Capítulo 22
O café da manhã é um piquenique sob um campo de árvores que nos salpica com um punhado ocasional de flores amarelas em forma de estrela. Muito lindas, até começar a pousar na comida. Posteriormente, somos enviados para observar a Guarda Real executando alguns exercícios de treinamento, que é quando Ryn e eu conseguimos escapar para explorar mais um pouco. Eu ainda estou um pouco zonza com todos os sentimentos de apenas-amigos me percorrendo, e parece estar resultando em algum comportamento imprudente. Como alegremente passear pelo palácio quando claramente não deveríamos estar fazendo isso agora.
Encontramos dois lagos que não têm estruturas de pedra construídas nas proximidades, e outro pátio anexado ao palácio com uma piscina cheia de faeries jovens pulando. Do outro lado de um labirinto construído de arbustos baixos, encontramos uma lagoa com uma ponte de pedra. Mas depois de examinar cada pedra, é claro que não há sinal ou símbolo que aponte para algo escondido.
Eu penso no tamanho total dos terrenos do palácio - tão grande que levaria horas e horas para chegar ao outro extremo - e começo a sentir um pouco de pânico. — E se não conseguirmos encontrar o esconderijo a tempo? — Digo a Ryn. — Eu esperei essa oportunidade por anos; nunca mais vai acontecer.
— Nós vamos procurar toda a noite se tivermos, — ele diz, e eu tenho que lutar contra o desejo de pegar sua mão e apertar seus dedos. Ele parece tão determinado quanto eu a encontrar os pertences escondidos das minhas mães. Talvez seja porque ele ainda esteja tentando compensar o passado, ou talvez seja porque a alternativa - sair com outros formandos para assistir a guarda treinar - é muito chata. De qualquer forma, estou grata além das palavras.
Nós deixamos a lagoa e a ponte atrás de nós conforme escalamos uma colina baixa. — Sabe, o tempo de exploração de sua mãe provavelmente também foi muito limitado quando ela esteve aqui, — diz Ryn. — Você não acha mais provável que ela tenha escolhido um esconderijo mais perto do palácio do que mais longe?
Paro de subir e esfrego a parte de trás da minha mão na minha testa. Estou superaquecendo na calça comprida que, como Ryn apontou na noite passada, pode ser um pouco apertada demais para um dia de verão. Meu top mantém meus braços expostos, mas não é o suficiente para me refrescar. — Isso pode ser verdade. Você acha que devemos voltar e olhar ao redor do palácio?
— Sim, eu quero. Até agora, nós apenas caminhamos pelo palácio, não ao redor dele. Pode haver pequenas piscinas que ainda não vimos.
— Há também uma maior chance de alguém importante nos ver e nos enviar de volta ao nosso grupo.
— Com medo de entrar em problemas, V? — Ryn mostra seu sorriso arrogante.
— Dificilmente, — eu viro e vou em direção ao palácio. — Eu simplesmente não quero que a Missão Exploração seja cancelada.
Caminhamos de volta sem dizer muito. Há bastante silêncio entre nós hoje. Não um silêncio estranho, mas sim um que sugere que estamos um pouco preocupados. De vez em quando, eu o pego olhando para mim, mas não pergunto por quê. Ele provavelmente tentará me fazer falar sobre os meus sentimentos ao ver meu pai – que-não-era-meu-pai na noite passada, e eu não vou por essa estrada. Chorar nos braços de Ryn foi estranho o suficiente sem ter que falar sobre isso agora.
Contornamos o palácio, nos mantendo ao redor das árvores circundantes e esperando que ninguém nos perceba quando se inclinarem em suas varandas brancas decorativas. Nós passamos por uma fonte fora de uma sala onde um grupo de faeries estão praticando instrumentos musicais. Sinto um feitiço que atravessa as árvores em nossa direção, fazendo que os meus pés queiram dançar. Eu me apresso com Ryn perto de mim. Essa fonte era pequena demais para estar escondendo qualquer coisa de qualquer maneira.
— Ei, acho que ouço mais água, — diz Ryn.
Ele tem razão. — Sim, mas onde? Não vejo nada.
O som de queda de água torna-se mais alto à medida que nos aproximamos do que parece ser uma parede frondosa com hera firmemente entrelaçadas. Parece estar escondendo uma área semicircular contra a borda da parede do palácio. — Um jardim particular? — Sugere Ryn.
— Talvez. Mas não parece que haja algum caminho desse lado, então minha mãe não poderia ter escondido nada aí.
Estamos prestes a seguir em frente quando uma figura vestida de branco anda através da cobertura. Eu deslizo atrás do tronco da árvore mais próxima e me pressiono contra ela. A poucos metros de distância, Ryn se esconde atrás de outra árvore. Quando ninguém nos chama, espreito cuidadosamente ao redor da árvore para ver o que está acontecendo. A figura de branco é a faerie anfitriã da nossa festa do chá na tarde de ontem. A filha da Rainha, Olivia. Ela arruma seu longo cabelo loiro e rosa para longe do pescoço e o prende com uma fita. Então, depois de examinar a área rapidamente com os olhos, ela se apressa através das árvores para longe de nós.
— Imagine ainda viver com sua mãe quando você tem, tipo, um século de idade, — Ryn sussurra. Ele sai de trás de sua árvore e se aproxima de onde Olivia apareceu.
— Eu acho que ela tem mais do que dois séculos de idade, — respondo. — Ela é a primeira filha da rainha, lembre-se, e a Rainha certamente está por aí por um tempo.
— V, há uma abertura aqui. — Ryn gesticula para que eu o acompanhe. — Você não pode ver de lá porque o ângulo está errado.
Atravesso a grama e escorrego na abertura depois dele. Oculto dentro do semicírculo, está um jardim. Rosas de todas as cores estão entrelaçadas entre a hera no muro. Em um lado está um arco de pedra com um banco embaixo dele. No centro do jardim encontra-se uma piscina redonda, ao lado fica uma árvore com folhas laranja enormes que criam uma sombrinha para proteger. A água escorre sobre uma pilha de pedras e para dentro da piscina. Estátuas ficam aqui e ali na grama, e a própria grama chega ao fim em um portal aberto levando para o que deve ser o quarto da princesa.
— Nós definitivamente não deveríamos estar aqui, — eu digo, me afastando da piscina.
— Você não quer verificar se o esconderijo da sua mãe está aqui?
— Não estará.
Ryn vaga para o banco e senta-se. — E como você sabe disso?
— Ryn, este é o jardim particular da princesa. Não há como minha mãe ter escondido suas coisas aqui. Você pode imaginar o problema em que ela estaria se metendo se alguém a pegasse? — Eu me viro para ir embora, mas, conforme eu faço, a descrição de Zinnia sobre meus pais algumas noites atrás vem à minha mente. Os dois sempre gostaram de assumir as tarefas mais perigosas. — Por outro lado, — digo, voltando lentamente para a piscina, — talvez seja por isso que ela escolheria este lugar.
— Ah, sua mãe era uma caçadora de emoções, não era?
— Eu não sei. Talvez. — Eu começo a examinar o arco de pedra onde Ryn está sentado, começando pela pedra mais baixa e movendo para cima. Ryn levanta e examina o outro lado. As pedras são quase perfeitas e parecem não ter marcas além daquelas provavelmente provocadas pelo tempo e clima severo. Não que eu possa imaginar um lugar como esse com um clima severo, mas até mesmo eu sei que a Corte Seelie não é imune ao inverno.
— Vê alguma coisa? — Pergunta Ryn.
— Não. Você pode me dar uma ajudinha para verificar a parte de cima?
Ryn aparece de frente para o banco e coloco meu pé nas mãos dele. Ele me levanta rapidamente. Pego na borda do arco e dou uma olhada em todas as pedras que não consigo ver do chão. — Nada. Eu acho que não está aqui, afinal.
— Será que não são as estátuas feitas de pedra? — Pergunta Ryn conforme ele me deixa no chão.
— Sim, mas elas são muito pequenas.
— V. — Ryn me olha como ele olha para Calla quando tenta explicar algo. — Se uma árvore não é muito pequena para esconder sua casa inteira dentro, então uma estátua pequena não pode esconder uma única sala?
Mesmo que agora eu ache Ryn lindo e tenha ocasionalmente o desejo irracional de rasgar sua roupa, ainda é realmente irritante quando ele está certo. Sem responder, vou até a estátua mais próxima - uma mulher com pequenos chifres na cabeça usando um pedaço de tecido que nem de perto cobre as partes essenciais de seu corpo. Eu me abaixo na grama e começo a investigar sua superfície de pedra. Não consigo nada além da pedra suavemente esculpida, até encontrar algo na parte de trás do seu calcanhar. — Há algo aqui. — O entusiasmo sobe no meu peito. — Uma flecha. Ela aponta para baixo e para a direita.
— Há algo aqui também, — diz Ryn, passando os dedos pela perna direita da estátua de unicórnio. — Uma linha ondulada.
— Uma linha ondulada? Isso geralmente não significa água?
— Sim. Água correndo, talvez? Água corrente?
— Tudo bem, nós temos uma fonte, mas esta flecha aponta para a direita, e daqui a fonte está à esquerda.
Ryn caminha para a estátua restante - um pixie que segura um sprite em sua mão estendida como uma oferenda - na sombra das folhas laranja. Eu me junto a ele, meus olhos olhando as pernas primeiro, porque isso parece ser uma tendência aqui. Ryn fica de quatro, examinando atentamente a frente do pixie. Eu alcanço a parte de trás do pescoço do duende quando Ryn diz, — Achei. — Ele me dá um sorriso e o encaro. Tudo é uma competição quando se trata de nós dois. — Está na parte de trás da mão do pixie, de frente para o chão. — Ele se inclina mais uma vez e aponta. — Vê? É a forma de um círculo.
— Um círculo. — Nós dois olhamos para o jardim. O único círculo aqui é a piscina.
— Está dentro da piscina, — diz Ryn. — Você tem que entrar na água - daí a linha ondulada - ir abaixo da superfície...
— Essa é a flecha para baixo.
— E então à direita, — Ryn termina.
Eu vou para a abertura no muro e olho lá para fora. Ninguém lá. — Ok, vamos fazer isso rápido. Eu certamente não quero ser pega nadando na piscina da princesa.
— Depois de você. — Ryn gesticula para a piscina. — Considerando que esta é a sua missão, acho que você deve ir primeiro.
Eu mergulho meu pé, testando a temperatura da água. Eu pensei que poderia ser desconfortavelmente quente, dado o calor deste dia de verão, mas é fria o suficiente para ser deliciosamente refrescante. Claro. Provavelmente está encantada para estar na temperatura perfeita. Deslizo para dentro da água. A água alcança meus ombros.
— Ah, que alívio, — Ryn diz enquanto ele se junta a mim, fazendo um pouco mais de barulho do que eu. — Talvez tenhamos que ficar aqui por mais tempo.
— E ser pegos? Eu acho que não. — Respiro profundamente, afundo abaixo da superfície e nado para o lado direito da piscina. Eu corro meus dedos sobre as pedras quadradas, procurando em cada uma por algum tipo de marcação. Eu volto a superfície para pegar ar e mergulho vez uma mais. Ryn está nas proximidades, ajudando na busca.
Então eu vejo: um X simples esculpido no meio de uma pedra. Empurro contra a pedra com as mãos, mas nada acontece. Eu alcanço acima da minha cabeça e, felizmente, minha stylus ainda está lá, tentando segurar meu cabelo no lugar. Eu a puxo e escrevo um feitiço de abertura na pedra.
Sim!
A pedra desaparece, deixando uma camada ondulante e semitransparente entre a água e a escuridão que está além. Eu nado através — e caio sobre uma superfície dura. Eu me levanto e imediatamente crio uma esfera de luz. Ela flutua na minha frente, iluminando uma pequena sala com uma mesa em um lado.
Com uma exclamação de dor, Ryn pousa no chão ao meu lado. — Merda, você pensaria que ela poderia ter deixado uma almofada ou algo no chão para um pouso mais suave.
— Nós achamos, Ryn, — eu sussurro enquanto dou alguns passos pingando em direção a mesa. Sobre ela está um livro de couro com uma escrita cor de ouro em sua capa, uma pulseira descansando sobre uma pequena pilha de fitas coloridas, uma vela preta e um espelho oval com uma armação de prata ornamentada. Pego o espelho e vejo o rosto da minha mãe. Eu já vi imagens dela antes, é claro, mas isso é diferente. Ela está mais nova.
É isso. O momento em que eu sonhei desde a primeira vez que meu pai contou a história da visita da minha mãe a Corte Seelie. Eu finalmente a vejo como uma pessoa real. Eu finalmente vou ouvir sua voz. Com meu coração batendo no meu peito e meus dedos tremendo, toco a superfície do espelho.
Seu rosto se abre em um sorriso, e ela coloca uma mecha de cabelo preto e roxo atrás da orelha. — Tudo bem, quem quer que você seja, você é realmente corajoso. Você nadou na piscina particular da princesa! — Ela bate palmas e ri. — Parabéns! Claro, isso me torna realmente corajosa também porque eu também nadei na piscina. Bem, corajosa ou estúpida. — Ela revira os olhos lavanda enquanto luto contra as lágrimas se formando nos meus. — De qualquer forma, você provavelmente está se perguntando quem eu sou. Meu nome é Rose Hawthorne, sou graduada da Guilda de Creepy Hollow, e já que eu vou visitar a Corte Seelie apenas uma vez na minha vida, pensei que seria divertido deixar um pouco de mim aqui. Assim... O livro é um dos meus favoritos. Meu melhor amigo me deu em um aniversário há alguns anos. Se você olhar dentro, há um papel dobrado com uma história que escrevi na escola secundária - porque eu sinto que você deveria ter algum entretenimento disso! — Ela ri enquanto eu limpo uma lágrima que escapou do meu olho. — Hum, a pulseira é a primeira joia que meus pais me deram, e as fitas encontrei em um baú dos pertences da minha avó quando eu era pequena.
— Ok, o que resta? A vela. Isso foi dos meus pais no meu décimo oitavo aniversário. É uma vela sem fim, então nunca vai ficar pequena, não importa o quanto você a queime. Um, então, é isso. Ah, e a mesa foi feita para mim pelo meu namorado. Cara incrível que ele é, ele não se importou em encolhê-la junto com as minhas outras coisas e trazer aqui.
— Então, de qualquer forma, essa sou eu. Seria realmente bom se você pudesse retornar meu livro para a Guilda de Creepy Hollow com uma mensagem para mim. Além disso, se você for pego deixando esta piscina, sinto muito. Espero que eu não seja pega quando eu sair! Ah, e se você é a princesa, hum, também sinto muito. Não queria desrespeitar você de forma alguma ao esconder essas coisas na sua piscina. Por favor, não me odeie! — Ela bate as mãos, sorri docemente e a imagem dela desaparece.
Ela se foi.
Eu toco o espelho novamente, mas nada acontece. — Está definido para tocar apenas uma vez, — digo suavemente. — Eu nunca mais a verei. — As lágrimas escorrem pelas minhas bochechas. Este foi o meu momento com ela... meu único momento... e agora acabou.
— Me desculpe. — Sinto a mão de Ryn no meu ombro. — Mas - e não me odeie por dizer isso - provavelmente não seria uma boa ideia para você assistir a mesma mensagem repetidamente. Você não gostaria de desperdiçar sua vida na frente de um espelho.
— Sim, acho que você está certo. — Eu soluço quando coloco o espelho na mesa. — Mas ainda vou levar essas coisas para casa comigo.
— Claro, — diz Ryn. — Precisa de ajuda com o encolhimento?
— Obrigado. — Pelo menos eu tenho essas lembranças dela. Vou levar o meu tempo olhando para elas quando chegar em casa. Vou ler o livro e a história que ela escreveu. Vou queimar a vela sem fim, e sua chama perpétua nunca permitirá que eu a esqueça.
Agora, no entanto, precisamos sair daqui.
Eu encolho o espelho enquanto Ryn cuida do livro e da vela. Estou prestes a encolher a pulseira, quando Ryn diz, — Você deveria colocá-la. — Ele tira de mim e a coloca em volta do meu pulso direito, inclinando-se mais perto quando ele aperta o fecho. — E as fitas. Você precisa de alguma cor na sua vida, V. — Ele enrola as fitas ao redor do meu braço para que elas cubram minha cicatriz. As linhas onduladas das minhas marcas de guardiã espreitam de cada lado. Ele amarra as pontas e as afasta, seu toque enviando um tremor pelo meu braço. Eu me pergunto se ele percebe os arrepios. Ele certamente está próximo o suficiente para vê-los.
De repente, lembro de dizer a Nate que ele não poderia me convencer a ter uma sessão de amassos em um túnel subterrâneo suspeito porque eu tenho padrões. E percebo agora que não tenho absolutamente nenhum padrão porque estou aqui nesta sala de pedra subterrânea e não quero nada mais do que beijar Ryn. Se ele me puxasse para dentro de seus braços agora, eu não iria detê-lo. Eu sei que não seria bom para nós a longo prazo, mas meu corpo e meu coração o desejam. Muito.
— Hum, devemos sair daqui antes que a princesa volte, — diz Ryn, dando um passo para trás e colocando alguma distância entre nós. — Missão completa, então... Acho que poderíamos ficar no seu quarto por um tempo. — Ele me observa. Estou imaginando, ou ele quer dizer algo mais quando ele diz ‘ficar’?
Só há uma maneira de descobrir.
— Ok. — Merda, eu realmente soei tão sem fôlego como eu acho que soei? Eu sou tão patética.
Eu deslizo a pequena vela, livro e espelho nos meus bolsos úmidos enquanto Ryn encolhe a mesa. Eu o deixo ir em frente antes de atravessar o caminho através da camada ondulante e entrar na água. Giro com a minha stylus na mão, mas a pedra já está selada. Legal. Puxo-me através da água e minha cabeça quebra a superfície. Eu suavizo meu cabelo molhado para trás e saio.
Ryn está de pé junto à abertura no muro, olhando para fora. — Alguém está vindo, — ele diz.
— O quê?
Ele agarra minha mão e me puxa para a porta do quarto da princesa. — Vamos esperar até que ele passe.
Estamos dentro da entrada de uma sala de estar. Tudo rosa e verde e estampas florais na parede - realmente não é o meu estilo.
— Droga, — murmura Ryn. Olho para o jardim e vejo um faerie escorregar pelo espaço na cobertura. — Atravessar aquela porta, — Ryn sussurra apressadamente, apontando para o outro lado da sala.
Eu corro, mas meus pés molhados deslizam na grande poça que se forma sob nossos corpos encharcados, e antes que eu saiba, eu estou caindo.
— Vi! — Ryn tenta me alcançar no momento em que eu me jogo contra a parede - que de repente cede. Ryn me empurra para a escuridão e me segue. Ele se inclina contra a parede - porta? - para fechá-la, sussurrando rapidamente algo à medida que a luz se estreita para uma fenda e desaparece.
A escuridão nos rodeia, então, completamente, parece que está pressionando contra meus globos oculares. — O que você acabou de dizer? — Eu sussurro para Ryn.
— Apenas um feitiço para secar toda aquela água. Nossos passos levariam para cá caso contrário.
Eu sinto a parede com minhas mãos e aperto minha orelha suavemente contra ela. Não consigo ouvir nada. — Onde estamos? — Pergunto.
— Uma passagem secreta entre as paredes, eu imagino. A princesa deve usá-la para dar uma volta sem ser vista.
Mais alguns momentos de silêncio passam antes de eu dizer, — Bem, talvez devêssemos conjurar alguma luz e seguir esta passagem. Nós não sabemos se o faerie ainda está por aí.
— Nós também não sabemos aonde essa passagem leva. Imagine se chegarmos no quarto da Rainha, molhados, enquanto ela está dando um cochilo matinal.
— Eu duvido que ela dê cochilos matinais, — eu sussurro de volta. — E eu não posso, pelo menos, criar alguma luz aqui? Certamente não pode ser visto na sala lá fora.
Quando Ryn responde, sua voz soa mais próxima do que estava antes. — Com medo do escuro, não é, Sexy Pixie?
— Claro que não.
Então não evoco uma luz. Nem ele. Ouço um barulho na sala de estar. Algo se movendo ao longo do chão, então batendo na parede. Eu involuntariamente dou um passo para trás. Sinto Ryn bem ao meu lado. Seu braço, ainda molhado, escova o meu. Posso ouvi-lo respirar. Sua mão se move, e seus dedos lentamente se entrelaçam com os meus. Meu coração faz uma dança vertiginosa no meu peito, e porque a escuridão é tão completa, não tenho ideia do que está prestes a acontecer até que já esteja acontecendo.
Seus lábios escovam os meus, o que me assusta tanto que quase me afasto. Mas eu não me afasto. Seguro seus dedos mais apertados e aperto meu corpo mais perto porque — sim oh sim oh sim — eu quero tanto isso. Nossos lábios se tocam novamente, com mais pressão desta vez. Ele tira os dedos dos meus e desliza a mão até o meu braço. Imagino que posso sentir faíscas pulando pela minha pele. Através das minhas pálpebras fechadas, vejo flashes de luz, e a realização me atinge: as faíscas que ele está arrastando sobre a minha pele são reais.
Seus dedos cavam nos meus cabelos molhados e puxam meu rosto para mais perto dele. Ele me vira, me pressionando contra a parede. Sinto seu corpo ao longo de cada centímetro do meu; não existe espaço entre nós. Seus lábios escovam meu maxilar, me provocando com beijos que se parecem tão bons contra minha pele ardente e quente. Ele trilha um dedo - mais faíscas - no meu pescoço e sobre a ondulação do meu peito, terminando quando ele atinge a borda do meu top. Acho que um suspiro escapa da minha garganta, mas não tenho certeza porque tudo o que posso ouvir é o martelar de sangue nos meus ouvidos.
Seus beijos alcançam meus lábios novamente, e desta vez eu os abro. Sua língua desliza sobre a minha, produzindo uma deliciosa sensação de formigamento. Mais faíscas. Eu estendo a mão e passo os dedos pelo seu cabelo. Se eu pudesse puxá-lo para mais perto do que ele já está, eu faria. Suas mãos deslizam por meus lados, sobre meus quadris, e param no topo das minhas pernas. Seu aperto aumenta, e em um movimento rápido, ele me puxa. Enrolo minhas pernas ao redor de sua cintura enquanto ele desliza as mãos debaixo do meu top, seus dedos deslizam pela minha pele nua.
A parte lógica do meu cérebro de repente acorda e começa a gritar comigo para sair daqui. O que eu estou fazendo? Este é o cara que namorou com os Subterrâneos e zomba dos sentimentos das garotas da Guilda que ousaram gostar dele. Este é o cara que me machucou tantas vezes depois que Reed morreu que eu jurei que nunca mais o deixaria se aproximar de mim novamente.
Mas não consigo parar. Não posso. Eu quero muito mais. Os beijos. As faíscas. Nossos corpos molhados pressionados juntos. Acima das batidas nos meus ouvidos, ouço algo como vidro quebrando. Eu não ligo. As faíscas estão dançando em todo o nosso corpo, e é exatamente onde eu quero estar. Cada centímetro de mim estava desesperado para estar ainda mais perto dele.
Ryn arranca seus lábios do meu o suficiente para arfar, — Eu lhe disse que você estava perdendo. — Algo dentro de mim congela. Ele me gira novamente, me pressionando forte contra a parede - a parede errada.
Ela se abre e nós dois aterrissamos em uma pilha sem graça no chão da sala de estar da princesa. Cacos de vidros espalhados pelo chão, várias cadeiras estão jogadas para os lados e fumaça sobe de uma almofada carbonizada.
Levanto quando vejo alguém de pé sobre nós: o faerie da qual tentávamos nos esconder. — Ok, isso não é o que parece, — ele diz, levantando as mãos. — Todo esse dano aqui? Eu não fiz isso. Apenas... aconteceu.
— O quê? — Ryn pergunta, claramente confuso. O faerie parece tão culpada quanto eu me sinto. — Quem é você? — Exige Ryn, na mesma hora que o faerie pergunta exatamente o mesmo.
Não sei o que está acontecendo. Ryn e eu não deveríamos estar aqui, e obviamente esse cara também não. Mas eu não ligo. A minha versão lógica está enlouquecendo. Pirando. Tudo o que quero é estar o mais longe possível daqui. Sem outro pensamento, volto para o jardim e corro o mais rápido possível.
Capítulo 23
Não paro de correr até chegar no meu quarto. Eu tranco a porta atrás de mim e me inclino contra ela, respirando com dificuldade. Se Ryn tentou me seguir, ele não faz um trabalho muito bom, porque não consigo ouvir nada do outro lado da porta. Apenas para ter certeza, eu corro para o banheiro e tranco a porta atrás de mim também. Eu não quero ouvir se ele bater.
Eu disse que você estava perdendo.
O beijo era sobre isso? Apenas Ryn se provando para si mesmo? Eu estava tão apressada no momento que provavelmente teria entregado meu coração se ele tivesse pedido, e tudo o que ele realmente estava fazendo era provando algo? Inclino-me contra a porta e deslizo para baixo até estar sentada no chão. Eu corro as duas mãos através do meu cabelo úmido e o puxo. O meu peito dói com o vazio, mas isso serviu para me mostrar que eu estava sendo estúpida. Eu sabia o tempo todo que esses sentimentos só acabariam me machucando.
Escondo-me no banheiro a tarde toda até ouvir a conjuradora de roupa na porta do meu quarto. No começo, temo que seja Ryn batendo, mas a voz aguda da conjuradora de roupas passa facilmente através das duas portas.
Ela observa minha aparência desgrenhada com as sobrancelhas levantadas. Quando não digo nada, ela começa a trabalhar. Ela me veste em uma detestável criação volumosa e roxa que, felizmente, tem pouco brilho. Meu cabelo obviamente a ofende porque ela franze o cenho toda vez que ela olha para a minha cabeça. Em vez de me deixar lidar com isso, ela murmura um feitiço para livrar-se da aparência molhada e enrola e torce e coloca grampos tão rápido que eu não tenho certeza de como tudo acabou empilhado em cima da minha cabeça. Não parece muito ruim, e eu aprecio a velocidade. Balançando a cabeça de desaprovação, ela recolhe suas coisas e sai.
Eu rapidamente retiro as fitas coloridas do meu pulso e vou até a porta do meu quarto. Preciso sair daqui antes que Ryn chegue para me acompanhar para o andar de baixo. Abro a porta e espio. Nada de Ryn.
Ufa.
Eu desço as escadas tão rápido quanto o volume permite. O cara que sorriu para mim ontem à noite está parado perto das portas da sala do trono, e eu decido que agora é hora de ser amigável. Eu me apresento, e ele parece estranhamente animado em falar comigo. Eu faço o meu melhor para prestar atenção ao que ele está dizendo, mas é um pouco difícil quando passo os primeiros minutos da nossa conversa ansiosamente procurando por Ryn e as próximas evitando propositadamente o olhar dele. Posso dizer que ele está me observando, e o constrangimento aquece meu pescoço.
O jantar é horrivelmente estranho. Ryn e eu estamos sentados ainda mais longe da Rainha do que na noite passada - provavelmente devido à minha grosseria - e passo toda a noite com meu corpo longe de Ryn tentando conversar com o cara da minha esquerda. A menina do outro lado parece um pouco chateada porque ele está a ignorando. Parte de mim se sente mal, mas estou tão desesperada para conversar com alguém além de Ryn que farei qualquer coisa para manter a atenção desse cara.
Quando o jantar chega ao fim e todos começam a ficar de pé, eu sou a primeira a sair. Ouço a voz de Ryn atrás de mim, — V, espere. — Eu ando mais rápido. Não tenho certeza de poder correr nessa coisa volumosa, mas certamente posso tentar. Assim que eu rodeio um canto, eu corro. Os passos apressados de Ryn me seguem. — Apenas espere, caramba, — ele grita. Meu cérebro me tortura com uma lembrança das minhas pernas enroladas em sua cintura e seu corpo pressionado contra o meu.
Ugh, eu poderia me envergonhar mesmo se eu não tentasse?
— Violet! — O grito de Ryn é tão alto que eu paro. Fico no pé da escada com as costas para ele. A água que saí das mãos estendidas das sereias escorre em segundo plano. — Não entendo, — diz ele. — Sobre o que você está chateada?
Giro lentamente e olho para ele. Há muitas coisas que eu quero dizer, mas as palavras que acabam deixando a minha boca são, — Podemos apenas fingir que não aconteceu?
Ele parece tão confuso que por um momento que eu também fico confusa. Eu perdi alguma coisa aqui? Entendi mal o que realmente aconteceu entre nós? Mas percebo movimento abaixo de uma arcada atrás dele, e todos os pensamentos do nosso beijo se desvanecem quando pouso os olhos no faerie impostor que roubou a forma do meu pai. Parece que o idiota é estúpido o suficiente para aparecer na mesma sala, ao mesmo tempo que a noite passada.
— Ei! — Grito enquanto ele desaparece na escuridão mais uma vez. — Pare! — Eu corro atrás dele, quase caindo de cara quando piso na frente do meu vestido. Eu tiro as camadas estúpidas do caminho, puxo a saia com as duas mãos e corro de novo. Ele já está a meio caminho do bosque de árvores de onde desapareceu na noite passada, e ainda estou correndo pela colina. Estou pensando em arrancar a parte de baixo da minha monstruosidade volumosa quando Ryn passa por mim. Pouco antes do metamorfo chegar ao pavilhão, Ryn dá um salto volumoso e o coloca no chão. Eles lutam. Faíscas de magia voam aqui e ali. Assim que chego ao pavilhão, o metamorfo consegue levantar. Eu posso ver que ele está prestes a correr outra vez, e minhas armas aparecem calorosamente enquanto se instalam em meus braços estendidos.
— Pare! — Eu aponto meu arco e flecha diretamente para ele. — Quem diabos é você e como se atreve a assumir a forma do meu pai?
Ele encontra meu olhar irritado, ergue lentamente as mãos e balança a cabeça.
— E o que isso significa? Você não sabe quem você é? Você está se recusando a me responder?
Ryn ergue-se e fica de pé ao meu lado. Do canto do meu olho, eu percebo seu chicote cintilante na mão direita. — Eu acredito que ela fez uma pergunta, metamorfo.
O homem balança a cabeça novamente, ainda me observando. — Você não quer fazer isso, V.
Estou tão assustada com o uso do meu apelido e sua voz que soa exatamente como a do meu pai - obviamente - que o arco e a flecha quase desaparecem do meu aperto. Como ele sabe que meu pai sempre me chamou de V? Não. Concentre-se. Eu já fui enganada por um metamorfo antes e não serei de novo. — Você parece saber quem eu sou, então é justo que me diga quem você é. — Quando ele não diz nada, eu grito, — Diga!
O metamorfo fecha seus olhos e suspira. O olhar de derrota em seu rosto me dá esperança; ele vai se entregar e me contar o que está acontecendo. Ele senta-se em uma cadeira acolchoada, se inclina sobre os joelhos e olha para mim. — Minha linda garota, — diz ele suavemente. — Você parece muito com sua mãe.
— Desculpe-me?
— Eu deveria saber que você estaria aqui. Claro que você ganharia o prêmio de graduação... é o que você sempre quis.
— Ok, eu não sei o que você está fazendo, — além de me assustar — mas você não está respondendo a minha pergunta. — Eu ando até ele e seguro a flecha a polegadas de sua testa. — Quem. É. Você?
Ele ergue os olhos e diz simplesmente, — Seu pai.
Apesar do calor do ar noturno, um arrepio atravessa meus braços. — Meu pai está morto, — eu digo a ele. — Eu vi o corpo dele. Eles o colocaram em uma canoa e eu o assisti flutuar e desaparecer sob as Cataratas do Infinito. Ele se foi, o que significa que você não é ele.
Ele esfregou uma mão nos olhos dele. — Eu sinto muito, V. Você não deveria saber sobre isso. Pelo menos não até que tudo acabe e estejamos seguros novamente. — Ele geme e murmura algo sobre a Rainha e ser descuidado.
— Eu odeio ser repetitiva, — eu digo, — mas você não está respondendo a minha pergunta.
Ele se concentra em algum lugar no chão e diz, — Não era eu na canoa. Era um metamorfo. A rainha o usou para fingir minha morte para que eu pudesse continuar uma tarefa perigosa disfarçado. Todos tiveram que acreditar que eu estava morto para que a pessoa de quem eu estou atrás não tivesse mais suspeita.
Eu posso sentir uma parte de mim ousando ter esperança. Parece improvável, mas talvez seja verdade. Talvez este homem sentado aqui me observando com algo como orgulho seja realmente meu pai.
— Você espera que acreditemos nisso? — Perguntou Ryn. — Que história ridícula. Um metamorfo não volta para sua forma original quando morto de qualquer maneira? Se a sua história fosse verdade, então teríamos visto um estranho na canoa, não o pai de Violet.
Eu balanço a minha cabeça. — Eu matei um metamorfo. Ele... — Ele ainda parecia Nate quando ele estava morto. — Ele não voltou à sua forma original depois que ele morreu.
— Você não precisa acreditar em mim. — O homem está parado, e eu mantenho minha flecha treinada em sua testa. — Na verdade, seria melhor se não acreditasse. Seria melhor se todos nos afastássemos agora e fingíssemos que isso não aconteceu. — Sua voz está estável, mas seus olhos estão cheios de uma tristeza infinita. Maldito, esse cara é um ator realmente bom ou ele está falando a verdade. Ele olha diretamente para mim e diz, — Você deveria me deixar ir.
— Isso é exatamente o que você quer, não é? — Ryn murmura. Ele se vira para mim. — Não podemos dar a esse cara uma poção de compulsão e forçá-lo a dizer a verdade?
— Poderíamos. Ou ele poderia apenas responder uma pergunta. — Eu consigo pensar em algo que ninguém mais deveria saber. — O que meu pai me disse na noite em que o menino que todos amavam morreu? — Isso deve ser bastante enigmático se esse homem realmente for uma fraude.
O homem-que-pode-ser-meu-pai se aproxima de mim. Tão perto que minha flecha está quase tocando sua pele. — O que você quer, Violet? — Ele pergunta suavemente. — Você quer que seja eu? Ou é mais fácil para você se eu não for nada além de um impostor?
Minha voz se quebra quando digo, — Eu já sei que é você. — Eu acho que soube no momento em que ele me chamou de V.
Vivo. Ele está vivo. Como eu deveria processar isso?
— Perdoe meu cinismo, — diz Ryn, — mas eu ainda gostaria de ouvir a resposta a essa pergunta.
Meu pai olha para Ryn, depois de volta para mim. Ele respira fundo. — Você viu minhas lágrimas e disse que nunca tinha me visto chorar antes. Eu disse que foi apenas a segunda vez que derramei lágrimas na minha vida adulta. Eu também disse que não sabia o porquê, mas sempre amei aquele menino como se ele fosse meu próprio filho.
Eu aceno. Foi exatamente o que o pai me disse. Papai. Meu pai. Que não está morto. A realização finalmente me acerta e um estremecimento passa pelo meu corpo. — Papai? — Eu sussurro.
Ele me puxa para dentro de seus braços. — Bebê, sinto muito, sinto muito. Por favor, me perdoe. Eu senti falta de você todos os dias. Eu nunca quis deixar você.
Em meio ao meu emaranhado de emoções, eu me encontro me livrando de seus braços. — Mas você foi, — eu digo através das minhas lágrimas. — Você foi embora. Você disse que todos tinham que acreditar que você estava morto, mas por que eu? Por que você não poderia simplesmente me dizer o que realmente estava fazendo? Eu teria mantido seu segredo. Você sabe que eu teria.
— Eu especialmente não poderia dizer a você, V. Você estava em perigo. Ele queria matá-la. Você tinha que acreditar que eu estava morto ou ele teria procurado até encontrar você.
— O quê? Sobre o que ele está falando?
— Eu sempre soube que você ficaria brava se descobrisse sobre isso, mas nunca me arrependi. Tanto quanto quebrou meu coração deixá-la, minha decisão a manteve segura. Valeu a pena a dor que ambos tivemos que passar.
Raiva explodia dentro de mim. Que direito ele tem para decidir qual dor que devo passar? Ryn toca meu braço. — Não brigue com ele, V. Ele está vivo. Este deve ser um momento de alegria, não de raiva.
Aperto meus olhos. Lágrimas escorrem pela borda das minhas pálpebras e correm para minhas bochechas. Por que Ryn está sempre certo? Eu deveria me alegrar agora, não agir como uma criança difícil. Avanço e envolvo meus braços ao redor do pescoço do meu pai. Ele me abraça de volta. Isso é real, eu digo a mim mesma. Seus braços em volta de mim são reais. E, embora eu deteste falar de sentimentos, acho que devo dizer a ele algo, apenas no caso de isso ser um sonho e eu não ter outra chance. — Eu te amo, pai, — eu sussurro.
— Eu amo você. — Ele me aperta apertado e me levanta do chão por um segundo. — E estou tão orgulhoso de você. Você se tornou uma jovem e uma guardiã tão incrível, inteligente e bonita. — Ele me põe de pé. — E por que você está vestindo este vestido horrível? Você odeia roupas roxas.
Eu rio enquanto limpo as lágrimas do meu rosto. — Eu não escolhi. A mãe não te disse que eles escolheram suas roupas quando ela ficou aqui?
Papai balança a cabeça com uma risada. Ele olhou por cima do meu ombro e estende a mão para Ryn. — Eu acho que eu não deveria ficar surpreso ao vê-lo aqui também. Você sempre foi tão competitivo quanto a Violet. Parabéns pelo primeiro lugar sua turma. — Ele sacode a mão de Ryn. — Estou surpreso ao ver vocês dois de pé na mesma sala sem querer se machucar. Pensei que vocês dois tinham jurado nunca mais ser amigos de novo?
Olho para Ryn e depois desvio o olhar. — Sim, hum, decidimos colocar tudo isso para trás.
— Uh, eu tenho uma pergunta, senhor, — diz Ryn. — Foi você quem eu vi na casa dos Harts?
— O quê? — Eu pergunto, assim quando o meu pai balança a cabeça e diz, — Sim.
— Hum... sim. — Ryan se vira para mim. — Lembra quando eu disse que vi alguém que parecia Cecy? Bem, eu estava mentindo.
Fico boquiaberta. — Você viu meu pai e não me disse? — Eu tento empurrá-lo, mas ele pega minhas mãos.
— Eu simplesmente pensei que não poderia ser ele, então por que te assustar?
— Ryn, isso não é motivo suficiente para manter algo assim de mim. — Eu me sinto machucada e traída, mas estou tentando ser madura, então eu deixo passar. Sento-me à beira de uma cadeira e viro para o meu pai. — Ok, você tem muitas explicações para dar. Qual tarefa disfarçada que você está fazendo que está demorando tantos anos para completar? E por que exatamente foi melhor para todos, se todos pensassem que você estava morto? Você disse que alguém estava tentando me matar? E o que exatamente você estava fazendo na casa dos Harts?
Papai ergueu as mãos. — Olha, você sabe que não posso te dizer nada. Em primeiro lugar, é contra o protocolo compartilhar os detalhes de uma tarefa e, em segundo lugar, é para sua própria segurança.
— Papai, você me abandonou nos últimos cinco anos. Eu acho que você me deve muito. — Sim, estou jogando o cartão de culpa. Um movimento dissimulado, mas não me importo agora.
— V, eu ...
— Conte! Você não pode simplesmente aparecer na minha vida de repente e não explicar nada.
Ele se senta na borda de uma pequena mesa. — Tudo bem, olha, é algo a ver com o filho da Rainha Unseelie, mas é tudo o que posso dizer. Estou lidando com pessoas muito perigosas, V, e não posso envolver você nisso.
— O filho da Rainha Unseelie? — Eu olho para Ryn, que está sentado para trás em uma cadeira próxima. — Você quer dizer Zell?
Papai franzi o cenho. — Sim. Marzell. Como você o conhece?
Eu reviro meus olhos. — Você tem medo de eu estar envolvida, pai? Bem, é tarde demais para isso. Eu já estou envolvida. Pra caramba. Então não há necessidade de você manter mais segredos de mim.
— O que você quer dizer que você está envolvida? — Papai levantou rapidamente. — Como? O que aconteceu?
— Não, não, não, — eu digo. — Você não pode exigir detalhes sem compartilhar. Você me conta sua história, e eu conto a minha.
Com descrença escrita em todo o rosto, papai olha para Ryn como se para apoio. — Desculpe, mas estou com V nisto, — diz Ryn.
Depois de outra pausa, papai diz, — Ok, mas não tenho tempo para contar tudo agora. Eu já estou atrasado para a reunião para a qual eu estava a caminho quando você me perseguiu.
O pânico aperta o meu coração. Nós vamos embora na primeira hora pela manhã; quando vou vê-lo novamente? — Então, venha para casa, — eu digo, de pé rapidamente. — Venha para casa e explique tudo para mim.
Papai se aproxima e toca minha bochecha. — Eu não quero deixá-la fora da minha vista se você estiver em perigo.
Inclino minha cabeça de lado e sorrio. — Eu sou uma guardiã, pai. Eu sempre estarei em perigo.
— Sim, mas é diferente com a Corte Unseelie. Você não sabe o que eles...
— Eu tenho um encanto de ocultação sobre mim. Um bom. Não há maneira de Zell me encontrar, a menos que acidentalmente toquemos um no outro, e isso não acontecerá.
Papai balança a cabeça. — OK. Você estará em casa à noite depois de amanhã? — Eu aceno com a cabeça. — Bom. Vejo você então. — Ele beija minha testa. Ele está prestes a se afastar quando seu olhar cai para o meu pescoço. — O tokehari de sua mãe, — ele diz com surpresa. — Eu pensei que estava — ele olha para Ryn, então de volta para mim — perdido, — ele finaliza.
— Uh, eu achei, senhor, — diz Ryn, — e voltou com as minhas mais sinceras desculpas... por ‘perder’.
Papai sorri. — Isso é bom. — Ele beija minha testa mais uma vez e sussurra, — Eu amo você, bebêzinha.
Capítulo 24
Sinto que estou olhando a minha vida através de olhos diferentes. Toda vez que eu penso em um evento importante, eu me pergunto onde meu pai estava na época e o que ele estava fazendo. Ele estava observando do lado de fora, mantendo um olho em mim? Ou ele se distanciou completamente desde sua suposta morte, nem mesmo sabendo que eu apareceria naquela noite no Harts? Tantas perguntas. Eu provavelmente deveria escrevê-las no caso de esquecer de algo.
Ryn e eu fazemos a viagem de volta para Creepy Hollow em silêncio. Eu digo a mim mesma que ele está me dando espaço para aceitar o fato monumental de que o meu pai ainda está vivo, mas eu sei que também há uma súbita estranheza entre nós. Nenhum de nós mencionou o Beijo novamente. Espero que, se eu ignorar, Ryn e eu possamos voltar para algum tipo de amizade confortável. Eu vou superar meus sentimentos por ele em breve, certo? Sim, eu vou. Afinal, não pareceu levar muito tempo para que meus sentimentos por Nate desaparecessem.
Quando acordei no palácio esta manhã, encontrei uma nota que foi deixada por debaixo da minha porta. Meu coração apertou dolorosamente quando vi meu nome escrito na caligrafia do meu pai na frente.
Tenho certeza de que não tenho que dizer isso, mas NÃO PODE dizer a ninguém sobre mim.
Ele não precisava me lembrar, mas eu valorizo sua nota, no entanto. Prova que ele realmente existe. Eu a mantenho no meu bolso agora que estou de volta para casa onde a Corte Seelie e tudo o que aconteceu lá é um sonho vívido. A nota e a caligrafia me asseguram que foi real. O espelho de prata acima da minha mesa e a vela preta que queima para sempre que estão ao lado da piscina do meu banheiro também ajudam.
Depois de encontrar Bran na Guilda e interrogá-lo sobre a investigação sobre os ataques à Guilda - ele me diz absolutamente nada útil - envio uma mensagem no âmbar para Tora e a convido para a sobremesa. Desejo com todo o coração que eu pudesse contar a ela sobre papai, mas, em vez disso, ela terá que me contar sobre o cara que ela manteve em segredo.
— Olha, eu não mantive segredo intencionalmente de nada para você, — ela diz, quando eu a cumprimento na minha porta com os braços cruzados e um olhar raivoso. — Eu simplesmente não tinha exatamente chegado a te contar sobre ele ainda.
— Sim, sim, tanto faz. — Isso me parece exatamente o que eu diria se ela descobrisse sobre Nate, então eu realmente não tenho o direito de fazê-la se sentir culpada. — Diga tudo agora, e isso compensará.
Ela atravessa minha sala de estar em direção a um dos sofás. — Tudo bem, mas depois você vai compartilhar os detalhes de sua vida amorosa.
— Mas eu não tenho vida amorosa. — Pelo menos não que eu esteja disposta a falar. A lembrança das mãos de Ryn acariciando minha pele envia borboletas voando na minha barriga. Eu me afasto para esconder meu sorriso. Eu não deveria estar sorrindo. Eu nem deveria estar pensando nisso. Não é como se fosse acontecer novamente.
— Ooh, eu não tive uma sobremesa divertida assim há séculos, — diz Tora enquanto olha para a mesa baixa entre os sofás. Há uma tigela de frutas do seu lado e outra do meu lado. Nós também temos uma tigela de chocolate derretido e palitos de pau. No centro da mesa está uma esfera flutuante de luz azul e branca.
— Sim, não acho que usei esse feitiço de sobremesa faz anos. Parecia apropriado para o clima mais quente. Então, de qualquer maneira, esse cara...
— Oliver.
— Oliver. Você o conheceu na Guilda de Londres?
— Antes disso, na verdade. — Tora se inclina para frente e coloca um morango no final do seu palito de pau. Depois de mergulhar no chocolate derretido, ela o mantém dentro da esfera cintilante por vários segundos para congelá-lo. — Lembra quando você foi suspensa?
— Eu tento não lembrar.
— Certo, bem, havia um cara do Conselho que visitou a Guilda de Londres. Ele teve que se encontrar com alguns de nossos membros do Conselho, e depois conversou com alguns de nossos formandos. — Ela morde o morango com chocolate congelado e mastiga algumas vezes antes de continuar. — Eu fui a mentora no comando naquele dia, então, você sabe, conversamos. — Sua pele pálida fica rosa brilhante.
— Eeeee? — Eu pergunto com um sorriso.
— Bem, ele era muito charmoso e tudo mais, mas eu estava apenas sendo amigável.
— Isso é estranho. Lembro de Honey me dizendo que ele era chato.
Tora faz uma careta para mim. — Ele não é chato. Quero dizer, ele chamou a videira perdida que sempre foge pelo corredor Nigel, o que é um pouco corajoso, mas, além disso, você sabia...
— Gostoso?
— Bem, sim.
Eu rio enquanto congelo o meu próprio pedaço de fruta. — Eu sabia!
— Oh, bobagem, você não sabia de nada. De qualquer forma, eu disse adeus esperando não o ver novamente, e a próxima coisa que eu fico sabendo, a Conselheira Starkweather disse que ele me pediu para visitar a Guilda de Londres por alguns dias para dar minha contribuição para um novo centro de treinamento que eles decidiram construir. Eu pensei que era estranho que eles não pedissem para alguém que realmente projeta centros de treinamento...
— E então você descobriu quando chegou lá que ele não queria sua contribuição, ele só queria você. — Eu lhe dou o meu sorriso mais doce e ela revira os olhos.
— Bem, não é como se ele me tivesse dito isso, mas descobri.
— Então é por isso que você acabou ficando por mais tempo?
— Sim, ele conseguiu me convencer a estender minha visita.
— Sabe, Tora — Eu me inclino para frente, fingindo um ar conspirador — há essa coisa chamada caminhos das fadas que permite que você visite alguém em qualquer lugar do mundo em apenas alguns segundos. Na verdade, vocês nem precisam ficar no mesmo lugar.
Tora cruzou os braços e estreita os olhos, mas vejo que ela está tentando não sorrir. Eventualmente, ela cede com uma risada. — Olha, foi mais fácil quando eu estava lá.
— Na casa dele?
Ela esfaqueia outro pedaço de fruta e o congela. — Você ainda não me disse por que Ryn estava em seu quarto tão cedo na manhã de ontem.
Eu congelo um mirtilo coberto de chocolate e o entrego ao Filigree, atualmente em forma de rato e descansando no braço do sofá. — Já que estamos mudando de assunto, — eu digo, — vi Bran mais cedo e perguntei sobre os ataques a Guilda. Ele usou muitas palavras, mas basicamente não me disse nada.
— Você sabe que ele não pode dizer nada se você não faz parte da investigação. Eu também perguntei, e ele também não me contará nada. Eu só conheço os poucos detalhes que foram tornados públicos, como o fato de que a Rainha Unseelie nega ter qualquer conhecimento dos ataques.
O que é exatamente o que eu disse a Conselheira Starkweather. — Sim, ele mencionou isso. Então, quando eles consertaram o saguão e o teto? Eu andei por lá mais cedo hoje e parecia que nada nunca aconteceu.
— Eu acho que eles terminaram ontem à noite. — Tora congela uma framboesa com chocolate e enfia toda a coisa na boca dela.
— Uau, três dias inteiros apenas para reparar o saguão?
— Mm hmm. — Ela termina de mastigar. — São alguns encantamentos sérios de proteção no teto abobadado. E, aparentemente, o piso também tem a mesma proteção. — Ela pega sua tigela de frutas e come alguns pedaços descongelados. — Agora, não pense que não tenho notado que você está evitando falar sobre Ryn. Eu sei que você o desprezava há alguns anos, mas certamente parecia estar curtindo sua companhia no grande baile. Vocês dois são mais do que amigos agora?
— Tora! — Eu faço o meu melhor para parecer horrorizada. — Não. Você pensa honestamente que eu namoraria Ryn?
— Bem, sim. Ele é bonito e encantador, ele é um excelente guardião, e eu posso ver porque você pode se apaixonar por ele.
— Isso é ridículo. Nunca funcionaria a longo prazo.
Tora fica calada um pouco antes de responder. — Eu não queria ter que ser aquela a dizer isso, então fico feliz que você tenha feito. Eu sei quantas vezes ele te machucou no passado, e eu odiaria que você se machucasse de novo. Mas acho que você sempre foi uma pessoa sensata. Eu deveria saber que você não iria se apaixonar por ele assim. — Ela estala os dedos.
Vê? Diz a voz lógica dentro de mim. Tora sabe tão bem quanto você que não funcionaria.
— Certo, agora me diga o que você vai dizer quando a Guilda lhe oferecer um emprego. — Ela aponta seu pedaço de pau com chocolate para mim. — Porque ambas sabemos que é exatamente o que eles vão fazer.
No momento em que Tora e eu discutimos as minhas opções para o futuro... que já não incluem ser uma guardiã pessoal da Rainha Seelie, uma vez que existe uma forte possibilidade de ela pensar que sou rude e desagradável, e eu também acho que vou achar a vida no palácio completamente chata... nós terminamos toda a sobremesa. Eu limpo enquanto Tora lê uma mensagem em seu âmbar e rir. Ri. Honestamente, o que tem no amor que pode nos fazer agir como idiotas completas às vezes? E por ‘nós’ não me refiro a mim. Porque eu nunca agiria como uma idiota por um cara. Bem, exceto na vez que tentei seduzir Nate com um tremor sedutor dos meus cílios.
— Eu, hum, preciso ir agora, — diz Tora.
— Tem um encontro no outro lado do mundo?
— Algo assim. — Os olhos dela brilham.
— Ok, bem, eu te vejo depois.
Ela vai embora, e eu tento me dizer que não me sinto sozinha. Eu tento me dizer que não sinto falta de Ryn. Estou mentindo, é claro. Parte de mim deseja que ele estivesse aqui, apenas para sair, ser amigos. Mas há uma parte muito maior de mim que está aliviada por ele não estar, por que, então, eu teria que falar sobre o Beijo.
Dirijo-me para o andar de cima, visto uma longa camiseta e subo na minha cama com o meu âmbar. Eu preciso praticar alguns dos feitiços de redes sociais que Ryn me ensinou ou nunca vou fazer pleno uso dele. Puxo minha stylus do meu cabelo, que cai em volta do meu pescoço em ondas bagunçadas; Raven não ficaria impressionada. Após alguns minutos, escrevo as palavras de um feitiço sobre a superfície brilhante do âmbar.
Nada acontece.
Ótimo. Posso me lembrar de feitiços complexos necessários para curar meu corpo de todos os tipos de lesões, mas quando se trata de algo bobo como um feitiço para melhorar minha vida social, as palavras me escapam. Filigree desloca-se para a forma de um coelho branco com pequenas asas brancas — quem sabe onde ele viu isso — desliza e meio que salta na cama enquanto eu toco minha stylus no meu queixo, pensando. Procuro outra combinação de palavras e, desta vez, pequenas formas nadam na superfície do meu âmbar.
Eu me inclino contra meus travesseiros e examino as formas e as palavras. Existem símbolos que representam pessoas diferentes — Ryn me deu uma chave quando ele definiu este feitiço — e linhas curtas de texto ao lado de cada um. Uma mensagem em uma bolha no topo do âmbar me informa que Honey está ‘me seguindo’, e também o cara com quem conversei do lado de fora da sala do trono quando eu estava evitando Ryn. Isso é um pouco assustador. Como ele me encontrou?
Eu passo os olhos e leio algumas das mensagens.
Honey: Férias com meu namorado e sua família. Tipo, todos os 12!
Flint: A Guilda está mais forte do que nunca. Toma essa, Corte Unseelie!
Ryn para Opal: Eu achei que a comida arrasou, na verdade.
Sério? Isso é o que as pessoas fazem no seu tempo livre? Eu não entendo. Flint não poderia ter problemas em dizer a Corte Unseelie ‘toma essa’, ou esse tipo de coisa é permitido com os feitiços sociais? E quem é essa pessoa Opal com quem Ryn está falando? Hmm. A garota de cabelos negros com quem ele estava flertando no palácio não se chamava Opal?
Eu não quero me envolver nessa coisa tola. Por outro lado, não quero ser excluída. O que é completamente ridículo. Eu nunca me preocupei em ser excluída. Eu acabava com minhas tarefas e ignorava Ryn e todos os outros.
Um som de batidas me surpreende, e olho. Ryn está inclinado na entrada do meu quarto, batendo os nódulos contra a moldura da porta. A visão dele envia uma sensação que atravessa meu corpo.
Sensação estúpida.
— Você sabe que deveria ficar lá fora e bater, certo? — Eu digo a ele.
— Sim, mas achei que você não me deixaria entrar se soubesse que era eu. Então eu apenas me deixei entrar.
Eu dou uma risada falsa enquanto coloco meu âmbar na mesa de cabeceira. — Por que eu não deixaria você entrar?
— Uh, porque você está me evitando desde a manhã de ontem? Se eu não tivesse pegado seu pai para você ontem à noite, você teria se escondido no seu quarto a noite toda. E se não tivéssemos sido forçados a viajar juntos esta manhã, você definitivamente ficaria longe de mim o dia todo.
— Bem, sabe, não precisamos nos ver todos os dias. — Uau. Incrível contribuição para a conversa, Violet. Você deveria manter sua boca fechada.
— Eu acho que não, — diz Ryn, — mas quando há essa estranheza entre nós, provavelmente devemos falar sobre isso.
Por favor, não.
— Por que tenho a sensação de que o nosso relacionamento está retrocedendo? — Ryn pergunta enquanto ele entra no meu quarto, retira a jaqueta e a pendura na parte de trás da cadeira da mesa. — Geralmente, não é a garota que sempre quer falar sobre sentimentos e outras coisas e o cara guarda tudo?
— Eu não guardo as coisas, — eu disparo de volta. Bem, há uma caixa imaginária em que eu gosto de esconder coisas, mas isso é diferente.
— Certo. Claro que não.
Eu levanto os meus joelhos e coloco meus braços ao redor deles. Filigree pula até a borda da cama e bate as asas até conseguir decolar. Ele voa para Ryn, que o pega facilmente.
— Então, hum, como sua mãe está indo com essa investigação de assassinato? — Pergunto.
Ele suspira. — Tudo bem, já que você claramente não vai trazer isso à tona, eu direi. Nós nos beijamos. Foi muito bom. Agora eu quero falar sobre isso, mas não posso porque você está sendo toda estranha. Isso não é normal para você. Você não é como outras meninas, lembra? Você não fica boba e chateada e temperamental. Você é mais legal do que isso.
— Bem, Ryn, acho que só posso ser legal até certo ponto. Há uma linha, e quando você me beijou apenas para provar que estava certo sobre alguma coisa, você a cruzou. — Lá estava, agora ele sabe por que estou chateada. Hmm. Isso na verdade não foi tão difícil.
— Apenas para provar que eu estava certo? — Ele coloca um filigree contorcendo-se no chão. — Do que você está falando?
— Você vai me dizer que não se lembra? Deixe-me ajudá-lo. Tivemos um beijo super-quente, e então você terminou com um ‘Eu disse que você estava perdendo’.
— Sim, e? Você estava perdendo. Eu não estava tentando provar um ponto; estava simplesmente afirmando um fato. E não foi aí que eu planejei acabar. Confie em mim, eu poderia ter ficado no escuro com você por horas, se não tivéssemos atingido a parede errada e parado no meio de uma sala de estar parcialmente demolida. Falando sobre isso, você não me perguntou o que aconteceu depois que você fugiu.
Eu suspiro. — O que aconteceu depois que eu fui embora?
— Bem, o Sr. Faerie Sorrateiro tinha o mesmo direito de estar lá quanto nós. Então, nós dois concordamos em fingir que nunca nos vimos, e então ele correu enquanto eu fui deixado para limpar toda a bagunça que você e eu fizemos antes que a princesa Olivia voltasse.
— Nós fizemos?
— Uh, sim, V. — Ryn olha para mim como se eu já devesse ter descoberto isso. — Vasos quebrados, almofadas queimadas, móveis revirados... fomos nós. — Ele sorri. — Foi um beijo muito quente, lembra?
Tentar realmente não é difícil. Mas, obviamente, não estou tentando o suficiente porque as memórias não vão a lugar nenhum. Então respiro fundo e digo, — Tudo bem, vou conversar. O beijo foi quente. Surpreendente. Incrível. Você estava certo — eu claramente estava perdendo por nunca ter experimentado um beijo de alguém mágico. E agora eu sei, então obrigado. Podemos seguir em frente?
Ele cruza os braços. — Ainda não entendi. Por que você quer seguir em frente? Não é como se você tivesse me beijado porque estava entediada e não tinha mais nada a fazer no momento.
— Oh. Bem, já que você sabe muito sobre minhas motivações, talvez você gostaria de me dizer por que eu te beijei.
Ryn joga as mãos para cima. — Você realmente não vai admitir isso?
— Admitir o quê?
— Que você tem sentimentos por mim, Violet. Por que é tão difícil para você dizer isso?
— Porque não é verdade. — Abraço os joelhos com mais força. — E porque se fosse verdade, você só acabaria me machucando.
— Isso é ridículo. Se temos sentimentos um pelo o outro e queremos estar juntos, por que eu seria estúpido o suficiente para machucá-la?
— Bem, você provavelmente não faria isso intencionalmente, mas depois de um tempo você superaria todos os sentimentos que poderia ter por mim. Eu sei que você gosta da companhia das Subterrâneas, e nunca posso ser tão exótica ou emocionante quanto os seres que você encontrará lá.
Ele avança e se inclina sobre mim com as duas mãos na cama enquanto ele diz, — Eu não quero estar com Subterrâneas, V. Eu quero você.
Essas três palavras enviam arrepios para cima e para baixo em meus braços, mas não posso deixar de pensar para quantas outras garotas ele disse o mesmo. Eu me afasto dele. — Você diz isso...
— Eu quero dizer isso.
— Você acha que quer dizer isso, Ryn, e você provavelmente quer agora, mas não vai durar, e onde isso vai me deixar?
— Violet. Isto... o que estou sentindo... — Ele parece estar lutando por palavras. — É muito mais do que qualquer coisa que eu já senti por qualquer um. Está ameaçando explodir de mim. Como você pode me dizer que não vai durar?
Eu encolho os ombros, balanço a minha cabeça e olho para os meus joelhos. — Eu não sei. Só sei de uma coisa com certeza, e é que você vai quebrar meu coração.
— Não. Nunca vou machucá-la novamente, V. Falo sério. — Ele recua e puxa o cabelo. — O que eu tenho que dizer para fazer você acreditar em mim?
Esta conversa precisa terminar. Eu estou aterrorizada de que, se demorar mais, eu vá desistir. E tanto quanto eu quero - e eu realmente quero muito - sei instintivamente que, quando Ryn quebrar o meu coração, será dez vezes pior do que a dor que senti depois que Nate me traiu. — Não há nada que você possa dizer, Ryn, ou qualquer coisa que você possa fazer. E não importa, de qualquer maneira, porque não sinto o mesmo que você. — Mentirosa, mentirosa. — As coisas estavam boas quando éramos amigos. Por que não podemos continuar assim?
Ele solta uma risada sem humor. — Você não sente o mesmo por mim? Agora você está mentindo.
— Eu não estou.
Sua expressão é incrédula. — Sim, está.
Como ele sabe disso? Está escrito em toda a minha cara? Eu realmente sou uma mentirosa terrível? — Você não faz ideia do que estou sentindo, Oryn.
— Eu sei exatamente o que você está...
— Não faz. Fim da conversa.
— SIM, EU SEI! Você não está me ouvindo? Eu sei o que você está sentindo! Eu sinto o que você está sentindo! Você acha que você é a única em Creepy Hollow agraciada com uma dose especial de magia extra? Bem, você não é. Eu sinto cada coisa que cada um está sentindo, o que, quando se tratava de você, geralmente não é muito. Mas adivinhe o quê? Esse não é mais o seu caso. Eu sabia que você estava entrando em pânico quando fomos para a pista de dança depois da formatura porque senti isso. Eu soube no momento em que sussurrei no seu ouvido enquanto estávamos dançando, que você percebeu o quanto me queria porque senti o fluxo de emoções que de repente apareceu sobre você. Eu senti novamente na manhã de ontem quando eu estava deitado ao seu lado na cama, e novamente quando eu estava te beijando. Eu sei, Violet, então não minta para mim.
Eu fico boquiaberta em estado de choque quando ele acaba de falar. O que ele disse é absurdo. Completamente, totalmente absurdo. Também faz muito sentido. Ryn sempre pareceu ser extra intuitivo. Ele sabe quando algo está errado, antes mesmo de eu poder dizer qualquer coisa. É assim que ele adivinhou minha verdadeira razão para querer conseguir o prêmio da graduação? Ele estava lendo minhas emoções? — O que... O que estou sentindo agora?
Ele respira fundo. — Você ainda sente desejo por mim, — ele diz, — mas também há medo misturado. No entanto, agora mesmo, o choque está muito bem ofuscando tudo o resto.
Ele está dizendo a verdade. Ele pode sentir as emoções de outras pessoas. Minha voz é apenas um sussurro quando pergunto, — Há quanto tempo você sabe que você pode fazer isso?
— Há muito tempo.
— E você nunca me disse.
— Eu...
— Você sempre soube do meu segredo, e ainda assim nunca se preocupou em me contar o seu. — Graças à sua habilidade estúpida, ele deveria estar sentindo a cólera ferver dentro de mim agora mesmo.
— Violet, eu...
— Saia da minha casa!
Ele pega sua jaqueta na parte de trás da cadeira. — Com prazer. Se você quer continuar a mentir para si mesma, vá em frente.
Capítulo 25
Eu deixo a minha camisa em linha reta e passo minhas mãos pelo meu cabelo antes de bater na porta do escritório da Conselheira Starkweather. Havia uma carta dela no meu balcão nesta manhã solicitando minha presença em uma entrevista esta tarde. Eu sabia que Tora estava certa quando disse que me ofereceriam um emprego; Eu simplesmente não pensei que seria tão cedo. Tora me disse que seria apropriado usar um vestido para minha entrevista, mas depois das minhas experiências super-apertadas e super-volumosas na Corte Seelie, cansei de vestidos. Em vez disso, eu transformei uma camiseta simples e de mangas compridas em uma camisa com botões e um colar para combinar com a minha calça - e fiz um bom trabalho.
A Conselheira Starkweather faz uma pequena conversa sobre a minha visita a Corte Seelie por vários minutos antes de chegar ao motivo desta reunião. — O Conselho discutiu, e gostaríamos de lhe oferecer uma posição aqui na Guilda de Creepy Hollow. — Ela faz uma pausa, o que provavelmente significa que eu deveria dizer algo
— Tudo bem. Obrigada.
Ela cruza os braços em cima de sua mesa e se inclina para frente. — Você provavelmente está ciente de que geralmente damos aos graduados uma pausa mais longa após a formatura antes de lhes oferecer cargos na Guilda, mas com o ataque recente... Bem, precisamos de tantos guardiões quanto possível, assim que possamos consegui-los. Eu não quero alarmá-la, mas os Videntes estão recebendo dicas de uma grande batalha no nosso futuro. Ainda não há visões concretas e, como você sabe, essas coisas podem mudar, mas queremos que a Guilda esteja totalmente preparada no caso de um grande ataque.
— Eu entendo. — Eu poderia ter previsto isso, e não sou uma vidente. É óbvio que Zell está planejando algo, então faz sentido, haverá um grande confronto em algum momento. Guardiões contra... Bem, seja lá como for que Zell chama seus puxa-sacos. E quando isso acontecer, eu quero estar lá para chutar sua bunda Unseelie. E a de Nate, se ele se atrever a ficar contra a Guilda.
— Se você precisar de algum tempo para pensar nisso, — a Conselheira Starkweather diz, — Eu vou te dar três dias. Aqui está uma cópia do contrato. — Ela me entrega um pergaminho. — Dê uma boa olhada, e, se alguma coisa parecer obscura, me pergunte.
— Claro, tudo bem. — Pego o pergaminho dela e espero que ela me mande embora rapidamente. Estou ansiosa para sair daqui.
Meu pai está voltando para casa esta noite.
***
Eu limpo a casa. Não está exatamente suja, mas quero que esteja perfeita quando papai chega aqui. Na última vez que ele deixou esta casa, ele sabia que estaria enfrentando sua morte falsa. Ele achou que iria voltar? Ele olhou em volta e disse adeus? Ele de alguma forma se despediu de mim e eu nunca percebi?
Eu não sei que horas ele vai chegar, então, quando termino de arrumar e a escuridão começou a cair, eu recorro a passear ao redor da sala de estar. Eu ouço o vento levantar lá fora, as folhas se escovando uma contra a outra em uma dança irritada. Está estranhamente frio para uma noite de verão. Espero que outra tempestade mágica não esteja a caminho.
Quando eu ouço uma batida, quase caio sobre os móveis na minha pressa para chegar a parte de entrada da parede. Eu juro, se for alguém além do papai, não hesitarei em dizer para dar o fora. Passo a mão através da parede - e lá está ele. Ele está vestindo uma jaqueta com um capuz escondendo a metade do rosto, mas ainda posso ver que é ele.
— Não me abrace ou diga meu nome até a porta fechar, — ele murmura. Ele desliza rapidamente por mim, e eu não posso deixar de olhar para a escuridão enquanto agito minha mão para fechar a porta. Papai empurra o capuz e vira para mim. — Você nunca sabe quem pode estar observando. Faz anos, mas ainda gosto de ser cuidadoso.
— Hum, tudo bem. — Não posso acreditar que ele esteja realmente aqui. Em nossa casa. Eu quase posso imaginar que não passou muito tempo desde a última vez que ficamos aqui juntos.
Mas o tempo passou. Nós somos pessoas diferentes agora. E mesmo que eu tenha aguardado esse momento desde que eu disse adeus a ele na Corte Seelie, é um pouco estranho agora que ele está aqui.
— Isso parece bastante surreal, — papai diz calmamente, me observando.
— Sim. — Eu aceno com a cabeça. — Parece. — Então eu rio e dou um passo a frente para colocar meus braços em volta do pescoço dele. Claro que isso é estranho, mas a estranheza não durará muito.
Nós caminhamos para o sofá quando papai diz, — Tudo parece o mesmo aqui exceto você. Sempre que penso em você e imagino você em casa, vejo a menininha que deixei para trás. Mas essa não é mais você.
— Eu não era tão pequena. Eu tinha quatorze anos. — Nós nos sentamos. Deixo minhas pernas debaixo de mim, mas papai senta com as costas um pouco eretas para que ele se sinta confortável. Claramente isso é estranho para ele também.
— Mas você cresceu muito em quase quatro anos, — diz ele. — E falando em crescer, não esqueci que seu aniversário é daqui a três dias.
— Sim, acho que Tora e Raven estão planejando uma... — Minhas palavras são cortadas por outra batida contra a árvore. Papai se levanta rapidamente.
— Confira quem é, — diz ele. — Se for um dos seus amigos, posso voltar mais tarde.
Eu atravesso a sala sem me preocupar em dizer a ele que eu não tenho amigos. Eu crio um olho mágico, olho para fora e grito. — É Ryn. — Eu abro a porta. — Sim?
— Seu pai está aqui esta noite, — ele diz sem olhar para mim. — Eu vim ouvir o que ele tem a dizer.
— Ok, então, o que você está fazendo aqui? Você normalmente não se deixa entrar?
— Eu pensei que seria educado e fiquei lá fora e bati dessa vez. — Ele passa por mim em direção a sala.
— Tudo bem, mas a cortesia também exige que você espere até que alguém o convide — eu digo atrás dele.
— Tanto faz.
Quando volto para o sofá, Ryn está entregando um pequeno frasco a papai. — O que é isso? — Pergunto.
— Poção de compulsão, — responde Ryn. — Eu sei que você está tendo sua feliz reunião, mas pensei que deveríamos verificar se ele realmente é quem ele diz que é.
— Ryn! — Eu não acredito na sua coragem.
— Está tudo bem, V, — diz papai, abrindo a pequena tampa. Ele inclina a cabeça para trás e coloca algumas gotas na língua. Ele engole e estremece. — Ugh, isso é nojento quando não diluído.
Ryn toca o ombro de papai e diz o breve feitiço de compulsão, seguido de “Você vai dizer a verdade”. Em seguida, ele toma um assento no sofá em frente a nós.
— Agora que isso está fora do caminho, — diz papai, — você vai me dizer o que você quis dizer na outra noite quando disse que já estava ‘envolvida’ com Marzell?
— Ok. — Estou ansiosa para ouvir a história de papai, então vou encurtar a minha. — Aqui vai resumido: Zell me quer por causa do meu poder de encontrar pessoas.
— Mas como ele descobriu que você tem esse poder? Você manteve segredo, não é?
— Sim, mas ele tem um espião na Guilda, e esse espião de alguma forma ouviu falar sobre um guardião com minha habilidade. Zell realmente não descobriu que era eu até que Nate lhe contou.
— Nate?
— Hum, um halfling que eu estava meio que namorando. Zell conseguiu convencê-lo a se voltar contra mim, e não percebi até que fosse tarde demais.
— Entendo.
Ótimo. Papai está em casa por cinco minutos e já consegui decepcioná-lo com minha pobre escolha de namorados. — Sim, então, de qualquer maneira... Eu lutei contra Zell algumas vezes e, obviamente, consegui fugir todas as vezes.
As sobrancelhas do papai arqueiam. — Uau. Você realmente lutou contra ele? Isso é impressionante.
Eu encolho os ombros, como se lutar contra o Príncipe Unseelie não fosse uma grande coisa, mas não posso evitar o sorriso que se espalha no meu rosto.
— Ok, então Zell ameaçou a sua vida há quatro anos por minha causa, — diz papai, — e agora ele está atrás de você novamente por uma razão diferente. Ele provavelmente não tem ideia de que você é a mesma pessoa.
— Bem, ele sabe meu nome completo, então ele provavelmente sabe quem eu sou.
— Mas ele nunca soube meu nome verdadeiro. Trabalhamos com nomes em códigos para a maioria de nossas tarefas. Eu duvido que ele conecte seu nome ao meu.
— Oh. Ok. — Quando papai não faz mais perguntas, eu digo, — Então, você está pronto para me contar tudo agora? A grande razão por trás do motivo pelo qual você teve que fingir sua própria morte e me abandonar? — Eu retiro uma almofada das minhas costas e a abraço. — Ah, e eu também quero saber sobre Angelica.
Ele olha. — Como... como você sabe sobre Angelica?
— Bem, o cara que eu namorava - Nate - é o filho dela.
As sobrancelhas do pai arqueiam, enquanto ele se senta para frente. — Angelica tem um filho? E você namorou com ele?
— Sim. — Abraço a almofada um pouco mais apertada. — Há algo de errado com isso?
— Na verdade não. — Ele esfregou uma mão em seus olhos. — É estranho, só isso. Eu não sabia que ela tinha um filho.
— Sim. De qualquer forma, eu só a conheci uma vez, mas deixou claro que ela odiava você e a mamãe, e eu quero saber por quê. Eu já imaginei vocês como rivais formandos, mas seus sentimentos pareciam um pouco intensos demais para isso.
Papai balança a cabeça e solta um longo suspiro. — Nós não éramos rivais, V. Angélica era a melhor amiga de sua mãe.
Capítulo 26
Minha boca está aberta. Angelica era a melhor amiga de minha mãe? Mais uma vez, parece que tenho que ajustar a imagem que tenho na minha cabeça da vida de meus pais. — Mas... Eu pensei que Zinnia era a melhor amiga da minha mãe. E você e Linden eram amigos. Vocês todos treinaram juntos, e depois trabalharam juntos, e então tiveram bebês, e tudo estava bem até o dia em que Reed morreu.
Papai suspira novamente. Tenho a sensação de que essa conversa estará cheia de suspiros. — Você deve saber agora que a vida nunca é tão simples, V. Quero dizer, sim, tudo isso é verdade. Mas Angelica estava lá também, e ela fez a vida muito mais... — Ele ergueu as mãos. — Eu prometo que vou explicar tudo para você desde o início, mas primeiro diga onde a conheceu e o que ela disse para você.
— Bem, foi um pouco estranho, na verdade.
— Labirinto estranho? — Diz papai com um olhar de que sabe.
— Sim. Você sabe sobre o labirinto?
— Eu queria não saber, mas sim.
E a imagem continua sendo reajustada. — Ok, bem, Nate e eu fomos lá para encontrar Angelica. Ela nos contou que uma faerie Unseelie tinha construído o labirinto e a aprisionou lá porque ela se recusou a dar-lhe um poder que ela tinha... um disco.
— Com um símbolo de serpente-grifo nele?
— Sim. Ela explicou que pertencia ao poderoso halfling Tharros. Aparentemente, enquanto ele ainda estava vivo, e transferiu parte de seu poder para vários objetos, de modo que, se ele ficasse sem magia, ele teria outras fontes de poder de onde retirar. Ela nos disse que precisávamos voltar para sua casa no reino humano — onde Nate morava — e trazer o disco para que ela pudesse usá-lo para sair. Nós não fizemos isso, é claro. Mas antes de podermos sair, ela me reconheceu. Ela e eu lutamos, e Nate e eu conseguimos sair vivos.
— Você ainda tem este disco? — Papai está sentado na borda do sofá novamente.
— Hum, não. Nate o roubou. Eu acho que ele levou direito para Zell, que parece ter mais alguns destes discos. Angelica fez parecer que havia apenas um.
— Zell tem mais discos? — Papai fecha os olhos e balança a cabeça. — Ele deve ter pegado de Angie, — ele murmura. — E aqui estava eu torcendo para que ele nunca a encontrasse. Maldição, esta é uma má notícia.
Espero ele continuar, mas ele não continua. Ele parece estar pensando profundamente, e eu não quero interrompê-lo, mas quero entender por que essas são más notícias. — Papai? — Eu incito.
Ele respira fundo e olha para mim, como se de repente se lembrasse de que eu estou na sala. — Bem, Angelica certamente conseguiu tecer muitas mentiras por uma pequena quantidade de verdade.
— Eu acho que estava certa em não confiar nela, — eu digo.
Papai balançou a cabeça. — Tudo bem, isso tudo terá mais sentido se eu começar no começo. — Ele muda para uma posição mais confortável enquanto eu cruzo minhas pernas embaixo de mim no sofá.
— Eu não perdi nada importante, não é? — Ryn pergunta. Olho para vê-lo sair da cozinha com três canecas flutuando no ar na frente dele. Eu nem me lembro dele sair da sala. — Como nenhum de vocês ofereceu bebidas, pensei que seria o anfitrião esta noite. — Ele dirige as canecas sobre a mesa e senta-se.
— Obrigado, Ryn — papai diz.
— Hum, obrigada. — Eu me sinto apenas agradecida, no entanto. Eu deveria ter oferecido uma bebida para o papai. Eu pego minha caneca e espio o que tem dentro: chocolate quente com mini marshmallows rosa flutuando na superfície e uma nuvem de canela rodopiante acima dela. Minha bebida favorita de todos os tempos. Eu solto um suspiro. Ryn está agindo perfeitamente e isso está me irritando.
— Então, — diz papai, — havia cinco de nós. Rose e Zinnia eram melhores amigas desde que eram pequenas. Linden e eu crescemos um ao lado do outro, então também éramos amigos próximos. Nós quatro nos conhecemos quando começamos nosso treinamento na Guilda. Foi quando Angelica se mudou para Creepy Hollow e se juntou a nossa turma. Em breve, nós cinco éramos inseparáveis. Nós nos sentávamos juntos nas aulas, implorávamos para ser colocados nos mesmos grupos de tarefas e, bem, sendo jovens, também fazíamos traquinagens juntos.
— Em nosso terceiro ano, as meninas desafiaram que Linden e eu fossemos ao Subterrâneo, o que era praticamente proibido pela Guilda. Como você sabe, Subterrâneos nunca foram fãs de guardiões ou formandos. Eles geralmente atacam primeiro e fazem perguntas depois. Mas éramos corajosos e estúpidos, então é claro que aceitamos o desafio. Angie disse que devíamos roubar algo e trazê-lo de volta para provar que tínhamos estado lá. Então entramos na casa do antigo centauro e encontramos um disco de metal com um símbolo de serpente-grifo gravado nele. Rose reconheceu o símbolo de um livro que ela tinha visto no escritório do seu mentor, então ela perguntou a ele sobre isso.
— Ele era um faerie muito antigo, em seu sexto século, eu acho. Ele contou a Rose sobre o poderoso halfling Tharros Mizreth e a lenda de seu poder perdido. Estas eram histórias que lhe tinham sido ditas por seus pais, que eram guardiões na época em que Tharros foi derrotado.
— O poder de Tharros era tão grande que ele era quase impossível de matar. Ele tinha que se separar do poder, e só então ele poderia ser morto e seu poder destruído de forma independente. Algum tipo de arma foi construída para fazer isso. Depois de muita luta e morte, os melhores guardiões de todas as Guildas conseguiram prender Tharros e separá-lo de seu poder. Eles o mataram. A maioria das pessoas pensou que era o fim, mas apenas os envolvidos diretamente sabiam que os guardiões não conseguiram destruir o poder de Tharros. Em vez disso, eles o capturaram dentro de algum tipo de caixa. Eles trancaram a caixa com seis chaves diferentes - os discos com o grifo neles - um para fechar cada lado da caixa. No processo de vedação da caixa, parte da energia foi transferida para cada disco. Os discos foram espalhados por todo o mundo, escondidos por pessoas que deveriam mantê-los seguros.
— Mas os detentores dos discos logo descobriram que, mantendo os discos com eles, eles tinham acesso a um poder extra. Isso, é claro, não pode ser mantido em segredo. Então, os discos foram roubados, repetidas vezes ao longo dos séculos. Eles ficaram tão dispersos que era impossível para qualquer pessoa saber onde estavam todos os discos. E isso é o que manteve o cofre de segurança seguro durante todos esses anos.
— E o mentor da minha mãe apenas contou tudo isso? — Pergunto. — Parece que era para ser um segredo.
— Parece que ele pensou que era apenas uma lenda. Nós, por outro lado, soubemos que era verdade por causa do disco que encontramos.
— E ela não contou a seu mentor sobre o disco? — Ryn pergunta.
— Não. Nós mantivemos essa parte para nós mesmos - e então tomamos uma decisão que resultaria em um grande erro. — Ele faz uma pausa para soltar outro suspiro. — Nós decidimos ir em busca dos outros cinco discos.
— Os cinco discos que poderiam estar em qualquer parte do mundo? — Pergunta Ryn.
— Sim. Nós decidimos que queríamos usar o poder de Tharros. Nós planejamos desbloquear a caixa, compartilhar o poder igualmente entre nós, e nós seríamos os melhores guardiões que qualquer Guilda já viu. Poderíamos vencer qualquer forma de maldade. Creepy Hollow e o reino humano estariam mais seguros do que nunca, porque usaríamos o tremendo poder de Tharros para o bem e não para o mal. Nós fizemos muita leitura, explorando e seguindo rumores, mas demorou muito tempo. Cerca de dez anos depois, estávamos todos possuindo um disco. Naquela época, todos trabalhavam para a Guilda. Rose e eu formamos a nossa união, assim como os seus pais. — Papai balançou a cabeça em direção a Ryn.
— Isso deve ter deixado Angelica sentindo-se um pouco deixada de fora, — eu digo.
— Sim. Ela se sentiu. Especialmente por que ela sempre... Bem, teve alguns sentimentos por mim. — O pai arranha a cabeça, parecendo um pouco estranho quando admite isso. — De qualquer forma, todos nós estávamos trabalhando na Guilda por pouco mais de uma década, quando Angie começou a ficar bastante distante. Ela sempre procurou o sexto disco sem nós. Você vê, nossas prioridades estavam mudando. Linden e Zin tinham Reed até então. Rose e eu estávamos pensando em ter um filho. Angie, no entanto, estava cada vez mais focada em encontrar o último disco e desbloquear a caixa. O resto de nós estava começando a ter sentimentos mistos. Os discos... Bem, é difícil explicar, mas depois de anos de uso, começamos a nos sentir diferentes. Ranzinzas, mais irritados, menos compassivos para com aqueles que devíamos proteger. Foi Rose quem fez a ligação aos discos. Ela pensou que eles deveriam ter muita influência perversa neles. Então nós quatro decidimos que seria melhor esquecer de ir procurar a caixa. Também era, você sabe, errado seguir o poder que nossos antepassados ??tentaram tanto destruir. Foi errado que agíssemos como se estivéssemos acima da Lei.
— Quando contamos a Angie o que decidimos, ela ficou furiosa. Ela disse que era por isso que ela trabalhava há anos, e nós estávamos destruindo seus sonhos. Não foi muito tempo depois de nosso confronto que ela deixou o serviço da Guilda e quebrou todo o contato com a gente. Não tínhamos ideia de onde ela tinha ido. Eu nem sabia por onde começar a procurar.
— A família dela não sabia nada? — Ryn pergunta.
— Você vai pensar que isso parece estranho, — diz papai, esfregando a mão na parte de trás do pescoço dele, — mas nenhum de nós realmente sabia onde ela morava. Ela sempre foi secreta sobre sua família e sua vida privada, desde o dia em que a conhecemos. Ela nunca respondia a nenhuma das nossas perguntas sobre sua vida em casa, então, finalmente, paramos de perguntar. Ela era assim, e nós aceitamos isso.
— Você acha que ela tinha vergonha da sua família? — Pergunto. — Tipo, eles eram realmente pobres ou algo assim?
— Se ela tinha vergonha, não era porque eles eram pobres. Angie sempre teve o melhor de tudo. — Papai toma um gole da caneca e devolve para a mesa. — De qualquer forma, onde eu estava?
— Angelica desapareceu.
— Sim. Então, o tempo passou. Zin e Linden tiveram Ryn. Pouco depois, você chegou, V. Nós estávamos todos presos em nossas vidas melodiosas e perfeitas, e foi aí que nossos discos começaram a desaparecer. Não estávamos usando continuamente, apenas para alguma tarefa ocasionalmente desafiadora. Então ficavam ocultos a maior parte do tempo. O de Rose desapareceu primeiro, depois o meu. Quando o de Zinnia desapareceu, percebemos que era Angelica pegando-os. Ela deixou cair um brinco ou algo assim no armário de Zinnia. E, para ser sincero, já suspeitávamos que fosse ela.
— Então Linden escondeu o dele em outro lugar, e, por um tempo, não vimos e nem não ouvimos nada de Angelica. Então, uma noite, quando estava sozinho em casa, um elfo bateu na nossa árvore e me entregou uma nota. Era de Angie, implorando por minha ajuda. A nota não dizia nada além de ir com o elfo. Em vez de ir sozinho, levei Linden comigo. Nós não dissemos a Rose ou Zin.
— O elfo nos conduziu pelo Subterrâneo e pelos túneis que mais tarde descobrimos ser um labirinto. Encontramos Angie em uma câmara no centro, incapaz de sair. E não era que alguém a tivesse prendido lá embaixo, como ela lhe disse; ela se aprisionou lá embaixo. Acidentalmente, é claro. Ela finalmente encontrou a localização da caixa com o poder de Tharros e a roubou. Mas ela precisava de algum lugar para mantê-lo seguro até que ela pudesse juntar todos os discos para desbloquear. Então ela construiu o próprio labirinto. Ela tentou colocar um feitiço complexo na câmara para evitar que alguém removesse a caixa. Em vez disso, ela impediu-se de sair.
— Bem, isso deve ser uma droga, — eu digo. — E ela obviamente queria que vocês a tirassem de lá.
— Sim. Ela queria. E nós... — Papai pendura a cabeça e geme. — Nós a deixamos lá.
— O quê? — Ryn diz. — Você e meu pai apenas... A deixaram lá?
— Não estou orgulhoso da decisão que tomamos. Mas conseguimos nos convencer de que era a melhor coisa a fazer. A caixa estava escondida no labirinto onde ninguém mais acharia. Angie estava presa lá sem nenhum de seus discos, então ela nunca conseguiria abrir. Com a parte do andar de cima que ela construiu para si mesma, e as criaturas que atravessavam o labirinto prontos para oferecer seu lance, dissemos a nós mesmos que era melhor do que o castigo que ela receberia se a entregássemos à Guilda.
— Nós nunca contamos a Rose ou Zinnia. Continuamos com nossas vidas. — Papai respira com mais força. — Rose foi morta em uma de suas tarefas. Reed teve seu terrível acidente. Linden finalmente decidiu deixar a Guilda e sua família. — Ryn se move em sua cadeira, mas não diz nada. — Com meu parceiro morto, eu me ofereci para uma tarefa secreta procurando pelas atividades de um dos Príncipes Unseelie.
— Zell, — eu murmuro.
— Sim. No começo, trabalhei sozinho, mas, como ficou claro, o príncipe planejava algo grande e de longo prazo, outros responsáveis tornaram-se parte da investigação. Você se lembra da sua amiga Cecy?
— Sim, — eu digo.
— Seu pai e eu conseguimos nos infiltrar no círculo mais próximo de amigos de Zell. Aprendemos muito sobre ele. Seu relacionamento com sua mãe sempre foi instável; eles nunca se viram como iguais. Ele sempre sentiu que faria um reino melhor, mas, infelizmente para ele, ele é o último na fila para o trono. E infelizmente para nós, depois de vários meses de estar dentro, Zell descobriu que éramos guardiões.
— Nós dois nos afastamos dele, mas, em retaliação, Zell foi atrás de nossas famílias. Cecy quase foi morta, salva apenas pelo fato de que sua babá naquele dia também era uma guardiã habilidosa. Seus pais tomaram uma decisão imediata de deixar a Guilda e fugir. Eu pensei em fazer o mesmo, mas eu estava determinado demais a pegar Zell para admitir derrota. Parecia que a única maneira de fazer isso e protegê-la era se ele achasse que eu estava morto e já não era uma ameaça para ele.
— Até esse momento, eu estava relatando diretamente à Rainha. Planejamos a minha morte juntos. Eu pensei que faríamos parecer que meu corpo havia sido destruído, mas ela disse que seria uma morte muito suspeita. Então ela encontrou um criminoso metamorfo e o usou em vez disso. — Papai se inclina para frente e envolve suas mãos ao redor da caneca. — E, bem, isso é realmente tudo o que há até agora. Eu sempre vivi no palácio e continuo minha investigação sobre as atividades de Zell. Eu sei que ele está planejando tentar assumir a Corte Unseelie, e possivelmente a Corte Seelie e as Guildas. Eu sei que ele está coletando um exército de faeries com poderes especiais, embora ele ainda não possa controlá-los. E eu também sei que ele está planejando pegar todos os seis discos grifo e destravar a caixa para tomar o poder de Tharros para si mesmo. O que eu não sei é para quando ele está planejando sua grande jogada.
— Eu acho que ele está esperando até que ele tenha todos os seis discos, — digo. — Ele já tem quatro, os quatro que Angelica conseguiu colecionar antes de se prender, então agora ele só precisa se apoderar do de Linden e do sexto que vocês nunca encontraram.
— Vou contatar meu pai e dizer-lhe para garantir que o seu esteja bem escondido, — diz Ryn.
Papai balança a cabeça. — Ele vai querer saber como você sabe sobre isso. Em vez disso, não diga nada. Eu confio que ele o escondeu bem.
Coloco minha caneca vazia sobre a mesa, pois algo me ocorre. — Pai, como você continuou sua investigação se Zell sabe como você parece?
— Só porque somos todos faeries e não podemos usar glamour um com os outros, não significa que não haja outras formas de nos disfarçar. — Ele mexe as sobrancelhas para mim do jeito que ele fazia quando eu era pequena. — Tive que ser bastante criativo às vezes.
— Eu queria ter visto isso, — digo com uma risada.
Ryn ergue-se e manda as canecas de volta para a cozinha com um aceno de mão. — Eu tenho que ir agora. Vocês provavelmente têm alguns assuntos para resolver que não me envolvem.
— Sim, — eu digo antes que papai possa convidar Ryn para ficar mais tempo. — Vejo você por aí. — Depois de tempo o suficiente para que as coisas não sejam mais estranhas entre nós.
Quando a porta desapareceu atrás de Ryn, eu faço uma pergunta para papai, uma para a qual que eu provavelmente conheço a resposta. — Você poderá visitar novamente?
Ele hesita antes de responder, o que não é um bom sinal. — Para ser sincero, será muito difícil. Mas eu prometo que vou tentar.
— Ok. Você ficará com problemas se a Rainha descobrir que você veio aqui?
— Oh, ela já sabe. Eu contei a ela o que aconteceu na Corte Seelie. Ela não ficou muito feliz por nos encontrarmos, mas como você e Ryn agora são guardiões e não apenas crianças pequenas, ela acredita que pode confiar em você. E não é como se ela realmente tivesse uma escolha; ela tem que confiar em você agora que você sabe.
Eu toco a borda da almofada no meu colo. — Eu não acho que fiz uma boa primeira impressão com ela.
Papai inclina a cabeça para o lado. — Você obviamente fez algum tipo de impressão. Eu acredito que as palavras exatas para mim foram: ‘Essa filha sua tem exatamente a mesma coragem que a mãe dela tinha.’
— Coragem. Uau. Isso é um elogio, certo?
Papai ri. — Eu acho que sim. — Ele abre as mãos. — Então, o que mais você quer falar antes de eu ir embora?
Capítulo 27
Meu aniversário é amanhã.
Nunca fui boa em celebrar esse evento anual; não é tão divertido quando você não tem muitos amigos ou familiares com quem se divertir, e é apenas mais um dia, na verdade. Faeries têm centenas de aniversários — assumindo que nossas vidas não serão apagadas antecipadamente por alguma criatura magia ameaçadora — então por que fazer uma grande coisa a cada ano? Apesar de ter explicado isso a Tora várias vezes, eu sei que ela está planejando algo para amanhã à noite. Eu me pergunto se ela vai convidar Ryn. Estou dividida entre querer estar perto dele e não querer enfrentar a estranheza entre nós.
Nos últimos dois dias, passei a maioria dos momentos acordada reproduzindo a conversa que papai e eu tivemos na noite em que ele veio. Ainda estou impressionada com o fato dele aqui na casa, sentado no nosso sofá e bebendo de uma de nossas canecas, como se nada tivesse mudado. Tentei não chorar quando ele foi embora; eu quase consegui.
O resto de meus momentos acordados são gastos tentando não reproduzir O beijo. Isso leva muito esforço, o que significa que não há momentos acordadas para descobrir se eu deveria aceitar a oferta de emprego da Guilda. Estou esperando que meu cérebro esteja descobrindo enquanto eu estou dormindo, porque tenho que dar uma resposta a Conselheira Starkweather amanhã.
Porque não tenho mais nada a fazer, uso o feitiço de redes sociais que Ryn me ensinou e verifico as atualizações aleatórias das poucas pessoas que parece que eu estou ‘seguindo’. Me irrita que eu sinta um tipo de decepção estranha quando vejo que não há atualizações de Ryn. Eu considero escrever algo na bolha em branco no fundo da superfície retangular do meu âmbar, mas o que eu escreveria?
Aniversários são chatos.
Não sei o que fazer com o resto da minha vida agora que me formei.
Meu pai fingiu sua própria morte e na verdade está vivo.
Não. Nada disso parece ser uma boa opção. Então, mais uma vez, eu encerro o feitiço sem ter escrito nada. Eu vou ao armário de estudo e retiro uma caixa de Card Eaters. Eu não jogo há anos, mas ver Ryn e Calla jogando recentemente me lembrou que pode ser um pouco divertido de sua própria maneira simples.
— Filigree, — chamo quando volto para a sala de estar. Ele vem escorregando pelas escadas sob a forma de uma pantera. — Quer jogar cartas? — Seguro a caixa. Ele senta-se ao lado da mesa baixa e enrola sua cauda nas pernas. Ele pisca com expectativa. — Ótimo, — eu digo. Eu me sento no chão do outro lado da mesa e lanço as cartas entre nós. Filigree cutuca sua pilha de cartas com uma de suas patas. — Sim, ok, você sabe que isso não vai funcionar, certo? Você precisa mudar para outra coisa. — Filigree mexe uma orelha, depois muda para uma forma alaranjada e peluda que acaba por ser um orangotango. Ele pega suas cartas. — Ok, você vai primeiro, — eu digo a ele.
Uma hora depois, Filigree está ganhando. Eu sei que em parte é sorte e o fato de ele ter obtido cartas mais fortes, mas ainda é embaraçoso. Olho as quatro cartas na minha mão. Eu tenho musgo – a segunda carta mais fraca do jogo inteiro – um pixie, um pedregulho e um ogro, que é a única carta que posso jogar agora. Eu olho para as mãos peludas de Filigree; ele tem apenas duas cartas, e provavelmente são mais fortes do que qualquer coisa que eu tenho. Ele tem quase certeza de que vai ganhar. Estou prestes a colocar minha carta de ogro em cima da de troll dele, quando ouço uma batida contra a árvore.
Poderia ser papai?
Não. O sol apenas começou a ir embora. Tenho certeza de que ele esperaria pela escuridão antes de voltar a visitar. Mas, enquanto ando em direção à parede, não posso evitar a energia nervosa me percorrendo. Pode ser ele. Afinal, é meu aniversário amanhã.
Passo minha mão pela parede e... é Ryn.
Ótimo.
— Meu, hum, parente há muito tempo sumido não está aqui esta noite, então, a menos que você esteja aqui para visitar Filigree, não há mais ninguém nesta casa que queira te ver.
Ele inclina a cabeça para o lado. — Por que você está nervosa?
Coloco minhas mãos nos meus quadris. — Não há como você desligar isso? Porque realmente não aprecio que você saiba exatamente o que estou sentindo.
— Não. Confie em mim, se houvesse uma maneira de desligar, eu já teria encontrado.
Ele parece segurar algo atrás de suas costas, o que o torna suspeito. — Você vai me dizer por que está aqui?
— Você vai me convidar para entrar?
Não faço nenhum movimento para me afastar para o lado.
— Tudo bem, — diz ele. — é seu aniversário amanhã. Eu gostaria de lhe dar uma coisa.
— Você já me deu alguma coisa, — eu o lembro. — Novo âmbar e um encanto caro.
— Ok, bem, agora tenho outra coisa para lhe dar. E, — ele acrescenta, — é grosseria recusar um presente.
— E, no entanto, ambos sabemos que grosseria nunca foi um problema quando nos diz respeito.
Ele olha para os pés, então de novo. — Por favor? — Ele diz suavemente.
Droga. Ele certamente sabe como fazer a coisa dos olhos sexy e ardentes; ele provavelmente poderia acender um fogo com o olhar que ele atualmente está me dando. E ele sabe, droga, porque eu aposto que ele pode sentir meu interior se derreter. Limpo minha garganta. — Hum, ok, entre.
— Na verdade, eu não quero dar a você aqui. Gostaria que você fosse a um lugar comigo.
Eu estreito meus olhos para ele. — Isso tem algo a ver com a festa que Tora e Raven estão planejando? Porque eu pensei que fosse amanhã.
— Sim. E já que você não gosta de surpresas, eu digo a você exatamente a que horas e quem irá se você me seguir agora.
— Você está sendo estranho.
— E eu vou ficar ainda mais estranho e ficar de joelhos e implorar, se eu tiver que fazer. Já fiz isso antes, lembra?
Eu lembro, e eu realmente não preciso que ele vá tão longe dessa vez. — Tudo bem, eu vou com você. Apenas deixe-me pegar minhas botas.
— E uma jaqueta, — Ryn fala atrás de mim. — Você pode ficar com frio.
Pego minhas coisas e peço desculpas para Filigree no caminho de volta na escada. — Nós podemos terminar mais tarde, — eu digo a ele, esperando que ele já tenha esquecido o jogo até então.
Eu fecho a minha árvore. — Onde estamos indo?
— Você verá. — Ryn pega minha mão quando atravessamos a porta que ele abriu. Nós não estamos na escuridão por muito tempo, mas tudo o que posso pensar é o que aconteceu na última vez em que ficamos presos na completa escuridão um com o outro. Quando a luz se materializa à nossa frente, eu solto sua mão. Nós caminhamos para o abrigo frondoso da nossa antiga árvore gargan. É lindo aqui com a luz vermelha, dourada e laranja do pôr-do-sol, espiando pelos galhos.
— Você se lembra daquele poema de Mil Crowthorn sobre as riquezas da natureza? — Eu digo quando olho para o céu.
— ‘Dê-me o pôr-do-sol, e eu serei um homem mais rico do que a maioria. Pois nunca vi ouro como aquele que brilha acima da terra. Dê-me o céu noturno, e eu serei o homem mais rico com certeza. Pois nunca vi diamantes como aqueles que dançam ao lado da lua’.
— Sim, é assim que eu me sinto, — murmuro. — Não preciso de mais nada no meu aniversário do que esse céu.
— Talvez apenas isso, — diz Ryn, me presenteando com um pequeno pacote embrulhado de seda.
Eu solto o fio de prata e seguro o pacote na minha mão quando as camadas de seda caem. Colocado no centro estão às fitas coloridas que encontrei no esconderijo da minha mãe, mas, em vez de um monte bagunçado, elas foram transformadas em uma pulseira. As fitas ficam perfeitamente alinhadas, mantidas presas por cada extremidade com um cordão de prata. As extremidades soltas que ficarão penduradas no meu braço quando estiver usando a pulseira têm um pequeno cristal preso ao fim.
— As fitas pareciam tão bonitas em seu braço, — diz Ryn. — Então eu as levei para Raven e pedi a ela que as transformassem em um bracelete. — Ele tira da minha mão e coloco ao redor do meu pulso. Os cristais brilham conforme a luz pega neles.
— Eu provavelmente devia ficar assustada que você entrou na minha casa e roubou as fitas, — eu digo, — mas é tão bonito que eu vou te perdoar pelo seu furto.
— Então, você gostou?
Olho para Ryn e vejo uma expressão desconhecida: incerteza. Eu sorrio para tranquilizá-lo. — Eu amei. — O sorriso de resposta que se espalha no seu rosto faz a mesma coisa no meu estômago que seus olhos ardentes fizeram agora pouco.
Parece que ele está prestes a dizer alguma coisa, mas então ele enfia a mão abruptamente no bolso. Ele puxa o âmbar e lê uma mensagem. Quando ele guarda o âmbar, ele diz, — Se você não se importa, eu gostaria de levá-la para outro lugar agora.
— Hum, tudo bem. Mas é melhor que isso não seja um estratagema para me levar a um encontro com você.
— Não é nada disso, — ele diz, e meu estômago enche de nós. Ele se inclina mais perto do meu ouvido e sussurra, — É muito maior do que isso.
O quê?
Ele passa por mim, e eu me viro para vê-lo cumprimentar um faerie de pele cor de azeitona e cabelo verde ? ele é uma faerie? ? que não estava aqui há um momento atrás. Embaixo do seu braço está uma forma cilíndrica grande que parece ser um tapete enrolado. Ele entrega a Ryn, eles trocam algumas palavras em voz baixa, e o homem escorrega entre os galhos.
— Aqui vamos nós, — diz Ryn. Ele coloca o formato enrolado no chão, agarra uma extremidade, abre e flutua no ar.
— O que... o que é isso?
— Exatamente como se parece: um tapete mágico.
De. Jeito. Nenhum. — Mas... não existem tapetes mágicos.
— E, no entanto, — diz Ryn, — há um flutuando aqui mesmo na sua frente. Esquisito, não é? — Ele sobe sobre ele e estende a mão para mim.
— Eu... Não sei se confio nessa coisa.
— É perfeitamente seguro. Eu fiz algumas leituras sobre o assunto. Acontece que houve alguns grandes avanços na magia de tapete nos últimos anos. Eles não expulsam mais as pessoas.
Meus olhos se arregalam. Isso deveria me fazer sentir melhor?
— E adivinhe o quê? — Ryn continua. — Você é uma faerie, o que significa que se este tapete decidir expulsa-la, você pode retardar facilmente sua queda com magia.
— Eu... — Ele tem razão. — Ok. — Pego sua mão estendida, e ele me puxa para cima. Eu me abaixo, espalhando meus braços para me equilibrar.
Ryn senta-se, cruza as pernas e volta para os dois cantos do tapete atrás dele. O tapete sobe mais alto, e Ryn nos guia entre os galhos. Mais alto e mais alto. E então, com uma explosão de velocidade que me faz cair de bunda, disparamos acima dos galhos mais altos da floresta. Abaixo de nós, as milhares de árvores que compõem Creepy Hollow se estendem em todas as direções.
Tudo o que posso fazer é olhar com admiração.
— É incrível, não é? — Diz Ryn. O tapete diminui, e ele levanta com cuidado. — Você deve se levantar. É mais emocionante. — Ele estende a mão para mim mais uma vez. — Eu sei como você gosta de emoção.
Eu gosto, mas todas as emoções que eu costumo ter ao lutar contra criaturas perigosas são realizar acrobacias difíceis, como mortal para trás várias vezes e aterrissar em uma viga estreita. Este é um tipo de emoção completamente diferente. Coloco minha mão na dele e o deixo me puxar para cima. O tapete ondula lentamente sob meus pés, o que é um pouco assustador, mas eu sou uma guardiã; tenho um bom equilíbrio.
Eu me afasto de Ryn e olho para a maravilhosidade que é minha casa. O sol mergulhou abaixo no horizonte, deixando salpicos de rosa, roxo e azul através do céu. As primeiras estrelas estão espreitando. Observamos em silêncio enquanto o tapete continua sua jornada lenta pelo ar. Uma brisa suave move meu cabelo. O céu fica mais escuro. Mais estrelas começam a piscar.
— Eu tenho mais uma surpresa para você, — diz Ryn suavemente. Quando suas mãos se movem em meu rosto para cobrir meus olhos, eu me inclino ligeiramente, mas não me afasto. Ele começa a cantar palavras para um feitiço que eu não reconheço. É algum tipo de clamor, quase como uma música. Continua por vários minutos, e me encontro em um lugar de paz e calma. Antes que eu saiba, minhas costas estão descansando contra seu peito. Sinto-o inclinar a cabeça para mais perto da minha orelha. — Você disse que não havia nada que eu pudesse dizer ou fazer para convencê-la de que meus sentimentos por você são reais e duradouros, — ele sussurra. — Bem, claro que eu tomei isso como um desafio, e já que, aparentemente, levará as pontas brilhantes de um gazilhão de insetos brilhantes para provar a você, aqui estão eles.
O calor de suas mãos desaparece dos meus olhos. Eu os abro, e...
Uau.
Milhares e milhares de insetos brilhantes estão flutuando no ar, como se cada galáxia na criação fosse chamada aqui para nos iluminar. É... Eu acho que não existem palavras para descrever a beleza desse momento ou a sensação de admiração que me comove.
Mas há cordas prendendo este momento. Eu sei o que Ryn está tentando me dizer. Eu sei o que ele quer de mim. E mesmo que isso seja mais surpreendente do que qualquer coisa que alguém já fez por mim, meu coração teimoso ainda não quer sair do seu lugar seguro. Eu preferiria aproveitar esse momento e capturá-lo dentro de uma bola de cristal para mantê-lo todo perfeito para sempre do que contaminá-lo com as complicações que um relacionamento traria.
— Isso é incrível, Ryn. É mesmo. Mas...
— Não. — Ele me revira. — Sem desculpas. Você acha que eu vou te machucar? Você acha que vou ficar entediado e fugir com alguma Subterrânea na primeira chance que eu tiver? Você obviamente não tem ideia do quão incrível você é. Você, Violet Fairdale, é incrível, e eu quero você. Cada parte de você. Eu quero sua teimosia e seu sarcasmo e seu espírito competitivo. Eu quero você me desafiando e lutando ao meu lado. Eu quero abraçá-la e beijá-la e muito mais porque não há mais ninguém no mundo que me conhece como você. Você sempre foi a única para mim, mesmo quando não nos aguentávamos. Você é linda, gostosa e sexy tudo de uma só vez, e você é mais inteligente do que qualquer garota que conheci. Adoro o fato de ter conhecido você por toda a minha vida. Parece certo quando você está ao meu lado. Parece que fiquei perdido no deserto há anos e... Eu finalmente estou em casa.
Eu finalmente estou em casa. Eu sei como isso parece. Na verdade, eu sei como ele se sente. Eu sempre estive muito aterrorizada para colocar isso em palavras.
— Pare de estar tão assustada, V! — Ryn agarra meus ombros e os agita. — Você é uma das pessoas mais corajosas que conheço. Por que você não pode deixar esse medo?
Eu finalmente estou em casa. Por que eu gostaria de mandá-lo de volta ao deserto? Eu estaria me protegendo, mas o machucando. Por que isso não me ocorreu antes? Eu pensei que eu era a única que poderia se machucar, mas nunca percebi que sua casa era a mesma que minha casa, e mandá-lo para longe é apenas machucá-lo.
— Por favor, diga algo, V.
Casa. Eu quero estar lá, com ele. Nenhum de nós irá sofrer mais.
— Violet, por favor. Diga algo! Eu juro que você vai quebrar meu coração se você não...
Eu o beijo. Me pressiono contra ele como se eu nunca quisesse me separar dele. Meus braços se entrelaçam ao redor de seu pescoço. Perdemos nosso equilíbrio e caímos no tapete ondulando preguiçosamente. Eu o empurro para baixo e monto na sua cintura. Inclino-me sobre ele. Beijo seu pescoço antes de traçar o esboço de seus lábios com a minha língua. Ele geme e me aproxima. Suas mãos encontram o caminho pelas minhas costas e para o meu cabelo. Ele puxa meu rosto para baixo para encontrar seu beijo. As faíscas dançam na minha língua e, em qualquer outro lugar que a sua pele toca a minha, o que não parece como lugares suficientes. Toda a floresta poderia entrar em chamas agora mesmo, e eu não notaria.
Isso é tudo o que eu quero. Ele. Todo ele.
Capítulo 28
Ryn me rola para o meu lado para que ele esteja a meu lado. — Ok. — Ele beija meu queixo. — Você não precisa dizer nada. — Outro beijo no meu pescoço. — Eu acho que recebi sua resposta alta e clara.
Eu traço meus dedos de sua testa até seu queixo. — Se é assim que é estar em casa, — digo num sussurro sem fôlego, — por favor, nunca mais vamos embora.
— Eu não planejo. — Ele pega meus dedos e os beija. — Sente-se, — ele sussurra, então se move atrás de mim e me puxa contra seu peito. Suas pernas me cercam de cada lado. Ele puxa meu cabelo para o lado e beija atrás da minha orelha antes de envolver seus braços em volta de mim e descansar o seu queixo no meu ombro.
Não consigo acreditar no quanto estou feliz agora. Parece estúpido que eu afastei esses sentimentos por tanto tempo, quando eles tinham a capacidade de trazer muita alegria.
— Foram as minúsculas pontas brilhantes que fizeram você mudar de ideia, não foi? — Diz Ryn. Posso ouvir a diversão em sua voz.
— Foi tudo. A pulseira, o tapete mágico, os insetos brilhantes, encontrar o tokehari da minha mãe. Eu sabia por um tempo como me sentia sobre você, mas não acreditei até hoje que você sentia o mesmo.
— E, no entanto, eu sabia dos meus sentimentos um pouco antes de você saber sobre os seus.
— Sério?
— Sim. Aquele estranho momento que tivemos no banheiro na casa dos Harts foi o momento em que eu já não pensava em você como amiga. Eu queria mais com você desde então.
— Mas você não disse nada.
— Claro que não. Você não sentia o mesmo, então qual seria o ponto? De vez em quando havia uma sugestão de algo mais vindo de você, mas sempre foi tão fugaz que assumi que eu imaginava. Foi só enquanto dançamos no baile de graduação que você deve ter deixado sua guarda baixa, e eu finalmente soube como você se sentia sobre mim. Tenho certeza de que foi você quem queimou aquela árvore de gelo, por sinal. Aquela da qual a Conselheira Starkweather estava falando.
— Sim, acho que pode ter acontecido. — Graças a Deus ninguém mais percebeu o verdadeiro motivo para aquela pequena explosão. — Espere um segundo, — eu digo, lembrando de algo. — Quando estávamos escrevendo nossos relatórios da tarefa na árvore gargan, e aquele galho pegou fogo. Também fui eu? Porque eu pensei que estava fazendo um bom trabalho de suprir meus sentimentos naquele momento.
— Uh, isso pode ter sido eu.
— Aha, então eu não sou a única que perde o controle. — Eu viro minha cabeça para o lado enquanto tento olhar para ele.
Ele se afasta de mim um pouco e dá o sorriso malicioso. — V, você viu o dano que fizemos na sala de estar da Princesa Olivia? Eu claramente acho que ambos perdemos o controle em certas situações.
Ele aperta seus braços em volta de mim enquanto eu repouso contra ele mais uma vez. — Então, hum, essa habilidade sua, — eu digo. — Você sente tudo de todos que estão a sua volta?
— Sim.
— Uau. Isso deve ser um pouco esmagador.
— Muito. É por isso que passo tanto tempo sozinho e no reino humano.
— Você não pode sentir emoções humanas?
— Não, apenas as emoções daqueles com magia. — Ele cobre minhas mãos cruzadas com uma dele e esfrega o polegar para trás e para frente sobre minha pele. — É tão alto estar em um lugar como a Guilda. Quero dizer, eu aprendi a filtrar isso até certo ponto, mas as vezes ainda se torna demais, e quero que todos simplesmente... saiam. É por isso que eu ajo como um idiota ocasionalmente. É a maneira mais rápida de me livrar das pessoas.
— Ocasionalmente?
— Ok, talvez tenha sido um pouco de eufemismo.
— Você tentou ser bom com as pessoas em vez de ser um idiota? Então, não importa o que você esteja sentindo das emoções delas porque elas teriam emoções positivas em vez de emoções do tipo esse-cara-é-um-idiota-eu-quero-bater-nele.
— As emoções positivas também podem ser esmagadoras, se houver o suficiente. E você pode imaginar como seria se eu fosse legal com todos? — Ele abaixa a voz e coloca seus lábios ao lado da minha orelha. — Todas as meninas estariam atrás de mim. Seria uma bagunça completa.
Eu rio. — Certo. Claro que é isso que aconteceria.
Ryn me abraça mais apertado. — Eu disse que adoro seu sarcasmo, Sexy Pixie.
— Tanto quanto eu amo esse nome. — Enquanto ele ri, eu percebo outra coisa. — Foi por isso que a morte de Reed atingiu você mais forte do que qualquer um, certo? Porque você teve que sentir a dor de todos os outros assim como a sua?
O cabelo de Ryn escova contra o meu quando ele acena com a cabeça. — E é por isso que eu não poderia simplesmente ‘seguir em frente’ como você fez. Porque ainda sinto a dor da minha mãe todos os dias. Mas, como eu já disse antes, estou tentando. — Ele beija minha bochecha. — Ah, e esse ‘hábito estranho’ que você notou? Pressionar minha mão no meu peito?
— Sim?
— Quando as pessoas sentem emoção forte, súbita e inesperada, isso me dá uma dor momentânea. Eu acho que desenvolvi esse hábito sem perceber. Me surpreendeu você ter percebido.
— Bem, não se preocupe, tenho certeza de que ninguém mais percebeu. — Inclino minha cabeça para trás e olho para o céu. Alguns dos insetos brilhantes desapareceram, mas ainda há o suficiente acima de nós para que pareça com o reflexo de um oceano cheio de criaturas fosforescentes. Não quero sair daqui, mas sei que a noite terá que terminar. Eu vou ter que voltar para casa e fazer coisas não emocionantes, como decidir o curso que a minha vida vai levar agora.
Ryn, que, claro, pode sentir a mudança sutil do meu humor, pergunta, — O que você acha da oferta de emprego da Guilda?
— Como você sabia que eles me ofereceram um emprego?
— Eles me ofereceram um emprego, então, obviamente, eles também ofereceram para você. O que você está pensando? Suponho que você tenha que contar para eles amanhã, assim como eu.
— Sim. — Eu retiro uma das minhas mãos da sua e torço uma mecha de cabelo ao redor do meu dedo. — É sensato aceitar, eu acho. O objetivo da minha vida é proteger as pessoas, e eu posso fazer o melhor através da Guilda.
— Mas?
Eu sorrio para o fato de que ele sabe que há um ‘mas’. — Bem, é um caminho previsível, não é? Seríamos colocados em equipes e vamos passar um ano fazendo diferentes tipos de tarefas. Depois disso, decidimos em qual departamento queremos entrar, vão nos colocar em novas equipes e vamos passar as próximas décadas trabalhando no mesmo tipo de tarefa com as mesmas pessoas.
— Sim. A menos que a Guilda seja atacada e todos os guardiões derrotados, e a vida nunca mais será a mesma.
— Bem, certamente seria muito mais emocionante se a Guilda fosse atacada. — Eu solto minha mão e suspiro. — É só que sempre sonhei em me formar e trabalhar para a Guilda, mas agora que estou aqui, me pergunto se não há uma opção melhor.
— Como oferecer seus serviços privados a faeries ricas que precisam de proteção pessoal? Porque de alguma forma eu acho que você escolheria uma tarefa perigosa ao invés de ser guarda-costas em qualquer dia.
— Definitivamente.
— E se você estivesse na Guilda, você me teria. — Ele desliza a borda da minha jaqueta do meu ombro, e seus lábios deixam um rastro ardente ao longo da minha pele nua. — Nós poderíamos chutar a bunda de faeries perigosos juntos em vez de você ficar por aí sozinha. — Ele se afasta, deixando meu ombro frio. — Mas não me deixe influenciar sua decisão de forma alguma. Depende de você, é claro.
— Oh, tanto faz. — Eu rio. — Se você não está tentando me influenciar, então não sei o que é isso.
— Você não sabe? Você gostaria que eu lhe mostrasse? — Em menos de um segundo, ele pula, me levanta e me pega em seus braços. — Se eu realmente estivesse tentando influenciá-la, poderia ser algo assim. — Ele levanta meu braço esquerdo e toca seus lábios no me pulso, exatamente onde estão minhas marcas de guardiã. Seu beijo envia um arrepio ao longo do meu braço e meu pescoço. Quando seus beijos alcançam o meu cotovelo, ele para e pega meu rosto com as mãos. Ele traz seus lábios perto do meu, mas em vez de me beijar, ele mantém a cabeça perto o suficiente para eu sentir seu calor, mas não o toque dele. Ele sussurra, — Quanto falta você sentiria se estivesse longe de mim o tempo todo?
Em vez de responder, fecho a lacuna entre nós e aperto meus lábios contra o dele. Agora que eu dei o salto e decidi confiar que ele quer isso tanto quanto eu, não consigo ter o suficiente dele. E a maneira como ele me mantém perto e molda seu corpo contra o meu me diz que ele sente o mesmo. Quando minha cabeça está girando tanto e os insetos brilhantes parecem estar dançando em ziguezague ao nosso redor, eu me afasto dele. — Eu odiaria arruinar esse momento caindo do tapete, — eu digo, minhas palavras sem fôlego, — então talvez devêssemos voltar?
Ele inclina sua testa contra a minha. — Já disse que odeio quando você está certa?
— Muitas vezes.
O tapete mágico nos leva de volta ao vazio no topo da árvore gargan. Eu poderia facilmente sair sozinha, mas Ryn claramente quer me ajudar e, como eu adoro a sensação de suas mãos em minha cintura, eu não discuto.
Ele enrola o tapete e o coloca debaixo do braço. Ele abre a boca para dizer algo, mas um sorriso suave se espalha através de seu rosto, e ele se inclina para me beijar em vez disso. Momentos depois, seus lábios deixam o meu com um suspiro. — Eu preciso devolver o tapete, — diz ele. — Eu demorarei alguns minutos. — Ele se dirige ao longo de um dos galhos, me deixando com um sorriso ridiculamente enorme no meu rosto. Pressiono minhas mãos contra o meu peito, sentindo que preciso segurar minha exaltação para que não exploda para fora de mim.
— Vi?
Toda sensação no meu peito cai para os meus dedos do pé e desaparece, deixando meu corpo frio. Essa voz. Eu conheço.
— Vi, é você?
Giro lentamente. Em um portal delineado contra o galho mais largo da gargan, está a última pessoa que quero ver.
Nate.
***
Se alguém se aproximasse e me perfurasse no estômago, ficaria menos chocada do que eu estou agora. Que. Merda. É. Essa?
Com um assobio e um spray de faíscas, meu arco e flecha estão ardendo em meus braços estendidos.
— Como você me encontrou? — Exijo.
— Sorte, eu acho. — Ele sai dos caminhos das fadas, e o portal se fecha atrás dele. — É o único lugar em que eu sei como chegar. Eu sei como chegar à entrada da Guilda, mas eles não teriam motivo para me deixar entrar. E eu sei como chegar ao interior de sua casa, mas eu não tenho permissão para entrar. Eu não sei como é o exterior, então não posso apenas bater na sua porta. Só me restou este lugar. — Ele me observa com atenção. Ele não ergue as mãos, entretanto; ele obviamente não acredita que eu atiraria nele.
— Como você ousa vir me procurar depois do que fez?
— Vi, por favor, eu posso explicar.
— Eu não quero suas explicações, Nate. Eu quero que você vá embora antes de eu acidentalmente soltar essa flecha.
— Por favor, Vi! Você não sabe pelo que eu passei.
— O que você passou? — Eu abaixo meu arco ligeiramente em descrença. — Eu quase morri por sua causa, Nate!
— Eu sei! E sinto muito. — Ele dá um passo em minha direção. Eu miro a flecha nele mais uma vez. — Zell me forçou a ajudá-lo, Vi. Ele fez Scarlett colocar um olho em mim, o que significava que ele podia ver tudo o que eu via. Eu deveria tentar descobrir de você quem era a identidade do guardião com a habilidade de encontrar. Como não queria que ele soubesse que era você, eu obviamente mantive minha boca fechada. Mas então você foi e se entregou!
— O quê? — Ele está seriamente colocando a culpa em mim?
— Nós estávamos no meu quarto, e você disse algo sobre se desculpar por concordar em encontrar minha mãe para mim. Você não se lembra? E foi quando ele descobriu que era você. Ele me bateu por não ter falado antes. Lembra-se do hematoma que eu tinha? E eu menti e disse que foi uma briga na escola?
— Você mentiu. Ótimo. Sobre quantas outras coisas você mentiu?
Ele ergue as mãos em frustração. — Nada! Eu não estou mentindo para você!
— Você se esqueceu da parte em que você me levou a uma caverna secreta e me entregou a Zell? Não vi ninguém o forçar a fazer isso.
— Ele estava ameaçando meus pais! Ele teria os matado se eu não o trouxesse para você. Então pensei que poderia fazer as duas coisas. Protegê-los e ainda você sair viva. É por isso que eu indiquei aquele rio para você. Sabe, aquele que borbulhava na caverna e voltava para a montanha e saía em um lado? Nós passamos por lá e eu disse que você poderia pegar um passeio rápido para fora de lá se você pulasse.
— Esse era o seu grande plano, Nate? Sério? — Foi isso que aconteceu, foi exatamente assim que eu saí da montanha, mas quase me matou.
— Eu não tive outra escolha. Você não entende isso?
— Sempre há uma escolha, Nate. Por que você não me pediu ajuda?
— Como? Zell tinha o olho em mim. Ele podia ver tudo o que via. Ele estava observando todos os meus movimentos. Ouvindo todas as conversas.
— Você não é estúpido, Nate. Você poderia ter descoberto alguma coisa. Fechado os olhos e escrito uma nota para mim, ou algo assim.
— Vi...
Os ramos farfalham e nós dois olhamos para o lado. Ryn passa entre as folhas e entra na cavidade. Seus olhos vão entre Nate e eu, mas sua expressão não dá nenhuma dica sobre o que ele está pensando ou sentindo. Eu queria ter sua habilidade agora. — Bem, — ele diz, cruzando os braços sobre o peito enquanto ele caminha para o meu lado. — Olhe quem veio correndo de volta.
Os olhos de Nate se deslocam entre Ryn e eu. — O que ele está fazendo aqui?
Ryn desliza um braço em volta da minha cintura. — O que parece que eu estou fazendo aqui?
— Ryn! — Eu olho para ele e murmuro, — Você não está ajudando.
— Você está com ele agora? — Nate parece com nojo. — Como diabos isso aconteceu?
— Molhados em uma passagem secreta, — diz Ryn antes que eu possa responder. — Foi muito quente.
— Ryn!
— Então, essa é a parte em que você me avisa para ficar longe de sua namorada? — Nate zombou.
O sorriso arrogante de Ryn faz uma aparição. — Claro que não. Eu não insultaria Violet, sugerindo que ela não pode lidar com você sozinha.
Eu reviro os meus olhos e abaixo meu arco. — Ok. Isso é ótimo. — Eu abaixo minha voz. — Então, que tal você esperar atrás da árvore para que eu possa, sabe, lidar com as coisas sozinha? — Os olhos de Ryn encontram os meus, e eu posso dizer que ele está tentando descobrir se tudo está bem. — Eu vou ficar bem, — eu murmuro.
— Tudo bem, — ele diz. Ele se vira para Nate. — Até logo, garoto halfling. Espero que nunca nos encontremos de novo. — Ele desaparece em um portal no ar.
— Eu não acredito nisso, — murmura Nate, balançando a cabeça. — Eu finalmente consigo me afastar de Zell, e a primeira pessoa quem procuro - você - seguiu em frente como se eu nunca fosse parte de sua vida.
Eu deixo meu arco e flecha desaparecerem; nós dois sabemos que não vou usar, mesmo depois do que Nate fez comigo. — O que você acha que aconteceria, Nate? Que eu voltaria correndo para os seus braços?
— Eu não sei, Vi. Mas eu certamente não esperava voltar e me encontrar preso em um triângulo amoroso.
— Não há triângulo amoroso, Nate. Um triângulo amoroso implicaria que você realmente tinha uma chance comigo, o que você não tem.
Nate dá um passo abalado para trás, como se eu o tivesse golpeado. Ouch. Essas palavras saíram mais severas do que eu pretendia.
— Mas você me amou, Vi, — ele diz calmamente. — Eu sei que amou.
Eu balanço a minha cabeça. — Não. Eu não amei, e eu não vou.
— Você amou. Você ficou com medo de dizer, mas eu conheço você...
— Eu não amei. Talvez eu pudesse ter amado se você tivesse me dado chance, mas você não deu. — Eu respiro fundo. — Eu me preocupava com você, e eu estava tão irritada e ferida que quase fiz algo estúpido com uma poção. Mas eu superei. Eu superei você.
Ele olha para mim por um longo tempo antes dele dizer, — Eu ainda te amo.
— Não minta para mim. E a Scarlett?
Ele fica pálido. — Scarlett?
— Eu vi vocês dois juntos no baile de máscaras de Zell.
— Você estava lá?
— Sim. Ryn e eu estávamos lá. E certamente não parecia que você estava sentindo minha falta quando Scarlett estava sussurrando em seu ouvido.
Ele olha para frente e balança a cabeça. — É complicado. Ela é uma siren, Vi...
— Ah, então você não teve escolha, certo? Assim como não teve escolha em me levar a uma armadilha naquela montanha? E não teve escolha em usar suas tempestades para violar os encantamentos protetores da Guilda para potencialmente prejudicar um monte de pessoas inocentes?
— Vi...
— Eu acho que você deveria ir, Nate. Tudo o que tínhamos acabou. Talvez você esteja falando a verdade sobre tudo, talvez não esteja. Mas eu não sei, e nunca mais poderei confiar em você. Você precisa continuar com a sua vida, e eu preciso continuar com a minha. Pegue seus pais e fuja, se você precisar, mas não me envolva. — Eu cruzo meus braços e engulo. — Eu nunca quero voltar a vê-lo.
