Eu... eu não sei te dizer na verdade. — Ele franziu a testa. — Elas já se conheceram?

Amity balançou a cabeça com a perplexidade dele.

— Com certeza que não sei. Você não socializa nos mesmos círculos que sua irmã? Lady Madeleine não mostra interesse em sua família?

O cenho dele ficou mais profundo e ele deu de ombros.

— Minha irmã e seu marido não frequentam os eventos que vou. Como homem solteiro, entenda, costumo ser jogado com os casamenteiros, como Lady Peabody. Quanto a Lady Madeleine, não acredito que tenha conhecido Penelope. Não passamos muito tempo conversando sobre as famílias um do outro. — Ele fez uma pausa e acrescentou lentamente: — Ela tem mãe...

Amity riu.

— ...que teve um gato uma vez, — ele terminou.

Amity não pôde evitar. Ela começou a rir e não conseguiu parar. Lágrimas vieram aos seus olhos. Ela tem mãe! Ela se dobrou de tanto rir. Felizmente, o duque se juntou.

— Oh, — ela segurou a barriga. — Me... desculpe, milorde. — Ela começou a rir novamente. — É só... você acha que ela também tem pai?

Os dois riram juntos da insanidade de sua declaração. Demorou alguns minutos para recuperar a compostura normal. Quando ela finalmente pegou seu caderno, eles ainda estavam sorrindo um para o outro.

— Gin é questionável, — disse ela em voz alta enquanto escrevia as palavras, o que os fez rir novamente.

— Bem, eu gosto, — disse o duque. — Por falar nisso, acho que o conhaque seria delicioso dentro dos seus chocolates.

— Já tem na prateleira, — disse Amity, olhando por cima de seus ingredientes em busca de inspiração. — O abacaxi cristalizado estava muito bom ontem à noite, não estava? Lady Madeleine adorou?

— Mesmo que adorasse, você não pode usá-lo, — ele lembrou, — já que ela já comeu uma Rare Confectionery com abacaxi.

Ela considerou um momento.

— Devo procurar outra fruta exótica?

— Contanto que não seja...

— Laranja, — ela terminou para ele. — Eu sei. Acho que deveríamos limitar isso a que fruta Lady Madeleine gosta.

— Limitar? — Ele perguntou. — Eu sou uma praga, e você está ansioso para se livrar de mim.

Ela balançou a cabeça.

— Nem um pouco, mas estamos ficando sem tempo. Cerejas ou damascos?

Ele encolheu os ombros timidamente, e parecia tão convidativo, tão atraente quanto ele, ela sentiu um formigamento por olhá-lo.

— Pêssegos ou... que tal ameixas brancas? — Ela persistiu.

Ele olhou para ela estranhamente.

— Acho que nem sei o que é isso.

— Verdadeiramente? — Ela percebeu que ele estava olhando para sua boca enquanto ela falava, o que a deixou bastante consciente de seus lábios, os quais ela lambeu nervosamente. — São como ameixas, exceto menores.

O duque sorriu e deu um passo mais perto.

— Então por que não me perguntar simplesmente se ela gosta de ameixas?

— Tudo certo. — Embora de repente mal conseguisse respirar, sua boca formou as palavras: — Pêssegos ou ameixas?

— Não tenho ideia, — confessou. Ela não pôde dar um passo para trás quando a mesa de mármore estava atrás dela, pressionando suas costas.

— Nós vamos ter que adivinhar, — disse ela. Estava ficando muito quente no pequeno espaço. — Qual é a sua preferência pelo Brayson perfeito... cereja cristalizada, ameixa, pêssego ou damasco? Um damasco cristalizado é bastante divino.

— Essas são minhas únicas escolhas? — Ele perguntou irritantemente, seus olhos parecendo mais escuros enquanto a olhava.

Quantas opções ele precisava?

Nervosa, ela riu de novo, mas ele se aproximou ainda mais, fazendo com que ela parasse abruptamente, sua risada terminando em um som de soluço.

Lentamente, inesperadamente, seus braços a envolveram. Ela endureceu antes de relaxar no calor dele e deixar que as sensações de formigamento a dominassem.

A cortina estava aberta, como a mãe insistira. Os clientes poderim estar na loja. Ela não estava ouvindo a campainha desde que ele chegou.

— Eu gosto de estar com você, — ele sussurrou.

— Eu... eu... — Ela queria dizer o quanto ela gostava de estar com ele também, por mais inapropriado que fosse.

Então ele abaixou a boca na dela e reivindicou seus lábios.

 

Capítulo Dez


O beijo provavelmente durou sete segundos, tempo suficiente para a boca do duque se mover sensualmente pela dela, tempo suficiente para ele morder o lábio inferior antes de recuar.

O beijo foi uma revelação. Amity ficou muito feliz que a mesa de trabalho estivesse logo atrás para apoiá-la, pois ela não tinha um osso em seu corpo e sua respiração havia sido roubada de seus pulmões.

Quando ela abriu os olhos, ela encheu os pulmões com um gole deselegante, respirando a fragrância inebriante que ele usava.

Por um instante, ela viu um olhar de ternura e mais alguma coisa no rosto bonito dele... desejo, se entendesse a expressão, sem dúvida refletindo a sua. Seu corpo estava em chamas por querer mais. Outro beijo, um toque da mão dele na pele dela.

Oh céus a ajude! Logo ela pertenceria a Jeremy, e o duque pertenceria a Lady Madeleine.

Ele estava brincando com ela? Amity tinha ouvido falar de um cavalheiro titulado arruinando uma criada em seu emprego. Era um conto clichê, mas aconteceu da mesma forma. A nobreza sentia o direito de pegar o que queria, porque ninguém lhes dizia que não podia. Lordes privilegiados atacavam os impotentes, e até os não tão impotentes, tal como Charlotte e como Lorde Greenley se comportava com desrespeito aberto.

O duque recuou. Ele não se desculpou. Na verdade, ele não disse nada. Ele parecia tão confuso quanto ela. No entanto, ele a havia encurralado e beijado com determinação!

Ela estava prestes a dizer a ele para se retirar, ou implorar para que ele a beijasse novamente! Quando ele assentiu rigidamente e saiu da sala. Apressando-se para a frente e espiando pela cortina aberta, Amity o viu passar, sem reconhecimento, direto por Charlotte, que estava atrás do balcão, e por dois clientes decidindo o que comprar.

Ele abriu a porta da loja, com os ombros largos mantidos rigidamente enquanto caminhava para o sol fraco de Londres.

Bem!

Henry nunca havia brincado com uma mulher em sua vida. Ele não era santo, é claro. Ele não apenas beijou algumas ladies dispostas nos jardins das melhores casas de Mayfair, mas, de vez em quando, foi ao bordel mais caro de Londres e, por uma longa noite de paixão, gastou mais do que alguns homens ganhavam em meio ano. Uma ou duas vezes, discretamente, ele até teve uma amante por um mês.

Mas esse beijo! Seu comportamento tinha sido diferente de tudo o que ele já havia feito, agarrando a chocolatier e beijando-a porque ela estava ao alcance do braço e porque a queria desesperadamente.

Ele ainda a queria. Agora, ele a queria mais, mas com que fim além de matar sua própria luxúria? Pois era tudo o que podia ser. Ele queria despi-la e vê-la estendida sobre os lençóis com um rubor de desejo em suas bochechas e seus lábios macios se separarem. Ele queria espalhar pó de cacau na pele de Amity e prová-la como um doce confeito.

Droga! Ele estava pensando nela agora como Amity e não como Senhorita Rare-Foure.

E se experimentasse suas delícias, depois de ver como seus olhos castanhos e cabelos escuros pareciam à luz da lua e ao sol da manhã após uma noite de sexo, então o quê?

Dificilmente poderia levá-la para sua mãe e apresentá-la como sua futura noiva. A duquesa do chocolate?

Preocupado, ele subiu na carruagem, percebendo tardiamente que não havia dito ao cocheiro para onde ir.

Inclinando a cabeça para fora, ele disse:

— Ao White, — antes de deslizar a janela de volta.

Seu futuro descansava seguro e adequadamente com a mulher mais desejável de Londres. Não era como se ele estivesse se contentando com nada, mas o melhor. Lady Madeleine foi criada para ser duquesa, para lidar com os jantares com tranquilidade, para administrar os assuntos domésticos, para se divertir em sua propriedade rural e para ser parceira em toda a sua vida aristocrática.

E ela era linda, para começar. Mas, novamente, Amity era perfeitamente adorável e vibrante, engraçada e inteligente. Por que diabos ela tinha que ser filha de um comerciante?

Ela também foi prometida. Aquele advogado era a escolha natural para ela... o Sr. Cole e sua maneira afável e sua capacidade de lhe proporcionar uma vida modesta. Ela provavelmente poderia continuar trabalhando em sua loja se o advogado casasse com ela, enquanto que se Henry a reivindicasse, ela teria que desistir de todos esses esforços. Uma duquesa dificilmente podia ir à New Bond Street e fazer chocolates em uma sala dos fundos para encher as prateleiras de uma confeitaria.

Ele bateu no joelho com seu punho. Por que ele ainda estava pensando em se casar com Amity Rare-Foure?

Henry precisava de Waverly e Jeffcoat para convencê-lo dessa loucura, e ele precisava passar mais tempo com Madeleine. Ele deveria beijar a filha do conde para apagar a lembrança de quão perfeito era o beijo com Amity. Quando ele beijasse a gloriosa Madeleine, estrelas brilhariam no céu noturno, a terra tremeria e ele cairia de joelhos com desejo por ela.

E se ele não cair? Então o céu o ajude!

Amity desistiu de tentar fazer algo útil. Ela garantiu que Charlotte tivesse amplo estoque de seus itens mais vendidos, adicionou uma bandeja de caramelo de melaço de Beatrice à vitrine e foi dar um passeio.

Ver as vitrines era uma boa maneira de remover qualquer pensamento perturbador da cabeça dela. Normalmente, ela gostava de passear à toa e observar as coisas bonitas que Londres tinha para oferecer. Hoje, no entanto, quando olhou as luxuosas lojas de Mayfair, viu o mundo do Duque de Pelham e sua vasta diferença em relação ao dela.

Ela poderia se vestir e participar de noite e aguentar à mesa de jantar com aristocratas ingleses. Quase, exceto pelo riso rude e o derramamento de vinho! Seja como for, os membros de sua classe viviam uma vida que ela realmente não podia compreender, nem desejava.

Duas damas saíram na frente dela de uma joalheria, com as mãos vazias. Atrás delas, uma criada carregando pequenas encomendas com o carimbo do joalheiro. Não importa o tamanho, esses pacotes podem conter uma riqueza inimaginável de pedras preciosas cravadas em ouro, e essas mulheres nem se importam o suficiente para segurá-las!

Amity vagava sem rumo atrás delas, sem escutar, mas incapaz de evitar ouvir suas palavras. E isso foi apenas porque as mulheres falaram em um discurso destinado para que todos ao seu redor ouvissem. Elas conversavam sobre moda e apontavam as coisas de que gostavam na próxima vitrine, um armarinho. Falaram em viajar para o exterior logo, já que tudo na Bond Street, por melhor que fosse, estava inegavelmente meses atrás do que encontrariam em Paris ou Milão. Que absurdo!

Quando outras mulheres passaram por elas, falaram alto sobre as roupas de suas rivais. Mal pareciam notar os poucos homens da moda, querendo principalmente ter certeza de que pareciam melhores do que as outras damas. E se não o parecessem, teriam uma dura humilhação para elas.

— Aquela Lady C é uma tola tão infeliz. O que importa se o cabelo dela é adorável quando ela mal consegue ler um relógio?

— A figura dela é boa, mas essa cor do vestido faz Lady T parecer positivamente pálida. Alguém deveria dizer a ela, coitada.

Essas observações maliciosas foram acompanhadas de risadas alegres.

E quando passaram por uma galeria, de repente, eram críticas de arte. Enquanto isso, a criada passeava por trás com suas melhores roupas, sem dúvida, e ainda assim suas botas estavam tão gastas que Amity podia ver as meias da menina através de um buraco no calcanhar direito.

Ela olhou para suas próprias botas confortáveis, mas elegantes, e seu vestido de dia bastante elegante em cinza e rosa. Ela estava firmemente, irrevogavelmente, em uma posição entre a criada e as damas. Assim como o Duque de Pelham estava firmemente acima de todos.

Mas o beijo! Foi o mais perfeito que ela já imaginou ser um beijo. Não foi o primeiro. Ela e Jeremy conseguiram roubar um aqui e ali. Seus beijos foram agradáveis. Eles a fizeram feliz. Ele cheirava a sabão familiar de peras, e a tratou com cuidado. Ele estava seguro, nunca lhe dando um momento de ansiedade.

Nunca a fazendo realmente formigar.

Quando o duque a beijou, ela não tinha pensado na posição dele na vida ou na sua. Ela desfrutou completamente cada segundo. Ele cheirava à um deus, e tinha sabor do seu próprio doce. No instante em que suas bocas se fundiram, eles não eram de mundos diferentes. Classe não significava nada onde, normalmente, significava tudo. Eles foram... ousaria pensar assim... iguais! Pois ele gostou tanto do beijo quanto ela. Sobre isso, ela não tinha dúvida.

Por outro lado, ela não tinha ilusão de que o duque se apressasse a dizer a Lady Madeleine que ele não queria mais acompanhá-la pela cidade. Esse era o tipo de coisa que as classes altas faziam e rapidamente esqueciam. Amanhã, ele nem pensaria mais no beijo deles e, em breve, com a ajuda dos chocolates de Amity, ele estaria noivo de sua lady.

De sua parte, ela sentiu as pontadas de culpa. Afinal, se ela pensasse que Jeremy estava beijando outra mulher, ela terminaria com ele imediatamente. Ela ofegou. Ela deveria libertá-lo do acordo provisório por causa de sua pequena indiscrição?

Quando Amity finalmente voltou para a loja, sua irmã mais nova batia impacientemente os dedos na bancada.

— Graças a Deus, — disse Charlotte, removendo o avental. — Eu pensei que você nunca voltaria.

— Bea chegou, não chegou?

Charlotte enrugou o rosto.

— Você sabe como ela é com os clientes. Eu não podia deixá-la fazer caramelo e vir aqui toda vez que a campainha tocasse. Ela ficaria irritada com as pessoas por interrompê-la, não importa que sejam a razão pela qual fazemos o que fazemos.

— Obrigada por ficar, — disse Amity. — Você conseguiu terminar alguns de seus próprios doces?

Essa pergunta fez o rosto de sua irmã mais nova brilhar. Ao contrário de Amity e Beatrice, que preferiam a sala dos fundos enquanto trabalhavam, Charlotte ficou satisfeita por permanecer atrás do balcão, esculpindo suas criações de marzipan. Ela conversava com os clientes enquanto moldava a pasta de amêndoa como um escultor de barro. De fato, alguns permaneciam observando sua arte, enquanto ela usava corantes comestíveis para pintar as formas de marzipan ou criar pequenas frutas falsas, usando cravo-da-índia como hastes para fazê-las parecer reais.

Charlotte já havia limpado sua área de trabalho, consistindo de uma laje de mármore, uma jarra de vidro de marzipan recém-feito, uma garrafa de óleo de amêndoa e seu saco de açúcar em pó para impedir que a pasta de amêndoa grudasse nas mãos e na superfície. Na prateleira superior da vitrine havia uma nova fileira de porcos de marzipan adoráveis com um rubor rosa na pele de pasta de amêndoa e nos olhos escuros.

Amity olhou mais de perto para ver Charlotte criar pequenas caudas de marzipan que estavam enroladas nas costas arredondadas dos porcos.

— Você se superou, irmã. São esplêndidos.

— Eles têm um sabor ainda melhor do que parecem. O blush rosa é uma pitada de suco de cereja. Já vendi quatro na última hora.

— Bem, agora está livre para ir para casa. Você pode lembrar ao pai que o Sr. Cole vai jantar.

Charlotte fez uma careta leve e um fio de alarme cortou Amity.

— Você não gosta dele? — Sua irmã tinha visto alguma falha terrível em Jeremy que Amity não havia notado? Ou talvez, ela soubesse do beijo.

— Oh, eu gosto dele. Além disso, é você quem deve gostar dele, manso como ele é, não eu. Enfim, não é isso. — Charlotte suspirou. — Mas depois da noite passada, quando estávamos no colo do luxo e do requinte, é difícil ir para casa e sentar na nossa sombria sala de jantar e ouvir o pai e seu Sr. Cole discutindo casos de negócios ou de direito, ou uma viagem à Escócia. — Ela terminou com um revirar de seus lindos olhos castanhos.

Amity riu.

— Se soubesse que uma noite arruinaria você para nossa vida perfeitamente confortável, eu teria levado Bea. E ouvir sobre uma viagem nunca pode ser chato, pode? De qualquer forma, você não achou as conversas da noite passada um pouco monótonas, exceto pelas histórias?

— Suponho que eram um pouco, mas o homem à minha esquerda, Lorde Cameron, era legal. Muito mais agradável que Lorde Greenley, com os olhos esbugalhados.

— Eles estavam esbugalhados apenas em uma direção, — Amity a lembrou.

Charlotte deu de ombros. Não era culpa dela que ela tinha uma figura pela qual as mulheres raspariam a cabeça.

Depois de recuperar o casaco da sala dos fundos e se despedir de Beatrice, Charlotte abraçou Amity e saiu, levando consigo uma caixa de porcos.

— Seis para hoje à noite.

Amity espiou pela cortina e encontrou Beatrice sentada em seu banquinho, os pés esticados na frente dela. Ela estava embrulhando caramelo em quadrados de papel e torcendo as pontas.

— Boa tarde, — ela cumprimentou. — Devo colocar a chaleira?

— Sim, por favor, — respondeu Beatrice. — O que você acha do caramelo com frutas?

— Depende da fruta, suponho. — Ela acendeu o fogão e colocou a chaleira cheia de água sobre ele. — Acho que qualquer coisa cítrica seria bastante desagradável, mas posso imaginar uma uva branca seca ou até uma groselha preta.

Beatrice assentiu, depois bocejou.

Amity cruzou os braços e bocejou também. A noite passada na casa dos Peabodys tinha cobrado seu preço, mas por que Bea parecia cansada?

— Você está ficando entediada de ser a mais reverenciada fabricante de caramelo de melaço de Londres?

Beatrice riu.

— Eu sou?

— Claro que você é! Suas latas de caramelo voam das prateleiras.

— Ainda mais rápido quando os revestimos com seu chocolate.

— Verdade. — Amity pegou as folhas de chá na panela e derramou a água fervente sobre elas. Ela preferia uma xícara de chocolate, mas decidiu agradar a Beatrice, que preferia o chá. Ela estava sempre muito agradecida pelo relacionamento íntimo com as irmãs, além de satisfeita com a forma como cada uma delas confeccionava produtos de confeitaria que eram maravilhosos sozinhos e ainda melhores quando combinados.

— Estou tentando alguns itens novos também, — acrescentou Beatrice. — Revesti um pouco de caramelo com molho de caramelo, mas até agora não está realmente funcionando. — Ela estendeu um prato para Amity para ver onde o molho de caramelo quente amolecera os pedaços de caramelo duro e a coisa toda perdeu sua forma e se tornou parcialmente pegajosa, em parte rígida.

— Hm, — disse Amity, pegando um pedaço, enfiando-o nos dedos. Quando ela enfiou na boca, no entanto, ela não pôde deixar de sorrir. — Delicioso! — Ela disse rouca, com os dentes quase grudados.

— Talvez se mergulhar levemente pedaços de caramelo, possa funcionar, mas não tenho certeza se ganhei alguma coisa com uma camada externa um pouco mais macia.

— Você disse que tentou duas coisas? — Amity pegou uma lata de biscoitos cobertos de chocolate da Cadbury da prateleira, perfeita para mergulhar em seu chá. Ela ofereceu a Beatrice, que pegou duas.

— Vou compartilhar o outro quando estiver aperfeiçoado. Enquanto isso, misturarei algumas groselhas no próximo lote de caramelo e verei se isso ajuda ou atrapalha.

— Não se esqueça, o Sr. Cole está vindo para o jantar.

Surpreendentemente, Beatrice produziu a careta idêntica a Charlotte.

— Não me diga que você também não gosta dele.

— Também? — Perguntou Beatrice, tomando um gole de chá. — Por quê? Quem não gosta dele?

— Não importa, — disse Amity. — Acho que todos sabemos, mas Charlotte disse que a discussão na sala de jantar será chata.

— Comparado à aventura inesperada de vocês na noite passada, quer dizer?

— Exatamente. Eu disse a ela que não deveria comparar nossa sala de jantar com a de Lorde e Lady Peabody. Prefiro firmemente o nosso. É relaxante e confortável, e não há esnobes à vista.

— Oh, querida, — comentou Beatrice. — Alguém não gostou da noite.

Amity encolheu os ombros.

— Gostei, suponho, assim que me acostumei e superei meu nervosismo. Independentemente disso, parecia que todos estavam em exibição e precisando observar seus passos e suas palavras. Exceto o anfitrião, a anfitriã e Lorde Pelham.

Beatrice inclinou a cabeça com interesse.

— Ele estava lá?

— Sim, assim como a sublime Lady Madeleine.

A irmã se endireitou e pousou a xícara de chá.

— Você a viu?

— Sim. — Amity tentou permanecer neutra, apesar de ter um sentimento de animosidade distinta em relação à bela lady.

— Ela é exatamente como todo mundo diz? — Perguntou Beatrice.

— Mais ainda. — Amity encolheu os ombros.

— Bom Deus. Por que diabos Charlotte gostaria de passar uma noite competindo com pessoas como esse modelo de todas as coisas desejáveis?

Amity suspirou.

— Felizmente para a nossa irmã mais nova, ela tem algumas coisas que os homens desejam. — Elas piscaram uma para a outra e começaram a rir.

— Abençoe o coração dela, — disse Beatrice. — Ela não percebe como é adorável, ao mesmo tempo em que é feminina.

— Temos sorte que ela ainda não tenha percebido. Se ela exigir uma temporada, o pai terá que manter os pretendentes afastados com um taco de críquete. — Então ela olhou para Beatrice. — Estou bem ajustada com o Sr. Cole, — exceto quando ela estava beijando o Duque de Pelham, — mas e você? Você é tão adorável e feminina quanto Charlotte. Além disso, dois anos e de alguma forma décadas mais madura. Você está de olho em alguém?

— Não. Sinceramente, às vezes me desespero por não ter algo ou alguém fora desta loja.

Amity ficou atônita com a admissão da irmã.

— O quê? Isso é ridículo. Simplesmente porque eu não queria uma temporada, não significa que você não pode fazer uma festa e participar de eventos. Vamos conversar com o pai hoje à noite?

— Não, não quero incomodar. Eu teria que esperar até abril próximo, por um tempo apropriado, para coincidir com as senhoritas nobres sendo apresentadas à rainha. — Beatrice sacudiu a cabeça, com cabelos castanhos espessos, um tom mais claro que o de Amity, e suspirou poderosamente.

— A maioria dessas garotas não está preocupada com o custo de uma temporada. Assim que eu fosse declarada filha de lojista, eu seria excluída de qualquer maneira. E como você disse, tenho cerca de dois anos a mais que a maioria e quatro anos a mais que algumas. Por que, pensando bem, posso pensar em pelo menos quatro noivas aristocratas que se casaram aos dezesseis anos nos últimos anos. Se passarmos por elas, estou firmemente acabada.

Com isso, Amity riu.

— Você tem dezenove anos e é perfeita. Sua vida está apenas começando. Além do mais, você é talentosa.

— Como fabricante de caramelo? Eu também poderia ser uma costureira ou sapateira.

— Absurdo. No entanto, se você deseja aprender a habilidade da pastelaria, acho que mamãe ficaria emocionada. Ela sempre fala dos doces superiores de Paris.

Beatrice deu de ombros.

— Acho que não. Nunca tive interesse em assar. Gosto de fazer caramelo, mas não tem a arte de suas criações de chocolate ou as esculturas de marzipan de Charlotte. Estou em uma rotina, suponho. — Ela tomou um gole de chá novamente. — Acho que administrar uma casa e ter marido e filhos parece um paraíso em comparação com passar meus dias com melaço e manteiga.

O sino da loja tocou, e Amity saiu para vender meio quilo de chocolates, dois porcos de marzipan e outro quilo de caramelo para uma mulher muito alegre, que ficou agradecida por amostras de cortesia para ela e seus três filhos pequenos.

Ela podia ver o que Beatrice queria dizer com ter uma família e teve a sorte de encontrar Jeremy por acaso. Ter os filhos dele seria gratificante, mas ela pretendia continuar fazendo chocolate depois do casamento e mesmo depois da maternidade. Era sua paixão, e ela adorava ver as pessoas encantadas com suas criações. Como ela poderia ajudar Beatrice a encontrar um bom homem?

Vagando pela sala dos fundos novamente, ela percebeu que sua irmã estava limpando para terminar o dia.

— Não se preocupe, — disse Beatrice. — Vou ver o que vem. Conte-me mais sobre Lady Madeleine, enquanto esfrego essas panelas.

— Se devo. Ela usava um vestido do tom claro de azul...

— Assim, frio e desagradável? — Beatrice perguntou maliciosamente.

— Mais como angelical e deslumbrante. Seu cabelo estava penteado como uma coroa dourada de tranças. Ela tinha olhos extraordinariamente azuis, a pele mais clara e um adorável tom de rosa nos lábios...

— Artifício e maquiagem, — interrompeu Beatrice.

Ignorando-a, Amity acrescentou:

— Ela tinha uma voz suave. Não a ouvi falar muito, para dizer a verdade, então não saberia te dizer se ela era inteligente, mas o Duque de Pelham estava embevecido em todas as suas palavras. Como deveria, — ela acrescentou rapidamente.

Beatrice arqueou uma sobrancelha para ela.

— Por que você diz isso?

Amity encolheu os ombros.

— Não há razão.

Mas sua irmã do meio era como um cão de caça na caçada.

— Conte-me. Aconteceu alguma coisa. Eu posso ler no seu rosto. Vamos lá, você está morrendo de vontade.

Era verdade. Ela estava desesperada para contar a alguém, de preferência sua irmã atenciosa, e obter sua opinião.

— Tudo bem, eu vou te dizer. O Duque de Pelham me beijou.

 

Capítulo Onze


Assim que Henry disse a Waverly, ele se arrependeu. Seu amigo prometeu discrição, mas ainda assim, a reputação de uma mulher estava em jogo, assim como sua própria felicidade futura. Waverly levantou uma sobrancelha perspicaz, mas parecia compreensivo.

— Você não é o primeiro a ser tentado pelos encantos de uma mulher comum, calorosa e disposta. Afinal, elas estão bem no nosso meio, e tão prontamente disponíveis, infinitamente mais do que nossas nobres ladies que devem manter os lábios e as pernas firmemente fechadas até depois do casamento.

Henry franziu o cenho para o amigo, tomou um gole de conhaque e tentou discernir qualquer verdade de seu palavrório incoerente. Ele não podia creditar nenhum conselho que chamasse Amity de comum. Além disso, como uma lady nobre, ela tinha tantas razões para manter os lábios e as pernas fechadas. Por que qualquer um deles supõe que as mulheres da classe média não devem guardar sua reputação tão ferozmente quanto Lady Madeleine ou a irmã de Henry?

— Besteiras, — Henry disse finalmente. — A Senhorita Rare-Foure merece exatamente a mesma cortesia que qualquer lady da nobreza, e não pode ser mais livre com sua pessoa se desejar obter um marido. Além disso, ela já tem um homem em mente para essa posição.

— Então por que ela deixou você beijá-la? — Waverly começou. — Vou te dizer o porquê. Porque, como em todas as mulheres ao redor de qualquer homem que acham elegível, sua Senhorita Rare-Foure pensou que comum beijo, você seria fisgado como uma truta na linha dela. Essa é a única razão pela qual as mulheres nos deixam beijá-las nos bailes e festas, não importa o mais secreta e apressadamente que devamos fazê-lo no canto escuro de um jardim úmido e miserável.

Waverly parecia um pouco amargo. Henry se perguntou quem teria azedado seu humor, mas seu amigo ainda não havia terminado de defender sua teoria.

— Mesmo que ela já tenha um pretendente, como você diz, sua fabricante de chocolate não se importou em beijar um duque na esperança de convencê-lo a se casar com ela. Todas querem algo semelhante, eu lhe digo: um homem da nobreza, desde que tenha uma boa fortuna a acompanhá-lo.

— Tão cínico, — Henry observou. — O problema é que ela realmente não me beijou. Eu a surpreendi com uma manobra apressada da qual o próprio Wellington teria orgulho.

Waverly assentiu.

— Ela se afastou?

— Ela não podia. Eu a prendi entre mim e sua bancada coberta de chocolate.

Seu amigo levantou o copo em saudação.

— Bem feito. Mas depois, ela chorou, deu um tapa em você, fez um barulho ou, de alguma forma, protestou?

Henry balançou a cabeça.

— Saí com muita pressa e não lhe dei oportunidade. Foi uma incursão rápida, seguida de um recuo ainda mais rápido.

Waverly riu.

— Então, meu amigo, não sei o que lhe dizer. Suponho que você saberá se a irritou, e arruinou suas chances de ter os melhores chocolates de Londres na festa de sua proposta, retornando à cena do seu ataque frontal. Ou ela faz olhos de corça para você e espera que peça a mão dela depois de sua impudência precipitada, ou será fiel ao pretendente e lhe dará uma bronca.

Henry achou mais provável que fosse o último. Ele não podia imaginar Amity fazendo olhos de corça ou usando suas artimanhas femininas para atraí-lo e aprisioná-lo. Sentindo vergonha, voltar para a Rare Confectionery parecia um pouco embaraçoso, embora necessário.

— Suponho que devo voltar e pedir desculpas.

— Exatamente. Mas se ela começar a gritar sobre sua tentativa de arruiná-la, você deve negar que alguma vez a beijou. Caso contrário, você pode se ver casado com ela e talvez trabalhando na loja. — Waverly riu com suas próprias palavras. — Vestindo um avental, — acrescentou e riu ainda mais.

Henry lembrou que Amity havia lhe oferecido um e se sentiu um pouco inquieto com a ideia. Terminou seu conhaque. Já havia enviado uma missiva para a casa dos pais de Lady Madeleine. Ele pretendia beijá-la antes que o sol se pusesse.

Não era o jantar mais fácil, com Charlotte sendo mal-humorada, porque não estavam em uma das melhores casas da cidade de Mayfair, e com a expressão de olhos arregalados de descrença total de Beatrice toda vez que olhava para Amity. A conversa durante o chá na confeitaria havia sido interrompida pelos clientes finais antes de fecharem. Ainda assim, sua irmã agora conhecia a inacreditável indiscrição, com sua única pergunta:

— Você gostou?

Quanto mais Amity olhava para Jeremy do outro lado da mesa da sala de jantar, mais ela pensava que deveria confessar.

Ela havia feito algo que consideraria impossível se perguntado, uma ação totalmente fora do personagem. Mais do que isso, estava flagrantemente errado e lhe causava emoções dolorosas sem fim. Ela não era mais uma jovem mantendo-se pura por seu namorado. É verdade que ela não convidara para o beijo, nem afastara o duque, ou até protestara. Ela lembrou de mover a boca contra a dele e sentir prazer.

Não foi o beijo em si, mas o fato de ter gostado tanto que a incomodou. Certamente isso significava que ela era depravada e não confiável. E se outro homem tentasse beijá-la depois que ela se casasse, e ela não apenas deixasse, mas gostasse?

Depois do jantar, na sala, atormentada por seus pensamentos, Amity se levantou de repente, fazendo cessar toda a conversa. Até Delia, sua criada, vacilou no meio do caminho enquanto carregava uma bandeja com uma garrafa de vinho e seis copos que sacudiram até que ela retomou seu dever e os colocou na mesa baixa entre os sofás.

— Jeremy, posso falar com você em particular? — Amity mal olhou para os pais em busca de permissão, uma vez que eles já o haviam acolhido em sua família e confiavam que ambos respeitariam um ao outro e os limites do decoro. Eles se sentaram sozinhos na sala de estar em inúmeras ocasiões e até montaram sozinhos uma ou duas vezes na carruagem de Jeremy.

— Talvez possamos entrar no escritório de meu pai, — sugeriu ela.

— Sim — exclamou Beatrice, pulando de pé, — mas você pode esperar alguns minutos? — Ela acrescentou, falando com Jeremy. — Eu tenho algo crucial para contar a Amity sobre... sobre o chocolate dela.

Sem esperar para ouvir como essa declaração terminava, Beatrice agarrou o braço de Amity e a puxou da sala.

Assim que eles estavam do outro lado da porta fechada da sala, Amity sussurrou:

— Isso parece ridículo!

Beatrice sussurrou de volta:

— O que está fazendo?

Amity sabia o que ela queria dizer.

— Vou contar a verdade ao Sr. Cole. — Eles se moveram mais ao longo do corredor para que suas vozes não fossem ouvidas. — Eu não posso viver com esse sentimento horrível de traição.

Beatrice revirou os olhos e, com as mãos nos quadris, perguntou:

— Que resultado você pode esperar? Você machucará o Sr. Cole e possivelmente o perderá. Deseja que alguma dessas coisas ocorra?

— Não, claro que não.

— Então não conte a ele. Foi um único beijo...

— Mas voltarei a ver o duque quando ele vier à loja pelos seus chocolates.

— Não se preocupe com os malditos chocolates dele, — Beatrice se irritou. — Vou levá-los para a casa dele assim que você terminar. Você deve manter distância, caso...

— Caso ele tente me beijar de novo?

— Só então.

— Mas eu gostei, — insistiu Amity.

— Bem, quem não gostaria? Mas isso significa que você deve jogar fora seu futuro? Ao contrário de mim, você tem um homem bom e educado que ama você, e ele também é agradável aos olhos. Não afaste o Sr. Cole, enchendo a cabeça de dúvidas sobre sua fidelidade quando nada mais acontecerá a esse respeito.

— É exatamente isso, — disse Amity. — Como posso ter certeza?

Beatrice pareceu chocada.

— O que você está dizendo? Conheço você. Você não pretendia isso, e, uma vez envolvida, nunca deixaria isso acontecer novamente.

Amity parecia chorar.

— Eu já beijei o Sr. Cole antes, — ela admitiu.

— Como esperado, — disse Beatrice. — Que tola se comprometeria a vida inteira com um homem sem beijá-lo? Por fim, pode ser tão terrível que nunca se deseje fazer isso de novo.

Amity deveria dizer a ela o que a assombrava?

— O beijo com o duque foi... mais... foi de alguma forma.... Oh, querida! Eu não posso nem dizer, parece tão terrível, tão horrível da minha parte compará-los.

Beatrice a abraçou, e Amity não precisou lhe dizer o quanto era melhor, não precisou expressar em palavras como o prazer fluía através dela. Beijar Jeremy era confortável. Agora, parecia que tinha sido como beijar um membro da família, calmo e desinteressante em comparação com o beijo do duque.

E esse pensamento a afastou do abraço de Beatrice. Ela não merecia conforto. Não merecia Jeremy. Ele gostaria que a mulher que beijou sentisse felicidade e prazer. Sua afeição justificava tal resposta e devoção.

— O que devo fazer?

Beatrice passou os polegares sobre as bochechas de Amity, onde algumas lágrimas perdidas caíram.

— Beije o Sr. Cole. Novamente. Agora, — aconselhou a irmã. — Leve-o ao escritório do pai e beije-o. Depois, se você acredita que ele não será suficiente, você pode deixá-lo ir. Mas você deve ter certeza, pois sabe que não terá o duque, e poderá não aparecer outro homem que seja melhor do que o Sr. Cole. Seremos as solteironas Rare-Foure, eu aos dezenove e você aos vinte?

Amity não tinha palavras para responder à sua sábia irmã mais nova.

— Eu vou para o escritório. Você o envia para mim?

Beatrice assentiu.

— Espero estar brindando você e o Senhor Cole até o final da noite. E lembre-se, você não precisa contar a ele. Isso o machucará desnecessariamente.

Assentindo, Amity se virou e entrou no escritório de seu pai, com o coração batendo forte com ansiedade.

Henry ficou surpreso com a facilidade com que ele conseguiu beijar Amity, enquanto Lady Madeleine era como uma enguia escorregadia. Era impossível pegá-la sozinha e absolutamente disposta a deixá-lo a um pé dela quando eram apenas os dois, mesmo com a criada sentada discretamente por perto.

Ele a invocou sem aviso prévio e até mesmo deu um jeito de arranjar um convite para o jantar, pois provavelmente não podiam recusar um duque aparecendo perto da hora do jantar. Ele esperava se familiarizar mais com ela e com seus pais. A conversa enquanto jantavam, no entanto, foi pouco inspiradora. Sua mãe, uma mulher atraente, permaneceu em silêncio principalmente enquanto mantinha um sorriso apaixonado no rosto e o olhava como se ela fosse a pessoa com quem ele poderia se casar.

O pai dela, Lorde Brayson, era agradável o suficiente, se alguém gostasse de um homem que pretendesse mencionar todas as conquistas possíveis que já tivera, ou todos os tipos de riqueza que acumulara. Henry se perguntou qual seria o motivo de se vangloriar quando nunca poderia esperar igualar o prestígio de um duque, nem deveria tentar.

Francamente, Henry achou isso um pouco vulgar.

No entanto, ele poderia ignorar as falhas de ambos os pais pelo bem de Madeleine. Ela estava encantadora durante o prato e contou uma história espirituosa, embora ensaiada, com o assado. Foi depois, quando estavam entrando na sala de estar, que ele percebeu o quão impessoal era cada frase que ela pronunciava. Ela poderia estar em qualquer baile ou festa falando com alguém, não com o homem que poderia significar algo especial para ela.

Henry decidiu pegar o touro... ou melhor, a vaca por... bem, não por nada.

— Conte-me sobre sua infância, Lady Madeleine. Você passou a maior parte do tempo no campo ou na cidade?

Madeleine sorriu e olhou para o pai para responder. Henry suspirou e deixou o conde revelar os muitos acres que possuíam na casa de campo e o número de cavalos. No entanto, quando ele começou a dar conta de seu gado, Henry interrompeu.

— Rebanho! — Ele riu como se o pai dela quisesse que fosse uma piada. — Certamente, sua filha e esposa não têm interesse em discutirmos seus porcos. — Henry certamente também não tinha um pingo de interesse. Ele queria perguntar a Madeleine se ela era uma criança solitária, mas pode ter havido irmãos que morreram e, portanto, ele não conseguiu abordar um assunto tão sensível.

Por um momento, ele não conseguiu pensar no que queria saber sobre ela, apesar de ter tudo a aprender. Ela permanecia, abominavelmente, uma estranha. Mais uma vez, ele se virou para ela.

— Você teve um livro favorito na infância, Lady Madeleine? Você gosta de ler? — Ele não pôde deixar de pensar na recontagem animada de Amity da cartilha da sra. Lovechild, algo que praticamente toda criança britânica tinha em seu berçário.

O rosto adorável de Madeleine permaneceu calmo. Ela ignorou a primeira pergunta e respondeu a segunda:

— Atualmente, gosto de algumas revistas. Não leio os jornais porque há muita ofensividade.

— Demais, — sua mãe murmurou.

Henry não pôde deixar de notar que Madeleine não fez uma pergunta em troca. Isso o deixou seguir em frente. Ele já sabia da antipatia de Madeleine por pequenos animais domesticados, bem como laranjas, passas e agora jornais, mas tudo o mais ainda era um mistério.

Batendo os dedos na coxa, ele percebeu que os três Braysons estavam olhando para ele com um meio sorriso educado no rosto.

— Você viajou muito para o exterior? — Henry esteve três vezes no continente e desejava ver muito mais. Ele adorava passear pelas ruas de Paris e descobrir cafés com cada parisiense tentando superar o próximo com a xícara de café perfeita.

Lady Madeleine fez uma careta de antipatia.

— Eu não sei nadar, — disse ela.

— Não, — sua mãe murmurou.

Henry ficou confuso. O que diabos a natação tinha a ver com isso?

— Existem balsas, — ressaltou, sem querer parecer rude. Ela estava com a impressão de que teria que nadar no Canal da Mancha?

— Eu sei que existem balsas, — Madeleine retrucou, fazendo sua mãe ofegar de aflição pelo tom descortês da filha. A jovem respirou fundo e suavizou sua expressão. — Esses barcos estão na água, não estão, Vossa Graça? Se algo acontecesse, eu afundaria no canal.

— Afundaria, — sua mãe ecoou.

— Se eu tivesse um pouco mais de dinheiro, — disse o conde, — construiria uma ponte para você, querida menina, de Dover a Calais. — Essa declaração ridícula foi recebida com sorrisos de ambas as mulheres, como se fosse uma possibilidade distinta.

Henry supôs que ele sempre poderia viajar sozinho quando quisesse ou com um de seus companheiros.

— E na Grã-Bretanha? A Irlanda está fora de questão, com o mar entre nós, mas você já viu os pontos turísticos da Escócia e do País de Gales ou, talvez, a costa da Cornualha?

Ela balançou a cabeça.

— Há algumas? Vistas, quero dizer? — Ela deu uma risadinha e seus pais se uniram. — Existe algo maior que Londres e seus arredores, milorde?

Seus pais murmuraram a aprovação de sua resposta.

Henry supôs que era tão bom que ela não tivesse viajado por todo o lado, pois eles podiam fazer isso juntos na lua de mel. Enquanto ele estava em viagens de caça até o norte de John O'Groats, no extremo da Escócia, e navegava ao extremo de Penzance, na costa sul da Cornualha, havia muito no meio que ele não tinha visto e gostaria muito de compartilhar com ela.

Até que ela acrescentou:

— Não desejo fazer isso.

— Não deseja ver sua terra natal? — Ele perguntou, surpreso e incapaz de manter a desaprovação em sua voz. Nesta época de fácil viagem de trem, parecia uma pena não explorar o próprio país.

O pai dela, talvez ouvindo o tom de Henry, sentou-se ereto, correndo até a beira da cadeira.

— Embora ninguém deseje forçar nossa Madeleine a uma morte na água, tenho certeza de que ela ficaria honrada em viajar com o marido pelo campo, pelo menos até a propriedade rural daquele homem, quem quer que ele seja.

Lady Brayson sorriu com esse truque óbvio para fazer Henry se declarar que era o homem que seria o marido de sua filha.

Madeleine apertou os lábios, encarando o pai, depois olhou para Henry.

— Eu iria para a propriedade rural do meu marido, milorde, e feliz em fazê-lo, mas por que experimentar o problema de viajar mais longe quando a grama verde é grama verde em todo lugar?

— Verdade, — disse a mãe, em voz baixa novamente. Seu tom afetado estava começando a dar nos nervos de Henry.

Mais alguns minutos se passaram. Ele estava se sentindo um pouco desesperado por se envolver em algum tipo de discurso significativo.

— Café, — ele deixou escapar. — Você gosta? — Pode não ser significativo, mas era uma parte importante de sua rotina diária.

Madeleine franziu o rosto, parecendo, se possível, ainda mais adorável.

— Não. Acho isso muito forte e terrivelmente desagradável. Nem gosto do seu aroma pungente. É tão estrangeiro, Vossa Graça. Prefiro chá ou até água quente com limão.

— Limão, — sua mãe concordou.

Henry decidiu não apontar o quão estrangeiro era a folha de chá, agora onipresente, ou mesmo o limão outrora exótico. Não há necessidade de pedir por problemas. Além disso, quando casado, ele podia sair para tomar café sempre que quisesse. Ele não precisaria expor sua nova esposa à sua terrível pungência em casa.

Ainda assim, ele se recostou imaginando como alguém não poderia gostar do delicioso cheiro de café. A única coisa que rivalizava era entrar na Rare Confectionery e saborear um cheiro do rico e decadente buquê de chocolate.

Assentindo, por falta de algo melhor para fazer, Henry terminou seu último bocado de porto. Enlouquecido e, de repente, desejando estar em qualquer lugar, em vez de ficar preso na sala de estar dos Braysons, ele percebeu que não precisava ficar mais um instante. Ele era um duque, caramba, e podia ir e vir como quisesse, sem se explicar para ninguém. Poderia até Madeleine se tornar sua duquesa e essas pessoas seus sogros. Então, ele supôs, ele teria que tomar mais cuidado com cortesia. No momento, porém, ele poderia escapar à vontade.

Para esse fim, ele se levantou, fazendo com que o pai dela também se levantasse apressadamente.

Oferecendo um sorriso a todos, esperando que não fosse uma expressão de dor, Henry disse:

— Devo me despedir agora. Mais uma vez, minhas desculpas por não ter sido convidado e minha gratidão pela esplêndida refeição que você me forneceu com tão pouco tempo.

Madeleine levantou-se lentamente e Henry atravessou a distância para pegar sua mão. Nenhum deles usava luvas e, assim, ele podia sentir sua pele macia. Seus dedos estavam bem frios, e ele se perguntou se ela precisava comer mais. Pelo menos ele podia discernir por si mesmo que ela não era de porcelana como ele começara a pensar.

Seus olhos extraordinariamente lindos, um azul frio, se fosse honesto, encaravam os dele e, pela vida dele, ele não conseguia entender seus pensamentos. No entanto, seus belos lábios se curvaram em um sorriso perfeitamente atraente.

Aqueles lábios impecáveis que ele ainda não conseguiu beijar!

— Que bom que você veio, Vossa Graça, — disse Lady Madeleine. — Espero vê-lo novamente em breve.

Realmente esperava? Ele juraria, depois daquela noite, que ela não poderia se importar menos com alguém ou alguma coisa, principalmente se ela nunca estaria na companhia dele novamente.

Quando entrou na carruagem, sabia que era melhor encontrar uma maneira de beijá-la, e logo. Além do mais, era melhor que fosse espetacular para afugentar qualquer desconfiança sobre se ela era realmente a mulher para ele.

Quando ele encostou a cabeça nas almofadas e fechou as pálpebras, foi o rosto de Amity que flutuou em sua imaginação. Um rosto doce e aqueles olhos castanhos profundos, tão quentes e acolhedores. Naturalmente, seu próximo pensamento foi a pressão de seus lábios macios contra os dele. Ele suspirou.

Ela tinha o Sr. Cole, ele lembrou a si mesmo, e ele tinha sua Lady Madeleine. Ou, teria em poucos dias.

Ele balançou a cabeça para tentar entender seus pensamentos. Durante meses, ele não teve dúvida de que queria que a filha do conde fosse sua esposa. Agora, uma única semana conhecendo a chocolatier o fez se questionar. Ela o enfeitiçou com chocolate? Ele ouvira dizer que as criações dela eram mágicas, mas esperava usar o delicioso encantamento delas em outra, não ficar cativado pelo feitiço dela.

