Emerson Clarke: Sarcástica. Independente. Possivelmente enlouquecendo.
Porque essa é a única explicação para por que ela ocasionalmente vê coisas que não estão lá, certo? Mas uma noite, um poder impossível irrompe dela, e Em percebe que a verdade é mais louca do que ela jamais imaginou: ela não está enlouquecendo; ela é mágica.
Lançada em um mundo inteiramente novo de fadas, encantamentos - e o cara chato que não é humano também - Em mal tem tempo de aprender o mais básico de magia antes que outra verdade surpreendente se revele: ela tem uma Habilidade Griffin. Um tipo especial de magia temido pela maioria dos fae. Agora ela está no topo da lista de mais procurados de todos, incluindo o misterioso faerie que realiza ataques aleatórios contra fae.
Neste mundo mágico e aterrorizante para o qual ela está totalmente despreparada, Em deve tentar descobrir quem ela realmente é, em quem confiar e como se manter viva por tempo suficiente para voltar à sua vida normal.
Comece uma nova aventura emocionante como a série best-seller de Creepy Hollow que continua dezoito anos após os eventos de A Faerie's Curse!
PARTE 1
Capítulo 01
NA ESCURIDÃO ENTRE A LANCHONETE TYGO E A BIBLIOTECA ABANDONADA, O fedor de lixo apodrecendo, me faz querer vomitar. Me concentro em respirar pela boca enquanto removo o pacote de papel marrom amassado da minha bolsa mensageiro e o seguro. — Você sabe o preço, Slade. — Eu aceno o pacote para ele. — É pegar ou largar.
Slade levanta uma sobrancelha. Ele solta um suspiro dolorosamente longo antes de se voltar para o maço de notas em sua mão. Ele as percorre preguiçosamente, contando a quantidade certa. Mas, em vez de entregar o dinheiro, ele encosta um ombro na parede e me observa com um sorriso. — Você conduz uma barganha difícil, Emerson Clarke.
— Pare de ser um idiota. O preço é exatamente o mesmo da última vez. Você quer ou não?
— Claro que eu quero. Desencana, Em. — Ele encolhe os ombros, esfregando o ombro contra o gigante X amarelo grafitado nos tijolos. — Apenas tentando tornar essa troca mais divertida.
Eu enfio o pacote contra o peito dele e retiro o dinheiro da mão dele. — Eu não preciso de mais diversão na minha vida.
— Ei, você realmente precisa relaxar, — ele fala atrás de mim conforme eu me afasto.
— Obrigada pelo conselho. — Eu não me incomodo em olhar por cima do meu ombro para ele conforme me afasto, meus tênis pisando no chão sujo e úmido. Estou quase no fim do beco quando a porta dos fundos da lanchonete Tygo se abre. Eu me esquivo para fora do caminho para evitar ser atingida no rosto. — Caramba, Marty.
— Oh, ótimo, você ainda está aqui. — Ele segura um saco de lixo em minha direção. — Você esqueceu deste aqui.
Eu considero dizer a ele que meu turno terminou há cinco minutos, mas não vale à pena discutir. Eu pressiono meus lábios, empurro o dinheiro de Slade no bolso da minha calça jeans e pego a sacola. Marty deixa a porta fechar sem outra palavra. Resmungando sob a minha respiração, eu ando os poucos passos de volta para a lixeira. Slade, ainda curvado na outra extremidade do beco, me ignora enquanto seguro meu fôlego, levanto a tampa da lixeira e levanto o saco de lixo e sobre a borda.
Estou prestes a abaixar a tampa quando ouço um sussurro de dentro da lixeira. Apenas um rato, digo a mim mesma, sabendo que deveria fechar a tampa. Mas essa parte do meu cérebro que sempre quer saber se as coisas que eu vejo e ouço são reais faz meu braço congelar no lugar. O som estridente e farfalhante se move para o lado da lixeira. Um braço escamoso aparece, abrindo caminho ao longo da borda com garras azuis e um líquido amarelo brilhante pingando de —
Eu solto a tampa e pulo para trás, xingando em voz alta.
— Com medo de alguma coisa, Em? — Slade sorri enquanto passa por mim.
— Não, — eu respondo de volta. Mas quando ele vira a esquina e desaparece, eu engulo, meu coração batendo rápido demais. Espreito a lateral da lixeira, procurando por um braço reptiliano meio esmagado saindo de baixo da tampa. Mas não há nada lá. — Imaginação hiperativa, — murmuro para mim mesma enquanto me afasto, é a mesma mentira que sempre uso.
Eu me sinto mais calma quando estou na rua principal. Prendendo meu polegar sob a alça da minha bolsa mensageiro, eu diminuo meus passos, não mais me sentindo como se estivesse fugindo de alguma coisa. Meu medo evapora quando eu me lembro de que com o dinheiro de Slade adicionado às minhas economias, eu finalmente tenho o suficiente para uma viagem de ônibus.
— Ei, Em.
Eu me viro na direção do grito e encontro Val empoleirada em cima de uma parede ao redor da Escola Primária Stanmeade. — Ei. — Eu aceno para ela enquanto eu mudo de direção e atravesso a área gramada do lado de fora da escola. Eu jogo minha bolsa no chão, então corro direto em direção a parede. Meu pé direito bate nos tijolos e me lança para cima. Com as palmas das mãos em cima da parede, é fácil puxar minhas pernas para cima.
— Legal, — Val diz conforme eu ando habilmente ao longo do topo da parede em direção a ela.
— Obrigada. — Eu me sento ao lado dela e coloco as mãos no meu jeans. — É uma parede fácil, no entanto. Não tão alta quanto algumas das outras que tentamos.
— Eu sei. Ei, veja isso. — Ela empurra o cabelo escuro e crespo da frente do seu rosto e segura o telefone na minha frente. — Último vídeo Top Dez do ParkourForLife.
Olhando além da rachadura na tela do celular de Val, vejo um sujeito pular de um prédio, dar uma cambalhota no ar e aterrissar no prédio ao lado, seguido por mais nove movimentos espetaculares. — Impressionante, — murmuro. — Eu adoraria poder fazer tudo isso.
— Totalmente, — Val concorda. — Eu meio que sinto que temos que ir a outro lugar para melhorar nossas habilidades. O parquinho urbano daqui é muito limitado.
— O parquinho urbano? — Eu repito com uma risada.
— Sim. As pessoas chamam assim, certo?
— Hum...
— Bem, eu chamo assim. — Ela abre os braços, quase me acertando no rosto com o seu cotovelo. — Eu apresento a vocês o parquinho urbano de Stanmeade. É feio, mas é onde começamos.
Eu balanço minha cabeça, ainda sorrindo. — Você entendeu bem a parte feia. E a parte limitada. Conhecemos bem este lugar e seus obstáculos agora.
— Sim. De qualquer forma, como foi seu turno?
Eu dou de ombros. — Um pouco acima da média. Eu vendi outra das misturas caseiras da Chelsea. Slade Murphy novamente.
— Novamente? Ooh, diga. De que doença recorrente secreta Slade Murphy está sofrendo? Alguma coisa super embaraçosa sobre a qual devemos avisar sua namorada?
— Foi para a namorada dele, na verdade. Algum tipo de chá anticoncepcional.
Val inclina a cabeça para trás e ri. — Bem, esperemos que funcione.
— Eu acho que deve estar funcionando, já que este é o segundo pacote que eu vendi para ele. De qualquer forma, isso não é importante. — Eu puxo minhas mangas para baixo para cobrir meus polegares. — O importante é que eu finalmente economizei o suficiente para outra passagem de ônibus.
Val se endireita. — Para visitar sua mãe?
— Sim, obviamente.
— Legal, — diz ela, embora sua voz não tenha entusiasmo.
— O quê?
— É só que... — Ela se mexe um pouco. — Você tem certeza que deseja fazer isso? Realmente te perturbou da última vez que você a visitou.
Eu mordo meu lábio inferior antes de responder. — Eu sei, mas espero que seja diferente desta vez. Ela pode estar melhor. Além disso, valerá à pena sair um pouco desse lugar. Eu estou contando os dias até não precisar mais dividir uma casa com pessoas pé no saco.
— Eu te entendo, — Val diz, seus cachos saltando quando ela balança a cabeça. Eu sei que ela não quis dizer isso inteiramente, no entanto. Nossas situações familiares são difíceis, mas de maneiras completamente diferentes. Enquanto eu fico com uma tia que me odeia e uma prima mimada, Val tem quatro irmãos mais novos que sua mãe espera que ela ajude a cuidar. E eu sei que Val os ama, apesar de todas as reclamações dela. Então, daqui a alguns meses, quando finalmente terminarmos a escola, tenho a sensação de que vou partir por conta própria.
— Ei! Saiam daí! — Olhamos sobre nossos ombros para o pátio da escola, onde a Sra. Pringleton está sacudindo o dedo ossudo para nós.
— Mas não estamos fazendo nada de errado, — Val grita de volta.
Suas mãos nodosas formam punhos, e as manchas cor-de-rosa em seu rosto ficam mais rosadas. — Eu vou ligar para a polícia se vocês não saírem daqui nos próximos dez segundos!
— Legal, — diz Val. — Diga ao Tio Pete que eu disse oi.
— Val. — Eu cutuco seu braço enquanto tento evitar rir. — Não vamos dar à velha um ataque cardíaco, ok? Podemos subir de volta assim que ela sair.
— Tuuuudo bem. — Val mexe sua bunda até a borda da parede e pula para baixo. Eu sigo um momento depois. — Eu acho que eu deveria ir para casa para os mini monstros de qualquer maneira, — acrescenta ela. — Mas eu estou me dando mais cinco minutos de liberdade primeiro. — Ela se senta na grama e cruza as pernas.
— Tudo bem por mim. — Eu permaneço de pé, mas me inclino contra a parede e brinco com a ponta da minha manga. — Você provavelmente já está com problemas por estar atrasada, então o que são cinco minutos extras?
— Exatamente.
Um carro passa ruidosamente e, do outro lado da rua, noto uma pessoa que não estava lá há um minuto. Um cara com uma arrogância irritantemente familiar em seu passo. — Maravilha, — murmuro. — O que Dash está fazendo aqui?
— Hmm? — Val olha para cima. — Oh. Provavelmente indo para a festa.
— Que festa?
Ela vira a cabeça para o lado e olha para mim. — Sabe, aquela na casa da fazenda do Mason.
— Eu não sabia, na verdade. O irmão mais velho de Jade está em casa novamente?
— Sim. Supostamente cuidando de Jade e do outro garoto Mason enquanto seus pais estão fora.
— E em vez disso ele está dando outra festa, — eu digo com um suspiro.
— Sim. Sorte nossa, humildes estudantes do ensino médio.
— Certo. Se você gosta. — Olho de volta para o outro lado da rua para Dash. Como sempre, ele destacou seus cabelos loiros mel com mechas verdes brilhantes. Tudo o que posso fazer é balançar a cabeça para a estranha combinação de cores. — O cabelo dele é tão estranho. Eu não sei como eles o deixaram se livrar disso seja qual for à escola que ele frequenta.
— Você não sabe como eles o deixaram ficar com o cabelo incrível? — Val pergunta com uma risada.
— Não, eu quero dizer a cor.
Ela ri com mais força e balança a cabeça. — Eu não sei o que você pode achar ofensivo sobre o cabelo lindo daquele menino, mas tudo bem. Eu não discutirei com você.
Eu olho para ela com uma careta. — Cabelo lindo? Sério?
Ela encolhe os ombros. — O que posso dizer? Eu o acho atraente.
Eu gemo e olho para cima mais uma vez, e Dash escolhe aquele momento para olhar através da rua, nos dar um sorriso encantador e piscar. — Sério? — Eu murmuro. — Quem diabos pisca para as pessoas?
— Dash, aparentemente, embora provavelmente só para você. — Val bate no meu tornozelo. — Você sabe que ele ama irritar você. De qualquer forma, você deveria ir para a festa. Se Dash fez todo esse percurso, você sabe que vai ser boa.
— Por favor. Dash provavelmente está entediado seja lá qual for a escola particular e tensa e esnobe que ele frequenta. Sem dúvida, ele aproveita a chance de ir a qualquer festa.
— Então... isso significa que você vai?
Eu balanço minha cabeça enquanto observo Dash continuando a descer a rua. — Não é a minha praia, Val. Você sabe disso.
— Você sabe que ainda pode ir a festas mesmo se não quiser beber, certo?
— Então eu vou ficar lá totalmente sóbria e ver o resto de vocês ficando bêbados? Não, obrigada.
— Ou você poderia apenas beber um pouco. — Ela dá uma tapinha no meu tênis. — Você precisa relaxar mais, Em.
Eu cruzo meus braços sobre meu peito. — Lembra como meu tio morreu de envenenamento por álcool? E como minha mãe tentou abafar seus delírios bebendo? Sim. Estou tentando evitar situações como essa.
Val fica quieta enquanto ela levanta. — Vamos, Em. Você sabe que isso nunca vai acontecer com você.
Eu pisco para longe a memória daquele braço escamoso e brilhante saindo da lixeira. — Tudo bem, aqui está uma razão para você: Dash vai estar nesta festa, e eu não sinto vontade de estragar a minha noite.
— Ok, ok, eu entendi. Você não vai à festa. — Ela passa um braço em volta do meu pescoço e me abraça. — Tente ter uma boa noite de qualquer maneira.
— Obrigada. Vejo você amanhã.
Nós seguimos em direções diferentes, Val segue pela parte de trás da escola para atravessar o campo, enquanto eu continuo ao longo da rua. Longas sombras se estendem pelo asfalto e a névoa marrom-alaranjada e desbotada do pôr do sol enche o céu. Eu viro logo depois dos correios —
— e vejo uma figura com um capuz prateado no meio da rua. Na frente dele ou dela está um homem com orelhas pontudas. A figura encapuzada toca o homem, e o homem se torna uma estátua sólida de cristal facetado reluzente.
Com um suspiro, eu me escondo atrás do prédio, meu coração trovejando. Eu pressiono minhas costas contra a parede de tijolos quentes e coloco as duas mãos sobre os olhos. Eu conto até dez enquanto me forço a respirar devagar. — Não há nada lá, — eu sussurro para mim mesma. Eu começo a contar novamente, e desta vez eu continuo. Eu alcanço o número oitenta antes de ser corajosa o suficiente para abaixar minhas mãos do meu rosto. Lentamente, eu espreito ao redor do prédio - e, claro, não nenhum sinal de que uma figura encapuzada e uma pessoa feita de cristal estivessem lá. Porque eles não estavam, eu digo a mim mesma. Eu pressiono minhas costas contra a parede mais uma vez. — Você não viu nada, — eu sussurro. — Não havia nada lá. Você não viu nada de estranho. Você não está ficando louca.
Mas, ao me apressar pela rua principal, optando por seguir o caminho mais longo para casa, não consigo deixar de pensar em todas as vezes que coisas estranhas como essa aconteceram. A criatura não identificável sentada no parque no balanço um dia. Aquele homem com as orelhas pontudas que veio na lanchonete uma tarde. E daquela vez eu olhei no espelho do banheiro e por um momento, meu cabelo estava azul. — Eu não estou ficando louca, — repito calmamente, quase desesperadamente. Isso provavelmente está relacionado a algo que vi na TV. Ou algo que eu li. Meu cérebro está processando algo fictício e o regurgitando mais vividamente do que eu esperava. É isto o que as pessoas querem dizer quando falam sobre uma imaginação hiperativa, certo? — Sim, deve ser isso, — murmuro. — Deve ser isso.
Deve ser qualquer coisa, exceto o óbvio: que estou ficando como minha mãe.
Eu tento manter meu olhar focado no chão aos meus pés o resto do caminho para casa, não querendo ver nada que eu não deveria estar vendo. É uma viagem muito mais longa do que se eu tivesse usado a rua que eu deveria usar. A rua em que a figura encapuzada estava. Está escuro quando chego a nossa rua, e quase corro para cima e para o lado da casa da Chelsea. Eu nunca estou ansiosa para chegar em casa, mas de alguma forma me convenci de que estarei segura assim que entrar. Eu entro pela porta da cozinha e paro um pouco para respirar quando a porta se fecha atrás de mim.
Uma panela fervendo contendo algo que cheira como podendo ser macarrão está no fogão. Através da porta aberta que leva ao salão, ouço Chelsea e Georgia conversando. Meu medo anterior começa a parecer tolo em comparação com a normalidade ao meu redor.
Atravesso a cozinha sem falar oi para Chelsea e Georgia. Elas não se importam particularmente que eu esteja em casa, e eu particularmente não me importo em cumprimentá-las. Em vez disso, vou direto para o meu quarto, removendo o dinheiro do bolso conforme ando. Eu forço minha porta a se abrir, empurrando-a além de outra caixa de equipamentos de salão da Chelsea que parece ter encontrado seu caminho para este quarto desde hoje de manhã. Deixo minha bolsa mensageiro escorregar do meu ombro sobre a cama, meu foco agora em contar minha comissão do dinheiro que Slade me pagou. O resto, claro, vai para a querida Tia Chelsea. Ela é quem faz os estranhos remédios de ervas.
Eu puxo meu pote de sorvete com produtos de higiene da prateleira acima da minha cama e procuro pela sacola plástica que eu guardo. Eu vou contar tudo agora e ter certeza que tenho bastante, então, eu vou comprar uma passagem de ônibus amanhã. Eu remexo em várias garrafas, meus dedos procurando o saco de plástico amassado.
Sumiu.
Meu estômago cai enquanto esvazio o conteúdo do pote na minha cama, só para ter certeza. Eu espalho tudo, mas a pequena sacola com zíper definitivamente não está lá. Minha pele fica fria e quente. Foram meses e meses de poupança, tudo para que eu pudesse visitar a mamãe e agora sumiu?
Minhas mãos se fecham em punho enquanto saio do quarto e vou direto para o salão. Eu encontro Georgia descansando em uma das cadeiras, olhando para si mesma no espelho enquanto ela passa a mão pelo cabelo loiro e liso. No lado oposto da sala, Chelsea estoca as prateleiras com mais de seus produtos caseiros à base de ervas.
— Onde está o meu dinheiro? — Eu exijo.
Georgia pula de susto e quase escorrega da cadeira, mas Chelsea ainda demora um momento antes de se virar para mim. — Seu dinheiro, Emerson, — diz ela. — Eu acho que você quer dizer meu dinheiro.
— Desculpe?
— Você vem me roubando há meses.
— Roubando — eu nunca roubei nada de você. Eu sempre dou a você exatamente o que é devido e só mantenho a porcentagem permitida. Você sabe disso.
— Certo. — Chelsea cruza os braços e acena com a cabeça. — E depois você volta para o meu quarto e rouba o que quiser. O dinheiro tem desaparecido da minha bolsa há meses. No começo eu pensei que estava imaginando, que deve ser erro meu, mas então eu comecei a acompanhar exatamente o quanto estava lá. — Ela me dá um sorriso triunfante, como se tivesse feito algo maravilhosamente inteligente. — E você sabe o que eu descobri? Pequenas quantias de dinheiro começaram a desaparecer a cada semana. E olha onde eu encontrei. — Ela cava no bolso e tira uma sacola plástica. Minha sacola de plástica.
— Essa é a minha suada poupança, — eu digo a ela, sentindo um nó de náusea se formando no meu estômago. — Isso não é seu.
— Não minta para mim. Eu sei como vocês meninas gastam dinheiro. Como se crescesse em árvores e vocês não tivessem nenhuma responsabilidade no mundo. O que eu quero saber é onde está o resto? — Ela sacode a sacola no ar entre nós. — Porque você roubou muito mais do que o que resta aqui.
— Eu não roubei você! — Eu grito. Eu olho para Georgia, que está observando nós duas com um pequeno sorriso. Minha raiva aumenta um nível quando eu aponto para ela. — Você quer saber para onde seu dinheiro está indo? É onde você deveria estar procurando.
— Não se atreva a meter Geórgia nisso. Ela nunca me roubaria.
— Bem, não sou eu, então não sobra ninguém, não é?
Chelsea solta uma risada incrédula. — Eu não acredito em você, Emerson. Depois de tudo o que fiz por você. Eu trabalho tanto para cuidar de vocês duas, e é assim que você me paga? Você me rouba e então corre por toda a cidade fazendo aquele inútil absurdo de parkour.
— Tudo? — Eu repito. — Você disse depois de tudo que fez por mim? — Normalmente eu ficaria de boca fechada. Eu engoliria minha raiva e deixaria que ela tentasse se convencer de como ela é incrivelmente caridosa. Mas não desta vez. Não quando ela tirou minha única chance de visitar minha mãe. — Você quer dizer que está me dando roupa de segunda mão de Georgia, me fazendo dormir no que é essencialmente seu depósito por cinco anos e me usando como sua empregada doméstica?
— Eu te dei uma casa, — ela grita. — Você deveria ser grata pelo teto sobre sua cabeça. O que teria acontecido com você se não houvesse ninguém para aceitá-la depois que trancaram sua mãe? Seu pai com certeza não queria você. Ele parece estar cobrindo todas as despesas médicas de sua mãe naquele hospital distante, mas ele está interessado em apoiar você? Não. Eu nunca conheci o homem.
Chelsea usou essa jogada antes para tentar me machucar, mas nunca funciona. Eu não me importo com o meu pai ou com o fato dele não ter interesse em mim. Eu nem sei como ele é. — Por favor, — eu digo entre os dentes cerrados. — Apenas me devolva meu dinheiro.
— Você não vai conseguir esse dinheiro de volta, Emerson. Fim da história. — Chelsea coloca a sacola de plástico de volta no bolso e se vira para as prateleiras de lixo de ervas. Georgia sai da cadeira e sai da sala. Eu fico ali me sentindo enjoada, meu corpo tremendo, finalmente percebendo que a esperança que tenho guardado por meses - a esperança de finalmente visitar minha mãe novamente - se foi. E eu não posso culpar Chelsea por isso. Não inteiramente. Não quando ninguém é responsável por essa bagunça.
Saio do salão e vou para o quarto de Georgia. Ela está sentada em sua cama com uma revista, sorrindo docemente, com conhecimento de causa.
— Foi você, — eu digo, dando alguns passos para dentro de seu quarto. — Você disse a ela onde meu dinheiro estava.
Ela abaixa a revista. — Porque você precisaria de todo esse dinheiro, Em? Você sabe que precisamos disso para manter a casa funcionando. Como você pode ser tão egoísta?
— Como você pode ser tão egoísta roubando de sua própria mãe?
— Eu preciso de coisas, — diz ela. — Coisas que você não precisa. Coisas que você não entenderia, e mamãe não parece entender também.
Eu olho para ela com raiva por mais alguns segundos, minha raiva tão intensa que eu poderia gritar. Mas isso não seria bom. Eu ainda tenho que ficar mais alguns meses aqui, então eu fecho a boca, me viro e vou em direção da porta.
Mas é quando eu vejo: pendurado em uma maçaneta no guarda-roupa, a etiqueta ainda presa na bainha, está um vestido novo. — Está é a coisa que você precisa? — Eu exijo, pegando o cabide, girando e sacudindo o vestido para ela.
— Sim. — Ela se senta um pouco mais ereta, como se eu finalmente conseguisse sua atenção agora que estou ameaçando sua roupa. — Eu tenho um namorado e uma vida social e um futuro. Esse tipo de coisa não vem de graça. Você tem que parecer bonita se quiser —
Eu arremesso o vestido sobre ela, e ela grita quando atinge o lado de sua cabeça. — Você comprou um vestido? — Eu grito. — Estou economizando há quase um ano para poder visitar minha mãe e você tirou isso de mim por causa de um VESTIDO?
Algo pisca através do quarto. Luz e calor e o som de um chiado. Desaparece quando Georgia recua contra os travesseiros com um grito.
O medo quebra a minha raiva, me enchendo de arrepios. Eu corro em direção de Geórgia. — Qual é o problema? O que aconteceu?
Ela me empurra com uma das mãos, a outra cobrindo sua bochecha. — O que diabos você fez comigo? — Ela ofega, seus olhos mais arregalados do que eu já vi.
— Eu não fiz —
— Você jogou algo em mim! Como um fogo de artifício ou algo assim. Sua esquisita, qual é o problema com —
— Eu não joguei nada!
— Saia de cima dela! — As mãos de Chelsea envolvem meus ombros e me puxam para trás.
No silêncio que se segue, tudo o que ouço é minha respiração pesada e os gemidos de Georgia. Ela abaixa a mão, revelando sangue escorrendo de um corte raso em sua bochecha. Ela me encara com ódio renovado. — Oh, meu pobre bebê, — Chelsea engasga, pegando um lenço da caixa na mesa de cabeceira. Ela cai na cama ao lado de Georgia e pressiona o lenço contra sua bochecha antes de virar sua carranca na minha direção. — Eu não posso mais fazer isso, Em. Você nunca demonstrou gratidão pelos sacrifícios que tive que fazer por você. Você roubou de mim e agora agrediu fisicamente Georgia. A polícia pode lidar com você.
— A polícia?
Ela se levanta e passa por mim. — Você não é mais meu problema. — Eu a sigo até a cozinha, onde ela pega o telefone da mesa. Quando ela disca alguns números e leva o telefone ao ouvido, percebo que ela não está brincando.
O medo dissolve minha raiva. — Chelsea, espere. Eu sinto muito. Georgia me provocou, mas eu não deveria ter perdido a paciência daquele jeito. Não vai acontecer de novo. Você não precisa envolver os policiais nisso. Por favor. — Me sinto enjoada de ter de implorar a ela, ter que implorar a essa mulher que me fez esfregar banheiros, lavar a roupa de Georgia, mentir para os vários homens que ela está sempre mentindo e depois exigir minha gratidão pelo privilégio de fazer todas essas coisas por ela. Mas é só por mais alguns meses. Então eu terei dezoito anos, terminarei a escola e eu posso fazer um plano para sair daqui. Mas se a polícia se envolver, quem sabe onde vou parar.
— Não, — diz Chelsea. — Eu não posso acreditar que você está me obrigando a fazer isso, mas agora não tenho escolha. Eu tenho que proteger minha filha.
— Chelsea, por favor. Protegê-la de quê? — Eu me aproximo, apertando minhas mãos sob o queixo. — Eu juro que nunca —
— Você vai acabar ficando louca igual a sua mãe, — ela diz, — e eu não quero você nesta casa quando isso acontecer.
Eu recuo como se ela tivesse me dado uma tapa.
— Alô? — ela diz ao telefone, se afastando de mim. — Sim, hum, por favor, você pode enviar alguém para —
Eu passei por ela em direção à porta dos fundos.
— Ei, volte aqui! — Ela grita enquanto eu abro a porta e corro.
Mas eu não volto. E eu não paro de correr.
Capítulo 02
EU CORRO PELO QUINTAL, ESCALO O MURO DO VIZINHO E PULO FACILMENTE PARA A parede baixa do outro lado do jardim. Não tenho outro plano senão chegar o mais longe possível da casa antes que os policiais apareçam. Meus tênis batem nos pavimentos e meu corpo se lança através de vários obstáculos antes de eu perceber que estou indo para a casa de Val. Eu chego na metade do caminho quando lembro que ela não vai estar em casa. Não sei a que horas a festa deveria começar, mas as coisas geralmente começam bem cedo por aqui. Não é como se houvesse muito coisa para fazer. Além disso, a casa de Val é provavelmente o primeiro lugar para o qual Chelsea vai mandar a polícia.
Eu diminuo meus passos e coloco minhas mãos em meus quadris enquanto recupero o fôlego. Meu coração está tamborilando, meu corpo quase vibrando. Eu me forço a respirar longa e lentamente. — O que diabos você está fazendo? — Eu murmuro para mim mesma. Talvez eu não devesse ter corrido. Talvez eu devesse ter ficado e me explicado. Qual é a pior coisa que poderia ter acontecido?
Você vai acabar ficando louca igual a sua mãe.
Se os policiais acreditarem em Chelsea - se alguém realizar algum tipo de exame médico em mim e suas palavras se revelarem verdadeiras - então o pior que pode acontecer não é uma acusação de agressão física. Não é um serviço comunitário, ou seja lá o que for, que a polícia local decidir ser uma punição adequada para mim. Não, a pior coisa seria acabar em uma instalação como a da minha mãe. Trancada para evitar que eu machuque os outros. Drogada para me impedir de ver coisas que não estão lá.
Basicamente, meu pior pesadelo se tornaria realidade.
Eu me vejo correndo de novo, desta vez na direção da casa de Jade Mason, nos arredores da cidade. É mais longe do que eu me lembro e fico sem fôlego quando chego lá. Eu diminuo a velocidade perto da parte inferior da rua, então não estou suada e ofegante quando chego à festa.
Do lado de fora da casa dos Mason, encontro pessoas andando ao redor de uma fogueira e outras sentadas na varanda. Música chega aos meus ouvidos. Não vejo Val em nenhum lugar do lado de fora, subo correndo os degraus da varanda e entro na casa.
— Ei, Em, você apareceu desta vez. — Eric, o idiota que se senta ao meu lado na aula de inglês, acena para mim de onde ele está encostado na parede do corredor com alguns de seus amigos. — Ei, você trouxe alguma daquelas ervas que sua tia vende? — Ele faz alguns movimentos com a pélvis enquanto seus amigos riem. — Você sabe como isso me deixa —
— Val está aqui? — Eu pergunto.
— Sim, ali. — Ele balança a cabeça em direção à sala do outro lado do corredor. — Quer uma bebida primeiro?
Eu passo por ele sem responder, deixando os uivos e vaias de seus amigos se misturarem com a música de fundo. Na sala escura e cheia de fumaça, Dash está parado do lado de dentro da porta, comandando uma plateia de várias garotas. Suas sobrancelhas se contraem momentaneamente em uma carranca quando ele me vê, mas dura apenas um momento. Então ele balança a cabeça e sorri.
Ignorando-o, eu entro na sala e vejo Val em um sofá com um monte de nossos colegas de turma. Ela está com um copo em cada mão. — Val! — Eu corro até ela.
— Ei, você veio. — Ela sorri para mim quando ela se arrasta e acena com a cabeça em direção ao local vazio no sofá. — Venha sentar aqui.
— Não, eu posso - falar com você?
Ela deve ouvir a urgência na minha voz - ou talvez viu no meu rosto - porque ela se levanta imediatamente. — Algo errado? — Ela pergunta, andando comigo até o canto da sala. Paramos ao lado de uma janela. Meu corpo ainda parece está zumbindo, então eu aperto minhas mãos, reviro meus ombros e me forço a respirar lentamente. Val franze a testa. — Em, o que foi?
— Chelsea encontrou meu estoque de dinheiro. Ela surtou e me acusou de roubar dela.
— O quê? De jeito nenhum. Você nunca roubaria dela.
— Claro que eu não faria isso. Foi obviamente a Georgia, mas não vale a pena dizer isso a Chelsea. Ela nunca acreditaria que seu anjinho fosse capaz de roubar. E então... eu... perdi a paciência, e Georgia e eu estávamos brigando, e arranhei a cara dela. Eu não posso dizer a Val que não era eu. Eu não posso dizer a ela que algo estranho e inexplicável aconteceu naquele quarto. Ela provavelmente olharia para mim da mesma forma que Chelsea fez na cozinha. Você está ficando louca igual a sua mãe. — E então ela disse que não podia mais lidar comigo e chamou a polícia.
— Sério? — Val olha para mim como se ela não tivesse ouvido corretamente. — Chelsea chamou os policiais porque você arranhou a Georgia? Isso é ridículo.
— Eu sei. Mas... — eu olho em volta. — Sua prima está aqui? Lexi? Se eu puder falar com ela, então ela poderá explicar para o seu pai o que realmente aconteceu, e ele pode dizer aos outros policiais, e então eles não vão me levar embora.
— Levar você embora? — Val começa a rir. — Em, você precisa relaxar. Tio Pete não vai levar isso a sério. Ele sabe que você não é uma criminosa de verdade. Talvez ele faça você juntar lixo no parque ou algo assim, apenas para manter Chelsea feliz, mas ele não vai te levar embora.
De repente eu me pergunto se estou sendo tão boba quanto Val parece pensar. Foi apenas um arranhão, afinal. Bem, um pouco mais que um arranhão, mas dificilmente uma ameaça à vida. — Você acha? — Eu corro a mão pelo meu cabelo, não estou disposta a relaxar ainda.
— Sim, vamos lá. Esta é uma cidade pequena. Todos nós nos conhecemos. As pessoas não ficam presas por algo tão estúpido.
— Eu acho que sim.
— O que você quer dizer com você acha? — Ela sorri e me cutuca com uma mão ainda segurando um copo. Um líquido frio espirra sobre a borda e espirra no meu braço. — Obviamente, estou certa sobre isso. Então apenas relaxe. Divirta-se. Tome uma bebida.
Eu suspiro, tentando afastar o meu pânico e não totalmente conseguindo. — Você se lembra de que esse tipo de cenário não é exatamente a minha ideia de diversão, certo?
— Eu sei. Mas o amigo do irmão de Jade, Marcus, estará aqui em breve e eu preciso de apoio. Você sabe que fico estranha quando estou sozinha com um cara gostoso. Por favor, fica.
Eu não quero exatamente ficar, mas é provavelmente a melhor opção. Chelsea não estava brincando sobre pressionar acusações - ou tentar, pelo menos - mas ela provavelmente vai se acalmar se eu lhe der um pouco de espaço durante esta noite. — Sim, tudo bem.
— Sim. — Val sorri. — Aqui, tome uma bebida. — Ela estende um dos seus copos para mim, em seguida, revira os olhos para a minha sobrancelha levantada. — Não é alcoólica, eu prometo. Tem que ficar hidratada, lembra? Alcoólica — ela levanta o outro copo — e não-alcoólica.
Hesito, mas estou com sede depois de trabalhar na cozinha da lanchonete a tarde inteira, pegando a rota mais longa para casa e depois correndo pela cidade para chegar até aqui. Eu sei que já faz horas que eu bebi qualquer coisa. — Obrigada. — Eu examino a sala por cima do copo enquanto eu tomo um gole, esperando algo doce e efervescente. Mas a bebida queima como fogo na minha garganta. Eu tusso e resmungo e empurro o copo de volta para Val.
— Qual é o problema?
— Val, isso é horrível, — eu consigo dizer. — O que tem aí dentro?
Com uma expressão confusa, ela pega o copo de mim e bebe. Então ela levanta o outro copo, cheira e prova. — Hmm. — Sua carranca se aprofunda. — Eu acho que nos dois têm álcool. Eu devo ter tomado todo o refrigerante. — Ela encolhe os ombros. — Ah bem. Pelo menos você só provou um pouco.
— Val.
— O quê? Eu sinto muito. Eu não fiz de propósito. E um gole não vai te matar.
Eu tusso novamente, tentando livrar minha garganta da sensação de queimação. — Foi um pouco mais do que um gole, — murmuro.
Val toma o restante de um copo, depois o deixa no peitoril da janela e segura minha mão. Quando ela me puxa, espero que estejamos voltando para o sofá em que a encontrei. Em vez disso, ela me puxa para a sala ao lado, onde muitas pessoas estão espremidas juntas, acenando com a cabeça no ritmo da batida e gritando umas com as outras sobre a música.
Val se inclina em minha direção e diz, — Ooh, Marcus já está aqui. Viu ele ali no canto? E você pode ficar com aquele cara que está com ele. Talvez nós duas acabemos com alguém até o final da noite, e então nós vamos ter um encontro duplo e nos casar e viver felizes para sempre.
Balanço a cabeça para os devaneios ridículos de Val. — Certo, e então eles vão nos trair, e nós vamos acabar sozinhas como nossas mães.
— Ei! — Val bate no meu braço, mas seu sorriso pula de volta ao lugar enquanto ela me puxa para o outro lado da sala em direção a Marcus e seu amigo. O nome do amigo é Trent e, com certeza, ele não é feio, mas estou muito distraída para aproveitar a companhia dele. Eu me inclino contra a parede, brincando com o pompom de cabelo ao redor do meu pulso e ocasionalmente acenando com a cabeça, então os três acham que estou prestando atenção na conversa deles. Em vez disso, meus pensamentos estão longe, oscilando continuamente entre as palavras de Chelsea - você vai acabar ficando louca como sua mãe - a pessoa encapuzada que eu imaginei na rua, e o corte inexplicável na bochecha de Georgia. Os mesmos pensamentos várias e várias vezes, até que nada parece fazer mais sentido.
Eu me torno consciente de que meu corpo ainda está zumbindo. Provavelmente a bebida horrível de Val. Isso não faz sentido, meus pensamentos sussurram na parte de trás da minha mente, mas eu nunca tomei bebida alcoólica antes, então como eu saberia? Talvez todo mundo comece a se sentir estranho depois de um enorme gole.
Val está olhando para mim, sorrindo e falando, e eu tento seguir o que ela está dizendo, mas não consigo mais me concentrar. Suas palavras entram em um ouvido e saem pelo outro, e a sala está de alguma forma... inclinando apenas um pouco. Eu olho para o chão, mas parece normal. Essa sensação na minha cabeça não é normal, no entanto. Esta semi consciência turva. A sensação de que eu estou envolta em algo macio que amortece a batida, batida, batida da música e o som da voz de Val. Talvez eu devesse estar preocupada, mas não consigo encontrar a parte de mim que se importa. A parte de mim que quer cair nesse casulo macio e dormir está assumindo.
Eu lembro do sofá na sala ao lado. — Eu só vou... vou... — Eu aponto para a porta e começo a me mover em direção a ela. Eu nunca tive que me concentrar em andar reto, mas é estranhamente difícil agora. O chão continua querendo subir em minha direção.
O sofá está cheio de gente. Eles não gostariam que eu me deitasse sobre eles, então eu consigo sair da sala e ir para o corredor. Eu arrasto minha mão ao longo da parede, mantendo-me de pé enquanto faço meu caminho até a porta da frente. O ar lá fora está mais frio, mais fresco. Eu permaneço na varanda por um tempo, encostada no corrimão e respirando profundamente até notar que o ar não está tão fresco assim. Cheira a fumaça.
Eu preciso ir para casa. Eu preciso andar e respirar e deixar essa nebulosidade estranha para trás. Eu preciso dormir. Tudo ficará mais claro quando eu acordar de manhã.
As escadas da varanda são um desafio, mas consigo navegar nelas. Estou aliviada por estar na grama e me afastar da casa e das pessoas, mas o algodão entupindo meu cérebro parece me seguir.
— Ei, aí está você. — Val aparece ao meu lado. — Você está indo embora?
— O quevocêestá... fazendoaquifora? — Faço uma pausa, abro mais a boca e me concentro intensamente para não pronunciar minhas próximas palavras. — Você deveria estar lá dentro com seu cara gostoso.
— Ugh, não, eu acabei de dizer a coisa mais idiota de todas. Marcus me olhou como se eu fosse uma criança. Muito constrangedor. Juro que queria que a terra tivesse se aberto e me engolido inteira.
— E daí? — Eu murmuro, minha voz ressoando estranha em meus ouvidos enquanto eu balanço no local. — Então deixe que a terra se abra e a engula inteira.
Um tremor ressoa sob nossos pés. — O que foi isso? — Val pergunta.
Com um som estridente, um buraco irregular ziguezagueia pelo jardim, abrindo a terra. O terror dissipa um pouco do algodão na minha cabeça, deixando tudo mais claro. Eu sufoco um grito e tropeço para trás.
Mas Val desliza sobre borda do buraco e cai dentro dele.
— Val! — Eu caio de joelhos e me arrasto. Ela está se agarrando à borda, gritando. Não consigo ver a profundidade do buraco, mas de repente começa a fechar. Quando eu agarro os braços de Val, a terra escura se fecha ao redor de seu corpo. — Pare! — Eu engasgo. — Pare, por favor, pare! Socorro! — Eu lhe dou um puxão desesperado, a solto e caio para trás.
E a escuridão envolve tudo.
Capítulo 03
ACORDAR É COMO AGARRAR O MEU CAMINHO ATRAVÉS DA LAMA ENQUANTO ALGUÉM golpeia minha cabeça repetidamente com um martelo. Quando finalmente consigo deslocar minhas pálpebras e piscar várias vezes, olho para o quarto embaçado, tentando lembrar como cheguei em casa e fui para a cama.
Exceto que este não é meu quarto.
Alarme dispara através de mim, limpando a névoa e fazendo minha cabeça latejar ainda mais. Náusea rasteja pela minha garganta quando os eventos recentes inundam meu cérebro. O sangue no rosto da Georgia - Chelsea chamando a polícia - a festa - um terremoto dividindo o chão e - o que diabos aconteceu na noite passada? Essa última informação não pode ter sido real. Devia ter havido algo estranho na bebida de Val.
Meu pulso martela em meus ouvidos enquanto eu observo o quarto desconhecido e seu mobiliário elegante. Do outro lado do quarto, alguém abre a porta e entra. — Oh, você está acordada, — diz ele. — Bom dia.
— Dash? Onde estou... Você me sequestrou? Que mer —
— Uau, espere aí, Senhorita Boca Suja. — Ele pega uma cadeira e a aproxima da cama. — Mamãe está por perto. Ela não gosta de linguagem como essa.
Eu fico boquiaberta com ele. — Esta é a sua casa? — Eu não tinha ideia que quartos legais como esse existiam na pequena cidade miserável de Stanmeade. — O que diabos estou fazendo aqui?
— Bem, — ele diz enquanto senta na cadeira, — eu tive que resgatá-la da bagunça que você fez.
— A bagunça que eu fiz? — Eu pressiono minhas mãos sobre o meu rosto para que eu não tenha que olhar para ele. A dor latejante por trás dos meus olhos se intensifica e a náusea ameaça me dominar. — O que tinha naquela bebida? — Eu murmuro.
— Nada sinistro, — ele diz levemente. — Fadas não respondem bem ao álcool que os humanos fabricam, só isso. Eu acho que você conseguiu ficar longe disso até agora, senão você estaria familiarizada com os efeitos da ressaca.
Eu abaixo minhas mãos e empurro o edredom para o lado. — Você sabe o que, Dash? Você pode tirar sarro de mim o quanto quiser. Eu não me importo, especialmente considerando que ‘fada’ é provavelmente a provocação mais fraca que você já fez. — Eu me levanto, meus pés afundando no tapete macio. — Só me deixe sair daqui para que eu possa ir para casa.
Dash levanta. — Isso vai ser um pouco difícil.
Eu coloco minhas mãos nos meus quadris e dou a ele meu olhar mais feroz - o que provavelmente não é tão feroz, dado o meu estado atual. — Você não vai mesmo tentar me parar, não é?
— Não, eu não vou impedi-la de fazer nada. Eu só preciso explicar algumas coisas primeiro. Bem, muitas coisas, na verdade. Então você provavelmente deveria se sentar.
— Eu não penso assim. — Eu passo por ele, olhando para o espelho sobre a cômoda, e — O que — Eu engasgo, quase tropeçando em meus próprios pés. Eu agarro a borda da cômoda e olho por vários segundos horrorizados para as mechas brilhantes misturadas com o meu cabelo castanho escuro.
— Em?
— Meu cabelo está azul! — Eu grito. Eu me viro, me arrependendo imediatamente quando o quarto continua girando apesar do fato de eu ter parado.
— Oh. Sim. Eu esqueci que você não podia ver isso antes.
— Por que meu cabelo está azul?
Ele suspira. — Você nasceu assim.
Minha voz é lenta e trêmula quando digo, — Eu não nasci com cabelo azul.
— Nasceu. Você só não conseguiu ver agora. É... bem, é uma característica dos faeries. Você é um ser mágico, mas sua magia é meio... defeituosa. Às vezes, está lá - como na primeira vez que você me viu quando eu estava realmente escondido por um glamour - mas na maioria das vezes não está. Bem, — ele acrescenta com uma carranca, — até a noite passada, quando tudo explodiu. Não desapareceu desde então, então tenho a sensação de que está aqui para ficar agora.
O silêncio preenche o quarto por vários segundos, até que eu percebo o fato de eu estar boquiaberta. — Você é louco, — eu sussurro.
— Eu não sou louco. Eu não estou fazendo essa parte particularmente bem, parece. O que não é totalmente minha culpa, eu gostaria de salientar, já que você já é fortemente tendenciosa contra mim.
— Minha forte tendência existe por excelentes razões! — Eu grito. — Que agora incluem o fato de que você tingiu partes do meu cabelo de azul!
Ele pisca. — Você precisa superar a coisa do cabelo. Não chega perto de ser a maior revelação do dia.
— Isto é uma porcaria completa. — Eu me viro e vou para a porta - mas ele chega lá primeiro e bloqueia o caminho com seu corpo.
— Você precisa me ouvir, Em. Você ficará terrivelmente confusa se não me deixar explicar tudo.
Eu giro e vou para o lado oposto do quarto, para as portas duplas de vidro através das quais eu posso ver uma varanda. Eu particularmente não quero descer pela lateral do prédio no meu estado atual, mas farei se for à única saída deste quarto. Eu puxo as portas, corro para fora e congelo.
No extenso jardim abaixo, que é tomado pela pálida luz do amanhecer, as árvores e roseiras estão brilhando. Não devido à iluminação artificial, mas como se a luminescência emanasse de dentro das próprias plantas. Rosas brancas azuladas e folhas roxas luminosas. Água prateada escorre sobre as rochas da fonte no centro do jardim, onde duas pequenas criaturas que parecem cavalos alados estão bebendo.
— Tire-me daqui, — eu sussurro. Minhas mãos se levantam para apertar os lados do meu rosto, como se este fosse um sonho terrível do qual eu possa me forçar a acordar. — Leve-me de volta para casa.
Acima da batida do meu pulso nos meus ouvidos, ouço os passos de Dash se aproximando. — Eu não posso. Além de todas as coisas que ainda tenho que explicar, você também precisa me dizer exatamente o que fez ontem à noite.
— Me leve de volta.
— Emerson, você não pode se esconder disso. Eu sei que você não esperava que tudo mudasse, mas agora aconteceu, então —
— Me leve de volta! — Eu grito, agarrando sua camiseta com ambas as mãos e o puxando para mais perto. — Eu quero acordar. No meu próprio quarto. Longe de você e do seu —
— Tudo bem! — Ele remove meus punhos de sua roupa. — Se você insiste em ser tão difícil. Se você insiste em ignorar o que está bem na frente dos seus olhos. — Ele levanta a mão, a palma da mão virada para o quarto, e algo em forma de caneta voa pelo ar - através do maldito ar - e para seu alcance. Sangue é drenado do meu rosto enquanto meu cérebro rejeita o que estou vendo. Alfinetes de luz deslizam pela minha visão enquanto Dash escreve na parede ao lado da porta da varanda. Sua mão envolve meu pulso e me puxa para frente em direção da parede – dentro da parede - e quando tudo desaparece na escuridão, fico aliviada porque sei que o pesadelo está chegando ao fim. Eu sei que vou acordar em breve.
— Feliz agora?
A escuridão desaparece e estou parada na rua a algumas casas da de Chelsea. O garoto da casa ao lado desce a rua com uma bicicleta surrada do irmão mais velho. — Bom dia, Em, — ele diz enquanto passa, levantando a mão para acenar para mim, depois voltando rapidamente para o guidão quando ele cambaleia.
Eu pisco. Sem olhar para trás, começo a andar. Rapidamente, quase correndo, enquanto meu cérebro trabalha furiosamente para encontrar uma explicação lógica para o que acabou de acontecer. Este é um tipo de sonho super vívido. Ou talvez tenha sido um sonho vívido, e eu acabei de acordar - na rua? Descalça? Eu hesito e dou uma olhada por cima do meu ombro, mas Dash não está em lugar nenhum. Obviamente, porque eu nunca estive com ele. Eu estive sonhando. Merda, deve ter havido algo seriamente estranho na bebida de Val na noite passada. Algo mais do que apenas álcool.
Eu paro de repente quando uma imagem de Val caindo em uma fenda na terra passa pela minha visão. — Isso nunca aconteceu, — eu sussurro para mim mesma. — Val está bem. — Eu pressiono minhas mãos sobre o meu rosto, respirando devagar e afastando o único pensamento que continua tentando forçar seu caminho para o centro da minha mente: Eu estou mentalmente doente, assim como minha mãe.
Eu sacudo minha cabeça e corro para a entrada, procurando meu celular enquanto corro. Não está em nenhum dos meus bolsos. Eu deixei na festa ontem à noite? Eu abro a porta dos fundos e entro na cozinha.
— Emerson!
Eu recuo e olho para cima. Chelsea se levanta da mesa e dá alguns passos desajeitados para trás, derrubando uma caixa de cereal no balcão no processo. O tio Pete de Val, com os botões do uniforme esticados contra o volume do estômago, fica de pé. Ele mantém seu olhar cauteloso em mim enquanto Chelsea pergunta, — Onde você esteve?
— Hum... — Essa é uma boa pergunta, na verdade. Uma que eu gostaria de saber a resposta. — Eu sabia que você estava chateada, — eu explico com cuidado, — e eu não queria piorar as coisas, então eu fiquei longe. E sinto muito por brigar com a Georgia. Mas você sabe que discutimos o tempo todo. — Meu olhar voa para Pete antes de retornar a Chelsea. — Não é algo que você precise envolver os policiais.
Espero que ela grite comigo como fez na noite anterior, mas o aperto no balcão aumenta quando ela engole e olha para Pete. Seus dedos se contorceram, sua mão direita aperta e afrouxa. — O que aconteceu na casa dos Mason na noite passada, Emerson?
— A... casa dos Mason?
— Não finja que você não sabe de nada, — diz Chelsea, uma ligeira oscilação evidente em sua voz. — Nós ouvimos e soubemos de tudo. Nós vimos o vídeo.
— Que vídeo? Do que você está falando?
Pete avança, coloca o celular na mesa e empurra para mim. Eu dou um passo mais perto e olho para a imagem granulada e instável de uma fogueira e pessoas rindo. O fogo desaparece do vídeo quando a pessoa que segura à câmera gira e quase bate em Val. Depois de um rápido pedido de desculpas, Val se afasta. Mais risadas, alguém grita, — Emerson está bêbada, — e então a câmera segue Val. Chega perto o suficiente para pegar sua voz quando ela diz, — Eu juro, eu queria que a terra tivesse se aberto e me engolido inteira.
Meu sangue gela. Eu me vejo balançando, olhos semicerrados. — E daí? Então deixe que a terra se abra e a engula inteira.
Eu sei o que vem antes de eu ver. Arrepios percorrem minha pele enquanto a filmagem balança de novo, depois se concentra no chão. A terra se abre em um trêmulo e estremecido ziguezague. Val desliza e desaparece. Eu ouço gritos e gritos, e então o vídeo é interrompido.
Meu cérebro quer rejeitar o que eu acabei de ver, mas não consegue. Aconteceu, eu digo silenciosamente para mim mesma. Isso realmente aconteceu.
Chelsea começa a xingar repetidamente por baixo de sua respiração e, por algum motivo, a voz de Dash ressoa na minha cabeça: Mamãe está por perto. Ela não gosta de linguagem como essa.
— Que diabos foi isso? — Pete pergunta, sua voz um sussurro agora. Eu abro minha boca, mas não consigo responder.
— Caramba, é como ter a Carrie morando sob o meu próprio teto, — lamenta Chelsea. — Você tem que levá-la embora, Pete. Por favor, tire-a daqui.
— Espere! Eu... eu não fiz isso. Deve ter sido uma coincidência. Um terremoto aconteceu ao mesmo tempo em que eu estava falando. Você não acha que eu poderia realmente fazer isso acontecer, não é? — Estou tentando me convencer tanto quanto eles. — E quanto a Val? Ela está —
— Você não precisa se preocupar com Val, — diz Pete. — Mas você precisa vir comigo.
— Você está de brincadeira? Você - eu quer dizer - você não viu o que mais estava acontecendo lá? Menores de idade bebendo? Você deveria estar lidando com isso, não com essa estranha coincidência do terremoto.
— Não tente mudar de assunto, Em. — Lentamente, como se aproximando de um animal perigoso, Pete vem em minha direção. Eu dou um rápido passo para trás, indo além de seu alcance. Ele franze a testa e hesita. — Em, por favor. Nós não precisamos tornar isso desagradável. Nós só queremos te levar a algum lugar seguro para você não machucar ninguém.
— Mas eu não vou machucar ninguém, eu juro.
Outros dois policiais se movem do corredor para a cozinha, e percebo que devem ter esperado lá o tempo todo. Eles são os reforços. Porque eu sou supostamente muito perigosa para um policial. Eu sacudo minha cabeça, mal capaz de acreditar que isso está acontecendo, enquanto eu me afasto mais deles.
Uma pausa.
Ninguém fala.
Então todos os três policiais se lançam em minha direção. Chelsea grita, cadeiras são jogadas para o lado e, momentos depois, estou sendo arrastada para fora. O pavimento áspero roça meus pés, e dor corre pelos meus ombros enquanto meus braços estão quase sendo arrancados das juntas.
— ME SOLTA! — Eu grito.
Suas mãos se afastam de mim tão rápido que o impulso gira os três homens ao redor e os joga no chão. — Que diabos? — Pete geme. Ele fica de joelhos e se joga sobre minhas pernas.
Eu pulo para trás para fora de alcance. — Saia de perto de mim!
Como se chutado por uma força sobre-humana, Pete desliza pela grama, passa pela porta e acerta a mesa da cozinha. Chelsea grita novamente. Ao som de um estalo, olho para baixo e vejo faíscas - faíscas? - girando ao redor das minhas mãos. Terror gelado me domina.
— Hora de ir, — uma voz diz atrás de mim. Algo aperta meu braço, e antes que eu tenha tempo de me afastar, sou puxada para a escuridão, um grito silencioso em meus lábios.
Capítulo 04
A ESCURIDÃO EVAPORA PARA REVELAR DASH AO MEU LADO E UM JARDIM BANHADO COM O brilho dourado do nascer do sol. O mesmo jardim que eu vi da varanda minutos atrás. Eu empurro Dash para longe de mim, caio de joelhos e vomito na grama.
— Adorável, — ele diz quando eu termino. — Graças a Deus eu não levei você de volta para dentro da casa.
— O que aconteceu com... Val? — Eu suspiro, tentando engolir o desejo de vomitar de novo e falhando.
Quando minha ânsia finalmente termina, Dash diz, — Ela está bem. Um dos meus companheiros de equipe a tirou do chão. Ela já esqueceu a coisa toda.
— Como ela pode ter... — Minhas palavras param quando eu olho para cima e vejo um daqueles cavalos alados em miniatura voando pelo ar atrás de Dash. Eu levanto lentamente e olho em volta. As rosas e as folhas ainda brilham levemente, mas sua luminescência é menos óbvia agora com a luz dourada do sol se infiltrando através das árvores. O pequeno cavalo pousa em uma parte rasa da piscina rochosa e começa a brincar, lançando gotas de água prateada enquanto brinca. Onde quer que a água caia, um cogumelo prateado aparece.
Meu cérebro continua repetindo a mesma mensagem: Eu devo estar sonhando. Isso não é possível. Eu cheguei ao fundo do poço e perdi completamente a cabeça. Mas eu não acho que minha imaginação seja capaz de criar esse tipo de detalhe fantástico. E tudo parece tão real. O aroma fresco de flores, o formigamento da grama sob meus pés. O gosto amargo do vômito na minha boca.
— Explique, — eu sussurro. — Faça isso fazer sentido.
Dash cruza os braços sobre o peito. — Está bem então. Era uma vez uma menininha cujo nome era —
Eu o interrompo com um olhar raivoso. — Não transforme minha vida em algum tipo de conto de fadas de merda. Apenas me dê os fatos. — Algo brilhante voa da ponta da minha língua, e meu pensamento imediato é que eu devo estar com tanta raiva que estou realmente cuspindo saliva. Mas não. É uma faísca de luz. O mesmo tipo que crepitou em minhas mãos depois que Pete foi de alguma forma jogado para longe de mim. O medo desliza pela minha espinha enquanto eu fecho minha boca.
— Tudo bem, aqui estão os fatos, — diz Dash. — Magia é real, e existe em um reino que se sobrepõe ao mundo em que você cresceu. Faeries vivem deste lado; os humanos e todas as outras criaturas não-mágicas que você reconhece vivem do outro lado. Eu sou um faerie, como você. Eu também sou um guardião, o que significa que eu sou treinado para lutar contra magia negra, faes perigosos, esse tipo de coisa. No dia em que você e eu nos conhecemos, eu tinha uma tarefa no seu lado do véu.
— O dia em que você arruinou tudo, — murmuro, lembrando minha mãe chorando, cobrindo a cabeça com as mãos, gritando sobre coisas que não são reais.
Dash parece irritado por eu ter interrompido sua história. — Você tem que parar de me odiar por isso. Você sabe que eles a teriam levado embora. Talvez não naquele dia, mas logo depois. Ela não estava em seu juízo perfeito —
— Não se atreva a falar sobre ela.
— De qualquer forma, — ele continua em voz alta, — ninguém deveria me ver, mas você viu. E com essa cor no seu cabelo, eu sabia que você era uma faerie. Mas então meio que piscou e sumiu, e você não podia mais me ver. Era como se toda a magia sobre você fosse subitamente engarrafada, inacessível. Assim que terminamos a missão, eu mencionei você no meu relatório para Guilda e eles —
— Seu relatório para a Guilda? — Eu digo com um suspiro. — Você parece que tinha doze. Essa sua Guilda cria soldados crianças ou algo assim?
— Não. Nós não somos soldados, e quando o treinamento acaba, não somos mais crianças. E eu tinha treze anos, não doze. Eu estava começando meu treinamento. Era uma missão em grupo, mas estávamos todos em diferentes áreas do parque, e eu era o único que tinha alguma interação com você. Então, sim, eu relatei isso depois. Faeries com magia defeituosa que pensam que são humanos não devem ser ignorados.
— Oh, certo, porque eu provavelmente sou um perigo para a sociedade ou algo assim, — eu digo com um revirar dos meus olhos.
— Potencialmente, sim. — O tom de Dash é muito sério, e uma imagem do chão se abrindo vem imediatamente à mente. Eu envolvo meus braços em volta de mim e olho para longe. — Eu não sei se a Guilda investigou você, — continua Dash, — porque não era da minha conta. Eu comecei com o meu treinamento, e foi cerca de seis meses depois, quando você apareceu perto de outra das minhas missões. Então, alguns meses depois, você estava lá de novo.
— Eu lembro de ter visto você, — murmuro. — Eu imaginei que você deveria morar em algum lugar perto de Stanmeade. Eu pensei que era estranho, já que estava tão longe de onde eu te vi pela primeira vez. Naquele parque perto de onde mamãe e eu morávamos. Mas eu estava tão brava com você que não me concentrei muito em ser uma estranha coincidência.
— Bem, a Guilda não achou que fosse uma coincidência. Eles pensaram que algo mais poderia estar acontecendo. Que talvez sua estranha magia ligada e desligada estivesse causando problemas, ou atraindo pessoas problemáticas ou algo assim, e foi assim que acabei com três missões perto de você. Mas eles não conseguiram encontrar nenhuma conexão, e alguém no Conselho disse que você deveria ficar sozinha. Que a Guilda não deve interferir com você, a menos que houvesse evidência de que sua magia estava se libertando e causando problemas. Mas o resto do Conselho queria que alguém ficasse de olho em você, apenas no caso. Eles reclamaram que era um desperdício de tempo e recursos para um guardião treinado fazer isso, então eu me ofereci. — Sua boca estica para um lado em um meio sorriso. — Fomos encorajados a realizar projetos extras fora do treinamento. Parece ser bom no currículo. Mostra iniciativa ou algo assim.
Eu jogo minhas mãos para cima. — Maravilha. Você é minha maldita babá.
— Hum, eu acho que detetive pode ser uma comparação mais precisa.
— Perseguidor, talvez?
— Quero dizer, era como um quebra-cabeça em andamento, tentando descobrir o que estava errado com você e como você acabou naquela cidade humana horrível.
— Talvez cientista maluco seja mais adequado. Cientista maluco altamente ofensivo.
Ele cruza os braços sobre o peito. — Acho que devemos parar as comparações. Você claramente não entende a importância do que eu faço.
— E você claramente pensa muito bem de si mesmo. Mas eu sempre soube disso, não é.
— Eu acho, Emerson, — ele diz com um sorriso aborrecido, — que devemos nos concentrar nas muitas coisas que você nunca conheceu.
Suas palavras revelam a seriedade da situação. Eu tento dizer a mim mesma mais uma vez que estou sonhando, drogada ou bêbada, mas é uma mentira fraca na qual eu não tenho esperança de acreditar. Fecho meus olhos e pressiono meus dedos contra minhas têmporas. — Então eu não sou louca, afinal, — murmuro. — As coisas estranhas que eu vi - criaturas que não deveriam existir - elas realmente eram reais.
— Sim. Bem, a menos que você esteja realmente vendo coisas que não são —
— Espere. Espere, espere, espere. — Abro os olhos, me aproximo e seguro sua camiseta enquanto a esperança ganha vida dentro de mim. — Isso significa que minha mãe nunca foi louca também? As vozes, as alucinações... a mente dela não inventou? Eles estavam realmente lá? Porque, quero dizer, se eu tenho essa... magia — ainda parece tão estranho aplicar a palavra para mim — então ela deve ter também.
— Na verdade, — Dash diz cuidadosamente, tirando meus punhos de sua camiseta, — a Guilda mandou alguém para Tranquil Hills para verificar sua mãe depois da terceira vez que você apareceu perto de uma missão. Eles não conseguiram sentir nenhuma magia nela.
— Então... ela é...
— Sim. Eu sinto muito. Ela sempre esteve doente.
Eu me afasto, sem querer que ele veja o desapontamento esmagador. Eu me lembro de não ficar surpresa, no entanto. Claro que era demais esperar que mamãe fosse sensata de verdade. É assim que a vida funciona, certo? Você espera por algo, e então a vida te chuta na cara e ri de você.
Eu pigarreio. — Então deve ter sido meu pai. O perdedor que eu não conheço. Ele deve ser — você sabe — como eu.
— Bem...
Quando Dash não termina, volto a olhar para ele. — Bem o que?
Ele torce o rosto e diz, — Por favor, não me bata.
O medo agita-se na boca do meu estômago. — Por que eu bateria em você?
— Porque... Tudo bem, olhe. Você não é halfling. Nós sabemos disso com certeza. Você é uma faerie, e isso significa que você deve ter tido dois pais faeries. Então... portanto... a mulher presa no Hospital Psiquiátrico Tranquil Hills não é sua mãe.
Eu olho para ele, incapaz de falar. Suas palavras parecem ecoar em volta da minha cabeça. Não é sua mãe... não é sua mãe... não é sua mãe.
— Silêncio? — Dash diz finalmente. — Eu acho que é melhor do que gritar e bater e me dizer que eu devo estar —
— Cale-se.
Como minha mãe não pode ser minha mãe? Por alguma razão, isso é mais difícil de compreender do que qualquer outra coisa. Ela é minha mãe. Ela me criou. Tudo era ótimo até que seus momentos de loucura começaram a se tornar um pouco mais difíceis de esconder. Tudo foi para o inferno logo depois disso, mas antes, quando ela era normal, a vida era boa. Era eu e ela contra o mundo. Nós éramos uma equipe.
Me curvo, minhas mãos pressionando meus joelhos, e respiro profundamente. — Não pode ser verdade, — eu consigo dizer além da náusea. — Deve haver alguma outra explicação. Algo que vocês deixaram passar. Eu não sei o que, mas... alguma coisa.
— Emerson...
— Acho que vou vomitar de novo.
Dash dá uma tapinha nas minhas costas brevemente. — Bem, pelo menos estamos do lado de fora.
— O que eu devo fazer?
— Há um tônico muito eficaz para a náusea. Podemos entrar e pegar um pouco.
— Com a minha vida, seu idiota. — Eu me endireito. — Tudo está completamente ferrado. Eu sou uma aberração mágica, minha tia quer me prender em algum lugar distante, minha mãe aparentemente não é minha mãe, e - e essas merdas de faíscas não param de sair de mim! — Eu balanço minhas mãos quando lampejos de luz dançam sobre elas mais uma vez. — Sem mencionar que há um vídeo de todo o desastre na fazenda dos Mason. Provavelmente já está on-line, e logo o mundo inteiro saberá que sou —
— Ei, acalme-se. O mundo não vai saber de nada. Você acredita honestamente que esta é a primeira vez que lidamos com algo assim? Claro que não é. Nós não somos amadores. A maioria das lembranças da noite passada foi alterada esta manhã, embora tenhamos deixado passar algumas que ainda precisam ser lidadas, incluindo quem levou o celular para a polícia. Mas essa filmagem terá desaparecido dentro das próximas horas, posso prometer isso. — Ele me dá um sorriso tranquilizador. — Ninguém se lembrará de que você esteve envolvida, e a principal notícia será sobre o inesperado terremoto que atingiu Stanmeade. — Ele inclina a cabeça. — Falando nisso, você pode me dizer o que realmente aconteceu? Por que o chão se abriu daquela maneira?
— Por quê? — Eu olho para ele. — Porque aparentemente eu tenho magia que de repente decidiu - e cito – tudo explodiu. Essas foram suas palavras, certo?
— Sim, mas pensei ter ouvido você dizer alguma coisa antes de acontecer, e isso não é —
Ele para quando olha por cima do meu ombro. Eu viro e vejo uma jovem caminhando em nossa direção. — Bem, — Dash murmura. — Que timing terrível.
— Oh, porque o nosso tempo sozinho acabou agora? — Eu volto o meu olhar para ele. — Boohoo. Estou devastada.
Seus olhos estreitam ligeiramente. — Você deveria estar. Há algo muito importante que precisamos —
— Dash, nós temos que ir, — diz a mulher quando ela nos alcança. — Um dos Conselheiros da Guilda está esperando para ver a menina.
Eu gostaria de salientar que ‘a menina’ tem um nome, mas estou mais preocupada com o que essa mulher acabou de dizer. — Um Conselheiro? Por quê?
— Porque você é uma faerie que vive no mundo humano, — Dash diz enquanto a mulher se abaixa e escreve na grama com uma caneta, — e agora que sua magia apareceu, você não tem ideia de como usá-la. Existem protocolos para esse tipo de situação.
— Protocolos? — Isso soa muito clínico para o meu gosto.
— Sim, claro. Eles vão colocar você em seu programa especial para pessoas como você. Faeries que, por qualquer motivo, cresceram no mundo humano sem saber como usar sua magia. Eles são principalmente faeries mais jovens, mas de vez em quando alguém mais velho aparece como você. Vai ser divertido.
Não, não vai. Não parece nada divertido. Eu não quero conhecer pessoas estranhas e aprender como se tornar um membro do seu clube mágico estúpido. Eu quero voltar para a minha vida real e fingir que nada disso aconteceu. Ou talvez se esconder em um canto e desmoronar porque minha mãe não é minha —
Não pense nisso, eu me instruo. Eu não vou desmoronar na frente de outras pessoas. Especialmente não na frente de Dash.
— Vamos então? — Ele pergunta, apontando para o chão onde um buraco escuro apareceu ao lado da mulher ajoelhada. Um buraco escuro, não de terra ou rocha, mas de... nada. Meu cérebro me diz que eu deveria estar chocada, mas acho que passei desse ponto agora. Nada parece mais impossível.
— Em? Pronta para ir?
Pronta para ir? Uma pergunta tão simples e comum. O tipo de coisa que Val poderia dizer quando chegasse à minha casa antes da escola. Ou Chelsea dizendo para a Georgia quando eles estavam indo fazer compras. Ou como mamãe costumava dizer, com a mão estendida em direção a minha, quando terminávamos de brincar no parque à tarde e precisávamos ir para casa.
Mãe.
Uma imagem dela pisca diante dos meus olhos novamente. Uma casinha, rosas silvestres no jardim, número vinte e nove no velho portão de madeira. Mamãe podando os arbustos, e uma jovem versão de mim dançando em volta dela e cantando enquanto nosso novo cachorro persegue borboletas. Mãe que não é minha mãe Meu coração se quebra um pouco. Eu empurro a dor de lado. Mais tarde, digo a mim mesma. Vai lidar com isso mais tarde. Desmorone depois.
Eu respiro fundo, o que parece tão instável quanto eu me sinto. — Sim. Vamos lá. Só... você pode me dar aquele tônico anti-náusea primeiro?
Capítulo 05
DASH CORRE EM SUA CASA PARA PEGAR O TÔNICO ANTI-NAUSEA, ME DEIXANDO SOZINHA COM sua colega guardiã, que deixa claro, com seus longos suspiros e profundas carrancas, que está irritada com a perda de tempo. O buraco que ela abriu no chão se fecha e ela fica lá com os braços cruzados sobre o peito, olhando para mim.
Felizmente, Dash não demora muito para voltar. Ele me entrega uma pequena garrafa feita de vidro marrom. É suspeitamente semelhante às garrafas em que Chelsea coloca seus remédios de ervas. Eu removo a tampa e cheiro o conteúdo. — Caramba, Em, não é veneno, — diz Dash. — Apenas beba.
Estou me sentindo horrível o suficiente para arriscar a possibilidade de Dash me enganar, então eu inclino a garrafinha em direção a minha boca. O líquido não tem gosto de nada, mas eu imediatamente começo a me sentir melhor.
— Ótimo, — a mulher diz, e está fazendo um bom exercício em seu rosto, trocando entre doces sorrisos enjoativos para Dash e expressões de irritação dirigidas a mim. — Podemos nos mover?
— Sim. E vamos abrir um portal vertical em vez de um no chão, — diz Dash. — Será mais fácil para Em entrar e sair do outro lado, considerando que ela não tem muita experiência com os caminhos das fadas. — Ele remove uma caneta e começa a escrever no ar. — Se eu pudesse apenas... conseguir ir para...
— Dash, isso é um desperdício de —
— Ah, lá vamos nós. Fácil, fácil. — Ele dá um sorriso deslumbrante para a mulher, mas eu me distraio com a crescente escuridão aparecendo no ar. Espalha-se rapidamente até que seja aproximadamente do tamanho e a forma de uma porta. Deve ser a mesma coisa do buraco que a mulher abriu no chão. A mesma coisa que apareceu na varanda mais cedo, quando Dash me levou de volta para casa.
— Isso é... algum tipo de buraco de teletransporte?
— Caminhos das fadas, — diz Dash, estendendo a mão para mim. — Embora eles não sejam realmente caminhos. É esse espaço vazio e escuro que existe em algum lugar fora do nosso mundo e do seu, e pode ser acessado abrindo portas mágicas. Tudo o que você precisa fazer é pensar no seu destino ou dizer o nome do lugar para o qual deseja ir. Muito mais fácil que carros e aviões.
Mais fácil, talvez, mas muito mais perigoso. Relutantemente, eu pego a mão de Dash e caminho para frente. Do outro lado, a mulher felizmente passa o braço pelo braço dele. Eu olho por cima do meu ombro enquanto as bordas da porta se fecham, fechando a lacuna, e então estamos em total e absoluta escuridão. — As pessoas podem ficar presas aqui dentro? — Eu sussurro enquanto caminhamos para frente, o que é uma coisa estranha a fazer quando eu não posso sentir nada sob meus pés.
— Não. Eu nunca ouvi falar de alguém ficar preso. Embora eu pense, se você conhecer a magia certa, pode ficar aqui por mais tempo do que o normal. Eu já ouvi falar de pessoas escondidas dentro dos caminhos das fadas enquanto elas estão tentando fugir de alguém.
— Pare de pensar, — a mulher murmura. — Estou tentando direcionar os caminhos e eles não vão a lugar algum com todos os nossos pensamentos em direções diferentes.
Eu fecho minha boca e tento não pensar, mas uma luz aparece à frente antes de eu descobrir se estou fazendo isso corretamente. Nós caminhamos para frente para dentro de uma sala pequena, escassamente mobiliada com um espelho, um armário exibindo pratos pintados e um tapete cobrindo as tábuas de assoalho de madeira. Eu solto minha mão da de Dash e me afasto dele. — Esta é a sua Guilda? — Eu estava esperando algo maior e mais... mágico.
— Não. Esta é uma casa antiga em uma área deserta ao lado de uma praia tropical.
Eu viro meu olhar fulminante de volta para ele. — Por que é sempre tão difícil obter uma resposta direta de você?
— Ele está dizendo a verdade, — diz a mulher, correndo em defesa de Dash. Percebo que ela não se incomodou em se apresentar, então decidi também não me incomodar.
— A Guilda pode ser um pouco intimidante, — explica Dash, vagando até o armário. — É enorme e movimentada, com muitas pessoas por perto a essa hora do dia. Faeries, principalmente, mas outros fae também. Às vezes os criminosos são trazidos, ou uma magia perdida escapa da seção de treinamento da Guilda. E o fato de você não poder ver nada do lado de fora, e então você entra por uma grande entrada que se transforma a partir de uma árvore, e você é recebida por toda essa atividade repentina... bem, pode ser esmagador no começo. — Ele vira o prato e examina a parte de trás antes de devolvê-lo ao seu suporte. — Então, nós levamos os fae que são novos com o nosso mundo para esta casa de recuperação primeiro.
— Oh. Tudo bem. — Meu cérebro pega o que é provavelmente a informação menos importante que eu ouvi durante todo o dia. — Então... se realmente estamos perto de uma praia, então o oceano deve estar por perto?
Dash me dá um olhar interrogativo. — Não muito longe daqui.
O fato de eu poder ver o oceano pela primeira vez é muito mais fácil de focar do que qualquer outra coisa agora. Eu ando até a janela mais próxima e olho para fora, mas tudo que vejo é uma floresta de palmeiras.
— Eu preciso voltar, — diz a mulher enquanto eu tento espiar entre as árvores. — Nenhuma mensagem no prato?
— Nada ainda, — diz Dash.
— Bem, ela estará aqui em breve, tenho certeza. Ela soou com pressa quando me mandou buscá-los. De qualquer forma, espero que não demore muito para entregar a garota. Eu sei que sua equipe tem coisas muito mais interessantes acontecendo no momento.
Eu vou para trás a tempo de vê-la escovar sua mão do ombro de Dash até o cotovelo dele. Com um meio sorriso, ela se afasta e eu retomo meu exame da paisagem do lado de fora, murmurando, — Sério? — Sob minha respiração. Ela não parece muito mais velha do que nós, mas certamente há muitos homens neste mundo que tem a idade mais adequada e mais maduros do que Dash.
— Obrigado, — diz ele. Então, — Em, o que você está procurando? Na verdade, não importa. Isso não é importante.
Eu desisto da minha busca pelo oceano e cruzo meus braços enquanto ando de volta para ele. — Claro que não. Nada poderia ser tão importante quanto o que você está prestes a me dizer, certo?
— Certo, — diz ele, mas a porta da frente se abre naquele momento, e caminha uma pequena garota loira com mechas laranja em seus cabelos e olhos laranja ardentes para combinar.
— Oh, Dash, você está aqui. — Ela lhe dá um sorriso brilhante.
— Hum, sim. Eu estou. Por quê você está aqui?
— Só verificando se você conseguiu. — Seus olhos deslizam para mim. — Está é a Emerson?
Dash solta um suspiro. — Sim. Em, esta é Jewel. Ela é um membro da minha equipe na Guilda.
Jewel? Eles têm cabelos estranhos e olhos e nomes estranhos? — Oi, — eu digo incerta.
— Oi. — Jewel me dá um sorriso muito amigável, considerando que acabamos de nos conhecer. — Oh, espere. — Ela desliza a mão em um dos bolsos e tira o que eu presumo ser um celular por causa da forma, mas acaba por ser semitransparente e laranja-dourado. Ela olha para a superfície, e olho de novo quando pequenas palavras douradas aparecem.
— Isso é um memorando para toda a Guilda? — Dash pergunta. — Eu acho que meu âmbar também vibrou.
— Sim. — Enquanto Jewel observa mais de perto o retângulo cor de mel, noto padrões de redemoinhos escuros tatuados no interior de seus pulsos. — Um Griffin atacou uma pequena aldeia perto de Twiggled Horn. Cinco mortos.
— Cinco mortos de um ataque de Griffin? Eles normalmente não matam pessoas.
— Sim, bem, eles são criminosos perigosos, então o que você espera. — Jewel passa a mão pela coisa âmbar, e as palavras desaparecem.
— Griffin? — Eu pergunto. — Como o grifo, a criatura mítica? — Nada me surpreenderia neste momento.
— Não, — diz Dash. — Embora sim, os grifos existem. Mas neste caso estamos falando de pessoas com magia extra. Habilidades que Faeries normais não possuem. Habilidades Griffin. Você aprenderá sobre eles em breve. — Sua expressão escurece. — Eles praticamente são uma lei para si mesmos.
Jewel revira os olhos antes de me dar um sorriso doce. — Dash nem sempre explica as coisas particularmente bem. Esses faeries perigosos costumavam viver a céu aberto, fazendo o que quisessem, sem que ninguém soubesse que eram diferentes. Mas é difícil esconder uma Habilidade Griffin nos dias de hoje. O teste é obrigatório. A Guilda só quer ficar de olho neles, compreensivelmente, mas eles estão sempre falando sobre como são discriminados. Assim, nos últimos anos, aqueles que conseguiram fugir da Guilda sem serem identificados se uniram. Formaram algum tipo de organização secreta. E agora eles dirigiram sua raiva para Guilda, contra pessoas inocentes apenas para chamar atenção.
— Inaceitável, — Dash murmura.
— Exatamente. Então você pode entender porque a Guilda quer manter um registro de todos os Dotados Griffin, certo? Eles precisam ser responsabilizados por suas ações.
Ela parece estar esperando que eu responda. Eu considero dizer a ela que eu não dou a mínima para criminosos e política, mas resolvo mudar de assunto. — O que é essa coisa retangular e laranja?
— Oh. Isso? — Jewel levanta o dispositivo cor de mel.
— Um âmbar, — diz Dash. — Celular dos faeries.
Atrás dele, um dos pratos no armário emite um som abrupto. Eu solto um suspiro involuntário e dou um passo apressado para trás. — Que mer —
— Sério? — Dash diz, me interrompendo no meio do xingamento. Ele pega o prato e vira. — A situação realmente não garante esse tipo de linguagem, Em.
Eu fico boquiaberta para ele quando meu batimento cardíaco retorna lentamente ao normal. — Você está brincando, não é? Qual é o grande problema com a coisa sem palavrões? Eu não vejo nenhuma criança por perto, a menos que você queira se colocar nessa categoria.
— Muito engraçado, — ele olha sério, olhando por cima do prato. — E se você tivesse sua boca limpa com sabonetes assim como eu tive, você entenderia minha resposta automática a uma palavra ruim. Feitiço super desagradável, aquele. O gosto fica por horas depois.
Eu olho para ele. — Estou tentando descobrir se você está brincando.
— Não. Minha mãe sempre foi muito séria sobre a política de não usar palavrões em nossa casa. De qualquer forma, a Conselheiro está a caminho. A mensagem no prato dizia que ela acabou de sair da Guilda.
— Esse som era de uma mensagem?
— Não é para soar assim, — diz Jewel. — Eu acho que o feitiço de notificação está com defeito.
A porta da frente se abre, revelando uma mulher elegantemente vestida. — Oh, incrível, você está aqui. Eu não tive tempo para verificar com cautela. Vamos para a sala de estar? — Sem esperar por uma resposta, ela passa por nós e abre a porta ao lado do armário.
— Conselheira Waterfield, — Dash sussurra quando ele pega meu braço e me conduz em direção à porta.
Eu esperava que ela fosse mais velha, sendo um membro deste Conselho especial de faeries, ou seja lá o que for, mas ela provavelmente ainda não atingiu os trinta anos. Eu também estou começando a me perguntar se esse mundo é composto por alguns homens, ou se é apenas Dash e todas as mulheres que o bajulam. Eu solto o meu braço de seu aperto, resmungando que sou perfeitamente capaz de entrar na sala ao lado sem ajuda.
A sala de estar é bonita, com móveis antigos e uma grande janela de um lado. Acho que posso ver algo bege entre as árvores que pode ser uma faixa de areia, mas a Conselheiro Waterfield me convida a sentar antes que eu possa olhar mais de perto pela janela. Eu escolho uma das poltronas com um só lugar, então não preciso me sentar ao lado de Dash ou da Conselheira. Ela se senta de costas para a janela e Dash pega a poltrona ao lado da minha. Eu aperto minhas mãos firmemente juntas no meu colo, me sentindo subitamente nervosa.
— Emerson, — diz a mulher. — Eu sou a Conselheira Waterfield. Primeiro de tudo, bem vinda ao reino mágico. Eu acredito que Dash explicou o básico para você?
— Eu expliquei, — diz Dash antes que eu possa responder. — Apenas o básico, no entanto. Ela tem muito mais a aprender. — Ele dá um sorriso na minha direção, que eu gostaria de arrancar imediatamente. Ele está gostando muito disso.
— Então, Emerson. — A Conselheira abre uma bolsa aos seus pés e tira uma versão maior da coisa âmbar que Jewel estava usando. Antes que ela se incline para cima para encará-la, vejo letras douradas aparecerem em sua superfície. — Nós estamos acompanhando você nos últimos cinco anos? Isso está correto? — Ela olha para cima de seu dispositivo mágico.
— Sim, — Dash responde mais uma vez. — Em tinha doze quando começamos a rastreá-la.
— Então, você tem dezessete agora.
— Se a matemática é a mesma coisa neste mundo como é no meu, — eu digo, — então sim.
Seu sorriso aperta um pouco. — Números são números, Emerson, não importa de que lado do véu você esteja. E esse lado é o seu lado. Você precisará começar a se referir desse jeito.
— Claro, — eu digo, quando tudo que eu quero fazer é gritar que só agora eu descobri sobre a existência deste lado, então me dê um maldito tempo!
A Conselheira Waterfield se inclina para trás, ficando mais confortável. — No caso de Dash não ter contado a você, eu sou a representante da Guilda da Chevalier House, onde você vai ficar por um tempo. É uma escola para pessoas como você. Pessoas que foram educadas com humanos e podem ter tido acesso à sua magia, mas não tiveram ninguém para ensiná-las a usá-las, ou talvez a magia delas tenha acabado de aparecer, e por causa de algum acidente ou outro, agora nós nos tornamos consciente de sua existência.
— O que faz com que apareça de repente? — Eu pergunto. — Por que minha magia era inacessível antes? Ou, por que veio e se foi? Dash disse que estava meio que... com defeito.
Ela franze os lábios antes de responder. — Para ser honesta, eu não sei. Se você fosse halfling, faria mais sentido. A magia deles é altamente imprevisível e às vezes pode se apresentar mais tarde. Mas faeries... bem, eu não sei. Eu suponho que isso aconteça de vez em quando.
— Maravilha. Então eu sou uma aberração pelos padrões deste mundo.
— Você não é uma aberração, Emerson. Depois de passar algum tempo na Chevalier House, você poderá se encaixar perfeitamente com o resto do mundo.
— Então, basicamente, você está me mandando para a escola de etiqueta mágica?
Ela respira pelo nariz. Eu acho que ela está começando a perder a paciência. — É muito mais que isso. Eles vão te ensinar sobre sua magia, sobre o nosso mundo. Eles ajudarão na logística de mesclar sua antiga vida com a sua nova. Se você deve voltar para casa ou ficar aqui, em que situação sua família acreditará enquanto estiver fora, o que você deve dizer à sua família se decidir voltar para casa. Coisas assim.
Eu cruzo meus braços firmemente contra o meu peito. — Você provavelmente deveria saber que não precisa se incomodar em inventar uma história para minha tia. Ela assumirá que eu fugi, ela ficará feliz, e isso será o fim disso.
A Conselheira Waterfield olha para o aparelho, parando por um momento enquanto lê alguma coisa. — Parece que essa é a história que ela recebeu, na verdade. Um guardião disfarçado como um policial informou sua tia que você fugiu. Ele disse a ela que uma câmera de segurança pegou você entrando em um ônibus. A polícia tentou encontrá-la do outro lado, mas de alguma forma você escapou sem ser notada. Eles ainda estão à procura de você. Seus amigos foram informados da mesma história.
— Mas isso é uma mentira. — Sento-me para frente. — Eu não quero que meus amigos pensem que eu fugi.
— Bem, Emerson, temo que você não tenha escolha. Depois de passar algum tempo na Chevalier House e poder voltar em segurança ao mundo humano, você pode inventar uma boa desculpa por ter fugido. Podemos ter um de nossos guardiões disfarçado como um policial dizendo que ele ou ela rastreou você, se essa história funcionar para você. Tenho certeza de que você pode fazer seus amigos entenderem.
Eu me inclino para trás na minha cadeira. Essa mulher não entende e nem Val. Ela vai ver através de mim se eu tentar mentir.
— Agora, como eu estava dizendo, — a Conselheira Waterfield continua, examinando seu aparelho novamente. — Todas as imagens do incidente do terremoto da noite anterior foram localizadas e destruídas, para que ninguém saiba que você estava conectada e as lembranças foram alteradas. Um encobrimento caro - nem toda magia é gratuita ou barata, sabe — mas não podemos ter humanos correndo por aí espalhando histórias sobre o que você fez. E se você decidir retornar à sua antiga vida, poderá fazer isso com segurança, sem que ninguém saiba o que aconteceu.
— Então... então é isso? Eu tenho que ir para esta escola durante um tempo, e então eu posso voltar para o meu mundo?
— Sim. — Ela desliza seu aparelho âmbar de volta em sua bolsa. — Dash vai te levar até lá agora.
— Hum, quem paga por esta escola? — Eu pergunto, inclinando meu corpo para longe de Dash quando eu pergunto. Inútil, já que ele ainda pode me ouvir, mas eu prefiro não ver sua expressão se eu tiver que admitir a Conselheira Waterfield que eu não tenho absolutamente nenhum dinheiro.
— É financiada pelo Guilda, — diz ela. — O programa é considerado parte da segurança. É perigoso ter faeries correndo por aí com magia que eles não podem controlar. É muito melhor que você seja educada para poder entrar de novo na sociedade, deste lado do véu ou do outro lado. Agora. — Ela se levanta e pega sua bolsa. — Alguém vai chegar aqui em breve para executar alguns testes em você antes de partir para Chevalier House.
— Testes? — Eu me encolho para trás contra as almofadas. — Que testes?
— Oh, nada assustador. Apenas um procedimento padrão. Para testar Habilidades Griffin, níveis mágicos, esse tipo de coisa.
— Eu não quero nenhum teste. Não tenho o direito de recusar coisas como —
— Talvez, — Dash diz enquanto levanta, — nós poderíamos fazer os testes depois de alguns dias que Em se instalar em Chevalier House. Ela já passou por muita coisa. E com sua... história. A mãe dela... — Ele abaixa a voz, como se sussurrando aquela única palavra - mãe - em vez de falar em voz alta significasse que não vai trazer todo o choque, confusão e mágoa que senti antes. Eu limito a dor enquanto Dash continua. — Eu presumo que você se lembre de todos os meus relatórios anteriores, Conselheira, então você vai entender que o conceito de ‘executar testes' tem conotações negativas para ela. — Ele coloca as mãos respeitosamente atrás das costas. Enquanto suas mangas se levantam levemente, noto a mesma tatuagem em seus pulsos que vi nos braços de Jewel.
A Conselheira Waterfield estala sua língua. — Bem. Vou mandar alguém para Chevalier House no final da semana para fazer os testes lá.
Isso não parece muito melhor, mas espero que eu esteja fora da Chevalier House até lá. Saímos da sala e encontramos Jewel ainda perto da porta da frente. Ela olha por cima de seu âmbar, os olhos arregalados. — Ótimas noticias, — diz ela. — Tipo, ótimas. Alguém fez um avanço com um feitiço para o véu. A Guilda acha que eles finalmente conseguirão selar o buraco na Ilha Velazar. Há uma reunião em vinte minutos para que eles possam nos dizer mais sobre isso.
— Correto, — diz a Conselheira Waterfield, passando rapidamente por Jewel. — É por isso que eu cheguei atrasada. Recebemos a notícia esta manhã. Agora, se vocês me dão licença, eu preciso voltar antes do início da reunião. — Ela segura uma caneta na porta da frente, e depois de algumas palavras rabiscadas, um buraco escura aparece. Mesmo que eu estivesse esperando desta vez, ainda é terrivelmente antinatural, ver um buraco de nada tomando forma e depois desaparecendo depois de engolir uma pessoa.
— Isso é tão emocionante, — diz Jewel quando a Conselheira se foi. — Você vem?
Dash sacode a cabeça. — Eu vou escoltar Em para Chevalier House agora.
— Oh, mas isso é importante. Traga-a, e você pode levá-la para Chevalier depois.
— Não precisa, — diz Dash com um sorriso fácil. — Tenho certeza que você vai me contar tudo sobre depois. E eu duvido que Em queira ficar em uma reunião da Guilda depois de tudo o que ela passou nas últimas horas.
O sorriso de Jewel escorrega por apenas um segundo, antes de se esticar largamente novamente. — Você é sempre tão atencioso, Dash. Sempre faz um esforço extra com suas missões. — Ela se inclina e dá-lhe um abraço e um beijo rápido na bochecha. — Até logo.
Eu espero até que ela vá antes de dizer, — Eu vejo que você não se importa de irritar sua namorada.
— Namorada? Jewel? — Ele ri. — Nós somos apenas amigos. Espere, por que você disse que ela está com raiva? Ela não estava com raiva.
Eu lentamente sacudo minha cabeça. — Você é um tremendo idiota.
Ele sorri. — Pela primeira vez, querida Emerson, você está quase certa. Eu era quase um idiota antes. — Seu olhar passa por mim e para cima, examinando o teto brevemente. — Felizmente, fui salvo a tempo.
Eu não posso deixar de olhar para cima também, mas não vejo nada além de algumas teias de aranha e uma aranha. Aparentemente, essas não são coisas exclusivas do mundo humano.
Ao som da porta da frente se abrindo, olho além de Dash. Na porta há um homem com orelhas pontudas e cabelo preto espetado. Isso é normal agora, eu me lembro quando meus olhos se recusam a se mover daquelas orelhas anormalmente pontudas. Totalmente normal.
— Emerson? — Ele pergunta. Eu concordo. — O professor está esperando por você.
Capítulo 06
NÓS CHEGAMOS A UM PORTÃO DE METAL ABRILHANTADO QUE NOS SEPARA DE UM JARDIM COM a grama e arbustos bem-cuidados, adornado com as cores do outono. Uma brisa fria arrasta arrepios ao longo da parte exposta dos meus braços. — Estamos em algum lugar perto da casa em que estávamos? — Eu pergunto. Não parece, mas com as trilhas das fadas — caminhos das fadas? — Fazendo viagens tão rápidas, é impossível dizer.
— Não, — diz Dash. — Estamos em uma parte completamente diferente do mundo em uma colina de uma cordilheira.
Espio entre as folhas em forma de metal do portão e, do outro lado da enorme casa, vejo picos de montanhas cobertas de neve. O elfo - presumo que as orelhas pontiagudas signifiquem que ele é um elfo - abre o portão e nos deixa entrar no jardim. Andamos pelo caminho pavimentado, subimos os poucos degraus até a porta da frente e entramos. Um fogo crepitante e uma atmosfera acolhedora nos saúdam no grande hall de entrada aberto da Chevalier House.
— Vou chamar o professor, — diz o elfo, indo em direção às escadas.
Eu atravesso a sala, meus pés afundando no tapete grosso enquanto olho em volta. Uma mesa fica no meio da sala, com um vaso lindamente pintado em seu centro cheio de flores que eu não reconheço. Cortinas ricamente bordadas emolduram as janelas e retratos em molduras douradas decoram as paredes. Eu penso em ficar aqui, mesmo que por apenas alguns dias, e eu não consigo acreditar. É um milhão de vezes mais chique do que qualquer outra casa em que já morei. — Claro que sim, — murmuro, sacudindo a cabeça.
— O quê? — Dash pergunta.
— A Guilda, a casa dos seus pais, este lugar... Eu acho que quando você vive em um mundo de magia, todo mundo pode ter uma casa chique do jeito que eles gostarem.
— Bem, não realmente. — Dash empurra as mãos nos bolsos. — A maioria dos faeries vive em casas em árvores comuns. Foi assim que vivemos até a mamãe ter sorte com o design de moda e moldar roupas. Ela ganhou um prêmio, e então uma celebridade a contratou para fazer um vestido para algum evento importante. A notícia começou a se espalhar sobre o trabalho dela e ela acabou tendo mais clientes da alta sociedade. Até mesmo alguns Seelies - a realeza fae - usaram seus vestidos. Então, sim. — Ele encolhe os ombros. — Agora temos uma casa extremamente chique.
— Interessante. Deve ter sido difícil para você sempre que você esteve no meu mundo, tendo que fingir que vivia em alguma parte ruim de Stanmeade.
— Muito difícil, — ele brinca, embora em sua voz não tenha humor.
— Não é de surpreender que você ainda viva em casa com seus pais. Por que se apressar para sair e ser independente quando você pode ficar em uma mansão por anos?
Ele não responde e eu continuo examinando os retratos na parede. Pelo canto da minha visão, vejo alguém entrar na sala e sair por outra porta, mas ignoro quem quer que seja. — Então, você e Jewel não estão juntos, mas vocês tem tatuagens iguais, — eu digo para cobrir o crescente silêncio. O silêncio deixa espaço para pensamentos sobre minha mãe entrarem, e eu não estou pronta para lidar com isso. — Parece muito sério para mim. Quer dizer, não há como voltar atrás, certo?
— Tatuagens iguais? Oh. — Dash começa a rir. — Você quer dizer isso? — Ele levanta as mãos, exibindo seus pulsos tatuados, em seguida, se curva quando o riso o consome. Eu cruzo meus braços e o ignoro até que ele se recupera o suficiente para dizer, — São marcas dos guardiões. Nós as recebemos assim que nos formamos.
— Uau, você realmente conseguiu se formar? Que surpreendente.
— Sim. — Ele sorri com orgulho. — Há menos de um ano atrás.
Eu não posso evitar revirar os olhos antes de voltar para o retrato de uma jovem mulher. Leio o nome ridículo na placa de bronze polida embaixo da pintura: Azure Plumehof. Sério? Azure, Dash, Jewel... Essas pessoas mágicas não sabem nada sobre nomes normais. Meu olhar desliza para a data abaixo do nome, que me diz que esta pintura tem mais de trezentos anos de idade. Droga. Eu me pergunto se a casa também é tão antiga.
Eu ouço risadas atrás de mim e olho por cima do meu ombro para ver um garoto sorrindo enquanto Dash escreve no braço do garoto com a mesma caneta que ele usa para abrir portas mágicas. Eu solto uma faísca de luz antes que o garoto diga, — Obrigado, Dash! — E foge.
Eu olho para longe, fingindo examinar as bordas enfeitadas com cristais penduradas em um dos tie-backs da cortina. — Eles vão me dar uma essas canetas mágicas aqui?
— Que caneta mágica? — Dash pergunta.
— Você sabe. — Eu olho de volta para ele, apontando para a caneta na sua mão. — As canetas que vocês usam para abrir as portas.
— Oh. — Dash ri. — Isso não é uma caneta. É uma stylus.
— Parece uma caneta. E pelo que vi, funciona como uma caneta.
— Bem, não é. Não tem tinta. É essencialmente apenas um bastão que canaliza a magia.
— Então... é uma varinha mágica?
— Quase. E você terá que provar que pode usar sua magia com segurança antes de conseguir uma.
— Tudo bem, — murmuro, cruzando os braços e vagando até a mesa. Eu me inclino para mais perto do vaso e examino as flores de formas estranhas.
— Dash, Emerson! — Exclama uma voz feminina da direção da escada. — Que bom ver vocês dois.
Eu me endireito e dou um passo para trás quando uma mulher com rosa nos seus cabelos louros e brincos de banana em miniatura pendurados em suas orelhas desce as escadas. Uma mulher que eu diria que teria vinte e poucos anos, talvez trinta e pouco. A mesma mulher, percebo com um solavanco, do retrato. — Emerson, — diz ela quando chega ao final da escada. — Muito adorável conhecer você. Eu sou a professora Azure Plumehof, mas por favor me chame de Azzy. — Ela estende a mão na minha direção. Eu olho para ela, então volto para o rosto dela.
— Azure Plumehof? — Olho por cima do ombro para o retrato, depois de volta. — Você não pode ser. A mulher naquela pintura teria mais de trezentos anos de idade. Ela seria uma ameixa velha enrugada.
Azzy ri enquanto abaixa a mão, aparentemente imperturbável por eu não ter me incomodado em apertá-la. — Dash não explicou essa parte?
— Eu acho que não surgiu, — diz Dash. — Ela estava muito preocupada com o fato de que seu cabelo é azul.
Eu olho para os fios azuis pastel pendurados sobre meu ombro que eu de alguma forma consegui esquecer. Com um piscar de olhos, volto minha atenção para a mais recente revelação devastadora. — Espere. Você está me dizendo que as pessoas são imortais ou algo assim?
— É tão difícil acreditar, — Dash pergunta, — dada às todas as coisas chamadas de 'impossível' que você descobriu até agora esta manhã?
— É... só que...
— Nós não somos imortais, querida, — diz Azzy com uma breve carranca na direção de Dash. Ela aperta as mãos sobre as camadas de roupa soltas e flutuantes. — Vivemos por vários séculos, o que está muito longe da imortalidade.
— Vários... séculos... — Eu murmuro.
— Não se preocupe, — diz Azzy, sorrindo gentilmente. — Damos muito tempo para absorver toda essa nova informação. É por isso que Chevalier House existe - para dar a você um lugar seguro para aprender mais sobre você e sobre o mundo do qual você faz parte agora. Haverá lições de história, lições sobre magia - todos os princípios básicos que jovens faeries aprendem na escola primária - e entrevistas para que você possa nos dar informações que ajudarão a encontrar sua família verdadeira.
— Minha — o quê? — Família verdadeira? Eu não pensei na ideia nem por um minuto.
— Mas podemos começar tudo isso amanhã. Por agora, deixe-me mostrar-lhe o seu quarto. Tenho certeza de que você teve um dia difícil até agora e provavelmente precisa descansar. Você encontrará tudo o que poderia precisar em seu quarto: roupas, produtos de higiene pessoal, maquiagem - se isso for sua praia. Se você precisar de algo que eu tenha esquecido, ou se as roupas estiverem do tamanho errado, apenas me avise. — Ela faz uma pausa, como se esperasse que eu dissesse algo, mas estou um pouco sobrecarregada para formar palavras. — E se seu cérebro está muito animado para você descansar agora, — ela continua, — você pode explorar a casa e os jardins. Conhecer os outros fae que estão conosco no momento.
— E se você precisar de mim, — Dash acrescenta, — apenas diga a Azzy. Ela sabe como me encontrar.
Eu pisco. — Precisar de você? — Isso é uma noção ridícula. — Você não precisa mais tomar conta de mim, Dash. Eu consigo passar pelo resto disto sem você.
— Tenho certeza que você consegue. Apenas conte a Azzy tudo o que aconteceu na noite passada, ok? — Ele troca um olhar com Azzy, depois retorna seu olhar para mim. — Tudo. Ela pode te ajudar.
Eu franzo a testa para ele. — Obviamente. O que você achou que eu ia fazer o quê? Fingir que a coisa toda não aconteceu? Eu já tentei isso e isso não fez com que nenhuma dessas loucuras fosse embora.
— Vamos ter uma boa conversa, não se preocupe, — diz Azzy, acariciando o braço de Dash antes de pegar minha mão e me direcionar para as escadas. — Vamos nos acomodar, Em. Posso te chamar de Em, ou você prefere Emerson?
— Ela gosta de Emmy, — Dash diz a ela. Eu viro minha cabeça por cima do meu ombro e imagino faíscas voando para fora dos meus olhos diretamente para ele. Infelizmente, magia não parece funcionar assim, e eu fico simplesmente olhando para o rosto sorridente dele. — Divirta-se, — diz ele com um pequeno aceno antes de se virar e se dirigir para a porta. E apesar do fato de que eu querer dar um tapa nele — apesar de dizer a ele que não preciso dele — tenho o repentino desejo de gritar “Espere, não me deixe aqui!”. Porque mesmo que eu sempre tenha odiado ele, ele é a última peça da minha vida normal e está prestes a desaparecer por aquela porta.
Mas eu engulo meu pânico e não digo uma palavra. Eu me viro para frente e deixo Azzy me levar subindo as escadas. Porque eu sobrevivi a tudo que a vida já jogou em meu caminho sozinha, e isso não será diferente.
Capítulo 07
ELA NÃO É SUA MÃE.
Ela não é sua mãe.
Essa informação continua tocando dentro do meu cérebro, e agora que estou sozinha, nada que eu faça pode me distrair disso. Eu examino cada parte do meu quarto — quase tão agradável quanto o quarto de hóspedes na casa dos pais de Dash — mas travesseiros fofos, um tapete luxuosamente macio, e uma cama com dossel não conseguem evitar que a imagem de uma mãe que não é minha mãe marque a minha mente.
Eu abro o guarda-roupa e descubro, ao encontrar um espelho lá, que pareço terrível. Minha pele está pálida e minhas pálpebras estão manchadas da maquiagem escura. Eu pego algumas roupas limpas em uma das prateleiras e, depois de olhar para os dois lados do corredor para me certificar de que não estou prestes a esbarrar em ninguém, eu atravesso em direção ao banheiro que Azzy mostrou. O que eu descubro ser o suficiente para me surpreender dos meus pensamentos perturbadores por um tempo. Eu esperava uma banheira ou chuveiro, mas em vez disso eu encontro uma pequena piscina cercada por seixos e cheia de água fumegante e perfumada. É a coisa mais convidativa que eu já vi em eras, e eu estou mais do que feliz em deixar de lado cada pensamento que corre pela minha cabeça. Tiro minhas roupas sujas e afundo na água quente.
Mas até essa distração não dura muito tempo. Então, depois de me vestir com roupas limpas que de alguma forma se encaixam perfeitamente, eu saio do meu quarto. Ando pela casa, por uma biblioteca cheia de livros do chão ao teto, por uma sala de jantar com uma longa mesa retangular no centro e por uma cozinha maior que a casa de Chelsea. Eu exploro o jardim, ignorando todas as pessoas — todos os faer... ser... coisas — que eu me deparo.
Mas meus pensamentos continuam voltando para mamãe. Eu tento manter a imagem dela que eu sempre tive, no lugar que ela sempre teve na minha vida. O lugar e o título de mãe. Mas a ideia está começando a desmoronar à medida que as perguntas começam a penetrar nas frestas de minhas defesas: Como ela acabou comigo? A quem eu realmente pertenço? Por que ela nunca me contou? Quem diabos sou eu, se não sou filha dela? E apesar do fato de me encher de culpa, tento imaginar como seria minha mãe ‘verdadeira’. Mas minha imaginação fica em branco. Não consigo imaginar ninguém, exceto a mulher com quem cresci.
Quando eu percebo que estou parada imóvel na frente da mesma estranha planta de bolinhas por vários minutos, olhando sem ver, concluo que estou farta da vida real por hoje. Eu posso lidar com todas as minhas perguntas, dúvidas, confusões e magia amanhã. Volto para o meu quarto, fecho as cortinas, subo na cama e dou o meu melhor para adormecer. Quando Azzy bate na minha porta e diz algo sobre o jantar, eu puxo o edredom sobre a minha cabeça e a ignoro.
**
— Pessoal, está é a Emerson, — Azzy diz na manhã seguinte, depois de me apresentar as outras sete pessoas na biblioteca: uma faerie, um elfo e cinco pessoas meio velhas. — Lembre-se de como vocês se sentiram incertos sobre tudo quando chegaram aqui? É assim que Em se sente agora. Então, lembre-se de fazer o seu melhor para recebê-la.
Todo mundo olha para mim. Eu deslizo um pouco mais para baixo na minha cadeira. Se eu soubesse como abrir aquele buraco que abri na terra na outra noite, ficaria tentada a fazer isso de novo agora mesmo e me arrastar para dentro dele.
— Bem, então, — continua Azzy. — Vocês podem se conhecer melhor durante o almoço. Por enquanto, todos vocês precisam voltar ao que vocês estavam trabalhando no momento. Em, você vem comigo.
Eu levanto junto com os outros. Dois dos meus companheiros estranhos se movem para uma mesa juntos e conversam em voz baixa enquanto abrem vários livros enormes. O resto deixa a biblioteca pela porta que leva ao jardim.
— Então, Em, — diz Azzy, me conduzindo para outra mesa. — Como tenho certeza de que você já percebeu, isso não é como uma escola comum. Nós nunca sabemos quando alguém vai chegar, e todo mundo tem uma história diferente. Alguns fae não têm nenhum conhecimento prévio do mundo mágico, como você, enquanto outros tiveram alguma exposição à magia, mas não foram formalmente ensinados a nada. Então, como você pode ver, precisamos adaptar nossas lições e um treinamento para cada indivíduo.
— Hum, sim, — eu digo depois de uma pausa, já que parece que ela está esperando por um sinal de que eu estou ouvindo ela.
— Então vamos começar com um pouco da história sobre esse mundo. Momentos extraordinários do passado, bem como eventos mais recentes que desempenharam um papel importante na formação do nosso mundo.
— Divertido. — Eu tento não parecer entediada, mas percebo que não estou fazendo um bom trabalho. O que aconteceu sobre aprender sobre magia de verdade?
— É divertido. Especialmente já que eu vou pedir que alguns dos outros alunos expliquem as coisas para você.
— O quê?
Azzy me dá um sorriso deliberado. — Eu pensei que isso poderia fazê-la prestar atenção.
— Então... essa parte era uma piada?
— Oh, não, eu estava sendo totalmente séria. Dessa forma, você não precisa me ouvir falando por horas. Eu descobri que é uma ótima maneira de aprender. Isso ajuda os alunos que estão aqui há mais tempo a lembrar o que aprenderam, ensinando a você os fatos mais importantes, e você se conhecerá no processo. Eu vou supervisionar, é claro, para ter certeza de que eles não vão contar um monte de bobagens, mas essencialmente tudo será uma discussão.
Maravilha. Então é isso que eu tenho que esperar todos os dias enquanto estou aqui. — Então, hum, quando vou aprender como fazer alguma magia de verdade? Eu pensei que isso era tudo que eu precisava saber. Controlar a magia, então vou poder ir embora.
Ela sorri. — Começaremos esta tarde com algo fácil. Depois que você me contar exatamente o que aconteceu na outra noite quando você acidentalmente usou magia.
Eu suspiro quando me levanto e sigo para a mesa com os outros dois fae. — Por que todo mundo quer que eu diga exatamente o que aconteceu? Todos os detalhes de todo o evento não estão escritos em algum relatório chato da Guilda em algum lugar?
— Eu tenho certeza que está, mas não dói explicar novamente. Agora, você senta aqui com George e Aldo — ela puxa uma cadeira para mim enquanto os dois meninos olham para cima — e eu vou pegar meu chá.
Eu sento na cadeira, meu olhar se movendo cautelosamente entre os dois garotos. — Oi, — diz o mais novo, que parece ter uns dez anos. — Eu sou o George. Este é o Aldo.
— Tudo bem, deixe-me ver se eu me lembro disso corretamente. Você é um faerie, — eu digo, apontando para Aldo, — e você é um halfling? — Meu olhar se move para George.
Eu lembro que Dash mencionou a palavra halfling dizendo que eu não poderia ser um, mas ele não explicou mais do que isso. — Então, o que exatamente é um halfling? Alguém meio mágico?
— Não exatamente, — diz Aldo. Ele parece um pouco mais velho, catorze ou quinze talvez. Embora a idade não pareça fazer sentido neste mundo, então posso estar totalmente errada. — Significa dois pais diferentes. Uma faerie e um elfo, por exemplo. Ou um ser humano e uma faerie, embora as leis fae digam que a interação com os seres humanos é errada.
— É isso que eu sou, — diz George, jogando a mão no ar como se estivesse se oferecendo para responder a uma pergunta. — Pai faerie e mãe humana. Papai diz que ficou entediado com este mundo, então foi se aventurar no outro. Ele conheceu minha mãe e ele não voltou para cá desde então. Ele achava que eu quase não tinha magia quando eu era pequeno, mas começou a aumentar depois de eu completar dez anos no ano passado. As coisas ficaram um pouco descontroladas no mês passado quando eu acidentalmente ateei fogo no nosso celeiro com chamas encantadas que não podiam ser apagadas com água. Fui enviado para cá depois disso.
— Uau. Quase tão dramática quanto a minha história, — eu digo. — Então, como você sabe a diferença entre faeries e halflings? Alguém me disse que eu sou definitivamente uma faerie, mas e se ele estiver errado?
— Não, você é definitivamente uma faerie, — diz Aldo. — É fácil dizer por que faeries têm uma cor.
— Uma cor?
— Você não percebeu? — Ele se inclina para frente e descansa os cotovelos na mesa. — Você tem azul em seu cabelo e olhos. Eu tenho vermelho. Aquele guardião que te trouxe aqui tem verde. Azzy tem rosa, embora ela prefira chamar de cor de cereja.
— É cor de cereja, — diz Azzy quando ela volta para a biblioteca e vem em direção a nossa mesa com uma xícara de chá e pires flutuando no ar ao lado dela. Ela se senta. — Agora, Em, você pensou em sua primeira pergunta?
Eu pigarreio e me forço a desviar o olhar da xícara de chá levitando. — Oh, eu pensei que eles iam me dizer as coisas.
— Mas como eles saberão o que dizer se você não fizer uma pergunta?
Eu levanto uma sobrancelha. Esse estilo de ensino parece questionável, mas eu não sou especialista, então provavelmente não deveria falar sobre isso. — Hum... vamos ver... — O que eu quero saber? Eu quero saber se é absolutamente certo que minha mãe não é minha mãe. Eu quero saber como acabei morando com ela. Eu quero saber como eu devo encarar a vida e mim mesma quando de repente eu não sou a pessoa que eu sempre pensei que era. Quero saber se é possível ter uma crise de identidade aos dezessete anos.
Mas eu não vou fazer nenhuma dessas perguntas, é claro. Elas são muito pessoais e essas crianças não saberão as respostas de qualquer maneira. — Hum, bem, Dash explicou os caminhos das fadas, mas essa é a única maneira de chegar ao outro mundo? E se alguém não tiver uma daquelas coisas tipo caneta? — O que me preocupa é que eu não tenho uma dessas coisas, e eu preciso de uma maneira de sair daqui se as coisas acabarem indo mal.
— Ooh, tudo bem, eu posso responder, — diz George, jogando sua mão no ar novamente. — Então existem lacunas aqui e ali no véu entre os dois mundos, e os fae podem passar por essas lacunas. Eu não me lembro exatamente onde elas estão, no entanto, ou de onde elas vieram. Eu acho que elas sempre existiram. Ah, e há um buraco no véu sobre a Ilha Velazar, — acrescenta ele. — Isso não é natural, no entanto. Não deveria existir. Algumas bruxas criaram anos atrás.
Eu olho para Azzy. — Parece que pode ter sido um evento importante.
— Foi, — diz ela, parecendo satisfeita. Eu posso dizer o que ela está pensando: essa coisa de aprendizado em grupo está funcionando exatamente como ela planejou. — Você pode nos contar mais sobre esse evento, Aldo?
— Hum, claro, tudo bem. — Ele bate sua stylus sobre a mesa. — Bem, havia esse cara chamado Draven. Tudo bem, espere, vamos voltar um pouco. — Ele franze a testa, depois continua. — Foi há vinte e oito anos, quando um dos príncipes Unseelie tentava assumir o controle da corte da sua mãe. Em vez disso, ele e a Rainha Unseelie foram mortos por Draven, que era um halfling insanamente poderoso, e Draven acabou assumindo a Corte Unseelie. Houve muita luta e lavagem cerebral e outras coisas e, eventualmente, Draven foi morto. Pelo menos é o que todos pensaram.
— Dun, dun, duuuuun, — George diz em tom dramático, fazendo Azzy rir.
— Dez anos depois, a princesa Seelie que esteve na prisão todo esse tempo por ajudar Draven - porque ele era na verdade seu filho —
— Super complicado, — acrescenta George.
— Sim, então a princesa Seelie descobriu que Draven ainda estava vivo e escondido, — Aldo continua, — e ela o traiu e o entregou a Guilda em troca de sua liberdade.
— Ela não era a melhor mãe, — diz Azzy sacudindo a cabeça.
— Então a princesa matou sua mãe e irmã para poder reivindicar a coroa Seelie. Então, esse tiro saiu pela culatra - porque, você sabe, a Guilda e a Guilda Seelie trabalham juntos, então eles perderam a rainha e conseguiram uma nova horrível. E então se descobriu que a princesa Seelie estava trabalhando com algumas bruxas, e elas queriam dominar o mundo humano também. Elas decidiram que não deveria mais ser separado deste mundo. Então elas usaram um feitiço antigo e magia negra horrível para rasgar o véu, mas o que acabou acontecendo foi que quando o buraco se abriu mais e mais, ele começou a consumir os dois mundos.
— Eu não acho que elas sabiam que isso iria acontecer, — diz George.
— Não, obviamente não. De qualquer forma, Draven acabou no local — provavelmente para se vingar de sua mãe — e ele foi morto. De verdade dessa vez. Houve mais lutas e, de alguma forma, o buraco no véu parou de crescer.
— O monumento. — Azzy ajuda.
— Certo. Havia um antigo monumento do reino sereiano, e quando o buraco no véu tentava aumentar, a magia do monumento era forte o suficiente para segurar o buraco no lugar e impedir que ficasse maior. Então agora está apenas lá, esse buraco gigante no véu sobre a Ilha Velazar —
— Que é uma ilha flutuante, — George acrescenta com um sorriso. — Bem, duas ilhas agora, porque havia uma prisão do outro lado, então a Guilda cortou a ilha ao meio depois que a coisa do véu aconteceu.
— E guardiões estão posicionados perto do buraco o tempo todo, — continua Aldo, — escondendo-o com um glamour e certificando-se de que ninguém chegue perto o suficiente para tocar o monumento.
— Então não há como fechá-lo? — Pergunto.
— Os estudiosos têm trabalhado nisso desde então, — diz Azzy. — E ouvi dizer que finalmente houve um avanço, na verdade.
Eu me lembro vagamente de Jewel dizendo algo ontem sobre um feitiço do véu. — Eu acho que ouvi sobre isso. A Guilda teve uma reunião sobre isso ontem.
— Sim, isso é muito emocionante. — Azzy sorri para nós antes de pegar sua xícara de chá. — De qualquer forma, você está acompanhando até agora, Em?
— Acho que sim. Não tenho certeza se entendo totalmente a coisa dos Seelie e Unseelie, no entanto.
— Oh, as cortes diferentes. — Azzy acena para Aldo antes de tomar outro gole de chá.
— Hum, as cortes dominam diferentes partes do nosso mundo, — diz Aldo. — A Guilda e a Corte Seelie trabalham juntos para manter a ordem e a paz e manter o mundo funcionando. Eles decidem sobre as leis e proíbem magia que envolva ferir outras pessoas. Unseelies tendem a se manter afastados. Eles também gostam de ignorar as leis e usar qualquer magia negra que eles queiram, e a Corte Seelie nem sempre pode fazer nada sobre isso. Eu acho. — Ele olha para Azzy para confirmação.
— Essencialmente, sim. É um equilíbrio complicado.
— Então o que aconteceu com a princesa Seelie? — Eu pergunto. — Aquela que matou sua mãe e irmã e estava trabalhando com as bruxas? A Guilda não permitiu que ela continuasse a governar, não é?
Azzy balança a cabeça e coloca a xícara de chá no pires. — Não. Depois do feitiço do véu, a pena de morte foi restabelecida e a princesa Angelica — que suponho que era na verdade a rainha Angelica naquele momento — foi sentenciada à morte.
Meus olhos se arregalam. — Uau. Então, quem sobrou para governar a corte?
— O filho da irmã dela. Então atualmente nós temos um rei em ambos as cortes. Rei Idrind na Corte Seelie, que é um jovem rei, e o rei Savyon na Corte Unseelie, que está governando desde a primeira ‘morte’ de Draven.
Mais nomes estranhos, eu penso comigo mesma. Em voz alta, eu digo, — Isso tudo é muito interessante, mas não me ajuda a controlar minha magia. Isso é tudo que eu realmente preciso saber, certo?
— Se você decidir ficar neste mundo, — diz Azzy, — então você precisa saber como funciona.
— Mas eu não vou ficar aqui.
Ela sorri. — Não há necessidade de tomar essa decisão agora.
— Tenho certeza que já tomei a decisão.
Azzy ri. — Está bem, está bem. Isso é absolutamente bom, mas eu ainda preciso que a Guilda te ensine um pouco de história. Mas eu prometo que chegaremos na magia logo após o almoço, ok? Agora. — Ela se inclina para frente e me observa atentamente com seus olhos rosa escuros. — Você já foi informada sobre Habilidades Griffin?
Eu me lembro de Dash mencionando elas ontem. — Hum... faeries superpoderosas?
— Sim, sim, — diz Aldo. Ele olha para Azzy.
— Bem, vá em frente, — diz ela para ele. — Diga para Em tudo sobre eles.
Encosto-me para trás em minha cadeira, e o resto da manhã passa com explicações do que são Habilidades Griffin (habilidades mágicas adicionais e não naturais), de onde vieram originalmente (discos de metal contendo a magia de um halfling super poderoso de séculos atrás), e como são transmitidos hoje em dia, já que os discos sumiram (quando dois Dotados Griffin têm um filho, embora às vezes a criança saia normal).
Depois de mais algumas rodadas de perguntas e respostas, Azzy finalmente nos deixa ir para o almoço. Eu me levanto e me alongo, e estou prestes a seguir Aldo e George quando noto a stylus de Aldo na mesa entre os livros. Depois de um breve olhar ao redor da sala para me certificar de que ninguém está me observando, eu casualmente me inclino e a pego. Eu levanto minha camiseta e coloco no cós do meu jeans, então corro para fora.
A stylus belisca meu peito o tempo todo que estou sentada na hora do almoço, e eu tenho medo de que de repente ela abra um portal no meu corpo ou me incendeie ou faça algum outro feitiço por vontade própria. Mas eu consigo terminar o almoço inteira.
Logo depois, Azzy me diz para colocar um suéter por cima da minha camisa e encontrá-la do lado de fora. — Pronta para aprender alguma magia? — Ela pergunta quando a encontro perto de uma estátua de um centauro apontando um arco e flecha para o céu.
É provavelmente a pergunta mais estranha que já me fizeram. Eu mal posso acreditar que magia existe, muito menos que eu tenho a habilidade de brincar com ela. Eu engulo e rolo meus ombros em uma tentativa de relaxar. — Provavelmente não, mas vamos lá.
Capítulo 08
— ENTÃO, COMO ISSO FUNCIONA? — EU PERGUNTO ENQUANTO ESTAMOS NO JARDIM A CERTA DISTÂNCIA dos outros alunos. — Eu digo algumas palavras mágicas e algo acontece?
— Foi isso que aconteceu na outra noite quando você acidentalmente usou magia? — Pergunta Azzy.
— Hum, não, eram apenas palavras normais. Minha amiga Val ficou envergonhada com algo que ela disse para um cara, e ela fez um comentário sobre desejar que a terra se abrisse e a engolisse. Então eu disse... — Eu engulo e enrolo alguns fios de cabelo em volta do meu dedo indicador, envergonhada do estado em que estava naquela noite. — Eu estava meio que fora de mim, porque eu bebi um pouco de álcool, e aparentemente isso não é bom para faeries, então eu... eu não sei exatamente, mas eu disse algo como 'E daí? Então deixe que a terra a engula.’ E então... aconteceu.
— Eu entendo. — Azzy sacode a cabeça lentamente.
— Tem a ver com meus pensamentos? Eu estava talvez imaginando, e minha magia apareceu ao mesmo tempo, então foi isso que na verdade aconteceu?
— Sabe, Em, não tenho certeza. Coisas estranhas podem acontecer quando a magia de uma pessoa se revela pela primeira vez depois de estar dormente por anos. Mas eu vou tentar descobrir para você, tudo bem? — Ela me dá um sorriso que parece menos entusiasmado do que antes. — E é provavelmente melhor que você não mencione exatamente o que você fez com mais ninguém. Não até que eu possa descobrir mais.
— Oh. Porque —
— Enquanto isso, — ela diz antes de eu fazer minha pergunta, — vamos começar com o básico. Magia existe ao seu redor e dentro de você. Para fazê-la fazer algo, você precisa tirá-la de dentro de você e liberá-la de alguma forma ou canalizá-la através de uma stylus. Muito da nossa magia funciona dessa maneira, escrevendo as palavras para um feitiço específico em alguma coisa, enquanto canaliza a magia através da stylus.
Parte do meu cérebro ainda está preso imaginando por que eu deveria manter o que aconteceu na outra noite em segredo, então eu levo alguns instantes para processar as palavras da Azzy. — Hum, tudo bem, então, uma vez que eu puder canalizar, posso fazer o que quiser com ela?
— Não, nós temos limitações, é claro. Baseando-se que o poder nos cansa, assim como um exercício iria cansar você. Se você chegar ao ponto em que não tiver quase nada, então precisa descansar para recuperar sua força mágica. — Ela caminha lentamente de um lado para o outro enquanto fala, suas roupas soltas flutuando ao redor dela. — E há limitações para exatamente o que você pode fazer. Você não pode simplesmente estalar os dedos e ter uma pilha de ouro à sua frente, ou um arco-íris em arco no céu inteiro.
— Tudo bem. Mas faeries superpoderosas podem fazer coisas assim?
— Sim. Habilidades Griffin permitem que as pessoas façam magia que ninguém deveria ser capaz de fazer. Mas vamos aos detalhes do que é possível e do que não é mais tarde, — ela acrescenta com um aceno de mão. — A primeira coisa que eu quero que você pratique é a parte em que você realmente usa sua própria magia. Inicialmente parecerá algo que você tem que focar intensamente toda vez, mas logo se tornará instintivo. Então você descobrirá que pode fazer isso automaticamente sem nem pensar nisso.
— Como dirigir um carro?
— Bem, eu não tenho nenhuma experiência pessoal nessa área, mas sim, eu suponho que seja como dirigir um carro. — Ela pára de andar e estende as mãos suas palmas na sua frente. — Uma vez que você tirar o poder de si mesma, se você não canalizar através de algo, você pode simplesmente segurá-la em suas mãos. Ela aparecerá como uma espécie de massa brilhante que pode ser transformada em outras coisas. — Enquanto ela fala, uma forma esférica de luz toma forma acima de suas mãos, iluminando o caminho e uma energia que se esforça para se libertar. — Por enquanto, — ela diz, — eu só quero que você se concentre em chegar ao ponto em que você a está segurando.
Eu engulo, em seguida, pisco quando a magia de Azzy desaparece e ela abaixa as mãos para seus lados. — Hum, está bem. Devo fechar meus olhos?
— Se isso vai ajudar você a se concentrar, então sim.
Meus olhos fecham e me concentro em imaginar um lugar profundo e oculto dentro de mim. Eu tenho que livrar minha mente de imagens inúteis de intestinos e outros órgãos, mas eventualmente eu chego lá.
— Você pode sentir? — Azzy pergunta baixinho. — Cantarolando, vibrando. Encontre-a e imagine reunindo um pouco em suas mãos e a liberando.
Eu me imagino fazendo o que ela diz, esperando que na realidade não seja tão escorregadio e difícil de segurar como imagino que seja.
— Aqui está, — ela sussurra.
Eu abro meus olhos, e fico tão assustada ao ver a massa brilhante pairando sobre as minhas mãos que eu suspiro e dou um passo para trás, tirando minhas mãos da magia. Ela desaparece em nada.
Azzy ri. — Bom trabalho, isso foi bom.
Uma risada ofegante escapa de mim. — Eu realmente fiz isso.
— Você fez. Agora, para o próximo desafio: você pode fazer de novo?
Eu estendo minhas mãos mais uma vez e fecho meus olhos. Espero que seja mais fácil na segunda vez, mas quando abro os olhos não encontro nada acima das palmas das minhas mãos. Então eu tento de novo, tomando meu tempo, sentindo aquele zumbido fraco que nunca costumou ser parte de mim. Eu puxo, mas mais uma vez, eu encontro minhas mãos vazias.
— Paciência, — murmura Azzy. — Não fique frustrada consigo mesma.
Repito o processo, mas parece que não consigo mais clarear minha mente. O ar frio me distrai. O chilrear dos insetos enche meus ouvidos. Eu sacudo meus braços, respiro profundamente várias vezes e tento novamente.
Nada.
— Ugh, isso é uma droga! Por que é tão difícil?
Azzy, parada pacientemente em um lado, cruza os braços. — Porque hoje é a primeira vez que você tenta fazer isso. Levará muita prática antes que fique fácil.
— Mas eu preciso saber como fazer isso agora.
— Em, você precisa ir com calma, — diz ela com uma risada. — Você tem que aprender tudo o que uma criança faerie passaria aprendendo no ensino fundamental, e isso não vai acontecer em uma tarde. Mesmo se você for inteligente e dedicada, ainda levará vários meses para —
— Meses? — Repito, o choque corre através de mim. — Do que você está falando? Eu não posso ficar aqui durante meses.
— Por que não? Existe algo importante para o qual você precise voltar? Fiquei com a impressão de que a Guilda havia organizado sua história com seus parentes humanos e amigos. Ninguém está esperando que você volte para aquele lado do véu a qualquer momento em breve.
— Isso não faz... e... a minha mãe! — Eu gaguejo. — E eu tenho um plano. Eu preciso terminar a escola e me aproximar dela e conseguir um emprego que pague melhor. Então eu posso realmente ajudá-la. Como eu devo terminar a escola se estiver aqui durante meses? Eu só deveria ficar aqui por — eu não sei — uma semana ou duas.
— Sinto muito, Em. — A testa de Azzy franze em confusão. — Eu não sei quem te disse isso, mas isso definitivamente vai demorar mais de uma semana ou duas.
— Eu... só... eu não posso fazer isso. — Eu me afasto dela.
— Em, espere —
— Eu vou para o meu quarto.
— Emerson, por favor, seja madura sobre isso, — Azzy fala atrás de mim. — Vamos apenas conversar, em vez de você fugir para se esconder de tudo.
Eu não olho para trás. Passo correndo pelas estátuas e entro na casa — e passo direto pelas escadas que levam aos quartos. Eu abro a porta da frente e continuo correndo. Ao longo do caminho e em direção ao portão. Não faço ideia para onde estou indo, é claro, mas preciso sair desse lugar. Eu corro entre as árvores, em torno dos arbustos e sobre as rochas. Posso não ser boa em magia, mas sou boa em correr. Então eu corro, corro e corro, e eventualmente tropeço em algo e deslizo até a metade de uma parte íngreme da floresta. Eu levanto e escovo minhas mãos sujas e arranhadas contra minha calça jeans, permitindo-me recuperar o fôlego.
Eu estou longe da casa agora, então eu puxo a stylus do Aldo do meu jeans. Eu a seguro como uma caneta e descanso minha mão contra a árvore mais próxima. Eu vi esse feitiço várias vezes agora, então eu devo ser capaz de lembrar as palavras. Eu tento me concentrar e alcançar qualquer que seja a magia que existe dentro de mim enquanto escrevo as palavras que eu testemunhei Dash e Jewel escrevendo. Eles também falavam algumas palavras diferentes, então faço uma tentativa de repetir o que me lembro de ouvir.
É impossível. Ou eu entendi errado ou as palavras faladas estão erradas, ou não canalizo magia o suficiente através da stylus. Provavelmente uma combinação dos três. Eu giro e jogo a stylus no chão. Depois de um momento de pausa, me jogo ao lado dela. Eu cruzo minhas pernas e braços e respiro um pouco. Isso é tão estúpido. O que eu devo fazer agora? Continuar andando até encontrar uma daquelas lacunas naturais entre os dois mundos? E como eu saberia se eu visse? Não, esse é um plano estúpido. Especialmente se não houver muitas dessas lacunas. Eu poderia estar a centenas ou milhares de quilômetros de distância de uma. O que tenho que fazer é continuar andando até me deparar com uma pessoa que possa me levar ao mundo humano. Chevalier House não pode estar muito longe da civilização, certo?
Eu me forço a continuar me movendo, tentando não pensar no fato de que eu poderia estar completamente errada. Enquanto ando e ando e ando, a luz lentamente fica fraca. Quando a noite começa a se aproximar e eu ainda não encontrei nenhum sinal de nenhuma pessoa ou civilização, medo genuíno se acumula na borda da minha mente. Eu corro minhas mãos para cima e para baixo nos meus braços, tentando me aquecer, mas isso não funciona.
Então eu ouço alguma coisa. O farfalhar repetitivo de passos nas folhas. Alívio e incerteza se chocam dentro de mim ao mesmo tempo, me congelando no local por vários segundos. Então eu recupero meus sentidos e escorrego para trás da árvore mais próxima, espreitando na direção do som. Neste mundo, é definitivamente mais seguro checar as coisas antes de falar olá.
O ser que eventualmente aparece parece um homem. Seu rosto está na sombra e ele usa um longo casaco preto que alcança abaixo dos seus joelhos. Quando eu vejo que não é uma espécie de monstro, eu quase saio de trás da árvore e chamo por ele. Mas algo me impede. Uma mudança no ar. Um sentimento de desconforto. Eu noto movimento através do chão da floresta, como se insetos e pequenas criaturas estivessem se afastando dele. A sensação de que algo está errado me envolve.
Eu me agacho entre as raízes das árvores, cobrindo minha cabeça com as mãos e tentando me enrolar em uma pequena bola. Por favor, por favor, não me veja, eu canto silenciosamente. Eventualmente, seus passos desaparecem no nada. Eu me permito respirar longamente e devagar antes de ficar em pé e olhar timidamente ao redor da árvore. Eu dou alguns passos.
E uma forma escura salta sobre mim.
PARTE 2
Capítulo 09
EU CAIO COM UM GRITO, A CRIATURA EM CIMA DE MIM. ASAS DE COURO BATEM ao meu redor, e uma boca rosnando estala sobre meu rosto. Eu luto com punhos, cotovelos e joelhos. Com um grande impulso, eu consigo expulsá-lo de cima de mim. Ele pula de novo — mas algo brilhante e reluzente brilha através da escuridão. O monstro grita quando uma lâmina dourada corta para frente e para trás, forçando-o ainda mais para longe de mim. Ele bate uma asa no homem que segura à lâmina, então se arremessa para o lado e voa para longe.
O homem se vira — e vejo que é Dash.
Eu levanto e me afasto até sentir a superfície áspera de um tronco de uma árvore atrás de mim. Eu me inclino contra ela, não confiando em minhas próprias pernas para me manter de pé. Sem fôlego, eu pergunto, — Como... como você me encontrou?
— Isso importa? — Dash dá um passo em minha direção.
— Sim. Aqui estou eu tentando voltar à minha vida normal e meu babá perseguidor aparece do nada.
Ele solta a faca e ela simplesmente... desaparece. — Eu acho que você provavelmente deveria estar agradecendo ao seu babá perseguidor agora.
Eu me afasto da árvore e aumento a distância entre nós. — Eu não vou agradecer. Tudo o que você quer fazer é me arrastar de volta para aquela escola idiota.
Em vez de me lembrar que ele acabou de salvar minha vida, ele diz, — Primeiro dia ruim?
— Claro que foi ruim. Este lugar — este mundo — não é para mim. Eu não pertenço aqui. Por que ninguém entende isso?
— Nós entendemos. É para isso que a Chevalier House serve.
— Você não está me ouvindo. Eu não. Quero. Estar aqui. Tudo bem? Eu não quero ter lições estranhas com estranhos, eu não me importo com a história deste mundo, e eu não quero nenhuma magia. Eu só quero IR EMBORA.
Confusão atravessa o rosto de Dash. — Mas... não é melhor do que você tinha antes?
— Não! Eu não quero isso! — Eu grito. Começo a andar de um lado para o outro, jogando meus braços descontroladamente enquanto ando, sem me importar que faíscas aleatórias escapem dos meus dedos e queimem as folhas no chão. — Dois dias atrás, minha vida era a mesma porcaria que sempre foi. Agora eu tenho magia, estou em um mundo estranho, minha mãe não é minha mãe e, basicamente, eu não tenho nenhuma ma — Eu me interrompo antes de terminar. — Eu não tenho a menor ideia de quem eu sou ou o que está acontecendo. Eu só quero voltar ao meu plano, onde eu termino a escola, me afasto de Chelsea e descubro como tirar minha mãe daquele hospital. E sim, estou bem ciente de que foi uma vida de baixa qualidade, mas era a minha vida e eu sabia o que fazer com ela.
A testa de Dash continua a franzir. — Mas você ainda pode fazer tudo isso. Quero dizer, não exatamente assim, mas uma vez que você tiver o lado mágico das coisas sob controle, você pode voltar à vida normal. Na verdade, a magia irá ajudá-la com a vida normal, se você for discreta sobre isso. Então você não deveria estar tentando virar as costas para isso.
Eu paro, olhando para a escuridão e não vejo nada enquanto meu cérebro processa rapidamente algo que eu não tinha considerado até agora. Eu me viro lentamente e encaro Dash. — A magia pode curar minha mãe?
Ele hesita, abre a boca, depois a fecha e sacode a cabeça devagar. — Ela não é mágica. Seria muito arriscado usar magia em seu corpo, especialmente em sua mente. Não sabemos se isso a prejudicaria e pioraria as coisas.
Eu jogo minhas mãos para cima. — Então, qual diabos é o ponto em ter esses poderes estúpidos? Como eles devem me ajudar?
— Hum, por causa de tudo mais que você pode fazer com a magia?
Eu cruzo meus braços sobre meu peito. — Posso passar pelos caminhos das fadas direto para o seu quarto de hospital e levá-la de volta através deles para algum outro lugar?
— Bem, não, você não pode levá-la a qualquer lugar pelos caminhos porque os humanos não podem viajar dessa maneira. Mas você pode ir a qualquer lugar. Você poderia visitá-la agora mesmo. Quero dizer, — acrescenta ele rapidamente, — se você achar que é uma boa ideia.
Eu hesito. Claramente, Dash não acha que é uma boa ideia visitá-la agora, e ele provavelmente está certo. Eu quero, claro. Eu não quero nada mais. Mas eu não quero ir com ele. Eu não quero que ele veja minha mãe em seu estado atual, e eu não quero que ele me veja e minha reação quando eu a vir daquele jeito. Eu preciso aprender essa coisa dos caminhos das fadas para que eu possa viajar por conta própria. — Tudo bem, então eu não posso resgatá-la do hospital dessa maneira, — eu digo. — Mas eu poderia me esconder com magia, certo? E eu poderia usar magia para distrair todo mundo enquanto tirava mamãe do prédio, e a magia podia ajustar a papelada para que todos achassem que ela estava devidamente dispensada. E a magia poderia colocar meu nome no sistema escolar dizendo que me formei, e isso poderia me ajudar a conseguir algum dinheiro para ter uma vida simples em algum lugar e manter minha mãe segura. Certo?
— Sim, exatamente. Vê? A magia é boa para alguma coisa. Embora, — ele acrescenta com uma carranca, — eu não estou dizendo que eu defendo você fazendo qualquer uma dessas coisas. Nós não devemos mexer com vidas humanas e, tipo, usar magia para conseguir dinheiro ilegalmente.
— Você também não está dizendo que me impediria.
— Eu estou dizendo... — Dash coça a cabeça. — Eu estou dizendo que você deveria voltar para Chevalier House e continuar aprendendo como usar sua magia com segurança. Podemos considerar todas as opções depois disso.
Eu aceno devagar. — Certo.
Ele hesita, me observando com os olhos apertados. — Você está pensando em fazer todas essas coisas ilegais, não é?
— Estou pensando em voltar para Chevalier House. — O que é a verdade, realmente, já que a magia se tornou a melhor maneira de sair da minha vida ruim e dar à mamãe um futuro melhor do que o que ela está encarando no momento.
Dash suspira. — Bem, seus motivos podem ser questionáveis, mas se eles a levaram de volta à Chevalier House hoje à noite, então eu fiz o meu trabalho.
— Ótimo. Bom trabalho. Deveríamos ir, então? — Eu me viro e algo que parece um lagarto alado salta de um galho e voa direto para mim. — Puta...
— Sorvete, — diz Dash, pegando a pequena criatura. — Puta sorvete. Isso é o que ela diria, carinha. Não precisa ficar chateado.
— Puta sorvete, — eu retruco. — Que diabos é essa coisa?
Diante dos meus olhos, a criatura começa a mudar de forma. Um momento é algum tipo de réptil e no outro é um gatinho. — Ah, parece um metamorfo, — diz Dash. — Formattra é o nome oficial, eu acho. Esses carinhas são muito raros. Eu me pergunto como ele acabou aqui.
— Metamorfos? Formidável. Lobisomens são reais também?
— Bem, existem fae que são metamorfos, mas eu acho que eles se transformam em outras pessoas, não animais. Você sabe, como outra faerie se transformando para se parecer comigo.
— Porque quem não gostaria de se parecer com você, certo?
— Exatamente. — A criatura se estica e me cheira. Eu me afasto para fora de seu alcance. — Ei, vamos lá, ele gosta de você, — diz Dash. — Você não quer um animal de estimação?
— Não, eu não gosto de animais de estimação.
Dash ri. — Impossível. Por que você não gosta de animais de estimação?
— Eles morrem e é triste. — Ou eles fogem e nunca mais voltam.
— Isso definitivamente não é uma razão boa o suficiente.
— Bem. Em breve vou embora e quem vai cuidar dele então? Isso é uma razão boa o suficiente?
A criatura se transforma entre várias formas tão rapidamente que não consigo dizer o que é até que se torne um gatinho novamente. — Ele é apenas um bebê, Em, — diz Dash, coçando a cabeça do gatinho. — Ele precisa de alguém que cuide dele.
Eu inclino minha cabeça para o lado. — Você disse que eles são muito raros, não é? Então posso vendê-lo por muito dinheiro?
O rosto do Dash desmorona. Ele abraça a criatura no seu peito e cobre as orelhas. — Isso é uma coisa terrível para se dizer, Em. Não dê ouvidos a ela, carinha, — ele sussurra. — Ela não quis dizer isso.
— Ugh, sério? — Minhas mãos se fecham em punhos. — Podemos ir agora? Você disse que eu preciso voltar para casa, e agora você está perdendo tempo aqui com essa estranha coisa que muda de forma.
Ele me observa de boca aberta como se quisesse dizer alguma coisa. Então ele balança a cabeça. — Sim, ok. Vamos. — Quando ele levanta sua stylus para escrever um portal, a criatura que muda de forma pula e desaparece na escuridão. Dash estende a mão para mim e eu relutantemente aceito. Quem elaborou a regra de contato físico para viajar no caminho das fadas obviamente não levou em consideração a possibilidade de algumas pessoas nunca quererem dar as mãos.
Quando a escuridão desaparece para revelar uma fraca luz, estamos do lado de fora do portão da Chevalier House. — Você poderia ter nos levado direto para dentro da casa, sabe.
— Eu não posso, na verdade, — Dash diz enquanto abre o portão. — Os caminhos das fadas não abrem dentro da casa ou em qualquer lugar do jardim.
Eu fecho o portão atrás de nós. — Isso é estranho. Por quê?
— Medida de segurança. É assim na maioria das propriedades privadas. Apenas os proprietários podem abrir portais dentro da própria casa.
— Uma medida de segurança estúpida, se alguém pode abrir o portão.
— O portão não abrirá para qualquer um, no entanto, — Dash diz enquanto seguimos o caminho até a casa. — Se você passou por ele na companhia de alguém que mora aqui — como o elfo que nos trouxe aqui ontem — você recebeu acesso mágico para passar pelo portão.
Eu permito que um longo suspiro passe pelos meus lábios. — Isso tudo parece desnecessariamente complicado. As pessoas deviam usar apenas cadeados e chaves.
Dash ri. — Uma coisa tão humana para se dizer.
— Foda-se, — murmuro.
Entramos no hall de entrada da Chevalier House e encontramos a melhor amiga de equipe de Dash, Jewel, esperando por nós. — Oh, você a encontrou, — diz Jewel, um sorriso iluminando seu rosto. — Que bom.
— Você também faz parte da equipe de babá? — Eu pergunto.
Ela franze a testa. — O que você quer dizer? Eu estava com Dash quando Azzy enviou a mensagem para dizer que você fugiu. Eu me ofereci para ajudar a procurar por você.
— Que gentil da sua parte, — eu digo diretamente.
Dash me cutuca com o cotovelo, e eu dou um passo para longe dele para que ele não possa fazer isso de novo. Azzy entra na sala. — Emerson. — Ela coloca as mãos nos quadris e me dá um olhar severo. — Fugir não era necessário. Espero que você saiba que não vamos forçá-la a ficar aqui contra a sua vontade. Se você tem certeza absoluta de que não está interessada neste mundo, podemos mandá-la de volta para a Guilda e eles podem te dar um daqueles aparelhos que bloqueiam toda a magia.
— Aparelho? — Eu pergunto.
— É um anel ou pulseira ou algo assim. Eu não tenho certeza de qual forma eles estão usando hoje em dia. É algo que não pode ser removido e irá bloquear totalmente a sua magia.
— Oh. Eu não sabia que era uma opção. — Mas como Dash apontou, a magia pode me ajudar a ajudar a mamãe. Especialmente considerando que o tipo de trabalho que eu poderia conseguir como uma graduada do ensino médio não pagaria quase tanto quanto o tipo de trabalho que eu poderia conseguir se eu fizesse uma versão encantada de alguma qualificação superior. Se eu quero estar melhor equipada para ajudar a mamãe, então eu preciso ficar por aqui um pouco mais. — Eu sinto muito, Azzy, — eu me forço a dizer. — Estou aqui para aprender agora. Eu não vou fugir novamente.
— Maravilhoso. Agora, por que vocês dois não ficam para o jantar? — Azzy pergunta a Jewel e Dash. — Ou você tem casos importantes para lidar?
— Nossa equipe está livre, — diz Jewel. Ela enlaça os braços com os de Dash. — Gostaríamos de ficar para o jantar.
— Maravilhoso, — diz Azzy, envolvendo um braço em volta dos ombros de Dash e os apertando brevemente.
— Sim, realmente maravilhoso, — murmuro. — Eu só vou... me limpar, eu acho.
— Claro, — diz Azzy, apontando para uma das portas que saem do hall de entrada. — Tente não confundir com a porta da frente, Em. Nós não queremos que você se perca do lado de fora novamente.
Eu considero revirar os olhos, mas é muito esforço. — Eu acho que posso conseguir.
Quando eu termino de espirrar água no meu rosto e penteio meu cabelo com os dedos — o que me surpreende, mais uma vez, com suas mechas azuis brilhantes — saio do banheiro e encontro Jewel esperando sozinha no hall de entrada. Ela se afasta da mesa. Eu olho em volta, mas definitivamente é em minha direção que ela está caminhando. — Hum, oi?
Ela sorri e parece quase genuíno. — Olha, eu realmente não quero fazer a coisa toda de adolescente malvada, já que eu sei que somos praticamente adultas por aqui, mas eu só quero ressaltar que Dash não está exatamente disponível.
Eu decido me fazer de burra. — Disponível para quê?
Ela revira os olhos. — Você sabe, um relacionamento.
— Oh. — Eu cruzo meus braços. — Por quê?
— Bem, olha, não é oficial ainda, mas nós meio que temos uma coisa acontecendo.
— Uma coisa? Mesmo? Eu nunca teria adivinhado, dada a maneira como ele tenta seduzir todas as mulheres que encontra.
O sorriso de Jewel escorrega um pouco. — Sim, eu sei que ele namorou um monte de garotas, mas nenhuma dessas relações durou muito tempo, e eu sei exatamente o porquê.
Eu finjo um interesse intenso. — Você sabe?
— Sim, é óbvio: ele está procurando a pessoa certa. E ele está tão perto de descobrir que sou eu, então eu não quero que nada estrague isso para nós agora.
— Oh, uau, é você? Como você sabe disso?
— Porque muitas coisas em nossas vidas foram passadas juntas. Nós treinamos juntos. Nós crescemos juntos. Nós até brincamos juntos quando bebês. Nós estamos destinados a ser.
Eu pisco. — Essa é a coisa mais estúpida que eu já ouvi.
— Ei!
— Quem se importa se vocês brincaram juntos quando bebês? Duvido que qualquer um de vocês possa se lembrar disso.
— Isso não importa! Isso significa que nós temos uma história, — ela diz, todos os traços de seu sorriso doce se foram. — E se temos uma história, teremos um futuro mais forte.
— Mesmo? Porque Dash e eu também temos uma história, e isso só fez com que eu não gostasse dele.
— Sim, porque vocês têm a história errada. Nós temos a história certa, então —
— Jewel? — Eu paro para ter certeza que ela está ouvindo. — Você pode ficar com ele. Eu não estou interessada.
— Oh. Mesmo?
— Mesmo. Eu tenho outras prioridades agora. — Eu passo por ela e me dirijo para a sala de jantar, onde a conversa alta e os cheiro de dar água na boca enchem o ar. Na longa mesa retangular, estão os outros sete alunos que atualmente frequentam a Chevalier House, além de alguns fae que vi andando por aí. Professores, talvez, e o homem com a mão no pulso de Azzy, rindo enquanto ele se inclina para mais perto para dizer algo que só ela pode ouvir, deve ser seu marido ou parceiro ou algo dessa natureza.
— Emerson! Você perdeu algo excitante enquanto estava fora, — George me diz enquanto me sento.
— Oh, o que eu perdi?
— Outra pessoa nova chegou.
— E isso conta como excitante? — Eu puxo o prato mais próximo de comida para mais perto e começo a colocar legumes assados no meu prato. Eles cheiram mil vezes mais deliciosos do que qualquer coisa que Chelsea já cozinhou.
— São duas novas pessoas em dois dias, — diz Azzy da cabeceira da mesa. — Isso não acontece muitas vezes aqui.
— E ela é velha como você, — acrescenta George.
Eu abaixo a colher de servir. — Desculpe?
— Oh, caramba, tão velha quanto Emerson? — Os olhos de Dash se arregalam. — Isso é seriamente velha.
George, sentado ao lado de Dash do outro lado da mesa, morde o lábio enquanto franze a testa. — Oh, eu pensei... Mas Azzy não é super velha? E a Emerson tem, sua idade? — Ele diz para Dash.
— Ok, e isso, — eu digo, apontando meu garfo para dar ênfase, — é por isso que é tão confuso ter pessoas que tem um zilhão de anos parecendo que estão na casa dos vinte.
Dash dá de ombros. — Não podemos evitar se temos magia nos nossos sistemas, mantendo-nos jovens e bonitos.
— Eu sei, é tão bom, né? — Jewel diz enquanto se apressa para dentro da sala de jantar e seleciona o único assento disponível no lado da mesa de Dash.
— Zilhão? Eu tenho apenas trezentos e quatro anos, — diz o homem sentado ao lado de Azzy. — Eu sou Paul, a propósito, — acrescenta ele com um sorriso na minha direção. — O marido de Azzy.
— Oi. — Eu retorno seu sorriso, satisfeita por descobrir que pelo menos alguns fae têm nomes normais. Depois de provar um pouco da minha comida e tentar não gemer em voz alta de como é incrível, eu pergunto, — Então, onde está a outra garota nova?
— Ela não estava se sentindo tão bem, — diz Azzy. — Teve alguns dias traumatizantes. Eu dei-lhe algo para comer quando ela chegou um pouco antes do jantar, e ela está dormindo agora. Vocês duas podem começar as aulas juntas amanhã.
— Ótimo. — Eu não estou empolgada em compartilhar lições com outra pessoa — e se ela me atrasar? — mas já que decidi me comprometer totalmente com o programa Chevalier House, eu provavelmente deveria ser educada com todos que moram aqui.
Volto minha atenção para a minha comida, empilhando mais algumas iguarias no meu prato quando penso que ninguém está olhando. Dash chama minha atenção, no entanto. Eu retorno seu sorriso com um olhar de raiva. Pirralho mimado provavelmente tem um chef em casa. Sem dúvida ele come assim o tempo todo.
No final da refeição, os pratos se erguem por conta própria e voam para fora da sala de jantar em direção à cozinha. Eu tento não ficar muito surpresa, mas não consigo evitar me pressionar contra a minha cadeira com medo quando meu prato sobe no ar. Eu peço licença logo depois e saio da sala de jantar; toda essa conversa e atividade durante o jantar não é algo que eu estou acostumada. Eu prefiro ir para a cama cedo para que eu possa me concentrar corretamente em todas essas coisas mágicas amanhã.
— Em?
Eu viro no último degrau que leva aos quartos e olho para trás.
— É bom que você tenha voltado, — diz Dash, vagando pelo hall de entrada. — Quando você estiver arrasando em todas as suas lições em algumas semanas, me avise para que eu possa me gabar de ter sido eu quem falou para você ficar.
A única resposta que eu dou a ele é outro olhar de raiva.
— Ei, vamos lá, estou apenas brincando.
— Sabe, eu tenho tentado descobrir por que tantas pessoas gostam de você quando você é só um idiota.
Ele dá de os ombros. — Provavelmente porque ninguém mais tem a impressão de que eu arruinei suas vidas, então eles podem me ver como eu realmente sou.
— Como é, exatamente?
— Cara simpático, sorriso encantador, não tão ruim de olhar.
— Estou surpresa que eles possam ver qualquer coisa além dessa sua cabeça gigantesca.
Ele franze a testa e levanta a mão para a cabeça. — O que há de errado com a minha —
— Eu quis dizer o seu ego, idiota.
— Ei, eu disse não tão ruim. Isso só deveria me dar um ego de tamanho médio, certo?
— Em você, isso é mais do que suficiente, — eu digo quando me viro e subo as escadas.
— Boa noite, Emmy, — ele fala atrás de mim.
— Cale a boca, — eu resmungo sob a minha respiração.
Chego à minha porta, abro-a — e pulo para trás ao ver um tigre sentado na minha cama. O tigre pisca e se transforma em uma coruja, depois um corvo e depois um gatinho. O alívio corre através de mim, seguido rapidamente pela irritação. — Não, — eu digo. — Não, não, não. Isso não está acontecendo. Você deveria ficar lá fora na floresta. — O gatinho pisca. — Eu vou dar você para Dash. Ele pode cuidar de você. — Eu pego o gatinho e corro de volta para o hall.
No topo da escada, paro. Azzy e Dash estão de pé juntos no hall de entrada abaixo, Dash parecendo estranhamente sério. — Temos até o final da semana, — ele diz baixinho, — então não há pressa imediata. Mas nós vamos ter um plano em prática, provavelmente depois de amanhã.
— Bom. E certifique-se de que pareça um acidente.
— Claro.
Eu mordo meu lábio, me encolhendo de volta nas sombras, sabendo instintivamente que eu não deveria ouvir o que eles estavam falando. Antes que eu possa decidir o que fazer com o animal que se transforma, Dash abre a porta da frente e sai. Azzy caminha de volta para a sala de jantar, sua camisa leve e enorme flutuando atrás dela.
— Que diabos? — Eu sussurro para o gatinho. Um instante depois, torna-se um coelho. — Bem. Dash sumiu, então você está por conta própria. — Coloco o coelho na escada, depois corro de volta para o meu quarto, minha mente percorrendo explicações sobre o que Dash e Azzy poderiam estar falando. Talvez não seja nada sinistro, afinal. Certifique-se de que pareça um acidente. Isso não parece bom, no entanto. Mas seja o que for, não vou me envolver. Eu sobrevivi durante esse tempo mantendo o nariz fora dos negócios de outras pessoas, e isso não vai mudar.
Depois de visitar a piscina quente no banheiro — a melhor coisa sobre esta casa além da comida — eu subo na cama e bato no abajur para desligá-lo. É alimentado por magia, é claro — eletricidade parece não existir neste mundo — e Azzy me disse para bater levemente com o dedo para ligá-lo e desligá-lo. Até agora parece estar funcionando.
Encosto-me contra os travesseiros, achando mais fácil dormir esta noite do que ontem à noite. Estou quase dormindo quando um som — uma batida suave na porta — me desperta. Tão silenciosa que eu me pergunto se eu posso ter imaginado isso. Eu sento, observando a porta através da luz cinza fraca da janela e esperando. Quando a batida vem pela segunda vez, eu sei que não estou imaginando. — Sim? — Eu falo através da escuridão. Minha porta se abre devagar, revelando a silhueta de uma figura feminina. — Quem está aí? — Eu pergunto, nervos flutuando de repente no meu estômago.
— Você é a Emerson? — Ela pergunta. — A outra garota nova?
— Hum, sim. — Eu me inclino e ligo o abajur enquanto ela desliza para dentro e fecha a porta. Ela corre pelo quarto e senta na beira da minha cama. Eu me afasto para trás, colocando um pouco mais de distância entre nós quando vejo a aparência dela: um roupão enrugado da mesma cor do que encontrei pendurado no meu guarda-roupa, pele pálida e olhos de um roxo profundo azulado. É a mesma cor que atravessa seu cabelo escuro, que, se eu me lembro das minhas lições corretamente, significa que ela é uma faerie, não algum outro tipo de fae.
— Por favor, me ajude, — ela sussurra, com os olhos arregalados. — Aqui não é seguro. Precisamos ir embora.
Capítulo 10
— HUM... O QUÊ? — PERGUNTO, ABSOLUTAMENTE CONFUSA. — DO QUE VOCÊ ESTÁ FALANDO? E quem é você?
— Eu sou Aurora. Eu acabei de chegar aqui esta noite. A professora me disse que havia outra garota nova, e pensei que, como você ainda não se aprofundou muito no programa deles, e eles não fizeram lavagem cerebral em você, ou seja lá o que for que acontece aqui, podemos fugir juntas.
— Lavagem cerebral? De onde você tirou isso?
— Porque eu — talvez eu não saiba como usar minha magia, mas eu cresci neste mundo e sei de coisas. Eu ouvi coisas. Sobre este lugar. — Ela se aproxima um pouco mais. — As pessoas desaparecem daqui às vezes. Tipo, elas simplesmente desaparecem sem deixar vestígios logo após o início de seu treinamento. E parece que a Chevalier House não tem nada a ver com isso, mas como não pode? As pessoas entram aqui e nunca saem. Elas simplesmente desaparecem. E eu não quero que isso aconteça comigo. Acabei de ter minha liberdade e não quero perdê-la.
Se eu pudesse me afastar ainda mais dessa garota, eu faria, mas já estou encostada na parede. — Então, você está dizendo... que eles matam algumas das pessoas que entram aqui?
— Eu não sei. Talvez. — Ela aperta o cinto de seda de seu roupão, puxando-o com mais força. — Ou talvez seja algo pior. Talvez eles estejam presos em algum lugar. Talvez eles estejam fazendo experimentos neles.
— Você tem alguma prova disso?
— Claro que não, mas isso não significa que seja falso.
Considerando o que ouvi entre Dash e Azzy agora, estou quase inclinada a acreditar nessa garota, mas seus olhos arregalados e cheios de terror me lembram demais da minha mãe. Mamãe parecendo desesperada e com medo, falando sobre coisas igualmente irracionais. — Olha, Aurora. Eu não quero ser hostil, mas eu não quero me envolver com o que você está falando. Você tem seus problemas e eu tenho os meus. Vamos apenas superar essa coisa de Magia Básica, e nós podemos seguir caminhos separados.
Ela recua, dor enchendo seus olhos. — Você não acredita em mim? Você quer seriamente se arriscar com essas pessoas que nunca conheceu, em vez de considerar que posso estar dizendo a verdade? Que você e eu nunca teremos a chance de seguir caminhos separados se algo acontecer conosco antes disso?
Eu penso novamente na conversa silenciosa de Dash e Azzy. — Tudo bem, — eu digo devagar. — É verdade que eu não conheço as pessoas daqui, mas também não conheço você. Você poderia estar inventando isso.
Ela respira fundo. — O que você quer saber? Eu... eu vou te contar tudo. Quando você entender o quão horrível minha vida tem sido até agora, você entenderá porque eu nunca mais quero ser uma prisioneira novamente. Farei qualquer coisa para sair daqui.
Eu levanto minhas sobrancelhas com a palavra ‘prisioneira’, mas ainda não estou pronta para acreditar nessa garota. Se há pessoas insanas no meu mundo, deve haver pessoas insanas neste também. — Por que não deixamos isso para amanhã?
— Não! Apenas me deixe me explicar. Como você vai saber se pode confiar em mim até ouvir o que eu tenho a dizer? Como você sabe que pode confiar neles?
Eu considero gritar para chamar a Azzy, mas Aurora está certa. Não sei se posso confiar em alguém aqui. E se Chevalier House e este programa for um elaborado truque para reunir seres mágicos não treinados? Eu não sei por que alguém faria isso, mas eu não sei muito sobre este mundo, então pode haver uma razão. — Bem. Diga-me o que você quer me dizer.
— Tudo bem. Então fui criada por bruxas —
— Bruxas? — Eu dou-lhe um olhar duvidoso. — Como com vassouras? Ninguém me disse nada sobre bruxas. Elas são mesmo reais?
Seus olhos se estreitam. — Você está neste mundo há cinco minutos e já decidiu que sabe mais do que eu?
— Eu só —
— Não, elas não têm nada a ver com vassouras. Eu nem sei o que isso significa.
— Oh. Você nunca esteve no meu mundo?
— O reino não mágico? Não, nunca. Por que elas me levariam para lá? Passei a maior parte da minha vida trancada na casa delas. As únicas coisas que sei são as coisas que eu as ouvi falar e as coisas que li em seus livros. Eu não sei como acabei vivendo em uma casa com bruxas, porque elas nunca se incomodaram em me dizer. Elas... elas me trataram como serva. — Ela levanta os joelhos e envolve os braços ao redor deles. — Elas nunca me ensinaram como usar minha magia, porque isso me fortaleceria. Eu poderia ter usado contra elas. Elas me pegaram lendo sobre Chevalier House uma vez, quando eu estava tentando descobrir um plano de fuga e para onde eu iria se eu fosse embora. Elas riram e disseram que mesmo que eu conseguisse fugir delas, Chevalier House não me faria bem algum. Faes desaparecem daqui o tempo todo.
— Se isso for verdade, certamente a Guilda saberia sobre isso. Eles teriam encerrado o programa. — Não pode ser verdade. Eu preciso que não seja verdade. Preciso que Azzy me ensine tudo sobre magia para que eu possa voltar ao meu mundo e ajudar minha mãe.
— A menos que a Guilda esteja nisso também, — Aurora diz em tom conspiratório.
— Então, se Chevalier House é perigosa, por que você veio para cá?
— Eu não escolhi vir para cá. — Ela coloca seus pés no chão e se inclina para perto de mim. — Eu finalmente consegui fugir das bruxas depois de meses de planejamento cuidadoso. Eu estava sozinha até que um guardião me pegou roubando comida. Foi assim que acabei na Guilda e foram eles que me enviaram para cá.
Eu suspiro. — Você sabe que tudo isso soa ridículo, certo? E a única coisa que você parece saber é o que um bando de bruxas lhe contou. Obviamente, elas querem que você acredite que Chevalier House não pode ajudá-la. Elas não queriam que você fugisse.
— Tudo bem, então talvez elas estivessem mentindo. Mas você está disposta a correr esse risco? Você ainda quer estar aqui?
— Na verdade sim. Eu quero. Eu percebi hoje que a magia pode me ajudar muito mais do que qualquer coisa que eu já aprendi em meu mundo, e eu preciso saber como usá-la antes de voltar para casa.
— Se eles permitirem que você volte para casa, — ressalta Aurora.
— Bem. O que exatamente você está sugerindo então? Fugirmos juntas?
— Sim. Tudo está trancado agora — já chequei no andar de baixo — mas podemos esperar por uma chance amanhã e fugir juntas. Então podemos descobrir o que fazer quando formos livres.
— Não, — eu digo categoricamente. — Sinto muito, mas não. Eu tentei isso hoje e não funcionou. Eu tenho um plano diferente agora, e isso não inclui fugir com alguém que acabei de conhecer.
— Você está sendo tão ingênua, — ela sussurra com um aceno de medo de sua cabeça.
— Estou? Eu não confio em você, e não confio neles, então com quem devo ficar? Obviamente, o lado com maior probabilidade de me ajudar. E agora, parece ser a Chevalier House. Se algo estranho está acontecendo, eu vou descobrir em breve e então vou fugir. Mas por enquanto, eu fico aqui. — Empurro para o lado a pequena voz que diz que Aurora pode estar certa. Que a estranha conversa que ouvi é prova suficiente. Porque eu preciso que esse programa funcione. Agora que percebi o quanto a magia pode fazer por mim em meu mundo, eu me agarro a isso como se fosse minha única esperança de uma vida melhor.
Aurora engole em seco, depois respira devagar. Ela coloca alguns fios de cabelo atrás da orelha, se afastando de mim. — Tudo bem. Eu sinto muito por ter incomodado você com isso. — Ela sai da minha cama e se levanta. — Eu vou... hum... eu acho que você está certa. Devemos cuidar de nós mesmos.
Eu aceno, já que não tenho certeza do que mais fazer ou dizer.
— Tudo bem, bem... boa noite. — Ela se vira e sai correndo do meu quarto.
— Muito estranho, — eu murmuro conforme toco o abajur, mergulhando o quarto na escuridão mais uma vez. Eu continuo dizendo a mim mesma que tomei a decisão certa, mas não consigo evitar pensar em suas palavras repetidamente em minha mente, e demora muito tempo para eu conseguir dormir.
Capítulo 11
— É ADORÁVEL QUE VOCÊS DUAS TENHAM CHEGADO AO MESMO TEMPO E PODEM APRENDER juntas, — Azzy diz para Aurora e eu enquanto nós duas nos sentamos lado a lado em uma mesa na biblioteca na manhã seguinte. — Não costuma acontecer assim.
Aurora não diz nada, então eu decido não dizer nada também. Duvido que qualquer uma de nós pense que há algo ‘adorável’ nessa situação. Na verdade, estou surpresa que ela ainda esteja aqui. Ela parecia tão desesperada ontem à noite; Eu pensei que ela teria encontrado uma maneira de escapar da casa enquanto o resto de nós estava dormindo. Mas ela estava sentada na mesa da sala de jantar quando cheguei lá esta manhã, franzindo a testa para o prato dela. Ela não olhou para cima nenhuma vez durante o café da manhã.
— Certo, então, — diz Azzy. — Eu vou explicar os encantos de disfarce essa manhã, e depois disso vamos sair para tentar fazer alguma magia básica antes do almoço. Não há necessidade de fugir dessa vez, Em, — ela acrescenta com uma risada. Sinto os olhos de Aurora em mim e faço um esforço determinado para não encontrar o olhar dela. — Então, talvez mais tarde, Em, — diz Azzy, — você pode me dar qualquer informação que considere útil para encontrar sua família verdadeira. E você também, Aurora.
Uma apreensão fria dispara em minhas veias. Eu tenho tentado ignorar a ideia de que tenho outra família em algum lugar. Me deixa doente toda vez que eu lembro que minha mãe não é minha mãe. — Hum...
— A menos que vocês não queiram, é claro, — acrescenta Azzy rapidamente.
— Eu estou interessada, — diz Aurora, o que é surpreendente o suficiente para me fazer olhar em sua direção. Eu me pergunto que jogo ela está jogando, ou se ela pode estar falando sério. Talvez ela espere descobrir algo útil sobre sua família antes de fugir da Chevalier House.
— Azzy? — Eu olho em volta enquanto Paul entra na biblioteca. — Acabei de receber o relatório dos guardiões. — Ele acena com um pedaço de papel enrolado. — Eles não acharam nada suspeito.
— Suspeito? — Aldo pergunta. Ele está lendo sozinho em outra mesa da biblioteca, enquanto George trabalha em algumas habilidades práticas do lado de fora. — Aconteceu alguma coisa?
— Os encantamentos da segurança pegaram algo fora do nosso portão no início da noite de ontem, — explica Paul. — A Guilda foi alertada, e alguns guardiões foram checar as coisas. Eles nos disseram que não encontraram nada, mas deixaram alguém vigiando lá fora durante a noite, de qualquer maneira.
— Você acha que... talvez... foram os rebeldes Griffin? — Aldo diz. — Eles odeiam a Guilda, então eles também nos odeiam, certo?
— Tenho certeza de que não foi nada, — diz Azzy com um sorriso. — E Paul, — ela acrescenta em voz baixa, apesar de todos nós ainda conseguirmos ouvi-la, — eu não acho que é necessário assustar os alunos.
— Mas nós temos o direito de saber o que está acontecendo, não é? — Aldo protesta. — Se houver uma ameaça, devemos saber sobre isso.
— Nada está acontecendo, — assegura Azzy. — Os rebeldes Griffin não têm absolutamente nenhum motivo para nos atacar. Não temos nada a ver com eles.
Eu olho para Aurora. Seus olhos violetas encontram os meus, e suas sobrancelhas arqueiam um pouquinho, como se dissesse: Viu? Eu te disse que algo está acontecendo aqui.
— Chega disso, — diz Azzy, batendo palmas. — Aurora, você sabe o que é um encanto de disfarce?
Assustada, Aurora se vira para encarar Azzy. — Na verdade não. As bruxas não me disseram nada sobre eles.
A próxima hora passa com Azzy explicando disfarces de todos os tipos, do tipo simples que eu deveria ser capaz de lançar sobre mim mesma sem nem pensar nisso, para o tipo imensamente complexo que esconde construções dentro de árvores, para que então eles fiquem escondidos. Eu percebo que provavelmente era sobre isso que Dash estava se referindo quando ele falou sobre casas na árvore, e é impossível compreender todo o conceito. Uma casa inteira cheia de espaço escondida dentro de um tronco de uma árvore? Que inferno?
— Magia torna o impossível possível, — diz Azzy, o que não parece ser uma grande explicação para mim.
Algo faz cócegas no meu tornozelo. Eu olho para baixo, me contorcendo involuntariamente quando vejo um gafanhoto agarrado a bainha do meu jeans. Estou prestes a pisar nele quando ele pisca, cai no chão, parece meio que protuberante e se torna um sapo. — Sério? — Eu sussurro. — Me deixe em paz.
— Em? — Pergunta Azzy, parando no meio de uma descrição exata do que aconteceu com uma das Guildas anos atrás, quando sua magia de disfarce foi destruída. — Tudo bem?
— Hum, sim. Apenas um sapo.
— Oh, deve ter vindo de fora. Tenho certeza de que vai encontrar o caminho de volta. Agora, vamos tentar fazer magia?
Excitação pulsa através de mim enquanto seguimos Azzy para o jardim. Seja paciente, eu me instruo. Não fique frustrada. Você consegue fazer isso. Paramos perto de uma fonte de três andares. Eu esfrego minhas mãos para cima e para baixo nos meus braços. — Está um pouco frio para praticar aqui fora, não é?
— Sim, — murmura Aurora. Sem dúvida, ela está sentindo isso mais do que eu. Pelo menos estou de jeans; ela está usando uma saia longa e sandálias abertas.
— Bobagem. — Azzy se vira para nós. — Enquanto a fonte não tiver congelada, não está muito frio. Além disso, a baixa temperatura ajudará a motivar vocês a aprenderem a se manter aquecidas com magia.
— Se não congelarmos até a morte primeiro, — murmuro.
— Jovens, — murmura Azzy, enquanto estende a mão na direção de um banco do outro lado da fonte. — Sempre tão dramáticos. — Uma réplica sobe para a minha língua, mas congela lá conforme eu vejo o banco deslizar ao redor da fonte e parar atrás de Azzy. Ela se senta, cruza as mãos nos joelhos e olha para nós. — Eu gostaria que vocês começassem a puxar magia do núcleo de vocês. Aurora, você disse que já está familiarizada com isso?
— Hum, sim. Eu pratiquei sozinha sempre que não estava sendo vigiada.
— Maravilhoso. Em, você precisa recuperar o tempo perdido.
— Sim, — eu murmuro. — Eu sempre adoro quando os professores colocam os alunos uns contra os outros para tentar que eles tenham um desempenho melhor.
Azzy fica um pouco mais ereta e escova algo inexistente da manga. — Tenho certeza que não tenho ideia do que você está falando.
— Podemos apenas continuar com isso? — Aurora pergunta calmamente. Eu olho e vejo que ela já está segurando uma esfera brilhante de magia acima de suas palmas.
Rangendo os dentes, fecho os olhos e repito as instruções de Azzy de ontem. Tenho que parar e repensar três vezes antes de produzir uma massa visível de magia, mas depois de fazer uma vez, posso repetir várias vezes sem problemas. — Tudo bem, — eu digo, quase tonta de euforia enquanto mantenho o meu próprio poder em minhas mãos. — Qual é a próxima coisa?
— Fogo, — diz Azzy com um brilho nos olhos. Ela puxa um pedaço de papel das dobras de suas roupas soltas e desenha algo com a stylus, usando o banco como apoio. Quase imediatamente, três longas e esbeltas velas sobem do papel.
— Como você —
— Isso é uma lição para outro dia. — Ela se levanta. — Aqui está uma vela para cada uma de vocês. Agora que vocês podem invocar sua magia à vontade, quero que vocês a transformem em uma chama. — Ela segura a terceira vela na frente de seu rosto. — Alguns feitiços exigem palavras escritas e alguns exigem palavras faladas. Alguns exigem ambos, ou um movimento específico das mãos. O que vamos fazer agora exige apenas uma palavra falada — e, é claro, o empurrão subconsciente da sua magia para a vela.
Ela faz com que pareça fácil, esse ‘empurrão subconsciente’, mas estou supondo que é uma daquelas coisas que exige muita prática e esforço antes de se tornar instintivo.
— Repita depois de mim, — diz Azzy. Ela pronuncia uma palavra estranha que eu nunca ouvi antes, depois sopra suavemente a vela. Uma chama aparece.
Aurora começa a praticar e, claro, ela acerta na terceira tentativa. Eu, no entanto, sopro de novo e de novo e nada acontece. Eu tento maneiras diferentes de falar a palavra mágica, mudando a ênfase da primeira sílaba para a última, mas não faz diferença.