PARTE IV
Capítulo 29
O apartamento na cobertura do edifício mais alto em que eu estou tem vidro do chão ao teto em cada sala, permitindo que as luzes da cidade cintilem através. Elas iluminam o interior do apartamento, tornando mais fácil ver onde vou. Eu deslizo por uma escada construída a partir de finos pedaços de madeira preta inseridas na parede em um lado. Eu acho que a escada deveria ser artística e minimalista, mas eu me pergunto quantas pessoas já tropeçaram nela. Eu chego ao final e examino a sala aberta exibindo pinturas em parede e esculturas em pedestais. Uma estante de madeira com pedaços de madeira plana anexada a ela como galhos em uma árvore captura meus olhos, assim como uma sala de estar de forma estranha que provavelmente também é considerada arte.
Ninguém está aqui.
O proprietário do apartamento — atualmente adormecido em um dos quartos enorme - é um colecionador de arte, e parece que um certo ladrão de faeries tem gostado dos itens exibidos aqui. Na semana passada, ele roubou uma pintura valiosa, e passamos os últimos quatro dias descobrindo quem ele é e quando tentará fazer o seu próximo assalto. Queremos pegá-lo no ato.
Eu sinalizo para Jay, um dos três membros da minha equipe, para me seguir pelas escadas. Asami, meu outro companheiro de equipe, já está posicionado na varanda que se estende ao longo de um lado do exterior do apartamento, caso nosso ladrão de fadas planeje entrar dessa maneira. — Esconda-se sob aquele sofá estranho, — eu sussurro para Jay enquanto eu aponto para a mobília que parece um tigre gigante tentando abraçar algo. — Eu estarei atrás da escultura da coisa mulher-fera-de-pedra.
— Escolha interessante, — diz ele, olhando a escultura bizarra. Jay é um graduado de outra Guilda que decidiu que queria começar sua vida profissional em um novo lugar e acabou em Creepy Hollow. Ele é bom o suficiente, mas eu preferiria ter Ryn no meu time. Não só porque eu sou a líder da equipe e eu poderia mandar nele, mas porque, bem, eu quero estar perto dele o tempo todo. Tora assumiu a responsabilidade de mencionar ao Conselho que Ryn e eu estamos em um relacionamento - algo que ainda não a perdoei - e o Conselho decidiu que seria melhor se não trabalhássemos juntos. Levou um monte de contenção para eu não apontar que existem várias equipes com marido e mulher na nossa Guilda, e ninguém parece ter um problema com isso.
Jay escorrega debaixo do sofá, e eu me agacho atrás da coisa mulher-fera-de-pedra. Uma pequena placa de metal anexada à base me diz que se chama The Revelation of Eve. Hmm.
E então esperamos.
É um pouco chato.
Desde o mês que aceitei o cargo na Guilda, esta é apenas a terceira tarefa na qual eu participo. Parece um número patético para mim, considerando que eu costumava ter uma nova tarefa quase todas as noites quando ainda estava treinando. Mas essas tarefas são muito mais detalhadas, eu admito - e eu era uma aprendiz de sucesso excessivo.
A pulseira que eu agora uso no lugar da minha pulseora rastreadora se aperta. Olho das duas pedras encaixadas no couro – azul para Asami, verde para Jay – e vejo o azul piscando lentamente. Eu olho em volta da escultura e olho para a varanda onde eu sei que Asami está se escondendo. Puxo a minha cabeça de volta imediatamente. A figura que eu vi espiando através da janela definitivamente não era Asami. Pressiono a pedra azul para que ele saiba que recebi seu alerta.
Eu olho através de uma fenda entre a escultura, o braço-da-mulher e a cauda-da-fera. A figura na janela desapareceu. Um momento depois, ele sai de um caminho das fadas na parede ao lado de uma pintura de cores bagunçadas e misturadas. Ele se dirige diretamente para uma caixa de vidro com um ovo decorado descansando sobre uma almofada.
Com dois dedos, pressiono ambas as pedras na minha pulseira três vezes em rápida sucessão. Jay e Asami sabem exatamente o que isso significa: vamos pegar esse cara.
***
Não é difícil. Somos três e ele é apenas um, e mesmo que ele tenha dado um golpe elaborado com uma corda que ele acrescentou magicamente do teto, demora apenas alguns minutos antes de tê-lo atado e amordaçado e pronto para ser levado para a Guilda. Sequer disparamos algum alarme no processo. Jay e Asami o levam de volta através dos caminhos das fadas, enquanto eu fico para trás para devolver cada item ao seu lugar na sala para que o dono nunca saiba que alguém esteve aqui.
Eu retiro a corda do teto e a enrolo em meu braço. Alguns livros foram derrubados da estante de livros em forma de árvore, então eu os encaixo em qualquer lugar em que eu vejo espaço. A planta no vaso na prateleira mais alta parece ter soltado algumas folhas. Eu espalho meus dedos, e as folhas flutuam para cima em direção às minhas mãos abertas. Pego as folhas e as coloco no meu bolso.
Estou prestes a abrir um portal para os caminhos das fadas quando percebo um pedaço de papel rasgado, deitado no pé do vidro que separa a varanda da sala. Não consigo lembrar se o papel estava no chão quando chegamos aqui, mas parece mais provável que seja um lixo do bolso do ladrão do que algo deixado pelo dono deste lugar. Ele é claramente obsessivo por limpeza. Eu me inclino para pegar o papel e o viro enquanto eu me endireito. Meu coração salta quando vejo a caligrafia que reconheço.
Zell.
Gostaria de não reconhecer a letra do Príncipe Unseelie, mas eu tenho uma imagem marcada com bastante firmeza na minha mente da parede no calabouço circular coberta de centenas de nomes escritos à mão. Certamente nunca esquecerei a forma das letras que formavam meu próprio nome, e então eu sei que a mesma mão escreveu as duas frases que vejo no papel rasgado na minha mão.
Roubando com sucesso, você terá me provado que você pode ser confiável no grande dia. E o grande dia está chegando em breve.
O grande dia? E isso seria... O dia em que Zell tentaria conquistar a coroa Unseelie? O dia em que ele planeja invadir a Guilda? Droga, eu gostaria de ler o resto da nota.
Coloco dentro de um dos meus bolsos, abro uma entrada na parede e faça uma rápida viagem a Guilda. Dentro da entrada, eu puxo meus pulsos marcados para o guarda noturno de plantão, que rapidamente as examina com a stylus. Então vou direto ao escritório da Conselheira Starkweather. As chances são altas de ela estar aqui, dado suas tendências de vicio no trabalho.
Eu bato na porta dela. Um momento depois, ouço sua voz me pedir para entrar.
Explico nossa tarefa, mostro a nota e digo a ela por que eu acho que Zell escreveu isso. — Lembra quando Ryn e eu invadimos o calabouço de Zell para resgatar a irmã de Ryn, e eu trouxe algumas páginas de volta e entreguei a você?
— Sim, — ela diz devagar, cruzando os braços sobre o peito. Ela não ficou impressionada com o fato de termos invadido a casa de Zell. Ela nos disse que devíamos esquecer a coisa toda.
— Se você ainda possuir aquelas páginas, você pode compará-las com esta nota. Estou quase certa de que a caligrafia irá combinar.
— Eu definitivamente farei isso antes de interrogar o ladrão que deixou cair esta nota. — Ela se levanta e se dirige para a porta dela.
— Se for a caligrafia de Zell, — digo, seguindo-a, — posso questionar o ladrão?
Ela abre a porta e se movimenta para eu sair da frente dela. — Eu não acho que isso seria apropriado, Violet. — Aparentemente, eu não sou mais a Srta. Fairdale agora que já não estou mais em treinamento.
— Mas pegamos o ladrão. Essa foi a nossa tarefa. Por que não seria apropriado se eu o questionasse?
A porta se fecha logo atrás dela. — Porque tudo o que tem a ver com o Príncipe Unseelie faz parte de uma investigação maior na qual você não está envolvida.
Eu posso ouvir as palavras que ela não está dizendo: Essa investigação é muito importante e sou muito jovem e inexperiente para ser confiável. Quero lembrá-la de que quase certamente me encontrei cara a cara com Zell mais vezes do que qualquer outra pessoa nesta Guilda, mas sei que minhas palavras não farão nada de bom. Guardo a minha frustração. — Ok, — eu digo. — Compreendo.
Vou em direção a um corredor diferente e me afasto dela. Eu bato no meu bolso a procura do meu âmbar para que eu possa ver se tem uma mensagem da Ryn, mas parece que eu deixei em casa. Idiota. Eu estava ansiosa por uma mensagem dele o dia todo, esperando que hoje fosse o dia em que ele saberá quando pode voltar para casa.
Poucas semanas depois que Honey e Asami completaram com sucesso sua tarefa final no Egito, uma nova revolta começou. As criaturas do tipo pixie aladas que concordaram em viver pacificamente ao lado dos elfos bronzeados decidiram que realmente queriam as pirâmides. Grande bagunça. Então a Guilda enviou Ryn e sua nova equipe para lidar com a agitação da maneira mais pacífica possível.
Eles se foram há duas semanas.
Parece anos.
Eu sei que eles estão bem porque recebo mensagens ocasionais no âmbar de Ryn, mas eu sinto falta dele. Muita. Tanto quanto eu sentiria falta dos meus membros se eles de repente fossem cortados. Mais, na verdade. E eu não ouvi falar de meu pai desde o meu aniversário, então, basicamente, voltei a passar as noites nas tarefas ou em casa com Filigree - assim como fiz durante a maior parte do meu treinamento. A diferença agora é que eu não estou mais feliz com uma vida solitária.
Paro no corredor alinhado com fileiras e fileiras de estantes de correspondência. Agora que sou uma guardiã, tenho a minha própria estante. Adeus para o armário no andar de baixo perto do centro de treinamento. Eu passo pelas aberturas retangulares até chegar a minha. Há um papel dobrado dentro com o meu nome. Provavelmente outro memorando chato. Volto para o corredor, desdobrando o papel enquanto eu ando. Só demora algumas palavras para que meus pés parem.
VF,
Você não me conhece, Violet, mas você e eu temos algo em comum: ambos estamos tentando derrotar o Príncipe Unseelie Marzell. Eu vi você em seu baile de máscaras, e me levou até agora para descobrir dele quem você é. Daqui a cinco dias, Zell revelará aos seus seguidores mais próximos, o que inclui eu, seus planos exatos para quando e como invadir as Guildas. Daqui a cinco dias, eu lhe darei essa informação — se você quiser.
Você não tem motivos para confiar em mim, é claro, então deixe me dar uma razão. Ouvi Zell pedir ao seu mais recente seguidor, uma faerie com habilidades especiais do tipo piromaníaco, para lançar um inferno furioso na entrada da Guilda, situada no reino das fadas perto de Londres. Seu objetivo não é violar os encantamentos protetores, mas sim deixar os guardiões saberem que nenhuma Guilda está a salvo do seu alcance.
Amanhã à noite, você saberá que estou dizendo a verdade.
D.
Que merda é essa? Isso é uma piada? Eu olho para o corredor para ver se alguém está olhando ou rindo, mas estou sozinha. Eu olho de volta para a letra genérica. Deve ser uma piada; Ninguém da Corte Unseelie seria permitido entregar um recado a Guilda - ou por qualquer outro motivo, obviamente. Mas quem dentro da Guilda sabe que eu estava disfarçada no baile de máscara de Zell? Eu não disse a ninguém, mas acho que as pessoas envolvidas na investigação de Zell possam saber agora - e não sei quem são essas pessoas.
Talvez alguém esteja irritado que eu continue tentando entrar nessa investigação e eles estão tentando me colocar em problemas. Ou me fazer parecer estúpida. Assim... Não vou fazer nada sobre esse recado. Se for legítimo e realmente houver um incêndio amanhã à noite, não é como se alguém fosse se machucar. O fogo é para assustar as pessoas, certo?
Quando eu chego em casa, coloco a nota na gaveta ao lado da minha cama, ao lado da caixa que contém minha pulseira de fita e meu anel tokehari de meu pai. O colar de chave da minha mãe permanece em volta do meu pescoço o tempo todo, como os brincos de flecha nas minhas orelhas. Eu pego meu âmbar da minha mesa, e meu coração faz uma dança feliz quando vejo que há uma mensagem de Ryn.
Finalmente em casa. Queria te visitar, mas eu ouvi que você vai estar fora esta noite livrando o mundo de um ladrão perigoso. Te vejo amanhã, Sexy Pixie. Não esqueça de sonhar comigo.
De jeito nenhum. Não vou esperar até amanhã. Abro uma entrada e vou diretamente para a casa de Ryn, emoção vertiginosa fazendo meu coração bater rápido. Ele me concedeu acesso à sua casa para que eu pudesse me esgueirar do jeito que ele gosta de se esgueirar na minha. Não sei se ele contou a sua mãe; ela provavelmente não aprovaria.
Os caminhos das fadas me levam até o quarto dele, que está na escuridão, exceto pela galáxia encantada que flutua perto do teto acima de sua mesa - um presente de sétimo aniversário. Ele continua ameaçando se livrar disso porque, segundo ele, é infantil. Eu acho que é bonito.
Os laços das minhas botas desatam-se enquanto eu ando silenciosamente em direção a sua cama. Ele está encarando o outro lado, seu ombro subindo e caindo ao mesmo tempo que suas respirações constantes e silenciosas. Tiro minhas botas, subo na cama e me arrasto para debaixo da coberta. Estou prestes a me inclinar sobre ele e beijar seu pescoço quando ele diz, — Você acha que está se esgueirando sobre mim, Sexy Pixie?
Droga. — Sim, é exatamente o que eu acho.
Ele rola e me puxa para baixo dele. — Você terá que tentar mais do que isso. — Ele traz os lábios para encontrar os meus enquanto eu enrolo os meus braços ao redor do seu pescoço. Faíscas e formigamentos lampejam pela minha língua, meu rosto, meus braços. Ainda não sei se Ryn está fazendo isso de propósito, ou se acontece espontaneamente quando as pessoas com magia se beijam. De qualquer forma, Ryn nunca esteve mais certo do que quando me disse que eu estava perdendo.
— Você pegou o cara mau? — Ele sussurra no meu ouvido.
— Claro. Você... Consertou o Egito?
— Claro. — Um beijo na minha orelha. — Jay já deu em cima de você?
Coloco minhas mãos de cada lado do rosto de Ryn para que eu possa olhar para ele. — Não, mas é fofo que você esteja com ciúmes.
— Com ciúmes? Ha! Não me faça rir.
— Você é tão ciumento. — Eu o empurro para que eu possa deslizar por baixo das cobertas. — Mas está tudo bem. Já tive ciúmes antes. No palácio quando você estava flertando com Opal, ou seja, qual for o nome.
— Ah, sim, lembro disso. — Ele se senta contra o travesseiro e me puxa para o lado dele. — Seu ciúme realmente machucou meu peito.
— Bom. Estou feliz. — Parece que sua habilidade é útil para algo.
— Fala sério, eu estava sendo amigável com ela.
— Tudo bem, certo. Aposto que você estava tentando me deixar com ciúmes.
Ryn ri. — Eu acho que eu estava.
Eu soco sua coxa, e ele tem a decência de fingir que dói. — De qualquer forma, por que estamos sentados? Eu estava me sentindo confortável antes de ser abordada com o assunto do meu colega de equipe.
Ryn boceja, então diz, — Tenho algumas más notícias. Eu pensei que seria melhor se você não estivesse distraída enquanto eu lhe dissesse.
— Más notícias?
— Sim. — Ele esfrega os olhos. O pobre deve estar cansado após sua longa tarefa. — Eu estava na casa do meu pai esta noite. Acontece que o disco grifo dele foi roubado.
— O quê? — Eu sento ereta. — Como você sabe? Ele falou sobre isso?
— Não exatamente. Ele estava bastante agitado. Sabe, movendo as coisas e procurando em todos os lugares. Então eu perguntei o que ele estava procurando. Ele descreveu o disco para eu poder ajudá-lo a procurar, mas não me contou nada sobre isso.
— Caramba, — eu murmuro. — Isso é ruim. Ele sabe quando sumiu?
— Eu perguntei a ele. Ele não sabe. A última vez que o viu foi há alguns meses atrás.
Eu balanço a minha cabeça. — Sabe, eu pensei que a magia protetora que temos em nossas casas deveria manter pessoas indesejadas fora.
— Sim, eu também.
— Na época que Angelica estava roubando os discos, ela conseguiu entrar nas casas dos nossos pais porque eles eram seus amigos e já haviam concedido acesso a ela. Mas agora que Zell é que está roubando discos, como ele fez isso?
— Talvez ele saiba meios de contornar a proteção, — diz Ryn. — Deve haver maneiras de quebrar esses feitiços se você for poderoso o suficiente.
— Ou se você tem um amigo poderoso que gosta de invadir lugares.
— O garoto Halfling, — murmura Ryn. — Eu acho que ele pode ter roubado o disco antes de desertar de Zell há um mês. Você já ouviu algo dele desde então?
— Nada.
Nate deve ter me escutado quando eu sugeri que ele pegasse seus pais e fugisse. Fui a sua casa cerca de uma semana após o confronto na gargan, e nem ele nem seus pais estavam lá. Em vez disso, um homem que parecia extraordinariamente com o pai de Nate estava sentado na mesa da sala de jantar fazendo um telefonema. Na mesa ao lado dele, estava um jornal aberto com um artigo sobre uma família desaparecida. Havia três fotos: Nate, seu pai e sua madrasta.
Eu me arrependia de ter sido tão dura com ele, mas não podia mais confiar nele. Parte de sua história fazia sentido - os detalhes coincidem agora que eu penso sobre isso - mas ele poderia simplesmente inventar a história para se adequar aos detalhes. É melhor se Nate acabar de viver a vida em algum lugar distante. Ele pode até começar de novo em um novo lugar e fingir que ele é um humano normal.
Ryn enlaça seus dedos entre os meus. — Agora que eu compartilhei as más notícias, você gostaria de ouvir algo bom?
Depois de beijar as costas da sua mão, eu digo, — Definitivamente.
— Eu posso ter uma pista sobre sua caixa perdida.
— Sério? Do seu contato do Subterrâneo?
— Sim.
Com toda a emoção de descobrir que meu pai ainda está vivo, seguida por Ryn e eu ficando, e Nate aparecendo do nada, eu realmente consegui esquecer da caixa perdida de minha mãe por uma semana inteira depois que Zinnia me contou sobre isso.
Depois que Ryn me lembrou sobre a caixa, ele entrou no escritório do guardião que liderou a investigação sobre a morte de Reed e encontrou o arquivo relevante. Como não havia menção de uma caixa, voltamos para o local no chão da floresta, onde Reed caiu. Eu poderia dizer que era difícil para Ryn revisitar o lugar onde seu irmão morreu, mas ele parecia lidar com isso. Demos uma boa olhada ao redor, cavamos partes do chão para ver se a caixa podia ter sido enterrada ao longo do tempo. Eu até voltei mais tarde e caminhei ao longo do caminho para ver se Reed talvez soltou a caixa quando ele caiu e pousou em algum lugar além. Eu procurei cada fenda nos galhos circundantes, mas não encontrei nada. Não é surpreendente, na verdade. Será que honestamente espero que ainda esteja lá oito anos depois?
Então Ryn decidiu ir ao Subterrâneo e procurá-la da maneira que ele procurou pelo meu colar: Encontrando um rumor de uma história e seguindo.
— E o que este contato Subterrâneo lhe disse? — Pergunto.
— Ele conhece alguém que conhece alguém que vende, uh, redistribuí itens artesanais.
— Em outras palavras, itens roubados artesanais?
— Sim. E, aparentemente, ele vendeu uma caixa de madeira com o nome de Violet há vários anos atrás.
Eu me afundo de volta contra o travesseiro. — Vários anos atrás? A caixa poderia estar em qualquer lugar em todo o reino das fadas no momento.
— Ei, encontrei o seu colar, não é? — Seus dedos escovam a chave dourada descansando contra meu peito. — Eu vou encontrar sua caixa.
O sentimento de calor e segurança que Ryn sempre consegue trazer para mim atravessa o meu corpo. Olho nos olhos dele, e estou dominada pelo desejo de lhe dizer algo. Algo grande e assustador e que não é minha praia. Algo envolvendo uma palavra que começa com A.
Não. Não posso dizer isso. É muito cedo. Vou assustá-lo. Eu me assustarei.
— Posso falar com você sobre outra coisa? — Pergunta Ryn.
— Claro. — Enquanto você não estiver prestes a usar a assustadora palavra com A.
Ele franze a testa. — Você está bem? Eu sinto que você está enlouquecendo sobre alguma coisa.
— Não. — Minha voz sai como um guincho. — Apenas... estressada sobre a situação de Zell, eu acho.
Ele me dá um olhar engraçado que me diz que ele não acredita em mim, então eu me inclino para frente e aperto meus lábios contra o dele. Ele, obviamente, esquece o que ele quer dizer, porque suas mãos deslizam pela minha cintura enquanto o beijo se torna mais quente. Suas mãos deslizam minhas costas, abaixo da minha blusa. Pressiono meu corpo mais perto do dele.
— Espere, — ele diz contra meus lábios. — Espere, eu deveria estar lhe dizendo algo.
Relutantemente, eu me afasto dele. — É melhor ser bom.
— É sempre bom quando eu falo. — Ele acaricia minha bochecha enquanto eu reviro os meus olhos. — Ok, então, eu tenho uma teoria, — diz ele. — Uma teoria sobre por que alguns de nós tem habilidades mágicas extras e outros não.
Eu me aconchego mais perto dele. — Estou ouvindo.
— Você sabe como todos amavam o Reed? Quero dizer, as pessoas sempre dizem...
— que havia algo nele, — respondo. Eu ouvi tantas pessoas dizerem isso. Eu mesma disse isso.
— Sim. Havia algo nele. E não acho que fosse algo natural. Eu acho que era sua habilidade especial. Como o meu é sentir as emoções dos outros, o seu é encontrar pessoas, e o de Calla é fazer com que as pessoas vejam o que ela está imaginando, e o poder de Nate é sobre o tempo.
— Ok...
— E Zell não disse algo para você em seu calabouço sobre os discos grifo conectados a faeries com habilidades especiais?
— Sim, mas ele não explicou o que ele quis dizer.
— Bem, aqui está minha teoria: as pessoas que usam os discos grifo têm crianças com habilidades especiais.
Eu deixo suas palavras entrar.
— Pense nisso, — diz Ryn. — Seus pais tinham discos, meus pais tinham discos e a mãe de Nate tinha um disco. Meu pai é o único que ainda tinha um disco e olha para Calla. Ela também ficou especial.
Eu concordo. Isso poderia ser o que Zell estava se referindo. — Então, a razão pela qual há muitas faeries com habilidades especiais é porque os discos tiveram tantos proprietários ao longo dos séculos.
— Sim. E, como Zell tem procurado os discos por um tempo, ele provavelmente possui uma longa lista de pessoas que possuíram um disco em algum momento. Uma vez que descobriu que havia uma conexão, teria sido bastante fácil voltar e descobrir quem eram seus filhos.
— Sim, e depois raptá-los. — Inclino minha cabeça para trás e olho para a galáxia. — Então é como se tivéssemos um pouco do poder de Tharros em nós. Isso é estranho, não é?
Ryn assente. — É estranho pensar nisso assim. — Ele olha para mim. — Mas não enlouqueça por causa da magia dele nos fazendo mal porque eu não acredito nisso. Estamos no lado bom, V. Não importa o tipo de magia com a qual nascemos.
Capítulo 30
Tora se inclina para frente e apoia os cotovelos na mesa e o queixo em suas mãos. — E enquanto eu entrava, centenas de borboletas saíram da mesa e flutuaram, deixando o arranjo de flores mais incrível no meio da mesa.
Eu fecho as minhas mãos juntas sob meu queixo. — Isso é tão romântico, Tora. — Não tão romântico quanto um passeio de tapete mágico e um zilhão de insetos brilhantes, mas nem todos os homens conseguem fazer algo épico.
— E a comida estava gloriosa. — Tora joga a cabeça para trás e se encosta contra o armário atrás de sua mesa. — Ele com certeza sabe cozinhar.
— Graças a Deus por isso. — Eu penso na habilidade de cozinhar abismal de Tora. Você pensaria que, como alguém com magia, ela poderia fazer um trabalho medíocre, pelo menos, mas não. — Ele parece perfeito para você. Você acha que ele vai pedir-lhe para ter uma união com ele?
As bochechas de Tora ficam coradas. — Hum, eu não tenho ideia. — Ela se senta e começa a mover as coisas em sua mesa, coisas que provavelmente não precisam ser movidas. — Quero dizer, não nos conhecemos há muito tempo, e as uniões são um grande problema entre os nossos. Eu teria que pensar muito sobre isso porque nenhuma união deveria ser quebrada levemente.
Não deveria. Na verdade, as uniões raramente são quebradas. É por isso que foi um escândalo quando o pai de Ryn partiu e formou uma nova união com outra pessoa. As pessoas não disseram muito, é claro, porque todos sabiam sobre a morte trágica de Reed e o quão difícil era para sua família, mas você podia ver em suas expressões sempre que a família de Ryn era mencionada.
— Ok, mas se Oliver lhe pedir agora, o que você diria?
Tora abre a boca, mas é salva de responder por uma batida apressada em sua porta. — Entre, — ela fala.
Um anão se aproxima com uma pilha de páginas do tamanho de sua mão. — Memorando urgente para todos os guardiões, — diz ele. Ele entrega uma para Tora e outra para mim. Ao sair, vejo outro anão passando correndo pelo corredor na direção oposta.
— Oh, não! — Tora coloca uma mão na boca enquanto seus olhos examinam a nota. — Isso deve ter acontecido depois que eu saí na noite passada.
Olho para o pequeno pedaço de papel de pergaminho na minha mão.
Um fogo encantado foi lançado por faeries cobertos de preto fora da Guilda de Londres na noite passada. Enquanto a entrada interna conectada aos caminhos das fadas permaneceu intacta, ninguém poderia entrar ou sair pela entrada exterior. Depois de várias tentativas mal sucedidas para apagar o fogo, ele desapareceu - aparentemente por conta própria. Os faeries cobertas de preto desapareceram. Nenhum membro da Guilda foi ferido.
Guardiões, estejam preparados. Este é o terceiro ataque em uma Guilda, e a segunda Guilda a ser atacada. Você nunca sabe quando poderá ser necessário com urgência.
Então a nota que recebi na minha caixa de correio era real.
Eu olho para cima. Tora está tocando no seu pequeno espelho circular. — Oliver! Está tudo bem aí?
— Você já ouviu falar sobre o fogo? — Diz uma voz masculina.
— Sim. Agora a pouco.
— Desculpe por não entrar em contato com você mais cedo. As coisas ficaram loucas nesta manhã, mas todos estão bem.
— Oh, graças a Deus.
Eu me levanto para sair. Seria grosseiro se eu continuasse e escutasse a conversa de Tora com Oliver. Além disso, eu sinto uma necessidade de verificar minha caixa de correio novamente porque algo me diz que vou encontrar outra nota misteriosa lá.
Dirijo-me ao corredor alinhado com as caixas de correio. Ao chegar ao meu, vejo uma nota dobrada com meu nome em um lado, escrita com a mesma letra da stylus de antes. Com meu coração bombeando mais rápido do que o normal, eu desdobro o papel.
VF,
Agora que você sabe que posso ser confiável, é sua vez de provar que você pode ser confiável. Não arrisquei minha vida para dar essa informação a alguém com muito medo de se assumir e consegui-la de mim. Se você puder ir ao Diviniti, um clube Subterrâneo, e pegar algo do homem com os chifres de carneiro, então vou saber que você é corajosa o suficiente para esta tarefa.
D.
Imagino um grande ponto de interrogação sobre minha cabeça. Diviniti? Um homem com chifres de carneiro? Isso está ficando estranho. Eu deveria jogar fora essa nota ou dar a alguém como a Conselheira Starkweather. O que eu não devo fazer é seguir as instruções que D me deu na esperança de que eu acabe recebendo informações importantes dele ou dela. Informações importantes que eu posso usar para mostrar a Conselheira Starkweather o quão errado ela foi ao me excluir da investigação de Zell.
Eu não deveria fazer isso. Eu realmente, realmente não deveria. Eu quase posso ouvir a lógica cantando para mim, não faça isso, Vi, não faça isso.
Ugh, mas eu quero tanto provar a mim mesma. E de que serve levar essa nota a outra pessoa na Guilda? Este tal D só quer se comunicar comigo. Eu sou a única que precisa conseguir a informação que poderia salvar todos.
Coloco a nota no meu bolso enquanto volto pelo corredor. Pelo menos vou tentar encontrar Diviniti e o homem com os chifres de carneiro. Então eu vou decidir o que fazer depois disso.
***
Ryn está preso em seu novo cubículo na Guilda, escrevendo um relatório de um quilometro sobre a sua tarefa no Egito, então eu não o incomodo com perguntas sobre como chegar ao Diviniti. Pelo menos, é o que eu digo a mim mesma enquanto vasculho minhas roupas em casa e tento transformá-las em algo colorido e estranho. Eu sei que no fundo a minha verdadeira razão para esconder isso de Ryn é que ele não vai aprovar que eu vá sozinha para seguir essa pista. Ele ainda não superou ter quebrados as regras no passado - como quando resgatamos a Calla - mas algo me diz que ele vai dizer que eu deveria envolver a Guilda nessa.
E não quero isso. Eu quero fazer isso sozinha.
Eu consigo trocar minhas botas pretas para uma cor verde ácida, e minha blusa preta para algo que parece uma pintura que uma criança vomitou. Então eu tento transformar um shorts curto e preto em uma saia curta e preta. Um pouco mais desafiador do que apenas mudar a cor, mas eu consegui. Estou melhorando nessa coisa de roupa.
Meu cabelo precisa de ajuda agora. Peço ao Filigree que se transforme na forma de um grande pássaro, o que ele faz obedientemente. Ele abaixa até o chão do meu quarto, coberto de penas. Pego algumas, altero a cor e as coloco no meu cabelo. Por fim, eu adiciono minha jaqueta à roupa. Não preciso que alguém veja as marcas dos guardiões em meus pulsos.
Certo. Agora eu pareço estranha o suficiente para uma festa no Subterrâneo.
Como não tenho ideia de onde Diviniti fica, terei que começar pelo único clube Subterrâneo que conheço: Poisyn. Encontrei meu caminho lá acidentalmente depois de fugir do labirinto de Angelica. Se eu puder imaginar com precisão na minha mente, eu posso ser capaz de voltar lá através dos caminhos das fadas.
A escuridão me rodeia enquanto atravesso a porta na parede e encaro a sala Subterrâneo com as luzes coloridas e a massa de corpos se retorcendo ao mesmo tempo que a música. Quando uma batida lenta e sedutora atinge meus ouvidos, eu sei que cheguei. Abro meus olhos e estou bem no meio. Os corpos se balançam e giram, os braços no ar, as cabeças jogadas para trás. Algumas faeries estão entrelaçadas umas nas outras. Outras derramam bebidas coloridas em suas gargantas - e sobre seus peitos e cabeças - enquanto dançam.
Eu tento parecer que estou totalmente confortável aqui enquanto atravesso corpos suados em direção a borda da sala. Difícil, quando tudo que eu quero fazer é tremer cada vez que alguém se esfrega contra mim. Eu fico na ponta dos pés, procuro o bar, e faço meu caminho em direção a ele. Eu tento balançar meus quadris enquanto ando, copiando as outras garotas que vejo. Parece estúpido.
Inclino meus cotovelos no balcão verde luminoso da bar e olho ao redor. Ok, agora eu preciso encontrar alguém para quem eu possa perguntar...
— Ei, eu conheço você? — Um cara com cabeça calva e olhos que parecem não ter íris se inclina no bar ao meu lado. Suas mãos estão cobertas de pêlo, e suas unhas são afiadas como garras.
— Hum, eu acho que não.
— Oh, desculpe. Devo ter te conhecido nos meus sonhos. — Ele me dá um sorriso cafona, mostrando seus dentes pontudos.
Uau. Isso é seduzir? Se assim for, fico feliz por ter evitado bares e clubes até agora. Mesmo que eu não queira mais nada do que sair imediatamente, pressiono o desejo de engasgar e pisco meus cílios para ele.
— Então, você quer dançar? — Ele dá um passo para mais perto de mim.
— Claro, se pudermos ir para outro lugar.
— Outro lugar? — Seus olhos se acendem, e tenho certeza de que ele viu muito mais nas minhas palavras do que eu pretendia.
— Sim, meu amigo me contou sobre esse lugar chamado Diviniti. Você conhece?
— Oh, sim. — Ele parece um pouco desapontado, provavelmente porque o 'outro lugar' não acabou por ser mais privativo. — Eu posso levá-la lá, se quiser.
— Oh, você pode? — Eu permito que o prazer se espalhe pelo meu rosto. — Muito obrigada!
Saímos do Poisyn e vamos por um túnel. É largo e alto, com portas aqui e ali e todo tipo de criaturas Fae vagando por alí. Nós viramos em um canto e passamos por um troll puxando um carrinho de anões atrás dele. Este lugar é mais como uma rede de ruas do que túneis. Chegamos a uma encruzilhada e vamos direto. Em seguida, outra e mais outra. Estou feliz por poder sair daqui através dos caminhos das fadas porque não tenho certeza se eu saberia como voltar para Poisyn.
O zumbido distante da música chega aos meus ouvidos. — Estamos quase lá, — diz meu companheiro calvo. Nós mal falamos uma palavra um para o outro. Ele é, obviamente, um conversador como eu. — Então, é isso. — Ele gesticula para uma arcada com fumaça branca vagueando por debaixo dela. Enquanto avançamos, ele coloca um braço ao redor dos meus ombros. Sua mão desliza para baixo e aperta minha bunda.
Pego a mão ofensiva, o giro e o coloco contra a parede. Eu torço o braço dele atrás das costas dele. — Tente isso novamente, e eu quebro sua mão.
— Tudo bem, — ele sussurra, seu rosto praticamente beijando a parede. — Uau. Isso foi quente. Você pode fazer de novo?
Sério? Solto o seu braço e me afasto. — Você sabe de uma coisa? Eu acho que isso não vai funcionar. Você deve voltar para Poisyn. Aquela garota atrás do bar parecia estar afim de você.
— Sério?
— Sim. — Na verdade, ela parecia que queria arranhar os olhos de alguém que ousasse pedir uma bebida, mas talvez fosse só porque ela tinha um olhar distintamente felino.
— Incrível. — O cara calvo gira o ombro algumas vezes antes de voltar para o túnel.
Caminho abaixo do arco e entro no Diviniti. Deve haver algum tipo de barreira invisível na entrada porque as pontas dos meus dedos formigam por um momento e a música de repente fica mais alta. A fumaça limpa o suficiente para eu dar uma olhada na sala. É muito mais escuro do que a Poisyn, e há muito menos dança acontecendo. Há sofás aqui e ali com Fae jogados neles, bebendo, fumando... e outras coisas que fazem meu rosto esquentar. Enquanto ando em direção ao bar, posso dizer que estou sendo observada. Pela primeira vez nesta noite, me sinto um pouco insegura.
Uma faerie com um metal circular através do nariz chega até mim antes de eu chegar ao bar. — Eu não vi você por aqui antes, — ele diz, seu tom sugerindo que suas palavras são um aviso de outro flerte.
Eu decido falar a verdade. — Eu fui enviada aqui para procurar alguém. Um homem com chifres de carneiros.
Um lado da sua boca vira. Ele alcança a bainha de sua camiseta e a tira sobre sua cabeça, revelando um conjunto impressionante de abdômen. Não tão impressionante quanto o abdômen de Ryn, mas, então, provavelmente estou sendo tendenciosa. Estou prestes a perguntar a esse cara por que ele está se despindo, quando ele se vira e me mostra as costas dele. Tatuado na metade superior está um par de grandes chifres enrolados de carneiro.
Ele coloca a camisa e diz, — Então, quem é você?
— Hum, meu nome é Violet.
— Violet. — Os cantos de seus lábios se levantam tão ligeiramente conforme seu olhar se move ao longo do meu corpo. — Estive esperando por você. Espere aqui. — Ele vai para trás do bar e desaparece através de um portal.
Coloco minhas mãos nos bolsos da jaqueta e tento não fazer contato visual com ninguém. Quando o cara retorna, ele me entrega algo pequeno embrulhado em papel marrom. É duro. — Hum, a pessoa que te deu isso, — digo. — Foi um homem ou uma mulher?
Ele me dá um olhar curioso. — Uma mulher.
— Ótimo. Obrigada. — Vou embora antes que ele possa fazer perguntas — e me encontro batendo em uma parede de carne. — Oh, desculpe-me, — digo ao virar. O homem gigante atrás de mim deve ser meio troll porque ele é enorme, e realmente feio.
— Indo embora tão cedo? — Ele pergunta. Sua voz é tão profunda que quase posso senti-lo rugir. — Você deve ficar um pouco. — Ele ergue a mão lentamente em direção ao meu rosto. — Nos conhecer um pouco melhor.
Eu me abaixo sob seu braço, pulo na almofada do sofá mais próximo, pulo para trás dele e pouso ao lado da parede. Eu apressadamente escrevo um portal e entro, deixando a música, a fumaça e a risada trêmula atrás de mim.
Entro no meu quarto e olho para o pacote nas minhas mãos. Na verdade, não foi tão difícil de recuperar. Se isso é tudo o que é preciso para provar minha bravura para essa mulher misteriosa, então ela obviamente não tem ideia do tipo de situações assustadoras com as quais me envolvi no passado. Esta foi uma tarefa de terceiro ano em comparação.
Sento na borda da minha cama e desembrulho o papel marrom. Dentro, encontro dois pedaços retangulares de vidro transparente, do mesmo tamanho que meu âmbar. Ótimo. Não tenho ideia do que devo fazer com eles. Coloco-os na minha mesa de cabeceira e começo a puxar as penas para fora do meu cabelo, que agora cheira a fumaça.
Dou um passo em direção ao meu banheiro, mas paro quando ouço um som zumbido na minha mesa de cabeceira. Um dos pedaços de vidro está vibrando, movendo-se lentamente em direção à borda da mesa. Eu corro e o pego antes que ele caia. Duas palavras cinzentas escuras me encaram da superfície do vidro.
Olá, Violet.
Eu pego minha stylus e sento na beira da cama. É a D? Eu escrevo.
Sim. Bem, você conseguiu chegar no Diviniti.
Esse vidro funciona como âmbar?
Sim. Nova tecnologia. Os fabricantes os chamam de vidro-comunicador.
Por que você me deu dois?
No caso de você quebrar um.
Justo. Suponho que isso aconteça quando você faz dispositivos de comunicação de vidro. Então, o que acontece agora?
Você me ouvirá dentro de três dias assim que eu souber quando e como Zell planeja fazer seu ataque às Guildas. Boa noite.
Boa noite? É isso? Depois de alguns minutos, é claro que quem estiver no outro extremo deste vidro comunicador não planeja enviar mais mensagens.
Eu mergulho na minha piscina de banho por um tempo, deixando a cachoeira lavar a fumaça do meu cabelo. Quando eu saio, encontro uma mensagem de Ryn no meu âmbar.
Sinto falta da minha Sexy Pixie. Mamãe te ouviu no meu quarto ontem à noite. Ela agora está usando palavras como ‘inapropriado sob meu telhado’ e ‘por favor, deixe sua porta aberta’. Então... me encontre na árvore gargan?
Com um sorriso, me arrumo e saio.
***
— Você está escondendo algo de mim, — diz Ryn. Na maioria das vezes, sua habilidade funciona muito bem para nós, eu nunca tenho que realmente dizer a ele o que estou sentindo, e está tudo bem para mim, mas agora é uma merda que ele pode me descobrir com tanta facilidade. — Seu humor está diferente e você definitivamente ficou nervosa quando perguntei como foi sua noite.
Ok, hora de jogar limpo. Posso manter um segredo de Ryn, mas definitivamente não posso mentir para ele. Especialmente não quando estou sentada em seu colo e ele não me deixa olhar para nenhum lugar, exceto em seus olhos. — Você está certo. Estive escondendo algo de você. — Coloco minhas mãos nos seus ombros. — Mas só porque eu sei que você ficaria todo protetor e se preocuparia com minha segurança e tentaria me impedir.
Ryn arqueia as sobrancelhas. — Se você tentou me tranquilizar, você fez um trabalho terrível.
— Não é extremamente perigoso. É apenas algo que eu quero fazer sozinha para que eu possa me provar a Conselheira Starkweather.
— E o que é esse ‘algo’?
Deslizo meus dedos pelos seus braços e pego suas mãos na minha. — Alguém na Corte Unseelie entrou em contato comigo para dizer que ela quer me contar todos os planos de Zell sobre seu ataque iminente às Guildas. Ela me viu no baile de máscaras, e obviamente, pensou que eu seria uma boa pessoa para transmitir a informação.
A expressão de Ryn torna-se cautelosa. — V, isso parece uma armadilha. Zell ainda te quer, lembra?
— Olha, essa pessoa já me deu informações que se tornaram verdadeiras. Ela me disse que haveria um incêndio na Guilda de Londres. Eu pensei que era uma piada, então ignorei isso. Então o fogo realmente aconteceu.
— E? Ainda poderia ser alguém tentando enganá-la para você se entregar.
— Eu sei. O pensamento me ocorreu. Mas eu terei cuidado. Não a encontrarei em nenhum lugar isolado. E se as coisas derem errado, bem, eu sou uma guardiã. Eu não ficarei impotente.
Depois de uma longa pausa, Ryn diz, — Se for encontrá-la, eu quero ir com você.
— Não tenho certeza de que seja uma boa ideia. Ela pode não me dar qualquer informação se vir que eu não estou sozinha. Ela provavelmente não quer que ninguém saiba quem é ela, caso Zell fique sabendo.
— Ela não precisa saber que estou lá.
— Ryn... — Inclino minha cabeça para o lado e tento implorar com meus olhos.
— Me desculpe, V. — Ele balança a cabeça. — Se você tivesse alguma ideia do quanto significa para mim, você saberia que eu não poderia lidar com isso se algo acontecesse com você.
— E nada vai acontecer comigo. — Eu aperto suas mãos com as minhas. — Eu realmente aprecio que você queira cuidar de mim, mas você não precisa. Eu quero fazer isso sozinha. Você precisa confiar naquilo que posso fazer.
Ryn está quieto enquanto seus olhos procuram meu rosto. Ele sabe o quão teimosa eu sou, então ele deve saber que não vou ceder quanto a isso. Por outro lado, eu sei o quão teimoso ele pode ser, então é possível que entremos em uma grande briga aqui.
— Tudo bem, — ele diz eventualmente. Ele coloca as mãos em ambos os lados do meu rosto e se certifica de que estou olhando para ele. — Se você não vai me deixar ir com você, então você tem que me prometer outra coisa.
Eu estreito meus olhos. — Prometer o quê?
Suas mãos escorregam do meu rosto e se acomodam nos meus ombros. — Você usará o colar da eternidade.
— Espera, você ainda tem essa coisa? Eu pensei que você iria destruí-la.
— Eu tentei. Não quebra. Agora prometa.
— Jeez, não é como se alguém tentasse me matar, Ryn. Zell realmente me quer viva, lembra?
— Exatamente. E a última vez que Zell tentou capturá-la e você fez uma fuga desesperada, você foi jogada pelo lado de uma montanha e quase morreu. Então, me prometa que você vai usar o colar.
Ryn tem razão. Inclino-me para frente e o beijo gentilmente nos lábios. — Eu prometo, — eu sussurro em sua orelha antes de arrastar meus lábios pelo lado de seu pescoço.
Capítulo 31
Jay, Asami e eu recebemos nossa próxima tarefa na manhã seguinte. Um elfo entrou em um restaurante no Creepy Hollow Shoppers Clearing ontem à noite e atacou uma jovem faerie. Então ele correu para a floresta e desapareceu. Esta manhã, outro ataque foi relatado por alguém que saiu dos caminhos das fadas. Felizmente, seu namorado estava lá para salvá-la, mas o elfo escapou mais uma vez. Agora, é nosso trabalho rastreá-lo e garantir que ele nunca mais ataque ninguém.
Precisamos entrevistar testemunhas para tentar estabelecer quem é o elfo, por que ele quer atacar essas garotas e onde ele pode estar agora. Leva tempo, o que é bom, porque preciso de uma distração. Preciso de algo para me impedir de contar o tempo até que Zell talvez deva encontrar seus seguidores para compartilhar seus planos.
Ryn e eu passamos todas as noites na árvore do gargan, que é como eu acabei perdendo uma visita de papai. Eu quis me chutar quando cheguei em casa e vi seu recado sobre a minha cama. Ele pediu desculpas por não poder visitar mais cedo e disse que não tinha ideia quando ele teria a oportunidade de voltar. Algo grande está acontecendo, ele escreveu. Fique segura. Gostaria de poder falar com ele sobre D e que logo vou saber quando o grande confronto estará acontecendo. Certamente, ele pode parar de se esconder e nos ajudar a lutar?
No dia da reunião de Zell com seus seguidores, eu mantenho o vidro em meu bolso onde quer que eu vá. Eu só tenho que ter cuidado para não me sentar sobre ele. Durante todo o tempo que estou com Ryn na gargan, espero que o vidro vibre no meu bolso. Não vibra. Eu chego em casa e o olho por um tempo, mas ainda não vibra. Filigree em forma de esquilo me olha estranhamente do pé da cama, como se dissesse, Por que a luz ainda está acesa? Quando podemos dormir?
— Eu não vou dormir até ouvir algo de D, — eu digo a ele. — Você pode ir dormir em outro quarto onde está escuro, se quiser.
Com uma fungada irritada, ele salta no chão e corre para debaixo da cama.
— Ou você poderia dormir debaixo da cama, eu acho. — Eu continuo olhando para o vidro comunicador antes de meu pescoço começar a ficar dolorido. Eu me deito e coloco o vidro no travesseiro ao meu lado. Não dormirei, não dormirei, não dormirei.
A próxima coisa que sei, estou deitada de costas, a luz cinzenta do amanhecer espreita através da claraboia encantada, e há um zumbido frenético ao lado da minha orelha. Levanto assustada e aperto o vidro comunicador com força, piscando para afastar o sono.
Eu sei tudo. Venha para o Rose Hall.
Eu alcanço a minha stylus na mesa de cabeceira. Indo agora.
Coloco minhas botas, coloco minha stylus em uma delas, jogo o colar da eternidade sobre minha cabeça, e corro para os caminhos das fadas. Rose Hall está situado em uma extremidade do Creepy Hollow Shoppers Clearing. Um mercado é mantido lá dentro uma vez por semana, e o salão também é usado para grandes funções às vezes, como festas. Caso contrário, fica vazio.
Eu ando pelo caminho vazio que corre entre a frente das lojas. Rose Hall é construído dentro da forte árvore widdern no final da pista. Não há nenhuma entrada esculpida no tronco como algumas lojas aqui, mas as palavras Rose Hall estão escritas em um sinal martelado no chão ao lado.
Será que vou poder abrir uma entrada no salão? Nunca tentei antes, então não sei se tem a mesma magia protetora que há em nossas casas. Não vejo por que deveria, já que não há muita coisa dentro para roubar. Seguro minha stylus contra o tronco da árvore e hesito. Eu olho em volta, lembrando que eu disse a Ryn que eu não encontraria D em um lugar isolado. Oops. Eu estava com tanta pressa que eu não pensei nisso até agora.
Isso é uma armadilha? Uma emboscada? Rose Hall está cheia de Faeries Unseelie esperando para me atacar e me capturar? Talvez os recados e o vidro comunicador fossem do próprio Zell. Talvez isso tudo seja apenas sua maneira elaborada de me fazer vir de bom grado para ele.
Eu fecho meus olhos e respiro fundo. Armadilha ou não, não posso voltar agora. Preciso saber o que está dentro deste salão. Então eu paro um momento para reunir energia suficiente no meu núcleo para atordoar uma faerie ou duas. Seguro a bola de poder em uma mão enquanto escrevo um portal na árvore com a outra.
Funciona.
Uma parte da árvore derrete. Eu dou alguns passos cuidadosos para a sala escura. A única luz aqui é a luz pálida do alvorecer que filtra através de uma janela de vitrais encantados na extremidade do corredor. Eu pego minha stylus e crio um orbita de luz. Eu a envio para o teto onde ilumina um salão vazio.
Não há ninguém aqui.
Era uma piada, afinal? Não, não pode ser. Como D saberia sobre o incêndio se ela não fizesse parte do círculo intimo de Zell? Eu me viro lentamente no local. Não há nada aqui, exceto por algumas folhas dispersas e... O que é isso? Meus olhos caem sobre uma forma cilíndrica no chão, no canto mais distante do salão. Eu ando em direção a ele, certificando-me de ficar constantemente alerta por quaisquer movimentos ou sons.
Eu chego ao canto do salão e me inclino para pegar o objeto. É um pergaminho. Um pequeno pico de adrenalina dispara através das minhas veias. Deve ser isso. Por que mais, um pergaminho deveria estar aqui se não fosse para eu pegar? Eu absorvo a bola de poder de volta através da minha mão, depois puxo a corda do pergaminho e desenrolo as páginas com a pressa.
Sim! É isso!
Menciona todas as Guildas, bem como as Corte Seelie e Unseelie. Uau, Zell vai tentar assumir tudo em uma noite? Ele tem um exército suficientemente grande? Examino as páginas rapidamente - detalhes, detalhes, detalhes - procurando a informação mais importante. Quando isso vai acontecer? Finalmente, eu acho, e o gelo se congela no meu sangue quando vejo o número.
Três dias.
Em três dias, todo o mundo vai entrar em erupção.
***
Eu atravesso o saguão da Guilda — os encantamentos de proteção no teto abobado? Tudo certo — e subo as escadas. Mais alto e mais alto até chegar ao andar dos membros do Conselho. Eu voo pelos corredores para o escritório da Conselheira Starkweather. Eu derrapo em uma parada na frente de sua porta e bato meus dedos contra ela. Nenhuma resposta. Eu tento de novo. Ainda sem resposta. Ela não está aqui. E, claro, ela não está, eu percebo, porque, apesar de ser uma viciada em trabalho, são cinco horas da manhã.
Com um gemido frustrado, ando pela passagem. Isso é simplesmente fantástico. Eu finalmente tenho o meu momento de provar a Conselheira Starkweather o quão útil posso ser, e ela nem está por perto. E não posso esperar até ela chegar aqui porque preciso mostrar isso a alguém agora. É além de urgente.
Eu me pergunto se há alguma chance de Tora estar aqui tão cedo. Ela saberá a quem devo dar essa informação. Coro de volta pelas escadas e me apresso pelo seu corredor. Estou prestes a bater em sua porta quando vejo alguém ainda melhor. — Bran! — Eu corro até ele. — Você faz parte do time que está investigando Zell, certo?
Com um suspiro, ele diz, — Você sabe que sim, Vi. Você já me interrogou e eu disse que não posso lhe dar detalhes.
Bran olha a primeira página com uma careta no rosto antes de olhar para mim. — Isso é uma piada?
— Foi o que eu pensei quando recebi o primeiro recado dela, mas não é. Ela me disse que haveria um incêndio na Guilda de Londres, e houve. Então ela me enviou este tipo de vidro para que ela pudesse entrar em contato comigo quando ela tivesse todas as informações. — Eu retiro o vidro comunicador do meu bolso e mostro para ele.
Ele o tira de mim. — Eu nunca vi um desses antes, — ele murmura, virando-o várias vezes. — Ela entrou em contato antes da Guilda de Londres pegar fogo?
— Sim. No dia anterior.
— E você não contou a ninguém sobre isso até agora?
— Bem, não.
— Violet! Por que não?
— Eu sinto muito. Eu sei que é infantil, mas fiquei tão louca que a Conselheira Starkweather se recusou a me envolver na investigação de Zell. Eu queria provar que minha contribuição poderia ser valiosa e que ela estava errada por não me incluir, então...
— Olhe, Vi, como alguém que lidou diretamente com Zell, sua contribuição é valiosa, mas você tem que ver que uma investigação complexa e perigosa como essa é mais adequada para os guardiões com décadas, séculos de experiência. Você ainda não está lá. Foi inteiramente inapropriado você guardar essa informação para você. Você deveria saber disso.
Merda. Eu não estou acostumada a desapontar meus superiores.
— Me desculpe. — Eu derrubo minha cabeça. — Mas, — continuo com cuidado, — o que você teria feito de forma diferente se eu tivesse contado sobre isso? Essa mulher queria dar essa informação apenas para mim.
— Nós teríamos seguido você para garantir que você estivesse segura e que não era um tipo de emboscada, ou que alguém não colocou um rastreador de algum tipo quando você não estava olhando.
— Mas... Na verdade, na verdade não conheci realmente nenhuma pessoa.
— Esse não é o ponto, Vi! — Ele aperta os papéis na mão. — O ponto é que você deveria ter nos contado sobre isso mais cedo.
— Ok, sinto muito. Desculpe. — Eu realmente sinto. — Mas isso estará acontecendo em três dias, Bran. Precisamos fazer algo. Você não precisa ter uma reunião com todos os outros membros do Conselho, tipo, imediatamente? Não precisamos planejar para que estejamos pronto para isso?
— Sim, — ele murmura, passa os olhos uma vez mais sobre as páginas enquanto atravessa o corredor. Ele para. — Por que nossos Videntes não viram isso?
Hmm. Bom ponto. — Eu não sei. Talvez eles comecem a vislumbrar isso agora que o plano final está no lugar.
A expressão de Bran torna-se duvidosa enquanto olha as páginas em sua mão. — Não tenho certeza de que possamos confiar nessas informações. Pode ser que alguém esteja tentando nos enganar.
— Eu acho que poderia ser. Mas e se não for? Não podemos não fazer alguma coisa sobre isso.
Bran aperta os olhos e murmura algo que não consigo ouvir.
— Então você vai convocar uma reunião?
— Claro, — Bran retruca. Não consigo lembrar dele retrucando para alguém antes. Ele procura pelas páginas e levanta a última. — Três dias, — ele murmura. — Nós podemos estar preparados em três dias.
— Espere, faça isso de novo, — digo. Pego a página dele e a seguro na luz. O contorno da insígnia da Rainha Unseelie fica visível no centro da página.
— Bem, — diz Bran, — pelo menos sabemos que essas páginas realmente vieram de dentro do Palácio Unseelie.
O que, suponho, ainda não confirma se a informação é legítima.
— Eu preciso ir, — diz Bran. — Vou levar isso comigo. — Ele ergue o vidro antes de se afastar de mim em direção à escada. — E não conte a ninguém sobre isso, Vi. Eu não quero que o pânico se propague.
***
Eu me sento na gargan e espero por Ryn. Passei todo o dia tentando me concentrar na tarefa do elfo e, em sua maior parte, falhei miseravelmente. Tudo no que eu poderia pensar era o fato de que todos nós estaríamos lutando por nossas vidas dentro de alguns dias. Por um lado, é uma coisa boa, o confronto estar finalmente sobre nós, e podemos parar de nos perguntar se e quando o tapete será arrancado de baixo de nossos pés. Por outro lado, e se perdermos? É improvável agora que sabemos que está chegando, e nós somos guardiões, afinal. É para isso que somos treinados. Mas.. e se houver muitos deles e não tivermos poder suficiente?
Quando eu saí esta noite, membros do Conselho de todo o reino das fadas estavam chegando. Eles tentaram ser gentis, saudando um ao outro como se nada estivesse errado - provavelmente por causa dos guardiões confusos ao redor deles que ainda não sabem o que está acontecendo -, mas eu pude ver o desconforto por trás de seus sorrisos. Adair e os outros guardiões mais antigos pelos quais passei pelo meu caminho também pareciam sérios. Eles já devem ter sido informados.
Estou começando a desejar não ter ido sozinha para recuperar a informação de D. Se o dia chegar e ninguém aparecer para nos atacar, bem, será uma coisa boa, mas também vou ficar em problemas monumentais. Fui eu quem trouxe essa informação para a Guilda, então serei a responsável por causar todo o pânico e as reuniões e a preparação e depois... o anticlímax.
Merda. Por que não pensei nessa possibilidade antes de eu encarregar minha própria pequena missão? E onde está Ryn? Olho para a posição da lua. Ele geralmente já estaria aqui até agora. Eu envio uma mensagem no âmbar, mas não recebo resposta. Eu tento lembrar se ele me disse se estaria trabalhando hoje à noite. Minha memória fica em branco.
Eu ando pelos caminhos das fadas e saio na minha sala de estar. Talvez Filigree jogue um jogo de cartas comigo para tirar minha mente das coisas. Nunca terminamos aquele jogo que Ryn interrompeu algumas semanas atrás. Subo as escadas e encontre Filigree enrolado na forma de tatu no meu travesseiro. Eu não vejo essa faz um tempo. Eu caio de barriga na cama e o cutuco – no momento que um som zumbido vem da minha mesa de cabeceira.
Meu âmbar? Não, está no meu bolso. Então seria... o segundo vidro comunicador. Eu abro a gaveta e coloco minha mão, empurrando o colar da eternidade para alcançar o pedaço retangular de vidro.
As coisas mudaram. Preciso lhe dar novas informações.
Eu viro para tirar minha stylus da minha bota e acabo rolando no chão. Droga, isso doeu. Eu me sento e rabisco rápido no vidro. O quê? O Conselho da Guilda já está reunido para analisar as informações que você me deu nesta manhã.
Quando?
Agora mesmo!
Então eu preciso me encontrar com você imediatamente.
Por que você não pode me dizer aqui pelo vidro comunicador?
É demais. Eu preciso me encontrar com você.
Isso não é muito perigoso para você?
Eu não me importo mais. Venha para o Rose Hall.
Agora?
Sim!
Arrasto-me do chão e abro um portal. — Não espere por mim! — Eu grito para Filigree quando entro na escuridão. Pulo para a pista escura de Creepy Hollow e corro para a árvore do Rose Hall. O que eu vou fazer uma vez que eu tiver essa nova informação? Apenas entrar na reunião do Conselho? Talvez eu possa convencer D a vir comigo. Isso definitivamente ajudaria. Paro contra a árvore com a mão. Levanto a stylus para escrever um portal, mas percebo uma minúscula folha de papel pregada na árvore. Apenas uma frase.
Continue jogando o jogo, Violet.
O quê? O jogo? Desde quando é um jogo? Um arrepio corre pelos meus braços enquanto eu olho em volta. Assim como nesta manhã, parece não haver ninguém aqui, mas não posso evitar sentir que algo estranho está acontecendo. Algo que estou perdendo. Eu tenho que entrar no corredor, no entanto. Zell mudou algo em seus planos, e eu preciso saber o que é.
Então eu faço o que fiz esta manhã. Eu coloco o poder do núcleo do meu ser e o mantenho acima da minha mão, pronto para usá-lo no primeiro sinal de perigo. Abro uma entrada para o salão e ando lentamente para dentro.
O que eu vejo no outro extremo do corredor me faz querer ficar doente. Em frente ao vitral, pendurado de cabeça para baixo do teto, há um cadáver. Um cadáver sem cabeça. Sem realmente perceber isso, deixo o poder acima da minha mão desaparecer. Com horror, eu ando em direção ao outro extremo do corredor. Há um objeto redondo colocado no chão debaixo do corpo, e todo instinto chocado dentro de mim grita que é uma cabeça. É a cabeça que pertence ao corpo pendurado. E eu preciso saber quem é.
Os meus dedos tremem. Minhas pernas tremem. Até as minhas respirações são frágeis quando escapam dos meus lábios. Mas eu continuo avançando. A cabeça está de frente para a parede traseira, mas quando me aproximo, vejo a cor no cabelo. Eu vejo as listras vermelhas, e eu sei. Eu sei. Mas ando para frente para encará-lo de qualquer jeito. Eu passo ao redor e vejo seus olhos vermelhos vidrados.
Zell.
Com uma mão trêmula, cubro minha boca para me impedir de vomitar. Então vejo as palavras escritas no chão.
Violet,
Você não pode ganhar este jogo. Conheço todos os seus movimentos antes de você fazer, e sempre estarei um passo à sua frente. Quero que saiba que tudo o que acontecer agora é sua culpa.
Draven
Capítulo 32
Draven? Era como eu costumava chamar Nate. Avenida Sr. Draven. Mas não pode ser ele. Não pode. Nãonãonãonãonão, por favor, diga que ele não fez isso. Oh, querida Rainha Seelie, o que ele fez? O que eu fiz?
Um som crepitante rasga durante a noite tranquila como relâmpagos em algum lugar fora. Ele atinge o chão com tanta força que eu tenho que jogar minha mão contra a parede para impedir o estremecimento de me derrubar. Eu ouço um baque e um estalo quando algo atinge o chão lá fora. Compelida pelo terrível temor de que todo o meu mundo esteja prestes a ser despedaçado, atravesso o salão vazio e saio na pista.
A rajada de vento mais forte que eu já senti passou pelas árvores e me derrubou no chão. Eu ouço um rugido. Rugido e um som crepitante. E eu sinto cheiro de fumaça. Eu consigo virar minhas costas logo quando outro raio atinge o chão bem próximo. Eu vejo uma luz laranja cintilante. Fica mais brilhante enquanto olho. O rugido se torna mais alto e a fumaça mais densa.
Oh inferno. Há um inferno louco aqui fora, movendo-se com a velocidade do vento.
Tenho que ir a Guilda.
Eu rolo de volta sobre minha barriga e escrevo um portal na sujeira. Eu caio na escuridão e concentro a minha atenção na entrada interior da Guilda. Talvez eu ainda tenha tempo de alertá-los sobre o que está por vir.
Eu abandono os caminhos das fadas a pé - e é aí que percebo o quão errada eu estou. Meu mundo não está prestes a ser despedaçado. Já foi despedaçado. O choque parece tirar o ar dos meus pulmões porque eu não tenho a menor vontade de respirar.
A Guilda está destruída. Toda a Guilda.
Cascalho reveste o chão até onde eu posso ver. Mármore e escombros e pedaços fumegantes de madeira entalhada. Árvores estilhaçadas e cinzas e fumaça. O complexo glamour e os feitiços arquitetônicos que escondem a Guilda inteira dentro de uma única árvore devem ter sido destruídos de alguma forma. Minha mente evoca imagens horríveis do que teria acontecido depois disso: o interior da Guilda explodiu, demolindo a floresta ao redor dela.
Eu dou alguns passos trêmulos para frente antes de cair de joelhos. Não consigo aceitar isso. É demais. Vejo guardiões espalhados aqui e ali por todo os escombros, alguns feridos, alguns tropeçando por aí perdidos. Os restos de conversas sussurradas me alcançam.
— ... Estão dizendo que Tharros retornou.
— ... deve ter tomado mais poder do que qualquer pessoa deve possuir.
— A primeira explosão veio de dentro de uma sala em que o Conselho e os guardiões mais velhos estavam.
— Algum deles saiu vivo? Não vi nenhum...
Oh não, oh não, oh não. Isso não pode estar acontecendo. Quantas pessoas estão mortas? Onde está Tora? Ryn? Flint? Onde diabos estão todas as pessoas de quem eu gosto?
Um flash ofuscante de luz branca enche a clareira destruída. Eu jogo minha mão através dos meus olhos até a luz diminuir. Quando olho novamente, vejo a Rainha Seelie vestida de armadura prateada, andando pelos escombros. — O QUE está acontecendo aqui? — Ela grita.
— Minha senhora. — Um de seus guardas corre atrás dela. — Você não deveria estar aqui. É muito perigoso. Pode haver...
— Eu quero saber o que está acontecendo, — ela grita. Ela para e gira no local, olhando para os guardiões que se apresentaram para se ajoelhar diante dela. — Eu quero saber como essa Guilda poderia ser estúpida o suficiente para chamar uma reunião de quase todos os membros do Conselho de cada Guilda e depois se explodir.
Um riso frio recebe suas palavras. Procuro a fonte do som e vejo uma mulher andando em direção à Rainha. Um tremor passa pelo meu corpo enquanto a reconheço. Angelica. Já não presa no centro de seu próprio labirinto. Ela mantém a cabeça alta, olhando para baixo para todos enquanto sacode seu longo cabelo preto e prateado sobre o ombro dela. E naquele instante, eu percebo porque achei a Rainha Seelie tão familiar quando a conheci.
— Olá, mãe, — diz Angelica quando ela está parada. — Você está com saudades de mim?
Mãe? Você está brincando comigo?
— Como eu sentiria de uma mancha feia em um vestido branco, — a Rainha zomba. — E não me chame de ‘mãe’. Você não é minha filha.
Sussurros de ‘filha fugitiva’ me cercam quando as pessoas percebem o que está acontecendo aqui. Os guardas da rainha apontam suas armas para Angelica, mas nenhum deles faz um movimento. Suponho que machucar uma princesa Seelie não venha naturalmente para eles.
— Não sou sua filha? — Angelica repete. — Suponho que não seja surpreendente, então, que eu estava muito mais feliz com a Guilda do que eu já estive em seu palácio. — As sobrancelhas da rainha contraem uma fração. — Oh, você não sabia? — Angelica pergunta, sua voz cheia de surpresa exagerada. — Quão chocante. Passei mais de uma década na Guilda de Creepy Hollow, e você nem sabia disso.
— Eles obviamente conseguiram não ensinar nada a você, — diz a Rainha, — já que você parece estar se juntando com o inimigo agora. O que você está fazendo com a Corte Unseelie?
Angelica solta um suspiro exagerado. — Veja, mãe, isso realmente não tem nada a ver com a Corte Unseelie. Tem tudo a ver com meu filho.
Confusão e raiva brigam nos olhos da Rainha.
— Isso mesmo, — diz Angelica. — Seu neto. Um príncipe da Corte Seelie...
— Um halfling, — a Rainha rosna.
— Sua própria carne e sangue! Ele está em posse do poder perdido de Tharros e não há ninguém no mundo que possa vencê-lo agora. Ele é o único que pode tirar tudo o que você tem. O Palácio Unseelie está em ruína, e o palácio Seelie está sendo destruído enquanto conversamos. As Guildas estão todas sob ataque. Quando o dia surgir, não haverá diferença entre Seelie e Unseelie. Só haverá aqueles que estão com o meu filho e aqueles que estão contra ele.
Nate. O que você fez?
— E quanto como essa Guilda poderia ser estúpida o suficiente para se fazer explodir, — continua Angelica. — Um dos seus guardiões enviou muito gentilmente um dispositivo de bombas encantadas para a reunião do Conselho. E esse mesmo guardião nos contou que a reunião estava acontecendo hoje à noite. Foi tudo muito fácil depois disso.
Ela está falando sobre mim? Nãonãonão, por favor, não. Por favor, não deixe que tudo isso seja minha culpa. Como eu voltarei a encarar alguém? Meus olhos procuram a clareira em desespero. Ainda não vejo Ryn ou Tora. Eu tenho que encontrá-los. Não consigo pensar em todos esses danos e destruição. Não consigo pensar em como tudo é culpa minha.
Encontre-os.
Minha stylus ainda está apertada na minha mão. Inclino-me para frente e escrevo no chão. Deslizo dentro da escuridão logo quando as primeiras gotas de chuva começam a cair. Dirijo-me primeiro a árvore gargan. Talvez Ryn esteja esperando por mim. Talvez essa parte da floresta ainda esteja tranquila e não tenha ideia do que está acontecendo longe daqui.
Mas algo está errado. Quando eu saio dos caminhos das fadas, eu me vejo caindo no ar. Um grito me escapa quando eu tento abrir outro caminho no ar em movimento. Não posso. Eu caio no chão, conseguindo diminuir minha queda no último segundo. Eu deslizo pelo chão por um momento antes de cair às últimas polegadas na estrada. Empurro-me e me levanto.
Destruição.
A árvore gargan, uma das mais antigas e majestosas árvores de toda a floresta, caiu. Está queimando e soltando fumaça e caindo. Levou a maioria das árvores ao redor com dela. Tudo está morto aqui.
Morto.
Nate fez isso. Ele destruiu meu lugar favorito de toda Creepy Hollow. Aperto meus punhos e solto um grito sem palavras. Continuo mais e mais, até que eu não tenha mais fôlego. — Como você pôde fazer isso? — Eu grito para a chuva lentamente tamborilando. — Eu te odeio!
As lágrimas se juntam aos pingos de chuva que caem pelo meu rosto. Eu atravesso os caminhos das fadas até a casa de Ryn. O que eu acho lá faz minhas lágrimas caírem mais rápido. Está destruída, rasgada, assim como as outras casas de fadas que eu posso ver através das árvores quebradas enquanto eu viro para olhar ao meu redor. Eu procuro pelos destroços, mas não há ninguém aqui.
Eu vou para a casa de Tora, e sou cumprimentada pela mesma visão. E, novamente, ninguém aqui.
O único lugar para ir é minha própria casa. Talvez Ryn e Tora tenham ido lá para me procurar. E Filigree! Eu tenho que resgatar Filigree!
Eu me preparo para a destruição, mas a visão da minha casa arruinada ainda é suficiente para me fazer sentir que algo acabou de ser arrancado do meu peito. Náusea invade meu estômago.
Minha casa se foi.
— Ryn! — Eu grito. — Tora! Filigree! — Sem resposta.
Eu escalo a bagunça que era minha cozinha. A mesa já não tem pernas, e estou prestes a pisar nela quando percebo uma faca afiada embutida na superfície. A faca está segurando um pedaço de papel na mesa. Um pedaço de papel dobrado.
Meu sangue queima como fogo quando a fúria passa por mim. Não foi o suficiente para Nate — Draven — tirar meu mundo inteiro? Ele também tem que deixar um maldito recado esfregando na minha cara?
Eu arranco a faca da mesa e desdobro o papel. Meu coração quase para à vista da escrita de Ryn - e então ele se quebra novamente quando eu leio suas palavras. Há muitas delas, mas só posso me concentrar em uma frase: não tente me encontrar. Eu limpo as lágrimas dos meus olhos quando enfio a nota no meu bolso. — Você prometeu que não iria embora, — eu sussurro. — Você prometeu.
É então que eu ouço uma voz fraca. Tora. Chamando meu nome. Eu me viro, procurando desesperadamente. — Tora? — Eu chamo. Eu ouço sua voz novamente. Salto das ruínas e corro ao lado da bagunça. Lá está ela, presa por uma árvore que aterrissou em seu abdômen. Uma árvore com galhos estilhaçados e casca e - oh, querida Rainha Seelie, nem quero olhar para o dano porque sei instintivamente que é demais para até mesmo uma faerie se recuperar.
— Tora! — Eu corro para o lado dela e agarro sua mão. — Oh merda oh merda oh merda. — Eu tenho que tentar curá-la. Mesmo que meu cérebro me diga que não é possível, ainda tenho que tentar. — Posso mover a árvore, — digo, me preparando para levantá-la com magia.
— Não. — Ela toca no meu braço para me parar. — Não vai ajudar. Minha magia, — ela ofega. — Não é... forte o suficiente para...
Não é forte o suficiente para curá-la. É o que ela quer dizer. Mas eu tenho magia que pode curá-la, eu percebo. O colar da eternidade. Se ela usar, ela não pode morrer, certo? Eu escalo os escombros da minha casa mais rápido do que qualquer coisa que eu já subi antes. Acho minha cama. Minha mesa de cabeceira. A gaveta foi nocauteada e está jogada ao lado dos estilhaços da minha mesa. Eu procuro pelo colar da eternidade.
Sumiu.
— Não! — Eu grito. Por que ele sumiu? Estava aqui quando eu saí, há menos de uma hora. Procuro por toda a gaveta, mas não há colar para ser encontrado em qualquer lugar.
Eu corro de volta para Tora. Levanto a metade superior de seu corpo e a seguro no meu colo, deixando minha magia penetrar nela onde quer que a nossa pele esteja tocando. — Por favor, não morra, — eu soluço. — Por favor, não morra, por favor, não morra.
— As minhas pernas... Ainda estão lá? — ela consegue perguntar. — Não posso... Senti-las...
Inclino-me sobre ela e deixo as lágrimas caírem no seu peito. — Sinto muito, Tora. Sinto muito, sinto muito. Isso é tudo minha culpa.
— Lembre-se... Eu... — Suas palavras morrem em seus lábios quando a vida desaparece de seus olhos.
Aperto suas mãos com força, desesperadamente. Não consigo respirar. Onde está o ar? Por que não consigo respirar? Pontos brilhantes dançam leve diante dos meus olhos. Solto as mãos de Tora e caio de volta no chão. E de repente há uma liberação, e estou sugando grandes respirações de ar nos meus pulmões.
Eu não mereço isso. Deveria ser eu morta no chão, não Tora. Eu me levanto. Eu ando cegamente sobre os destroços da minha casa. Não sei aonde vou. Não sei o que planejo fazer. Tudo o que sei é que não quero pensar. Não quero lembrar. Não quero estar aqui.
Eu caio no ponto mais alto da minha casa destruída e seguro minha cabeça entre as minhas mãos enquanto choro. Não posso corrigir isso. Não posso passar por isso. Eu nem sei como posso viver sabendo que ela morreu por minha causa.
Minhas mãos caem para os meus lados, e uma delas para sobre uma pilha de vidro. O conteúdo do meu kit de emergência, espalhado e quebrado. Meus dedos trêmulos procuram pelos itens que conseguiram sobreviver e param em um dos frascos. Eu o pego. Esquecer, diz o rótulo.
Isso é o que eu quero. Quero esquecer tudo o que aconteceu. Quero esquecer que é minha culpa.
Tiro a tampa.
Levanto até a minha boca.
Eu fecho meus olhos e o derramo na minha garganta.
Capítulo 33
Eu desperto em um quarto pequeno e mal iluminado com um teto que parece estar muito perto. Eu rolo sobre o meu lado, esfregando meus olhos ásperos. O quarto está vazio, exceto por uma cadeira e uma pequena mesa. Na mesa está uma lanterna com uma luz cintilando dentro.
— Oh, você está acordada, querida. Que amável. — Alguém pequeno entra no quarto. Alguém com cabelo cinza e vestindo um vestido longo. Ela se curva sobre mim, e vejo olhos negros em um rosto coberto de escalas como de um réptil.
Reptiliana, meu cérebro me diz. — Quem é você? — Pergunto.
Ela sorri para mim e rugas se formam nos cantos dos seus olhos. — Alguém que decidiu não deixar você lá fora, nos destroços.
— Destroços? — Repito. Ainda estou tentando dar sentido a onde eu estou, como cheguei aqui e o que aconteceu antes de eu dormir. Estou conseguindo nada.
— Os destroços da floresta. Foi despedaçada por um faerie malvada. — Ela balança a cabeça em desaprovação. — Draven, eles dizem que é o nome dele.
— Draven? — Nunca ouvi falar dele.
— E qual o seu nome, querida?
O meu nome. Essa é uma pergunta fácil. E eu tenho a resposta. Está aqui mesmo na ponta da minha — Violet, — eu digo, aliviada, que o nome apareceu para mim.
— E?
— E o quê?
— O que mais você se lembra?
O que eu lembro? Isso é um pouco mais difícil. Eu procuro na minha cabeça confusa, em seguida, eu a balanço. — Para ser sincera, — eu digo, — não muito.
{1} No inglês: Bite me, algo no sentido de foda-se.
Capítulo 22
O café da manhã é um piquenique sob um campo de árvores que nos salpica com um punhado ocasional de flores amarelas em forma de estrela. Muito lindas, até começar a pousar na comida. Posteriormente, somos enviados para observar a Guarda Real executando alguns exercícios de treinamento, que é quando Ryn e eu conseguimos escapar para explorar mais um pouco. Eu ainda estou um pouco zonza com todos os sentimentos de apenas-amigos me percorrendo, e parece estar resultando em algum comportamento imprudente. Como alegremente passear pelo palácio quando claramente não deveríamos estar fazendo isso agora.
Encontramos dois lagos que não têm estruturas de pedra construídas nas proximidades, e outro pátio anexado ao palácio com uma piscina cheia de faeries jovens pulando. Do outro lado de um labirinto construído de arbustos baixos, encontramos uma lagoa com uma ponte de pedra. Mas depois de examinar cada pedra, é claro que não há sinal ou símbolo que aponte para algo escondido.
Eu penso no tamanho total dos terrenos do palácio - tão grande que levaria horas e horas para chegar ao outro extremo - e começo a sentir um pouco de pânico. — E se não conseguirmos encontrar o esconderijo a tempo? — Digo a Ryn. — Eu esperei essa oportunidade por anos; nunca mais vai acontecer.
— Nós vamos procurar toda a noite se tivermos, — ele diz, e eu tenho que lutar contra o desejo de pegar sua mão e apertar seus dedos. Ele parece tão determinado quanto eu a encontrar os pertences escondidos das minhas mães. Talvez seja porque ele ainda esteja tentando compensar o passado, ou talvez seja porque a alternativa - sair com outros formandos para assistir a guarda treinar - é muito chata. De qualquer forma, estou grata além das palavras.
Nós deixamos a lagoa e a ponte atrás de nós conforme escalamos uma colina baixa. — Sabe, o tempo de exploração de sua mãe provavelmente também foi muito limitado quando ela esteve aqui, — diz Ryn. — Você não acha mais provável que ela tenha escolhido um esconderijo mais perto do palácio do que mais longe?
Paro de subir e esfrego a parte de trás da minha mão na minha testa. Estou superaquecendo na calça comprida que, como Ryn apontou na noite passada, pode ser um pouco apertada demais para um dia de verão. Meu top mantém meus braços expostos, mas não é o suficiente para me refrescar. — Isso pode ser verdade. Você acha que devemos voltar e olhar ao redor do palácio?
— Sim, eu quero. Até agora, nós apenas caminhamos pelo palácio, não ao redor dele. Pode haver pequenas piscinas que ainda não vimos.
— Há também uma maior chance de alguém importante nos ver e nos enviar de volta ao nosso grupo.
— Com medo de entrar em problemas, V? — Ryn mostra seu sorriso arrogante.
— Dificilmente, — eu viro e vou em direção ao palácio. — Eu simplesmente não quero que a Missão Exploração seja cancelada.
Caminhamos de volta sem dizer muito. Há bastante silêncio entre nós hoje. Não um silêncio estranho, mas sim um que sugere que estamos um pouco preocupados. De vez em quando, eu o pego olhando para mim, mas não pergunto por quê. Ele provavelmente tentará me fazer falar sobre os meus sentimentos ao ver meu pai – que-não-era-meu-pai na noite passada, e eu não vou por essa estrada. Chorar nos braços de Ryn foi estranho o suficiente sem ter que falar sobre isso agora.
Contornamos o palácio, nos mantendo ao redor das árvores circundantes e esperando que ninguém nos perceba quando se inclinarem em suas varandas brancas decorativas. Nós passamos por uma fonte fora de uma sala onde um grupo de faeries estão praticando instrumentos musicais. Sinto um feitiço que atravessa as árvores em nossa direção, fazendo que os meus pés queiram dançar. Eu me apresso com Ryn perto de mim. Essa fonte era pequena demais para estar escondendo qualquer coisa de qualquer maneira.
— Ei, acho que ouço mais água, — diz Ryn.
Ele tem razão. — Sim, mas onde? Não vejo nada.
O som de queda de água torna-se mais alto à medida que nos aproximamos do que parece ser uma parede frondosa com hera firmemente entrelaçadas. Parece estar escondendo uma área semicircular contra a borda da parede do palácio. — Um jardim particular? — Sugere Ryn.
— Talvez. Mas não parece que haja algum caminho desse lado, então minha mãe não poderia ter escondido nada aí.
Estamos prestes a seguir em frente quando uma figura vestida de branco anda através da cobertura. Eu deslizo atrás do tronco da árvore mais próxima e me pressiono contra ela. A poucos metros de distância, Ryn se esconde atrás de outra árvore. Quando ninguém nos chama, espreito cuidadosamente ao redor da árvore para ver o que está acontecendo. A figura de branco é a faerie anfitriã da nossa festa do chá na tarde de ontem. A filha da Rainha, Olivia. Ela arruma seu longo cabelo loiro e rosa para longe do pescoço e o prende com uma fita. Então, depois de examinar a área rapidamente com os olhos, ela se apressa através das árvores para longe de nós.
— Imagine ainda viver com sua mãe quando você tem, tipo, um século de idade, — Ryn sussurra. Ele sai de trás de sua árvore e se aproxima de onde Olivia apareceu.
— Eu acho que ela tem mais do que dois séculos de idade, — respondo. — Ela é a primeira filha da rainha, lembre-se, e a Rainha certamente está por aí por um tempo.
— V, há uma abertura aqui. — Ryn gesticula para que eu o acompanhe. — Você não pode ver de lá porque o ângulo está errado.
Atravesso a grama e escorrego na abertura depois dele. Oculto dentro do semicírculo, está um jardim. Rosas de todas as cores estão entrelaçadas entre a hera no muro. Em um lado está um arco de pedra com um banco embaixo dele. No centro do jardim encontra-se uma piscina redonda, ao lado fica uma árvore com folhas laranja enormes que criam uma sombrinha para proteger. A água escorre sobre uma pilha de pedras e para dentro da piscina. Estátuas ficam aqui e ali na grama, e a própria grama chega ao fim em um portal aberto levando para o que deve ser o quarto da princesa.
— Nós definitivamente não deveríamos estar aqui, — eu digo, me afastando da piscina.
— Você não quer verificar se o esconderijo da sua mãe está aqui?
— Não estará.
Ryn vaga para o banco e senta-se. — E como você sabe disso?
— Ryn, este é o jardim particular da princesa. Não há como minha mãe ter escondido suas coisas aqui. Você pode imaginar o problema em que ela estaria se metendo se alguém a pegasse? — Eu me viro para ir embora, mas, conforme eu faço, a descrição de Zinnia sobre meus pais algumas noites atrás vem à minha mente. Os dois sempre gostaram de assumir as tarefas mais perigosas. — Por outro lado, — digo, voltando lentamente para a piscina, — talvez seja por isso que ela escolheria este lugar.
— Ah, sua mãe era uma caçadora de emoções, não era?
— Eu não sei. Talvez. — Eu começo a examinar o arco de pedra onde Ryn está sentado, começando pela pedra mais baixa e movendo para cima. Ryn levanta e examina o outro lado. As pedras são quase perfeitas e parecem não ter marcas além daquelas provavelmente provocadas pelo tempo e clima severo. Não que eu possa imaginar um lugar como esse com um clima severo, mas até mesmo eu sei que a Corte Seelie não é imune ao inverno.
— Vê alguma coisa? — Pergunta Ryn.
— Não. Você pode me dar uma ajudinha para verificar a parte de cima?
Ryn aparece de frente para o banco e coloco meu pé nas mãos dele. Ele me levanta rapidamente. Pego na borda do arco e dou uma olhada em todas as pedras que não consigo ver do chão. — Nada. Eu acho que não está aqui, afinal.
— Será que não são as estátuas feitas de pedra? — Pergunta Ryn conforme ele me deixa no chão.
— Sim, mas elas são muito pequenas.
— V. — Ryn me olha como ele olha para Calla quando tenta explicar algo. — Se uma árvore não é muito pequena para esconder sua casa inteira dentro, então uma estátua pequena não pode esconder uma única sala?
Mesmo que agora eu ache Ryn lindo e tenha ocasionalmente o desejo irracional de rasgar sua roupa, ainda é realmente irritante quando ele está certo. Sem responder, vou até a estátua mais próxima - uma mulher com pequenos chifres na cabeça usando um pedaço de tecido que nem de perto cobre as partes essenciais de seu corpo. Eu me abaixo na grama e começo a investigar sua superfície de pedra. Não consigo nada além da pedra suavemente esculpida, até encontrar algo na parte de trás do seu calcanhar. — Há algo aqui. — O entusiasmo sobe no meu peito. — Uma flecha. Ela aponta para baixo e para a direita.
— Há algo aqui também, — diz Ryn, passando os dedos pela perna direita da estátua de unicórnio. — Uma linha ondulada.
— Uma linha ondulada? Isso geralmente não significa água?
— Sim. Água correndo, talvez? Água corrente?
— Tudo bem, nós temos uma fonte, mas esta flecha aponta para a direita, e daqui a fonte está à esquerda.
Ryn caminha para a estátua restante - um pixie que segura um sprite em sua mão estendida como uma oferenda - na sombra das folhas laranja. Eu me junto a ele, meus olhos olhando as pernas primeiro, porque isso parece ser uma tendência aqui. Ryn fica de quatro, examinando atentamente a frente do pixie. Eu alcanço a parte de trás do pescoço do duende quando Ryn diz, — Achei. — Ele me dá um sorriso e o encaro. Tudo é uma competição quando se trata de nós dois. — Está na parte de trás da mão do pixie, de frente para o chão. — Ele se inclina mais uma vez e aponta. — Vê? É a forma de um círculo.
— Um círculo. — Nós dois olhamos para o jardim. O único círculo aqui é a piscina.
— Está dentro da piscina, — diz Ryn. — Você tem que entrar na água - daí a linha ondulada - ir abaixo da superfície...
— Essa é a flecha para baixo.
— E então à direita, — Ryn termina.
Eu vou para a abertura no muro e olho lá para fora. Ninguém lá. — Ok, vamos fazer isso rápido. Eu certamente não quero ser pega nadando na piscina da princesa.
— Depois de você. — Ryn gesticula para a piscina. — Considerando que esta é a sua missão, acho que você deve ir primeiro.
Eu mergulho meu pé, testando a temperatura da água. Eu pensei que poderia ser desconfortavelmente quente, dado o calor deste dia de verão, mas é fria o suficiente para ser deliciosamente refrescante. Claro. Provavelmente está encantada para estar na temperatura perfeita. Deslizo para dentro da água. A água alcança meus ombros.
— Ah, que alívio, — Ryn diz enquanto ele se junta a mim, fazendo um pouco mais de barulho do que eu. — Talvez tenhamos que ficar aqui por mais tempo.
— E ser pegos? Eu acho que não. — Respiro profundamente, afundo abaixo da superfície e nado para o lado direito da piscina. Eu corro meus dedos sobre as pedras quadradas, procurando em cada uma por algum tipo de marcação. Eu volto a superfície para pegar ar e mergulho vez uma mais. Ryn está nas proximidades, ajudando na busca.
Então eu vejo: um X simples esculpido no meio de uma pedra. Empurro contra a pedra com as mãos, mas nada acontece. Eu alcanço acima da minha cabeça e, felizmente, minha stylus ainda está lá, tentando segurar meu cabelo no lugar. Eu a puxo e escrevo um feitiço de abertura na pedra.
Sim!
A pedra desaparece, deixando uma camada ondulante e semitransparente entre a água e a escuridão que está além. Eu nado através — e caio sobre uma superfície dura. Eu me levanto e imediatamente crio uma esfera de luz. Ela flutua na minha frente, iluminando uma pequena sala com uma mesa em um lado.
Com uma exclamação de dor, Ryn pousa no chão ao meu lado. — Merda, você pensaria que ela poderia ter deixado uma almofada ou algo no chão para um pouso mais suave.
— Nós achamos, Ryn, — eu sussurro enquanto dou alguns passos pingando em direção a mesa. Sobre ela está um livro de couro com uma escrita cor de ouro em sua capa, uma pulseira descansando sobre uma pequena pilha de fitas coloridas, uma vela preta e um espelho oval com uma armação de prata ornamentada. Pego o espelho e vejo o rosto da minha mãe. Eu já vi imagens dela antes, é claro, mas isso é diferente. Ela está mais nova.
É isso. O momento em que eu sonhei desde a primeira vez que meu pai contou a história da visita da minha mãe a Corte Seelie. Eu finalmente a vejo como uma pessoa real. Eu finalmente vou ouvir sua voz. Com meu coração batendo no meu peito e meus dedos tremendo, toco a superfície do espelho.
Seu rosto se abre em um sorriso, e ela coloca uma mecha de cabelo preto e roxo atrás da orelha. — Tudo bem, quem quer que você seja, você é realmente corajoso. Você nadou na piscina particular da princesa! — Ela bate palmas e ri. — Parabéns! Claro, isso me torna realmente corajosa também porque eu também nadei na piscina. Bem, corajosa ou estúpida. — Ela revira os olhos lavanda enquanto luto contra as lágrimas se formando nos meus. — De qualquer forma, você provavelmente está se perguntando quem eu sou. Meu nome é Rose Hawthorne, sou graduada da Guilda de Creepy Hollow, e já que eu vou visitar a Corte Seelie apenas uma vez na minha vida, pensei que seria divertido deixar um pouco de mim aqui. Assim... O livro é um dos meus favoritos. Meu melhor amigo me deu em um aniversário há alguns anos. Se você olhar dentro, há um papel dobrado com uma história que escrevi na escola secundária - porque eu sinto que você deveria ter algum entretenimento disso! — Ela ri enquanto eu limpo uma lágrima que escapou do meu olho. — Hum, a pulseira é a primeira joia que meus pais me deram, e as fitas encontrei em um baú dos pertences da minha avó quando eu era pequena.
— Ok, o que resta? A vela. Isso foi dos meus pais no meu décimo oitavo aniversário. É uma vela sem fim, então nunca vai ficar pequena, não importa o quanto você a queime. Um, então, é isso. Ah, e a mesa foi feita para mim pelo meu namorado. Cara incrível que ele é, ele não se importou em encolhê-la junto com as minhas outras coisas e trazer aqui.
— Então, de qualquer forma, essa sou eu. Seria realmente bom se você pudesse retornar meu livro para a Guilda de Creepy Hollow com uma mensagem para mim. Além disso, se você for pego deixando esta piscina, sinto muito. Espero que eu não seja pega quando eu sair! Ah, e se você é a princesa, hum, também sinto muito. Não queria desrespeitar você de forma alguma ao esconder essas coisas na sua piscina. Por favor, não me odeie! — Ela bate as mãos, sorri docemente e a imagem dela desaparece.
Ela se foi.
Eu toco o espelho novamente, mas nada acontece. — Está definido para tocar apenas uma vez, — digo suavemente. — Eu nunca mais a verei. — As lágrimas escorrem pelas minhas bochechas. Este foi o meu momento com ela... meu único momento... e agora acabou.
— Me desculpe. — Sinto a mão de Ryn no meu ombro. — Mas - e não me odeie por dizer isso - provavelmente não seria uma boa ideia para você assistir a mesma mensagem repetidamente. Você não gostaria de desperdiçar sua vida na frente de um espelho.
— Sim, acho que você está certo. — Eu soluço quando coloco o espelho na mesa. — Mas ainda vou levar essas coisas para casa comigo.
— Claro, — diz Ryn. — Precisa de ajuda com o encolhimento?
— Obrigado. — Pelo menos eu tenho essas lembranças dela. Vou levar o meu tempo olhando para elas quando chegar em casa. Vou ler o livro e a história que ela escreveu. Vou queimar a vela sem fim, e sua chama perpétua nunca permitirá que eu a esqueça.
Agora, no entanto, precisamos sair daqui.
Eu encolho o espelho enquanto Ryn cuida do livro e da vela. Estou prestes a encolher a pulseira, quando Ryn diz, — Você deveria colocá-la. — Ele tira de mim e a coloca em volta do meu pulso direito, inclinando-se mais perto quando ele aperta o fecho. — E as fitas. Você precisa de alguma cor na sua vida, V. — Ele enrola as fitas ao redor do meu braço para que elas cubram minha cicatriz. As linhas onduladas das minhas marcas de guardiã espreitam de cada lado. Ele amarra as pontas e as afasta, seu toque enviando um tremor pelo meu braço. Eu me pergunto se ele percebe os arrepios. Ele certamente está próximo o suficiente para vê-los.
De repente, lembro de dizer a Nate que ele não poderia me convencer a ter uma sessão de amassos em um túnel subterrâneo suspeito porque eu tenho padrões. E percebo agora que não tenho absolutamente nenhum padrão porque estou aqui nesta sala de pedra subterrânea e não quero nada mais do que beijar Ryn. Se ele me puxasse para dentro de seus braços agora, eu não iria detê-lo. Eu sei que não seria bom para nós a longo prazo, mas meu corpo e meu coração o desejam. Muito.
— Hum, devemos sair daqui antes que a princesa volte, — diz Ryn, dando um passo para trás e colocando alguma distância entre nós. — Missão completa, então... Acho que poderíamos ficar no seu quarto por um tempo. — Ele me observa. Estou imaginando, ou ele quer dizer algo mais quando ele diz ‘ficar’?
Só há uma maneira de descobrir.
— Ok. — Merda, eu realmente soei tão sem fôlego como eu acho que soei? Eu sou tão patética.
Eu deslizo a pequena vela, livro e espelho nos meus bolsos úmidos enquanto Ryn encolhe a mesa. Eu o deixo ir em frente antes de atravessar o caminho através da camada ondulante e entrar na água. Giro com a minha stylus na mão, mas a pedra já está selada. Legal. Puxo-me através da água e minha cabeça quebra a superfície. Eu suavizo meu cabelo molhado para trás e saio.
Ryn está de pé junto à abertura no muro, olhando para fora. — Alguém está vindo, — ele diz.
— O quê?
Ele agarra minha mão e me puxa para a porta do quarto da princesa. — Vamos esperar até que ele passe.
Estamos dentro da entrada de uma sala de estar. Tudo rosa e verde e estampas florais na parede - realmente não é o meu estilo.
— Droga, — murmura Ryn. Olho para o jardim e vejo um faerie escorregar pelo espaço na cobertura. — Atravessar aquela porta, — Ryn sussurra apressadamente, apontando para o outro lado da sala.
Eu corro, mas meus pés molhados deslizam na grande poça que se forma sob nossos corpos encharcados, e antes que eu saiba, eu estou caindo.
— Vi! — Ryn tenta me alcançar no momento em que eu me jogo contra a parede - que de repente cede. Ryn me empurra para a escuridão e me segue. Ele se inclina contra a parede - porta? - para fechá-la, sussurrando rapidamente algo à medida que a luz se estreita para uma fenda e desaparece.
A escuridão nos rodeia, então, completamente, parece que está pressionando contra meus globos oculares. — O que você acabou de dizer? — Eu sussurro para Ryn.
— Apenas um feitiço para secar toda aquela água. Nossos passos levariam para cá caso contrário.
Eu sinto a parede com minhas mãos e aperto minha orelha suavemente contra ela. Não consigo ouvir nada. — Onde estamos? — Pergunto.
— Uma passagem secreta entre as paredes, eu imagino. A princesa deve usá-la para dar uma volta sem ser vista.
Mais alguns momentos de silêncio passam antes de eu dizer, — Bem, talvez devêssemos conjurar alguma luz e seguir esta passagem. Nós não sabemos se o faerie ainda está por aí.
— Nós também não sabemos aonde essa passagem leva. Imagine se chegarmos no quarto da Rainha, molhados, enquanto ela está dando um cochilo matinal.
— Eu duvido que ela dê cochilos matinais, — eu sussurro de volta. — E eu não posso, pelo menos, criar alguma luz aqui? Certamente não pode ser visto na sala lá fora.
Quando Ryn responde, sua voz soa mais próxima do que estava antes. — Com medo do escuro, não é, Sexy Pixie?
— Claro que não.
Então não evoco uma luz. Nem ele. Ouço um barulho na sala de estar. Algo se movendo ao longo do chão, então batendo na parede. Eu involuntariamente dou um passo para trás. Sinto Ryn bem ao meu lado. Seu braço, ainda molhado, escova o meu. Posso ouvi-lo respirar. Sua mão se move, e seus dedos lentamente se entrelaçam com os meus. Meu coração faz uma dança vertiginosa no meu peito, e porque a escuridão é tão completa, não tenho ideia do que está prestes a acontecer até que já esteja acontecendo.
Seus lábios escovam os meus, o que me assusta tanto que quase me afasto. Mas eu não me afasto. Seguro seus dedos mais apertados e aperto meu corpo mais perto porque — sim oh sim oh sim — eu quero tanto isso. Nossos lábios se tocam novamente, com mais pressão desta vez. Ele tira os dedos dos meus e desliza a mão até o meu braço. Imagino que posso sentir faíscas pulando pela minha pele. Através das minhas pálpebras fechadas, vejo flashes de luz, e a realização me atinge: as faíscas que ele está arrastando sobre a minha pele são reais.
Seus dedos cavam nos meus cabelos molhados e puxam meu rosto para mais perto dele. Ele me vira, me pressionando contra a parede. Sinto seu corpo ao longo de cada centímetro do meu; não existe espaço entre nós. Seus lábios escovam meu maxilar, me provocando com beijos que se parecem tão bons contra minha pele ardente e quente. Ele trilha um dedo - mais faíscas - no meu pescoço e sobre a ondulação do meu peito, terminando quando ele atinge a borda do meu top. Acho que um suspiro escapa da minha garganta, mas não tenho certeza porque tudo o que posso ouvir é o martelar de sangue nos meus ouvidos.
Seus beijos alcançam meus lábios novamente, e desta vez eu os abro. Sua língua desliza sobre a minha, produzindo uma deliciosa sensação de formigamento. Mais faíscas. Eu estendo a mão e passo os dedos pelo seu cabelo. Se eu pudesse puxá-lo para mais perto do que ele já está, eu faria. Suas mãos deslizam por meus lados, sobre meus quadris, e param no topo das minhas pernas. Seu aperto aumenta, e em um movimento rápido, ele me puxa. Enrolo minhas pernas ao redor de sua cintura enquanto ele desliza as mãos debaixo do meu top, seus dedos deslizam pela minha pele nua.
A parte lógica do meu cérebro de repente acorda e começa a gritar comigo para sair daqui. O que eu estou fazendo? Este é o cara que namorou com os Subterrâneos e zomba dos sentimentos das garotas da Guilda que ousaram gostar dele. Este é o cara que me machucou tantas vezes depois que Reed morreu que eu jurei que nunca mais o deixaria se aproximar de mim novamente.
Mas não consigo parar. Não posso. Eu quero muito mais. Os beijos. As faíscas. Nossos corpos molhados pressionados juntos. Acima das batidas nos meus ouvidos, ouço algo como vidro quebrando. Eu não ligo. As faíscas estão dançando em todo o nosso corpo, e é exatamente onde eu quero estar. Cada centímetro de mim estava desesperado para estar ainda mais perto dele.
Ryn arranca seus lábios do meu o suficiente para arfar, — Eu lhe disse que você estava perdendo. — Algo dentro de mim congela. Ele me gira novamente, me pressionando forte contra a parede - a parede errada.
Ela se abre e nós dois aterrissamos em uma pilha sem graça no chão da sala de estar da princesa. Cacos de vidros espalhados pelo chão, várias cadeiras estão jogadas para os lados e fumaça sobe de uma almofada carbonizada.
Levanto quando vejo alguém de pé sobre nós: o faerie da qual tentávamos nos esconder. — Ok, isso não é o que parece, — ele diz, levantando as mãos. — Todo esse dano aqui? Eu não fiz isso. Apenas... aconteceu.
— O quê? — Ryn pergunta, claramente confuso. O faerie parece tão culpada quanto eu me sinto. — Quem é você? — Exige Ryn, na mesma hora que o faerie pergunta exatamente o mesmo.
Não sei o que está acontecendo. Ryn e eu não deveríamos estar aqui, e obviamente esse cara também não. Mas eu não ligo. A minha versão lógica está enlouquecendo. Pirando. Tudo o que quero é estar o mais longe possível daqui. Sem outro pensamento, volto para o jardim e corro o mais rápido possível.
Capítulo 23
Não paro de correr até chegar no meu quarto. Eu tranco a porta atrás de mim e me inclino contra ela, respirando com dificuldade. Se Ryn tentou me seguir, ele não faz um trabalho muito bom, porque não consigo ouvir nada do outro lado da porta. Apenas para ter certeza, eu corro para o banheiro e tranco a porta atrás de mim também. Eu não quero ouvir se ele bater.
Eu disse que você estava perdendo.
O beijo era sobre isso? Apenas Ryn se provando para si mesmo? Eu estava tão apressada no momento que provavelmente teria entregado meu coração se ele tivesse pedido, e tudo o que ele realmente estava fazendo era provando algo? Inclino-me contra a porta e deslizo para baixo até estar sentada no chão. Eu corro as duas mãos através do meu cabelo úmido e o puxo. O meu peito dói com o vazio, mas isso serviu para me mostrar que eu estava sendo estúpida. Eu sabia o tempo todo que esses sentimentos só acabariam me machucando.
Escondo-me no banheiro a tarde toda até ouvir a conjuradora de roupa na porta do meu quarto. No começo, temo que seja Ryn batendo, mas a voz aguda da conjuradora de roupas passa facilmente através das duas portas.
Ela observa minha aparência desgrenhada com as sobrancelhas levantadas. Quando não digo nada, ela começa a trabalhar. Ela me veste em uma detestável criação volumosa e roxa que, felizmente, tem pouco brilho. Meu cabelo obviamente a ofende porque ela franze o cenho toda vez que ela olha para a minha cabeça. Em vez de me deixar lidar com isso, ela murmura um feitiço para livrar-se da aparência molhada e enrola e torce e coloca grampos tão rápido que eu não tenho certeza de como tudo acabou empilhado em cima da minha cabeça. Não parece muito ruim, e eu aprecio a velocidade. Balançando a cabeça de desaprovação, ela recolhe suas coisas e sai.
Eu rapidamente retiro as fitas coloridas do meu pulso e vou até a porta do meu quarto. Preciso sair daqui antes que Ryn chegue para me acompanhar para o andar de baixo. Abro a porta e espio. Nada de Ryn.
Ufa.
Eu desço as escadas tão rápido quanto o volume permite. O cara que sorriu para mim ontem à noite está parado perto das portas da sala do trono, e eu decido que agora é hora de ser amigável. Eu me apresento, e ele parece estranhamente animado em falar comigo. Eu faço o meu melhor para prestar atenção ao que ele está dizendo, mas é um pouco difícil quando passo os primeiros minutos da nossa conversa ansiosamente procurando por Ryn e as próximas evitando propositadamente o olhar dele. Posso dizer que ele está me observando, e o constrangimento aquece meu pescoço.
O jantar é horrivelmente estranho. Ryn e eu estamos sentados ainda mais longe da Rainha do que na noite passada - provavelmente devido à minha grosseria - e passo toda a noite com meu corpo longe de Ryn tentando conversar com o cara da minha esquerda. A menina do outro lado parece um pouco chateada porque ele está a ignorando. Parte de mim se sente mal, mas estou tão desesperada para conversar com alguém além de Ryn que farei qualquer coisa para manter a atenção desse cara.
Quando o jantar chega ao fim e todos começam a ficar de pé, eu sou a primeira a sair. Ouço a voz de Ryn atrás de mim, — V, espere. — Eu ando mais rápido. Não tenho certeza de poder correr nessa coisa volumosa, mas certamente posso tentar. Assim que eu rodeio um canto, eu corro. Os passos apressados de Ryn me seguem. — Apenas espere, caramba, — ele grita. Meu cérebro me tortura com uma lembrança das minhas pernas enroladas em sua cintura e seu corpo pressionado contra o meu.
Ugh, eu poderia me envergonhar mesmo se eu não tentasse?
— Violet! — O grito de Ryn é tão alto que eu paro. Fico no pé da escada com as costas para ele. A água que saí das mãos estendidas das sereias escorre em segundo plano. — Não entendo, — diz ele. — Sobre o que você está chateada?
Giro lentamente e olho para ele. Há muitas coisas que eu quero dizer, mas as palavras que acabam deixando a minha boca são, — Podemos apenas fingir que não aconteceu?
Ele parece tão confuso que por um momento que eu também fico confusa. Eu perdi alguma coisa aqui? Entendi mal o que realmente aconteceu entre nós? Mas percebo movimento abaixo de uma arcada atrás dele, e todos os pensamentos do nosso beijo se desvanecem quando pouso os olhos no faerie impostor que roubou a forma do meu pai. Parece que o idiota é estúpido o suficiente para aparecer na mesma sala, ao mesmo tempo que a noite passada.
— Ei! — Grito enquanto ele desaparece na escuridão mais uma vez. — Pare! — Eu corro atrás dele, quase caindo de cara quando piso na frente do meu vestido. Eu tiro as camadas estúpidas do caminho, puxo a saia com as duas mãos e corro de novo. Ele já está a meio caminho do bosque de árvores de onde desapareceu na noite passada, e ainda estou correndo pela colina. Estou pensando em arrancar a parte de baixo da minha monstruosidade volumosa quando Ryn passa por mim. Pouco antes do metamorfo chegar ao pavilhão, Ryn dá um salto volumoso e o coloca no chão. Eles lutam. Faíscas de magia voam aqui e ali. Assim que chego ao pavilhão, o metamorfo consegue levantar. Eu posso ver que ele está prestes a correr outra vez, e minhas armas aparecem calorosamente enquanto se instalam em meus braços estendidos.
— Pare! — Eu aponto meu arco e flecha diretamente para ele. — Quem diabos é você e como se atreve a assumir a forma do meu pai?
Ele encontra meu olhar irritado, ergue lentamente as mãos e balança a cabeça.
— E o que isso significa? Você não sabe quem você é? Você está se recusando a me responder?
Ryn ergue-se e fica de pé ao meu lado. Do canto do meu olho, eu percebo seu chicote cintilante na mão direita. — Eu acredito que ela fez uma pergunta, metamorfo.
O homem balança a cabeça novamente, ainda me observando. — Você não quer fazer isso, V.
Estou tão assustada com o uso do meu apelido e sua voz que soa exatamente como a do meu pai - obviamente - que o arco e a flecha quase desaparecem do meu aperto. Como ele sabe que meu pai sempre me chamou de V? Não. Concentre-se. Eu já fui enganada por um metamorfo antes e não serei de novo. — Você parece saber quem eu sou, então é justo que me diga quem você é. — Quando ele não diz nada, eu grito, — Diga!
O metamorfo fecha seus olhos e suspira. O olhar de derrota em seu rosto me dá esperança; ele vai se entregar e me contar o que está acontecendo. Ele senta-se em uma cadeira acolchoada, se inclina sobre os joelhos e olha para mim. — Minha linda garota, — diz ele suavemente. — Você parece muito com sua mãe.
— Desculpe-me?
— Eu deveria saber que você estaria aqui. Claro que você ganharia o prêmio de graduação... é o que você sempre quis.
— Ok, eu não sei o que você está fazendo, — além de me assustar — mas você não está respondendo a minha pergunta. — Eu ando até ele e seguro a flecha a polegadas de sua testa. — Quem. É. Você?
Ele ergue os olhos e diz simplesmente, — Seu pai.
Apesar do calor do ar noturno, um arrepio atravessa meus braços. — Meu pai está morto, — eu digo a ele. — Eu vi o corpo dele. Eles o colocaram em uma canoa e eu o assisti flutuar e desaparecer sob as Cataratas do Infinito. Ele se foi, o que significa que você não é ele.
Ele esfregou uma mão nos olhos dele. — Eu sinto muito, V. Você não deveria saber sobre isso. Pelo menos não até que tudo acabe e estejamos seguros novamente. — Ele geme e murmura algo sobre a Rainha e ser descuidado.
— Eu odeio ser repetitiva, — eu digo, — mas você não está respondendo a minha pergunta.
Ele se concentra em algum lugar no chão e diz, — Não era eu na canoa. Era um metamorfo. A rainha o usou para fingir minha morte para que eu pudesse continuar uma tarefa perigosa disfarçado. Todos tiveram que acreditar que eu estava morto para que a pessoa de quem eu estou atrás não tivesse mais suspeita.
Eu posso sentir uma parte de mim ousando ter esperança. Parece improvável, mas talvez seja verdade. Talvez este homem sentado aqui me observando com algo como orgulho seja realmente meu pai.
— Você espera que acreditemos nisso? — Perguntou Ryn. — Que história ridícula. Um metamorfo não volta para sua forma original quando morto de qualquer maneira? Se a sua história fosse verdade, então teríamos visto um estranho na canoa, não o pai de Violet.
Eu balanço a minha cabeça. — Eu matei um metamorfo. Ele... — Ele ainda parecia Nate quando ele estava morto. — Ele não voltou à sua forma original depois que ele morreu.
— Você não precisa acreditar em mim. — O homem está parado, e eu mantenho minha flecha treinada em sua testa. — Na verdade, seria melhor se não acreditasse. Seria melhor se todos nos afastássemos agora e fingíssemos que isso não aconteceu. — Sua voz está estável, mas seus olhos estão cheios de uma tristeza infinita. Maldito, esse cara é um ator realmente bom ou ele está falando a verdade. Ele olha diretamente para mim e diz, — Você deveria me deixar ir.
— Isso é exatamente o que você quer, não é? — Ryn murmura. Ele se vira para mim. — Não podemos dar a esse cara uma poção de compulsão e forçá-lo a dizer a verdade?
— Poderíamos. Ou ele poderia apenas responder uma pergunta. — Eu consigo pensar em algo que ninguém mais deveria saber. — O que meu pai me disse na noite em que o menino que todos amavam morreu? — Isso deve ser bastante enigmático se esse homem realmente for uma fraude.
O homem-que-pode-ser-meu-pai se aproxima de mim. Tão perto que minha flecha está quase tocando sua pele. — O que você quer, Violet? — Ele pergunta suavemente. — Você quer que seja eu? Ou é mais fácil para você se eu não for nada além de um impostor?
Minha voz se quebra quando digo, — Eu já sei que é você. — Eu acho que soube no momento em que ele me chamou de V.
Vivo. Ele está vivo. Como eu deveria processar isso?
— Perdoe meu cinismo, — diz Ryn, — mas eu ainda gostaria de ouvir a resposta a essa pergunta.
Meu pai olha para Ryn, depois de volta para mim. Ele respira fundo. — Você viu minhas lágrimas e disse que nunca tinha me visto chorar antes. Eu disse que foi apenas a segunda vez que derramei lágrimas na minha vida adulta. Eu também disse que não sabia o porquê, mas sempre amei aquele menino como se ele fosse meu próprio filho.
Eu aceno. Foi exatamente o que o pai me disse. Papai. Meu pai. Que não está morto. A realização finalmente me acerta e um estremecimento passa pelo meu corpo. — Papai? — Eu sussurro.
Ele me puxa para dentro de seus braços. — Bebê, sinto muito, sinto muito. Por favor, me perdoe. Eu senti falta de você todos os dias. Eu nunca quis deixar você.
Em meio ao meu emaranhado de emoções, eu me encontro me livrando de seus braços. — Mas você foi, — eu digo através das minhas lágrimas. — Você foi embora. Você disse que todos tinham que acreditar que você estava morto, mas por que eu? Por que você não poderia simplesmente me dizer o que realmente estava fazendo? Eu teria mantido seu segredo. Você sabe que eu teria.
— Eu especialmente não poderia dizer a você, V. Você estava em perigo. Ele queria matá-la. Você tinha que acreditar que eu estava morto ou ele teria procurado até encontrar você.
— O quê? Sobre o que ele está falando?
— Eu sempre soube que você ficaria brava se descobrisse sobre isso, mas nunca me arrependi. Tanto quanto quebrou meu coração deixá-la, minha decisão a manteve segura. Valeu a pena a dor que ambos tivemos que passar.
Raiva explodia dentro de mim. Que direito ele tem para decidir qual dor que devo passar? Ryn toca meu braço. — Não brigue com ele, V. Ele está vivo. Este deve ser um momento de alegria, não de raiva.
Aperto meus olhos. Lágrimas escorrem pela borda das minhas pálpebras e correm para minhas bochechas. Por que Ryn está sempre certo? Eu deveria me alegrar agora, não agir como uma criança difícil. Avanço e envolvo meus braços ao redor do pescoço do meu pai. Ele me abraça de volta. Isso é real, eu digo a mim mesma. Seus braços em volta de mim são reais. E, embora eu deteste falar de sentimentos, acho que devo dizer a ele algo, apenas no caso de isso ser um sonho e eu não ter outra chance. — Eu te amo, pai, — eu sussurro.
— Eu amo você. — Ele me aperta apertado e me levanta do chão por um segundo. — E estou tão orgulhoso de você. Você se tornou uma jovem e uma guardiã tão incrível, inteligente e bonita. — Ele me põe de pé. — E por que você está vestindo este vestido horrível? Você odeia roupas roxas.
Eu rio enquanto limpo as lágrimas do meu rosto. — Eu não escolhi. A mãe não te disse que eles escolheram suas roupas quando ela ficou aqui?
Papai balança a cabeça com uma risada. Ele olhou por cima do meu ombro e estende a mão para Ryn. — Eu acho que eu não deveria ficar surpreso ao vê-lo aqui também. Você sempre foi tão competitivo quanto a Violet. Parabéns pelo primeiro lugar sua turma. — Ele sacode a mão de Ryn. — Estou surpreso ao ver vocês dois de pé na mesma sala sem querer se machucar. Pensei que vocês dois tinham jurado nunca mais ser amigos de novo?
Olho para Ryn e depois desvio o olhar. — Sim, hum, decidimos colocar tudo isso para trás.
— Uh, eu tenho uma pergunta, senhor, — diz Ryn. — Foi você quem eu vi na casa dos Harts?
— O quê? — Eu pergunto, assim quando o meu pai balança a cabeça e diz, — Sim.
— Hum... sim. — Ryan se vira para mim. — Lembra quando eu disse que vi alguém que parecia Cecy? Bem, eu estava mentindo.
Fico boquiaberta. — Você viu meu pai e não me disse? — Eu tento empurrá-lo, mas ele pega minhas mãos.
— Eu simplesmente pensei que não poderia ser ele, então por que te assustar?
— Ryn, isso não é motivo suficiente para manter algo assim de mim. — Eu me sinto machucada e traída, mas estou tentando ser madura, então eu deixo passar. Sento-me à beira de uma cadeira e viro para o meu pai. — Ok, você tem muitas explicações para dar. Qual tarefa disfarçada que você está fazendo que está demorando tantos anos para completar? E por que exatamente foi melhor para todos, se todos pensassem que você estava morto? Você disse que alguém estava tentando me matar? E o que exatamente você estava fazendo na casa dos Harts?
Papai ergueu as mãos. — Olha, você sabe que não posso te dizer nada. Em primeiro lugar, é contra o protocolo compartilhar os detalhes de uma tarefa e, em segundo lugar, é para sua própria segurança.
— Papai, você me abandonou nos últimos cinco anos. Eu acho que você me deve muito. — Sim, estou jogando o cartão de culpa. Um movimento dissimulado, mas não me importo agora.
— V, eu ...
— Conte! Você não pode simplesmente aparecer na minha vida de repente e não explicar nada.
Ele se senta na borda de uma pequena mesa. — Tudo bem, olha, é algo a ver com o filho da Rainha Unseelie, mas é tudo o que posso dizer. Estou lidando com pessoas muito perigosas, V, e não posso envolver você nisso.
— O filho da Rainha Unseelie? — Eu olho para Ryn, que está sentado para trás em uma cadeira próxima. — Você quer dizer Zell?
Papai franzi o cenho. — Sim. Marzell. Como você o conhece?
Eu reviro meus olhos. — Você tem medo de eu estar envolvida, pai? Bem, é tarde demais para isso. Eu já estou envolvida. Pra caramba. Então não há necessidade de você manter mais segredos de mim.
— O que você quer dizer que você está envolvida? — Papai levantou rapidamente. — Como? O que aconteceu?
— Não, não, não, — eu digo. — Você não pode exigir detalhes sem compartilhar. Você me conta sua história, e eu conto a minha.
Com descrença escrita em todo o rosto, papai olha para Ryn como se para apoio. — Desculpe, mas estou com V nisto, — diz Ryn.
Depois de outra pausa, papai diz, — Ok, mas não tenho tempo para contar tudo agora. Eu já estou atrasado para a reunião para a qual eu estava a caminho quando você me perseguiu.
O pânico aperta o meu coração. Nós vamos embora na primeira hora pela manhã; quando vou vê-lo novamente? — Então, venha para casa, — eu digo, de pé rapidamente. — Venha para casa e explique tudo para mim.
Papai se aproxima e toca minha bochecha. — Eu não quero deixá-la fora da minha vista se você estiver em perigo.
Inclino minha cabeça de lado e sorrio. — Eu sou uma guardiã, pai. Eu sempre estarei em perigo.
— Sim, mas é diferente com a Corte Unseelie. Você não sabe o que eles...
— Eu tenho um encanto de ocultação sobre mim. Um bom. Não há maneira de Zell me encontrar, a menos que acidentalmente toquemos um no outro, e isso não acontecerá.
Papai balança a cabeça. — OK. Você estará em casa à noite depois de amanhã? — Eu aceno com a cabeça. — Bom. Vejo você então. — Ele beija minha testa. Ele está prestes a se afastar quando seu olhar cai para o meu pescoço. — O tokehari de sua mãe, — ele diz com surpresa. — Eu pensei que estava — ele olha para Ryn, então de volta para mim — perdido, — ele finaliza.
— Uh, eu achei, senhor, — diz Ryn, — e voltou com as minhas mais sinceras desculpas... por ‘perder’.
Papai sorri. — Isso é bom. — Ele beija minha testa mais uma vez e sussurra, — Eu amo você, bebêzinha.
Capítulo 24
Sinto que estou olhando a minha vida através de olhos diferentes. Toda vez que eu penso em um evento importante, eu me pergunto onde meu pai estava na época e o que ele estava fazendo. Ele estava observando do lado de fora, mantendo um olho em mim? Ou ele se distanciou completamente desde sua suposta morte, nem mesmo sabendo que eu apareceria naquela noite no Harts? Tantas perguntas. Eu provavelmente deveria escrevê-las no caso de esquecer de algo.
Ryn e eu fazemos a viagem de volta para Creepy Hollow em silêncio. Eu digo a mim mesma que ele está me dando espaço para aceitar o fato monumental de que o meu pai ainda está vivo, mas eu sei que também há uma súbita estranheza entre nós. Nenhum de nós mencionou o Beijo novamente. Espero que, se eu ignorar, Ryn e eu possamos voltar para algum tipo de amizade confortável. Eu vou superar meus sentimentos por ele em breve, certo? Sim, eu vou. Afinal, não pareceu levar muito tempo para que meus sentimentos por Nate desaparecessem.
Quando acordei no palácio esta manhã, encontrei uma nota que foi deixada por debaixo da minha porta. Meu coração apertou dolorosamente quando vi meu nome escrito na caligrafia do meu pai na frente.
Tenho certeza de que não tenho que dizer isso, mas NÃO PODE dizer a ninguém sobre mim.
Ele não precisava me lembrar, mas eu valorizo sua nota, no entanto. Prova que ele realmente existe. Eu a mantenho no meu bolso agora que estou de volta para casa onde a Corte Seelie e tudo o que aconteceu lá é um sonho vívido. A nota e a caligrafia me asseguram que foi real. O espelho de prata acima da minha mesa e a vela preta que queima para sempre que estão ao lado da piscina do meu banheiro também ajudam.
Depois de encontrar Bran na Guilda e interrogá-lo sobre a investigação sobre os ataques à Guilda - ele me diz absolutamente nada útil - envio uma mensagem no âmbar para Tora e a convido para a sobremesa. Desejo com todo o coração que eu pudesse contar a ela sobre papai, mas, em vez disso, ela terá que me contar sobre o cara que ela manteve em segredo.
— Olha, eu não mantive segredo intencionalmente de nada para você, — ela diz, quando eu a cumprimento na minha porta com os braços cruzados e um olhar raivoso. — Eu simplesmente não tinha exatamente chegado a te contar sobre ele ainda.
— Sim, sim, tanto faz. — Isso me parece exatamente o que eu diria se ela descobrisse sobre Nate, então eu realmente não tenho o direito de fazê-la se sentir culpada. — Diga tudo agora, e isso compensará.
Ela atravessa minha sala de estar em direção a um dos sofás. — Tudo bem, mas depois você vai compartilhar os detalhes de sua vida amorosa.
— Mas eu não tenho vida amorosa. — Pelo menos não que eu esteja disposta a falar. A lembrança das mãos de Ryn acariciando minha pele envia borboletas voando na minha barriga. Eu me afasto para esconder meu sorriso. Eu não deveria estar sorrindo. Eu nem deveria estar pensando nisso. Não é como se fosse acontecer novamente.
— Ooh, eu não tive uma sobremesa divertida assim há séculos, — diz Tora enquanto olha para a mesa baixa entre os sofás. Há uma tigela de frutas do seu lado e outra do meu lado. Nós também temos uma tigela de chocolate derretido e palitos de pau. No centro da mesa está uma esfera flutuante de luz azul e branca.
— Sim, não acho que usei esse feitiço de sobremesa faz anos. Parecia apropriado para o clima mais quente. Então, de qualquer maneira, esse cara...
— Oliver.
— Oliver. Você o conheceu na Guilda de Londres?
— Antes disso, na verdade. — Tora se inclina para frente e coloca um morango no final do seu palito de pau. Depois de mergulhar no chocolate derretido, ela o mantém dentro da esfera cintilante por vários segundos para congelá-lo. — Lembra quando você foi suspensa?
— Eu tento não lembrar.
— Certo, bem, havia um cara do Conselho que visitou a Guilda de Londres. Ele teve que se encontrar com alguns de nossos membros do Conselho, e depois conversou com alguns de nossos formandos. — Ela morde o morango com chocolate congelado e mastiga algumas vezes antes de continuar. — Eu fui a mentora no comando naquele dia, então, você sabe, conversamos. — Sua pele pálida fica rosa brilhante.
— Eeeee? — Eu pergunto com um sorriso.
— Bem, ele era muito charmoso e tudo mais, mas eu estava apenas sendo amigável.
— Isso é estranho. Lembro de Honey me dizendo que ele era chato.
Tora faz uma careta para mim. — Ele não é chato. Quero dizer, ele chamou a videira perdida que sempre foge pelo corredor Nigel, o que é um pouco corajoso, mas, além disso, você sabia...
— Gostoso?
— Bem, sim.
Eu rio enquanto congelo o meu próprio pedaço de fruta. — Eu sabia!
— Oh, bobagem, você não sabia de nada. De qualquer forma, eu disse adeus esperando não o ver novamente, e a próxima coisa que eu fico sabendo, a Conselheira Starkweather disse que ele me pediu para visitar a Guilda de Londres por alguns dias para dar minha contribuição para um novo centro de treinamento que eles decidiram construir. Eu pensei que era estranho que eles não pedissem para alguém que realmente projeta centros de treinamento...
— E então você descobriu quando chegou lá que ele não queria sua contribuição, ele só queria você. — Eu lhe dou o meu sorriso mais doce e ela revira os olhos.
— Bem, não é como se ele me tivesse dito isso, mas descobri.
— Então é por isso que você acabou ficando por mais tempo?
— Sim, ele conseguiu me convencer a estender minha visita.
— Sabe, Tora — Eu me inclino para frente, fingindo um ar conspirador — há essa coisa chamada caminhos das fadas que permite que você visite alguém em qualquer lugar do mundo em apenas alguns segundos. Na verdade, vocês nem precisam ficar no mesmo lugar.
Tora cruzou os braços e estreita os olhos, mas vejo que ela está tentando não sorrir. Eventualmente, ela cede com uma risada. — Olha, foi mais fácil quando eu estava lá.
— Na casa dele?
Ela esfaqueia outro pedaço de fruta e o congela. — Você ainda não me disse por que Ryn estava em seu quarto tão cedo na manhã de ontem.
Eu congelo um mirtilo coberto de chocolate e o entrego ao Filigree, atualmente em forma de rato e descansando no braço do sofá. — Já que estamos mudando de assunto, — eu digo, — vi Bran mais cedo e perguntei sobre os ataques a Guilda. Ele usou muitas palavras, mas basicamente não me disse nada.
— Você sabe que ele não pode dizer nada se você não faz parte da investigação. Eu também perguntei, e ele também não me contará nada. Eu só conheço os poucos detalhes que foram tornados públicos, como o fato de que a Rainha Unseelie nega ter qualquer conhecimento dos ataques.
O que é exatamente o que eu disse a Conselheira Starkweather. — Sim, ele mencionou isso. Então, quando eles consertaram o saguão e o teto? Eu andei por lá mais cedo hoje e parecia que nada nunca aconteceu.
— Eu acho que eles terminaram ontem à noite. — Tora congela uma framboesa com chocolate e enfia toda a coisa na boca dela.
— Uau, três dias inteiros apenas para reparar o saguão?
— Mm hmm. — Ela termina de mastigar. — São alguns encantamentos sérios de proteção no teto abobadado. E, aparentemente, o piso também tem a mesma proteção. — Ela pega sua tigela de frutas e come alguns pedaços descongelados. — Agora, não pense que não tenho notado que você está evitando falar sobre Ryn. Eu sei que você o desprezava há alguns anos, mas certamente parecia estar curtindo sua companhia no grande baile. Vocês dois são mais do que amigos agora?
— Tora! — Eu faço o meu melhor para parecer horrorizada. — Não. Você pensa honestamente que eu namoraria Ryn?
— Bem, sim. Ele é bonito e encantador, ele é um excelente guardião, e eu posso ver porque você pode se apaixonar por ele.
— Isso é ridículo. Nunca funcionaria a longo prazo.
Tora fica calada um pouco antes de responder. — Eu não queria ter que ser aquela a dizer isso, então fico feliz que você tenha feito. Eu sei quantas vezes ele te machucou no passado, e eu odiaria que você se machucasse de novo. Mas acho que você sempre foi uma pessoa sensata. Eu deveria saber que você não iria se apaixonar por ele assim. — Ela estala os dedos.