O feitiço dela. Amity Rare-Foure era uma mulher difícil de esquecer. Ele deveria tentar beijar Madeleine novamente amanhã, ou deveria voltar para a Rare Confectionery, pedir perdão a Amity por seu comportamento grosseiro e continuar com o plano?

Ambos, ele supôs.

 

Capítulo Doze


O sino tocou meia hora antes de trancar a porta. Amity já tinha limpado, Charlotte havia saído e Beatrice estava terminando bandejas de caramelo nos fundos.

Durante todo o dia, ansiosa, Amity esperava que o Duque de Pelham retornasse. Ele poderia ter passado no dia anterior, quando ela ficou em casa, suas emoções em agitação após uma cena desagradável com Jeremy no escritório de seu pai. Ela precisou de um dia de solidão em seu quarto para se recuperar e aceitar seus sentimentos. E não ousara perguntar às irmãs ou à mãe se o duque havia passado na sua ausência.

Mais uma vez, pela enésima vez naquele dia, ao som familiar, seu estômago se contraiu, e ela ergueu os olhos ao colocar as rosas de marzipan em uma lata para ver seu último cliente. Mais uma vez, sua expectativa ansiosa foi em vão.

Em vez do duque, Lady Madeleine apareceu com sua aparência invejável e impecável, e seu cabelo loiro claro, pendurado em cachos perfeitos sob um chapéu de veludo azul. Seu manto azul e seus olhos azuis claros novamente lembraram Amity de uma boneca. De fato, havia uma de exata semelhança na vitrine de uma loja descendo a rua.

Amity teve que admirar a beleza da jovem e engoliu sua inveja ante tanta graça sem esforço.

Cumprimentando-a com uma ligeira reverência, Amity disse:

— Bom dia, milady.

O olhar da filha do conde analizou a loja, observando as vitrines de vidro e os confeitos dentro delas. Por fim, seu olhar pousou em Amity sem um pingo de reconhecimento e deslizou novamente para descansar sobre os chocolates.

Por um momento, Amity se perguntou se o Duque de Pelham a havia enviado, talvez para provar sabores diferentes, mas rapidamente descartou a ideia. Sua Graça parecia apreciar a ideia de surpreender Lady Madeleine com seu grande gesto.

Pelo menos, ele tinha, antes do beijo. O beijo deles o fez mudar de ideia? Talvez não pretendesse mais voltar para a confeitaria.

— Como posso ajudá-la? — Amity perguntou.

Lady Madeleine se aproximou de uma das vitrines. Só então Amity notou a criada que devia ter vindo para trás e que mantinha o olhar abaixado.

— Experimentei alguns chocolates deste estabelecimento em um jantar. Chocolates em forma de elefante com frutas exóticas no topo de cada um. Gostei do chocolate, mas não da fruta. Talvez fosse uma laranja.

Amity assentiu. Ocorreu-lhe que Lady Madeleine realmente não se lembrava dela da festa, nem sabia que era a chocolatier. O que era mais terrível, o paladar da jovem não havia identificado o abacaxi cristalizado. Lady Peabody ficaria muito infeliz se soubesse que sua fruta cara foi confundida com a laranja muito mais humilde.

— Gostaria de provar algo? Talvez um chocolate de leite?

— Tenho certeza de que não sei, — disse Lady Madeleine, examinando o conteúdo da bandeja. — O que quer que seja muito doce, suponho, não amargo.

Amity pegou suas minúsculas pinças de prata e colocou um pequeno quadrado de chocolate ao leite em um prato do tamanho de um pires de chá. Ela não se importava em dar amostras, pois seus clientes nunca deixavam de comprar doces após a degustação.

— Nós não vendemos chocolate amargo, milady. — E Amity estendeu a oferta.

Lady Madeleine olhou para o prato, os olhos estreitados levemente. Lentamente, ela retirou a luva da mão direita e pegou o pequeno doce. Ela estudou antes de colocá-lo entre os lábios e mordiscá-lo hesitantemente.

Por que o duque parecia tão atraente ao provar chocolate, enquanto Lady Madeleine simplesmente parecia... selvagem?

No instante seguinte, a senhora sorriu, não diretamente para Amity, mas encarando a grande distância por cima do ombro de Amity, aparentemente sorrindo para si mesma.

— Posso dar um pedaço para sua criada? — Amity perguntou, notando o olhar furtivo da garota ao redor da loja, seu olhar rapidamente retornando ao chão de madeira polido e varrido.

Isso chamou a atenção de Lady Madeleine de volta para Amity e limpou o sorriso do rosto.

— Absolutamente não. Que tolice! Ela desenvolveria um gosto por isso, e qual seria o sentido disso?

De fato! Amity pensou. Sem dúvida, essa dama nunca daria a seus servos um pingo de prazer. Disso, ela tinha certeza.

— Mais — ordenou Lady Madeleine, mantendo o tom calmo.

— Quanto você gostaria? — A filha do conde compraria algumas onças ou uma libra?

— Apenas outro quadrado, — ela insistiu.

Aparentemente, a senhora ainda estava provando.

— Do mesmo chocolate? — Amity perguntou.

— Sim. Você é retardada? — Lady Madeleine vociferou. — Me dê outro.

Amity não se importava com suas palavras rudes ou seu tom de voz, mas colocou outro pedaço no prato e a estendeu. Lady Madeleine colocou esse pedaço na boca mais rapidamente do que o anterior.

— Muito bom, — declarou ela.

— Quanto você gostaria de comprar? — Amity perguntou.

— Comprar? — Lady Madeleine repetiu a palavra como se não soubesse.

— Sim, comprar. — Agora quem estava sendo retardada? — Para levar para casa.

— Oh, isso foi suficiente, — disse Lady Madeleine, acenando com a mão em um gesto de despedida. — Obviamente, eu poderia comer mais. Provavelmente, eu poderia comer todos os pedaços da loja inteira se eles fossem tão bons assim, mas então ganharia uma quantidade obscena de peso.

— E se você comesse todos os nossos produtos da confeitaria, não teríamos nada para vender e nossa loja fecharia, — disse Amity, sabendo que seu tom assumira um tom extraordinariamente agudo.

Se controlando e retornando ao tom de sempre alegre de vendedora, ela perguntou:

— Você tem certeza de que não deseja comprar nada para mais tarde? Talvez compartilhar com sua família?

A expressão de Lady Madeleine azedou levemente.

— Você não acha que deve se beneficiar com minha visita sem essa vulgar apelação para que compre também?

— Já basta! — Veio a voz de Beatrice do outro lado da cortina, parecendo irritada.

Antes que Amity pudesse reagir, sua irmã emergiu dos fundos, deslizou pela abertura entre os balcões e parou a um metro de Lady Madeleine.

— Como ninguém do outro lado da porta sabe ou se importa se você está aqui, — apontou Beatrice, — e como temos clientes mais acima de você, não vejo como você comendo nossos confeitos de graça beneficia nossa loja de qualquer forma. Eu acho que alguém como você teria maneiras melhores do que tirar vantagem de nós.

Amity olhou horrorizada por cima do ombro de sua irmã durante esta bronca. Sua franqueza foi a razão pela qual mantiveram Beatrice nos fundos.

Lady Madeleine ficou num tom de rosa adequado. Sua beleza não diminuiu nem um pouco, não importa o tom de sua pele.

— Como você ousa! — A filha do conde respondeu.

Amity gemeu. Essa resposta morna não iria parar Beatrice de forma alguma.

— Eu ouso, — Beatrice continuou, — porque é 1877, não 1477. Nós não somos servos, e você não é o nosso soberano. Isso é um negócio. — Ela gesticulou em torno deles. — Se você não conhece o conceito, criamos um produto muito bom e o vendemos. Em troca, as pessoas nos pagam. E minha irmã é muito gentil em dar amostras para esnobes gananciosos e ingratos como você.

Amity ofegou e bateu a mão na própria boca. Isso não poderia estar acontecendo, não com essa cliente em particular. Se Lady Madeleine contasse ao Duque de Pelham sobre seu tratamento rude nas mãos das lojistas da Rare Confectionery, ele poderia retirar seu pedido.

Era verdade que Lady Madeleine comendo seus doces de graça não os beneficiava. No entanto, ter Sua Graça presenteando uma bandeja de seus produtos de confeitaria para sua amada e pedir que se casasse com ele, enquanto estava presente a melhor flor da sociedade britânica, isso definitivamente aumentaria seus clientes. E essa bênção não deve ser menosprezada.

Infelizmente, Beatrice não havia terminado.

— Você, — disse ela, apontando para a criada que não tinha dito uma palavra, mas cujo olhar havia se levantado do chão com grande espanto assim que os insultos começaram a voar. — Gostaria de provar algo?

A garota empalideceu e olhou para sua senhora, que a encarou com a força da Medusa.

— Não, — gritou a criada, balançando a cabeça com firmeza.

Beatrice suspirou, olhou para Amity e voltou para Lady Madeleine. Então ela se retirou para a cortina com um aceno de cabeça, como se tivesse feito o possível e não pudesse fazer mais.

Separando o veludo, ela murmurou novamente:

— Minha irmã é muito gentil, — antes de desaparecer nos fundos.

O silêncio encobriu a loja como crepe de funeral envolto em um espelho, e Amity trancou o olhar com a fumegante Lady Madeleine.

— Peço desculpas pela minha irmã, — Amity começou a desejar que sua voz não tivesse saído tão tensa e aterrorizada.

— Não peça desculpas em meu nome, — Beatrice gritou da outra sala, absolutamente indiferente ao dano que havia causado.

— Qual é o seu nome? — Lady Madeleine perguntou, gelada.

— Senhorita Rare-Foure.

A senhora levantou uma sobrancelha elegante.

— Entendo. Você não é meramente uma vendedora. Senhorita Rare-Foure, espero que tenha desfrutado do seu sucesso aqui na Bond Street. Se houver algo que possa fazer para que tudo acabe rapidamente, não se engane, eu o farei.

Girando nos calcanhares, Lady Madeleine não esperou que a criada abrisse a porta. Ela puxou a maçaneta com tanta força que a campainha tocou violentamente por muitos segundos depois que ela saiu da loja.

A criada arregalou os olhos para Amity, e então, contra todas as probabilidades, ela sorriu e seguiu sua senhora pela calçada.

Amity desejou poder ter dado um chocolate à garota. Ela também desejou poder enfiar um pano na boca de Beatrice para impedi-la de dizer coisas tão terríveis.

Abrindo a cortina, encontrou a irmã do meio sentada em um banquinho, mexendo seu famoso caramelo quente de melaço, totalmente despreocupada.

— Você está louca? Você sabe o que fez?

Beatrice deu de ombros.

— Mandei uma pavoa arrogante embora e, espero, coloquei-a no lugar dela.

— Não, você não a colocou no lugar dela. Você criou uma inimiga entre a alta sociedade, o escalão mais alto de nossa clientela. Você pode ter nos destruído.

Beatrice hesitou, mas começou a mexer novamente.

— Não seja melodramática.

— Essa não era simplesmente qualquer pavoa arrogante, — protestou Amity. — Era Lady Madeleine Brayson, a querida de toda Londres. O crème de la crème se apoia em todas as suas palavras. Se ela disser às pessoas em um salão ou festa que a Rare Confectionery não deve ser patrocinada, elas ouvirão. Sei que temos clientes de todas as classes, mas a maioria da renda, os maiores gastadores, se você preferir, vem de um raio de um quilômetro e meio de Mayfair.

Ela fez uma pausa para respirar, mas não pôde deixar de continuar suas primeiras palavras duras destinadas a Beatrice por anos.

— Você percebe que mais da metade das casas que nos rodeiam pertencem à nobreza? Cerca de cento e vinte deles, de fato! E todos estão apaixonados pela jovem que você acabou de insultar. Em uma palavra, irmã, podemos estar perdidas.

Beatrice permaneceu em silêncio por um longo momento antes de murmurar:

— São três palavras.

— Argh! — Amity gritou, depois se virou e foi direto para o chocolate na vitrine, pegando um dos chocolates de noz e mastigáveis de “força” que Lorde Pelham tinha preferido. Ela o devorou rapidamente.

O duque! O chamaria assim que o horário de visitas começasse às onze horas do dia seguinte. A menos que Lady Madeleine o visse naquela mesma noite, Amity esperava chegar até ele primeiro. Ela imploraria para que convencesse a dama a perdoar ela e Beatrice e não arruinar a Rare Confectionery.

E ela definitivamente levaria mais chocolates para ele experimentar. Ela ficaria acordada a noite toda, se precisasse, elaborando os melhores confeitos que pudesse pensar para aquela megera irritante que o duque desejava.

— Toda essa beleza externa é desperdiçada com ela, — Beatrice falou. — Venha provar este lote de caramelo e veja o que você acha? Eu adicionei algo especial.

Amity revirou os olhos. Ela não podia ficar brava com a irmã, que não quis fazer mal, mas chamou as coisas pelo nome... e para o diabo com as consequências.

Na manhã seguinte, dez minutos para as onze, Amity estava na calçada em frente à mansão magnificamente decorada do Duque de Pelham. Nem um arbusto estava fora de lugar. Localizada na principal área da St. James Place, a casa do duque era intimidadora. Ao lado ficava a Spencer House, e ela passou pela Devonshire House para chegar lá. Em todos os lugares havia duques e condes, parecia. Amity não conseguia acreditar que ela iria bater na porta com uma lata de chocolates como seu aliado.

Para esse fim, ela tinha uma oferta separada para quem abriu a porta, provavelmente um mordomo. Como era de se esperar, um sujeito alto e imponente, que parecia ser tão aristocrático quanto qualquer um que ele pudesse servir, olhou para ela e olhou para Delia, sua criada doméstica, a quem ela tinha trazido como acompanhante.

— Estou aqui para ver o Duque de Pelham, — ela começou imediatamente, esperando que todas as suas palavras fossem coerentes. — Devemos discutir sobre o doce surpresa para o seu próximo jantar. Meu nome é Senhorita Rare-Foure. Aqui está o meu cartão. E aqui, se me permite, há um pequeno presente dos meus chocolates.

Ela enfiou nas mãos dele um de seus pequenos sacos com um selo azul do nome da loja.

O mordomo pegou, mas olhou para o saco de papel branco como se cheirasse mal ou explodisse. De qualquer maneira, ele não ficou impressionado.

— Você tem um compromisso? — Ele perguntou.

Porcaria! O homem já sabia que ela não tinha compromisso nem convite, pois qualquer mordomo que se preze conhecia a programação de sua casa.

— Não. — Ela fez uma pausa. — Sua senhoria esteve recentemente em minha loja e pretendia voltar lá em breve, talvez até hoje. Estou criando um novo confeito de chocolate para ele. Portanto, estou aqui para... acelerar o processo.

Entregando a Delia a lata de chocolates atrás dela, Amity pegou o saco de papel que o mordomo continuava segurando no comprimento do braço. Abrindo para ele, ela a ergueu sob o nariz comprido e aquilino. Ele cheirou. Seu rosto permaneceu totalmente inexpressivo. No entanto, seus olhos se arregalaram um pouco. Então ele piscou e olhou para o conteúdo.

— Você gostaria de experimentar um? — Ela perguntou. Quem resistiria depois de sentir o delicioso aroma do chocolate?

Lentamente, ele pegou o saco dela novamente e o inclinou de lado. Um quadrado de chocolate deslizou sobre a palma da mão com luvas brancas. Esfiou o saco com o chocolate restante em um bolso escondido da libré e pegou o quadrado, colocando-a na boca sem preâmbulos.

Amity viu sua expressão relaxar quando ele fechou os olhos brevemente. Ele engoliu em seco antes que suas pálpebras se abrissem novamente.

— Por aqui, senhorita.

Recuando, ele permitiu sua entrada, seguido por sua criada. Fechando a porta, ele atravessou a entrada espaçosa e subiu as escadas. Aparentemente, a sala de sua senhoria estava no segundo nível.

Tentando não parecer caipira, ela olhou para a esplêndida decoração, olhando disfarçadamente para o enorme lustre do hall de entrada. Quando a mão enluvada deslizou pelo corrimão polido, seus pés afundaram nas escadas acarpetadas. Ela não pôde deixar de olhar de soslaio para trocar um olhar de admiração com Delia.

No patamar, o mordomo entrou na primeira sala à esquerda, um salão amplo, com papel de parede vermelho e um tapete oriental. Os vários assentos ao redor da sala estavam cheios de almofadas. Parecia ser um lugar muito agradável para encontros e conversas.

Infelizmente, o interior de Amity estava tremendo, e ela temia vomitar no tapete de luxo se essa discussão não fosse bem.

— Por favor, espere aqui, senhorita. Vou ver se Vossa Graça está disponível para se encontrar com você.

— Obrigada. — Ela não podia imaginar que estaria ali, maravilhada com a grande lareira, a enorme pintura acima dela ou a graciosa estátua no canto, se ela não tivesse subornado a ajuda com chocolate.

Às vezes, se assombrava com o poderoso intoxicante à sua disposição. Certamente não se obteve essa resposta de uma barra cremosa da Fry comum. Ela se virou para a criada.

— Não acredito que conseguimos chegar tão longe.

— Você é uma chocolatier habilidosa, senhorita. Não há razão para que o duque não caia aos seus pés com o primeiro gosto.

Isso não era exatamente o que Amity esperava, mas isso a fortaleceu. Delia era uma alma gentil em sua meia-idade, que ajudara a família Rare-Foure por uma década. Depois de absorver tudo, sua criada devolveu-lhe a lata de chocolates e caminhou até o final da sala, onde se sentou em poltrona de aparência confortável. Ela acenou para Amity antes de tirar uma revista do bolso do casaco, colocar os óculos no nariz e começar a ler.

Depois de alguns minutos, o Duque de Pelham entrou na sala. Seu estômago revirou ao vê-lo, sem chapéu ou luvas e com roupas mais informais do que ela já o vira usar. Mesmo depois que seu interior se acalmou, seu batimento cardíaco continuou acelerarado. Ele era muito atraente, e a reação dela ainda lhe causou uma tremenda sensação de culpa. Ele não era dela para admirar e nunca seria.

Amity abaixou-se em uma profunda reverência.

— Por favor, não faça isso. Eu não mereço, — disse o duque. — Fui à sua loja há dois dias para falar com você, mas você não estava lá. — Ele passou a mão pelos cabelos, e ela percebeu que seu desalinho não era simplesmente porque a visita dela era inesperada, mas porque ele estava com alguma angústia.

— Eu tenho me repreendido com mais força do que você ou seu pai, se fosse o caso, jamais poderia. Eu me comportei terrivelmente.

Ela ficou surpresa, pois, enquanto se debatia com sua própria culpa por ter desfrutado do beijo dele, quase se esquecera de quão desrespeitosas eram suas ações. Foi realmente culpa dele. No entanto, à luz da ameaça de Lady Madeleine, ela mal podia poupar um pensamento a qualquer outra coisa.

— Além disso, Senhorita Rare-Foure — acrescentou o duque, — eu sei por que você veio.

 

Capítulo Treze


Tinha Lady Madeleine batido na elegante porta do Duque de Pelham?

Amity estava preparada para confessar a grosseria de sua irmã, mas talvez não houvesse necessidade.

— Acho que você não sabe por que estou aqui — disse ela, depois esperou para ver se ele mencionava a filha do conde.

— Espero que você queira um pedido de desculpas, e só por seu desejo de discrição, não pediu ao seu pai para vir exigir um, que seria função dele. De bom grado, Senhorita Rare-Foure, lamento profundamente e espero que você me perdoe.

Ela olhou para Delia, cujo olhar permaneceu fixo em sua revista, sabendo que sua criada provavelmente se perguntaria por que Sua Graça estava se desculpando. Como Amity desejou que tivesse sido a causa de sua visita.

— Eu te perdoo milorde, — assegurou ela, desejando poder perguntar-lhe por que fez isso e o que o beijo significou. No entanto, homens e mulheres não tinham essa conversa, não quando não tinham um entendimento prévio.

Mesmo quando o tinham, essas discussões eram muitas vezes cheias de emoção e confusão. Amity havia passado o dia inteiro ponderando seu difícil encontro com Jeremy no escritório de seu pai na noite do beijo do duque. No final, ela seguiu o conselho de Bea e pediu que ele a beijasse. Apesar de Jeremy fazê-lo com entusiasmo, Amity se sentiu estranhamente indiferente. Ele sentiu isso também. E com ele já parecendo ferido, ela decidiu não aliviar sua própria consciência confessando o beijo do duque e machucando ainda mais o namorado. Em vez disso, ela sugeriu que eles pensassem um pouco sobre sua estreita relação, o que o machucara de qualquer maneira.

Balançando a cabeça desses pensamentos dolorosos, Amity respirou fundo e mergulhou à frente.

— Não vim aqui pelas desculpas, milorde. Vim oferecer as minhas.

O duque parecia atordoado.

— Cara Senhorita Rare-Foure, embora seu sorriso e sua natureza doce me tenham atraído para o meu comportamento imprudente, você dificilmente pode assumir a culpa.

Oh céus!

— Não, eu não.

Ele sorriu ante a franqueza dela, e o interior dela derreteu com... carinho por ele.

— Eu gostaria que fosse apenas isso, — ela confessou. Desde o desastre do dia anterior com Lady Madeleine, Amity imaginara que na noite da proposta do duque, como sua amada poderia derrubar a bandeja de chocolates de lado, em vez de aceitar um doce da Rare Confectionery. E pior, ela denunciaria publicamente a loja na frente de seus convidados endinheirados.

— Você parece perturbada, — disse ele. — Você vai se sentar e me dizer o que a está incomodando e por que você sente, ainda que desnecessário, a necessidade de pedir desculpas a mim?

Amity esperava conseguir sua ajuda para suavizar as coisas com sua futura noiva. Para esse fim, no final da noite anterior, ela havia tentado algo novo e impressionante. Infelizmente, sua criatividade na criação de um Brayson quase secou depois de conhecer a famosa Lady Madeleine. Como ela poderia honrar uma mulher tão difícil?

Beatrice ficou com ela, mas tudo o que Amity havia lhe dado para provar foi recebido com um encolher de ombros não impressionado ou um estremecimento total. Nada fez sua irmã bater nos lábios e pedir mais. Então Amity criou um último chocolate.

— Trouxe mais algumas amostras. Eu tenho uma lata.

Ela estendeu para ele, sentindo-se tola. Eu tenho uma lata... ela revirou os olhos com sua própria idiotice, mas sua ansiedade por como essa conversa poderia terminar estava tirando o melhor dela.

— Muito atencioso da sua parte, Senhorita Rare-Foure. Sim, posso ver que você tem uma lata.

Ainda assim, o duque não a pegou. Em vez disso, ele fez um gesto para ela se sentar e, quando o fez, sentou-se em frente no outro sofá.

— Milorde, seria mais fácil se você sentasse ao meu lado. A menos que você pretenda abrir bem a boca e me deixar jogar os chocolates daqui. — Agora, ela estava simplesmente sendo familiar demais, alguns podem dizer insolente. Seu nervosismo estava fazendo-a agir estranhamente. Ela prendeu a respiração.

Felizmente, o duque sorriu e trocou de assento, então ele estava a poucos centímetros dela no mesmo sofá. Os dois olharam por cima dos ombros para Delia, que continuava absorvida em sua leitura.

— Certo, Senhorita Rare-Foure, o que você trouxe para mim? Devo dizer que estava ansioso para visitar sua loja novamente. Você me converteu aos prazeres do grão de cacau, e o aroma que recebe alguém que entra na sua loja é quase tão bom quanto o sabor.

Amity abriu a lata. Estava quase totalmente cheio de mentiras! Exceto por um, estes eram chocolates que já vendiam em suas prateleiras, mas que ela esperava que ele ainda não tivesse provado. Ela sabia que eram deliciosos. E quando estivesse saciado por seus doces, podia abordar o assunto do infeliz incidente.

Tendo arranjado os chocolates em duas camadas separadas por uma fina chapa de estanho. Amity ergueu o prato pela engenhosa alça e o colocou sobre a mesa. Agora, o duque podia ver todos os doze chocolates.

— Arre! Como você pode ter criado tantos tão rapidamente? Não posso comer todos eles. Você vai me ajudar?

Ele tinha uma luz diabólica em seus olhos verdes.

— Se eu comê-los, isso não fará nenhum bem, — disse ela, incapaz de desviar o olhar dele. Ele sabia como seus olhos eram magníficos? — Você deve prová-los, não eu.

— Talvez possamos dividir alguns deles, — sugeriu.

Ele alcançou o mais próximo, um retângulo com cerca de um centímetro de altura e cinco de comprimento e o mordeu, deixando um pouco menos da metade entre os dedos. Fechando os olhos, ele mastigou devagar e engoliu.

— Tem sabor de alcaçuz, não é? — Ele comentou. Antes que ela pudesse responder, ele estendeu o resto para ela.

Ele estava esperando que comesse de seus dedos? Aparentemente sim.

— Depressa, — disse ele, — está derretendo.

Inclinando-se para frente, ela encostou os lábios no chocolate, tentando tomá-lo sem encostar a boca nos dedos dele, e também sem deixá-lo cair na perna da calça ou, pior ainda, na almofada do sofá.

Quando conseguiu essa façanha, teve que lamber o chocolate do lábio inferior e notou o olhar dele disparar para sua boca. Ela provavelmente estava uma bagunça.

— Sim, — ela disse. — Quero dizer, não, não realmente alcaçuz. Isso é anis, que é muito parecido. Você gosta?

Ele encolheu os ombros.

— Não particularmente. Também não gosto de bolos de alcaçuz, mesmo que algumas pessoas digam que o alcaçuz é bom para a digestão.

Oh céus! Não é um bom começo.

— Por que você não escolhe o próximo? — Ele sugeriu.

Ninguém resistiu à mistura de chocolate simples e de leite que ela endureceu com o doce chocolate ao leite em um desenho de redemoinho. Não tinha sabores adicionais, mas os dois chocolates que se depositavam na língua simultaneamente eram uma delícia. Pelo menos, ela pensava assim.

— Você primeiro, — disse ele quando ela estendeu para ele.

Depois de morder a borda, ela estendeu para ele, esperando que ele a deixasse colocá-lo na palma da mão. Ele não fez. A próxima coisa que ela soube foi que uma das mãos dele apertou seu pulso, guiando as pontas dos dedos até a boca dele.

Gracioso! Seus dedos estavam contra os lábios do Duque de Pelham!

Seu estômago decidiu comemorar a sensação estranhamente emocionante com uma agradável queda.

— Hum, — ele disse. — Aquele de que eu gosto muito, mas pensei que já tínhamos decidido o chocolate simples na forma de uma flor. Isso, no entanto, tem possibilidades. Você seria capaz de fazer o turbilhão de leite na forma de um M ou um B?

Amity se endireitou, pois, sua sugestão era brilhante. Quão fácil!

— Sim, e em vez de criar um novo confeito, poderia transformar qualquer coisa que você quiser na forma da inicial dela.

— Não, não, — disse ele, olhando para a lata na camada inferior. — Isso seria trapaça.

A lata inteira era trapaça, então ele poderia desistir de prová-los. Excepto um. Ela procurou até encontrá-lo. Este foi o último chocolate que ela fez na noite anterior e nem sequer provou. Beatrice se declarara incapaz de mordiscar outro, e Amity estivera muito cheia ou, talvez, muito triste, para comê-lo. Agora, ela temia que fosse sem graça e talvez excessivamente doce.

Entregando um simples disco de chocolate para ele, ela disse:

— Você primeiro, milorde, e se gostar, farei em forma de flor.

Mordendo ao meio, uma expressão estranha apareceu em seu rosto quando os sabores derreteram em sua língua. Ele franziu a testa e ela se desanimou.

— É diferente de tudo que já provei, — ele admitiu.

Amity teve um choque de esperança. Isso foi um começo, a menos que quisesse dizer diferente de um jeito ruim.

Ele cheirou o pedaço restante.

— Os aromas são florais e algo quente também.

— Você gosta? — Ela perguntou, e então ela alterou suas palavras. — Não, você ama isso?

— Eu não amo isso.

A confiança de Amity despencou até que ele acrescentou:

— Mas não preciso. Lady Madeleine precisa. É doce o suficiente e tem algo que, de fato, me faz pensar nela.

— Lavanda, — ela sussurrou, pois, a fragrância da jovem permaneceu na loja depois que ela saiu, um pouco pesada demais para o gosto de Amity.

— Sim, — ele exclamou, parecendo chocado. — Essa é a fragrância dela.

— Há algo mais, — acrescentou ela, imaginando se ele poderia adivinhar.

— O chocolate é muito doce, que sei que ela vai adorar, e há algo rico nisso, além do floral.

— Você deseja adivinhar ou devo lhe contar? — Ela perguntou.

— Diga-me, — ele ordenou.

— Grãos de baunilha.

Ele olhou para ela.

— Senhorita Rare-Foure, acho você brilhante.

Ela não pôde deixar de sorrir enquanto a felicidade infundia seu corpo.

— Obrigada, milorde.

— E você gostou? Não, você amou? — Ele perguntou, ecoando suas palavras.

Ela encolheu os ombros.

— Eu não provei.

— O quê? — Ele evidentemente achou isso surpreendente.

— Quero dizer, provei enquanto misturava, mas não o fiz desde que esfriou e endureceu.

— Então você deve. — E ele estendeu o restante do pedaço, bem na frente da boca dela.

Seus olhares travaram.

— Você não acha que deveria comer o resto, — disse ela, — para ter certeza.

— Voltarei à loja e provarei mais, se quiser. Mas tenho certeza. — Ele acenou com a cabeça para o pedaço que segurava, pedindo-lhe para comer.

Separando os lábios, permitiu que ele a colocasse na língua. Um pouco devagar, ele retirou os dedos. Ela fechou os olhos para se concentrar.

Primeiro, o sabor inconfundível do chocolate puro, seguido pela explosão de doçura com infusão de lavanda. Muito agradável. Por fim, a sutil baunilha amadeirada e frutada ficou aparente enquanto ela engolia.

— Há um pouco, — ele começou a dizer, — no lábio inferior.

Os olhos dela se abriram para vê-lo se aproximar, e ela sabia que ele a beijaria, apenas para provar o chocolate novamente. Claro!

Delia tossiu. Aparentemente, sua criada não estava mais enterrada nas páginas magras da revista.

Lorde Pelham recuou rapidamente. Aparentemente, ele havia esquecido a existência de mais alguém na sala.

Ele teve a graça de parecer arrependido antes de sorrir e limpar o lábio dela com o polegar. Surpreendentemente, ele lambeu, fazendo suas entranhas tensionarem.

— Mesmo neste pequeno e pegajoso remanescente, posso provar sua perfeição.

— Perfeição? — Amity ecoou.

— Para Lady Madeleine, sim. Você conseguiu, Senhorita Rare-Foure. Ela vai adorar! Este deve ser o Brayson.

Então, de repente, Amity pensou nos eventos do dia anterior e o feitiço do sucesso foi quebrado. Lembrou por que eles estavam tendo sua adorável reunião. Não para que pudesse compartilhar doces com esse homem sedutor, mas para garantir que sua proposta fosse como planejada.

— Tudo pode ser por nada, milorde. Devo confessar que Lady Madeleine pode não aceitar esse presente se souber que é da minha loja.

— Por que você diria isso? — Ele perguntou, examinando os chocolates, aparentemente com a intenção de comer outro.

— Porque... e sinto muito dizer isso... nós a insultamos ontem, ou melhor, minha irmã, mas posso ter começado.

— Começou o quê? — Ele perguntou antes de colocar outro doce na boca e não parecer nem um pouco preocupado.

— Uma pequena briga. De qualquer forma, não importa como tudo começou, Lady Madeleine ameaçou arruinar a Rare Confectionery, e estou aqui para pedir que você nos ajude.

 

Capítulo Quatorze


Henry olhou para a mulher talentosa ao lado dele, cuja boca bonita estava falando de problemas, não tornando-a menos beijável. Um minuto atrás, ele cedeu à tentação, a loucura momentânea, apenas para ser detido por sua criada.

Graças a Deus! Ele percebeu que a utilidade de um acompanhante era evitar a estupidez.

Mesmo assim, ele faria qualquer coisa para ajudar Amity. Sob nenhuma circunstância ele permitiria que sua maravilhosa loja fosse fechada.

Nem mesmo pelas mãos de Lady Madeleine.

— Como eu disse, pensei que você vinha exigindo um pedido de desculpas, que sinceramente dou a você. Pior ainda, pensei que estivesse aqui para declarar que não seria mais minha chocolatier. Seria muito mais difícil lidar com isso do que qualquer que seja a situação com Lady Madeleine, — ele disse a ela. — Deixe-me pegar algo para beber primeiro, e depois você pode me contar tudo. Você gostaria de chá, suponho.

— Oh, por favor, milorde, não se preocupe.

— Garanto que, ao contrário de você, não vou para a cozinha colocar a chaleira. — Não que ele não gostasse disso nela. Havia algo muito atraente em uma mulher que podia se virar no fogão, o que, naturalmente, ele nunca viu acontecer entre sua própria classe.

Levantando-se para tocar a campainha, ele disse a ela: — Você tem menos de um minuto antes que meu mordomo chegue para perguntar o que queremos.

— Principalmente, bebo chocolate.

— Certamente, não o dia todo, — disse ele.

Ela encolheu os ombros, o que ele entendeu que ela realmente bebia.

— Duvido que tenhamos o chocolate a que você está acostumada.

Ela hesitou, depois parecia estar confessando.

— Se não tiver tempo para raspar e derreter o chocolate no leite, usaria cacau. E você está correto. Sou bastante exigente sobre qual deles bebo. Por exemplo, não vou beber nada como da marca Iceland Moss. — Amity estremeceu de uma maneira que o fez querer rir da extrema seriedade dela com o cacau, mas ele se absteve pelas boas maneiras.

— Nem vou beber da marca Pearl Cocoa, — continuou ela. — Foi adicionada araruta7 para absorver parte do óleo do cacau, que já deveria ter sido extraído. Não vou tocar principalmente nos da Rowntree. Acredito com autoridade confiável que a empresa usou espiões e subterfúgios para aprender segredos dos produtores de cacau superiores como a Cadbury. Claro, há Sloane e Taylor e uma centena de outros fabricantes de pureza variada...

— Senhorita Rare-Foure, — ele a interrompeu.

Aquecida pelo assunto, mal pareceu notar, embora o mordomo dele tivesse chegado para determinar seus desejos.

— Eu sempre preferi a essência de cacau Cadbury, — disse ela, desta vez, dirigindo-se também ao mordomo, como se Giles fosse também um conhecedor de cacau. — É muito puro. Você tem? Ou Cacao Barry? Custa mais, pois é produzido na França a partir de grão africano. Embora suponha que o custo adicional não signifique nada para você, milorde. — Ela mordeu o lábio inferior deliciosamente e depois admitiu: — Eu também gosto de uma caneca de salepo8.

Henry sorriu.

— Estranho você dizer isso. Sei que não é nada remotamente elegante, mas eu também. Ou, pelo menos, gostava. Quando era garoto, tínhamos uma cozinheira que fazia exatamente isso. Ela era muito exigente, como você, quando se tratava de seus sabores. Eu não tomo isso desde que estava usando calças curtas. Na verdade, nem sei do que era feito?

— Raízes das orquídeas. Vou fazer uma xícara para você em algum momento, — Amity prometeu a ele. — Recebo uma lata do pó de salepo turco superior do fornecedor do nosso melhor manjar, que alguns estão começando a chamar de Bocados das Delícias Turcas.

Gostava da ideia de que ela faria algo especial por ele, separado dos negócios dela e nada a ver com Lady Madeleine. Apenas para ele.

— Obrigado.

Ele olhou para ela, e ela olhou de volta, sorrindo. Algo sobre sua chocolatier dificultava a respiração às vezes. Se não se conhecese, diria que estava apaixonado.

— Café, Sr. Giles, para dois, — Henry disse ao mordomo.

Amity levantou uma sobrancelha.

— Por alguma razão, apesar da família de meu pai ser da França, meus pais adoram o chá além de qualquer coisa e, portanto, o café nunca foi um item básico em nossa casa.

— Mas você já tomou? — Seria divertido apresentá-la a algo novo para variar, e não o contrário.

— Sim, tomei, em uma festa. Foi... interessante.

— Você não gostou? — Henry se sentiu um pouco decepcionado. — Estranhamente, algumas vezes, depois que saí de sua loja, fui ao White's, e o gosto de chocolate ainda em minha boca combinava excepcionalmente bem com café.

— Verdadeiramente? — Ela olhou para os chocolates na sua frente. — Estarei mais interessada em provar seu café.

Com a vontade dela de provar, seu bom humor voltou e ele se sentou novamente ao lado dela.

— Pense bem, o White’s começou como um empório de chocolate quente.

— Sim, de fato, — ela concordou. — Mrs. White's Chocolate House. Havia também The Cocoa Tree e Ozinda's, todos aqui em St. James.

— Muito interessante como todas as casas de chocolate do século XVII deram lugar a cafeterias do século XVIII. Ao mesmo tempo, havia literalmente milhares de cafeterias em Londres. Agora, estão reduzidos a alguns clubes de cavalheiros e a uma estranha loja de chá que se digna servir uma bebida amarga e fervida quando serve café. Na França, as cafeterias são superiores. — Ele esperava não parecer um idiota pomposo.

Ela pareceu aceitar a condenação dele pelo café britânico.

— Parece que nós dois gostamos de aprender a história de nossas bebidas preferidas, — disse ela.

Henry riu.

— Estou feliz que você dê outra chance ao café. — Ele ficou surpreso ao descobrir que era importante que ela gostasse. — Suponho que, enquanto esperamos a urna de café, é melhor você me contar o que ocorreu com Lady Madeleine. Espero que tenha sido apenas um mal-entendido.

Amity abaixou a cabeça um pouco, estufou as bochechas e depois soprou o ar, o que Henry achou encantador.

— Eu não acho que entendi mal Lady Madeleine quando ela disse que se houvesse algo que pudesse fazer para dar um fim à Rare Confectionery, ela o faria.

Henry fez uma careta. Isso soou tão apaixonadamente forte para Madeleine que mal podia acreditar nas palavras. Ele nunca a tinha visto trabalhar muito, exceto sua aversão a laranjas e cães. No entanto, ele não duvidava que Amity estivesse dizendo a verdade.

Quando ela respirou fundo e suspirou, ele percebeu que estava olhando para o intrigante inchaço superior de seu seio fino pouco visível no decote de seu vestido. Seu tom de pele cremoso continuava por todo o corpo?

Pior, ela o pegou em sua observação inadequado, pois quando olhou novamente para o rosto dela, ela estava olhando-o diretamente.

Ele tossiu.

— Isso soa tão diferente da lady composta que conheço. Você pode me contar mais?

Relutantemente, Amity deu a ele um resumo do que sua irmã havia dito.

Com dificuldade, Henry se absteve de rir.

— E sua temível irmã disse tudo isso porque você deu a Lady Madeleine algumas amostras. Como sua irmã me trataria se soubesse que eu estive sentado aqui com doze chocolates pelos quais não paguei?

Amity corou.

— Isso é completamente diferente, milorde. Estou tentando suborná-lo para resgatar nossa loja.

Ele não pôde evitar o riso que borbulhou nele e explodiu. Foi especialmente bom quando a própria chocolatier o acompanhou.

— Francamente, — disse ela, — é a primeira vez desde que vi as costas de Lady Madeleine saindo de nossa loja que senti o mínimo de levesa.

— Entendo sua preocupação, mas não vejo como Lady Madeleine pode destruir seus negócios.

Amity abriu a boca para contar como quando o mordomo dele entrou com o serviço de café. Eles interromperam a discussão até ficarem sozinhos novamente. Ou tão sozinhos quanto duas pessoas poderiam estar com uma criada escutando no canto.

Antes de voltarem para o desagrado de Lady Madeleine, Henry não podia negar que estava ansioso para saber se Amity gostava de seu café. Ele sempre comprava os melhores grãos e não deixava o cozinheiro ferver a água por muito tempo.

— Eu tenho uma cafeteira comum da França, — ele disse, — assim como uma de inverter, mas o cozinheiro não gosta tanto de usá-la. Ela diz que é muito “complicado”. Você sabe o tipo que quero dizer?

Sua chocolatier balançou a bela cabeça.

— Ele tem três câmaras de estanho conectadas em uma, para que você possa aquecer a água na parte inferior e, quando ela quase ferve, você a vira, assim. — Com as mãos, ele demonstrou. — Assim, a água passa pelo café na câmara central e desce até o fundo. Mas, como eu disse, o cozinheiro prefere o coador usual.

Ele derramou café nas duas xícaras.

— Gosto com uma colher de açúcar e um pouco de leite. Posso?

— Sim, obrigada, — disse ela. — Vou provar como você quiser.

Henry mexeu para ela e entregou-lhe uma xícara e um pires. Esse ritual do café parecia intensamente íntimo quando os dedos deles se tocavam, e ele ficou satisfeito em compartilhá-lo com sua chocolatier.

Amity olhou para ele por cima da borda enquanto tomava um gole, deixando-o hipnotizado pela profundidade brilhante de seus olhos castanhos.

— Estive no Café Mange Mereds, — ele não pôde deixar de se gabar. — É a cafeteria mais antiga de Paris, e acho que esse é tão bom quanto aqui em minha casa.

Ela fechou os olhos e tomou outro gole, ainda sem dizer nada.

Ele estava praticamente prendendo a respiração para ouvir a opinião dela. Finalmente, suas pálpebras se abriram e ela lhe enviou um sorriso assimétrico, fazendo seu coração apertar dolorosamente.

— É absolutamente delicioso, — afirmou. — Não é amargo ou queimado como o café que eu bebi, nem um pouco arenoso.

— Arenoso? — Ele fez uma careta. — Você deve ter bebido café realmente mal feito.

Ela assentiu.

— Comparado a esse, era lavagem. Esse é de sabor brilhante e suave. Falta-lhe qualquer sabor de planta de chá, que alguns, como meus pais, podem não gostar, mas acho isso diferente. De certa forma, isso me lembra minha amada xícara de chocolate. Talvez com ainda mais leite neste café, seria a diferença entre chocolate comum e chocolate ao leite.

— Existem cafeterias que servem quase todo em leite, — explicou ele, — e um pouco de café muito forte misturado. Servido dessa maneira, é mais espesso e enche você, como uma refeição.

— Gostaria de tentar isso algum dia.

Henry quase disse que a levaria a Paris, porque ali as mulheres tinham muito mais liberdade para se juntar a homens nos bistrôs e cafés. Ele se conteve a tempo. Quando Madeleine fosse sua esposa, se a deixasse em casa deste lado do Canal, dificilmente poderia levar Amity Rare-Foure como companheira de viagem.

— O chocolate, — ela lembrou. — Imagino que quanto mais simples, melhor. — Delicadamente, ela escolheu um e colocou na boca antes de tomar seu próximo gole.

Os olhos dela se arregalaram de alegria.

— Oh, Deus. Isso está além de delicioso. O sabor é em camadas e complexo. — Ela pegou outro chocolate e entregou a ele.

— Receio que todos tenham algum tipo de sabor. Este tem um pouco de avelã moído. Pessoalmente, não gosto de chocolate de avelã ou gianduiotti em forma de chapéu vindo de Turim. Acho que a pasta de avelã que eles adicionam é extremamente forte e muito terrosa. Muitos gostam, suponho.

Henry sabia que tinha uma expressão atordoada. Ele nunca tinha ouvido falar de um giand... giand... o que for que ela tinha dito.

— Não sei nada sobre esses chocolates de avelã, — confessou.

— Talvez você deva provar avelãs na Itália algum dia, — pensou ela, usando seu próprio olhar distante, como se já estivesse passeando por Turim.

Imediatamente, ele pensou como seria bom tê-la ao seu lado se o fizesse. Um segundo depois, ela quebrou o feitiço de um sonho impossível, apontando para o chocolate que ela lhe dera.

Ele comeu e tomou um gole de café.

— Eu adoro isto.

Eles sorriram um para o outro, e ele desejou que pudessem continuar tomando café e comendo chocolates o dia todo.

— Não curamos a cólera nem resolvemos até agora o problema da ruína da Rare Confectionery. No entanto, sinto como se tivéssemos criado algo maravilhoso, — disse ele.

Ela riu.

— Começarei a dizer aos nossos clientes que retirem seus bules e desfrutem de nossos chocolates com uma boa xícara de café.

— E falarei com meu administrador sobre a compra de mais ações de fazendas de café. Mas agora, voltemos às suas preocupações.

Amity assentiu.

— Você deve entender enquanto fazemos publicidade, muito da nossa clientela dependem da boa recomendação de pessoas como você. Por exemplo, se Lorde e Lady Peabody estavam descontentes com os confeitos que levei para a festa deles e a mencionam a outras pessoas, nossos pedidos cairiam. E se os convidados da festa não tivessem gostado, provavelmente teriam contado a alguém sobre a má experiência. Em vez disso, tínhamos quatro pessoas após a festa dos Peabodys entrando e comprando boas quantidades. Cinco, se você contar com Lady Madeleine, mesmo que ela não estivesse lá para comprar.

— Apenas para provar, — disse ele levemente.

— Por favor, entenda, milorde, estou feliz em deixar as pessoas experimentarem nossos doces, — ela apontou para as que estavam espalhadas em sua mesa baixa. — Porque a maioria continua comprando alguma coisa.

— Exceto Lady Madeleine.

Amity ergueu um ombro delicado em indiferença.

— Mesmo se ela tivesse provado e saído, isso teria estado bem.

Henry sentiu-se um pouco envergonhado em nome de Lady Madeleine, embora soubesse que deveria ficar do lado dela e dizer a Amity para melhor refrear a língua da irmã.

— Acho que a senhora disse alguma coisa.

— Não desejo causar problemas e não vejo razão para contar histórias. Devo dizer apenas que ela agiu como filha do conde tal como é, e ao fazê-lo, minha irmã sentiu que estávamos sendo menosprezadas.

Ele assentiu.

— Vou falar com ela e, se for preciso, confesso que tenho uma surpresa que envolve sua loja. Felizmente, isso será suficiente para aplacá-la.

— Por que você não dá a ela o resto desses também? Ela gostou muito do que comeu. E nada disso tem...

— Laranja?

— Precisamente, — disse ela.

— Eu vou vê-la mais tarde, — Henry disse a ela, percebendo que não estava ansioso por isso. Comparado com o quanto ele ria e gostava de conversar com Amity, o contraste provavelmente não seria a favor de Madeleine. — E eu farei um esforço.

A chocolatier deu um suspiro de alívio, fazendo-o sorrir novamente. Então ela levantou-se, o que não o fez tão feliz.

Ele se levantou rapidamente.

Ela fez uma reverência e disse:

— Obrigada, milorde.

Ele não queria constrangê-la, apontando que era incorreto chamá-lo de “milorde” em vez de “Vossa Graça”. Uma parte dele sabia que deveria contar a ela, mas não havia mal no pequeno erro.