— Pare, — diz Azzy eventualmente. — Eu acho que você não está enviando nenhuma magia para a vela, afinal. Não se esqueça dessa parte. Puxe sua magia, fale a palavra e, em seguida, imagine soprar esse poder para fora da sua boca e diretamente para a vela.
Eu faço o que ela diz. E nada acontece.
Eu perco a paciência. Eu jogo a vela na grama. — Eu não entendo. Consegui furar o chão sem nem tentar, e agora não consigo acender uma vela.
— Isso foi diferente —
— Eu sei que foi diferente. Era fácil e era em inglês. Isso é... apenas... palavras estúpidas que não fazem sentido.
— Em, — diz Azzy, e sua voz carrega um tom de aviso.
— Não, sério. Na outra noite, eu apenas disse algo e aconteceu.
— Emerson.
— Por que eu não posso continuar fazendo isso? — Eu me abaixo e levanto a vela. Segurando-a no alto, eu digo, — Vela, comece a queimar. — Nada acontece. — Comece a queimar! — Eu grito. Nada ainda. Eu me viro e aponto para a árvore. — Caía! — Nada. Eu encaro a fonte. — Quebre em cem pedaços e junte-se! — Um arrepio percorre minha espinha, e percebo que essas últimas palavras soaram estranhamente distantes e ainda estranhamente ressonantes ao mesmo tempo.
A fonte vibra. Rachaduras se formam entre os andares e se separam rapidamente.
Uma pausa.
Silêncio.
Então a fonte inteira explode.
Aurora grita enquanto água e pedaços de pedra voam. De repente, estamos ambas no chão. Eu forço minha cabeça para cima para ver o que está acontecendo. Os pedaços de pedra congelam, invertem e voam de volta ao seu ponto de partida, todas se juntando perfeitamente. Eu respiro fundo quando o último estalo desaparece, retornando a fonte à sua forma original exata.
Mais silêncio.
Então Aurora foge para trás através do chão. — Isso não é normal, — ela suspira. — Isso não é normal.
— Eu fiz isso, — murmuro. — Eu usei magia.
— Isso não foi magia, — sussurra Azzy.
Eu me viro para olhar para ela. — O que você quer dizer?
Lentamente ela sacode a cabeça. — Não é a magia normal. Não é o tipo de magia que o resto de nós tem.
Eu olho para ela e encontro Paul e o restante dos alunos a poucos metros de distância, suas expressões todas congeladas em choque. — Eu vou contatar a Guilda, — diz Paul baixinho.
— Por quê? — Eu levanto. — O que eu fiz? Qual é o problema?
Aurora se levanta e Azzy olha entre nós duas. — Vocês têm sorte de eu ter jogado vocês duas no chão muito rapidamente. Vocês poderiam ter sido gravemente feridas de outra forma.
— Responda, — digo a ela, e novamente, aquela onda estranha corre pela minha espinha.
Azzy se sobressalta. De repente, e quase roboticamente, ela diz, — Eu nunca vi magia assim antes. Nenhuma faerie deveria ser capaz de fazer o que você acabou de fazer. Eu suspeito que você tenha uma Habilidade Griffin. Paul está entrando em contato com a Guilda agora, e eles provavelmente enviarão alguém aqui imediatamente para testá-la. O que acontece depois é com eles. — Sua voz para abruptamente, e ela bate a mão sobre a boca como se para evitar que mais palavras saiam. Então ela respira devagar e abaixa a mão. — Não faça isso de novo. Não fale de novo.
— Mas, eu —
— Emerson, — ela interrompe. — Sua voz é perigosa. Por favor, não fale novamente até que um membro da Guilda esteja aqui.
Um frio corre pela minha pele, seguido por uma onda de calor. Ansiedade aperta meu estômago. Tudo isso está errado. Eu devo aprender magia e depois ir para casa. Eu não deveria ter problemas com a Guilda. Eu não deveria ser uma daquelas faeries perigosas e superpoderosas que todos parecem odiar.
— Venha, vamos entrar. — Azzy pega meu braço e me leva em direção à casa. Eu penso em lutar com ela, em empurrá-la para longe e correr, mas estou completamente exausta de repente. Meus braços caem fracamente ao meu lado e uma onda de tontura passa por mim. Passou quando chegamos ao hall de entrada, mas ainda me sinto drenada demais para pensar em correr para qualquer lugar.
Azzy conduz todos para fora da sala, depois corre para outra parte da casa, me deixando sozinha no hall de entrada com Paul. Ele está com os braços cruzados firmemente sobre o peito, sem tirar os olhos de mim. Azzy reaparece um minuto ou dois depois com uma caneca na mão. — Você está cansada, eu sei, — ela diz baixinho. — Isso vai ajudar você a recuperar sua força. — Paul franze a testa, mas ele não impede que Azzy entregue a caneca para mim.
Eu tomo um gole hesitante, depois continuo bebendo até que o líquido espesso de chocolate tenha terminado. É doce, quente e reconfortante, e começo a me sentir mais forte quase imediatamente. Eu coloco a caneca na mesa e olho para Azzy. — Deve haver um engano, certo? Eu não posso ter uma dessas Habilidade Griffin. O que aconteceu lá fora... isso foi apenas uma magia descontrolada ou algo assim. Certo?
— Você não deveria estar falando, — diz Paul.
— Porque eu tenho uma voz perigosa? Isso é um absurdo Tenho certeza de que há outra explicação para —
— Em, pare, — diz Azzy. — Por favor. Eu acho mais seguro se você não disser nada.
Naquele momento, a porta da frente da Chevalier House se abre e duas figuras entram. Uma mulher que eu não reconheço, e —
— Dash, — digo no momento em que o vejo. É estranho, mas estou aliviada por ele estar aqui.
— Emerson, — a mulher diz, me olhando por baixo com os olhos que parecem ser quase da cor de bronze. Ela está vestida com um terninho e seu cabelo está bem preso em um coque. Eu não consigo descobrir a expressão dela. Definitivamente não é um sorriso, mas não é medo, cautela ou raiva. — Eu sou a Conselheira Chefe Ashlow. Por que você não nos disse que você conseguia fazer magia não natural?
Eu levanto minhas mãos, porque isso está se tornando demais. — Você está brincando, não é? Toda magia não é natural para mim! Eu descobri agora que existe! Como eu deveria saber que deveria dizer alguma coisa e então, ter isso acontecendo é considerado incomum neste mundo?
— Não apenas incomum. Impossível.
— Bem... exatamente. Como eu deveria saber disso?
Ela respira fortemente e estende a mão fechada para mim. Seus dedos abrem para revelar uma pílula verde brilhante na palma da mão. — A Conselheira Waterfield deveria ter testado você no primeiro dia em que você chegou a este mundo. Ela não deveria ter deixado você — ela fixa o olhar em Dash por um momento — falar com ela sobre isso.
Dash franze a testa. — Espero que você não esteja sugerindo que eu intencionalmente escondi essa informação de você, Conselheira Ashlow. Eu não tinha ideia de que magia Griffin estava envolvida.
— Eu não sei o que pensar agora. — Ela olha para mim novamente. — Tome a pílula, Emerson.
Algo me diz que desobedecer não é uma opção, então eu pego a pílula e coloco na minha língua. Ela se dissolve rapidamente. Os olhos de Dash passam por mim, sua expressão escurecendo. Eu olho para mim mesma, e meu coração para uma ou duas batidas quando vejo meu corpo brilhando levemente verde. — Então é verdade, — diz Dash. — Ela é uma deles.
— E você não sabia?
— Claro que não. Eu teria relatado imediatamente se eu suspeitasse que ela tinha uma Habilidade Griffin. É meu trabalho proteger nosso mundo de pessoas como ela. — Ele quase cospe essa última palavra, e por um momento eu considero cuspir de volta nele. Mas então ele envolve seu braço de ferro em volta do meu braço e começa a me guiar em direção à porta, e meu ódio por ele é rapidamente substituído por medo.
— O que você está... mas eu não fiz nada de errado. Eu não sou uma daqueles rebeldes Griffin. Eu não quero atacar pessoas. Certamente você não pode me responsabilizar por crimes que eu nunca cometi, ou crimes que você acha que eu poderia cometer no futuro.
— Nós podemos, na verdade, — diz a Conselheira Ashlow quando chegamos à porta. — Nossas leis afirmam que o mundo precisa ser protegido de pessoas como você. Em alguns casos, isso significa marcar e rastrear você. Saber seu paradeiro e atividades em todos os momentos. Em casos extremos, isso significa limitar sua liberdade. O Conselho precisará se reunir para discutir seu caso, mas eu não tenho a menor dúvida, Emerson, de que eles vão achar isso extremamente difícil. Eu sinto muito. — Ela não parece arrependida, no entanto. Na verdade, ela parece animada pelo fato de que ela acabou de apreender outra faerie Dotada Griffin.
— Mas... isso... como isso aconteceu? — Eu pergunto, tentando parar, tentando encontrar uma saída para isso. — Aqueles discos mágicos não existem mais... não, isso não pode estar certo. Então —
— Seus pais devem ter sido Dotados Griffin, — a Conselheira Ashlow diz. — Essa é a única explicação.
— Espere, — eu digo quando ela abre a porta. — Espere, por favor. O que significa limitar minha liberdade?
— Isso significa que você será mantida em algum lugar, — Dash responde, me forçando para o degrau mais alto.
— Mantida?
— Sim, como um esconderijo.
Eu paro de andar e consigo livrar meu braço de seu aperto. — Então uma prisão.
Dash olha para mim. — Não é assim, Em. Ninguém quer que você seja uma prisioneira. É só que você é perigosa, então você não pode ser solta, seja neste mundo ou no humano. Certamente você entende isso.
Eu forço de volta a dor na garganta e as lágrimas picando atrás dos meus olhos. Eu cerro os dentes e digo, — Você está gostando disso, não é. É provavelmente o melhor entretenimento que você já teve em anos. Você nunca gostou de mim e agora pode me ver presa. Você está fazendo comigo o que fez com a minha mãe.
Seus olhos se estreitam e ele abre a boca, mas a Conselheira Ashlow interrompe com um gemido. — Todo esse drama desnecessário. Apenas vá em frente. — Ela fecha a porta e passa por nós descendo as escadas. Dash me puxa contra o seu lado e me obriga a segui-la.
— Em primeiro lugar, — ele diz baixinho, — você é quem não gosta de mim. E em segundo lugar, isso não tem nada a ver com alguém gostar de alguém. Você é uma ameaça, então temos que tomar precauções. É isso.
— Mas eu não sou uma ameaça! — Minhas emoções estão perigosamente perto da superfície, de repente, e eu levo um momento para engoli-las. — Quero dizer, não intencionalmente. Eu não escolhi ser assim. Isso não é justo.
Ele fica quieto por tanto tempo que suponho que agora ele está me ignorando. Mas quando saímos do portão e encontramos a Conselheiro Ashlow abrindo uma entrada para os caminhos das fadas, ele diz, — A vida não é justa, Em. Você já sabe disso.
A Conselheira Ashlow olha para nós quando o buraco escuro no ar fica maior. — Apresse-se, — diz ela. — Precisamos chegar na Guilda.
Dash aperta meu braço mais ainda, mas ele caminha para frente sem hesitação. — Não pense em nada, — ele diz enquanto entramos na escuridão. — Isso pode confundir os caminhos das fadas, e isso não vai acabar bem para nenhum de nós.
Eu me esforço para acalmar meus pensamentos, mas devo de alguma forma conseguir fazer um bom trabalho, porque logo a luz se materializa à nossa frente. Entramos em uma pequena sala onde um homem de uniforme atrás de uma mesa de madeira elaboradamente esculpida nos cumprimenta. Eu me lembro de Dash dizendo algo sobre uma grande entrada se transformando a partir de uma árvore, mas ele deve estar se referindo a uma parte diferente da Guilda porque a única coisa impressionante nesta sala é a mesa.
— Por aqui, — diz a Conselheira Ashlow, apontando para um portal aberta à nossa direita. Dash me empurra através dela, e fico boquiaberta no local de um enorme foyer com uma ampla escadaria no lado oposto e luzes brilhantes penduradas aqui e ali. Meus olhos rápidos captam homens e mulheres em roupas escuras, cabelos de todas as cores, pisos brancos reluzentes e padrões giratórios gravados nas paredes - antes que um alarme comece a gritar em meus ouvidos.
— Está tudo bem, — diz a Conselheira Ashlow, levantando a mão para impedir as pessoas que correm em sua direção. — Já estamos conscientes da Habilidade Griffin. Vou levá-la para a área de detenção agora.
Saia, meu cérebro diz quando meus pensamentos em pânico retornam com força total. Saia daqui! Mas eu não sei como. O que eu fiz no outro dia quando os policiais estavam tentando me levar embora? Eu devo ter usado minha Habilidade Griffin, mas não tenho ideia de como.
Eu sinto Dash me observando. — Eu vou soltar você agora, — diz ele. — Você pode se comportar?
Eu aceno quando o aperto dele se solta e seu braço desliza para longe do meu. Então eu o empurro o mais forte que posso e corro.
Capítulo 12
EU TROPEÇO SOBRE MEUS PÉS — OU SOBRE ALGO INVISÍVEL, JÁ QUE EU JURO QUE EU NUNCA fui tão desajeitada — e bato no chão. Minha tão falada pratica em parkour entra em ação e eu continuo rolando. Sobre meu estômago, minhas mãos empurram o chão e eu levanto. Eu pego um vislumbre de Dash esparramado no chão com os guardiões caindo sobre ele antes de eu correr na direção oposta, repetindo — Afaste-se de mim, fique longe de mim! — Na esperança desesperada de que minha Habilidade Griffin apareça e dê poder as minhas palavras. Na pressa de voltar à sala em que entramos, não sei dizer se minha voz está diferente, mas continuo repetindo as palavras de qualquer maneira. E ou está funcionando, ou esses guardiões são ainda piores que os policiais de Stanmeade, porque estão caindo um sobre o outro.
Eu corro para o saguão de entrada assim que alguém corre - e eu bato direto nela. A força me joga para trás, mas ela se lança para frente e agarra meu braço, me puxando para cima. — Aurora? — Eu suspiro quando ela me puxa para a sala. — O que você está fazendo aqui?
— Tentando ajudar você!
Uma corda brilhante me chicoteia e se agarra ao meu braço, me puxando para fora do alcance de Aurora e para o chão. Eu me mexo inutilmente na superfície brilhante antes de olhar para o guarda que nos cumprimentou um minuto atrás. Ele está em pé atrás da mesa agora, me arrastando rapidamente em direção a ele. — Saia daqui! — Eu grito, esperando que funcione. O poder invisível o expulsa pela porta aberta e para dentro do saguão, me puxando bruscamente para o lado enquanto a corda fica tensa.
Uma luz pisca, cortando a corda e deixando um pequeno pedaço preso ao meu braço. Eu olho para cima e encontro Aurora com uma stylus na mão. — Levante-se! — Ela corre para a parede e escreve sobre ela. — Vamos!
Eu olho para o saguão, onde guardiões estão correndo em nossa direção, flashes de magia escapam de suas mãos. Eu pulo e me movo em direção a Aurora e à crescente escuridão atrás dela. — Você pode usar uma stylus? — Eu suspiro quando tomo sua mão.
— Não pense em nada, — ela instrui enquanto me empurra para frente nos caminhos das fadas. — E não solte.
— Eu pensei que você não soubesse — Minhas palavras são cortadas quando a mão de Aurora se solta da minha. Eu me viro para ver o que está acontecendo e encontro dois guardiões a puxando para trás.
— Emerson! — Ela grita, uma mão estendendo em minha direção.
Eu hesito, partes conflitantes do meu cérebro gritando Salve ela! e Salve-se! E nesse momento, a escuridão dos caminhos das fadas se fecha ao meu redor. Eu tento lembrar o que devo fazer agora, no que devo me concentrar ou dizer, mas depois estou caindo para trás na escuridão. Eu aterrisso com força no chão enquanto árvores emaranhadas e plantas tomam forma ao meu redor. Eu gemo e tusso e tento sugar o ar quando me sento. Eu não tenho ideia de onde os caminhos das fadas me deixaram. Por um momento, eu me pergunto se eu poderia ter tido a sorte de voltar ao mundo normal, mas quando dois seres minúsculos em forma de pessoas com asas passam por mim, minha esperança morre. — Brilhante, — murmuro enquanto me levanto, folhas farfalhando sob meus sapatos.
Eu olho em volta, mas Aurora está longe de ser vista. A culpa se mistura com o meu alívio por ter escapado. Eu deveria ter tentado puxá-la de volta para os caminhos. A única razão pela qual ela estava lá era para me ajudar. Eu pressiono meus dedos contra minhas têmporas e tento me convencer de que nada de ruim vai acontecer com ela. Não é como se ela fosse uma Dotada Griffin. Eles vão mandá-la de volta para Chevalier House, e assim que ela terminar o treinamento, ela estará livre. Embora, agora que penso nisso, ela ainda precisa de treinamento? Ontem à noite ela disse que não sabia como usar sua magia, mas não teve nenhum problema em cortar a corda ao redor do meu braço ou abrir um portal dos caminhos das fadas.
Eu levanto meu braço direito e franzo a testa para o pedaço de corda ainda preso a ele. Eu tento desfazer o nó ou soltar o suficiente para deixar minha mão livre, mas ela não se move. Então, depois de um último olhar ao redor da floresta, eu escolho uma direção e começo a me mover. O ar está mais quente aqui do que no jardim que estávamos treinando esta manhã, o que me diz que eu provavelmente não estou perto da Chevalier House. Infelizmente, isso pode significar que estou bem ao lado de qualquer árvore que esconda a Guilda, então é melhor me afastar da área o mais rápido possível.
Eu começo a correr, desviando entre as árvores, lançando meu corpo facilmente sobre as raízes das árvores gigantes, e dando um amplo espaço para uma planta exótica com grandes espinhos vermelho-sangue. Eu dou uma olhada ocasional sobre o meu ombro, mas nada parece estar me seguindo. Eventualmente, eu diminuo para uma rápida caminhada. Algo faz cócegas no lado do meu pescoço, e eu bato na minha pele, com medo de que algum inseto mágico perigoso esteja me mordendo. Um guincho corta o ar ao lado da minha orelha. Eu pulo para longe, soltando um grito assustado e girando para encarar o que quer que esteja me atacando. Um pássaro fofo que pode ser uma coruja bate as asas conforme desce desajeitadamente em direção ao chão da floresta, transformando-se em um gatinho quando ele atinge o chão. Miados tristes e estridentes enchem o ar.
— Puta mer... sorvete. — Eu esfrego minha orelha enquanto a adrenalina diminui. — Você quase me ensurdeceu. O que você está fazendo aqui, sua coisinha estranha? Você deveria estar na Chevalier House. O gatinho lampeja entre várias formas irreconhecíveis antes de se estabelecer como um filhote de raposa. Ele caminha até mim e começa a acariciar meu tornozelo. Eu me afasto e cruzo os braços sobre o peito. Ele olha com olhos arregalados e suplicantes.
E eu cedo.
— Bem. Você pode ficar comigo. Mas eu não vou te dar um nome. Tudo vai ficar pior a partir daqui. — Eu enfio a criatura macia e peluda debaixo do meu braço e continuo andando.
E quase caio assustada quando alguém sai do ar na minha frente. — Dash? — Eu tropeço para trás, a criatura transformando-se em algo minúsculo quando ele pula para longe de mim. — Como você me achou?
— Não importa. Nós — O espaço ondula ao lado dele. Ele se afasta apressadamente, levantando a mão. Uma faca aparece em suas mãos enquanto ele se coloca entre mim e qualquer ameaça que estamos prestes a enfrentar.
— Oh, você a encontrou, — diz Jewel, saindo da escuridão. — Bom trabalho.
— Jewel? — Dash diz. A faca desaparece quando ele a solta. — Como você — por que você está aqui?
Dor lampeja brevemente em seu rosto enquanto eu cuidadosamente me afasto dos dois. — Só tentando ajudar, — diz ela. — Você ainda tem aquele feitiço de rastreamento em seu âmbar da outra noite nos túneis das aranhas.
— Certo. — Dash pega seu âmbar, arrasta o dedo sobre a superfície em uma série de padrões estranhos, em seguida, enfia de volta em seu bolso. — Não precisa mais disso.
— Qual é o problema? Achei que você precisava de ajuda para encontrá-la.
— Nenhum. Eu posso lidar com isso, isso é tudo. — Ele agarra meu pulso antes que eu possa me mover para muito longe e o torce atrás de minhas costas.
— Você pode realmente lidar com isso? — Eu pergunto em tom de provocação enquanto ele amarra minhas mãos. — Não parecia lá na Guilda. Vocês guardiões são sempre tão inúteis?
Dash volta para ficar na minha frente, sua expressão mostrando diversão genuína. — Não. Eles não são.
Hum. Talvez minha Habilidade Griffin funcione afinal de contas. — Cordas, desamarrem, — eu instruo. Nada acontece. Dash arqueia uma sobrancelha e começa a rir.
— O que ela está fazendo? — Jewel pergunta.
— Meu palpite é que ela está tentando fazer que sua Habilidade Griffin funcione.
— Oh. — A testa de Jewel franze. — Talvez devêssemos fechar a boca dela.
— Não, ela não tem a menor ideia de como usar sua Habilidade Griffin.
Calor sobe ao meu rosto. — Eu vou te estrangular com essa corda quando eu finalmente me soltar. — Em vez disso, acabarei presa pelo resto da minha vida.
— Como já expliquei, — Dash diz devagar, — você não será uma prisioneira. Você só não terá o mesmo nível de liberdade que todos os outros.
Eu pisco, incapaz de acreditar que ele é tão estúpido. — Você está se ouvindo? Você sabe qual é a definição de prisioneiro?
— Em, não é tão ruim assim, eu prometo. Olha, eu sei que você está se preocupando com sua mãe —
— Não se atreva a trazê-la para isso —
— mas tenho certeza de que a Guilda permitirá que você a visite sob supervisão. E nossos pesquisadores estão trabalhando o tempo todo tentando encontrar uma maneira de remover as Habilidades Griffin. Isso pode acontecer em breve e você estará livre novamente. Por favor, tente entender. — Ele lança um rápido olhar para Jewel antes de retornar seu olhar para mim. — Estamos tentando manter o resto do mundo seguro e, infelizmente, essa é uma das precauções que precisamos tomar.
— Vamos lá, Dash, você está perdendo tempo, — Jewel reclama. — Precisamos levá-la de volta para a Guilda. — Ela pega sua stylus e a levanta.
— Não, — eu digo, e quando sinto aquele formigamento estranho se espalhando rapidamente pelo meu corpo e minha voz ecoando estranhamente em meus ouvidos, eu me apresso para acrescentar, — Não abra um portal! Nenhum de vocês dois abra um portal!
Uma rápida estranheza passa e Jewel franze a testa para mim por cima do seu ombro. Em seguida, ela pressiona a stylus contra uma árvore e abre a boca. Depois de parecer lutar por vários segundos, ela diz, — Eu não consigo fazer isso. Eu não consigo dizer as palavras.
Dash se vira para me encarar. — Oh, fala sério. Você não acabou de fazer isso.
Eu solto uma risada trêmula. — Eu acho que sim, na verdade.
— Agora nenhum de nós pode ir a nenhum lugar.
Eu aceno lentamente enquanto respiro fundo. — Bom.
— Desfaça o que você acabou de fazer, — diz Jewel, apontando sua stylus para mim.
— De jeito nenhum. Mesmo se eu quisesse, não tenho ideia de como funciona essa coisa de Habilidade Griffin.
Dash solta um longo suspiro. — Ah, bem. Hora de caminhar, eu acho.
— Dash! — Jewel exclama. — Como você não está seriamente chateado agora?
Ele encolhe os ombros. — Passamos por coisa pior. Você sabe disso. Muito pior. — Ele começa a andar. Depois de vários momentos, a corda se estica entre nós e sou forçada a segui-lo. — Tente acompanhar, Emmy. Não gostaria de ser comida por algum tipo de criatura sombria e sinistra. — Apesar de sua indiferença, noto o modo como seus punhos se apertam periodicamente ao lado do corpo. Ele definitivamente está com raiva de mim. Sem dúvida, ele está com problemas por me deixar fugir da Guilda. Espero que ele acabe suspenso ou, melhor ainda, demitido. Se ele vai continuar a arruinar a minha vida, eu posso arruinar a dele também.
— Estamos perto da margem da floresta, certo? — Jewel diz. — No lado com a cachoeira? — Dash acena, e Jewel rabisca algo em seu âmbar. — Tudo bem, a Conselheira Ashlow e alguns guardiões nos encontrarão lá em poucos minutos.
— Bom. — Dash escreve algo em seu âmbar também, em seguida, acrescenta, — Você quer ir em frente e encontrá-los?
— Sim, tudo bem. — Jewel corre através das árvores, e no momento em que ela está fora de vista, Dash pára. — Tudo bem. Nós não temos muito tempo. Você —
O ar ondula tão perto que quase sinto o movimento. Um buraco escuro se abre, e uma criança sai e cai sobre mim. — Oh, oops, desculpe, — ele murmura, afastando-se de mim e cambaleando para trás.
— Você está brincando comigo? — Dash exige. — O que diabos você está fazendo aqui, Jack?
O garoto, que não pode ter mais de dez anos, dá um sorriso largo a Dash. — Eu queria fazer parte da missão. Eu escutei para onde todo mundo estava indo, mas... eu não sei. Onde está todo mundo?
— Jack, você precisa ir para casa imediatamente. Seus pais estão — Dash olha para o som de folhas farfalhando à frente. — Esconda-se, — ele sussurra, empurrando o menino para trás da árvore mais próxima e me arrastando para frente mais uma vez.
— Dash, apresse-se, — Jewel fala conforme ela aparece. — Eles estão esperando por nós.
— Venha, — Dash diz antes de murmurar algo mais em voz baixa. Eu mantenho minhas perguntas para mim mesma enquanto minha mente corre para descobrir o que está acontecendo. Dash tem medo de alguma coisa, e deve haver uma maneira de usar isso em minha vantagem.
Alcançamos Jewel e, depois de caminhar mais um minuto, chegamos à margem da floresta. As árvores diminuem e chegam ao fim. A uma curta distância, em uma área gramada de espaço aberto, a Conselheira Chefe Ashlow e vários guardiões estão esperando por nós. Um riacho passa por eles e desaparece sobre a borda do que deve ser um penhasco muito alto, já que não consigo ouvir a água batendo embaixo.
— Bom trabalho em encontrá-la, Dash, — diz a Conselheira Ashlow. — Embora pelo fato de você não tê-la amordaçado, eu questiono sua inteligência.
— Foi um acaso que ela conseguiu usar sua Habilidade Griffin em nós, — diz Dash. — Estou confiante de que isso não acontecerá novamente em breve. Mas eu vou amordaçá-la agora para manter segurança. — Ele me faz parar em frente à Conselheira, mas um murmúrio coletivo correndo abruptamente pelo grupo o distrai antes que ele possa amarrar qualquer coisa sobre minha boca. Nós dois nos viramos e vejo outro grupo de pessoas saindo das árvores. Eu assumo a princípio que são mais guardiões, mas o súbito lampejo de armas cintilantes ao meu redor prova que minha suposição está errada.
— Ora, ora, — a Conselheira Ashlow diz. — Os Unseelies decidiram aparecer.
— E por que não apareceríamos? — Um homem diz, caminhando para frente. Eu sinto uma mudança na atmosfera — algo que eu não consigo explicar — e eu me pergunto se é assim que a Conselheira sabe que essas faeries estão com a Corte Unseelie. — Uma Habilidade Griffin particularmente interessante veio à tona, — continua ele. — Nós achamos que deveríamos dar uma olhada.
— Não há necessidade. Nós temos tudo sob controle.
— Claro que você tem. Você provavelmente planeja entregar essa garota para a Corte Seelie para ser usada como sua arma pessoal.
A Conselheira Ashlow sorri. — O que planejamos fazer com ela não é da sua conta.
— É da nossa conta quando ela pode vir a ser uma das armas mais poderosas da existência. O que impede você de usá-la contra nós?
— Eu suponho que você vai ter que confiar que nós gostamos de manter as leis que fazemos, ao contrário dos membros da sua corte.
— Confiança? — Ele ri. — Acho que não.
— Bem, correndo o risco de soar insignificante, — diz a Conselheira Ashlow, — nós a encontramos primeiro. Então certamente não vamos entregá-la para você.
— Claro que não. E suponho que você não gostaria se a levássemos de você a força.
— Você poderia tentar, mas duvido que você seja bem sucedido.
A expressão do homem se torna pensativa. — Como não podemos chegar a um acordo mutuamente benéfico, talvez nenhum de nós deva possuir essa arma. Talvez ela deva ser morta.
Talvez O QUÊ? Minha frequência cardíaca acelera.
— A única maneira de acabarmos com ela, — diz a Conselheira Ashlow, — é se você colocar suas garras sujas nela. — Ela olha em volta para seus guardiões, abaixando a voz enquanto acrescenta, — Não deixem isso acontecer. Se isso acontecer — se parecer que eles podem fugir com ela — vocês tem a minha permissão para matar a menina.
— O quê? — Eu suspiro, finalmente encontrando a minha voz. — Isso não pode ser válido.
— Sim, Conselheira, — diz Dash, junto com seus colegas guardiões.
Eu puxo e viro e tento encará-lo. — Você está brincando comigo? Você é realmente um monstro?
Dash não se move, mas seus olhos se movem ao redor da clareira, entre as árvores e até o topo do dossel. — Às vezes, — ele murmura enquanto os Unseelies avançam sobre nós, — nós temos que ser monstros para proteger o resto do mundo. — Ele me puxa para trás enquanto seus companheiros pulam para frente.
Gritos e grunhidos e o choque de espadas logo enchem o ar, junto com uma mistura confusa de faíscas, vento, cacos de vidro e pássaros cacarejantes. Eu me contorço e chuto e grito, — Afaste-se de mim! — Mas não funciona desta vez. Eu tento me concentrar no centro da magia dentro de mim, assim como Azzy instruiu, mas isso não faz diferença. As mãos do Dash permanecem firmemente presas a mim.
Dois dos faeries Unseelie rompem a barreira de guardiões e vêm correndo em nossa direção. — Parem eles! — Dash grita, recuando para mais longe em direção à margem do penhasco. Um é jogado no chão. O outro se lança para frente. Dash me faz sair do caminho. — Eu sinto muito sobre isso, — diz ele. E então ele me empurra sobre a beira do penhasco.
Capítulo 13
EU MAL ESCUTO O MEU GRITO CONFORME DESPENCO EM DIREÇÃO À MINHA MORTE. ÁGUA ESPUMOSA E PEDRAS irregulares sobem rapidamente para me encontrar. Mais rápido, mais rápido, mais rápido —
Então meu corpo desacelera abruptamente e uma sombra escura desce abaixo de mim quando quase, quase paro. Então eu estou caindo através do ar e para um par de braços fortes, e alguém está dizendo, — Não se preocupe, eu peguei você. — Eu aterrisso desajeitadamente nas costas de uma criatura com asas e me encontro imprensada entre ela e quem quer que seja que me pegou. Um braço envolve meu estômago. Eu fecho meus olhos e me agarro firmemente a esse braço do que qualquer coisa que eu já segurei. Eu não me importo com quem ou o que é. Eu não me importo se é uma faerie Unseelie ou um guardião que quer me prender ou algum tipo de novo ser que eu nunca conheci. Meu cérebro se preocupa com apenas um fato no momento: não estou mais caindo.
Nós começamos a subir. É um movimento brusco, mas pelo menos é para cima e não para baixo. Eu não abro meus olhos. Eu não quero ver nada. Para cima e para cima, para os lados e para cima um pouco mais, e o tempo todo eu silenciosamente repito, Não solte, não solte, não solte. Então nós descemos, e um suspiro involuntário escapa de mim. Mas acabou, e estamos pousando entre as árvores, e esse forte par de braços está me tirando da criatura alada. — Ela está bem, — diz ele para alguém enquanto ele me deposita no chão. — Nós quase chegamos tarde demais, mas ela está bem.
Minhas pernas estão tremendo tanto que não conseguem me segurar. Eu caio sobre minha bunda, piscando e ofegando e observando as pessoas ao meu redor em momentos instantâneos e desarticulados. Três faeries. Pisco. Um homem, azul escuro, inclinando-se para perto de mim com preocupação no rosto. Pisco. Uma mulher, roxa, dizendo algo que não consigo ouvir. Pisco. Outra mulher, observando algo através das árvores, cabelo cor de ouro deslizando por cima do ombro. Tatuagens escuras atravessam seus braços e alcançam o lado de seu pescoço.
— Emerson? Emerson! — Eu me concentro na mulher que agora está agachada ao meu lado. Aquela com olhos roxos vibrantes arregalados que de alguma forma sabe meu nome. — Você pode me ouvir?
Eu tento falar, mas as palavras parecem não sair da minha boca. Toda vez que eu pisco, vejo água, pedras e a morte correndo na minha direção.
— Você está segura agora, — diz ela, estendendo a mão para mim. Eu me afasto, meu corpo ainda tremendo incontrolavelmente. ‘Segura’ não significa mais nada para mim. O companheiro dela pode ter salvado a minha vida, mas Dash também não salvou a minha vida? E um dia depois ele tentou me matar.
— Vi, eles estão vindo para cá, — a de cabelos dourados diz. — Não há tempo para colocar a gárgula de volta pelos caminhos. Você consegue manter Emerson quieta enquanto eles passam?
A mulher na minha frente acena. — Emerson, — diz ela, inclinando-se um pouco mais perto, mas não tentando me tocar novamente. — Todos nós vamos ficar invisíveis agora. Não precisa enlouquecer. Apenas uma ilusão para nos esconder enquanto os guardiões passam. Mas precisamos ficar calados, ok? Completamente quietos.
Eu aceno bruscamente, apesar do fato de que o aviso dela não é necessário. Mesmo que meu cérebro fosse capaz de fabricar palavras agora, eu não falaria nada enquanto qualquer pessoa da Guilda passasse. Não depois que eles prontamente tentaram se livrar de mim. Um momento depois, todas as três faeries desaparecem. Eu olho para baixo — e consigo conter meu grito de terror quando descubro que meu corpo sumiu. Eu sei que ela disse ‘invisível’, mas eu não percebi que eu não seria capaz de me ver também. Eu pensei... eu não sei o que eu pensei.
Ao som de passos apressados, eu olho para cima. Eu quase me arrasto para trás quando vejo os guardiões correndo em nossa direção, mas eles desviam e continuam correndo. — ...Pode não ter sido por aqui, — a Conselheira Ashlow está dizendo ao resto de seus guardiões, — mas temos que verificar. Especialmente se o resto da equipe não conseguir encontrar o corpo dela. E descobrir quem era aquela pessoa camuflada. Não parecia que ele ou ela estava com os Unseelies.
Esperamos em silêncio por pelo menos um minuto depois que os guardiões passam. Então, — Eu acho que está tudo bem, Calla, — o homem que me pegou diz. Os três reaparecem. Quando olho para baixo, fico aliviada ao ver meu próprio corpo mais uma vez. Eu não estou tremendo tanto quanto quando nós aterrissamos, então eu me levanto. Eu ainda me sinto pela onde de adrenalina que o meu corpo produziu de uma só vez, mas pelo menos eu posso ficar de pé agora.
— Desculpe pelo resgate dramático, — o homem diz, estendendo a mão e acariciando a criatura alada coriácea que eu não olhei corretamente até agora. Chifres espinhentos curvam-se de sua cabeça e presas se projetam de sua boca larga. — Ficamos sem tempo para planejar melhor. Vi, você pode abrir um portal? Nós devemos ir.
— Eu — eu não — hum — Eu me interrompo quando fica claro que eu não posso pronunciar mais do que algumas palavras gaguejantes. Eu odeio soar tão fraca e confusa. Isso não sou eu. Eu sou mais forte do que isso, droga, mas todo mundo tem um limite para o que eles podem suportar sem quebrar completamente, e eu acho que estou me aproximando do meu. Eu engulo e respiro profundamente antes de tentar novamente. — Eu não vou a lugar nenhum com você. Obrigada por me salvar, mas eu não sei quem você é.
— Certo, desculpe, — diz o homem. — Eu sou Ryn, e esta é Violet. — Ele aponta para a mulher com o cabelo roxo escuro. Com um aceno para a mulher tatuada, de cabelos dourados, ele acrescenta, — E essa é a Calla.
— Você pode confiar em nós, — diz Violet. — Sabemos que todos estão atrás de você desde que você chegou a este mundo e podemos mantê-lo segura.
Eu pressiono minhas mãos sobre meus olhos e respiro instavelmente. — Eu não confio em vocês, — eu sussurro, me encontrando perigosamente perto de chorar. — Eu não confio em ninguém. Todo mundo quer me prender ou me matar.
— Emerson. — Eu abaixo minhas mãos e encontro Violet bem na minha frente, olhando fixamente nos meus olhos. — Você pode confiar em nós. Você sabe, por quê? Porque somos exatamente como você.
Eu sacudo minha cabeça. — O que você quer dizer?
— Somos todos Dotados Griffin.
Capítulo 14
— MERDA. — EU TROPEÇO PARA TRÁS EM MINHA PRESSA PARA COLOCAR UM POUCO DE DISTÂNCIA ENTRE MIM e essas faeries. — Vocês são parte do movimento rebelde Griffin, não é.
— Sim. — Confusão atravessa o rosto de Violet. — O que é uma boa coisa. Isso significa que estamos do seu lado.
— Mas... vocês são pessoas malvadas.
— Hum, não, nós não somos, — diz Calla.
— É isso que a Guilda — o que todo mundo neste mundo — diz.
— Claro que é isso que a Guilda diz. Eles não confiam em nós. Eles querem rastrear todos os nossos movimentos ou nos prender, assim não podemos usar nossa magia ‘perigosa’ sem supervisão. Eles tentaram fazer o mesmo com você.
Eu hesito, porque ela está certa, claro. — Eles... eles disseram que vocês atacam as pessoas.
A expressão de Ryn escurece. — É isso que eles estão dizendo às pessoas agora?
— Eles vão distorcer qualquer história para vantagem deles, — diz Violet. — Eles querem que as pessoas tenham medo de nós.
A cabeça de Calla vira. — Pessoal, eu acho que eles estão voltando por esse caminho.
— Tudo bem, — diz Ryn, levantando uma stylus e rabiscando palavras invisíveis no ar.
— Você vem? — Pergunta Violet. — Por favor, você pode confiar em nós.
Eu engulo. Talvez isso seja tudo mentira e eu esteja sendo enganada novamente, mas eu não tenho mais ninguém a quem recorrer. — Você pode me ajudar? — Eu pergunto. — Com... tudo?
Ela pega minha mão e aperta. — Isso é o que fazemos.
***
Ar quente dança em minha pele enquanto a escuridão dos caminhos das fadas evapora ao nosso redor. Meus pés afundam na areia macia. Me viro devagar no mesmo instante, semicerrando os olhos contra a luz forte, enquanto meus olhos captam a mesma paisagem por todos os lados: oscilantes dunas de areia que continuam e continuam, aparentemente para sempre. — Vocês vivem em um deserto?
Calla sorri. — Sim. Você não pensaria em nos procurar aqui, não é?
— Eu acho que não, — eu digo, mantendo o resto dos meus pensamentos para mim mesma. Meus pensamentos de quão desagradável deve ser viver em meio a toda essa areia e calor.
— Por aqui, — diz Ryn, acenando para a direita e levando a gárgula pelas rédeas. Eu não tenho ideia de como ele sabe em que direção ir, já que cada duna de areia parece à mesma coisa para mim. Nós mal damos alguns passos, no entanto, quando o contorno fraco de algo em forma de cúpula aparece. Eu pisco algumas vezes, mas o contorno fica mais forte. Eu tenho medo de perguntar se estou imaginando coisas, então fico de boca fechada. Mas mais ou menos um minuto depois, quando a cúpula está bem na nossa frente e eu posso distinguir as formas nebulosas das árvores e dos edifícios, imagino que seja real.
— Isso, — diz Violet, — é o nosso oásis. Um pedaço de terra encantada sob uma cúpula de magia. E uma vez que você passou pela camada da cúpula — ela pega minha mão e me puxa atrás dela — você agora tem um feitiço colocado em você, o que significa que você nunca pode falar sobre esse lugar. Mesmo se você for interrogada sob a influência da poção da verdade, você não poderá dizer nada. O que significa que todos aqui estarão sempre seguros.
O ar imediatamente fica mais frio e o cheiro fresco de plantas enche minhas narinas. Eu estou ciente de um pequeno sorriso em meus lábios enquanto olho lentamente ao redor. Grama e plantas e riachos, fontes e flores e alguns pequenos edifícios, além de um número de árvores enormes com casas construídas nos galhos superiores. — Casas nas árvores de verdade, — murmuro. — Não o tipo de encanto que eu aprendi esta manhã.
— Sim, — diz Violet. — Eu morei em Kaleidos por um tempo, e eles têm casas nas árvores como estas. Eu realmente gostei delas, então sugeri que fizéssemos a mesma coisa aqui.
— E passamos anos vivendo em árvores com encanto ou no Subterrâneo ou dentro de montanhas, — acrescenta Calla, — então quando a Guilda nos forçou a fugir e tivemos que fazer um novo lar em algum lugar, decidimos que não queríamos mais viver em casas escondidas. A cúpula externa nos mantém escondidos, então nossas casas na verdade não precisam ser escondidas.
— É muito legal. — Eu afasto o pensamento de que, se eu conseguisse trazer mamãe com segurança para o mundo mágico, ela e eu poderíamos viver felizes aqui pelo resto de nossas vidas. Ela adoraria os jardins, as fontes, as flores. Mas eu não sei se isso é possível, então vou deixar meus sonhos para outro dia. Outra hora, quando descobrir se posso realmente confiar nessas pessoas. — O que vocês fazem aqui? — Eu pergunto, observando Ryn entregar as rédeas da gárgula para um homem careca com olhos que não parecem normais.
— Nós resgatamos Dotados Griffin e os escondemos da Guilda, — diz ele, virando para mim. — Também ajudamos pessoas de outras maneiras. Basicamente, fazemos o que a Guilda faz, mas em menor escala.
— Também é não oficial e ilegal, — diz Calla. — Então, você sabe, essa é outra razão pela qual a Guilda não gosta de nós.
— Oops, — diz uma pequena voz atrás de nós. Nós todos viramos, e lá está o garoto que apareceu na floresta antes de Dash me arrastar até a beira do penhasco. — Eu estava esperando chegar em casa antes de vocês.
Depois de uma pausa cheia de silêncio chocado, Violet caminha para frente, segura os ombros do garoto e certifica-se de que seu rosto está bem diante do dele, antes de perguntar, — Onde você estava?
— Hum...
— Você deixou o oásis?
Ele pisca. — Talvez. Eu só... queria ajudar com a missão de resgate.
— Jack Linden Larkenwood, — ela diz, — você está de castigo. — Ela se endireita e o solta. — Pela próxima década.
— O quê?
— Pelo próximo século.
— Mãe! — Jack solta um gemido dramático e se vira para Ryn. — Pa-pai, — ele lamenta.
Ryn cruza os braços. — Você quer que eu adicione mais uma década?
— Ugh, vocês estragam tudo!
— Não, estragou as coisas é o que você fez quando decidiu desobedecer às regras e deixar o oásis, — diz Violet. — Agora, por favor, me dê a stylus que você decidiu roubar.
Jack murmura algo baixo demais para alguém ouvir antes de entregar uma stylus, cruzar os braços e projetar o lábio inferior para fora. Calla cobre a boca para esconder um sorriso antes de se virar. Olhando além dela, vejo o careca andando de volta em nossa direção. Quando ele chega o lado de Calla, percebo por que seus olhos parecem estranhos: suas pupilas são verticais em vez de redondas.
— Lorde Sedon quer marcar uma reunião com vocês dois, — ele diz para Ryn e Violet. — Ele está esperando em um dos espelhos.
— Ótimo, vamos falar com ele agora, — diz Ryn.
— Chase ainda não voltou? — Calla pergunta.
— Não, — o homem careca diz. — Você perdeu uma chamada de espelho dele mais cedo, entretanto.
— Oh, eu vou ver se consigo falar com ele agora. — Ela se afasta.
— Jack, — diz Violet, — por favor, leve Emerson para um dos quartos vazios e depois mostre a ela um pouco das coisas enquanto o papai e eu trabalhamos um pouco.
— Você vai tirar meu castigo se eu fizer isso?
— Não. Você fará isso porque quer ser simpático e receptivo com a Emerson.
— Tudo bem, — ele geme.
— Ótimo. Emerson, nos vemos mais tarde, — diz Violet. — Podemos nos encontrar para... — Ela hesita, depois ri. — Desculpe, sempre leva um momento para reajustar quando viajo entre os fusos horários. É tarde aqui, não é, então podemos nos encontrar para nos espreguiçar nas redes.
— Isso soa... — Como o tipo de férias que eu acabei de sonhar. — Isso soa legal.
Eu vejo os dois irem embora. Quando eles estão fora do alcance da voz, Jack se vira para mim e sorri. — Na verdade sou simpático e acolhedor.
— Tudo bem. Bom saber.
— Venha, você pode escolher um quarto.
Eu ando com ele, diminuindo o ritmo para corresponder aos seus passos pequenos. — Quem fez todo esse lugar?
— Papai e tio Chase. Eles disseram que demoraram um ano para conseguir colocar os feitiços certos. Mas isso foi antes de eu nascer, então obviamente eu não me lembro de nada disso.
— Quem é Chase?
— O marido da Tia Calla.
Eu concordo. — Então... o seu pai e o Chase são os responsáveis?
— Eu acho. Mas também mamãe e tia Calla. E tio Gaius. Embora ele não seja realmente meu tio, ele é apenas amigo do tio Chase desde sempre, e ele não sai mais de sua casa, já que ele está doente. Eu acho que todos eles estão no comando. Bem, eles estabelecem as regras, e eu fico com problemas com todos eles se eu as quebrar, então todos eles devem estar no comando.
Chegamos à base de uma das gigantescas árvores. Degraus foram esculpidos, começando de baixo e curvando-se ao redor do lado do tronco enquanto sobem mais alto. Jack me puxa, movendo-se tão rapidamente quanto suas pernas curtas conseguem levá-lo. — Quantos anos você tem, Jack?
Ele arrasta a mão ao longo do tronco enquanto subimos. — Eu tenho oito anos e meio. Quantos anos você tem?
— Dezessete. Dezoito em poucos meses.
— Você foi para a escola de onde você é? Porque você pode fazer isso aqui. Eu tenho aulas com as outras crianças que moram aqui e na maior parte é divertido. Você pode se juntar a nós se quiser, mas provavelmente ficará com Junie porque é mais velha.
Eu suspiro e digo, — Não, eu provavelmente estaria com você. — Na verdade, eu acrescento em silêncio, se houver uma turma inferior que a sua, é provavelmente onde eu pertenço.
— Então esta é a nossa casa, — diz Jack quando chegamos a primeira grande estrutura construída nos galhos. — Tem mais quartos, uma cozinha e sala de estar e coisas assim, e mais acima estão apenas os quartos e banheiros para pessoas novas. Então, se eles ficarem e quiserem outros quartos, Merrick apenas os adiciona.
Eu paro por um momento e olho para as estruturas de madeira menores construídas acima de nós. — Eu provavelmente não deveria perguntar sobre como os banheiros funcionam aí em cima. Quero dizer, eu acho que magia cuida de todo o... encanamento?
Jack encolhe os ombros. — Eu não sei. Eu acho que sim. — Ele continua subindo, e eu o sigo, grata por toda a atividade física que Val e eu fizemos ao longo dos últimos dois anos em nossa busca para nos ensinar parkour.
— Parece que você tem que estar em boas condições para morar aqui, — comento. — É um longo caminho se você esquecer algo quando sair de casa de manhã.
— Eu sei! — Jack exclama. — E ainda não aprendi a me impulsionar com magia, por isso demora muito. Mamãe e papai podem chegar aqui em segundos, se precisarem. É tão injusto.
— Bem, você provavelmente será capaz de fazer isso em breve, certo? Quero dizer, você sabe como usar o caminho das fadas. — Eu ainda estou particularmente interessada nesse feitiço. Quanto mais cedo eu aprender, mais cedo me sentirei mais no controle da minha situação.
— Oh, sim, os caminhos das fadas. Eu não deveria saber isso ainda. Mas eu sempre prestei atenção quando mamãe e papai fazem. Eu sou um aprendiz rápido. — Ele olha para mim com um sorriso orgulhoso, em seguida, acelera seu ritmo um pouco, como se estimulado por suas próprias palavras. — Tudo bem, — ele diz um pouco sem fôlego depois de termos passado por quatro casas menores na árvore. — Este está vazio. Ou você pode ir mais alto se quiser. Existem outros três que estão vazios. Merrick sempre acrescenta mais quando tem tempo.
— Este está bem. — Eu coloco minhas mãos em meus quadris e olho em volta enquanto me dou alguns momentos para recuperar o fôlego. Os galhos aqui em cima são largos o suficiente para andar sem ter problemas de equilíbrio. Ainda bem que eu não tenho medo de altura. À distância daqui até o chão é suficiente para causar sérios danos a qualquer um que possa surtar e escorregar.
— Tudo bem, venha ver, — diz Jack. Ele pula ao longo do galho e abre a porta. Eu o sigo para dentro de um quarto, claramente mobiliado com nada mais do que uma cama, um guarda-roupa e uma cadeira no canto. É ainda melhor do que o quarto em que sempre dormi na casa de Chelsea. Pelo menos eu não tenho que escalar caixas de produtos para cabelo e dividir minhas prateleiras com pequenas garrafas de misturas estranhas.
— Isso é um banheiro? — Eu pergunto, apontando para uma porta fechada do outro lado do quarto.
— Sim. Portanto, isto é apenas as coisas básicas que eles colocam em todos os quartos. É meio chato, então você pode mudar o que quiser. Você pode até mudar a forma do quarto, se quiser algo diferente. Merrick vai fazer. Ele é um faerie arquiteto. E Junie - ela é uma elfa - é uma designer. Então, se você disser a ela como você quer sua cama, ela pode mudá-la facilmente. Ou, se quiser que a cadeira seja um balanço pendurado no teto, ela também pode fazer isso. Ela fez isso no meu quarto, mas depois eu caí uma noite quando eu deveria estar dormindo, não brincando, então mamãe e papai a fizeram mudar para uma poltrona, o que não é tão divertido. Mas Junie fez em forma de dragão, então eu acho que não é tão ruim assim.
Eu sorrio com essa informação de repente. — Parece legal. — Eu ando até a janela, e meu sorriso aumenta um pouco mais ao ver o pomar, o rio e o sol se pondo a distância. Eu nunca imaginei ter uma visão como esta do meu próprio quarto. E você ainda não tem, uma pequena voz me lembra. Este não é meu quarto, e eu provavelmente não ficarei aqui por muito tempo. Nada tão incrível pode durar.
— O guarda-roupa está vazio agora, — diz Jack, — mas a mamãe vai colocar algumas roupas depois. A mãe de Dash é uma conjuradora de roupas e ela envia toneladas de roupas para cá. Algumas delas são estranhas e mamãe esconde essas, mas a maioria é normal. Oh, de onde veio? — Eu me viro e olho para onde ele está apontando. No canto, sentado na cadeira, está um gatinho.
Eu atravesso o quarto com um suspiro. — Esse garotinho é uma criatura que muda de forma e me segue para todos os lugares. Eu pensei que ele fugiu quando Dash me encontrou na floresta, mas ele deve ter apenas se transformado em algo muito pequeno e subiu em um dos meus bolsos ou algo assim. — A criatura muda rapidamente para lá e para cá entre duas formas que eu não consigo identificar, como uma velha TV mudando entre os canais. Então se estabelece como um gatinho novamente.
— Legal, ele é como Filigree! — Diz Jack.
— Filigree?
— Sim, o animal de estimação da mamãe. Ele não muda muito porque ele é super velho e mamãe diz que ele não tem energia agora, mas ele costumava se transformar em todos os tipos de coisas. Ele até mesmo se transformou em um dragão uma vez, mas depois ele dormiu por três dias depois disso, porque usou muito de sua magia. — Jack se agacha na frente da cadeira. — Qual é o nome dele?
— Ele não tem um.
— Ah, posso dar um nome a ele, por favor? — Implora Jack, arregalando os olhos de prazer enquanto olha por cima do ombro para mim.
— Certo. Ele provavelmente vai acabar ficando aqui de qualquer maneira. Não é como se ele fosse meu. Ele só parece gostar de me seguir. — Uma mudança estranha, dado que meu primeiro animal de estimação teve a reação oposta e fugiu depois de apenas alguns dias.
— Yay. — Jack pega o gatinho e o embala contra seu peito. — Vou chamá-lo de... — Jack aperta os olhos enquanto pensa. — Bandit. Seu nome será Bandit.
Eu aceno devagar. — Parece legal.
Nós descemos todas as escadas — minhas pernas se exercitando bem no processo — e Jack me mostra o resto da cúpula, apontando uma estufa, uma escola, uma horta e um pomar, uma academia ao ar livre e um edifício que aparentemente contém um laboratório e alguns outros lugares fora dos limites dos quais Jack não sabe muito. — É onde eles fazem o trabalho deles e como eles ajudam as pessoas. Isso é tudo o que eu sei.
— Há muita coisa aqui, — eu digo quando paramos ao lado de um rio estreito com um barco flutuando perto da margem. — É maior do que eu pensava.
— Era menor quando eu era pequeno, — diz Jack, — mas Merrick continua adicionando coisas. Ele fica entediado quando não está ajudando mamãe e papai com casos. Enfim, venha ver o parquinho. — Ele pega minha mão e me puxa para longe do rio. — Eu o guardei para o final porque é o meu lugar favorito aqui. O balanço é incrível. Você tem que experimentar.
O parque acaba por ser preenchido com o mesmo tipo de equipamento que eu esperaria encontrar no meu mundo. O balanço também parece normal. — Não é só para frente e pra trás, — diz Jack quando pergunto o que há de tão especial nisso. — Veja, você se prende e o balanço vai para todos os lados. Quantas vezes você quiser.
— Uau, tudo bem. Isso é legal. É encantado, suponho?
— Sim, obviamente. Você quer ir?
— Hum, talvez outra hora. É só... isso é muito. Ainda estou me acostumando com todas as coisas mágicas.
— Oh, desculpe. Você é do outro mundo. Eu me lembro agora. Então, o que você faz para se divertir lá?
— Oh. Hum... — Eu coloco minhas mãos nos bolsos de trás. — Bem, eu saio com minha amiga Val. Nós nos ensinamos essa coisa chamada parkour. É como um esporte. Você usa qualquer ambiente em que esteja — como edifícios, paredes, escadas, seja qual for — como uma pista de obstáculos. Há muitos saltos e corridas e escaladas. E quedas, mas cair do jeito certo. Como pousar sobre seu ombro e rolar e se levantar.
— Tudo bem. É divertido?
— Sim. Você tem que ser criativo ao ir do ponto A ao ponto B. É como uma arte, na verdade. A arte do movimento rápido, apesar dos obstáculos. Uma pessoa comum pode descer as escadas de um prédio e caminhar pela rua para onde quer que ela vá. Em vez disso, descobrimos como pular ou descer, e depois pular para cima de paredes e através de jardins para chegar ao destino da maneira mais rápida possível.
— Legal. Você pode me ensinar?
— Hum, claro. Se você puder me ensinar como abrir os caminhos das fadas.
— Tudo bem. — Ele envolve um braço em torno de uma das correntes do balanço. — Mas teríamos que usar a stylus de alguém. Sem eles saberem. E... eu realmente não quero ficar de castigo novamente.
— Certo. Sim. Você deve ficar longe de problemas. — Essas últimas palavras saem inesperadamente profundas e ressonantes, e aquele mesmo arrepio estranho de mais cedo ondula pela minha espinha e através dos meus braços.
— O que foi isso? — Jack pergunta, inclinando a cabeça para trás enquanto ele me olha com desconfiança. — Você soou estranha.
— Hum... — Eu não tenho certeza se ele sabe sobre a minha Habilidade Griffin. — Provavelmente apenas alguma magia escapando. Eu realmente não sei como usá-la ainda. — Ele balança a cabeça lentamente enquanto eu olho em volta procurando outra coisa para falar. — Então, onde estão as redes? Eu acho que eu provavelmente deveria encontrar seus pais em breve.
— Por aqui, — diz ele, indo em outra direção. Corro atrás dele, grata pelos efeitos duradouros da bebida energética com chocolate que Azzy me deu antes de deixar a Guilda me levar. Eu provavelmente teria desmaiado de exaustão há muito tempo sem ela.
Jack me leva a uma coleção de redes amarradas entre as árvores perto de um pavilhão redondo e aberto. Grandes sofás estão sob o telhado decorativo do pavilhão. — Eu acho que vou esperar lá, — eu digo a ele.
— Legal. Eu vou procurar comida para o Bandit.
Eu o observo se afastando até que uma voz familiar atrás de mim diz, — Ei, você chegou aqui em segurança.
Eu viro, meu coração trovejando no meu peito. — Dash. — Eu me afasto de sua mão estendida. — Ele nos encontrou! — Eu grito. — A Guilda nos encontrou!
Capítulo 15
— UAU, EI, ACALME-SE. — DASH PISCA, CONFUSO. — ESTOU DO SEU LADO COMO VOCÊ ainda não percebeu isso?
— Tudo bem, Emerson, — diz Violet, correndo até mim. — Ele está dizendo a verdade. Ele está do nosso lado.
— Como ele pode estar do nosso lado? — A raiva corre com força em minhas veias, escapando em faíscas violentas que se afastam de mim e vão diretamente em direção ao rosto de Dash.
— Ow! — Ele se abaixa e afasta a magia para longe com as duas mãos. — Que diabos, Em?
— Você tentou me prender! E então você me empurrou da beira de um penhasco!
— Nossa, Em, eu sou a única razão pela qual você fugiu da Guilda. Você nunca teria escapado sem a minha ajuda. — Ele se endireita quando minha magia para de atacá-lo. — Você não acha que os guardiões são normalmente tão desajeitados, não é? E o penhasco... — Ele encolhe os ombros, parecendo um pouco envergonhado. — Bem, ficamos sem tempo, então eu tive que improvisar. Mas eu sabia que Ryn e Vi estavam lá. Eu sabia que alguém iria te pegar.
— Você sabia que alguém iria me pegar? — Eu repito em descrença. — Eu quase morri!
— Mas não morreu. Você está bem. E agora você está segura, que era o plano desde o começo.
— Que plano?
— Você sabe, deixar você aqui com os rebeldes Griffin.
— Espere. — Eu pisco e levanto minhas mãos. — Você sabia o tempo todo que eu tinha uma Habilidade Griffin, e você não disse nada para mim?
Os olhos de Dash piscam para Violet antes de voltar para mim. — Bem, nós não estávamos certos. É por isso que eu continuei tentando fazer com que você me dissesse exatamente o que aconteceu naquela noite na festa, mas você não estava interessada em falar sobre isso.
— Você está de brincadeira? Se fosse tão importante — se ter uma Habilidade Griffin é tão perigoso, você poderia ter forçado a informação de mim. E me dito, ‘Em, isso não é magia normal. Você pode estar em perigo por causa disso. Você tem que me dizer o que aconteceu, para sua própria segurança’. — Eu jogo minhas mãos para cima em completa exasperação. — Você considerou essa opção, Dash?
Ele cruza os braços sobre o peito, sua expressão ficando mais tempestuosa a cada segundo. — Talvez você não se lembre claramente da ocasião em que você se assustou completamente e fugiu de Chevalier House, mas você não estava exatamente com vontade de ser forçada a fazer nada. E me perdoe, mas eu meio que achei que você tinha o suficiente de coisas para lidar naquele momento, tendo acabado de descobrir, você sabe, todo o resto. Eu pensei que estava sendo gentil, não despejando outra horrível revelação em seus ombros. E imaginei que Azzy tiraria a verdade de você em breve — o que ela já havia feito, na verdade. Eu não sabia, mas ela contatou Ryn quando eu te trouxe de volta para Chevalier House. Nós simplesmente não conseguimos levar você para longe com segurança antes de você revelar a todos o que você pode fazer.
— Espere. Azzy está nessa coisa toda? Era sobre isso que vocês dois estavam sussurrando na noite passada?
— Você ouviu?
— Sim, Profº Azzy está do nosso lado também, — diz Violet.
— Então por que diabos Paul chamou a Guilda para vir me buscar?
— Porque Azzy é a única que está dentro, — explica ela. — Paul não está. Ele está firmemente do lado da Guilda, assim como todo mundo que trabalha na Chevalier House, então sua resposta automática foi contatá-los.
— Tudo bem. Tudo bem! — Eu encaro Dash novamente. — Mas você ainda não explicou nada pra mim depois que eu acidentalmente revelei minha Habilidade. Se seus amigos Griffin estavam planejando vir me resgatar, por que você não me contou?
— Eu tentei, Em, mas não ficamos sozinhos por muito tempo depois disso. Eu não pude dizer nada com outros guardiões ao redor. Se a Guilda perceber o menor indício de que eu não estou totalmente do lado deles, as coisas acabarão muito mal.
— Pensando na própria pele pelo que eu vejo, — murmuro.
— Emerson —
— Não apenas em mim, — Dash retruca, interrompendo Violet antes que ela possa ir mais longe. — Estou cuidando de todo mundo que mora aqui. A magia protetora pode me impedir de dizer a Guilda sobre este lugar se eu fosse interrogado, mas sei muito mais do que isso. Eu sei o que o Azzy está fazendo e sobre todas as pessoas que entram e saem daqui. Você pode imaginar o que aconteceria se a Guilda conseguisse essa informação de mim?
— Então por que se incomodar em trabalhar na Guilda se é um risco tão gigantesco?
— Alôô! Porque Vi e Ryn e todos os outros aqui precisam de pessoas lá dentro. Eles não saberiam o que está acontecendo de outra forma. Eles não saberiam sobre você, ou sobre o que a Guilda planejava fazer com você.
— É verdade, — diz Violet. — A informação que Dash nos dá sobre a Guilda é extremamente valiosa. E, além disso, ele quer ser um guardião. Ele quer ajudar as pessoas. Ele não deveria ter que se afastar disso só porque ele está conectado a nós.
Eu cruzo meus braços firmemente sobre o peito, querendo dizer que outras pessoas têm que desistir de seus sonhos o tempo todo, então o que faz Dash tão especial que ele consegue manter o dele? Mas meus pensamentos infantis e mesquinhos não ajudam, então eu consigo ficar calada.
O olhar de Violet se move entre nós dois. — Deveríamos... talvez... nos sentar? — Ela sugere depois que vários outros segundos de silêncio se passam.
Com um aceno conciso, eu a sigo pelas escadas do pavilhão. Espero que Dash sente para que eu possa escolher um lugar longe dele, mas ele acena para eu sentar primeiro. Idiota. Ele está fingindo ter boas maneiras ou algo assim? Sento em um sofá de listras azuis e brancas e abraço uma das almofadas brancas e macias contra o meu estômago. Dash tem a decência de não se sentar ao meu lado. — Então, estamos bem agora? — Pergunta ele. — Você e eu?
Eu dou de ombros. — Tudo bem como sempre fomos, eu acho.
— Legal. Então você ainda não gosta de mim, mas pelo menos você não acredita que eu queria te matar.
Eu concordo. — Praticamente.
— Ótimo, — diz Violet, acenando para Ryn enquanto ele caminha em direção ao pavilhão com uma bandeja com copos flutuando no ar ao lado dele. — Enquanto vocês dois não quiserem se matar, tudo deve ficar bem.
— Dash, — diz Ryn quando nos alcança. — Obrigado por ajudar com o resgate. — Ele aperta a mão de Dash, como se me empurrar de um penhasco fosse uma grande conquista. — Eu sei que Emerson não estava muito satisfeita com a maneira como isso aconteceu, mas você tinha que manter seu disfarce de alguma forma.
— Obrigado. É bom saber que algumas pessoas apreciam meu sacrifício. — Ele me lança um olhar aguçado.
— Sim, tanto faz. Um grande sacrifício, tenho certeza. E vocês podem parar de me chamar de Emerson, — acrescento. — Em está bem.
— Ou Emmy, — diz Dash.
Eu cerro meus dentes. — Eu vou te machucar.
— Eu vou te machucar, — ele imita com uma voz aguda.
Violet suspira e se senta em um dos sofás. — Nós fomos tão imaturos?
— Claro que não, — diz Ryn, sentando-se em frente a ela. — Bem, você pode ter sido, mas eu tenho certeza que eu não era.
Ela ri. — Isso definitivamente não é verdade.
— Dash, eu ouvi que você teve um pequeno problema para chegar aqui, — diz Ryn, mudando de assunto. — Calla disse que ela recebeu uma mensagem sua pedindo para ir encontrá-la em algum lugar e trazer você para cá.
— Hum, sim. — Dash olha para mim. — Então, eu tenho um pequeno problema.
— E por que isso é o meu problema?
— Porque é sua culpa. Eu não posso mais usar os caminhos das fadas. É impossível eu viajar para qualquer lugar se estiver sozinho.
— Eeeeeee eu ainda não vejo como isso é o meu problema.
— Em, por favor. Foi sua Habilidade Griffin que fez isso comigo. Você precisa consertar isso.
— Eu não sei como. E mesmo se eu soubesse, isso não pareceria suspeito para a Guilda? Eu deveria estar morta, certo, então como eu consegui consertar seu problema com os caminhos das fadas?
— Eu não sei. Acho que posso dizer que os efeitos da sua magia passaram.
— E quando Jewel ainda não puder usar os caminhos das fadas? Isso vai parecer seriamente suspeito, Dash.
— Ela tem razão, — diz Ryn.
— Apenas tente, Em. Tente agora mesmo. Diga, ‘Você pode abrir portais para os caminhos das fadas’. E, se funcionar, podemos fazer você se esgueirar na casa de Jewel enquanto ela dorme e fazer o mesmo com ela.
— Isso é muito assustador, Dash.
— Apenas tente!
Eu me inclino para trás, cruzo os braços e digo, — Você pode abrir portais para os caminhos das fadas.
Ele suspira. — Talvez você possa colocar um pouco de esforço?
— Quem disse que funciona dessa maneira?
— Eu não sei, mas certamente não funcionou do jeito que você acabou de dizer. Sua voz não ficou... estranha.
Eu descruzo meus braços e mexo distraidamente na manga do meu suéter. — Estranha como? Como minha voz fica quando isso acontece?
— Meio que... mais profunda. Um pouco distorcida. E meio que... não como um eco, mas era como se eu pudesse ouvi-la no ar ao meu redor.
Eu aceno devagar. — Meio que soou assim para mim também.
— Você quer tentar de novo? — Pergunta Violet. — Focando desta vez, em vez de apenas dizer as palavras.
Como não é o Dash que está pedindo, concordo em tentar novamente. Eu tento várias vezes, mesmo fechando os olhos e me concentrando intensamente em extrair esse poder de dentro de mim quando digo a Dash que ele tem permissão para abrir portais para os caminhos de fadas. Mas assim como na beira do penhasco, nada acontece. Minha voz continua normal.
Eventualmente eu me inclino de volta contra o sofá e abraço a almofada macia perto do meu peito. — Viu? Não consigo fazer isso.
— Bem, não há necessidade de insistir sobre isso, — diz Violet. — Nós definitivamente podemos ajudá-la.
— Mesmo?
— Sim. E enquanto isso, Dash terá que descobrir outra maneira de se locomover.
— Ugh, sério? Eu vou ter que ser levado para todo lugar como uma criança, — Dash reclama.
— Ainda bem que você trabalha em equipes na Guilda, diz Ryn. — Um de seus companheiros de equipe deve ficar feliz em ajudar você e Jewel, certo?
— Ainda é extremamente limitante.
— Coitado, — eu digo sem um pingo de simpatia.
Seus olhos se estreitam quando ele olha para mim. — Você está gostando disso.
Eu dou de ombros. — Você me empurrou de um penhasco.
— Isso vai ser a sua desculpa para tudo?
— Provavelmente. Eu sinto que nunca vou cansar.
— Então, — diz Violet em voz alta. — Alguém gostaria de uma bebida? — Ela aponta para a bandeja com copos que Ryn trouxe com ele, que está em uma pequena mesa redonda ao lado de sua cadeira.
— Tudo bem, — eu digo, apontando para um copo contendo camadas alternadas de verde e rosa. — Contanto que não tenha álcool fabricado por humanos.
— Sem álcool, — Ryn me assegura enquanto ele entrega o copo. — Dash? Você gostaria de alguma coisa?
— Nah, na verdade, vou dizer oi para Gaius se ele estiver acordado. Não o vejo há algum tempo. E tenho certeza de que sua conversa com Emmy — ele pisca para mim enquanto se levanta — será mais agradável se eu não estiver por perto.
— Finalmente, — murmuro enquanto Dash se afasta. — Ele não fica aqui por muito tempo, não é?
Violet balança a cabeça e afasta o cabelo do rosto. — Não com muita frequência.
— Graças a Deus por — oh. Essas marcas no seu pulso. — Meus olhos seguem seu braço enquanto ela abaixa. — Elas são iguais as que o Dash tem. Isso não quer dizer que você é uma guardiã?
— Sim.
— Mas... você tem uma Habilidade Griffin, então... oh, isso foi antes deles descobrirem uma maneira de testar as Habilidades Griffin? Desculpe, a coisa da idade é confusa. Você parece tão jovem, mas pode ter cem anos com tudo que sei.
— Não é bem assim, — diz ela com uma risada.
— Nem perto, na verdade, — acrescenta Ryn.
— Mas sim, eu era uma guardiã. Ryn, Calla e eu éramos todos guardiões antes de sermos criminosos. Bem, Calla nunca teve a chance de se formar, mas Ryn e eu nos formamos. Trabalhamos para a Guilda por vários anos sem que ninguém soubesse que éramos Dotados Griffin. Então a Guilda desenvolveu uma maneira de testar as Habilidades Griffin, e nós fomos revelados como ‘traidores’ junto com todos os outros Dotados Griffin. Nós fugimos antes que a Guilda pudesse desativar nossas marcas, por isso ainda temos acesso às nossas armas de guardiões. Você conseguiu vê-las? Cor de ouro e brilhantes. Elas aparecem quando precisamos delas e desaparecem quando as soltamos.
Eu aceno, pensando na luta na beira do penhasco. — Só os guardiões em específicos?
— Sim. Apenas os guardiões têm acesso a armas assim.
— Então, agora você basicamente faz o que fez antes, mas sem a aprovação da Guilda? Então... vocês são como vigilantes?
Seu sorriso é irônico. — Quase. Não é algo que planejamos ser, mas a Guilda nos obrigou a isso. Especialmente porque o sistema deles não funciona tão bem quanto deveria.
— O que você quer dizer?
— Eles trabalham com os Videntes. Faes que têm a capacidade de vislumbrar o futuro. Eles Vêem coisas que darão errado, e a Guilda envia guardiões para evitar que essas coisas aconteçam. O problema é que há muitas dessas visões. Não há guardiões suficientes para lidar com todas elas, então as visões consideradas menos importantes são descartadas. Nós temos um contato na Guilda, no entanto, que as reúne e as envia para nós o mais rápido possível. Nós lidamos com qualquer coisa que ainda não tenha acontecido.
— Legal. — Eu fico em silêncio, pensando em tudo que ela explicou. Então eu lembro que estou segurando uma bebida, então tomo um gole. Tem gosto de uma mistura de caruma e alguma fruta, o que não é uma má combinação. Espero que Ryn ou Violet me façam uma pergunta, mas parece que podem estar esperando que eu conduza a conversa. Ou isso ou eles estão tendo sua própria conversa silenciosa com os olhos.
— De qualquer forma, — eu digo eventualmente, — vocês querem conversar sobre o quê? Minha Habilidade Griffin? O fato de eu não conseguir fazer magia básica? O fato de que minha mãe não é minha mãe? — Violet levanta ambas as sobrancelhas, e eu interiormente me xingo por deixar aquela última parte escapar. — Habilidade Griffin, — eu digo apressadamente. — Vamos conversar sobre isso.
— Hum, sim, — diz ela. — Estou muito interessada em saber mais sobre sua Habilidade Griffin. Eu nunca encontrei alguém que consegue falar coisas e elas acontecerem. Isso é incrível.
— Você quer dizer perigoso, certo? É o que todo mundo parece pensar.
— Perigoso, sim, se você não puder controlar. Mas todos nós somos perigosos se não podemos controlar a nossa magia. E você acabou de descobrir a sua, então é claro que você ainda não sabe o que fazer com ela. Mas faremos o que pudermos para ajudá-la, prometo.
Eu mordo meu lábio e lentamente balanço minha cabeça. — Talvez eu devesse parar de falar completamente, porque eu nunca sei quando algo que eu digo vai sair como um comando mágico. Também... — Eu coloco meu copo no chão antes de pressionar minhas mãos juntas. — Há uma possibilidade de Jack nunca mais entrar em problemas.
Ryn inclina a cabeça. — O que você disse a ele?
— Eu acho que minhas palavras exatas foram, ‘Você deve ficar longe de problemas’ E minha Habilidade Griffin aleatoriamente ligou naquele momento. Então... eu não tenho certeza do tipo de efeito que terá nele.
Violet começa a rir. — Bem, estou ansiosa para ver os resultados disso.
— Sim, mas e se eu dissesse algo diferente? Algo ruim?
Ryn passa a mão pelo cabelo. — Sim, definitivamente há riscos, contanto que você não saiba quando a habilidade vai entrar em ação. Mas não é prático se calar completamente. Talvez você tenha que pensar em tudo o que você quer dizer antes de dizer e certificar-se de que não seja um comando ou uma instrução.
Meus ombros caem. — Isso parece ainda menos prático. Tenho certeza de que seria mais fácil fechar minha boca do que dizer a mim mesma que tenho que pensar em cada palavra antes que ela saia da minha boca.
— Não será um problema por muito tempo, — diz Violet. — Podemos começar a trabalhar nisso amanhã. Bem, no dia seguinte, suponho. Você precisa ir ao laboratório amanhã para que a Ana possa tirar uma amostra da sua magia. O elixir para estimular sua Habilidade Griffin deve estar pronto no dia seguinte.
— Laboratório? — Um medo frio e forte toma forma na boca do meu estômago. — Eu — isso é — eu não sou muito —
— Claro, sinto muito. Dash mencionou que você tem medo de todas as coisas médicas. Mas não se preocupe. Não há agulhas nem nada. É apenas um feitiço simples e você não sente nada.
Eu arranco os fios da almofada macia, incapaz de me livrar da minha carranca. Eu odeio que Dash tenha falado sobre mim para essas pessoas. O que mais ele disse a eles?
— Sério, Em, não é grande coisa, — diz Ryn. — Precisamos tirar uma amostra de sua magia para criar um elixir que estimule sua Habilidade Griffin. Uma vez que você se acostumar com a sensação de ter aquela parte específica de sua magia ligada, você pode descobrir como fazer isso sem o auxílio do elixir. Precisa ser específico para a sua magia, e é por isso que precisamos da amostra.
Eu lambo meus lábios, alcanço a bebida aos meus pés e tomo um longo gole. — Tudo bem, — eu digo depois que eu a coloco de novo no chão. — Eu acho que isso faz sentido. — Isso não significa que Ryn e Violet não estão mentindo para mim, no entanto. Eles podem querer usar minha magia para outra coisa.
Violet se inclina para frente, seu âmbar agora apertado entre suas mãos. — Você quer nos dizer alguma coisa sobre sua mãe?
De repente, isso parece um interrogatório. — Hum...
— Qual é o nome dela? Em que hospital ela está?
Eu arranho uma marca suja na minha calça jeans. — Daniela Clarke. E ela está no Hospital Psiquiátrico Tranquil Hills. É... bem, o ambiente é tranquilo. Dentro não é.
Vi acena e escreve algo em seu âmbar com uma stylus.
— O que você está escrevendo? Você está contando a alguém? Dash disse que essas coisas âmbar são como celulares, então você está enviando mensagens para alguém?
— Em, acalme-se, — diz Ryn. — Ela está tomando notas, isso é tudo.
Violet se senta. — Eu sei que Dash lhe disse que não é possível que sua mãe seja sua mãe biológica. Isso deve ter sido um grande choque para você descobrir.
Eu aceno, mas não digo nada.
— Eu sinto muito, Em. É muita coisa para absorver tudo de uma vez, eu sei. Descobrir que você não é quem você achava que era e que pode ter uma família totalmente nova em algum lugar por aí. Você quer que nós tentemos descobrir mais sobre eles?
Eu sacudo minha cabeça. — Minha mãe é minha única família. Eu não preciso saber de mais ninguém.
— Tudo bem. Apenas avise se você mudar de ideia.
— Sim. — Eu não vou mudar de ideia.
— Em, você não precisa surtar. — É Ryn quem se inclina para frente dessa vez, me observando atentamente. — Estou falando sério. Nós só queremos ajudar você. Se você realmente não quer que façamos uma amostra da sua magia, não vamos forçá-la. E se você não quer falar sobre sua mãe, tudo bem. Nós não vamos mencioná-la novamente. Nós queremos que você se sinta segura aqui, isso é tudo. Estamos nos escondendo da Guilda assim como você está. Nós entendemos o que é ser caçado. Entendemos como é querer apenas um lugar seguro para chamar de lar.
Percebo que tenho prendido a respiração enquanto ele fala, e lentamente deixo escapar. Eu acho que acredito nele. Eu acho que eu acredito. O único problema é... — Isso nunca vai ser a minha casa, — eu digo com cuidado, esperando que eles entendam que eu não quero ofendê-los. — Eu tenho uma vida em outro lugar. E uma mãe que precisa de mim. Eu preciso voltar àquele mundo quando a minha magia não for mais um perigo para todos ao meu redor.
Ryn acena. — Então é isso que vamos ajudá-la a fazer.
Capítulo 16
EU PASSO UMA HORA OU DUAS NAQUELA NOITE NO MEU QUARTO COM JUNIE, A ELFA QUE JACK mencionou anteriormente, tentando não olhar para as orelhas dela enquanto ela cria lençóis para a cama e cortinas para as janelas, e muda a cadeira de uma coisa dura de madeira para uma poltrona macia com um tecido estampado de flores. Bandit gosta imediatamente da nova cadeira e imediatamente se enrola e adormece. Junie pergunta se eu quero mais alguma coisa, e quando eu pergunto sobre comprar um relógio para não chegar atrasada para o café da manhã — sem mais alarme no celular para me acordar — Junie pinta o relógio na minha parede. Um minuto depois, quando o número magicamente vai para outro segundo, eu respiro fundo. Mesmo depois de vários dias neste mundo, a magia continua a me surpreender.
Enquanto esse quarto é mais rústico do que o que eu tinha na Chevalier House, eu prefiro este. Quando finalmente estou sozinha, passo um tempo na janela, olhando para as pequenas luzes nas árvores e para as milhões de estrelas visíveis através da cúpula. Mas, eventualmente, minhas pálpebras ficam pesadas demais e eu subo na cama.
Eu durmo melhor do que o esperado, acordando ao som de uma cantoria vindo da direção dos números pintados na minha parede. Depois de usar a piscina no meu pequeno banheiro com tema de jardim, desço as muitas escadas do lado de fora da árvore até a casa de Violet e Ryn. Eu bato na porta entreaberta antes de abri-la e entrar no que parece ser a cozinha deles. O cheiro de algo assando enche o ar.
— Oh, bom dia, Em, — diz Violet, sorrindo para mim por cima do ombro. Ela está perto de um balcão onde o conteúdo de uma jarra parece estar se mexendo, e uma faca está cortando uma maçã. Sua mão paira acima de três canecas, e embora eu não possa ver dentro delas, eu assumo que algo mágico esteja acontecendo. — Você pode se sentar à mesa, — diz ela. — Café?
— Oh, graças a Deus. Eu estava preocupada que café não existisse neste mundo.
Ela ri, pega as três canecas e as leva para a mesa. A jarra continua a mexer-se atrás dela. — Não é o mesmo que o café que você provavelmente está acostumada, mas espero que você goste.
Jack corre para a cozinha, gritando, — Bom dia, Em! Você trouxe Bandit com você?
— Jack, por favor, — diz Violet. — Você não precisar falar tão alto dentro de casa.
— Desculpe, — Jack sussurra com um sorriso travesso quando Ryn entra na cozinha atrás dele.
— Ei, Em, — ele diz para mim. Então para Violet, — Desculpe, me distraí. Eu ia terminar o café.
— Tudo sob controle, — diz Violet. Ela lhe dá um beijo rápido enquanto ele desliza o braço ao redor de sua cintura. — Você pode pegar os muffins?
— Então você trouxe Bandit? — Jack pergunta novamente, subindo em uma cadeira.
— Na verdade, ele voltou a dormir depois que eu me levantei. Ele provavelmente ainda está lá em cima no meu quarto.
— Oh. — Jack suspira, então se anima quando sua mãe coloca um pequeno copo com algo marrom na frente dele. — Ooh, chocolate, chocolate, chocolate.
— Ei, posso me juntar a vocês para o café da manhã? — A pergunta vem da direção da porta, e é Calla quem está espreitando. — Chase ainda não voltou.
— Claro. — Violet acena para uma das cadeiras vazias. — Você está preocupada com ele?
— Não, tenho certeza que ele está bem. As coisas às vezes demoram mais do que ele espera, isso é tudo. Ei, Em, — ela acrescenta com um aceno em minha direção. — Ooh, são muffins? — Ela desliza rapidamente em uma cadeira, esfregando as mãos enquanto Ryn coloca um prato de bolinhos fumegantes no centro da mesa. Violet acrescenta um prato de frutas fatiadas ao lado — pelo menos metade delas eu não reconheço - enquanto tento lembrar se Chelsea, Georgia e eu comemos alguma coisa que não fosse de uma caixa de cereal na hora do café da manhã. Eu não sei cozinhar, e duvido que elas também saibam.
— Algo para beber? — Violet diz para Calla.
— Não, não se preocupe. Eu vou fazer algo para mim em um minuto.
Violet se junta à mesa, e Jack começa a contar a Calla tudo sobre Bandit, o ‘novo Filigree’, enquanto todos se servem da comida. Ele então volta sua atenção para mim e me dá um esboço detalhado do que a dieta de Bandit deve ter e quantas vezes eu devo alimentá-lo. — Eu posso ajudá-la, se você quiser, — acrescenta ele.
— Obrigada. Na verdade você ficar com ele se você — Violet me interrompe com uma rápida e vigorosa sacudida de sua cabeça. Eu volto atrás rapidamente. — Quero dizer, você pode continuar visitando ele. O quanto você quiser. E tenho certeza que ele adoraria se você trouxesse comida para ele. — Eu arrisco um olhar na direção de Violet, esperando ter consertado meu erro com sucesso. Ela sorri e me dá um breve aceno de cabeça.
Ao lado dela, Calla murmura algo e coloca o âmbar na mesa ao lado do prato. — Tudo bem? — Pergunta Violet.
— Era uma mensagem de Perry. Ele diz que houve um ataque em um internato de faeries na noite passada, e outro na aldeia perto de Twiggled Horn. Esse é o segundo naquele vilarejo em particular esta semana. Algo ruim está acontecendo lá fora.
— Eu acho que ouvi sobre isso, — eu digo, o que faz Calla olhar para mim surpresa. — Bem, o primeiro, — acrescento. — Não esse que acabou de acontecer. Eu só lembro porque o nome do lugar é muito estranho.
— É o nome de uma montanha que tem uma forma estranha, — diz Ryn. — O que você ouviu sobre o primeiro ataque?
Eu tento lembrar os detalhes que Jewel passou para Dash quando ela recebeu a mensagem. — Eles disseram que cinco pessoas foram mortas, eu acho. Ah, e eles disseram que era um ataque Griffin. Eu me lembro agora. Essa foi a primeira vez que ouvi falar das Habilidades Griffin.
Calla fica boquiaberta. — O quê? Essa é uma das histórias que a Guilda está espalhando por aí? Mas não estávamos nem perto de Twiggled Horn. E nós não matamos pessoas. A Guilda me deixa com raiva às vezes. Eu não posso acreditar que eles nos colocaram nisso.
O âmbar dela vibra brevemente através da mesa novamente. Ela pega e lê. — Oh, brilhante. — Suas mãos caem para seu colo em exasperação. — A mensagem oficial da Guilda é que ninguém assumiu a responsabilidade por esses recentes ataques, mas eles têm razões para acreditar que eles foram executados por rebeldes Griffin.
Eu observo as mãos de Violet apertarem firmemente em torno de sua faca e garfo. A expressão de Ryn escurece. — Essas mentiras, — ele fala entre os dentes. — Eles sabem que não somos nós, então é melhor que façam a droga do que puderem nos bastidores para descobrir quem é o responsável.
— Parece tão confuso quanto o nosso sistema de aplicação da lei, — murmuro.
— Papai, — Jack diz incerto. — Eu pensei que não devíamos dizer 'droga'.
Um pequeno sorriso passa pelo rosto de Ryn. Ele estende a mão e bagunça o cabelo de Jack. — Você está certo. Obrigado por me lembrar.
— Sim, eu acho que não devemos deixar que isso nos abale, — diz Calla, empurrando o âmbar para longe e escolhendo outro muffin. — A Guilda está espalhando mentiras sobre nós há anos. Isso dificilmente é diferente.
— Verdade, — diz Violet. — Embora eles definitivamente precisem descobrir quem está por trás disso.
— Espero que eles possam resolver isso sem a nossa ajuda, — diz Ryn com um sorriso superior que me lembra, por apenas um momento, de Dash.
O âmbar de Calla vibra mais uma vez. Ela franze a testa para a última mensagem. — Perry diz que há algo muito estranho sobre o modo como esses fae foram mortos. Diz que eu deveria encontrá-lo para que ele possa explicar corretamente. Ela fica de pé. — Eu acho melhor eu ir. Ah, mas eu quero um pouco do chocolate com canela que Jack ama muito primeiro. — Ela corre em direção ao balcão.
— Bom dia a todos.
Nós todos olhamos para a porta. Ao ver Dash, eu suprimo um gemido.
— Dash? — Diz Violet. — Você pode usar os caminhos das fadas de novo?
— Não, mas eu tenho outros amigos aqui que estão felizes em me ajudar.
— Você não deveria estar em um trabalho agora? — Calla pergunta.
— Sim, eu estou indo para o trabalho em poucos minutos. Apenas parei para dizer oi.
Calla coloca a mão no quadril. Atrás dela, a jarra que estava se mexendo com uma colher mais cedo despeja um pouco de seu conteúdo em um copo. — Você parou para dizer 'oi'? Por que eu não acredito em você?
— Eu não sei. Eu sou um cara amigável. Não tenho certeza do porquê você duvidaria do meu desejo de desejar a todos um bom dia.
Ela balança a cabeça enquanto pega o copo e se move em direção a ele. — Bom dia, então. E adeus. Estou saindo agora.
— Fique viva, — Dash fala alegremente depois que ela sai.
— Fique viva? — Eu repito. — Isso é uma saudação comum por aqui?
Violet lança um rápido olhar para Jack antes de dizer baixinho, — É um sentimento comum, mesmo que nem sempre falemos em voz alta.
Dash entra na cozinha. — Que bom você dar as boas-vindas a Em ao oásis com assados. — Ele se inclina passando Violet e pega um muffin de mirtilo. — Eu aprovo.
— Dash, — eu digo, decidindo ser civilizada. — Você sabe o que aconteceu com Aurora depois que eu fugi da Guilda ontem?
Ele se inclina contra a mesa. — Aurora?
— A outra garota nova em Chevalier House. Aquela que apareceu na Guilda e me ajudou a escapar. Os guardiões a pegaram antes que ela pudesse entrar nos caminhos das fadas comigo.
— Oh, sim. — Dash mastiga e engole. — Eles a colocaram em uma cela na detenção por algumas horas. Então eles a mandaram de volta para Chevalier House depois de interrogá-la.
A culpa se contorce dentro do meu estomago. — Interrogaram ela?
— Eles queriam saber por que ela veio ajudá-la. Pelo que eles sabem, não havia conexão entre vocês duas.
— Não havia — não tem, — eu digo. — Eu não tenho ideia por que ela foi me ajudar.
— Quem é essa garota? — Pergunta Ryn.
— Ela chegou a Chevalier House anteontem. Ela parecia super suspeita com a coisa toda. Ela disse que ouviu que as pessoas desapareciam de lá às vezes — o que eu acho que faz sentido agora que eu sei que Azzy ajuda o pessoal dos Dotados Griffin.
— Você acha que essa garota também tem uma Habilidade Griffin? — Pergunta Violet.
Eu levanto meus ombros. — Não tenho ideia. Eu suponho que Azzy vai lhe avisar em breve se ela tiver. De qualquer forma, o que é estranho, é que ela era supostamente uma escrava de um bando de bruxas que nunca lhe ensinou como usar magia. Mas ela de alguma forma chegou a Guilda por conta própria, usou magia para cortar minhas cordas e abriu um portal para os caminhos das fadas.
Ryn considera minhas palavras. — Talvez ela tenha adquirido algumas habilidades mágicas básicas com as bruxas. Embora, — ele acrescenta com uma carranca, — as bruxas não viajem através dos caminhos das fadas.
— Então bruxas são reais? Essa parte não foi inventada?
Ryn troca um olhar com Violet. — Bruxas são muito reais. — Ele empurra a cadeira e levanta. — Vou entrar em contato com a Azzy agora. Ela pode me dizer se há algo de que precisamos suspeitar.
Nós começamos a limpar então, em parte com o uso de magia e em parte — e menos para Jack e eu — com a mão. Ele e eu estamos secando os pratos lavados por um dos feitiços de Violet quando percebo que Dash e Violet foram para a sala ao lado. Acho que ouço meu nome sendo mencionado e minha raiva se inflama imediatamente. Dash já não contou a essas pessoas o suficiente sobre mim e minha vida pessoal?
— ...pode ajudá-la, certo? — Dash está dizendo. — Vamos lá, você pode encontrar qualquer pessoa.
— Não, eu não posso, e eu não quero que você diga isso a ela. Você sabe como isso funciona. Eu preciso tocar em algo que pertence a —
— aos pais dela, certo. Eu pensei sobre isso. Ela pertence aos pais dela. Então, basta tocá-la e você poderá encontrá-los.
— Dash, ela não pertence aos pais biológicos há muito tempo, — diz Violet. — Isso não vai funcionar. Além disso, ela não está interessada em encontrá-los.
— Exatamente, — eu digo, alto o suficiente para assustar os dois. Eles olham ao redor com expressões de culpa. — Então, obrigada, Dash, por enfiar o nariz onde ele não pertence, mas como você pode ver, eu não quero sua ajuda.
Ele abre a boca como se quisesse argumentar, mas depois suspira e levanta as mãos em sinal de rendição. — Desculpa. Eu pensei que estava ajudando. Eu ficarei fora disso.
— É provavelmente o melhor, — Violet diz baixinho.
— Legal, bom, eu acho que vou para o trabalho então. — Ele levanta a mão e forma um punho, segurando-o no ar na frente de Violet enquanto ele sorri para ela. — Tenha um bom dia salvando vidas.
Ela revira os olhos e bate no punho dele com o dela. — Para você também. — Ela o observa sair, então se vira para mim. — Me desculpe por isso. Espero que você saiba que eu não faria nada sem a sua permissão.
Eu aceno com hesitação, querendo acreditar nela. — Do que vocês estavam falando? Ser capaz de encontrar alguém... Essa é a sua Habilidade Griffin?
Ela concorda. — Sim. Eu posso encontrar pessoas. Se eu conhecer a pessoa que estou procurando, é fácil. A conexão já está lá. Se eu não conhecer, então eu preciso estar segurando algo que pertence a essa pessoa.
— Isso é tão estranho, — murmuro. Não menos estranho do que ser capaz de falar as coisas e elas acontecerem, uma pequena voz me lembra. — Espere, — acrescento quando algo me ocorre. — Foi assim que Dash me encontrou ontem depois que eu escapei da Guilda? E na outra noite quando fugi da Chevalier House? Você disse a ele onde eu estava?
Ela balança a cabeça, parecendo culpada mais uma vez. — Azzy enviou uma mensagem para dizer que você fugiu. Procurei por você e contei a Dash onde encontrá-la.
— Isso é... — Eu balanço minha cabeça. — Eu... eu nem sei como me sentir sobre isso.
— Como se sua privacidade fosse violada?
— Mais ou menos, eu acho. Como se eu nunca pudesse realmente me esconder em qualquer lugar, mesmo que eu quisesse.
Ela acena com a cabeça. — Eu sei. Eu odeio fazer as pessoas se sentirem assim. Eu só faço quando é necessário. No seu caso, estávamos preocupados com a sua segurança.
— Espere, como funcionou se você não tem nada que me pertence?
Ela fecha os olhos por um momento e esfrega a parte de trás do pescoço. — Agora você realmente vai pensar que violamos sua privacidade. — Ela abre os olhos. — Eu tenho um pompom de cabelo que pertence a você. Dash tirou do seu pulso na noite em que ele te trouxe para casa depois que você desmaiou naquela festa. Ele achou que talvez precisássemos encontrá-la em algum momento.
Eu cruzo meus braços e olho para o chão. — Sim. Isso tudo é muito estranho.
— Eu provavelmente deveria falar sobre Ryn também. Tirar toda a estranheza do caminho de uma só vez.
— Oh, céus. Isso não parece bom.
— E só para você saber, nenhuma dessas habilidades é um segredo. Nós não queremos que as pessoas pensem que estamos escondendo coisas delas, então somos muito abertos com aqueles que vivem aqui.
— Tudo bem, então o que Ryn pode fazer?
— Ele pode sentir suas emoções.
Eu pisco. — Isso não é legal. Nem um pouco. E se eu não quiser que ele saiba o que estou sentindo?
Ela encolhe os ombros. — Tentar não sentir o que você está sentindo?
— É até mesmo possível?
— Na verdade não. Confie em mim, eu tenho anos de experiência nesta área. — Ela olha brevemente por cima do ombro enquanto Jack a chama. Algo sobre um livro que ele não consegue encontrar. — De qualquer forma, — diz ela, virando para mim. — Não é grande coisa. Na maioria das vezes, as emoções das pessoas são evidentes em suas expressões e ações. A habilidade de Ryn apenas faz dele um pouco mais intuitivo do que a maioria, isso é tudo.
Eu mordo meu lábio e franzo o cenho um pouco mais para o tapete no chão. Talvez ela esteja certa, mas isso não me deixa muito confortável em ficar perto dele.
— Eu sinto muito, Em. Eu sei que isso tudo é muito esmagador. Há muito mais que eu quero explicar, mas eu preciso ajudar Jack a se preparar para a escola, e então eu tenho algumas coisas do trabalho para resolver. Eu pensei que você poderia pegar leve hoje — olhar as coisas, ficar nas redes, praticar o que Azzy lhe ensinou antes de você sair da Chevalier — e hoje podemos falar sobre a melhor maneira de ensinar tudo o que você precisa saber, incluindo sua Habilidade Griffin.
Fabuloso. Parece que você tem tudo perfeitamente planejado. Eu empurro meus pensamentos sarcásticos e amargos de lado. — Tudo bem. Eu acho que é um plano. E... posso pedir mais uma coisa? — Agora é provavelmente o melhor momento, enquanto ela ainda se sente culpada por usar sua Habilidade Griffin em mim. Eu engulo e afasto meu olhar do chão. — Você pode me levar para visitar minha mãe?
Capítulo 17
— JÁ FAZ QUASE UM ANO DESDE QUE EU A VI, — EU ME APRESSO, SENTINDO SUBITAMENTE QUE precisava convencer Violet de que essa é uma boa ideia. — Eu economizei — eu ia pegar um ônibus — e então minha tia encontrou meu esconderijo e o pegou. E então tudo deu errado — quero dizer, hum, tudo ficou uma bagunça.
— Quase um ano? — Violet repete com as sobrancelhas levantadas. — Em, isso é horrível. Eu sinto muito. Não consigo imaginar como é difícil estar separada dela por tanto tempo.
— Mas agora eu não tenho que estar, certo? Viajar pelos caminhos das fadas é rápido e fácil. Mas eu sozinha não posso fazer isso, então preciso da ajuda de alguém.
Sua expressão fica em conflito, e eu posso sentir aquela pequena voz dentro de mim se preparando para gritar. Eu sabia! Eles não querem realmente ajudar você. — Eu entendo o quão desesperada você deve estar para vê-la, — diz Violet com cuidado, — mas você tem que entender que será arriscado. A Guilda sabe tudo sobre ela. Eles provavelmente colocaram alguém vigiando para ver se você vai lá.
— Espere, sério? — Eu não tinha pensado nisso. — Você realmente acha que alguém está esperando em Tranquil Hills apenas no caso de eu aparecer?
— Sim. Seu poder é valioso para a Guilda. Eles vão querer recuperá-lo se puderem.
— Mas eles acham que eu estou morta.
— Eles acham? Você pode não saber disso ainda, mas é difícil matar uma faerie, Em. Nossa magia pode nos ajudar a sobreviver a muitas coisas que matariam um humano. Se a Guilda não encontrar seu corpo, eles vão assumir que você sobreviveu de alguma forma.
— Mãe! Ainda não consigo encontrar o livro, — grita Jack de algum lugar da casa.
— Apenas continue procurando, — ela fala por cima do ombro.
— Tudo bem, isso é ruim. — Eu não consigo ficar parada, então eu começo a andar. — Então a Guilda provavelmente está vigiando a minha mãe. Você acha que eles a machucaram? Você sabe, tentar usá-la contra mim?
— Eu duvido muito. Eu sei que eles parecem, mas eles não são os vilões.
— Sério? — Minha voz está cheia de sarcasmo. — Eles certamente pareciam os vilões quando estavam tentando me matar ontem. E se minha magia é tão valiosa para eles, por que pensariam duas vezes em ameaçar uma mulher humana doente que não significa nada para eles?
— Em, um dos principais propósitos da Guilda é proteger os humanos. Eles não querem —
— E os Unseelies? Eles de alguma forma sabiam sobre mim e minha Habilidade Griffin, então eles provavelmente sabem sobre minha mãe também. Eles não vão tentar levá-la? Eles são os vilões número um, certo? Usam os entes queridos de uma pessoa contra eles. Eles provavelmente a levaram para —
— Em, acalme-se. — Violet agarra meus braços e dá um aperto reconfortante neles. — Estamos um passo à frente de você. Eu enviei alguém ontem à noite para verificar se sua mãe está bem. Por isso te perguntei o nome do hospital ontem. Ele relatou que ela está bem. Ele não podia entrar no quarto dela, caso alguém estivesse vigiando, mas ele a viu de longe.
— Oh. Tudo bem. — Minhas dúvidas crescentes diminuem. — Obrigada. — Eu enfio meu cabelo atrás de uma orelha quando ela me solta e dá um passo para trás. — Então, posso visitá-la? Quer dizer, eu sei que alguém da Guilda pode estar vigiando, mas eu posso me disfarçar. Eu terei muito cuidado.
Espero que ela discuta sobre isso não ser seguro — é isso que os adultos fazem, certo? — mas ao invés disso, ela concorda. — Sim, nós podemos ajudá-la, mas como eu disse, será perigoso. Se sua mãe não tem outra família ou amigos que a visitem regularmente, a Guilda espera que qualquer pessoa que a visite agora esteja associada a você. Mesmo que Calla crie uma ilusão que faça você parecer completamente diferente, a Guilda provavelmente achará isso suspeito. Essa é a Habilidade Griffin dela, a propósito. Criar ilusões.
— Uau. Ah, sim, ela nos fez ficar invisíveis ontem.
— Isso.
— Ela pode me fazer parecer invisível para todos, exceto minha mãe?
— Ela pode, embora isso a canse muito mais rápido, projetar uma ilusão em alguns enquanto a mantém dos outros. Assim, desde que você entenda que pode ter que sair dali rapidamente, podemos fazer isso funcionar.
Eu aceno fervorosamente. — Eu posso fazer isso. Uma visita rápida é melhor que nada.
— Tudo bem. Mais tarde, então? A agenda de Calla está cheia durante o dia, mas ela poderá te levar no final da tarde.
— Obrigada. — Uma antecipação excitante corre de repente através de mim. Eu vou vê-la. Eu realmente vou ver a mamãe.
Jack aparece na porta, levantando um livro pesado. — Olha, mãe, eu encontrei.
Violet bate as mãos. — Viu? Eu sabia que você conseguia. Vamos lá, vamos para a escola.
***
No final da tarde, quando estou cansada de praticar puxar minha magia de mim mesma, e meu cérebro está quase explodindo com todas as coisas que eu quero conversar com a mamãe, eu espero por Calla no pavilhão. Conforme as pessoas que eu não conheço passam, eu deslizo um pouco mais em um dos sofás e evito fazer contato visual. Eu observo Jack correndo na companhia de várias crianças. Eles diminuem a velocidade perto das redes e se empurram enquanto tentam decidir quem fica com qual delas. Jack tenta pular em uma, mas acaba passando dela e caindo de bruços no chão. Eu fico de pé rapidamente, sem saber se devo correr para verificar se ele está bem, mas ele se levanta um pouco depois, rindo junto com seus amigos.
— Ei, é a Emerson! — Ele grita de repente, sorrindo e apontando na minha direção. Todos começam a correr em minha direção, o que eu acho um pouco alarmante. — Emerson, — diz Jack quando ele chega ao pavilhão. — Lembra que você estava dizendo que sabe como cair do jeito certo?
Eu olho para baixo desajeitadamente para cinco rostos jovens. — Cair?
— Sim, quando você e sua amiga fazem aquela coisa do parque.
— Oh, parkour. Sim.
— Então você pode me ensinar como cair de uma rede do jeito certo? Para que eu pareça legal?
Eu não posso deixar de rir disso. — Eu sinto muito, Jack. Eu não sei se há alguma maneira de cair de uma rede que pareça legal.
— Viu? — Diz uma garota cujos olhos as pupilas são verticais como o cara que eu vi ontem quando cheguei aqui. — Uma ideia muito idiota.
— Ei, não seja uma bruxa, — diz outro menino.
Ela suspira. — Isso é muito mau.
— Você não pode falar sobre bruxas na frente de Jack, lembra? — Diz uma segunda garota.
— Tudo bem, — Jack diz a eles com um suspiro dramático. — É apenas minha mãe e meu pai e tia Calla que não gostam de falar sobre bruxas.
— Por que não? — Eu pergunto, imaginando que erro terrível eu cometi quando falei sobre Aurora e as bruxas hoje cedo.
— Elas mataram minha irmã, — diz Jack, com tanta naturalidade que a princípio eu me pergunto se ele está fazendo uma piada terrível. Mas as outras quatro crianças concordam, com expressões sérias.
— Isso é — oh meu Deus. Isso é horrível. Eu sinto muito, Jack.
— Sim. — Ele olha para baixo. — Eu não a conhecia. Aconteceu há muito tempo, muito antes de eu nascer.
— Oi, pessoal. — Calla sobe as escadas do pavilhão. — O que aconteceu antes de você nascer, Jack?
— Nada. — Ele lhe dá um enorme sorriso. — Nós vamos voltar para as redes. — Ele foge, seguido de perto por seus amigos.
— Tudo bem, então, — diz Calla, observando-os por um segundo. — Então. — Ela se vira para mim. — Pronta para ir?
Eu respiro fundo, tentando descobrir como respondê-la. Ela provavelmente não percebe que é uma pergunta carregada. — Sim, — eu digo eventualmente, apesar do fato de que duvido que eu me sinta pronta.
— Precisamos ir para fora do oásis, — diz ela. — E eu quero falar com Ryn rapidamente antes de irmos.
— Tudo bem. — Eu ando ao lado dela conforme deixamos o pavilhão para trás. — Há muitas pessoas morando aqui? — Eu pergunto, olhando para um casal de faeries andando de mãos dadas na outra direção.
— Sim, poucos. A maioria acaba indo embora se conseguimos ajudá-los a viver em segurança em outro lugar, mas há indivíduos e famílias que decidem ficar. Agora temos mais de cem fae que chamam esse lugar de lar.
— Todos Dotados Griffin?
— Nem todos, mas principalmente, sim.
— Tudo bem, aqui está uma coisa que eu não entendo: como há tantos fae que acabaram tendo Habilidades Griffin? Foi-me dito que começou com discos mágicos que alguém criou há muito tempo, mas não havia apenas seis deles? Eu sei que eles foram passados para várias pessoas, mas sério? Como esses discos ficaram nas mãos de tantas pessoas?
Calla puxa o cabelo dourado reluzente por cima do ombro. — Pode parecer muito, mas o número é pequeno em comparação com a população do nosso mundo.
— Tudo bem, claro, mas ainda assim. Todas essas pessoas a partir de seis discos de magia?
— Pense no fato de que esses discos estavam por aí há séculos. Eles concediam poder, o que significa que outros os cobiçavam, o que significa que eles foram frequentemente roubados. Acrescente isso ao fato de que dois Dotados Griffin podem passar magia Griffin para seus descendentes, e você acaba com ainda mais de nós.
— Eu suponho que quando você leva em conta o fato de que vocês vivem tanto tempo, faz mais sentido. Ainda estou com problemas para aceitar essa parte. Ou pelo menos, aplicar em mim mesma. Eu não posso imaginar ainda estar viva daqui a algumas centenas de anos. — E eu não posso imaginar como eu devo lidar com todos os meus amigos humanos e família envelhecendo e morrendo enquanto eu ainda pareço com vinte anos. — Jack é um Dotado Griffin? — Eu pergunto, forçando minha mente em uma direção menos deprimente.
— Não, graças a Deus. Se ele quiser sair daqui um dia e se juntar ao resto do mundo, ele poderá fazer isso sem ter que esconder uma habilidade secreta.
— Boa tarde, senhoritas.
Eu paro quando Dash acena e caminha na nossa direção. — Ugh, mesmo? — É tudo o que consigo dizer.
— Interessante ver você de volta aqui tão cedo, — comenta Calla. — A Guilda definitivamente não está trabalhando muito com você.
Ele encolhe os ombros. — Eles nos dizem para pegar leve no nosso primeiro ano.
— Eles não dizem isso. — Ela o olha com desconfiança. — O que você está realmente fazendo aqui?
— Eu estava atualizando Vi sobre algo mais cedo e ela mencionou que você está levando Em para ver sua mãe. Eu pensei —
— Você não vem, — digo a ele.
— Ei, eu pensei que vocês poderiam precisar de alguma proteção extra. Você se concentrará em sua mãe e Calla se concentrará em qualquer ilusão que esteja usando para esconder vocês. Você não acha que precisa de uma terceira pessoa para ficar de olho nas coisas? No caso de um médico ou outro guardião aparecer?
— Não.
— Na verdade, — diz Calla, — esse é um plano perfeitamente sensato. Mas eu ia pedir a Ryn para vir conosco.
— Ryn está com Vi no momento. Eu estava lá em cima, procurando por eles. — Ele acena para uma das árvores gigantes. — E todo mundo que é aprovado para missão está ocupado. — Ele sorri. — Parece que foi uma coisa boa eu ter aparecido.
Consigo evitar grunhir em voz alta. — Bem. Tanto faz. Apenas fique longe da minha mãe. Ela não precisa que você arruíne sua vida ainda mais.
Calla franze a testa, abre a boca, depois parece pensar melhor no que quer que ela vá dizer. — Está bem então. Vamos lá.
Uma vez que estamos no deserto, Calla abre um portal para os caminhos das fadas e me diz para focar com firmeza na imagem do lado de fora do hospital. Embora a escuridão completa me rodeie, eu fecho meus olhos de qualquer maneira, imaginando as altas paredes, o portão de segurança, a pequena placa discreta com o nome do hospital e os picos das montanhas ao longe.
— Muito bem, — diz Calla.
Abro os olhos e olho através de uma rua vazia exatamente igual a imagem que acabei de pensar. — Isso é incrível, — murmuro.
Dash levanta o capuz de sua jaqueta e a coloca sobre a cabeça. — O quê? — Ele pergunta quando eu dou a ele um olhar estranho. — Não quero que meu rosto apareça nas orbitas de vigilância da Guilda.
— Vigilância, o quê? E você vai ficar invisível, não vai?
— Invisível para as pessoas, sim. Não para grampos. Eu não sei se eles estão observando, mas é bom ter cuidado.
— Eu deveria saber o que você está falando? — Naquele momento, um tremor envia arrepios pelas minhas costas e pelo meu cabelo. — Oh — hum — você pode — Eu agarro o braço de Dash, no caso de minha habilidade ter alguma dúvida com quem eu estou falando. — Você pode abrir portais para os caminhos das fadas, — eu deixo escapar.
Dash olha para mim com os olhos arregalados. Calla parece igualmente assustada. — Bom, isso veio do nada, — diz ela.
Dash rapidamente pega uma stylus de dentro da jaqueta e se agacha. Ele escreve sobre o asfalto, murmurando aquelas palavras que eu ainda não consigo distinguir claramente. A escuridão aparece, espalhando-se rapidamente em um grande buraco que leva aos caminhos das fadas. — Sim! Finalmente! Obrigado, Em. — Ele se levanta e guarda sua stylus. — Agora vamos ter que arrumar um jeito de você consertar Jewel também.
— Isso foi muito legal, — diz Calla.
— Sim. Quando estou dizendo algo útil.
— Verdade. Tudo bem, vamos nos concentrar no hospital novamente. Você se lembra de alguma coisa sobre como é o interior?
— Sim, lembro da área de espera. Mas não me lembro onde é o quarto da mamãe. Já faz um tempo desde que eu estive aqui.
— Sem problema, — diz ela. — O cara que verificou as coisas para nós na noite passada disse que ela está no quarto vinte e seis. Tenho certeza de que podemos encontrá-la. Tudo o que você precisa fazer é imaginar a sala de espera para que possamos entrar com segurança. — Ela abre outro portal para os caminhos das fadas.
— Espere, — eu digo antes de entrarmos na escuridão. — Você tem certeza absoluta de que ficaremos invisíveis do outro lado?
— Sim. Estou me concentrando na invisibilidade. Você está se concentrando na sala de espera. Dash, você esvazie sua mente. — Ela dá a ele um meio sorriso. — Deve ser fácil.
— É por isso que estou aqui, certo? — Ele diz sem perder o ritmo. — Músculos e a mente vazia.
Eu balanço minha cabeça, prendo meus braços com os dois e ando para frente. Eu fecho meus olhos e vejo a sala de espera. As fileiras de cadeiras, o balcão de recepção, as pinturas abstratas confusas e os vasos altos de flores. Eu sinto o cheiro antes de ver: detergente e algo azedo. Como se alguém tivesse vomitado aqui recentemente.
Eu olho para baixo e, em vez de ver meu corpo, vejo o chão polido. Eu me agarro mais firmemente a Calla e Dash. — Tudo bem, — eu sussurro. Eu olho em volta, a lembrança da minha última visita voltando para mim. — Precisamos passar pela porta à direita. Aquela que parece requer um documento de identificação.
— Acho que precisaremos passar pelos caminhos novamente, — diz Calla.
Uma das mulheres atrás da mesa principal olha para cima, franzindo a testa em nossa direção. — Mova-se em silêncio, — Calla instrui, seu sussurro quase inaudível agora. Eu sinto um puxão me puxando para a esquerda. Calla nos leva ao redor de um canto para uma alcova com mais algumas cadeiras e uma janela para o jardim. Quando estamos fora de vista da mesa, de repente nos tornamos visíveis novamente. — Rapidamente, — diz ela, abrindo um portal. Nós nos apressamos para dentro. Momentos depois, estamos do outro lado da porta de segurança.
Nós seguimos pelo corredor, braços ainda presos, então não nos perdemos um do outro. A luz do sol brilha através das janelas, iluminando mais obras de arte coloridas. Os jardins em si, visíveis através das janelas, são bem cuidados. A partir daqui, posso ver um grupo de pacientes sentados no gramado em um círculo. Tranquil Hills é bonito e sereno, mas isso faz parte do que faz minha pele arrepiar sempre que estou aqui. É como uma cereja em cima de um bolo cheio de vermes rastejando por ele. Perfume pulverizado sobre o lixo apodrecendo. Nada pode esconder a verdadeira natureza deste lugar.
Passamos silenciosamente por uma área de estar aberta, onde as pessoas sentam-se em grupos de dois ou três em pequenas mesas jogando jogos de tabuleiro ou jogos de cartas. Eles são todos observados por enfermeiras ao redor da sala. É aqui que mamãe estava na primeira vez que fui visitá-la. Nós nos sentamos aqui juntas e jogamos Go Fish enquanto Chelsea esperava por mim na recepção, recusando-se a ver sua ‘irmã louca’. Um arrepio corre pela minha pele com a lembrança. — Tudo bem, Em? — Calla sussurra.
— Sim.
Entramos em outro corredor do outro lado da sala. Menos janelas e menos luz. Portas fechadas revestem o lado direito. — Tudo bem, aqui está o número vinte, — diz Calla. — Eu acho que devemos continuar e vamos encontrar o vinte e seis.
Meu coração acelera, batendo mais rápido a cada passo que damos. O nervosismo me deixa enjoada e tonta. Eu ainda não consigo acreditar que estou prestes a vê-la. — Lá está, — eu sussurro quando uma porta com um número vinte e seis aparece.
— Ainda não vi ninguém suspeito, — diz Dash. — Qualquer pessoa que eu reconheça da Guilda, quero dizer.
— Posso entrar? — Eu pergunto, parando do lado de fora da porta.
— Sim, — Calla diz me soltando. Do outro lado, Dash se afasta.
— Vamos ficar de olho aqui e nos certificar de que você pareça invisível para qualquer um que passar por aqui.
Eu engulo em seco. Se eu pudesse ver minha mão, provavelmente a encontraria tremendo. Eu me atrapalho por um momento com a maçaneta da porta — avaliando mal à distância e batendo na porta com meus dedos invisíveis — antes de encontrá-la e envolver minha mão em torno dela. Eu empurro para baixo, respiro fundo e, lentamente, abro a porta. Com muito medo de dar um passo à frente, eu olho para dentro.
O quarto está vazio.
Minha cabeça acelera quando a decepção e o alívio colidem. — Onde ela está?
Sinto um movimento ao meu lado e, em seguida, ouço a voz de Dash, — Talvez ela esteja comendo. Ou tendo algum tipo de hora do social. Ou uma pausa para o banheiro. Ela geralmente está restrita ao seu quarto, ou ela só volta aqui para dormir?
— Eu não sei. — Minhas palavras saem mais afiadas do que eu pretendia. — Eu não estive aqui há muito tempo.
— Temos que esperar, — diz Calla. — Está tudo bem. Eu estou projetando apenas uma ilusão agora, e é simples, então não é muito cansativo.
— Tudo bem. Obrigada. — Um deles bate em mim quando eu me movo para o lado, e depois de um momento de confusão, estamos todos encostados na parede ao lado da porta número vinte e seis. Não há nenhuma maneira que eu espere dentro daquele quarto sozinha. O corredor vai funcionar. Enquanto os segundos passam, minha ansiedade começa a aumentar novamente. Para cima e para cima, minhas entranhas se retorcendo mais e mais.
— Você não vai dizer nada a ela sobre a magia, não é? — Dash pergunta, eventualmente, quebrando o silêncio.
— Em primeiro lugar, — digo a ele, — você não pode me dizer o que devo falar com minha mãe. E em segundo lugar, não. Eu não sou tão idiota assim e dizer a ela que eu sou uma faerie com magia. Eu nem sei se vou dizer a ela que sei que ela não é minha verdadeira mãe. Há dezenas de coisas que eu quero dizer, e eu provavelmente não vou acabar dizendo nenhuma delas porque eu não quero assustá-la.
Como da última vez.
Ficamos quietos por um minuto ou dois enquanto alguém na companhia de uma enfermeira passa devagar por nós e entra em um dos outros quartos. A enfermeira sai logo depois.
— Vi me disse que faz muito tempo desde que você a viu, — diz Calla, uma vez que estamos sozinhos novamente. — Você provavelmente pode falar com ela sobre o que aconteceu em sua vida normal até alguns dias atrás. Coisas que você fez na escola. Atualizações sobre seus amigos.
— Todas as habilidades do parkour que você e Val aprenderam, — acrescenta Dash.
Val. Val, que provavelmente está confusa e irritada por eu ter fugido e a deixado para trás.
— Sim, talvez, — eu digo. — Mas também... bem, eu gostaria de conversar com ela sobre os bons velhos tempos. — Eu olho através da parede em branco à minha frente e imagino a mamãe como ela costumava ser, sorrindo e feliz. — Eu acho que ela gostaria de lembrar do nosso lindo jardim, da pequena casa em que morávamos e dos ornamentos que ela colecionava. Eu sempre imaginei levá-la de volta para lá um dia. Voltando à vida simples e feliz que costumávamos ter. Sempre parecia impossível, mas agora com magia... — Eu paro, voltando ao presente com um sobressalto e me lembrando de com quem eu estou: Dash, que não merece saber meus pensamentos particulares e desejos, e Calla, que provavelmente não aprovaria nenhuma das coisas que planejo fazer com minha magia quando souber como usá-la.
— Com a magia? — Ela incentiva.
— Nada. Espere, é... Oh, droga, eu acho que é ela. — Duas pessoas estão andando em nossa direção. Uma enfermeira e uma mulher com cabelo escuro e bagunçado, não tão alta quanto eu me lembro, e vestida com calças de moletom e uma camisa moletom. Meu ritmo cardíaco dispara e minhas emoções conflitantes aumentam. Eu acho que posso vomitar bem aqui. Mas eu consigo respirar enquanto mamãe se aproxima. É ela! Minha mente grita quando ela passa por mim e entra em seu quarto. É realmente, realmente ela! Ela está bem aqui, depois de tantos meses. Eu finalmente vou poder falar com ela, abraçá-la, deixá-la saber que eu penso nela todos os dias e que ela não terá que ficar aqui por muito mais tempo.
A enfermeira para na porta. — Apenas deite e tenho certeza que vai passar em breve, — diz ela para mamãe. Sua voz não tem sentimento, como se as palavras não significassem nada para ela. Ou, eu me pergunto brevemente, como se ela tivesse falado essas mesmas palavras centenas de vezes antes. — Você sabe que pode ligar para um de nós se começar a se sentir pior.
Mamãe lhe dá um sorriso distante e um aceno de cabeça.
A enfermeira fecha a porta e se afasta.
Eu dou outra respiração tremula antes de seguir em frente e segurar a maçaneta. Quando abro a porta, de repente fico visível novamente. Mamãe olha para cima. Ela pisca e franze a testa. Um sorriso se espalha rapidamente pelo meu rosto, transformando-se em uma risada. — Mãe. — Eu entro na sala —
— e um alarme começa a soar.
Capítulo 18
MAMÃE GRITA E ENGATINHA PARA TRÁS EM SUA CAMA. CALLA E DASH, visíveis agora, correm para dentro do quarto. Calla vai imediatamente em direção de uma parede e rabisca através dela. — Nós temos que ir, — ela me diz.
— O quê? Eu não estou —
— É um alarme da Guilda. Foi colocado para pegar você.
— Mas eu apenas... mamãe, tudo bem, sou eu. — Eu ignoro Calla e Dash e me aproximo da mamãe cautelosamente. — Tudo bem, mãe. Não se preocupe com o alarme. — Eu a alcanço, mas ela recua, batendo descontroladamente em minhas mãos. — Tudo bem, sou só eu, — eu digo desesperadamente. — É a Emmy. Sua filha. Eu vim para —
— Em, temos que ir. — Dash pega meu braço e me puxa para os caminhos das fadas.
— Não! — Eu solto meu braço. — Eu preciso pegá-la!
— O que? Não, não podemos levá-la conosco.
— Eu não vou embora sem ela!
— Você não pode levá-la através dos caminhos, Em! — Calla grita acima do alarme.
— Então saímos pela porta da frente com ela! — Eu grito de volta.
— E então o quê? Teríamos que encontrar um lugar seguro para ela neste mundo. Alguém que sabe como cuidar dela. E da medicação dela, o tratamento dela?
— A medicação faz com que ela fique pior! — Eu gesticulo para mamãe, agora se escondendo sob seus cobertores, enrolada e chorando, balançando-se para frente e para trás.
Movimento no corredor atrai meu olhar para longe. Dash estende a mão e a porta se fecha. Ele corre até ela e começa a desenhar grandes padrões brilhantes através dela. — Isso não vai segurá-los por muito tempo, — diz ele enquanto a porta estremece sob um ataque do outro lado.
— Em, nós vamos voltar por ela, — diz Calla com firmeza. — Eu prometo. Mas não vamos levá-la a lugar algum até que tenhamos um plano sólido. — Ela pega minha mão. — Dash, fique aqui e fique de olho. Certifique-se de que ninguém faça nada — na verdade, não. Você vai com a Em. Eu ficarei. Você não pode arriscar seu disfarce e eu posso me esconder mais facilmente.
— Entendi. — Dash pega meu braço enquanto Calla nos empurra para o buraco aberto que leva aos caminhos das fadas.
— Mãe. — A palavra é um meio sussurro, meio soluço quando eu dou uma última olhada por cima do meu ombro antes que a escuridão nos consuma. Eu tropeço através dela, Dash me puxando, até que uma luz laranja suave aparece à nossa frente. Eu inspiro o ar noturno do deserto que esfria rapidamente enquanto a areia se desloca sob meus pés. Eu me afasto de Dash.
— Em... — Ele estende a mão para mim, mas eu bato na mão dele.
— Não me toque. — Suas mãos caem para os lados enquanto eu envolvo a minha com força ao redor do meu corpo. Eu preciso me segurar.
Quietamente, Dash diz, — Ela não reconheceu você, ela não reconheceu.
Obrigada, Dash, quero gritar. OBRIGADA POR DIZER ISSO! Em vez disso, mordo meu lábio até as lágrimas recuarem. Não faz sentido gritar com ele. Ele não sabe sobre o nervo que ele atingiu. Ele não sabe que a última vez que visitei a mamãe, ela acabou se encolhendo no canto do quarto e gritando sobre a estranha — eu. Ele não sabe que várias enfermeiras tiveram que segurá-la enquanto eu saía do quarto em lágrimas, e ele não sabe o quão desesperadamente eu esperava que desta vez fosse diferente.
— Emerson —
— Não.
— Eu sinto muito por ter feito isso com você. — Seu tom é suplicante, e suas mãos estão apertadas juntas sob o queixo.
— O quê?
— Eu sinto muito! Ela está naquele hospital por minha causa. Eu sempre neguei, e alguma parte lógica e defensiva do meu cérebro ainda argumenta que ela teria sido internada em algum ponto de qualquer maneira, e que você não pode realmente me culpar, mas... você pode. Foi minha culpa. Naquele dia, naquele momento, ela ficou completamente no limite por minha causa. E... me desculpe.
Eu pisco, olho para a areia e de volta para ele. — O que você espera que eu diga sobre isso?
— Eu... eu não sei. Eu só precisava que você soubesse como eu sinto muito.
— Por quê? Não muda nada.
— Pode mudar o quanto você me odeia.
Eu sacudo minha cabeça. — Se liga, Dash. Isso não é sobre você. — Eu me viro, procurando o contorno fraco da cúpula. É quase invisível, mas consigo identificar. Eu começo a me arrastar pela areia, imaginando o mundo oculto dentro da cúpula. Vegetação exuberante, insetos cintilantes e o cheiro suave de flores. Uma cena pacífica contrastando fortemente com a memória sendo repetida de um quarto branco sem nada e mamãe gritando enquanto se afasta de mim.
De novo.
De novo.
De novo.
Eu franzo a testa e pisco e olho para longe, desesperada para afastar a imagem da minha mente. A tensão no meu peito diminui no momento em que passo através da camada mágica para dentro do oásis. Eu odeio estar feliz por estar de volta aqui. Parece uma traição com a mamãe. Eu não deveria aproveitar nenhum momento deste santuário enquanto ela está presa entre quatro paredes em branco. Presa dentro de sua própria mente.
— Em, espere, — Dash chama enquanto eu ando para longe dele. Eu viro, ainda caminhando para trás, querendo ficar sozinha agora.
— Nós vamos pegá-la, — diz ele. — Não pudemos fazer isso hoje, mas isso não significa que não vai acontecer. Nós vamos dar a ela uma vida melhor de alguma forma, eu prometo.
— Obrigada, — eu digo, — mas você não deve fazer promessas que não sabe como manter.
***
Eu não saio do meu quarto naquela noite para me juntar a ninguém no jantar, mas eu ouço Violet e Ryn do lado de fora da minha porta, falando baixinho um com o outro. Calla se junta a eles em algum momento. Eu pressiono meu ouvido contra a porta tempo suficiente para ouvi-la dizer que mamãe está bem e que os guardiões que estavam esperando por mim não fizeram nada com ela depois que eu saí. Então eu volto para a cama.
A Guilda sabe que eu estava lá. Eles provavelmente aumentarão o número de guardiões por perto, e se eu tentar visitar novamente, será ainda mais provável que eu seja pega. Não que eu tenha muita esperança de convencer Calla a me levar de volta. Ela e seus companheiros provavelmente estão se arrependendo de ter oferecido ajuda para mim. Eu poderia ter feito ela ser pega. Arruinado o disfarce do Dash. Talvez os três estejam lá fora tentando descobrir uma forma gentil de me dizer que não podem fazer mais nada pela minha mãe. E não é como se eu os culpasse. Eles não me devem nada. Eles provavelmente vão se esquecer de mim assim que a próxima pessoa desesperada chegar ao oásis.
O que é bom para mim, já que estou acostumada a cuidar das coisas sozinha.
Capítulo 19
A IMAGEM DA MÃE GRITANDO, COM UM TERROR SELVAGEM NOS OLHOS, É PRIMEIRA COISA QUE PASSA PELA MINHA MENTE na manhã seguinte. Eu faço um esforço consciente para me concentrar em outra coisa: Minha Habilidade Griffin. Eu preciso aprender como usá-la. A noite passada poderia ter sido tão diferente se eu tivesse conseguido acalmar minha mãe com apenas algumas palavras. Se eu tivesse sido capaz de dizer que o alarme mágico desligou. Eu preciso superar meu medo sobre coisas médicas e entregar uma amostra da minha magia. Eu preciso daquele elixir.
Mamãe. Acuada. Sua boca aberta em um grito silencioso.
Eu afasto a memória mais uma vez e me viro — e encontro Bandit aconchegado ao meu lado em forma de gatinho. Estou prestes a empurrá-lo para longe de mim, mas ele parece tão bonitinho enrolado com o nariz enfiado sob uma pata. E é estranhamente reconfortante perceber que não estive sozinha a noite toda. Eu estendo a mão e acaricio com dois dedos sua cabeça até as costas, esperando que ele não seja exatamente como o cachorrinho que fugiu.
Meu estômago ronca. Gostaria de saber se o convite para o café da manhã de Violet foi apenas para a manhã de ontem, ou se ele se estende por todas as manhãs enquanto eu estiver por aqui. Espero que o último, já que eu não tenho comida neste quarto. Eu me visto e verifico os números encantados na minha parede — eu estou mais atrasada do que ontem de manhã — antes de descer as escadas, arrasto uma mão contra o tronco da árvore para me firmar se eu tropeçar em um degrau irregular. Eu diminuo a velocidade antes de chegar à porta de Ryn e Violet. Está aberta, o que é um bom sinal, e os aromas celestiais flutuando pela porta fazem meu estômago roncar de novo, mas eu ainda não tenho certeza se sou bem-vinda aqui uma segunda vez. Especialmente depois de enlouquecer no hospital ontem e colocar Calla e Dash em risco.
Eu me aproximo um pouco e vejo Violet, Jack e Calla na mesa. Jack se endireita, pula da cadeira e corre em minha direção. — Eu sinto muito, Emerson! — Ele envolve seus braços em volta da minha cintura e aperta com força.
— Oh, hum, tudo bem. — Eu acaricio suas costas desajeitadamente. — Porque você está se desculpando?
— Eu não sei. Mamãe e papai estavam falando sobre você esta manhã e pareciam preocupados, e quando perguntei à mamãe qual era o problema, ela disse que você provavelmente só precisava de um grande abraço.
— Jack, — Violet repreende, levantando-se da cadeira e então ficando de pé, hesitante. Suas bochechas ficam vermelhas. — Você deveria perguntar antes de fazer coisas assim. Algumas pessoas não gostam de ser abraçadas por pessoas que não conhecem bem.
Confusão atravessa o rosto de Jack quando ele se afasta. — Mas Em me conhece. Nós andamos ao redor de todo o oásis juntos.
— Tudo bem, — eu digo apressadamente, me inclinando e o abraçando rapidamente, apesar da crescente estranheza. Eu prefiro manter meu espaço pessoal para mim mesma, mas eu não quero ferir os sentimentos de Jack.
— Você gostaria de se juntar a nós? — Pergunta Violet, apontando para a mesa e ainda parecendo um pouco envergonhada.
— Sim, obrigada. Eu não tinha certeza se, hum... — Eu coloco minhas mãos desajeitadamente nos bolsos de trás enquanto eu fico perto da mesa. — Bem, eu sei que você me convidou ontem, mas eu não tinha certeza se era apenas uma coisa no primeiro dia, como para todo mundo que é novo, ou —
— Oh, foi para todas as manhãs enquanto você estiver aqui, — diz ela com um sorriso, sentando-se novamente.
— Sim, nós não queremos que você passe fome lá em cima da árvore, —acrescenta Calla.
Eu puxo uma cadeira e me sento. — Você faz esse café da manhã maravilhoso todas as manhãs?
— Papai faz as panquecas na verdade, — Jack me diz antes de se servir de outra.
— E não, nós não fazemos esse tipo de café da manhã todas as manhãs, — diz Violet. — Apenas quando as coisas estão menos ocupadas e temos tempo, então nós fazemos.
Eu me sirvo de duas panquecas e alcanço uma pequena jarra do que parece ser mel, mas pode ser uma alternativa mágica exótica. Eu me preparo para a possibilidade de ter um gosto muito diferente. Ryn entra na casa quando eu termino de colocar sobre as minhas panquecas.
— Tudo bem, tudo está resolvido, — diz ele enquanto se junta a nós na mesa. — Em, vamos tirar sua mãe do hospital hoje, se estiver tudo bem para você.
— Eu — sim. Claro que está tudo por mim. — Faço uma pausa com um garfo e um pedaço de panqueca no ar na minha frente e balanço a cabeça, me dando um momento para receber as notícias. — Hoje? Já? Isso é incrível.
Ryn ri. — Sim, hoje.
— Quero dizer, eu sei que a Calla disse que voltaríamos para pegá-la, mas... eu imaginei que isso demoraria um pouco. Tenho certeza de que vocês têm muitas outras prioridades, e minha mãe é apenas... uma humana presa em um hospital.
Ryn abaixa a caneca que ele acabou de pegar e olha diretamente para mim. — Ela é sua mãe. Isso faz dela uma prioridade. E se ela está presa no hospital há anos, então claramente não estão fazendo nada para ajudá-la. Nós estávamos falando sobre tirá-la o mais rápido possível, e então Dash ligou ontem à noite para me dizer que tinha que ser hoje e que ele planeja ajudar. Então é hoje. Tudo foi planejado.
— Você sabe, eu estou seriamente começando a me perguntar se a Guilda em breve vai descobrir sobre Dash. Ele está passando mais tempo com casos para nós hoje em dia do que o trabalho que ele é pago para fazer.
— Não se preocupe com ele, — diz Violet, pegando um copo com algo verde. — Ele trabalha muito mais do que você pensa.
— Trabalha? — Calla bufa. — Você acha? Aquele garoto é muito relaxado. Ele provavelmente fica sentado e deixa sua equipe fazer todo o trabalho.
— Assim como ele faz com as mulheres, — diz Jack.
Violeta engasga com a bebida. — Como é? — Ela abaixa o copo. — Do que exatamente você está falando, rapaz?
— É o que ele disse para mim, — Jack diz a ela, seu tom defensivo. Então ele aprofunda sua voz, provavelmente em uma tentativa de se passar por Dash. — Eu apenas sento e as mulheres vêm correndo.
Violet pisca para Jack enquanto Calla começa a rir. Ryn tenta manter o sorriso longe de seu rosto enquanto ele limpa a garganta e diz, — Espero que você perceba, Jack, que esse não é o jeito de encontrar a garota certa.
Jack franze o rosto e pega outra panqueca. — Eu não estou procurando por nenhuma garota.
— Bom, — diz Violet enquanto eu mastigo e espero pacientemente por um momento para pedir mais detalhes sobre o plano de resgate da mamãe. — E quando você procurar, você vai descobrir que é preciso muito mais esforço do que apenas sentar e esperar. — Ela olha por cima da mesa para Ryn, sua carranca substituída por um pequeno sorriso.
Ryn pisca para ela. — Como as bundas brilhantes dos insetos no céu.
Violet estala os dedos e uma faísca bate no ombro de Ryn. — Não diga bunda, — ela sussurra.
— Mamãe e papai disseram bunda! — Jack grita alegremente.
Violet revira os olhos e Calla começa a rir de novo. Eu sorrio e espero o riso acabar antes de dizer, — Então, hum, qual é o plano para tirar minha mãe de Tranquil Hills?
— Certo, desculpe, — diz Ryn. Ele toma um gole da caneca e continua. — Calla e Dash vão para o hospital para pegá-la. Dash não tem uma Habilidade Griffin, então ele não vai disparar o alarme que a Guilda colocou em seu quarto. Ele precisará sedá-la para que ela não lute. Obviamente, não com magia, então ele vai usar algo à base de ervas que não contém elementos mágicos. Então eles usarão uma ilusão de invisibilidade e a levarão pelo prédio e pela porta principal.
— E a porta que requer um crachá de identificação? — Pergunto.
— Eles vão esperar que alguém passe por ela e seguir antes que a porta se feche. A mesma coisa com o portão principal. Vi e eu estaremos esperando por eles do lado de fora, principalmente como reforço caso algo dê errado. Então, como não podemos levar sua mãe pelos caminhos, precisamos ir até uma das aberturas naturais entre esse mundo e o outro mundo.
— Vocês sabem dirigir? — Eu pergunto, a duvida muito evidente em minha voz.
— Não, mas um dos nossos contatos na Guilda tem uma irmã - uma halfling sem mágica - que sempre viveu no outro mundo. Ela concordou em dirigir para nós. Então, vamos encontrá-la no hospital, e calculamos que levará cerca de cinco dias para chegar à abertura mais próxima.
— Cinco dias? Certamente você não pode mantê-la sedada o tempo todo?
— Não. Eu presumi que você gostaria de viajar no carro com ela. Quando ela acordar, você pode explicar tudo para ela, para que ela não entre em pânico.
Hesito, sem querer ter que explicar o que aconteceu na noite passada. O fato de que minha mãe não me reconheceu.
— Eu sei, — diz ele suavemente. — Calla me contou o que aconteceu. Você está preocupada dela ainda não te reconhecer. Mas esperávamos que fosse o estresse do alarme soando e duas outras pessoas desconhecidas em seu quarto. Esperamos que seja mais fácil quando ela estiver longe do hospital.
— Ela... — Eu engulo e passo minha mão pelo meu cabelo. — Ela não me reconheceu da última vez também. Quando eu fui lá há quase um ano. Eu esperava que a noite passada fosse diferente, mas foi muito ruim também.
— Talvez algo em seu remédio a confunda, — diz Calla. — Você mesma disse que a medicação a deixa pior.
— É só que depois que ela se mudou para lá, ela sempre parecia um pouco... aérea. Nós jogamos um jogo de cartas na primeira vez que eu visitei, e as respostas dela foram tão lentas.
— Bem, veremos o que fazer, — diz Ryn. — Dois de nós sempre estaremos com você no carro. Não necessariamente Vi ou Calla ou eu, mas duas pessoas da equipe. Possivelmente pessoas que você ainda não conhece, mas são todas cem por cento confiáveis. Trocaremos a cada poucas horas durante os cinco dias. Se sua mãe entrar em pânico, alguém estará lá para ajudá-la a acalmá-la.
— E quando chegarmos a este mundo? Então o quê?
— Há um instituto de cura para o qual planejamos levá-la para lá. White Cedars. É privado, não tem nada a ver com a Guilda. Já enviamos pessoas para lá antes, e a Guilda nunca soube nada sobre isso. Espero que alguém possa descobrir se é possível ajudar sua mãe.
Eu me inclino para frente. — Você acha que há uma chance? Dash disse que não podemos usar magia nela porque ela é humana. Ele estava errado?
— Ele não está, mas nossos curandeiros nem sempre trabalham com magia. Não conheço os métodos deles detalhadamente, mas podemos pedir que eles tentem. Nada no seu mundo funcionou até agora.
Eu aceno vigorosamente. — Sim. Concordo. Obrigada.
— Certo. Vamos aproveitar as panquecas agora antes que fiquem muito frias?
— Eu comi três, — anuncia Jack.
— Porquinho, — diz Calla.
Eu corto minha segunda panqueca - e do nada, aquele formigamento com o qual estou me familiarizando corre pela minha espinha, pelo meu cabelo e até as pontas dos meus dedos. Eu penso em algo inofensivo para dizer, para testar, e deixo escapar, — Passe o mel.
Há um segundo de silêncio e, em seguida, quatro mãos se estendem simultaneamente, batendo umas nas outras e derrubando o jarro de mel. Juntos, em uma bagunça pegajosa e desajeitada, os quatro deslizam o jarro caído sobre a mesa para ficar em frente ao meu prato.
Calla é a primeira a afastar a mão dela. — O que é que foi isso? Era sua Habilidade Griffin?
— Uau, isso foi estranho, — diz Violet, puxando a mão.
— Mãe, o que está acontecendo? O que acabou de acontecer? — Jack levanta a mão pegajosa na frente do rosto. Violet pega um pano e passa para ele.
— Eu sinto muito, — eu digo em voz baixa. — De repente senti que estava chegando e queria testar, e tentei pensar em algo bobo e seguro. Eu não achei que iria fazer uma bagunça.
— Tudo bem, — Violet diz. — Não é grande coisa.
Eu olho para Ryn, porque ele é o único que ainda não disse nada. — Você acha que é grande coisa, não é?
— Não é a bagunça, — diz ele. — É a Habilidade Griffin. O poder de fazer outras pessoas fazerem as coisas com um simples comando. Isso é muito importante.
— Sim. Eu sei. — Usando meu garfo, eu empurro um pedaço de panqueca em volta do meu prato, não mais interessada em comê-la. Eu meio que espero que Ryn me diga aquela frase clichê sobre grande poder e grande responsabilidade, mas ele não faz isso, o que me faz gostar dele um pouco mais. — Então, eu provavelmente deveria ir ao laboratório que você mencionou e entregar uma amostra da minha magia.
— Vou levar você depois do café da manhã, — diz Violet. Então ela explica brevemente minha Habilidade Griffin para Jack — Isso é tão legal! — É a resposta dele — e a atmosfera ao redor da mesa lentamente retorna ao normal depois disso.
— Eu preciso terminar algumas coisas antes de irmos, — diz Ryn, levantando. Ele limpa alguns itens da mesa e conjura um feitiço para limpar a pia. — Estarei na montanha se você precisar de mim. Caso contrário, nos encontraremos na base da árvore às onze horas. — Ele olha para Violet, Calla e depois para mim.
— Claro, — eu digo. Não é como se minha agenda estivesse cheia.
— Oh, oi. — Ryn pára para cumprimentar alguém na porta. — Eu não sabia que você estava de volta. Como foi?
— Tio Chase! — Grita Jack.
Calla empurra a cadeira para trás imediatamente e corre para a porta. O homem de pé a puxa para um abraço. — Oh, você sabe como é, — diz ele para Ryn por cima do ombro dela. — As coisas ficaram um pouco complicadas, mas tudo deu certo no final.
— Ótimo. Ansioso para ouvir mais sobre isso. Eu preciso ir para a montanha agora, mas Calla pode te contar o que está acontecendo hoje. — Quando ele sai, o homem na porta dá um beijo rápido em Calla e diz algo em uma voz muito baixa que o resto de nós não consegue escutar.
Ela balança a cabeça, então se vira e gesticula para mim. — Esta é Emerson. Em, este é o Chase. — Eu ando um pouco mais para perto quando ela me apresenta. — Lembra da garota que Dash estava de olho para a Guilda? Sua magia finalmente se libertou e ela acabou sendo uma Dotada Griffin.
— Bem vinda ao clube, — diz Chase, estendendo a mão com um braço tatuado para apertar minha mão. Ele faz uma pausa, apertando minha mão por um momento longo demais enquanto seus olhos passam rapidamente pela sala antes de voltar para mim.
— O quê? — Eu puxo minha mão rapidamente. — Por favor, não me diga que você pode ler mentes ou algo assim, porque eu não tenho certeza se posso lidar com isso. Ter alguém sentindo todas as minhas emoções já é bastante estranho.
Sua expressão relaxa em um sorriso. — Não. Nada a ver com mentes. Eu tenho um talento especial para controlar o clima.
— Mesmo? Isso é estranho.
— É útil às vezes. Qual é o seu?
— Eu digo as coisas e elas acontecem.
— Ela disse a terra para se abrir e abriu, — acrescenta Calla.
Chase arqueia a sobrancelha. — Impressionante. Você deve estar no topo da lista dos mais procurados da Guilda agora.
Eu concordo. — Sim.
— Tudo bem, precisamos ir ao laboratório, — diz Violet. Ela corre a mão pelo ar, passando pela mesa, depois abaixa enquanto os pratos restantes voam para a pia. — Jack, por favor, seque os pratos quando o feitiço terminar de lavá-los, e tenha certeza de que você estará pronto para a escola quando eu voltar.
— Aah, mamãe, mas eu queria apresentar Em ao Filigree. Ela ainda não o conheceu.
— Em precisa vir comigo, e Filigree está sendo um velho e mal-humorado preguiçoso agora. Não é a melhor hora.
Com uma expressão abatida, Jack caminha até a pia e pega um pano de prato. — Aqui, eu vou ajudá-lo, — diz Calla. — Não seja mal-humorado como Filigree.
Quando Violet e eu saímos e descemos as escadas, eu pergunto, — Existe uma montanha em algum lugar dentro dessa cúpula que eu ainda não vi?
— Uma montanha? Não. Por que — Oh. — Ela ri. — Por causa do que Ryn disse ao sair. Não, é como chamamos o prédio que tem as salas nas quais nos reunimos para planejar e discutir missões e visões dos Videntes e tudo mais. O laboratório também está lá. Chase costumava comandar as coisas de uma montanha, quando Ryn e eu ainda estávamos na Guilda. Então todos nós acabamos aqui, e algumas das pessoas com quem ele trabalhou anteriormente começaram a chamar esse prédio de montanha. É bobo, eu sei, mas o nome pegou.
Eu estendo minha mão e a corro ao longo da árvore enquanto descemos. — É bobo, mas é uma história interessante, pelo menos. — Passamos por uma pessoa com pele esverdeada com escamas subindo as escadas, e Violet me apresenta rapidamente antes de continuarmos. Na base da árvore, coloco minhas mãos nos bolsos de trás. — Posso perguntar algo sério?
— Sim, claro.
É um assunto estranho, mas menos estranho - esperançosamente - do que se eu tivesse perguntado na mesa do café da manhã. — Hum, como eu pago a minha estadia aqui?
Seu sorriso fica confuso. — Pagar a sua estadia? Você não precisa pagar sua estadia, Em.
— Mas, quero dizer, nada na vida é de graça, certo? Tudo custa alguma coisa. Então, se eu não estou contribuindo, então como isso funciona?
Ela sacode a cabeça. — Não se preocupe com isso. Nós temos clientes que pagam. Eles nos ajudam a manter as coisas funcionando.
— Mesmo? É isso? Eu não tenho que pagar nada?
— Não, nada, — diz ela com uma risada. — Se você decidir ficar aqui, podemos encontrar uma maneira de você contribuir. Se você acabar indo embora, então considere tudo isso um presente. De qualquer forma, você não precisa se preocupar com isso agora.
Ficar aqui... com a mamãe. Não desejei isso no momento em que entrei pela primeira vez no oásis? Eu afasto o pensamento rapidamente, não querendo de alguma forma azarar a possibilidade.
— Posso te perguntar uma coisa agora? — Ela diz.
— Sim, tudo bem.
— O que há entre você e Dash?
Minhas defesas internas sobem imediatamente. — O que você quer dizer?
— Bem, ele tem falado sobre você há anos — essa garota não tão humana que ele está vigiando para a Guilda - mas ele não mencionou que você... não gosta dele? Odeia ele? Guarda rancor contra ele?
— Posso assinalar todos os itens acima?
Ela ri. — Que interessante. A maioria das garotas parece cair sobre ele tentando chamar sua atenção.
— Já reparei. E eu nunca entendi o porquê.
— Então, que coisa imperdoável ele fez para você?
Eu olho para ela. — Você disse que ele falou de mim. Ele não contou o que aconteceu com a minha mãe?
Ela acena com a cabeça. — Ele salvou a vida dela, não é?
— Salvou? Mais como arruinou.
Surpresa aparece em sua expressão. — Oh. O que aconteceu?
— Bem, é por causa dele que minha mãe foi levada para um hospital psiquiátrico.
Ainda parecendo completamente perdida, ela diz, — Hum... como?
Eu levanto meus olhos para as copas das árvores e solto um som frustrado. — Tudo bem. Dash, obviamente, nunca lhe contou toda a história, então aqui está.
Capítulo 20
— EU TINHA DOZE, QUASE TREZE, — DIGO A ELA. — UM DOS MEUS AMIGOS TEVE UMA FESTA DE ANIVERSÁRIO no parque. Mamãe estava bem por um tempo. Ela tinha episódios às vezes, mas pelo menos todos eles aconteceram quando ela estava em casa. Ninguém sabia sobre eles. De qualquer forma, a festa estava indo bem. Eu estava feliz, mamãe estava interagindo com as pessoas.
— Então Dash apareceu do nada. Eu nunca o tinha visto antes. Não sabia quem ele era. E de repente ele começou a correr em nossa direção sem nenhum motivo, lançou-se sobre a mesa e caiu diretamente sobre a mamãe. Eu estava perto dela e ele conseguiu nos derrubar ao mesmo tempo. Eu levantei e comecei a gritar com ele. É quando a mamãe perdeu a cabeça. — Eu envolvo meus braços em volta de mim e me concentro no rio enquanto caminhamos ao lado dele. — Eu percebo agora que ela não podia vê-lo. Que ela pensou que eu estava gritando com o nada. Ou talvez ela tenha visto algo que eu não vi. Uma das pessoas imaginárias sempre queria pegá-la. Talvez seja com essas pessoas que ela pensou que eu estava gritando, eu não sei. De qualquer forma, ela acabou completamente em pânico. Ela estava encolhida no chão, soluçando e balançando-se, lamentando-se sobre alguém vindo pegar ela e sua filha. Todos no parque estavam observando ela e eu. Dash havia de alguma forma desaparecido até então.
— Alguns dos outros adultos do parque tentaram ajudá-la. Tentei descobrir o que estava acontecendo. Mas ela gritou para eles fugirem. Para parar de tentar machucá-la. E então ela começou a se coçar, tentando tirar algo invisível de sua pele. Alguém deve ter chamado uma ambulância, porque a próxima coisa que eu lembro, os paramédicos estavam a amarrando em uma maca — eu acho que para impedi-la de se machucar — e a levando embora. Eu fui autorizada a voltar na ambulância com ela, e essa foi a última vez que vi meus amigos. Ainda me lembro dos olhares em seus rostos pouco antes de as portas da ambulância se fecharem. O medo, a confusão. Os sussurros uns com os outros.
— Eu fui viver com a Chelsea depois disso, e ao contrário dos episódios anteriores, a minha mãe nunca melhorou. Era como se o incidente no parque fosse o gatilho que a deixou no limite completamente. Eu não sei. Talvez isso tivesse acontecido de qualquer maneira por causa de outra coisa, ou talvez ela teria permanecido a mesma se não houvesse o incidente naquele dia.
— Então vi Dash alguns meses depois em Stanmeade. Eu pensei que era uma coincidência cruel que acabamos vivendo na mesma parte ruim do mundo. Eu não tinha ideia, obviamente, que ele estava lá por causa de alguma missão mágica, ou que ele mais tarde ficou por lá porque estava de olho em mim. Tudo que eu sabia era que eu o odiava por arruinar a minha vida e a vida da minha mãe. Poderia ter sido tão diferente se não fosse pelo que aconteceu no parque.
Violet toca meu ombro e percebo que paramos ao lado do rio. — Eu sinto muito. Deve ter sido traumatizante ver sua mãe assim.
Eu aceno devagar, respirando profundamente e exalando todas as memórias. Pelo menos, é o que estou tentando fazer. Não parece estar funcionando.
— Mas Dash não lhe contou por que ele estava no parque naquele dia? — Ela pergunta. — Eu sei que ele não poderia dizer, contanto que você não soubesse nada sobre magia e nosso mundo, mas ele disse a você nos últimos dias?
— Algo sobre uma missão? Uma missão em grupo, eu acho. Ele não me deu detalhes.
— Ele e alguns de seus colegas aprendizes estavam lá porque um Vidente teve uma visão daquele parque. Uma visão de vários trolls correndo e ferindo as pessoas. Os humanos não teriam sido capazes de ver os trolls, é claro, então eu suponho que teria aparecido como um terremoto, com as pessoas caindo e se machucando. A missão foi dada a um grupo do primeiro ano e seu mentor, porque a Guilda não achava que isso fosse uma ameaça séria. Os aprendizes deveriam afastar os trolls. Eles quase conseguiram, mas um fugiu. Dash o viu indo em direção da sua mãe. Se você não se lembra de vê-lo, então talvez estivesse atrás de você. De qualquer forma, Dash derrubou você e sua mãe, e o mentor perseguiu o troll que fugiu. Então você se levantou e confrontou Dash, que estava tão chocado que você poderia realmente vê-lo que ele não conseguia pensar em uma explicação. — Ela ri. — Eu me lembro dele nos contando em detalhes. Ele disse que foi a missão mais emocionante que ele tinha tido até então.
Eu demoro alguns instantes para absorver essa informação antes de responder. — Então... você está dizendo... que ele na verdade salvou minha mãe? — Este é um conceito difícil para o meu cérebro entender, já que passei anos culpando Dash por colocar minha mãe em uma instituição para doentes mentais.
— Sim. Quero dizer, ela teria sido gravemente ferida de outra forma, ou pior. Humanos foram mortos por trolls antes. Então é bom que ele a tenha tirado do meio do caminho. O que aconteceu depois, porém, foi horrível. Eu não estou tentando diminuir isso de qualquer maneira.
Eu balanço minha cabeça lentamente. — Não. Eu sei. — Eu cruzo meus braços, em seguida, os coloco de lado e, em seguida, começo a andar ao longo da margem, enquanto confusão e frustração giram ao redor um do outro. — Por que ele não me contou isso?
— Não tenho certeza.
— Ugh, agora eu tenho que agradecer ele. Como eu devo fazer isso?
— Uh... eu não sei.
Eu paro, eu bufo e digo, — Desculpe, vamos continuar andando. Eu sei que deveríamos estar no laboratório agora.
— Sim, tudo bem. — Continuamos andando e, eventualmente, Violet diz, — Obrigada por me dizer o que aconteceu. Eu sei que não pode ter sido fácil.
Eu aceno. Então, como eu ainda não deixei minha frustração para trás, eu deixo escapar — O que tem nele que faz tantas mulheres bajulá-lo? Quero dizer com certeza, ele é bonito, mas isso não o impede de ser um grande idiota na maior parte do tempo. E sim, eu sei que ele é um idiota que salvou minha mãe, mas ele ainda é um idiota.
Uma gargalhada-bufo escapa dela. — Idiota?
— Sim.
Ela suspira. — Se você o odiava, você nunca teve a chance de ver o lado dele que todo mundo vê.
— Qual é?
— Ele é simpático e charmoso, e ele tem um jeito de prestar atenção às pessoas e demonstrar interesse em suas vidas que as faz se sentir... especial, suponho. É apenas parte de sua personalidade, mas algumas garotas leem muito sobre isso. Elas gostam quando um cara bonito presta atenção nelas — mesmo que ele seja alguns anos mais novo, o que, você logo descobrirá, não significa muito quando você vive por séculos — e elas acabam querendo mais do que Dash jamais pretendeu dar.
— Tudo bem, tudo o que eu ouço é que ele usa seu charme para manipular as pessoas, e então ele age como se não tivesse ideia do que está acontecendo quando querem mais dele.
Violet sorri e balança a cabeça. — Eu o conheço desde que ele nasceu, então provavelmente sou tendenciosa a seguir outra direção, mas tenho certeza que ele não é manipulador. Eu vejo que ele é respeitoso com seus pais, que ele é honesto, que trabalha duro quando acha que ninguém está observando. Ela revira os olhos. — Com certeza, ele pode se achar um pouco de mais, mas no geral, ele é um cara legal. Ele genuinamente se importa com as pessoas. Ele gosta de deixá-las à vontade, fazê-las rir. E é por isso que elas acabam gostando dele e aproveitando sua companhia.
— Bem, você está certa que eu não vi esse lado dele.
Violet me direciona para uma ponte. — Talvez você tenha a chance de ver esse lado dele agora.
Eu quase digo, eu certamente espero que não, mas percebo que isso soa um pouco negativo demais. Atravessamos o rio e seguimos para um grande edifício do outro lado. Parece o tipo de casa comum que se vê em um bairro legal no mundo humano. Subimos as escadas e entramos na varanda, e Violet abre a porta. O primeiro aposento por onde passamos é ocupado principalmente por uma mesa retangular e cadeiras, mas a larga janela panorâmica e as plantas espalhadas pelo peitoril da janela proporcionam uma sensação mais acolhedora do que uma sala de reunião deveria transmitir. As outras portas que passamos estão fechadas — lembro de Jack dizendo algo sobre áreas fora dos limites — até chegarmos ao fim da passagem, onde a última porta está entreaberta.
Violet a abre e gesticula para eu entrar. Meu primeiro pensamento é sobre os laboratórios da escola, mas esta é uma versão muito mais interessante. Os balcões em torno do limite da sala estão cobertos de frascos com líquidos coloridos e ingredientes de formas estranhas, equipamentos de laboratório como tubos de ensaio, béqueres e bicos de bunsen, todos intercalados com engrenagens, alavancas, tubos e aparelhos espalhados que não reconheço. As três bancadas paralelas no centro da sala estão ligeiramente mais limpas, com chamas, copos borbulhantes e béqueres fumegantes indicando experiências ao vivo em andamento. Exceto que provavelmente não são experimentos, agora que penso nisso. São provavelmente... poções?
— Oh, oi, — Uma mulher vem deslizando em nossa direção em uma cadeira de rodas. Exceto que não é uma cadeira de rodas, percebo quando ela para em nossa frente. A cadeira não tem pernas, e está flutuando no ar. A mulher, que tem orelhas pontudas e um interessante penteado de tranças finas enroladas em cima da cabeça, se levanta e coloca as mãos nos quadris. — Você é a Emerson, certo?
— Sim. Hum, eu devo te dar uma amostra da minha magia?
— Sim, para o elixir da Habilidade Griffin.
— Esta é Ana, a propósito, — acrescenta Violet.
— Certo, sim. Eu sou a Ana. — Ela caminha até uma das prateleiras e remove uma esfera de vidro vazia. — É bem simples, — ela diz, virando para mim. — Segure a orbita em suas mãos, eu vou recitar o encantamento, e no final dele, um pouco da sua magia terá sido tirada de você e para dentro da orbita.
— Dói? — Eu pergunto.
— Não, mas você vai sentir uma espécie de puxão. O importante é não resistir.
Eu concordo. — Tudo bem.
— Apenas relaxe. Sério, isso não é grande coisa. Feche os olhos e relaxe.
Eu faço o que ela sugeriu, bloqueando os béqueres e aparelhos e a bola de vidro em minhas mãos. As palavras que ela começa a cantarolar são estranhas, então não tenho ideia do que ela está dizendo. Enquanto ela lentamente as repete, começo a sentir o puxão de que ela falou. Um puxão estranho e lento na região do meu peito. Eu tento não resistir. Eu acho que posso estar me inclinando para frente um pouco.
— Tudo bem, acabou, — diz Ana.
Eu me endireito e abro meus olhos. A orbita está cheia da mesma massa cintilante e brilhante que apareceu em minhas mãos quando Azzy me ensinou como acessar minha magia. — Legal, — murmuro.
— Eu devo terminar de fazer o elixir amanhã, — diz Ana, pegando a orbita de mim. — Então, qual é a sua Habilidade Griffin?
Eu pego meu cabelo na parte de trás, torço e o coloco sobre meu ombro. — Às vezes, quando digo alguma coisa, acontece realmente. Se eu lhe dissesse para soltar a bola de vidro no chão, você não teria escolha a não ser fazer isso. E se eu dissesse ao rio para secar... bem, acho que secaria.
Os olhos de Ana se arregalam. Ela balança a cabeça lentamente. — Legal. Isso é demais.
— Sim. Eu descobri isso. Agora eu preciso saber como controlá-lo, então não vou ser um perigo para todos. Honestamente, eu ficaria feliz se vocês conseguissem se livrar disso. — Eu franzo a testa. — Isso não é uma opção, é?
O olhar de Ana dispara para Violet por um momento antes de voltar para mim. — Costumava ser, mas Gaius não está mais bem. A Habilidade Griffin dele é poder remover e transferir habilidades de outros. Ele fez isso muitas vezes, para aqueles que não queriam ser Dotados Griffin. E lentamente, ele começou a ficar doente. — Ela se move para o outro lado da sala e coloca a orbita de vidro em uma caixa. — Ele não conectava a sua Habilidade Griffin até alguns anos atrás, — ela continua, caminhando de volta para nós. — Ele começou a perceber que cada vez que ele removia outra, isso o deixava mais doente. Ele está muito fraco agora. Não sai frequentemente da casa dele. Este laboratório — todas as invenções e poções — costumava ser dele. — Os olhos dela deslizam pelos balcões e prateleiras. — Ele me ensinou tudo.
— E estamos muito gratos por você ter se esforçado, — diz Violet.
— Sim, Sim. Tudo bem, vão embora agora. Vocês continuam me dando muita coisa para fazer. — Ela volta para a cadeira e se afasta.
— Obrigada, Ana, — Violet fala atrás dela.
No caminho de volta para a árvore, falamos sobre que tipo de lições eu preciso ter para aprender toda a magia comum sobre a qual ainda não sei nada. Eu brinco que talvez eu não precise aprender nada, se eu puder usar minha Habilidade Griffin corretamente. E então eu me pergunto, enquanto Violet continua falando sobre um plano para minha educação mágica, se pode haver alguma verdade na minha piada. Se eu puder fazer as coisas acontecerem com um simples comando verbal, isso não seria o suficiente?
Quando voltamos para a base da árvore, Calla e Ryn já estão esperando por nós. — Pronta para a missão de resgate?
Capítulo 21
— TUDO BEM, ISSO É BASTANTE SIMPLES, — RYN DIZ PARA OS CINCO DE NÓS ESCONDIDOS entre as árvores a uma boa distância da entrada do Hospital Psiquiátrico Tranquil Hills. — Vamos esperar até que Perry e sua irmã cheguem aqui. Em, você vai ficar com eles. Calla e Dash vão para o hospital, e Vi e eu vamos esperar do lado de fora perto da entrada. Se algo der errado e vocês forem seguidos pelos guardiões, estaremos prontos para lutar. Isso não deve acontecer, já que vocês estarão invisíveis.
— Ela está no seu quarto agora? — Calla pergunta.
Ryn produz algo que parece um pequeno espelho redondo. — Sim. Ainda no quarto dela.
— O que é isso? — Eu pergunto, me inclinando para mais perto.
— Eu deixei uma aranha no quarto dela ontem, — diz Calla. — Não é uma aranha de verdade, — ela acrescenta rapidamente. — É um pequeno dispositivo encantado de vigilância. Não parecia que os guardiões fariam qualquer coisa com sua mãe quando eu parti ontem, mas achei que deveríamos ficar de olho nela de qualquer maneira.
— A Guilda provavelmente tem algumas deles lá, — diz Dash, — além do detector de Habilidade Griffin.
— De qualquer forma, a aranha está ligada ao espelho, — diz Calla, me entregando para que eu possa dar uma olhada mais de perto. — Então, quando o feitiço está ligado, podemos ver o quarto da sua mãe.
Um choque me percorre quando olho para mamãe sentada em sua cama, folheando uma revista. Ela parece tão normal. Tão completamente diferente de ontem. Sua cabeça vira de repente, seu olhar direcionado para o outro lado do quarto para a porta. Ela não abre, no entanto. Ela olha para ela por um tempo, abraçando a revista no peito. Então seus lábios se movem, dizendo algo que não podemos ouvir, antes dela voltar a ler a revista.
No silêncio constrangedor que se segue, entrego o espelho de volta a Ryn, depois me viro para Dash. — Por favor, não a assuste.
— Eu não vou, eu prometo. Ela não vai me ver.
— Como você vai sedá-la?
— Calla vai me fazer aparecer como uma das enfermeiras, e eu vou levar para ela uma bebida.
— E se isso não funcionar?
Ele coloca o capuz sobre a cabeça. — Então, vamos pensar em outra maneira. Não se preocupe, Em. Tudo vai ficar bem.
Ao som de um carro desacelerando na estrada, me viro e espio através das árvores. — São eles?
O carro para. Ryn levanta a mão para nós ficarmos quietos quando a porta do passageiro da frente se abre e um cara alto de cabelos verdes sai. — Sim, é o Perry. E deve ser a Hannah, — acrescenta ele quando uma mulher sai do outro lado do carro. Nós caminhamos em direção a eles, e Perry acena quando aparecemos. As apresentações são rápidas, então Calla diz, — Certo, vamos fazer isso.
— Tudo bem, Vi e eu estaremos esperando perto da entrada, — diz Ryn, levantando o âmbar e olhando para ele. Ele franze a testa.
— O que é? — Vi pergunta.
— Mensagem da Azzy. A garota que tentou ajudar Em, Aurora, desapareceu da Chevalier House está manhã. Azzy assumiu que ela fugiu.
— Não é nenhuma surpresa, — eu digo. — Aurora falou sobre fugir na noite em que ela chegou lá. Ela queria que eu fosse com ela.
— Interessante. — Ryn coloca o âmbar no bolso. — De qualquer forma, podemos nos perguntar sobre isso depois. Vamos agir.
Calla e Dash desaparecem por um portal, então Ryn e Vi atravessam outro para esperar perto da estrada do hospital. Perry lhes manda uma despedida alegre e depois se vira para mim com interesse. — Então. Você é a Em.
— Sim. Sou eu. Você pode ter me visto quando um monte de guardiões me perseguiu através do saguão da Guilda.
— Eu perdi isso, infelizmente, mas eu ouvi tudo sobre a sua magnífica Habilidade Griffin.
— Magnífica, hein? Bem, eu ofereceria fazer uma demonstração, mas eu não sei como. Essa coisa parece ligar e desligar sozinha.
— Provavelmente é melhor não tentar, — Hannah diz, colocando as mãos no teto do carro e descansando o queixo sobre elas. — As coisas podem ficar assustadoras.
Eu me inclino contra o carro e a encaro. — Então você cresceu sabendo sobre magia, mas você não tem magia?
— Sim. Meio o oposto da sua experiência.
— Eu costumava visitá-la e mostrar a ela todos os feitiços que aprendi, — diz Perry.
— E eu mostrava meu computador, a internet e os melhores programas da TV. Era divertido.
Conversamos um pouco sobre suas respectivas infâncias, mas nada pode me distrair do fato de que o tempo está passando e Calla e Dash ainda não retornaram. — Você acha que está tudo bem? — Eu deixo escapar, interrompendo Perry no meio de uma descrição de sua primeira vez usando um controle remoto de uma televisão. — Eles estão demorando um pouco. Eu pensei que eles já teriam saído agora.
— Tenho certeza de que tudo está bem, — diz ele. — E se não estivesse, Vi e Ryn teriam ido para ajudá-los.
Eu empurro meu cabelo para trás, então começo a enrolar um pouco ao redor do meu dedo. — Eu odeio isso. Apenas... esperar e sem saber.
— Você quer jogar um jogo? — Perry pergunta. — Eu tenho certeza que podemos chegar a —
— Espere. Eu ouço algo. — Algo como pés batendo no asfalto. Eu ando pela estrada e tento ver mais adiante a colina além da curva. Até agora, ninguém apareceu. Eu definitivamente posso ouvi-los, no entanto. Eu aperto minhas mãos e pressiono-as contra o meu queixo enquanto prendo a respiração, mal piscando.
Então eu os vejo. Todos os quatro correndo, Ryn e Dash facilmente carregando mamãe entre eles. Eu subo a colina para encontrá-los. — Sim, vidro, — Calla ofega quando eu chego a eles. — Ou cristal, eu não sei.
— Mas quem diabos era? — Pergunta Violet.
— Eu não sei!
— Mamãe está bem? — Eu pergunto, correndo mais rápido agora para acompanhá-los.
— Foi aquela pessoa encapuzada e disfarçada que apareceu com os Unseelies no penhasco, — diz Dash. — Estou certo disso.
— Ela está sangrando! — Eu suspiro, percebendo a trilha de sangue correndo pelo braço da mamãe. — Por que ela está sangrando?
— Ela está bem, — diz Dash.
— Ela se cortou!
— Ela está bem, Em. Por que você não está no carro? Perry, Hannah, — ele grita. — Entrem no carro.
— De quem vocês estão fugindo? — Perry grita de volta.
— Entrem no carro! — Quatro vozes gritam ao mesmo tempo.
Ele abre a porta do motorista, puxa Hannah para dentro e então corre para o outro lado.
— O que diabos aconteceu? — Eu pergunto quando chegamos ao carro.
— Alguém chegou lá antes de nós, — Calla ofega. Ela abre uma das portas da parte de trás. — Mas eu acho que nós —
— Todo mundo, pare.
Eu viro. Do outro lado da estrada, saindo das sombras, está uma figura com um manto com capuz prateado.
Capítulo 22
— VOCÊS TÊM ALGO QUE EU QUERO, — DIZ A FIGURA, E EMBORA SEU ROSTO ESTEJA OCULTO NA sombra, o tom de sua voz me diz que ela é uma mulher. Enquanto seu manto se espalha ao seu redor, uma lembrança retorna à minha mente: uma pessoa com um manto prateado exatamente igual a este, de pé em uma estrada em Stanmeade e transformando um homem em uma sólida estátua cristalina.
— Escudo, — sussurra Violet, e juntas, ela e Calla levantam as mãos. Algo quase invisível brilha no ar à nossa frente. No mesmo instante, a mulher levanta sua mão. Pedaços de vidro, irregulares e mortais, voam direto em nossa direção. Instintivamente, meu braço voa para proteger meu rosto. Mas o vidro para, preso na camada invisível que paira no ar à nossa frente.
Eu olho para trás, esperando que o pessoal tenha colocado mamãe no carro agora, mas suas mãos estão no ar também, e mamãe está sobre o ombro de Ryn. Perry corre em volta do carro para se juntar a eles, enquanto Ryn xinga sob sua respiração. — Por que não está funcionando?
Eu viro minha cabeça para ver que a mulher aumentou seu ataque sobre nós — e alguns dos fragmentos de vidro estão girando através do escudo. O primeiro pedaço desliza livremente para este lado e voa direto em direção ao rosto.
Perry estende a mão, desviando o vidro para o lado antes que ele nos alcance. No carro, Hannah está gritando.
— Esteja pronto quando o escudo desmoronar, — grita Violet. — Você sabe o que fazer.
O vidro passa por mim e afunda na parte de metal da porta do carro. Os gritos de Hannah se intensificam. Então o ar é preenchido com o guincho dos pneus quando o carro inverte rapidamente. A mulher encapuzada estende a mão em direção a ele, e uma nevasca de vidro quebrado voa de seus dedos.
— Não! — Perry grita, estendendo a mão. Não para a mulher, mas para o carro. Ele sai do caminho e o vidro se encaixa em várias árvores. Pneus acelerando freneticamente enchem o ar, e então o carro está acelerando para longe.
— Ataquem! — Violet grita.
A mulher, caminhando confiantemente em nossa direção com a mão erguida, é lançada no ar. Ela gira, voa para o lado e cai no chão do outro lado da estrada. Doente de horror, dou alguns passos apressados para trás, para onde mamãe está deitada no chão. Ryn deve tê-la abaixado para que ele pudesse lutar. Eu olho para cima e o vejo cruzando a estrada com Violet. Calla os segue.
A mulher rola para o lado e estende a mão. Pedaços de vidro deslizam pelo asfalto em nossa direção. Ryn os joga para o lado com um aceno de sua mão, mas eu caio de joelhos na frente de mamãe, protegendo-a apenas no caso. Dash paira hesitante ao meu lado, e Perry corre pela estrada para se juntar aos outros.
A mulher se levanta.
— Não deixe que ela toque em você, — diz Calla. — Não deixe que ela toque em você. — Um escudo cintilante aparece. Do outro lado, a mulher levanta as duas mãos acima da cabeça e, com um grito sobrenatural, lança um jato de vidro brilhante no ar que rasga através das copas das árvores e chove ao redor dela.
— Magia...
Meu coração quase pára ao som daquela palavra silenciosa. Eu olho para baixo. Os olhos da mamãe estão meio abertos. Ela está olhando para o outro lado da estrada, mas não para a mulher ou o vidro caindo ou as brilhantes armas dos guardiões agora visíveis. Ela está olhando para a própria mão estendida, onde faíscas brilhantes estão à deriva ao redor de seus dedos.