Vê? Diz a voz lógica dentro de mim. Tora sabe tão bem quanto você que não funcionaria.
— Certo, agora me diga o que você vai dizer quando a Guilda lhe oferecer um emprego. — Ela aponta seu pedaço de pau com chocolate para mim. — Porque ambas sabemos que é exatamente o que eles vão fazer.
No momento em que Tora e eu discutimos as minhas opções para o futuro... que já não incluem ser uma guardiã pessoal da Rainha Seelie, uma vez que existe uma forte possibilidade de ela pensar que sou rude e desagradável, e eu também acho que vou achar a vida no palácio completamente chata... nós terminamos toda a sobremesa. Eu limpo enquanto Tora lê uma mensagem em seu âmbar e rir. Ri. Honestamente, o que tem no amor que pode nos fazer agir como idiotas completas às vezes? E por ‘nós’ não me refiro a mim. Porque eu nunca agiria como uma idiota por um cara. Bem, exceto na vez que tentei seduzir Nate com um tremor sedutor dos meus cílios.
— Eu, hum, preciso ir agora, — diz Tora.
— Tem um encontro no outro lado do mundo?
— Algo assim. — Os olhos dela brilham.
— Ok, bem, eu te vejo depois.
Ela vai embora, e eu tento me dizer que não me sinto sozinha. Eu tento me dizer que não sinto falta de Ryn. Estou mentindo, é claro. Parte de mim deseja que ele estivesse aqui, apenas para sair, ser amigos. Mas há uma parte muito maior de mim que está aliviada por ele não estar, por que, então, eu teria que falar sobre o Beijo.
Dirijo-me para o andar de cima, visto uma longa camiseta e subo na minha cama com o meu âmbar. Eu preciso praticar alguns dos feitiços de redes sociais que Ryn me ensinou ou nunca vou fazer pleno uso dele. Puxo minha stylus do meu cabelo, que cai em volta do meu pescoço em ondas bagunçadas; Raven não ficaria impressionada. Após alguns minutos, escrevo as palavras de um feitiço sobre a superfície brilhante do âmbar.
Nada acontece.
Ótimo. Posso me lembrar de feitiços complexos necessários para curar meu corpo de todos os tipos de lesões, mas quando se trata de algo bobo como um feitiço para melhorar minha vida social, as palavras me escapam. Filigree desloca-se para a forma de um coelho branco com pequenas asas brancas — quem sabe onde ele viu isso — desliza e meio que salta na cama enquanto eu toco minha stylus no meu queixo, pensando. Procuro outra combinação de palavras e, desta vez, pequenas formas nadam na superfície do meu âmbar.
Eu me inclino contra meus travesseiros e examino as formas e as palavras. Existem símbolos que representam pessoas diferentes — Ryn me deu uma chave quando ele definiu este feitiço — e linhas curtas de texto ao lado de cada um. Uma mensagem em uma bolha no topo do âmbar me informa que Honey está ‘me seguindo’, e também o cara com quem conversei do lado de fora da sala do trono quando eu estava evitando Ryn. Isso é um pouco assustador. Como ele me encontrou?
Eu passo os olhos e leio algumas das mensagens.
Honey: Férias com meu namorado e sua família. Tipo, todos os 12!
Flint: A Guilda está mais forte do que nunca. Toma essa, Corte Unseelie!
Ryn para Opal: Eu achei que a comida arrasou, na verdade.
Sério? Isso é o que as pessoas fazem no seu tempo livre? Eu não entendo. Flint não poderia ter problemas em dizer a Corte Unseelie ‘toma essa’, ou esse tipo de coisa é permitido com os feitiços sociais? E quem é essa pessoa Opal com quem Ryn está falando? Hmm. A garota de cabelos negros com quem ele estava flertando no palácio não se chamava Opal?
Eu não quero me envolver nessa coisa tola. Por outro lado, não quero ser excluída. O que é completamente ridículo. Eu nunca me preocupei em ser excluída. Eu acabava com minhas tarefas e ignorava Ryn e todos os outros.
Um som de batidas me surpreende, e olho. Ryn está inclinado na entrada do meu quarto, batendo os nódulos contra a moldura da porta. A visão dele envia uma sensação que atravessa meu corpo.
Sensação estúpida.
— Você sabe que deveria ficar lá fora e bater, certo? — Eu digo a ele.
— Sim, mas achei que você não me deixaria entrar se soubesse que era eu. Então eu apenas me deixei entrar.
Eu dou uma risada falsa enquanto coloco meu âmbar na mesa de cabeceira. — Por que eu não deixaria você entrar?
— Uh, porque você está me evitando desde a manhã de ontem? Se eu não tivesse pegado seu pai para você ontem à noite, você teria se escondido no seu quarto a noite toda. E se não tivéssemos sido forçados a viajar juntos esta manhã, você definitivamente ficaria longe de mim o dia todo.
— Bem, sabe, não precisamos nos ver todos os dias. — Uau. Incrível contribuição para a conversa, Violet. Você deveria manter sua boca fechada.
— Eu acho que não, — diz Ryn, — mas quando há essa estranheza entre nós, provavelmente devemos falar sobre isso.
Por favor, não.
— Por que tenho a sensação de que o nosso relacionamento está retrocedendo? — Ryn pergunta enquanto ele entra no meu quarto, retira a jaqueta e a pendura na parte de trás da cadeira da mesa. — Geralmente, não é a garota que sempre quer falar sobre sentimentos e outras coisas e o cara guarda tudo?
— Eu não guardo as coisas, — eu disparo de volta. Bem, há uma caixa imaginária em que eu gosto de esconder coisas, mas isso é diferente.
— Certo. Claro que não.
Eu levanto os meus joelhos e coloco meus braços ao redor deles. Filigree pula até a borda da cama e bate as asas até conseguir decolar. Ele voa para Ryn, que o pega facilmente.
— Então, hum, como sua mãe está indo com essa investigação de assassinato? — Pergunto.
Ele suspira. — Tudo bem, já que você claramente não vai trazer isso à tona, eu direi. Nós nos beijamos. Foi muito bom. Agora eu quero falar sobre isso, mas não posso porque você está sendo toda estranha. Isso não é normal para você. Você não é como outras meninas, lembra? Você não fica boba e chateada e temperamental. Você é mais legal do que isso.
— Bem, Ryn, acho que só posso ser legal até certo ponto. Há uma linha, e quando você me beijou apenas para provar que estava certo sobre alguma coisa, você a cruzou. — Lá estava, agora ele sabe por que estou chateada. Hmm. Isso na verdade não foi tão difícil.
— Apenas para provar que eu estava certo? — Ele coloca um filigree contorcendo-se no chão. — Do que você está falando?
— Você vai me dizer que não se lembra? Deixe-me ajudá-lo. Tivemos um beijo super-quente, e então você terminou com um ‘Eu disse que você estava perdendo’.
— Sim, e? Você estava perdendo. Eu não estava tentando provar um ponto; estava simplesmente afirmando um fato. E não foi aí que eu planejei acabar. Confie em mim, eu poderia ter ficado no escuro com você por horas, se não tivéssemos atingido a parede errada e parado no meio de uma sala de estar parcialmente demolida. Falando sobre isso, você não me perguntou o que aconteceu depois que você fugiu.
Eu suspiro. — O que aconteceu depois que eu fui embora?
— Bem, o Sr. Faerie Sorrateiro tinha o mesmo direito de estar lá quanto nós. Então, nós dois concordamos em fingir que nunca nos vimos, e então ele correu enquanto eu fui deixado para limpar toda a bagunça que você e eu fizemos antes que a princesa Olivia voltasse.
— Nós fizemos?
— Uh, sim, V. — Ryn olha para mim como se eu já devesse ter descoberto isso. — Vasos quebrados, almofadas queimadas, móveis revirados... fomos nós. — Ele sorri. — Foi um beijo muito quente, lembra?
Tentar realmente não é difícil. Mas, obviamente, não estou tentando o suficiente porque as memórias não vão a lugar nenhum. Então respiro fundo e digo, — Tudo bem, vou conversar. O beijo foi quente. Surpreendente. Incrível. Você estava certo — eu claramente estava perdendo por nunca ter experimentado um beijo de alguém mágico. E agora eu sei, então obrigado. Podemos seguir em frente?
Ele cruza os braços. — Ainda não entendi. Por que você quer seguir em frente? Não é como se você tivesse me beijado porque estava entediada e não tinha mais nada a fazer no momento.
— Oh. Bem, já que você sabe muito sobre minhas motivações, talvez você gostaria de me dizer por que eu te beijei.
Ryn joga as mãos para cima. — Você realmente não vai admitir isso?
— Admitir o quê?
— Que você tem sentimentos por mim, Violet. Por que é tão difícil para você dizer isso?
— Porque não é verdade. — Abraço os joelhos com mais força. — E porque se fosse verdade, você só acabaria me machucando.
— Isso é ridículo. Se temos sentimentos um pelo o outro e queremos estar juntos, por que eu seria estúpido o suficiente para machucá-la?
— Bem, você provavelmente não faria isso intencionalmente, mas depois de um tempo você superaria todos os sentimentos que poderia ter por mim. Eu sei que você gosta da companhia das Subterrâneas, e nunca posso ser tão exótica ou emocionante quanto os seres que você encontrará lá.
Ele avança e se inclina sobre mim com as duas mãos na cama enquanto ele diz, — Eu não quero estar com Subterrâneas, V. Eu quero você.
Essas três palavras enviam arrepios para cima e para baixo em meus braços, mas não posso deixar de pensar para quantas outras garotas ele disse o mesmo. Eu me afasto dele. — Você diz isso...
— Eu quero dizer isso.
— Você acha que quer dizer isso, Ryn, e você provavelmente quer agora, mas não vai durar, e onde isso vai me deixar?
— Violet. Isto... o que estou sentindo... — Ele parece estar lutando por palavras. — É muito mais do que qualquer coisa que eu já senti por qualquer um. Está ameaçando explodir de mim. Como você pode me dizer que não vai durar?
Eu encolho os ombros, balanço a minha cabeça e olho para os meus joelhos. — Eu não sei. Só sei de uma coisa com certeza, e é que você vai quebrar meu coração.
— Não. Nunca vou machucá-la novamente, V. Falo sério. — Ele recua e puxa o cabelo. — O que eu tenho que dizer para fazer você acreditar em mim?
Esta conversa precisa terminar. Eu estou aterrorizada de que, se demorar mais, eu vá desistir. E tanto quanto eu quero - e eu realmente quero muito - sei instintivamente que, quando Ryn quebrar o meu coração, será dez vezes pior do que a dor que senti depois que Nate me traiu. — Não há nada que você possa dizer, Ryn, ou qualquer coisa que você possa fazer. E não importa, de qualquer maneira, porque não sinto o mesmo que você. — Mentirosa, mentirosa. — As coisas estavam boas quando éramos amigos. Por que não podemos continuar assim?
Ele solta uma risada sem humor. — Você não sente o mesmo por mim? Agora você está mentindo.
— Eu não estou.
Sua expressão é incrédula. — Sim, está.
Como ele sabe disso? Está escrito em toda a minha cara? Eu realmente sou uma mentirosa terrível? — Você não faz ideia do que estou sentindo, Oryn.
— Eu sei exatamente o que você está...
— Não faz. Fim da conversa.
— SIM, EU SEI! Você não está me ouvindo? Eu sei o que você está sentindo! Eu sinto o que você está sentindo! Você acha que você é a única em Creepy Hollow agraciada com uma dose especial de magia extra? Bem, você não é. Eu sinto cada coisa que cada um está sentindo, o que, quando se tratava de você, geralmente não é muito. Mas adivinhe o quê? Esse não é mais o seu caso. Eu sabia que você estava entrando em pânico quando fomos para a pista de dança depois da formatura porque senti isso. Eu soube no momento em que sussurrei no seu ouvido enquanto estávamos dançando, que você percebeu o quanto me queria porque senti o fluxo de emoções que de repente apareceu sobre você. Eu senti novamente na manhã de ontem quando eu estava deitado ao seu lado na cama, e novamente quando eu estava te beijando. Eu sei, Violet, então não minta para mim.
Eu fico boquiaberta em estado de choque quando ele acaba de falar. O que ele disse é absurdo. Completamente, totalmente absurdo. Também faz muito sentido. Ryn sempre pareceu ser extra intuitivo. Ele sabe quando algo está errado, antes mesmo de eu poder dizer qualquer coisa. É assim que ele adivinhou minha verdadeira razão para querer conseguir o prêmio da graduação? Ele estava lendo minhas emoções? — O que... O que estou sentindo agora?
Ele respira fundo. — Você ainda sente desejo por mim, — ele diz, — mas também há medo misturado. No entanto, agora mesmo, o choque está muito bem ofuscando tudo o resto.
Ele está dizendo a verdade. Ele pode sentir as emoções de outras pessoas. Minha voz é apenas um sussurro quando pergunto, — Há quanto tempo você sabe que você pode fazer isso?
— Há muito tempo.
— E você nunca me disse.
— Eu...
— Você sempre soube do meu segredo, e ainda assim nunca se preocupou em me contar o seu. — Graças à sua habilidade estúpida, ele deveria estar sentindo a cólera ferver dentro de mim agora mesmo.
— Violet, eu...
— Saia da minha casa!
Ele pega sua jaqueta na parte de trás da cadeira. — Com prazer. Se você quer continuar a mentir para si mesma, vá em frente.
Capítulo 25
Eu deixo a minha camisa em linha reta e passo minhas mãos pelo meu cabelo antes de bater na porta do escritório da Conselheira Starkweather. Havia uma carta dela no meu balcão nesta manhã solicitando minha presença em uma entrevista esta tarde. Eu sabia que Tora estava certa quando disse que me ofereceriam um emprego; Eu simplesmente não pensei que seria tão cedo. Tora me disse que seria apropriado usar um vestido para minha entrevista, mas depois das minhas experiências super-apertadas e super-volumosas na Corte Seelie, cansei de vestidos. Em vez disso, eu transformei uma camiseta simples e de mangas compridas em uma camisa com botões e um colar para combinar com a minha calça - e fiz um bom trabalho.
A Conselheira Starkweather faz uma pequena conversa sobre a minha visita a Corte Seelie por vários minutos antes de chegar ao motivo desta reunião. — O Conselho discutiu, e gostaríamos de lhe oferecer uma posição aqui na Guilda de Creepy Hollow. — Ela faz uma pausa, o que provavelmente significa que eu deveria dizer algo
— Tudo bem. Obrigada.
Ela cruza os braços em cima de sua mesa e se inclina para frente. — Você provavelmente está ciente de que geralmente damos aos graduados uma pausa mais longa após a formatura antes de lhes oferecer cargos na Guilda, mas com o ataque recente... Bem, precisamos de tantos guardiões quanto possível, assim que possamos consegui-los. Eu não quero alarmá-la, mas os Videntes estão recebendo dicas de uma grande batalha no nosso futuro. Ainda não há visões concretas e, como você sabe, essas coisas podem mudar, mas queremos que a Guilda esteja totalmente preparada no caso de um grande ataque.
— Eu entendo. — Eu poderia ter previsto isso, e não sou uma vidente. É óbvio que Zell está planejando algo, então faz sentido, haverá um grande confronto em algum momento. Guardiões contra... Bem, seja lá como for que Zell chama seus puxa-sacos. E quando isso acontecer, eu quero estar lá para chutar sua bunda Unseelie. E a de Nate, se ele se atrever a ficar contra a Guilda.
— Se você precisar de algum tempo para pensar nisso, — a Conselheira Starkweather diz, — Eu vou te dar três dias. Aqui está uma cópia do contrato. — Ela me entrega um pergaminho. — Dê uma boa olhada, e, se alguma coisa parecer obscura, me pergunte.
— Claro, tudo bem. — Pego o pergaminho dela e espero que ela me mande embora rapidamente. Estou ansiosa para sair daqui.
Meu pai está voltando para casa esta noite.
***
Eu limpo a casa. Não está exatamente suja, mas quero que esteja perfeita quando papai chega aqui. Na última vez que ele deixou esta casa, ele sabia que estaria enfrentando sua morte falsa. Ele achou que iria voltar? Ele olhou em volta e disse adeus? Ele de alguma forma se despediu de mim e eu nunca percebi?
Eu não sei que horas ele vai chegar, então, quando termino de arrumar e a escuridão começou a cair, eu recorro a passear ao redor da sala de estar. Eu ouço o vento levantar lá fora, as folhas se escovando uma contra a outra em uma dança irritada. Está estranhamente frio para uma noite de verão. Espero que outra tempestade mágica não esteja a caminho.
Quando eu ouço uma batida, quase caio sobre os móveis na minha pressa para chegar a parte de entrada da parede. Eu juro, se for alguém além do papai, não hesitarei em dizer para dar o fora. Passo a mão através da parede - e lá está ele. Ele está vestindo uma jaqueta com um capuz escondendo a metade do rosto, mas ainda posso ver que é ele.
— Não me abrace ou diga meu nome até a porta fechar, — ele murmura. Ele desliza rapidamente por mim, e eu não posso deixar de olhar para a escuridão enquanto agito minha mão para fechar a porta. Papai empurra o capuz e vira para mim. — Você nunca sabe quem pode estar observando. Faz anos, mas ainda gosto de ser cuidadoso.
— Hum, tudo bem. — Não posso acreditar que ele esteja realmente aqui. Em nossa casa. Eu quase posso imaginar que não passou muito tempo desde a última vez que ficamos aqui juntos.
Mas o tempo passou. Nós somos pessoas diferentes agora. E mesmo que eu tenha aguardado esse momento desde que eu disse adeus a ele na Corte Seelie, é um pouco estranho agora que ele está aqui.
— Isso parece bastante surreal, — papai diz calmamente, me observando.
— Sim. — Eu aceno com a cabeça. — Parece. — Então eu rio e dou um passo a frente para colocar meus braços em volta do pescoço dele. Claro que isso é estranho, mas a estranheza não durará muito.
Nós caminhamos para o sofá quando papai diz, — Tudo parece o mesmo aqui exceto você. Sempre que penso em você e imagino você em casa, vejo a menininha que deixei para trás. Mas essa não é mais você.
— Eu não era tão pequena. Eu tinha quatorze anos. — Nós nos sentamos. Deixo minhas pernas debaixo de mim, mas papai senta com as costas um pouco eretas para que ele se sinta confortável. Claramente isso é estranho para ele também.
— Mas você cresceu muito em quase quatro anos, — diz ele. — E falando em crescer, não esqueci que seu aniversário é daqui a três dias.
— Sim, acho que Tora e Raven estão planejando uma... — Minhas palavras são cortadas por outra batida contra a árvore. Papai se levanta rapidamente.
— Confira quem é, — diz ele. — Se for um dos seus amigos, posso voltar mais tarde.
Eu atravesso a sala sem me preocupar em dizer a ele que eu não tenho amigos. Eu crio um olho mágico, olho para fora e grito. — É Ryn. — Eu abro a porta. — Sim?
— Seu pai está aqui esta noite, — ele diz sem olhar para mim. — Eu vim ouvir o que ele tem a dizer.
— Ok, então, o que você está fazendo aqui? Você normalmente não se deixa entrar?
— Eu pensei que seria educado e fiquei lá fora e bati dessa vez. — Ele passa por mim em direção a sala.
— Tudo bem, mas a cortesia também exige que você espere até que alguém o convide — eu digo atrás dele.
— Tanto faz.
Quando volto para o sofá, Ryn está entregando um pequeno frasco a papai. — O que é isso? — Pergunto.
— Poção de compulsão, — responde Ryn. — Eu sei que você está tendo sua feliz reunião, mas pensei que deveríamos verificar se ele realmente é quem ele diz que é.
— Ryn! — Eu não acredito na sua coragem.
— Está tudo bem, V, — diz papai, abrindo a pequena tampa. Ele inclina a cabeça para trás e coloca algumas gotas na língua. Ele engole e estremece. — Ugh, isso é nojento quando não diluído.
Ryn toca o ombro de papai e diz o breve feitiço de compulsão, seguido de “Você vai dizer a verdade”. Em seguida, ele toma um assento no sofá em frente a nós.
— Agora que isso está fora do caminho, — diz papai, — você vai me dizer o que você quis dizer na outra noite quando disse que já estava ‘envolvida’ com Marzell?
— Ok. — Estou ansiosa para ouvir a história de papai, então vou encurtar a minha. — Aqui vai resumido: Zell me quer por causa do meu poder de encontrar pessoas.
— Mas como ele descobriu que você tem esse poder? Você manteve segredo, não é?
— Sim, mas ele tem um espião na Guilda, e esse espião de alguma forma ouviu falar sobre um guardião com minha habilidade. Zell realmente não descobriu que era eu até que Nate lhe contou.
— Nate?
— Hum, um halfling que eu estava meio que namorando. Zell conseguiu convencê-lo a se voltar contra mim, e não percebi até que fosse tarde demais.
— Entendo.
Ótimo. Papai está em casa por cinco minutos e já consegui decepcioná-lo com minha pobre escolha de namorados. — Sim, então, de qualquer maneira... Eu lutei contra Zell algumas vezes e, obviamente, consegui fugir todas as vezes.
As sobrancelhas do papai arqueiam. — Uau. Você realmente lutou contra ele? Isso é impressionante.
Eu encolho os ombros, como se lutar contra o Príncipe Unseelie não fosse uma grande coisa, mas não posso evitar o sorriso que se espalha no meu rosto.
— Ok, então Zell ameaçou a sua vida há quatro anos por minha causa, — diz papai, — e agora ele está atrás de você novamente por uma razão diferente. Ele provavelmente não tem ideia de que você é a mesma pessoa.
— Bem, ele sabe meu nome completo, então ele provavelmente sabe quem eu sou.
— Mas ele nunca soube meu nome verdadeiro. Trabalhamos com nomes em códigos para a maioria de nossas tarefas. Eu duvido que ele conecte seu nome ao meu.
— Oh. Ok. — Quando papai não faz mais perguntas, eu digo, — Então, você está pronto para me contar tudo agora? A grande razão por trás do motivo pelo qual você teve que fingir sua própria morte e me abandonar? — Eu retiro uma almofada das minhas costas e a abraço. — Ah, e eu também quero saber sobre Angelica.
Ele olha. — Como... como você sabe sobre Angelica?
— Bem, o cara que eu namorava - Nate - é o filho dela.
As sobrancelhas do pai arqueiam, enquanto ele se senta para frente. — Angelica tem um filho? E você namorou com ele?
— Sim. — Abraço a almofada um pouco mais apertada. — Há algo de errado com isso?
— Na verdade não. — Ele esfregou uma mão em seus olhos. — É estranho, só isso. Eu não sabia que ela tinha um filho.
— Sim. De qualquer forma, eu só a conheci uma vez, mas deixou claro que ela odiava você e a mamãe, e eu quero saber por quê. Eu já imaginei vocês como rivais formandos, mas seus sentimentos pareciam um pouco intensos demais para isso.
Papai balança a cabeça e solta um longo suspiro. — Nós não éramos rivais, V. Angélica era a melhor amiga de sua mãe.
Capítulo 26
Minha boca está aberta. Angelica era a melhor amiga de minha mãe? Mais uma vez, parece que tenho que ajustar a imagem que tenho na minha cabeça da vida de meus pais. — Mas... Eu pensei que Zinnia era a melhor amiga da minha mãe. E você e Linden eram amigos. Vocês todos treinaram juntos, e depois trabalharam juntos, e então tiveram bebês, e tudo estava bem até o dia em que Reed morreu.
Papai suspira novamente. Tenho a sensação de que essa conversa estará cheia de suspiros. — Você deve saber agora que a vida nunca é tão simples, V. Quero dizer, sim, tudo isso é verdade. Mas Angelica estava lá também, e ela fez a vida muito mais... — Ele ergueu as mãos. — Eu prometo que vou explicar tudo para você desde o início, mas primeiro diga onde a conheceu e o que ela disse para você.
— Bem, foi um pouco estranho, na verdade.
— Labirinto estranho? — Diz papai com um olhar de que sabe.
— Sim. Você sabe sobre o labirinto?
— Eu queria não saber, mas sim.
E a imagem continua sendo reajustada. — Ok, bem, Nate e eu fomos lá para encontrar Angelica. Ela nos contou que uma faerie Unseelie tinha construído o labirinto e a aprisionou lá porque ela se recusou a dar-lhe um poder que ela tinha... um disco.
— Com um símbolo de serpente-grifo nele?
— Sim. Ela explicou que pertencia ao poderoso halfling Tharros. Aparentemente, enquanto ele ainda estava vivo, e transferiu parte de seu poder para vários objetos, de modo que, se ele ficasse sem magia, ele teria outras fontes de poder de onde retirar. Ela nos disse que precisávamos voltar para sua casa no reino humano — onde Nate morava — e trazer o disco para que ela pudesse usá-lo para sair. Nós não fizemos isso, é claro. Mas antes de podermos sair, ela me reconheceu. Ela e eu lutamos, e Nate e eu conseguimos sair vivos.
— Você ainda tem este disco? — Papai está sentado na borda do sofá novamente.
— Hum, não. Nate o roubou. Eu acho que ele levou direito para Zell, que parece ter mais alguns destes discos. Angelica fez parecer que havia apenas um.
— Zell tem mais discos? — Papai fecha os olhos e balança a cabeça. — Ele deve ter pegado de Angie, — ele murmura. — E aqui estava eu torcendo para que ele nunca a encontrasse. Maldição, esta é uma má notícia.
Espero ele continuar, mas ele não continua. Ele parece estar pensando profundamente, e eu não quero interrompê-lo, mas quero entender por que essas são más notícias. — Papai? — Eu incito.
Ele respira fundo e olha para mim, como se de repente se lembrasse de que eu estou na sala. — Bem, Angelica certamente conseguiu tecer muitas mentiras por uma pequena quantidade de verdade.
— Eu acho que estava certa em não confiar nela, — eu digo.
Papai balançou a cabeça. — Tudo bem, isso tudo terá mais sentido se eu começar no começo. — Ele muda para uma posição mais confortável enquanto eu cruzo minhas pernas embaixo de mim no sofá.
— Eu não perdi nada importante, não é? — Ryn pergunta. Olho para vê-lo sair da cozinha com três canecas flutuando no ar na frente dele. Eu nem me lembro dele sair da sala. — Como nenhum de vocês ofereceu bebidas, pensei que seria o anfitrião esta noite. — Ele dirige as canecas sobre a mesa e senta-se.
— Obrigado, Ryn — papai diz.
— Hum, obrigada. — Eu me sinto apenas agradecida, no entanto. Eu deveria ter oferecido uma bebida para o papai. Eu pego minha caneca e espio o que tem dentro: chocolate quente com mini marshmallows rosa flutuando na superfície e uma nuvem de canela rodopiante acima dela. Minha bebida favorita de todos os tempos. Eu solto um suspiro. Ryn está agindo perfeitamente e isso está me irritando.
— Então, — diz papai, — havia cinco de nós. Rose e Zinnia eram melhores amigas desde que eram pequenas. Linden e eu crescemos um ao lado do outro, então também éramos amigos próximos. Nós quatro nos conhecemos quando começamos nosso treinamento na Guilda. Foi quando Angelica se mudou para Creepy Hollow e se juntou a nossa turma. Em breve, nós cinco éramos inseparáveis. Nós nos sentávamos juntos nas aulas, implorávamos para ser colocados nos mesmos grupos de tarefas e, bem, sendo jovens, também fazíamos traquinagens juntos.
— Em nosso terceiro ano, as meninas desafiaram que Linden e eu fossemos ao Subterrâneo, o que era praticamente proibido pela Guilda. Como você sabe, Subterrâneos nunca foram fãs de guardiões ou formandos. Eles geralmente atacam primeiro e fazem perguntas depois. Mas éramos corajosos e estúpidos, então é claro que aceitamos o desafio. Angie disse que devíamos roubar algo e trazê-lo de volta para provar que tínhamos estado lá. Então entramos na casa do antigo centauro e encontramos um disco de metal com um símbolo de serpente-grifo gravado nele. Rose reconheceu o símbolo de um livro que ela tinha visto no escritório do seu mentor, então ela perguntou a ele sobre isso.
— Ele era um faerie muito antigo, em seu sexto século, eu acho. Ele contou a Rose sobre o poderoso halfling Tharros Mizreth e a lenda de seu poder perdido. Estas eram histórias que lhe tinham sido ditas por seus pais, que eram guardiões na época em que Tharros foi derrotado.
— O poder de Tharros era tão grande que ele era quase impossível de matar. Ele tinha que se separar do poder, e só então ele poderia ser morto e seu poder destruído de forma independente. Algum tipo de arma foi construída para fazer isso. Depois de muita luta e morte, os melhores guardiões de todas as Guildas conseguiram prender Tharros e separá-lo de seu poder. Eles o mataram. A maioria das pessoas pensou que era o fim, mas apenas os envolvidos diretamente sabiam que os guardiões não conseguiram destruir o poder de Tharros. Em vez disso, eles o capturaram dentro de algum tipo de caixa. Eles trancaram a caixa com seis chaves diferentes - os discos com o grifo neles - um para fechar cada lado da caixa. No processo de vedação da caixa, parte da energia foi transferida para cada disco. Os discos foram espalhados por todo o mundo, escondidos por pessoas que deveriam mantê-los seguros.
— Mas os detentores dos discos logo descobriram que, mantendo os discos com eles, eles tinham acesso a um poder extra. Isso, é claro, não pode ser mantido em segredo. Então, os discos foram roubados, repetidas vezes ao longo dos séculos. Eles ficaram tão dispersos que era impossível para qualquer pessoa saber onde estavam todos os discos. E isso é o que manteve o cofre de segurança seguro durante todos esses anos.
— E o mentor da minha mãe apenas contou tudo isso? — Pergunto. — Parece que era para ser um segredo.
— Parece que ele pensou que era apenas uma lenda. Nós, por outro lado, soubemos que era verdade por causa do disco que encontramos.
— E ela não contou a seu mentor sobre o disco? — Ryn pergunta.
— Não. Nós mantivemos essa parte para nós mesmos - e então tomamos uma decisão que resultaria em um grande erro. — Ele faz uma pausa para soltar outro suspiro. — Nós decidimos ir em busca dos outros cinco discos.
— Os cinco discos que poderiam estar em qualquer parte do mundo? — Pergunta Ryn.
— Sim. Nós decidimos que queríamos usar o poder de Tharros. Nós planejamos desbloquear a caixa, compartilhar o poder igualmente entre nós, e nós seríamos os melhores guardiões que qualquer Guilda já viu. Poderíamos vencer qualquer forma de maldade. Creepy Hollow e o reino humano estariam mais seguros do que nunca, porque usaríamos o tremendo poder de Tharros para o bem e não para o mal. Nós fizemos muita leitura, explorando e seguindo rumores, mas demorou muito tempo. Cerca de dez anos depois, estávamos todos possuindo um disco. Naquela época, todos trabalhavam para a Guilda. Rose e eu formamos a nossa união, assim como os seus pais. — Papai balançou a cabeça em direção a Ryn.
— Isso deve ter deixado Angelica sentindo-se um pouco deixada de fora, — eu digo.
— Sim. Ela se sentiu. Especialmente por que ela sempre... Bem, teve alguns sentimentos por mim. — O pai arranha a cabeça, parecendo um pouco estranho quando admite isso. — De qualquer forma, todos nós estávamos trabalhando na Guilda por pouco mais de uma década, quando Angie começou a ficar bastante distante. Ela sempre procurou o sexto disco sem nós. Você vê, nossas prioridades estavam mudando. Linden e Zin tinham Reed até então. Rose e eu estávamos pensando em ter um filho. Angie, no entanto, estava cada vez mais focada em encontrar o último disco e desbloquear a caixa. O resto de nós estava começando a ter sentimentos mistos. Os discos... Bem, é difícil explicar, mas depois de anos de uso, começamos a nos sentir diferentes. Ranzinzas, mais irritados, menos compassivos para com aqueles que devíamos proteger. Foi Rose quem fez a ligação aos discos. Ela pensou que eles deveriam ter muita influência perversa neles. Então nós quatro decidimos que seria melhor esquecer de ir procurar a caixa. Também era, você sabe, errado seguir o poder que nossos antepassados ??tentaram tanto destruir. Foi errado que agíssemos como se estivéssemos acima da Lei.
— Quando contamos a Angie o que decidimos, ela ficou furiosa. Ela disse que era por isso que ela trabalhava há anos, e nós estávamos destruindo seus sonhos. Não foi muito tempo depois de nosso confronto que ela deixou o serviço da Guilda e quebrou todo o contato com a gente. Não tínhamos ideia de onde ela tinha ido. Eu nem sabia por onde começar a procurar.
— A família dela não sabia nada? — Ryn pergunta.
— Você vai pensar que isso parece estranho, — diz papai, esfregando a mão na parte de trás do pescoço dele, — mas nenhum de nós realmente sabia onde ela morava. Ela sempre foi secreta sobre sua família e sua vida privada, desde o dia em que a conhecemos. Ela nunca respondia a nenhuma das nossas perguntas sobre sua vida em casa, então, finalmente, paramos de perguntar. Ela era assim, e nós aceitamos isso.
— Você acha que ela tinha vergonha da sua família? — Pergunto. — Tipo, eles eram realmente pobres ou algo assim?
— Se ela tinha vergonha, não era porque eles eram pobres. Angie sempre teve o melhor de tudo. — Papai toma um gole da caneca e devolve para a mesa. — De qualquer forma, onde eu estava?
— Angelica desapareceu.
— Sim. Então, o tempo passou. Zin e Linden tiveram Ryn. Pouco depois, você chegou, V. Nós estávamos todos presos em nossas vidas melodiosas e perfeitas, e foi aí que nossos discos começaram a desaparecer. Não estávamos usando continuamente, apenas para alguma tarefa ocasionalmente desafiadora. Então ficavam ocultos a maior parte do tempo. O de Rose desapareceu primeiro, depois o meu. Quando o de Zinnia desapareceu, percebemos que era Angelica pegando-os. Ela deixou cair um brinco ou algo assim no armário de Zinnia. E, para ser sincero, já suspeitávamos que fosse ela.
— Então Linden escondeu o dele em outro lugar, e, por um tempo, não vimos e nem não ouvimos nada de Angelica. Então, uma noite, quando estava sozinho em casa, um elfo bateu na nossa árvore e me entregou uma nota. Era de Angie, implorando por minha ajuda. A nota não dizia nada além de ir com o elfo. Em vez de ir sozinho, levei Linden comigo. Nós não dissemos a Rose ou Zin.
— O elfo nos conduziu pelo Subterrâneo e pelos túneis que mais tarde descobrimos ser um labirinto. Encontramos Angie em uma câmara no centro, incapaz de sair. E não era que alguém a tivesse prendido lá embaixo, como ela lhe disse; ela se aprisionou lá embaixo. Acidentalmente, é claro. Ela finalmente encontrou a localização da caixa com o poder de Tharros e a roubou. Mas ela precisava de algum lugar para mantê-lo seguro até que ela pudesse juntar todos os discos para desbloquear. Então ela construiu o próprio labirinto. Ela tentou colocar um feitiço complexo na câmara para evitar que alguém removesse a caixa. Em vez disso, ela impediu-se de sair.
— Bem, isso deve ser uma droga, — eu digo. — E ela obviamente queria que vocês a tirassem de lá.
— Sim. Ela queria. E nós... — Papai pendura a cabeça e geme. — Nós a deixamos lá.
— O quê? — Ryn diz. — Você e meu pai apenas... A deixaram lá?
— Não estou orgulhoso da decisão que tomamos. Mas conseguimos nos convencer de que era a melhor coisa a fazer. A caixa estava escondida no labirinto onde ninguém mais acharia. Angie estava presa lá sem nenhum de seus discos, então ela nunca conseguiria abrir. Com a parte do andar de cima que ela construiu para si mesma, e as criaturas que atravessavam o labirinto prontos para oferecer seu lance, dissemos a nós mesmos que era melhor do que o castigo que ela receberia se a entregássemos à Guilda.
— Nós nunca contamos a Rose ou Zinnia. Continuamos com nossas vidas. — Papai respira com mais força. — Rose foi morta em uma de suas tarefas. Reed teve seu terrível acidente. Linden finalmente decidiu deixar a Guilda e sua família. — Ryn se move em sua cadeira, mas não diz nada. — Com meu parceiro morto, eu me ofereci para uma tarefa secreta procurando pelas atividades de um dos Príncipes Unseelie.
— Zell, — eu murmuro.
— Sim. No começo, trabalhei sozinho, mas, como ficou claro, o príncipe planejava algo grande e de longo prazo, outros responsáveis tornaram-se parte da investigação. Você se lembra da sua amiga Cecy?
— Sim, — eu digo.
— Seu pai e eu conseguimos nos infiltrar no círculo mais próximo de amigos de Zell. Aprendemos muito sobre ele. Seu relacionamento com sua mãe sempre foi instável; eles nunca se viram como iguais. Ele sempre sentiu que faria um reino melhor, mas, infelizmente para ele, ele é o último na fila para o trono. E infelizmente para nós, depois de vários meses de estar dentro, Zell descobriu que éramos guardiões.
— Nós dois nos afastamos dele, mas, em retaliação, Zell foi atrás de nossas famílias. Cecy quase foi morta, salva apenas pelo fato de que sua babá naquele dia também era uma guardiã habilidosa. Seus pais tomaram uma decisão imediata de deixar a Guilda e fugir. Eu pensei em fazer o mesmo, mas eu estava determinado demais a pegar Zell para admitir derrota. Parecia que a única maneira de fazer isso e protegê-la era se ele achasse que eu estava morto e já não era uma ameaça para ele.
— Até esse momento, eu estava relatando diretamente à Rainha. Planejamos a minha morte juntos. Eu pensei que faríamos parecer que meu corpo havia sido destruído, mas ela disse que seria uma morte muito suspeita. Então ela encontrou um criminoso metamorfo e o usou em vez disso. — Papai se inclina para frente e envolve suas mãos ao redor da caneca. — E, bem, isso é realmente tudo o que há até agora. Eu sempre vivi no palácio e continuo minha investigação sobre as atividades de Zell. Eu sei que ele está planejando tentar assumir a Corte Unseelie, e possivelmente a Corte Seelie e as Guildas. Eu sei que ele está coletando um exército de faeries com poderes especiais, embora ele ainda não possa controlá-los. E eu também sei que ele está planejando pegar todos os seis discos grifo e destravar a caixa para tomar o poder de Tharros para si mesmo. O que eu não sei é para quando ele está planejando sua grande jogada.
— Eu acho que ele está esperando até que ele tenha todos os seis discos, — digo. — Ele já tem quatro, os quatro que Angelica conseguiu colecionar antes de se prender, então agora ele só precisa se apoderar do de Linden e do sexto que vocês nunca encontraram.
— Vou contatar meu pai e dizer-lhe para garantir que o seu esteja bem escondido, — diz Ryn.
Papai balança a cabeça. — Ele vai querer saber como você sabe sobre isso. Em vez disso, não diga nada. Eu confio que ele o escondeu bem.
Coloco minha caneca vazia sobre a mesa, pois algo me ocorre. — Pai, como você continuou sua investigação se Zell sabe como você parece?
— Só porque somos todos faeries e não podemos usar glamour um com os outros, não significa que não haja outras formas de nos disfarçar. — Ele mexe as sobrancelhas para mim do jeito que ele fazia quando eu era pequena. — Tive que ser bastante criativo às vezes.
— Eu queria ter visto isso, — digo com uma risada.
Ryn ergue-se e manda as canecas de volta para a cozinha com um aceno de mão. — Eu tenho que ir agora. Vocês provavelmente têm alguns assuntos para resolver que não me envolvem.
— Sim, — eu digo antes que papai possa convidar Ryn para ficar mais tempo. — Vejo você por aí. — Depois de tempo o suficiente para que as coisas não sejam mais estranhas entre nós.
Quando a porta desapareceu atrás de Ryn, eu faço uma pergunta para papai, uma para a qual que eu provavelmente conheço a resposta. — Você poderá visitar novamente?
Ele hesita antes de responder, o que não é um bom sinal. — Para ser sincero, será muito difícil. Mas eu prometo que vou tentar.
— Ok. Você ficará com problemas se a Rainha descobrir que você veio aqui?
— Oh, ela já sabe. Eu contei a ela o que aconteceu na Corte Seelie. Ela não ficou muito feliz por nos encontrarmos, mas como você e Ryn agora são guardiões e não apenas crianças pequenas, ela acredita que pode confiar em você. E não é como se ela realmente tivesse uma escolha; ela tem que confiar em você agora que você sabe.
Eu toco a borda da almofada no meu colo. — Eu não acho que fiz uma boa primeira impressão com ela.
Papai inclina a cabeça para o lado. — Você obviamente fez algum tipo de impressão. Eu acredito que as palavras exatas para mim foram: ‘Essa filha sua tem exatamente a mesma coragem que a mãe dela tinha.’
— Coragem. Uau. Isso é um elogio, certo?
Papai ri. — Eu acho que sim. — Ele abre as mãos. — Então, o que mais você quer falar antes de eu ir embora?
Capítulo 27
Meu aniversário é amanhã.
Nunca fui boa em celebrar esse evento anual; não é tão divertido quando você não tem muitos amigos ou familiares com quem se divertir, e é apenas mais um dia, na verdade. Faeries têm centenas de aniversários — assumindo que nossas vidas não serão apagadas antecipadamente por alguma criatura magia ameaçadora — então por que fazer uma grande coisa a cada ano? Apesar de ter explicado isso a Tora várias vezes, eu sei que ela está planejando algo para amanhã à noite. Eu me pergunto se ela vai convidar Ryn. Estou dividida entre querer estar perto dele e não querer enfrentar a estranheza entre nós.
Nos últimos dois dias, passei a maioria dos momentos acordada reproduzindo a conversa que papai e eu tivemos na noite em que ele veio. Ainda estou impressionada com o fato dele aqui na casa, sentado no nosso sofá e bebendo de uma de nossas canecas, como se nada tivesse mudado. Tentei não chorar quando ele foi embora; eu quase consegui.
O resto de meus momentos acordados são gastos tentando não reproduzir O beijo. Isso leva muito esforço, o que significa que não há momentos acordadas para descobrir se eu deveria aceitar a oferta de emprego da Guilda. Estou esperando que meu cérebro esteja descobrindo enquanto eu estou dormindo, porque tenho que dar uma resposta a Conselheira Starkweather amanhã.
Porque não tenho mais nada a fazer, uso o feitiço de redes sociais que Ryn me ensinou e verifico as atualizações aleatórias das poucas pessoas que parece que eu estou ‘seguindo’. Me irrita que eu sinta um tipo de decepção estranha quando vejo que não há atualizações de Ryn. Eu considero escrever algo na bolha em branco no fundo da superfície retangular do meu âmbar, mas o que eu escreveria?
Aniversários são chatos.
Não sei o que fazer com o resto da minha vida agora que me formei.
Meu pai fingiu sua própria morte e na verdade está vivo.
Não. Nada disso parece ser uma boa opção. Então, mais uma vez, eu encerro o feitiço sem ter escrito nada. Eu vou ao armário de estudo e retiro uma caixa de Card Eaters. Eu não jogo há anos, mas ver Ryn e Calla jogando recentemente me lembrou que pode ser um pouco divertido de sua própria maneira simples.
— Filigree, — chamo quando volto para a sala de estar. Ele vem escorregando pelas escadas sob a forma de uma pantera. — Quer jogar cartas? — Seguro a caixa. Ele senta-se ao lado da mesa baixa e enrola sua cauda nas pernas. Ele pisca com expectativa. — Ótimo, — eu digo. Eu me sento no chão do outro lado da mesa e lanço as cartas entre nós. Filigree cutuca sua pilha de cartas com uma de suas patas. — Sim, ok, você sabe que isso não vai funcionar, certo? Você precisa mudar para outra coisa. — Filigree mexe uma orelha, depois muda para uma forma alaranjada e peluda que acaba por ser um orangotango. Ele pega suas cartas. — Ok, você vai primeiro, — eu digo a ele.
Uma hora depois, Filigree está ganhando. Eu sei que em parte é sorte e o fato de ele ter obtido cartas mais fortes, mas ainda é embaraçoso. Olho as quatro cartas na minha mão. Eu tenho musgo – a segunda carta mais fraca do jogo inteiro – um pixie, um pedregulho e um ogro, que é a única carta que posso jogar agora. Eu olho para as mãos peludas de Filigree; ele tem apenas duas cartas, e provavelmente são mais fortes do que qualquer coisa que eu tenho. Ele tem quase certeza de que vai ganhar. Estou prestes a colocar minha carta de ogro em cima da de troll dele, quando ouço uma batida contra a árvore.
Poderia ser papai?
Não. O sol apenas começou a ir embora. Tenho certeza de que ele esperaria pela escuridão antes de voltar a visitar. Mas, enquanto ando em direção à parede, não posso evitar a energia nervosa me percorrendo. Pode ser ele. Afinal, é meu aniversário amanhã.
Passo minha mão pela parede e... é Ryn.
Ótimo.
— Meu, hum, parente há muito tempo sumido não está aqui esta noite, então, a menos que você esteja aqui para visitar Filigree, não há mais ninguém nesta casa que queira te ver.
Ele inclina a cabeça para o lado. — Por que você está nervosa?
Coloco minhas mãos nos meus quadris. — Não há como você desligar isso? Porque realmente não aprecio que você saiba exatamente o que estou sentindo.
— Não. Confie em mim, se houvesse uma maneira de desligar, eu já teria encontrado.
Ele parece segurar algo atrás de suas costas, o que o torna suspeito. — Você vai me dizer por que está aqui?
— Você vai me convidar para entrar?
Não faço nenhum movimento para me afastar para o lado.
— Tudo bem, — diz ele. — é seu aniversário amanhã. Eu gostaria de lhe dar uma coisa.
— Você já me deu alguma coisa, — eu o lembro. — Novo âmbar e um encanto caro.
— Ok, bem, agora tenho outra coisa para lhe dar. E, — ele acrescenta, — é grosseria recusar um presente.
— E, no entanto, ambos sabemos que grosseria nunca foi um problema quando nos diz respeito.
Ele olha para os pés, então de novo. — Por favor? — Ele diz suavemente.
Droga. Ele certamente sabe como fazer a coisa dos olhos sexy e ardentes; ele provavelmente poderia acender um fogo com o olhar que ele atualmente está me dando. E ele sabe, droga, porque eu aposto que ele pode sentir meu interior se derreter. Limpo minha garganta. — Hum, ok, entre.
— Na verdade, eu não quero dar a você aqui. Gostaria que você fosse a um lugar comigo.
Eu estreito meus olhos para ele. — Isso tem algo a ver com a festa que Tora e Raven estão planejando? Porque eu pensei que fosse amanhã.
— Sim. E já que você não gosta de surpresas, eu digo a você exatamente a que horas e quem irá se você me seguir agora.
— Você está sendo estranho.
— E eu vou ficar ainda mais estranho e ficar de joelhos e implorar, se eu tiver que fazer. Já fiz isso antes, lembra?
Eu lembro, e eu realmente não preciso que ele vá tão longe dessa vez. — Tudo bem, eu vou com você. Apenas deixe-me pegar minhas botas.
— E uma jaqueta, — Ryn fala atrás de mim. — Você pode ficar com frio.
Pego minhas coisas e peço desculpas para Filigree no caminho de volta na escada. — Nós podemos terminar mais tarde, — eu digo a ele, esperando que ele já tenha esquecido o jogo até então.
Eu fecho a minha árvore. — Onde estamos indo?
— Você verá. — Ryn pega minha mão quando atravessamos a porta que ele abriu. Nós não estamos na escuridão por muito tempo, mas tudo o que posso pensar é o que aconteceu na última vez em que ficamos presos na completa escuridão um com o outro. Quando a luz se materializa à nossa frente, eu solto sua mão. Nós caminhamos para o abrigo frondoso da nossa antiga árvore gargan. É lindo aqui com a luz vermelha, dourada e laranja do pôr-do-sol, espiando pelos galhos.
— Você se lembra daquele poema de Mil Crowthorn sobre as riquezas da natureza? — Eu digo quando olho para o céu.
— ‘Dê-me o pôr-do-sol, e eu serei um homem mais rico do que a maioria. Pois nunca vi ouro como aquele que brilha acima da terra. Dê-me o céu noturno, e eu serei o homem mais rico com certeza. Pois nunca vi diamantes como aqueles que dançam ao lado da lua’.
— Sim, é assim que eu me sinto, — murmuro. — Não preciso de mais nada no meu aniversário do que esse céu.
— Talvez apenas isso, — diz Ryn, me presenteando com um pequeno pacote embrulhado de seda.
Eu solto o fio de prata e seguro o pacote na minha mão quando as camadas de seda caem. Colocado no centro estão às fitas coloridas que encontrei no esconderijo da minha mãe, mas, em vez de um monte bagunçado, elas foram transformadas em uma pulseira. As fitas ficam perfeitamente alinhadas, mantidas presas por cada extremidade com um cordão de prata. As extremidades soltas que ficarão penduradas no meu braço quando estiver usando a pulseira têm um pequeno cristal preso ao fim.
— As fitas pareciam tão bonitas em seu braço, — diz Ryn. — Então eu as levei para Raven e pedi a ela que as transformassem em um bracelete. — Ele tira da minha mão e coloco ao redor do meu pulso. Os cristais brilham conforme a luz pega neles.
— Eu provavelmente devia ficar assustada que você entrou na minha casa e roubou as fitas, — eu digo, — mas é tão bonito que eu vou te perdoar pelo seu furto.
— Então, você gostou?
Olho para Ryn e vejo uma expressão desconhecida: incerteza. Eu sorrio para tranquilizá-lo. — Eu amei. — O sorriso de resposta que se espalha no seu rosto faz a mesma coisa no meu estômago que seus olhos ardentes fizeram agora pouco.
Parece que ele está prestes a dizer alguma coisa, mas então ele enfia a mão abruptamente no bolso. Ele puxa o âmbar e lê uma mensagem. Quando ele guarda o âmbar, ele diz, — Se você não se importa, eu gostaria de levá-la para outro lugar agora.
— Hum, tudo bem. Mas é melhor que isso não seja um estratagema para me levar a um encontro com você.
— Não é nada disso, — ele diz, e meu estômago enche de nós. Ele se inclina mais perto do meu ouvido e sussurra, — É muito maior do que isso.
O quê?
Ele passa por mim, e eu me viro para vê-lo cumprimentar um faerie de pele cor de azeitona e cabelo verde ? ele é uma faerie? ? que não estava aqui há um momento atrás. Embaixo do seu braço está uma forma cilíndrica grande que parece ser um tapete enrolado. Ele entrega a Ryn, eles trocam algumas palavras em voz baixa, e o homem escorrega entre os galhos.
— Aqui vamos nós, — diz Ryn. Ele coloca o formato enrolado no chão, agarra uma extremidade, abre e flutua no ar.
— O que... o que é isso?
— Exatamente como se parece: um tapete mágico.
De. Jeito. Nenhum. — Mas... não existem tapetes mágicos.
— E, no entanto, — diz Ryn, — há um flutuando aqui mesmo na sua frente. Esquisito, não é? — Ele sobe sobre ele e estende a mão para mim.
— Eu... Não sei se confio nessa coisa.
— É perfeitamente seguro. Eu fiz algumas leituras sobre o assunto. Acontece que houve alguns grandes avanços na magia de tapete nos últimos anos. Eles não expulsam mais as pessoas.
Meus olhos se arregalam. Isso deveria me fazer sentir melhor?
— E adivinhe o quê? — Ryn continua. — Você é uma faerie, o que significa que se este tapete decidir expulsa-la, você pode retardar facilmente sua queda com magia.
— Eu... — Ele tem razão. — Ok. — Pego sua mão estendida, e ele me puxa para cima. Eu me abaixo, espalhando meus braços para me equilibrar.
Ryn senta-se, cruza as pernas e volta para os dois cantos do tapete atrás dele. O tapete sobe mais alto, e Ryn nos guia entre os galhos. Mais alto e mais alto. E então, com uma explosão de velocidade que me faz cair de bunda, disparamos acima dos galhos mais altos da floresta. Abaixo de nós, as milhares de árvores que compõem Creepy Hollow se estendem em todas as direções.
Tudo o que posso fazer é olhar com admiração.
— É incrível, não é? — Diz Ryn. O tapete diminui, e ele levanta com cuidado. — Você deve se levantar. É mais emocionante. — Ele estende a mão para mim mais uma vez. — Eu sei como você gosta de emoção.
Eu gosto, mas todas as emoções que eu costumo ter ao lutar contra criaturas perigosas são realizar acrobacias difíceis, como mortal para trás várias vezes e aterrissar em uma viga estreita. Este é um tipo de emoção completamente diferente. Coloco minha mão na dele e o deixo me puxar para cima. O tapete ondula lentamente sob meus pés, o que é um pouco assustador, mas eu sou uma guardiã; tenho um bom equilíbrio.
Eu me afasto de Ryn e olho para a maravilhosidade que é minha casa. O sol mergulhou abaixo no horizonte, deixando salpicos de rosa, roxo e azul através do céu. As primeiras estrelas estão espreitando. Observamos em silêncio enquanto o tapete continua sua jornada lenta pelo ar. Uma brisa suave move meu cabelo. O céu fica mais escuro. Mais estrelas começam a piscar.
— Eu tenho mais uma surpresa para você, — diz Ryn suavemente. Quando suas mãos se movem em meu rosto para cobrir meus olhos, eu me inclino ligeiramente, mas não me afasto. Ele começa a cantar palavras para um feitiço que eu não reconheço. É algum tipo de clamor, quase como uma música. Continua por vários minutos, e me encontro em um lugar de paz e calma. Antes que eu saiba, minhas costas estão descansando contra seu peito. Sinto-o inclinar a cabeça para mais perto da minha orelha. — Você disse que não havia nada que eu pudesse dizer ou fazer para convencê-la de que meus sentimentos por você são reais e duradouros, — ele sussurra. — Bem, claro que eu tomei isso como um desafio, e já que, aparentemente, levará as pontas brilhantes de um gazilhão de insetos brilhantes para provar a você, aqui estão eles.
O calor de suas mãos desaparece dos meus olhos. Eu os abro, e...
Uau.
Milhares e milhares de insetos brilhantes estão flutuando no ar, como se cada galáxia na criação fosse chamada aqui para nos iluminar. É... Eu acho que não existem palavras para descrever a beleza desse momento ou a sensação de admiração que me comove.
Mas há cordas prendendo este momento. Eu sei o que Ryn está tentando me dizer. Eu sei o que ele quer de mim. E mesmo que isso seja mais surpreendente do que qualquer coisa que alguém já fez por mim, meu coração teimoso ainda não quer sair do seu lugar seguro. Eu preferiria aproveitar esse momento e capturá-lo dentro de uma bola de cristal para mantê-lo todo perfeito para sempre do que contaminá-lo com as complicações que um relacionamento traria.
— Isso é incrível, Ryn. É mesmo. Mas...
— Não. — Ele me revira. — Sem desculpas. Você acha que eu vou te machucar? Você acha que vou ficar entediado e fugir com alguma Subterrânea na primeira chance que eu tiver? Você obviamente não tem ideia do quão incrível você é. Você, Violet Fairdale, é incrível, e eu quero você. Cada parte de você. Eu quero sua teimosia e seu sarcasmo e seu espírito competitivo. Eu quero você me desafiando e lutando ao meu lado. Eu quero abraçá-la e beijá-la e muito mais porque não há mais ninguém no mundo que me conhece como você. Você sempre foi a única para mim, mesmo quando não nos aguentávamos. Você é linda, gostosa e sexy tudo de uma só vez, e você é mais inteligente do que qualquer garota que conheci. Adoro o fato de ter conhecido você por toda a minha vida. Parece certo quando você está ao meu lado. Parece que fiquei perdido no deserto há anos e... Eu finalmente estou em casa.
Eu finalmente estou em casa. Eu sei como isso parece. Na verdade, eu sei como ele se sente. Eu sempre estive muito aterrorizada para colocar isso em palavras.
— Pare de estar tão assustada, V! — Ryn agarra meus ombros e os agita. — Você é uma das pessoas mais corajosas que conheço. Por que você não pode deixar esse medo?
Eu finalmente estou em casa. Por que eu gostaria de mandá-lo de volta ao deserto? Eu estaria me protegendo, mas o machucando. Por que isso não me ocorreu antes? Eu pensei que eu era a única que poderia se machucar, mas nunca percebi que sua casa era a mesma que minha casa, e mandá-lo para longe é apenas machucá-lo.
— Por favor, diga algo, V.
Casa. Eu quero estar lá, com ele. Nenhum de nós irá sofrer mais.
— Violet, por favor. Diga algo! Eu juro que você vai quebrar meu coração se você não...
Eu o beijo. Me pressiono contra ele como se eu nunca quisesse me separar dele. Meus braços se entrelaçam ao redor de seu pescoço. Perdemos nosso equilíbrio e caímos no tapete ondulando preguiçosamente. Eu o empurro para baixo e monto na sua cintura. Inclino-me sobre ele. Beijo seu pescoço antes de traçar o esboço de seus lábios com a minha língua. Ele geme e me aproxima. Suas mãos encontram o caminho pelas minhas costas e para o meu cabelo. Ele puxa meu rosto para baixo para encontrar seu beijo. As faíscas dançam na minha língua e, em qualquer outro lugar que a sua pele toca a minha, o que não parece como lugares suficientes. Toda a floresta poderia entrar em chamas agora mesmo, e eu não notaria.
Isso é tudo o que eu quero. Ele. Todo ele.
Capítulo 28
Ryn me rola para o meu lado para que ele esteja a meu lado. — Ok. — Ele beija meu queixo. — Você não precisa dizer nada. — Outro beijo no meu pescoço. — Eu acho que recebi sua resposta alta e clara.
Eu traço meus dedos de sua testa até seu queixo. — Se é assim que é estar em casa, — digo num sussurro sem fôlego, — por favor, nunca mais vamos embora.
— Eu não planejo. — Ele pega meus dedos e os beija. — Sente-se, — ele sussurra, então se move atrás de mim e me puxa contra seu peito. Suas pernas me cercam de cada lado. Ele puxa meu cabelo para o lado e beija atrás da minha orelha antes de envolver seus braços em volta de mim e descansar o seu queixo no meu ombro.
Não consigo acreditar no quanto estou feliz agora. Parece estúpido que eu afastei esses sentimentos por tanto tempo, quando eles tinham a capacidade de trazer muita alegria.
— Foram as minúsculas pontas brilhantes que fizeram você mudar de ideia, não foi? — Diz Ryn. Posso ouvir a diversão em sua voz.
— Foi tudo. A pulseira, o tapete mágico, os insetos brilhantes, encontrar o tokehari da minha mãe. Eu sabia por um tempo como me sentia sobre você, mas não acreditei até hoje que você sentia o mesmo.
— E, no entanto, eu sabia dos meus sentimentos um pouco antes de você saber sobre os seus.
— Sério?
— Sim. Aquele estranho momento que tivemos no banheiro na casa dos Harts foi o momento em que eu já não pensava em você como amiga. Eu queria mais com você desde então.
— Mas você não disse nada.
— Claro que não. Você não sentia o mesmo, então qual seria o ponto? De vez em quando havia uma sugestão de algo mais vindo de você, mas sempre foi tão fugaz que assumi que eu imaginava. Foi só enquanto dançamos no baile de graduação que você deve ter deixado sua guarda baixa, e eu finalmente soube como você se sentia sobre mim. Tenho certeza de que foi você quem queimou aquela árvore de gelo, por sinal. Aquela da qual a Conselheira Starkweather estava falando.
— Sim, acho que pode ter acontecido. — Graças a Deus ninguém mais percebeu o verdadeiro motivo para aquela pequena explosão. — Espere um segundo, — eu digo, lembrando de algo. — Quando estávamos escrevendo nossos relatórios da tarefa na árvore gargan, e aquele galho pegou fogo. Também fui eu? Porque eu pensei que estava fazendo um bom trabalho de suprir meus sentimentos naquele momento.
— Uh, isso pode ter sido eu.
— Aha, então eu não sou a única que perde o controle. — Eu viro minha cabeça para o lado enquanto tento olhar para ele.
Ele se afasta de mim um pouco e dá o sorriso malicioso. — V, você viu o dano que fizemos na sala de estar da Princesa Olivia? Eu claramente acho que ambos perdemos o controle em certas situações.
Ele aperta seus braços em volta de mim enquanto eu repouso contra ele mais uma vez. — Então, hum, essa habilidade sua, — eu digo. — Você sente tudo de todos que estão a sua volta?
— Sim.
— Uau. Isso deve ser um pouco esmagador.
— Muito. É por isso que passo tanto tempo sozinho e no reino humano.
— Você não pode sentir emoções humanas?
— Não, apenas as emoções daqueles com magia. — Ele cobre minhas mãos cruzadas com uma dele e esfrega o polegar para trás e para frente sobre minha pele. — É tão alto estar em um lugar como a Guilda. Quero dizer, eu aprendi a filtrar isso até certo ponto, mas as vezes ainda se torna demais, e quero que todos simplesmente... saiam. É por isso que eu ajo como um idiota ocasionalmente. É a maneira mais rápida de me livrar das pessoas.
— Ocasionalmente?
— Ok, talvez tenha sido um pouco de eufemismo.
— Você tentou ser bom com as pessoas em vez de ser um idiota? Então, não importa o que você esteja sentindo das emoções delas porque elas teriam emoções positivas em vez de emoções do tipo esse-cara-é-um-idiota-eu-quero-bater-nele.
— As emoções positivas também podem ser esmagadoras, se houver o suficiente. E você pode imaginar como seria se eu fosse legal com todos? — Ele abaixa a voz e coloca seus lábios ao lado da minha orelha. — Todas as meninas estariam atrás de mim. Seria uma bagunça completa.
Eu rio. — Certo. Claro que é isso que aconteceria.
Ryn me abraça mais apertado. — Eu disse que adoro seu sarcasmo, Sexy Pixie.
— Tanto quanto eu amo esse nome. — Enquanto ele ri, eu percebo outra coisa. — Foi por isso que a morte de Reed atingiu você mais forte do que qualquer um, certo? Porque você teve que sentir a dor de todos os outros assim como a sua?
O cabelo de Ryn escova contra o meu quando ele acena com a cabeça. — E é por isso que eu não poderia simplesmente ‘seguir em frente’ como você fez. Porque ainda sinto a dor da minha mãe todos os dias. Mas, como eu já disse antes, estou tentando. — Ele beija minha bochecha. — Ah, e esse ‘hábito estranho’ que você notou? Pressionar minha mão no meu peito?
— Sim?
— Quando as pessoas sentem emoção forte, súbita e inesperada, isso me dá uma dor momentânea. Eu acho que desenvolvi esse hábito sem perceber. Me surpreendeu você ter percebido.
— Bem, não se preocupe, tenho certeza de que ninguém mais percebeu. — Inclino minha cabeça para trás e olho para o céu. Alguns dos insetos brilhantes desapareceram, mas ainda há o suficiente acima de nós para que pareça com o reflexo de um oceano cheio de criaturas fosforescentes. Não quero sair daqui, mas sei que a noite terá que terminar. Eu vou ter que voltar para casa e fazer coisas não emocionantes, como decidir o curso que a minha vida vai levar agora.
Ryn, que, claro, pode sentir a mudança sutil do meu humor, pergunta, — O que você acha da oferta de emprego da Guilda?
— Como você sabia que eles me ofereceram um emprego?
— Eles me ofereceram um emprego, então, obviamente, eles também ofereceram para você. O que você está pensando? Suponho que você tenha que contar para eles amanhã, assim como eu.
— Sim. — Eu retiro uma das minhas mãos da sua e torço uma mecha de cabelo ao redor do meu dedo. — É sensato aceitar, eu acho. O objetivo da minha vida é proteger as pessoas, e eu posso fazer o melhor através da Guilda.
— Mas?
Eu sorrio para o fato de que ele sabe que há um ‘mas’. — Bem, é um caminho previsível, não é? Seríamos colocados em equipes e vamos passar um ano fazendo diferentes tipos de tarefas. Depois disso, decidimos em qual departamento queremos entrar, vão nos colocar em novas equipes e vamos passar as próximas décadas trabalhando no mesmo tipo de tarefa com as mesmas pessoas.
— Sim. A menos que a Guilda seja atacada e todos os guardiões derrotados, e a vida nunca mais será a mesma.
— Bem, certamente seria muito mais emocionante se a Guilda fosse atacada. — Eu solto minha mão e suspiro. — É só que sempre sonhei em me formar e trabalhar para a Guilda, mas agora que estou aqui, me pergunto se não há uma opção melhor.
— Como oferecer seus serviços privados a faeries ricas que precisam de proteção pessoal? Porque de alguma forma eu acho que você escolheria uma tarefa perigosa ao invés de ser guarda-costas em qualquer dia.
— Definitivamente.
— E se você estivesse na Guilda, você me teria. — Ele desliza a borda da minha jaqueta do meu ombro, e seus lábios deixam um rastro ardente ao longo da minha pele nua. — Nós poderíamos chutar a bunda de faeries perigosos juntos em vez de você ficar por aí sozinha. — Ele se afasta, deixando meu ombro frio. — Mas não me deixe influenciar sua decisão de forma alguma. Depende de você, é claro.
— Oh, tanto faz. — Eu rio. — Se você não está tentando me influenciar, então não sei o que é isso.
— Você não sabe? Você gostaria que eu lhe mostrasse? — Em menos de um segundo, ele pula, me levanta e me pega em seus braços. — Se eu realmente estivesse tentando influenciá-la, poderia ser algo assim. — Ele levanta meu braço esquerdo e toca seus lábios no me pulso, exatamente onde estão minhas marcas de guardiã. Seu beijo envia um arrepio ao longo do meu braço e meu pescoço. Quando seus beijos alcançam o meu cotovelo, ele para e pega meu rosto com as mãos. Ele traz seus lábios perto do meu, mas em vez de me beijar, ele mantém a cabeça perto o suficiente para eu sentir seu calor, mas não o toque dele. Ele sussurra, — Quanto falta você sentiria se estivesse longe de mim o tempo todo?
Em vez de responder, fecho a lacuna entre nós e aperto meus lábios contra o dele. Agora que eu dei o salto e decidi confiar que ele quer isso tanto quanto eu, não consigo ter o suficiente dele. E a maneira como ele me mantém perto e molda seu corpo contra o meu me diz que ele sente o mesmo. Quando minha cabeça está girando tanto e os insetos brilhantes parecem estar dançando em ziguezague ao nosso redor, eu me afasto dele. — Eu odiaria arruinar esse momento caindo do tapete, — eu digo, minhas palavras sem fôlego, — então talvez devêssemos voltar?
Ele inclina sua testa contra a minha. — Já disse que odeio quando você está certa?
— Muitas vezes.
O tapete mágico nos leva de volta ao vazio no topo da árvore gargan. Eu poderia facilmente sair sozinha, mas Ryn claramente quer me ajudar e, como eu adoro a sensação de suas mãos em minha cintura, eu não discuto.
Ele enrola o tapete e o coloca debaixo do braço. Ele abre a boca para dizer algo, mas um sorriso suave se espalha através de seu rosto, e ele se inclina para me beijar em vez disso. Momentos depois, seus lábios deixam o meu com um suspiro. — Eu preciso devolver o tapete, — diz ele. — Eu demorarei alguns minutos. — Ele se dirige ao longo de um dos galhos, me deixando com um sorriso ridiculamente enorme no meu rosto. Pressiono minhas mãos contra o meu peito, sentindo que preciso segurar minha exaltação para que não exploda para fora de mim.
— Vi?
Toda sensação no meu peito cai para os meus dedos do pé e desaparece, deixando meu corpo frio. Essa voz. Eu conheço.
— Vi, é você?
Giro lentamente. Em um portal delineado contra o galho mais largo da gargan, está a última pessoa que quero ver.
Nate.
***
Se alguém se aproximasse e me perfurasse no estômago, ficaria menos chocada do que eu estou agora. Que. Merda. É. Essa?
Com um assobio e um spray de faíscas, meu arco e flecha estão ardendo em meus braços estendidos.
— Como você me encontrou? — Exijo.
— Sorte, eu acho. — Ele sai dos caminhos das fadas, e o portal se fecha atrás dele. — É o único lugar em que eu sei como chegar. Eu sei como chegar à entrada da Guilda, mas eles não teriam motivo para me deixar entrar. E eu sei como chegar ao interior de sua casa, mas eu não tenho permissão para entrar. Eu não sei como é o exterior, então não posso apenas bater na sua porta. Só me restou este lugar. — Ele me observa com atenção. Ele não ergue as mãos, entretanto; ele obviamente não acredita que eu atiraria nele.
— Como você ousa vir me procurar depois do que fez?
— Vi, por favor, eu posso explicar.
— Eu não quero suas explicações, Nate. Eu quero que você vá embora antes de eu acidentalmente soltar essa flecha.
— Por favor, Vi! Você não sabe pelo que eu passei.
— O que você passou? — Eu abaixo meu arco ligeiramente em descrença. — Eu quase morri por sua causa, Nate!
— Eu sei! E sinto muito. — Ele dá um passo em minha direção. Eu miro a flecha nele mais uma vez. — Zell me forçou a ajudá-lo, Vi. Ele fez Scarlett colocar um olho em mim, o que significava que ele podia ver tudo o que eu via. Eu deveria tentar descobrir de você quem era a identidade do guardião com a habilidade de encontrar. Como não queria que ele soubesse que era você, eu obviamente mantive minha boca fechada. Mas então você foi e se entregou!
— O quê? — Ele está seriamente colocando a culpa em mim?
— Nós estávamos no meu quarto, e você disse algo sobre se desculpar por concordar em encontrar minha mãe para mim. Você não se lembra? E foi quando ele descobriu que era você. Ele me bateu por não ter falado antes. Lembra-se do hematoma que eu tinha? E eu menti e disse que foi uma briga na escola?
— Você mentiu. Ótimo. Sobre quantas outras coisas você mentiu?
Ele ergue as mãos em frustração. — Nada! Eu não estou mentindo para você!
— Você se esqueceu da parte em que você me levou a uma caverna secreta e me entregou a Zell? Não vi ninguém o forçar a fazer isso.
— Ele estava ameaçando meus pais! Ele teria os matado se eu não o trouxesse para você. Então pensei que poderia fazer as duas coisas. Protegê-los e ainda você sair viva. É por isso que eu indiquei aquele rio para você. Sabe, aquele que borbulhava na caverna e voltava para a montanha e saía em um lado? Nós passamos por lá e eu disse que você poderia pegar um passeio rápido para fora de lá se você pulasse.
— Esse era o seu grande plano, Nate? Sério? — Foi isso que aconteceu, foi exatamente assim que eu saí da montanha, mas quase me matou.
— Eu não tive outra escolha. Você não entende isso?
— Sempre há uma escolha, Nate. Por que você não me pediu ajuda?
— Como? Zell tinha o olho em mim. Ele podia ver tudo o que via. Ele estava observando todos os meus movimentos. Ouvindo todas as conversas.
— Você não é estúpido, Nate. Você poderia ter descoberto alguma coisa. Fechado os olhos e escrito uma nota para mim, ou algo assim.
— Vi...
Os ramos farfalham e nós dois olhamos para o lado. Ryn passa entre as folhas e entra na cavidade. Seus olhos vão entre Nate e eu, mas sua expressão não dá nenhuma dica sobre o que ele está pensando ou sentindo. Eu queria ter sua habilidade agora. — Bem, — ele diz, cruzando os braços sobre o peito enquanto ele caminha para o meu lado. — Olhe quem veio correndo de volta.
Os olhos de Nate se deslocam entre Ryn e eu. — O que ele está fazendo aqui?
Ryn desliza um braço em volta da minha cintura. — O que parece que eu estou fazendo aqui?
— Ryn! — Eu olho para ele e murmuro, — Você não está ajudando.
— Você está com ele agora? — Nate parece com nojo. — Como diabos isso aconteceu?
— Molhados em uma passagem secreta, — diz Ryn antes que eu possa responder. — Foi muito quente.
— Ryn!
— Então, essa é a parte em que você me avisa para ficar longe de sua namorada? — Nate zombou.
O sorriso arrogante de Ryn faz uma aparição. — Claro que não. Eu não insultaria Violet, sugerindo que ela não pode lidar com você sozinha.
Eu reviro os meus olhos e abaixo meu arco. — Ok. Isso é ótimo. — Eu abaixo minha voz. — Então, que tal você esperar atrás da árvore para que eu possa, sabe, lidar com as coisas sozinha? — Os olhos de Ryn encontram os meus, e eu posso dizer que ele está tentando descobrir se tudo está bem. — Eu vou ficar bem, — eu murmuro.
— Tudo bem, — ele diz. Ele se vira para Nate. — Até logo, garoto halfling. Espero que nunca nos encontremos de novo. — Ele desaparece em um portal no ar.
— Eu não acredito nisso, — murmura Nate, balançando a cabeça. — Eu finalmente consigo me afastar de Zell, e a primeira pessoa quem procuro - você - seguiu em frente como se eu nunca fosse parte de sua vida.
Eu deixo meu arco e flecha desaparecerem; nós dois sabemos que não vou usar, mesmo depois do que Nate fez comigo. — O que você acha que aconteceria, Nate? Que eu voltaria correndo para os seus braços?
— Eu não sei, Vi. Mas eu certamente não esperava voltar e me encontrar preso em um triângulo amoroso.
— Não há triângulo amoroso, Nate. Um triângulo amoroso implicaria que você realmente tinha uma chance comigo, o que você não tem.
Nate dá um passo abalado para trás, como se eu o tivesse golpeado. Ouch. Essas palavras saíram mais severas do que eu pretendia.
— Mas você me amou, Vi, — ele diz calmamente. — Eu sei que amou.
Eu balanço a minha cabeça. — Não. Eu não amei, e eu não vou.
— Você amou. Você ficou com medo de dizer, mas eu conheço você...
— Eu não amei. Talvez eu pudesse ter amado se você tivesse me dado chance, mas você não deu. — Eu respiro fundo. — Eu me preocupava com você, e eu estava tão irritada e ferida que quase fiz algo estúpido com uma poção. Mas eu superei. Eu superei você.
Ele olha para mim por um longo tempo antes dele dizer, — Eu ainda te amo.
— Não minta para mim. E a Scarlett?
Ele fica pálido. — Scarlett?
— Eu vi vocês dois juntos no baile de máscaras de Zell.
— Você estava lá?
— Sim. Ryn e eu estávamos lá. E certamente não parecia que você estava sentindo minha falta quando Scarlett estava sussurrando em seu ouvido.
Ele olha para frente e balança a cabeça. — É complicado. Ela é uma siren, Vi...
— Ah, então você não teve escolha, certo? Assim como não teve escolha em me levar a uma armadilha naquela montanha? E não teve escolha em usar suas tempestades para violar os encantamentos protetores da Guilda para potencialmente prejudicar um monte de pessoas inocentes?
— Vi...
— Eu acho que você deveria ir, Nate. Tudo o que tínhamos acabou. Talvez você esteja falando a verdade sobre tudo, talvez não esteja. Mas eu não sei, e nunca mais poderei confiar em você. Você precisa continuar com a sua vida, e eu preciso continuar com a minha. Pegue seus pais e fuja, se você precisar, mas não me envolva. — Eu cruzo meus braços e engulo. — Eu nunca quero voltar a vê-lo.
PARTE IV
Capítulo 29
O apartamento na cobertura do edifício mais alto em que eu estou tem vidro do chão ao teto em cada sala, permitindo que as luzes da cidade cintilem através. Elas iluminam o interior do apartamento, tornando mais fácil ver onde vou. Eu deslizo por uma escada construída a partir de finos pedaços de madeira preta inseridas na parede em um lado. Eu acho que a escada deveria ser artística e minimalista, mas eu me pergunto quantas pessoas já tropeçaram nela. Eu chego ao final e examino a sala aberta exibindo pinturas em parede e esculturas em pedestais. Uma estante de madeira com pedaços de madeira plana anexada a ela como galhos em uma árvore captura meus olhos, assim como uma sala de estar de forma estranha que provavelmente também é considerada arte.
Ninguém está aqui.
O proprietário do apartamento — atualmente adormecido em um dos quartos enorme - é um colecionador de arte, e parece que um certo ladrão de faeries tem gostado dos itens exibidos aqui. Na semana passada, ele roubou uma pintura valiosa, e passamos os últimos quatro dias descobrindo quem ele é e quando tentará fazer o seu próximo assalto. Queremos pegá-lo no ato.
Eu sinalizo para Jay, um dos três membros da minha equipe, para me seguir pelas escadas. Asami, meu outro companheiro de equipe, já está posicionado na varanda que se estende ao longo de um lado do exterior do apartamento, caso nosso ladrão de fadas planeje entrar dessa maneira. — Esconda-se sob aquele sofá estranho, — eu sussurro para Jay enquanto eu aponto para a mobília que parece um tigre gigante tentando abraçar algo. — Eu estarei atrás da escultura da coisa mulher-fera-de-pedra.
— Escolha interessante, — diz ele, olhando a escultura bizarra. Jay é um graduado de outra Guilda que decidiu que queria começar sua vida profissional em um novo lugar e acabou em Creepy Hollow. Ele é bom o suficiente, mas eu preferiria ter Ryn no meu time. Não só porque eu sou a líder da equipe e eu poderia mandar nele, mas porque, bem, eu quero estar perto dele o tempo todo. Tora assumiu a responsabilidade de mencionar ao Conselho que Ryn e eu estamos em um relacionamento - algo que ainda não a perdoei - e o Conselho decidiu que seria melhor se não trabalhássemos juntos. Levou um monte de contenção para eu não apontar que existem várias equipes com marido e mulher na nossa Guilda, e ninguém parece ter um problema com isso.
Jay escorrega debaixo do sofá, e eu me agacho atrás da coisa mulher-fera-de-pedra. Uma pequena placa de metal anexada à base me diz que se chama The Revelation of Eve. Hmm.
E então esperamos.
É um pouco chato.
Desde o mês que aceitei o cargo na Guilda, esta é apenas a terceira tarefa na qual eu participo. Parece um número patético para mim, considerando que eu costumava ter uma nova tarefa quase todas as noites quando ainda estava treinando. Mas essas tarefas são muito mais detalhadas, eu admito - e eu era uma aprendiz de sucesso excessivo.
A pulseira que eu agora uso no lugar da minha pulseora rastreadora se aperta. Olho das duas pedras encaixadas no couro – azul para Asami, verde para Jay – e vejo o azul piscando lentamente. Eu olho em volta da escultura e olho para a varanda onde eu sei que Asami está se escondendo. Puxo a minha cabeça de volta imediatamente. A figura que eu vi espiando através da janela definitivamente não era Asami. Pressiono a pedra azul para que ele saiba que recebi seu alerta.
Eu olho através de uma fenda entre a escultura, o braço-da-mulher e a cauda-da-fera. A figura na janela desapareceu. Um momento depois, ele sai de um caminho das fadas na parede ao lado de uma pintura de cores bagunçadas e misturadas. Ele se dirige diretamente para uma caixa de vidro com um ovo decorado descansando sobre uma almofada.
Com dois dedos, pressiono ambas as pedras na minha pulseira três vezes em rápida sucessão. Jay e Asami sabem exatamente o que isso significa: vamos pegar esse cara.
***
Não é difícil. Somos três e ele é apenas um, e mesmo que ele tenha dado um golpe elaborado com uma corda que ele acrescentou magicamente do teto, demora apenas alguns minutos antes de tê-lo atado e amordaçado e pronto para ser levado para a Guilda. Sequer disparamos algum alarme no processo. Jay e Asami o levam de volta através dos caminhos das fadas, enquanto eu fico para trás para devolver cada item ao seu lugar na sala para que o dono nunca saiba que alguém esteve aqui.
Eu retiro a corda do teto e a enrolo em meu braço. Alguns livros foram derrubados da estante de livros em forma de árvore, então eu os encaixo em qualquer lugar em que eu vejo espaço. A planta no vaso na prateleira mais alta parece ter soltado algumas folhas. Eu espalho meus dedos, e as folhas flutuam para cima em direção às minhas mãos abertas. Pego as folhas e as coloco no meu bolso.
Estou prestes a abrir um portal para os caminhos das fadas quando percebo um pedaço de papel rasgado, deitado no pé do vidro que separa a varanda da sala. Não consigo lembrar se o papel estava no chão quando chegamos aqui, mas parece mais provável que seja um lixo do bolso do ladrão do que algo deixado pelo dono deste lugar. Ele é claramente obsessivo por limpeza. Eu me inclino para pegar o papel e o viro enquanto eu me endireito. Meu coração salta quando vejo a caligrafia que reconheço.
Zell.
Gostaria de não reconhecer a letra do Príncipe Unseelie, mas eu tenho uma imagem marcada com bastante firmeza na minha mente da parede no calabouço circular coberta de centenas de nomes escritos à mão. Certamente nunca esquecerei a forma das letras que formavam meu próprio nome, e então eu sei que a mesma mão escreveu as duas frases que vejo no papel rasgado na minha mão.
Roubando com sucesso, você terá me provado que você pode ser confiável no grande dia. E o grande dia está chegando em breve.
O grande dia? E isso seria... O dia em que Zell tentaria conquistar a coroa Unseelie? O dia em que ele planeja invadir a Guilda? Droga, eu gostaria de ler o resto da nota.
Coloco dentro de um dos meus bolsos, abro uma entrada na parede e faça uma rápida viagem a Guilda. Dentro da entrada, eu puxo meus pulsos marcados para o guarda noturno de plantão, que rapidamente as examina com a stylus. Então vou direto ao escritório da Conselheira Starkweather. As chances são altas de ela estar aqui, dado suas tendências de vicio no trabalho.
Eu bato na porta dela. Um momento depois, ouço sua voz me pedir para entrar.
Explico nossa tarefa, mostro a nota e digo a ela por que eu acho que Zell escreveu isso. — Lembra quando Ryn e eu invadimos o calabouço de Zell para resgatar a irmã de Ryn, e eu trouxe algumas páginas de volta e entreguei a você?
— Sim, — ela diz devagar, cruzando os braços sobre o peito. Ela não ficou impressionada com o fato de termos invadido a casa de Zell. Ela nos disse que devíamos esquecer a coisa toda.
— Se você ainda possuir aquelas páginas, você pode compará-las com esta nota. Estou quase certa de que a caligrafia irá combinar.
— Eu definitivamente farei isso antes de interrogar o ladrão que deixou cair esta nota. — Ela se levanta e se dirige para a porta dela.
— Se for a caligrafia de Zell, — digo, seguindo-a, — posso questionar o ladrão?
Ela abre a porta e se movimenta para eu sair da frente dela. — Eu não acho que isso seria apropriado, Violet. — Aparentemente, eu não sou mais a Srta. Fairdale agora que já não estou mais em treinamento.
— Mas pegamos o ladrão. Essa foi a nossa tarefa. Por que não seria apropriado se eu o questionasse?
A porta se fecha logo atrás dela. — Porque tudo o que tem a ver com o Príncipe Unseelie faz parte de uma investigação maior na qual você não está envolvida.
Eu posso ouvir as palavras que ela não está dizendo: Essa investigação é muito importante e sou muito jovem e inexperiente para ser confiável. Quero lembrá-la de que quase certamente me encontrei cara a cara com Zell mais vezes do que qualquer outra pessoa nesta Guilda, mas sei que minhas palavras não farão nada de bom. Guardo a minha frustração. — Ok, — eu digo. — Compreendo.
Vou em direção a um corredor diferente e me afasto dela. Eu bato no meu bolso a procura do meu âmbar para que eu possa ver se tem uma mensagem da Ryn, mas parece que eu deixei em casa. Idiota. Eu estava ansiosa por uma mensagem dele o dia todo, esperando que hoje fosse o dia em que ele saberá quando pode voltar para casa.
Poucas semanas depois que Honey e Asami completaram com sucesso sua tarefa final no Egito, uma nova revolta começou. As criaturas do tipo pixie aladas que concordaram em viver pacificamente ao lado dos elfos bronzeados decidiram que realmente queriam as pirâmides. Grande bagunça. Então a Guilda enviou Ryn e sua nova equipe para lidar com a agitação da maneira mais pacífica possível.
Eles se foram há duas semanas.
Parece anos.
Eu sei que eles estão bem porque recebo mensagens ocasionais no âmbar de Ryn, mas eu sinto falta dele. Muita. Tanto quanto eu sentiria falta dos meus membros se eles de repente fossem cortados. Mais, na verdade. E eu não ouvi falar de meu pai desde o meu aniversário, então, basicamente, voltei a passar as noites nas tarefas ou em casa com Filigree - assim como fiz durante a maior parte do meu treinamento. A diferença agora é que eu não estou mais feliz com uma vida solitária.
Paro no corredor alinhado com fileiras e fileiras de estantes de correspondência. Agora que sou uma guardiã, tenho a minha própria estante. Adeus para o armário no andar de baixo perto do centro de treinamento. Eu passo pelas aberturas retangulares até chegar a minha. Há um papel dobrado dentro com o meu nome. Provavelmente outro memorando chato. Volto para o corredor, desdobrando o papel enquanto eu ando. Só demora algumas palavras para que meus pés parem.
VF,
Você não me conhece, Violet, mas você e eu temos algo em comum: ambos estamos tentando derrotar o Príncipe Unseelie Marzell. Eu vi você em seu baile de máscaras, e me levou até agora para descobrir dele quem você é. Daqui a cinco dias, Zell revelará aos seus seguidores mais próximos, o que inclui eu, seus planos exatos para quando e como invadir as Guildas. Daqui a cinco dias, eu lhe darei essa informação — se você quiser.
Você não tem motivos para confiar em mim, é claro, então deixe me dar uma razão. Ouvi Zell pedir ao seu mais recente seguidor, uma faerie com habilidades especiais do tipo piromaníaco, para lançar um inferno furioso na entrada da Guilda, situada no reino das fadas perto de Londres. Seu objetivo não é violar os encantamentos protetores, mas sim deixar os guardiões saberem que nenhuma Guilda está a salvo do seu alcance.
Amanhã à noite, você saberá que estou dizendo a verdade.
D.
Que merda é essa? Isso é uma piada? Eu olho para o corredor para ver se alguém está olhando ou rindo, mas estou sozinha. Eu olho de volta para a letra genérica. Deve ser uma piada; Ninguém da Corte Unseelie seria permitido entregar um recado a Guilda - ou por qualquer outro motivo, obviamente. Mas quem dentro da Guilda sabe que eu estava disfarçada no baile de máscara de Zell? Eu não disse a ninguém, mas acho que as pessoas envolvidas na investigação de Zell possam saber agora - e não sei quem são essas pessoas.
Talvez alguém esteja irritado que eu continue tentando entrar nessa investigação e eles estão tentando me colocar em problemas. Ou me fazer parecer estúpida. Assim... Não vou fazer nada sobre esse recado. Se for legítimo e realmente houver um incêndio amanhã à noite, não é como se alguém fosse se machucar. O fogo é para assustar as pessoas, certo?
Quando eu chego em casa, coloco a nota na gaveta ao lado da minha cama, ao lado da caixa que contém minha pulseira de fita e meu anel tokehari de meu pai. O colar de chave da minha mãe permanece em volta do meu pescoço o tempo todo, como os brincos de flecha nas minhas orelhas. Eu pego meu âmbar da minha mesa, e meu coração faz uma dança feliz quando vejo que há uma mensagem de Ryn.
Finalmente em casa. Queria te visitar, mas eu ouvi que você vai estar fora esta noite livrando o mundo de um ladrão perigoso. Te vejo amanhã, Sexy Pixie. Não esqueça de sonhar comigo.
De jeito nenhum. Não vou esperar até amanhã. Abro uma entrada e vou diretamente para a casa de Ryn, emoção vertiginosa fazendo meu coração bater rápido. Ele me concedeu acesso à sua casa para que eu pudesse me esgueirar do jeito que ele gosta de se esgueirar na minha. Não sei se ele contou a sua mãe; ela provavelmente não aprovaria.
Os caminhos das fadas me levam até o quarto dele, que está na escuridão, exceto pela galáxia encantada que flutua perto do teto acima de sua mesa - um presente de sétimo aniversário. Ele continua ameaçando se livrar disso porque, segundo ele, é infantil. Eu acho que é bonito.
Os laços das minhas botas desatam-se enquanto eu ando silenciosamente em direção a sua cama. Ele está encarando o outro lado, seu ombro subindo e caindo ao mesmo tempo que suas respirações constantes e silenciosas. Tiro minhas botas, subo na cama e me arrasto para debaixo da coberta. Estou prestes a me inclinar sobre ele e beijar seu pescoço quando ele diz, — Você acha que está se esgueirando sobre mim, Sexy Pixie?
Droga. — Sim, é exatamente o que eu acho.
Ele rola e me puxa para baixo dele. — Você terá que tentar mais do que isso. — Ele traz os lábios para encontrar os meus enquanto eu enrolo os meus braços ao redor do seu pescoço. Faíscas e formigamentos lampejam pela minha língua, meu rosto, meus braços. Ainda não sei se Ryn está fazendo isso de propósito, ou se acontece espontaneamente quando as pessoas com magia se beijam. De qualquer forma, Ryn nunca esteve mais certo do que quando me disse que eu estava perdendo.
— Você pegou o cara mau? — Ele sussurra no meu ouvido.
— Claro. Você... Consertou o Egito?
— Claro. — Um beijo na minha orelha. — Jay já deu em cima de você?
Coloco minhas mãos de cada lado do rosto de Ryn para que eu possa olhar para ele. — Não, mas é fofo que você esteja com ciúmes.
— Com ciúmes? Ha! Não me faça rir.
— Você é tão ciumento. — Eu o empurro para que eu possa deslizar por baixo das cobertas. — Mas está tudo bem. Já tive ciúmes antes. No palácio quando você estava flertando com Opal, ou seja, qual for o nome.
— Ah, sim, lembro disso. — Ele se senta contra o travesseiro e me puxa para o lado dele. — Seu ciúme realmente machucou meu peito.
— Bom. Estou feliz. — Parece que sua habilidade é útil para algo.
— Fala sério, eu estava sendo amigável com ela.
— Tudo bem, certo. Aposto que você estava tentando me deixar com ciúmes.
Ryn ri. — Eu acho que eu estava.
Eu soco sua coxa, e ele tem a decência de fingir que dói. — De qualquer forma, por que estamos sentados? Eu estava me sentindo confortável antes de ser abordada com o assunto do meu colega de equipe.
Ryn boceja, então diz, — Tenho algumas más notícias. Eu pensei que seria melhor se você não estivesse distraída enquanto eu lhe dissesse.
— Más notícias?
— Sim. — Ele esfrega os olhos. O pobre deve estar cansado após sua longa tarefa. — Eu estava na casa do meu pai esta noite. Acontece que o disco grifo dele foi roubado.
— O quê? — Eu sento ereta. — Como você sabe? Ele falou sobre isso?
— Não exatamente. Ele estava bastante agitado. Sabe, movendo as coisas e procurando em todos os lugares. Então eu perguntei o que ele estava procurando. Ele descreveu o disco para eu poder ajudá-lo a procurar, mas não me contou nada sobre isso.
— Caramba, — eu murmuro. — Isso é ruim. Ele sabe quando sumiu?
— Eu perguntei a ele. Ele não sabe. A última vez que o viu foi há alguns meses atrás.
Eu balanço a minha cabeça. — Sabe, eu pensei que a magia protetora que temos em nossas casas deveria manter pessoas indesejadas fora.
— Sim, eu também.
— Na época que Angelica estava roubando os discos, ela conseguiu entrar nas casas dos nossos pais porque eles eram seus amigos e já haviam concedido acesso a ela. Mas agora que Zell é que está roubando discos, como ele fez isso?
— Talvez ele saiba meios de contornar a proteção, — diz Ryn. — Deve haver maneiras de quebrar esses feitiços se você for poderoso o suficiente.
— Ou se você tem um amigo poderoso que gosta de invadir lugares.
— O garoto Halfling, — murmura Ryn. — Eu acho que ele pode ter roubado o disco antes de desertar de Zell há um mês. Você já ouviu algo dele desde então?
— Nada.
Nate deve ter me escutado quando eu sugeri que ele pegasse seus pais e fugisse. Fui a sua casa cerca de uma semana após o confronto na gargan, e nem ele nem seus pais estavam lá. Em vez disso, um homem que parecia extraordinariamente com o pai de Nate estava sentado na mesa da sala de jantar fazendo um telefonema. Na mesa ao lado dele, estava um jornal aberto com um artigo sobre uma família desaparecida. Havia três fotos: Nate, seu pai e sua madrasta.
Eu me arrependia de ter sido tão dura com ele, mas não podia mais confiar nele. Parte de sua história fazia sentido - os detalhes coincidem agora que eu penso sobre isso - mas ele poderia simplesmente inventar a história para se adequar aos detalhes. É melhor se Nate acabar de viver a vida em algum lugar distante. Ele pode até começar de novo em um novo lugar e fingir que ele é um humano normal.
Ryn enlaça seus dedos entre os meus. — Agora que eu compartilhei as más notícias, você gostaria de ouvir algo bom?
Depois de beijar as costas da sua mão, eu digo, — Definitivamente.
— Eu posso ter uma pista sobre sua caixa perdida.
— Sério? Do seu contato do Subterrâneo?
— Sim.
Com toda a emoção de descobrir que meu pai ainda está vivo, seguida por Ryn e eu ficando, e Nate aparecendo do nada, eu realmente consegui esquecer da caixa perdida de minha mãe por uma semana inteira depois que Zinnia me contou sobre isso.
Depois que Ryn me lembrou sobre a caixa, ele entrou no escritório do guardião que liderou a investigação sobre a morte de Reed e encontrou o arquivo relevante. Como não havia menção de uma caixa, voltamos para o local no chão da floresta, onde Reed caiu. Eu poderia dizer que era difícil para Ryn revisitar o lugar onde seu irmão morreu, mas ele parecia lidar com isso. Demos uma boa olhada ao redor, cavamos partes do chão para ver se a caixa podia ter sido enterrada ao longo do tempo. Eu até voltei mais tarde e caminhei ao longo do caminho para ver se Reed talvez soltou a caixa quando ele caiu e pousou em algum lugar além. Eu procurei cada fenda nos galhos circundantes, mas não encontrei nada. Não é surpreendente, na verdade. Será que honestamente espero que ainda esteja lá oito anos depois?
Então Ryn decidiu ir ao Subterrâneo e procurá-la da maneira que ele procurou pelo meu colar: Encontrando um rumor de uma história e seguindo.
— E o que este contato Subterrâneo lhe disse? — Pergunto.
— Ele conhece alguém que conhece alguém que vende, uh, redistribuí itens artesanais.
— Em outras palavras, itens roubados artesanais?
— Sim. E, aparentemente, ele vendeu uma caixa de madeira com o nome de Violet há vários anos atrás.
Eu me afundo de volta contra o travesseiro. — Vários anos atrás? A caixa poderia estar em qualquer lugar em todo o reino das fadas no momento.
— Ei, encontrei o seu colar, não é? — Seus dedos escovam a chave dourada descansando contra meu peito. — Eu vou encontrar sua caixa.
O sentimento de calor e segurança que Ryn sempre consegue trazer para mim atravessa o meu corpo. Olho nos olhos dele, e estou dominada pelo desejo de lhe dizer algo. Algo grande e assustador e que não é minha praia. Algo envolvendo uma palavra que começa com A.
Não. Não posso dizer isso. É muito cedo. Vou assustá-lo. Eu me assustarei.
— Posso falar com você sobre outra coisa? — Pergunta Ryn.
— Claro. — Enquanto você não estiver prestes a usar a assustadora palavra com A.
Ele franze a testa. — Você está bem? Eu sinto que você está enlouquecendo sobre alguma coisa.
— Não. — Minha voz sai como um guincho. — Apenas... estressada sobre a situação de Zell, eu acho.
Ele me dá um olhar engraçado que me diz que ele não acredita em mim, então eu me inclino para frente e aperto meus lábios contra o dele. Ele, obviamente, esquece o que ele quer dizer, porque suas mãos deslizam pela minha cintura enquanto o beijo se torna mais quente. Suas mãos deslizam minhas costas, abaixo da minha blusa. Pressiono meu corpo mais perto do dele.
— Espere, — ele diz contra meus lábios. — Espere, eu deveria estar lhe dizendo algo.
Relutantemente, eu me afasto dele. — É melhor ser bom.
— É sempre bom quando eu falo. — Ele acaricia minha bochecha enquanto eu reviro os meus olhos. — Ok, então, eu tenho uma teoria, — diz ele. — Uma teoria sobre por que alguns de nós tem habilidades mágicas extras e outros não.
Eu me aconchego mais perto dele. — Estou ouvindo.
— Você sabe como todos amavam o Reed? Quero dizer, as pessoas sempre dizem...
— que havia algo nele, — respondo. Eu ouvi tantas pessoas dizerem isso. Eu mesma disse isso.
— Sim. Havia algo nele. E não acho que fosse algo natural. Eu acho que era sua habilidade especial. Como o meu é sentir as emoções dos outros, o seu é encontrar pessoas, e o de Calla é fazer com que as pessoas vejam o que ela está imaginando, e o poder de Nate é sobre o tempo.
— Ok...
— E Zell não disse algo para você em seu calabouço sobre os discos grifo conectados a faeries com habilidades especiais?
— Sim, mas ele não explicou o que ele quis dizer.
— Bem, aqui está minha teoria: as pessoas que usam os discos grifo têm crianças com habilidades especiais.
Eu deixo suas palavras entrar.
— Pense nisso, — diz Ryn. — Seus pais tinham discos, meus pais tinham discos e a mãe de Nate tinha um disco. Meu pai é o único que ainda tinha um disco e olha para Calla. Ela também ficou especial.
Eu concordo. Isso poderia ser o que Zell estava se referindo. — Então, a razão pela qual há muitas faeries com habilidades especiais é porque os discos tiveram tantos proprietários ao longo dos séculos.
— Sim. E, como Zell tem procurado os discos por um tempo, ele provavelmente possui uma longa lista de pessoas que possuíram um disco em algum momento. Uma vez que descobriu que havia uma conexão, teria sido bastante fácil voltar e descobrir quem eram seus filhos.
— Sim, e depois raptá-los. — Inclino minha cabeça para trás e olho para a galáxia. — Então é como se tivéssemos um pouco do poder de Tharros em nós. Isso é estranho, não é?
Ryn assente. — É estranho pensar nisso assim. — Ele olha para mim. — Mas não enlouqueça por causa da magia dele nos fazendo mal porque eu não acredito nisso. Estamos no lado bom, V. Não importa o tipo de magia com a qual nascemos.
Capítulo 30
Tora se inclina para frente e apoia os cotovelos na mesa e o queixo em suas mãos. — E enquanto eu entrava, centenas de borboletas saíram da mesa e flutuaram, deixando o arranjo de flores mais incrível no meio da mesa.
Eu fecho as minhas mãos juntas sob meu queixo. — Isso é tão romântico, Tora. — Não tão romântico quanto um passeio de tapete mágico e um zilhão de insetos brilhantes, mas nem todos os homens conseguem fazer algo épico.
— E a comida estava gloriosa. — Tora joga a cabeça para trás e se encosta contra o armário atrás de sua mesa. — Ele com certeza sabe cozinhar.
— Graças a Deus por isso. — Eu penso na habilidade de cozinhar abismal de Tora. Você pensaria que, como alguém com magia, ela poderia fazer um trabalho medíocre, pelo menos, mas não. — Ele parece perfeito para você. Você acha que ele vai pedir-lhe para ter uma união com ele?
As bochechas de Tora ficam coradas. — Hum, eu não tenho ideia. — Ela se senta e começa a mover as coisas em sua mesa, coisas que provavelmente não precisam ser movidas. — Quero dizer, não nos conhecemos há muito tempo, e as uniões são um grande problema entre os nossos. Eu teria que pensar muito sobre isso porque nenhuma união deveria ser quebrada levemente.
Não deveria. Na verdade, as uniões raramente são quebradas. É por isso que foi um escândalo quando o pai de Ryn partiu e formou uma nova união com outra pessoa. As pessoas não disseram muito, é claro, porque todos sabiam sobre a morte trágica de Reed e o quão difícil era para sua família, mas você podia ver em suas expressões sempre que a família de Ryn era mencionada.
— Ok, mas se Oliver lhe pedir agora, o que você diria?
Tora abre a boca, mas é salva de responder por uma batida apressada em sua porta. — Entre, — ela fala.
Um anão se aproxima com uma pilha de páginas do tamanho de sua mão. — Memorando urgente para todos os guardiões, — diz ele. Ele entrega uma para Tora e outra para mim. Ao sair, vejo outro anão passando correndo pelo corredor na direção oposta.
— Oh, não! — Tora coloca uma mão na boca enquanto seus olhos examinam a nota. — Isso deve ter acontecido depois que eu saí na noite passada.
Olho para o pequeno pedaço de papel de pergaminho na minha mão.
Um fogo encantado foi lançado por faeries cobertos de preto fora da Guilda de Londres na noite passada. Enquanto a entrada interna conectada aos caminhos das fadas permaneceu intacta, ninguém poderia entrar ou sair pela entrada exterior. Depois de várias tentativas mal sucedidas para apagar o fogo, ele desapareceu - aparentemente por conta própria. Os faeries cobertas de preto desapareceram. Nenhum membro da Guilda foi ferido.
Guardiões, estejam preparados. Este é o terceiro ataque em uma Guilda, e a segunda Guilda a ser atacada. Você nunca sabe quando poderá ser necessário com urgência.
Então a nota que recebi na minha caixa de correio era real.
Eu olho para cima. Tora está tocando no seu pequeno espelho circular. — Oliver! Está tudo bem aí?
— Você já ouviu falar sobre o fogo? — Diz uma voz masculina.
— Sim. Agora a pouco.
— Desculpe por não entrar em contato com você mais cedo. As coisas ficaram loucas nesta manhã, mas todos estão bem.
— Oh, graças a Deus.
Eu me levanto para sair. Seria grosseiro se eu continuasse e escutasse a conversa de Tora com Oliver. Além disso, eu sinto uma necessidade de verificar minha caixa de correio novamente porque algo me diz que vou encontrar outra nota misteriosa lá.
Dirijo-me ao corredor alinhado com as caixas de correio. Ao chegar ao meu, vejo uma nota dobrada com meu nome em um lado, escrita com a mesma letra da stylus de antes. Com meu coração bombeando mais rápido do que o normal, eu desdobro o papel.
VF,
Agora que você sabe que posso ser confiável, é sua vez de provar que você pode ser confiável. Não arrisquei minha vida para dar essa informação a alguém com muito medo de se assumir e consegui-la de mim. Se você puder ir ao Diviniti, um clube Subterrâneo, e pegar algo do homem com os chifres de carneiro, então vou saber que você é corajosa o suficiente para esta tarefa.
D.
Imagino um grande ponto de interrogação sobre minha cabeça. Diviniti? Um homem com chifres de carneiro? Isso está ficando estranho. Eu deveria jogar fora essa nota ou dar a alguém como a Conselheira Starkweather. O que eu não devo fazer é seguir as instruções que D me deu na esperança de que eu acabe recebendo informações importantes dele ou dela. Informações importantes que eu posso usar para mostrar a Conselheira Starkweather o quão errado ela foi ao me excluir da investigação de Zell.
Eu não deveria fazer isso. Eu realmente, realmente não deveria. Eu quase posso ouvir a lógica cantando para mim, não faça isso, Vi, não faça isso.
Ugh, mas eu quero tanto provar a mim mesma. E de que serve levar essa nota a outra pessoa na Guilda? Este tal D só quer se comunicar comigo. Eu sou a única que precisa conseguir a informação que poderia salvar todos.
Coloco a nota no meu bolso enquanto volto pelo corredor. Pelo menos vou tentar encontrar Diviniti e o homem com os chifres de carneiro. Então eu vou decidir o que fazer depois disso.
***
Ryn está preso em seu novo cubículo na Guilda, escrevendo um relatório de um quilometro sobre a sua tarefa no Egito, então eu não o incomodo com perguntas sobre como chegar ao Diviniti. Pelo menos, é o que eu digo a mim mesma enquanto vasculho minhas roupas em casa e tento transformá-las em algo colorido e estranho. Eu sei que no fundo a minha verdadeira razão para esconder isso de Ryn é que ele não vai aprovar que eu vá sozinha para seguir essa pista. Ele ainda não superou ter quebrados as regras no passado - como quando resgatamos a Calla - mas algo me diz que ele vai dizer que eu deveria envolver a Guilda nessa.
E não quero isso. Eu quero fazer isso sozinha.
Eu consigo trocar minhas botas pretas para uma cor verde ácida, e minha blusa preta para algo que parece uma pintura que uma criança vomitou. Então eu tento transformar um shorts curto e preto em uma saia curta e preta. Um pouco mais desafiador do que apenas mudar a cor, mas eu consegui. Estou melhorando nessa coisa de roupa.
Meu cabelo precisa de ajuda agora. Peço ao Filigree que se transforme na forma de um grande pássaro, o que ele faz obedientemente. Ele abaixa até o chão do meu quarto, coberto de penas. Pego algumas, altero a cor e as coloco no meu cabelo. Por fim, eu adiciono minha jaqueta à roupa. Não preciso que alguém veja as marcas dos guardiões em meus pulsos.
Certo. Agora eu pareço estranha o suficiente para uma festa no Subterrâneo.
Como não tenho ideia de onde Diviniti fica, terei que começar pelo único clube Subterrâneo que conheço: Poisyn. Encontrei meu caminho lá acidentalmente depois de fugir do labirinto de Angelica. Se eu puder imaginar com precisão na minha mente, eu posso ser capaz de voltar lá através dos caminhos das fadas.
A escuridão me rodeia enquanto atravesso a porta na parede e encaro a sala Subterrâneo com as luzes coloridas e a massa de corpos se retorcendo ao mesmo tempo que a música. Quando uma batida lenta e sedutora atinge meus ouvidos, eu sei que cheguei. Abro meus olhos e estou bem no meio. Os corpos se balançam e giram, os braços no ar, as cabeças jogadas para trás. Algumas faeries estão entrelaçadas umas nas outras. Outras derramam bebidas coloridas em suas gargantas - e sobre seus peitos e cabeças - enquanto dançam.
Eu tento parecer que estou totalmente confortável aqui enquanto atravesso corpos suados em direção a borda da sala. Difícil, quando tudo que eu quero fazer é tremer cada vez que alguém se esfrega contra mim. Eu fico na ponta dos pés, procuro o bar, e faço meu caminho em direção a ele. Eu tento balançar meus quadris enquanto ando, copiando as outras garotas que vejo. Parece estúpido.
Inclino meus cotovelos no balcão verde luminoso da bar e olho ao redor. Ok, agora eu preciso encontrar alguém para quem eu possa perguntar...
— Ei, eu conheço você? — Um cara com cabeça calva e olhos que parecem não ter íris se inclina no bar ao meu lado. Suas mãos estão cobertas de pêlo, e suas unhas são afiadas como garras.
— Hum, eu acho que não.
— Oh, desculpe. Devo ter te conhecido nos meus sonhos. — Ele me dá um sorriso cafona, mostrando seus dentes pontudos.
Uau. Isso é seduzir? Se assim for, fico feliz por ter evitado bares e clubes até agora. Mesmo que eu não queira mais nada do que sair imediatamente, pressiono o desejo de engasgar e pisco meus cílios para ele.
— Então, você quer dançar? — Ele dá um passo para mais perto de mim.
— Claro, se pudermos ir para outro lugar.
— Outro lugar? — Seus olhos se acendem, e tenho certeza de que ele viu muito mais nas minhas palavras do que eu pretendia.
— Sim, meu amigo me contou sobre esse lugar chamado Diviniti. Você conhece?
— Oh, sim. — Ele parece um pouco desapontado, provavelmente porque o 'outro lugar' não acabou por ser mais privativo. — Eu posso levá-la lá, se quiser.
— Oh, você pode? — Eu permito que o prazer se espalhe pelo meu rosto. — Muito obrigada!
Saímos do Poisyn e vamos por um túnel. É largo e alto, com portas aqui e ali e todo tipo de criaturas Fae vagando por alí. Nós viramos em um canto e passamos por um troll puxando um carrinho de anões atrás dele. Este lugar é mais como uma rede de ruas do que túneis. Chegamos a uma encruzilhada e vamos direto. Em seguida, outra e mais outra. Estou feliz por poder sair daqui através dos caminhos das fadas porque não tenho certeza se eu saberia como voltar para Poisyn.
O zumbido distante da música chega aos meus ouvidos. — Estamos quase lá, — diz meu companheiro calvo. Nós mal falamos uma palavra um para o outro. Ele é, obviamente, um conversador como eu. — Então, é isso. — Ele gesticula para uma arcada com fumaça branca vagueando por debaixo dela. Enquanto avançamos, ele coloca um braço ao redor dos meus ombros. Sua mão desliza para baixo e aperta minha bunda.
Pego a mão ofensiva, o giro e o coloco contra a parede. Eu torço o braço dele atrás das costas dele. — Tente isso novamente, e eu quebro sua mão.
— Tudo bem, — ele sussurra, seu rosto praticamente beijando a parede. — Uau. Isso foi quente. Você pode fazer de novo?
Sério? Solto o seu braço e me afasto. — Você sabe de uma coisa? Eu acho que isso não vai funcionar. Você deve voltar para Poisyn. Aquela garota atrás do bar parecia estar afim de você.
— Sério?
— Sim. — Na verdade, ela parecia que queria arranhar os olhos de alguém que ousasse pedir uma bebida, mas talvez fosse só porque ela tinha um olhar distintamente felino.
— Incrível. — O cara calvo gira o ombro algumas vezes antes de voltar para o túnel.
Caminho abaixo do arco e entro no Diviniti. Deve haver algum tipo de barreira invisível na entrada porque as pontas dos meus dedos formigam por um momento e a música de repente fica mais alta. A fumaça limpa o suficiente para eu dar uma olhada na sala. É muito mais escuro do que a Poisyn, e há muito menos dança acontecendo. Há sofás aqui e ali com Fae jogados neles, bebendo, fumando... e outras coisas que fazem meu rosto esquentar. Enquanto ando em direção ao bar, posso dizer que estou sendo observada. Pela primeira vez nesta noite, me sinto um pouco insegura.
Uma faerie com um metal circular através do nariz chega até mim antes de eu chegar ao bar. — Eu não vi você por aqui antes, — ele diz, seu tom sugerindo que suas palavras são um aviso de outro flerte.
Eu decido falar a verdade. — Eu fui enviada aqui para procurar alguém. Um homem com chifres de carneiros.
Um lado da sua boca vira. Ele alcança a bainha de sua camiseta e a tira sobre sua cabeça, revelando um conjunto impressionante de abdômen. Não tão impressionante quanto o abdômen de Ryn, mas, então, provavelmente estou sendo tendenciosa. Estou prestes a perguntar a esse cara por que ele está se despindo, quando ele se vira e me mostra as costas dele. Tatuado na metade superior está um par de grandes chifres enrolados de carneiro.
Ele coloca a camisa e diz, — Então, quem é você?
— Hum, meu nome é Violet.
— Violet. — Os cantos de seus lábios se levantam tão ligeiramente conforme seu olhar se move ao longo do meu corpo. — Estive esperando por você. Espere aqui. — Ele vai para trás do bar e desaparece através de um portal.
Coloco minhas mãos nos bolsos da jaqueta e tento não fazer contato visual com ninguém. Quando o cara retorna, ele me entrega algo pequeno embrulhado em papel marrom. É duro. — Hum, a pessoa que te deu isso, — digo. — Foi um homem ou uma mulher?
Ele me dá um olhar curioso. — Uma mulher.
— Ótimo. Obrigada. — Vou embora antes que ele possa fazer perguntas — e me encontro batendo em uma parede de carne. — Oh, desculpe-me, — digo ao virar. O homem gigante atrás de mim deve ser meio troll porque ele é enorme, e realmente feio.
— Indo embora tão cedo? — Ele pergunta. Sua voz é tão profunda que quase posso senti-lo rugir. — Você deve ficar um pouco. — Ele ergue a mão lentamente em direção ao meu rosto. — Nos conhecer um pouco melhor.
Eu me abaixo sob seu braço, pulo na almofada do sofá mais próximo, pulo para trás dele e pouso ao lado da parede. Eu apressadamente escrevo um portal e entro, deixando a música, a fumaça e a risada trêmula atrás de mim.
Entro no meu quarto e olho para o pacote nas minhas mãos. Na verdade, não foi tão difícil de recuperar. Se isso é tudo o que é preciso para provar minha bravura para essa mulher misteriosa, então ela obviamente não tem ideia do tipo de situações assustadoras com as quais me envolvi no passado. Esta foi uma tarefa de terceiro ano em comparação.
Sento na borda da minha cama e desembrulho o papel marrom. Dentro, encontro dois pedaços retangulares de vidro transparente, do mesmo tamanho que meu âmbar. Ótimo. Não tenho ideia do que devo fazer com eles. Coloco-os na minha mesa de cabeceira e começo a puxar as penas para fora do meu cabelo, que agora cheira a fumaça.
Dou um passo em direção ao meu banheiro, mas paro quando ouço um som zumbido na minha mesa de cabeceira. Um dos pedaços de vidro está vibrando, movendo-se lentamente em direção à borda da mesa. Eu corro e o pego antes que ele caia. Duas palavras cinzentas escuras me encaram da superfície do vidro.
Olá, Violet.
Eu pego minha stylus e sento na beira da cama. É a D? Eu escrevo.
Sim. Bem, você conseguiu chegar no Diviniti.
Esse vidro funciona como âmbar?
Sim. Nova tecnologia. Os fabricantes os chamam de vidro-comunicador.
Por que você me deu dois?
No caso de você quebrar um.
Justo. Suponho que isso aconteça quando você faz dispositivos de comunicação de vidro. Então, o que acontece agora?
Você me ouvirá dentro de três dias assim que eu souber quando e como Zell planeja fazer seu ataque às Guildas. Boa noite.
Boa noite? É isso? Depois de alguns minutos, é claro que quem estiver no outro extremo deste vidro comunicador não planeja enviar mais mensagens.
Eu mergulho na minha piscina de banho por um tempo, deixando a cachoeira lavar a fumaça do meu cabelo. Quando eu saio, encontro uma mensagem de Ryn no meu âmbar.
Sinto falta da minha Sexy Pixie. Mamãe te ouviu no meu quarto ontem à noite. Ela agora está usando palavras como ‘inapropriado sob meu telhado’ e ‘por favor, deixe sua porta aberta’. Então... me encontre na árvore gargan?
Com um sorriso, me arrumo e saio.
***
— Você está escondendo algo de mim, — diz Ryn. Na maioria das vezes, sua habilidade funciona muito bem para nós, eu nunca tenho que realmente dizer a ele o que estou sentindo, e está tudo bem para mim, mas agora é uma merda que ele pode me descobrir com tanta facilidade. — Seu humor está diferente e você definitivamente ficou nervosa quando perguntei como foi sua noite.
Ok, hora de jogar limpo. Posso manter um segredo de Ryn, mas definitivamente não posso mentir para ele. Especialmente não quando estou sentada em seu colo e ele não me deixa olhar para nenhum lugar, exceto em seus olhos. — Você está certo. Estive escondendo algo de você. — Coloco minhas mãos nos seus ombros. — Mas só porque eu sei que você ficaria todo protetor e se preocuparia com minha segurança e tentaria me impedir.
Ryn arqueia as sobrancelhas. — Se você tentou me tranquilizar, você fez um trabalho terrível.
— Não é extremamente perigoso. É apenas algo que eu quero fazer sozinha para que eu possa me provar a Conselheira Starkweather.
— E o que é esse ‘algo’?
Deslizo meus dedos pelos seus braços e pego suas mãos na minha. — Alguém na Corte Unseelie entrou em contato comigo para dizer que ela quer me contar todos os planos de Zell sobre seu ataque iminente às Guildas. Ela me viu no baile de máscaras, e obviamente, pensou que eu seria uma boa pessoa para transmitir a informação.
A expressão de Ryn torna-se cautelosa. — V, isso parece uma armadilha. Zell ainda te quer, lembra?
— Olha, essa pessoa já me deu informações que se tornaram verdadeiras. Ela me disse que haveria um incêndio na Guilda de Londres. Eu pensei que era uma piada, então ignorei isso. Então o fogo realmente aconteceu.
— E? Ainda poderia ser alguém tentando enganá-la para você se entregar.
— Eu sei. O pensamento me ocorreu. Mas eu terei cuidado. Não a encontrarei em nenhum lugar isolado. E se as coisas derem errado, bem, eu sou uma guardiã. Eu não ficarei impotente.
Depois de uma longa pausa, Ryn diz, — Se for encontrá-la, eu quero ir com você.
— Não tenho certeza de que seja uma boa ideia. Ela pode não me dar qualquer informação se vir que eu não estou sozinha. Ela provavelmente não quer que ninguém saiba quem é ela, caso Zell fique sabendo.
— Ela não precisa saber que estou lá.
— Ryn... — Inclino minha cabeça para o lado e tento implorar com meus olhos.
— Me desculpe, V. — Ele balança a cabeça. — Se você tivesse alguma ideia do quanto significa para mim, você saberia que eu não poderia lidar com isso se algo acontecesse com você.
— E nada vai acontecer comigo. — Eu aperto suas mãos com as minhas. — Eu realmente aprecio que você queira cuidar de mim, mas você não precisa. Eu quero fazer isso sozinha. Você precisa confiar naquilo que posso fazer.
Ryn está quieto enquanto seus olhos procuram meu rosto. Ele sabe o quão teimosa eu sou, então ele deve saber que não vou ceder quanto a isso. Por outro lado, eu sei o quão teimoso ele pode ser, então é possível que entremos em uma grande briga aqui.
— Tudo bem, — ele diz eventualmente. Ele coloca as mãos em ambos os lados do meu rosto e se certifica de que estou olhando para ele. — Se você não vai me deixar ir com você, então você tem que me prometer outra coisa.
Eu estreito meus olhos. — Prometer o quê?
Suas mãos escorregam do meu rosto e se acomodam nos meus ombros. — Você usará o colar da eternidade.
— Espera, você ainda tem essa coisa? Eu pensei que você iria destruí-la.
— Eu tentei. Não quebra. Agora prometa.
— Jeez, não é como se alguém tentasse me matar, Ryn. Zell realmente me quer viva, lembra?
— Exatamente. E a última vez que Zell tentou capturá-la e você fez uma fuga desesperada, você foi jogada pelo lado de uma montanha e quase morreu. Então, me prometa que você vai usar o colar.
Ryn tem razão. Inclino-me para frente e o beijo gentilmente nos lábios. — Eu prometo, — eu sussurro em sua orelha antes de arrastar meus lábios pelo lado de seu pescoço.
Capítulo 31
Jay, Asami e eu recebemos nossa próxima tarefa na manhã seguinte. Um elfo entrou em um restaurante no Creepy Hollow Shoppers Clearing ontem à noite e atacou uma jovem faerie. Então ele correu para a floresta e desapareceu. Esta manhã, outro ataque foi relatado por alguém que saiu dos caminhos das fadas. Felizmente, seu namorado estava lá para salvá-la, mas o elfo escapou mais uma vez. Agora, é nosso trabalho rastreá-lo e garantir que ele nunca mais ataque ninguém.
Precisamos entrevistar testemunhas para tentar estabelecer quem é o elfo, por que ele quer atacar essas garotas e onde ele pode estar agora. Leva tempo, o que é bom, porque preciso de uma distração. Preciso de algo para me impedir de contar o tempo até que Zell talvez deva encontrar seus seguidores para compartilhar seus planos.
Ryn e eu passamos todas as noites na árvore do gargan, que é como eu acabei perdendo uma visita de papai. Eu quis me chutar quando cheguei em casa e vi seu recado sobre a minha cama. Ele pediu desculpas por não poder visitar mais cedo e disse que não tinha ideia quando ele teria a oportunidade de voltar. Algo grande está acontecendo, ele escreveu. Fique segura. Gostaria de poder falar com ele sobre D e que logo vou saber quando o grande confronto estará acontecendo. Certamente, ele pode parar de se esconder e nos ajudar a lutar?
No dia da reunião de Zell com seus seguidores, eu mantenho o vidro em meu bolso onde quer que eu vá. Eu só tenho que ter cuidado para não me sentar sobre ele. Durante todo o tempo que estou com Ryn na gargan, espero que o vidro vibre no meu bolso. Não vibra. Eu chego em casa e o olho por um tempo, mas ainda não vibra. Filigree em forma de esquilo me olha estranhamente do pé da cama, como se dissesse, Por que a luz ainda está acesa? Quando podemos dormir?
— Eu não vou dormir até ouvir algo de D, — eu digo a ele. — Você pode ir dormir em outro quarto onde está escuro, se quiser.
Com uma fungada irritada, ele salta no chão e corre para debaixo da cama.
— Ou você poderia dormir debaixo da cama, eu acho. — Eu continuo olhando para o vidro comunicador antes de meu pescoço começar a ficar dolorido. Eu me deito e coloco o vidro no travesseiro ao meu lado. Não dormirei, não dormirei, não dormirei.
A próxima coisa que sei, estou deitada de costas, a luz cinzenta do amanhecer espreita através da claraboia encantada, e há um zumbido frenético ao lado da minha orelha. Levanto assustada e aperto o vidro comunicador com força, piscando para afastar o sono.
Eu sei tudo. Venha para o Rose Hall.
Eu alcanço a minha stylus na mesa de cabeceira. Indo agora.
Coloco minhas botas, coloco minha stylus em uma delas, jogo o colar da eternidade sobre minha cabeça, e corro para os caminhos das fadas. Rose Hall está situado em uma extremidade do Creepy Hollow Shoppers Clearing. Um mercado é mantido lá dentro uma vez por semana, e o salão também é usado para grandes funções às vezes, como festas. Caso contrário, fica vazio.
Eu ando pelo caminho vazio que corre entre a frente das lojas. Rose Hall é construído dentro da forte árvore widdern no final da pista. Não há nenhuma entrada esculpida no tronco como algumas lojas aqui, mas as palavras Rose Hall estão escritas em um sinal martelado no chão ao lado.
Será que vou poder abrir uma entrada no salão? Nunca tentei antes, então não sei se tem a mesma magia protetora que há em nossas casas. Não vejo por que deveria, já que não há muita coisa dentro para roubar. Seguro minha stylus contra o tronco da árvore e hesito. Eu olho em volta, lembrando que eu disse a Ryn que eu não encontraria D em um lugar isolado. Oops. Eu estava com tanta pressa que eu não pensei nisso até agora.
Isso é uma armadilha? Uma emboscada? Rose Hall está cheia de Faeries Unseelie esperando para me atacar e me capturar? Talvez os recados e o vidro comunicador fossem do próprio Zell. Talvez isso tudo seja apenas sua maneira elaborada de me fazer vir de bom grado para ele.
Eu fecho meus olhos e respiro fundo. Armadilha ou não, não posso voltar agora. Preciso saber o que está dentro deste salão. Então eu paro um momento para reunir energia suficiente no meu núcleo para atordoar uma faerie ou duas. Seguro a bola de poder em uma mão enquanto escrevo um portal na árvore com a outra.
Funciona.
Uma parte da árvore derrete. Eu dou alguns passos cuidadosos para a sala escura. A única luz aqui é a luz pálida do alvorecer que filtra através de uma janela de vitrais encantados na extremidade do corredor. Eu pego minha stylus e crio um orbita de luz. Eu a envio para o teto onde ilumina um salão vazio.
Não há ninguém aqui.
Era uma piada, afinal? Não, não pode ser. Como D saberia sobre o incêndio se ela não fizesse parte do círculo intimo de Zell? Eu me viro lentamente no local. Não há nada aqui, exceto por algumas folhas dispersas e... O que é isso? Meus olhos caem sobre uma forma cilíndrica no chão, no canto mais distante do salão. Eu ando em direção a ele, certificando-me de ficar constantemente alerta por quaisquer movimentos ou sons.
Eu chego ao canto do salão e me inclino para pegar o objeto. É um pergaminho. Um pequeno pico de adrenalina dispara através das minhas veias. Deve ser isso. Por que mais, um pergaminho deveria estar aqui se não fosse para eu pegar? Eu absorvo a bola de poder de volta através da minha mão, depois puxo a corda do pergaminho e desenrolo as páginas com a pressa.
Sim! É isso!
Menciona todas as Guildas, bem como as Corte Seelie e Unseelie. Uau, Zell vai tentar assumir tudo em uma noite? Ele tem um exército suficientemente grande? Examino as páginas rapidamente - detalhes, detalhes, detalhes - procurando a informação mais importante. Quando isso vai acontecer? Finalmente, eu acho, e o gelo se congela no meu sangue quando vejo o número.
Três dias.
Em três dias, todo o mundo vai entrar em erupção.
***
Eu atravesso o saguão da Guilda — os encantamentos de proteção no teto abobado? Tudo certo — e subo as escadas. Mais alto e mais alto até chegar ao andar dos membros do Conselho. Eu voo pelos corredores para o escritório da Conselheira Starkweather. Eu derrapo em uma parada na frente de sua porta e bato meus dedos contra ela. Nenhuma resposta. Eu tento de novo. Ainda sem resposta. Ela não está aqui. E, claro, ela não está, eu percebo, porque, apesar de ser uma viciada em trabalho, são cinco horas da manhã.