— Vou deixar você voltar ao seu dia, — ela terminou enquanto colocava as luvas.

— Senhorita Rare-Foure, pelo contrário, você me fez ganhar o meu dia. Eu te asseguro. — Ele quase mordeu a língua em seu próprio tom babado. Waverly ficaria horrorizado. Amity corou devagar.

— E também agradeço, milorde, por me apresentar um bom café e nossa nova colaboração.

— Talvez eu tenha que manter um suprimento constante de chocolates prontos para comer com o meu café, — ele brincou enquanto ela se movia em direção à porta.

Sua criada se levantou e ficou atrás de sua senhora, e não havia mais nada a dizer. Ele não podia nem dizer a ela que voltaria à loja dela, uma vez que haviam decidido pelo chocolate de lavanda e baunilha.

A menos que...

— Irei esta semana para discutir a quantidade de chocolates para a minha festa. Quero que tudo seja perfeito para a proposta.

Senhorita Rare-Foure tornou-se muito séria.

— Muito bem, milorde. Eu quero que isso seja perfeito para a sua festa. Se não estiver na loja quando você chegar, minha mãe ou minhas irmãs poderão atender seu pedido.

Isso o assustou. Ele pensou que ela iria querer vê-lo novamente, mas talvez ele estivesse sendo arrogante.

— Espero que você esteja lá, — confessou Henry.

Ela fez uma reverência novamente, o que quase o fez rir, exceto que ela parecia tão sombria. E linda. Então se foi.

Apesar de estar inundada de ciúmes pelas palavras de despedida do duque sobre querer que tudo fosse perfeito para seu pedido, Amity sentiu vontade de gritar de alegria quando ela e Delia estavam dentro de sua carruagem.

— Tenho certeza que ele vai ajudar, — declarou ela e recostou-se no banco.

— É claro que vai, — disse Delia, sentando-se ao lado dela. — Ele já está meio apaixonado por você.

— O quê? — Amity sentou-se ereta novamente.

— Simplesmente porque me sento a alguns metros de distância não significa que não posso ver e ouvir claramente.

— Você deveria tentar não fazer isso, — Amity lembrou a ela. — Mas me diga o que você pensou que viu.

— E ouvi, — acrescentou Delia. — Sua Graça tem um jeito simpático nele, mas você acha que é assim com todos? Ele é um duque. Está acostumado a dizer às pessoas o que fazer, e esperar que façam rapidamente. Garanto que não costuma se desculpar, não que eu saiba pelo que estava se desculpando, nem quero saber.

Isso também foi bom, porque não tinha intenção de contar a Delia sobre o beijo.

— Enfim, acho que você está errada, — protestou Amity. — Não consigo imaginá-lo se comportando de maneira diferente com mais ninguém. Eu nunca o vi agir de maneira arrogante. Quando estava comigo na loja, ele era muito 'normal'.

— Ele estava com você na loja. Acho que você está defendendo o meu caso como advogado, — disse Delia. — E na festa em que você e a Senhorita Charlotte foram? Ele não fez o papel de um verdadeiro par do reino quando estava entre os outros pretensiosos?

Amity lembrou como ele estava um pouco mais distante na casa dos Peabodys, e como ele saiu abruptamente sem olhar para trás a nenhum dos convidados, incluindo ela.

— Eu suponho.

Delia estava gostando da discussão.

— Minha querida garota, você pode imaginar o duque servindo café a alguém como se fosse um criado? E mexendo no açúcar e no leite? — Sua criada começou a rir. — Foi inestimável. Ele até limpou o chocolate dos seus lábios como um guardanapo pessoal. — Ela caiu na gargalhada.

— Você reparou muito, — disse Amity, recostando-se. — Da próxima vez, preciso garantir que você tenha mais que um folhetim para manter sua atenção.

— Você e o duque eram muito mais interessantes.

— Delia! — Amity gritou, mas ambas riram de qualquer maneira.


Se o duque gostava mais dela do que era apropriado, não significava nada, pois ele a lembrou que queria que sua proposta a Lady Madeleine fosse conforme o planejado. A carruagem parou em frente à Rare Confectionery.

— Vou lhe dizer uma coisa, Delia, Sua Graça teve uma brilhante ideia de combinar café e chocolate. Gostaria de saber se a Rare Confectionery deveria começar a vender xícaras de café. Não, não temos espaço, nem habilidade, mas talvez possamos vender sacos de grão moído ou até... Querido Deus no céu! — Ela se interrompeu, olhando pela janela. — O que está acontecendo?

 

Capítulo Quinze


O condutor abriu a porta da carruagem, e tudo o que Amity podia ver era uma multidão de pessoas. Ao segundo olhar, ela percebeu que eram na sua maioria mulheres. E não era realmente uma multidão. Talvez cinco damas, todas impecavelmente vestidas, cada uma com uma criada e outras com um lacaio, dando assim a aparência de mais.

No momento em que Amity reconheceu Lady Madeleine parada perto da porta da Rare Confectionery, a lady se virou e a viu. Um sorriso terrível, mas perfeito, surgiu em seu rosto adorável, e o coração de Amity gelou.

— Lá está ela — disse Lady Madeleine, impecavelmente vestida com um vestido de cor creme com detalhes dourados. — A vendedora de chocolate, a própria.

— O que está acontecendo aqui? — Amity perguntou quando o grupo de damas ficou quieto e se virou para encará-la. Em muito pouco tempo, ela e Delia estavam cercadas.

— Essas ladies são minhas amigas, — disse Lady Madeleine. — Estamos comprando, e queria mostrar sua loja para elas.

— Que gentileza sua — disse Amity, esperando que se comportasse de maneira civilizada, Lady Madeleine pudesse mudar de atitude.

As senhoras riram e deram-lhe olhares de pena. Suas criadas ficaram em silêncio, observando cautelosamente tudo o que suas senhoras faziam.

— Eu disse a elas como seu chocolate me deixou doente, — disse Lady Madeleine em voz alta. Alguns transeuntes, tentando atravessar a multidão na calçada, pararam para ouvir. — Eu queria ter certeza de que sabiam qual loja vendia o chocolate rançoso.

Amity balançou a cabeça.

— Nós não vendemos nada rançoso. Além disso, você não parece doente.

— Está me chamando de mentirosa? — Lady Madeleine perguntou.

Algumas das senhoras bufaram de indignação.

— Cuidado, — Delia sussurrou no ouvido de Amity. Ela estava certa em avisá-la, já que a sociedade londrina se tornara litigiosa ultimamente. Os jornais não apenas estavam cheios de processos frívolos, principalmente por difamação, como Jeremy havia lhes contado recentemente no jantar sobre a velocidade alarmante com que alguém poderia se encontrar diante do juiz.

Mas os Chocolates Rares também não estavam sendo difamados?

— Você ficou doente e agora se recuperou? — Amity perguntou, mantendo sua natureza calma.

— Sim, sua simplória. Disse a vocês que ela era um pouco estúpida, — disse Lady Madeleine às amigas que riram de novo.

Amity ignorou todas elas. Ela deu um passo em direção à filha do conde, que parecia pensar que este era um jogo divertido e não um risco para o sustento de uma família inteira.

— Como você sabe que foram as amostras gratuitas que você recebeu da minha loja que a deixaram doente? Como você sabe que não foi o que você almoçou? Pasta de peixe ruim na sua torrada, talvez?

Pare de falar, ela aconselhou a si mesma, mas ignorando seu próprio bom conselho, Amity acrescentou:

— Ou uma porção extra de carne de algum animal doente no jantar!

Como uma, todas ao seu redor ofegaram, até os criados. A ideia de que uma dama come um pedaço de carne de um animal que caiu morto foi aparentemente um insulto tão grande quanto Amity esperava que fosse.

O rosto de Lady Madeleine empalideceu ainda mais, se possível, e manchas de raiva apareceram no rosto.

— Aqui vamos nós, — Delia murmurou.

— Como você ousa! — Lady Madeleine disse previsivelmente. — Foi o chocolate, eu lhe digo.

— Porque você não comeu mais nada o dia inteiro, exceto nossos delicados confeitos que recentemente você proclamou tão deliciosas que poderia comer todas as peças da nossa loja? — Amity elevou a voz, enquanto seu coração batia com indignação.

— Sim, eu te digo. — Lady Madeleine olhou em volta para suas amigas insípidas, que encaravam Amity.

Ela suspirou. Ela deveria simplesmente pedir desculpas, mas podia ver Charlotte espiando pela janela esquerda, seu rosto normalmente alegre parecendo preocupado. Lady Madeleine causou angústia à sua doce irmã!

— Nossos confeitos são excepcionais e frescos, — proclamou Amity. — Você está dizendo que se oferecer amostras gratuitas de deliciosos chocolates, alguns com frutas cristalizadas, outros simples, outros com infusão de licores, não terei interessados?

— Exatamente, — Lady Madeleine falou por seu grupo. — Nenhuma de nós irá aparecer à sua porta nunca mais.

Amity olhou em volta para seus rostos.

— Isso está correto?

Os olhares severos das mulheres vacilaram. Uma lambeu os lábios. Outra olhou hesitante para Lady Madeleine.

— Nenhuma de vocês deseja provar uma deliciosa porção de caramelo de melado, alguns cobertos com rico chocolate? Ou uma doce criação de marzipan?

— Não, não queremos, — declarou Lady Madeleine, enquanto mais de uma de suas amigas olhavam para a vitrine com algo que parecia desejo.

— Muito bem, — disse Amity. — Desejo a todas um dia agradável. Por favor, saibam que sua preferência será bem-vinda quando precisarem de doces finos. E para você, milady, — ela olhou para Lady Madeleine, — sugiro que você mantenha uma garrafa de tintura de ópio à mão. Não só ajudará com sua extrema inquietação, mas também com as entranhas soltas do estômago fraco.

Após aquela declaração insolente e um tanto repulsiva, Amity deu um bom dia à Delia, pois sua criada levaria a carruagem de volta para casa na Baker Street. Então, rapidamente contornando a amada do duque, alcançou a porta da loja.

No instante em que a fuga estava próxima, e a maçaneta da porta também ouviu a voz da mãe atrás dela.

— Amity, você está bem?

Bem, ela tinha estado, mas sua mãe era ocasionalmente tão franca quanto Beatrice. Se ela não afastasse a formidável Felicity Rare-Foure do confronto, a situação poderia se deteriorar.

— Está tudo bem, — disse Amity. — Vamos entrar, e explicarei.

Infelizmente, Lady Madeleine ainda não estava satisfeita.

— Você sabe quem eu sou? — Ela exigiu da mãe de Amity.

— Não sei, — disse a Sra. Rare-Foure. — Mas acredito que você descobrirá que está obstruindo os outros pedestres da Bond Street. Todas vocês gostariam de entrar por uma amostra de nossa confeitaria?

Amity gemeu. Isso não terminaria bem.

— Sou Lady Madeleine Brayson e nunca mais voltarei a pôr os pés na sua horrível loja, nem falarei com sua filha idiota.

A mãe de Amity recuou. Se havia algo que a irritava, era um insulto à loja ou às filhas. A jovem tinha feito as duas coisas.

— Aqui vamos nós — Delia murmurou novamente, pois ela não havia dado um passo em direção à carruagem depois que sua empregadora chegou.

— Suponho que a aparência de boa educação, — começou a Sra. Rare-Foure, com um exame prolongado de lady Madeleine, da cabeça aos pés e novamente, — não garante um grama de boas maneiras ou bom gosto. A Rare Confectionery está aqui com sucesso há muitos anos e continuará a fazê-lo por muito mais.

Ela olhou em volta para as outras que pairavam em cada palavra dela.

— Se vocês têm a mesma opinião, como um rebanho de ovelhas sem cérebro com essa garota imatura como sua pastora, então podem seguir em frente, pois estão bloqueando nossa porta, e temos muitos clientes para servir.

— Você vai lamentar o dia... — Lady Madeleine começou.

— Oh, minha querida jovem lady, — interrompeu a mãe de Amity, — não lamentarei nada em relação a você. Posso te prometer isso. Sua mãe sabe que você está andando pelas ruas de Mayfair emitindo declarações ameaçadoras? Brayson, não é? A filha do conde que todas as páginas da sociedade gostam de tagarelar?

Lady Madeleine levantou o queixo em reconhecimento.

— Hum, — disse a Sra. Rare-Foure, — eu pensei que você era mais bonita, mas os jornais exageraram muito sua aparência e seu charme.

Com essa afirmação terrivelmente grosseira, a mãe de Amity varreu a multidão que se separava como para a própria rainha e entrou na loja. Até Amity se afastou para deixá-la passar.

A maioria dos espectadores precisou de um momento para fechar a boca chocada. Então, quando a multidão se dispersou, Amity se despediu de Delia e seguiu sua mãe. Alguns outros, que não eram amigos de Lady Madeleine, entraram na loja atrás dela.

Enquanto Charlotte atendia aos clientes, Amity e sua mãe entraram na sala dos fundos. Em vez de ficar chateada, Felicity parecia positivamente radiante quando se virou para encará-la.

— Isso foi muito divertido. Que ser horrível era aquela. — Sua mãe tirou as luvas e as jogou na prateleira onde as guardavam, junto com chapéus, lenços e gorros extras.

Apesar de estar preocupada que as coisas estavam de alguma forma piores, Amity não sentiu nada além de admiração.

— Você foi esplêndida, mãe. Mas podemos, de fato, lamentar o dia em que cruzamos o caminho com aquela lady em particular.

— Eu não posso acreditar que aquele peixe incolor é o que todos os jornais têm elogiado por semanas.

— Meses, eu acredito, — disse Amity. — Você sabe que ela é a pessoa para quem tenho feito um chocolate único, a pedido do Duque de Pelham, não é?

— Isso me escapou da memória. De qualquer forma, proíbo que você faça isso.

— O quê? Mãe, não! — O coração de Amity começou a bater forte novamente. O que o duque pensaria dela se ela se curvasse agora? Que ela não era confiável, talvez até covarde.

— Terminei o novo chocolate e acabei de ver Sua Graça. Ele aceitou minha criação.

A mãe dela parecia alarmada.

— Não se preocupe. Eu tinha Delia comigo, — Amity disse a ela rapidamente. — Tinha que dizer a ele que poderíamos ter um pequeno problema com sua namorada, e ele concordou em falar com ela.

— Um pequeno problema. Como essas coisas acontecem assim que estou fora da loja? Eu nunca deveria ir visitar amigos ou ir a um clube.

— Beatrice acontece, — Amity murmurou baixinho.

A mãe balançou a cabeça.

— Aquela garota...

— É exatamente como você, — Amity terminou. — E todos nós estamos muito felizes com isso. Vocês duas são a espinha dorsal da Rare Confectionery. E Charlotte é o coração.

— E o que você é, minha querida? — Sua mãe perguntou, aproximando-se, colocando as mãos gentis nos ombros da filha. Como tinham a mesma altura, ficaram frente a frente.

— Tenho certeza de que não sei o que sou, — começou Amity, abaixando o olhar.

— Você é a alma da nossa loja.

Assustada, Amity sentiu lágrimas brotarem nos olhos.

— Além do mais, — acrescentou a mãe, — não vou deixar você vender sua alma fazendo nada com o nosso nome para aquela terrível criatura.

Amity se libertou do toque de sua mãe.

— Dei minha palavra ao duque. Odiaria decepcioná-lo.

Ao olhar estreitado de sua mãe, Amity corou e desviou o olhar. Felicity Rare-Foure saberia se a filha mais velha estivesse escondendo uma paixão secreta por um homem com um único olhar nos olhos. Virando-se para o armário, ela pegou uma bandeja de Braysons e tocou a ponta do dedo em uma das flores lisas.

— Eu sei que eles são um pouco frios demais para provar adequadamente, — disse ela à mãe, mantendo o olhar desviado, — mas faça-o assim mesmo.

Sua mãe pegou um e comeu, mantendo-o brevemente na língua para que os sabores pudessem esquentar e se tornar mais discerníveis.

— A lavanda e a baunilha são uma combinação brilhante, — disse Felicity. — Lady Madeleine usa lavanda?

Amity assentiu. Sua mãe assentiu de volta.

— Isso me lembra ela, exceto que é muito bom, — declarou Felicity. Elas sorriram uma para a outra.

— Desde que terminei de criá-lo, mãe, por favor, deixe-me vendê-los ao duque. Esses chocolates estão requisitando um preço alto. A festa dele não está longe e depois, terminaremos com os dois. — Mesmo que ela não quisesse deixar de ver o homem que a fazia sentir todo tipo de sensações interessantes.

— Independentemente disso, nunca vou vendê-los na loja, pois sempre me fazem pensar nela.

Sua mãe lançou-lhe um olhar duro.

— Então, Madeleine...

— O Brayson, — Amity corrigiu.

— O Brayson, — repetiu a mãe com desgosto, — é apenas por uma noite?

Amity suspirou.

— A menos que o duque queira que eu os faça para sua... sua noiva no futuro.

— Não parece que isso lhe agradaria.

— Não, — admitiu Amity, — acho que não me agradaria. No entanto, farei isso se isso significar que a Rare Confectionery permaneça em boas condições com a camada superior da sociedade de Londres.

Sua mãe revirou os olhos.

— Não se preocupe com essa jovem mulher...

— Essa jovem lady, Mãe, é filha de um conde. Você viu como ela se cercou... com sua matilha de lobos.

Isso fez Felicity rir.

— Dificilmente lobos.

Amity começou a rir também, lembrando o que sua mãe havia dito.

— Você as chamou de ovelhas, na cara deles.

— Chamei, não foi?

— Acusei Lady Madeleine de comer carne estragada, — disse Amity.

Sua mãe riu mais.

— Não é à toa que parecia tão chateada.

— Ela disse àquelas ladies que nossos doces a haviam deixado doente.

O bom humor de sua mãe morreu imediatamente.

— Isso é uma mentira suja para espalhar.

— É por isso que espero que o Duque de Pelham a controle como um cavalo teimoso que precisa ser domado.

A mãe dela assentiu.

— Ainda assim, com um advogado quase na família, vamos processá-la por difamação, se necessário.

Não a mãe dela também!

— Tão litigioso, — Amity protestou. Além disso, agora estava em dúvida se Jeremy faria parte da família, mas guardou isso para si mesma. Havia drama suficiente em suas vidas por um dia.

— É melhor você esperar que seu duque convença esse bicho azedo a guardar suas garras, ou falarei com o Sr. Cole sobre nossos direitos. E vou escrever uma carta para os pais dela.

Amity foi ao fogão e derramou sem palavras leite em uma panela.

— Uma xícara de chocolate, mãe?

— É claro querida. Como não?

Assim que Lady Madeleine e sua acompanhante subiram na carruagem dele, Henry sentiu o cheiro de sua fragrância de lavanda e pensou em Amity e seus chocolates.

Não era assim que deveria funcionar. Ele tinha tudo errado e ao contrário. No entanto, era a verdade. Chocolate, baunilha, laranja e café, todos o fizeram pensar em Amity. Agora, até Madeleine e seu perfume de lavanda trouxeram à mente Amity, comendo chocolates juntos, rindo na sala de estar.

É melhor ele passar o pior da noite.

Antes que ele pudesse abordar o assunto, Madeleine disse:

— Lembra dos chocolates que tivemos no jantar de Lady Peabody?

Era como se ela tivesse lido seus pensamentos.

— Por quê? Sim. Na verdade, esperava falar com você sobre os produtos da Rare Confectionery.

Ela fez uma careta.

— Que estranho. Espero que você me diga que acha que é a loja mais desagradável, administrada pelas mulheres mais irritantes. Se você as conhecesse, concordaria.

— Conhecê-las? Você se lembra da senhorita mais velha Rare-Foure e uma de suas irmãs que estava na festa dos Peabodys, não é?

Madeleine parecia perplexa.

— Por que razão uma vendedora estaria em um jantar?

Ele suspirou.

— Não é uma vendedora. Ela é a chocolatier. Ela e a irmã trouxeram os chocolates e ficaram como convidadas. — Ele não podia imaginar como ela poderia ter esquecido as inesquecíveis irmãs Rare-Foure.

Ela corou um pouco.

— Suponho que só tenho olhos para você, Vossa Graça.

Henry riu levemente com a resposta adequada dela.

— Que gentil da sua parte dizer. — Foi a primeira vez que ela fez um esforço para destacá-lo como se ele significasse alguma coisa para ela. Aparentemente, seu pedido estava progredindo. Isso deveria enchê-lo de alegria. Por que não estava?

— Além disso, — Madeleine acrescentou, — a mente faz truques quando as coisas estão onde não deveriam estar. Se visse um javali vestido e montado em um cavalo na Rotten Row, provavelmente não pensaria em nada.

Ela estava comparando Amity com um javali?

Enquanto ele tentava responder, ela balançou a cabeça, consternada.

— Isso parece terrivelmente desagradável, até obscuro, para nossos anfitriões infligirem mulheres de classe baixa sobre nós como convidadas. Hesito em ir a outro evento na casa de Lorde e Lady Peabody. O que vem a seguir, sentar à mesa com o açougueiro ou o acendedor de lanternas?

Ele sabia o que significava o termo indignado, mas não tinha certeza de que realmente experimentou a sensação até então. Agora, ele se sentia indignado com os comentários mal-humorados dela.

— Isso é uma coisa desnecessária para dizer, — ele disse a ela em voz baixa. — E é impróprio para uma dama graciosa.

Suas narinas alargaram e seus olhos se arregalaram com a repreensão dele, mas então abaixou o olhar. Depois de uma longa pausa, ela disse:

— Acredito que você esteja certo. Foi errado da minha parte.

Henry não a conhecia o suficiente para discernir se ela falava de coração ou estava lhe dizendo o que achava que queria ouvir. Uma coisa era certa: se ela fosse sua duquesa, ele a instruiria a ser mais gentil com os que estavam abaixo dela, já que quase todos na sociedade o estariam.

Ele ainda não havia lhe dito o que estava pensando, sua garantia para Amity.

— Apreciaria muito, como um favor pessoal para mim, se você deixar sua briga com a Rare Confectionery desaparecer como a névoa da manhã.

Ela abriu a boca para protestar, mas ele continuou:

— Gosto muito dos chocolates e continuarei a patrociná-los. Não seria bom apoiar a loja enquanto você a evita. Essa discórdia refletiria mal em pelo menos um de nós, você não concorda? Especialmente se quisermos continuar a nos aproximar.

A resposta dela pode acabar com o relacionamento deles naquela mesma noite.

 


Capítulo Dezesseis


Lady Madeleine fez uma pausa antes de responder e até lançou um olhar de soslaio para a acompanhante, cujo olhar estava fixo na janela.

— Enquanto não tiver que voltar para a loja, não vejo razão para fazê-lo, então simplesmente ignorarei sua existência, bem como as mulheres horríveis que a administram, — Madeleine disse calmamente.

— Obrigado. — Henry ficou aliviado por Amity. Além disso, ele poderia continuar sua perseguição pela filha do conde. Embora por que isso dependeria de ela tentar destruir uma confeitaria, não sabia dizer. Nada parecia mais descomplicado desde que conheceu a chocolatier.

— Suponho que devo confessar, — continuou Madeleine, — pois parece importante para você. Eu já falei com uma das lojistas, talvez a da festa. Sinceramente, não me lembro. Também conversei com a mãe dela, porque as duas me abordaram, se você quer saber, quando passava pela loja delas. Disse o que queria para elas e acho que receberam minha mensagem.

A mensagem dela?

— Houve uma cena pública? — Não só seria impróprio à uma futura duquesa, quanto mais pública a discussão, pior para a Rare Confectionery.

Madeleine fungou.

— Receio que seja público. Tudo do lado delas, é claro. Repreendendo-me na calçada como esposas de peixeiros. O que poderia fazer?

Henry não gostava de pensar nas formidáveis mulheres Rare-Foure atacando Madeleine. Ela podia ser um pouco tacanha e até arrogante, mas também era uma mulher de maneiras moderadas, inofensiva, apesar de sua ameaça frívola em relação aos produtos de confeitaria. Afinal, ela estava apenas experimentando um chocolate quando a irmã de Amity a atacou. Agora, parecia que ela havia caminhado inocentemente pela loja e foi atacada.

Ele sentiu sua ira aumentar por ela. Ele havia dito a Amity que iria lidar com isso, e ela deveria ter confiado nele, não tendo tomado conta em suas próprias mãos.

— Sinto muito que você tenha passado por isso, — disse ele a Madeleine, na esperança de fazer as pazes e redefinir seu foco na única mulher que deveria importar para ele. — A propósito, eu já te disse como você está linda esta noite? Toda noite, na verdade.

Ela o recompensou com seu sorriso perfeito, e desta vez também brilhou em seus olhos. Eles estavam definitivamente se acostumando um ao outro e se tornando mais amigáveis. Esta noite, eles apreciariam a ópera e talvez, se as estrelas se alinhassem, ele finalmente usufruísse de um beijo.

A acompanhante mudou de posição e Henry percebeu que todas as estrelas do mundo não fariam isso acontecer. Ele pode ter que se casar com essa mulher sem nunca provar seus lábios.

Quando o sino da loja tocou, a última pessoa que Amity esperava ver era o Duque de Pelham entrando. Ela pensou que eles não seriam mais agraciados com Sua Graça, por assim dizer, desde que ela criou o Brayson para sua satisfação. Talvez ele quisesse prová-lo novamente e ter certeza. No entanto, como a festa dele era em duas noites, ela não conseguia imaginar como poderia começar de novo.

Charlotte tinha saído para uma tarefa e, portanto, Amity estava sozinha. Ela não podia entrar na sala dos fundos com ele, nem deveria ter sido o primeiro pensamento em sua cabeça. O que havia de errado com ela?

— Bom dia, milorde. Como você está?

— Bem, obrigado, Senhorita Rare-Foure, e você?

A formalidade estava toda errada, mas estavam em público e, apesar de estarem sozinhos, agir de outra maneira era impossível.

— Você está aqui para provar o Brayson novamente? — Ela perguntou.

— Eu deveria, agora que você mencionou, — ele concordou. — Se você tiver um em mãos.

— Sim, tenho. Fiz algumas bandejas, — ela disse e desapareceu atrás da cortina para recuperar um único Brayson precioso. Para seu alarme, ele a seguiu até o armário na parede dos fundos, deixando-a nervosa.

Desejando voltar à frente da loja o mais rápido possível, Amity encontrou a bandeja correta. Ela pegou um chocolate com a mão nua e girou, quase batendo no peito do duque com ela.

Assustada com a proximidade dele, e como a fragrância celestial dele já fazia cócegas em seu nariz, ela o deixou cair.

— Droga! — Exclamou com sua falta de jeito. Ela odiava desperdiçar algo tão delicioso como um chocolate.

Simultaneamente, eles se curvaram para recuperar o doce rebelde, suas cabeças batendo juntas com um barulho alto, arrancando o chapéu do duque e fazendo Amity agarrar sua testa.

— Oh! — Ela disse.

— Sinto muito, — disse ele.

Levantando-se, o duque entregou-lhe o doce, que ela jogou na direção da lixeira no canto. Tarde demais, ele tirou a luva branca, agora manchada de chocolate.

— Vamos tentar de novo, — disse ela, esfregando a têmpora. Mais devagar, com compostura, ela alcançou a bandeja inteira, girou com a mão firme e deixou que ele pegasse seu próprio doce.

Ele comeu devagar, seu olhar nunca deixando o dela, fazendo acelerar sua pulsação.

Mulher tola! Repreendeu-se observando sua garganta enquanto ele engolia, fazendo com que ela engolisse também.

Ele assentiu.

— Sim, depois de passar a noite com ela na noite passada, posso dizer que o Brayson é perfeito.

Amity sentiu como se ele tivesse lhe dado um tapa. Ela estava ciente de que tudo isso era sobre reunir o duque e Lady Madeleine, no entanto a imagem deles, juntos do jeito que ela e ele haviam feito, talvez tomando café e rindo, torcia seu coração. Mesmo assim, sabia que ele não quis dizer nada de cruel ao dizer a ela.

— O que você fez? Ontem à noite, quero dizer? — Ela não sabia por que perguntou e desejava fervorosamente poder recuar suas palavras.

— Fomos à casa de ópera. Você já foi?

— É claro, — ela disse, um pouco rápido demais, seu tom cortante. Simplesmente porque não tinha título, não significava que não era culta. — É adorável em Londres, mas prefiro a casa de ópera em Paris. — Deixe ele remoer isso.

— Eu também, — declarou ele, jovialmente. — Acho maravilhoso você se sentir assim. Eu sou britânico no íntimo, mas algumas coisas são melhores no continente.

— Como café, — ela brincou, tentando recuperar seu bom humor.

— Ou chocolate? — Ele perguntou com um tom brincalhão.

Ela estreitou os olhos.

— Às vezes. Mas quando você está na metragem quadrada da Rare Confeitaria, não há confeitaria que o supere em qualquer lugar do mundo. Estou confiante nisso.

Na verdade, ela tinha uma surpresa para ele, algo em que trabalhou com sucesso quase instantâneo. Mas não era hora de apresentar seu presente. Ela planejava fazer isso levando discretamente uma lata para a casa dele e deixando-a com o mordomo para depois da festa.

Ele sorriu, e algo dentro dela tremulou de prazer.

— Eu concordo, — disse ele. — E não permitiria que sua loja fosse diminuída de forma alguma. Por isso vim hoje. Em parte, pelo menos. Para lhe dizer, falei com Lady Madeleine. Disse a ela, já que gosto de frequentar a Rare Confectionery, agradeceria que ela a deixasse em paz.

Amity prendeu a respiração. Antes que ela pudesse agradecer, ele continuou:

— Afinal, um duque e uma duquesa não podem estar em desacordo com uma confeitaria.

Quão totalmente correto da parte dele. Quão sensato! Ele deve manter as aparências. Então, por que ela queria jogar a bandeja de chocolates na cabeça dele?

— Obrigada, — disse ela, sabendo que não parecia particularmente agradecida.

— Não há de quê. No entanto, preciso acrescentar que, do seu lado, todas as Rare-Foures também devem deixar Lady Madeleine em paz.

Deixá-la em paz?

— Não entendi, milorde.

— O que eu quero dizer é, — esclareceu ele, — não é justo, nem particularmente produtivo, que você e sua mãe falem desrespeitosamente com Lady Madeleine, e certamente não em público.

Os ouvidos de Amity zumbiam, e uma fúria lenta começou a ferver. Era melhor tirá-lo da loja rapidamente, pois estava propensa a dizer algo totalmente inadequado com um discurso educado.

— Eu entendo, milorde. Agora, se você me dá licença, tenho trabalho a fazer. — Tentou passar por ele, mas ele bloqueou a saída. — Você está me mantendo longe dele.

— Seu tom é grosseiro, — comentou, parecendo surpreso. — Você pode estar com raiva de mim?

Respire, ela se aconselhou.

— Vai me deixar passar?

— Você está com raiva, — ele percebeu. — É porque pedi para você tratar a lady civilizadamente?

Amity praticamente rosnou, mas fechou a boca para evitar ranger os dentes com irritação. De repente, suas mãos estavam sobre os braços dela, e ela olhou para ele, caindo nas profundezas de seus olhos verdes.

— Eu não quis ofendê-la, por nada no mundo, — disse ele, suas expressões sinceras. — Entendi algo errado? Você não teve uma conversa com ela na frente da sua loja?

— Sim, mas...

— E sua mãe também não deu a Lady Madeleine um sermão na calçada?

— Sim, ela fez. Contudo...

— Então, não importa como isso aconteceu, vocês eram duas eram contra uma, e ela dificilmente poderia se defender de uma maneira semelhante, imprópria para uma lady.

Amity pretendia dizer com precisão o quanto sua dama era imprópria, com suas amigas sorridentes ao seu redor como apoio militar, quando a campainha da loja tocou. Virando a cabeça, duas clientes, ambas mulheres, entraram, e agora a olhavam diretamente através da cortina aberta.

E ao duque! Com as mãos sobre ela!

Amity se afastou de seu toque e saiu da sala dos fundos.

— Bom dia, posso ajudá-las?

As clientes a encaravam, olhos arregalados, bocas levemente abertas em choque, e Amity sabia que suas bochechas estavam em chamas, piorando as coisas.

Ao mesmo tempo, o Duque de Pelham a seguiu, seu chapéu, que ele deve ter pegado do chão, empoleirado levemente na cabeça, e ele usava apenas uma luva.

Sua expressão de mortificação, sem dúvida, correspondia à das mulheres, que agora se viravam sem palavras e foram embora.

— Doce Maria, — murmurou Amity, aproximando-se do Duque de Pelham. — Entre você e sua amiga, vocês estão arruinando não apenas a reputação de nossa loja, mas também a minha. Preciso pedir que você saia imediatamente.

Ele pareceu chocado.

— Você está me expulsando da sua loja?

— Acredito que estou. — Embora o dano já tivesse sido causado, Amity precisava que ele fosse embora. Se sua mãe sequer ouvisse isso! Ela só podia esperar que as clientes fossem pessoas comuns, e não membros da por vezes cruel sociedade, mas não podia ter certeza.

— Suponho que seja o melhor, — ele concordou. — Devo dizer que é uma experiência estranha ser expulso. — Ele riu. — Isso nunca aconteceu antes.

Ao ver sua expressão de desaprovação, ele tossiu.

— Mais uma vez, peço desculpas por essa indiscrição, mas depois que nos viram, não havia sentido em me esconder nos fundos, havia?

— Não, — ela concordou. — Tarde demais para isso.

— Pelo menos não estávamos nos beijando novamente, — ele disse, uma pitada de brincadeira em seu tom.

— Isso não é nem um pouco engraçado. — A humilhação a envolveu da cabeça aos pés, tanto pela indiferença dele quanto à reputação dela, e pela referência casual ao beijo deles, como se tivesse sido apenas mais um de uma série de indiscrições. Provavelmente, isso era insignificante para ele.

— Tudo bem, eu vou, — disse ele. — Mas você ainda virá à festa e apresentará os chocolates, não é?

— Essa seria a última coisa que Lady Madeleine desejaria... me ver em sua casa, presenteando-a com meus doces.

— Você não quer aproveitar o sucesso e dar seu cartão comercial para meus outros convidados? Isso não ajudará tremendamente a Rare Confectionery? E garanto-lhe que Lady Madeleine não será nada além de agradável na festa. Todo o evento será mais significativo se você, a chocolatier, estiver lá.

Amity considerou. Ele estava certo sobre a loja deles ganhar mais clientela se ela estivesse presente, deixando todos saberem quem havia produzido os chocolates. No entanto, ele provavelmente estava muito errado sobre Lady Madeleine. Se houvesse problemas, Amity queria um membro da família com ela.

— Irei se puder levar minha irmã, pois ela aprecia muito seu mundo de luxo.

— E você não? — Ele inclinou a cabeça e pareceu dolorosamente lindo.

Aturdida, ela acenou com a mão com desdém, depois percebeu que poderia parecer rude.

— Naturalmente, alguém iria gostar, mas eu não cobiço esse estilo de vida. Quero apenas o que já tenho. — Era verdade, percebeu, quando disse. Não desistiria de trabalhar com suas irmãs e sua mãe, sem criar seus chocolates, nem mesmo para trocar de lugar com Lady Madeleine. Nem mesmo se ela pudesse ter o duque!

Ele assentiu, pensativo.

— Por favor, por todos os meios, traga sua irmã, desde que ela não tenha sido a responsável por essa briga sem sentido.

— Não, não Beatrice. Eu prometo. — Amity fez uma pausa, mas tinha que contar a ele. — Tem mais uma coisa. Não vou servir os chocolates a Lady Madeleine, o que significa que não carrego bandejas em festas.

— Entendido. Você será uma convidada de honra. — Ele foi até a porta. — Vou gostar de vê-la novamente na sexta à noite. Vamos torcer pelo sucesso.

Depois que ele saiu da loja, Amity teve que se perguntar se ela esperava sinceramente o sucesso do duque em sua busca pelo amor de sua lady. Ele parecia uma pessoa legal, e a lady... não era!

No entanto, ele estava apaixonado por Lady Madeleine e, para ser justo, talvez ela se mostrasse um lado melhor para ele. Quem sabia o que havia acontecido na noite anterior durante a saída para a ópera, ou que beijos apaixonados eles poderiam ter compartilhado nos limites de sua carruagem ou em algum cômodo isolado no teatro?

Isso não era da conta de Amity. Seu único interesse no duque deveria ser levar os Braysons mais perfeitos para a festa.

— Por que não posso ir? — Beatrice perguntou mais tarde naquela noite.

— Porque você disse coisas más a Lady Madeleine, e esta será a festa de noivado dela. Além do mais, acho que você não se importava com a sociedade do beau monde.

— Não me importaria de vê-los e comer sua comida, — refletiu Beatrice, enquanto jogava cartas com Charlotte e o pai.

Charlotte riu e, na verdade, Amity preferia a força calma de sua irmã do meio ao seu lado, mas com Beatrice corria o risco de sua franqueza. De qualquer forma, estava fora de suas mãos.

O duque disse especificamente que não poderia lhe levar. Mas devo perguntar se posso pegar seu melhor vestido emprestado, como ele já viu o meu na festa dos Peabodys, e não posso usá-lo novamente tão cedo.

Beatrice assentiu.

— Claro que você pode. É melhor experimentá-lo logo de manhã e ver se Delia precisa dar retoques em qualquer lugar. Além disso, você terá que usar saltos mais altos do que normalmente, ou a saia se arrastará em baixo e tropeçará na frente.

— E quanto a mim? — Charlotte disse. — Eu já usava meu melhor vestido também.

A mãe delas acabara de entrar na sala.

— Você deve usar seu segundo melhor vestido e se contentar. Temos o dia todo amanhã para adicionar um pouco de fita ou um babado, se necessário.

— Não fique triste, — disse o pai, olhando a filha caçula por cima da mão de cartas. — Compraremos novos vestidos para você em fevereiro, se você quiser fazer parte da temporada do ano que vem.

Charlotte deixou que todos soubessem de seu prazer com um assovio penetrante de alegria.

— Por que você a ensinou a fazer uma coisa dessas? — A mãe delas perguntou ao pai.

Ele deu de ombros timidamente, depois olhou para Beatrice.

— Uma temporada para você também, se você quiser. O fato de Amity não querer apreciar os salões não significa que você não possa participar dos melhores eventos sociais de Londres.

— Eu sei e agradeço, — disse Beatrice, e nada mais, mantendo seus planos futuros para si mesma.

Amity não podia poupar um pingo de preocupação para nenhuma das irmãs naquele momento. Seus nervos estavam sobrecarregados sobre ir à festa do duque, ver Lady Madeleine novamente e esperar que não houvesse uma cena desagradável. Mais do que isso, realmente não queria testemunhar a apresentação de seus chocolates quando o duque fizesse sua grande proposta. Parecia algo melhor feito em privado, só por precaução.

Amity estava sendo uma idiota. Lady Madeleine dificilmente diria não ao Duque de Pelham e, portanto, ele não se arriscava à mortificação pública. De fato, o maior risco era que Amity caísse do salto alto e se desonrasse.

— Venham, — ordenou seu pai, — vamos todos jogar de duplas. Onde seu Sr. Cole tem estado ultimamente? Sinto como se não visse aquele jovem há séculos.

 


Capítulo Dezessete


Enquanto seu criado ajudava enquanto se vestia, Henry sabia que deveria sentir algum tipo de nervosismo. Afinal, naquela mesma noite, ficaria noivo. Seja como for, ele se sentiu calmo. Parecia qualquer outra festa, exceto a emoção da chocolatier vindo à sua casa para se misturar com seus convidados e sua família.

Ele não duvidava que ela se comportasse bem, embora as duas irmãs parecessem um pouco imprevisíveis. Ele só desejou ter contado a Amity sobre os repetidos erros dela em chamá-lo de “milorde”. Felizmente, hoje à noite, ele teria uma chance antes que ela dissesse isso na frente de seus amigos.

— Terminado, Vossa Graça. — O criado deu uma última pincelada nas costas do casaco da noite. — Eu não posso melhorar um fio de cabelo na sua cabeça.

— Obrigado. — O homem prestava um serviço impecável, mas às vezes era como ter uma babá novamente. Henry queria arrancar o lenço dele ou desgrenhar o próprio cabelo por maldade.

Ingrato! Ele se repreendeu. Ele sempre deve se lembrar de como teve sorte por ter nascido em suas circunstâncias particulares. Estranho como Amity mencionou não cobiçar seu mundo quando todos que conheceu, mesmo aquelas como Lady Madeleine que já viviam nele, pareciam querer mais... mais dinheiro, mais luxo, mais poder, mais do que gostavam em ser nobre e privilegiados.

Além disso, ele não podia desprezar Amity como uma idiota boba que não sabia o que era o quê. Ela sabia algo do mundo. Ela viajou para o exterior, esteve na ópera e se encontrou com chocolatiers na Suíça e na França. A dela não era uma existência estreita e protegida. E ainda assim, ela disse que preferia seu próprio estilo de vida ao dele.

Ele suspirou enquanto descia as escadas e decidiu tomar uma bebida antes da festa, com a mãe, a irmã e o marido. Ele precisava parar de pensar em Amity e se concentrar em sua futura noiva. Assim que ele visse Madeleine novamente, ele estava confiante de que sentiria algum tipo de emoção por ela em breve ser sua duquesa.

Amity queria gritar. Não por qualquer motivo em particular, exceto para deixar escapar a emoção nervosa que se acumulou nela o dia todo. No entanto, ela mal podia fazê-lo na carruagem a caminho da casa do duque em St. James Place, com Charlotte conversando ao seu lado.

— Acho que meu vestido está ótimo, não é? A fita de veludo em volta da minha cintura e o laço extra nas mangas eram os adornos perfeitos, você não concorda? E mamãe teve a gentileza de me emprestar sua granada e pérolas.

Amity assentiu. Ela usava seu pingente de camafeu favorito e pequenos brincos de diamante que combinavam com tudo. Distraída e ansiosa pela noite seguinte, no entanto, ela mal notara em que Beatrice a havia colocado, exceto que parecia servir. Quando olhou para o vestido, percebeu que era o mesmo verde dos olhos do duque, fazendo-a agarrar com mais força a alça da bolsa que continha as latas de chocolates.

— Você parece assustadoramente inexpressiva, — observou Charlotte. — Venha, irmã. Todos amarão os Braysons, e Lady Madeleine aceitará o duque, e será uma noite maravilhosa.

Sentindo-se enjoada, tudo o que Amity pôde fazer foi assentir novamente. Quando a carruagem parou na magnífica residência em que ela já havia se sentado confortavelmente, tomando café com o duque, respirou fundo e fortaleceu-se, ou o mais que pôde, dadas as restrições de seu espartilho e vestido de seda.

— Você está certa, é claro. E você está linda, Charlotte. Mas, por favor, seja discreta. E absolutamente nenhum assobio, — ela acrescentou.

Sua irmã fez uma careta.

— Eu já te disse, não vou. Mas vamos nos divertir, não é?

Olhando para o edifício, todas as janelas brilhavam e a mansão parecia particularmente acolhedora.

— Sim, — concordou Amity.

Conhecendo o efeito suave de um copo de vinho, ela esperava que houvesse um copo cheio prontamente disponível. Ao se aproximarem da porta, ela se abriu rapidamente e foram recebidos pelo mordomo, além de um lacaio e uma criada. Se o Sr. Giles se lembrava dela subornando-o com um saco de doces para conseguir entrar, ele não fez nenhum sinal disso. Seus casacos foram levados rapidamente pelo lacaio, e o Sr. Giles liderou o caminho através do vestíbulo até a escada.

— Os chocolates, — protestou Amity, virando-se para a criada para lhe dar instruções. No entanto, mais convidados chegaram atrás dela. Felizmente, outro criado de libré apareceu, aparentemente do nada, para cuidar dos recém-chegados. Esse era o toque extra especial de uma festa ducal, nem era preciso esperar que o casaco fosse levado.

— Por favor, dê essas latas para quem estiver servindo na etapa de confeitaria, — disse Amity à criada atormentada. — Há quatro deles. Os três que são idênticos são para a festa de Sua Graça. O que é menor é só para o duque, depois da festa. Está claro?

— Sim, senhorita, — disse a criada, e ela correu pelo corredor em direção à cozinha. O mordomo acompanhou Amity, Charlotte e os outros dois convidados lá em cima, onde os Pelhams aguardavam no espaçoso patamar.

O duque e a duquesa viúva eram os primeiros na pequena fila de recepção. Amity sempre achou que ele parecia bonito, mas hoje à noite estava impressionantemente, e sua boca ficou seca. Ela teria dado tudo para que houvesse um criado nas escadas distribuindo taças de vinho enquanto subia.

— Aqui está ela, mãe, — exclamou o Duque de Pelham. — A chocolatier, a própria!

Amity fez uma reverência primeiro à duquesa viúva que a cumprimentou gentilmente.

— Que bom que você pôde vir, — disse a mulher com entusiasmo. — Eu já comi seus chocolates antes, confesso, mas estou ansiosa pelo prazer de hoje à noite.

— Obrigada, milady.

Em seguida, Amity fez uma reverência ao duque, que se curvou profundamente e depois arruinou a formalidade, sorrindo ousadamente para ela.

— Você parece bem esta noite, Senhorita Rare-Foure. Obrigado novamente por ter vindo.

— Obrigada, milorde. — Como se sua língua e seu cérebro estivessem envoltos em lã, Amity não pôde pensar em mais nada para dizer, então ela fez uma reverência e seguiu em frente, com Charlotte atrás dela.

Uma jovem com uma forte semelhança familiar apresentou-se como irmã do duque, Lady Penelope, e ao lado dela estava Lorde Yardley, seu marido.

Por fim, Amity voltou-se para a sala de visitas em que passara algumas horas agradáveis com o duque. Nada parecia ou parecia o mesmo, e ela estava confortada por ter Charlotte, cheia de felicidade, ao seu lado.

Infelizmente, também não havia como escapar das apresentações estressantes. De pé junto ao fogo estava a convidada de honra, Lady Madeleine, com um pequeno grupo à esquerda agarrado a cada palavra dela. O casal à sua direita, observando com grande interesse, era sem dúvida Lorde e Lady Brayson, e o jovem de costas para a irmã, conversando com outra jovem, devia ser seu irmão pelo tom loiro de seus cabelos.

Amity não reconheceu outra alma até que Lorde Waverly apareceu de repente em seu cotovelo.

— Senhorita Rare-Foure, não é? — Ele perguntou.

— Sim, milorde. E esta é minha irmã, Senhorita Charlotte.

— Um prazer, — disse ele, curvando-se um pouco para cada uma. — Posso pegar uma bebida para as damas, ou pelo menos sinalizar a um criado?

— Sim, — disse Amity, talvez rápido demais, — obrigada. O que esteja bebendo está bem.

— Acredito que tem vinho ou xerez. — Ele gesticulou para que um criado com uma bandeja se aproximasse para Amity e Charlotte poderem se servir.