Eu recuo para trás, assustada. — O que diabos é isso? — Eu sussurro. Eu pisco várias vezes, mas a magia ainda está lá. Meu coração troveja e minha mente corre. — Você tem magia. Podemos usar os caminhos. — Pigarreio e grito, — Podemos usar os caminhos!
Dash olha para baixo. — Não, sua mãe não pode —
— Podemos. Ela pode. — Eu levanto, pegando o braço da mamãe e tentando levantá-la. — Abra um portal rapidamente.
— Mas ela —
— Abra! — Eu me esforço para colocar a mamãe em uma posição sentada, mas assim que eu a solto, ela cai de novo. Ela ainda deve estar parcialmente sedada. — Me ajude. — Eu chamo Dash enquanto ele escreve um feitiço de um portal na estrada. Um buraco escuro cresce ao lado dele quando ele alcança o outro braço da mamãe.
— Você tem certeza disso?
— Sim, eu a vi — eu grito quando uma dor aguda corta o lado do meu pescoço.
— Merda. — Dash lança um olhar por cima do ombro. — O vidro está passando novamente. Você está —
— Estou bem, — eu digo com uma mão pressionada contra o meu pescoço. — Coloque a mamãe nos caminhos.
Juntos a puxamos para a beira da abertura e, pouco antes de cairmos dentro, vejo Dash olhar para o outro lado da estrada uma última vez. Eu sei que ele está preocupado com os outros, mas por mais egoísta que seja, eu me importo apenas com a minha mãe agora. Eu me inclino na escuridão, puxando mamãe e Dash comigo.
— Eu não sei para onde estamos indo, — eu digo quando o silêncio pressiona meus ouvidos e minha mãe fica leve ao meu lado.
— Eu sei, — diz Dash, e segundos depois nós caímos na grama. Eu tropeço quando o peso repentino da mamãe me arrasta para baixo, e todos nós três acabamos no chão. Uma rápida olhada para o céu noturno acima de nós e o prédio desconhecido nas proximidades me diz que estou em um lugar novo. — Este é o instituto de cura, — diz Dash. — White Cedars. Você estará segura aqui. Eu preciso voltar. — Ele se levanta rapidamente. — Eles podem precisar de ajuda.
Eu aceno com a cabeça, apoiando mamãe contra o meu lado. — Sim. Seja cuidadoso.
Ele levanta sua stylus, mas o ar se agita por perto, e Violet, Ryn, Calla e Perry correm para a grama um momento depois. — Oh, vocês estão bem, — diz Dash, sua expressão se iluminando. — Ainda bem.
E então, de repente, estamos todos falando uns sobre os outros:
— Sua mãe está bem?
— Sim, ela —
— O que aconteceu com aquela mulher?
— Ela fugiu. Fugiu no momento em que ela viu que você tinha ido embora.
— Por que os caminhos das fadas? — Pergunta Violet, com os olhos arregalados de preocupação. — Como você sabia que ela sobreviveria?
— Ela tem magia, — eu digo, e finalmente todos param de falar. — Ela acordou e eu vi em sua mão, brilhando ao redor de seus dedos. — Meus lábios se esticam em um largo sorriso. — Ela é minha mãe afinal.
PARTE 3
Capítulo 23
TODA REVELAÇÃO SURPREENDENTE NOS ÚLTIMOS DIAS ME DEU UMA SOBRECARGA EMOCIONAL — e essa é a pior e a melhor. Eu tinha acabado de começar a aceitar o fato de que minha mãe não era minha mãe verdadeira, e de repente essa verdade foi invertida completamente. Isso fez meu cérebro girar mais uma vez. Isso me deixa querendo soluçar de alívio.
Mas eu não tenho nem um segundo para isso, porque logo depois que chegamos na grama do lado de fora do Instituto de Cura White Cedars, várias faeries vêm correndo para nos ajudar. Mamãe mal está consciente, então eles a carregam rapidamente para dentro. Alguém limpa o sangue no meu pescoço e diz que o corte ficará totalmente curado dentro de uma hora, e então eles desaparecem, junto com a mamãe, em um quarto no qual eu não posso entrar.
O resto de nós acaba em uma sala de espera que me lembra mais um spa do que um hospital, com sua iluminação suave, aromas de ervas e plantas que parecem fazer parte do próprio edifício. Não que eu já tenha ido a um spa, mas já vi filmes.
— Era a mesma mulher que apareceu pouco antes de vocês salvaram Em, — Dash diz, andando pelo chão de madeira. — No penhasco, quando os guardiões e os Unseelies estavam lutando. Quer dizer, eu não vi o rosto dela, mas aquele manto prateado parecia o mesmo, e havia cacos de vidro voando naquele dia. Eu assumi que eles fazem parte da magia ofensiva de alguém, mas deve ter sido dessa mulher.
— Você viu o que ela fez no hospital? — Diz Calla. — Antes de sairmos com a mãe da Em?
— Sim.
— Ela tocou em um dos enfermeiros e ele se transformou instantaneamente em uma escultura de vidro congelado. Um toque, e foi isso. Então ela o empurrou e ele se despedaçou em um milhão de pedaços.
Violet arqueja silenciosamente e cobre a boca com a mão.
Perry olha para cima. — Foi o que aconteceu naquele colégio interno e na aldeia de Twiggled Horn. Aqueles ataques que eu te falei.
— Eu sei, — diz Calla. — Foi isso que pensei no momento em que a vi.
— Mais vários incidentes dos últimos meses, — acrescenta Perry. — Casos de desaparecimentos fae onde a única coisa que sobrou foi vidro quebrado. Nós não conseguimos entender o que era tudo isso até que a testemunha ocular explicou o que aconteceu naquela aldeia há alguns dias.
— E então você percebeu que aquelas pessoas não estavam desaparecidas, afinal de contas, — diz Ryn, sua voz sombria. — Elas eram o vidro quebrado.
— Sim.
— Qual é a conexão entre todos os ataques? — Pergunta Violet.
— Pode ser uma coincidência, — diz Perry, — mas a única conexão até agora é que a maioria dos que foram mortos trabalhavam na Guilda no passado, ou estavam relacionados de alguma forma a funcionários da Guilda, seja no passado ou no presente. Mas, novamente, pode ser uma coincidência, já que algumas das mortes de alguma forma não estavam relacionadas à Guilda.
— Podem ter sido danos colaterais, — diz Violet.
Perry inclina a cabeça. — Possivelmente.
— Então, ou esta mulher com o manto prateado é a que realiza esses ataques, — diz Calla, — ou há um grupo de faeries que se veste da mesma maneira e ataca com a mesma magia.
— Não pode ser possível, — diz Violet com uma carranca. — Deve ser uma Habilidade Griffin, certo?
— Deve ser, — diz Ryn. — Qualquer faerie pode transformar coisas em vidro, e nossa própria magia pode ser moldada em vidro se quisermos, mas transformar seres vivos? Isso não deveria ser possível. Pelo menos não por nenhum feitiço que eu tenha ouvido falar. Deve ser uma Habilidade Griffin.
— Eu acho que já a vi antes, — eu digo, finalmente falando. — No mesmo dia que minha magia se revelou. O dia da festa, quando acidentalmente usei minha Habilidade Griffin. Eu estava indo para casa e vi uma pessoa encapuzada tocar um homem e ele se transformou em cristal ou vidro ou algo assim.
Dash faz com que sua caminhada interminável pare. — Você não mencionou isso antes.
— Bem, para ser sincera, não acreditei nos meus olhos. Eu não tinha ideia de que a magia existia ainda. Eu pensei que estava começando a ficar louca como a mamãe. Então eu simplesmente ignorei. Eu me abaixei atrás de um prédio e, quando olhei de novo, tudo desapareceu. E tanta coisa aconteceu desde então que eu não me lembrei até agora, quando ela apareceu do outro lado da estrada. Eu não a notei no dia em que a Guilda e os Unseelies estavam brigando por mim. — Eu dou a Dash um olhar aguçado. — Acho que eu estava preocupada com o medo de que eu estava prestes a ser morta.
Ele revira os olhos e desvia o olhar. Perry fica de pé. — Bem, hum, vou checar a Hannah.
— Ela fugiu em segurança? — Pergunto.
— Ela fugiu, — diz Perry, não encontrando meus olhos. — Eu fui encontrá-la enquanto os curandeiros estavam colocando sua mãe em um quarto. Eu sinto muito que ela tenha entrado em pânico e fugido. Ela nunca esteve em uma situação como essa antes.
— Tudo bem, — diz Ryn calmamente. — Nós não a culpamos.
Eu mordo meu lábio inferior, decidindo não comentar. Fiquei horrorizada quando vi o que eu achava ser a única rota de fuga segura da mamãe fugir. Mas entendo porque Hannah fez isso. Ela estava cuidando de si mesma — uma habilidade que venho aperfeiçoando há anos.
Depois que Perry sai, Violet se vira para Ryn. — Acho que precisamos ir para casa também. Verificar o Jack, se certificar de que as outras visões do Vidente foram resolvidas. — Ela olha para mim. — Nós voltaremos um pouco mais tarde e faremos companhia a você.
— Eu vou ficar aqui com a Em agora, — diz Calla.
— Oh, eu não me importo de esperar sozinha, — eu digo a eles. — Sério. Calla, seu marido acabou de voltar de... algum lugar. Você não preferiria estar com ele?
— Claro, mas eu posso vê-lo mais tarde.
— Não, tudo bem, realmente. Estou feliz sozinha e sei que vocês têm um monte de coisa para fazer. — Violet e Ryn trocam olhares. — Sério, — eu repito.
— Tudo bem, — diz Violet, — mas voltaremos um pouco mais tarde. — Ela vai embora pelos caminhos das fadas com Ryn e Calla. Eu olho para Dash, esperando que ele saia através de outro portal dos caminhos das fadas, mas ele caminha até uma cadeira a alguns lugares de distância de mim e senta. Ele move o corpo para me encarar.
— Sério, Dash. Eu não me importo de esperar sozinha.
— Como está o seu pescoço? — Ele pergunta. — Parece quase melhor daqui.
Eu esqueci o corte, na verdade. Eu pressiono meus dedos cautelosamente contra a área. Sem dor, e uma linha acentuada de pele me diz que uma cicatriz já se formou. — Puta merda. Curou tão rápido. Eu pensei que eles estavam exagerando quando disseram que estaria melhor dentro de uma hora.
Dash sorri. — E você sabe que a cicatriz vai curar também, certo? Isso também desaparecerá dentro de uma hora.
— Isso é incrível.
— Também... — Ele se inclina sobre os joelhos. — Sinto muito que o plano de resgate para sua mãe tenha se tornado uma bagunça. O resto de nós lida com esse tipo de confronto mágico o tempo todo, mas para você e Hannah, deve ter sido assustador. As coisas poderiam ter ido muito mal.
— Mas elas não deram. Tudo deu certo no final. — Eu sorrio, o que parece mais fácil agora do que há muito tempo. — Estou tão feliz que mamãe saiu daquele hospital. Eu estou feliz que estamos no mesmo mundo novamente, e que todas essas coisas sobre ela não ser minha mãe foi apenas um pesadelo.
Ele concorda. — Sim. Esperançosamente.
Meu sorriso escorrega um pouco. — O que você quer dizer com esperançosamente? Ela é minha mãe. Como ela poderia não ser?
— Bem, eu só quero dizer... você parece uma faerie e ela não, então como isso funciona?
— Mas eu não parecia uma faerie antes da minha magia aparecer, certo? Você disse que nem sempre podia ver meu cabelo azul. Então, obviamente, mamãe é a mesma coisa.
— Sim... — Ele sacode a cabeça. — Eu ainda não entendi porque aconteceu desse jeito para você. Faeries não crescem com a magia bloqueada ou inacessível. Halflings, às vezes, mas você não é halfling.
— Tudo bem, então talvez mamãe e eu somos um tipo estranho de faeries que você nunca encontrou antes. Isso pode ser possível, certo?
Ele levanta um ombro em um encolher de ombro lento e incerto. — Eu acho que sim.
— Que outra explicação existe? Na verdade, não importa. Neste mundo, há provavelmente toda uma série de explicações estranhas e complicadas envolvendo diferentes tipos de magia. E eu não me importo em conhecer nenhuma delas.
Dash olha para as mãos e diz baixinho, — Eu não estou tentando deixar você chateada de novo. E se ela está biologicamente relacionada a você ou não, não muda quem ela é para você. Eu só pensei que você gostaria de saber a verdade sobre a situação, seja lá qual for.
Eu me inclino para trás, puxo minhas pernas para cima e envolvo meus braços ao redor delas. — Você acha que eu poderia querer saber a verdade? Isso é interessante, considerando que você nunca me contou o que realmente aconteceu no parque naquele dia.
Uma carranca enruga seu rosto, mas ele não olha para mim. — O que você quer dizer?
— Você sabe do que estou falando. — Meus braços se apertam em volta das minhas pernas. — Você salvou a vida da minha mãe. Havia algo mais lá naquele dia. Algo que eu não vi porque você nos derrubou para fora do caminho. Algo que poderia tê-la... matado.
Dash lentamente se inclina para trás, esfregando uma das mãos ao longo do lado de seu pescoço. — Quem te contou?
— Violet.
Ele sacode a cabeça, mas não diz nada.
— Então? Por que você não me contou? Eu sei que você não conseguiu explicar antes, mas desde tudo o que aconteceu nos últimos dias, você ainda não me contou.
— Porque... quero dizer... como essa conversa teria acabado? Você teria dito: ‘Você arruinou a vida da minha mãe.’ Então eu teria dito: ‘Na verdade, eu salvei.’ E então você teria me dito: ‘Passar o resto de seus dias em um hospital psiquiátrico não é o mesmo que salvar a vida dela.’ Então nós provavelmente discutiríamos um pouco mais, e você ainda me odiaria.
Eu fico quieta por um momento, porque tenho que admitir que há uma grande probabilidade de que as coisas teriam corrido assim. — Talvez. Ou talvez eu te odiasse menos. Ou... eu não sei. Talvez eu ficasse grata por ela ainda estar viva. Eu estou grata que ela ainda esteja viva. Há uma chance, pelo menos, para ela melhorar. Mas você sabia o tempo todo que você realmente a ajudou naquele dia e, em vez de me deixar saber desse pequeno segredo, você me permitiu culpá-lo por levá-la ao hospital.
— Espere. — Ele se endireita um pouco. — Você está brava comigo?
— Sim!
— Mas eu pensei que acabamos de estabelecer que eu realmente salvei a vida da sua mãe.
— Sim, então agora eu tenho que ser grata a você. O que é uma droga porque eu não gosto de você. Então a coisa toda só... me irrita!
Ele me encara mais um momento e depois se dobra de rir.
— Oh, fantástico. Isso tudo é hilário, não é?
— Você tem que admitir, — diz ele entre respirações, — que é.
— Eu não tenho que admitir nada. — Eu cruzo meus braços, mas há um sorriso puxando meus lábios, e eu estou achando impossivelmente difícil lutar contra isso. Então eu desisto e deixo se esticar no meu rosto. Eu acho que uma pequena risada pode até mesmo me escapar.
Eventualmente, quando ficamos quietos novamente e eu estou olhando para as minhas mãos, eu enlaço meus dedos e lentamente deixo escapar um longo suspiro. É frustrante que eu tenha que ser grata a ele, mas isso não muda o fato de que sou grata a ele. — Obrigada por salvá-la, — eu digo, e embora minha voz seja baixa, eu sei que ele ouve.
— De nada, Em. — Ele olha para mim e sorri. — Viu? Nós podemos ser maduros. Não é legal?
Meu sorriso está de volta. — Eu acho que não é completamente superestimado.
Ele fica de pé e coloca as mãos nos bolsos. — Você quer encontrar algo para beber? Ou comer?
— Comida da cafeteria do hospital? Não, obrigada.
— Este não é o seu mundo, lembra? A vasta seleção de bebidas quentes disponíveis neste mundo é alucinante.
— Alucinante? Mesmo? — Eu coloco minhas mãos nos braços da cadeira e levanto. — Alguém poderia pensar que eu tive experiências alucinantes suficientes nos últimos dias, mas acho que não. Vamos encontrar uma bebida quente.
— Ótimo. É um encontro.
— Definitivamente não é um encontro.
— Você sabe o que quero dizer, — diz ele enquanto saímos da área de espera.
— Não, eu sei o que quero dizer, e estou me certificando de que você também saiba o que quero dizer.
— Senhorita Clarke? — Do lado de fora da sala de espera, uma curandeira para na frente de nós. — Posso falar com você?
Eu não posso evitar o medo que começa a se formar na boca do meu estômago. — Sim. Definitivamente. Minha mãe está bem?
— Vamos nos sentar? — Ela aponta para as cadeiras atrás de nós.
— Por quê? — O pânico sobe rapidamente para minha garganta. — Você tem algo ruim para me dizer?
Ela sorri. — De modo nenhum. É apenas mais confortável.
— Oh. Certo. Claro.
Voltamos para a sala de espera e, enquanto nós três nos sentamos, ela pergunta, — Você está feliz por conversarmos na frente do cavalheiro, ou prefere falar sozinha comigo?
Meu cérebro tropeça na palavra ‘cavalheiro’ — Dash? Um cavalheiro? Ha! — antes de chegar à questão verdadeira. — Hum...
— Tudo bem. Eu vou esperar do lado de fora enquanto vocês conversam, — diz Dash, me salvando de ter que responder.
— Ela está acordada? — Eu pergunto a curandeira quando Dash desaparece. — Posso falar com ela?
— Ela não está acordada, infelizmente. Ela ficou muito chateada e confusa depois que a trouxemos, e acabamos tendo que sedá-la novamente. Fizemos alguns testes, o que revelou que mesmo que não possamos sentir qualquer magia nela, ela é na verdade uma faerie. Ela também deu positivo para uma Habilidade Griffin.
Eu viro minha cabeça para trás em surpresa. Mas então digo a mim mesma que isso faz todo sentido. Se ela é realmente minha mãe, então obviamente ela tem uma Habilidade Griffin.
— Este é um caso um pouco desconcertante, — continua a curandeira. — Nós não encontramos nada parecido antes, então se você nos contar tudo o que sabe sobre ela, incluindo a doença mental que você mencionou quando a trouxemos mais cedo, faremos tudo o que pudermos para descobrir o que está acontecendo.
Capítulo 24
AS MUDANÇAS NAS ZONAS DO TEMPO TANTAS VEZES ESTÃO MEXENDO COM A MINHA MENTE. EU SINTO QUE DEVERIA ESTAR no meio da noite no momento em que deixo o instituto de cura com Dash — porque estava no meio da noite lá — mas está no início da noite quando chegamos ao oásis. Violet e Ryn estão preparando o jantar enquanto Jack se senta a mesa da cozinha fazendo lição de casa.
— Ela é uma faerie, — eu anuncio para eles enquanto eu entro. — Ela é uma faerie com uma Habilidade Griffin, mas eles não podem sentir sua magia, e ela não parece uma faerie, e ela está atualmente muito confusa e chateada para explicar qualquer coisa para alguém, então... sim. Essa é a situação.
— E a trama se complica, — diz Dash, esfregando as mãos.
— Dash! — Eu soco o braço dele. — Esta é a minha vida, não algum mistério.
— Eita, desculpe, eu sei. — Ele entra na cozinha e olha por cima do ombro de Jack para o que quer que ele esteja trabalhando. — É um mistério, no entanto. Você e sua mãe são.
— Eu definitivamente gostaria de resolver isso. Onde devemos começar?
— Com o que você pode lembrar antes dela acabar em Tranquil Hills, — diz Ryn.
Violet deixa uma colher de pau mexendo uma panela e se afasta do fogão. — O jantar ainda vai demorar um pouco, então por que não nos sentamos na sala de estar e começamos a resolver esse quebra-cabeça?
— Maravilha, — diz Dash. — Vocês se sentam. Eu vou pegar bebidas. Eu sei o meu caminho nessa cozinha.
Jack pega seus livros e segue Ryn, Vi e eu para a sala ao lado. Ele espalha seu trabalho no chão e continua. — Você percebeu que Dash está aqui mais do que o habitual? — Ryn diz para Violet.
— Eu percebi. — Ela olha para mim. — Eu posso pensar em apenas uma razão para isso.
Eu levanto uma sobrancelha. — Espero que você não esteja sugerindo que é por minha causa. Porque essa é a resposta mais absurda que você poderia ter inventado.
— De meu ponto de vista, parece a única resposta.
Eu puxo minhas pernas para cima e as cruzo abaixo de mim. — No caso improvável de você estar certa, eu tenho certeza que é só porque é um novo desafio para ele estar com uma garota que não tem nenhum interesse romântico nele.
Violet ri. — Você pode estar certa. Isso definitivamente seria uma nova experiência para ele.
— Na verdade, — Dash diz da porta, — eu estou ficando aqui mais do que o habitual porque eu tenho acompanhado o caso de Em por mais tempo do que qualquer outra pessoa, e estou extremamente curioso para chegar ao fundo de todo esse mistério.
— Ei! — Violet balança a mão. Uma almofada voa pela sala e bate em Dash contra o lado de sua cabeça. — Ouvir atrás da porta é rude. Eu sei que seus pais te ensinaram isso. — Com uma risada, ele desaparece de volta para a cozinha.
— Ei, olhem, — diz Jack. — Filigree e Bandit estão brincando. — Eu sigo a direção de sua stylus e vejo dois animais: um esquilo sentado debaixo de uma das mesas laterais, e um gatinho saltando para frente e para trás na frente dele, deslizando o ar com suas patas, então pulando para longe. O esquilo pisca e permanece imóvel. — Bem, Bandit está brincando, — Jack corrige. — Filigree é um esquilo rabugento.
— Fofo, — eu digo. — Embora eu espere que Bandit não irrite muito o Filigree.
— Não se preocupe com isso, — diz Violet. — Filigree precisa aprender a relaxar um pouco. Ele está ficando tenso com sua velhice.
— Tudo bem, vamos começar a resolver o mistério? — Dash pergunta, entrando na sala de estar com uma bebida em cada mão e outras duas flutuando ao lado dele. Elas são todas azuis, e tenho certeza de que nunca provei o que está dentro delas.
— Eu não sei como devemos resolver qualquer coisa, — digo a eles. — Acabei de ter uma conversa com a curandeira e nada de útil surgiu. Ela me perguntou sobre minha infância e meu pai, mas eu não sei nada sobre ele, exceto que ele supostamente está pagando pelas contas do hospital da mamãe. E eu não consigo lembrar de nada estranho na minha infância. A menos que você conte as alucinações da mamãe, mas elas não têm nada a ver — bem, agora que eu me pergunto. — Eu me inclino para trás e olho para a parede oposta com uma carranca. — Talvez elas não fossem alucinações afinal de contas. Talvez ela pudesse ver coisas que eu não pude ver porque minha magia estava bloqueada. Mas ela nunca pareceu diferente — o cabelo dela, quero dizer, então isso não significa que a magia dela sempre foi bloqueada também?
— Eu acho que sim, — diz Violet, distraidamente brincando com uma mecha do cabelo roxo.
— Quando ela teve essas alucinações, — pergunta Ryn, — ela parecia racional? Como se ela estivesse falando normalmente com alguém que por acaso era invisível?
Eu lentamente sacudo minha cabeça. — Não. Ela não parecia racional para mim. Ela geralmente acabava em um estado de grande pânico.
— Humm, tudo bem.
— Você se lembra de algum amigo dela que poderíamos tentar rastrear? — Dash pergunta. — Se algum deles se mostrarem mágicos, podemos interrogá-los. Quero dizer, caso sua mãe ainda esteja confusa por um tempo e não possa explicar as coisas sozinha.
Eu sacudo minha cabeça. — Na verdade não. Havia apenas... bem, eu não a classificaria como uma amiga porque ela e mamãe sempre brigavam quando ela aparecia, mas acho que elas devem ter sido amigas em algum momento.
— Qual era o nome dela?
— Hum... — eu só lembro... — Eu empurro minha mão pelo meu cabelo. — Linha.
— Linha? Isso não é um nome.
— Eu sei, mas é tudo que lembro. Foi há muito tempo atrás. Eu as ouvia gritando uma com a outra através da parede, e me lembro de mamãe dizendo ‘linha’ muitas vezes.
— Isso é estranho, — diz Dash.
— Como é essa amiga? — Pergunta Violet.
— Eu não sei. Eu nunca a vi. Mamãe sempre dizia: ‘Minha amiga está vindo agora. Você precisa ir para o seu quarto.’ E então ela me trancava no meu quarto, e logo depois eu as ouvia discutindo.
— Não parece muito uma amiga, — diz Dash.
— Sobre o que elas discutiam? —Pergunta Ryn.
Eu suspiro. — Eu não sei. Eu não consegui ouvir muito. Eu tentava apenas ignorá-las e brincar com minhas bonecas. — Eu giro meu cabelo em volta do meu dedo, me sentindo estranha com todas essas perguntas. — Viu? Eu lhes disse que não me lembro de nada útil.
— Quando sua mãe foi levada para o hospital e você foi enviada para morar com sua tia, — diz Ryn, — o que aconteceu com todas as coisas em sua casa?
— Hum... eu não sei, na verdade. Acho que meu pai deve ter limpado as coisas e, algumas semanas depois que cheguei na Chelsea, algumas caixas chegaram. Chelsea abriu uma ou duas, depois as fechou de volta e as colocou em algum lugar. Provavelmente no meu quarto, já que é onde ela gosta de guardar coisas.
— Então é aí que vamos começar a procurar, — diz Ryn. — Você quer dar uma olhada amanhã de manhã antes de voltar para White Cedars?
— Eu posso ir com você, — Dash se voluntaria imediatamente.
— É claro que você pode, — eu digo, — porque aparentemente você não precisa mais trabalhar para a Guilda.
Ele encolhe os ombros. — O trabalho é flexível. Muito tempo no campo. Eles vão pensar que estou trabalhando em um dos muitos outros casos em andamento que temos.
— Só não me culpe quando você for despedido, ok?
Ele coloca a mão sobre o coração. — Sua preocupação é tão tocante, Em.
Eu viro para Violet. — Você pode me ensinar aquela coisa de jogar a almofada?
— Ooh, eu faço! — Jack balança a mão descontroladamente pelo ar, e quatro almofadas diferentes saem de seus assentos e batem na cabeça de Dash.
— Ei, pare, eu me rendo!
— Mais almofadas! — Eu grito, pedindo a Jack. E logo Dash está enterrado sob quase todas as almofadas da sala de estar. Bandit pula no topo da pilha, e até Filigree vem para checar as coisas. No momento em que vamos para a cozinha para o jantar, meu estômago e minhas bochechas estão doendo, e eu percebo que eu ri mais nas últimas horas do que em anos.
Capítulo 25
— PARECE MAIS DO QUE CINCO OU SEIS DIAS DESDE QUE EU ESTIVE AQUI, — EU DIGO A DASH ENQUANTO ando pelo estacionamento da Escola Primária Stanmeade. — E eu não sei se estou fazendo essa coisa de disfarce corretamente. — Violet me deu uma lição ontem à noite, e outra esta manhã, mas eu ainda não tenho certeza do que estou fazendo.
— Infelizmente, só saberemos se não está funcionando se um ser humano olhar e ver você, — diz Dash, — e aí já será tarde demais.
— Teria ajudado se você nos trouxesse para fora dos caminhos das fadas um pouco mais perto da casa da Chelsea. Como em seu quintal, talvez.
— Tudo bem, então aqui está algo que você pode não saber ainda, Em, — diz ele, encostado em um carro e de frente para mim. — É preciso muito foco para pousar exatamente no ponto certo ao usar os caminhos das fadas, e quanto mais longe estiver do destino, mais foco será necessário, então —
— Então, faremos isso passo a passo. Entendi. Primeiro chegamos ao limite de Stanmeade, depois vamos para a casa da Chelsea.
— Certo.
— Oh, cuidado. Não deixe a Sra. Pringleton vê-lo. — Eu o puxo para baixo entre dois carros quando a Sra. Pringleton sai pela porta dos fundos. Ela leva um cigarro aos lábios e acende.
— Eu estou com um encanto que funciona, lembre-se, — diz Dash. — Você não precisa se preocupar com alguém me ver. — Ele olha ao redor da borda do carro. — Ah, a professora de rosto manchado. Eu sempre tive medo dela e nunca fui à escola aqui.
— Não seja rude. É uma marca de nascença ou algo assim.
— Certo, desculpe. Não posso ser rude com coisas assim.
— Exatamente. — Eu esfrego meu ombro esquerdo através da minha camiseta. Ao som de um leve chiado, Dash pega seu âmbar. — O que está acontecendo? — Eu pergunto enquanto seus olhos examinam a superfície.
— Apenas outro memorando de toda a Guilda nos atualizando sobre o feitiço que deve consertar o véu. Testes terminados... tudo parece bom... ainda marcando uma data e organizando uma cerimônia para o fechamento verdadeiro do buraco. — Ele suspira. — Eu não sei por que eles querem perder tempo com uma cerimônia. Eles devem apenas enviar algumas pessoas para lá e consertar a maldita coisa. Aquele buraco está no céu quase desde que eu estou vivo.
— Então suponho que outros dias ou semanas não farão muita diferença.
— Sim, mas é um desperdício de recursos. — Dash guarda seu âmbar. — Os guardiões precisam estar sempre presentes, garantindo que as pessoas do nosso lado não interfiram no monumento que impede que o buraco fique maior. E do outro lado, eles têm que garantir que esteja disfarçado e os humanos não entrem nele acidentalmente. Enfim, a professora assustadora já terminou seu cigarro?
Eu espio ao redor do carro. — Não. Eu não sei quantos cigarros ela está planejando fumar, e eu não confio no meu feitiço de disfarce, então podemos abrir um portal aqui no chão? — Eu aponto para o espaço entre os dois carros.
— Sim, tudo bem. — Dash pressiona sua stylus no chão.
— Espere, posso tentar de novo? — Eu pergunto antes que ele escreva alguma coisa.
— Oh. Sim claro. Só não fique frustrada se ainda não funcionar. — Ele me entrega sua stylus enquanto eu removo um papel dobrado do meu bolso de trás. — Essa coisa leva tempo para acertar.
— Sim, Sim. Todo mundo continua dizendo isso. — Eu seguro o papel em uma mão e copio as letras no chão, falando as outras poucas palavras que eu memorizei, e tentando imaginar magia saindo do meu núcleo, descendo pelo meu braço, e entrando na stylus. Um arrepio corre através de mim enquanto as palavras que eu escrevo começam a brilhar, mas quando elas desaparecem nada acontece. — Bem. Você faz. — Entrego a stylus de volta para Dash.
— Você quase conseguiu, — diz ele. — Talvez você não tenha liberado magia suficiente através da stylus. Essa parte se tornará automática em breve, e então esse feitiço será fácil.
— Sim, tanto faz. Apenas abra o portal.
Dash escreve as palavras e, desta vez, um buraco escuro abre nos caminhos das fadas e se espalha pelo chão. — Você vai nos levar para dentro da casa agora? — Dash pergunta antes de subir nos caminhos. — Lembre-se de focar exatamente na sala certa se você não quiser aparecer na frente da Chelsea.
— Quarto. Certo. Chelsea estará em seu salão durante todo o dia, então se ficarmos no meu quarto com a porta trancada, ficaremos bem. Ela sempre coloca música para tocar, então duvido que ela ouça qualquer coisa.
— Com a porta trancada, hein? — Ele abaixa as sobrancelhas. — Isso deve ser contra as regras.
— Idiota, — murmuro com um aceno de cabeça. — Chelsea nunca se incomodou com regras assim. Duvido que ela se importaria se eu estivesse com um cara no meu quarto.
— Oh, então você nunca —
— Apenas entre nos caminhos das fadas.
Com uma risadinha, ele desliza na escuridão, me puxando atrás dele. Eu dirijo todo o meu foco em imaginar o interior do meu quarto. A cama de solteiro, a mesa que costumava fazer parte do salão de Chelsea, as caixas empilhadas contra a parede. Quando a luz toca minhas pálpebras, eu as abro e vejo a cena que imaginei. A escuridão some enquanto eu dou um passo para frente no quarto. — Hmm, — diz Dash, olhando em volta. — É —
— Não.
— Eu ia dizer acolhedor.
— Não, você não ia. Tudo bem, estas são todas as caixas. — Gesticulo para o lado esquerdo do quarto. — São principalmente coisas da Chelsea, mas as caixas da mamãe devem estar aí embaixo em algum lugar. Eu não me lembro de Chelsea se livrar delas.
Dash caminha até a mesa e pega uma moldura com uma foto de Val e eu mostrando a língua para a câmera. A argola de metal de Val é visível, e eu tenho um doce em forma de coração na minha língua — porque o meu medo de agulhas significava que piercings eram uma coisa que nunca faríamos juntas.
— Eu realmente sinto falta dela, — eu digo baixinho. — E acho que ela está seriamente brava comigo por ter ido embora. Espero poder voltar em breve e explicar as coisas para ela. Não as coisas mágicas, obviamente, mas outra coisa. Algo que ainda preciso pensar.
— O que quer que você diga a ela, — Dash diz, retornando o quadro para a mesa, — eu tenho certeza que ela vai te perdoar. Ela é sua melhor amiga.
— Sim. Ela é muito legal. — Eu começo a levantar as caixas de Chelsea de cima das outras caixas. — Embora ela tenha me dito que acha você atraente, seu julgamento é questionável.
— Interessante. — Os lábios de Dash se espalham em um sorriso torto. — Sabe, ela é muito linda também.
Eu reviro meus olhos. — E a Jewel?
Ele está ao meu lado e começa a mover as caixas com magia de um lado do quarto para a minha cama. — O que tem ela?
— Vocês não têm... você sabe, uma coisa?
Uma caixa para no ar. — Que coisa?
— Tipo, vocês estão juntos ou algo assim. Ou vocês estarão em breve.
— O quê? Não, eu te disse antes. Somos apenas amigos. — As caixas continuam sua jornada pelo quarto. Olho para cada uma que passa, certificando-me de que ainda estamos movendo as coisas de Chelsea. — Ela gosta desse outro cara, — acrescenta Dash. — Hum, Sean algo assim. Ele se formou um ano à nossa frente. Tenho certeza de que ela costumava gostar dele.
— Ela provavelmente estava fazendo aquela coisa que as garotas fazem onde fingem gostar de outra pessoa para tentar fazer com que o cara que elas realmente estão interessadas fique com ciúme.
— Oh. Você tem certeza? Porque normalmente as garotas aparecem e dizem que gostam de mim.
— Claro. — Eu suspiro e cruzo os braços. — Eu esqueci com quem eu estava falando. Espere, pare. Acho que é uma das caixas da mamãe. — A caixa que estava prestes a se juntar à minha cama, a caixa com um adesivo laranja em forma de estrela na lateral, muda de direção e cai aos nossos pés. — Procure por outras caixas que tenham adesivos como esse, — digo a Dash enquanto me movo para a mesa e pego uma tesoura de uma gaveta. Eu me abaixo, corto a fita e dobro as abas de papelão. CDs e DVDs me encaram. Entretenimento inútil do passado. — Tudo bem, esta parece chata. Você pode começar com essa. — Eu me movo para a segunda caixa que acabou de chegar ao meu lado.
— A caixa chata. Obrigado.
Eu olho para cima. — Você me empurrou de um penhasco.
— Ah, voltamos a isso, não é?
— Nunca fica cansativo.
Duas caixas se chocam, caem do ar e pousam no pé de Dash. — Aaaaah, maaaaalditas bolas de hamster!
Uma gargalhada alta escapa de mim. Eu bato minha mão na minha boca antes de dizer, — Você está brincando? Você finalmente sente vontade de xingar e inventa malditas bolas de hamster?
— Cale a boca, — diz ele com os dentes cerrados.
— Shh. — Eu viro minha cabeça e olho em direção à porta do quarto. Em algum lugar além, alguém está falando. Eu pulo, me movo em silêncio até a porta e me inclino para mais perto.
— ...provavelmente apenas algo na cozinha, — Chelsea está dizendo. — Como a vassoura ali. Está sempre caindo.
Eu espero, e quando eu não ouço a voz dela novamente, eu suponho que ela voltou ao seu salão. — Tudo limpo, — eu digo para Dash. — Só não derrube mais nenhuma caixa.
— Acho que encontrei todas elas. — Ele aponta para a pequena coleção de caixas com adesivos coloridos.
— Ótimo. — Sento no chão ao lado da minha segunda caixa aberta, e Dash se senta à minha frente. — Sério, entretanto, — eu digo como se a interrupção nunca tivesse acontecido, — Jewel parecia realmente a fim de você. Talvez você deva pensar sobre isso.
— Hum... — Ele olha os CDs e DVDs antes de empurrar a caixa e puxar outra para perto. — Talvez. Talvez não. Nós crescemos juntos, então eu sei quase tudo sobre ela. Nós passamos por bons e maus momentos juntos. Na verdade, fomos ao nosso baile de formatura juntos, embora apenas como amigos. — Ele remove alguns livros, roupas e um velho recipiente de sorvete da segunda caixa. Eu olho para a coleção de joias da mamãe. — De muitas maneiras, ela provavelmente é perfeita para mim, — continua ele. — Se fôssemos outras pessoas, talvez estivéssemos juntos. Mas para mim... eu simplesmente não penso nela assim. Ela é mais como uma irmã. Ela está sempre lá, e é divertido sair com ela, e às vezes ela é super chata, mas eu ainda a amo. — Ele encolhe os ombros. — Mas como uma —
— irmã, — eu termino, fechando a caixa de joias, passando por algumas fotos antigas de mamãe e eu, e me movendo para uma pasta contendo um monte de panfletos. — Certo. Só não diga isso a Jewel, ok? Quero dizer, você definitivamente deve dizer a ela que você não se sente da mesma maneira sobre ela, mas você não deve usar as palavras ‘Eu penso em você como se fosse minha irmã’.
— Por quê?
— É um clichê. Ela vai odiar isso. Apenas... use outras palavras.
Ele cutuca meu joelho com o sapato enquanto um sorriso cresce em seus lábios. — Olhe para você sendo toda simpática com alguém que você não gosta. Alguns podem até pensar que você tem um coração.
— Claro que tenho um coração, idiota.
— Sim, eu sei, — ele diz baixinho, devolvendo os livros e roupas para a caixa. — Você não teria me odiado tanto todos esses anos se não tivesse um coração.
— Não tenho certeza se isso faz sentido, mas tudo bem.
— Sabe, por causa de sua mãe. Você me odiava porque se importava muito com ela.
Eu engulo e olho para todos os panfletos no meu colo. Eles são informações e mapas para uma série de destinos turísticos diferentes em todo o país, o que é inútil, então eu os empurro de volta para a pasta.
— Parece que ela queria viajar, — diz Dash, acenando para a pasta quando ele abre o recipiente de sorvete. — Oh, o que é tudo isso? — Ele segura um pequeno urso de pelúcia segurando um coração de vidro. Em seguida, uma boneca de porcelana em miniatura e um anjo feito de capim seco.
— Apenas ornamentos. Mamãe gostava de colecionar coisas bonitas.
— Eles são... meio feios.
— Bem, sim, para você e para mim, talvez. Mas ela obviamente achava que todas essas coisas eram bonitas.
— Para cada um deles, eu acho. Bem, para ela própria neste caso. — Ele guarda o recipiente de sorvete. — Ei, que horas são? Vi nos encontraria aqui, não é?
— Hum... — Eu olho para o despertador antiquado ao lado da cama. — É um pouco depois das nove.
— Tudo bem. É cerca de dez horas no oásis, eu acho. A reunião dela deve terminar em breve. — Ele puxa outra caixa para frente. — Eu já mencionei o quanto é bom falar com você sem o calor do seu ódio tentando queimar através de mim? Eu sempre me perguntei como seria. Sabe, apenas sermos amigos.
— É bom, eu acho. É meio que um alívio, na verdade. Era cansativo sempre ter que ficar com raiva de você. E é legal quando você está falando sério, em vez de sempre brincar.
— Mesmo? Você gosta quando estou falando sério? Isso não é... chato?
— Não, não, se é de verdade. — Eu olho para ele. — Às vezes, Dash, a situação exige seriedade. Nesse caso, não é muito útil quando você faz piadas.
Seu olhar se afasta do meu, estabelecendo-se em todas as caixas na cama. — Eu sei que eu brinco bastante. Mas isso é porque a vida é realmente uma droga, e brincar sobre isso é melhor do que sucumbir aos pensamentos sombrios e deprimentes. E brincar faz as pessoas — a maioria das pessoas — rir, então vale à pena.
— Espere. Você acabou de dizer que a vida é uma droga? Porque isso eu não acredito. Sua vida é um maldito passeio em um bolo comparado a minha.
Ele se inclina para trás sobre suas mãos. — Tudo bem, em primeiro lugar, eu nunca ouvi falar dessa comparação, mas andar em um bolo gigante parece incrível, então devemos tentar isso algum dia. E em segundo lugar... — Ele faz uma pausa. — Você sabe o que eu faço para viver, certo? Quer dizer, não é o trabalho mais seguro do mundo.
— Sim, tudo bem. Então?
— Então as pessoas morreram. Pessoas que eu me importo.
Eu pisco, incapaz de desviar o olhar daqueles olhos muito verdes — e de repente muito sérios. — Oh.
— Sim. — Ele estende a mão e a enfia na caixa na frente dele. — Todos sabemos que a vida de um guardião é de alto risco, mas isso não impede que seja horrendamente chocante e doloroso quando... — Ele puxa um arquivo e o coloca em seu colo. — Bem, quando um colega de classe ou alguém que te treinou por anos acaba morto.
Eu pressiono minhas mãos juntas no meu colo. — Eu realmente sinto muito.
— Acontece, — ele diz levemente. — Eu não sou o único. Vi perdeu a mãe quando ela era muito jovem. O tio de Jewel foi morto há alguns anos. — Ele abre o arquivo. — Oh, finalmente. Isso parece ser algo útil.
Eu rastejo entre as caixas e me sento ao lado de Dash, grata pela distração. Ele lê os certificados da antiga escola que eu fui antes de me mudar para cá, formulários de receita médica, informações de conta bancária e algo relacionado à compra de um carro. — Quem é Macy Clarke? — Pergunta ele. — Eu pensei que o nome da sua mãe fosse Daniela.
— Oh, ela era Macy quando jovem, mas ela não gostava desse nome. Ela mudou para Daniela quando eu era muito jovem. Legalmente mudou, quero dizer. Então todos esses documentos antigos, como contas bancárias, dizem Daniela não Macy.
— Isso é estranho.
— Eu suponho. Mas nenhuma dessas páginas é útil, — eu acrescento, meus ombros caindo em decepção. — O que estamos esperando encontrar de qualquer maneira?
— Eu não sei. Uma certidão de nascimento, ou algo relacionado a uma escola ou instituição do meu mundo, talvez.
Eu noto uma protuberância embaixo da próxima página. Eu me inclino sobre Dash e viro a página rapidamente, mas é apenas outro enfeite que caiu. Uma flor feita de vidro ou cristal rosa. — Essas coisas estão por toda parte, — eu resmungo, pegando-o e soltando-o em uma das caixas.
A próxima página é uma foto de duas meninas adolescentes que, percebo quando olho mais de perto, são a mamãe e Chelsea. — Oh, meu Deus, — eu sussurro. — E se Chelsea e Georgia são como mamãe e eu? Eu não pensei nisso até agora.
— Eu gostaria de dizer não porque eu nunca senti o menor indício de magia em nenhuma delas, mas eu não tenho mais certeza sobre nada. — Ele vira para a próxima página: um contrato de aluguel de quinze anos atrás. — E família? — Ele pergunta. — Avós? Tias, tios, primos?
— Sem avós. Eu acho que pode haver alguns outros primos. Primos da mamãe, quero dizer, não meus. Mas eu nunca encontrei — Minha cabeça se ergue quando noto um movimento perto da porta. Meu pensamento automático é que Chelsea está de alguma forma abrindo minha porta trancada, mas é a escuridão crescente de um portal dos caminhos das fadas que eu vejo. Uma figura com cabelo roxo vibrante salta dos caminhos e entra no meu quarto.
— Finalmente, — Aurora diz com um sorriso. — Já era hora de você aparecer aqui.
Capítulo 26
DASH LEVANTA UM SEGUNDO MAIS TARDE, MAGIA CREPITANDO AO REDOR DE SEUS DEDOS. — O QUE você está — Ele se inclina para a frente, fecha os olhos e cai no chão ao lado das caixas. Atrás dele está um jovem desconhecido.
Eu me arrasto até minhas costas baterem na borda da mesa antes de me levantar. — Aurora, o que diabos é isso?
— Devemos ir, — diz ela para a outra faerie. Ela se move em minha direção. Eu corro para frente e agarro Dash enquanto algo puxa minha camiseta e algo mais envolve meu braço.
Uma luz brilhante incendeia e me cega, apagando tudo de repente, um branco brilhante. Quando a brancura desaparece e eu posso ver de novo, me vejo em um lugar completamente diferente. Um jardim com flores e sebes, mas as cores são silenciadas e a luz é fraca. As bordas da cena parecem borradas e nebulosas, como um sonho onde apenas alguns detalhes são claros. Onde quer que eu olhe, vejo colunas de fumaça negra se destacando no ambiente e desaparecendo. — Onde estamos? Como chegamos aqui? E o que você fez com Dash?
Aurora olha para Dash com uma expressão de desaprovação. — Isso é irritante. Eu estava esperando deixá-lo para trás.
— O que você fez com ele? — Eu exijo.
— Feitiço de atordoamento, — o homem diz. Mechas cor de borgonha ondula em seu cabelo preto. — Não se preocupe, ele ficará bem depois. Por que não nos sentamos? — Ele gesticula para um banco atrás dele.
— Por que não nos sentamos? Não! Eu vou sentar.
— Tudo bem. Nós nos sentaremos. Você pode ficar de pé se preferir isso. — Como se estivéssemos presos em algum trabalho teatral ridículo, os dois sentam em uníssono. — Eu sei que foi uma primeira impressão desagradável, — diz ele, — então talvez possamos começar de novo. Eu sou Roarke. Príncipe herdeiro da Corte Unseelie. — Ele gesticula para Aurora. — Eu acredito que você conheceu minha irmã.
Príncipe herdeiro.
Corte Unseelie.
Irmã.
Eu ouço as palavras, mas meu cérebro leva um tempo para processá-las. — Corte U-Unseelie? — Repito, eventualmente.
— Sim.
— Então você... — Eu olho para Aurora. — Você é uma princesa. Da Corte Unseelie.
— Sim.
Eu estou aqui com um príncipe e uma princesa. Um príncipe e princesa mágicos. Em uma cena estranhamente acinzentada, onde fumaça parecida com sombra sobe continuamente de tudo. Se eu não tivesse encontrado tanta estranheza nos últimos dias, eu estaria convencida de que isso era um sonho.
— Um membro da nossa corte estava na festa quando você dividiu a terra, — diz Roarke. — Quem sabe como ele encontrou o caminho até lá, mas isso é irrelevante. Ele contou ao meu pai o que viu e sobre as palavras que você falou pouco antes de acontecer. Papai disse que devia ser uma Habilidade Griffin e que precisávamos trazê-la para a nossa corte antes que a Guilda descobrisse a respeito. Nós não percebemos que este — ele olha para Dash — era um guardião. Você acabou na Guilda muito mais rápido do que esperávamos. Pensamos que estávamos atrasados, mas depois eles mandaram você para Chevalier House.
— E foi aí que eu entrei, — diz Aurora. — Eu apareci na Guilda, contei a eles minha história inventada e fui para Chevalier House.
— Por que se incomodar com toda essa porcaria? — Eu pergunto, jogando minhas mãos para cima. — Seu pai é um rei. Por que ele não poderia simplesmente invadir Chevalier House e me levar ele mesmo?
Roarke suspira. — Emerson, você não sabe nada sobre magia protetora?
— Não, eu não sei. Eu não cresci aqui, lembra?
— Meu pai visitou a Chevalier House, mas não conseguiu entrar na propriedade. E ele não queria perturbar a Guilda, atacando os feitiços de proteção. Ele não queria que um grupo de guardiões descesse sobre nós, exigindo que voltássemos. As coisas teriam se tornado confusas. Então ele enviou Aurora em vez disso.
Eu viro meu olhar para ela. — Pobre pequena Aurora. Uma escrava de um bando de bruxas. Uma experiência tão traumatizante. — Soltei uma risada amarga. — E tudo isso foi uma mentira.
— Nem tudo, — diz ela timidamente. — Meu nome não era mentira. E eu realmente tenho uma história com bruxas. Eu vivi com uma quando era muito pequena — antes que ela se cansasse de mim e me jogasse na Corte Unseelie. Então papai decidiu me adotar, então é como eu acabei sendo um membro da família real Unseelie. — Ela sorri para Roarke antes de seu olhar voltar para mim. — Mas a história de ser uma escrava... bem, papai disse que era um caso que a Guilda lidou há alguns anos atrás. Bruxas com escravos faeries. Parecia uma boa história para mim.
— Bem, não funcionou. Então, qual foi o seu grande plano depois que me recusei a fugir com você?
Ela cruza uma perna cuidadosamente sobre a outra e se inclina contra o banco. — Eu pensei em tentar me aproximar de você. Eu pensei que talvez se você me conhecesse um pouco melhor, você confiaria em mim. Eu realmente não sou tão mal quanto você provavelmente está pensando agora. — Seus olhos violetas brilham com alegria. A cor das fadas parece ser a única cor verdadeira nesta cena estranhamente muda. — Eu sabia que só tinha alguns dias para convencê-la, no entanto. Uma vez que a Guilda testasse você para uma Habilidade Griffin, nós estaríamos sem tempo.
— Eu acho que você não contou comigo entregando a minha Habilidade Griffin por conta própria. Desculpe arruinar seu Plano B.
Aurora encolhe os ombros. — Eu improvisei. Voltei para a Guilda e tentei te tirar de lá. O que teria funcionado, a propósito — ela me dá um olhar aguçado — se você não tivesse deixado os guardiões colocarem as mãos em mim.
— Espero que você não esteja esperando que eu me desculpe.
— Não, embora você possa me agradecer por te ajudar a escapar.
Eu cruzo meus braços e olho para ela. Se gratidão é o que ela quer, ela vai ficar esperando por muito tempo.
— Infelizmente você desapareceu após o encontro na beira de Creepy Hollow, — Roarke diz, continuando a história, — então nós tivemos que fazer outro plano.
— Você não presumiu que eu estava morta?
— Não, claro que não. Nós sabemos sobre os rebeldes Griffin. Nós assumimos que eles resgataram você. Nós também assumimos que você voltaria para sua cidade natal em algum momento, então eu estive esperando por você lá.
— Bem, vocês certamente trabalharam duro para colocar suas mãos em mim. Eu acho que deveria estar lisonjeada.
— Você não está surpresa, não é? — Ele pergunta, um vinco enrugando sua testa. — Fazer as coisas acontecerem simplesmente falando é um poder extraordinário. Eu não acho que alguém já foi capaz de fazer isso. Obviamente nós faríamos qualquer coisa para você ficar do nosso lado.
— Formidável. Bem, aqui estou eu, então acho que isso faz de vocês os vencedores. Parabéns.
Aurora me dá um olhar perplexo. — Nós queremos você, Emerson. Não é bom ser desejada?
— Não! Eu não quero que ninguém mais me queira. — Fecho os olhos, cerro os punhos e alcanço a minha magia. — Você não me quer, você não me quer, — eu repito várias vezes, esperando desesperadamente que minha Habilidade Griffin apareça.
— Não está funcionando, — diz Aurora, levantando um pouco a voz para falar mais alto que eu. — Nós ainda queremos você.
Eu abro meus olhos, mas minhas mãos permanecem em punhos. — Você quer me aprisionar, me manipular, me forçar a falar coisas horríveis, coisas malvadas que irão acontecer. Isso soa certo?
— Na verdade, Emerson, — Roarke diz conforme ele levanta. — Eu gostaria de casar com você.
Uma quantidade indefinida de tempo passa em silêncio, com apenas o som do meu pulso latejando nos meus ouvidos. Então eu pisco. — Diga isso de novo.
— Eu gostaria de casar com você.
Eu recuo, levantando minhas mãos. Se minhas sobrancelhas pudessem subir mais alto, acho que elas estariam no meu cabelo. — Você sabe de uma coisa? Eu geralmente não uso palavras assim, mas eu sinto que elas são apropriados nesta situação: você é louco, Roarke. Doido. Lunático. Completamente louco e cem por cento desequilibrado. Eu não vou casar com você.
Ele inclina a cabeça um pouco para o lado. — Ninguém conseguiu ajudar sua mãe ainda, não é?
Um tremor que não tem nada a ver com a minha Habilidade Griffin arrepia os cabelos dos meus braços. — O que você sabe sobre minha mãe?
— Eu sei que a mente dela está doente. E sei que seus amigos não podem ajudá-la.
— Você não sabe disso. Talvez eles possam ajudá-la.
Ele sacode a cabeça. — Eles não sabem o que a deixou do jeito que ela está.
— E você sabe?
Seus lábios se esticam lentamente em um sorriso. — Eu sei. E conheço a magia necessária para curá-la.
— Eu suponho que você não vai me dizer.
— Não, a menos que você se case comigo, não.
— Casar com você! — Eu grito. — Eu não sei nem por onde começar com o quão insano isso é. Não vai acontecer.
— Não é insano. Faz muito sentido, na verdade. Na história do seu mundo — o mundo humano — os casamentos reais eram frequentemente usados para solidificar alianças entre países. Este é um conceito semelhante. Gostaríamos de nos aliar a uma fonte de grande poder, então —
— Então você quer se casar. Uau. Essa tem que ser a proposta menos romântica em qualquer um dos dois mundos que já foi apresentada.
Sua boca se contrai divertida. — Ninguém disse que isso era sobre romance, Emerson.
— Eu não vou casar com você! Você pode ter, tipo, quinhentos anos de idade.
— Eu tenho vinte e um anos.
— Ainda não vai acontecer.
— Então sua mãe nunca será curada.
Eu sacudo minha cabeça. — Eu não acredito em você. Eu acho que você não sabe o que há de errado com ela. Você diria qualquer coisa para eu fazer o que você quer. Para me fazer ficar aqui nesta esquisita Corte Unseelie.
Aurora fala. — Oh, esta não é a Corte Unseelie.
— Então onde estamos?
— Concorde em casar comigo, — diz Roarke, — e você vai descobrir.
— NÃO!
Um murmúrio silencioso me chama a atenção. Eu olho para Dash. Sua mão se contrai, sua perna se move um pouco e ele murmura novamente. — Esse feitiço de atordoamento pode não ter sido muito forte, Roarke, — diz Aurora. — Ela se levanta e se move para ficar ao lado dele. — Devemos levá-lo de volta. Eu não quero que ele acorde aqui.
— Nós podemos levar os dois de volta, — diz Roarke. — Eu acho que esta conversa acabou. Por enquanto, pelo menos.
Eu olho para trás e para frente entre os dois. — Espere. Estou esquecendo de algo? Você não está me forçando a ir com você para... eu não sei, seu palácio ou qualquer outro lugar?
— Não.
— Mas... eu não entendo. Você disse que seu pai quer minha Habilidade Griffin.
— Ele quer, — Roarke diz. — E eu também. Mas ele e eu temos visões ligeiramente diferentes sobre como, exatamente, possuir esse poder. Ele está feliz em forçá-la a fazer a vontade dele. Para mantê-la como prisioneira. Eu, por outro lado, preferiria se você voluntariamente se tornasse membro de nossa corte. Nossa família.
Eu me pergunto novamente se esse cara é genuinamente insano. — Por que eu iria de bom grado?
Como se fosse a resposta mais simples do mundo, ele diz, — Para salvar sua mãe.
— Vamos lá, Roarke, — diz Aurora. — Vamos lá.
— Eu gostaria que você guardasse isso, Emerson, — diz Roarke, segurando o menor espelho que eu já vi. É redondo e caberia facilmente na palma da minha mão. — Um simples toque de magia e ele entrará em contato comigo. Se você mudar de ideia, você pode me avisar.
Eu olho para o espelho sem pegá-lo. — Eu não vou mudar de ideia.
— Bem, se você não aceitar... — Ele se aproxima, agarra meu ombro para que eu não possa me afastar, e desliza o espelho no bolso esquerdo da minha calça jeans. Ele está tão perto agora. Tão perto e tão seguro de si. Ele não fará ideia do que o atingiu quando eu levantar meu joelho em direção a ele —
— O que está acontecendo? — Dash pergunta. Ele se senta, pisca e levanta rapidamente.
— Tudo bem. — Eu corro para o lado dele antes que ele possa atacar alguém. Eu não me importaria de ver Roarke no chão, mas agora é provavelmente mais importante sair daqui. — Essas pessoas amigáveis estavam prestes a nos deixar ir, — eu digo para Dash. — Explico tudo quando voltarmos.
— Roarke? Aurora? — Uma voz profunda chama de além da sebe à nossa direita.
— Droga, — murmura Roarke. — Vá por esse caminho, — diz ele para nós, apontando na outra direção. — Escondam-se.
Eu não preciso ser informada duas vezes. Eu agarro o braço de Dash e corremos juntos. Passamos por sebes e arbustos de rosas e através das nuvens de fumaça que se erguem. O jardim é infinito, com as mesmas características repetidas vezes e as bordas da minha visão permanecem turvas. Eventualmente, Dash me para. A fumaça negra de sombra dança e se enrola ao nosso redor. Ele bate nela. — Você tem muita coisa para explicar, Em, — ele diz. — Mas vamos dar o fora daqui primeiro. — Ele dá um tapinha em sua jaqueta, encontra sua stylus e se inclina para escrever no chão.
Nada acontece.
— Que maldito-pixie? Por que não está funcionando?
— O que o quê? Tudo bem, quando o pânico passar, vamos ter uma conversa séria sobre seus palavrões extremamente estranhos.
— Em! Por que não posso abrir os caminhos das fadas?
— Eu não sei. Nós não chegamos aqui através dos caminhos das fadas. Houve um clarão brilhante e depois chegamos.
— Isso é muito estranho. — Dash se vira lentamente, olhando em volta. — Eu nem sei se estamos no nosso mundo.
Algo se move contra uma das sebes. Uma forma não natural, girando e se esticando e afastando-se das folhas. — Dash. — Um terror doente cresce no meu estômago. Eu pego sua mão e a aperto com força. — O que é isso?
Eu ouço sua respiração no momento em que ele vê. — O que... — Sua mão aperta ao redor da minha. Ele me puxa para mais perto do seu lado. A forma fantasmagórica — um ser tão negro que poderia ser feito da escuridão dos caminhos das fadas — ondula, desloca-se e mergulha em nossa direção.
A mão de Dash voa para cima. Faíscas brilhantes se projetam para longe dele, indo direto para a criatura sombria. Infelizmente, a magia passa através da escuridão inconstante e sai do outro lado, como se este ser fosse feito de nada.
— Corra! — Nós corremos novamente, mais rápido do que antes, tecendo e esquivando-se através deste jardim interminável de névoa-fumaça. Eu dou uma olhada por cima do meu ombro, e a criatura está no ar, maior e mais próxima. Em seguida, desce, tornando-se uma serpente como uma coisa deslizando sobre a grama nos perseguindo. — Merda, oh merda, oh merda, — eu suspiro, olhando para frente e forçando minhas pernas a se moverem mais rápido. — Espere, isso é um portal? — À esquerda, no centro de outra sebe, vejo uma porta em arco aberta e luz além dela.
— Sim. — Dash gira em direção a ela. — Droga, este lugar não faz sentido.
— Eu sei, apenas corra! — Meus pés batem na grama. Meus braços bombeiam contra o ar. Estamos quase lá quando uma frieza gelada desliza sobre meu ombro. Eu pulo quando um grito desesperado se liberta da minha garganta. Nós nos jogamos através da porta e Dash gira o braço, fechando a porta com uma explosão de magia e nos fazendo parar em um piso de madeira polida.
Eu viro, de frente para a porta enquanto me afasto dela. Meu peito arfa enquanto recupero o fôlego. Meu coração bate repetidamente contra o interior das minhas costelas. — Você está bem? — Dash ofega. Minha mão ainda está bem apertada ao redor da dele, e não há nenhuma chance no inferno de eu soltar agora. Ele parece minha única âncora neste mundo de pesadelo que poderia me pegar e me levar a qualquer momento.
— Eu... acho que sim. Você está bem?
— Eu não sei, — diz ele. — Estou começando a me perguntar se ainda estou inconsciente e preso em um sonho.
— É mais como um pesadelo. — Quando a porta permanece firmemente fechada, corro o risco de afastar meus olhos dela. Eu olho para cima, mas não há nada acima de nós. Pelo menos, se houver um teto, é tão alto que não consigo ver. O piso de madeira e a parede dos dois lados da porta em arco se estendem para sempre dos dois lados. Eu me viro para olhar para trás — e percebo que há um grande buraco no ar. — Dash. — Eu aponto para o pedaço de terra e o oceano além dele. — Você vê isso?
Dash caminha ao meu redor, sem soltar minha mão. Ele se inclina para frente, olhando atentamente. — Isso é... Puta caramba. Essa é a Ilha Velazar. A parte com o monumento. Você pode ver o monumento na borda inferior ali. Em, isso... — Seus olhos acompanham todo o buraco. — Este é o buraco no véu.
Não faz sentido para mim que acabamos aqui, mas se esse é o nosso mundo do outro lado deste buraco, então... — Podemos passar por ele?
— Eu espero que sim. — Ele me puxa para frente. Chegamos ao buraco e, quando nada nos impede, continuamos. Um pé sobre o monumento. Então outro. Eu solto a mão de Dash quando ele pula para baixo. Eu rapidamente o sigo.
Com dois pés em segurança no chão, num mundo de cores genuínas e o sol brilhante do meio-dia, olho para o oceano. Vasto e magnífico. Ondas avançando para frente. Mais poderosas e inspiradoras do que eu poderia imaginar.
— Tudo bem, isso não faz sentido, — diz Dash.
Eu olho para trás para ver o que ele está falando. Do outro lado do buraco no ar, em vez de um portal em arco e de um chão polido, vejo um campo e um céu azul. — Mas... não é de onde acabamos de vir.
— Não, — Dash murmura. — Nós estávamos em outro lugar completamente. Em algum lugar... eu não sei Entre aqui e ali?
— Ei! O que vocês estão fazendo aqui? — Uma faísca de magia passa por nós. Dois guardiões saem correndo atrás do monumento. Eu me abaixo e fujo para fora do caminho enquanto Dash abre um portal para os caminhos das fadas. Eu mergulho com ele, limpando minha mente e confiando nele para nos levar a algum lugar seguro.
Capítulo 27
— POR QUE ESTAMOS NO QUINTAL DE CHELSEA? — PERGUNTO NO MOMENTO EM QUE A ESCURIDÃO CLAREIA e eu me vejo na grama seca e meio morta.
— Precisamos daquela última caixa, — diz Dash. — Aquela com os arquivos. Podemos ainda encontrar algo útil lá. Podemos levá-la de volta ao oásis e então — ele passa a mão pelo cabelo -— então podemos tentar descobrir do que diabos fugimos e de onde estávamos.
— É que um príncipe e princesa Unseelie têm a ver com isso.
Dash fica boquiaberto. — Você disse —
— Eu disse.
— Uau. Então é por isso que ela tentou ajudá-la a escapar da Guilda. Ela queria levá-la para os Unseelies. Espere, mas por que eles deixaram você ir embora tão facilmente agora?
Eu suspiro. — Eu explico mais tarde.
— Ei, aí estão vocês, — diz uma voz familiar. Violet caminha pela lateral da casa em nossa direção. — Eu cheguei aqui há alguns minutos e encontrei uma bagunça no quarto com todas aquelas caixas. Eu tentei encontrar vocês dois e, por alguma razão, minha Habilidade Griffin não encontrou nada, o que foi um pouco alarmante. Então fico feliz em ver que vocês estão seguros.
— Você não conseguiu nos encontrar? — Dash pergunta. Ele olha para mim. — Podemos acrescentar isso à lista de coisas seriamente estranhas sobre aquele jardim assustador.
Violet para na nossa frente. — Do que você está falando? Onde vocês estavam?
— Podemos explicar quando voltarmos ao oásis, — digo a ela. — Nós só queremos pegar uma daquelas caixas lá dentro e levar conosco.
— Tudo bem, — diz ela lentamente. Preocupação aperta suas feições, mas então ela respira fundo, parecendo afastá-las. — Em, olha o que eu tenho. — Ela segura um frasco com uma rolha. — Ana me deu esta manhã. Pronta para começar a testar essa Habilidade Griffin?
Um surto de emoção se acende dentro de mim. — Sim. Definitivamente.
Dash se afasta. — Eu vou pegar a — Ele para, franzindo a testa enquanto olha em volta para a cerca. Algo farfalha além dela, seguido pelo som abafado de passos na grama. — Alguém estava nos observando? — Pergunta ele. Ele passa por mim, subindo na árvore fina no canto do jardim e olha por cima da cerca. — Bem, se alguém estava nos observando, eles foram embora agora.
— Estamos invisíveis de qualquer maneira, — diz Violet quando Dash pula, — então não importa.
— Vocês podem estar, — eu digo, — mas eu provavelmente não estou. Eu duvido que meu feitiço esteja funcionando. Eu provavelmente pareço estar aqui falando sozinha. — O que, eu percebo, vai convencer qualquer um que esteja me vendo que eu finalmente cheguei ao fundo do poço, assim como todo mundo em Stanmeade pensou que eu iria.
— Vamos pegar aquela caixa, — diz Violet. — Podemos entrar pelos caminhos. Eu acho que sua tia está na cozinha fazendo café ou chá ou algo assim.
— Ah, adorável, você ainda está aqui.
Eu me viro ao som da voz. É ela, a mulher com o manto prateado, saindo rapidamente dos caminhos das fadas e entrando no quintal de Chelsea. O frasco de elixir escorrega dos dedos de Violet enquanto ela levanta as mãos para cima e para os lados. Uma leve ondulação no ar confirma que um escudo se formou ao nosso redor. — Quem é você? — Ela pergunta. Ao lado dela, Dash estende a mão no ar. Uma espada brilhante aparece em uma mão e um chicote na outra.
A mulher abaixa o capuz, revelando uma máscara preta cobrindo a maior parte do rosto. Tudo que vejo são seus lábios e olhos. — Você pode me chamar de Ada, — diz ela. — E então você pode entregar a Em.
— Não vai acontecer, — diz Violet.
Então, como se essa situação precisasse de uma complicação adicional, a porta de trás se abre e Chelsea sai correndo. — Emerson, onde diabos você esteve? — Ela grita. Seus olhos estreitos olham apenas para mim, o que confirma minha suspeita de que eu sou a única aqui sem um feitiço. De repente, como se lembrasse que ela deveria ter medo de mim agora, Chelsea congela. Ela dá alguns passos cuidadosos para trás. Seus olhos se voltam para o telefone em sua mão quando ela começa a tocar na tela. — Apenas... fique calma, tudo bem? Eu não quero nenhum problema.
— Oh, que perda de tempo, — diz Ada. Em alguns passos rápidos, ela está na frente de Chelsea. Ela toca o ombro dela —
— Não! — Grita Violet. Ela deixa cair o escudo.
— e Chelsea se torna uma estátua de vidro. Um arco e flecha aparecem nos braços estendidos de Violet. Ada levanta a perna e chuta Chelsea. Em seguida, ela sai do caminho, a flecha passa por ela, e Chelsea atinge o chão, quebrando-se em incontáveis pedaços de vidro.
Eu suspiro e enfio as duas mãos no meu cabelo. — Isso não aconteceu, — eu sussurro.
A porta dos fundos abre novamente, e desta vez é Georgia que está correndo. — Mãe! — Ela grita.
— Pare! — Grita Violet quando Ada se vira para a Georgia. Violet avança quando o chicote de Dash ataca. O chicote envolve o pulso de Ada e Violet pula em suas costas. As duas caem no chão, mas é tarde demais. Vidro sobe pelo corpo de Georgia, solidificando-a em uma estátua quase que instantaneamente.
— Vi, cuidado! — Dash grita, correndo para ajudar Violet. Violet rola para longe de Ada e levanta. Ada balança a perna, derrubando Georgia no chão. Ela se despedaça como sua mãe.
Eu puxo meu cabelo, xingando repetidamente, a culpa e o terror ameaçando me consumir, porque eu sei que tudo isso está acontecendo por minha causa. Ada se esquiva da magia de Violet e Dash e gira ao redor. As pontas dos dedos dela passam pelo braço de Violet antes de se afastar e bater na mão de Dash.
— Não, não, NÃO! — Eu grito, mas novamente, é tarde demais. O vidro os consome, transformando-os em estátuas facetadas imóveis. Ada levanta a perna. — Pare! Simplesmente pare! Farei o que você quiser!
Ela para. Abaixa o pé para o chão. — Você sabe que é tarde demais para eles, certo? Não há como voltar disso.
Eu caio de joelhos, minhas pernas tremendo não conseguem mais me segurar. — O que você quer? Minha Habilidade Griffin? Tudo bem. Eu irei com você. Eu não sei como fazê-la funcionar, mas vou tentar. Só, por favor, não os mate.
Ela solta uma risada. — Eu acho que eles já estão mortos, Em.
— Diga o que você quer de mim, — eu imploro.
Ada se afasta de Violet e Dash, o que me deixa quase murchando de alívio. É difícil matar uma faerie, Violet me disse. Nossa magia pode nos ajudar a sobreviver a muitas coisas que matariam um humano. Ainda posso ver ela e Dash. Eles são vidro sólido, mas ainda estão lá. Contanto que eles não sejam quebrados em um milhão de pedaços, há esperança para eles.
— Sabe, — diz Ada, de frente para mim com as mãos nos quadris, — Eu sempre me perguntei se você poderia ter uma Habilidade Griffin se escondendo dentro de você. E se tivesse, imaginei se algum dia poderia aparecer, ou se ficaria bloqueada para sempre, junto com o resto de sua magia. — Ela inclina a cabeça para o lado, me examinando. — Você não sabe como usá-la, não é. Você já teria me parado, se soubesse.
Demora alguns segundos para que o significado completo de suas palavras se encaixe. — Você... espera. Você sabe quem eu sou?
— Eu te conheço quase desde que você está viva, Em. É por isso que eu estive aqui há alguns dias, verificando com alguém. A pessoa que está te observando por mim. Imagine se eu viesse algumas horas depois, — acrescenta ela com um sorriso malicioso. — Esse alguém teria uma atualização muito mais interessante para mim.
Isso está ficando mais estranho a cada segundo. — Alguém esteve — quem? Foi aquele homem que você matou? Aquele que eu vi você transformar em vidro?
— Não, não. Era apenas alguém que me seguiu até aqui. Alguém que pensou que poderia me emboscar e me matar. — Ela ri. — Não foi preciso muito esforço para me livrar dele.
Eu estremeço com a facilidade com que ela fala sobre matar pessoas. — Então quem? E como você me conhece? Quem — o que eu sou? E o que diabos você quer de mim?
Ela me dá um sorriso de pena quando se aproxima. — Eu sei que toda essa atenção provavelmente subiu para a sua cabeça, então pode ser uma surpresa ouvir que eu realmente não quero você.
— V-você não quer?
— Não. Pelo menos ainda não. Eu quero sua mãe.
Sua mãe.
Um arrepio corre pela minha pele. Eu engulo após a náusea subir pela minha garganta.
— Por quê? Isso não faz sentido.
— Não tem que fazer sentido para você, Em. Apenas me diga onde ela está.
Eu lentamente sacudo minha cabeça. — Você não pode tê-la.
Ada se agacha na minha frente. — Você prefere ver esta cidade consumida por vidro quebrado? Você gostaria de ver seus amigos quebrarem, se despedaçarem e morrerem?
— Claro que eu não quero isso.
— Então você simplesmente precisa me dizer onde sua mãe está. Eu não vou machucá-la. Bem, talvez eu deva reformular isso. Eu não vou matá-la. Eu vou fazer algo um pouco... irreversível.
Meu rosto está molhado com todas as lágrimas que eu geralmente não deixo cair. — Eu não posso.
— Sim, você pode.
— Eu não posso, eu não posso, — eu lamento, cobrindo meu rosto com as mãos. — Como você pode me pedir para fazer isso? Ela é minha mãe. Eu a amo mais do que tudo.
— Então você não me deixou escolha.
Eu abaixei minhas mãos para vê-la se inclinando para frente. Ela pressiona os dedos na terra. — O que você está fazendo?
Ela não responde. Onde seus dedos encontram a terra, vidro começa a se espalhar lentamente. Tufos de grama endurecem, racham e se quebram. Eu pulo e me afasto dos estilhaços invasores. Enquanto isso, Ada se move para o lado da casa. Ela achata a palma da mão contra a parede e o vidro se estende ao redor da mão dela.
— Espere, por favor, pare. Você não precisa fazer isso.
— Você está me forçando a fazer isso, Em. Enquanto você não me dizer o que eu quero saber, essa magia continuará se espalhando e vai quebrar tudo em seu caminho. Esta cidade em breve será nada além de vidro quebrado.
Eu olho desesperadamente ao redor. O vidro está mais perto de Violet e Dash. Se chegar até eles, eles se estilhaçarão. Eu não vou ter a chance de ver se eles ainda estão vivos sob suas conchas de vidro endurecido. Deixo escapar um grito sem palavras, cobrindo meu rosto novamente. Tudo isso se resume a uma escolha impossível: quem eu salvo? Mamãe? Ou Violet, Dash e o resto de Stanmeade? — Não me faça escolher, — eu lamento. Eu espio através dos meus dedos. Os cacos de vidro quase chegaram a Violet. Eles estão a apenas trinta centímetros de distância da borda da bota dela.
Se aproximando.
E mais perto.
— Tudo bem, pare! Eu vou te dizer. Ela está em White Cedars. Apenas pare, por favor!
— White Cedars, — repete Ada. — Obrigada, querida Em. — Ela passa por mim até a cerca e abre um portal para os caminhos das fadas.
— Espera. Você precisa parar o vidro.
— Para ser honesta, Em, eu nunca gostei desta cidade. Sempre me senti um pouco triste por você ter que morar aqui.
— O quê? Não! Você vai mesmo destruir uma cidade inteira e todos nela?
— Eu não sei. Acho que vamos ver até onde vai a magia. — Ela entra nos caminhos e olha por cima do ombro. — Você pode correr e se salvar, ou sentar aqui e deixar o vidro quebrar você como todo mundo. É a sua escolha. Pessoalmente, eu preferiria que você se salvasse. Eu poderia um dia ter um uso para você se você conseguir ter essa habilidade sob controle. — Ela ri. — E o quão deliciosamente irônico seria se fosse você aquela que me ajudou a ver o plano de vingança.
Com uma explosão de raiva, eu me jogo atrás dela. Se eu puder entrar nos caminhos — se eu puder chegar à mamãe antes de Ada —
Mas a escuridão se fecha. A cerca reaparece e eu bato nela. A dor flui através do meu ombro e meu braço e eu deslizo para o chão, gemendo alto. Eu agarro meu ombro enquanto pensamentos de quão totalmente inútil eu sou martela contra o interior da minha cabeça. Eu possuo um poder que as pessoas matariam para colocar as mãos, mas eu não posso —
O frasco.
O elixir que vai estimular minha Habilidade Griffin.
Eu levanto, salto através dos pedaços de vidro, e procuro pelo frasco que Violet deixou cair. Deve estar na grama em algum lugar. E uma vez que eu tomar este elixir, minha habilidade vai funcionar, certo? Então eu posso falar mais de um comando.
O estridente som e rangido da casa começando a desmoronar me assustam. Eu olho para Violet. O vidro quase chegou a sua bota. — Não, — eu sussurro. Meus olhos retornam à sua busca desesperada no chão enquanto meu cérebro pensa em todas as coisas que eu preciso falar.
Daniela Clarke, você é invisível. Ninguém pode te encontrar, te machucar ou te matar.
Vidro, inverta a sua magia. Pare de se mover, pare de quebrar, pare de matar.
Violet e Dash, vocês não são feitos de vidro. Voltem para suas formas originais.
Finalmente, vejo o frasco. Está perto da base da árvore na qual Dash subiu, pedaços de vidro quase o tocando. Eu pulo sobre mais vidro, corro em direção a ele, abaixo, alcanço — mas a magia de Ada o tocou. Os estilhaços o apunhalaram, estilhaçando-o e o esmagando, e não me atrevo a tocá-lo por medo de que sua magia se espalhe em mim.
O elixir desapareceu.
Um enorme soluço rasga através do meu peito. Eu me levanto e ando para trás, observando a magia do vidro imparável. Ela chega à bota de Violet agora, estilhaçando ao longo do bico. Eu não posso salvá-la e não posso salvar a mamãe. Enquanto mais lágrimas descem pelas minhas bochechas, eu fecho meus olhos. Eu abro minha boca e despejo toda à dor dos últimos cinco anos em um grito dolorido. Eu grito até não poder mais respirar.
E então — esperança.
Eu sinto aquele arrepio, aquele breve pulso de poder correndo através de mim, e eu tenho uma fração de segundo para decidir: salvar a mamãe — ou salvar todos aqui. Minhas palavras saem em uma corrida desesperada. — Magia do vidro, você não tem poder! Inverta, desapareça, devolva tudo e todos do jeito que estavam antes e restaure tudo — A profunda reverberação em minha voz desapareceu quando alcancei a palavra ‘restaure’, mas acho que pronunciei comandos suficientes.
Eu olho em volta, prendendo a respiração, esperando meu poder fazer efeito.
O vidro para de se mover. Lentamente, afunda no chão, deixando a grama como era antes. Pedaços de Chelsea e Georgia se reconstroem, por mais impossível que pareça, minha tia e prima começam a se mover, gemer, se sentar. O lado quebrado da casa se recompõe como uma cena de demolição ao contrário. E Violet e Dash —
Eles ofegam por ar, dando grandes respirações profundas enquanto o vidro desaparece ao redor de seus corpos. — Oh, graças a Deus. — Eu corro pelo jardim em direção a eles.
— O que —
— Leve-me para White Cedars! Por favor, é urgente. Ada foi lá para pegar minha mãe.
Violet vira rapidamente para a parede e escreve contra ela. — Dash, volte para o oásis. Diga ao Ryn e ao Chase o que aconteceu. Eu vou levar a Em. — Eu aperto a mão dela e corro para a escuridão com ela.
Ainda estamos correndo quando saímos do outro lado no gramado em frente ao Instituto de Cura White Cedars.
— Eu sei onde é o quarto dela, — eu digo enquanto corremos pela área de recepção, curandeiros gritam atrás de nós. Ao longo do corredor, viro, outro corredor. Corro para dentro do quarto dela, passo por uma pilha de vidro no chão e puxo a cortina para trás. — Ela ainda está aqui, — eu digo, alívio inundando meu corpo. — Ela está aqui, mas... — Eu olho para o chão, para os pedaços de vidro afiados. — Mas Ada também estava aqui. Mãe? — Eu me viro para ela e aperto seu braço. — Mãe, acorde. — Mas ela não se mexe, e eu não posso deixar de ouvir a voz de Ada na minha cabeça: Eu vou fazer algo um pouco... irreversível.
Os curadores se apressam para dentro e somos forçadas a esperar do lado de fora. Eles confirmam que a mamãe ainda está viva, mas é tudo o que dizem antes de fechar a porta da mamãe e um deles nos levar de volta à sala de espera. Ontem à noite, achei a iluminação suave, cadeiras macias e os aromas de ervas reconfortantes, mas nada disso ajuda hoje. Nada pode me confortar quando estou convencida de que há algo terrivelmente errado com a mamãe.
— Diga o que aconteceu depois que Dash e eu fomos transformados em vidro, — diz Violet gentilmente. Suas palavras me lembram abruptamente que há poucos minutos ela estava essencialmente morta. Ela era uma estátua sem movimento, sem respirar, tudo porque se envolveu comigo e com minha mãe. Mas em vez de pirar sobre isso, ela agora está me confortando.
Eu afasto minha culpa e digo tudo a ela. O vidro se espalhando por toda parte, o frasco de elixir quebrando, Ada me forçando a escolher entre mamãe e todos os outros. — Eu falhei, — eu sussurro para ela quando termino.
Ela envolve os dois braços em volta de mim e me abraça com força, o que só intensifica minha culpa. — Você salvou uma cidade inteira cheia de pessoas, Em. — Ela se afasta e olha atentamente para mim. — Sua prima e tia deveriam estar — estavam — mortas. Sua mágica as salvou. Isso não é um fracasso. Isso é...
Um tipo assustador de poder, eu penso comigo mesma. Em voz alta, eu digo, — Mas eu falhei com a minha mãe.
Violet, é claro, tenta me convencer do contrário, mas eu sei a verdade. Eu dei a minha própria mãe para um ser mágico que queria machucá-la de alguma forma. Depois de todas as minhas promessas que eu daria uma vida melhor para nós duas. E isso significa que eu falhei com ela.
Finalmente, uma das curandeiras retorna para a área de espera. — Ela está viva? — Eu pergunto, imediatamente me pondo de pé.
— Sim. — A curandeira, uma mulher pequena com uma longa trança pendurada em um dos ombros, gesticula para eu me sentar. — Mas ela parece estar em um estado profundo de inconsciência.
— Como? Por quê? O que aconteceu com ela?
— Não estamos certos. A curandeira que estava no quarto na hora foi atacada e... — Ela respira fundo. — Bem, todos nós lemos sobre os faeries de vidro nas notícias. E você viu o que estava no chão.
Eu aceno, percebendo que essa mulher obviamente conhecia a curandeira que Ada matou. — Eu sei. Eu sinto muito. Mas não há como você descobrir o que aconteceu com ela? O que a colocaria em coma tão rapidamente?
— Existem várias possibilidades. Nós testamos todas elas e descartamos todas.
— Tudo bem, então? — Eu pergunto. — E agora?
— Bem... — A curandeira olha de mim para Violet e vice-versa. — Como não há mais nada que possamos fazer por ela no momento, gostaríamos de sugerir que ela poderia se sentir mais confortável — e mais segura — se ficasse em casa. Se ela acordar, você pode trazê-la de volta.
— Se ela acordar? Você acabou de dizer se?
— Obrigada, — Violet se apressa em dizer antes que a curandeira possa responder. — Parece uma boa ideia. Acho que seria mais seguro ela ficar conosco do que ficar aqui.
A curandeira concorda e se levanta. — Vou organizar a papelada.
Quando ela sai da sala, Violet diz, — Em, vamos consertar isso. Você pode tentar usar sua Habilidade Griffin e dizer a ela para acordar. Se isso não funcionar, encontraremos outra coisa. Eu não sei como, mas nós vamos. Faremos toda a pesquisa que pudermos e, quando finalmente descobrirmos o feitiço que a colocou em coma, poderemos acordá-la.
— E se a mente dela ainda estiver doente quando ela acordar?
— Então vamos descobrir sobre isso também. — Seus dedos envolvem a minha mão e as aperta. Ela sorri. — Tudo ficará bem no final.
Consigo devolver o sorriso, porque percebi que há outra maneira de a mamãe ficar bem no final. Um plano reserva. Um plano que Violet nunca aprovaria...
Capítulo 28
VÁRIAS HORAS DEPOIS, COLOCO MAMÃE EM UMA CAMA EM UM QUARTO PARA ELA NO Oásis. Eu aliso seu cabelo escuro para trás de sua testa, depois me sento na cadeira ao lado da cama por um tempo, pensando em todas as perguntas que ainda não pude fazer a ela. E todas as novas perguntas que foram adicionadas à minha lista mental desde hoje de manhã. Quem é Ada e como ela conhece a mamãe? Por que ela queria colocar a mãe em coma permanente?
Algo um pouco... irreversível.
Eu afasto as palavras de Ada da memória. Eu não quero aceitar que mamãe nunca vai acordar, mas é difícil ignorar os fatos: Ana preparou mais elixir para mim esta tarde, e ele estimulou a minha Habilidade Griffin por tempo suficiente para dizer a mamãe para acordar — mas ela não respondeu. Parece que minha voz mágica e ressonante, que tinha o poder de reconstruir duas pessoas e trazê-las à vida hoje, de alguma forma não pode acordar minha mãe.
Algo um pouco... irreversível.
Se os curandeiros não sabem que tipo de magia fez a mamãe entrar em um sono permanente, então deve ser algo completamente diferente. Algo mais sinistro. Algo que aqueles que ignoram as leis e brincam com magia negra possam conhecer.
E é aí que entra o plano reserva.
Eu me levanto e caminho até a caixa no canto do quarto. A caixa que Dash trouxe enquanto eu estava no instituto de cura com a mamãe. Eu estava esperançosa de que ainda pudesse conter algo útil, mas uma rápida olhada nos arquivos restantes não revelou nada.
Eu abro a caixa, enfio minha mão e vejo a flor de cristal rosa que eu deixei cair lá dentro. Depois de encontrá-la, atravesso o quarto e a deixo na mesa de cabeceira. É tão pequena que parece ridículo ficar ali sozinha, mas eu sei que mamãe gostaria do fato de estar lá.
Depois de observá-la um pouco mais, beijo sua bochecha e saio do quarto, fechando a porta gentilmente atrás de mim.
***
— Venha ver, venha ver! — Jack pega minha mão enquanto desço as escadas. — Merrick e Junie adicionaram mais coisas dentro da cúpula enquanto você estava fora. — Ele me puxa todo o caminho até a parte de baixo da árvore.
— Ah, ai está ela — diz Dash quando eu piso na grama. — Como vai você?
Eu dou de ombros. — Tudo bem, eu acho. Você?
— Estou me sentindo melhor agora que não sou mais uma estátua de vidro.
— Sabe, — eu digo para ele, — estátuas de vidro são muito mais silenciosas e menos irritantes do que certas pessoas.
— Ah, vamos lá, você teria sentido minha falta se eu não tivesse voltado.
Eu me permito um sorriso. — Talvez.
— Bem, de qualquer forma, acho que você vai gostar da mais recente adição ao Oásis.
— Não diga a ela! — Diz Jack. — Ela tem que ver primeiro ou de outra forma vai estragar a surpresa.
Nós três caminhamos juntos, a conversa permanece leve enquanto Jack nos conta o que ele está aprendendo na escola. Eu noto Dash ocasionalmente olhando na minha direção, provavelmente tentando descobrir se eu realmente estou bem.
— Tudo bem, espere, — diz Jack. — Pare aqui. — Estamos quase passando o pomar, que está iluminado esta noite com pequenos insetos brilhantes dourados e luzes rosa-laranjas. — Devemos vendá-la.
Eu levanto uma sobrancelha. — Você vendou a todos que vieram ver essa nova adição?
— Sim. Tudo bem, nem todo mundo, — Jack admite. — Mas algumas pessoas.
— Que tal se eu apenas fechar meus olhos?
Jack inclina a cabeça para o lado. — Você promete não abri-los?
— Sim. Mas você tem que prometer não me deixar tropeçar em nada.
— Sim, claro. — Ele enlaça o braço no meu e fecho os olhos.
— Sem espiar, — diz Dash.
Depois de mais um minuto de caminhada, Jack me faz parar. Eu posso sentir o cheiro e escuto algo que me deixa suspeita, mas eu não posso estar certa. — Tudo bem, você está pronta? — Jack diz. — Abra seus olhos.
Então eu abro. Arrepios percorreram minha pele ao ver a faixa pálida de areia e as suaves ondas cor de pôr-do-sol caindo sobre ela.
— Não é incrível? — Diz Jack. — Nós temos uma praia!
Eu pisco contra o brilho da umidade se formando sobre meus olhos. — É incrível. — Ele corre através da areia, pula para as ondas rasas e chuta a água para o ar.
Dash coloca as mãos nos bolsos. — Merrick estava conversando há alguns dias sobre o que acrescentar em seguida, e me lembrei de você olhando pela janela da casa de recuperação e perguntando sobre o oceano. Então eu disse a ele que seria legal ter uma praia e um pequeno pedaço do oceano aqui.
Eu mordo meu lábio para controlar as minhas emoções bobas e depois digo, — Hoje foi a primeira vez que vejo na vida real. Na ilha. E foi apenas por um momento, por isso é incrível tê-lo aqui.
— Oh. Mesmo? — Dash me encara. — Então é por isso que você estava perguntando sobre ele naquele dia. Devemos ir ver a coisa de verdade então. Eu posso te levar agora, se você quiser. Só tenho que ter certeza de que não seremos emboscados por ninguém mais que queira colocar suas garras malignas em você.
— Não, — eu digo com um sorriso. — É perfeito por enquanto.
— Ei, — uma voz chama atrás de nós. Ryn caminha na areia, seguido por Violet e uma cesta flutuando. — O que você acha do nosso pequeno pedaço do mar?
— Eu amo, — eu digo a ele.
— Pensamos em fazer um piquenique na praia para o jantar, — diz Violet, apontando para a cesta flutuante. Ela pousa perfeitamente na areia, e o cobertor dobrado em cima levanta e se estende ao lado da cesta. Nós nos sentamos enquanto Violet desembala a comida e Jack continua pulando e mergulhando na água. Calla e Chase se juntam a nós alguns minutos depois, espalhando seu próprio cobertor ao lado do nosso.
Nós comemos nosso jantar de piquenique enquanto o sol desaparece lentamente. Em algum momento, Bandit e Filigree saem da cesta de piquenique em forma de rato e esperam pacientemente por alguma comida. Bem, Filigree espera pacientemente; Bandit realiza vários saltos entre a espera.
Quando está quase escuro demais para ver, lanternas flutuantes aparecem ao longo da praia. Embora eu note cada um dos adultos me observando em algum ponto durante a noite, ninguém faz perguntas sobre mais cedo ou propõe quaisquer teorias malucas sobre mamãe ou sobre a misteriosa faerie de vidro Ada. É como se houvesse um acordo tácito de que esta noite não é para refazer os eventos do dia. Hoje é para curtir a praia, apreciar deliciosas frutas e petiscos que eu nunca provei antes, perseguir Jack ao longo da areia e criar ideias para o que acrescentar a seguir no Oásis.
Eu absorvo tudo, sabendo que esta noite é ao mesmo tempo uma primeira e última vez para mim.
— Em! — Jack cai ao meu lado algum tempo depois da nossa refeição. — Eu te contei sobre a nova dança que aprendemos hoje de manhã?
— Hum, acho que você me contou sobre tudo o que aprendeu hoje. Não tenho certeza se você mencionou uma dança. Vocês têm aulas de dança regulares aqui?
— Todos nós aprendemos as danças tradicionais das fadas quando estamos na escola primária, — explica Dash. — Vi e Ryn não queriam que as crianças que moram aqui perdessem, então a dança está incluída nas aulas.
— Posso te ensinar? — Jack me pergunta. — Então você pode praticar comigo.
— Oh. Hum, tudo bem. — Dançar não é minha praia, mas eu suponho que vou dar uma chance se isso deixar Jack feliz. Ando com ele alguns passos para longe dos cobertores, depois o encaro e seguro suas mãos.
— Tudo bem, então você avança assim. Sim, com esse pé primeiro. E então você recua. E nossas mãos se juntam assim.
— Tudo bem.
— Então repetimos isso quatro vezes e depois nos virando um para outro assim.
Em algum lugar atrás de mim, música começa a tocar. Curiosa para saber de onde vem, eu olho por cima do ombro e vejo Ryn incitando uma bola de vidro para o ar. Luzes coloridas dentro da bola piscam ao mesmo tempo que a música, o que me diz que é de onde a música deve estar vindo. — Incrível, — murmuro. — O que é isso?
— Em, você não está se concentrando, — reclama Jack.
— Certo, desculpe.
Ele demonstra o próximo passo para mim, mas acho difícil acompanhar. — Sabe, eu odeio dizer isso, Jack, mas acho que o tipo de dança que fazemos no mundo humano — onde apenas balançamos de um lado para o outro — é muito mais fácil. Veja, você coloca seus braços em volta da minha cintura — Eu movo seus braços para o lugar — e eu coloco meus braços em volta de seus ombros, e nós balançamos.
— Isso é super chato. E você é muito alta.
— É verdade, mas eu sou muito alta para a sua dança também.
— Você só precisa de um parceiro mais alto, — diz Dash, movendo-se para o meu lado e estendendo a mão para mim.
— Oh. Não. Obrigada. Eu não gosto muito de dançar. E... hum... eu ia dormir agora de qualquer maneira.
— Tão cedo? — Ele diz. — Vamos, só até o final da música. Nós podemos fazer sua coisa chata de balançar. — Ele me dá seu sorriso encantador, e eu vejo uma sugestão do Dash que fez todas aquelas garotas se apaixonarem.
— Bem. Só não pise nos meus pés.
— Com esse jeito chato de balançar, minha querida Emerson, duvido que isso seja um problema.
Eu coloco minhas mãos em volta do pescoço dele. Seus braços deslizam em volta da minha cintura e me puxam para mais perto. Eu descanso meu queixo em seu ombro, o que parece um pouco estranho, mas também é legal. Nós andamos lentamente de um lado para outro, um pouco mais do que apenas um movimento oscilante, mas muito mais simples do que o que Jack estava tentando me ensinar.
— Em, — Dash diz baixinho. — Emmy. Eu realmente sinto muito. Sobre sua mãe. Mas pelo menos ela está aqui agora. E nós vamos encontrar uma maneira de curá-la. Nós vamos. Eu estive cuidando de você desde que estraguei tudo há anos e não vou parar agora. O que eu puder fazer para ajudar, eu farei. Ela vai melhorar, e vocês duas podem ficar aqui, e vocês duas finalmente terão a vida que você sempre prometeu a ela.
Meus olhos viajam através da cena, e meu coração se parte quando percebo que tudo o que eu sempre quis está bem aqui — e que eu nunca vou ter. Lágrimas picam meus olhos, minha garganta dói e de repente eu não consigo falar. Eu mordo meu lábio, mais e mais até as lágrimas recuarem e eu conseguir respirar novamente.
Quando a música acaba, eu não vou embora imediatamente. Eu sento com todo mundo por mais algum tempo. Eu rio das terríveis piadas de Dash e sorrio para as palhaçadas de Jack. Então eu volto para as árvores gigantes junto com todos os outros. Eu alegremente digo boa noite e subo para o meu quarto como se nada estivesse diferente. Como se meu peito não estivesse doendo. Como se eu não tivesse acabado de dizer adeus.
Capítulo 29
EU ABRO O GUARDA-ROUPA, E EM VEZ DE PEGAR UM PIJAMA, EU PEGO a jaqueta mais quente que consigo encontrar. Eu não sei o quão frio é para onde estou indo, então é melhor estar preparada. — Desculpe Bandit, — eu digo para o filhote de lobo dormindo na cadeira no canto, — mas você não virá comigo desta vez. É mais seguro você ficar aqui.
Eu tiro a minha camiseta e pego uma limpa no topo da pilha — exatamente quando ouço passos do lado de fora da minha porta. — Ei, Em. — É a voz de Calla. A porta se abre. — Eu queria perguntar se — Oh, me desculpe.
— Não, tudo bem, — eu digo com uma risada nervosa, me virando enquanto me atrapalho com a camisa.
— Eu sinto muito, eu deveria ter batido.
— Não, não. É minha culpa por me trocar sem fechar a porta corretamente. Eu não pensei. — Eu puxo a camisa sobre a minha cabeça antes de me virar para encará-la. Mas em vez de um sorriso, eu a vejo olhando para mim, seu rosto pálido. — Qual é o problema? Você está bem? — Ela não pode saber o que estou prestes a fazer, pode?
— Eu... — Sua mão agarra o batente da porta, e ela agarra com força, como se fosse à única coisa que a mantem de pé.
— Calla? — Eu dou um passo incerto em direção a ela.
Ela fecha os olhos, balança a cabeça e solta uma leve risada. — Eu sinto muito. — Ela abre os olhos, pisca e me dá um meio sorriso. — Eu devo ter bebido mais do que pensei. Apenas um momento de tontura. Isso é tudo.
— Hum, está bem.
— De qualquer forma. — Ela pigarreia. — Eu só, hum, vim até aqui para perguntar se você quer sair correndo pelo limite do Oásis conosco no início da manhã.
— Oh. Na verdade, acho que prefiro dormir amanhã. Tem sido, sabe... um longo dia.
Ela balança a cabeça, ainda olhando para mim um pouco estranhamente. — Sim. Definitivamente.
— Hum, está bem. Bem, boa noite.
— Boa noite. Ei, Em? — Eu olho para cima. — É uma linda tatuagem no seu ombro. Eu não a percebi antes.
— Oh, não é uma tatuagem. Agulhas me assustam. — Eu estendo a mão e toco meu ombro esquerdo. — É na verdade um marca de nascença. Minhas roupas geralmente cobrem, então é por isso que você nunca viu antes.
Ela balança a cabeça, apertando a porta novamente, e começo a me perguntar se o que quer que ela tenha bebido esta noite pode ter tido sua origem no reino humano. — Que interessante, — diz ela fracamente. — Parece como uma flor.
— Sim, parece. — Eu franzo a testa. — Você tem certeza de que está bem?
— Definitivamente. — Ela sorri. — Durma bem, ok?
Eu aceno, me sentindo culpada por mentir para ela. — Você também.
Ela fecha a porta. Bandit, observando curiosamente da cadeira, abaixa a cabeça e me observa com os olhos semicerrados. Uma vez que tenho certeza de que Calla se foi, enfio a mão no bolso esquerdo da frente e tiro o espelho.
***
Eu me sinto mal por roubar uma stylus da cozinha de Ryn e Vi, mas não tenho muita escolha, já que não tenho a minha. Eu não encontro ninguém no meu caminho descendo as escadas, ou quando estou andando pela grama. É quase fácil passar pela cúpula e entrar no deserto.
Eu escrevo os caminhos das fadas na areia várias vezes sem funcionar. Eu não perco minha paciência, no entanto. Ver as palavras brilharem esta manhã me deu confiança de que eu estou quase lá com essa coisa de caminhos das fadas. Eu tento mais uma vez — e a emoção corre através de mim ao ver um espaço escuro se abrindo. Eu deslizo para dentro dele, sussurrando o nome que me foi dado.
Sou recebida do outro lado pelo cenário que me disseram para esperar: uma piscina natural de pedras numa floresta iluminada com feixes de luz da tarde brilhando através das árvores próximas.
— Emerson, — uma voz diz atrás de mim. — Fiquei um pouco surpreso em ouvir sua resposta tão cedo. Você parecia inflexível que não mudaria de ideia.
Eu me viro para encarar Roarke. — As circunstâncias mudaram. Eu decidi que posso estar disposta a acreditar que você pode ajudar minha mãe.
Ele cruza os braços sobre o peito. — Interessante.
— Só tem uma coisa. Vou exigir uma prova antes de aceitar sua proposta. Prove que você sabe o que há de errado com minha mãe e que pode consertá-la.
— Isso pode ser difícil, — diz ele, — considerando que eu não vou lhe dizer nada até depois de nos casarmos.
— Mas ela precisa de ajuda agora. Eu... assinarei um contrato ou algo assim. Um contrato dizendo que eu concordo em casar com você se você puder curá-la primeiro.
— Um contrato? — Ele ri. — O tipo de contrato que você está se referindo não significa muito neste mundo. E se eu curar sua mãe e você decidir não seguir adiante?
— E se eu casar com você e depois você decidir não curar minha mãe?
Uma sugestão de diversão toca seus lábios. — Suponho que um de nós vai ter que aprender a confiar no outro.
— Pois bem. Estou ansiosa para ganhar sua confiança. — Porque eu certamente não planejo me casar com esse Príncipe Unseelie sem primeiro ver minha mãe saudável. — Você trouxe o dispositivo mágico que você falou?
— Sim. — Roarke enfia a mão dentro de seu longo casaco e pega um pequeno item em forma de moeda. Ele se aproxima e afasta meu cabelo para trás da minha orelha. É inquietante tê-lo em pé tão perto, mas eu finjo que isso não me incomoda. Ele pressiona a moeda na pele atrás da minha orelha e, quando ele afasta a mão, a moeda permanece. Eu levanto meus dedos e gentilmente a toco, me certificando de que ela não se move. — Você tem certeza de que ninguém será capaz de me encontrar enquanto eu estiver usando isso? Eu não quero ninguém... interferindo no nosso acordo.
— Completamente certo. A Corte Unseelie tem feito uso de itens como este há muito tempo.
Eu solto uma respiração lenta. — Está bem então. Eu acho que estou pronta para ir com você.
Emerson Clarke: Sarcástica. Independente. Possivelmente enlouquecendo.
Porque essa é a única explicação para por que ela ocasionalmente vê coisas que não estão lá, certo? Mas uma noite, um poder impossível irrompe dela, e Em percebe que a verdade é mais louca do que ela jamais imaginou: ela não está enlouquecendo; ela é mágica.
Lançada em um mundo inteiramente novo de fadas, encantamentos - e o cara chato que não é humano também - Em mal tem tempo de aprender o mais básico de magia antes que outra verdade surpreendente se revele: ela tem uma Habilidade Griffin. Um tipo especial de magia temido pela maioria dos fae. Agora ela está no topo da lista de mais procurados de todos, incluindo o misterioso faerie que realiza ataques aleatórios contra fae.
Neste mundo mágico e aterrorizante para o qual ela está totalmente despreparada, Em deve tentar descobrir quem ela realmente é, em quem confiar e como se manter viva por tempo suficiente para voltar à sua vida normal.
Comece uma nova aventura emocionante como a série best-seller de Creepy Hollow que continua dezoito anos após os eventos de A Faerie's Curse!
https://img.comunidades.net/bib/bibliotecasemlimites/7_THE_GLASS_FAERIE.jpg
PARTE 1
Capítulo 01
NA ESCURIDÃO ENTRE A LANCHONETE TYGO E A BIBLIOTECA ABANDONADA, O fedor de lixo apodrecendo, me faz querer vomitar. Me concentro em respirar pela boca enquanto removo o pacote de papel marrom amassado da minha bolsa mensageiro e o seguro. — Você sabe o preço, Slade. — Eu aceno o pacote para ele. — É pegar ou largar.
Slade levanta uma sobrancelha. Ele solta um suspiro dolorosamente longo antes de se voltar para o maço de notas em sua mão. Ele as percorre preguiçosamente, contando a quantidade certa. Mas, em vez de entregar o dinheiro, ele encosta um ombro na parede e me observa com um sorriso. — Você conduz uma barganha difícil, Emerson Clarke.
— Pare de ser um idiota. O preço é exatamente o mesmo da última vez. Você quer ou não?
— Claro que eu quero. Desencana, Em. — Ele encolhe os ombros, esfregando o ombro contra o gigante X amarelo grafitado nos tijolos. — Apenas tentando tornar essa troca mais divertida.
Eu enfio o pacote contra o peito dele e retiro o dinheiro da mão dele. — Eu não preciso de mais diversão na minha vida.
— Ei, você realmente precisa relaxar, — ele fala atrás de mim conforme eu me afasto.
— Obrigada pelo conselho. — Eu não me incomodo em olhar por cima do meu ombro para ele conforme me afasto, meus tênis pisando no chão sujo e úmido. Estou quase no fim do beco quando a porta dos fundos da lanchonete Tygo se abre. Eu me esquivo para fora do caminho para evitar ser atingida no rosto. — Caramba, Marty.
— Oh, ótimo, você ainda está aqui. — Ele segura um saco de lixo em minha direção. — Você esqueceu deste aqui.
Eu considero dizer a ele que meu turno terminou há cinco minutos, mas não vale à pena discutir. Eu pressiono meus lábios, empurro o dinheiro de Slade no bolso da minha calça jeans e pego a sacola. Marty deixa a porta fechar sem outra palavra. Resmungando sob a minha respiração, eu ando os poucos passos de volta para a lixeira. Slade, ainda curvado na outra extremidade do beco, me ignora enquanto seguro meu fôlego, levanto a tampa da lixeira e levanto o saco de lixo e sobre a borda.
Estou prestes a abaixar a tampa quando ouço um sussurro de dentro da lixeira. Apenas um rato, digo a mim mesma, sabendo que deveria fechar a tampa. Mas essa parte do meu cérebro que sempre quer saber se as coisas que eu vejo e ouço são reais faz meu braço congelar no lugar. O som estridente e farfalhante se move para o lado da lixeira. Um braço escamoso aparece, abrindo caminho ao longo da borda com garras azuis e um líquido amarelo brilhante pingando de —
Eu solto a tampa e pulo para trás, xingando em voz alta.
— Com medo de alguma coisa, Em? — Slade sorri enquanto passa por mim.
— Não, — eu respondo de volta. Mas quando ele vira a esquina e desaparece, eu engulo, meu coração batendo rápido demais. Espreito a lateral da lixeira, procurando por um braço reptiliano meio esmagado saindo de baixo da tampa. Mas não há nada lá. — Imaginação hiperativa, — murmuro para mim mesma enquanto me afasto, é a mesma mentira que sempre uso.
Eu me sinto mais calma quando estou na rua principal. Prendendo meu polegar sob a alça da minha bolsa mensageiro, eu diminuo meus passos, não mais me sentindo como se estivesse fugindo de alguma coisa. Meu medo evapora quando eu me lembro de que com o dinheiro de Slade adicionado às minhas economias, eu finalmente tenho o suficiente para uma viagem de ônibus.
— Ei, Em.
Eu me viro na direção do grito e encontro Val empoleirada em cima de uma parede ao redor da Escola Primária Stanmeade. — Ei. — Eu aceno para ela enquanto eu mudo de direção e atravesso a área gramada do lado de fora da escola. Eu jogo minha bolsa no chão, então corro direto em direção a parede. Meu pé direito bate nos tijolos e me lança para cima. Com as palmas das mãos em cima da parede, é fácil puxar minhas pernas para cima.
— Legal, — Val diz conforme eu ando habilmente ao longo do topo da parede em direção a ela.
— Obrigada. — Eu me sento ao lado dela e coloco as mãos no meu jeans. — É uma parede fácil, no entanto. Não tão alta quanto algumas das outras que tentamos.
— Eu sei. Ei, veja isso. — Ela empurra o cabelo escuro e crespo da frente do seu rosto e segura o telefone na minha frente. — Último vídeo Top Dez do ParkourForLife.
Olhando além da rachadura na tela do celular de Val, vejo um sujeito pular de um prédio, dar uma cambalhota no ar e aterrissar no prédio ao lado, seguido por mais nove movimentos espetaculares. — Impressionante, — murmuro. — Eu adoraria poder fazer tudo isso.
— Totalmente, — Val concorda. — Eu meio que sinto que temos que ir a outro lugar para melhorar nossas habilidades. O parquinho urbano daqui é muito limitado.
— O parquinho urbano? — Eu repito com uma risada.
— Sim. As pessoas chamam assim, certo?
— Hum...
— Bem, eu chamo assim. — Ela abre os braços, quase me acertando no rosto com o seu cotovelo. — Eu apresento a vocês o parquinho urbano de Stanmeade. É feio, mas é onde começamos.
Eu balanço minha cabeça, ainda sorrindo. — Você entendeu bem a parte feia. E a parte limitada. Conhecemos bem este lugar e seus obstáculos agora.
— Sim. De qualquer forma, como foi seu turno?
Eu dou de ombros. — Um pouco acima da média. Eu vendi outra das misturas caseiras da Chelsea. Slade Murphy novamente.
— Novamente? Ooh, diga. De que doença recorrente secreta Slade Murphy está sofrendo? Alguma coisa super embaraçosa sobre a qual devemos avisar sua namorada?
— Foi para a namorada dele, na verdade. Algum tipo de chá anticoncepcional.
Val inclina a cabeça para trás e ri. — Bem, esperemos que funcione.
— Eu acho que deve estar funcionando, já que este é o segundo pacote que eu vendi para ele. De qualquer forma, isso não é importante. — Eu puxo minhas mangas para baixo para cobrir meus polegares. — O importante é que eu finalmente economizei o suficiente para outra passagem de ônibus.
Val se endireita. — Para visitar sua mãe?
— Sim, obviamente.
— Legal, — diz ela, embora sua voz não tenha entusiasmo.
— O quê?
— É só que... — Ela se mexe um pouco. — Você tem certeza que deseja fazer isso? Realmente te perturbou da última vez que você a visitou.
Eu mordo meu lábio inferior antes de responder. — Eu sei, mas espero que seja diferente desta vez. Ela pode estar melhor. Além disso, valerá à pena sair um pouco desse lugar. Eu estou contando os dias até não precisar mais dividir uma casa com pessoas pé no saco.
— Eu te entendo, — Val diz, seus cachos saltando quando ela balança a cabeça. Eu sei que ela não quis dizer isso inteiramente, no entanto. Nossas situações familiares são difíceis, mas de maneiras completamente diferentes. Enquanto eu fico com uma tia que me odeia e uma prima mimada, Val tem quatro irmãos mais novos que sua mãe espera que ela ajude a cuidar. E eu sei que Val os ama, apesar de todas as reclamações dela. Então, daqui a alguns meses, quando finalmente terminarmos a escola, tenho a sensação de que vou partir por conta própria.
— Ei! Saiam daí! — Olhamos sobre nossos ombros para o pátio da escola, onde a Sra. Pringleton está sacudindo o dedo ossudo para nós.
— Mas não estamos fazendo nada de errado, — Val grita de volta.
Suas mãos nodosas formam punhos, e as manchas cor-de-rosa em seu rosto ficam mais rosadas. — Eu vou ligar para a polícia se vocês não saírem daqui nos próximos dez segundos!
— Legal, — diz Val. — Diga ao Tio Pete que eu disse oi.
— Val. — Eu cutuco seu braço enquanto tento evitar rir. — Não vamos dar à velha um ataque cardíaco, ok? Podemos subir de volta assim que ela sair.
— Tuuuudo bem. — Val mexe sua bunda até a borda da parede e pula para baixo. Eu sigo um momento depois. — Eu acho que eu deveria ir para casa para os mini monstros de qualquer maneira, — acrescenta ela. — Mas eu estou me dando mais cinco minutos de liberdade primeiro. — Ela se senta na grama e cruza as pernas.
— Tudo bem por mim. — Eu permaneço de pé, mas me inclino contra a parede e brinco com a ponta da minha manga. — Você provavelmente já está com problemas por estar atrasada, então o que são cinco minutos extras?
— Exatamente.
Um carro passa ruidosamente e, do outro lado da rua, noto uma pessoa que não estava lá há um minuto. Um cara com uma arrogância irritantemente familiar em seu passo. — Maravilha, — murmuro. — O que Dash está fazendo aqui?
— Hmm? — Val olha para cima. — Oh. Provavelmente indo para a festa.
— Que festa?
Ela vira a cabeça para o lado e olha para mim. — Sabe, aquela na casa da fazenda do Mason.
— Eu não sabia, na verdade. O irmão mais velho de Jade está em casa novamente?
— Sim. Supostamente cuidando de Jade e do outro garoto Mason enquanto seus pais estão fora.
— E em vez disso ele está dando outra festa, — eu digo com um suspiro.
— Sim. Sorte nossa, humildes estudantes do ensino médio.
— Certo. Se você gosta. — Olho de volta para o outro lado da rua para Dash. Como sempre, ele destacou seus cabelos loiros mel com mechas verdes brilhantes. Tudo o que posso fazer é balançar a cabeça para a estranha combinação de cores. — O cabelo dele é tão estranho. Eu não sei como eles o deixaram se livrar disso seja qual for à escola que ele frequenta.
— Você não sabe como eles o deixaram ficar com o cabelo incrível? — Val pergunta com uma risada.
— Não, eu quero dizer a cor.
Ela ri com mais força e balança a cabeça. — Eu não sei o que você pode achar ofensivo sobre o cabelo lindo daquele menino, mas tudo bem. Eu não discutirei com você.
Eu olho para ela com uma careta. — Cabelo lindo? Sério?
Ela encolhe os ombros. — O que posso dizer? Eu o acho atraente.
Eu gemo e olho para cima mais uma vez, e Dash escolhe aquele momento para olhar através da rua, nos dar um sorriso encantador e piscar. — Sério? — Eu murmuro. — Quem diabos pisca para as pessoas?
— Dash, aparentemente, embora provavelmente só para você. — Val bate no meu tornozelo. — Você sabe que ele ama irritar você. De qualquer forma, você deveria ir para a festa. Se Dash fez todo esse percurso, você sabe que vai ser boa.
— Por favor. Dash provavelmente está entediado seja lá qual for a escola particular e tensa e esnobe que ele frequenta. Sem dúvida, ele aproveita a chance de ir a qualquer festa.
— Então... isso significa que você vai?
Eu balanço minha cabeça enquanto observo Dash continuando a descer a rua. — Não é a minha praia, Val. Você sabe disso.
— Você sabe que ainda pode ir a festas mesmo se não quiser beber, certo?
— Então eu vou ficar lá totalmente sóbria e ver o resto de vocês ficando bêbados? Não, obrigada.
— Ou você poderia apenas beber um pouco. — Ela dá uma tapinha no meu tênis. — Você precisa relaxar mais, Em.
Eu cruzo meus braços sobre meu peito. — Lembra como meu tio morreu de envenenamento por álcool? E como minha mãe tentou abafar seus delírios bebendo? Sim. Estou tentando evitar situações como essa.
Val fica quieta enquanto ela levanta. — Vamos, Em. Você sabe que isso nunca vai acontecer com você.
Eu pisco para longe a memória daquele braço escamoso e brilhante saindo da lixeira. — Tudo bem, aqui está uma razão para você: Dash vai estar nesta festa, e eu não sinto vontade de estragar a minha noite.
— Ok, ok, eu entendi. Você não vai à festa. — Ela passa um braço em volta do meu pescoço e me abraça. — Tente ter uma boa noite de qualquer maneira.
— Obrigada. Vejo você amanhã.
Nós seguimos em direções diferentes, Val segue pela parte de trás da escola para atravessar o campo, enquanto eu continuo ao longo da rua. Longas sombras se estendem pelo asfalto e a névoa marrom-alaranjada e desbotada do pôr do sol enche o céu. Eu viro logo depois dos correios —
— e vejo uma figura com um capuz prateado no meio da rua. Na frente dele ou dela está um homem com orelhas pontudas. A figura encapuzada toca o homem, e o homem se torna uma estátua sólida de cristal facetado reluzente.
Com um suspiro, eu me escondo atrás do prédio, meu coração trovejando. Eu pressiono minhas costas contra a parede de tijolos quentes e coloco as duas mãos sobre os olhos. Eu conto até dez enquanto me forço a respirar devagar. — Não há nada lá, — eu sussurro para mim mesma. Eu começo a contar novamente, e desta vez eu continuo. Eu alcanço o número oitenta antes de ser corajosa o suficiente para abaixar minhas mãos do meu rosto. Lentamente, eu espreito ao redor do prédio - e, claro, não nenhum sinal de que uma figura encapuzada e uma pessoa feita de cristal estivessem lá. Porque eles não estavam, eu digo a mim mesma. Eu pressiono minhas costas contra a parede mais uma vez. — Você não viu nada, — eu sussurro. — Não havia nada lá. Você não viu nada de estranho. Você não está ficando louca.
Mas, ao me apressar pela rua principal, optando por seguir o caminho mais longo para casa, não consigo deixar de pensar em todas as vezes que coisas estranhas como essa aconteceram. A criatura não identificável sentada no parque no balanço um dia. Aquele homem com as orelhas pontudas que veio na lanchonete uma tarde. E daquela vez eu olhei no espelho do banheiro e por um momento, meu cabelo estava azul. — Eu não estou ficando louca, — repito calmamente, quase desesperadamente. Isso provavelmente está relacionado a algo que vi na TV. Ou algo que eu li. Meu cérebro está processando algo fictício e o regurgitando mais vividamente do que eu esperava. É isto o que as pessoas querem dizer quando falam sobre uma imaginação hiperativa, certo? — Sim, deve ser isso, — murmuro. — Deve ser isso.
Deve ser qualquer coisa, exceto o óbvio: que estou ficando como minha mãe.
Eu tento manter meu olhar focado no chão aos meus pés o resto do caminho para casa, não querendo ver nada que eu não deveria estar vendo. É uma viagem muito mais longa do que se eu tivesse usado a rua que eu deveria usar. A rua em que a figura encapuzada estava. Está escuro quando chego a nossa rua, e quase corro para cima e para o lado da casa da Chelsea. Eu nunca estou ansiosa para chegar em casa, mas de alguma forma me convenci de que estarei segura assim que entrar. Eu entro pela porta da cozinha e paro um pouco para respirar quando a porta se fecha atrás de mim.
Uma panela fervendo contendo algo que cheira como podendo ser macarrão está no fogão. Através da porta aberta que leva ao salão, ouço Chelsea e Georgia conversando. Meu medo anterior começa a parecer tolo em comparação com a normalidade ao meu redor.
Atravesso a cozinha sem falar oi para Chelsea e Georgia. Elas não se importam particularmente que eu esteja em casa, e eu particularmente não me importo em cumprimentá-las. Em vez disso, vou direto para o meu quarto, removendo o dinheiro do bolso conforme ando. Eu forço minha porta a se abrir, empurrando-a além de outra caixa de equipamentos de salão da Chelsea que parece ter encontrado seu caminho para este quarto desde hoje de manhã. Deixo minha bolsa mensageiro escorregar do meu ombro sobre a cama, meu foco agora em contar minha comissão do dinheiro que Slade me pagou. O resto, claro, vai para a querida Tia Chelsea. Ela é quem faz os estranhos remédios de ervas.
Eu puxo meu pote de sorvete com produtos de higiene da prateleira acima da minha cama e procuro pela sacola plástica que eu guardo. Eu vou contar tudo agora e ter certeza que tenho bastante, então, eu vou comprar uma passagem de ônibus amanhã. Eu remexo em várias garrafas, meus dedos procurando o saco de plástico amassado.
Sumiu.
Meu estômago cai enquanto esvazio o conteúdo do pote na minha cama, só para ter certeza. Eu espalho tudo, mas a pequena sacola com zíper definitivamente não está lá. Minha pele fica fria e quente. Foram meses e meses de poupança, tudo para que eu pudesse visitar a mamãe e agora sumiu?
Minhas mãos se fecham em punho enquanto saio do quarto e vou direto para o salão. Eu encontro Georgia descansando em uma das cadeiras, olhando para si mesma no espelho enquanto ela passa a mão pelo cabelo loiro e liso. No lado oposto da sala, Chelsea estoca as prateleiras com mais de seus produtos caseiros à base de ervas.
— Onde está o meu dinheiro? — Eu exijo.
Georgia pula de susto e quase escorrega da cadeira, mas Chelsea ainda demora um momento antes de se virar para mim. — Seu dinheiro, Emerson, — diz ela. — Eu acho que você quer dizer meu dinheiro.
— Desculpe?
— Você vem me roubando há meses.
— Roubando — eu nunca roubei nada de você. Eu sempre dou a você exatamente o que é devido e só mantenho a porcentagem permitida. Você sabe disso.
— Certo. — Chelsea cruza os braços e acena com a cabeça. — E depois você volta para o meu quarto e rouba o que quiser. O dinheiro tem desaparecido da minha bolsa há meses. No começo eu pensei que estava imaginando, que deve ser erro meu, mas então eu comecei a acompanhar exatamente o quanto estava lá. — Ela me dá um sorriso triunfante, como se tivesse feito algo maravilhosamente inteligente. — E você sabe o que eu descobri? Pequenas quantias de dinheiro começaram a desaparecer a cada semana. E olha onde eu encontrei. — Ela cava no bolso e tira uma sacola plástica. Minha sacola de plástica.
— Essa é a minha suada poupança, — eu digo a ela, sentindo um nó de náusea se formando no meu estômago. — Isso não é seu.
— Não minta para mim. Eu sei como vocês meninas gastam dinheiro. Como se crescesse em árvores e vocês não tivessem nenhuma responsabilidade no mundo. O que eu quero saber é onde está o resto? — Ela sacode a sacola no ar entre nós. — Porque você roubou muito mais do que o que resta aqui.
— Eu não roubei você! — Eu grito. Eu olho para Georgia, que está observando nós duas com um pequeno sorriso. Minha raiva aumenta um nível quando eu aponto para ela. — Você quer saber para onde seu dinheiro está indo? É onde você deveria estar procurando.
— Não se atreva a meter Geórgia nisso. Ela nunca me roubaria.
— Bem, não sou eu, então não sobra ninguém, não é?
Chelsea solta uma risada incrédula. — Eu não acredito em você, Emerson. Depois de tudo o que fiz por você. Eu trabalho tanto para cuidar de vocês duas, e é assim que você me paga? Você me rouba e então corre por toda a cidade fazendo aquele inútil absurdo de parkour.
— Tudo? — Eu repito. — Você disse depois de tudo que fez por mim? — Normalmente eu ficaria de boca fechada. Eu engoliria minha raiva e deixaria que ela tentasse se convencer de como ela é incrivelmente caridosa. Mas não desta vez. Não quando ela tirou minha única chance de visitar minha mãe. — Você quer dizer que está me dando roupa de segunda mão de Georgia, me fazendo dormir no que é essencialmente seu depósito por cinco anos e me usando como sua empregada doméstica?
— Eu te dei uma casa, — ela grita. — Você deveria ser grata pelo teto sobre sua cabeça. O que teria acontecido com você se não houvesse ninguém para aceitá-la depois que trancaram sua mãe? Seu pai com certeza não queria você. Ele parece estar cobrindo todas as despesas médicas de sua mãe naquele hospital distante, mas ele está interessado em apoiar você? Não. Eu nunca conheci o homem.
Chelsea usou essa jogada antes para tentar me machucar, mas nunca funciona. Eu não me importo com o meu pai ou com o fato dele não ter interesse em mim. Eu nem sei como ele é. — Por favor, — eu digo entre os dentes cerrados. — Apenas me devolva meu dinheiro.
— Você não vai conseguir esse dinheiro de volta, Emerson. Fim da história. — Chelsea coloca a sacola de plástico de volta no bolso e se vira para as prateleiras de lixo de ervas. Georgia sai da cadeira e sai da sala. Eu fico ali me sentindo enjoada, meu corpo tremendo, finalmente percebendo que a esperança que tenho guardado por meses - a esperança de finalmente visitar minha mãe novamente - se foi. E eu não posso culpar Chelsea por isso. Não inteiramente. Não quando ninguém é responsável por essa bagunça.
Saio do salão e vou para o quarto de Georgia. Ela está sentada em sua cama com uma revista, sorrindo docemente, com conhecimento de causa.
— Foi você, — eu digo, dando alguns passos para dentro de seu quarto. — Você disse a ela onde meu dinheiro estava.
Ela abaixa a revista. — Porque você precisaria de todo esse dinheiro, Em? Você sabe que precisamos disso para manter a casa funcionando. Como você pode ser tão egoísta?
— Como você pode ser tão egoísta roubando de sua própria mãe?
— Eu preciso de coisas, — diz ela. — Coisas que você não precisa. Coisas que você não entenderia, e mamãe não parece entender também.
Eu olho para ela com raiva por mais alguns segundos, minha raiva tão intensa que eu poderia gritar. Mas isso não seria bom. Eu ainda tenho que ficar mais alguns meses aqui, então eu fecho a boca, me viro e vou em direção da porta.
Mas é quando eu vejo: pendurado em uma maçaneta no guarda-roupa, a etiqueta ainda presa na bainha, está um vestido novo. — Está é a coisa que você precisa? — Eu exijo, pegando o cabide, girando e sacudindo o vestido para ela.
— Sim. — Ela se senta um pouco mais ereta, como se eu finalmente conseguisse sua atenção agora que estou ameaçando sua roupa. — Eu tenho um namorado e uma vida social e um futuro. Esse tipo de coisa não vem de graça. Você tem que parecer bonita se quiser —
Eu arremesso o vestido sobre ela, e ela grita quando atinge o lado de sua cabeça. — Você comprou um vestido? — Eu grito. — Estou economizando há quase um ano para poder visitar minha mãe e você tirou isso de mim por causa de um VESTIDO?
Algo pisca através do quarto. Luz e calor e o som de um chiado. Desaparece quando Georgia recua contra os travesseiros com um grito.
O medo quebra a minha raiva, me enchendo de arrepios. Eu corro em direção de Geórgia. — Qual é o problema? O que aconteceu?
Ela me empurra com uma das mãos, a outra cobrindo sua bochecha. — O que diabos você fez comigo? — Ela ofega, seus olhos mais arregalados do que eu já vi.
— Eu não fiz —
— Você jogou algo em mim! Como um fogo de artifício ou algo assim. Sua esquisita, qual é o problema com —
— Eu não joguei nada!
— Saia de cima dela! — As mãos de Chelsea envolvem meus ombros e me puxam para trás.
No silêncio que se segue, tudo o que ouço é minha respiração pesada e os gemidos de Georgia. Ela abaixa a mão, revelando sangue escorrendo de um corte raso em sua bochecha. Ela me encara com ódio renovado. — Oh, meu pobre bebê, — Chelsea engasga, pegando um lenço da caixa na mesa de cabeceira. Ela cai na cama ao lado de Georgia e pressiona o lenço contra sua bochecha antes de virar sua carranca na minha direção. — Eu não posso mais fazer isso, Em. Você nunca demonstrou gratidão pelos sacrifícios que tive que fazer por você. Você roubou de mim e agora agrediu fisicamente Georgia. A polícia pode lidar com você.
— A polícia?
Ela se levanta e passa por mim. — Você não é mais meu problema. — Eu a sigo até a cozinha, onde ela pega o telefone da mesa. Quando ela disca alguns números e leva o telefone ao ouvido, percebo que ela não está brincando.
O medo dissolve minha raiva. — Chelsea, espere. Eu sinto muito. Georgia me provocou, mas eu não deveria ter perdido a paciência daquele jeito. Não vai acontecer de novo. Você não precisa envolver os policiais nisso. Por favor. — Me sinto enjoada de ter de implorar a ela, ter que implorar a essa mulher que me fez esfregar banheiros, lavar a roupa de Georgia, mentir para os vários homens que ela está sempre mentindo e depois exigir minha gratidão pelo privilégio de fazer todas essas coisas por ela. Mas é só por mais alguns meses. Então eu terei dezoito anos, terminarei a escola e eu posso fazer um plano para sair daqui. Mas se a polícia se envolver, quem sabe onde vou parar.
— Não, — diz Chelsea. — Eu não posso acreditar que você está me obrigando a fazer isso, mas agora não tenho escolha. Eu tenho que proteger minha filha.
— Chelsea, por favor. Protegê-la de quê? — Eu me aproximo, apertando minhas mãos sob o queixo. — Eu juro que nunca —
— Você vai acabar ficando louca igual a sua mãe, — ela diz, — e eu não quero você nesta casa quando isso acontecer.
Eu recuo como se ela tivesse me dado uma tapa.
— Alô? — ela diz ao telefone, se afastando de mim. — Sim, hum, por favor, você pode enviar alguém para —
Eu passei por ela em direção à porta dos fundos.
— Ei, volte aqui! — Ela grita enquanto eu abro a porta e corro.
Mas eu não volto. E eu não paro de correr.
Capítulo 02
EU CORRO PELO QUINTAL, ESCALO O MURO DO VIZINHO E PULO FACILMENTE PARA A parede baixa do outro lado do jardim. Não tenho outro plano senão chegar o mais longe possível da casa antes que os policiais apareçam. Meus tênis batem nos pavimentos e meu corpo se lança através de vários obstáculos antes de eu perceber que estou indo para a casa de Val. Eu chego na metade do caminho quando lembro que ela não vai estar em casa. Não sei a que horas a festa deveria começar, mas as coisas geralmente começam bem cedo por aqui. Não é como se houvesse muito coisa para fazer. Além disso, a casa de Val é provavelmente o primeiro lugar para o qual Chelsea vai mandar a polícia.
Eu diminuo meus passos e coloco minhas mãos em meus quadris enquanto recupero o fôlego. Meu coração está tamborilando, meu corpo quase vibrando. Eu me forço a respirar longa e lentamente. — O que diabos você está fazendo? — Eu murmuro para mim mesma. Talvez eu não devesse ter corrido. Talvez eu devesse ter ficado e me explicado. Qual é a pior coisa que poderia ter acontecido?
Você vai acabar ficando louca igual a sua mãe.
Se os policiais acreditarem em Chelsea - se alguém realizar algum tipo de exame médico em mim e suas palavras se revelarem verdadeiras - então o pior que pode acontecer não é uma acusação de agressão física. Não é um serviço comunitário, ou seja lá o que for, que a polícia local decidir ser uma punição adequada para mim. Não, a pior coisa seria acabar em uma instalação como a da minha mãe. Trancada para evitar que eu machuque os outros. Drogada para me impedir de ver coisas que não estão lá.
Basicamente, meu pior pesadelo se tornaria realidade.
Eu me vejo correndo de novo, desta vez na direção da casa de Jade Mason, nos arredores da cidade. É mais longe do que eu me lembro e fico sem fôlego quando chego lá. Eu diminuo a velocidade perto da parte inferior da rua, então não estou suada e ofegante quando chego à festa.
Do lado de fora da casa dos Mason, encontro pessoas andando ao redor de uma fogueira e outras sentadas na varanda. Música chega aos meus ouvidos. Não vejo Val em nenhum lugar do lado de fora, subo correndo os degraus da varanda e entro na casa.
— Ei, Em, você apareceu desta vez. — Eric, o idiota que se senta ao meu lado na aula de inglês, acena para mim de onde ele está encostado na parede do corredor com alguns de seus amigos. — Ei, você trouxe alguma daquelas ervas que sua tia vende? — Ele faz alguns movimentos com a pélvis enquanto seus amigos riem. — Você sabe como isso me deixa —
— Val está aqui? — Eu pergunto.
— Sim, ali. — Ele balança a cabeça em direção à sala do outro lado do corredor. — Quer uma bebida primeiro?
Eu passo por ele sem responder, deixando os uivos e vaias de seus amigos se misturarem com a música de fundo. Na sala escura e cheia de fumaça, Dash está parado do lado de dentro da porta, comandando uma plateia de várias garotas. Suas sobrancelhas se contraem momentaneamente em uma carranca quando ele me vê, mas dura apenas um momento. Então ele balança a cabeça e sorri.
Ignorando-o, eu entro na sala e vejo Val em um sofá com um monte de nossos colegas de turma. Ela está com um copo em cada mão. — Val! — Eu corro até ela.
— Ei, você veio. — Ela sorri para mim quando ela se arrasta e acena com a cabeça em direção ao local vazio no sofá. — Venha sentar aqui.
— Não, eu posso - falar com você?
Ela deve ouvir a urgência na minha voz - ou talvez viu no meu rosto - porque ela se levanta imediatamente. — Algo errado? — Ela pergunta, andando comigo até o canto da sala. Paramos ao lado de uma janela. Meu corpo ainda parece está zumbindo, então eu aperto minhas mãos, reviro meus ombros e me forço a respirar lentamente. Val franze a testa. — Em, o que foi?
— Chelsea encontrou meu estoque de dinheiro. Ela surtou e me acusou de roubar dela.
— O quê? De jeito nenhum. Você nunca roubaria dela.
— Claro que eu não faria isso. Foi obviamente a Georgia, mas não vale a pena dizer isso a Chelsea. Ela nunca acreditaria que seu anjinho fosse capaz de roubar. E então... eu... perdi a paciência, e Georgia e eu estávamos brigando, e arranhei a cara dela. Eu não posso dizer a Val que não era eu. Eu não posso dizer a ela que algo estranho e inexplicável aconteceu naquele quarto. Ela provavelmente olharia para mim da mesma forma que Chelsea fez na cozinha. Você está ficando louca igual a sua mãe. — E então ela disse que não podia mais lidar comigo e chamou a polícia.
— Sério? — Val olha para mim como se ela não tivesse ouvido corretamente. — Chelsea chamou os policiais porque você arranhou a Georgia? Isso é ridículo.
— Eu sei. Mas... — eu olho em volta. — Sua prima está aqui? Lexi? Se eu puder falar com ela, então ela poderá explicar para o seu pai o que realmente aconteceu, e ele pode dizer aos outros policiais, e então eles não vão me levar embora.
— Levar você embora? — Val começa a rir. — Em, você precisa relaxar. Tio Pete não vai levar isso a sério. Ele sabe que você não é uma criminosa de verdade. Talvez ele faça você juntar lixo no parque ou algo assim, apenas para manter Chelsea feliz, mas ele não vai te levar embora.
De repente eu me pergunto se estou sendo tão boba quanto Val parece pensar. Foi apenas um arranhão, afinal. Bem, um pouco mais que um arranhão, mas dificilmente uma ameaça à vida. — Você acha? — Eu corro a mão pelo meu cabelo, não estou disposta a relaxar ainda.
— Sim, vamos lá. Esta é uma cidade pequena. Todos nós nos conhecemos. As pessoas não ficam presas por algo tão estúpido.
— Eu acho que sim.
— O que você quer dizer com você acha? — Ela sorri e me cutuca com uma mão ainda segurando um copo. Um líquido frio espirra sobre a borda e espirra no meu braço. — Obviamente, estou certa sobre isso. Então apenas relaxe. Divirta-se. Tome uma bebida.
Eu suspiro, tentando afastar o meu pânico e não totalmente conseguindo. — Você se lembra de que esse tipo de cenário não é exatamente a minha ideia de diversão, certo?
— Eu sei. Mas o amigo do irmão de Jade, Marcus, estará aqui em breve e eu preciso de apoio. Você sabe que fico estranha quando estou sozinha com um cara gostoso. Por favor, fica.
Eu não quero exatamente ficar, mas é provavelmente a melhor opção. Chelsea não estava brincando sobre pressionar acusações - ou tentar, pelo menos - mas ela provavelmente vai se acalmar se eu lhe der um pouco de espaço durante esta noite. — Sim, tudo bem.
— Sim. — Val sorri. — Aqui, tome uma bebida. — Ela estende um dos seus copos para mim, em seguida, revira os olhos para a minha sobrancelha levantada. — Não é alcoólica, eu prometo. Tem que ficar hidratada, lembra? Alcoólica — ela levanta o outro copo — e não-alcoólica.
Hesito, mas estou com sede depois de trabalhar na cozinha da lanchonete a tarde inteira, pegando a rota mais longa para casa e depois correndo pela cidade para chegar até aqui. Eu sei que já faz horas que eu bebi qualquer coisa. — Obrigada. — Eu examino a sala por cima do copo enquanto eu tomo um gole, esperando algo doce e efervescente. Mas a bebida queima como fogo na minha garganta. Eu tusso e resmungo e empurro o copo de volta para Val.
— Qual é o problema?
— Val, isso é horrível, — eu consigo dizer. — O que tem aí dentro?
Com uma expressão confusa, ela pega o copo de mim e bebe. Então ela levanta o outro copo, cheira e prova. — Hmm. — Sua carranca se aprofunda. — Eu acho que nos dois têm álcool. Eu devo ter tomado todo o refrigerante. — Ela encolhe os ombros. — Ah bem. Pelo menos você só provou um pouco.
— Val.
— O quê? Eu sinto muito. Eu não fiz de propósito. E um gole não vai te matar.
Eu tusso novamente, tentando livrar minha garganta da sensação de queimação. — Foi um pouco mais do que um gole, — murmuro.
Val toma o restante de um copo, depois o deixa no peitoril da janela e segura minha mão. Quando ela me puxa, espero que estejamos voltando para o sofá em que a encontrei. Em vez disso, ela me puxa para a sala ao lado, onde muitas pessoas estão espremidas juntas, acenando com a cabeça no ritmo da batida e gritando umas com as outras sobre a música.
Val se inclina em minha direção e diz, — Ooh, Marcus já está aqui. Viu ele ali no canto? E você pode ficar com aquele cara que está com ele. Talvez nós duas acabemos com alguém até o final da noite, e então nós vamos ter um encontro duplo e nos casar e viver felizes para sempre.
Balanço a cabeça para os devaneios ridículos de Val. — Certo, e então eles vão nos trair, e nós vamos acabar sozinhas como nossas mães.
— Ei! — Val bate no meu braço, mas seu sorriso pula de volta ao lugar enquanto ela me puxa para o outro lado da sala em direção a Marcus e seu amigo. O nome do amigo é Trent e, com certeza, ele não é feio, mas estou muito distraída para aproveitar a companhia dele. Eu me inclino contra a parede, brincando com o pompom de cabelo ao redor do meu pulso e ocasionalmente acenando com a cabeça, então os três acham que estou prestando atenção na conversa deles. Em vez disso, meus pensamentos estão longe, oscilando continuamente entre as palavras de Chelsea - você vai acabar ficando louca como sua mãe - a pessoa encapuzada que eu imaginei na rua, e o corte inexplicável na bochecha de Georgia. Os mesmos pensamentos várias e várias vezes, até que nada parece fazer mais sentido.
Eu me torno consciente de que meu corpo ainda está zumbindo. Provavelmente a bebida horrível de Val. Isso não faz sentido, meus pensamentos sussurram na parte de trás da minha mente, mas eu nunca tomei bebida alcoólica antes, então como eu saberia? Talvez todo mundo comece a se sentir estranho depois de um enorme gole.
Val está olhando para mim, sorrindo e falando, e eu tento seguir o que ela está dizendo, mas não consigo mais me concentrar. Suas palavras entram em um ouvido e saem pelo outro, e a sala está de alguma forma... inclinando apenas um pouco. Eu olho para o chão, mas parece normal. Essa sensação na minha cabeça não é normal, no entanto. Esta semi consciência turva. A sensação de que eu estou envolta em algo macio que amortece a batida, batida, batida da música e o som da voz de Val. Talvez eu devesse estar preocupada, mas não consigo encontrar a parte de mim que se importa. A parte de mim que quer cair nesse casulo macio e dormir está assumindo.
Eu lembro do sofá na sala ao lado. — Eu só vou... vou... — Eu aponto para a porta e começo a me mover em direção a ela. Eu nunca tive que me concentrar em andar reto, mas é estranhamente difícil agora. O chão continua querendo subir em minha direção.
O sofá está cheio de gente. Eles não gostariam que eu me deitasse sobre eles, então eu consigo sair da sala e ir para o corredor. Eu arrasto minha mão ao longo da parede, mantendo-me de pé enquanto faço meu caminho até a porta da frente. O ar lá fora está mais frio, mais fresco. Eu permaneço na varanda por um tempo, encostada no corrimão e respirando profundamente até notar que o ar não está tão fresco assim. Cheira a fumaça.
Eu preciso ir para casa. Eu preciso andar e respirar e deixar essa nebulosidade estranha para trás. Eu preciso dormir. Tudo ficará mais claro quando eu acordar de manhã.
As escadas da varanda são um desafio, mas consigo navegar nelas. Estou aliviada por estar na grama e me afastar da casa e das pessoas, mas o algodão entupindo meu cérebro parece me seguir.
— Ei, aí está você. — Val aparece ao meu lado. — Você está indo embora?
— O quevocêestá... fazendoaquifora? — Faço uma pausa, abro mais a boca e me concentro intensamente para não pronunciar minhas próximas palavras. — Você deveria estar lá dentro com seu cara gostoso.
— Ugh, não, eu acabei de dizer a coisa mais idiota de todas. Marcus me olhou como se eu fosse uma criança. Muito constrangedor. Juro que queria que a terra tivesse se aberto e me engolido inteira.
— E daí? — Eu murmuro, minha voz ressoando estranha em meus ouvidos enquanto eu balanço no local. — Então deixe que a terra se abra e a engula inteira.
Um tremor ressoa sob nossos pés. — O que foi isso? — Val pergunta.
Com um som estridente, um buraco irregular ziguezagueia pelo jardim, abrindo a terra. O terror dissipa um pouco do algodão na minha cabeça, deixando tudo mais claro. Eu sufoco um grito e tropeço para trás.
Mas Val desliza sobre borda do buraco e cai dentro dele.
— Val! — Eu caio de joelhos e me arrasto. Ela está se agarrando à borda, gritando. Não consigo ver a profundidade do buraco, mas de repente começa a fechar. Quando eu agarro os braços de Val, a terra escura se fecha ao redor de seu corpo. — Pare! — Eu engasgo. — Pare, por favor, pare! Socorro! — Eu lhe dou um puxão desesperado, a solto e caio para trás.
E a escuridão envolve tudo.
Capítulo 03
ACORDAR É COMO AGARRAR O MEU CAMINHO ATRAVÉS DA LAMA ENQUANTO ALGUÉM golpeia minha cabeça repetidamente com um martelo. Quando finalmente consigo deslocar minhas pálpebras e piscar várias vezes, olho para o quarto embaçado, tentando lembrar como cheguei em casa e fui para a cama.
Exceto que este não é meu quarto.
Alarme dispara através de mim, limpando a névoa e fazendo minha cabeça latejar ainda mais. Náusea rasteja pela minha garganta quando os eventos recentes inundam meu cérebro. O sangue no rosto da Georgia - Chelsea chamando a polícia - a festa - um terremoto dividindo o chão e - o que diabos aconteceu na noite passada? Essa última informação não pode ter sido real. Devia ter havido algo estranho na bebida de Val.
Meu pulso martela em meus ouvidos enquanto eu observo o quarto desconhecido e seu mobiliário elegante. Do outro lado do quarto, alguém abre a porta e entra. — Oh, você está acordada, — diz ele. — Bom dia.
— Dash? Onde estou... Você me sequestrou? Que mer —
— Uau, espere aí, Senhorita Boca Suja. — Ele pega uma cadeira e a aproxima da cama. — Mamãe está por perto. Ela não gosta de linguagem como essa.
Eu fico boquiaberta com ele. — Esta é a sua casa? — Eu não tinha ideia que quartos legais como esse existiam na pequena cidade miserável de Stanmeade. — O que diabos estou fazendo aqui?
— Bem, — ele diz enquanto senta na cadeira, — eu tive que resgatá-la da bagunça que você fez.
— A bagunça que eu fiz? — Eu pressiono minhas mãos sobre o meu rosto para que eu não tenha que olhar para ele. A dor latejante por trás dos meus olhos se intensifica e a náusea ameaça me dominar. — O que tinha naquela bebida? — Eu murmuro.
— Nada sinistro, — ele diz levemente. — Fadas não respondem bem ao álcool que os humanos fabricam, só isso. Eu acho que você conseguiu ficar longe disso até agora, senão você estaria familiarizada com os efeitos da ressaca.
Eu abaixo minhas mãos e empurro o edredom para o lado. — Você sabe o que, Dash? Você pode tirar sarro de mim o quanto quiser. Eu não me importo, especialmente considerando que ‘fada’ é provavelmente a provocação mais fraca que você já fez. — Eu me levanto, meus pés afundando no tapete macio. — Só me deixe sair daqui para que eu possa ir para casa.
Dash levanta. — Isso vai ser um pouco difícil.
Eu coloco minhas mãos nos meus quadris e dou a ele meu olhar mais feroz - o que provavelmente não é tão feroz, dado o meu estado atual. — Você não vai mesmo tentar me parar, não é?
— Não, eu não vou impedi-la de fazer nada. Eu só preciso explicar algumas coisas primeiro. Bem, muitas coisas, na verdade. Então você provavelmente deveria se sentar.
— Eu não penso assim. — Eu passo por ele, olhando para o espelho sobre a cômoda, e — O que — Eu engasgo, quase tropeçando em meus próprios pés. Eu agarro a borda da cômoda e olho por vários segundos horrorizados para as mechas brilhantes misturadas com o meu cabelo castanho escuro.
— Em?
— Meu cabelo está azul! — Eu grito. Eu me viro, me arrependendo imediatamente quando o quarto continua girando apesar do fato de eu ter parado.
— Oh. Sim. Eu esqueci que você não podia ver isso antes.
— Por que meu cabelo está azul?
Ele suspira. — Você nasceu assim.
Minha voz é lenta e trêmula quando digo, — Eu não nasci com cabelo azul.
— Nasceu. Você só não conseguiu ver agora. É... bem, é uma característica dos faeries. Você é um ser mágico, mas sua magia é meio... defeituosa. Às vezes, está lá - como na primeira vez que você me viu quando eu estava realmente escondido por um glamour - mas na maioria das vezes não está. Bem, — ele acrescenta com uma carranca, — até a noite passada, quando tudo explodiu. Não desapareceu desde então, então tenho a sensação de que está aqui para ficar agora.
O silêncio preenche o quarto por vários segundos, até que eu percebo o fato de eu estar boquiaberta. — Você é louco, — eu sussurro.
— Eu não sou louco. Eu não estou fazendo essa parte particularmente bem, parece. O que não é totalmente minha culpa, eu gostaria de salientar, já que você já é fortemente tendenciosa contra mim.
— Minha forte tendência existe por excelentes razões! — Eu grito. — Que agora incluem o fato de que você tingiu partes do meu cabelo de azul!
Ele pisca. — Você precisa superar a coisa do cabelo. Não chega perto de ser a maior revelação do dia.
— Isto é uma porcaria completa. — Eu me viro e vou para a porta - mas ele chega lá primeiro e bloqueia o caminho com seu corpo.
— Você precisa me ouvir, Em. Você ficará terrivelmente confusa se não me deixar explicar tudo.
Eu giro e vou para o lado oposto do quarto, para as portas duplas de vidro através das quais eu posso ver uma varanda. Eu particularmente não quero descer pela lateral do prédio no meu estado atual, mas farei se for à única saída deste quarto. Eu puxo as portas, corro para fora e congelo.
No extenso jardim abaixo, que é tomado pela pálida luz do amanhecer, as árvores e roseiras estão brilhando. Não devido à iluminação artificial, mas como se a luminescência emanasse de dentro das próprias plantas. Rosas brancas azuladas e folhas roxas luminosas. Água prateada escorre sobre as rochas da fonte no centro do jardim, onde duas pequenas criaturas que parecem cavalos alados estão bebendo.
— Tire-me daqui, — eu sussurro. Minhas mãos se levantam para apertar os lados do meu rosto, como se este fosse um sonho terrível do qual eu possa me forçar a acordar. — Leve-me de volta para casa.
Acima da batida do meu pulso nos meus ouvidos, ouço os passos de Dash se aproximando. — Eu não posso. Além de todas as coisas que ainda tenho que explicar, você também precisa me dizer exatamente o que fez ontem à noite.
— Me leve de volta.
— Emerson, você não pode se esconder disso. Eu sei que você não esperava que tudo mudasse, mas agora aconteceu, então —
— Me leve de volta! — Eu grito, agarrando sua camiseta com ambas as mãos e o puxando para mais perto. — Eu quero acordar. No meu próprio quarto. Longe de você e do seu —
— Tudo bem! — Ele remove meus punhos de sua roupa. — Se você insiste em ser tão difícil. Se você insiste em ignorar o que está bem na frente dos seus olhos. — Ele levanta a mão, a palma da mão virada para o quarto, e algo em forma de caneta voa pelo ar - através do maldito ar - e para seu alcance. Sangue é drenado do meu rosto enquanto meu cérebro rejeita o que estou vendo. Alfinetes de luz deslizam pela minha visão enquanto Dash escreve na parede ao lado da porta da varanda. Sua mão envolve meu pulso e me puxa para frente em direção da parede – dentro da parede - e quando tudo desaparece na escuridão, fico aliviada porque sei que o pesadelo está chegando ao fim. Eu sei que vou acordar em breve.
— Feliz agora?
A escuridão desaparece e estou parada na rua a algumas casas da de Chelsea. O garoto da casa ao lado desce a rua com uma bicicleta surrada do irmão mais velho. — Bom dia, Em, — ele diz enquanto passa, levantando a mão para acenar para mim, depois voltando rapidamente para o guidão quando ele cambaleia.
Eu pisco. Sem olhar para trás, começo a andar. Rapidamente, quase correndo, enquanto meu cérebro trabalha furiosamente para encontrar uma explicação lógica para o que acabou de acontecer. Este é um tipo de sonho super vívido. Ou talvez tenha sido um sonho vívido, e eu acabei de acordar - na rua? Descalça? Eu hesito e dou uma olhada por cima do meu ombro, mas Dash não está em lugar nenhum. Obviamente, porque eu nunca estive com ele. Eu estive sonhando. Merda, deve ter havido algo seriamente estranho na bebida de Val na noite passada. Algo mais do que apenas álcool.
Eu paro de repente quando uma imagem de Val caindo em uma fenda na terra passa pela minha visão. — Isso nunca aconteceu, — eu sussurro para mim mesma. — Val está bem. — Eu pressiono minhas mãos sobre o meu rosto, respirando devagar e afastando o único pensamento que continua tentando forçar seu caminho para o centro da minha mente: Eu estou mentalmente doente, assim como minha mãe.
Eu sacudo minha cabeça e corro para a entrada, procurando meu celular enquanto corro. Não está em nenhum dos meus bolsos. Eu deixei na festa ontem à noite? Eu abro a porta dos fundos e entro na cozinha.
— Emerson!
Eu recuo e olho para cima. Chelsea se levanta da mesa e dá alguns passos desajeitados para trás, derrubando uma caixa de cereal no balcão no processo. O tio Pete de Val, com os botões do uniforme esticados contra o volume do estômago, fica de pé. Ele mantém seu olhar cauteloso em mim enquanto Chelsea pergunta, — Onde você esteve?
— Hum... — Essa é uma boa pergunta, na verdade. Uma que eu gostaria de saber a resposta. — Eu sabia que você estava chateada, — eu explico com cuidado, — e eu não queria piorar as coisas, então eu fiquei longe. E sinto muito por brigar com a Georgia. Mas você sabe que discutimos o tempo todo. — Meu olhar voa para Pete antes de retornar a Chelsea. — Não é algo que você precise envolver os policiais.
Espero que ela grite comigo como fez na noite anterior, mas o aperto no balcão aumenta quando ela engole e olha para Pete. Seus dedos se contorceram, sua mão direita aperta e afrouxa. — O que aconteceu na casa dos Mason na noite passada, Emerson?
— A... casa dos Mason?
— Não finja que você não sabe de nada, — diz Chelsea, uma ligeira oscilação evidente em sua voz. — Nós ouvimos e soubemos de tudo. Nós vimos o vídeo.
— Que vídeo? Do que você está falando?
Pete avança, coloca o celular na mesa e empurra para mim. Eu dou um passo mais perto e olho para a imagem granulada e instável de uma fogueira e pessoas rindo. O fogo desaparece do vídeo quando a pessoa que segura à câmera gira e quase bate em Val. Depois de um rápido pedido de desculpas, Val se afasta. Mais risadas, alguém grita, — Emerson está bêbada, — e então a câmera segue Val. Chega perto o suficiente para pegar sua voz quando ela diz, — Eu juro, eu queria que a terra tivesse se aberto e me engolido inteira.
Meu sangue gela. Eu me vejo balançando, olhos semicerrados. — E daí? Então deixe que a terra se abra e a engula inteira.
Eu sei o que vem antes de eu ver. Arrepios percorrem minha pele enquanto a filmagem balança de novo, depois se concentra no chão. A terra se abre em um trêmulo e estremecido ziguezague. Val desliza e desaparece. Eu ouço gritos e gritos, e então o vídeo é interrompido.
Meu cérebro quer rejeitar o que eu acabei de ver, mas não consegue. Aconteceu, eu digo silenciosamente para mim mesma. Isso realmente aconteceu.
Chelsea começa a xingar repetidamente por baixo de sua respiração e, por algum motivo, a voz de Dash ressoa na minha cabeça: Mamãe está por perto. Ela não gosta de linguagem como essa.
— Que diabos foi isso? — Pete pergunta, sua voz um sussurro agora. Eu abro minha boca, mas não consigo responder.
— Caramba, é como ter a Carrie morando sob o meu próprio teto, — lamenta Chelsea. — Você tem que levá-la embora, Pete. Por favor, tire-a daqui.
— Espere! Eu... eu não fiz isso. Deve ter sido uma coincidência. Um terremoto aconteceu ao mesmo tempo em que eu estava falando. Você não acha que eu poderia realmente fazer isso acontecer, não é? — Estou tentando me convencer tanto quanto eles. — E quanto a Val? Ela está —
— Você não precisa se preocupar com Val, — diz Pete. — Mas você precisa vir comigo.
— Você está de brincadeira? Você - eu quer dizer - você não viu o que mais estava acontecendo lá? Menores de idade bebendo? Você deveria estar lidando com isso, não com essa estranha coincidência do terremoto.
— Não tente mudar de assunto, Em. — Lentamente, como se aproximando de um animal perigoso, Pete vem em minha direção. Eu dou um rápido passo para trás, indo além de seu alcance. Ele franze a testa e hesita. — Em, por favor. Nós não precisamos tornar isso desagradável. Nós só queremos te levar a algum lugar seguro para você não machucar ninguém.
— Mas eu não vou machucar ninguém, eu juro.
Outros dois policiais se movem do corredor para a cozinha, e percebo que devem ter esperado lá o tempo todo. Eles são os reforços. Porque eu sou supostamente muito perigosa para um policial. Eu sacudo minha cabeça, mal capaz de acreditar que isso está acontecendo, enquanto eu me afasto mais deles.
Uma pausa.
Ninguém fala.
Então todos os três policiais se lançam em minha direção. Chelsea grita, cadeiras são jogadas para o lado e, momentos depois, estou sendo arrastada para fora. O pavimento áspero roça meus pés, e dor corre pelos meus ombros enquanto meus braços estão quase sendo arrancados das juntas.
— ME SOLTA! — Eu grito.
Suas mãos se afastam de mim tão rápido que o impulso gira os três homens ao redor e os joga no chão. — Que diabos? — Pete geme. Ele fica de joelhos e se joga sobre minhas pernas.
Eu pulo para trás para fora de alcance. — Saia de perto de mim!
Como se chutado por uma força sobre-humana, Pete desliza pela grama, passa pela porta e acerta a mesa da cozinha. Chelsea grita novamente. Ao som de um estalo, olho para baixo e vejo faíscas - faíscas? - girando ao redor das minhas mãos. Terror gelado me domina.
— Hora de ir, — uma voz diz atrás de mim. Algo aperta meu braço, e antes que eu tenha tempo de me afastar, sou puxada para a escuridão, um grito silencioso em meus lábios.
Capítulo 04
A ESCURIDÃO EVAPORA PARA REVELAR DASH AO MEU LADO E UM JARDIM BANHADO COM O brilho dourado do nascer do sol. O mesmo jardim que eu vi da varanda minutos atrás. Eu empurro Dash para longe de mim, caio de joelhos e vomito na grama.
— Adorável, — ele diz quando eu termino. — Graças a Deus eu não levei você de volta para dentro da casa.
— O que aconteceu com... Val? — Eu suspiro, tentando engolir o desejo de vomitar de novo e falhando.
Quando minha ânsia finalmente termina, Dash diz, — Ela está bem. Um dos meus companheiros de equipe a tirou do chão. Ela já esqueceu a coisa toda.
— Como ela pode ter... — Minhas palavras param quando eu olho para cima e vejo um daqueles cavalos alados em miniatura voando pelo ar atrás de Dash. Eu levanto lentamente e olho em volta. As rosas e as folhas ainda brilham levemente, mas sua luminescência é menos óbvia agora com a luz dourada do sol se infiltrando através das árvores. O pequeno cavalo pousa em uma parte rasa da piscina rochosa e começa a brincar, lançando gotas de água prateada enquanto brinca. Onde quer que a água caia, um cogumelo prateado aparece.
Meu cérebro continua repetindo a mesma mensagem: Eu devo estar sonhando. Isso não é possível. Eu cheguei ao fundo do poço e perdi completamente a cabeça. Mas eu não acho que minha imaginação seja capaz de criar esse tipo de detalhe fantástico. E tudo parece tão real. O aroma fresco de flores, o formigamento da grama sob meus pés. O gosto amargo do vômito na minha boca.
— Explique, — eu sussurro. — Faça isso fazer sentido.
Dash cruza os braços sobre o peito. — Está bem então. Era uma vez uma menininha cujo nome era —
Eu o interrompo com um olhar raivoso. — Não transforme minha vida em algum tipo de conto de fadas de merda. Apenas me dê os fatos. — Algo brilhante voa da ponta da minha língua, e meu pensamento imediato é que eu devo estar com tanta raiva que estou realmente cuspindo saliva. Mas não. É uma faísca de luz. O mesmo tipo que crepitou em minhas mãos depois que Pete foi de alguma forma jogado para longe de mim. O medo desliza pela minha espinha enquanto eu fecho minha boca.
— Tudo bem, aqui estão os fatos, — diz Dash. — Magia é real, e existe em um reino que se sobrepõe ao mundo em que você cresceu. Faeries vivem deste lado; os humanos e todas as outras criaturas não-mágicas que você reconhece vivem do outro lado. Eu sou um faerie, como você. Eu também sou um guardião, o que significa que eu sou treinado para lutar contra magia negra, faes perigosos, esse tipo de coisa. No dia em que você e eu nos conhecemos, eu tinha uma tarefa no seu lado do véu.
— O dia em que você arruinou tudo, — murmuro, lembrando minha mãe chorando, cobrindo a cabeça com as mãos, gritando sobre coisas que não são reais.
Dash parece irritado por eu ter interrompido sua história. — Você tem que parar de me odiar por isso. Você sabe que eles a teriam levado embora. Talvez não naquele dia, mas logo depois. Ela não estava em seu juízo perfeito —
— Não se atreva a falar sobre ela.
— De qualquer forma, — ele continua em voz alta, — ninguém deveria me ver, mas você viu. E com essa cor no seu cabelo, eu sabia que você era uma faerie. Mas então meio que piscou e sumiu, e você não podia mais me ver. Era como se toda a magia sobre você fosse subitamente engarrafada, inacessível. Assim que terminamos a missão, eu mencionei você no meu relatório para Guilda e eles —
— Seu relatório para a Guilda? — Eu digo com um suspiro. — Você parece que tinha doze. Essa sua Guilda cria soldados crianças ou algo assim?
— Não. Nós não somos soldados, e quando o treinamento acaba, não somos mais crianças. E eu tinha treze anos, não doze. Eu estava começando meu treinamento. Era uma missão em grupo, mas estávamos todos em diferentes áreas do parque, e eu era o único que tinha alguma interação com você. Então, sim, eu relatei isso depois. Faeries com magia defeituosa que pensam que são humanos não devem ser ignorados.
— Oh, certo, porque eu provavelmente sou um perigo para a sociedade ou algo assim, — eu digo com um revirar dos meus olhos.
— Potencialmente, sim. — O tom de Dash é muito sério, e uma imagem do chão se abrindo vem imediatamente à mente. Eu envolvo meus braços em volta de mim e olho para longe. — Eu não sei se a Guilda investigou você, — continua Dash, — porque não era da minha conta. Eu comecei com o meu treinamento, e foi cerca de seis meses depois, quando você apareceu perto de outra das minhas missões. Então, alguns meses depois, você estava lá de novo.
— Eu lembro de ter visto você, — murmuro. — Eu imaginei que você deveria morar em algum lugar perto de Stanmeade. Eu pensei que era estranho, já que estava tão longe de onde eu te vi pela primeira vez. Naquele parque perto de onde mamãe e eu morávamos. Mas eu estava tão brava com você que não me concentrei muito em ser uma estranha coincidência.
— Bem, a Guilda não achou que fosse uma coincidência. Eles pensaram que algo mais poderia estar acontecendo. Que talvez sua estranha magia ligada e desligada estivesse causando problemas, ou atraindo pessoas problemáticas ou algo assim, e foi assim que acabei com três missões perto de você. Mas eles não conseguiram encontrar nenhuma conexão, e alguém no Conselho disse que você deveria ficar sozinha. Que a Guilda não deve interferir com você, a menos que houvesse evidência de que sua magia estava se libertando e causando problemas. Mas o resto do Conselho queria que alguém ficasse de olho em você, apenas no caso. Eles reclamaram que era um desperdício de tempo e recursos para um guardião treinado fazer isso, então eu me ofereci. — Sua boca estica para um lado em um meio sorriso. — Fomos encorajados a realizar projetos extras fora do treinamento. Parece ser bom no currículo. Mostra iniciativa ou algo assim.
Eu jogo minhas mãos para cima. — Maravilha. Você é minha maldita babá.
— Hum, eu acho que detetive pode ser uma comparação mais precisa.
— Perseguidor, talvez?
— Quero dizer, era como um quebra-cabeça em andamento, tentando descobrir o que estava errado com você e como você acabou naquela cidade humana horrível.
— Talvez cientista maluco seja mais adequado. Cientista maluco altamente ofensivo.
Ele cruza os braços sobre o peito. — Acho que devemos parar as comparações. Você claramente não entende a importância do que eu faço.
— E você claramente pensa muito bem de si mesmo. Mas eu sempre soube disso, não é.
— Eu acho, Emerson, — ele diz com um sorriso aborrecido, — que devemos nos concentrar nas muitas coisas que você nunca conheceu.
Suas palavras revelam a seriedade da situação. Eu tento dizer a mim mesma mais uma vez que estou sonhando, drogada ou bêbada, mas é uma mentira fraca na qual eu não tenho esperança de acreditar. Fecho meus olhos e pressiono meus dedos contra minhas têmporas. — Então eu não sou louca, afinal, — murmuro. — As coisas estranhas que eu vi - criaturas que não deveriam existir - elas realmente eram reais.
— Sim. Bem, a menos que você esteja realmente vendo coisas que não são —
— Espere. Espere, espere, espere. — Abro os olhos, me aproximo e seguro sua camiseta enquanto a esperança ganha vida dentro de mim. — Isso significa que minha mãe nunca foi louca também? As vozes, as alucinações... a mente dela não inventou? Eles estavam realmente lá? Porque, quero dizer, se eu tenho essa... magia — ainda parece tão estranho aplicar a palavra para mim — então ela deve ter também.
— Na verdade, — Dash diz cuidadosamente, tirando meus punhos de sua camiseta, — a Guilda mandou alguém para Tranquil Hills para verificar sua mãe depois da terceira vez que você apareceu perto de uma missão. Eles não conseguiram sentir nenhuma magia nela.
— Então... ela é...
— Sim. Eu sinto muito. Ela sempre esteve doente.
Eu me afasto, sem querer que ele veja o desapontamento esmagador. Eu me lembro de não ficar surpresa, no entanto. Claro que era demais esperar que mamãe fosse sensata de verdade. É assim que a vida funciona, certo? Você espera por algo, e então a vida te chuta na cara e ri de você.
Eu pigarreio. — Então deve ter sido meu pai. O perdedor que eu não conheço. Ele deve ser — você sabe — como eu.
— Bem...
Quando Dash não termina, volto a olhar para ele. — Bem o que?
Ele torce o rosto e diz, — Por favor, não me bata.
O medo agita-se na boca do meu estômago. — Por que eu bateria em você?
— Porque... Tudo bem, olhe. Você não é halfling. Nós sabemos disso com certeza. Você é uma faerie, e isso significa que você deve ter tido dois pais faeries. Então... portanto... a mulher presa no Hospital Psiquiátrico Tranquil Hills não é sua mãe.
Eu olho para ele, incapaz de falar. Suas palavras parecem ecoar em volta da minha cabeça. Não é sua mãe... não é sua mãe... não é sua mãe.
— Silêncio? — Dash diz finalmente. — Eu acho que é melhor do que gritar e bater e me dizer que eu devo estar —
— Cale-se.
Como minha mãe não pode ser minha mãe? Por alguma razão, isso é mais difícil de compreender do que qualquer outra coisa. Ela é minha mãe. Ela me criou. Tudo era ótimo até que seus momentos de loucura começaram a se tornar um pouco mais difíceis de esconder. Tudo foi para o inferno logo depois disso, mas antes, quando ela era normal, a vida era boa. Era eu e ela contra o mundo. Nós éramos uma equipe.
Me curvo, minhas mãos pressionando meus joelhos, e respiro profundamente. — Não pode ser verdade, — eu consigo dizer além da náusea. — Deve haver alguma outra explicação. Algo que vocês deixaram passar. Eu não sei o que, mas... alguma coisa.
— Emerson...
— Acho que vou vomitar de novo.
Dash dá uma tapinha nas minhas costas brevemente. — Bem, pelo menos estamos do lado de fora.
— O que eu devo fazer?
— Há um tônico muito eficaz para a náusea. Podemos entrar e pegar um pouco.
— Com a minha vida, seu idiota. — Eu me endireito. — Tudo está completamente ferrado. Eu sou uma aberração mágica, minha tia quer me prender em algum lugar distante, minha mãe aparentemente não é minha mãe, e - e essas merdas de faíscas não param de sair de mim! — Eu balanço minhas mãos quando lampejos de luz dançam sobre elas mais uma vez. — Sem mencionar que há um vídeo de todo o desastre na fazenda dos Mason. Provavelmente já está on-line, e logo o mundo inteiro saberá que sou —
— Ei, acalme-se. O mundo não vai saber de nada. Você acredita honestamente que esta é a primeira vez que lidamos com algo assim? Claro que não é. Nós não somos amadores. A maioria das lembranças da noite passada foi alterada esta manhã, embora tenhamos deixado passar algumas que ainda precisam ser lidadas, incluindo quem levou o celular para a polícia. Mas essa filmagem terá desaparecido dentro das próximas horas, posso prometer isso. — Ele me dá um sorriso tranquilizador. — Ninguém se lembrará de que você esteve envolvida, e a principal notícia será sobre o inesperado terremoto que atingiu Stanmeade. — Ele inclina a cabeça. — Falando nisso, você pode me dizer o que realmente aconteceu? Por que o chão se abriu daquela maneira?
— Por quê? — Eu olho para ele. — Porque aparentemente eu tenho magia que de repente decidiu - e cito – tudo explodiu. Essas foram suas palavras, certo?
— Sim, mas pensei ter ouvido você dizer alguma coisa antes de acontecer, e isso não é —
Ele para quando olha por cima do meu ombro. Eu viro e vejo uma jovem caminhando em nossa direção. — Bem, — Dash murmura. — Que timing terrível.
— Oh, porque o nosso tempo sozinho acabou agora? — Eu volto o meu olhar para ele. — Boohoo. Estou devastada.
Seus olhos estreitam ligeiramente. — Você deveria estar. Há algo muito importante que precisamos —
— Dash, nós temos que ir, — diz a mulher quando ela nos alcança. — Um dos Conselheiros da Guilda está esperando para ver a menina.
Eu gostaria de salientar que ‘a menina’ tem um nome, mas estou mais preocupada com o que essa mulher acabou de dizer. — Um Conselheiro? Por quê?
— Porque você é uma faerie que vive no mundo humano, — Dash diz enquanto a mulher se abaixa e escreve na grama com uma caneta, — e agora que sua magia apareceu, você não tem ideia de como usá-la. Existem protocolos para esse tipo de situação.
— Protocolos? — Isso soa muito clínico para o meu gosto.
— Sim, claro. Eles vão colocar você em seu programa especial para pessoas como você. Faeries que, por qualquer motivo, cresceram no mundo humano sem saber como usar sua magia. Eles são principalmente faeries mais jovens, mas de vez em quando alguém mais velho aparece como você. Vai ser divertido.
Não, não vai. Não parece nada divertido. Eu não quero conhecer pessoas estranhas e aprender como se tornar um membro do seu clube mágico estúpido. Eu quero voltar para a minha vida real e fingir que nada disso aconteceu. Ou talvez se esconder em um canto e desmoronar porque minha mãe não é minha —
Não pense nisso, eu me instruo. Eu não vou desmoronar na frente de outras pessoas. Especialmente não na frente de Dash.
— Vamos então? — Ele pergunta, apontando para o chão onde um buraco escuro apareceu ao lado da mulher ajoelhada. Um buraco escuro, não de terra ou rocha, mas de... nada. Meu cérebro me diz que eu deveria estar chocada, mas acho que passei desse ponto agora. Nada parece mais impossível.
— Em? Pronta para ir?
Pronta para ir? Uma pergunta tão simples e comum. O tipo de coisa que Val poderia dizer quando chegasse à minha casa antes da escola. Ou Chelsea dizendo para a Georgia quando eles estavam indo fazer compras. Ou como mamãe costumava dizer, com a mão estendida em direção a minha, quando terminávamos de brincar no parque à tarde e precisávamos ir para casa.
Mãe.
Uma imagem dela pisca diante dos meus olhos novamente. Uma casinha, rosas silvestres no jardim, número vinte e nove no velho portão de madeira. Mamãe podando os arbustos, e uma jovem versão de mim dançando em volta dela e cantando enquanto nosso novo cachorro persegue borboletas. Mãe que não é minha mãe Meu coração se quebra um pouco. Eu empurro a dor de lado. Mais tarde, digo a mim mesma. Vai lidar com isso mais tarde. Desmorone depois.
Eu respiro fundo, o que parece tão instável quanto eu me sinto. — Sim. Vamos lá. Só... você pode me dar aquele tônico anti-náusea primeiro?
Capítulo 05
DASH CORRE EM SUA CASA PARA PEGAR O TÔNICO ANTI-NAUSEA, ME DEIXANDO SOZINHA COM sua colega guardiã, que deixa claro, com seus longos suspiros e profundas carrancas, que está irritada com a perda de tempo. O buraco que ela abriu no chão se fecha e ela fica lá com os braços cruzados sobre o peito, olhando para mim.
Felizmente, Dash não demora muito para voltar. Ele me entrega uma pequena garrafa feita de vidro marrom. É suspeitamente semelhante às garrafas em que Chelsea coloca seus remédios de ervas. Eu removo a tampa e cheiro o conteúdo. — Caramba, Em, não é veneno, — diz Dash. — Apenas beba.
Estou me sentindo horrível o suficiente para arriscar a possibilidade de Dash me enganar, então eu inclino a garrafinha em direção a minha boca. O líquido não tem gosto de nada, mas eu imediatamente começo a me sentir melhor.
— Ótimo, — a mulher diz, e está fazendo um bom exercício em seu rosto, trocando entre doces sorrisos enjoativos para Dash e expressões de irritação dirigidas a mim. — Podemos nos mover?
— Sim. E vamos abrir um portal vertical em vez de um no chão, — diz Dash. — Será mais fácil para Em entrar e sair do outro lado, considerando que ela não tem muita experiência com os caminhos das fadas. — Ele remove uma caneta e começa a escrever no ar. — Se eu pudesse apenas... conseguir ir para...