Com um gemido frustrado, ando pela passagem. Isso é simplesmente fantástico. Eu finalmente tenho o meu momento de provar a Conselheira Starkweather o quão útil posso ser, e ela nem está por perto. E não posso esperar até ela chegar aqui porque preciso mostrar isso a alguém agora. É além de urgente.
Eu me pergunto se há alguma chance de Tora estar aqui tão cedo. Ela saberá a quem devo dar essa informação. Coro de volta pelas escadas e me apresso pelo seu corredor. Estou prestes a bater em sua porta quando vejo alguém ainda melhor. — Bran! — Eu corro até ele. — Você faz parte do time que está investigando Zell, certo?
Com um suspiro, ele diz, — Você sabe que sim, Vi. Você já me interrogou e eu disse que não posso lhe dar detalhes.
Bran olha a primeira página com uma careta no rosto antes de olhar para mim. — Isso é uma piada?
— Foi o que eu pensei quando recebi o primeiro recado dela, mas não é. Ela me disse que haveria um incêndio na Guilda de Londres, e houve. Então ela me enviou este tipo de vidro para que ela pudesse entrar em contato comigo quando ela tivesse todas as informações. — Eu retiro o vidro comunicador do meu bolso e mostro para ele.
Ele o tira de mim. — Eu nunca vi um desses antes, — ele murmura, virando-o várias vezes. — Ela entrou em contato antes da Guilda de Londres pegar fogo?
— Sim. No dia anterior.
— E você não contou a ninguém sobre isso até agora?
— Bem, não.
— Violet! Por que não?
— Eu sinto muito. Eu sei que é infantil, mas fiquei tão louca que a Conselheira Starkweather se recusou a me envolver na investigação de Zell. Eu queria provar que minha contribuição poderia ser valiosa e que ela estava errada por não me incluir, então...
— Olhe, Vi, como alguém que lidou diretamente com Zell, sua contribuição é valiosa, mas você tem que ver que uma investigação complexa e perigosa como essa é mais adequada para os guardiões com décadas, séculos de experiência. Você ainda não está lá. Foi inteiramente inapropriado você guardar essa informação para você. Você deveria saber disso.
Merda. Eu não estou acostumada a desapontar meus superiores.
— Me desculpe. — Eu derrubo minha cabeça. — Mas, — continuo com cuidado, — o que você teria feito de forma diferente se eu tivesse contado sobre isso? Essa mulher queria dar essa informação apenas para mim.
— Nós teríamos seguido você para garantir que você estivesse segura e que não era um tipo de emboscada, ou que alguém não colocou um rastreador de algum tipo quando você não estava olhando.
— Mas... Na verdade, na verdade não conheci realmente nenhuma pessoa.
— Esse não é o ponto, Vi! — Ele aperta os papéis na mão. — O ponto é que você deveria ter nos contado sobre isso mais cedo.
— Ok, sinto muito. Desculpe. — Eu realmente sinto. — Mas isso estará acontecendo em três dias, Bran. Precisamos fazer algo. Você não precisa ter uma reunião com todos os outros membros do Conselho, tipo, imediatamente? Não precisamos planejar para que estejamos pronto para isso?
— Sim, — ele murmura, passa os olhos uma vez mais sobre as páginas enquanto atravessa o corredor. Ele para. — Por que nossos Videntes não viram isso?
Hmm. Bom ponto. — Eu não sei. Talvez eles comecem a vislumbrar isso agora que o plano final está no lugar.
A expressão de Bran torna-se duvidosa enquanto olha as páginas em sua mão. — Não tenho certeza de que possamos confiar nessas informações. Pode ser que alguém esteja tentando nos enganar.
— Eu acho que poderia ser. Mas e se não for? Não podemos não fazer alguma coisa sobre isso.
Bran aperta os olhos e murmura algo que não consigo ouvir.
— Então você vai convocar uma reunião?
— Claro, — Bran retruca. Não consigo lembrar dele retrucando para alguém antes. Ele procura pelas páginas e levanta a última. — Três dias, — ele murmura. — Nós podemos estar preparados em três dias.
— Espere, faça isso de novo, — digo. Pego a página dele e a seguro na luz. O contorno da insígnia da Rainha Unseelie fica visível no centro da página.
— Bem, — diz Bran, — pelo menos sabemos que essas páginas realmente vieram de dentro do Palácio Unseelie.
O que, suponho, ainda não confirma se a informação é legítima.
— Eu preciso ir, — diz Bran. — Vou levar isso comigo. — Ele ergue o vidro antes de se afastar de mim em direção à escada. — E não conte a ninguém sobre isso, Vi. Eu não quero que o pânico se propague.
***
Eu me sento na gargan e espero por Ryn. Passei todo o dia tentando me concentrar na tarefa do elfo e, em sua maior parte, falhei miseravelmente. Tudo no que eu poderia pensar era o fato de que todos nós estaríamos lutando por nossas vidas dentro de alguns dias. Por um lado, é uma coisa boa, o confronto estar finalmente sobre nós, e podemos parar de nos perguntar se e quando o tapete será arrancado de baixo de nossos pés. Por outro lado, e se perdermos? É improvável agora que sabemos que está chegando, e nós somos guardiões, afinal. É para isso que somos treinados. Mas.. e se houver muitos deles e não tivermos poder suficiente?
Quando eu saí esta noite, membros do Conselho de todo o reino das fadas estavam chegando. Eles tentaram ser gentis, saudando um ao outro como se nada estivesse errado - provavelmente por causa dos guardiões confusos ao redor deles que ainda não sabem o que está acontecendo -, mas eu pude ver o desconforto por trás de seus sorrisos. Adair e os outros guardiões mais antigos pelos quais passei pelo meu caminho também pareciam sérios. Eles já devem ter sido informados.
Estou começando a desejar não ter ido sozinha para recuperar a informação de D. Se o dia chegar e ninguém aparecer para nos atacar, bem, será uma coisa boa, mas também vou ficar em problemas monumentais. Fui eu quem trouxe essa informação para a Guilda, então serei a responsável por causar todo o pânico e as reuniões e a preparação e depois... o anticlímax.
Merda. Por que não pensei nessa possibilidade antes de eu encarregar minha própria pequena missão? E onde está Ryn? Olho para a posição da lua. Ele geralmente já estaria aqui até agora. Eu envio uma mensagem no âmbar, mas não recebo resposta. Eu tento lembrar se ele me disse se estaria trabalhando hoje à noite. Minha memória fica em branco.
Eu ando pelos caminhos das fadas e saio na minha sala de estar. Talvez Filigree jogue um jogo de cartas comigo para tirar minha mente das coisas. Nunca terminamos aquele jogo que Ryn interrompeu algumas semanas atrás. Subo as escadas e encontre Filigree enrolado na forma de tatu no meu travesseiro. Eu não vejo essa faz um tempo. Eu caio de barriga na cama e o cutuco – no momento que um som zumbido vem da minha mesa de cabeceira.
Meu âmbar? Não, está no meu bolso. Então seria... o segundo vidro comunicador. Eu abro a gaveta e coloco minha mão, empurrando o colar da eternidade para alcançar o pedaço retangular de vidro.
As coisas mudaram. Preciso lhe dar novas informações.
Eu viro para tirar minha stylus da minha bota e acabo rolando no chão. Droga, isso doeu. Eu me sento e rabisco rápido no vidro. O quê? O Conselho da Guilda já está reunido para analisar as informações que você me deu nesta manhã.
Quando?
Agora mesmo!
Então eu preciso me encontrar com você imediatamente.
Por que você não pode me dizer aqui pelo vidro comunicador?
É demais. Eu preciso me encontrar com você.
Isso não é muito perigoso para você?
Eu não me importo mais. Venha para o Rose Hall.
Agora?
Sim!
Arrasto-me do chão e abro um portal. — Não espere por mim! — Eu grito para Filigree quando entro na escuridão. Pulo para a pista escura de Creepy Hollow e corro para a árvore do Rose Hall. O que eu vou fazer uma vez que eu tiver essa nova informação? Apenas entrar na reunião do Conselho? Talvez eu possa convencer D a vir comigo. Isso definitivamente ajudaria. Paro contra a árvore com a mão. Levanto a stylus para escrever um portal, mas percebo uma minúscula folha de papel pregada na árvore. Apenas uma frase.
Continue jogando o jogo, Violet.
O quê? O jogo? Desde quando é um jogo? Um arrepio corre pelos meus braços enquanto eu olho em volta. Assim como nesta manhã, parece não haver ninguém aqui, mas não posso evitar sentir que algo estranho está acontecendo. Algo que estou perdendo. Eu tenho que entrar no corredor, no entanto. Zell mudou algo em seus planos, e eu preciso saber o que é.
Então eu faço o que fiz esta manhã. Eu coloco o poder do núcleo do meu ser e o mantenho acima da minha mão, pronto para usá-lo no primeiro sinal de perigo. Abro uma entrada para o salão e ando lentamente para dentro.
O que eu vejo no outro extremo do corredor me faz querer ficar doente. Em frente ao vitral, pendurado de cabeça para baixo do teto, há um cadáver. Um cadáver sem cabeça. Sem realmente perceber isso, deixo o poder acima da minha mão desaparecer. Com horror, eu ando em direção ao outro extremo do corredor. Há um objeto redondo colocado no chão debaixo do corpo, e todo instinto chocado dentro de mim grita que é uma cabeça. É a cabeça que pertence ao corpo pendurado. E eu preciso saber quem é.
Os meus dedos tremem. Minhas pernas tremem. Até as minhas respirações são frágeis quando escapam dos meus lábios. Mas eu continuo avançando. A cabeça está de frente para a parede traseira, mas quando me aproximo, vejo a cor no cabelo. Eu vejo as listras vermelhas, e eu sei. Eu sei. Mas ando para frente para encará-lo de qualquer jeito. Eu passo ao redor e vejo seus olhos vermelhos vidrados.
Zell.
Com uma mão trêmula, cubro minha boca para me impedir de vomitar. Então vejo as palavras escritas no chão.
Violet,
Você não pode ganhar este jogo. Conheço todos os seus movimentos antes de você fazer, e sempre estarei um passo à sua frente. Quero que saiba que tudo o que acontecer agora é sua culpa.
Draven
Capítulo 32
Draven? Era como eu costumava chamar Nate. Avenida Sr. Draven. Mas não pode ser ele. Não pode. Nãonãonãonãonão, por favor, diga que ele não fez isso. Oh, querida Rainha Seelie, o que ele fez? O que eu fiz?
Um som crepitante rasga durante a noite tranquila como relâmpagos em algum lugar fora. Ele atinge o chão com tanta força que eu tenho que jogar minha mão contra a parede para impedir o estremecimento de me derrubar. Eu ouço um baque e um estalo quando algo atinge o chão lá fora. Compelida pelo terrível temor de que todo o meu mundo esteja prestes a ser despedaçado, atravesso o salão vazio e saio na pista.
A rajada de vento mais forte que eu já senti passou pelas árvores e me derrubou no chão. Eu ouço um rugido. Rugido e um som crepitante. E eu sinto cheiro de fumaça. Eu consigo virar minhas costas logo quando outro raio atinge o chão bem próximo. Eu vejo uma luz laranja cintilante. Fica mais brilhante enquanto olho. O rugido se torna mais alto e a fumaça mais densa.
Oh inferno. Há um inferno louco aqui fora, movendo-se com a velocidade do vento.
Tenho que ir a Guilda.
Eu rolo de volta sobre minha barriga e escrevo um portal na sujeira. Eu caio na escuridão e concentro a minha atenção na entrada interior da Guilda. Talvez eu ainda tenha tempo de alertá-los sobre o que está por vir.
Eu abandono os caminhos das fadas a pé - e é aí que percebo o quão errada eu estou. Meu mundo não está prestes a ser despedaçado. Já foi despedaçado. O choque parece tirar o ar dos meus pulmões porque eu não tenho a menor vontade de respirar.
A Guilda está destruída. Toda a Guilda.
Cascalho reveste o chão até onde eu posso ver. Mármore e escombros e pedaços fumegantes de madeira entalhada. Árvores estilhaçadas e cinzas e fumaça. O complexo glamour e os feitiços arquitetônicos que escondem a Guilda inteira dentro de uma única árvore devem ter sido destruídos de alguma forma. Minha mente evoca imagens horríveis do que teria acontecido depois disso: o interior da Guilda explodiu, demolindo a floresta ao redor dela.
Eu dou alguns passos trêmulos para frente antes de cair de joelhos. Não consigo aceitar isso. É demais. Vejo guardiões espalhados aqui e ali por todo os escombros, alguns feridos, alguns tropeçando por aí perdidos. Os restos de conversas sussurradas me alcançam.
— ... Estão dizendo que Tharros retornou.
— ... deve ter tomado mais poder do que qualquer pessoa deve possuir.
— A primeira explosão veio de dentro de uma sala em que o Conselho e os guardiões mais velhos estavam.
— Algum deles saiu vivo? Não vi nenhum...
Oh não, oh não, oh não. Isso não pode estar acontecendo. Quantas pessoas estão mortas? Onde está Tora? Ryn? Flint? Onde diabos estão todas as pessoas de quem eu gosto?
Um flash ofuscante de luz branca enche a clareira destruída. Eu jogo minha mão através dos meus olhos até a luz diminuir. Quando olho novamente, vejo a Rainha Seelie vestida de armadura prateada, andando pelos escombros. — O QUE está acontecendo aqui? — Ela grita.
— Minha senhora. — Um de seus guardas corre atrás dela. — Você não deveria estar aqui. É muito perigoso. Pode haver...
— Eu quero saber o que está acontecendo, — ela grita. Ela para e gira no local, olhando para os guardiões que se apresentaram para se ajoelhar diante dela. — Eu quero saber como essa Guilda poderia ser estúpida o suficiente para chamar uma reunião de quase todos os membros do Conselho de cada Guilda e depois se explodir.
Um riso frio recebe suas palavras. Procuro a fonte do som e vejo uma mulher andando em direção à Rainha. Um tremor passa pelo meu corpo enquanto a reconheço. Angelica. Já não presa no centro de seu próprio labirinto. Ela mantém a cabeça alta, olhando para baixo para todos enquanto sacode seu longo cabelo preto e prateado sobre o ombro dela. E naquele instante, eu percebo porque achei a Rainha Seelie tão familiar quando a conheci.
— Olá, mãe, — diz Angelica quando ela está parada. — Você está com saudades de mim?
Mãe? Você está brincando comigo?
— Como eu sentiria de uma mancha feia em um vestido branco, — a Rainha zomba. — E não me chame de ‘mãe’. Você não é minha filha.
Sussurros de ‘filha fugitiva’ me cercam quando as pessoas percebem o que está acontecendo aqui. Os guardas da rainha apontam suas armas para Angelica, mas nenhum deles faz um movimento. Suponho que machucar uma princesa Seelie não venha naturalmente para eles.
— Não sou sua filha? — Angelica repete. — Suponho que não seja surpreendente, então, que eu estava muito mais feliz com a Guilda do que eu já estive em seu palácio. — As sobrancelhas da rainha contraem uma fração. — Oh, você não sabia? — Angelica pergunta, sua voz cheia de surpresa exagerada. — Quão chocante. Passei mais de uma década na Guilda de Creepy Hollow, e você nem sabia disso.
— Eles obviamente conseguiram não ensinar nada a você, — diz a Rainha, — já que você parece estar se juntando com o inimigo agora. O que você está fazendo com a Corte Unseelie?
Angelica solta um suspiro exagerado. — Veja, mãe, isso realmente não tem nada a ver com a Corte Unseelie. Tem tudo a ver com meu filho.
Confusão e raiva brigam nos olhos da Rainha.
— Isso mesmo, — diz Angelica. — Seu neto. Um príncipe da Corte Seelie...
— Um halfling, — a Rainha rosna.
— Sua própria carne e sangue! Ele está em posse do poder perdido de Tharros e não há ninguém no mundo que possa vencê-lo agora. Ele é o único que pode tirar tudo o que você tem. O Palácio Unseelie está em ruína, e o palácio Seelie está sendo destruído enquanto conversamos. As Guildas estão todas sob ataque. Quando o dia surgir, não haverá diferença entre Seelie e Unseelie. Só haverá aqueles que estão com o meu filho e aqueles que estão contra ele.
Nate. O que você fez?
— E quanto como essa Guilda poderia ser estúpida o suficiente para se fazer explodir, — continua Angelica. — Um dos seus guardiões enviou muito gentilmente um dispositivo de bombas encantadas para a reunião do Conselho. E esse mesmo guardião nos contou que a reunião estava acontecendo hoje à noite. Foi tudo muito fácil depois disso.
Ela está falando sobre mim? Nãonãonão, por favor, não. Por favor, não deixe que tudo isso seja minha culpa. Como eu voltarei a encarar alguém? Meus olhos procuram a clareira em desespero. Ainda não vejo Ryn ou Tora. Eu tenho que encontrá-los. Não consigo pensar em todos esses danos e destruição. Não consigo pensar em como tudo é culpa minha.
Encontre-os.
Minha stylus ainda está apertada na minha mão. Inclino-me para frente e escrevo no chão. Deslizo dentro da escuridão logo quando as primeiras gotas de chuva começam a cair. Dirijo-me primeiro a árvore gargan. Talvez Ryn esteja esperando por mim. Talvez essa parte da floresta ainda esteja tranquila e não tenha ideia do que está acontecendo longe daqui.
Mas algo está errado. Quando eu saio dos caminhos das fadas, eu me vejo caindo no ar. Um grito me escapa quando eu tento abrir outro caminho no ar em movimento. Não posso. Eu caio no chão, conseguindo diminuir minha queda no último segundo. Eu deslizo pelo chão por um momento antes de cair às últimas polegadas na estrada. Empurro-me e me levanto.
Destruição.
A árvore gargan, uma das mais antigas e majestosas árvores de toda a floresta, caiu. Está queimando e soltando fumaça e caindo. Levou a maioria das árvores ao redor com dela. Tudo está morto aqui.
Morto.
Nate fez isso. Ele destruiu meu lugar favorito de toda Creepy Hollow. Aperto meus punhos e solto um grito sem palavras. Continuo mais e mais, até que eu não tenha mais fôlego. — Como você pôde fazer isso? — Eu grito para a chuva lentamente tamborilando. — Eu te odeio!
As lágrimas se juntam aos pingos de chuva que caem pelo meu rosto. Eu atravesso os caminhos das fadas até a casa de Ryn. O que eu acho lá faz minhas lágrimas caírem mais rápido. Está destruída, rasgada, assim como as outras casas de fadas que eu posso ver através das árvores quebradas enquanto eu viro para olhar ao meu redor. Eu procuro pelos destroços, mas não há ninguém aqui.
Eu vou para a casa de Tora, e sou cumprimentada pela mesma visão. E, novamente, ninguém aqui.
O único lugar para ir é minha própria casa. Talvez Ryn e Tora tenham ido lá para me procurar. E Filigree! Eu tenho que resgatar Filigree!
Eu me preparo para a destruição, mas a visão da minha casa arruinada ainda é suficiente para me fazer sentir que algo acabou de ser arrancado do meu peito. Náusea invade meu estômago.
Minha casa se foi.
— Ryn! — Eu grito. — Tora! Filigree! — Sem resposta.
Eu escalo a bagunça que era minha cozinha. A mesa já não tem pernas, e estou prestes a pisar nela quando percebo uma faca afiada embutida na superfície. A faca está segurando um pedaço de papel na mesa. Um pedaço de papel dobrado.
Meu sangue queima como fogo quando a fúria passa por mim. Não foi o suficiente para Nate — Draven — tirar meu mundo inteiro? Ele também tem que deixar um maldito recado esfregando na minha cara?
Eu arranco a faca da mesa e desdobro o papel. Meu coração quase para à vista da escrita de Ryn - e então ele se quebra novamente quando eu leio suas palavras. Há muitas delas, mas só posso me concentrar em uma frase: não tente me encontrar. Eu limpo as lágrimas dos meus olhos quando enfio a nota no meu bolso. — Você prometeu que não iria embora, — eu sussurro. — Você prometeu.
É então que eu ouço uma voz fraca. Tora. Chamando meu nome. Eu me viro, procurando desesperadamente. — Tora? — Eu chamo. Eu ouço sua voz novamente. Salto das ruínas e corro ao lado da bagunça. Lá está ela, presa por uma árvore que aterrissou em seu abdômen. Uma árvore com galhos estilhaçados e casca e - oh, querida Rainha Seelie, nem quero olhar para o dano porque sei instintivamente que é demais para até mesmo uma faerie se recuperar.
— Tora! — Eu corro para o lado dela e agarro sua mão. — Oh merda oh merda oh merda. — Eu tenho que tentar curá-la. Mesmo que meu cérebro me diga que não é possível, ainda tenho que tentar. — Posso mover a árvore, — digo, me preparando para levantá-la com magia.
— Não. — Ela toca no meu braço para me parar. — Não vai ajudar. Minha magia, — ela ofega. — Não é... forte o suficiente para...
Não é forte o suficiente para curá-la. É o que ela quer dizer. Mas eu tenho magia que pode curá-la, eu percebo. O colar da eternidade. Se ela usar, ela não pode morrer, certo? Eu escalo os escombros da minha casa mais rápido do que qualquer coisa que eu já subi antes. Acho minha cama. Minha mesa de cabeceira. A gaveta foi nocauteada e está jogada ao lado dos estilhaços da minha mesa. Eu procuro pelo colar da eternidade.
Sumiu.
— Não! — Eu grito. Por que ele sumiu? Estava aqui quando eu saí, há menos de uma hora. Procuro por toda a gaveta, mas não há colar para ser encontrado em qualquer lugar.
Eu corro de volta para Tora. Levanto a metade superior de seu corpo e a seguro no meu colo, deixando minha magia penetrar nela onde quer que a nossa pele esteja tocando. — Por favor, não morra, — eu soluço. — Por favor, não morra, por favor, não morra.
— As minhas pernas... Ainda estão lá? — ela consegue perguntar. — Não posso... Senti-las...
Inclino-me sobre ela e deixo as lágrimas caírem no seu peito. — Sinto muito, Tora. Sinto muito, sinto muito. Isso é tudo minha culpa.
— Lembre-se... Eu... — Suas palavras morrem em seus lábios quando a vida desaparece de seus olhos.
Aperto suas mãos com força, desesperadamente. Não consigo respirar. Onde está o ar? Por que não consigo respirar? Pontos brilhantes dançam leve diante dos meus olhos. Solto as mãos de Tora e caio de volta no chão. E de repente há uma liberação, e estou sugando grandes respirações de ar nos meus pulmões.
Eu não mereço isso. Deveria ser eu morta no chão, não Tora. Eu me levanto. Eu ando cegamente sobre os destroços da minha casa. Não sei aonde vou. Não sei o que planejo fazer. Tudo o que sei é que não quero pensar. Não quero lembrar. Não quero estar aqui.
Eu caio no ponto mais alto da minha casa destruída e seguro minha cabeça entre as minhas mãos enquanto choro. Não posso corrigir isso. Não posso passar por isso. Eu nem sei como posso viver sabendo que ela morreu por minha causa.
Minhas mãos caem para os meus lados, e uma delas para sobre uma pilha de vidro. O conteúdo do meu kit de emergência, espalhado e quebrado. Meus dedos trêmulos procuram pelos itens que conseguiram sobreviver e param em um dos frascos. Eu o pego. Esquecer, diz o rótulo.
Isso é o que eu quero. Quero esquecer tudo o que aconteceu. Quero esquecer que é minha culpa.
Tiro a tampa.
Levanto até a minha boca.
Eu fecho meus olhos e o derramo na minha garganta.
Capítulo 33
Eu desperto em um quarto pequeno e mal iluminado com um teto que parece estar muito perto. Eu rolo sobre o meu lado, esfregando meus olhos ásperos. O quarto está vazio, exceto por uma cadeira e uma pequena mesa. Na mesa está uma lanterna com uma luz cintilando dentro.
— Oh, você está acordada, querida. Que amável. — Alguém pequeno entra no quarto. Alguém com cabelo cinza e vestindo um vestido longo. Ela se curva sobre mim, e vejo olhos negros em um rosto coberto de escalas como de um réptil.
Reptiliana, meu cérebro me diz. — Quem é você? — Pergunto.
Ela sorri para mim e rugas se formam nos cantos dos seus olhos. — Alguém que decidiu não deixar você lá fora, nos destroços.
— Destroços? — Repito. Ainda estou tentando dar sentido a onde eu estou, como cheguei aqui e o que aconteceu antes de eu dormir. Estou conseguindo nada.
— Os destroços da floresta. Foi despedaçada por um faerie malvada. — Ela balança a cabeça em desaprovação. — Draven, eles dizem que é o nome dele.
— Draven? — Nunca ouvi falar dele.
— E qual o seu nome, querida?
O meu nome. Essa é uma pergunta fácil. E eu tenho a resposta. Está aqui mesmo na ponta da minha — Violet, — eu digo, aliviada, que o nome apareceu para mim.
— E?
— E o quê?
— O que mais você se lembra?
O que eu lembro? Isso é um pouco mais difícil. Eu procuro na minha cabeça confusa, em seguida, eu a balanço. — Para ser sincera, — eu digo, — não muito.
{1} No inglês: Bite me, algo no sentido de foda-se.
Capítulo 22
O café da manhã é um piquenique sob um campo de árvores que nos salpica com um punhado ocasional de flores amarelas em forma de estrela. Muito lindas, até começar a pousar na comida. Posteriormente, somos enviados para observar a Guarda Real executando alguns exercícios de treinamento, que é quando Ryn e eu conseguimos escapar para explorar mais um pouco. Eu ainda estou um pouco zonza com todos os sentimentos de apenas-amigos me percorrendo, e parece estar resultando em algum comportamento imprudente. Como alegremente passear pelo palácio quando claramente não deveríamos estar fazendo isso agora.
Encontramos dois lagos que não têm estruturas de pedra construídas nas proximidades, e outro pátio anexado ao palácio com uma piscina cheia de faeries jovens pulando. Do outro lado de um labirinto construído de arbustos baixos, encontramos uma lagoa com uma ponte de pedra. Mas depois de examinar cada pedra, é claro que não há sinal ou símbolo que aponte para algo escondido.
Eu penso no tamanho total dos terrenos do palácio - tão grande que levaria horas e horas para chegar ao outro extremo - e começo a sentir um pouco de pânico. — E se não conseguirmos encontrar o esconderijo a tempo? — Digo a Ryn. — Eu esperei essa oportunidade por anos; nunca mais vai acontecer.
— Nós vamos procurar toda a noite se tivermos, — ele diz, e eu tenho que lutar contra o desejo de pegar sua mão e apertar seus dedos. Ele parece tão determinado quanto eu a encontrar os pertences escondidos das minhas mães. Talvez seja porque ele ainda esteja tentando compensar o passado, ou talvez seja porque a alternativa - sair com outros formandos para assistir a guarda treinar - é muito chata. De qualquer forma, estou grata além das palavras.
Nós deixamos a lagoa e a ponte atrás de nós conforme escalamos uma colina baixa. — Sabe, o tempo de exploração de sua mãe provavelmente também foi muito limitado quando ela esteve aqui, — diz Ryn. — Você não acha mais provável que ela tenha escolhido um esconderijo mais perto do palácio do que mais longe?
Paro de subir e esfrego a parte de trás da minha mão na minha testa. Estou superaquecendo na calça comprida que, como Ryn apontou na noite passada, pode ser um pouco apertada demais para um dia de verão. Meu top mantém meus braços expostos, mas não é o suficiente para me refrescar. — Isso pode ser verdade. Você acha que devemos voltar e olhar ao redor do palácio?
— Sim, eu quero. Até agora, nós apenas caminhamos pelo palácio, não ao redor dele. Pode haver pequenas piscinas que ainda não vimos.
— Há também uma maior chance de alguém importante nos ver e nos enviar de volta ao nosso grupo.
— Com medo de entrar em problemas, V? — Ryn mostra seu sorriso arrogante.
— Dificilmente, — eu viro e vou em direção ao palácio. — Eu simplesmente não quero que a Missão Exploração seja cancelada.
Caminhamos de volta sem dizer muito. Há bastante silêncio entre nós hoje. Não um silêncio estranho, mas sim um que sugere que estamos um pouco preocupados. De vez em quando, eu o pego olhando para mim, mas não pergunto por quê. Ele provavelmente tentará me fazer falar sobre os meus sentimentos ao ver meu pai – que-não-era-meu-pai na noite passada, e eu não vou por essa estrada. Chorar nos braços de Ryn foi estranho o suficiente sem ter que falar sobre isso agora.
Contornamos o palácio, nos mantendo ao redor das árvores circundantes e esperando que ninguém nos perceba quando se inclinarem em suas varandas brancas decorativas. Nós passamos por uma fonte fora de uma sala onde um grupo de faeries estão praticando instrumentos musicais. Sinto um feitiço que atravessa as árvores em nossa direção, fazendo que os meus pés queiram dançar. Eu me apresso com Ryn perto de mim. Essa fonte era pequena demais para estar escondendo qualquer coisa de qualquer maneira.
— Ei, acho que ouço mais água, — diz Ryn.
Ele tem razão. — Sim, mas onde? Não vejo nada.
O som de queda de água torna-se mais alto à medida que nos aproximamos do que parece ser uma parede frondosa com hera firmemente entrelaçadas. Parece estar escondendo uma área semicircular contra a borda da parede do palácio. — Um jardim particular? — Sugere Ryn.
— Talvez. Mas não parece que haja algum caminho desse lado, então minha mãe não poderia ter escondido nada aí.
Estamos prestes a seguir em frente quando uma figura vestida de branco anda através da cobertura. Eu deslizo atrás do tronco da árvore mais próxima e me pressiono contra ela. A poucos metros de distância, Ryn se esconde atrás de outra árvore. Quando ninguém nos chama, espreito cuidadosamente ao redor da árvore para ver o que está acontecendo. A figura de branco é a faerie anfitriã da nossa festa do chá na tarde de ontem. A filha da Rainha, Olivia. Ela arruma seu longo cabelo loiro e rosa para longe do pescoço e o prende com uma fita. Então, depois de examinar a área rapidamente com os olhos, ela se apressa através das árvores para longe de nós.
— Imagine ainda viver com sua mãe quando você tem, tipo, um século de idade, — Ryn sussurra. Ele sai de trás de sua árvore e se aproxima de onde Olivia apareceu.
— Eu acho que ela tem mais do que dois séculos de idade, — respondo. — Ela é a primeira filha da rainha, lembre-se, e a Rainha certamente está por aí por um tempo.
— V, há uma abertura aqui. — Ryn gesticula para que eu o acompanhe. — Você não pode ver de lá porque o ângulo está errado.
Atravesso a grama e escorrego na abertura depois dele. Oculto dentro do semicírculo, está um jardim. Rosas de todas as cores estão entrelaçadas entre a hera no muro. Em um lado está um arco de pedra com um banco embaixo dele. No centro do jardim encontra-se uma piscina redonda, ao lado fica uma árvore com folhas laranja enormes que criam uma sombrinha para proteger. A água escorre sobre uma pilha de pedras e para dentro da piscina. Estátuas ficam aqui e ali na grama, e a própria grama chega ao fim em um portal aberto levando para o que deve ser o quarto da princesa.
— Nós definitivamente não deveríamos estar aqui, — eu digo, me afastando da piscina.
— Você não quer verificar se o esconderijo da sua mãe está aqui?
— Não estará.
Ryn vaga para o banco e senta-se. — E como você sabe disso?
— Ryn, este é o jardim particular da princesa. Não há como minha mãe ter escondido suas coisas aqui. Você pode imaginar o problema em que ela estaria se metendo se alguém a pegasse? — Eu me viro para ir embora, mas, conforme eu faço, a descrição de Zinnia sobre meus pais algumas noites atrás vem à minha mente. Os dois sempre gostaram de assumir as tarefas mais perigosas. — Por outro lado, — digo, voltando lentamente para a piscina, — talvez seja por isso que ela escolheria este lugar.
— Ah, sua mãe era uma caçadora de emoções, não era?
— Eu não sei. Talvez. — Eu começo a examinar o arco de pedra onde Ryn está sentado, começando pela pedra mais baixa e movendo para cima. Ryn levanta e examina o outro lado. As pedras são quase perfeitas e parecem não ter marcas além daquelas provavelmente provocadas pelo tempo e clima severo. Não que eu possa imaginar um lugar como esse com um clima severo, mas até mesmo eu sei que a Corte Seelie não é imune ao inverno.
— Vê alguma coisa? — Pergunta Ryn.
— Não. Você pode me dar uma ajudinha para verificar a parte de cima?
Ryn aparece de frente para o banco e coloco meu pé nas mãos dele. Ele me levanta rapidamente. Pego na borda do arco e dou uma olhada em todas as pedras que não consigo ver do chão. — Nada. Eu acho que não está aqui, afinal.
— Será que não são as estátuas feitas de pedra? — Pergunta Ryn conforme ele me deixa no chão.
— Sim, mas elas são muito pequenas.
— V. — Ryn me olha como ele olha para Calla quando tenta explicar algo. — Se uma árvore não é muito pequena para esconder sua casa inteira dentro, então uma estátua pequena não pode esconder uma única sala?
Mesmo que agora eu ache Ryn lindo e tenha ocasionalmente o desejo irracional de rasgar sua roupa, ainda é realmente irritante quando ele está certo. Sem responder, vou até a estátua mais próxima - uma mulher com pequenos chifres na cabeça usando um pedaço de tecido que nem de perto cobre as partes essenciais de seu corpo. Eu me abaixo na grama e começo a investigar sua superfície de pedra. Não consigo nada além da pedra suavemente esculpida, até encontrar algo na parte de trás do seu calcanhar. — Há algo aqui. — O entusiasmo sobe no meu peito. — Uma flecha. Ela aponta para baixo e para a direita.
— Há algo aqui também, — diz Ryn, passando os dedos pela perna direita da estátua de unicórnio. — Uma linha ondulada.
— Uma linha ondulada? Isso geralmente não significa água?
— Sim. Água correndo, talvez? Água corrente?
— Tudo bem, nós temos uma fonte, mas esta flecha aponta para a direita, e daqui a fonte está à esquerda.
Ryn caminha para a estátua restante - um pixie que segura um sprite em sua mão estendida como uma oferenda - na sombra das folhas laranja. Eu me junto a ele, meus olhos olhando as pernas primeiro, porque isso parece ser uma tendência aqui. Ryn fica de quatro, examinando atentamente a frente do pixie. Eu alcanço a parte de trás do pescoço do duende quando Ryn diz, — Achei. — Ele me dá um sorriso e o encaro. Tudo é uma competição quando se trata de nós dois. — Está na parte de trás da mão do pixie, de frente para o chão. — Ele se inclina mais uma vez e aponta. — Vê? É a forma de um círculo.
— Um círculo. — Nós dois olhamos para o jardim. O único círculo aqui é a piscina.
— Está dentro da piscina, — diz Ryn. — Você tem que entrar na água - daí a linha ondulada - ir abaixo da superfície...
— Essa é a flecha para baixo.
— E então à direita, — Ryn termina.
Eu vou para a abertura no muro e olho lá para fora. Ninguém lá. — Ok, vamos fazer isso rápido. Eu certamente não quero ser pega nadando na piscina da princesa.
— Depois de você. — Ryn gesticula para a piscina. — Considerando que esta é a sua missão, acho que você deve ir primeiro.
Eu mergulho meu pé, testando a temperatura da água. Eu pensei que poderia ser desconfortavelmente quente, dado o calor deste dia de verão, mas é fria o suficiente para ser deliciosamente refrescante. Claro. Provavelmente está encantada para estar na temperatura perfeita. Deslizo para dentro da água. A água alcança meus ombros.
— Ah, que alívio, — Ryn diz enquanto ele se junta a mim, fazendo um pouco mais de barulho do que eu. — Talvez tenhamos que ficar aqui por mais tempo.
— E ser pegos? Eu acho que não. — Respiro profundamente, afundo abaixo da superfície e nado para o lado direito da piscina. Eu corro meus dedos sobre as pedras quadradas, procurando em cada uma por algum tipo de marcação. Eu volto a superfície para pegar ar e mergulho vez uma mais. Ryn está nas proximidades, ajudando na busca.
Então eu vejo: um X simples esculpido no meio de uma pedra. Empurro contra a pedra com as mãos, mas nada acontece. Eu alcanço acima da minha cabeça e, felizmente, minha stylus ainda está lá, tentando segurar meu cabelo no lugar. Eu a puxo e escrevo um feitiço de abertura na pedra.
Sim!
A pedra desaparece, deixando uma camada ondulante e semitransparente entre a água e a escuridão que está além. Eu nado através — e caio sobre uma superfície dura. Eu me levanto e imediatamente crio uma esfera de luz. Ela flutua na minha frente, iluminando uma pequena sala com uma mesa em um lado.
Com uma exclamação de dor, Ryn pousa no chão ao meu lado. — Merda, você pensaria que ela poderia ter deixado uma almofada ou algo no chão para um pouso mais suave.
— Nós achamos, Ryn, — eu sussurro enquanto dou alguns passos pingando em direção a mesa. Sobre ela está um livro de couro com uma escrita cor de ouro em sua capa, uma pulseira descansando sobre uma pequena pilha de fitas coloridas, uma vela preta e um espelho oval com uma armação de prata ornamentada. Pego o espelho e vejo o rosto da minha mãe. Eu já vi imagens dela antes, é claro, mas isso é diferente. Ela está mais nova.
É isso. O momento em que eu sonhei desde a primeira vez que meu pai contou a história da visita da minha mãe a Corte Seelie. Eu finalmente a vejo como uma pessoa real. Eu finalmente vou ouvir sua voz. Com meu coração batendo no meu peito e meus dedos tremendo, toco a superfície do espelho.
Seu rosto se abre em um sorriso, e ela coloca uma mecha de cabelo preto e roxo atrás da orelha. — Tudo bem, quem quer que você seja, você é realmente corajoso. Você nadou na piscina particular da princesa! — Ela bate palmas e ri. — Parabéns! Claro, isso me torna realmente corajosa também porque eu também nadei na piscina. Bem, corajosa ou estúpida. — Ela revira os olhos lavanda enquanto luto contra as lágrimas se formando nos meus. — De qualquer forma, você provavelmente está se perguntando quem eu sou. Meu nome é Rose Hawthorne, sou graduada da Guilda de Creepy Hollow, e já que eu vou visitar a Corte Seelie apenas uma vez na minha vida, pensei que seria divertido deixar um pouco de mim aqui. Assim... O livro é um dos meus favoritos. Meu melhor amigo me deu em um aniversário há alguns anos. Se você olhar dentro, há um papel dobrado com uma história que escrevi na escola secundária - porque eu sinto que você deveria ter algum entretenimento disso! — Ela ri enquanto eu limpo uma lágrima que escapou do meu olho. — Hum, a pulseira é a primeira joia que meus pais me deram, e as fitas encontrei em um baú dos pertences da minha avó quando eu era pequena.
— Ok, o que resta? A vela. Isso foi dos meus pais no meu décimo oitavo aniversário. É uma vela sem fim, então nunca vai ficar pequena, não importa o quanto você a queime. Um, então, é isso. Ah, e a mesa foi feita para mim pelo meu namorado. Cara incrível que ele é, ele não se importou em encolhê-la junto com as minhas outras coisas e trazer aqui.
— Então, de qualquer forma, essa sou eu. Seria realmente bom se você pudesse retornar meu livro para a Guilda de Creepy Hollow com uma mensagem para mim. Além disso, se você for pego deixando esta piscina, sinto muito. Espero que eu não seja pega quando eu sair! Ah, e se você é a princesa, hum, também sinto muito. Não queria desrespeitar você de forma alguma ao esconder essas coisas na sua piscina. Por favor, não me odeie! — Ela bate as mãos, sorri docemente e a imagem dela desaparece.
Ela se foi.
Eu toco o espelho novamente, mas nada acontece. — Está definido para tocar apenas uma vez, — digo suavemente. — Eu nunca mais a verei. — As lágrimas escorrem pelas minhas bochechas. Este foi o meu momento com ela... meu único momento... e agora acabou.
— Me desculpe. — Sinto a mão de Ryn no meu ombro. — Mas - e não me odeie por dizer isso - provavelmente não seria uma boa ideia para você assistir a mesma mensagem repetidamente. Você não gostaria de desperdiçar sua vida na frente de um espelho.
— Sim, acho que você está certo. — Eu soluço quando coloco o espelho na mesa. — Mas ainda vou levar essas coisas para casa comigo.
— Claro, — diz Ryn. — Precisa de ajuda com o encolhimento?
— Obrigado. — Pelo menos eu tenho essas lembranças dela. Vou levar o meu tempo olhando para elas quando chegar em casa. Vou ler o livro e a história que ela escreveu. Vou queimar a vela sem fim, e sua chama perpétua nunca permitirá que eu a esqueça.
Agora, no entanto, precisamos sair daqui.
Eu encolho o espelho enquanto Ryn cuida do livro e da vela. Estou prestes a encolher a pulseira, quando Ryn diz, — Você deveria colocá-la. — Ele tira de mim e a coloca em volta do meu pulso direito, inclinando-se mais perto quando ele aperta o fecho. — E as fitas. Você precisa de alguma cor na sua vida, V. — Ele enrola as fitas ao redor do meu braço para que elas cubram minha cicatriz. As linhas onduladas das minhas marcas de guardiã espreitam de cada lado. Ele amarra as pontas e as afasta, seu toque enviando um tremor pelo meu braço. Eu me pergunto se ele percebe os arrepios. Ele certamente está próximo o suficiente para vê-los.
De repente, lembro de dizer a Nate que ele não poderia me convencer a ter uma sessão de amassos em um túnel subterrâneo suspeito porque eu tenho padrões. E percebo agora que não tenho absolutamente nenhum padrão porque estou aqui nesta sala de pedra subterrânea e não quero nada mais do que beijar Ryn. Se ele me puxasse para dentro de seus braços agora, eu não iria detê-lo. Eu sei que não seria bom para nós a longo prazo, mas meu corpo e meu coração o desejam. Muito.
— Hum, devemos sair daqui antes que a princesa volte, — diz Ryn, dando um passo para trás e colocando alguma distância entre nós. — Missão completa, então... Acho que poderíamos ficar no seu quarto por um tempo. — Ele me observa. Estou imaginando, ou ele quer dizer algo mais quando ele diz ‘ficar’?
Só há uma maneira de descobrir.
— Ok. — Merda, eu realmente soei tão sem fôlego como eu acho que soei? Eu sou tão patética.
Eu deslizo a pequena vela, livro e espelho nos meus bolsos úmidos enquanto Ryn encolhe a mesa. Eu o deixo ir em frente antes de atravessar o caminho através da camada ondulante e entrar na água. Giro com a minha stylus na mão, mas a pedra já está selada. Legal. Puxo-me através da água e minha cabeça quebra a superfície. Eu suavizo meu cabelo molhado para trás e saio.
Ryn está de pé junto à abertura no muro, olhando para fora. — Alguém está vindo, — ele diz.
— O quê?
Ele agarra minha mão e me puxa para a porta do quarto da princesa. — Vamos esperar até que ele passe.
Estamos dentro da entrada de uma sala de estar. Tudo rosa e verde e estampas florais na parede - realmente não é o meu estilo.
— Droga, — murmura Ryn. Olho para o jardim e vejo um faerie escorregar pelo espaço na cobertura. — Atravessar aquela porta, — Ryn sussurra apressadamente, apontando para o outro lado da sala.
Eu corro, mas meus pés molhados deslizam na grande poça que se forma sob nossos corpos encharcados, e antes que eu saiba, eu estou caindo.
— Vi! — Ryn tenta me alcançar no momento em que eu me jogo contra a parede - que de repente cede. Ryn me empurra para a escuridão e me segue. Ele se inclina contra a parede - porta? - para fechá-la, sussurrando rapidamente algo à medida que a luz se estreita para uma fenda e desaparece.
A escuridão nos rodeia, então, completamente, parece que está pressionando contra meus globos oculares. — O que você acabou de dizer? — Eu sussurro para Ryn.
— Apenas um feitiço para secar toda aquela água. Nossos passos levariam para cá caso contrário.
Eu sinto a parede com minhas mãos e aperto minha orelha suavemente contra ela. Não consigo ouvir nada. — Onde estamos? — Pergunto.
— Uma passagem secreta entre as paredes, eu imagino. A princesa deve usá-la para dar uma volta sem ser vista.
Mais alguns momentos de silêncio passam antes de eu dizer, — Bem, talvez devêssemos conjurar alguma luz e seguir esta passagem. Nós não sabemos se o faerie ainda está por aí.
— Nós também não sabemos aonde essa passagem leva. Imagine se chegarmos no quarto da Rainha, molhados, enquanto ela está dando um cochilo matinal.
— Eu duvido que ela dê cochilos matinais, — eu sussurro de volta. — E eu não posso, pelo menos, criar alguma luz aqui? Certamente não pode ser visto na sala lá fora.
Quando Ryn responde, sua voz soa mais próxima do que estava antes. — Com medo do escuro, não é, Sexy Pixie?
— Claro que não.
Então não evoco uma luz. Nem ele. Ouço um barulho na sala de estar. Algo se movendo ao longo do chão, então batendo na parede. Eu involuntariamente dou um passo para trás. Sinto Ryn bem ao meu lado. Seu braço, ainda molhado, escova o meu. Posso ouvi-lo respirar. Sua mão se move, e seus dedos lentamente se entrelaçam com os meus. Meu coração faz uma dança vertiginosa no meu peito, e porque a escuridão é tão completa, não tenho ideia do que está prestes a acontecer até que já esteja acontecendo.
Seus lábios escovam os meus, o que me assusta tanto que quase me afasto. Mas eu não me afasto. Seguro seus dedos mais apertados e aperto meu corpo mais perto porque — sim oh sim oh sim — eu quero tanto isso. Nossos lábios se tocam novamente, com mais pressão desta vez. Ele tira os dedos dos meus e desliza a mão até o meu braço. Imagino que posso sentir faíscas pulando pela minha pele. Através das minhas pálpebras fechadas, vejo flashes de luz, e a realização me atinge: as faíscas que ele está arrastando sobre a minha pele são reais.
Seus dedos cavam nos meus cabelos molhados e puxam meu rosto para mais perto dele. Ele me vira, me pressionando contra a parede. Sinto seu corpo ao longo de cada centímetro do meu; não existe espaço entre nós. Seus lábios escovam meu maxilar, me provocando com beijos que se parecem tão bons contra minha pele ardente e quente. Ele trilha um dedo - mais faíscas - no meu pescoço e sobre a ondulação do meu peito, terminando quando ele atinge a borda do meu top. Acho que um suspiro escapa da minha garganta, mas não tenho certeza porque tudo o que posso ouvir é o martelar de sangue nos meus ouvidos.
Seus beijos alcançam meus lábios novamente, e desta vez eu os abro. Sua língua desliza sobre a minha, produzindo uma deliciosa sensação de formigamento. Mais faíscas. Eu estendo a mão e passo os dedos pelo seu cabelo. Se eu pudesse puxá-lo para mais perto do que ele já está, eu faria. Suas mãos deslizam por meus lados, sobre meus quadris, e param no topo das minhas pernas. Seu aperto aumenta, e em um movimento rápido, ele me puxa. Enrolo minhas pernas ao redor de sua cintura enquanto ele desliza as mãos debaixo do meu top, seus dedos deslizam pela minha pele nua.
A parte lógica do meu cérebro de repente acorda e começa a gritar comigo para sair daqui. O que eu estou fazendo? Este é o cara que namorou com os Subterrâneos e zomba dos sentimentos das garotas da Guilda que ousaram gostar dele. Este é o cara que me machucou tantas vezes depois que Reed morreu que eu jurei que nunca mais o deixaria se aproximar de mim novamente.
Mas não consigo parar. Não posso. Eu quero muito mais. Os beijos. As faíscas. Nossos corpos molhados pressionados juntos. Acima das batidas nos meus ouvidos, ouço algo como vidro quebrando. Eu não ligo. As faíscas estão dançando em todo o nosso corpo, e é exatamente onde eu quero estar. Cada centímetro de mim estava desesperado para estar ainda mais perto dele.
Ryn arranca seus lábios do meu o suficiente para arfar, — Eu lhe disse que você estava perdendo. — Algo dentro de mim congela. Ele me gira novamente, me pressionando forte contra a parede - a parede errada.
Ela se abre e nós dois aterrissamos em uma pilha sem graça no chão da sala de estar da princesa. Cacos de vidros espalhados pelo chão, várias cadeiras estão jogadas para os lados e fumaça sobe de uma almofada carbonizada.
Levanto quando vejo alguém de pé sobre nós: o faerie da qual tentávamos nos esconder. — Ok, isso não é o que parece, — ele diz, levantando as mãos. — Todo esse dano aqui? Eu não fiz isso. Apenas... aconteceu.
— O quê? — Ryn pergunta, claramente confuso. O faerie parece tão culpada quanto eu me sinto. — Quem é você? — Exige Ryn, na mesma hora que o faerie pergunta exatamente o mesmo.
Não sei o que está acontecendo. Ryn e eu não deveríamos estar aqui, e obviamente esse cara também não. Mas eu não ligo. A minha versão lógica está enlouquecendo. Pirando. Tudo o que quero é estar o mais longe possível daqui. Sem outro pensamento, volto para o jardim e corro o mais rápido possível.
Capítulo 23
Não paro de correr até chegar no meu quarto. Eu tranco a porta atrás de mim e me inclino contra ela, respirando com dificuldade. Se Ryn tentou me seguir, ele não faz um trabalho muito bom, porque não consigo ouvir nada do outro lado da porta. Apenas para ter certeza, eu corro para o banheiro e tranco a porta atrás de mim também. Eu não quero ouvir se ele bater.
Eu disse que você estava perdendo.
O beijo era sobre isso? Apenas Ryn se provando para si mesmo? Eu estava tão apressada no momento que provavelmente teria entregado meu coração se ele tivesse pedido, e tudo o que ele realmente estava fazendo era provando algo? Inclino-me contra a porta e deslizo para baixo até estar sentada no chão. Eu corro as duas mãos através do meu cabelo úmido e o puxo. O meu peito dói com o vazio, mas isso serviu para me mostrar que eu estava sendo estúpida. Eu sabia o tempo todo que esses sentimentos só acabariam me machucando.
Escondo-me no banheiro a tarde toda até ouvir a conjuradora de roupa na porta do meu quarto. No começo, temo que seja Ryn batendo, mas a voz aguda da conjuradora de roupas passa facilmente através das duas portas.
Ela observa minha aparência desgrenhada com as sobrancelhas levantadas. Quando não digo nada, ela começa a trabalhar. Ela me veste em uma detestável criação volumosa e roxa que, felizmente, tem pouco brilho. Meu cabelo obviamente a ofende porque ela franze o cenho toda vez que ela olha para a minha cabeça. Em vez de me deixar lidar com isso, ela murmura um feitiço para livrar-se da aparência molhada e enrola e torce e coloca grampos tão rápido que eu não tenho certeza de como tudo acabou empilhado em cima da minha cabeça. Não parece muito ruim, e eu aprecio a velocidade. Balançando a cabeça de desaprovação, ela recolhe suas coisas e sai.
Eu rapidamente retiro as fitas coloridas do meu pulso e vou até a porta do meu quarto. Preciso sair daqui antes que Ryn chegue para me acompanhar para o andar de baixo. Abro a porta e espio. Nada de Ryn.
Ufa.
Eu desço as escadas tão rápido quanto o volume permite. O cara que sorriu para mim ontem à noite está parado perto das portas da sala do trono, e eu decido que agora é hora de ser amigável. Eu me apresento, e ele parece estranhamente animado em falar comigo. Eu faço o meu melhor para prestar atenção ao que ele está dizendo, mas é um pouco difícil quando passo os primeiros minutos da nossa conversa ansiosamente procurando por Ryn e as próximas evitando propositadamente o olhar dele. Posso dizer que ele está me observando, e o constrangimento aquece meu pescoço.
O jantar é horrivelmente estranho. Ryn e eu estamos sentados ainda mais longe da Rainha do que na noite passada - provavelmente devido à minha grosseria - e passo toda a noite com meu corpo longe de Ryn tentando conversar com o cara da minha esquerda. A menina do outro lado parece um pouco chateada porque ele está a ignorando. Parte de mim se sente mal, mas estou tão desesperada para conversar com alguém além de Ryn que farei qualquer coisa para manter a atenção desse cara.
Quando o jantar chega ao fim e todos começam a ficar de pé, eu sou a primeira a sair. Ouço a voz de Ryn atrás de mim, — V, espere. — Eu ando mais rápido. Não tenho certeza de poder correr nessa coisa volumosa, mas certamente posso tentar. Assim que eu rodeio um canto, eu corro. Os passos apressados de Ryn me seguem. — Apenas espere, caramba, — ele grita. Meu cérebro me tortura com uma lembrança das minhas pernas enroladas em sua cintura e seu corpo pressionado contra o meu.
Ugh, eu poderia me envergonhar mesmo se eu não tentasse?
— Violet! — O grito de Ryn é tão alto que eu paro. Fico no pé da escada com as costas para ele. A água que saí das mãos estendidas das sereias escorre em segundo plano. — Não entendo, — diz ele. — Sobre o que você está chateada?
Giro lentamente e olho para ele. Há muitas coisas que eu quero dizer, mas as palavras que acabam deixando a minha boca são, — Podemos apenas fingir que não aconteceu?
Ele parece tão confuso que por um momento que eu também fico confusa. Eu perdi alguma coisa aqui? Entendi mal o que realmente aconteceu entre nós? Mas percebo movimento abaixo de uma arcada atrás dele, e todos os pensamentos do nosso beijo se desvanecem quando pouso os olhos no faerie impostor que roubou a forma do meu pai. Parece que o idiota é estúpido o suficiente para aparecer na mesma sala, ao mesmo tempo que a noite passada.
— Ei! — Grito enquanto ele desaparece na escuridão mais uma vez. — Pare! — Eu corro atrás dele, quase caindo de cara quando piso na frente do meu vestido. Eu tiro as camadas estúpidas do caminho, puxo a saia com as duas mãos e corro de novo. Ele já está a meio caminho do bosque de árvores de onde desapareceu na noite passada, e ainda estou correndo pela colina. Estou pensando em arrancar a parte de baixo da minha monstruosidade volumosa quando Ryn passa por mim. Pouco antes do metamorfo chegar ao pavilhão, Ryn dá um salto volumoso e o coloca no chão. Eles lutam. Faíscas de magia voam aqui e ali. Assim que chego ao pavilhão, o metamorfo consegue levantar. Eu posso ver que ele está prestes a correr outra vez, e minhas armas aparecem calorosamente enquanto se instalam em meus braços estendidos.
— Pare! — Eu aponto meu arco e flecha diretamente para ele. — Quem diabos é você e como se atreve a assumir a forma do meu pai?
Ele encontra meu olhar irritado, ergue lentamente as mãos e balança a cabeça.
— E o que isso significa? Você não sabe quem você é? Você está se recusando a me responder?
Ryn ergue-se e fica de pé ao meu lado. Do canto do meu olho, eu percebo seu chicote cintilante na mão direita. — Eu acredito que ela fez uma pergunta, metamorfo.
O homem balança a cabeça novamente, ainda me observando. — Você não quer fazer isso, V.
Estou tão assustada com o uso do meu apelido e sua voz que soa exatamente como a do meu pai - obviamente - que o arco e a flecha quase desaparecem do meu aperto. Como ele sabe que meu pai sempre me chamou de V? Não. Concentre-se. Eu já fui enganada por um metamorfo antes e não serei de novo. — Você parece saber quem eu sou, então é justo que me diga quem você é. — Quando ele não diz nada, eu grito, — Diga!
O metamorfo fecha seus olhos e suspira. O olhar de derrota em seu rosto me dá esperança; ele vai se entregar e me contar o que está acontecendo. Ele senta-se em uma cadeira acolchoada, se inclina sobre os joelhos e olha para mim. — Minha linda garota, — diz ele suavemente. — Você parece muito com sua mãe.
— Desculpe-me?
— Eu deveria saber que você estaria aqui. Claro que você ganharia o prêmio de graduação... é o que você sempre quis.
— Ok, eu não sei o que você está fazendo, — além de me assustar — mas você não está respondendo a minha pergunta. — Eu ando até ele e seguro a flecha a polegadas de sua testa. — Quem. É. Você?
Ele ergue os olhos e diz simplesmente, — Seu pai.
Apesar do calor do ar noturno, um arrepio atravessa meus braços. — Meu pai está morto, — eu digo a ele. — Eu vi o corpo dele. Eles o colocaram em uma canoa e eu o assisti flutuar e desaparecer sob as Cataratas do Infinito. Ele se foi, o que significa que você não é ele.
Ele esfregou uma mão nos olhos dele. — Eu sinto muito, V. Você não deveria saber sobre isso. Pelo menos não até que tudo acabe e estejamos seguros novamente. — Ele geme e murmura algo sobre a Rainha e ser descuidado.
— Eu odeio ser repetitiva, — eu digo, — mas você não está respondendo a minha pergunta.
Ele se concentra em algum lugar no chão e diz, — Não era eu na canoa. Era um metamorfo. A rainha o usou para fingir minha morte para que eu pudesse continuar uma tarefa perigosa disfarçado. Todos tiveram que acreditar que eu estava morto para que a pessoa de quem eu estou atrás não tivesse mais suspeita.
Eu posso sentir uma parte de mim ousando ter esperança. Parece improvável, mas talvez seja verdade. Talvez este homem sentado aqui me observando com algo como orgulho seja realmente meu pai.
— Você espera que acreditemos nisso? — Perguntou Ryn. — Que história ridícula. Um metamorfo não volta para sua forma original quando morto de qualquer maneira? Se a sua história fosse verdade, então teríamos visto um estranho na canoa, não o pai de Violet.
Eu balanço a minha cabeça. — Eu matei um metamorfo. Ele... — Ele ainda parecia Nate quando ele estava morto. — Ele não voltou à sua forma original depois que ele morreu.
— Você não precisa acreditar em mim. — O homem está parado, e eu mantenho minha flecha treinada em sua testa. — Na verdade, seria melhor se não acreditasse. Seria melhor se todos nos afastássemos agora e fingíssemos que isso não aconteceu. — Sua voz está estável, mas seus olhos estão cheios de uma tristeza infinita. Maldito, esse cara é um ator realmente bom ou ele está falando a verdade. Ele olha diretamente para mim e diz, — Você deveria me deixar ir.
— Isso é exatamente o que você quer, não é? — Ryn murmura. Ele se vira para mim. — Não podemos dar a esse cara uma poção de compulsão e forçá-lo a dizer a verdade?
— Poderíamos. Ou ele poderia apenas responder uma pergunta. — Eu consigo pensar em algo que ninguém mais deveria saber. — O que meu pai me disse na noite em que o menino que todos amavam morreu? — Isso deve ser bastante enigmático se esse homem realmente for uma fraude.
O homem-que-pode-ser-meu-pai se aproxima de mim. Tão perto que minha flecha está quase tocando sua pele. — O que você quer, Violet? — Ele pergunta suavemente. — Você quer que seja eu? Ou é mais fácil para você se eu não for nada além de um impostor?
Minha voz se quebra quando digo, — Eu já sei que é você. — Eu acho que soube no momento em que ele me chamou de V.
Vivo. Ele está vivo. Como eu deveria processar isso?
— Perdoe meu cinismo, — diz Ryn, — mas eu ainda gostaria de ouvir a resposta a essa pergunta.
Meu pai olha para Ryn, depois de volta para mim. Ele respira fundo. — Você viu minhas lágrimas e disse que nunca tinha me visto chorar antes. Eu disse que foi apenas a segunda vez que derramei lágrimas na minha vida adulta. Eu também disse que não sabia o porquê, mas sempre amei aquele menino como se ele fosse meu próprio filho.
Eu aceno. Foi exatamente o que o pai me disse. Papai. Meu pai. Que não está morto. A realização finalmente me acerta e um estremecimento passa pelo meu corpo. — Papai? — Eu sussurro.
Ele me puxa para dentro de seus braços. — Bebê, sinto muito, sinto muito. Por favor, me perdoe. Eu senti falta de você todos os dias. Eu nunca quis deixar você.
Em meio ao meu emaranhado de emoções, eu me encontro me livrando de seus braços. — Mas você foi, — eu digo através das minhas lágrimas. — Você foi embora. Você disse que todos tinham que acreditar que você estava morto, mas por que eu? Por que você não poderia simplesmente me dizer o que realmente estava fazendo? Eu teria mantido seu segredo. Você sabe que eu teria.
— Eu especialmente não poderia dizer a você, V. Você estava em perigo. Ele queria matá-la. Você tinha que acreditar que eu estava morto ou ele teria procurado até encontrar você.
— O quê? Sobre o que ele está falando?
— Eu sempre soube que você ficaria brava se descobrisse sobre isso, mas nunca me arrependi. Tanto quanto quebrou meu coração deixá-la, minha decisão a manteve segura. Valeu a pena a dor que ambos tivemos que passar.
Raiva explodia dentro de mim. Que direito ele tem para decidir qual dor que devo passar? Ryn toca meu braço. — Não brigue com ele, V. Ele está vivo. Este deve ser um momento de alegria, não de raiva.
Aperto meus olhos. Lágrimas escorrem pela borda das minhas pálpebras e correm para minhas bochechas. Por que Ryn está sempre certo? Eu deveria me alegrar agora, não agir como uma criança difícil. Avanço e envolvo meus braços ao redor do pescoço do meu pai. Ele me abraça de volta. Isso é real, eu digo a mim mesma. Seus braços em volta de mim são reais. E, embora eu deteste falar de sentimentos, acho que devo dizer a ele algo, apenas no caso de isso ser um sonho e eu não ter outra chance. — Eu te amo, pai, — eu sussurro.
— Eu amo você. — Ele me aperta apertado e me levanta do chão por um segundo. — E estou tão orgulhoso de você. Você se tornou uma jovem e uma guardiã tão incrível, inteligente e bonita. — Ele me põe de pé. — E por que você está vestindo este vestido horrível? Você odeia roupas roxas.
Eu rio enquanto limpo as lágrimas do meu rosto. — Eu não escolhi. A mãe não te disse que eles escolheram suas roupas quando ela ficou aqui?
Papai balança a cabeça com uma risada. Ele olhou por cima do meu ombro e estende a mão para Ryn. — Eu acho que eu não deveria ficar surpreso ao vê-lo aqui também. Você sempre foi tão competitivo quanto a Violet. Parabéns pelo primeiro lugar sua turma. — Ele sacode a mão de Ryn. — Estou surpreso ao ver vocês dois de pé na mesma sala sem querer se machucar. Pensei que vocês dois tinham jurado nunca mais ser amigos de novo?
Olho para Ryn e depois desvio o olhar. — Sim, hum, decidimos colocar tudo isso para trás.
— Uh, eu tenho uma pergunta, senhor, — diz Ryn. — Foi você quem eu vi na casa dos Harts?
— O quê? — Eu pergunto, assim quando o meu pai balança a cabeça e diz, — Sim.
— Hum... sim. — Ryan se vira para mim. — Lembra quando eu disse que vi alguém que parecia Cecy? Bem, eu estava mentindo.
Fico boquiaberta. — Você viu meu pai e não me disse? — Eu tento empurrá-lo, mas ele pega minhas mãos.
— Eu simplesmente pensei que não poderia ser ele, então por que te assustar?
— Ryn, isso não é motivo suficiente para manter algo assim de mim. — Eu me sinto machucada e traída, mas estou tentando ser madura, então eu deixo passar. Sento-me à beira de uma cadeira e viro para o meu pai. — Ok, você tem muitas explicações para dar. Qual tarefa disfarçada que você está fazendo que está demorando tantos anos para completar? E por que exatamente foi melhor para todos, se todos pensassem que você estava morto? Você disse que alguém estava tentando me matar? E o que exatamente você estava fazendo na casa dos Harts?
Papai ergueu as mãos. — Olha, você sabe que não posso te dizer nada. Em primeiro lugar, é contra o protocolo compartilhar os detalhes de uma tarefa e, em segundo lugar, é para sua própria segurança.
— Papai, você me abandonou nos últimos cinco anos. Eu acho que você me deve muito. — Sim, estou jogando o cartão de culpa. Um movimento dissimulado, mas não me importo agora.
— V, eu ...
— Conte! Você não pode simplesmente aparecer na minha vida de repente e não explicar nada.
Ele se senta na borda de uma pequena mesa. — Tudo bem, olha, é algo a ver com o filho da Rainha Unseelie, mas é tudo o que posso dizer. Estou lidando com pessoas muito perigosas, V, e não posso envolver você nisso.
— O filho da Rainha Unseelie? — Eu olho para Ryn, que está sentado para trás em uma cadeira próxima. — Você quer dizer Zell?
Papai franzi o cenho. — Sim. Marzell. Como você o conhece?
Eu reviro meus olhos. — Você tem medo de eu estar envolvida, pai? Bem, é tarde demais para isso. Eu já estou envolvida. Pra caramba. Então não há necessidade de você manter mais segredos de mim.
— O que você quer dizer que você está envolvida? — Papai levantou rapidamente. — Como? O que aconteceu?
— Não, não, não, — eu digo. — Você não pode exigir detalhes sem compartilhar. Você me conta sua história, e eu conto a minha.
Com descrença escrita em todo o rosto, papai olha para Ryn como se para apoio. — Desculpe, mas estou com V nisto, — diz Ryn.
Depois de outra pausa, papai diz, — Ok, mas não tenho tempo para contar tudo agora. Eu já estou atrasado para a reunião para a qual eu estava a caminho quando você me perseguiu.
O pânico aperta o meu coração. Nós vamos embora na primeira hora pela manhã; quando vou vê-lo novamente? — Então, venha para casa, — eu digo, de pé rapidamente. — Venha para casa e explique tudo para mim.
Papai se aproxima e toca minha bochecha. — Eu não quero deixá-la fora da minha vista se você estiver em perigo.
Inclino minha cabeça de lado e sorrio. — Eu sou uma guardiã, pai. Eu sempre estarei em perigo.
— Sim, mas é diferente com a Corte Unseelie. Você não sabe o que eles...
— Eu tenho um encanto de ocultação sobre mim. Um bom. Não há maneira de Zell me encontrar, a menos que acidentalmente toquemos um no outro, e isso não acontecerá.
Papai balança a cabeça. — OK. Você estará em casa à noite depois de amanhã? — Eu aceno com a cabeça. — Bom. Vejo você então. — Ele beija minha testa. Ele está prestes a se afastar quando seu olhar cai para o meu pescoço. — O tokehari de sua mãe, — ele diz com surpresa. — Eu pensei que estava — ele olha para Ryn, então de volta para mim — perdido, — ele finaliza.
— Uh, eu achei, senhor, — diz Ryn, — e voltou com as minhas mais sinceras desculpas... por ‘perder’.
Papai sorri. — Isso é bom. — Ele beija minha testa mais uma vez e sussurra, — Eu amo você, bebêzinha.
Capítulo 24
Sinto que estou olhando a minha vida através de olhos diferentes. Toda vez que eu penso em um evento importante, eu me pergunto onde meu pai estava na época e o que ele estava fazendo. Ele estava observando do lado de fora, mantendo um olho em mim? Ou ele se distanciou completamente desde sua suposta morte, nem mesmo sabendo que eu apareceria naquela noite no Harts? Tantas perguntas. Eu provavelmente deveria escrevê-las no caso de esquecer de algo.
Ryn e eu fazemos a viagem de volta para Creepy Hollow em silêncio. Eu digo a mim mesma que ele está me dando espaço para aceitar o fato monumental de que o meu pai ainda está vivo, mas eu sei que também há uma súbita estranheza entre nós. Nenhum de nós mencionou o Beijo novamente. Espero que, se eu ignorar, Ryn e eu possamos voltar para algum tipo de amizade confortável. Eu vou superar meus sentimentos por ele em breve, certo? Sim, eu vou. Afinal, não pareceu levar muito tempo para que meus sentimentos por Nate desaparecessem.
Quando acordei no palácio esta manhã, encontrei uma nota que foi deixada por debaixo da minha porta. Meu coração apertou dolorosamente quando vi meu nome escrito na caligrafia do meu pai na frente.
Tenho certeza de que não tenho que dizer isso, mas NÃO PODE dizer a ninguém sobre mim.
Ele não precisava me lembrar, mas eu valorizo sua nota, no entanto. Prova que ele realmente existe. Eu a mantenho no meu bolso agora que estou de volta para casa onde a Corte Seelie e tudo o que aconteceu lá é um sonho vívido. A nota e a caligrafia me asseguram que foi real. O espelho de prata acima da minha mesa e a vela preta que queima para sempre que estão ao lado da piscina do meu banheiro também ajudam.
Depois de encontrar Bran na Guilda e interrogá-lo sobre a investigação sobre os ataques à Guilda - ele me diz absolutamente nada útil - envio uma mensagem no âmbar para Tora e a convido para a sobremesa. Desejo com todo o coração que eu pudesse contar a ela sobre papai, mas, em vez disso, ela terá que me contar sobre o cara que ela manteve em segredo.
— Olha, eu não mantive segredo intencionalmente de nada para você, — ela diz, quando eu a cumprimento na minha porta com os braços cruzados e um olhar raivoso. — Eu simplesmente não tinha exatamente chegado a te contar sobre ele ainda.
— Sim, sim, tanto faz. — Isso me parece exatamente o que eu diria se ela descobrisse sobre Nate, então eu realmente não tenho o direito de fazê-la se sentir culpada. — Diga tudo agora, e isso compensará.
Ela atravessa minha sala de estar em direção a um dos sofás. — Tudo bem, mas depois você vai compartilhar os detalhes de sua vida amorosa.
— Mas eu não tenho vida amorosa. — Pelo menos não que eu esteja disposta a falar. A lembrança das mãos de Ryn acariciando minha pele envia borboletas voando na minha barriga. Eu me afasto para esconder meu sorriso. Eu não deveria estar sorrindo. Eu nem deveria estar pensando nisso. Não é como se fosse acontecer novamente.
— Ooh, eu não tive uma sobremesa divertida assim há séculos, — diz Tora enquanto olha para a mesa baixa entre os sofás. Há uma tigela de frutas do seu lado e outra do meu lado. Nós também temos uma tigela de chocolate derretido e palitos de pau. No centro da mesa está uma esfera flutuante de luz azul e branca.
— Sim, não acho que usei esse feitiço de sobremesa faz anos. Parecia apropriado para o clima mais quente. Então, de qualquer maneira, esse cara...
— Oliver.
— Oliver. Você o conheceu na Guilda de Londres?
— Antes disso, na verdade. — Tora se inclina para frente e coloca um morango no final do seu palito de pau. Depois de mergulhar no chocolate derretido, ela o mantém dentro da esfera cintilante por vários segundos para congelá-lo. — Lembra quando você foi suspensa?
— Eu tento não lembrar.
— Certo, bem, havia um cara do Conselho que visitou a Guilda de Londres. Ele teve que se encontrar com alguns de nossos membros do Conselho, e depois conversou com alguns de nossos formandos. — Ela morde o morango com chocolate congelado e mastiga algumas vezes antes de continuar. — Eu fui a mentora no comando naquele dia, então, você sabe, conversamos. — Sua pele pálida fica rosa brilhante.
— Eeeee? — Eu pergunto com um sorriso.
— Bem, ele era muito charmoso e tudo mais, mas eu estava apenas sendo amigável.
— Isso é estranho. Lembro de Honey me dizendo que ele era chato.
Tora faz uma careta para mim. — Ele não é chato. Quero dizer, ele chamou a videira perdida que sempre foge pelo corredor Nigel, o que é um pouco corajoso, mas, além disso, você sabia...
— Gostoso?
— Bem, sim.
Eu rio enquanto congelo o meu próprio pedaço de fruta. — Eu sabia!
— Oh, bobagem, você não sabia de nada. De qualquer forma, eu disse adeus esperando não o ver novamente, e a próxima coisa que eu fico sabendo, a Conselheira Starkweather disse que ele me pediu para visitar a Guilda de Londres por alguns dias para dar minha contribuição para um novo centro de treinamento que eles decidiram construir. Eu pensei que era estranho que eles não pedissem para alguém que realmente projeta centros de treinamento...
— E então você descobriu quando chegou lá que ele não queria sua contribuição, ele só queria você. — Eu lhe dou o meu sorriso mais doce e ela revira os olhos.
— Bem, não é como se ele me tivesse dito isso, mas descobri.
— Então é por isso que você acabou ficando por mais tempo?
— Sim, ele conseguiu me convencer a estender minha visita.
— Sabe, Tora — Eu me inclino para frente, fingindo um ar conspirador — há essa coisa chamada caminhos das fadas que permite que você visite alguém em qualquer lugar do mundo em apenas alguns segundos. Na verdade, vocês nem precisam ficar no mesmo lugar.
Tora cruzou os braços e estreita os olhos, mas vejo que ela está tentando não sorrir. Eventualmente, ela cede com uma risada. — Olha, foi mais fácil quando eu estava lá.
— Na casa dele?
Ela esfaqueia outro pedaço de fruta e o congela. — Você ainda não me disse por que Ryn estava em seu quarto tão cedo na manhã de ontem.
Eu congelo um mirtilo coberto de chocolate e o entrego ao Filigree, atualmente em forma de rato e descansando no braço do sofá. — Já que estamos mudando de assunto, — eu digo, — vi Bran mais cedo e perguntei sobre os ataques a Guilda. Ele usou muitas palavras, mas basicamente não me disse nada.
— Você sabe que ele não pode dizer nada se você não faz parte da investigação. Eu também perguntei, e ele também não me contará nada. Eu só conheço os poucos detalhes que foram tornados públicos, como o fato de que a Rainha Unseelie nega ter qualquer conhecimento dos ataques.
O que é exatamente o que eu disse a Conselheira Starkweather. — Sim, ele mencionou isso. Então, quando eles consertaram o saguão e o teto? Eu andei por lá mais cedo hoje e parecia que nada nunca aconteceu.
— Eu acho que eles terminaram ontem à noite. — Tora congela uma framboesa com chocolate e enfia toda a coisa na boca dela.
— Uau, três dias inteiros apenas para reparar o saguão?
— Mm hmm. — Ela termina de mastigar. — São alguns encantamentos sérios de proteção no teto abobadado. E, aparentemente, o piso também tem a mesma proteção. — Ela pega sua tigela de frutas e come alguns pedaços descongelados. — Agora, não pense que não tenho notado que você está evitando falar sobre Ryn. Eu sei que você o desprezava há alguns anos, mas certamente parecia estar curtindo sua companhia no grande baile. Vocês dois são mais do que amigos agora?
— Tora! — Eu faço o meu melhor para parecer horrorizada. — Não. Você pensa honestamente que eu namoraria Ryn?
— Bem, sim. Ele é bonito e encantador, ele é um excelente guardião, e eu posso ver porque você pode se apaixonar por ele.
— Isso é ridículo. Nunca funcionaria a longo prazo.
Tora fica calada um pouco antes de responder. — Eu não queria ter que ser aquela a dizer isso, então fico feliz que você tenha feito. Eu sei quantas vezes ele te machucou no passado, e eu odiaria que você se machucasse de novo. Mas acho que você sempre foi uma pessoa sensata. Eu deveria saber que você não iria se apaixonar por ele assim. — Ela estala os dedos.
Vê? Diz a voz lógica dentro de mim. Tora sabe tão bem quanto você que não funcionaria.
— Certo, agora me diga o que você vai dizer quando a Guilda lhe oferecer um emprego. — Ela aponta seu pedaço de pau com chocolate para mim. — Porque ambas sabemos que é exatamente o que eles vão fazer.
No momento em que Tora e eu discutimos as minhas opções para o futuro... que já não incluem ser uma guardiã pessoal da Rainha Seelie, uma vez que existe uma forte possibilidade de ela pensar que sou rude e desagradável, e eu também acho que vou achar a vida no palácio completamente chata... nós terminamos toda a sobremesa. Eu limpo enquanto Tora lê uma mensagem em seu âmbar e rir. Ri. Honestamente, o que tem no amor que pode nos fazer agir como idiotas completas às vezes? E por ‘nós’ não me refiro a mim. Porque eu nunca agiria como uma idiota por um cara. Bem, exceto na vez que tentei seduzir Nate com um tremor sedutor dos meus cílios.
— Eu, hum, preciso ir agora, — diz Tora.
— Tem um encontro no outro lado do mundo?
— Algo assim. — Os olhos dela brilham.
— Ok, bem, eu te vejo depois.
Ela vai embora, e eu tento me dizer que não me sinto sozinha. Eu tento me dizer que não sinto falta de Ryn. Estou mentindo, é claro. Parte de mim deseja que ele estivesse aqui, apenas para sair, ser amigos. Mas há uma parte muito maior de mim que está aliviada por ele não estar, por que, então, eu teria que falar sobre o Beijo.
Dirijo-me para o andar de cima, visto uma longa camiseta e subo na minha cama com o meu âmbar. Eu preciso praticar alguns dos feitiços de redes sociais que Ryn me ensinou ou nunca vou fazer pleno uso dele. Puxo minha stylus do meu cabelo, que cai em volta do meu pescoço em ondas bagunçadas; Raven não ficaria impressionada. Após alguns minutos, escrevo as palavras de um feitiço sobre a superfície brilhante do âmbar.
Nada acontece.
Ótimo. Posso me lembrar de feitiços complexos necessários para curar meu corpo de todos os tipos de lesões, mas quando se trata de algo bobo como um feitiço para melhorar minha vida social, as palavras me escapam. Filigree desloca-se para a forma de um coelho branco com pequenas asas brancas — quem sabe onde ele viu isso — desliza e meio que salta na cama enquanto eu toco minha stylus no meu queixo, pensando. Procuro outra combinação de palavras e, desta vez, pequenas formas nadam na superfície do meu âmbar.
Eu me inclino contra meus travesseiros e examino as formas e as palavras. Existem símbolos que representam pessoas diferentes — Ryn me deu uma chave quando ele definiu este feitiço — e linhas curtas de texto ao lado de cada um. Uma mensagem em uma bolha no topo do âmbar me informa que Honey está ‘me seguindo’, e também o cara com quem conversei do lado de fora da sala do trono quando eu estava evitando Ryn. Isso é um pouco assustador. Como ele me encontrou?
Eu passo os olhos e leio algumas das mensagens.
Honey: Férias com meu namorado e sua família. Tipo, todos os 12!
Flint: A Guilda está mais forte do que nunca. Toma essa, Corte Unseelie!
Ryn para Opal: Eu achei que a comida arrasou, na verdade.
Sério? Isso é o que as pessoas fazem no seu tempo livre? Eu não entendo. Flint não poderia ter problemas em dizer a Corte Unseelie ‘toma essa’, ou esse tipo de coisa é permitido com os feitiços sociais? E quem é essa pessoa Opal com quem Ryn está falando? Hmm. A garota de cabelos negros com quem ele estava flertando no palácio não se chamava Opal?
Eu não quero me envolver nessa coisa tola. Por outro lado, não quero ser excluída. O que é completamente ridículo. Eu nunca me preocupei em ser excluída. Eu acabava com minhas tarefas e ignorava Ryn e todos os outros.
Um som de batidas me surpreende, e olho. Ryn está inclinado na entrada do meu quarto, batendo os nódulos contra a moldura da porta. A visão dele envia uma sensação que atravessa meu corpo.
Sensação estúpida.
— Você sabe que deveria ficar lá fora e bater, certo? — Eu digo a ele.
— Sim, mas achei que você não me deixaria entrar se soubesse que era eu. Então eu apenas me deixei entrar.
Eu dou uma risada falsa enquanto coloco meu âmbar na mesa de cabeceira. — Por que eu não deixaria você entrar?
— Uh, porque você está me evitando desde a manhã de ontem? Se eu não tivesse pegado seu pai para você ontem à noite, você teria se escondido no seu quarto a noite toda. E se não tivéssemos sido forçados a viajar juntos esta manhã, você definitivamente ficaria longe de mim o dia todo.
— Bem, sabe, não precisamos nos ver todos os dias. — Uau. Incrível contribuição para a conversa, Violet. Você deveria manter sua boca fechada.
— Eu acho que não, — diz Ryn, — mas quando há essa estranheza entre nós, provavelmente devemos falar sobre isso.
Por favor, não.
— Por que tenho a sensação de que o nosso relacionamento está retrocedendo? — Ryn pergunta enquanto ele entra no meu quarto, retira a jaqueta e a pendura na parte de trás da cadeira da mesa. — Geralmente, não é a garota que sempre quer falar sobre sentimentos e outras coisas e o cara guarda tudo?
— Eu não guardo as coisas, — eu disparo de volta. Bem, há uma caixa imaginária em que eu gosto de esconder coisas, mas isso é diferente.
— Certo. Claro que não.
Eu levanto os meus joelhos e coloco meus braços ao redor deles. Filigree pula até a borda da cama e bate as asas até conseguir decolar. Ele voa para Ryn, que o pega facilmente.
— Então, hum, como sua mãe está indo com essa investigação de assassinato? — Pergunto.
Ele suspira. — Tudo bem, já que você claramente não vai trazer isso à tona, eu direi. Nós nos beijamos. Foi muito bom. Agora eu quero falar sobre isso, mas não posso porque você está sendo toda estranha. Isso não é normal para você. Você não é como outras meninas, lembra? Você não fica boba e chateada e temperamental. Você é mais legal do que isso.
— Bem, Ryn, acho que só posso ser legal até certo ponto. Há uma linha, e quando você me beijou apenas para provar que estava certo sobre alguma coisa, você a cruzou. — Lá estava, agora ele sabe por que estou chateada. Hmm. Isso na verdade não foi tão difícil.
— Apenas para provar que eu estava certo? — Ele coloca um filigree contorcendo-se no chão. — Do que você está falando?
— Você vai me dizer que não se lembra? Deixe-me ajudá-lo. Tivemos um beijo super-quente, e então você terminou com um ‘Eu disse que você estava perdendo’.
— Sim, e? Você estava perdendo. Eu não estava tentando provar um ponto; estava simplesmente afirmando um fato. E não foi aí que eu planejei acabar. Confie em mim, eu poderia ter ficado no escuro com você por horas, se não tivéssemos atingido a parede errada e parado no meio de uma sala de estar parcialmente demolida. Falando sobre isso, você não me perguntou o que aconteceu depois que você fugiu.
Eu suspiro. — O que aconteceu depois que eu fui embora?
— Bem, o Sr. Faerie Sorrateiro tinha o mesmo direito de estar lá quanto nós. Então, nós dois concordamos em fingir que nunca nos vimos, e então ele correu enquanto eu fui deixado para limpar toda a bagunça que você e eu fizemos antes que a princesa Olivia voltasse.
— Nós fizemos?
— Uh, sim, V. — Ryn olha para mim como se eu já devesse ter descoberto isso. — Vasos quebrados, almofadas queimadas, móveis revirados... fomos nós. — Ele sorri. — Foi um beijo muito quente, lembra?
Tentar realmente não é difícil. Mas, obviamente, não estou tentando o suficiente porque as memórias não vão a lugar nenhum. Então respiro fundo e digo, — Tudo bem, vou conversar. O beijo foi quente. Surpreendente. Incrível. Você estava certo — eu claramente estava perdendo por nunca ter experimentado um beijo de alguém mágico. E agora eu sei, então obrigado. Podemos seguir em frente?
Ele cruza os braços. — Ainda não entendi. Por que você quer seguir em frente? Não é como se você tivesse me beijado porque estava entediada e não tinha mais nada a fazer no momento.
— Oh. Bem, já que você sabe muito sobre minhas motivações, talvez você gostaria de me dizer por que eu te beijei.
Ryn joga as mãos para cima. — Você realmente não vai admitir isso?
— Admitir o quê?
— Que você tem sentimentos por mim, Violet. Por que é tão difícil para você dizer isso?
— Porque não é verdade. — Abraço os joelhos com mais força. — E porque se fosse verdade, você só acabaria me machucando.
— Isso é ridículo. Se temos sentimentos um pelo o outro e queremos estar juntos, por que eu seria estúpido o suficiente para machucá-la?
— Bem, você provavelmente não faria isso intencionalmente, mas depois de um tempo você superaria todos os sentimentos que poderia ter por mim. Eu sei que você gosta da companhia das Subterrâneas, e nunca posso ser tão exótica ou emocionante quanto os seres que você encontrará lá.
Ele avança e se inclina sobre mim com as duas mãos na cama enquanto ele diz, — Eu não quero estar com Subterrâneas, V. Eu quero você.
Essas três palavras enviam arrepios para cima e para baixo em meus braços, mas não posso deixar de pensar para quantas outras garotas ele disse o mesmo. Eu me afasto dele. — Você diz isso...
— Eu quero dizer isso.
— Você acha que quer dizer isso, Ryn, e você provavelmente quer agora, mas não vai durar, e onde isso vai me deixar?
— Violet. Isto... o que estou sentindo... — Ele parece estar lutando por palavras. — É muito mais do que qualquer coisa que eu já senti por qualquer um. Está ameaçando explodir de mim. Como você pode me dizer que não vai durar?
Eu encolho os ombros, balanço a minha cabeça e olho para os meus joelhos. — Eu não sei. Só sei de uma coisa com certeza, e é que você vai quebrar meu coração.
— Não. Nunca vou machucá-la novamente, V. Falo sério. — Ele recua e puxa o cabelo. — O que eu tenho que dizer para fazer você acreditar em mim?
Esta conversa precisa terminar. Eu estou aterrorizada de que, se demorar mais, eu vá desistir. E tanto quanto eu quero - e eu realmente quero muito - sei instintivamente que, quando Ryn quebrar o meu coração, será dez vezes pior do que a dor que senti depois que Nate me traiu. — Não há nada que você possa dizer, Ryn, ou qualquer coisa que você possa fazer. E não importa, de qualquer maneira, porque não sinto o mesmo que você. — Mentirosa, mentirosa. — As coisas estavam boas quando éramos amigos. Por que não podemos continuar assim?
Ele solta uma risada sem humor. — Você não sente o mesmo por mim? Agora você está mentindo.
— Eu não estou.
Sua expressão é incrédula. — Sim, está.
Como ele sabe disso? Está escrito em toda a minha cara? Eu realmente sou uma mentirosa terrível? — Você não faz ideia do que estou sentindo, Oryn.
— Eu sei exatamente o que você está...
— Não faz. Fim da conversa.
— SIM, EU SEI! Você não está me ouvindo? Eu sei o que você está sentindo! Eu sinto o que você está sentindo! Você acha que você é a única em Creepy Hollow agraciada com uma dose especial de magia extra? Bem, você não é. Eu sinto cada coisa que cada um está sentindo, o que, quando se tratava de você, geralmente não é muito. Mas adivinhe o quê? Esse não é mais o seu caso. Eu sabia que você estava entrando em pânico quando fomos para a pista de dança depois da formatura porque senti isso. Eu soube no momento em que sussurrei no seu ouvido enquanto estávamos dançando, que você percebeu o quanto me queria porque senti o fluxo de emoções que de repente apareceu sobre você. Eu senti novamente na manhã de ontem quando eu estava deitado ao seu lado na cama, e novamente quando eu estava te beijando. Eu sei, Violet, então não minta para mim.
Eu fico boquiaberta em estado de choque quando ele acaba de falar. O que ele disse é absurdo. Completamente, totalmente absurdo. Também faz muito sentido. Ryn sempre pareceu ser extra intuitivo. Ele sabe quando algo está errado, antes mesmo de eu poder dizer qualquer coisa. É assim que ele adivinhou minha verdadeira razão para querer conseguir o prêmio da graduação? Ele estava lendo minhas emoções? — O que... O que estou sentindo agora?
Ele respira fundo. — Você ainda sente desejo por mim, — ele diz, — mas também há medo misturado. No entanto, agora mesmo, o choque está muito bem ofuscando tudo o resto.
Ele está dizendo a verdade. Ele pode sentir as emoções de outras pessoas. Minha voz é apenas um sussurro quando pergunto, — Há quanto tempo você sabe que você pode fazer isso?
— Há muito tempo.
— E você nunca me disse.
— Eu...
— Você sempre soube do meu segredo, e ainda assim nunca se preocupou em me contar o seu. — Graças à sua habilidade estúpida, ele deveria estar sentindo a cólera ferver dentro de mim agora mesmo.
— Violet, eu...
— Saia da minha casa!
Ele pega sua jaqueta na parte de trás da cadeira. — Com prazer. Se você quer continuar a mentir para si mesma, vá em frente.
Capítulo 25
Eu deixo a minha camisa em linha reta e passo minhas mãos pelo meu cabelo antes de bater na porta do escritório da Conselheira Starkweather. Havia uma carta dela no meu balcão nesta manhã solicitando minha presença em uma entrevista esta tarde. Eu sabia que Tora estava certa quando disse que me ofereceriam um emprego; Eu simplesmente não pensei que seria tão cedo. Tora me disse que seria apropriado usar um vestido para minha entrevista, mas depois das minhas experiências super-apertadas e super-volumosas na Corte Seelie, cansei de vestidos. Em vez disso, eu transformei uma camiseta simples e de mangas compridas em uma camisa com botões e um colar para combinar com a minha calça - e fiz um bom trabalho.
A Conselheira Starkweather faz uma pequena conversa sobre a minha visita a Corte Seelie por vários minutos antes de chegar ao motivo desta reunião. — O Conselho discutiu, e gostaríamos de lhe oferecer uma posição aqui na Guilda de Creepy Hollow. — Ela faz uma pausa, o que provavelmente significa que eu deveria dizer algo
— Tudo bem. Obrigada.
Ela cruza os braços em cima de sua mesa e se inclina para frente. — Você provavelmente está ciente de que geralmente damos aos graduados uma pausa mais longa após a formatura antes de lhes oferecer cargos na Guilda, mas com o ataque recente... Bem, precisamos de tantos guardiões quanto possível, assim que possamos consegui-los. Eu não quero alarmá-la, mas os Videntes estão recebendo dicas de uma grande batalha no nosso futuro. Ainda não há visões concretas e, como você sabe, essas coisas podem mudar, mas queremos que a Guilda esteja totalmente preparada no caso de um grande ataque.
— Eu entendo. — Eu poderia ter previsto isso, e não sou uma vidente. É óbvio que Zell está planejando algo, então faz sentido, haverá um grande confronto em algum momento. Guardiões contra... Bem, seja lá como for que Zell chama seus puxa-sacos. E quando isso acontecer, eu quero estar lá para chutar sua bunda Unseelie. E a de Nate, se ele se atrever a ficar contra a Guilda.
— Se você precisar de algum tempo para pensar nisso, — a Conselheira Starkweather diz, — Eu vou te dar três dias. Aqui está uma cópia do contrato. — Ela me entrega um pergaminho. — Dê uma boa olhada, e, se alguma coisa parecer obscura, me pergunte.
— Claro, tudo bem. — Pego o pergaminho dela e espero que ela me mande embora rapidamente. Estou ansiosa para sair daqui.
Meu pai está voltando para casa esta noite.
***
Eu limpo a casa. Não está exatamente suja, mas quero que esteja perfeita quando papai chega aqui. Na última vez que ele deixou esta casa, ele sabia que estaria enfrentando sua morte falsa. Ele achou que iria voltar? Ele olhou em volta e disse adeus? Ele de alguma forma se despediu de mim e eu nunca percebi?
Eu não sei que horas ele vai chegar, então, quando termino de arrumar e a escuridão começou a cair, eu recorro a passear ao redor da sala de estar. Eu ouço o vento levantar lá fora, as folhas se escovando uma contra a outra em uma dança irritada. Está estranhamente frio para uma noite de verão. Espero que outra tempestade mágica não esteja a caminho.
Quando eu ouço uma batida, quase caio sobre os móveis na minha pressa para chegar a parte de entrada da parede. Eu juro, se for alguém além do papai, não hesitarei em dizer para dar o fora. Passo a mão através da parede - e lá está ele. Ele está vestindo uma jaqueta com um capuz escondendo a metade do rosto, mas ainda posso ver que é ele.
— Não me abrace ou diga meu nome até a porta fechar, — ele murmura. Ele desliza rapidamente por mim, e eu não posso deixar de olhar para a escuridão enquanto agito minha mão para fechar a porta. Papai empurra o capuz e vira para mim. — Você nunca sabe quem pode estar observando. Faz anos, mas ainda gosto de ser cuidadoso.
— Hum, tudo bem. — Não posso acreditar que ele esteja realmente aqui. Em nossa casa. Eu quase posso imaginar que não passou muito tempo desde a última vez que ficamos aqui juntos.
Mas o tempo passou. Nós somos pessoas diferentes agora. E mesmo que eu tenha aguardado esse momento desde que eu disse adeus a ele na Corte Seelie, é um pouco estranho agora que ele está aqui.
— Isso parece bastante surreal, — papai diz calmamente, me observando.
— Sim. — Eu aceno com a cabeça. — Parece. — Então eu rio e dou um passo a frente para colocar meus braços em volta do pescoço dele. Claro que isso é estranho, mas a estranheza não durará muito.
Nós caminhamos para o sofá quando papai diz, — Tudo parece o mesmo aqui exceto você. Sempre que penso em você e imagino você em casa, vejo a menininha que deixei para trás. Mas essa não é mais você.
— Eu não era tão pequena. Eu tinha quatorze anos. — Nós nos sentamos. Deixo minhas pernas debaixo de mim, mas papai senta com as costas um pouco eretas para que ele se sinta confortável. Claramente isso é estranho para ele também.
— Mas você cresceu muito em quase quatro anos, — diz ele. — E falando em crescer, não esqueci que seu aniversário é daqui a três dias.
— Sim, acho que Tora e Raven estão planejando uma... — Minhas palavras são cortadas por outra batida contra a árvore. Papai se levanta rapidamente.
— Confira quem é, — diz ele. — Se for um dos seus amigos, posso voltar mais tarde.
Eu atravesso a sala sem me preocupar em dizer a ele que eu não tenho amigos. Eu crio um olho mágico, olho para fora e grito. — É Ryn. — Eu abro a porta. — Sim?
— Seu pai está aqui esta noite, — ele diz sem olhar para mim. — Eu vim ouvir o que ele tem a dizer.
— Ok, então, o que você está fazendo aqui? Você normalmente não se deixa entrar?
— Eu pensei que seria educado e fiquei lá fora e bati dessa vez. — Ele passa por mim em direção a sala.
— Tudo bem, mas a cortesia também exige que você espere até que alguém o convide — eu digo atrás dele.
— Tanto faz.
Quando volto para o sofá, Ryn está entregando um pequeno frasco a papai. — O que é isso? — Pergunto.
— Poção de compulsão, — responde Ryn. — Eu sei que você está tendo sua feliz reunião, mas pensei que deveríamos verificar se ele realmente é quem ele diz que é.
— Ryn! — Eu não acredito na sua coragem.
— Está tudo bem, V, — diz papai, abrindo a pequena tampa. Ele inclina a cabeça para trás e coloca algumas gotas na língua. Ele engole e estremece. — Ugh, isso é nojento quando não diluído.
Ryn toca o ombro de papai e diz o breve feitiço de compulsão, seguido de “Você vai dizer a verdade”. Em seguida, ele toma um assento no sofá em frente a nós.
— Agora que isso está fora do caminho, — diz papai, — você vai me dizer o que você quis dizer na outra noite quando disse que já estava ‘envolvida’ com Marzell?
— Ok. — Estou ansiosa para ouvir a história de papai, então vou encurtar a minha. — Aqui vai resumido: Zell me quer por causa do meu poder de encontrar pessoas.
— Mas como ele descobriu que você tem esse poder? Você manteve segredo, não é?
— Sim, mas ele tem um espião na Guilda, e esse espião de alguma forma ouviu falar sobre um guardião com minha habilidade. Zell realmente não descobriu que era eu até que Nate lhe contou.
— Nate?
— Hum, um halfling que eu estava meio que namorando. Zell conseguiu convencê-lo a se voltar contra mim, e não percebi até que fosse tarde demais.
— Entendo.
Ótimo. Papai está em casa por cinco minutos e já consegui decepcioná-lo com minha pobre escolha de namorados. — Sim, então, de qualquer maneira... Eu lutei contra Zell algumas vezes e, obviamente, consegui fugir todas as vezes.
As sobrancelhas do papai arqueiam. — Uau. Você realmente lutou contra ele? Isso é impressionante.
Eu encolho os ombros, como se lutar contra o Príncipe Unseelie não fosse uma grande coisa, mas não posso evitar o sorriso que se espalha no meu rosto.
— Ok, então Zell ameaçou a sua vida há quatro anos por minha causa, — diz papai, — e agora ele está atrás de você novamente por uma razão diferente. Ele provavelmente não tem ideia de que você é a mesma pessoa.
— Bem, ele sabe meu nome completo, então ele provavelmente sabe quem eu sou.
— Mas ele nunca soube meu nome verdadeiro. Trabalhamos com nomes em códigos para a maioria de nossas tarefas. Eu duvido que ele conecte seu nome ao meu.
— Oh. Ok. — Quando papai não faz mais perguntas, eu digo, — Então, você está pronto para me contar tudo agora? A grande razão por trás do motivo pelo qual você teve que fingir sua própria morte e me abandonar? — Eu retiro uma almofada das minhas costas e a abraço. — Ah, e eu também quero saber sobre Angelica.
Ele olha. — Como... como você sabe sobre Angelica?
— Bem, o cara que eu namorava - Nate - é o filho dela.
As sobrancelhas do pai arqueiam, enquanto ele se senta para frente. — Angelica tem um filho? E você namorou com ele?
— Sim. — Abraço a almofada um pouco mais apertada. — Há algo de errado com isso?
— Na verdade não. — Ele esfregou uma mão em seus olhos. — É estranho, só isso. Eu não sabia que ela tinha um filho.
— Sim. De qualquer forma, eu só a conheci uma vez, mas deixou claro que ela odiava você e a mamãe, e eu quero saber por quê. Eu já imaginei vocês como rivais formandos, mas seus sentimentos pareciam um pouco intensos demais para isso.
Papai balança a cabeça e solta um longo suspiro. — Nós não éramos rivais, V. Angélica era a melhor amiga de sua mãe.
Capítulo 26
Minha boca está aberta. Angelica era a melhor amiga de minha mãe? Mais uma vez, parece que tenho que ajustar a imagem que tenho na minha cabeça da vida de meus pais. — Mas... Eu pensei que Zinnia era a melhor amiga da minha mãe. E você e Linden eram amigos. Vocês todos treinaram juntos, e depois trabalharam juntos, e então tiveram bebês, e tudo estava bem até o dia em que Reed morreu.
Papai suspira novamente. Tenho a sensação de que essa conversa estará cheia de suspiros. — Você deve saber agora que a vida nunca é tão simples, V. Quero dizer, sim, tudo isso é verdade. Mas Angelica estava lá também, e ela fez a vida muito mais... — Ele ergueu as mãos. — Eu prometo que vou explicar tudo para você desde o início, mas primeiro diga onde a conheceu e o que ela disse para você.
— Bem, foi um pouco estranho, na verdade.
— Labirinto estranho? — Diz papai com um olhar de que sabe.
— Sim. Você sabe sobre o labirinto?
— Eu queria não saber, mas sim.
E a imagem continua sendo reajustada. — Ok, bem, Nate e eu fomos lá para encontrar Angelica. Ela nos contou que uma faerie Unseelie tinha construído o labirinto e a aprisionou lá porque ela se recusou a dar-lhe um poder que ela tinha... um disco.
— Com um símbolo de serpente-grifo nele?
— Sim. Ela explicou que pertencia ao poderoso halfling Tharros. Aparentemente, enquanto ele ainda estava vivo, e transferiu parte de seu poder para vários objetos, de modo que, se ele ficasse sem magia, ele teria outras fontes de poder de onde retirar. Ela nos disse que precisávamos voltar para sua casa no reino humano — onde Nate morava — e trazer o disco para que ela pudesse usá-lo para sair. Nós não fizemos isso, é claro. Mas antes de podermos sair, ela me reconheceu. Ela e eu lutamos, e Nate e eu conseguimos sair vivos.
— Você ainda tem este disco? — Papai está sentado na borda do sofá novamente.
— Hum, não. Nate o roubou. Eu acho que ele levou direito para Zell, que parece ter mais alguns destes discos. Angelica fez parecer que havia apenas um.
— Zell tem mais discos? — Papai fecha os olhos e balança a cabeça. — Ele deve ter pegado de Angie, — ele murmura. — E aqui estava eu torcendo para que ele nunca a encontrasse. Maldição, esta é uma má notícia.
Espero ele continuar, mas ele não continua. Ele parece estar pensando profundamente, e eu não quero interrompê-lo, mas quero entender por que essas são más notícias. — Papai? — Eu incito.
Ele respira fundo e olha para mim, como se de repente se lembrasse de que eu estou na sala. — Bem, Angelica certamente conseguiu tecer muitas mentiras por uma pequena quantidade de verdade.
— Eu acho que estava certa em não confiar nela, — eu digo.
Papai balançou a cabeça. — Tudo bem, isso tudo terá mais sentido se eu começar no começo. — Ele muda para uma posição mais confortável enquanto eu cruzo minhas pernas embaixo de mim no sofá.
— Eu não perdi nada importante, não é? — Ryn pergunta. Olho para vê-lo sair da cozinha com três canecas flutuando no ar na frente dele. Eu nem me lembro dele sair da sala. — Como nenhum de vocês ofereceu bebidas, pensei que seria o anfitrião esta noite. — Ele dirige as canecas sobre a mesa e senta-se.
— Obrigado, Ryn — papai diz.
— Hum, obrigada. — Eu me sinto apenas agradecida, no entanto. Eu deveria ter oferecido uma bebida para o papai. Eu pego minha caneca e espio o que tem dentro: chocolate quente com mini marshmallows rosa flutuando na superfície e uma nuvem de canela rodopiante acima dela. Minha bebida favorita de todos os tempos. Eu solto um suspiro. Ryn está agindo perfeitamente e isso está me irritando.
— Então, — diz papai, — havia cinco de nós. Rose e Zinnia eram melhores amigas desde que eram pequenas. Linden e eu crescemos um ao lado do outro, então também éramos amigos próximos. Nós quatro nos conhecemos quando começamos nosso treinamento na Guilda. Foi quando Angelica se mudou para Creepy Hollow e se juntou a nossa turma. Em breve, nós cinco éramos inseparáveis. Nós nos sentávamos juntos nas aulas, implorávamos para ser colocados nos mesmos grupos de tarefas e, bem, sendo jovens, também fazíamos traquinagens juntos.
— Em nosso terceiro ano, as meninas desafiaram que Linden e eu fossemos ao Subterrâneo, o que era praticamente proibido pela Guilda. Como você sabe, Subterrâneos nunca foram fãs de guardiões ou formandos. Eles geralmente atacam primeiro e fazem perguntas depois. Mas éramos corajosos e estúpidos, então é claro que aceitamos o desafio. Angie disse que devíamos roubar algo e trazê-lo de volta para provar que tínhamos estado lá. Então entramos na casa do antigo centauro e encontramos um disco de metal com um símbolo de serpente-grifo gravado nele. Rose reconheceu o símbolo de um livro que ela tinha visto no escritório do seu mentor, então ela perguntou a ele sobre isso.
— Ele era um faerie muito antigo, em seu sexto século, eu acho. Ele contou a Rose sobre o poderoso halfling Tharros Mizreth e a lenda de seu poder perdido. Estas eram histórias que lhe tinham sido ditas por seus pais, que eram guardiões na época em que Tharros foi derrotado.
— O poder de Tharros era tão grande que ele era quase impossível de matar. Ele tinha que se separar do poder, e só então ele poderia ser morto e seu poder destruído de forma independente. Algum tipo de arma foi construída para fazer isso. Depois de muita luta e morte, os melhores guardiões de todas as Guildas conseguiram prender Tharros e separá-lo de seu poder. Eles o mataram. A maioria das pessoas pensou que era o fim, mas apenas os envolvidos diretamente sabiam que os guardiões não conseguiram destruir o poder de Tharros. Em vez disso, eles o capturaram dentro de algum tipo de caixa. Eles trancaram a caixa com seis chaves diferentes - os discos com o grifo neles - um para fechar cada lado da caixa. No processo de vedação da caixa, parte da energia foi transferida para cada disco. Os discos foram espalhados por todo o mundo, escondidos por pessoas que deveriam mantê-los seguros.
— Mas os detentores dos discos logo descobriram que, mantendo os discos com eles, eles tinham acesso a um poder extra. Isso, é claro, não pode ser mantido em segredo. Então, os discos foram roubados, repetidas vezes ao longo dos séculos. Eles ficaram tão dispersos que era impossível para qualquer pessoa saber onde estavam todos os discos. E isso é o que manteve o cofre de segurança seguro durante todos esses anos.
— E o mentor da minha mãe apenas contou tudo isso? — Pergunto. — Parece que era para ser um segredo.
— Parece que ele pensou que era apenas uma lenda. Nós, por outro lado, soubemos que era verdade por causa do disco que encontramos.
— E ela não contou a seu mentor sobre o disco? — Ryn pergunta.
— Não. Nós mantivemos essa parte para nós mesmos - e então tomamos uma decisão que resultaria em um grande erro. — Ele faz uma pausa para soltar outro suspiro. — Nós decidimos ir em busca dos outros cinco discos.
— Os cinco discos que poderiam estar em qualquer parte do mundo? — Pergunta Ryn.
— Sim. Nós decidimos que queríamos usar o poder de Tharros. Nós planejamos desbloquear a caixa, compartilhar o poder igualmente entre nós, e nós seríamos os melhores guardiões que qualquer Guilda já viu. Poderíamos vencer qualquer forma de maldade. Creepy Hollow e o reino humano estariam mais seguros do que nunca, porque usaríamos o tremendo poder de Tharros para o bem e não para o mal. Nós fizemos muita leitura, explorando e seguindo rumores, mas demorou muito tempo. Cerca de dez anos depois, estávamos todos possuindo um disco. Naquela época, todos trabalhavam para a Guilda. Rose e eu formamos a nossa união, assim como os seus pais. — Papai balançou a cabeça em direção a Ryn.
— Isso deve ter deixado Angelica sentindo-se um pouco deixada de fora, — eu digo.
— Sim. Ela se sentiu. Especialmente por que ela sempre... Bem, teve alguns sentimentos por mim. — O pai arranha a cabeça, parecendo um pouco estranho quando admite isso. — De qualquer forma, todos nós estávamos trabalhando na Guilda por pouco mais de uma década, quando Angie começou a ficar bastante distante. Ela sempre procurou o sexto disco sem nós. Você vê, nossas prioridades estavam mudando. Linden e Zin tinham Reed até então. Rose e eu estávamos pensando em ter um filho. Angie, no entanto, estava cada vez mais focada em encontrar o último disco e desbloquear a caixa. O resto de nós estava começando a ter sentimentos mistos. Os discos... Bem, é difícil explicar, mas depois de anos de uso, começamos a nos sentir diferentes. Ranzinzas, mais irritados, menos compassivos para com aqueles que devíamos proteger. Foi Rose quem fez a ligação aos discos. Ela pensou que eles deveriam ter muita influência perversa neles. Então nós quatro decidimos que seria melhor esquecer de ir procurar a caixa. Também era, você sabe, errado seguir o poder que nossos antepassados ??tentaram tanto destruir. Foi errado que agíssemos como se estivéssemos acima da Lei.
— Quando contamos a Angie o que decidimos, ela ficou furiosa. Ela disse que era por isso que ela trabalhava há anos, e nós estávamos destruindo seus sonhos. Não foi muito tempo depois de nosso confronto que ela deixou o serviço da Guilda e quebrou todo o contato com a gente. Não tínhamos ideia de onde ela tinha ido. Eu nem sabia por onde começar a procurar.
— A família dela não sabia nada? — Ryn pergunta.
— Você vai pensar que isso parece estranho, — diz papai, esfregando a mão na parte de trás do pescoço dele, — mas nenhum de nós realmente sabia onde ela morava. Ela sempre foi secreta sobre sua família e sua vida privada, desde o dia em que a conhecemos. Ela nunca respondia a nenhuma das nossas perguntas sobre sua vida em casa, então, finalmente, paramos de perguntar. Ela era assim, e nós aceitamos isso.
— Você acha que ela tinha vergonha da sua família? — Pergunto. — Tipo, eles eram realmente pobres ou algo assim?
— Se ela tinha vergonha, não era porque eles eram pobres. Angie sempre teve o melhor de tudo. — Papai toma um gole da caneca e devolve para a mesa. — De qualquer forma, onde eu estava?
— Angelica desapareceu.
— Sim. Então, o tempo passou. Zin e Linden tiveram Ryn. Pouco depois, você chegou, V. Nós estávamos todos presos em nossas vidas melodiosas e perfeitas, e foi aí que nossos discos começaram a desaparecer. Não estávamos usando continuamente, apenas para alguma tarefa ocasionalmente desafiadora. Então ficavam ocultos a maior parte do tempo. O de Rose desapareceu primeiro, depois o meu. Quando o de Zinnia desapareceu, percebemos que era Angelica pegando-os. Ela deixou cair um brinco ou algo assim no armário de Zinnia. E, para ser sincero, já suspeitávamos que fosse ela.
— Então Linden escondeu o dele em outro lugar, e, por um tempo, não vimos e nem não ouvimos nada de Angelica. Então, uma noite, quando estava sozinho em casa, um elfo bateu na nossa árvore e me entregou uma nota. Era de Angie, implorando por minha ajuda. A nota não dizia nada além de ir com o elfo. Em vez de ir sozinho, levei Linden comigo. Nós não dissemos a Rose ou Zin.
— O elfo nos conduziu pelo Subterrâneo e pelos túneis que mais tarde descobrimos ser um labirinto. Encontramos Angie em uma câmara no centro, incapaz de sair. E não era que alguém a tivesse prendido lá embaixo, como ela lhe disse; ela se aprisionou lá embaixo. Acidentalmente, é claro. Ela finalmente encontrou a localização da caixa com o poder de Tharros e a roubou. Mas ela precisava de algum lugar para mantê-lo seguro até que ela pudesse juntar todos os discos para desbloquear. Então ela construiu o próprio labirinto. Ela tentou colocar um feitiço complexo na câmara para evitar que alguém removesse a caixa. Em vez disso, ela impediu-se de sair.
— Bem, isso deve ser uma droga, — eu digo. — E ela obviamente queria que vocês a tirassem de lá.
— Sim. Ela queria. E nós... — Papai pendura a cabeça e geme. — Nós a deixamos lá.
— O quê? — Ryn diz. — Você e meu pai apenas... A deixaram lá?
— Não estou orgulhoso da decisão que tomamos. Mas conseguimos nos convencer de que era a melhor coisa a fazer. A caixa estava escondida no labirinto onde ninguém mais acharia. Angie estava presa lá sem nenhum de seus discos, então ela nunca conseguiria abrir. Com a parte do andar de cima que ela construiu para si mesma, e as criaturas que atravessavam o labirinto prontos para oferecer seu lance, dissemos a nós mesmos que era melhor do que o castigo que ela receberia se a entregássemos à Guilda.
— Nós nunca contamos a Rose ou Zinnia. Continuamos com nossas vidas. — Papai respira com mais força. — Rose foi morta em uma de suas tarefas. Reed teve seu terrível acidente. Linden finalmente decidiu deixar a Guilda e sua família. — Ryn se move em sua cadeira, mas não diz nada. — Com meu parceiro morto, eu me ofereci para uma tarefa secreta procurando pelas atividades de um dos Príncipes Unseelie.
— Zell, — eu murmuro.
— Sim. No começo, trabalhei sozinho, mas, como ficou claro, o príncipe planejava algo grande e de longo prazo, outros responsáveis tornaram-se parte da investigação. Você se lembra da sua amiga Cecy?
— Sim, — eu digo.
— Seu pai e eu conseguimos nos infiltrar no círculo mais próximo de amigos de Zell. Aprendemos muito sobre ele. Seu relacionamento com sua mãe sempre foi instável; eles nunca se viram como iguais. Ele sempre sentiu que faria um reino melhor, mas, infelizmente para ele, ele é o último na fila para o trono. E infelizmente para nós, depois de vários meses de estar dentro, Zell descobriu que éramos guardiões.
— Nós dois nos afastamos dele, mas, em retaliação, Zell foi atrás de nossas famílias. Cecy quase foi morta, salva apenas pelo fato de que sua babá naquele dia também era uma guardiã habilidosa. Seus pais tomaram uma decisão imediata de deixar a Guilda e fugir. Eu pensei em fazer o mesmo, mas eu estava determinado demais a pegar Zell para admitir derrota. Parecia que a única maneira de fazer isso e protegê-la era se ele achasse que eu estava morto e já não era uma ameaça para ele.
— Até esse momento, eu estava relatando diretamente à Rainha. Planejamos a minha morte juntos. Eu pensei que faríamos parecer que meu corpo havia sido destruído, mas ela disse que seria uma morte muito suspeita. Então ela encontrou um criminoso metamorfo e o usou em vez disso. — Papai se inclina para frente e envolve suas mãos ao redor da caneca. — E, bem, isso é realmente tudo o que há até agora. Eu sempre vivi no palácio e continuo minha investigação sobre as atividades de Zell. Eu sei que ele está planejando tentar assumir a Corte Unseelie, e possivelmente a Corte Seelie e as Guildas. Eu sei que ele está coletando um exército de faeries com poderes especiais, embora ele ainda não possa controlá-los. E eu também sei que ele está planejando pegar todos os seis discos grifo e destravar a caixa para tomar o poder de Tharros para si mesmo. O que eu não sei é para quando ele está planejando sua grande jogada.
— Eu acho que ele está esperando até que ele tenha todos os seis discos, — digo. — Ele já tem quatro, os quatro que Angelica conseguiu colecionar antes de se prender, então agora ele só precisa se apoderar do de Linden e do sexto que vocês nunca encontraram.
— Vou contatar meu pai e dizer-lhe para garantir que o seu esteja bem escondido, — diz Ryn.
Papai balança a cabeça. — Ele vai querer saber como você sabe sobre isso. Em vez disso, não diga nada. Eu confio que ele o escondeu bem.
Coloco minha caneca vazia sobre a mesa, pois algo me ocorre. — Pai, como você continuou sua investigação se Zell sabe como você parece?
— Só porque somos todos faeries e não podemos usar glamour um com os outros, não significa que não haja outras formas de nos disfarçar. — Ele mexe as sobrancelhas para mim do jeito que ele fazia quando eu era pequena. — Tive que ser bastante criativo às vezes.
— Eu queria ter visto isso, — digo com uma risada.
Ryn ergue-se e manda as canecas de volta para a cozinha com um aceno de mão. — Eu tenho que ir agora. Vocês provavelmente têm alguns assuntos para resolver que não me envolvem.
— Sim, — eu digo antes que papai possa convidar Ryn para ficar mais tempo. — Vejo você por aí. — Depois de tempo o suficiente para que as coisas não sejam mais estranhas entre nós.
Quando a porta desapareceu atrás de Ryn, eu faço uma pergunta para papai, uma para a qual que eu provavelmente conheço a resposta. — Você poderá visitar novamente?
Ele hesita antes de responder, o que não é um bom sinal. — Para ser sincero, será muito difícil. Mas eu prometo que vou tentar.
— Ok. Você ficará com problemas se a Rainha descobrir que você veio aqui?
— Oh, ela já sabe. Eu contei a ela o que aconteceu na Corte Seelie. Ela não ficou muito feliz por nos encontrarmos, mas como você e Ryn agora são guardiões e não apenas crianças pequenas, ela acredita que pode confiar em você. E não é como se ela realmente tivesse uma escolha; ela tem que confiar em você agora que você sabe.
Eu toco a borda da almofada no meu colo. — Eu não acho que fiz uma boa primeira impressão com ela.
Papai inclina a cabeça para o lado. — Você obviamente fez algum tipo de impressão. Eu acredito que as palavras exatas para mim foram: ‘Essa filha sua tem exatamente a mesma coragem que a mãe dela tinha.’
— Coragem. Uau. Isso é um elogio, certo?
Papai ri. — Eu acho que sim. — Ele abre as mãos. — Então, o que mais você quer falar antes de eu ir embora?
Capítulo 27
Meu aniversário é amanhã.
Nunca fui boa em celebrar esse evento anual; não é tão divertido quando você não tem muitos amigos ou familiares com quem se divertir, e é apenas mais um dia, na verdade. Faeries têm centenas de aniversários — assumindo que nossas vidas não serão apagadas antecipadamente por alguma criatura magia ameaçadora — então por que fazer uma grande coisa a cada ano? Apesar de ter explicado isso a Tora várias vezes, eu sei que ela está planejando algo para amanhã à noite. Eu me pergunto se ela vai convidar Ryn. Estou dividida entre querer estar perto dele e não querer enfrentar a estranheza entre nós.
Nos últimos dois dias, passei a maioria dos momentos acordada reproduzindo a conversa que papai e eu tivemos na noite em que ele veio. Ainda estou impressionada com o fato dele aqui na casa, sentado no nosso sofá e bebendo de uma de nossas canecas, como se nada tivesse mudado. Tentei não chorar quando ele foi embora; eu quase consegui.
O resto de meus momentos acordados são gastos tentando não reproduzir O beijo. Isso leva muito esforço, o que significa que não há momentos acordadas para descobrir se eu deveria aceitar a oferta de emprego da Guilda. Estou esperando que meu cérebro esteja descobrindo enquanto eu estou dormindo, porque tenho que dar uma resposta a Conselheira Starkweather amanhã.
Porque não tenho mais nada a fazer, uso o feitiço de redes sociais que Ryn me ensinou e verifico as atualizações aleatórias das poucas pessoas que parece que eu estou ‘seguindo’. Me irrita que eu sinta um tipo de decepção estranha quando vejo que não há atualizações de Ryn. Eu considero escrever algo na bolha em branco no fundo da superfície retangular do meu âmbar, mas o que eu escreveria?
Aniversários são chatos.
Não sei o que fazer com o resto da minha vida agora que me formei.
Meu pai fingiu sua própria morte e na verdade está vivo.
Não. Nada disso parece ser uma boa opção. Então, mais uma vez, eu encerro o feitiço sem ter escrito nada. Eu vou ao armário de estudo e retiro uma caixa de Card Eaters. Eu não jogo há anos, mas ver Ryn e Calla jogando recentemente me lembrou que pode ser um pouco divertido de sua própria maneira simples.
— Filigree, — chamo quando volto para a sala de estar. Ele vem escorregando pelas escadas sob a forma de uma pantera. — Quer jogar cartas? — Seguro a caixa. Ele senta-se ao lado da mesa baixa e enrola sua cauda nas pernas. Ele pisca com expectativa. — Ótimo, — eu digo. Eu me sento no chão do outro lado da mesa e lanço as cartas entre nós. Filigree cutuca sua pilha de cartas com uma de suas patas. — Sim, ok, você sabe que isso não vai funcionar, certo? Você precisa mudar para outra coisa. — Filigree mexe uma orelha, depois muda para uma forma alaranjada e peluda que acaba por ser um orangotango. Ele pega suas cartas. — Ok, você vai primeiro, — eu digo a ele.
Uma hora depois, Filigree está ganhando. Eu sei que em parte é sorte e o fato de ele ter obtido cartas mais fortes, mas ainda é embaraçoso. Olho as quatro cartas na minha mão. Eu tenho musgo – a segunda carta mais fraca do jogo inteiro – um pixie, um pedregulho e um ogro, que é a única carta que posso jogar agora. Eu olho para as mãos peludas de Filigree; ele tem apenas duas cartas, e provavelmente são mais fortes do que qualquer coisa que eu tenho. Ele tem quase certeza de que vai ganhar. Estou prestes a colocar minha carta de ogro em cima da de troll dele, quando ouço uma batida contra a árvore.
Poderia ser papai?
Não. O sol apenas começou a ir embora. Tenho certeza de que ele esperaria pela escuridão antes de voltar a visitar. Mas, enquanto ando em direção à parede, não posso evitar a energia nervosa me percorrendo. Pode ser ele. Afinal, é meu aniversário amanhã.
Passo minha mão pela parede e... é Ryn.
Ótimo.
— Meu, hum, parente há muito tempo sumido não está aqui esta noite, então, a menos que você esteja aqui para visitar Filigree, não há mais ninguém nesta casa que queira te ver.
Ele inclina a cabeça para o lado. — Por que você está nervosa?
Coloco minhas mãos nos meus quadris. — Não há como você desligar isso? Porque realmente não aprecio que você saiba exatamente o que estou sentindo.
— Não. Confie em mim, se houvesse uma maneira de desligar, eu já teria encontrado.
Ele parece segurar algo atrás de suas costas, o que o torna suspeito. — Você vai me dizer por que está aqui?
— Você vai me convidar para entrar?
Não faço nenhum movimento para me afastar para o lado.
— Tudo bem, — diz ele. — é seu aniversário amanhã. Eu gostaria de lhe dar uma coisa.
— Você já me deu alguma coisa, — eu o lembro. — Novo âmbar e um encanto caro.
— Ok, bem, agora tenho outra coisa para lhe dar. E, — ele acrescenta, — é grosseria recusar um presente.
— E, no entanto, ambos sabemos que grosseria nunca foi um problema quando nos diz respeito.
Ele olha para os pés, então de novo. — Por favor? — Ele diz suavemente.
Droga. Ele certamente sabe como fazer a coisa dos olhos sexy e ardentes; ele provavelmente poderia acender um fogo com o olhar que ele atualmente está me dando. E ele sabe, droga, porque eu aposto que ele pode sentir meu interior se derreter. Limpo minha garganta. — Hum, ok, entre.
— Na verdade, eu não quero dar a você aqui. Gostaria que você fosse a um lugar comigo.
Eu estreito meus olhos para ele. — Isso tem algo a ver com a festa que Tora e Raven estão planejando? Porque eu pensei que fosse amanhã.
— Sim. E já que você não gosta de surpresas, eu digo a você exatamente a que horas e quem irá se você me seguir agora.
— Você está sendo estranho.
— E eu vou ficar ainda mais estranho e ficar de joelhos e implorar, se eu tiver que fazer. Já fiz isso antes, lembra?
Eu lembro, e eu realmente não preciso que ele vá tão longe dessa vez. — Tudo bem, eu vou com você. Apenas deixe-me pegar minhas botas.
— E uma jaqueta, — Ryn fala atrás de mim. — Você pode ficar com frio.
Pego minhas coisas e peço desculpas para Filigree no caminho de volta na escada. — Nós podemos terminar mais tarde, — eu digo a ele, esperando que ele já tenha esquecido o jogo até então.
Eu fecho a minha árvore. — Onde estamos indo?
— Você verá. — Ryn pega minha mão quando atravessamos a porta que ele abriu. Nós não estamos na escuridão por muito tempo, mas tudo o que posso pensar é o que aconteceu na última vez em que ficamos presos na completa escuridão um com o outro. Quando a luz se materializa à nossa frente, eu solto sua mão. Nós caminhamos para o abrigo frondoso da nossa antiga árvore gargan. É lindo aqui com a luz vermelha, dourada e laranja do pôr-do-sol, espiando pelos galhos.
— Você se lembra daquele poema de Mil Crowthorn sobre as riquezas da natureza? — Eu digo quando olho para o céu.
— ‘Dê-me o pôr-do-sol, e eu serei um homem mais rico do que a maioria. Pois nunca vi ouro como aquele que brilha acima da terra. Dê-me o céu noturno, e eu serei o homem mais rico com certeza. Pois nunca vi diamantes como aqueles que dançam ao lado da lua’.
— Sim, é assim que eu me sinto, — murmuro. — Não preciso de mais nada no meu aniversário do que esse céu.
— Talvez apenas isso, — diz Ryn, me presenteando com um pequeno pacote embrulhado de seda.
Eu solto o fio de prata e seguro o pacote na minha mão quando as camadas de seda caem. Colocado no centro estão às fitas coloridas que encontrei no esconderijo da minha mãe, mas, em vez de um monte bagunçado, elas foram transformadas em uma pulseira. As fitas ficam perfeitamente alinhadas, mantidas presas por cada extremidade com um cordão de prata. As extremidades soltas que ficarão penduradas no meu braço quando estiver usando a pulseira têm um pequeno cristal preso ao fim.
— As fitas pareciam tão bonitas em seu braço, — diz Ryn. — Então eu as levei para Raven e pedi a ela que as transformassem em um bracelete. — Ele tira da minha mão e coloco ao redor do meu pulso. Os cristais brilham conforme a luz pega neles.
— Eu provavelmente devia ficar assustada que você entrou na minha casa e roubou as fitas, — eu digo, — mas é tão bonito que eu vou te perdoar pelo seu furto.
— Então, você gostou?
Olho para Ryn e vejo uma expressão desconhecida: incerteza. Eu sorrio para tranquilizá-lo. — Eu amei. — O sorriso de resposta que se espalha no seu rosto faz a mesma coisa no meu estômago que seus olhos ardentes fizeram agora pouco.
Parece que ele está prestes a dizer alguma coisa, mas então ele enfia a mão abruptamente no bolso. Ele puxa o âmbar e lê uma mensagem. Quando ele guarda o âmbar, ele diz, — Se você não se importa, eu gostaria de levá-la para outro lugar agora.
— Hum, tudo bem. Mas é melhor que isso não seja um estratagema para me levar a um encontro com você.
— Não é nada disso, — ele diz, e meu estômago enche de nós. Ele se inclina mais perto do meu ouvido e sussurra, — É muito maior do que isso.