— Sua próxima parada é prestar homenagem à lady do momento, — disse Lorde Waverly, meio de brincadeira, mas Amity supôs que ela realmente precisava se aproximar e esperar pelo melhor.

— Você também nos apresentará aos outros, milorde, já que não conhecemos ninguém aqui, e sua senhoria está ocupado?

— Sua senhoria? — Lorde Waverly franziu o cenho. Então ele sorriu. — Oh, você quer dizer o duque. Sim, ele e sua família chegarão em breve. Acho que quase todo mundo chegou, pois não será uma grande reunião.

E então Amity se viu apresentada a Lady Madeleine como se a jovem fosse realeza. Ela definitivamente parecia uma princesa em um vestido de seda dourada cintilante com fita de cetim cor de cobre, para guarnição e muita pouca renda ou ostentação. Ela era elegante e discreta, apesar do tom vívido. Amity se sentia quase desajeitada em seu vestido verdejante, embora estivesse perfeitamente na moda com o que os outros ao redor estavam vestindo.

Como sempre, em comparação com Lady Madeleine, todos estavam ofuscados.

Amity se perguntou se a dama reconheceria uma rude “lojista”, quando estivesse fora do ambiente da confeitaria. Na verdade, Lady Madeleine mal olhou para ela antes de olhar rapidamente para Charlotte parada por perto. Talvez a lady tenha olhado brevemente para cada mulher para ver se alguém podia igualar sua beleza, e quando ela descobriu que não, ela as dispensou.

No entanto, quando seu olhar voltou ao rosto de Amity, seus olhos se arregalaram um pouco e ela se assustou, seu alarme quase imperceptível, exceto pelo vinho que chapinhou em sua taça.

— Essa é a Senhorita Rare-Foure — disse Lorde Waverly, alheio a qualquer sugestão sutil.

— Boa noite, Lady Madeleine, — disse Amity, abstendo-se de fazer uma reverência, mas dando-lhe um aceno gracioso. — Posso apresentar minha irmã, Senhorita Charlotte.

Isso foi recebido por um silêncio absoluto. Oh céus! Amity supôs que era melhor que uma ordem imediata por expulsá-las, como ela temia que pudesse ocorrer. Deveria saber que a dama era muito bem educada para fazer barulho, principalmente na casa do duque.

— Pelham as convidou como convidadas especiais — acrescentou Lorde Waverly na densa quietude. — Ele gosta muito de seus confeitos.

— Sim, eu ouvi, — Lady Madeleine retornou, educada quanto possível. Seu olhar passou por eles para mais convidados chegando por trás. O conde de Brayson fez uma saudação morna, e a condessa murmurou algo quieto demais para ser capturado, então Amity assentiu novamente e se virou.

Enquanto seguia Lorde Waverly, Amity ficou extremamente feliz por Charlotte ter ficado com ela em vez de tentar conversar com os Braysons sobre o clima ou o preço das amêndoas.

— Ouso dizer, a bela dama parecia positivamente rígida, como mármore, — declarou Lorde Waverly quando estavam a alguns passos da família Brayson. Ele deu um breve berro de risada. O homem parecia sempre estar de bom humor. Aparentemente, também conhecia todos e as apresentou facilmente a Lorde Isso e Lady Aquilo enquanto andavam pela sala.

Amity sorriu e assentiu, vendo Charlotte fazer o mesmo. Eles não esperavam se lembrar de nenhum dos nomes dessas pessoas. De fato, seu desejo fervoroso era que ela e a irmã estivessem sentadas em ambos os lados de Lorde Waverly, para que pudessem usá-lo como âncora.

Em mais alguns minutos, o Duque de Pelham escoltou a duquesa viúva para a sala de estar, seguida por sua irmã e seu marido. Amity observou como o duque se certificou de que sua mãe, que parecia muito jovem para ser viúva, estava sentada em uma cadeira confortável antes de perguntar se todos estavam bebendo. Quando ele teve certeza de que sim, seus olhos percorreram a sala e encontraram os dela por um instante, causando um frisson de calor.

— Vamos brindar a uma noite agradável, — disse ele.

— Apoiado! — Muitos concordaram.

Com o olhar incapaz de deixá-lo, Amity ficou hipnotizada pelo apelo do duque enquanto ele se movia de convidado a convidado, perfeitamente em seu elemento, um excelente anfitrião e um filho dedicado. Com o vinho fluindo em seu estômago vazio, ela até começou a relaxar e pensar que esta noite poderia não ser muito terrível, até que ela o viu ocupar seu lugar ao lado da dourada Lady Madeleine junto à lareira. Um dia em breve, ele seria seu ardente marido.

Inegavelmente, eles pareciam ser o par perfeito. O duque disse alguma coisa para a amada e ela sorriu radiante, o que o fez sorrir em troca. Eles provavelmente haviam esquecido que mais alguém estava na sala. Um momento depois, no entanto, quando o duque levantou os olhos para trazer outra pessoa para a conversa, ele pegou Amity olhando para ele e lhe deu um aceno de boas-vindas.

Ela assentiu, sentindo as bochechas quentes ao ser pega observando-o como se ele fosse um espécime no jardim zoológico. Desviando o olhar rapidamente, ficou agradecida quando Lorde Waverly fez uma pergunta sobre outra loja na Bond Street e podia falar como uma mulher de negócios, em vez de uma convidada mal-educada.

Por alguns minutos, tudo correu bem. Ela nem precisava se preocupar com Charlotte, que conseguiu chamar a atenção de um jovem bonito. A discussão que vinha do lugar deles parecia perfeitamente organizada e apropriada.

E, de repente, Amity sentiu ele ao seu lado. Hesitante, ela se virou e descobriu que o duque havia deixado a chama perfeita de beleza para atender a fraca oscilação da própria luz fraca dela.

— Ao contrário de Ícaro, você escapou ileso. — Essas palavras vieram de Lorde Waverly, fazendo o duque rir.

Amity conhecia a história do garoto voando muito perto do sol, apenas para espiralar até a morte, e se perguntou se o duque não se ofenderia. Afinal, deduzia que Lady Madeleine era uma meta perigosa e mal concebida.

— Meu melhor amigo sempre sabe como trazer a situação em uma perspectiva nítida, — proclamou o duque. — Esse trapaceiro está incomodando, Senhorita Rare-Foure?

— Nem um pouco, — ela jurou. — Como não conheço mais ninguém aqui, exceto minha irmã, estou agradecida por você já ter nos apresentado.

O duque olhou para Charlotte.

— Parece que sua irmã também encontrou um amigo meu para encantar. Jeffcoat é o nome dele. Ele é um homem bom, sem os problemas infelizes de visão de Greenley.

— É bom saber, milorde.

Lorde Waverly e o duque pareciam tossir em uníssono, e Amity esperava que eles não estivessem tirando sarro dela, pois ela não podia imaginar o que havia feito de errado.

— Espero que você se divirta esta noite, — continuou o duque. — Pedi à Waverly que a acompanhasse para jantar. Vou alistar Lorde Jeffcoat para escoltar sua irmã. — Com um aceno amigável, ele se foi.

— Bom homem, Pelham — disse Lorde Waverly. — Nenhum duque menos formal poderia ser encontrado.

— A viúva parece ter perdido o marido muito jovem, — observou Amity, pensando no duque anterior de Pelham, que havia falecido apenas dois anos antes.

— Verdade, — ele disse. — Foi inesperado, para dizer o mínimo. Acredito que foi pneumonia ou pleurisia. Pelham mal chegou do continente para despedir-se do seu amado pai e se viu apontado como o novo duque no dia seguinte.

— Que horrível! — Amity proclamou, olhando para onde ele estava debruçado sobre a mãe falando baixinho.

Waverly continuou:

— Espero que a viúva goste de Lady Madeleine e vice-versa, pois Pelham sempre desejará cuidar de sua mãe.

Amity considerou o quadro por um momento.

— Felizmente, Sua Graça não seguirá o exemplo da rainha e entrará em luto interminável. Para ser prático, a duquesa viúva pode ter muitos anos pela frente.

— Concordo — disse Lorde Waverly quando o mordomo os chamou para jantar.

Como se viu, Amity se viu no final da mesa do duque, com ele na cabeça e ela sentada diretamente em frente a Lady Madeleine, que já a tratava com uma expressão de desaprovação. Amity não podia imaginar por que os assentos haviam sido arranjados dessa maneira, mas seria uma longa noite.

Pelo menos Lorde Waverly estava à sua esquerda. Sua irmã acabou do outro lado da mesa com Lorde Jeffcoat entre Charlotte e Lady Madeleine. Todo o resto dos convidados se esticou na mesa, provavelmente dezoito ou mais, incluindo a irmã do duque, com a viúva do outro lado.

Enquanto o curso da sopa era servido, o duque agradeceu a todos por terem vindo, e a conversa cessou por alguns minutos enquanto eles começaram a comer. Amity teve muito cuidado ao pegar seu copo de vinho, espiando o duque a observando. Quando ela olhou diretamente para ele, ele piscou, o que causou o calor fluir através de todo o seu corpo.

Olhando para a frente novamente, ela recebeu um olhar gelado de Lady Madeleine e prometeu manter sua atenção em seu parceiro de jantar à sua esquerda. Lorde Waverly era um excelente companheiro, e a refeição passou rapidamente, embora Amity tenha adivinhado que deveria ter durado cerca de duas horas.

O duque falou com Lady Madeleine durante muito tempo, enquanto ocasionalmente alguém mais abaixo da mesa chamava seu nome, provocando uma breve conversa. E Lady Madeleine se juntou ao ser abordada, também parecendo perfeitamente atenta e relaxada enquanto falava com o homem à sua direita, o companheiro de jantar de Charlotte.

Amity não conseguia encontrar falhas na amada do duque, por mais que quisesse. Lady Madeleine estava decididamente em casa à sua mesa, exibindo todos os sinais certos de convivência. Afinal, ela parecia que seria uma boa duquesa.

Como se ela julgasse essas coisas!

À medida que as etapas avançavam, com a cozinheira do Pelham demonstrando domínio sobre cada prato, Amity notou que o duque ficou mais quieto, passando mais tempo parecendo pensativo. Quando foram servidos os pratos secundários, achou que ele poderia estar começando a parecer um pouco ansioso.

Talvez ele estivesse simplesmente digerindo sua refeição em silêncio, ela pensou. Provavelmente, estava ficando nervoso com sua proposta pública.

Olhando para Charlotte enquanto observavam os vários pratos de sobremesa espalhados na frente deles, com pessoal suficiente pronto para dar a cada hóspede uma fatia ou uma colher do que quisesse. Não havia absolutamente nada de chocolate, observou Amity com satisfação. Seus confeitos não teriam que competir com nada lá. Embora ela não tivesse dúvida de que qualquer outro chocolate servido seria inferior, era preferível não ter o sabor já nas línguas dos convidados.

Quando o jantar chegou ao fim, Amity agarrou o guardanapo no colo, preparado para o duque ordenar que seus doces fossem trazidos. Ele provavelmente se levantaria e faria sua proposta à mesa, possivelmente após um discurso efusivo sobre os muitos encantos de Lady Madeleine.

Ele simplesmente se levantou e disse:

— Vamos nos mudar para um ambiente mais confortável? Espero que os cavalheiros aqui esta noite não se ofendam se não pedir uma separação dos sexos por charutos e conhaque. Talvez cheguemos a isso mais tarde, mas, por enquanto, gostaria de manter nossa alegre reunião. Venham por aqui.

Em vez de retornar à sala de estar, com Madeleine no braço, ele os conduziu pelo corredor até o outro lado da mansão, onde as portas agora estavam abertas para um salão de baile. Os músicos já tocavam suavemente em uma extremidade e a sala estava iluminada com pelo menos cem velas. Era lindo e romântico.

Toda mulher que entrava suspirava como Amity. Charlotte veio ao lado dela e pegou a mão dela.

— Pense apenas em como seus chocolates serão apresentados.

Amity não conseguiu parar a pequena risada que escapou dela.

— Acredito que não seja o confeito Brayson que será apresentado, mas a própria lady.

— Ainda assim, é emocionante ter seus chocolates aqui, quase como uma exposição de arte em uma galeria.

Amity apertou a mão da irmã enquanto avançavam com os outros convidados. No centro da sala havia uma mesa coberta de seda rosa e forrada com copos de champanhe recém derramado.

O duque esperou até que todos se reunissem, com sua família e amigos mais próximos da mesa e o resto se aproximando para dar uma olhada. Então ele olhou para o quarteto de cordas e eles pararam de tocar.

— Estou muito feliz por ter todos vocês aqui, — ele começou, enquanto os criados começaram a distribuir o champanhe. — Como muitos de vocês sabem, eu herdei o título mais cedo do que gostaria e estou honrado em seguir os passos de meu pai, mesmo que não possa esperar substituí-lo.

— Bem dito, — alguém disse em apoio.

— Cheguei a um momento em minha vida em que preciso de uma companheira, alguém para encher minha casa com sua beleza e graça, e, esperançosamente, encher nosso berçário também.

Algumas pessoas riram, enquanto Lorde e Lady Brayson pareciam um pouco escandalizados, talvez com uma referência tão franca à filha dando à luz.

— Onde estão os chocolates? — Charlotte sibilou no ouvido de Amity.

— Apenas espere.

Alguém perto deles franziu o cenho a sua conversa durante o discurso do duque, e Amity apertou a mão da irmã novamente para silenciá-la. Ele continuou a elogiar a beleza de Lady Madeleine enquanto tinha muito pouco a dizer sobre ela. Assim, o discurso foi bastante curto antes de ele perguntar:

— Todo mundo tem uma taça?

Todos levantaram o champanhe.

— Bom. Pretendo fazer à senhora uma pergunta muito importante diante de todos vocês esta noite. Mas primeiro, achei melhor dar a ela algo tão doce quanto ela. Algo tão incrivelmente delicioso, se eu prometer fornecê-los por toda a vida, ela dificilmente pode recusar o meu pedido.

Mais uma vez, as pessoas riram. A essa altura, todos os convidados perceberam que estavam lá para testemunhar um noivado. Eles também sabiam que era basicamente uma grande cena, pois nenhuma mulher na terra negaria a mão de um duque, mesmo que ele propusesse com um pedaço de carne de carneiro cozido com um copo de água.

De repente, dois criados entraram e os que estavam atrás de Amity se separaram para deixá-los passar. Bem entre ela e Charlotte, duas criadas carregando bandejas de chocolates, as quais colocaram sobre a mesa agora quase desprovidas de taças de champanhe. Quando pousaram as bandejas de prata, Amity desejou ter lembrado em seu nervosismo ao chegar, para sugerir porcelana.

De pé na ponta dos pés, ela olhou para os confeitos, piscou e olhou novamente. Horror de horrores, ela percebeu que um erro terrível havia sido cometido.

 


Capítulo Dezoito


Ofegante, Amity chamou a atenção das pessoas ao seu redor e até do duque a alguns metros de distância, que se virou na direção dela e lhe deu um sorriso familiar.

— Qual é o problema? — Charlotte perguntou suavemente.

— Eles colocaram todos os chocolates, incluindo aqueles feitos apenas para Sua Graça.

— Eu não sabia sobre... — sua irmã começou, mas o duque começou a falar novamente.

— Lá está ela. — Ele apontou para Amity e todas as cabeças se voltaram para ela. — A chocolatier, a própria. Se vocês ainda não foram apresentados a ela, meus amigos, esta é a Senhorita Rare-Foure, da Rare Confectionery, na New Bond Street, e sua irmã, Senhorita Charlotte.

As mãos de Amity estavam cerradas, imaginando se ela deveria falar e contar ao duque. Como seria humilhante, ter que ir na frente de todos e pegar as bandejas para separar as bolas redondas de pó de cacau que ela fizera para ele dos Braysons em forma de flor. Independentemente disso, o duque não gostaria que ela estivesse à mesa, ao lado de Lady Madeleine. Este era o momento especial deles, e a presença de Amity o arruinaria!

Enquanto isso, sua irmã deu um pequeno aceno de reconhecimento, parecendo feliz.

— Eu faço confeitos de marzipan, — Charlotte disse à multidão com orgulho antes de oferecer seu sorriso doce.

Alguém por perto riu. A cabeça de Amity virou-se para localizar a pessoa ofensiva, indignada em nome da irmã. A maioria das pessoas ao seu redor, no entanto, murmurou palavras gentis ou não disse nada, esperando o duque continuar.

Abandonando sua raiva, pois tinha outros problemas com que se preocupar, Amity olhou para ele, percebendo que ele estava esperando por uma resposta dela.

— Obrigada pelo reconhecimento gentil, milorde.

Alguém riu de novo, e Amity olhou em volta, pronta para dar um tapa na cabeça do convidado rude.

— De nada, Senhorita Rare-Foure. Obrigado por vir compartilhar esta ocasião.

Em vez de desviar o olhar, de alguma forma, seus olhares travaram. Amity sentiu um tremor de realização através dela, ela amava esse homem. Seu sorriso diabólico, seus olhos verdes, sua risada contagiante, sua mente rápida, seu beijo sensual. Ela sabia que também o amaria se tivesse tido a chance de conhecê-lo melhor.

A expressão dele mudou sutilmente, e Amity se perguntou se mais alguém notaria. Sua boca atraente se abriu um pouco, como se ele pudesse dizer mais.

Depois de uma longa pausa, Lady Madeleine perguntou:

— Vamos experimentá-los, Sua Graça? Ou deixá-los derreter à luz de velas? Nossos convidados estão esperando.

Nossos convidados? A lady já supunha que eles eram um casal que organizava a festa. Não deveria incomodar Amity, pois esse era o resultado irrevogável depois desta noite, mas a deixou completamente triste, da mesma forma.

Henry virou-se para a lady arrebatadora ao lado dele e não sentiu... nada. Ele não tinha conseguido beijar Madeleine, e não se importava mais. Quando olhou para os amigos e a família, percebeu que tinha sentimentos mais fortes pela maioria das pessoas na sala do que pela filha do conde.

Especialmente por Amity, cujos brilhantes olhos castanhos chocolate pareciam capturá-lo sempre que ele olhava para suas profundidades animadas e inteligentes.

No entanto, ele tinha que ser sensível. Madeleine foi criada para ser duquesa. Naturalmente, ela tinha mais o perfil, em seu vestido dourado, mas... ele olhou para Amity novamente, a chocolatier dele parecia infinitamente mais encantadora em seda verde, como uma fada.

Ou pelo menos, por algum motivo, ela era a única mulher na sala que realmente o encantou. Mas ela poderia realmente ser aceita como sua duquesa?

Madeleine não se enganava quando se tratava da nobreza, nem ofegou alto em público ou derramou seu vinho. Nem beijou com paixão o suficiente para fazer o cabelo dele levantar, ou pelo menos, ele não tinha descoberto se ela o fazia ou não. Além do mais, percebeu que não se importava mais em descobrir. Com Amity, ele sabia exatamente o quão espetacular seus beijos podiam ser e quão maravilhosa era a mulher que os concedia.

— Os chocolates, — Madeleine disse novamente, com mais insistência.

Henry piscou. Quase alguns segundos se passaram, mas parecia que ele ficou ali por horas, pensando silenciosamente em Amity e em quão desfavoravelmente Madeleine se comparava ao humor, calor, senso de aventura e natureza companheira de sua chocolatier.

Cristo! Todos, principalmente os pais de Madeleine e sua própria família, estavam esperando uma proposta.

— Os chocolates, — ele repetiu fracamente. — Prove um, milady. Eles vão... conquistar você e... de fato, foram nomeados para você.

— Foram? — Madeleine parecia genuinamente encantada.

— Sim, — disse ele, olhando para Amity novamente, cujas mãos estavam agora apertadas nas da irmã dela. Por que tinham expressões preocupadas correspondentes? De uma coisa, ele não tinha dúvidas: Madeleine adoraria os chocolates. Amity não precisa se preocupar com isso.

Ele viu Madeleine selecionar uma da bandeja, pela primeira vez percebendo que havia dois tipos, as bolas redondas de fondant que ele amava e aquelas em forma de flor que ele escolhera. Ela pegou uma bola redonda com pó de cacau.

Mantendo o olhar fixo no dele, Madeleine mordeu o doce pela metade. Ele soube naquele instante como estava derretendo decadentemente em sua língua, como a seguir ela provaria a explosão de doçura e lavanda, seguida por...

Os olhos dela se arregalaram um pouco quando a boca torceu. Foi a primeira vez que a viu parecer menos que bonita.

— Agh! — Ela proclamou alto, parecendo que poderia cuspir. Em vez disso, como se com grande dificuldade, fazendo uma careta o tempo todo, ela engoliu em seco e pegou a taça de champanhe a seu lado. Derrubando-a, pegou outra e bebeu em dois grandes goles.

Em um silêncio horrorizado, as pessoas começaram a olhar para a chocolatier, que agora exibia uma expressão ferida.

— Isso foi vil! — Madeleine disse alto e bateu o restante do doce na toalha de mesa de seda rosa, sujando-a com chocolate.

Henry estava além de atordoado. A palavra vil não combinava com nada que ele já provara da Rare Confectionery.

Amity abriu caminho para a frente de seus convidados.

— Houve um erro, milorde...

Antes que ela pudesse avançar mais no que ia dizer, Madeleine se voltou contra ela.

— O Duque de Pelham não deve ser tratado como “milorde”, sua idiota. Você não percebe como toda vez que diz “milorde”, Sua Graça está rindo de você? Estamos todos rindo. Um duque deve ser tratado como “Vossa Graça” ou mesmo “sir”, exatamente como sua mãe... ou esposa... sempre é “Vossa Graça” ou “madam”. É quase inconcebível que você não conheça essa cortesia comum. Aqueles de nós que estão destinados a estar aqui, — ela gesticulou em torno dela, observando seu opulento salão de baile, — aprendemos isso quando mal podíamos ler ou escrever.

Amity deu um passo para trás, como se cada uma das palavras de Madeleine tivesse sido um tapa no rosto. Seu olhar mortificado passou do agressor para ele, e Henry sentiu o rosto esquentar de vergonha, tanto pela grosseria e falta de graça de Madeleine quanto pelo erro inocente de Amity.

A culpa foi toda dele. Ele deveria ter dito a ela. Em particular, é claro, não assim. De qualquer forma, Madeleine estava errada, ele nunca riu de Amity por causa do erro. Na verdade, achava isso agradável, mas isso não era desculpa para não contar a ela.

— Eu... eu... — Amity começou, depois parou.

— Lady Madeleine, — Henry repreendeu, — você falou rudemente com uma das minhas convidadas.

Ele desejou que os olhos de sua chocolatier brilhassem de raiva dele ou de Madeleine. Em vez disso, sem outra palavra, ela se virou e fugiu do salão. Era a última coisa que ele esperava que acontecesse.

Sua irmã começou a ir atrás dela, mas ela parou e se virou.

— A Rare Confectionery nunca produziu nada além do melhor, — afirmou em voz alta e clara. — É você, — ela apontou para Madeleine, — que é vil, do jeito que você trouxe sua matilha dessas predadoras para nossa loja para nos assediar. Você deveria ter vergonha, mas suponho que seu tipo não saiba o significado da palavra vergonha. Seu paladar deve ser tão grosseiro quanto sua natureza, se você não consegue discernir deliciosos chocolates quando prová-los.

A Senhorita Charlotte olhou em volta para os convidados atordoados, como se desafiasse algum a dizer qualquer coisa. Saudada por um silêncio horrorizado, ela se virou e olhou diretamente para ele. Henry prendeu a respiração, imaginando se ela desencadearia sua raiva nele em seguida. Em vez disso, ela lhe deu algumas palavras de conselho.

— Você deve tomar cuidado com essa uma, — disse ela, gesticulando com um movimento do polegar para Madeleine.

— Como você ousa! — Disse Madeleine e seus pais simultaneamente.

Senhorita Charlotte revirou os olhos castanhos e continuou a se dirigir a ele. Dessa vez, no entanto, ela ofereceu o mesmo sorriso com o qual sempre cumprimentava seus clientes, inclusive ele.

— O jantar foi delicioso, Vossa Graça. — Ela fez uma reverência. — Obrigada por nos convidar. — Com isso, ela saiu do salão.

Bravo! Ele pensou, desejando que Amity tivesse visto a compostura de sua irmã. Ainda mais, ele desejou que não fosse necessário em primeiro lugar.

— Graças a Deus que se foram, — disse Madeleine com desdém.

Enquanto isso, sua mãe pegou outro chocolate e o mordeu.

— Por que, é delicioso, — disse ela.

— O quê? — Madeleine declarou, se aproximando da mãe.

— Chocolate e lavanda, — refletiu Lady Brayson. — Que delícia!

— Deixe-me provar, — e ela arrancou o restante dos dedos de sua mãe, colocando-o entre os lábios.

— Bem? — Henry perguntou a ela, querendo que ela reparasse a reputação de Amity como chocolatier na frente de todos.

Madeleine ergueu o ombro em uma indiferença praticada antes de admitir:

— Muito melhor do que o primeiro, vou dizer isso.

Henry olhou para o pedaço de chocolate descartado que tanto a desagradara, quase com medo de prová-lo. O que poderia estar errado? Depois de uma pausa, ele pegou e comeu.

Fechando os olhos para os sabores, ele mal podia acreditar no que Amity havia feito.

Assim que Amity chegou em casa, ela foi para o quarto, ignorando os pais e Beatrice que estavam na sala de estar. Charlotte poderia contar sua humilhação e o fracasso.

Na casa do Duque de Pelham, ela esperou no vestíbulo do térreo que sua irmã se juntasse a ela, depois de pedir ao lacaio que convocasse a carruagem. Foi uma curta e tensa volta para casa. Ela não era do tipo que chorava, mas inesperadamente sentiu lágrimas picando seus olhos.

Charlotte estava estranhamente quieta, sentando-se ao lado dela e colocando uma mão de apoio no joelho na viagem de volta à Baker Street. Amity não perguntou o que ela havia dito às pessoas, sabendo que sua irmã havia dito algo. Isso foi inevitável. Esperançosamente, nada vergonhoso, mas Amity não viu como ela poderia ser mais desonrada do que já estava. Ela também não conseguia imaginar como os danos à Rare Confectionery poderiam ser piores.

Eles teriam algum cliente de manhã?

Claro que sim, ela se consolou. Talvez não entre a elite, mas eles tinham muitos frequentadores regulares que não sabiam nada sobre o Duque de Pelham ou lady Madeleine, nem tinham encontrado a alta sociedade. Sorte deles!

Em seu quarto, Amity sentou-se pesadamente em sua cama. Por que o duque não a corrigiu a primeira vez que cometeu o erro na presença dele? Ou até Lorde Waverly, para esse assunto? Em vez disso, recebeu uma lição da mulher mais arrogante, diante das pessoas menos indulgentes que ela poderia imaginar. E agora ela sabia que um duque não era um lorde.

Que confusão! Embora ela tenha dito muitas vezes “Sua Graça” ao se referir a ele, ela nunca havia usado “Vossa Graça” ao falar com ele, pois soava descaradamente ridículo para seus ouvidos. O que mais ela tinha errado?

Alguém, no jantar dos Peabodys ou na casa do duque naquela noite, deveria ter tido boas maneiras de lhe dizer em particular para parar de cometer o erro. Obviamente não! Assim, ela foi humilhada na frente dos amigos e da família do duque. E o que ele achava dela? Ele realmente se divertira com o erro repetido dela?

Amity deitou-se em sua cama no vestido emprestado e olhou para o dossel acima. Ela precisava ignorar os acontecimentos da noite. Ruminar sobre coisas que não poderiam ser mudadas não ajudou em nada. Ela deve olhar para o futuro, especificamente o dela. Quanto ao duque, certamente, ele teria acalmado as coisas com sua lady, esperançosamente identificado os chocolates corretos e proposto como planejado. Os convidados teriam voltado à prática festiva de beber champanhe e tudo ficaria bem de manhã.

Em mais ou menos um dia, o noivado seria anunciado em todos os jornais. Era uma ocorrência importante quando um dos duques da Inglaterra foi retirado do mercado de casamentos. E Amity tentaria desejar-lhes tudo de bom de coração.

Ela gemeu e fechou os olhos. Que tolice da parte dela se imaginar apaixonada por ele e que Madeleine estava correta, uma lojista não pertencia ao mundo do Duque de Pelham. Estava cheio de poças de lama de costumes desconhecidos, nas quais ela podia pisar a qualquer momento. As pessoas não eram gentis, exceto o duque, sua mãe viúva e até Lorde Waverly. Todo mundo parecia maldoso.

Amity não tinha nada que se misturar com a nobreza. Era tão ridículo quanto se apaixonar por uma estrela cadente que corria para longe, alto e fora de alcance. O que sentiu pelo duque foi paixão, obsessão, fascínio... definitivamente não foi amor.

Agora que havia passado um pouco de tempo desde o beijo do duque, e com a certeza de que isso nunca mais aconteceria, conseguia pensar claramente em Jeremy. Determinada a falar com ele no dia seguinte, esperava que eles pudessem salvar seu relacionamento. Ao longo do ano passado, ela se contentara com ele e tinha certeza de quão bem combinavam. Não é de surpreender que cada um deles expressasse uma crescente afeição pelo outro, e não havia razão para acreditar que não continuaria. Ou seja, se ele ainda pudesse alimentar a noção de tê-la como esposa.

Evitando a ajuda de Delia, Amity conseguiu se despir, soltar o cabelo, cem alfinetes pareciam segurá-lo! E subiu na cama, absolutamente exausta.

De manhã, no entanto, seus planos de visitar Jeremy eram inúteis. Os Rare Foures iam viajar para o campo. Quando ela desceu para tomar café da manhã, Amity descobriu que alguns membros da família já estavam fazendo as malas enquanto Armand Foure lia um jornal com seu chá e ovos.

— Nunca saímos e fechamos a loja nessa época do ano, — protestou ela sobre sua xícara de chocolate. — E todo o estoque nas prateleiras? — Ela perguntou ao pai. Sua mãe estava notavelmente ausente.

— Vamos descartar parte dele com uma venda rápida esta manhã e distribuir o resto. Não se preocupe.

O fato de seu pai dizer a ela para não se preocupar fez Amity começar a se preocupar imediatamente. Quando Charlotte entrou com Beatrice logo atrás, seus olhares esvoaçaram entre ela e o pai.

— O que está acontecendo? — Amity perguntou a suas irmãs. Cada um foi ao aparador para encher seus pratos.

— Hum, — disse Charlotte, mantendo as costas para Amity.

Beatrice se virou e sorriu, mas parecia mais uma careta. A barriga de Amity gelou.

— Alguém por favor me dirá por que estamos correndo para Coggeshall como se os cães do inferno estivessem atrás de nós?

Foi Beatrice quem se sentou ao lado dela e disse:

— Os jornais não foram gentis com a presença de você e Charlotte na festa do duque ontem à noite. Nossa loja foi mencionada e algo sobre Lady Madeleine quase ficou doente por nosso confeito.

Amity sentiu as lágrimas voltarem, e ela piscou com força para impedir que caíssem.

— Eu disse à criada qual lata era só para o duque, — protestou ela, tentando explicar à sua família como seus meios de subsistência ela poderia ter arruinado. — Mas alguém os expôs e, com uma excepcionalmente má sorte, Lady Madeleine pegou um daqueles sabores que ela não apreciava.

O pai dela deu de ombros.

— Não importa. Precisamos de uma pausa. Vocês não concordam?

Charlotte e Beatrice disseram que sim. A bondade delas piorou tudo.

Amity suspirou.

— Pai, não é um erro fechar a loja como se estivéssemos fugindo ou nos escondendo de alguma coisa? Não é como admitir culpa?

— Eu não acredito nisso, e não quero que nenhuma de vocês seja assediada, então vamos tirar umas férias curtas no campo. Três semanas em Essex, no mínimo. Talvez você tenha tempo para ler sobre novos avanços em chocolate.

— Novos avanços em chocolate? — Ela perguntou com incredulidade.

— Eu ouvi rumores, minha garota, — disse Armand Foure. — Os suíços estão trabalhando em uma máquina, em forma de concha, se você pode acreditar... que tornará o chocolate ainda mais suave. Alguns estavam discutindo isso na reunião dos comerciantes de açúcar. Encontrei alguns artigos mencionando o método, que trarei para você ler, mas eles estão em francês.

Chocolate mais suave? Vale a pena ler sobre isso, mesmo que ela tenha que lutar com a tradução. Por outro lado, parecia covarde não enfrentar os fregueses de Mayfair.

— Onde está a mãe?

— Cuidando da loja hoje de manhã. Partimos quando ela voltar.

— Ela está sozinha? — Amity perguntou com alarme.

— Como disse, não quero que vocês, meninas, sejam assediadas. Ela tem Delia com ela, e colocarão tudo em ordem e colocarão um recado na porta a respeito de nossa estada no campo. Não se preocupe, Amity. Deixe sua mãe e eu cuidarmos disso.

Ela terminou o chocolate quente, que não a acalmou pela primeira vez em sua vida.

Que desastre! Tanta coisa para ganhar novos clientes, criando um doce especial para o duque. Em vez disso, parecia que não teriam mais clientela.

— Posso enviar uma mensagem ao Sr. Cole sobre a nossa partida e onde ele pode escrever para nós, se desejar?

— Certamente, — disse o pai dela, e, para seu crédito, ele não parecia nem um pouco preocupado com a filha os ter levado a fechar a loja e fugir de Londres.

De pé, ela foi até ele e beijou sua bochecha, olhando para as expressões subjugadas de suas irmãs e notando os jornais amassados em uma pilha ao lado do cotovelo de seu pai. Aparentemente, ele não iria compartilhá-los hoje. Pelo menos não com ela.

Indo para o escritório, sentou-se para escrever para Jeremy, desejando poder ter falado com ele. Enquanto colocava a caneta no papel, um pensamento terrível passou por sua mente. E se ele já tivesse percebido o escândalo, se pudesse ser chamado assim, e não quisesse mais ser associado a ela?

Afinal, em sua profissão, ele deve estar acima de qualquer censura. A mancha de ter supostamente feito a futura duquesa de Pelham ficar doente pode seguir Amity além da notoriedade fugaz dos folhetins sórdidos de fofocas. Ela pode se tornar conhecida como a fornecedora de chocolates envenenados, ou algum apelido ridículo. Talvez ela devesse deixar Jeremy em paz.

No final, Amity decidiu deixar que fosse sua decisão retomar o contato com ela. Ela escreveu para ele sobre a partida deles para Coggeshall, uma cidade extraordinária no coração de Essex, com o convite aberto para escrever para ela ou mesmo para visitar.

E então ela começou a arrumar seus pertences pessoais.

Henry desceu da carruagem e saltou pela calçada, os dedos na maçaneta da porta antes de ver o aviso na vitrine. A porta não se abriu como de costume com o toque acolhedor da campainha. Olhando pela janela, ele não viu as bonitas irmãs Rare-Foure dentro para cumprimentá-lo.

Recuando, ele leu a mensagem escrita em um roteiro sem sentido e pendurada por uma fita azul voltada para fora, contra o vidro:

Obrigada pela preferência. Estamos indo em férias breves.

O restante de nossos confeitos está à venda ao lado no Asprey's.

Por favor, desculpe qualquer inconveniente.

Franzindo a testa, ele sentiu uma pontada no estômago, acompanhando a suspeita de que não era uma viagem planejada. Além disso, o fechamento inesperado da loja não era um bom presságio para a conta bancária dos Rare-Foures. Ele releu a mensagem e correu ao lado na joalheria, não para comprar os chocolates restantes, mas para descobrir se o balconista da Asprey sabia mais alguma coisa.

 


Capítulo Dezenove


Coggeshall, Condado de Essex


Amity fechou o Livro de Novas Receitas das Senhoras de Eliza Leslie. Ela estava lendo a receita da mulher americana para bolo de chocolate repetidamente, sem entender uma palavra. Apesar de ser o favorito da cozinheira dela e indubitavelmente cheio de bom senso, o livro não conseguiu prender sua atenção. Fazia cinco dias desde o desastre na casa do duque e, ainda assim, Amity podia recordar vividamente as palavras duras de Lady Madeleine e o olhar de vergonha e desapontamento do duque.

De pé, ela deixou a janela ensolarada e decidiu dar um passeio lá fora. Felizmente, o tempo estava bom depois de um período de chuva nos dois dias anteriores. O sol e uma longa caminhada, sem dúvida, melhorariam seu humor.

Assim, cinco minutos depois, envolta em sua leve capa cor de ameixa, ela estava caminhando em direção ao Rio Blackwater, mantendo a mente afastada dos pensamentos da nobreza e de Londres o máximo possível. A perdiz estava farfalhando nas ervas altas. Seu pai não era caçador, e ninguém mais usava suas terras; portanto, havia uma abundância de pássaros na propriedade, além de raposas e veados.

Quão diferente seria a vida de seu pai se ele tivesse filhos? Certa vez, ela o ouviu contar à mãe como ele estava feliz por ter filhas, pois ele se lembrava de sua própria criação, onde ele e seus irmãos eram pequenos terrores... barulhentos, problemáticos e sujos.

Ela franziu a testa agora lembrando suas palavras. Ela e suas irmãs não eram nada disso, exceto as explosões ocasionais de Charlotte. No entanto, os problemas de Amity com a boa sociedade poderiam ser considerados, no mínimo, problemáticos. E assim, ela estava pensando em toda a bagunça novamente. Droga!

— Senhorita Rare-Foure, — veio uma voz masculina, surpreendendo-a com seus pensamentos. Girando ao redor, ela viu Jeremy caminhando rapidamente em sua direção. Seu coração se elevou como um pardal em uma brisa suave.

Ela não teve resposta dele à carta e pensou que talvez ele tivesse lavado as mãos dela. Em vez disso, a cumprimentou calorosamente, tirou o chapéu e o recolocou, e tão naturalmente como se nunca tivessem se separado, enfiou o braço sob o dele. Eles continuaram juntos ao longo do caminho. Ele havia visitado a casa de campo de sua família uma vez antes e parecia bastante à vontade, dirigindo os passos em direção à pequena ponte sobre um pequeno afluente do rio que corria próximo a sua terra. A ponte levava a uma ilha de tamanho modesto e nela um pequeno mirante, um cenário romântico que existia desde que Amity nasceu.

— Foi bom você vir, — disse ela e falou sério.

— Deveria ter respondido sua carta mais cedo. Eu tinha alguns assuntos a tratar.

Compreensivelmente. Amity esperou por sua decisão, sabendo que era um bom sinal de que ele havia chegado até Coggeshall.

Então ele acrescentou:

— Seu nome e a loja ficaram nos jornais por alguns dias.

— Quão ruim foi? — Ela perguntou.

Ele olhou de soslaio.

— Você não os leu?

Ela balançou a cabeça e entrou na pequena estrutura em que alguns pássaros haviam feito seus ninhos nas vigas.

— Nenhuma palavra. Eu vivi isso, lembra?

Ele não sorriu.

— Eles não foram gentis, mas parece que você estava em oposição direta à amada Lady Madeleine Brayson.

— Em breve será a ainda mais amada Duquesa de Pelham, — acrescentou Amity.

— Talvez, — disse Jeremy, olhando em volta, — mas isso não foi mencionado. — Ele descansou um pé no banco, e ela ficou do outro lado do mirante, observando o rio.

Depois de um momento, ele perguntou:

— Quais são os planos para Rare Confectionery?

A maneira como ele perguntou a ela enviou um choque na espinha, e ela se virou.

— O que você quer dizer?

— Será que vai reabrir?

— Por que não iria? — Ela exigiu, tentando manter a voz calma, mas a ideia de que a loja maravilhosa e amada pudesse fechar para sempre a assustou. — Estamos aqui apenas por mais algumas semanas e depois voltaremos.

— Entendo.

Ela deu um passo em sua direção.

— Jeremy, tem mais alguma coisa?

— Os jornais falavam mais de você do que dos produtos da confeitaria. Não pude deixar de me perguntar se você não for mais a chocolatier, seria melhor para sua família e para a Rare Confectionery. Uma de suas irmãs poderia fazer os chocolates, ou talvez sua mãe.

Ela ficou boquiaberta antes de fechar a boca para não parecer como um peixe moribundo. Ele falou como se alguém pudesse fazer o que ela fazia. Ela não podia esculpir um porco de marzipan mais do que voar, nem impedir que o caramelo de melaço queimasse ou se separasse.

— Por que você diz isso?

Ele encolheu os ombros.

— Eu apenas pensei que se você se distanciasse e deixasse as pessoas pensarem na Rare Confectionery sem você, qualquer dano causado à reputação da loja desapareceria.

Quão mal os jornais a trataram? Ela quase queria espiar. Quase.

— Não pareça tão ferida, — disse Jeremy, aproximando-se dela. — Há mais na vida do que a sala dos fundos da loja. O que me leva à razão pela qual vim. Quando você me contou, há algumas semanas, das suas dúvidas sobre o nosso futuro, fiquei magoado. Particularmente como havíamos nos beijado diretamente antes. Pensei que você estivesse me testando.

Ela queria muito que aquele beijo fosse como o do duque. Não tinha sido. Tampouco era repulsivo ou mesmo desagradável. Simplesmente não era o mesmo.

— Em retrospecto, devo dizer que te admiro por ser cautelosa, — continuou ele. Então ele pegou as duas mãos dela. — Espero que você tenha tido a chance de pensar mais sobre se nos adequamos. Acredito que por me enviar essa carta, você estava convidando meu retorno à sua vida. Eu estava correto?

Amity assentiu. Essa tinha sido sua intenção. Ela precisava deixar de lado qualquer esperança boba que ela estava alimentando... qualquer outra pessoa.

— Sim, se você é favorável a isso. Estou feliz que você veio, Jeremy.

A visão familiar dele, tão inesperada, a animara, pelo menos até que ele começou a falar sobre ela não fazer chocolate.

Ele sorriu com as palavras dela. Ele a beijaria novamente?

— Eu também pensei muito, — acrescentou. — E minha vida é mais vazia sem você. Acho que você será uma excelente esposa de advogado. Além disso, acredito que você será feliz e repleta com os deveres de ser minha esposa e, esperançosamente, um dia, uma mãe, se você continuar ou não a fazer chocolates.

Amity não gostou da conversa.

— Adoro fazer chocolate e passar meus dias com minha mãe e irmãs.

Ele assentiu.

— Eu sei que sim, mas quando você se torna esposa, é normal se afastar da sua família biológica e se apegar ao seu marido. Além disso, os frutos do seu trabalho não devem mais ir para a Rare Confectionery, mas para os nossos ativos da Cole, de qualquer forma que se desenvolvam.

— Eu recebo um subsídio, — ela começou.

— Você precisaria ser paga adequadamente se permanecesse na Rare Confectionery, pois isso seria um desperdício de tempo e energia que você tem para a nossa união.

Amity não podia imaginar pedir a seus pais que a pagassem para trabalhar na loja, e ela disse isso a ele.

— Se você determinou que ser fabricante de chocolate é a única maneira de ser feliz, quando tivermos economizado o suficiente, você poderá abrir sua própria confeitaria. Cole’s Confectionerys soa bem ou Cole’s Chocolates.

Ela sorriu. Ele estava tentando ser prestativo e atencioso, enquanto desejava ter certeza de que sua lealdade estaria mais com ele, e ser uma Cole mais do que ser uma Rare-Foure.

— Eu entendo, — disse ela. Jeremy gostava da família dela e, no final, ele a deixava continuar a ser a chocolatier da Rare Confectionery e, à medida que os deveres de esposa e mãe levavam mais tempo, ela se acostumaria à sua nova vida e tornava necessário ajuste.

— Dificilmente parece real discutirmos o nosso futuro, — disse ela, tentando manter afastados os sentimentos irracionais de decepção por sua vida ser esquematizada, sem nenhuma surpresa, exceto a vida real dela.

Ou ela estava experimentando decepção com outra coisa?

— Irreal, mas emocionante, — Jeremy disse.

Amity assentiu, embora esse não fosse o caso com precisão. Pelo menos não para ela. Um certo grau de antecipação, inegavelmente, mas não excitação.

Suponho que isso deixa uma coisa a dizer.

— Você quer se casar comigo? — Ele perguntou.

Essas eram as palavras que, felizmente, ela não temia ouvir dele. Olhando em seus olhos castanhos gentis e compreensivos, ela se sentiu em paz.

— Sim, eu aceito.

Jeremy abaixou a boca na dela e a beijou.

Henry ficou assombrado com o rosto perturbada da chocolatier quando ela saiu do salão, sabendo que ele era o culpado por não ter corrigido o uso de “milorde”. Simplesmente não importava para ele do que ela o chamava. Se tivessem tido mais tempo juntos, poderiam ter progredido para Amity e Henry.

Ele ainda esperava que eles tivessem essa chance. Enquanto isso, ele tinha que sair de uma situação complicada. Seus amigos sabiam de sua intenção de propor a Madeleine, assim como sua mãe, e pelo que ele descobriu em sua festa infeliz, assim como Lorde e Lady Brayson, e até a própria dama. Ele pensara que era uma surpresa tão cuidadosamente planejada, que lhe permitiria mudar seus planos sem ninguém mais perceber. Em vez disso, ele estava no centro das atenções, como um ator no palco.

A primeira surpresa da noite foi o chocolate errado, causando confusão. A segunda foi quando nenhuma proposta foi apresentada. Ele não tinha sido capaz de fazê-lo, nem mesmo ao encarar as expressões confusas de seus convidados. Quando tudo o que ele desejava era correr atrás de Amity, e se importava mais com os sentimentos feridos dela do que com a insistência de Madeleine de que o chocolate estava envenenado... ele sabia que tinha que reavaliar suas prioridades.

— Não importa, — ele disse à filha do conde quando ela fumegou e fez uma careta de descontentamento. Durante todo o tempo, ele saboreava o delicioso chocolate que Madeleine achou tão repugnante, sabendo assim que derreteu em sua língua, que Amity havia feito para ele. — Beba mais champanhe e você se sentirá melhor.

Quando descobriram que havia dois tipos de chocolate nas bandejas, e Madeleine foi convencida por sua mãe a experimentar o verdadeiro Brayson, ela adorou.

— Foi tão inteligente, — elogiou ela, — para você incorporar o meu perfume favorito em um doce.

Ele a lembrou que era a esperteza da Senhorita Rare-Foure, mas ela se virou para comer outra.

Seus convidados tentaram bravamente se recuperar do drama, e a maioria comeu os chocolates com prazer. Pelo menos, eles comeram os Braysons. Antes que mais erros pudessem ocorrer, ele confiscara onze chocolates que, sem dúvida, eram dele e só dele. Chocolates aromatizados com café e a menor pitada de laranja... tinham sido positivamente divinos.

Então Madeleine voltou os olhos azuis para ele e esperou. Ele nem sentiu vontade de limpar a migalha de chocolate do lábio inferior dela. Em vez disso, ele se virou para seus convidados.