— Dash, isso é um desperdício de —
— Ah, lá vamos nós. Fácil, fácil. — Ele dá um sorriso deslumbrante para a mulher, mas eu me distraio com a crescente escuridão aparecendo no ar. Espalha-se rapidamente até que seja aproximadamente do tamanho e a forma de uma porta. Deve ser a mesma coisa do buraco que a mulher abriu no chão. A mesma coisa que apareceu na varanda mais cedo, quando Dash me levou de volta para casa.
— Isso é... algum tipo de buraco de teletransporte?
— Caminhos das fadas, — diz Dash, estendendo a mão para mim. — Embora eles não sejam realmente caminhos. É esse espaço vazio e escuro que existe em algum lugar fora do nosso mundo e do seu, e pode ser acessado abrindo portas mágicas. Tudo o que você precisa fazer é pensar no seu destino ou dizer o nome do lugar para o qual deseja ir. Muito mais fácil que carros e aviões.
Mais fácil, talvez, mas muito mais perigoso. Relutantemente, eu pego a mão de Dash e caminho para frente. Do outro lado, a mulher felizmente passa o braço pelo braço dele. Eu olho por cima do meu ombro enquanto as bordas da porta se fecham, fechando a lacuna, e então estamos em total e absoluta escuridão. — As pessoas podem ficar presas aqui dentro? — Eu sussurro enquanto caminhamos para frente, o que é uma coisa estranha a fazer quando eu não posso sentir nada sob meus pés.
— Não. Eu nunca ouvi falar de alguém ficar preso. Embora eu pense, se você conhecer a magia certa, pode ficar aqui por mais tempo do que o normal. Eu já ouvi falar de pessoas escondidas dentro dos caminhos das fadas enquanto elas estão tentando fugir de alguém.
— Pare de pensar, — a mulher murmura. — Estou tentando direcionar os caminhos e eles não vão a lugar algum com todos os nossos pensamentos em direções diferentes.
Eu fecho minha boca e tento não pensar, mas uma luz aparece à frente antes de eu descobrir se estou fazendo isso corretamente. Nós caminhamos para frente para dentro de uma sala pequena, escassamente mobiliada com um espelho, um armário exibindo pratos pintados e um tapete cobrindo as tábuas de assoalho de madeira. Eu solto minha mão da de Dash e me afasto dele. — Esta é a sua Guilda? — Eu estava esperando algo maior e mais... mágico.
— Não. Esta é uma casa antiga em uma área deserta ao lado de uma praia tropical.
Eu viro meu olhar fulminante de volta para ele. — Por que é sempre tão difícil obter uma resposta direta de você?
— Ele está dizendo a verdade, — diz a mulher, correndo em defesa de Dash. Percebo que ela não se incomodou em se apresentar, então decidi também não me incomodar.
— A Guilda pode ser um pouco intimidante, — explica Dash, vagando até o armário. — É enorme e movimentada, com muitas pessoas por perto a essa hora do dia. Faeries, principalmente, mas outros fae também. Às vezes os criminosos são trazidos, ou uma magia perdida escapa da seção de treinamento da Guilda. E o fato de você não poder ver nada do lado de fora, e então você entra por uma grande entrada que se transforma a partir de uma árvore, e você é recebida por toda essa atividade repentina... bem, pode ser esmagador no começo. — Ele vira o prato e examina a parte de trás antes de devolvê-lo ao seu suporte. — Então, nós levamos os fae que são novos com o nosso mundo para esta casa de recuperação primeiro.
— Oh. Tudo bem. — Meu cérebro pega o que é provavelmente a informação menos importante que eu ouvi durante todo o dia. — Então... se realmente estamos perto de uma praia, então o oceano deve estar por perto?
Dash me dá um olhar interrogativo. — Não muito longe daqui.
O fato de eu poder ver o oceano pela primeira vez é muito mais fácil de focar do que qualquer outra coisa agora. Eu ando até a janela mais próxima e olho para fora, mas tudo que vejo é uma floresta de palmeiras.
— Eu preciso voltar, — diz a mulher enquanto eu tento espiar entre as árvores. — Nenhuma mensagem no prato?
— Nada ainda, — diz Dash.
— Bem, ela estará aqui em breve, tenho certeza. Ela soou com pressa quando me mandou buscá-los. De qualquer forma, espero que não demore muito para entregar a garota. Eu sei que sua equipe tem coisas muito mais interessantes acontecendo no momento.
Eu vou para trás a tempo de vê-la escovar sua mão do ombro de Dash até o cotovelo dele. Com um meio sorriso, ela se afasta e eu retomo meu exame da paisagem do lado de fora, murmurando, — Sério? — Sob minha respiração. Ela não parece muito mais velha do que nós, mas certamente há muitos homens neste mundo que tem a idade mais adequada e mais maduros do que Dash.
— Obrigado, — diz ele. Então, — Em, o que você está procurando? Na verdade, não importa. Isso não é importante.
Eu desisto da minha busca pelo oceano e cruzo meus braços enquanto ando de volta para ele. — Claro que não. Nada poderia ser tão importante quanto o que você está prestes a me dizer, certo?
— Certo, — diz ele, mas a porta da frente se abre naquele momento, e caminha uma pequena garota loira com mechas laranja em seus cabelos e olhos laranja ardentes para combinar.
— Oh, Dash, você está aqui. — Ela lhe dá um sorriso brilhante.
— Hum, sim. Eu estou. Por quê você está aqui?
— Só verificando se você conseguiu. — Seus olhos deslizam para mim. — Está é a Emerson?
Dash solta um suspiro. — Sim. Em, esta é Jewel. Ela é um membro da minha equipe na Guilda.
Jewel? Eles têm cabelos estranhos e olhos e nomes estranhos? — Oi, — eu digo incerta.
— Oi. — Jewel me dá um sorriso muito amigável, considerando que acabamos de nos conhecer. — Oh, espere. — Ela desliza a mão em um dos bolsos e tira o que eu presumo ser um celular por causa da forma, mas acaba por ser semitransparente e laranja-dourado. Ela olha para a superfície, e olho de novo quando pequenas palavras douradas aparecem.
— Isso é um memorando para toda a Guilda? — Dash pergunta. — Eu acho que meu âmbar também vibrou.
— Sim. — Enquanto Jewel observa mais de perto o retângulo cor de mel, noto padrões de redemoinhos escuros tatuados no interior de seus pulsos. — Um Griffin atacou uma pequena aldeia perto de Twiggled Horn. Cinco mortos.
— Cinco mortos de um ataque de Griffin? Eles normalmente não matam pessoas.
— Sim, bem, eles são criminosos perigosos, então o que você espera. — Jewel passa a mão pela coisa âmbar, e as palavras desaparecem.
— Griffin? — Eu pergunto. — Como o grifo, a criatura mítica? — Nada me surpreenderia neste momento.
— Não, — diz Dash. — Embora sim, os grifos existem. Mas neste caso estamos falando de pessoas com magia extra. Habilidades que Faeries normais não possuem. Habilidades Griffin. Você aprenderá sobre eles em breve. — Sua expressão escurece. — Eles praticamente são uma lei para si mesmos.
Jewel revira os olhos antes de me dar um sorriso doce. — Dash nem sempre explica as coisas particularmente bem. Esses faeries perigosos costumavam viver a céu aberto, fazendo o que quisessem, sem que ninguém soubesse que eram diferentes. Mas é difícil esconder uma Habilidade Griffin nos dias de hoje. O teste é obrigatório. A Guilda só quer ficar de olho neles, compreensivelmente, mas eles estão sempre falando sobre como são discriminados. Assim, nos últimos anos, aqueles que conseguiram fugir da Guilda sem serem identificados se uniram. Formaram algum tipo de organização secreta. E agora eles dirigiram sua raiva para Guilda, contra pessoas inocentes apenas para chamar atenção.
— Inaceitável, — Dash murmura.
— Exatamente. Então você pode entender porque a Guilda quer manter um registro de todos os Dotados Griffin, certo? Eles precisam ser responsabilizados por suas ações.
Ela parece estar esperando que eu responda. Eu considero dizer a ela que eu não dou a mínima para criminosos e política, mas resolvo mudar de assunto. — O que é essa coisa retangular e laranja?
— Oh. Isso? — Jewel levanta o dispositivo cor de mel.
— Um âmbar, — diz Dash. — Celular dos faeries.
Atrás dele, um dos pratos no armário emite um som abrupto. Eu solto um suspiro involuntário e dou um passo apressado para trás. — Que mer —
— Sério? — Dash diz, me interrompendo no meio do xingamento. Ele pega o prato e vira. — A situação realmente não garante esse tipo de linguagem, Em.
Eu fico boquiaberta para ele quando meu batimento cardíaco retorna lentamente ao normal. — Você está brincando, não é? Qual é o grande problema com a coisa sem palavrões? Eu não vejo nenhuma criança por perto, a menos que você queira se colocar nessa categoria.
— Muito engraçado, — ele olha sério, olhando por cima do prato. — E se você tivesse sua boca limpa com sabonetes assim como eu tive, você entenderia minha resposta automática a uma palavra ruim. Feitiço super desagradável, aquele. O gosto fica por horas depois.
Eu olho para ele. — Estou tentando descobrir se você está brincando.
— Não. Minha mãe sempre foi muito séria sobre a política de não usar palavrões em nossa casa. De qualquer forma, a Conselheiro está a caminho. A mensagem no prato dizia que ela acabou de sair da Guilda.
— Esse som era de uma mensagem?
— Não é para soar assim, — diz Jewel. — Eu acho que o feitiço de notificação está com defeito.
A porta da frente se abre, revelando uma mulher elegantemente vestida. — Oh, incrível, você está aqui. Eu não tive tempo para verificar com cautela. Vamos para a sala de estar? — Sem esperar por uma resposta, ela passa por nós e abre a porta ao lado do armário.
— Conselheira Waterfield, — Dash sussurra quando ele pega meu braço e me conduz em direção à porta.
Eu esperava que ela fosse mais velha, sendo um membro deste Conselho especial de faeries, ou seja lá o que for, mas ela provavelmente ainda não atingiu os trinta anos. Eu também estou começando a me perguntar se esse mundo é composto por alguns homens, ou se é apenas Dash e todas as mulheres que o bajulam. Eu solto o meu braço de seu aperto, resmungando que sou perfeitamente capaz de entrar na sala ao lado sem ajuda.
A sala de estar é bonita, com móveis antigos e uma grande janela de um lado. Acho que posso ver algo bege entre as árvores que pode ser uma faixa de areia, mas a Conselheiro Waterfield me convida a sentar antes que eu possa olhar mais de perto pela janela. Eu escolho uma das poltronas com um só lugar, então não preciso me sentar ao lado de Dash ou da Conselheira. Ela se senta de costas para a janela e Dash pega a poltrona ao lado da minha. Eu aperto minhas mãos firmemente juntas no meu colo, me sentindo subitamente nervosa.
— Emerson, — diz a mulher. — Eu sou a Conselheira Waterfield. Primeiro de tudo, bem vinda ao reino mágico. Eu acredito que Dash explicou o básico para você?
— Eu expliquei, — diz Dash antes que eu possa responder. — Apenas o básico, no entanto. Ela tem muito mais a aprender. — Ele dá um sorriso na minha direção, que eu gostaria de arrancar imediatamente. Ele está gostando muito disso.
— Então, Emerson. — A Conselheira abre uma bolsa aos seus pés e tira uma versão maior da coisa âmbar que Jewel estava usando. Antes que ela se incline para cima para encará-la, vejo letras douradas aparecerem em sua superfície. — Nós estamos acompanhando você nos últimos cinco anos? Isso está correto? — Ela olha para cima de seu dispositivo mágico.
— Sim, — Dash responde mais uma vez. — Em tinha doze quando começamos a rastreá-la.
— Então, você tem dezessete agora.
— Se a matemática é a mesma coisa neste mundo como é no meu, — eu digo, — então sim.
Seu sorriso aperta um pouco. — Números são números, Emerson, não importa de que lado do véu você esteja. E esse lado é o seu lado. Você precisará começar a se referir desse jeito.
— Claro, — eu digo, quando tudo que eu quero fazer é gritar que só agora eu descobri sobre a existência deste lado, então me dê um maldito tempo!
A Conselheira Waterfield se inclina para trás, ficando mais confortável. — No caso de Dash não ter contado a você, eu sou a representante da Guilda da Chevalier House, onde você vai ficar por um tempo. É uma escola para pessoas como você. Pessoas que foram educadas com humanos e podem ter tido acesso à sua magia, mas não tiveram ninguém para ensiná-las a usá-las, ou talvez a magia delas tenha acabado de aparecer, e por causa de algum acidente ou outro, agora nós nos tornamos consciente de sua existência.
— O que faz com que apareça de repente? — Eu pergunto. — Por que minha magia era inacessível antes? Ou, por que veio e se foi? Dash disse que estava meio que... com defeito.
Ela franze os lábios antes de responder. — Para ser honesta, eu não sei. Se você fosse halfling, faria mais sentido. A magia deles é altamente imprevisível e às vezes pode se apresentar mais tarde. Mas faeries... bem, eu não sei. Eu suponho que isso aconteça de vez em quando.
— Maravilha. Então eu sou uma aberração pelos padrões deste mundo.
— Você não é uma aberração, Emerson. Depois de passar algum tempo na Chevalier House, você poderá se encaixar perfeitamente com o resto do mundo.
— Então, basicamente, você está me mandando para a escola de etiqueta mágica?
Ela respira pelo nariz. Eu acho que ela está começando a perder a paciência. — É muito mais que isso. Eles vão te ensinar sobre sua magia, sobre o nosso mundo. Eles ajudarão na logística de mesclar sua antiga vida com a sua nova. Se você deve voltar para casa ou ficar aqui, em que situação sua família acreditará enquanto estiver fora, o que você deve dizer à sua família se decidir voltar para casa. Coisas assim.
Eu cruzo meus braços firmemente contra o meu peito. — Você provavelmente deveria saber que não precisa se incomodar em inventar uma história para minha tia. Ela assumirá que eu fugi, ela ficará feliz, e isso será o fim disso.
A Conselheira Waterfield olha para o aparelho, parando por um momento enquanto lê alguma coisa. — Parece que essa é a história que ela recebeu, na verdade. Um guardião disfarçado como um policial informou sua tia que você fugiu. Ele disse a ela que uma câmera de segurança pegou você entrando em um ônibus. A polícia tentou encontrá-la do outro lado, mas de alguma forma você escapou sem ser notada. Eles ainda estão à procura de você. Seus amigos foram informados da mesma história.
— Mas isso é uma mentira. — Sento-me para frente. — Eu não quero que meus amigos pensem que eu fugi.
— Bem, Emerson, temo que você não tenha escolha. Depois de passar algum tempo na Chevalier House e poder voltar em segurança ao mundo humano, você pode inventar uma boa desculpa por ter fugido. Podemos ter um de nossos guardiões disfarçado como um policial dizendo que ele ou ela rastreou você, se essa história funcionar para você. Tenho certeza de que você pode fazer seus amigos entenderem.
Eu me inclino para trás na minha cadeira. Essa mulher não entende e nem Val. Ela vai ver através de mim se eu tentar mentir.
— Agora, como eu estava dizendo, — a Conselheira Waterfield continua, examinando seu aparelho novamente. — Todas as imagens do incidente do terremoto da noite anterior foram localizadas e destruídas, para que ninguém saiba que você estava conectada e as lembranças foram alteradas. Um encobrimento caro - nem toda magia é gratuita ou barata, sabe — mas não podemos ter humanos correndo por aí espalhando histórias sobre o que você fez. E se você decidir retornar à sua antiga vida, poderá fazer isso com segurança, sem que ninguém saiba o que aconteceu.
— Então... então é isso? Eu tenho que ir para esta escola durante um tempo, e então eu posso voltar para o meu mundo?
— Sim. — Ela desliza seu aparelho âmbar de volta em sua bolsa. — Dash vai te levar até lá agora.
— Hum, quem paga por esta escola? — Eu pergunto, inclinando meu corpo para longe de Dash quando eu pergunto. Inútil, já que ele ainda pode me ouvir, mas eu prefiro não ver sua expressão se eu tiver que admitir a Conselheira Waterfield que eu não tenho absolutamente nenhum dinheiro.
— É financiada pelo Guilda, — diz ela. — O programa é considerado parte da segurança. É perigoso ter faeries correndo por aí com magia que eles não podem controlar. É muito melhor que você seja educada para poder entrar de novo na sociedade, deste lado do véu ou do outro lado. Agora. — Ela se levanta e pega sua bolsa. — Alguém vai chegar aqui em breve para executar alguns testes em você antes de partir para Chevalier House.
— Testes? — Eu me encolho para trás contra as almofadas. — Que testes?
— Oh, nada assustador. Apenas um procedimento padrão. Para testar Habilidades Griffin, níveis mágicos, esse tipo de coisa.
— Eu não quero nenhum teste. Não tenho o direito de recusar coisas como —
— Talvez, — Dash diz enquanto levanta, — nós poderíamos fazer os testes depois de alguns dias que Em se instalar em Chevalier House. Ela já passou por muita coisa. E com sua... história. A mãe dela... — Ele abaixa a voz, como se sussurrando aquela única palavra - mãe - em vez de falar em voz alta significasse que não vai trazer todo o choque, confusão e mágoa que senti antes. Eu limito a dor enquanto Dash continua. — Eu presumo que você se lembre de todos os meus relatórios anteriores, Conselheira, então você vai entender que o conceito de ‘executar testes' tem conotações negativas para ela. — Ele coloca as mãos respeitosamente atrás das costas. Enquanto suas mangas se levantam levemente, noto a mesma tatuagem em seus pulsos que vi nos braços de Jewel.
A Conselheira Waterfield estala sua língua. — Bem. Vou mandar alguém para Chevalier House no final da semana para fazer os testes lá.
Isso não parece muito melhor, mas espero que eu esteja fora da Chevalier House até lá. Saímos da sala e encontramos Jewel ainda perto da porta da frente. Ela olha por cima de seu âmbar, os olhos arregalados. — Ótimas noticias, — diz ela. — Tipo, ótimas. Alguém fez um avanço com um feitiço para o véu. A Guilda acha que eles finalmente conseguirão selar o buraco na Ilha Velazar. Há uma reunião em vinte minutos para que eles possam nos dizer mais sobre isso.
— Correto, — diz a Conselheira Waterfield, passando rapidamente por Jewel. — É por isso que eu cheguei atrasada. Recebemos a notícia esta manhã. Agora, se vocês me dão licença, eu preciso voltar antes do início da reunião. — Ela segura uma caneta na porta da frente, e depois de algumas palavras rabiscadas, um buraco escura aparece. Mesmo que eu estivesse esperando desta vez, ainda é terrivelmente antinatural, ver um buraco de nada tomando forma e depois desaparecendo depois de engolir uma pessoa.
— Isso é tão emocionante, — diz Jewel quando a Conselheira se foi. — Você vem?
Dash sacode a cabeça. — Eu vou escoltar Em para Chevalier House agora.
— Oh, mas isso é importante. Traga-a, e você pode levá-la para Chevalier depois.
— Não precisa, — diz Dash com um sorriso fácil. — Tenho certeza que você vai me contar tudo sobre depois. E eu duvido que Em queira ficar em uma reunião da Guilda depois de tudo o que ela passou nas últimas horas.
O sorriso de Jewel escorrega por apenas um segundo, antes de se esticar largamente novamente. — Você é sempre tão atencioso, Dash. Sempre faz um esforço extra com suas missões. — Ela se inclina e dá-lhe um abraço e um beijo rápido na bochecha. — Até logo.
Eu espero até que ela vá antes de dizer, — Eu vejo que você não se importa de irritar sua namorada.
— Namorada? Jewel? — Ele ri. — Nós somos apenas amigos. Espere, por que você disse que ela está com raiva? Ela não estava com raiva.
Eu lentamente sacudo minha cabeça. — Você é um tremendo idiota.
Ele sorri. — Pela primeira vez, querida Emerson, você está quase certa. Eu era quase um idiota antes. — Seu olhar passa por mim e para cima, examinando o teto brevemente. — Felizmente, fui salvo a tempo.
Eu não posso deixar de olhar para cima também, mas não vejo nada além de algumas teias de aranha e uma aranha. Aparentemente, essas não são coisas exclusivas do mundo humano.
Ao som da porta da frente se abrindo, olho além de Dash. Na porta há um homem com orelhas pontudas e cabelo preto espetado. Isso é normal agora, eu me lembro quando meus olhos se recusam a se mover daquelas orelhas anormalmente pontudas. Totalmente normal.
— Emerson? — Ele pergunta. Eu concordo. — O professor está esperando por você.
Capítulo 06
NÓS CHEGAMOS A UM PORTÃO DE METAL ABRILHANTADO QUE NOS SEPARA DE UM JARDIM COM a grama e arbustos bem-cuidados, adornado com as cores do outono. Uma brisa fria arrasta arrepios ao longo da parte exposta dos meus braços. — Estamos em algum lugar perto da casa em que estávamos? — Eu pergunto. Não parece, mas com as trilhas das fadas — caminhos das fadas? — Fazendo viagens tão rápidas, é impossível dizer.
— Não, — diz Dash. — Estamos em uma parte completamente diferente do mundo em uma colina de uma cordilheira.
Espio entre as folhas em forma de metal do portão e, do outro lado da enorme casa, vejo picos de montanhas cobertas de neve. O elfo - presumo que as orelhas pontiagudas signifiquem que ele é um elfo - abre o portão e nos deixa entrar no jardim. Andamos pelo caminho pavimentado, subimos os poucos degraus até a porta da frente e entramos. Um fogo crepitante e uma atmosfera acolhedora nos saúdam no grande hall de entrada aberto da Chevalier House.
— Vou chamar o professor, — diz o elfo, indo em direção às escadas.
Eu atravesso a sala, meus pés afundando no tapete grosso enquanto olho em volta. Uma mesa fica no meio da sala, com um vaso lindamente pintado em seu centro cheio de flores que eu não reconheço. Cortinas ricamente bordadas emolduram as janelas e retratos em molduras douradas decoram as paredes. Eu penso em ficar aqui, mesmo que por apenas alguns dias, e eu não consigo acreditar. É um milhão de vezes mais chique do que qualquer outra casa em que já morei. — Claro que sim, — murmuro, sacudindo a cabeça.
— O quê? — Dash pergunta.
— A Guilda, a casa dos seus pais, este lugar... Eu acho que quando você vive em um mundo de magia, todo mundo pode ter uma casa chique do jeito que eles gostarem.
— Bem, não realmente. — Dash empurra as mãos nos bolsos. — A maioria dos faeries vive em casas em árvores comuns. Foi assim que vivemos até a mamãe ter sorte com o design de moda e moldar roupas. Ela ganhou um prêmio, e então uma celebridade a contratou para fazer um vestido para algum evento importante. A notícia começou a se espalhar sobre o trabalho dela e ela acabou tendo mais clientes da alta sociedade. Até mesmo alguns Seelies - a realeza fae - usaram seus vestidos. Então, sim. — Ele encolhe os ombros. — Agora temos uma casa extremamente chique.
— Interessante. Deve ter sido difícil para você sempre que você esteve no meu mundo, tendo que fingir que vivia em alguma parte ruim de Stanmeade.
— Muito difícil, — ele brinca, embora em sua voz não tenha humor.
— Não é de surpreender que você ainda viva em casa com seus pais. Por que se apressar para sair e ser independente quando você pode ficar em uma mansão por anos?
Ele não responde e eu continuo examinando os retratos na parede. Pelo canto da minha visão, vejo alguém entrar na sala e sair por outra porta, mas ignoro quem quer que seja. — Então, você e Jewel não estão juntos, mas vocês tem tatuagens iguais, — eu digo para cobrir o crescente silêncio. O silêncio deixa espaço para pensamentos sobre minha mãe entrarem, e eu não estou pronta para lidar com isso. — Parece muito sério para mim. Quer dizer, não há como voltar atrás, certo?
— Tatuagens iguais? Oh. — Dash começa a rir. — Você quer dizer isso? — Ele levanta as mãos, exibindo seus pulsos tatuados, em seguida, se curva quando o riso o consome. Eu cruzo meus braços e o ignoro até que ele se recupera o suficiente para dizer, — São marcas dos guardiões. Nós as recebemos assim que nos formamos.
— Uau, você realmente conseguiu se formar? Que surpreendente.
— Sim. — Ele sorri com orgulho. — Há menos de um ano atrás.
Eu não posso evitar revirar os olhos antes de voltar para o retrato de uma jovem mulher. Leio o nome ridículo na placa de bronze polida embaixo da pintura: Azure Plumehof. Sério? Azure, Dash, Jewel... Essas pessoas mágicas não sabem nada sobre nomes normais. Meu olhar desliza para a data abaixo do nome, que me diz que esta pintura tem mais de trezentos anos de idade. Droga. Eu me pergunto se a casa também é tão antiga.
Eu ouço risadas atrás de mim e olho por cima do meu ombro para ver um garoto sorrindo enquanto Dash escreve no braço do garoto com a mesma caneta que ele usa para abrir portas mágicas. Eu solto uma faísca de luz antes que o garoto diga, — Obrigado, Dash! — E foge.
Eu olho para longe, fingindo examinar as bordas enfeitadas com cristais penduradas em um dos tie-backs da cortina. — Eles vão me dar uma essas canetas mágicas aqui?
— Que caneta mágica? — Dash pergunta.
— Você sabe. — Eu olho de volta para ele, apontando para a caneta na sua mão. — As canetas que vocês usam para abrir as portas.
— Oh. — Dash ri. — Isso não é uma caneta. É uma stylus.
— Parece uma caneta. E pelo que vi, funciona como uma caneta.
— Bem, não é. Não tem tinta. É essencialmente apenas um bastão que canaliza a magia.
— Então... é uma varinha mágica?
— Quase. E você terá que provar que pode usar sua magia com segurança antes de conseguir uma.
— Tudo bem, — murmuro, cruzando os braços e vagando até a mesa. Eu me inclino para mais perto do vaso e examino as flores de formas estranhas.
— Dash, Emerson! — Exclama uma voz feminina da direção da escada. — Que bom ver vocês dois.
Eu me endireito e dou um passo para trás quando uma mulher com rosa nos seus cabelos louros e brincos de banana em miniatura pendurados em suas orelhas desce as escadas. Uma mulher que eu diria que teria vinte e poucos anos, talvez trinta e pouco. A mesma mulher, percebo com um solavanco, do retrato. — Emerson, — diz ela quando chega ao final da escada. — Muito adorável conhecer você. Eu sou a professora Azure Plumehof, mas por favor me chame de Azzy. — Ela estende a mão na minha direção. Eu olho para ela, então volto para o rosto dela.
— Azure Plumehof? — Olho por cima do ombro para o retrato, depois de volta. — Você não pode ser. A mulher naquela pintura teria mais de trezentos anos de idade. Ela seria uma ameixa velha enrugada.
Azzy ri enquanto abaixa a mão, aparentemente imperturbável por eu não ter me incomodado em apertá-la. — Dash não explicou essa parte?
— Eu acho que não surgiu, — diz Dash. — Ela estava muito preocupada com o fato de que seu cabelo é azul.
Eu olho para os fios azuis pastel pendurados sobre meu ombro que eu de alguma forma consegui esquecer. Com um piscar de olhos, volto minha atenção para a mais recente revelação devastadora. — Espere. Você está me dizendo que as pessoas são imortais ou algo assim?
— É tão difícil acreditar, — Dash pergunta, — dada às todas as coisas chamadas de 'impossível' que você descobriu até agora esta manhã?
— É... só que...
— Nós não somos imortais, querida, — diz Azzy com uma breve carranca na direção de Dash. Ela aperta as mãos sobre as camadas de roupa soltas e flutuantes. — Vivemos por vários séculos, o que está muito longe da imortalidade.
— Vários... séculos... — Eu murmuro.
— Não se preocupe, — diz Azzy, sorrindo gentilmente. — Damos muito tempo para absorver toda essa nova informação. É por isso que Chevalier House existe - para dar a você um lugar seguro para aprender mais sobre você e sobre o mundo do qual você faz parte agora. Haverá lições de história, lições sobre magia - todos os princípios básicos que jovens faeries aprendem na escola primária - e entrevistas para que você possa nos dar informações que ajudarão a encontrar sua família verdadeira.
— Minha — o quê? — Família verdadeira? Eu não pensei na ideia nem por um minuto.
— Mas podemos começar tudo isso amanhã. Por agora, deixe-me mostrar-lhe o seu quarto. Tenho certeza de que você teve um dia difícil até agora e provavelmente precisa descansar. Você encontrará tudo o que poderia precisar em seu quarto: roupas, produtos de higiene pessoal, maquiagem - se isso for sua praia. Se você precisar de algo que eu tenha esquecido, ou se as roupas estiverem do tamanho errado, apenas me avise. — Ela faz uma pausa, como se esperasse que eu dissesse algo, mas estou um pouco sobrecarregada para formar palavras. — E se seu cérebro está muito animado para você descansar agora, — ela continua, — você pode explorar a casa e os jardins. Conhecer os outros fae que estão conosco no momento.
— E se você precisar de mim, — Dash acrescenta, — apenas diga a Azzy. Ela sabe como me encontrar.
Eu pisco. — Precisar de você? — Isso é uma noção ridícula. — Você não precisa mais tomar conta de mim, Dash. Eu consigo passar pelo resto disto sem você.
— Tenho certeza que você consegue. Apenas conte a Azzy tudo o que aconteceu na noite passada, ok? — Ele troca um olhar com Azzy, depois retorna seu olhar para mim. — Tudo. Ela pode te ajudar.
Eu franzo a testa para ele. — Obviamente. O que você achou que eu ia fazer o quê? Fingir que a coisa toda não aconteceu? Eu já tentei isso e isso não fez com que nenhuma dessas loucuras fosse embora.
— Vamos ter uma boa conversa, não se preocupe, — diz Azzy, acariciando o braço de Dash antes de pegar minha mão e me direcionar para as escadas. — Vamos nos acomodar, Em. Posso te chamar de Em, ou você prefere Emerson?
— Ela gosta de Emmy, — Dash diz a ela. Eu viro minha cabeça por cima do meu ombro e imagino faíscas voando para fora dos meus olhos diretamente para ele. Infelizmente, magia não parece funcionar assim, e eu fico simplesmente olhando para o rosto sorridente dele. — Divirta-se, — diz ele com um pequeno aceno antes de se virar e se dirigir para a porta. E apesar do fato de que eu querer dar um tapa nele — apesar de dizer a ele que não preciso dele — tenho o repentino desejo de gritar “Espere, não me deixe aqui!”. Porque mesmo que eu sempre tenha odiado ele, ele é a última peça da minha vida normal e está prestes a desaparecer por aquela porta.
Mas eu engulo meu pânico e não digo uma palavra. Eu me viro para frente e deixo Azzy me levar subindo as escadas. Porque eu sobrevivi a tudo que a vida já jogou em meu caminho sozinha, e isso não será diferente.
Capítulo 07
ELA NÃO É SUA MÃE.
Ela não é sua mãe.
Essa informação continua tocando dentro do meu cérebro, e agora que estou sozinha, nada que eu faça pode me distrair disso. Eu examino cada parte do meu quarto — quase tão agradável quanto o quarto de hóspedes na casa dos pais de Dash — mas travesseiros fofos, um tapete luxuosamente macio, e uma cama com dossel não conseguem evitar que a imagem de uma mãe que não é minha mãe marque a minha mente.
Eu abro o guarda-roupa e descubro, ao encontrar um espelho lá, que pareço terrível. Minha pele está pálida e minhas pálpebras estão manchadas da maquiagem escura. Eu pego algumas roupas limpas em uma das prateleiras e, depois de olhar para os dois lados do corredor para me certificar de que não estou prestes a esbarrar em ninguém, eu atravesso em direção ao banheiro que Azzy mostrou. O que eu descubro ser o suficiente para me surpreender dos meus pensamentos perturbadores por um tempo. Eu esperava uma banheira ou chuveiro, mas em vez disso eu encontro uma pequena piscina cercada por seixos e cheia de água fumegante e perfumada. É a coisa mais convidativa que eu já vi em eras, e eu estou mais do que feliz em deixar de lado cada pensamento que corre pela minha cabeça. Tiro minhas roupas sujas e afundo na água quente.
Mas até essa distração não dura muito tempo. Então, depois de me vestir com roupas limpas que de alguma forma se encaixam perfeitamente, eu saio do meu quarto. Ando pela casa, por uma biblioteca cheia de livros do chão ao teto, por uma sala de jantar com uma longa mesa retangular no centro e por uma cozinha maior que a casa de Chelsea. Eu exploro o jardim, ignorando todas as pessoas — todos os faer... ser... coisas — que eu me deparo.
Mas meus pensamentos continuam voltando para mamãe. Eu tento manter a imagem dela que eu sempre tive, no lugar que ela sempre teve na minha vida. O lugar e o título de mãe. Mas a ideia está começando a desmoronar à medida que as perguntas começam a penetrar nas frestas de minhas defesas: Como ela acabou comigo? A quem eu realmente pertenço? Por que ela nunca me contou? Quem diabos sou eu, se não sou filha dela? E apesar do fato de me encher de culpa, tento imaginar como seria minha mãe ‘verdadeira’. Mas minha imaginação fica em branco. Não consigo imaginar ninguém, exceto a mulher com quem cresci.
Quando eu percebo que estou parada imóvel na frente da mesma estranha planta de bolinhas por vários minutos, olhando sem ver, concluo que estou farta da vida real por hoje. Eu posso lidar com todas as minhas perguntas, dúvidas, confusões e magia amanhã. Volto para o meu quarto, fecho as cortinas, subo na cama e dou o meu melhor para adormecer. Quando Azzy bate na minha porta e diz algo sobre o jantar, eu puxo o edredom sobre a minha cabeça e a ignoro.
**
— Pessoal, está é a Emerson, — Azzy diz na manhã seguinte, depois de me apresentar as outras sete pessoas na biblioteca: uma faerie, um elfo e cinco pessoas meio velhas. — Lembre-se de como vocês se sentiram incertos sobre tudo quando chegaram aqui? É assim que Em se sente agora. Então, lembre-se de fazer o seu melhor para recebê-la.
Todo mundo olha para mim. Eu deslizo um pouco mais para baixo na minha cadeira. Se eu soubesse como abrir aquele buraco que abri na terra na outra noite, ficaria tentada a fazer isso de novo agora mesmo e me arrastar para dentro dele.
— Bem, então, — continua Azzy. — Vocês podem se conhecer melhor durante o almoço. Por enquanto, todos vocês precisam voltar ao que vocês estavam trabalhando no momento. Em, você vem comigo.
Eu levanto junto com os outros. Dois dos meus companheiros estranhos se movem para uma mesa juntos e conversam em voz baixa enquanto abrem vários livros enormes. O resto deixa a biblioteca pela porta que leva ao jardim.
— Então, Em, — diz Azzy, me conduzindo para outra mesa. — Como tenho certeza de que você já percebeu, isso não é como uma escola comum. Nós nunca sabemos quando alguém vai chegar, e todo mundo tem uma história diferente. Alguns fae não têm nenhum conhecimento prévio do mundo mágico, como você, enquanto outros tiveram alguma exposição à magia, mas não foram formalmente ensinados a nada. Então, como você pode ver, precisamos adaptar nossas lições e um treinamento para cada indivíduo.
— Hum, sim, — eu digo depois de uma pausa, já que parece que ela está esperando por um sinal de que eu estou ouvindo ela.
— Então vamos começar com um pouco da história sobre esse mundo. Momentos extraordinários do passado, bem como eventos mais recentes que desempenharam um papel importante na formação do nosso mundo.
— Divertido. — Eu tento não parecer entediada, mas percebo que não estou fazendo um bom trabalho. O que aconteceu sobre aprender sobre magia de verdade?
— É divertido. Especialmente já que eu vou pedir que alguns dos outros alunos expliquem as coisas para você.
— O quê?
Azzy me dá um sorriso deliberado. — Eu pensei que isso poderia fazê-la prestar atenção.
— Então... essa parte era uma piada?
— Oh, não, eu estava sendo totalmente séria. Dessa forma, você não precisa me ouvir falando por horas. Eu descobri que é uma ótima maneira de aprender. Isso ajuda os alunos que estão aqui há mais tempo a lembrar o que aprenderam, ensinando a você os fatos mais importantes, e você se conhecerá no processo. Eu vou supervisionar, é claro, para ter certeza de que eles não vão contar um monte de bobagens, mas essencialmente tudo será uma discussão.
Maravilha. Então é isso que eu tenho que esperar todos os dias enquanto estou aqui. — Então, hum, quando vou aprender como fazer alguma magia de verdade? Eu pensei que isso era tudo que eu precisava saber. Controlar a magia, então vou poder ir embora.
Ela sorri. — Começaremos esta tarde com algo fácil. Depois que você me contar exatamente o que aconteceu na outra noite quando você acidentalmente usou magia.
Eu suspiro quando me levanto e sigo para a mesa com os outros dois fae. — Por que todo mundo quer que eu diga exatamente o que aconteceu? Todos os detalhes de todo o evento não estão escritos em algum relatório chato da Guilda em algum lugar?
— Eu tenho certeza que está, mas não dói explicar novamente. Agora, você senta aqui com George e Aldo — ela puxa uma cadeira para mim enquanto os dois meninos olham para cima — e eu vou pegar meu chá.
Eu sento na cadeira, meu olhar se movendo cautelosamente entre os dois garotos. — Oi, — diz o mais novo, que parece ter uns dez anos. — Eu sou o George. Este é o Aldo.
— Tudo bem, deixe-me ver se eu me lembro disso corretamente. Você é um faerie, — eu digo, apontando para Aldo, — e você é um halfling? — Meu olhar se move para George.
Eu lembro que Dash mencionou a palavra halfling dizendo que eu não poderia ser um, mas ele não explicou mais do que isso. — Então, o que exatamente é um halfling? Alguém meio mágico?
— Não exatamente, — diz Aldo. Ele parece um pouco mais velho, catorze ou quinze talvez. Embora a idade não pareça fazer sentido neste mundo, então posso estar totalmente errada. — Significa dois pais diferentes. Uma faerie e um elfo, por exemplo. Ou um ser humano e uma faerie, embora as leis fae digam que a interação com os seres humanos é errada.
— É isso que eu sou, — diz George, jogando a mão no ar como se estivesse se oferecendo para responder a uma pergunta. — Pai faerie e mãe humana. Papai diz que ficou entediado com este mundo, então foi se aventurar no outro. Ele conheceu minha mãe e ele não voltou para cá desde então. Ele achava que eu quase não tinha magia quando eu era pequeno, mas começou a aumentar depois de eu completar dez anos no ano passado. As coisas ficaram um pouco descontroladas no mês passado quando eu acidentalmente ateei fogo no nosso celeiro com chamas encantadas que não podiam ser apagadas com água. Fui enviado para cá depois disso.
— Uau. Quase tão dramática quanto a minha história, — eu digo. — Então, como você sabe a diferença entre faeries e halflings? Alguém me disse que eu sou definitivamente uma faerie, mas e se ele estiver errado?
— Não, você é definitivamente uma faerie, — diz Aldo. — É fácil dizer por que faeries têm uma cor.
— Uma cor?
— Você não percebeu? — Ele se inclina para frente e descansa os cotovelos na mesa. — Você tem azul em seu cabelo e olhos. Eu tenho vermelho. Aquele guardião que te trouxe aqui tem verde. Azzy tem rosa, embora ela prefira chamar de cor de cereja.
— É cor de cereja, — diz Azzy quando ela volta para a biblioteca e vem em direção a nossa mesa com uma xícara de chá e pires flutuando no ar ao lado dela. Ela se senta. — Agora, Em, você pensou em sua primeira pergunta?
Eu pigarreio e me forço a desviar o olhar da xícara de chá levitando. — Oh, eu pensei que eles iam me dizer as coisas.
— Mas como eles saberão o que dizer se você não fizer uma pergunta?
Eu levanto uma sobrancelha. Esse estilo de ensino parece questionável, mas eu não sou especialista, então provavelmente não deveria falar sobre isso. — Hum... vamos ver... — O que eu quero saber? Eu quero saber se é absolutamente certo que minha mãe não é minha mãe. Eu quero saber como acabei morando com ela. Eu quero saber como eu devo encarar a vida e mim mesma quando de repente eu não sou a pessoa que eu sempre pensei que era. Quero saber se é possível ter uma crise de identidade aos dezessete anos.
Mas eu não vou fazer nenhuma dessas perguntas, é claro. Elas são muito pessoais e essas crianças não saberão as respostas de qualquer maneira. — Hum, bem, Dash explicou os caminhos das fadas, mas essa é a única maneira de chegar ao outro mundo? E se alguém não tiver uma daquelas coisas tipo caneta? — O que me preocupa é que eu não tenho uma dessas coisas, e eu preciso de uma maneira de sair daqui se as coisas acabarem indo mal.
— Ooh, tudo bem, eu posso responder, — diz George, jogando sua mão no ar novamente. — Então existem lacunas aqui e ali no véu entre os dois mundos, e os fae podem passar por essas lacunas. Eu não me lembro exatamente onde elas estão, no entanto, ou de onde elas vieram. Eu acho que elas sempre existiram. Ah, e há um buraco no véu sobre a Ilha Velazar, — acrescenta ele. — Isso não é natural, no entanto. Não deveria existir. Algumas bruxas criaram anos atrás.
Eu olho para Azzy. — Parece que pode ter sido um evento importante.
— Foi, — diz ela, parecendo satisfeita. Eu posso dizer o que ela está pensando: essa coisa de aprendizado em grupo está funcionando exatamente como ela planejou. — Você pode nos contar mais sobre esse evento, Aldo?
— Hum, claro, tudo bem. — Ele bate sua stylus sobre a mesa. — Bem, havia esse cara chamado Draven. Tudo bem, espere, vamos voltar um pouco. — Ele franze a testa, depois continua. — Foi há vinte e oito anos, quando um dos príncipes Unseelie tentava assumir o controle da corte da sua mãe. Em vez disso, ele e a Rainha Unseelie foram mortos por Draven, que era um halfling insanamente poderoso, e Draven acabou assumindo a Corte Unseelie. Houve muita luta e lavagem cerebral e outras coisas e, eventualmente, Draven foi morto. Pelo menos é o que todos pensaram.
— Dun, dun, duuuuun, — George diz em tom dramático, fazendo Azzy rir.
— Dez anos depois, a princesa Seelie que esteve na prisão todo esse tempo por ajudar Draven - porque ele era na verdade seu filho —
— Super complicado, — acrescenta George.
— Sim, então a princesa Seelie descobriu que Draven ainda estava vivo e escondido, — Aldo continua, — e ela o traiu e o entregou a Guilda em troca de sua liberdade.
— Ela não era a melhor mãe, — diz Azzy sacudindo a cabeça.
— Então a princesa matou sua mãe e irmã para poder reivindicar a coroa Seelie. Então, esse tiro saiu pela culatra - porque, você sabe, a Guilda e a Guilda Seelie trabalham juntos, então eles perderam a rainha e conseguiram uma nova horrível. E então se descobriu que a princesa Seelie estava trabalhando com algumas bruxas, e elas queriam dominar o mundo humano também. Elas decidiram que não deveria mais ser separado deste mundo. Então elas usaram um feitiço antigo e magia negra horrível para rasgar o véu, mas o que acabou acontecendo foi que quando o buraco se abriu mais e mais, ele começou a consumir os dois mundos.
— Eu não acho que elas sabiam que isso iria acontecer, — diz George.
— Não, obviamente não. De qualquer forma, Draven acabou no local — provavelmente para se vingar de sua mãe — e ele foi morto. De verdade dessa vez. Houve mais lutas e, de alguma forma, o buraco no véu parou de crescer.
— O monumento. — Azzy ajuda.
— Certo. Havia um antigo monumento do reino sereiano, e quando o buraco no véu tentava aumentar, a magia do monumento era forte o suficiente para segurar o buraco no lugar e impedir que ficasse maior. Então agora está apenas lá, esse buraco gigante no véu sobre a Ilha Velazar —
— Que é uma ilha flutuante, — George acrescenta com um sorriso. — Bem, duas ilhas agora, porque havia uma prisão do outro lado, então a Guilda cortou a ilha ao meio depois que a coisa do véu aconteceu.
— E guardiões estão posicionados perto do buraco o tempo todo, — continua Aldo, — escondendo-o com um glamour e certificando-se de que ninguém chegue perto o suficiente para tocar o monumento.
— Então não há como fechá-lo? — Pergunto.
— Os estudiosos têm trabalhado nisso desde então, — diz Azzy. — E ouvi dizer que finalmente houve um avanço, na verdade.
Eu me lembro vagamente de Jewel dizendo algo ontem sobre um feitiço do véu. — Eu acho que ouvi sobre isso. A Guilda teve uma reunião sobre isso ontem.
— Sim, isso é muito emocionante. — Azzy sorri para nós antes de pegar sua xícara de chá. — De qualquer forma, você está acompanhando até agora, Em?
— Acho que sim. Não tenho certeza se entendo totalmente a coisa dos Seelie e Unseelie, no entanto.
— Oh, as cortes diferentes. — Azzy acena para Aldo antes de tomar outro gole de chá.
— Hum, as cortes dominam diferentes partes do nosso mundo, — diz Aldo. — A Guilda e a Corte Seelie trabalham juntos para manter a ordem e a paz e manter o mundo funcionando. Eles decidem sobre as leis e proíbem magia que envolva ferir outras pessoas. Unseelies tendem a se manter afastados. Eles também gostam de ignorar as leis e usar qualquer magia negra que eles queiram, e a Corte Seelie nem sempre pode fazer nada sobre isso. Eu acho. — Ele olha para Azzy para confirmação.
— Essencialmente, sim. É um equilíbrio complicado.
— Então o que aconteceu com a princesa Seelie? — Eu pergunto. — Aquela que matou sua mãe e irmã e estava trabalhando com as bruxas? A Guilda não permitiu que ela continuasse a governar, não é?
Azzy balança a cabeça e coloca a xícara de chá no pires. — Não. Depois do feitiço do véu, a pena de morte foi restabelecida e a princesa Angelica — que suponho que era na verdade a rainha Angelica naquele momento — foi sentenciada à morte.
Meus olhos se arregalam. — Uau. Então, quem sobrou para governar a corte?
— O filho da irmã dela. Então atualmente nós temos um rei em ambos as cortes. Rei Idrind na Corte Seelie, que é um jovem rei, e o rei Savyon na Corte Unseelie, que está governando desde a primeira ‘morte’ de Draven.
Mais nomes estranhos, eu penso comigo mesma. Em voz alta, eu digo, — Isso tudo é muito interessante, mas não me ajuda a controlar minha magia. Isso é tudo que eu realmente preciso saber, certo?
— Se você decidir ficar neste mundo, — diz Azzy, — então você precisa saber como funciona.
— Mas eu não vou ficar aqui.
Ela sorri. — Não há necessidade de tomar essa decisão agora.
— Tenho certeza que já tomei a decisão.
Azzy ri. — Está bem, está bem. Isso é absolutamente bom, mas eu ainda preciso que a Guilda te ensine um pouco de história. Mas eu prometo que chegaremos na magia logo após o almoço, ok? Agora. — Ela se inclina para frente e me observa atentamente com seus olhos rosa escuros. — Você já foi informada sobre Habilidades Griffin?
Eu me lembro de Dash mencionando elas ontem. — Hum... faeries superpoderosas?
— Sim, sim, — diz Aldo. Ele olha para Azzy.
— Bem, vá em frente, — diz ela para ele. — Diga para Em tudo sobre eles.
Encosto-me para trás em minha cadeira, e o resto da manhã passa com explicações do que são Habilidades Griffin (habilidades mágicas adicionais e não naturais), de onde vieram originalmente (discos de metal contendo a magia de um halfling super poderoso de séculos atrás), e como são transmitidos hoje em dia, já que os discos sumiram (quando dois Dotados Griffin têm um filho, embora às vezes a criança saia normal).
Depois de mais algumas rodadas de perguntas e respostas, Azzy finalmente nos deixa ir para o almoço. Eu me levanto e me alongo, e estou prestes a seguir Aldo e George quando noto a stylus de Aldo na mesa entre os livros. Depois de um breve olhar ao redor da sala para me certificar de que ninguém está me observando, eu casualmente me inclino e a pego. Eu levanto minha camiseta e coloco no cós do meu jeans, então corro para fora.
A stylus belisca meu peito o tempo todo que estou sentada na hora do almoço, e eu tenho medo de que de repente ela abra um portal no meu corpo ou me incendeie ou faça algum outro feitiço por vontade própria. Mas eu consigo terminar o almoço inteira.
Logo depois, Azzy me diz para colocar um suéter por cima da minha camisa e encontrá-la do lado de fora. — Pronta para aprender alguma magia? — Ela pergunta quando a encontro perto de uma estátua de um centauro apontando um arco e flecha para o céu.
É provavelmente a pergunta mais estranha que já me fizeram. Eu mal posso acreditar que magia existe, muito menos que eu tenho a habilidade de brincar com ela. Eu engulo e rolo meus ombros em uma tentativa de relaxar. — Provavelmente não, mas vamos lá.
Capítulo 08
— ENTÃO, COMO ISSO FUNCIONA? — EU PERGUNTO ENQUANTO ESTAMOS NO JARDIM A CERTA DISTÂNCIA dos outros alunos. — Eu digo algumas palavras mágicas e algo acontece?
— Foi isso que aconteceu na outra noite quando você acidentalmente usou magia? — Pergunta Azzy.
— Hum, não, eram apenas palavras normais. Minha amiga Val ficou envergonhada com algo que ela disse para um cara, e ela fez um comentário sobre desejar que a terra se abrisse e a engolisse. Então eu disse... — Eu engulo e enrolo alguns fios de cabelo em volta do meu dedo indicador, envergonhada do estado em que estava naquela noite. — Eu estava meio que fora de mim, porque eu bebi um pouco de álcool, e aparentemente isso não é bom para faeries, então eu... eu não sei exatamente, mas eu disse algo como 'E daí? Então deixe que a terra a engula.’ E então... aconteceu.
— Eu entendo. — Azzy sacode a cabeça lentamente.
— Tem a ver com meus pensamentos? Eu estava talvez imaginando, e minha magia apareceu ao mesmo tempo, então foi isso que na verdade aconteceu?
— Sabe, Em, não tenho certeza. Coisas estranhas podem acontecer quando a magia de uma pessoa se revela pela primeira vez depois de estar dormente por anos. Mas eu vou tentar descobrir para você, tudo bem? — Ela me dá um sorriso que parece menos entusiasmado do que antes. — E é provavelmente melhor que você não mencione exatamente o que você fez com mais ninguém. Não até que eu possa descobrir mais.
— Oh. Porque —
— Enquanto isso, — ela diz antes de eu fazer minha pergunta, — vamos começar com o básico. Magia existe ao seu redor e dentro de você. Para fazê-la fazer algo, você precisa tirá-la de dentro de você e liberá-la de alguma forma ou canalizá-la através de uma stylus. Muito da nossa magia funciona dessa maneira, escrevendo as palavras para um feitiço específico em alguma coisa, enquanto canaliza a magia através da stylus.
Parte do meu cérebro ainda está preso imaginando por que eu deveria manter o que aconteceu na outra noite em segredo, então eu levo alguns instantes para processar as palavras da Azzy. — Hum, tudo bem, então, uma vez que eu puder canalizar, posso fazer o que quiser com ela?
— Não, nós temos limitações, é claro. Baseando-se que o poder nos cansa, assim como um exercício iria cansar você. Se você chegar ao ponto em que não tiver quase nada, então precisa descansar para recuperar sua força mágica. — Ela caminha lentamente de um lado para o outro enquanto fala, suas roupas soltas flutuando ao redor dela. — E há limitações para exatamente o que você pode fazer. Você não pode simplesmente estalar os dedos e ter uma pilha de ouro à sua frente, ou um arco-íris em arco no céu inteiro.
— Tudo bem. Mas faeries superpoderosas podem fazer coisas assim?
— Sim. Habilidades Griffin permitem que as pessoas façam magia que ninguém deveria ser capaz de fazer. Mas vamos aos detalhes do que é possível e do que não é mais tarde, — ela acrescenta com um aceno de mão. — A primeira coisa que eu quero que você pratique é a parte em que você realmente usa sua própria magia. Inicialmente parecerá algo que você tem que focar intensamente toda vez, mas logo se tornará instintivo. Então você descobrirá que pode fazer isso automaticamente sem nem pensar nisso.
— Como dirigir um carro?
— Bem, eu não tenho nenhuma experiência pessoal nessa área, mas sim, eu suponho que seja como dirigir um carro. — Ela pára de andar e estende as mãos suas palmas na sua frente. — Uma vez que você tirar o poder de si mesma, se você não canalizar através de algo, você pode simplesmente segurá-la em suas mãos. Ela aparecerá como uma espécie de massa brilhante que pode ser transformada em outras coisas. — Enquanto ela fala, uma forma esférica de luz toma forma acima de suas mãos, iluminando o caminho e uma energia que se esforça para se libertar. — Por enquanto, — ela diz, — eu só quero que você se concentre em chegar ao ponto em que você a está segurando.
Eu engulo, em seguida, pisco quando a magia de Azzy desaparece e ela abaixa as mãos para seus lados. — Hum, está bem. Devo fechar meus olhos?
— Se isso vai ajudar você a se concentrar, então sim.
Meus olhos fecham e me concentro em imaginar um lugar profundo e oculto dentro de mim. Eu tenho que livrar minha mente de imagens inúteis de intestinos e outros órgãos, mas eventualmente eu chego lá.
— Você pode sentir? — Azzy pergunta baixinho. — Cantarolando, vibrando. Encontre-a e imagine reunindo um pouco em suas mãos e a liberando.
Eu me imagino fazendo o que ela diz, esperando que na realidade não seja tão escorregadio e difícil de segurar como imagino que seja.
— Aqui está, — ela sussurra.
Eu abro meus olhos, e fico tão assustada ao ver a massa brilhante pairando sobre as minhas mãos que eu suspiro e dou um passo para trás, tirando minhas mãos da magia. Ela desaparece em nada.
Azzy ri. — Bom trabalho, isso foi bom.
Uma risada ofegante escapa de mim. — Eu realmente fiz isso.
— Você fez. Agora, para o próximo desafio: você pode fazer de novo?
Eu estendo minhas mãos mais uma vez e fecho meus olhos. Espero que seja mais fácil na segunda vez, mas quando abro os olhos não encontro nada acima das palmas das minhas mãos. Então eu tento de novo, tomando meu tempo, sentindo aquele zumbido fraco que nunca costumou ser parte de mim. Eu puxo, mas mais uma vez, eu encontro minhas mãos vazias.
— Paciência, — murmura Azzy. — Não fique frustrada consigo mesma.
Repito o processo, mas parece que não consigo mais clarear minha mente. O ar frio me distrai. O chilrear dos insetos enche meus ouvidos. Eu sacudo meus braços, respiro profundamente várias vezes e tento novamente.
Nada.
— Ugh, isso é uma droga! Por que é tão difícil?
Azzy, parada pacientemente em um lado, cruza os braços. — Porque hoje é a primeira vez que você tenta fazer isso. Levará muita prática antes que fique fácil.
— Mas eu preciso saber como fazer isso agora.
— Em, você precisa ir com calma, — diz ela com uma risada. — Você tem que aprender tudo o que uma criança faerie passaria aprendendo no ensino fundamental, e isso não vai acontecer em uma tarde. Mesmo se você for inteligente e dedicada, ainda levará vários meses para —
— Meses? — Repito, o choque corre através de mim. — Do que você está falando? Eu não posso ficar aqui durante meses.
— Por que não? Existe algo importante para o qual você precise voltar? Fiquei com a impressão de que a Guilda havia organizado sua história com seus parentes humanos e amigos. Ninguém está esperando que você volte para aquele lado do véu a qualquer momento em breve.
— Isso não faz... e... a minha mãe! — Eu gaguejo. — E eu tenho um plano. Eu preciso terminar a escola e me aproximar dela e conseguir um emprego que pague melhor. Então eu posso realmente ajudá-la. Como eu devo terminar a escola se estiver aqui durante meses? Eu só deveria ficar aqui por — eu não sei — uma semana ou duas.
— Sinto muito, Em. — A testa de Azzy franze em confusão. — Eu não sei quem te disse isso, mas isso definitivamente vai demorar mais de uma semana ou duas.
— Eu... só... eu não posso fazer isso. — Eu me afasto dela.
— Em, espere —
— Eu vou para o meu quarto.
— Emerson, por favor, seja madura sobre isso, — Azzy fala atrás de mim. — Vamos apenas conversar, em vez de você fugir para se esconder de tudo.
Eu não olho para trás. Passo correndo pelas estátuas e entro na casa — e passo direto pelas escadas que levam aos quartos. Eu abro a porta da frente e continuo correndo. Ao longo do caminho e em direção ao portão. Não faço ideia para onde estou indo, é claro, mas preciso sair desse lugar. Eu corro entre as árvores, em torno dos arbustos e sobre as rochas. Posso não ser boa em magia, mas sou boa em correr. Então eu corro, corro e corro, e eventualmente tropeço em algo e deslizo até a metade de uma parte íngreme da floresta. Eu levanto e escovo minhas mãos sujas e arranhadas contra minha calça jeans, permitindo-me recuperar o fôlego.
Eu estou longe da casa agora, então eu puxo a stylus do Aldo do meu jeans. Eu a seguro como uma caneta e descanso minha mão contra a árvore mais próxima. Eu vi esse feitiço várias vezes agora, então eu devo ser capaz de lembrar as palavras. Eu tento me concentrar e alcançar qualquer que seja a magia que existe dentro de mim enquanto escrevo as palavras que eu testemunhei Dash e Jewel escrevendo. Eles também falavam algumas palavras diferentes, então faço uma tentativa de repetir o que me lembro de ouvir.
É impossível. Ou eu entendi errado ou as palavras faladas estão erradas, ou não canalizo magia o suficiente através da stylus. Provavelmente uma combinação dos três. Eu giro e jogo a stylus no chão. Depois de um momento de pausa, me jogo ao lado dela. Eu cruzo minhas pernas e braços e respiro um pouco. Isso é tão estúpido. O que eu devo fazer agora? Continuar andando até encontrar uma daquelas lacunas naturais entre os dois mundos? E como eu saberia se eu visse? Não, esse é um plano estúpido. Especialmente se não houver muitas dessas lacunas. Eu poderia estar a centenas ou milhares de quilômetros de distância de uma. O que tenho que fazer é continuar andando até me deparar com uma pessoa que possa me levar ao mundo humano. Chevalier House não pode estar muito longe da civilização, certo?
Eu me forço a continuar me movendo, tentando não pensar no fato de que eu poderia estar completamente errada. Enquanto ando e ando e ando, a luz lentamente fica fraca. Quando a noite começa a se aproximar e eu ainda não encontrei nenhum sinal de nenhuma pessoa ou civilização, medo genuíno se acumula na borda da minha mente. Eu corro minhas mãos para cima e para baixo nos meus braços, tentando me aquecer, mas isso não funciona.
Então eu ouço alguma coisa. O farfalhar repetitivo de passos nas folhas. Alívio e incerteza se chocam dentro de mim ao mesmo tempo, me congelando no local por vários segundos. Então eu recupero meus sentidos e escorrego para trás da árvore mais próxima, espreitando na direção do som. Neste mundo, é definitivamente mais seguro checar as coisas antes de falar olá.
O ser que eventualmente aparece parece um homem. Seu rosto está na sombra e ele usa um longo casaco preto que alcança abaixo dos seus joelhos. Quando eu vejo que não é uma espécie de monstro, eu quase saio de trás da árvore e chamo por ele. Mas algo me impede. Uma mudança no ar. Um sentimento de desconforto. Eu noto movimento através do chão da floresta, como se insetos e pequenas criaturas estivessem se afastando dele. A sensação de que algo está errado me envolve.
Eu me agacho entre as raízes das árvores, cobrindo minha cabeça com as mãos e tentando me enrolar em uma pequena bola. Por favor, por favor, não me veja, eu canto silenciosamente. Eventualmente, seus passos desaparecem no nada. Eu me permito respirar longamente e devagar antes de ficar em pé e olhar timidamente ao redor da árvore. Eu dou alguns passos.
E uma forma escura salta sobre mim.
PARTE 2
Capítulo 09
EU CAIO COM UM GRITO, A CRIATURA EM CIMA DE MIM. ASAS DE COURO BATEM ao meu redor, e uma boca rosnando estala sobre meu rosto. Eu luto com punhos, cotovelos e joelhos. Com um grande impulso, eu consigo expulsá-lo de cima de mim. Ele pula de novo — mas algo brilhante e reluzente brilha através da escuridão. O monstro grita quando uma lâmina dourada corta para frente e para trás, forçando-o ainda mais para longe de mim. Ele bate uma asa no homem que segura à lâmina, então se arremessa para o lado e voa para longe.
O homem se vira — e vejo que é Dash.
Eu levanto e me afasto até sentir a superfície áspera de um tronco de uma árvore atrás de mim. Eu me inclino contra ela, não confiando em minhas próprias pernas para me manter de pé. Sem fôlego, eu pergunto, — Como... como você me encontrou?
— Isso importa? — Dash dá um passo em minha direção.
— Sim. Aqui estou eu tentando voltar à minha vida normal e meu babá perseguidor aparece do nada.
Ele solta a faca e ela simplesmente... desaparece. — Eu acho que você provavelmente deveria estar agradecendo ao seu babá perseguidor agora.
Eu me afasto da árvore e aumento a distância entre nós. — Eu não vou agradecer. Tudo o que você quer fazer é me arrastar de volta para aquela escola idiota.
Em vez de me lembrar que ele acabou de salvar minha vida, ele diz, — Primeiro dia ruim?
— Claro que foi ruim. Este lugar — este mundo — não é para mim. Eu não pertenço aqui. Por que ninguém entende isso?
— Nós entendemos. É para isso que a Chevalier House serve.
— Você não está me ouvindo. Eu não. Quero. Estar aqui. Tudo bem? Eu não quero ter lições estranhas com estranhos, eu não me importo com a história deste mundo, e eu não quero nenhuma magia. Eu só quero IR EMBORA.
Confusão atravessa o rosto de Dash. — Mas... não é melhor do que você tinha antes?
— Não! Eu não quero isso! — Eu grito. Começo a andar de um lado para o outro, jogando meus braços descontroladamente enquanto ando, sem me importar que faíscas aleatórias escapem dos meus dedos e queimem as folhas no chão. — Dois dias atrás, minha vida era a mesma porcaria que sempre foi. Agora eu tenho magia, estou em um mundo estranho, minha mãe não é minha mãe e, basicamente, eu não tenho nenhuma ma — Eu me interrompo antes de terminar. — Eu não tenho a menor ideia de quem eu sou ou o que está acontecendo. Eu só quero voltar ao meu plano, onde eu termino a escola, me afasto de Chelsea e descubro como tirar minha mãe daquele hospital. E sim, estou bem ciente de que foi uma vida de baixa qualidade, mas era a minha vida e eu sabia o que fazer com ela.
A testa de Dash continua a franzir. — Mas você ainda pode fazer tudo isso. Quero dizer, não exatamente assim, mas uma vez que você tiver o lado mágico das coisas sob controle, você pode voltar à vida normal. Na verdade, a magia irá ajudá-la com a vida normal, se você for discreta sobre isso. Então você não deveria estar tentando virar as costas para isso.
Eu paro, olhando para a escuridão e não vejo nada enquanto meu cérebro processa rapidamente algo que eu não tinha considerado até agora. Eu me viro lentamente e encaro Dash. — A magia pode curar minha mãe?
Ele hesita, abre a boca, depois a fecha e sacode a cabeça devagar. — Ela não é mágica. Seria muito arriscado usar magia em seu corpo, especialmente em sua mente. Não sabemos se isso a prejudicaria e pioraria as coisas.
Eu jogo minhas mãos para cima. — Então, qual diabos é o ponto em ter esses poderes estúpidos? Como eles devem me ajudar?
— Hum, por causa de tudo mais que você pode fazer com a magia?
Eu cruzo meus braços sobre meu peito. — Posso passar pelos caminhos das fadas direto para o seu quarto de hospital e levá-la de volta através deles para algum outro lugar?
— Bem, não, você não pode levá-la a qualquer lugar pelos caminhos porque os humanos não podem viajar dessa maneira. Mas você pode ir a qualquer lugar. Você poderia visitá-la agora mesmo. Quero dizer, — acrescenta ele rapidamente, — se você achar que é uma boa ideia.
Eu hesito. Claramente, Dash não acha que é uma boa ideia visitá-la agora, e ele provavelmente está certo. Eu quero, claro. Eu não quero nada mais. Mas eu não quero ir com ele. Eu não quero que ele veja minha mãe em seu estado atual, e eu não quero que ele me veja e minha reação quando eu a vir daquele jeito. Eu preciso aprender essa coisa dos caminhos das fadas para que eu possa viajar por conta própria. — Tudo bem, então eu não posso resgatá-la do hospital dessa maneira, — eu digo. — Mas eu poderia me esconder com magia, certo? E eu poderia usar magia para distrair todo mundo enquanto tirava mamãe do prédio, e a magia podia ajustar a papelada para que todos achassem que ela estava devidamente dispensada. E a magia poderia colocar meu nome no sistema escolar dizendo que me formei, e isso poderia me ajudar a conseguir algum dinheiro para ter uma vida simples em algum lugar e manter minha mãe segura. Certo?
— Sim, exatamente. Vê? A magia é boa para alguma coisa. Embora, — ele acrescenta com uma carranca, — eu não estou dizendo que eu defendo você fazendo qualquer uma dessas coisas. Nós não devemos mexer com vidas humanas e, tipo, usar magia para conseguir dinheiro ilegalmente.
— Você também não está dizendo que me impediria.
— Eu estou dizendo... — Dash coça a cabeça. — Eu estou dizendo que você deveria voltar para Chevalier House e continuar aprendendo como usar sua magia com segurança. Podemos considerar todas as opções depois disso.
Eu aceno devagar. — Certo.
Ele hesita, me observando com os olhos apertados. — Você está pensando em fazer todas essas coisas ilegais, não é?
— Estou pensando em voltar para Chevalier House. — O que é a verdade, realmente, já que a magia se tornou a melhor maneira de sair da minha vida ruim e dar à mamãe um futuro melhor do que o que ela está encarando no momento.
Dash suspira. — Bem, seus motivos podem ser questionáveis, mas se eles a levaram de volta à Chevalier House hoje à noite, então eu fiz o meu trabalho.
— Ótimo. Bom trabalho. Deveríamos ir, então? — Eu me viro e algo que parece um lagarto alado salta de um galho e voa direto para mim. — Puta...
— Sorvete, — diz Dash, pegando a pequena criatura. — Puta sorvete. Isso é o que ela diria, carinha. Não precisa ficar chateado.
— Puta sorvete, — eu retruco. — Que diabos é essa coisa?
Diante dos meus olhos, a criatura começa a mudar de forma. Um momento é algum tipo de réptil e no outro é um gatinho. — Ah, parece um metamorfo, — diz Dash. — Formattra é o nome oficial, eu acho. Esses carinhas são muito raros. Eu me pergunto como ele acabou aqui.
— Metamorfos? Formidável. Lobisomens são reais também?
— Bem, existem fae que são metamorfos, mas eu acho que eles se transformam em outras pessoas, não animais. Você sabe, como outra faerie se transformando para se parecer comigo.
— Porque quem não gostaria de se parecer com você, certo?
— Exatamente. — A criatura se estica e me cheira. Eu me afasto para fora de seu alcance. — Ei, vamos lá, ele gosta de você, — diz Dash. — Você não quer um animal de estimação?
— Não, eu não gosto de animais de estimação.
Dash ri. — Impossível. Por que você não gosta de animais de estimação?
— Eles morrem e é triste. — Ou eles fogem e nunca mais voltam.
— Isso definitivamente não é uma razão boa o suficiente.
— Bem. Em breve vou embora e quem vai cuidar dele então? Isso é uma razão boa o suficiente?
A criatura se transforma entre várias formas tão rapidamente que não consigo dizer o que é até que se torne um gatinho novamente. — Ele é apenas um bebê, Em, — diz Dash, coçando a cabeça do gatinho. — Ele precisa de alguém que cuide dele.
Eu inclino minha cabeça para o lado. — Você disse que eles são muito raros, não é? Então posso vendê-lo por muito dinheiro?
O rosto do Dash desmorona. Ele abraça a criatura no seu peito e cobre as orelhas. — Isso é uma coisa terrível para se dizer, Em. Não dê ouvidos a ela, carinha, — ele sussurra. — Ela não quis dizer isso.
— Ugh, sério? — Minhas mãos se fecham em punhos. — Podemos ir agora? Você disse que eu preciso voltar para casa, e agora você está perdendo tempo aqui com essa estranha coisa que muda de forma.
Ele me observa de boca aberta como se quisesse dizer alguma coisa. Então ele balança a cabeça. — Sim, ok. Vamos. — Quando ele levanta sua stylus para escrever um portal, a criatura que muda de forma pula e desaparece na escuridão. Dash estende a mão para mim e eu relutantemente aceito. Quem elaborou a regra de contato físico para viajar no caminho das fadas obviamente não levou em consideração a possibilidade de algumas pessoas nunca quererem dar as mãos.
Quando a escuridão desaparece para revelar uma fraca luz, estamos do lado de fora do portão da Chevalier House. — Você poderia ter nos levado direto para dentro da casa, sabe.
— Eu não posso, na verdade, — Dash diz enquanto abre o portão. — Os caminhos das fadas não abrem dentro da casa ou em qualquer lugar do jardim.
Eu fecho o portão atrás de nós. — Isso é estranho. Por quê?
— Medida de segurança. É assim na maioria das propriedades privadas. Apenas os proprietários podem abrir portais dentro da própria casa.
— Uma medida de segurança estúpida, se alguém pode abrir o portão.
— O portão não abrirá para qualquer um, no entanto, — Dash diz enquanto seguimos o caminho até a casa. — Se você passou por ele na companhia de alguém que mora aqui — como o elfo que nos trouxe aqui ontem — você recebeu acesso mágico para passar pelo portão.
Eu permito que um longo suspiro passe pelos meus lábios. — Isso tudo parece desnecessariamente complicado. As pessoas deviam usar apenas cadeados e chaves.
Dash ri. — Uma coisa tão humana para se dizer.
— Foda-se, — murmuro.
Entramos no hall de entrada da Chevalier House e encontramos a melhor amiga de equipe de Dash, Jewel, esperando por nós. — Oh, você a encontrou, — diz Jewel, um sorriso iluminando seu rosto. — Que bom.
— Você também faz parte da equipe de babá? — Eu pergunto.
Ela franze a testa. — O que você quer dizer? Eu estava com Dash quando Azzy enviou a mensagem para dizer que você fugiu. Eu me ofereci para ajudar a procurar por você.
— Que gentil da sua parte, — eu digo diretamente.
Dash me cutuca com o cotovelo, e eu dou um passo para longe dele para que ele não possa fazer isso de novo. Azzy entra na sala. — Emerson. — Ela coloca as mãos nos quadris e me dá um olhar severo. — Fugir não era necessário. Espero que você saiba que não vamos forçá-la a ficar aqui contra a sua vontade. Se você tem certeza absoluta de que não está interessada neste mundo, podemos mandá-la de volta para a Guilda e eles podem te dar um daqueles aparelhos que bloqueiam toda a magia.
— Aparelho? — Eu pergunto.
— É um anel ou pulseira ou algo assim. Eu não tenho certeza de qual forma eles estão usando hoje em dia. É algo que não pode ser removido e irá bloquear totalmente a sua magia.
— Oh. Eu não sabia que era uma opção. — Mas como Dash apontou, a magia pode me ajudar a ajudar a mamãe. Especialmente considerando que o tipo de trabalho que eu poderia conseguir como uma graduada do ensino médio não pagaria quase tanto quanto o tipo de trabalho que eu poderia conseguir se eu fizesse uma versão encantada de alguma qualificação superior. Se eu quero estar melhor equipada para ajudar a mamãe, então eu preciso ficar por aqui um pouco mais. — Eu sinto muito, Azzy, — eu me forço a dizer. — Estou aqui para aprender agora. Eu não vou fugir novamente.
— Maravilhoso. Agora, por que vocês dois não ficam para o jantar? — Azzy pergunta a Jewel e Dash. — Ou você tem casos importantes para lidar?
— Nossa equipe está livre, — diz Jewel. Ela enlaça os braços com os de Dash. — Gostaríamos de ficar para o jantar.
— Maravilhoso, — diz Azzy, envolvendo um braço em volta dos ombros de Dash e os apertando brevemente.
— Sim, realmente maravilhoso, — murmuro. — Eu só vou... me limpar, eu acho.
— Claro, — diz Azzy, apontando para uma das portas que saem do hall de entrada. — Tente não confundir com a porta da frente, Em. Nós não queremos que você se perca do lado de fora novamente.
Eu considero revirar os olhos, mas é muito esforço. — Eu acho que posso conseguir.
Quando eu termino de espirrar água no meu rosto e penteio meu cabelo com os dedos — o que me surpreende, mais uma vez, com suas mechas azuis brilhantes — saio do banheiro e encontro Jewel esperando sozinha no hall de entrada. Ela se afasta da mesa. Eu olho em volta, mas definitivamente é em minha direção que ela está caminhando. — Hum, oi?
Ela sorri e parece quase genuíno. — Olha, eu realmente não quero fazer a coisa toda de adolescente malvada, já que eu sei que somos praticamente adultas por aqui, mas eu só quero ressaltar que Dash não está exatamente disponível.
Eu decido me fazer de burra. — Disponível para quê?
Ela revira os olhos. — Você sabe, um relacionamento.
— Oh. — Eu cruzo meus braços. — Por quê?
— Bem, olha, não é oficial ainda, mas nós meio que temos uma coisa acontecendo.
— Uma coisa? Mesmo? Eu nunca teria adivinhado, dada a maneira como ele tenta seduzir todas as mulheres que encontra.
O sorriso de Jewel escorrega um pouco. — Sim, eu sei que ele namorou um monte de garotas, mas nenhuma dessas relações durou muito tempo, e eu sei exatamente o porquê.
Eu finjo um interesse intenso. — Você sabe?
— Sim, é óbvio: ele está procurando a pessoa certa. E ele está tão perto de descobrir que sou eu, então eu não quero que nada estrague isso para nós agora.
— Oh, uau, é você? Como você sabe disso?
— Porque muitas coisas em nossas vidas foram passadas juntas. Nós treinamos juntos. Nós crescemos juntos. Nós até brincamos juntos quando bebês. Nós estamos destinados a ser.
Eu pisco. — Essa é a coisa mais estúpida que eu já ouvi.
— Ei!
— Quem se importa se vocês brincaram juntos quando bebês? Duvido que qualquer um de vocês possa se lembrar disso.
— Isso não importa! Isso significa que nós temos uma história, — ela diz, todos os traços de seu sorriso doce se foram. — E se temos uma história, teremos um futuro mais forte.
— Mesmo? Porque Dash e eu também temos uma história, e isso só fez com que eu não gostasse dele.
— Sim, porque vocês têm a história errada. Nós temos a história certa, então —
— Jewel? — Eu paro para ter certeza que ela está ouvindo. — Você pode ficar com ele. Eu não estou interessada.
— Oh. Mesmo?
— Mesmo. Eu tenho outras prioridades agora. — Eu passo por ela e me dirijo para a sala de jantar, onde a conversa alta e os cheiro de dar água na boca enchem o ar. Na longa mesa retangular, estão os outros sete alunos que atualmente frequentam a Chevalier House, além de alguns fae que vi andando por aí. Professores, talvez, e o homem com a mão no pulso de Azzy, rindo enquanto ele se inclina para mais perto para dizer algo que só ela pode ouvir, deve ser seu marido ou parceiro ou algo dessa natureza.
— Emerson! Você perdeu algo excitante enquanto estava fora, — George me diz enquanto me sento.
— Oh, o que eu perdi?
— Outra pessoa nova chegou.
— E isso conta como excitante? — Eu puxo o prato mais próximo de comida para mais perto e começo a colocar legumes assados no meu prato. Eles cheiram mil vezes mais deliciosos do que qualquer coisa que Chelsea já cozinhou.
— São duas novas pessoas em dois dias, — diz Azzy da cabeceira da mesa. — Isso não acontece muitas vezes aqui.
— E ela é velha como você, — acrescenta George.
Eu abaixo a colher de servir. — Desculpe?
— Oh, caramba, tão velha quanto Emerson? — Os olhos de Dash se arregalam. — Isso é seriamente velha.
George, sentado ao lado de Dash do outro lado da mesa, morde o lábio enquanto franze a testa. — Oh, eu pensei... Mas Azzy não é super velha? E a Emerson tem, sua idade? — Ele diz para Dash.
— Ok, e isso, — eu digo, apontando meu garfo para dar ênfase, — é por isso que é tão confuso ter pessoas que tem um zilhão de anos parecendo que estão na casa dos vinte.
Dash dá de ombros. — Não podemos evitar se temos magia nos nossos sistemas, mantendo-nos jovens e bonitos.
— Eu sei, é tão bom, né? — Jewel diz enquanto se apressa para dentro da sala de jantar e seleciona o único assento disponível no lado da mesa de Dash.
— Zilhão? Eu tenho apenas trezentos e quatro anos, — diz o homem sentado ao lado de Azzy. — Eu sou Paul, a propósito, — acrescenta ele com um sorriso na minha direção. — O marido de Azzy.
— Oi. — Eu retorno seu sorriso, satisfeita por descobrir que pelo menos alguns fae têm nomes normais. Depois de provar um pouco da minha comida e tentar não gemer em voz alta de como é incrível, eu pergunto, — Então, onde está a outra garota nova?
— Ela não estava se sentindo tão bem, — diz Azzy. — Teve alguns dias traumatizantes. Eu dei-lhe algo para comer quando ela chegou um pouco antes do jantar, e ela está dormindo agora. Vocês duas podem começar as aulas juntas amanhã.
— Ótimo. — Eu não estou empolgada em compartilhar lições com outra pessoa — e se ela me atrasar? — mas já que decidi me comprometer totalmente com o programa Chevalier House, eu provavelmente deveria ser educada com todos que moram aqui.
Volto minha atenção para a minha comida, empilhando mais algumas iguarias no meu prato quando penso que ninguém está olhando. Dash chama minha atenção, no entanto. Eu retorno seu sorriso com um olhar de raiva. Pirralho mimado provavelmente tem um chef em casa. Sem dúvida ele come assim o tempo todo.
No final da refeição, os pratos se erguem por conta própria e voam para fora da sala de jantar em direção à cozinha. Eu tento não ficar muito surpresa, mas não consigo evitar me pressionar contra a minha cadeira com medo quando meu prato sobe no ar. Eu peço licença logo depois e saio da sala de jantar; toda essa conversa e atividade durante o jantar não é algo que eu estou acostumada. Eu prefiro ir para a cama cedo para que eu possa me concentrar corretamente em todas essas coisas mágicas amanhã.
— Em?
Eu viro no último degrau que leva aos quartos e olho para trás.
— É bom que você tenha voltado, — diz Dash, vagando pelo hall de entrada. — Quando você estiver arrasando em todas as suas lições em algumas semanas, me avise para que eu possa me gabar de ter sido eu quem falou para você ficar.
A única resposta que eu dou a ele é outro olhar de raiva.
— Ei, vamos lá, estou apenas brincando.
— Sabe, eu tenho tentado descobrir por que tantas pessoas gostam de você quando você é só um idiota.
Ele dá de os ombros. — Provavelmente porque ninguém mais tem a impressão de que eu arruinei suas vidas, então eles podem me ver como eu realmente sou.
— Como é, exatamente?
— Cara simpático, sorriso encantador, não tão ruim de olhar.
— Estou surpresa que eles possam ver qualquer coisa além dessa sua cabeça gigantesca.
Ele franze a testa e levanta a mão para a cabeça. — O que há de errado com a minha —
— Eu quis dizer o seu ego, idiota.
— Ei, eu disse não tão ruim. Isso só deveria me dar um ego de tamanho médio, certo?
— Em você, isso é mais do que suficiente, — eu digo quando me viro e subo as escadas.
— Boa noite, Emmy, — ele fala atrás de mim.
— Cale a boca, — eu resmungo sob a minha respiração.
Chego à minha porta, abro-a — e pulo para trás ao ver um tigre sentado na minha cama. O tigre pisca e se transforma em uma coruja, depois um corvo e depois um gatinho. O alívio corre através de mim, seguido rapidamente pela irritação. — Não, — eu digo. — Não, não, não. Isso não está acontecendo. Você deveria ficar lá fora na floresta. — O gatinho pisca. — Eu vou dar você para Dash. Ele pode cuidar de você. — Eu pego o gatinho e corro de volta para o hall.
No topo da escada, paro. Azzy e Dash estão de pé juntos no hall de entrada abaixo, Dash parecendo estranhamente sério. — Temos até o final da semana, — ele diz baixinho, — então não há pressa imediata. Mas nós vamos ter um plano em prática, provavelmente depois de amanhã.
— Bom. E certifique-se de que pareça um acidente.
— Claro.
Eu mordo meu lábio, me encolhendo de volta nas sombras, sabendo instintivamente que eu não deveria ouvir o que eles estavam falando. Antes que eu possa decidir o que fazer com o animal que se transforma, Dash abre a porta da frente e sai. Azzy caminha de volta para a sala de jantar, sua camisa leve e enorme flutuando atrás dela.
— Que diabos? — Eu sussurro para o gatinho. Um instante depois, torna-se um coelho. — Bem. Dash sumiu, então você está por conta própria. — Coloco o coelho na escada, depois corro de volta para o meu quarto, minha mente percorrendo explicações sobre o que Dash e Azzy poderiam estar falando. Talvez não seja nada sinistro, afinal. Certifique-se de que pareça um acidente. Isso não parece bom, no entanto. Mas seja o que for, não vou me envolver. Eu sobrevivi durante esse tempo mantendo o nariz fora dos negócios de outras pessoas, e isso não vai mudar.
Depois de visitar a piscina quente no banheiro — a melhor coisa sobre esta casa além da comida — eu subo na cama e bato no abajur para desligá-lo. É alimentado por magia, é claro — eletricidade parece não existir neste mundo — e Azzy me disse para bater levemente com o dedo para ligá-lo e desligá-lo. Até agora parece estar funcionando.
Encosto-me contra os travesseiros, achando mais fácil dormir esta noite do que ontem à noite. Estou quase dormindo quando um som — uma batida suave na porta — me desperta. Tão silenciosa que eu me pergunto se eu posso ter imaginado isso. Eu sento, observando a porta através da luz cinza fraca da janela e esperando. Quando a batida vem pela segunda vez, eu sei que não estou imaginando. — Sim? — Eu falo através da escuridão. Minha porta se abre devagar, revelando a silhueta de uma figura feminina. — Quem está aí? — Eu pergunto, nervos flutuando de repente no meu estômago.
— Você é a Emerson? — Ela pergunta. — A outra garota nova?
— Hum, sim. — Eu me inclino e ligo o abajur enquanto ela desliza para dentro e fecha a porta. Ela corre pelo quarto e senta na beira da minha cama. Eu me afasto para trás, colocando um pouco mais de distância entre nós quando vejo a aparência dela: um roupão enrugado da mesma cor do que encontrei pendurado no meu guarda-roupa, pele pálida e olhos de um roxo profundo azulado. É a mesma cor que atravessa seu cabelo escuro, que, se eu me lembro das minhas lições corretamente, significa que ela é uma faerie, não algum outro tipo de fae.
— Por favor, me ajude, — ela sussurra, com os olhos arregalados. — Aqui não é seguro. Precisamos ir embora.
Capítulo 10
— HUM... O QUÊ? — PERGUNTO, ABSOLUTAMENTE CONFUSA. — DO QUE VOCÊ ESTÁ FALANDO? E quem é você?
— Eu sou Aurora. Eu acabei de chegar aqui esta noite. A professora me disse que havia outra garota nova, e pensei que, como você ainda não se aprofundou muito no programa deles, e eles não fizeram lavagem cerebral em você, ou seja lá o que for que acontece aqui, podemos fugir juntas.
— Lavagem cerebral? De onde você tirou isso?
— Porque eu — talvez eu não saiba como usar minha magia, mas eu cresci neste mundo e sei de coisas. Eu ouvi coisas. Sobre este lugar. — Ela se aproxima um pouco mais. — As pessoas desaparecem daqui às vezes. Tipo, elas simplesmente desaparecem sem deixar vestígios logo após o início de seu treinamento. E parece que a Chevalier House não tem nada a ver com isso, mas como não pode? As pessoas entram aqui e nunca saem. Elas simplesmente desaparecem. E eu não quero que isso aconteça comigo. Acabei de ter minha liberdade e não quero perdê-la.
Se eu pudesse me afastar ainda mais dessa garota, eu faria, mas já estou encostada na parede. — Então, você está dizendo... que eles matam algumas das pessoas que entram aqui?
— Eu não sei. Talvez. — Ela aperta o cinto de seda de seu roupão, puxando-o com mais força. — Ou talvez seja algo pior. Talvez eles estejam presos em algum lugar. Talvez eles estejam fazendo experimentos neles.
— Você tem alguma prova disso?
— Claro que não, mas isso não significa que seja falso.
Considerando o que ouvi entre Dash e Azzy agora, estou quase inclinada a acreditar nessa garota, mas seus olhos arregalados e cheios de terror me lembram demais da minha mãe. Mamãe parecendo desesperada e com medo, falando sobre coisas igualmente irracionais. — Olha, Aurora. Eu não quero ser hostil, mas eu não quero me envolver com o que você está falando. Você tem seus problemas e eu tenho os meus. Vamos apenas superar essa coisa de Magia Básica, e nós podemos seguir caminhos separados.
Ela recua, dor enchendo seus olhos. — Você não acredita em mim? Você quer seriamente se arriscar com essas pessoas que nunca conheceu, em vez de considerar que posso estar dizendo a verdade? Que você e eu nunca teremos a chance de seguir caminhos separados se algo acontecer conosco antes disso?
Eu penso novamente na conversa silenciosa de Dash e Azzy. — Tudo bem, — eu digo devagar. — É verdade que eu não conheço as pessoas daqui, mas também não conheço você. Você poderia estar inventando isso.
Ela respira fundo. — O que você quer saber? Eu... eu vou te contar tudo. Quando você entender o quão horrível minha vida tem sido até agora, você entenderá porque eu nunca mais quero ser uma prisioneira novamente. Farei qualquer coisa para sair daqui.
Eu levanto minhas sobrancelhas com a palavra ‘prisioneira’, mas ainda não estou pronta para acreditar nessa garota. Se há pessoas insanas no meu mundo, deve haver pessoas insanas neste também. — Por que não deixamos isso para amanhã?
— Não! Apenas me deixe me explicar. Como você vai saber se pode confiar em mim até ouvir o que eu tenho a dizer? Como você sabe que pode confiar neles?
Eu considero gritar para chamar a Azzy, mas Aurora está certa. Não sei se posso confiar em alguém aqui. E se Chevalier House e este programa for um elaborado truque para reunir seres mágicos não treinados? Eu não sei por que alguém faria isso, mas eu não sei muito sobre este mundo, então pode haver uma razão. — Bem. Diga-me o que você quer me dizer.
— Tudo bem. Então fui criada por bruxas —
— Bruxas? — Eu dou-lhe um olhar duvidoso. — Como com vassouras? Ninguém me disse nada sobre bruxas. Elas são mesmo reais?
Seus olhos se estreitam. — Você está neste mundo há cinco minutos e já decidiu que sabe mais do que eu?
— Eu só —
— Não, elas não têm nada a ver com vassouras. Eu nem sei o que isso significa.
— Oh. Você nunca esteve no meu mundo?
— O reino não mágico? Não, nunca. Por que elas me levariam para lá? Passei a maior parte da minha vida trancada na casa delas. As únicas coisas que sei são as coisas que eu as ouvi falar e as coisas que li em seus livros. Eu não sei como acabei vivendo em uma casa com bruxas, porque elas nunca se incomodaram em me dizer. Elas... elas me trataram como serva. — Ela levanta os joelhos e envolve os braços ao redor deles. — Elas nunca me ensinaram como usar minha magia, porque isso me fortaleceria. Eu poderia ter usado contra elas. Elas me pegaram lendo sobre Chevalier House uma vez, quando eu estava tentando descobrir um plano de fuga e para onde eu iria se eu fosse embora. Elas riram e disseram que mesmo que eu conseguisse fugir delas, Chevalier House não me faria bem algum. Faes desaparecem daqui o tempo todo.
— Se isso for verdade, certamente a Guilda saberia sobre isso. Eles teriam encerrado o programa. — Não pode ser verdade. Eu preciso que não seja verdade. Preciso que Azzy me ensine tudo sobre magia para que eu possa voltar ao meu mundo e ajudar minha mãe.
— A menos que a Guilda esteja nisso também, — Aurora diz em tom conspiratório.
— Então, se Chevalier House é perigosa, por que você veio para cá?
— Eu não escolhi vir para cá. — Ela coloca seus pés no chão e se inclina para perto de mim. — Eu finalmente consegui fugir das bruxas depois de meses de planejamento cuidadoso. Eu estava sozinha até que um guardião me pegou roubando comida. Foi assim que acabei na Guilda e foram eles que me enviaram para cá.
Eu suspiro. — Você sabe que tudo isso soa ridículo, certo? E a única coisa que você parece saber é o que um bando de bruxas lhe contou. Obviamente, elas querem que você acredite que Chevalier House não pode ajudá-la. Elas não queriam que você fugisse.
— Tudo bem, então talvez elas estivessem mentindo. Mas você está disposta a correr esse risco? Você ainda quer estar aqui?
— Na verdade sim. Eu quero. Eu percebi hoje que a magia pode me ajudar muito mais do que qualquer coisa que eu já aprendi em meu mundo, e eu preciso saber como usá-la antes de voltar para casa.
— Se eles permitirem que você volte para casa, — ressalta Aurora.
— Bem. O que exatamente você está sugerindo então? Fugirmos juntas?
— Sim. Tudo está trancado agora — já chequei no andar de baixo — mas podemos esperar por uma chance amanhã e fugir juntas. Então podemos descobrir o que fazer quando formos livres.
— Não, — eu digo categoricamente. — Sinto muito, mas não. Eu tentei isso hoje e não funcionou. Eu tenho um plano diferente agora, e isso não inclui fugir com alguém que acabei de conhecer.
— Você está sendo tão ingênua, — ela sussurra com um aceno de medo de sua cabeça.
— Estou? Eu não confio em você, e não confio neles, então com quem devo ficar? Obviamente, o lado com maior probabilidade de me ajudar. E agora, parece ser a Chevalier House. Se algo estranho está acontecendo, eu vou descobrir em breve e então vou fugir. Mas por enquanto, eu fico aqui. — Empurro para o lado a pequena voz que diz que Aurora pode estar certa. Que a estranha conversa que ouvi é prova suficiente. Porque eu preciso que esse programa funcione. Agora que percebi o quanto a magia pode fazer por mim em meu mundo, eu me agarro a isso como se fosse minha única esperança de uma vida melhor.
Aurora engole em seco, depois respira devagar. Ela coloca alguns fios de cabelo atrás da orelha, se afastando de mim. — Tudo bem. Eu sinto muito por ter incomodado você com isso. — Ela sai da minha cama e se levanta. — Eu vou... hum... eu acho que você está certa. Devemos cuidar de nós mesmos.
Eu aceno, já que não tenho certeza do que mais fazer ou dizer.
— Tudo bem, bem... boa noite. — Ela se vira e sai correndo do meu quarto.
— Muito estranho, — eu murmuro conforme toco o abajur, mergulhando o quarto na escuridão mais uma vez. Eu continuo dizendo a mim mesma que tomei a decisão certa, mas não consigo evitar pensar em suas palavras repetidamente em minha mente, e demora muito tempo para eu conseguir dormir.
Capítulo 11
— É ADORÁVEL QUE VOCÊS DUAS TENHAM CHEGADO AO MESMO TEMPO E PODEM APRENDER juntas, — Azzy diz para Aurora e eu enquanto nós duas nos sentamos lado a lado em uma mesa na biblioteca na manhã seguinte. — Não costuma acontecer assim.
Aurora não diz nada, então eu decido não dizer nada também. Duvido que qualquer uma de nós pense que há algo ‘adorável’ nessa situação. Na verdade, estou surpresa que ela ainda esteja aqui. Ela parecia tão desesperada ontem à noite; Eu pensei que ela teria encontrado uma maneira de escapar da casa enquanto o resto de nós estava dormindo. Mas ela estava sentada na mesa da sala de jantar quando cheguei lá esta manhã, franzindo a testa para o prato dela. Ela não olhou para cima nenhuma vez durante o café da manhã.
— Certo, então, — diz Azzy. — Eu vou explicar os encantos de disfarce essa manhã, e depois disso vamos sair para tentar fazer alguma magia básica antes do almoço. Não há necessidade de fugir dessa vez, Em, — ela acrescenta com uma risada. Sinto os olhos de Aurora em mim e faço um esforço determinado para não encontrar o olhar dela. — Então, talvez mais tarde, Em, — diz Azzy, — você pode me dar qualquer informação que considere útil para encontrar sua família verdadeira. E você também, Aurora.
Uma apreensão fria dispara em minhas veias. Eu tenho tentado ignorar a ideia de que tenho outra família em algum lugar. Me deixa doente toda vez que eu lembro que minha mãe não é minha mãe. — Hum...
— A menos que vocês não queiram, é claro, — acrescenta Azzy rapidamente.
— Eu estou interessada, — diz Aurora, o que é surpreendente o suficiente para me fazer olhar em sua direção. Eu me pergunto que jogo ela está jogando, ou se ela pode estar falando sério. Talvez ela espere descobrir algo útil sobre sua família antes de fugir da Chevalier House.
— Azzy? — Eu olho em volta enquanto Paul entra na biblioteca. — Acabei de receber o relatório dos guardiões. — Ele acena com um pedaço de papel enrolado. — Eles não acharam nada suspeito.
— Suspeito? — Aldo pergunta. Ele está lendo sozinho em outra mesa da biblioteca, enquanto George trabalha em algumas habilidades práticas do lado de fora. — Aconteceu alguma coisa?
— Os encantamentos da segurança pegaram algo fora do nosso portão no início da noite de ontem, — explica Paul. — A Guilda foi alertada, e alguns guardiões foram checar as coisas. Eles nos disseram que não encontraram nada, mas deixaram alguém vigiando lá fora durante a noite, de qualquer maneira.
— Você acha que... talvez... foram os rebeldes Griffin? — Aldo diz. — Eles odeiam a Guilda, então eles também nos odeiam, certo?
— Tenho certeza de que não foi nada, — diz Azzy com um sorriso. — E Paul, — ela acrescenta em voz baixa, apesar de todos nós ainda conseguirmos ouvi-la, — eu não acho que é necessário assustar os alunos.
— Mas nós temos o direito de saber o que está acontecendo, não é? — Aldo protesta. — Se houver uma ameaça, devemos saber sobre isso.
— Nada está acontecendo, — assegura Azzy. — Os rebeldes Griffin não têm absolutamente nenhum motivo para nos atacar. Não temos nada a ver com eles.
Eu olho para Aurora. Seus olhos violetas encontram os meus, e suas sobrancelhas arqueiam um pouquinho, como se dissesse: Viu? Eu te disse que algo está acontecendo aqui.
— Chega disso, — diz Azzy, batendo palmas. — Aurora, você sabe o que é um encanto de disfarce?
Assustada, Aurora se vira para encarar Azzy. — Na verdade não. As bruxas não me disseram nada sobre eles.
A próxima hora passa com Azzy explicando disfarces de todos os tipos, do tipo simples que eu deveria ser capaz de lançar sobre mim mesma sem nem pensar nisso, para o tipo imensamente complexo que esconde construções dentro de árvores, para que então eles fiquem escondidos. Eu percebo que provavelmente era sobre isso que Dash estava se referindo quando ele falou sobre casas na árvore, e é impossível compreender todo o conceito. Uma casa inteira cheia de espaço escondida dentro de um tronco de uma árvore? Que inferno?
— Magia torna o impossível possível, — diz Azzy, o que não parece ser uma grande explicação para mim.
Algo faz cócegas no meu tornozelo. Eu olho para baixo, me contorcendo involuntariamente quando vejo um gafanhoto agarrado a bainha do meu jeans. Estou prestes a pisar nele quando ele pisca, cai no chão, parece meio que protuberante e se torna um sapo. — Sério? — Eu sussurro. — Me deixe em paz.
— Em? — Pergunta Azzy, parando no meio de uma descrição exata do que aconteceu com uma das Guildas anos atrás, quando sua magia de disfarce foi destruída. — Tudo bem?
— Hum, sim. Apenas um sapo.
— Oh, deve ter vindo de fora. Tenho certeza de que vai encontrar o caminho de volta. Agora, vamos tentar fazer magia?
Excitação pulsa através de mim enquanto seguimos Azzy para o jardim. Seja paciente, eu me instruo. Não fique frustrada. Você consegue fazer isso. Paramos perto de uma fonte de três andares. Eu esfrego minhas mãos para cima e para baixo nos meus braços. — Está um pouco frio para praticar aqui fora, não é?
— Sim, — murmura Aurora. Sem dúvida, ela está sentindo isso mais do que eu. Pelo menos estou de jeans; ela está usando uma saia longa e sandálias abertas.
— Bobagem. — Azzy se vira para nós. — Enquanto a fonte não tiver congelada, não está muito frio. Além disso, a baixa temperatura ajudará a motivar vocês a aprenderem a se manter aquecidas com magia.
— Se não congelarmos até a morte primeiro, — murmuro.
— Jovens, — murmura Azzy, enquanto estende a mão na direção de um banco do outro lado da fonte. — Sempre tão dramáticos. — Uma réplica sobe para a minha língua, mas congela lá conforme eu vejo o banco deslizar ao redor da fonte e parar atrás de Azzy. Ela se senta, cruza as mãos nos joelhos e olha para nós. — Eu gostaria que vocês começassem a puxar magia do núcleo de vocês. Aurora, você disse que já está familiarizada com isso?
— Hum, sim. Eu pratiquei sozinha sempre que não estava sendo vigiada.
— Maravilhoso. Em, você precisa recuperar o tempo perdido.
— Sim, — eu murmuro. — Eu sempre adoro quando os professores colocam os alunos uns contra os outros para tentar que eles tenham um desempenho melhor.
Azzy fica um pouco mais ereta e escova algo inexistente da manga. — Tenho certeza que não tenho ideia do que você está falando.
— Podemos apenas continuar com isso? — Aurora pergunta calmamente. Eu olho e vejo que ela já está segurando uma esfera brilhante de magia acima de suas palmas.
Rangendo os dentes, fecho os olhos e repito as instruções de Azzy de ontem. Tenho que parar e repensar três vezes antes de produzir uma massa visível de magia, mas depois de fazer uma vez, posso repetir várias vezes sem problemas. — Tudo bem, — eu digo, quase tonta de euforia enquanto mantenho o meu próprio poder em minhas mãos. — Qual é a próxima coisa?
— Fogo, — diz Azzy com um brilho nos olhos. Ela puxa um pedaço de papel das dobras de suas roupas soltas e desenha algo com a stylus, usando o banco como apoio. Quase imediatamente, três longas e esbeltas velas sobem do papel.
— Como você —
— Isso é uma lição para outro dia. — Ela se levanta. — Aqui está uma vela para cada uma de vocês. Agora que vocês podem invocar sua magia à vontade, quero que vocês a transformem em uma chama. — Ela segura a terceira vela na frente de seu rosto. — Alguns feitiços exigem palavras escritas e alguns exigem palavras faladas. Alguns exigem ambos, ou um movimento específico das mãos. O que vamos fazer agora exige apenas uma palavra falada — e, é claro, o empurrão subconsciente da sua magia para a vela.
Ela faz com que pareça fácil, esse ‘empurrão subconsciente’, mas estou supondo que é uma daquelas coisas que exige muita prática e esforço antes de se tornar instintivo.
— Repita depois de mim, — diz Azzy. Ela pronuncia uma palavra estranha que eu nunca ouvi antes, depois sopra suavemente a vela. Uma chama aparece.
Aurora começa a praticar e, claro, ela acerta na terceira tentativa. Eu, no entanto, sopro de novo e de novo e nada acontece. Eu tento maneiras diferentes de falar a palavra mágica, mudando a ênfase da primeira sílaba para a última, mas não faz diferença.
— Pare, — diz Azzy eventualmente. — Eu acho que você não está enviando nenhuma magia para a vela, afinal. Não se esqueça dessa parte. Puxe sua magia, fale a palavra e, em seguida, imagine soprar esse poder para fora da sua boca e diretamente para a vela.
Eu faço o que ela diz. E nada acontece.
Eu perco a paciência. Eu jogo a vela na grama. — Eu não entendo. Consegui furar o chão sem nem tentar, e agora não consigo acender uma vela.
— Isso foi diferente —
— Eu sei que foi diferente. Era fácil e era em inglês. Isso é... apenas... palavras estúpidas que não fazem sentido.
— Em, — diz Azzy, e sua voz carrega um tom de aviso.
— Não, sério. Na outra noite, eu apenas disse algo e aconteceu.
— Emerson.
— Por que eu não posso continuar fazendo isso? — Eu me abaixo e levanto a vela. Segurando-a no alto, eu digo, — Vela, comece a queimar. — Nada acontece. — Comece a queimar! — Eu grito. Nada ainda. Eu me viro e aponto para a árvore. — Caía! — Nada. Eu encaro a fonte. — Quebre em cem pedaços e junte-se! — Um arrepio percorre minha espinha, e percebo que essas últimas palavras soaram estranhamente distantes e ainda estranhamente ressonantes ao mesmo tempo.
A fonte vibra. Rachaduras se formam entre os andares e se separam rapidamente.
Uma pausa.
Silêncio.
Então a fonte inteira explode.
Aurora grita enquanto água e pedaços de pedra voam. De repente, estamos ambas no chão. Eu forço minha cabeça para cima para ver o que está acontecendo. Os pedaços de pedra congelam, invertem e voam de volta ao seu ponto de partida, todas se juntando perfeitamente. Eu respiro fundo quando o último estalo desaparece, retornando a fonte à sua forma original exata.
Mais silêncio.
Então Aurora foge para trás através do chão. — Isso não é normal, — ela suspira. — Isso não é normal.
— Eu fiz isso, — murmuro. — Eu usei magia.
— Isso não foi magia, — sussurra Azzy.
Eu me viro para olhar para ela. — O que você quer dizer?
Lentamente ela sacode a cabeça. — Não é a magia normal. Não é o tipo de magia que o resto de nós tem.
Eu olho para ela e encontro Paul e o restante dos alunos a poucos metros de distância, suas expressões todas congeladas em choque. — Eu vou contatar a Guilda, — diz Paul baixinho.
— Por quê? — Eu levanto. — O que eu fiz? Qual é o problema?
Aurora se levanta e Azzy olha entre nós duas. — Vocês têm sorte de eu ter jogado vocês duas no chão muito rapidamente. Vocês poderiam ter sido gravemente feridas de outra forma.
— Responda, — digo a ela, e novamente, aquela onda estranha corre pela minha espinha.
Azzy se sobressalta. De repente, e quase roboticamente, ela diz, — Eu nunca vi magia assim antes. Nenhuma faerie deveria ser capaz de fazer o que você acabou de fazer. Eu suspeito que você tenha uma Habilidade Griffin. Paul está entrando em contato com a Guilda agora, e eles provavelmente enviarão alguém aqui imediatamente para testá-la. O que acontece depois é com eles. — Sua voz para abruptamente, e ela bate a mão sobre a boca como se para evitar que mais palavras saiam. Então ela respira devagar e abaixa a mão. — Não faça isso de novo. Não fale de novo.
— Mas, eu —
— Emerson, — ela interrompe. — Sua voz é perigosa. Por favor, não fale novamente até que um membro da Guilda esteja aqui.
Um frio corre pela minha pele, seguido por uma onda de calor. Ansiedade aperta meu estômago. Tudo isso está errado. Eu devo aprender magia e depois ir para casa. Eu não deveria ter problemas com a Guilda. Eu não deveria ser uma daquelas faeries perigosas e superpoderosas que todos parecem odiar.
— Venha, vamos entrar. — Azzy pega meu braço e me leva em direção à casa. Eu penso em lutar com ela, em empurrá-la para longe e correr, mas estou completamente exausta de repente. Meus braços caem fracamente ao meu lado e uma onda de tontura passa por mim. Passou quando chegamos ao hall de entrada, mas ainda me sinto drenada demais para pensar em correr para qualquer lugar.
Azzy conduz todos para fora da sala, depois corre para outra parte da casa, me deixando sozinha no hall de entrada com Paul. Ele está com os braços cruzados firmemente sobre o peito, sem tirar os olhos de mim. Azzy reaparece um minuto ou dois depois com uma caneca na mão. — Você está cansada, eu sei, — ela diz baixinho. — Isso vai ajudar você a recuperar sua força. — Paul franze a testa, mas ele não impede que Azzy entregue a caneca para mim.
Eu tomo um gole hesitante, depois continuo bebendo até que o líquido espesso de chocolate tenha terminado. É doce, quente e reconfortante, e começo a me sentir mais forte quase imediatamente. Eu coloco a caneca na mesa e olho para Azzy. — Deve haver um engano, certo? Eu não posso ter uma dessas Habilidade Griffin. O que aconteceu lá fora... isso foi apenas uma magia descontrolada ou algo assim. Certo?
— Você não deveria estar falando, — diz Paul.
— Porque eu tenho uma voz perigosa? Isso é um absurdo Tenho certeza de que há outra explicação para —
— Em, pare, — diz Azzy. — Por favor. Eu acho mais seguro se você não disser nada.
Naquele momento, a porta da frente da Chevalier House se abre e duas figuras entram. Uma mulher que eu não reconheço, e —
— Dash, — digo no momento em que o vejo. É estranho, mas estou aliviada por ele estar aqui.
— Emerson, — a mulher diz, me olhando por baixo com os olhos que parecem ser quase da cor de bronze. Ela está vestida com um terninho e seu cabelo está bem preso em um coque. Eu não consigo descobrir a expressão dela. Definitivamente não é um sorriso, mas não é medo, cautela ou raiva. — Eu sou a Conselheira Chefe Ashlow. Por que você não nos disse que você conseguia fazer magia não natural?
Eu levanto minhas mãos, porque isso está se tornando demais. — Você está brincando, não é? Toda magia não é natural para mim! Eu descobri agora que existe! Como eu deveria saber que deveria dizer alguma coisa e então, ter isso acontecendo é considerado incomum neste mundo?
— Não apenas incomum. Impossível.
— Bem... exatamente. Como eu deveria saber disso?
Ela respira fortemente e estende a mão fechada para mim. Seus dedos abrem para revelar uma pílula verde brilhante na palma da mão. — A Conselheira Waterfield deveria ter testado você no primeiro dia em que você chegou a este mundo. Ela não deveria ter deixado você — ela fixa o olhar em Dash por um momento — falar com ela sobre isso.
Dash franze a testa. — Espero que você não esteja sugerindo que eu intencionalmente escondi essa informação de você, Conselheira Ashlow. Eu não tinha ideia de que magia Griffin estava envolvida.
— Eu não sei o que pensar agora. — Ela olha para mim novamente. — Tome a pílula, Emerson.
Algo me diz que desobedecer não é uma opção, então eu pego a pílula e coloco na minha língua. Ela se dissolve rapidamente. Os olhos de Dash passam por mim, sua expressão escurecendo. Eu olho para mim mesma, e meu coração para uma ou duas batidas quando vejo meu corpo brilhando levemente verde. — Então é verdade, — diz Dash. — Ela é uma deles.
— E você não sabia?
— Claro que não. Eu teria relatado imediatamente se eu suspeitasse que ela tinha uma Habilidade Griffin. É meu trabalho proteger nosso mundo de pessoas como ela. — Ele quase cospe essa última palavra, e por um momento eu considero cuspir de volta nele. Mas então ele envolve seu braço de ferro em volta do meu braço e começa a me guiar em direção à porta, e meu ódio por ele é rapidamente substituído por medo.
— O que você está... mas eu não fiz nada de errado. Eu não sou uma daqueles rebeldes Griffin. Eu não quero atacar pessoas. Certamente você não pode me responsabilizar por crimes que eu nunca cometi, ou crimes que você acha que eu poderia cometer no futuro.
— Nós podemos, na verdade, — diz a Conselheira Ashlow quando chegamos à porta. — Nossas leis afirmam que o mundo precisa ser protegido de pessoas como você. Em alguns casos, isso significa marcar e rastrear você. Saber seu paradeiro e atividades em todos os momentos. Em casos extremos, isso significa limitar sua liberdade. O Conselho precisará se reunir para discutir seu caso, mas eu não tenho a menor dúvida, Emerson, de que eles vão achar isso extremamente difícil. Eu sinto muito. — Ela não parece arrependida, no entanto. Na verdade, ela parece animada pelo fato de que ela acabou de apreender outra faerie Dotada Griffin.
— Mas... isso... como isso aconteceu? — Eu pergunto, tentando parar, tentando encontrar uma saída para isso. — Aqueles discos mágicos não existem mais... não, isso não pode estar certo. Então —
— Seus pais devem ter sido Dotados Griffin, — a Conselheira Ashlow diz. — Essa é a única explicação.
— Espere, — eu digo quando ela abre a porta. — Espere, por favor. O que significa limitar minha liberdade?
— Isso significa que você será mantida em algum lugar, — Dash responde, me forçando para o degrau mais alto.
— Mantida?
— Sim, como um esconderijo.
Eu paro de andar e consigo livrar meu braço de seu aperto. — Então uma prisão.
Dash olha para mim. — Não é assim, Em. Ninguém quer que você seja uma prisioneira. É só que você é perigosa, então você não pode ser solta, seja neste mundo ou no humano. Certamente você entende isso.
Eu forço de volta a dor na garganta e as lágrimas picando atrás dos meus olhos. Eu cerro os dentes e digo, — Você está gostando disso, não é. É provavelmente o melhor entretenimento que você já teve em anos. Você nunca gostou de mim e agora pode me ver presa. Você está fazendo comigo o que fez com a minha mãe.
Seus olhos se estreitam e ele abre a boca, mas a Conselheira Ashlow interrompe com um gemido. — Todo esse drama desnecessário. Apenas vá em frente. — Ela fecha a porta e passa por nós descendo as escadas. Dash me puxa contra o seu lado e me obriga a segui-la.
— Em primeiro lugar, — ele diz baixinho, — você é quem não gosta de mim. E em segundo lugar, isso não tem nada a ver com alguém gostar de alguém. Você é uma ameaça, então temos que tomar precauções. É isso.
— Mas eu não sou uma ameaça! — Minhas emoções estão perigosamente perto da superfície, de repente, e eu levo um momento para engoli-las. — Quero dizer, não intencionalmente. Eu não escolhi ser assim. Isso não é justo.
Ele fica quieto por tanto tempo que suponho que agora ele está me ignorando. Mas quando saímos do portão e encontramos a Conselheiro Ashlow abrindo uma entrada para os caminhos das fadas, ele diz, — A vida não é justa, Em. Você já sabe disso.
A Conselheira Ashlow olha para nós quando o buraco escuro no ar fica maior. — Apresse-se, — diz ela. — Precisamos chegar na Guilda.
Dash aperta meu braço mais ainda, mas ele caminha para frente sem hesitação. — Não pense em nada, — ele diz enquanto entramos na escuridão. — Isso pode confundir os caminhos das fadas, e isso não vai acabar bem para nenhum de nós.
Eu me esforço para acalmar meus pensamentos, mas devo de alguma forma conseguir fazer um bom trabalho, porque logo a luz se materializa à nossa frente. Entramos em uma pequena sala onde um homem de uniforme atrás de uma mesa de madeira elaboradamente esculpida nos cumprimenta. Eu me lembro de Dash dizendo algo sobre uma grande entrada se transformando a partir de uma árvore, mas ele deve estar se referindo a uma parte diferente da Guilda porque a única coisa impressionante nesta sala é a mesa.
— Por aqui, — diz a Conselheira Ashlow, apontando para um portal aberta à nossa direita. Dash me empurra através dela, e fico boquiaberta no local de um enorme foyer com uma ampla escadaria no lado oposto e luzes brilhantes penduradas aqui e ali. Meus olhos rápidos captam homens e mulheres em roupas escuras, cabelos de todas as cores, pisos brancos reluzentes e padrões giratórios gravados nas paredes - antes que um alarme comece a gritar em meus ouvidos.
— Está tudo bem, — diz a Conselheira Ashlow, levantando a mão para impedir as pessoas que correm em sua direção. — Já estamos conscientes da Habilidade Griffin. Vou levá-la para a área de detenção agora.
Saia, meu cérebro diz quando meus pensamentos em pânico retornam com força total. Saia daqui! Mas eu não sei como. O que eu fiz no outro dia quando os policiais estavam tentando me levar embora? Eu devo ter usado minha Habilidade Griffin, mas não tenho ideia de como.
Eu sinto Dash me observando. — Eu vou soltar você agora, — diz ele. — Você pode se comportar?
Eu aceno quando o aperto dele se solta e seu braço desliza para longe do meu. Então eu o empurro o mais forte que posso e corro.
Capítulo 12
EU TROPEÇO SOBRE MEUS PÉS — OU SOBRE ALGO INVISÍVEL, JÁ QUE EU JURO QUE EU NUNCA fui tão desajeitada — e bato no chão. Minha tão falada pratica em parkour entra em ação e eu continuo rolando. Sobre meu estômago, minhas mãos empurram o chão e eu levanto. Eu pego um vislumbre de Dash esparramado no chão com os guardiões caindo sobre ele antes de eu correr na direção oposta, repetindo — Afaste-se de mim, fique longe de mim! — Na esperança desesperada de que minha Habilidade Griffin apareça e dê poder as minhas palavras. Na pressa de voltar à sala em que entramos, não sei dizer se minha voz está diferente, mas continuo repetindo as palavras de qualquer maneira. E ou está funcionando, ou esses guardiões são ainda piores que os policiais de Stanmeade, porque estão caindo um sobre o outro.
Eu corro para o saguão de entrada assim que alguém corre - e eu bato direto nela. A força me joga para trás, mas ela se lança para frente e agarra meu braço, me puxando para cima. — Aurora? — Eu suspiro quando ela me puxa para a sala. — O que você está fazendo aqui?
— Tentando ajudar você!
Uma corda brilhante me chicoteia e se agarra ao meu braço, me puxando para fora do alcance de Aurora e para o chão. Eu me mexo inutilmente na superfície brilhante antes de olhar para o guarda que nos cumprimentou um minuto atrás. Ele está em pé atrás da mesa agora, me arrastando rapidamente em direção a ele. — Saia daqui! — Eu grito, esperando que funcione. O poder invisível o expulsa pela porta aberta e para dentro do saguão, me puxando bruscamente para o lado enquanto a corda fica tensa.
Uma luz pisca, cortando a corda e deixando um pequeno pedaço preso ao meu braço. Eu olho para cima e encontro Aurora com uma stylus na mão. — Levante-se! — Ela corre para a parede e escreve sobre ela. — Vamos!
Eu olho para o saguão, onde guardiões estão correndo em nossa direção, flashes de magia escapam de suas mãos. Eu pulo e me movo em direção a Aurora e à crescente escuridão atrás dela. — Você pode usar uma stylus? — Eu suspiro quando tomo sua mão.
— Não pense em nada, — ela instrui enquanto me empurra para frente nos caminhos das fadas. — E não solte.
— Eu pensei que você não soubesse — Minhas palavras são cortadas quando a mão de Aurora se solta da minha. Eu me viro para ver o que está acontecendo e encontro dois guardiões a puxando para trás.
— Emerson! — Ela grita, uma mão estendendo em minha direção.
Eu hesito, partes conflitantes do meu cérebro gritando Salve ela! e Salve-se! E nesse momento, a escuridão dos caminhos das fadas se fecha ao meu redor. Eu tento lembrar o que devo fazer agora, no que devo me concentrar ou dizer, mas depois estou caindo para trás na escuridão. Eu aterrisso com força no chão enquanto árvores emaranhadas e plantas tomam forma ao meu redor. Eu gemo e tusso e tento sugar o ar quando me sento. Eu não tenho ideia de onde os caminhos das fadas me deixaram. Por um momento, eu me pergunto se eu poderia ter tido a sorte de voltar ao mundo normal, mas quando dois seres minúsculos em forma de pessoas com asas passam por mim, minha esperança morre. — Brilhante, — murmuro enquanto me levanto, folhas farfalhando sob meus sapatos.
Eu olho em volta, mas Aurora está longe de ser vista. A culpa se mistura com o meu alívio por ter escapado. Eu deveria ter tentado puxá-la de volta para os caminhos. A única razão pela qual ela estava lá era para me ajudar. Eu pressiono meus dedos contra minhas têmporas e tento me convencer de que nada de ruim vai acontecer com ela. Não é como se ela fosse uma Dotada Griffin. Eles vão mandá-la de volta para Chevalier House, e assim que ela terminar o treinamento, ela estará livre. Embora, agora que penso nisso, ela ainda precisa de treinamento? Ontem à noite ela disse que não sabia como usar sua magia, mas não teve nenhum problema em cortar a corda ao redor do meu braço ou abrir um portal dos caminhos das fadas.
Eu levanto meu braço direito e franzo a testa para o pedaço de corda ainda preso a ele. Eu tento desfazer o nó ou soltar o suficiente para deixar minha mão livre, mas ela não se move. Então, depois de um último olhar ao redor da floresta, eu escolho uma direção e começo a me mover. O ar está mais quente aqui do que no jardim que estávamos treinando esta manhã, o que me diz que eu provavelmente não estou perto da Chevalier House. Infelizmente, isso pode significar que estou bem ao lado de qualquer árvore que esconda a Guilda, então é melhor me afastar da área o mais rápido possível.
Eu começo a correr, desviando entre as árvores, lançando meu corpo facilmente sobre as raízes das árvores gigantes, e dando um amplo espaço para uma planta exótica com grandes espinhos vermelho-sangue. Eu dou uma olhada ocasional sobre o meu ombro, mas nada parece estar me seguindo. Eventualmente, eu diminuo para uma rápida caminhada. Algo faz cócegas no lado do meu pescoço, e eu bato na minha pele, com medo de que algum inseto mágico perigoso esteja me mordendo. Um guincho corta o ar ao lado da minha orelha. Eu pulo para longe, soltando um grito assustado e girando para encarar o que quer que esteja me atacando. Um pássaro fofo que pode ser uma coruja bate as asas conforme desce desajeitadamente em direção ao chão da floresta, transformando-se em um gatinho quando ele atinge o chão. Miados tristes e estridentes enchem o ar.
— Puta mer... sorvete. — Eu esfrego minha orelha enquanto a adrenalina diminui. — Você quase me ensurdeceu. O que você está fazendo aqui, sua coisinha estranha? Você deveria estar na Chevalier House. O gatinho lampeja entre várias formas irreconhecíveis antes de se estabelecer como um filhote de raposa. Ele caminha até mim e começa a acariciar meu tornozelo. Eu me afasto e cruzo os braços sobre o peito. Ele olha com olhos arregalados e suplicantes.
E eu cedo.
— Bem. Você pode ficar comigo. Mas eu não vou te dar um nome. Tudo vai ficar pior a partir daqui. — Eu enfio a criatura macia e peluda debaixo do meu braço e continuo andando.
E quase caio assustada quando alguém sai do ar na minha frente. — Dash? — Eu tropeço para trás, a criatura transformando-se em algo minúsculo quando ele pula para longe de mim. — Como você me achou?
— Não importa. Nós — O espaço ondula ao lado dele. Ele se afasta apressadamente, levantando a mão. Uma faca aparece em suas mãos enquanto ele se coloca entre mim e qualquer ameaça que estamos prestes a enfrentar.
— Oh, você a encontrou, — diz Jewel, saindo da escuridão. — Bom trabalho.
— Jewel? — Dash diz. A faca desaparece quando ele a solta. — Como você — por que você está aqui?
Dor lampeja brevemente em seu rosto enquanto eu cuidadosamente me afasto dos dois. — Só tentando ajudar, — diz ela. — Você ainda tem aquele feitiço de rastreamento em seu âmbar da outra noite nos túneis das aranhas.
— Certo. — Dash pega seu âmbar, arrasta o dedo sobre a superfície em uma série de padrões estranhos, em seguida, enfia de volta em seu bolso. — Não precisa mais disso.
— Qual é o problema? Achei que você precisava de ajuda para encontrá-la.
— Nenhum. Eu posso lidar com isso, isso é tudo. — Ele agarra meu pulso antes que eu possa me mover para muito longe e o torce atrás de minhas costas.
— Você pode realmente lidar com isso? — Eu pergunto em tom de provocação enquanto ele amarra minhas mãos. — Não parecia lá na Guilda. Vocês guardiões são sempre tão inúteis?
Dash volta para ficar na minha frente, sua expressão mostrando diversão genuína. — Não. Eles não são.
Hum. Talvez minha Habilidade Griffin funcione afinal de contas. — Cordas, desamarrem, — eu instruo. Nada acontece. Dash arqueia uma sobrancelha e começa a rir.
— O que ela está fazendo? — Jewel pergunta.
— Meu palpite é que ela está tentando fazer que sua Habilidade Griffin funcione.
— Oh. — A testa de Jewel franze. — Talvez devêssemos fechar a boca dela.
— Não, ela não tem a menor ideia de como usar sua Habilidade Griffin.
Calor sobe ao meu rosto. — Eu vou te estrangular com essa corda quando eu finalmente me soltar. — Em vez disso, acabarei presa pelo resto da minha vida.
— Como já expliquei, — Dash diz devagar, — você não será uma prisioneira. Você só não terá o mesmo nível de liberdade que todos os outros.
Eu pisco, incapaz de acreditar que ele é tão estúpido. — Você está se ouvindo? Você sabe qual é a definição de prisioneiro?
— Em, não é tão ruim assim, eu prometo. Olha, eu sei que você está se preocupando com sua mãe —
— Não se atreva a trazê-la para isso —
— mas tenho certeza de que a Guilda permitirá que você a visite sob supervisão. E nossos pesquisadores estão trabalhando o tempo todo tentando encontrar uma maneira de remover as Habilidades Griffin. Isso pode acontecer em breve e você estará livre novamente. Por favor, tente entender. — Ele lança um rápido olhar para Jewel antes de retornar seu olhar para mim. — Estamos tentando manter o resto do mundo seguro e, infelizmente, essa é uma das precauções que precisamos tomar.
— Vamos lá, Dash, você está perdendo tempo, — Jewel reclama. — Precisamos levá-la de volta para a Guilda. — Ela pega sua stylus e a levanta.
— Não, — eu digo, e quando sinto aquele formigamento estranho se espalhando rapidamente pelo meu corpo e minha voz ecoando estranhamente em meus ouvidos, eu me apresso para acrescentar, — Não abra um portal! Nenhum de vocês dois abra um portal!
Uma rápida estranheza passa e Jewel franze a testa para mim por cima do seu ombro. Em seguida, ela pressiona a stylus contra uma árvore e abre a boca. Depois de parecer lutar por vários segundos, ela diz, — Eu não consigo fazer isso. Eu não consigo dizer as palavras.
Dash se vira para me encarar. — Oh, fala sério. Você não acabou de fazer isso.
Eu solto uma risada trêmula. — Eu acho que sim, na verdade.
— Agora nenhum de nós pode ir a nenhum lugar.
Eu aceno lentamente enquanto respiro fundo. — Bom.
— Desfaça o que você acabou de fazer, — diz Jewel, apontando sua stylus para mim.
— De jeito nenhum. Mesmo se eu quisesse, não tenho ideia de como funciona essa coisa de Habilidade Griffin.
Dash solta um longo suspiro. — Ah, bem. Hora de caminhar, eu acho.
— Dash! — Jewel exclama. — Como você não está seriamente chateado agora?
Ele encolhe os ombros. — Passamos por coisa pior. Você sabe disso. Muito pior. — Ele começa a andar. Depois de vários momentos, a corda se estica entre nós e sou forçada a segui-lo. — Tente acompanhar, Emmy. Não gostaria de ser comida por algum tipo de criatura sombria e sinistra. — Apesar de sua indiferença, noto o modo como seus punhos se apertam periodicamente ao lado do corpo. Ele definitivamente está com raiva de mim. Sem dúvida, ele está com problemas por me deixar fugir da Guilda. Espero que ele acabe suspenso ou, melhor ainda, demitido. Se ele vai continuar a arruinar a minha vida, eu posso arruinar a dele também.
— Estamos perto da margem da floresta, certo? — Jewel diz. — No lado com a cachoeira? — Dash acena, e Jewel rabisca algo em seu âmbar. — Tudo bem, a Conselheira Ashlow e alguns guardiões nos encontrarão lá em poucos minutos.
— Bom. — Dash escreve algo em seu âmbar também, em seguida, acrescenta, — Você quer ir em frente e encontrá-los?
— Sim, tudo bem. — Jewel corre através das árvores, e no momento em que ela está fora de vista, Dash pára. — Tudo bem. Nós não temos muito tempo. Você —
O ar ondula tão perto que quase sinto o movimento. Um buraco escuro se abre, e uma criança sai e cai sobre mim. — Oh, oops, desculpe, — ele murmura, afastando-se de mim e cambaleando para trás.
— Você está brincando comigo? — Dash exige. — O que diabos você está fazendo aqui, Jack?
O garoto, que não pode ter mais de dez anos, dá um sorriso largo a Dash. — Eu queria fazer parte da missão. Eu escutei para onde todo mundo estava indo, mas... eu não sei. Onde está todo mundo?
— Jack, você precisa ir para casa imediatamente. Seus pais estão — Dash olha para o som de folhas farfalhando à frente. — Esconda-se, — ele sussurra, empurrando o menino para trás da árvore mais próxima e me arrastando para frente mais uma vez.
— Dash, apresse-se, — Jewel fala conforme ela aparece. — Eles estão esperando por nós.
— Venha, — Dash diz antes de murmurar algo mais em voz baixa. Eu mantenho minhas perguntas para mim mesma enquanto minha mente corre para descobrir o que está acontecendo. Dash tem medo de alguma coisa, e deve haver uma maneira de usar isso em minha vantagem.
Alcançamos Jewel e, depois de caminhar mais um minuto, chegamos à margem da floresta. As árvores diminuem e chegam ao fim. A uma curta distância, em uma área gramada de espaço aberto, a Conselheira Chefe Ashlow e vários guardiões estão esperando por nós. Um riacho passa por eles e desaparece sobre a borda do que deve ser um penhasco muito alto, já que não consigo ouvir a água batendo embaixo.
— Bom trabalho em encontrá-la, Dash, — diz a Conselheira Ashlow. — Embora pelo fato de você não tê-la amordaçado, eu questiono sua inteligência.
— Foi um acaso que ela conseguiu usar sua Habilidade Griffin em nós, — diz Dash. — Estou confiante de que isso não acontecerá novamente em breve. Mas eu vou amordaçá-la agora para manter segurança. — Ele me faz parar em frente à Conselheira, mas um murmúrio coletivo correndo abruptamente pelo grupo o distrai antes que ele possa amarrar qualquer coisa sobre minha boca. Nós dois nos viramos e vejo outro grupo de pessoas saindo das árvores. Eu assumo a princípio que são mais guardiões, mas o súbito lampejo de armas cintilantes ao meu redor prova que minha suposição está errada.
— Ora, ora, — a Conselheira Ashlow diz. — Os Unseelies decidiram aparecer.
— E por que não apareceríamos? — Um homem diz, caminhando para frente. Eu sinto uma mudança na atmosfera — algo que eu não consigo explicar — e eu me pergunto se é assim que a Conselheira sabe que essas faeries estão com a Corte Unseelie. — Uma Habilidade Griffin particularmente interessante veio à tona, — continua ele. — Nós achamos que deveríamos dar uma olhada.
— Não há necessidade. Nós temos tudo sob controle.
— Claro que você tem. Você provavelmente planeja entregar essa garota para a Corte Seelie para ser usada como sua arma pessoal.
A Conselheira Ashlow sorri. — O que planejamos fazer com ela não é da sua conta.
— É da nossa conta quando ela pode vir a ser uma das armas mais poderosas da existência. O que impede você de usá-la contra nós?
— Eu suponho que você vai ter que confiar que nós gostamos de manter as leis que fazemos, ao contrário dos membros da sua corte.
— Confiança? — Ele ri. — Acho que não.
— Bem, correndo o risco de soar insignificante, — diz a Conselheira Ashlow, — nós a encontramos primeiro. Então certamente não vamos entregá-la para você.
— Claro que não. E suponho que você não gostaria se a levássemos de você a força.
— Você poderia tentar, mas duvido que você seja bem sucedido.
A expressão do homem se torna pensativa. — Como não podemos chegar a um acordo mutuamente benéfico, talvez nenhum de nós deva possuir essa arma. Talvez ela deva ser morta.
Talvez O QUÊ? Minha frequência cardíaca acelera.
— A única maneira de acabarmos com ela, — diz a Conselheira Ashlow, — é se você colocar suas garras sujas nela. — Ela olha em volta para seus guardiões, abaixando a voz enquanto acrescenta, — Não deixem isso acontecer. Se isso acontecer — se parecer que eles podem fugir com ela — vocês tem a minha permissão para matar a menina.
— O quê? — Eu suspiro, finalmente encontrando a minha voz. — Isso não pode ser válido.
— Sim, Conselheira, — diz Dash, junto com seus colegas guardiões.
Eu puxo e viro e tento encará-lo. — Você está brincando comigo? Você é realmente um monstro?
Dash não se move, mas seus olhos se movem ao redor da clareira, entre as árvores e até o topo do dossel. — Às vezes, — ele murmura enquanto os Unseelies avançam sobre nós, — nós temos que ser monstros para proteger o resto do mundo. — Ele me puxa para trás enquanto seus companheiros pulam para frente.
Gritos e grunhidos e o choque de espadas logo enchem o ar, junto com uma mistura confusa de faíscas, vento, cacos de vidro e pássaros cacarejantes. Eu me contorço e chuto e grito, — Afaste-se de mim! — Mas não funciona desta vez. Eu tento me concentrar no centro da magia dentro de mim, assim como Azzy instruiu, mas isso não faz diferença. As mãos do Dash permanecem firmemente presas a mim.
Dois dos faeries Unseelie rompem a barreira de guardiões e vêm correndo em nossa direção. — Parem eles! — Dash grita, recuando para mais longe em direção à margem do penhasco. Um é jogado no chão. O outro se lança para frente. Dash me faz sair do caminho. — Eu sinto muito sobre isso, — diz ele. E então ele me empurra sobre a beira do penhasco.
Capítulo 13
EU MAL ESCUTO O MEU GRITO CONFORME DESPENCO EM DIREÇÃO À MINHA MORTE. ÁGUA ESPUMOSA E PEDRAS irregulares sobem rapidamente para me encontrar. Mais rápido, mais rápido, mais rápido —
Então meu corpo desacelera abruptamente e uma sombra escura desce abaixo de mim quando quase, quase paro. Então eu estou caindo através do ar e para um par de braços fortes, e alguém está dizendo, — Não se preocupe, eu peguei você. — Eu aterrisso desajeitadamente nas costas de uma criatura com asas e me encontro imprensada entre ela e quem quer que seja que me pegou. Um braço envolve meu estômago. Eu fecho meus olhos e me agarro firmemente a esse braço do que qualquer coisa que eu já segurei. Eu não me importo com quem ou o que é. Eu não me importo se é uma faerie Unseelie ou um guardião que quer me prender ou algum tipo de novo ser que eu nunca conheci. Meu cérebro se preocupa com apenas um fato no momento: não estou mais caindo.
Nós começamos a subir. É um movimento brusco, mas pelo menos é para cima e não para baixo. Eu não abro meus olhos. Eu não quero ver nada. Para cima e para cima, para os lados e para cima um pouco mais, e o tempo todo eu silenciosamente repito, Não solte, não solte, não solte. Então nós descemos, e um suspiro involuntário escapa de mim. Mas acabou, e estamos pousando entre as árvores, e esse forte par de braços está me tirando da criatura alada. — Ela está bem, — diz ele para alguém enquanto ele me deposita no chão. — Nós quase chegamos tarde demais, mas ela está bem.
Minhas pernas estão tremendo tanto que não conseguem me segurar. Eu caio sobre minha bunda, piscando e ofegando e observando as pessoas ao meu redor em momentos instantâneos e desarticulados. Três faeries. Pisco. Um homem, azul escuro, inclinando-se para perto de mim com preocupação no rosto. Pisco. Uma mulher, roxa, dizendo algo que não consigo ouvir. Pisco. Outra mulher, observando algo através das árvores, cabelo cor de ouro deslizando por cima do ombro. Tatuagens escuras atravessam seus braços e alcançam o lado de seu pescoço.
— Emerson? Emerson! — Eu me concentro na mulher que agora está agachada ao meu lado. Aquela com olhos roxos vibrantes arregalados que de alguma forma sabe meu nome. — Você pode me ouvir?
Eu tento falar, mas as palavras parecem não sair da minha boca. Toda vez que eu pisco, vejo água, pedras e a morte correndo na minha direção.
— Você está segura agora, — diz ela, estendendo a mão para mim. Eu me afasto, meu corpo ainda tremendo incontrolavelmente. ‘Segura’ não significa mais nada para mim. O companheiro dela pode ter salvado a minha vida, mas Dash também não salvou a minha vida? E um dia depois ele tentou me matar.
— Vi, eles estão vindo para cá, — a de cabelos dourados diz. — Não há tempo para colocar a gárgula de volta pelos caminhos. Você consegue manter Emerson quieta enquanto eles passam?
A mulher na minha frente acena. — Emerson, — diz ela, inclinando-se um pouco mais perto, mas não tentando me tocar novamente. — Todos nós vamos ficar invisíveis agora. Não precisa enlouquecer. Apenas uma ilusão para nos esconder enquanto os guardiões passam. Mas precisamos ficar calados, ok? Completamente quietos.
Eu aceno bruscamente, apesar do fato de que o aviso dela não é necessário. Mesmo que meu cérebro fosse capaz de fabricar palavras agora, eu não falaria nada enquanto qualquer pessoa da Guilda passasse. Não depois que eles prontamente tentaram se livrar de mim. Um momento depois, todas as três faeries desaparecem. Eu olho para baixo — e consigo conter meu grito de terror quando descubro que meu corpo sumiu. Eu sei que ela disse ‘invisível’, mas eu não percebi que eu não seria capaz de me ver também. Eu pensei... eu não sei o que eu pensei.
Ao som de passos apressados, eu olho para cima. Eu quase me arrasto para trás quando vejo os guardiões correndo em nossa direção, mas eles desviam e continuam correndo. — ...Pode não ter sido por aqui, — a Conselheira Ashlow está dizendo ao resto de seus guardiões, — mas temos que verificar. Especialmente se o resto da equipe não conseguir encontrar o corpo dela. E descobrir quem era aquela pessoa camuflada. Não parecia que ele ou ela estava com os Unseelies.
Esperamos em silêncio por pelo menos um minuto depois que os guardiões passam. Então, — Eu acho que está tudo bem, Calla, — o homem que me pegou diz. Os três reaparecem. Quando olho para baixo, fico aliviada ao ver meu próprio corpo mais uma vez. Eu não estou tremendo tanto quanto quando nós aterrissamos, então eu me levanto. Eu ainda me sinto pela onde de adrenalina que o meu corpo produziu de uma só vez, mas pelo menos eu posso ficar de pé agora.
— Desculpe pelo resgate dramático, — o homem diz, estendendo a mão e acariciando a criatura alada coriácea que eu não olhei corretamente até agora. Chifres espinhentos curvam-se de sua cabeça e presas se projetam de sua boca larga. — Ficamos sem tempo para planejar melhor. Vi, você pode abrir um portal? Nós devemos ir.
— Eu — eu não — hum — Eu me interrompo quando fica claro que eu não posso pronunciar mais do que algumas palavras gaguejantes. Eu odeio soar tão fraca e confusa. Isso não sou eu. Eu sou mais forte do que isso, droga, mas todo mundo tem um limite para o que eles podem suportar sem quebrar completamente, e eu acho que estou me aproximando do meu. Eu engulo e respiro profundamente antes de tentar novamente. — Eu não vou a lugar nenhum com você. Obrigada por me salvar, mas eu não sei quem você é.
— Certo, desculpe, — diz o homem. — Eu sou Ryn, e esta é Violet. — Ele aponta para a mulher com o cabelo roxo escuro. Com um aceno para a mulher tatuada, de cabelos dourados, ele acrescenta, — E essa é a Calla.
— Você pode confiar em nós, — diz Violet. — Sabemos que todos estão atrás de você desde que você chegou a este mundo e podemos mantê-lo segura.
Eu pressiono minhas mãos sobre meus olhos e respiro instavelmente. — Eu não confio em vocês, — eu sussurro, me encontrando perigosamente perto de chorar. — Eu não confio em ninguém. Todo mundo quer me prender ou me matar.
— Emerson. — Eu abaixo minhas mãos e encontro Violet bem na minha frente, olhando fixamente nos meus olhos. — Você pode confiar em nós. Você sabe, por quê? Porque somos exatamente como você.
Eu sacudo minha cabeça. — O que você quer dizer?
— Somos todos Dotados Griffin.
Capítulo 14
— MERDA. — EU TROPEÇO PARA TRÁS EM MINHA PRESSA PARA COLOCAR UM POUCO DE DISTÂNCIA ENTRE MIM e essas faeries. — Vocês são parte do movimento rebelde Griffin, não é.
— Sim. — Confusão atravessa o rosto de Violet. — O que é uma boa coisa. Isso significa que estamos do seu lado.
— Mas... vocês são pessoas malvadas.
— Hum, não, nós não somos, — diz Calla.
— É isso que a Guilda — o que todo mundo neste mundo — diz.
— Claro que é isso que a Guilda diz. Eles não confiam em nós. Eles querem rastrear todos os nossos movimentos ou nos prender, assim não podemos usar nossa magia ‘perigosa’ sem supervisão. Eles tentaram fazer o mesmo com você.
Eu hesito, porque ela está certa, claro. — Eles... eles disseram que vocês atacam as pessoas.
A expressão de Ryn escurece. — É isso que eles estão dizendo às pessoas agora?
— Eles vão distorcer qualquer história para vantagem deles, — diz Violet. — Eles querem que as pessoas tenham medo de nós.
A cabeça de Calla vira. — Pessoal, eu acho que eles estão voltando por esse caminho.
— Tudo bem, — diz Ryn, levantando uma stylus e rabiscando palavras invisíveis no ar.
— Você vem? — Pergunta Violet. — Por favor, você pode confiar em nós.
Eu engulo. Talvez isso seja tudo mentira e eu esteja sendo enganada novamente, mas eu não tenho mais ninguém a quem recorrer. — Você pode me ajudar? — Eu pergunto. — Com... tudo?
Ela pega minha mão e aperta. — Isso é o que fazemos.
***
Ar quente dança em minha pele enquanto a escuridão dos caminhos das fadas evapora ao nosso redor. Meus pés afundam na areia macia. Me viro devagar no mesmo instante, semicerrando os olhos contra a luz forte, enquanto meus olhos captam a mesma paisagem por todos os lados: oscilantes dunas de areia que continuam e continuam, aparentemente para sempre. — Vocês vivem em um deserto?
Calla sorri. — Sim. Você não pensaria em nos procurar aqui, não é?
— Eu acho que não, — eu digo, mantendo o resto dos meus pensamentos para mim mesma. Meus pensamentos de quão desagradável deve ser viver em meio a toda essa areia e calor.
— Por aqui, — diz Ryn, acenando para a direita e levando a gárgula pelas rédeas. Eu não tenho ideia de como ele sabe em que direção ir, já que cada duna de areia parece à mesma coisa para mim. Nós mal damos alguns passos, no entanto, quando o contorno fraco de algo em forma de cúpula aparece. Eu pisco algumas vezes, mas o contorno fica mais forte. Eu tenho medo de perguntar se estou imaginando coisas, então fico de boca fechada. Mas mais ou menos um minuto depois, quando a cúpula está bem na nossa frente e eu posso distinguir as formas nebulosas das árvores e dos edifícios, imagino que seja real.
— Isso, — diz Violet, — é o nosso oásis. Um pedaço de terra encantada sob uma cúpula de magia. E uma vez que você passou pela camada da cúpula — ela pega minha mão e me puxa atrás dela — você agora tem um feitiço colocado em você, o que significa que você nunca pode falar sobre esse lugar. Mesmo se você for interrogada sob a influência da poção da verdade, você não poderá dizer nada. O que significa que todos aqui estarão sempre seguros.
O ar imediatamente fica mais frio e o cheiro fresco de plantas enche minhas narinas. Eu estou ciente de um pequeno sorriso em meus lábios enquanto olho lentamente ao redor. Grama e plantas e riachos, fontes e flores e alguns pequenos edifícios, além de um número de árvores enormes com casas construídas nos galhos superiores. — Casas nas árvores de verdade, — murmuro. — Não o tipo de encanto que eu aprendi esta manhã.
— Sim, — diz Violet. — Eu morei em Kaleidos por um tempo, e eles têm casas nas árvores como estas. Eu realmente gostei delas, então sugeri que fizéssemos a mesma coisa aqui.
— E passamos anos vivendo em árvores com encanto ou no Subterrâneo ou dentro de montanhas, — acrescenta Calla, — então quando a Guilda nos forçou a fugir e tivemos que fazer um novo lar em algum lugar, decidimos que não queríamos mais viver em casas escondidas. A cúpula externa nos mantém escondidos, então nossas casas na verdade não precisam ser escondidas.
— É muito legal. — Eu afasto o pensamento de que, se eu conseguisse trazer mamãe com segurança para o mundo mágico, ela e eu poderíamos viver felizes aqui pelo resto de nossas vidas. Ela adoraria os jardins, as fontes, as flores. Mas eu não sei se isso é possível, então vou deixar meus sonhos para outro dia. Outra hora, quando descobrir se posso realmente confiar nessas pessoas. — O que vocês fazem aqui? — Eu pergunto, observando Ryn entregar as rédeas da gárgula para um homem careca com olhos que não parecem normais.
— Nós resgatamos Dotados Griffin e os escondemos da Guilda, — diz ele, virando para mim. — Também ajudamos pessoas de outras maneiras. Basicamente, fazemos o que a Guilda faz, mas em menor escala.
— Também é não oficial e ilegal, — diz Calla. — Então, você sabe, essa é outra razão pela qual a Guilda não gosta de nós.
— Oops, — diz uma pequena voz atrás de nós. Nós todos viramos, e lá está o garoto que apareceu na floresta antes de Dash me arrastar até a beira do penhasco. — Eu estava esperando chegar em casa antes de vocês.
Depois de uma pausa cheia de silêncio chocado, Violet caminha para frente, segura os ombros do garoto e certifica-se de que seu rosto está bem diante do dele, antes de perguntar, — Onde você estava?
— Hum...
— Você deixou o oásis?
Ele pisca. — Talvez. Eu só... queria ajudar com a missão de resgate.
— Jack Linden Larkenwood, — ela diz, — você está de castigo. — Ela se endireita e o solta. — Pela próxima década.
— O quê?
— Pelo próximo século.
— Mãe! — Jack solta um gemido dramático e se vira para Ryn. — Pa-pai, — ele lamenta.
Ryn cruza os braços. — Você quer que eu adicione mais uma década?
— Ugh, vocês estragam tudo!
— Não, estragou as coisas é o que você fez quando decidiu desobedecer às regras e deixar o oásis, — diz Violet. — Agora, por favor, me dê a stylus que você decidiu roubar.
Jack murmura algo baixo demais para alguém ouvir antes de entregar uma stylus, cruzar os braços e projetar o lábio inferior para fora. Calla cobre a boca para esconder um sorriso antes de se virar. Olhando além dela, vejo o careca andando de volta em nossa direção. Quando ele chega o lado de Calla, percebo por que seus olhos parecem estranhos: suas pupilas são verticais em vez de redondas.
— Lorde Sedon quer marcar uma reunião com vocês dois, — ele diz para Ryn e Violet. — Ele está esperando em um dos espelhos.
— Ótimo, vamos falar com ele agora, — diz Ryn.
— Chase ainda não voltou? — Calla pergunta.
— Não, — o homem careca diz. — Você perdeu uma chamada de espelho dele mais cedo, entretanto.
— Oh, eu vou ver se consigo falar com ele agora. — Ela se afasta.
— Jack, — diz Violet, — por favor, leve Emerson para um dos quartos vazios e depois mostre a ela um pouco das coisas enquanto o papai e eu trabalhamos um pouco.
— Você vai tirar meu castigo se eu fizer isso?
— Não. Você fará isso porque quer ser simpático e receptivo com a Emerson.
— Tudo bem, — ele geme.
— Ótimo. Emerson, nos vemos mais tarde, — diz Violet. — Podemos nos encontrar para... — Ela hesita, depois ri. — Desculpe, sempre leva um momento para reajustar quando viajo entre os fusos horários. É tarde aqui, não é, então podemos nos encontrar para nos espreguiçar nas redes.
— Isso soa... — Como o tipo de férias que eu acabei de sonhar. — Isso soa legal.
Eu vejo os dois irem embora. Quando eles estão fora do alcance da voz, Jack se vira para mim e sorri. — Na verdade sou simpático e acolhedor.
— Tudo bem. Bom saber.
— Venha, você pode escolher um quarto.
Eu ando com ele, diminuindo o ritmo para corresponder aos seus passos pequenos. — Quem fez todo esse lugar?
— Papai e tio Chase. Eles disseram que demoraram um ano para conseguir colocar os feitiços certos. Mas isso foi antes de eu nascer, então obviamente eu não me lembro de nada disso.
— Quem é Chase?
— O marido da Tia Calla.
Eu concordo. — Então... o seu pai e o Chase são os responsáveis?
— Eu acho. Mas também mamãe e tia Calla. E tio Gaius. Embora ele não seja realmente meu tio, ele é apenas amigo do tio Chase desde sempre, e ele não sai mais de sua casa, já que ele está doente. Eu acho que todos eles estão no comando. Bem, eles estabelecem as regras, e eu fico com problemas com todos eles se eu as quebrar, então todos eles devem estar no comando.
Chegamos à base de uma das gigantescas árvores. Degraus foram esculpidos, começando de baixo e curvando-se ao redor do lado do tronco enquanto sobem mais alto. Jack me puxa, movendo-se tão rapidamente quanto suas pernas curtas conseguem levá-lo. — Quantos anos você tem, Jack?
Ele arrasta a mão ao longo do tronco enquanto subimos. — Eu tenho oito anos e meio. Quantos anos você tem?
— Dezessete. Dezoito em poucos meses.
— Você foi para a escola de onde você é? Porque você pode fazer isso aqui. Eu tenho aulas com as outras crianças que moram aqui e na maior parte é divertido. Você pode se juntar a nós se quiser, mas provavelmente ficará com Junie porque é mais velha.
Eu suspiro e digo, — Não, eu provavelmente estaria com você. — Na verdade, eu acrescento em silêncio, se houver uma turma inferior que a sua, é provavelmente onde eu pertenço.
— Então esta é a nossa casa, — diz Jack quando chegamos a primeira grande estrutura construída nos galhos. — Tem mais quartos, uma cozinha e sala de estar e coisas assim, e mais acima estão apenas os quartos e banheiros para pessoas novas. Então, se eles ficarem e quiserem outros quartos, Merrick apenas os adiciona.
Eu paro por um momento e olho para as estruturas de madeira menores construídas acima de nós. — Eu provavelmente não deveria perguntar sobre como os banheiros funcionam aí em cima. Quero dizer, eu acho que magia cuida de todo o... encanamento?
Jack encolhe os ombros. — Eu não sei. Eu acho que sim. — Ele continua subindo, e eu o sigo, grata por toda a atividade física que Val e eu fizemos ao longo dos últimos dois anos em nossa busca para nos ensinar parkour.
— Parece que você tem que estar em boas condições para morar aqui, — comento. — É um longo caminho se você esquecer algo quando sair de casa de manhã.
— Eu sei! — Jack exclama. — E ainda não aprendi a me impulsionar com magia, por isso demora muito. Mamãe e papai podem chegar aqui em segundos, se precisarem. É tão injusto.
— Bem, você provavelmente será capaz de fazer isso em breve, certo? Quero dizer, você sabe como usar o caminho das fadas. — Eu ainda estou particularmente interessada nesse feitiço. Quanto mais cedo eu aprender, mais cedo me sentirei mais no controle da minha situação.
— Oh, sim, os caminhos das fadas. Eu não deveria saber isso ainda. Mas eu sempre prestei atenção quando mamãe e papai fazem. Eu sou um aprendiz rápido. — Ele olha para mim com um sorriso orgulhoso, em seguida, acelera seu ritmo um pouco, como se estimulado por suas próprias palavras. — Tudo bem, — ele diz um pouco sem fôlego depois de termos passado por quatro casas menores na árvore. — Este está vazio. Ou você pode ir mais alto se quiser. Existem outros três que estão vazios. Merrick sempre acrescenta mais quando tem tempo.
— Este está bem. — Eu coloco minhas mãos em meus quadris e olho em volta enquanto me dou alguns momentos para recuperar o fôlego. Os galhos aqui em cima são largos o suficiente para andar sem ter problemas de equilíbrio. Ainda bem que eu não tenho medo de altura. À distância daqui até o chão é suficiente para causar sérios danos a qualquer um que possa surtar e escorregar.
— Tudo bem, venha ver, — diz Jack. Ele pula ao longo do galho e abre a porta. Eu o sigo para dentro de um quarto, claramente mobiliado com nada mais do que uma cama, um guarda-roupa e uma cadeira no canto. É ainda melhor do que o quarto em que sempre dormi na casa de Chelsea. Pelo menos eu não tenho que escalar caixas de produtos para cabelo e dividir minhas prateleiras com pequenas garrafas de misturas estranhas.
— Isso é um banheiro? — Eu pergunto, apontando para uma porta fechada do outro lado do quarto.
— Sim. Portanto, isto é apenas as coisas básicas que eles colocam em todos os quartos. É meio chato, então você pode mudar o que quiser. Você pode até mudar a forma do quarto, se quiser algo diferente. Merrick vai fazer. Ele é um faerie arquiteto. E Junie - ela é uma elfa - é uma designer. Então, se você disser a ela como você quer sua cama, ela pode mudá-la facilmente. Ou, se quiser que a cadeira seja um balanço pendurado no teto, ela também pode fazer isso. Ela fez isso no meu quarto, mas depois eu caí uma noite quando eu deveria estar dormindo, não brincando, então mamãe e papai a fizeram mudar para uma poltrona, o que não é tão divertido. Mas Junie fez em forma de dragão, então eu acho que não é tão ruim assim.
Eu sorrio com essa informação de repente. — Parece legal. — Eu ando até a janela, e meu sorriso aumenta um pouco mais ao ver o pomar, o rio e o sol se pondo a distância. Eu nunca imaginei ter uma visão como esta do meu próprio quarto. E você ainda não tem, uma pequena voz me lembra. Este não é meu quarto, e eu provavelmente não ficarei aqui por muito tempo. Nada tão incrível pode durar.
— O guarda-roupa está vazio agora, — diz Jack, — mas a mamãe vai colocar algumas roupas depois. A mãe de Dash é uma conjuradora de roupas e ela envia toneladas de roupas para cá. Algumas delas são estranhas e mamãe esconde essas, mas a maioria é normal. Oh, de onde veio? — Eu me viro e olho para onde ele está apontando. No canto, sentado na cadeira, está um gatinho.
Eu atravesso o quarto com um suspiro. — Esse garotinho é uma criatura que muda de forma e me segue para todos os lugares. Eu pensei que ele fugiu quando Dash me encontrou na floresta, mas ele deve ter apenas se transformado em algo muito pequeno e subiu em um dos meus bolsos ou algo assim. — A criatura muda rapidamente para lá e para cá entre duas formas que eu não consigo identificar, como uma velha TV mudando entre os canais. Então se estabelece como um gatinho novamente.
— Legal, ele é como Filigree! — Diz Jack.
— Filigree?
— Sim, o animal de estimação da mamãe. Ele não muda muito porque ele é super velho e mamãe diz que ele não tem energia agora, mas ele costumava se transformar em todos os tipos de coisas. Ele até mesmo se transformou em um dragão uma vez, mas depois ele dormiu por três dias depois disso, porque usou muito de sua magia. — Jack se agacha na frente da cadeira. — Qual é o nome dele?
— Ele não tem um.
— Ah, posso dar um nome a ele, por favor? — Implora Jack, arregalando os olhos de prazer enquanto olha por cima do ombro para mim.
— Certo. Ele provavelmente vai acabar ficando aqui de qualquer maneira. Não é como se ele fosse meu. Ele só parece gostar de me seguir. — Uma mudança estranha, dado que meu primeiro animal de estimação teve a reação oposta e fugiu depois de apenas alguns dias.
— Yay. — Jack pega o gatinho e o embala contra seu peito. — Vou chamá-lo de... — Jack aperta os olhos enquanto pensa. — Bandit. Seu nome será Bandit.
Eu aceno devagar. — Parece legal.
Nós descemos todas as escadas — minhas pernas se exercitando bem no processo — e Jack me mostra o resto da cúpula, apontando uma estufa, uma escola, uma horta e um pomar, uma academia ao ar livre e um edifício que aparentemente contém um laboratório e alguns outros lugares fora dos limites dos quais Jack não sabe muito. — É onde eles fazem o trabalho deles e como eles ajudam as pessoas. Isso é tudo o que eu sei.
— Há muita coisa aqui, — eu digo quando paramos ao lado de um rio estreito com um barco flutuando perto da margem. — É maior do que eu pensava.
— Era menor quando eu era pequeno, — diz Jack, — mas Merrick continua adicionando coisas. Ele fica entediado quando não está ajudando mamãe e papai com casos. Enfim, venha ver o parquinho. — Ele pega minha mão e me puxa para longe do rio. — Eu o guardei para o final porque é o meu lugar favorito aqui. O balanço é incrível. Você tem que experimentar.
O parque acaba por ser preenchido com o mesmo tipo de equipamento que eu esperaria encontrar no meu mundo. O balanço também parece normal. — Não é só para frente e pra trás, — diz Jack quando pergunto o que há de tão especial nisso. — Veja, você se prende e o balanço vai para todos os lados. Quantas vezes você quiser.
— Uau, tudo bem. Isso é legal. É encantado, suponho?
— Sim, obviamente. Você quer ir?
— Hum, talvez outra hora. É só... isso é muito. Ainda estou me acostumando com todas as coisas mágicas.
— Oh, desculpe. Você é do outro mundo. Eu me lembro agora. Então, o que você faz para se divertir lá?
— Oh. Hum... — Eu coloco minhas mãos nos bolsos de trás. — Bem, eu saio com minha amiga Val. Nós nos ensinamos essa coisa chamada parkour. É como um esporte. Você usa qualquer ambiente em que esteja — como edifícios, paredes, escadas, seja qual for — como uma pista de obstáculos. Há muitos saltos e corridas e escaladas. E quedas, mas cair do jeito certo. Como pousar sobre seu ombro e rolar e se levantar.
— Tudo bem. É divertido?
— Sim. Você tem que ser criativo ao ir do ponto A ao ponto B. É como uma arte, na verdade. A arte do movimento rápido, apesar dos obstáculos. Uma pessoa comum pode descer as escadas de um prédio e caminhar pela rua para onde quer que ela vá. Em vez disso, descobrimos como pular ou descer, e depois pular para cima de paredes e através de jardins para chegar ao destino da maneira mais rápida possível.
— Legal. Você pode me ensinar?
— Hum, claro. Se você puder me ensinar como abrir os caminhos das fadas.
— Tudo bem. — Ele envolve um braço em torno de uma das correntes do balanço. — Mas teríamos que usar a stylus de alguém. Sem eles saberem. E... eu realmente não quero ficar de castigo novamente.
— Certo. Sim. Você deve ficar longe de problemas. — Essas últimas palavras saem inesperadamente profundas e ressonantes, e aquele mesmo arrepio estranho de mais cedo ondula pela minha espinha e através dos meus braços.
— O que foi isso? — Jack pergunta, inclinando a cabeça para trás enquanto ele me olha com desconfiança. — Você soou estranha.
— Hum... — Eu não tenho certeza se ele sabe sobre a minha Habilidade Griffin. — Provavelmente apenas alguma magia escapando. Eu realmente não sei como usá-la ainda. — Ele balança a cabeça lentamente enquanto eu olho em volta procurando outra coisa para falar. — Então, onde estão as redes? Eu acho que eu provavelmente deveria encontrar seus pais em breve.
— Por aqui, — diz ele, indo em outra direção. Corro atrás dele, grata pelos efeitos duradouros da bebida energética com chocolate que Azzy me deu antes de deixar a Guilda me levar. Eu provavelmente teria desmaiado de exaustão há muito tempo sem ela.
Jack me leva a uma coleção de redes amarradas entre as árvores perto de um pavilhão redondo e aberto. Grandes sofás estão sob o telhado decorativo do pavilhão. — Eu acho que vou esperar lá, — eu digo a ele.
— Legal. Eu vou procurar comida para o Bandit.
Eu o observo se afastando até que uma voz familiar atrás de mim diz, — Ei, você chegou aqui em segurança.
Eu viro, meu coração trovejando no meu peito. — Dash. — Eu me afasto de sua mão estendida. — Ele nos encontrou! — Eu grito. — A Guilda nos encontrou!
Capítulo 15
— UAU, EI, ACALME-SE. — DASH PISCA, CONFUSO. — ESTOU DO SEU LADO COMO VOCÊ ainda não percebeu isso?
— Tudo bem, Emerson, — diz Violet, correndo até mim. — Ele está dizendo a verdade. Ele está do nosso lado.
— Como ele pode estar do nosso lado? — A raiva corre com força em minhas veias, escapando em faíscas violentas que se afastam de mim e vão diretamente em direção ao rosto de Dash.
— Ow! — Ele se abaixa e afasta a magia para longe com as duas mãos. — Que diabos, Em?
— Você tentou me prender! E então você me empurrou da beira de um penhasco!
— Nossa, Em, eu sou a única razão pela qual você fugiu da Guilda. Você nunca teria escapado sem a minha ajuda. — Ele se endireita quando minha magia para de atacá-lo. — Você não acha que os guardiões são normalmente tão desajeitados, não é? E o penhasco... — Ele encolhe os ombros, parecendo um pouco envergonhado. — Bem, ficamos sem tempo, então eu tive que improvisar. Mas eu sabia que Ryn e Vi estavam lá. Eu sabia que alguém iria te pegar.
— Você sabia que alguém iria me pegar? — Eu repito em descrença. — Eu quase morri!
— Mas não morreu. Você está bem. E agora você está segura, que era o plano desde o começo.
— Que plano?
— Você sabe, deixar você aqui com os rebeldes Griffin.
— Espere. — Eu pisco e levanto minhas mãos. — Você sabia o tempo todo que eu tinha uma Habilidade Griffin, e você não disse nada para mim?
Os olhos de Dash piscam para Violet antes de voltar para mim. — Bem, nós não estávamos certos. É por isso que eu continuei tentando fazer com que você me dissesse exatamente o que aconteceu naquela noite na festa, mas você não estava interessada em falar sobre isso.
— Você está de brincadeira? Se fosse tão importante — se ter uma Habilidade Griffin é tão perigoso, você poderia ter forçado a informação de mim. E me dito, ‘Em, isso não é magia normal. Você pode estar em perigo por causa disso. Você tem que me dizer o que aconteceu, para sua própria segurança’. — Eu jogo minhas mãos para cima em completa exasperação. — Você considerou essa opção, Dash?
Ele cruza os braços sobre o peito, sua expressão ficando mais tempestuosa a cada segundo. — Talvez você não se lembre claramente da ocasião em que você se assustou completamente e fugiu de Chevalier House, mas você não estava exatamente com vontade de ser forçada a fazer nada. E me perdoe, mas eu meio que achei que você tinha o suficiente de coisas para lidar naquele momento, tendo acabado de descobrir, você sabe, todo o resto. Eu pensei que estava sendo gentil, não despejando outra horrível revelação em seus ombros. E imaginei que Azzy tiraria a verdade de você em breve — o que ela já havia feito, na verdade. Eu não sabia, mas ela contatou Ryn quando eu te trouxe de volta para Chevalier House. Nós simplesmente não conseguimos levar você para longe com segurança antes de você revelar a todos o que você pode fazer.
— Espere. Azzy está nessa coisa toda? Era sobre isso que vocês dois estavam sussurrando na noite passada?
— Você ouviu?
— Sim, Profº Azzy está do nosso lado também, — diz Violet.
— Então por que diabos Paul chamou a Guilda para vir me buscar?
— Porque Azzy é a única que está dentro, — explica ela. — Paul não está. Ele está firmemente do lado da Guilda, assim como todo mundo que trabalha na Chevalier House, então sua resposta automática foi contatá-los.
— Tudo bem. Tudo bem! — Eu encaro Dash novamente. — Mas você ainda não explicou nada pra mim depois que eu acidentalmente revelei minha Habilidade. Se seus amigos Griffin estavam planejando vir me resgatar, por que você não me contou?
— Eu tentei, Em, mas não ficamos sozinhos por muito tempo depois disso. Eu não pude dizer nada com outros guardiões ao redor. Se a Guilda perceber o menor indício de que eu não estou totalmente do lado deles, as coisas acabarão muito mal.
— Pensando na própria pele pelo que eu vejo, — murmuro.
— Emerson —
— Não apenas em mim, — Dash retruca, interrompendo Violet antes que ela possa ir mais longe. — Estou cuidando de todo mundo que mora aqui. A magia protetora pode me impedir de dizer a Guilda sobre este lugar se eu fosse interrogado, mas sei muito mais do que isso. Eu sei o que o Azzy está fazendo e sobre todas as pessoas que entram e saem daqui. Você pode imaginar o que aconteceria se a Guilda conseguisse essa informação de mim?
— Então por que se incomodar em trabalhar na Guilda se é um risco tão gigantesco?
— Alôô! Porque Vi e Ryn e todos os outros aqui precisam de pessoas lá dentro. Eles não saberiam o que está acontecendo de outra forma. Eles não saberiam sobre você, ou sobre o que a Guilda planejava fazer com você.
— É verdade, — diz Violet. — A informação que Dash nos dá sobre a Guilda é extremamente valiosa. E, além disso, ele quer ser um guardião. Ele quer ajudar as pessoas. Ele não deveria ter que se afastar disso só porque ele está conectado a nós.
Eu cruzo meus braços firmemente sobre o peito, querendo dizer que outras pessoas têm que desistir de seus sonhos o tempo todo, então o que faz Dash tão especial que ele consegue manter o dele? Mas meus pensamentos infantis e mesquinhos não ajudam, então eu consigo ficar calada.
O olhar de Violet se move entre nós dois. — Deveríamos... talvez... nos sentar? — Ela sugere depois que vários outros segundos de silêncio se passam.
Com um aceno conciso, eu a sigo pelas escadas do pavilhão. Espero que Dash sente para que eu possa escolher um lugar longe dele, mas ele acena para eu sentar primeiro. Idiota. Ele está fingindo ter boas maneiras ou algo assim? Sento em um sofá de listras azuis e brancas e abraço uma das almofadas brancas e macias contra o meu estômago. Dash tem a decência de não se sentar ao meu lado. — Então, estamos bem agora? — Pergunta ele. — Você e eu?
Eu dou de ombros. — Tudo bem como sempre fomos, eu acho.
— Legal. Então você ainda não gosta de mim, mas pelo menos você não acredita que eu queria te matar.
Eu concordo. — Praticamente.
— Ótimo, — diz Violet, acenando para Ryn enquanto ele caminha em direção ao pavilhão com uma bandeja com copos flutuando no ar ao lado dele. — Enquanto vocês dois não quiserem se matar, tudo deve ficar bem.
— Dash, — diz Ryn quando nos alcança. — Obrigado por ajudar com o resgate. — Ele aperta a mão de Dash, como se me empurrar de um penhasco fosse uma grande conquista. — Eu sei que Emerson não estava muito satisfeita com a maneira como isso aconteceu, mas você tinha que manter seu disfarce de alguma forma.
— Obrigado. É bom saber que algumas pessoas apreciam meu sacrifício. — Ele me lança um olhar aguçado.
— Sim, tanto faz. Um grande sacrifício, tenho certeza. E vocês podem parar de me chamar de Emerson, — acrescento. — Em está bem.
— Ou Emmy, — diz Dash.
Eu cerro meus dentes. — Eu vou te machucar.
— Eu vou te machucar, — ele imita com uma voz aguda.
Violet suspira e se senta em um dos sofás. — Nós fomos tão imaturos?
— Claro que não, — diz Ryn, sentando-se em frente a ela. — Bem, você pode ter sido, mas eu tenho certeza que eu não era.
Ela ri. — Isso definitivamente não é verdade.
— Dash, eu ouvi que você teve um pequeno problema para chegar aqui, — diz Ryn, mudando de assunto. — Calla disse que ela recebeu uma mensagem sua pedindo para ir encontrá-la em algum lugar e trazer você para cá.
— Hum, sim. — Dash olha para mim. — Então, eu tenho um pequeno problema.
— E por que isso é o meu problema?
— Porque é sua culpa. Eu não posso mais usar os caminhos das fadas. É impossível eu viajar para qualquer lugar se estiver sozinho.
— Eeeeeee eu ainda não vejo como isso é o meu problema.
— Em, por favor. Foi sua Habilidade Griffin que fez isso comigo. Você precisa consertar isso.
— Eu não sei como. E mesmo se eu soubesse, isso não pareceria suspeito para a Guilda? Eu deveria estar morta, certo, então como eu consegui consertar seu problema com os caminhos das fadas?
— Eu não sei. Acho que posso dizer que os efeitos da sua magia passaram.
— E quando Jewel ainda não puder usar os caminhos das fadas? Isso vai parecer seriamente suspeito, Dash.
— Ela tem razão, — diz Ryn.
— Apenas tente, Em. Tente agora mesmo. Diga, ‘Você pode abrir portais para os caminhos das fadas’. E, se funcionar, podemos fazer você se esgueirar na casa de Jewel enquanto ela dorme e fazer o mesmo com ela.
— Isso é muito assustador, Dash.
— Apenas tente!
Eu me inclino para trás, cruzo os braços e digo, — Você pode abrir portais para os caminhos das fadas.
Ele suspira. — Talvez você possa colocar um pouco de esforço?
— Quem disse que funciona dessa maneira?
— Eu não sei, mas certamente não funcionou do jeito que você acabou de dizer. Sua voz não ficou... estranha.
Eu descruzo meus braços e mexo distraidamente na manga do meu suéter. — Estranha como? Como minha voz fica quando isso acontece?
— Meio que... mais profunda. Um pouco distorcida. E meio que... não como um eco, mas era como se eu pudesse ouvi-la no ar ao meu redor.
Eu aceno devagar. — Meio que soou assim para mim também.
— Você quer tentar de novo? — Pergunta Violet. — Focando desta vez, em vez de apenas dizer as palavras.
Como não é o Dash que está pedindo, concordo em tentar novamente. Eu tento várias vezes, mesmo fechando os olhos e me concentrando intensamente em extrair esse poder de dentro de mim quando digo a Dash que ele tem permissão para abrir portais para os caminhos de fadas. Mas assim como na beira do penhasco, nada acontece. Minha voz continua normal.
Eventualmente eu me inclino de volta contra o sofá e abraço a almofada macia perto do meu peito. — Viu? Não consigo fazer isso.
— Bem, não há necessidade de insistir sobre isso, — diz Violet. — Nós definitivamente podemos ajudá-la.
— Mesmo?
— Sim. E enquanto isso, Dash terá que descobrir outra maneira de se locomover.
— Ugh, sério? Eu vou ter que ser levado para todo lugar como uma criança, — Dash reclama.
— Ainda bem que você trabalha em equipes na Guilda, diz Ryn. — Um de seus companheiros de equipe deve ficar feliz em ajudar você e Jewel, certo?
— Ainda é extremamente limitante.
— Coitado, — eu digo sem um pingo de simpatia.
Seus olhos se estreitam quando ele olha para mim. — Você está gostando disso.
Eu dou de ombros. — Você me empurrou de um penhasco.
— Isso vai ser a sua desculpa para tudo?
— Provavelmente. Eu sinto que nunca vou cansar.
— Então, — diz Violet em voz alta. — Alguém gostaria de uma bebida? — Ela aponta para a bandeja com copos que Ryn trouxe com ele, que está em uma pequena mesa redonda ao lado de sua cadeira.
— Tudo bem, — eu digo, apontando para um copo contendo camadas alternadas de verde e rosa. — Contanto que não tenha álcool fabricado por humanos.
— Sem álcool, — Ryn me assegura enquanto ele entrega o copo. — Dash? Você gostaria de alguma coisa?
— Nah, na verdade, vou dizer oi para Gaius se ele estiver acordado. Não o vejo há algum tempo. E tenho certeza de que sua conversa com Emmy — ele pisca para mim enquanto se levanta — será mais agradável se eu não estiver por perto.
— Finalmente, — murmuro enquanto Dash se afasta. — Ele não fica aqui por muito tempo, não é?
Violet balança a cabeça e afasta o cabelo do rosto. — Não com muita frequência.
— Graças a Deus por — oh. Essas marcas no seu pulso. — Meus olhos seguem seu braço enquanto ela abaixa. — Elas são iguais as que o Dash tem. Isso não quer dizer que você é uma guardiã?
— Sim.
— Mas... você tem uma Habilidade Griffin, então... oh, isso foi antes deles descobrirem uma maneira de testar as Habilidades Griffin? Desculpe, a coisa da idade é confusa. Você parece tão jovem, mas pode ter cem anos com tudo que sei.