O quê?
Ele passa por mim, e eu me viro para vê-lo cumprimentar um faerie de pele cor de azeitona e cabelo verde ? ele é uma faerie? ? que não estava aqui há um momento atrás. Embaixo do seu braço está uma forma cilíndrica grande que parece ser um tapete enrolado. Ele entrega a Ryn, eles trocam algumas palavras em voz baixa, e o homem escorrega entre os galhos.
— Aqui vamos nós, — diz Ryn. Ele coloca o formato enrolado no chão, agarra uma extremidade, abre e flutua no ar.
— O que... o que é isso?
— Exatamente como se parece: um tapete mágico.
De. Jeito. Nenhum. — Mas... não existem tapetes mágicos.
— E, no entanto, — diz Ryn, — há um flutuando aqui mesmo na sua frente. Esquisito, não é? — Ele sobe sobre ele e estende a mão para mim.
— Eu... Não sei se confio nessa coisa.
— É perfeitamente seguro. Eu fiz algumas leituras sobre o assunto. Acontece que houve alguns grandes avanços na magia de tapete nos últimos anos. Eles não expulsam mais as pessoas.
Meus olhos se arregalam. Isso deveria me fazer sentir melhor?
— E adivinhe o quê? — Ryn continua. — Você é uma faerie, o que significa que se este tapete decidir expulsa-la, você pode retardar facilmente sua queda com magia.
— Eu... — Ele tem razão. — Ok. — Pego sua mão estendida, e ele me puxa para cima. Eu me abaixo, espalhando meus braços para me equilibrar.
Ryn senta-se, cruza as pernas e volta para os dois cantos do tapete atrás dele. O tapete sobe mais alto, e Ryn nos guia entre os galhos. Mais alto e mais alto. E então, com uma explosão de velocidade que me faz cair de bunda, disparamos acima dos galhos mais altos da floresta. Abaixo de nós, as milhares de árvores que compõem Creepy Hollow se estendem em todas as direções.
Tudo o que posso fazer é olhar com admiração.
— É incrível, não é? — Diz Ryn. O tapete diminui, e ele levanta com cuidado. — Você deve se levantar. É mais emocionante. — Ele estende a mão para mim mais uma vez. — Eu sei como você gosta de emoção.
Eu gosto, mas todas as emoções que eu costumo ter ao lutar contra criaturas perigosas são realizar acrobacias difíceis, como mortal para trás várias vezes e aterrissar em uma viga estreita. Este é um tipo de emoção completamente diferente. Coloco minha mão na dele e o deixo me puxar para cima. O tapete ondula lentamente sob meus pés, o que é um pouco assustador, mas eu sou uma guardiã; tenho um bom equilíbrio.
Eu me afasto de Ryn e olho para a maravilhosidade que é minha casa. O sol mergulhou abaixo no horizonte, deixando salpicos de rosa, roxo e azul através do céu. As primeiras estrelas estão espreitando. Observamos em silêncio enquanto o tapete continua sua jornada lenta pelo ar. Uma brisa suave move meu cabelo. O céu fica mais escuro. Mais estrelas começam a piscar.
— Eu tenho mais uma surpresa para você, — diz Ryn suavemente. Quando suas mãos se movem em meu rosto para cobrir meus olhos, eu me inclino ligeiramente, mas não me afasto. Ele começa a cantar palavras para um feitiço que eu não reconheço. É algum tipo de clamor, quase como uma música. Continua por vários minutos, e me encontro em um lugar de paz e calma. Antes que eu saiba, minhas costas estão descansando contra seu peito. Sinto-o inclinar a cabeça para mais perto da minha orelha. — Você disse que não havia nada que eu pudesse dizer ou fazer para convencê-la de que meus sentimentos por você são reais e duradouros, — ele sussurra. — Bem, claro que eu tomei isso como um desafio, e já que, aparentemente, levará as pontas brilhantes de um gazilhão de insetos brilhantes para provar a você, aqui estão eles.
O calor de suas mãos desaparece dos meus olhos. Eu os abro, e...
Uau.
Milhares e milhares de insetos brilhantes estão flutuando no ar, como se cada galáxia na criação fosse chamada aqui para nos iluminar. É... Eu acho que não existem palavras para descrever a beleza desse momento ou a sensação de admiração que me comove.
Mas há cordas prendendo este momento. Eu sei o que Ryn está tentando me dizer. Eu sei o que ele quer de mim. E mesmo que isso seja mais surpreendente do que qualquer coisa que alguém já fez por mim, meu coração teimoso ainda não quer sair do seu lugar seguro. Eu preferiria aproveitar esse momento e capturá-lo dentro de uma bola de cristal para mantê-lo todo perfeito para sempre do que contaminá-lo com as complicações que um relacionamento traria.
— Isso é incrível, Ryn. É mesmo. Mas...
— Não. — Ele me revira. — Sem desculpas. Você acha que eu vou te machucar? Você acha que vou ficar entediado e fugir com alguma Subterrânea na primeira chance que eu tiver? Você obviamente não tem ideia do quão incrível você é. Você, Violet Fairdale, é incrível, e eu quero você. Cada parte de você. Eu quero sua teimosia e seu sarcasmo e seu espírito competitivo. Eu quero você me desafiando e lutando ao meu lado. Eu quero abraçá-la e beijá-la e muito mais porque não há mais ninguém no mundo que me conhece como você. Você sempre foi a única para mim, mesmo quando não nos aguentávamos. Você é linda, gostosa e sexy tudo de uma só vez, e você é mais inteligente do que qualquer garota que conheci. Adoro o fato de ter conhecido você por toda a minha vida. Parece certo quando você está ao meu lado. Parece que fiquei perdido no deserto há anos e... Eu finalmente estou em casa.
Eu finalmente estou em casa. Eu sei como isso parece. Na verdade, eu sei como ele se sente. Eu sempre estive muito aterrorizada para colocar isso em palavras.
— Pare de estar tão assustada, V! — Ryn agarra meus ombros e os agita. — Você é uma das pessoas mais corajosas que conheço. Por que você não pode deixar esse medo?
Eu finalmente estou em casa. Por que eu gostaria de mandá-lo de volta ao deserto? Eu estaria me protegendo, mas o machucando. Por que isso não me ocorreu antes? Eu pensei que eu era a única que poderia se machucar, mas nunca percebi que sua casa era a mesma que minha casa, e mandá-lo para longe é apenas machucá-lo.
— Por favor, diga algo, V.
Casa. Eu quero estar lá, com ele. Nenhum de nós irá sofrer mais.
— Violet, por favor. Diga algo! Eu juro que você vai quebrar meu coração se você não...
Eu o beijo. Me pressiono contra ele como se eu nunca quisesse me separar dele. Meus braços se entrelaçam ao redor de seu pescoço. Perdemos nosso equilíbrio e caímos no tapete ondulando preguiçosamente. Eu o empurro para baixo e monto na sua cintura. Inclino-me sobre ele. Beijo seu pescoço antes de traçar o esboço de seus lábios com a minha língua. Ele geme e me aproxima. Suas mãos encontram o caminho pelas minhas costas e para o meu cabelo. Ele puxa meu rosto para baixo para encontrar seu beijo. As faíscas dançam na minha língua e, em qualquer outro lugar que a sua pele toca a minha, o que não parece como lugares suficientes. Toda a floresta poderia entrar em chamas agora mesmo, e eu não notaria.
Isso é tudo o que eu quero. Ele. Todo ele.
Capítulo 28
Ryn me rola para o meu lado para que ele esteja a meu lado. — Ok. — Ele beija meu queixo. — Você não precisa dizer nada. — Outro beijo no meu pescoço. — Eu acho que recebi sua resposta alta e clara.
Eu traço meus dedos de sua testa até seu queixo. — Se é assim que é estar em casa, — digo num sussurro sem fôlego, — por favor, nunca mais vamos embora.
— Eu não planejo. — Ele pega meus dedos e os beija. — Sente-se, — ele sussurra, então se move atrás de mim e me puxa contra seu peito. Suas pernas me cercam de cada lado. Ele puxa meu cabelo para o lado e beija atrás da minha orelha antes de envolver seus braços em volta de mim e descansar o seu queixo no meu ombro.
Não consigo acreditar no quanto estou feliz agora. Parece estúpido que eu afastei esses sentimentos por tanto tempo, quando eles tinham a capacidade de trazer muita alegria.
— Foram as minúsculas pontas brilhantes que fizeram você mudar de ideia, não foi? — Diz Ryn. Posso ouvir a diversão em sua voz.
— Foi tudo. A pulseira, o tapete mágico, os insetos brilhantes, encontrar o tokehari da minha mãe. Eu sabia por um tempo como me sentia sobre você, mas não acreditei até hoje que você sentia o mesmo.
— E, no entanto, eu sabia dos meus sentimentos um pouco antes de você saber sobre os seus.
— Sério?
— Sim. Aquele estranho momento que tivemos no banheiro na casa dos Harts foi o momento em que eu já não pensava em você como amiga. Eu queria mais com você desde então.
— Mas você não disse nada.
— Claro que não. Você não sentia o mesmo, então qual seria o ponto? De vez em quando havia uma sugestão de algo mais vindo de você, mas sempre foi tão fugaz que assumi que eu imaginava. Foi só enquanto dançamos no baile de graduação que você deve ter deixado sua guarda baixa, e eu finalmente soube como você se sentia sobre mim. Tenho certeza de que foi você quem queimou aquela árvore de gelo, por sinal. Aquela da qual a Conselheira Starkweather estava falando.
— Sim, acho que pode ter acontecido. — Graças a Deus ninguém mais percebeu o verdadeiro motivo para aquela pequena explosão. — Espere um segundo, — eu digo, lembrando de algo. — Quando estávamos escrevendo nossos relatórios da tarefa na árvore gargan, e aquele galho pegou fogo. Também fui eu? Porque eu pensei que estava fazendo um bom trabalho de suprir meus sentimentos naquele momento.
— Uh, isso pode ter sido eu.
— Aha, então eu não sou a única que perde o controle. — Eu viro minha cabeça para o lado enquanto tento olhar para ele.
Ele se afasta de mim um pouco e dá o sorriso malicioso. — V, você viu o dano que fizemos na sala de estar da Princesa Olivia? Eu claramente acho que ambos perdemos o controle em certas situações.
Ele aperta seus braços em volta de mim enquanto eu repouso contra ele mais uma vez. — Então, hum, essa habilidade sua, — eu digo. — Você sente tudo de todos que estão a sua volta?
— Sim.
— Uau. Isso deve ser um pouco esmagador.
— Muito. É por isso que passo tanto tempo sozinho e no reino humano.
— Você não pode sentir emoções humanas?
— Não, apenas as emoções daqueles com magia. — Ele cobre minhas mãos cruzadas com uma dele e esfrega o polegar para trás e para frente sobre minha pele. — É tão alto estar em um lugar como a Guilda. Quero dizer, eu aprendi a filtrar isso até certo ponto, mas as vezes ainda se torna demais, e quero que todos simplesmente... saiam. É por isso que eu ajo como um idiota ocasionalmente. É a maneira mais rápida de me livrar das pessoas.
— Ocasionalmente?
— Ok, talvez tenha sido um pouco de eufemismo.
— Você tentou ser bom com as pessoas em vez de ser um idiota? Então, não importa o que você esteja sentindo das emoções delas porque elas teriam emoções positivas em vez de emoções do tipo esse-cara-é-um-idiota-eu-quero-bater-nele.
— As emoções positivas também podem ser esmagadoras, se houver o suficiente. E você pode imaginar como seria se eu fosse legal com todos? — Ele abaixa a voz e coloca seus lábios ao lado da minha orelha. — Todas as meninas estariam atrás de mim. Seria uma bagunça completa.
Eu rio. — Certo. Claro que é isso que aconteceria.
Ryn me abraça mais apertado. — Eu disse que adoro seu sarcasmo, Sexy Pixie.
— Tanto quanto eu amo esse nome. — Enquanto ele ri, eu percebo outra coisa. — Foi por isso que a morte de Reed atingiu você mais forte do que qualquer um, certo? Porque você teve que sentir a dor de todos os outros assim como a sua?
O cabelo de Ryn escova contra o meu quando ele acena com a cabeça. — E é por isso que eu não poderia simplesmente ‘seguir em frente’ como você fez. Porque ainda sinto a dor da minha mãe todos os dias. Mas, como eu já disse antes, estou tentando. — Ele beija minha bochecha. — Ah, e esse ‘hábito estranho’ que você notou? Pressionar minha mão no meu peito?
— Sim?
— Quando as pessoas sentem emoção forte, súbita e inesperada, isso me dá uma dor momentânea. Eu acho que desenvolvi esse hábito sem perceber. Me surpreendeu você ter percebido.
— Bem, não se preocupe, tenho certeza de que ninguém mais percebeu. — Inclino minha cabeça para trás e olho para o céu. Alguns dos insetos brilhantes desapareceram, mas ainda há o suficiente acima de nós para que pareça com o reflexo de um oceano cheio de criaturas fosforescentes. Não quero sair daqui, mas sei que a noite terá que terminar. Eu vou ter que voltar para casa e fazer coisas não emocionantes, como decidir o curso que a minha vida vai levar agora.
Ryn, que, claro, pode sentir a mudança sutil do meu humor, pergunta, — O que você acha da oferta de emprego da Guilda?
— Como você sabia que eles me ofereceram um emprego?
— Eles me ofereceram um emprego, então, obviamente, eles também ofereceram para você. O que você está pensando? Suponho que você tenha que contar para eles amanhã, assim como eu.
— Sim. — Eu retiro uma das minhas mãos da sua e torço uma mecha de cabelo ao redor do meu dedo. — É sensato aceitar, eu acho. O objetivo da minha vida é proteger as pessoas, e eu posso fazer o melhor através da Guilda.
— Mas?
Eu sorrio para o fato de que ele sabe que há um ‘mas’. — Bem, é um caminho previsível, não é? Seríamos colocados em equipes e vamos passar um ano fazendo diferentes tipos de tarefas. Depois disso, decidimos em qual departamento queremos entrar, vão nos colocar em novas equipes e vamos passar as próximas décadas trabalhando no mesmo tipo de tarefa com as mesmas pessoas.
— Sim. A menos que a Guilda seja atacada e todos os guardiões derrotados, e a vida nunca mais será a mesma.
— Bem, certamente seria muito mais emocionante se a Guilda fosse atacada. — Eu solto minha mão e suspiro. — É só que sempre sonhei em me formar e trabalhar para a Guilda, mas agora que estou aqui, me pergunto se não há uma opção melhor.
— Como oferecer seus serviços privados a faeries ricas que precisam de proteção pessoal? Porque de alguma forma eu acho que você escolheria uma tarefa perigosa ao invés de ser guarda-costas em qualquer dia.
— Definitivamente.
— E se você estivesse na Guilda, você me teria. — Ele desliza a borda da minha jaqueta do meu ombro, e seus lábios deixam um rastro ardente ao longo da minha pele nua. — Nós poderíamos chutar a bunda de faeries perigosos juntos em vez de você ficar por aí sozinha. — Ele se afasta, deixando meu ombro frio. — Mas não me deixe influenciar sua decisão de forma alguma. Depende de você, é claro.
— Oh, tanto faz. — Eu rio. — Se você não está tentando me influenciar, então não sei o que é isso.
— Você não sabe? Você gostaria que eu lhe mostrasse? — Em menos de um segundo, ele pula, me levanta e me pega em seus braços. — Se eu realmente estivesse tentando influenciá-la, poderia ser algo assim. — Ele levanta meu braço esquerdo e toca seus lábios no me pulso, exatamente onde estão minhas marcas de guardiã. Seu beijo envia um arrepio ao longo do meu braço e meu pescoço. Quando seus beijos alcançam o meu cotovelo, ele para e pega meu rosto com as mãos. Ele traz seus lábios perto do meu, mas em vez de me beijar, ele mantém a cabeça perto o suficiente para eu sentir seu calor, mas não o toque dele. Ele sussurra, — Quanto falta você sentiria se estivesse longe de mim o tempo todo?
Em vez de responder, fecho a lacuna entre nós e aperto meus lábios contra o dele. Agora que eu dei o salto e decidi confiar que ele quer isso tanto quanto eu, não consigo ter o suficiente dele. E a maneira como ele me mantém perto e molda seu corpo contra o meu me diz que ele sente o mesmo. Quando minha cabeça está girando tanto e os insetos brilhantes parecem estar dançando em ziguezague ao nosso redor, eu me afasto dele. — Eu odiaria arruinar esse momento caindo do tapete, — eu digo, minhas palavras sem fôlego, — então talvez devêssemos voltar?
Ele inclina sua testa contra a minha. — Já disse que odeio quando você está certa?
— Muitas vezes.
O tapete mágico nos leva de volta ao vazio no topo da árvore gargan. Eu poderia facilmente sair sozinha, mas Ryn claramente quer me ajudar e, como eu adoro a sensação de suas mãos em minha cintura, eu não discuto.
Ele enrola o tapete e o coloca debaixo do braço. Ele abre a boca para dizer algo, mas um sorriso suave se espalha através de seu rosto, e ele se inclina para me beijar em vez disso. Momentos depois, seus lábios deixam o meu com um suspiro. — Eu preciso devolver o tapete, — diz ele. — Eu demorarei alguns minutos. — Ele se dirige ao longo de um dos galhos, me deixando com um sorriso ridiculamente enorme no meu rosto. Pressiono minhas mãos contra o meu peito, sentindo que preciso segurar minha exaltação para que não exploda para fora de mim.
— Vi?
Toda sensação no meu peito cai para os meus dedos do pé e desaparece, deixando meu corpo frio. Essa voz. Eu conheço.
— Vi, é você?
Giro lentamente. Em um portal delineado contra o galho mais largo da gargan, está a última pessoa que quero ver.
Nate.
***
Se alguém se aproximasse e me perfurasse no estômago, ficaria menos chocada do que eu estou agora. Que. Merda. É. Essa?
Com um assobio e um spray de faíscas, meu arco e flecha estão ardendo em meus braços estendidos.
— Como você me encontrou? — Exijo.
— Sorte, eu acho. — Ele sai dos caminhos das fadas, e o portal se fecha atrás dele. — É o único lugar em que eu sei como chegar. Eu sei como chegar à entrada da Guilda, mas eles não teriam motivo para me deixar entrar. E eu sei como chegar ao interior de sua casa, mas eu não tenho permissão para entrar. Eu não sei como é o exterior, então não posso apenas bater na sua porta. Só me restou este lugar. — Ele me observa com atenção. Ele não ergue as mãos, entretanto; ele obviamente não acredita que eu atiraria nele.
— Como você ousa vir me procurar depois do que fez?
— Vi, por favor, eu posso explicar.
— Eu não quero suas explicações, Nate. Eu quero que você vá embora antes de eu acidentalmente soltar essa flecha.
— Por favor, Vi! Você não sabe pelo que eu passei.
— O que você passou? — Eu abaixo meu arco ligeiramente em descrença. — Eu quase morri por sua causa, Nate!
— Eu sei! E sinto muito. — Ele dá um passo em minha direção. Eu miro a flecha nele mais uma vez. — Zell me forçou a ajudá-lo, Vi. Ele fez Scarlett colocar um olho em mim, o que significava que ele podia ver tudo o que eu via. Eu deveria tentar descobrir de você quem era a identidade do guardião com a habilidade de encontrar. Como não queria que ele soubesse que era você, eu obviamente mantive minha boca fechada. Mas então você foi e se entregou!
— O quê? — Ele está seriamente colocando a culpa em mim?
— Nós estávamos no meu quarto, e você disse algo sobre se desculpar por concordar em encontrar minha mãe para mim. Você não se lembra? E foi quando ele descobriu que era você. Ele me bateu por não ter falado antes. Lembra-se do hematoma que eu tinha? E eu menti e disse que foi uma briga na escola?
— Você mentiu. Ótimo. Sobre quantas outras coisas você mentiu?
Ele ergue as mãos em frustração. — Nada! Eu não estou mentindo para você!
— Você se esqueceu da parte em que você me levou a uma caverna secreta e me entregou a Zell? Não vi ninguém o forçar a fazer isso.
— Ele estava ameaçando meus pais! Ele teria os matado se eu não o trouxesse para você. Então pensei que poderia fazer as duas coisas. Protegê-los e ainda você sair viva. É por isso que eu indiquei aquele rio para você. Sabe, aquele que borbulhava na caverna e voltava para a montanha e saía em um lado? Nós passamos por lá e eu disse que você poderia pegar um passeio rápido para fora de lá se você pulasse.
— Esse era o seu grande plano, Nate? Sério? — Foi isso que aconteceu, foi exatamente assim que eu saí da montanha, mas quase me matou.
— Eu não tive outra escolha. Você não entende isso?
— Sempre há uma escolha, Nate. Por que você não me pediu ajuda?
— Como? Zell tinha o olho em mim. Ele podia ver tudo o que via. Ele estava observando todos os meus movimentos. Ouvindo todas as conversas.
— Você não é estúpido, Nate. Você poderia ter descoberto alguma coisa. Fechado os olhos e escrito uma nota para mim, ou algo assim.
— Vi...
Os ramos farfalham e nós dois olhamos para o lado. Ryn passa entre as folhas e entra na cavidade. Seus olhos vão entre Nate e eu, mas sua expressão não dá nenhuma dica sobre o que ele está pensando ou sentindo. Eu queria ter sua habilidade agora. — Bem, — ele diz, cruzando os braços sobre o peito enquanto ele caminha para o meu lado. — Olhe quem veio correndo de volta.
Os olhos de Nate se deslocam entre Ryn e eu. — O que ele está fazendo aqui?
Ryn desliza um braço em volta da minha cintura. — O que parece que eu estou fazendo aqui?
— Ryn! — Eu olho para ele e murmuro, — Você não está ajudando.
— Você está com ele agora? — Nate parece com nojo. — Como diabos isso aconteceu?
— Molhados em uma passagem secreta, — diz Ryn antes que eu possa responder. — Foi muito quente.
— Ryn!
— Então, essa é a parte em que você me avisa para ficar longe de sua namorada? — Nate zombou.
O sorriso arrogante de Ryn faz uma aparição. — Claro que não. Eu não insultaria Violet, sugerindo que ela não pode lidar com você sozinha.
Eu reviro os meus olhos e abaixo meu arco. — Ok. Isso é ótimo. — Eu abaixo minha voz. — Então, que tal você esperar atrás da árvore para que eu possa, sabe, lidar com as coisas sozinha? — Os olhos de Ryn encontram os meus, e eu posso dizer que ele está tentando descobrir se tudo está bem. — Eu vou ficar bem, — eu murmuro.
— Tudo bem, — ele diz. Ele se vira para Nate. — Até logo, garoto halfling. Espero que nunca nos encontremos de novo. — Ele desaparece em um portal no ar.
— Eu não acredito nisso, — murmura Nate, balançando a cabeça. — Eu finalmente consigo me afastar de Zell, e a primeira pessoa quem procuro - você - seguiu em frente como se eu nunca fosse parte de sua vida.
Eu deixo meu arco e flecha desaparecerem; nós dois sabemos que não vou usar, mesmo depois do que Nate fez comigo. — O que você acha que aconteceria, Nate? Que eu voltaria correndo para os seus braços?
— Eu não sei, Vi. Mas eu certamente não esperava voltar e me encontrar preso em um triângulo amoroso.
— Não há triângulo amoroso, Nate. Um triângulo amoroso implicaria que você realmente tinha uma chance comigo, o que você não tem.
Nate dá um passo abalado para trás, como se eu o tivesse golpeado. Ouch. Essas palavras saíram mais severas do que eu pretendia.
— Mas você me amou, Vi, — ele diz calmamente. — Eu sei que amou.
Eu balanço a minha cabeça. — Não. Eu não amei, e eu não vou.
— Você amou. Você ficou com medo de dizer, mas eu conheço você...
— Eu não amei. Talvez eu pudesse ter amado se você tivesse me dado chance, mas você não deu. — Eu respiro fundo. — Eu me preocupava com você, e eu estava tão irritada e ferida que quase fiz algo estúpido com uma poção. Mas eu superei. Eu superei você.
Ele olha para mim por um longo tempo antes dele dizer, — Eu ainda te amo.
— Não minta para mim. E a Scarlett?
Ele fica pálido. — Scarlett?
— Eu vi vocês dois juntos no baile de máscaras de Zell.
— Você estava lá?
— Sim. Ryn e eu estávamos lá. E certamente não parecia que você estava sentindo minha falta quando Scarlett estava sussurrando em seu ouvido.
Ele olha para frente e balança a cabeça. — É complicado. Ela é uma siren, Vi...
— Ah, então você não teve escolha, certo? Assim como não teve escolha em me levar a uma armadilha naquela montanha? E não teve escolha em usar suas tempestades para violar os encantamentos protetores da Guilda para potencialmente prejudicar um monte de pessoas inocentes?
— Vi...
— Eu acho que você deveria ir, Nate. Tudo o que tínhamos acabou. Talvez você esteja falando a verdade sobre tudo, talvez não esteja. Mas eu não sei, e nunca mais poderei confiar em você. Você precisa continuar com a sua vida, e eu preciso continuar com a minha. Pegue seus pais e fuja, se você precisar, mas não me envolva. — Eu cruzo meus braços e engulo. — Eu nunca quero voltar a vê-lo.
PARTE IV
Capítulo 29
O apartamento na cobertura do edifício mais alto em que eu estou tem vidro do chão ao teto em cada sala, permitindo que as luzes da cidade cintilem através. Elas iluminam o interior do apartamento, tornando mais fácil ver onde vou. Eu deslizo por uma escada construída a partir de finos pedaços de madeira preta inseridas na parede em um lado. Eu acho que a escada deveria ser artística e minimalista, mas eu me pergunto quantas pessoas já tropeçaram nela. Eu chego ao final e examino a sala aberta exibindo pinturas em parede e esculturas em pedestais. Uma estante de madeira com pedaços de madeira plana anexada a ela como galhos em uma árvore captura meus olhos, assim como uma sala de estar de forma estranha que provavelmente também é considerada arte.
Ninguém está aqui.
O proprietário do apartamento — atualmente adormecido em um dos quartos enorme - é um colecionador de arte, e parece que um certo ladrão de faeries tem gostado dos itens exibidos aqui. Na semana passada, ele roubou uma pintura valiosa, e passamos os últimos quatro dias descobrindo quem ele é e quando tentará fazer o seu próximo assalto. Queremos pegá-lo no ato.
Eu sinalizo para Jay, um dos três membros da minha equipe, para me seguir pelas escadas. Asami, meu outro companheiro de equipe, já está posicionado na varanda que se estende ao longo de um lado do exterior do apartamento, caso nosso ladrão de fadas planeje entrar dessa maneira. — Esconda-se sob aquele sofá estranho, — eu sussurro para Jay enquanto eu aponto para a mobília que parece um tigre gigante tentando abraçar algo. — Eu estarei atrás da escultura da coisa mulher-fera-de-pedra.
— Escolha interessante, — diz ele, olhando a escultura bizarra. Jay é um graduado de outra Guilda que decidiu que queria começar sua vida profissional em um novo lugar e acabou em Creepy Hollow. Ele é bom o suficiente, mas eu preferiria ter Ryn no meu time. Não só porque eu sou a líder da equipe e eu poderia mandar nele, mas porque, bem, eu quero estar perto dele o tempo todo. Tora assumiu a responsabilidade de mencionar ao Conselho que Ryn e eu estamos em um relacionamento - algo que ainda não a perdoei - e o Conselho decidiu que seria melhor se não trabalhássemos juntos. Levou um monte de contenção para eu não apontar que existem várias equipes com marido e mulher na nossa Guilda, e ninguém parece ter um problema com isso.
Jay escorrega debaixo do sofá, e eu me agacho atrás da coisa mulher-fera-de-pedra. Uma pequena placa de metal anexada à base me diz que se chama The Revelation of Eve. Hmm.
E então esperamos.
É um pouco chato.
Desde o mês que aceitei o cargo na Guilda, esta é apenas a terceira tarefa na qual eu participo. Parece um número patético para mim, considerando que eu costumava ter uma nova tarefa quase todas as noites quando ainda estava treinando. Mas essas tarefas são muito mais detalhadas, eu admito - e eu era uma aprendiz de sucesso excessivo.
A pulseira que eu agora uso no lugar da minha pulseora rastreadora se aperta. Olho das duas pedras encaixadas no couro – azul para Asami, verde para Jay – e vejo o azul piscando lentamente. Eu olho em volta da escultura e olho para a varanda onde eu sei que Asami está se escondendo. Puxo a minha cabeça de volta imediatamente. A figura que eu vi espiando através da janela definitivamente não era Asami. Pressiono a pedra azul para que ele saiba que recebi seu alerta.
Eu olho através de uma fenda entre a escultura, o braço-da-mulher e a cauda-da-fera. A figura na janela desapareceu. Um momento depois, ele sai de um caminho das fadas na parede ao lado de uma pintura de cores bagunçadas e misturadas. Ele se dirige diretamente para uma caixa de vidro com um ovo decorado descansando sobre uma almofada.
Com dois dedos, pressiono ambas as pedras na minha pulseira três vezes em rápida sucessão. Jay e Asami sabem exatamente o que isso significa: vamos pegar esse cara.
***
Não é difícil. Somos três e ele é apenas um, e mesmo que ele tenha dado um golpe elaborado com uma corda que ele acrescentou magicamente do teto, demora apenas alguns minutos antes de tê-lo atado e amordaçado e pronto para ser levado para a Guilda. Sequer disparamos algum alarme no processo. Jay e Asami o levam de volta através dos caminhos das fadas, enquanto eu fico para trás para devolver cada item ao seu lugar na sala para que o dono nunca saiba que alguém esteve aqui.
Eu retiro a corda do teto e a enrolo em meu braço. Alguns livros foram derrubados da estante de livros em forma de árvore, então eu os encaixo em qualquer lugar em que eu vejo espaço. A planta no vaso na prateleira mais alta parece ter soltado algumas folhas. Eu espalho meus dedos, e as folhas flutuam para cima em direção às minhas mãos abertas. Pego as folhas e as coloco no meu bolso.
Estou prestes a abrir um portal para os caminhos das fadas quando percebo um pedaço de papel rasgado, deitado no pé do vidro que separa a varanda da sala. Não consigo lembrar se o papel estava no chão quando chegamos aqui, mas parece mais provável que seja um lixo do bolso do ladrão do que algo deixado pelo dono deste lugar. Ele é claramente obsessivo por limpeza. Eu me inclino para pegar o papel e o viro enquanto eu me endireito. Meu coração salta quando vejo a caligrafia que reconheço.
Zell.
Gostaria de não reconhecer a letra do Príncipe Unseelie, mas eu tenho uma imagem marcada com bastante firmeza na minha mente da parede no calabouço circular coberta de centenas de nomes escritos à mão. Certamente nunca esquecerei a forma das letras que formavam meu próprio nome, e então eu sei que a mesma mão escreveu as duas frases que vejo no papel rasgado na minha mão.
Roubando com sucesso, você terá me provado que você pode ser confiável no grande dia. E o grande dia está chegando em breve.
O grande dia? E isso seria... O dia em que Zell tentaria conquistar a coroa Unseelie? O dia em que ele planeja invadir a Guilda? Droga, eu gostaria de ler o resto da nota.
Coloco dentro de um dos meus bolsos, abro uma entrada na parede e faça uma rápida viagem a Guilda. Dentro da entrada, eu puxo meus pulsos marcados para o guarda noturno de plantão, que rapidamente as examina com a stylus. Então vou direto ao escritório da Conselheira Starkweather. As chances são altas de ela estar aqui, dado suas tendências de vicio no trabalho.
Eu bato na porta dela. Um momento depois, ouço sua voz me pedir para entrar.
Explico nossa tarefa, mostro a nota e digo a ela por que eu acho que Zell escreveu isso. — Lembra quando Ryn e eu invadimos o calabouço de Zell para resgatar a irmã de Ryn, e eu trouxe algumas páginas de volta e entreguei a você?
— Sim, — ela diz devagar, cruzando os braços sobre o peito. Ela não ficou impressionada com o fato de termos invadido a casa de Zell. Ela nos disse que devíamos esquecer a coisa toda.
— Se você ainda possuir aquelas páginas, você pode compará-las com esta nota. Estou quase certa de que a caligrafia irá combinar.
— Eu definitivamente farei isso antes de interrogar o ladrão que deixou cair esta nota. — Ela se levanta e se dirige para a porta dela.
— Se for a caligrafia de Zell, — digo, seguindo-a, — posso questionar o ladrão?
Ela abre a porta e se movimenta para eu sair da frente dela. — Eu não acho que isso seria apropriado, Violet. — Aparentemente, eu não sou mais a Srta. Fairdale agora que já não estou mais em treinamento.
— Mas pegamos o ladrão. Essa foi a nossa tarefa. Por que não seria apropriado se eu o questionasse?
A porta se fecha logo atrás dela. — Porque tudo o que tem a ver com o Príncipe Unseelie faz parte de uma investigação maior na qual você não está envolvida.
Eu posso ouvir as palavras que ela não está dizendo: Essa investigação é muito importante e sou muito jovem e inexperiente para ser confiável. Quero lembrá-la de que quase certamente me encontrei cara a cara com Zell mais vezes do que qualquer outra pessoa nesta Guilda, mas sei que minhas palavras não farão nada de bom. Guardo a minha frustração. — Ok, — eu digo. — Compreendo.
Vou em direção a um corredor diferente e me afasto dela. Eu bato no meu bolso a procura do meu âmbar para que eu possa ver se tem uma mensagem da Ryn, mas parece que eu deixei em casa. Idiota. Eu estava ansiosa por uma mensagem dele o dia todo, esperando que hoje fosse o dia em que ele saberá quando pode voltar para casa.
Poucas semanas depois que Honey e Asami completaram com sucesso sua tarefa final no Egito, uma nova revolta começou. As criaturas do tipo pixie aladas que concordaram em viver pacificamente ao lado dos elfos bronzeados decidiram que realmente queriam as pirâmides. Grande bagunça. Então a Guilda enviou Ryn e sua nova equipe para lidar com a agitação da maneira mais pacífica possível.
Eles se foram há duas semanas.
Parece anos.
Eu sei que eles estão bem porque recebo mensagens ocasionais no âmbar de Ryn, mas eu sinto falta dele. Muita. Tanto quanto eu sentiria falta dos meus membros se eles de repente fossem cortados. Mais, na verdade. E eu não ouvi falar de meu pai desde o meu aniversário, então, basicamente, voltei a passar as noites nas tarefas ou em casa com Filigree - assim como fiz durante a maior parte do meu treinamento. A diferença agora é que eu não estou mais feliz com uma vida solitária.
Paro no corredor alinhado com fileiras e fileiras de estantes de correspondência. Agora que sou uma guardiã, tenho a minha própria estante. Adeus para o armário no andar de baixo perto do centro de treinamento. Eu passo pelas aberturas retangulares até chegar a minha. Há um papel dobrado dentro com o meu nome. Provavelmente outro memorando chato. Volto para o corredor, desdobrando o papel enquanto eu ando. Só demora algumas palavras para que meus pés parem.
VF,
Você não me conhece, Violet, mas você e eu temos algo em comum: ambos estamos tentando derrotar o Príncipe Unseelie Marzell. Eu vi você em seu baile de máscaras, e me levou até agora para descobrir dele quem você é. Daqui a cinco dias, Zell revelará aos seus seguidores mais próximos, o que inclui eu, seus planos exatos para quando e como invadir as Guildas. Daqui a cinco dias, eu lhe darei essa informação — se você quiser.
Você não tem motivos para confiar em mim, é claro, então deixe me dar uma razão. Ouvi Zell pedir ao seu mais recente seguidor, uma faerie com habilidades especiais do tipo piromaníaco, para lançar um inferno furioso na entrada da Guilda, situada no reino das fadas perto de Londres. Seu objetivo não é violar os encantamentos protetores, mas sim deixar os guardiões saberem que nenhuma Guilda está a salvo do seu alcance.
Amanhã à noite, você saberá que estou dizendo a verdade.
D.
Que merda é essa? Isso é uma piada? Eu olho para o corredor para ver se alguém está olhando ou rindo, mas estou sozinha. Eu olho de volta para a letra genérica. Deve ser uma piada; Ninguém da Corte Unseelie seria permitido entregar um recado a Guilda - ou por qualquer outro motivo, obviamente. Mas quem dentro da Guilda sabe que eu estava disfarçada no baile de máscara de Zell? Eu não disse a ninguém, mas acho que as pessoas envolvidas na investigação de Zell possam saber agora - e não sei quem são essas pessoas.
Talvez alguém esteja irritado que eu continue tentando entrar nessa investigação e eles estão tentando me colocar em problemas. Ou me fazer parecer estúpida. Assim... Não vou fazer nada sobre esse recado. Se for legítimo e realmente houver um incêndio amanhã à noite, não é como se alguém fosse se machucar. O fogo é para assustar as pessoas, certo?
Quando eu chego em casa, coloco a nota na gaveta ao lado da minha cama, ao lado da caixa que contém minha pulseira de fita e meu anel tokehari de meu pai. O colar de chave da minha mãe permanece em volta do meu pescoço o tempo todo, como os brincos de flecha nas minhas orelhas. Eu pego meu âmbar da minha mesa, e meu coração faz uma dança feliz quando vejo que há uma mensagem de Ryn.
Finalmente em casa. Queria te visitar, mas eu ouvi que você vai estar fora esta noite livrando o mundo de um ladrão perigoso. Te vejo amanhã, Sexy Pixie. Não esqueça de sonhar comigo.
De jeito nenhum. Não vou esperar até amanhã. Abro uma entrada e vou diretamente para a casa de Ryn, emoção vertiginosa fazendo meu coração bater rápido. Ele me concedeu acesso à sua casa para que eu pudesse me esgueirar do jeito que ele gosta de se esgueirar na minha. Não sei se ele contou a sua mãe; ela provavelmente não aprovaria.
Os caminhos das fadas me levam até o quarto dele, que está na escuridão, exceto pela galáxia encantada que flutua perto do teto acima de sua mesa - um presente de sétimo aniversário. Ele continua ameaçando se livrar disso porque, segundo ele, é infantil. Eu acho que é bonito.
Os laços das minhas botas desatam-se enquanto eu ando silenciosamente em direção a sua cama. Ele está encarando o outro lado, seu ombro subindo e caindo ao mesmo tempo que suas respirações constantes e silenciosas. Tiro minhas botas, subo na cama e me arrasto para debaixo da coberta. Estou prestes a me inclinar sobre ele e beijar seu pescoço quando ele diz, — Você acha que está se esgueirando sobre mim, Sexy Pixie?
Droga. — Sim, é exatamente o que eu acho.
Ele rola e me puxa para baixo dele. — Você terá que tentar mais do que isso. — Ele traz os lábios para encontrar os meus enquanto eu enrolo os meus braços ao redor do seu pescoço. Faíscas e formigamentos lampejam pela minha língua, meu rosto, meus braços. Ainda não sei se Ryn está fazendo isso de propósito, ou se acontece espontaneamente quando as pessoas com magia se beijam. De qualquer forma, Ryn nunca esteve mais certo do que quando me disse que eu estava perdendo.
— Você pegou o cara mau? — Ele sussurra no meu ouvido.
— Claro. Você... Consertou o Egito?
— Claro. — Um beijo na minha orelha. — Jay já deu em cima de você?
Coloco minhas mãos de cada lado do rosto de Ryn para que eu possa olhar para ele. — Não, mas é fofo que você esteja com ciúmes.
— Com ciúmes? Ha! Não me faça rir.
— Você é tão ciumento. — Eu o empurro para que eu possa deslizar por baixo das cobertas. — Mas está tudo bem. Já tive ciúmes antes. No palácio quando você estava flertando com Opal, ou seja, qual for o nome.
— Ah, sim, lembro disso. — Ele se senta contra o travesseiro e me puxa para o lado dele. — Seu ciúme realmente machucou meu peito.
— Bom. Estou feliz. — Parece que sua habilidade é útil para algo.
— Fala sério, eu estava sendo amigável com ela.
— Tudo bem, certo. Aposto que você estava tentando me deixar com ciúmes.
Ryn ri. — Eu acho que eu estava.
Eu soco sua coxa, e ele tem a decência de fingir que dói. — De qualquer forma, por que estamos sentados? Eu estava me sentindo confortável antes de ser abordada com o assunto do meu colega de equipe.
Ryn boceja, então diz, — Tenho algumas más notícias. Eu pensei que seria melhor se você não estivesse distraída enquanto eu lhe dissesse.
— Más notícias?
— Sim. — Ele esfrega os olhos. O pobre deve estar cansado após sua longa tarefa. — Eu estava na casa do meu pai esta noite. Acontece que o disco grifo dele foi roubado.
— O quê? — Eu sento ereta. — Como você sabe? Ele falou sobre isso?
— Não exatamente. Ele estava bastante agitado. Sabe, movendo as coisas e procurando em todos os lugares. Então eu perguntei o que ele estava procurando. Ele descreveu o disco para eu poder ajudá-lo a procurar, mas não me contou nada sobre isso.
— Caramba, — eu murmuro. — Isso é ruim. Ele sabe quando sumiu?
— Eu perguntei a ele. Ele não sabe. A última vez que o viu foi há alguns meses atrás.
Eu balanço a minha cabeça. — Sabe, eu pensei que a magia protetora que temos em nossas casas deveria manter pessoas indesejadas fora.
— Sim, eu também.
— Na época que Angelica estava roubando os discos, ela conseguiu entrar nas casas dos nossos pais porque eles eram seus amigos e já haviam concedido acesso a ela. Mas agora que Zell é que está roubando discos, como ele fez isso?
— Talvez ele saiba meios de contornar a proteção, — diz Ryn. — Deve haver maneiras de quebrar esses feitiços se você for poderoso o suficiente.
— Ou se você tem um amigo poderoso que gosta de invadir lugares.
— O garoto Halfling, — murmura Ryn. — Eu acho que ele pode ter roubado o disco antes de desertar de Zell há um mês. Você já ouviu algo dele desde então?
— Nada.
Nate deve ter me escutado quando eu sugeri que ele pegasse seus pais e fugisse. Fui a sua casa cerca de uma semana após o confronto na gargan, e nem ele nem seus pais estavam lá. Em vez disso, um homem que parecia extraordinariamente com o pai de Nate estava sentado na mesa da sala de jantar fazendo um telefonema. Na mesa ao lado dele, estava um jornal aberto com um artigo sobre uma família desaparecida. Havia três fotos: Nate, seu pai e sua madrasta.
Eu me arrependia de ter sido tão dura com ele, mas não podia mais confiar nele. Parte de sua história fazia sentido - os detalhes coincidem agora que eu penso sobre isso - mas ele poderia simplesmente inventar a história para se adequar aos detalhes. É melhor se Nate acabar de viver a vida em algum lugar distante. Ele pode até começar de novo em um novo lugar e fingir que ele é um humano normal.
Ryn enlaça seus dedos entre os meus. — Agora que eu compartilhei as más notícias, você gostaria de ouvir algo bom?
Depois de beijar as costas da sua mão, eu digo, — Definitivamente.
— Eu posso ter uma pista sobre sua caixa perdida.
— Sério? Do seu contato do Subterrâneo?
— Sim.
Com toda a emoção de descobrir que meu pai ainda está vivo, seguida por Ryn e eu ficando, e Nate aparecendo do nada, eu realmente consegui esquecer da caixa perdida de minha mãe por uma semana inteira depois que Zinnia me contou sobre isso.
Depois que Ryn me lembrou sobre a caixa, ele entrou no escritório do guardião que liderou a investigação sobre a morte de Reed e encontrou o arquivo relevante. Como não havia menção de uma caixa, voltamos para o local no chão da floresta, onde Reed caiu. Eu poderia dizer que era difícil para Ryn revisitar o lugar onde seu irmão morreu, mas ele parecia lidar com isso. Demos uma boa olhada ao redor, cavamos partes do chão para ver se a caixa podia ter sido enterrada ao longo do tempo. Eu até voltei mais tarde e caminhei ao longo do caminho para ver se Reed talvez soltou a caixa quando ele caiu e pousou em algum lugar além. Eu procurei cada fenda nos galhos circundantes, mas não encontrei nada. Não é surpreendente, na verdade. Será que honestamente espero que ainda esteja lá oito anos depois?
Então Ryn decidiu ir ao Subterrâneo e procurá-la da maneira que ele procurou pelo meu colar: Encontrando um rumor de uma história e seguindo.
— E o que este contato Subterrâneo lhe disse? — Pergunto.
— Ele conhece alguém que conhece alguém que vende, uh, redistribuí itens artesanais.
— Em outras palavras, itens roubados artesanais?
— Sim. E, aparentemente, ele vendeu uma caixa de madeira com o nome de Violet há vários anos atrás.
Eu me afundo de volta contra o travesseiro. — Vários anos atrás? A caixa poderia estar em qualquer lugar em todo o reino das fadas no momento.
— Ei, encontrei o seu colar, não é? — Seus dedos escovam a chave dourada descansando contra meu peito. — Eu vou encontrar sua caixa.
O sentimento de calor e segurança que Ryn sempre consegue trazer para mim atravessa o meu corpo. Olho nos olhos dele, e estou dominada pelo desejo de lhe dizer algo. Algo grande e assustador e que não é minha praia. Algo envolvendo uma palavra que começa com A.
Não. Não posso dizer isso. É muito cedo. Vou assustá-lo. Eu me assustarei.
— Posso falar com você sobre outra coisa? — Pergunta Ryn.
— Claro. — Enquanto você não estiver prestes a usar a assustadora palavra com A.
Ele franze a testa. — Você está bem? Eu sinto que você está enlouquecendo sobre alguma coisa.
— Não. — Minha voz sai como um guincho. — Apenas... estressada sobre a situação de Zell, eu acho.
Ele me dá um olhar engraçado que me diz que ele não acredita em mim, então eu me inclino para frente e aperto meus lábios contra o dele. Ele, obviamente, esquece o que ele quer dizer, porque suas mãos deslizam pela minha cintura enquanto o beijo se torna mais quente. Suas mãos deslizam minhas costas, abaixo da minha blusa. Pressiono meu corpo mais perto do dele.
— Espere, — ele diz contra meus lábios. — Espere, eu deveria estar lhe dizendo algo.
Relutantemente, eu me afasto dele. — É melhor ser bom.
— É sempre bom quando eu falo. — Ele acaricia minha bochecha enquanto eu reviro os meus olhos. — Ok, então, eu tenho uma teoria, — diz ele. — Uma teoria sobre por que alguns de nós tem habilidades mágicas extras e outros não.
Eu me aconchego mais perto dele. — Estou ouvindo.
— Você sabe como todos amavam o Reed? Quero dizer, as pessoas sempre dizem...
— que havia algo nele, — respondo. Eu ouvi tantas pessoas dizerem isso. Eu mesma disse isso.
— Sim. Havia algo nele. E não acho que fosse algo natural. Eu acho que era sua habilidade especial. Como o meu é sentir as emoções dos outros, o seu é encontrar pessoas, e o de Calla é fazer com que as pessoas vejam o que ela está imaginando, e o poder de Nate é sobre o tempo.
— Ok...
— E Zell não disse algo para você em seu calabouço sobre os discos grifo conectados a faeries com habilidades especiais?
— Sim, mas ele não explicou o que ele quis dizer.
— Bem, aqui está minha teoria: as pessoas que usam os discos grifo têm crianças com habilidades especiais.
Eu deixo suas palavras entrar.
— Pense nisso, — diz Ryn. — Seus pais tinham discos, meus pais tinham discos e a mãe de Nate tinha um disco. Meu pai é o único que ainda tinha um disco e olha para Calla. Ela também ficou especial.
Eu concordo. Isso poderia ser o que Zell estava se referindo. — Então, a razão pela qual há muitas faeries com habilidades especiais é porque os discos tiveram tantos proprietários ao longo dos séculos.
— Sim. E, como Zell tem procurado os discos por um tempo, ele provavelmente possui uma longa lista de pessoas que possuíram um disco em algum momento. Uma vez que descobriu que havia uma conexão, teria sido bastante fácil voltar e descobrir quem eram seus filhos.
— Sim, e depois raptá-los. — Inclino minha cabeça para trás e olho para a galáxia. — Então é como se tivéssemos um pouco do poder de Tharros em nós. Isso é estranho, não é?
Ryn assente. — É estranho pensar nisso assim. — Ele olha para mim. — Mas não enlouqueça por causa da magia dele nos fazendo mal porque eu não acredito nisso. Estamos no lado bom, V. Não importa o tipo de magia com a qual nascemos.
Capítulo 30
Tora se inclina para frente e apoia os cotovelos na mesa e o queixo em suas mãos. — E enquanto eu entrava, centenas de borboletas saíram da mesa e flutuaram, deixando o arranjo de flores mais incrível no meio da mesa.
Eu fecho as minhas mãos juntas sob meu queixo. — Isso é tão romântico, Tora. — Não tão romântico quanto um passeio de tapete mágico e um zilhão de insetos brilhantes, mas nem todos os homens conseguem fazer algo épico.
— E a comida estava gloriosa. — Tora joga a cabeça para trás e se encosta contra o armário atrás de sua mesa. — Ele com certeza sabe cozinhar.
— Graças a Deus por isso. — Eu penso na habilidade de cozinhar abismal de Tora. Você pensaria que, como alguém com magia, ela poderia fazer um trabalho medíocre, pelo menos, mas não. — Ele parece perfeito para você. Você acha que ele vai pedir-lhe para ter uma união com ele?
As bochechas de Tora ficam coradas. — Hum, eu não tenho ideia. — Ela se senta e começa a mover as coisas em sua mesa, coisas que provavelmente não precisam ser movidas. — Quero dizer, não nos conhecemos há muito tempo, e as uniões são um grande problema entre os nossos. Eu teria que pensar muito sobre isso porque nenhuma união deveria ser quebrada levemente.
Não deveria. Na verdade, as uniões raramente são quebradas. É por isso que foi um escândalo quando o pai de Ryn partiu e formou uma nova união com outra pessoa. As pessoas não disseram muito, é claro, porque todos sabiam sobre a morte trágica de Reed e o quão difícil era para sua família, mas você podia ver em suas expressões sempre que a família de Ryn era mencionada.
— Ok, mas se Oliver lhe pedir agora, o que você diria?
Tora abre a boca, mas é salva de responder por uma batida apressada em sua porta. — Entre, — ela fala.
Um anão se aproxima com uma pilha de páginas do tamanho de sua mão. — Memorando urgente para todos os guardiões, — diz ele. Ele entrega uma para Tora e outra para mim. Ao sair, vejo outro anão passando correndo pelo corredor na direção oposta.
— Oh, não! — Tora coloca uma mão na boca enquanto seus olhos examinam a nota. — Isso deve ter acontecido depois que eu saí na noite passada.
Olho para o pequeno pedaço de papel de pergaminho na minha mão.
Um fogo encantado foi lançado por faeries cobertos de preto fora da Guilda de Londres na noite passada. Enquanto a entrada interna conectada aos caminhos das fadas permaneceu intacta, ninguém poderia entrar ou sair pela entrada exterior. Depois de várias tentativas mal sucedidas para apagar o fogo, ele desapareceu - aparentemente por conta própria. Os faeries cobertas de preto desapareceram. Nenhum membro da Guilda foi ferido.
Guardiões, estejam preparados. Este é o terceiro ataque em uma Guilda, e a segunda Guilda a ser atacada. Você nunca sabe quando poderá ser necessário com urgência.
Então a nota que recebi na minha caixa de correio era real.
Eu olho para cima. Tora está tocando no seu pequeno espelho circular. — Oliver! Está tudo bem aí?
— Você já ouviu falar sobre o fogo? — Diz uma voz masculina.
— Sim. Agora a pouco.
— Desculpe por não entrar em contato com você mais cedo. As coisas ficaram loucas nesta manhã, mas todos estão bem.
— Oh, graças a Deus.
Eu me levanto para sair. Seria grosseiro se eu continuasse e escutasse a conversa de Tora com Oliver. Além disso, eu sinto uma necessidade de verificar minha caixa de correio novamente porque algo me diz que vou encontrar outra nota misteriosa lá.
Dirijo-me ao corredor alinhado com as caixas de correio. Ao chegar ao meu, vejo uma nota dobrada com meu nome em um lado, escrita com a mesma letra da stylus de antes. Com meu coração bombeando mais rápido do que o normal, eu desdobro o papel.
VF,
Agora que você sabe que posso ser confiável, é sua vez de provar que você pode ser confiável. Não arrisquei minha vida para dar essa informação a alguém com muito medo de se assumir e consegui-la de mim. Se você puder ir ao Diviniti, um clube Subterrâneo, e pegar algo do homem com os chifres de carneiro, então vou saber que você é corajosa o suficiente para esta tarefa.
D.
Imagino um grande ponto de interrogação sobre minha cabeça. Diviniti? Um homem com chifres de carneiro? Isso está ficando estranho. Eu deveria jogar fora essa nota ou dar a alguém como a Conselheira Starkweather. O que eu não devo fazer é seguir as instruções que D me deu na esperança de que eu acabe recebendo informações importantes dele ou dela. Informações importantes que eu posso usar para mostrar a Conselheira Starkweather o quão errado ela foi ao me excluir da investigação de Zell.
Eu não deveria fazer isso. Eu realmente, realmente não deveria. Eu quase posso ouvir a lógica cantando para mim, não faça isso, Vi, não faça isso.
Ugh, mas eu quero tanto provar a mim mesma. E de que serve levar essa nota a outra pessoa na Guilda? Este tal D só quer se comunicar comigo. Eu sou a única que precisa conseguir a informação que poderia salvar todos.
Coloco a nota no meu bolso enquanto volto pelo corredor. Pelo menos vou tentar encontrar Diviniti e o homem com os chifres de carneiro. Então eu vou decidir o que fazer depois disso.
***
Ryn está preso em seu novo cubículo na Guilda, escrevendo um relatório de um quilometro sobre a sua tarefa no Egito, então eu não o incomodo com perguntas sobre como chegar ao Diviniti. Pelo menos, é o que eu digo a mim mesma enquanto vasculho minhas roupas em casa e tento transformá-las em algo colorido e estranho. Eu sei que no fundo a minha verdadeira razão para esconder isso de Ryn é que ele não vai aprovar que eu vá sozinha para seguir essa pista. Ele ainda não superou ter quebrados as regras no passado - como quando resgatamos a Calla - mas algo me diz que ele vai dizer que eu deveria envolver a Guilda nessa.
E não quero isso. Eu quero fazer isso sozinha.
Eu consigo trocar minhas botas pretas para uma cor verde ácida, e minha blusa preta para algo que parece uma pintura que uma criança vomitou. Então eu tento transformar um shorts curto e preto em uma saia curta e preta. Um pouco mais desafiador do que apenas mudar a cor, mas eu consegui. Estou melhorando nessa coisa de roupa.
Meu cabelo precisa de ajuda agora. Peço ao Filigree que se transforme na forma de um grande pássaro, o que ele faz obedientemente. Ele abaixa até o chão do meu quarto, coberto de penas. Pego algumas, altero a cor e as coloco no meu cabelo. Por fim, eu adiciono minha jaqueta à roupa. Não preciso que alguém veja as marcas dos guardiões em meus pulsos.
Certo. Agora eu pareço estranha o suficiente para uma festa no Subterrâneo.
Como não tenho ideia de onde Diviniti fica, terei que começar pelo único clube Subterrâneo que conheço: Poisyn. Encontrei meu caminho lá acidentalmente depois de fugir do labirinto de Angelica. Se eu puder imaginar com precisão na minha mente, eu posso ser capaz de voltar lá através dos caminhos das fadas.
A escuridão me rodeia enquanto atravesso a porta na parede e encaro a sala Subterrâneo com as luzes coloridas e a massa de corpos se retorcendo ao mesmo tempo que a música. Quando uma batida lenta e sedutora atinge meus ouvidos, eu sei que cheguei. Abro meus olhos e estou bem no meio. Os corpos se balançam e giram, os braços no ar, as cabeças jogadas para trás. Algumas faeries estão entrelaçadas umas nas outras. Outras derramam bebidas coloridas em suas gargantas - e sobre seus peitos e cabeças - enquanto dançam.
Eu tento parecer que estou totalmente confortável aqui enquanto atravesso corpos suados em direção a borda da sala. Difícil, quando tudo que eu quero fazer é tremer cada vez que alguém se esfrega contra mim. Eu fico na ponta dos pés, procuro o bar, e faço meu caminho em direção a ele. Eu tento balançar meus quadris enquanto ando, copiando as outras garotas que vejo. Parece estúpido.
Inclino meus cotovelos no balcão verde luminoso da bar e olho ao redor. Ok, agora eu preciso encontrar alguém para quem eu possa perguntar...
— Ei, eu conheço você? — Um cara com cabeça calva e olhos que parecem não ter íris se inclina no bar ao meu lado. Suas mãos estão cobertas de pêlo, e suas unhas são afiadas como garras.
— Hum, eu acho que não.
— Oh, desculpe. Devo ter te conhecido nos meus sonhos. — Ele me dá um sorriso cafona, mostrando seus dentes pontudos.
Uau. Isso é seduzir? Se assim for, fico feliz por ter evitado bares e clubes até agora. Mesmo que eu não queira mais nada do que sair imediatamente, pressiono o desejo de engasgar e pisco meus cílios para ele.
— Então, você quer dançar? — Ele dá um passo para mais perto de mim.
— Claro, se pudermos ir para outro lugar.
— Outro lugar? — Seus olhos se acendem, e tenho certeza de que ele viu muito mais nas minhas palavras do que eu pretendia.
— Sim, meu amigo me contou sobre esse lugar chamado Diviniti. Você conhece?
— Oh, sim. — Ele parece um pouco desapontado, provavelmente porque o 'outro lugar' não acabou por ser mais privativo. — Eu posso levá-la lá, se quiser.
— Oh, você pode? — Eu permito que o prazer se espalhe pelo meu rosto. — Muito obrigada!
Saímos do Poisyn e vamos por um túnel. É largo e alto, com portas aqui e ali e todo tipo de criaturas Fae vagando por alí. Nós viramos em um canto e passamos por um troll puxando um carrinho de anões atrás dele. Este lugar é mais como uma rede de ruas do que túneis. Chegamos a uma encruzilhada e vamos direto. Em seguida, outra e mais outra. Estou feliz por poder sair daqui através dos caminhos das fadas porque não tenho certeza se eu saberia como voltar para Poisyn.
O zumbido distante da música chega aos meus ouvidos. — Estamos quase lá, — diz meu companheiro calvo. Nós mal falamos uma palavra um para o outro. Ele é, obviamente, um conversador como eu. — Então, é isso. — Ele gesticula para uma arcada com fumaça branca vagueando por debaixo dela. Enquanto avançamos, ele coloca um braço ao redor dos meus ombros. Sua mão desliza para baixo e aperta minha bunda.
Pego a mão ofensiva, o giro e o coloco contra a parede. Eu torço o braço dele atrás das costas dele. — Tente isso novamente, e eu quebro sua mão.
— Tudo bem, — ele sussurra, seu rosto praticamente beijando a parede. — Uau. Isso foi quente. Você pode fazer de novo?
Sério? Solto o seu braço e me afasto. — Você sabe de uma coisa? Eu acho que isso não vai funcionar. Você deve voltar para Poisyn. Aquela garota atrás do bar parecia estar afim de você.
— Sério?
— Sim. — Na verdade, ela parecia que queria arranhar os olhos de alguém que ousasse pedir uma bebida, mas talvez fosse só porque ela tinha um olhar distintamente felino.
— Incrível. — O cara calvo gira o ombro algumas vezes antes de voltar para o túnel.
Caminho abaixo do arco e entro no Diviniti. Deve haver algum tipo de barreira invisível na entrada porque as pontas dos meus dedos formigam por um momento e a música de repente fica mais alta. A fumaça limpa o suficiente para eu dar uma olhada na sala. É muito mais escuro do que a Poisyn, e há muito menos dança acontecendo. Há sofás aqui e ali com Fae jogados neles, bebendo, fumando... e outras coisas que fazem meu rosto esquentar. Enquanto ando em direção ao bar, posso dizer que estou sendo observada. Pela primeira vez nesta noite, me sinto um pouco insegura.
Uma faerie com um metal circular através do nariz chega até mim antes de eu chegar ao bar. — Eu não vi você por aqui antes, — ele diz, seu tom sugerindo que suas palavras são um aviso de outro flerte.
Eu decido falar a verdade. — Eu fui enviada aqui para procurar alguém. Um homem com chifres de carneiros.
Um lado da sua boca vira. Ele alcança a bainha de sua camiseta e a tira sobre sua cabeça, revelando um conjunto impressionante de abdômen. Não tão impressionante quanto o abdômen de Ryn, mas, então, provavelmente estou sendo tendenciosa. Estou prestes a perguntar a esse cara por que ele está se despindo, quando ele se vira e me mostra as costas dele. Tatuado na metade superior está um par de grandes chifres enrolados de carneiro.
Ele coloca a camisa e diz, — Então, quem é você?
— Hum, meu nome é Violet.
— Violet. — Os cantos de seus lábios se levantam tão ligeiramente conforme seu olhar se move ao longo do meu corpo. — Estive esperando por você. Espere aqui. — Ele vai para trás do bar e desaparece através de um portal.
Coloco minhas mãos nos bolsos da jaqueta e tento não fazer contato visual com ninguém. Quando o cara retorna, ele me entrega algo pequeno embrulhado em papel marrom. É duro. — Hum, a pessoa que te deu isso, — digo. — Foi um homem ou uma mulher?
Ele me dá um olhar curioso. — Uma mulher.
— Ótimo. Obrigada. — Vou embora antes que ele possa fazer perguntas — e me encontro batendo em uma parede de carne. — Oh, desculpe-me, — digo ao virar. O homem gigante atrás de mim deve ser meio troll porque ele é enorme, e realmente feio.
— Indo embora tão cedo? — Ele pergunta. Sua voz é tão profunda que quase posso senti-lo rugir. — Você deve ficar um pouco. — Ele ergue a mão lentamente em direção ao meu rosto. — Nos conhecer um pouco melhor.
Eu me abaixo sob seu braço, pulo na almofada do sofá mais próximo, pulo para trás dele e pouso ao lado da parede. Eu apressadamente escrevo um portal e entro, deixando a música, a fumaça e a risada trêmula atrás de mim.
Entro no meu quarto e olho para o pacote nas minhas mãos. Na verdade, não foi tão difícil de recuperar. Se isso é tudo o que é preciso para provar minha bravura para essa mulher misteriosa, então ela obviamente não tem ideia do tipo de situações assustadoras com as quais me envolvi no passado. Esta foi uma tarefa de terceiro ano em comparação.
Sento na borda da minha cama e desembrulho o papel marrom. Dentro, encontro dois pedaços retangulares de vidro transparente, do mesmo tamanho que meu âmbar. Ótimo. Não tenho ideia do que devo fazer com eles. Coloco-os na minha mesa de cabeceira e começo a puxar as penas para fora do meu cabelo, que agora cheira a fumaça.
Dou um passo em direção ao meu banheiro, mas paro quando ouço um som zumbido na minha mesa de cabeceira. Um dos pedaços de vidro está vibrando, movendo-se lentamente em direção à borda da mesa. Eu corro e o pego antes que ele caia. Duas palavras cinzentas escuras me encaram da superfície do vidro.
Olá, Violet.
Eu pego minha stylus e sento na beira da cama. É a D? Eu escrevo.
Sim. Bem, você conseguiu chegar no Diviniti.
Esse vidro funciona como âmbar?
Sim. Nova tecnologia. Os fabricantes os chamam de vidro-comunicador.
Por que você me deu dois?
No caso de você quebrar um.
Justo. Suponho que isso aconteça quando você faz dispositivos de comunicação de vidro. Então, o que acontece agora?
Você me ouvirá dentro de três dias assim que eu souber quando e como Zell planeja fazer seu ataque às Guildas. Boa noite.
Boa noite? É isso? Depois de alguns minutos, é claro que quem estiver no outro extremo deste vidro comunicador não planeja enviar mais mensagens.
Eu mergulho na minha piscina de banho por um tempo, deixando a cachoeira lavar a fumaça do meu cabelo. Quando eu saio, encontro uma mensagem de Ryn no meu âmbar.
Sinto falta da minha Sexy Pixie. Mamãe te ouviu no meu quarto ontem à noite. Ela agora está usando palavras como ‘inapropriado sob meu telhado’ e ‘por favor, deixe sua porta aberta’. Então... me encontre na árvore gargan?
Com um sorriso, me arrumo e saio.
***
— Você está escondendo algo de mim, — diz Ryn. Na maioria das vezes, sua habilidade funciona muito bem para nós, eu nunca tenho que realmente dizer a ele o que estou sentindo, e está tudo bem para mim, mas agora é uma merda que ele pode me descobrir com tanta facilidade. — Seu humor está diferente e você definitivamente ficou nervosa quando perguntei como foi sua noite.
Ok, hora de jogar limpo. Posso manter um segredo de Ryn, mas definitivamente não posso mentir para ele. Especialmente não quando estou sentada em seu colo e ele não me deixa olhar para nenhum lugar, exceto em seus olhos. — Você está certo. Estive escondendo algo de você. — Coloco minhas mãos nos seus ombros. — Mas só porque eu sei que você ficaria todo protetor e se preocuparia com minha segurança e tentaria me impedir.
Ryn arqueia as sobrancelhas. — Se você tentou me tranquilizar, você fez um trabalho terrível.
— Não é extremamente perigoso. É apenas algo que eu quero fazer sozinha para que eu possa me provar a Conselheira Starkweather.
— E o que é esse ‘algo’?
Deslizo meus dedos pelos seus braços e pego suas mãos na minha. — Alguém na Corte Unseelie entrou em contato comigo para dizer que ela quer me contar todos os planos de Zell sobre seu ataque iminente às Guildas. Ela me viu no baile de máscaras, e obviamente, pensou que eu seria uma boa pessoa para transmitir a informação.
A expressão de Ryn torna-se cautelosa. — V, isso parece uma armadilha. Zell ainda te quer, lembra?
— Olha, essa pessoa já me deu informações que se tornaram verdadeiras. Ela me disse que haveria um incêndio na Guilda de Londres. Eu pensei que era uma piada, então ignorei isso. Então o fogo realmente aconteceu.
— E? Ainda poderia ser alguém tentando enganá-la para você se entregar.
— Eu sei. O pensamento me ocorreu. Mas eu terei cuidado. Não a encontrarei em nenhum lugar isolado. E se as coisas derem errado, bem, eu sou uma guardiã. Eu não ficarei impotente.
Depois de uma longa pausa, Ryn diz, — Se for encontrá-la, eu quero ir com você.
— Não tenho certeza de que seja uma boa ideia. Ela pode não me dar qualquer informação se vir que eu não estou sozinha. Ela provavelmente não quer que ninguém saiba quem é ela, caso Zell fique sabendo.
— Ela não precisa saber que estou lá.
— Ryn... — Inclino minha cabeça para o lado e tento implorar com meus olhos.
— Me desculpe, V. — Ele balança a cabeça. — Se você tivesse alguma ideia do quanto significa para mim, você saberia que eu não poderia lidar com isso se algo acontecesse com você.
— E nada vai acontecer comigo. — Eu aperto suas mãos com as minhas. — Eu realmente aprecio que você queira cuidar de mim, mas você não precisa. Eu quero fazer isso sozinha. Você precisa confiar naquilo que posso fazer.
Ryn está quieto enquanto seus olhos procuram meu rosto. Ele sabe o quão teimosa eu sou, então ele deve saber que não vou ceder quanto a isso. Por outro lado, eu sei o quão teimoso ele pode ser, então é possível que entremos em uma grande briga aqui.
— Tudo bem, — ele diz eventualmente. Ele coloca as mãos em ambos os lados do meu rosto e se certifica de que estou olhando para ele. — Se você não vai me deixar ir com você, então você tem que me prometer outra coisa.
Eu estreito meus olhos. — Prometer o quê?
Suas mãos escorregam do meu rosto e se acomodam nos meus ombros. — Você usará o colar da eternidade.
— Espera, você ainda tem essa coisa? Eu pensei que você iria destruí-la.
— Eu tentei. Não quebra. Agora prometa.
— Jeez, não é como se alguém tentasse me matar, Ryn. Zell realmente me quer viva, lembra?
— Exatamente. E a última vez que Zell tentou capturá-la e você fez uma fuga desesperada, você foi jogada pelo lado de uma montanha e quase morreu. Então, me prometa que você vai usar o colar.
Ryn tem razão. Inclino-me para frente e o beijo gentilmente nos lábios. — Eu prometo, — eu sussurro em sua orelha antes de arrastar meus lábios pelo lado de seu pescoço.
Capítulo 31
Jay, Asami e eu recebemos nossa próxima tarefa na manhã seguinte. Um elfo entrou em um restaurante no Creepy Hollow Shoppers Clearing ontem à noite e atacou uma jovem faerie. Então ele correu para a floresta e desapareceu. Esta manhã, outro ataque foi relatado por alguém que saiu dos caminhos das fadas. Felizmente, seu namorado estava lá para salvá-la, mas o elfo escapou mais uma vez. Agora, é nosso trabalho rastreá-lo e garantir que ele nunca mais ataque ninguém.
Precisamos entrevistar testemunhas para tentar estabelecer quem é o elfo, por que ele quer atacar essas garotas e onde ele pode estar agora. Leva tempo, o que é bom, porque preciso de uma distração. Preciso de algo para me impedir de contar o tempo até que Zell talvez deva encontrar seus seguidores para compartilhar seus planos.
Ryn e eu passamos todas as noites na árvore do gargan, que é como eu acabei perdendo uma visita de papai. Eu quis me chutar quando cheguei em casa e vi seu recado sobre a minha cama. Ele pediu desculpas por não poder visitar mais cedo e disse que não tinha ideia quando ele teria a oportunidade de voltar. Algo grande está acontecendo, ele escreveu. Fique segura. Gostaria de poder falar com ele sobre D e que logo vou saber quando o grande confronto estará acontecendo. Certamente, ele pode parar de se esconder e nos ajudar a lutar?
No dia da reunião de Zell com seus seguidores, eu mantenho o vidro em meu bolso onde quer que eu vá. Eu só tenho que ter cuidado para não me sentar sobre ele. Durante todo o tempo que estou com Ryn na gargan, espero que o vidro vibre no meu bolso. Não vibra. Eu chego em casa e o olho por um tempo, mas ainda não vibra. Filigree em forma de esquilo me olha estranhamente do pé da cama, como se dissesse, Por que a luz ainda está acesa? Quando podemos dormir?
— Eu não vou dormir até ouvir algo de D, — eu digo a ele. — Você pode ir dormir em outro quarto onde está escuro, se quiser.
Com uma fungada irritada, ele salta no chão e corre para debaixo da cama.
— Ou você poderia dormir debaixo da cama, eu acho. — Eu continuo olhando para o vidro comunicador antes de meu pescoço começar a ficar dolorido. Eu me deito e coloco o vidro no travesseiro ao meu lado. Não dormirei, não dormirei, não dormirei.
A próxima coisa que sei, estou deitada de costas, a luz cinzenta do amanhecer espreita através da claraboia encantada, e há um zumbido frenético ao lado da minha orelha. Levanto assustada e aperto o vidro comunicador com força, piscando para afastar o sono.
Eu sei tudo. Venha para o Rose Hall.
Eu alcanço a minha stylus na mesa de cabeceira. Indo agora.
Coloco minhas botas, coloco minha stylus em uma delas, jogo o colar da eternidade sobre minha cabeça, e corro para os caminhos das fadas. Rose Hall está situado em uma extremidade do Creepy Hollow Shoppers Clearing. Um mercado é mantido lá dentro uma vez por semana, e o salão também é usado para grandes funções às vezes, como festas. Caso contrário, fica vazio.
Eu ando pelo caminho vazio que corre entre a frente das lojas. Rose Hall é construído dentro da forte árvore widdern no final da pista. Não há nenhuma entrada esculpida no tronco como algumas lojas aqui, mas as palavras Rose Hall estão escritas em um sinal martelado no chão ao lado.
Será que vou poder abrir uma entrada no salão? Nunca tentei antes, então não sei se tem a mesma magia protetora que há em nossas casas. Não vejo por que deveria, já que não há muita coisa dentro para roubar. Seguro minha stylus contra o tronco da árvore e hesito. Eu olho em volta, lembrando que eu disse a Ryn que eu não encontraria D em um lugar isolado. Oops. Eu estava com tanta pressa que eu não pensei nisso até agora.
Isso é uma armadilha? Uma emboscada? Rose Hall está cheia de Faeries Unseelie esperando para me atacar e me capturar? Talvez os recados e o vidro comunicador fossem do próprio Zell. Talvez isso tudo seja apenas sua maneira elaborada de me fazer vir de bom grado para ele.
Eu fecho meus olhos e respiro fundo. Armadilha ou não, não posso voltar agora. Preciso saber o que está dentro deste salão. Então eu paro um momento para reunir energia suficiente no meu núcleo para atordoar uma faerie ou duas. Seguro a bola de poder em uma mão enquanto escrevo um portal na árvore com a outra.
Funciona.
Uma parte da árvore derrete. Eu dou alguns passos cuidadosos para a sala escura. A única luz aqui é a luz pálida do alvorecer que filtra através de uma janela de vitrais encantados na extremidade do corredor. Eu pego minha stylus e crio um orbita de luz. Eu a envio para o teto onde ilumina um salão vazio.
Não há ninguém aqui.
Era uma piada, afinal? Não, não pode ser. Como D saberia sobre o incêndio se ela não fizesse parte do círculo intimo de Zell? Eu me viro lentamente no local. Não há nada aqui, exceto por algumas folhas dispersas e... O que é isso? Meus olhos caem sobre uma forma cilíndrica no chão, no canto mais distante do salão. Eu ando em direção a ele, certificando-me de ficar constantemente alerta por quaisquer movimentos ou sons.
Eu chego ao canto do salão e me inclino para pegar o objeto. É um pergaminho. Um pequeno pico de adrenalina dispara através das minhas veias. Deve ser isso. Por que mais, um pergaminho deveria estar aqui se não fosse para eu pegar? Eu absorvo a bola de poder de volta através da minha mão, depois puxo a corda do pergaminho e desenrolo as páginas com a pressa.
Sim! É isso!
Menciona todas as Guildas, bem como as Corte Seelie e Unseelie. Uau, Zell vai tentar assumir tudo em uma noite? Ele tem um exército suficientemente grande? Examino as páginas rapidamente - detalhes, detalhes, detalhes - procurando a informação mais importante. Quando isso vai acontecer? Finalmente, eu acho, e o gelo se congela no meu sangue quando vejo o número.
Três dias.
Em três dias, todo o mundo vai entrar em erupção.
***
Eu atravesso o saguão da Guilda — os encantamentos de proteção no teto abobado? Tudo certo — e subo as escadas. Mais alto e mais alto até chegar ao andar dos membros do Conselho. Eu voo pelos corredores para o escritório da Conselheira Starkweather. Eu derrapo em uma parada na frente de sua porta e bato meus dedos contra ela. Nenhuma resposta. Eu tento de novo. Ainda sem resposta. Ela não está aqui. E, claro, ela não está, eu percebo, porque, apesar de ser uma viciada em trabalho, são cinco horas da manhã.
Com um gemido frustrado, ando pela passagem. Isso é simplesmente fantástico. Eu finalmente tenho o meu momento de provar a Conselheira Starkweather o quão útil posso ser, e ela nem está por perto. E não posso esperar até ela chegar aqui porque preciso mostrar isso a alguém agora. É além de urgente.
Eu me pergunto se há alguma chance de Tora estar aqui tão cedo. Ela saberá a quem devo dar essa informação. Coro de volta pelas escadas e me apresso pelo seu corredor. Estou prestes a bater em sua porta quando vejo alguém ainda melhor. — Bran! — Eu corro até ele. — Você faz parte do time que está investigando Zell, certo?
Com um suspiro, ele diz, — Você sabe que sim, Vi. Você já me interrogou e eu disse que não posso lhe dar detalhes.
Bran olha a primeira página com uma careta no rosto antes de olhar para mim. — Isso é uma piada?
— Foi o que eu pensei quando recebi o primeiro recado dela, mas não é. Ela me disse que haveria um incêndio na Guilda de Londres, e houve. Então ela me enviou este tipo de vidro para que ela pudesse entrar em contato comigo quando ela tivesse todas as informações. — Eu retiro o vidro comunicador do meu bolso e mostro para ele.
Ele o tira de mim. — Eu nunca vi um desses antes, — ele murmura, virando-o várias vezes. — Ela entrou em contato antes da Guilda de Londres pegar fogo?
— Sim. No dia anterior.
— E você não contou a ninguém sobre isso até agora?
— Bem, não.
— Violet! Por que não?
— Eu sinto muito. Eu sei que é infantil, mas fiquei tão louca que a Conselheira Starkweather se recusou a me envolver na investigação de Zell. Eu queria provar que minha contribuição poderia ser valiosa e que ela estava errada por não me incluir, então...
— Olhe, Vi, como alguém que lidou diretamente com Zell, sua contribuição é valiosa, mas você tem que ver que uma investigação complexa e perigosa como essa é mais adequada para os guardiões com décadas, séculos de experiência. Você ainda não está lá. Foi inteiramente inapropriado você guardar essa informação para você. Você deveria saber disso.
Merda. Eu não estou acostumada a desapontar meus superiores.
— Me desculpe. — Eu derrubo minha cabeça. — Mas, — continuo com cuidado, — o que você teria feito de forma diferente se eu tivesse contado sobre isso? Essa mulher queria dar essa informação apenas para mim.
— Nós teríamos seguido você para garantir que você estivesse segura e que não era um tipo de emboscada, ou que alguém não colocou um rastreador de algum tipo quando você não estava olhando.
— Mas... Na verdade, na verdade não conheci realmente nenhuma pessoa.
— Esse não é o ponto, Vi! — Ele aperta os papéis na mão. — O ponto é que você deveria ter nos contado sobre isso mais cedo.
— Ok, sinto muito. Desculpe. — Eu realmente sinto. — Mas isso estará acontecendo em três dias, Bran. Precisamos fazer algo. Você não precisa ter uma reunião com todos os outros membros do Conselho, tipo, imediatamente? Não precisamos planejar para que estejamos pronto para isso?
— Sim, — ele murmura, passa os olhos uma vez mais sobre as páginas enquanto atravessa o corredor. Ele para. — Por que nossos Videntes não viram isso?
Hmm. Bom ponto. — Eu não sei. Talvez eles comecem a vislumbrar isso agora que o plano final está no lugar.
A expressão de Bran torna-se duvidosa enquanto olha as páginas em sua mão. — Não tenho certeza de que possamos confiar nessas informações. Pode ser que alguém esteja tentando nos enganar.
— Eu acho que poderia ser. Mas e se não for? Não podemos não fazer alguma coisa sobre isso.
Bran aperta os olhos e murmura algo que não consigo ouvir.
— Então você vai convocar uma reunião?
— Claro, — Bran retruca. Não consigo lembrar dele retrucando para alguém antes. Ele procura pelas páginas e levanta a última. — Três dias, — ele murmura. — Nós podemos estar preparados em três dias.
— Espere, faça isso de novo, — digo. Pego a página dele e a seguro na luz. O contorno da insígnia da Rainha Unseelie fica visível no centro da página.
— Bem, — diz Bran, — pelo menos sabemos que essas páginas realmente vieram de dentro do Palácio Unseelie.
O que, suponho, ainda não confirma se a informação é legítima.
— Eu preciso ir, — diz Bran. — Vou levar isso comigo. — Ele ergue o vidro antes de se afastar de mim em direção à escada. — E não conte a ninguém sobre isso, Vi. Eu não quero que o pânico se propague.
***
Eu me sento na gargan e espero por Ryn. Passei todo o dia tentando me concentrar na tarefa do elfo e, em sua maior parte, falhei miseravelmente. Tudo no que eu poderia pensar era o fato de que todos nós estaríamos lutando por nossas vidas dentro de alguns dias. Por um lado, é uma coisa boa, o confronto estar finalmente sobre nós, e podemos parar de nos perguntar se e quando o tapete será arrancado de baixo de nossos pés. Por outro lado, e se perdermos? É improvável agora que sabemos que está chegando, e nós somos guardiões, afinal. É para isso que somos treinados. Mas.. e se houver muitos deles e não tivermos poder suficiente?
Quando eu saí esta noite, membros do Conselho de todo o reino das fadas estavam chegando. Eles tentaram ser gentis, saudando um ao outro como se nada estivesse errado - provavelmente por causa dos guardiões confusos ao redor deles que ainda não sabem o que está acontecendo -, mas eu pude ver o desconforto por trás de seus sorrisos. Adair e os outros guardiões mais antigos pelos quais passei pelo meu caminho também pareciam sérios. Eles já devem ter sido informados.
Estou começando a desejar não ter ido sozinha para recuperar a informação de D. Se o dia chegar e ninguém aparecer para nos atacar, bem, será uma coisa boa, mas também vou ficar em problemas monumentais. Fui eu quem trouxe essa informação para a Guilda, então serei a responsável por causar todo o pânico e as reuniões e a preparação e depois... o anticlímax.
Merda. Por que não pensei nessa possibilidade antes de eu encarregar minha própria pequena missão? E onde está Ryn? Olho para a posição da lua. Ele geralmente já estaria aqui até agora. Eu envio uma mensagem no âmbar, mas não recebo resposta. Eu tento lembrar se ele me disse se estaria trabalhando hoje à noite. Minha memória fica em branco.
Eu ando pelos caminhos das fadas e saio na minha sala de estar. Talvez Filigree jogue um jogo de cartas comigo para tirar minha mente das coisas. Nunca terminamos aquele jogo que Ryn interrompeu algumas semanas atrás. Subo as escadas e encontre Filigree enrolado na forma de tatu no meu travesseiro. Eu não vejo essa faz um tempo. Eu caio de barriga na cama e o cutuco – no momento que um som zumbido vem da minha mesa de cabeceira.
Meu âmbar? Não, está no meu bolso. Então seria... o segundo vidro comunicador. Eu abro a gaveta e coloco minha mão, empurrando o colar da eternidade para alcançar o pedaço retangular de vidro.
As coisas mudaram. Preciso lhe dar novas informações.
Eu viro para tirar minha stylus da minha bota e acabo rolando no chão. Droga, isso doeu. Eu me sento e rabisco rápido no vidro. O quê? O Conselho da Guilda já está reunido para analisar as informações que você me deu nesta manhã.
Quando?
Agora mesmo!
Então eu preciso me encontrar com você imediatamente.
Por que você não pode me dizer aqui pelo vidro comunicador?
É demais. Eu preciso me encontrar com você.
Isso não é muito perigoso para você?
Eu não me importo mais. Venha para o Rose Hall.
Agora?
Sim!
Arrasto-me do chão e abro um portal. — Não espere por mim! — Eu grito para Filigree quando entro na escuridão. Pulo para a pista escura de Creepy Hollow e corro para a árvore do Rose Hall. O que eu vou fazer uma vez que eu tiver essa nova informação? Apenas entrar na reunião do Conselho? Talvez eu possa convencer D a vir comigo. Isso definitivamente ajudaria. Paro contra a árvore com a mão. Levanto a stylus para escrever um portal, mas percebo uma minúscula folha de papel pregada na árvore. Apenas uma frase.
Continue jogando o jogo, Violet.
O quê? O jogo? Desde quando é um jogo? Um arrepio corre pelos meus braços enquanto eu olho em volta. Assim como nesta manhã, parece não haver ninguém aqui, mas não posso evitar sentir que algo estranho está acontecendo. Algo que estou perdendo. Eu tenho que entrar no corredor, no entanto. Zell mudou algo em seus planos, e eu preciso saber o que é.
Então eu faço o que fiz esta manhã. Eu coloco o poder do núcleo do meu ser e o mantenho acima da minha mão, pronto para usá-lo no primeiro sinal de perigo. Abro uma entrada para o salão e ando lentamente para dentro.
O que eu vejo no outro extremo do corredor me faz querer ficar doente. Em frente ao vitral, pendurado de cabeça para baixo do teto, há um cadáver. Um cadáver sem cabeça. Sem realmente perceber isso, deixo o poder acima da minha mão desaparecer. Com horror, eu ando em direção ao outro extremo do corredor. Há um objeto redondo colocado no chão debaixo do corpo, e todo instinto chocado dentro de mim grita que é uma cabeça. É a cabeça que pertence ao corpo pendurado. E eu preciso saber quem é.
Os meus dedos tremem. Minhas pernas tremem. Até as minhas respirações são frágeis quando escapam dos meus lábios. Mas eu continuo avançando. A cabeça está de frente para a parede traseira, mas quando me aproximo, vejo a cor no cabelo. Eu vejo as listras vermelhas, e eu sei. Eu sei. Mas ando para frente para encará-lo de qualquer jeito. Eu passo ao redor e vejo seus olhos vermelhos vidrados.
Zell.
Com uma mão trêmula, cubro minha boca para me impedir de vomitar. Então vejo as palavras escritas no chão.
Violet,
Você não pode ganhar este jogo. Conheço todos os seus movimentos antes de você fazer, e sempre estarei um passo à sua frente. Quero que saiba que tudo o que acontecer agora é sua culpa.
Draven
Capítulo 32
Draven? Era como eu costumava chamar Nate. Avenida Sr. Draven. Mas não pode ser ele. Não pode. Nãonãonãonãonão, por favor, diga que ele não fez isso. Oh, querida Rainha Seelie, o que ele fez? O que eu fiz?
Um som crepitante rasga durante a noite tranquila como relâmpagos em algum lugar fora. Ele atinge o chão com tanta força que eu tenho que jogar minha mão contra a parede para impedir o estremecimento de me derrubar. Eu ouço um baque e um estalo quando algo atinge o chão lá fora. Compelida pelo terrível temor de que todo o meu mundo esteja prestes a ser despedaçado, atravesso o salão vazio e saio na pista.
A rajada de vento mais forte que eu já senti passou pelas árvores e me derrubou no chão. Eu ouço um rugido. Rugido e um som crepitante. E eu sinto cheiro de fumaça. Eu consigo virar minhas costas logo quando outro raio atinge o chão bem próximo. Eu vejo uma luz laranja cintilante. Fica mais brilhante enquanto olho. O rugido se torna mais alto e a fumaça mais densa.
Oh inferno. Há um inferno louco aqui fora, movendo-se com a velocidade do vento.
Tenho que ir a Guilda.
Eu rolo de volta sobre minha barriga e escrevo um portal na sujeira. Eu caio na escuridão e concentro a minha atenção na entrada interior da Guilda. Talvez eu ainda tenha tempo de alertá-los sobre o que está por vir.
Eu abandono os caminhos das fadas a pé - e é aí que percebo o quão errada eu estou. Meu mundo não está prestes a ser despedaçado. Já foi despedaçado. O choque parece tirar o ar dos meus pulmões porque eu não tenho a menor vontade de respirar.
A Guilda está destruída. Toda a Guilda.
Cascalho reveste o chão até onde eu posso ver. Mármore e escombros e pedaços fumegantes de madeira entalhada. Árvores estilhaçadas e cinzas e fumaça. O complexo glamour e os feitiços arquitetônicos que escondem a Guilda inteira dentro de uma única árvore devem ter sido destruídos de alguma forma. Minha mente evoca imagens horríveis do que teria acontecido depois disso: o interior da Guilda explodiu, demolindo a floresta ao redor dela.
Eu dou alguns passos trêmulos para frente antes de cair de joelhos. Não consigo aceitar isso. É demais. Vejo guardiões espalhados aqui e ali por todo os escombros, alguns feridos, alguns tropeçando por aí perdidos. Os restos de conversas sussurradas me alcançam.
— ... Estão dizendo que Tharros retornou.
— ... deve ter tomado mais poder do que qualquer pessoa deve possuir.
— A primeira explosão veio de dentro de uma sala em que o Conselho e os guardiões mais velhos estavam.
— Algum deles saiu vivo? Não vi nenhum...
Oh não, oh não, oh não. Isso não pode estar acontecendo. Quantas pessoas estão mortas? Onde está Tora? Ryn? Flint? Onde diabos estão todas as pessoas de quem eu gosto?
Um flash ofuscante de luz branca enche a clareira destruída. Eu jogo minha mão através dos meus olhos até a luz diminuir. Quando olho novamente, vejo a Rainha Seelie vestida de armadura prateada, andando pelos escombros. — O QUE está acontecendo aqui? — Ela grita.
— Minha senhora. — Um de seus guardas corre atrás dela. — Você não deveria estar aqui. É muito perigoso. Pode haver...
— Eu quero saber o que está acontecendo, — ela grita. Ela para e gira no local, olhando para os guardiões que se apresentaram para se ajoelhar diante dela. — Eu quero saber como essa Guilda poderia ser estúpida o suficiente para chamar uma reunião de quase todos os membros do Conselho de cada Guilda e depois se explodir.
Um riso frio recebe suas palavras. Procuro a fonte do som e vejo uma mulher andando em direção à Rainha. Um tremor passa pelo meu corpo enquanto a reconheço. Angelica. Já não presa no centro de seu próprio labirinto. Ela mantém a cabeça alta, olhando para baixo para todos enquanto sacode seu longo cabelo preto e prateado sobre o ombro dela. E naquele instante, eu percebo porque achei a Rainha Seelie tão familiar quando a conheci.
— Olá, mãe, — diz Angelica quando ela está parada. — Você está com saudades de mim?
Mãe? Você está brincando comigo?
— Como eu sentiria de uma mancha feia em um vestido branco, — a Rainha zomba. — E não me chame de ‘mãe’. Você não é minha filha.
Sussurros de ‘filha fugitiva’ me cercam quando as pessoas percebem o que está acontecendo aqui. Os guardas da rainha apontam suas armas para Angelica, mas nenhum deles faz um movimento. Suponho que machucar uma princesa Seelie não venha naturalmente para eles.
— Não sou sua filha? — Angelica repete. — Suponho que não seja surpreendente, então, que eu estava muito mais feliz com a Guilda do que eu já estive em seu palácio. — As sobrancelhas da rainha contraem uma fração. — Oh, você não sabia? — Angelica pergunta, sua voz cheia de surpresa exagerada. — Quão chocante. Passei mais de uma década na Guilda de Creepy Hollow, e você nem sabia disso.
— Eles obviamente conseguiram não ensinar nada a você, — diz a Rainha, — já que você parece estar se juntando com o inimigo agora. O que você está fazendo com a Corte Unseelie?
Angelica solta um suspiro exagerado. — Veja, mãe, isso realmente não tem nada a ver com a Corte Unseelie. Tem tudo a ver com meu filho.
Confusão e raiva brigam nos olhos da Rainha.
— Isso mesmo, — diz Angelica. — Seu neto. Um príncipe da Corte Seelie...
— Um halfling, — a Rainha rosna.
— Sua própria carne e sangue! Ele está em posse do poder perdido de Tharros e não há ninguém no mundo que possa vencê-lo agora. Ele é o único que pode tirar tudo o que você tem. O Palácio Unseelie está em ruína, e o palácio Seelie está sendo destruído enquanto conversamos. As Guildas estão todas sob ataque. Quando o dia surgir, não haverá diferença entre Seelie e Unseelie. Só haverá aqueles que estão com o meu filho e aqueles que estão contra ele.
Nate. O que você fez?
— E quanto como essa Guilda poderia ser estúpida o suficiente para se fazer explodir, — continua Angelica. — Um dos seus guardiões enviou muito gentilmente um dispositivo de bombas encantadas para a reunião do Conselho. E esse mesmo guardião nos contou que a reunião estava acontecendo hoje à noite. Foi tudo muito fácil depois disso.
Ela está falando sobre mim? Nãonãonão, por favor, não. Por favor, não deixe que tudo isso seja minha culpa. Como eu voltarei a encarar alguém? Meus olhos procuram a clareira em desespero. Ainda não vejo Ryn ou Tora. Eu tenho que encontrá-los. Não consigo pensar em todos esses danos e destruição. Não consigo pensar em como tudo é culpa minha.
Encontre-os.
Minha stylus ainda está apertada na minha mão. Inclino-me para frente e escrevo no chão. Deslizo dentro da escuridão logo quando as primeiras gotas de chuva começam a cair. Dirijo-me primeiro a árvore gargan. Talvez Ryn esteja esperando por mim. Talvez essa parte da floresta ainda esteja tranquila e não tenha ideia do que está acontecendo longe daqui.
Mas algo está errado. Quando eu saio dos caminhos das fadas, eu me vejo caindo no ar. Um grito me escapa quando eu tento abrir outro caminho no ar em movimento. Não posso. Eu caio no chão, conseguindo diminuir minha queda no último segundo. Eu deslizo pelo chão por um momento antes de cair às últimas polegadas na estrada. Empurro-me e me levanto.
Destruição.
A árvore gargan, uma das mais antigas e majestosas árvores de toda a floresta, caiu. Está queimando e soltando fumaça e caindo. Levou a maioria das árvores ao redor com dela. Tudo está morto aqui.
Morto.
Nate fez isso. Ele destruiu meu lugar favorito de toda Creepy Hollow. Aperto meus punhos e solto um grito sem palavras. Continuo mais e mais, até que eu não tenha mais fôlego. — Como você pôde fazer isso? — Eu grito para a chuva lentamente tamborilando. — Eu te odeio!
As lágrimas se juntam aos pingos de chuva que caem pelo meu rosto. Eu atravesso os caminhos das fadas até a casa de Ryn. O que eu acho lá faz minhas lágrimas caírem mais rápido. Está destruída, rasgada, assim como as outras casas de fadas que eu posso ver através das árvores quebradas enquanto eu viro para olhar ao meu redor. Eu procuro pelos destroços, mas não há ninguém aqui.
Eu vou para a casa de Tora, e sou cumprimentada pela mesma visão. E, novamente, ninguém aqui.
O único lugar para ir é minha própria casa. Talvez Ryn e Tora tenham ido lá para me procurar. E Filigree! Eu tenho que resgatar Filigree!
Eu me preparo para a destruição, mas a visão da minha casa arruinada ainda é suficiente para me fazer sentir que algo acabou de ser arrancado do meu peito. Náusea invade meu estômago.
Minha casa se foi.
— Ryn! — Eu grito. — Tora! Filigree! — Sem resposta.
Eu escalo a bagunça que era minha cozinha. A mesa já não tem pernas, e estou prestes a pisar nela quando percebo uma faca afiada embutida na superfície. A faca está segurando um pedaço de papel na mesa. Um pedaço de papel dobrado.
Meu sangue queima como fogo quando a fúria passa por mim. Não foi o suficiente para Nate — Draven — tirar meu mundo inteiro? Ele também tem que deixar um maldito recado esfregando na minha cara?
Eu arranco a faca da mesa e desdobro o papel. Meu coração quase para à vista da escrita de Ryn - e então ele se quebra novamente quando eu leio suas palavras. Há muitas delas, mas só posso me concentrar em uma frase: não tente me encontrar. Eu limpo as lágrimas dos meus olhos quando enfio a nota no meu bolso. — Você prometeu que não iria embora, — eu sussurro. — Você prometeu.
É então que eu ouço uma voz fraca. Tora. Chamando meu nome. Eu me viro, procurando desesperadamente. — Tora? — Eu chamo. Eu ouço sua voz novamente. Salto das ruínas e corro ao lado da bagunça. Lá está ela, presa por uma árvore que aterrissou em seu abdômen. Uma árvore com galhos estilhaçados e casca e - oh, querida Rainha Seelie, nem quero olhar para o dano porque sei instintivamente que é demais para até mesmo uma faerie se recuperar.
— Tora! — Eu corro para o lado dela e agarro sua mão. — Oh merda oh merda oh merda. — Eu tenho que tentar curá-la. Mesmo que meu cérebro me diga que não é possível, ainda tenho que tentar. — Posso mover a árvore, — digo, me preparando para levantá-la com magia.
— Não. — Ela toca no meu braço para me parar. — Não vai ajudar. Minha magia, — ela ofega. — Não é... forte o suficiente para...
Não é forte o suficiente para curá-la. É o que ela quer dizer. Mas eu tenho magia que pode curá-la, eu percebo. O colar da eternidade. Se ela usar, ela não pode morrer, certo? Eu escalo os escombros da minha casa mais rápido do que qualquer coisa que eu já subi antes. Acho minha cama. Minha mesa de cabeceira. A gaveta foi nocauteada e está jogada ao lado dos estilhaços da minha mesa. Eu procuro pelo colar da eternidade.
Sumiu.
— Não! — Eu grito. Por que ele sumiu? Estava aqui quando eu saí, há menos de uma hora. Procuro por toda a gaveta, mas não há colar para ser encontrado em qualquer lugar.
Eu corro de volta para Tora. Levanto a metade superior de seu corpo e a seguro no meu colo, deixando minha magia penetrar nela onde quer que a nossa pele esteja tocando. — Por favor, não morra, — eu soluço. — Por favor, não morra, por favor, não morra.
— As minhas pernas... Ainda estão lá? — ela consegue perguntar. — Não posso... Senti-las...
Inclino-me sobre ela e deixo as lágrimas caírem no seu peito. — Sinto muito, Tora. Sinto muito, sinto muito. Isso é tudo minha culpa.
— Lembre-se... Eu... — Suas palavras morrem em seus lábios quando a vida desaparece de seus olhos.
Aperto suas mãos com força, desesperadamente. Não consigo respirar. Onde está o ar? Por que não consigo respirar? Pontos brilhantes dançam leve diante dos meus olhos. Solto as mãos de Tora e caio de volta no chão. E de repente há uma liberação, e estou sugando grandes respirações de ar nos meus pulmões.
Eu não mereço isso. Deveria ser eu morta no chão, não Tora. Eu me levanto. Eu ando cegamente sobre os destroços da minha casa. Não sei aonde vou. Não sei o que planejo fazer. Tudo o que sei é que não quero pensar. Não quero lembrar. Não quero estar aqui.
Eu caio no ponto mais alto da minha casa destruída e seguro minha cabeça entre as minhas mãos enquanto choro. Não posso corrigir isso. Não posso passar por isso. Eu nem sei como posso viver sabendo que ela morreu por minha causa.
Minhas mãos caem para os meus lados, e uma delas para sobre uma pilha de vidro. O conteúdo do meu kit de emergência, espalhado e quebrado. Meus dedos trêmulos procuram pelos itens que conseguiram sobreviver e param em um dos frascos. Eu o pego. Esquecer, diz o rótulo.
Isso é o que eu quero. Quero esquecer tudo o que aconteceu. Quero esquecer que é minha culpa.
Tiro a tampa.
Levanto até a minha boca.
Eu fecho meus olhos e o derramo na minha garganta.
Capítulo 33
Eu desperto em um quarto pequeno e mal iluminado com um teto que parece estar muito perto. Eu rolo sobre o meu lado, esfregando meus olhos ásperos. O quarto está vazio, exceto por uma cadeira e uma pequena mesa. Na mesa está uma lanterna com uma luz cintilando dentro.
— Oh, você está acordada, querida. Que amável. — Alguém pequeno entra no quarto. Alguém com cabelo cinza e vestindo um vestido longo. Ela se curva sobre mim, e vejo olhos negros em um rosto coberto de escalas como de um réptil.
Reptiliana, meu cérebro me diz. — Quem é você? — Pergunto.
Ela sorri para mim e rugas se formam nos cantos dos seus olhos. — Alguém que decidiu não deixar você lá fora, nos destroços.
— Destroços? — Repito. Ainda estou tentando dar sentido a onde eu estou, como cheguei aqui e o que aconteceu antes de eu dormir. Estou conseguindo nada.
— Os destroços da floresta. Foi despedaçada por um faerie malvada. — Ela balança a cabeça em desaprovação. — Draven, eles dizem que é o nome dele.
— Draven? — Nunca ouvi falar dele.
— E qual o seu nome, querida?
O meu nome. Essa é uma pergunta fácil. E eu tenho a resposta. Está aqui mesmo na ponta da minha — Violet, — eu digo, aliviada, que o nome apareceu para mim.
— E?
— E o quê?
— O que mais você se lembra?
O que eu lembro? Isso é um pouco mais difícil. Eu procuro na minha cabeça confusa, em seguida, eu a balanço. — Para ser sincera, — eu digo, — não muito.
{1} No inglês: Bite me, algo no sentido de foda-se.
Capítulo 22
O café da manhã é um piquenique sob um campo de árvores que nos salpica com um punhado ocasional de flores amarelas em forma de estrela. Muito lindas, até começar a pousar na comida. Posteriormente, somos enviados para observar a Guarda Real executando alguns exercícios de treinamento, que é quando Ryn e eu conseguimos escapar para explorar mais um pouco. Eu ainda estou um pouco zonza com todos os sentimentos de apenas-amigos me percorrendo, e parece estar resultando em algum comportamento imprudente. Como alegremente passear pelo palácio quando claramente não deveríamos estar fazendo isso agora.
Encontramos dois lagos que não têm estruturas de pedra construídas nas proximidades, e outro pátio anexado ao palácio com uma piscina cheia de faeries jovens pulando. Do outro lado de um labirinto construído de arbustos baixos, encontramos uma lagoa com uma ponte de pedra. Mas depois de examinar cada pedra, é claro que não há sinal ou símbolo que aponte para algo escondido.
Eu penso no tamanho total dos terrenos do palácio - tão grande que levaria horas e horas para chegar ao outro extremo - e começo a sentir um pouco de pânico. — E se não conseguirmos encontrar o esconderijo a tempo? — Digo a Ryn. — Eu esperei essa oportunidade por anos; nunca mais vai acontecer.
— Nós vamos procurar toda a noite se tivermos, — ele diz, e eu tenho que lutar contra o desejo de pegar sua mão e apertar seus dedos. Ele parece tão determinado quanto eu a encontrar os pertences escondidos das minhas mães. Talvez seja porque ele ainda esteja tentando compensar o passado, ou talvez seja porque a alternativa - sair com outros formandos para assistir a guarda treinar - é muito chata. De qualquer forma, estou grata além das palavras.
Nós deixamos a lagoa e a ponte atrás de nós conforme escalamos uma colina baixa. — Sabe, o tempo de exploração de sua mãe provavelmente também foi muito limitado quando ela esteve aqui, — diz Ryn. — Você não acha mais provável que ela tenha escolhido um esconderijo mais perto do palácio do que mais longe?
Paro de subir e esfrego a parte de trás da minha mão na minha testa. Estou superaquecendo na calça comprida que, como Ryn apontou na noite passada, pode ser um pouco apertada demais para um dia de verão. Meu top mantém meus braços expostos, mas não é o suficiente para me refrescar. — Isso pode ser verdade. Você acha que devemos voltar e olhar ao redor do palácio?
— Sim, eu quero. Até agora, nós apenas caminhamos pelo palácio, não ao redor dele. Pode haver pequenas piscinas que ainda não vimos.
— Há também uma maior chance de alguém importante nos ver e nos enviar de volta ao nosso grupo.
— Com medo de entrar em problemas, V? — Ryn mostra seu sorriso arrogante.
— Dificilmente, — eu viro e vou em direção ao palácio. — Eu simplesmente não quero que a Missão Exploração seja cancelada.
Caminhamos de volta sem dizer muito. Há bastante silêncio entre nós hoje. Não um silêncio estranho, mas sim um que sugere que estamos um pouco preocupados. De vez em quando, eu o pego olhando para mim, mas não pergunto por quê. Ele provavelmente tentará me fazer falar sobre os meus sentimentos ao ver meu pai – que-não-era-meu-pai na noite passada, e eu não vou por essa estrada. Chorar nos braços de Ryn foi estranho o suficiente sem ter que falar sobre isso agora.
Contornamos o palácio, nos mantendo ao redor das árvores circundantes e esperando que ninguém nos perceba quando se inclinarem em suas varandas brancas decorativas. Nós passamos por uma fonte fora de uma sala onde um grupo de faeries estão praticando instrumentos musicais. Sinto um feitiço que atravessa as árvores em nossa direção, fazendo que os meus pés queiram dançar. Eu me apresso com Ryn perto de mim. Essa fonte era pequena demais para estar escondendo qualquer coisa de qualquer maneira.
— Ei, acho que ouço mais água, — diz Ryn.
Ele tem razão. — Sim, mas onde? Não vejo nada.
O som de queda de água torna-se mais alto à medida que nos aproximamos do que parece ser uma parede frondosa com hera firmemente entrelaçadas. Parece estar escondendo uma área semicircular contra a borda da parede do palácio. — Um jardim particular? — Sugere Ryn.
— Talvez. Mas não parece que haja algum caminho desse lado, então minha mãe não poderia ter escondido nada aí.
Estamos prestes a seguir em frente quando uma figura vestida de branco anda através da cobertura. Eu deslizo atrás do tronco da árvore mais próxima e me pressiono contra ela. A poucos metros de distância, Ryn se esconde atrás de outra árvore. Quando ninguém nos chama, espreito cuidadosamente ao redor da árvore para ver o que está acontecendo. A figura de branco é a faerie anfitriã da nossa festa do chá na tarde de ontem. A filha da Rainha, Olivia. Ela arruma seu longo cabelo loiro e rosa para longe do pescoço e o prende com uma fita. Então, depois de examinar a área rapidamente com os olhos, ela se apressa através das árvores para longe de nós.
— Imagine ainda viver com sua mãe quando você tem, tipo, um século de idade, — Ryn sussurra. Ele sai de trás de sua árvore e se aproxima de onde Olivia apareceu.
— Eu acho que ela tem mais do que dois séculos de idade, — respondo. — Ela é a primeira filha da rainha, lembre-se, e a Rainha certamente está por aí por um tempo.
— V, há uma abertura aqui. — Ryn gesticula para que eu o acompanhe. — Você não pode ver de lá porque o ângulo está errado.
Atravesso a grama e escorrego na abertura depois dele. Oculto dentro do semicírculo, está um jardim. Rosas de todas as cores estão entrelaçadas entre a hera no muro. Em um lado está um arco de pedra com um banco embaixo dele. No centro do jardim encontra-se uma piscina redonda, ao lado fica uma árvore com folhas laranja enormes que criam uma sombrinha para proteger. A água escorre sobre uma pilha de pedras e para dentro da piscina. Estátuas ficam aqui e ali na grama, e a própria grama chega ao fim em um portal aberto levando para o que deve ser o quarto da princesa.
— Nós definitivamente não deveríamos estar aqui, — eu digo, me afastando da piscina.
— Você não quer verificar se o esconderijo da sua mãe está aqui?
— Não estará.
Ryn vaga para o banco e senta-se. — E como você sabe disso?
— Ryn, este é o jardim particular da princesa. Não há como minha mãe ter escondido suas coisas aqui. Você pode imaginar o problema em que ela estaria se metendo se alguém a pegasse? — Eu me viro para ir embora, mas, conforme eu faço, a descrição de Zinnia sobre meus pais algumas noites atrás vem à minha mente. Os dois sempre gostaram de assumir as tarefas mais perigosas. — Por outro lado, — digo, voltando lentamente para a piscina, — talvez seja por isso que ela escolheria este lugar.
— Ah, sua mãe era uma caçadora de emoções, não era?
— Eu não sei. Talvez. — Eu começo a examinar o arco de pedra onde Ryn está sentado, começando pela pedra mais baixa e movendo para cima. Ryn levanta e examina o outro lado. As pedras são quase perfeitas e parecem não ter marcas além daquelas provavelmente provocadas pelo tempo e clima severo. Não que eu possa imaginar um lugar como esse com um clima severo, mas até mesmo eu sei que a Corte Seelie não é imune ao inverno.
— Vê alguma coisa? — Pergunta Ryn.
— Não. Você pode me dar uma ajudinha para verificar a parte de cima?
Ryn aparece de frente para o banco e coloco meu pé nas mãos dele. Ele me levanta rapidamente. Pego na borda do arco e dou uma olhada em todas as pedras que não consigo ver do chão. — Nada. Eu acho que não está aqui, afinal.
— Será que não são as estátuas feitas de pedra? — Pergunta Ryn conforme ele me deixa no chão.
— Sim, mas elas são muito pequenas.
— V. — Ryn me olha como ele olha para Calla quando tenta explicar algo. — Se uma árvore não é muito pequena para esconder sua casa inteira dentro, então uma estátua pequena não pode esconder uma única sala?
Mesmo que agora eu ache Ryn lindo e tenha ocasionalmente o desejo irracional de rasgar sua roupa, ainda é realmente irritante quando ele está certo. Sem responder, vou até a estátua mais próxima - uma mulher com pequenos chifres na cabeça usando um pedaço de tecido que nem de perto cobre as partes essenciais de seu corpo. Eu me abaixo na grama e começo a investigar sua superfície de pedra. Não consigo nada além da pedra suavemente esculpida, até encontrar algo na parte de trás do seu calcanhar. — Há algo aqui. — O entusiasmo sobe no meu peito. — Uma flecha. Ela aponta para baixo e para a direita.
— Há algo aqui também, — diz Ryn, passando os dedos pela perna direita da estátua de unicórnio. — Uma linha ondulada.
— Uma linha ondulada? Isso geralmente não significa água?
— Sim. Água correndo, talvez? Água corrente?
— Tudo bem, nós temos uma fonte, mas esta flecha aponta para a direita, e daqui a fonte está à esquerda.
Ryn caminha para a estátua restante - um pixie que segura um sprite em sua mão estendida como uma oferenda - na sombra das folhas laranja. Eu me junto a ele, meus olhos olhando as pernas primeiro, porque isso parece ser uma tendência aqui. Ryn fica de quatro, examinando atentamente a frente do pixie. Eu alcanço a parte de trás do pescoço do duende quando Ryn diz, — Achei. — Ele me dá um sorriso e o encaro. Tudo é uma competição quando se trata de nós dois. — Está na parte de trás da mão do pixie, de frente para o chão. — Ele se inclina mais uma vez e aponta. — Vê? É a forma de um círculo.
— Um círculo. — Nós dois olhamos para o jardim. O único círculo aqui é a piscina.
— Está dentro da piscina, — diz Ryn. — Você tem que entrar na água - daí a linha ondulada - ir abaixo da superfície...
— Essa é a flecha para baixo.
— E então à direita, — Ryn termina.
Eu vou para a abertura no muro e olho lá para fora. Ninguém lá. — Ok, vamos fazer isso rápido. Eu certamente não quero ser pega nadando na piscina da princesa.
— Depois de você. — Ryn gesticula para a piscina. — Considerando que esta é a sua missão, acho que você deve ir primeiro.
Eu mergulho meu pé, testando a temperatura da água. Eu pensei que poderia ser desconfortavelmente quente, dado o calor deste dia de verão, mas é fria o suficiente para ser deliciosamente refrescante. Claro. Provavelmente está encantada para estar na temperatura perfeita. Deslizo para dentro da água. A água alcança meus ombros.
— Ah, que alívio, — Ryn diz enquanto ele se junta a mim, fazendo um pouco mais de barulho do que eu. — Talvez tenhamos que ficar aqui por mais tempo.
— E ser pegos? Eu acho que não. — Respiro profundamente, afundo abaixo da superfície e nado para o lado direito da piscina. Eu corro meus dedos sobre as pedras quadradas, procurando em cada uma por algum tipo de marcação. Eu volto a superfície para pegar ar e mergulho vez uma mais. Ryn está nas proximidades, ajudando na busca.
Então eu vejo: um X simples esculpido no meio de uma pedra. Empurro contra a pedra com as mãos, mas nada acontece. Eu alcanço acima da minha cabeça e, felizmente, minha stylus ainda está lá, tentando segurar meu cabelo no lugar. Eu a puxo e escrevo um feitiço de abertura na pedra.
Sim!
A pedra desaparece, deixando uma camada ondulante e semitransparente entre a água e a escuridão que está além. Eu nado através — e caio sobre uma superfície dura. Eu me levanto e imediatamente crio uma esfera de luz. Ela flutua na minha frente, iluminando uma pequena sala com uma mesa em um lado.
Com uma exclamação de dor, Ryn pousa no chão ao meu lado. — Merda, você pensaria que ela poderia ter deixado uma almofada ou algo no chão para um pouso mais suave.
— Nós achamos, Ryn, — eu sussurro enquanto dou alguns passos pingando em direção a mesa. Sobre ela está um livro de couro com uma escrita cor de ouro em sua capa, uma pulseira descansando sobre uma pequena pilha de fitas coloridas, uma vela preta e um espelho oval com uma armação de prata ornamentada. Pego o espelho e vejo o rosto da minha mãe. Eu já vi imagens dela antes, é claro, mas isso é diferente. Ela está mais nova.
É isso. O momento em que eu sonhei desde a primeira vez que meu pai contou a história da visita da minha mãe a Corte Seelie. Eu finalmente a vejo como uma pessoa real. Eu finalmente vou ouvir sua voz. Com meu coração batendo no meu peito e meus dedos tremendo, toco a superfície do espelho.
Seu rosto se abre em um sorriso, e ela coloca uma mecha de cabelo preto e roxo atrás da orelha. — Tudo bem, quem quer que você seja, você é realmente corajoso. Você nadou na piscina particular da princesa! — Ela bate palmas e ri. — Parabéns! Claro, isso me torna realmente corajosa também porque eu também nadei na piscina. Bem, corajosa ou estúpida. — Ela revira os olhos lavanda enquanto luto contra as lágrimas se formando nos meus. — De qualquer forma, você provavelmente está se perguntando quem eu sou. Meu nome é Rose Hawthorne, sou graduada da Guilda de Creepy Hollow, e já que eu vou visitar a Corte Seelie apenas uma vez na minha vida, pensei que seria divertido deixar um pouco de mim aqui. Assim... O livro é um dos meus favoritos. Meu melhor amigo me deu em um aniversário há alguns anos. Se você olhar dentro, há um papel dobrado com uma história que escrevi na escola secundária - porque eu sinto que você deveria ter algum entretenimento disso! — Ela ri enquanto eu limpo uma lágrima que escapou do meu olho. — Hum, a pulseira é a primeira joia que meus pais me deram, e as fitas encontrei em um baú dos pertences da minha avó quando eu era pequena.
— Ok, o que resta? A vela. Isso foi dos meus pais no meu décimo oitavo aniversário. É uma vela sem fim, então nunca vai ficar pequena, não importa o quanto você a queime. Um, então, é isso. Ah, e a mesa foi feita para mim pelo meu namorado. Cara incrível que ele é, ele não se importou em encolhê-la junto com as minhas outras coisas e trazer aqui.
— Então, de qualquer forma, essa sou eu. Seria realmente bom se você pudesse retornar meu livro para a Guilda de Creepy Hollow com uma mensagem para mim. Além disso, se você for pego deixando esta piscina, sinto muito. Espero que eu não seja pega quando eu sair! Ah, e se você é a princesa, hum, também sinto muito. Não queria desrespeitar você de forma alguma ao esconder essas coisas na sua piscina. Por favor, não me odeie! — Ela bate as mãos, sorri docemente e a imagem dela desaparece.
Ela se foi.
Eu toco o espelho novamente, mas nada acontece. — Está definido para tocar apenas uma vez, — digo suavemente. — Eu nunca mais a verei. — As lágrimas escorrem pelas minhas bochechas. Este foi o meu momento com ela... meu único momento... e agora acabou.
— Me desculpe. — Sinto a mão de Ryn no meu ombro. — Mas - e não me odeie por dizer isso - provavelmente não seria uma boa ideia para você assistir a mesma mensagem repetidamente. Você não gostaria de desperdiçar sua vida na frente de um espelho.
— Sim, acho que você está certo. — Eu soluço quando coloco o espelho na mesa. — Mas ainda vou levar essas coisas para casa comigo.
— Claro, — diz Ryn. — Precisa de ajuda com o encolhimento?
— Obrigado. — Pelo menos eu tenho essas lembranças dela. Vou levar o meu tempo olhando para elas quando chegar em casa. Vou ler o livro e a história que ela escreveu. Vou queimar a vela sem fim, e sua chama perpétua nunca permitirá que eu a esqueça.
Agora, no entanto, precisamos sair daqui.
Eu encolho o espelho enquanto Ryn cuida do livro e da vela. Estou prestes a encolher a pulseira, quando Ryn diz, — Você deveria colocá-la. — Ele tira de mim e a coloca em volta do meu pulso direito, inclinando-se mais perto quando ele aperta o fecho. — E as fitas. Você precisa de alguma cor na sua vida, V. — Ele enrola as fitas ao redor do meu braço para que elas cubram minha cicatriz. As linhas onduladas das minhas marcas de guardiã espreitam de cada lado. Ele amarra as pontas e as afasta, seu toque enviando um tremor pelo meu braço. Eu me pergunto se ele percebe os arrepios. Ele certamente está próximo o suficiente para vê-los.
De repente, lembro de dizer a Nate que ele não poderia me convencer a ter uma sessão de amassos em um túnel subterrâneo suspeito porque eu tenho padrões. E percebo agora que não tenho absolutamente nenhum padrão porque estou aqui nesta sala de pedra subterrânea e não quero nada mais do que beijar Ryn. Se ele me puxasse para dentro de seus braços agora, eu não iria detê-lo. Eu sei que não seria bom para nós a longo prazo, mas meu corpo e meu coração o desejam. Muito.
— Hum, devemos sair daqui antes que a princesa volte, — diz Ryn, dando um passo para trás e colocando alguma distância entre nós. — Missão completa, então... Acho que poderíamos ficar no seu quarto por um tempo. — Ele me observa. Estou imaginando, ou ele quer dizer algo mais quando ele diz ‘ficar’?
Só há uma maneira de descobrir.
— Ok. — Merda, eu realmente soei tão sem fôlego como eu acho que soei? Eu sou tão patética.
Eu deslizo a pequena vela, livro e espelho nos meus bolsos úmidos enquanto Ryn encolhe a mesa. Eu o deixo ir em frente antes de atravessar o caminho através da camada ondulante e entrar na água. Giro com a minha stylus na mão, mas a pedra já está selada. Legal. Puxo-me através da água e minha cabeça quebra a superfície. Eu suavizo meu cabelo molhado para trás e saio.
Ryn está de pé junto à abertura no muro, olhando para fora. — Alguém está vindo, — ele diz.
— O quê?
Ele agarra minha mão e me puxa para a porta do quarto da princesa. — Vamos esperar até que ele passe.
Estamos dentro da entrada de uma sala de estar. Tudo rosa e verde e estampas florais na parede - realmente não é o meu estilo.
— Droga, — murmura Ryn. Olho para o jardim e vejo um faerie escorregar pelo espaço na cobertura. — Atravessar aquela porta, — Ryn sussurra apressadamente, apontando para o outro lado da sala.
Eu corro, mas meus pés molhados deslizam na grande poça que se forma sob nossos corpos encharcados, e antes que eu saiba, eu estou caindo.
— Vi! — Ryn tenta me alcançar no momento em que eu me jogo contra a parede - que de repente cede. Ryn me empurra para a escuridão e me segue. Ele se inclina contra a parede - porta? - para fechá-la, sussurrando rapidamente algo à medida que a luz se estreita para uma fenda e desaparece.
A escuridão nos rodeia, então, completamente, parece que está pressionando contra meus globos oculares. — O que você acabou de dizer? — Eu sussurro para Ryn.
— Apenas um feitiço para secar toda aquela água. Nossos passos levariam para cá caso contrário.
Eu sinto a parede com minhas mãos e aperto minha orelha suavemente contra ela. Não consigo ouvir nada. — Onde estamos? — Pergunto.
— Uma passagem secreta entre as paredes, eu imagino. A princesa deve usá-la para dar uma volta sem ser vista.
Mais alguns momentos de silêncio passam antes de eu dizer, — Bem, talvez devêssemos conjurar alguma luz e seguir esta passagem. Nós não sabemos se o faerie ainda está por aí.
— Nós também não sabemos aonde essa passagem leva. Imagine se chegarmos no quarto da Rainha, molhados, enquanto ela está dando um cochilo matinal.
— Eu duvido que ela dê cochilos matinais, — eu sussurro de volta. — E eu não posso, pelo menos, criar alguma luz aqui? Certamente não pode ser visto na sala lá fora.
Quando Ryn responde, sua voz soa mais próxima do que estava antes. — Com medo do escuro, não é, Sexy Pixie?
— Claro que não.
Então não evoco uma luz. Nem ele. Ouço um barulho na sala de estar. Algo se movendo ao longo do chão, então batendo na parede. Eu involuntariamente dou um passo para trás. Sinto Ryn bem ao meu lado. Seu braço, ainda molhado, escova o meu. Posso ouvi-lo respirar. Sua mão se move, e seus dedos lentamente se entrelaçam com os meus. Meu coração faz uma dança vertiginosa no meu peito, e porque a escuridão é tão completa, não tenho ideia do que está prestes a acontecer até que já esteja acontecendo.
Seus lábios escovam os meus, o que me assusta tanto que quase me afasto. Mas eu não me afasto. Seguro seus dedos mais apertados e aperto meu corpo mais perto porque — sim oh sim oh sim — eu quero tanto isso. Nossos lábios se tocam novamente, com mais pressão desta vez. Ele tira os dedos dos meus e desliza a mão até o meu braço. Imagino que posso sentir faíscas pulando pela minha pele. Através das minhas pálpebras fechadas, vejo flashes de luz, e a realização me atinge: as faíscas que ele está arrastando sobre a minha pele são reais.
Seus dedos cavam nos meus cabelos molhados e puxam meu rosto para mais perto dele. Ele me vira, me pressionando contra a parede. Sinto seu corpo ao longo de cada centímetro do meu; não existe espaço entre nós. Seus lábios escovam meu maxilar, me provocando com beijos que se parecem tão bons contra minha pele ardente e quente. Ele trilha um dedo - mais faíscas - no meu pescoço e sobre a ondulação do meu peito, terminando quando ele atinge a borda do meu top. Acho que um suspiro escapa da minha garganta, mas não tenho certeza porque tudo o que posso ouvir é o martelar de sangue nos meus ouvidos.
Seus beijos alcançam meus lábios novamente, e desta vez eu os abro. Sua língua desliza sobre a minha, produzindo uma deliciosa sensação de formigamento. Mais faíscas. Eu estendo a mão e passo os dedos pelo seu cabelo. Se eu pudesse puxá-lo para mais perto do que ele já está, eu faria. Suas mãos deslizam por meus lados, sobre meus quadris, e param no topo das minhas pernas. Seu aperto aumenta, e em um movimento rápido, ele me puxa. Enrolo minhas pernas ao redor de sua cintura enquanto ele desliza as mãos debaixo do meu top, seus dedos deslizam pela minha pele nua.
A parte lógica do meu cérebro de repente acorda e começa a gritar comigo para sair daqui. O que eu estou fazendo? Este é o cara que namorou com os Subterrâneos e zomba dos sentimentos das garotas da Guilda que ousaram gostar dele. Este é o cara que me machucou tantas vezes depois que Reed morreu que eu jurei que nunca mais o deixaria se aproximar de mim novamente.
Mas não consigo parar. Não posso. Eu quero muito mais. Os beijos. As faíscas. Nossos corpos molhados pressionados juntos. Acima das batidas nos meus ouvidos, ouço algo como vidro quebrando. Eu não ligo. As faíscas estão dançando em todo o nosso corpo, e é exatamente onde eu quero estar. Cada centímetro de mim estava desesperado para estar ainda mais perto dele.
Ryn arranca seus lábios do meu o suficiente para arfar, — Eu lhe disse que você estava perdendo. — Algo dentro de mim congela. Ele me gira novamente, me pressionando forte contra a parede - a parede errada.
Ela se abre e nós dois aterrissamos em uma pilha sem graça no chão da sala de estar da princesa. Cacos de vidros espalhados pelo chão, várias cadeiras estão jogadas para os lados e fumaça sobe de uma almofada carbonizada.
Levanto quando vejo alguém de pé sobre nós: o faerie da qual tentávamos nos esconder. — Ok, isso não é o que parece, — ele diz, levantando as mãos. — Todo esse dano aqui? Eu não fiz isso. Apenas... aconteceu.
— O quê? — Ryn pergunta, claramente confuso. O faerie parece tão culpada quanto eu me sinto. — Quem é você? — Exige Ryn, na mesma hora que o faerie pergunta exatamente o mesmo.
Não sei o que está acontecendo. Ryn e eu não deveríamos estar aqui, e obviamente esse cara também não. Mas eu não ligo. A minha versão lógica está enlouquecendo. Pirando. Tudo o que quero é estar o mais longe possível daqui. Sem outro pensamento, volto para o jardim e corro o mais rápido possível.
Capítulo 23
Não paro de correr até chegar no meu quarto. Eu tranco a porta atrás de mim e me inclino contra ela, respirando com dificuldade. Se Ryn tentou me seguir, ele não faz um trabalho muito bom, porque não consigo ouvir nada do outro lado da porta. Apenas para ter certeza, eu corro para o banheiro e tranco a porta atrás de mim também. Eu não quero ouvir se ele bater.
Eu disse que você estava perdendo.
O beijo era sobre isso? Apenas Ryn se provando para si mesmo? Eu estava tão apressada no momento que provavelmente teria entregado meu coração se ele tivesse pedido, e tudo o que ele realmente estava fazendo era provando algo? Inclino-me contra a porta e deslizo para baixo até estar sentada no chão. Eu corro as duas mãos através do meu cabelo úmido e o puxo. O meu peito dói com o vazio, mas isso serviu para me mostrar que eu estava sendo estúpida. Eu sabia o tempo todo que esses sentimentos só acabariam me machucando.