— Foi bom que todos tenham vindo e gostado do novo doce inventado para Lady Madeleine pela talentosa chocolatier Senhorita Rare-Foure, da Rare Confectionery.

E depois daquela declaração esfarrapada, tão sutil quanto um anúncio de jornal para ligas masculinas, com todos aguardando o grande evento que ele mencionara, ele simplesmente assentiu, sorriu, bebeu outra taça de champanhe e tentou evitar o olhar muito divertido de Waverly.

— Você tinha uma pergunta, Vossa Graça, — Madeleine insistiu.

Henry suspirou. Ele não poderia deixar o assunto tão facilmente. Muito bem, uma pergunta. Ele teve que inventar um no local.

— Naturalmente, preciso saber se você prefere que o doce seja chamado Madeleine ou Brayson.

A expressão agradável de Madeleine se tornou uma descrença e depois um desagrado, e com uma carranca e uma diminuição nos lábios, ela parecia menos bonita pela segunda vez naquela noite. O rosto de seu pai espelhava o de sua filha, e sua mãe parecia além de perplexa.

Que bagunça!

No dia seguinte, depois de encontrar a Rare Confectionery fechada, Henry voltou para casa com uma carta contundente de Lorde Brayson, pedindo para saber o que significava ele brincar com os afetos de sua filha. De fato, ele exigiu que o Duque de Pelham aparecesse em sua casa no dia seguinte e declarasse suas intenções de uma vez por todas.

Com razão, também. Normalmente, ninguém exigia que um duque fizesse nada, e Henry poderia ter recusado. No entanto, se alguém tivesse tratado uma moça de maneira tão desonesta, ele estaria firmemente do lado da moça e de sua família.

Por outro lado, ele perseguira Lady Madeleine com as melhores intenções e nunca brincara com seus afetos, pois nem ele nem ela haviam trocado uma única palavra afetuosa que ele pudesse se lembrar.

Finalmente, ele foi para a única pessoa cuja sabedoria ele mais confiava no mundo, que sempre teve seu melhor interesse no coração, sua mãe. Quando ele confessou à duquesa viúva o maior desejo de seu coração, ela foi prestativa e brutalmente honesta, como esperado.

— Você sabe que a escolha que você fez não será a mais suave, não para nenhum de vocês, mas posso ver no seu rosto que isso fará você feliz. Suponho que você acredite que isso também fará sua jovem feliz. Nesse caso, nada neste mundo deve ficar entre vocês.

Com o apoio de sua mãe, Henry acreditava que era possível fazer de Amity sua duquesa. Ainda assim, ele devia aos Braysons falar com eles pessoalmente. Ele apareceu em sua casa, conforme solicitado, e ocorreu um breve encontro em que Lady Madeleine finalmente demonstrou mais paixão do que nas reuniões anteriores. Henry sabia que isso se devia mais à perda de um título futuro do que à perda dele como marido.

— Estou mortificada, — proclamou Madeleine.

— Minha filha não deve ser sua duquesa? — Lorde Brayson fumegou.

— Não uma duquesa — Lady Brayson murmurou tristemente.

— Ofereço minhas sinceras desculpas, — disse ele, falando apenas com Madeleine, — se nossos poucos encontros e discussões levaram você a acreditar no contrário.

Ela olhou e de alguma forma espremeu uma única lágrima, linda quando tentou retratar tristeza quando, claramente, tudo o que sentiu foi raiva. Finalmente, ela levou a mão à testa e fugiu da sala.

Pela primeira vez, Henry ficou extremamente feliz por nunca ter conseguido beijá-la. Pelo menos, ele não havia se aproveitado da dama.

Enquanto isso, ficou sabendo na joalheria de Asprey que Amity e sua família haviam saído de férias para sua casa de campo em Coggeshall, e ele ficou muito tentado a segui-los imediatamente. Ou melhor, assim que descobriu onde era esse lugar. De um cavalheiro do White's apaixonado por mapas, Henry descobriu que era em Essex.

De qualquer forma, com a indecisão reinando suprema, ele ficou esperando por uma semana, até que no White's, Waverly disse:

— Se você está falando sério, Pelham, acho que deveria ir atrás dela.

— Como posso aparecer do nada? — Henry perguntou, girando o conhaque no copo. Até o líquido âmbar, cheio de sutileza e sabores complexos, lembrava Amity.

Waverly riu.

— Se você estiver esperando por um convite, terá uma longa espera.

— Não, claro que não. — O que ele queria? — Odiaria chegar lá e descobrir que ela me despreza.

— Por que diabos ela iria te desprezar? — Waverly perguntou, com um tapa jovial na mesa polida. — A Senhorita Rare-Foure não te conhece tão bem. Por outro lado, eu sim, e nem eu te desprezo.

Henry revirou os olhos e bebeu o resto de sua bebida.

— Eu digo, — começou Waverly, apoiando o pé no joelho e recostando-se confortavelmente, — você deve realmente gostar dessa garota para estar em tal reviravolta. Você pode se preocupar que ela o recuse?

— O olhar em seu rosto quando ela saiu da festa, — Henry lembrou e balançou a cabeça. Ela parecia odiá-lo.

Waverly assentiu.

— Em parte minha culpa. Eu deveria ter dito a ela a forma correta de tratamento, mas pensei que a noite terminaria e ela voltaria ao seu mundo, nunca tendo motivos para falar com você publicamente novamente. Nem qualquer duque, a propósito. Como poderia saber que você a destinava para sua esposa?

— Como eu poderia saber? — Henry perguntou. — A noção surgiu e me agarrou, e agora não consigo pensar em como posso viver sem ela.

— Surpreendente. Eu me pergunto se o amor me atacará da mesma maneira. Parece positivamente terrível. — Waverly fingiu estremecer.

Henry não pôde deixar de sorrir.

— Não é terrível. Parece melhor do que pensar que poderia me amarrar a alguém pelo resto da minha vida, por quem não conseguia atrair nada além de um interesse morno.

— Mesmo com a aparência surpreendente de Lady Madeleine, você prefere a sua chocolatier?

Infelizmente, Madeleine tinha apenas sua aparência para interessar Henry. Além disso, mesmo nesse aspecto, Amity ofuscou a filha do conde. Waverly deve ser cego para não ter notado.

— Você a viu na minha festa?

Waverly encheu seu copo e o de Henry.

— Quem? Qual delas?

— A Senhorita Rare-Foure, seu idiota! Ela é a mulher mais perfeita. Na festa, ela era como uma doce fada em sua seda verde, seu cabelo polido e brilhante, parecendo tão macio que eu ansiava por tocá-lo. E seus olhos sinceros, sérios e animados. Não vejo a hora de olhar para eles novamente. E seus lábios doces e flexíveis, a forma perfeita para beijar... — ele parou com a expressão de seu amigo.

A boca de Waverly se abriu e ele tossiu.

— Você deve, como eu disse, ir até ela imediatamente. Sem mais gestos grandiosos e planos complexos. Você pode ver como eles falharam.

Henry suspirou.

— Não posso dizer que meus planos falharam, pois me levaram à Rare Confectionery. Mas você está certo, deveria falar com ela o mais rápido possível. Eu poderia enviar uma mensagem para a casa de campo e ver se receberia uma resposta.

Waverly estava balançando a cabeça, cantarolando sua desaprovação por uma tática tão morna.

Henry deu de ombros.

— Ou eu poderia fazer uma mala e sair logo de manhã.

— De acordo. — Waverly ergueu o copo e o colocou de volta. — Por que você ainda parece duvidoso? Você é o maldito Duque de Pelham!

— Esse é o problema. Se a Senhorita Rare-Foure se torna minha duquesa, tudo o que ela pode fazer da vida é representar a mim e minha posição com graça. Isso e prometer não se envolver em nada escandaloso.

Waverly levantou uma sobrancelha.

— E por que isso é um problema? Você prevê que ela se torne escandalosa? Continue, conte-me os detalhes.

Henry lançou-lhe um olhar fulminante.

— Ela teria que desistir de qualquer coisa relacionada à Rare Confectionery e se restringir ao trabalho de caridade. O mais próximo que ela poderia chegar dos chocolates seria colocá-los em uma cesta de alimentos para os pobres, se é que isso é feito. Tenho certeza de que os necessitados preferem pão e carne saudáveis.

— Suponho que é melhor você dar a Senhorita Rare-Foure essa escolha, não é? — Mais uma vez, Waverly levantou seu copo de whisky. — Você ou chocolate? Essa é a questão.

 


Capítulo Vinte


Amity não gostou da mudança repentina em suas irmãs desde a chegada de Jeremy. Depois que ela concordou em se casar com ele, eles caminharam de mãos dadas de volta à modesta casa de campo de sua família para contar a todos.

Primeiro, ele ficou trancado com o pai por alguns minutos e, quando eles reapareceram, Armand Foure deu um tapa nas costas de Jeremy, parecendo satisfeito, e sua mãe sorriu quando ouviu a notícia. No entanto, Charlotte parecia mais hesitante, e Beatrice deu o menor aceno de aprovação.

Mais tarde, no andar de cima do grande quarto compartilhado por suas duas irmãs, Amity perguntou a elas:

— Que caras azedas são essas?

— O que você quer dizer? — Charlotte perguntou, claramente parando.

À direita Beatrice deu de ombros casualmente. Aparentemente, ela tinha algo a dizer, mas como provavelmente era duro, ela decidiu ser incomumente cautelosa.

— Bea, — implorou Amity.

— Você disse que beijou o Duque de Pelham.

— O quê? — Charlotte exclamou. — Como eu não sabia disso?

Amity olhou para Beatrice.

— Porque não era necessário. Foi um beijo e foi isso. Que relação isso pode ter no meu noivado com o Sr. Cole?

— Quando isso aconteceu? E onde? — Charlotte perguntou. — Você gostou? Ele pediu primeiro? Tinha um gosto bom? — Então ela engasgou. — Ele te forçou?

Tudo isso saiu com tanta pressa, que Amity podia apenas balançar a cabeça.

— Você vê o que você fez? — Ela perguntou a sua irmã do meio.

— Todas são boas perguntas, — disse Beatrice. — Por que você não responde a ela antes de nos dizer por que se resolveu pelo Sr. Cole.

— Resolveu? Isso é cruel. Você disse isso porque ele é um plebeu e não um nobre? Ou porque ele não tem uma casa chique em Mayfair?

— Nenhum deles, — Beatrice retrucou. — Eu disse isso porque seus olhos não se iluminam como quando você menciona o duque. Porque você beijou os dois homens, mas só sonha com um. Estou certa?

— Pare com isso, — disse Amity. — Qual é o sentido de querer algo que não posso ter? Você realmente sugere que me torne a solteirona sobre quem você brincou, em vez de gozar uma vida plena com o Sr. Cole? Se for esse o caso, acho que você não me ama tanto quanto te amo.

Beatrice empalideceu, parecendo chocada.

— Isso é uma coisa terrível de se dizer. Quero que você seja verdadeiramente feliz.

— Eu vou ser. — Amity pegou as mãos de Beatrice. — Sr. Cole e eu nos adaptamos, e ele me ama. — Então ela fez uma pausa. Jeremy na verdade não disse que sim, mas ela presumiu que ele não teria pedido que ela se casasse com ele se não a amasse.

Soltando uma das mãos de Beatrice, Amity abriu o outro braço para Charlotte entrar no círculo de irmãs.

— Não precisarei me preocupar como chamo meu marido ou com o que seus amigos pensam de mim, ou se sou adequada para a companhia deles.

Charlotte balançou a cabeça.

— Foi apenas um erro terrível, — ela começou.

— É isso mesmo, — protestou Amity. — O erro não foi tão terrível, foi? Chamar um homem de “lorde” em vez de “graça”? No entanto, Lady Madeleine continuou assim, e em público, com um objetivo mesquinho em mente, para me humilhar, embora eu não pudesse ser uma ameaça para ela. Ela fez parecer como se tivesse ferido mortalmente um dos seus.

Beatrice fez um som de nojo.

— Me desculpe, eu não estava lá para te ajudar.

Amity riu.

— Eu não vi, mas sei que a nossa Charlotte fez isso muito bem.

A irmã mais nova sorriu para as duas.

— Eu fiz, — ela confirmou.

— Pensem em como seria difícil uma vida assim para alguém da nossa classe ser lançada despreparada, — lembrou Amity. — Não que eu tivesse essa opção. Não era como se eu tivesse uma escolha entre o Duque de Pelham ou o Senhor Cole.

Todos eles assentiram sabiamente.

— Além disso, — lembrou Amity, — o duque agora está oficialmente noivo da pessoa que mais lhe convém.

Ainda assim, ela se permitiu um pouco de se - apenas pelo homem que a encantou completamente, e agitou suas emoções. Um tanto dolorosamente, Henry Westbrook, Duque de Pelham, havia puxado as cordas do seu coração, mesmo que não pretendesse fazê-lo.

— Mais importante, como duquesa, não seria mais capaz de fazer chocolates. E eu simplesmente devo fazer isso nada me dá mais prazer do que estar com vocês duas e confeccionar produtos de confeitaria. Não há necessidade de mencionar como Jeremy mencionou a abertura de sua própria loja, pois ela não tinha intenção de fazê-lo. — Então, por favor, parem sua reticência e não enviem olhares tortos ao meu noivo. Ele logo será da família e terei uma vida feliz.

Infelizmente, no dia seguinte, durante um almoço com carne de porco fria, pão e manteiga e grandes porções de murmúrios e chiados, Jeremy repentinamente se encarregou de anunciar como Amity, com toda a probabilidade, desistiria de fazer chocolate.

Seu pai franziu a testa e lançou-lhe um olhar perspicaz. Abençoe seu coração, ela pensou. Ele só queria saber se a decisão era dela. No entanto, todos os traços de felicidade desapareceram do semblante de sua mãe e de suas irmãs.

— Por que diabos Amity não gostaria mais de fazer chocolate? — Felicity Rare-Foure exigiu, olhando não para o futuro genro, mas para a filha mais velha.

— Bem, mãe, é claro que quero continuar. O Sr. Cole quer dizer que meus deveres de esposa, e mais tarde meus deveres maternos, podem ocasionalmente atrapalhar.

— Eu tenho os dois, não tenho? — Sua mãe a lembrou. — No entanto, continuei a administrar a loja e a fazer confeitaria até vocês três terem idade suficiente para assumir o controle.

Amity franziu a testa. Isso era verdade. Por que ela não pensou nisso? Ela olhou para Jeremy em busca de uma resposta.

— Com todo o respeito, Senhora Rare-Foure, — começou ele, — você estava trabalhando para o bem de sua família e, uma vez casada, a Senhorita Rare-Foure deveria trabalhar para o bem da nossa.

O pai de Amity tossiu educadamente para quebrar a tensão quando sua esposa começou a engasgar. Suas irmãs não ajudaram, olhando furiosamente para o Sr. Cole. Deveria ter falado com a família primeiro e avisado sobre suas opiniões depois.

— Todos nós seremos uma família, — protestou sua mãe.

— Exceto que ela deveria enriquecer os Coles, não os Rare-Foures. — Ele afirmou isso enquanto pegava uma fatia de torta de maçã.

Isso fez Armand Foure se endireitar.

— Eu digo, ela precisará trabalhar? Você prevê estar nessas circunstâncias?

Jeremy teve a graça de corar um pouco.

— Não senhor. Tenho certeza de que viveremos bem com minha renda. Mesmo assim, se Amity quiser fazer chocolates para ganhar dinheiro extra, eu esperaria que ela os fizesse sob seu novo nome.

Amity temia pela saúde de sua mãe quando ela ficou bastante vermelha.

— Agora, veja aqui, — Felicity começou, mas o pai de Amity deu um tapinha na mão de sua esposa.

— Não se incomode, meu amor. Talvez uma maneira mais fácil seria dar a Amity e seu novo marido uma participação na loja.

Sua mãe não parecia nem um pouco emocionada, mas ela também não descartou a ideia de imediato. E embora Amity não estivesse interessada na ideia de seus pais renunciarem à propriedade da Rare Confectionery, nem mesmo ao seu novo marido, se o pai arranjasse isso para que ela pudesse continuar trabalhando com as irmãs, ela não protestaria.

Para sua surpresa, Jeremy balançou a cabeça.

— Isso é muito generoso da sua parte, mas ela ainda seria considerada uma Rara-Foure e não um Cole.

— Isso é tão terrível? — Amity perguntou, falando pela primeira vez, já que era o futuro dela que eles estavam discutindo.

Jeremy olhou para ela, parecendo levemente ferido, e lembrou-se de que era o homem com quem passaria a vida, entregaria o bem-estar e a quem, em seu casamento, concordaria em obedecer.

— Sinto muito, — disse ela rapidamente. — Quando eu for sua esposa, quero ser a Sra. Cole em primeiro lugar. — Mas ela estava certa de que poderia convencê-lo a permitir que ela fizesse chocolate na Rare Confectionery.

Ele sorriu para ela, e ela lembrou o quão amável ele sempre foi.

— Tudo o que estou dizendo, — continuou Jeremy, — é que acho que Amity deve se acostumar com seus deveres como esposa antes de se comprometer a continuar indo à loja diariamente. Ela pode achar que há outras coisas que prefere fazer, em vez de fazer chocolates.

Houve um silêncio. Amity balançou a cabeça levemente. Jeremy não entendia a paixão deles por produtos de confeitaria, mas aprenderia.

— Acima de tudo, queremos que você seja feliz, — disse a mãe, e elas trocaram um sorriso.

Amity decidiu deixar seu futuro marido saber seus pensamentos imediatamente.

— Acredito que só ficarei feliz se continuar fazendo doces com minha família.

Jeremy parecia pensativo e assentiu.

— Depois de uma breve pausa enquanto nos acostumarmos à nossa vida de casados, você deve continuar a fazer chocolate, pois sua felicidade será meu objetivo contínuo pelo resto de nossas vidas.

Abençoe seu coração! Ela sabia que ele seria um marido doce e compreensivo.

— Talvez a loja possa ser renomeada, — sugeriu ele, — como Rare & Cole Confectionery.

— Sr. Cole! — Amity protestou, pensando que ele estava se aproveitando da gentileza de seus pais, mas para sua surpresa, seu pai sorriu.

— Este jovem irá longe, eu garanto.

E com essa afirmação, todos foram acalmados e eles terminaram de comer em uma atmosfera mais jovial.

A chuva era sem fim, e Henry estava contente com uma carruagem bem construída. Mesmo assim, a umidade penetrou. Seu cocheiro, apesar de um toldo para mantê-lo protegido, também precisara da capa de chuva impermeável da Índia.

Depois de deixar a cidade cedo, já era meio da tarde quando ele chegou a Coggeshall e foi direcionado para o vilarejo onde os Rare-Foures tinham uma casa. Seus cavalos puxaram seu carro para um pedaço de terra arrumado perto do Rio Blackwater, onde uma casa de tijolos de dois andares se erguia para cumprimentá-lo.

Ele não trouxera nem o lacaio nem o criado, decidindo pela vida difícil. Deixando o cocheiro com o veículo até que um cavalariço ou um menino de estábulo aparecesse lidar com os cavalos, Henry decidiu correr pelo caminho que levava à porta da frente. Não havia campainha, então ele bateu. Aguardou, segurando seu guarda-chuva preto no alto e esperando que tivessem café.

Quando ninguém apareceu, embora percebesse que havia moradores pela fumaça saindo de duas chaminés, ele decidiu andar pelo outro lado e ver se tinha mais sorte em uma porta lateral ou traseira.

Depois de caminhar ao longo de um caminho coberto de grama, transformado principalmente em lama, ele encontrou uma porta dos fundos e bateu. Ninguém respondeu. Chega dessa brincadeira, ele pensou. Ele estava ficando frio e, caramba, ele era o Duque de Pelham!

Com esse pensamento, depois de abanar a maçaneta para dar um aviso justo, Henry abriu a porta e entrou em um vestíbulo. Ainda assim, ninguém era visível. Ele pousou o guarda-chuva pingando no chão e o chapéu em um banco junto com o sobretudo. Não havia nada que pudesse fazer com suas botas enlameadas, exceto limpá-las no tapete trançado de palha, que se adequava tremendamente ao objetivo. De fato, outros pares de botas e sapatos estavam alinhados ao lado da porta.

Depois de um minuto ou dois tentando torná-los apresentáveis, no entanto, a lama continuou teimosamente a revestir as solas e as pontas de suas botas. Desistindo, ele se sentou no banco ao lado do chapéu e removeu suas Hessians favoritas.

Suficientemente apresentável, Henry tirou as luvas e enfiou-as no bolso do sobretudo antes de ir pela casa com os pés em meias. Ele encontrou a cozinha primeiro, onde uma cozinheira gritou levemente com sua aparência inesperada.

— Existe um cavalariço ou um menino de estábulo? — Ele perguntou a ela. — Meus cavalos precisam ser cuidados, e talvez meu condutor possa entrar para tomar uma xícara de chá e um biscoito, se houver.

Com os olhos arregalados, a cozinheira assentiu, largou a colher que estava segurando e saiu correndo da sala. Esperançosamente, ela iria transmitir a mensagem dele e não usar um rifle para matá-lo como um intruso.

Ele a seguiu pelo corredor, passando por um escritório vazio de um lado e uma sala de jantar do outro, até ouvir o som de pessoas conversando. Com certeza, da sala de estar, saíram correndo os Rare-Foures com a cozinheira no meio.

— Vossa Graça! — Exclamou a Senhora Rare-Foure, fazendo uma reverência.

— Lamento invadir, — Henry disse a ela. — Eu bati, mas ninguém me ouviu.

Um homem que Henry nunca conheceu avançou com a mão estendida, nem um pouco perturbado por ter um visitante surpresa entrando pelos fundos de sua casa.

— Pelo trato da minha esposa, você deve ser o Duque de Pelham. Eu sou Armand Foure. Nós tendemos a ser um bando barulhento, todos conversando ao mesmo tempo. Não tenho ideia de onde está o nosso homem, — acrescentou, referindo-se ostensivamente ao mordomo deles, sem se importar com a negligência do dever de seu servo.

Henry apertou a mão do Sr. Foure, mas já estava procurando além dele pela sua chocolatier.

Amity estava com suas irmãs, olhando-o com espanto, mas não com raiva, como ele temia após o tratamento dela em sua própria casa. Ela parecia a mesma, exceto por ter uma expressão de surpresa em seu rosto adorável, e seu coração começou a bater de alegria por estar perto dela novamente.

— Eu vim, — disse ele de repente, olhando diretamente para ela, — para pedir desculpas à Senhorita Rare-Foure.

Os olhos dela se arregalaram e, na verdade, até ele se surpreendeu. Não tinha percebido que pretendia dizer isso, pelo menos, não publicamente. Não era algo que um duque normalmente tinha que fazer. Independentemente disso, saiu naturalmente dele, pois odiava o quão magoada ela parecia quando a viu pela última vez.

Sua família se separou e ela se adiantou, fez uma reverência e olhou para ele com seus olhos castanhos profundos e inabaláveis. Ele amava aqueles olhos. Ele amava a mulher que olhava por eles.

— Você não precisava vir da cidade, Vossa Graça.

Henry não pôde deixar de estremecer com o uso particular de seu título.

— Mas eu aprecio muito suas desculpas, mesmo que desnecessárias, — continuou Amity. — Você aceita um chá?

O pequeno sorriso que ela ofereceu pode ter sido por causa de sua aversão compartilhada pelo chá.

— Eu aceito. Obrigado. — Ele olhou para o pai dela. — Meu condutor está aguardando assistência. Um cavalariço ou um menino de estábulo, talvez?

— Ah, sim, sim, — disse Sr. Foure.

— Eu cuido disso, — disse outra voz masculina e, pela primeira vez, Henry percebeu que o advogado, amigo de Amity, estava presente. Ele estava escondido na porta da sala, fora da vista.

Cristo! O homem estava lá, no seio da sede da família. Isso pode ser um pouco mais complicado do que Henry havia previsto. Era inteiramente possível que o Sr. Cole e Amity agora tivessem um compromisso que ela havia negado anteriormente.

O homem curvou-se para Henry.

— Bom dia, Vossa Graça, — disse o advogado, com o olhar nos pés em meias de Henry, fazendo-o sentir-se praticamente nu. Então o Sr. Cole acompanhou a cozinheira em direção aos fundos da casa.

O olhar de Henry disparou para Amity novamente. As bochechas dela estavam coradas e ele temia que fosse tarde demais. Além disso, o homem também o chamava de “Vossa Graça”. Assim, o advogado também fora informado do tratamento vergonhoso de Amity nas mãos de Lady Madeleine. Ele ficou meio surpreso que o homem não o tivesse confrontado.

Henry seguiu Amity e suas irmãs ainda em silêncio até a sala. Ele tinha o direito de marchar para lá e propor pela mão da chocolatier?

Os pais dela vieram atrás deles. Alguém havia pedido chá, e chinelos, porque quando todos se sentaram em seus assentos nos dois sofás e poltronas, uma criada entrou com a bandeja de chá, e o Sr. Cole voltou um momento depois, carregando um par de chinelos revestidos de lã de tartan. Ele deixou cair aos pés de Henry.

— Seu condutor está na cozinha tendo um pouco de sustento, Vossa Graça, e seus cavalos estão sendo cuidados.

— Obrigado. — Agradecer a esse homem o fez se sentir ainda mais culpado por querer arrebatar Amity dele. Que esperança o Sr. Cole tinha de segurá-la quando um duque queria a mesma mulher? Henry sabia que a resposta não era nenhuma esperança.

Por outro lado, o advogado provavelmente era considerado um sujeito bonito. Ele era alto, tinha uma cabeça cheia de cabelos e nenhuma varíola nas bochechas. Ao Sr. Cole, como profissional, não seria difícil encontrar outra mulher para ser sua esposa. Talvez até uma das irmãs de Amity o seria.

Ele olhou para a Senhorita Charlotte, e seus olhares se encontraram. Ele esperava que ela não estivesse envergonhada com o que dissera na festa dele, pois fizera bem em defender sua irmã como uma leoa defendendo seus filhotes. Ele gostava dela por isso. Ele lhe ofereceu um sorriso amigável, que ela retornou rapidamente.

No entanto, quando olhou para Senhorita Beatrice, recebeu uma careta. Empate! Se olhar pudessem matar, ele estaria deitado no chão com o corpo queimando pelo olhar ardente dela. Qualquer homem faria bem em se manter longe dessa.

No entanto, Henry enviou-lhe um aceno amigável. Ela apertou os lábios e se virou. Bem! Ele se aconchegou nas monstruosidades do tartan, sentindo os dedos dos pés se curvarem nas pontas. Ele beberia a maldita água suja, ou chá como alguns professavam ser, e então tentaria ter Amity sozinha por tempo suficiente para colocar suas esperanças em seu futuro juntos.

— É impensável e também absolutamente esplêndido, Vossa Graça, que você veio até aqui para pedir desculpas, — disse a Senhora Rare-Foure, cordialmente. — Uma nota simples teria servido, se isso fosse necessário. Pelo que entendi, não foi você, mas Lady Madeleine que...

— Mãe, — Amity a interrompeu, e Henry ficou imaginando como a mulher teria caracterizado as maneiras más de Madeleine. — Tenho certeza que Sua Graça não deseja ouvir você falar mal de sua noiva.

Henry começou, quase derramando seu chá.

— Oh, Senhorita Rare-Foure, garanto-lhe que não estou noivo.

Em vez de parecer satisfeita, como esperava, uma infinidade de emoções cruzou seu rosto sincero, até que finalmente sua expressão transmitia parecer desanimada.

— O erro estúpido com o chocolate errado arruinou sua proposta. Que horror! — Ela torceu as mãos com consternação. — Não posso acreditar que Lady Madeleine deixaria algo assim dissuadi-la de aceitar sua mão em casamento. Me sinto terrivelmente responsável. Eu quem deve pedir desculpas a você. Sua lady conseguiu desfrutar de um Brayson?

Querida mulher! Henry pensou. Ela se culpou por ele não estar noivo. Na verdade, a culpa era dela, mas por razões que ainda não entendeu.

— A lady provou o Brayson, afinal, — disse Henry. — Além do mais, ela adorou! Você será recomendada. Acho que você deveria vendê-los em sua loja.

— Eu pensei que eles eram a criação perfeita para sua lady, — concordou a Sra. Rare-Foure, — mas não estaremos vendendo Braysons.

— Eu nunca consegui provar um, — reclamou o Sr. Foure.

— Eu provei. — Charlotte disse. — Gostei deles.

— Eu não gosto de lavanda, — disse Senhorita Beatrice, dando a Henry outro olhar duro.

— Nem eu, — confessou, na esperança de conquistá-la como aliada, mas ela fungou e tomou um gole de chá. — De qualquer forma, apesar da boa confeitaria da Senhorita Rare-Foure, não estou noivo.

Não querendo mais falar sobre isso, ele tirou um biscoito da bandeja na frente dele e deu uma mordida.

— Suponho que não esteja fora de lugar nesta discussão, — começou Sr. Cole, — para que eu compartilhe nossas notícias. — O homem olhou para Amity e disse: — Senhorita Rare-Foure e eu estamos noivos.

Henry engoliu muito rapidamente e engasgou. De repente, ele tossia migalhas nas calças, sacudia a xícara e o pires a ponto de derramar seu chá e tentando desesperadamente respirar. Quando a Sra. Rare-Foure e Amity ficaram preocupadas, fazendo com que os outros homens também se levantassem, Henry levantou a mão livre. O que as mulheres pretendiam, dar um tapa nas costas dele?

Sabendo que seu rosto provavelmente estava avermelhado pelo esforço, e ainda incapaz de falar, ele simplesmente balançou a cabeça, esperando que todos se sentassem novamente.

— Minhas desculpas, — ele resmungou, finalmente, todos os olhos nele, mesmo que os seus próprios estavam lacrimejando. Que vergonha! Tirando um lenço do bolso, ele limpou a boca e limpou as pernas. — Suponho que estava com muita fome e engoli isso como um... bem, como um lobo.

Charlotte riu, o que fez todos relaxarem. Por sua parte, ele ficou atordoado. Amity estava noiva! E ela estava corando profundamente, parecendo como se sentisse desconfortável demais.

Bebericando o chá com mais cuidado, achando que não era uma bebida tão ruim como de costume, deixou-se pigarrear e tentou falar novamente.

— Quando? — Ele perguntou, olhando de Amity para o noivo dela, percebendo tardiamente o quão breve sua pergunta soou. Ele deveria tê-los parabenizado imediatamente, mas que tipo de homem faz isso antes de tentar roubar a mulher?

— Dois dias atrás, — disse Sr. Cole. O maldito! Deleitando-se por ter levado a única mulher que Henry já gostara. Levou apenas algumas semanas para perceber esse fato, enquanto esse advogado a conhecia há pelo menos um ano. O Sr. Cole demorara-se todos estes muitos meses e então a arrebatou no último minuto. Ultrajante!

Seus pais pareciam felizes o suficiente com a mudança dos acontecimentos. Certamente, eles ficariam ainda mais felizes com um duque como genro.

Ele precisava falar com ela imediatamente. Colocando a xícara de chá na mesa, Henry olhou para Amity.

— Posso falar com você sozinha?

 


Capítulo Vinte e Um


Henry deveria ter esperado que suas palavras seriam recebidas com um silêncio coletivo, seguido por uma onda de desaprovação que rapidamente percorreu os ocupantes da sala.

— O que quis dizer foi, gostaria de falar com a Srta Rare- Foure sobre os chocolates. Sobre mais chocolates. Outros chocolates, isso é. Uma questão sensível.

— Uma questão sensível de chocolate? — A senhora Rare-Foure perguntou, parecendo duvidosa.

—Perfeitamente, — disse Henry, mantendo um olhar fixo na mãe de Amity, tentando não parecer nem um pouco indigno de confiança.

— Por mim tudo bem, — disse o pai. — Amity é uma mulher de negócios, extremamente boa, não como quando você era jovem, — acrescentou ele à esposa.

Obviamente, o homem não tinha senso de autopreservação, pois a sra. Rare-Foure tirou toda a atenção do pedido inadequado de Henry e colocou-o diretamente na declaração imprudente do marido sobre a idade dela.

— O que você quer dizer, Sr. Foure? — Ela perguntou a ele. — Quando eu era jovem?

Henry pensou ter ouvido o homem engolir antes de responder.

— Eu quis dizer, meu amor, que você foi protegida por mais tempo. Inquestionavelmente, você ainda é jovem. — O Sr. Foure olhou em volta um pouco desconcertdo, como se estivesse esperando ajuda. Ninguém poderia oferecer nenhuma. Ele era um homem em um barco a remo... sem os remos, indo para as cataratas traiçoeiras.

— Francamente, às vezes me pergunto, — acrescentou Sr. Foure, — como uma mulher de sua tenra idade pode ter três filhas crescidas.

A Senhora Rare-Foure cruzou os braços, encarando-o.

Henry viu isso como uma lição de vida de como não falar com uma mulher, e notou o novo noivo de Amity fazendo o mesmo. Quando suas cabeças se afastaram da tragédia do Sr. Foure, Henry percebeu que sua adorável chocolatier estava olhando para o Sr. Cole como se quisesse permissão. Assim, no final, foi o advogado que deu a aprovação que Henry procurava.

O Sr. Cole pigarreou.

— As regras, mesmo as sociais, são um pouco mais relaxadas no campo, vocês não concordam? Se o duque deseja discutir sobre chocolate com Amity, não vejo razão para que não deva. É como se eles estivessem tendo uma consulta na sala dos fundos da Rare Confectionery.

Amity olhou para Henry, as bochechas rosadas, e ele teve que desviar o olhar, o beijo prevalecendo em sua mente. Se os dois parecessem culpados, o plano seria desmascarado e terminaria antes de começar. Ele também achou necessário evitar olhar para as irmãs de Amity. Uma tinha a expressão atrevida e a outra, a carranca de olhos estreitos de uma raposa.

Henry levantou-se devagar, casualmente, como se isso fosse um assunto totalmente sem importância. Sentiu seu coração bater com ansiedade. Amity também se levantou e, após outro olhar para o Sr. Cole, precedeu Henry da sala. Ele não ousou olhar para trás, caso alguém visse os chifres do diabo crescendo em sua cabeça.

Para onde ela o levaria? Não para fora, o que teria sido sua preferência se a chuva não continuasse a cair pesadamente. Em vez disso, foram ao longo do corredor para o escritório que havia passado antes. Tudo se resumia aos próximos minutos.

As emoções de Amity estavam se alterando como uma carruagem nas colinas da Escócia, subindo e descendo tão drasticamente que ela estava um pouco desorientada. Ao ver o duque inesperadamente em sua própria casa, ficou verdadeiramente chocada. Esse sentimento foi seguido por tantos outros nos breves minutos que ele esteve na sala, que não conseguia mais identificar quais eram seus pensamentos predominantes.

Exceto curiosidade. Estava morrendo de vontade de saber por que ele e Lady Madeleine não estavam noivos, e sobre o que queria falar com ela. Sabia apenas que não tinha nada a ver com uma questão sensível de chocolate.

— Você gostaria de se sentar? — Ela perguntou, apontando para uma das cadeiras de leitura de couro desgastadas, mas confortáveis.

— Prefiro ficar de pé se você não se importa, — ele disse a ela. — Estive na carruagem por várias horas hoje. Por favor, sente-se, se desejar.

— Ficarei de pé, — ela concordou. Então esperou. Quando ele não disse mais nada, mas a encarou com interesse, ela começou a se sentir desconfortável.

— Vossa Graça? — Talvez ele só precisasse ser avisado.

O duque suspirou.

— Estou simplesmente feliz em vê-la, Senhorita Rare-Foure. Senti sua falta.

Ela conseguiu abster-se de dar um passo atrás por pura surpresa. Por pouco. Essa foi uma maneira totalmente imprópria de iniciar a conversa. Seja como for, poderia ser sincera também.

— Gostei de nossas reuniões com degustação de chocolate também, — confessou ela, escolhendo cuidadosamente suas palavras.

O duque sorriu e suas entranhas saltaram. Um sorriso tão adorável em um homem tão bonito. Pare com isso! Ela se repreendeu.

— Os chocolates! — Ele de repente exclamou. — Não tive a chance de agradecer pelos que você fez especialmente para mim.

Os que causaram todo o problema.

Apesar disso, ela teve que perguntar a ele.

— Você gostou?

— Não, — ele disse rapidamente. — Amei! Absolutamente os adorei. O sabor do café estava brilhante. Era exatamente tão delicioso quanto qualquer coisa que poderia ter imaginado. Como você fez? Fiquei esperando encontrar grãos de café no recheio de fondant, mas era suave e cremoso. Pensei que estava imaginando o toque de laranja, tão sutil. Quem pensaria que combinaria bem com chocolate e café? Ainda assim combinou. Comi todos os doze naquela noite, e me senti um pouco doente, mas valeu a pena. Não compartilhei um único. Exceto aquele que Lady Madeleine mordeu por engano.

Amity sorriu, incapaz de conter sua alegria por deixar o duque tão feliz que se entregou ao mal-estar. Depois de comer chocolates e café com ele, ela decidiu tentar incorporar os dois sabores em um. Primeiro, ela fez café regular e o misturou com colheradas, mas o sabor era muito suave. Foram necessárias muitas tentativas até ela descobrir que o café funcionaria melhor como licor.

— Tentei ferver o café para torná-lo mais espesso, mas o sabor era escaldado e não agradável. Eu sabia que você não aprovaria. Em seguida, preparei café muito forte, adicionei um xarope de açúcar e o brandy mais suave. Funcionou perfeitamente.

— Você é brilhante. Você os venderá na loja?

— Devo. — De repente, ela considerou sua mudança de status depois que se casasse. Ela tinha praticamente concordado em desistir temporariamente da fabricação de chocolate, talvez apenas por algumas semanas, enquanto se instalava em sua nova vida e se estabelecia na casa com o marido.

O duque franziu o cenho.

— Você não acha que será popular?

— Acho. Provavelmente mais do que um chocolate de lavanda. Lady Madeleine realmente gostou, a propósito?

— Gostou. Eu não mentiria para você. Todo mundo gostou, embora pudesse ver que os homens não aceitavam isso tão bem quanto as mulheres.

Ela assentiu.

— Esse também pode ser o caso do Pelham, com mais homens do que mulheres desfrutando do forte sabor do café. Certamente sabemos que Lady Madeleine não gostou nem um pouco, principalmente com laranja também.

— O Pelham? — O duque parecia encantado e ela sentiu as bochechas quentes.

Amity encolheu os ombros levemente.

— Na minha cabeça, foi assim que chamei seu chocolate.

Ele riu disso.

— Estou honrado.

— Eles são um pouco mais difíceis de fazer. Suponho que poderia ensinar uma de minhas irmãs.

Inclinando a cabeça, ele perguntou:

— Por que não faria você mesma?

— Vou me casar em alguns meses, — ela lembrou.

Ele fez uma careta, que parecia desagrado. Por que importaria para ele se ela se casasse?

— Então, e daí? — Ele perguntou bruscamente.

Isso não o interessava e não era da sua conta. No entanto, após as longas conversas que tiveram em sua sala de trabalho e seu incrível beijo, pareceu mesquinho não discutir algo levemente pessoal com ele.

— Eu penso em tirar uma folga, — confessou ela, — principalmente próximo à data do meu casamento.

— Naturalmente, — ele disse rispidamente. — Ninguém esperaria que você estivesse na loja nesse dia em particular.

— E o Sr. Cole acha que eu poderia querer fazer outra coisa com a minha vida, — acrescentou ela, levantando o queixo, não gostando da suposição de Sua Graça de que teria exatamente um dia de folga para se casar antes de voltar ao trabalho, como qualquer outra boa serva.

— O quê? — O duque exclamou tão alto que Amity temia que sua família o ouvisse pelo corredor. — Isso é absurdo!

Ela piscou para ele.

— Eu não moro na sala dos fundos da Rare Confectionery, sabe. Em breve, terei os novos deveres de ser esposa e um dia, talvez, mãe.

Mais uma vez, ele tinha uma expressão de desaprovação.

— Não se preocupe, mi... Vossa Graça. Vou encontrar tempo para preparar um lote de Pelhams, mesmo que minhas irmãs não consigam acertar a mistura.

Ele olhou para ela, com as narinas dilatadas e uma intensidade cintilante em seu olhar verde.

— Eu não dou a mínima para os Pelhams! — Mais uma vez, sua voz estava um pouco alta demais para a casa campestre deles.

— Não entendo. O que você quer dizer?

Aproximando-se até que ela sentiu o cheiro de sua fragrância picante familiar, ele pegou a mão dela.

— O que me interessa, Senhorita Rare-Foure, é você!

Amity olhou fixamente para a mão dela firmemente na dele, depois levantou o olhar para o rosto dele, inspirando assustada com o que viu. Uma afeição genuína brilhava em seus olhos verdejantes, fácil de ver. Ela balançou a cabeça. Isso não poderia estar acontecendo. Não deveria!

— Estou noiva, — disse ela, desejando que sua voz tivesse mais convicção.

— Pfff, — disse o duque, como se isso não significasse nada. — Estou pedindo que você se case comigo em vez dele.

O assunto sensível finalmente se tornou aparente. Ela liberou a mão da dele. E com pensamentos correndo loucamente em sua cabeça, foi até a porta do escritório e a fechou, inclinando-se contra ela em busca de apoio.

— Amity, — ele começou. — Por favor, posso te chamar de Amity? É como penso em você na minha cabeça.

— Você não deveria estar pensando em mim, — ela protestou, apesar do fato de que praticamente tudo o que pensava era nele desde a primeira vez que a convidara para sua carruagem.

— Fiquei na frente de amigos e familiares, — continuou ele, começando a andar com os chinelos ridículos, um par antigo pertencente ao pai dela. — E não pude pedir a ela.

Ela percebeu que ele estava falando sobre sua festa.

— Simplesmente não conseguia imaginar uma vida sem você. Quando você saiu correndo do salão, toda a minha felicidade também foi. Exceto pelos chocolates de café, é claro. E essa alegria também foi devido a você e sua consideração. Assim que provei um, sabendo que você tinha criado algo assim exclusivamente para mim, me deu esperança de que você sentisse o mesmo que eu.

O duque se aproximou dela novamente, e Amity se achatou contra a porta. Seu coração estava disparado, e ela queria desesperadamente sentir os braços dele ao redor dela, segurar o rosto dele nas mãos e beijá-lo.

O que havia de errado com ela? Era como uma loucura, e ela apertou os dedos nas saias para evitar estender a mão e tocá-lo. Gostava de Jeremy, mas por alguma razão, não sentia esse mesmo desejo urgente quando estava perto dele.

— Sei que quase não nos conhecemos, — disse o duque, a meros centímetros dela, seu olhar fixo no dela, — mas nos entendemos, não é? Eu não ri tanto com ninguém. E o nosso beijo...

— Shh, — disse ela, incapaz de acreditar que estava calando um duque. Nem mesmo um conde ou um marquês. Um duque! Superado apenas pelo príncipe do reino. No entanto, se seus pais ouvissem sobre seu comportamento inadequado na sala dos fundos da Rare Confectionery, não seria capaz de suportar a decepção deles. Ou pior, se Jeremy soubesse disso... ela deveria ter pensado nele antes de seus pais. Ele era o noivo dela agora.

— Por favor! — Ela implorou. — Você deve ir.

Pelo contrário, as mãos dele estavam na cintura dela, puxando-a contra ele.

— Por que devo ir? — Ele perguntou, seu olhar cintilando na boca dela.

Por sua vez, ela olhou para ele.

— Porque isso é impróprio.

— Não se estivermos noivos, — disse ele.

— Não estamos.

— Mas nós poderíamos estar, — ele prometeu.

— Não posso ter dois...

Os lábios dele reivindicaram os dela, roubando sua respiração, bem como seus pensamentos. As mãos dela, de alguma forma, subiram pelo peito e ao redor do pescoço para agarrar a cabeça dele, seu perfume inebriante enchendo suas narinas. Ele inclinou a cabeça até que suas bocas se fundiram perfeitamente. Ela sentiu a ponta da língua dele tocar a costura de seus lábios e se abriu para ele.

Ele gemeu. Ela gemeu. Suas línguas deslizaram uma contra a outra languidamente e, de repente, Amity foi atingida na parte de trás da cabeça. Duas vezes.

A porta! Ela tentou se libertar, mas ficou presa. Felizmente, o duque percebeu o que estava acontecendo e pulou para trás como um sapo saltando na primavera, enquanto Amity se virava para abrir a porta. Era Beatrice.

— Estava prestes a abrir a porta e você bateu em mim com ela, — disse Amity, pensando que poderia ser sua primeira mentira para sua irmã.

— Estava? Bati? — Beatrice perguntou com um tom suave, seus olhos azuis observando o rosto corado da irmã mais velha.

O erro de Amity foi olhar para trás para o duque, vendo sua própria expressão de culpa e sentindo suas bochechas esquentarem ainda mais.

— É melhor vocês dois se acalmarem um pouco antes de voltarem à sala, — aconselhou a irmã. — A propósito, seu noivo está perguntando por você.

Com isso, e um sorriso perspicaz final, Beatrice se virou e os deixou. Nada assustava sua irmã.

Por sua parte, Amity mal podia olhar para ele. Alguns momentos antes, estava pressionando contra o comprimento dele, enquanto suas mãos quentes estavam sobre o corpo dela, e seus lábios ainda mais quentes contra os seus.

Era, como ela pensara, uma loucura! Agora, com a cabeça limpa... francamente, ela queria fazer tudo de novo.

— Você realmente não pode querer se casar com esse advogado e me beijar assim, — disse ele bruscamente.

— Shh, — ela disse novamente. — Eu não beijaria você assim, — ela sussurrou, — se me casasse com o Sr. Cole. Quero dizer, quando estiver casada com ele.

As sobrancelhas dele se ergueram.

— Se fosse minha noiva, beijaria outro tão ardentemente?

— Claro que não! — Ela exclamou. — Por que eu iria...? — Tardiamente, percebeu que ele quase a pegou declarando seu afeto mais profundo por ele do que por Jeremy.

— Você sente algo por mim que não sente por ele, — confirmou o duque, momentaneamente satisfeito.

— Por favor, — ela implorou. — Devemos retornar ao salão imediatamente.

Ele cruzou os braços teimosamente.

— Pedi para você se casar comigo.

Tinha pedido? Parecia que ele havia dito para se casar com ele. Além disso, nada havia mudado. Ela não podia ser sua duquesa e fazer chocolate, mesmo que aprendesse o nome e o título de cada um dos malditos nobres da Grã-Bretanha. Ela balançou a cabeça.

— Você está me recusando? — Seu tom era tão atônito quanto sua expressão.

Como não poderia?

— Fiquei noiva recentemente. E nós... você e eu... sem dúvida alguma, não pertencemos um ao outro. Milorde! — Ela acrescentou, lembrando-o de seus erros e como realmente eram de mundos muito diferentes.