— Não é bem assim, — diz ela com uma risada.
— Nem perto, na verdade, — acrescenta Ryn.
— Mas sim, eu era uma guardiã. Ryn, Calla e eu éramos todos guardiões antes de sermos criminosos. Bem, Calla nunca teve a chance de se formar, mas Ryn e eu nos formamos. Trabalhamos para a Guilda por vários anos sem que ninguém soubesse que éramos Dotados Griffin. Então a Guilda desenvolveu uma maneira de testar as Habilidades Griffin, e nós fomos revelados como ‘traidores’ junto com todos os outros Dotados Griffin. Nós fugimos antes que a Guilda pudesse desativar nossas marcas, por isso ainda temos acesso às nossas armas de guardiões. Você conseguiu vê-las? Cor de ouro e brilhantes. Elas aparecem quando precisamos delas e desaparecem quando as soltamos.
Eu aceno, pensando na luta na beira do penhasco. — Só os guardiões em específicos?
— Sim. Apenas os guardiões têm acesso a armas assim.
— Então, agora você basicamente faz o que fez antes, mas sem a aprovação da Guilda? Então... vocês são como vigilantes?
Seu sorriso é irônico. — Quase. Não é algo que planejamos ser, mas a Guilda nos obrigou a isso. Especialmente porque o sistema deles não funciona tão bem quanto deveria.
— O que você quer dizer?
— Eles trabalham com os Videntes. Faes que têm a capacidade de vislumbrar o futuro. Eles Vêem coisas que darão errado, e a Guilda envia guardiões para evitar que essas coisas aconteçam. O problema é que há muitas dessas visões. Não há guardiões suficientes para lidar com todas elas, então as visões consideradas menos importantes são descartadas. Nós temos um contato na Guilda, no entanto, que as reúne e as envia para nós o mais rápido possível. Nós lidamos com qualquer coisa que ainda não tenha acontecido.
— Legal. — Eu fico em silêncio, pensando em tudo que ela explicou. Então eu lembro que estou segurando uma bebida, então tomo um gole. Tem gosto de uma mistura de caruma e alguma fruta, o que não é uma má combinação. Espero que Ryn ou Violet me façam uma pergunta, mas parece que podem estar esperando que eu conduza a conversa. Ou isso ou eles estão tendo sua própria conversa silenciosa com os olhos.
— De qualquer forma, — eu digo eventualmente, — vocês querem conversar sobre o quê? Minha Habilidade Griffin? O fato de eu não conseguir fazer magia básica? O fato de que minha mãe não é minha mãe? — Violet levanta ambas as sobrancelhas, e eu interiormente me xingo por deixar aquela última parte escapar. — Habilidade Griffin, — eu digo apressadamente. — Vamos conversar sobre isso.
— Hum, sim, — diz ela. — Estou muito interessada em saber mais sobre sua Habilidade Griffin. Eu nunca encontrei alguém que consegue falar coisas e elas acontecerem. Isso é incrível.
— Você quer dizer perigoso, certo? É o que todo mundo parece pensar.
— Perigoso, sim, se você não puder controlar. Mas todos nós somos perigosos se não podemos controlar a nossa magia. E você acabou de descobrir a sua, então é claro que você ainda não sabe o que fazer com ela. Mas faremos o que pudermos para ajudá-la, prometo.
Eu mordo meu lábio e lentamente balanço minha cabeça. — Talvez eu devesse parar de falar completamente, porque eu nunca sei quando algo que eu digo vai sair como um comando mágico. Também... — Eu coloco meu copo no chão antes de pressionar minhas mãos juntas. — Há uma possibilidade de Jack nunca mais entrar em problemas.
Ryn inclina a cabeça. — O que você disse a ele?
— Eu acho que minhas palavras exatas foram, ‘Você deve ficar longe de problemas’ E minha Habilidade Griffin aleatoriamente ligou naquele momento. Então... eu não tenho certeza do tipo de efeito que terá nele.
Violet começa a rir. — Bem, estou ansiosa para ver os resultados disso.
— Sim, mas e se eu dissesse algo diferente? Algo ruim?
Ryn passa a mão pelo cabelo. — Sim, definitivamente há riscos, contanto que você não saiba quando a habilidade vai entrar em ação. Mas não é prático se calar completamente. Talvez você tenha que pensar em tudo o que você quer dizer antes de dizer e certificar-se de que não seja um comando ou uma instrução.
Meus ombros caem. — Isso parece ainda menos prático. Tenho certeza de que seria mais fácil fechar minha boca do que dizer a mim mesma que tenho que pensar em cada palavra antes que ela saia da minha boca.
— Não será um problema por muito tempo, — diz Violet. — Podemos começar a trabalhar nisso amanhã. Bem, no dia seguinte, suponho. Você precisa ir ao laboratório amanhã para que a Ana possa tirar uma amostra da sua magia. O elixir para estimular sua Habilidade Griffin deve estar pronto no dia seguinte.
— Laboratório? — Um medo frio e forte toma forma na boca do meu estômago. — Eu — isso é — eu não sou muito —
— Claro, sinto muito. Dash mencionou que você tem medo de todas as coisas médicas. Mas não se preocupe. Não há agulhas nem nada. É apenas um feitiço simples e você não sente nada.
Eu arranco os fios da almofada macia, incapaz de me livrar da minha carranca. Eu odeio que Dash tenha falado sobre mim para essas pessoas. O que mais ele disse a eles?
— Sério, Em, não é grande coisa, — diz Ryn. — Precisamos tirar uma amostra de sua magia para criar um elixir que estimule sua Habilidade Griffin. Uma vez que você se acostumar com a sensação de ter aquela parte específica de sua magia ligada, você pode descobrir como fazer isso sem o auxílio do elixir. Precisa ser específico para a sua magia, e é por isso que precisamos da amostra.
Eu lambo meus lábios, alcanço a bebida aos meus pés e tomo um longo gole. — Tudo bem, — eu digo depois que eu a coloco de novo no chão. — Eu acho que isso faz sentido. — Isso não significa que Ryn e Violet não estão mentindo para mim, no entanto. Eles podem querer usar minha magia para outra coisa.
Violet se inclina para frente, seu âmbar agora apertado entre suas mãos. — Você quer nos dizer alguma coisa sobre sua mãe?
De repente, isso parece um interrogatório. — Hum...
— Qual é o nome dela? Em que hospital ela está?
Eu arranho uma marca suja na minha calça jeans. — Daniela Clarke. E ela está no Hospital Psiquiátrico Tranquil Hills. É... bem, o ambiente é tranquilo. Dentro não é.
Vi acena e escreve algo em seu âmbar com uma stylus.
— O que você está escrevendo? Você está contando a alguém? Dash disse que essas coisas âmbar são como celulares, então você está enviando mensagens para alguém?
— Em, acalme-se, — diz Ryn. — Ela está tomando notas, isso é tudo.
Violet se senta. — Eu sei que Dash lhe disse que não é possível que sua mãe seja sua mãe biológica. Isso deve ter sido um grande choque para você descobrir.
Eu aceno, mas não digo nada.
— Eu sinto muito, Em. É muita coisa para absorver tudo de uma vez, eu sei. Descobrir que você não é quem você achava que era e que pode ter uma família totalmente nova em algum lugar por aí. Você quer que nós tentemos descobrir mais sobre eles?
Eu sacudo minha cabeça. — Minha mãe é minha única família. Eu não preciso saber de mais ninguém.
— Tudo bem. Apenas avise se você mudar de ideia.
— Sim. — Eu não vou mudar de ideia.
— Em, você não precisa surtar. — É Ryn quem se inclina para frente dessa vez, me observando atentamente. — Estou falando sério. Nós só queremos ajudar você. Se você realmente não quer que façamos uma amostra da sua magia, não vamos forçá-la. E se você não quer falar sobre sua mãe, tudo bem. Nós não vamos mencioná-la novamente. Nós queremos que você se sinta segura aqui, isso é tudo. Estamos nos escondendo da Guilda assim como você está. Nós entendemos o que é ser caçado. Entendemos como é querer apenas um lugar seguro para chamar de lar.
Percebo que tenho prendido a respiração enquanto ele fala, e lentamente deixo escapar. Eu acho que acredito nele. Eu acho que eu acredito. O único problema é... — Isso nunca vai ser a minha casa, — eu digo com cuidado, esperando que eles entendam que eu não quero ofendê-los. — Eu tenho uma vida em outro lugar. E uma mãe que precisa de mim. Eu preciso voltar àquele mundo quando a minha magia não for mais um perigo para todos ao meu redor.
Ryn acena. — Então é isso que vamos ajudá-la a fazer.
Capítulo 16
EU PASSO UMA HORA OU DUAS NAQUELA NOITE NO MEU QUARTO COM JUNIE, A ELFA QUE JACK mencionou anteriormente, tentando não olhar para as orelhas dela enquanto ela cria lençóis para a cama e cortinas para as janelas, e muda a cadeira de uma coisa dura de madeira para uma poltrona macia com um tecido estampado de flores. Bandit gosta imediatamente da nova cadeira e imediatamente se enrola e adormece. Junie pergunta se eu quero mais alguma coisa, e quando eu pergunto sobre comprar um relógio para não chegar atrasada para o café da manhã — sem mais alarme no celular para me acordar — Junie pinta o relógio na minha parede. Um minuto depois, quando o número magicamente vai para outro segundo, eu respiro fundo. Mesmo depois de vários dias neste mundo, a magia continua a me surpreender.
Enquanto esse quarto é mais rústico do que o que eu tinha na Chevalier House, eu prefiro este. Quando finalmente estou sozinha, passo um tempo na janela, olhando para as pequenas luzes nas árvores e para as milhões de estrelas visíveis através da cúpula. Mas, eventualmente, minhas pálpebras ficam pesadas demais e eu subo na cama.
Eu durmo melhor do que o esperado, acordando ao som de uma cantoria vindo da direção dos números pintados na minha parede. Depois de usar a piscina no meu pequeno banheiro com tema de jardim, desço as muitas escadas do lado de fora da árvore até a casa de Violet e Ryn. Eu bato na porta entreaberta antes de abri-la e entrar no que parece ser a cozinha deles. O cheiro de algo assando enche o ar.
— Oh, bom dia, Em, — diz Violet, sorrindo para mim por cima do ombro. Ela está perto de um balcão onde o conteúdo de uma jarra parece estar se mexendo, e uma faca está cortando uma maçã. Sua mão paira acima de três canecas, e embora eu não possa ver dentro delas, eu assumo que algo mágico esteja acontecendo. — Você pode se sentar à mesa, — diz ela. — Café?
— Oh, graças a Deus. Eu estava preocupada que café não existisse neste mundo.
Ela ri, pega as três canecas e as leva para a mesa. A jarra continua a mexer-se atrás dela. — Não é o mesmo que o café que você provavelmente está acostumada, mas espero que você goste.
Jack corre para a cozinha, gritando, — Bom dia, Em! Você trouxe Bandit com você?
— Jack, por favor, — diz Violet. — Você não precisar falar tão alto dentro de casa.
— Desculpe, — Jack sussurra com um sorriso travesso quando Ryn entra na cozinha atrás dele.
— Ei, Em, — ele diz para mim. Então para Violet, — Desculpe, me distraí. Eu ia terminar o café.
— Tudo sob controle, — diz Violet. Ela lhe dá um beijo rápido enquanto ele desliza o braço ao redor de sua cintura. — Você pode pegar os muffins?
— Então você trouxe Bandit? — Jack pergunta novamente, subindo em uma cadeira.
— Na verdade, ele voltou a dormir depois que eu me levantei. Ele provavelmente ainda está lá em cima no meu quarto.
— Oh. — Jack suspira, então se anima quando sua mãe coloca um pequeno copo com algo marrom na frente dele. — Ooh, chocolate, chocolate, chocolate.
— Ei, posso me juntar a vocês para o café da manhã? — A pergunta vem da direção da porta, e é Calla quem está espreitando. — Chase ainda não voltou.
— Claro. — Violet acena para uma das cadeiras vazias. — Você está preocupada com ele?
— Não, tenho certeza que ele está bem. As coisas às vezes demoram mais do que ele espera, isso é tudo. Ei, Em, — ela acrescenta com um aceno em minha direção. — Ooh, são muffins? — Ela desliza rapidamente em uma cadeira, esfregando as mãos enquanto Ryn coloca um prato de bolinhos fumegantes no centro da mesa. Violet acrescenta um prato de frutas fatiadas ao lado — pelo menos metade delas eu não reconheço - enquanto tento lembrar se Chelsea, Georgia e eu comemos alguma coisa que não fosse de uma caixa de cereal na hora do café da manhã. Eu não sei cozinhar, e duvido que elas também saibam.
— Algo para beber? — Violet diz para Calla.
— Não, não se preocupe. Eu vou fazer algo para mim em um minuto.
Violet se junta à mesa, e Jack começa a contar a Calla tudo sobre Bandit, o ‘novo Filigree’, enquanto todos se servem da comida. Ele então volta sua atenção para mim e me dá um esboço detalhado do que a dieta de Bandit deve ter e quantas vezes eu devo alimentá-lo. — Eu posso ajudá-la, se você quiser, — acrescenta ele.
— Obrigada. Na verdade você ficar com ele se você — Violet me interrompe com uma rápida e vigorosa sacudida de sua cabeça. Eu volto atrás rapidamente. — Quero dizer, você pode continuar visitando ele. O quanto você quiser. E tenho certeza que ele adoraria se você trouxesse comida para ele. — Eu arrisco um olhar na direção de Violet, esperando ter consertado meu erro com sucesso. Ela sorri e me dá um breve aceno de cabeça.
Ao lado dela, Calla murmura algo e coloca o âmbar na mesa ao lado do prato. — Tudo bem? — Pergunta Violet.
— Era uma mensagem de Perry. Ele diz que houve um ataque em um internato de faeries na noite passada, e outro na aldeia perto de Twiggled Horn. Esse é o segundo naquele vilarejo em particular esta semana. Algo ruim está acontecendo lá fora.
— Eu acho que ouvi sobre isso, — eu digo, o que faz Calla olhar para mim surpresa. — Bem, o primeiro, — acrescento. — Não esse que acabou de acontecer. Eu só lembro porque o nome do lugar é muito estranho.
— É o nome de uma montanha que tem uma forma estranha, — diz Ryn. — O que você ouviu sobre o primeiro ataque?
Eu tento lembrar os detalhes que Jewel passou para Dash quando ela recebeu a mensagem. — Eles disseram que cinco pessoas foram mortas, eu acho. Ah, e eles disseram que era um ataque Griffin. Eu me lembro agora. Essa foi a primeira vez que ouvi falar das Habilidades Griffin.
Calla fica boquiaberta. — O quê? Essa é uma das histórias que a Guilda está espalhando por aí? Mas não estávamos nem perto de Twiggled Horn. E nós não matamos pessoas. A Guilda me deixa com raiva às vezes. Eu não posso acreditar que eles nos colocaram nisso.
O âmbar dela vibra brevemente através da mesa novamente. Ela pega e lê. — Oh, brilhante. — Suas mãos caem para seu colo em exasperação. — A mensagem oficial da Guilda é que ninguém assumiu a responsabilidade por esses recentes ataques, mas eles têm razões para acreditar que eles foram executados por rebeldes Griffin.
Eu observo as mãos de Violet apertarem firmemente em torno de sua faca e garfo. A expressão de Ryn escurece. — Essas mentiras, — ele fala entre os dentes. — Eles sabem que não somos nós, então é melhor que façam a droga do que puderem nos bastidores para descobrir quem é o responsável.
— Parece tão confuso quanto o nosso sistema de aplicação da lei, — murmuro.
— Papai, — Jack diz incerto. — Eu pensei que não devíamos dizer 'droga'.
Um pequeno sorriso passa pelo rosto de Ryn. Ele estende a mão e bagunça o cabelo de Jack. — Você está certo. Obrigado por me lembrar.
— Sim, eu acho que não devemos deixar que isso nos abale, — diz Calla, empurrando o âmbar para longe e escolhendo outro muffin. — A Guilda está espalhando mentiras sobre nós há anos. Isso dificilmente é diferente.
— Verdade, — diz Violet. — Embora eles definitivamente precisem descobrir quem está por trás disso.
— Espero que eles possam resolver isso sem a nossa ajuda, — diz Ryn com um sorriso superior que me lembra, por apenas um momento, de Dash.
O âmbar de Calla vibra mais uma vez. Ela franze a testa para a última mensagem. — Perry diz que há algo muito estranho sobre o modo como esses fae foram mortos. Diz que eu deveria encontrá-lo para que ele possa explicar corretamente. Ela fica de pé. — Eu acho melhor eu ir. Ah, mas eu quero um pouco do chocolate com canela que Jack ama muito primeiro. — Ela corre em direção ao balcão.
— Bom dia a todos.
Nós todos olhamos para a porta. Ao ver Dash, eu suprimo um gemido.
— Dash? — Diz Violet. — Você pode usar os caminhos das fadas de novo?
— Não, mas eu tenho outros amigos aqui que estão felizes em me ajudar.
— Você não deveria estar em um trabalho agora? — Calla pergunta.
— Sim, eu estou indo para o trabalho em poucos minutos. Apenas parei para dizer oi.
Calla coloca a mão no quadril. Atrás dela, a jarra que estava se mexendo com uma colher mais cedo despeja um pouco de seu conteúdo em um copo. — Você parou para dizer 'oi'? Por que eu não acredito em você?
— Eu não sei. Eu sou um cara amigável. Não tenho certeza do porquê você duvidaria do meu desejo de desejar a todos um bom dia.
Ela balança a cabeça enquanto pega o copo e se move em direção a ele. — Bom dia, então. E adeus. Estou saindo agora.
— Fique viva, — Dash fala alegremente depois que ela sai.
— Fique viva? — Eu repito. — Isso é uma saudação comum por aqui?
Violet lança um rápido olhar para Jack antes de dizer baixinho, — É um sentimento comum, mesmo que nem sempre falemos em voz alta.
Dash entra na cozinha. — Que bom você dar as boas-vindas a Em ao oásis com assados. — Ele se inclina passando Violet e pega um muffin de mirtilo. — Eu aprovo.
— Dash, — eu digo, decidindo ser civilizada. — Você sabe o que aconteceu com Aurora depois que eu fugi da Guilda ontem?
Ele se inclina contra a mesa. — Aurora?
— A outra garota nova em Chevalier House. Aquela que apareceu na Guilda e me ajudou a escapar. Os guardiões a pegaram antes que ela pudesse entrar nos caminhos das fadas comigo.
— Oh, sim. — Dash mastiga e engole. — Eles a colocaram em uma cela na detenção por algumas horas. Então eles a mandaram de volta para Chevalier House depois de interrogá-la.
A culpa se contorce dentro do meu estomago. — Interrogaram ela?
— Eles queriam saber por que ela veio ajudá-la. Pelo que eles sabem, não havia conexão entre vocês duas.
— Não havia — não tem, — eu digo. — Eu não tenho ideia por que ela foi me ajudar.
— Quem é essa garota? — Pergunta Ryn.
— Ela chegou a Chevalier House anteontem. Ela parecia super suspeita com a coisa toda. Ela disse que ouviu que as pessoas desapareciam de lá às vezes — o que eu acho que faz sentido agora que eu sei que Azzy ajuda o pessoal dos Dotados Griffin.
— Você acha que essa garota também tem uma Habilidade Griffin? — Pergunta Violet.
Eu levanto meus ombros. — Não tenho ideia. Eu suponho que Azzy vai lhe avisar em breve se ela tiver. De qualquer forma, o que é estranho, é que ela era supostamente uma escrava de um bando de bruxas que nunca lhe ensinou como usar magia. Mas ela de alguma forma chegou a Guilda por conta própria, usou magia para cortar minhas cordas e abriu um portal para os caminhos das fadas.
Ryn considera minhas palavras. — Talvez ela tenha adquirido algumas habilidades mágicas básicas com as bruxas. Embora, — ele acrescenta com uma carranca, — as bruxas não viajem através dos caminhos das fadas.
— Então bruxas são reais? Essa parte não foi inventada?
Ryn troca um olhar com Violet. — Bruxas são muito reais. — Ele empurra a cadeira e levanta. — Vou entrar em contato com a Azzy agora. Ela pode me dizer se há algo de que precisamos suspeitar.
Nós começamos a limpar então, em parte com o uso de magia e em parte — e menos para Jack e eu — com a mão. Ele e eu estamos secando os pratos lavados por um dos feitiços de Violet quando percebo que Dash e Violet foram para a sala ao lado. Acho que ouço meu nome sendo mencionado e minha raiva se inflama imediatamente. Dash já não contou a essas pessoas o suficiente sobre mim e minha vida pessoal?
— ...pode ajudá-la, certo? — Dash está dizendo. — Vamos lá, você pode encontrar qualquer pessoa.
— Não, eu não posso, e eu não quero que você diga isso a ela. Você sabe como isso funciona. Eu preciso tocar em algo que pertence a —
— aos pais dela, certo. Eu pensei sobre isso. Ela pertence aos pais dela. Então, basta tocá-la e você poderá encontrá-los.
— Dash, ela não pertence aos pais biológicos há muito tempo, — diz Violet. — Isso não vai funcionar. Além disso, ela não está interessada em encontrá-los.
— Exatamente, — eu digo, alto o suficiente para assustar os dois. Eles olham ao redor com expressões de culpa. — Então, obrigada, Dash, por enfiar o nariz onde ele não pertence, mas como você pode ver, eu não quero sua ajuda.
Ele abre a boca como se quisesse argumentar, mas depois suspira e levanta as mãos em sinal de rendição. — Desculpa. Eu pensei que estava ajudando. Eu ficarei fora disso.
— É provavelmente o melhor, — Violet diz baixinho.
— Legal, bom, eu acho que vou para o trabalho então. — Ele levanta a mão e forma um punho, segurando-o no ar na frente de Violet enquanto ele sorri para ela. — Tenha um bom dia salvando vidas.
Ela revira os olhos e bate no punho dele com o dela. — Para você também. — Ela o observa sair, então se vira para mim. — Me desculpe por isso. Espero que você saiba que eu não faria nada sem a sua permissão.
Eu aceno com hesitação, querendo acreditar nela. — Do que vocês estavam falando? Ser capaz de encontrar alguém... Essa é a sua Habilidade Griffin?
Ela concorda. — Sim. Eu posso encontrar pessoas. Se eu conhecer a pessoa que estou procurando, é fácil. A conexão já está lá. Se eu não conhecer, então eu preciso estar segurando algo que pertence a essa pessoa.
— Isso é tão estranho, — murmuro. Não menos estranho do que ser capaz de falar as coisas e elas acontecerem, uma pequena voz me lembra. — Espere, — acrescento quando algo me ocorre. — Foi assim que Dash me encontrou ontem depois que eu escapei da Guilda? E na outra noite quando fugi da Chevalier House? Você disse a ele onde eu estava?
Ela balança a cabeça, parecendo culpada mais uma vez. — Azzy enviou uma mensagem para dizer que você fugiu. Procurei por você e contei a Dash onde encontrá-la.
— Isso é... — Eu balanço minha cabeça. — Eu... eu nem sei como me sentir sobre isso.
— Como se sua privacidade fosse violada?
— Mais ou menos, eu acho. Como se eu nunca pudesse realmente me esconder em qualquer lugar, mesmo que eu quisesse.
Ela acena com a cabeça. — Eu sei. Eu odeio fazer as pessoas se sentirem assim. Eu só faço quando é necessário. No seu caso, estávamos preocupados com a sua segurança.
— Espere, como funcionou se você não tem nada que me pertence?
Ela fecha os olhos por um momento e esfrega a parte de trás do pescoço. — Agora você realmente vai pensar que violamos sua privacidade. — Ela abre os olhos. — Eu tenho um pompom de cabelo que pertence a você. Dash tirou do seu pulso na noite em que ele te trouxe para casa depois que você desmaiou naquela festa. Ele achou que talvez precisássemos encontrá-la em algum momento.
Eu cruzo meus braços e olho para o chão. — Sim. Isso tudo é muito estranho.
— Eu provavelmente deveria falar sobre Ryn também. Tirar toda a estranheza do caminho de uma só vez.
— Oh, céus. Isso não parece bom.
— E só para você saber, nenhuma dessas habilidades é um segredo. Nós não queremos que as pessoas pensem que estamos escondendo coisas delas, então somos muito abertos com aqueles que vivem aqui.
— Tudo bem, então o que Ryn pode fazer?
— Ele pode sentir suas emoções.
Eu pisco. — Isso não é legal. Nem um pouco. E se eu não quiser que ele saiba o que estou sentindo?
Ela encolhe os ombros. — Tentar não sentir o que você está sentindo?
— É até mesmo possível?
— Na verdade não. Confie em mim, eu tenho anos de experiência nesta área. — Ela olha brevemente por cima do ombro enquanto Jack a chama. Algo sobre um livro que ele não consegue encontrar. — De qualquer forma, — diz ela, virando para mim. — Não é grande coisa. Na maioria das vezes, as emoções das pessoas são evidentes em suas expressões e ações. A habilidade de Ryn apenas faz dele um pouco mais intuitivo do que a maioria, isso é tudo.
Eu mordo meu lábio e franzo o cenho um pouco mais para o tapete no chão. Talvez ela esteja certa, mas isso não me deixa muito confortável em ficar perto dele.
— Eu sinto muito, Em. Eu sei que isso tudo é muito esmagador. Há muito mais que eu quero explicar, mas eu preciso ajudar Jack a se preparar para a escola, e então eu tenho algumas coisas do trabalho para resolver. Eu pensei que você poderia pegar leve hoje — olhar as coisas, ficar nas redes, praticar o que Azzy lhe ensinou antes de você sair da Chevalier — e hoje podemos falar sobre a melhor maneira de ensinar tudo o que você precisa saber, incluindo sua Habilidade Griffin.
Fabuloso. Parece que você tem tudo perfeitamente planejado. Eu empurro meus pensamentos sarcásticos e amargos de lado. — Tudo bem. Eu acho que é um plano. E... posso pedir mais uma coisa? — Agora é provavelmente o melhor momento, enquanto ela ainda se sente culpada por usar sua Habilidade Griffin em mim. Eu engulo e afasto meu olhar do chão. — Você pode me levar para visitar minha mãe?
Capítulo 17
— JÁ FAZ QUASE UM ANO DESDE QUE EU A VI, — EU ME APRESSO, SENTINDO SUBITAMENTE QUE precisava convencer Violet de que essa é uma boa ideia. — Eu economizei — eu ia pegar um ônibus — e então minha tia encontrou meu esconderijo e o pegou. E então tudo deu errado — quero dizer, hum, tudo ficou uma bagunça.
— Quase um ano? — Violet repete com as sobrancelhas levantadas. — Em, isso é horrível. Eu sinto muito. Não consigo imaginar como é difícil estar separada dela por tanto tempo.
— Mas agora eu não tenho que estar, certo? Viajar pelos caminhos das fadas é rápido e fácil. Mas eu sozinha não posso fazer isso, então preciso da ajuda de alguém.
Sua expressão fica em conflito, e eu posso sentir aquela pequena voz dentro de mim se preparando para gritar. Eu sabia! Eles não querem realmente ajudar você. — Eu entendo o quão desesperada você deve estar para vê-la, — diz Violet com cuidado, — mas você tem que entender que será arriscado. A Guilda sabe tudo sobre ela. Eles provavelmente colocaram alguém vigiando para ver se você vai lá.
— Espere, sério? — Eu não tinha pensado nisso. — Você realmente acha que alguém está esperando em Tranquil Hills apenas no caso de eu aparecer?
— Sim. Seu poder é valioso para a Guilda. Eles vão querer recuperá-lo se puderem.
— Mas eles acham que eu estou morta.
— Eles acham? Você pode não saber disso ainda, mas é difícil matar uma faerie, Em. Nossa magia pode nos ajudar a sobreviver a muitas coisas que matariam um humano. Se a Guilda não encontrar seu corpo, eles vão assumir que você sobreviveu de alguma forma.
— Mãe! Ainda não consigo encontrar o livro, — grita Jack de algum lugar da casa.
— Apenas continue procurando, — ela fala por cima do ombro.
— Tudo bem, isso é ruim. — Eu não consigo ficar parada, então eu começo a andar. — Então a Guilda provavelmente está vigiando a minha mãe. Você acha que eles a machucaram? Você sabe, tentar usá-la contra mim?
— Eu duvido muito. Eu sei que eles parecem, mas eles não são os vilões.
— Sério? — Minha voz está cheia de sarcasmo. — Eles certamente pareciam os vilões quando estavam tentando me matar ontem. E se minha magia é tão valiosa para eles, por que pensariam duas vezes em ameaçar uma mulher humana doente que não significa nada para eles?
— Em, um dos principais propósitos da Guilda é proteger os humanos. Eles não querem —
— E os Unseelies? Eles de alguma forma sabiam sobre mim e minha Habilidade Griffin, então eles provavelmente sabem sobre minha mãe também. Eles não vão tentar levá-la? Eles são os vilões número um, certo? Usam os entes queridos de uma pessoa contra eles. Eles provavelmente a levaram para —
— Em, acalme-se. — Violet agarra meus braços e dá um aperto reconfortante neles. — Estamos um passo à frente de você. Eu enviei alguém ontem à noite para verificar se sua mãe está bem. Por isso te perguntei o nome do hospital ontem. Ele relatou que ela está bem. Ele não podia entrar no quarto dela, caso alguém estivesse vigiando, mas ele a viu de longe.
— Oh. Tudo bem. — Minhas dúvidas crescentes diminuem. — Obrigada. — Eu enfio meu cabelo atrás de uma orelha quando ela me solta e dá um passo para trás. — Então, posso visitá-la? Quer dizer, eu sei que alguém da Guilda pode estar vigiando, mas eu posso me disfarçar. Eu terei muito cuidado.
Espero que ela discuta sobre isso não ser seguro — é isso que os adultos fazem, certo? — mas ao invés disso, ela concorda. — Sim, nós podemos ajudá-la, mas como eu disse, será perigoso. Se sua mãe não tem outra família ou amigos que a visitem regularmente, a Guilda espera que qualquer pessoa que a visite agora esteja associada a você. Mesmo que Calla crie uma ilusão que faça você parecer completamente diferente, a Guilda provavelmente achará isso suspeito. Essa é a Habilidade Griffin dela, a propósito. Criar ilusões.
— Uau. Ah, sim, ela nos fez ficar invisíveis ontem.
— Isso.
— Ela pode me fazer parecer invisível para todos, exceto minha mãe?
— Ela pode, embora isso a canse muito mais rápido, projetar uma ilusão em alguns enquanto a mantém dos outros. Assim, desde que você entenda que pode ter que sair dali rapidamente, podemos fazer isso funcionar.
Eu aceno fervorosamente. — Eu posso fazer isso. Uma visita rápida é melhor que nada.
— Tudo bem. Mais tarde, então? A agenda de Calla está cheia durante o dia, mas ela poderá te levar no final da tarde.
— Obrigada. — Uma antecipação excitante corre de repente através de mim. Eu vou vê-la. Eu realmente vou ver a mamãe.
Jack aparece na porta, levantando um livro pesado. — Olha, mãe, eu encontrei.
Violet bate as mãos. — Viu? Eu sabia que você conseguia. Vamos lá, vamos para a escola.
***
No final da tarde, quando estou cansada de praticar puxar minha magia de mim mesma, e meu cérebro está quase explodindo com todas as coisas que eu quero conversar com a mamãe, eu espero por Calla no pavilhão. Conforme as pessoas que eu não conheço passam, eu deslizo um pouco mais em um dos sofás e evito fazer contato visual. Eu observo Jack correndo na companhia de várias crianças. Eles diminuem a velocidade perto das redes e se empurram enquanto tentam decidir quem fica com qual delas. Jack tenta pular em uma, mas acaba passando dela e caindo de bruços no chão. Eu fico de pé rapidamente, sem saber se devo correr para verificar se ele está bem, mas ele se levanta um pouco depois, rindo junto com seus amigos.
— Ei, é a Emerson! — Ele grita de repente, sorrindo e apontando na minha direção. Todos começam a correr em minha direção, o que eu acho um pouco alarmante. — Emerson, — diz Jack quando ele chega ao pavilhão. — Lembra que você estava dizendo que sabe como cair do jeito certo?
Eu olho para baixo desajeitadamente para cinco rostos jovens. — Cair?
— Sim, quando você e sua amiga fazem aquela coisa do parque.
— Oh, parkour. Sim.
— Então você pode me ensinar como cair de uma rede do jeito certo? Para que eu pareça legal?
Eu não posso deixar de rir disso. — Eu sinto muito, Jack. Eu não sei se há alguma maneira de cair de uma rede que pareça legal.
— Viu? — Diz uma garota cujos olhos as pupilas são verticais como o cara que eu vi ontem quando cheguei aqui. — Uma ideia muito idiota.
— Ei, não seja uma bruxa, — diz outro menino.
Ela suspira. — Isso é muito mau.
— Você não pode falar sobre bruxas na frente de Jack, lembra? — Diz uma segunda garota.
— Tudo bem, — Jack diz a eles com um suspiro dramático. — É apenas minha mãe e meu pai e tia Calla que não gostam de falar sobre bruxas.
— Por que não? — Eu pergunto, imaginando que erro terrível eu cometi quando falei sobre Aurora e as bruxas hoje cedo.
— Elas mataram minha irmã, — diz Jack, com tanta naturalidade que a princípio eu me pergunto se ele está fazendo uma piada terrível. Mas as outras quatro crianças concordam, com expressões sérias.
— Isso é — oh meu Deus. Isso é horrível. Eu sinto muito, Jack.
— Sim. — Ele olha para baixo. — Eu não a conhecia. Aconteceu há muito tempo, muito antes de eu nascer.
— Oi, pessoal. — Calla sobe as escadas do pavilhão. — O que aconteceu antes de você nascer, Jack?
— Nada. — Ele lhe dá um enorme sorriso. — Nós vamos voltar para as redes. — Ele foge, seguido de perto por seus amigos.
— Tudo bem, então, — diz Calla, observando-os por um segundo. — Então. — Ela se vira para mim. — Pronta para ir?
Eu respiro fundo, tentando descobrir como respondê-la. Ela provavelmente não percebe que é uma pergunta carregada. — Sim, — eu digo eventualmente, apesar do fato de que duvido que eu me sinta pronta.
— Precisamos ir para fora do oásis, — diz ela. — E eu quero falar com Ryn rapidamente antes de irmos.
— Tudo bem. — Eu ando ao lado dela conforme deixamos o pavilhão para trás. — Há muitas pessoas morando aqui? — Eu pergunto, olhando para um casal de faeries andando de mãos dadas na outra direção.
— Sim, poucos. A maioria acaba indo embora se conseguimos ajudá-los a viver em segurança em outro lugar, mas há indivíduos e famílias que decidem ficar. Agora temos mais de cem fae que chamam esse lugar de lar.
— Todos Dotados Griffin?
— Nem todos, mas principalmente, sim.
— Tudo bem, aqui está uma coisa que eu não entendo: como há tantos fae que acabaram tendo Habilidades Griffin? Foi-me dito que começou com discos mágicos que alguém criou há muito tempo, mas não havia apenas seis deles? Eu sei que eles foram passados para várias pessoas, mas sério? Como esses discos ficaram nas mãos de tantas pessoas?
Calla puxa o cabelo dourado reluzente por cima do ombro. — Pode parecer muito, mas o número é pequeno em comparação com a população do nosso mundo.
— Tudo bem, claro, mas ainda assim. Todas essas pessoas a partir de seis discos de magia?
— Pense no fato de que esses discos estavam por aí há séculos. Eles concediam poder, o que significa que outros os cobiçavam, o que significa que eles foram frequentemente roubados. Acrescente isso ao fato de que dois Dotados Griffin podem passar magia Griffin para seus descendentes, e você acaba com ainda mais de nós.
— Eu suponho que quando você leva em conta o fato de que vocês vivem tanto tempo, faz mais sentido. Ainda estou com problemas para aceitar essa parte. Ou pelo menos, aplicar em mim mesma. Eu não posso imaginar ainda estar viva daqui a algumas centenas de anos. — E eu não posso imaginar como eu devo lidar com todos os meus amigos humanos e família envelhecendo e morrendo enquanto eu ainda pareço com vinte anos. — Jack é um Dotado Griffin? — Eu pergunto, forçando minha mente em uma direção menos deprimente.
— Não, graças a Deus. Se ele quiser sair daqui um dia e se juntar ao resto do mundo, ele poderá fazer isso sem ter que esconder uma habilidade secreta.
— Boa tarde, senhoritas.
Eu paro quando Dash acena e caminha na nossa direção. — Ugh, mesmo? — É tudo o que consigo dizer.
— Interessante ver você de volta aqui tão cedo, — comenta Calla. — A Guilda definitivamente não está trabalhando muito com você.
Ele encolhe os ombros. — Eles nos dizem para pegar leve no nosso primeiro ano.
— Eles não dizem isso. — Ela o olha com desconfiança. — O que você está realmente fazendo aqui?
— Eu estava atualizando Vi sobre algo mais cedo e ela mencionou que você está levando Em para ver sua mãe. Eu pensei —
— Você não vem, — digo a ele.
— Ei, eu pensei que vocês poderiam precisar de alguma proteção extra. Você se concentrará em sua mãe e Calla se concentrará em qualquer ilusão que esteja usando para esconder vocês. Você não acha que precisa de uma terceira pessoa para ficar de olho nas coisas? No caso de um médico ou outro guardião aparecer?
— Não.
— Na verdade, — diz Calla, — esse é um plano perfeitamente sensato. Mas eu ia pedir a Ryn para vir conosco.
— Ryn está com Vi no momento. Eu estava lá em cima, procurando por eles. — Ele acena para uma das árvores gigantes. — E todo mundo que é aprovado para missão está ocupado. — Ele sorri. — Parece que foi uma coisa boa eu ter aparecido.
Consigo evitar grunhir em voz alta. — Bem. Tanto faz. Apenas fique longe da minha mãe. Ela não precisa que você arruíne sua vida ainda mais.
Calla franze a testa, abre a boca, depois parece pensar melhor no que quer que ela vá dizer. — Está bem então. Vamos lá.
Uma vez que estamos no deserto, Calla abre um portal para os caminhos das fadas e me diz para focar com firmeza na imagem do lado de fora do hospital. Embora a escuridão completa me rodeie, eu fecho meus olhos de qualquer maneira, imaginando as altas paredes, o portão de segurança, a pequena placa discreta com o nome do hospital e os picos das montanhas ao longe.
— Muito bem, — diz Calla.
Abro os olhos e olho através de uma rua vazia exatamente igual a imagem que acabei de pensar. — Isso é incrível, — murmuro.
Dash levanta o capuz de sua jaqueta e a coloca sobre a cabeça. — O quê? — Ele pergunta quando eu dou a ele um olhar estranho. — Não quero que meu rosto apareça nas orbitas de vigilância da Guilda.
— Vigilância, o quê? E você vai ficar invisível, não vai?
— Invisível para as pessoas, sim. Não para grampos. Eu não sei se eles estão observando, mas é bom ter cuidado.
— Eu deveria saber o que você está falando? — Naquele momento, um tremor envia arrepios pelas minhas costas e pelo meu cabelo. — Oh — hum — você pode — Eu agarro o braço de Dash, no caso de minha habilidade ter alguma dúvida com quem eu estou falando. — Você pode abrir portais para os caminhos das fadas, — eu deixo escapar.
Dash olha para mim com os olhos arregalados. Calla parece igualmente assustada. — Bom, isso veio do nada, — diz ela.
Dash rapidamente pega uma stylus de dentro da jaqueta e se agacha. Ele escreve sobre o asfalto, murmurando aquelas palavras que eu ainda não consigo distinguir claramente. A escuridão aparece, espalhando-se rapidamente em um grande buraco que leva aos caminhos das fadas. — Sim! Finalmente! Obrigado, Em. — Ele se levanta e guarda sua stylus. — Agora vamos ter que arrumar um jeito de você consertar Jewel também.
— Isso foi muito legal, — diz Calla.
— Sim. Quando estou dizendo algo útil.
— Verdade. Tudo bem, vamos nos concentrar no hospital novamente. Você se lembra de alguma coisa sobre como é o interior?
— Sim, lembro da área de espera. Mas não me lembro onde é o quarto da mamãe. Já faz um tempo desde que eu estive aqui.
— Sem problema, — diz ela. — O cara que verificou as coisas para nós na noite passada disse que ela está no quarto vinte e seis. Tenho certeza de que podemos encontrá-la. Tudo o que você precisa fazer é imaginar a sala de espera para que possamos entrar com segurança. — Ela abre outro portal para os caminhos das fadas.
— Espere, — eu digo antes de entrarmos na escuridão. — Você tem certeza absoluta de que ficaremos invisíveis do outro lado?
— Sim. Estou me concentrando na invisibilidade. Você está se concentrando na sala de espera. Dash, você esvazie sua mente. — Ela dá a ele um meio sorriso. — Deve ser fácil.
— É por isso que estou aqui, certo? — Ele diz sem perder o ritmo. — Músculos e a mente vazia.
Eu balanço minha cabeça, prendo meus braços com os dois e ando para frente. Eu fecho meus olhos e vejo a sala de espera. As fileiras de cadeiras, o balcão de recepção, as pinturas abstratas confusas e os vasos altos de flores. Eu sinto o cheiro antes de ver: detergente e algo azedo. Como se alguém tivesse vomitado aqui recentemente.
Eu olho para baixo e, em vez de ver meu corpo, vejo o chão polido. Eu me agarro mais firmemente a Calla e Dash. — Tudo bem, — eu sussurro. Eu olho em volta, a lembrança da minha última visita voltando para mim. — Precisamos passar pela porta à direita. Aquela que parece requer um documento de identificação.
— Acho que precisaremos passar pelos caminhos novamente, — diz Calla.
Uma das mulheres atrás da mesa principal olha para cima, franzindo a testa em nossa direção. — Mova-se em silêncio, — Calla instrui, seu sussurro quase inaudível agora. Eu sinto um puxão me puxando para a esquerda. Calla nos leva ao redor de um canto para uma alcova com mais algumas cadeiras e uma janela para o jardim. Quando estamos fora de vista da mesa, de repente nos tornamos visíveis novamente. — Rapidamente, — diz ela, abrindo um portal. Nós nos apressamos para dentro. Momentos depois, estamos do outro lado da porta de segurança.
Nós seguimos pelo corredor, braços ainda presos, então não nos perdemos um do outro. A luz do sol brilha através das janelas, iluminando mais obras de arte coloridas. Os jardins em si, visíveis através das janelas, são bem cuidados. A partir daqui, posso ver um grupo de pacientes sentados no gramado em um círculo. Tranquil Hills é bonito e sereno, mas isso faz parte do que faz minha pele arrepiar sempre que estou aqui. É como uma cereja em cima de um bolo cheio de vermes rastejando por ele. Perfume pulverizado sobre o lixo apodrecendo. Nada pode esconder a verdadeira natureza deste lugar.
Passamos silenciosamente por uma área de estar aberta, onde as pessoas sentam-se em grupos de dois ou três em pequenas mesas jogando jogos de tabuleiro ou jogos de cartas. Eles são todos observados por enfermeiras ao redor da sala. É aqui que mamãe estava na primeira vez que fui visitá-la. Nós nos sentamos aqui juntas e jogamos Go Fish enquanto Chelsea esperava por mim na recepção, recusando-se a ver sua ‘irmã louca’. Um arrepio corre pela minha pele com a lembrança. — Tudo bem, Em? — Calla sussurra.
— Sim.
Entramos em outro corredor do outro lado da sala. Menos janelas e menos luz. Portas fechadas revestem o lado direito. — Tudo bem, aqui está o número vinte, — diz Calla. — Eu acho que devemos continuar e vamos encontrar o vinte e seis.
Meu coração acelera, batendo mais rápido a cada passo que damos. O nervosismo me deixa enjoada e tonta. Eu ainda não consigo acreditar que estou prestes a vê-la. — Lá está, — eu sussurro quando uma porta com um número vinte e seis aparece.
— Ainda não vi ninguém suspeito, — diz Dash. — Qualquer pessoa que eu reconheça da Guilda, quero dizer.
— Posso entrar? — Eu pergunto, parando do lado de fora da porta.
— Sim, — Calla diz me soltando. Do outro lado, Dash se afasta.
— Vamos ficar de olho aqui e nos certificar de que você pareça invisível para qualquer um que passar por aqui.
Eu engulo em seco. Se eu pudesse ver minha mão, provavelmente a encontraria tremendo. Eu me atrapalho por um momento com a maçaneta da porta — avaliando mal à distância e batendo na porta com meus dedos invisíveis — antes de encontrá-la e envolver minha mão em torno dela. Eu empurro para baixo, respiro fundo e, lentamente, abro a porta. Com muito medo de dar um passo à frente, eu olho para dentro.
O quarto está vazio.
Minha cabeça acelera quando a decepção e o alívio colidem. — Onde ela está?
Sinto um movimento ao meu lado e, em seguida, ouço a voz de Dash, — Talvez ela esteja comendo. Ou tendo algum tipo de hora do social. Ou uma pausa para o banheiro. Ela geralmente está restrita ao seu quarto, ou ela só volta aqui para dormir?
— Eu não sei. — Minhas palavras saem mais afiadas do que eu pretendia. — Eu não estive aqui há muito tempo.
— Temos que esperar, — diz Calla. — Está tudo bem. Eu estou projetando apenas uma ilusão agora, e é simples, então não é muito cansativo.
— Tudo bem. Obrigada. — Um deles bate em mim quando eu me movo para o lado, e depois de um momento de confusão, estamos todos encostados na parede ao lado da porta número vinte e seis. Não há nenhuma maneira que eu espere dentro daquele quarto sozinha. O corredor vai funcionar. Enquanto os segundos passam, minha ansiedade começa a aumentar novamente. Para cima e para cima, minhas entranhas se retorcendo mais e mais.
— Você não vai dizer nada a ela sobre a magia, não é? — Dash pergunta, eventualmente, quebrando o silêncio.
— Em primeiro lugar, — digo a ele, — você não pode me dizer o que devo falar com minha mãe. E em segundo lugar, não. Eu não sou tão idiota assim e dizer a ela que eu sou uma faerie com magia. Eu nem sei se vou dizer a ela que sei que ela não é minha verdadeira mãe. Há dezenas de coisas que eu quero dizer, e eu provavelmente não vou acabar dizendo nenhuma delas porque eu não quero assustá-la.
Como da última vez.
Ficamos quietos por um minuto ou dois enquanto alguém na companhia de uma enfermeira passa devagar por nós e entra em um dos outros quartos. A enfermeira sai logo depois.
— Vi me disse que faz muito tempo desde que você a viu, — diz Calla, uma vez que estamos sozinhos novamente. — Você provavelmente pode falar com ela sobre o que aconteceu em sua vida normal até alguns dias atrás. Coisas que você fez na escola. Atualizações sobre seus amigos.
— Todas as habilidades do parkour que você e Val aprenderam, — acrescenta Dash.
Val. Val, que provavelmente está confusa e irritada por eu ter fugido e a deixado para trás.
— Sim, talvez, — eu digo. — Mas também... bem, eu gostaria de conversar com ela sobre os bons velhos tempos. — Eu olho através da parede em branco à minha frente e imagino a mamãe como ela costumava ser, sorrindo e feliz. — Eu acho que ela gostaria de lembrar do nosso lindo jardim, da pequena casa em que morávamos e dos ornamentos que ela colecionava. Eu sempre imaginei levá-la de volta para lá um dia. Voltando à vida simples e feliz que costumávamos ter. Sempre parecia impossível, mas agora com magia... — Eu paro, voltando ao presente com um sobressalto e me lembrando de com quem eu estou: Dash, que não merece saber meus pensamentos particulares e desejos, e Calla, que provavelmente não aprovaria nenhuma das coisas que planejo fazer com minha magia quando souber como usá-la.
— Com a magia? — Ela incentiva.
— Nada. Espere, é... Oh, droga, eu acho que é ela. — Duas pessoas estão andando em nossa direção. Uma enfermeira e uma mulher com cabelo escuro e bagunçado, não tão alta quanto eu me lembro, e vestida com calças de moletom e uma camisa moletom. Meu ritmo cardíaco dispara e minhas emoções conflitantes aumentam. Eu acho que posso vomitar bem aqui. Mas eu consigo respirar enquanto mamãe se aproxima. É ela! Minha mente grita quando ela passa por mim e entra em seu quarto. É realmente, realmente ela! Ela está bem aqui, depois de tantos meses. Eu finalmente vou poder falar com ela, abraçá-la, deixá-la saber que eu penso nela todos os dias e que ela não terá que ficar aqui por muito mais tempo.
A enfermeira para na porta. — Apenas deite e tenho certeza que vai passar em breve, — diz ela para mamãe. Sua voz não tem sentimento, como se as palavras não significassem nada para ela. Ou, eu me pergunto brevemente, como se ela tivesse falado essas mesmas palavras centenas de vezes antes. — Você sabe que pode ligar para um de nós se começar a se sentir pior.
Mamãe lhe dá um sorriso distante e um aceno de cabeça.
A enfermeira fecha a porta e se afasta.
Eu dou outra respiração tremula antes de seguir em frente e segurar a maçaneta. Quando abro a porta, de repente fico visível novamente. Mamãe olha para cima. Ela pisca e franze a testa. Um sorriso se espalha rapidamente pelo meu rosto, transformando-se em uma risada. — Mãe. — Eu entro na sala —
— e um alarme começa a soar.
Capítulo 18
MAMÃE GRITA E ENGATINHA PARA TRÁS EM SUA CAMA. CALLA E DASH, visíveis agora, correm para dentro do quarto. Calla vai imediatamente em direção de uma parede e rabisca através dela. — Nós temos que ir, — ela me diz.
— O quê? Eu não estou —
— É um alarme da Guilda. Foi colocado para pegar você.
— Mas eu apenas... mamãe, tudo bem, sou eu. — Eu ignoro Calla e Dash e me aproximo da mamãe cautelosamente. — Tudo bem, mãe. Não se preocupe com o alarme. — Eu a alcanço, mas ela recua, batendo descontroladamente em minhas mãos. — Tudo bem, sou só eu, — eu digo desesperadamente. — É a Emmy. Sua filha. Eu vim para —
— Em, temos que ir. — Dash pega meu braço e me puxa para os caminhos das fadas.
— Não! — Eu solto meu braço. — Eu preciso pegá-la!
— O que? Não, não podemos levá-la conosco.
— Eu não vou embora sem ela!
— Você não pode levá-la através dos caminhos, Em! — Calla grita acima do alarme.
— Então saímos pela porta da frente com ela! — Eu grito de volta.
— E então o quê? Teríamos que encontrar um lugar seguro para ela neste mundo. Alguém que sabe como cuidar dela. E da medicação dela, o tratamento dela?
— A medicação faz com que ela fique pior! — Eu gesticulo para mamãe, agora se escondendo sob seus cobertores, enrolada e chorando, balançando-se para frente e para trás.
Movimento no corredor atrai meu olhar para longe. Dash estende a mão e a porta se fecha. Ele corre até ela e começa a desenhar grandes padrões brilhantes através dela. — Isso não vai segurá-los por muito tempo, — diz ele enquanto a porta estremece sob um ataque do outro lado.
— Em, nós vamos voltar por ela, — diz Calla com firmeza. — Eu prometo. Mas não vamos levá-la a lugar algum até que tenhamos um plano sólido. — Ela pega minha mão. — Dash, fique aqui e fique de olho. Certifique-se de que ninguém faça nada — na verdade, não. Você vai com a Em. Eu ficarei. Você não pode arriscar seu disfarce e eu posso me esconder mais facilmente.
— Entendi. — Dash pega meu braço enquanto Calla nos empurra para o buraco aberto que leva aos caminhos das fadas.
— Mãe. — A palavra é um meio sussurro, meio soluço quando eu dou uma última olhada por cima do meu ombro antes que a escuridão nos consuma. Eu tropeço através dela, Dash me puxando, até que uma luz laranja suave aparece à nossa frente. Eu inspiro o ar noturno do deserto que esfria rapidamente enquanto a areia se desloca sob meus pés. Eu me afasto de Dash.
— Em... — Ele estende a mão para mim, mas eu bato na mão dele.
— Não me toque. — Suas mãos caem para os lados enquanto eu envolvo a minha com força ao redor do meu corpo. Eu preciso me segurar.
Quietamente, Dash diz, — Ela não reconheceu você, ela não reconheceu.
Obrigada, Dash, quero gritar. OBRIGADA POR DIZER ISSO! Em vez disso, mordo meu lábio até as lágrimas recuarem. Não faz sentido gritar com ele. Ele não sabe sobre o nervo que ele atingiu. Ele não sabe que a última vez que visitei a mamãe, ela acabou se encolhendo no canto do quarto e gritando sobre a estranha — eu. Ele não sabe que várias enfermeiras tiveram que segurá-la enquanto eu saía do quarto em lágrimas, e ele não sabe o quão desesperadamente eu esperava que desta vez fosse diferente.
— Emerson —
— Não.
— Eu sinto muito por ter feito isso com você. — Seu tom é suplicante, e suas mãos estão apertadas juntas sob o queixo.
— O quê?
— Eu sinto muito! Ela está naquele hospital por minha causa. Eu sempre neguei, e alguma parte lógica e defensiva do meu cérebro ainda argumenta que ela teria sido internada em algum ponto de qualquer maneira, e que você não pode realmente me culpar, mas... você pode. Foi minha culpa. Naquele dia, naquele momento, ela ficou completamente no limite por minha causa. E... me desculpe.
Eu pisco, olho para a areia e de volta para ele. — O que você espera que eu diga sobre isso?
— Eu... eu não sei. Eu só precisava que você soubesse como eu sinto muito.
— Por quê? Não muda nada.
— Pode mudar o quanto você me odeia.
Eu sacudo minha cabeça. — Se liga, Dash. Isso não é sobre você. — Eu me viro, procurando o contorno fraco da cúpula. É quase invisível, mas consigo identificar. Eu começo a me arrastar pela areia, imaginando o mundo oculto dentro da cúpula. Vegetação exuberante, insetos cintilantes e o cheiro suave de flores. Uma cena pacífica contrastando fortemente com a memória sendo repetida de um quarto branco sem nada e mamãe gritando enquanto se afasta de mim.
De novo.
De novo.
De novo.
Eu franzo a testa e pisco e olho para longe, desesperada para afastar a imagem da minha mente. A tensão no meu peito diminui no momento em que passo através da camada mágica para dentro do oásis. Eu odeio estar feliz por estar de volta aqui. Parece uma traição com a mamãe. Eu não deveria aproveitar nenhum momento deste santuário enquanto ela está presa entre quatro paredes em branco. Presa dentro de sua própria mente.
— Em, espere, — Dash chama enquanto eu ando para longe dele. Eu viro, ainda caminhando para trás, querendo ficar sozinha agora.
— Nós vamos pegá-la, — diz ele. — Não pudemos fazer isso hoje, mas isso não significa que não vai acontecer. Nós vamos dar a ela uma vida melhor de alguma forma, eu prometo.
— Obrigada, — eu digo, — mas você não deve fazer promessas que não sabe como manter.
***
Eu não saio do meu quarto naquela noite para me juntar a ninguém no jantar, mas eu ouço Violet e Ryn do lado de fora da minha porta, falando baixinho um com o outro. Calla se junta a eles em algum momento. Eu pressiono meu ouvido contra a porta tempo suficiente para ouvi-la dizer que mamãe está bem e que os guardiões que estavam esperando por mim não fizeram nada com ela depois que eu saí. Então eu volto para a cama.
A Guilda sabe que eu estava lá. Eles provavelmente aumentarão o número de guardiões por perto, e se eu tentar visitar novamente, será ainda mais provável que eu seja pega. Não que eu tenha muita esperança de convencer Calla a me levar de volta. Ela e seus companheiros provavelmente estão se arrependendo de ter oferecido ajuda para mim. Eu poderia ter feito ela ser pega. Arruinado o disfarce do Dash. Talvez os três estejam lá fora tentando descobrir uma forma gentil de me dizer que não podem fazer mais nada pela minha mãe. E não é como se eu os culpasse. Eles não me devem nada. Eles provavelmente vão se esquecer de mim assim que a próxima pessoa desesperada chegar ao oásis.
O que é bom para mim, já que estou acostumada a cuidar das coisas sozinha.
Capítulo 19
A IMAGEM DA MÃE GRITANDO, COM UM TERROR SELVAGEM NOS OLHOS, É PRIMEIRA COISA QUE PASSA PELA MINHA MENTE na manhã seguinte. Eu faço um esforço consciente para me concentrar em outra coisa: Minha Habilidade Griffin. Eu preciso aprender como usá-la. A noite passada poderia ter sido tão diferente se eu tivesse conseguido acalmar minha mãe com apenas algumas palavras. Se eu tivesse sido capaz de dizer que o alarme mágico desligou. Eu preciso superar meu medo sobre coisas médicas e entregar uma amostra da minha magia. Eu preciso daquele elixir.
Mamãe. Acuada. Sua boca aberta em um grito silencioso.
Eu afasto a memória mais uma vez e me viro — e encontro Bandit aconchegado ao meu lado em forma de gatinho. Estou prestes a empurrá-lo para longe de mim, mas ele parece tão bonitinho enrolado com o nariz enfiado sob uma pata. E é estranhamente reconfortante perceber que não estive sozinha a noite toda. Eu estendo a mão e acaricio com dois dedos sua cabeça até as costas, esperando que ele não seja exatamente como o cachorrinho que fugiu.
Meu estômago ronca. Gostaria de saber se o convite para o café da manhã de Violet foi apenas para a manhã de ontem, ou se ele se estende por todas as manhãs enquanto eu estiver por aqui. Espero que o último, já que eu não tenho comida neste quarto. Eu me visto e verifico os números encantados na minha parede — eu estou mais atrasada do que ontem de manhã — antes de descer as escadas, arrasto uma mão contra o tronco da árvore para me firmar se eu tropeçar em um degrau irregular. Eu diminuo a velocidade antes de chegar à porta de Ryn e Violet. Está aberta, o que é um bom sinal, e os aromas celestiais flutuando pela porta fazem meu estômago roncar de novo, mas eu ainda não tenho certeza se sou bem-vinda aqui uma segunda vez. Especialmente depois de enlouquecer no hospital ontem e colocar Calla e Dash em risco.
Eu me aproximo um pouco e vejo Violet, Jack e Calla na mesa. Jack se endireita, pula da cadeira e corre em minha direção. — Eu sinto muito, Emerson! — Ele envolve seus braços em volta da minha cintura e aperta com força.
— Oh, hum, tudo bem. — Eu acaricio suas costas desajeitadamente. — Porque você está se desculpando?
— Eu não sei. Mamãe e papai estavam falando sobre você esta manhã e pareciam preocupados, e quando perguntei à mamãe qual era o problema, ela disse que você provavelmente só precisava de um grande abraço.
— Jack, — Violet repreende, levantando-se da cadeira e então ficando de pé, hesitante. Suas bochechas ficam vermelhas. — Você deveria perguntar antes de fazer coisas assim. Algumas pessoas não gostam de ser abraçadas por pessoas que não conhecem bem.
Confusão atravessa o rosto de Jack quando ele se afasta. — Mas Em me conhece. Nós andamos ao redor de todo o oásis juntos.
— Tudo bem, — eu digo apressadamente, me inclinando e o abraçando rapidamente, apesar da crescente estranheza. Eu prefiro manter meu espaço pessoal para mim mesma, mas eu não quero ferir os sentimentos de Jack.
— Você gostaria de se juntar a nós? — Pergunta Violet, apontando para a mesa e ainda parecendo um pouco envergonhada.
— Sim, obrigada. Eu não tinha certeza se, hum... — Eu coloco minhas mãos desajeitadamente nos bolsos de trás enquanto eu fico perto da mesa. — Bem, eu sei que você me convidou ontem, mas eu não tinha certeza se era apenas uma coisa no primeiro dia, como para todo mundo que é novo, ou —
— Oh, foi para todas as manhãs enquanto você estiver aqui, — diz ela com um sorriso, sentando-se novamente.
— Sim, nós não queremos que você passe fome lá em cima da árvore, —acrescenta Calla.
Eu puxo uma cadeira e me sento. — Você faz esse café da manhã maravilhoso todas as manhãs?
— Papai faz as panquecas na verdade, — Jack me diz antes de se servir de outra.
— E não, nós não fazemos esse tipo de café da manhã todas as manhãs, — diz Violet. — Apenas quando as coisas estão menos ocupadas e temos tempo, então nós fazemos.
Eu me sirvo de duas panquecas e alcanço uma pequena jarra do que parece ser mel, mas pode ser uma alternativa mágica exótica. Eu me preparo para a possibilidade de ter um gosto muito diferente. Ryn entra na casa quando eu termino de colocar sobre as minhas panquecas.
— Tudo bem, tudo está resolvido, — diz ele enquanto se junta a nós na mesa. — Em, vamos tirar sua mãe do hospital hoje, se estiver tudo bem para você.
— Eu — sim. Claro que está tudo por mim. — Faço uma pausa com um garfo e um pedaço de panqueca no ar na minha frente e balanço a cabeça, me dando um momento para receber as notícias. — Hoje? Já? Isso é incrível.
Ryn ri. — Sim, hoje.
— Quero dizer, eu sei que a Calla disse que voltaríamos para pegá-la, mas... eu imaginei que isso demoraria um pouco. Tenho certeza de que vocês têm muitas outras prioridades, e minha mãe é apenas... uma humana presa em um hospital.
Ryn abaixa a caneca que ele acabou de pegar e olha diretamente para mim. — Ela é sua mãe. Isso faz dela uma prioridade. E se ela está presa no hospital há anos, então claramente não estão fazendo nada para ajudá-la. Nós estávamos falando sobre tirá-la o mais rápido possível, e então Dash ligou ontem à noite para me dizer que tinha que ser hoje e que ele planeja ajudar. Então é hoje. Tudo foi planejado.
— Você sabe, eu estou seriamente começando a me perguntar se a Guilda em breve vai descobrir sobre Dash. Ele está passando mais tempo com casos para nós hoje em dia do que o trabalho que ele é pago para fazer.
— Não se preocupe com ele, — diz Violet, pegando um copo com algo verde. — Ele trabalha muito mais do que você pensa.
— Trabalha? — Calla bufa. — Você acha? Aquele garoto é muito relaxado. Ele provavelmente fica sentado e deixa sua equipe fazer todo o trabalho.
— Assim como ele faz com as mulheres, — diz Jack.
Violeta engasga com a bebida. — Como é? — Ela abaixa o copo. — Do que exatamente você está falando, rapaz?
— É o que ele disse para mim, — Jack diz a ela, seu tom defensivo. Então ele aprofunda sua voz, provavelmente em uma tentativa de se passar por Dash. — Eu apenas sento e as mulheres vêm correndo.
Violet pisca para Jack enquanto Calla começa a rir. Ryn tenta manter o sorriso longe de seu rosto enquanto ele limpa a garganta e diz, — Espero que você perceba, Jack, que esse não é o jeito de encontrar a garota certa.
Jack franze o rosto e pega outra panqueca. — Eu não estou procurando por nenhuma garota.
— Bom, — diz Violet enquanto eu mastigo e espero pacientemente por um momento para pedir mais detalhes sobre o plano de resgate da mamãe. — E quando você procurar, você vai descobrir que é preciso muito mais esforço do que apenas sentar e esperar. — Ela olha por cima da mesa para Ryn, sua carranca substituída por um pequeno sorriso.
Ryn pisca para ela. — Como as bundas brilhantes dos insetos no céu.
Violet estala os dedos e uma faísca bate no ombro de Ryn. — Não diga bunda, — ela sussurra.
— Mamãe e papai disseram bunda! — Jack grita alegremente.
Violet revira os olhos e Calla começa a rir de novo. Eu sorrio e espero o riso acabar antes de dizer, — Então, hum, qual é o plano para tirar minha mãe de Tranquil Hills?
— Certo, desculpe, — diz Ryn. Ele toma um gole da caneca e continua. — Calla e Dash vão para o hospital para pegá-la. Dash não tem uma Habilidade Griffin, então ele não vai disparar o alarme que a Guilda colocou em seu quarto. Ele precisará sedá-la para que ela não lute. Obviamente, não com magia, então ele vai usar algo à base de ervas que não contém elementos mágicos. Então eles usarão uma ilusão de invisibilidade e a levarão pelo prédio e pela porta principal.
— E a porta que requer um crachá de identificação? — Pergunto.
— Eles vão esperar que alguém passe por ela e seguir antes que a porta se feche. A mesma coisa com o portão principal. Vi e eu estaremos esperando por eles do lado de fora, principalmente como reforço caso algo dê errado. Então, como não podemos levar sua mãe pelos caminhos, precisamos ir até uma das aberturas naturais entre esse mundo e o outro mundo.
— Vocês sabem dirigir? — Eu pergunto, a duvida muito evidente em minha voz.
— Não, mas um dos nossos contatos na Guilda tem uma irmã - uma halfling sem mágica - que sempre viveu no outro mundo. Ela concordou em dirigir para nós. Então, vamos encontrá-la no hospital, e calculamos que levará cerca de cinco dias para chegar à abertura mais próxima.
— Cinco dias? Certamente você não pode mantê-la sedada o tempo todo?
— Não. Eu presumi que você gostaria de viajar no carro com ela. Quando ela acordar, você pode explicar tudo para ela, para que ela não entre em pânico.
Hesito, sem querer ter que explicar o que aconteceu na noite passada. O fato de que minha mãe não me reconheceu.
— Eu sei, — diz ele suavemente. — Calla me contou o que aconteceu. Você está preocupada dela ainda não te reconhecer. Mas esperávamos que fosse o estresse do alarme soando e duas outras pessoas desconhecidas em seu quarto. Esperamos que seja mais fácil quando ela estiver longe do hospital.
— Ela... — Eu engulo e passo minha mão pelo meu cabelo. — Ela não me reconheceu da última vez também. Quando eu fui lá há quase um ano. Eu esperava que a noite passada fosse diferente, mas foi muito ruim também.
— Talvez algo em seu remédio a confunda, — diz Calla. — Você mesma disse que a medicação a deixa pior.
— É só que depois que ela se mudou para lá, ela sempre parecia um pouco... aérea. Nós jogamos um jogo de cartas na primeira vez que eu visitei, e as respostas dela foram tão lentas.
— Bem, veremos o que fazer, — diz Ryn. — Dois de nós sempre estaremos com você no carro. Não necessariamente Vi ou Calla ou eu, mas duas pessoas da equipe. Possivelmente pessoas que você ainda não conhece, mas são todas cem por cento confiáveis. Trocaremos a cada poucas horas durante os cinco dias. Se sua mãe entrar em pânico, alguém estará lá para ajudá-la a acalmá-la.
— E quando chegarmos a este mundo? Então o quê?
— Há um instituto de cura para o qual planejamos levá-la para lá. White Cedars. É privado, não tem nada a ver com a Guilda. Já enviamos pessoas para lá antes, e a Guilda nunca soube nada sobre isso. Espero que alguém possa descobrir se é possível ajudar sua mãe.
Eu me inclino para frente. — Você acha que há uma chance? Dash disse que não podemos usar magia nela porque ela é humana. Ele estava errado?
— Ele não está, mas nossos curandeiros nem sempre trabalham com magia. Não conheço os métodos deles detalhadamente, mas podemos pedir que eles tentem. Nada no seu mundo funcionou até agora.
Eu aceno vigorosamente. — Sim. Concordo. Obrigada.
— Certo. Vamos aproveitar as panquecas agora antes que fiquem muito frias?
— Eu comi três, — anuncia Jack.
— Porquinho, — diz Calla.
Eu corto minha segunda panqueca - e do nada, aquele formigamento com o qual estou me familiarizando corre pela minha espinha, pelo meu cabelo e até as pontas dos meus dedos. Eu penso em algo inofensivo para dizer, para testar, e deixo escapar, — Passe o mel.
Há um segundo de silêncio e, em seguida, quatro mãos se estendem simultaneamente, batendo umas nas outras e derrubando o jarro de mel. Juntos, em uma bagunça pegajosa e desajeitada, os quatro deslizam o jarro caído sobre a mesa para ficar em frente ao meu prato.
Calla é a primeira a afastar a mão dela. — O que é que foi isso? Era sua Habilidade Griffin?
— Uau, isso foi estranho, — diz Violet, puxando a mão.
— Mãe, o que está acontecendo? O que acabou de acontecer? — Jack levanta a mão pegajosa na frente do rosto. Violet pega um pano e passa para ele.
— Eu sinto muito, — eu digo em voz baixa. — De repente senti que estava chegando e queria testar, e tentei pensar em algo bobo e seguro. Eu não achei que iria fazer uma bagunça.
— Tudo bem, — Violet diz. — Não é grande coisa.
Eu olho para Ryn, porque ele é o único que ainda não disse nada. — Você acha que é grande coisa, não é?
— Não é a bagunça, — diz ele. — É a Habilidade Griffin. O poder de fazer outras pessoas fazerem as coisas com um simples comando. Isso é muito importante.
— Sim. Eu sei. — Usando meu garfo, eu empurro um pedaço de panqueca em volta do meu prato, não mais interessada em comê-la. Eu meio que espero que Ryn me diga aquela frase clichê sobre grande poder e grande responsabilidade, mas ele não faz isso, o que me faz gostar dele um pouco mais. — Então, eu provavelmente deveria ir ao laboratório que você mencionou e entregar uma amostra da minha magia.
— Vou levar você depois do café da manhã, — diz Violet. Então ela explica brevemente minha Habilidade Griffin para Jack — Isso é tão legal! — É a resposta dele — e a atmosfera ao redor da mesa lentamente retorna ao normal depois disso.
— Eu preciso terminar algumas coisas antes de irmos, — diz Ryn, levantando. Ele limpa alguns itens da mesa e conjura um feitiço para limpar a pia. — Estarei na montanha se você precisar de mim. Caso contrário, nos encontraremos na base da árvore às onze horas. — Ele olha para Violet, Calla e depois para mim.
— Claro, — eu digo. Não é como se minha agenda estivesse cheia.
— Oh, oi. — Ryn pára para cumprimentar alguém na porta. — Eu não sabia que você estava de volta. Como foi?
— Tio Chase! — Grita Jack.
Calla empurra a cadeira para trás imediatamente e corre para a porta. O homem de pé a puxa para um abraço. — Oh, você sabe como é, — diz ele para Ryn por cima do ombro dela. — As coisas ficaram um pouco complicadas, mas tudo deu certo no final.
— Ótimo. Ansioso para ouvir mais sobre isso. Eu preciso ir para a montanha agora, mas Calla pode te contar o que está acontecendo hoje. — Quando ele sai, o homem na porta dá um beijo rápido em Calla e diz algo em uma voz muito baixa que o resto de nós não consegue escutar.
Ela balança a cabeça, então se vira e gesticula para mim. — Esta é Emerson. Em, este é o Chase. — Eu ando um pouco mais para perto quando ela me apresenta. — Lembra da garota que Dash estava de olho para a Guilda? Sua magia finalmente se libertou e ela acabou sendo uma Dotada Griffin.
— Bem vinda ao clube, — diz Chase, estendendo a mão com um braço tatuado para apertar minha mão. Ele faz uma pausa, apertando minha mão por um momento longo demais enquanto seus olhos passam rapidamente pela sala antes de voltar para mim.
— O quê? — Eu puxo minha mão rapidamente. — Por favor, não me diga que você pode ler mentes ou algo assim, porque eu não tenho certeza se posso lidar com isso. Ter alguém sentindo todas as minhas emoções já é bastante estranho.
Sua expressão relaxa em um sorriso. — Não. Nada a ver com mentes. Eu tenho um talento especial para controlar o clima.
— Mesmo? Isso é estranho.
— É útil às vezes. Qual é o seu?
— Eu digo as coisas e elas acontecem.
— Ela disse a terra para se abrir e abriu, — acrescenta Calla.
Chase arqueia a sobrancelha. — Impressionante. Você deve estar no topo da lista dos mais procurados da Guilda agora.
Eu concordo. — Sim.
— Tudo bem, precisamos ir ao laboratório, — diz Violet. Ela corre a mão pelo ar, passando pela mesa, depois abaixa enquanto os pratos restantes voam para a pia. — Jack, por favor, seque os pratos quando o feitiço terminar de lavá-los, e tenha certeza de que você estará pronto para a escola quando eu voltar.
— Aah, mamãe, mas eu queria apresentar Em ao Filigree. Ela ainda não o conheceu.
— Em precisa vir comigo, e Filigree está sendo um velho e mal-humorado preguiçoso agora. Não é a melhor hora.
Com uma expressão abatida, Jack caminha até a pia e pega um pano de prato. — Aqui, eu vou ajudá-lo, — diz Calla. — Não seja mal-humorado como Filigree.
Quando Violet e eu saímos e descemos as escadas, eu pergunto, — Existe uma montanha em algum lugar dentro dessa cúpula que eu ainda não vi?
— Uma montanha? Não. Por que — Oh. — Ela ri. — Por causa do que Ryn disse ao sair. Não, é como chamamos o prédio que tem as salas nas quais nos reunimos para planejar e discutir missões e visões dos Videntes e tudo mais. O laboratório também está lá. Chase costumava comandar as coisas de uma montanha, quando Ryn e eu ainda estávamos na Guilda. Então todos nós acabamos aqui, e algumas das pessoas com quem ele trabalhou anteriormente começaram a chamar esse prédio de montanha. É bobo, eu sei, mas o nome pegou.
Eu estendo minha mão e a corro ao longo da árvore enquanto descemos. — É bobo, mas é uma história interessante, pelo menos. — Passamos por uma pessoa com pele esverdeada com escamas subindo as escadas, e Violet me apresenta rapidamente antes de continuarmos. Na base da árvore, coloco minhas mãos nos bolsos de trás. — Posso perguntar algo sério?
— Sim, claro.
É um assunto estranho, mas menos estranho - esperançosamente - do que se eu tivesse perguntado na mesa do café da manhã. — Hum, como eu pago a minha estadia aqui?
Seu sorriso fica confuso. — Pagar a sua estadia? Você não precisa pagar sua estadia, Em.
— Mas, quero dizer, nada na vida é de graça, certo? Tudo custa alguma coisa. Então, se eu não estou contribuindo, então como isso funciona?
Ela sacode a cabeça. — Não se preocupe com isso. Nós temos clientes que pagam. Eles nos ajudam a manter as coisas funcionando.
— Mesmo? É isso? Eu não tenho que pagar nada?
— Não, nada, — diz ela com uma risada. — Se você decidir ficar aqui, podemos encontrar uma maneira de você contribuir. Se você acabar indo embora, então considere tudo isso um presente. De qualquer forma, você não precisa se preocupar com isso agora.
Ficar aqui... com a mamãe. Não desejei isso no momento em que entrei pela primeira vez no oásis? Eu afasto o pensamento rapidamente, não querendo de alguma forma azarar a possibilidade.
— Posso te perguntar uma coisa agora? — Ela diz.
— Sim, tudo bem.
— O que há entre você e Dash?
Minhas defesas internas sobem imediatamente. — O que você quer dizer?
— Bem, ele tem falado sobre você há anos — essa garota não tão humana que ele está vigiando para a Guilda - mas ele não mencionou que você... não gosta dele? Odeia ele? Guarda rancor contra ele?
— Posso assinalar todos os itens acima?
Ela ri. — Que interessante. A maioria das garotas parece cair sobre ele tentando chamar sua atenção.
— Já reparei. E eu nunca entendi o porquê.
— Então, que coisa imperdoável ele fez para você?
Eu olho para ela. — Você disse que ele falou de mim. Ele não contou o que aconteceu com a minha mãe?
Ela acena com a cabeça. — Ele salvou a vida dela, não é?
— Salvou? Mais como arruinou.
Surpresa aparece em sua expressão. — Oh. O que aconteceu?
— Bem, é por causa dele que minha mãe foi levada para um hospital psiquiátrico.
Ainda parecendo completamente perdida, ela diz, — Hum... como?
Eu levanto meus olhos para as copas das árvores e solto um som frustrado. — Tudo bem. Dash, obviamente, nunca lhe contou toda a história, então aqui está.
Capítulo 20
— EU TINHA DOZE, QUASE TREZE, — DIGO A ELA. — UM DOS MEUS AMIGOS TEVE UMA FESTA DE ANIVERSÁRIO no parque. Mamãe estava bem por um tempo. Ela tinha episódios às vezes, mas pelo menos todos eles aconteceram quando ela estava em casa. Ninguém sabia sobre eles. De qualquer forma, a festa estava indo bem. Eu estava feliz, mamãe estava interagindo com as pessoas.
— Então Dash apareceu do nada. Eu nunca o tinha visto antes. Não sabia quem ele era. E de repente ele começou a correr em nossa direção sem nenhum motivo, lançou-se sobre a mesa e caiu diretamente sobre a mamãe. Eu estava perto dela e ele conseguiu nos derrubar ao mesmo tempo. Eu levantei e comecei a gritar com ele. É quando a mamãe perdeu a cabeça. — Eu envolvo meus braços em volta de mim e me concentro no rio enquanto caminhamos ao lado dele. — Eu percebo agora que ela não podia vê-lo. Que ela pensou que eu estava gritando com o nada. Ou talvez ela tenha visto algo que eu não vi. Uma das pessoas imaginárias sempre queria pegá-la. Talvez seja com essas pessoas que ela pensou que eu estava gritando, eu não sei. De qualquer forma, ela acabou completamente em pânico. Ela estava encolhida no chão, soluçando e balançando-se, lamentando-se sobre alguém vindo pegar ela e sua filha. Todos no parque estavam observando ela e eu. Dash havia de alguma forma desaparecido até então.
— Alguns dos outros adultos do parque tentaram ajudá-la. Tentei descobrir o que estava acontecendo. Mas ela gritou para eles fugirem. Para parar de tentar machucá-la. E então ela começou a se coçar, tentando tirar algo invisível de sua pele. Alguém deve ter chamado uma ambulância, porque a próxima coisa que eu lembro, os paramédicos estavam a amarrando em uma maca — eu acho que para impedi-la de se machucar — e a levando embora. Eu fui autorizada a voltar na ambulância com ela, e essa foi a última vez que vi meus amigos. Ainda me lembro dos olhares em seus rostos pouco antes de as portas da ambulância se fecharem. O medo, a confusão. Os sussurros uns com os outros.
— Eu fui viver com a Chelsea depois disso, e ao contrário dos episódios anteriores, a minha mãe nunca melhorou. Era como se o incidente no parque fosse o gatilho que a deixou no limite completamente. Eu não sei. Talvez isso tivesse acontecido de qualquer maneira por causa de outra coisa, ou talvez ela teria permanecido a mesma se não houvesse o incidente naquele dia.
— Então vi Dash alguns meses depois em Stanmeade. Eu pensei que era uma coincidência cruel que acabamos vivendo na mesma parte ruim do mundo. Eu não tinha ideia, obviamente, que ele estava lá por causa de alguma missão mágica, ou que ele mais tarde ficou por lá porque estava de olho em mim. Tudo que eu sabia era que eu o odiava por arruinar a minha vida e a vida da minha mãe. Poderia ter sido tão diferente se não fosse pelo que aconteceu no parque.
Violet toca meu ombro e percebo que paramos ao lado do rio. — Eu sinto muito. Deve ter sido traumatizante ver sua mãe assim.
Eu aceno devagar, respirando profundamente e exalando todas as memórias. Pelo menos, é o que estou tentando fazer. Não parece estar funcionando.
— Mas Dash não lhe contou por que ele estava no parque naquele dia? — Ela pergunta. — Eu sei que ele não poderia dizer, contanto que você não soubesse nada sobre magia e nosso mundo, mas ele disse a você nos últimos dias?
— Algo sobre uma missão? Uma missão em grupo, eu acho. Ele não me deu detalhes.
— Ele e alguns de seus colegas aprendizes estavam lá porque um Vidente teve uma visão daquele parque. Uma visão de vários trolls correndo e ferindo as pessoas. Os humanos não teriam sido capazes de ver os trolls, é claro, então eu suponho que teria aparecido como um terremoto, com as pessoas caindo e se machucando. A missão foi dada a um grupo do primeiro ano e seu mentor, porque a Guilda não achava que isso fosse uma ameaça séria. Os aprendizes deveriam afastar os trolls. Eles quase conseguiram, mas um fugiu. Dash o viu indo em direção da sua mãe. Se você não se lembra de vê-lo, então talvez estivesse atrás de você. De qualquer forma, Dash derrubou você e sua mãe, e o mentor perseguiu o troll que fugiu. Então você se levantou e confrontou Dash, que estava tão chocado que você poderia realmente vê-lo que ele não conseguia pensar em uma explicação. — Ela ri. — Eu me lembro dele nos contando em detalhes. Ele disse que foi a missão mais emocionante que ele tinha tido até então.
Eu demoro alguns instantes para absorver essa informação antes de responder. — Então... você está dizendo... que ele na verdade salvou minha mãe? — Este é um conceito difícil para o meu cérebro entender, já que passei anos culpando Dash por colocar minha mãe em uma instituição para doentes mentais.
— Sim. Quero dizer, ela teria sido gravemente ferida de outra forma, ou pior. Humanos foram mortos por trolls antes. Então é bom que ele a tenha tirado do meio do caminho. O que aconteceu depois, porém, foi horrível. Eu não estou tentando diminuir isso de qualquer maneira.
Eu balanço minha cabeça lentamente. — Não. Eu sei. — Eu cruzo meus braços, em seguida, os coloco de lado e, em seguida, começo a andar ao longo da margem, enquanto confusão e frustração giram ao redor um do outro. — Por que ele não me contou isso?
— Não tenho certeza.
— Ugh, agora eu tenho que agradecer ele. Como eu devo fazer isso?
— Uh... eu não sei.
Eu paro, eu bufo e digo, — Desculpe, vamos continuar andando. Eu sei que deveríamos estar no laboratório agora.
— Sim, tudo bem. — Continuamos andando e, eventualmente, Violet diz, — Obrigada por me dizer o que aconteceu. Eu sei que não pode ter sido fácil.
Eu aceno. Então, como eu ainda não deixei minha frustração para trás, eu deixo escapar — O que tem nele que faz tantas mulheres bajulá-lo? Quero dizer com certeza, ele é bonito, mas isso não o impede de ser um grande idiota na maior parte do tempo. E sim, eu sei que ele é um idiota que salvou minha mãe, mas ele ainda é um idiota.
Uma gargalhada-bufo escapa dela. — Idiota?
— Sim.
Ela suspira. — Se você o odiava, você nunca teve a chance de ver o lado dele que todo mundo vê.
— Qual é?
— Ele é simpático e charmoso, e ele tem um jeito de prestar atenção às pessoas e demonstrar interesse em suas vidas que as faz se sentir... especial, suponho. É apenas parte de sua personalidade, mas algumas garotas leem muito sobre isso. Elas gostam quando um cara bonito presta atenção nelas — mesmo que ele seja alguns anos mais novo, o que, você logo descobrirá, não significa muito quando você vive por séculos — e elas acabam querendo mais do que Dash jamais pretendeu dar.
— Tudo bem, tudo o que eu ouço é que ele usa seu charme para manipular as pessoas, e então ele age como se não tivesse ideia do que está acontecendo quando querem mais dele.
Violet sorri e balança a cabeça. — Eu o conheço desde que ele nasceu, então provavelmente sou tendenciosa a seguir outra direção, mas tenho certeza que ele não é manipulador. Eu vejo que ele é respeitoso com seus pais, que ele é honesto, que trabalha duro quando acha que ninguém está observando. Ela revira os olhos. — Com certeza, ele pode se achar um pouco de mais, mas no geral, ele é um cara legal. Ele genuinamente se importa com as pessoas. Ele gosta de deixá-las à vontade, fazê-las rir. E é por isso que elas acabam gostando dele e aproveitando sua companhia.
— Bem, você está certa que eu não vi esse lado dele.
Violet me direciona para uma ponte. — Talvez você tenha a chance de ver esse lado dele agora.
Eu quase digo, eu certamente espero que não, mas percebo que isso soa um pouco negativo demais. Atravessamos o rio e seguimos para um grande edifício do outro lado. Parece o tipo de casa comum que se vê em um bairro legal no mundo humano. Subimos as escadas e entramos na varanda, e Violet abre a porta. O primeiro aposento por onde passamos é ocupado principalmente por uma mesa retangular e cadeiras, mas a larga janela panorâmica e as plantas espalhadas pelo peitoril da janela proporcionam uma sensação mais acolhedora do que uma sala de reunião deveria transmitir. As outras portas que passamos estão fechadas — lembro de Jack dizendo algo sobre áreas fora dos limites — até chegarmos ao fim da passagem, onde a última porta está entreaberta.
Violet a abre e gesticula para eu entrar. Meu primeiro pensamento é sobre os laboratórios da escola, mas esta é uma versão muito mais interessante. Os balcões em torno do limite da sala estão cobertos de frascos com líquidos coloridos e ingredientes de formas estranhas, equipamentos de laboratório como tubos de ensaio, béqueres e bicos de bunsen, todos intercalados com engrenagens, alavancas, tubos e aparelhos espalhados que não reconheço. As três bancadas paralelas no centro da sala estão ligeiramente mais limpas, com chamas, copos borbulhantes e béqueres fumegantes indicando experiências ao vivo em andamento. Exceto que provavelmente não são experimentos, agora que penso nisso. São provavelmente... poções?
— Oh, oi, — Uma mulher vem deslizando em nossa direção em uma cadeira de rodas. Exceto que não é uma cadeira de rodas, percebo quando ela para em nossa frente. A cadeira não tem pernas, e está flutuando no ar. A mulher, que tem orelhas pontudas e um interessante penteado de tranças finas enroladas em cima da cabeça, se levanta e coloca as mãos nos quadris. — Você é a Emerson, certo?
— Sim. Hum, eu devo te dar uma amostra da minha magia?
— Sim, para o elixir da Habilidade Griffin.
— Esta é Ana, a propósito, — acrescenta Violet.
— Certo, sim. Eu sou a Ana. — Ela caminha até uma das prateleiras e remove uma esfera de vidro vazia. — É bem simples, — ela diz, virando para mim. — Segure a orbita em suas mãos, eu vou recitar o encantamento, e no final dele, um pouco da sua magia terá sido tirada de você e para dentro da orbita.
— Dói? — Eu pergunto.
— Não, mas você vai sentir uma espécie de puxão. O importante é não resistir.
Eu concordo. — Tudo bem.
— Apenas relaxe. Sério, isso não é grande coisa. Feche os olhos e relaxe.
Eu faço o que ela sugeriu, bloqueando os béqueres e aparelhos e a bola de vidro em minhas mãos. As palavras que ela começa a cantarolar são estranhas, então não tenho ideia do que ela está dizendo. Enquanto ela lentamente as repete, começo a sentir o puxão de que ela falou. Um puxão estranho e lento na região do meu peito. Eu tento não resistir. Eu acho que posso estar me inclinando para frente um pouco.
— Tudo bem, acabou, — diz Ana.
Eu me endireito e abro meus olhos. A orbita está cheia da mesma massa cintilante e brilhante que apareceu em minhas mãos quando Azzy me ensinou como acessar minha magia. — Legal, — murmuro.
— Eu devo terminar de fazer o elixir amanhã, — diz Ana, pegando a orbita de mim. — Então, qual é a sua Habilidade Griffin?
Eu pego meu cabelo na parte de trás, torço e o coloco sobre meu ombro. — Às vezes, quando digo alguma coisa, acontece realmente. Se eu lhe dissesse para soltar a bola de vidro no chão, você não teria escolha a não ser fazer isso. E se eu dissesse ao rio para secar... bem, acho que secaria.
Os olhos de Ana se arregalam. Ela balança a cabeça lentamente. — Legal. Isso é demais.
— Sim. Eu descobri isso. Agora eu preciso saber como controlá-lo, então não vou ser um perigo para todos. Honestamente, eu ficaria feliz se vocês conseguissem se livrar disso. — Eu franzo a testa. — Isso não é uma opção, é?
O olhar de Ana dispara para Violet por um momento antes de voltar para mim. — Costumava ser, mas Gaius não está mais bem. A Habilidade Griffin dele é poder remover e transferir habilidades de outros. Ele fez isso muitas vezes, para aqueles que não queriam ser Dotados Griffin. E lentamente, ele começou a ficar doente. — Ela se move para o outro lado da sala e coloca a orbita de vidro em uma caixa. — Ele não conectava a sua Habilidade Griffin até alguns anos atrás, — ela continua, caminhando de volta para nós. — Ele começou a perceber que cada vez que ele removia outra, isso o deixava mais doente. Ele está muito fraco agora. Não sai frequentemente da casa dele. Este laboratório — todas as invenções e poções — costumava ser dele. — Os olhos dela deslizam pelos balcões e prateleiras. — Ele me ensinou tudo.
— E estamos muito gratos por você ter se esforçado, — diz Violet.
— Sim, Sim. Tudo bem, vão embora agora. Vocês continuam me dando muita coisa para fazer. — Ela volta para a cadeira e se afasta.
— Obrigada, Ana, — Violet fala atrás dela.
No caminho de volta para a árvore, falamos sobre que tipo de lições eu preciso ter para aprender toda a magia comum sobre a qual ainda não sei nada. Eu brinco que talvez eu não precise aprender nada, se eu puder usar minha Habilidade Griffin corretamente. E então eu me pergunto, enquanto Violet continua falando sobre um plano para minha educação mágica, se pode haver alguma verdade na minha piada. Se eu puder fazer as coisas acontecerem com um simples comando verbal, isso não seria o suficiente?
Quando voltamos para a base da árvore, Calla e Ryn já estão esperando por nós. — Pronta para a missão de resgate?
Capítulo 21
— TUDO BEM, ISSO É BASTANTE SIMPLES, — RYN DIZ PARA OS CINCO DE NÓS ESCONDIDOS entre as árvores a uma boa distância da entrada do Hospital Psiquiátrico Tranquil Hills. — Vamos esperar até que Perry e sua irmã cheguem aqui. Em, você vai ficar com eles. Calla e Dash vão para o hospital, e Vi e eu vamos esperar do lado de fora perto da entrada. Se algo der errado e vocês forem seguidos pelos guardiões, estaremos prontos para lutar. Isso não deve acontecer, já que vocês estarão invisíveis.
— Ela está no seu quarto agora? — Calla pergunta.
Ryn produz algo que parece um pequeno espelho redondo. — Sim. Ainda no quarto dela.
— O que é isso? — Eu pergunto, me inclinando para mais perto.
— Eu deixei uma aranha no quarto dela ontem, — diz Calla. — Não é uma aranha de verdade, — ela acrescenta rapidamente. — É um pequeno dispositivo encantado de vigilância. Não parecia que os guardiões fariam qualquer coisa com sua mãe quando eu parti ontem, mas achei que deveríamos ficar de olho nela de qualquer maneira.
— A Guilda provavelmente tem algumas deles lá, — diz Dash, — além do detector de Habilidade Griffin.
— De qualquer forma, a aranha está ligada ao espelho, — diz Calla, me entregando para que eu possa dar uma olhada mais de perto. — Então, quando o feitiço está ligado, podemos ver o quarto da sua mãe.
Um choque me percorre quando olho para mamãe sentada em sua cama, folheando uma revista. Ela parece tão normal. Tão completamente diferente de ontem. Sua cabeça vira de repente, seu olhar direcionado para o outro lado do quarto para a porta. Ela não abre, no entanto. Ela olha para ela por um tempo, abraçando a revista no peito. Então seus lábios se movem, dizendo algo que não podemos ouvir, antes dela voltar a ler a revista.
No silêncio constrangedor que se segue, entrego o espelho de volta a Ryn, depois me viro para Dash. — Por favor, não a assuste.
— Eu não vou, eu prometo. Ela não vai me ver.
— Como você vai sedá-la?
— Calla vai me fazer aparecer como uma das enfermeiras, e eu vou levar para ela uma bebida.
— E se isso não funcionar?
Ele coloca o capuz sobre a cabeça. — Então, vamos pensar em outra maneira. Não se preocupe, Em. Tudo vai ficar bem.
Ao som de um carro desacelerando na estrada, me viro e espio através das árvores. — São eles?
O carro para. Ryn levanta a mão para nós ficarmos quietos quando a porta do passageiro da frente se abre e um cara alto de cabelos verdes sai. — Sim, é o Perry. E deve ser a Hannah, — acrescenta ele quando uma mulher sai do outro lado do carro. Nós caminhamos em direção a eles, e Perry acena quando aparecemos. As apresentações são rápidas, então Calla diz, — Certo, vamos fazer isso.
— Tudo bem, Vi e eu estaremos esperando perto da entrada, — diz Ryn, levantando o âmbar e olhando para ele. Ele franze a testa.
— O que é? — Vi pergunta.
— Mensagem da Azzy. A garota que tentou ajudar Em, Aurora, desapareceu da Chevalier House está manhã. Azzy assumiu que ela fugiu.
— Não é nenhuma surpresa, — eu digo. — Aurora falou sobre fugir na noite em que ela chegou lá. Ela queria que eu fosse com ela.
— Interessante. — Ryn coloca o âmbar no bolso. — De qualquer forma, podemos nos perguntar sobre isso depois. Vamos agir.
Calla e Dash desaparecem por um portal, então Ryn e Vi atravessam outro para esperar perto da estrada do hospital. Perry lhes manda uma despedida alegre e depois se vira para mim com interesse. — Então. Você é a Em.
— Sim. Sou eu. Você pode ter me visto quando um monte de guardiões me perseguiu através do saguão da Guilda.
— Eu perdi isso, infelizmente, mas eu ouvi tudo sobre a sua magnífica Habilidade Griffin.
— Magnífica, hein? Bem, eu ofereceria fazer uma demonstração, mas eu não sei como. Essa coisa parece ligar e desligar sozinha.
— Provavelmente é melhor não tentar, — Hannah diz, colocando as mãos no teto do carro e descansando o queixo sobre elas. — As coisas podem ficar assustadoras.
Eu me inclino contra o carro e a encaro. — Então você cresceu sabendo sobre magia, mas você não tem magia?
— Sim. Meio o oposto da sua experiência.
— Eu costumava visitá-la e mostrar a ela todos os feitiços que aprendi, — diz Perry.
— E eu mostrava meu computador, a internet e os melhores programas da TV. Era divertido.
Conversamos um pouco sobre suas respectivas infâncias, mas nada pode me distrair do fato de que o tempo está passando e Calla e Dash ainda não retornaram. — Você acha que está tudo bem? — Eu deixo escapar, interrompendo Perry no meio de uma descrição de sua primeira vez usando um controle remoto de uma televisão. — Eles estão demorando um pouco. Eu pensei que eles já teriam saído agora.
— Tenho certeza de que tudo está bem, — diz ele. — E se não estivesse, Vi e Ryn teriam ido para ajudá-los.
Eu empurro meu cabelo para trás, então começo a enrolar um pouco ao redor do meu dedo. — Eu odeio isso. Apenas... esperar e sem saber.
— Você quer jogar um jogo? — Perry pergunta. — Eu tenho certeza que podemos chegar a —
— Espere. Eu ouço algo. — Algo como pés batendo no asfalto. Eu ando pela estrada e tento ver mais adiante a colina além da curva. Até agora, ninguém apareceu. Eu definitivamente posso ouvi-los, no entanto. Eu aperto minhas mãos e pressiono-as contra o meu queixo enquanto prendo a respiração, mal piscando.
Então eu os vejo. Todos os quatro correndo, Ryn e Dash facilmente carregando mamãe entre eles. Eu subo a colina para encontrá-los. — Sim, vidro, — Calla ofega quando eu chego a eles. — Ou cristal, eu não sei.
— Mas quem diabos era? — Pergunta Violet.
— Eu não sei!
— Mamãe está bem? — Eu pergunto, correndo mais rápido agora para acompanhá-los.
— Foi aquela pessoa encapuzada e disfarçada que apareceu com os Unseelies no penhasco, — diz Dash. — Estou certo disso.
— Ela está sangrando! — Eu suspiro, percebendo a trilha de sangue correndo pelo braço da mamãe. — Por que ela está sangrando?
— Ela está bem, — diz Dash.
— Ela se cortou!
— Ela está bem, Em. Por que você não está no carro? Perry, Hannah, — ele grita. — Entrem no carro.
— De quem vocês estão fugindo? — Perry grita de volta.
— Entrem no carro! — Quatro vozes gritam ao mesmo tempo.
Ele abre a porta do motorista, puxa Hannah para dentro e então corre para o outro lado.
— O que diabos aconteceu? — Eu pergunto quando chegamos ao carro.
— Alguém chegou lá antes de nós, — Calla ofega. Ela abre uma das portas da parte de trás. — Mas eu acho que nós —
— Todo mundo, pare.
Eu viro. Do outro lado da estrada, saindo das sombras, está uma figura com um manto com capuz prateado.
Capítulo 22
— VOCÊS TÊM ALGO QUE EU QUERO, — DIZ A FIGURA, E EMBORA SEU ROSTO ESTEJA OCULTO NA sombra, o tom de sua voz me diz que ela é uma mulher. Enquanto seu manto se espalha ao seu redor, uma lembrança retorna à minha mente: uma pessoa com um manto prateado exatamente igual a este, de pé em uma estrada em Stanmeade e transformando um homem em uma sólida estátua cristalina.
— Escudo, — sussurra Violet, e juntas, ela e Calla levantam as mãos. Algo quase invisível brilha no ar à nossa frente. No mesmo instante, a mulher levanta sua mão. Pedaços de vidro, irregulares e mortais, voam direto em nossa direção. Instintivamente, meu braço voa para proteger meu rosto. Mas o vidro para, preso na camada invisível que paira no ar à nossa frente.
Eu olho para trás, esperando que o pessoal tenha colocado mamãe no carro agora, mas suas mãos estão no ar também, e mamãe está sobre o ombro de Ryn. Perry corre em volta do carro para se juntar a eles, enquanto Ryn xinga sob sua respiração. — Por que não está funcionando?
Eu viro minha cabeça para ver que a mulher aumentou seu ataque sobre nós — e alguns dos fragmentos de vidro estão girando através do escudo. O primeiro pedaço desliza livremente para este lado e voa direto em direção ao rosto.
Perry estende a mão, desviando o vidro para o lado antes que ele nos alcance. No carro, Hannah está gritando.
— Esteja pronto quando o escudo desmoronar, — grita Violet. — Você sabe o que fazer.
O vidro passa por mim e afunda na parte de metal da porta do carro. Os gritos de Hannah se intensificam. Então o ar é preenchido com o guincho dos pneus quando o carro inverte rapidamente. A mulher encapuzada estende a mão em direção a ele, e uma nevasca de vidro quebrado voa de seus dedos.
— Não! — Perry grita, estendendo a mão. Não para a mulher, mas para o carro. Ele sai do caminho e o vidro se encaixa em várias árvores. Pneus acelerando freneticamente enchem o ar, e então o carro está acelerando para longe.
— Ataquem! — Violet grita.
A mulher, caminhando confiantemente em nossa direção com a mão erguida, é lançada no ar. Ela gira, voa para o lado e cai no chão do outro lado da estrada. Doente de horror, dou alguns passos apressados para trás, para onde mamãe está deitada no chão. Ryn deve tê-la abaixado para que ele pudesse lutar. Eu olho para cima e o vejo cruzando a estrada com Violet. Calla os segue.
A mulher rola para o lado e estende a mão. Pedaços de vidro deslizam pelo asfalto em nossa direção. Ryn os joga para o lado com um aceno de sua mão, mas eu caio de joelhos na frente de mamãe, protegendo-a apenas no caso. Dash paira hesitante ao meu lado, e Perry corre pela estrada para se juntar aos outros.
A mulher se levanta.
— Não deixe que ela toque em você, — diz Calla. — Não deixe que ela toque em você. — Um escudo cintilante aparece. Do outro lado, a mulher levanta as duas mãos acima da cabeça e, com um grito sobrenatural, lança um jato de vidro brilhante no ar que rasga através das copas das árvores e chove ao redor dela.
— Magia...
Meu coração quase pára ao som daquela palavra silenciosa. Eu olho para baixo. Os olhos da mamãe estão meio abertos. Ela está olhando para o outro lado da estrada, mas não para a mulher ou o vidro caindo ou as brilhantes armas dos guardiões agora visíveis. Ela está olhando para a própria mão estendida, onde faíscas brilhantes estão à deriva ao redor de seus dedos.
Eu recuo para trás, assustada. — O que diabos é isso? — Eu sussurro. Eu pisco várias vezes, mas a magia ainda está lá. Meu coração troveja e minha mente corre. — Você tem magia. Podemos usar os caminhos. — Pigarreio e grito, — Podemos usar os caminhos!
Dash olha para baixo. — Não, sua mãe não pode —
— Podemos. Ela pode. — Eu levanto, pegando o braço da mamãe e tentando levantá-la. — Abra um portal rapidamente.
— Mas ela —
— Abra! — Eu me esforço para colocar a mamãe em uma posição sentada, mas assim que eu a solto, ela cai de novo. Ela ainda deve estar parcialmente sedada. — Me ajude. — Eu chamo Dash enquanto ele escreve um feitiço de um portal na estrada. Um buraco escuro cresce ao lado dele quando ele alcança o outro braço da mamãe.
— Você tem certeza disso?
— Sim, eu a vi — eu grito quando uma dor aguda corta o lado do meu pescoço.
— Merda. — Dash lança um olhar por cima do ombro. — O vidro está passando novamente. Você está —
— Estou bem, — eu digo com uma mão pressionada contra o meu pescoço. — Coloque a mamãe nos caminhos.
Juntos a puxamos para a beira da abertura e, pouco antes de cairmos dentro, vejo Dash olhar para o outro lado da estrada uma última vez. Eu sei que ele está preocupado com os outros, mas por mais egoísta que seja, eu me importo apenas com a minha mãe agora. Eu me inclino na escuridão, puxando mamãe e Dash comigo.
— Eu não sei para onde estamos indo, — eu digo quando o silêncio pressiona meus ouvidos e minha mãe fica leve ao meu lado.
— Eu sei, — diz Dash, e segundos depois nós caímos na grama. Eu tropeço quando o peso repentino da mamãe me arrasta para baixo, e todos nós três acabamos no chão. Uma rápida olhada para o céu noturno acima de nós e o prédio desconhecido nas proximidades me diz que estou em um lugar novo. — Este é o instituto de cura, — diz Dash. — White Cedars. Você estará segura aqui. Eu preciso voltar. — Ele se levanta rapidamente. — Eles podem precisar de ajuda.
Eu aceno com a cabeça, apoiando mamãe contra o meu lado. — Sim. Seja cuidadoso.
Ele levanta sua stylus, mas o ar se agita por perto, e Violet, Ryn, Calla e Perry correm para a grama um momento depois. — Oh, vocês estão bem, — diz Dash, sua expressão se iluminando. — Ainda bem.
E então, de repente, estamos todos falando uns sobre os outros:
— Sua mãe está bem?
— Sim, ela —
— O que aconteceu com aquela mulher?
— Ela fugiu. Fugiu no momento em que ela viu que você tinha ido embora.
— Por que os caminhos das fadas? — Pergunta Violet, com os olhos arregalados de preocupação. — Como você sabia que ela sobreviveria?
— Ela tem magia, — eu digo, e finalmente todos param de falar. — Ela acordou e eu vi em sua mão, brilhando ao redor de seus dedos. — Meus lábios se esticam em um largo sorriso. — Ela é minha mãe afinal.
PARTE 3
Capítulo 23
TODA REVELAÇÃO SURPREENDENTE NOS ÚLTIMOS DIAS ME DEU UMA SOBRECARGA EMOCIONAL — e essa é a pior e a melhor. Eu tinha acabado de começar a aceitar o fato de que minha mãe não era minha mãe verdadeira, e de repente essa verdade foi invertida completamente. Isso fez meu cérebro girar mais uma vez. Isso me deixa querendo soluçar de alívio.
Mas eu não tenho nem um segundo para isso, porque logo depois que chegamos na grama do lado de fora do Instituto de Cura White Cedars, várias faeries vêm correndo para nos ajudar. Mamãe mal está consciente, então eles a carregam rapidamente para dentro. Alguém limpa o sangue no meu pescoço e diz que o corte ficará totalmente curado dentro de uma hora, e então eles desaparecem, junto com a mamãe, em um quarto no qual eu não posso entrar.
O resto de nós acaba em uma sala de espera que me lembra mais um spa do que um hospital, com sua iluminação suave, aromas de ervas e plantas que parecem fazer parte do próprio edifício. Não que eu já tenha ido a um spa, mas já vi filmes.
— Era a mesma mulher que apareceu pouco antes de vocês salvaram Em, — Dash diz, andando pelo chão de madeira. — No penhasco, quando os guardiões e os Unseelies estavam lutando. Quer dizer, eu não vi o rosto dela, mas aquele manto prateado parecia o mesmo, e havia cacos de vidro voando naquele dia. Eu assumi que eles fazem parte da magia ofensiva de alguém, mas deve ter sido dessa mulher.
— Você viu o que ela fez no hospital? — Diz Calla. — Antes de sairmos com a mãe da Em?
— Sim.
— Ela tocou em um dos enfermeiros e ele se transformou instantaneamente em uma escultura de vidro congelado. Um toque, e foi isso. Então ela o empurrou e ele se despedaçou em um milhão de pedaços.
Violet arqueja silenciosamente e cobre a boca com a mão.
Perry olha para cima. — Foi o que aconteceu naquele colégio interno e na aldeia de Twiggled Horn. Aqueles ataques que eu te falei.
— Eu sei, — diz Calla. — Foi isso que pensei no momento em que a vi.
— Mais vários incidentes dos últimos meses, — acrescenta Perry. — Casos de desaparecimentos fae onde a única coisa que sobrou foi vidro quebrado. Nós não conseguimos entender o que era tudo isso até que a testemunha ocular explicou o que aconteceu naquela aldeia há alguns dias.
— E então você percebeu que aquelas pessoas não estavam desaparecidas, afinal de contas, — diz Ryn, sua voz sombria. — Elas eram o vidro quebrado.
— Sim.
— Qual é a conexão entre todos os ataques? — Pergunta Violet.
— Pode ser uma coincidência, — diz Perry, — mas a única conexão até agora é que a maioria dos que foram mortos trabalhavam na Guilda no passado, ou estavam relacionados de alguma forma a funcionários da Guilda, seja no passado ou no presente. Mas, novamente, pode ser uma coincidência, já que algumas das mortes de alguma forma não estavam relacionadas à Guilda.
— Podem ter sido danos colaterais, — diz Violet.
Perry inclina a cabeça. — Possivelmente.
— Então, ou esta mulher com o manto prateado é a que realiza esses ataques, — diz Calla, — ou há um grupo de faeries que se veste da mesma maneira e ataca com a mesma magia.
— Não pode ser possível, — diz Violet com uma carranca. — Deve ser uma Habilidade Griffin, certo?
— Deve ser, — diz Ryn. — Qualquer faerie pode transformar coisas em vidro, e nossa própria magia pode ser moldada em vidro se quisermos, mas transformar seres vivos? Isso não deveria ser possível. Pelo menos não por nenhum feitiço que eu tenha ouvido falar. Deve ser uma Habilidade Griffin.
— Eu acho que já a vi antes, — eu digo, finalmente falando. — No mesmo dia que minha magia se revelou. O dia da festa, quando acidentalmente usei minha Habilidade Griffin. Eu estava indo para casa e vi uma pessoa encapuzada tocar um homem e ele se transformou em cristal ou vidro ou algo assim.
Dash faz com que sua caminhada interminável pare. — Você não mencionou isso antes.
— Bem, para ser sincera, não acreditei nos meus olhos. Eu não tinha ideia de que a magia existia ainda. Eu pensei que estava começando a ficar louca como a mamãe. Então eu simplesmente ignorei. Eu me abaixei atrás de um prédio e, quando olhei de novo, tudo desapareceu. E tanta coisa aconteceu desde então que eu não me lembrei até agora, quando ela apareceu do outro lado da estrada. Eu não a notei no dia em que a Guilda e os Unseelies estavam brigando por mim. — Eu dou a Dash um olhar aguçado. — Acho que eu estava preocupada com o medo de que eu estava prestes a ser morta.
Ele revira os olhos e desvia o olhar. Perry fica de pé. — Bem, hum, vou checar a Hannah.
— Ela fugiu em segurança? — Pergunto.
— Ela fugiu, — diz Perry, não encontrando meus olhos. — Eu fui encontrá-la enquanto os curandeiros estavam colocando sua mãe em um quarto. Eu sinto muito que ela tenha entrado em pânico e fugido. Ela nunca esteve em uma situação como essa antes.
— Tudo bem, — diz Ryn calmamente. — Nós não a culpamos.
Eu mordo meu lábio inferior, decidindo não comentar. Fiquei horrorizada quando vi o que eu achava ser a única rota de fuga segura da mamãe fugir. Mas entendo porque Hannah fez isso. Ela estava cuidando de si mesma — uma habilidade que venho aperfeiçoando há anos.
Depois que Perry sai, Violet se vira para Ryn. — Acho que precisamos ir para casa também. Verificar o Jack, se certificar de que as outras visões do Vidente foram resolvidas. — Ela olha para mim. — Nós voltaremos um pouco mais tarde e faremos companhia a você.
— Eu vou ficar aqui com a Em agora, — diz Calla.
— Oh, eu não me importo de esperar sozinha, — eu digo a eles. — Sério. Calla, seu marido acabou de voltar de... algum lugar. Você não preferiria estar com ele?
— Claro, mas eu posso vê-lo mais tarde.
— Não, tudo bem, realmente. Estou feliz sozinha e sei que vocês têm um monte de coisa para fazer. — Violet e Ryn trocam olhares. — Sério, — eu repito.
— Tudo bem, — diz Violet, — mas voltaremos um pouco mais tarde. — Ela vai embora pelos caminhos das fadas com Ryn e Calla. Eu olho para Dash, esperando que ele saia através de outro portal dos caminhos das fadas, mas ele caminha até uma cadeira a alguns lugares de distância de mim e senta. Ele move o corpo para me encarar.
— Sério, Dash. Eu não me importo de esperar sozinha.
— Como está o seu pescoço? — Ele pergunta. — Parece quase melhor daqui.
Eu esqueci o corte, na verdade. Eu pressiono meus dedos cautelosamente contra a área. Sem dor, e uma linha acentuada de pele me diz que uma cicatriz já se formou. — Puta merda. Curou tão rápido. Eu pensei que eles estavam exagerando quando disseram que estaria melhor dentro de uma hora.
Dash sorri. — E você sabe que a cicatriz vai curar também, certo? Isso também desaparecerá dentro de uma hora.
— Isso é incrível.
— Também... — Ele se inclina sobre os joelhos. — Sinto muito que o plano de resgate para sua mãe tenha se tornado uma bagunça. O resto de nós lida com esse tipo de confronto mágico o tempo todo, mas para você e Hannah, deve ter sido assustador. As coisas poderiam ter ido muito mal.
— Mas elas não deram. Tudo deu certo no final. — Eu sorrio, o que parece mais fácil agora do que há muito tempo. — Estou tão feliz que mamãe saiu daquele hospital. Eu estou feliz que estamos no mesmo mundo novamente, e que todas essas coisas sobre ela não ser minha mãe foi apenas um pesadelo.
Ele concorda. — Sim. Esperançosamente.
Meu sorriso escorrega um pouco. — O que você quer dizer com esperançosamente? Ela é minha mãe. Como ela poderia não ser?
— Bem, eu só quero dizer... você parece uma faerie e ela não, então como isso funciona?
— Mas eu não parecia uma faerie antes da minha magia aparecer, certo? Você disse que nem sempre podia ver meu cabelo azul. Então, obviamente, mamãe é a mesma coisa.
— Sim... — Ele sacode a cabeça. — Eu ainda não entendi porque aconteceu desse jeito para você. Faeries não crescem com a magia bloqueada ou inacessível. Halflings, às vezes, mas você não é halfling.
— Tudo bem, então talvez mamãe e eu somos um tipo estranho de faeries que você nunca encontrou antes. Isso pode ser possível, certo?
Ele levanta um ombro em um encolher de ombro lento e incerto. — Eu acho que sim.
— Que outra explicação existe? Na verdade, não importa. Neste mundo, há provavelmente toda uma série de explicações estranhas e complicadas envolvendo diferentes tipos de magia. E eu não me importo em conhecer nenhuma delas.
Dash olha para as mãos e diz baixinho, — Eu não estou tentando deixar você chateada de novo. E se ela está biologicamente relacionada a você ou não, não muda quem ela é para você. Eu só pensei que você gostaria de saber a verdade sobre a situação, seja lá qual for.
Eu me inclino para trás, puxo minhas pernas para cima e envolvo meus braços ao redor delas. — Você acha que eu poderia querer saber a verdade? Isso é interessante, considerando que você nunca me contou o que realmente aconteceu no parque naquele dia.
Uma carranca enruga seu rosto, mas ele não olha para mim. — O que você quer dizer?
— Você sabe do que estou falando. — Meus braços se apertam em volta das minhas pernas. — Você salvou a vida da minha mãe. Havia algo mais lá naquele dia. Algo que eu não vi porque você nos derrubou para fora do caminho. Algo que poderia tê-la... matado.
Dash lentamente se inclina para trás, esfregando uma das mãos ao longo do lado de seu pescoço. — Quem te contou?
— Violet.
Ele sacode a cabeça, mas não diz nada.
— Então? Por que você não me contou? Eu sei que você não conseguiu explicar antes, mas desde tudo o que aconteceu nos últimos dias, você ainda não me contou.
— Porque... quero dizer... como essa conversa teria acabado? Você teria dito: ‘Você arruinou a vida da minha mãe.’ Então eu teria dito: ‘Na verdade, eu salvei.’ E então você teria me dito: ‘Passar o resto de seus dias em um hospital psiquiátrico não é o mesmo que salvar a vida dela.’ Então nós provavelmente discutiríamos um pouco mais, e você ainda me odiaria.
Eu fico quieta por um momento, porque tenho que admitir que há uma grande probabilidade de que as coisas teriam corrido assim. — Talvez. Ou talvez eu te odiasse menos. Ou... eu não sei. Talvez eu ficasse grata por ela ainda estar viva. Eu estou grata que ela ainda esteja viva. Há uma chance, pelo menos, para ela melhorar. Mas você sabia o tempo todo que você realmente a ajudou naquele dia e, em vez de me deixar saber desse pequeno segredo, você me permitiu culpá-lo por levá-la ao hospital.
— Espere. — Ele se endireita um pouco. — Você está brava comigo?
— Sim!
— Mas eu pensei que acabamos de estabelecer que eu realmente salvei a vida da sua mãe.
— Sim, então agora eu tenho que ser grata a você. O que é uma droga porque eu não gosto de você. Então a coisa toda só... me irrita!
Ele me encara mais um momento e depois se dobra de rir.
— Oh, fantástico. Isso tudo é hilário, não é?
— Você tem que admitir, — diz ele entre respirações, — que é.
— Eu não tenho que admitir nada. — Eu cruzo meus braços, mas há um sorriso puxando meus lábios, e eu estou achando impossivelmente difícil lutar contra isso. Então eu desisto e deixo se esticar no meu rosto. Eu acho que uma pequena risada pode até mesmo me escapar.
Eventualmente, quando ficamos quietos novamente e eu estou olhando para as minhas mãos, eu enlaço meus dedos e lentamente deixo escapar um longo suspiro. É frustrante que eu tenha que ser grata a ele, mas isso não muda o fato de que sou grata a ele. — Obrigada por salvá-la, — eu digo, e embora minha voz seja baixa, eu sei que ele ouve.
— De nada, Em. — Ele olha para mim e sorri. — Viu? Nós podemos ser maduros. Não é legal?
Meu sorriso está de volta. — Eu acho que não é completamente superestimado.
Ele fica de pé e coloca as mãos nos bolsos. — Você quer encontrar algo para beber? Ou comer?
— Comida da cafeteria do hospital? Não, obrigada.
— Este não é o seu mundo, lembra? A vasta seleção de bebidas quentes disponíveis neste mundo é alucinante.
— Alucinante? Mesmo? — Eu coloco minhas mãos nos braços da cadeira e levanto. — Alguém poderia pensar que eu tive experiências alucinantes suficientes nos últimos dias, mas acho que não. Vamos encontrar uma bebida quente.
— Ótimo. É um encontro.
— Definitivamente não é um encontro.
— Você sabe o que quero dizer, — diz ele enquanto saímos da área de espera.
— Não, eu sei o que quero dizer, e estou me certificando de que você também saiba o que quero dizer.
— Senhorita Clarke? — Do lado de fora da sala de espera, uma curandeira para na frente de nós. — Posso falar com você?
Eu não posso evitar o medo que começa a se formar na boca do meu estômago. — Sim. Definitivamente. Minha mãe está bem?
— Vamos nos sentar? — Ela aponta para as cadeiras atrás de nós.
— Por quê? — O pânico sobe rapidamente para minha garganta. — Você tem algo ruim para me dizer?
Ela sorri. — De modo nenhum. É apenas mais confortável.
— Oh. Certo. Claro.
Voltamos para a sala de espera e, enquanto nós três nos sentamos, ela pergunta, — Você está feliz por conversarmos na frente do cavalheiro, ou prefere falar sozinha comigo?
Meu cérebro tropeça na palavra ‘cavalheiro’ — Dash? Um cavalheiro? Ha! — antes de chegar à questão verdadeira. — Hum...
— Tudo bem. Eu vou esperar do lado de fora enquanto vocês conversam, — diz Dash, me salvando de ter que responder.
— Ela está acordada? — Eu pergunto a curandeira quando Dash desaparece. — Posso falar com ela?
— Ela não está acordada, infelizmente. Ela ficou muito chateada e confusa depois que a trouxemos, e acabamos tendo que sedá-la novamente. Fizemos alguns testes, o que revelou que mesmo que não possamos sentir qualquer magia nela, ela é na verdade uma faerie. Ela também deu positivo para uma Habilidade Griffin.
Eu viro minha cabeça para trás em surpresa. Mas então digo a mim mesma que isso faz todo sentido. Se ela é realmente minha mãe, então obviamente ela tem uma Habilidade Griffin.
— Este é um caso um pouco desconcertante, — continua a curandeira. — Nós não encontramos nada parecido antes, então se você nos contar tudo o que sabe sobre ela, incluindo a doença mental que você mencionou quando a trouxemos mais cedo, faremos tudo o que pudermos para descobrir o que está acontecendo.
Capítulo 24
AS MUDANÇAS NAS ZONAS DO TEMPO TANTAS VEZES ESTÃO MEXENDO COM A MINHA MENTE. EU SINTO QUE DEVERIA ESTAR no meio da noite no momento em que deixo o instituto de cura com Dash — porque estava no meio da noite lá — mas está no início da noite quando chegamos ao oásis. Violet e Ryn estão preparando o jantar enquanto Jack se senta a mesa da cozinha fazendo lição de casa.
— Ela é uma faerie, — eu anuncio para eles enquanto eu entro. — Ela é uma faerie com uma Habilidade Griffin, mas eles não podem sentir sua magia, e ela não parece uma faerie, e ela está atualmente muito confusa e chateada para explicar qualquer coisa para alguém, então... sim. Essa é a situação.
— E a trama se complica, — diz Dash, esfregando as mãos.
— Dash! — Eu soco o braço dele. — Esta é a minha vida, não algum mistério.
— Eita, desculpe, eu sei. — Ele entra na cozinha e olha por cima do ombro de Jack para o que quer que ele esteja trabalhando. — É um mistério, no entanto. Você e sua mãe são.
— Eu definitivamente gostaria de resolver isso. Onde devemos começar?
— Com o que você pode lembrar antes dela acabar em Tranquil Hills, — diz Ryn.
Violet deixa uma colher de pau mexendo uma panela e se afasta do fogão. — O jantar ainda vai demorar um pouco, então por que não nos sentamos na sala de estar e começamos a resolver esse quebra-cabeça?
— Maravilha, — diz Dash. — Vocês se sentam. Eu vou pegar bebidas. Eu sei o meu caminho nessa cozinha.
Jack pega seus livros e segue Ryn, Vi e eu para a sala ao lado. Ele espalha seu trabalho no chão e continua. — Você percebeu que Dash está aqui mais do que o habitual? — Ryn diz para Violet.
— Eu percebi. — Ela olha para mim. — Eu posso pensar em apenas uma razão para isso.
Eu levanto uma sobrancelha. — Espero que você não esteja sugerindo que é por minha causa. Porque essa é a resposta mais absurda que você poderia ter inventado.
— De meu ponto de vista, parece a única resposta.
Eu puxo minhas pernas para cima e as cruzo abaixo de mim. — No caso improvável de você estar certa, eu tenho certeza que é só porque é um novo desafio para ele estar com uma garota que não tem nenhum interesse romântico nele.
Violet ri. — Você pode estar certa. Isso definitivamente seria uma nova experiência para ele.
— Na verdade, — Dash diz da porta, — eu estou ficando aqui mais do que o habitual porque eu tenho acompanhado o caso de Em por mais tempo do que qualquer outra pessoa, e estou extremamente curioso para chegar ao fundo de todo esse mistério.
— Ei! — Violet balança a mão. Uma almofada voa pela sala e bate em Dash contra o lado de sua cabeça. — Ouvir atrás da porta é rude. Eu sei que seus pais te ensinaram isso. — Com uma risada, ele desaparece de volta para a cozinha.
— Ei, olhem, — diz Jack. — Filigree e Bandit estão brincando. — Eu sigo a direção de sua stylus e vejo dois animais: um esquilo sentado debaixo de uma das mesas laterais, e um gatinho saltando para frente e para trás na frente dele, deslizando o ar com suas patas, então pulando para longe. O esquilo pisca e permanece imóvel. — Bem, Bandit está brincando, — Jack corrige. — Filigree é um esquilo rabugento.
— Fofo, — eu digo. — Embora eu espere que Bandit não irrite muito o Filigree.
— Não se preocupe com isso, — diz Violet. — Filigree precisa aprender a relaxar um pouco. Ele está ficando tenso com sua velhice.
— Tudo bem, vamos começar a resolver o mistério? — Dash pergunta, entrando na sala de estar com uma bebida em cada mão e outras duas flutuando ao lado dele. Elas são todas azuis, e tenho certeza de que nunca provei o que está dentro delas.
— Eu não sei como devemos resolver qualquer coisa, — digo a eles. — Acabei de ter uma conversa com a curandeira e nada de útil surgiu. Ela me perguntou sobre minha infância e meu pai, mas eu não sei nada sobre ele, exceto que ele supostamente está pagando pelas contas do hospital da mamãe. E eu não consigo lembrar de nada estranho na minha infância. A menos que você conte as alucinações da mamãe, mas elas não têm nada a ver — bem, agora que eu me pergunto. — Eu me inclino para trás e olho para a parede oposta com uma carranca. — Talvez elas não fossem alucinações afinal de contas. Talvez ela pudesse ver coisas que eu não pude ver porque minha magia estava bloqueada. Mas ela nunca pareceu diferente — o cabelo dela, quero dizer, então isso não significa que a magia dela sempre foi bloqueada também?
— Eu acho que sim, — diz Violet, distraidamente brincando com uma mecha do cabelo roxo.
— Quando ela teve essas alucinações, — pergunta Ryn, — ela parecia racional? Como se ela estivesse falando normalmente com alguém que por acaso era invisível?
Eu lentamente sacudo minha cabeça. — Não. Ela não parecia racional para mim. Ela geralmente acabava em um estado de grande pânico.
— Humm, tudo bem.
— Você se lembra de algum amigo dela que poderíamos tentar rastrear? — Dash pergunta. — Se algum deles se mostrarem mágicos, podemos interrogá-los. Quero dizer, caso sua mãe ainda esteja confusa por um tempo e não possa explicar as coisas sozinha.
Eu sacudo minha cabeça. — Na verdade não. Havia apenas... bem, eu não a classificaria como uma amiga porque ela e mamãe sempre brigavam quando ela aparecia, mas acho que elas devem ter sido amigas em algum momento.
— Qual era o nome dela?
— Hum... — eu só lembro... — Eu empurro minha mão pelo meu cabelo. — Linha.
— Linha? Isso não é um nome.
— Eu sei, mas é tudo que lembro. Foi há muito tempo atrás. Eu as ouvia gritando uma com a outra através da parede, e me lembro de mamãe dizendo ‘linha’ muitas vezes.
— Isso é estranho, — diz Dash.
— Como é essa amiga? — Pergunta Violet.
— Eu não sei. Eu nunca a vi. Mamãe sempre dizia: ‘Minha amiga está vindo agora. Você precisa ir para o seu quarto.’ E então ela me trancava no meu quarto, e logo depois eu as ouvia discutindo.
— Não parece muito uma amiga, — diz Dash.
— Sobre o que elas discutiam? —Pergunta Ryn.
Eu suspiro. — Eu não sei. Eu não consegui ouvir muito. Eu tentava apenas ignorá-las e brincar com minhas bonecas. — Eu giro meu cabelo em volta do meu dedo, me sentindo estranha com todas essas perguntas. — Viu? Eu lhes disse que não me lembro de nada útil.
— Quando sua mãe foi levada para o hospital e você foi enviada para morar com sua tia, — diz Ryn, — o que aconteceu com todas as coisas em sua casa?
— Hum... eu não sei, na verdade. Acho que meu pai deve ter limpado as coisas e, algumas semanas depois que cheguei na Chelsea, algumas caixas chegaram. Chelsea abriu uma ou duas, depois as fechou de volta e as colocou em algum lugar. Provavelmente no meu quarto, já que é onde ela gosta de guardar coisas.
— Então é aí que vamos começar a procurar, — diz Ryn. — Você quer dar uma olhada amanhã de manhã antes de voltar para White Cedars?
— Eu posso ir com você, — Dash se voluntaria imediatamente.
— É claro que você pode, — eu digo, — porque aparentemente você não precisa mais trabalhar para a Guilda.
Ele encolhe os ombros. — O trabalho é flexível. Muito tempo no campo. Eles vão pensar que estou trabalhando em um dos muitos outros casos em andamento que temos.
— Só não me culpe quando você for despedido, ok?
Ele coloca a mão sobre o coração. — Sua preocupação é tão tocante, Em.
Eu viro para Violet. — Você pode me ensinar aquela coisa de jogar a almofada?
— Ooh, eu faço! — Jack balança a mão descontroladamente pelo ar, e quatro almofadas diferentes saem de seus assentos e batem na cabeça de Dash.
— Ei, pare, eu me rendo!
— Mais almofadas! — Eu grito, pedindo a Jack. E logo Dash está enterrado sob quase todas as almofadas da sala de estar. Bandit pula no topo da pilha, e até Filigree vem para checar as coisas. No momento em que vamos para a cozinha para o jantar, meu estômago e minhas bochechas estão doendo, e eu percebo que eu ri mais nas últimas horas do que em anos.
Capítulo 25
— PARECE MAIS DO QUE CINCO OU SEIS DIAS DESDE QUE EU ESTIVE AQUI, — EU DIGO A DASH ENQUANTO ando pelo estacionamento da Escola Primária Stanmeade. — E eu não sei se estou fazendo essa coisa de disfarce corretamente. — Violet me deu uma lição ontem à noite, e outra esta manhã, mas eu ainda não tenho certeza do que estou fazendo.
— Infelizmente, só saberemos se não está funcionando se um ser humano olhar e ver você, — diz Dash, — e aí já será tarde demais.
— Teria ajudado se você nos trouxesse para fora dos caminhos das fadas um pouco mais perto da casa da Chelsea. Como em seu quintal, talvez.
— Tudo bem, então aqui está algo que você pode não saber ainda, Em, — diz ele, encostado em um carro e de frente para mim. — É preciso muito foco para pousar exatamente no ponto certo ao usar os caminhos das fadas, e quanto mais longe estiver do destino, mais foco será necessário, então —
— Então, faremos isso passo a passo. Entendi. Primeiro chegamos ao limite de Stanmeade, depois vamos para a casa da Chelsea.
— Certo.
— Oh, cuidado. Não deixe a Sra. Pringleton vê-lo. — Eu o puxo para baixo entre dois carros quando a Sra. Pringleton sai pela porta dos fundos. Ela leva um cigarro aos lábios e acende.
— Eu estou com um encanto que funciona, lembre-se, — diz Dash. — Você não precisa se preocupar com alguém me ver. — Ele olha ao redor da borda do carro. — Ah, a professora de rosto manchado. Eu sempre tive medo dela e nunca fui à escola aqui.
— Não seja rude. É uma marca de nascença ou algo assim.
— Certo, desculpe. Não posso ser rude com coisas assim.
— Exatamente. — Eu esfrego meu ombro esquerdo através da minha camiseta. Ao som de um leve chiado, Dash pega seu âmbar. — O que está acontecendo? — Eu pergunto enquanto seus olhos examinam a superfície.
— Apenas outro memorando de toda a Guilda nos atualizando sobre o feitiço que deve consertar o véu. Testes terminados... tudo parece bom... ainda marcando uma data e organizando uma cerimônia para o fechamento verdadeiro do buraco. — Ele suspira. — Eu não sei por que eles querem perder tempo com uma cerimônia. Eles devem apenas enviar algumas pessoas para lá e consertar a maldita coisa. Aquele buraco está no céu quase desde que eu estou vivo.
— Então suponho que outros dias ou semanas não farão muita diferença.
— Sim, mas é um desperdício de recursos. — Dash guarda seu âmbar. — Os guardiões precisam estar sempre presentes, garantindo que as pessoas do nosso lado não interfiram no monumento que impede que o buraco fique maior. E do outro lado, eles têm que garantir que esteja disfarçado e os humanos não entrem nele acidentalmente. Enfim, a professora assustadora já terminou seu cigarro?
Eu espio ao redor do carro. — Não. Eu não sei quantos cigarros ela está planejando fumar, e eu não confio no meu feitiço de disfarce, então podemos abrir um portal aqui no chão? — Eu aponto para o espaço entre os dois carros.
— Sim, tudo bem. — Dash pressiona sua stylus no chão.
— Espere, posso tentar de novo? — Eu pergunto antes que ele escreva alguma coisa.
— Oh. Sim claro. Só não fique frustrada se ainda não funcionar. — Ele me entrega sua stylus enquanto eu removo um papel dobrado do meu bolso de trás. — Essa coisa leva tempo para acertar.
— Sim, Sim. Todo mundo continua dizendo isso. — Eu seguro o papel em uma mão e copio as letras no chão, falando as outras poucas palavras que eu memorizei, e tentando imaginar magia saindo do meu núcleo, descendo pelo meu braço, e entrando na stylus. Um arrepio corre através de mim enquanto as palavras que eu escrevo começam a brilhar, mas quando elas desaparecem nada acontece. — Bem. Você faz. — Entrego a stylus de volta para Dash.
— Você quase conseguiu, — diz ele. — Talvez você não tenha liberado magia suficiente através da stylus. Essa parte se tornará automática em breve, e então esse feitiço será fácil.
— Sim, tanto faz. Apenas abra o portal.
Dash escreve as palavras e, desta vez, um buraco escuro abre nos caminhos das fadas e se espalha pelo chão. — Você vai nos levar para dentro da casa agora? — Dash pergunta antes de subir nos caminhos. — Lembre-se de focar exatamente na sala certa se você não quiser aparecer na frente da Chelsea.
— Quarto. Certo. Chelsea estará em seu salão durante todo o dia, então se ficarmos no meu quarto com a porta trancada, ficaremos bem. Ela sempre coloca música para tocar, então duvido que ela ouça qualquer coisa.
— Com a porta trancada, hein? — Ele abaixa as sobrancelhas. — Isso deve ser contra as regras.
— Idiota, — murmuro com um aceno de cabeça. — Chelsea nunca se incomodou com regras assim. Duvido que ela se importaria se eu estivesse com um cara no meu quarto.
— Oh, então você nunca —
— Apenas entre nos caminhos das fadas.
Com uma risadinha, ele desliza na escuridão, me puxando atrás dele. Eu dirijo todo o meu foco em imaginar o interior do meu quarto. A cama de solteiro, a mesa que costumava fazer parte do salão de Chelsea, as caixas empilhadas contra a parede. Quando a luz toca minhas pálpebras, eu as abro e vejo a cena que imaginei. A escuridão some enquanto eu dou um passo para frente no quarto. — Hmm, — diz Dash, olhando em volta. — É —
— Não.
— Eu ia dizer acolhedor.
— Não, você não ia. Tudo bem, estas são todas as caixas. — Gesticulo para o lado esquerdo do quarto. — São principalmente coisas da Chelsea, mas as caixas da mamãe devem estar aí embaixo em algum lugar. Eu não me lembro de Chelsea se livrar delas.
Dash caminha até a mesa e pega uma moldura com uma foto de Val e eu mostrando a língua para a câmera. A argola de metal de Val é visível, e eu tenho um doce em forma de coração na minha língua — porque o meu medo de agulhas significava que piercings eram uma coisa que nunca faríamos juntas.
— Eu realmente sinto falta dela, — eu digo baixinho. — E acho que ela está seriamente brava comigo por ter ido embora. Espero poder voltar em breve e explicar as coisas para ela. Não as coisas mágicas, obviamente, mas outra coisa. Algo que ainda preciso pensar.
— O que quer que você diga a ela, — Dash diz, retornando o quadro para a mesa, — eu tenho certeza que ela vai te perdoar. Ela é sua melhor amiga.
— Sim. Ela é muito legal. — Eu começo a levantar as caixas de Chelsea de cima das outras caixas. — Embora ela tenha me dito que acha você atraente, seu julgamento é questionável.
— Interessante. — Os lábios de Dash se espalham em um sorriso torto. — Sabe, ela é muito linda também.
Eu reviro meus olhos. — E a Jewel?
Ele está ao meu lado e começa a mover as caixas com magia de um lado do quarto para a minha cama. — O que tem ela?
— Vocês não têm... você sabe, uma coisa?
Uma caixa para no ar. — Que coisa?
— Tipo, vocês estão juntos ou algo assim. Ou vocês estarão em breve.
— O quê? Não, eu te disse antes. Somos apenas amigos. — As caixas continuam sua jornada pelo quarto. Olho para cada uma que passa, certificando-me de que ainda estamos movendo as coisas de Chelsea. — Ela gosta desse outro cara, — acrescenta Dash. — Hum, Sean algo assim. Ele se formou um ano à nossa frente. Tenho certeza de que ela costumava gostar dele.
— Ela provavelmente estava fazendo aquela coisa que as garotas fazem onde fingem gostar de outra pessoa para tentar fazer com que o cara que elas realmente estão interessadas fique com ciúme.
— Oh. Você tem certeza? Porque normalmente as garotas aparecem e dizem que gostam de mim.
— Claro. — Eu suspiro e cruzo os braços. — Eu esqueci com quem eu estava falando. Espere, pare. Acho que é uma das caixas da mamãe. — A caixa que estava prestes a se juntar à minha cama, a caixa com um adesivo laranja em forma de estrela na lateral, muda de direção e cai aos nossos pés. — Procure por outras caixas que tenham adesivos como esse, — digo a Dash enquanto me movo para a mesa e pego uma tesoura de uma gaveta. Eu me abaixo, corto a fita e dobro as abas de papelão. CDs e DVDs me encaram. Entretenimento inútil do passado. — Tudo bem, esta parece chata. Você pode começar com essa. — Eu me movo para a segunda caixa que acabou de chegar ao meu lado.
— A caixa chata. Obrigado.
Eu olho para cima. — Você me empurrou de um penhasco.
— Ah, voltamos a isso, não é?
— Nunca fica cansativo.
Duas caixas se chocam, caem do ar e pousam no pé de Dash. — Aaaaah, maaaaalditas bolas de hamster!
Uma gargalhada alta escapa de mim. Eu bato minha mão na minha boca antes de dizer, — Você está brincando? Você finalmente sente vontade de xingar e inventa malditas bolas de hamster?
— Cale a boca, — diz ele com os dentes cerrados.
— Shh. — Eu viro minha cabeça e olho em direção à porta do quarto. Em algum lugar além, alguém está falando. Eu pulo, me movo em silêncio até a porta e me inclino para mais perto.
— ...provavelmente apenas algo na cozinha, — Chelsea está dizendo. — Como a vassoura ali. Está sempre caindo.
Eu espero, e quando eu não ouço a voz dela novamente, eu suponho que ela voltou ao seu salão. — Tudo limpo, — eu digo para Dash. — Só não derrube mais nenhuma caixa.
— Acho que encontrei todas elas. — Ele aponta para a pequena coleção de caixas com adesivos coloridos.
— Ótimo. — Sento no chão ao lado da minha segunda caixa aberta, e Dash se senta à minha frente. — Sério, entretanto, — eu digo como se a interrupção nunca tivesse acontecido, — Jewel parecia realmente a fim de você. Talvez você deva pensar sobre isso.
— Hum... — Ele olha os CDs e DVDs antes de empurrar a caixa e puxar outra para perto. — Talvez. Talvez não. Nós crescemos juntos, então eu sei quase tudo sobre ela. Nós passamos por bons e maus momentos juntos. Na verdade, fomos ao nosso baile de formatura juntos, embora apenas como amigos. — Ele remove alguns livros, roupas e um velho recipiente de sorvete da segunda caixa. Eu olho para a coleção de joias da mamãe. — De muitas maneiras, ela provavelmente é perfeita para mim, — continua ele. — Se fôssemos outras pessoas, talvez estivéssemos juntos. Mas para mim... eu simplesmente não penso nela assim. Ela é mais como uma irmã. Ela está sempre lá, e é divertido sair com ela, e às vezes ela é super chata, mas eu ainda a amo. — Ele encolhe os ombros. — Mas como uma —
— irmã, — eu termino, fechando a caixa de joias, passando por algumas fotos antigas de mamãe e eu, e me movendo para uma pasta contendo um monte de panfletos. — Certo. Só não diga isso a Jewel, ok? Quero dizer, você definitivamente deve dizer a ela que você não se sente da mesma maneira sobre ela, mas você não deve usar as palavras ‘Eu penso em você como se fosse minha irmã’.
— Por quê?
— É um clichê. Ela vai odiar isso. Apenas... use outras palavras.
Ele cutuca meu joelho com o sapato enquanto um sorriso cresce em seus lábios. — Olhe para você sendo toda simpática com alguém que você não gosta. Alguns podem até pensar que você tem um coração.
— Claro que tenho um coração, idiota.
— Sim, eu sei, — ele diz baixinho, devolvendo os livros e roupas para a caixa. — Você não teria me odiado tanto todos esses anos se não tivesse um coração.
— Não tenho certeza se isso faz sentido, mas tudo bem.
— Sabe, por causa de sua mãe. Você me odiava porque se importava muito com ela.
Eu engulo e olho para todos os panfletos no meu colo. Eles são informações e mapas para uma série de destinos turísticos diferentes em todo o país, o que é inútil, então eu os empurro de volta para a pasta.
— Parece que ela queria viajar, — diz Dash, acenando para a pasta quando ele abre o recipiente de sorvete. — Oh, o que é tudo isso? — Ele segura um pequeno urso de pelúcia segurando um coração de vidro. Em seguida, uma boneca de porcelana em miniatura e um anjo feito de capim seco.
— Apenas ornamentos. Mamãe gostava de colecionar coisas bonitas.
— Eles são... meio feios.
— Bem, sim, para você e para mim, talvez. Mas ela obviamente achava que todas essas coisas eram bonitas.
— Para cada um deles, eu acho. Bem, para ela própria neste caso. — Ele guarda o recipiente de sorvete. — Ei, que horas são? Vi nos encontraria aqui, não é?
— Hum... — Eu olho para o despertador antiquado ao lado da cama. — É um pouco depois das nove.
— Tudo bem. É cerca de dez horas no oásis, eu acho. A reunião dela deve terminar em breve. — Ele puxa outra caixa para frente. — Eu já mencionei o quanto é bom falar com você sem o calor do seu ódio tentando queimar através de mim? Eu sempre me perguntei como seria. Sabe, apenas sermos amigos.
— É bom, eu acho. É meio que um alívio, na verdade. Era cansativo sempre ter que ficar com raiva de você. E é legal quando você está falando sério, em vez de sempre brincar.
— Mesmo? Você gosta quando estou falando sério? Isso não é... chato?
— Não, não, se é de verdade. — Eu olho para ele. — Às vezes, Dash, a situação exige seriedade. Nesse caso, não é muito útil quando você faz piadas.
Seu olhar se afasta do meu, estabelecendo-se em todas as caixas na cama. — Eu sei que eu brinco bastante. Mas isso é porque a vida é realmente uma droga, e brincar sobre isso é melhor do que sucumbir aos pensamentos sombrios e deprimentes. E brincar faz as pessoas — a maioria das pessoas — rir, então vale à pena.
— Espere. Você acabou de dizer que a vida é uma droga? Porque isso eu não acredito. Sua vida é um maldito passeio em um bolo comparado a minha.
Ele se inclina para trás sobre suas mãos. — Tudo bem, em primeiro lugar, eu nunca ouvi falar dessa comparação, mas andar em um bolo gigante parece incrível, então devemos tentar isso algum dia. E em segundo lugar... — Ele faz uma pausa. — Você sabe o que eu faço para viver, certo? Quer dizer, não é o trabalho mais seguro do mundo.
— Sim, tudo bem. Então?
— Então as pessoas morreram. Pessoas que eu me importo.
Eu pisco, incapaz de desviar o olhar daqueles olhos muito verdes — e de repente muito sérios. — Oh.
— Sim. — Ele estende a mão e a enfia na caixa na frente dele. — Todos sabemos que a vida de um guardião é de alto risco, mas isso não impede que seja horrendamente chocante e doloroso quando... — Ele puxa um arquivo e o coloca em seu colo. — Bem, quando um colega de classe ou alguém que te treinou por anos acaba morto.
Eu pressiono minhas mãos juntas no meu colo. — Eu realmente sinto muito.
— Acontece, — ele diz levemente. — Eu não sou o único. Vi perdeu a mãe quando ela era muito jovem. O tio de Jewel foi morto há alguns anos. — Ele abre o arquivo. — Oh, finalmente. Isso parece ser algo útil.
Eu rastejo entre as caixas e me sento ao lado de Dash, grata pela distração. Ele lê os certificados da antiga escola que eu fui antes de me mudar para cá, formulários de receita médica, informações de conta bancária e algo relacionado à compra de um carro. — Quem é Macy Clarke? — Pergunta ele. — Eu pensei que o nome da sua mãe fosse Daniela.
— Oh, ela era Macy quando jovem, mas ela não gostava desse nome. Ela mudou para Daniela quando eu era muito jovem. Legalmente mudou, quero dizer. Então todos esses documentos antigos, como contas bancárias, dizem Daniela não Macy.
— Isso é estranho.
— Eu suponho. Mas nenhuma dessas páginas é útil, — eu acrescento, meus ombros caindo em decepção. — O que estamos esperando encontrar de qualquer maneira?
— Eu não sei. Uma certidão de nascimento, ou algo relacionado a uma escola ou instituição do meu mundo, talvez.
Eu noto uma protuberância embaixo da próxima página. Eu me inclino sobre Dash e viro a página rapidamente, mas é apenas outro enfeite que caiu. Uma flor feita de vidro ou cristal rosa. — Essas coisas estão por toda parte, — eu resmungo, pegando-o e soltando-o em uma das caixas.
A próxima página é uma foto de duas meninas adolescentes que, percebo quando olho mais de perto, são a mamãe e Chelsea. — Oh, meu Deus, — eu sussurro. — E se Chelsea e Georgia são como mamãe e eu? Eu não pensei nisso até agora.
— Eu gostaria de dizer não porque eu nunca senti o menor indício de magia em nenhuma delas, mas eu não tenho mais certeza sobre nada. — Ele vira para a próxima página: um contrato de aluguel de quinze anos atrás. — E família? — Ele pergunta. — Avós? Tias, tios, primos?
— Sem avós. Eu acho que pode haver alguns outros primos. Primos da mamãe, quero dizer, não meus. Mas eu nunca encontrei — Minha cabeça se ergue quando noto um movimento perto da porta. Meu pensamento automático é que Chelsea está de alguma forma abrindo minha porta trancada, mas é a escuridão crescente de um portal dos caminhos das fadas que eu vejo. Uma figura com cabelo roxo vibrante salta dos caminhos e entra no meu quarto.
— Finalmente, — Aurora diz com um sorriso. — Já era hora de você aparecer aqui.
Capítulo 26
DASH LEVANTA UM SEGUNDO MAIS TARDE, MAGIA CREPITANDO AO REDOR DE SEUS DEDOS. — O QUE você está — Ele se inclina para a frente, fecha os olhos e cai no chão ao lado das caixas. Atrás dele está um jovem desconhecido.
Eu me arrasto até minhas costas baterem na borda da mesa antes de me levantar. — Aurora, o que diabos é isso?
— Devemos ir, — diz ela para a outra faerie. Ela se move em minha direção. Eu corro para frente e agarro Dash enquanto algo puxa minha camiseta e algo mais envolve meu braço.
Uma luz brilhante incendeia e me cega, apagando tudo de repente, um branco brilhante. Quando a brancura desaparece e eu posso ver de novo, me vejo em um lugar completamente diferente. Um jardim com flores e sebes, mas as cores são silenciadas e a luz é fraca. As bordas da cena parecem borradas e nebulosas, como um sonho onde apenas alguns detalhes são claros. Onde quer que eu olhe, vejo colunas de fumaça negra se destacando no ambiente e desaparecendo. — Onde estamos? Como chegamos aqui? E o que você fez com Dash?
Aurora olha para Dash com uma expressão de desaprovação. — Isso é irritante. Eu estava esperando deixá-lo para trás.
— O que você fez com ele? — Eu exijo.
— Feitiço de atordoamento, — o homem diz. Mechas cor de borgonha ondula em seu cabelo preto. — Não se preocupe, ele ficará bem depois. Por que não nos sentamos? — Ele gesticula para um banco atrás dele.
— Por que não nos sentamos? Não! Eu vou sentar.
— Tudo bem. Nós nos sentaremos. Você pode ficar de pé se preferir isso. — Como se estivéssemos presos em algum trabalho teatral ridículo, os dois sentam em uníssono. — Eu sei que foi uma primeira impressão desagradável, — diz ele, — então talvez possamos começar de novo. Eu sou Roarke. Príncipe herdeiro da Corte Unseelie. — Ele gesticula para Aurora. — Eu acredito que você conheceu minha irmã.
Príncipe herdeiro.
Corte Unseelie.
Irmã.
Eu ouço as palavras, mas meu cérebro leva um tempo para processá-las. — Corte U-Unseelie? — Repito, eventualmente.
— Sim.
— Então você... — Eu olho para Aurora. — Você é uma princesa. Da Corte Unseelie.
— Sim.
Eu estou aqui com um príncipe e uma princesa. Um príncipe e princesa mágicos. Em uma cena estranhamente acinzentada, onde fumaça parecida com sombra sobe continuamente de tudo. Se eu não tivesse encontrado tanta estranheza nos últimos dias, eu estaria convencida de que isso era um sonho.
— Um membro da nossa corte estava na festa quando você dividiu a terra, — diz Roarke. — Quem sabe como ele encontrou o caminho até lá, mas isso é irrelevante. Ele contou ao meu pai o que viu e sobre as palavras que você falou pouco antes de acontecer. Papai disse que devia ser uma Habilidade Griffin e que precisávamos trazê-la para a nossa corte antes que a Guilda descobrisse a respeito. Nós não percebemos que este — ele olha para Dash — era um guardião. Você acabou na Guilda muito mais rápido do que esperávamos. Pensamos que estávamos atrasados, mas depois eles mandaram você para Chevalier House.
— E foi aí que eu entrei, — diz Aurora. — Eu apareci na Guilda, contei a eles minha história inventada e fui para Chevalier House.
— Por que se incomodar com toda essa porcaria? — Eu pergunto, jogando minhas mãos para cima. — Seu pai é um rei. Por que ele não poderia simplesmente invadir Chevalier House e me levar ele mesmo?
Roarke suspira. — Emerson, você não sabe nada sobre magia protetora?
— Não, eu não sei. Eu não cresci aqui, lembra?
— Meu pai visitou a Chevalier House, mas não conseguiu entrar na propriedade. E ele não queria perturbar a Guilda, atacando os feitiços de proteção. Ele não queria que um grupo de guardiões descesse sobre nós, exigindo que voltássemos. As coisas teriam se tornado confusas. Então ele enviou Aurora em vez disso.
Eu viro meu olhar para ela. — Pobre pequena Aurora. Uma escrava de um bando de bruxas. Uma experiência tão traumatizante. — Soltei uma risada amarga. — E tudo isso foi uma mentira.
— Nem tudo, — diz ela timidamente. — Meu nome não era mentira. E eu realmente tenho uma história com bruxas. Eu vivi com uma quando era muito pequena — antes que ela se cansasse de mim e me jogasse na Corte Unseelie. Então papai decidiu me adotar, então é como eu acabei sendo um membro da família real Unseelie. — Ela sorri para Roarke antes de seu olhar voltar para mim. — Mas a história de ser uma escrava... bem, papai disse que era um caso que a Guilda lidou há alguns anos atrás. Bruxas com escravos faeries. Parecia uma boa história para mim.
— Bem, não funcionou. Então, qual foi o seu grande plano depois que me recusei a fugir com você?
Ela cruza uma perna cuidadosamente sobre a outra e se inclina contra o banco. — Eu pensei em tentar me aproximar de você. Eu pensei que talvez se você me conhecesse um pouco melhor, você confiaria em mim. Eu realmente não sou tão mal quanto você provavelmente está pensando agora. — Seus olhos violetas brilham com alegria. A cor das fadas parece ser a única cor verdadeira nesta cena estranhamente muda. — Eu sabia que só tinha alguns dias para convencê-la, no entanto. Uma vez que a Guilda testasse você para uma Habilidade Griffin, nós estaríamos sem tempo.
— Eu acho que você não contou comigo entregando a minha Habilidade Griffin por conta própria. Desculpe arruinar seu Plano B.
Aurora encolhe os ombros. — Eu improvisei. Voltei para a Guilda e tentei te tirar de lá. O que teria funcionado, a propósito — ela me dá um olhar aguçado — se você não tivesse deixado os guardiões colocarem as mãos em mim.
— Espero que você não esteja esperando que eu me desculpe.
— Não, embora você possa me agradecer por te ajudar a escapar.
Eu cruzo meus braços e olho para ela. Se gratidão é o que ela quer, ela vai ficar esperando por muito tempo.
— Infelizmente você desapareceu após o encontro na beira de Creepy Hollow, — Roarke diz, continuando a história, — então nós tivemos que fazer outro plano.
— Você não presumiu que eu estava morta?
— Não, claro que não. Nós sabemos sobre os rebeldes Griffin. Nós assumimos que eles resgataram você. Nós também assumimos que você voltaria para sua cidade natal em algum momento, então eu estive esperando por você lá.
— Bem, vocês certamente trabalharam duro para colocar suas mãos em mim. Eu acho que deveria estar lisonjeada.
— Você não está surpresa, não é? — Ele pergunta, um vinco enrugando sua testa. — Fazer as coisas acontecerem simplesmente falando é um poder extraordinário. Eu não acho que alguém já foi capaz de fazer isso. Obviamente nós faríamos qualquer coisa para você ficar do nosso lado.
— Formidável. Bem, aqui estou eu, então acho que isso faz de vocês os vencedores. Parabéns.
Aurora me dá um olhar perplexo. — Nós queremos você, Emerson. Não é bom ser desejada?
— Não! Eu não quero que ninguém mais me queira. — Fecho os olhos, cerro os punhos e alcanço a minha magia. — Você não me quer, você não me quer, — eu repito várias vezes, esperando desesperadamente que minha Habilidade Griffin apareça.
— Não está funcionando, — diz Aurora, levantando um pouco a voz para falar mais alto que eu. — Nós ainda queremos você.
Eu abro meus olhos, mas minhas mãos permanecem em punhos. — Você quer me aprisionar, me manipular, me forçar a falar coisas horríveis, coisas malvadas que irão acontecer. Isso soa certo?
— Na verdade, Emerson, — Roarke diz conforme ele levanta. — Eu gostaria de casar com você.
Uma quantidade indefinida de tempo passa em silêncio, com apenas o som do meu pulso latejando nos meus ouvidos. Então eu pisco. — Diga isso de novo.
— Eu gostaria de casar com você.
Eu recuo, levantando minhas mãos. Se minhas sobrancelhas pudessem subir mais alto, acho que elas estariam no meu cabelo. — Você sabe de uma coisa? Eu geralmente não uso palavras assim, mas eu sinto que elas são apropriados nesta situação: você é louco, Roarke. Doido. Lunático. Completamente louco e cem por cento desequilibrado. Eu não vou casar com você.
Ele inclina a cabeça um pouco para o lado. — Ninguém conseguiu ajudar sua mãe ainda, não é?
Um tremor que não tem nada a ver com a minha Habilidade Griffin arrepia os cabelos dos meus braços. — O que você sabe sobre minha mãe?
— Eu sei que a mente dela está doente. E sei que seus amigos não podem ajudá-la.
— Você não sabe disso. Talvez eles possam ajudá-la.
Ele sacode a cabeça. — Eles não sabem o que a deixou do jeito que ela está.
— E você sabe?
Seus lábios se esticam lentamente em um sorriso. — Eu sei. E conheço a magia necessária para curá-la.
— Eu suponho que você não vai me dizer.
— Não, a menos que você se case comigo, não.
— Casar com você! — Eu grito. — Eu não sei nem por onde começar com o quão insano isso é. Não vai acontecer.
— Não é insano. Faz muito sentido, na verdade. Na história do seu mundo — o mundo humano — os casamentos reais eram frequentemente usados para solidificar alianças entre países. Este é um conceito semelhante. Gostaríamos de nos aliar a uma fonte de grande poder, então —
— Então você quer se casar. Uau. Essa tem que ser a proposta menos romântica em qualquer um dos dois mundos que já foi apresentada.
Sua boca se contrai divertida. — Ninguém disse que isso era sobre romance, Emerson.
— Eu não vou casar com você! Você pode ter, tipo, quinhentos anos de idade.
— Eu tenho vinte e um anos.
— Ainda não vai acontecer.
— Então sua mãe nunca será curada.
Eu sacudo minha cabeça. — Eu não acredito em você. Eu acho que você não sabe o que há de errado com ela. Você diria qualquer coisa para eu fazer o que você quer. Para me fazer ficar aqui nesta esquisita Corte Unseelie.
Aurora fala. — Oh, esta não é a Corte Unseelie.
— Então onde estamos?
— Concorde em casar comigo, — diz Roarke, — e você vai descobrir.
— NÃO!
Um murmúrio silencioso me chama a atenção. Eu olho para Dash. Sua mão se contrai, sua perna se move um pouco e ele murmura novamente. — Esse feitiço de atordoamento pode não ter sido muito forte, Roarke, — diz Aurora. — Ela se levanta e se move para ficar ao lado dele. — Devemos levá-lo de volta. Eu não quero que ele acorde aqui.
— Nós podemos levar os dois de volta, — diz Roarke. — Eu acho que esta conversa acabou. Por enquanto, pelo menos.
Eu olho para trás e para frente entre os dois. — Espere. Estou esquecendo de algo? Você não está me forçando a ir com você para... eu não sei, seu palácio ou qualquer outro lugar?
— Não.
— Mas... eu não entendo. Você disse que seu pai quer minha Habilidade Griffin.
— Ele quer, — Roarke diz. — E eu também. Mas ele e eu temos visões ligeiramente diferentes sobre como, exatamente, possuir esse poder. Ele está feliz em forçá-la a fazer a vontade dele. Para mantê-la como prisioneira. Eu, por outro lado, preferiria se você voluntariamente se tornasse membro de nossa corte. Nossa família.
Eu me pergunto novamente se esse cara é genuinamente insano. — Por que eu iria de bom grado?
Como se fosse a resposta mais simples do mundo, ele diz, — Para salvar sua mãe.
— Vamos lá, Roarke, — diz Aurora. — Vamos lá.
— Eu gostaria que você guardasse isso, Emerson, — diz Roarke, segurando o menor espelho que eu já vi. É redondo e caberia facilmente na palma da minha mão. — Um simples toque de magia e ele entrará em contato comigo. Se você mudar de ideia, você pode me avisar.
Eu olho para o espelho sem pegá-lo. — Eu não vou mudar de ideia.
— Bem, se você não aceitar... — Ele se aproxima, agarra meu ombro para que eu não possa me afastar, e desliza o espelho no bolso esquerdo da minha calça jeans. Ele está tão perto agora. Tão perto e tão seguro de si. Ele não fará ideia do que o atingiu quando eu levantar meu joelho em direção a ele —
— O que está acontecendo? — Dash pergunta. Ele se senta, pisca e levanta rapidamente.
— Tudo bem. — Eu corro para o lado dele antes que ele possa atacar alguém. Eu não me importaria de ver Roarke no chão, mas agora é provavelmente mais importante sair daqui. — Essas pessoas amigáveis estavam prestes a nos deixar ir, — eu digo para Dash. — Explico tudo quando voltarmos.
— Roarke? Aurora? — Uma voz profunda chama de além da sebe à nossa direita.
— Droga, — murmura Roarke. — Vá por esse caminho, — diz ele para nós, apontando na outra direção. — Escondam-se.
Eu não preciso ser informada duas vezes. Eu agarro o braço de Dash e corremos juntos. Passamos por sebes e arbustos de rosas e através das nuvens de fumaça que se erguem. O jardim é infinito, com as mesmas características repetidas vezes e as bordas da minha visão permanecem turvas. Eventualmente, Dash me para. A fumaça negra de sombra dança e se enrola ao nosso redor. Ele bate nela. — Você tem muita coisa para explicar, Em, — ele diz. — Mas vamos dar o fora daqui primeiro. — Ele dá um tapinha em sua jaqueta, encontra sua stylus e se inclina para escrever no chão.
Nada acontece.
— Que maldito-pixie? Por que não está funcionando?
— O que o quê? Tudo bem, quando o pânico passar, vamos ter uma conversa séria sobre seus palavrões extremamente estranhos.
— Em! Por que não posso abrir os caminhos das fadas?
— Eu não sei. Nós não chegamos aqui através dos caminhos das fadas. Houve um clarão brilhante e depois chegamos.
— Isso é muito estranho. — Dash se vira lentamente, olhando em volta. — Eu nem sei se estamos no nosso mundo.
Algo se move contra uma das sebes. Uma forma não natural, girando e se esticando e afastando-se das folhas. — Dash. — Um terror doente cresce no meu estômago. Eu pego sua mão e a aperto com força. — O que é isso?
Eu ouço sua respiração no momento em que ele vê. — O que... — Sua mão aperta ao redor da minha. Ele me puxa para mais perto do seu lado. A forma fantasmagórica — um ser tão negro que poderia ser feito da escuridão dos caminhos das fadas — ondula, desloca-se e mergulha em nossa direção.
A mão de Dash voa para cima. Faíscas brilhantes se projetam para longe dele, indo direto para a criatura sombria. Infelizmente, a magia passa através da escuridão inconstante e sai do outro lado, como se este ser fosse feito de nada.
— Corra! — Nós corremos novamente, mais rápido do que antes, tecendo e esquivando-se através deste jardim interminável de névoa-fumaça. Eu dou uma olhada por cima do meu ombro, e a criatura está no ar, maior e mais próxima. Em seguida, desce, tornando-se uma serpente como uma coisa deslizando sobre a grama nos perseguindo. — Merda, oh merda, oh merda, — eu suspiro, olhando para frente e forçando minhas pernas a se moverem mais rápido. — Espere, isso é um portal? — À esquerda, no centro de outra sebe, vejo uma porta em arco aberta e luz além dela.
— Sim. — Dash gira em direção a ela. — Droga, este lugar não faz sentido.
— Eu sei, apenas corra! — Meus pés batem na grama. Meus braços bombeiam contra o ar. Estamos quase lá quando uma frieza gelada desliza sobre meu ombro. Eu pulo quando um grito desesperado se liberta da minha garganta. Nós nos jogamos através da porta e Dash gira o braço, fechando a porta com uma explosão de magia e nos fazendo parar em um piso de madeira polida.
Eu viro, de frente para a porta enquanto me afasto dela. Meu peito arfa enquanto recupero o fôlego. Meu coração bate repetidamente contra o interior das minhas costelas. — Você está bem? — Dash ofega. Minha mão ainda está bem apertada ao redor da dele, e não há nenhuma chance no inferno de eu soltar agora. Ele parece minha única âncora neste mundo de pesadelo que poderia me pegar e me levar a qualquer momento.
— Eu... acho que sim. Você está bem?
— Eu não sei, — diz ele. — Estou começando a me perguntar se ainda estou inconsciente e preso em um sonho.
— É mais como um pesadelo. — Quando a porta permanece firmemente fechada, corro o risco de afastar meus olhos dela. Eu olho para cima, mas não há nada acima de nós. Pelo menos, se houver um teto, é tão alto que não consigo ver. O piso de madeira e a parede dos dois lados da porta em arco se estendem para sempre dos dois lados. Eu me viro para olhar para trás — e percebo que há um grande buraco no ar. — Dash. — Eu aponto para o pedaço de terra e o oceano além dele. — Você vê isso?
Dash caminha ao meu redor, sem soltar minha mão. Ele se inclina para frente, olhando atentamente. — Isso é... Puta caramba. Essa é a Ilha Velazar. A parte com o monumento. Você pode ver o monumento na borda inferior ali. Em, isso... — Seus olhos acompanham todo o buraco. — Este é o buraco no véu.
Não faz sentido para mim que acabamos aqui, mas se esse é o nosso mundo do outro lado deste buraco, então... — Podemos passar por ele?
— Eu espero que sim. — Ele me puxa para frente. Chegamos ao buraco e, quando nada nos impede, continuamos. Um pé sobre o monumento. Então outro. Eu solto a mão de Dash quando ele pula para baixo. Eu rapidamente o sigo.
Com dois pés em segurança no chão, num mundo de cores genuínas e o sol brilhante do meio-dia, olho para o oceano. Vasto e magnífico. Ondas avançando para frente. Mais poderosas e inspiradoras do que eu poderia imaginar.
— Tudo bem, isso não faz sentido, — diz Dash.
Eu olho para trás para ver o que ele está falando. Do outro lado do buraco no ar, em vez de um portal em arco e de um chão polido, vejo um campo e um céu azul. — Mas... não é de onde acabamos de vir.
— Não, — Dash murmura. — Nós estávamos em outro lugar completamente. Em algum lugar... eu não sei Entre aqui e ali?
— Ei! O que vocês estão fazendo aqui? — Uma faísca de magia passa por nós. Dois guardiões saem correndo atrás do monumento. Eu me abaixo e fujo para fora do caminho enquanto Dash abre um portal para os caminhos das fadas. Eu mergulho com ele, limpando minha mente e confiando nele para nos levar a algum lugar seguro.
Capítulo 27
— POR QUE ESTAMOS NO QUINTAL DE CHELSEA? — PERGUNTO NO MOMENTO EM QUE A ESCURIDÃO CLAREIA e eu me vejo na grama seca e meio morta.
— Precisamos daquela última caixa, — diz Dash. — Aquela com os arquivos. Podemos ainda encontrar algo útil lá. Podemos levá-la de volta ao oásis e então — ele passa a mão pelo cabelo -— então podemos tentar descobrir do que diabos fugimos e de onde estávamos.
— É que um príncipe e princesa Unseelie têm a ver com isso.
Dash fica boquiaberto. — Você disse —
— Eu disse.
— Uau. Então é por isso que ela tentou ajudá-la a escapar da Guilda. Ela queria levá-la para os Unseelies. Espere, mas por que eles deixaram você ir embora tão facilmente agora?
Eu suspiro. — Eu explico mais tarde.
— Ei, aí estão vocês, — diz uma voz familiar. Violet caminha pela lateral da casa em nossa direção. — Eu cheguei aqui há alguns minutos e encontrei uma bagunça no quarto com todas aquelas caixas. Eu tentei encontrar vocês dois e, por alguma razão, minha Habilidade Griffin não encontrou nada, o que foi um pouco alarmante. Então fico feliz em ver que vocês estão seguros.
— Você não conseguiu nos encontrar? — Dash pergunta. Ele olha para mim. — Podemos acrescentar isso à lista de coisas seriamente estranhas sobre aquele jardim assustador.
Violet para na nossa frente. — Do que você está falando? Onde vocês estavam?
— Podemos explicar quando voltarmos ao oásis, — digo a ela. — Nós só queremos pegar uma daquelas caixas lá dentro e levar conosco.
— Tudo bem, — diz ela lentamente. Preocupação aperta suas feições, mas então ela respira fundo, parecendo afastá-las. — Em, olha o que eu tenho. — Ela segura um frasco com uma rolha. — Ana me deu esta manhã. Pronta para começar a testar essa Habilidade Griffin?
Um surto de emoção se acende dentro de mim. — Sim. Definitivamente.
Dash se afasta. — Eu vou pegar a — Ele para, franzindo a testa enquanto olha em volta para a cerca. Algo farfalha além dela, seguido pelo som abafado de passos na grama. — Alguém estava nos observando? — Pergunta ele. Ele passa por mim, subindo na árvore fina no canto do jardim e olha por cima da cerca. — Bem, se alguém estava nos observando, eles foram embora agora.
— Estamos invisíveis de qualquer maneira, — diz Violet quando Dash pula, — então não importa.
— Vocês podem estar, — eu digo, — mas eu provavelmente não estou. Eu duvido que meu feitiço esteja funcionando. Eu provavelmente pareço estar aqui falando sozinha. — O que, eu percebo, vai convencer qualquer um que esteja me vendo que eu finalmente cheguei ao fundo do poço, assim como todo mundo em Stanmeade pensou que eu iria.
— Vamos pegar aquela caixa, — diz Violet. — Podemos entrar pelos caminhos. Eu acho que sua tia está na cozinha fazendo café ou chá ou algo assim.
— Ah, adorável, você ainda está aqui.
Eu me viro ao som da voz. É ela, a mulher com o manto prateado, saindo rapidamente dos caminhos das fadas e entrando no quintal de Chelsea. O frasco de elixir escorrega dos dedos de Violet enquanto ela levanta as mãos para cima e para os lados. Uma leve ondulação no ar confirma que um escudo se formou ao nosso redor. — Quem é você? — Ela pergunta. Ao lado dela, Dash estende a mão no ar. Uma espada brilhante aparece em uma mão e um chicote na outra.
A mulher abaixa o capuz, revelando uma máscara preta cobrindo a maior parte do rosto. Tudo que vejo são seus lábios e olhos. — Você pode me chamar de Ada, — diz ela. — E então você pode entregar a Em.
— Não vai acontecer, — diz Violet.
Então, como se essa situação precisasse de uma complicação adicional, a porta de trás se abre e Chelsea sai correndo. — Emerson, onde diabos você esteve? — Ela grita. Seus olhos estreitos olham apenas para mim, o que confirma minha suspeita de que eu sou a única aqui sem um feitiço. De repente, como se lembrasse que ela deveria ter medo de mim agora, Chelsea congela. Ela dá alguns passos cuidadosos para trás. Seus olhos se voltam para o telefone em sua mão quando ela começa a tocar na tela. — Apenas... fique calma, tudo bem? Eu não quero nenhum problema.
— Oh, que perda de tempo, — diz Ada. Em alguns passos rápidos, ela está na frente de Chelsea. Ela toca o ombro dela —
— Não! — Grita Violet. Ela deixa cair o escudo.
— e Chelsea se torna uma estátua de vidro. Um arco e flecha aparecem nos braços estendidos de Violet. Ada levanta a perna e chuta Chelsea. Em seguida, ela sai do caminho, a flecha passa por ela, e Chelsea atinge o chão, quebrando-se em incontáveis pedaços de vidro.
Eu suspiro e enfio as duas mãos no meu cabelo. — Isso não aconteceu, — eu sussurro.
A porta dos fundos abre novamente, e desta vez é Georgia que está correndo. — Mãe! — Ela grita.
— Pare! — Grita Violet quando Ada se vira para a Georgia. Violet avança quando o chicote de Dash ataca. O chicote envolve o pulso de Ada e Violet pula em suas costas. As duas caem no chão, mas é tarde demais. Vidro sobe pelo corpo de Georgia, solidificando-a em uma estátua quase que instantaneamente.
— Vi, cuidado! — Dash grita, correndo para ajudar Violet. Violet rola para longe de Ada e levanta. Ada balança a perna, derrubando Georgia no chão. Ela se despedaça como sua mãe.
Eu puxo meu cabelo, xingando repetidamente, a culpa e o terror ameaçando me consumir, porque eu sei que tudo isso está acontecendo por minha causa. Ada se esquiva da magia de Violet e Dash e gira ao redor. As pontas dos dedos dela passam pelo braço de Violet antes de se afastar e bater na mão de Dash.
— Não, não, NÃO! — Eu grito, mas novamente, é tarde demais. O vidro os consome, transformando-os em estátuas facetadas imóveis. Ada levanta a perna. — Pare! Simplesmente pare! Farei o que você quiser!
Ela para. Abaixa o pé para o chão. — Você sabe que é tarde demais para eles, certo? Não há como voltar disso.
Eu caio de joelhos, minhas pernas tremendo não conseguem mais me segurar. — O que você quer? Minha Habilidade Griffin? Tudo bem. Eu irei com você. Eu não sei como fazê-la funcionar, mas vou tentar. Só, por favor, não os mate.
Ela solta uma risada. — Eu acho que eles já estão mortos, Em.
— Diga o que você quer de mim, — eu imploro.
Ada se afasta de Violet e Dash, o que me deixa quase murchando de alívio. É difícil matar uma faerie, Violet me disse. Nossa magia pode nos ajudar a sobreviver a muitas coisas que matariam um humano. Ainda posso ver ela e Dash. Eles são vidro sólido, mas ainda estão lá. Contanto que eles não sejam quebrados em um milhão de pedaços, há esperança para eles.