Escondo-me no banheiro a tarde toda até ouvir a conjuradora de roupa na porta do meu quarto. No começo, temo que seja Ryn batendo, mas a voz aguda da conjuradora de roupas passa facilmente através das duas portas.
Ela observa minha aparência desgrenhada com as sobrancelhas levantadas. Quando não digo nada, ela começa a trabalhar. Ela me veste em uma detestável criação volumosa e roxa que, felizmente, tem pouco brilho. Meu cabelo obviamente a ofende porque ela franze o cenho toda vez que ela olha para a minha cabeça. Em vez de me deixar lidar com isso, ela murmura um feitiço para livrar-se da aparência molhada e enrola e torce e coloca grampos tão rápido que eu não tenho certeza de como tudo acabou empilhado em cima da minha cabeça. Não parece muito ruim, e eu aprecio a velocidade. Balançando a cabeça de desaprovação, ela recolhe suas coisas e sai.
Eu rapidamente retiro as fitas coloridas do meu pulso e vou até a porta do meu quarto. Preciso sair daqui antes que Ryn chegue para me acompanhar para o andar de baixo. Abro a porta e espio. Nada de Ryn.
Ufa.
Eu desço as escadas tão rápido quanto o volume permite. O cara que sorriu para mim ontem à noite está parado perto das portas da sala do trono, e eu decido que agora é hora de ser amigável. Eu me apresento, e ele parece estranhamente animado em falar comigo. Eu faço o meu melhor para prestar atenção ao que ele está dizendo, mas é um pouco difícil quando passo os primeiros minutos da nossa conversa ansiosamente procurando por Ryn e as próximas evitando propositadamente o olhar dele. Posso dizer que ele está me observando, e o constrangimento aquece meu pescoço.
O jantar é horrivelmente estranho. Ryn e eu estamos sentados ainda mais longe da Rainha do que na noite passada - provavelmente devido à minha grosseria - e passo toda a noite com meu corpo longe de Ryn tentando conversar com o cara da minha esquerda. A menina do outro lado parece um pouco chateada porque ele está a ignorando. Parte de mim se sente mal, mas estou tão desesperada para conversar com alguém além de Ryn que farei qualquer coisa para manter a atenção desse cara.
Quando o jantar chega ao fim e todos começam a ficar de pé, eu sou a primeira a sair. Ouço a voz de Ryn atrás de mim, — V, espere. — Eu ando mais rápido. Não tenho certeza de poder correr nessa coisa volumosa, mas certamente posso tentar. Assim que eu rodeio um canto, eu corro. Os passos apressados de Ryn me seguem. — Apenas espere, caramba, — ele grita. Meu cérebro me tortura com uma lembrança das minhas pernas enroladas em sua cintura e seu corpo pressionado contra o meu.
Ugh, eu poderia me envergonhar mesmo se eu não tentasse?
— Violet! — O grito de Ryn é tão alto que eu paro. Fico no pé da escada com as costas para ele. A água que saí das mãos estendidas das sereias escorre em segundo plano. — Não entendo, — diz ele. — Sobre o que você está chateada?
Giro lentamente e olho para ele. Há muitas coisas que eu quero dizer, mas as palavras que acabam deixando a minha boca são, — Podemos apenas fingir que não aconteceu?
Ele parece tão confuso que por um momento que eu também fico confusa. Eu perdi alguma coisa aqui? Entendi mal o que realmente aconteceu entre nós? Mas percebo movimento abaixo de uma arcada atrás dele, e todos os pensamentos do nosso beijo se desvanecem quando pouso os olhos no faerie impostor que roubou a forma do meu pai. Parece que o idiota é estúpido o suficiente para aparecer na mesma sala, ao mesmo tempo que a noite passada.
— Ei! — Grito enquanto ele desaparece na escuridão mais uma vez. — Pare! — Eu corro atrás dele, quase caindo de cara quando piso na frente do meu vestido. Eu tiro as camadas estúpidas do caminho, puxo a saia com as duas mãos e corro de novo. Ele já está a meio caminho do bosque de árvores de onde desapareceu na noite passada, e ainda estou correndo pela colina. Estou pensando em arrancar a parte de baixo da minha monstruosidade volumosa quando Ryn passa por mim. Pouco antes do metamorfo chegar ao pavilhão, Ryn dá um salto volumoso e o coloca no chão. Eles lutam. Faíscas de magia voam aqui e ali. Assim que chego ao pavilhão, o metamorfo consegue levantar. Eu posso ver que ele está prestes a correr outra vez, e minhas armas aparecem calorosamente enquanto se instalam em meus braços estendidos.
— Pare! — Eu aponto meu arco e flecha diretamente para ele. — Quem diabos é você e como se atreve a assumir a forma do meu pai?
Ele encontra meu olhar irritado, ergue lentamente as mãos e balança a cabeça.
— E o que isso significa? Você não sabe quem você é? Você está se recusando a me responder?
Ryn ergue-se e fica de pé ao meu lado. Do canto do meu olho, eu percebo seu chicote cintilante na mão direita. — Eu acredito que ela fez uma pergunta, metamorfo.
O homem balança a cabeça novamente, ainda me observando. — Você não quer fazer isso, V.
Estou tão assustada com o uso do meu apelido e sua voz que soa exatamente como a do meu pai - obviamente - que o arco e a flecha quase desaparecem do meu aperto. Como ele sabe que meu pai sempre me chamou de V? Não. Concentre-se. Eu já fui enganada por um metamorfo antes e não serei de novo. — Você parece saber quem eu sou, então é justo que me diga quem você é. — Quando ele não diz nada, eu grito, — Diga!
O metamorfo fecha seus olhos e suspira. O olhar de derrota em seu rosto me dá esperança; ele vai se entregar e me contar o que está acontecendo. Ele senta-se em uma cadeira acolchoada, se inclina sobre os joelhos e olha para mim. — Minha linda garota, — diz ele suavemente. — Você parece muito com sua mãe.
— Desculpe-me?
— Eu deveria saber que você estaria aqui. Claro que você ganharia o prêmio de graduação... é o que você sempre quis.
— Ok, eu não sei o que você está fazendo, — além de me assustar — mas você não está respondendo a minha pergunta. — Eu ando até ele e seguro a flecha a polegadas de sua testa. — Quem. É. Você?
Ele ergue os olhos e diz simplesmente, — Seu pai.
Apesar do calor do ar noturno, um arrepio atravessa meus braços. — Meu pai está morto, — eu digo a ele. — Eu vi o corpo dele. Eles o colocaram em uma canoa e eu o assisti flutuar e desaparecer sob as Cataratas do Infinito. Ele se foi, o que significa que você não é ele.
Ele esfregou uma mão nos olhos dele. — Eu sinto muito, V. Você não deveria saber sobre isso. Pelo menos não até que tudo acabe e estejamos seguros novamente. — Ele geme e murmura algo sobre a Rainha e ser descuidado.
— Eu odeio ser repetitiva, — eu digo, — mas você não está respondendo a minha pergunta.
Ele se concentra em algum lugar no chão e diz, — Não era eu na canoa. Era um metamorfo. A rainha o usou para fingir minha morte para que eu pudesse continuar uma tarefa perigosa disfarçado. Todos tiveram que acreditar que eu estava morto para que a pessoa de quem eu estou atrás não tivesse mais suspeita.
Eu posso sentir uma parte de mim ousando ter esperança. Parece improvável, mas talvez seja verdade. Talvez este homem sentado aqui me observando com algo como orgulho seja realmente meu pai.
— Você espera que acreditemos nisso? — Perguntou Ryn. — Que história ridícula. Um metamorfo não volta para sua forma original quando morto de qualquer maneira? Se a sua história fosse verdade, então teríamos visto um estranho na canoa, não o pai de Violet.
Eu balanço a minha cabeça. — Eu matei um metamorfo. Ele... — Ele ainda parecia Nate quando ele estava morto. — Ele não voltou à sua forma original depois que ele morreu.
— Você não precisa acreditar em mim. — O homem está parado, e eu mantenho minha flecha treinada em sua testa. — Na verdade, seria melhor se não acreditasse. Seria melhor se todos nos afastássemos agora e fingíssemos que isso não aconteceu. — Sua voz está estável, mas seus olhos estão cheios de uma tristeza infinita. Maldito, esse cara é um ator realmente bom ou ele está falando a verdade. Ele olha diretamente para mim e diz, — Você deveria me deixar ir.
— Isso é exatamente o que você quer, não é? — Ryn murmura. Ele se vira para mim. — Não podemos dar a esse cara uma poção de compulsão e forçá-lo a dizer a verdade?
— Poderíamos. Ou ele poderia apenas responder uma pergunta. — Eu consigo pensar em algo que ninguém mais deveria saber. — O que meu pai me disse na noite em que o menino que todos amavam morreu? — Isso deve ser bastante enigmático se esse homem realmente for uma fraude.
O homem-que-pode-ser-meu-pai se aproxima de mim. Tão perto que minha flecha está quase tocando sua pele. — O que você quer, Violet? — Ele pergunta suavemente. — Você quer que seja eu? Ou é mais fácil para você se eu não for nada além de um impostor?
Minha voz se quebra quando digo, — Eu já sei que é você. — Eu acho que soube no momento em que ele me chamou de V.
Vivo. Ele está vivo. Como eu deveria processar isso?
— Perdoe meu cinismo, — diz Ryn, — mas eu ainda gostaria de ouvir a resposta a essa pergunta.
Meu pai olha para Ryn, depois de volta para mim. Ele respira fundo. — Você viu minhas lágrimas e disse que nunca tinha me visto chorar antes. Eu disse que foi apenas a segunda vez que derramei lágrimas na minha vida adulta. Eu também disse que não sabia o porquê, mas sempre amei aquele menino como se ele fosse meu próprio filho.
Eu aceno. Foi exatamente o que o pai me disse. Papai. Meu pai. Que não está morto. A realização finalmente me acerta e um estremecimento passa pelo meu corpo. — Papai? — Eu sussurro.
Ele me puxa para dentro de seus braços. — Bebê, sinto muito, sinto muito. Por favor, me perdoe. Eu senti falta de você todos os dias. Eu nunca quis deixar você.
Em meio ao meu emaranhado de emoções, eu me encontro me livrando de seus braços. — Mas você foi, — eu digo através das minhas lágrimas. — Você foi embora. Você disse que todos tinham que acreditar que você estava morto, mas por que eu? Por que você não poderia simplesmente me dizer o que realmente estava fazendo? Eu teria mantido seu segredo. Você sabe que eu teria.
— Eu especialmente não poderia dizer a você, V. Você estava em perigo. Ele queria matá-la. Você tinha que acreditar que eu estava morto ou ele teria procurado até encontrar você.
— O quê? Sobre o que ele está falando?
— Eu sempre soube que você ficaria brava se descobrisse sobre isso, mas nunca me arrependi. Tanto quanto quebrou meu coração deixá-la, minha decisão a manteve segura. Valeu a pena a dor que ambos tivemos que passar.
Raiva explodia dentro de mim. Que direito ele tem para decidir qual dor que devo passar? Ryn toca meu braço. — Não brigue com ele, V. Ele está vivo. Este deve ser um momento de alegria, não de raiva.
Aperto meus olhos. Lágrimas escorrem pela borda das minhas pálpebras e correm para minhas bochechas. Por que Ryn está sempre certo? Eu deveria me alegrar agora, não agir como uma criança difícil. Avanço e envolvo meus braços ao redor do pescoço do meu pai. Ele me abraça de volta. Isso é real, eu digo a mim mesma. Seus braços em volta de mim são reais. E, embora eu deteste falar de sentimentos, acho que devo dizer a ele algo, apenas no caso de isso ser um sonho e eu não ter outra chance. — Eu te amo, pai, — eu sussurro.
— Eu amo você. — Ele me aperta apertado e me levanta do chão por um segundo. — E estou tão orgulhoso de você. Você se tornou uma jovem e uma guardiã tão incrível, inteligente e bonita. — Ele me põe de pé. — E por que você está vestindo este vestido horrível? Você odeia roupas roxas.
Eu rio enquanto limpo as lágrimas do meu rosto. — Eu não escolhi. A mãe não te disse que eles escolheram suas roupas quando ela ficou aqui?
Papai balança a cabeça com uma risada. Ele olhou por cima do meu ombro e estende a mão para Ryn. — Eu acho que eu não deveria ficar surpreso ao vê-lo aqui também. Você sempre foi tão competitivo quanto a Violet. Parabéns pelo primeiro lugar sua turma. — Ele sacode a mão de Ryn. — Estou surpreso ao ver vocês dois de pé na mesma sala sem querer se machucar. Pensei que vocês dois tinham jurado nunca mais ser amigos de novo?
Olho para Ryn e depois desvio o olhar. — Sim, hum, decidimos colocar tudo isso para trás.
— Uh, eu tenho uma pergunta, senhor, — diz Ryn. — Foi você quem eu vi na casa dos Harts?
— O quê? — Eu pergunto, assim quando o meu pai balança a cabeça e diz, — Sim.
— Hum... sim. — Ryan se vira para mim. — Lembra quando eu disse que vi alguém que parecia Cecy? Bem, eu estava mentindo.
Fico boquiaberta. — Você viu meu pai e não me disse? — Eu tento empurrá-lo, mas ele pega minhas mãos.
— Eu simplesmente pensei que não poderia ser ele, então por que te assustar?
— Ryn, isso não é motivo suficiente para manter algo assim de mim. — Eu me sinto machucada e traída, mas estou tentando ser madura, então eu deixo passar. Sento-me à beira de uma cadeira e viro para o meu pai. — Ok, você tem muitas explicações para dar. Qual tarefa disfarçada que você está fazendo que está demorando tantos anos para completar? E por que exatamente foi melhor para todos, se todos pensassem que você estava morto? Você disse que alguém estava tentando me matar? E o que exatamente você estava fazendo na casa dos Harts?
Papai ergueu as mãos. — Olha, você sabe que não posso te dizer nada. Em primeiro lugar, é contra o protocolo compartilhar os detalhes de uma tarefa e, em segundo lugar, é para sua própria segurança.
— Papai, você me abandonou nos últimos cinco anos. Eu acho que você me deve muito. — Sim, estou jogando o cartão de culpa. Um movimento dissimulado, mas não me importo agora.
— V, eu ...
— Conte! Você não pode simplesmente aparecer na minha vida de repente e não explicar nada.
Ele se senta na borda de uma pequena mesa. — Tudo bem, olha, é algo a ver com o filho da Rainha Unseelie, mas é tudo o que posso dizer. Estou lidando com pessoas muito perigosas, V, e não posso envolver você nisso.
— O filho da Rainha Unseelie? — Eu olho para Ryn, que está sentado para trás em uma cadeira próxima. — Você quer dizer Zell?
Papai franzi o cenho. — Sim. Marzell. Como você o conhece?
Eu reviro meus olhos. — Você tem medo de eu estar envolvida, pai? Bem, é tarde demais para isso. Eu já estou envolvida. Pra caramba. Então não há necessidade de você manter mais segredos de mim.
— O que você quer dizer que você está envolvida? — Papai levantou rapidamente. — Como? O que aconteceu?
— Não, não, não, — eu digo. — Você não pode exigir detalhes sem compartilhar. Você me conta sua história, e eu conto a minha.
Com descrença escrita em todo o rosto, papai olha para Ryn como se para apoio. — Desculpe, mas estou com V nisto, — diz Ryn.
Depois de outra pausa, papai diz, — Ok, mas não tenho tempo para contar tudo agora. Eu já estou atrasado para a reunião para a qual eu estava a caminho quando você me perseguiu.
O pânico aperta o meu coração. Nós vamos embora na primeira hora pela manhã; quando vou vê-lo novamente? — Então, venha para casa, — eu digo, de pé rapidamente. — Venha para casa e explique tudo para mim.
Papai se aproxima e toca minha bochecha. — Eu não quero deixá-la fora da minha vista se você estiver em perigo.
Inclino minha cabeça de lado e sorrio. — Eu sou uma guardiã, pai. Eu sempre estarei em perigo.
— Sim, mas é diferente com a Corte Unseelie. Você não sabe o que eles...
— Eu tenho um encanto de ocultação sobre mim. Um bom. Não há maneira de Zell me encontrar, a menos que acidentalmente toquemos um no outro, e isso não acontecerá.
Papai balança a cabeça. — OK. Você estará em casa à noite depois de amanhã? — Eu aceno com a cabeça. — Bom. Vejo você então. — Ele beija minha testa. Ele está prestes a se afastar quando seu olhar cai para o meu pescoço. — O tokehari de sua mãe, — ele diz com surpresa. — Eu pensei que estava — ele olha para Ryn, então de volta para mim — perdido, — ele finaliza.
— Uh, eu achei, senhor, — diz Ryn, — e voltou com as minhas mais sinceras desculpas... por ‘perder’.
Papai sorri. — Isso é bom. — Ele beija minha testa mais uma vez e sussurra, — Eu amo você, bebêzinha.
Capítulo 24
Sinto que estou olhando a minha vida através de olhos diferentes. Toda vez que eu penso em um evento importante, eu me pergunto onde meu pai estava na época e o que ele estava fazendo. Ele estava observando do lado de fora, mantendo um olho em mim? Ou ele se distanciou completamente desde sua suposta morte, nem mesmo sabendo que eu apareceria naquela noite no Harts? Tantas perguntas. Eu provavelmente deveria escrevê-las no caso de esquecer de algo.
Ryn e eu fazemos a viagem de volta para Creepy Hollow em silêncio. Eu digo a mim mesma que ele está me dando espaço para aceitar o fato monumental de que o meu pai ainda está vivo, mas eu sei que também há uma súbita estranheza entre nós. Nenhum de nós mencionou o Beijo novamente. Espero que, se eu ignorar, Ryn e eu possamos voltar para algum tipo de amizade confortável. Eu vou superar meus sentimentos por ele em breve, certo? Sim, eu vou. Afinal, não pareceu levar muito tempo para que meus sentimentos por Nate desaparecessem.
Quando acordei no palácio esta manhã, encontrei uma nota que foi deixada por debaixo da minha porta. Meu coração apertou dolorosamente quando vi meu nome escrito na caligrafia do meu pai na frente.
Tenho certeza de que não tenho que dizer isso, mas NÃO PODE dizer a ninguém sobre mim.
Ele não precisava me lembrar, mas eu valorizo sua nota, no entanto. Prova que ele realmente existe. Eu a mantenho no meu bolso agora que estou de volta para casa onde a Corte Seelie e tudo o que aconteceu lá é um sonho vívido. A nota e a caligrafia me asseguram que foi real. O espelho de prata acima da minha mesa e a vela preta que queima para sempre que estão ao lado da piscina do meu banheiro também ajudam.
Depois de encontrar Bran na Guilda e interrogá-lo sobre a investigação sobre os ataques à Guilda - ele me diz absolutamente nada útil - envio uma mensagem no âmbar para Tora e a convido para a sobremesa. Desejo com todo o coração que eu pudesse contar a ela sobre papai, mas, em vez disso, ela terá que me contar sobre o cara que ela manteve em segredo.
— Olha, eu não mantive segredo intencionalmente de nada para você, — ela diz, quando eu a cumprimento na minha porta com os braços cruzados e um olhar raivoso. — Eu simplesmente não tinha exatamente chegado a te contar sobre ele ainda.
— Sim, sim, tanto faz. — Isso me parece exatamente o que eu diria se ela descobrisse sobre Nate, então eu realmente não tenho o direito de fazê-la se sentir culpada. — Diga tudo agora, e isso compensará.
Ela atravessa minha sala de estar em direção a um dos sofás. — Tudo bem, mas depois você vai compartilhar os detalhes de sua vida amorosa.
— Mas eu não tenho vida amorosa. — Pelo menos não que eu esteja disposta a falar. A lembrança das mãos de Ryn acariciando minha pele envia borboletas voando na minha barriga. Eu me afasto para esconder meu sorriso. Eu não deveria estar sorrindo. Eu nem deveria estar pensando nisso. Não é como se fosse acontecer novamente.
— Ooh, eu não tive uma sobremesa divertida assim há séculos, — diz Tora enquanto olha para a mesa baixa entre os sofás. Há uma tigela de frutas do seu lado e outra do meu lado. Nós também temos uma tigela de chocolate derretido e palitos de pau. No centro da mesa está uma esfera flutuante de luz azul e branca.
— Sim, não acho que usei esse feitiço de sobremesa faz anos. Parecia apropriado para o clima mais quente. Então, de qualquer maneira, esse cara...
— Oliver.
— Oliver. Você o conheceu na Guilda de Londres?
— Antes disso, na verdade. — Tora se inclina para frente e coloca um morango no final do seu palito de pau. Depois de mergulhar no chocolate derretido, ela o mantém dentro da esfera cintilante por vários segundos para congelá-lo. — Lembra quando você foi suspensa?
— Eu tento não lembrar.
— Certo, bem, havia um cara do Conselho que visitou a Guilda de Londres. Ele teve que se encontrar com alguns de nossos membros do Conselho, e depois conversou com alguns de nossos formandos. — Ela morde o morango com chocolate congelado e mastiga algumas vezes antes de continuar. — Eu fui a mentora no comando naquele dia, então, você sabe, conversamos. — Sua pele pálida fica rosa brilhante.
— Eeeee? — Eu pergunto com um sorriso.
— Bem, ele era muito charmoso e tudo mais, mas eu estava apenas sendo amigável.
— Isso é estranho. Lembro de Honey me dizendo que ele era chato.
Tora faz uma careta para mim. — Ele não é chato. Quero dizer, ele chamou a videira perdida que sempre foge pelo corredor Nigel, o que é um pouco corajoso, mas, além disso, você sabia...
— Gostoso?
— Bem, sim.
Eu rio enquanto congelo o meu próprio pedaço de fruta. — Eu sabia!
— Oh, bobagem, você não sabia de nada. De qualquer forma, eu disse adeus esperando não o ver novamente, e a próxima coisa que eu fico sabendo, a Conselheira Starkweather disse que ele me pediu para visitar a Guilda de Londres por alguns dias para dar minha contribuição para um novo centro de treinamento que eles decidiram construir. Eu pensei que era estranho que eles não pedissem para alguém que realmente projeta centros de treinamento...
— E então você descobriu quando chegou lá que ele não queria sua contribuição, ele só queria você. — Eu lhe dou o meu sorriso mais doce e ela revira os olhos.
— Bem, não é como se ele me tivesse dito isso, mas descobri.
— Então é por isso que você acabou ficando por mais tempo?
— Sim, ele conseguiu me convencer a estender minha visita.
— Sabe, Tora — Eu me inclino para frente, fingindo um ar conspirador — há essa coisa chamada caminhos das fadas que permite que você visite alguém em qualquer lugar do mundo em apenas alguns segundos. Na verdade, vocês nem precisam ficar no mesmo lugar.
Tora cruzou os braços e estreita os olhos, mas vejo que ela está tentando não sorrir. Eventualmente, ela cede com uma risada. — Olha, foi mais fácil quando eu estava lá.
— Na casa dele?
Ela esfaqueia outro pedaço de fruta e o congela. — Você ainda não me disse por que Ryn estava em seu quarto tão cedo na manhã de ontem.
Eu congelo um mirtilo coberto de chocolate e o entrego ao Filigree, atualmente em forma de rato e descansando no braço do sofá. — Já que estamos mudando de assunto, — eu digo, — vi Bran mais cedo e perguntei sobre os ataques a Guilda. Ele usou muitas palavras, mas basicamente não me disse nada.
— Você sabe que ele não pode dizer nada se você não faz parte da investigação. Eu também perguntei, e ele também não me contará nada. Eu só conheço os poucos detalhes que foram tornados públicos, como o fato de que a Rainha Unseelie nega ter qualquer conhecimento dos ataques.
O que é exatamente o que eu disse a Conselheira Starkweather. — Sim, ele mencionou isso. Então, quando eles consertaram o saguão e o teto? Eu andei por lá mais cedo hoje e parecia que nada nunca aconteceu.
— Eu acho que eles terminaram ontem à noite. — Tora congela uma framboesa com chocolate e enfia toda a coisa na boca dela.
— Uau, três dias inteiros apenas para reparar o saguão?
— Mm hmm. — Ela termina de mastigar. — São alguns encantamentos sérios de proteção no teto abobadado. E, aparentemente, o piso também tem a mesma proteção. — Ela pega sua tigela de frutas e come alguns pedaços descongelados. — Agora, não pense que não tenho notado que você está evitando falar sobre Ryn. Eu sei que você o desprezava há alguns anos, mas certamente parecia estar curtindo sua companhia no grande baile. Vocês dois são mais do que amigos agora?
— Tora! — Eu faço o meu melhor para parecer horrorizada. — Não. Você pensa honestamente que eu namoraria Ryn?
— Bem, sim. Ele é bonito e encantador, ele é um excelente guardião, e eu posso ver porque você pode se apaixonar por ele.
— Isso é ridículo. Nunca funcionaria a longo prazo.
Tora fica calada um pouco antes de responder. — Eu não queria ter que ser aquela a dizer isso, então fico feliz que você tenha feito. Eu sei quantas vezes ele te machucou no passado, e eu odiaria que você se machucasse de novo. Mas acho que você sempre foi uma pessoa sensata. Eu deveria saber que você não iria se apaixonar por ele assim. — Ela estala os dedos.
Vê? Diz a voz lógica dentro de mim. Tora sabe tão bem quanto você que não funcionaria.
— Certo, agora me diga o que você vai dizer quando a Guilda lhe oferecer um emprego. — Ela aponta seu pedaço de pau com chocolate para mim. — Porque ambas sabemos que é exatamente o que eles vão fazer.
No momento em que Tora e eu discutimos as minhas opções para o futuro... que já não incluem ser uma guardiã pessoal da Rainha Seelie, uma vez que existe uma forte possibilidade de ela pensar que sou rude e desagradável, e eu também acho que vou achar a vida no palácio completamente chata... nós terminamos toda a sobremesa. Eu limpo enquanto Tora lê uma mensagem em seu âmbar e rir. Ri. Honestamente, o que tem no amor que pode nos fazer agir como idiotas completas às vezes? E por ‘nós’ não me refiro a mim. Porque eu nunca agiria como uma idiota por um cara. Bem, exceto na vez que tentei seduzir Nate com um tremor sedutor dos meus cílios.
— Eu, hum, preciso ir agora, — diz Tora.
— Tem um encontro no outro lado do mundo?
— Algo assim. — Os olhos dela brilham.
— Ok, bem, eu te vejo depois.
Ela vai embora, e eu tento me dizer que não me sinto sozinha. Eu tento me dizer que não sinto falta de Ryn. Estou mentindo, é claro. Parte de mim deseja que ele estivesse aqui, apenas para sair, ser amigos. Mas há uma parte muito maior de mim que está aliviada por ele não estar, por que, então, eu teria que falar sobre o Beijo.
Dirijo-me para o andar de cima, visto uma longa camiseta e subo na minha cama com o meu âmbar. Eu preciso praticar alguns dos feitiços de redes sociais que Ryn me ensinou ou nunca vou fazer pleno uso dele. Puxo minha stylus do meu cabelo, que cai em volta do meu pescoço em ondas bagunçadas; Raven não ficaria impressionada. Após alguns minutos, escrevo as palavras de um feitiço sobre a superfície brilhante do âmbar.
Nada acontece.
Ótimo. Posso me lembrar de feitiços complexos necessários para curar meu corpo de todos os tipos de lesões, mas quando se trata de algo bobo como um feitiço para melhorar minha vida social, as palavras me escapam. Filigree desloca-se para a forma de um coelho branco com pequenas asas brancas — quem sabe onde ele viu isso — desliza e meio que salta na cama enquanto eu toco minha stylus no meu queixo, pensando. Procuro outra combinação de palavras e, desta vez, pequenas formas nadam na superfície do meu âmbar.
Eu me inclino contra meus travesseiros e examino as formas e as palavras. Existem símbolos que representam pessoas diferentes — Ryn me deu uma chave quando ele definiu este feitiço — e linhas curtas de texto ao lado de cada um. Uma mensagem em uma bolha no topo do âmbar me informa que Honey está ‘me seguindo’, e também o cara com quem conversei do lado de fora da sala do trono quando eu estava evitando Ryn. Isso é um pouco assustador. Como ele me encontrou?
Eu passo os olhos e leio algumas das mensagens.
Honey: Férias com meu namorado e sua família. Tipo, todos os 12!
Flint: A Guilda está mais forte do que nunca. Toma essa, Corte Unseelie!
Ryn para Opal: Eu achei que a comida arrasou, na verdade.
Sério? Isso é o que as pessoas fazem no seu tempo livre? Eu não entendo. Flint não poderia ter problemas em dizer a Corte Unseelie ‘toma essa’, ou esse tipo de coisa é permitido com os feitiços sociais? E quem é essa pessoa Opal com quem Ryn está falando? Hmm. A garota de cabelos negros com quem ele estava flertando no palácio não se chamava Opal?
Eu não quero me envolver nessa coisa tola. Por outro lado, não quero ser excluída. O que é completamente ridículo. Eu nunca me preocupei em ser excluída. Eu acabava com minhas tarefas e ignorava Ryn e todos os outros.
Um som de batidas me surpreende, e olho. Ryn está inclinado na entrada do meu quarto, batendo os nódulos contra a moldura da porta. A visão dele envia uma sensação que atravessa meu corpo.
Sensação estúpida.
— Você sabe que deveria ficar lá fora e bater, certo? — Eu digo a ele.
— Sim, mas achei que você não me deixaria entrar se soubesse que era eu. Então eu apenas me deixei entrar.
Eu dou uma risada falsa enquanto coloco meu âmbar na mesa de cabeceira. — Por que eu não deixaria você entrar?
— Uh, porque você está me evitando desde a manhã de ontem? Se eu não tivesse pegado seu pai para você ontem à noite, você teria se escondido no seu quarto a noite toda. E se não tivéssemos sido forçados a viajar juntos esta manhã, você definitivamente ficaria longe de mim o dia todo.
— Bem, sabe, não precisamos nos ver todos os dias. — Uau. Incrível contribuição para a conversa, Violet. Você deveria manter sua boca fechada.
— Eu acho que não, — diz Ryn, — mas quando há essa estranheza entre nós, provavelmente devemos falar sobre isso.
Por favor, não.
— Por que tenho a sensação de que o nosso relacionamento está retrocedendo? — Ryn pergunta enquanto ele entra no meu quarto, retira a jaqueta e a pendura na parte de trás da cadeira da mesa. — Geralmente, não é a garota que sempre quer falar sobre sentimentos e outras coisas e o cara guarda tudo?
— Eu não guardo as coisas, — eu disparo de volta. Bem, há uma caixa imaginária em que eu gosto de esconder coisas, mas isso é diferente.
— Certo. Claro que não.
Eu levanto os meus joelhos e coloco meus braços ao redor deles. Filigree pula até a borda da cama e bate as asas até conseguir decolar. Ele voa para Ryn, que o pega facilmente.
— Então, hum, como sua mãe está indo com essa investigação de assassinato? — Pergunto.
Ele suspira. — Tudo bem, já que você claramente não vai trazer isso à tona, eu direi. Nós nos beijamos. Foi muito bom. Agora eu quero falar sobre isso, mas não posso porque você está sendo toda estranha. Isso não é normal para você. Você não é como outras meninas, lembra? Você não fica boba e chateada e temperamental. Você é mais legal do que isso.
— Bem, Ryn, acho que só posso ser legal até certo ponto. Há uma linha, e quando você me beijou apenas para provar que estava certo sobre alguma coisa, você a cruzou. — Lá estava, agora ele sabe por que estou chateada. Hmm. Isso na verdade não foi tão difícil.
— Apenas para provar que eu estava certo? — Ele coloca um filigree contorcendo-se no chão. — Do que você está falando?
— Você vai me dizer que não se lembra? Deixe-me ajudá-lo. Tivemos um beijo super-quente, e então você terminou com um ‘Eu disse que você estava perdendo’.
— Sim, e? Você estava perdendo. Eu não estava tentando provar um ponto; estava simplesmente afirmando um fato. E não foi aí que eu planejei acabar. Confie em mim, eu poderia ter ficado no escuro com você por horas, se não tivéssemos atingido a parede errada e parado no meio de uma sala de estar parcialmente demolida. Falando sobre isso, você não me perguntou o que aconteceu depois que você fugiu.
Eu suspiro. — O que aconteceu depois que eu fui embora?
— Bem, o Sr. Faerie Sorrateiro tinha o mesmo direito de estar lá quanto nós. Então, nós dois concordamos em fingir que nunca nos vimos, e então ele correu enquanto eu fui deixado para limpar toda a bagunça que você e eu fizemos antes que a princesa Olivia voltasse.
— Nós fizemos?
— Uh, sim, V. — Ryn olha para mim como se eu já devesse ter descoberto isso. — Vasos quebrados, almofadas queimadas, móveis revirados... fomos nós. — Ele sorri. — Foi um beijo muito quente, lembra?
Tentar realmente não é difícil. Mas, obviamente, não estou tentando o suficiente porque as memórias não vão a lugar nenhum. Então respiro fundo e digo, — Tudo bem, vou conversar. O beijo foi quente. Surpreendente. Incrível. Você estava certo — eu claramente estava perdendo por nunca ter experimentado um beijo de alguém mágico. E agora eu sei, então obrigado. Podemos seguir em frente?
Ele cruza os braços. — Ainda não entendi. Por que você quer seguir em frente? Não é como se você tivesse me beijado porque estava entediada e não tinha mais nada a fazer no momento.
— Oh. Bem, já que você sabe muito sobre minhas motivações, talvez você gostaria de me dizer por que eu te beijei.
Ryn joga as mãos para cima. — Você realmente não vai admitir isso?
— Admitir o quê?
— Que você tem sentimentos por mim, Violet. Por que é tão difícil para você dizer isso?
— Porque não é verdade. — Abraço os joelhos com mais força. — E porque se fosse verdade, você só acabaria me machucando.
— Isso é ridículo. Se temos sentimentos um pelo o outro e queremos estar juntos, por que eu seria estúpido o suficiente para machucá-la?
— Bem, você provavelmente não faria isso intencionalmente, mas depois de um tempo você superaria todos os sentimentos que poderia ter por mim. Eu sei que você gosta da companhia das Subterrâneas, e nunca posso ser tão exótica ou emocionante quanto os seres que você encontrará lá.
Ele avança e se inclina sobre mim com as duas mãos na cama enquanto ele diz, — Eu não quero estar com Subterrâneas, V. Eu quero você.
Essas três palavras enviam arrepios para cima e para baixo em meus braços, mas não posso deixar de pensar para quantas outras garotas ele disse o mesmo. Eu me afasto dele. — Você diz isso...
— Eu quero dizer isso.
— Você acha que quer dizer isso, Ryn, e você provavelmente quer agora, mas não vai durar, e onde isso vai me deixar?
— Violet. Isto... o que estou sentindo... — Ele parece estar lutando por palavras. — É muito mais do que qualquer coisa que eu já senti por qualquer um. Está ameaçando explodir de mim. Como você pode me dizer que não vai durar?
Eu encolho os ombros, balanço a minha cabeça e olho para os meus joelhos. — Eu não sei. Só sei de uma coisa com certeza, e é que você vai quebrar meu coração.
— Não. Nunca vou machucá-la novamente, V. Falo sério. — Ele recua e puxa o cabelo. — O que eu tenho que dizer para fazer você acreditar em mim?
Esta conversa precisa terminar. Eu estou aterrorizada de que, se demorar mais, eu vá desistir. E tanto quanto eu quero - e eu realmente quero muito - sei instintivamente que, quando Ryn quebrar o meu coração, será dez vezes pior do que a dor que senti depois que Nate me traiu. — Não há nada que você possa dizer, Ryn, ou qualquer coisa que você possa fazer. E não importa, de qualquer maneira, porque não sinto o mesmo que você. — Mentirosa, mentirosa. — As coisas estavam boas quando éramos amigos. Por que não podemos continuar assim?
Ele solta uma risada sem humor. — Você não sente o mesmo por mim? Agora você está mentindo.
— Eu não estou.
Sua expressão é incrédula. — Sim, está.
Como ele sabe disso? Está escrito em toda a minha cara? Eu realmente sou uma mentirosa terrível? — Você não faz ideia do que estou sentindo, Oryn.
— Eu sei exatamente o que você está...
— Não faz. Fim da conversa.
— SIM, EU SEI! Você não está me ouvindo? Eu sei o que você está sentindo! Eu sinto o que você está sentindo! Você acha que você é a única em Creepy Hollow agraciada com uma dose especial de magia extra? Bem, você não é. Eu sinto cada coisa que cada um está sentindo, o que, quando se tratava de você, geralmente não é muito. Mas adivinhe o quê? Esse não é mais o seu caso. Eu sabia que você estava entrando em pânico quando fomos para a pista de dança depois da formatura porque senti isso. Eu soube no momento em que sussurrei no seu ouvido enquanto estávamos dançando, que você percebeu o quanto me queria porque senti o fluxo de emoções que de repente apareceu sobre você. Eu senti novamente na manhã de ontem quando eu estava deitado ao seu lado na cama, e novamente quando eu estava te beijando. Eu sei, Violet, então não minta para mim.
Eu fico boquiaberta em estado de choque quando ele acaba de falar. O que ele disse é absurdo. Completamente, totalmente absurdo. Também faz muito sentido. Ryn sempre pareceu ser extra intuitivo. Ele sabe quando algo está errado, antes mesmo de eu poder dizer qualquer coisa. É assim que ele adivinhou minha verdadeira razão para querer conseguir o prêmio da graduação? Ele estava lendo minhas emoções? — O que... O que estou sentindo agora?
Ele respira fundo. — Você ainda sente desejo por mim, — ele diz, — mas também há medo misturado. No entanto, agora mesmo, o choque está muito bem ofuscando tudo o resto.
Ele está dizendo a verdade. Ele pode sentir as emoções de outras pessoas. Minha voz é apenas um sussurro quando pergunto, — Há quanto tempo você sabe que você pode fazer isso?
— Há muito tempo.
— E você nunca me disse.
— Eu...
— Você sempre soube do meu segredo, e ainda assim nunca se preocupou em me contar o seu. — Graças à sua habilidade estúpida, ele deveria estar sentindo a cólera ferver dentro de mim agora mesmo.
— Violet, eu...
— Saia da minha casa!
Ele pega sua jaqueta na parte de trás da cadeira. — Com prazer. Se você quer continuar a mentir para si mesma, vá em frente.
Capítulo 25
Eu deixo a minha camisa em linha reta e passo minhas mãos pelo meu cabelo antes de bater na porta do escritório da Conselheira Starkweather. Havia uma carta dela no meu balcão nesta manhã solicitando minha presença em uma entrevista esta tarde. Eu sabia que Tora estava certa quando disse que me ofereceriam um emprego; Eu simplesmente não pensei que seria tão cedo. Tora me disse que seria apropriado usar um vestido para minha entrevista, mas depois das minhas experiências super-apertadas e super-volumosas na Corte Seelie, cansei de vestidos. Em vez disso, eu transformei uma camiseta simples e de mangas compridas em uma camisa com botões e um colar para combinar com a minha calça - e fiz um bom trabalho.
A Conselheira Starkweather faz uma pequena conversa sobre a minha visita a Corte Seelie por vários minutos antes de chegar ao motivo desta reunião. — O Conselho discutiu, e gostaríamos de lhe oferecer uma posição aqui na Guilda de Creepy Hollow. — Ela faz uma pausa, o que provavelmente significa que eu deveria dizer algo
— Tudo bem. Obrigada.
Ela cruza os braços em cima de sua mesa e se inclina para frente. — Você provavelmente está ciente de que geralmente damos aos graduados uma pausa mais longa após a formatura antes de lhes oferecer cargos na Guilda, mas com o ataque recente... Bem, precisamos de tantos guardiões quanto possível, assim que possamos consegui-los. Eu não quero alarmá-la, mas os Videntes estão recebendo dicas de uma grande batalha no nosso futuro. Ainda não há visões concretas e, como você sabe, essas coisas podem mudar, mas queremos que a Guilda esteja totalmente preparada no caso de um grande ataque.
— Eu entendo. — Eu poderia ter previsto isso, e não sou uma vidente. É óbvio que Zell está planejando algo, então faz sentido, haverá um grande confronto em algum momento. Guardiões contra... Bem, seja lá como for que Zell chama seus puxa-sacos. E quando isso acontecer, eu quero estar lá para chutar sua bunda Unseelie. E a de Nate, se ele se atrever a ficar contra a Guilda.
— Se você precisar de algum tempo para pensar nisso, — a Conselheira Starkweather diz, — Eu vou te dar três dias. Aqui está uma cópia do contrato. — Ela me entrega um pergaminho. — Dê uma boa olhada, e, se alguma coisa parecer obscura, me pergunte.
— Claro, tudo bem. — Pego o pergaminho dela e espero que ela me mande embora rapidamente. Estou ansiosa para sair daqui.
Meu pai está voltando para casa esta noite.
***
Eu limpo a casa. Não está exatamente suja, mas quero que esteja perfeita quando papai chega aqui. Na última vez que ele deixou esta casa, ele sabia que estaria enfrentando sua morte falsa. Ele achou que iria voltar? Ele olhou em volta e disse adeus? Ele de alguma forma se despediu de mim e eu nunca percebi?
Eu não sei que horas ele vai chegar, então, quando termino de arrumar e a escuridão começou a cair, eu recorro a passear ao redor da sala de estar. Eu ouço o vento levantar lá fora, as folhas se escovando uma contra a outra em uma dança irritada. Está estranhamente frio para uma noite de verão. Espero que outra tempestade mágica não esteja a caminho.
Quando eu ouço uma batida, quase caio sobre os móveis na minha pressa para chegar a parte de entrada da parede. Eu juro, se for alguém além do papai, não hesitarei em dizer para dar o fora. Passo a mão através da parede - e lá está ele. Ele está vestindo uma jaqueta com um capuz escondendo a metade do rosto, mas ainda posso ver que é ele.
— Não me abrace ou diga meu nome até a porta fechar, — ele murmura. Ele desliza rapidamente por mim, e eu não posso deixar de olhar para a escuridão enquanto agito minha mão para fechar a porta. Papai empurra o capuz e vira para mim. — Você nunca sabe quem pode estar observando. Faz anos, mas ainda gosto de ser cuidadoso.
— Hum, tudo bem. — Não posso acreditar que ele esteja realmente aqui. Em nossa casa. Eu quase posso imaginar que não passou muito tempo desde a última vez que ficamos aqui juntos.
Mas o tempo passou. Nós somos pessoas diferentes agora. E mesmo que eu tenha aguardado esse momento desde que eu disse adeus a ele na Corte Seelie, é um pouco estranho agora que ele está aqui.
— Isso parece bastante surreal, — papai diz calmamente, me observando.
— Sim. — Eu aceno com a cabeça. — Parece. — Então eu rio e dou um passo a frente para colocar meus braços em volta do pescoço dele. Claro que isso é estranho, mas a estranheza não durará muito.
Nós caminhamos para o sofá quando papai diz, — Tudo parece o mesmo aqui exceto você. Sempre que penso em você e imagino você em casa, vejo a menininha que deixei para trás. Mas essa não é mais você.
— Eu não era tão pequena. Eu tinha quatorze anos. — Nós nos sentamos. Deixo minhas pernas debaixo de mim, mas papai senta com as costas um pouco eretas para que ele se sinta confortável. Claramente isso é estranho para ele também.
— Mas você cresceu muito em quase quatro anos, — diz ele. — E falando em crescer, não esqueci que seu aniversário é daqui a três dias.
— Sim, acho que Tora e Raven estão planejando uma... — Minhas palavras são cortadas por outra batida contra a árvore. Papai se levanta rapidamente.
— Confira quem é, — diz ele. — Se for um dos seus amigos, posso voltar mais tarde.
Eu atravesso a sala sem me preocupar em dizer a ele que eu não tenho amigos. Eu crio um olho mágico, olho para fora e grito. — É Ryn. — Eu abro a porta. — Sim?
— Seu pai está aqui esta noite, — ele diz sem olhar para mim. — Eu vim ouvir o que ele tem a dizer.
— Ok, então, o que você está fazendo aqui? Você normalmente não se deixa entrar?
— Eu pensei que seria educado e fiquei lá fora e bati dessa vez. — Ele passa por mim em direção a sala.
— Tudo bem, mas a cortesia também exige que você espere até que alguém o convide — eu digo atrás dele.
— Tanto faz.
Quando volto para o sofá, Ryn está entregando um pequeno frasco a papai. — O que é isso? — Pergunto.
— Poção de compulsão, — responde Ryn. — Eu sei que você está tendo sua feliz reunião, mas pensei que deveríamos verificar se ele realmente é quem ele diz que é.
— Ryn! — Eu não acredito na sua coragem.
— Está tudo bem, V, — diz papai, abrindo a pequena tampa. Ele inclina a cabeça para trás e coloca algumas gotas na língua. Ele engole e estremece. — Ugh, isso é nojento quando não diluído.
Ryn toca o ombro de papai e diz o breve feitiço de compulsão, seguido de “Você vai dizer a verdade”. Em seguida, ele toma um assento no sofá em frente a nós.
— Agora que isso está fora do caminho, — diz papai, — você vai me dizer o que você quis dizer na outra noite quando disse que já estava ‘envolvida’ com Marzell?
— Ok. — Estou ansiosa para ouvir a história de papai, então vou encurtar a minha. — Aqui vai resumido: Zell me quer por causa do meu poder de encontrar pessoas.
— Mas como ele descobriu que você tem esse poder? Você manteve segredo, não é?
— Sim, mas ele tem um espião na Guilda, e esse espião de alguma forma ouviu falar sobre um guardião com minha habilidade. Zell realmente não descobriu que era eu até que Nate lhe contou.
— Nate?
— Hum, um halfling que eu estava meio que namorando. Zell conseguiu convencê-lo a se voltar contra mim, e não percebi até que fosse tarde demais.
— Entendo.
Ótimo. Papai está em casa por cinco minutos e já consegui decepcioná-lo com minha pobre escolha de namorados. — Sim, então, de qualquer maneira... Eu lutei contra Zell algumas vezes e, obviamente, consegui fugir todas as vezes.
As sobrancelhas do papai arqueiam. — Uau. Você realmente lutou contra ele? Isso é impressionante.
Eu encolho os ombros, como se lutar contra o Príncipe Unseelie não fosse uma grande coisa, mas não posso evitar o sorriso que se espalha no meu rosto.
— Ok, então Zell ameaçou a sua vida há quatro anos por minha causa, — diz papai, — e agora ele está atrás de você novamente por uma razão diferente. Ele provavelmente não tem ideia de que você é a mesma pessoa.
— Bem, ele sabe meu nome completo, então ele provavelmente sabe quem eu sou.
— Mas ele nunca soube meu nome verdadeiro. Trabalhamos com nomes em códigos para a maioria de nossas tarefas. Eu duvido que ele conecte seu nome ao meu.
— Oh. Ok. — Quando papai não faz mais perguntas, eu digo, — Então, você está pronto para me contar tudo agora? A grande razão por trás do motivo pelo qual você teve que fingir sua própria morte e me abandonar? — Eu retiro uma almofada das minhas costas e a abraço. — Ah, e eu também quero saber sobre Angelica.
Ele olha. — Como... como você sabe sobre Angelica?
— Bem, o cara que eu namorava - Nate - é o filho dela.
As sobrancelhas do pai arqueiam, enquanto ele se senta para frente. — Angelica tem um filho? E você namorou com ele?
— Sim. — Abraço a almofada um pouco mais apertada. — Há algo de errado com isso?
— Na verdade não. — Ele esfregou uma mão em seus olhos. — É estranho, só isso. Eu não sabia que ela tinha um filho.
— Sim. De qualquer forma, eu só a conheci uma vez, mas deixou claro que ela odiava você e a mamãe, e eu quero saber por quê. Eu já imaginei vocês como rivais formandos, mas seus sentimentos pareciam um pouco intensos demais para isso.
Papai balança a cabeça e solta um longo suspiro. — Nós não éramos rivais, V. Angélica era a melhor amiga de sua mãe.
Capítulo 26
Minha boca está aberta. Angelica era a melhor amiga de minha mãe? Mais uma vez, parece que tenho que ajustar a imagem que tenho na minha cabeça da vida de meus pais. — Mas... Eu pensei que Zinnia era a melhor amiga da minha mãe. E você e Linden eram amigos. Vocês todos treinaram juntos, e depois trabalharam juntos, e então tiveram bebês, e tudo estava bem até o dia em que Reed morreu.
Papai suspira novamente. Tenho a sensação de que essa conversa estará cheia de suspiros. — Você deve saber agora que a vida nunca é tão simples, V. Quero dizer, sim, tudo isso é verdade. Mas Angelica estava lá também, e ela fez a vida muito mais... — Ele ergueu as mãos. — Eu prometo que vou explicar tudo para você desde o início, mas primeiro diga onde a conheceu e o que ela disse para você.
— Bem, foi um pouco estranho, na verdade.
— Labirinto estranho? — Diz papai com um olhar de que sabe.
— Sim. Você sabe sobre o labirinto?
— Eu queria não saber, mas sim.
E a imagem continua sendo reajustada. — Ok, bem, Nate e eu fomos lá para encontrar Angelica. Ela nos contou que uma faerie Unseelie tinha construído o labirinto e a aprisionou lá porque ela se recusou a dar-lhe um poder que ela tinha... um disco.
— Com um símbolo de serpente-grifo nele?
— Sim. Ela explicou que pertencia ao poderoso halfling Tharros. Aparentemente, enquanto ele ainda estava vivo, e transferiu parte de seu poder para vários objetos, de modo que, se ele ficasse sem magia, ele teria outras fontes de poder de onde retirar. Ela nos disse que precisávamos voltar para sua casa no reino humano — onde Nate morava — e trazer o disco para que ela pudesse usá-lo para sair. Nós não fizemos isso, é claro. Mas antes de podermos sair, ela me reconheceu. Ela e eu lutamos, e Nate e eu conseguimos sair vivos.
— Você ainda tem este disco? — Papai está sentado na borda do sofá novamente.
— Hum, não. Nate o roubou. Eu acho que ele levou direito para Zell, que parece ter mais alguns destes discos. Angelica fez parecer que havia apenas um.
— Zell tem mais discos? — Papai fecha os olhos e balança a cabeça. — Ele deve ter pegado de Angie, — ele murmura. — E aqui estava eu torcendo para que ele nunca a encontrasse. Maldição, esta é uma má notícia.
Espero ele continuar, mas ele não continua. Ele parece estar pensando profundamente, e eu não quero interrompê-lo, mas quero entender por que essas são más notícias. — Papai? — Eu incito.
Ele respira fundo e olha para mim, como se de repente se lembrasse de que eu estou na sala. — Bem, Angelica certamente conseguiu tecer muitas mentiras por uma pequena quantidade de verdade.
— Eu acho que estava certa em não confiar nela, — eu digo.
Papai balançou a cabeça. — Tudo bem, isso tudo terá mais sentido se eu começar no começo. — Ele muda para uma posição mais confortável enquanto eu cruzo minhas pernas embaixo de mim no sofá.
— Eu não perdi nada importante, não é? — Ryn pergunta. Olho para vê-lo sair da cozinha com três canecas flutuando no ar na frente dele. Eu nem me lembro dele sair da sala. — Como nenhum de vocês ofereceu bebidas, pensei que seria o anfitrião esta noite. — Ele dirige as canecas sobre a mesa e senta-se.
— Obrigado, Ryn — papai diz.
— Hum, obrigada. — Eu me sinto apenas agradecida, no entanto. Eu deveria ter oferecido uma bebida para o papai. Eu pego minha caneca e espio o que tem dentro: chocolate quente com mini marshmallows rosa flutuando na superfície e uma nuvem de canela rodopiante acima dela. Minha bebida favorita de todos os tempos. Eu solto um suspiro. Ryn está agindo perfeitamente e isso está me irritando.
— Então, — diz papai, — havia cinco de nós. Rose e Zinnia eram melhores amigas desde que eram pequenas. Linden e eu crescemos um ao lado do outro, então também éramos amigos próximos. Nós quatro nos conhecemos quando começamos nosso treinamento na Guilda. Foi quando Angelica se mudou para Creepy Hollow e se juntou a nossa turma. Em breve, nós cinco éramos inseparáveis. Nós nos sentávamos juntos nas aulas, implorávamos para ser colocados nos mesmos grupos de tarefas e, bem, sendo jovens, também fazíamos traquinagens juntos.
— Em nosso terceiro ano, as meninas desafiaram que Linden e eu fossemos ao Subterrâneo, o que era praticamente proibido pela Guilda. Como você sabe, Subterrâneos nunca foram fãs de guardiões ou formandos. Eles geralmente atacam primeiro e fazem perguntas depois. Mas éramos corajosos e estúpidos, então é claro que aceitamos o desafio. Angie disse que devíamos roubar algo e trazê-lo de volta para provar que tínhamos estado lá. Então entramos na casa do antigo centauro e encontramos um disco de metal com um símbolo de serpente-grifo gravado nele. Rose reconheceu o símbolo de um livro que ela tinha visto no escritório do seu mentor, então ela perguntou a ele sobre isso.
— Ele era um faerie muito antigo, em seu sexto século, eu acho. Ele contou a Rose sobre o poderoso halfling Tharros Mizreth e a lenda de seu poder perdido. Estas eram histórias que lhe tinham sido ditas por seus pais, que eram guardiões na época em que Tharros foi derrotado.
— O poder de Tharros era tão grande que ele era quase impossível de matar. Ele tinha que se separar do poder, e só então ele poderia ser morto e seu poder destruído de forma independente. Algum tipo de arma foi construída para fazer isso. Depois de muita luta e morte, os melhores guardiões de todas as Guildas conseguiram prender Tharros e separá-lo de seu poder. Eles o mataram. A maioria das pessoas pensou que era o fim, mas apenas os envolvidos diretamente sabiam que os guardiões não conseguiram destruir o poder de Tharros. Em vez disso, eles o capturaram dentro de algum tipo de caixa. Eles trancaram a caixa com seis chaves diferentes - os discos com o grifo neles - um para fechar cada lado da caixa. No processo de vedação da caixa, parte da energia foi transferida para cada disco. Os discos foram espalhados por todo o mundo, escondidos por pessoas que deveriam mantê-los seguros.
— Mas os detentores dos discos logo descobriram que, mantendo os discos com eles, eles tinham acesso a um poder extra. Isso, é claro, não pode ser mantido em segredo. Então, os discos foram roubados, repetidas vezes ao longo dos séculos. Eles ficaram tão dispersos que era impossível para qualquer pessoa saber onde estavam todos os discos. E isso é o que manteve o cofre de segurança seguro durante todos esses anos.
— E o mentor da minha mãe apenas contou tudo isso? — Pergunto. — Parece que era para ser um segredo.
— Parece que ele pensou que era apenas uma lenda. Nós, por outro lado, soubemos que era verdade por causa do disco que encontramos.
— E ela não contou a seu mentor sobre o disco? — Ryn pergunta.
— Não. Nós mantivemos essa parte para nós mesmos - e então tomamos uma decisão que resultaria em um grande erro. — Ele faz uma pausa para soltar outro suspiro. — Nós decidimos ir em busca dos outros cinco discos.
— Os cinco discos que poderiam estar em qualquer parte do mundo? — Pergunta Ryn.
— Sim. Nós decidimos que queríamos usar o poder de Tharros. Nós planejamos desbloquear a caixa, compartilhar o poder igualmente entre nós, e nós seríamos os melhores guardiões que qualquer Guilda já viu. Poderíamos vencer qualquer forma de maldade. Creepy Hollow e o reino humano estariam mais seguros do que nunca, porque usaríamos o tremendo poder de Tharros para o bem e não para o mal. Nós fizemos muita leitura, explorando e seguindo rumores, mas demorou muito tempo. Cerca de dez anos depois, estávamos todos possuindo um disco. Naquela época, todos trabalhavam para a Guilda. Rose e eu formamos a nossa união, assim como os seus pais. — Papai balançou a cabeça em direção a Ryn.
— Isso deve ter deixado Angelica sentindo-se um pouco deixada de fora, — eu digo.
— Sim. Ela se sentiu. Especialmente por que ela sempre... Bem, teve alguns sentimentos por mim. — O pai arranha a cabeça, parecendo um pouco estranho quando admite isso. — De qualquer forma, todos nós estávamos trabalhando na Guilda por pouco mais de uma década, quando Angie começou a ficar bastante distante. Ela sempre procurou o sexto disco sem nós. Você vê, nossas prioridades estavam mudando. Linden e Zin tinham Reed até então. Rose e eu estávamos pensando em ter um filho. Angie, no entanto, estava cada vez mais focada em encontrar o último disco e desbloquear a caixa. O resto de nós estava começando a ter sentimentos mistos. Os discos... Bem, é difícil explicar, mas depois de anos de uso, começamos a nos sentir diferentes. Ranzinzas, mais irritados, menos compassivos para com aqueles que devíamos proteger. Foi Rose quem fez a ligação aos discos. Ela pensou que eles deveriam ter muita influência perversa neles. Então nós quatro decidimos que seria melhor esquecer de ir procurar a caixa. Também era, você sabe, errado seguir o poder que nossos antepassados ??tentaram tanto destruir. Foi errado que agíssemos como se estivéssemos acima da Lei.
— Quando contamos a Angie o que decidimos, ela ficou furiosa. Ela disse que era por isso que ela trabalhava há anos, e nós estávamos destruindo seus sonhos. Não foi muito tempo depois de nosso confronto que ela deixou o serviço da Guilda e quebrou todo o contato com a gente. Não tínhamos ideia de onde ela tinha ido. Eu nem sabia por onde começar a procurar.
— A família dela não sabia nada? — Ryn pergunta.
— Você vai pensar que isso parece estranho, — diz papai, esfregando a mão na parte de trás do pescoço dele, — mas nenhum de nós realmente sabia onde ela morava. Ela sempre foi secreta sobre sua família e sua vida privada, desde o dia em que a conhecemos. Ela nunca respondia a nenhuma das nossas perguntas sobre sua vida em casa, então, finalmente, paramos de perguntar. Ela era assim, e nós aceitamos isso.
— Você acha que ela tinha vergonha da sua família? — Pergunto. — Tipo, eles eram realmente pobres ou algo assim?
— Se ela tinha vergonha, não era porque eles eram pobres. Angie sempre teve o melhor de tudo. — Papai toma um gole da caneca e devolve para a mesa. — De qualquer forma, onde eu estava?
— Angelica desapareceu.
— Sim. Então, o tempo passou. Zin e Linden tiveram Ryn. Pouco depois, você chegou, V. Nós estávamos todos presos em nossas vidas melodiosas e perfeitas, e foi aí que nossos discos começaram a desaparecer. Não estávamos usando continuamente, apenas para alguma tarefa ocasionalmente desafiadora. Então ficavam ocultos a maior parte do tempo. O de Rose desapareceu primeiro, depois o meu. Quando o de Zinnia desapareceu, percebemos que era Angelica pegando-os. Ela deixou cair um brinco ou algo assim no armário de Zinnia. E, para ser sincero, já suspeitávamos que fosse ela.
— Então Linden escondeu o dele em outro lugar, e, por um tempo, não vimos e nem não ouvimos nada de Angelica. Então, uma noite, quando estava sozinho em casa, um elfo bateu na nossa árvore e me entregou uma nota. Era de Angie, implorando por minha ajuda. A nota não dizia nada além de ir com o elfo. Em vez de ir sozinho, levei Linden comigo. Nós não dissemos a Rose ou Zin.
— O elfo nos conduziu pelo Subterrâneo e pelos túneis que mais tarde descobrimos ser um labirinto. Encontramos Angie em uma câmara no centro, incapaz de sair. E não era que alguém a tivesse prendido lá embaixo, como ela lhe disse; ela se aprisionou lá embaixo. Acidentalmente, é claro. Ela finalmente encontrou a localização da caixa com o poder de Tharros e a roubou. Mas ela precisava de algum lugar para mantê-lo seguro até que ela pudesse juntar todos os discos para desbloquear. Então ela construiu o próprio labirinto. Ela tentou colocar um feitiço complexo na câmara para evitar que alguém removesse a caixa. Em vez disso, ela impediu-se de sair.
— Bem, isso deve ser uma droga, — eu digo. — E ela obviamente queria que vocês a tirassem de lá.
— Sim. Ela queria. E nós... — Papai pendura a cabeça e geme. — Nós a deixamos lá.
— O quê? — Ryn diz. — Você e meu pai apenas... A deixaram lá?
— Não estou orgulhoso da decisão que tomamos. Mas conseguimos nos convencer de que era a melhor coisa a fazer. A caixa estava escondida no labirinto onde ninguém mais acharia. Angie estava presa lá sem nenhum de seus discos, então ela nunca conseguiria abrir. Com a parte do andar de cima que ela construiu para si mesma, e as criaturas que atravessavam o labirinto prontos para oferecer seu lance, dissemos a nós mesmos que era melhor do que o castigo que ela receberia se a entregássemos à Guilda.
— Nós nunca contamos a Rose ou Zinnia. Continuamos com nossas vidas. — Papai respira com mais força. — Rose foi morta em uma de suas tarefas. Reed teve seu terrível acidente. Linden finalmente decidiu deixar a Guilda e sua família. — Ryn se move em sua cadeira, mas não diz nada. — Com meu parceiro morto, eu me ofereci para uma tarefa secreta procurando pelas atividades de um dos Príncipes Unseelie.
— Zell, — eu murmuro.
— Sim. No começo, trabalhei sozinho, mas, como ficou claro, o príncipe planejava algo grande e de longo prazo, outros responsáveis tornaram-se parte da investigação. Você se lembra da sua amiga Cecy?
— Sim, — eu digo.
— Seu pai e eu conseguimos nos infiltrar no círculo mais próximo de amigos de Zell. Aprendemos muito sobre ele. Seu relacionamento com sua mãe sempre foi instável; eles nunca se viram como iguais. Ele sempre sentiu que faria um reino melhor, mas, infelizmente para ele, ele é o último na fila para o trono. E infelizmente para nós, depois de vários meses de estar dentro, Zell descobriu que éramos guardiões.
— Nós dois nos afastamos dele, mas, em retaliação, Zell foi atrás de nossas famílias. Cecy quase foi morta, salva apenas pelo fato de que sua babá naquele dia também era uma guardiã habilidosa. Seus pais tomaram uma decisão imediata de deixar a Guilda e fugir. Eu pensei em fazer o mesmo, mas eu estava determinado demais a pegar Zell para admitir derrota. Parecia que a única maneira de fazer isso e protegê-la era se ele achasse que eu estava morto e já não era uma ameaça para ele.
— Até esse momento, eu estava relatando diretamente à Rainha. Planejamos a minha morte juntos. Eu pensei que faríamos parecer que meu corpo havia sido destruído, mas ela disse que seria uma morte muito suspeita. Então ela encontrou um criminoso metamorfo e o usou em vez disso. — Papai se inclina para frente e envolve suas mãos ao redor da caneca. — E, bem, isso é realmente tudo o que há até agora. Eu sempre vivi no palácio e continuo minha investigação sobre as atividades de Zell. Eu sei que ele está planejando tentar assumir a Corte Unseelie, e possivelmente a Corte Seelie e as Guildas. Eu sei que ele está coletando um exército de faeries com poderes especiais, embora ele ainda não possa controlá-los. E eu também sei que ele está planejando pegar todos os seis discos grifo e destravar a caixa para tomar o poder de Tharros para si mesmo. O que eu não sei é para quando ele está planejando sua grande jogada.
— Eu acho que ele está esperando até que ele tenha todos os seis discos, — digo. — Ele já tem quatro, os quatro que Angelica conseguiu colecionar antes de se prender, então agora ele só precisa se apoderar do de Linden e do sexto que vocês nunca encontraram.
— Vou contatar meu pai e dizer-lhe para garantir que o seu esteja bem escondido, — diz Ryn.
Papai balança a cabeça. — Ele vai querer saber como você sabe sobre isso. Em vez disso, não diga nada. Eu confio que ele o escondeu bem.
Coloco minha caneca vazia sobre a mesa, pois algo me ocorre. — Pai, como você continuou sua investigação se Zell sabe como você parece?
— Só porque somos todos faeries e não podemos usar glamour um com os outros, não significa que não haja outras formas de nos disfarçar. — Ele mexe as sobrancelhas para mim do jeito que ele fazia quando eu era pequena. — Tive que ser bastante criativo às vezes.
— Eu queria ter visto isso, — digo com uma risada.
Ryn ergue-se e manda as canecas de volta para a cozinha com um aceno de mão. — Eu tenho que ir agora. Vocês provavelmente têm alguns assuntos para resolver que não me envolvem.
— Sim, — eu digo antes que papai possa convidar Ryn para ficar mais tempo. — Vejo você por aí. — Depois de tempo o suficiente para que as coisas não sejam mais estranhas entre nós.
Quando a porta desapareceu atrás de Ryn, eu faço uma pergunta para papai, uma para a qual que eu provavelmente conheço a resposta. — Você poderá visitar novamente?
Ele hesita antes de responder, o que não é um bom sinal. — Para ser sincero, será muito difícil. Mas eu prometo que vou tentar.
— Ok. Você ficará com problemas se a Rainha descobrir que você veio aqui?
— Oh, ela já sabe. Eu contei a ela o que aconteceu na Corte Seelie. Ela não ficou muito feliz por nos encontrarmos, mas como você e Ryn agora são guardiões e não apenas crianças pequenas, ela acredita que pode confiar em você. E não é como se ela realmente tivesse uma escolha; ela tem que confiar em você agora que você sabe.
Eu toco a borda da almofada no meu colo. — Eu não acho que fiz uma boa primeira impressão com ela.
Papai inclina a cabeça para o lado. — Você obviamente fez algum tipo de impressão. Eu acredito que as palavras exatas para mim foram: ‘Essa filha sua tem exatamente a mesma coragem que a mãe dela tinha.’
— Coragem. Uau. Isso é um elogio, certo?
Papai ri. — Eu acho que sim. — Ele abre as mãos. — Então, o que mais você quer falar antes de eu ir embora?
Capítulo 27
Meu aniversário é amanhã.
Nunca fui boa em celebrar esse evento anual; não é tão divertido quando você não tem muitos amigos ou familiares com quem se divertir, e é apenas mais um dia, na verdade. Faeries têm centenas de aniversários — assumindo que nossas vidas não serão apagadas antecipadamente por alguma criatura magia ameaçadora — então por que fazer uma grande coisa a cada ano? Apesar de ter explicado isso a Tora várias vezes, eu sei que ela está planejando algo para amanhã à noite. Eu me pergunto se ela vai convidar Ryn. Estou dividida entre querer estar perto dele e não querer enfrentar a estranheza entre nós.
Nos últimos dois dias, passei a maioria dos momentos acordada reproduzindo a conversa que papai e eu tivemos na noite em que ele veio. Ainda estou impressionada com o fato dele aqui na casa, sentado no nosso sofá e bebendo de uma de nossas canecas, como se nada tivesse mudado. Tentei não chorar quando ele foi embora; eu quase consegui.
O resto de meus momentos acordados são gastos tentando não reproduzir O beijo. Isso leva muito esforço, o que significa que não há momentos acordadas para descobrir se eu deveria aceitar a oferta de emprego da Guilda. Estou esperando que meu cérebro esteja descobrindo enquanto eu estou dormindo, porque tenho que dar uma resposta a Conselheira Starkweather amanhã.
Porque não tenho mais nada a fazer, uso o feitiço de redes sociais que Ryn me ensinou e verifico as atualizações aleatórias das poucas pessoas que parece que eu estou ‘seguindo’. Me irrita que eu sinta um tipo de decepção estranha quando vejo que não há atualizações de Ryn. Eu considero escrever algo na bolha em branco no fundo da superfície retangular do meu âmbar, mas o que eu escreveria?
Aniversários são chatos.
Não sei o que fazer com o resto da minha vida agora que me formei.
Meu pai fingiu sua própria morte e na verdade está vivo.
Não. Nada disso parece ser uma boa opção. Então, mais uma vez, eu encerro o feitiço sem ter escrito nada. Eu vou ao armário de estudo e retiro uma caixa de Card Eaters. Eu não jogo há anos, mas ver Ryn e Calla jogando recentemente me lembrou que pode ser um pouco divertido de sua própria maneira simples.
— Filigree, — chamo quando volto para a sala de estar. Ele vem escorregando pelas escadas sob a forma de uma pantera. — Quer jogar cartas? — Seguro a caixa. Ele senta-se ao lado da mesa baixa e enrola sua cauda nas pernas. Ele pisca com expectativa. — Ótimo, — eu digo. Eu me sento no chão do outro lado da mesa e lanço as cartas entre nós. Filigree cutuca sua pilha de cartas com uma de suas patas. — Sim, ok, você sabe que isso não vai funcionar, certo? Você precisa mudar para outra coisa. — Filigree mexe uma orelha, depois muda para uma forma alaranjada e peluda que acaba por ser um orangotango. Ele pega suas cartas. — Ok, você vai primeiro, — eu digo a ele.
Uma hora depois, Filigree está ganhando. Eu sei que em parte é sorte e o fato de ele ter obtido cartas mais fortes, mas ainda é embaraçoso. Olho as quatro cartas na minha mão. Eu tenho musgo – a segunda carta mais fraca do jogo inteiro – um pixie, um pedregulho e um ogro, que é a única carta que posso jogar agora. Eu olho para as mãos peludas de Filigree; ele tem apenas duas cartas, e provavelmente são mais fortes do que qualquer coisa que eu tenho. Ele tem quase certeza de que vai ganhar. Estou prestes a colocar minha carta de ogro em cima da de troll dele, quando ouço uma batida contra a árvore.
Poderia ser papai?
Não. O sol apenas começou a ir embora. Tenho certeza de que ele esperaria pela escuridão antes de voltar a visitar. Mas, enquanto ando em direção à parede, não posso evitar a energia nervosa me percorrendo. Pode ser ele. Afinal, é meu aniversário amanhã.
Passo minha mão pela parede e... é Ryn.
Ótimo.
— Meu, hum, parente há muito tempo sumido não está aqui esta noite, então, a menos que você esteja aqui para visitar Filigree, não há mais ninguém nesta casa que queira te ver.
Ele inclina a cabeça para o lado. — Por que você está nervosa?
Coloco minhas mãos nos meus quadris. — Não há como você desligar isso? Porque realmente não aprecio que você saiba exatamente o que estou sentindo.
— Não. Confie em mim, se houvesse uma maneira de desligar, eu já teria encontrado.
Ele parece segurar algo atrás de suas costas, o que o torna suspeito. — Você vai me dizer por que está aqui?
— Você vai me convidar para entrar?
Não faço nenhum movimento para me afastar para o lado.
— Tudo bem, — diz ele. — é seu aniversário amanhã. Eu gostaria de lhe dar uma coisa.
— Você já me deu alguma coisa, — eu o lembro. — Novo âmbar e um encanto caro.
— Ok, bem, agora tenho outra coisa para lhe dar. E, — ele acrescenta, — é grosseria recusar um presente.
— E, no entanto, ambos sabemos que grosseria nunca foi um problema quando nos diz respeito.
Ele olha para os pés, então de novo. — Por favor? — Ele diz suavemente.
Droga. Ele certamente sabe como fazer a coisa dos olhos sexy e ardentes; ele provavelmente poderia acender um fogo com o olhar que ele atualmente está me dando. E ele sabe, droga, porque eu aposto que ele pode sentir meu interior se derreter. Limpo minha garganta. — Hum, ok, entre.
— Na verdade, eu não quero dar a você aqui. Gostaria que você fosse a um lugar comigo.
Eu estreito meus olhos para ele. — Isso tem algo a ver com a festa que Tora e Raven estão planejando? Porque eu pensei que fosse amanhã.
— Sim. E já que você não gosta de surpresas, eu digo a você exatamente a que horas e quem irá se você me seguir agora.
— Você está sendo estranho.
— E eu vou ficar ainda mais estranho e ficar de joelhos e implorar, se eu tiver que fazer. Já fiz isso antes, lembra?
Eu lembro, e eu realmente não preciso que ele vá tão longe dessa vez. — Tudo bem, eu vou com você. Apenas deixe-me pegar minhas botas.
— E uma jaqueta, — Ryn fala atrás de mim. — Você pode ficar com frio.
Pego minhas coisas e peço desculpas para Filigree no caminho de volta na escada. — Nós podemos terminar mais tarde, — eu digo a ele, esperando que ele já tenha esquecido o jogo até então.
Eu fecho a minha árvore. — Onde estamos indo?
— Você verá. — Ryn pega minha mão quando atravessamos a porta que ele abriu. Nós não estamos na escuridão por muito tempo, mas tudo o que posso pensar é o que aconteceu na última vez em que ficamos presos na completa escuridão um com o outro. Quando a luz se materializa à nossa frente, eu solto sua mão. Nós caminhamos para o abrigo frondoso da nossa antiga árvore gargan. É lindo aqui com a luz vermelha, dourada e laranja do pôr-do-sol, espiando pelos galhos.
— Você se lembra daquele poema de Mil Crowthorn sobre as riquezas da natureza? — Eu digo quando olho para o céu.
— ‘Dê-me o pôr-do-sol, e eu serei um homem mais rico do que a maioria. Pois nunca vi ouro como aquele que brilha acima da terra. Dê-me o céu noturno, e eu serei o homem mais rico com certeza. Pois nunca vi diamantes como aqueles que dançam ao lado da lua’.
— Sim, é assim que eu me sinto, — murmuro. — Não preciso de mais nada no meu aniversário do que esse céu.
— Talvez apenas isso, — diz Ryn, me presenteando com um pequeno pacote embrulhado de seda.
Eu solto o fio de prata e seguro o pacote na minha mão quando as camadas de seda caem. Colocado no centro estão às fitas coloridas que encontrei no esconderijo da minha mãe, mas, em vez de um monte bagunçado, elas foram transformadas em uma pulseira. As fitas ficam perfeitamente alinhadas, mantidas presas por cada extremidade com um cordão de prata. As extremidades soltas que ficarão penduradas no meu braço quando estiver usando a pulseira têm um pequeno cristal preso ao fim.
— As fitas pareciam tão bonitas em seu braço, — diz Ryn. — Então eu as levei para Raven e pedi a ela que as transformassem em um bracelete. — Ele tira da minha mão e coloco ao redor do meu pulso. Os cristais brilham conforme a luz pega neles.
— Eu provavelmente devia ficar assustada que você entrou na minha casa e roubou as fitas, — eu digo, — mas é tão bonito que eu vou te perdoar pelo seu furto.
— Então, você gostou?
Olho para Ryn e vejo uma expressão desconhecida: incerteza. Eu sorrio para tranquilizá-lo. — Eu amei. — O sorriso de resposta que se espalha no seu rosto faz a mesma coisa no meu estômago que seus olhos ardentes fizeram agora pouco.
Parece que ele está prestes a dizer alguma coisa, mas então ele enfia a mão abruptamente no bolso. Ele puxa o âmbar e lê uma mensagem. Quando ele guarda o âmbar, ele diz, — Se você não se importa, eu gostaria de levá-la para outro lugar agora.
— Hum, tudo bem. Mas é melhor que isso não seja um estratagema para me levar a um encontro com você.
— Não é nada disso, — ele diz, e meu estômago enche de nós. Ele se inclina mais perto do meu ouvido e sussurra, — É muito maior do que isso.
O quê?
Ele passa por mim, e eu me viro para vê-lo cumprimentar um faerie de pele cor de azeitona e cabelo verde ? ele é uma faerie? ? que não estava aqui há um momento atrás. Embaixo do seu braço está uma forma cilíndrica grande que parece ser um tapete enrolado. Ele entrega a Ryn, eles trocam algumas palavras em voz baixa, e o homem escorrega entre os galhos.
— Aqui vamos nós, — diz Ryn. Ele coloca o formato enrolado no chão, agarra uma extremidade, abre e flutua no ar.
— O que... o que é isso?
— Exatamente como se parece: um tapete mágico.
De. Jeito. Nenhum. — Mas... não existem tapetes mágicos.
— E, no entanto, — diz Ryn, — há um flutuando aqui mesmo na sua frente. Esquisito, não é? — Ele sobe sobre ele e estende a mão para mim.
— Eu... Não sei se confio nessa coisa.
— É perfeitamente seguro. Eu fiz algumas leituras sobre o assunto. Acontece que houve alguns grandes avanços na magia de tapete nos últimos anos. Eles não expulsam mais as pessoas.
Meus olhos se arregalam. Isso deveria me fazer sentir melhor?
— E adivinhe o quê? — Ryn continua. — Você é uma faerie, o que significa que se este tapete decidir expulsa-la, você pode retardar facilmente sua queda com magia.
— Eu... — Ele tem razão. — Ok. — Pego sua mão estendida, e ele me puxa para cima. Eu me abaixo, espalhando meus braços para me equilibrar.
Ryn senta-se, cruza as pernas e volta para os dois cantos do tapete atrás dele. O tapete sobe mais alto, e Ryn nos guia entre os galhos. Mais alto e mais alto. E então, com uma explosão de velocidade que me faz cair de bunda, disparamos acima dos galhos mais altos da floresta. Abaixo de nós, as milhares de árvores que compõem Creepy Hollow se estendem em todas as direções.
Tudo o que posso fazer é olhar com admiração.
— É incrível, não é? — Diz Ryn. O tapete diminui, e ele levanta com cuidado. — Você deve se levantar. É mais emocionante. — Ele estende a mão para mim mais uma vez. — Eu sei como você gosta de emoção.
Eu gosto, mas todas as emoções que eu costumo ter ao lutar contra criaturas perigosas são realizar acrobacias difíceis, como mortal para trás várias vezes e aterrissar em uma viga estreita. Este é um tipo de emoção completamente diferente. Coloco minha mão na dele e o deixo me puxar para cima. O tapete ondula lentamente sob meus pés, o que é um pouco assustador, mas eu sou uma guardiã; tenho um bom equilíbrio.
Eu me afasto de Ryn e olho para a maravilhosidade que é minha casa. O sol mergulhou abaixo no horizonte, deixando salpicos de rosa, roxo e azul através do céu. As primeiras estrelas estão espreitando. Observamos em silêncio enquanto o tapete continua sua jornada lenta pelo ar. Uma brisa suave move meu cabelo. O céu fica mais escuro. Mais estrelas começam a piscar.
— Eu tenho mais uma surpresa para você, — diz Ryn suavemente. Quando suas mãos se movem em meu rosto para cobrir meus olhos, eu me inclino ligeiramente, mas não me afasto. Ele começa a cantar palavras para um feitiço que eu não reconheço. É algum tipo de clamor, quase como uma música. Continua por vários minutos, e me encontro em um lugar de paz e calma. Antes que eu saiba, minhas costas estão descansando contra seu peito. Sinto-o inclinar a cabeça para mais perto da minha orelha. — Você disse que não havia nada que eu pudesse dizer ou fazer para convencê-la de que meus sentimentos por você são reais e duradouros, — ele sussurra. — Bem, claro que eu tomei isso como um desafio, e já que, aparentemente, levará as pontas brilhantes de um gazilhão de insetos brilhantes para provar a você, aqui estão eles.
O calor de suas mãos desaparece dos meus olhos. Eu os abro, e...
Uau.
Milhares e milhares de insetos brilhantes estão flutuando no ar, como se cada galáxia na criação fosse chamada aqui para nos iluminar. É... Eu acho que não existem palavras para descrever a beleza desse momento ou a sensação de admiração que me comove.
Mas há cordas prendendo este momento. Eu sei o que Ryn está tentando me dizer. Eu sei o que ele quer de mim. E mesmo que isso seja mais surpreendente do que qualquer coisa que alguém já fez por mim, meu coração teimoso ainda não quer sair do seu lugar seguro. Eu preferiria aproveitar esse momento e capturá-lo dentro de uma bola de cristal para mantê-lo todo perfeito para sempre do que contaminá-lo com as complicações que um relacionamento traria.
— Isso é incrível, Ryn. É mesmo. Mas...
— Não. — Ele me revira. — Sem desculpas. Você acha que eu vou te machucar? Você acha que vou ficar entediado e fugir com alguma Subterrânea na primeira chance que eu tiver? Você obviamente não tem ideia do quão incrível você é. Você, Violet Fairdale, é incrível, e eu quero você. Cada parte de você. Eu quero sua teimosia e seu sarcasmo e seu espírito competitivo. Eu quero você me desafiando e lutando ao meu lado. Eu quero abraçá-la e beijá-la e muito mais porque não há mais ninguém no mundo que me conhece como você. Você sempre foi a única para mim, mesmo quando não nos aguentávamos. Você é linda, gostosa e sexy tudo de uma só vez, e você é mais inteligente do que qualquer garota que conheci. Adoro o fato de ter conhecido você por toda a minha vida. Parece certo quando você está ao meu lado. Parece que fiquei perdido no deserto há anos e... Eu finalmente estou em casa.
Eu finalmente estou em casa. Eu sei como isso parece. Na verdade, eu sei como ele se sente. Eu sempre estive muito aterrorizada para colocar isso em palavras.
— Pare de estar tão assustada, V! — Ryn agarra meus ombros e os agita. — Você é uma das pessoas mais corajosas que conheço. Por que você não pode deixar esse medo?
Eu finalmente estou em casa. Por que eu gostaria de mandá-lo de volta ao deserto? Eu estaria me protegendo, mas o machucando. Por que isso não me ocorreu antes? Eu pensei que eu era a única que poderia se machucar, mas nunca percebi que sua casa era a mesma que minha casa, e mandá-lo para longe é apenas machucá-lo.
— Por favor, diga algo, V.
Casa. Eu quero estar lá, com ele. Nenhum de nós irá sofrer mais.
— Violet, por favor. Diga algo! Eu juro que você vai quebrar meu coração se você não...
Eu o beijo. Me pressiono contra ele como se eu nunca quisesse me separar dele. Meus braços se entrelaçam ao redor de seu pescoço. Perdemos nosso equilíbrio e caímos no tapete ondulando preguiçosamente. Eu o empurro para baixo e monto na sua cintura. Inclino-me sobre ele. Beijo seu pescoço antes de traçar o esboço de seus lábios com a minha língua. Ele geme e me aproxima. Suas mãos encontram o caminho pelas minhas costas e para o meu cabelo. Ele puxa meu rosto para baixo para encontrar seu beijo. As faíscas dançam na minha língua e, em qualquer outro lugar que a sua pele toca a minha, o que não parece como lugares suficientes. Toda a floresta poderia entrar em chamas agora mesmo, e eu não notaria.
Isso é tudo o que eu quero. Ele. Todo ele.
Capítulo 28
Ryn me rola para o meu lado para que ele esteja a meu lado. — Ok. — Ele beija meu queixo. — Você não precisa dizer nada. — Outro beijo no meu pescoço. — Eu acho que recebi sua resposta alta e clara.
Eu traço meus dedos de sua testa até seu queixo. — Se é assim que é estar em casa, — digo num sussurro sem fôlego, — por favor, nunca mais vamos embora.
— Eu não planejo. — Ele pega meus dedos e os beija. — Sente-se, — ele sussurra, então se move atrás de mim e me puxa contra seu peito. Suas pernas me cercam de cada lado. Ele puxa meu cabelo para o lado e beija atrás da minha orelha antes de envolver seus braços em volta de mim e descansar o seu queixo no meu ombro.
Não consigo acreditar no quanto estou feliz agora. Parece estúpido que eu afastei esses sentimentos por tanto tempo, quando eles tinham a capacidade de trazer muita alegria.
— Foram as minúsculas pontas brilhantes que fizeram você mudar de ideia, não foi? — Diz Ryn. Posso ouvir a diversão em sua voz.
— Foi tudo. A pulseira, o tapete mágico, os insetos brilhantes, encontrar o tokehari da minha mãe. Eu sabia por um tempo como me sentia sobre você, mas não acreditei até hoje que você sentia o mesmo.
— E, no entanto, eu sabia dos meus sentimentos um pouco antes de você saber sobre os seus.
— Sério?
— Sim. Aquele estranho momento que tivemos no banheiro na casa dos Harts foi o momento em que eu já não pensava em você como amiga. Eu queria mais com você desde então.
— Mas você não disse nada.
— Claro que não. Você não sentia o mesmo, então qual seria o ponto? De vez em quando havia uma sugestão de algo mais vindo de você, mas sempre foi tão fugaz que assumi que eu imaginava. Foi só enquanto dançamos no baile de graduação que você deve ter deixado sua guarda baixa, e eu finalmente soube como você se sentia sobre mim. Tenho certeza de que foi você quem queimou aquela árvore de gelo, por sinal. Aquela da qual a Conselheira Starkweather estava falando.
— Sim, acho que pode ter acontecido. — Graças a Deus ninguém mais percebeu o verdadeiro motivo para aquela pequena explosão. — Espere um segundo, — eu digo, lembrando de algo. — Quando estávamos escrevendo nossos relatórios da tarefa na árvore gargan, e aquele galho pegou fogo. Também fui eu? Porque eu pensei que estava fazendo um bom trabalho de suprir meus sentimentos naquele momento.
— Uh, isso pode ter sido eu.
— Aha, então eu não sou a única que perde o controle. — Eu viro minha cabeça para o lado enquanto tento olhar para ele.
Ele se afasta de mim um pouco e dá o sorriso malicioso. — V, você viu o dano que fizemos na sala de estar da Princesa Olivia? Eu claramente acho que ambos perdemos o controle em certas situações.
Ele aperta seus braços em volta de mim enquanto eu repouso contra ele mais uma vez. — Então, hum, essa habilidade sua, — eu digo. — Você sente tudo de todos que estão a sua volta?
— Sim.
— Uau. Isso deve ser um pouco esmagador.
— Muito. É por isso que passo tanto tempo sozinho e no reino humano.
— Você não pode sentir emoções humanas?
— Não, apenas as emoções daqueles com magia. — Ele cobre minhas mãos cruzadas com uma dele e esfrega o polegar para trás e para frente sobre minha pele. — É tão alto estar em um lugar como a Guilda. Quero dizer, eu aprendi a filtrar isso até certo ponto, mas as vezes ainda se torna demais, e quero que todos simplesmente... saiam. É por isso que eu ajo como um idiota ocasionalmente. É a maneira mais rápida de me livrar das pessoas.
— Ocasionalmente?
— Ok, talvez tenha sido um pouco de eufemismo.
— Você tentou ser bom com as pessoas em vez de ser um idiota? Então, não importa o que você esteja sentindo das emoções delas porque elas teriam emoções positivas em vez de emoções do tipo esse-cara-é-um-idiota-eu-quero-bater-nele.
— As emoções positivas também podem ser esmagadoras, se houver o suficiente. E você pode imaginar como seria se eu fosse legal com todos? — Ele abaixa a voz e coloca seus lábios ao lado da minha orelha. — Todas as meninas estariam atrás de mim. Seria uma bagunça completa.
Eu rio. — Certo. Claro que é isso que aconteceria.
Ryn me abraça mais apertado. — Eu disse que adoro seu sarcasmo, Sexy Pixie.
— Tanto quanto eu amo esse nome. — Enquanto ele ri, eu percebo outra coisa. — Foi por isso que a morte de Reed atingiu você mais forte do que qualquer um, certo? Porque você teve que sentir a dor de todos os outros assim como a sua?
O cabelo de Ryn escova contra o meu quando ele acena com a cabeça. — E é por isso que eu não poderia simplesmente ‘seguir em frente’ como você fez. Porque ainda sinto a dor da minha mãe todos os dias. Mas, como eu já disse antes, estou tentando. — Ele beija minha bochecha. — Ah, e esse ‘hábito estranho’ que você notou? Pressionar minha mão no meu peito?
— Sim?
— Quando as pessoas sentem emoção forte, súbita e inesperada, isso me dá uma dor momentânea. Eu acho que desenvolvi esse hábito sem perceber. Me surpreendeu você ter percebido.
— Bem, não se preocupe, tenho certeza de que ninguém mais percebeu. — Inclino minha cabeça para trás e olho para o céu. Alguns dos insetos brilhantes desapareceram, mas ainda há o suficiente acima de nós para que pareça com o reflexo de um oceano cheio de criaturas fosforescentes. Não quero sair daqui, mas sei que a noite terá que terminar. Eu vou ter que voltar para casa e fazer coisas não emocionantes, como decidir o curso que a minha vida vai levar agora.
Ryn, que, claro, pode sentir a mudança sutil do meu humor, pergunta, — O que você acha da oferta de emprego da Guilda?
— Como você sabia que eles me ofereceram um emprego?
— Eles me ofereceram um emprego, então, obviamente, eles também ofereceram para você. O que você está pensando? Suponho que você tenha que contar para eles amanhã, assim como eu.
— Sim. — Eu retiro uma das minhas mãos da sua e torço uma mecha de cabelo ao redor do meu dedo. — É sensato aceitar, eu acho. O objetivo da minha vida é proteger as pessoas, e eu posso fazer o melhor através da Guilda.
— Mas?
Eu sorrio para o fato de que ele sabe que há um ‘mas’. — Bem, é um caminho previsível, não é? Seríamos colocados em equipes e vamos passar um ano fazendo diferentes tipos de tarefas. Depois disso, decidimos em qual departamento queremos entrar, vão nos colocar em novas equipes e vamos passar as próximas décadas trabalhando no mesmo tipo de tarefa com as mesmas pessoas.
— Sim. A menos que a Guilda seja atacada e todos os guardiões derrotados, e a vida nunca mais será a mesma.
— Bem, certamente seria muito mais emocionante se a Guilda fosse atacada. — Eu solto minha mão e suspiro. — É só que sempre sonhei em me formar e trabalhar para a Guilda, mas agora que estou aqui, me pergunto se não há uma opção melhor.
— Como oferecer seus serviços privados a faeries ricas que precisam de proteção pessoal? Porque de alguma forma eu acho que você escolheria uma tarefa perigosa ao invés de ser guarda-costas em qualquer dia.
— Definitivamente.
— E se você estivesse na Guilda, você me teria. — Ele desliza a borda da minha jaqueta do meu ombro, e seus lábios deixam um rastro ardente ao longo da minha pele nua. — Nós poderíamos chutar a bunda de faeries perigosos juntos em vez de você ficar por aí sozinha. — Ele se afasta, deixando meu ombro frio. — Mas não me deixe influenciar sua decisão de forma alguma. Depende de você, é claro.
— Oh, tanto faz. — Eu rio. — Se você não está tentando me influenciar, então não sei o que é isso.
— Você não sabe? Você gostaria que eu lhe mostrasse? — Em menos de um segundo, ele pula, me levanta e me pega em seus braços. — Se eu realmente estivesse tentando influenciá-la, poderia ser algo assim. — Ele levanta meu braço esquerdo e toca seus lábios no me pulso, exatamente onde estão minhas marcas de guardiã. Seu beijo envia um arrepio ao longo do meu braço e meu pescoço. Quando seus beijos alcançam o meu cotovelo, ele para e pega meu rosto com as mãos. Ele traz seus lábios perto do meu, mas em vez de me beijar, ele mantém a cabeça perto o suficiente para eu sentir seu calor, mas não o toque dele. Ele sussurra, — Quanto falta você sentiria se estivesse longe de mim o tempo todo?
Em vez de responder, fecho a lacuna entre nós e aperto meus lábios contra o dele. Agora que eu dei o salto e decidi confiar que ele quer isso tanto quanto eu, não consigo ter o suficiente dele. E a maneira como ele me mantém perto e molda seu corpo contra o meu me diz que ele sente o mesmo. Quando minha cabeça está girando tanto e os insetos brilhantes parecem estar dançando em ziguezague ao nosso redor, eu me afasto dele. — Eu odiaria arruinar esse momento caindo do tapete, — eu digo, minhas palavras sem fôlego, — então talvez devêssemos voltar?
Ele inclina sua testa contra a minha. — Já disse que odeio quando você está certa?
— Muitas vezes.
O tapete mágico nos leva de volta ao vazio no topo da árvore gargan. Eu poderia facilmente sair sozinha, mas Ryn claramente quer me ajudar e, como eu adoro a sensação de suas mãos em minha cintura, eu não discuto.
Ele enrola o tapete e o coloca debaixo do braço. Ele abre a boca para dizer algo, mas um sorriso suave se espalha através de seu rosto, e ele se inclina para me beijar em vez disso. Momentos depois, seus lábios deixam o meu com um suspiro. — Eu preciso devolver o tapete, — diz ele. — Eu demorarei alguns minutos. — Ele se dirige ao longo de um dos galhos, me deixando com um sorriso ridiculamente enorme no meu rosto. Pressiono minhas mãos contra o meu peito, sentindo que preciso segurar minha exaltação para que não exploda para fora de mim.
— Vi?
Toda sensação no meu peito cai para os meus dedos do pé e desaparece, deixando meu corpo frio. Essa voz. Eu conheço.
— Vi, é você?
Giro lentamente. Em um portal delineado contra o galho mais largo da gargan, está a última pessoa que quero ver.
Nate.
***
Se alguém se aproximasse e me perfurasse no estômago, ficaria menos chocada do que eu estou agora. Que. Merda. É. Essa?
Com um assobio e um spray de faíscas, meu arco e flecha estão ardendo em meus braços estendidos.
— Como você me encontrou? — Exijo.
— Sorte, eu acho. — Ele sai dos caminhos das fadas, e o portal se fecha atrás dele. — É o único lugar em que eu sei como chegar. Eu sei como chegar à entrada da Guilda, mas eles não teriam motivo para me deixar entrar. E eu sei como chegar ao interior de sua casa, mas eu não tenho permissão para entrar. Eu não sei como é o exterior, então não posso apenas bater na sua porta. Só me restou este lugar. — Ele me observa com atenção. Ele não ergue as mãos, entretanto; ele obviamente não acredita que eu atiraria nele.
— Como você ousa vir me procurar depois do que fez?
— Vi, por favor, eu posso explicar.
— Eu não quero suas explicações, Nate. Eu quero que você vá embora antes de eu acidentalmente soltar essa flecha.
— Por favor, Vi! Você não sabe pelo que eu passei.
— O que você passou? — Eu abaixo meu arco ligeiramente em descrença. — Eu quase morri por sua causa, Nate!
— Eu sei! E sinto muito. — Ele dá um passo em minha direção. Eu miro a flecha nele mais uma vez. — Zell me forçou a ajudá-lo, Vi. Ele fez Scarlett colocar um olho em mim, o que significava que ele podia ver tudo o que eu via. Eu deveria tentar descobrir de você quem era a identidade do guardião com a habilidade de encontrar. Como não queria que ele soubesse que era você, eu obviamente mantive minha boca fechada. Mas então você foi e se entregou!
— O quê? — Ele está seriamente colocando a culpa em mim?
— Nós estávamos no meu quarto, e você disse algo sobre se desculpar por concordar em encontrar minha mãe para mim. Você não se lembra? E foi quando ele descobriu que era você. Ele me bateu por não ter falado antes. Lembra-se do hematoma que eu tinha? E eu menti e disse que foi uma briga na escola?
— Você mentiu. Ótimo. Sobre quantas outras coisas você mentiu?
Ele ergue as mãos em frustração. — Nada! Eu não estou mentindo para você!
— Você se esqueceu da parte em que você me levou a uma caverna secreta e me entregou a Zell? Não vi ninguém o forçar a fazer isso.
— Ele estava ameaçando meus pais! Ele teria os matado se eu não o trouxesse para você. Então pensei que poderia fazer as duas coisas. Protegê-los e ainda você sair viva. É por isso que eu indiquei aquele rio para você. Sabe, aquele que borbulhava na caverna e voltava para a montanha e saía em um lado? Nós passamos por lá e eu disse que você poderia pegar um passeio rápido para fora de lá se você pulasse.
— Esse era o seu grande plano, Nate? Sério? — Foi isso que aconteceu, foi exatamente assim que eu saí da montanha, mas quase me matou.
— Eu não tive outra escolha. Você não entende isso?
— Sempre há uma escolha, Nate. Por que você não me pediu ajuda?
— Como? Zell tinha o olho em mim. Ele podia ver tudo o que via. Ele estava observando todos os meus movimentos. Ouvindo todas as conversas.
— Você não é estúpido, Nate. Você poderia ter descoberto alguma coisa. Fechado os olhos e escrito uma nota para mim, ou algo assim.
— Vi...
Os ramos farfalham e nós dois olhamos para o lado. Ryn passa entre as folhas e entra na cavidade. Seus olhos vão entre Nate e eu, mas sua expressão não dá nenhuma dica sobre o que ele está pensando ou sentindo. Eu queria ter sua habilidade agora. — Bem, — ele diz, cruzando os braços sobre o peito enquanto ele caminha para o meu lado. — Olhe quem veio correndo de volta.
Os olhos de Nate se deslocam entre Ryn e eu. — O que ele está fazendo aqui?
Ryn desliza um braço em volta da minha cintura. — O que parece que eu estou fazendo aqui?
— Ryn! — Eu olho para ele e murmuro, — Você não está ajudando.
— Você está com ele agora? — Nate parece com nojo. — Como diabos isso aconteceu?
— Molhados em uma passagem secreta, — diz Ryn antes que eu possa responder. — Foi muito quente.
— Ryn!
— Então, essa é a parte em que você me avisa para ficar longe de sua namorada? — Nate zombou.
O sorriso arrogante de Ryn faz uma aparição. — Claro que não. Eu não insultaria Violet, sugerindo que ela não pode lidar com você sozinha.
Eu reviro os meus olhos e abaixo meu arco. — Ok. Isso é ótimo. — Eu abaixo minha voz. — Então, que tal você esperar atrás da árvore para que eu possa, sabe, lidar com as coisas sozinha? — Os olhos de Ryn encontram os meus, e eu posso dizer que ele está tentando descobrir se tudo está bem. — Eu vou ficar bem, — eu murmuro.
— Tudo bem, — ele diz. Ele se vira para Nate. — Até logo, garoto halfling. Espero que nunca nos encontremos de novo. — Ele desaparece em um portal no ar.
— Eu não acredito nisso, — murmura Nate, balançando a cabeça. — Eu finalmente consigo me afastar de Zell, e a primeira pessoa quem procuro - você - seguiu em frente como se eu nunca fosse parte de sua vida.
Eu deixo meu arco e flecha desaparecerem; nós dois sabemos que não vou usar, mesmo depois do que Nate fez comigo. — O que você acha que aconteceria, Nate? Que eu voltaria correndo para os seus braços?
— Eu não sei, Vi. Mas eu certamente não esperava voltar e me encontrar preso em um triângulo amoroso.
— Não há triângulo amoroso, Nate. Um triângulo amoroso implicaria que você realmente tinha uma chance comigo, o que você não tem.
Nate dá um passo abalado para trás, como se eu o tivesse golpeado. Ouch. Essas palavras saíram mais severas do que eu pretendia.
— Mas você me amou, Vi, — ele diz calmamente. — Eu sei que amou.
Eu balanço a minha cabeça. — Não. Eu não amei, e eu não vou.
— Você amou. Você ficou com medo de dizer, mas eu conheço você...
— Eu não amei. Talvez eu pudesse ter amado se você tivesse me dado chance, mas você não deu. — Eu respiro fundo. — Eu me preocupava com você, e eu estava tão irritada e ferida que quase fiz algo estúpido com uma poção. Mas eu superei. Eu superei você.
Ele olha para mim por um longo tempo antes dele dizer, — Eu ainda te amo.
— Não minta para mim. E a Scarlett?
Ele fica pálido. — Scarlett?
— Eu vi vocês dois juntos no baile de máscaras de Zell.
— Você estava lá?
— Sim. Ryn e eu estávamos lá. E certamente não parecia que você estava sentindo minha falta quando Scarlett estava sussurrando em seu ouvido.
Ele olha para frente e balança a cabeça. — É complicado. Ela é uma siren, Vi...
— Ah, então você não teve escolha, certo? Assim como não teve escolha em me levar a uma armadilha naquela montanha? E não teve escolha em usar suas tempestades para violar os encantamentos protetores da Guilda para potencialmente prejudicar um monte de pessoas inocentes?
— Vi...
— Eu acho que você deveria ir, Nate. Tudo o que tínhamos acabou. Talvez você esteja falando a verdade sobre tudo, talvez não esteja. Mas eu não sei, e nunca mais poderei confiar em você. Você precisa continuar com a sua vida, e eu preciso continuar com a minha. Pegue seus pais e fuja, se você precisar, mas não me envolva. — Eu cruzo meus braços e engulo. — Eu nunca quero voltar a vê-lo.
PARTE IV
Capítulo 29
O apartamento na cobertura do edifício mais alto em que eu estou tem vidro do chão ao teto em cada sala, permitindo que as luzes da cidade cintilem através. Elas iluminam o interior do apartamento, tornando mais fácil ver onde vou. Eu deslizo por uma escada construída a partir de finos pedaços de madeira preta inseridas na parede em um lado. Eu acho que a escada deveria ser artística e minimalista, mas eu me pergunto quantas pessoas já tropeçaram nela. Eu chego ao final e examino a sala aberta exibindo pinturas em parede e esculturas em pedestais. Uma estante de madeira com pedaços de madeira plana anexada a ela como galhos em uma árvore captura meus olhos, assim como uma sala de estar de forma estranha que provavelmente também é considerada arte.
Ninguém está aqui.
O proprietário do apartamento — atualmente adormecido em um dos quartos enorme - é um colecionador de arte, e parece que um certo ladrão de faeries tem gostado dos itens exibidos aqui. Na semana passada, ele roubou uma pintura valiosa, e passamos os últimos quatro dias descobrindo quem ele é e quando tentará fazer o seu próximo assalto. Queremos pegá-lo no ato.
Eu sinalizo para Jay, um dos três membros da minha equipe, para me seguir pelas escadas. Asami, meu outro companheiro de equipe, já está posicionado na varanda que se estende ao longo de um lado do exterior do apartamento, caso nosso ladrão de fadas planeje entrar dessa maneira. — Esconda-se sob aquele sofá estranho, — eu sussurro para Jay enquanto eu aponto para a mobília que parece um tigre gigante tentando abraçar algo. — Eu estarei atrás da escultura da coisa mulher-fera-de-pedra.
— Escolha interessante, — diz ele, olhando a escultura bizarra. Jay é um graduado de outra Guilda que decidiu que queria começar sua vida profissional em um novo lugar e acabou em Creepy Hollow. Ele é bom o suficiente, mas eu preferiria ter Ryn no meu time. Não só porque eu sou a líder da equipe e eu poderia mandar nele, mas porque, bem, eu quero estar perto dele o tempo todo. Tora assumiu a responsabilidade de mencionar ao Conselho que Ryn e eu estamos em um relacionamento - algo que ainda não a perdoei - e o Conselho decidiu que seria melhor se não trabalhássemos juntos. Levou um monte de contenção para eu não apontar que existem várias equipes com marido e mulher na nossa Guilda, e ninguém parece ter um problema com isso.
Jay escorrega debaixo do sofá, e eu me agacho atrás da coisa mulher-fera-de-pedra. Uma pequena placa de metal anexada à base me diz que se chama The Revelation of Eve. Hmm.
E então esperamos.
É um pouco chato.
Desde o mês que aceitei o cargo na Guilda, esta é apenas a terceira tarefa na qual eu participo. Parece um número patético para mim, considerando que eu costumava ter uma nova tarefa quase todas as noites quando ainda estava treinando. Mas essas tarefas são muito mais detalhadas, eu admito - e eu era uma aprendiz de sucesso excessivo.
A pulseira que eu agora uso no lugar da minha pulseora rastreadora se aperta. Olho das duas pedras encaixadas no couro – azul para Asami, verde para Jay – e vejo o azul piscando lentamente. Eu olho em volta da escultura e olho para a varanda onde eu sei que Asami está se escondendo. Puxo a minha cabeça de volta imediatamente. A figura que eu vi espiando através da janela definitivamente não era Asami. Pressiono a pedra azul para que ele saiba que recebi seu alerta.
Eu olho através de uma fenda entre a escultura, o braço-da-mulher e a cauda-da-fera. A figura na janela desapareceu. Um momento depois, ele sai de um caminho das fadas na parede ao lado de uma pintura de cores bagunçadas e misturadas. Ele se dirige diretamente para uma caixa de vidro com um ovo decorado descansando sobre uma almofada.
Com dois dedos, pressiono ambas as pedras na minha pulseira três vezes em rápida sucessão. Jay e Asami sabem exatamente o que isso significa: vamos pegar esse cara.
***
Não é difícil. Somos três e ele é apenas um, e mesmo que ele tenha dado um golpe elaborado com uma corda que ele acrescentou magicamente do teto, demora apenas alguns minutos antes de tê-lo atado e amordaçado e pronto para ser levado para a Guilda. Sequer disparamos algum alarme no processo. Jay e Asami o levam de volta através dos caminhos das fadas, enquanto eu fico para trás para devolver cada item ao seu lugar na sala para que o dono nunca saiba que alguém esteve aqui.
Eu retiro a corda do teto e a enrolo em meu braço. Alguns livros foram derrubados da estante de livros em forma de árvore, então eu os encaixo em qualquer lugar em que eu vejo espaço. A planta no vaso na prateleira mais alta parece ter soltado algumas folhas. Eu espalho meus dedos, e as folhas flutuam para cima em direção às minhas mãos abertas. Pego as folhas e as coloco no meu bolso.
Estou prestes a abrir um portal para os caminhos das fadas quando percebo um pedaço de papel rasgado, deitado no pé do vidro que separa a varanda da sala. Não consigo lembrar se o papel estava no chão quando chegamos aqui, mas parece mais provável que seja um lixo do bolso do ladrão do que algo deixado pelo dono deste lugar. Ele é claramente obsessivo por limpeza. Eu me inclino para pegar o papel e o viro enquanto eu me endireito. Meu coração salta quando vejo a caligrafia que reconheço.
Zell.
Gostaria de não reconhecer a letra do Príncipe Unseelie, mas eu tenho uma imagem marcada com bastante firmeza na minha mente da parede no calabouço circular coberta de centenas de nomes escritos à mão. Certamente nunca esquecerei a forma das letras que formavam meu próprio nome, e então eu sei que a mesma mão escreveu as duas frases que vejo no papel rasgado na minha mão.
Roubando com sucesso, você terá me provado que você pode ser confiável no grande dia. E o grande dia está chegando em breve.
O grande dia? E isso seria... O dia em que Zell tentaria conquistar a coroa Unseelie? O dia em que ele planeja invadir a Guilda? Droga, eu gostaria de ler o resto da nota.
Coloco dentro de um dos meus bolsos, abro uma entrada na parede e faça uma rápida viagem a Guilda. Dentro da entrada, eu puxo meus pulsos marcados para o guarda noturno de plantão, que rapidamente as examina com a stylus. Então vou direto ao escritório da Conselheira Starkweather. As chances são altas de ela estar aqui, dado suas tendências de vicio no trabalho.
Eu bato na porta dela. Um momento depois, ouço sua voz me pedir para entrar.
Explico nossa tarefa, mostro a nota e digo a ela por que eu acho que Zell escreveu isso. — Lembra quando Ryn e eu invadimos o calabouço de Zell para resgatar a irmã de Ryn, e eu trouxe algumas páginas de volta e entreguei a você?
— Sim, — ela diz devagar, cruzando os braços sobre o peito. Ela não ficou impressionada com o fato de termos invadido a casa de Zell. Ela nos disse que devíamos esquecer a coisa toda.
— Se você ainda possuir aquelas páginas, você pode compará-las com esta nota. Estou quase certa de que a caligrafia irá combinar.
— Eu definitivamente farei isso antes de interrogar o ladrão que deixou cair esta nota. — Ela se levanta e se dirige para a porta dela.
— Se for a caligrafia de Zell, — digo, seguindo-a, — posso questionar o ladrão?
Ela abre a porta e se movimenta para eu sair da frente dela. — Eu não acho que isso seria apropriado, Violet. — Aparentemente, eu não sou mais a Srta. Fairdale agora que já não estou mais em treinamento.
— Mas pegamos o ladrão. Essa foi a nossa tarefa. Por que não seria apropriado se eu o questionasse?
A porta se fecha logo atrás dela. — Porque tudo o que tem a ver com o Príncipe Unseelie faz parte de uma investigação maior na qual você não está envolvida.
Eu posso ouvir as palavras que ela não está dizendo: Essa investigação é muito importante e sou muito jovem e inexperiente para ser confiável. Quero lembrá-la de que quase certamente me encontrei cara a cara com Zell mais vezes do que qualquer outra pessoa nesta Guilda, mas sei que minhas palavras não farão nada de bom. Guardo a minha frustração. — Ok, — eu digo. — Compreendo.
Vou em direção a um corredor diferente e me afasto dela. Eu bato no meu bolso a procura do meu âmbar para que eu possa ver se tem uma mensagem da Ryn, mas parece que eu deixei em casa. Idiota. Eu estava ansiosa por uma mensagem dele o dia todo, esperando que hoje fosse o dia em que ele saberá quando pode voltar para casa.
Poucas semanas depois que Honey e Asami completaram com sucesso sua tarefa final no Egito, uma nova revolta começou. As criaturas do tipo pixie aladas que concordaram em viver pacificamente ao lado dos elfos bronzeados decidiram que realmente queriam as pirâmides. Grande bagunça. Então a Guilda enviou Ryn e sua nova equipe para lidar com a agitação da maneira mais pacífica possível.
Eles se foram há duas semanas.
Parece anos.
Eu sei que eles estão bem porque recebo mensagens ocasionais no âmbar de Ryn, mas eu sinto falta dele. Muita. Tanto quanto eu sentiria falta dos meus membros se eles de repente fossem cortados. Mais, na verdade. E eu não ouvi falar de meu pai desde o meu aniversário, então, basicamente, voltei a passar as noites nas tarefas ou em casa com Filigree - assim como fiz durante a maior parte do meu treinamento. A diferença agora é que eu não estou mais feliz com uma vida solitária.
Paro no corredor alinhado com fileiras e fileiras de estantes de correspondência. Agora que sou uma guardiã, tenho a minha própria estante. Adeus para o armário no andar de baixo perto do centro de treinamento. Eu passo pelas aberturas retangulares até chegar a minha. Há um papel dobrado dentro com o meu nome. Provavelmente outro memorando chato. Volto para o corredor, desdobrando o papel enquanto eu ando. Só demora algumas palavras para que meus pés parem.
VF,
Você não me conhece, Violet, mas você e eu temos algo em comum: ambos estamos tentando derrotar o Príncipe Unseelie Marzell. Eu vi você em seu baile de máscaras, e me levou até agora para descobrir dele quem você é. Daqui a cinco dias, Zell revelará aos seus seguidores mais próximos, o que inclui eu, seus planos exatos para quando e como invadir as Guildas. Daqui a cinco dias, eu lhe darei essa informação — se você quiser.
Você não tem motivos para confiar em mim, é claro, então deixe me dar uma razão. Ouvi Zell pedir ao seu mais recente seguidor, uma faerie com habilidades especiais do tipo piromaníaco, para lançar um inferno furioso na entrada da Guilda, situada no reino das fadas perto de Londres. Seu objetivo não é violar os encantamentos protetores, mas sim deixar os guardiões saberem que nenhuma Guilda está a salvo do seu alcance.
Amanhã à noite, você saberá que estou dizendo a verdade.
D.
Que merda é essa? Isso é uma piada? Eu olho para o corredor para ver se alguém está olhando ou rindo, mas estou sozinha. Eu olho de volta para a letra genérica. Deve ser uma piada; Ninguém da Corte Unseelie seria permitido entregar um recado a Guilda - ou por qualquer outro motivo, obviamente. Mas quem dentro da Guilda sabe que eu estava disfarçada no baile de máscara de Zell? Eu não disse a ninguém, mas acho que as pessoas envolvidas na investigação de Zell possam saber agora - e não sei quem são essas pessoas.
Talvez alguém esteja irritado que eu continue tentando entrar nessa investigação e eles estão tentando me colocar em problemas. Ou me fazer parecer estúpida. Assim... Não vou fazer nada sobre esse recado. Se for legítimo e realmente houver um incêndio amanhã à noite, não é como se alguém fosse se machucar. O fogo é para assustar as pessoas, certo?
Quando eu chego em casa, coloco a nota na gaveta ao lado da minha cama, ao lado da caixa que contém minha pulseira de fita e meu anel tokehari de meu pai. O colar de chave da minha mãe permanece em volta do meu pescoço o tempo todo, como os brincos de flecha nas minhas orelhas. Eu pego meu âmbar da minha mesa, e meu coração faz uma dança feliz quando vejo que há uma mensagem de Ryn.
Finalmente em casa. Queria te visitar, mas eu ouvi que você vai estar fora esta noite livrando o mundo de um ladrão perigoso. Te vejo amanhã, Sexy Pixie. Não esqueça de sonhar comigo.
De jeito nenhum. Não vou esperar até amanhã. Abro uma entrada e vou diretamente para a casa de Ryn, emoção vertiginosa fazendo meu coração bater rápido. Ele me concedeu acesso à sua casa para que eu pudesse me esgueirar do jeito que ele gosta de se esgueirar na minha. Não sei se ele contou a sua mãe; ela provavelmente não aprovaria.
Os caminhos das fadas me levam até o quarto dele, que está na escuridão, exceto pela galáxia encantada que flutua perto do teto acima de sua mesa - um presente de sétimo aniversário. Ele continua ameaçando se livrar disso porque, segundo ele, é infantil. Eu acho que é bonito.
Os laços das minhas botas desatam-se enquanto eu ando silenciosamente em direção a sua cama. Ele está encarando o outro lado, seu ombro subindo e caindo ao mesmo tempo que suas respirações constantes e silenciosas. Tiro minhas botas, subo na cama e me arrasto para debaixo da coberta. Estou prestes a me inclinar sobre ele e beijar seu pescoço quando ele diz, — Você acha que está se esgueirando sobre mim, Sexy Pixie?
Droga. — Sim, é exatamente o que eu acho.
Ele rola e me puxa para baixo dele. — Você terá que tentar mais do que isso. — Ele traz os lábios para encontrar os meus enquanto eu enrolo os meus braços ao redor do seu pescoço. Faíscas e formigamentos lampejam pela minha língua, meu rosto, meus braços. Ainda não sei se Ryn está fazendo isso de propósito, ou se acontece espontaneamente quando as pessoas com magia se beijam. De qualquer forma, Ryn nunca esteve mais certo do que quando me disse que eu estava perdendo.
— Você pegou o cara mau? — Ele sussurra no meu ouvido.
— Claro. Você... Consertou o Egito?
— Claro. — Um beijo na minha orelha. — Jay já deu em cima de você?
Coloco minhas mãos de cada lado do rosto de Ryn para que eu possa olhar para ele. — Não, mas é fofo que você esteja com ciúmes.
— Com ciúmes? Ha! Não me faça rir.
— Você é tão ciumento. — Eu o empurro para que eu possa deslizar por baixo das cobertas. — Mas está tudo bem. Já tive ciúmes antes. No palácio quando você estava flertando com Opal, ou seja, qual for o nome.
— Ah, sim, lembro disso. — Ele se senta contra o travesseiro e me puxa para o lado dele. — Seu ciúme realmente machucou meu peito.
— Bom. Estou feliz. — Parece que sua habilidade é útil para algo.
— Fala sério, eu estava sendo amigável com ela.
— Tudo bem, certo. Aposto que você estava tentando me deixar com ciúmes.
Ryn ri. — Eu acho que eu estava.
Eu soco sua coxa, e ele tem a decência de fingir que dói. — De qualquer forma, por que estamos sentados? Eu estava me sentindo confortável antes de ser abordada com o assunto do meu colega de equipe.
Ryn boceja, então diz, — Tenho algumas más notícias. Eu pensei que seria melhor se você não estivesse distraída enquanto eu lhe dissesse.
— Más notícias?
— Sim. — Ele esfrega os olhos. O pobre deve estar cansado após sua longa tarefa. — Eu estava na casa do meu pai esta noite. Acontece que o disco grifo dele foi roubado.
— O quê? — Eu sento ereta. — Como você sabe? Ele falou sobre isso?
— Não exatamente. Ele estava bastante agitado. Sabe, movendo as coisas e procurando em todos os lugares. Então eu perguntei o que ele estava procurando. Ele descreveu o disco para eu poder ajudá-lo a procurar, mas não me contou nada sobre isso.
— Caramba, — eu murmuro. — Isso é ruim. Ele sabe quando sumiu?
— Eu perguntei a ele. Ele não sabe. A última vez que o viu foi há alguns meses atrás.
Eu balanço a minha cabeça. — Sabe, eu pensei que a magia protetora que temos em nossas casas deveria manter pessoas indesejadas fora.
— Sim, eu também.
— Na época que Angelica estava roubando os discos, ela conseguiu entrar nas casas dos nossos pais porque eles eram seus amigos e já haviam concedido acesso a ela. Mas agora que Zell é que está roubando discos, como ele fez isso?
— Talvez ele saiba meios de contornar a proteção, — diz Ryn. — Deve haver maneiras de quebrar esses feitiços se você for poderoso o suficiente.
— Ou se você tem um amigo poderoso que gosta de invadir lugares.
— O garoto Halfling, — murmura Ryn. — Eu acho que ele pode ter roubado o disco antes de desertar de Zell há um mês. Você já ouviu algo dele desde então?
— Nada.
Nate deve ter me escutado quando eu sugeri que ele pegasse seus pais e fugisse. Fui a sua casa cerca de uma semana após o confronto na gargan, e nem ele nem seus pais estavam lá. Em vez disso, um homem que parecia extraordinariamente com o pai de Nate estava sentado na mesa da sala de jantar fazendo um telefonema. Na mesa ao lado dele, estava um jornal aberto com um artigo sobre uma família desaparecida. Havia três fotos: Nate, seu pai e sua madrasta.
Eu me arrependia de ter sido tão dura com ele, mas não podia mais confiar nele. Parte de sua história fazia sentido - os detalhes coincidem agora que eu penso sobre isso - mas ele poderia simplesmente inventar a história para se adequar aos detalhes. É melhor se Nate acabar de viver a vida em algum lugar distante. Ele pode até começar de novo em um novo lugar e fingir que ele é um humano normal.
Ryn enlaça seus dedos entre os meus. — Agora que eu compartilhei as más notícias, você gostaria de ouvir algo bom?
Depois de beijar as costas da sua mão, eu digo, — Definitivamente.
— Eu posso ter uma pista sobre sua caixa perdida.
— Sério? Do seu contato do Subterrâneo?
— Sim.
Com toda a emoção de descobrir que meu pai ainda está vivo, seguida por Ryn e eu ficando, e Nate aparecendo do nada, eu realmente consegui esquecer da caixa perdida de minha mãe por uma semana inteira depois que Zinnia me contou sobre isso.
Depois que Ryn me lembrou sobre a caixa, ele entrou no escritório do guardião que liderou a investigação sobre a morte de Reed e encontrou o arquivo relevante. Como não havia menção de uma caixa, voltamos para o local no chão da floresta, onde Reed caiu. Eu poderia dizer que era difícil para Ryn revisitar o lugar onde seu irmão morreu, mas ele parecia lidar com isso. Demos uma boa olhada ao redor, cavamos partes do chão para ver se a caixa podia ter sido enterrada ao longo do tempo. Eu até voltei mais tarde e caminhei ao longo do caminho para ver se Reed talvez soltou a caixa quando ele caiu e pousou em algum lugar além. Eu procurei cada fenda nos galhos circundantes, mas não encontrei nada. Não é surpreendente, na verdade. Será que honestamente espero que ainda esteja lá oito anos depois?
Então Ryn decidiu ir ao Subterrâneo e procurá-la da maneira que ele procurou pelo meu colar: Encontrando um rumor de uma história e seguindo.
— E o que este contato Subterrâneo lhe disse? — Pergunto.
— Ele conhece alguém que conhece alguém que vende, uh, redistribuí itens artesanais.
— Em outras palavras, itens roubados artesanais?
— Sim. E, aparentemente, ele vendeu uma caixa de madeira com o nome de Violet há vários anos atrás.
Eu me afundo de volta contra o travesseiro. — Vários anos atrás? A caixa poderia estar em qualquer lugar em todo o reino das fadas no momento.
— Ei, encontrei o seu colar, não é? — Seus dedos escovam a chave dourada descansando contra meu peito. — Eu vou encontrar sua caixa.
O sentimento de calor e segurança que Ryn sempre consegue trazer para mim atravessa o meu corpo. Olho nos olhos dele, e estou dominada pelo desejo de lhe dizer algo. Algo grande e assustador e que não é minha praia. Algo envolvendo uma palavra que começa com A.
Não. Não posso dizer isso. É muito cedo. Vou assustá-lo. Eu me assustarei.
— Posso falar com você sobre outra coisa? — Pergunta Ryn.
— Claro. — Enquanto você não estiver prestes a usar a assustadora palavra com A.
Ele franze a testa. — Você está bem? Eu sinto que você está enlouquecendo sobre alguma coisa.
— Não. — Minha voz sai como um guincho. — Apenas... estressada sobre a situação de Zell, eu acho.
Ele me dá um olhar engraçado que me diz que ele não acredita em mim, então eu me inclino para frente e aperto meus lábios contra o dele. Ele, obviamente, esquece o que ele quer dizer, porque suas mãos deslizam pela minha cintura enquanto o beijo se torna mais quente. Suas mãos deslizam minhas costas, abaixo da minha blusa. Pressiono meu corpo mais perto do dele.
— Espere, — ele diz contra meus lábios. — Espere, eu deveria estar lhe dizendo algo.
Relutantemente, eu me afasto dele. — É melhor ser bom.
— É sempre bom quando eu falo. — Ele acaricia minha bochecha enquanto eu reviro os meus olhos. — Ok, então, eu tenho uma teoria, — diz ele. — Uma teoria sobre por que alguns de nós tem habilidades mágicas extras e outros não.
Eu me aconchego mais perto dele. — Estou ouvindo.
— Você sabe como todos amavam o Reed? Quero dizer, as pessoas sempre dizem...
— que havia algo nele, — respondo. Eu ouvi tantas pessoas dizerem isso. Eu mesma disse isso.
— Sim. Havia algo nele. E não acho que fosse algo natural. Eu acho que era sua habilidade especial. Como o meu é sentir as emoções dos outros, o seu é encontrar pessoas, e o de Calla é fazer com que as pessoas vejam o que ela está imaginando, e o poder de Nate é sobre o tempo.
— Ok...
— E Zell não disse algo para você em seu calabouço sobre os discos grifo conectados a faeries com habilidades especiais?
— Sim, mas ele não explicou o que ele quis dizer.
— Bem, aqui está minha teoria: as pessoas que usam os discos grifo têm crianças com habilidades especiais.
Eu deixo suas palavras entrar.
— Pense nisso, — diz Ryn. — Seus pais tinham discos, meus pais tinham discos e a mãe de Nate tinha um disco. Meu pai é o único que ainda tinha um disco e olha para Calla. Ela também ficou especial.
Eu concordo. Isso poderia ser o que Zell estava se referindo. — Então, a razão pela qual há muitas faeries com habilidades especiais é porque os discos tiveram tantos proprietários ao longo dos séculos.
— Sim. E, como Zell tem procurado os discos por um tempo, ele provavelmente possui uma longa lista de pessoas que possuíram um disco em algum momento. Uma vez que descobriu que havia uma conexão, teria sido bastante fácil voltar e descobrir quem eram seus filhos.
— Sim, e depois raptá-los. — Inclino minha cabeça para trás e olho para a galáxia. — Então é como se tivéssemos um pouco do poder de Tharros em nós. Isso é estranho, não é?
Ryn assente. — É estranho pensar nisso assim. — Ele olha para mim. — Mas não enlouqueça por causa da magia dele nos fazendo mal porque eu não acredito nisso. Estamos no lado bom, V. Não importa o tipo de magia com a qual nascemos.
Capítulo 30
Tora se inclina para frente e apoia os cotovelos na mesa e o queixo em suas mãos. — E enquanto eu entrava, centenas de borboletas saíram da mesa e flutuaram, deixando o arranjo de flores mais incrível no meio da mesa.
Eu fecho as minhas mãos juntas sob meu queixo. — Isso é tão romântico, Tora. — Não tão romântico quanto um passeio de tapete mágico e um zilhão de insetos brilhantes, mas nem todos os homens conseguem fazer algo épico.
— E a comida estava gloriosa. — Tora joga a cabeça para trás e se encosta contra o armário atrás de sua mesa. — Ele com certeza sabe cozinhar.
— Graças a Deus por isso. — Eu penso na habilidade de cozinhar abismal de Tora. Você pensaria que, como alguém com magia, ela poderia fazer um trabalho medíocre, pelo menos, mas não. — Ele parece perfeito para você. Você acha que ele vai pedir-lhe para ter uma união com ele?
As bochechas de Tora ficam coradas. — Hum, eu não tenho ideia. — Ela se senta e começa a mover as coisas em sua mesa, coisas que provavelmente não precisam ser movidas. — Quero dizer, não nos conhecemos há muito tempo, e as uniões são um grande problema entre os nossos. Eu teria que pensar muito sobre isso porque nenhuma união deveria ser quebrada levemente.
Não deveria. Na verdade, as uniões raramente são quebradas. É por isso que foi um escândalo quando o pai de Ryn partiu e formou uma nova união com outra pessoa. As pessoas não disseram muito, é claro, porque todos sabiam sobre a morte trágica de Reed e o quão difícil era para sua família, mas você podia ver em suas expressões sempre que a família de Ryn era mencionada.
— Ok, mas se Oliver lhe pedir agora, o que você diria?