Com isso, ela seguiu a irmã. Se Amity pensava que ela tinha a palavra final sobre o assunto, estava enganada. Depois que entrou na sala, o duque, Henry, como ela começou a pensar nele, entrou logo atrás dela. Rapidamente demais. Quando ela parou, ele praticamente esbarrou nela em sua pressa.

Todos os olhares se voltaram para eles.

Amity não sabia o que dizer e, portanto, não disse nada. Ela deveria ter pensado em uma questão de chocolate, mas inventar uma mentira era uma tarefa totalmente nova com a qual não estava confortável.

— Estávamos discutindo se comeríamos cordeiro ou carne no jantar, — disse Felicity Rare-Foure para quebrar o silêncio, mas Amity percebeu pelo olhar penetrante de sua mãe que não estavam discutindo nada disso.

— Você ficará? — Seu pai perguntou quando o duque saiu de trás de Amity e casualmente ficou ao seu lado, nem um pouco incomodado com o ar de desaprovação vindo de alguns membros da família, e especialmente de Jeremy.

Amity esperava que o duque recusasse educadamente e fosse embora. Afinal, era uma longa viagem de volta a Londres, e ela acabara de recusá-lo.

Bom Deus! Recusara o Duque de Pelham, que era um solteirão arrojado e desejado. Mais do que isso, ele era alguém com quem se importava muito. Sentindo-se doente, afundou na cadeira mais próxima.

— Eu adoraria, — ela o ouviu responder, — mas não sei até quão tarde posso pedir ao meu cocheiro que nos leve para casa. Odiaria que ele adormecesse na estrada para Londres. Em retrospectiva, deveria ter chegado de trem, mas foi um impulso do momento e não sabia se haveria transporte na estação. Ou mesmo se houvesse uma estação, aliás.

— Bobagem, — disse o pai, — você deve passar a noite. Acabou de chegar. Todo esse caminho para um pedido de desculpas que ninguém precisava ou queria. Deve jantar conosco, e então arrumaremos uma cama para você.

Amity esperava que Henry recusasse a oferta. A honra exigia que se recusasse em prol de tudo o que era apropriado e moral no mundo.

— Não gostaria de causar-lhe nenhum problema, — disse ele, e ela relaxou um pouco. Ele a deixaria em paz.

Mas, para seu extremo aborrecimento, Henry acrescentou:

— Certamente jantarei com vocês e sou grato pelo convite. No entanto, se houver uma pousada por perto, irei depois do jantar.

Amity estava praticamente olhando feio para ele. Ele estava pescando abertamente a oferta de uma cama ser oferecida novamente.

E o pai dela fez exatamente isso.

— Bobagem, — declarou Armand Foure mais uma vez.

Toda mulher Rare-Foure parecia olhar para ele simultaneamente. Ele estava sendo acolhedor ao ponto da insistência. E Jeremy, que pareceu satisfeito em apertar a mão do duque quando ele chegou, agora exibia uma expressão tensa.

— Talvez para o conforto do duque, pai, — Amity apontou, — ele pode preferir a Pousada dos Três Javalis.

— Tenho certeza de que nem Sua Graça nem seu condutor desejam sair novamente nesse clima sombrio. Até seus cavalos provavelmente estão escondidos no estábulo mastigando feno.

— Muito bem, — disse Henry jovialmente, como se estivesse fazendo um favor a todos. — Ficarei e estarei feliz com isso. Mas insisto que me coloquem em um catre em algum lugar. Odiaria que você afastasse o Sr. Cole do quarto de hóspedes, se não houver outro disponível.

Na verdade, era o único disponível, os outros quartos sendo o quarto de seus pais, o quarto de Amity e o quarto compartilhado de suas irmãs. Amity supunha que poderia ir mudar com as irmãs e dar a cama a Henry, mas mesmo oferecer para deixá-lo descansar o corpo em seu colchão parecia inapropriado.

Henry olhou para seu pai. O pai dela olhou para Jeremy, cujas sobrancelhas se ergueram quando subitamente percebeu o que devia fazer.

— Vossa Graça, deve ficar no meu quarto. Além disso, — acrescentou, levantando-se para poder juntar suas coisas, — é apenas por uma noite.

O duque acenou gentilmente com a cabeça, mas Amity notou que ele não confirmou a suposição de Jeremy da curta estadia. O que Henry estava fazendo?

 


Capítulo Vinte e Dois


Amity descobriria em breve. Sua Graça estava determinado a agradar seus pais, encantar suas irmãs, incomodar Jeremy, e fazer olhos melosos para ela quando ninguém mais estava olhando. Como a chuva nunca parava naquele dia, os sete ficaram juntos dentro de casa por horas antes do jantar. Além do mais, era um número ímpar que tornava tudo um pouco mais difícil, fossem jogos de salão ou arranjos de assentos para o jantar.

No entanto, o duque, vagando com chinelos de tartan, agia como se não houvesse problema algum e, de alguma forma, sempre fazia de Jeremy o homem excluído.


Quando Amity se viu sentada oposto a Henry novamente para um novo jogo de cartas, enquanto seu noivo estava taciturno nas proximidades, percebeu que teria que fazer um grande gesto.

— Sr. Cole, por favor, tome meu lugar e faça parceria com Sua Graça. Voltarei em breve.

Não deixando nenhum homem protestar, Amity saiu da sala rapidamente, sem nenhum destino em mente, exceto ficar sozinha com seus pensamentos. Foi até a cozinha, onde a cozinheira, Lydia, estava ocupada com o jantar. Delia estava sentada na mesa de trabalho, descascando batatas, e Amity sentou-se no banquinho ao lado dela.

— Como vocês estão hoje? — Ela perguntou, colocando o queixo na mão.

— Como estou? — Perguntou Lydia. — Como estou? Há um duque aguardando meu jantar. Estou emocionada e aterrorizada.

Amity olhou para ela.

— Sua comida é sempre deliciosa.

— Obrigada senhorita. Mas se algo der errado em uma noite normal, batatas irregulares ou carne assada um pouco queimada, você e o resto da família saberiam que os compensarei na noite seguinte. Sua Graça tem apenas uma vez para provar minha comida. Tudo deve ser perfeito.

Amity suspirou. Ela tinha a sensação de que seria mais de uma refeição.

— Como você sabia chamá-lo de “Sua Graça”?

Lydia e Delia trocaram um olhar. Foi a última que respondeu.

— Podemos não ter uma educação sofisticada, senhorita, mas aprendemos algumas coisas, especialmente sobre como chamar nossos superiores.

— Seus superiores? Delia, nunca ouvi você usar esse termo antes.

— Os Rare-Foures são excepcionais, senhorita. Seus pais nos tratam como família, e vocês três também.

— Por que não iríamos? Afinal, moramos juntos. Certamente, em 1877, você não acredita que somos superiores a vocês? Nem o Duque de Pelham é superior a qualquer um de nós?

Lydia riu.

— Nossos superiores é apenas uma frase, querida, mas classe é classe, e é assim que o mundo funciona. Não vou partir o pão com um duque mais do que vou ter um passeio com a rainha. Seja abençoada!

Amity assentiu.

— Apenas uma frase, — ela repetiu. Ela certamente não achava que Lady Madeleine era superior às suas irmãs. Inegavelmente mais bonita de uma maneira fria e precisamente perfeita, mas não a pessoa mais gentil. Mesmo assim, até Amity fora culpada por pensar que a filha de um conde era melhor para um duque do que a filha de um comerciante que fazia chocolates.

Olhando em volta para toda a comida que essas duas mulheres estavam preparando, ela percebeu que Henry já havia causado mudanças que um hóspede comum não teria causado. Como o pai não empregava criada de copa ou outros empregados da cozinha, ela ofereceu:

— Posso ajudá-las com os preparativos?

Os olhos de Delia se arregalaram e Lydia estalou a língua, exasperada.

— É melhor sair daqui, senhorita. Seu lugar é entreter aquele jovem e belo duque que veio de Londres simplesmente para vê-la.

Amity sentiu suas bochechas esquentarem.

— Vocês duas sabem tudo?

Enquanto as duas mulheres se dissolviam em gargalhadas, Amity se levantou, pensando em como seria bom ficar na cozinha quente e alegre e cortar legumes. Percorrendo o corredor, endireitou os ombros, sorriu e entrou novamente na sala.

Henry não poderia ficar sozinho com Amity naquela noite novamente. No jantar, estava sentado em uma extensão da mesa, com Charlotte à esquerda, Beatrice à direita e a chocolatier e o noivo à sua frente. Foi uma deliciosa refeição campestre, mas não estava lá pela comida.

Após a refeição, voltaram para a sala, mas, diferentemente da própria irmã, nenhuma das meninas Rare-Foure tocava piano ou cantava.

— Elas não tinham interesse quando eram mais jovens, — disse o pai com um encolher de ombros. — Mas Beatrice pode recitar todo o número de obras literárias, Charlotte é uma considerável amazona, patinadora no gelo e até atiradora, suponho que ela seja uma mulher marcante. — Ele riu para si mesmo.

Henry deveria ter segurado a língua, mas perguntou:

— E Amity?

Ele notou algumas cabeças se virarem ao usar o nome dela, e desejou que, por ela, não tivesse dito, mas escapou. Não havia nada que pudesse fazer, exceto esperar o pai dela responder.

— Minha noiva tem várias habilidades, — O Sr. Cole deixou escapar antes que alguém pudesse dizer uma palavra.

Os olhos de Amity se arregalaram quando ela se virou para o homem. Henry achava que o advogado não sabia o que ela fazia, além de chocolate. Tampouco precisava ter outras habilidades. Ele continuou esperando em silêncio.

O rosto do Sr. Cole ficou vermelho.

— Ela... ela... — ele gaguejou.

Amity começou a parecer envergonhada, e Henry pensou entre ele e o Sr. Cole, haviam feito uma absoluta confusão com isso.

A senhora Rare-Foure falou.

— Minha filha mais velha tem dois talentos muito especiais, além de fazer chocolates. Por um lado, ela é uma contadora de histórias consumada.

Henry assentiu.

— Sim, tive o prazer de ouvi-la contar a história de um infeliz chocolatier coberto de chocolate na Suíça. Todos na mesa do jantar ficaram encantados ao ouvi-la contar.

— Ela costumava contar histórias para as irmãs no berçário antes que elas pudessem ler, — acrescentou a Sra. Rare-Foure.

— Mãe, por favor, — protestou Amity. — Sua Graça não quer ouvir falar de mim ou dos meus assim chamados talentos.

— Pelo contrário, — Henry a interrompeu. — Estou interessado. Qual é o segundo, se posso perguntar?

Amity encolheu os ombros.

— Tenho certeza de que não sei, exceto que não é patinação no gelo.

Suas irmãs riram, assim como seu pai. A Senhora Rare-Foure esperou até que terminassem.

— Estou surpreso que o Sr. Cole ainda não tenha pensado nisso. Nossa Amity tem uma maneira especial de descobrir o que as pessoas gostam. Isso se manifesta nos chocolates que ela confecciona, mas de outras maneiras também. Por exemplo, ela sempre escolhe o presente perfeito. Às vezes, acredito que ela me conhece tão bem quanto eu.

— Verdade, — acrescentou Armand Foure. — O cachimbo do ano passado era exatamente o que eu estava de olho. Nunca disse uma palavra, mas lá estava ele na manhã de Natal.

Henry olhou para Amity.

— Eles sabem sobre o chocolate que você fez para mim?

Seus olhos se arregalaram e ela balançou a cabeça.

— Posso contar a eles? — Ele perguntou, observando o Sr. Cole franzir a testa. Henry sentiu um pouco de pena do homem, mas pretendia torná-lo supérfluo e retornar a Londres triunfante, depois de assegurar a mão de Amity e o coração dela.

Quando ela deu de ombros delicadamente, ele se virou para o resto da sala.

— A Senhorita Rare-Foure sabia da minha profunda admiração e satisfação com o café e, na minha festa, ela trouxe uma lata de chocolates que foram, sem dúvida, a melhor coisa que já provei, sem desrespeitar sua cozinheira hoje à noite.

— Café e chocolate? — Seu pai perguntou, inclinando-se para a frente. Ele assentiu pensativo e olhou para a filha mais velha. — Eu gostaria de provar isso.

— Pai, — ela exclamou, — você nem gosta de café.

— É verdade, mas isso é porque me parece algo que deveria estar no meu cachimbo, não no meu copo.

— Ah, seu café foi cozido, garanto e, portanto, o sabor foi queimado, — Henry disse a ele. — Posso mostrar à sua cozinheira como fazê-lo perfeitamente, e você pode gostar. Independentemente disso, misturado com chocolate, é divino.

— Eu gosto de café, — o Sr. Cole murmurou, e Amity se virou para ele com um sorriso.

— Eu não sabia, — ela confessou. Henry sentiu o peito inchar. Ele estava ganhando pouco a pouco.

Depois de uma recitação da irmã do meio, da desaprovadora e carrancuda, e algumas rodadas agradáveis de Famílias Felizes, um jogo de cartas que Henry nunca havia jogado antes, mas que achara divertido, era hora de dormir. Como de costume, mesmo em sua própria casa de campo, todo mundo se deitava horas antes do que quando estava em Londres.

— Vou lhe mostrar seu quarto, Vossa Graça — disse a Sra. Rare-Foure.

Henry não teve escolha senão se retirar junto com a família. Depois de dizer boa noite, quando olhou para trás, para sua consternação, notou que o casal recém-noivo estava tendo um tempo sozinhos.

Franzindo a testa, não conseguia pensar em meios de separá-los, o que o deixava de mau humor, apesar de ter conseguido expulsar o advogado do confortável quarto de hóspedes. Era um aposento alegre, e ele não encontrou nenhum problema com a hospitalidade Rare-Foure. Sua bolsa de dormir havia sido colocada ao pé da cama e havia um pequeno fogo crepitando na lareira.

No entanto, ele estava fora de si. Arrancando os chinelos muito apertados que o atormentaram a noite toda, embora ele nunca tivesse mostrado isso, ele os jogou na parede com frustração. Esperançosamente, alguém teria limpado suas botas pela manhã.

Começando a se despir, se viu sentindo falta do criado. Tinha sido imprudente não trazer o homem indispensável, e Henry esperava que não parecesse muito desalinhado pela manhã.

Henry acordou muito cedo para os padrões da cidade, mas não tinha puxado suas cortinas, ou melhor, ninguém havia feito isso por ele, e o sol estava vindo direto para sua janela para brilhar nos travesseiros e no rosto.

Levantando-se com um bocejo, ele ficou nu na frente do espelho pendurado sobre a penteadeira. Uma área de lavagem havia sido montada, com uma tigela e jarra de água, que ele derramou e usou para lavar o rosto e debaixo dos braços. Depois, ele se vestiu com as roupas novas que tinha permitido enrugar na bolsa todo o dia e noite anteriores. Colocando a camisa amarrotada, se inspecionou severamente no espelho.

Normalmente, sua aparência atual não serviria de forma alguma, ele parecia ter dormido em suas roupas. Mesmo assim, notou como o Sr. Foure e o advogado estavam casualmente vestidos no dia anterior e decidiu que seu estado atual seria suficiente. Em outras palavras, não tinha escolha.

Depois de se barbear no lavatório, percebendo tardiamente que deveria ter feito isso antes de se vestir, Henry penteou os cabelos e estava pronto para enfrentar outro dia de conquista de Amity Rare-Foure. Primeiro, ele precisava de suas botas e uma xícara de café. Ao abrir a porta do quarto, ele encontrou o primeiro, limpo e brilhante. Ele só podia esperar que a cozinheira tivesse o seguinte na despensa.

Ela tinha. Eram grãos velhos, que haviam sido armazenados secos e, portanto, sem uma pitada de mofo. Ele a deixou triturá-los e fez o resto. Foi uma aventura bastante interessante estar na cozinha dos Rare-Foures com a cozinheira, que praticamente desmaiou quando ele entrou no domínio dela. Novamente.

A criada que uma vez se sentou em sua sala como acompanhante de Amity entrou em seguida, e seus olhos se arregalaram. Depois de alguns minutos, no entanto, as duas mulheres se acostumaram com ele. Ele conseguiu ensinar a cozinheira a preparar o café adequadamente e para sua satisfação, até enquanto ela preparava ovos, bacon, torradas, salsichas e batatas.

— O Sr. Foure está acordado e pronto para provar isso? — Henry perguntou.

— Acredito que toda a família esteja acordada, — disse a criada, mexendo no mingau, antes de começar a colocar as travessas cheias em uma bandeja. — Todo mundo se reuniu na sala de jantar, Sua Graça.

— Bom, — Henry disse, então ele olhou o que ela colocou em seus braços. — Permita-me, — disse ele, pegando dela enquanto ela ofegava.

— Oh, não, Sua Graça. Você não deve.

— Por que não devo? Sou tão forte quanto você, não sou? Se você trouxer o serviço de café e o cozinheiro carregar o mingau, teremos conseguido tudo.

Assim, pela primeira vez em sua vida, Henry entrou em uma sala de jantar cheia, com os criados e ele estava sendo útil. A reação foi inestimável. O Sr. Foure ficou de pé e começou a rir sem reservas, e Henry sabia que o homem era definitivamente gente boa.

A Sra. Rare-Foure sacudiu a cabeça como se todas estivessem arruinadas. Amity ficou de pé com o pai, mas, vendo Henry não se incomodar de maneira alguma por cumprir esse dever, sorriu para ele. Suas irmãs riram de alegria. Apenas o Sr. Cole parecia azedo.

— É como se o mundo inteiro tivesse ficado de cabeça para baixo, — declarou o advogado, levantando-se para servir-se do café da manhã quente, que agora estava colocado no aparador.

Homem desagradável, Henry pensou. Por outro lado, ele deve estar começando a irritá-lo. Talvez o homem partisse por vontade própria.

— Fizemos café, — Henry disse a todos. — Café bom. Convido-os a adicionar leite e açúcar, como quiser.

Tendo aumentado o apetite, ele encheu um prato, empilhou-o com o bom café da manhã campestre e sentou-se ao lado da cadeira de Amity, na qual Charlotte estava sentada antes de se levantar para pegar seu próprio prato.

Quando as irmãs voltaram, as duas fizeram uma pausa. Charlotte tomou outro assento, sem dizer nada, enquanto Amity lançou-lhe um olhar de soslaio, apertando os lábios.

O jogo começou!

— Para que bela manhã despertamos, — proclamou Henry. — O que vocês normalmente fazem nesse dia no campo?

Charlotte falou primeiro.

— Eu posso dar uma volta. Temos belas vistas na propriedade.

Henry assentiu, esperando Amity declarar suas intenções.

— Estou feliz que o tempo tenha melhorado para sua jornada de volta para casa, — disse ela com firmeza.

Então, ela iria persistir em dispensá-lo junto com seu pedido. Isso não importava. Ninguém expulsava um duque, a menos que ele quisesse ser expulso.

— Como pude ver muito pouco ontem devido ao clima, e parece tão promissor hoje, decidi ficar mais tempo. Não tenho negócios urgentes na cidade. Se estiver tudo bem, Sr. Foure?

— Sim, é claro, — disse o pai quase distraidamente, enquanto preparava e mexia o café. — Primeiro gosto, — disse ele, e o fez. — Ah! Muito delicioso. — Olhando em volta para ver as reações das outras, ele perguntou: — Sr. Cole, o que você acha?

O advogado havia trocado o café por uma xícara de chá. Suspirando, o Sr. Cole pegou outra xícara de chá do centro da mesa e serviu-se de café. Ele não se incomodou com leite nem açúcar, tomou um gole e encolheu os ombros.

— Como todas as xícaras que tomei em uma cafeteria, — disse ele.

Homem miserável, Henry pensou.

O Sr. Foure também não gostou da resposta.

— Você deve adicionar açúcar e leite, como Sua Graça instruiu. Eu posso até imaginar como um bocado de cacau em pó pode ser bastante agradável, se não o próprio chocolate, ralado e deixado derreter.

Henry se assustou ao perceber que Amity também. Eles se entreolharam com excitação. Ela estendeu a mão para cafeteira, mas Henry se adiantou a ela e derramou um pouco na xícara meio vazia de chocolate quente. Ela mexeu, tomou um gole e sorriu.

— É maravilhoso. Pai, você é um gênio.

Aparentemente, sem sequer pensar na impropriedade de compartilhar uma xícara, ela se virou para Henry.

— Você deve provar. Eu sei que você vai adorar.

Sorrindo com satisfação, ele pegou a xícara estendida de seus delicados dedos e o levou à boca, bebendo do lugar onde seus lábios haviam tocado. Ele não pôde deixar de lançar um olhar para o Sr. Cole, que parecia positivamente cinza.

Provando a bebida misturada, Henry ficou muito feliz. Ele fechou os olhos. Quando os abriu, viu que todos estavam olhando para ele.

— É perfeito, — declarou ele, tomando outro gole e devolvendo a xícara à mão estendida de Amity. Ela estava empolgada demais com a nova descoberta para fazer qualquer coisa, exceto pegá-la e beber da mesma xícara.

— É, não é? Não podemos colocar pó de café no pó de cacau, pois ele não terá um sabor adequado, a menos que o café já esteja preparado, mas poderíamos começar a vender nosso próprio cacau com instruções para adicioná-lo ao café recém-preparado. O que você acha, mãe?

Infelizmente, a sra. Rare-Foure franziu o cenho e balançou a cabeça.

— Acho que as pessoas ainda comprariam os produtos Cadbury, Fry's ou um dos cem pós de cacau que estão sendo produzidos, uma vez que podem torná-lo muito mais barato do que nós, e é por isso que nunca o vendemos, — acrescentou ela, olhando Henry. Ele teve o prazer de ser incluído na discussão.

— Acho que é melhor nos atermos à confeitaria, — disse a Sra. Rare-Foure, — e começar a vender os chocolates com sabor de café que a Amity criou. Se as pessoas gostarem, poderíamos agregar um valor extra, incluindo um pequeno cartão impresso com instruções como misturar a bebida perfeita de chocolate e café. — Ela se virou para Charlotte. — Você pode colocar um cartão na sacola com o... como se chamam?

Amity pigarreou e olhou para Henry, então suas bochechas ficaram um tom cada vez mais rosa.

— Eu os chamo de Pelhams. Sem surpresa.

— Brilhante, — disse a sra. Rare-Foure. — Vossa Graça, você entende que, se chamarmos o novo chocolate pelo seu nome, você será considerado pelo público um cliente de nossa loja, além de endossar o próprio chocolate.

— Estou honrado, — disse ele, tentando parecer indiferente, enquanto estava secretamente emocionado com toda a conexão.

Especialmente quando ele olhou para o Sr. Cole, que decididamente não estava gostando!

Tomando o café da manhã com gosto, Henry pensou que nunca tinha tido uma manhã tão agradável. E ele também pretendia aproveitar o resto do dia. Depois de colocar o garfo e a faca juntos no prato, ele se recostou, saboreando outra xícara de café. Gostava dessa família e não queria nada além de tomar café da manhã com Amity pelo resto da vida e visitar o resto dos Rare-Foures sempre que possível.

Do nada, o Sr. Cole perguntou:

— Quando você disse que estava indo embora, Vossa Graça?

Henry praticamente ouviu o suspiro interno de todos os outros na sala de jantar. Ao Sr. Cole, como visitante, não cabia opinar sobre o assunto, nem deveria chamar a atenção para o cronograma das idas e vindas de outro hóspede.

Henry fez uma pausa para ver como essa família encantadora lidaria com tanta impertinência.

A astuta irmã do meio, aquela que Henry havia dito que não tolerava tolices, foi a primeira a responder.

— Sr. Cole, imagino por que você se preocupe com a partida de Sua Graça, a menos que precise de uma carona de volta a Londres. A propósito, quando você disse que estava indo?

Hora de Henry entrar e garantir sua posição como hóspede mais gracioso.

— Bem, Senhorita Beatrice. Por favor, não se sinta ofendida em meu nome. Se o Sr. Cole deseja ter sua encantadora família só para ele, talvez eu deva ir embora.

Aí, Henry pensou, depois de lançar o desafio, esperando que o advogado caísse em si e pedisse desculpas ou continuasse no caminho da mesquinhez e da insegurança, por mais justificável que fosse neste caso.

 


Capítulo Vinte e Três


O Sr. Cole ficou vermelho e envergonhado.

— Fui mal interpretado. Apenas me perguntei se deveria conseguir um quarto na pousada local, pois pretendia ficar e acompanhar todos vocês de volta a Londres. — Ele olhou nervosamente para Henry. — Se Vossa Graça deseja ficar mais tempo, estou muito feliz por ele ter o quarto de hóspedes.

Amity lançou a Henry um olhar de soslaio. O que ela estava pensando? Talvez a chocolatier dele estivesse se arrependendo do acordo dela em se casar com o idiota.

— Então se não se importarem, — Henry disse, — ficarei mais um dia. A cama era tão confortável e o quarto, tão charmoso. Entre isso, o bom jantar e o delicioso café da manhã, devo cumprimentar sinceramente a senhora Rare-Foure por um lar tão bem dirigido. Eu gostaria que minha propriedade perto de Canterbury fosse tão bem administrada.

A mãe de Amity assentiu graciosamente.

— A propósito, — disse Henry, olhando para Amity, — o Castelo de Chilham, minha casa de campo, tem uma confeitaria separada, onde eles preparam doces e sobremesas quando minha família está em casa. Infelizmente, não é para fazer chocolate. — Ele fez uma pausa antes de acrescentar: — Ainda.

Charlotte foi quem soltou um assobio ensurdecedor de alegria. Depois que todos se encolheram e recuperaram a audição, ela disse:

— Oh, Vossa Graça! Tinha ouvido falar que casas de campo tinham isso, mas você é o primeiro a confirmar.

— Temos uma equipe pequena, especialmente para lidar com qualquer coisa baseada em açúcar, incluindo geleias, sorvetes, doces, mousses congelados, cremes, xaropes e, naturalmente, todos os confeitos. Suponho que devo descobrir se alguém é capaz de preparar um pouco de chocolate.

Ele esperava que isso impressionasse devidamente Amity e que ela pudesse querer ver por si mesma os produtos de confeitaria de sua casa. Ela definitivamente tinha um olhar pensativo no rosto, e Henry se sentiu bastante satisfeito. Então, sem considerar suas palavras, ele se voltou para o advogado.

— Onde está localizada sua casa de campo, Sr. Cole?

Os olhos do homem saltaram de sua cabeça e, contra as intenções de Henry, Amity correu para resgatar seu noivo.

— Como Vossa Graça deve saber, a maioria das pessoas que não são da sua classe, ou seja, aquelas que não herdaram riquezas e propriedades múltiplas, não têm casas de campo.

Sua veemência em nome do Sr. Cole o humilhou. Henry sabia disso e lamentou sua pergunta. Seus pais sempre o conscientizaram de como os Westbrooks tiveram a sorte de ter o ducado de Pelham, e ele viveu sua vida sendo generoso e gentil para aqueles com menos.

Quando sucedeu seu pai, trocando seu título de marquês para o de Duque, jurou que não iria perder de vista a humildade, mesmo quando se tornou mais reverenciado e bajulado do que nunca. Naquela manhã, falhou espetacularmente.

Quando ele não disse nada imediatamente, Amity acrescentou:

— Sinto muito por ter te ofendido, Vossa Graça.

— Você não ofendeu. Fui eu quem falou fora de hora. — Para o Sr. Cole, ele disse: — Minhas desculpas se pareci esnobe.

Essa frase desarmou o advogado e, pela primeira vez durante toda a manhã, ele sorriu.

— De maneira alguma, Vossa Graça. Simplesmente fui pego de surpresa. Não escolhi um lugar onde a Senhorita Rare-Foure e eu desfrutemos de nossas estadias no campo, porque acho melhor escolhermos um lugar juntos depois que ela se tornar minha esposa.

O homem terminou soando totalmente recuperado da afronta e voltou a jogar seu noivado com Amity de volta no rosto de Henry. Touché.

— Sim, é claro, — Henry concordou, sentindo como se pudesse cuspir veneno com o pensamento de Amity e o Sr. Cole passeando pelas cabanas de campo com um agente de Chestertons ajudando-os a escolher uma adequada, talvez deixando-os inspecionar os aposentos e tal.

— Que gentileza da sua parte, — disse Amity ao Sr. Cole, e Henry sabia que ele havia perdido essa rodada.

O Sr. Foure falou:

— Essa é uma ótima ideia, Sr. Cole. Meu pai, o barão Foure, veio da França com minha mãe procurando uma bela propriedade para agradá-la. Nós gostamos, não é, querida esposa?

Ela assentiu em concordância.

— É uma excelente pausa da cidade.

— Nada poderia ser melhor do que isso, — proclamou a Senhorita Charlotte. — Não apenas a nossa casa, mas a área circundante.

Recusando-se a aceitar a ideia de derrota, Henry tinha um plano para aproveitar o dia e se aproximar de Amity, apesar do revés anterior.

— Quanto à área, Senhorita Charlotte, existem locais para ver aqui? Ruínas romanas e coisas assim? — Entre Canterbury e o mar, onde ficava sua propriedade rural, havia três ruínas romanas e, quando menino, ele sempre as achava fascinantes.

— Oh, sim, Vossa Graça. Bem em Colchester, temos um portal romano bem preservado.

— Um portal? — Cole perguntou com óbvio desdém.

— Um portal não é nada para zombar, — disse Henry. — Um meio mais importante de defesa e cobrança de pedágio também.

— Ah, com certeza, — concordou o Sr. Foure. — E este foi extremamente vital, construído no cruzamento da estrada romana de Londres e da cidade de Colchester.

— Ou Camulodunum, como era chamado, — a Senhorita Beatrice acrescentou. — Não é apenas a mais bem preservada de qualquer passagem romana no país, eu li que também é a maior com trinta e dois metros de largura, com duas faixas de rodagem e dois para pedestres.

— Devemos ir, — Charlotte exclamou. — É um dia perfeito para um passeio. Não é muito longe, e podemos comer naquela taverna encantadora. Vossa Graça, você verá por si mesmo como é adorável. Podemos, pai?

Henry estava encantado com essas duas aliadas, mas ainda não tinha ouvido falar de Amity sobre se ela iria.

O Sr. Foure assentiu.

— O Hole-in-the-Wall Public House9 oferece realmente uma refeição muito boa. Quanto às ruínas, a torre norte ainda está de pé, assim como os arcos da via pedestre sul. O que você diz, Senhora Rare-Foure sobre um passeio?

A mãe de Amity olhou diretamente para Henry.

— Acho que se nosso convidado tiver interesse, devemos ir.

O Sr. Cole pigarreou, lembrando à família que ele também era um convidado. Henry quase sentiu pena dele. Comparado a um duque, o homem agora era praticamente um intruso indesejado. Amity claramente se lembrava de sua existência, no entanto, e suas próximas palavras lembraram a todos o status de seu noivo.

— Se o Sr. Cole quiser ir, vou me alegrar com isso, — disse ela.

Henry imediatamente sentiu o açoite do ciúme percorrer seu corpo, mas não pôde fazer nada, exatamente como fora forçado a deixá-la sozinha com o advogado na noite anterior. Todos os olhos se voltaram para o Sr. Cole para ver se ele seria um estraga prazeres ou um sujeito que enfrenta.

Sob tal exame, o que ele poderia fazer?

— Sim, vamos dar uma volta. Enquanto minha noiva estiver comigo, não importa onde esteja.

Bem jogado, Henry pensou, mas ele encontraria uma maneira de levar Amity ao seu lado. Estava confiante disso.

Primeiro, ofereceu sua confortável carruagem de viagem para metade do grupo, para que não fossem apertados nem alguns deles precisassem ir a cavalo. Caso o tempo mudasse, como costumava acontecer de manhã a tarde, todos estariam cobertos. Se Henry pudesse descobrir como manobrar Amity em sua carruagem, tudo seria perfeito.

Infelizmente, não era para ser. De fato, foi Amity que, como uma traidora, garantiu que suas irmãs viajassem com ele.

— Se nosso grupo for dividido, — ela disse, — acho que Beatrice e Charlotte devem ir com Sua Graça para contar a ele tudo o que sabem sobre o portal de Colchester.

Então enviou a Henry um olhar longo e perspicaz. Ele devolveu-o com um sorriso como se estivesse totalmente indiferente. Usaria o tempo sozinho com as Rare-Foures mais jovens para descobrir mais sobre Amity. Qualquer informação poderia ser útil quando tentasse afastá-la do Sr. Cole, que claramente não era bom o suficiente para ela.

Assim que se instalaram em sua carruagem, ele começou a incomodar as irmãs com perguntas, embora não sobre as ruínas romanas.

— Há quanto tempo sua irmã tem estado com o Sr. Cole?

— Cerca de um ano e meio, — Senhorita Charlotte ofereceu, enquanto Senhorita Beatrice o considerava pensativa.

— E, no entanto, apenas recentemente ficaram noivos. O que devo pensar disso?

Ante isso, a Senhorita Beatrice sorriu levemente.

— Por que deve pensar algo disso, Vossa Graça?

A irmã do meio era um pouco atrevida, sem dúvida. Ele encolheu os ombros.

— Simples curiosidade. Na minha experiência, as pessoas se encontram, percebem que têm afeição uma pela outra e, logo declaram um compromisso. Caso contrário, qualquer das partes é suscetível de ser subbstituído. Ou o homem acha uma mulher mais ansiosa para ser sua parceira de vida, ou a mulher é perseguida por um pretendente mais digno... e mais rápido.

— Acho que nossa irmã está feliz, — Senhorita Beatrice disse, — para ter terminado com um homem movendo-se exatamente na mesma velocidade que ela.

Ou infeliz, Henry pensou. Então, para sua surpresa, ela o olhou nos olhos e disse exatamente a mesma coisa.

— Ou infeliz, se o primeiro pretendente era um apego morno e seu envolvimento ocorreu precisamente quando um pretendente mais adequado apareceu.

— O que você está falando? — Senhorita Charlotte perguntou à irmã. — Vossa Graça, gostaria de ouvir mais alguma coisa sobre Colchester?

— Acho que prefiro me surpreender quando chegarmos. Diga-me, sua irmã anseia por algo na vida além de fazer chocolates?

Charlotte olhou para ele, talvez percebendo o quanto ele estava interessado em Amity. Ainda assim, foi a Senhorita Beatrice quem respondeu.

— Nossa irmã mais velha é engraçada, inteligente, adorável e mais talentosa do que você imagina. Mas em um aspecto, ela não é diferente de qualquer mulher. Quer ser amada por quem é. Não quer ter que mudar sendo pretensiosa e afetada.

Henry pensou sobre isso. Ela teria que mudar por ele? Ela poderia, mais do que se ela se casasse com o Sr. Cole. Por outro lado, ele já a amava por quem era. Isso deve valer para alguma coisa.

— Acho que nossa irmã gostaria de um filhote, — acrescentou Senhorita Charlotte. — Se você realmente quer saber.

Ele e a Senhorita Beatrice olharam para a irmã Rare-Foure mais jovem e sincera, e ele começou a rir. Um filhote de cachorro de presente? Isso, ele poderia facilmente fazer sem causar problemas a ninguém.

— Você tem certeza de que não é você quem quer um? — Ele perguntou gentilmente.

Charlotte sorriu docemente.

— Oh não, Vossa Graça. Eu preferiria um gato.

Senhorita Beatrice suspirou e olhou pela janela.

Após alguns minutos de silêncio sociável, Senhorita Charlotte perguntou:

— Você gosta de pintar?

Henry achou uma pergunta estranha.

— Eu não pinto, mas gosto de arte.

— Só pergunto porque Constable, um pintor que admiro muito, fez muitas de suas paisagens não muito longe ao norte daqui.

— Ah, sim, eles chamam de Constable Country, não é?

— De fato, Vossa Graça. A casa de Willy Lott está lá do famoso A Carroça de Feno de Constable. Talvez amanhã, se partirmos mais cedo, poderíamos fazer uma viagem para vê-lo.

— Charlotte, — sua irmã advertiu suavemente. — Não sabemos o que o amanhã trará, nem se Sua Graça ficará mais uma noite.

— Verdade, — ele confirmou. — No entanto, parece um bom passeio, então vamos ver.

Não parecendo nem um pouco desanimada, a Senhorita Charlotte exclamou de repente:

— Chegamos! E temos tempo de sobra para dar uma olhada até abrir o apetite.

Logo, as duas carruagens estavam estacionadas com os cocheiros cuidando dos cavalos, e Henry se viu parte de um grupo alegre, desde que ignorasse o Sr. Cole, que estava tão perto de Amity, que era de se admirar que ele não estivesse grudado.

Felizmente, Henry achou o homem fácil de ignorar. Feliz por colocar os olhos em Amity mais uma vez, ele perguntou:

— Quando você está fora, Senhorita Rare-Foure, você prova chocolates aonde quer que vá?

Ela inclinou a cabeça bonita para o lado e franziu os olhos, pensativa.

— Suponho que depende do local. Em certas cidades, quero ver o que os confeiteiros estão fazendo, mas muitas vezes, em algum lugar como esse, não me incomodo. Prefiro desfrutar de um bom almoço em casa pública e não me preocupar com os doces.

Pela sua vida, ele não conseguia imaginar Lady Madeleine proferindo palavras de prazer sobre um almoço em uma casa pública e, novamente, sentiu a sorte de não estar noivo dela.

Eles seguiram pela estreita rua principal, que também era sinuosa e muito inclinada por boa parte do caminho. O Sr. Foure e a Sra. Rare-Foure andaram na frente, Amity e o noivo no meio, e Henry na retaguarda com uma irmã de cada lado. Foi uma experiência incomum. Como duque, ou mesmo quando era um mero marquês, geralmente liderava o caminho para onde quer que estivesse indo. Pelo menos, de sua vista, podia ver que o Sr. Cole não estava tocando em Amity.

Havia um benefício adicional... Henry podia observar o balanço suave da forma do vestido, que era muito agradável e fazia sua mente vagar perversamente.

Senhorita Beatrice interrompeu seus pensamentos perversos quando disse:

— Os saxões chamavam a cidade de Colneceaste, e ela é listada como Colcestra no Livro Domesday.

Amity virou-se para sorrir para a irmã e chamou a atenção de Henry. Quando ele sorriu para ela, ela rapidamente se virou novamente.

— É uma das mais antigas cidades continuamente habitadas em toda a Inglaterra, — continuou Senhorita Beatrice. Eles passearam pelo bairro holandês, onde os tecelões flamengos tradicionalmente viviam e trabalhavam. Eles caminharam pela Trinity Street com a acolhedora prefeitura da cidade de tijolos vermelhos no final, sua torre era a estrutura mais alta que podiam ver. Estruturas mais modernas foram combinadas com as mais antigas. Eles passaram por Markhams, um penhorista, com todos olhando para os tesouros nas janelas, principalmente joias. Henry ansiou em passar e comprar a maior bugiganga para Amity.

— Levaria muito tempo para percorrer a cidade inteira e ver todas as partes do muro romano que descobriram, — disse Charlotte. — Mas eu esperava que pudéssemos parar no castelo a caminho da cidade depois do almoço. Acho que parte disso ainda está sendo usado como prisão. Está certo, pai? — Ela chamou à frente.

— Sim, querida, — ele respondeu.

Eles chegaram às ruínas do portal romano e os sete ficaram em silêncio, talvez pensando que ele era da idade da estrutura. Ficava de frente para o oeste, em direção a Londres, e todo o tráfego que ia para o nordeste teria passado por ele.

— A cidade não tinha um muro a princípio, — disse Senhorita Beatrice, enquanto ousavam colocar as mãos nas pedras antigas. — Mas a rainha Boadicea, segundo os historiadores romanos, destruiu o local em 61 DC, e quando eles reconstruíram, os romanos perceberam a prudência de um bom muro forte contra os britânicos nativos.

— Você é historiadora, Senhorita Beatrice, — proclamou Henry.

Enquanto parecia satisfeita, um tanto sombria, ela disse:

— Não, faço caramelos, Vossa Graça.

Jovem peculiar.

— Eles têm várias igrejas adoráveis, não têm? — Observou ele. Já haviam passado por Trinity e St. Daniels, e ele podia ver mais pináculos.

— Talvez a Senhorita Rare-Foure e eu nos casemos em uma delas, — disse Cole, e Henry queria bater nele.

— Não, se eu puder evitar — ele murmurou, e se assustou quando a cabeça da Senhorita Beatrice virou em sua direção, uma bonita sobrancelha arqueada. Ela o ouvira, temia.

— Estou com fome — declarou a Senhorita Charlotte, e eles passaram sob o arco romano e entraram na casa pública caiada de branco com suas muitas janelas e persianas. Um proprietário anterior havia aberto um grande buraco na antiga pedra romana da muralha adjacente para que seu edifício pudesse ser visto por quem chegasse à estação de trem. Henry o considerava um empresário inteligente e apreciava poder olhar para fora.

O grupo deles estava sentado em uma grande mesa perto de uma janela e logo estavam comendo pratos simples de presunto grosso, pão, queijo e cebola em conserva. Todos eles beberam cerveja local frutada, e Henry até conseguiu se sentar ao lado de Amity, embora o Sr. Cole estivesse do outro lado. Ainda assim, seu calor parecia fluir mais em sua direção, e ele sentiu que penetrava através de sua roupa.

Henry não conseguia se lembrar de ter sentado com a família, dele ou de qualquer outra pessoa, em um pub e tendo uma refeição e uma discussão tão agradáveis. Eles conversaram sobre a incrível dominação romana da Grã-Bretanha, que depois de quatrocentos anos desapareceu tão rapidamente quanto havia ocorrido. Com Amity conversando a seu lado, limpando ocasionalmente o molho de mostarda dos lábios, era perfeito.

Depois do almoço, foram para o castelo de Colchester da era normanda, onde, por alguns centavos, um curador os levou ao redor, exceto dentro da prisão, que ainda estava ocupada, como Charlotte imaginara. Entre a Senhorita Beatrice contando como William o Conquistador construiu o castelo como a primeira fortaleza normanda e o guia explicando como seu tamanho era devido ao fato de ter sido construído em torno do pódio do templo romano de Cláudio, Henry sentiu como se estivesse de volta a Eton em uma palestra de história.

— Com este lugar sagrado já destruído pela rainha Boadicea mil anos antes, os normandos desejavam mostrar sua autoridade reivindicando o local, — acrescentou o curador, — precisamente porque era de grande importância para os ingleses.

Teria um significado ainda maior, pensou Henry, se conseguisse Amity sozinha. A certa altura, ela ficou para trás, conversando com as irmãs e examinando uma tapeçaria. Enquanto o resto do grupo contornava um corredor do castelo, e suas irmãs a precederam, ele simplesmente a agarrou pelo braço e a manteve para trás.

— Vossa graça? — Ela questionou incerta.

— Isso é intolerável, — ele reclamou. — Prometa que me dará algum tempo para falar com você sozinho quando voltarmos para a casa de sua família.

— Isso seria inapropriado. — Ela puxou seu braço.

— Então te beijarei aqui no castelo de Colchester, caso você não prometer, isso é exatamente o que farei.

Sua boca se abriu antes que ela a fechasse.

— Posso te beijar de qualquer maneira, — disse ele, se perdendo em seus suaves olhos castanhos.

Amity não sabia o que dizer, então ela fez uma piada.

— Para mostrar sua autoridade da classe dominante normanda?

A boca bonita do duque começou a tremer, e então ele riu.

— Sim, exatamente. — Ainda assim, não a soltou, mas exibiu suas covinhas até que ela quis derreter.

— Não há nenhum propósito em falarmos sozinhos, — ela lembrou. Sua família já deveria estar se perguntando onde ela estava e quando notarem a ausência do duque também...

— Isso é mentira, e você sabe disso, — protestou ele. — Existe o nosso futuro em jogo e, se quisermos ter filhos, incontáveis também.

— Incontáveis! — Amity não pôde evitar sua exclamação. — Talvez três, eu diria. — Inadequadamente, seus pensamentos voaram para estar na cama com Henry Westbrook, Duque de Pelham, e criar aquelas crianças.

— Tudo bem, — ele continuou. — São pelo menos cinco vidas que nossa conversa sozinhos terá impacto, não, seis se incluirmos a do Sr. Cole, o que devemos, porque você não libertará o homem dessa farsa de noivado.

— Não é uma farsa. Isso... — e ela gesticulou entre ela e Henry, — isso é uma farsa. Não estamos noivos, nem nunca estaremos.

— Me dê uma boa razão, e deixarei você em paz. E não mencione novamente o seu envolvimento atual, pois isso não é impedimento.

Amity não se importava com sua fácil dispensa de Jeremy.

— Tudo bem, a razão pela qual você e eu não podemos nos casar é porque você é um duque, um par do reino. — Isso era o mais claro que podia fazer.

Ele fez um som de pura exasperação.

— Certamente, isso é uma marca a meu favor, não uma razão para você permanecer noiva de seu amigo advogado.

— Se devo dizer com mais clareza, Vossa Graça, você e eu não combinamos. Sou filha de um comerciante. Meu lugar não é com você no mundo da alta sociedade.

— Então ficaremos longe deles, se eles a incomodarem. Independentemente disso, sei que com sua inteligência, pode aprender qualquer etiqueta social insignificante da qual possa não estar informada.

Ela balançou a cabeça.

— Mesmo que pudesse facilmente me atualizar com tudo o que Lady Madeleine apontou tão gentilmente que aprendeu enquanto estava no berçário, e os meus chocolates?

— O que tem eles? — Ele franziu a testa, e ela queria suavizar as linhas da testa dele, mas ele nunca seria dela para tocar.

— Eu não poderia ser chocolatier como duquesa, portanto, Vossa Graça, não posso ser sua esposa.

 

Capítulo Vinte e Quatro


O silêncio de Henry confirmava as preocupações dela, especialmente quando deixou a mão cair do braço dela, liberando-a.

No entanto, quando Amity deu alguns passos na direção que os outros haviam tomado, ele a chamou novamente:

— Senhorita Rare-Foure.

— Sim, Vossa Graça.

— Por favor, me dê alguns momentos do seu tempo hoje à noite, na hora que pudermos escapar dos outros. Depois disso, juro deixá-lo em paz. Amanhã voltarei à cidade, a menos que as coisas mudem.

Ela dificilmente podia recusá-lo quando ele estava sendo tão razoável.

— Muito bem. De alguma forma hoje à noite, vou me encontrar com você.

O estomago de Amity estava agitado durante todo o jantar. Toda vez que olhava para Henry, pensava em conversar com ele mais tarde e no que ele diria. Pode ser o último momento sozinhos. Quando olhou para Jeremy, que estava de olho nela depois de seu breve desaparecimento no castelo, ficou ainda mais ansiosa. Se ele a encontrasse sozinha com o duque, sabia que ele pensaria menos dela, possivelmente até acabaria com o noivado.