— Sabe, — diz Ada, de frente para mim com as mãos nos quadris, — Eu sempre me perguntei se você poderia ter uma Habilidade Griffin se escondendo dentro de você. E se tivesse, imaginei se algum dia poderia aparecer, ou se ficaria bloqueada para sempre, junto com o resto de sua magia. — Ela inclina a cabeça para o lado, me examinando. — Você não sabe como usá-la, não é. Você já teria me parado, se soubesse.
Demora alguns segundos para que o significado completo de suas palavras se encaixe. — Você... espera. Você sabe quem eu sou?
— Eu te conheço quase desde que você está viva, Em. É por isso que eu estive aqui há alguns dias, verificando com alguém. A pessoa que está te observando por mim. Imagine se eu viesse algumas horas depois, — acrescenta ela com um sorriso malicioso. — Esse alguém teria uma atualização muito mais interessante para mim.
Isso está ficando mais estranho a cada segundo. — Alguém esteve — quem? Foi aquele homem que você matou? Aquele que eu vi você transformar em vidro?
— Não, não. Era apenas alguém que me seguiu até aqui. Alguém que pensou que poderia me emboscar e me matar. — Ela ri. — Não foi preciso muito esforço para me livrar dele.
Eu estremeço com a facilidade com que ela fala sobre matar pessoas. — Então quem? E como você me conhece? Quem — o que eu sou? E o que diabos você quer de mim?
Ela me dá um sorriso de pena quando se aproxima. — Eu sei que toda essa atenção provavelmente subiu para a sua cabeça, então pode ser uma surpresa ouvir que eu realmente não quero você.
— V-você não quer?
— Não. Pelo menos ainda não. Eu quero sua mãe.
Sua mãe.
Um arrepio corre pela minha pele. Eu engulo após a náusea subir pela minha garganta.
— Por quê? Isso não faz sentido.
— Não tem que fazer sentido para você, Em. Apenas me diga onde ela está.
Eu lentamente sacudo minha cabeça. — Você não pode tê-la.
Ada se agacha na minha frente. — Você prefere ver esta cidade consumida por vidro quebrado? Você gostaria de ver seus amigos quebrarem, se despedaçarem e morrerem?
— Claro que eu não quero isso.
— Então você simplesmente precisa me dizer onde sua mãe está. Eu não vou machucá-la. Bem, talvez eu deva reformular isso. Eu não vou matá-la. Eu vou fazer algo um pouco... irreversível.
Meu rosto está molhado com todas as lágrimas que eu geralmente não deixo cair. — Eu não posso.
— Sim, você pode.
— Eu não posso, eu não posso, — eu lamento, cobrindo meu rosto com as mãos. — Como você pode me pedir para fazer isso? Ela é minha mãe. Eu a amo mais do que tudo.
— Então você não me deixou escolha.
Eu abaixei minhas mãos para vê-la se inclinando para frente. Ela pressiona os dedos na terra. — O que você está fazendo?
Ela não responde. Onde seus dedos encontram a terra, vidro começa a se espalhar lentamente. Tufos de grama endurecem, racham e se quebram. Eu pulo e me afasto dos estilhaços invasores. Enquanto isso, Ada se move para o lado da casa. Ela achata a palma da mão contra a parede e o vidro se estende ao redor da mão dela.
— Espere, por favor, pare. Você não precisa fazer isso.
— Você está me forçando a fazer isso, Em. Enquanto você não me dizer o que eu quero saber, essa magia continuará se espalhando e vai quebrar tudo em seu caminho. Esta cidade em breve será nada além de vidro quebrado.
Eu olho desesperadamente ao redor. O vidro está mais perto de Violet e Dash. Se chegar até eles, eles se estilhaçarão. Eu não vou ter a chance de ver se eles ainda estão vivos sob suas conchas de vidro endurecido. Deixo escapar um grito sem palavras, cobrindo meu rosto novamente. Tudo isso se resume a uma escolha impossível: quem eu salvo? Mamãe? Ou Violet, Dash e o resto de Stanmeade? — Não me faça escolher, — eu lamento. Eu espio através dos meus dedos. Os cacos de vidro quase chegaram a Violet. Eles estão a apenas trinta centímetros de distância da borda da bota dela.
Se aproximando.
E mais perto.
— Tudo bem, pare! Eu vou te dizer. Ela está em White Cedars. Apenas pare, por favor!
— White Cedars, — repete Ada. — Obrigada, querida Em. — Ela passa por mim até a cerca e abre um portal para os caminhos das fadas.
— Espera. Você precisa parar o vidro.
— Para ser honesta, Em, eu nunca gostei desta cidade. Sempre me senti um pouco triste por você ter que morar aqui.
— O quê? Não! Você vai mesmo destruir uma cidade inteira e todos nela?
— Eu não sei. Acho que vamos ver até onde vai a magia. — Ela entra nos caminhos e olha por cima do ombro. — Você pode correr e se salvar, ou sentar aqui e deixar o vidro quebrar você como todo mundo. É a sua escolha. Pessoalmente, eu preferiria que você se salvasse. Eu poderia um dia ter um uso para você se você conseguir ter essa habilidade sob controle. — Ela ri. — E o quão deliciosamente irônico seria se fosse você aquela que me ajudou a ver o plano de vingança.
Com uma explosão de raiva, eu me jogo atrás dela. Se eu puder entrar nos caminhos — se eu puder chegar à mamãe antes de Ada —
Mas a escuridão se fecha. A cerca reaparece e eu bato nela. A dor flui através do meu ombro e meu braço e eu deslizo para o chão, gemendo alto. Eu agarro meu ombro enquanto pensamentos de quão totalmente inútil eu sou martela contra o interior da minha cabeça. Eu possuo um poder que as pessoas matariam para colocar as mãos, mas eu não posso —
O frasco.
O elixir que vai estimular minha Habilidade Griffin.
Eu levanto, salto através dos pedaços de vidro, e procuro pelo frasco que Violet deixou cair. Deve estar na grama em algum lugar. E uma vez que eu tomar este elixir, minha habilidade vai funcionar, certo? Então eu posso falar mais de um comando.
O estridente som e rangido da casa começando a desmoronar me assustam. Eu olho para Violet. O vidro quase chegou a sua bota. — Não, — eu sussurro. Meus olhos retornam à sua busca desesperada no chão enquanto meu cérebro pensa em todas as coisas que eu preciso falar.
Daniela Clarke, você é invisível. Ninguém pode te encontrar, te machucar ou te matar.
Vidro, inverta a sua magia. Pare de se mover, pare de quebrar, pare de matar.
Violet e Dash, vocês não são feitos de vidro. Voltem para suas formas originais.
Finalmente, vejo o frasco. Está perto da base da árvore na qual Dash subiu, pedaços de vidro quase o tocando. Eu pulo sobre mais vidro, corro em direção a ele, abaixo, alcanço — mas a magia de Ada o tocou. Os estilhaços o apunhalaram, estilhaçando-o e o esmagando, e não me atrevo a tocá-lo por medo de que sua magia se espalhe em mim.
O elixir desapareceu.
Um enorme soluço rasga através do meu peito. Eu me levanto e ando para trás, observando a magia do vidro imparável. Ela chega à bota de Violet agora, estilhaçando ao longo do bico. Eu não posso salvá-la e não posso salvar a mamãe. Enquanto mais lágrimas descem pelas minhas bochechas, eu fecho meus olhos. Eu abro minha boca e despejo toda à dor dos últimos cinco anos em um grito dolorido. Eu grito até não poder mais respirar.
E então — esperança.
Eu sinto aquele arrepio, aquele breve pulso de poder correndo através de mim, e eu tenho uma fração de segundo para decidir: salvar a mamãe — ou salvar todos aqui. Minhas palavras saem em uma corrida desesperada. — Magia do vidro, você não tem poder! Inverta, desapareça, devolva tudo e todos do jeito que estavam antes e restaure tudo — A profunda reverberação em minha voz desapareceu quando alcancei a palavra ‘restaure’, mas acho que pronunciei comandos suficientes.
Eu olho em volta, prendendo a respiração, esperando meu poder fazer efeito.
O vidro para de se mover. Lentamente, afunda no chão, deixando a grama como era antes. Pedaços de Chelsea e Georgia se reconstroem, por mais impossível que pareça, minha tia e prima começam a se mover, gemer, se sentar. O lado quebrado da casa se recompõe como uma cena de demolição ao contrário. E Violet e Dash —
Eles ofegam por ar, dando grandes respirações profundas enquanto o vidro desaparece ao redor de seus corpos. — Oh, graças a Deus. — Eu corro pelo jardim em direção a eles.
— O que —
— Leve-me para White Cedars! Por favor, é urgente. Ada foi lá para pegar minha mãe.
Violet vira rapidamente para a parede e escreve contra ela. — Dash, volte para o oásis. Diga ao Ryn e ao Chase o que aconteceu. Eu vou levar a Em. — Eu aperto a mão dela e corro para a escuridão com ela.
Ainda estamos correndo quando saímos do outro lado no gramado em frente ao Instituto de Cura White Cedars.
— Eu sei onde é o quarto dela, — eu digo enquanto corremos pela área de recepção, curandeiros gritam atrás de nós. Ao longo do corredor, viro, outro corredor. Corro para dentro do quarto dela, passo por uma pilha de vidro no chão e puxo a cortina para trás. — Ela ainda está aqui, — eu digo, alívio inundando meu corpo. — Ela está aqui, mas... — Eu olho para o chão, para os pedaços de vidro afiados. — Mas Ada também estava aqui. Mãe? — Eu me viro para ela e aperto seu braço. — Mãe, acorde. — Mas ela não se mexe, e eu não posso deixar de ouvir a voz de Ada na minha cabeça: Eu vou fazer algo um pouco... irreversível.
Os curadores se apressam para dentro e somos forçadas a esperar do lado de fora. Eles confirmam que a mamãe ainda está viva, mas é tudo o que dizem antes de fechar a porta da mamãe e um deles nos levar de volta à sala de espera. Ontem à noite, achei a iluminação suave, cadeiras macias e os aromas de ervas reconfortantes, mas nada disso ajuda hoje. Nada pode me confortar quando estou convencida de que há algo terrivelmente errado com a mamãe.
— Diga o que aconteceu depois que Dash e eu fomos transformados em vidro, — diz Violet gentilmente. Suas palavras me lembram abruptamente que há poucos minutos ela estava essencialmente morta. Ela era uma estátua sem movimento, sem respirar, tudo porque se envolveu comigo e com minha mãe. Mas em vez de pirar sobre isso, ela agora está me confortando.
Eu afasto minha culpa e digo tudo a ela. O vidro se espalhando por toda parte, o frasco de elixir quebrando, Ada me forçando a escolher entre mamãe e todos os outros. — Eu falhei, — eu sussurro para ela quando termino.
Ela envolve os dois braços em volta de mim e me abraça com força, o que só intensifica minha culpa. — Você salvou uma cidade inteira cheia de pessoas, Em. — Ela se afasta e olha atentamente para mim. — Sua prima e tia deveriam estar — estavam — mortas. Sua mágica as salvou. Isso não é um fracasso. Isso é...
Um tipo assustador de poder, eu penso comigo mesma. Em voz alta, eu digo, — Mas eu falhei com a minha mãe.
Violet, é claro, tenta me convencer do contrário, mas eu sei a verdade. Eu dei a minha própria mãe para um ser mágico que queria machucá-la de alguma forma. Depois de todas as minhas promessas que eu daria uma vida melhor para nós duas. E isso significa que eu falhei com ela.
Finalmente, uma das curandeiras retorna para a área de espera. — Ela está viva? — Eu pergunto, imediatamente me pondo de pé.
— Sim. — A curandeira, uma mulher pequena com uma longa trança pendurada em um dos ombros, gesticula para eu me sentar. — Mas ela parece estar em um estado profundo de inconsciência.
— Como? Por quê? O que aconteceu com ela?
— Não estamos certos. A curandeira que estava no quarto na hora foi atacada e... — Ela respira fundo. — Bem, todos nós lemos sobre os faeries de vidro nas notícias. E você viu o que estava no chão.
Eu aceno, percebendo que essa mulher obviamente conhecia a curandeira que Ada matou. — Eu sei. Eu sinto muito. Mas não há como você descobrir o que aconteceu com ela? O que a colocaria em coma tão rapidamente?
— Existem várias possibilidades. Nós testamos todas elas e descartamos todas.
— Tudo bem, então? — Eu pergunto. — E agora?
— Bem... — A curandeira olha de mim para Violet e vice-versa. — Como não há mais nada que possamos fazer por ela no momento, gostaríamos de sugerir que ela poderia se sentir mais confortável — e mais segura — se ficasse em casa. Se ela acordar, você pode trazê-la de volta.
— Se ela acordar? Você acabou de dizer se?
— Obrigada, — Violet se apressa em dizer antes que a curandeira possa responder. — Parece uma boa ideia. Acho que seria mais seguro ela ficar conosco do que ficar aqui.
A curandeira concorda e se levanta. — Vou organizar a papelada.
Quando ela sai da sala, Violet diz, — Em, vamos consertar isso. Você pode tentar usar sua Habilidade Griffin e dizer a ela para acordar. Se isso não funcionar, encontraremos outra coisa. Eu não sei como, mas nós vamos. Faremos toda a pesquisa que pudermos e, quando finalmente descobrirmos o feitiço que a colocou em coma, poderemos acordá-la.
— E se a mente dela ainda estiver doente quando ela acordar?
— Então vamos descobrir sobre isso também. — Seus dedos envolvem a minha mão e as aperta. Ela sorri. — Tudo ficará bem no final.
Consigo devolver o sorriso, porque percebi que há outra maneira de a mamãe ficar bem no final. Um plano reserva. Um plano que Violet nunca aprovaria...
Capítulo 28
VÁRIAS HORAS DEPOIS, COLOCO MAMÃE EM UMA CAMA EM UM QUARTO PARA ELA NO Oásis. Eu aliso seu cabelo escuro para trás de sua testa, depois me sento na cadeira ao lado da cama por um tempo, pensando em todas as perguntas que ainda não pude fazer a ela. E todas as novas perguntas que foram adicionadas à minha lista mental desde hoje de manhã. Quem é Ada e como ela conhece a mamãe? Por que ela queria colocar a mãe em coma permanente?
Algo um pouco... irreversível.
Eu afasto as palavras de Ada da memória. Eu não quero aceitar que mamãe nunca vai acordar, mas é difícil ignorar os fatos: Ana preparou mais elixir para mim esta tarde, e ele estimulou a minha Habilidade Griffin por tempo suficiente para dizer a mamãe para acordar — mas ela não respondeu. Parece que minha voz mágica e ressonante, que tinha o poder de reconstruir duas pessoas e trazê-las à vida hoje, de alguma forma não pode acordar minha mãe.
Algo um pouco... irreversível.
Se os curandeiros não sabem que tipo de magia fez a mamãe entrar em um sono permanente, então deve ser algo completamente diferente. Algo mais sinistro. Algo que aqueles que ignoram as leis e brincam com magia negra possam conhecer.
E é aí que entra o plano reserva.
Eu me levanto e caminho até a caixa no canto do quarto. A caixa que Dash trouxe enquanto eu estava no instituto de cura com a mamãe. Eu estava esperançosa de que ainda pudesse conter algo útil, mas uma rápida olhada nos arquivos restantes não revelou nada.
Eu abro a caixa, enfio minha mão e vejo a flor de cristal rosa que eu deixei cair lá dentro. Depois de encontrá-la, atravesso o quarto e a deixo na mesa de cabeceira. É tão pequena que parece ridículo ficar ali sozinha, mas eu sei que mamãe gostaria do fato de estar lá.
Depois de observá-la um pouco mais, beijo sua bochecha e saio do quarto, fechando a porta gentilmente atrás de mim.
***
— Venha ver, venha ver! — Jack pega minha mão enquanto desço as escadas. — Merrick e Junie adicionaram mais coisas dentro da cúpula enquanto você estava fora. — Ele me puxa todo o caminho até a parte de baixo da árvore.
— Ah, ai está ela — diz Dash quando eu piso na grama. — Como vai você?
Eu dou de ombros. — Tudo bem, eu acho. Você?
— Estou me sentindo melhor agora que não sou mais uma estátua de vidro.
— Sabe, — eu digo para ele, — estátuas de vidro são muito mais silenciosas e menos irritantes do que certas pessoas.
— Ah, vamos lá, você teria sentido minha falta se eu não tivesse voltado.
Eu me permito um sorriso. — Talvez.
— Bem, de qualquer forma, acho que você vai gostar da mais recente adição ao Oásis.
— Não diga a ela! — Diz Jack. — Ela tem que ver primeiro ou de outra forma vai estragar a surpresa.
Nós três caminhamos juntos, a conversa permanece leve enquanto Jack nos conta o que ele está aprendendo na escola. Eu noto Dash ocasionalmente olhando na minha direção, provavelmente tentando descobrir se eu realmente estou bem.
— Tudo bem, espere, — diz Jack. — Pare aqui. — Estamos quase passando o pomar, que está iluminado esta noite com pequenos insetos brilhantes dourados e luzes rosa-laranjas. — Devemos vendá-la.
Eu levanto uma sobrancelha. — Você vendou a todos que vieram ver essa nova adição?
— Sim. Tudo bem, nem todo mundo, — Jack admite. — Mas algumas pessoas.
— Que tal se eu apenas fechar meus olhos?
Jack inclina a cabeça para o lado. — Você promete não abri-los?
— Sim. Mas você tem que prometer não me deixar tropeçar em nada.
— Sim, claro. — Ele enlaça o braço no meu e fecho os olhos.
— Sem espiar, — diz Dash.
Depois de mais um minuto de caminhada, Jack me faz parar. Eu posso sentir o cheiro e escuto algo que me deixa suspeita, mas eu não posso estar certa. — Tudo bem, você está pronta? — Jack diz. — Abra seus olhos.
Então eu abro. Arrepios percorreram minha pele ao ver a faixa pálida de areia e as suaves ondas cor de pôr-do-sol caindo sobre ela.
— Não é incrível? — Diz Jack. — Nós temos uma praia!
Eu pisco contra o brilho da umidade se formando sobre meus olhos. — É incrível. — Ele corre através da areia, pula para as ondas rasas e chuta a água para o ar.
Dash coloca as mãos nos bolsos. — Merrick estava conversando há alguns dias sobre o que acrescentar em seguida, e me lembrei de você olhando pela janela da casa de recuperação e perguntando sobre o oceano. Então eu disse a ele que seria legal ter uma praia e um pequeno pedaço do oceano aqui.
Eu mordo meu lábio para controlar as minhas emoções bobas e depois digo, — Hoje foi a primeira vez que vejo na vida real. Na ilha. E foi apenas por um momento, por isso é incrível tê-lo aqui.
— Oh. Mesmo? — Dash me encara. — Então é por isso que você estava perguntando sobre ele naquele dia. Devemos ir ver a coisa de verdade então. Eu posso te levar agora, se você quiser. Só tenho que ter certeza de que não seremos emboscados por ninguém mais que queira colocar suas garras malignas em você.
— Não, — eu digo com um sorriso. — É perfeito por enquanto.
— Ei, — uma voz chama atrás de nós. Ryn caminha na areia, seguido por Violet e uma cesta flutuando. — O que você acha do nosso pequeno pedaço do mar?
— Eu amo, — eu digo a ele.
— Pensamos em fazer um piquenique na praia para o jantar, — diz Violet, apontando para a cesta flutuante. Ela pousa perfeitamente na areia, e o cobertor dobrado em cima levanta e se estende ao lado da cesta. Nós nos sentamos enquanto Violet desembala a comida e Jack continua pulando e mergulhando na água. Calla e Chase se juntam a nós alguns minutos depois, espalhando seu próprio cobertor ao lado do nosso.
Nós comemos nosso jantar de piquenique enquanto o sol desaparece lentamente. Em algum momento, Bandit e Filigree saem da cesta de piquenique em forma de rato e esperam pacientemente por alguma comida. Bem, Filigree espera pacientemente; Bandit realiza vários saltos entre a espera.
Quando está quase escuro demais para ver, lanternas flutuantes aparecem ao longo da praia. Embora eu note cada um dos adultos me observando em algum ponto durante a noite, ninguém faz perguntas sobre mais cedo ou propõe quaisquer teorias malucas sobre mamãe ou sobre a misteriosa faerie de vidro Ada. É como se houvesse um acordo tácito de que esta noite não é para refazer os eventos do dia. Hoje é para curtir a praia, apreciar deliciosas frutas e petiscos que eu nunca provei antes, perseguir Jack ao longo da areia e criar ideias para o que acrescentar a seguir no Oásis.
Eu absorvo tudo, sabendo que esta noite é ao mesmo tempo uma primeira e última vez para mim.
— Em! — Jack cai ao meu lado algum tempo depois da nossa refeição. — Eu te contei sobre a nova dança que aprendemos hoje de manhã?
— Hum, acho que você me contou sobre tudo o que aprendeu hoje. Não tenho certeza se você mencionou uma dança. Vocês têm aulas de dança regulares aqui?
— Todos nós aprendemos as danças tradicionais das fadas quando estamos na escola primária, — explica Dash. — Vi e Ryn não queriam que as crianças que moram aqui perdessem, então a dança está incluída nas aulas.
— Posso te ensinar? — Jack me pergunta. — Então você pode praticar comigo.
— Oh. Hum, tudo bem. — Dançar não é minha praia, mas eu suponho que vou dar uma chance se isso deixar Jack feliz. Ando com ele alguns passos para longe dos cobertores, depois o encaro e seguro suas mãos.
— Tudo bem, então você avança assim. Sim, com esse pé primeiro. E então você recua. E nossas mãos se juntam assim.
— Tudo bem.
— Então repetimos isso quatro vezes e depois nos virando um para outro assim.
Em algum lugar atrás de mim, música começa a tocar. Curiosa para saber de onde vem, eu olho por cima do ombro e vejo Ryn incitando uma bola de vidro para o ar. Luzes coloridas dentro da bola piscam ao mesmo tempo que a música, o que me diz que é de onde a música deve estar vindo. — Incrível, — murmuro. — O que é isso?
— Em, você não está se concentrando, — reclama Jack.
— Certo, desculpe.
Ele demonstra o próximo passo para mim, mas acho difícil acompanhar. — Sabe, eu odeio dizer isso, Jack, mas acho que o tipo de dança que fazemos no mundo humano — onde apenas balançamos de um lado para o outro — é muito mais fácil. Veja, você coloca seus braços em volta da minha cintura — Eu movo seus braços para o lugar — e eu coloco meus braços em volta de seus ombros, e nós balançamos.
— Isso é super chato. E você é muito alta.
— É verdade, mas eu sou muito alta para a sua dança também.
— Você só precisa de um parceiro mais alto, — diz Dash, movendo-se para o meu lado e estendendo a mão para mim.
— Oh. Não. Obrigada. Eu não gosto muito de dançar. E... hum... eu ia dormir agora de qualquer maneira.
— Tão cedo? — Ele diz. — Vamos, só até o final da música. Nós podemos fazer sua coisa chata de balançar. — Ele me dá seu sorriso encantador, e eu vejo uma sugestão do Dash que fez todas aquelas garotas se apaixonarem.
— Bem. Só não pise nos meus pés.
— Com esse jeito chato de balançar, minha querida Emerson, duvido que isso seja um problema.
Eu coloco minhas mãos em volta do pescoço dele. Seus braços deslizam em volta da minha cintura e me puxam para mais perto. Eu descanso meu queixo em seu ombro, o que parece um pouco estranho, mas também é legal. Nós andamos lentamente de um lado para outro, um pouco mais do que apenas um movimento oscilante, mas muito mais simples do que o que Jack estava tentando me ensinar.
— Em, — Dash diz baixinho. — Emmy. Eu realmente sinto muito. Sobre sua mãe. Mas pelo menos ela está aqui agora. E nós vamos encontrar uma maneira de curá-la. Nós vamos. Eu estive cuidando de você desde que estraguei tudo há anos e não vou parar agora. O que eu puder fazer para ajudar, eu farei. Ela vai melhorar, e vocês duas podem ficar aqui, e vocês duas finalmente terão a vida que você sempre prometeu a ela.
Meus olhos viajam através da cena, e meu coração se parte quando percebo que tudo o que eu sempre quis está bem aqui — e que eu nunca vou ter. Lágrimas picam meus olhos, minha garganta dói e de repente eu não consigo falar. Eu mordo meu lábio, mais e mais até as lágrimas recuarem e eu conseguir respirar novamente.
Quando a música acaba, eu não vou embora imediatamente. Eu sento com todo mundo por mais algum tempo. Eu rio das terríveis piadas de Dash e sorrio para as palhaçadas de Jack. Então eu volto para as árvores gigantes junto com todos os outros. Eu alegremente digo boa noite e subo para o meu quarto como se nada estivesse diferente. Como se meu peito não estivesse doendo. Como se eu não tivesse acabado de dizer adeus.
Capítulo 29
EU ABRO O GUARDA-ROUPA, E EM VEZ DE PEGAR UM PIJAMA, EU PEGO a jaqueta mais quente que consigo encontrar. Eu não sei o quão frio é para onde estou indo, então é melhor estar preparada. — Desculpe Bandit, — eu digo para o filhote de lobo dormindo na cadeira no canto, — mas você não virá comigo desta vez. É mais seguro você ficar aqui.
Eu tiro a minha camiseta e pego uma limpa no topo da pilha — exatamente quando ouço passos do lado de fora da minha porta. — Ei, Em. — É a voz de Calla. A porta se abre. — Eu queria perguntar se — Oh, me desculpe.
— Não, tudo bem, — eu digo com uma risada nervosa, me virando enquanto me atrapalho com a camisa.
— Eu sinto muito, eu deveria ter batido.
— Não, não. É minha culpa por me trocar sem fechar a porta corretamente. Eu não pensei. — Eu puxo a camisa sobre a minha cabeça antes de me virar para encará-la. Mas em vez de um sorriso, eu a vejo olhando para mim, seu rosto pálido. — Qual é o problema? Você está bem? — Ela não pode saber o que estou prestes a fazer, pode?
— Eu... — Sua mão agarra o batente da porta, e ela agarra com força, como se fosse à única coisa que a mantem de pé.
— Calla? — Eu dou um passo incerto em direção a ela.
Ela fecha os olhos, balança a cabeça e solta uma leve risada. — Eu sinto muito. — Ela abre os olhos, pisca e me dá um meio sorriso. — Eu devo ter bebido mais do que pensei. Apenas um momento de tontura. Isso é tudo.
— Hum, está bem.
— De qualquer forma. — Ela pigarreia. — Eu só, hum, vim até aqui para perguntar se você quer sair correndo pelo limite do Oásis conosco no início da manhã.
— Oh. Na verdade, acho que prefiro dormir amanhã. Tem sido, sabe... um longo dia.
Ela balança a cabeça, ainda olhando para mim um pouco estranhamente. — Sim. Definitivamente.
— Hum, está bem. Bem, boa noite.
— Boa noite. Ei, Em? — Eu olho para cima. — É uma linda tatuagem no seu ombro. Eu não a percebi antes.
— Oh, não é uma tatuagem. Agulhas me assustam. — Eu estendo a mão e toco meu ombro esquerdo. — É na verdade um marca de nascença. Minhas roupas geralmente cobrem, então é por isso que você nunca viu antes.
Ela balança a cabeça, apertando a porta novamente, e começo a me perguntar se o que quer que ela tenha bebido esta noite pode ter tido sua origem no reino humano. — Que interessante, — diz ela fracamente. — Parece como uma flor.
— Sim, parece. — Eu franzo a testa. — Você tem certeza de que está bem?
— Definitivamente. — Ela sorri. — Durma bem, ok?
Eu aceno, me sentindo culpada por mentir para ela. — Você também.
Ela fecha a porta. Bandit, observando curiosamente da cadeira, abaixa a cabeça e me observa com os olhos semicerrados. Uma vez que tenho certeza de que Calla se foi, enfio a mão no bolso esquerdo da frente e tiro o espelho.
***
Eu me sinto mal por roubar uma stylus da cozinha de Ryn e Vi, mas não tenho muita escolha, já que não tenho a minha. Eu não encontro ninguém no meu caminho descendo as escadas, ou quando estou andando pela grama. É quase fácil passar pela cúpula e entrar no deserto.
Eu escrevo os caminhos das fadas na areia várias vezes sem funcionar. Eu não perco minha paciência, no entanto. Ver as palavras brilharem esta manhã me deu confiança de que eu estou quase lá com essa coisa de caminhos das fadas. Eu tento mais uma vez — e a emoção corre através de mim ao ver um espaço escuro se abrindo. Eu deslizo para dentro dele, sussurrando o nome que me foi dado.
Sou recebida do outro lado pelo cenário que me disseram para esperar: uma piscina natural de pedras numa floresta iluminada com feixes de luz da tarde brilhando através das árvores próximas.
— Emerson, — uma voz diz atrás de mim. — Fiquei um pouco surpreso em ouvir sua resposta tão cedo. Você parecia inflexível que não mudaria de ideia.
Eu me viro para encarar Roarke. — As circunstâncias mudaram. Eu decidi que posso estar disposta a acreditar que você pode ajudar minha mãe.
Ele cruza os braços sobre o peito. — Interessante.
— Só tem uma coisa. Vou exigir uma prova antes de aceitar sua proposta. Prove que você sabe o que há de errado com minha mãe e que pode consertá-la.
— Isso pode ser difícil, — diz ele, — considerando que eu não vou lhe dizer nada até depois de nos casarmos.
— Mas ela precisa de ajuda agora. Eu... assinarei um contrato ou algo assim. Um contrato dizendo que eu concordo em casar com você se você puder curá-la primeiro.
— Um contrato? — Ele ri. — O tipo de contrato que você está se referindo não significa muito neste mundo. E se eu curar sua mãe e você decidir não seguir adiante?
— E se eu casar com você e depois você decidir não curar minha mãe?
Uma sugestão de diversão toca seus lábios. — Suponho que um de nós vai ter que aprender a confiar no outro.
— Pois bem. Estou ansiosa para ganhar sua confiança. — Porque eu certamente não planejo me casar com esse Príncipe Unseelie sem primeiro ver minha mãe saudável. — Você trouxe o dispositivo mágico que você falou?
— Sim. — Roarke enfia a mão dentro de seu longo casaco e pega um pequeno item em forma de moeda. Ele se aproxima e afasta meu cabelo para trás da minha orelha. É inquietante tê-lo em pé tão perto, mas eu finjo que isso não me incomoda. Ele pressiona a moeda na pele atrás da minha orelha e, quando ele afasta a mão, a moeda permanece. Eu levanto meus dedos e gentilmente a toco, me certificando de que ela não se move. — Você tem certeza de que ninguém será capaz de me encontrar enquanto eu estiver usando isso? Eu não quero ninguém... interferindo no nosso acordo.
— Completamente certo. A Corte Unseelie tem feito uso de itens como este há muito tempo.
Eu solto uma respiração lenta. — Está bem então. Eu acho que estou pronta para ir com você.
Emerson Clarke: Sarcástica. Independente. Possivelmente enlouquecendo.
Porque essa é a única explicação para por que ela ocasionalmente vê coisas que não estão lá, certo? Mas uma noite, um poder impossível irrompe dela, e Em percebe que a verdade é mais louca do que ela jamais imaginou: ela não está enlouquecendo; ela é mágica.
Lançada em um mundo inteiramente novo de fadas, encantamentos - e o cara chato que não é humano também - Em mal tem tempo de aprender o mais básico de magia antes que outra verdade surpreendente se revele: ela tem uma Habilidade Griffin. Um tipo especial de magia temido pela maioria dos fae. Agora ela está no topo da lista de mais procurados de todos, incluindo o misterioso faerie que realiza ataques aleatórios contra fae.
Neste mundo mágico e aterrorizante para o qual ela está totalmente despreparada, Em deve tentar descobrir quem ela realmente é, em quem confiar e como se manter viva por tempo suficiente para voltar à sua vida normal.
Comece uma nova aventura emocionante como a série best-seller de Creepy Hollow que continua dezoito anos após os eventos de A Faerie's Curse!
https://img.comunidades.net/bib/bibliotecasemlimites/7_THE_GLASS_FAERIE.jpg
PARTE 1
Capítulo 01
NA ESCURIDÃO ENTRE A LANCHONETE TYGO E A BIBLIOTECA ABANDONADA, O fedor de lixo apodrecendo, me faz querer vomitar. Me concentro em respirar pela boca enquanto removo o pacote de papel marrom amassado da minha bolsa mensageiro e o seguro. — Você sabe o preço, Slade. — Eu aceno o pacote para ele. — É pegar ou largar.
Slade levanta uma sobrancelha. Ele solta um suspiro dolorosamente longo antes de se voltar para o maço de notas em sua mão. Ele as percorre preguiçosamente, contando a quantidade certa. Mas, em vez de entregar o dinheiro, ele encosta um ombro na parede e me observa com um sorriso. — Você conduz uma barganha difícil, Emerson Clarke.
— Pare de ser um idiota. O preço é exatamente o mesmo da última vez. Você quer ou não?
— Claro que eu quero. Desencana, Em. — Ele encolhe os ombros, esfregando o ombro contra o gigante X amarelo grafitado nos tijolos. — Apenas tentando tornar essa troca mais divertida.
Eu enfio o pacote contra o peito dele e retiro o dinheiro da mão dele. — Eu não preciso de mais diversão na minha vida.
— Ei, você realmente precisa relaxar, — ele fala atrás de mim conforme eu me afasto.
— Obrigada pelo conselho. — Eu não me incomodo em olhar por cima do meu ombro para ele conforme me afasto, meus tênis pisando no chão sujo e úmido. Estou quase no fim do beco quando a porta dos fundos da lanchonete Tygo se abre. Eu me esquivo para fora do caminho para evitar ser atingida no rosto. — Caramba, Marty.
— Oh, ótimo, você ainda está aqui. — Ele segura um saco de lixo em minha direção. — Você esqueceu deste aqui.
Eu considero dizer a ele que meu turno terminou há cinco minutos, mas não vale à pena discutir. Eu pressiono meus lábios, empurro o dinheiro de Slade no bolso da minha calça jeans e pego a sacola. Marty deixa a porta fechar sem outra palavra. Resmungando sob a minha respiração, eu ando os poucos passos de volta para a lixeira. Slade, ainda curvado na outra extremidade do beco, me ignora enquanto seguro meu fôlego, levanto a tampa da lixeira e levanto o saco de lixo e sobre a borda.
Estou prestes a abaixar a tampa quando ouço um sussurro de dentro da lixeira. Apenas um rato, digo a mim mesma, sabendo que deveria fechar a tampa. Mas essa parte do meu cérebro que sempre quer saber se as coisas que eu vejo e ouço são reais faz meu braço congelar no lugar. O som estridente e farfalhante se move para o lado da lixeira. Um braço escamoso aparece, abrindo caminho ao longo da borda com garras azuis e um líquido amarelo brilhante pingando de —
Eu solto a tampa e pulo para trás, xingando em voz alta.
— Com medo de alguma coisa, Em? — Slade sorri enquanto passa por mim.
— Não, — eu respondo de volta. Mas quando ele vira a esquina e desaparece, eu engulo, meu coração batendo rápido demais. Espreito a lateral da lixeira, procurando por um braço reptiliano meio esmagado saindo de baixo da tampa. Mas não há nada lá. — Imaginação hiperativa, — murmuro para mim mesma enquanto me afasto, é a mesma mentira que sempre uso.
Eu me sinto mais calma quando estou na rua principal. Prendendo meu polegar sob a alça da minha bolsa mensageiro, eu diminuo meus passos, não mais me sentindo como se estivesse fugindo de alguma coisa. Meu medo evapora quando eu me lembro de que com o dinheiro de Slade adicionado às minhas economias, eu finalmente tenho o suficiente para uma viagem de ônibus.
— Ei, Em.
Eu me viro na direção do grito e encontro Val empoleirada em cima de uma parede ao redor da Escola Primária Stanmeade. — Ei. — Eu aceno para ela enquanto eu mudo de direção e atravesso a área gramada do lado de fora da escola. Eu jogo minha bolsa no chão, então corro direto em direção a parede. Meu pé direito bate nos tijolos e me lança para cima. Com as palmas das mãos em cima da parede, é fácil puxar minhas pernas para cima.
— Legal, — Val diz conforme eu ando habilmente ao longo do topo da parede em direção a ela.
— Obrigada. — Eu me sento ao lado dela e coloco as mãos no meu jeans. — É uma parede fácil, no entanto. Não tão alta quanto algumas das outras que tentamos.
— Eu sei. Ei, veja isso. — Ela empurra o cabelo escuro e crespo da frente do seu rosto e segura o telefone na minha frente. — Último vídeo Top Dez do ParkourForLife.
Olhando além da rachadura na tela do celular de Val, vejo um sujeito pular de um prédio, dar uma cambalhota no ar e aterrissar no prédio ao lado, seguido por mais nove movimentos espetaculares. — Impressionante, — murmuro. — Eu adoraria poder fazer tudo isso.
— Totalmente, — Val concorda. — Eu meio que sinto que temos que ir a outro lugar para melhorar nossas habilidades. O parquinho urbano daqui é muito limitado.
— O parquinho urbano? — Eu repito com uma risada.
— Sim. As pessoas chamam assim, certo?
— Hum...
— Bem, eu chamo assim. — Ela abre os braços, quase me acertando no rosto com o seu cotovelo. — Eu apresento a vocês o parquinho urbano de Stanmeade. É feio, mas é onde começamos.
Eu balanço minha cabeça, ainda sorrindo. — Você entendeu bem a parte feia. E a parte limitada. Conhecemos bem este lugar e seus obstáculos agora.
— Sim. De qualquer forma, como foi seu turno?
Eu dou de ombros. — Um pouco acima da média. Eu vendi outra das misturas caseiras da Chelsea. Slade Murphy novamente.
— Novamente? Ooh, diga. De que doença recorrente secreta Slade Murphy está sofrendo? Alguma coisa super embaraçosa sobre a qual devemos avisar sua namorada?
— Foi para a namorada dele, na verdade. Algum tipo de chá anticoncepcional.
Val inclina a cabeça para trás e ri. — Bem, esperemos que funcione.
— Eu acho que deve estar funcionando, já que este é o segundo pacote que eu vendi para ele. De qualquer forma, isso não é importante. — Eu puxo minhas mangas para baixo para cobrir meus polegares. — O importante é que eu finalmente economizei o suficiente para outra passagem de ônibus.
Val se endireita. — Para visitar sua mãe?
— Sim, obviamente.
— Legal, — diz ela, embora sua voz não tenha entusiasmo.
— O quê?
— É só que... — Ela se mexe um pouco. — Você tem certeza que deseja fazer isso? Realmente te perturbou da última vez que você a visitou.
Eu mordo meu lábio inferior antes de responder. — Eu sei, mas espero que seja diferente desta vez. Ela pode estar melhor. Além disso, valerá à pena sair um pouco desse lugar. Eu estou contando os dias até não precisar mais dividir uma casa com pessoas pé no saco.
— Eu te entendo, — Val diz, seus cachos saltando quando ela balança a cabeça. Eu sei que ela não quis dizer isso inteiramente, no entanto. Nossas situações familiares são difíceis, mas de maneiras completamente diferentes. Enquanto eu fico com uma tia que me odeia e uma prima mimada, Val tem quatro irmãos mais novos que sua mãe espera que ela ajude a cuidar. E eu sei que Val os ama, apesar de todas as reclamações dela. Então, daqui a alguns meses, quando finalmente terminarmos a escola, tenho a sensação de que vou partir por conta própria.
— Ei! Saiam daí! — Olhamos sobre nossos ombros para o pátio da escola, onde a Sra. Pringleton está sacudindo o dedo ossudo para nós.
— Mas não estamos fazendo nada de errado, — Val grita de volta.
Suas mãos nodosas formam punhos, e as manchas cor-de-rosa em seu rosto ficam mais rosadas. — Eu vou ligar para a polícia se vocês não saírem daqui nos próximos dez segundos!
— Legal, — diz Val. — Diga ao Tio Pete que eu disse oi.
— Val. — Eu cutuco seu braço enquanto tento evitar rir. — Não vamos dar à velha um ataque cardíaco, ok? Podemos subir de volta assim que ela sair.
— Tuuuudo bem. — Val mexe sua bunda até a borda da parede e pula para baixo. Eu sigo um momento depois. — Eu acho que eu deveria ir para casa para os mini monstros de qualquer maneira, — acrescenta ela. — Mas eu estou me dando mais cinco minutos de liberdade primeiro. — Ela se senta na grama e cruza as pernas.
— Tudo bem por mim. — Eu permaneço de pé, mas me inclino contra a parede e brinco com a ponta da minha manga. — Você provavelmente já está com problemas por estar atrasada, então o que são cinco minutos extras?
— Exatamente.
Um carro passa ruidosamente e, do outro lado da rua, noto uma pessoa que não estava lá há um minuto. Um cara com uma arrogância irritantemente familiar em seu passo. — Maravilha, — murmuro. — O que Dash está fazendo aqui?
— Hmm? — Val olha para cima. — Oh. Provavelmente indo para a festa.
— Que festa?
Ela vira a cabeça para o lado e olha para mim. — Sabe, aquela na casa da fazenda do Mason.
— Eu não sabia, na verdade. O irmão mais velho de Jade está em casa novamente?
— Sim. Supostamente cuidando de Jade e do outro garoto Mason enquanto seus pais estão fora.
— E em vez disso ele está dando outra festa, — eu digo com um suspiro.
— Sim. Sorte nossa, humildes estudantes do ensino médio.
— Certo. Se você gosta. — Olho de volta para o outro lado da rua para Dash. Como sempre, ele destacou seus cabelos loiros mel com mechas verdes brilhantes. Tudo o que posso fazer é balançar a cabeça para a estranha combinação de cores. — O cabelo dele é tão estranho. Eu não sei como eles o deixaram se livrar disso seja qual for à escola que ele frequenta.
— Você não sabe como eles o deixaram ficar com o cabelo incrível? — Val pergunta com uma risada.
— Não, eu quero dizer a cor.
Ela ri com mais força e balança a cabeça. — Eu não sei o que você pode achar ofensivo sobre o cabelo lindo daquele menino, mas tudo bem. Eu não discutirei com você.
Eu olho para ela com uma careta. — Cabelo lindo? Sério?
Ela encolhe os ombros. — O que posso dizer? Eu o acho atraente.
Eu gemo e olho para cima mais uma vez, e Dash escolhe aquele momento para olhar através da rua, nos dar um sorriso encantador e piscar. — Sério? — Eu murmuro. — Quem diabos pisca para as pessoas?
— Dash, aparentemente, embora provavelmente só para você. — Val bate no meu tornozelo. — Você sabe que ele ama irritar você. De qualquer forma, você deveria ir para a festa. Se Dash fez todo esse percurso, você sabe que vai ser boa.
— Por favor. Dash provavelmente está entediado seja lá qual for a escola particular e tensa e esnobe que ele frequenta. Sem dúvida, ele aproveita a chance de ir a qualquer festa.
— Então... isso significa que você vai?
Eu balanço minha cabeça enquanto observo Dash continuando a descer a rua. — Não é a minha praia, Val. Você sabe disso.
— Você sabe que ainda pode ir a festas mesmo se não quiser beber, certo?
— Então eu vou ficar lá totalmente sóbria e ver o resto de vocês ficando bêbados? Não, obrigada.
— Ou você poderia apenas beber um pouco. — Ela dá uma tapinha no meu tênis. — Você precisa relaxar mais, Em.
Eu cruzo meus braços sobre meu peito. — Lembra como meu tio morreu de envenenamento por álcool? E como minha mãe tentou abafar seus delírios bebendo? Sim. Estou tentando evitar situações como essa.
Val fica quieta enquanto ela levanta. — Vamos, Em. Você sabe que isso nunca vai acontecer com você.
Eu pisco para longe a memória daquele braço escamoso e brilhante saindo da lixeira. — Tudo bem, aqui está uma razão para você: Dash vai estar nesta festa, e eu não sinto vontade de estragar a minha noite.
— Ok, ok, eu entendi. Você não vai à festa. — Ela passa um braço em volta do meu pescoço e me abraça. — Tente ter uma boa noite de qualquer maneira.
— Obrigada. Vejo você amanhã.
Nós seguimos em direções diferentes, Val segue pela parte de trás da escola para atravessar o campo, enquanto eu continuo ao longo da rua. Longas sombras se estendem pelo asfalto e a névoa marrom-alaranjada e desbotada do pôr do sol enche o céu. Eu viro logo depois dos correios —
— e vejo uma figura com um capuz prateado no meio da rua. Na frente dele ou dela está um homem com orelhas pontudas. A figura encapuzada toca o homem, e o homem se torna uma estátua sólida de cristal facetado reluzente.
Com um suspiro, eu me escondo atrás do prédio, meu coração trovejando. Eu pressiono minhas costas contra a parede de tijolos quentes e coloco as duas mãos sobre os olhos. Eu conto até dez enquanto me forço a respirar devagar. — Não há nada lá, — eu sussurro para mim mesma. Eu começo a contar novamente, e desta vez eu continuo. Eu alcanço o número oitenta antes de ser corajosa o suficiente para abaixar minhas mãos do meu rosto. Lentamente, eu espreito ao redor do prédio - e, claro, não nenhum sinal de que uma figura encapuzada e uma pessoa feita de cristal estivessem lá. Porque eles não estavam, eu digo a mim mesma. Eu pressiono minhas costas contra a parede mais uma vez. — Você não viu nada, — eu sussurro. — Não havia nada lá. Você não viu nada de estranho. Você não está ficando louca.
Mas, ao me apressar pela rua principal, optando por seguir o caminho mais longo para casa, não consigo deixar de pensar em todas as vezes que coisas estranhas como essa aconteceram. A criatura não identificável sentada no parque no balanço um dia. Aquele homem com as orelhas pontudas que veio na lanchonete uma tarde. E daquela vez eu olhei no espelho do banheiro e por um momento, meu cabelo estava azul. — Eu não estou ficando louca, — repito calmamente, quase desesperadamente. Isso provavelmente está relacionado a algo que vi na TV. Ou algo que eu li. Meu cérebro está processando algo fictício e o regurgitando mais vividamente do que eu esperava. É isto o que as pessoas querem dizer quando falam sobre uma imaginação hiperativa, certo? — Sim, deve ser isso, — murmuro. — Deve ser isso.
Deve ser qualquer coisa, exceto o óbvio: que estou ficando como minha mãe.
Eu tento manter meu olhar focado no chão aos meus pés o resto do caminho para casa, não querendo ver nada que eu não deveria estar vendo. É uma viagem muito mais longa do que se eu tivesse usado a rua que eu deveria usar. A rua em que a figura encapuzada estava. Está escuro quando chego a nossa rua, e quase corro para cima e para o lado da casa da Chelsea. Eu nunca estou ansiosa para chegar em casa, mas de alguma forma me convenci de que estarei segura assim que entrar. Eu entro pela porta da cozinha e paro um pouco para respirar quando a porta se fecha atrás de mim.
Uma panela fervendo contendo algo que cheira como podendo ser macarrão está no fogão. Através da porta aberta que leva ao salão, ouço Chelsea e Georgia conversando. Meu medo anterior começa a parecer tolo em comparação com a normalidade ao meu redor.
Atravesso a cozinha sem falar oi para Chelsea e Georgia. Elas não se importam particularmente que eu esteja em casa, e eu particularmente não me importo em cumprimentá-las. Em vez disso, vou direto para o meu quarto, removendo o dinheiro do bolso conforme ando. Eu forço minha porta a se abrir, empurrando-a além de outra caixa de equipamentos de salão da Chelsea que parece ter encontrado seu caminho para este quarto desde hoje de manhã. Deixo minha bolsa mensageiro escorregar do meu ombro sobre a cama, meu foco agora em contar minha comissão do dinheiro que Slade me pagou. O resto, claro, vai para a querida Tia Chelsea. Ela é quem faz os estranhos remédios de ervas.
Eu puxo meu pote de sorvete com produtos de higiene da prateleira acima da minha cama e procuro pela sacola plástica que eu guardo. Eu vou contar tudo agora e ter certeza que tenho bastante, então, eu vou comprar uma passagem de ônibus amanhã. Eu remexo em várias garrafas, meus dedos procurando o saco de plástico amassado.
Sumiu.
Meu estômago cai enquanto esvazio o conteúdo do pote na minha cama, só para ter certeza. Eu espalho tudo, mas a pequena sacola com zíper definitivamente não está lá. Minha pele fica fria e quente. Foram meses e meses de poupança, tudo para que eu pudesse visitar a mamãe e agora sumiu?
Minhas mãos se fecham em punho enquanto saio do quarto e vou direto para o salão. Eu encontro Georgia descansando em uma das cadeiras, olhando para si mesma no espelho enquanto ela passa a mão pelo cabelo loiro e liso. No lado oposto da sala, Chelsea estoca as prateleiras com mais de seus produtos caseiros à base de ervas.
— Onde está o meu dinheiro? — Eu exijo.
Georgia pula de susto e quase escorrega da cadeira, mas Chelsea ainda demora um momento antes de se virar para mim. — Seu dinheiro, Emerson, — diz ela. — Eu acho que você quer dizer meu dinheiro.
— Desculpe?
— Você vem me roubando há meses.
— Roubando — eu nunca roubei nada de você. Eu sempre dou a você exatamente o que é devido e só mantenho a porcentagem permitida. Você sabe disso.
— Certo. — Chelsea cruza os braços e acena com a cabeça. — E depois você volta para o meu quarto e rouba o que quiser. O dinheiro tem desaparecido da minha bolsa há meses. No começo eu pensei que estava imaginando, que deve ser erro meu, mas então eu comecei a acompanhar exatamente o quanto estava lá. — Ela me dá um sorriso triunfante, como se tivesse feito algo maravilhosamente inteligente. — E você sabe o que eu descobri? Pequenas quantias de dinheiro começaram a desaparecer a cada semana. E olha onde eu encontrei. — Ela cava no bolso e tira uma sacola plástica. Minha sacola de plástica.
— Essa é a minha suada poupança, — eu digo a ela, sentindo um nó de náusea se formando no meu estômago. — Isso não é seu.
— Não minta para mim. Eu sei como vocês meninas gastam dinheiro. Como se crescesse em árvores e vocês não tivessem nenhuma responsabilidade no mundo. O que eu quero saber é onde está o resto? — Ela sacode a sacola no ar entre nós. — Porque você roubou muito mais do que o que resta aqui.
— Eu não roubei você! — Eu grito. Eu olho para Georgia, que está observando nós duas com um pequeno sorriso. Minha raiva aumenta um nível quando eu aponto para ela. — Você quer saber para onde seu dinheiro está indo? É onde você deveria estar procurando.
— Não se atreva a meter Geórgia nisso. Ela nunca me roubaria.
— Bem, não sou eu, então não sobra ninguém, não é?
Chelsea solta uma risada incrédula. — Eu não acredito em você, Emerson. Depois de tudo o que fiz por você. Eu trabalho tanto para cuidar de vocês duas, e é assim que você me paga? Você me rouba e então corre por toda a cidade fazendo aquele inútil absurdo de parkour.
— Tudo? — Eu repito. — Você disse depois de tudo que fez por mim? — Normalmente eu ficaria de boca fechada. Eu engoliria minha raiva e deixaria que ela tentasse se convencer de como ela é incrivelmente caridosa. Mas não desta vez. Não quando ela tirou minha única chance de visitar minha mãe. — Você quer dizer que está me dando roupa de segunda mão de Georgia, me fazendo dormir no que é essencialmente seu depósito por cinco anos e me usando como sua empregada doméstica?
— Eu te dei uma casa, — ela grita. — Você deveria ser grata pelo teto sobre sua cabeça. O que teria acontecido com você se não houvesse ninguém para aceitá-la depois que trancaram sua mãe? Seu pai com certeza não queria você. Ele parece estar cobrindo todas as despesas médicas de sua mãe naquele hospital distante, mas ele está interessado em apoiar você? Não. Eu nunca conheci o homem.
Chelsea usou essa jogada antes para tentar me machucar, mas nunca funciona. Eu não me importo com o meu pai ou com o fato dele não ter interesse em mim. Eu nem sei como ele é. — Por favor, — eu digo entre os dentes cerrados. — Apenas me devolva meu dinheiro.
— Você não vai conseguir esse dinheiro de volta, Emerson. Fim da história. — Chelsea coloca a sacola de plástico de volta no bolso e se vira para as prateleiras de lixo de ervas. Georgia sai da cadeira e sai da sala. Eu fico ali me sentindo enjoada, meu corpo tremendo, finalmente percebendo que a esperança que tenho guardado por meses - a esperança de finalmente visitar minha mãe novamente - se foi. E eu não posso culpar Chelsea por isso. Não inteiramente. Não quando ninguém é responsável por essa bagunça.
Saio do salão e vou para o quarto de Georgia. Ela está sentada em sua cama com uma revista, sorrindo docemente, com conhecimento de causa.
— Foi você, — eu digo, dando alguns passos para dentro de seu quarto. — Você disse a ela onde meu dinheiro estava.
Ela abaixa a revista. — Porque você precisaria de todo esse dinheiro, Em? Você sabe que precisamos disso para manter a casa funcionando. Como você pode ser tão egoísta?
— Como você pode ser tão egoísta roubando de sua própria mãe?
— Eu preciso de coisas, — diz ela. — Coisas que você não precisa. Coisas que você não entenderia, e mamãe não parece entender também.
Eu olho para ela com raiva por mais alguns segundos, minha raiva tão intensa que eu poderia gritar. Mas isso não seria bom. Eu ainda tenho que ficar mais alguns meses aqui, então eu fecho a boca, me viro e vou em direção da porta.
Mas é quando eu vejo: pendurado em uma maçaneta no guarda-roupa, a etiqueta ainda presa na bainha, está um vestido novo. — Está é a coisa que você precisa? — Eu exijo, pegando o cabide, girando e sacudindo o vestido para ela.
— Sim. — Ela se senta um pouco mais ereta, como se eu finalmente conseguisse sua atenção agora que estou ameaçando sua roupa. — Eu tenho um namorado e uma vida social e um futuro. Esse tipo de coisa não vem de graça. Você tem que parecer bonita se quiser —
Eu arremesso o vestido sobre ela, e ela grita quando atinge o lado de sua cabeça. — Você comprou um vestido? — Eu grito. — Estou economizando há quase um ano para poder visitar minha mãe e você tirou isso de mim por causa de um VESTIDO?
Algo pisca através do quarto. Luz e calor e o som de um chiado. Desaparece quando Georgia recua contra os travesseiros com um grito.
O medo quebra a minha raiva, me enchendo de arrepios. Eu corro em direção de Geórgia. — Qual é o problema? O que aconteceu?
Ela me empurra com uma das mãos, a outra cobrindo sua bochecha. — O que diabos você fez comigo? — Ela ofega, seus olhos mais arregalados do que eu já vi.
— Eu não fiz —
— Você jogou algo em mim! Como um fogo de artifício ou algo assim. Sua esquisita, qual é o problema com —
— Eu não joguei nada!
— Saia de cima dela! — As mãos de Chelsea envolvem meus ombros e me puxam para trás.
No silêncio que se segue, tudo o que ouço é minha respiração pesada e os gemidos de Georgia. Ela abaixa a mão, revelando sangue escorrendo de um corte raso em sua bochecha. Ela me encara com ódio renovado. — Oh, meu pobre bebê, — Chelsea engasga, pegando um lenço da caixa na mesa de cabeceira. Ela cai na cama ao lado de Georgia e pressiona o lenço contra sua bochecha antes de virar sua carranca na minha direção. — Eu não posso mais fazer isso, Em. Você nunca demonstrou gratidão pelos sacrifícios que tive que fazer por você. Você roubou de mim e agora agrediu fisicamente Georgia. A polícia pode lidar com você.
— A polícia?
Ela se levanta e passa por mim. — Você não é mais meu problema. — Eu a sigo até a cozinha, onde ela pega o telefone da mesa. Quando ela disca alguns números e leva o telefone ao ouvido, percebo que ela não está brincando.
O medo dissolve minha raiva. — Chelsea, espere. Eu sinto muito. Georgia me provocou, mas eu não deveria ter perdido a paciência daquele jeito. Não vai acontecer de novo. Você não precisa envolver os policiais nisso. Por favor. — Me sinto enjoada de ter de implorar a ela, ter que implorar a essa mulher que me fez esfregar banheiros, lavar a roupa de Georgia, mentir para os vários homens que ela está sempre mentindo e depois exigir minha gratidão pelo privilégio de fazer todas essas coisas por ela. Mas é só por mais alguns meses. Então eu terei dezoito anos, terminarei a escola e eu posso fazer um plano para sair daqui. Mas se a polícia se envolver, quem sabe onde vou parar.
— Não, — diz Chelsea. — Eu não posso acreditar que você está me obrigando a fazer isso, mas agora não tenho escolha. Eu tenho que proteger minha filha.
— Chelsea, por favor. Protegê-la de quê? — Eu me aproximo, apertando minhas mãos sob o queixo. — Eu juro que nunca —
— Você vai acabar ficando louca igual a sua mãe, — ela diz, — e eu não quero você nesta casa quando isso acontecer.
Eu recuo como se ela tivesse me dado uma tapa.
— Alô? — ela diz ao telefone, se afastando de mim. — Sim, hum, por favor, você pode enviar alguém para —
Eu passei por ela em direção à porta dos fundos.
— Ei, volte aqui! — Ela grita enquanto eu abro a porta e corro.
Mas eu não volto. E eu não paro de correr.
Capítulo 02
EU CORRO PELO QUINTAL, ESCALO O MURO DO VIZINHO E PULO FACILMENTE PARA A parede baixa do outro lado do jardim. Não tenho outro plano senão chegar o mais longe possível da casa antes que os policiais apareçam. Meus tênis batem nos pavimentos e meu corpo se lança através de vários obstáculos antes de eu perceber que estou indo para a casa de Val. Eu chego na metade do caminho quando lembro que ela não vai estar em casa. Não sei a que horas a festa deveria começar, mas as coisas geralmente começam bem cedo por aqui. Não é como se houvesse muito coisa para fazer. Além disso, a casa de Val é provavelmente o primeiro lugar para o qual Chelsea vai mandar a polícia.
Eu diminuo meus passos e coloco minhas mãos em meus quadris enquanto recupero o fôlego. Meu coração está tamborilando, meu corpo quase vibrando. Eu me forço a respirar longa e lentamente. — O que diabos você está fazendo? — Eu murmuro para mim mesma. Talvez eu não devesse ter corrido. Talvez eu devesse ter ficado e me explicado. Qual é a pior coisa que poderia ter acontecido?
Você vai acabar ficando louca igual a sua mãe.
Se os policiais acreditarem em Chelsea - se alguém realizar algum tipo de exame médico em mim e suas palavras se revelarem verdadeiras - então o pior que pode acontecer não é uma acusação de agressão física. Não é um serviço comunitário, ou seja lá o que for, que a polícia local decidir ser uma punição adequada para mim. Não, a pior coisa seria acabar em uma instalação como a da minha mãe. Trancada para evitar que eu machuque os outros. Drogada para me impedir de ver coisas que não estão lá.
Basicamente, meu pior pesadelo se tornaria realidade.
Eu me vejo correndo de novo, desta vez na direção da casa de Jade Mason, nos arredores da cidade. É mais longe do que eu me lembro e fico sem fôlego quando chego lá. Eu diminuo a velocidade perto da parte inferior da rua, então não estou suada e ofegante quando chego à festa.
Do lado de fora da casa dos Mason, encontro pessoas andando ao redor de uma fogueira e outras sentadas na varanda. Música chega aos meus ouvidos. Não vejo Val em nenhum lugar do lado de fora, subo correndo os degraus da varanda e entro na casa.
— Ei, Em, você apareceu desta vez. — Eric, o idiota que se senta ao meu lado na aula de inglês, acena para mim de onde ele está encostado na parede do corredor com alguns de seus amigos. — Ei, você trouxe alguma daquelas ervas que sua tia vende? — Ele faz alguns movimentos com a pélvis enquanto seus amigos riem. — Você sabe como isso me deixa —
— Val está aqui? — Eu pergunto.
— Sim, ali. — Ele balança a cabeça em direção à sala do outro lado do corredor. — Quer uma bebida primeiro?
Eu passo por ele sem responder, deixando os uivos e vaias de seus amigos se misturarem com a música de fundo. Na sala escura e cheia de fumaça, Dash está parado do lado de dentro da porta, comandando uma plateia de várias garotas. Suas sobrancelhas se contraem momentaneamente em uma carranca quando ele me vê, mas dura apenas um momento. Então ele balança a cabeça e sorri.
Ignorando-o, eu entro na sala e vejo Val em um sofá com um monte de nossos colegas de turma. Ela está com um copo em cada mão. — Val! — Eu corro até ela.
— Ei, você veio. — Ela sorri para mim quando ela se arrasta e acena com a cabeça em direção ao local vazio no sofá. — Venha sentar aqui.
— Não, eu posso - falar com você?
Ela deve ouvir a urgência na minha voz - ou talvez viu no meu rosto - porque ela se levanta imediatamente. — Algo errado? — Ela pergunta, andando comigo até o canto da sala. Paramos ao lado de uma janela. Meu corpo ainda parece está zumbindo, então eu aperto minhas mãos, reviro meus ombros e me forço a respirar lentamente. Val franze a testa. — Em, o que foi?
— Chelsea encontrou meu estoque de dinheiro. Ela surtou e me acusou de roubar dela.
— O quê? De jeito nenhum. Você nunca roubaria dela.
— Claro que eu não faria isso. Foi obviamente a Georgia, mas não vale a pena dizer isso a Chelsea. Ela nunca acreditaria que seu anjinho fosse capaz de roubar. E então... eu... perdi a paciência, e Georgia e eu estávamos brigando, e arranhei a cara dela. Eu não posso dizer a Val que não era eu. Eu não posso dizer a ela que algo estranho e inexplicável aconteceu naquele quarto. Ela provavelmente olharia para mim da mesma forma que Chelsea fez na cozinha. Você está ficando louca igual a sua mãe. — E então ela disse que não podia mais lidar comigo e chamou a polícia.
— Sério? — Val olha para mim como se ela não tivesse ouvido corretamente. — Chelsea chamou os policiais porque você arranhou a Georgia? Isso é ridículo.
— Eu sei. Mas... — eu olho em volta. — Sua prima está aqui? Lexi? Se eu puder falar com ela, então ela poderá explicar para o seu pai o que realmente aconteceu, e ele pode dizer aos outros policiais, e então eles não vão me levar embora.
— Levar você embora? — Val começa a rir. — Em, você precisa relaxar. Tio Pete não vai levar isso a sério. Ele sabe que você não é uma criminosa de verdade. Talvez ele faça você juntar lixo no parque ou algo assim, apenas para manter Chelsea feliz, mas ele não vai te levar embora.
De repente eu me pergunto se estou sendo tão boba quanto Val parece pensar. Foi apenas um arranhão, afinal. Bem, um pouco mais que um arranhão, mas dificilmente uma ameaça à vida. — Você acha? — Eu corro a mão pelo meu cabelo, não estou disposta a relaxar ainda.
— Sim, vamos lá. Esta é uma cidade pequena. Todos nós nos conhecemos. As pessoas não ficam presas por algo tão estúpido.
— Eu acho que sim.
— O que você quer dizer com você acha? — Ela sorri e me cutuca com uma mão ainda segurando um copo. Um líquido frio espirra sobre a borda e espirra no meu braço. — Obviamente, estou certa sobre isso. Então apenas relaxe. Divirta-se. Tome uma bebida.
Eu suspiro, tentando afastar o meu pânico e não totalmente conseguindo. — Você se lembra de que esse tipo de cenário não é exatamente a minha ideia de diversão, certo?
— Eu sei. Mas o amigo do irmão de Jade, Marcus, estará aqui em breve e eu preciso de apoio. Você sabe que fico estranha quando estou sozinha com um cara gostoso. Por favor, fica.
Eu não quero exatamente ficar, mas é provavelmente a melhor opção. Chelsea não estava brincando sobre pressionar acusações - ou tentar, pelo menos - mas ela provavelmente vai se acalmar se eu lhe der um pouco de espaço durante esta noite. — Sim, tudo bem.
— Sim. — Val sorri. — Aqui, tome uma bebida. — Ela estende um dos seus copos para mim, em seguida, revira os olhos para a minha sobrancelha levantada. — Não é alcoólica, eu prometo. Tem que ficar hidratada, lembra? Alcoólica — ela levanta o outro copo — e não-alcoólica.
Hesito, mas estou com sede depois de trabalhar na cozinha da lanchonete a tarde inteira, pegando a rota mais longa para casa e depois correndo pela cidade para chegar até aqui. Eu sei que já faz horas que eu bebi qualquer coisa. — Obrigada. — Eu examino a sala por cima do copo enquanto eu tomo um gole, esperando algo doce e efervescente. Mas a bebida queima como fogo na minha garganta. Eu tusso e resmungo e empurro o copo de volta para Val.
— Qual é o problema?
— Val, isso é horrível, — eu consigo dizer. — O que tem aí dentro?
Com uma expressão confusa, ela pega o copo de mim e bebe. Então ela levanta o outro copo, cheira e prova. — Hmm. — Sua carranca se aprofunda. — Eu acho que nos dois têm álcool. Eu devo ter tomado todo o refrigerante. — Ela encolhe os ombros. — Ah bem. Pelo menos você só provou um pouco.
— Val.
— O quê? Eu sinto muito. Eu não fiz de propósito. E um gole não vai te matar.
Eu tusso novamente, tentando livrar minha garganta da sensação de queimação. — Foi um pouco mais do que um gole, — murmuro.
Val toma o restante de um copo, depois o deixa no peitoril da janela e segura minha mão. Quando ela me puxa, espero que estejamos voltando para o sofá em que a encontrei. Em vez disso, ela me puxa para a sala ao lado, onde muitas pessoas estão espremidas juntas, acenando com a cabeça no ritmo da batida e gritando umas com as outras sobre a música.
Val se inclina em minha direção e diz, — Ooh, Marcus já está aqui. Viu ele ali no canto? E você pode ficar com aquele cara que está com ele. Talvez nós duas acabemos com alguém até o final da noite, e então nós vamos ter um encontro duplo e nos casar e viver felizes para sempre.
Balanço a cabeça para os devaneios ridículos de Val. — Certo, e então eles vão nos trair, e nós vamos acabar sozinhas como nossas mães.
— Ei! — Val bate no meu braço, mas seu sorriso pula de volta ao lugar enquanto ela me puxa para o outro lado da sala em direção a Marcus e seu amigo. O nome do amigo é Trent e, com certeza, ele não é feio, mas estou muito distraída para aproveitar a companhia dele. Eu me inclino contra a parede, brincando com o pompom de cabelo ao redor do meu pulso e ocasionalmente acenando com a cabeça, então os três acham que estou prestando atenção na conversa deles. Em vez disso, meus pensamentos estão longe, oscilando continuamente entre as palavras de Chelsea - você vai acabar ficando louca como sua mãe - a pessoa encapuzada que eu imaginei na rua, e o corte inexplicável na bochecha de Georgia. Os mesmos pensamentos várias e várias vezes, até que nada parece fazer mais sentido.
Eu me torno consciente de que meu corpo ainda está zumbindo. Provavelmente a bebida horrível de Val. Isso não faz sentido, meus pensamentos sussurram na parte de trás da minha mente, mas eu nunca tomei bebida alcoólica antes, então como eu saberia? Talvez todo mundo comece a se sentir estranho depois de um enorme gole.
Val está olhando para mim, sorrindo e falando, e eu tento seguir o que ela está dizendo, mas não consigo mais me concentrar. Suas palavras entram em um ouvido e saem pelo outro, e a sala está de alguma forma... inclinando apenas um pouco. Eu olho para o chão, mas parece normal. Essa sensação na minha cabeça não é normal, no entanto. Esta semi consciência turva. A sensação de que eu estou envolta em algo macio que amortece a batida, batida, batida da música e o som da voz de Val. Talvez eu devesse estar preocupada, mas não consigo encontrar a parte de mim que se importa. A parte de mim que quer cair nesse casulo macio e dormir está assumindo.
Eu lembro do sofá na sala ao lado. — Eu só vou... vou... — Eu aponto para a porta e começo a me mover em direção a ela. Eu nunca tive que me concentrar em andar reto, mas é estranhamente difícil agora. O chão continua querendo subir em minha direção.
O sofá está cheio de gente. Eles não gostariam que eu me deitasse sobre eles, então eu consigo sair da sala e ir para o corredor. Eu arrasto minha mão ao longo da parede, mantendo-me de pé enquanto faço meu caminho até a porta da frente. O ar lá fora está mais frio, mais fresco. Eu permaneço na varanda por um tempo, encostada no corrimão e respirando profundamente até notar que o ar não está tão fresco assim. Cheira a fumaça.
Eu preciso ir para casa. Eu preciso andar e respirar e deixar essa nebulosidade estranha para trás. Eu preciso dormir. Tudo ficará mais claro quando eu acordar de manhã.
As escadas da varanda são um desafio, mas consigo navegar nelas. Estou aliviada por estar na grama e me afastar da casa e das pessoas, mas o algodão entupindo meu cérebro parece me seguir.
— Ei, aí está você. — Val aparece ao meu lado. — Você está indo embora?
— O quevocêestá... fazendoaquifora? — Faço uma pausa, abro mais a boca e me concentro intensamente para não pronunciar minhas próximas palavras. — Você deveria estar lá dentro com seu cara gostoso.
— Ugh, não, eu acabei de dizer a coisa mais idiota de todas. Marcus me olhou como se eu fosse uma criança. Muito constrangedor. Juro que queria que a terra tivesse se aberto e me engolido inteira.
— E daí? — Eu murmuro, minha voz ressoando estranha em meus ouvidos enquanto eu balanço no local. — Então deixe que a terra se abra e a engula inteira.
Um tremor ressoa sob nossos pés. — O que foi isso? — Val pergunta.
Com um som estridente, um buraco irregular ziguezagueia pelo jardim, abrindo a terra. O terror dissipa um pouco do algodão na minha cabeça, deixando tudo mais claro. Eu sufoco um grito e tropeço para trás.
Mas Val desliza sobre borda do buraco e cai dentro dele.
— Val! — Eu caio de joelhos e me arrasto. Ela está se agarrando à borda, gritando. Não consigo ver a profundidade do buraco, mas de repente começa a fechar. Quando eu agarro os braços de Val, a terra escura se fecha ao redor de seu corpo. — Pare! — Eu engasgo. — Pare, por favor, pare! Socorro! — Eu lhe dou um puxão desesperado, a solto e caio para trás.
E a escuridão envolve tudo.
Capítulo 03
ACORDAR É COMO AGARRAR O MEU CAMINHO ATRAVÉS DA LAMA ENQUANTO ALGUÉM golpeia minha cabeça repetidamente com um martelo. Quando finalmente consigo deslocar minhas pálpebras e piscar várias vezes, olho para o quarto embaçado, tentando lembrar como cheguei em casa e fui para a cama.
Exceto que este não é meu quarto.
Alarme dispara através de mim, limpando a névoa e fazendo minha cabeça latejar ainda mais. Náusea rasteja pela minha garganta quando os eventos recentes inundam meu cérebro. O sangue no rosto da Georgia - Chelsea chamando a polícia - a festa - um terremoto dividindo o chão e - o que diabos aconteceu na noite passada? Essa última informação não pode ter sido real. Devia ter havido algo estranho na bebida de Val.
Meu pulso martela em meus ouvidos enquanto eu observo o quarto desconhecido e seu mobiliário elegante. Do outro lado do quarto, alguém abre a porta e entra. — Oh, você está acordada, — diz ele. — Bom dia.
— Dash? Onde estou... Você me sequestrou? Que mer —
— Uau, espere aí, Senhorita Boca Suja. — Ele pega uma cadeira e a aproxima da cama. — Mamãe está por perto. Ela não gosta de linguagem como essa.
Eu fico boquiaberta com ele. — Esta é a sua casa? — Eu não tinha ideia que quartos legais como esse existiam na pequena cidade miserável de Stanmeade. — O que diabos estou fazendo aqui?
— Bem, — ele diz enquanto senta na cadeira, — eu tive que resgatá-la da bagunça que você fez.
— A bagunça que eu fiz? — Eu pressiono minhas mãos sobre o meu rosto para que eu não tenha que olhar para ele. A dor latejante por trás dos meus olhos se intensifica e a náusea ameaça me dominar. — O que tinha naquela bebida? — Eu murmuro.
— Nada sinistro, — ele diz levemente. — Fadas não respondem bem ao álcool que os humanos fabricam, só isso. Eu acho que você conseguiu ficar longe disso até agora, senão você estaria familiarizada com os efeitos da ressaca.
Eu abaixo minhas mãos e empurro o edredom para o lado. — Você sabe o que, Dash? Você pode tirar sarro de mim o quanto quiser. Eu não me importo, especialmente considerando que ‘fada’ é provavelmente a provocação mais fraca que você já fez. — Eu me levanto, meus pés afundando no tapete macio. — Só me deixe sair daqui para que eu possa ir para casa.
Dash levanta. — Isso vai ser um pouco difícil.
Eu coloco minhas mãos nos meus quadris e dou a ele meu olhar mais feroz - o que provavelmente não é tão feroz, dado o meu estado atual. — Você não vai mesmo tentar me parar, não é?
— Não, eu não vou impedi-la de fazer nada. Eu só preciso explicar algumas coisas primeiro. Bem, muitas coisas, na verdade. Então você provavelmente deveria se sentar.
— Eu não penso assim. — Eu passo por ele, olhando para o espelho sobre a cômoda, e — O que — Eu engasgo, quase tropeçando em meus próprios pés. Eu agarro a borda da cômoda e olho por vários segundos horrorizados para as mechas brilhantes misturadas com o meu cabelo castanho escuro.
— Em?
— Meu cabelo está azul! — Eu grito. Eu me viro, me arrependendo imediatamente quando o quarto continua girando apesar do fato de eu ter parado.
— Oh. Sim. Eu esqueci que você não podia ver isso antes.
— Por que meu cabelo está azul?
Ele suspira. — Você nasceu assim.
Minha voz é lenta e trêmula quando digo, — Eu não nasci com cabelo azul.
— Nasceu. Você só não conseguiu ver agora. É... bem, é uma característica dos faeries. Você é um ser mágico, mas sua magia é meio... defeituosa. Às vezes, está lá - como na primeira vez que você me viu quando eu estava realmente escondido por um glamour - mas na maioria das vezes não está. Bem, — ele acrescenta com uma carranca, — até a noite passada, quando tudo explodiu. Não desapareceu desde então, então tenho a sensação de que está aqui para ficar agora.
O silêncio preenche o quarto por vários segundos, até que eu percebo o fato de eu estar boquiaberta. — Você é louco, — eu sussurro.
— Eu não sou louco. Eu não estou fazendo essa parte particularmente bem, parece. O que não é totalmente minha culpa, eu gostaria de salientar, já que você já é fortemente tendenciosa contra mim.
— Minha forte tendência existe por excelentes razões! — Eu grito. — Que agora incluem o fato de que você tingiu partes do meu cabelo de azul!
Ele pisca. — Você precisa superar a coisa do cabelo. Não chega perto de ser a maior revelação do dia.
— Isto é uma porcaria completa. — Eu me viro e vou para a porta - mas ele chega lá primeiro e bloqueia o caminho com seu corpo.
— Você precisa me ouvir, Em. Você ficará terrivelmente confusa se não me deixar explicar tudo.
Eu giro e vou para o lado oposto do quarto, para as portas duplas de vidro através das quais eu posso ver uma varanda. Eu particularmente não quero descer pela lateral do prédio no meu estado atual, mas farei se for à única saída deste quarto. Eu puxo as portas, corro para fora e congelo.
No extenso jardim abaixo, que é tomado pela pálida luz do amanhecer, as árvores e roseiras estão brilhando. Não devido à iluminação artificial, mas como se a luminescência emanasse de dentro das próprias plantas. Rosas brancas azuladas e folhas roxas luminosas. Água prateada escorre sobre as rochas da fonte no centro do jardim, onde duas pequenas criaturas que parecem cavalos alados estão bebendo.
— Tire-me daqui, — eu sussurro. Minhas mãos se levantam para apertar os lados do meu rosto, como se este fosse um sonho terrível do qual eu possa me forçar a acordar. — Leve-me de volta para casa.
Acima da batida do meu pulso nos meus ouvidos, ouço os passos de Dash se aproximando. — Eu não posso. Além de todas as coisas que ainda tenho que explicar, você também precisa me dizer exatamente o que fez ontem à noite.
— Me leve de volta.
— Emerson, você não pode se esconder disso. Eu sei que você não esperava que tudo mudasse, mas agora aconteceu, então —
— Me leve de volta! — Eu grito, agarrando sua camiseta com ambas as mãos e o puxando para mais perto. — Eu quero acordar. No meu próprio quarto. Longe de você e do seu —
— Tudo bem! — Ele remove meus punhos de sua roupa. — Se você insiste em ser tão difícil. Se você insiste em ignorar o que está bem na frente dos seus olhos. — Ele levanta a mão, a palma da mão virada para o quarto, e algo em forma de caneta voa pelo ar - através do maldito ar - e para seu alcance. Sangue é drenado do meu rosto enquanto meu cérebro rejeita o que estou vendo. Alfinetes de luz deslizam pela minha visão enquanto Dash escreve na parede ao lado da porta da varanda. Sua mão envolve meu pulso e me puxa para frente em direção da parede – dentro da parede - e quando tudo desaparece na escuridão, fico aliviada porque sei que o pesadelo está chegando ao fim. Eu sei que vou acordar em breve.
— Feliz agora?
A escuridão desaparece e estou parada na rua a algumas casas da de Chelsea. O garoto da casa ao lado desce a rua com uma bicicleta surrada do irmão mais velho. — Bom dia, Em, — ele diz enquanto passa, levantando a mão para acenar para mim, depois voltando rapidamente para o guidão quando ele cambaleia.
Eu pisco. Sem olhar para trás, começo a andar. Rapidamente, quase correndo, enquanto meu cérebro trabalha furiosamente para encontrar uma explicação lógica para o que acabou de acontecer. Este é um tipo de sonho super vívido. Ou talvez tenha sido um sonho vívido, e eu acabei de acordar - na rua? Descalça? Eu hesito e dou uma olhada por cima do meu ombro, mas Dash não está em lugar nenhum. Obviamente, porque eu nunca estive com ele. Eu estive sonhando. Merda, deve ter havido algo seriamente estranho na bebida de Val na noite passada. Algo mais do que apenas álcool.
Eu paro de repente quando uma imagem de Val caindo em uma fenda na terra passa pela minha visão. — Isso nunca aconteceu, — eu sussurro para mim mesma. — Val está bem. — Eu pressiono minhas mãos sobre o meu rosto, respirando devagar e afastando o único pensamento que continua tentando forçar seu caminho para o centro da minha mente: Eu estou mentalmente doente, assim como minha mãe.
Eu sacudo minha cabeça e corro para a entrada, procurando meu celular enquanto corro. Não está em nenhum dos meus bolsos. Eu deixei na festa ontem à noite? Eu abro a porta dos fundos e entro na cozinha.
— Emerson!
Eu recuo e olho para cima. Chelsea se levanta da mesa e dá alguns passos desajeitados para trás, derrubando uma caixa de cereal no balcão no processo. O tio Pete de Val, com os botões do uniforme esticados contra o volume do estômago, fica de pé. Ele mantém seu olhar cauteloso em mim enquanto Chelsea pergunta, — Onde você esteve?
— Hum... — Essa é uma boa pergunta, na verdade. Uma que eu gostaria de saber a resposta. — Eu sabia que você estava chateada, — eu explico com cuidado, — e eu não queria piorar as coisas, então eu fiquei longe. E sinto muito por brigar com a Georgia. Mas você sabe que discutimos o tempo todo. — Meu olhar voa para Pete antes de retornar a Chelsea. — Não é algo que você precise envolver os policiais.
Espero que ela grite comigo como fez na noite anterior, mas o aperto no balcão aumenta quando ela engole e olha para Pete. Seus dedos se contorceram, sua mão direita aperta e afrouxa. — O que aconteceu na casa dos Mason na noite passada, Emerson?
— A... casa dos Mason?
— Não finja que você não sabe de nada, — diz Chelsea, uma ligeira oscilação evidente em sua voz. — Nós ouvimos e soubemos de tudo. Nós vimos o vídeo.
— Que vídeo? Do que você está falando?
Pete avança, coloca o celular na mesa e empurra para mim. Eu dou um passo mais perto e olho para a imagem granulada e instável de uma fogueira e pessoas rindo. O fogo desaparece do vídeo quando a pessoa que segura à câmera gira e quase bate em Val. Depois de um rápido pedido de desculpas, Val se afasta. Mais risadas, alguém grita, — Emerson está bêbada, — e então a câmera segue Val. Chega perto o suficiente para pegar sua voz quando ela diz, — Eu juro, eu queria que a terra tivesse se aberto e me engolido inteira.
Meu sangue gela. Eu me vejo balançando, olhos semicerrados. — E daí? Então deixe que a terra se abra e a engula inteira.
Eu sei o que vem antes de eu ver. Arrepios percorrem minha pele enquanto a filmagem balança de novo, depois se concentra no chão. A terra se abre em um trêmulo e estremecido ziguezague. Val desliza e desaparece. Eu ouço gritos e gritos, e então o vídeo é interrompido.
Meu cérebro quer rejeitar o que eu acabei de ver, mas não consegue. Aconteceu, eu digo silenciosamente para mim mesma. Isso realmente aconteceu.
Chelsea começa a xingar repetidamente por baixo de sua respiração e, por algum motivo, a voz de Dash ressoa na minha cabeça: Mamãe está por perto. Ela não gosta de linguagem como essa.
— Que diabos foi isso? — Pete pergunta, sua voz um sussurro agora. Eu abro minha boca, mas não consigo responder.
— Caramba, é como ter a Carrie morando sob o meu próprio teto, — lamenta Chelsea. — Você tem que levá-la embora, Pete. Por favor, tire-a daqui.
— Espere! Eu... eu não fiz isso. Deve ter sido uma coincidência. Um terremoto aconteceu ao mesmo tempo em que eu estava falando. Você não acha que eu poderia realmente fazer isso acontecer, não é? — Estou tentando me convencer tanto quanto eles. — E quanto a Val? Ela está —
— Você não precisa se preocupar com Val, — diz Pete. — Mas você precisa vir comigo.
— Você está de brincadeira? Você - eu quer dizer - você não viu o que mais estava acontecendo lá? Menores de idade bebendo? Você deveria estar lidando com isso, não com essa estranha coincidência do terremoto.
— Não tente mudar de assunto, Em. — Lentamente, como se aproximando de um animal perigoso, Pete vem em minha direção. Eu dou um rápido passo para trás, indo além de seu alcance. Ele franze a testa e hesita. — Em, por favor. Nós não precisamos tornar isso desagradável. Nós só queremos te levar a algum lugar seguro para você não machucar ninguém.
— Mas eu não vou machucar ninguém, eu juro.
Outros dois policiais se movem do corredor para a cozinha, e percebo que devem ter esperado lá o tempo todo. Eles são os reforços. Porque eu sou supostamente muito perigosa para um policial. Eu sacudo minha cabeça, mal capaz de acreditar que isso está acontecendo, enquanto eu me afasto mais deles.
Uma pausa.
Ninguém fala.
Então todos os três policiais se lançam em minha direção. Chelsea grita, cadeiras são jogadas para o lado e, momentos depois, estou sendo arrastada para fora. O pavimento áspero roça meus pés, e dor corre pelos meus ombros enquanto meus braços estão quase sendo arrancados das juntas.
— ME SOLTA! — Eu grito.
Suas mãos se afastam de mim tão rápido que o impulso gira os três homens ao redor e os joga no chão. — Que diabos? — Pete geme. Ele fica de joelhos e se joga sobre minhas pernas.
Eu pulo para trás para fora de alcance. — Saia de perto de mim!
Como se chutado por uma força sobre-humana, Pete desliza pela grama, passa pela porta e acerta a mesa da cozinha. Chelsea grita novamente. Ao som de um estalo, olho para baixo e vejo faíscas - faíscas? - girando ao redor das minhas mãos. Terror gelado me domina.
— Hora de ir, — uma voz diz atrás de mim. Algo aperta meu braço, e antes que eu tenha tempo de me afastar, sou puxada para a escuridão, um grito silencioso em meus lábios.
Capítulo 04
A ESCURIDÃO EVAPORA PARA REVELAR DASH AO MEU LADO E UM JARDIM BANHADO COM O brilho dourado do nascer do sol. O mesmo jardim que eu vi da varanda minutos atrás. Eu empurro Dash para longe de mim, caio de joelhos e vomito na grama.
— Adorável, — ele diz quando eu termino. — Graças a Deus eu não levei você de volta para dentro da casa.
— O que aconteceu com... Val? — Eu suspiro, tentando engolir o desejo de vomitar de novo e falhando.
Quando minha ânsia finalmente termina, Dash diz, — Ela está bem. Um dos meus companheiros de equipe a tirou do chão. Ela já esqueceu a coisa toda.
— Como ela pode ter... — Minhas palavras param quando eu olho para cima e vejo um daqueles cavalos alados em miniatura voando pelo ar atrás de Dash. Eu levanto lentamente e olho em volta. As rosas e as folhas ainda brilham levemente, mas sua luminescência é menos óbvia agora com a luz dourada do sol se infiltrando através das árvores. O pequeno cavalo pousa em uma parte rasa da piscina rochosa e começa a brincar, lançando gotas de água prateada enquanto brinca. Onde quer que a água caia, um cogumelo prateado aparece.
Meu cérebro continua repetindo a mesma mensagem: Eu devo estar sonhando. Isso não é possível. Eu cheguei ao fundo do poço e perdi completamente a cabeça. Mas eu não acho que minha imaginação seja capaz de criar esse tipo de detalhe fantástico. E tudo parece tão real. O aroma fresco de flores, o formigamento da grama sob meus pés. O gosto amargo do vômito na minha boca.
— Explique, — eu sussurro. — Faça isso fazer sentido.
Dash cruza os braços sobre o peito. — Está bem então. Era uma vez uma menininha cujo nome era —
Eu o interrompo com um olhar raivoso. — Não transforme minha vida em algum tipo de conto de fadas de merda. Apenas me dê os fatos. — Algo brilhante voa da ponta da minha língua, e meu pensamento imediato é que eu devo estar com tanta raiva que estou realmente cuspindo saliva. Mas não. É uma faísca de luz. O mesmo tipo que crepitou em minhas mãos depois que Pete foi de alguma forma jogado para longe de mim. O medo desliza pela minha espinha enquanto eu fecho minha boca.
— Tudo bem, aqui estão os fatos, — diz Dash. — Magia é real, e existe em um reino que se sobrepõe ao mundo em que você cresceu. Faeries vivem deste lado; os humanos e todas as outras criaturas não-mágicas que você reconhece vivem do outro lado. Eu sou um faerie, como você. Eu também sou um guardião, o que significa que eu sou treinado para lutar contra magia negra, faes perigosos, esse tipo de coisa. No dia em que você e eu nos conhecemos, eu tinha uma tarefa no seu lado do véu.
— O dia em que você arruinou tudo, — murmuro, lembrando minha mãe chorando, cobrindo a cabeça com as mãos, gritando sobre coisas que não são reais.
Dash parece irritado por eu ter interrompido sua história. — Você tem que parar de me odiar por isso. Você sabe que eles a teriam levado embora. Talvez não naquele dia, mas logo depois. Ela não estava em seu juízo perfeito —
— Não se atreva a falar sobre ela.
— De qualquer forma, — ele continua em voz alta, — ninguém deveria me ver, mas você viu. E com essa cor no seu cabelo, eu sabia que você era uma faerie. Mas então meio que piscou e sumiu, e você não podia mais me ver. Era como se toda a magia sobre você fosse subitamente engarrafada, inacessível. Assim que terminamos a missão, eu mencionei você no meu relatório para Guilda e eles —
— Seu relatório para a Guilda? — Eu digo com um suspiro. — Você parece que tinha doze. Essa sua Guilda cria soldados crianças ou algo assim?
— Não. Nós não somos soldados, e quando o treinamento acaba, não somos mais crianças. E eu tinha treze anos, não doze. Eu estava começando meu treinamento. Era uma missão em grupo, mas estávamos todos em diferentes áreas do parque, e eu era o único que tinha alguma interação com você. Então, sim, eu relatei isso depois. Faeries com magia defeituosa que pensam que são humanos não devem ser ignorados.
— Oh, certo, porque eu provavelmente sou um perigo para a sociedade ou algo assim, — eu digo com um revirar dos meus olhos.
— Potencialmente, sim. — O tom de Dash é muito sério, e uma imagem do chão se abrindo vem imediatamente à mente. Eu envolvo meus braços em volta de mim e olho para longe. — Eu não sei se a Guilda investigou você, — continua Dash, — porque não era da minha conta. Eu comecei com o meu treinamento, e foi cerca de seis meses depois, quando você apareceu perto de outra das minhas missões. Então, alguns meses depois, você estava lá de novo.
— Eu lembro de ter visto você, — murmuro. — Eu imaginei que você deveria morar em algum lugar perto de Stanmeade. Eu pensei que era estranho, já que estava tão longe de onde eu te vi pela primeira vez. Naquele parque perto de onde mamãe e eu morávamos. Mas eu estava tão brava com você que não me concentrei muito em ser uma estranha coincidência.
— Bem, a Guilda não achou que fosse uma coincidência. Eles pensaram que algo mais poderia estar acontecendo. Que talvez sua estranha magia ligada e desligada estivesse causando problemas, ou atraindo pessoas problemáticas ou algo assim, e foi assim que acabei com três missões perto de você. Mas eles não conseguiram encontrar nenhuma conexão, e alguém no Conselho disse que você deveria ficar sozinha. Que a Guilda não deve interferir com você, a menos que houvesse evidência de que sua magia estava se libertando e causando problemas. Mas o resto do Conselho queria que alguém ficasse de olho em você, apenas no caso. Eles reclamaram que era um desperdício de tempo e recursos para um guardião treinado fazer isso, então eu me ofereci. — Sua boca estica para um lado em um meio sorriso. — Fomos encorajados a realizar projetos extras fora do treinamento. Parece ser bom no currículo. Mostra iniciativa ou algo assim.
Eu jogo minhas mãos para cima. — Maravilha. Você é minha maldita babá.
— Hum, eu acho que detetive pode ser uma comparação mais precisa.
— Perseguidor, talvez?
— Quero dizer, era como um quebra-cabeça em andamento, tentando descobrir o que estava errado com você e como você acabou naquela cidade humana horrível.
— Talvez cientista maluco seja mais adequado. Cientista maluco altamente ofensivo.
Ele cruza os braços sobre o peito. — Acho que devemos parar as comparações. Você claramente não entende a importância do que eu faço.
— E você claramente pensa muito bem de si mesmo. Mas eu sempre soube disso, não é.
— Eu acho, Emerson, — ele diz com um sorriso aborrecido, — que devemos nos concentrar nas muitas coisas que você nunca conheceu.
Suas palavras revelam a seriedade da situação. Eu tento dizer a mim mesma mais uma vez que estou sonhando, drogada ou bêbada, mas é uma mentira fraca na qual eu não tenho esperança de acreditar. Fecho meus olhos e pressiono meus dedos contra minhas têmporas. — Então eu não sou louca, afinal, — murmuro. — As coisas estranhas que eu vi - criaturas que não deveriam existir - elas realmente eram reais.
— Sim. Bem, a menos que você esteja realmente vendo coisas que não são —
— Espere. Espere, espere, espere. — Abro os olhos, me aproximo e seguro sua camiseta enquanto a esperança ganha vida dentro de mim. — Isso significa que minha mãe nunca foi louca também? As vozes, as alucinações... a mente dela não inventou? Eles estavam realmente lá? Porque, quero dizer, se eu tenho essa... magia — ainda parece tão estranho aplicar a palavra para mim — então ela deve ter também.
— Na verdade, — Dash diz cuidadosamente, tirando meus punhos de sua camiseta, — a Guilda mandou alguém para Tranquil Hills para verificar sua mãe depois da terceira vez que você apareceu perto de uma missão. Eles não conseguiram sentir nenhuma magia nela.
— Então... ela é...
— Sim. Eu sinto muito. Ela sempre esteve doente.
Eu me afasto, sem querer que ele veja o desapontamento esmagador. Eu me lembro de não ficar surpresa, no entanto. Claro que era demais esperar que mamãe fosse sensata de verdade. É assim que a vida funciona, certo? Você espera por algo, e então a vida te chuta na cara e ri de você.
Eu pigarreio. — Então deve ter sido meu pai. O perdedor que eu não conheço. Ele deve ser — você sabe — como eu.
— Bem...
Quando Dash não termina, volto a olhar para ele. — Bem o que?
Ele torce o rosto e diz, — Por favor, não me bata.
O medo agita-se na boca do meu estômago. — Por que eu bateria em você?
— Porque... Tudo bem, olhe. Você não é halfling. Nós sabemos disso com certeza. Você é uma faerie, e isso significa que você deve ter tido dois pais faeries. Então... portanto... a mulher presa no Hospital Psiquiátrico Tranquil Hills não é sua mãe.
Eu olho para ele, incapaz de falar. Suas palavras parecem ecoar em volta da minha cabeça. Não é sua mãe... não é sua mãe... não é sua mãe.
— Silêncio? — Dash diz finalmente. — Eu acho que é melhor do que gritar e bater e me dizer que eu devo estar —
— Cale-se.
Como minha mãe não pode ser minha mãe? Por alguma razão, isso é mais difícil de compreender do que qualquer outra coisa. Ela é minha mãe. Ela me criou. Tudo era ótimo até que seus momentos de loucura começaram a se tornar um pouco mais difíceis de esconder. Tudo foi para o inferno logo depois disso, mas antes, quando ela era normal, a vida era boa. Era eu e ela contra o mundo. Nós éramos uma equipe.
Me curvo, minhas mãos pressionando meus joelhos, e respiro profundamente. — Não pode ser verdade, — eu consigo dizer além da náusea. — Deve haver alguma outra explicação. Algo que vocês deixaram passar. Eu não sei o que, mas... alguma coisa.
— Emerson...
— Acho que vou vomitar de novo.
Dash dá uma tapinha nas minhas costas brevemente. — Bem, pelo menos estamos do lado de fora.
— O que eu devo fazer?
— Há um tônico muito eficaz para a náusea. Podemos entrar e pegar um pouco.
— Com a minha vida, seu idiota. — Eu me endireito. — Tudo está completamente ferrado. Eu sou uma aberração mágica, minha tia quer me prender em algum lugar distante, minha mãe aparentemente não é minha mãe, e - e essas merdas de faíscas não param de sair de mim! — Eu balanço minhas mãos quando lampejos de luz dançam sobre elas mais uma vez. — Sem mencionar que há um vídeo de todo o desastre na fazenda dos Mason. Provavelmente já está on-line, e logo o mundo inteiro saberá que sou —
— Ei, acalme-se. O mundo não vai saber de nada. Você acredita honestamente que esta é a primeira vez que lidamos com algo assim? Claro que não é. Nós não somos amadores. A maioria das lembranças da noite passada foi alterada esta manhã, embora tenhamos deixado passar algumas que ainda precisam ser lidadas, incluindo quem levou o celular para a polícia. Mas essa filmagem terá desaparecido dentro das próximas horas, posso prometer isso. — Ele me dá um sorriso tranquilizador. — Ninguém se lembrará de que você esteve envolvida, e a principal notícia será sobre o inesperado terremoto que atingiu Stanmeade. — Ele inclina a cabeça. — Falando nisso, você pode me dizer o que realmente aconteceu? Por que o chão se abriu daquela maneira?
— Por quê? — Eu olho para ele. — Porque aparentemente eu tenho magia que de repente decidiu - e cito – tudo explodiu. Essas foram suas palavras, certo?
— Sim, mas pensei ter ouvido você dizer alguma coisa antes de acontecer, e isso não é —
Ele para quando olha por cima do meu ombro. Eu viro e vejo uma jovem caminhando em nossa direção. — Bem, — Dash murmura. — Que timing terrível.
— Oh, porque o nosso tempo sozinho acabou agora? — Eu volto o meu olhar para ele. — Boohoo. Estou devastada.
Seus olhos estreitam ligeiramente. — Você deveria estar. Há algo muito importante que precisamos —
— Dash, nós temos que ir, — diz a mulher quando ela nos alcança. — Um dos Conselheiros da Guilda está esperando para ver a menina.
Eu gostaria de salientar que ‘a menina’ tem um nome, mas estou mais preocupada com o que essa mulher acabou de dizer. — Um Conselheiro? Por quê?
— Porque você é uma faerie que vive no mundo humano, — Dash diz enquanto a mulher se abaixa e escreve na grama com uma caneta, — e agora que sua magia apareceu, você não tem ideia de como usá-la. Existem protocolos para esse tipo de situação.
— Protocolos? — Isso soa muito clínico para o meu gosto.
— Sim, claro. Eles vão colocar você em seu programa especial para pessoas como você. Faeries que, por qualquer motivo, cresceram no mundo humano sem saber como usar sua magia. Eles são principalmente faeries mais jovens, mas de vez em quando alguém mais velho aparece como você. Vai ser divertido.
Não, não vai. Não parece nada divertido. Eu não quero conhecer pessoas estranhas e aprender como se tornar um membro do seu clube mágico estúpido. Eu quero voltar para a minha vida real e fingir que nada disso aconteceu. Ou talvez se esconder em um canto e desmoronar porque minha mãe não é minha —
Não pense nisso, eu me instruo. Eu não vou desmoronar na frente de outras pessoas. Especialmente não na frente de Dash.
— Vamos então? — Ele pergunta, apontando para o chão onde um buraco escuro apareceu ao lado da mulher ajoelhada. Um buraco escuro, não de terra ou rocha, mas de... nada. Meu cérebro me diz que eu deveria estar chocada, mas acho que passei desse ponto agora. Nada parece mais impossível.
— Em? Pronta para ir?
Pronta para ir? Uma pergunta tão simples e comum. O tipo de coisa que Val poderia dizer quando chegasse à minha casa antes da escola. Ou Chelsea dizendo para a Georgia quando eles estavam indo fazer compras. Ou como mamãe costumava dizer, com a mão estendida em direção a minha, quando terminávamos de brincar no parque à tarde e precisávamos ir para casa.
Mãe.
Uma imagem dela pisca diante dos meus olhos novamente. Uma casinha, rosas silvestres no jardim, número vinte e nove no velho portão de madeira. Mamãe podando os arbustos, e uma jovem versão de mim dançando em volta dela e cantando enquanto nosso novo cachorro persegue borboletas. Mãe que não é minha mãe Meu coração se quebra um pouco. Eu empurro a dor de lado. Mais tarde, digo a mim mesma. Vai lidar com isso mais tarde. Desmorone depois.
Eu respiro fundo, o que parece tão instável quanto eu me sinto. — Sim. Vamos lá. Só... você pode me dar aquele tônico anti-náusea primeiro?
Capítulo 05
DASH CORRE EM SUA CASA PARA PEGAR O TÔNICO ANTI-NAUSEA, ME DEIXANDO SOZINHA COM sua colega guardiã, que deixa claro, com seus longos suspiros e profundas carrancas, que está irritada com a perda de tempo. O buraco que ela abriu no chão se fecha e ela fica lá com os braços cruzados sobre o peito, olhando para mim.
Felizmente, Dash não demora muito para voltar. Ele me entrega uma pequena garrafa feita de vidro marrom. É suspeitamente semelhante às garrafas em que Chelsea coloca seus remédios de ervas. Eu removo a tampa e cheiro o conteúdo. — Caramba, Em, não é veneno, — diz Dash. — Apenas beba.
Estou me sentindo horrível o suficiente para arriscar a possibilidade de Dash me enganar, então eu inclino a garrafinha em direção a minha boca. O líquido não tem gosto de nada, mas eu imediatamente começo a me sentir melhor.
— Ótimo, — a mulher diz, e está fazendo um bom exercício em seu rosto, trocando entre doces sorrisos enjoativos para Dash e expressões de irritação dirigidas a mim. — Podemos nos mover?
— Sim. E vamos abrir um portal vertical em vez de um no chão, — diz Dash. — Será mais fácil para Em entrar e sair do outro lado, considerando que ela não tem muita experiência com os caminhos das fadas. — Ele remove uma caneta e começa a escrever no ar. — Se eu pudesse apenas... conseguir ir para...
— Dash, isso é um desperdício de —
— Ah, lá vamos nós. Fácil, fácil. — Ele dá um sorriso deslumbrante para a mulher, mas eu me distraio com a crescente escuridão aparecendo no ar. Espalha-se rapidamente até que seja aproximadamente do tamanho e a forma de uma porta. Deve ser a mesma coisa do buraco que a mulher abriu no chão. A mesma coisa que apareceu na varanda mais cedo, quando Dash me levou de volta para casa.
— Isso é... algum tipo de buraco de teletransporte?
— Caminhos das fadas, — diz Dash, estendendo a mão para mim. — Embora eles não sejam realmente caminhos. É esse espaço vazio e escuro que existe em algum lugar fora do nosso mundo e do seu, e pode ser acessado abrindo portas mágicas. Tudo o que você precisa fazer é pensar no seu destino ou dizer o nome do lugar para o qual deseja ir. Muito mais fácil que carros e aviões.
Mais fácil, talvez, mas muito mais perigoso. Relutantemente, eu pego a mão de Dash e caminho para frente. Do outro lado, a mulher felizmente passa o braço pelo braço dele. Eu olho por cima do meu ombro enquanto as bordas da porta se fecham, fechando a lacuna, e então estamos em total e absoluta escuridão. — As pessoas podem ficar presas aqui dentro? — Eu sussurro enquanto caminhamos para frente, o que é uma coisa estranha a fazer quando eu não posso sentir nada sob meus pés.
— Não. Eu nunca ouvi falar de alguém ficar preso. Embora eu pense, se você conhecer a magia certa, pode ficar aqui por mais tempo do que o normal. Eu já ouvi falar de pessoas escondidas dentro dos caminhos das fadas enquanto elas estão tentando fugir de alguém.
— Pare de pensar, — a mulher murmura. — Estou tentando direcionar os caminhos e eles não vão a lugar algum com todos os nossos pensamentos em direções diferentes.
Eu fecho minha boca e tento não pensar, mas uma luz aparece à frente antes de eu descobrir se estou fazendo isso corretamente. Nós caminhamos para frente para dentro de uma sala pequena, escassamente mobiliada com um espelho, um armário exibindo pratos pintados e um tapete cobrindo as tábuas de assoalho de madeira. Eu solto minha mão da de Dash e me afasto dele. — Esta é a sua Guilda? — Eu estava esperando algo maior e mais... mágico.
— Não. Esta é uma casa antiga em uma área deserta ao lado de uma praia tropical.
Eu viro meu olhar fulminante de volta para ele. — Por que é sempre tão difícil obter uma resposta direta de você?
— Ele está dizendo a verdade, — diz a mulher, correndo em defesa de Dash. Percebo que ela não se incomodou em se apresentar, então decidi também não me incomodar.
— A Guilda pode ser um pouco intimidante, — explica Dash, vagando até o armário. — É enorme e movimentada, com muitas pessoas por perto a essa hora do dia. Faeries, principalmente, mas outros fae também. Às vezes os criminosos são trazidos, ou uma magia perdida escapa da seção de treinamento da Guilda. E o fato de você não poder ver nada do lado de fora, e então você entra por uma grande entrada que se transforma a partir de uma árvore, e você é recebida por toda essa atividade repentina... bem, pode ser esmagador no começo. — Ele vira o prato e examina a parte de trás antes de devolvê-lo ao seu suporte. — Então, nós levamos os fae que são novos com o nosso mundo para esta casa de recuperação primeiro.
— Oh. Tudo bem. — Meu cérebro pega o que é provavelmente a informação menos importante que eu ouvi durante todo o dia. — Então... se realmente estamos perto de uma praia, então o oceano deve estar por perto?
Dash me dá um olhar interrogativo. — Não muito longe daqui.
O fato de eu poder ver o oceano pela primeira vez é muito mais fácil de focar do que qualquer outra coisa agora. Eu ando até a janela mais próxima e olho para fora, mas tudo que vejo é uma floresta de palmeiras.
— Eu preciso voltar, — diz a mulher enquanto eu tento espiar entre as árvores. — Nenhuma mensagem no prato?
— Nada ainda, — diz Dash.
— Bem, ela estará aqui em breve, tenho certeza. Ela soou com pressa quando me mandou buscá-los. De qualquer forma, espero que não demore muito para entregar a garota. Eu sei que sua equipe tem coisas muito mais interessantes acontecendo no momento.
Eu vou para trás a tempo de vê-la escovar sua mão do ombro de Dash até o cotovelo dele. Com um meio sorriso, ela se afasta e eu retomo meu exame da paisagem do lado de fora, murmurando, — Sério? — Sob minha respiração. Ela não parece muito mais velha do que nós, mas certamente há muitos homens neste mundo que tem a idade mais adequada e mais maduros do que Dash.
— Obrigado, — diz ele. Então, — Em, o que você está procurando? Na verdade, não importa. Isso não é importante.
Eu desisto da minha busca pelo oceano e cruzo meus braços enquanto ando de volta para ele. — Claro que não. Nada poderia ser tão importante quanto o que você está prestes a me dizer, certo?
— Certo, — diz ele, mas a porta da frente se abre naquele momento, e caminha uma pequena garota loira com mechas laranja em seus cabelos e olhos laranja ardentes para combinar.
— Oh, Dash, você está aqui. — Ela lhe dá um sorriso brilhante.
— Hum, sim. Eu estou. Por quê você está aqui?
— Só verificando se você conseguiu. — Seus olhos deslizam para mim. — Está é a Emerson?
Dash solta um suspiro. — Sim. Em, esta é Jewel. Ela é um membro da minha equipe na Guilda.
Jewel? Eles têm cabelos estranhos e olhos e nomes estranhos? — Oi, — eu digo incerta.
— Oi. — Jewel me dá um sorriso muito amigável, considerando que acabamos de nos conhecer. — Oh, espere. — Ela desliza a mão em um dos bolsos e tira o que eu presumo ser um celular por causa da forma, mas acaba por ser semitransparente e laranja-dourado. Ela olha para a superfície, e olho de novo quando pequenas palavras douradas aparecem.
— Isso é um memorando para toda a Guilda? — Dash pergunta. — Eu acho que meu âmbar também vibrou.
— Sim. — Enquanto Jewel observa mais de perto o retângulo cor de mel, noto padrões de redemoinhos escuros tatuados no interior de seus pulsos. — Um Griffin atacou uma pequena aldeia perto de Twiggled Horn. Cinco mortos.
— Cinco mortos de um ataque de Griffin? Eles normalmente não matam pessoas.
— Sim, bem, eles são criminosos perigosos, então o que você espera. — Jewel passa a mão pela coisa âmbar, e as palavras desaparecem.
— Griffin? — Eu pergunto. — Como o grifo, a criatura mítica? — Nada me surpreenderia neste momento.
— Não, — diz Dash. — Embora sim, os grifos existem. Mas neste caso estamos falando de pessoas com magia extra. Habilidades que Faeries normais não possuem. Habilidades Griffin. Você aprenderá sobre eles em breve. — Sua expressão escurece. — Eles praticamente são uma lei para si mesmos.
Jewel revira os olhos antes de me dar um sorriso doce. — Dash nem sempre explica as coisas particularmente bem. Esses faeries perigosos costumavam viver a céu aberto, fazendo o que quisessem, sem que ninguém soubesse que eram diferentes. Mas é difícil esconder uma Habilidade Griffin nos dias de hoje. O teste é obrigatório. A Guilda só quer ficar de olho neles, compreensivelmente, mas eles estão sempre falando sobre como são discriminados. Assim, nos últimos anos, aqueles que conseguiram fugir da Guilda sem serem identificados se uniram. Formaram algum tipo de organização secreta. E agora eles dirigiram sua raiva para Guilda, contra pessoas inocentes apenas para chamar atenção.
— Inaceitável, — Dash murmura.
— Exatamente. Então você pode entender porque a Guilda quer manter um registro de todos os Dotados Griffin, certo? Eles precisam ser responsabilizados por suas ações.
Ela parece estar esperando que eu responda. Eu considero dizer a ela que eu não dou a mínima para criminosos e política, mas resolvo mudar de assunto. — O que é essa coisa retangular e laranja?
— Oh. Isso? — Jewel levanta o dispositivo cor de mel.
— Um âmbar, — diz Dash. — Celular dos faeries.
Atrás dele, um dos pratos no armário emite um som abrupto. Eu solto um suspiro involuntário e dou um passo apressado para trás. — Que mer —
— Sério? — Dash diz, me interrompendo no meio do xingamento. Ele pega o prato e vira. — A situação realmente não garante esse tipo de linguagem, Em.
Eu fico boquiaberta para ele quando meu batimento cardíaco retorna lentamente ao normal. — Você está brincando, não é? Qual é o grande problema com a coisa sem palavrões? Eu não vejo nenhuma criança por perto, a menos que você queira se colocar nessa categoria.
— Muito engraçado, — ele olha sério, olhando por cima do prato. — E se você tivesse sua boca limpa com sabonetes assim como eu tive, você entenderia minha resposta automática a uma palavra ruim. Feitiço super desagradável, aquele. O gosto fica por horas depois.
Eu olho para ele. — Estou tentando descobrir se você está brincando.
— Não. Minha mãe sempre foi muito séria sobre a política de não usar palavrões em nossa casa. De qualquer forma, a Conselheiro está a caminho. A mensagem no prato dizia que ela acabou de sair da Guilda.
— Esse som era de uma mensagem?
— Não é para soar assim, — diz Jewel. — Eu acho que o feitiço de notificação está com defeito.
A porta da frente se abre, revelando uma mulher elegantemente vestida. — Oh, incrível, você está aqui. Eu não tive tempo para verificar com cautela. Vamos para a sala de estar? — Sem esperar por uma resposta, ela passa por nós e abre a porta ao lado do armário.
— Conselheira Waterfield, — Dash sussurra quando ele pega meu braço e me conduz em direção à porta.
Eu esperava que ela fosse mais velha, sendo um membro deste Conselho especial de faeries, ou seja lá o que for, mas ela provavelmente ainda não atingiu os trinta anos. Eu também estou começando a me perguntar se esse mundo é composto por alguns homens, ou se é apenas Dash e todas as mulheres que o bajulam. Eu solto o meu braço de seu aperto, resmungando que sou perfeitamente capaz de entrar na sala ao lado sem ajuda.
A sala de estar é bonita, com móveis antigos e uma grande janela de um lado. Acho que posso ver algo bege entre as árvores que pode ser uma faixa de areia, mas a Conselheiro Waterfield me convida a sentar antes que eu possa olhar mais de perto pela janela. Eu escolho uma das poltronas com um só lugar, então não preciso me sentar ao lado de Dash ou da Conselheira. Ela se senta de costas para a janela e Dash pega a poltrona ao lado da minha. Eu aperto minhas mãos firmemente juntas no meu colo, me sentindo subitamente nervosa.
— Emerson, — diz a mulher. — Eu sou a Conselheira Waterfield. Primeiro de tudo, bem vinda ao reino mágico. Eu acredito que Dash explicou o básico para você?
— Eu expliquei, — diz Dash antes que eu possa responder. — Apenas o básico, no entanto. Ela tem muito mais a aprender. — Ele dá um sorriso na minha direção, que eu gostaria de arrancar imediatamente. Ele está gostando muito disso.
— Então, Emerson. — A Conselheira abre uma bolsa aos seus pés e tira uma versão maior da coisa âmbar que Jewel estava usando. Antes que ela se incline para cima para encará-la, vejo letras douradas aparecerem em sua superfície. — Nós estamos acompanhando você nos últimos cinco anos? Isso está correto? — Ela olha para cima de seu dispositivo mágico.
— Sim, — Dash responde mais uma vez. — Em tinha doze quando começamos a rastreá-la.
— Então, você tem dezessete agora.
— Se a matemática é a mesma coisa neste mundo como é no meu, — eu digo, — então sim.
Seu sorriso aperta um pouco. — Números são números, Emerson, não importa de que lado do véu você esteja. E esse lado é o seu lado. Você precisará começar a se referir desse jeito.
— Claro, — eu digo, quando tudo que eu quero fazer é gritar que só agora eu descobri sobre a existência deste lado, então me dê um maldito tempo!
A Conselheira Waterfield se inclina para trás, ficando mais confortável. — No caso de Dash não ter contado a você, eu sou a representante da Guilda da Chevalier House, onde você vai ficar por um tempo. É uma escola para pessoas como você. Pessoas que foram educadas com humanos e podem ter tido acesso à sua magia, mas não tiveram ninguém para ensiná-las a usá-las, ou talvez a magia delas tenha acabado de aparecer, e por causa de algum acidente ou outro, agora nós nos tornamos consciente de sua existência.
— O que faz com que apareça de repente? — Eu pergunto. — Por que minha magia era inacessível antes? Ou, por que veio e se foi? Dash disse que estava meio que... com defeito.
Ela franze os lábios antes de responder. — Para ser honesta, eu não sei. Se você fosse halfling, faria mais sentido. A magia deles é altamente imprevisível e às vezes pode se apresentar mais tarde. Mas faeries... bem, eu não sei. Eu suponho que isso aconteça de vez em quando.
— Maravilha. Então eu sou uma aberração pelos padrões deste mundo.
— Você não é uma aberração, Emerson. Depois de passar algum tempo na Chevalier House, você poderá se encaixar perfeitamente com o resto do mundo.
— Então, basicamente, você está me mandando para a escola de etiqueta mágica?
Ela respira pelo nariz. Eu acho que ela está começando a perder a paciência. — É muito mais que isso. Eles vão te ensinar sobre sua magia, sobre o nosso mundo. Eles ajudarão na logística de mesclar sua antiga vida com a sua nova. Se você deve voltar para casa ou ficar aqui, em que situação sua família acreditará enquanto estiver fora, o que você deve dizer à sua família se decidir voltar para casa. Coisas assim.
Eu cruzo meus braços firmemente contra o meu peito. — Você provavelmente deveria saber que não precisa se incomodar em inventar uma história para minha tia. Ela assumirá que eu fugi, ela ficará feliz, e isso será o fim disso.
A Conselheira Waterfield olha para o aparelho, parando por um momento enquanto lê alguma coisa. — Parece que essa é a história que ela recebeu, na verdade. Um guardião disfarçado como um policial informou sua tia que você fugiu. Ele disse a ela que uma câmera de segurança pegou você entrando em um ônibus. A polícia tentou encontrá-la do outro lado, mas de alguma forma você escapou sem ser notada. Eles ainda estão à procura de você. Seus amigos foram informados da mesma história.
— Mas isso é uma mentira. — Sento-me para frente. — Eu não quero que meus amigos pensem que eu fugi.
— Bem, Emerson, temo que você não tenha escolha. Depois de passar algum tempo na Chevalier House e poder voltar em segurança ao mundo humano, você pode inventar uma boa desculpa por ter fugido. Podemos ter um de nossos guardiões disfarçado como um policial dizendo que ele ou ela rastreou você, se essa história funcionar para você. Tenho certeza de que você pode fazer seus amigos entenderem.
Eu me inclino para trás na minha cadeira. Essa mulher não entende e nem Val. Ela vai ver através de mim se eu tentar mentir.
— Agora, como eu estava dizendo, — a Conselheira Waterfield continua, examinando seu aparelho novamente. — Todas as imagens do incidente do terremoto da noite anterior foram localizadas e destruídas, para que ninguém saiba que você estava conectada e as lembranças foram alteradas. Um encobrimento caro - nem toda magia é gratuita ou barata, sabe — mas não podemos ter humanos correndo por aí espalhando histórias sobre o que você fez. E se você decidir retornar à sua antiga vida, poderá fazer isso com segurança, sem que ninguém saiba o que aconteceu.
— Então... então é isso? Eu tenho que ir para esta escola durante um tempo, e então eu posso voltar para o meu mundo?
— Sim. — Ela desliza seu aparelho âmbar de volta em sua bolsa. — Dash vai te levar até lá agora.
— Hum, quem paga por esta escola? — Eu pergunto, inclinando meu corpo para longe de Dash quando eu pergunto. Inútil, já que ele ainda pode me ouvir, mas eu prefiro não ver sua expressão se eu tiver que admitir a Conselheira Waterfield que eu não tenho absolutamente nenhum dinheiro.
— É financiada pelo Guilda, — diz ela. — O programa é considerado parte da segurança. É perigoso ter faeries correndo por aí com magia que eles não podem controlar. É muito melhor que você seja educada para poder entrar de novo na sociedade, deste lado do véu ou do outro lado. Agora. — Ela se levanta e pega sua bolsa. — Alguém vai chegar aqui em breve para executar alguns testes em você antes de partir para Chevalier House.
— Testes? — Eu me encolho para trás contra as almofadas. — Que testes?
— Oh, nada assustador. Apenas um procedimento padrão. Para testar Habilidades Griffin, níveis mágicos, esse tipo de coisa.
— Eu não quero nenhum teste. Não tenho o direito de recusar coisas como —
— Talvez, — Dash diz enquanto levanta, — nós poderíamos fazer os testes depois de alguns dias que Em se instalar em Chevalier House. Ela já passou por muita coisa. E com sua... história. A mãe dela... — Ele abaixa a voz, como se sussurrando aquela única palavra - mãe - em vez de falar em voz alta significasse que não vai trazer todo o choque, confusão e mágoa que senti antes. Eu limito a dor enquanto Dash continua. — Eu presumo que você se lembre de todos os meus relatórios anteriores, Conselheira, então você vai entender que o conceito de ‘executar testes' tem conotações negativas para ela. — Ele coloca as mãos respeitosamente atrás das costas. Enquanto suas mangas se levantam levemente, noto a mesma tatuagem em seus pulsos que vi nos braços de Jewel.
A Conselheira Waterfield estala sua língua. — Bem. Vou mandar alguém para Chevalier House no final da semana para fazer os testes lá.
Isso não parece muito melhor, mas espero que eu esteja fora da Chevalier House até lá. Saímos da sala e encontramos Jewel ainda perto da porta da frente. Ela olha por cima de seu âmbar, os olhos arregalados. — Ótimas noticias, — diz ela. — Tipo, ótimas. Alguém fez um avanço com um feitiço para o véu. A Guilda acha que eles finalmente conseguirão selar o buraco na Ilha Velazar. Há uma reunião em vinte minutos para que eles possam nos dizer mais sobre isso.
— Correto, — diz a Conselheira Waterfield, passando rapidamente por Jewel. — É por isso que eu cheguei atrasada. Recebemos a notícia esta manhã. Agora, se vocês me dão licença, eu preciso voltar antes do início da reunião. — Ela segura uma caneta na porta da frente, e depois de algumas palavras rabiscadas, um buraco escura aparece. Mesmo que eu estivesse esperando desta vez, ainda é terrivelmente antinatural, ver um buraco de nada tomando forma e depois desaparecendo depois de engolir uma pessoa.
— Isso é tão emocionante, — diz Jewel quando a Conselheira se foi. — Você vem?
Dash sacode a cabeça. — Eu vou escoltar Em para Chevalier House agora.
— Oh, mas isso é importante. Traga-a, e você pode levá-la para Chevalier depois.
— Não precisa, — diz Dash com um sorriso fácil. — Tenho certeza que você vai me contar tudo sobre depois. E eu duvido que Em queira ficar em uma reunião da Guilda depois de tudo o que ela passou nas últimas horas.
O sorriso de Jewel escorrega por apenas um segundo, antes de se esticar largamente novamente. — Você é sempre tão atencioso, Dash. Sempre faz um esforço extra com suas missões. — Ela se inclina e dá-lhe um abraço e um beijo rápido na bochecha. — Até logo.
Eu espero até que ela vá antes de dizer, — Eu vejo que você não se importa de irritar sua namorada.
— Namorada? Jewel? — Ele ri. — Nós somos apenas amigos. Espere, por que você disse que ela está com raiva? Ela não estava com raiva.
Eu lentamente sacudo minha cabeça. — Você é um tremendo idiota.
Ele sorri. — Pela primeira vez, querida Emerson, você está quase certa. Eu era quase um idiota antes. — Seu olhar passa por mim e para cima, examinando o teto brevemente. — Felizmente, fui salvo a tempo.
Eu não posso deixar de olhar para cima também, mas não vejo nada além de algumas teias de aranha e uma aranha. Aparentemente, essas não são coisas exclusivas do mundo humano.
Ao som da porta da frente se abrindo, olho além de Dash. Na porta há um homem com orelhas pontudas e cabelo preto espetado. Isso é normal agora, eu me lembro quando meus olhos se recusam a se mover daquelas orelhas anormalmente pontudas. Totalmente normal.
— Emerson? — Ele pergunta. Eu concordo. — O professor está esperando por você.
Capítulo 06
NÓS CHEGAMOS A UM PORTÃO DE METAL ABRILHANTADO QUE NOS SEPARA DE UM JARDIM COM a grama e arbustos bem-cuidados, adornado com as cores do outono. Uma brisa fria arrasta arrepios ao longo da parte exposta dos meus braços. — Estamos em algum lugar perto da casa em que estávamos? — Eu pergunto. Não parece, mas com as trilhas das fadas — caminhos das fadas? — Fazendo viagens tão rápidas, é impossível dizer.
— Não, — diz Dash. — Estamos em uma parte completamente diferente do mundo em uma colina de uma cordilheira.
Espio entre as folhas em forma de metal do portão e, do outro lado da enorme casa, vejo picos de montanhas cobertas de neve. O elfo - presumo que as orelhas pontiagudas signifiquem que ele é um elfo - abre o portão e nos deixa entrar no jardim. Andamos pelo caminho pavimentado, subimos os poucos degraus até a porta da frente e entramos. Um fogo crepitante e uma atmosfera acolhedora nos saúdam no grande hall de entrada aberto da Chevalier House.
— Vou chamar o professor, — diz o elfo, indo em direção às escadas.
Eu atravesso a sala, meus pés afundando no tapete grosso enquanto olho em volta. Uma mesa fica no meio da sala, com um vaso lindamente pintado em seu centro cheio de flores que eu não reconheço. Cortinas ricamente bordadas emolduram as janelas e retratos em molduras douradas decoram as paredes. Eu penso em ficar aqui, mesmo que por apenas alguns dias, e eu não consigo acreditar. É um milhão de vezes mais chique do que qualquer outra casa em que já morei. — Claro que sim, — murmuro, sacudindo a cabeça.
— O quê? — Dash pergunta.
— A Guilda, a casa dos seus pais, este lugar... Eu acho que quando você vive em um mundo de magia, todo mundo pode ter uma casa chique do jeito que eles gostarem.
— Bem, não realmente. — Dash empurra as mãos nos bolsos. — A maioria dos faeries vive em casas em árvores comuns. Foi assim que vivemos até a mamãe ter sorte com o design de moda e moldar roupas. Ela ganhou um prêmio, e então uma celebridade a contratou para fazer um vestido para algum evento importante. A notícia começou a se espalhar sobre o trabalho dela e ela acabou tendo mais clientes da alta sociedade. Até mesmo alguns Seelies - a realeza fae - usaram seus vestidos. Então, sim. — Ele encolhe os ombros. — Agora temos uma casa extremamente chique.
— Interessante. Deve ter sido difícil para você sempre que você esteve no meu mundo, tendo que fingir que vivia em alguma parte ruim de Stanmeade.
— Muito difícil, — ele brinca, embora em sua voz não tenha humor.
— Não é de surpreender que você ainda viva em casa com seus pais. Por que se apressar para sair e ser independente quando você pode ficar em uma mansão por anos?
Ele não responde e eu continuo examinando os retratos na parede. Pelo canto da minha visão, vejo alguém entrar na sala e sair por outra porta, mas ignoro quem quer que seja. — Então, você e Jewel não estão juntos, mas vocês tem tatuagens iguais, — eu digo para cobrir o crescente silêncio. O silêncio deixa espaço para pensamentos sobre minha mãe entrarem, e eu não estou pronta para lidar com isso. — Parece muito sério para mim. Quer dizer, não há como voltar atrás, certo?
— Tatuagens iguais? Oh. — Dash começa a rir. — Você quer dizer isso? — Ele levanta as mãos, exibindo seus pulsos tatuados, em seguida, se curva quando o riso o consome. Eu cruzo meus braços e o ignoro até que ele se recupera o suficiente para dizer, — São marcas dos guardiões. Nós as recebemos assim que nos formamos.
— Uau, você realmente conseguiu se formar? Que surpreendente.
— Sim. — Ele sorri com orgulho. — Há menos de um ano atrás.
Eu não posso evitar revirar os olhos antes de voltar para o retrato de uma jovem mulher. Leio o nome ridículo na placa de bronze polida embaixo da pintura: Azure Plumehof. Sério? Azure, Dash, Jewel... Essas pessoas mágicas não sabem nada sobre nomes normais. Meu olhar desliza para a data abaixo do nome, que me diz que esta pintura tem mais de trezentos anos de idade. Droga. Eu me pergunto se a casa também é tão antiga.
Eu ouço risadas atrás de mim e olho por cima do meu ombro para ver um garoto sorrindo enquanto Dash escreve no braço do garoto com a mesma caneta que ele usa para abrir portas mágicas. Eu solto uma faísca de luz antes que o garoto diga, — Obrigado, Dash! — E foge.
Eu olho para longe, fingindo examinar as bordas enfeitadas com cristais penduradas em um dos tie-backs da cortina. — Eles vão me dar uma essas canetas mágicas aqui?
— Que caneta mágica? — Dash pergunta.
— Você sabe. — Eu olho de volta para ele, apontando para a caneta na sua mão. — As canetas que vocês usam para abrir as portas.
— Oh. — Dash ri. — Isso não é uma caneta. É uma stylus.
— Parece uma caneta. E pelo que vi, funciona como uma caneta.
— Bem, não é. Não tem tinta. É essencialmente apenas um bastão que canaliza a magia.
— Então... é uma varinha mágica?
— Quase. E você terá que provar que pode usar sua magia com segurança antes de conseguir uma.
— Tudo bem, — murmuro, cruzando os braços e vagando até a mesa. Eu me inclino para mais perto do vaso e examino as flores de formas estranhas.
— Dash, Emerson! — Exclama uma voz feminina da direção da escada. — Que bom ver vocês dois.
Eu me endireito e dou um passo para trás quando uma mulher com rosa nos seus cabelos louros e brincos de banana em miniatura pendurados em suas orelhas desce as escadas. Uma mulher que eu diria que teria vinte e poucos anos, talvez trinta e pouco. A mesma mulher, percebo com um solavanco, do retrato. — Emerson, — diz ela quando chega ao final da escada. — Muito adorável conhecer você. Eu sou a professora Azure Plumehof, mas por favor me chame de Azzy. — Ela estende a mão na minha direção. Eu olho para ela, então volto para o rosto dela.
— Azure Plumehof? — Olho por cima do ombro para o retrato, depois de volta. — Você não pode ser. A mulher naquela pintura teria mais de trezentos anos de idade. Ela seria uma ameixa velha enrugada.
Azzy ri enquanto abaixa a mão, aparentemente imperturbável por eu não ter me incomodado em apertá-la. — Dash não explicou essa parte?
— Eu acho que não surgiu, — diz Dash. — Ela estava muito preocupada com o fato de que seu cabelo é azul.
Eu olho para os fios azuis pastel pendurados sobre meu ombro que eu de alguma forma consegui esquecer. Com um piscar de olhos, volto minha atenção para a mais recente revelação devastadora. — Espere. Você está me dizendo que as pessoas são imortais ou algo assim?
— É tão difícil acreditar, — Dash pergunta, — dada às todas as coisas chamadas de 'impossível' que você descobriu até agora esta manhã?
— É... só que...
— Nós não somos imortais, querida, — diz Azzy com uma breve carranca na direção de Dash. Ela aperta as mãos sobre as camadas de roupa soltas e flutuantes. — Vivemos por vários séculos, o que está muito longe da imortalidade.
— Vários... séculos... — Eu murmuro.
— Não se preocupe, — diz Azzy, sorrindo gentilmente. — Damos muito tempo para absorver toda essa nova informação. É por isso que Chevalier House existe - para dar a você um lugar seguro para aprender mais sobre você e sobre o mundo do qual você faz parte agora. Haverá lições de história, lições sobre magia - todos os princípios básicos que jovens faeries aprendem na escola primária - e entrevistas para que você possa nos dar informações que ajudarão a encontrar sua família verdadeira.
— Minha — o quê? — Família verdadeira? Eu não pensei na ideia nem por um minuto.
— Mas podemos começar tudo isso amanhã. Por agora, deixe-me mostrar-lhe o seu quarto. Tenho certeza de que você teve um dia difícil até agora e provavelmente precisa descansar. Você encontrará tudo o que poderia precisar em seu quarto: roupas, produtos de higiene pessoal, maquiagem - se isso for sua praia. Se você precisar de algo que eu tenha esquecido, ou se as roupas estiverem do tamanho errado, apenas me avise. — Ela faz uma pausa, como se esperasse que eu dissesse algo, mas estou um pouco sobrecarregada para formar palavras. — E se seu cérebro está muito animado para você descansar agora, — ela continua, — você pode explorar a casa e os jardins. Conhecer os outros fae que estão conosco no momento.
— E se você precisar de mim, — Dash acrescenta, — apenas diga a Azzy. Ela sabe como me encontrar.
Eu pisco. — Precisar de você? — Isso é uma noção ridícula. — Você não precisa mais tomar conta de mim, Dash. Eu consigo passar pelo resto disto sem você.
— Tenho certeza que você consegue. Apenas conte a Azzy tudo o que aconteceu na noite passada, ok? — Ele troca um olhar com Azzy, depois retorna seu olhar para mim. — Tudo. Ela pode te ajudar.
Eu franzo a testa para ele. — Obviamente. O que você achou que eu ia fazer o quê? Fingir que a coisa toda não aconteceu? Eu já tentei isso e isso não fez com que nenhuma dessas loucuras fosse embora.
— Vamos ter uma boa conversa, não se preocupe, — diz Azzy, acariciando o braço de Dash antes de pegar minha mão e me direcionar para as escadas. — Vamos nos acomodar, Em. Posso te chamar de Em, ou você prefere Emerson?
— Ela gosta de Emmy, — Dash diz a ela. Eu viro minha cabeça por cima do meu ombro e imagino faíscas voando para fora dos meus olhos diretamente para ele. Infelizmente, magia não parece funcionar assim, e eu fico simplesmente olhando para o rosto sorridente dele. — Divirta-se, — diz ele com um pequeno aceno antes de se virar e se dirigir para a porta. E apesar do fato de que eu querer dar um tapa nele — apesar de dizer a ele que não preciso dele — tenho o repentino desejo de gritar “Espere, não me deixe aqui!”. Porque mesmo que eu sempre tenha odiado ele, ele é a última peça da minha vida normal e está prestes a desaparecer por aquela porta.
Mas eu engulo meu pânico e não digo uma palavra. Eu me viro para frente e deixo Azzy me levar subindo as escadas. Porque eu sobrevivi a tudo que a vida já jogou em meu caminho sozinha, e isso não será diferente.
Capítulo 07
ELA NÃO É SUA MÃE.
Ela não é sua mãe.
Essa informação continua tocando dentro do meu cérebro, e agora que estou sozinha, nada que eu faça pode me distrair disso. Eu examino cada parte do meu quarto — quase tão agradável quanto o quarto de hóspedes na casa dos pais de Dash — mas travesseiros fofos, um tapete luxuosamente macio, e uma cama com dossel não conseguem evitar que a imagem de uma mãe que não é minha mãe marque a minha mente.
Eu abro o guarda-roupa e descubro, ao encontrar um espelho lá, que pareço terrível. Minha pele está pálida e minhas pálpebras estão manchadas da maquiagem escura. Eu pego algumas roupas limpas em uma das prateleiras e, depois de olhar para os dois lados do corredor para me certificar de que não estou prestes a esbarrar em ninguém, eu atravesso em direção ao banheiro que Azzy mostrou. O que eu descubro ser o suficiente para me surpreender dos meus pensamentos perturbadores por um tempo. Eu esperava uma banheira ou chuveiro, mas em vez disso eu encontro uma pequena piscina cercada por seixos e cheia de água fumegante e perfumada. É a coisa mais convidativa que eu já vi em eras, e eu estou mais do que feliz em deixar de lado cada pensamento que corre pela minha cabeça. Tiro minhas roupas sujas e afundo na água quente.
Mas até essa distração não dura muito tempo. Então, depois de me vestir com roupas limpas que de alguma forma se encaixam perfeitamente, eu saio do meu quarto. Ando pela casa, por uma biblioteca cheia de livros do chão ao teto, por uma sala de jantar com uma longa mesa retangular no centro e por uma cozinha maior que a casa de Chelsea. Eu exploro o jardim, ignorando todas as pessoas — todos os faer... ser... coisas — que eu me deparo.
Mas meus pensamentos continuam voltando para mamãe. Eu tento manter a imagem dela que eu sempre tive, no lugar que ela sempre teve na minha vida. O lugar e o título de mãe. Mas a ideia está começando a desmoronar à medida que as perguntas começam a penetrar nas frestas de minhas defesas: Como ela acabou comigo? A quem eu realmente pertenço? Por que ela nunca me contou? Quem diabos sou eu, se não sou filha dela? E apesar do fato de me encher de culpa, tento imaginar como seria minha mãe ‘verdadeira’. Mas minha imaginação fica em branco. Não consigo imaginar ninguém, exceto a mulher com quem cresci.
Quando eu percebo que estou parada imóvel na frente da mesma estranha planta de bolinhas por vários minutos, olhando sem ver, concluo que estou farta da vida real por hoje. Eu posso lidar com todas as minhas perguntas, dúvidas, confusões e magia amanhã. Volto para o meu quarto, fecho as cortinas, subo na cama e dou o meu melhor para adormecer. Quando Azzy bate na minha porta e diz algo sobre o jantar, eu puxo o edredom sobre a minha cabeça e a ignoro.
**
— Pessoal, está é a Emerson, — Azzy diz na manhã seguinte, depois de me apresentar as outras sete pessoas na biblioteca: uma faerie, um elfo e cinco pessoas meio velhas. — Lembre-se de como vocês se sentiram incertos sobre tudo quando chegaram aqui? É assim que Em se sente agora. Então, lembre-se de fazer o seu melhor para recebê-la.
Todo mundo olha para mim. Eu deslizo um pouco mais para baixo na minha cadeira. Se eu soubesse como abrir aquele buraco que abri na terra na outra noite, ficaria tentada a fazer isso de novo agora mesmo e me arrastar para dentro dele.
— Bem, então, — continua Azzy. — Vocês podem se conhecer melhor durante o almoço. Por enquanto, todos vocês precisam voltar ao que vocês estavam trabalhando no momento. Em, você vem comigo.
Eu levanto junto com os outros. Dois dos meus companheiros estranhos se movem para uma mesa juntos e conversam em voz baixa enquanto abrem vários livros enormes. O resto deixa a biblioteca pela porta que leva ao jardim.
— Então, Em, — diz Azzy, me conduzindo para outra mesa. — Como tenho certeza de que você já percebeu, isso não é como uma escola comum. Nós nunca sabemos quando alguém vai chegar, e todo mundo tem uma história diferente. Alguns fae não têm nenhum conhecimento prévio do mundo mágico, como você, enquanto outros tiveram alguma exposição à magia, mas não foram formalmente ensinados a nada. Então, como você pode ver, precisamos adaptar nossas lições e um treinamento para cada indivíduo.
— Hum, sim, — eu digo depois de uma pausa, já que parece que ela está esperando por um sinal de que eu estou ouvindo ela.
— Então vamos começar com um pouco da história sobre esse mundo. Momentos extraordinários do passado, bem como eventos mais recentes que desempenharam um papel importante na formação do nosso mundo.
— Divertido. — Eu tento não parecer entediada, mas percebo que não estou fazendo um bom trabalho. O que aconteceu sobre aprender sobre magia de verdade?
— É divertido. Especialmente já que eu vou pedir que alguns dos outros alunos expliquem as coisas para você.
— O quê?
Azzy me dá um sorriso deliberado. — Eu pensei que isso poderia fazê-la prestar atenção.
— Então... essa parte era uma piada?
— Oh, não, eu estava sendo totalmente séria. Dessa forma, você não precisa me ouvir falando por horas. Eu descobri que é uma ótima maneira de aprender. Isso ajuda os alunos que estão aqui há mais tempo a lembrar o que aprenderam, ensinando a você os fatos mais importantes, e você se conhecerá no processo. Eu vou supervisionar, é claro, para ter certeza de que eles não vão contar um monte de bobagens, mas essencialmente tudo será uma discussão.
Maravilha. Então é isso que eu tenho que esperar todos os dias enquanto estou aqui. — Então, hum, quando vou aprender como fazer alguma magia de verdade? Eu pensei que isso era tudo que eu precisava saber. Controlar a magia, então vou poder ir embora.
Ela sorri. — Começaremos esta tarde com algo fácil. Depois que você me contar exatamente o que aconteceu na outra noite quando você acidentalmente usou magia.
Eu suspiro quando me levanto e sigo para a mesa com os outros dois fae. — Por que todo mundo quer que eu diga exatamente o que aconteceu? Todos os detalhes de todo o evento não estão escritos em algum relatório chato da Guilda em algum lugar?
— Eu tenho certeza que está, mas não dói explicar novamente. Agora, você senta aqui com George e Aldo — ela puxa uma cadeira para mim enquanto os dois meninos olham para cima — e eu vou pegar meu chá.
Eu sento na cadeira, meu olhar se movendo cautelosamente entre os dois garotos. — Oi, — diz o mais novo, que parece ter uns dez anos. — Eu sou o George. Este é o Aldo.
— Tudo bem, deixe-me ver se eu me lembro disso corretamente. Você é um faerie, — eu digo, apontando para Aldo, — e você é um halfling? — Meu olhar se move para George.
Eu lembro que Dash mencionou a palavra halfling dizendo que eu não poderia ser um, mas ele não explicou mais do que isso. — Então, o que exatamente é um halfling? Alguém meio mágico?
— Não exatamente, — diz Aldo. Ele parece um pouco mais velho, catorze ou quinze talvez. Embora a idade não pareça fazer sentido neste mundo, então posso estar totalmente errada. — Significa dois pais diferentes. Uma faerie e um elfo, por exemplo. Ou um ser humano e uma faerie, embora as leis fae digam que a interação com os seres humanos é errada.
— É isso que eu sou, — diz George, jogando a mão no ar como se estivesse se oferecendo para responder a uma pergunta. — Pai faerie e mãe humana. Papai diz que ficou entediado com este mundo, então foi se aventurar no outro. Ele conheceu minha mãe e ele não voltou para cá desde então. Ele achava que eu quase não tinha magia quando eu era pequeno, mas começou a aumentar depois de eu completar dez anos no ano passado. As coisas ficaram um pouco descontroladas no mês passado quando eu acidentalmente ateei fogo no nosso celeiro com chamas encantadas que não podiam ser apagadas com água. Fui enviado para cá depois disso.
— Uau. Quase tão dramática quanto a minha história, — eu digo. — Então, como você sabe a diferença entre faeries e halflings? Alguém me disse que eu sou definitivamente uma faerie, mas e se ele estiver errado?
— Não, você é definitivamente uma faerie, — diz Aldo. — É fácil dizer por que faeries têm uma cor.
— Uma cor?
— Você não percebeu? — Ele se inclina para frente e descansa os cotovelos na mesa. — Você tem azul em seu cabelo e olhos. Eu tenho vermelho. Aquele guardião que te trouxe aqui tem verde. Azzy tem rosa, embora ela prefira chamar de cor de cereja.
— É cor de cereja, — diz Azzy quando ela volta para a biblioteca e vem em direção a nossa mesa com uma xícara de chá e pires flutuando no ar ao lado dela. Ela se senta. — Agora, Em, você pensou em sua primeira pergunta?
Eu pigarreio e me forço a desviar o olhar da xícara de chá levitando. — Oh, eu pensei que eles iam me dizer as coisas.
— Mas como eles saberão o que dizer se você não fizer uma pergunta?
Eu levanto uma sobrancelha. Esse estilo de ensino parece questionável, mas eu não sou especialista, então provavelmente não deveria falar sobre isso. — Hum... vamos ver... — O que eu quero saber? Eu quero saber se é absolutamente certo que minha mãe não é minha mãe. Eu quero saber como acabei morando com ela. Eu quero saber como eu devo encarar a vida e mim mesma quando de repente eu não sou a pessoa que eu sempre pensei que era. Quero saber se é possível ter uma crise de identidade aos dezessete anos.
Mas eu não vou fazer nenhuma dessas perguntas, é claro. Elas são muito pessoais e essas crianças não saberão as respostas de qualquer maneira. — Hum, bem, Dash explicou os caminhos das fadas, mas essa é a única maneira de chegar ao outro mundo? E se alguém não tiver uma daquelas coisas tipo caneta? — O que me preocupa é que eu não tenho uma dessas coisas, e eu preciso de uma maneira de sair daqui se as coisas acabarem indo mal.
— Ooh, tudo bem, eu posso responder, — diz George, jogando sua mão no ar novamente. — Então existem lacunas aqui e ali no véu entre os dois mundos, e os fae podem passar por essas lacunas. Eu não me lembro exatamente onde elas estão, no entanto, ou de onde elas vieram. Eu acho que elas sempre existiram. Ah, e há um buraco no véu sobre a Ilha Velazar, — acrescenta ele. — Isso não é natural, no entanto. Não deveria existir. Algumas bruxas criaram anos atrás.
Eu olho para Azzy. — Parece que pode ter sido um evento importante.
— Foi, — diz ela, parecendo satisfeita. Eu posso dizer o que ela está pensando: essa coisa de aprendizado em grupo está funcionando exatamente como ela planejou. — Você pode nos contar mais sobre esse evento, Aldo?
— Hum, claro, tudo bem. — Ele bate sua stylus sobre a mesa. — Bem, havia esse cara chamado Draven. Tudo bem, espere, vamos voltar um pouco. — Ele franze a testa, depois continua. — Foi há vinte e oito anos, quando um dos príncipes Unseelie tentava assumir o controle da corte da sua mãe. Em vez disso, ele e a Rainha Unseelie foram mortos por Draven, que era um halfling insanamente poderoso, e Draven acabou assumindo a Corte Unseelie. Houve muita luta e lavagem cerebral e outras coisas e, eventualmente, Draven foi morto. Pelo menos é o que todos pensaram.
— Dun, dun, duuuuun, — George diz em tom dramático, fazendo Azzy rir.
— Dez anos depois, a princesa Seelie que esteve na prisão todo esse tempo por ajudar Draven - porque ele era na verdade seu filho —
— Super complicado, — acrescenta George.
— Sim, então a princesa Seelie descobriu que Draven ainda estava vivo e escondido, — Aldo continua, — e ela o traiu e o entregou a Guilda em troca de sua liberdade.
— Ela não era a melhor mãe, — diz Azzy sacudindo a cabeça.
— Então a princesa matou sua mãe e irmã para poder reivindicar a coroa Seelie. Então, esse tiro saiu pela culatra - porque, você sabe, a Guilda e a Guilda Seelie trabalham juntos, então eles perderam a rainha e conseguiram uma nova horrível. E então se descobriu que a princesa Seelie estava trabalhando com algumas bruxas, e elas queriam dominar o mundo humano também. Elas decidiram que não deveria mais ser separado deste mundo. Então elas usaram um feitiço antigo e magia negra horrível para rasgar o véu, mas o que acabou acontecendo foi que quando o buraco se abriu mais e mais, ele começou a consumir os dois mundos.
— Eu não acho que elas sabiam que isso iria acontecer, — diz George.
— Não, obviamente não. De qualquer forma, Draven acabou no local — provavelmente para se vingar de sua mãe — e ele foi morto. De verdade dessa vez. Houve mais lutas e, de alguma forma, o buraco no véu parou de crescer.
— O monumento. — Azzy ajuda.
— Certo. Havia um antigo monumento do reino sereiano, e quando o buraco no véu tentava aumentar, a magia do monumento era forte o suficiente para segurar o buraco no lugar e impedir que ficasse maior. Então agora está apenas lá, esse buraco gigante no véu sobre a Ilha Velazar —
— Que é uma ilha flutuante, — George acrescenta com um sorriso. — Bem, duas ilhas agora, porque havia uma prisão do outro lado, então a Guilda cortou a ilha ao meio depois que a coisa do véu aconteceu.
— E guardiões estão posicionados perto do buraco o tempo todo, — continua Aldo, — escondendo-o com um glamour e certificando-se de que ninguém chegue perto o suficiente para tocar o monumento.
— Então não há como fechá-lo? — Pergunto.
— Os estudiosos têm trabalhado nisso desde então, — diz Azzy. — E ouvi dizer que finalmente houve um avanço, na verdade.
Eu me lembro vagamente de Jewel dizendo algo ontem sobre um feitiço do véu. — Eu acho que ouvi sobre isso. A Guilda teve uma reunião sobre isso ontem.
— Sim, isso é muito emocionante. — Azzy sorri para nós antes de pegar sua xícara de chá. — De qualquer forma, você está acompanhando até agora, Em?
— Acho que sim. Não tenho certeza se entendo totalmente a coisa dos Seelie e Unseelie, no entanto.
— Oh, as cortes diferentes. — Azzy acena para Aldo antes de tomar outro gole de chá.
— Hum, as cortes dominam diferentes partes do nosso mundo, — diz Aldo. — A Guilda e a Corte Seelie trabalham juntos para manter a ordem e a paz e manter o mundo funcionando. Eles decidem sobre as leis e proíbem magia que envolva ferir outras pessoas. Unseelies tendem a se manter afastados. Eles também gostam de ignorar as leis e usar qualquer magia negra que eles queiram, e a Corte Seelie nem sempre pode fazer nada sobre isso. Eu acho. — Ele olha para Azzy para confirmação.
— Essencialmente, sim. É um equilíbrio complicado.
— Então o que aconteceu com a princesa Seelie? — Eu pergunto. — Aquela que matou sua mãe e irmã e estava trabalhando com as bruxas? A Guilda não permitiu que ela continuasse a governar, não é?
Azzy balança a cabeça e coloca a xícara de chá no pires. — Não. Depois do feitiço do véu, a pena de morte foi restabelecida e a princesa Angelica — que suponho que era na verdade a rainha Angelica naquele momento — foi sentenciada à morte.
Meus olhos se arregalam. — Uau. Então, quem sobrou para governar a corte?
— O filho da irmã dela. Então atualmente nós temos um rei em ambos as cortes. Rei Idrind na Corte Seelie, que é um jovem rei, e o rei Savyon na Corte Unseelie, que está governando desde a primeira ‘morte’ de Draven.
Mais nomes estranhos, eu penso comigo mesma. Em voz alta, eu digo, — Isso tudo é muito interessante, mas não me ajuda a controlar minha magia. Isso é tudo que eu realmente preciso saber, certo?
— Se você decidir ficar neste mundo, — diz Azzy, — então você precisa saber como funciona.
— Mas eu não vou ficar aqui.
Ela sorri. — Não há necessidade de tomar essa decisão agora.
— Tenho certeza que já tomei a decisão.
Azzy ri. — Está bem, está bem. Isso é absolutamente bom, mas eu ainda preciso que a Guilda te ensine um pouco de história. Mas eu prometo que chegaremos na magia logo após o almoço, ok? Agora. — Ela se inclina para frente e me observa atentamente com seus olhos rosa escuros. — Você já foi informada sobre Habilidades Griffin?
Eu me lembro de Dash mencionando elas ontem. — Hum... faeries superpoderosas?
— Sim, sim, — diz Aldo. Ele olha para Azzy.
— Bem, vá em frente, — diz ela para ele. — Diga para Em tudo sobre eles.
Encosto-me para trás em minha cadeira, e o resto da manhã passa com explicações do que são Habilidades Griffin (habilidades mágicas adicionais e não naturais), de onde vieram originalmente (discos de metal contendo a magia de um halfling super poderoso de séculos atrás), e como são transmitidos hoje em dia, já que os discos sumiram (quando dois Dotados Griffin têm um filho, embora às vezes a criança saia normal).
Depois de mais algumas rodadas de perguntas e respostas, Azzy finalmente nos deixa ir para o almoço. Eu me levanto e me alongo, e estou prestes a seguir Aldo e George quando noto a stylus de Aldo na mesa entre os livros. Depois de um breve olhar ao redor da sala para me certificar de que ninguém está me observando, eu casualmente me inclino e a pego. Eu levanto minha camiseta e coloco no cós do meu jeans, então corro para fora.
A stylus belisca meu peito o tempo todo que estou sentada na hora do almoço, e eu tenho medo de que de repente ela abra um portal no meu corpo ou me incendeie ou faça algum outro feitiço por vontade própria. Mas eu consigo terminar o almoço inteira.
Logo depois, Azzy me diz para colocar um suéter por cima da minha camisa e encontrá-la do lado de fora. — Pronta para aprender alguma magia? — Ela pergunta quando a encontro perto de uma estátua de um centauro apontando um arco e flecha para o céu.
É provavelmente a pergunta mais estranha que já me fizeram. Eu mal posso acreditar que magia existe, muito menos que eu tenho a habilidade de brincar com ela. Eu engulo e rolo meus ombros em uma tentativa de relaxar. — Provavelmente não, mas vamos lá.
Capítulo 08
— ENTÃO, COMO ISSO FUNCIONA? — EU PERGUNTO ENQUANTO ESTAMOS NO JARDIM A CERTA DISTÂNCIA dos outros alunos. — Eu digo algumas palavras mágicas e algo acontece?
— Foi isso que aconteceu na outra noite quando você acidentalmente usou magia? — Pergunta Azzy.
— Hum, não, eram apenas palavras normais. Minha amiga Val ficou envergonhada com algo que ela disse para um cara, e ela fez um comentário sobre desejar que a terra se abrisse e a engolisse. Então eu disse... — Eu engulo e enrolo alguns fios de cabelo em volta do meu dedo indicador, envergonhada do estado em que estava naquela noite. — Eu estava meio que fora de mim, porque eu bebi um pouco de álcool, e aparentemente isso não é bom para faeries, então eu... eu não sei exatamente, mas eu disse algo como 'E daí? Então deixe que a terra a engula.’ E então... aconteceu.
— Eu entendo. — Azzy sacode a cabeça lentamente.
— Tem a ver com meus pensamentos? Eu estava talvez imaginando, e minha magia apareceu ao mesmo tempo, então foi isso que na verdade aconteceu?
— Sabe, Em, não tenho certeza. Coisas estranhas podem acontecer quando a magia de uma pessoa se revela pela primeira vez depois de estar dormente por anos. Mas eu vou tentar descobrir para você, tudo bem? — Ela me dá um sorriso que parece menos entusiasmado do que antes. — E é provavelmente melhor que você não mencione exatamente o que você fez com mais ninguém. Não até que eu possa descobrir mais.
— Oh. Porque —
— Enquanto isso, — ela diz antes de eu fazer minha pergunta, — vamos começar com o básico. Magia existe ao seu redor e dentro de você. Para fazê-la fazer algo, você precisa tirá-la de dentro de você e liberá-la de alguma forma ou canalizá-la através de uma stylus. Muito da nossa magia funciona dessa maneira, escrevendo as palavras para um feitiço específico em alguma coisa, enquanto canaliza a magia através da stylus.
Parte do meu cérebro ainda está preso imaginando por que eu deveria manter o que aconteceu na outra noite em segredo, então eu levo alguns instantes para processar as palavras da Azzy. — Hum, tudo bem, então, uma vez que eu puder canalizar, posso fazer o que quiser com ela?
— Não, nós temos limitações, é claro. Baseando-se que o poder nos cansa, assim como um exercício iria cansar você. Se você chegar ao ponto em que não tiver quase nada, então precisa descansar para recuperar sua força mágica. — Ela caminha lentamente de um lado para o outro enquanto fala, suas roupas soltas flutuando ao redor dela. — E há limitações para exatamente o que você pode fazer. Você não pode simplesmente estalar os dedos e ter uma pilha de ouro à sua frente, ou um arco-íris em arco no céu inteiro.
— Tudo bem. Mas faeries superpoderosas podem fazer coisas assim?
— Sim. Habilidades Griffin permitem que as pessoas façam magia que ninguém deveria ser capaz de fazer. Mas vamos aos detalhes do que é possível e do que não é mais tarde, — ela acrescenta com um aceno de mão. — A primeira coisa que eu quero que você pratique é a parte em que você realmente usa sua própria magia. Inicialmente parecerá algo que você tem que focar intensamente toda vez, mas logo se tornará instintivo. Então você descobrirá que pode fazer isso automaticamente sem nem pensar nisso.
— Como dirigir um carro?
— Bem, eu não tenho nenhuma experiência pessoal nessa área, mas sim, eu suponho que seja como dirigir um carro. — Ela pára de andar e estende as mãos suas palmas na sua frente. — Uma vez que você tirar o poder de si mesma, se você não canalizar através de algo, você pode simplesmente segurá-la em suas mãos. Ela aparecerá como uma espécie de massa brilhante que pode ser transformada em outras coisas. — Enquanto ela fala, uma forma esférica de luz toma forma acima de suas mãos, iluminando o caminho e uma energia que se esforça para se libertar. — Por enquanto, — ela diz, — eu só quero que você se concentre em chegar ao ponto em que você a está segurando.
Eu engulo, em seguida, pisco quando a magia de Azzy desaparece e ela abaixa as mãos para seus lados. — Hum, está bem. Devo fechar meus olhos?
— Se isso vai ajudar você a se concentrar, então sim.
Meus olhos fecham e me concentro em imaginar um lugar profundo e oculto dentro de mim. Eu tenho que livrar minha mente de imagens inúteis de intestinos e outros órgãos, mas eventualmente eu chego lá.
— Você pode sentir? — Azzy pergunta baixinho. — Cantarolando, vibrando. Encontre-a e imagine reunindo um pouco em suas mãos e a liberando.
Eu me imagino fazendo o que ela diz, esperando que na realidade não seja tão escorregadio e difícil de segurar como imagino que seja.
— Aqui está, — ela sussurra.
Eu abro meus olhos, e fico tão assustada ao ver a massa brilhante pairando sobre as minhas mãos que eu suspiro e dou um passo para trás, tirando minhas mãos da magia. Ela desaparece em nada.
Azzy ri. — Bom trabalho, isso foi bom.
Uma risada ofegante escapa de mim. — Eu realmente fiz isso.
— Você fez. Agora, para o próximo desafio: você pode fazer de novo?
Eu estendo minhas mãos mais uma vez e fecho meus olhos. Espero que seja mais fácil na segunda vez, mas quando abro os olhos não encontro nada acima das palmas das minhas mãos. Então eu tento de novo, tomando meu tempo, sentindo aquele zumbido fraco que nunca costumou ser parte de mim. Eu puxo, mas mais uma vez, eu encontro minhas mãos vazias.
— Paciência, — murmura Azzy. — Não fique frustrada consigo mesma.
Repito o processo, mas parece que não consigo mais clarear minha mente. O ar frio me distrai. O chilrear dos insetos enche meus ouvidos. Eu sacudo meus braços, respiro profundamente várias vezes e tento novamente.
Nada.
— Ugh, isso é uma droga! Por que é tão difícil?
Azzy, parada pacientemente em um lado, cruza os braços. — Porque hoje é a primeira vez que você tenta fazer isso. Levará muita prática antes que fique fácil.
— Mas eu preciso saber como fazer isso agora.
— Em, você precisa ir com calma, — diz ela com uma risada. — Você tem que aprender tudo o que uma criança faerie passaria aprendendo no ensino fundamental, e isso não vai acontecer em uma tarde. Mesmo se você for inteligente e dedicada, ainda levará vários meses para —
— Meses? — Repito, o choque corre através de mim. — Do que você está falando? Eu não posso ficar aqui durante meses.
— Por que não? Existe algo importante para o qual você precise voltar? Fiquei com a impressão de que a Guilda havia organizado sua história com seus parentes humanos e amigos. Ninguém está esperando que você volte para aquele lado do véu a qualquer momento em breve.
— Isso não faz... e... a minha mãe! — Eu gaguejo. — E eu tenho um plano. Eu preciso terminar a escola e me aproximar dela e conseguir um emprego que pague melhor. Então eu posso realmente ajudá-la. Como eu devo terminar a escola se estiver aqui durante meses? Eu só deveria ficar aqui por — eu não sei — uma semana ou duas.
— Sinto muito, Em. — A testa de Azzy franze em confusão. — Eu não sei quem te disse isso, mas isso definitivamente vai demorar mais de uma semana ou duas.
— Eu... só... eu não posso fazer isso. — Eu me afasto dela.
— Em, espere —
— Eu vou para o meu quarto.
— Emerson, por favor, seja madura sobre isso, — Azzy fala atrás de mim. — Vamos apenas conversar, em vez de você fugir para se esconder de tudo.
Eu não olho para trás. Passo correndo pelas estátuas e entro na casa — e passo direto pelas escadas que levam aos quartos. Eu abro a porta da frente e continuo correndo. Ao longo do caminho e em direção ao portão. Não faço ideia para onde estou indo, é claro, mas preciso sair desse lugar. Eu corro entre as árvores, em torno dos arbustos e sobre as rochas. Posso não ser boa em magia, mas sou boa em correr. Então eu corro, corro e corro, e eventualmente tropeço em algo e deslizo até a metade de uma parte íngreme da floresta. Eu levanto e escovo minhas mãos sujas e arranhadas contra minha calça jeans, permitindo-me recuperar o fôlego.
Eu estou longe da casa agora, então eu puxo a stylus do Aldo do meu jeans. Eu a seguro como uma caneta e descanso minha mão contra a árvore mais próxima. Eu vi esse feitiço várias vezes agora, então eu devo ser capaz de lembrar as palavras. Eu tento me concentrar e alcançar qualquer que seja a magia que existe dentro de mim enquanto escrevo as palavras que eu testemunhei Dash e Jewel escrevendo. Eles também falavam algumas palavras diferentes, então faço uma tentativa de repetir o que me lembro de ouvir.
É impossível. Ou eu entendi errado ou as palavras faladas estão erradas, ou não canalizo magia o suficiente através da stylus. Provavelmente uma combinação dos três. Eu giro e jogo a stylus no chão. Depois de um momento de pausa, me jogo ao lado dela. Eu cruzo minhas pernas e braços e respiro um pouco. Isso é tão estúpido. O que eu devo fazer agora? Continuar andando até encontrar uma daquelas lacunas naturais entre os dois mundos? E como eu saberia se eu visse? Não, esse é um plano estúpido. Especialmente se não houver muitas dessas lacunas. Eu poderia estar a centenas ou milhares de quilômetros de distância de uma. O que tenho que fazer é continuar andando até me deparar com uma pessoa que possa me levar ao mundo humano. Chevalier House não pode estar muito longe da civilização, certo?
Eu me forço a continuar me movendo, tentando não pensar no fato de que eu poderia estar completamente errada. Enquanto ando e ando e ando, a luz lentamente fica fraca. Quando a noite começa a se aproximar e eu ainda não encontrei nenhum sinal de nenhuma pessoa ou civilização, medo genuíno se acumula na borda da minha mente. Eu corro minhas mãos para cima e para baixo nos meus braços, tentando me aquecer, mas isso não funciona.
Então eu ouço alguma coisa. O farfalhar repetitivo de passos nas folhas. Alívio e incerteza se chocam dentro de mim ao mesmo tempo, me congelando no local por vários segundos. Então eu recupero meus sentidos e escorrego para trás da árvore mais próxima, espreitando na direção do som. Neste mundo, é definitivamente mais seguro checar as coisas antes de falar olá.
O ser que eventualmente aparece parece um homem. Seu rosto está na sombra e ele usa um longo casaco preto que alcança abaixo dos seus joelhos. Quando eu vejo que não é uma espécie de monstro, eu quase saio de trás da árvore e chamo por ele. Mas algo me impede. Uma mudança no ar. Um sentimento de desconforto. Eu noto movimento através do chão da floresta, como se insetos e pequenas criaturas estivessem se afastando dele. A sensação de que algo está errado me envolve.
Eu me agacho entre as raízes das árvores, cobrindo minha cabeça com as mãos e tentando me enrolar em uma pequena bola. Por favor, por favor, não me veja, eu canto silenciosamente. Eventualmente, seus passos desaparecem no nada. Eu me permito respirar longamente e devagar antes de ficar em pé e olhar timidamente ao redor da árvore. Eu dou alguns passos.
E uma forma escura salta sobre mim.
PARTE 2
Capítulo 09
EU CAIO COM UM GRITO, A CRIATURA EM CIMA DE MIM. ASAS DE COURO BATEM ao meu redor, e uma boca rosnando estala sobre meu rosto. Eu luto com punhos, cotovelos e joelhos. Com um grande impulso, eu consigo expulsá-lo de cima de mim. Ele pula de novo — mas algo brilhante e reluzente brilha através da escuridão. O monstro grita quando uma lâmina dourada corta para frente e para trás, forçando-o ainda mais para longe de mim. Ele bate uma asa no homem que segura à lâmina, então se arremessa para o lado e voa para longe.
O homem se vira — e vejo que é Dash.
Eu levanto e me afasto até sentir a superfície áspera de um tronco de uma árvore atrás de mim. Eu me inclino contra ela, não confiando em minhas próprias pernas para me manter de pé. Sem fôlego, eu pergunto, — Como... como você me encontrou?
— Isso importa? — Dash dá um passo em minha direção.
— Sim. Aqui estou eu tentando voltar à minha vida normal e meu babá perseguidor aparece do nada.
Ele solta a faca e ela simplesmente... desaparece. — Eu acho que você provavelmente deveria estar agradecendo ao seu babá perseguidor agora.
Eu me afasto da árvore e aumento a distância entre nós. — Eu não vou agradecer. Tudo o que você quer fazer é me arrastar de volta para aquela escola idiota.
Em vez de me lembrar que ele acabou de salvar minha vida, ele diz, — Primeiro dia ruim?
— Claro que foi ruim. Este lugar — este mundo — não é para mim. Eu não pertenço aqui. Por que ninguém entende isso?
— Nós entendemos. É para isso que a Chevalier House serve.
— Você não está me ouvindo. Eu não. Quero. Estar aqui. Tudo bem? Eu não quero ter lições estranhas com estranhos, eu não me importo com a história deste mundo, e eu não quero nenhuma magia. Eu só quero IR EMBORA.
Confusão atravessa o rosto de Dash. — Mas... não é melhor do que você tinha antes?
— Não! Eu não quero isso! — Eu grito. Começo a andar de um lado para o outro, jogando meus braços descontroladamente enquanto ando, sem me importar que faíscas aleatórias escapem dos meus dedos e queimem as folhas no chão. — Dois dias atrás, minha vida era a mesma porcaria que sempre foi. Agora eu tenho magia, estou em um mundo estranho, minha mãe não é minha mãe e, basicamente, eu não tenho nenhuma ma — Eu me interrompo antes de terminar. — Eu não tenho a menor ideia de quem eu sou ou o que está acontecendo. Eu só quero voltar ao meu plano, onde eu termino a escola, me afasto de Chelsea e descubro como tirar minha mãe daquele hospital. E sim, estou bem ciente de que foi uma vida de baixa qualidade, mas era a minha vida e eu sabia o que fazer com ela.
A testa de Dash continua a franzir. — Mas você ainda pode fazer tudo isso. Quero dizer, não exatamente assim, mas uma vez que você tiver o lado mágico das coisas sob controle, você pode voltar à vida normal. Na verdade, a magia irá ajudá-la com a vida normal, se você for discreta sobre isso. Então você não deveria estar tentando virar as costas para isso.
Eu paro, olhando para a escuridão e não vejo nada enquanto meu cérebro processa rapidamente algo que eu não tinha considerado até agora. Eu me viro lentamente e encaro Dash. — A magia pode curar minha mãe?
Ele hesita, abre a boca, depois a fecha e sacode a cabeça devagar. — Ela não é mágica. Seria muito arriscado usar magia em seu corpo, especialmente em sua mente. Não sabemos se isso a prejudicaria e pioraria as coisas.
Eu jogo minhas mãos para cima. — Então, qual diabos é o ponto em ter esses poderes estúpidos? Como eles devem me ajudar?
— Hum, por causa de tudo mais que você pode fazer com a magia?
Eu cruzo meus braços sobre meu peito. — Posso passar pelos caminhos das fadas direto para o seu quarto de hospital e levá-la de volta através deles para algum outro lugar?
— Bem, não, você não pode levá-la a qualquer lugar pelos caminhos porque os humanos não podem viajar dessa maneira. Mas você pode ir a qualquer lugar. Você poderia visitá-la agora mesmo. Quero dizer, — acrescenta ele rapidamente, — se você achar que é uma boa ideia.
Eu hesito. Claramente, Dash não acha que é uma boa ideia visitá-la agora, e ele provavelmente está certo. Eu quero, claro. Eu não quero nada mais. Mas eu não quero ir com ele. Eu não quero que ele veja minha mãe em seu estado atual, e eu não quero que ele me veja e minha reação quando eu a vir daquele jeito. Eu preciso aprender essa coisa dos caminhos das fadas para que eu possa viajar por conta própria. — Tudo bem, então eu não posso resgatá-la do hospital dessa maneira, — eu digo. — Mas eu poderia me esconder com magia, certo? E eu poderia usar magia para distrair todo mundo enquanto tirava mamãe do prédio, e a magia podia ajustar a papelada para que todos achassem que ela estava devidamente dispensada. E a magia poderia colocar meu nome no sistema escolar dizendo que me formei, e isso poderia me ajudar a conseguir algum dinheiro para ter uma vida simples em algum lugar e manter minha mãe segura. Certo?
— Sim, exatamente. Vê? A magia é boa para alguma coisa. Embora, — ele acrescenta com uma carranca, — eu não estou dizendo que eu defendo você fazendo qualquer uma dessas coisas. Nós não devemos mexer com vidas humanas e, tipo, usar magia para conseguir dinheiro ilegalmente.
— Você também não está dizendo que me impediria.
— Eu estou dizendo... — Dash coça a cabeça. — Eu estou dizendo que você deveria voltar para Chevalier House e continuar aprendendo como usar sua magia com segurança. Podemos considerar todas as opções depois disso.
Eu aceno devagar. — Certo.
Ele hesita, me observando com os olhos apertados. — Você está pensando em fazer todas essas coisas ilegais, não é?
— Estou pensando em voltar para Chevalier House. — O que é a verdade, realmente, já que a magia se tornou a melhor maneira de sair da minha vida ruim e dar à mamãe um futuro melhor do que o que ela está encarando no momento.
Dash suspira. — Bem, seus motivos podem ser questionáveis, mas se eles a levaram de volta à Chevalier House hoje à noite, então eu fiz o meu trabalho.
— Ótimo. Bom trabalho. Deveríamos ir, então? — Eu me viro e algo que parece um lagarto alado salta de um galho e voa direto para mim. — Puta...
— Sorvete, — diz Dash, pegando a pequena criatura. — Puta sorvete. Isso é o que ela diria, carinha. Não precisa ficar chateado.
— Puta sorvete, — eu retruco. — Que diabos é essa coisa?
Diante dos meus olhos, a criatura começa a mudar de forma. Um momento é algum tipo de réptil e no outro é um gatinho. — Ah, parece um metamorfo, — diz Dash. — Formattra é o nome oficial, eu acho. Esses carinhas são muito raros. Eu me pergunto como ele acabou aqui.
— Metamorfos? Formidável. Lobisomens são reais também?
— Bem, existem fae que são metamorfos, mas eu acho que eles se transformam em outras pessoas, não animais. Você sabe, como outra faerie se transformando para se parecer comigo.
— Porque quem não gostaria de se parecer com você, certo?
— Exatamente. — A criatura se estica e me cheira. Eu me afasto para fora de seu alcance. — Ei, vamos lá, ele gosta de você, — diz Dash. — Você não quer um animal de estimação?
— Não, eu não gosto de animais de estimação.
Dash ri. — Impossível. Por que você não gosta de animais de estimação?
— Eles morrem e é triste. — Ou eles fogem e nunca mais voltam.
— Isso definitivamente não é uma razão boa o suficiente.
— Bem. Em breve vou embora e quem vai cuidar dele então? Isso é uma razão boa o suficiente?
A criatura se transforma entre várias formas tão rapidamente que não consigo dizer o que é até que se torne um gatinho novamente. — Ele é apenas um bebê, Em, — diz Dash, coçando a cabeça do gatinho. — Ele precisa de alguém que cuide dele.
Eu inclino minha cabeça para o lado. — Você disse que eles são muito raros, não é? Então posso vendê-lo por muito dinheiro?
O rosto do Dash desmorona. Ele abraça a criatura no seu peito e cobre as orelhas. — Isso é uma coisa terrível para se dizer, Em. Não dê ouvidos a ela, carinha, — ele sussurra. — Ela não quis dizer isso.
— Ugh, sério? — Minhas mãos se fecham em punhos. — Podemos ir agora? Você disse que eu preciso voltar para casa, e agora você está perdendo tempo aqui com essa estranha coisa que muda de forma.
Ele me observa de boca aberta como se quisesse dizer alguma coisa. Então ele balança a cabeça. — Sim, ok. Vamos. — Quando ele levanta sua stylus para escrever um portal, a criatura que muda de forma pula e desaparece na escuridão. Dash estende a mão para mim e eu relutantemente aceito. Quem elaborou a regra de contato físico para viajar no caminho das fadas obviamente não levou em consideração a possibilidade de algumas pessoas nunca quererem dar as mãos.
Quando a escuridão desaparece para revelar uma fraca luz, estamos do lado de fora do portão da Chevalier House. — Você poderia ter nos levado direto para dentro da casa, sabe.
— Eu não posso, na verdade, — Dash diz enquanto abre o portão. — Os caminhos das fadas não abrem dentro da casa ou em qualquer lugar do jardim.