Tora abre a boca, mas é salva de responder por uma batida apressada em sua porta. — Entre, — ela fala.
Um anão se aproxima com uma pilha de páginas do tamanho de sua mão. — Memorando urgente para todos os guardiões, — diz ele. Ele entrega uma para Tora e outra para mim. Ao sair, vejo outro anão passando correndo pelo corredor na direção oposta.
— Oh, não! — Tora coloca uma mão na boca enquanto seus olhos examinam a nota. — Isso deve ter acontecido depois que eu saí na noite passada.
Olho para o pequeno pedaço de papel de pergaminho na minha mão.
Um fogo encantado foi lançado por faeries cobertos de preto fora da Guilda de Londres na noite passada. Enquanto a entrada interna conectada aos caminhos das fadas permaneceu intacta, ninguém poderia entrar ou sair pela entrada exterior. Depois de várias tentativas mal sucedidas para apagar o fogo, ele desapareceu - aparentemente por conta própria. Os faeries cobertas de preto desapareceram. Nenhum membro da Guilda foi ferido.
Guardiões, estejam preparados. Este é o terceiro ataque em uma Guilda, e a segunda Guilda a ser atacada. Você nunca sabe quando poderá ser necessário com urgência.
Então a nota que recebi na minha caixa de correio era real.
Eu olho para cima. Tora está tocando no seu pequeno espelho circular. — Oliver! Está tudo bem aí?
— Você já ouviu falar sobre o fogo? — Diz uma voz masculina.
— Sim. Agora a pouco.
— Desculpe por não entrar em contato com você mais cedo. As coisas ficaram loucas nesta manhã, mas todos estão bem.
— Oh, graças a Deus.
Eu me levanto para sair. Seria grosseiro se eu continuasse e escutasse a conversa de Tora com Oliver. Além disso, eu sinto uma necessidade de verificar minha caixa de correio novamente porque algo me diz que vou encontrar outra nota misteriosa lá.
Dirijo-me ao corredor alinhado com as caixas de correio. Ao chegar ao meu, vejo uma nota dobrada com meu nome em um lado, escrita com a mesma letra da stylus de antes. Com meu coração bombeando mais rápido do que o normal, eu desdobro o papel.
VF,
Agora que você sabe que posso ser confiável, é sua vez de provar que você pode ser confiável. Não arrisquei minha vida para dar essa informação a alguém com muito medo de se assumir e consegui-la de mim. Se você puder ir ao Diviniti, um clube Subterrâneo, e pegar algo do homem com os chifres de carneiro, então vou saber que você é corajosa o suficiente para esta tarefa.
D.
Imagino um grande ponto de interrogação sobre minha cabeça. Diviniti? Um homem com chifres de carneiro? Isso está ficando estranho. Eu deveria jogar fora essa nota ou dar a alguém como a Conselheira Starkweather. O que eu não devo fazer é seguir as instruções que D me deu na esperança de que eu acabe recebendo informações importantes dele ou dela. Informações importantes que eu posso usar para mostrar a Conselheira Starkweather o quão errado ela foi ao me excluir da investigação de Zell.
Eu não deveria fazer isso. Eu realmente, realmente não deveria. Eu quase posso ouvir a lógica cantando para mim, não faça isso, Vi, não faça isso.
Ugh, mas eu quero tanto provar a mim mesma. E de que serve levar essa nota a outra pessoa na Guilda? Este tal D só quer se comunicar comigo. Eu sou a única que precisa conseguir a informação que poderia salvar todos.
Coloco a nota no meu bolso enquanto volto pelo corredor. Pelo menos vou tentar encontrar Diviniti e o homem com os chifres de carneiro. Então eu vou decidir o que fazer depois disso.
***
Ryn está preso em seu novo cubículo na Guilda, escrevendo um relatório de um quilometro sobre a sua tarefa no Egito, então eu não o incomodo com perguntas sobre como chegar ao Diviniti. Pelo menos, é o que eu digo a mim mesma enquanto vasculho minhas roupas em casa e tento transformá-las em algo colorido e estranho. Eu sei que no fundo a minha verdadeira razão para esconder isso de Ryn é que ele não vai aprovar que eu vá sozinha para seguir essa pista. Ele ainda não superou ter quebrados as regras no passado - como quando resgatamos a Calla - mas algo me diz que ele vai dizer que eu deveria envolver a Guilda nessa.
E não quero isso. Eu quero fazer isso sozinha.
Eu consigo trocar minhas botas pretas para uma cor verde ácida, e minha blusa preta para algo que parece uma pintura que uma criança vomitou. Então eu tento transformar um shorts curto e preto em uma saia curta e preta. Um pouco mais desafiador do que apenas mudar a cor, mas eu consegui. Estou melhorando nessa coisa de roupa.
Meu cabelo precisa de ajuda agora. Peço ao Filigree que se transforme na forma de um grande pássaro, o que ele faz obedientemente. Ele abaixa até o chão do meu quarto, coberto de penas. Pego algumas, altero a cor e as coloco no meu cabelo. Por fim, eu adiciono minha jaqueta à roupa. Não preciso que alguém veja as marcas dos guardiões em meus pulsos.
Certo. Agora eu pareço estranha o suficiente para uma festa no Subterrâneo.
Como não tenho ideia de onde Diviniti fica, terei que começar pelo único clube Subterrâneo que conheço: Poisyn. Encontrei meu caminho lá acidentalmente depois de fugir do labirinto de Angelica. Se eu puder imaginar com precisão na minha mente, eu posso ser capaz de voltar lá através dos caminhos das fadas.
A escuridão me rodeia enquanto atravesso a porta na parede e encaro a sala Subterrâneo com as luzes coloridas e a massa de corpos se retorcendo ao mesmo tempo que a música. Quando uma batida lenta e sedutora atinge meus ouvidos, eu sei que cheguei. Abro meus olhos e estou bem no meio. Os corpos se balançam e giram, os braços no ar, as cabeças jogadas para trás. Algumas faeries estão entrelaçadas umas nas outras. Outras derramam bebidas coloridas em suas gargantas - e sobre seus peitos e cabeças - enquanto dançam.
Eu tento parecer que estou totalmente confortável aqui enquanto atravesso corpos suados em direção a borda da sala. Difícil, quando tudo que eu quero fazer é tremer cada vez que alguém se esfrega contra mim. Eu fico na ponta dos pés, procuro o bar, e faço meu caminho em direção a ele. Eu tento balançar meus quadris enquanto ando, copiando as outras garotas que vejo. Parece estúpido.
Inclino meus cotovelos no balcão verde luminoso da bar e olho ao redor. Ok, agora eu preciso encontrar alguém para quem eu possa perguntar...
— Ei, eu conheço você? — Um cara com cabeça calva e olhos que parecem não ter íris se inclina no bar ao meu lado. Suas mãos estão cobertas de pêlo, e suas unhas são afiadas como garras.
— Hum, eu acho que não.
— Oh, desculpe. Devo ter te conhecido nos meus sonhos. — Ele me dá um sorriso cafona, mostrando seus dentes pontudos.
Uau. Isso é seduzir? Se assim for, fico feliz por ter evitado bares e clubes até agora. Mesmo que eu não queira mais nada do que sair imediatamente, pressiono o desejo de engasgar e pisco meus cílios para ele.
— Então, você quer dançar? — Ele dá um passo para mais perto de mim.
— Claro, se pudermos ir para outro lugar.
— Outro lugar? — Seus olhos se acendem, e tenho certeza de que ele viu muito mais nas minhas palavras do que eu pretendia.
— Sim, meu amigo me contou sobre esse lugar chamado Diviniti. Você conhece?
— Oh, sim. — Ele parece um pouco desapontado, provavelmente porque o 'outro lugar' não acabou por ser mais privativo. — Eu posso levá-la lá, se quiser.
— Oh, você pode? — Eu permito que o prazer se espalhe pelo meu rosto. — Muito obrigada!
Saímos do Poisyn e vamos por um túnel. É largo e alto, com portas aqui e ali e todo tipo de criaturas Fae vagando por alí. Nós viramos em um canto e passamos por um troll puxando um carrinho de anões atrás dele. Este lugar é mais como uma rede de ruas do que túneis. Chegamos a uma encruzilhada e vamos direto. Em seguida, outra e mais outra. Estou feliz por poder sair daqui através dos caminhos das fadas porque não tenho certeza se eu saberia como voltar para Poisyn.
O zumbido distante da música chega aos meus ouvidos. — Estamos quase lá, — diz meu companheiro calvo. Nós mal falamos uma palavra um para o outro. Ele é, obviamente, um conversador como eu. — Então, é isso. — Ele gesticula para uma arcada com fumaça branca vagueando por debaixo dela. Enquanto avançamos, ele coloca um braço ao redor dos meus ombros. Sua mão desliza para baixo e aperta minha bunda.
Pego a mão ofensiva, o giro e o coloco contra a parede. Eu torço o braço dele atrás das costas dele. — Tente isso novamente, e eu quebro sua mão.
— Tudo bem, — ele sussurra, seu rosto praticamente beijando a parede. — Uau. Isso foi quente. Você pode fazer de novo?
Sério? Solto o seu braço e me afasto. — Você sabe de uma coisa? Eu acho que isso não vai funcionar. Você deve voltar para Poisyn. Aquela garota atrás do bar parecia estar afim de você.
— Sério?
— Sim. — Na verdade, ela parecia que queria arranhar os olhos de alguém que ousasse pedir uma bebida, mas talvez fosse só porque ela tinha um olhar distintamente felino.
— Incrível. — O cara calvo gira o ombro algumas vezes antes de voltar para o túnel.
Caminho abaixo do arco e entro no Diviniti. Deve haver algum tipo de barreira invisível na entrada porque as pontas dos meus dedos formigam por um momento e a música de repente fica mais alta. A fumaça limpa o suficiente para eu dar uma olhada na sala. É muito mais escuro do que a Poisyn, e há muito menos dança acontecendo. Há sofás aqui e ali com Fae jogados neles, bebendo, fumando... e outras coisas que fazem meu rosto esquentar. Enquanto ando em direção ao bar, posso dizer que estou sendo observada. Pela primeira vez nesta noite, me sinto um pouco insegura.
Uma faerie com um metal circular através do nariz chega até mim antes de eu chegar ao bar. — Eu não vi você por aqui antes, — ele diz, seu tom sugerindo que suas palavras são um aviso de outro flerte.
Eu decido falar a verdade. — Eu fui enviada aqui para procurar alguém. Um homem com chifres de carneiros.
Um lado da sua boca vira. Ele alcança a bainha de sua camiseta e a tira sobre sua cabeça, revelando um conjunto impressionante de abdômen. Não tão impressionante quanto o abdômen de Ryn, mas, então, provavelmente estou sendo tendenciosa. Estou prestes a perguntar a esse cara por que ele está se despindo, quando ele se vira e me mostra as costas dele. Tatuado na metade superior está um par de grandes chifres enrolados de carneiro.
Ele coloca a camisa e diz, — Então, quem é você?
— Hum, meu nome é Violet.
— Violet. — Os cantos de seus lábios se levantam tão ligeiramente conforme seu olhar se move ao longo do meu corpo. — Estive esperando por você. Espere aqui. — Ele vai para trás do bar e desaparece através de um portal.
Coloco minhas mãos nos bolsos da jaqueta e tento não fazer contato visual com ninguém. Quando o cara retorna, ele me entrega algo pequeno embrulhado em papel marrom. É duro. — Hum, a pessoa que te deu isso, — digo. — Foi um homem ou uma mulher?
Ele me dá um olhar curioso. — Uma mulher.
— Ótimo. Obrigada. — Vou embora antes que ele possa fazer perguntas — e me encontro batendo em uma parede de carne. — Oh, desculpe-me, — digo ao virar. O homem gigante atrás de mim deve ser meio troll porque ele é enorme, e realmente feio.
— Indo embora tão cedo? — Ele pergunta. Sua voz é tão profunda que quase posso senti-lo rugir. — Você deve ficar um pouco. — Ele ergue a mão lentamente em direção ao meu rosto. — Nos conhecer um pouco melhor.
Eu me abaixo sob seu braço, pulo na almofada do sofá mais próximo, pulo para trás dele e pouso ao lado da parede. Eu apressadamente escrevo um portal e entro, deixando a música, a fumaça e a risada trêmula atrás de mim.
Entro no meu quarto e olho para o pacote nas minhas mãos. Na verdade, não foi tão difícil de recuperar. Se isso é tudo o que é preciso para provar minha bravura para essa mulher misteriosa, então ela obviamente não tem ideia do tipo de situações assustadoras com as quais me envolvi no passado. Esta foi uma tarefa de terceiro ano em comparação.
Sento na borda da minha cama e desembrulho o papel marrom. Dentro, encontro dois pedaços retangulares de vidro transparente, do mesmo tamanho que meu âmbar. Ótimo. Não tenho ideia do que devo fazer com eles. Coloco-os na minha mesa de cabeceira e começo a puxar as penas para fora do meu cabelo, que agora cheira a fumaça.
Dou um passo em direção ao meu banheiro, mas paro quando ouço um som zumbido na minha mesa de cabeceira. Um dos pedaços de vidro está vibrando, movendo-se lentamente em direção à borda da mesa. Eu corro e o pego antes que ele caia. Duas palavras cinzentas escuras me encaram da superfície do vidro.
Olá, Violet.
Eu pego minha stylus e sento na beira da cama. É a D? Eu escrevo.
Sim. Bem, você conseguiu chegar no Diviniti.
Esse vidro funciona como âmbar?
Sim. Nova tecnologia. Os fabricantes os chamam de vidro-comunicador.
Por que você me deu dois?
No caso de você quebrar um.
Justo. Suponho que isso aconteça quando você faz dispositivos de comunicação de vidro. Então, o que acontece agora?
Você me ouvirá dentro de três dias assim que eu souber quando e como Zell planeja fazer seu ataque às Guildas. Boa noite.
Boa noite? É isso? Depois de alguns minutos, é claro que quem estiver no outro extremo deste vidro comunicador não planeja enviar mais mensagens.
Eu mergulho na minha piscina de banho por um tempo, deixando a cachoeira lavar a fumaça do meu cabelo. Quando eu saio, encontro uma mensagem de Ryn no meu âmbar.
Sinto falta da minha Sexy Pixie. Mamãe te ouviu no meu quarto ontem à noite. Ela agora está usando palavras como ‘inapropriado sob meu telhado’ e ‘por favor, deixe sua porta aberta’. Então... me encontre na árvore gargan?
Com um sorriso, me arrumo e saio.
***
— Você está escondendo algo de mim, — diz Ryn. Na maioria das vezes, sua habilidade funciona muito bem para nós, eu nunca tenho que realmente dizer a ele o que estou sentindo, e está tudo bem para mim, mas agora é uma merda que ele pode me descobrir com tanta facilidade. — Seu humor está diferente e você definitivamente ficou nervosa quando perguntei como foi sua noite.
Ok, hora de jogar limpo. Posso manter um segredo de Ryn, mas definitivamente não posso mentir para ele. Especialmente não quando estou sentada em seu colo e ele não me deixa olhar para nenhum lugar, exceto em seus olhos. — Você está certo. Estive escondendo algo de você. — Coloco minhas mãos nos seus ombros. — Mas só porque eu sei que você ficaria todo protetor e se preocuparia com minha segurança e tentaria me impedir.
Ryn arqueia as sobrancelhas. — Se você tentou me tranquilizar, você fez um trabalho terrível.
— Não é extremamente perigoso. É apenas algo que eu quero fazer sozinha para que eu possa me provar a Conselheira Starkweather.
— E o que é esse ‘algo’?
Deslizo meus dedos pelos seus braços e pego suas mãos na minha. — Alguém na Corte Unseelie entrou em contato comigo para dizer que ela quer me contar todos os planos de Zell sobre seu ataque iminente às Guildas. Ela me viu no baile de máscaras, e obviamente, pensou que eu seria uma boa pessoa para transmitir a informação.
A expressão de Ryn torna-se cautelosa. — V, isso parece uma armadilha. Zell ainda te quer, lembra?
— Olha, essa pessoa já me deu informações que se tornaram verdadeiras. Ela me disse que haveria um incêndio na Guilda de Londres. Eu pensei que era uma piada, então ignorei isso. Então o fogo realmente aconteceu.
— E? Ainda poderia ser alguém tentando enganá-la para você se entregar.
— Eu sei. O pensamento me ocorreu. Mas eu terei cuidado. Não a encontrarei em nenhum lugar isolado. E se as coisas derem errado, bem, eu sou uma guardiã. Eu não ficarei impotente.
Depois de uma longa pausa, Ryn diz, — Se for encontrá-la, eu quero ir com você.
— Não tenho certeza de que seja uma boa ideia. Ela pode não me dar qualquer informação se vir que eu não estou sozinha. Ela provavelmente não quer que ninguém saiba quem é ela, caso Zell fique sabendo.
— Ela não precisa saber que estou lá.
— Ryn... — Inclino minha cabeça para o lado e tento implorar com meus olhos.
— Me desculpe, V. — Ele balança a cabeça. — Se você tivesse alguma ideia do quanto significa para mim, você saberia que eu não poderia lidar com isso se algo acontecesse com você.
— E nada vai acontecer comigo. — Eu aperto suas mãos com as minhas. — Eu realmente aprecio que você queira cuidar de mim, mas você não precisa. Eu quero fazer isso sozinha. Você precisa confiar naquilo que posso fazer.
Ryn está quieto enquanto seus olhos procuram meu rosto. Ele sabe o quão teimosa eu sou, então ele deve saber que não vou ceder quanto a isso. Por outro lado, eu sei o quão teimoso ele pode ser, então é possível que entremos em uma grande briga aqui.
— Tudo bem, — ele diz eventualmente. Ele coloca as mãos em ambos os lados do meu rosto e se certifica de que estou olhando para ele. — Se você não vai me deixar ir com você, então você tem que me prometer outra coisa.
Eu estreito meus olhos. — Prometer o quê?
Suas mãos escorregam do meu rosto e se acomodam nos meus ombros. — Você usará o colar da eternidade.
— Espera, você ainda tem essa coisa? Eu pensei que você iria destruí-la.
— Eu tentei. Não quebra. Agora prometa.
— Jeez, não é como se alguém tentasse me matar, Ryn. Zell realmente me quer viva, lembra?
— Exatamente. E a última vez que Zell tentou capturá-la e você fez uma fuga desesperada, você foi jogada pelo lado de uma montanha e quase morreu. Então, me prometa que você vai usar o colar.
Ryn tem razão. Inclino-me para frente e o beijo gentilmente nos lábios. — Eu prometo, — eu sussurro em sua orelha antes de arrastar meus lábios pelo lado de seu pescoço.
Capítulo 31
Jay, Asami e eu recebemos nossa próxima tarefa na manhã seguinte. Um elfo entrou em um restaurante no Creepy Hollow Shoppers Clearing ontem à noite e atacou uma jovem faerie. Então ele correu para a floresta e desapareceu. Esta manhã, outro ataque foi relatado por alguém que saiu dos caminhos das fadas. Felizmente, seu namorado estava lá para salvá-la, mas o elfo escapou mais uma vez. Agora, é nosso trabalho rastreá-lo e garantir que ele nunca mais ataque ninguém.
Precisamos entrevistar testemunhas para tentar estabelecer quem é o elfo, por que ele quer atacar essas garotas e onde ele pode estar agora. Leva tempo, o que é bom, porque preciso de uma distração. Preciso de algo para me impedir de contar o tempo até que Zell talvez deva encontrar seus seguidores para compartilhar seus planos.
Ryn e eu passamos todas as noites na árvore do gargan, que é como eu acabei perdendo uma visita de papai. Eu quis me chutar quando cheguei em casa e vi seu recado sobre a minha cama. Ele pediu desculpas por não poder visitar mais cedo e disse que não tinha ideia quando ele teria a oportunidade de voltar. Algo grande está acontecendo, ele escreveu. Fique segura. Gostaria de poder falar com ele sobre D e que logo vou saber quando o grande confronto estará acontecendo. Certamente, ele pode parar de se esconder e nos ajudar a lutar?
No dia da reunião de Zell com seus seguidores, eu mantenho o vidro em meu bolso onde quer que eu vá. Eu só tenho que ter cuidado para não me sentar sobre ele. Durante todo o tempo que estou com Ryn na gargan, espero que o vidro vibre no meu bolso. Não vibra. Eu chego em casa e o olho por um tempo, mas ainda não vibra. Filigree em forma de esquilo me olha estranhamente do pé da cama, como se dissesse, Por que a luz ainda está acesa? Quando podemos dormir?
— Eu não vou dormir até ouvir algo de D, — eu digo a ele. — Você pode ir dormir em outro quarto onde está escuro, se quiser.
Com uma fungada irritada, ele salta no chão e corre para debaixo da cama.
— Ou você poderia dormir debaixo da cama, eu acho. — Eu continuo olhando para o vidro comunicador antes de meu pescoço começar a ficar dolorido. Eu me deito e coloco o vidro no travesseiro ao meu lado. Não dormirei, não dormirei, não dormirei.
A próxima coisa que sei, estou deitada de costas, a luz cinzenta do amanhecer espreita através da claraboia encantada, e há um zumbido frenético ao lado da minha orelha. Levanto assustada e aperto o vidro comunicador com força, piscando para afastar o sono.
Eu sei tudo. Venha para o Rose Hall.
Eu alcanço a minha stylus na mesa de cabeceira. Indo agora.
Coloco minhas botas, coloco minha stylus em uma delas, jogo o colar da eternidade sobre minha cabeça, e corro para os caminhos das fadas. Rose Hall está situado em uma extremidade do Creepy Hollow Shoppers Clearing. Um mercado é mantido lá dentro uma vez por semana, e o salão também é usado para grandes funções às vezes, como festas. Caso contrário, fica vazio.
Eu ando pelo caminho vazio que corre entre a frente das lojas. Rose Hall é construído dentro da forte árvore widdern no final da pista. Não há nenhuma entrada esculpida no tronco como algumas lojas aqui, mas as palavras Rose Hall estão escritas em um sinal martelado no chão ao lado.
Será que vou poder abrir uma entrada no salão? Nunca tentei antes, então não sei se tem a mesma magia protetora que há em nossas casas. Não vejo por que deveria, já que não há muita coisa dentro para roubar. Seguro minha stylus contra o tronco da árvore e hesito. Eu olho em volta, lembrando que eu disse a Ryn que eu não encontraria D em um lugar isolado. Oops. Eu estava com tanta pressa que eu não pensei nisso até agora.
Isso é uma armadilha? Uma emboscada? Rose Hall está cheia de Faeries Unseelie esperando para me atacar e me capturar? Talvez os recados e o vidro comunicador fossem do próprio Zell. Talvez isso tudo seja apenas sua maneira elaborada de me fazer vir de bom grado para ele.
Eu fecho meus olhos e respiro fundo. Armadilha ou não, não posso voltar agora. Preciso saber o que está dentro deste salão. Então eu paro um momento para reunir energia suficiente no meu núcleo para atordoar uma faerie ou duas. Seguro a bola de poder em uma mão enquanto escrevo um portal na árvore com a outra.
Funciona.
Uma parte da árvore derrete. Eu dou alguns passos cuidadosos para a sala escura. A única luz aqui é a luz pálida do alvorecer que filtra através de uma janela de vitrais encantados na extremidade do corredor. Eu pego minha stylus e crio um orbita de luz. Eu a envio para o teto onde ilumina um salão vazio.
Não há ninguém aqui.
Era uma piada, afinal? Não, não pode ser. Como D saberia sobre o incêndio se ela não fizesse parte do círculo intimo de Zell? Eu me viro lentamente no local. Não há nada aqui, exceto por algumas folhas dispersas e... O que é isso? Meus olhos caem sobre uma forma cilíndrica no chão, no canto mais distante do salão. Eu ando em direção a ele, certificando-me de ficar constantemente alerta por quaisquer movimentos ou sons.
Eu chego ao canto do salão e me inclino para pegar o objeto. É um pergaminho. Um pequeno pico de adrenalina dispara através das minhas veias. Deve ser isso. Por que mais, um pergaminho deveria estar aqui se não fosse para eu pegar? Eu absorvo a bola de poder de volta através da minha mão, depois puxo a corda do pergaminho e desenrolo as páginas com a pressa.
Sim! É isso!
Menciona todas as Guildas, bem como as Corte Seelie e Unseelie. Uau, Zell vai tentar assumir tudo em uma noite? Ele tem um exército suficientemente grande? Examino as páginas rapidamente - detalhes, detalhes, detalhes - procurando a informação mais importante. Quando isso vai acontecer? Finalmente, eu acho, e o gelo se congela no meu sangue quando vejo o número.
Três dias.
Em três dias, todo o mundo vai entrar em erupção.
***
Eu atravesso o saguão da Guilda — os encantamentos de proteção no teto abobado? Tudo certo — e subo as escadas. Mais alto e mais alto até chegar ao andar dos membros do Conselho. Eu voo pelos corredores para o escritório da Conselheira Starkweather. Eu derrapo em uma parada na frente de sua porta e bato meus dedos contra ela. Nenhuma resposta. Eu tento de novo. Ainda sem resposta. Ela não está aqui. E, claro, ela não está, eu percebo, porque, apesar de ser uma viciada em trabalho, são cinco horas da manhã.
Com um gemido frustrado, ando pela passagem. Isso é simplesmente fantástico. Eu finalmente tenho o meu momento de provar a Conselheira Starkweather o quão útil posso ser, e ela nem está por perto. E não posso esperar até ela chegar aqui porque preciso mostrar isso a alguém agora. É além de urgente.
Eu me pergunto se há alguma chance de Tora estar aqui tão cedo. Ela saberá a quem devo dar essa informação. Coro de volta pelas escadas e me apresso pelo seu corredor. Estou prestes a bater em sua porta quando vejo alguém ainda melhor. — Bran! — Eu corro até ele. — Você faz parte do time que está investigando Zell, certo?
Com um suspiro, ele diz, — Você sabe que sim, Vi. Você já me interrogou e eu disse que não posso lhe dar detalhes.
Bran olha a primeira página com uma careta no rosto antes de olhar para mim. — Isso é uma piada?
— Foi o que eu pensei quando recebi o primeiro recado dela, mas não é. Ela me disse que haveria um incêndio na Guilda de Londres, e houve. Então ela me enviou este tipo de vidro para que ela pudesse entrar em contato comigo quando ela tivesse todas as informações. — Eu retiro o vidro comunicador do meu bolso e mostro para ele.
Ele o tira de mim. — Eu nunca vi um desses antes, — ele murmura, virando-o várias vezes. — Ela entrou em contato antes da Guilda de Londres pegar fogo?
— Sim. No dia anterior.
— E você não contou a ninguém sobre isso até agora?
— Bem, não.
— Violet! Por que não?
— Eu sinto muito. Eu sei que é infantil, mas fiquei tão louca que a Conselheira Starkweather se recusou a me envolver na investigação de Zell. Eu queria provar que minha contribuição poderia ser valiosa e que ela estava errada por não me incluir, então...
— Olhe, Vi, como alguém que lidou diretamente com Zell, sua contribuição é valiosa, mas você tem que ver que uma investigação complexa e perigosa como essa é mais adequada para os guardiões com décadas, séculos de experiência. Você ainda não está lá. Foi inteiramente inapropriado você guardar essa informação para você. Você deveria saber disso.
Merda. Eu não estou acostumada a desapontar meus superiores.
— Me desculpe. — Eu derrubo minha cabeça. — Mas, — continuo com cuidado, — o que você teria feito de forma diferente se eu tivesse contado sobre isso? Essa mulher queria dar essa informação apenas para mim.
— Nós teríamos seguido você para garantir que você estivesse segura e que não era um tipo de emboscada, ou que alguém não colocou um rastreador de algum tipo quando você não estava olhando.
— Mas... Na verdade, na verdade não conheci realmente nenhuma pessoa.
— Esse não é o ponto, Vi! — Ele aperta os papéis na mão. — O ponto é que você deveria ter nos contado sobre isso mais cedo.
— Ok, sinto muito. Desculpe. — Eu realmente sinto. — Mas isso estará acontecendo em três dias, Bran. Precisamos fazer algo. Você não precisa ter uma reunião com todos os outros membros do Conselho, tipo, imediatamente? Não precisamos planejar para que estejamos pronto para isso?
— Sim, — ele murmura, passa os olhos uma vez mais sobre as páginas enquanto atravessa o corredor. Ele para. — Por que nossos Videntes não viram isso?
Hmm. Bom ponto. — Eu não sei. Talvez eles comecem a vislumbrar isso agora que o plano final está no lugar.
A expressão de Bran torna-se duvidosa enquanto olha as páginas em sua mão. — Não tenho certeza de que possamos confiar nessas informações. Pode ser que alguém esteja tentando nos enganar.
— Eu acho que poderia ser. Mas e se não for? Não podemos não fazer alguma coisa sobre isso.
Bran aperta os olhos e murmura algo que não consigo ouvir.
— Então você vai convocar uma reunião?
— Claro, — Bran retruca. Não consigo lembrar dele retrucando para alguém antes. Ele procura pelas páginas e levanta a última. — Três dias, — ele murmura. — Nós podemos estar preparados em três dias.
— Espere, faça isso de novo, — digo. Pego a página dele e a seguro na luz. O contorno da insígnia da Rainha Unseelie fica visível no centro da página.
— Bem, — diz Bran, — pelo menos sabemos que essas páginas realmente vieram de dentro do Palácio Unseelie.
O que, suponho, ainda não confirma se a informação é legítima.
— Eu preciso ir, — diz Bran. — Vou levar isso comigo. — Ele ergue o vidro antes de se afastar de mim em direção à escada. — E não conte a ninguém sobre isso, Vi. Eu não quero que o pânico se propague.
***
Eu me sento na gargan e espero por Ryn. Passei todo o dia tentando me concentrar na tarefa do elfo e, em sua maior parte, falhei miseravelmente. Tudo no que eu poderia pensar era o fato de que todos nós estaríamos lutando por nossas vidas dentro de alguns dias. Por um lado, é uma coisa boa, o confronto estar finalmente sobre nós, e podemos parar de nos perguntar se e quando o tapete será arrancado de baixo de nossos pés. Por outro lado, e se perdermos? É improvável agora que sabemos que está chegando, e nós somos guardiões, afinal. É para isso que somos treinados. Mas.. e se houver muitos deles e não tivermos poder suficiente?
Quando eu saí esta noite, membros do Conselho de todo o reino das fadas estavam chegando. Eles tentaram ser gentis, saudando um ao outro como se nada estivesse errado - provavelmente por causa dos guardiões confusos ao redor deles que ainda não sabem o que está acontecendo -, mas eu pude ver o desconforto por trás de seus sorrisos. Adair e os outros guardiões mais antigos pelos quais passei pelo meu caminho também pareciam sérios. Eles já devem ter sido informados.
Estou começando a desejar não ter ido sozinha para recuperar a informação de D. Se o dia chegar e ninguém aparecer para nos atacar, bem, será uma coisa boa, mas também vou ficar em problemas monumentais. Fui eu quem trouxe essa informação para a Guilda, então serei a responsável por causar todo o pânico e as reuniões e a preparação e depois... o anticlímax.
Merda. Por que não pensei nessa possibilidade antes de eu encarregar minha própria pequena missão? E onde está Ryn? Olho para a posição da lua. Ele geralmente já estaria aqui até agora. Eu envio uma mensagem no âmbar, mas não recebo resposta. Eu tento lembrar se ele me disse se estaria trabalhando hoje à noite. Minha memória fica em branco.
Eu ando pelos caminhos das fadas e saio na minha sala de estar. Talvez Filigree jogue um jogo de cartas comigo para tirar minha mente das coisas. Nunca terminamos aquele jogo que Ryn interrompeu algumas semanas atrás. Subo as escadas e encontre Filigree enrolado na forma de tatu no meu travesseiro. Eu não vejo essa faz um tempo. Eu caio de barriga na cama e o cutuco – no momento que um som zumbido vem da minha mesa de cabeceira.
Meu âmbar? Não, está no meu bolso. Então seria... o segundo vidro comunicador. Eu abro a gaveta e coloco minha mão, empurrando o colar da eternidade para alcançar o pedaço retangular de vidro.
As coisas mudaram. Preciso lhe dar novas informações.
Eu viro para tirar minha stylus da minha bota e acabo rolando no chão. Droga, isso doeu. Eu me sento e rabisco rápido no vidro. O quê? O Conselho da Guilda já está reunido para analisar as informações que você me deu nesta manhã.
Quando?
Agora mesmo!
Então eu preciso me encontrar com você imediatamente.
Por que você não pode me dizer aqui pelo vidro comunicador?
É demais. Eu preciso me encontrar com você.
Isso não é muito perigoso para você?
Eu não me importo mais. Venha para o Rose Hall.
Agora?
Sim!
Arrasto-me do chão e abro um portal. — Não espere por mim! — Eu grito para Filigree quando entro na escuridão. Pulo para a pista escura de Creepy Hollow e corro para a árvore do Rose Hall. O que eu vou fazer uma vez que eu tiver essa nova informação? Apenas entrar na reunião do Conselho? Talvez eu possa convencer D a vir comigo. Isso definitivamente ajudaria. Paro contra a árvore com a mão. Levanto a stylus para escrever um portal, mas percebo uma minúscula folha de papel pregada na árvore. Apenas uma frase.
Continue jogando o jogo, Violet.
O quê? O jogo? Desde quando é um jogo? Um arrepio corre pelos meus braços enquanto eu olho em volta. Assim como nesta manhã, parece não haver ninguém aqui, mas não posso evitar sentir que algo estranho está acontecendo. Algo que estou perdendo. Eu tenho que entrar no corredor, no entanto. Zell mudou algo em seus planos, e eu preciso saber o que é.
Então eu faço o que fiz esta manhã. Eu coloco o poder do núcleo do meu ser e o mantenho acima da minha mão, pronto para usá-lo no primeiro sinal de perigo. Abro uma entrada para o salão e ando lentamente para dentro.
O que eu vejo no outro extremo do corredor me faz querer ficar doente. Em frente ao vitral, pendurado de cabeça para baixo do teto, há um cadáver. Um cadáver sem cabeça. Sem realmente perceber isso, deixo o poder acima da minha mão desaparecer. Com horror, eu ando em direção ao outro extremo do corredor. Há um objeto redondo colocado no chão debaixo do corpo, e todo instinto chocado dentro de mim grita que é uma cabeça. É a cabeça que pertence ao corpo pendurado. E eu preciso saber quem é.
Os meus dedos tremem. Minhas pernas tremem. Até as minhas respirações são frágeis quando escapam dos meus lábios. Mas eu continuo avançando. A cabeça está de frente para a parede traseira, mas quando me aproximo, vejo a cor no cabelo. Eu vejo as listras vermelhas, e eu sei. Eu sei. Mas ando para frente para encará-lo de qualquer jeito. Eu passo ao redor e vejo seus olhos vermelhos vidrados.
Zell.
Com uma mão trêmula, cubro minha boca para me impedir de vomitar. Então vejo as palavras escritas no chão.
Violet,
Você não pode ganhar este jogo. Conheço todos os seus movimentos antes de você fazer, e sempre estarei um passo à sua frente. Quero que saiba que tudo o que acontecer agora é sua culpa.
Draven
Capítulo 32
Draven? Era como eu costumava chamar Nate. Avenida Sr. Draven. Mas não pode ser ele. Não pode. Nãonãonãonãonão, por favor, diga que ele não fez isso. Oh, querida Rainha Seelie, o que ele fez? O que eu fiz?
Um som crepitante rasga durante a noite tranquila como relâmpagos em algum lugar fora. Ele atinge o chão com tanta força que eu tenho que jogar minha mão contra a parede para impedir o estremecimento de me derrubar. Eu ouço um baque e um estalo quando algo atinge o chão lá fora. Compelida pelo terrível temor de que todo o meu mundo esteja prestes a ser despedaçado, atravesso o salão vazio e saio na pista.
A rajada de vento mais forte que eu já senti passou pelas árvores e me derrubou no chão. Eu ouço um rugido. Rugido e um som crepitante. E eu sinto cheiro de fumaça. Eu consigo virar minhas costas logo quando outro raio atinge o chão bem próximo. Eu vejo uma luz laranja cintilante. Fica mais brilhante enquanto olho. O rugido se torna mais alto e a fumaça mais densa.
Oh inferno. Há um inferno louco aqui fora, movendo-se com a velocidade do vento.
Tenho que ir a Guilda.
Eu rolo de volta sobre minha barriga e escrevo um portal na sujeira. Eu caio na escuridão e concentro a minha atenção na entrada interior da Guilda. Talvez eu ainda tenha tempo de alertá-los sobre o que está por vir.
Eu abandono os caminhos das fadas a pé - e é aí que percebo o quão errada eu estou. Meu mundo não está prestes a ser despedaçado. Já foi despedaçado. O choque parece tirar o ar dos meus pulmões porque eu não tenho a menor vontade de respirar.
A Guilda está destruída. Toda a Guilda.
Cascalho reveste o chão até onde eu posso ver. Mármore e escombros e pedaços fumegantes de madeira entalhada. Árvores estilhaçadas e cinzas e fumaça. O complexo glamour e os feitiços arquitetônicos que escondem a Guilda inteira dentro de uma única árvore devem ter sido destruídos de alguma forma. Minha mente evoca imagens horríveis do que teria acontecido depois disso: o interior da Guilda explodiu, demolindo a floresta ao redor dela.
Eu dou alguns passos trêmulos para frente antes de cair de joelhos. Não consigo aceitar isso. É demais. Vejo guardiões espalhados aqui e ali por todo os escombros, alguns feridos, alguns tropeçando por aí perdidos. Os restos de conversas sussurradas me alcançam.
— ... Estão dizendo que Tharros retornou.
— ... deve ter tomado mais poder do que qualquer pessoa deve possuir.
— A primeira explosão veio de dentro de uma sala em que o Conselho e os guardiões mais velhos estavam.
— Algum deles saiu vivo? Não vi nenhum...
Oh não, oh não, oh não. Isso não pode estar acontecendo. Quantas pessoas estão mortas? Onde está Tora? Ryn? Flint? Onde diabos estão todas as pessoas de quem eu gosto?
Um flash ofuscante de luz branca enche a clareira destruída. Eu jogo minha mão através dos meus olhos até a luz diminuir. Quando olho novamente, vejo a Rainha Seelie vestida de armadura prateada, andando pelos escombros. — O QUE está acontecendo aqui? — Ela grita.
— Minha senhora. — Um de seus guardas corre atrás dela. — Você não deveria estar aqui. É muito perigoso. Pode haver...
— Eu quero saber o que está acontecendo, — ela grita. Ela para e gira no local, olhando para os guardiões que se apresentaram para se ajoelhar diante dela. — Eu quero saber como essa Guilda poderia ser estúpida o suficiente para chamar uma reunião de quase todos os membros do Conselho de cada Guilda e depois se explodir.
Um riso frio recebe suas palavras. Procuro a fonte do som e vejo uma mulher andando em direção à Rainha. Um tremor passa pelo meu corpo enquanto a reconheço. Angelica. Já não presa no centro de seu próprio labirinto. Ela mantém a cabeça alta, olhando para baixo para todos enquanto sacode seu longo cabelo preto e prateado sobre o ombro dela. E naquele instante, eu percebo porque achei a Rainha Seelie tão familiar quando a conheci.
— Olá, mãe, — diz Angelica quando ela está parada. — Você está com saudades de mim?
Mãe? Você está brincando comigo?
— Como eu sentiria de uma mancha feia em um vestido branco, — a Rainha zomba. — E não me chame de ‘mãe’. Você não é minha filha.
Sussurros de ‘filha fugitiva’ me cercam quando as pessoas percebem o que está acontecendo aqui. Os guardas da rainha apontam suas armas para Angelica, mas nenhum deles faz um movimento. Suponho que machucar uma princesa Seelie não venha naturalmente para eles.
— Não sou sua filha? — Angelica repete. — Suponho que não seja surpreendente, então, que eu estava muito mais feliz com a Guilda do que eu já estive em seu palácio. — As sobrancelhas da rainha contraem uma fração. — Oh, você não sabia? — Angelica pergunta, sua voz cheia de surpresa exagerada. — Quão chocante. Passei mais de uma década na Guilda de Creepy Hollow, e você nem sabia disso.
— Eles obviamente conseguiram não ensinar nada a você, — diz a Rainha, — já que você parece estar se juntando com o inimigo agora. O que você está fazendo com a Corte Unseelie?
Angelica solta um suspiro exagerado. — Veja, mãe, isso realmente não tem nada a ver com a Corte Unseelie. Tem tudo a ver com meu filho.
Confusão e raiva brigam nos olhos da Rainha.
— Isso mesmo, — diz Angelica. — Seu neto. Um príncipe da Corte Seelie...
— Um halfling, — a Rainha rosna.
— Sua própria carne e sangue! Ele está em posse do poder perdido de Tharros e não há ninguém no mundo que possa vencê-lo agora. Ele é o único que pode tirar tudo o que você tem. O Palácio Unseelie está em ruína, e o palácio Seelie está sendo destruído enquanto conversamos. As Guildas estão todas sob ataque. Quando o dia surgir, não haverá diferença entre Seelie e Unseelie. Só haverá aqueles que estão com o meu filho e aqueles que estão contra ele.
Nate. O que você fez?
— E quanto como essa Guilda poderia ser estúpida o suficiente para se fazer explodir, — continua Angelica. — Um dos seus guardiões enviou muito gentilmente um dispositivo de bombas encantadas para a reunião do Conselho. E esse mesmo guardião nos contou que a reunião estava acontecendo hoje à noite. Foi tudo muito fácil depois disso.
Ela está falando sobre mim? Nãonãonão, por favor, não. Por favor, não deixe que tudo isso seja minha culpa. Como eu voltarei a encarar alguém? Meus olhos procuram a clareira em desespero. Ainda não vejo Ryn ou Tora. Eu tenho que encontrá-los. Não consigo pensar em todos esses danos e destruição. Não consigo pensar em como tudo é culpa minha.
Encontre-os.
Minha stylus ainda está apertada na minha mão. Inclino-me para frente e escrevo no chão. Deslizo dentro da escuridão logo quando as primeiras gotas de chuva começam a cair. Dirijo-me primeiro a árvore gargan. Talvez Ryn esteja esperando por mim. Talvez essa parte da floresta ainda esteja tranquila e não tenha ideia do que está acontecendo longe daqui.
Mas algo está errado. Quando eu saio dos caminhos das fadas, eu me vejo caindo no ar. Um grito me escapa quando eu tento abrir outro caminho no ar em movimento. Não posso. Eu caio no chão, conseguindo diminuir minha queda no último segundo. Eu deslizo pelo chão por um momento antes de cair às últimas polegadas na estrada. Empurro-me e me levanto.
Destruição.
A árvore gargan, uma das mais antigas e majestosas árvores de toda a floresta, caiu. Está queimando e soltando fumaça e caindo. Levou a maioria das árvores ao redor com dela. Tudo está morto aqui.
Morto.
Nate fez isso. Ele destruiu meu lugar favorito de toda Creepy Hollow. Aperto meus punhos e solto um grito sem palavras. Continuo mais e mais, até que eu não tenha mais fôlego. — Como você pôde fazer isso? — Eu grito para a chuva lentamente tamborilando. — Eu te odeio!
As lágrimas se juntam aos pingos de chuva que caem pelo meu rosto. Eu atravesso os caminhos das fadas até a casa de Ryn. O que eu acho lá faz minhas lágrimas caírem mais rápido. Está destruída, rasgada, assim como as outras casas de fadas que eu posso ver através das árvores quebradas enquanto eu viro para olhar ao meu redor. Eu procuro pelos destroços, mas não há ninguém aqui.
Eu vou para a casa de Tora, e sou cumprimentada pela mesma visão. E, novamente, ninguém aqui.
O único lugar para ir é minha própria casa. Talvez Ryn e Tora tenham ido lá para me procurar. E Filigree! Eu tenho que resgatar Filigree!
Eu me preparo para a destruição, mas a visão da minha casa arruinada ainda é suficiente para me fazer sentir que algo acabou de ser arrancado do meu peito. Náusea invade meu estômago.
Minha casa se foi.
— Ryn! — Eu grito. — Tora! Filigree! — Sem resposta.
Eu escalo a bagunça que era minha cozinha. A mesa já não tem pernas, e estou prestes a pisar nela quando percebo uma faca afiada embutida na superfície. A faca está segurando um pedaço de papel na mesa. Um pedaço de papel dobrado.
Meu sangue queima como fogo quando a fúria passa por mim. Não foi o suficiente para Nate — Draven — tirar meu mundo inteiro? Ele também tem que deixar um maldito recado esfregando na minha cara?
Eu arranco a faca da mesa e desdobro o papel. Meu coração quase para à vista da escrita de Ryn - e então ele se quebra novamente quando eu leio suas palavras. Há muitas delas, mas só posso me concentrar em uma frase: não tente me encontrar. Eu limpo as lágrimas dos meus olhos quando enfio a nota no meu bolso. — Você prometeu que não iria embora, — eu sussurro. — Você prometeu.
É então que eu ouço uma voz fraca. Tora. Chamando meu nome. Eu me viro, procurando desesperadamente. — Tora? — Eu chamo. Eu ouço sua voz novamente. Salto das ruínas e corro ao lado da bagunça. Lá está ela, presa por uma árvore que aterrissou em seu abdômen. Uma árvore com galhos estilhaçados e casca e - oh, querida Rainha Seelie, nem quero olhar para o dano porque sei instintivamente que é demais para até mesmo uma faerie se recuperar.
— Tora! — Eu corro para o lado dela e agarro sua mão. — Oh merda oh merda oh merda. — Eu tenho que tentar curá-la. Mesmo que meu cérebro me diga que não é possível, ainda tenho que tentar. — Posso mover a árvore, — digo, me preparando para levantá-la com magia.
— Não. — Ela toca no meu braço para me parar. — Não vai ajudar. Minha magia, — ela ofega. — Não é... forte o suficiente para...
Não é forte o suficiente para curá-la. É o que ela quer dizer. Mas eu tenho magia que pode curá-la, eu percebo. O colar da eternidade. Se ela usar, ela não pode morrer, certo? Eu escalo os escombros da minha casa mais rápido do que qualquer coisa que eu já subi antes. Acho minha cama. Minha mesa de cabeceira. A gaveta foi nocauteada e está jogada ao lado dos estilhaços da minha mesa. Eu procuro pelo colar da eternidade.
Sumiu.
— Não! — Eu grito. Por que ele sumiu? Estava aqui quando eu saí, há menos de uma hora. Procuro por toda a gaveta, mas não há colar para ser encontrado em qualquer lugar.
Eu corro de volta para Tora. Levanto a metade superior de seu corpo e a seguro no meu colo, deixando minha magia penetrar nela onde quer que a nossa pele esteja tocando. — Por favor, não morra, — eu soluço. — Por favor, não morra, por favor, não morra.
— As minhas pernas... Ainda estão lá? — ela consegue perguntar. — Não posso... Senti-las...
Inclino-me sobre ela e deixo as lágrimas caírem no seu peito. — Sinto muito, Tora. Sinto muito, sinto muito. Isso é tudo minha culpa.
— Lembre-se... Eu... — Suas palavras morrem em seus lábios quando a vida desaparece de seus olhos.
Aperto suas mãos com força, desesperadamente. Não consigo respirar. Onde está o ar? Por que não consigo respirar? Pontos brilhantes dançam leve diante dos meus olhos. Solto as mãos de Tora e caio de volta no chão. E de repente há uma liberação, e estou sugando grandes respirações de ar nos meus pulmões.
Eu não mereço isso. Deveria ser eu morta no chão, não Tora. Eu me levanto. Eu ando cegamente sobre os destroços da minha casa. Não sei aonde vou. Não sei o que planejo fazer. Tudo o que sei é que não quero pensar. Não quero lembrar. Não quero estar aqui.
Eu caio no ponto mais alto da minha casa destruída e seguro minha cabeça entre as minhas mãos enquanto choro. Não posso corrigir isso. Não posso passar por isso. Eu nem sei como posso viver sabendo que ela morreu por minha causa.
Minhas mãos caem para os meus lados, e uma delas para sobre uma pilha de vidro. O conteúdo do meu kit de emergência, espalhado e quebrado. Meus dedos trêmulos procuram pelos itens que conseguiram sobreviver e param em um dos frascos. Eu o pego. Esquecer, diz o rótulo.
Isso é o que eu quero. Quero esquecer tudo o que aconteceu. Quero esquecer que é minha culpa.
Tiro a tampa.
Levanto até a minha boca.
Eu fecho meus olhos e o derramo na minha garganta.
Capítulo 33
Eu desperto em um quarto pequeno e mal iluminado com um teto que parece estar muito perto. Eu rolo sobre o meu lado, esfregando meus olhos ásperos. O quarto está vazio, exceto por uma cadeira e uma pequena mesa. Na mesa está uma lanterna com uma luz cintilando dentro.
— Oh, você está acordada, querida. Que amável. — Alguém pequeno entra no quarto. Alguém com cabelo cinza e vestindo um vestido longo. Ela se curva sobre mim, e vejo olhos negros em um rosto coberto de escalas como de um réptil.
Reptiliana, meu cérebro me diz. — Quem é você? — Pergunto.
Ela sorri para mim e rugas se formam nos cantos dos seus olhos. — Alguém que decidiu não deixar você lá fora, nos destroços.
— Destroços? — Repito. Ainda estou tentando dar sentido a onde eu estou, como cheguei aqui e o que aconteceu antes de eu dormir. Estou conseguindo nada.
— Os destroços da floresta. Foi despedaçada por um faerie malvada. — Ela balança a cabeça em desaprovação. — Draven, eles dizem que é o nome dele.
— Draven? — Nunca ouvi falar dele.
— E qual o seu nome, querida?
O meu nome. Essa é uma pergunta fácil. E eu tenho a resposta. Está aqui mesmo na ponta da minha — Violet, — eu digo, aliviada, que o nome apareceu para mim.
— E?
— E o quê?
— O que mais você se lembra?
O que eu lembro? Isso é um pouco mais difícil. Eu procuro na minha cabeça confusa, em seguida, eu a balanço. — Para ser sincera, — eu digo, — não muito.
{1} No inglês: Bite me, algo no sentido de foda-se.
Capítulo 22
O café da manhã é um piquenique sob um campo de árvores que nos salpica com um punhado ocasional de flores amarelas em forma de estrela. Muito lindas, até começar a pousar na comida. Posteriormente, somos enviados para observar a Guarda Real executando alguns exercícios de treinamento, que é quando Ryn e eu conseguimos escapar para explorar mais um pouco. Eu ainda estou um pouco zonza com todos os sentimentos de apenas-amigos me percorrendo, e parece estar resultando em algum comportamento imprudente. Como alegremente passear pelo palácio quando claramente não deveríamos estar fazendo isso agora.
Encontramos dois lagos que não têm estruturas de pedra construídas nas proximidades, e outro pátio anexado ao palácio com uma piscina cheia de faeries jovens pulando. Do outro lado de um labirinto construído de arbustos baixos, encontramos uma lagoa com uma ponte de pedra. Mas depois de examinar cada pedra, é claro que não há sinal ou símbolo que aponte para algo escondido.
Eu penso no tamanho total dos terrenos do palácio - tão grande que levaria horas e horas para chegar ao outro extremo - e começo a sentir um pouco de pânico. — E se não conseguirmos encontrar o esconderijo a tempo? — Digo a Ryn. — Eu esperei essa oportunidade por anos; nunca mais vai acontecer.
— Nós vamos procurar toda a noite se tivermos, — ele diz, e eu tenho que lutar contra o desejo de pegar sua mão e apertar seus dedos. Ele parece tão determinado quanto eu a encontrar os pertences escondidos das minhas mães. Talvez seja porque ele ainda esteja tentando compensar o passado, ou talvez seja porque a alternativa - sair com outros formandos para assistir a guarda treinar - é muito chata. De qualquer forma, estou grata além das palavras.
Nós deixamos a lagoa e a ponte atrás de nós conforme escalamos uma colina baixa. — Sabe, o tempo de exploração de sua mãe provavelmente também foi muito limitado quando ela esteve aqui, — diz Ryn. — Você não acha mais provável que ela tenha escolhido um esconderijo mais perto do palácio do que mais longe?
Paro de subir e esfrego a parte de trás da minha mão na minha testa. Estou superaquecendo na calça comprida que, como Ryn apontou na noite passada, pode ser um pouco apertada demais para um dia de verão. Meu top mantém meus braços expostos, mas não é o suficiente para me refrescar. — Isso pode ser verdade. Você acha que devemos voltar e olhar ao redor do palácio?
— Sim, eu quero. Até agora, nós apenas caminhamos pelo palácio, não ao redor dele. Pode haver pequenas piscinas que ainda não vimos.
— Há também uma maior chance de alguém importante nos ver e nos enviar de volta ao nosso grupo.
— Com medo de entrar em problemas, V? — Ryn mostra seu sorriso arrogante.
— Dificilmente, — eu viro e vou em direção ao palácio. — Eu simplesmente não quero que a Missão Exploração seja cancelada.
Caminhamos de volta sem dizer muito. Há bastante silêncio entre nós hoje. Não um silêncio estranho, mas sim um que sugere que estamos um pouco preocupados. De vez em quando, eu o pego olhando para mim, mas não pergunto por quê. Ele provavelmente tentará me fazer falar sobre os meus sentimentos ao ver meu pai – que-não-era-meu-pai na noite passada, e eu não vou por essa estrada. Chorar nos braços de Ryn foi estranho o suficiente sem ter que falar sobre isso agora.
Contornamos o palácio, nos mantendo ao redor das árvores circundantes e esperando que ninguém nos perceba quando se inclinarem em suas varandas brancas decorativas. Nós passamos por uma fonte fora de uma sala onde um grupo de faeries estão praticando instrumentos musicais. Sinto um feitiço que atravessa as árvores em nossa direção, fazendo que os meus pés queiram dançar. Eu me apresso com Ryn perto de mim. Essa fonte era pequena demais para estar escondendo qualquer coisa de qualquer maneira.
— Ei, acho que ouço mais água, — diz Ryn.
Ele tem razão. — Sim, mas onde? Não vejo nada.
O som de queda de água torna-se mais alto à medida que nos aproximamos do que parece ser uma parede frondosa com hera firmemente entrelaçadas. Parece estar escondendo uma área semicircular contra a borda da parede do palácio. — Um jardim particular? — Sugere Ryn.
— Talvez. Mas não parece que haja algum caminho desse lado, então minha mãe não poderia ter escondido nada aí.
Estamos prestes a seguir em frente quando uma figura vestida de branco anda através da cobertura. Eu deslizo atrás do tronco da árvore mais próxima e me pressiono contra ela. A poucos metros de distância, Ryn se esconde atrás de outra árvore. Quando ninguém nos chama, espreito cuidadosamente ao redor da árvore para ver o que está acontecendo. A figura de branco é a faerie anfitriã da nossa festa do chá na tarde de ontem. A filha da Rainha, Olivia. Ela arruma seu longo cabelo loiro e rosa para longe do pescoço e o prende com uma fita. Então, depois de examinar a área rapidamente com os olhos, ela se apressa através das árvores para longe de nós.
— Imagine ainda viver com sua mãe quando você tem, tipo, um século de idade, — Ryn sussurra. Ele sai de trás de sua árvore e se aproxima de onde Olivia apareceu.
— Eu acho que ela tem mais do que dois séculos de idade, — respondo. — Ela é a primeira filha da rainha, lembre-se, e a Rainha certamente está por aí por um tempo.
— V, há uma abertura aqui. — Ryn gesticula para que eu o acompanhe. — Você não pode ver de lá porque o ângulo está errado.
Atravesso a grama e escorrego na abertura depois dele. Oculto dentro do semicírculo, está um jardim. Rosas de todas as cores estão entrelaçadas entre a hera no muro. Em um lado está um arco de pedra com um banco embaixo dele. No centro do jardim encontra-se uma piscina redonda, ao lado fica uma árvore com folhas laranja enormes que criam uma sombrinha para proteger. A água escorre sobre uma pilha de pedras e para dentro da piscina. Estátuas ficam aqui e ali na grama, e a própria grama chega ao fim em um portal aberto levando para o que deve ser o quarto da princesa.
— Nós definitivamente não deveríamos estar aqui, — eu digo, me afastando da piscina.
— Você não quer verificar se o esconderijo da sua mãe está aqui?
— Não estará.
Ryn vaga para o banco e senta-se. — E como você sabe disso?
— Ryn, este é o jardim particular da princesa. Não há como minha mãe ter escondido suas coisas aqui. Você pode imaginar o problema em que ela estaria se metendo se alguém a pegasse? — Eu me viro para ir embora, mas, conforme eu faço, a descrição de Zinnia sobre meus pais algumas noites atrás vem à minha mente. Os dois sempre gostaram de assumir as tarefas mais perigosas. — Por outro lado, — digo, voltando lentamente para a piscina, — talvez seja por isso que ela escolheria este lugar.
— Ah, sua mãe era uma caçadora de emoções, não era?
— Eu não sei. Talvez. — Eu começo a examinar o arco de pedra onde Ryn está sentado, começando pela pedra mais baixa e movendo para cima. Ryn levanta e examina o outro lado. As pedras são quase perfeitas e parecem não ter marcas além daquelas provavelmente provocadas pelo tempo e clima severo. Não que eu possa imaginar um lugar como esse com um clima severo, mas até mesmo eu sei que a Corte Seelie não é imune ao inverno.
— Vê alguma coisa? — Pergunta Ryn.
— Não. Você pode me dar uma ajudinha para verificar a parte de cima?
Ryn aparece de frente para o banco e coloco meu pé nas mãos dele. Ele me levanta rapidamente. Pego na borda do arco e dou uma olhada em todas as pedras que não consigo ver do chão. — Nada. Eu acho que não está aqui, afinal.
— Será que não são as estátuas feitas de pedra? — Pergunta Ryn conforme ele me deixa no chão.
— Sim, mas elas são muito pequenas.
— V. — Ryn me olha como ele olha para Calla quando tenta explicar algo. — Se uma árvore não é muito pequena para esconder sua casa inteira dentro, então uma estátua pequena não pode esconder uma única sala?
Mesmo que agora eu ache Ryn lindo e tenha ocasionalmente o desejo irracional de rasgar sua roupa, ainda é realmente irritante quando ele está certo. Sem responder, vou até a estátua mais próxima - uma mulher com pequenos chifres na cabeça usando um pedaço de tecido que nem de perto cobre as partes essenciais de seu corpo. Eu me abaixo na grama e começo a investigar sua superfície de pedra. Não consigo nada além da pedra suavemente esculpida, até encontrar algo na parte de trás do seu calcanhar. — Há algo aqui. — O entusiasmo sobe no meu peito. — Uma flecha. Ela aponta para baixo e para a direita.
— Há algo aqui também, — diz Ryn, passando os dedos pela perna direita da estátua de unicórnio. — Uma linha ondulada.
— Uma linha ondulada? Isso geralmente não significa água?
— Sim. Água correndo, talvez? Água corrente?
— Tudo bem, nós temos uma fonte, mas esta flecha aponta para a direita, e daqui a fonte está à esquerda.
Ryn caminha para a estátua restante - um pixie que segura um sprite em sua mão estendida como uma oferenda - na sombra das folhas laranja. Eu me junto a ele, meus olhos olhando as pernas primeiro, porque isso parece ser uma tendência aqui. Ryn fica de quatro, examinando atentamente a frente do pixie. Eu alcanço a parte de trás do pescoço do duende quando Ryn diz, — Achei. — Ele me dá um sorriso e o encaro. Tudo é uma competição quando se trata de nós dois. — Está na parte de trás da mão do pixie, de frente para o chão. — Ele se inclina mais uma vez e aponta. — Vê? É a forma de um círculo.
— Um círculo. — Nós dois olhamos para o jardim. O único círculo aqui é a piscina.
— Está dentro da piscina, — diz Ryn. — Você tem que entrar na água - daí a linha ondulada - ir abaixo da superfície...
— Essa é a flecha para baixo.
— E então à direita, — Ryn termina.
Eu vou para a abertura no muro e olho lá para fora. Ninguém lá. — Ok, vamos fazer isso rápido. Eu certamente não quero ser pega nadando na piscina da princesa.
— Depois de você. — Ryn gesticula para a piscina. — Considerando que esta é a sua missão, acho que você deve ir primeiro.
Eu mergulho meu pé, testando a temperatura da água. Eu pensei que poderia ser desconfortavelmente quente, dado o calor deste dia de verão, mas é fria o suficiente para ser deliciosamente refrescante. Claro. Provavelmente está encantada para estar na temperatura perfeita. Deslizo para dentro da água. A água alcança meus ombros.
— Ah, que alívio, — Ryn diz enquanto ele se junta a mim, fazendo um pouco mais de barulho do que eu. — Talvez tenhamos que ficar aqui por mais tempo.
— E ser pegos? Eu acho que não. — Respiro profundamente, afundo abaixo da superfície e nado para o lado direito da piscina. Eu corro meus dedos sobre as pedras quadradas, procurando em cada uma por algum tipo de marcação. Eu volto a superfície para pegar ar e mergulho vez uma mais. Ryn está nas proximidades, ajudando na busca.
Então eu vejo: um X simples esculpido no meio de uma pedra. Empurro contra a pedra com as mãos, mas nada acontece. Eu alcanço acima da minha cabeça e, felizmente, minha stylus ainda está lá, tentando segurar meu cabelo no lugar. Eu a puxo e escrevo um feitiço de abertura na pedra.
Sim!
A pedra desaparece, deixando uma camada ondulante e semitransparente entre a água e a escuridão que está além. Eu nado através — e caio sobre uma superfície dura. Eu me levanto e imediatamente crio uma esfera de luz. Ela flutua na minha frente, iluminando uma pequena sala com uma mesa em um lado.
Com uma exclamação de dor, Ryn pousa no chão ao meu lado. — Merda, você pensaria que ela poderia ter deixado uma almofada ou algo no chão para um pouso mais suave.
— Nós achamos, Ryn, — eu sussurro enquanto dou alguns passos pingando em direção a mesa. Sobre ela está um livro de couro com uma escrita cor de ouro em sua capa, uma pulseira descansando sobre uma pequena pilha de fitas coloridas, uma vela preta e um espelho oval com uma armação de prata ornamentada. Pego o espelho e vejo o rosto da minha mãe. Eu já vi imagens dela antes, é claro, mas isso é diferente. Ela está mais nova.
É isso. O momento em que eu sonhei desde a primeira vez que meu pai contou a história da visita da minha mãe a Corte Seelie. Eu finalmente a vejo como uma pessoa real. Eu finalmente vou ouvir sua voz. Com meu coração batendo no meu peito e meus dedos tremendo, toco a superfície do espelho.
Seu rosto se abre em um sorriso, e ela coloca uma mecha de cabelo preto e roxo atrás da orelha. — Tudo bem, quem quer que você seja, você é realmente corajoso. Você nadou na piscina particular da princesa! — Ela bate palmas e ri. — Parabéns! Claro, isso me torna realmente corajosa também porque eu também nadei na piscina. Bem, corajosa ou estúpida. — Ela revira os olhos lavanda enquanto luto contra as lágrimas se formando nos meus. — De qualquer forma, você provavelmente está se perguntando quem eu sou. Meu nome é Rose Hawthorne, sou graduada da Guilda de Creepy Hollow, e já que eu vou visitar a Corte Seelie apenas uma vez na minha vida, pensei que seria divertido deixar um pouco de mim aqui. Assim... O livro é um dos meus favoritos. Meu melhor amigo me deu em um aniversário há alguns anos. Se você olhar dentro, há um papel dobrado com uma história que escrevi na escola secundária - porque eu sinto que você deveria ter algum entretenimento disso! — Ela ri enquanto eu limpo uma lágrima que escapou do meu olho. — Hum, a pulseira é a primeira joia que meus pais me deram, e as fitas encontrei em um baú dos pertences da minha avó quando eu era pequena.
— Ok, o que resta? A vela. Isso foi dos meus pais no meu décimo oitavo aniversário. É uma vela sem fim, então nunca vai ficar pequena, não importa o quanto você a queime. Um, então, é isso. Ah, e a mesa foi feita para mim pelo meu namorado. Cara incrível que ele é, ele não se importou em encolhê-la junto com as minhas outras coisas e trazer aqui.
— Então, de qualquer forma, essa sou eu. Seria realmente bom se você pudesse retornar meu livro para a Guilda de Creepy Hollow com uma mensagem para mim. Além disso, se você for pego deixando esta piscina, sinto muito. Espero que eu não seja pega quando eu sair! Ah, e se você é a princesa, hum, também sinto muito. Não queria desrespeitar você de forma alguma ao esconder essas coisas na sua piscina. Por favor, não me odeie! — Ela bate as mãos, sorri docemente e a imagem dela desaparece.
Ela se foi.
Eu toco o espelho novamente, mas nada acontece. — Está definido para tocar apenas uma vez, — digo suavemente. — Eu nunca mais a verei. — As lágrimas escorrem pelas minhas bochechas. Este foi o meu momento com ela... meu único momento... e agora acabou.
— Me desculpe. — Sinto a mão de Ryn no meu ombro. — Mas - e não me odeie por dizer isso - provavelmente não seria uma boa ideia para você assistir a mesma mensagem repetidamente. Você não gostaria de desperdiçar sua vida na frente de um espelho.
— Sim, acho que você está certo. — Eu soluço quando coloco o espelho na mesa. — Mas ainda vou levar essas coisas para casa comigo.
— Claro, — diz Ryn. — Precisa de ajuda com o encolhimento?
— Obrigado. — Pelo menos eu tenho essas lembranças dela. Vou levar o meu tempo olhando para elas quando chegar em casa. Vou ler o livro e a história que ela escreveu. Vou queimar a vela sem fim, e sua chama perpétua nunca permitirá que eu a esqueça.
Agora, no entanto, precisamos sair daqui.
Eu encolho o espelho enquanto Ryn cuida do livro e da vela. Estou prestes a encolher a pulseira, quando Ryn diz, — Você deveria colocá-la. — Ele tira de mim e a coloca em volta do meu pulso direito, inclinando-se mais perto quando ele aperta o fecho. — E as fitas. Você precisa de alguma cor na sua vida, V. — Ele enrola as fitas ao redor do meu braço para que elas cubram minha cicatriz. As linhas onduladas das minhas marcas de guardiã espreitam de cada lado. Ele amarra as pontas e as afasta, seu toque enviando um tremor pelo meu braço. Eu me pergunto se ele percebe os arrepios. Ele certamente está próximo o suficiente para vê-los.
De repente, lembro de dizer a Nate que ele não poderia me convencer a ter uma sessão de amassos em um túnel subterrâneo suspeito porque eu tenho padrões. E percebo agora que não tenho absolutamente nenhum padrão porque estou aqui nesta sala de pedra subterrânea e não quero nada mais do que beijar Ryn. Se ele me puxasse para dentro de seus braços agora, eu não iria detê-lo. Eu sei que não seria bom para nós a longo prazo, mas meu corpo e meu coração o desejam. Muito.
— Hum, devemos sair daqui antes que a princesa volte, — diz Ryn, dando um passo para trás e colocando alguma distância entre nós. — Missão completa, então... Acho que poderíamos ficar no seu quarto por um tempo. — Ele me observa. Estou imaginando, ou ele quer dizer algo mais quando ele diz ‘ficar’?
Só há uma maneira de descobrir.
— Ok. — Merda, eu realmente soei tão sem fôlego como eu acho que soei? Eu sou tão patética.
Eu deslizo a pequena vela, livro e espelho nos meus bolsos úmidos enquanto Ryn encolhe a mesa. Eu o deixo ir em frente antes de atravessar o caminho através da camada ondulante e entrar na água. Giro com a minha stylus na mão, mas a pedra já está selada. Legal. Puxo-me através da água e minha cabeça quebra a superfície. Eu suavizo meu cabelo molhado para trás e saio.
Ryn está de pé junto à abertura no muro, olhando para fora. — Alguém está vindo, — ele diz.
— O quê?
Ele agarra minha mão e me puxa para a porta do quarto da princesa. — Vamos esperar até que ele passe.
Estamos dentro da entrada de uma sala de estar. Tudo rosa e verde e estampas florais na parede - realmente não é o meu estilo.
— Droga, — murmura Ryn. Olho para o jardim e vejo um faerie escorregar pelo espaço na cobertura. — Atravessar aquela porta, — Ryn sussurra apressadamente, apontando para o outro lado da sala.
Eu corro, mas meus pés molhados deslizam na grande poça que se forma sob nossos corpos encharcados, e antes que eu saiba, eu estou caindo.
— Vi! — Ryn tenta me alcançar no momento em que eu me jogo contra a parede - que de repente cede. Ryn me empurra para a escuridão e me segue. Ele se inclina contra a parede - porta? - para fechá-la, sussurrando rapidamente algo à medida que a luz se estreita para uma fenda e desaparece.
A escuridão nos rodeia, então, completamente, parece que está pressionando contra meus globos oculares. — O que você acabou de dizer? — Eu sussurro para Ryn.
— Apenas um feitiço para secar toda aquela água. Nossos passos levariam para cá caso contrário.
Eu sinto a parede com minhas mãos e aperto minha orelha suavemente contra ela. Não consigo ouvir nada. — Onde estamos? — Pergunto.
— Uma passagem secreta entre as paredes, eu imagino. A princesa deve usá-la para dar uma volta sem ser vista.
Mais alguns momentos de silêncio passam antes de eu dizer, — Bem, talvez devêssemos conjurar alguma luz e seguir esta passagem. Nós não sabemos se o faerie ainda está por aí.
— Nós também não sabemos aonde essa passagem leva. Imagine se chegarmos no quarto da Rainha, molhados, enquanto ela está dando um cochilo matinal.
— Eu duvido que ela dê cochilos matinais, — eu sussurro de volta. — E eu não posso, pelo menos, criar alguma luz aqui? Certamente não pode ser visto na sala lá fora.
Quando Ryn responde, sua voz soa mais próxima do que estava antes. — Com medo do escuro, não é, Sexy Pixie?
— Claro que não.
Então não evoco uma luz. Nem ele. Ouço um barulho na sala de estar. Algo se movendo ao longo do chão, então batendo na parede. Eu involuntariamente dou um passo para trás. Sinto Ryn bem ao meu lado. Seu braço, ainda molhado, escova o meu. Posso ouvi-lo respirar. Sua mão se move, e seus dedos lentamente se entrelaçam com os meus. Meu coração faz uma dança vertiginosa no meu peito, e porque a escuridão é tão completa, não tenho ideia do que está prestes a acontecer até que já esteja acontecendo.
Seus lábios escovam os meus, o que me assusta tanto que quase me afasto. Mas eu não me afasto. Seguro seus dedos mais apertados e aperto meu corpo mais perto porque — sim oh sim oh sim — eu quero tanto isso. Nossos lábios se tocam novamente, com mais pressão desta vez. Ele tira os dedos dos meus e desliza a mão até o meu braço. Imagino que posso sentir faíscas pulando pela minha pele. Através das minhas pálpebras fechadas, vejo flashes de luz, e a realização me atinge: as faíscas que ele está arrastando sobre a minha pele são reais.
Seus dedos cavam nos meus cabelos molhados e puxam meu rosto para mais perto dele. Ele me vira, me pressionando contra a parede. Sinto seu corpo ao longo de cada centímetro do meu; não existe espaço entre nós. Seus lábios escovam meu maxilar, me provocando com beijos que se parecem tão bons contra minha pele ardente e quente. Ele trilha um dedo - mais faíscas - no meu pescoço e sobre a ondulação do meu peito, terminando quando ele atinge a borda do meu top. Acho que um suspiro escapa da minha garganta, mas não tenho certeza porque tudo o que posso ouvir é o martelar de sangue nos meus ouvidos.
Seus beijos alcançam meus lábios novamente, e desta vez eu os abro. Sua língua desliza sobre a minha, produzindo uma deliciosa sensação de formigamento. Mais faíscas. Eu estendo a mão e passo os dedos pelo seu cabelo. Se eu pudesse puxá-lo para mais perto do que ele já está, eu faria. Suas mãos deslizam por meus lados, sobre meus quadris, e param no topo das minhas pernas. Seu aperto aumenta, e em um movimento rápido, ele me puxa. Enrolo minhas pernas ao redor de sua cintura enquanto ele desliza as mãos debaixo do meu top, seus dedos deslizam pela minha pele nua.
A parte lógica do meu cérebro de repente acorda e começa a gritar comigo para sair daqui. O que eu estou fazendo? Este é o cara que namorou com os Subterrâneos e zomba dos sentimentos das garotas da Guilda que ousaram gostar dele. Este é o cara que me machucou tantas vezes depois que Reed morreu que eu jurei que nunca mais o deixaria se aproximar de mim novamente.
Mas não consigo parar. Não posso. Eu quero muito mais. Os beijos. As faíscas. Nossos corpos molhados pressionados juntos. Acima das batidas nos meus ouvidos, ouço algo como vidro quebrando. Eu não ligo. As faíscas estão dançando em todo o nosso corpo, e é exatamente onde eu quero estar. Cada centímetro de mim estava desesperado para estar ainda mais perto dele.
Ryn arranca seus lábios do meu o suficiente para arfar, — Eu lhe disse que você estava perdendo. — Algo dentro de mim congela. Ele me gira novamente, me pressionando forte contra a parede - a parede errada.
Ela se abre e nós dois aterrissamos em uma pilha sem graça no chão da sala de estar da princesa. Cacos de vidros espalhados pelo chão, várias cadeiras estão jogadas para os lados e fumaça sobe de uma almofada carbonizada.
Levanto quando vejo alguém de pé sobre nós: o faerie da qual tentávamos nos esconder. — Ok, isso não é o que parece, — ele diz, levantando as mãos. — Todo esse dano aqui? Eu não fiz isso. Apenas... aconteceu.
— O quê? — Ryn pergunta, claramente confuso. O faerie parece tão culpada quanto eu me sinto. — Quem é você? — Exige Ryn, na mesma hora que o faerie pergunta exatamente o mesmo.
Não sei o que está acontecendo. Ryn e eu não deveríamos estar aqui, e obviamente esse cara também não. Mas eu não ligo. A minha versão lógica está enlouquecendo. Pirando. Tudo o que quero é estar o mais longe possível daqui. Sem outro pensamento, volto para o jardim e corro o mais rápido possível.
Capítulo 23
Não paro de correr até chegar no meu quarto. Eu tranco a porta atrás de mim e me inclino contra ela, respirando com dificuldade. Se Ryn tentou me seguir, ele não faz um trabalho muito bom, porque não consigo ouvir nada do outro lado da porta. Apenas para ter certeza, eu corro para o banheiro e tranco a porta atrás de mim também. Eu não quero ouvir se ele bater.
Eu disse que você estava perdendo.
O beijo era sobre isso? Apenas Ryn se provando para si mesmo? Eu estava tão apressada no momento que provavelmente teria entregado meu coração se ele tivesse pedido, e tudo o que ele realmente estava fazendo era provando algo? Inclino-me contra a porta e deslizo para baixo até estar sentada no chão. Eu corro as duas mãos através do meu cabelo úmido e o puxo. O meu peito dói com o vazio, mas isso serviu para me mostrar que eu estava sendo estúpida. Eu sabia o tempo todo que esses sentimentos só acabariam me machucando.
Escondo-me no banheiro a tarde toda até ouvir a conjuradora de roupa na porta do meu quarto. No começo, temo que seja Ryn batendo, mas a voz aguda da conjuradora de roupas passa facilmente através das duas portas.
Ela observa minha aparência desgrenhada com as sobrancelhas levantadas. Quando não digo nada, ela começa a trabalhar. Ela me veste em uma detestável criação volumosa e roxa que, felizmente, tem pouco brilho. Meu cabelo obviamente a ofende porque ela franze o cenho toda vez que ela olha para a minha cabeça. Em vez de me deixar lidar com isso, ela murmura um feitiço para livrar-se da aparência molhada e enrola e torce e coloca grampos tão rápido que eu não tenho certeza de como tudo acabou empilhado em cima da minha cabeça. Não parece muito ruim, e eu aprecio a velocidade. Balançando a cabeça de desaprovação, ela recolhe suas coisas e sai.
Eu rapidamente retiro as fitas coloridas do meu pulso e vou até a porta do meu quarto. Preciso sair daqui antes que Ryn chegue para me acompanhar para o andar de baixo. Abro a porta e espio. Nada de Ryn.
Ufa.
Eu desço as escadas tão rápido quanto o volume permite. O cara que sorriu para mim ontem à noite está parado perto das portas da sala do trono, e eu decido que agora é hora de ser amigável. Eu me apresento, e ele parece estranhamente animado em falar comigo. Eu faço o meu melhor para prestar atenção ao que ele está dizendo, mas é um pouco difícil quando passo os primeiros minutos da nossa conversa ansiosamente procurando por Ryn e as próximas evitando propositadamente o olhar dele. Posso dizer que ele está me observando, e o constrangimento aquece meu pescoço.
O jantar é horrivelmente estranho. Ryn e eu estamos sentados ainda mais longe da Rainha do que na noite passada - provavelmente devido à minha grosseria - e passo toda a noite com meu corpo longe de Ryn tentando conversar com o cara da minha esquerda. A menina do outro lado parece um pouco chateada porque ele está a ignorando. Parte de mim se sente mal, mas estou tão desesperada para conversar com alguém além de Ryn que farei qualquer coisa para manter a atenção desse cara.
Quando o jantar chega ao fim e todos começam a ficar de pé, eu sou a primeira a sair. Ouço a voz de Ryn atrás de mim, — V, espere. — Eu ando mais rápido. Não tenho certeza de poder correr nessa coisa volumosa, mas certamente posso tentar. Assim que eu rodeio um canto, eu corro. Os passos apressados de Ryn me seguem. — Apenas espere, caramba, — ele grita. Meu cérebro me tortura com uma lembrança das minhas pernas enroladas em sua cintura e seu corpo pressionado contra o meu.
Ugh, eu poderia me envergonhar mesmo se eu não tentasse?
— Violet! — O grito de Ryn é tão alto que eu paro. Fico no pé da escada com as costas para ele. A água que saí das mãos estendidas das sereias escorre em segundo plano. — Não entendo, — diz ele. — Sobre o que você está chateada?
Giro lentamente e olho para ele. Há muitas coisas que eu quero dizer, mas as palavras que acabam deixando a minha boca são, — Podemos apenas fingir que não aconteceu?
Ele parece tão confuso que por um momento que eu também fico confusa. Eu perdi alguma coisa aqui? Entendi mal o que realmente aconteceu entre nós? Mas percebo movimento abaixo de uma arcada atrás dele, e todos os pensamentos do nosso beijo se desvanecem quando pouso os olhos no faerie impostor que roubou a forma do meu pai. Parece que o idiota é estúpido o suficiente para aparecer na mesma sala, ao mesmo tempo que a noite passada.
— Ei! — Grito enquanto ele desaparece na escuridão mais uma vez. — Pare! — Eu corro atrás dele, quase caindo de cara quando piso na frente do meu vestido. Eu tiro as camadas estúpidas do caminho, puxo a saia com as duas mãos e corro de novo. Ele já está a meio caminho do bosque de árvores de onde desapareceu na noite passada, e ainda estou correndo pela colina. Estou pensando em arrancar a parte de baixo da minha monstruosidade volumosa quando Ryn passa por mim. Pouco antes do metamorfo chegar ao pavilhão, Ryn dá um salto volumoso e o coloca no chão. Eles lutam. Faíscas de magia voam aqui e ali. Assim que chego ao pavilhão, o metamorfo consegue levantar. Eu posso ver que ele está prestes a correr outra vez, e minhas armas aparecem calorosamente enquanto se instalam em meus braços estendidos.
— Pare! — Eu aponto meu arco e flecha diretamente para ele. — Quem diabos é você e como se atreve a assumir a forma do meu pai?
Ele encontra meu olhar irritado, ergue lentamente as mãos e balança a cabeça.
— E o que isso significa? Você não sabe quem você é? Você está se recusando a me responder?
Ryn ergue-se e fica de pé ao meu lado. Do canto do meu olho, eu percebo seu chicote cintilante na mão direita. — Eu acredito que ela fez uma pergunta, metamorfo.
O homem balança a cabeça novamente, ainda me observando. — Você não quer fazer isso, V.
Estou tão assustada com o uso do meu apelido e sua voz que soa exatamente como a do meu pai - obviamente - que o arco e a flecha quase desaparecem do meu aperto. Como ele sabe que meu pai sempre me chamou de V? Não. Concentre-se. Eu já fui enganada por um metamorfo antes e não serei de novo. — Você parece saber quem eu sou, então é justo que me diga quem você é. — Quando ele não diz nada, eu grito, — Diga!
O metamorfo fecha seus olhos e suspira. O olhar de derrota em seu rosto me dá esperança; ele vai se entregar e me contar o que está acontecendo. Ele senta-se em uma cadeira acolchoada, se inclina sobre os joelhos e olha para mim. — Minha linda garota, — diz ele suavemente. — Você parece muito com sua mãe.
— Desculpe-me?
— Eu deveria saber que você estaria aqui. Claro que você ganharia o prêmio de graduação... é o que você sempre quis.
— Ok, eu não sei o que você está fazendo, — além de me assustar — mas você não está respondendo a minha pergunta. — Eu ando até ele e seguro a flecha a polegadas de sua testa. — Quem. É. Você?
Ele ergue os olhos e diz simplesmente, — Seu pai.
Apesar do calor do ar noturno, um arrepio atravessa meus braços. — Meu pai está morto, — eu digo a ele. — Eu vi o corpo dele. Eles o colocaram em uma canoa e eu o assisti flutuar e desaparecer sob as Cataratas do Infinito. Ele se foi, o que significa que você não é ele.
Ele esfregou uma mão nos olhos dele. — Eu sinto muito, V. Você não deveria saber sobre isso. Pelo menos não até que tudo acabe e estejamos seguros novamente. — Ele geme e murmura algo sobre a Rainha e ser descuidado.
— Eu odeio ser repetitiva, — eu digo, — mas você não está respondendo a minha pergunta.
Ele se concentra em algum lugar no chão e diz, — Não era eu na canoa. Era um metamorfo. A rainha o usou para fingir minha morte para que eu pudesse continuar uma tarefa perigosa disfarçado. Todos tiveram que acreditar que eu estava morto para que a pessoa de quem eu estou atrás não tivesse mais suspeita.
Eu posso sentir uma parte de mim ousando ter esperança. Parece improvável, mas talvez seja verdade. Talvez este homem sentado aqui me observando com algo como orgulho seja realmente meu pai.
— Você espera que acreditemos nisso? — Perguntou Ryn. — Que história ridícula. Um metamorfo não volta para sua forma original quando morto de qualquer maneira? Se a sua história fosse verdade, então teríamos visto um estranho na canoa, não o pai de Violet.
Eu balanço a minha cabeça. — Eu matei um metamorfo. Ele... — Ele ainda parecia Nate quando ele estava morto. — Ele não voltou à sua forma original depois que ele morreu.
— Você não precisa acreditar em mim. — O homem está parado, e eu mantenho minha flecha treinada em sua testa. — Na verdade, seria melhor se não acreditasse. Seria melhor se todos nos afastássemos agora e fingíssemos que isso não aconteceu. — Sua voz está estável, mas seus olhos estão cheios de uma tristeza infinita. Maldito, esse cara é um ator realmente bom ou ele está falando a verdade. Ele olha diretamente para mim e diz, — Você deveria me deixar ir.
— Isso é exatamente o que você quer, não é? — Ryn murmura. Ele se vira para mim. — Não podemos dar a esse cara uma poção de compulsão e forçá-lo a dizer a verdade?
— Poderíamos. Ou ele poderia apenas responder uma pergunta. — Eu consigo pensar em algo que ninguém mais deveria saber. — O que meu pai me disse na noite em que o menino que todos amavam morreu? — Isso deve ser bastante enigmático se esse homem realmente for uma fraude.
O homem-que-pode-ser-meu-pai se aproxima de mim. Tão perto que minha flecha está quase tocando sua pele. — O que você quer, Violet? — Ele pergunta suavemente. — Você quer que seja eu? Ou é mais fácil para você se eu não for nada além de um impostor?
Minha voz se quebra quando digo, — Eu já sei que é você. — Eu acho que soube no momento em que ele me chamou de V.
Vivo. Ele está vivo. Como eu deveria processar isso?
— Perdoe meu cinismo, — diz Ryn, — mas eu ainda gostaria de ouvir a resposta a essa pergunta.
Meu pai olha para Ryn, depois de volta para mim. Ele respira fundo. — Você viu minhas lágrimas e disse que nunca tinha me visto chorar antes. Eu disse que foi apenas a segunda vez que derramei lágrimas na minha vida adulta. Eu também disse que não sabia o porquê, mas sempre amei aquele menino como se ele fosse meu próprio filho.
Eu aceno. Foi exatamente o que o pai me disse. Papai. Meu pai. Que não está morto. A realização finalmente me acerta e um estremecimento passa pelo meu corpo. — Papai? — Eu sussurro.
Ele me puxa para dentro de seus braços. — Bebê, sinto muito, sinto muito. Por favor, me perdoe. Eu senti falta de você todos os dias. Eu nunca quis deixar você.
Em meio ao meu emaranhado de emoções, eu me encontro me livrando de seus braços. — Mas você foi, — eu digo através das minhas lágrimas. — Você foi embora. Você disse que todos tinham que acreditar que você estava morto, mas por que eu? Por que você não poderia simplesmente me dizer o que realmente estava fazendo? Eu teria mantido seu segredo. Você sabe que eu teria.
— Eu especialmente não poderia dizer a você, V. Você estava em perigo. Ele queria matá-la. Você tinha que acreditar que eu estava morto ou ele teria procurado até encontrar você.
— O quê? Sobre o que ele está falando?
— Eu sempre soube que você ficaria brava se descobrisse sobre isso, mas nunca me arrependi. Tanto quanto quebrou meu coração deixá-la, minha decisão a manteve segura. Valeu a pena a dor que ambos tivemos que passar.
Raiva explodia dentro de mim. Que direito ele tem para decidir qual dor que devo passar? Ryn toca meu braço. — Não brigue com ele, V. Ele está vivo. Este deve ser um momento de alegria, não de raiva.
Aperto meus olhos. Lágrimas escorrem pela borda das minhas pálpebras e correm para minhas bochechas. Por que Ryn está sempre certo? Eu deveria me alegrar agora, não agir como uma criança difícil. Avanço e envolvo meus braços ao redor do pescoço do meu pai. Ele me abraça de volta. Isso é real, eu digo a mim mesma. Seus braços em volta de mim são reais. E, embora eu deteste falar de sentimentos, acho que devo dizer a ele algo, apenas no caso de isso ser um sonho e eu não ter outra chance. — Eu te amo, pai, — eu sussurro.
— Eu amo você. — Ele me aperta apertado e me levanta do chão por um segundo. — E estou tão orgulhoso de você. Você se tornou uma jovem e uma guardiã tão incrível, inteligente e bonita. — Ele me põe de pé. — E por que você está vestindo este vestido horrível? Você odeia roupas roxas.
Eu rio enquanto limpo as lágrimas do meu rosto. — Eu não escolhi. A mãe não te disse que eles escolheram suas roupas quando ela ficou aqui?
Papai balança a cabeça com uma risada. Ele olhou por cima do meu ombro e estende a mão para Ryn. — Eu acho que eu não deveria ficar surpreso ao vê-lo aqui também. Você sempre foi tão competitivo quanto a Violet. Parabéns pelo primeiro lugar sua turma. — Ele sacode a mão de Ryn. — Estou surpreso ao ver vocês dois de pé na mesma sala sem querer se machucar. Pensei que vocês dois tinham jurado nunca mais ser amigos de novo?
Olho para Ryn e depois desvio o olhar. — Sim, hum, decidimos colocar tudo isso para trás.
— Uh, eu tenho uma pergunta, senhor, — diz Ryn. — Foi você quem eu vi na casa dos Harts?
— O quê? — Eu pergunto, assim quando o meu pai balança a cabeça e diz, — Sim.
— Hum... sim. — Ryan se vira para mim. — Lembra quando eu disse que vi alguém que parecia Cecy? Bem, eu estava mentindo.
Fico boquiaberta. — Você viu meu pai e não me disse? — Eu tento empurrá-lo, mas ele pega minhas mãos.
— Eu simplesmente pensei que não poderia ser ele, então por que te assustar?
— Ryn, isso não é motivo suficiente para manter algo assim de mim. — Eu me sinto machucada e traída, mas estou tentando ser madura, então eu deixo passar. Sento-me à beira de uma cadeira e viro para o meu pai. — Ok, você tem muitas explicações para dar. Qual tarefa disfarçada que você está fazendo que está demorando tantos anos para completar? E por que exatamente foi melhor para todos, se todos pensassem que você estava morto? Você disse que alguém estava tentando me matar? E o que exatamente você estava fazendo na casa dos Harts?
Papai ergueu as mãos. — Olha, você sabe que não posso te dizer nada. Em primeiro lugar, é contra o protocolo compartilhar os detalhes de uma tarefa e, em segundo lugar, é para sua própria segurança.
— Papai, você me abandonou nos últimos cinco anos. Eu acho que você me deve muito. — Sim, estou jogando o cartão de culpa. Um movimento dissimulado, mas não me importo agora.
— V, eu ...
— Conte! Você não pode simplesmente aparecer na minha vida de repente e não explicar nada.
Ele se senta na borda de uma pequena mesa. — Tudo bem, olha, é algo a ver com o filho da Rainha Unseelie, mas é tudo o que posso dizer. Estou lidando com pessoas muito perigosas, V, e não posso envolver você nisso.
— O filho da Rainha Unseelie? — Eu olho para Ryn, que está sentado para trás em uma cadeira próxima. — Você quer dizer Zell?
Papai franzi o cenho. — Sim. Marzell. Como você o conhece?
Eu reviro meus olhos. — Você tem medo de eu estar envolvida, pai? Bem, é tarde demais para isso. Eu já estou envolvida. Pra caramba. Então não há necessidade de você manter mais segredos de mim.
— O que você quer dizer que você está envolvida? — Papai levantou rapidamente. — Como? O que aconteceu?
— Não, não, não, — eu digo. — Você não pode exigir detalhes sem compartilhar. Você me conta sua história, e eu conto a minha.
Com descrença escrita em todo o rosto, papai olha para Ryn como se para apoio. — Desculpe, mas estou com V nisto, — diz Ryn.
Depois de outra pausa, papai diz, — Ok, mas não tenho tempo para contar tudo agora. Eu já estou atrasado para a reunião para a qual eu estava a caminho quando você me perseguiu.
O pânico aperta o meu coração. Nós vamos embora na primeira hora pela manhã; quando vou vê-lo novamente? — Então, venha para casa, — eu digo, de pé rapidamente. — Venha para casa e explique tudo para mim.
Papai se aproxima e toca minha bochecha. — Eu não quero deixá-la fora da minha vista se você estiver em perigo.
Inclino minha cabeça de lado e sorrio. — Eu sou uma guardiã, pai. Eu sempre estarei em perigo.
— Sim, mas é diferente com a Corte Unseelie. Você não sabe o que eles...
— Eu tenho um encanto de ocultação sobre mim. Um bom. Não há maneira de Zell me encontrar, a menos que acidentalmente toquemos um no outro, e isso não acontecerá.
Papai balança a cabeça. — OK. Você estará em casa à noite depois de amanhã? — Eu aceno com a cabeça. — Bom. Vejo você então. — Ele beija minha testa. Ele está prestes a se afastar quando seu olhar cai para o meu pescoço. — O tokehari de sua mãe, — ele diz com surpresa. — Eu pensei que estava — ele olha para Ryn, então de volta para mim — perdido, — ele finaliza.
— Uh, eu achei, senhor, — diz Ryn, — e voltou com as minhas mais sinceras desculpas... por ‘perder’.
Papai sorri. — Isso é bom. — Ele beija minha testa mais uma vez e sussurra, — Eu amo você, bebêzinha.
Capítulo 24
Sinto que estou olhando a minha vida através de olhos diferentes. Toda vez que eu penso em um evento importante, eu me pergunto onde meu pai estava na época e o que ele estava fazendo. Ele estava observando do lado de fora, mantendo um olho em mim? Ou ele se distanciou completamente desde sua suposta morte, nem mesmo sabendo que eu apareceria naquela noite no Harts? Tantas perguntas. Eu provavelmente deveria escrevê-las no caso de esquecer de algo.
Ryn e eu fazemos a viagem de volta para Creepy Hollow em silêncio. Eu digo a mim mesma que ele está me dando espaço para aceitar o fato monumental de que o meu pai ainda está vivo, mas eu sei que também há uma súbita estranheza entre nós. Nenhum de nós mencionou o Beijo novamente. Espero que, se eu ignorar, Ryn e eu possamos voltar para algum tipo de amizade confortável. Eu vou superar meus sentimentos por ele em breve, certo? Sim, eu vou. Afinal, não pareceu levar muito tempo para que meus sentimentos por Nate desaparecessem.
Quando acordei no palácio esta manhã, encontrei uma nota que foi deixada por debaixo da minha porta. Meu coração apertou dolorosamente quando vi meu nome escrito na caligrafia do meu pai na frente.
Tenho certeza de que não tenho que dizer isso, mas NÃO PODE dizer a ninguém sobre mim.
Ele não precisava me lembrar, mas eu valorizo sua nota, no entanto. Prova que ele realmente existe. Eu a mantenho no meu bolso agora que estou de volta para casa onde a Corte Seelie e tudo o que aconteceu lá é um sonho vívido. A nota e a caligrafia me asseguram que foi real. O espelho de prata acima da minha mesa e a vela preta que queima para sempre que estão ao lado da piscina do meu banheiro também ajudam.
Depois de encontrar Bran na Guilda e interrogá-lo sobre a investigação sobre os ataques à Guilda - ele me diz absolutamente nada útil - envio uma mensagem no âmbar para Tora e a convido para a sobremesa. Desejo com todo o coração que eu pudesse contar a ela sobre papai, mas, em vez disso, ela terá que me contar sobre o cara que ela manteve em segredo.
— Olha, eu não mantive segredo intencionalmente de nada para você, — ela diz, quando eu a cumprimento na minha porta com os braços cruzados e um olhar raivoso. — Eu simplesmente não tinha exatamente chegado a te contar sobre ele ainda.
— Sim, sim, tanto faz. — Isso me parece exatamente o que eu diria se ela descobrisse sobre Nate, então eu realmente não tenho o direito de fazê-la se sentir culpada. — Diga tudo agora, e isso compensará.
Ela atravessa minha sala de estar em direção a um dos sofás. — Tudo bem, mas depois você vai compartilhar os detalhes de sua vida amorosa.
— Mas eu não tenho vida amorosa. — Pelo menos não que eu esteja disposta a falar. A lembrança das mãos de Ryn acariciando minha pele envia borboletas voando na minha barriga. Eu me afasto para esconder meu sorriso. Eu não deveria estar sorrindo. Eu nem deveria estar pensando nisso. Não é como se fosse acontecer novamente.
— Ooh, eu não tive uma sobremesa divertida assim há séculos, — diz Tora enquanto olha para a mesa baixa entre os sofás. Há uma tigela de frutas do seu lado e outra do meu lado. Nós também temos uma tigela de chocolate derretido e palitos de pau. No centro da mesa está uma esfera flutuante de luz azul e branca.
— Sim, não acho que usei esse feitiço de sobremesa faz anos. Parecia apropriado para o clima mais quente. Então, de qualquer maneira, esse cara...
— Oliver.
— Oliver. Você o conheceu na Guilda de Londres?
— Antes disso, na verdade. — Tora se inclina para frente e coloca um morango no final do seu palito de pau. Depois de mergulhar no chocolate derretido, ela o mantém dentro da esfera cintilante por vários segundos para congelá-lo. — Lembra quando você foi suspensa?
— Eu tento não lembrar.
— Certo, bem, havia um cara do Conselho que visitou a Guilda de Londres. Ele teve que se encontrar com alguns de nossos membros do Conselho, e depois conversou com alguns de nossos formandos. — Ela morde o morango com chocolate congelado e mastiga algumas vezes antes de continuar. — Eu fui a mentora no comando naquele dia, então, você sabe, conversamos. — Sua pele pálida fica rosa brilhante.
— Eeeee? — Eu pergunto com um sorriso.
— Bem, ele era muito charmoso e tudo mais, mas eu estava apenas sendo amigável.
— Isso é estranho. Lembro de Honey me dizendo que ele era chato.
Tora faz uma careta para mim. — Ele não é chato. Quero dizer, ele chamou a videira perdida que sempre foge pelo corredor Nigel, o que é um pouco corajoso, mas, além disso, você sabia...
— Gostoso?
— Bem, sim.
Eu rio enquanto congelo o meu próprio pedaço de fruta. — Eu sabia!
— Oh, bobagem, você não sabia de nada. De qualquer forma, eu disse adeus esperando não o ver novamente, e a próxima coisa que eu fico sabendo, a Conselheira Starkweather disse que ele me pediu para visitar a Guilda de Londres por alguns dias para dar minha contribuição para um novo centro de treinamento que eles decidiram construir. Eu pensei que era estranho que eles não pedissem para alguém que realmente projeta centros de treinamento...
— E então você descobriu quando chegou lá que ele não queria sua contribuição, ele só queria você. — Eu lhe dou o meu sorriso mais doce e ela revira os olhos.
— Bem, não é como se ele me tivesse dito isso, mas descobri.
— Então é por isso que você acabou ficando por mais tempo?
— Sim, ele conseguiu me convencer a estender minha visita.
— Sabe, Tora — Eu me inclino para frente, fingindo um ar conspirador — há essa coisa chamada caminhos das fadas que permite que você visite alguém em qualquer lugar do mundo em apenas alguns segundos. Na verdade, vocês nem precisam ficar no mesmo lugar.
Tora cruzou os braços e estreita os olhos, mas vejo que ela está tentando não sorrir. Eventualmente, ela cede com uma risada. — Olha, foi mais fácil quando eu estava lá.
— Na casa dele?
Ela esfaqueia outro pedaço de fruta e o congela. — Você ainda não me disse por que Ryn estava em seu quarto tão cedo na manhã de ontem.
Eu congelo um mirtilo coberto de chocolate e o entrego ao Filigree, atualmente em forma de rato e descansando no braço do sofá. — Já que estamos mudando de assunto, — eu digo, — vi Bran mais cedo e perguntei sobre os ataques a Guilda. Ele usou muitas palavras, mas basicamente não me disse nada.
— Você sabe que ele não pode dizer nada se você não faz parte da investigação. Eu também perguntei, e ele também não me contará nada. Eu só conheço os poucos detalhes que foram tornados públicos, como o fato de que a Rainha Unseelie nega ter qualquer conhecimento dos ataques.
O que é exatamente o que eu disse a Conselheira Starkweather. — Sim, ele mencionou isso. Então, quando eles consertaram o saguão e o teto? Eu andei por lá mais cedo hoje e parecia que nada nunca aconteceu.
— Eu acho que eles terminaram ontem à noite. — Tora congela uma framboesa com chocolate e enfia toda a coisa na boca dela.
— Uau, três dias inteiros apenas para reparar o saguão?
— Mm hmm. — Ela termina de mastigar. — São alguns encantamentos sérios de proteção no teto abobadado. E, aparentemente, o piso também tem a mesma proteção. — Ela pega sua tigela de frutas e come alguns pedaços descongelados. — Agora, não pense que não tenho notado que você está evitando falar sobre Ryn. Eu sei que você o desprezava há alguns anos, mas certamente parecia estar curtindo sua companhia no grande baile. Vocês dois são mais do que amigos agora?
— Tora! — Eu faço o meu melhor para parecer horrorizada. — Não. Você pensa honestamente que eu namoraria Ryn?
— Bem, sim. Ele é bonito e encantador, ele é um excelente guardião, e eu posso ver porque você pode se apaixonar por ele.
— Isso é ridículo. Nunca funcionaria a longo prazo.
Tora fica calada um pouco antes de responder. — Eu não queria ter que ser aquela a dizer isso, então fico feliz que você tenha feito. Eu sei quantas vezes ele te machucou no passado, e eu odiaria que você se machucasse de novo. Mas acho que você sempre foi uma pessoa sensata. Eu deveria saber que você não iria se apaixonar por ele assim. — Ela estala os dedos.
Vê? Diz a voz lógica dentro de mim. Tora sabe tão bem quanto você que não funcionaria.
— Certo, agora me diga o que você vai dizer quando a Guilda lhe oferecer um emprego. — Ela aponta seu pedaço de pau com chocolate para mim. — Porque ambas sabemos que é exatamente o que eles vão fazer.
No momento em que Tora e eu discutimos as minhas opções para o futuro... que já não incluem ser uma guardiã pessoal da Rainha Seelie, uma vez que existe uma forte possibilidade de ela pensar que sou rude e desagradável, e eu também acho que vou achar a vida no palácio completamente chata... nós terminamos toda a sobremesa. Eu limpo enquanto Tora lê uma mensagem em seu âmbar e rir. Ri. Honestamente, o que tem no amor que pode nos fazer agir como idiotas completas às vezes? E por ‘nós’ não me refiro a mim. Porque eu nunca agiria como uma idiota por um cara. Bem, exceto na vez que tentei seduzir Nate com um tremor sedutor dos meus cílios.
— Eu, hum, preciso ir agora, — diz Tora.
— Tem um encontro no outro lado do mundo?
— Algo assim. — Os olhos dela brilham.
— Ok, bem, eu te vejo depois.
Ela vai embora, e eu tento me dizer que não me sinto sozinha. Eu tento me dizer que não sinto falta de Ryn. Estou mentindo, é claro. Parte de mim deseja que ele estivesse aqui, apenas para sair, ser amigos. Mas há uma parte muito maior de mim que está aliviada por ele não estar, por que, então, eu teria que falar sobre o Beijo.
Dirijo-me para o andar de cima, visto uma longa camiseta e subo na minha cama com o meu âmbar. Eu preciso praticar alguns dos feitiços de redes sociais que Ryn me ensinou ou nunca vou fazer pleno uso dele. Puxo minha stylus do meu cabelo, que cai em volta do meu pescoço em ondas bagunçadas; Raven não ficaria impressionada. Após alguns minutos, escrevo as palavras de um feitiço sobre a superfície brilhante do âmbar.
Nada acontece.
Ótimo. Posso me lembrar de feitiços complexos necessários para curar meu corpo de todos os tipos de lesões, mas quando se trata de algo bobo como um feitiço para melhorar minha vida social, as palavras me escapam. Filigree desloca-se para a forma de um coelho branco com pequenas asas brancas — quem sabe onde ele viu isso — desliza e meio que salta na cama enquanto eu toco minha stylus no meu queixo, pensando. Procuro outra combinação de palavras e, desta vez, pequenas formas nadam na superfície do meu âmbar.
Eu me inclino contra meus travesseiros e examino as formas e as palavras. Existem símbolos que representam pessoas diferentes — Ryn me deu uma chave quando ele definiu este feitiço — e linhas curtas de texto ao lado de cada um. Uma mensagem em uma bolha no topo do âmbar me informa que Honey está ‘me seguindo’, e também o cara com quem conversei do lado de fora da sala do trono quando eu estava evitando Ryn. Isso é um pouco assustador. Como ele me encontrou?
Eu passo os olhos e leio algumas das mensagens.
Honey: Férias com meu namorado e sua família. Tipo, todos os 12!
Flint: A Guilda está mais forte do que nunca. Toma essa, Corte Unseelie!
Ryn para Opal: Eu achei que a comida arrasou, na verdade.
Sério? Isso é o que as pessoas fazem no seu tempo livre? Eu não entendo. Flint não poderia ter problemas em dizer a Corte Unseelie ‘toma essa’, ou esse tipo de coisa é permitido com os feitiços sociais? E quem é essa pessoa Opal com quem Ryn está falando? Hmm. A garota de cabelos negros com quem ele estava flertando no palácio não se chamava Opal?
Eu não quero me envolver nessa coisa tola. Por outro lado, não quero ser excluída. O que é completamente ridículo. Eu nunca me preocupei em ser excluída. Eu acabava com minhas tarefas e ignorava Ryn e todos os outros.
Um som de batidas me surpreende, e olho. Ryn está inclinado na entrada do meu quarto, batendo os nódulos contra a moldura da porta. A visão dele envia uma sensação que atravessa meu corpo.
Sensação estúpida.
— Você sabe que deveria ficar lá fora e bater, certo? — Eu digo a ele.
— Sim, mas achei que você não me deixaria entrar se soubesse que era eu. Então eu apenas me deixei entrar.
Eu dou uma risada falsa enquanto coloco meu âmbar na mesa de cabeceira. — Por que eu não deixaria você entrar?
— Uh, porque você está me evitando desde a manhã de ontem? Se eu não tivesse pegado seu pai para você ontem à noite, você teria se escondido no seu quarto a noite toda. E se não tivéssemos sido forçados a viajar juntos esta manhã, você definitivamente ficaria longe de mim o dia todo.
— Bem, sabe, não precisamos nos ver todos os dias. — Uau. Incrível contribuição para a conversa, Violet. Você deveria manter sua boca fechada.
— Eu acho que não, — diz Ryn, — mas quando há essa estranheza entre nós, provavelmente devemos falar sobre isso.
Por favor, não.
— Por que tenho a sensação de que o nosso relacionamento está retrocedendo? — Ryn pergunta enquanto ele entra no meu quarto, retira a jaqueta e a pendura na parte de trás da cadeira da mesa. — Geralmente, não é a garota que sempre quer falar sobre sentimentos e outras coisas e o cara guarda tudo?
— Eu não guardo as coisas, — eu disparo de volta. Bem, há uma caixa imaginária em que eu gosto de esconder coisas, mas isso é diferente.
— Certo. Claro que não.
Eu levanto os meus joelhos e coloco meus braços ao redor deles. Filigree pula até a borda da cama e bate as asas até conseguir decolar. Ele voa para Ryn, que o pega facilmente.
— Então, hum, como sua mãe está indo com essa investigação de assassinato? — Pergunto.
Ele suspira. — Tudo bem, já que você claramente não vai trazer isso à tona, eu direi. Nós nos beijamos. Foi muito bom. Agora eu quero falar sobre isso, mas não posso porque você está sendo toda estranha. Isso não é normal para você. Você não é como outras meninas, lembra? Você não fica boba e chateada e temperamental. Você é mais legal do que isso.
— Bem, Ryn, acho que só posso ser legal até certo ponto. Há uma linha, e quando você me beijou apenas para provar que estava certo sobre alguma coisa, você a cruzou. — Lá estava, agora ele sabe por que estou chateada. Hmm. Isso na verdade não foi tão difícil.
— Apenas para provar que eu estava certo? — Ele coloca um filigree contorcendo-se no chão. — Do que você está falando?
— Você vai me dizer que não se lembra? Deixe-me ajudá-lo. Tivemos um beijo super-quente, e então você terminou com um ‘Eu disse que você estava perdendo’.
— Sim, e? Você estava perdendo. Eu não estava tentando provar um ponto; estava simplesmente afirmando um fato. E não foi aí que eu planejei acabar. Confie em mim, eu poderia ter ficado no escuro com você por horas, se não tivéssemos atingido a parede errada e parado no meio de uma sala de estar parcialmente demolida. Falando sobre isso, você não me perguntou o que aconteceu depois que você fugiu.
Eu suspiro. — O que aconteceu depois que eu fui embora?
— Bem, o Sr. Faerie Sorrateiro tinha o mesmo direito de estar lá quanto nós. Então, nós dois concordamos em fingir que nunca nos vimos, e então ele correu enquanto eu fui deixado para limpar toda a bagunça que você e eu fizemos antes que a princesa Olivia voltasse.
— Nós fizemos?
— Uh, sim, V. — Ryn olha para mim como se eu já devesse ter descoberto isso. — Vasos quebrados, almofadas queimadas, móveis revirados... fomos nós. — Ele sorri. — Foi um beijo muito quente, lembra?
Tentar realmente não é difícil. Mas, obviamente, não estou tentando o suficiente porque as memórias não vão a lugar nenhum. Então respiro fundo e digo, — Tudo bem, vou conversar. O beijo foi quente. Surpreendente. Incrível. Você estava certo — eu claramente estava perdendo por nunca ter experimentado um beijo de alguém mágico. E agora eu sei, então obrigado. Podemos seguir em frente?
Ele cruza os braços. — Ainda não entendi. Por que você quer seguir em frente? Não é como se você tivesse me beijado porque estava entediada e não tinha mais nada a fazer no momento.
— Oh. Bem, já que você sabe muito sobre minhas motivações, talvez você gostaria de me dizer por que eu te beijei.
Ryn joga as mãos para cima. — Você realmente não vai admitir isso?
— Admitir o quê?
— Que você tem sentimentos por mim, Violet. Por que é tão difícil para você dizer isso?
— Porque não é verdade. — Abraço os joelhos com mais força. — E porque se fosse verdade, você só acabaria me machucando.
— Isso é ridículo. Se temos sentimentos um pelo o outro e queremos estar juntos, por que eu seria estúpido o suficiente para machucá-la?
— Bem, você provavelmente não faria isso intencionalmente, mas depois de um tempo você superaria todos os sentimentos que poderia ter por mim. Eu sei que você gosta da companhia das Subterrâneas, e nunca posso ser tão exótica ou emocionante quanto os seres que você encontrará lá.
Ele avança e se inclina sobre mim com as duas mãos na cama enquanto ele diz, — Eu não quero estar com Subterrâneas, V. Eu quero você.
Essas três palavras enviam arrepios para cima e para baixo em meus braços, mas não posso deixar de pensar para quantas outras garotas ele disse o mesmo. Eu me afasto dele. — Você diz isso...
— Eu quero dizer isso.
— Você acha que quer dizer isso, Ryn, e você provavelmente quer agora, mas não vai durar, e onde isso vai me deixar?
— Violet. Isto... o que estou sentindo... — Ele parece estar lutando por palavras. — É muito mais do que qualquer coisa que eu já senti por qualquer um. Está ameaçando explodir de mim. Como você pode me dizer que não vai durar?
Eu encolho os ombros, balanço a minha cabeça e olho para os meus joelhos. — Eu não sei. Só sei de uma coisa com certeza, e é que você vai quebrar meu coração.
— Não. Nunca vou machucá-la novamente, V. Falo sério. — Ele recua e puxa o cabelo. — O que eu tenho que dizer para fazer você acreditar em mim?
Esta conversa precisa terminar. Eu estou aterrorizada de que, se demorar mais, eu vá desistir. E tanto quanto eu quero - e eu realmente quero muito - sei instintivamente que, quando Ryn quebrar o meu coração, será dez vezes pior do que a dor que senti depois que Nate me traiu. — Não há nada que você possa dizer, Ryn, ou qualquer coisa que você possa fazer. E não importa, de qualquer maneira, porque não sinto o mesmo que você. — Mentirosa, mentirosa. — As coisas estavam boas quando éramos amigos. Por que não podemos continuar assim?
Ele solta uma risada sem humor. — Você não sente o mesmo por mim? Agora você está mentindo.
— Eu não estou.
Sua expressão é incrédula. — Sim, está.
Como ele sabe disso? Está escrito em toda a minha cara? Eu realmente sou uma mentirosa terrível? — Você não faz ideia do que estou sentindo, Oryn.
— Eu sei exatamente o que você está...
— Não faz. Fim da conversa.
— SIM, EU SEI! Você não está me ouvindo? Eu sei o que você está sentindo! Eu sinto o que você está sentindo! Você acha que você é a única em Creepy Hollow agraciada com uma dose especial de magia extra? Bem, você não é. Eu sinto cada coisa que cada um está sentindo, o que, quando se tratava de você, geralmente não é muito. Mas adivinhe o quê? Esse não é mais o seu caso. Eu sabia que você estava entrando em pânico quando fomos para a pista de dança depois da formatura porque senti isso. Eu soube no momento em que sussurrei no seu ouvido enquanto estávamos dançando, que você percebeu o quanto me queria porque senti o fluxo de emoções que de repente apareceu sobre você. Eu senti novamente na manhã de ontem quando eu estava deitado ao seu lado na cama, e novamente quando eu estava te beijando. Eu sei, Violet, então não minta para mim.
Eu fico boquiaberta em estado de choque quando ele acaba de falar. O que ele disse é absurdo. Completamente, totalmente absurdo. Também faz muito sentido. Ryn sempre pareceu ser extra intuitivo. Ele sabe quando algo está errado, antes mesmo de eu poder dizer qualquer coisa. É assim que ele adivinhou minha verdadeira razão para querer conseguir o prêmio da graduação? Ele estava lendo minhas emoções? — O que... O que estou sentindo agora?
Ele respira fundo. — Você ainda sente desejo por mim, — ele diz, — mas também há medo misturado. No entanto, agora mesmo, o choque está muito bem ofuscando tudo o resto.
Ele está dizendo a verdade. Ele pode sentir as emoções de outras pessoas. Minha voz é apenas um sussurro quando pergunto, — Há quanto tempo você sabe que você pode fazer isso?
— Há muito tempo.
— E você nunca me disse.
— Eu...
— Você sempre soube do meu segredo, e ainda assim nunca se preocupou em me contar o seu. — Graças à sua habilidade estúpida, ele deveria estar sentindo a cólera ferver dentro de mim agora mesmo.
— Violet, eu...
— Saia da minha casa!
Ele pega sua jaqueta na parte de trás da cadeira. — Com prazer. Se você quer continuar a mentir para si mesma, vá em frente.
Capítulo 25
Eu deixo a minha camisa em linha reta e passo minhas mãos pelo meu cabelo antes de bater na porta do escritório da Conselheira Starkweather. Havia uma carta dela no meu balcão nesta manhã solicitando minha presença em uma entrevista esta tarde. Eu sabia que Tora estava certa quando disse que me ofereceriam um emprego; Eu simplesmente não pensei que seria tão cedo. Tora me disse que seria apropriado usar um vestido para minha entrevista, mas depois das minhas experiências super-apertadas e super-volumosas na Corte Seelie, cansei de vestidos. Em vez disso, eu transformei uma camiseta simples e de mangas compridas em uma camisa com botões e um colar para combinar com a minha calça - e fiz um bom trabalho.
A Conselheira Starkweather faz uma pequena conversa sobre a minha visita a Corte Seelie por vários minutos antes de chegar ao motivo desta reunião. — O Conselho discutiu, e gostaríamos de lhe oferecer uma posição aqui na Guilda de Creepy Hollow. — Ela faz uma pausa, o que provavelmente significa que eu deveria dizer algo
— Tudo bem. Obrigada.
Ela cruza os braços em cima de sua mesa e se inclina para frente. — Você provavelmente está ciente de que geralmente damos aos graduados uma pausa mais longa após a formatura antes de lhes oferecer cargos na Guilda, mas com o ataque recente... Bem, precisamos de tantos guardiões quanto possível, assim que possamos consegui-los. Eu não quero alarmá-la, mas os Videntes estão recebendo dicas de uma grande batalha no nosso futuro. Ainda não há visões concretas e, como você sabe, essas coisas podem mudar, mas queremos que a Guilda esteja totalmente preparada no caso de um grande ataque.
— Eu entendo. — Eu poderia ter previsto isso, e não sou uma vidente. É óbvio que Zell está planejando algo, então faz sentido, haverá um grande confronto em algum momento. Guardiões contra... Bem, seja lá como for que Zell chama seus puxa-sacos. E quando isso acontecer, eu quero estar lá para chutar sua bunda Unseelie. E a de Nate, se ele se atrever a ficar contra a Guilda.
— Se você precisar de algum tempo para pensar nisso, — a Conselheira Starkweather diz, — Eu vou te dar três dias. Aqui está uma cópia do contrato. — Ela me entrega um pergaminho. — Dê uma boa olhada, e, se alguma coisa parecer obscura, me pergunte.
— Claro, tudo bem. — Pego o pergaminho dela e espero que ela me mande embora rapidamente. Estou ansiosa para sair daqui.
Meu pai está voltando para casa esta noite.
***
Eu limpo a casa. Não está exatamente suja, mas quero que esteja perfeita quando papai chega aqui. Na última vez que ele deixou esta casa, ele sabia que estaria enfrentando sua morte falsa. Ele achou que iria voltar? Ele olhou em volta e disse adeus? Ele de alguma forma se despediu de mim e eu nunca percebi?
Eu não sei que horas ele vai chegar, então, quando termino de arrumar e a escuridão começou a cair, eu recorro a passear ao redor da sala de estar. Eu ouço o vento levantar lá fora, as folhas se escovando uma contra a outra em uma dança irritada. Está estranhamente frio para uma noite de verão. Espero que outra tempestade mágica não esteja a caminho.
Quando eu ouço uma batida, quase caio sobre os móveis na minha pressa para chegar a parte de entrada da parede. Eu juro, se for alguém além do papai, não hesitarei em dizer para dar o fora. Passo a mão através da parede - e lá está ele. Ele está vestindo uma jaqueta com um capuz escondendo a metade do rosto, mas ainda posso ver que é ele.
— Não me abrace ou diga meu nome até a porta fechar, — ele murmura. Ele desliza rapidamente por mim, e eu não posso deixar de olhar para a escuridão enquanto agito minha mão para fechar a porta. Papai empurra o capuz e vira para mim. — Você nunca sabe quem pode estar observando. Faz anos, mas ainda gosto de ser cuidadoso.
— Hum, tudo bem. — Não posso acreditar que ele esteja realmente aqui. Em nossa casa. Eu quase posso imaginar que não passou muito tempo desde a última vez que ficamos aqui juntos.
Mas o tempo passou. Nós somos pessoas diferentes agora. E mesmo que eu tenha aguardado esse momento desde que eu disse adeus a ele na Corte Seelie, é um pouco estranho agora que ele está aqui.
— Isso parece bastante surreal, — papai diz calmamente, me observando.
— Sim. — Eu aceno com a cabeça. — Parece. — Então eu rio e dou um passo a frente para colocar meus braços em volta do pescoço dele. Claro que isso é estranho, mas a estranheza não durará muito.
Nós caminhamos para o sofá quando papai diz, — Tudo parece o mesmo aqui exceto você. Sempre que penso em você e imagino você em casa, vejo a menininha que deixei para trás. Mas essa não é mais você.
— Eu não era tão pequena. Eu tinha quatorze anos. — Nós nos sentamos. Deixo minhas pernas debaixo de mim, mas papai senta com as costas um pouco eretas para que ele se sinta confortável. Claramente isso é estranho para ele também.
— Mas você cresceu muito em quase quatro anos, — diz ele. — E falando em crescer, não esqueci que seu aniversário é daqui a três dias.
— Sim, acho que Tora e Raven estão planejando uma... — Minhas palavras são cortadas por outra batida contra a árvore. Papai se levanta rapidamente.
— Confira quem é, — diz ele. — Se for um dos seus amigos, posso voltar mais tarde.
Eu atravesso a sala sem me preocupar em dizer a ele que eu não tenho amigos. Eu crio um olho mágico, olho para fora e grito. — É Ryn. — Eu abro a porta. — Sim?
— Seu pai está aqui esta noite, — ele diz sem olhar para mim. — Eu vim ouvir o que ele tem a dizer.
— Ok, então, o que você está fazendo aqui? Você normalmente não se deixa entrar?
— Eu pensei que seria educado e fiquei lá fora e bati dessa vez. — Ele passa por mim em direção a sala.
— Tudo bem, mas a cortesia também exige que você espere até que alguém o convide — eu digo atrás dele.
— Tanto faz.
Quando volto para o sofá, Ryn está entregando um pequeno frasco a papai. — O que é isso? — Pergunto.
— Poção de compulsão, — responde Ryn. — Eu sei que você está tendo sua feliz reunião, mas pensei que deveríamos verificar se ele realmente é quem ele diz que é.
— Ryn! — Eu não acredito na sua coragem.
— Está tudo bem, V, — diz papai, abrindo a pequena tampa. Ele inclina a cabeça para trás e coloca algumas gotas na língua. Ele engole e estremece. — Ugh, isso é nojento quando não diluído.
Ryn toca o ombro de papai e diz o breve feitiço de compulsão, seguido de “Você vai dizer a verdade”. Em seguida, ele toma um assento no sofá em frente a nós.
— Agora que isso está fora do caminho, — diz papai, — você vai me dizer o que você quis dizer na outra noite quando disse que já estava ‘envolvida’ com Marzell?
— Ok. — Estou ansiosa para ouvir a história de papai, então vou encurtar a minha. — Aqui vai resumido: Zell me quer por causa do meu poder de encontrar pessoas.
— Mas como ele descobriu que você tem esse poder? Você manteve segredo, não é?
— Sim, mas ele tem um espião na Guilda, e esse espião de alguma forma ouviu falar sobre um guardião com minha habilidade. Zell realmente não descobriu que era eu até que Nate lhe contou.
— Nate?
— Hum, um halfling que eu estava meio que namorando. Zell conseguiu convencê-lo a se voltar contra mim, e não percebi até que fosse tarde demais.
— Entendo.
Ótimo. Papai está em casa por cinco minutos e já consegui decepcioná-lo com minha pobre escolha de namorados. — Sim, então, de qualquer maneira... Eu lutei contra Zell algumas vezes e, obviamente, consegui fugir todas as vezes.
As sobrancelhas do papai arqueiam. — Uau. Você realmente lutou contra ele? Isso é impressionante.
Eu encolho os ombros, como se lutar contra o Príncipe Unseelie não fosse uma grande coisa, mas não posso evitar o sorriso que se espalha no meu rosto.
— Ok, então Zell ameaçou a sua vida há quatro anos por minha causa, — diz papai, — e agora ele está atrás de você novamente por uma razão diferente. Ele provavelmente não tem ideia de que você é a mesma pessoa.
— Bem, ele sabe meu nome completo, então ele provavelmente sabe quem eu sou.
— Mas ele nunca soube meu nome verdadeiro. Trabalhamos com nomes em códigos para a maioria de nossas tarefas. Eu duvido que ele conecte seu nome ao meu.
— Oh. Ok. — Quando papai não faz mais perguntas, eu digo, — Então, você está pronto para me contar tudo agora? A grande razão por trás do motivo pelo qual você teve que fingir sua própria morte e me abandonar? — Eu retiro uma almofada das minhas costas e a abraço. — Ah, e eu também quero saber sobre Angelica.
Ele olha. — Como... como você sabe sobre Angelica?
— Bem, o cara que eu namorava - Nate - é o filho dela.
As sobrancelhas do pai arqueiam, enquanto ele se senta para frente. — Angelica tem um filho? E você namorou com ele?
— Sim. — Abraço a almofada um pouco mais apertada. — Há algo de errado com isso?
— Na verdade não. — Ele esfregou uma mão em seus olhos. — É estranho, só isso. Eu não sabia que ela tinha um filho.
— Sim. De qualquer forma, eu só a conheci uma vez, mas deixou claro que ela odiava você e a mamãe, e eu quero saber por quê. Eu já imaginei vocês como rivais formandos, mas seus sentimentos pareciam um pouco intensos demais para isso.
Papai balança a cabeça e solta um longo suspiro. — Nós não éramos rivais, V. Angélica era a melhor amiga de sua mãe.
Capítulo 26
Minha boca está aberta. Angelica era a melhor amiga de minha mãe? Mais uma vez, parece que tenho que ajustar a imagem que tenho na minha cabeça da vida de meus pais. — Mas... Eu pensei que Zinnia era a melhor amiga da minha mãe. E você e Linden eram amigos. Vocês todos treinaram juntos, e depois trabalharam juntos, e então tiveram bebês, e tudo estava bem até o dia em que Reed morreu.
Papai suspira novamente. Tenho a sensação de que essa conversa estará cheia de suspiros. — Você deve saber agora que a vida nunca é tão simples, V. Quero dizer, sim, tudo isso é verdade. Mas Angelica estava lá também, e ela fez a vida muito mais... — Ele ergueu as mãos. — Eu prometo que vou explicar tudo para você desde o início, mas primeiro diga onde a conheceu e o que ela disse para você.
— Bem, foi um pouco estranho, na verdade.
— Labirinto estranho? — Diz papai com um olhar de que sabe.
— Sim. Você sabe sobre o labirinto?
— Eu queria não saber, mas sim.
E a imagem continua sendo reajustada. — Ok, bem, Nate e eu fomos lá para encontrar Angelica. Ela nos contou que uma faerie Unseelie tinha construído o labirinto e a aprisionou lá porque ela se recusou a dar-lhe um poder que ela tinha... um disco.
— Com um símbolo de serpente-grifo nele?
— Sim. Ela explicou que pertencia ao poderoso halfling Tharros. Aparentemente, enquanto ele ainda estava vivo, e transferiu parte de seu poder para vários objetos, de modo que, se ele ficasse sem magia, ele teria outras fontes de poder de onde retirar. Ela nos disse que precisávamos voltar para sua casa no reino humano — onde Nate morava — e trazer o disco para que ela pudesse usá-lo para sair. Nós não fizemos isso, é claro. Mas antes de podermos sair, ela me reconheceu. Ela e eu lutamos, e Nate e eu conseguimos sair vivos.
— Você ainda tem este disco? — Papai está sentado na borda do sofá novamente.
— Hum, não. Nate o roubou. Eu acho que ele levou direito para Zell, que parece ter mais alguns destes discos. Angelica fez parecer que havia apenas um.