Ela não queria isso. Queria? Podia facilmente se ver casada com Jeremy e tendo uma vida feliz, como hoje.

No entanto, quando pensou em nunca mais ver Henry novamente, uma tristeza dolorida a deixou profundamente perturbada e terrivelmente conflituosa. Na verdade, ela desfrutara o dia tanto devido à presença dele quanto a de Jeremy.

— Você está bem, Amity? — Sua mãe perguntou.

Ela ergueu os olhos do prato.

— Sim, por quê?

— Você suspirou profundamente, como se tivesse o peso do Ájax10 sobre seus ombros.

— Eu suspirei? — Amity olhou culpada para Jeremy ao vê-lo olhando para ela. Ela sorriu propositalmente para ele e não olhou para Henry.

Já sentindo como se tivesse feito algo errado, ela tentou se juntar à conversa durante o resto da refeição enquanto seus pensamentos estavam confusos. Mesmo que Jeremy não existisse e ainda não tivesse se comprometido a ele, não seria a escolha certa para o duque, nem ele para ela. Desistir de ser fabricante de chocolate era, francamente, impossível. Amity seria infeliz pelo resto de sua vida.

Por outro lado, se tentasse ser duquesa e chocolatier, seria desaprovada e Henry seria ridicularizado. Juntos, seriam evitados. Por fim, ela seria forçada a desistir.

E então? Ela teria que aprender a viver a vida de Lady Madeleine e o resto da alta sociedade, que Amity apenas vagamente entendia. Trabalhos de caridade, clubes e almoços durante o dia. Organizar festas e bailes à noite. Parecia uma existência monótona. Exceto que haveria Henry com quem acordar de manhã e ir para a cama à noite. Henry!

Ele a fez rir e fez seu coração disparar. E haveria filhos para ela amar e criar. Poderia ajudar as irmãs a sair na sociedade e encontrar bons pares. Ou pelo menos ajudar Charlotte, que era favorável à vida social de Londres. Beatrice, sem dúvida, ainda deixaria de ter uma temporada, mas Amity poderia apresentá-la a cavalheiros adequados de qualquer maneira.

Ela não estava certa de que sabia o que adequado significava mais. Por outro lado, além de tudo o mais envolvido em permitir que o duque irresponsavelmente a levasse embora, ela já havia concordado em se casar com Jeremy. Voltar a sua palavra não era típico dela. Machucá-lo era horrível.

Que dilema ridículo!

A noite passou devagar e também rapidamente do princípio ao fim. Quando estava quase na hora de se retirar, Amity não encontrou maneira de se encontrar com o duque sozinha. Ela até tentou se dispensar de um jogo de cartas para ir ao banheiro, esperando que ele encontrasse uma desculpa para segui-la. Em vez disso, quando saiu da pequena sala no corredor dos fundos, era Jeremy quem estava por perto.

Ela teve a sensação distinta de que ele a seguiu.

— Você está sozinha? — Ele perguntou, seu tom cheio de pavor, e Amity sentiu uma ponta de remorso atravessá-la por causar-lhe um instante sequer de inquietação.

— Claro. Que pergunta? — Ela disse antes de acrescentar: — É todo seu, — enquanto apontava para o banheiro atrás dela.

Jeremy assentiu e entrou, embora ela não achasse que ele realmente precisava disso. Só então notou o duque à espreita no final da passagem. Ele deve tê-la seguido e despertado a curiosidade de Jeremy.

Com um breve movimento da cabeça, ela correu de volta para a sala. Em mais meia hora, todos se declararam prontos para se recolher. Quando Henry chegou à porta da sala, olhou para trás. Com o olhar constante de Jeremy focado nela, ela não podia fazer nada, exceto dar boa noite ao duque. Como já havia ocorrido, Jeremy ficou para trás para terem alguns minutos sozinhos.

Esta noite, ela temia que a discussão não fosse tão animada como na noite anterior, quando conversaram sobre visitar seus pais na Escócia ou fazer anúncios de noivado.

— Não gosto do jeito que o Duque de Pelham olha para você, — começou Jeremy. — Ele é muito atrevido, sem dúvidas.

— Foi muito gentil de sua parte desistir do quarto de hóspedes, — ela o acalmou, na esperança de tirar sua mente de Henry.

— Bem, — ele fervia de raiva, — um de nós tem que se comportar como um cavalheiro. Admito que ele é o primeiro duque que já conheci, mas ele parece tão... regular... quase muito comum.

Amity teve que rir.

— Melhor do que ele ser um esnobe.

— Eu suponho. — Jeremy a pegou nos braços e ela tentou relaxar e deixar de lado a noção inesperada de trair Henry. — Eu, por exemplo, ficarei feliz quando ele partir.

— Acredito que ele voltará para Londres amanhã.

— Verdadeiramente? — O humor de Jeremy aumentou. — Pensei que o homem havia ameaçado ficar mais tempo. Sua irmã não mencionou no jantar uma viagem para visitar Constable Country?

— Sim, mas Sua Graça não se comprometeu.

— Você está certa. Ele não se comprometeu. — Sem qualquer preâmbulo, e completamente fora do comum, Jeremy abaixou a boca na dela e a beijou.

Depois que o choque passou, Amity inclinou a cabeça como Henry havia feito, e Jeremy congelou, depois inclinou a dele na outra direção. Suas bocas se encaixam perfeitamente, mas ela supôs que de todo mundo encaixava. Que pensamento bobo! Todo beijo não era o mesmo, e não havia nada errado com o de Jeremy, ela lembrou a si mesma.

Seja como for, a fragrância dele não a fazia querer rastejar por dentro de sua roupa e acariciar sua pele nua. O toque dos lábios dele não fez sua barriga vibrar de prazer, nem a pele sentir arrepios, nem qualquer tipo de calor acumular-se entre os quadris. Ele não tentou deslizar a língua em sua boca para acariciar sua própria língua, e quando suas mãos percorreram suas costas, ela não foi levada a pressionar seu corpo para mais perto.

Nada no beijo de Jeremy, exceto a boca dele na dela, era como o beijo de Henry. Tristeza aguda atingiu seu coração, fazendo-a se afastar.

Por outro lado, quando ela estava com Jeremy, estava plácida e geralmente contente. Seria fácil se despir na frente dele na noite de núpcias. O casamento deles não seria complicado.

Depois de lhe dar boa noite, ela subiu as escadas para o quarto, sentindo uma pontada de arrependimento por não ter conseguido se encontrar com Henry. Provavelmente era o melhor. A sorte havia selado seu destino, e ela aceitou.

Delia havia acendido as lâmpadas no quarto e um pequeno fogo na lareira, permitindo que Amity entrasse em um aposento aconchegante e alegre. Fechando a porta atrás dela, sentou-se na manta e começou a tirar as botas.

— Não se assuste, — veio a voz de Henry quando ele se materializou por trás das cortinas como um espírito.

Naturalmente, ela ficou alarmada! Saltando de pé, Amity não sabia se gritava ou corria para a porta. Depois de um momento, no entanto, não se sentindo particularmente ameaçada, nem com medo por sua virtude. Quando o duque atravessou a sala para ficar diante da lareira, ele de alguma forma parecia a imagem da inocência, apesar de estar no quarto de uma mulher solteira.

— Você concordou que poderíamos conversar, — ele a lembrou.

— Sim. Eu tentei antes, como você sabe.

— Seu Sr. Cole é como um cão perseguindo a caça. — Henry enfiou as mãos nos bolsos, talvez para mostrar que não estava disposto a agarrá-la.

— Por uma boa razão, — ela apontou. — Sr. Cole é cauteloso com você, e você trouxe esse exame sobre si mesmo com todo o olhar fixo em mim.

O duque sorriu, suas covinhas apareceram e o coração dela começou a acelerar. Ela era tão inconstante e superficial que sua boa aparência poderia conquistá-la a cada vez?

Afinal, o Sr. Cole também era bonito. Por que o sorriso dele não derretia suas entranhas? Ela desejava fervorosamente que sim.

— Como posso evitar encarar o objeto do meu afeto? — Henry perguntou, parecendo sério.

Ele estava praticamente se declarando. Ela respirou fundo.

— Você disse que queria falar comigo e prometeu ir embora amanhã.

— Prometi? — Retirando as mãos dos bolsos, ele deu um passo mais perto. Lá se vai a imagem da inocência!

— Sim, — ela respondeu enfaticamente. — Vou lhe dar cinco minutos. — Ela apontou para o relógio sobre a lareira. — Tic tac.

Seus adoráveis olhos verdes se arregalaram.

— O quê? Você não pode dar “tic tac” a um duque.

— Eu posso e dei.

Ele cruzou os braços sobre o peito.

— Tudo bem. Tenho cinco minutos, mas preciso de apenas um. Quero que se case comigo e não com o Sr. Cole.

Ouvi-lo dizer isso tão francamente a deixou tonta.

— Estou ciente disso, Vossa Graça. E tenho plena consciência de que você geralmente consegue o que deseja. Nesse caso, porém, você não deve.

Ele descruzou os braços lentamente.

— Por que não?

— Dei ao Sr. Cole meu voto solene de casar com ele.

— Literalmente falando, Senhorita Rare-Foure, você lhe disse que sim à questão do casamento, uma questão impertinente, já que ele é descaradamente indigno de você. Isso dificilmente é um voto solene. Os votos ocorrem no dia do casamento, se não me engano.

— Muito bem. Eu dei a ele minha palavra. Concordei. Disse sim. Agora não posso dizer não, mesmo que quisesse. — E uma parte dela definitivamente queria.

— Você quer, não é?

— Eu não disse isso. — Mas ele provavelmente poderia ler no rosto dela. — Não estou quebrando meu acordo. Seria muito... ofensivo.

Ele parecia incrédulo.

— Você não quer ofendê-lo, então se casará com um homem e passará o resto da sua vida com ele, o tempo todo tendo sentimentos mais fortes por mim. Claramente, você é muito medrosa para reconhecer esses sentimentos.

Muito medrosa?

— Você está me chamando de covarde?

— Se lhe adequar, — disse ele, ainda com um tom de provocação.

Ele estava seguro de si mesmo, isso ela podia dizer. E porque não? Ele era o sonho de toda garota, incluindo o dela.

— Pondo meus medos de lado, minha principal razão permanece. Uma duquesa não pode fazer chocolate.

Ele suspirou.

— Não conheço niguém que faça, é verdade. Não conheço muitas duquesas para que conste. Nós duques, não ficamos juntos em um clube, sendo ducais.

— Não? — Ela não pôde evitar a alegria em seu tom. A imagem de Henry e um bando de velhos, como era a maioria dos duques atuais, de pé no luxuoso tapete oriental de qualquer clube que preferisse, provavelmente o White’s, e discutindo coisas que apenas os duques conheceriam ou fariam, parecia imensamente engraçada.

Ela começou a rir em silêncio, depois a rir alto. Quando ele a acompanhou, ela agarrou a cabeceira da cama e riu com vontade.

— Você está tirando sarro de mim, — disse ele, — e você ocupou meu valioso tempo, por isso estou acrescentando mais dois minutos.

Amity respirou fundo e conseguiu se controlar.

— Vamos concordar que nenhum de nós ouviu falar de duquesas que fazem qualquer coisa, exceto sentar-se para retratos, administrar instituições de caridade e se tornar damas de companhia da rainha. Isso não está certo?

Ele assentiu e deu um passo mais perto.

— Eu não posso desistir de fazer chocolate, não importa o quanto... — o quanto ela o amava. Ela temia o quão vazia e sem vida se tornaria. — Por mais tentadora que seja sua oferta. Uma chocolatier é quem sou. — Ela fez uma pausa. — E, sem dúvida, não é o passatempo para uma duquesa.

Ele deu outro passo mais perto, e por alguma mágica, suas mãos estavam na cintura dela, puxando-a contra ele.

— Eu deveria pedir sua permissão, mas temo que você diga não. — Com esse aviso, ele se abaixou e reivindicou sua boca.

Faíscas quentes de desejo a atravessaram. Enquanto as mãos largas de Henry percorriam sua espinha, cada parte de seu corpo chiava e tremia. Algo bem no fundo tornava-se um calor derretido ao seu toque. Os dedos dela tocaram em seus cabelos e seguraram sua boca contra a dela.

Com o coração batendo forte, Amity deixou-o deslizar as mãos em seus cabelos e desalojar o coque casual que havia criado naquela manhã. Grampos foram a todos os lugares, apesar de muitos permanecerem colocados, propensos, ela temia, a espetar um dos olhos de Henry.

— Amity, — ele murmurou contra seus lábios, e ela esqueceu os grampos de cabelo.

Gemendo um pouco, ela deixou sua língua quente deslizar em sua boca aberta. Ofegando com a sensação, o atraiu ainda mais. Com uma selvageria que nunca imaginou, ela chupou a língua dele, fazendo-o gemer por sua vez.

Ela estava pegando fogo e começou a puxar os botões na frente do vestido, pensando em nada exceto em querer sentir o toque dele em sua pele quente. Achando muito difícil com os dedos trêmulos, ela passou a puxar as roupas dele, desesperada para tocá-lo.

Ao contrário de todos os impulsos do seu corpo, sentiu Henry congelar. Ele parou de beijá-la e apoiou a testa na dela. Então, agarrou as mãos dela para parar seus movimentos frenéticos.

Henry ficou surpreso ao ver como essa jovem correta, tão determinada a honrar seu noivado, poderia inflamar-se em seus braços com tanta rapidez. Seu próprio corpo também estava em chamas, e sua masculinidade era como um mastro de bandeira.

Ele podia simplesmente dizer o quanto a amava, mas isso parecia particularmente manipulador nesse momento. Ou ela se sentiria compelida a retribuir o sentimento, sentisse ou não, usando as palavras que provavelmente havia dito recentemente ao noivo, ou não as diria. Muito pior, no que lhe dizia respeito.

Se ela não as dissesse de volta, ele pareceria um tolo humilhado, e se ela estivesse determinada a se casar com o Sr. Cole, Henry seria exatamente isso... um tolo.

Queria que ela lhe desse algum sinal de que preferia casamento com ele sobre aquele advogado. Recuando, ele olhou para o rosto corado dela. Os olhos dela estavam fechados, os lábios levemente entreabertos, e ela estava respirando pesadamente, como ele. Ele pegou o queixo bonito dela entre os dedos.

— Amity, — ele ordenou.

Ela balançou a cabeça levemente para desalojar a mão dele.

— Diga-me o que você está pensando, — Henry ordenou enquanto ela se afastava dele.

— Que não poderia ir à oficina da Rare Confectionery e fazer chocolates se fosse duquesa.

No entanto, quando ela abriu os olhos e rapidamente desviou o olhar dele, ele sabia que outros pensamentos estavam passando em seu cérebro. Pensamentos dele, talvez, e não de chocolate.

Ele suspirou.

— Podemos deixar isso de lado por enquanto? Não posso imaginar que chocolate seja mais importante que... — ele se interrompeu. Que patético dizer que ele queria vir antes do amor dela por fazer chocolate!

Ele andou pelo quarto para lhe dar espaço para pensar e, esperançosamente, para dizer algo mais íntimo, mas ele manteve o olhar nela. Ela enrolou as mãos delicadas e capazes em punhos ao lado do corpo. Ela olhou para o teto e para o chão. Finalmente, ela olhou diretamente para ele.

— Você desistiria do seu assento no Parlamento ou deixaria sua casa para morar comigo em uma casa de classe média nos arredores a sudoeste de Londres?

Os olhos dele se arregalaram. Ele não esperava essa pergunta. Desistir dos adornos de sua herança? Absurdo!

— Mas não haveria necessidade, — ele começou.

Ela levantou a mão para detê-lo.

— E se casar comigo significasse abrir mão de sua bela casa e seu criado, além de ser sócio de seus clubes e...? — Ela hesitou e franziu a testa.

Seu rosto adorável, mesmo quando franzia a testa, fez seu coração doer. Ele sabia que isso não estava indo do jeito que esperava.

— E se você tivesse que desistir da sua carruagem de luxo? — Ela terminou e afundou os dentes no lábio inferior, parecendo perturbada.

Amity não podia se ver como sua duquesa, e isso doía. Se ela o amasse, deixaria o Sr. Cole e entraria em seu mundo com prazer e gratidão. Mais tarde se preocuparia em ser uma chocolatier.

Com o coração apertando dolorosamente, tudo o que ele podia fazer era transformar as palavras dela em brincadeira.

— Isso é injusto. Qualquer coisa menos minha carruagem de luxo. Definitivamente, preferiria ter minhas almofadas de couro italianas do que você como esposa.

Eles se entreolharam, e então ela sorriu, enquanto lágrimas enchiam seus olhos. Ele sabia que ela não concordaria. Ela não o amava, ou pelo menos não o suficiente.

— É melhor eu ir andando, — disse ele, sentindo-se repentinamente gelado e vazio, — antes de ser descoberto em seu quarto.

Ela assentiu, esmagando as esperanças dele de uma vida com essa mulher calorosa e espirituosa.

Ele quase a pegou nos braços novamente. Quem iria detê-lo? Ambos inegavelmente gostaram. Mas parecia um jogo superficial e luxurioso, e ele não jogava esse tipo de jogo, não com jovens respeitáveis.

Com uma reverência de despedida, Henry saiu do quarto e voltou pelo corredor até o seu. Nunca lhe ocorreu que ela escolheria o advogado e o chocolate sobre ele. Quem queria ser uma senhora comum em vez de duquesa?

Uma parte dele a admirava por sua lealdade. Uma parte muito pequena! O resto dele se sentiu irritado, confuso, preocupado, incomumente inseguro e, acima de tudo, infeliz.

Enquanto se despia, sentindo falta do criado, decidiu partir à primeira luz com um bilhete deixado para a família. Ele não era de açoitar um cavalo morto, nem sofrer humilhação pelas mãos do vitorioso Sr. Cole.

 


Capítulo Vinte e Cinco


No dia seguinte, Amity sabia que não seria fácil dizer a Jeremy que ela havia mudado de ideia, mas, no mínimo, seria um alívio. Ao despertar e saber da partida do Duque de Pelham, seu coração parecia uma pedra sólida no peito e ela não conseguia pensar em nenhum remédio. Não podia se casar com Henry e abandonar sua paixão por confeitaria, nem desistir de trabalhar com suas irmãs.

Ela também não podia se casar com Jeremy, não depois de experimentar um desejo tão intenso e inebriante nos braços de Henry. Jeremy merecia uma mulher que sentisse tanta paixão por ele, não uma que passaria o resto da vida pensando no beijo de outro homem.

Antes do café da manhã, ela convidou Jeremy para caminhar com ela. Eles chegaram até o campo de flores silvestres atrás da casa quando ela se virou para ele, não querendo arrastar as coisas.

— Sinto muito, — ela começou.

— Mas você não pode se casar comigo, — Jeremy terminou.

Ela abaixou a cabeça, odiando machucá-lo, embora tivesse tomado sua decisão nas longas e insones horas da noite.

— Você está se casando com o Duque de Pelham, — concluiu, — e não posso competir com ele.

— Você não precisa competir com Sua Graça, nem vou me casar com ele.

— Então por quê? — Ele perguntou.

— Tenho examinado meu coração e, embora tenha afeição, não estou apaixonada por você, — disse ela o mais gentilmente possível. Agora entendia o amor verdadeiro, sabendo que esse deveria ser o motivo de suas emoções ardentes sempre que estava com Henry. E estar com Jeremy não era nada parecido.

Sua expressão ficou perplexa.

— O duque não pediu para você se casar com ele. — Ele inclinou a cabeça. — E ainda assim você não vai se casar comigo... por causa do amor?

Ela decidiu não se aprofundar na proposta de Henry ou até confessar que houve uma, pois esse não era da conta de Jeremy.

— Não tenho certeza de que você esteja pensando com lucidez, — acrescentou. — O amor incondicional é mais reservado aos pais em relação aos filhos, não acha?

Atordoada com a afirmação, Amity balançou a cabeça.

— Não, não acho.

Como eles nunca discutiram isso? Assumiu e atribuiu a ele um nível de sentimento que pode não ter por ela.

— Certamente você sente amor por mim se quer se casar comigo.

— Tenho a máxima consideração por você, — explicou ele. — Sinto ternura e carinho. Sua natureza, rosto e físico, todos me agradam tremendamente. Há muito pouco sobre você que mudaria. Também acho que você seria uma excelente mãe.

— Mas você não me ama? — Ela perguntou, francamente surpresa.

— Suponho que sim, — confessou. — Tanto quanto qualquer adulto ama outro.

Ela olhou para ele.

— Você já experimentou tontura ao meu redor? Seu coração dispara com a minha proximidade?

Ele abriu a boca, fechou-a e finalmente confessou:

— Não.

— Quando nos beijamos, — ela insistiu, sabendo que o assunto era inapropriado, — você se sente quente por dentro, como se estivesse ficando líquido enquanto sua pele parece praticamente chamuscada?

— Definitivamente não, — disse Jeremy, seu rosto ficando um pouco vermelho. — Seja o que signifique?

— Ao meu toque, você se sente dominado pela vontade? — Ela colocou a mão no braço dele, sem sentir nada.

— Vontade do quê? — Ele perguntou, olhando para ela como se ela estivesse um pouco perturbada.

— Me desejar, é claro!

— Estou ansioso para compartilhar nossa cama conjugal, se é isso que você quer dizer.

Amity balançou a cabeça, aliviada além de qualquer medida por ter descoberto sua natureza morna.

— Mas você não anseia por mim.

Jeremy deu de ombros.

— Então estou prestando-lhe um bom serviço, Sr. Cole, libertando-o de nosso compromisso. Garanto-lhe que essa paixão intensa é real e acho que representa amor, duradouro e abrangente. Espero que você experimente isso algum dia.

Com isso, ela se virou, voltando para a casa. Por cima do ombro, ela acrescentou:

— Você é mais que bem-vindo a ficar no café da manhã.

Seu passo leve, se sentiu quase animada por estar livre, o que confirmou que o casamento com ele teria sido um erro flagrante. Sua culpa anterior por lhe causar dor havia sido substituída por uma sensação de retidão. Embora, após consideração, Amity não pudesse deixar de se perguntar brevemente o que havia nela que ele mudaria. Ele indicou que havia algo.

Com um suspiro de satisfação, ela aceitou que não era mais sua preocupação e, portanto, nunca saberia.

— Você está tão melancólica quanto... uma viúva recentemente, — declarou Charlotte a Amity duas semanas depois que voltaram a Londres. Estavam preparando a Rare Confectionery para reabrir, mas Amity não conseguiu encontrar sua alegria habitual enquanto trabalhava, produzindo chocolates suficientes para encher as prateleiras da loja. — Eu me pergunto se é por isso que as chamam assim.

— Essa não é a mesma melancolia, — Beatrice disse com uma risada.

— De qualquer maneira — continuou Charlotte, falando da frente da loja onde espanava todas as superfícies, — sinto falta da antiga e amável Amity. Não foi por isso que mamãe e papai te deram esse nome?

— Você acredita que nossos pais notaram que eu era amável desde a infância? — Amity perguntou. A noção equivocada de Charlotte, de fato, trouxe um sorriso em seu rosto.

Beatrice riu de novo. Ela estava limpando os vidros da frente com vinagre e papel de jornal.

— Ganso bobo. Eles nomearam Amity por causa de alguma tia-avó e porque queriam que ela tivesse um nome começando com A.

— A, B, C, — Charlotte murmurou. — Gostaria de saber qual seria o nome de D.

Amity balançou a cabeça. Como ela adorava estar com as irmãs. Teria que ser suficiente.

Infelizmente, ela fez um lote absolutamente terrível de chocolates, dobrando o sal e usando leite azedo por engano. Desperdiçando bons ingredientes, como um bloco de chocolate Menier, irritou-a sem fim e, com nojo, ela jogou todos eles na lixeira. Um calafrio a percorreu, trazendo consigo o medo de que tivesse perdido o brilho, e não por ter terminado com Jeremy Cole.

Naquela noite, enquanto Amity se preparava para dormir, uma batida na porta, acabou sendo sua mãe.

— Onde está minha filha mais velha feliz? O que você fez com ela? — Felicity Rare-Foure perguntou, sentada na beira da cama.

— Estou bem aqui. — Amity colocou a escova na penteadeira e se sentou ao lado da mãe.

— Mas você não é a mesma de antes de irmos embora. Não, — Felicity pensou... — devo dizer, você não é como era antes da festa da proposta do duque. Você ainda está sofrendo com a situação de Lady Madeleine, está?

— Não. — Na verdade, Amity não se importava nem um pouco com Lady Madeleine e não havia lhe poupado um pensamento em semanas.

— E você mandou o Sr. Cole embora permanentemente? — Sua mãe perguntou. Amity não tinha contado à sua família muito mais do que haviam interrompido seu noivado extraordinariamente curto.

— Sim. — Amity puxou a saia do vestido, sentindo-se mal.

Sua mãe cobriu a mão com a dela.

— Então, você está loucamente apaixonado pelo Duque de Pelham?

— Sim, — ela disse e engasgou com sua franca admissão. — Mãe! — Ela fora enganada pelas perguntas mais fáceis em uma confissão rápida.

— E ele obviamente está apaixonado por você também, — Felicity persistiu.

— Como você pode saber disso? — Amity sentiu um lampejo de alegria com o pensamento.

— Porque o homem te seguiu até o campo e percorreu ruínas com você. Se irritava toda vez que olhava para o Sr. Cole, ou você olhava. Até trouxe seu café da manhã em uma bandeja. Então você feriu os sentimentos do duque e ele fugiu. Claramente, um homem apaixonado.

Amity balançou a cabeça. Aparentemente, sua mãe sabia de tudo, então qual era o sentido de falar.

— Como minha amável filha fez um duque virar as costas e fugir? Essa é a minha pergunta. E porquê?

— São duas perguntas — Amity apontou e sentiu-se confortada quando sua mãe a abraçou. — Acredito que o duque se importa comigo, — ela começou, — e estou apaixonada loucamente, como você diz. Mas ele quer que eu seja sua duquesa.

Ela sentiu a mãe respirar fundo.

— Sim, querida. Geralmente é assim que funciona. Um duque se casa e sua esposa se torna sua duquesa.

Amity percebeu que estava apertando as mãos no colo.

— É exatamente isso. Você não vê? Não posso ser duquesa. Sou chocolatier!

A mãe dela parou.

— Minha pobre garota. Você não é apenas chocolatier. Você é uma mulher apaixonada. Acredito que isso tenha precedência sobre quase todo o resto. Não posso imaginar que você, ou o duque, permita que uma coisinha como chocolate, por mais delicioso que seja, fique no seu caminho.

— Uma coisinha? Mãe, como você pode dizer isso?

— Comparado ao amor, Amity, como não posso?

Henry esperou no pé da escada a mãe dele descer. Ele prometeu acompanhá-la ao seu balé favorito em Covent Garden. As noites estavam ficando mais frias e as ruas estavam decoradas para a próxima temporada de Natal. Para ele, parecia um pouco cedo. Ele poderia falar com o prefeito de Londres sobre isso na próxima vez que o visse.

Nunca se sentira mais como uma fraude de feriado. Fazia quase dois meses desde a sua mal planejada visita à casa de campo dos Rare-Foures, e não esteve de volta à Rare Confectionery para ver se haviam reaberto. Ele não precisava. Já foi servido dos chocolates de Amity em mais de uma festa e visto uma lata deles na casa de um amigo.

Ele não tinha sido capaz de comer um único.

Também não examinou os jornais em busca de anúncios de noivado. Foi informado pelo Waverly que a maioria das pessoas não fariam um grande alarido se elas não fossem nobres já que ninguém se importava com quem se casou com quem, a não ser que estivessem nos escalões superiores.

Isso nem sempre era o caso. Henry se importava muito.

— Estou pronto, querido garoto. Gracioso, não pareça que estou te arrastando para o seu próprio enforcamento. É o balé, e temos sorte de o teatro estar tão perto. Você não se importa de estar no balé com sua velha mãe, não é?

— Antes de tudo, você não é velha. Deveria acompanhá-la a bailes para encontrar um novo marido. Não gosto de pensar em você sozinha. Em segundo lugar, você sabe que não gosto de balé, mas estou feliz por sofrer com você. E sempre há o intervalo e o bar bem abastecido.

Sua mãe deu um tapinha no rosto dele com carinho.

— Mal saí do luto, — protestou ela. — Embora nos últimos dois meses, você parece ter me substituído. Está sombrio e irritadiço. — Ela fez uma pausa e olhou para ele, examinando seu rosto. Então ela levantou um ombro em um elegante encolher de ombros.

— Independentemente disso, não vou dançar em um baile ao lado das debutantes tão cedo. Quão impróprio. Se tiver a sorte de encontrar outro homem para me amar como seu pai, serei duas vezes abençoada.

Henry só pôde acenar com a sabedoria dela e levar sua mãe para o teatro. Amity foi duas vezes abençoada por ser amada por dois homens, e isso o partiu, deixando-o estripado, por ter sido aquele que ela não escolheu. Ele não tinha certeza se algum dia se recuperaria.

Em meia hora, do camarote dos Pelham, para a consternação de Henry, e também um grande interesse, ele viu todos os cinco da família Rare-Foure andando pelo corredor principal e sentarem-se a cerca de sete filas da orquestra.

A chocolatier dele usava um vestido cor de ameixa, talvez o que ele a viu na casa dos Peabodys. Isso pareceu há muito tempo. Desejou poder convidá-los para seu camarote, mas isso enviaria todo tipo de sinais errados para quem estivesse assistindo. Além disso, seria doloroso como o diabo estar perto de Amity.

— O que você está olhando? — Sua mãe perguntou. — Ou melhor, quem?

Ela praticamente se pendurou na borda para ter uma visão melhor.

— Quem chamou sua atenção? Conheço apenas a senhora que não tem mais sua atenção. — Ela olhou para ele novamente, antes de voltar a olhar para as pessoas que ainda estavam sentadas. — Diga-me, Henry, eu ordeno.

— Mãe, por favor. Eu estava simplesmente observando as pessoas entrando.

Ela deu um suspiro exagerado.

— Você não mente para mim desde pequeno quando se esgueirou para a cozinha para comer uma torta de creme inteira. Você ficou doente por um dia e tentou fingir que não tinha ideia de para onde foi a torta.

— Não há tortas aqui esta noite, — disse ele, cruzando os braços.

— Você não quer saber como eu sabia que você estava mentindo para mim antes e agora?

— Além do meu rosto ficar com um sublime tom de verde e eu ficar terrivelmente doente em sua cesta de bordar?

Ela sorriu.

— Foi o modo que você ergueu as sobrancelhas enquanto estreitava os olhos ao mesmo tempo. Um truque estranho que você faz quando falta à verdade, e em nenhum outro momento. Vou ter que dizer à sua futura esposa para ficar em alerta. Ela está lá fora hoje à noite, me pergunto?

Ele olhou rapidamente para os Rare-Foures e balançou a cabeça. Ela inquestionavelmente teria sido se não tivesse escolhido chocolate a ele. Henry não estava disposto a dizer isso à mãe.

— Talvez deixe você escolher a próxima mulher que eu cortejar. O que você diz, mãe? Você pode me achar uma duquesa?

A viúva recostou-se na cadeira e olhou para ele. Ela deu um sorriso amoroso que não havia mudado em todos os anos.

— Se você está falando sério, meu filho, ficaria honrada em ajudar. Não que eu não ache que você pode encontrar alguém para si mesmo, — acrescentou ela, tocando seu ombro. — No entanto, talvez eu possa descobrir uma mulher com qualidades particulares que você possa estar ignorando.

— Quais qualidades? — Ele perguntou.

— Bem, Lady Madeleine só tinha uma coisa a favor dela. — Ela torceu o nariz exatamente como a irmã dele.

Henry fez uma careta.

— Não é verdade, mãe. Além de sua beleza óbvia, a lady foi criada para administrar uma casa e ser esposa de um nobre.

O rosto da viúva azedou.

— Ela era tão seca quanto a areia da praia de Brighton e tão monótona. A única vez em que a vi demonstrar um pouco de espírito foi na noite em que ela comeu o chocolate errado, e ela teve um acesso de raiva dos mais vergonhos em público por causa disso. Dificilmente uma jovem que deslumbraria Londres como sua duquesa. Você precisa de alguém com entusiasmo e capacidade genuínos e com uma certa faísca. — Ela deu um tapinha no seu penteado. — Um pouco como sua velha mãe.

Ele riu.

— Eu já te disse, você não é velha. A propósito, por que Penélope e Randolph não se juntaram a nós hoje? Por que eles não estão sendo forçados a suportar esse balé? — Ele acrescentou brincando.

— Sua irmã é casada e pode estabelecer seu próprio horário. Além disso, acho que eles têm coisas mais importantes a considerar do que o balé.

As luzes se apagaram, então Henry sussurrou:

— Como assim?

— Vou lhe contar mais no intervalo, mas acho que você vai ser tio.

Henry recostou-se, chocado. A irmã dele seria mãe? Penelope era um ano mais jovem do que ele. Sem dúvida, isso significava que, logo após o seu casamento, ele poderia começar a pensar em produzir um herdeiro.

O rosto de Amity instantaneamente veio à mente, olhando com amor para um bebê pequenino com cabelos castanhos e macios e seus ricos olhos cor de mogno. Ele teria apreciado os dois.

Eventualmente, quando teve certeza de que sua mãe não estava olhando, se inclinou para ver se, no escuro, podia discernir a Senhorita Rare-Foure, supondo que não houvesse um casamento apressado que a transformou em uma Sra. Cole. Ele pensou que podia distinguir o chapéu de penas pelas luzes fracas que passavam pelos lados do teatro.

Entusiasmo e capacidade, dissera sua mãe. Ela tinha essas duas coisas de sobra.

— Pare de suspirar, Henry, estou tentando desfrutar do balé.

Ele mal podia esperar pelo intervalo e um copo grande de vinho.

Amity não tinha percebido que estava olhando, sem ver, a estante atrás da mesa de mármore até Beatrice falar em seu ouvido.

— Você não está conseguindo confeccionar nada hoje. Por que você não faz um passeio? Dirija suas botas cor de ameixa para St. James Place e veja se o duque está lá. Talvez ele precise de mais Pelhams.

Amity suspirou.

— Ele gostou tanto deles, pensei que ele viria comprar um ou dois algum dia.

Beatrice balançou a cabeça.

— Sua tola. Sua Graça não vai aparecer depois que você o rejeitou com tanta firmeza.

Amity piscou com o termo antiquado por recusar a oferta de um homem.

Quando o Sr. Cole saiu e nunca mais voltou, Amity contou às irmãs, depois de muita persuasão da parte delas, como Henry havia feito sua proposta.

— Não exatamente de joelhos com declarações de amor eterno, — explicou ela, — mas uma proposta, da mesma forma.

Elas ficaram impressionadas em qualquer caso, e, enquanto entendiam suas razões, não podiam acreditar que ela o recusou. Desde então, a abraçavam mais e a tratavam muito gentilmente. Esperava que elas não sentissem um fardo por ela tê-las escolhido e os produtos de confeitaria sobre o duque.

Em seu coração, ela desejou poder ter todos os três.

— Se Sua Graça quer um chocolate, ele pode vir aqui, — disse ela suavemente.

— Os homens têm orgulho, — Beatrice a lembrou. — Além disso, isso não mudaria nada, mudaria?

Tristemente, ela balançou a cabeça e sentiu as lágrimas picarem seus olhos.

— Temo que não. Não posso viver sem ser chocolatier e estar com vocês.

— Bobagem — disse Beatrice, enquanto a campainha tocava na frente da loja. Charlotte estava no balcão, então elas o ignoraram. — Você está determinada a permanecer aqui nesta sala dos fundos, dia após dia, ano após ano?

Amity não gostou da maneira como sua irmã fazia parecer como se tivesse sido sentenciada à prisão de Newgate. A fabricação de chocolate era um assunto alegre. Por outro lado, sentiu tudo, menos alegria nas últimas semanas.

— Amity, — Charlotte chamou, e ela ficou de pé, contente com a interrupção, já que Beatrice estava carrancuda e parecia ter mais palavras indesejadas para dizer sobre o assunto.

Afastando a cortina, ela entrou na frente da loja para ver a duquesa viúva de Pelham e a irmã de Henry, as quais ela conhecera na infeliz festa da proposta.

Por um momento, Amity se perguntou se Sua Graça estava lá para repreendê-la por causar problemas. Pior, e se a viúva soubesse que seu filho queria se casar com a filha de um lojista e estivesse enfurecida?

— Vossa Graça, — disse Amity e fez uma reverência antes de cumprimentar a jovem lady com outra mesura, — Milady. Como posso ajudá-las?

— Seus chocolates foram um sucesso na nossa última festa, — disse a mãe de Henry. — Quero pedir alguns para a próxima.

Amity mal podia acreditar que a viúva estava mencionando o desastre embaraçoso da festa da proposta como se nada tivesse acontecido fora do comum em relação a Amity ou seus chocolates. Que gentileza da parte dela!

— Posso perguntar a ocasião? Tenho algumas formas maravilhosas, perfeitas para uma festa de São Miguel ou para uma reunião de Natal. — Amity se perguntou se deveria dar os chocolates de graça para fazer as pazes.

— Uma festa de noivado, — disse a viúva, olhando diretamente para Amity que, com essas palavras, mal conseguia respirar. — Ou será no final da noite.

— Para o... o Duque de Pelham? — Ela perguntou, mortificada quando sua voz falhou com a tensão.

— Incontestavelmente. — A viúva olhou para a vitrine à sua esquerda. — Tantas opções. — Então, mais uma vez, ela fixou Amity com os mesmos olhos verdes que seu filho herdara. — No entanto, acredito que você já sabe o que meu filho gosta.

Amity engoliu em seco.

— Café? — Ela resmungou.

A viúva e a filha riram.

— Que bom que você se lembra! — A mãe dele disse. — Acredito que ele também gosta de chocolate com laranja. Ele disse que provou um doce desses aqui uma vez.

Amity assentiu.

— Sim, Sua Graça provou, mas e a dama com a qual ele ficará noivo? Do que ela gosta?

A viúva deu de ombros como se isso não importasse.

— Posso provar alguma coisa?

— Meu Deus, sim, Vossa Graça. Me desculpe. — Ela lançou a Charlotte um olhar de boca fechada por ainda não ter colocado amostras em um prato apenas para perceber que sua irmã mais nova estava segurando uma. — Esta é a Senhorita Charlotte, — disse Amity tardiamente.

— Sim, eu lembro da festa, — disse a viúva, enquanto tirava a luva direita, sem revelar se a presença memorável de Charlotte era boa ou ruim.

— Claro. — Amity esperava que sua irmã não tivesse dito nada em sua defesa que fosse terrivelmente rude na frente da família do duque e de todos os seus convidados.

Avançando, Charlotte parecia inteiramente à vontade.

— Este é um chocolate ao leite com nozes, e este, também leite, tem um recheio macio de essência de framboesa. Esta é uma trufa de chocolate simples com licor de laranja no recheio. Acredito que é o que o duque teria provado. Isso está certo? — Charlotte olhou para ela.

— Sim, é esse. Deixe-me pegar outro de cada um para Lady... Lady.... — Amity havia esquecido o nome e o título do marido de Lady Penelope. Ela sentiu suas bochechas esquentarem de mortificação.

Antes que a viúva ou sua filha pudessem responder, Charlotte disse:

— Ela continua sendo Lady Penelope.

Amity encarou sua irmã mais nova com admiração. Todo o tempo que passou lendo os folhetins de fofocas não foi por nada.

— Muito bem, — disse Lady Penelope a Charlotte, depois virou-se para Amity, — casei com o filho mais novo de um conde, entenda, — como se isso explicasse tudo. — Não se preocupe, é quase tão confuso para mim. — Ela também tirou a luva para poder provar os chocolates.

Amity ficou contente pela irmã de Henry não ter se ofendido, embora os meandros de seu título ainda fossem tão claros quanto a lama. Usando as pinças, ela colocou outro chocolate de laranja no pequeno prato branco, bem como um segundo de cada um dos outros.

— Esse último também é chocolate puro com tâmaras moídas.

As duas mulheres provaram tudo, e Amity se viu relaxando enquanto exclamavam com prazer. Charlotte trouxe dois copos de água para beberem entre as degustações.

— Qual é seu favorito? — A duquesa viúva perguntou a Amity.

Os olhos de Amity se arregalaram.

— Honestamente, Vossa Graça, é como me pedir para escolher entre meus próprios filhos, ou imagino que seria. — Mas ela reconsiderou. — Sou a favor de um confeito criado com a ajuda de minhas duas irmãs. — Ela voltou para a vitrine e pegou da prateleira do meio, colocando dois no prato.

A duquesa viúva e sua filha observaram os retângulos cobertos de marzipan.

— O que são? — Lady Penelope perguntou.

Amity sorriu. Essa era sua parte favorita da confeitaria... fazer as pessoas provarem pela primeira vez e fazerem uma descoberta.

— Por favor, provem e vejam se consegue descobrir o que são.

A mãe e a filha Pelham pegaram um quadrado e, depois do primeiro gosto cuidadoso, os devoraram.

— Agradável, — disse a viúva. — Posso me ver comendo uma lata inteira desses. — Ela olhou para a filha. — Acho que sei o que há neles. Você?

— Bem, o marzipan foi aromatizado com... baunilha, eu acho, e estava muito delicioso. O chocolate não era muito doce, mas tinha um toque de algum tipo de conhaque. Estava perfeito. Dentro havia lascas de algo amanteigado que derretia na minha língua. Acho que era caramelo.

— Caramelo de melaço, — veio a voz de Beatrice por trás. — E o sabor misterioso do chocolate é o conhaque francês.

Amity deu um passo atrás para que sua irmã do meio pudesse avançar, fazer uma reverência à duquesa viúva e lady Penelope e ser apresentada. Ela esperava que Beatrice continuasse com seu melhor comportamento, sem explosões sobre injustiça de classe.

— Estava absolutamente delicioso. — A viúva ofereceu um sorriso a Amity. — Você poderia me dizer por que são seus favoritos?

— Porque nós três usamos nossos talentos para produzi-los. A Senhorita Charlotte faz o marzipan, e é o mais cremoso e delicado já criado. — Ela olhou para a irmã mais nova, cujas bochechas tinham um lindo tom de rosa.

— E Senhorita Beatrice faz o caramelo de melaço, preferido por todos que conheço por sua textura e sabor perfeitos. Até a rainha Victoria adora.

— Amity é muito gentil, — acrescentou Beatrice. — Sem o chocolate dela unindo tudo, esse doce não funcionaria. — Elas sorriram uma para a outra, e Amity sentiu uma felicidade perfeita pela primeira vez em semanas.

— Concordo, — disse a viúva. — Muito bem. Gostaria de cinquenta deles... não, melhor fazer duzentos.

Amity ofegou com a grande encomenda, mas antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, a viúva acrescentou:

— E duzentos chocolates de café que meu filho favorece.

— O Pelham, — Beatrice forneceu prestativamente, fazendo as bochechas de Amity ficarem tão rosadas quanto as de Charlotte.

A viúva trocou um olhar com a filha e as duas sorriram.

— Você realmente nomeou em homenagem à nossa família? — A mãe de Henry perguntou.

— Na verdade, foi em homenagem à Sua Graça, — disse Charlotte, e Amity queria dar um soco nela por sua franqueza.

— O chocolate pode homenagear toda a família, — disse Amity diplomaticamente, — se todos gostarem de café e chocolate. — Recordando Henry dizendo que ele havia comido todos eles, ela ofereceu: — Gostaria de provar um Pelham, Sua Graça?

A viúva balançou a cabeça.

— Na festa, eu devo. Venha, Penelope.

As duas estavam quase na porta quando Amity se lembrou de seus deveres profissionais.

— Vossa Graça, quando é a festa, você quer formas especiais para os chocolates, e um criado virá buscá-los?

A mulher piscou os olhos verdes astutos.

— Quanto a isso, isso ainda está um pouco no ar. — Ela olhou para a filha conspiratoriamente. — Espero dentro de duas semanas. Sem formas especiais, obrigada. — Ela olhou para Amity novamente com seus vívidos olhos verdes. — Quanto à entrega, espero que você nos faça a gentileza de trazê-las você mesma. E com quatrocentos chocolates para levar, convém trazer suas irmãs para ajudá-la. Na verdade, eu insisto.

Deixando os três sem palavras, a duquesa viúva e sua filha bem-comportada deixaram a loja ao som agradável do sino tilintante.

 


Capítulo Vinte e Seis


O pedido para a festa da duquesa viúva de Pelham fez duas coisas em rápida sucessão... deu a Amity um motivo para trabalhar seriamente e parar de sonhar acordada, e também lhe deu a promessa, em um futuro não muito distante, de ver novamente o homem quem capturou seu coração.

Mal podia esperar para voltar a vê-lo, mesmo que fosse entregando chocolates. Quando sua mãe soube da ocasião, decidiu que as três meninas deviam ter vestidos novos, mesmo que fossem prontos e não fossem de alta costura.

— Mas os vestidos custarão mais do que o lucro da confeitaria, — protestou Amity.

Sua mãe mal piscou.

— Economizamos dinheiro, nem você nem Beatrice tendo sequer uma única temporada. Será uma noite de comemoração e você deve estar vestida adequadamente.

E com essas palavras, a alegria de Amity derreteu como uma barra de chocolate em uma calçada quente no verão. Henry havia encontrado uma nova mulher para ser sua duquesa.

Além disso, ele mesmo não veio pedir a ela para fazer os chocolates porque não suportava olhar para ela. Provavelmente a odiava pela desfeita de escolher chocolate sobre ele. Se soubesse quantas horas ela havia sofrido com a decisão. Percebendo durante sua discussão com Jeremy como esse sentimento palpitante era o verdadeiro amor, ela examinou a emoção de todos os ângulos.

Por fim, ela amava o duque o suficiente para ser feliz por ele ter encontrado outra para compartilhar sua vida. Feliz por ele e terrivelmente triste também.

Ela temia nunca encontrar alguém para ocupar o lugar de Henry em seu coração. E com isso, ela começou a temer o evento ainda mais.

— Henry, — sua mãe chamou enquanto passava pela sala de estar. Outra tarde interminável se estendia à sua frente, primeiro uma sessão tardia no Parlamento e, em seguida, se pudesse se arrastar para o White’s, faria uma refeição com Jeffcoat e Waverly. Quase o proibiram de ir, pois ele tinha sido uma companhia tão ruim ultimamente.

A pedido de sua mãe, entrou para encontrá-la tomando chá ao sol da manhã.

— Está feito, — disse ela sem preâmbulos ou aviso. — Encontrei uma duquesa perfeita e a convidei para nossa casa para ficar noiva de você. Tudo o que você deve fazer é marcar a data, mas a festa deve ocorrer dentro de duas semanas, ou parecerei idiota.

Sua boca se abriu e não se fechou.

— Pare de parecer que é um sapo pegando moscas, — ela ordenou.