Eu fecho o portão atrás de nós. — Isso é estranho. Por quê?
— Medida de segurança. É assim na maioria das propriedades privadas. Apenas os proprietários podem abrir portais dentro da própria casa.
— Uma medida de segurança estúpida, se alguém pode abrir o portão.
— O portão não abrirá para qualquer um, no entanto, — Dash diz enquanto seguimos o caminho até a casa. — Se você passou por ele na companhia de alguém que mora aqui — como o elfo que nos trouxe aqui ontem — você recebeu acesso mágico para passar pelo portão.
Eu permito que um longo suspiro passe pelos meus lábios. — Isso tudo parece desnecessariamente complicado. As pessoas deviam usar apenas cadeados e chaves.
Dash ri. — Uma coisa tão humana para se dizer.
— Foda-se, — murmuro.
Entramos no hall de entrada da Chevalier House e encontramos a melhor amiga de equipe de Dash, Jewel, esperando por nós. — Oh, você a encontrou, — diz Jewel, um sorriso iluminando seu rosto. — Que bom.
— Você também faz parte da equipe de babá? — Eu pergunto.
Ela franze a testa. — O que você quer dizer? Eu estava com Dash quando Azzy enviou a mensagem para dizer que você fugiu. Eu me ofereci para ajudar a procurar por você.
— Que gentil da sua parte, — eu digo diretamente.
Dash me cutuca com o cotovelo, e eu dou um passo para longe dele para que ele não possa fazer isso de novo. Azzy entra na sala. — Emerson. — Ela coloca as mãos nos quadris e me dá um olhar severo. — Fugir não era necessário. Espero que você saiba que não vamos forçá-la a ficar aqui contra a sua vontade. Se você tem certeza absoluta de que não está interessada neste mundo, podemos mandá-la de volta para a Guilda e eles podem te dar um daqueles aparelhos que bloqueiam toda a magia.
— Aparelho? — Eu pergunto.
— É um anel ou pulseira ou algo assim. Eu não tenho certeza de qual forma eles estão usando hoje em dia. É algo que não pode ser removido e irá bloquear totalmente a sua magia.
— Oh. Eu não sabia que era uma opção. — Mas como Dash apontou, a magia pode me ajudar a ajudar a mamãe. Especialmente considerando que o tipo de trabalho que eu poderia conseguir como uma graduada do ensino médio não pagaria quase tanto quanto o tipo de trabalho que eu poderia conseguir se eu fizesse uma versão encantada de alguma qualificação superior. Se eu quero estar melhor equipada para ajudar a mamãe, então eu preciso ficar por aqui um pouco mais. — Eu sinto muito, Azzy, — eu me forço a dizer. — Estou aqui para aprender agora. Eu não vou fugir novamente.
— Maravilhoso. Agora, por que vocês dois não ficam para o jantar? — Azzy pergunta a Jewel e Dash. — Ou você tem casos importantes para lidar?
— Nossa equipe está livre, — diz Jewel. Ela enlaça os braços com os de Dash. — Gostaríamos de ficar para o jantar.
— Maravilhoso, — diz Azzy, envolvendo um braço em volta dos ombros de Dash e os apertando brevemente.
— Sim, realmente maravilhoso, — murmuro. — Eu só vou... me limpar, eu acho.
— Claro, — diz Azzy, apontando para uma das portas que saem do hall de entrada. — Tente não confundir com a porta da frente, Em. Nós não queremos que você se perca do lado de fora novamente.
Eu considero revirar os olhos, mas é muito esforço. — Eu acho que posso conseguir.
Quando eu termino de espirrar água no meu rosto e penteio meu cabelo com os dedos — o que me surpreende, mais uma vez, com suas mechas azuis brilhantes — saio do banheiro e encontro Jewel esperando sozinha no hall de entrada. Ela se afasta da mesa. Eu olho em volta, mas definitivamente é em minha direção que ela está caminhando. — Hum, oi?
Ela sorri e parece quase genuíno. — Olha, eu realmente não quero fazer a coisa toda de adolescente malvada, já que eu sei que somos praticamente adultas por aqui, mas eu só quero ressaltar que Dash não está exatamente disponível.
Eu decido me fazer de burra. — Disponível para quê?
Ela revira os olhos. — Você sabe, um relacionamento.
— Oh. — Eu cruzo meus braços. — Por quê?
— Bem, olha, não é oficial ainda, mas nós meio que temos uma coisa acontecendo.
— Uma coisa? Mesmo? Eu nunca teria adivinhado, dada a maneira como ele tenta seduzir todas as mulheres que encontra.
O sorriso de Jewel escorrega um pouco. — Sim, eu sei que ele namorou um monte de garotas, mas nenhuma dessas relações durou muito tempo, e eu sei exatamente o porquê.
Eu finjo um interesse intenso. — Você sabe?
— Sim, é óbvio: ele está procurando a pessoa certa. E ele está tão perto de descobrir que sou eu, então eu não quero que nada estrague isso para nós agora.
— Oh, uau, é você? Como você sabe disso?
— Porque muitas coisas em nossas vidas foram passadas juntas. Nós treinamos juntos. Nós crescemos juntos. Nós até brincamos juntos quando bebês. Nós estamos destinados a ser.
Eu pisco. — Essa é a coisa mais estúpida que eu já ouvi.
— Ei!
— Quem se importa se vocês brincaram juntos quando bebês? Duvido que qualquer um de vocês possa se lembrar disso.
— Isso não importa! Isso significa que nós temos uma história, — ela diz, todos os traços de seu sorriso doce se foram. — E se temos uma história, teremos um futuro mais forte.
— Mesmo? Porque Dash e eu também temos uma história, e isso só fez com que eu não gostasse dele.
— Sim, porque vocês têm a história errada. Nós temos a história certa, então —
— Jewel? — Eu paro para ter certeza que ela está ouvindo. — Você pode ficar com ele. Eu não estou interessada.
— Oh. Mesmo?
— Mesmo. Eu tenho outras prioridades agora. — Eu passo por ela e me dirijo para a sala de jantar, onde a conversa alta e os cheiro de dar água na boca enchem o ar. Na longa mesa retangular, estão os outros sete alunos que atualmente frequentam a Chevalier House, além de alguns fae que vi andando por aí. Professores, talvez, e o homem com a mão no pulso de Azzy, rindo enquanto ele se inclina para mais perto para dizer algo que só ela pode ouvir, deve ser seu marido ou parceiro ou algo dessa natureza.
— Emerson! Você perdeu algo excitante enquanto estava fora, — George me diz enquanto me sento.
— Oh, o que eu perdi?
— Outra pessoa nova chegou.
— E isso conta como excitante? — Eu puxo o prato mais próximo de comida para mais perto e começo a colocar legumes assados no meu prato. Eles cheiram mil vezes mais deliciosos do que qualquer coisa que Chelsea já cozinhou.
— São duas novas pessoas em dois dias, — diz Azzy da cabeceira da mesa. — Isso não acontece muitas vezes aqui.
— E ela é velha como você, — acrescenta George.
Eu abaixo a colher de servir. — Desculpe?
— Oh, caramba, tão velha quanto Emerson? — Os olhos de Dash se arregalam. — Isso é seriamente velha.
George, sentado ao lado de Dash do outro lado da mesa, morde o lábio enquanto franze a testa. — Oh, eu pensei... Mas Azzy não é super velha? E a Emerson tem, sua idade? — Ele diz para Dash.
— Ok, e isso, — eu digo, apontando meu garfo para dar ênfase, — é por isso que é tão confuso ter pessoas que tem um zilhão de anos parecendo que estão na casa dos vinte.
Dash dá de ombros. — Não podemos evitar se temos magia nos nossos sistemas, mantendo-nos jovens e bonitos.
— Eu sei, é tão bom, né? — Jewel diz enquanto se apressa para dentro da sala de jantar e seleciona o único assento disponível no lado da mesa de Dash.
— Zilhão? Eu tenho apenas trezentos e quatro anos, — diz o homem sentado ao lado de Azzy. — Eu sou Paul, a propósito, — acrescenta ele com um sorriso na minha direção. — O marido de Azzy.
— Oi. — Eu retorno seu sorriso, satisfeita por descobrir que pelo menos alguns fae têm nomes normais. Depois de provar um pouco da minha comida e tentar não gemer em voz alta de como é incrível, eu pergunto, — Então, onde está a outra garota nova?
— Ela não estava se sentindo tão bem, — diz Azzy. — Teve alguns dias traumatizantes. Eu dei-lhe algo para comer quando ela chegou um pouco antes do jantar, e ela está dormindo agora. Vocês duas podem começar as aulas juntas amanhã.
— Ótimo. — Eu não estou empolgada em compartilhar lições com outra pessoa — e se ela me atrasar? — mas já que decidi me comprometer totalmente com o programa Chevalier House, eu provavelmente deveria ser educada com todos que moram aqui.
Volto minha atenção para a minha comida, empilhando mais algumas iguarias no meu prato quando penso que ninguém está olhando. Dash chama minha atenção, no entanto. Eu retorno seu sorriso com um olhar de raiva. Pirralho mimado provavelmente tem um chef em casa. Sem dúvida ele come assim o tempo todo.
No final da refeição, os pratos se erguem por conta própria e voam para fora da sala de jantar em direção à cozinha. Eu tento não ficar muito surpresa, mas não consigo evitar me pressionar contra a minha cadeira com medo quando meu prato sobe no ar. Eu peço licença logo depois e saio da sala de jantar; toda essa conversa e atividade durante o jantar não é algo que eu estou acostumada. Eu prefiro ir para a cama cedo para que eu possa me concentrar corretamente em todas essas coisas mágicas amanhã.
— Em?
Eu viro no último degrau que leva aos quartos e olho para trás.
— É bom que você tenha voltado, — diz Dash, vagando pelo hall de entrada. — Quando você estiver arrasando em todas as suas lições em algumas semanas, me avise para que eu possa me gabar de ter sido eu quem falou para você ficar.
A única resposta que eu dou a ele é outro olhar de raiva.
— Ei, vamos lá, estou apenas brincando.
— Sabe, eu tenho tentado descobrir por que tantas pessoas gostam de você quando você é só um idiota.
Ele dá de os ombros. — Provavelmente porque ninguém mais tem a impressão de que eu arruinei suas vidas, então eles podem me ver como eu realmente sou.
— Como é, exatamente?
— Cara simpático, sorriso encantador, não tão ruim de olhar.
— Estou surpresa que eles possam ver qualquer coisa além dessa sua cabeça gigantesca.
Ele franze a testa e levanta a mão para a cabeça. — O que há de errado com a minha —
— Eu quis dizer o seu ego, idiota.
— Ei, eu disse não tão ruim. Isso só deveria me dar um ego de tamanho médio, certo?
— Em você, isso é mais do que suficiente, — eu digo quando me viro e subo as escadas.
— Boa noite, Emmy, — ele fala atrás de mim.
— Cale a boca, — eu resmungo sob a minha respiração.
Chego à minha porta, abro-a — e pulo para trás ao ver um tigre sentado na minha cama. O tigre pisca e se transforma em uma coruja, depois um corvo e depois um gatinho. O alívio corre através de mim, seguido rapidamente pela irritação. — Não, — eu digo. — Não, não, não. Isso não está acontecendo. Você deveria ficar lá fora na floresta. — O gatinho pisca. — Eu vou dar você para Dash. Ele pode cuidar de você. — Eu pego o gatinho e corro de volta para o hall.
No topo da escada, paro. Azzy e Dash estão de pé juntos no hall de entrada abaixo, Dash parecendo estranhamente sério. — Temos até o final da semana, — ele diz baixinho, — então não há pressa imediata. Mas nós vamos ter um plano em prática, provavelmente depois de amanhã.
— Bom. E certifique-se de que pareça um acidente.
— Claro.
Eu mordo meu lábio, me encolhendo de volta nas sombras, sabendo instintivamente que eu não deveria ouvir o que eles estavam falando. Antes que eu possa decidir o que fazer com o animal que se transforma, Dash abre a porta da frente e sai. Azzy caminha de volta para a sala de jantar, sua camisa leve e enorme flutuando atrás dela.
— Que diabos? — Eu sussurro para o gatinho. Um instante depois, torna-se um coelho. — Bem. Dash sumiu, então você está por conta própria. — Coloco o coelho na escada, depois corro de volta para o meu quarto, minha mente percorrendo explicações sobre o que Dash e Azzy poderiam estar falando. Talvez não seja nada sinistro, afinal. Certifique-se de que pareça um acidente. Isso não parece bom, no entanto. Mas seja o que for, não vou me envolver. Eu sobrevivi durante esse tempo mantendo o nariz fora dos negócios de outras pessoas, e isso não vai mudar.
Depois de visitar a piscina quente no banheiro — a melhor coisa sobre esta casa além da comida — eu subo na cama e bato no abajur para desligá-lo. É alimentado por magia, é claro — eletricidade parece não existir neste mundo — e Azzy me disse para bater levemente com o dedo para ligá-lo e desligá-lo. Até agora parece estar funcionando.
Encosto-me contra os travesseiros, achando mais fácil dormir esta noite do que ontem à noite. Estou quase dormindo quando um som — uma batida suave na porta — me desperta. Tão silenciosa que eu me pergunto se eu posso ter imaginado isso. Eu sento, observando a porta através da luz cinza fraca da janela e esperando. Quando a batida vem pela segunda vez, eu sei que não estou imaginando. — Sim? — Eu falo através da escuridão. Minha porta se abre devagar, revelando a silhueta de uma figura feminina. — Quem está aí? — Eu pergunto, nervos flutuando de repente no meu estômago.
— Você é a Emerson? — Ela pergunta. — A outra garota nova?
— Hum, sim. — Eu me inclino e ligo o abajur enquanto ela desliza para dentro e fecha a porta. Ela corre pelo quarto e senta na beira da minha cama. Eu me afasto para trás, colocando um pouco mais de distância entre nós quando vejo a aparência dela: um roupão enrugado da mesma cor do que encontrei pendurado no meu guarda-roupa, pele pálida e olhos de um roxo profundo azulado. É a mesma cor que atravessa seu cabelo escuro, que, se eu me lembro das minhas lições corretamente, significa que ela é uma faerie, não algum outro tipo de fae.
— Por favor, me ajude, — ela sussurra, com os olhos arregalados. — Aqui não é seguro. Precisamos ir embora.
Capítulo 10
— HUM... O QUÊ? — PERGUNTO, ABSOLUTAMENTE CONFUSA. — DO QUE VOCÊ ESTÁ FALANDO? E quem é você?
— Eu sou Aurora. Eu acabei de chegar aqui esta noite. A professora me disse que havia outra garota nova, e pensei que, como você ainda não se aprofundou muito no programa deles, e eles não fizeram lavagem cerebral em você, ou seja lá o que for que acontece aqui, podemos fugir juntas.
— Lavagem cerebral? De onde você tirou isso?
— Porque eu — talvez eu não saiba como usar minha magia, mas eu cresci neste mundo e sei de coisas. Eu ouvi coisas. Sobre este lugar. — Ela se aproxima um pouco mais. — As pessoas desaparecem daqui às vezes. Tipo, elas simplesmente desaparecem sem deixar vestígios logo após o início de seu treinamento. E parece que a Chevalier House não tem nada a ver com isso, mas como não pode? As pessoas entram aqui e nunca saem. Elas simplesmente desaparecem. E eu não quero que isso aconteça comigo. Acabei de ter minha liberdade e não quero perdê-la.
Se eu pudesse me afastar ainda mais dessa garota, eu faria, mas já estou encostada na parede. — Então, você está dizendo... que eles matam algumas das pessoas que entram aqui?
— Eu não sei. Talvez. — Ela aperta o cinto de seda de seu roupão, puxando-o com mais força. — Ou talvez seja algo pior. Talvez eles estejam presos em algum lugar. Talvez eles estejam fazendo experimentos neles.
— Você tem alguma prova disso?
— Claro que não, mas isso não significa que seja falso.
Considerando o que ouvi entre Dash e Azzy agora, estou quase inclinada a acreditar nessa garota, mas seus olhos arregalados e cheios de terror me lembram demais da minha mãe. Mamãe parecendo desesperada e com medo, falando sobre coisas igualmente irracionais. — Olha, Aurora. Eu não quero ser hostil, mas eu não quero me envolver com o que você está falando. Você tem seus problemas e eu tenho os meus. Vamos apenas superar essa coisa de Magia Básica, e nós podemos seguir caminhos separados.
Ela recua, dor enchendo seus olhos. — Você não acredita em mim? Você quer seriamente se arriscar com essas pessoas que nunca conheceu, em vez de considerar que posso estar dizendo a verdade? Que você e eu nunca teremos a chance de seguir caminhos separados se algo acontecer conosco antes disso?
Eu penso novamente na conversa silenciosa de Dash e Azzy. — Tudo bem, — eu digo devagar. — É verdade que eu não conheço as pessoas daqui, mas também não conheço você. Você poderia estar inventando isso.
Ela respira fundo. — O que você quer saber? Eu... eu vou te contar tudo. Quando você entender o quão horrível minha vida tem sido até agora, você entenderá porque eu nunca mais quero ser uma prisioneira novamente. Farei qualquer coisa para sair daqui.
Eu levanto minhas sobrancelhas com a palavra ‘prisioneira’, mas ainda não estou pronta para acreditar nessa garota. Se há pessoas insanas no meu mundo, deve haver pessoas insanas neste também. — Por que não deixamos isso para amanhã?
— Não! Apenas me deixe me explicar. Como você vai saber se pode confiar em mim até ouvir o que eu tenho a dizer? Como você sabe que pode confiar neles?
Eu considero gritar para chamar a Azzy, mas Aurora está certa. Não sei se posso confiar em alguém aqui. E se Chevalier House e este programa for um elaborado truque para reunir seres mágicos não treinados? Eu não sei por que alguém faria isso, mas eu não sei muito sobre este mundo, então pode haver uma razão. — Bem. Diga-me o que você quer me dizer.
— Tudo bem. Então fui criada por bruxas —
— Bruxas? — Eu dou-lhe um olhar duvidoso. — Como com vassouras? Ninguém me disse nada sobre bruxas. Elas são mesmo reais?
Seus olhos se estreitam. — Você está neste mundo há cinco minutos e já decidiu que sabe mais do que eu?
— Eu só —
— Não, elas não têm nada a ver com vassouras. Eu nem sei o que isso significa.
— Oh. Você nunca esteve no meu mundo?
— O reino não mágico? Não, nunca. Por que elas me levariam para lá? Passei a maior parte da minha vida trancada na casa delas. As únicas coisas que sei são as coisas que eu as ouvi falar e as coisas que li em seus livros. Eu não sei como acabei vivendo em uma casa com bruxas, porque elas nunca se incomodaram em me dizer. Elas... elas me trataram como serva. — Ela levanta os joelhos e envolve os braços ao redor deles. — Elas nunca me ensinaram como usar minha magia, porque isso me fortaleceria. Eu poderia ter usado contra elas. Elas me pegaram lendo sobre Chevalier House uma vez, quando eu estava tentando descobrir um plano de fuga e para onde eu iria se eu fosse embora. Elas riram e disseram que mesmo que eu conseguisse fugir delas, Chevalier House não me faria bem algum. Faes desaparecem daqui o tempo todo.
— Se isso for verdade, certamente a Guilda saberia sobre isso. Eles teriam encerrado o programa. — Não pode ser verdade. Eu preciso que não seja verdade. Preciso que Azzy me ensine tudo sobre magia para que eu possa voltar ao meu mundo e ajudar minha mãe.
— A menos que a Guilda esteja nisso também, — Aurora diz em tom conspiratório.
— Então, se Chevalier House é perigosa, por que você veio para cá?
— Eu não escolhi vir para cá. — Ela coloca seus pés no chão e se inclina para perto de mim. — Eu finalmente consegui fugir das bruxas depois de meses de planejamento cuidadoso. Eu estava sozinha até que um guardião me pegou roubando comida. Foi assim que acabei na Guilda e foram eles que me enviaram para cá.
Eu suspiro. — Você sabe que tudo isso soa ridículo, certo? E a única coisa que você parece saber é o que um bando de bruxas lhe contou. Obviamente, elas querem que você acredite que Chevalier House não pode ajudá-la. Elas não queriam que você fugisse.
— Tudo bem, então talvez elas estivessem mentindo. Mas você está disposta a correr esse risco? Você ainda quer estar aqui?
— Na verdade sim. Eu quero. Eu percebi hoje que a magia pode me ajudar muito mais do que qualquer coisa que eu já aprendi em meu mundo, e eu preciso saber como usá-la antes de voltar para casa.
— Se eles permitirem que você volte para casa, — ressalta Aurora.
— Bem. O que exatamente você está sugerindo então? Fugirmos juntas?
— Sim. Tudo está trancado agora — já chequei no andar de baixo — mas podemos esperar por uma chance amanhã e fugir juntas. Então podemos descobrir o que fazer quando formos livres.
— Não, — eu digo categoricamente. — Sinto muito, mas não. Eu tentei isso hoje e não funcionou. Eu tenho um plano diferente agora, e isso não inclui fugir com alguém que acabei de conhecer.
— Você está sendo tão ingênua, — ela sussurra com um aceno de medo de sua cabeça.
— Estou? Eu não confio em você, e não confio neles, então com quem devo ficar? Obviamente, o lado com maior probabilidade de me ajudar. E agora, parece ser a Chevalier House. Se algo estranho está acontecendo, eu vou descobrir em breve e então vou fugir. Mas por enquanto, eu fico aqui. — Empurro para o lado a pequena voz que diz que Aurora pode estar certa. Que a estranha conversa que ouvi é prova suficiente. Porque eu preciso que esse programa funcione. Agora que percebi o quanto a magia pode fazer por mim em meu mundo, eu me agarro a isso como se fosse minha única esperança de uma vida melhor.
Aurora engole em seco, depois respira devagar. Ela coloca alguns fios de cabelo atrás da orelha, se afastando de mim. — Tudo bem. Eu sinto muito por ter incomodado você com isso. — Ela sai da minha cama e se levanta. — Eu vou... hum... eu acho que você está certa. Devemos cuidar de nós mesmos.
Eu aceno, já que não tenho certeza do que mais fazer ou dizer.
— Tudo bem, bem... boa noite. — Ela se vira e sai correndo do meu quarto.
— Muito estranho, — eu murmuro conforme toco o abajur, mergulhando o quarto na escuridão mais uma vez. Eu continuo dizendo a mim mesma que tomei a decisão certa, mas não consigo evitar pensar em suas palavras repetidamente em minha mente, e demora muito tempo para eu conseguir dormir.
Capítulo 11
— É ADORÁVEL QUE VOCÊS DUAS TENHAM CHEGADO AO MESMO TEMPO E PODEM APRENDER juntas, — Azzy diz para Aurora e eu enquanto nós duas nos sentamos lado a lado em uma mesa na biblioteca na manhã seguinte. — Não costuma acontecer assim.
Aurora não diz nada, então eu decido não dizer nada também. Duvido que qualquer uma de nós pense que há algo ‘adorável’ nessa situação. Na verdade, estou surpresa que ela ainda esteja aqui. Ela parecia tão desesperada ontem à noite; Eu pensei que ela teria encontrado uma maneira de escapar da casa enquanto o resto de nós estava dormindo. Mas ela estava sentada na mesa da sala de jantar quando cheguei lá esta manhã, franzindo a testa para o prato dela. Ela não olhou para cima nenhuma vez durante o café da manhã.
— Certo, então, — diz Azzy. — Eu vou explicar os encantos de disfarce essa manhã, e depois disso vamos sair para tentar fazer alguma magia básica antes do almoço. Não há necessidade de fugir dessa vez, Em, — ela acrescenta com uma risada. Sinto os olhos de Aurora em mim e faço um esforço determinado para não encontrar o olhar dela. — Então, talvez mais tarde, Em, — diz Azzy, — você pode me dar qualquer informação que considere útil para encontrar sua família verdadeira. E você também, Aurora.
Uma apreensão fria dispara em minhas veias. Eu tenho tentado ignorar a ideia de que tenho outra família em algum lugar. Me deixa doente toda vez que eu lembro que minha mãe não é minha mãe. — Hum...
— A menos que vocês não queiram, é claro, — acrescenta Azzy rapidamente.
— Eu estou interessada, — diz Aurora, o que é surpreendente o suficiente para me fazer olhar em sua direção. Eu me pergunto que jogo ela está jogando, ou se ela pode estar falando sério. Talvez ela espere descobrir algo útil sobre sua família antes de fugir da Chevalier House.
— Azzy? — Eu olho em volta enquanto Paul entra na biblioteca. — Acabei de receber o relatório dos guardiões. — Ele acena com um pedaço de papel enrolado. — Eles não acharam nada suspeito.
— Suspeito? — Aldo pergunta. Ele está lendo sozinho em outra mesa da biblioteca, enquanto George trabalha em algumas habilidades práticas do lado de fora. — Aconteceu alguma coisa?
— Os encantamentos da segurança pegaram algo fora do nosso portão no início da noite de ontem, — explica Paul. — A Guilda foi alertada, e alguns guardiões foram checar as coisas. Eles nos disseram que não encontraram nada, mas deixaram alguém vigiando lá fora durante a noite, de qualquer maneira.
— Você acha que... talvez... foram os rebeldes Griffin? — Aldo diz. — Eles odeiam a Guilda, então eles também nos odeiam, certo?
— Tenho certeza de que não foi nada, — diz Azzy com um sorriso. — E Paul, — ela acrescenta em voz baixa, apesar de todos nós ainda conseguirmos ouvi-la, — eu não acho que é necessário assustar os alunos.
— Mas nós temos o direito de saber o que está acontecendo, não é? — Aldo protesta. — Se houver uma ameaça, devemos saber sobre isso.
— Nada está acontecendo, — assegura Azzy. — Os rebeldes Griffin não têm absolutamente nenhum motivo para nos atacar. Não temos nada a ver com eles.
Eu olho para Aurora. Seus olhos violetas encontram os meus, e suas sobrancelhas arqueiam um pouquinho, como se dissesse: Viu? Eu te disse que algo está acontecendo aqui.
— Chega disso, — diz Azzy, batendo palmas. — Aurora, você sabe o que é um encanto de disfarce?
Assustada, Aurora se vira para encarar Azzy. — Na verdade não. As bruxas não me disseram nada sobre eles.
A próxima hora passa com Azzy explicando disfarces de todos os tipos, do tipo simples que eu deveria ser capaz de lançar sobre mim mesma sem nem pensar nisso, para o tipo imensamente complexo que esconde construções dentro de árvores, para que então eles fiquem escondidos. Eu percebo que provavelmente era sobre isso que Dash estava se referindo quando ele falou sobre casas na árvore, e é impossível compreender todo o conceito. Uma casa inteira cheia de espaço escondida dentro de um tronco de uma árvore? Que inferno?
— Magia torna o impossível possível, — diz Azzy, o que não parece ser uma grande explicação para mim.
Algo faz cócegas no meu tornozelo. Eu olho para baixo, me contorcendo involuntariamente quando vejo um gafanhoto agarrado a bainha do meu jeans. Estou prestes a pisar nele quando ele pisca, cai no chão, parece meio que protuberante e se torna um sapo. — Sério? — Eu sussurro. — Me deixe em paz.
— Em? — Pergunta Azzy, parando no meio de uma descrição exata do que aconteceu com uma das Guildas anos atrás, quando sua magia de disfarce foi destruída. — Tudo bem?
— Hum, sim. Apenas um sapo.
— Oh, deve ter vindo de fora. Tenho certeza de que vai encontrar o caminho de volta. Agora, vamos tentar fazer magia?
Excitação pulsa através de mim enquanto seguimos Azzy para o jardim. Seja paciente, eu me instruo. Não fique frustrada. Você consegue fazer isso. Paramos perto de uma fonte de três andares. Eu esfrego minhas mãos para cima e para baixo nos meus braços. — Está um pouco frio para praticar aqui fora, não é?
— Sim, — murmura Aurora. Sem dúvida, ela está sentindo isso mais do que eu. Pelo menos estou de jeans; ela está usando uma saia longa e sandálias abertas.
— Bobagem. — Azzy se vira para nós. — Enquanto a fonte não tiver congelada, não está muito frio. Além disso, a baixa temperatura ajudará a motivar vocês a aprenderem a se manter aquecidas com magia.
— Se não congelarmos até a morte primeiro, — murmuro.
— Jovens, — murmura Azzy, enquanto estende a mão na direção de um banco do outro lado da fonte. — Sempre tão dramáticos. — Uma réplica sobe para a minha língua, mas congela lá conforme eu vejo o banco deslizar ao redor da fonte e parar atrás de Azzy. Ela se senta, cruza as mãos nos joelhos e olha para nós. — Eu gostaria que vocês começassem a puxar magia do núcleo de vocês. Aurora, você disse que já está familiarizada com isso?
— Hum, sim. Eu pratiquei sozinha sempre que não estava sendo vigiada.
— Maravilhoso. Em, você precisa recuperar o tempo perdido.
— Sim, — eu murmuro. — Eu sempre adoro quando os professores colocam os alunos uns contra os outros para tentar que eles tenham um desempenho melhor.
Azzy fica um pouco mais ereta e escova algo inexistente da manga. — Tenho certeza que não tenho ideia do que você está falando.
— Podemos apenas continuar com isso? — Aurora pergunta calmamente. Eu olho e vejo que ela já está segurando uma esfera brilhante de magia acima de suas palmas.
Rangendo os dentes, fecho os olhos e repito as instruções de Azzy de ontem. Tenho que parar e repensar três vezes antes de produzir uma massa visível de magia, mas depois de fazer uma vez, posso repetir várias vezes sem problemas. — Tudo bem, — eu digo, quase tonta de euforia enquanto mantenho o meu próprio poder em minhas mãos. — Qual é a próxima coisa?
— Fogo, — diz Azzy com um brilho nos olhos. Ela puxa um pedaço de papel das dobras de suas roupas soltas e desenha algo com a stylus, usando o banco como apoio. Quase imediatamente, três longas e esbeltas velas sobem do papel.
— Como você —
— Isso é uma lição para outro dia. — Ela se levanta. — Aqui está uma vela para cada uma de vocês. Agora que vocês podem invocar sua magia à vontade, quero que vocês a transformem em uma chama. — Ela segura a terceira vela na frente de seu rosto. — Alguns feitiços exigem palavras escritas e alguns exigem palavras faladas. Alguns exigem ambos, ou um movimento específico das mãos. O que vamos fazer agora exige apenas uma palavra falada — e, é claro, o empurrão subconsciente da sua magia para a vela.
Ela faz com que pareça fácil, esse ‘empurrão subconsciente’, mas estou supondo que é uma daquelas coisas que exige muita prática e esforço antes de se tornar instintivo.
— Repita depois de mim, — diz Azzy. Ela pronuncia uma palavra estranha que eu nunca ouvi antes, depois sopra suavemente a vela. Uma chama aparece.
Aurora começa a praticar e, claro, ela acerta na terceira tentativa. Eu, no entanto, sopro de novo e de novo e nada acontece. Eu tento maneiras diferentes de falar a palavra mágica, mudando a ênfase da primeira sílaba para a última, mas não faz diferença.
— Pare, — diz Azzy eventualmente. — Eu acho que você não está enviando nenhuma magia para a vela, afinal. Não se esqueça dessa parte. Puxe sua magia, fale a palavra e, em seguida, imagine soprar esse poder para fora da sua boca e diretamente para a vela.
Eu faço o que ela diz. E nada acontece.
Eu perco a paciência. Eu jogo a vela na grama. — Eu não entendo. Consegui furar o chão sem nem tentar, e agora não consigo acender uma vela.
— Isso foi diferente —
— Eu sei que foi diferente. Era fácil e era em inglês. Isso é... apenas... palavras estúpidas que não fazem sentido.
— Em, — diz Azzy, e sua voz carrega um tom de aviso.
— Não, sério. Na outra noite, eu apenas disse algo e aconteceu.
— Emerson.
— Por que eu não posso continuar fazendo isso? — Eu me abaixo e levanto a vela. Segurando-a no alto, eu digo, — Vela, comece a queimar. — Nada acontece. — Comece a queimar! — Eu grito. Nada ainda. Eu me viro e aponto para a árvore. — Caía! — Nada. Eu encaro a fonte. — Quebre em cem pedaços e junte-se! — Um arrepio percorre minha espinha, e percebo que essas últimas palavras soaram estranhamente distantes e ainda estranhamente ressonantes ao mesmo tempo.
A fonte vibra. Rachaduras se formam entre os andares e se separam rapidamente.
Uma pausa.
Silêncio.
Então a fonte inteira explode.
Aurora grita enquanto água e pedaços de pedra voam. De repente, estamos ambas no chão. Eu forço minha cabeça para cima para ver o que está acontecendo. Os pedaços de pedra congelam, invertem e voam de volta ao seu ponto de partida, todas se juntando perfeitamente. Eu respiro fundo quando o último estalo desaparece, retornando a fonte à sua forma original exata.
Mais silêncio.
Então Aurora foge para trás através do chão. — Isso não é normal, — ela suspira. — Isso não é normal.
— Eu fiz isso, — murmuro. — Eu usei magia.
— Isso não foi magia, — sussurra Azzy.
Eu me viro para olhar para ela. — O que você quer dizer?
Lentamente ela sacode a cabeça. — Não é a magia normal. Não é o tipo de magia que o resto de nós tem.
Eu olho para ela e encontro Paul e o restante dos alunos a poucos metros de distância, suas expressões todas congeladas em choque. — Eu vou contatar a Guilda, — diz Paul baixinho.
— Por quê? — Eu levanto. — O que eu fiz? Qual é o problema?
Aurora se levanta e Azzy olha entre nós duas. — Vocês têm sorte de eu ter jogado vocês duas no chão muito rapidamente. Vocês poderiam ter sido gravemente feridas de outra forma.
— Responda, — digo a ela, e novamente, aquela onda estranha corre pela minha espinha.
Azzy se sobressalta. De repente, e quase roboticamente, ela diz, — Eu nunca vi magia assim antes. Nenhuma faerie deveria ser capaz de fazer o que você acabou de fazer. Eu suspeito que você tenha uma Habilidade Griffin. Paul está entrando em contato com a Guilda agora, e eles provavelmente enviarão alguém aqui imediatamente para testá-la. O que acontece depois é com eles. — Sua voz para abruptamente, e ela bate a mão sobre a boca como se para evitar que mais palavras saiam. Então ela respira devagar e abaixa a mão. — Não faça isso de novo. Não fale de novo.
— Mas, eu —
— Emerson, — ela interrompe. — Sua voz é perigosa. Por favor, não fale novamente até que um membro da Guilda esteja aqui.
Um frio corre pela minha pele, seguido por uma onda de calor. Ansiedade aperta meu estômago. Tudo isso está errado. Eu devo aprender magia e depois ir para casa. Eu não deveria ter problemas com a Guilda. Eu não deveria ser uma daquelas faeries perigosas e superpoderosas que todos parecem odiar.
— Venha, vamos entrar. — Azzy pega meu braço e me leva em direção à casa. Eu penso em lutar com ela, em empurrá-la para longe e correr, mas estou completamente exausta de repente. Meus braços caem fracamente ao meu lado e uma onda de tontura passa por mim. Passou quando chegamos ao hall de entrada, mas ainda me sinto drenada demais para pensar em correr para qualquer lugar.
Azzy conduz todos para fora da sala, depois corre para outra parte da casa, me deixando sozinha no hall de entrada com Paul. Ele está com os braços cruzados firmemente sobre o peito, sem tirar os olhos de mim. Azzy reaparece um minuto ou dois depois com uma caneca na mão. — Você está cansada, eu sei, — ela diz baixinho. — Isso vai ajudar você a recuperar sua força. — Paul franze a testa, mas ele não impede que Azzy entregue a caneca para mim.
Eu tomo um gole hesitante, depois continuo bebendo até que o líquido espesso de chocolate tenha terminado. É doce, quente e reconfortante, e começo a me sentir mais forte quase imediatamente. Eu coloco a caneca na mesa e olho para Azzy. — Deve haver um engano, certo? Eu não posso ter uma dessas Habilidade Griffin. O que aconteceu lá fora... isso foi apenas uma magia descontrolada ou algo assim. Certo?
— Você não deveria estar falando, — diz Paul.
— Porque eu tenho uma voz perigosa? Isso é um absurdo Tenho certeza de que há outra explicação para —
— Em, pare, — diz Azzy. — Por favor. Eu acho mais seguro se você não disser nada.
Naquele momento, a porta da frente da Chevalier House se abre e duas figuras entram. Uma mulher que eu não reconheço, e —
— Dash, — digo no momento em que o vejo. É estranho, mas estou aliviada por ele estar aqui.
— Emerson, — a mulher diz, me olhando por baixo com os olhos que parecem ser quase da cor de bronze. Ela está vestida com um terninho e seu cabelo está bem preso em um coque. Eu não consigo descobrir a expressão dela. Definitivamente não é um sorriso, mas não é medo, cautela ou raiva. — Eu sou a Conselheira Chefe Ashlow. Por que você não nos disse que você conseguia fazer magia não natural?
Eu levanto minhas mãos, porque isso está se tornando demais. — Você está brincando, não é? Toda magia não é natural para mim! Eu descobri agora que existe! Como eu deveria saber que deveria dizer alguma coisa e então, ter isso acontecendo é considerado incomum neste mundo?
— Não apenas incomum. Impossível.
— Bem... exatamente. Como eu deveria saber disso?
Ela respira fortemente e estende a mão fechada para mim. Seus dedos abrem para revelar uma pílula verde brilhante na palma da mão. — A Conselheira Waterfield deveria ter testado você no primeiro dia em que você chegou a este mundo. Ela não deveria ter deixado você — ela fixa o olhar em Dash por um momento — falar com ela sobre isso.
Dash franze a testa. — Espero que você não esteja sugerindo que eu intencionalmente escondi essa informação de você, Conselheira Ashlow. Eu não tinha ideia de que magia Griffin estava envolvida.
— Eu não sei o que pensar agora. — Ela olha para mim novamente. — Tome a pílula, Emerson.
Algo me diz que desobedecer não é uma opção, então eu pego a pílula e coloco na minha língua. Ela se dissolve rapidamente. Os olhos de Dash passam por mim, sua expressão escurecendo. Eu olho para mim mesma, e meu coração para uma ou duas batidas quando vejo meu corpo brilhando levemente verde. — Então é verdade, — diz Dash. — Ela é uma deles.
— E você não sabia?
— Claro que não. Eu teria relatado imediatamente se eu suspeitasse que ela tinha uma Habilidade Griffin. É meu trabalho proteger nosso mundo de pessoas como ela. — Ele quase cospe essa última palavra, e por um momento eu considero cuspir de volta nele. Mas então ele envolve seu braço de ferro em volta do meu braço e começa a me guiar em direção à porta, e meu ódio por ele é rapidamente substituído por medo.
— O que você está... mas eu não fiz nada de errado. Eu não sou uma daqueles rebeldes Griffin. Eu não quero atacar pessoas. Certamente você não pode me responsabilizar por crimes que eu nunca cometi, ou crimes que você acha que eu poderia cometer no futuro.
— Nós podemos, na verdade, — diz a Conselheira Ashlow quando chegamos à porta. — Nossas leis afirmam que o mundo precisa ser protegido de pessoas como você. Em alguns casos, isso significa marcar e rastrear você. Saber seu paradeiro e atividades em todos os momentos. Em casos extremos, isso significa limitar sua liberdade. O Conselho precisará se reunir para discutir seu caso, mas eu não tenho a menor dúvida, Emerson, de que eles vão achar isso extremamente difícil. Eu sinto muito. — Ela não parece arrependida, no entanto. Na verdade, ela parece animada pelo fato de que ela acabou de apreender outra faerie Dotada Griffin.
— Mas... isso... como isso aconteceu? — Eu pergunto, tentando parar, tentando encontrar uma saída para isso. — Aqueles discos mágicos não existem mais... não, isso não pode estar certo. Então —
— Seus pais devem ter sido Dotados Griffin, — a Conselheira Ashlow diz. — Essa é a única explicação.
— Espere, — eu digo quando ela abre a porta. — Espere, por favor. O que significa limitar minha liberdade?
— Isso significa que você será mantida em algum lugar, — Dash responde, me forçando para o degrau mais alto.
— Mantida?
— Sim, como um esconderijo.
Eu paro de andar e consigo livrar meu braço de seu aperto. — Então uma prisão.
Dash olha para mim. — Não é assim, Em. Ninguém quer que você seja uma prisioneira. É só que você é perigosa, então você não pode ser solta, seja neste mundo ou no humano. Certamente você entende isso.
Eu forço de volta a dor na garganta e as lágrimas picando atrás dos meus olhos. Eu cerro os dentes e digo, — Você está gostando disso, não é. É provavelmente o melhor entretenimento que você já teve em anos. Você nunca gostou de mim e agora pode me ver presa. Você está fazendo comigo o que fez com a minha mãe.
Seus olhos se estreitam e ele abre a boca, mas a Conselheira Ashlow interrompe com um gemido. — Todo esse drama desnecessário. Apenas vá em frente. — Ela fecha a porta e passa por nós descendo as escadas. Dash me puxa contra o seu lado e me obriga a segui-la.
— Em primeiro lugar, — ele diz baixinho, — você é quem não gosta de mim. E em segundo lugar, isso não tem nada a ver com alguém gostar de alguém. Você é uma ameaça, então temos que tomar precauções. É isso.
— Mas eu não sou uma ameaça! — Minhas emoções estão perigosamente perto da superfície, de repente, e eu levo um momento para engoli-las. — Quero dizer, não intencionalmente. Eu não escolhi ser assim. Isso não é justo.
Ele fica quieto por tanto tempo que suponho que agora ele está me ignorando. Mas quando saímos do portão e encontramos a Conselheiro Ashlow abrindo uma entrada para os caminhos das fadas, ele diz, — A vida não é justa, Em. Você já sabe disso.
A Conselheira Ashlow olha para nós quando o buraco escuro no ar fica maior. — Apresse-se, — diz ela. — Precisamos chegar na Guilda.
Dash aperta meu braço mais ainda, mas ele caminha para frente sem hesitação. — Não pense em nada, — ele diz enquanto entramos na escuridão. — Isso pode confundir os caminhos das fadas, e isso não vai acabar bem para nenhum de nós.
Eu me esforço para acalmar meus pensamentos, mas devo de alguma forma conseguir fazer um bom trabalho, porque logo a luz se materializa à nossa frente. Entramos em uma pequena sala onde um homem de uniforme atrás de uma mesa de madeira elaboradamente esculpida nos cumprimenta. Eu me lembro de Dash dizendo algo sobre uma grande entrada se transformando a partir de uma árvore, mas ele deve estar se referindo a uma parte diferente da Guilda porque a única coisa impressionante nesta sala é a mesa.
— Por aqui, — diz a Conselheira Ashlow, apontando para um portal aberta à nossa direita. Dash me empurra através dela, e fico boquiaberta no local de um enorme foyer com uma ampla escadaria no lado oposto e luzes brilhantes penduradas aqui e ali. Meus olhos rápidos captam homens e mulheres em roupas escuras, cabelos de todas as cores, pisos brancos reluzentes e padrões giratórios gravados nas paredes - antes que um alarme comece a gritar em meus ouvidos.
— Está tudo bem, — diz a Conselheira Ashlow, levantando a mão para impedir as pessoas que correm em sua direção. — Já estamos conscientes da Habilidade Griffin. Vou levá-la para a área de detenção agora.
Saia, meu cérebro diz quando meus pensamentos em pânico retornam com força total. Saia daqui! Mas eu não sei como. O que eu fiz no outro dia quando os policiais estavam tentando me levar embora? Eu devo ter usado minha Habilidade Griffin, mas não tenho ideia de como.
Eu sinto Dash me observando. — Eu vou soltar você agora, — diz ele. — Você pode se comportar?
Eu aceno quando o aperto dele se solta e seu braço desliza para longe do meu. Então eu o empurro o mais forte que posso e corro.
Capítulo 12
EU TROPEÇO SOBRE MEUS PÉS — OU SOBRE ALGO INVISÍVEL, JÁ QUE EU JURO QUE EU NUNCA fui tão desajeitada — e bato no chão. Minha tão falada pratica em parkour entra em ação e eu continuo rolando. Sobre meu estômago, minhas mãos empurram o chão e eu levanto. Eu pego um vislumbre de Dash esparramado no chão com os guardiões caindo sobre ele antes de eu correr na direção oposta, repetindo — Afaste-se de mim, fique longe de mim! — Na esperança desesperada de que minha Habilidade Griffin apareça e dê poder as minhas palavras. Na pressa de voltar à sala em que entramos, não sei dizer se minha voz está diferente, mas continuo repetindo as palavras de qualquer maneira. E ou está funcionando, ou esses guardiões são ainda piores que os policiais de Stanmeade, porque estão caindo um sobre o outro.
Eu corro para o saguão de entrada assim que alguém corre - e eu bato direto nela. A força me joga para trás, mas ela se lança para frente e agarra meu braço, me puxando para cima. — Aurora? — Eu suspiro quando ela me puxa para a sala. — O que você está fazendo aqui?
— Tentando ajudar você!
Uma corda brilhante me chicoteia e se agarra ao meu braço, me puxando para fora do alcance de Aurora e para o chão. Eu me mexo inutilmente na superfície brilhante antes de olhar para o guarda que nos cumprimentou um minuto atrás. Ele está em pé atrás da mesa agora, me arrastando rapidamente em direção a ele. — Saia daqui! — Eu grito, esperando que funcione. O poder invisível o expulsa pela porta aberta e para dentro do saguão, me puxando bruscamente para o lado enquanto a corda fica tensa.
Uma luz pisca, cortando a corda e deixando um pequeno pedaço preso ao meu braço. Eu olho para cima e encontro Aurora com uma stylus na mão. — Levante-se! — Ela corre para a parede e escreve sobre ela. — Vamos!
Eu olho para o saguão, onde guardiões estão correndo em nossa direção, flashes de magia escapam de suas mãos. Eu pulo e me movo em direção a Aurora e à crescente escuridão atrás dela. — Você pode usar uma stylus? — Eu suspiro quando tomo sua mão.
— Não pense em nada, — ela instrui enquanto me empurra para frente nos caminhos das fadas. — E não solte.
— Eu pensei que você não soubesse — Minhas palavras são cortadas quando a mão de Aurora se solta da minha. Eu me viro para ver o que está acontecendo e encontro dois guardiões a puxando para trás.
— Emerson! — Ela grita, uma mão estendendo em minha direção.
Eu hesito, partes conflitantes do meu cérebro gritando Salve ela! e Salve-se! E nesse momento, a escuridão dos caminhos das fadas se fecha ao meu redor. Eu tento lembrar o que devo fazer agora, no que devo me concentrar ou dizer, mas depois estou caindo para trás na escuridão. Eu aterrisso com força no chão enquanto árvores emaranhadas e plantas tomam forma ao meu redor. Eu gemo e tusso e tento sugar o ar quando me sento. Eu não tenho ideia de onde os caminhos das fadas me deixaram. Por um momento, eu me pergunto se eu poderia ter tido a sorte de voltar ao mundo normal, mas quando dois seres minúsculos em forma de pessoas com asas passam por mim, minha esperança morre. — Brilhante, — murmuro enquanto me levanto, folhas farfalhando sob meus sapatos.
Eu olho em volta, mas Aurora está longe de ser vista. A culpa se mistura com o meu alívio por ter escapado. Eu deveria ter tentado puxá-la de volta para os caminhos. A única razão pela qual ela estava lá era para me ajudar. Eu pressiono meus dedos contra minhas têmporas e tento me convencer de que nada de ruim vai acontecer com ela. Não é como se ela fosse uma Dotada Griffin. Eles vão mandá-la de volta para Chevalier House, e assim que ela terminar o treinamento, ela estará livre. Embora, agora que penso nisso, ela ainda precisa de treinamento? Ontem à noite ela disse que não sabia como usar sua magia, mas não teve nenhum problema em cortar a corda ao redor do meu braço ou abrir um portal dos caminhos das fadas.
Eu levanto meu braço direito e franzo a testa para o pedaço de corda ainda preso a ele. Eu tento desfazer o nó ou soltar o suficiente para deixar minha mão livre, mas ela não se move. Então, depois de um último olhar ao redor da floresta, eu escolho uma direção e começo a me mover. O ar está mais quente aqui do que no jardim que estávamos treinando esta manhã, o que me diz que eu provavelmente não estou perto da Chevalier House. Infelizmente, isso pode significar que estou bem ao lado de qualquer árvore que esconda a Guilda, então é melhor me afastar da área o mais rápido possível.
Eu começo a correr, desviando entre as árvores, lançando meu corpo facilmente sobre as raízes das árvores gigantes, e dando um amplo espaço para uma planta exótica com grandes espinhos vermelho-sangue. Eu dou uma olhada ocasional sobre o meu ombro, mas nada parece estar me seguindo. Eventualmente, eu diminuo para uma rápida caminhada. Algo faz cócegas no lado do meu pescoço, e eu bato na minha pele, com medo de que algum inseto mágico perigoso esteja me mordendo. Um guincho corta o ar ao lado da minha orelha. Eu pulo para longe, soltando um grito assustado e girando para encarar o que quer que esteja me atacando. Um pássaro fofo que pode ser uma coruja bate as asas conforme desce desajeitadamente em direção ao chão da floresta, transformando-se em um gatinho quando ele atinge o chão. Miados tristes e estridentes enchem o ar.
— Puta mer... sorvete. — Eu esfrego minha orelha enquanto a adrenalina diminui. — Você quase me ensurdeceu. O que você está fazendo aqui, sua coisinha estranha? Você deveria estar na Chevalier House. O gatinho lampeja entre várias formas irreconhecíveis antes de se estabelecer como um filhote de raposa. Ele caminha até mim e começa a acariciar meu tornozelo. Eu me afasto e cruzo os braços sobre o peito. Ele olha com olhos arregalados e suplicantes.
E eu cedo.
— Bem. Você pode ficar comigo. Mas eu não vou te dar um nome. Tudo vai ficar pior a partir daqui. — Eu enfio a criatura macia e peluda debaixo do meu braço e continuo andando.
E quase caio assustada quando alguém sai do ar na minha frente. — Dash? — Eu tropeço para trás, a criatura transformando-se em algo minúsculo quando ele pula para longe de mim. — Como você me achou?
— Não importa. Nós — O espaço ondula ao lado dele. Ele se afasta apressadamente, levantando a mão. Uma faca aparece em suas mãos enquanto ele se coloca entre mim e qualquer ameaça que estamos prestes a enfrentar.
— Oh, você a encontrou, — diz Jewel, saindo da escuridão. — Bom trabalho.
— Jewel? — Dash diz. A faca desaparece quando ele a solta. — Como você — por que você está aqui?
Dor lampeja brevemente em seu rosto enquanto eu cuidadosamente me afasto dos dois. — Só tentando ajudar, — diz ela. — Você ainda tem aquele feitiço de rastreamento em seu âmbar da outra noite nos túneis das aranhas.
— Certo. — Dash pega seu âmbar, arrasta o dedo sobre a superfície em uma série de padrões estranhos, em seguida, enfia de volta em seu bolso. — Não precisa mais disso.
— Qual é o problema? Achei que você precisava de ajuda para encontrá-la.
— Nenhum. Eu posso lidar com isso, isso é tudo. — Ele agarra meu pulso antes que eu possa me mover para muito longe e o torce atrás de minhas costas.
— Você pode realmente lidar com isso? — Eu pergunto em tom de provocação enquanto ele amarra minhas mãos. — Não parecia lá na Guilda. Vocês guardiões são sempre tão inúteis?
Dash volta para ficar na minha frente, sua expressão mostrando diversão genuína. — Não. Eles não são.
Hum. Talvez minha Habilidade Griffin funcione afinal de contas. — Cordas, desamarrem, — eu instruo. Nada acontece. Dash arqueia uma sobrancelha e começa a rir.
— O que ela está fazendo? — Jewel pergunta.
— Meu palpite é que ela está tentando fazer que sua Habilidade Griffin funcione.
— Oh. — A testa de Jewel franze. — Talvez devêssemos fechar a boca dela.
— Não, ela não tem a menor ideia de como usar sua Habilidade Griffin.
Calor sobe ao meu rosto. — Eu vou te estrangular com essa corda quando eu finalmente me soltar. — Em vez disso, acabarei presa pelo resto da minha vida.
— Como já expliquei, — Dash diz devagar, — você não será uma prisioneira. Você só não terá o mesmo nível de liberdade que todos os outros.
Eu pisco, incapaz de acreditar que ele é tão estúpido. — Você está se ouvindo? Você sabe qual é a definição de prisioneiro?
— Em, não é tão ruim assim, eu prometo. Olha, eu sei que você está se preocupando com sua mãe —
— Não se atreva a trazê-la para isso —
— mas tenho certeza de que a Guilda permitirá que você a visite sob supervisão. E nossos pesquisadores estão trabalhando o tempo todo tentando encontrar uma maneira de remover as Habilidades Griffin. Isso pode acontecer em breve e você estará livre novamente. Por favor, tente entender. — Ele lança um rápido olhar para Jewel antes de retornar seu olhar para mim. — Estamos tentando manter o resto do mundo seguro e, infelizmente, essa é uma das precauções que precisamos tomar.
— Vamos lá, Dash, você está perdendo tempo, — Jewel reclama. — Precisamos levá-la de volta para a Guilda. — Ela pega sua stylus e a levanta.
— Não, — eu digo, e quando sinto aquele formigamento estranho se espalhando rapidamente pelo meu corpo e minha voz ecoando estranhamente em meus ouvidos, eu me apresso para acrescentar, — Não abra um portal! Nenhum de vocês dois abra um portal!
Uma rápida estranheza passa e Jewel franze a testa para mim por cima do seu ombro. Em seguida, ela pressiona a stylus contra uma árvore e abre a boca. Depois de parecer lutar por vários segundos, ela diz, — Eu não consigo fazer isso. Eu não consigo dizer as palavras.
Dash se vira para me encarar. — Oh, fala sério. Você não acabou de fazer isso.
Eu solto uma risada trêmula. — Eu acho que sim, na verdade.
— Agora nenhum de nós pode ir a nenhum lugar.
Eu aceno lentamente enquanto respiro fundo. — Bom.
— Desfaça o que você acabou de fazer, — diz Jewel, apontando sua stylus para mim.
— De jeito nenhum. Mesmo se eu quisesse, não tenho ideia de como funciona essa coisa de Habilidade Griffin.
Dash solta um longo suspiro. — Ah, bem. Hora de caminhar, eu acho.
— Dash! — Jewel exclama. — Como você não está seriamente chateado agora?
Ele encolhe os ombros. — Passamos por coisa pior. Você sabe disso. Muito pior. — Ele começa a andar. Depois de vários momentos, a corda se estica entre nós e sou forçada a segui-lo. — Tente acompanhar, Emmy. Não gostaria de ser comida por algum tipo de criatura sombria e sinistra. — Apesar de sua indiferença, noto o modo como seus punhos se apertam periodicamente ao lado do corpo. Ele definitivamente está com raiva de mim. Sem dúvida, ele está com problemas por me deixar fugir da Guilda. Espero que ele acabe suspenso ou, melhor ainda, demitido. Se ele vai continuar a arruinar a minha vida, eu posso arruinar a dele também.
— Estamos perto da margem da floresta, certo? — Jewel diz. — No lado com a cachoeira? — Dash acena, e Jewel rabisca algo em seu âmbar. — Tudo bem, a Conselheira Ashlow e alguns guardiões nos encontrarão lá em poucos minutos.
— Bom. — Dash escreve algo em seu âmbar também, em seguida, acrescenta, — Você quer ir em frente e encontrá-los?
— Sim, tudo bem. — Jewel corre através das árvores, e no momento em que ela está fora de vista, Dash pára. — Tudo bem. Nós não temos muito tempo. Você —
O ar ondula tão perto que quase sinto o movimento. Um buraco escuro se abre, e uma criança sai e cai sobre mim. — Oh, oops, desculpe, — ele murmura, afastando-se de mim e cambaleando para trás.
— Você está brincando comigo? — Dash exige. — O que diabos você está fazendo aqui, Jack?
O garoto, que não pode ter mais de dez anos, dá um sorriso largo a Dash. — Eu queria fazer parte da missão. Eu escutei para onde todo mundo estava indo, mas... eu não sei. Onde está todo mundo?
— Jack, você precisa ir para casa imediatamente. Seus pais estão — Dash olha para o som de folhas farfalhando à frente. — Esconda-se, — ele sussurra, empurrando o menino para trás da árvore mais próxima e me arrastando para frente mais uma vez.
— Dash, apresse-se, — Jewel fala conforme ela aparece. — Eles estão esperando por nós.
— Venha, — Dash diz antes de murmurar algo mais em voz baixa. Eu mantenho minhas perguntas para mim mesma enquanto minha mente corre para descobrir o que está acontecendo. Dash tem medo de alguma coisa, e deve haver uma maneira de usar isso em minha vantagem.
Alcançamos Jewel e, depois de caminhar mais um minuto, chegamos à margem da floresta. As árvores diminuem e chegam ao fim. A uma curta distância, em uma área gramada de espaço aberto, a Conselheira Chefe Ashlow e vários guardiões estão esperando por nós. Um riacho passa por eles e desaparece sobre a borda do que deve ser um penhasco muito alto, já que não consigo ouvir a água batendo embaixo.
— Bom trabalho em encontrá-la, Dash, — diz a Conselheira Ashlow. — Embora pelo fato de você não tê-la amordaçado, eu questiono sua inteligência.
— Foi um acaso que ela conseguiu usar sua Habilidade Griffin em nós, — diz Dash. — Estou confiante de que isso não acontecerá novamente em breve. Mas eu vou amordaçá-la agora para manter segurança. — Ele me faz parar em frente à Conselheira, mas um murmúrio coletivo correndo abruptamente pelo grupo o distrai antes que ele possa amarrar qualquer coisa sobre minha boca. Nós dois nos viramos e vejo outro grupo de pessoas saindo das árvores. Eu assumo a princípio que são mais guardiões, mas o súbito lampejo de armas cintilantes ao meu redor prova que minha suposição está errada.
— Ora, ora, — a Conselheira Ashlow diz. — Os Unseelies decidiram aparecer.
— E por que não apareceríamos? — Um homem diz, caminhando para frente. Eu sinto uma mudança na atmosfera — algo que eu não consigo explicar — e eu me pergunto se é assim que a Conselheira sabe que essas faeries estão com a Corte Unseelie. — Uma Habilidade Griffin particularmente interessante veio à tona, — continua ele. — Nós achamos que deveríamos dar uma olhada.
— Não há necessidade. Nós temos tudo sob controle.
— Claro que você tem. Você provavelmente planeja entregar essa garota para a Corte Seelie para ser usada como sua arma pessoal.
A Conselheira Ashlow sorri. — O que planejamos fazer com ela não é da sua conta.
— É da nossa conta quando ela pode vir a ser uma das armas mais poderosas da existência. O que impede você de usá-la contra nós?
— Eu suponho que você vai ter que confiar que nós gostamos de manter as leis que fazemos, ao contrário dos membros da sua corte.
— Confiança? — Ele ri. — Acho que não.
— Bem, correndo o risco de soar insignificante, — diz a Conselheira Ashlow, — nós a encontramos primeiro. Então certamente não vamos entregá-la para você.
— Claro que não. E suponho que você não gostaria se a levássemos de você a força.
— Você poderia tentar, mas duvido que você seja bem sucedido.
A expressão do homem se torna pensativa. — Como não podemos chegar a um acordo mutuamente benéfico, talvez nenhum de nós deva possuir essa arma. Talvez ela deva ser morta.
Talvez O QUÊ? Minha frequência cardíaca acelera.
— A única maneira de acabarmos com ela, — diz a Conselheira Ashlow, — é se você colocar suas garras sujas nela. — Ela olha em volta para seus guardiões, abaixando a voz enquanto acrescenta, — Não deixem isso acontecer. Se isso acontecer — se parecer que eles podem fugir com ela — vocês tem a minha permissão para matar a menina.
— O quê? — Eu suspiro, finalmente encontrando a minha voz. — Isso não pode ser válido.
— Sim, Conselheira, — diz Dash, junto com seus colegas guardiões.
Eu puxo e viro e tento encará-lo. — Você está brincando comigo? Você é realmente um monstro?
Dash não se move, mas seus olhos se movem ao redor da clareira, entre as árvores e até o topo do dossel. — Às vezes, — ele murmura enquanto os Unseelies avançam sobre nós, — nós temos que ser monstros para proteger o resto do mundo. — Ele me puxa para trás enquanto seus companheiros pulam para frente.
Gritos e grunhidos e o choque de espadas logo enchem o ar, junto com uma mistura confusa de faíscas, vento, cacos de vidro e pássaros cacarejantes. Eu me contorço e chuto e grito, — Afaste-se de mim! — Mas não funciona desta vez. Eu tento me concentrar no centro da magia dentro de mim, assim como Azzy instruiu, mas isso não faz diferença. As mãos do Dash permanecem firmemente presas a mim.
Dois dos faeries Unseelie rompem a barreira de guardiões e vêm correndo em nossa direção. — Parem eles! — Dash grita, recuando para mais longe em direção à margem do penhasco. Um é jogado no chão. O outro se lança para frente. Dash me faz sair do caminho. — Eu sinto muito sobre isso, — diz ele. E então ele me empurra sobre a beira do penhasco.
Capítulo 13
EU MAL ESCUTO O MEU GRITO CONFORME DESPENCO EM DIREÇÃO À MINHA MORTE. ÁGUA ESPUMOSA E PEDRAS irregulares sobem rapidamente para me encontrar. Mais rápido, mais rápido, mais rápido —
Então meu corpo desacelera abruptamente e uma sombra escura desce abaixo de mim quando quase, quase paro. Então eu estou caindo através do ar e para um par de braços fortes, e alguém está dizendo, — Não se preocupe, eu peguei você. — Eu aterrisso desajeitadamente nas costas de uma criatura com asas e me encontro imprensada entre ela e quem quer que seja que me pegou. Um braço envolve meu estômago. Eu fecho meus olhos e me agarro firmemente a esse braço do que qualquer coisa que eu já segurei. Eu não me importo com quem ou o que é. Eu não me importo se é uma faerie Unseelie ou um guardião que quer me prender ou algum tipo de novo ser que eu nunca conheci. Meu cérebro se preocupa com apenas um fato no momento: não estou mais caindo.
Nós começamos a subir. É um movimento brusco, mas pelo menos é para cima e não para baixo. Eu não abro meus olhos. Eu não quero ver nada. Para cima e para cima, para os lados e para cima um pouco mais, e o tempo todo eu silenciosamente repito, Não solte, não solte, não solte. Então nós descemos, e um suspiro involuntário escapa de mim. Mas acabou, e estamos pousando entre as árvores, e esse forte par de braços está me tirando da criatura alada. — Ela está bem, — diz ele para alguém enquanto ele me deposita no chão. — Nós quase chegamos tarde demais, mas ela está bem.
Minhas pernas estão tremendo tanto que não conseguem me segurar. Eu caio sobre minha bunda, piscando e ofegando e observando as pessoas ao meu redor em momentos instantâneos e desarticulados. Três faeries. Pisco. Um homem, azul escuro, inclinando-se para perto de mim com preocupação no rosto. Pisco. Uma mulher, roxa, dizendo algo que não consigo ouvir. Pisco. Outra mulher, observando algo através das árvores, cabelo cor de ouro deslizando por cima do ombro. Tatuagens escuras atravessam seus braços e alcançam o lado de seu pescoço.
— Emerson? Emerson! — Eu me concentro na mulher que agora está agachada ao meu lado. Aquela com olhos roxos vibrantes arregalados que de alguma forma sabe meu nome. — Você pode me ouvir?
Eu tento falar, mas as palavras parecem não sair da minha boca. Toda vez que eu pisco, vejo água, pedras e a morte correndo na minha direção.
— Você está segura agora, — diz ela, estendendo a mão para mim. Eu me afasto, meu corpo ainda tremendo incontrolavelmente. ‘Segura’ não significa mais nada para mim. O companheiro dela pode ter salvado a minha vida, mas Dash também não salvou a minha vida? E um dia depois ele tentou me matar.
— Vi, eles estão vindo para cá, — a de cabelos dourados diz. — Não há tempo para colocar a gárgula de volta pelos caminhos. Você consegue manter Emerson quieta enquanto eles passam?
A mulher na minha frente acena. — Emerson, — diz ela, inclinando-se um pouco mais perto, mas não tentando me tocar novamente. — Todos nós vamos ficar invisíveis agora. Não precisa enlouquecer. Apenas uma ilusão para nos esconder enquanto os guardiões passam. Mas precisamos ficar calados, ok? Completamente quietos.
Eu aceno bruscamente, apesar do fato de que o aviso dela não é necessário. Mesmo que meu cérebro fosse capaz de fabricar palavras agora, eu não falaria nada enquanto qualquer pessoa da Guilda passasse. Não depois que eles prontamente tentaram se livrar de mim. Um momento depois, todas as três faeries desaparecem. Eu olho para baixo — e consigo conter meu grito de terror quando descubro que meu corpo sumiu. Eu sei que ela disse ‘invisível’, mas eu não percebi que eu não seria capaz de me ver também. Eu pensei... eu não sei o que eu pensei.
Ao som de passos apressados, eu olho para cima. Eu quase me arrasto para trás quando vejo os guardiões correndo em nossa direção, mas eles desviam e continuam correndo. — ...Pode não ter sido por aqui, — a Conselheira Ashlow está dizendo ao resto de seus guardiões, — mas temos que verificar. Especialmente se o resto da equipe não conseguir encontrar o corpo dela. E descobrir quem era aquela pessoa camuflada. Não parecia que ele ou ela estava com os Unseelies.
Esperamos em silêncio por pelo menos um minuto depois que os guardiões passam. Então, — Eu acho que está tudo bem, Calla, — o homem que me pegou diz. Os três reaparecem. Quando olho para baixo, fico aliviada ao ver meu próprio corpo mais uma vez. Eu não estou tremendo tanto quanto quando nós aterrissamos, então eu me levanto. Eu ainda me sinto pela onde de adrenalina que o meu corpo produziu de uma só vez, mas pelo menos eu posso ficar de pé agora.
— Desculpe pelo resgate dramático, — o homem diz, estendendo a mão e acariciando a criatura alada coriácea que eu não olhei corretamente até agora. Chifres espinhentos curvam-se de sua cabeça e presas se projetam de sua boca larga. — Ficamos sem tempo para planejar melhor. Vi, você pode abrir um portal? Nós devemos ir.
— Eu — eu não — hum — Eu me interrompo quando fica claro que eu não posso pronunciar mais do que algumas palavras gaguejantes. Eu odeio soar tão fraca e confusa. Isso não sou eu. Eu sou mais forte do que isso, droga, mas todo mundo tem um limite para o que eles podem suportar sem quebrar completamente, e eu acho que estou me aproximando do meu. Eu engulo e respiro profundamente antes de tentar novamente. — Eu não vou a lugar nenhum com você. Obrigada por me salvar, mas eu não sei quem você é.
— Certo, desculpe, — diz o homem. — Eu sou Ryn, e esta é Violet. — Ele aponta para a mulher com o cabelo roxo escuro. Com um aceno para a mulher tatuada, de cabelos dourados, ele acrescenta, — E essa é a Calla.
— Você pode confiar em nós, — diz Violet. — Sabemos que todos estão atrás de você desde que você chegou a este mundo e podemos mantê-lo segura.
Eu pressiono minhas mãos sobre meus olhos e respiro instavelmente. — Eu não confio em vocês, — eu sussurro, me encontrando perigosamente perto de chorar. — Eu não confio em ninguém. Todo mundo quer me prender ou me matar.
— Emerson. — Eu abaixo minhas mãos e encontro Violet bem na minha frente, olhando fixamente nos meus olhos. — Você pode confiar em nós. Você sabe, por quê? Porque somos exatamente como você.
Eu sacudo minha cabeça. — O que você quer dizer?
— Somos todos Dotados Griffin.
Capítulo 14
— MERDA. — EU TROPEÇO PARA TRÁS EM MINHA PRESSA PARA COLOCAR UM POUCO DE DISTÂNCIA ENTRE MIM e essas faeries. — Vocês são parte do movimento rebelde Griffin, não é.
— Sim. — Confusão atravessa o rosto de Violet. — O que é uma boa coisa. Isso significa que estamos do seu lado.
— Mas... vocês são pessoas malvadas.
— Hum, não, nós não somos, — diz Calla.
— É isso que a Guilda — o que todo mundo neste mundo — diz.
— Claro que é isso que a Guilda diz. Eles não confiam em nós. Eles querem rastrear todos os nossos movimentos ou nos prender, assim não podemos usar nossa magia ‘perigosa’ sem supervisão. Eles tentaram fazer o mesmo com você.
Eu hesito, porque ela está certa, claro. — Eles... eles disseram que vocês atacam as pessoas.
A expressão de Ryn escurece. — É isso que eles estão dizendo às pessoas agora?
— Eles vão distorcer qualquer história para vantagem deles, — diz Violet. — Eles querem que as pessoas tenham medo de nós.
A cabeça de Calla vira. — Pessoal, eu acho que eles estão voltando por esse caminho.
— Tudo bem, — diz Ryn, levantando uma stylus e rabiscando palavras invisíveis no ar.
— Você vem? — Pergunta Violet. — Por favor, você pode confiar em nós.
Eu engulo. Talvez isso seja tudo mentira e eu esteja sendo enganada novamente, mas eu não tenho mais ninguém a quem recorrer. — Você pode me ajudar? — Eu pergunto. — Com... tudo?
Ela pega minha mão e aperta. — Isso é o que fazemos.
***
Ar quente dança em minha pele enquanto a escuridão dos caminhos das fadas evapora ao nosso redor. Meus pés afundam na areia macia. Me viro devagar no mesmo instante, semicerrando os olhos contra a luz forte, enquanto meus olhos captam a mesma paisagem por todos os lados: oscilantes dunas de areia que continuam e continuam, aparentemente para sempre. — Vocês vivem em um deserto?
Calla sorri. — Sim. Você não pensaria em nos procurar aqui, não é?
— Eu acho que não, — eu digo, mantendo o resto dos meus pensamentos para mim mesma. Meus pensamentos de quão desagradável deve ser viver em meio a toda essa areia e calor.
— Por aqui, — diz Ryn, acenando para a direita e levando a gárgula pelas rédeas. Eu não tenho ideia de como ele sabe em que direção ir, já que cada duna de areia parece à mesma coisa para mim. Nós mal damos alguns passos, no entanto, quando o contorno fraco de algo em forma de cúpula aparece. Eu pisco algumas vezes, mas o contorno fica mais forte. Eu tenho medo de perguntar se estou imaginando coisas, então fico de boca fechada. Mas mais ou menos um minuto depois, quando a cúpula está bem na nossa frente e eu posso distinguir as formas nebulosas das árvores e dos edifícios, imagino que seja real.
— Isso, — diz Violet, — é o nosso oásis. Um pedaço de terra encantada sob uma cúpula de magia. E uma vez que você passou pela camada da cúpula — ela pega minha mão e me puxa atrás dela — você agora tem um feitiço colocado em você, o que significa que você nunca pode falar sobre esse lugar. Mesmo se você for interrogada sob a influência da poção da verdade, você não poderá dizer nada. O que significa que todos aqui estarão sempre seguros.
O ar imediatamente fica mais frio e o cheiro fresco de plantas enche minhas narinas. Eu estou ciente de um pequeno sorriso em meus lábios enquanto olho lentamente ao redor. Grama e plantas e riachos, fontes e flores e alguns pequenos edifícios, além de um número de árvores enormes com casas construídas nos galhos superiores. — Casas nas árvores de verdade, — murmuro. — Não o tipo de encanto que eu aprendi esta manhã.
— Sim, — diz Violet. — Eu morei em Kaleidos por um tempo, e eles têm casas nas árvores como estas. Eu realmente gostei delas, então sugeri que fizéssemos a mesma coisa aqui.
— E passamos anos vivendo em árvores com encanto ou no Subterrâneo ou dentro de montanhas, — acrescenta Calla, — então quando a Guilda nos forçou a fugir e tivemos que fazer um novo lar em algum lugar, decidimos que não queríamos mais viver em casas escondidas. A cúpula externa nos mantém escondidos, então nossas casas na verdade não precisam ser escondidas.
— É muito legal. — Eu afasto o pensamento de que, se eu conseguisse trazer mamãe com segurança para o mundo mágico, ela e eu poderíamos viver felizes aqui pelo resto de nossas vidas. Ela adoraria os jardins, as fontes, as flores. Mas eu não sei se isso é possível, então vou deixar meus sonhos para outro dia. Outra hora, quando descobrir se posso realmente confiar nessas pessoas. — O que vocês fazem aqui? — Eu pergunto, observando Ryn entregar as rédeas da gárgula para um homem careca com olhos que não parecem normais.
— Nós resgatamos Dotados Griffin e os escondemos da Guilda, — diz ele, virando para mim. — Também ajudamos pessoas de outras maneiras. Basicamente, fazemos o que a Guilda faz, mas em menor escala.
— Também é não oficial e ilegal, — diz Calla. — Então, você sabe, essa é outra razão pela qual a Guilda não gosta de nós.
— Oops, — diz uma pequena voz atrás de nós. Nós todos viramos, e lá está o garoto que apareceu na floresta antes de Dash me arrastar até a beira do penhasco. — Eu estava esperando chegar em casa antes de vocês.
Depois de uma pausa cheia de silêncio chocado, Violet caminha para frente, segura os ombros do garoto e certifica-se de que seu rosto está bem diante do dele, antes de perguntar, — Onde você estava?
— Hum...
— Você deixou o oásis?
Ele pisca. — Talvez. Eu só... queria ajudar com a missão de resgate.
— Jack Linden Larkenwood, — ela diz, — você está de castigo. — Ela se endireita e o solta. — Pela próxima década.
— O quê?
— Pelo próximo século.
— Mãe! — Jack solta um gemido dramático e se vira para Ryn. — Pa-pai, — ele lamenta.
Ryn cruza os braços. — Você quer que eu adicione mais uma década?
— Ugh, vocês estragam tudo!
— Não, estragou as coisas é o que você fez quando decidiu desobedecer às regras e deixar o oásis, — diz Violet. — Agora, por favor, me dê a stylus que você decidiu roubar.
Jack murmura algo baixo demais para alguém ouvir antes de entregar uma stylus, cruzar os braços e projetar o lábio inferior para fora. Calla cobre a boca para esconder um sorriso antes de se virar. Olhando além dela, vejo o careca andando de volta em nossa direção. Quando ele chega o lado de Calla, percebo por que seus olhos parecem estranhos: suas pupilas são verticais em vez de redondas.
— Lorde Sedon quer marcar uma reunião com vocês dois, — ele diz para Ryn e Violet. — Ele está esperando em um dos espelhos.
— Ótimo, vamos falar com ele agora, — diz Ryn.
— Chase ainda não voltou? — Calla pergunta.
— Não, — o homem careca diz. — Você perdeu uma chamada de espelho dele mais cedo, entretanto.
— Oh, eu vou ver se consigo falar com ele agora. — Ela se afasta.
— Jack, — diz Violet, — por favor, leve Emerson para um dos quartos vazios e depois mostre a ela um pouco das coisas enquanto o papai e eu trabalhamos um pouco.
— Você vai tirar meu castigo se eu fizer isso?
— Não. Você fará isso porque quer ser simpático e receptivo com a Emerson.
— Tudo bem, — ele geme.
— Ótimo. Emerson, nos vemos mais tarde, — diz Violet. — Podemos nos encontrar para... — Ela hesita, depois ri. — Desculpe, sempre leva um momento para reajustar quando viajo entre os fusos horários. É tarde aqui, não é, então podemos nos encontrar para nos espreguiçar nas redes.
— Isso soa... — Como o tipo de férias que eu acabei de sonhar. — Isso soa legal.
Eu vejo os dois irem embora. Quando eles estão fora do alcance da voz, Jack se vira para mim e sorri. — Na verdade sou simpático e acolhedor.
— Tudo bem. Bom saber.
— Venha, você pode escolher um quarto.
Eu ando com ele, diminuindo o ritmo para corresponder aos seus passos pequenos. — Quem fez todo esse lugar?
— Papai e tio Chase. Eles disseram que demoraram um ano para conseguir colocar os feitiços certos. Mas isso foi antes de eu nascer, então obviamente eu não me lembro de nada disso.
— Quem é Chase?
— O marido da Tia Calla.
Eu concordo. — Então... o seu pai e o Chase são os responsáveis?
— Eu acho. Mas também mamãe e tia Calla. E tio Gaius. Embora ele não seja realmente meu tio, ele é apenas amigo do tio Chase desde sempre, e ele não sai mais de sua casa, já que ele está doente. Eu acho que todos eles estão no comando. Bem, eles estabelecem as regras, e eu fico com problemas com todos eles se eu as quebrar, então todos eles devem estar no comando.
Chegamos à base de uma das gigantescas árvores. Degraus foram esculpidos, começando de baixo e curvando-se ao redor do lado do tronco enquanto sobem mais alto. Jack me puxa, movendo-se tão rapidamente quanto suas pernas curtas conseguem levá-lo. — Quantos anos você tem, Jack?
Ele arrasta a mão ao longo do tronco enquanto subimos. — Eu tenho oito anos e meio. Quantos anos você tem?
— Dezessete. Dezoito em poucos meses.
— Você foi para a escola de onde você é? Porque você pode fazer isso aqui. Eu tenho aulas com as outras crianças que moram aqui e na maior parte é divertido. Você pode se juntar a nós se quiser, mas provavelmente ficará com Junie porque é mais velha.
Eu suspiro e digo, — Não, eu provavelmente estaria com você. — Na verdade, eu acrescento em silêncio, se houver uma turma inferior que a sua, é provavelmente onde eu pertenço.
— Então esta é a nossa casa, — diz Jack quando chegamos a primeira grande estrutura construída nos galhos. — Tem mais quartos, uma cozinha e sala de estar e coisas assim, e mais acima estão apenas os quartos e banheiros para pessoas novas. Então, se eles ficarem e quiserem outros quartos, Merrick apenas os adiciona.
Eu paro por um momento e olho para as estruturas de madeira menores construídas acima de nós. — Eu provavelmente não deveria perguntar sobre como os banheiros funcionam aí em cima. Quero dizer, eu acho que magia cuida de todo o... encanamento?
Jack encolhe os ombros. — Eu não sei. Eu acho que sim. — Ele continua subindo, e eu o sigo, grata por toda a atividade física que Val e eu fizemos ao longo dos últimos dois anos em nossa busca para nos ensinar parkour.
— Parece que você tem que estar em boas condições para morar aqui, — comento. — É um longo caminho se você esquecer algo quando sair de casa de manhã.
— Eu sei! — Jack exclama. — E ainda não aprendi a me impulsionar com magia, por isso demora muito. Mamãe e papai podem chegar aqui em segundos, se precisarem. É tão injusto.
— Bem, você provavelmente será capaz de fazer isso em breve, certo? Quero dizer, você sabe como usar o caminho das fadas. — Eu ainda estou particularmente interessada nesse feitiço. Quanto mais cedo eu aprender, mais cedo me sentirei mais no controle da minha situação.
— Oh, sim, os caminhos das fadas. Eu não deveria saber isso ainda. Mas eu sempre prestei atenção quando mamãe e papai fazem. Eu sou um aprendiz rápido. — Ele olha para mim com um sorriso orgulhoso, em seguida, acelera seu ritmo um pouco, como se estimulado por suas próprias palavras. — Tudo bem, — ele diz um pouco sem fôlego depois de termos passado por quatro casas menores na árvore. — Este está vazio. Ou você pode ir mais alto se quiser. Existem outros três que estão vazios. Merrick sempre acrescenta mais quando tem tempo.
— Este está bem. — Eu coloco minhas mãos em meus quadris e olho em volta enquanto me dou alguns momentos para recuperar o fôlego. Os galhos aqui em cima são largos o suficiente para andar sem ter problemas de equilíbrio. Ainda bem que eu não tenho medo de altura. À distância daqui até o chão é suficiente para causar sérios danos a qualquer um que possa surtar e escorregar.
— Tudo bem, venha ver, — diz Jack. Ele pula ao longo do galho e abre a porta. Eu o sigo para dentro de um quarto, claramente mobiliado com nada mais do que uma cama, um guarda-roupa e uma cadeira no canto. É ainda melhor do que o quarto em que sempre dormi na casa de Chelsea. Pelo menos eu não tenho que escalar caixas de produtos para cabelo e dividir minhas prateleiras com pequenas garrafas de misturas estranhas.
— Isso é um banheiro? — Eu pergunto, apontando para uma porta fechada do outro lado do quarto.
— Sim. Portanto, isto é apenas as coisas básicas que eles colocam em todos os quartos. É meio chato, então você pode mudar o que quiser. Você pode até mudar a forma do quarto, se quiser algo diferente. Merrick vai fazer. Ele é um faerie arquiteto. E Junie - ela é uma elfa - é uma designer. Então, se você disser a ela como você quer sua cama, ela pode mudá-la facilmente. Ou, se quiser que a cadeira seja um balanço pendurado no teto, ela também pode fazer isso. Ela fez isso no meu quarto, mas depois eu caí uma noite quando eu deveria estar dormindo, não brincando, então mamãe e papai a fizeram mudar para uma poltrona, o que não é tão divertido. Mas Junie fez em forma de dragão, então eu acho que não é tão ruim assim.
Eu sorrio com essa informação de repente. — Parece legal. — Eu ando até a janela, e meu sorriso aumenta um pouco mais ao ver o pomar, o rio e o sol se pondo a distância. Eu nunca imaginei ter uma visão como esta do meu próprio quarto. E você ainda não tem, uma pequena voz me lembra. Este não é meu quarto, e eu provavelmente não ficarei aqui por muito tempo. Nada tão incrível pode durar.
— O guarda-roupa está vazio agora, — diz Jack, — mas a mamãe vai colocar algumas roupas depois. A mãe de Dash é uma conjuradora de roupas e ela envia toneladas de roupas para cá. Algumas delas são estranhas e mamãe esconde essas, mas a maioria é normal. Oh, de onde veio? — Eu me viro e olho para onde ele está apontando. No canto, sentado na cadeira, está um gatinho.
Eu atravesso o quarto com um suspiro. — Esse garotinho é uma criatura que muda de forma e me segue para todos os lugares. Eu pensei que ele fugiu quando Dash me encontrou na floresta, mas ele deve ter apenas se transformado em algo muito pequeno e subiu em um dos meus bolsos ou algo assim. — A criatura muda rapidamente para lá e para cá entre duas formas que eu não consigo identificar, como uma velha TV mudando entre os canais. Então se estabelece como um gatinho novamente.
— Legal, ele é como Filigree! — Diz Jack.
— Filigree?
— Sim, o animal de estimação da mamãe. Ele não muda muito porque ele é super velho e mamãe diz que ele não tem energia agora, mas ele costumava se transformar em todos os tipos de coisas. Ele até mesmo se transformou em um dragão uma vez, mas depois ele dormiu por três dias depois disso, porque usou muito de sua magia. — Jack se agacha na frente da cadeira. — Qual é o nome dele?
— Ele não tem um.
— Ah, posso dar um nome a ele, por favor? — Implora Jack, arregalando os olhos de prazer enquanto olha por cima do ombro para mim.
— Certo. Ele provavelmente vai acabar ficando aqui de qualquer maneira. Não é como se ele fosse meu. Ele só parece gostar de me seguir. — Uma mudança estranha, dado que meu primeiro animal de estimação teve a reação oposta e fugiu depois de apenas alguns dias.
— Yay. — Jack pega o gatinho e o embala contra seu peito. — Vou chamá-lo de... — Jack aperta os olhos enquanto pensa. — Bandit. Seu nome será Bandit.
Eu aceno devagar. — Parece legal.
Nós descemos todas as escadas — minhas pernas se exercitando bem no processo — e Jack me mostra o resto da cúpula, apontando uma estufa, uma escola, uma horta e um pomar, uma academia ao ar livre e um edifício que aparentemente contém um laboratório e alguns outros lugares fora dos limites dos quais Jack não sabe muito. — É onde eles fazem o trabalho deles e como eles ajudam as pessoas. Isso é tudo o que eu sei.
— Há muita coisa aqui, — eu digo quando paramos ao lado de um rio estreito com um barco flutuando perto da margem. — É maior do que eu pensava.
— Era menor quando eu era pequeno, — diz Jack, — mas Merrick continua adicionando coisas. Ele fica entediado quando não está ajudando mamãe e papai com casos. Enfim, venha ver o parquinho. — Ele pega minha mão e me puxa para longe do rio. — Eu o guardei para o final porque é o meu lugar favorito aqui. O balanço é incrível. Você tem que experimentar.
O parque acaba por ser preenchido com o mesmo tipo de equipamento que eu esperaria encontrar no meu mundo. O balanço também parece normal. — Não é só para frente e pra trás, — diz Jack quando pergunto o que há de tão especial nisso. — Veja, você se prende e o balanço vai para todos os lados. Quantas vezes você quiser.
— Uau, tudo bem. Isso é legal. É encantado, suponho?
— Sim, obviamente. Você quer ir?
— Hum, talvez outra hora. É só... isso é muito. Ainda estou me acostumando com todas as coisas mágicas.
— Oh, desculpe. Você é do outro mundo. Eu me lembro agora. Então, o que você faz para se divertir lá?
— Oh. Hum... — Eu coloco minhas mãos nos bolsos de trás. — Bem, eu saio com minha amiga Val. Nós nos ensinamos essa coisa chamada parkour. É como um esporte. Você usa qualquer ambiente em que esteja — como edifícios, paredes, escadas, seja qual for — como uma pista de obstáculos. Há muitos saltos e corridas e escaladas. E quedas, mas cair do jeito certo. Como pousar sobre seu ombro e rolar e se levantar.
— Tudo bem. É divertido?
— Sim. Você tem que ser criativo ao ir do ponto A ao ponto B. É como uma arte, na verdade. A arte do movimento rápido, apesar dos obstáculos. Uma pessoa comum pode descer as escadas de um prédio e caminhar pela rua para onde quer que ela vá. Em vez disso, descobrimos como pular ou descer, e depois pular para cima de paredes e através de jardins para chegar ao destino da maneira mais rápida possível.
— Legal. Você pode me ensinar?
— Hum, claro. Se você puder me ensinar como abrir os caminhos das fadas.
— Tudo bem. — Ele envolve um braço em torno de uma das correntes do balanço. — Mas teríamos que usar a stylus de alguém. Sem eles saberem. E... eu realmente não quero ficar de castigo novamente.
— Certo. Sim. Você deve ficar longe de problemas. — Essas últimas palavras saem inesperadamente profundas e ressonantes, e aquele mesmo arrepio estranho de mais cedo ondula pela minha espinha e através dos meus braços.
— O que foi isso? — Jack pergunta, inclinando a cabeça para trás enquanto ele me olha com desconfiança. — Você soou estranha.
— Hum... — Eu não tenho certeza se ele sabe sobre a minha Habilidade Griffin. — Provavelmente apenas alguma magia escapando. Eu realmente não sei como usá-la ainda. — Ele balança a cabeça lentamente enquanto eu olho em volta procurando outra coisa para falar. — Então, onde estão as redes? Eu acho que eu provavelmente deveria encontrar seus pais em breve.
— Por aqui, — diz ele, indo em outra direção. Corro atrás dele, grata pelos efeitos duradouros da bebida energética com chocolate que Azzy me deu antes de deixar a Guilda me levar. Eu provavelmente teria desmaiado de exaustão há muito tempo sem ela.
Jack me leva a uma coleção de redes amarradas entre as árvores perto de um pavilhão redondo e aberto. Grandes sofás estão sob o telhado decorativo do pavilhão. — Eu acho que vou esperar lá, — eu digo a ele.
— Legal. Eu vou procurar comida para o Bandit.
Eu o observo se afastando até que uma voz familiar atrás de mim diz, — Ei, você chegou aqui em segurança.
Eu viro, meu coração trovejando no meu peito. — Dash. — Eu me afasto de sua mão estendida. — Ele nos encontrou! — Eu grito. — A Guilda nos encontrou!
Capítulo 15
— UAU, EI, ACALME-SE. — DASH PISCA, CONFUSO. — ESTOU DO SEU LADO COMO VOCÊ ainda não percebeu isso?
— Tudo bem, Emerson, — diz Violet, correndo até mim. — Ele está dizendo a verdade. Ele está do nosso lado.
— Como ele pode estar do nosso lado? — A raiva corre com força em minhas veias, escapando em faíscas violentas que se afastam de mim e vão diretamente em direção ao rosto de Dash.
— Ow! — Ele se abaixa e afasta a magia para longe com as duas mãos. — Que diabos, Em?
— Você tentou me prender! E então você me empurrou da beira de um penhasco!
— Nossa, Em, eu sou a única razão pela qual você fugiu da Guilda. Você nunca teria escapado sem a minha ajuda. — Ele se endireita quando minha magia para de atacá-lo. — Você não acha que os guardiões são normalmente tão desajeitados, não é? E o penhasco... — Ele encolhe os ombros, parecendo um pouco envergonhado. — Bem, ficamos sem tempo, então eu tive que improvisar. Mas eu sabia que Ryn e Vi estavam lá. Eu sabia que alguém iria te pegar.
— Você sabia que alguém iria me pegar? — Eu repito em descrença. — Eu quase morri!
— Mas não morreu. Você está bem. E agora você está segura, que era o plano desde o começo.
— Que plano?
— Você sabe, deixar você aqui com os rebeldes Griffin.
— Espere. — Eu pisco e levanto minhas mãos. — Você sabia o tempo todo que eu tinha uma Habilidade Griffin, e você não disse nada para mim?
Os olhos de Dash piscam para Violet antes de voltar para mim. — Bem, nós não estávamos certos. É por isso que eu continuei tentando fazer com que você me dissesse exatamente o que aconteceu naquela noite na festa, mas você não estava interessada em falar sobre isso.
— Você está de brincadeira? Se fosse tão importante — se ter uma Habilidade Griffin é tão perigoso, você poderia ter forçado a informação de mim. E me dito, ‘Em, isso não é magia normal. Você pode estar em perigo por causa disso. Você tem que me dizer o que aconteceu, para sua própria segurança’. — Eu jogo minhas mãos para cima em completa exasperação. — Você considerou essa opção, Dash?
Ele cruza os braços sobre o peito, sua expressão ficando mais tempestuosa a cada segundo. — Talvez você não se lembre claramente da ocasião em que você se assustou completamente e fugiu de Chevalier House, mas você não estava exatamente com vontade de ser forçada a fazer nada. E me perdoe, mas eu meio que achei que você tinha o suficiente de coisas para lidar naquele momento, tendo acabado de descobrir, você sabe, todo o resto. Eu pensei que estava sendo gentil, não despejando outra horrível revelação em seus ombros. E imaginei que Azzy tiraria a verdade de você em breve — o que ela já havia feito, na verdade. Eu não sabia, mas ela contatou Ryn quando eu te trouxe de volta para Chevalier House. Nós simplesmente não conseguimos levar você para longe com segurança antes de você revelar a todos o que você pode fazer.
— Espere. Azzy está nessa coisa toda? Era sobre isso que vocês dois estavam sussurrando na noite passada?
— Você ouviu?
— Sim, Profº Azzy está do nosso lado também, — diz Violet.
— Então por que diabos Paul chamou a Guilda para vir me buscar?
— Porque Azzy é a única que está dentro, — explica ela. — Paul não está. Ele está firmemente do lado da Guilda, assim como todo mundo que trabalha na Chevalier House, então sua resposta automática foi contatá-los.
— Tudo bem. Tudo bem! — Eu encaro Dash novamente. — Mas você ainda não explicou nada pra mim depois que eu acidentalmente revelei minha Habilidade. Se seus amigos Griffin estavam planejando vir me resgatar, por que você não me contou?
— Eu tentei, Em, mas não ficamos sozinhos por muito tempo depois disso. Eu não pude dizer nada com outros guardiões ao redor. Se a Guilda perceber o menor indício de que eu não estou totalmente do lado deles, as coisas acabarão muito mal.
— Pensando na própria pele pelo que eu vejo, — murmuro.
— Emerson —
— Não apenas em mim, — Dash retruca, interrompendo Violet antes que ela possa ir mais longe. — Estou cuidando de todo mundo que mora aqui. A magia protetora pode me impedir de dizer a Guilda sobre este lugar se eu fosse interrogado, mas sei muito mais do que isso. Eu sei o que o Azzy está fazendo e sobre todas as pessoas que entram e saem daqui. Você pode imaginar o que aconteceria se a Guilda conseguisse essa informação de mim?
— Então por que se incomodar em trabalhar na Guilda se é um risco tão gigantesco?
— Alôô! Porque Vi e Ryn e todos os outros aqui precisam de pessoas lá dentro. Eles não saberiam o que está acontecendo de outra forma. Eles não saberiam sobre você, ou sobre o que a Guilda planejava fazer com você.
— É verdade, — diz Violet. — A informação que Dash nos dá sobre a Guilda é extremamente valiosa. E, além disso, ele quer ser um guardião. Ele quer ajudar as pessoas. Ele não deveria ter que se afastar disso só porque ele está conectado a nós.
Eu cruzo meus braços firmemente sobre o peito, querendo dizer que outras pessoas têm que desistir de seus sonhos o tempo todo, então o que faz Dash tão especial que ele consegue manter o dele? Mas meus pensamentos infantis e mesquinhos não ajudam, então eu consigo ficar calada.
O olhar de Violet se move entre nós dois. — Deveríamos... talvez... nos sentar? — Ela sugere depois que vários outros segundos de silêncio se passam.
Com um aceno conciso, eu a sigo pelas escadas do pavilhão. Espero que Dash sente para que eu possa escolher um lugar longe dele, mas ele acena para eu sentar primeiro. Idiota. Ele está fingindo ter boas maneiras ou algo assim? Sento em um sofá de listras azuis e brancas e abraço uma das almofadas brancas e macias contra o meu estômago. Dash tem a decência de não se sentar ao meu lado. — Então, estamos bem agora? — Pergunta ele. — Você e eu?
Eu dou de ombros. — Tudo bem como sempre fomos, eu acho.
— Legal. Então você ainda não gosta de mim, mas pelo menos você não acredita que eu queria te matar.
Eu concordo. — Praticamente.
— Ótimo, — diz Violet, acenando para Ryn enquanto ele caminha em direção ao pavilhão com uma bandeja com copos flutuando no ar ao lado dele. — Enquanto vocês dois não quiserem se matar, tudo deve ficar bem.
— Dash, — diz Ryn quando nos alcança. — Obrigado por ajudar com o resgate. — Ele aperta a mão de Dash, como se me empurrar de um penhasco fosse uma grande conquista. — Eu sei que Emerson não estava muito satisfeita com a maneira como isso aconteceu, mas você tinha que manter seu disfarce de alguma forma.
— Obrigado. É bom saber que algumas pessoas apreciam meu sacrifício. — Ele me lança um olhar aguçado.
— Sim, tanto faz. Um grande sacrifício, tenho certeza. E vocês podem parar de me chamar de Emerson, — acrescento. — Em está bem.
— Ou Emmy, — diz Dash.
Eu cerro meus dentes. — Eu vou te machucar.
— Eu vou te machucar, — ele imita com uma voz aguda.
Violet suspira e se senta em um dos sofás. — Nós fomos tão imaturos?
— Claro que não, — diz Ryn, sentando-se em frente a ela. — Bem, você pode ter sido, mas eu tenho certeza que eu não era.
Ela ri. — Isso definitivamente não é verdade.
— Dash, eu ouvi que você teve um pequeno problema para chegar aqui, — diz Ryn, mudando de assunto. — Calla disse que ela recebeu uma mensagem sua pedindo para ir encontrá-la em algum lugar e trazer você para cá.
— Hum, sim. — Dash olha para mim. — Então, eu tenho um pequeno problema.
— E por que isso é o meu problema?
— Porque é sua culpa. Eu não posso mais usar os caminhos das fadas. É impossível eu viajar para qualquer lugar se estiver sozinho.
— Eeeeeee eu ainda não vejo como isso é o meu problema.
— Em, por favor. Foi sua Habilidade Griffin que fez isso comigo. Você precisa consertar isso.
— Eu não sei como. E mesmo se eu soubesse, isso não pareceria suspeito para a Guilda? Eu deveria estar morta, certo, então como eu consegui consertar seu problema com os caminhos das fadas?
— Eu não sei. Acho que posso dizer que os efeitos da sua magia passaram.
— E quando Jewel ainda não puder usar os caminhos das fadas? Isso vai parecer seriamente suspeito, Dash.
— Ela tem razão, — diz Ryn.
— Apenas tente, Em. Tente agora mesmo. Diga, ‘Você pode abrir portais para os caminhos das fadas’. E, se funcionar, podemos fazer você se esgueirar na casa de Jewel enquanto ela dorme e fazer o mesmo com ela.
— Isso é muito assustador, Dash.
— Apenas tente!
Eu me inclino para trás, cruzo os braços e digo, — Você pode abrir portais para os caminhos das fadas.
Ele suspira. — Talvez você possa colocar um pouco de esforço?
— Quem disse que funciona dessa maneira?
— Eu não sei, mas certamente não funcionou do jeito que você acabou de dizer. Sua voz não ficou... estranha.
Eu descruzo meus braços e mexo distraidamente na manga do meu suéter. — Estranha como? Como minha voz fica quando isso acontece?
— Meio que... mais profunda. Um pouco distorcida. E meio que... não como um eco, mas era como se eu pudesse ouvi-la no ar ao meu redor.
Eu aceno devagar. — Meio que soou assim para mim também.
— Você quer tentar de novo? — Pergunta Violet. — Focando desta vez, em vez de apenas dizer as palavras.
Como não é o Dash que está pedindo, concordo em tentar novamente. Eu tento várias vezes, mesmo fechando os olhos e me concentrando intensamente em extrair esse poder de dentro de mim quando digo a Dash que ele tem permissão para abrir portais para os caminhos de fadas. Mas assim como na beira do penhasco, nada acontece. Minha voz continua normal.
Eventualmente eu me inclino de volta contra o sofá e abraço a almofada macia perto do meu peito. — Viu? Não consigo fazer isso.
— Bem, não há necessidade de insistir sobre isso, — diz Violet. — Nós definitivamente podemos ajudá-la.
— Mesmo?
— Sim. E enquanto isso, Dash terá que descobrir outra maneira de se locomover.
— Ugh, sério? Eu vou ter que ser levado para todo lugar como uma criança, — Dash reclama.
— Ainda bem que você trabalha em equipes na Guilda, diz Ryn. — Um de seus companheiros de equipe deve ficar feliz em ajudar você e Jewel, certo?
— Ainda é extremamente limitante.
— Coitado, — eu digo sem um pingo de simpatia.
Seus olhos se estreitam quando ele olha para mim. — Você está gostando disso.
Eu dou de ombros. — Você me empurrou de um penhasco.
— Isso vai ser a sua desculpa para tudo?
— Provavelmente. Eu sinto que nunca vou cansar.
— Então, — diz Violet em voz alta. — Alguém gostaria de uma bebida? — Ela aponta para a bandeja com copos que Ryn trouxe com ele, que está em uma pequena mesa redonda ao lado de sua cadeira.
— Tudo bem, — eu digo, apontando para um copo contendo camadas alternadas de verde e rosa. — Contanto que não tenha álcool fabricado por humanos.
— Sem álcool, — Ryn me assegura enquanto ele entrega o copo. — Dash? Você gostaria de alguma coisa?
— Nah, na verdade, vou dizer oi para Gaius se ele estiver acordado. Não o vejo há algum tempo. E tenho certeza de que sua conversa com Emmy — ele pisca para mim enquanto se levanta — será mais agradável se eu não estiver por perto.
— Finalmente, — murmuro enquanto Dash se afasta. — Ele não fica aqui por muito tempo, não é?
Violet balança a cabeça e afasta o cabelo do rosto. — Não com muita frequência.
— Graças a Deus por — oh. Essas marcas no seu pulso. — Meus olhos seguem seu braço enquanto ela abaixa. — Elas são iguais as que o Dash tem. Isso não quer dizer que você é uma guardiã?
— Sim.
— Mas... você tem uma Habilidade Griffin, então... oh, isso foi antes deles descobrirem uma maneira de testar as Habilidades Griffin? Desculpe, a coisa da idade é confusa. Você parece tão jovem, mas pode ter cem anos com tudo que sei.
— Não é bem assim, — diz ela com uma risada.
— Nem perto, na verdade, — acrescenta Ryn.
— Mas sim, eu era uma guardiã. Ryn, Calla e eu éramos todos guardiões antes de sermos criminosos. Bem, Calla nunca teve a chance de se formar, mas Ryn e eu nos formamos. Trabalhamos para a Guilda por vários anos sem que ninguém soubesse que éramos Dotados Griffin. Então a Guilda desenvolveu uma maneira de testar as Habilidades Griffin, e nós fomos revelados como ‘traidores’ junto com todos os outros Dotados Griffin. Nós fugimos antes que a Guilda pudesse desativar nossas marcas, por isso ainda temos acesso às nossas armas de guardiões. Você conseguiu vê-las? Cor de ouro e brilhantes. Elas aparecem quando precisamos delas e desaparecem quando as soltamos.
Eu aceno, pensando na luta na beira do penhasco. — Só os guardiões em específicos?
— Sim. Apenas os guardiões têm acesso a armas assim.
— Então, agora você basicamente faz o que fez antes, mas sem a aprovação da Guilda? Então... vocês são como vigilantes?
Seu sorriso é irônico. — Quase. Não é algo que planejamos ser, mas a Guilda nos obrigou a isso. Especialmente porque o sistema deles não funciona tão bem quanto deveria.
— O que você quer dizer?
— Eles trabalham com os Videntes. Faes que têm a capacidade de vislumbrar o futuro. Eles Vêem coisas que darão errado, e a Guilda envia guardiões para evitar que essas coisas aconteçam. O problema é que há muitas dessas visões. Não há guardiões suficientes para lidar com todas elas, então as visões consideradas menos importantes são descartadas. Nós temos um contato na Guilda, no entanto, que as reúne e as envia para nós o mais rápido possível. Nós lidamos com qualquer coisa que ainda não tenha acontecido.
— Legal. — Eu fico em silêncio, pensando em tudo que ela explicou. Então eu lembro que estou segurando uma bebida, então tomo um gole. Tem gosto de uma mistura de caruma e alguma fruta, o que não é uma má combinação. Espero que Ryn ou Violet me façam uma pergunta, mas parece que podem estar esperando que eu conduza a conversa. Ou isso ou eles estão tendo sua própria conversa silenciosa com os olhos.
— De qualquer forma, — eu digo eventualmente, — vocês querem conversar sobre o quê? Minha Habilidade Griffin? O fato de eu não conseguir fazer magia básica? O fato de que minha mãe não é minha mãe? — Violet levanta ambas as sobrancelhas, e eu interiormente me xingo por deixar aquela última parte escapar. — Habilidade Griffin, — eu digo apressadamente. — Vamos conversar sobre isso.
— Hum, sim, — diz ela. — Estou muito interessada em saber mais sobre sua Habilidade Griffin. Eu nunca encontrei alguém que consegue falar coisas e elas acontecerem. Isso é incrível.
— Você quer dizer perigoso, certo? É o que todo mundo parece pensar.
— Perigoso, sim, se você não puder controlar. Mas todos nós somos perigosos se não podemos controlar a nossa magia. E você acabou de descobrir a sua, então é claro que você ainda não sabe o que fazer com ela. Mas faremos o que pudermos para ajudá-la, prometo.
Eu mordo meu lábio e lentamente balanço minha cabeça. — Talvez eu devesse parar de falar completamente, porque eu nunca sei quando algo que eu digo vai sair como um comando mágico. Também... — Eu coloco meu copo no chão antes de pressionar minhas mãos juntas. — Há uma possibilidade de Jack nunca mais entrar em problemas.
Ryn inclina a cabeça. — O que você disse a ele?
— Eu acho que minhas palavras exatas foram, ‘Você deve ficar longe de problemas’ E minha Habilidade Griffin aleatoriamente ligou naquele momento. Então... eu não tenho certeza do tipo de efeito que terá nele.
Violet começa a rir. — Bem, estou ansiosa para ver os resultados disso.
— Sim, mas e se eu dissesse algo diferente? Algo ruim?
Ryn passa a mão pelo cabelo. — Sim, definitivamente há riscos, contanto que você não saiba quando a habilidade vai entrar em ação. Mas não é prático se calar completamente. Talvez você tenha que pensar em tudo o que você quer dizer antes de dizer e certificar-se de que não seja um comando ou uma instrução.
Meus ombros caem. — Isso parece ainda menos prático. Tenho certeza de que seria mais fácil fechar minha boca do que dizer a mim mesma que tenho que pensar em cada palavra antes que ela saia da minha boca.
— Não será um problema por muito tempo, — diz Violet. — Podemos começar a trabalhar nisso amanhã. Bem, no dia seguinte, suponho. Você precisa ir ao laboratório amanhã para que a Ana possa tirar uma amostra da sua magia. O elixir para estimular sua Habilidade Griffin deve estar pronto no dia seguinte.
— Laboratório? — Um medo frio e forte toma forma na boca do meu estômago. — Eu — isso é — eu não sou muito —
— Claro, sinto muito. Dash mencionou que você tem medo de todas as coisas médicas. Mas não se preocupe. Não há agulhas nem nada. É apenas um feitiço simples e você não sente nada.
Eu arranco os fios da almofada macia, incapaz de me livrar da minha carranca. Eu odeio que Dash tenha falado sobre mim para essas pessoas. O que mais ele disse a eles?
— Sério, Em, não é grande coisa, — diz Ryn. — Precisamos tirar uma amostra de sua magia para criar um elixir que estimule sua Habilidade Griffin. Uma vez que você se acostumar com a sensação de ter aquela parte específica de sua magia ligada, você pode descobrir como fazer isso sem o auxílio do elixir. Precisa ser específico para a sua magia, e é por isso que precisamos da amostra.
Eu lambo meus lábios, alcanço a bebida aos meus pés e tomo um longo gole. — Tudo bem, — eu digo depois que eu a coloco de novo no chão. — Eu acho que isso faz sentido. — Isso não significa que Ryn e Violet não estão mentindo para mim, no entanto. Eles podem querer usar minha magia para outra coisa.
Violet se inclina para frente, seu âmbar agora apertado entre suas mãos. — Você quer nos dizer alguma coisa sobre sua mãe?
De repente, isso parece um interrogatório. — Hum...
— Qual é o nome dela? Em que hospital ela está?
Eu arranho uma marca suja na minha calça jeans. — Daniela Clarke. E ela está no Hospital Psiquiátrico Tranquil Hills. É... bem, o ambiente é tranquilo. Dentro não é.
Vi acena e escreve algo em seu âmbar com uma stylus.
— O que você está escrevendo? Você está contando a alguém? Dash disse que essas coisas âmbar são como celulares, então você está enviando mensagens para alguém?
— Em, acalme-se, — diz Ryn. — Ela está tomando notas, isso é tudo.
Violet se senta. — Eu sei que Dash lhe disse que não é possível que sua mãe seja sua mãe biológica. Isso deve ter sido um grande choque para você descobrir.
Eu aceno, mas não digo nada.
— Eu sinto muito, Em. É muita coisa para absorver tudo de uma vez, eu sei. Descobrir que você não é quem você achava que era e que pode ter uma família totalmente nova em algum lugar por aí. Você quer que nós tentemos descobrir mais sobre eles?
Eu sacudo minha cabeça. — Minha mãe é minha única família. Eu não preciso saber de mais ninguém.
— Tudo bem. Apenas avise se você mudar de ideia.
— Sim. — Eu não vou mudar de ideia.
— Em, você não precisa surtar. — É Ryn quem se inclina para frente dessa vez, me observando atentamente. — Estou falando sério. Nós só queremos ajudar você. Se você realmente não quer que façamos uma amostra da sua magia, não vamos forçá-la. E se você não quer falar sobre sua mãe, tudo bem. Nós não vamos mencioná-la novamente. Nós queremos que você se sinta segura aqui, isso é tudo. Estamos nos escondendo da Guilda assim como você está. Nós entendemos o que é ser caçado. Entendemos como é querer apenas um lugar seguro para chamar de lar.
Percebo que tenho prendido a respiração enquanto ele fala, e lentamente deixo escapar. Eu acho que acredito nele. Eu acho que eu acredito. O único problema é... — Isso nunca vai ser a minha casa, — eu digo com cuidado, esperando que eles entendam que eu não quero ofendê-los. — Eu tenho uma vida em outro lugar. E uma mãe que precisa de mim. Eu preciso voltar àquele mundo quando a minha magia não for mais um perigo para todos ao meu redor.
Ryn acena. — Então é isso que vamos ajudá-la a fazer.
Capítulo 16
EU PASSO UMA HORA OU DUAS NAQUELA NOITE NO MEU QUARTO COM JUNIE, A ELFA QUE JACK mencionou anteriormente, tentando não olhar para as orelhas dela enquanto ela cria lençóis para a cama e cortinas para as janelas, e muda a cadeira de uma coisa dura de madeira para uma poltrona macia com um tecido estampado de flores. Bandit gosta imediatamente da nova cadeira e imediatamente se enrola e adormece. Junie pergunta se eu quero mais alguma coisa, e quando eu pergunto sobre comprar um relógio para não chegar atrasada para o café da manhã — sem mais alarme no celular para me acordar — Junie pinta o relógio na minha parede. Um minuto depois, quando o número magicamente vai para outro segundo, eu respiro fundo. Mesmo depois de vários dias neste mundo, a magia continua a me surpreender.
Enquanto esse quarto é mais rústico do que o que eu tinha na Chevalier House, eu prefiro este. Quando finalmente estou sozinha, passo um tempo na janela, olhando para as pequenas luzes nas árvores e para as milhões de estrelas visíveis através da cúpula. Mas, eventualmente, minhas pálpebras ficam pesadas demais e eu subo na cama.
Eu durmo melhor do que o esperado, acordando ao som de uma cantoria vindo da direção dos números pintados na minha parede. Depois de usar a piscina no meu pequeno banheiro com tema de jardim, desço as muitas escadas do lado de fora da árvore até a casa de Violet e Ryn. Eu bato na porta entreaberta antes de abri-la e entrar no que parece ser a cozinha deles. O cheiro de algo assando enche o ar.
— Oh, bom dia, Em, — diz Violet, sorrindo para mim por cima do ombro. Ela está perto de um balcão onde o conteúdo de uma jarra parece estar se mexendo, e uma faca está cortando uma maçã. Sua mão paira acima de três canecas, e embora eu não possa ver dentro delas, eu assumo que algo mágico esteja acontecendo. — Você pode se sentar à mesa, — diz ela. — Café?
— Oh, graças a Deus. Eu estava preocupada que café não existisse neste mundo.
Ela ri, pega as três canecas e as leva para a mesa. A jarra continua a mexer-se atrás dela. — Não é o mesmo que o café que você provavelmente está acostumada, mas espero que você goste.
Jack corre para a cozinha, gritando, — Bom dia, Em! Você trouxe Bandit com você?
— Jack, por favor, — diz Violet. — Você não precisar falar tão alto dentro de casa.
— Desculpe, — Jack sussurra com um sorriso travesso quando Ryn entra na cozinha atrás dele.
— Ei, Em, — ele diz para mim. Então para Violet, — Desculpe, me distraí. Eu ia terminar o café.
— Tudo sob controle, — diz Violet. Ela lhe dá um beijo rápido enquanto ele desliza o braço ao redor de sua cintura. — Você pode pegar os muffins?
— Então você trouxe Bandit? — Jack pergunta novamente, subindo em uma cadeira.
— Na verdade, ele voltou a dormir depois que eu me levantei. Ele provavelmente ainda está lá em cima no meu quarto.
— Oh. — Jack suspira, então se anima quando sua mãe coloca um pequeno copo com algo marrom na frente dele. — Ooh, chocolate, chocolate, chocolate.
— Ei, posso me juntar a vocês para o café da manhã? — A pergunta vem da direção da porta, e é Calla quem está espreitando. — Chase ainda não voltou.
— Claro. — Violet acena para uma das cadeiras vazias. — Você está preocupada com ele?
— Não, tenho certeza que ele está bem. As coisas às vezes demoram mais do que ele espera, isso é tudo. Ei, Em, — ela acrescenta com um aceno em minha direção. — Ooh, são muffins? — Ela desliza rapidamente em uma cadeira, esfregando as mãos enquanto Ryn coloca um prato de bolinhos fumegantes no centro da mesa. Violet acrescenta um prato de frutas fatiadas ao lado — pelo menos metade delas eu não reconheço - enquanto tento lembrar se Chelsea, Georgia e eu comemos alguma coisa que não fosse de uma caixa de cereal na hora do café da manhã. Eu não sei cozinhar, e duvido que elas também saibam.
— Algo para beber? — Violet diz para Calla.
— Não, não se preocupe. Eu vou fazer algo para mim em um minuto.
Violet se junta à mesa, e Jack começa a contar a Calla tudo sobre Bandit, o ‘novo Filigree’, enquanto todos se servem da comida. Ele então volta sua atenção para mim e me dá um esboço detalhado do que a dieta de Bandit deve ter e quantas vezes eu devo alimentá-lo. — Eu posso ajudá-la, se você quiser, — acrescenta ele.
— Obrigada. Na verdade você ficar com ele se você — Violet me interrompe com uma rápida e vigorosa sacudida de sua cabeça. Eu volto atrás rapidamente. — Quero dizer, você pode continuar visitando ele. O quanto você quiser. E tenho certeza que ele adoraria se você trouxesse comida para ele. — Eu arrisco um olhar na direção de Violet, esperando ter consertado meu erro com sucesso. Ela sorri e me dá um breve aceno de cabeça.
Ao lado dela, Calla murmura algo e coloca o âmbar na mesa ao lado do prato. — Tudo bem? — Pergunta Violet.
— Era uma mensagem de Perry. Ele diz que houve um ataque em um internato de faeries na noite passada, e outro na aldeia perto de Twiggled Horn. Esse é o segundo naquele vilarejo em particular esta semana. Algo ruim está acontecendo lá fora.
— Eu acho que ouvi sobre isso, — eu digo, o que faz Calla olhar para mim surpresa. — Bem, o primeiro, — acrescento. — Não esse que acabou de acontecer. Eu só lembro porque o nome do lugar é muito estranho.
— É o nome de uma montanha que tem uma forma estranha, — diz Ryn. — O que você ouviu sobre o primeiro ataque?
Eu tento lembrar os detalhes que Jewel passou para Dash quando ela recebeu a mensagem. — Eles disseram que cinco pessoas foram mortas, eu acho. Ah, e eles disseram que era um ataque Griffin. Eu me lembro agora. Essa foi a primeira vez que ouvi falar das Habilidades Griffin.
Calla fica boquiaberta. — O quê? Essa é uma das histórias que a Guilda está espalhando por aí? Mas não estávamos nem perto de Twiggled Horn. E nós não matamos pessoas. A Guilda me deixa com raiva às vezes. Eu não posso acreditar que eles nos colocaram nisso.
O âmbar dela vibra brevemente através da mesa novamente. Ela pega e lê. — Oh, brilhante. — Suas mãos caem para seu colo em exasperação. — A mensagem oficial da Guilda é que ninguém assumiu a responsabilidade por esses recentes ataques, mas eles têm razões para acreditar que eles foram executados por rebeldes Griffin.
Eu observo as mãos de Violet apertarem firmemente em torno de sua faca e garfo. A expressão de Ryn escurece. — Essas mentiras, — ele fala entre os dentes. — Eles sabem que não somos nós, então é melhor que façam a droga do que puderem nos bastidores para descobrir quem é o responsável.
— Parece tão confuso quanto o nosso sistema de aplicação da lei, — murmuro.
— Papai, — Jack diz incerto. — Eu pensei que não devíamos dizer 'droga'.
Um pequeno sorriso passa pelo rosto de Ryn. Ele estende a mão e bagunça o cabelo de Jack. — Você está certo. Obrigado por me lembrar.
— Sim, eu acho que não devemos deixar que isso nos abale, — diz Calla, empurrando o âmbar para longe e escolhendo outro muffin. — A Guilda está espalhando mentiras sobre nós há anos. Isso dificilmente é diferente.
— Verdade, — diz Violet. — Embora eles definitivamente precisem descobrir quem está por trás disso.
— Espero que eles possam resolver isso sem a nossa ajuda, — diz Ryn com um sorriso superior que me lembra, por apenas um momento, de Dash.
O âmbar de Calla vibra mais uma vez. Ela franze a testa para a última mensagem. — Perry diz que há algo muito estranho sobre o modo como esses fae foram mortos. Diz que eu deveria encontrá-lo para que ele possa explicar corretamente. Ela fica de pé. — Eu acho melhor eu ir. Ah, mas eu quero um pouco do chocolate com canela que Jack ama muito primeiro. — Ela corre em direção ao balcão.
— Bom dia a todos.
Nós todos olhamos para a porta. Ao ver Dash, eu suprimo um gemido.
— Dash? — Diz Violet. — Você pode usar os caminhos das fadas de novo?
— Não, mas eu tenho outros amigos aqui que estão felizes em me ajudar.
— Você não deveria estar em um trabalho agora? — Calla pergunta.
— Sim, eu estou indo para o trabalho em poucos minutos. Apenas parei para dizer oi.
Calla coloca a mão no quadril. Atrás dela, a jarra que estava se mexendo com uma colher mais cedo despeja um pouco de seu conteúdo em um copo. — Você parou para dizer 'oi'? Por que eu não acredito em você?
— Eu não sei. Eu sou um cara amigável. Não tenho certeza do porquê você duvidaria do meu desejo de desejar a todos um bom dia.
Ela balança a cabeça enquanto pega o copo e se move em direção a ele. — Bom dia, então. E adeus. Estou saindo agora.
— Fique viva, — Dash fala alegremente depois que ela sai.
— Fique viva? — Eu repito. — Isso é uma saudação comum por aqui?
Violet lança um rápido olhar para Jack antes de dizer baixinho, — É um sentimento comum, mesmo que nem sempre falemos em voz alta.
Dash entra na cozinha. — Que bom você dar as boas-vindas a Em ao oásis com assados. — Ele se inclina passando Violet e pega um muffin de mirtilo. — Eu aprovo.
— Dash, — eu digo, decidindo ser civilizada. — Você sabe o que aconteceu com Aurora depois que eu fugi da Guilda ontem?
Ele se inclina contra a mesa. — Aurora?
— A outra garota nova em Chevalier House. Aquela que apareceu na Guilda e me ajudou a escapar. Os guardiões a pegaram antes que ela pudesse entrar nos caminhos das fadas comigo.
— Oh, sim. — Dash mastiga e engole. — Eles a colocaram em uma cela na detenção por algumas horas. Então eles a mandaram de volta para Chevalier House depois de interrogá-la.
A culpa se contorce dentro do meu estomago. — Interrogaram ela?
— Eles queriam saber por que ela veio ajudá-la. Pelo que eles sabem, não havia conexão entre vocês duas.
— Não havia — não tem, — eu digo. — Eu não tenho ideia por que ela foi me ajudar.
— Quem é essa garota? — Pergunta Ryn.
— Ela chegou a Chevalier House anteontem. Ela parecia super suspeita com a coisa toda. Ela disse que ouviu que as pessoas desapareciam de lá às vezes — o que eu acho que faz sentido agora que eu sei que Azzy ajuda o pessoal dos Dotados Griffin.
— Você acha que essa garota também tem uma Habilidade Griffin? — Pergunta Violet.
Eu levanto meus ombros. — Não tenho ideia. Eu suponho que Azzy vai lhe avisar em breve se ela tiver. De qualquer forma, o que é estranho, é que ela era supostamente uma escrava de um bando de bruxas que nunca lhe ensinou como usar magia. Mas ela de alguma forma chegou a Guilda por conta própria, usou magia para cortar minhas cordas e abriu um portal para os caminhos das fadas.
Ryn considera minhas palavras. — Talvez ela tenha adquirido algumas habilidades mágicas básicas com as bruxas. Embora, — ele acrescenta com uma carranca, — as bruxas não viajem através dos caminhos das fadas.
— Então bruxas são reais? Essa parte não foi inventada?
Ryn troca um olhar com Violet. — Bruxas são muito reais. — Ele empurra a cadeira e levanta. — Vou entrar em contato com a Azzy agora. Ela pode me dizer se há algo de que precisamos suspeitar.
Nós começamos a limpar então, em parte com o uso de magia e em parte — e menos para Jack e eu — com a mão. Ele e eu estamos secando os pratos lavados por um dos feitiços de Violet quando percebo que Dash e Violet foram para a sala ao lado. Acho que ouço meu nome sendo mencionado e minha raiva se inflama imediatamente. Dash já não contou a essas pessoas o suficiente sobre mim e minha vida pessoal?
— ...pode ajudá-la, certo? — Dash está dizendo. — Vamos lá, você pode encontrar qualquer pessoa.
— Não, eu não posso, e eu não quero que você diga isso a ela. Você sabe como isso funciona. Eu preciso tocar em algo que pertence a —
— aos pais dela, certo. Eu pensei sobre isso. Ela pertence aos pais dela. Então, basta tocá-la e você poderá encontrá-los.
— Dash, ela não pertence aos pais biológicos há muito tempo, — diz Violet. — Isso não vai funcionar. Além disso, ela não está interessada em encontrá-los.
— Exatamente, — eu digo, alto o suficiente para assustar os dois. Eles olham ao redor com expressões de culpa. — Então, obrigada, Dash, por enfiar o nariz onde ele não pertence, mas como você pode ver, eu não quero sua ajuda.
Ele abre a boca como se quisesse argumentar, mas depois suspira e levanta as mãos em sinal de rendição. — Desculpa. Eu pensei que estava ajudando. Eu ficarei fora disso.
— É provavelmente o melhor, — Violet diz baixinho.
— Legal, bom, eu acho que vou para o trabalho então. — Ele levanta a mão e forma um punho, segurando-o no ar na frente de Violet enquanto ele sorri para ela. — Tenha um bom dia salvando vidas.
Ela revira os olhos e bate no punho dele com o dela. — Para você também. — Ela o observa sair, então se vira para mim. — Me desculpe por isso. Espero que você saiba que eu não faria nada sem a sua permissão.
Eu aceno com hesitação, querendo acreditar nela. — Do que vocês estavam falando? Ser capaz de encontrar alguém... Essa é a sua Habilidade Griffin?
Ela concorda. — Sim. Eu posso encontrar pessoas. Se eu conhecer a pessoa que estou procurando, é fácil. A conexão já está lá. Se eu não conhecer, então eu preciso estar segurando algo que pertence a essa pessoa.
— Isso é tão estranho, — murmuro. Não menos estranho do que ser capaz de falar as coisas e elas acontecerem, uma pequena voz me lembra. — Espere, — acrescento quando algo me ocorre. — Foi assim que Dash me encontrou ontem depois que eu escapei da Guilda? E na outra noite quando fugi da Chevalier House? Você disse a ele onde eu estava?
Ela balança a cabeça, parecendo culpada mais uma vez. — Azzy enviou uma mensagem para dizer que você fugiu. Procurei por você e contei a Dash onde encontrá-la.
— Isso é... — Eu balanço minha cabeça. — Eu... eu nem sei como me sentir sobre isso.
— Como se sua privacidade fosse violada?
— Mais ou menos, eu acho. Como se eu nunca pudesse realmente me esconder em qualquer lugar, mesmo que eu quisesse.
Ela acena com a cabeça. — Eu sei. Eu odeio fazer as pessoas se sentirem assim. Eu só faço quando é necessário. No seu caso, estávamos preocupados com a sua segurança.
— Espere, como funcionou se você não tem nada que me pertence?
Ela fecha os olhos por um momento e esfrega a parte de trás do pescoço. — Agora você realmente vai pensar que violamos sua privacidade. — Ela abre os olhos. — Eu tenho um pompom de cabelo que pertence a você. Dash tirou do seu pulso na noite em que ele te trouxe para casa depois que você desmaiou naquela festa. Ele achou que talvez precisássemos encontrá-la em algum momento.
Eu cruzo meus braços e olho para o chão. — Sim. Isso tudo é muito estranho.
— Eu provavelmente deveria falar sobre Ryn também. Tirar toda a estranheza do caminho de uma só vez.
— Oh, céus. Isso não parece bom.
— E só para você saber, nenhuma dessas habilidades é um segredo. Nós não queremos que as pessoas pensem que estamos escondendo coisas delas, então somos muito abertos com aqueles que vivem aqui.
— Tudo bem, então o que Ryn pode fazer?
— Ele pode sentir suas emoções.
Eu pisco. — Isso não é legal. Nem um pouco. E se eu não quiser que ele saiba o que estou sentindo?
Ela encolhe os ombros. — Tentar não sentir o que você está sentindo?
— É até mesmo possível?
— Na verdade não. Confie em mim, eu tenho anos de experiência nesta área. — Ela olha brevemente por cima do ombro enquanto Jack a chama. Algo sobre um livro que ele não consegue encontrar. — De qualquer forma, — diz ela, virando para mim. — Não é grande coisa. Na maioria das vezes, as emoções das pessoas são evidentes em suas expressões e ações. A habilidade de Ryn apenas faz dele um pouco mais intuitivo do que a maioria, isso é tudo.
Eu mordo meu lábio e franzo o cenho um pouco mais para o tapete no chão. Talvez ela esteja certa, mas isso não me deixa muito confortável em ficar perto dele.
— Eu sinto muito, Em. Eu sei que isso tudo é muito esmagador. Há muito mais que eu quero explicar, mas eu preciso ajudar Jack a se preparar para a escola, e então eu tenho algumas coisas do trabalho para resolver. Eu pensei que você poderia pegar leve hoje — olhar as coisas, ficar nas redes, praticar o que Azzy lhe ensinou antes de você sair da Chevalier — e hoje podemos falar sobre a melhor maneira de ensinar tudo o que você precisa saber, incluindo sua Habilidade Griffin.
Fabuloso. Parece que você tem tudo perfeitamente planejado. Eu empurro meus pensamentos sarcásticos e amargos de lado. — Tudo bem. Eu acho que é um plano. E... posso pedir mais uma coisa? — Agora é provavelmente o melhor momento, enquanto ela ainda se sente culpada por usar sua Habilidade Griffin em mim. Eu engulo e afasto meu olhar do chão. — Você pode me levar para visitar minha mãe?
Capítulo 17
— JÁ FAZ QUASE UM ANO DESDE QUE EU A VI, — EU ME APRESSO, SENTINDO SUBITAMENTE QUE precisava convencer Violet de que essa é uma boa ideia. — Eu economizei — eu ia pegar um ônibus — e então minha tia encontrou meu esconderijo e o pegou. E então tudo deu errado — quero dizer, hum, tudo ficou uma bagunça.
— Quase um ano? — Violet repete com as sobrancelhas levantadas. — Em, isso é horrível. Eu sinto muito. Não consigo imaginar como é difícil estar separada dela por tanto tempo.
— Mas agora eu não tenho que estar, certo? Viajar pelos caminhos das fadas é rápido e fácil. Mas eu sozinha não posso fazer isso, então preciso da ajuda de alguém.
Sua expressão fica em conflito, e eu posso sentir aquela pequena voz dentro de mim se preparando para gritar. Eu sabia! Eles não querem realmente ajudar você. — Eu entendo o quão desesperada você deve estar para vê-la, — diz Violet com cuidado, — mas você tem que entender que será arriscado. A Guilda sabe tudo sobre ela. Eles provavelmente colocaram alguém vigiando para ver se você vai lá.
— Espere, sério? — Eu não tinha pensado nisso. — Você realmente acha que alguém está esperando em Tranquil Hills apenas no caso de eu aparecer?
— Sim. Seu poder é valioso para a Guilda. Eles vão querer recuperá-lo se puderem.
— Mas eles acham que eu estou morta.
— Eles acham? Você pode não saber disso ainda, mas é difícil matar uma faerie, Em. Nossa magia pode nos ajudar a sobreviver a muitas coisas que matariam um humano. Se a Guilda não encontrar seu corpo, eles vão assumir que você sobreviveu de alguma forma.
— Mãe! Ainda não consigo encontrar o livro, — grita Jack de algum lugar da casa.
— Apenas continue procurando, — ela fala por cima do ombro.
— Tudo bem, isso é ruim. — Eu não consigo ficar parada, então eu começo a andar. — Então a Guilda provavelmente está vigiando a minha mãe. Você acha que eles a machucaram? Você sabe, tentar usá-la contra mim?
— Eu duvido muito. Eu sei que eles parecem, mas eles não são os vilões.
— Sério? — Minha voz está cheia de sarcasmo. — Eles certamente pareciam os vilões quando estavam tentando me matar ontem. E se minha magia é tão valiosa para eles, por que pensariam duas vezes em ameaçar uma mulher humana doente que não significa nada para eles?
— Em, um dos principais propósitos da Guilda é proteger os humanos. Eles não querem —
— E os Unseelies? Eles de alguma forma sabiam sobre mim e minha Habilidade Griffin, então eles provavelmente sabem sobre minha mãe também. Eles não vão tentar levá-la? Eles são os vilões número um, certo? Usam os entes queridos de uma pessoa contra eles. Eles provavelmente a levaram para —
— Em, acalme-se. — Violet agarra meus braços e dá um aperto reconfortante neles. — Estamos um passo à frente de você. Eu enviei alguém ontem à noite para verificar se sua mãe está bem. Por isso te perguntei o nome do hospital ontem. Ele relatou que ela está bem. Ele não podia entrar no quarto dela, caso alguém estivesse vigiando, mas ele a viu de longe.
— Oh. Tudo bem. — Minhas dúvidas crescentes diminuem. — Obrigada. — Eu enfio meu cabelo atrás de uma orelha quando ela me solta e dá um passo para trás. — Então, posso visitá-la? Quer dizer, eu sei que alguém da Guilda pode estar vigiando, mas eu posso me disfarçar. Eu terei muito cuidado.
Espero que ela discuta sobre isso não ser seguro — é isso que os adultos fazem, certo? — mas ao invés disso, ela concorda. — Sim, nós podemos ajudá-la, mas como eu disse, será perigoso. Se sua mãe não tem outra família ou amigos que a visitem regularmente, a Guilda espera que qualquer pessoa que a visite agora esteja associada a você. Mesmo que Calla crie uma ilusão que faça você parecer completamente diferente, a Guilda provavelmente achará isso suspeito. Essa é a Habilidade Griffin dela, a propósito. Criar ilusões.
— Uau. Ah, sim, ela nos fez ficar invisíveis ontem.
— Isso.
— Ela pode me fazer parecer invisível para todos, exceto minha mãe?
— Ela pode, embora isso a canse muito mais rápido, projetar uma ilusão em alguns enquanto a mantém dos outros. Assim, desde que você entenda que pode ter que sair dali rapidamente, podemos fazer isso funcionar.
Eu aceno fervorosamente. — Eu posso fazer isso. Uma visita rápida é melhor que nada.
— Tudo bem. Mais tarde, então? A agenda de Calla está cheia durante o dia, mas ela poderá te levar no final da tarde.
— Obrigada. — Uma antecipação excitante corre de repente através de mim. Eu vou vê-la. Eu realmente vou ver a mamãe.
Jack aparece na porta, levantando um livro pesado. — Olha, mãe, eu encontrei.
Violet bate as mãos. — Viu? Eu sabia que você conseguia. Vamos lá, vamos para a escola.
***
No final da tarde, quando estou cansada de praticar puxar minha magia de mim mesma, e meu cérebro está quase explodindo com todas as coisas que eu quero conversar com a mamãe, eu espero por Calla no pavilhão. Conforme as pessoas que eu não conheço passam, eu deslizo um pouco mais em um dos sofás e evito fazer contato visual. Eu observo Jack correndo na companhia de várias crianças. Eles diminuem a velocidade perto das redes e se empurram enquanto tentam decidir quem fica com qual delas. Jack tenta pular em uma, mas acaba passando dela e caindo de bruços no chão. Eu fico de pé rapidamente, sem saber se devo correr para verificar se ele está bem, mas ele se levanta um pouco depois, rindo junto com seus amigos.
— Ei, é a Emerson! — Ele grita de repente, sorrindo e apontando na minha direção. Todos começam a correr em minha direção, o que eu acho um pouco alarmante. — Emerson, — diz Jack quando ele chega ao pavilhão. — Lembra que você estava dizendo que sabe como cair do jeito certo?
Eu olho para baixo desajeitadamente para cinco rostos jovens. — Cair?
— Sim, quando você e sua amiga fazem aquela coisa do parque.
— Oh, parkour. Sim.
— Então você pode me ensinar como cair de uma rede do jeito certo? Para que eu pareça legal?
Eu não posso deixar de rir disso. — Eu sinto muito, Jack. Eu não sei se há alguma maneira de cair de uma rede que pareça legal.
— Viu? — Diz uma garota cujos olhos as pupilas são verticais como o cara que eu vi ontem quando cheguei aqui. — Uma ideia muito idiota.
— Ei, não seja uma bruxa, — diz outro menino.
Ela suspira. — Isso é muito mau.
— Você não pode falar sobre bruxas na frente de Jack, lembra? — Diz uma segunda garota.
— Tudo bem, — Jack diz a eles com um suspiro dramático. — É apenas minha mãe e meu pai e tia Calla que não gostam de falar sobre bruxas.
— Por que não? — Eu pergunto, imaginando que erro terrível eu cometi quando falei sobre Aurora e as bruxas hoje cedo.
— Elas mataram minha irmã, — diz Jack, com tanta naturalidade que a princípio eu me pergunto se ele está fazendo uma piada terrível. Mas as outras quatro crianças concordam, com expressões sérias.
— Isso é — oh meu Deus. Isso é horrível. Eu sinto muito, Jack.
— Sim. — Ele olha para baixo. — Eu não a conhecia. Aconteceu há muito tempo, muito antes de eu nascer.
— Oi, pessoal. — Calla sobe as escadas do pavilhão. — O que aconteceu antes de você nascer, Jack?
— Nada. — Ele lhe dá um enorme sorriso. — Nós vamos voltar para as redes. — Ele foge, seguido de perto por seus amigos.
— Tudo bem, então, — diz Calla, observando-os por um segundo. — Então. — Ela se vira para mim. — Pronta para ir?
Eu respiro fundo, tentando descobrir como respondê-la. Ela provavelmente não percebe que é uma pergunta carregada. — Sim, — eu digo eventualmente, apesar do fato de que duvido que eu me sinta pronta.
— Precisamos ir para fora do oásis, — diz ela. — E eu quero falar com Ryn rapidamente antes de irmos.
— Tudo bem. — Eu ando ao lado dela conforme deixamos o pavilhão para trás. — Há muitas pessoas morando aqui? — Eu pergunto, olhando para um casal de faeries andando de mãos dadas na outra direção.
— Sim, poucos. A maioria acaba indo embora se conseguimos ajudá-los a viver em segurança em outro lugar, mas há indivíduos e famílias que decidem ficar. Agora temos mais de cem fae que chamam esse lugar de lar.
— Todos Dotados Griffin?
— Nem todos, mas principalmente, sim.
— Tudo bem, aqui está uma coisa que eu não entendo: como há tantos fae que acabaram tendo Habilidades Griffin? Foi-me dito que começou com discos mágicos que alguém criou há muito tempo, mas não havia apenas seis deles? Eu sei que eles foram passados para várias pessoas, mas sério? Como esses discos ficaram nas mãos de tantas pessoas?
Calla puxa o cabelo dourado reluzente por cima do ombro. — Pode parecer muito, mas o número é pequeno em comparação com a população do nosso mundo.
— Tudo bem, claro, mas ainda assim. Todas essas pessoas a partir de seis discos de magia?
— Pense no fato de que esses discos estavam por aí há séculos. Eles concediam poder, o que significa que outros os cobiçavam, o que significa que eles foram frequentemente roubados. Acrescente isso ao fato de que dois Dotados Griffin podem passar magia Griffin para seus descendentes, e você acaba com ainda mais de nós.
— Eu suponho que quando você leva em conta o fato de que vocês vivem tanto tempo, faz mais sentido. Ainda estou com problemas para aceitar essa parte. Ou pelo menos, aplicar em mim mesma. Eu não posso imaginar ainda estar viva daqui a algumas centenas de anos. — E eu não posso imaginar como eu devo lidar com todos os meus amigos humanos e família envelhecendo e morrendo enquanto eu ainda pareço com vinte anos. — Jack é um Dotado Griffin? — Eu pergunto, forçando minha mente em uma direção menos deprimente.
— Não, graças a Deus. Se ele quiser sair daqui um dia e se juntar ao resto do mundo, ele poderá fazer isso sem ter que esconder uma habilidade secreta.
— Boa tarde, senhoritas.
Eu paro quando Dash acena e caminha na nossa direção. — Ugh, mesmo? — É tudo o que consigo dizer.
— Interessante ver você de volta aqui tão cedo, — comenta Calla. — A Guilda definitivamente não está trabalhando muito com você.
Ele encolhe os ombros. — Eles nos dizem para pegar leve no nosso primeiro ano.
— Eles não dizem isso. — Ela o olha com desconfiança. — O que você está realmente fazendo aqui?
— Eu estava atualizando Vi sobre algo mais cedo e ela mencionou que você está levando Em para ver sua mãe. Eu pensei —
— Você não vem, — digo a ele.
— Ei, eu pensei que vocês poderiam precisar de alguma proteção extra. Você se concentrará em sua mãe e Calla se concentrará em qualquer ilusão que esteja usando para esconder vocês. Você não acha que precisa de uma terceira pessoa para ficar de olho nas coisas? No caso de um médico ou outro guardião aparecer?
— Não.
— Na verdade, — diz Calla, — esse é um plano perfeitamente sensato. Mas eu ia pedir a Ryn para vir conosco.
— Ryn está com Vi no momento. Eu estava lá em cima, procurando por eles. — Ele acena para uma das árvores gigantes. — E todo mundo que é aprovado para missão está ocupado. — Ele sorri. — Parece que foi uma coisa boa eu ter aparecido.
Consigo evitar grunhir em voz alta. — Bem. Tanto faz. Apenas fique longe da minha mãe. Ela não precisa que você arruíne sua vida ainda mais.
Calla franze a testa, abre a boca, depois parece pensar melhor no que quer que ela vá dizer. — Está bem então. Vamos lá.
Uma vez que estamos no deserto, Calla abre um portal para os caminhos das fadas e me diz para focar com firmeza na imagem do lado de fora do hospital. Embora a escuridão completa me rodeie, eu fecho meus olhos de qualquer maneira, imaginando as altas paredes, o portão de segurança, a pequena placa discreta com o nome do hospital e os picos das montanhas ao longe.
— Muito bem, — diz Calla.
Abro os olhos e olho através de uma rua vazia exatamente igual a imagem que acabei de pensar. — Isso é incrível, — murmuro.
Dash levanta o capuz de sua jaqueta e a coloca sobre a cabeça. — O quê? — Ele pergunta quando eu dou a ele um olhar estranho. — Não quero que meu rosto apareça nas orbitas de vigilância da Guilda.
— Vigilância, o quê? E você vai ficar invisível, não vai?
— Invisível para as pessoas, sim. Não para grampos. Eu não sei se eles estão observando, mas é bom ter cuidado.
— Eu deveria saber o que você está falando? — Naquele momento, um tremor envia arrepios pelas minhas costas e pelo meu cabelo. — Oh — hum — você pode — Eu agarro o braço de Dash, no caso de minha habilidade ter alguma dúvida com quem eu estou falando. — Você pode abrir portais para os caminhos das fadas, — eu deixo escapar.
Dash olha para mim com os olhos arregalados. Calla parece igualmente assustada. — Bom, isso veio do nada, — diz ela.
Dash rapidamente pega uma stylus de dentro da jaqueta e se agacha. Ele escreve sobre o asfalto, murmurando aquelas palavras que eu ainda não consigo distinguir claramente. A escuridão aparece, espalhando-se rapidamente em um grande buraco que leva aos caminhos das fadas. — Sim! Finalmente! Obrigado, Em. — Ele se levanta e guarda sua stylus. — Agora vamos ter que arrumar um jeito de você consertar Jewel também.
— Isso foi muito legal, — diz Calla.
— Sim. Quando estou dizendo algo útil.
— Verdade. Tudo bem, vamos nos concentrar no hospital novamente. Você se lembra de alguma coisa sobre como é o interior?
— Sim, lembro da área de espera. Mas não me lembro onde é o quarto da mamãe. Já faz um tempo desde que eu estive aqui.
— Sem problema, — diz ela. — O cara que verificou as coisas para nós na noite passada disse que ela está no quarto vinte e seis. Tenho certeza de que podemos encontrá-la. Tudo o que você precisa fazer é imaginar a sala de espera para que possamos entrar com segurança. — Ela abre outro portal para os caminhos das fadas.
— Espere, — eu digo antes de entrarmos na escuridão. — Você tem certeza absoluta de que ficaremos invisíveis do outro lado?
— Sim. Estou me concentrando na invisibilidade. Você está se concentrando na sala de espera. Dash, você esvazie sua mente. — Ela dá a ele um meio sorriso. — Deve ser fácil.
— É por isso que estou aqui, certo? — Ele diz sem perder o ritmo. — Músculos e a mente vazia.
Eu balanço minha cabeça, prendo meus braços com os dois e ando para frente. Eu fecho meus olhos e vejo a sala de espera. As fileiras de cadeiras, o balcão de recepção, as pinturas abstratas confusas e os vasos altos de flores. Eu sinto o cheiro antes de ver: detergente e algo azedo. Como se alguém tivesse vomitado aqui recentemente.
Eu olho para baixo e, em vez de ver meu corpo, vejo o chão polido. Eu me agarro mais firmemente a Calla e Dash. — Tudo bem, — eu sussurro. Eu olho em volta, a lembrança da minha última visita voltando para mim. — Precisamos passar pela porta à direita. Aquela que parece requer um documento de identificação.
— Acho que precisaremos passar pelos caminhos novamente, — diz Calla.
Uma das mulheres atrás da mesa principal olha para cima, franzindo a testa em nossa direção. — Mova-se em silêncio, — Calla instrui, seu sussurro quase inaudível agora. Eu sinto um puxão me puxando para a esquerda. Calla nos leva ao redor de um canto para uma alcova com mais algumas cadeiras e uma janela para o jardim. Quando estamos fora de vista da mesa, de repente nos tornamos visíveis novamente. — Rapidamente, — diz ela, abrindo um portal. Nós nos apressamos para dentro. Momentos depois, estamos do outro lado da porta de segurança.
Nós seguimos pelo corredor, braços ainda presos, então não nos perdemos um do outro. A luz do sol brilha através das janelas, iluminando mais obras de arte coloridas. Os jardins em si, visíveis através das janelas, são bem cuidados. A partir daqui, posso ver um grupo de pacientes sentados no gramado em um círculo. Tranquil Hills é bonito e sereno, mas isso faz parte do que faz minha pele arrepiar sempre que estou aqui. É como uma cereja em cima de um bolo cheio de vermes rastejando por ele. Perfume pulverizado sobre o lixo apodrecendo. Nada pode esconder a verdadeira natureza deste lugar.
Passamos silenciosamente por uma área de estar aberta, onde as pessoas sentam-se em grupos de dois ou três em pequenas mesas jogando jogos de tabuleiro ou jogos de cartas. Eles são todos observados por enfermeiras ao redor da sala. É aqui que mamãe estava na primeira vez que fui visitá-la. Nós nos sentamos aqui juntas e jogamos Go Fish enquanto Chelsea esperava por mim na recepção, recusando-se a ver sua ‘irmã louca’. Um arrepio corre pela minha pele com a lembrança. — Tudo bem, Em? — Calla sussurra.
— Sim.
Entramos em outro corredor do outro lado da sala. Menos janelas e menos luz. Portas fechadas revestem o lado direito. — Tudo bem, aqui está o número vinte, — diz Calla. — Eu acho que devemos continuar e vamos encontrar o vinte e seis.
Meu coração acelera, batendo mais rápido a cada passo que damos. O nervosismo me deixa enjoada e tonta. Eu ainda não consigo acreditar que estou prestes a vê-la. — Lá está, — eu sussurro quando uma porta com um número vinte e seis aparece.
— Ainda não vi ninguém suspeito, — diz Dash. — Qualquer pessoa que eu reconheça da Guilda, quero dizer.
— Posso entrar? — Eu pergunto, parando do lado de fora da porta.
— Sim, — Calla diz me soltando. Do outro lado, Dash se afasta.
— Vamos ficar de olho aqui e nos certificar de que você pareça invisível para qualquer um que passar por aqui.
Eu engulo em seco. Se eu pudesse ver minha mão, provavelmente a encontraria tremendo. Eu me atrapalho por um momento com a maçaneta da porta — avaliando mal à distância e batendo na porta com meus dedos invisíveis — antes de encontrá-la e envolver minha mão em torno dela. Eu empurro para baixo, respiro fundo e, lentamente, abro a porta. Com muito medo de dar um passo à frente, eu olho para dentro.
O quarto está vazio.
Minha cabeça acelera quando a decepção e o alívio colidem. — Onde ela está?
Sinto um movimento ao meu lado e, em seguida, ouço a voz de Dash, — Talvez ela esteja comendo. Ou tendo algum tipo de hora do social. Ou uma pausa para o banheiro. Ela geralmente está restrita ao seu quarto, ou ela só volta aqui para dormir?
— Eu não sei. — Minhas palavras saem mais afiadas do que eu pretendia. — Eu não estive aqui há muito tempo.
— Temos que esperar, — diz Calla. — Está tudo bem. Eu estou projetando apenas uma ilusão agora, e é simples, então não é muito cansativo.
— Tudo bem. Obrigada. — Um deles bate em mim quando eu me movo para o lado, e depois de um momento de confusão, estamos todos encostados na parede ao lado da porta número vinte e seis. Não há nenhuma maneira que eu espere dentro daquele quarto sozinha. O corredor vai funcionar. Enquanto os segundos passam, minha ansiedade começa a aumentar novamente. Para cima e para cima, minhas entranhas se retorcendo mais e mais.
— Você não vai dizer nada a ela sobre a magia, não é? — Dash pergunta, eventualmente, quebrando o silêncio.
— Em primeiro lugar, — digo a ele, — você não pode me dizer o que devo falar com minha mãe. E em segundo lugar, não. Eu não sou tão idiota assim e dizer a ela que eu sou uma faerie com magia. Eu nem sei se vou dizer a ela que sei que ela não é minha verdadeira mãe. Há dezenas de coisas que eu quero dizer, e eu provavelmente não vou acabar dizendo nenhuma delas porque eu não quero assustá-la.
Como da última vez.
Ficamos quietos por um minuto ou dois enquanto alguém na companhia de uma enfermeira passa devagar por nós e entra em um dos outros quartos. A enfermeira sai logo depois.
— Vi me disse que faz muito tempo desde que você a viu, — diz Calla, uma vez que estamos sozinhos novamente. — Você provavelmente pode falar com ela sobre o que aconteceu em sua vida normal até alguns dias atrás. Coisas que você fez na escola. Atualizações sobre seus amigos.
— Todas as habilidades do parkour que você e Val aprenderam, — acrescenta Dash.
Val. Val, que provavelmente está confusa e irritada por eu ter fugido e a deixado para trás.
— Sim, talvez, — eu digo. — Mas também... bem, eu gostaria de conversar com ela sobre os bons velhos tempos. — Eu olho através da parede em branco à minha frente e imagino a mamãe como ela costumava ser, sorrindo e feliz. — Eu acho que ela gostaria de lembrar do nosso lindo jardim, da pequena casa em que morávamos e dos ornamentos que ela colecionava. Eu sempre imaginei levá-la de volta para lá um dia. Voltando à vida simples e feliz que costumávamos ter. Sempre parecia impossível, mas agora com magia... — Eu paro, voltando ao presente com um sobressalto e me lembrando de com quem eu estou: Dash, que não merece saber meus pensamentos particulares e desejos, e Calla, que provavelmente não aprovaria nenhuma das coisas que planejo fazer com minha magia quando souber como usá-la.
— Com a magia? — Ela incentiva.
— Nada. Espere, é... Oh, droga, eu acho que é ela. — Duas pessoas estão andando em nossa direção. Uma enfermeira e uma mulher com cabelo escuro e bagunçado, não tão alta quanto eu me lembro, e vestida com calças de moletom e uma camisa moletom. Meu ritmo cardíaco dispara e minhas emoções conflitantes aumentam. Eu acho que posso vomitar bem aqui. Mas eu consigo respirar enquanto mamãe se aproxima. É ela! Minha mente grita quando ela passa por mim e entra em seu quarto. É realmente, realmente ela! Ela está bem aqui, depois de tantos meses. Eu finalmente vou poder falar com ela, abraçá-la, deixá-la saber que eu penso nela todos os dias e que ela não terá que ficar aqui por muito mais tempo.
A enfermeira para na porta. — Apenas deite e tenho certeza que vai passar em breve, — diz ela para mamãe. Sua voz não tem sentimento, como se as palavras não significassem nada para ela. Ou, eu me pergunto brevemente, como se ela tivesse falado essas mesmas palavras centenas de vezes antes. — Você sabe que pode ligar para um de nós se começar a se sentir pior.
Mamãe lhe dá um sorriso distante e um aceno de cabeça.
A enfermeira fecha a porta e se afasta.
Eu dou outra respiração tremula antes de seguir em frente e segurar a maçaneta. Quando abro a porta, de repente fico visível novamente. Mamãe olha para cima. Ela pisca e franze a testa. Um sorriso se espalha rapidamente pelo meu rosto, transformando-se em uma risada. — Mãe. — Eu entro na sala —
— e um alarme começa a soar.
Capítulo 18
MAMÃE GRITA E ENGATINHA PARA TRÁS EM SUA CAMA. CALLA E DASH, visíveis agora, correm para dentro do quarto. Calla vai imediatamente em direção de uma parede e rabisca através dela. — Nós temos que ir, — ela me diz.
— O quê? Eu não estou —
— É um alarme da Guilda. Foi colocado para pegar você.
— Mas eu apenas... mamãe, tudo bem, sou eu. — Eu ignoro Calla e Dash e me aproximo da mamãe cautelosamente. — Tudo bem, mãe. Não se preocupe com o alarme. — Eu a alcanço, mas ela recua, batendo descontroladamente em minhas mãos. — Tudo bem, sou só eu, — eu digo desesperadamente. — É a Emmy. Sua filha. Eu vim para —
— Em, temos que ir. — Dash pega meu braço e me puxa para os caminhos das fadas.
— Não! — Eu solto meu braço. — Eu preciso pegá-la!
— O que? Não, não podemos levá-la conosco.
— Eu não vou embora sem ela!
— Você não pode levá-la através dos caminhos, Em! — Calla grita acima do alarme.
— Então saímos pela porta da frente com ela! — Eu grito de volta.
— E então o quê? Teríamos que encontrar um lugar seguro para ela neste mundo. Alguém que sabe como cuidar dela. E da medicação dela, o tratamento dela?
— A medicação faz com que ela fique pior! — Eu gesticulo para mamãe, agora se escondendo sob seus cobertores, enrolada e chorando, balançando-se para frente e para trás.
Movimento no corredor atrai meu olhar para longe. Dash estende a mão e a porta se fecha. Ele corre até ela e começa a desenhar grandes padrões brilhantes através dela. — Isso não vai segurá-los por muito tempo, — diz ele enquanto a porta estremece sob um ataque do outro lado.
— Em, nós vamos voltar por ela, — diz Calla com firmeza. — Eu prometo. Mas não vamos levá-la a lugar algum até que tenhamos um plano sólido. — Ela pega minha mão. — Dash, fique aqui e fique de olho. Certifique-se de que ninguém faça nada — na verdade, não. Você vai com a Em. Eu ficarei. Você não pode arriscar seu disfarce e eu posso me esconder mais facilmente.
— Entendi. — Dash pega meu braço enquanto Calla nos empurra para o buraco aberto que leva aos caminhos das fadas.
— Mãe. — A palavra é um meio sussurro, meio soluço quando eu dou uma última olhada por cima do meu ombro antes que a escuridão nos consuma. Eu tropeço através dela, Dash me puxando, até que uma luz laranja suave aparece à nossa frente. Eu inspiro o ar noturno do deserto que esfria rapidamente enquanto a areia se desloca sob meus pés. Eu me afasto de Dash.
— Em... — Ele estende a mão para mim, mas eu bato na mão dele.
— Não me toque. — Suas mãos caem para os lados enquanto eu envolvo a minha com força ao redor do meu corpo. Eu preciso me segurar.
Quietamente, Dash diz, — Ela não reconheceu você, ela não reconheceu.
Obrigada, Dash, quero gritar. OBRIGADA POR DIZER ISSO! Em vez disso, mordo meu lábio até as lágrimas recuarem. Não faz sentido gritar com ele. Ele não sabe sobre o nervo que ele atingiu. Ele não sabe que a última vez que visitei a mamãe, ela acabou se encolhendo no canto do quarto e gritando sobre a estranha — eu. Ele não sabe que várias enfermeiras tiveram que segurá-la enquanto eu saía do quarto em lágrimas, e ele não sabe o quão desesperadamente eu esperava que desta vez fosse diferente.
— Emerson —
— Não.
— Eu sinto muito por ter feito isso com você. — Seu tom é suplicante, e suas mãos estão apertadas juntas sob o queixo.
— O quê?
— Eu sinto muito! Ela está naquele hospital por minha causa. Eu sempre neguei, e alguma parte lógica e defensiva do meu cérebro ainda argumenta que ela teria sido internada em algum ponto de qualquer maneira, e que você não pode realmente me culpar, mas... você pode. Foi minha culpa. Naquele dia, naquele momento, ela ficou completamente no limite por minha causa. E... me desculpe.
Eu pisco, olho para a areia e de volta para ele. — O que você espera que eu diga sobre isso?
— Eu... eu não sei. Eu só precisava que você soubesse como eu sinto muito.
— Por quê? Não muda nada.
— Pode mudar o quanto você me odeia.
Eu sacudo minha cabeça. — Se liga, Dash. Isso não é sobre você. — Eu me viro, procurando o contorno fraco da cúpula. É quase invisível, mas consigo identificar. Eu começo a me arrastar pela areia, imaginando o mundo oculto dentro da cúpula. Vegetação exuberante, insetos cintilantes e o cheiro suave de flores. Uma cena pacífica contrastando fortemente com a memória sendo repetida de um quarto branco sem nada e mamãe gritando enquanto se afasta de mim.
De novo.
De novo.
De novo.
Eu franzo a testa e pisco e olho para longe, desesperada para afastar a imagem da minha mente. A tensão no meu peito diminui no momento em que passo através da camada mágica para dentro do oásis. Eu odeio estar feliz por estar de volta aqui. Parece uma traição com a mamãe. Eu não deveria aproveitar nenhum momento deste santuário enquanto ela está presa entre quatro paredes em branco. Presa dentro de sua própria mente.
— Em, espere, — Dash chama enquanto eu ando para longe dele. Eu viro, ainda caminhando para trás, querendo ficar sozinha agora.
— Nós vamos pegá-la, — diz ele. — Não pudemos fazer isso hoje, mas isso não significa que não vai acontecer. Nós vamos dar a ela uma vida melhor de alguma forma, eu prometo.
— Obrigada, — eu digo, — mas você não deve fazer promessas que não sabe como manter.
***
Eu não saio do meu quarto naquela noite para me juntar a ninguém no jantar, mas eu ouço Violet e Ryn do lado de fora da minha porta, falando baixinho um com o outro. Calla se junta a eles em algum momento. Eu pressiono meu ouvido contra a porta tempo suficiente para ouvi-la dizer que mamãe está bem e que os guardiões que estavam esperando por mim não fizeram nada com ela depois que eu saí. Então eu volto para a cama.
A Guilda sabe que eu estava lá. Eles provavelmente aumentarão o número de guardiões por perto, e se eu tentar visitar novamente, será ainda mais provável que eu seja pega. Não que eu tenha muita esperança de convencer Calla a me levar de volta. Ela e seus companheiros provavelmente estão se arrependendo de ter oferecido ajuda para mim. Eu poderia ter feito ela ser pega. Arruinado o disfarce do Dash. Talvez os três estejam lá fora tentando descobrir uma forma gentil de me dizer que não podem fazer mais nada pela minha mãe. E não é como se eu os culpasse. Eles não me devem nada. Eles provavelmente vão se esquecer de mim assim que a próxima pessoa desesperada chegar ao oásis.
O que é bom para mim, já que estou acostumada a cuidar das coisas sozinha.
Capítulo 19
A IMAGEM DA MÃE GRITANDO, COM UM TERROR SELVAGEM NOS OLHOS, É PRIMEIRA COISA QUE PASSA PELA MINHA MENTE na manhã seguinte. Eu faço um esforço consciente para me concentrar em outra coisa: Minha Habilidade Griffin. Eu preciso aprender como usá-la. A noite passada poderia ter sido tão diferente se eu tivesse conseguido acalmar minha mãe com apenas algumas palavras. Se eu tivesse sido capaz de dizer que o alarme mágico desligou. Eu preciso superar meu medo sobre coisas médicas e entregar uma amostra da minha magia. Eu preciso daquele elixir.
Mamãe. Acuada. Sua boca aberta em um grito silencioso.
Eu afasto a memória mais uma vez e me viro — e encontro Bandit aconchegado ao meu lado em forma de gatinho. Estou prestes a empurrá-lo para longe de mim, mas ele parece tão bonitinho enrolado com o nariz enfiado sob uma pata. E é estranhamente reconfortante perceber que não estive sozinha a noite toda. Eu estendo a mão e acaricio com dois dedos sua cabeça até as costas, esperando que ele não seja exatamente como o cachorrinho que fugiu.
Meu estômago ronca. Gostaria de saber se o convite para o café da manhã de Violet foi apenas para a manhã de ontem, ou se ele se estende por todas as manhãs enquanto eu estiver por aqui. Espero que o último, já que eu não tenho comida neste quarto. Eu me visto e verifico os números encantados na minha parede — eu estou mais atrasada do que ontem de manhã — antes de descer as escadas, arrasto uma mão contra o tronco da árvore para me firmar se eu tropeçar em um degrau irregular. Eu diminuo a velocidade antes de chegar à porta de Ryn e Violet. Está aberta, o que é um bom sinal, e os aromas celestiais flutuando pela porta fazem meu estômago roncar de novo, mas eu ainda não tenho certeza se sou bem-vinda aqui uma segunda vez. Especialmente depois de enlouquecer no hospital ontem e colocar Calla e Dash em risco.
Eu me aproximo um pouco e vejo Violet, Jack e Calla na mesa. Jack se endireita, pula da cadeira e corre em minha direção. — Eu sinto muito, Emerson! — Ele envolve seus braços em volta da minha cintura e aperta com força.
— Oh, hum, tudo bem. — Eu acaricio suas costas desajeitadamente. — Porque você está se desculpando?
— Eu não sei. Mamãe e papai estavam falando sobre você esta manhã e pareciam preocupados, e quando perguntei à mamãe qual era o problema, ela disse que você provavelmente só precisava de um grande abraço.
— Jack, — Violet repreende, levantando-se da cadeira e então ficando de pé, hesitante. Suas bochechas ficam vermelhas. — Você deveria perguntar antes de fazer coisas assim. Algumas pessoas não gostam de ser abraçadas por pessoas que não conhecem bem.
Confusão atravessa o rosto de Jack quando ele se afasta. — Mas Em me conhece. Nós andamos ao redor de todo o oásis juntos.
— Tudo bem, — eu digo apressadamente, me inclinando e o abraçando rapidamente, apesar da crescente estranheza. Eu prefiro manter meu espaço pessoal para mim mesma, mas eu não quero ferir os sentimentos de Jack.
— Você gostaria de se juntar a nós? — Pergunta Violet, apontando para a mesa e ainda parecendo um pouco envergonhada.
— Sim, obrigada. Eu não tinha certeza se, hum... — Eu coloco minhas mãos desajeitadamente nos bolsos de trás enquanto eu fico perto da mesa. — Bem, eu sei que você me convidou ontem, mas eu não tinha certeza se era apenas uma coisa no primeiro dia, como para todo mundo que é novo, ou —
— Oh, foi para todas as manhãs enquanto você estiver aqui, — diz ela com um sorriso, sentando-se novamente.
— Sim, nós não queremos que você passe fome lá em cima da árvore, —acrescenta Calla.
Eu puxo uma cadeira e me sento. — Você faz esse café da manhã maravilhoso todas as manhãs?
— Papai faz as panquecas na verdade, — Jack me diz antes de se servir de outra.
— E não, nós não fazemos esse tipo de café da manhã todas as manhãs, — diz Violet. — Apenas quando as coisas estão menos ocupadas e temos tempo, então nós fazemos.
Eu me sirvo de duas panquecas e alcanço uma pequena jarra do que parece ser mel, mas pode ser uma alternativa mágica exótica. Eu me preparo para a possibilidade de ter um gosto muito diferente. Ryn entra na casa quando eu termino de colocar sobre as minhas panquecas.
— Tudo bem, tudo está resolvido, — diz ele enquanto se junta a nós na mesa. — Em, vamos tirar sua mãe do hospital hoje, se estiver tudo bem para você.
— Eu — sim. Claro que está tudo por mim. — Faço uma pausa com um garfo e um pedaço de panqueca no ar na minha frente e balanço a cabeça, me dando um momento para receber as notícias. — Hoje? Já? Isso é incrível.
Ryn ri. — Sim, hoje.
— Quero dizer, eu sei que a Calla disse que voltaríamos para pegá-la, mas... eu imaginei que isso demoraria um pouco. Tenho certeza de que vocês têm muitas outras prioridades, e minha mãe é apenas... uma humana presa em um hospital.
Ryn abaixa a caneca que ele acabou de pegar e olha diretamente para mim. — Ela é sua mãe. Isso faz dela uma prioridade. E se ela está presa no hospital há anos, então claramente não estão fazendo nada para ajudá-la. Nós estávamos falando sobre tirá-la o mais rápido possível, e então Dash ligou ontem à noite para me dizer que tinha que ser hoje e que ele planeja ajudar. Então é hoje. Tudo foi planejado.
— Você sabe, eu estou seriamente começando a me perguntar se a Guilda em breve vai descobrir sobre Dash. Ele está passando mais tempo com casos para nós hoje em dia do que o trabalho que ele é pago para fazer.
— Não se preocupe com ele, — diz Violet, pegando um copo com algo verde. — Ele trabalha muito mais do que você pensa.
— Trabalha? — Calla bufa. — Você acha? Aquele garoto é muito relaxado. Ele provavelmente fica sentado e deixa sua equipe fazer todo o trabalho.
— Assim como ele faz com as mulheres, — diz Jack.
Violeta engasga com a bebida. — Como é? — Ela abaixa o copo. — Do que exatamente você está falando, rapaz?
— É o que ele disse para mim, — Jack diz a ela, seu tom defensivo. Então ele aprofunda sua voz, provavelmente em uma tentativa de se passar por Dash. — Eu apenas sento e as mulheres vêm correndo.
Violet pisca para Jack enquanto Calla começa a rir. Ryn tenta manter o sorriso longe de seu rosto enquanto ele limpa a garganta e diz, — Espero que você perceba, Jack, que esse não é o jeito de encontrar a garota certa.
Jack franze o rosto e pega outra panqueca. — Eu não estou procurando por nenhuma garota.
— Bom, — diz Violet enquanto eu mastigo e espero pacientemente por um momento para pedir mais detalhes sobre o plano de resgate da mamãe. — E quando você procurar, você vai descobrir que é preciso muito mais esforço do que apenas sentar e esperar. — Ela olha por cima da mesa para Ryn, sua carranca substituída por um pequeno sorriso.
Ryn pisca para ela. — Como as bundas brilhantes dos insetos no céu.
Violet estala os dedos e uma faísca bate no ombro de Ryn. — Não diga bunda, — ela sussurra.
— Mamãe e papai disseram bunda! — Jack grita alegremente.
Violet revira os olhos e Calla começa a rir de novo. Eu sorrio e espero o riso acabar antes de dizer, — Então, hum, qual é o plano para tirar minha mãe de Tranquil Hills?
— Certo, desculpe, — diz Ryn. Ele toma um gole da caneca e continua. — Calla e Dash vão para o hospital para pegá-la. Dash não tem uma Habilidade Griffin, então ele não vai disparar o alarme que a Guilda colocou em seu quarto. Ele precisará sedá-la para que ela não lute. Obviamente, não com magia, então ele vai usar algo à base de ervas que não contém elementos mágicos. Então eles usarão uma ilusão de invisibilidade e a levarão pelo prédio e pela porta principal.
— E a porta que requer um crachá de identificação? — Pergunto.
— Eles vão esperar que alguém passe por ela e seguir antes que a porta se feche. A mesma coisa com o portão principal. Vi e eu estaremos esperando por eles do lado de fora, principalmente como reforço caso algo dê errado. Então, como não podemos levar sua mãe pelos caminhos, precisamos ir até uma das aberturas naturais entre esse mundo e o outro mundo.
— Vocês sabem dirigir? — Eu pergunto, a duvida muito evidente em minha voz.
— Não, mas um dos nossos contatos na Guilda tem uma irmã - uma halfling sem mágica - que sempre viveu no outro mundo. Ela concordou em dirigir para nós. Então, vamos encontrá-la no hospital, e calculamos que levará cerca de cinco dias para chegar à abertura mais próxima.
— Cinco dias? Certamente você não pode mantê-la sedada o tempo todo?
— Não. Eu presumi que você gostaria de viajar no carro com ela. Quando ela acordar, você pode explicar tudo para ela, para que ela não entre em pânico.
Hesito, sem querer ter que explicar o que aconteceu na noite passada. O fato de que minha mãe não me reconheceu.
— Eu sei, — diz ele suavemente. — Calla me contou o que aconteceu. Você está preocupada dela ainda não te reconhecer. Mas esperávamos que fosse o estresse do alarme soando e duas outras pessoas desconhecidas em seu quarto. Esperamos que seja mais fácil quando ela estiver longe do hospital.
— Ela... — Eu engulo e passo minha mão pelo meu cabelo. — Ela não me reconheceu da última vez também. Quando eu fui lá há quase um ano. Eu esperava que a noite passada fosse diferente, mas foi muito ruim também.
— Talvez algo em seu remédio a confunda, — diz Calla. — Você mesma disse que a medicação a deixa pior.
— É só que depois que ela se mudou para lá, ela sempre parecia um pouco... aérea. Nós jogamos um jogo de cartas na primeira vez que eu visitei, e as respostas dela foram tão lentas.
— Bem, veremos o que fazer, — diz Ryn. — Dois de nós sempre estaremos com você no carro. Não necessariamente Vi ou Calla ou eu, mas duas pessoas da equipe. Possivelmente pessoas que você ainda não conhece, mas são todas cem por cento confiáveis. Trocaremos a cada poucas horas durante os cinco dias. Se sua mãe entrar em pânico, alguém estará lá para ajudá-la a acalmá-la.
— E quando chegarmos a este mundo? Então o quê?
— Há um instituto de cura para o qual planejamos levá-la para lá. White Cedars. É privado, não tem nada a ver com a Guilda. Já enviamos pessoas para lá antes, e a Guilda nunca soube nada sobre isso. Espero que alguém possa descobrir se é possível ajudar sua mãe.
Eu me inclino para frente. — Você acha que há uma chance? Dash disse que não podemos usar magia nela porque ela é humana. Ele estava errado?
— Ele não está, mas nossos curandeiros nem sempre trabalham com magia. Não conheço os métodos deles detalhadamente, mas podemos pedir que eles tentem. Nada no seu mundo funcionou até agora.
Eu aceno vigorosamente. — Sim. Concordo. Obrigada.
— Certo. Vamos aproveitar as panquecas agora antes que fiquem muito frias?
— Eu comi três, — anuncia Jack.
— Porquinho, — diz Calla.
Eu corto minha segunda panqueca - e do nada, aquele formigamento com o qual estou me familiarizando corre pela minha espinha, pelo meu cabelo e até as pontas dos meus dedos. Eu penso em algo inofensivo para dizer, para testar, e deixo escapar, — Passe o mel.
Há um segundo de silêncio e, em seguida, quatro mãos se estendem simultaneamente, batendo umas nas outras e derrubando o jarro de mel. Juntos, em uma bagunça pegajosa e desajeitada, os quatro deslizam o jarro caído sobre a mesa para ficar em frente ao meu prato.
Calla é a primeira a afastar a mão dela. — O que é que foi isso? Era sua Habilidade Griffin?
— Uau, isso foi estranho, — diz Violet, puxando a mão.
— Mãe, o que está acontecendo? O que acabou de acontecer? — Jack levanta a mão pegajosa na frente do rosto. Violet pega um pano e passa para ele.
— Eu sinto muito, — eu digo em voz baixa. — De repente senti que estava chegando e queria testar, e tentei pensar em algo bobo e seguro. Eu não achei que iria fazer uma bagunça.
— Tudo bem, — Violet diz. — Não é grande coisa.
Eu olho para Ryn, porque ele é o único que ainda não disse nada. — Você acha que é grande coisa, não é?
— Não é a bagunça, — diz ele. — É a Habilidade Griffin. O poder de fazer outras pessoas fazerem as coisas com um simples comando. Isso é muito importante.
— Sim. Eu sei. — Usando meu garfo, eu empurro um pedaço de panqueca em volta do meu prato, não mais interessada em comê-la. Eu meio que espero que Ryn me diga aquela frase clichê sobre grande poder e grande responsabilidade, mas ele não faz isso, o que me faz gostar dele um pouco mais. — Então, eu provavelmente deveria ir ao laboratório que você mencionou e entregar uma amostra da minha magia.
— Vou levar você depois do café da manhã, — diz Violet. Então ela explica brevemente minha Habilidade Griffin para Jack — Isso é tão legal! — É a resposta dele — e a atmosfera ao redor da mesa lentamente retorna ao normal depois disso.