— Zell tem mais discos? — Papai fecha os olhos e balança a cabeça. — Ele deve ter pegado de Angie, — ele murmura. — E aqui estava eu torcendo para que ele nunca a encontrasse. Maldição, esta é uma má notícia.
Espero ele continuar, mas ele não continua. Ele parece estar pensando profundamente, e eu não quero interrompê-lo, mas quero entender por que essas são más notícias. — Papai? — Eu incito.
Ele respira fundo e olha para mim, como se de repente se lembrasse de que eu estou na sala. — Bem, Angelica certamente conseguiu tecer muitas mentiras por uma pequena quantidade de verdade.
— Eu acho que estava certa em não confiar nela, — eu digo.
Papai balançou a cabeça. — Tudo bem, isso tudo terá mais sentido se eu começar no começo. — Ele muda para uma posição mais confortável enquanto eu cruzo minhas pernas embaixo de mim no sofá.
— Eu não perdi nada importante, não é? — Ryn pergunta. Olho para vê-lo sair da cozinha com três canecas flutuando no ar na frente dele. Eu nem me lembro dele sair da sala. — Como nenhum de vocês ofereceu bebidas, pensei que seria o anfitrião esta noite. — Ele dirige as canecas sobre a mesa e senta-se.
— Obrigado, Ryn — papai diz.
— Hum, obrigada. — Eu me sinto apenas agradecida, no entanto. Eu deveria ter oferecido uma bebida para o papai. Eu pego minha caneca e espio o que tem dentro: chocolate quente com mini marshmallows rosa flutuando na superfície e uma nuvem de canela rodopiante acima dela. Minha bebida favorita de todos os tempos. Eu solto um suspiro. Ryn está agindo perfeitamente e isso está me irritando.
— Então, — diz papai, — havia cinco de nós. Rose e Zinnia eram melhores amigas desde que eram pequenas. Linden e eu crescemos um ao lado do outro, então também éramos amigos próximos. Nós quatro nos conhecemos quando começamos nosso treinamento na Guilda. Foi quando Angelica se mudou para Creepy Hollow e se juntou a nossa turma. Em breve, nós cinco éramos inseparáveis. Nós nos sentávamos juntos nas aulas, implorávamos para ser colocados nos mesmos grupos de tarefas e, bem, sendo jovens, também fazíamos traquinagens juntos.
— Em nosso terceiro ano, as meninas desafiaram que Linden e eu fossemos ao Subterrâneo, o que era praticamente proibido pela Guilda. Como você sabe, Subterrâneos nunca foram fãs de guardiões ou formandos. Eles geralmente atacam primeiro e fazem perguntas depois. Mas éramos corajosos e estúpidos, então é claro que aceitamos o desafio. Angie disse que devíamos roubar algo e trazê-lo de volta para provar que tínhamos estado lá. Então entramos na casa do antigo centauro e encontramos um disco de metal com um símbolo de serpente-grifo gravado nele. Rose reconheceu o símbolo de um livro que ela tinha visto no escritório do seu mentor, então ela perguntou a ele sobre isso.
— Ele era um faerie muito antigo, em seu sexto século, eu acho. Ele contou a Rose sobre o poderoso halfling Tharros Mizreth e a lenda de seu poder perdido. Estas eram histórias que lhe tinham sido ditas por seus pais, que eram guardiões na época em que Tharros foi derrotado.
— O poder de Tharros era tão grande que ele era quase impossível de matar. Ele tinha que se separar do poder, e só então ele poderia ser morto e seu poder destruído de forma independente. Algum tipo de arma foi construída para fazer isso. Depois de muita luta e morte, os melhores guardiões de todas as Guildas conseguiram prender Tharros e separá-lo de seu poder. Eles o mataram. A maioria das pessoas pensou que era o fim, mas apenas os envolvidos diretamente sabiam que os guardiões não conseguiram destruir o poder de Tharros. Em vez disso, eles o capturaram dentro de algum tipo de caixa. Eles trancaram a caixa com seis chaves diferentes - os discos com o grifo neles - um para fechar cada lado da caixa. No processo de vedação da caixa, parte da energia foi transferida para cada disco. Os discos foram espalhados por todo o mundo, escondidos por pessoas que deveriam mantê-los seguros.
— Mas os detentores dos discos logo descobriram que, mantendo os discos com eles, eles tinham acesso a um poder extra. Isso, é claro, não pode ser mantido em segredo. Então, os discos foram roubados, repetidas vezes ao longo dos séculos. Eles ficaram tão dispersos que era impossível para qualquer pessoa saber onde estavam todos os discos. E isso é o que manteve o cofre de segurança seguro durante todos esses anos.
— E o mentor da minha mãe apenas contou tudo isso? — Pergunto. — Parece que era para ser um segredo.
— Parece que ele pensou que era apenas uma lenda. Nós, por outro lado, soubemos que era verdade por causa do disco que encontramos.
— E ela não contou a seu mentor sobre o disco? — Ryn pergunta.
— Não. Nós mantivemos essa parte para nós mesmos - e então tomamos uma decisão que resultaria em um grande erro. — Ele faz uma pausa para soltar outro suspiro. — Nós decidimos ir em busca dos outros cinco discos.
— Os cinco discos que poderiam estar em qualquer parte do mundo? — Pergunta Ryn.
— Sim. Nós decidimos que queríamos usar o poder de Tharros. Nós planejamos desbloquear a caixa, compartilhar o poder igualmente entre nós, e nós seríamos os melhores guardiões que qualquer Guilda já viu. Poderíamos vencer qualquer forma de maldade. Creepy Hollow e o reino humano estariam mais seguros do que nunca, porque usaríamos o tremendo poder de Tharros para o bem e não para o mal. Nós fizemos muita leitura, explorando e seguindo rumores, mas demorou muito tempo. Cerca de dez anos depois, estávamos todos possuindo um disco. Naquela época, todos trabalhavam para a Guilda. Rose e eu formamos a nossa união, assim como os seus pais. — Papai balançou a cabeça em direção a Ryn.
— Isso deve ter deixado Angelica sentindo-se um pouco deixada de fora, — eu digo.
— Sim. Ela se sentiu. Especialmente por que ela sempre... Bem, teve alguns sentimentos por mim. — O pai arranha a cabeça, parecendo um pouco estranho quando admite isso. — De qualquer forma, todos nós estávamos trabalhando na Guilda por pouco mais de uma década, quando Angie começou a ficar bastante distante. Ela sempre procurou o sexto disco sem nós. Você vê, nossas prioridades estavam mudando. Linden e Zin tinham Reed até então. Rose e eu estávamos pensando em ter um filho. Angie, no entanto, estava cada vez mais focada em encontrar o último disco e desbloquear a caixa. O resto de nós estava começando a ter sentimentos mistos. Os discos... Bem, é difícil explicar, mas depois de anos de uso, começamos a nos sentir diferentes. Ranzinzas, mais irritados, menos compassivos para com aqueles que devíamos proteger. Foi Rose quem fez a ligação aos discos. Ela pensou que eles deveriam ter muita influência perversa neles. Então nós quatro decidimos que seria melhor esquecer de ir procurar a caixa. Também era, você sabe, errado seguir o poder que nossos antepassados ??tentaram tanto destruir. Foi errado que agíssemos como se estivéssemos acima da Lei.
— Quando contamos a Angie o que decidimos, ela ficou furiosa. Ela disse que era por isso que ela trabalhava há anos, e nós estávamos destruindo seus sonhos. Não foi muito tempo depois de nosso confronto que ela deixou o serviço da Guilda e quebrou todo o contato com a gente. Não tínhamos ideia de onde ela tinha ido. Eu nem sabia por onde começar a procurar.
— A família dela não sabia nada? — Ryn pergunta.
— Você vai pensar que isso parece estranho, — diz papai, esfregando a mão na parte de trás do pescoço dele, — mas nenhum de nós realmente sabia onde ela morava. Ela sempre foi secreta sobre sua família e sua vida privada, desde o dia em que a conhecemos. Ela nunca respondia a nenhuma das nossas perguntas sobre sua vida em casa, então, finalmente, paramos de perguntar. Ela era assim, e nós aceitamos isso.
— Você acha que ela tinha vergonha da sua família? — Pergunto. — Tipo, eles eram realmente pobres ou algo assim?
— Se ela tinha vergonha, não era porque eles eram pobres. Angie sempre teve o melhor de tudo. — Papai toma um gole da caneca e devolve para a mesa. — De qualquer forma, onde eu estava?
— Angelica desapareceu.
— Sim. Então, o tempo passou. Zin e Linden tiveram Ryn. Pouco depois, você chegou, V. Nós estávamos todos presos em nossas vidas melodiosas e perfeitas, e foi aí que nossos discos começaram a desaparecer. Não estávamos usando continuamente, apenas para alguma tarefa ocasionalmente desafiadora. Então ficavam ocultos a maior parte do tempo. O de Rose desapareceu primeiro, depois o meu. Quando o de Zinnia desapareceu, percebemos que era Angelica pegando-os. Ela deixou cair um brinco ou algo assim no armário de Zinnia. E, para ser sincero, já suspeitávamos que fosse ela.
— Então Linden escondeu o dele em outro lugar, e, por um tempo, não vimos e nem não ouvimos nada de Angelica. Então, uma noite, quando estava sozinho em casa, um elfo bateu na nossa árvore e me entregou uma nota. Era de Angie, implorando por minha ajuda. A nota não dizia nada além de ir com o elfo. Em vez de ir sozinho, levei Linden comigo. Nós não dissemos a Rose ou Zin.
— O elfo nos conduziu pelo Subterrâneo e pelos túneis que mais tarde descobrimos ser um labirinto. Encontramos Angie em uma câmara no centro, incapaz de sair. E não era que alguém a tivesse prendido lá embaixo, como ela lhe disse; ela se aprisionou lá embaixo. Acidentalmente, é claro. Ela finalmente encontrou a localização da caixa com o poder de Tharros e a roubou. Mas ela precisava de algum lugar para mantê-lo seguro até que ela pudesse juntar todos os discos para desbloquear. Então ela construiu o próprio labirinto. Ela tentou colocar um feitiço complexo na câmara para evitar que alguém removesse a caixa. Em vez disso, ela impediu-se de sair.
— Bem, isso deve ser uma droga, — eu digo. — E ela obviamente queria que vocês a tirassem de lá.
— Sim. Ela queria. E nós... — Papai pendura a cabeça e geme. — Nós a deixamos lá.
— O quê? — Ryn diz. — Você e meu pai apenas... A deixaram lá?
— Não estou orgulhoso da decisão que tomamos. Mas conseguimos nos convencer de que era a melhor coisa a fazer. A caixa estava escondida no labirinto onde ninguém mais acharia. Angie estava presa lá sem nenhum de seus discos, então ela nunca conseguiria abrir. Com a parte do andar de cima que ela construiu para si mesma, e as criaturas que atravessavam o labirinto prontos para oferecer seu lance, dissemos a nós mesmos que era melhor do que o castigo que ela receberia se a entregássemos à Guilda.
— Nós nunca contamos a Rose ou Zinnia. Continuamos com nossas vidas. — Papai respira com mais força. — Rose foi morta em uma de suas tarefas. Reed teve seu terrível acidente. Linden finalmente decidiu deixar a Guilda e sua família. — Ryn se move em sua cadeira, mas não diz nada. — Com meu parceiro morto, eu me ofereci para uma tarefa secreta procurando pelas atividades de um dos Príncipes Unseelie.
— Zell, — eu murmuro.
— Sim. No começo, trabalhei sozinho, mas, como ficou claro, o príncipe planejava algo grande e de longo prazo, outros responsáveis tornaram-se parte da investigação. Você se lembra da sua amiga Cecy?
— Sim, — eu digo.
— Seu pai e eu conseguimos nos infiltrar no círculo mais próximo de amigos de Zell. Aprendemos muito sobre ele. Seu relacionamento com sua mãe sempre foi instável; eles nunca se viram como iguais. Ele sempre sentiu que faria um reino melhor, mas, infelizmente para ele, ele é o último na fila para o trono. E infelizmente para nós, depois de vários meses de estar dentro, Zell descobriu que éramos guardiões.
— Nós dois nos afastamos dele, mas, em retaliação, Zell foi atrás de nossas famílias. Cecy quase foi morta, salva apenas pelo fato de que sua babá naquele dia também era uma guardiã habilidosa. Seus pais tomaram uma decisão imediata de deixar a Guilda e fugir. Eu pensei em fazer o mesmo, mas eu estava determinado demais a pegar Zell para admitir derrota. Parecia que a única maneira de fazer isso e protegê-la era se ele achasse que eu estava morto e já não era uma ameaça para ele.
— Até esse momento, eu estava relatando diretamente à Rainha. Planejamos a minha morte juntos. Eu pensei que faríamos parecer que meu corpo havia sido destruído, mas ela disse que seria uma morte muito suspeita. Então ela encontrou um criminoso metamorfo e o usou em vez disso. — Papai se inclina para frente e envolve suas mãos ao redor da caneca. — E, bem, isso é realmente tudo o que há até agora. Eu sempre vivi no palácio e continuo minha investigação sobre as atividades de Zell. Eu sei que ele está planejando tentar assumir a Corte Unseelie, e possivelmente a Corte Seelie e as Guildas. Eu sei que ele está coletando um exército de faeries com poderes especiais, embora ele ainda não possa controlá-los. E eu também sei que ele está planejando pegar todos os seis discos grifo e destravar a caixa para tomar o poder de Tharros para si mesmo. O que eu não sei é para quando ele está planejando sua grande jogada.
— Eu acho que ele está esperando até que ele tenha todos os seis discos, — digo. — Ele já tem quatro, os quatro que Angelica conseguiu colecionar antes de se prender, então agora ele só precisa se apoderar do de Linden e do sexto que vocês nunca encontraram.
— Vou contatar meu pai e dizer-lhe para garantir que o seu esteja bem escondido, — diz Ryn.
Papai balança a cabeça. — Ele vai querer saber como você sabe sobre isso. Em vez disso, não diga nada. Eu confio que ele o escondeu bem.
Coloco minha caneca vazia sobre a mesa, pois algo me ocorre. — Pai, como você continuou sua investigação se Zell sabe como você parece?
— Só porque somos todos faeries e não podemos usar glamour um com os outros, não significa que não haja outras formas de nos disfarçar. — Ele mexe as sobrancelhas para mim do jeito que ele fazia quando eu era pequena. — Tive que ser bastante criativo às vezes.
— Eu queria ter visto isso, — digo com uma risada.
Ryn ergue-se e manda as canecas de volta para a cozinha com um aceno de mão. — Eu tenho que ir agora. Vocês provavelmente têm alguns assuntos para resolver que não me envolvem.
— Sim, — eu digo antes que papai possa convidar Ryn para ficar mais tempo. — Vejo você por aí. — Depois de tempo o suficiente para que as coisas não sejam mais estranhas entre nós.
Quando a porta desapareceu atrás de Ryn, eu faço uma pergunta para papai, uma para a qual que eu provavelmente conheço a resposta. — Você poderá visitar novamente?
Ele hesita antes de responder, o que não é um bom sinal. — Para ser sincero, será muito difícil. Mas eu prometo que vou tentar.
— Ok. Você ficará com problemas se a Rainha descobrir que você veio aqui?
— Oh, ela já sabe. Eu contei a ela o que aconteceu na Corte Seelie. Ela não ficou muito feliz por nos encontrarmos, mas como você e Ryn agora são guardiões e não apenas crianças pequenas, ela acredita que pode confiar em você. E não é como se ela realmente tivesse uma escolha; ela tem que confiar em você agora que você sabe.
Eu toco a borda da almofada no meu colo. — Eu não acho que fiz uma boa primeira impressão com ela.
Papai inclina a cabeça para o lado. — Você obviamente fez algum tipo de impressão. Eu acredito que as palavras exatas para mim foram: ‘Essa filha sua tem exatamente a mesma coragem que a mãe dela tinha.’
— Coragem. Uau. Isso é um elogio, certo?
Papai ri. — Eu acho que sim. — Ele abre as mãos. — Então, o que mais você quer falar antes de eu ir embora?
Capítulo 27
Meu aniversário é amanhã.
Nunca fui boa em celebrar esse evento anual; não é tão divertido quando você não tem muitos amigos ou familiares com quem se divertir, e é apenas mais um dia, na verdade. Faeries têm centenas de aniversários — assumindo que nossas vidas não serão apagadas antecipadamente por alguma criatura magia ameaçadora — então por que fazer uma grande coisa a cada ano? Apesar de ter explicado isso a Tora várias vezes, eu sei que ela está planejando algo para amanhã à noite. Eu me pergunto se ela vai convidar Ryn. Estou dividida entre querer estar perto dele e não querer enfrentar a estranheza entre nós.
Nos últimos dois dias, passei a maioria dos momentos acordada reproduzindo a conversa que papai e eu tivemos na noite em que ele veio. Ainda estou impressionada com o fato dele aqui na casa, sentado no nosso sofá e bebendo de uma de nossas canecas, como se nada tivesse mudado. Tentei não chorar quando ele foi embora; eu quase consegui.
O resto de meus momentos acordados são gastos tentando não reproduzir O beijo. Isso leva muito esforço, o que significa que não há momentos acordadas para descobrir se eu deveria aceitar a oferta de emprego da Guilda. Estou esperando que meu cérebro esteja descobrindo enquanto eu estou dormindo, porque tenho que dar uma resposta a Conselheira Starkweather amanhã.
Porque não tenho mais nada a fazer, uso o feitiço de redes sociais que Ryn me ensinou e verifico as atualizações aleatórias das poucas pessoas que parece que eu estou ‘seguindo’. Me irrita que eu sinta um tipo de decepção estranha quando vejo que não há atualizações de Ryn. Eu considero escrever algo na bolha em branco no fundo da superfície retangular do meu âmbar, mas o que eu escreveria?
Aniversários são chatos.
Não sei o que fazer com o resto da minha vida agora que me formei.
Meu pai fingiu sua própria morte e na verdade está vivo.
Não. Nada disso parece ser uma boa opção. Então, mais uma vez, eu encerro o feitiço sem ter escrito nada. Eu vou ao armário de estudo e retiro uma caixa de Card Eaters. Eu não jogo há anos, mas ver Ryn e Calla jogando recentemente me lembrou que pode ser um pouco divertido de sua própria maneira simples.
— Filigree, — chamo quando volto para a sala de estar. Ele vem escorregando pelas escadas sob a forma de uma pantera. — Quer jogar cartas? — Seguro a caixa. Ele senta-se ao lado da mesa baixa e enrola sua cauda nas pernas. Ele pisca com expectativa. — Ótimo, — eu digo. Eu me sento no chão do outro lado da mesa e lanço as cartas entre nós. Filigree cutuca sua pilha de cartas com uma de suas patas. — Sim, ok, você sabe que isso não vai funcionar, certo? Você precisa mudar para outra coisa. — Filigree mexe uma orelha, depois muda para uma forma alaranjada e peluda que acaba por ser um orangotango. Ele pega suas cartas. — Ok, você vai primeiro, — eu digo a ele.
Uma hora depois, Filigree está ganhando. Eu sei que em parte é sorte e o fato de ele ter obtido cartas mais fortes, mas ainda é embaraçoso. Olho as quatro cartas na minha mão. Eu tenho musgo – a segunda carta mais fraca do jogo inteiro – um pixie, um pedregulho e um ogro, que é a única carta que posso jogar agora. Eu olho para as mãos peludas de Filigree; ele tem apenas duas cartas, e provavelmente são mais fortes do que qualquer coisa que eu tenho. Ele tem quase certeza de que vai ganhar. Estou prestes a colocar minha carta de ogro em cima da de troll dele, quando ouço uma batida contra a árvore.
Poderia ser papai?
Não. O sol apenas começou a ir embora. Tenho certeza de que ele esperaria pela escuridão antes de voltar a visitar. Mas, enquanto ando em direção à parede, não posso evitar a energia nervosa me percorrendo. Pode ser ele. Afinal, é meu aniversário amanhã.
Passo minha mão pela parede e... é Ryn.
Ótimo.
— Meu, hum, parente há muito tempo sumido não está aqui esta noite, então, a menos que você esteja aqui para visitar Filigree, não há mais ninguém nesta casa que queira te ver.
Ele inclina a cabeça para o lado. — Por que você está nervosa?
Coloco minhas mãos nos meus quadris. — Não há como você desligar isso? Porque realmente não aprecio que você saiba exatamente o que estou sentindo.
— Não. Confie em mim, se houvesse uma maneira de desligar, eu já teria encontrado.
Ele parece segurar algo atrás de suas costas, o que o torna suspeito. — Você vai me dizer por que está aqui?
— Você vai me convidar para entrar?
Não faço nenhum movimento para me afastar para o lado.
— Tudo bem, — diz ele. — é seu aniversário amanhã. Eu gostaria de lhe dar uma coisa.
— Você já me deu alguma coisa, — eu o lembro. — Novo âmbar e um encanto caro.
— Ok, bem, agora tenho outra coisa para lhe dar. E, — ele acrescenta, — é grosseria recusar um presente.
— E, no entanto, ambos sabemos que grosseria nunca foi um problema quando nos diz respeito.
Ele olha para os pés, então de novo. — Por favor? — Ele diz suavemente.
Droga. Ele certamente sabe como fazer a coisa dos olhos sexy e ardentes; ele provavelmente poderia acender um fogo com o olhar que ele atualmente está me dando. E ele sabe, droga, porque eu aposto que ele pode sentir meu interior se derreter. Limpo minha garganta. — Hum, ok, entre.
— Na verdade, eu não quero dar a você aqui. Gostaria que você fosse a um lugar comigo.
Eu estreito meus olhos para ele. — Isso tem algo a ver com a festa que Tora e Raven estão planejando? Porque eu pensei que fosse amanhã.
— Sim. E já que você não gosta de surpresas, eu digo a você exatamente a que horas e quem irá se você me seguir agora.
— Você está sendo estranho.
— E eu vou ficar ainda mais estranho e ficar de joelhos e implorar, se eu tiver que fazer. Já fiz isso antes, lembra?
Eu lembro, e eu realmente não preciso que ele vá tão longe dessa vez. — Tudo bem, eu vou com você. Apenas deixe-me pegar minhas botas.
— E uma jaqueta, — Ryn fala atrás de mim. — Você pode ficar com frio.
Pego minhas coisas e peço desculpas para Filigree no caminho de volta na escada. — Nós podemos terminar mais tarde, — eu digo a ele, esperando que ele já tenha esquecido o jogo até então.
Eu fecho a minha árvore. — Onde estamos indo?
— Você verá. — Ryn pega minha mão quando atravessamos a porta que ele abriu. Nós não estamos na escuridão por muito tempo, mas tudo o que posso pensar é o que aconteceu na última vez em que ficamos presos na completa escuridão um com o outro. Quando a luz se materializa à nossa frente, eu solto sua mão. Nós caminhamos para o abrigo frondoso da nossa antiga árvore gargan. É lindo aqui com a luz vermelha, dourada e laranja do pôr-do-sol, espiando pelos galhos.
— Você se lembra daquele poema de Mil Crowthorn sobre as riquezas da natureza? — Eu digo quando olho para o céu.
— ‘Dê-me o pôr-do-sol, e eu serei um homem mais rico do que a maioria. Pois nunca vi ouro como aquele que brilha acima da terra. Dê-me o céu noturno, e eu serei o homem mais rico com certeza. Pois nunca vi diamantes como aqueles que dançam ao lado da lua’.
— Sim, é assim que eu me sinto, — murmuro. — Não preciso de mais nada no meu aniversário do que esse céu.
— Talvez apenas isso, — diz Ryn, me presenteando com um pequeno pacote embrulhado de seda.
Eu solto o fio de prata e seguro o pacote na minha mão quando as camadas de seda caem. Colocado no centro estão às fitas coloridas que encontrei no esconderijo da minha mãe, mas, em vez de um monte bagunçado, elas foram transformadas em uma pulseira. As fitas ficam perfeitamente alinhadas, mantidas presas por cada extremidade com um cordão de prata. As extremidades soltas que ficarão penduradas no meu braço quando estiver usando a pulseira têm um pequeno cristal preso ao fim.
— As fitas pareciam tão bonitas em seu braço, — diz Ryn. — Então eu as levei para Raven e pedi a ela que as transformassem em um bracelete. — Ele tira da minha mão e coloco ao redor do meu pulso. Os cristais brilham conforme a luz pega neles.
— Eu provavelmente devia ficar assustada que você entrou na minha casa e roubou as fitas, — eu digo, — mas é tão bonito que eu vou te perdoar pelo seu furto.
— Então, você gostou?
Olho para Ryn e vejo uma expressão desconhecida: incerteza. Eu sorrio para tranquilizá-lo. — Eu amei. — O sorriso de resposta que se espalha no seu rosto faz a mesma coisa no meu estômago que seus olhos ardentes fizeram agora pouco.
Parece que ele está prestes a dizer alguma coisa, mas então ele enfia a mão abruptamente no bolso. Ele puxa o âmbar e lê uma mensagem. Quando ele guarda o âmbar, ele diz, — Se você não se importa, eu gostaria de levá-la para outro lugar agora.
— Hum, tudo bem. Mas é melhor que isso não seja um estratagema para me levar a um encontro com você.
— Não é nada disso, — ele diz, e meu estômago enche de nós. Ele se inclina mais perto do meu ouvido e sussurra, — É muito maior do que isso.
O quê?
Ele passa por mim, e eu me viro para vê-lo cumprimentar um faerie de pele cor de azeitona e cabelo verde ? ele é uma faerie? ? que não estava aqui há um momento atrás. Embaixo do seu braço está uma forma cilíndrica grande que parece ser um tapete enrolado. Ele entrega a Ryn, eles trocam algumas palavras em voz baixa, e o homem escorrega entre os galhos.
— Aqui vamos nós, — diz Ryn. Ele coloca o formato enrolado no chão, agarra uma extremidade, abre e flutua no ar.
— O que... o que é isso?
— Exatamente como se parece: um tapete mágico.
De. Jeito. Nenhum. — Mas... não existem tapetes mágicos.
— E, no entanto, — diz Ryn, — há um flutuando aqui mesmo na sua frente. Esquisito, não é? — Ele sobe sobre ele e estende a mão para mim.
— Eu... Não sei se confio nessa coisa.
— É perfeitamente seguro. Eu fiz algumas leituras sobre o assunto. Acontece que houve alguns grandes avanços na magia de tapete nos últimos anos. Eles não expulsam mais as pessoas.
Meus olhos se arregalam. Isso deveria me fazer sentir melhor?
— E adivinhe o quê? — Ryn continua. — Você é uma faerie, o que significa que se este tapete decidir expulsa-la, você pode retardar facilmente sua queda com magia.
— Eu... — Ele tem razão. — Ok. — Pego sua mão estendida, e ele me puxa para cima. Eu me abaixo, espalhando meus braços para me equilibrar.
Ryn senta-se, cruza as pernas e volta para os dois cantos do tapete atrás dele. O tapete sobe mais alto, e Ryn nos guia entre os galhos. Mais alto e mais alto. E então, com uma explosão de velocidade que me faz cair de bunda, disparamos acima dos galhos mais altos da floresta. Abaixo de nós, as milhares de árvores que compõem Creepy Hollow se estendem em todas as direções.
Tudo o que posso fazer é olhar com admiração.
— É incrível, não é? — Diz Ryn. O tapete diminui, e ele levanta com cuidado. — Você deve se levantar. É mais emocionante. — Ele estende a mão para mim mais uma vez. — Eu sei como você gosta de emoção.
Eu gosto, mas todas as emoções que eu costumo ter ao lutar contra criaturas perigosas são realizar acrobacias difíceis, como mortal para trás várias vezes e aterrissar em uma viga estreita. Este é um tipo de emoção completamente diferente. Coloco minha mão na dele e o deixo me puxar para cima. O tapete ondula lentamente sob meus pés, o que é um pouco assustador, mas eu sou uma guardiã; tenho um bom equilíbrio.
Eu me afasto de Ryn e olho para a maravilhosidade que é minha casa. O sol mergulhou abaixo no horizonte, deixando salpicos de rosa, roxo e azul através do céu. As primeiras estrelas estão espreitando. Observamos em silêncio enquanto o tapete continua sua jornada lenta pelo ar. Uma brisa suave move meu cabelo. O céu fica mais escuro. Mais estrelas começam a piscar.
— Eu tenho mais uma surpresa para você, — diz Ryn suavemente. Quando suas mãos se movem em meu rosto para cobrir meus olhos, eu me inclino ligeiramente, mas não me afasto. Ele começa a cantar palavras para um feitiço que eu não reconheço. É algum tipo de clamor, quase como uma música. Continua por vários minutos, e me encontro em um lugar de paz e calma. Antes que eu saiba, minhas costas estão descansando contra seu peito. Sinto-o inclinar a cabeça para mais perto da minha orelha. — Você disse que não havia nada que eu pudesse dizer ou fazer para convencê-la de que meus sentimentos por você são reais e duradouros, — ele sussurra. — Bem, claro que eu tomei isso como um desafio, e já que, aparentemente, levará as pontas brilhantes de um gazilhão de insetos brilhantes para provar a você, aqui estão eles.
O calor de suas mãos desaparece dos meus olhos. Eu os abro, e...
Uau.
Milhares e milhares de insetos brilhantes estão flutuando no ar, como se cada galáxia na criação fosse chamada aqui para nos iluminar. É... Eu acho que não existem palavras para descrever a beleza desse momento ou a sensação de admiração que me comove.
Mas há cordas prendendo este momento. Eu sei o que Ryn está tentando me dizer. Eu sei o que ele quer de mim. E mesmo que isso seja mais surpreendente do que qualquer coisa que alguém já fez por mim, meu coração teimoso ainda não quer sair do seu lugar seguro. Eu preferiria aproveitar esse momento e capturá-lo dentro de uma bola de cristal para mantê-lo todo perfeito para sempre do que contaminá-lo com as complicações que um relacionamento traria.
— Isso é incrível, Ryn. É mesmo. Mas...
— Não. — Ele me revira. — Sem desculpas. Você acha que eu vou te machucar? Você acha que vou ficar entediado e fugir com alguma Subterrânea na primeira chance que eu tiver? Você obviamente não tem ideia do quão incrível você é. Você, Violet Fairdale, é incrível, e eu quero você. Cada parte de você. Eu quero sua teimosia e seu sarcasmo e seu espírito competitivo. Eu quero você me desafiando e lutando ao meu lado. Eu quero abraçá-la e beijá-la e muito mais porque não há mais ninguém no mundo que me conhece como você. Você sempre foi a única para mim, mesmo quando não nos aguentávamos. Você é linda, gostosa e sexy tudo de uma só vez, e você é mais inteligente do que qualquer garota que conheci. Adoro o fato de ter conhecido você por toda a minha vida. Parece certo quando você está ao meu lado. Parece que fiquei perdido no deserto há anos e... Eu finalmente estou em casa.
Eu finalmente estou em casa. Eu sei como isso parece. Na verdade, eu sei como ele se sente. Eu sempre estive muito aterrorizada para colocar isso em palavras.
— Pare de estar tão assustada, V! — Ryn agarra meus ombros e os agita. — Você é uma das pessoas mais corajosas que conheço. Por que você não pode deixar esse medo?
Eu finalmente estou em casa. Por que eu gostaria de mandá-lo de volta ao deserto? Eu estaria me protegendo, mas o machucando. Por que isso não me ocorreu antes? Eu pensei que eu era a única que poderia se machucar, mas nunca percebi que sua casa era a mesma que minha casa, e mandá-lo para longe é apenas machucá-lo.
— Por favor, diga algo, V.
Casa. Eu quero estar lá, com ele. Nenhum de nós irá sofrer mais.
— Violet, por favor. Diga algo! Eu juro que você vai quebrar meu coração se você não...
Eu o beijo. Me pressiono contra ele como se eu nunca quisesse me separar dele. Meus braços se entrelaçam ao redor de seu pescoço. Perdemos nosso equilíbrio e caímos no tapete ondulando preguiçosamente. Eu o empurro para baixo e monto na sua cintura. Inclino-me sobre ele. Beijo seu pescoço antes de traçar o esboço de seus lábios com a minha língua. Ele geme e me aproxima. Suas mãos encontram o caminho pelas minhas costas e para o meu cabelo. Ele puxa meu rosto para baixo para encontrar seu beijo. As faíscas dançam na minha língua e, em qualquer outro lugar que a sua pele toca a minha, o que não parece como lugares suficientes. Toda a floresta poderia entrar em chamas agora mesmo, e eu não notaria.
Isso é tudo o que eu quero. Ele. Todo ele.
Capítulo 28
Ryn me rola para o meu lado para que ele esteja a meu lado. — Ok. — Ele beija meu queixo. — Você não precisa dizer nada. — Outro beijo no meu pescoço. — Eu acho que recebi sua resposta alta e clara.
Eu traço meus dedos de sua testa até seu queixo. — Se é assim que é estar em casa, — digo num sussurro sem fôlego, — por favor, nunca mais vamos embora.
— Eu não planejo. — Ele pega meus dedos e os beija. — Sente-se, — ele sussurra, então se move atrás de mim e me puxa contra seu peito. Suas pernas me cercam de cada lado. Ele puxa meu cabelo para o lado e beija atrás da minha orelha antes de envolver seus braços em volta de mim e descansar o seu queixo no meu ombro.
Não consigo acreditar no quanto estou feliz agora. Parece estúpido que eu afastei esses sentimentos por tanto tempo, quando eles tinham a capacidade de trazer muita alegria.
— Foram as minúsculas pontas brilhantes que fizeram você mudar de ideia, não foi? — Diz Ryn. Posso ouvir a diversão em sua voz.
— Foi tudo. A pulseira, o tapete mágico, os insetos brilhantes, encontrar o tokehari da minha mãe. Eu sabia por um tempo como me sentia sobre você, mas não acreditei até hoje que você sentia o mesmo.
— E, no entanto, eu sabia dos meus sentimentos um pouco antes de você saber sobre os seus.
— Sério?
— Sim. Aquele estranho momento que tivemos no banheiro na casa dos Harts foi o momento em que eu já não pensava em você como amiga. Eu queria mais com você desde então.
— Mas você não disse nada.
— Claro que não. Você não sentia o mesmo, então qual seria o ponto? De vez em quando havia uma sugestão de algo mais vindo de você, mas sempre foi tão fugaz que assumi que eu imaginava. Foi só enquanto dançamos no baile de graduação que você deve ter deixado sua guarda baixa, e eu finalmente soube como você se sentia sobre mim. Tenho certeza de que foi você quem queimou aquela árvore de gelo, por sinal. Aquela da qual a Conselheira Starkweather estava falando.
— Sim, acho que pode ter acontecido. — Graças a Deus ninguém mais percebeu o verdadeiro motivo para aquela pequena explosão. — Espere um segundo, — eu digo, lembrando de algo. — Quando estávamos escrevendo nossos relatórios da tarefa na árvore gargan, e aquele galho pegou fogo. Também fui eu? Porque eu pensei que estava fazendo um bom trabalho de suprir meus sentimentos naquele momento.
— Uh, isso pode ter sido eu.
— Aha, então eu não sou a única que perde o controle. — Eu viro minha cabeça para o lado enquanto tento olhar para ele.
Ele se afasta de mim um pouco e dá o sorriso malicioso. — V, você viu o dano que fizemos na sala de estar da Princesa Olivia? Eu claramente acho que ambos perdemos o controle em certas situações.
Ele aperta seus braços em volta de mim enquanto eu repouso contra ele mais uma vez. — Então, hum, essa habilidade sua, — eu digo. — Você sente tudo de todos que estão a sua volta?
— Sim.
— Uau. Isso deve ser um pouco esmagador.
— Muito. É por isso que passo tanto tempo sozinho e no reino humano.
— Você não pode sentir emoções humanas?
— Não, apenas as emoções daqueles com magia. — Ele cobre minhas mãos cruzadas com uma dele e esfrega o polegar para trás e para frente sobre minha pele. — É tão alto estar em um lugar como a Guilda. Quero dizer, eu aprendi a filtrar isso até certo ponto, mas as vezes ainda se torna demais, e quero que todos simplesmente... saiam. É por isso que eu ajo como um idiota ocasionalmente. É a maneira mais rápida de me livrar das pessoas.
— Ocasionalmente?
— Ok, talvez tenha sido um pouco de eufemismo.
— Você tentou ser bom com as pessoas em vez de ser um idiota? Então, não importa o que você esteja sentindo das emoções delas porque elas teriam emoções positivas em vez de emoções do tipo esse-cara-é-um-idiota-eu-quero-bater-nele.
— As emoções positivas também podem ser esmagadoras, se houver o suficiente. E você pode imaginar como seria se eu fosse legal com todos? — Ele abaixa a voz e coloca seus lábios ao lado da minha orelha. — Todas as meninas estariam atrás de mim. Seria uma bagunça completa.
Eu rio. — Certo. Claro que é isso que aconteceria.
Ryn me abraça mais apertado. — Eu disse que adoro seu sarcasmo, Sexy Pixie.
— Tanto quanto eu amo esse nome. — Enquanto ele ri, eu percebo outra coisa. — Foi por isso que a morte de Reed atingiu você mais forte do que qualquer um, certo? Porque você teve que sentir a dor de todos os outros assim como a sua?
O cabelo de Ryn escova contra o meu quando ele acena com a cabeça. — E é por isso que eu não poderia simplesmente ‘seguir em frente’ como você fez. Porque ainda sinto a dor da minha mãe todos os dias. Mas, como eu já disse antes, estou tentando. — Ele beija minha bochecha. — Ah, e esse ‘hábito estranho’ que você notou? Pressionar minha mão no meu peito?
— Sim?
— Quando as pessoas sentem emoção forte, súbita e inesperada, isso me dá uma dor momentânea. Eu acho que desenvolvi esse hábito sem perceber. Me surpreendeu você ter percebido.
— Bem, não se preocupe, tenho certeza de que ninguém mais percebeu. — Inclino minha cabeça para trás e olho para o céu. Alguns dos insetos brilhantes desapareceram, mas ainda há o suficiente acima de nós para que pareça com o reflexo de um oceano cheio de criaturas fosforescentes. Não quero sair daqui, mas sei que a noite terá que terminar. Eu vou ter que voltar para casa e fazer coisas não emocionantes, como decidir o curso que a minha vida vai levar agora.
Ryn, que, claro, pode sentir a mudança sutil do meu humor, pergunta, — O que você acha da oferta de emprego da Guilda?
— Como você sabia que eles me ofereceram um emprego?
— Eles me ofereceram um emprego, então, obviamente, eles também ofereceram para você. O que você está pensando? Suponho que você tenha que contar para eles amanhã, assim como eu.
— Sim. — Eu retiro uma das minhas mãos da sua e torço uma mecha de cabelo ao redor do meu dedo. — É sensato aceitar, eu acho. O objetivo da minha vida é proteger as pessoas, e eu posso fazer o melhor através da Guilda.
— Mas?
Eu sorrio para o fato de que ele sabe que há um ‘mas’. — Bem, é um caminho previsível, não é? Seríamos colocados em equipes e vamos passar um ano fazendo diferentes tipos de tarefas. Depois disso, decidimos em qual departamento queremos entrar, vão nos colocar em novas equipes e vamos passar as próximas décadas trabalhando no mesmo tipo de tarefa com as mesmas pessoas.
— Sim. A menos que a Guilda seja atacada e todos os guardiões derrotados, e a vida nunca mais será a mesma.
— Bem, certamente seria muito mais emocionante se a Guilda fosse atacada. — Eu solto minha mão e suspiro. — É só que sempre sonhei em me formar e trabalhar para a Guilda, mas agora que estou aqui, me pergunto se não há uma opção melhor.
— Como oferecer seus serviços privados a faeries ricas que precisam de proteção pessoal? Porque de alguma forma eu acho que você escolheria uma tarefa perigosa ao invés de ser guarda-costas em qualquer dia.
— Definitivamente.
— E se você estivesse na Guilda, você me teria. — Ele desliza a borda da minha jaqueta do meu ombro, e seus lábios deixam um rastro ardente ao longo da minha pele nua. — Nós poderíamos chutar a bunda de faeries perigosos juntos em vez de você ficar por aí sozinha. — Ele se afasta, deixando meu ombro frio. — Mas não me deixe influenciar sua decisão de forma alguma. Depende de você, é claro.
— Oh, tanto faz. — Eu rio. — Se você não está tentando me influenciar, então não sei o que é isso.
— Você não sabe? Você gostaria que eu lhe mostrasse? — Em menos de um segundo, ele pula, me levanta e me pega em seus braços. — Se eu realmente estivesse tentando influenciá-la, poderia ser algo assim. — Ele levanta meu braço esquerdo e toca seus lábios no me pulso, exatamente onde estão minhas marcas de guardiã. Seu beijo envia um arrepio ao longo do meu braço e meu pescoço. Quando seus beijos alcançam o meu cotovelo, ele para e pega meu rosto com as mãos. Ele traz seus lábios perto do meu, mas em vez de me beijar, ele mantém a cabeça perto o suficiente para eu sentir seu calor, mas não o toque dele. Ele sussurra, — Quanto falta você sentiria se estivesse longe de mim o tempo todo?
Em vez de responder, fecho a lacuna entre nós e aperto meus lábios contra o dele. Agora que eu dei o salto e decidi confiar que ele quer isso tanto quanto eu, não consigo ter o suficiente dele. E a maneira como ele me mantém perto e molda seu corpo contra o meu me diz que ele sente o mesmo. Quando minha cabeça está girando tanto e os insetos brilhantes parecem estar dançando em ziguezague ao nosso redor, eu me afasto dele. — Eu odiaria arruinar esse momento caindo do tapete, — eu digo, minhas palavras sem fôlego, — então talvez devêssemos voltar?
Ele inclina sua testa contra a minha. — Já disse que odeio quando você está certa?
— Muitas vezes.
O tapete mágico nos leva de volta ao vazio no topo da árvore gargan. Eu poderia facilmente sair sozinha, mas Ryn claramente quer me ajudar e, como eu adoro a sensação de suas mãos em minha cintura, eu não discuto.
Ele enrola o tapete e o coloca debaixo do braço. Ele abre a boca para dizer algo, mas um sorriso suave se espalha através de seu rosto, e ele se inclina para me beijar em vez disso. Momentos depois, seus lábios deixam o meu com um suspiro. — Eu preciso devolver o tapete, — diz ele. — Eu demorarei alguns minutos. — Ele se dirige ao longo de um dos galhos, me deixando com um sorriso ridiculamente enorme no meu rosto. Pressiono minhas mãos contra o meu peito, sentindo que preciso segurar minha exaltação para que não exploda para fora de mim.
— Vi?
Toda sensação no meu peito cai para os meus dedos do pé e desaparece, deixando meu corpo frio. Essa voz. Eu conheço.
— Vi, é você?
Giro lentamente. Em um portal delineado contra o galho mais largo da gargan, está a última pessoa que quero ver.
Nate.
***
Se alguém se aproximasse e me perfurasse no estômago, ficaria menos chocada do que eu estou agora. Que. Merda. É. Essa?
Com um assobio e um spray de faíscas, meu arco e flecha estão ardendo em meus braços estendidos.
— Como você me encontrou? — Exijo.
— Sorte, eu acho. — Ele sai dos caminhos das fadas, e o portal se fecha atrás dele. — É o único lugar em que eu sei como chegar. Eu sei como chegar à entrada da Guilda, mas eles não teriam motivo para me deixar entrar. E eu sei como chegar ao interior de sua casa, mas eu não tenho permissão para entrar. Eu não sei como é o exterior, então não posso apenas bater na sua porta. Só me restou este lugar. — Ele me observa com atenção. Ele não ergue as mãos, entretanto; ele obviamente não acredita que eu atiraria nele.
— Como você ousa vir me procurar depois do que fez?
— Vi, por favor, eu posso explicar.
— Eu não quero suas explicações, Nate. Eu quero que você vá embora antes de eu acidentalmente soltar essa flecha.
— Por favor, Vi! Você não sabe pelo que eu passei.
— O que você passou? — Eu abaixo meu arco ligeiramente em descrença. — Eu quase morri por sua causa, Nate!
— Eu sei! E sinto muito. — Ele dá um passo em minha direção. Eu miro a flecha nele mais uma vez. — Zell me forçou a ajudá-lo, Vi. Ele fez Scarlett colocar um olho em mim, o que significava que ele podia ver tudo o que eu via. Eu deveria tentar descobrir de você quem era a identidade do guardião com a habilidade de encontrar. Como não queria que ele soubesse que era você, eu obviamente mantive minha boca fechada. Mas então você foi e se entregou!
— O quê? — Ele está seriamente colocando a culpa em mim?
— Nós estávamos no meu quarto, e você disse algo sobre se desculpar por concordar em encontrar minha mãe para mim. Você não se lembra? E foi quando ele descobriu que era você. Ele me bateu por não ter falado antes. Lembra-se do hematoma que eu tinha? E eu menti e disse que foi uma briga na escola?
— Você mentiu. Ótimo. Sobre quantas outras coisas você mentiu?
Ele ergue as mãos em frustração. — Nada! Eu não estou mentindo para você!
— Você se esqueceu da parte em que você me levou a uma caverna secreta e me entregou a Zell? Não vi ninguém o forçar a fazer isso.
— Ele estava ameaçando meus pais! Ele teria os matado se eu não o trouxesse para você. Então pensei que poderia fazer as duas coisas. Protegê-los e ainda você sair viva. É por isso que eu indiquei aquele rio para você. Sabe, aquele que borbulhava na caverna e voltava para a montanha e saía em um lado? Nós passamos por lá e eu disse que você poderia pegar um passeio rápido para fora de lá se você pulasse.
— Esse era o seu grande plano, Nate? Sério? — Foi isso que aconteceu, foi exatamente assim que eu saí da montanha, mas quase me matou.
— Eu não tive outra escolha. Você não entende isso?
— Sempre há uma escolha, Nate. Por que você não me pediu ajuda?
— Como? Zell tinha o olho em mim. Ele podia ver tudo o que via. Ele estava observando todos os meus movimentos. Ouvindo todas as conversas.
— Você não é estúpido, Nate. Você poderia ter descoberto alguma coisa. Fechado os olhos e escrito uma nota para mim, ou algo assim.
— Vi...
Os ramos farfalham e nós dois olhamos para o lado. Ryn passa entre as folhas e entra na cavidade. Seus olhos vão entre Nate e eu, mas sua expressão não dá nenhuma dica sobre o que ele está pensando ou sentindo. Eu queria ter sua habilidade agora. — Bem, — ele diz, cruzando os braços sobre o peito enquanto ele caminha para o meu lado. — Olhe quem veio correndo de volta.
Os olhos de Nate se deslocam entre Ryn e eu. — O que ele está fazendo aqui?
Ryn desliza um braço em volta da minha cintura. — O que parece que eu estou fazendo aqui?
— Ryn! — Eu olho para ele e murmuro, — Você não está ajudando.
— Você está com ele agora? — Nate parece com nojo. — Como diabos isso aconteceu?
— Molhados em uma passagem secreta, — diz Ryn antes que eu possa responder. — Foi muito quente.
— Ryn!
— Então, essa é a parte em que você me avisa para ficar longe de sua namorada? — Nate zombou.
O sorriso arrogante de Ryn faz uma aparição. — Claro que não. Eu não insultaria Violet, sugerindo que ela não pode lidar com você sozinha.
Eu reviro os meus olhos e abaixo meu arco. — Ok. Isso é ótimo. — Eu abaixo minha voz. — Então, que tal você esperar atrás da árvore para que eu possa, sabe, lidar com as coisas sozinha? — Os olhos de Ryn encontram os meus, e eu posso dizer que ele está tentando descobrir se tudo está bem. — Eu vou ficar bem, — eu murmuro.
— Tudo bem, — ele diz. Ele se vira para Nate. — Até logo, garoto halfling. Espero que nunca nos encontremos de novo. — Ele desaparece em um portal no ar.
— Eu não acredito nisso, — murmura Nate, balançando a cabeça. — Eu finalmente consigo me afastar de Zell, e a primeira pessoa quem procuro - você - seguiu em frente como se eu nunca fosse parte de sua vida.
Eu deixo meu arco e flecha desaparecerem; nós dois sabemos que não vou usar, mesmo depois do que Nate fez comigo. — O que você acha que aconteceria, Nate? Que eu voltaria correndo para os seus braços?
— Eu não sei, Vi. Mas eu certamente não esperava voltar e me encontrar preso em um triângulo amoroso.
— Não há triângulo amoroso, Nate. Um triângulo amoroso implicaria que você realmente tinha uma chance comigo, o que você não tem.
Nate dá um passo abalado para trás, como se eu o tivesse golpeado. Ouch. Essas palavras saíram mais severas do que eu pretendia.
— Mas você me amou, Vi, — ele diz calmamente. — Eu sei que amou.
Eu balanço a minha cabeça. — Não. Eu não amei, e eu não vou.
— Você amou. Você ficou com medo de dizer, mas eu conheço você...
— Eu não amei. Talvez eu pudesse ter amado se você tivesse me dado chance, mas você não deu. — Eu respiro fundo. — Eu me preocupava com você, e eu estava tão irritada e ferida que quase fiz algo estúpido com uma poção. Mas eu superei. Eu superei você.
Ele olha para mim por um longo tempo antes dele dizer, — Eu ainda te amo.
— Não minta para mim. E a Scarlett?
Ele fica pálido. — Scarlett?
— Eu vi vocês dois juntos no baile de máscaras de Zell.
— Você estava lá?
— Sim. Ryn e eu estávamos lá. E certamente não parecia que você estava sentindo minha falta quando Scarlett estava sussurrando em seu ouvido.
Ele olha para frente e balança a cabeça. — É complicado. Ela é uma siren, Vi...
— Ah, então você não teve escolha, certo? Assim como não teve escolha em me levar a uma armadilha naquela montanha? E não teve escolha em usar suas tempestades para violar os encantamentos protetores da Guilda para potencialmente prejudicar um monte de pessoas inocentes?
— Vi...
— Eu acho que você deveria ir, Nate. Tudo o que tínhamos acabou. Talvez você esteja falando a verdade sobre tudo, talvez não esteja. Mas eu não sei, e nunca mais poderei confiar em você. Você precisa continuar com a sua vida, e eu preciso continuar com a minha. Pegue seus pais e fuja, se você precisar, mas não me envolva. — Eu cruzo meus braços e engulo. — Eu nunca quero voltar a vê-lo.
PARTE IV
Capítulo 29
O apartamento na cobertura do edifício mais alto em que eu estou tem vidro do chão ao teto em cada sala, permitindo que as luzes da cidade cintilem através. Elas iluminam o interior do apartamento, tornando mais fácil ver onde vou. Eu deslizo por uma escada construída a partir de finos pedaços de madeira preta inseridas na parede em um lado. Eu acho que a escada deveria ser artística e minimalista, mas eu me pergunto quantas pessoas já tropeçaram nela. Eu chego ao final e examino a sala aberta exibindo pinturas em parede e esculturas em pedestais. Uma estante de madeira com pedaços de madeira plana anexada a ela como galhos em uma árvore captura meus olhos, assim como uma sala de estar de forma estranha que provavelmente também é considerada arte.
Ninguém está aqui.
O proprietário do apartamento — atualmente adormecido em um dos quartos enorme - é um colecionador de arte, e parece que um certo ladrão de faeries tem gostado dos itens exibidos aqui. Na semana passada, ele roubou uma pintura valiosa, e passamos os últimos quatro dias descobrindo quem ele é e quando tentará fazer o seu próximo assalto. Queremos pegá-lo no ato.
Eu sinalizo para Jay, um dos três membros da minha equipe, para me seguir pelas escadas. Asami, meu outro companheiro de equipe, já está posicionado na varanda que se estende ao longo de um lado do exterior do apartamento, caso nosso ladrão de fadas planeje entrar dessa maneira. — Esconda-se sob aquele sofá estranho, — eu sussurro para Jay enquanto eu aponto para a mobília que parece um tigre gigante tentando abraçar algo. — Eu estarei atrás da escultura da coisa mulher-fera-de-pedra.
— Escolha interessante, — diz ele, olhando a escultura bizarra. Jay é um graduado de outra Guilda que decidiu que queria começar sua vida profissional em um novo lugar e acabou em Creepy Hollow. Ele é bom o suficiente, mas eu preferiria ter Ryn no meu time. Não só porque eu sou a líder da equipe e eu poderia mandar nele, mas porque, bem, eu quero estar perto dele o tempo todo. Tora assumiu a responsabilidade de mencionar ao Conselho que Ryn e eu estamos em um relacionamento - algo que ainda não a perdoei - e o Conselho decidiu que seria melhor se não trabalhássemos juntos. Levou um monte de contenção para eu não apontar que existem várias equipes com marido e mulher na nossa Guilda, e ninguém parece ter um problema com isso.
Jay escorrega debaixo do sofá, e eu me agacho atrás da coisa mulher-fera-de-pedra. Uma pequena placa de metal anexada à base me diz que se chama The Revelation of Eve. Hmm.
E então esperamos.
É um pouco chato.
Desde o mês que aceitei o cargo na Guilda, esta é apenas a terceira tarefa na qual eu participo. Parece um número patético para mim, considerando que eu costumava ter uma nova tarefa quase todas as noites quando ainda estava treinando. Mas essas tarefas são muito mais detalhadas, eu admito - e eu era uma aprendiz de sucesso excessivo.
A pulseira que eu agora uso no lugar da minha pulseora rastreadora se aperta. Olho das duas pedras encaixadas no couro – azul para Asami, verde para Jay – e vejo o azul piscando lentamente. Eu olho em volta da escultura e olho para a varanda onde eu sei que Asami está se escondendo. Puxo a minha cabeça de volta imediatamente. A figura que eu vi espiando através da janela definitivamente não era Asami. Pressiono a pedra azul para que ele saiba que recebi seu alerta.
Eu olho através de uma fenda entre a escultura, o braço-da-mulher e a cauda-da-fera. A figura na janela desapareceu. Um momento depois, ele sai de um caminho das fadas na parede ao lado de uma pintura de cores bagunçadas e misturadas. Ele se dirige diretamente para uma caixa de vidro com um ovo decorado descansando sobre uma almofada.
Com dois dedos, pressiono ambas as pedras na minha pulseira três vezes em rápida sucessão. Jay e Asami sabem exatamente o que isso significa: vamos pegar esse cara.
***
Não é difícil. Somos três e ele é apenas um, e mesmo que ele tenha dado um golpe elaborado com uma corda que ele acrescentou magicamente do teto, demora apenas alguns minutos antes de tê-lo atado e amordaçado e pronto para ser levado para a Guilda. Sequer disparamos algum alarme no processo. Jay e Asami o levam de volta através dos caminhos das fadas, enquanto eu fico para trás para devolver cada item ao seu lugar na sala para que o dono nunca saiba que alguém esteve aqui.
Eu retiro a corda do teto e a enrolo em meu braço. Alguns livros foram derrubados da estante de livros em forma de árvore, então eu os encaixo em qualquer lugar em que eu vejo espaço. A planta no vaso na prateleira mais alta parece ter soltado algumas folhas. Eu espalho meus dedos, e as folhas flutuam para cima em direção às minhas mãos abertas. Pego as folhas e as coloco no meu bolso.
Estou prestes a abrir um portal para os caminhos das fadas quando percebo um pedaço de papel rasgado, deitado no pé do vidro que separa a varanda da sala. Não consigo lembrar se o papel estava no chão quando chegamos aqui, mas parece mais provável que seja um lixo do bolso do ladrão do que algo deixado pelo dono deste lugar. Ele é claramente obsessivo por limpeza. Eu me inclino para pegar o papel e o viro enquanto eu me endireito. Meu coração salta quando vejo a caligrafia que reconheço.
Zell.
Gostaria de não reconhecer a letra do Príncipe Unseelie, mas eu tenho uma imagem marcada com bastante firmeza na minha mente da parede no calabouço circular coberta de centenas de nomes escritos à mão. Certamente nunca esquecerei a forma das letras que formavam meu próprio nome, e então eu sei que a mesma mão escreveu as duas frases que vejo no papel rasgado na minha mão.
Roubando com sucesso, você terá me provado que você pode ser confiável no grande dia. E o grande dia está chegando em breve.
O grande dia? E isso seria... O dia em que Zell tentaria conquistar a coroa Unseelie? O dia em que ele planeja invadir a Guilda? Droga, eu gostaria de ler o resto da nota.
Coloco dentro de um dos meus bolsos, abro uma entrada na parede e faça uma rápida viagem a Guilda. Dentro da entrada, eu puxo meus pulsos marcados para o guarda noturno de plantão, que rapidamente as examina com a stylus. Então vou direto ao escritório da Conselheira Starkweather. As chances são altas de ela estar aqui, dado suas tendências de vicio no trabalho.
Eu bato na porta dela. Um momento depois, ouço sua voz me pedir para entrar.
Explico nossa tarefa, mostro a nota e digo a ela por que eu acho que Zell escreveu isso. — Lembra quando Ryn e eu invadimos o calabouço de Zell para resgatar a irmã de Ryn, e eu trouxe algumas páginas de volta e entreguei a você?
— Sim, — ela diz devagar, cruzando os braços sobre o peito. Ela não ficou impressionada com o fato de termos invadido a casa de Zell. Ela nos disse que devíamos esquecer a coisa toda.
— Se você ainda possuir aquelas páginas, você pode compará-las com esta nota. Estou quase certa de que a caligrafia irá combinar.
— Eu definitivamente farei isso antes de interrogar o ladrão que deixou cair esta nota. — Ela se levanta e se dirige para a porta dela.
— Se for a caligrafia de Zell, — digo, seguindo-a, — posso questionar o ladrão?
Ela abre a porta e se movimenta para eu sair da frente dela. — Eu não acho que isso seria apropriado, Violet. — Aparentemente, eu não sou mais a Srta. Fairdale agora que já não estou mais em treinamento.
— Mas pegamos o ladrão. Essa foi a nossa tarefa. Por que não seria apropriado se eu o questionasse?
A porta se fecha logo atrás dela. — Porque tudo o que tem a ver com o Príncipe Unseelie faz parte de uma investigação maior na qual você não está envolvida.
Eu posso ouvir as palavras que ela não está dizendo: Essa investigação é muito importante e sou muito jovem e inexperiente para ser confiável. Quero lembrá-la de que quase certamente me encontrei cara a cara com Zell mais vezes do que qualquer outra pessoa nesta Guilda, mas sei que minhas palavras não farão nada de bom. Guardo a minha frustração. — Ok, — eu digo. — Compreendo.
Vou em direção a um corredor diferente e me afasto dela. Eu bato no meu bolso a procura do meu âmbar para que eu possa ver se tem uma mensagem da Ryn, mas parece que eu deixei em casa. Idiota. Eu estava ansiosa por uma mensagem dele o dia todo, esperando que hoje fosse o dia em que ele saberá quando pode voltar para casa.
Poucas semanas depois que Honey e Asami completaram com sucesso sua tarefa final no Egito, uma nova revolta começou. As criaturas do tipo pixie aladas que concordaram em viver pacificamente ao lado dos elfos bronzeados decidiram que realmente queriam as pirâmides. Grande bagunça. Então a Guilda enviou Ryn e sua nova equipe para lidar com a agitação da maneira mais pacífica possível.
Eles se foram há duas semanas.
Parece anos.
Eu sei que eles estão bem porque recebo mensagens ocasionais no âmbar de Ryn, mas eu sinto falta dele. Muita. Tanto quanto eu sentiria falta dos meus membros se eles de repente fossem cortados. Mais, na verdade. E eu não ouvi falar de meu pai desde o meu aniversário, então, basicamente, voltei a passar as noites nas tarefas ou em casa com Filigree - assim como fiz durante a maior parte do meu treinamento. A diferença agora é que eu não estou mais feliz com uma vida solitária.
Paro no corredor alinhado com fileiras e fileiras de estantes de correspondência. Agora que sou uma guardiã, tenho a minha própria estante. Adeus para o armário no andar de baixo perto do centro de treinamento. Eu passo pelas aberturas retangulares até chegar a minha. Há um papel dobrado dentro com o meu nome. Provavelmente outro memorando chato. Volto para o corredor, desdobrando o papel enquanto eu ando. Só demora algumas palavras para que meus pés parem.
VF,
Você não me conhece, Violet, mas você e eu temos algo em comum: ambos estamos tentando derrotar o Príncipe Unseelie Marzell. Eu vi você em seu baile de máscaras, e me levou até agora para descobrir dele quem você é. Daqui a cinco dias, Zell revelará aos seus seguidores mais próximos, o que inclui eu, seus planos exatos para quando e como invadir as Guildas. Daqui a cinco dias, eu lhe darei essa informação — se você quiser.
Você não tem motivos para confiar em mim, é claro, então deixe me dar uma razão. Ouvi Zell pedir ao seu mais recente seguidor, uma faerie com habilidades especiais do tipo piromaníaco, para lançar um inferno furioso na entrada da Guilda, situada no reino das fadas perto de Londres. Seu objetivo não é violar os encantamentos protetores, mas sim deixar os guardiões saberem que nenhuma Guilda está a salvo do seu alcance.
Amanhã à noite, você saberá que estou dizendo a verdade.
D.
Que merda é essa? Isso é uma piada? Eu olho para o corredor para ver se alguém está olhando ou rindo, mas estou sozinha. Eu olho de volta para a letra genérica. Deve ser uma piada; Ninguém da Corte Unseelie seria permitido entregar um recado a Guilda - ou por qualquer outro motivo, obviamente. Mas quem dentro da Guilda sabe que eu estava disfarçada no baile de máscara de Zell? Eu não disse a ninguém, mas acho que as pessoas envolvidas na investigação de Zell possam saber agora - e não sei quem são essas pessoas.
Talvez alguém esteja irritado que eu continue tentando entrar nessa investigação e eles estão tentando me colocar em problemas. Ou me fazer parecer estúpida. Assim... Não vou fazer nada sobre esse recado. Se for legítimo e realmente houver um incêndio amanhã à noite, não é como se alguém fosse se machucar. O fogo é para assustar as pessoas, certo?
Quando eu chego em casa, coloco a nota na gaveta ao lado da minha cama, ao lado da caixa que contém minha pulseira de fita e meu anel tokehari de meu pai. O colar de chave da minha mãe permanece em volta do meu pescoço o tempo todo, como os brincos de flecha nas minhas orelhas. Eu pego meu âmbar da minha mesa, e meu coração faz uma dança feliz quando vejo que há uma mensagem de Ryn.
Finalmente em casa. Queria te visitar, mas eu ouvi que você vai estar fora esta noite livrando o mundo de um ladrão perigoso. Te vejo amanhã, Sexy Pixie. Não esqueça de sonhar comigo.
De jeito nenhum. Não vou esperar até amanhã. Abro uma entrada e vou diretamente para a casa de Ryn, emoção vertiginosa fazendo meu coração bater rápido. Ele me concedeu acesso à sua casa para que eu pudesse me esgueirar do jeito que ele gosta de se esgueirar na minha. Não sei se ele contou a sua mãe; ela provavelmente não aprovaria.
Os caminhos das fadas me levam até o quarto dele, que está na escuridão, exceto pela galáxia encantada que flutua perto do teto acima de sua mesa - um presente de sétimo aniversário. Ele continua ameaçando se livrar disso porque, segundo ele, é infantil. Eu acho que é bonito.
Os laços das minhas botas desatam-se enquanto eu ando silenciosamente em direção a sua cama. Ele está encarando o outro lado, seu ombro subindo e caindo ao mesmo tempo que suas respirações constantes e silenciosas. Tiro minhas botas, subo na cama e me arrasto para debaixo da coberta. Estou prestes a me inclinar sobre ele e beijar seu pescoço quando ele diz, — Você acha que está se esgueirando sobre mim, Sexy Pixie?
Droga. — Sim, é exatamente o que eu acho.
Ele rola e me puxa para baixo dele. — Você terá que tentar mais do que isso. — Ele traz os lábios para encontrar os meus enquanto eu enrolo os meus braços ao redor do seu pescoço. Faíscas e formigamentos lampejam pela minha língua, meu rosto, meus braços. Ainda não sei se Ryn está fazendo isso de propósito, ou se acontece espontaneamente quando as pessoas com magia se beijam. De qualquer forma, Ryn nunca esteve mais certo do que quando me disse que eu estava perdendo.
— Você pegou o cara mau? — Ele sussurra no meu ouvido.
— Claro. Você... Consertou o Egito?
— Claro. — Um beijo na minha orelha. — Jay já deu em cima de você?
Coloco minhas mãos de cada lado do rosto de Ryn para que eu possa olhar para ele. — Não, mas é fofo que você esteja com ciúmes.
— Com ciúmes? Ha! Não me faça rir.
— Você é tão ciumento. — Eu o empurro para que eu possa deslizar por baixo das cobertas. — Mas está tudo bem. Já tive ciúmes antes. No palácio quando você estava flertando com Opal, ou seja, qual for o nome.
— Ah, sim, lembro disso. — Ele se senta contra o travesseiro e me puxa para o lado dele. — Seu ciúme realmente machucou meu peito.
— Bom. Estou feliz. — Parece que sua habilidade é útil para algo.
— Fala sério, eu estava sendo amigável com ela.
— Tudo bem, certo. Aposto que você estava tentando me deixar com ciúmes.
Ryn ri. — Eu acho que eu estava.
Eu soco sua coxa, e ele tem a decência de fingir que dói. — De qualquer forma, por que estamos sentados? Eu estava me sentindo confortável antes de ser abordada com o assunto do meu colega de equipe.
Ryn boceja, então diz, — Tenho algumas más notícias. Eu pensei que seria melhor se você não estivesse distraída enquanto eu lhe dissesse.
— Más notícias?
— Sim. — Ele esfrega os olhos. O pobre deve estar cansado após sua longa tarefa. — Eu estava na casa do meu pai esta noite. Acontece que o disco grifo dele foi roubado.
— O quê? — Eu sento ereta. — Como você sabe? Ele falou sobre isso?
— Não exatamente. Ele estava bastante agitado. Sabe, movendo as coisas e procurando em todos os lugares. Então eu perguntei o que ele estava procurando. Ele descreveu o disco para eu poder ajudá-lo a procurar, mas não me contou nada sobre isso.
— Caramba, — eu murmuro. — Isso é ruim. Ele sabe quando sumiu?
— Eu perguntei a ele. Ele não sabe. A última vez que o viu foi há alguns meses atrás.
Eu balanço a minha cabeça. — Sabe, eu pensei que a magia protetora que temos em nossas casas deveria manter pessoas indesejadas fora.
— Sim, eu também.
— Na época que Angelica estava roubando os discos, ela conseguiu entrar nas casas dos nossos pais porque eles eram seus amigos e já haviam concedido acesso a ela. Mas agora que Zell é que está roubando discos, como ele fez isso?
— Talvez ele saiba meios de contornar a proteção, — diz Ryn. — Deve haver maneiras de quebrar esses feitiços se você for poderoso o suficiente.
— Ou se você tem um amigo poderoso que gosta de invadir lugares.
— O garoto Halfling, — murmura Ryn. — Eu acho que ele pode ter roubado o disco antes de desertar de Zell há um mês. Você já ouviu algo dele desde então?
— Nada.
Nate deve ter me escutado quando eu sugeri que ele pegasse seus pais e fugisse. Fui a sua casa cerca de uma semana após o confronto na gargan, e nem ele nem seus pais estavam lá. Em vez disso, um homem que parecia extraordinariamente com o pai de Nate estava sentado na mesa da sala de jantar fazendo um telefonema. Na mesa ao lado dele, estava um jornal aberto com um artigo sobre uma família desaparecida. Havia três fotos: Nate, seu pai e sua madrasta.
Eu me arrependia de ter sido tão dura com ele, mas não podia mais confiar nele. Parte de sua história fazia sentido - os detalhes coincidem agora que eu penso sobre isso - mas ele poderia simplesmente inventar a história para se adequar aos detalhes. É melhor se Nate acabar de viver a vida em algum lugar distante. Ele pode até começar de novo em um novo lugar e fingir que ele é um humano normal.
Ryn enlaça seus dedos entre os meus. — Agora que eu compartilhei as más notícias, você gostaria de ouvir algo bom?
Depois de beijar as costas da sua mão, eu digo, — Definitivamente.
— Eu posso ter uma pista sobre sua caixa perdida.
— Sério? Do seu contato do Subterrâneo?
— Sim.
Com toda a emoção de descobrir que meu pai ainda está vivo, seguida por Ryn e eu ficando, e Nate aparecendo do nada, eu realmente consegui esquecer da caixa perdida de minha mãe por uma semana inteira depois que Zinnia me contou sobre isso.
Depois que Ryn me lembrou sobre a caixa, ele entrou no escritório do guardião que liderou a investigação sobre a morte de Reed e encontrou o arquivo relevante. Como não havia menção de uma caixa, voltamos para o local no chão da floresta, onde Reed caiu. Eu poderia dizer que era difícil para Ryn revisitar o lugar onde seu irmão morreu, mas ele parecia lidar com isso. Demos uma boa olhada ao redor, cavamos partes do chão para ver se a caixa podia ter sido enterrada ao longo do tempo. Eu até voltei mais tarde e caminhei ao longo do caminho para ver se Reed talvez soltou a caixa quando ele caiu e pousou em algum lugar além. Eu procurei cada fenda nos galhos circundantes, mas não encontrei nada. Não é surpreendente, na verdade. Será que honestamente espero que ainda esteja lá oito anos depois?
Então Ryn decidiu ir ao Subterrâneo e procurá-la da maneira que ele procurou pelo meu colar: Encontrando um rumor de uma história e seguindo.
— E o que este contato Subterrâneo lhe disse? — Pergunto.
— Ele conhece alguém que conhece alguém que vende, uh, redistribuí itens artesanais.
— Em outras palavras, itens roubados artesanais?
— Sim. E, aparentemente, ele vendeu uma caixa de madeira com o nome de Violet há vários anos atrás.
Eu me afundo de volta contra o travesseiro. — Vários anos atrás? A caixa poderia estar em qualquer lugar em todo o reino das fadas no momento.
— Ei, encontrei o seu colar, não é? — Seus dedos escovam a chave dourada descansando contra meu peito. — Eu vou encontrar sua caixa.
O sentimento de calor e segurança que Ryn sempre consegue trazer para mim atravessa o meu corpo. Olho nos olhos dele, e estou dominada pelo desejo de lhe dizer algo. Algo grande e assustador e que não é minha praia. Algo envolvendo uma palavra que começa com A.
Não. Não posso dizer isso. É muito cedo. Vou assustá-lo. Eu me assustarei.
— Posso falar com você sobre outra coisa? — Pergunta Ryn.
— Claro. — Enquanto você não estiver prestes a usar a assustadora palavra com A.
Ele franze a testa. — Você está bem? Eu sinto que você está enlouquecendo sobre alguma coisa.
— Não. — Minha voz sai como um guincho. — Apenas... estressada sobre a situação de Zell, eu acho.
Ele me dá um olhar engraçado que me diz que ele não acredita em mim, então eu me inclino para frente e aperto meus lábios contra o dele. Ele, obviamente, esquece o que ele quer dizer, porque suas mãos deslizam pela minha cintura enquanto o beijo se torna mais quente. Suas mãos deslizam minhas costas, abaixo da minha blusa. Pressiono meu corpo mais perto do dele.
— Espere, — ele diz contra meus lábios. — Espere, eu deveria estar lhe dizendo algo.
Relutantemente, eu me afasto dele. — É melhor ser bom.
— É sempre bom quando eu falo. — Ele acaricia minha bochecha enquanto eu reviro os meus olhos. — Ok, então, eu tenho uma teoria, — diz ele. — Uma teoria sobre por que alguns de nós tem habilidades mágicas extras e outros não.
Eu me aconchego mais perto dele. — Estou ouvindo.
— Você sabe como todos amavam o Reed? Quero dizer, as pessoas sempre dizem...
— que havia algo nele, — respondo. Eu ouvi tantas pessoas dizerem isso. Eu mesma disse isso.
— Sim. Havia algo nele. E não acho que fosse algo natural. Eu acho que era sua habilidade especial. Como o meu é sentir as emoções dos outros, o seu é encontrar pessoas, e o de Calla é fazer com que as pessoas vejam o que ela está imaginando, e o poder de Nate é sobre o tempo.
— Ok...
— E Zell não disse algo para você em seu calabouço sobre os discos grifo conectados a faeries com habilidades especiais?
— Sim, mas ele não explicou o que ele quis dizer.
— Bem, aqui está minha teoria: as pessoas que usam os discos grifo têm crianças com habilidades especiais.
Eu deixo suas palavras entrar.
— Pense nisso, — diz Ryn. — Seus pais tinham discos, meus pais tinham discos e a mãe de Nate tinha um disco. Meu pai é o único que ainda tinha um disco e olha para Calla. Ela também ficou especial.
Eu concordo. Isso poderia ser o que Zell estava se referindo. — Então, a razão pela qual há muitas faeries com habilidades especiais é porque os discos tiveram tantos proprietários ao longo dos séculos.
— Sim. E, como Zell tem procurado os discos por um tempo, ele provavelmente possui uma longa lista de pessoas que possuíram um disco em algum momento. Uma vez que descobriu que havia uma conexão, teria sido bastante fácil voltar e descobrir quem eram seus filhos.
— Sim, e depois raptá-los. — Inclino minha cabeça para trás e olho para a galáxia. — Então é como se tivéssemos um pouco do poder de Tharros em nós. Isso é estranho, não é?
Ryn assente. — É estranho pensar nisso assim. — Ele olha para mim. — Mas não enlouqueça por causa da magia dele nos fazendo mal porque eu não acredito nisso. Estamos no lado bom, V. Não importa o tipo de magia com a qual nascemos.
Capítulo 30
Tora se inclina para frente e apoia os cotovelos na mesa e o queixo em suas mãos. — E enquanto eu entrava, centenas de borboletas saíram da mesa e flutuaram, deixando o arranjo de flores mais incrível no meio da mesa.
Eu fecho as minhas mãos juntas sob meu queixo. — Isso é tão romântico, Tora. — Não tão romântico quanto um passeio de tapete mágico e um zilhão de insetos brilhantes, mas nem todos os homens conseguem fazer algo épico.
— E a comida estava gloriosa. — Tora joga a cabeça para trás e se encosta contra o armário atrás de sua mesa. — Ele com certeza sabe cozinhar.
— Graças a Deus por isso. — Eu penso na habilidade de cozinhar abismal de Tora. Você pensaria que, como alguém com magia, ela poderia fazer um trabalho medíocre, pelo menos, mas não. — Ele parece perfeito para você. Você acha que ele vai pedir-lhe para ter uma união com ele?
As bochechas de Tora ficam coradas. — Hum, eu não tenho ideia. — Ela se senta e começa a mover as coisas em sua mesa, coisas que provavelmente não precisam ser movidas. — Quero dizer, não nos conhecemos há muito tempo, e as uniões são um grande problema entre os nossos. Eu teria que pensar muito sobre isso porque nenhuma união deveria ser quebrada levemente.
Não deveria. Na verdade, as uniões raramente são quebradas. É por isso que foi um escândalo quando o pai de Ryn partiu e formou uma nova união com outra pessoa. As pessoas não disseram muito, é claro, porque todos sabiam sobre a morte trágica de Reed e o quão difícil era para sua família, mas você podia ver em suas expressões sempre que a família de Ryn era mencionada.
— Ok, mas se Oliver lhe pedir agora, o que você diria?
Tora abre a boca, mas é salva de responder por uma batida apressada em sua porta. — Entre, — ela fala.
Um anão se aproxima com uma pilha de páginas do tamanho de sua mão. — Memorando urgente para todos os guardiões, — diz ele. Ele entrega uma para Tora e outra para mim. Ao sair, vejo outro anão passando correndo pelo corredor na direção oposta.
— Oh, não! — Tora coloca uma mão na boca enquanto seus olhos examinam a nota. — Isso deve ter acontecido depois que eu saí na noite passada.
Olho para o pequeno pedaço de papel de pergaminho na minha mão.
Um fogo encantado foi lançado por faeries cobertos de preto fora da Guilda de Londres na noite passada. Enquanto a entrada interna conectada aos caminhos das fadas permaneceu intacta, ninguém poderia entrar ou sair pela entrada exterior. Depois de várias tentativas mal sucedidas para apagar o fogo, ele desapareceu - aparentemente por conta própria. Os faeries cobertas de preto desapareceram. Nenhum membro da Guilda foi ferido.
Guardiões, estejam preparados. Este é o terceiro ataque em uma Guilda, e a segunda Guilda a ser atacada. Você nunca sabe quando poderá ser necessário com urgência.
Então a nota que recebi na minha caixa de correio era real.
Eu olho para cima. Tora está tocando no seu pequeno espelho circular. — Oliver! Está tudo bem aí?
— Você já ouviu falar sobre o fogo? — Diz uma voz masculina.
— Sim. Agora a pouco.
— Desculpe por não entrar em contato com você mais cedo. As coisas ficaram loucas nesta manhã, mas todos estão bem.
— Oh, graças a Deus.
Eu me levanto para sair. Seria grosseiro se eu continuasse e escutasse a conversa de Tora com Oliver. Além disso, eu sinto uma necessidade de verificar minha caixa de correio novamente porque algo me diz que vou encontrar outra nota misteriosa lá.
Dirijo-me ao corredor alinhado com as caixas de correio. Ao chegar ao meu, vejo uma nota dobrada com meu nome em um lado, escrita com a mesma letra da stylus de antes. Com meu coração bombeando mais rápido do que o normal, eu desdobro o papel.
VF,
Agora que você sabe que posso ser confiável, é sua vez de provar que você pode ser confiável. Não arrisquei minha vida para dar essa informação a alguém com muito medo de se assumir e consegui-la de mim. Se você puder ir ao Diviniti, um clube Subterrâneo, e pegar algo do homem com os chifres de carneiro, então vou saber que você é corajosa o suficiente para esta tarefa.
D.
Imagino um grande ponto de interrogação sobre minha cabeça. Diviniti? Um homem com chifres de carneiro? Isso está ficando estranho. Eu deveria jogar fora essa nota ou dar a alguém como a Conselheira Starkweather. O que eu não devo fazer é seguir as instruções que D me deu na esperança de que eu acabe recebendo informações importantes dele ou dela. Informações importantes que eu posso usar para mostrar a Conselheira Starkweather o quão errado ela foi ao me excluir da investigação de Zell.
Eu não deveria fazer isso. Eu realmente, realmente não deveria. Eu quase posso ouvir a lógica cantando para mim, não faça isso, Vi, não faça isso.
Ugh, mas eu quero tanto provar a mim mesma. E de que serve levar essa nota a outra pessoa na Guilda? Este tal D só quer se comunicar comigo. Eu sou a única que precisa conseguir a informação que poderia salvar todos.
Coloco a nota no meu bolso enquanto volto pelo corredor. Pelo menos vou tentar encontrar Diviniti e o homem com os chifres de carneiro. Então eu vou decidir o que fazer depois disso.
***
Ryn está preso em seu novo cubículo na Guilda, escrevendo um relatório de um quilometro sobre a sua tarefa no Egito, então eu não o incomodo com perguntas sobre como chegar ao Diviniti. Pelo menos, é o que eu digo a mim mesma enquanto vasculho minhas roupas em casa e tento transformá-las em algo colorido e estranho. Eu sei que no fundo a minha verdadeira razão para esconder isso de Ryn é que ele não vai aprovar que eu vá sozinha para seguir essa pista. Ele ainda não superou ter quebrados as regras no passado - como quando resgatamos a Calla - mas algo me diz que ele vai dizer que eu deveria envolver a Guilda nessa.
E não quero isso. Eu quero fazer isso sozinha.
Eu consigo trocar minhas botas pretas para uma cor verde ácida, e minha blusa preta para algo que parece uma pintura que uma criança vomitou. Então eu tento transformar um shorts curto e preto em uma saia curta e preta. Um pouco mais desafiador do que apenas mudar a cor, mas eu consegui. Estou melhorando nessa coisa de roupa.
Meu cabelo precisa de ajuda agora. Peço ao Filigree que se transforme na forma de um grande pássaro, o que ele faz obedientemente. Ele abaixa até o chão do meu quarto, coberto de penas. Pego algumas, altero a cor e as coloco no meu cabelo. Por fim, eu adiciono minha jaqueta à roupa. Não preciso que alguém veja as marcas dos guardiões em meus pulsos.
Certo. Agora eu pareço estranha o suficiente para uma festa no Subterrâneo.
Como não tenho ideia de onde Diviniti fica, terei que começar pelo único clube Subterrâneo que conheço: Poisyn. Encontrei meu caminho lá acidentalmente depois de fugir do labirinto de Angelica. Se eu puder imaginar com precisão na minha mente, eu posso ser capaz de voltar lá através dos caminhos das fadas.
A escuridão me rodeia enquanto atravesso a porta na parede e encaro a sala Subterrâneo com as luzes coloridas e a massa de corpos se retorcendo ao mesmo tempo que a música. Quando uma batida lenta e sedutora atinge meus ouvidos, eu sei que cheguei. Abro meus olhos e estou bem no meio. Os corpos se balançam e giram, os braços no ar, as cabeças jogadas para trás. Algumas faeries estão entrelaçadas umas nas outras. Outras derramam bebidas coloridas em suas gargantas - e sobre seus peitos e cabeças - enquanto dançam.
Eu tento parecer que estou totalmente confortável aqui enquanto atravesso corpos suados em direção a borda da sala. Difícil, quando tudo que eu quero fazer é tremer cada vez que alguém se esfrega contra mim. Eu fico na ponta dos pés, procuro o bar, e faço meu caminho em direção a ele. Eu tento balançar meus quadris enquanto ando, copiando as outras garotas que vejo. Parece estúpido.
Inclino meus cotovelos no balcão verde luminoso da bar e olho ao redor. Ok, agora eu preciso encontrar alguém para quem eu possa perguntar...
— Ei, eu conheço você? — Um cara com cabeça calva e olhos que parecem não ter íris se inclina no bar ao meu lado. Suas mãos estão cobertas de pêlo, e suas unhas são afiadas como garras.
— Hum, eu acho que não.
— Oh, desculpe. Devo ter te conhecido nos meus sonhos. — Ele me dá um sorriso cafona, mostrando seus dentes pontudos.
Uau. Isso é seduzir? Se assim for, fico feliz por ter evitado bares e clubes até agora. Mesmo que eu não queira mais nada do que sair imediatamente, pressiono o desejo de engasgar e pisco meus cílios para ele.
— Então, você quer dançar? — Ele dá um passo para mais perto de mim.
— Claro, se pudermos ir para outro lugar.
— Outro lugar? — Seus olhos se acendem, e tenho certeza de que ele viu muito mais nas minhas palavras do que eu pretendia.
— Sim, meu amigo me contou sobre esse lugar chamado Diviniti. Você conhece?
— Oh, sim. — Ele parece um pouco desapontado, provavelmente porque o 'outro lugar' não acabou por ser mais privativo. — Eu posso levá-la lá, se quiser.
— Oh, você pode? — Eu permito que o prazer se espalhe pelo meu rosto. — Muito obrigada!
Saímos do Poisyn e vamos por um túnel. É largo e alto, com portas aqui e ali e todo tipo de criaturas Fae vagando por alí. Nós viramos em um canto e passamos por um troll puxando um carrinho de anões atrás dele. Este lugar é mais como uma rede de ruas do que túneis. Chegamos a uma encruzilhada e vamos direto. Em seguida, outra e mais outra. Estou feliz por poder sair daqui através dos caminhos das fadas porque não tenho certeza se eu saberia como voltar para Poisyn.
O zumbido distante da música chega aos meus ouvidos. — Estamos quase lá, — diz meu companheiro calvo. Nós mal falamos uma palavra um para o outro. Ele é, obviamente, um conversador como eu. — Então, é isso. — Ele gesticula para uma arcada com fumaça branca vagueando por debaixo dela. Enquanto avançamos, ele coloca um braço ao redor dos meus ombros. Sua mão desliza para baixo e aperta minha bunda.
Pego a mão ofensiva, o giro e o coloco contra a parede. Eu torço o braço dele atrás das costas dele. — Tente isso novamente, e eu quebro sua mão.
— Tudo bem, — ele sussurra, seu rosto praticamente beijando a parede. — Uau. Isso foi quente. Você pode fazer de novo?
Sério? Solto o seu braço e me afasto. — Você sabe de uma coisa? Eu acho que isso não vai funcionar. Você deve voltar para Poisyn. Aquela garota atrás do bar parecia estar afim de você.
— Sério?
— Sim. — Na verdade, ela parecia que queria arranhar os olhos de alguém que ousasse pedir uma bebida, mas talvez fosse só porque ela tinha um olhar distintamente felino.
— Incrível. — O cara calvo gira o ombro algumas vezes antes de voltar para o túnel.
Caminho abaixo do arco e entro no Diviniti. Deve haver algum tipo de barreira invisível na entrada porque as pontas dos meus dedos formigam por um momento e a música de repente fica mais alta. A fumaça limpa o suficiente para eu dar uma olhada na sala. É muito mais escuro do que a Poisyn, e há muito menos dança acontecendo. Há sofás aqui e ali com Fae jogados neles, bebendo, fumando... e outras coisas que fazem meu rosto esquentar. Enquanto ando em direção ao bar, posso dizer que estou sendo observada. Pela primeira vez nesta noite, me sinto um pouco insegura.
Uma faerie com um metal circular através do nariz chega até mim antes de eu chegar ao bar. — Eu não vi você por aqui antes, — ele diz, seu tom sugerindo que suas palavras são um aviso de outro flerte.
Eu decido falar a verdade. — Eu fui enviada aqui para procurar alguém. Um homem com chifres de carneiros.
Um lado da sua boca vira. Ele alcança a bainha de sua camiseta e a tira sobre sua cabeça, revelando um conjunto impressionante de abdômen. Não tão impressionante quanto o abdômen de Ryn, mas, então, provavelmente estou sendo tendenciosa. Estou prestes a perguntar a esse cara por que ele está se despindo, quando ele se vira e me mostra as costas dele. Tatuado na metade superior está um par de grandes chifres enrolados de carneiro.
Ele coloca a camisa e diz, — Então, quem é você?
— Hum, meu nome é Violet.
— Violet. — Os cantos de seus lábios se levantam tão ligeiramente conforme seu olhar se move ao longo do meu corpo. — Estive esperando por você. Espere aqui. — Ele vai para trás do bar e desaparece através de um portal.
Coloco minhas mãos nos bolsos da jaqueta e tento não fazer contato visual com ninguém. Quando o cara retorna, ele me entrega algo pequeno embrulhado em papel marrom. É duro. — Hum, a pessoa que te deu isso, — digo. — Foi um homem ou uma mulher?
Ele me dá um olhar curioso. — Uma mulher.
— Ótimo. Obrigada. — Vou embora antes que ele possa fazer perguntas — e me encontro batendo em uma parede de carne. — Oh, desculpe-me, — digo ao virar. O homem gigante atrás de mim deve ser meio troll porque ele é enorme, e realmente feio.
— Indo embora tão cedo? — Ele pergunta. Sua voz é tão profunda que quase posso senti-lo rugir. — Você deve ficar um pouco. — Ele ergue a mão lentamente em direção ao meu rosto. — Nos conhecer um pouco melhor.
Eu me abaixo sob seu braço, pulo na almofada do sofá mais próximo, pulo para trás dele e pouso ao lado da parede. Eu apressadamente escrevo um portal e entro, deixando a música, a fumaça e a risada trêmula atrás de mim.
Entro no meu quarto e olho para o pacote nas minhas mãos. Na verdade, não foi tão difícil de recuperar. Se isso é tudo o que é preciso para provar minha bravura para essa mulher misteriosa, então ela obviamente não tem ideia do tipo de situações assustadoras com as quais me envolvi no passado. Esta foi uma tarefa de terceiro ano em comparação.
Sento na borda da minha cama e desembrulho o papel marrom. Dentro, encontro dois pedaços retangulares de vidro transparente, do mesmo tamanho que meu âmbar. Ótimo. Não tenho ideia do que devo fazer com eles. Coloco-os na minha mesa de cabeceira e começo a puxar as penas para fora do meu cabelo, que agora cheira a fumaça.
Dou um passo em direção ao meu banheiro, mas paro quando ouço um som zumbido na minha mesa de cabeceira. Um dos pedaços de vidro está vibrando, movendo-se lentamente em direção à borda da mesa. Eu corro e o pego antes que ele caia. Duas palavras cinzentas escuras me encaram da superfície do vidro.
Olá, Violet.
Eu pego minha stylus e sento na beira da cama. É a D? Eu escrevo.
Sim. Bem, você conseguiu chegar no Diviniti.
Esse vidro funciona como âmbar?
Sim. Nova tecnologia. Os fabricantes os chamam de vidro-comunicador.
Por que você me deu dois?
No caso de você quebrar um.
Justo. Suponho que isso aconteça quando você faz dispositivos de comunicação de vidro. Então, o que acontece agora?
Você me ouvirá dentro de três dias assim que eu souber quando e como Zell planeja fazer seu ataque às Guildas. Boa noite.
Boa noite? É isso? Depois de alguns minutos, é claro que quem estiver no outro extremo deste vidro comunicador não planeja enviar mais mensagens.
Eu mergulho na minha piscina de banho por um tempo, deixando a cachoeira lavar a fumaça do meu cabelo. Quando eu saio, encontro uma mensagem de Ryn no meu âmbar.
Sinto falta da minha Sexy Pixie. Mamãe te ouviu no meu quarto ontem à noite. Ela agora está usando palavras como ‘inapropriado sob meu telhado’ e ‘por favor, deixe sua porta aberta’. Então... me encontre na árvore gargan?
Com um sorriso, me arrumo e saio.
***
— Você está escondendo algo de mim, — diz Ryn. Na maioria das vezes, sua habilidade funciona muito bem para nós, eu nunca tenho que realmente dizer a ele o que estou sentindo, e está tudo bem para mim, mas agora é uma merda que ele pode me descobrir com tanta facilidade. — Seu humor está diferente e você definitivamente ficou nervosa quando perguntei como foi sua noite.
Ok, hora de jogar limpo. Posso manter um segredo de Ryn, mas definitivamente não posso mentir para ele. Especialmente não quando estou sentada em seu colo e ele não me deixa olhar para nenhum lugar, exceto em seus olhos. — Você está certo. Estive escondendo algo de você. — Coloco minhas mãos nos seus ombros. — Mas só porque eu sei que você ficaria todo protetor e se preocuparia com minha segurança e tentaria me impedir.
Ryn arqueia as sobrancelhas. — Se você tentou me tranquilizar, você fez um trabalho terrível.
— Não é extremamente perigoso. É apenas algo que eu quero fazer sozinha para que eu possa me provar a Conselheira Starkweather.
— E o que é esse ‘algo’?
Deslizo meus dedos pelos seus braços e pego suas mãos na minha. — Alguém na Corte Unseelie entrou em contato comigo para dizer que ela quer me contar todos os planos de Zell sobre seu ataque iminente às Guildas. Ela me viu no baile de máscaras, e obviamente, pensou que eu seria uma boa pessoa para transmitir a informação.
A expressão de Ryn torna-se cautelosa. — V, isso parece uma armadilha. Zell ainda te quer, lembra?
— Olha, essa pessoa já me deu informações que se tornaram verdadeiras. Ela me disse que haveria um incêndio na Guilda de Londres. Eu pensei que era uma piada, então ignorei isso. Então o fogo realmente aconteceu.
— E? Ainda poderia ser alguém tentando enganá-la para você se entregar.
— Eu sei. O pensamento me ocorreu. Mas eu terei cuidado. Não a encontrarei em nenhum lugar isolado. E se as coisas derem errado, bem, eu sou uma guardiã. Eu não ficarei impotente.
Depois de uma longa pausa, Ryn diz, — Se for encontrá-la, eu quero ir com você.
— Não tenho certeza de que seja uma boa ideia. Ela pode não me dar qualquer informação se vir que eu não estou sozinha. Ela provavelmente não quer que ninguém saiba quem é ela, caso Zell fique sabendo.
— Ela não precisa saber que estou lá.
— Ryn... — Inclino minha cabeça para o lado e tento implorar com meus olhos.
— Me desculpe, V. — Ele balança a cabeça. — Se você tivesse alguma ideia do quanto significa para mim, você saberia que eu não poderia lidar com isso se algo acontecesse com você.
— E nada vai acontecer comigo. — Eu aperto suas mãos com as minhas. — Eu realmente aprecio que você queira cuidar de mim, mas você não precisa. Eu quero fazer isso sozinha. Você precisa confiar naquilo que posso fazer.
Ryn está quieto enquanto seus olhos procuram meu rosto. Ele sabe o quão teimosa eu sou, então ele deve saber que não vou ceder quanto a isso. Por outro lado, eu sei o quão teimoso ele pode ser, então é possível que entremos em uma grande briga aqui.
— Tudo bem, — ele diz eventualmente. Ele coloca as mãos em ambos os lados do meu rosto e se certifica de que estou olhando para ele. — Se você não vai me deixar ir com você, então você tem que me prometer outra coisa.
Eu estreito meus olhos. — Prometer o quê?
Suas mãos escorregam do meu rosto e se acomodam nos meus ombros. — Você usará o colar da eternidade.
— Espera, você ainda tem essa coisa? Eu pensei que você iria destruí-la.
— Eu tentei. Não quebra. Agora prometa.
— Jeez, não é como se alguém tentasse me matar, Ryn. Zell realmente me quer viva, lembra?
— Exatamente. E a última vez que Zell tentou capturá-la e você fez uma fuga desesperada, você foi jogada pelo lado de uma montanha e quase morreu. Então, me prometa que você vai usar o colar.
Ryn tem razão. Inclino-me para frente e o beijo gentilmente nos lábios. — Eu prometo, — eu sussurro em sua orelha antes de arrastar meus lábios pelo lado de seu pescoço.
Capítulo 31
Jay, Asami e eu recebemos nossa próxima tarefa na manhã seguinte. Um elfo entrou em um restaurante no Creepy Hollow Shoppers Clearing ontem à noite e atacou uma jovem faerie. Então ele correu para a floresta e desapareceu. Esta manhã, outro ataque foi relatado por alguém que saiu dos caminhos das fadas. Felizmente, seu namorado estava lá para salvá-la, mas o elfo escapou mais uma vez. Agora, é nosso trabalho rastreá-lo e garantir que ele nunca mais ataque ninguém.
Precisamos entrevistar testemunhas para tentar estabelecer quem é o elfo, por que ele quer atacar essas garotas e onde ele pode estar agora. Leva tempo, o que é bom, porque preciso de uma distração. Preciso de algo para me impedir de contar o tempo até que Zell talvez deva encontrar seus seguidores para compartilhar seus planos.
Ryn e eu passamos todas as noites na árvore do gargan, que é como eu acabei perdendo uma visita de papai. Eu quis me chutar quando cheguei em casa e vi seu recado sobre a minha cama. Ele pediu desculpas por não poder visitar mais cedo e disse que não tinha ideia quando ele teria a oportunidade de voltar. Algo grande está acontecendo, ele escreveu. Fique segura. Gostaria de poder falar com ele sobre D e que logo vou saber quando o grande confronto estará acontecendo. Certamente, ele pode parar de se esconder e nos ajudar a lutar?
No dia da reunião de Zell com seus seguidores, eu mantenho o vidro em meu bolso onde quer que eu vá. Eu só tenho que ter cuidado para não me sentar sobre ele. Durante todo o tempo que estou com Ryn na gargan, espero que o vidro vibre no meu bolso. Não vibra. Eu chego em casa e o olho por um tempo, mas ainda não vibra. Filigree em forma de esquilo me olha estranhamente do pé da cama, como se dissesse, Por que a luz ainda está acesa? Quando podemos dormir?
— Eu não vou dormir até ouvir algo de D, — eu digo a ele. — Você pode ir dormir em outro quarto onde está escuro, se quiser.
Com uma fungada irritada, ele salta no chão e corre para debaixo da cama.
— Ou você poderia dormir debaixo da cama, eu acho. — Eu continuo olhando para o vidro comunicador antes de meu pescoço começar a ficar dolorido. Eu me deito e coloco o vidro no travesseiro ao meu lado. Não dormirei, não dormirei, não dormirei.
A próxima coisa que sei, estou deitada de costas, a luz cinzenta do amanhecer espreita através da claraboia encantada, e há um zumbido frenético ao lado da minha orelha. Levanto assustada e aperto o vidro comunicador com força, piscando para afastar o sono.
Eu sei tudo. Venha para o Rose Hall.
Eu alcanço a minha stylus na mesa de cabeceira. Indo agora.
Coloco minhas botas, coloco minha stylus em uma delas, jogo o colar da eternidade sobre minha cabeça, e corro para os caminhos das fadas. Rose Hall está situado em uma extremidade do Creepy Hollow Shoppers Clearing. Um mercado é mantido lá dentro uma vez por semana, e o salão também é usado para grandes funções às vezes, como festas. Caso contrário, fica vazio.
Eu ando pelo caminho vazio que corre entre a frente das lojas. Rose Hall é construído dentro da forte árvore widdern no final da pista. Não há nenhuma entrada esculpida no tronco como algumas lojas aqui, mas as palavras Rose Hall estão escritas em um sinal martelado no chão ao lado.
Será que vou poder abrir uma entrada no salão? Nunca tentei antes, então não sei se tem a mesma magia protetora que há em nossas casas. Não vejo por que deveria, já que não há muita coisa dentro para roubar. Seguro minha stylus contra o tronco da árvore e hesito. Eu olho em volta, lembrando que eu disse a Ryn que eu não encontraria D em um lugar isolado. Oops. Eu estava com tanta pressa que eu não pensei nisso até agora.
Isso é uma armadilha? Uma emboscada? Rose Hall está cheia de Faeries Unseelie esperando para me atacar e me capturar? Talvez os recados e o vidro comunicador fossem do próprio Zell. Talvez isso tudo seja apenas sua maneira elaborada de me fazer vir de bom grado para ele.
Eu fecho meus olhos e respiro fundo. Armadilha ou não, não posso voltar agora. Preciso saber o que está dentro deste salão. Então eu paro um momento para reunir energia suficiente no meu núcleo para atordoar uma faerie ou duas. Seguro a bola de poder em uma mão enquanto escrevo um portal na árvore com a outra.
Funciona.
Uma parte da árvore derrete. Eu dou alguns passos cuidadosos para a sala escura. A única luz aqui é a luz pálida do alvorecer que filtra através de uma janela de vitrais encantados na extremidade do corredor. Eu pego minha stylus e crio um orbita de luz. Eu a envio para o teto onde ilumina um salão vazio.
Não há ninguém aqui.
Era uma piada, afinal? Não, não pode ser. Como D saberia sobre o incêndio se ela não fizesse parte do círculo intimo de Zell? Eu me viro lentamente no local. Não há nada aqui, exceto por algumas folhas dispersas e... O que é isso? Meus olhos caem sobre uma forma cilíndrica no chão, no canto mais distante do salão. Eu ando em direção a ele, certificando-me de ficar constantemente alerta por quaisquer movimentos ou sons.
Eu chego ao canto do salão e me inclino para pegar o objeto. É um pergaminho. Um pequeno pico de adrenalina dispara através das minhas veias. Deve ser isso. Por que mais, um pergaminho deveria estar aqui se não fosse para eu pegar? Eu absorvo a bola de poder de volta através da minha mão, depois puxo a corda do pergaminho e desenrolo as páginas com a pressa.
Sim! É isso!
Menciona todas as Guildas, bem como as Corte Seelie e Unseelie. Uau, Zell vai tentar assumir tudo em uma noite? Ele tem um exército suficientemente grande? Examino as páginas rapidamente - detalhes, detalhes, detalhes - procurando a informação mais importante. Quando isso vai acontecer? Finalmente, eu acho, e o gelo se congela no meu sangue quando vejo o número.
Três dias.
Em três dias, todo o mundo vai entrar em erupção.
***
Eu atravesso o saguão da Guilda — os encantamentos de proteção no teto abobado? Tudo certo — e subo as escadas. Mais alto e mais alto até chegar ao andar dos membros do Conselho. Eu voo pelos corredores para o escritório da Conselheira Starkweather. Eu derrapo em uma parada na frente de sua porta e bato meus dedos contra ela. Nenhuma resposta. Eu tento de novo. Ainda sem resposta. Ela não está aqui. E, claro, ela não está, eu percebo, porque, apesar de ser uma viciada em trabalho, são cinco horas da manhã.
Com um gemido frustrado, ando pela passagem. Isso é simplesmente fantástico. Eu finalmente tenho o meu momento de provar a Conselheira Starkweather o quão útil posso ser, e ela nem está por perto. E não posso esperar até ela chegar aqui porque preciso mostrar isso a alguém agora. É além de urgente.
Eu me pergunto se há alguma chance de Tora estar aqui tão cedo. Ela saberá a quem devo dar essa informação. Coro de volta pelas escadas e me apresso pelo seu corredor. Estou prestes a bater em sua porta quando vejo alguém ainda melhor. — Bran! — Eu corro até ele. — Você faz parte do time que está investigando Zell, certo?
Com um suspiro, ele diz, — Você sabe que sim, Vi. Você já me interrogou e eu disse que não posso lhe dar detalhes.
Bran olha a primeira página com uma careta no rosto antes de olhar para mim. — Isso é uma piada?
— Foi o que eu pensei quando recebi o primeiro recado dela, mas não é. Ela me disse que haveria um incêndio na Guilda de Londres, e houve. Então ela me enviou este tipo de vidro para que ela pudesse entrar em contato comigo quando ela tivesse todas as informações. — Eu retiro o vidro comunicador do meu bolso e mostro para ele.
Ele o tira de mim. — Eu nunca vi um desses antes, — ele murmura, virando-o várias vezes. — Ela entrou em contato antes da Guilda de Londres pegar fogo?
— Sim. No dia anterior.
— E você não contou a ninguém sobre isso até agora?
— Bem, não.
— Violet! Por que não?
— Eu sinto muito. Eu sei que é infantil, mas fiquei tão louca que a Conselheira Starkweather se recusou a me envolver na investigação de Zell. Eu queria provar que minha contribuição poderia ser valiosa e que ela estava errada por não me incluir, então...
— Olhe, Vi, como alguém que lidou diretamente com Zell, sua contribuição é valiosa, mas você tem que ver que uma investigação complexa e perigosa como essa é mais adequada para os guardiões com décadas, séculos de experiência. Você ainda não está lá. Foi inteiramente inapropriado você guardar essa informação para você. Você deveria saber disso.
Merda. Eu não estou acostumada a desapontar meus superiores.
— Me desculpe. — Eu derrubo minha cabeça. — Mas, — continuo com cuidado, — o que você teria feito de forma diferente se eu tivesse contado sobre isso? Essa mulher queria dar essa informação apenas para mim.
— Nós teríamos seguido você para garantir que você estivesse segura e que não era um tipo de emboscada, ou que alguém não colocou um rastreador de algum tipo quando você não estava olhando.
— Mas... Na verdade, na verdade não conheci realmente nenhuma pessoa.
— Esse não é o ponto, Vi! — Ele aperta os papéis na mão. — O ponto é que você deveria ter nos contado sobre isso mais cedo.
— Ok, sinto muito. Desculpe. — Eu realmente sinto. — Mas isso estará acontecendo em três dias, Bran. Precisamos fazer algo. Você não precisa ter uma reunião com todos os outros membros do Conselho, tipo, imediatamente? Não precisamos planejar para que estejamos pronto para isso?
— Sim, — ele murmura, passa os olhos uma vez mais sobre as páginas enquanto atravessa o corredor. Ele para. — Por que nossos Videntes não viram isso?
Hmm. Bom ponto. — Eu não sei. Talvez eles comecem a vislumbrar isso agora que o plano final está no lugar.
A expressão de Bran torna-se duvidosa enquanto olha as páginas em sua mão. — Não tenho certeza de que possamos confiar nessas informações. Pode ser que alguém esteja tentando nos enganar.
— Eu acho que poderia ser. Mas e se não for? Não podemos não fazer alguma coisa sobre isso.
Bran aperta os olhos e murmura algo que não consigo ouvir.
— Então você vai convocar uma reunião?
— Claro, — Bran retruca. Não consigo lembrar dele retrucando para alguém antes. Ele procura pelas páginas e levanta a última. — Três dias, — ele murmura. — Nós podemos estar preparados em três dias.
— Espere, faça isso de novo, — digo. Pego a página dele e a seguro na luz. O contorno da insígnia da Rainha Unseelie fica visível no centro da página.
— Bem, — diz Bran, — pelo menos sabemos que essas páginas realmente vieram de dentro do Palácio Unseelie.
O que, suponho, ainda não confirma se a informação é legítima.
— Eu preciso ir, — diz Bran. — Vou levar isso comigo. — Ele ergue o vidro antes de se afastar de mim em direção à escada. — E não conte a ninguém sobre isso, Vi. Eu não quero que o pânico se propague.
***
Eu me sento na gargan e espero por Ryn. Passei todo o dia tentando me concentrar na tarefa do elfo e, em sua maior parte, falhei miseravelmente. Tudo no que eu poderia pensar era o fato de que todos nós estaríamos lutando por nossas vidas dentro de alguns dias. Por um lado, é uma coisa boa, o confronto estar finalmente sobre nós, e podemos parar de nos perguntar se e quando o tapete será arrancado de baixo de nossos pés. Por outro lado, e se perdermos? É improvável agora que sabemos que está chegando, e nós somos guardiões, afinal. É para isso que somos treinados. Mas.. e se houver muitos deles e não tivermos poder suficiente?
Quando eu saí esta noite, membros do Conselho de todo o reino das fadas estavam chegando. Eles tentaram ser gentis, saudando um ao outro como se nada estivesse errado - provavelmente por causa dos guardiões confusos ao redor deles que ainda não sabem o que está acontecendo -, mas eu pude ver o desconforto por trás de seus sorrisos. Adair e os outros guardiões mais antigos pelos quais passei pelo meu caminho também pareciam sérios. Eles já devem ter sido informados.
Estou começando a desejar não ter ido sozinha para recuperar a informação de D. Se o dia chegar e ninguém aparecer para nos atacar, bem, será uma coisa boa, mas também vou ficar em problemas monumentais. Fui eu quem trouxe essa informação para a Guilda, então serei a responsável por causar todo o pânico e as reuniões e a preparação e depois... o anticlímax.
Merda. Por que não pensei nessa possibilidade antes de eu encarregar minha própria pequena missão? E onde está Ryn? Olho para a posição da lua. Ele geralmente já estaria aqui até agora. Eu envio uma mensagem no âmbar, mas não recebo resposta. Eu tento lembrar se ele me disse se estaria trabalhando hoje à noite. Minha memória fica em branco.
Eu ando pelos caminhos das fadas e saio na minha sala de estar. Talvez Filigree jogue um jogo de cartas comigo para tirar minha mente das coisas. Nunca terminamos aquele jogo que Ryn interrompeu algumas semanas atrás. Subo as escadas e encontre Filigree enrolado na forma de tatu no meu travesseiro. Eu não vejo essa faz um tempo. Eu caio de barriga na cama e o cutuco – no momento que um som zumbido vem da minha mesa de cabeceira.
Meu âmbar? Não, está no meu bolso. Então seria... o segundo vidro comunicador. Eu abro a gaveta e coloco minha mão, empurrando o colar da eternidade para alcançar o pedaço retangular de vidro.
As coisas mudaram. Preciso lhe dar novas informações.
Eu viro para tirar minha stylus da minha bota e acabo rolando no chão. Droga, isso doeu. Eu me sento e rabisco rápido no vidro. O quê? O Conselho da Guilda já está reunido para analisar as informações que você me deu nesta manhã.
Quando?
Agora mesmo!
Então eu preciso me encontrar com você imediatamente.
Por que você não pode me dizer aqui pelo vidro comunicador?
É demais. Eu preciso me encontrar com você.
Isso não é muito perigoso para você?
Eu não me importo mais. Venha para o Rose Hall.
Agora?
Sim!
Arrasto-me do chão e abro um portal. — Não espere por mim! — Eu grito para Filigree quando entro na escuridão. Pulo para a pista escura de Creepy Hollow e corro para a árvore do Rose Hall. O que eu vou fazer uma vez que eu tiver essa nova informação? Apenas entrar na reunião do Conselho? Talvez eu possa convencer D a vir comigo. Isso definitivamente ajudaria. Paro contra a árvore com a mão. Levanto a stylus para escrever um portal, mas percebo uma minúscula folha de papel pregada na árvore. Apenas uma frase.
Continue jogando o jogo, Violet.
O quê? O jogo? Desde quando é um jogo? Um arrepio corre pelos meus braços enquanto eu olho em volta. Assim como nesta manhã, parece não haver ninguém aqui, mas não posso evitar sentir que algo estranho está acontecendo. Algo que estou perdendo. Eu tenho que entrar no corredor, no entanto. Zell mudou algo em seus planos, e eu preciso saber o que é.
Então eu faço o que fiz esta manhã. Eu coloco o poder do núcleo do meu ser e o mantenho acima da minha mão, pronto para usá-lo no primeiro sinal de perigo. Abro uma entrada para o salão e ando lentamente para dentro.
O que eu vejo no outro extremo do corredor me faz querer ficar doente. Em frente ao vitral, pendurado de cabeça para baixo do teto, há um cadáver. Um cadáver sem cabeça. Sem realmente perceber isso, deixo o poder acima da minha mão desaparecer. Com horror, eu ando em direção ao outro extremo do corredor. Há um objeto redondo colocado no chão debaixo do corpo, e todo instinto chocado dentro de mim grita que é uma cabeça. É a cabeça que pertence ao corpo pendurado. E eu preciso saber quem é.
Os meus dedos tremem. Minhas pernas tremem. Até as minhas respirações são frágeis quando escapam dos meus lábios. Mas eu continuo avançando. A cabeça está de frente para a parede traseira, mas quando me aproximo, vejo a cor no cabelo. Eu vejo as listras vermelhas, e eu sei. Eu sei. Mas ando para frente para encará-lo de qualquer jeito. Eu passo ao redor e vejo seus olhos vermelhos vidrados.
Zell.
Com uma mão trêmula, cubro minha boca para me impedir de vomitar. Então vejo as palavras escritas no chão.
Violet,
Você não pode ganhar este jogo. Conheço todos os seus movimentos antes de você fazer, e sempre estarei um passo à sua frente. Quero que saiba que tudo o que acontecer agora é sua culpa.
Draven
Capítulo 32
Draven? Era como eu costumava chamar Nate. Avenida Sr. Draven. Mas não pode ser ele. Não pode. Nãonãonãonãonão, por favor, diga que ele não fez isso. Oh, querida Rainha Seelie, o que ele fez? O que eu fiz?
Um som crepitante rasga durante a noite tranquila como relâmpagos em algum lugar fora. Ele atinge o chão com tanta força que eu tenho que jogar minha mão contra a parede para impedir o estremecimento de me derrubar. Eu ouço um baque e um estalo quando algo atinge o chão lá fora. Compelida pelo terrível temor de que todo o meu mundo esteja prestes a ser despedaçado, atravesso o salão vazio e saio na pista.
A rajada de vento mais forte que eu já senti passou pelas árvores e me derrubou no chão. Eu ouço um rugido. Rugido e um som crepitante. E eu sinto cheiro de fumaça. Eu consigo virar minhas costas logo quando outro raio atinge o chão bem próximo. Eu vejo uma luz laranja cintilante. Fica mais brilhante enquanto olho. O rugido se torna mais alto e a fumaça mais densa.
Oh inferno. Há um inferno louco aqui fora, movendo-se com a velocidade do vento.
Tenho que ir a Guilda.
Eu rolo de volta sobre minha barriga e escrevo um portal na sujeira. Eu caio na escuridão e concentro a minha atenção na entrada interior da Guilda. Talvez eu ainda tenha tempo de alertá-los sobre o que está por vir.
Eu abandono os caminhos das fadas a pé - e é aí que percebo o quão errada eu estou. Meu mundo não está prestes a ser despedaçado. Já foi despedaçado. O choque parece tirar o ar dos meus pulmões porque eu não tenho a menor vontade de respirar.
A Guilda está destruída. Toda a Guilda.
Cascalho reveste o chão até onde eu posso ver. Mármore e escombros e pedaços fumegantes de madeira entalhada. Árvores estilhaçadas e cinzas e fumaça. O complexo glamour e os feitiços arquitetônicos que escondem a Guilda inteira dentro de uma única árvore devem ter sido destruídos de alguma forma. Minha mente evoca imagens horríveis do que teria acontecido depois disso: o interior da Guilda explodiu, demolindo a floresta ao redor dela.
Eu dou alguns passos trêmulos para frente antes de cair de joelhos. Não consigo aceitar isso. É demais. Vejo guardiões espalhados aqui e ali por todo os escombros, alguns feridos, alguns tropeçando por aí perdidos. Os restos de conversas sussurradas me alcançam.
— ... Estão dizendo que Tharros retornou.
— ... deve ter tomado mais poder do que qualquer pessoa deve possuir.
— A primeira explosão veio de dentro de uma sala em que o Conselho e os guardiões mais velhos estavam.
— Algum deles saiu vivo? Não vi nenhum...
Oh não, oh não, oh não. Isso não pode estar acontecendo. Quantas pessoas estão mortas? Onde está Tora? Ryn? Flint? Onde diabos estão todas as pessoas de quem eu gosto?
Um flash ofuscante de luz branca enche a clareira destruída. Eu jogo minha mão através dos meus olhos até a luz diminuir. Quando olho novamente, vejo a Rainha Seelie vestida de armadura prateada, andando pelos escombros. — O QUE está acontecendo aqui? — Ela grita.
— Minha senhora. — Um de seus guardas corre atrás dela. — Você não deveria estar aqui. É muito perigoso. Pode haver...
— Eu quero saber o que está acontecendo, — ela grita. Ela para e gira no local, olhando para os guardiões que se apresentaram para se ajoelhar diante dela. — Eu quero saber como essa Guilda poderia ser estúpida o suficiente para chamar uma reunião de quase todos os membros do Conselho de cada Guilda e depois se explodir.
Um riso frio recebe suas palavras. Procuro a fonte do som e vejo uma mulher andando em direção à Rainha. Um tremor passa pelo meu corpo enquanto a reconheço. Angelica. Já não presa no centro de seu próprio labirinto. Ela mantém a cabeça alta, olhando para baixo para todos enquanto sacode seu longo cabelo preto e prateado sobre o ombro dela. E naquele instante, eu percebo porque achei a Rainha Seelie tão familiar quando a conheci.
— Olá, mãe, — diz Angelica quando ela está parada. — Você está com saudades de mim?
Mãe? Você está brincando comigo?
— Como eu sentiria de uma mancha feia em um vestido branco, — a Rainha zomba. — E não me chame de ‘mãe’. Você não é minha filha.
Sussurros de ‘filha fugitiva’ me cercam quando as pessoas percebem o que está acontecendo aqui. Os guardas da rainha apontam suas armas para Angelica, mas nenhum deles faz um movimento. Suponho que machucar uma princesa Seelie não venha naturalmente para eles.
— Não sou sua filha? — Angelica repete. — Suponho que não seja surpreendente, então, que eu estava muito mais feliz com a Guilda do que eu já estive em seu palácio. — As sobrancelhas da rainha contraem uma fração. — Oh, você não sabia? — Angelica pergunta, sua voz cheia de surpresa exagerada. — Quão chocante. Passei mais de uma década na Guilda de Creepy Hollow, e você nem sabia disso.
— Eles obviamente conseguiram não ensinar nada a você, — diz a Rainha, — já que você parece estar se juntando com o inimigo agora. O que você está fazendo com a Corte Unseelie?
Angelica solta um suspiro exagerado. — Veja, mãe, isso realmente não tem nada a ver com a Corte Unseelie. Tem tudo a ver com meu filho.
Confusão e raiva brigam nos olhos da Rainha.
— Isso mesmo, — diz Angelica. — Seu neto. Um príncipe da Corte Seelie...
— Um halfling, — a Rainha rosna.
— Sua própria carne e sangue! Ele está em posse do poder perdido de Tharros e não há ninguém no mundo que possa vencê-lo agora. Ele é o único que pode tirar tudo o que você tem. O Palácio Unseelie está em ruína, e o palácio Seelie está sendo destruído enquanto conversamos. As Guildas estão todas sob ataque. Quando o dia surgir, não haverá diferença entre Seelie e Unseelie. Só haverá aqueles que estão com o meu filho e aqueles que estão contra ele.
Nate. O que você fez?
— E quanto como essa Guilda poderia ser estúpida o suficiente para se fazer explodir, — continua Angelica. — Um dos seus guardiões enviou muito gentilmente um dispositivo de bombas encantadas para a reunião do Conselho. E esse mesmo guardião nos contou que a reunião estava acontecendo hoje à noite. Foi tudo muito fácil depois disso.
Ela está falando sobre mim? Nãonãonão, por favor, não. Por favor, não deixe que tudo isso seja minha culpa. Como eu voltarei a encarar alguém? Meus olhos procuram a clareira em desespero. Ainda não vejo Ryn ou Tora. Eu tenho que encontrá-los. Não consigo pensar em todos esses danos e destruição. Não consigo pensar em como tudo é culpa minha.
Encontre-os.
Minha stylus ainda está apertada na minha mão. Inclino-me para frente e escrevo no chão. Deslizo dentro da escuridão logo quando as primeiras gotas de chuva começam a cair. Dirijo-me primeiro a árvore gargan. Talvez Ryn esteja esperando por mim. Talvez essa parte da floresta ainda esteja tranquila e não tenha ideia do que está acontecendo longe daqui.
Mas algo está errado. Quando eu saio dos caminhos das fadas, eu me vejo caindo no ar. Um grito me escapa quando eu tento abrir outro caminho no ar em movimento. Não posso. Eu caio no chão, conseguindo diminuir minha queda no último segundo. Eu deslizo pelo chão por um momento antes de cair às últimas polegadas na estrada. Empurro-me e me levanto.
Destruição.
A árvore gargan, uma das mais antigas e majestosas árvores de toda a floresta, caiu. Está queimando e soltando fumaça e caindo. Levou a maioria das árvores ao redor com dela. Tudo está morto aqui.
Morto.
Nate fez isso. Ele destruiu meu lugar favorito de toda Creepy Hollow. Aperto meus punhos e solto um grito sem palavras. Continuo mais e mais, até que eu não tenha mais fôlego. — Como você pôde fazer isso? — Eu grito para a chuva lentamente tamborilando. — Eu te odeio!
As lágrimas se juntam aos pingos de chuva que caem pelo meu rosto. Eu atravesso os caminhos das fadas até a casa de Ryn. O que eu acho lá faz minhas lágrimas caírem mais rápido. Está destruída, rasgada, assim como as outras casas de fadas que eu posso ver através das árvores quebradas enquanto eu viro para olhar ao meu redor. Eu procuro pelos destroços, mas não há ninguém aqui.
Eu vou para a casa de Tora, e sou cumprimentada pela mesma visão. E, novamente, ninguém aqui.
O único lugar para ir é minha própria casa. Talvez Ryn e Tora tenham ido lá para me procurar. E Filigree! Eu tenho que resgatar Filigree!
Eu me preparo para a destruição, mas a visão da minha casa arruinada ainda é suficiente para me fazer sentir que algo acabou de ser arrancado do meu peito. Náusea invade meu estômago.
Minha casa se foi.
— Ryn! — Eu grito. — Tora! Filigree! — Sem resposta.
Eu escalo a bagunça que era minha cozinha. A mesa já não tem pernas, e estou prestes a pisar nela quando percebo uma faca afiada embutida na superfície. A faca está segurando um pedaço de papel na mesa. Um pedaço de papel dobrado.
Meu sangue queima como fogo quando a fúria passa por mim. Não foi o suficiente para Nate — Draven — tirar meu mundo inteiro? Ele também tem que deixar um maldito recado esfregando na minha cara?
Eu arranco a faca da mesa e desdobro o papel. Meu coração quase para à vista da escrita de Ryn - e então ele se quebra novamente quando eu leio suas palavras. Há muitas delas, mas só posso me concentrar em uma frase: não tente me encontrar. Eu limpo as lágrimas dos meus olhos quando enfio a nota no meu bolso. — Você prometeu que não iria embora, — eu sussurro. — Você prometeu.
É então que eu ouço uma voz fraca. Tora. Chamando meu nome. Eu me viro, procurando desesperadamente. — Tora? — Eu chamo. Eu ouço sua voz novamente. Salto das ruínas e corro ao lado da bagunça. Lá está ela, presa por uma árvore que aterrissou em seu abdômen. Uma árvore com galhos estilhaçados e casca e - oh, querida Rainha Seelie, nem quero olhar para o dano porque sei instintivamente que é demais para até mesmo uma faerie se recuperar.
— Tora! — Eu corro para o lado dela e agarro sua mão. — Oh merda oh merda oh merda. — Eu tenho que tentar curá-la. Mesmo que meu cérebro me diga que não é possível, ainda tenho que tentar. — Posso mover a árvore, — digo, me preparando para levantá-la com magia.
— Não. — Ela toca no meu braço para me parar. — Não vai ajudar. Minha magia, — ela ofega. — Não é... forte o suficiente para...
Não é forte o suficiente para curá-la. É o que ela quer dizer. Mas eu tenho magia que pode curá-la, eu percebo. O colar da eternidade. Se ela usar, ela não pode morrer, certo? Eu escalo os escombros da minha casa mais rápido do que qualquer coisa que eu já subi antes. Acho minha cama. Minha mesa de cabeceira. A gaveta foi nocauteada e está jogada ao lado dos estilhaços da minha mesa. Eu procuro pelo colar da eternidade.
Sumiu.
— Não! — Eu grito. Por que ele sumiu? Estava aqui quando eu saí, há menos de uma hora. Procuro por toda a gaveta, mas não há colar para ser encontrado em qualquer lugar.
Eu corro de volta para Tora. Levanto a metade superior de seu corpo e a seguro no meu colo, deixando minha magia penetrar nela onde quer que a nossa pele esteja tocando. — Por favor, não morra, — eu soluço. — Por favor, não morra, por favor, não morra.
— As minhas pernas... Ainda estão lá? — ela consegue perguntar. — Não posso... Senti-las...
Inclino-me sobre ela e deixo as lágrimas caírem no seu peito. — Sinto muito, Tora. Sinto muito, sinto muito. Isso é tudo minha culpa.
— Lembre-se... Eu... — Suas palavras morrem em seus lábios quando a vida desaparece de seus olhos.
Aperto suas mãos com força, desesperadamente. Não consigo respirar. Onde está o ar? Por que não consigo respirar? Pontos brilhantes dançam leve diante dos meus olhos. Solto as mãos de Tora e caio de volta no chão. E de repente há uma liberação, e estou sugando grandes respirações de ar nos meus pulmões.
Eu não mereço isso. Deveria ser eu morta no chão, não Tora. Eu me levanto. Eu ando cegamente sobre os destroços da minha casa. Não sei aonde vou. Não sei o que planejo fazer. Tudo o que sei é que não quero pensar. Não quero lembrar. Não quero estar aqui.
Eu caio no ponto mais alto da minha casa destruída e seguro minha cabeça entre as minhas mãos enquanto choro. Não posso corrigir isso. Não posso passar por isso. Eu nem sei como posso viver sabendo que ela morreu por minha causa.
Minhas mãos caem para os meus lados, e uma delas para sobre uma pilha de vidro. O conteúdo do meu kit de emergência, espalhado e quebrado. Meus dedos trêmulos procuram pelos itens que conseguiram sobreviver e param em um dos frascos. Eu o pego. Esquecer, diz o rótulo.
Isso é o que eu quero. Quero esquecer tudo o que aconteceu. Quero esquecer que é minha culpa.
Tiro a tampa.
Levanto até a minha boca.
Eu fecho meus olhos e o derramo na minha garganta.
Capítulo 33
Eu desperto em um quarto pequeno e mal iluminado com um teto que parece estar muito perto. Eu rolo sobre o meu lado, esfregando meus olhos ásperos. O quarto está vazio, exceto por uma cadeira e uma pequena mesa. Na mesa está uma lanterna com uma luz cintilando dentro.
— Oh, você está acordada, querida. Que amável. — Alguém pequeno entra no quarto. Alguém com cabelo cinza e vestindo um vestido longo. Ela se curva sobre mim, e vejo olhos negros em um rosto coberto de escalas como de um réptil.
Reptiliana, meu cérebro me diz. — Quem é você? — Pergunto.
Ela sorri para mim e rugas se formam nos cantos dos seus olhos. — Alguém que decidiu não deixar você lá fora, nos destroços.
— Destroços? — Repito. Ainda estou tentando dar sentido a onde eu estou, como cheguei aqui e o que aconteceu antes de eu dormir. Estou conseguindo nada.
— Os destroços da floresta. Foi despedaçada por um faerie malvada. — Ela balança a cabeça em desaprovação. — Draven, eles dizem que é o nome dele.
— Draven? — Nunca ouvi falar dele.
— E qual o seu nome, querida?
O meu nome. Essa é uma pergunta fácil. E eu tenho a resposta. Está aqui mesmo na ponta da minha — Violet, — eu digo, aliviada, que o nome apareceu para mim.
— E?
— E o quê?
— O que mais você se lembra?
O que eu lembro? Isso é um pouco mais difícil. Eu procuro na minha cabeça confusa, em seguida, eu a balanço. — Para ser sincera, — eu digo, — não muito.
{1} No inglês: Bite me, algo no sentido de foda-se.
Rachel Morgan
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