— Mãe, eu não disse que você poderia escolher a mulher imediatamente. Disse que você poderia me ajudar a encontrar uma esposa adequada. Eu vou...

— A Senhorita Rare-Foure é a minha escolha para sua duquesa.

Ele suspirou. Sua mãe era incrível e sempre fora.

— Como você sabia?

— Eu não sou cega, nem tola. Vi como você estava feliz quando me contava suas visitas à loja dela. “Criando o chocolate perfeito”, — ela imitou as palavras que ele lhe dissera, antes de revirar os olhos, a própria imagem dele.

— Estávamos fazendo exatamente isso, — protestou ele, sabendo que parecia uma criança.

— Sei que você estava, mas estava criando outra coisa também, algo muito especial um para o outro. Do jeito que você olhou para ela na nossa festa... Eu lhe digo, Henry, mal conseguia respirar por medo de que você seguisse em frente e propusesse a Lady Madeleine, quando pude ver claramente como se sentia pela Senhorita Rare-Foure. Acho que ela é encantadora, e Penelope também acha. Todas as irmãs são, por falar nisso. Que esplêndido!

— Não é tão simples, mãe.

Ela balançou a cabeça.

— Jovens, complicando as coisas, — ela murmurou. — Claro que é! Você a ama, ela te ama.

— E como minha mãe mágica sabe disso?

— Fácil. Fui falar com a mãe dela.

— Você não foi! Isso parece bastante drástico, sem mencionar uma invasão da privacidade da Senhorita Rare-Foure. — Ele parou, mas um segundo depois perguntou: — A mãe dela disse que Amity me ama?

— Amity, — pensou a viúva. — Um nome tão bonito, não é? — Ela pegou sua xícara de chá. — Não direi mais nada. Como você diz, é privado e é para a Senhorita Rare-Foure lhe contar por si mesma.

— Mas o noivo dela, Sr. Cole? — Ele perguntou.

A mãe dele franziu a testa.

— Foi a primeira vez que ouvi falar dessa pessoa. A mãe encantadora da Senhorita Rare-Foure não fez menção a um noivo. — Ela piscou para ele sobre a xícara de porcelana. — Reúna seus amigos para uma festa maravilhosa. Também haverá quatrocentos chocolates.

— Querido Deus! — Ele não conseguia imaginar como seria isso. De qualquer forma, seus pensamentos ainda refletiam sobre o fato de Amity não ter mais noivo. Ele sabia que estava sorrindo como um tolo.

Sua mãe sorriu de volta para ele.

— Posso ter exagerado um pouco com o número de doces, mas não achei que conseguisse que a Senhorita Rare-Foure concordasse em ir à festa a menos que fosse um pedido muito, muito grande. Ela estará ocupada até a hora da festa, acredito. E então, cabe a você. Naturalmente, também convidei suas irmãs. — A mãe dele tomou um gole de chá novamente. — Também seus pais, embora a jovem não esteja ciente disso.

— Os pais dela conhecem minha intenção?

— Eles sabem. — Sua mãe parecia tão presunçosa quanto um gato com um rato entre as patas.

— E estão escondendo isso dela?

— Só por duas semanas. Eles não são uma família de segredos, assim como nós. Assim que decidirmos a data exata da festa, devemos enviar uma mensagem para a confeitaria. Enquanto isso, proíbo que você vá lá e arruine minha surpresa.

— Você está ficando muito envolvida na minha vida. — No entanto, Henry se inclinou e beijou sua bochecha, sentindo nada além de gratidão e amor. — Agradeço do fundo do meu coração.

Amity atenuou a frente de seu novo vestido de seda pela centésima vez, enquanto o mordomo e os empregados de Pelham levavam os casacos de sua família e o chapéu de seu pai, além de quatrocentos chocolates. Amity se encarregara de mudar a ordem, para que houvessem duzentos chocolates variados e cem cada dos Pelham e de sua própria criação favorita de marzipan, chocolate e caramelo. Se tivesse sido a coisa errada a fazer, a culpa cairia diretamente sobre sua própria cabeça.

No último minuto, seus pais declararam sua intenção de ir também. Era incomum de seus pais fazerem algo tão precipitado quanto comparecer a uma festa sem serem convidados. Assim, ela os questionou na carruagem.

— Quando a data do evento chegou pelo mensageiro, os convites foram estendidos a seu pai e a mim, — assegurou Felicity Rare-Foure.

— Por que você não me contou antes? — Amity gemia, espremida no assento ao lado de suas irmãs enquanto andavam em direção a St. James Place. — Se soubesse, vocês dois poderiam ter entregue os chocolates com Charlotte e Bea, e eu poderia ter ficado em casa.

Beatrice demonstrou pouco entusiasmo em se vestir bem e ir a um lugar onde não conhecia ninguém. Mesmo assim, porque a duquesa viúva a convidou, ela concordou. Charlotte, como esperado, estava ansiosa pelo seu retorno triunfante à residência Pelham a semana toda.

— Foi exatamente por isso que não te contei, — disse a mãe. — É bom para você sair. Eu te disse como você está linda nesse vestido?

De fato, Amity parecia uma princesa em seda prateada, com seus adornos favoritos de cor de ameixa na bainha e nas mangas, além de botões e faixa correspondentes, uma princesa cujo interior estava cheio de nervosismo e agitação.

— Espere até ver o carpete, os lustres, as pinturas e... — Charlotte continuou e seguiu para Beatrice, que estava ouvindo ou cochilando no canto da carruagem.

Quando a rápida viagem por Mayfair foi concluída, Amity alisou o vestido novamente enquanto o mordomo os conduzia pelas escadas.

— Pare de inquietar-se, — disse a mãe, mas seu tom era suave e gentil e, em seguida, sorriu tão amplamente quanto uma lua crescente, algo que vinha fazendo muito ultimamente.

No topo da escada, exatamente como na última vez, a duquesa viúva de Pelham, junto com a filha e o genro, aguardavam para receber os convidados. E como antes, estava Henry. Ele parecia, se possível, ainda mais bonito do que nunca, e o coração de Amity começou a bater forte em seu peito ao vê-lo.

Ela quase tropeçou no degrau mais alto, e sua mãe pegou sua mão para segurá-la.

— Eu não vejo a família da futura noiva, — Amity sussurrou enquanto Charlotte e Beatrice avançavam primeiro.

Sua mãe apenas sorriu novamente. Quando chegou a sua vez, Amity cumprimentou a viúva, que lhe deu as boas-vindas e agradeceu por trazer os chocolates. Lady Penelope e Lorde Yardley foram os próximos. E então...

De repente, Amity estava na frente de Henry, que pegou sua mão enquanto ela fazia uma reverência.

— Vossa Graça, — disse ela, quase incapaz de olhá-lo, tão tensas eram suas emoções.

— Senhorita Rare-Foure, — disse ele, e seu tom caloroso e convidativo levou seu olhar a encontrá-lo. Seus olhos verdes estavam tão amigáveis como sempre, acalmando seu nervosismo um pouco. — Estou tão feliz que pôde vir hoje à noite. Você está incrivelmente arrebatadora.

As bochechas dela esquentaram com o tom meloso dele, que parecia muito impróprio para um homem prestes a propor casamento a outra pessoa. Incapaz de responder, ela assentiu, fez uma reverência novamente e se virou. Como ela conseguiria passar essa noite?

Ao contrário da ocasião anterior, não havia Lady Madeleine em um vestido dourado deslumbrante. Ainda mais intrigante, nenhuma outra jovem lady apareceu também. Como esperado, muitas das mesmas pessoas que haviam participado da festa da proposta anterior estavam lá. Amity reconheceu alguns rostos, mas duvidou que se lembrasse de muitos de seus nomes. Talvez se Henry ficasse noivo mais três vezes, seria capaz de lembrar de todos os amigos dele.

Ela desejou que sua piada particular a animasse, mas não o fez.

Lorde Waverly estava lá, é claro, e Lorde Jeffcoat, com quem Charlotte já havia sido parceira. Amity percorreu a sala, encontrando-os novamente, assim como o resto de sua família.

Naquela noite, não haveria jantar, mas os músicos tocavam no salão de baile enquanto a comida era servida na sala de jantar em pequenos pratos, que podiam ser levados para a sala de estar onde alguns se sentavam nos sofás e cadeiras para mordiscar pequenos bolos recheados de carne ou para o salão de baile, onde quase todo mundo comia enquanto ficava em pé conversando. Mesas altas foram colocadas nas bordas da sala para colocar a comida e o copo de vinho. Os chocolates, todos os quatrocentos deles, haviam sido colocados sem alarde em uma mesa de sobremesa, superando os outros doces, bolos e pudins.

— Gosto dessa maneira descontraída de jantar, — disse Beatrice.

— Se você tivesse uma temporada, — explicou a mãe, — você teria experimentado o mesmo em alguns dos bailes maiores, quando as refeições são impossíveis.

— Haverá dança esta noite? — Charlotte perguntou, sua emoção evidente.

— Meu Deus, espero que não, — disse Amity. — Posso fazer uma má imitação de uma valsa, na melhor das hipóteses.

— Não é verdade, — disse Beatrice. — Todas nós podemos dar conta de uma quadrilha ou polca.

Independentemente disso, tinha dado a Amity outra coisa para se preocupar. Ela olhou em volta, como tinha feito durante toda a noite, para ver onde Henry estava. Esperava espioná-lo com seu novo amor a qualquer instante.

Atualmente, ele estava com Lords Waverly e Jeffcoat, bebendo e conversando, parecendo mais feliz do que o vira o tempo todo em que esteve na casa de campo de sua família.

Ele se virou na direção dela enquanto ela estava olhando, e para sua mortificação, acenou.

Ela girou nos calcanhares para longe do olhar dele.

— Acho que tenho que ir para casa.

O pai colocou a mão sob seu cotovelo.

— O que está errado? Você está doente?

— Suspeito que seja simplesmente nervosismo, — disse a mãe e, em um tom estranhamente firme, acrescentou: — Você não pode ir para casa ou todos ficaremos abandonados. Por que você não vai falar com Sua Graça?

— Mãe! Não. Isso definitivamente não vai ajudar meu nervosismo.

— Ele está vindo, — disse o pai alegremente.

— Deus me ajude, — disse Amity. — Eu acho que vou vomitar. Onde fica o toalete mais próximo?

Agarrando o braço de Beatrice em busca de apoio, ela saiu correndo da sala, enquanto podia sentir o duque atrás dela, fazendo sua pele formigar com consciência.

Depois de alguns minutos na luxuosa sala reservada, com Beatrice aplicando um pano úmido na parte de trás do pescoço, tomando cuidado para não deixar cair uma gota de água na seda, Amity não se sentiu melhor.

— Sabia que não deveria ter vindo. Sou susceptível de derreter em uma poça de humilhação e tristeza no chão do salão, se o duque sequer sorrir para mim. Olhe para minhas mãos.

Beatrice suspirou, deixou cair o pano na beira da pia e segurou as mãos trêmulas de Amity.

— Você deve parar com essa bobagem. Você é Amity Rare-Foure. Você já teve um noivo, já teve um duque pedindo que se case com ele, você é uma maravilhosa chocolatier. E você é uma querida irmã. Por favor, pelo meu bem, porque odeio vê-la assim, se você não pode esperar que ele anuncie seu noivado, por favor, vá falar com ele. Diga a ele como se sente antes que seja tarde demais.

Os inteligentes olhos castanhos de sua irmã olhando nos dela transmitiam sabedoria. De repente, Amity soube que Beatrice estava certa. Estava se comportando como uma tola covarde e medrosa. Ela endireitou os ombros, examinou-se no espelho e assentiu.

— Você está certa. Vamos lá.

De volta ao salão, marchou direto para o duque, que conversava com os pais.

Ele se virou para ela... e a voz dela desapareceu.

Tossindo, ela fez um gesto para ele se aproximar.

— Por favor, Vossa Graça, — ela sussurrou, — posso falar com você? Sozinhos?

Ele inclinou a cabeça para o pedido dela, parecendo completamente surpreso.

— Sempre, — ele respondeu quando se recuperou. Inesperadamente, em vez de falar discretamente com os pais dela, ele disse em voz mais alta, incluindo aqueles que os cercavam: — Se nos derem licença, Senhorita Rare-Foure e eu precisamos discutir uma questão delicada sobre chocolate.

Os olhos de Amity se arregalaram quando ele chamou a atenção para o encontro privado bastante impróprio. No entanto, ele era um duque, e ela supôs que pudesse fazer o que quisesse em sua própria festa ou em qualquer outro lugar.

Quando seus pais assentiram, teve que se perguntar para onde o mundo civilizado estava indo. O duque fez um gesto para ela precedê-lo do salão de baile. No corredor, ele parou e considerou.

— Acredito que a sala de estar esteja vazia agora, pois todos se reuniram no salão para o grande anúncio.

Ele supôs corretamente, e Amity se viu sozinha com o duque, que fechou a porta atrás deles e esperou.

O grande anúncio. Suas palavras ecoaram em seu cérebro, tornando quase impossível para ela continuar. Ela não tinha pensado no que dizer entre o salão de baile e a sala de estar. Deveria se declarar imediatamente?

Quando não disse nada, ele perguntou:

— A que devo o prazer de uma conversa particular com a principal chocolatier de Londres?

Ela piscou. Seja para aliviar o nervosismo ou apenas para brincar, Henry fez referência ao primeiro encontro na calçada quando a convidou para a carruagem.

Em resposta, ela disse a mesma coisa que disse naquele dia.

— Isso é redundante, milorde.

Ele sorriu e mostrou suas covinhas arrojadas, e ela se perguntou como poderia ter deixado esse homem escapar. Ela só podia orar a Deus e a sua rainha para que não fosse tarde demais.

— Senhorita Rare-Foure. Você não aprendeu nada?

— Aprendi bastante, de fato, — confessou. — Só posso esperar que não tenha aprendido muito tarde.

Ele se aproximou, e ela o deixou pegar as mãos nas dele, sentindo um pouco de esperança e fortaleza interior apenas por seu toque.

Reunindo coragem, ela disse:

— Primeiro, devo perguntar abertamente se você está apaixonado por outra mulher.

Ele levou uma das mãos dela à boca e beijou as juntas nuas, todas as luvas foram removidas para comer.

— Juro que não estou.

Ela deu um suspiro de alívio.

— Então devo confessar o quanto estou apaixonada por você. Você pretende ficar noivo nesta noite, e agora sei que sequer ama a mulher. Por favor, não me faça assistir tal farsa. Eu não suportaria.

Ele levou a outra mão à boca e roçou os lábios, provocando arrepios na espinha.

— Você nunca terá que me ver prestar homenagem ou cortejar outra mulher. Juro-te isso também.

— Obrigada. Sinto tê-lo recusado antes, — te rejeitei, como minha irmã chama — mas não percebi o quão vazio tudo pareceria quando você se afastasse da minha vida. Em vez da felicidade que geralmente sinto ao fazer chocolate, agora as horas se estendem infinitamente à minha frente, e minha amada arte se tornou uma tarefa árdua, tudo porque não tenho você na minha vida. Sem você, é uma existência muito estreita.

— Entendo completamente, — disse ele, seu olhar verde piscando sobre o rosto dela. — Tudo o que costumo fazer para preencher meus dias agora parece insignificante ou sem sentido, porque meu coração quer ter você em minha vida.

— Você está realmente ficando noivo hoje à noite? — Ela mal podia acreditar que ele faria isso.

— Sim, acredito que sim. — Ele disse, olhando em seus olhos através dos quais não podia mais vê-lo enquanto se enchiam de lágrimas.

— Eu devo ir embora imediatamente, — disse ela, puxando as mãos para se libertar. — Você está me punindo por não te aceitar na primeira vez. “Orgulho masculino”, disse minha irmã. No entanto, você acabou de jurar que eu não precisava assistir.

— Você estará lá para este noivado, Senhorita Rare-Foure. — Com isso, Henry caiu sobre um joelho. Ainda segurando as mãos dela, ele deu um aperto suave quando ela percebeu o que ele estava fazendo.

— Amity Rare-Foure, você me mudou, me fazendo ver a superficialidade da minha vida como duque. Eu estava perdendo experiências ricas entre os mimados e privilegiados. Não achei que encontraria amor tão apaixonado, emocionante e real, porque estava tentando combinar com a noção na minha cabeça de uma duquesa composta e perfeita. Depois de passar um tempo precioso com você, descobri que sua paixão pelo chocolate e pela vida é positivamente contagiosa.

Ela não queria chorar, mas piscar fez as lágrimas caírem. Afastando-os de lado, Amity mordeu o lábio inferior para impedir que mais viessem.

— Quero comer em casas públicas e olhar vitrines, — acrescentou Henry.

Ela riu, embora parecesse mais um soluço.

— Mas apenas se eu puder fazer essas coisas com você, — continuou ele.

Ela apertou as mãos dele em troca. Então, finalmente, ele perguntou a ela.

— Você me dará a honra de tornar-se minha duquesa?

 


Capítulo Vinte e Sete


Sem hesitação Amity respondeu:

— Sim, Vossa Graça. Eu certamente irei.

Ele se levantou e a envolveu em seus braços. Quando ela olhou para ele, ele abaixou a boca para esmagar a dela. O beijo estava cheio demais de desejo para ser terno, mas ela não se importou, pressionando perto dele, os dedos agarrando seus ombros largos. Ele era dela!

Contra a boca dela, Henry disse:

— Obrigado.

Quando ele recuou, acrescentou:

— E você vai parar de me chamar de “Vossa Graça”? Parece uma condenação toda vez que você diz. Meu nome é Henry Westbrook.

— Eu sei, — disse Amity, pensando que poderia estar flutuando, porque não podia sentir o chão. — É um prazer conhecê-lo, Henry.

Suas covinhas apareceram.

— Estou tão aliviado. Eu não poderia enfrentar outro dia sem você como minha.

Amity colocou a palma de cada lado do seu rosto.

— Eu me sinto da mesma forma.

Depois de outro beijo, ele se afastou para que pudessem olhar nos olhos um do outro.

— Você não mencionou chocolate nenhuma vez, e tenho quase medo de mencionar agora. — As mãos dele estavam apertadas na cintura dela, como se ele achasse que ela poderia se afastar e mudar de ideia.

— Eu sei que fazer chocolate não é o passatempo adequado para uma duquesa, — ela disse, sentindo-o agarrá-la ainda mais apertado.

— Eu concordo que não é. Pelo menos, nunca foi... até agora. — Ele encolheu os ombros. — Por que não? Quem é que vai se opor a você?

— Além de você? — Ela perguntou, sentindo-se começar a tremer novamente, muito feliz por ele ainda a abraçar.

— Sim, além de mim, — disse ele. — E, da minha parte, digo sinceramente que você deve continuar. Além disso, você descobrirá que ninguém mais tem negócios a dizer o contrário. Exceto a rainha, suponho, e acredito que você já disse que ela adora sua confeitaria.

Amity estava começando a acreditar que ela poderia fazer tudo — ser duquesa, esposa, um dia mãe e chocolatier.

— A rainha poderia ordenar que eu parasse, — ela apontou. — Sua Alteza Real pode dizer que isso é impróprio para uma duquesa. E o resto da alta sociedade terá a sua opinião, principalmente nos jornais, imagino.

— Depois do nosso casamento, o Sr. Giles deve queimar todos os jornais no instante em que entrar em nossa casa, — ele brincou.

Amity colocou a mão em sua bochecha.

— Depois de entrar no seu mundo, sinto que há mais restrições do que eu poderia imaginar.

Com uma das mãos grandes agora esticadas contra as costas dela, ele levantou a outra para poder acariciar o polegar no queixo dela. Ela teve o desejo insano de pegá-lo entre os lábios, mas se conteve.

— Existem regras e restrições, com certeza, — Henry concordou. — Nada terrível, porém, e francamente, nada que supere a liberdade de ter dinheiro e posição. O truque é não deixá-lo subir à cabeça, mas usar o que tem para melhorar a vida dos outros. Cumpro meu dever no Parlamento, dou esmolas aos pobres, apoio várias instituições de caridade e casas de trabalho e patrocino um orfanato. Não posso dizer que todos os meus colegas se comportam da mesma forma, mas conheço muitos que são extraordinariamente generosos. Essas são as pessoas que conto entre meus amigos.

Ela olhou para ele. Amity imaginou que ser um duque era só festa e diversão egoísta e ficou satisfeita ao saber que ele tinha responsabilidades sociais. Ela gostaria de ajudar as pessoas menos afortunadas.

Mas fazendo chocolate? Primeiro, ela tinha que contar a ele.

— Eu amo você, Henry, e isso é mais importante do que qualquer outra coisa. Até chocolate.

Ele tensionou o queixo com as palavras dela e seus olhos brilharam de emoção.

— Amo você, Amity, e isso é mais importante do que qualquer outra coisa, até o decoro de uma duquesa. Você deve fazer seu chocolate, — ele fez uma pausa, considerando. — Talvez possamos dar uma porcentagem dos lucros a alguma instituição de caridade de sua escolha. Seria o novo patrocínio da Duquesa de Pelham.

— Farei um chocolate especial para esse fim e os doaremos para as crianças provarem.

— Não quero que seus pais ou a Rare Confectionery vão à falência, — disse ele.

— Vamos resolver isso. Se pudemos criar o Brayson e o Pelham, certamente podemos criar...

— O Amity, — ele terminou.

— Talvez, — disse ela, um pouco envergonhada com tal homenagem.

— Definitivamente, — ele prometeu. — Esta festa mudou oficialmente de uma festa de proposta para uma celebração de noivado. É melhor contarmos a todos nossas boas notícias. Acredito que temos cerca de sessenta convidados e pelo menos quatrocentos chocolates para consumir. Não devemos deixá-los esperando mais.

— Os convidados ou os chocolates? — Ela brincou.

— Ambos. — Então ele a soltou, colocou seu braço sob o dele e se dirigiu para a porta. Quando tocou a maçaneta, no entanto, ele gemeu. — Preciso te beijar novamente primeiro.

E assim fez.

Henry não se importava com decoro ou ser ducal. Ele instruiu seu mordomo a colocar um anúncio de noivado nos jornais no dia seguinte. Durante a celebração da noite anterior com seus amigos e familiares, enquanto comia deliciosos chocolates, ele garantira a aprovação de Amity e de seus pais para um breve noivado.

Assim, a data do casamento estava marcada para apenas três meses, no romântico mês de fevereiro, durante o qual Henry tinha certeza de encontrar o cartão perfeito de São Valentim para sua amada, bem como muitos chocolates em forma de coração.

É verdade que a brevidade de seu noivado poderia levantar suspeitas, especialmente entre a nobreza, mas ainda assim proporcionou muito tempo para que os proclamas da igreja fossem lidos, para que outros familiares dela chegassem da França, e para vestidos e coisas femininas com babados serem criados. Além disso, ele não achava que poderia esperar mais tempo para ter Amity em sua cama.

Além disso, deixando de lado a convenção, Henry passava o tempo que quisesse com sua noiva e a família dela, e com sua noiva e a família dele e, escandalosamente, com Amity sozinha.

— Estou delirantemente feliz, — declarou-lhe certa noite, quando jogavam cartas em frente ao fogo na sala dos Rare-Foure na Baker Street, uma árvore de Natal totalmente enfeitada posicionada entre as janelas da frente. Os pais dela estavam em algum lugar da casa, as irmãs estavam fora, e não havia criada traquina à espreita em nenhum lugar. Por quê? Porque ele era um duque noivo e podia fazer o que quisesse.

E também, porque os pais de Amity gostavam e confiavam nele e na filha mais velha. Nenhum deles faria nada para quebrar essa confiança... exceto, talvez, por alguns beijos.

— Vamos sentar mais perto, — ele sugeriu.

— E se minha mãe entrar? — Ela perguntou, mas sua expressão dizia que ela se sentaria ao lado dele de qualquer maneira.

— Se sua mãe entrar, abriremos espaço para ela, mas não entre nós.

Ela riu, o som mais doce que ele já ouvira. Ela se levantou da poltrona do outro lado da mesa de cartas. Ele também se levantou e eles foram para o sofá. No último segundo, ele a puxou para seu colo.

— Muito melhor! — Ele disse.

Amity ergueu os braços e, para sua surpresa, afundou os dedos nos cabelos dele.

— Hum, — ela murmurou, — cabelo macio e sedoso.

— Não é justo, — disse ele. — Eu não posso fazer isso com você sem que o penteado infernalmente complicado seja desfeito. Se você fosse vista com tanta desordem, teríamos que nos apressar a Gretna Green pela manhã.

Ela riu.

— Me beije.

— Essa era a minha intenção. É assim que será depois que nos casarmos, com você bagunçando meu penteado, pelo qual meu criado não ficará satisfeito, a propósito, e me dando ordens como se eu fosse um servo?

— Provavelmente. — Ela lhe enviou um sorriso assimétrico, e seu coração se apertou de amor.

— Perfeito, — disse ele.

Emoldurando seu rosto amado com as mãos, ele a beijou. Quando seus lábios quentes se abriram sob os dele, ele sentiu uma sensação de felicidade que nunca experimentara em sua vida. Provocando sua língua, ele mordiscou seu lábio inferior antes de finalmente se afastar.

— O que você está vestindo? — Ela perguntou inesperadamente.

Ele franziu a testa.

— Uma camisa de algodão muito fina. Lavado, engomado e passado. E o melhor casaco sob medida da Savile Row. Por quê? Existe algo errado além das rugas que você está fazendo?

— Não, — ela disse. — Eu quis dizer o seu cheiro. É... sensual e me faz formigar. — Suas bochechas ficaram agradavelmente rosadas.

Ele sorriu para ela.

— Nesse caso, vou banhar-me nisso diariamente. É o Hammam Bouquet de Penhaligon, vendido na Jermyn Street, a uma curta distância de minha casa, o que é uma questão de grande conveniência. Posso mandar meu criado sem precisar incomodar o cocheiro.

— Quando sinto o cheiro, quero me esfregar contra você — Amity confessou, e ela o fez, primeiro a bochecha contra a lapela, e depois, subindo mais e puxando a gravata para o lado, ela acariciou o pescoço dele com o nariz.

— Você será uma duquesa muito sensual, — disse ele, pensando que se ela se contorcesse muito mais no colo dele, ele poderia se envergonhar.

— Já sou uma chocolatier sensual, — Amity lembrou. — Por falar nisso, trouxe um presente de noivado para você. Não pode igualar a magnificência disso, — apontou ela, erguendo a mão esquerda, onde uma grande esmeralda brilhava em diamantes e ouro, — mas acho que você vai gostar.

— É chocolate? — Ele perguntou, enquanto ela descia do colo dele.

— Naturalmente.

Ele tinha, de fato, notado uma lata em cima do aparador, quando ele chegou horas mais cedo para o jantar. Ela o pegou e sentou-se ao lado dele no sofá, com o rosto pensativo.

— Não acredito que essa não será mais minha casa. E se me perder nos muitos cômodos da sua casa em St. James Place?

Ele riu.

— Nossa casa, e mamãe diz que você pode decorar como quiser. Ela adquiriu uma casa menor a duas ruas de distância.

Amity congelou e piscou para ele.

— Oh, céus! Odeio ser a causa de ela sair. Você sabe que ela é bem-vinda para ficar conosco para sempre.

Ele encolheu os ombros.

— É o caminho das coisas. Eu já disse a ela que você se sentiria assim, mas ela está contente. Mais que isso. Acredito que esteja ansiosa para montar um novo lar que não tenha o fantasma do meu pai por aí.

— Compreensível, — disse sua noiva sensata. Então ela se virou para ele, colocando as pernas sob o sofá da maneira mais confortável e presenteou-o com a lata. — Abra, Vossa Graça.

— Pare de me chamar assim.

— Sim, milorde duque.

Ele não pôde deixar de rir quando abriu a lata. O que ele viu fez sua risada parar e, de repente, seus olhos lacrimejaram. Depois de um momento, ele conseguiu engolir o nó na garganta.

— Você é absolutamente um amor, — ele sussurrou, levantando um doce em forma de veado. As lembranças de seu pai inundaram sua mente, nos melhores momentos em que estavam caçando juntos, jogando xadrez ou falando sobre nada importante.

— Sua mãe estava certa, — disse ele, — sobre seu talento para escolher exatamente o presente certo.

Ele viu os olhos de sua noiva brilharem deliciosamente.

— Agora prove, — ela insistiu suavemente.

Mordendo o chocolate, ele teve que fechar os olhos quando a doce delícia estourou em sua língua, espelhando a doçura recém-descoberta de sua vida.

— Que gosto tem? — Amity perguntou, parecendo sem fôlego.

Ele abriu os olhos e olhou em seu glorioso olhar castanho.

— Gosto de amor, — disse Henry. — Amor puro e duradouro.

 


Epílogo


Inglaterra, 1878


Henry olhou pela janela quando o trem deixou a estação de Birmingham, dando uma última olhada na movimentada cidade das fábricas, com milhares e milhares de trabalhadores.

— Os irmãos Cadbury são impressionantes, você não acha? — Amity perguntou, arrancando sua atenção das chaminés e prédios cinzentos. Acabavam de chegar da fábrica de chocolate de George e Richard Cadbury, na Bridge Street, no centro da cidade.

Ele olhou para sua adorável esposa há duas semanas, vestindo suas roupas de viagem cor de ameixa.

— Acho que você é mais impressionante.

Suas bochechas ficaram rosadas, e ele se inclinou para beijá-la, emocionado quando ela se inclinou para encontrá-lo no meio do caminho. Seu coração bateu forte quando suas bocas se tocaram, lembrando-o da noite gloriosa de fazer amor, que passara tão requintadamente como cada noite desde o dia do casamento, e com a promessa de muitas mais por vir. Ele era o homem mais sortudo do mundo.

Quando finalmente se recostaram, os olhos cintilantes de Amity se acalmaram ao habitual olhar pensativo castanho.

— Seja sério, Henry, — disse, embora soubesse que ela amava beijar tanto quanto ele. — Imagine como eles trouxeram esse negócio de chocolate de volta da falência por pura força de vontade. A fábrica deles era tão limpa e... feliz.

— Não tenho certeza da fábrica, mas os trabalhadores, todos com seus aventais arrumados, certamente pareciam felizes.

— Os Cadburys dão-lhes café da manhã se chegarem cedo o suficiente. Não conheço muitos donos de fábricas que fariam o mesmo. E agora, estão procurando um local totalmente novo, em algum lugar do país. O Sr. Cadbury, o mais jovem, disse que planeja construir não apenas uma fábrica moderna, mas também lares para seus trabalhadores. E estão planejando um parque e áreas de lazer para seus funcionários e para seus filhos. Será uma cidade inteira construída exclusivamente para fazer doces. Que incrível!

Henry ficou igualmente impressionado.

— Sr. Cadbury, o irmão mais velho, me disse que estarão em turnê em algum lugar amanhã que tenha um grande potencial, cerca de seis quilômetros ao sul, perto de um riacho chamado Bourn.

Amity abriu o saco no banco ao lado dela, quase distraidamente, e pegou uma barra de chocolate Cadbury, rasgou a embalagem, quebrou um pedaço e entregou a ele. Sua esposa nunca se cansava de comer chocolate, o que ele achava uma alegria por si só, observando o modo como ela saboreava cada mordida.

— Em direção a Bristol — Amity disse entusiasmada, e ele se inclinou para frente para limpar o resquício de chocolate de seu lábio inferior. Eles estavam indo para a famosa fábrica de chocolate da família Fry, maior e ainda mais bem-sucedida que a Cadbury.

— É de admirar que você não queira ir até York e visitar os Rowntrees, — ele brincou.

— Outra hora, — disse ela, totalmente séria. Ele aprendeu como ela adorava apertar as mãos dos fabricantes e deixá-los saber o quanto os admirava. — Ou seja, se você é receptivo, mas estou ansioso para chegar ao continente logo após Bristol.

— Mal posso esperar para passear pelas ruas de Paris com você, — ele concordou. Alguns meses atrás, ele estava enfrentando uma vida de incerteza e possivelmente um casamento sem amor. Em vez disso, por algum milagre, conheceu a mulher mais doce, mais inteligente, mais afetuosa e mais amorosa que jamais poderia ter esperado. Em seus braços, sua noiva se tornou uma deusa apaixonada e, para o resto do mundo, ela era uma das principais chocolatiers.

Dando a ele seu sorriso encantador e assimétrico, ela se contorceu em seu assento.

— Sinto-me estranhamente tonta. Estamos pegando um barco de Bournemouth para a França — declarou ela, quebrando outro pedaço de chocolate.

— Sim, eu sei. — Ele a viu devorá-lo. Foi divertido organizar os detalhes da viagem juntos.

— Nunca cruzei o canal em lugar nenhum, exceto a rota Dover para Calais, — acrescentou.

— Sim, sei disso também, meu amor. — Ele sorriu para o entusiasmo borbulhante dela.

— Suponho que você também saiba o quanto amo viajar, principalmente de trem. E de barco. E de carruagem, também.

Henry absolutamente adorava seu espírito intrépido e aventureiro. Ela iria a qualquer lugar com ele, fosse uma viagem de um dia ao Royal Botanical Gardens em Kew, a oeste de Londres, o que já haviam feito com muita diversão, ou uma longa viagem de fim de semana a sua propriedade rural em Kent, perto de Canterbury. Eles levaram seus pais e irmãs antes do casamento em fevereiro, para que todos os Rare-Foures pudessem visitar o Castelo Chilham, que já tinha seu próprio local dedicado à confeitaria.

E agora, ela estava igualmente empolgada em pegar uma balsa. Além disso, ela sabia nadar e não tinha medo de barcos, o que teria arruinado suas intenções de viajar com ela o mais frequentemente possível, talvez até de ver a América algum dia.

Na viagem de casamento, eles estavam em turnê pelas fábricas de chocolate, porque essa era uma das coisas favoritas dela e, portanto, estava se tornando a dele também. E quando chegassem ao continente, ele a levaria a algumas de suas cafeterias favoritas, porque ela adorava o café quase tanto quanto ele, especialmente quando ela misturava chocolate nele.

— Nós definitivamente deveríamos visitar os Rowntrees em algum momento, — ela considerou. — Eles ainda são bastante pequenos, mas você nunca sabe que criação brilhante pode ser feita nos lugares mais improváveis.

— Como o Pelham, — ele brincou, referindo-se ao doce de chocolate com infusão de café que ela havia feito para ele, — ou à nossa união.

— Assim mesmo, — ela concordou, dando um sorriso para ele. — De qualquer forma, ouvi dizer que são pessoas muito legais, como os Fry serão, sem dúvida.

— Queria perguntar, e espero que isso não me faça parecer terrivelmente ignorante, mas por que todos esses fabricantes de chocolate são quakers11? Eu certamente nunca perguntaria a um deles no caso de ofender. Fazer doces é parte secreta de suas crenças?

O riso dela era contagioso, e mesmo que ele não soubesse por que estavam rindo, ele se juntou. Eles se divertiram sem parar, e Henry tinha certeza de que se sentia mais saudável a cada vez que riam com vontade.

— E pensar, — disse Amity, parecendo totalmente divertida, — que em seu guia especial dos Conselhos Cristãos e Fraternos dos Quaker, haveria uma página sobre como fazer confeitaria bem ao lado de suas regras de austeridade. — Ela riu de novo.

Ele encolheu os ombros.

— Então por quê?

— Vou lhe contar o que sei. Quanto aos Cadburys, eles começaram como vendedores de chá e café porque os quakers não se apegam ao consumo de álcool. Assim, criaram um negócio em expansão, vendendo coisas que eles mesmos poderiam consumir, o que também consideravam que promoveria uma boa saúde e que não ofenderia sua noção de vida cristã. Quando ouviram sobre o exótico grão de cacau que chegava aos armazéns de Londres, particularmente suas demandas terapêuticas, decidiram descobrir como vendê-lo. E certamente conseguiram.

Ela quebrou outro pedaço de chocolate e o colocou na boca antes de entregar outro pedaço para ele.

— Mm, — ela murmurou, fechando os olhos até que ela aproveitou cada pedacinho.

O som de sua satisfação enviou uma lança de desejo através dele. Se estivessem na privacidade de sua própria casa, a teria abraçado e mostrado o quanto ela significava para ele. Era uma profunda honra para Henry fazer amor com ela, adorar seu corpo e dar-lhe o maior prazer. Tristemente, frustrantemente, o vagão de trem, nem mesmo um vagão-cama, não lhes dava a oportunidade. Ele comeu o chocolate como consolo.

Então suas pálpebras se abriram, e seu olhar cor de mogno encontrou o dele novamente.

— Eles tinham tantas variedades de cacau que faria sua cabeça girar, — continuou ela como se não tivesse parado para comer chocolate. — Mas também, havia muitos outros, incluindo os Tukes, amigos dos Rowntrees, de quem compraram seus negócios de cacau. Todo mundo reconheceu o alimento saudável em uma xícara de chocolate ou cacau. Fry e Filhos, — continuou ela, entusiasmada com o assunto, — é mais antiga que os negócios da Cadbury, e o fundador, Joseph, começou a servir seu chocolate como uma bebida medicinal, muito popular em Bath, nas proximidades.

Ele a observou bater na bochecha, pensativa.

— Enquanto as pessoas da moda se banhavam nas águas em Bath, também bebiam o chocolate do Sr. Fry. Ele encontrou uma mistura melhor de outra empresa, a Churchman's, que não tinha os flocos de cacau oleosos que Fry ainda tinha em sua bebida. Ele assumiu o controle de Churchman e seu método superior de fazer cacau, algum tipo de máquina movida a água para produzir pó mais fino.

— Quando foi tudo isso? — Henry perguntou, recostando-se no assento macio do vagão de trem, feliz em ouvir sua esposa enquanto a paisagem passava.

— Oh, nossa, — disse Amity, — em algum momento do início do século XVIII, acho. Avançando cento e trinta anos, os Cadburys puderam pedir ajuda aos colegas quakers, os Frys, devido às relações estreitas de todas essas famílias. Francis Fry, que ainda dirige o negócio, ajudou George Cadbury a melhorar seus negócios, apresentando-o a outros fabricantes de cacau e chocolate. Acho que a resposta para o motivo de tantos fabricantes de chocolate de sucesso serem quakers é porque eles estão vendendo algo em que acreditam e porque se ajudam.

— Não apenas em confeitaria, — Henry disse a ela. — Os quakers são donos de uma infinidade de nossos bancos e ferrovias, tudo por causa de sua ética e honestidade no trabalho e seu absoluto repúdio a endividar-se.

Ela suspirou.

— Estou muito feliz por viver em uma época em que não precisamos beber chocolate que foi misturado com milho grosso ou mesmo araruta. — Sua esposa estremeceu delicadamente. — Ou olhar dentro da minha xícara e ver a oleosidade sebosa. Somos abençoados.

Sem parecer notar que estava fazendo, ela quebrou outro pedaço e comeu, perfeitamente satisfeita.

Amity não tinha percebido que cochilara na balsa a vapor até que ela esbarrasse no cais em Cherbourg, na França. Seu maravilhoso marido, em cujo ombro ela se inclinava... e aparentemente babara... olhou para ela com amor brilhando em seus vívidos olhos verdes. Limpando a bochecha úmida com as pontas dos dedos da mão enluvada, ela sabia que nunca se cansaria de olhar nos olhos de Henry.

Ele colocou o braço dela debaixo do dele e a escoltou para fora do barco e em direção ao trem que esperava em Caen. Eles parariam ali a caminho de Paris.

— Travessia muito agradável, — ela murmurou, um pouco triste por ter perdido uma hora ou mais em seu sono. — Pelo menos a primeira parte, antes de adormecer. Que companhia terrível sou.

— Era mar calmo, — ele concordou. — E foi uma alegria cuidar de você. Você está pronta para mais aventuras, Duquesa?

Uma emoção a percorria toda vez que ele a chamava assim. Ele também sabia, e era por isso que continuava dizendo isso, apenas para observar a reação dela.

Ela sorriu para ele.

— Estou positivamente, absolutamente pronta e totalmente disposta a aventuras, Vossa Graça.

Eles haviam sido bem tratados em Bristol dois dias antes, em turnê pelo imenso complexo de quatro edifícios dos Fry, antes de serem enviados embora com um saco de doces, incluindo as deliciosas barras de creme cobertas de chocolate.

Ao chegar à costa sul da Inglaterra, o Duque e a Duquesa de Pelham haviam passado a noite em Bournemouth no The Royal Bath Hotel, inaugurado alegremente no dia da coroação da rainha em 1838. Amity achou que o hotel havia se mantido bem ao longo de quatro décadas, encantada com seu conjunto de salas.

— Todo esse espaço para nós! — Ela exclamou depois que a criada e o mensageiro os deixaram em uma ampla sala de estar, da qual havia um quarto igualmente grande, um quarto de banho e uma toalete separadas, e até uma pequena mesa de chá e cadeiras com vista para o mar.

Henry apenas deu de ombros.

— Você é nobre agora, meu amor. Você terá que sofrer com isso e se acostumar com essas acomodações.

Amity assumiu que os quartos regulares eram igualmente agradáveis, já que até o saguão e os corredores estavam decorados com bom gosto, e o jantar na elegante sala de jantar, cercada por outros convidados, tinha sido tão bom quanto o cozinheiro dos Rare-Foures ou dos Pelhams poderia fornecer.

Como o hotel estava situado em Bath Hill, eles tinham vistas deslumbrantes da baía. No entanto, na balsa, antes de adormecer, Amity percebeu que se lembrava pouco dos arredores da noite anterior, lembrando apenas do prazer de estar nos braços fortes de Henry. Além disso, tinha a sensação de que todos os pontos turísticos seriam para sempre pálidos em comparação com a euforia que experimenta com o marido.

Amanhã, eles planejavam pegar o trem para Paris depois de parar aquela noite em Caen. Henry estava praticamente valsando de alegria quando entraram no trem e encontraram seus assentos no luxuoso vagão.

— Estou tão feliz que você esteja aqui comigo, — ele exultou-se, e ela enviou um agradecimento silencioso a sua mãe e a mãe dele por tornar possível o casamento. Se as duas mulheres sábias não tivessem conversado e unido seus filhos, ela e Henry poderiam ter continuado sob a terrível noção de que não estavam destinados um ao outro.

Enquanto o trem a vapor avançava em direção a Caen, Amity mal podia esperar para chegar a suas acomodações, esticar-se ao lado de Henry na prometida cama macia no L'Hotel Saint-Martin e mostrar-lhe o quão feliz ela também estava.

Depois, apesar de já terem passado por um longo dia de viagem, foram a uma cafeteria. Como ela esperava, Henry conhecia um em Caen que queria compartilhar com ela, e, contanto que estivesse com ele, ela iria de bom grado a milhares de cafeterias, se o agradasse.

— Há alguns meses, você quase não se importava com chocolate, — ela lembrou, — e eu mal tinha provado café, e nem uma gota dele era boa.

— Você provará o café mais esplêndido ao longo desta semana, — prometeu.

— E você provará o melhor chocolate, — prometeu, pois pretendiam fazer uma viagem à fábrica de Menier em Noisiel, a leste de Paris. Ela mal podia acreditar que estava voltando para um de seus lugares favoritos, desta vez com o marido.

— Mal posso esperar até você provar o café em Paris, — disse ele.

— Mal posso esperar até você ver a fábrica de Menier, — ela retornou.

Eles sorriram um para o outro, ambos crepitando de emoção.

— Tenho certeza de que suas cafeterias parisienses serão um deleite, — disse Amity, — mas Menier! Todos em torno chamam a fábrica de la cathédrale12 por sua beleza sublime. E a tecnologia! Monsieur Menier produz mais de duas mil e quinhentas toneladas de chocolate a cada ano. As turbinas a vapor que conduzem o processo são uma maravilha moderna.

Henry assentiu.

— Estou ansioso para vê-la, embora seja difícil acreditar que possa ser mais impressionante do que as quatro fábricas da empresa Fry, com oito andares cada. Essa fabricação de chocolate é um negócio muito sério.

Amity ponderou.

— Essa é a beleza disso. É um negócio grande e lucrativo, com certeza. No entanto, ainda é chocolate, e então...

— E então, também há algo de extravagante nisso.

— Precisamente. — Amity amava o quanto Henry entendia o que ela queria dizer.

— Assim como minha chocolatier, — acrescentou, depois se inclinou na direção dela. Ele havia feito isso várias vezes na viagem de trem pelo sul da Inglaterra, e a cada vez ela sentia a emoção adicional de beijá-lo em público.

Ela se inclinou na direção dele e eles se beijaram.

Quando ele se afastou, Amity quase caiu em seu colo, e ele estendeu a mão para apoiá-la bem a tempo. Ele se moveu pelo espaço entre eles para se sentar ao lado dela para que ambos pudessem olhar para frente. Quando ele segurou a mão dela, Amity se inclinou contra seu ombro.

— Eu não posso acreditar que quase perdi essa vida com você, — ela sussurrou contra seu ouvido. — Esta viagem de casamento pode ser férias fantásticas e extraordinárias, e nada como as nossas vidas reais serão, e talvez ainda não tenhamos enfrentado nenhuma censura...

Ele colocou um dedo na boca dela, silenciando-a.

— Por favor, Duquesa, não comece a procurar problemas. Vamos aproveitar a nossa primeira de muitas viagens e, depois, voltaremos para Londres, onde você retornará à mágica sala dos fundos da Rare Confectionery e voltarei ao Parlamento. Nas noites, discutiremos sobre todo o dia durante o jantar e desfrutaremos a companhia um do outro. E passarei todas as noites de nossas vidas tentando trazer a você a maior felicidade em nosso leito conjugal.

Ela ofegou por ele expressar tal coisa em voz alta, mas como adorava ser a receptora de seu talentoso amor!

Então ele acrescentou:

— Se alguém tiver problemas com a sua fabricação de chocolate, vou lidar com isso.

— Com sua extremamente potente vitalidade, — disse ela, mordiscando o lóbulo da orelha, sentindo-o tremer antes que ele colocasse uma mão quente e sólida em cima das saias, sobre a coxa.

— Precisamente, — disse ele, e ela notou que ele fechou os olhos, parecendo satisfeito.

— E ajudaremos os pobres com os lucros dos meus chocolates, — acrescentou ela com uma voz suave, colocando a mão na perna da calça dele, passada recentemente pelos funcionários do hotel naquela manhã.

— Definitivamente.

Ela mordeu o lábio e, no mesmo tom suave, disse:

— E encontraremos maridos bons e carinhosos para minhas irmãs.

— Sim, — disse ele, parecendo hipnotizado. Então ela o sentiu sobressaltar-se sob os dedos. — Espere um minuto. O que concordei em fazer?

No entanto, Amity já estava rindo demais para ouvir qualquer outra coisa, e para sua alegria, depois de um momento, Henry se juntou a ela, tornando-os o casal mais alegre no trem para Caen.

 

 

                                                   Sydney Jane Baily         

 

 

 

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