— Eu preciso terminar algumas coisas antes de irmos, — diz Ryn, levantando. Ele limpa alguns itens da mesa e conjura um feitiço para limpar a pia. — Estarei na montanha se você precisar de mim. Caso contrário, nos encontraremos na base da árvore às onze horas. — Ele olha para Violet, Calla e depois para mim.
— Claro, — eu digo. Não é como se minha agenda estivesse cheia.
— Oh, oi. — Ryn pára para cumprimentar alguém na porta. — Eu não sabia que você estava de volta. Como foi?
— Tio Chase! — Grita Jack.
Calla empurra a cadeira para trás imediatamente e corre para a porta. O homem de pé a puxa para um abraço. — Oh, você sabe como é, — diz ele para Ryn por cima do ombro dela. — As coisas ficaram um pouco complicadas, mas tudo deu certo no final.
— Ótimo. Ansioso para ouvir mais sobre isso. Eu preciso ir para a montanha agora, mas Calla pode te contar o que está acontecendo hoje. — Quando ele sai, o homem na porta dá um beijo rápido em Calla e diz algo em uma voz muito baixa que o resto de nós não consegue escutar.
Ela balança a cabeça, então se vira e gesticula para mim. — Esta é Emerson. Em, este é o Chase. — Eu ando um pouco mais para perto quando ela me apresenta. — Lembra da garota que Dash estava de olho para a Guilda? Sua magia finalmente se libertou e ela acabou sendo uma Dotada Griffin.
— Bem vinda ao clube, — diz Chase, estendendo a mão com um braço tatuado para apertar minha mão. Ele faz uma pausa, apertando minha mão por um momento longo demais enquanto seus olhos passam rapidamente pela sala antes de voltar para mim.
— O quê? — Eu puxo minha mão rapidamente. — Por favor, não me diga que você pode ler mentes ou algo assim, porque eu não tenho certeza se posso lidar com isso. Ter alguém sentindo todas as minhas emoções já é bastante estranho.
Sua expressão relaxa em um sorriso. — Não. Nada a ver com mentes. Eu tenho um talento especial para controlar o clima.
— Mesmo? Isso é estranho.
— É útil às vezes. Qual é o seu?
— Eu digo as coisas e elas acontecem.
— Ela disse a terra para se abrir e abriu, — acrescenta Calla.
Chase arqueia a sobrancelha. — Impressionante. Você deve estar no topo da lista dos mais procurados da Guilda agora.
Eu concordo. — Sim.
— Tudo bem, precisamos ir ao laboratório, — diz Violet. Ela corre a mão pelo ar, passando pela mesa, depois abaixa enquanto os pratos restantes voam para a pia. — Jack, por favor, seque os pratos quando o feitiço terminar de lavá-los, e tenha certeza de que você estará pronto para a escola quando eu voltar.
— Aah, mamãe, mas eu queria apresentar Em ao Filigree. Ela ainda não o conheceu.
— Em precisa vir comigo, e Filigree está sendo um velho e mal-humorado preguiçoso agora. Não é a melhor hora.
Com uma expressão abatida, Jack caminha até a pia e pega um pano de prato. — Aqui, eu vou ajudá-lo, — diz Calla. — Não seja mal-humorado como Filigree.
Quando Violet e eu saímos e descemos as escadas, eu pergunto, — Existe uma montanha em algum lugar dentro dessa cúpula que eu ainda não vi?
— Uma montanha? Não. Por que — Oh. — Ela ri. — Por causa do que Ryn disse ao sair. Não, é como chamamos o prédio que tem as salas nas quais nos reunimos para planejar e discutir missões e visões dos Videntes e tudo mais. O laboratório também está lá. Chase costumava comandar as coisas de uma montanha, quando Ryn e eu ainda estávamos na Guilda. Então todos nós acabamos aqui, e algumas das pessoas com quem ele trabalhou anteriormente começaram a chamar esse prédio de montanha. É bobo, eu sei, mas o nome pegou.
Eu estendo minha mão e a corro ao longo da árvore enquanto descemos. — É bobo, mas é uma história interessante, pelo menos. — Passamos por uma pessoa com pele esverdeada com escamas subindo as escadas, e Violet me apresenta rapidamente antes de continuarmos. Na base da árvore, coloco minhas mãos nos bolsos de trás. — Posso perguntar algo sério?
— Sim, claro.
É um assunto estranho, mas menos estranho - esperançosamente - do que se eu tivesse perguntado na mesa do café da manhã. — Hum, como eu pago a minha estadia aqui?
Seu sorriso fica confuso. — Pagar a sua estadia? Você não precisa pagar sua estadia, Em.
— Mas, quero dizer, nada na vida é de graça, certo? Tudo custa alguma coisa. Então, se eu não estou contribuindo, então como isso funciona?
Ela sacode a cabeça. — Não se preocupe com isso. Nós temos clientes que pagam. Eles nos ajudam a manter as coisas funcionando.
— Mesmo? É isso? Eu não tenho que pagar nada?
— Não, nada, — diz ela com uma risada. — Se você decidir ficar aqui, podemos encontrar uma maneira de você contribuir. Se você acabar indo embora, então considere tudo isso um presente. De qualquer forma, você não precisa se preocupar com isso agora.
Ficar aqui... com a mamãe. Não desejei isso no momento em que entrei pela primeira vez no oásis? Eu afasto o pensamento rapidamente, não querendo de alguma forma azarar a possibilidade.
— Posso te perguntar uma coisa agora? — Ela diz.
— Sim, tudo bem.
— O que há entre você e Dash?
Minhas defesas internas sobem imediatamente. — O que você quer dizer?
— Bem, ele tem falado sobre você há anos — essa garota não tão humana que ele está vigiando para a Guilda - mas ele não mencionou que você... não gosta dele? Odeia ele? Guarda rancor contra ele?
— Posso assinalar todos os itens acima?
Ela ri. — Que interessante. A maioria das garotas parece cair sobre ele tentando chamar sua atenção.
— Já reparei. E eu nunca entendi o porquê.
— Então, que coisa imperdoável ele fez para você?
Eu olho para ela. — Você disse que ele falou de mim. Ele não contou o que aconteceu com a minha mãe?
Ela acena com a cabeça. — Ele salvou a vida dela, não é?
— Salvou? Mais como arruinou.
Surpresa aparece em sua expressão. — Oh. O que aconteceu?
— Bem, é por causa dele que minha mãe foi levada para um hospital psiquiátrico.
Ainda parecendo completamente perdida, ela diz, — Hum... como?
Eu levanto meus olhos para as copas das árvores e solto um som frustrado. — Tudo bem. Dash, obviamente, nunca lhe contou toda a história, então aqui está.
Capítulo 20
— EU TINHA DOZE, QUASE TREZE, — DIGO A ELA. — UM DOS MEUS AMIGOS TEVE UMA FESTA DE ANIVERSÁRIO no parque. Mamãe estava bem por um tempo. Ela tinha episódios às vezes, mas pelo menos todos eles aconteceram quando ela estava em casa. Ninguém sabia sobre eles. De qualquer forma, a festa estava indo bem. Eu estava feliz, mamãe estava interagindo com as pessoas.
— Então Dash apareceu do nada. Eu nunca o tinha visto antes. Não sabia quem ele era. E de repente ele começou a correr em nossa direção sem nenhum motivo, lançou-se sobre a mesa e caiu diretamente sobre a mamãe. Eu estava perto dela e ele conseguiu nos derrubar ao mesmo tempo. Eu levantei e comecei a gritar com ele. É quando a mamãe perdeu a cabeça. — Eu envolvo meus braços em volta de mim e me concentro no rio enquanto caminhamos ao lado dele. — Eu percebo agora que ela não podia vê-lo. Que ela pensou que eu estava gritando com o nada. Ou talvez ela tenha visto algo que eu não vi. Uma das pessoas imaginárias sempre queria pegá-la. Talvez seja com essas pessoas que ela pensou que eu estava gritando, eu não sei. De qualquer forma, ela acabou completamente em pânico. Ela estava encolhida no chão, soluçando e balançando-se, lamentando-se sobre alguém vindo pegar ela e sua filha. Todos no parque estavam observando ela e eu. Dash havia de alguma forma desaparecido até então.
— Alguns dos outros adultos do parque tentaram ajudá-la. Tentei descobrir o que estava acontecendo. Mas ela gritou para eles fugirem. Para parar de tentar machucá-la. E então ela começou a se coçar, tentando tirar algo invisível de sua pele. Alguém deve ter chamado uma ambulância, porque a próxima coisa que eu lembro, os paramédicos estavam a amarrando em uma maca — eu acho que para impedi-la de se machucar — e a levando embora. Eu fui autorizada a voltar na ambulância com ela, e essa foi a última vez que vi meus amigos. Ainda me lembro dos olhares em seus rostos pouco antes de as portas da ambulância se fecharem. O medo, a confusão. Os sussurros uns com os outros.
— Eu fui viver com a Chelsea depois disso, e ao contrário dos episódios anteriores, a minha mãe nunca melhorou. Era como se o incidente no parque fosse o gatilho que a deixou no limite completamente. Eu não sei. Talvez isso tivesse acontecido de qualquer maneira por causa de outra coisa, ou talvez ela teria permanecido a mesma se não houvesse o incidente naquele dia.
— Então vi Dash alguns meses depois em Stanmeade. Eu pensei que era uma coincidência cruel que acabamos vivendo na mesma parte ruim do mundo. Eu não tinha ideia, obviamente, que ele estava lá por causa de alguma missão mágica, ou que ele mais tarde ficou por lá porque estava de olho em mim. Tudo que eu sabia era que eu o odiava por arruinar a minha vida e a vida da minha mãe. Poderia ter sido tão diferente se não fosse pelo que aconteceu no parque.
Violet toca meu ombro e percebo que paramos ao lado do rio. — Eu sinto muito. Deve ter sido traumatizante ver sua mãe assim.
Eu aceno devagar, respirando profundamente e exalando todas as memórias. Pelo menos, é o que estou tentando fazer. Não parece estar funcionando.
— Mas Dash não lhe contou por que ele estava no parque naquele dia? — Ela pergunta. — Eu sei que ele não poderia dizer, contanto que você não soubesse nada sobre magia e nosso mundo, mas ele disse a você nos últimos dias?
— Algo sobre uma missão? Uma missão em grupo, eu acho. Ele não me deu detalhes.
— Ele e alguns de seus colegas aprendizes estavam lá porque um Vidente teve uma visão daquele parque. Uma visão de vários trolls correndo e ferindo as pessoas. Os humanos não teriam sido capazes de ver os trolls, é claro, então eu suponho que teria aparecido como um terremoto, com as pessoas caindo e se machucando. A missão foi dada a um grupo do primeiro ano e seu mentor, porque a Guilda não achava que isso fosse uma ameaça séria. Os aprendizes deveriam afastar os trolls. Eles quase conseguiram, mas um fugiu. Dash o viu indo em direção da sua mãe. Se você não se lembra de vê-lo, então talvez estivesse atrás de você. De qualquer forma, Dash derrubou você e sua mãe, e o mentor perseguiu o troll que fugiu. Então você se levantou e confrontou Dash, que estava tão chocado que você poderia realmente vê-lo que ele não conseguia pensar em uma explicação. — Ela ri. — Eu me lembro dele nos contando em detalhes. Ele disse que foi a missão mais emocionante que ele tinha tido até então.
Eu demoro alguns instantes para absorver essa informação antes de responder. — Então... você está dizendo... que ele na verdade salvou minha mãe? — Este é um conceito difícil para o meu cérebro entender, já que passei anos culpando Dash por colocar minha mãe em uma instituição para doentes mentais.
— Sim. Quero dizer, ela teria sido gravemente ferida de outra forma, ou pior. Humanos foram mortos por trolls antes. Então é bom que ele a tenha tirado do meio do caminho. O que aconteceu depois, porém, foi horrível. Eu não estou tentando diminuir isso de qualquer maneira.
Eu balanço minha cabeça lentamente. — Não. Eu sei. — Eu cruzo meus braços, em seguida, os coloco de lado e, em seguida, começo a andar ao longo da margem, enquanto confusão e frustração giram ao redor um do outro. — Por que ele não me contou isso?
— Não tenho certeza.
— Ugh, agora eu tenho que agradecer ele. Como eu devo fazer isso?
— Uh... eu não sei.
Eu paro, eu bufo e digo, — Desculpe, vamos continuar andando. Eu sei que deveríamos estar no laboratório agora.
— Sim, tudo bem. — Continuamos andando e, eventualmente, Violet diz, — Obrigada por me dizer o que aconteceu. Eu sei que não pode ter sido fácil.
Eu aceno. Então, como eu ainda não deixei minha frustração para trás, eu deixo escapar — O que tem nele que faz tantas mulheres bajulá-lo? Quero dizer com certeza, ele é bonito, mas isso não o impede de ser um grande idiota na maior parte do tempo. E sim, eu sei que ele é um idiota que salvou minha mãe, mas ele ainda é um idiota.
Uma gargalhada-bufo escapa dela. — Idiota?
— Sim.
Ela suspira. — Se você o odiava, você nunca teve a chance de ver o lado dele que todo mundo vê.
— Qual é?
— Ele é simpático e charmoso, e ele tem um jeito de prestar atenção às pessoas e demonstrar interesse em suas vidas que as faz se sentir... especial, suponho. É apenas parte de sua personalidade, mas algumas garotas leem muito sobre isso. Elas gostam quando um cara bonito presta atenção nelas — mesmo que ele seja alguns anos mais novo, o que, você logo descobrirá, não significa muito quando você vive por séculos — e elas acabam querendo mais do que Dash jamais pretendeu dar.
— Tudo bem, tudo o que eu ouço é que ele usa seu charme para manipular as pessoas, e então ele age como se não tivesse ideia do que está acontecendo quando querem mais dele.
Violet sorri e balança a cabeça. — Eu o conheço desde que ele nasceu, então provavelmente sou tendenciosa a seguir outra direção, mas tenho certeza que ele não é manipulador. Eu vejo que ele é respeitoso com seus pais, que ele é honesto, que trabalha duro quando acha que ninguém está observando. Ela revira os olhos. — Com certeza, ele pode se achar um pouco de mais, mas no geral, ele é um cara legal. Ele genuinamente se importa com as pessoas. Ele gosta de deixá-las à vontade, fazê-las rir. E é por isso que elas acabam gostando dele e aproveitando sua companhia.
— Bem, você está certa que eu não vi esse lado dele.
Violet me direciona para uma ponte. — Talvez você tenha a chance de ver esse lado dele agora.
Eu quase digo, eu certamente espero que não, mas percebo que isso soa um pouco negativo demais. Atravessamos o rio e seguimos para um grande edifício do outro lado. Parece o tipo de casa comum que se vê em um bairro legal no mundo humano. Subimos as escadas e entramos na varanda, e Violet abre a porta. O primeiro aposento por onde passamos é ocupado principalmente por uma mesa retangular e cadeiras, mas a larga janela panorâmica e as plantas espalhadas pelo peitoril da janela proporcionam uma sensação mais acolhedora do que uma sala de reunião deveria transmitir. As outras portas que passamos estão fechadas — lembro de Jack dizendo algo sobre áreas fora dos limites — até chegarmos ao fim da passagem, onde a última porta está entreaberta.
Violet a abre e gesticula para eu entrar. Meu primeiro pensamento é sobre os laboratórios da escola, mas esta é uma versão muito mais interessante. Os balcões em torno do limite da sala estão cobertos de frascos com líquidos coloridos e ingredientes de formas estranhas, equipamentos de laboratório como tubos de ensaio, béqueres e bicos de bunsen, todos intercalados com engrenagens, alavancas, tubos e aparelhos espalhados que não reconheço. As três bancadas paralelas no centro da sala estão ligeiramente mais limpas, com chamas, copos borbulhantes e béqueres fumegantes indicando experiências ao vivo em andamento. Exceto que provavelmente não são experimentos, agora que penso nisso. São provavelmente... poções?
— Oh, oi, — Uma mulher vem deslizando em nossa direção em uma cadeira de rodas. Exceto que não é uma cadeira de rodas, percebo quando ela para em nossa frente. A cadeira não tem pernas, e está flutuando no ar. A mulher, que tem orelhas pontudas e um interessante penteado de tranças finas enroladas em cima da cabeça, se levanta e coloca as mãos nos quadris. — Você é a Emerson, certo?
— Sim. Hum, eu devo te dar uma amostra da minha magia?
— Sim, para o elixir da Habilidade Griffin.
— Esta é Ana, a propósito, — acrescenta Violet.
— Certo, sim. Eu sou a Ana. — Ela caminha até uma das prateleiras e remove uma esfera de vidro vazia. — É bem simples, — ela diz, virando para mim. — Segure a orbita em suas mãos, eu vou recitar o encantamento, e no final dele, um pouco da sua magia terá sido tirada de você e para dentro da orbita.
— Dói? — Eu pergunto.
— Não, mas você vai sentir uma espécie de puxão. O importante é não resistir.
Eu concordo. — Tudo bem.
— Apenas relaxe. Sério, isso não é grande coisa. Feche os olhos e relaxe.
Eu faço o que ela sugeriu, bloqueando os béqueres e aparelhos e a bola de vidro em minhas mãos. As palavras que ela começa a cantarolar são estranhas, então não tenho ideia do que ela está dizendo. Enquanto ela lentamente as repete, começo a sentir o puxão de que ela falou. Um puxão estranho e lento na região do meu peito. Eu tento não resistir. Eu acho que posso estar me inclinando para frente um pouco.
— Tudo bem, acabou, — diz Ana.
Eu me endireito e abro meus olhos. A orbita está cheia da mesma massa cintilante e brilhante que apareceu em minhas mãos quando Azzy me ensinou como acessar minha magia. — Legal, — murmuro.
— Eu devo terminar de fazer o elixir amanhã, — diz Ana, pegando a orbita de mim. — Então, qual é a sua Habilidade Griffin?
Eu pego meu cabelo na parte de trás, torço e o coloco sobre meu ombro. — Às vezes, quando digo alguma coisa, acontece realmente. Se eu lhe dissesse para soltar a bola de vidro no chão, você não teria escolha a não ser fazer isso. E se eu dissesse ao rio para secar... bem, acho que secaria.
Os olhos de Ana se arregalam. Ela balança a cabeça lentamente. — Legal. Isso é demais.
— Sim. Eu descobri isso. Agora eu preciso saber como controlá-lo, então não vou ser um perigo para todos. Honestamente, eu ficaria feliz se vocês conseguissem se livrar disso. — Eu franzo a testa. — Isso não é uma opção, é?
O olhar de Ana dispara para Violet por um momento antes de voltar para mim. — Costumava ser, mas Gaius não está mais bem. A Habilidade Griffin dele é poder remover e transferir habilidades de outros. Ele fez isso muitas vezes, para aqueles que não queriam ser Dotados Griffin. E lentamente, ele começou a ficar doente. — Ela se move para o outro lado da sala e coloca a orbita de vidro em uma caixa. — Ele não conectava a sua Habilidade Griffin até alguns anos atrás, — ela continua, caminhando de volta para nós. — Ele começou a perceber que cada vez que ele removia outra, isso o deixava mais doente. Ele está muito fraco agora. Não sai frequentemente da casa dele. Este laboratório — todas as invenções e poções — costumava ser dele. — Os olhos dela deslizam pelos balcões e prateleiras. — Ele me ensinou tudo.
— E estamos muito gratos por você ter se esforçado, — diz Violet.
— Sim, Sim. Tudo bem, vão embora agora. Vocês continuam me dando muita coisa para fazer. — Ela volta para a cadeira e se afasta.
— Obrigada, Ana, — Violet fala atrás dela.
No caminho de volta para a árvore, falamos sobre que tipo de lições eu preciso ter para aprender toda a magia comum sobre a qual ainda não sei nada. Eu brinco que talvez eu não precise aprender nada, se eu puder usar minha Habilidade Griffin corretamente. E então eu me pergunto, enquanto Violet continua falando sobre um plano para minha educação mágica, se pode haver alguma verdade na minha piada. Se eu puder fazer as coisas acontecerem com um simples comando verbal, isso não seria o suficiente?
Quando voltamos para a base da árvore, Calla e Ryn já estão esperando por nós. — Pronta para a missão de resgate?
Capítulo 21
— TUDO BEM, ISSO É BASTANTE SIMPLES, — RYN DIZ PARA OS CINCO DE NÓS ESCONDIDOS entre as árvores a uma boa distância da entrada do Hospital Psiquiátrico Tranquil Hills. — Vamos esperar até que Perry e sua irmã cheguem aqui. Em, você vai ficar com eles. Calla e Dash vão para o hospital, e Vi e eu vamos esperar do lado de fora perto da entrada. Se algo der errado e vocês forem seguidos pelos guardiões, estaremos prontos para lutar. Isso não deve acontecer, já que vocês estarão invisíveis.
— Ela está no seu quarto agora? — Calla pergunta.
Ryn produz algo que parece um pequeno espelho redondo. — Sim. Ainda no quarto dela.
— O que é isso? — Eu pergunto, me inclinando para mais perto.
— Eu deixei uma aranha no quarto dela ontem, — diz Calla. — Não é uma aranha de verdade, — ela acrescenta rapidamente. — É um pequeno dispositivo encantado de vigilância. Não parecia que os guardiões fariam qualquer coisa com sua mãe quando eu parti ontem, mas achei que deveríamos ficar de olho nela de qualquer maneira.
— A Guilda provavelmente tem algumas deles lá, — diz Dash, — além do detector de Habilidade Griffin.
— De qualquer forma, a aranha está ligada ao espelho, — diz Calla, me entregando para que eu possa dar uma olhada mais de perto. — Então, quando o feitiço está ligado, podemos ver o quarto da sua mãe.
Um choque me percorre quando olho para mamãe sentada em sua cama, folheando uma revista. Ela parece tão normal. Tão completamente diferente de ontem. Sua cabeça vira de repente, seu olhar direcionado para o outro lado do quarto para a porta. Ela não abre, no entanto. Ela olha para ela por um tempo, abraçando a revista no peito. Então seus lábios se movem, dizendo algo que não podemos ouvir, antes dela voltar a ler a revista.
No silêncio constrangedor que se segue, entrego o espelho de volta a Ryn, depois me viro para Dash. — Por favor, não a assuste.
— Eu não vou, eu prometo. Ela não vai me ver.
— Como você vai sedá-la?
— Calla vai me fazer aparecer como uma das enfermeiras, e eu vou levar para ela uma bebida.
— E se isso não funcionar?
Ele coloca o capuz sobre a cabeça. — Então, vamos pensar em outra maneira. Não se preocupe, Em. Tudo vai ficar bem.
Ao som de um carro desacelerando na estrada, me viro e espio através das árvores. — São eles?
O carro para. Ryn levanta a mão para nós ficarmos quietos quando a porta do passageiro da frente se abre e um cara alto de cabelos verdes sai. — Sim, é o Perry. E deve ser a Hannah, — acrescenta ele quando uma mulher sai do outro lado do carro. Nós caminhamos em direção a eles, e Perry acena quando aparecemos. As apresentações são rápidas, então Calla diz, — Certo, vamos fazer isso.
— Tudo bem, Vi e eu estaremos esperando perto da entrada, — diz Ryn, levantando o âmbar e olhando para ele. Ele franze a testa.
— O que é? — Vi pergunta.
— Mensagem da Azzy. A garota que tentou ajudar Em, Aurora, desapareceu da Chevalier House está manhã. Azzy assumiu que ela fugiu.
— Não é nenhuma surpresa, — eu digo. — Aurora falou sobre fugir na noite em que ela chegou lá. Ela queria que eu fosse com ela.
— Interessante. — Ryn coloca o âmbar no bolso. — De qualquer forma, podemos nos perguntar sobre isso depois. Vamos agir.
Calla e Dash desaparecem por um portal, então Ryn e Vi atravessam outro para esperar perto da estrada do hospital. Perry lhes manda uma despedida alegre e depois se vira para mim com interesse. — Então. Você é a Em.
— Sim. Sou eu. Você pode ter me visto quando um monte de guardiões me perseguiu através do saguão da Guilda.
— Eu perdi isso, infelizmente, mas eu ouvi tudo sobre a sua magnífica Habilidade Griffin.
— Magnífica, hein? Bem, eu ofereceria fazer uma demonstração, mas eu não sei como. Essa coisa parece ligar e desligar sozinha.
— Provavelmente é melhor não tentar, — Hannah diz, colocando as mãos no teto do carro e descansando o queixo sobre elas. — As coisas podem ficar assustadoras.
Eu me inclino contra o carro e a encaro. — Então você cresceu sabendo sobre magia, mas você não tem magia?
— Sim. Meio o oposto da sua experiência.
— Eu costumava visitá-la e mostrar a ela todos os feitiços que aprendi, — diz Perry.
— E eu mostrava meu computador, a internet e os melhores programas da TV. Era divertido.
Conversamos um pouco sobre suas respectivas infâncias, mas nada pode me distrair do fato de que o tempo está passando e Calla e Dash ainda não retornaram. — Você acha que está tudo bem? — Eu deixo escapar, interrompendo Perry no meio de uma descrição de sua primeira vez usando um controle remoto de uma televisão. — Eles estão demorando um pouco. Eu pensei que eles já teriam saído agora.
— Tenho certeza de que tudo está bem, — diz ele. — E se não estivesse, Vi e Ryn teriam ido para ajudá-los.
Eu empurro meu cabelo para trás, então começo a enrolar um pouco ao redor do meu dedo. — Eu odeio isso. Apenas... esperar e sem saber.
— Você quer jogar um jogo? — Perry pergunta. — Eu tenho certeza que podemos chegar a —
— Espere. Eu ouço algo. — Algo como pés batendo no asfalto. Eu ando pela estrada e tento ver mais adiante a colina além da curva. Até agora, ninguém apareceu. Eu definitivamente posso ouvi-los, no entanto. Eu aperto minhas mãos e pressiono-as contra o meu queixo enquanto prendo a respiração, mal piscando.
Então eu os vejo. Todos os quatro correndo, Ryn e Dash facilmente carregando mamãe entre eles. Eu subo a colina para encontrá-los. — Sim, vidro, — Calla ofega quando eu chego a eles. — Ou cristal, eu não sei.
— Mas quem diabos era? — Pergunta Violet.
— Eu não sei!
— Mamãe está bem? — Eu pergunto, correndo mais rápido agora para acompanhá-los.
— Foi aquela pessoa encapuzada e disfarçada que apareceu com os Unseelies no penhasco, — diz Dash. — Estou certo disso.
— Ela está sangrando! — Eu suspiro, percebendo a trilha de sangue correndo pelo braço da mamãe. — Por que ela está sangrando?
— Ela está bem, — diz Dash.
— Ela se cortou!
— Ela está bem, Em. Por que você não está no carro? Perry, Hannah, — ele grita. — Entrem no carro.
— De quem vocês estão fugindo? — Perry grita de volta.
— Entrem no carro! — Quatro vozes gritam ao mesmo tempo.
Ele abre a porta do motorista, puxa Hannah para dentro e então corre para o outro lado.
— O que diabos aconteceu? — Eu pergunto quando chegamos ao carro.
— Alguém chegou lá antes de nós, — Calla ofega. Ela abre uma das portas da parte de trás. — Mas eu acho que nós —
— Todo mundo, pare.
Eu viro. Do outro lado da estrada, saindo das sombras, está uma figura com um manto com capuz prateado.
Capítulo 22
— VOCÊS TÊM ALGO QUE EU QUERO, — DIZ A FIGURA, E EMBORA SEU ROSTO ESTEJA OCULTO NA sombra, o tom de sua voz me diz que ela é uma mulher. Enquanto seu manto se espalha ao seu redor, uma lembrança retorna à minha mente: uma pessoa com um manto prateado exatamente igual a este, de pé em uma estrada em Stanmeade e transformando um homem em uma sólida estátua cristalina.
— Escudo, — sussurra Violet, e juntas, ela e Calla levantam as mãos. Algo quase invisível brilha no ar à nossa frente. No mesmo instante, a mulher levanta sua mão. Pedaços de vidro, irregulares e mortais, voam direto em nossa direção. Instintivamente, meu braço voa para proteger meu rosto. Mas o vidro para, preso na camada invisível que paira no ar à nossa frente.
Eu olho para trás, esperando que o pessoal tenha colocado mamãe no carro agora, mas suas mãos estão no ar também, e mamãe está sobre o ombro de Ryn. Perry corre em volta do carro para se juntar a eles, enquanto Ryn xinga sob sua respiração. — Por que não está funcionando?
Eu viro minha cabeça para ver que a mulher aumentou seu ataque sobre nós — e alguns dos fragmentos de vidro estão girando através do escudo. O primeiro pedaço desliza livremente para este lado e voa direto em direção ao rosto.
Perry estende a mão, desviando o vidro para o lado antes que ele nos alcance. No carro, Hannah está gritando.
— Esteja pronto quando o escudo desmoronar, — grita Violet. — Você sabe o que fazer.
O vidro passa por mim e afunda na parte de metal da porta do carro. Os gritos de Hannah se intensificam. Então o ar é preenchido com o guincho dos pneus quando o carro inverte rapidamente. A mulher encapuzada estende a mão em direção a ele, e uma nevasca de vidro quebrado voa de seus dedos.
— Não! — Perry grita, estendendo a mão. Não para a mulher, mas para o carro. Ele sai do caminho e o vidro se encaixa em várias árvores. Pneus acelerando freneticamente enchem o ar, e então o carro está acelerando para longe.
— Ataquem! — Violet grita.
A mulher, caminhando confiantemente em nossa direção com a mão erguida, é lançada no ar. Ela gira, voa para o lado e cai no chão do outro lado da estrada. Doente de horror, dou alguns passos apressados para trás, para onde mamãe está deitada no chão. Ryn deve tê-la abaixado para que ele pudesse lutar. Eu olho para cima e o vejo cruzando a estrada com Violet. Calla os segue.
A mulher rola para o lado e estende a mão. Pedaços de vidro deslizam pelo asfalto em nossa direção. Ryn os joga para o lado com um aceno de sua mão, mas eu caio de joelhos na frente de mamãe, protegendo-a apenas no caso. Dash paira hesitante ao meu lado, e Perry corre pela estrada para se juntar aos outros.
A mulher se levanta.
— Não deixe que ela toque em você, — diz Calla. — Não deixe que ela toque em você. — Um escudo cintilante aparece. Do outro lado, a mulher levanta as duas mãos acima da cabeça e, com um grito sobrenatural, lança um jato de vidro brilhante no ar que rasga através das copas das árvores e chove ao redor dela.
— Magia...
Meu coração quase pára ao som daquela palavra silenciosa. Eu olho para baixo. Os olhos da mamãe estão meio abertos. Ela está olhando para o outro lado da estrada, mas não para a mulher ou o vidro caindo ou as brilhantes armas dos guardiões agora visíveis. Ela está olhando para a própria mão estendida, onde faíscas brilhantes estão à deriva ao redor de seus dedos.
Eu recuo para trás, assustada. — O que diabos é isso? — Eu sussurro. Eu pisco várias vezes, mas a magia ainda está lá. Meu coração troveja e minha mente corre. — Você tem magia. Podemos usar os caminhos. — Pigarreio e grito, — Podemos usar os caminhos!
Dash olha para baixo. — Não, sua mãe não pode —
— Podemos. Ela pode. — Eu levanto, pegando o braço da mamãe e tentando levantá-la. — Abra um portal rapidamente.
— Mas ela —
— Abra! — Eu me esforço para colocar a mamãe em uma posição sentada, mas assim que eu a solto, ela cai de novo. Ela ainda deve estar parcialmente sedada. — Me ajude. — Eu chamo Dash enquanto ele escreve um feitiço de um portal na estrada. Um buraco escuro cresce ao lado dele quando ele alcança o outro braço da mamãe.
— Você tem certeza disso?
— Sim, eu a vi — eu grito quando uma dor aguda corta o lado do meu pescoço.
— Merda. — Dash lança um olhar por cima do ombro. — O vidro está passando novamente. Você está —
— Estou bem, — eu digo com uma mão pressionada contra o meu pescoço. — Coloque a mamãe nos caminhos.
Juntos a puxamos para a beira da abertura e, pouco antes de cairmos dentro, vejo Dash olhar para o outro lado da estrada uma última vez. Eu sei que ele está preocupado com os outros, mas por mais egoísta que seja, eu me importo apenas com a minha mãe agora. Eu me inclino na escuridão, puxando mamãe e Dash comigo.
— Eu não sei para onde estamos indo, — eu digo quando o silêncio pressiona meus ouvidos e minha mãe fica leve ao meu lado.
— Eu sei, — diz Dash, e segundos depois nós caímos na grama. Eu tropeço quando o peso repentino da mamãe me arrasta para baixo, e todos nós três acabamos no chão. Uma rápida olhada para o céu noturno acima de nós e o prédio desconhecido nas proximidades me diz que estou em um lugar novo. — Este é o instituto de cura, — diz Dash. — White Cedars. Você estará segura aqui. Eu preciso voltar. — Ele se levanta rapidamente. — Eles podem precisar de ajuda.
Eu aceno com a cabeça, apoiando mamãe contra o meu lado. — Sim. Seja cuidadoso.
Ele levanta sua stylus, mas o ar se agita por perto, e Violet, Ryn, Calla e Perry correm para a grama um momento depois. — Oh, vocês estão bem, — diz Dash, sua expressão se iluminando. — Ainda bem.
E então, de repente, estamos todos falando uns sobre os outros:
— Sua mãe está bem?
— Sim, ela —
— O que aconteceu com aquela mulher?
— Ela fugiu. Fugiu no momento em que ela viu que você tinha ido embora.
— Por que os caminhos das fadas? — Pergunta Violet, com os olhos arregalados de preocupação. — Como você sabia que ela sobreviveria?
— Ela tem magia, — eu digo, e finalmente todos param de falar. — Ela acordou e eu vi em sua mão, brilhando ao redor de seus dedos. — Meus lábios se esticam em um largo sorriso. — Ela é minha mãe afinal.
PARTE 3
Capítulo 23
TODA REVELAÇÃO SURPREENDENTE NOS ÚLTIMOS DIAS ME DEU UMA SOBRECARGA EMOCIONAL — e essa é a pior e a melhor. Eu tinha acabado de começar a aceitar o fato de que minha mãe não era minha mãe verdadeira, e de repente essa verdade foi invertida completamente. Isso fez meu cérebro girar mais uma vez. Isso me deixa querendo soluçar de alívio.
Mas eu não tenho nem um segundo para isso, porque logo depois que chegamos na grama do lado de fora do Instituto de Cura White Cedars, várias faeries vêm correndo para nos ajudar. Mamãe mal está consciente, então eles a carregam rapidamente para dentro. Alguém limpa o sangue no meu pescoço e diz que o corte ficará totalmente curado dentro de uma hora, e então eles desaparecem, junto com a mamãe, em um quarto no qual eu não posso entrar.
O resto de nós acaba em uma sala de espera que me lembra mais um spa do que um hospital, com sua iluminação suave, aromas de ervas e plantas que parecem fazer parte do próprio edifício. Não que eu já tenha ido a um spa, mas já vi filmes.
— Era a mesma mulher que apareceu pouco antes de vocês salvaram Em, — Dash diz, andando pelo chão de madeira. — No penhasco, quando os guardiões e os Unseelies estavam lutando. Quer dizer, eu não vi o rosto dela, mas aquele manto prateado parecia o mesmo, e havia cacos de vidro voando naquele dia. Eu assumi que eles fazem parte da magia ofensiva de alguém, mas deve ter sido dessa mulher.
— Você viu o que ela fez no hospital? — Diz Calla. — Antes de sairmos com a mãe da Em?
— Sim.
— Ela tocou em um dos enfermeiros e ele se transformou instantaneamente em uma escultura de vidro congelado. Um toque, e foi isso. Então ela o empurrou e ele se despedaçou em um milhão de pedaços.
Violet arqueja silenciosamente e cobre a boca com a mão.
Perry olha para cima. — Foi o que aconteceu naquele colégio interno e na aldeia de Twiggled Horn. Aqueles ataques que eu te falei.
— Eu sei, — diz Calla. — Foi isso que pensei no momento em que a vi.
— Mais vários incidentes dos últimos meses, — acrescenta Perry. — Casos de desaparecimentos fae onde a única coisa que sobrou foi vidro quebrado. Nós não conseguimos entender o que era tudo isso até que a testemunha ocular explicou o que aconteceu naquela aldeia há alguns dias.
— E então você percebeu que aquelas pessoas não estavam desaparecidas, afinal de contas, — diz Ryn, sua voz sombria. — Elas eram o vidro quebrado.
— Sim.
— Qual é a conexão entre todos os ataques? — Pergunta Violet.
— Pode ser uma coincidência, — diz Perry, — mas a única conexão até agora é que a maioria dos que foram mortos trabalhavam na Guilda no passado, ou estavam relacionados de alguma forma a funcionários da Guilda, seja no passado ou no presente. Mas, novamente, pode ser uma coincidência, já que algumas das mortes de alguma forma não estavam relacionadas à Guilda.
— Podem ter sido danos colaterais, — diz Violet.
Perry inclina a cabeça. — Possivelmente.
— Então, ou esta mulher com o manto prateado é a que realiza esses ataques, — diz Calla, — ou há um grupo de faeries que se veste da mesma maneira e ataca com a mesma magia.
— Não pode ser possível, — diz Violet com uma carranca. — Deve ser uma Habilidade Griffin, certo?
— Deve ser, — diz Ryn. — Qualquer faerie pode transformar coisas em vidro, e nossa própria magia pode ser moldada em vidro se quisermos, mas transformar seres vivos? Isso não deveria ser possível. Pelo menos não por nenhum feitiço que eu tenha ouvido falar. Deve ser uma Habilidade Griffin.
— Eu acho que já a vi antes, — eu digo, finalmente falando. — No mesmo dia que minha magia se revelou. O dia da festa, quando acidentalmente usei minha Habilidade Griffin. Eu estava indo para casa e vi uma pessoa encapuzada tocar um homem e ele se transformou em cristal ou vidro ou algo assim.
Dash faz com que sua caminhada interminável pare. — Você não mencionou isso antes.
— Bem, para ser sincera, não acreditei nos meus olhos. Eu não tinha ideia de que a magia existia ainda. Eu pensei que estava começando a ficar louca como a mamãe. Então eu simplesmente ignorei. Eu me abaixei atrás de um prédio e, quando olhei de novo, tudo desapareceu. E tanta coisa aconteceu desde então que eu não me lembrei até agora, quando ela apareceu do outro lado da estrada. Eu não a notei no dia em que a Guilda e os Unseelies estavam brigando por mim. — Eu dou a Dash um olhar aguçado. — Acho que eu estava preocupada com o medo de que eu estava prestes a ser morta.
Ele revira os olhos e desvia o olhar. Perry fica de pé. — Bem, hum, vou checar a Hannah.
— Ela fugiu em segurança? — Pergunto.
— Ela fugiu, — diz Perry, não encontrando meus olhos. — Eu fui encontrá-la enquanto os curandeiros estavam colocando sua mãe em um quarto. Eu sinto muito que ela tenha entrado em pânico e fugido. Ela nunca esteve em uma situação como essa antes.
— Tudo bem, — diz Ryn calmamente. — Nós não a culpamos.
Eu mordo meu lábio inferior, decidindo não comentar. Fiquei horrorizada quando vi o que eu achava ser a única rota de fuga segura da mamãe fugir. Mas entendo porque Hannah fez isso. Ela estava cuidando de si mesma — uma habilidade que venho aperfeiçoando há anos.
Depois que Perry sai, Violet se vira para Ryn. — Acho que precisamos ir para casa também. Verificar o Jack, se certificar de que as outras visões do Vidente foram resolvidas. — Ela olha para mim. — Nós voltaremos um pouco mais tarde e faremos companhia a você.
— Eu vou ficar aqui com a Em agora, — diz Calla.
— Oh, eu não me importo de esperar sozinha, — eu digo a eles. — Sério. Calla, seu marido acabou de voltar de... algum lugar. Você não preferiria estar com ele?
— Claro, mas eu posso vê-lo mais tarde.
— Não, tudo bem, realmente. Estou feliz sozinha e sei que vocês têm um monte de coisa para fazer. — Violet e Ryn trocam olhares. — Sério, — eu repito.
— Tudo bem, — diz Violet, — mas voltaremos um pouco mais tarde. — Ela vai embora pelos caminhos das fadas com Ryn e Calla. Eu olho para Dash, esperando que ele saia através de outro portal dos caminhos das fadas, mas ele caminha até uma cadeira a alguns lugares de distância de mim e senta. Ele move o corpo para me encarar.
— Sério, Dash. Eu não me importo de esperar sozinha.
— Como está o seu pescoço? — Ele pergunta. — Parece quase melhor daqui.
Eu esqueci o corte, na verdade. Eu pressiono meus dedos cautelosamente contra a área. Sem dor, e uma linha acentuada de pele me diz que uma cicatriz já se formou. — Puta merda. Curou tão rápido. Eu pensei que eles estavam exagerando quando disseram que estaria melhor dentro de uma hora.
Dash sorri. — E você sabe que a cicatriz vai curar também, certo? Isso também desaparecerá dentro de uma hora.
— Isso é incrível.
— Também... — Ele se inclina sobre os joelhos. — Sinto muito que o plano de resgate para sua mãe tenha se tornado uma bagunça. O resto de nós lida com esse tipo de confronto mágico o tempo todo, mas para você e Hannah, deve ter sido assustador. As coisas poderiam ter ido muito mal.
— Mas elas não deram. Tudo deu certo no final. — Eu sorrio, o que parece mais fácil agora do que há muito tempo. — Estou tão feliz que mamãe saiu daquele hospital. Eu estou feliz que estamos no mesmo mundo novamente, e que todas essas coisas sobre ela não ser minha mãe foi apenas um pesadelo.
Ele concorda. — Sim. Esperançosamente.
Meu sorriso escorrega um pouco. — O que você quer dizer com esperançosamente? Ela é minha mãe. Como ela poderia não ser?
— Bem, eu só quero dizer... você parece uma faerie e ela não, então como isso funciona?
— Mas eu não parecia uma faerie antes da minha magia aparecer, certo? Você disse que nem sempre podia ver meu cabelo azul. Então, obviamente, mamãe é a mesma coisa.
— Sim... — Ele sacode a cabeça. — Eu ainda não entendi porque aconteceu desse jeito para você. Faeries não crescem com a magia bloqueada ou inacessível. Halflings, às vezes, mas você não é halfling.
— Tudo bem, então talvez mamãe e eu somos um tipo estranho de faeries que você nunca encontrou antes. Isso pode ser possível, certo?
Ele levanta um ombro em um encolher de ombro lento e incerto. — Eu acho que sim.
— Que outra explicação existe? Na verdade, não importa. Neste mundo, há provavelmente toda uma série de explicações estranhas e complicadas envolvendo diferentes tipos de magia. E eu não me importo em conhecer nenhuma delas.
Dash olha para as mãos e diz baixinho, — Eu não estou tentando deixar você chateada de novo. E se ela está biologicamente relacionada a você ou não, não muda quem ela é para você. Eu só pensei que você gostaria de saber a verdade sobre a situação, seja lá qual for.
Eu me inclino para trás, puxo minhas pernas para cima e envolvo meus braços ao redor delas. — Você acha que eu poderia querer saber a verdade? Isso é interessante, considerando que você nunca me contou o que realmente aconteceu no parque naquele dia.
Uma carranca enruga seu rosto, mas ele não olha para mim. — O que você quer dizer?
— Você sabe do que estou falando. — Meus braços se apertam em volta das minhas pernas. — Você salvou a vida da minha mãe. Havia algo mais lá naquele dia. Algo que eu não vi porque você nos derrubou para fora do caminho. Algo que poderia tê-la... matado.
Dash lentamente se inclina para trás, esfregando uma das mãos ao longo do lado de seu pescoço. — Quem te contou?
— Violet.
Ele sacode a cabeça, mas não diz nada.
— Então? Por que você não me contou? Eu sei que você não conseguiu explicar antes, mas desde tudo o que aconteceu nos últimos dias, você ainda não me contou.
— Porque... quero dizer... como essa conversa teria acabado? Você teria dito: ‘Você arruinou a vida da minha mãe.’ Então eu teria dito: ‘Na verdade, eu salvei.’ E então você teria me dito: ‘Passar o resto de seus dias em um hospital psiquiátrico não é o mesmo que salvar a vida dela.’ Então nós provavelmente discutiríamos um pouco mais, e você ainda me odiaria.
Eu fico quieta por um momento, porque tenho que admitir que há uma grande probabilidade de que as coisas teriam corrido assim. — Talvez. Ou talvez eu te odiasse menos. Ou... eu não sei. Talvez eu ficasse grata por ela ainda estar viva. Eu estou grata que ela ainda esteja viva. Há uma chance, pelo menos, para ela melhorar. Mas você sabia o tempo todo que você realmente a ajudou naquele dia e, em vez de me deixar saber desse pequeno segredo, você me permitiu culpá-lo por levá-la ao hospital.
— Espere. — Ele se endireita um pouco. — Você está brava comigo?
— Sim!
— Mas eu pensei que acabamos de estabelecer que eu realmente salvei a vida da sua mãe.
— Sim, então agora eu tenho que ser grata a você. O que é uma droga porque eu não gosto de você. Então a coisa toda só... me irrita!
Ele me encara mais um momento e depois se dobra de rir.
— Oh, fantástico. Isso tudo é hilário, não é?
— Você tem que admitir, — diz ele entre respirações, — que é.
— Eu não tenho que admitir nada. — Eu cruzo meus braços, mas há um sorriso puxando meus lábios, e eu estou achando impossivelmente difícil lutar contra isso. Então eu desisto e deixo se esticar no meu rosto. Eu acho que uma pequena risada pode até mesmo me escapar.
Eventualmente, quando ficamos quietos novamente e eu estou olhando para as minhas mãos, eu enlaço meus dedos e lentamente deixo escapar um longo suspiro. É frustrante que eu tenha que ser grata a ele, mas isso não muda o fato de que sou grata a ele. — Obrigada por salvá-la, — eu digo, e embora minha voz seja baixa, eu sei que ele ouve.
— De nada, Em. — Ele olha para mim e sorri. — Viu? Nós podemos ser maduros. Não é legal?
Meu sorriso está de volta. — Eu acho que não é completamente superestimado.
Ele fica de pé e coloca as mãos nos bolsos. — Você quer encontrar algo para beber? Ou comer?
— Comida da cafeteria do hospital? Não, obrigada.
— Este não é o seu mundo, lembra? A vasta seleção de bebidas quentes disponíveis neste mundo é alucinante.
— Alucinante? Mesmo? — Eu coloco minhas mãos nos braços da cadeira e levanto. — Alguém poderia pensar que eu tive experiências alucinantes suficientes nos últimos dias, mas acho que não. Vamos encontrar uma bebida quente.
— Ótimo. É um encontro.
— Definitivamente não é um encontro.
— Você sabe o que quero dizer, — diz ele enquanto saímos da área de espera.
— Não, eu sei o que quero dizer, e estou me certificando de que você também saiba o que quero dizer.
— Senhorita Clarke? — Do lado de fora da sala de espera, uma curandeira para na frente de nós. — Posso falar com você?
Eu não posso evitar o medo que começa a se formar na boca do meu estômago. — Sim. Definitivamente. Minha mãe está bem?
— Vamos nos sentar? — Ela aponta para as cadeiras atrás de nós.
— Por quê? — O pânico sobe rapidamente para minha garganta. — Você tem algo ruim para me dizer?
Ela sorri. — De modo nenhum. É apenas mais confortável.
— Oh. Certo. Claro.
Voltamos para a sala de espera e, enquanto nós três nos sentamos, ela pergunta, — Você está feliz por conversarmos na frente do cavalheiro, ou prefere falar sozinha comigo?
Meu cérebro tropeça na palavra ‘cavalheiro’ — Dash? Um cavalheiro? Ha! — antes de chegar à questão verdadeira. — Hum...
— Tudo bem. Eu vou esperar do lado de fora enquanto vocês conversam, — diz Dash, me salvando de ter que responder.
— Ela está acordada? — Eu pergunto a curandeira quando Dash desaparece. — Posso falar com ela?
— Ela não está acordada, infelizmente. Ela ficou muito chateada e confusa depois que a trouxemos, e acabamos tendo que sedá-la novamente. Fizemos alguns testes, o que revelou que mesmo que não possamos sentir qualquer magia nela, ela é na verdade uma faerie. Ela também deu positivo para uma Habilidade Griffin.
Eu viro minha cabeça para trás em surpresa. Mas então digo a mim mesma que isso faz todo sentido. Se ela é realmente minha mãe, então obviamente ela tem uma Habilidade Griffin.
— Este é um caso um pouco desconcertante, — continua a curandeira. — Nós não encontramos nada parecido antes, então se você nos contar tudo o que sabe sobre ela, incluindo a doença mental que você mencionou quando a trouxemos mais cedo, faremos tudo o que pudermos para descobrir o que está acontecendo.
Capítulo 24
AS MUDANÇAS NAS ZONAS DO TEMPO TANTAS VEZES ESTÃO MEXENDO COM A MINHA MENTE. EU SINTO QUE DEVERIA ESTAR no meio da noite no momento em que deixo o instituto de cura com Dash — porque estava no meio da noite lá — mas está no início da noite quando chegamos ao oásis. Violet e Ryn estão preparando o jantar enquanto Jack se senta a mesa da cozinha fazendo lição de casa.
— Ela é uma faerie, — eu anuncio para eles enquanto eu entro. — Ela é uma faerie com uma Habilidade Griffin, mas eles não podem sentir sua magia, e ela não parece uma faerie, e ela está atualmente muito confusa e chateada para explicar qualquer coisa para alguém, então... sim. Essa é a situação.
— E a trama se complica, — diz Dash, esfregando as mãos.
— Dash! — Eu soco o braço dele. — Esta é a minha vida, não algum mistério.
— Eita, desculpe, eu sei. — Ele entra na cozinha e olha por cima do ombro de Jack para o que quer que ele esteja trabalhando. — É um mistério, no entanto. Você e sua mãe são.
— Eu definitivamente gostaria de resolver isso. Onde devemos começar?
— Com o que você pode lembrar antes dela acabar em Tranquil Hills, — diz Ryn.
Violet deixa uma colher de pau mexendo uma panela e se afasta do fogão. — O jantar ainda vai demorar um pouco, então por que não nos sentamos na sala de estar e começamos a resolver esse quebra-cabeça?
— Maravilha, — diz Dash. — Vocês se sentam. Eu vou pegar bebidas. Eu sei o meu caminho nessa cozinha.
Jack pega seus livros e segue Ryn, Vi e eu para a sala ao lado. Ele espalha seu trabalho no chão e continua. — Você percebeu que Dash está aqui mais do que o habitual? — Ryn diz para Violet.
— Eu percebi. — Ela olha para mim. — Eu posso pensar em apenas uma razão para isso.
Eu levanto uma sobrancelha. — Espero que você não esteja sugerindo que é por minha causa. Porque essa é a resposta mais absurda que você poderia ter inventado.
— De meu ponto de vista, parece a única resposta.
Eu puxo minhas pernas para cima e as cruzo abaixo de mim. — No caso improvável de você estar certa, eu tenho certeza que é só porque é um novo desafio para ele estar com uma garota que não tem nenhum interesse romântico nele.
Violet ri. — Você pode estar certa. Isso definitivamente seria uma nova experiência para ele.
— Na verdade, — Dash diz da porta, — eu estou ficando aqui mais do que o habitual porque eu tenho acompanhado o caso de Em por mais tempo do que qualquer outra pessoa, e estou extremamente curioso para chegar ao fundo de todo esse mistério.
— Ei! — Violet balança a mão. Uma almofada voa pela sala e bate em Dash contra o lado de sua cabeça. — Ouvir atrás da porta é rude. Eu sei que seus pais te ensinaram isso. — Com uma risada, ele desaparece de volta para a cozinha.
— Ei, olhem, — diz Jack. — Filigree e Bandit estão brincando. — Eu sigo a direção de sua stylus e vejo dois animais: um esquilo sentado debaixo de uma das mesas laterais, e um gatinho saltando para frente e para trás na frente dele, deslizando o ar com suas patas, então pulando para longe. O esquilo pisca e permanece imóvel. — Bem, Bandit está brincando, — Jack corrige. — Filigree é um esquilo rabugento.
— Fofo, — eu digo. — Embora eu espere que Bandit não irrite muito o Filigree.
— Não se preocupe com isso, — diz Violet. — Filigree precisa aprender a relaxar um pouco. Ele está ficando tenso com sua velhice.
— Tudo bem, vamos começar a resolver o mistério? — Dash pergunta, entrando na sala de estar com uma bebida em cada mão e outras duas flutuando ao lado dele. Elas são todas azuis, e tenho certeza de que nunca provei o que está dentro delas.
— Eu não sei como devemos resolver qualquer coisa, — digo a eles. — Acabei de ter uma conversa com a curandeira e nada de útil surgiu. Ela me perguntou sobre minha infância e meu pai, mas eu não sei nada sobre ele, exceto que ele supostamente está pagando pelas contas do hospital da mamãe. E eu não consigo lembrar de nada estranho na minha infância. A menos que você conte as alucinações da mamãe, mas elas não têm nada a ver — bem, agora que eu me pergunto. — Eu me inclino para trás e olho para a parede oposta com uma carranca. — Talvez elas não fossem alucinações afinal de contas. Talvez ela pudesse ver coisas que eu não pude ver porque minha magia estava bloqueada. Mas ela nunca pareceu diferente — o cabelo dela, quero dizer, então isso não significa que a magia dela sempre foi bloqueada também?
— Eu acho que sim, — diz Violet, distraidamente brincando com uma mecha do cabelo roxo.
— Quando ela teve essas alucinações, — pergunta Ryn, — ela parecia racional? Como se ela estivesse falando normalmente com alguém que por acaso era invisível?
Eu lentamente sacudo minha cabeça. — Não. Ela não parecia racional para mim. Ela geralmente acabava em um estado de grande pânico.
— Humm, tudo bem.
— Você se lembra de algum amigo dela que poderíamos tentar rastrear? — Dash pergunta. — Se algum deles se mostrarem mágicos, podemos interrogá-los. Quero dizer, caso sua mãe ainda esteja confusa por um tempo e não possa explicar as coisas sozinha.
Eu sacudo minha cabeça. — Na verdade não. Havia apenas... bem, eu não a classificaria como uma amiga porque ela e mamãe sempre brigavam quando ela aparecia, mas acho que elas devem ter sido amigas em algum momento.
— Qual era o nome dela?
— Hum... — eu só lembro... — Eu empurro minha mão pelo meu cabelo. — Linha.
— Linha? Isso não é um nome.
— Eu sei, mas é tudo que lembro. Foi há muito tempo atrás. Eu as ouvia gritando uma com a outra através da parede, e me lembro de mamãe dizendo ‘linha’ muitas vezes.
— Isso é estranho, — diz Dash.
— Como é essa amiga? — Pergunta Violet.
— Eu não sei. Eu nunca a vi. Mamãe sempre dizia: ‘Minha amiga está vindo agora. Você precisa ir para o seu quarto.’ E então ela me trancava no meu quarto, e logo depois eu as ouvia discutindo.
— Não parece muito uma amiga, — diz Dash.
— Sobre o que elas discutiam? —Pergunta Ryn.
Eu suspiro. — Eu não sei. Eu não consegui ouvir muito. Eu tentava apenas ignorá-las e brincar com minhas bonecas. — Eu giro meu cabelo em volta do meu dedo, me sentindo estranha com todas essas perguntas. — Viu? Eu lhes disse que não me lembro de nada útil.
— Quando sua mãe foi levada para o hospital e você foi enviada para morar com sua tia, — diz Ryn, — o que aconteceu com todas as coisas em sua casa?
— Hum... eu não sei, na verdade. Acho que meu pai deve ter limpado as coisas e, algumas semanas depois que cheguei na Chelsea, algumas caixas chegaram. Chelsea abriu uma ou duas, depois as fechou de volta e as colocou em algum lugar. Provavelmente no meu quarto, já que é onde ela gosta de guardar coisas.
— Então é aí que vamos começar a procurar, — diz Ryn. — Você quer dar uma olhada amanhã de manhã antes de voltar para White Cedars?
— Eu posso ir com você, — Dash se voluntaria imediatamente.
— É claro que você pode, — eu digo, — porque aparentemente você não precisa mais trabalhar para a Guilda.
Ele encolhe os ombros. — O trabalho é flexível. Muito tempo no campo. Eles vão pensar que estou trabalhando em um dos muitos outros casos em andamento que temos.
— Só não me culpe quando você for despedido, ok?
Ele coloca a mão sobre o coração. — Sua preocupação é tão tocante, Em.
Eu viro para Violet. — Você pode me ensinar aquela coisa de jogar a almofada?
— Ooh, eu faço! — Jack balança a mão descontroladamente pelo ar, e quatro almofadas diferentes saem de seus assentos e batem na cabeça de Dash.
— Ei, pare, eu me rendo!
— Mais almofadas! — Eu grito, pedindo a Jack. E logo Dash está enterrado sob quase todas as almofadas da sala de estar. Bandit pula no topo da pilha, e até Filigree vem para checar as coisas. No momento em que vamos para a cozinha para o jantar, meu estômago e minhas bochechas estão doendo, e eu percebo que eu ri mais nas últimas horas do que em anos.
Capítulo 25
— PARECE MAIS DO QUE CINCO OU SEIS DIAS DESDE QUE EU ESTIVE AQUI, — EU DIGO A DASH ENQUANTO ando pelo estacionamento da Escola Primária Stanmeade. — E eu não sei se estou fazendo essa coisa de disfarce corretamente. — Violet me deu uma lição ontem à noite, e outra esta manhã, mas eu ainda não tenho certeza do que estou fazendo.
— Infelizmente, só saberemos se não está funcionando se um ser humano olhar e ver você, — diz Dash, — e aí já será tarde demais.
— Teria ajudado se você nos trouxesse para fora dos caminhos das fadas um pouco mais perto da casa da Chelsea. Como em seu quintal, talvez.
— Tudo bem, então aqui está algo que você pode não saber ainda, Em, — diz ele, encostado em um carro e de frente para mim. — É preciso muito foco para pousar exatamente no ponto certo ao usar os caminhos das fadas, e quanto mais longe estiver do destino, mais foco será necessário, então —
— Então, faremos isso passo a passo. Entendi. Primeiro chegamos ao limite de Stanmeade, depois vamos para a casa da Chelsea.
— Certo.
— Oh, cuidado. Não deixe a Sra. Pringleton vê-lo. — Eu o puxo para baixo entre dois carros quando a Sra. Pringleton sai pela porta dos fundos. Ela leva um cigarro aos lábios e acende.
— Eu estou com um encanto que funciona, lembre-se, — diz Dash. — Você não precisa se preocupar com alguém me ver. — Ele olha ao redor da borda do carro. — Ah, a professora de rosto manchado. Eu sempre tive medo dela e nunca fui à escola aqui.
— Não seja rude. É uma marca de nascença ou algo assim.
— Certo, desculpe. Não posso ser rude com coisas assim.
— Exatamente. — Eu esfrego meu ombro esquerdo através da minha camiseta. Ao som de um leve chiado, Dash pega seu âmbar. — O que está acontecendo? — Eu pergunto enquanto seus olhos examinam a superfície.
— Apenas outro memorando de toda a Guilda nos atualizando sobre o feitiço que deve consertar o véu. Testes terminados... tudo parece bom... ainda marcando uma data e organizando uma cerimônia para o fechamento verdadeiro do buraco. — Ele suspira. — Eu não sei por que eles querem perder tempo com uma cerimônia. Eles devem apenas enviar algumas pessoas para lá e consertar a maldita coisa. Aquele buraco está no céu quase desde que eu estou vivo.
— Então suponho que outros dias ou semanas não farão muita diferença.
— Sim, mas é um desperdício de recursos. — Dash guarda seu âmbar. — Os guardiões precisam estar sempre presentes, garantindo que as pessoas do nosso lado não interfiram no monumento que impede que o buraco fique maior. E do outro lado, eles têm que garantir que esteja disfarçado e os humanos não entrem nele acidentalmente. Enfim, a professora assustadora já terminou seu cigarro?
Eu espio ao redor do carro. — Não. Eu não sei quantos cigarros ela está planejando fumar, e eu não confio no meu feitiço de disfarce, então podemos abrir um portal aqui no chão? — Eu aponto para o espaço entre os dois carros.
— Sim, tudo bem. — Dash pressiona sua stylus no chão.
— Espere, posso tentar de novo? — Eu pergunto antes que ele escreva alguma coisa.
— Oh. Sim claro. Só não fique frustrada se ainda não funcionar. — Ele me entrega sua stylus enquanto eu removo um papel dobrado do meu bolso de trás. — Essa coisa leva tempo para acertar.
— Sim, Sim. Todo mundo continua dizendo isso. — Eu seguro o papel em uma mão e copio as letras no chão, falando as outras poucas palavras que eu memorizei, e tentando imaginar magia saindo do meu núcleo, descendo pelo meu braço, e entrando na stylus. Um arrepio corre através de mim enquanto as palavras que eu escrevo começam a brilhar, mas quando elas desaparecem nada acontece. — Bem. Você faz. — Entrego a stylus de volta para Dash.
— Você quase conseguiu, — diz ele. — Talvez você não tenha liberado magia suficiente através da stylus. Essa parte se tornará automática em breve, e então esse feitiço será fácil.
— Sim, tanto faz. Apenas abra o portal.
Dash escreve as palavras e, desta vez, um buraco escuro abre nos caminhos das fadas e se espalha pelo chão. — Você vai nos levar para dentro da casa agora? — Dash pergunta antes de subir nos caminhos. — Lembre-se de focar exatamente na sala certa se você não quiser aparecer na frente da Chelsea.
— Quarto. Certo. Chelsea estará em seu salão durante todo o dia, então se ficarmos no meu quarto com a porta trancada, ficaremos bem. Ela sempre coloca música para tocar, então duvido que ela ouça qualquer coisa.
— Com a porta trancada, hein? — Ele abaixa as sobrancelhas. — Isso deve ser contra as regras.
— Idiota, — murmuro com um aceno de cabeça. — Chelsea nunca se incomodou com regras assim. Duvido que ela se importaria se eu estivesse com um cara no meu quarto.
— Oh, então você nunca —
— Apenas entre nos caminhos das fadas.
Com uma risadinha, ele desliza na escuridão, me puxando atrás dele. Eu dirijo todo o meu foco em imaginar o interior do meu quarto. A cama de solteiro, a mesa que costumava fazer parte do salão de Chelsea, as caixas empilhadas contra a parede. Quando a luz toca minhas pálpebras, eu as abro e vejo a cena que imaginei. A escuridão some enquanto eu dou um passo para frente no quarto. — Hmm, — diz Dash, olhando em volta. — É —
— Não.
— Eu ia dizer acolhedor.
— Não, você não ia. Tudo bem, estas são todas as caixas. — Gesticulo para o lado esquerdo do quarto. — São principalmente coisas da Chelsea, mas as caixas da mamãe devem estar aí embaixo em algum lugar. Eu não me lembro de Chelsea se livrar delas.
Dash caminha até a mesa e pega uma moldura com uma foto de Val e eu mostrando a língua para a câmera. A argola de metal de Val é visível, e eu tenho um doce em forma de coração na minha língua — porque o meu medo de agulhas significava que piercings eram uma coisa que nunca faríamos juntas.
— Eu realmente sinto falta dela, — eu digo baixinho. — E acho que ela está seriamente brava comigo por ter ido embora. Espero poder voltar em breve e explicar as coisas para ela. Não as coisas mágicas, obviamente, mas outra coisa. Algo que ainda preciso pensar.
— O que quer que você diga a ela, — Dash diz, retornando o quadro para a mesa, — eu tenho certeza que ela vai te perdoar. Ela é sua melhor amiga.
— Sim. Ela é muito legal. — Eu começo a levantar as caixas de Chelsea de cima das outras caixas. — Embora ela tenha me dito que acha você atraente, seu julgamento é questionável.
— Interessante. — Os lábios de Dash se espalham em um sorriso torto. — Sabe, ela é muito linda também.
Eu reviro meus olhos. — E a Jewel?
Ele está ao meu lado e começa a mover as caixas com magia de um lado do quarto para a minha cama. — O que tem ela?
— Vocês não têm... você sabe, uma coisa?
Uma caixa para no ar. — Que coisa?
— Tipo, vocês estão juntos ou algo assim. Ou vocês estarão em breve.
— O quê? Não, eu te disse antes. Somos apenas amigos. — As caixas continuam sua jornada pelo quarto. Olho para cada uma que passa, certificando-me de que ainda estamos movendo as coisas de Chelsea. — Ela gosta desse outro cara, — acrescenta Dash. — Hum, Sean algo assim. Ele se formou um ano à nossa frente. Tenho certeza de que ela costumava gostar dele.
— Ela provavelmente estava fazendo aquela coisa que as garotas fazem onde fingem gostar de outra pessoa para tentar fazer com que o cara que elas realmente estão interessadas fique com ciúme.
— Oh. Você tem certeza? Porque normalmente as garotas aparecem e dizem que gostam de mim.
— Claro. — Eu suspiro e cruzo os braços. — Eu esqueci com quem eu estava falando. Espere, pare. Acho que é uma das caixas da mamãe. — A caixa que estava prestes a se juntar à minha cama, a caixa com um adesivo laranja em forma de estrela na lateral, muda de direção e cai aos nossos pés. — Procure por outras caixas que tenham adesivos como esse, — digo a Dash enquanto me movo para a mesa e pego uma tesoura de uma gaveta. Eu me abaixo, corto a fita e dobro as abas de papelão. CDs e DVDs me encaram. Entretenimento inútil do passado. — Tudo bem, esta parece chata. Você pode começar com essa. — Eu me movo para a segunda caixa que acabou de chegar ao meu lado.
— A caixa chata. Obrigado.
Eu olho para cima. — Você me empurrou de um penhasco.
— Ah, voltamos a isso, não é?
— Nunca fica cansativo.
Duas caixas se chocam, caem do ar e pousam no pé de Dash. — Aaaaah, maaaaalditas bolas de hamster!
Uma gargalhada alta escapa de mim. Eu bato minha mão na minha boca antes de dizer, — Você está brincando? Você finalmente sente vontade de xingar e inventa malditas bolas de hamster?
— Cale a boca, — diz ele com os dentes cerrados.
— Shh. — Eu viro minha cabeça e olho em direção à porta do quarto. Em algum lugar além, alguém está falando. Eu pulo, me movo em silêncio até a porta e me inclino para mais perto.
— ...provavelmente apenas algo na cozinha, — Chelsea está dizendo. — Como a vassoura ali. Está sempre caindo.
Eu espero, e quando eu não ouço a voz dela novamente, eu suponho que ela voltou ao seu salão. — Tudo limpo, — eu digo para Dash. — Só não derrube mais nenhuma caixa.
— Acho que encontrei todas elas. — Ele aponta para a pequena coleção de caixas com adesivos coloridos.
— Ótimo. — Sento no chão ao lado da minha segunda caixa aberta, e Dash se senta à minha frente. — Sério, entretanto, — eu digo como se a interrupção nunca tivesse acontecido, — Jewel parecia realmente a fim de você. Talvez você deva pensar sobre isso.
— Hum... — Ele olha os CDs e DVDs antes de empurrar a caixa e puxar outra para perto. — Talvez. Talvez não. Nós crescemos juntos, então eu sei quase tudo sobre ela. Nós passamos por bons e maus momentos juntos. Na verdade, fomos ao nosso baile de formatura juntos, embora apenas como amigos. — Ele remove alguns livros, roupas e um velho recipiente de sorvete da segunda caixa. Eu olho para a coleção de joias da mamãe. — De muitas maneiras, ela provavelmente é perfeita para mim, — continua ele. — Se fôssemos outras pessoas, talvez estivéssemos juntos. Mas para mim... eu simplesmente não penso nela assim. Ela é mais como uma irmã. Ela está sempre lá, e é divertido sair com ela, e às vezes ela é super chata, mas eu ainda a amo. — Ele encolhe os ombros. — Mas como uma —
— irmã, — eu termino, fechando a caixa de joias, passando por algumas fotos antigas de mamãe e eu, e me movendo para uma pasta contendo um monte de panfletos. — Certo. Só não diga isso a Jewel, ok? Quero dizer, você definitivamente deve dizer a ela que você não se sente da mesma maneira sobre ela, mas você não deve usar as palavras ‘Eu penso em você como se fosse minha irmã’.
— Por quê?
— É um clichê. Ela vai odiar isso. Apenas... use outras palavras.
Ele cutuca meu joelho com o sapato enquanto um sorriso cresce em seus lábios. — Olhe para você sendo toda simpática com alguém que você não gosta. Alguns podem até pensar que você tem um coração.
— Claro que tenho um coração, idiota.
— Sim, eu sei, — ele diz baixinho, devolvendo os livros e roupas para a caixa. — Você não teria me odiado tanto todos esses anos se não tivesse um coração.
— Não tenho certeza se isso faz sentido, mas tudo bem.
— Sabe, por causa de sua mãe. Você me odiava porque se importava muito com ela.
Eu engulo e olho para todos os panfletos no meu colo. Eles são informações e mapas para uma série de destinos turísticos diferentes em todo o país, o que é inútil, então eu os empurro de volta para a pasta.
— Parece que ela queria viajar, — diz Dash, acenando para a pasta quando ele abre o recipiente de sorvete. — Oh, o que é tudo isso? — Ele segura um pequeno urso de pelúcia segurando um coração de vidro. Em seguida, uma boneca de porcelana em miniatura e um anjo feito de capim seco.
— Apenas ornamentos. Mamãe gostava de colecionar coisas bonitas.
— Eles são... meio feios.
— Bem, sim, para você e para mim, talvez. Mas ela obviamente achava que todas essas coisas eram bonitas.
— Para cada um deles, eu acho. Bem, para ela própria neste caso. — Ele guarda o recipiente de sorvete. — Ei, que horas são? Vi nos encontraria aqui, não é?
— Hum... — Eu olho para o despertador antiquado ao lado da cama. — É um pouco depois das nove.
— Tudo bem. É cerca de dez horas no oásis, eu acho. A reunião dela deve terminar em breve. — Ele puxa outra caixa para frente. — Eu já mencionei o quanto é bom falar com você sem o calor do seu ódio tentando queimar através de mim? Eu sempre me perguntei como seria. Sabe, apenas sermos amigos.
— É bom, eu acho. É meio que um alívio, na verdade. Era cansativo sempre ter que ficar com raiva de você. E é legal quando você está falando sério, em vez de sempre brincar.
— Mesmo? Você gosta quando estou falando sério? Isso não é... chato?
— Não, não, se é de verdade. — Eu olho para ele. — Às vezes, Dash, a situação exige seriedade. Nesse caso, não é muito útil quando você faz piadas.
Seu olhar se afasta do meu, estabelecendo-se em todas as caixas na cama. — Eu sei que eu brinco bastante. Mas isso é porque a vida é realmente uma droga, e brincar sobre isso é melhor do que sucumbir aos pensamentos sombrios e deprimentes. E brincar faz as pessoas — a maioria das pessoas — rir, então vale à pena.
— Espere. Você acabou de dizer que a vida é uma droga? Porque isso eu não acredito. Sua vida é um maldito passeio em um bolo comparado a minha.
Ele se inclina para trás sobre suas mãos. — Tudo bem, em primeiro lugar, eu nunca ouvi falar dessa comparação, mas andar em um bolo gigante parece incrível, então devemos tentar isso algum dia. E em segundo lugar... — Ele faz uma pausa. — Você sabe o que eu faço para viver, certo? Quer dizer, não é o trabalho mais seguro do mundo.
— Sim, tudo bem. Então?
— Então as pessoas morreram. Pessoas que eu me importo.
Eu pisco, incapaz de desviar o olhar daqueles olhos muito verdes — e de repente muito sérios. — Oh.
— Sim. — Ele estende a mão e a enfia na caixa na frente dele. — Todos sabemos que a vida de um guardião é de alto risco, mas isso não impede que seja horrendamente chocante e doloroso quando... — Ele puxa um arquivo e o coloca em seu colo. — Bem, quando um colega de classe ou alguém que te treinou por anos acaba morto.
Eu pressiono minhas mãos juntas no meu colo. — Eu realmente sinto muito.
— Acontece, — ele diz levemente. — Eu não sou o único. Vi perdeu a mãe quando ela era muito jovem. O tio de Jewel foi morto há alguns anos. — Ele abre o arquivo. — Oh, finalmente. Isso parece ser algo útil.
Eu rastejo entre as caixas e me sento ao lado de Dash, grata pela distração. Ele lê os certificados da antiga escola que eu fui antes de me mudar para cá, formulários de receita médica, informações de conta bancária e algo relacionado à compra de um carro. — Quem é Macy Clarke? — Pergunta ele. — Eu pensei que o nome da sua mãe fosse Daniela.
— Oh, ela era Macy quando jovem, mas ela não gostava desse nome. Ela mudou para Daniela quando eu era muito jovem. Legalmente mudou, quero dizer. Então todos esses documentos antigos, como contas bancárias, dizem Daniela não Macy.
— Isso é estranho.
— Eu suponho. Mas nenhuma dessas páginas é útil, — eu acrescento, meus ombros caindo em decepção. — O que estamos esperando encontrar de qualquer maneira?
— Eu não sei. Uma certidão de nascimento, ou algo relacionado a uma escola ou instituição do meu mundo, talvez.
Eu noto uma protuberância embaixo da próxima página. Eu me inclino sobre Dash e viro a página rapidamente, mas é apenas outro enfeite que caiu. Uma flor feita de vidro ou cristal rosa. — Essas coisas estão por toda parte, — eu resmungo, pegando-o e soltando-o em uma das caixas.
A próxima página é uma foto de duas meninas adolescentes que, percebo quando olho mais de perto, são a mamãe e Chelsea. — Oh, meu Deus, — eu sussurro. — E se Chelsea e Georgia são como mamãe e eu? Eu não pensei nisso até agora.
— Eu gostaria de dizer não porque eu nunca senti o menor indício de magia em nenhuma delas, mas eu não tenho mais certeza sobre nada. — Ele vira para a próxima página: um contrato de aluguel de quinze anos atrás. — E família? — Ele pergunta. — Avós? Tias, tios, primos?
— Sem avós. Eu acho que pode haver alguns outros primos. Primos da mamãe, quero dizer, não meus. Mas eu nunca encontrei — Minha cabeça se ergue quando noto um movimento perto da porta. Meu pensamento automático é que Chelsea está de alguma forma abrindo minha porta trancada, mas é a escuridão crescente de um portal dos caminhos das fadas que eu vejo. Uma figura com cabelo roxo vibrante salta dos caminhos e entra no meu quarto.
— Finalmente, — Aurora diz com um sorriso. — Já era hora de você aparecer aqui.
Capítulo 26
DASH LEVANTA UM SEGUNDO MAIS TARDE, MAGIA CREPITANDO AO REDOR DE SEUS DEDOS. — O QUE você está — Ele se inclina para a frente, fecha os olhos e cai no chão ao lado das caixas. Atrás dele está um jovem desconhecido.
Eu me arrasto até minhas costas baterem na borda da mesa antes de me levantar. — Aurora, o que diabos é isso?
— Devemos ir, — diz ela para a outra faerie. Ela se move em minha direção. Eu corro para frente e agarro Dash enquanto algo puxa minha camiseta e algo mais envolve meu braço.
Uma luz brilhante incendeia e me cega, apagando tudo de repente, um branco brilhante. Quando a brancura desaparece e eu posso ver de novo, me vejo em um lugar completamente diferente. Um jardim com flores e sebes, mas as cores são silenciadas e a luz é fraca. As bordas da cena parecem borradas e nebulosas, como um sonho onde apenas alguns detalhes são claros. Onde quer que eu olhe, vejo colunas de fumaça negra se destacando no ambiente e desaparecendo. — Onde estamos? Como chegamos aqui? E o que você fez com Dash?
Aurora olha para Dash com uma expressão de desaprovação. — Isso é irritante. Eu estava esperando deixá-lo para trás.
— O que você fez com ele? — Eu exijo.
— Feitiço de atordoamento, — o homem diz. Mechas cor de borgonha ondula em seu cabelo preto. — Não se preocupe, ele ficará bem depois. Por que não nos sentamos? — Ele gesticula para um banco atrás dele.
— Por que não nos sentamos? Não! Eu vou sentar.
— Tudo bem. Nós nos sentaremos. Você pode ficar de pé se preferir isso. — Como se estivéssemos presos em algum trabalho teatral ridículo, os dois sentam em uníssono. — Eu sei que foi uma primeira impressão desagradável, — diz ele, — então talvez possamos começar de novo. Eu sou Roarke. Príncipe herdeiro da Corte Unseelie. — Ele gesticula para Aurora. — Eu acredito que você conheceu minha irmã.
Príncipe herdeiro.
Corte Unseelie.
Irmã.
Eu ouço as palavras, mas meu cérebro leva um tempo para processá-las. — Corte U-Unseelie? — Repito, eventualmente.
— Sim.
— Então você... — Eu olho para Aurora. — Você é uma princesa. Da Corte Unseelie.
— Sim.
Eu estou aqui com um príncipe e uma princesa. Um príncipe e princesa mágicos. Em uma cena estranhamente acinzentada, onde fumaça parecida com sombra sobe continuamente de tudo. Se eu não tivesse encontrado tanta estranheza nos últimos dias, eu estaria convencida de que isso era um sonho.
— Um membro da nossa corte estava na festa quando você dividiu a terra, — diz Roarke. — Quem sabe como ele encontrou o caminho até lá, mas isso é irrelevante. Ele contou ao meu pai o que viu e sobre as palavras que você falou pouco antes de acontecer. Papai disse que devia ser uma Habilidade Griffin e que precisávamos trazê-la para a nossa corte antes que a Guilda descobrisse a respeito. Nós não percebemos que este — ele olha para Dash — era um guardião. Você acabou na Guilda muito mais rápido do que esperávamos. Pensamos que estávamos atrasados, mas depois eles mandaram você para Chevalier House.
— E foi aí que eu entrei, — diz Aurora. — Eu apareci na Guilda, contei a eles minha história inventada e fui para Chevalier House.
— Por que se incomodar com toda essa porcaria? — Eu pergunto, jogando minhas mãos para cima. — Seu pai é um rei. Por que ele não poderia simplesmente invadir Chevalier House e me levar ele mesmo?
Roarke suspira. — Emerson, você não sabe nada sobre magia protetora?
— Não, eu não sei. Eu não cresci aqui, lembra?
— Meu pai visitou a Chevalier House, mas não conseguiu entrar na propriedade. E ele não queria perturbar a Guilda, atacando os feitiços de proteção. Ele não queria que um grupo de guardiões descesse sobre nós, exigindo que voltássemos. As coisas teriam se tornado confusas. Então ele enviou Aurora em vez disso.
Eu viro meu olhar para ela. — Pobre pequena Aurora. Uma escrava de um bando de bruxas. Uma experiência tão traumatizante. — Soltei uma risada amarga. — E tudo isso foi uma mentira.
— Nem tudo, — diz ela timidamente. — Meu nome não era mentira. E eu realmente tenho uma história com bruxas. Eu vivi com uma quando era muito pequena — antes que ela se cansasse de mim e me jogasse na Corte Unseelie. Então papai decidiu me adotar, então é como eu acabei sendo um membro da família real Unseelie. — Ela sorri para Roarke antes de seu olhar voltar para mim. — Mas a história de ser uma escrava... bem, papai disse que era um caso que a Guilda lidou há alguns anos atrás. Bruxas com escravos faeries. Parecia uma boa história para mim.
— Bem, não funcionou. Então, qual foi o seu grande plano depois que me recusei a fugir com você?
Ela cruza uma perna cuidadosamente sobre a outra e se inclina contra o banco. — Eu pensei em tentar me aproximar de você. Eu pensei que talvez se você me conhecesse um pouco melhor, você confiaria em mim. Eu realmente não sou tão mal quanto você provavelmente está pensando agora. — Seus olhos violetas brilham com alegria. A cor das fadas parece ser a única cor verdadeira nesta cena estranhamente muda. — Eu sabia que só tinha alguns dias para convencê-la, no entanto. Uma vez que a Guilda testasse você para uma Habilidade Griffin, nós estaríamos sem tempo.
— Eu acho que você não contou comigo entregando a minha Habilidade Griffin por conta própria. Desculpe arruinar seu Plano B.
Aurora encolhe os ombros. — Eu improvisei. Voltei para a Guilda e tentei te tirar de lá. O que teria funcionado, a propósito — ela me dá um olhar aguçado — se você não tivesse deixado os guardiões colocarem as mãos em mim.
— Espero que você não esteja esperando que eu me desculpe.
— Não, embora você possa me agradecer por te ajudar a escapar.
Eu cruzo meus braços e olho para ela. Se gratidão é o que ela quer, ela vai ficar esperando por muito tempo.
— Infelizmente você desapareceu após o encontro na beira de Creepy Hollow, — Roarke diz, continuando a história, — então nós tivemos que fazer outro plano.
— Você não presumiu que eu estava morta?
— Não, claro que não. Nós sabemos sobre os rebeldes Griffin. Nós assumimos que eles resgataram você. Nós também assumimos que você voltaria para sua cidade natal em algum momento, então eu estive esperando por você lá.
— Bem, vocês certamente trabalharam duro para colocar suas mãos em mim. Eu acho que deveria estar lisonjeada.
— Você não está surpresa, não é? — Ele pergunta, um vinco enrugando sua testa. — Fazer as coisas acontecerem simplesmente falando é um poder extraordinário. Eu não acho que alguém já foi capaz de fazer isso. Obviamente nós faríamos qualquer coisa para você ficar do nosso lado.
— Formidável. Bem, aqui estou eu, então acho que isso faz de vocês os vencedores. Parabéns.
Aurora me dá um olhar perplexo. — Nós queremos você, Emerson. Não é bom ser desejada?
— Não! Eu não quero que ninguém mais me queira. — Fecho os olhos, cerro os punhos e alcanço a minha magia. — Você não me quer, você não me quer, — eu repito várias vezes, esperando desesperadamente que minha Habilidade Griffin apareça.
— Não está funcionando, — diz Aurora, levantando um pouco a voz para falar mais alto que eu. — Nós ainda queremos você.
Eu abro meus olhos, mas minhas mãos permanecem em punhos. — Você quer me aprisionar, me manipular, me forçar a falar coisas horríveis, coisas malvadas que irão acontecer. Isso soa certo?
— Na verdade, Emerson, — Roarke diz conforme ele levanta. — Eu gostaria de casar com você.
Uma quantidade indefinida de tempo passa em silêncio, com apenas o som do meu pulso latejando nos meus ouvidos. Então eu pisco. — Diga isso de novo.
— Eu gostaria de casar com você.
Eu recuo, levantando minhas mãos. Se minhas sobrancelhas pudessem subir mais alto, acho que elas estariam no meu cabelo. — Você sabe de uma coisa? Eu geralmente não uso palavras assim, mas eu sinto que elas são apropriados nesta situação: você é louco, Roarke. Doido. Lunático. Completamente louco e cem por cento desequilibrado. Eu não vou casar com você.
Ele inclina a cabeça um pouco para o lado. — Ninguém conseguiu ajudar sua mãe ainda, não é?
Um tremor que não tem nada a ver com a minha Habilidade Griffin arrepia os cabelos dos meus braços. — O que você sabe sobre minha mãe?
— Eu sei que a mente dela está doente. E sei que seus amigos não podem ajudá-la.
— Você não sabe disso. Talvez eles possam ajudá-la.
Ele sacode a cabeça. — Eles não sabem o que a deixou do jeito que ela está.
— E você sabe?
Seus lábios se esticam lentamente em um sorriso. — Eu sei. E conheço a magia necessária para curá-la.
— Eu suponho que você não vai me dizer.
— Não, a menos que você se case comigo, não.
— Casar com você! — Eu grito. — Eu não sei nem por onde começar com o quão insano isso é. Não vai acontecer.
— Não é insano. Faz muito sentido, na verdade. Na história do seu mundo — o mundo humano — os casamentos reais eram frequentemente usados para solidificar alianças entre países. Este é um conceito semelhante. Gostaríamos de nos aliar a uma fonte de grande poder, então —
— Então você quer se casar. Uau. Essa tem que ser a proposta menos romântica em qualquer um dos dois mundos que já foi apresentada.
Sua boca se contrai divertida. — Ninguém disse que isso era sobre romance, Emerson.
— Eu não vou casar com você! Você pode ter, tipo, quinhentos anos de idade.
— Eu tenho vinte e um anos.
— Ainda não vai acontecer.
— Então sua mãe nunca será curada.
Eu sacudo minha cabeça. — Eu não acredito em você. Eu acho que você não sabe o que há de errado com ela. Você diria qualquer coisa para eu fazer o que você quer. Para me fazer ficar aqui nesta esquisita Corte Unseelie.
Aurora fala. — Oh, esta não é a Corte Unseelie.
— Então onde estamos?
— Concorde em casar comigo, — diz Roarke, — e você vai descobrir.
— NÃO!
Um murmúrio silencioso me chama a atenção. Eu olho para Dash. Sua mão se contrai, sua perna se move um pouco e ele murmura novamente. — Esse feitiço de atordoamento pode não ter sido muito forte, Roarke, — diz Aurora. — Ela se levanta e se move para ficar ao lado dele. — Devemos levá-lo de volta. Eu não quero que ele acorde aqui.
— Nós podemos levar os dois de volta, — diz Roarke. — Eu acho que esta conversa acabou. Por enquanto, pelo menos.
Eu olho para trás e para frente entre os dois. — Espere. Estou esquecendo de algo? Você não está me forçando a ir com você para... eu não sei, seu palácio ou qualquer outro lugar?
— Não.
— Mas... eu não entendo. Você disse que seu pai quer minha Habilidade Griffin.
— Ele quer, — Roarke diz. — E eu também. Mas ele e eu temos visões ligeiramente diferentes sobre como, exatamente, possuir esse poder. Ele está feliz em forçá-la a fazer a vontade dele. Para mantê-la como prisioneira. Eu, por outro lado, preferiria se você voluntariamente se tornasse membro de nossa corte. Nossa família.
Eu me pergunto novamente se esse cara é genuinamente insano. — Por que eu iria de bom grado?
Como se fosse a resposta mais simples do mundo, ele diz, — Para salvar sua mãe.
— Vamos lá, Roarke, — diz Aurora. — Vamos lá.
— Eu gostaria que você guardasse isso, Emerson, — diz Roarke, segurando o menor espelho que eu já vi. É redondo e caberia facilmente na palma da minha mão. — Um simples toque de magia e ele entrará em contato comigo. Se você mudar de ideia, você pode me avisar.
Eu olho para o espelho sem pegá-lo. — Eu não vou mudar de ideia.
— Bem, se você não aceitar... — Ele se aproxima, agarra meu ombro para que eu não possa me afastar, e desliza o espelho no bolso esquerdo da minha calça jeans. Ele está tão perto agora. Tão perto e tão seguro de si. Ele não fará ideia do que o atingiu quando eu levantar meu joelho em direção a ele —
— O que está acontecendo? — Dash pergunta. Ele se senta, pisca e levanta rapidamente.
— Tudo bem. — Eu corro para o lado dele antes que ele possa atacar alguém. Eu não me importaria de ver Roarke no chão, mas agora é provavelmente mais importante sair daqui. — Essas pessoas amigáveis estavam prestes a nos deixar ir, — eu digo para Dash. — Explico tudo quando voltarmos.
— Roarke? Aurora? — Uma voz profunda chama de além da sebe à nossa direita.
— Droga, — murmura Roarke. — Vá por esse caminho, — diz ele para nós, apontando na outra direção. — Escondam-se.
Eu não preciso ser informada duas vezes. Eu agarro o braço de Dash e corremos juntos. Passamos por sebes e arbustos de rosas e através das nuvens de fumaça que se erguem. O jardim é infinito, com as mesmas características repetidas vezes e as bordas da minha visão permanecem turvas. Eventualmente, Dash me para. A fumaça negra de sombra dança e se enrola ao nosso redor. Ele bate nela. — Você tem muita coisa para explicar, Em, — ele diz. — Mas vamos dar o fora daqui primeiro. — Ele dá um tapinha em sua jaqueta, encontra sua stylus e se inclina para escrever no chão.
Nada acontece.
— Que maldito-pixie? Por que não está funcionando?
— O que o quê? Tudo bem, quando o pânico passar, vamos ter uma conversa séria sobre seus palavrões extremamente estranhos.
— Em! Por que não posso abrir os caminhos das fadas?
— Eu não sei. Nós não chegamos aqui através dos caminhos das fadas. Houve um clarão brilhante e depois chegamos.
— Isso é muito estranho. — Dash se vira lentamente, olhando em volta. — Eu nem sei se estamos no nosso mundo.
Algo se move contra uma das sebes. Uma forma não natural, girando e se esticando e afastando-se das folhas. — Dash. — Um terror doente cresce no meu estômago. Eu pego sua mão e a aperto com força. — O que é isso?
Eu ouço sua respiração no momento em que ele vê. — O que... — Sua mão aperta ao redor da minha. Ele me puxa para mais perto do seu lado. A forma fantasmagórica — um ser tão negro que poderia ser feito da escuridão dos caminhos das fadas — ondula, desloca-se e mergulha em nossa direção.
A mão de Dash voa para cima. Faíscas brilhantes se projetam para longe dele, indo direto para a criatura sombria. Infelizmente, a magia passa através da escuridão inconstante e sai do outro lado, como se este ser fosse feito de nada.
— Corra! — Nós corremos novamente, mais rápido do que antes, tecendo e esquivando-se através deste jardim interminável de névoa-fumaça. Eu dou uma olhada por cima do meu ombro, e a criatura está no ar, maior e mais próxima. Em seguida, desce, tornando-se uma serpente como uma coisa deslizando sobre a grama nos perseguindo. — Merda, oh merda, oh merda, — eu suspiro, olhando para frente e forçando minhas pernas a se moverem mais rápido. — Espere, isso é um portal? — À esquerda, no centro de outra sebe, vejo uma porta em arco aberta e luz além dela.
— Sim. — Dash gira em direção a ela. — Droga, este lugar não faz sentido.
— Eu sei, apenas corra! — Meus pés batem na grama. Meus braços bombeiam contra o ar. Estamos quase lá quando uma frieza gelada desliza sobre meu ombro. Eu pulo quando um grito desesperado se liberta da minha garganta. Nós nos jogamos através da porta e Dash gira o braço, fechando a porta com uma explosão de magia e nos fazendo parar em um piso de madeira polida.
Eu viro, de frente para a porta enquanto me afasto dela. Meu peito arfa enquanto recupero o fôlego. Meu coração bate repetidamente contra o interior das minhas costelas. — Você está bem? — Dash ofega. Minha mão ainda está bem apertada ao redor da dele, e não há nenhuma chance no inferno de eu soltar agora. Ele parece minha única âncora neste mundo de pesadelo que poderia me pegar e me levar a qualquer momento.
— Eu... acho que sim. Você está bem?
— Eu não sei, — diz ele. — Estou começando a me perguntar se ainda estou inconsciente e preso em um sonho.
— É mais como um pesadelo. — Quando a porta permanece firmemente fechada, corro o risco de afastar meus olhos dela. Eu olho para cima, mas não há nada acima de nós. Pelo menos, se houver um teto, é tão alto que não consigo ver. O piso de madeira e a parede dos dois lados da porta em arco se estendem para sempre dos dois lados. Eu me viro para olhar para trás — e percebo que há um grande buraco no ar. — Dash. — Eu aponto para o pedaço de terra e o oceano além dele. — Você vê isso?
Dash caminha ao meu redor, sem soltar minha mão. Ele se inclina para frente, olhando atentamente. — Isso é... Puta caramba. Essa é a Ilha Velazar. A parte com o monumento. Você pode ver o monumento na borda inferior ali. Em, isso... — Seus olhos acompanham todo o buraco. — Este é o buraco no véu.
Não faz sentido para mim que acabamos aqui, mas se esse é o nosso mundo do outro lado deste buraco, então... — Podemos passar por ele?
— Eu espero que sim. — Ele me puxa para frente. Chegamos ao buraco e, quando nada nos impede, continuamos. Um pé sobre o monumento. Então outro. Eu solto a mão de Dash quando ele pula para baixo. Eu rapidamente o sigo.
Com dois pés em segurança no chão, num mundo de cores genuínas e o sol brilhante do meio-dia, olho para o oceano. Vasto e magnífico. Ondas avançando para frente. Mais poderosas e inspiradoras do que eu poderia imaginar.
— Tudo bem, isso não faz sentido, — diz Dash.
Eu olho para trás para ver o que ele está falando. Do outro lado do buraco no ar, em vez de um portal em arco e de um chão polido, vejo um campo e um céu azul. — Mas... não é de onde acabamos de vir.
— Não, — Dash murmura. — Nós estávamos em outro lugar completamente. Em algum lugar... eu não sei Entre aqui e ali?
— Ei! O que vocês estão fazendo aqui? — Uma faísca de magia passa por nós. Dois guardiões saem correndo atrás do monumento. Eu me abaixo e fujo para fora do caminho enquanto Dash abre um portal para os caminhos das fadas. Eu mergulho com ele, limpando minha mente e confiando nele para nos levar a algum lugar seguro.
Capítulo 27
— POR QUE ESTAMOS NO QUINTAL DE CHELSEA? — PERGUNTO NO MOMENTO EM QUE A ESCURIDÃO CLAREIA e eu me vejo na grama seca e meio morta.
— Precisamos daquela última caixa, — diz Dash. — Aquela com os arquivos. Podemos ainda encontrar algo útil lá. Podemos levá-la de volta ao oásis e então — ele passa a mão pelo cabelo -— então podemos tentar descobrir do que diabos fugimos e de onde estávamos.
— É que um príncipe e princesa Unseelie têm a ver com isso.
Dash fica boquiaberto. — Você disse —
— Eu disse.
— Uau. Então é por isso que ela tentou ajudá-la a escapar da Guilda. Ela queria levá-la para os Unseelies. Espere, mas por que eles deixaram você ir embora tão facilmente agora?
Eu suspiro. — Eu explico mais tarde.
— Ei, aí estão vocês, — diz uma voz familiar. Violet caminha pela lateral da casa em nossa direção. — Eu cheguei aqui há alguns minutos e encontrei uma bagunça no quarto com todas aquelas caixas. Eu tentei encontrar vocês dois e, por alguma razão, minha Habilidade Griffin não encontrou nada, o que foi um pouco alarmante. Então fico feliz em ver que vocês estão seguros.
— Você não conseguiu nos encontrar? — Dash pergunta. Ele olha para mim. — Podemos acrescentar isso à lista de coisas seriamente estranhas sobre aquele jardim assustador.
Violet para na nossa frente. — Do que você está falando? Onde vocês estavam?
— Podemos explicar quando voltarmos ao oásis, — digo a ela. — Nós só queremos pegar uma daquelas caixas lá dentro e levar conosco.
— Tudo bem, — diz ela lentamente. Preocupação aperta suas feições, mas então ela respira fundo, parecendo afastá-las. — Em, olha o que eu tenho. — Ela segura um frasco com uma rolha. — Ana me deu esta manhã. Pronta para começar a testar essa Habilidade Griffin?
Um surto de emoção se acende dentro de mim. — Sim. Definitivamente.
Dash se afasta. — Eu vou pegar a — Ele para, franzindo a testa enquanto olha em volta para a cerca. Algo farfalha além dela, seguido pelo som abafado de passos na grama. — Alguém estava nos observando? — Pergunta ele. Ele passa por mim, subindo na árvore fina no canto do jardim e olha por cima da cerca. — Bem, se alguém estava nos observando, eles foram embora agora.
— Estamos invisíveis de qualquer maneira, — diz Violet quando Dash pula, — então não importa.
— Vocês podem estar, — eu digo, — mas eu provavelmente não estou. Eu duvido que meu feitiço esteja funcionando. Eu provavelmente pareço estar aqui falando sozinha. — O que, eu percebo, vai convencer qualquer um que esteja me vendo que eu finalmente cheguei ao fundo do poço, assim como todo mundo em Stanmeade pensou que eu iria.
— Vamos pegar aquela caixa, — diz Violet. — Podemos entrar pelos caminhos. Eu acho que sua tia está na cozinha fazendo café ou chá ou algo assim.
— Ah, adorável, você ainda está aqui.
Eu me viro ao som da voz. É ela, a mulher com o manto prateado, saindo rapidamente dos caminhos das fadas e entrando no quintal de Chelsea. O frasco de elixir escorrega dos dedos de Violet enquanto ela levanta as mãos para cima e para os lados. Uma leve ondulação no ar confirma que um escudo se formou ao nosso redor. — Quem é você? — Ela pergunta. Ao lado dela, Dash estende a mão no ar. Uma espada brilhante aparece em uma mão e um chicote na outra.
A mulher abaixa o capuz, revelando uma máscara preta cobrindo a maior parte do rosto. Tudo que vejo são seus lábios e olhos. — Você pode me chamar de Ada, — diz ela. — E então você pode entregar a Em.
— Não vai acontecer, — diz Violet.
Então, como se essa situação precisasse de uma complicação adicional, a porta de trás se abre e Chelsea sai correndo. — Emerson, onde diabos você esteve? — Ela grita. Seus olhos estreitos olham apenas para mim, o que confirma minha suspeita de que eu sou a única aqui sem um feitiço. De repente, como se lembrasse que ela deveria ter medo de mim agora, Chelsea congela. Ela dá alguns passos cuidadosos para trás. Seus olhos se voltam para o telefone em sua mão quando ela começa a tocar na tela. — Apenas... fique calma, tudo bem? Eu não quero nenhum problema.
— Oh, que perda de tempo, — diz Ada. Em alguns passos rápidos, ela está na frente de Chelsea. Ela toca o ombro dela —
— Não! — Grita Violet. Ela deixa cair o escudo.
— e Chelsea se torna uma estátua de vidro. Um arco e flecha aparecem nos braços estendidos de Violet. Ada levanta a perna e chuta Chelsea. Em seguida, ela sai do caminho, a flecha passa por ela, e Chelsea atinge o chão, quebrando-se em incontáveis pedaços de vidro.
Eu suspiro e enfio as duas mãos no meu cabelo. — Isso não aconteceu, — eu sussurro.
A porta dos fundos abre novamente, e desta vez é Georgia que está correndo. — Mãe! — Ela grita.
— Pare! — Grita Violet quando Ada se vira para a Georgia. Violet avança quando o chicote de Dash ataca. O chicote envolve o pulso de Ada e Violet pula em suas costas. As duas caem no chão, mas é tarde demais. Vidro sobe pelo corpo de Georgia, solidificando-a em uma estátua quase que instantaneamente.
— Vi, cuidado! — Dash grita, correndo para ajudar Violet. Violet rola para longe de Ada e levanta. Ada balança a perna, derrubando Georgia no chão. Ela se despedaça como sua mãe.
Eu puxo meu cabelo, xingando repetidamente, a culpa e o terror ameaçando me consumir, porque eu sei que tudo isso está acontecendo por minha causa. Ada se esquiva da magia de Violet e Dash e gira ao redor. As pontas dos dedos dela passam pelo braço de Violet antes de se afastar e bater na mão de Dash.
— Não, não, NÃO! — Eu grito, mas novamente, é tarde demais. O vidro os consome, transformando-os em estátuas facetadas imóveis. Ada levanta a perna. — Pare! Simplesmente pare! Farei o que você quiser!
Ela para. Abaixa o pé para o chão. — Você sabe que é tarde demais para eles, certo? Não há como voltar disso.
Eu caio de joelhos, minhas pernas tremendo não conseguem mais me segurar. — O que você quer? Minha Habilidade Griffin? Tudo bem. Eu irei com você. Eu não sei como fazê-la funcionar, mas vou tentar. Só, por favor, não os mate.
Ela solta uma risada. — Eu acho que eles já estão mortos, Em.
— Diga o que você quer de mim, — eu imploro.
Ada se afasta de Violet e Dash, o que me deixa quase murchando de alívio. É difícil matar uma faerie, Violet me disse. Nossa magia pode nos ajudar a sobreviver a muitas coisas que matariam um humano. Ainda posso ver ela e Dash. Eles são vidro sólido, mas ainda estão lá. Contanto que eles não sejam quebrados em um milhão de pedaços, há esperança para eles.
— Sabe, — diz Ada, de frente para mim com as mãos nos quadris, — Eu sempre me perguntei se você poderia ter uma Habilidade Griffin se escondendo dentro de você. E se tivesse, imaginei se algum dia poderia aparecer, ou se ficaria bloqueada para sempre, junto com o resto de sua magia. — Ela inclina a cabeça para o lado, me examinando. — Você não sabe como usá-la, não é. Você já teria me parado, se soubesse.
Demora alguns segundos para que o significado completo de suas palavras se encaixe. — Você... espera. Você sabe quem eu sou?
— Eu te conheço quase desde que você está viva, Em. É por isso que eu estive aqui há alguns dias, verificando com alguém. A pessoa que está te observando por mim. Imagine se eu viesse algumas horas depois, — acrescenta ela com um sorriso malicioso. — Esse alguém teria uma atualização muito mais interessante para mim.
Isso está ficando mais estranho a cada segundo. — Alguém esteve — quem? Foi aquele homem que você matou? Aquele que eu vi você transformar em vidro?
— Não, não. Era apenas alguém que me seguiu até aqui. Alguém que pensou que poderia me emboscar e me matar. — Ela ri. — Não foi preciso muito esforço para me livrar dele.
Eu estremeço com a facilidade com que ela fala sobre matar pessoas. — Então quem? E como você me conhece? Quem — o que eu sou? E o que diabos você quer de mim?
Ela me dá um sorriso de pena quando se aproxima. — Eu sei que toda essa atenção provavelmente subiu para a sua cabeça, então pode ser uma surpresa ouvir que eu realmente não quero você.
— V-você não quer?
— Não. Pelo menos ainda não. Eu quero sua mãe.
Sua mãe.
Um arrepio corre pela minha pele. Eu engulo após a náusea subir pela minha garganta.
— Por quê? Isso não faz sentido.
— Não tem que fazer sentido para você, Em. Apenas me diga onde ela está.
Eu lentamente sacudo minha cabeça. — Você não pode tê-la.
Ada se agacha na minha frente. — Você prefere ver esta cidade consumida por vidro quebrado? Você gostaria de ver seus amigos quebrarem, se despedaçarem e morrerem?
— Claro que eu não quero isso.
— Então você simplesmente precisa me dizer onde sua mãe está. Eu não vou machucá-la. Bem, talvez eu deva reformular isso. Eu não vou matá-la. Eu vou fazer algo um pouco... irreversível.
Meu rosto está molhado com todas as lágrimas que eu geralmente não deixo cair. — Eu não posso.
— Sim, você pode.
— Eu não posso, eu não posso, — eu lamento, cobrindo meu rosto com as mãos. — Como você pode me pedir para fazer isso? Ela é minha mãe. Eu a amo mais do que tudo.
— Então você não me deixou escolha.
Eu abaixei minhas mãos para vê-la se inclinando para frente. Ela pressiona os dedos na terra. — O que você está fazendo?
Ela não responde. Onde seus dedos encontram a terra, vidro começa a se espalhar lentamente. Tufos de grama endurecem, racham e se quebram. Eu pulo e me afasto dos estilhaços invasores. Enquanto isso, Ada se move para o lado da casa. Ela achata a palma da mão contra a parede e o vidro se estende ao redor da mão dela.
— Espere, por favor, pare. Você não precisa fazer isso.
— Você está me forçando a fazer isso, Em. Enquanto você não me dizer o que eu quero saber, essa magia continuará se espalhando e vai quebrar tudo em seu caminho. Esta cidade em breve será nada além de vidro quebrado.
Eu olho desesperadamente ao redor. O vidro está mais perto de Violet e Dash. Se chegar até eles, eles se estilhaçarão. Eu não vou ter a chance de ver se eles ainda estão vivos sob suas conchas de vidro endurecido. Deixo escapar um grito sem palavras, cobrindo meu rosto novamente. Tudo isso se resume a uma escolha impossível: quem eu salvo? Mamãe? Ou Violet, Dash e o resto de Stanmeade? — Não me faça escolher, — eu lamento. Eu espio através dos meus dedos. Os cacos de vidro quase chegaram a Violet. Eles estão a apenas trinta centímetros de distância da borda da bota dela.
Se aproximando.
E mais perto.
— Tudo bem, pare! Eu vou te dizer. Ela está em White Cedars. Apenas pare, por favor!
— White Cedars, — repete Ada. — Obrigada, querida Em. — Ela passa por mim até a cerca e abre um portal para os caminhos das fadas.
— Espera. Você precisa parar o vidro.
— Para ser honesta, Em, eu nunca gostei desta cidade. Sempre me senti um pouco triste por você ter que morar aqui.
— O quê? Não! Você vai mesmo destruir uma cidade inteira e todos nela?
— Eu não sei. Acho que vamos ver até onde vai a magia. — Ela entra nos caminhos e olha por cima do ombro. — Você pode correr e se salvar, ou sentar aqui e deixar o vidro quebrar você como todo mundo. É a sua escolha. Pessoalmente, eu preferiria que você se salvasse. Eu poderia um dia ter um uso para você se você conseguir ter essa habilidade sob controle. — Ela ri. — E o quão deliciosamente irônico seria se fosse você aquela que me ajudou a ver o plano de vingança.
Com uma explosão de raiva, eu me jogo atrás dela. Se eu puder entrar nos caminhos — se eu puder chegar à mamãe antes de Ada —
Mas a escuridão se fecha. A cerca reaparece e eu bato nela. A dor flui através do meu ombro e meu braço e eu deslizo para o chão, gemendo alto. Eu agarro meu ombro enquanto pensamentos de quão totalmente inútil eu sou martela contra o interior da minha cabeça. Eu possuo um poder que as pessoas matariam para colocar as mãos, mas eu não posso —
O frasco.
O elixir que vai estimular minha Habilidade Griffin.
Eu levanto, salto através dos pedaços de vidro, e procuro pelo frasco que Violet deixou cair. Deve estar na grama em algum lugar. E uma vez que eu tomar este elixir, minha habilidade vai funcionar, certo? Então eu posso falar mais de um comando.
O estridente som e rangido da casa começando a desmoronar me assustam. Eu olho para Violet. O vidro quase chegou a sua bota. — Não, — eu sussurro. Meus olhos retornam à sua busca desesperada no chão enquanto meu cérebro pensa em todas as coisas que eu preciso falar.
Daniela Clarke, você é invisível. Ninguém pode te encontrar, te machucar ou te matar.
Vidro, inverta a sua magia. Pare de se mover, pare de quebrar, pare de matar.
Violet e Dash, vocês não são feitos de vidro. Voltem para suas formas originais.
Finalmente, vejo o frasco. Está perto da base da árvore na qual Dash subiu, pedaços de vidro quase o tocando. Eu pulo sobre mais vidro, corro em direção a ele, abaixo, alcanço — mas a magia de Ada o tocou. Os estilhaços o apunhalaram, estilhaçando-o e o esmagando, e não me atrevo a tocá-lo por medo de que sua magia se espalhe em mim.
O elixir desapareceu.
Um enorme soluço rasga através do meu peito. Eu me levanto e ando para trás, observando a magia do vidro imparável. Ela chega à bota de Violet agora, estilhaçando ao longo do bico. Eu não posso salvá-la e não posso salvar a mamãe. Enquanto mais lágrimas descem pelas minhas bochechas, eu fecho meus olhos. Eu abro minha boca e despejo toda à dor dos últimos cinco anos em um grito dolorido. Eu grito até não poder mais respirar.
E então — esperança.
Eu sinto aquele arrepio, aquele breve pulso de poder correndo através de mim, e eu tenho uma fração de segundo para decidir: salvar a mamãe — ou salvar todos aqui. Minhas palavras saem em uma corrida desesperada. — Magia do vidro, você não tem poder! Inverta, desapareça, devolva tudo e todos do jeito que estavam antes e restaure tudo — A profunda reverberação em minha voz desapareceu quando alcancei a palavra ‘restaure’, mas acho que pronunciei comandos suficientes.
Eu olho em volta, prendendo a respiração, esperando meu poder fazer efeito.
O vidro para de se mover. Lentamente, afunda no chão, deixando a grama como era antes. Pedaços de Chelsea e Georgia se reconstroem, por mais impossível que pareça, minha tia e prima começam a se mover, gemer, se sentar. O lado quebrado da casa se recompõe como uma cena de demolição ao contrário. E Violet e Dash —
Eles ofegam por ar, dando grandes respirações profundas enquanto o vidro desaparece ao redor de seus corpos. — Oh, graças a Deus. — Eu corro pelo jardim em direção a eles.
— O que —
— Leve-me para White Cedars! Por favor, é urgente. Ada foi lá para pegar minha mãe.
Violet vira rapidamente para a parede e escreve contra ela. — Dash, volte para o oásis. Diga ao Ryn e ao Chase o que aconteceu. Eu vou levar a Em. — Eu aperto a mão dela e corro para a escuridão com ela.
Ainda estamos correndo quando saímos do outro lado no gramado em frente ao Instituto de Cura White Cedars.
— Eu sei onde é o quarto dela, — eu digo enquanto corremos pela área de recepção, curandeiros gritam atrás de nós. Ao longo do corredor, viro, outro corredor. Corro para dentro do quarto dela, passo por uma pilha de vidro no chão e puxo a cortina para trás. — Ela ainda está aqui, — eu digo, alívio inundando meu corpo. — Ela está aqui, mas... — Eu olho para o chão, para os pedaços de vidro afiados. — Mas Ada também estava aqui. Mãe? — Eu me viro para ela e aperto seu braço. — Mãe, acorde. — Mas ela não se mexe, e eu não posso deixar de ouvir a voz de Ada na minha cabeça: Eu vou fazer algo um pouco... irreversível.
Os curadores se apressam para dentro e somos forçadas a esperar do lado de fora. Eles confirmam que a mamãe ainda está viva, mas é tudo o que dizem antes de fechar a porta da mamãe e um deles nos levar de volta à sala de espera. Ontem à noite, achei a iluminação suave, cadeiras macias e os aromas de ervas reconfortantes, mas nada disso ajuda hoje. Nada pode me confortar quando estou convencida de que há algo terrivelmente errado com a mamãe.
— Diga o que aconteceu depois que Dash e eu fomos transformados em vidro, — diz Violet gentilmente. Suas palavras me lembram abruptamente que há poucos minutos ela estava essencialmente morta. Ela era uma estátua sem movimento, sem respirar, tudo porque se envolveu comigo e com minha mãe. Mas em vez de pirar sobre isso, ela agora está me confortando.
Eu afasto minha culpa e digo tudo a ela. O vidro se espalhando por toda parte, o frasco de elixir quebrando, Ada me forçando a escolher entre mamãe e todos os outros. — Eu falhei, — eu sussurro para ela quando termino.
Ela envolve os dois braços em volta de mim e me abraça com força, o que só intensifica minha culpa. — Você salvou uma cidade inteira cheia de pessoas, Em. — Ela se afasta e olha atentamente para mim. — Sua prima e tia deveriam estar — estavam — mortas. Sua mágica as salvou. Isso não é um fracasso. Isso é...
Um tipo assustador de poder, eu penso comigo mesma. Em voz alta, eu digo, — Mas eu falhei com a minha mãe.
Violet, é claro, tenta me convencer do contrário, mas eu sei a verdade. Eu dei a minha própria mãe para um ser mágico que queria machucá-la de alguma forma. Depois de todas as minhas promessas que eu daria uma vida melhor para nós duas. E isso significa que eu falhei com ela.
Finalmente, uma das curandeiras retorna para a área de espera. — Ela está viva? — Eu pergunto, imediatamente me pondo de pé.
— Sim. — A curandeira, uma mulher pequena com uma longa trança pendurada em um dos ombros, gesticula para eu me sentar. — Mas ela parece estar em um estado profundo de inconsciência.
— Como? Por quê? O que aconteceu com ela?
— Não estamos certos. A curandeira que estava no quarto na hora foi atacada e... — Ela respira fundo. — Bem, todos nós lemos sobre os faeries de vidro nas notícias. E você viu o que estava no chão.
Eu aceno, percebendo que essa mulher obviamente conhecia a curandeira que Ada matou. — Eu sei. Eu sinto muito. Mas não há como você descobrir o que aconteceu com ela? O que a colocaria em coma tão rapidamente?
— Existem várias possibilidades. Nós testamos todas elas e descartamos todas.
— Tudo bem, então? — Eu pergunto. — E agora?
— Bem... — A curandeira olha de mim para Violet e vice-versa. — Como não há mais nada que possamos fazer por ela no momento, gostaríamos de sugerir que ela poderia se sentir mais confortável — e mais segura — se ficasse em casa. Se ela acordar, você pode trazê-la de volta.
— Se ela acordar? Você acabou de dizer se?
— Obrigada, — Violet se apressa em dizer antes que a curandeira possa responder. — Parece uma boa ideia. Acho que seria mais seguro ela ficar conosco do que ficar aqui.
A curandeira concorda e se levanta. — Vou organizar a papelada.
Quando ela sai da sala, Violet diz, — Em, vamos consertar isso. Você pode tentar usar sua Habilidade Griffin e dizer a ela para acordar. Se isso não funcionar, encontraremos outra coisa. Eu não sei como, mas nós vamos. Faremos toda a pesquisa que pudermos e, quando finalmente descobrirmos o feitiço que a colocou em coma, poderemos acordá-la.
— E se a mente dela ainda estiver doente quando ela acordar?
— Então vamos descobrir sobre isso também. — Seus dedos envolvem a minha mão e as aperta. Ela sorri. — Tudo ficará bem no final.
Consigo devolver o sorriso, porque percebi que há outra maneira de a mamãe ficar bem no final. Um plano reserva. Um plano que Violet nunca aprovaria...
Capítulo 28
VÁRIAS HORAS DEPOIS, COLOCO MAMÃE EM UMA CAMA EM UM QUARTO PARA ELA NO Oásis. Eu aliso seu cabelo escuro para trás de sua testa, depois me sento na cadeira ao lado da cama por um tempo, pensando em todas as perguntas que ainda não pude fazer a ela. E todas as novas perguntas que foram adicionadas à minha lista mental desde hoje de manhã. Quem é Ada e como ela conhece a mamãe? Por que ela queria colocar a mãe em coma permanente?
Algo um pouco... irreversível.
Eu afasto as palavras de Ada da memória. Eu não quero aceitar que mamãe nunca vai acordar, mas é difícil ignorar os fatos: Ana preparou mais elixir para mim esta tarde, e ele estimulou a minha Habilidade Griffin por tempo suficiente para dizer a mamãe para acordar — mas ela não respondeu. Parece que minha voz mágica e ressonante, que tinha o poder de reconstruir duas pessoas e trazê-las à vida hoje, de alguma forma não pode acordar minha mãe.
Algo um pouco... irreversível.
Se os curandeiros não sabem que tipo de magia fez a mamãe entrar em um sono permanente, então deve ser algo completamente diferente. Algo mais sinistro. Algo que aqueles que ignoram as leis e brincam com magia negra possam conhecer.
E é aí que entra o plano reserva.
Eu me levanto e caminho até a caixa no canto do quarto. A caixa que Dash trouxe enquanto eu estava no instituto de cura com a mamãe. Eu estava esperançosa de que ainda pudesse conter algo útil, mas uma rápida olhada nos arquivos restantes não revelou nada.
Eu abro a caixa, enfio minha mão e vejo a flor de cristal rosa que eu deixei cair lá dentro. Depois de encontrá-la, atravesso o quarto e a deixo na mesa de cabeceira. É tão pequena que parece ridículo ficar ali sozinha, mas eu sei que mamãe gostaria do fato de estar lá.
Depois de observá-la um pouco mais, beijo sua bochecha e saio do quarto, fechando a porta gentilmente atrás de mim.
***
— Venha ver, venha ver! — Jack pega minha mão enquanto desço as escadas. — Merrick e Junie adicionaram mais coisas dentro da cúpula enquanto você estava fora. — Ele me puxa todo o caminho até a parte de baixo da árvore.
— Ah, ai está ela — diz Dash quando eu piso na grama. — Como vai você?
Eu dou de ombros. — Tudo bem, eu acho. Você?
— Estou me sentindo melhor agora que não sou mais uma estátua de vidro.
— Sabe, — eu digo para ele, — estátuas de vidro são muito mais silenciosas e menos irritantes do que certas pessoas.
— Ah, vamos lá, você teria sentido minha falta se eu não tivesse voltado.
Eu me permito um sorriso. — Talvez.
— Bem, de qualquer forma, acho que você vai gostar da mais recente adição ao Oásis.
— Não diga a ela! — Diz Jack. — Ela tem que ver primeiro ou de outra forma vai estragar a surpresa.
Nós três caminhamos juntos, a conversa permanece leve enquanto Jack nos conta o que ele está aprendendo na escola. Eu noto Dash ocasionalmente olhando na minha direção, provavelmente tentando descobrir se eu realmente estou bem.
— Tudo bem, espere, — diz Jack. — Pare aqui. — Estamos quase passando o pomar, que está iluminado esta noite com pequenos insetos brilhantes dourados e luzes rosa-laranjas. — Devemos vendá-la.
Eu levanto uma sobrancelha. — Você vendou a todos que vieram ver essa nova adição?
— Sim. Tudo bem, nem todo mundo, — Jack admite. — Mas algumas pessoas.
— Que tal se eu apenas fechar meus olhos?
Jack inclina a cabeça para o lado. — Você promete não abri-los?
— Sim. Mas você tem que prometer não me deixar tropeçar em nada.
— Sim, claro. — Ele enlaça o braço no meu e fecho os olhos.
— Sem espiar, — diz Dash.
Depois de mais um minuto de caminhada, Jack me faz parar. Eu posso sentir o cheiro e escuto algo que me deixa suspeita, mas eu não posso estar certa. — Tudo bem, você está pronta? — Jack diz. — Abra seus olhos.
Então eu abro. Arrepios percorreram minha pele ao ver a faixa pálida de areia e as suaves ondas cor de pôr-do-sol caindo sobre ela.
— Não é incrível? — Diz Jack. — Nós temos uma praia!
Eu pisco contra o brilho da umidade se formando sobre meus olhos. — É incrível. — Ele corre através da areia, pula para as ondas rasas e chuta a água para o ar.
Dash coloca as mãos nos bolsos. — Merrick estava conversando há alguns dias sobre o que acrescentar em seguida, e me lembrei de você olhando pela janela da casa de recuperação e perguntando sobre o oceano. Então eu disse a ele que seria legal ter uma praia e um pequeno pedaço do oceano aqui.
Eu mordo meu lábio para controlar as minhas emoções bobas e depois digo, — Hoje foi a primeira vez que vejo na vida real. Na ilha. E foi apenas por um momento, por isso é incrível tê-lo aqui.
— Oh. Mesmo? — Dash me encara. — Então é por isso que você estava perguntando sobre ele naquele dia. Devemos ir ver a coisa de verdade então. Eu posso te levar agora, se você quiser. Só tenho que ter certeza de que não seremos emboscados por ninguém mais que queira colocar suas garras malignas em você.
— Não, — eu digo com um sorriso. — É perfeito por enquanto.
— Ei, — uma voz chama atrás de nós. Ryn caminha na areia, seguido por Violet e uma cesta flutuando. — O que você acha do nosso pequeno pedaço do mar?
— Eu amo, — eu digo a ele.
— Pensamos em fazer um piquenique na praia para o jantar, — diz Violet, apontando para a cesta flutuante. Ela pousa perfeitamente na areia, e o cobertor dobrado em cima levanta e se estende ao lado da cesta. Nós nos sentamos enquanto Violet desembala a comida e Jack continua pulando e mergulhando na água. Calla e Chase se juntam a nós alguns minutos depois, espalhando seu próprio cobertor ao lado do nosso.
Nós comemos nosso jantar de piquenique enquanto o sol desaparece lentamente. Em algum momento, Bandit e Filigree saem da cesta de piquenique em forma de rato e esperam pacientemente por alguma comida. Bem, Filigree espera pacientemente; Bandit realiza vários saltos entre a espera.
Quando está quase escuro demais para ver, lanternas flutuantes aparecem ao longo da praia. Embora eu note cada um dos adultos me observando em algum ponto durante a noite, ninguém faz perguntas sobre mais cedo ou propõe quaisquer teorias malucas sobre mamãe ou sobre a misteriosa faerie de vidro Ada. É como se houvesse um acordo tácito de que esta noite não é para refazer os eventos do dia. Hoje é para curtir a praia, apreciar deliciosas frutas e petiscos que eu nunca provei antes, perseguir Jack ao longo da areia e criar ideias para o que acrescentar a seguir no Oásis.
Eu absorvo tudo, sabendo que esta noite é ao mesmo tempo uma primeira e última vez para mim.
— Em! — Jack cai ao meu lado algum tempo depois da nossa refeição. — Eu te contei sobre a nova dança que aprendemos hoje de manhã?
— Hum, acho que você me contou sobre tudo o que aprendeu hoje. Não tenho certeza se você mencionou uma dança. Vocês têm aulas de dança regulares aqui?
— Todos nós aprendemos as danças tradicionais das fadas quando estamos na escola primária, — explica Dash. — Vi e Ryn não queriam que as crianças que moram aqui perdessem, então a dança está incluída nas aulas.
— Posso te ensinar? — Jack me pergunta. — Então você pode praticar comigo.
— Oh. Hum, tudo bem. — Dançar não é minha praia, mas eu suponho que vou dar uma chance se isso deixar Jack feliz. Ando com ele alguns passos para longe dos cobertores, depois o encaro e seguro suas mãos.
— Tudo bem, então você avança assim. Sim, com esse pé primeiro. E então você recua. E nossas mãos se juntam assim.
— Tudo bem.
— Então repetimos isso quatro vezes e depois nos virando um para outro assim.
Em algum lugar atrás de mim, música começa a tocar. Curiosa para saber de onde vem, eu olho por cima do ombro e vejo Ryn incitando uma bola de vidro para o ar. Luzes coloridas dentro da bola piscam ao mesmo tempo que a música, o que me diz que é de onde a música deve estar vindo. — Incrível, — murmuro. — O que é isso?
— Em, você não está se concentrando, — reclama Jack.
— Certo, desculpe.
Ele demonstra o próximo passo para mim, mas acho difícil acompanhar. — Sabe, eu odeio dizer isso, Jack, mas acho que o tipo de dança que fazemos no mundo humano — onde apenas balançamos de um lado para o outro — é muito mais fácil. Veja, você coloca seus braços em volta da minha cintura — Eu movo seus braços para o lugar — e eu coloco meus braços em volta de seus ombros, e nós balançamos.
— Isso é super chato. E você é muito alta.
— É verdade, mas eu sou muito alta para a sua dança também.
— Você só precisa de um parceiro mais alto, — diz Dash, movendo-se para o meu lado e estendendo a mão para mim.
— Oh. Não. Obrigada. Eu não gosto muito de dançar. E... hum... eu ia dormir agora de qualquer maneira.
— Tão cedo? — Ele diz. — Vamos, só até o final da música. Nós podemos fazer sua coisa chata de balançar. — Ele me dá seu sorriso encantador, e eu vejo uma sugestão do Dash que fez todas aquelas garotas se apaixonarem.
— Bem. Só não pise nos meus pés.
— Com esse jeito chato de balançar, minha querida Emerson, duvido que isso seja um problema.
Eu coloco minhas mãos em volta do pescoço dele. Seus braços deslizam em volta da minha cintura e me puxam para mais perto. Eu descanso meu queixo em seu ombro, o que parece um pouco estranho, mas também é legal. Nós andamos lentamente de um lado para outro, um pouco mais do que apenas um movimento oscilante, mas muito mais simples do que o que Jack estava tentando me ensinar.
— Em, — Dash diz baixinho. — Emmy. Eu realmente sinto muito. Sobre sua mãe. Mas pelo menos ela está aqui agora. E nós vamos encontrar uma maneira de curá-la. Nós vamos. Eu estive cuidando de você desde que estraguei tudo há anos e não vou parar agora. O que eu puder fazer para ajudar, eu farei. Ela vai melhorar, e vocês duas podem ficar aqui, e vocês duas finalmente terão a vida que você sempre prometeu a ela.
Meus olhos viajam através da cena, e meu coração se parte quando percebo que tudo o que eu sempre quis está bem aqui — e que eu nunca vou ter. Lágrimas picam meus olhos, minha garganta dói e de repente eu não consigo falar. Eu mordo meu lábio, mais e mais até as lágrimas recuarem e eu conseguir respirar novamente.
Quando a música acaba, eu não vou embora imediatamente. Eu sento com todo mundo por mais algum tempo. Eu rio das terríveis piadas de Dash e sorrio para as palhaçadas de Jack. Então eu volto para as árvores gigantes junto com todos os outros. Eu alegremente digo boa noite e subo para o meu quarto como se nada estivesse diferente. Como se meu peito não estivesse doendo. Como se eu não tivesse acabado de dizer adeus.
Capítulo 29
EU ABRO O GUARDA-ROUPA, E EM VEZ DE PEGAR UM PIJAMA, EU PEGO a jaqueta mais quente que consigo encontrar. Eu não sei o quão frio é para onde estou indo, então é melhor estar preparada. — Desculpe Bandit, — eu digo para o filhote de lobo dormindo na cadeira no canto, — mas você não virá comigo desta vez. É mais seguro você ficar aqui.
Eu tiro a minha camiseta e pego uma limpa no topo da pilha — exatamente quando ouço passos do lado de fora da minha porta. — Ei, Em. — É a voz de Calla. A porta se abre. — Eu queria perguntar se — Oh, me desculpe.
— Não, tudo bem, — eu digo com uma risada nervosa, me virando enquanto me atrapalho com a camisa.
— Eu sinto muito, eu deveria ter batido.
— Não, não. É minha culpa por me trocar sem fechar a porta corretamente. Eu não pensei. — Eu puxo a camisa sobre a minha cabeça antes de me virar para encará-la. Mas em vez de um sorriso, eu a vejo olhando para mim, seu rosto pálido. — Qual é o problema? Você está bem? — Ela não pode saber o que estou prestes a fazer, pode?
— Eu... — Sua mão agarra o batente da porta, e ela agarra com força, como se fosse à única coisa que a mantem de pé.
— Calla? — Eu dou um passo incerto em direção a ela.
Ela fecha os olhos, balança a cabeça e solta uma leve risada. — Eu sinto muito. — Ela abre os olhos, pisca e me dá um meio sorriso. — Eu devo ter bebido mais do que pensei. Apenas um momento de tontura. Isso é tudo.
— Hum, está bem.
— De qualquer forma. — Ela pigarreia. — Eu só, hum, vim até aqui para perguntar se você quer sair correndo pelo limite do Oásis conosco no início da manhã.
— Oh. Na verdade, acho que prefiro dormir amanhã. Tem sido, sabe... um longo dia.
Ela balança a cabeça, ainda olhando para mim um pouco estranhamente. — Sim. Definitivamente.
— Hum, está bem. Bem, boa noite.
— Boa noite. Ei, Em? — Eu olho para cima. — É uma linda tatuagem no seu ombro. Eu não a percebi antes.
— Oh, não é uma tatuagem. Agulhas me assustam. — Eu estendo a mão e toco meu ombro esquerdo. — É na verdade um marca de nascença. Minhas roupas geralmente cobrem, então é por isso que você nunca viu antes.
Ela balança a cabeça, apertando a porta novamente, e começo a me perguntar se o que quer que ela tenha bebido esta noite pode ter tido sua origem no reino humano. — Que interessante, — diz ela fracamente. — Parece como uma flor.
— Sim, parece. — Eu franzo a testa. — Você tem certeza de que está bem?
— Definitivamente. — Ela sorri. — Durma bem, ok?
Eu aceno, me sentindo culpada por mentir para ela. — Você também.
Ela fecha a porta. Bandit, observando curiosamente da cadeira, abaixa a cabeça e me observa com os olhos semicerrados. Uma vez que tenho certeza de que Calla se foi, enfio a mão no bolso esquerdo da frente e tiro o espelho.
***
Eu me sinto mal por roubar uma stylus da cozinha de Ryn e Vi, mas não tenho muita escolha, já que não tenho a minha. Eu não encontro ninguém no meu caminho descendo as escadas, ou quando estou andando pela grama. É quase fácil passar pela cúpula e entrar no deserto.
Eu escrevo os caminhos das fadas na areia várias vezes sem funcionar. Eu não perco minha paciência, no entanto. Ver as palavras brilharem esta manhã me deu confiança de que eu estou quase lá com essa coisa de caminhos das fadas. Eu tento mais uma vez — e a emoção corre através de mim ao ver um espaço escuro se abrindo. Eu deslizo para dentro dele, sussurrando o nome que me foi dado.
Sou recebida do outro lado pelo cenário que me disseram para esperar: uma piscina natural de pedras numa floresta iluminada com feixes de luz da tarde brilhando através das árvores próximas.
— Emerson, — uma voz diz atrás de mim. — Fiquei um pouco surpreso em ouvir sua resposta tão cedo. Você parecia inflexível que não mudaria de ideia.
Eu me viro para encarar Roarke. — As circunstâncias mudaram. Eu decidi que posso estar disposta a acreditar que você pode ajudar minha mãe.
Ele cruza os braços sobre o peito. — Interessante.
— Só tem uma coisa. Vou exigir uma prova antes de aceitar sua proposta. Prove que você sabe o que há de errado com minha mãe e que pode consertá-la.
— Isso pode ser difícil, — diz ele, — considerando que eu não vou lhe dizer nada até depois de nos casarmos.
— Mas ela precisa de ajuda agora. Eu... assinarei um contrato ou algo assim. Um contrato dizendo que eu concordo em casar com você se você puder curá-la primeiro.
— Um contrato? — Ele ri. — O tipo de contrato que você está se referindo não significa muito neste mundo. E se eu curar sua mãe e você decidir não seguir adiante?
— E se eu casar com você e depois você decidir não curar minha mãe?
Uma sugestão de diversão toca seus lábios. — Suponho que um de nós vai ter que aprender a confiar no outro.
— Pois bem. Estou ansiosa para ganhar sua confiança. — Porque eu certamente não planejo me casar com esse Príncipe Unseelie sem primeiro ver minha mãe saudável. — Você trouxe o dispositivo mágico que você falou?
— Sim. — Roarke enfia a mão dentro de seu longo casaco e pega um pequeno item em forma de moeda. Ele se aproxima e afasta meu cabelo para trás da minha orelha. É inquietante tê-lo em pé tão perto, mas eu finjo que isso não me incomoda. Ele pressiona a moeda na pele atrás da minha orelha e, quando ele afasta a mão, a moeda permanece. Eu levanto meus dedos e gentilmente a toco, me certificando de que ela não se move. — Você tem certeza de que ninguém será capaz de me encontrar enquanto eu estiver usando isso? Eu não quero ninguém... interferindo no nosso acordo.
— Completamente certo. A Corte Unseelie tem feito uso de itens como este há muito tempo.
Eu solto uma respiração lenta. — Está bem então. Eu acho que estou pronta para ir com você.
Emerson Clarke: Sarcástica. Independente. Possivelmente enlouquecendo.
Porque essa é a única explicação para por que ela ocasionalmente vê coisas que não estão lá, certo? Mas uma noite, um poder impossível irrompe dela, e Em percebe que a verdade é mais louca do que ela jamais imaginou: ela não está enlouquecendo; ela é mágica.
Lançada em um mundo inteiramente novo de fadas, encantamentos - e o cara chato que não é humano também - Em mal tem tempo de aprender o mais básico de magia antes que outra verdade surpreendente se revele: ela tem uma Habilidade Griffin. Um tipo especial de magia temido pela maioria dos fae. Agora ela está no topo da lista de mais procurados de todos, incluindo o misterioso faerie que realiza ataques aleatórios contra fae.
Neste mundo mágico e aterrorizante para o qual ela está totalmente despreparada, Em deve tentar descobrir quem ela realmente é, em quem confiar e como se manter viva por tempo suficiente para voltar à sua vida normal.
Comece uma nova aventura emocionante como a série best-seller de Creepy Hollow que continua dezoito anos após os eventos de A Faerie's Curse!
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PARTE 1
Capítulo 01
NA ESCURIDÃO ENTRE A LANCHONETE TYGO E A BIBLIOTECA ABANDONADA, O fedor de lixo apodrecendo, me faz querer vomitar. Me concentro em respirar pela boca enquanto removo o pacote de papel marrom amassado da minha bolsa mensageiro e o seguro. — Você sabe o preço, Slade. — Eu aceno o pacote para ele. — É pegar ou largar.
Slade levanta uma sobrancelha. Ele solta um suspiro dolorosamente longo antes de se voltar para o maço de notas em sua mão. Ele as percorre preguiçosamente, contando a quantidade certa. Mas, em vez de entregar o dinheiro, ele encosta um ombro na parede e me observa com um sorriso. — Você conduz uma barganha difícil, Emerson Clarke.
— Pare de ser um idiota. O preço é exatamente o mesmo da última vez. Você quer ou não?
— Claro que eu quero. Desencana, Em. — Ele encolhe os ombros, esfregando o ombro contra o gigante X amarelo grafitado nos tijolos. — Apenas tentando tornar essa troca mais divertida.
Eu enfio o pacote contra o peito dele e retiro o dinheiro da mão dele. — Eu não preciso de mais diversão na minha vida.
— Ei, você realmente precisa relaxar, — ele fala atrás de mim conforme eu me afasto.
— Obrigada pelo conselho. — Eu não me incomodo em olhar por cima do meu ombro para ele conforme me afasto, meus tênis pisando no chão sujo e úmido. Estou quase no fim do beco quando a porta dos fundos da lanchonete Tygo se abre. Eu me esquivo para fora do caminho para evitar ser atingida no rosto. — Caramba, Marty.
— Oh, ótimo, você ainda está aqui. — Ele segura um saco de lixo em minha direção. — Você esqueceu deste aqui.
Eu considero dizer a ele que meu turno terminou há cinco minutos, mas não vale à pena discutir. Eu pressiono meus lábios, empurro o dinheiro de Slade no bolso da minha calça jeans e pego a sacola. Marty deixa a porta fechar sem outra palavra. Resmungando sob a minha respiração, eu ando os poucos passos de volta para a lixeira. Slade, ainda curvado na outra extremidade do beco, me ignora enquanto seguro meu fôlego, levanto a tampa da lixeira e levanto o saco de lixo e sobre a borda.
Estou prestes a abaixar a tampa quando ouço um sussurro de dentro da lixeira. Apenas um rato, digo a mim mesma, sabendo que deveria fechar a tampa. Mas essa parte do meu cérebro que sempre quer saber se as coisas que eu vejo e ouço são reais faz meu braço congelar no lugar. O som estridente e farfalhante se move para o lado da lixeira. Um braço escamoso aparece, abrindo caminho ao longo da borda com garras azuis e um líquido amarelo brilhante pingando de —
Eu solto a tampa e pulo para trás, xingando em voz alta.
— Com medo de alguma coisa, Em? — Slade sorri enquanto passa por mim.
— Não, — eu respondo de volta. Mas quando ele vira a esquina e desaparece, eu engulo, meu coração batendo rápido demais. Espreito a lateral da lixeira, procurando por um braço reptiliano meio esmagado saindo de baixo da tampa. Mas não há nada lá. — Imaginação hiperativa, — murmuro para mim mesma enquanto me afasto, é a mesma mentira que sempre uso.
Eu me sinto mais calma quando estou na rua principal. Prendendo meu polegar sob a alça da minha bolsa mensageiro, eu diminuo meus passos, não mais me sentindo como se estivesse fugindo de alguma coisa. Meu medo evapora quando eu me lembro de que com o dinheiro de Slade adicionado às minhas economias, eu finalmente tenho o suficiente para uma viagem de ônibus.
— Ei, Em.
Eu me viro na direção do grito e encontro Val empoleirada em cima de uma parede ao redor da Escola Primária Stanmeade. — Ei. — Eu aceno para ela enquanto eu mudo de direção e atravesso a área gramada do lado de fora da escola. Eu jogo minha bolsa no chão, então corro direto em direção a parede. Meu pé direito bate nos tijolos e me lança para cima. Com as palmas das mãos em cima da parede, é fácil puxar minhas pernas para cima.
— Legal, — Val diz conforme eu ando habilmente ao longo do topo da parede em direção a ela.
— Obrigada. — Eu me sento ao lado dela e coloco as mãos no meu jeans. — É uma parede fácil, no entanto. Não tão alta quanto algumas das outras que tentamos.
— Eu sei. Ei, veja isso. — Ela empurra o cabelo escuro e crespo da frente do seu rosto e segura o telefone na minha frente. — Último vídeo Top Dez do ParkourForLife.
Olhando além da rachadura na tela do celular de Val, vejo um sujeito pular de um prédio, dar uma cambalhota no ar e aterrissar no prédio ao lado, seguido por mais nove movimentos espetaculares. — Impressionante, — murmuro. — Eu adoraria poder fazer tudo isso.
— Totalmente, — Val concorda. — Eu meio que sinto que temos que ir a outro lugar para melhorar nossas habilidades. O parquinho urbano daqui é muito limitado.
— O parquinho urbano? — Eu repito com uma risada.
— Sim. As pessoas chamam assim, certo?
— Hum...
— Bem, eu chamo assim. — Ela abre os braços, quase me acertando no rosto com o seu cotovelo. — Eu apresento a vocês o parquinho urbano de Stanmeade. É feio, mas é onde começamos.
Eu balanço minha cabeça, ainda sorrindo. — Você entendeu bem a parte feia. E a parte limitada. Conhecemos bem este lugar e seus obstáculos agora.
— Sim. De qualquer forma, como foi seu turno?
Eu dou de ombros. — Um pouco acima da média. Eu vendi outra das misturas caseiras da Chelsea. Slade Murphy novamente.
— Novamente? Ooh, diga. De que doença recorrente secreta Slade Murphy está sofrendo? Alguma coisa super embaraçosa sobre a qual devemos avisar sua namorada?
— Foi para a namorada dele, na verdade. Algum tipo de chá anticoncepcional.
Val inclina a cabeça para trás e ri. — Bem, esperemos que funcione.
— Eu acho que deve estar funcionando, já que este é o segundo pacote que eu vendi para ele. De qualquer forma, isso não é importante. — Eu puxo minhas mangas para baixo para cobrir meus polegares. — O importante é que eu finalmente economizei o suficiente para outra passagem de ônibus.
Val se endireita. — Para visitar sua mãe?
— Sim, obviamente.
— Legal, — diz ela, embora sua voz não tenha entusiasmo.
— O quê?
— É só que... — Ela se mexe um pouco. — Você tem certeza que deseja fazer isso? Realmente te perturbou da última vez que você a visitou.
Eu mordo meu lábio inferior antes de responder. — Eu sei, mas espero que seja diferente desta vez. Ela pode estar melhor. Além disso, valerá à pena sair um pouco desse lugar. Eu estou contando os dias até não precisar mais dividir uma casa com pessoas pé no saco.
— Eu te entendo, — Val diz, seus cachos saltando quando ela balança a cabeça. Eu sei que ela não quis dizer isso inteiramente, no entanto. Nossas situações familiares são difíceis, mas de maneiras completamente diferentes. Enquanto eu fico com uma tia que me odeia e uma prima mimada, Val tem quatro irmãos mais novos que sua mãe espera que ela ajude a cuidar. E eu sei que Val os ama, apesar de todas as reclamações dela. Então, daqui a alguns meses, quando finalmente terminarmos a escola, tenho a sensação de que vou partir por conta própria.
— Ei! Saiam daí! — Olhamos sobre nossos ombros para o pátio da escola, onde a Sra. Pringleton está sacudindo o dedo ossudo para nós.
— Mas não estamos fazendo nada de errado, — Val grita de volta.
Suas mãos nodosas formam punhos, e as manchas cor-de-rosa em seu rosto ficam mais rosadas. — Eu vou ligar para a polícia se vocês não saírem daqui nos próximos dez segundos!
— Legal, — diz Val. — Diga ao Tio Pete que eu disse oi.
— Val. — Eu cutuco seu braço enquanto tento evitar rir. — Não vamos dar à velha um ataque cardíaco, ok? Podemos subir de volta assim que ela sair.
— Tuuuudo bem. — Val mexe sua bunda até a borda da parede e pula para baixo. Eu sigo um momento depois. — Eu acho que eu deveria ir para casa para os mini monstros de qualquer maneira, — acrescenta ela. — Mas eu estou me dando mais cinco minutos de liberdade primeiro. — Ela se senta na grama e cruza as pernas.
— Tudo bem por mim. — Eu permaneço de pé, mas me inclino contra a parede e brinco com a ponta da minha manga. — Você provavelmente já está com problemas por estar atrasada, então o que são cinco minutos extras?
— Exatamente.
Um carro passa ruidosamente e, do outro lado da rua, noto uma pessoa que não estava lá há um minuto. Um cara com uma arrogância irritantemente familiar em seu passo. — Maravilha, — murmuro. — O que Dash está fazendo aqui?
— Hmm? — Val olha para cima. — Oh. Provavelmente indo para a festa.
— Que festa?
Ela vira a cabeça para o lado e olha para mim. — Sabe, aquela na casa da fazenda do Mason.
— Eu não sabia, na verdade. O irmão mais velho de Jade está em casa novamente?
— Sim. Supostamente cuidando de Jade e do outro garoto Mason enquanto seus pais estão fora.
— E em vez disso ele está dando outra festa, — eu digo com um suspiro.
— Sim. Sorte nossa, humildes estudantes do ensino médio.
— Certo. Se você gosta. — Olho de volta para o outro lado da rua para Dash. Como sempre, ele destacou seus cabelos loiros mel com mechas verdes brilhantes. Tudo o que posso fazer é balançar a cabeça para a estranha combinação de cores. — O cabelo dele é tão estranho. Eu não sei como eles o deixaram se livrar disso seja qual for à escola que ele frequenta.
— Você não sabe como eles o deixaram ficar com o cabelo incrível? — Val pergunta com uma risada.
— Não, eu quero dizer a cor.
Ela ri com mais força e balança a cabeça. — Eu não sei o que você pode achar ofensivo sobre o cabelo lindo daquele menino, mas tudo bem. Eu não discutirei com você.
Eu olho para ela com uma careta. — Cabelo lindo? Sério?
Ela encolhe os ombros. — O que posso dizer? Eu o acho atraente.
Eu gemo e olho para cima mais uma vez, e Dash escolhe aquele momento para olhar através da rua, nos dar um sorriso encantador e piscar. — Sério? — Eu murmuro. — Quem diabos pisca para as pessoas?
— Dash, aparentemente, embora provavelmente só para você. — Val bate no meu tornozelo. — Você sabe que ele ama irritar você. De qualquer forma, você deveria ir para a festa. Se Dash fez todo esse percurso, você sabe que vai ser boa.
— Por favor. Dash provavelmente está entediado seja lá qual for a escola particular e tensa e esnobe que ele frequenta. Sem dúvida, ele aproveita a chance de ir a qualquer festa.
— Então... isso significa que você vai?
Eu balanço minha cabeça enquanto observo Dash continuando a descer a rua. — Não é a minha praia, Val. Você sabe disso.
— Você sabe que ainda pode ir a festas mesmo se não quiser beber, certo?
— Então eu vou ficar lá totalmente sóbria e ver o resto de vocês ficando bêbados? Não, obrigada.
— Ou você poderia apenas beber um pouco. — Ela dá uma tapinha no meu tênis. — Você precisa relaxar mais, Em.
Eu cruzo meus braços sobre meu peito. — Lembra como meu tio morreu de envenenamento por álcool? E como minha mãe tentou abafar seus delírios bebendo? Sim. Estou tentando evitar situações como essa.
Val fica quieta enquanto ela levanta. — Vamos, Em. Você sabe que isso nunca vai acontecer com você.
Eu pisco para longe a memória daquele braço escamoso e brilhante saindo da lixeira. — Tudo bem, aqui está uma razão para você: Dash vai estar nesta festa, e eu não sinto vontade de estragar a minha noite.
— Ok, ok, eu entendi. Você não vai à festa. — Ela passa um braço em volta do meu pescoço e me abraça. — Tente ter uma boa noite de qualquer maneira.
— Obrigada. Vejo você amanhã.
Nós seguimos em direções diferentes, Val segue pela parte de trás da escola para atravessar o campo, enquanto eu continuo ao longo da rua. Longas sombras se estendem pelo asfalto e a névoa marrom-alaranjada e desbotada do pôr do sol enche o céu. Eu viro logo depois dos correios —
— e vejo uma figura com um capuz prateado no meio da rua. Na frente dele ou dela está um homem com orelhas pontudas. A figura encapuzada toca o homem, e o homem se torna uma estátua sólida de cristal facetado reluzente.
Com um suspiro, eu me escondo atrás do prédio, meu coração trovejando. Eu pressiono minhas costas contra a parede de tijolos quentes e coloco as duas mãos sobre os olhos. Eu conto até dez enquanto me forço a respirar devagar. — Não há nada lá, — eu sussurro para mim mesma. Eu começo a contar novamente, e desta vez eu continuo. Eu alcanço o número oitenta antes de ser corajosa o suficiente para abaixar minhas mãos do meu rosto. Lentamente, eu espreito ao redor do prédio - e, claro, não nenhum sinal de que uma figura encapuzada e uma pessoa feita de cristal estivessem lá. Porque eles não estavam, eu digo a mim mesma. Eu pressiono minhas costas contra a parede mais uma vez. — Você não viu nada, — eu sussurro. — Não havia nada lá. Você não viu nada de estranho. Você não está ficando louca.
Mas, ao me apressar pela rua principal, optando por seguir o caminho mais longo para casa, não consigo deixar de pensar em todas as vezes que coisas estranhas como essa aconteceram. A criatura não identificável sentada no parque no balanço um dia. Aquele homem com as orelhas pontudas que veio na lanchonete uma tarde. E daquela vez eu olhei no espelho do banheiro e por um momento, meu cabelo estava azul. — Eu não estou ficando louca, — repito calmamente, quase desesperadamente. Isso provavelmente está relacionado a algo que vi na TV. Ou algo que eu li. Meu cérebro está processando algo fictício e o regurgitando mais vividamente do que eu esperava. É isto o que as pessoas querem dizer quando falam sobre uma imaginação hiperativa, certo? — Sim, deve ser isso, — murmuro. — Deve ser isso.
Deve ser qualquer coisa, exceto o óbvio: que estou ficando como minha mãe.
Eu tento manter meu olhar focado no chão aos meus pés o resto do caminho para casa, não querendo ver nada que eu não deveria estar vendo. É uma viagem muito mais longa do que se eu tivesse usado a rua que eu deveria usar. A rua em que a figura encapuzada estava. Está escuro quando chego a nossa rua, e quase corro para cima e para o lado da casa da Chelsea. Eu nunca estou ansiosa para chegar em casa, mas de alguma forma me convenci de que estarei segura assim que entrar. Eu entro pela porta da cozinha e paro um pouco para respirar quando a porta se fecha atrás de mim.
Uma panela fervendo contendo algo que cheira como podendo ser macarrão está no fogão. Através da porta aberta que leva ao salão, ouço Chelsea e Georgia conversando. Meu medo anterior começa a parecer tolo em comparação com a normalidade ao meu redor.
Atravesso a cozinha sem falar oi para Chelsea e Georgia. Elas não se importam particularmente que eu esteja em casa, e eu particularmente não me importo em cumprimentá-las. Em vez disso, vou direto para o meu quarto, removendo o dinheiro do bolso conforme ando. Eu forço minha porta a se abrir, empurrando-a além de outra caixa de equipamentos de salão da Chelsea que parece ter encontrado seu caminho para este quarto desde hoje de manhã. Deixo minha bolsa mensageiro escorregar do meu ombro sobre a cama, meu foco agora em contar minha comissão do dinheiro que Slade me pagou. O resto, claro, vai para a querida Tia Chelsea. Ela é quem faz os estranhos remédios de ervas.
Eu puxo meu pote de sorvete com produtos de higiene da prateleira acima da minha cama e procuro pela sacola plástica que eu guardo. Eu vou contar tudo agora e ter certeza que tenho bastante, então, eu vou comprar uma passagem de ônibus amanhã. Eu remexo em várias garrafas, meus dedos procurando o saco de plástico amassado.
Sumiu.
Meu estômago cai enquanto esvazio o conteúdo do pote na minha cama, só para ter certeza. Eu espalho tudo, mas a pequena sacola com zíper definitivamente não está lá. Minha pele fica fria e quente. Foram meses e meses de poupança, tudo para que eu pudesse visitar a mamãe e agora sumiu?
Minhas mãos se fecham em punho enquanto saio do quarto e vou direto para o salão. Eu encontro Georgia descansando em uma das cadeiras, olhando para si mesma no espelho enquanto ela passa a mão pelo cabelo loiro e liso. No lado oposto da sala, Chelsea estoca as prateleiras com mais de seus produtos caseiros à base de ervas.
— Onde está o meu dinheiro? — Eu exijo.
Georgia pula de susto e quase escorrega da cadeira, mas Chelsea ainda demora um momento antes de se virar para mim. — Seu dinheiro, Emerson, — diz ela. — Eu acho que você quer dizer meu dinheiro.
— Desculpe?
— Você vem me roubando há meses.
— Roubando — eu nunca roubei nada de você. Eu sempre dou a você exatamente o que é devido e só mantenho a porcentagem permitida. Você sabe disso.
— Certo. — Chelsea cruza os braços e acena com a cabeça. — E depois você volta para o meu quarto e rouba o que quiser. O dinheiro tem desaparecido da minha bolsa há meses. No começo eu pensei que estava imaginando, que deve ser erro meu, mas então eu comecei a acompanhar exatamente o quanto estava lá. — Ela me dá um sorriso triunfante, como se tivesse feito algo maravilhosamente inteligente. — E você sabe o que eu descobri? Pequenas quantias de dinheiro começaram a desaparecer a cada semana. E olha onde eu encontrei. — Ela cava no bolso e tira uma sacola plástica. Minha sacola de plástica.
— Essa é a minha suada poupança, — eu digo a ela, sentindo um nó de náusea se formando no meu estômago. — Isso não é seu.
— Não minta para mim. Eu sei como vocês meninas gastam dinheiro. Como se crescesse em árvores e vocês não tivessem nenhuma responsabilidade no mundo. O que eu quero saber é onde está o resto? — Ela sacode a sacola no ar entre nós. — Porque você roubou muito mais do que o que resta aqui.
— Eu não roubei você! — Eu grito. Eu olho para Georgia, que está observando nós duas com um pequeno sorriso. Minha raiva aumenta um nível quando eu aponto para ela. — Você quer saber para onde seu dinheiro está indo? É onde você deveria estar procurando.
— Não se atreva a meter Geórgia nisso. Ela nunca me roubaria.
— Bem, não sou eu, então não sobra ninguém, não é?
Chelsea solta uma risada incrédula. — Eu não acredito em você, Emerson. Depois de tudo o que fiz por você. Eu trabalho tanto para cuidar de vocês duas, e é assim que você me paga? Você me rouba e então corre por toda a cidade fazendo aquele inútil absurdo de parkour.
— Tudo? — Eu repito. — Você disse depois de tudo que fez por mim? — Normalmente eu ficaria de boca fechada. Eu engoliria minha raiva e deixaria que ela tentasse se convencer de como ela é incrivelmente caridosa. Mas não desta vez. Não quando ela tirou minha única chance de visitar minha mãe. — Você quer dizer que está me dando roupa de segunda mão de Georgia, me fazendo dormir no que é essencialmente seu depósito por cinco anos e me usando como sua empregada doméstica?
— Eu te dei uma casa, — ela grita. — Você deveria ser grata pelo teto sobre sua cabeça. O que teria acontecido com você se não houvesse ninguém para aceitá-la depois que trancaram sua mãe? Seu pai com certeza não queria você. Ele parece estar cobrindo todas as despesas médicas de sua mãe naquele hospital distante, mas ele está interessado em apoiar você? Não. Eu nunca conheci o homem.
Chelsea usou essa jogada antes para tentar me machucar, mas nunca funciona. Eu não me importo com o meu pai ou com o fato dele não ter interesse em mim. Eu nem sei como ele é. — Por favor, — eu digo entre os dentes cerrados. — Apenas me devolva meu dinheiro.
— Você não vai conseguir esse dinheiro de volta, Emerson. Fim da história. — Chelsea coloca a sacola de plástico de volta no bolso e se vira para as prateleiras de lixo de ervas. Georgia sai da cadeira e sai da sala. Eu fico ali me sentindo enjoada, meu corpo tremendo, finalmente percebendo que a esperança que tenho guardado por meses - a esperança de finalmente visitar minha mãe novamente - se foi. E eu não posso culpar Chelsea por isso. Não inteiramente. Não quando ninguém é responsável por essa bagunça.
Saio do salão e vou para o quarto de Georgia. Ela está sentada em sua cama com uma revista, sorrindo docemente, com conhecimento de causa.
— Foi você, — eu digo, dando alguns passos para dentro de seu quarto. — Você disse a ela onde meu dinheiro estava.
Ela abaixa a revista. — Porque você precisaria de todo esse dinheiro, Em? Você sabe que precisamos disso para manter a casa funcionando. Como você pode ser tão egoísta?
— Como você pode ser tão egoísta roubando de sua própria mãe?
— Eu preciso de coisas, — diz ela. — Coisas que você não precisa. Coisas que você não entenderia, e mamãe não parece entender também.
Eu olho para ela com raiva por mais alguns segundos, minha raiva tão intensa que eu poderia gritar. Mas isso não seria bom. Eu ainda tenho que ficar mais alguns meses aqui, então eu fecho a boca, me viro e vou em direção da porta.
Mas é quando eu vejo: pendurado em uma maçaneta no guarda-roupa, a etiqueta ainda presa na bainha, está um vestido novo. — Está é a coisa que você precisa? — Eu exijo, pegando o cabide, girando e sacudindo o vestido para ela.
— Sim. — Ela se senta um pouco mais ereta, como se eu finalmente conseguisse sua atenção agora que estou ameaçando sua roupa. — Eu tenho um namorado e uma vida social e um futuro. Esse tipo de coisa não vem de graça. Você tem que parecer bonita se quiser —
Eu arremesso o vestido sobre ela, e ela grita quando atinge o lado de sua cabeça. — Você comprou um vestido? — Eu grito. — Estou economizando há quase um ano para poder visitar minha mãe e você tirou isso de mim por causa de um VESTIDO?
Algo pisca através do quarto. Luz e calor e o som de um chiado. Desaparece quando Georgia recua contra os travesseiros com um grito.
O medo quebra a minha raiva, me enchendo de arrepios. Eu corro em direção de Geórgia. — Qual é o problema? O que aconteceu?
Ela me empurra com uma das mãos, a outra cobrindo sua bochecha. — O que diabos você fez comigo? — Ela ofega, seus olhos mais arregalados do que eu já vi.
— Eu não fiz —
— Você jogou algo em mim! Como um fogo de artifício ou algo assim. Sua esquisita, qual é o problema com —
— Eu não joguei nada!
— Saia de cima dela! — As mãos de Chelsea envolvem meus ombros e me puxam para trás.
No silêncio que se segue, tudo o que ouço é minha respiração pesada e os gemidos de Georgia. Ela abaixa a mão, revelando sangue escorrendo de um corte raso em sua bochecha. Ela me encara com ódio renovado. — Oh, meu pobre bebê, — Chelsea engasga, pegando um lenço da caixa na mesa de cabeceira. Ela cai na cama ao lado de Georgia e pressiona o lenço contra sua bochecha antes de virar sua carranca na minha direção. — Eu não posso mais fazer isso, Em. Você nunca demonstrou gratidão pelos sacrifícios que tive que fazer por você. Você roubou de mim e agora agrediu fisicamente Georgia. A polícia pode lidar com você.
— A polícia?
Ela se levanta e passa por mim. — Você não é mais meu problema. — Eu a sigo até a cozinha, onde ela pega o telefone da mesa. Quando ela disca alguns números e leva o telefone ao ouvido, percebo que ela não está brincando.
O medo dissolve minha raiva. — Chelsea, espere. Eu sinto muito. Georgia me provocou, mas eu não deveria ter perdido a paciência daquele jeito. Não vai acontecer de novo. Você não precisa envolver os policiais nisso. Por favor. — Me sinto enjoada de ter de implorar a ela, ter que implorar a essa mulher que me fez esfregar banheiros, lavar a roupa de Georgia, mentir para os vários homens que ela está sempre mentindo e depois exigir minha gratidão pelo privilégio de fazer todas essas coisas por ela. Mas é só por mais alguns meses. Então eu terei dezoito anos, terminarei a escola e eu posso fazer um plano para sair daqui. Mas se a polícia se envolver, quem sabe onde vou parar.
— Não, — diz Chelsea. — Eu não posso acreditar que você está me obrigando a fazer isso, mas agora não tenho escolha. Eu tenho que proteger minha filha.
— Chelsea, por favor. Protegê-la de quê? — Eu me aproximo, apertando minhas mãos sob o queixo. — Eu juro que nunca —
— Você vai acabar ficando louca igual a sua mãe, — ela diz, — e eu não quero você nesta casa quando isso acontecer.
Eu recuo como se ela tivesse me dado uma tapa.
— Alô? — ela diz ao telefone, se afastando de mim. — Sim, hum, por favor, você pode enviar alguém para —
Eu passei por ela em direção à porta dos fundos.
— Ei, volte aqui! — Ela grita enquanto eu abro a porta e corro.
Mas eu não volto. E eu não paro de correr.
Capítulo 02
EU CORRO PELO QUINTAL, ESCALO O MURO DO VIZINHO E PULO FACILMENTE PARA A parede baixa do outro lado do jardim. Não tenho outro plano senão chegar o mais longe possível da casa antes que os policiais apareçam. Meus tênis batem nos pavimentos e meu corpo se lança através de vários obstáculos antes de eu perceber que estou indo para a casa de Val. Eu chego na metade do caminho quando lembro que ela não vai estar em casa. Não sei a que horas a festa deveria começar, mas as coisas geralmente começam bem cedo por aqui. Não é como se houvesse muito coisa para fazer. Além disso, a casa de Val é provavelmente o primeiro lugar para o qual Chelsea vai mandar a polícia.
Eu diminuo meus passos e coloco minhas mãos em meus quadris enquanto recupero o fôlego. Meu coração está tamborilando, meu corpo quase vibrando. Eu me forço a respirar longa e lentamente. — O que diabos você está fazendo? — Eu murmuro para mim mesma. Talvez eu não devesse ter corrido. Talvez eu devesse ter ficado e me explicado. Qual é a pior coisa que poderia ter acontecido?
Você vai acabar ficando louca igual a sua mãe.
Se os policiais acreditarem em Chelsea - se alguém realizar algum tipo de exame médico em mim e suas palavras se revelarem verdadeiras - então o pior que pode acontecer não é uma acusação de agressão física. Não é um serviço comunitário, ou seja lá o que for, que a polícia local decidir ser uma punição adequada para mim. Não, a pior coisa seria acabar em uma instalação como a da minha mãe. Trancada para evitar que eu machuque os outros. Drogada para me impedir de ver coisas que não estão lá.
Basicamente, meu pior pesadelo se tornaria realidade.
Eu me vejo correndo de novo, desta vez na direção da casa de Jade Mason, nos arredores da cidade. É mais longe do que eu me lembro e fico sem fôlego quando chego lá. Eu diminuo a velocidade perto da parte inferior da rua, então não estou suada e ofegante quando chego à festa.
Do lado de fora da casa dos Mason, encontro pessoas andando ao redor de uma fogueira e outras sentadas na varanda. Música chega aos meus ouvidos. Não vejo Val em nenhum lugar do lado de fora, subo correndo os degraus da varanda e entro na casa.
— Ei, Em, você apareceu desta vez. — Eric, o idiota que se senta ao meu lado na aula de inglês, acena para mim de onde ele está encostado na parede do corredor com alguns de seus amigos. — Ei, você trouxe alguma daquelas ervas que sua tia vende? — Ele faz alguns movimentos com a pélvis enquanto seus amigos riem. — Você sabe como isso me deixa —
— Val está aqui? — Eu pergunto.
— Sim, ali. — Ele balança a cabeça em direção à sala do outro lado do corredor. — Quer uma bebida primeiro?
Eu passo por ele sem responder, deixando os uivos e vaias de seus amigos se misturarem com a música de fundo. Na sala escura e cheia de fumaça, Dash está parado do lado de dentro da porta, comandando uma plateia de várias garotas. Suas sobrancelhas se contraem momentaneamente em uma carranca quando ele me vê, mas dura apenas um momento. Então ele balança a cabeça e sorri.
Ignorando-o, eu entro na sala e vejo Val em um sofá com um monte de nossos colegas de turma. Ela está com um copo em cada mão. — Val! — Eu corro até ela.
— Ei, você veio. — Ela sorri para mim quando ela se arrasta e acena com a cabeça em direção ao local vazio no sofá. — Venha sentar aqui.
— Não, eu posso - falar com você?
Ela deve ouvir a urgência na minha voz - ou talvez viu no meu rosto - porque ela se levanta imediatamente. — Algo errado? — Ela pergunta, andando comigo até o canto da sala. Paramos ao lado de uma janela. Meu corpo ainda parece está zumbindo, então eu aperto minhas mãos, reviro meus ombros e me forço a respirar lentamente. Val franze a testa. — Em, o que foi?
— Chelsea encontrou meu estoque de dinheiro. Ela surtou e me acusou de roubar dela.
— O quê? De jeito nenhum. Você nunca roubaria dela.
— Claro que eu não faria isso. Foi obviamente a Georgia, mas não vale a pena dizer isso a Chelsea. Ela nunca acreditaria que seu anjinho fosse capaz de roubar. E então... eu... perdi a paciência, e Georgia e eu estávamos brigando, e arranhei a cara dela. Eu não posso dizer a Val que não era eu. Eu não posso dizer a ela que algo estranho e inexplicável aconteceu naquele quarto. Ela provavelmente olharia para mim da mesma forma que Chelsea fez na cozinha. Você está ficando louca igual a sua mãe. — E então ela disse que não podia mais lidar comigo e chamou a polícia.
— Sério? — Val olha para mim como se ela não tivesse ouvido corretamente. — Chelsea chamou os policiais porque você arranhou a Georgia? Isso é ridículo.
— Eu sei. Mas... — eu olho em volta. — Sua prima está aqui? Lexi? Se eu puder falar com ela, então ela poderá explicar para o seu pai o que realmente aconteceu, e ele pode dizer aos outros policiais, e então eles não vão me levar embora.
— Levar você embora? — Val começa a rir. — Em, você precisa relaxar. Tio Pete não vai levar isso a sério. Ele sabe que você não é uma criminosa de verdade. Talvez ele faça você juntar lixo no parque ou algo assim, apenas para manter Chelsea feliz, mas ele não vai te levar embora.
De repente eu me pergunto se estou sendo tão boba quanto Val parece pensar. Foi apenas um arranhão, afinal. Bem, um pouco mais que um arranhão, mas dificilmente uma ameaça à vida. — Você acha? — Eu corro a mão pelo meu cabelo, não estou disposta a relaxar ainda.
— Sim, vamos lá. Esta é uma cidade pequena. Todos nós nos conhecemos. As pessoas não ficam presas por algo tão estúpido.
— Eu acho que sim.
— O que você quer dizer com você acha? — Ela sorri e me cutuca com uma mão ainda segurando um copo. Um líquido frio espirra sobre a borda e espirra no meu braço. — Obviamente, estou certa sobre isso. Então apenas relaxe. Divirta-se. Tome uma bebida.
Eu suspiro, tentando afastar o meu pânico e não totalmente conseguindo. — Você se lembra de que esse tipo de cenário não é exatamente a minha ideia de diversão, certo?
— Eu sei. Mas o amigo do irmão de Jade, Marcus, estará aqui em breve e eu preciso de apoio. Você sabe que fico estranha quando estou sozinha com um cara gostoso. Por favor, fica.
Eu não quero exatamente ficar, mas é provavelmente a melhor opção. Chelsea não estava brincando sobre pressionar acusações - ou tentar, pelo menos - mas ela provavelmente vai se acalmar se eu lhe der um pouco de espaço durante esta noite. — Sim, tudo bem.
— Sim. — Val sorri. — Aqui, tome uma bebida. — Ela estende um dos seus copos para mim, em seguida, revira os olhos para a minha sobrancelha levantada. — Não é alcoólica, eu prometo. Tem que ficar hidratada, lembra? Alcoólica — ela levanta o outro copo — e não-alcoólica.
Hesito, mas estou com sede depois de trabalhar na cozinha da lanchonete a tarde inteira, pegando a rota mais longa para casa e depois correndo pela cidade para chegar até aqui. Eu sei que já faz horas que eu bebi qualquer coisa. — Obrigada. — Eu examino a sala por cima do copo enquanto eu tomo um gole, esperando algo doce e efervescente. Mas a bebida queima como fogo na minha garganta. Eu tusso e resmungo e empurro o copo de volta para Val.
— Qual é o problema?
— Val, isso é horrível, — eu consigo dizer. — O que tem aí dentro?
Com uma expressão confusa, ela pega o copo de mim e bebe. Então ela levanta o outro copo, cheira e prova. — Hmm. — Sua carranca se aprofunda. — Eu acho que nos dois têm álcool. Eu devo ter tomado todo o refrigerante. — Ela encolhe os ombros. — Ah bem. Pelo menos você só provou um pouco.
— Val.
— O quê? Eu sinto muito. Eu não fiz de propósito. E um gole não vai te matar.
Eu tusso novamente, tentando livrar minha garganta da sensação de queimação. — Foi um pouco mais do que um gole, — murmuro.
Val toma o restante de um copo, depois o deixa no peitoril da janela e segura minha mão. Quando ela me puxa, espero que estejamos voltando para o sofá em que a encontrei. Em vez disso, ela me puxa para a sala ao lado, onde muitas pessoas estão espremidas juntas, acenando com a cabeça no ritmo da batida e gritando umas com as outras sobre a música.
Val se inclina em minha direção e diz, — Ooh, Marcus já está aqui. Viu ele ali no canto? E você pode ficar com aquele cara que está com ele. Talvez nós duas acabemos com alguém até o final da noite, e então nós vamos ter um encontro duplo e nos casar e viver felizes para sempre.
Balanço a cabeça para os devaneios ridículos de Val. — Certo, e então eles vão nos trair, e nós vamos acabar sozinhas como nossas mães.
— Ei! — Val bate no meu braço, mas seu sorriso pula de volta ao lugar enquanto ela me puxa para o outro lado da sala em direção a Marcus e seu amigo. O nome do amigo é Trent e, com certeza, ele não é feio, mas estou muito distraída para aproveitar a companhia dele. Eu me inclino contra a parede, brincando com o pompom de cabelo ao redor do meu pulso e ocasionalmente acenando com a cabeça, então os três acham que estou prestando atenção na conversa deles. Em vez disso, meus pensamentos estão longe, oscilando continuamente entre as palavras de Chelsea - você vai acabar ficando louca como sua mãe - a pessoa encapuzada que eu imaginei na rua, e o corte inexplicável na bochecha de Georgia. Os mesmos pensamentos várias e várias vezes, até que nada parece fazer mais sentido.
Eu me torno consciente de que meu corpo ainda está zumbindo. Provavelmente a bebida horrível de Val. Isso não faz sentido, meus pensamentos sussurram na parte de trás da minha mente, mas eu nunca tomei bebida alcoólica antes, então como eu saberia? Talvez todo mundo comece a se sentir estranho depois de um enorme gole.
Val está olhando para mim, sorrindo e falando, e eu tento seguir o que ela está dizendo, mas não consigo mais me concentrar. Suas palavras entram em um ouvido e saem pelo outro, e a sala está de alguma forma... inclinando apenas um pouco. Eu olho para o chão, mas parece normal. Essa sensação na minha cabeça não é normal, no entanto. Esta semi consciência turva. A sensação de que eu estou envolta em algo macio que amortece a batida, batida, batida da música e o som da voz de Val. Talvez eu devesse estar preocupada, mas não consigo encontrar a parte de mim que se importa. A parte de mim que quer cair nesse casulo macio e dormir está assumindo.
Eu lembro do sofá na sala ao lado. — Eu só vou... vou... — Eu aponto para a porta e começo a me mover em direção a ela. Eu nunca tive que me concentrar em andar reto, mas é estranhamente difícil agora. O chão continua querendo subir em minha direção.
O sofá está cheio de gente. Eles não gostariam que eu me deitasse sobre eles, então eu consigo sair da sala e ir para o corredor. Eu arrasto minha mão ao longo da parede, mantendo-me de pé enquanto faço meu caminho até a porta da frente. O ar lá fora está mais frio, mais fresco. Eu permaneço na varanda por um tempo, encostada no corrimão e respirando profundamente até notar que o ar não está tão fresco assim. Cheira a fumaça.
Eu preciso ir para casa. Eu preciso andar e respirar e deixar essa nebulosidade estranha para trás. Eu preciso dormir. Tudo ficará mais claro quando eu acordar de manhã.
As escadas da varanda são um desafio, mas consigo navegar nelas. Estou aliviada por estar na grama e me afastar da casa e das pessoas, mas o algodão entupindo meu cérebro parece me seguir.
— Ei, aí está você. — Val aparece ao meu lado. — Você está indo embora?
— O quevocêestá... fazendoaquifora? — Faço uma pausa, abro mais a boca e me concentro intensamente para não pronunciar minhas próximas palavras. — Você deveria estar lá dentro com seu cara gostoso.
— Ugh, não, eu acabei de dizer a coisa mais idiota de todas. Marcus me olhou como se eu fosse uma criança. Muito constrangedor. Juro que queria que a terra tivesse se aberto e me engolido inteira.
— E daí? — Eu murmuro, minha voz ressoando estranha em meus ouvidos enquanto eu balanço no local. — Então deixe que a terra se abra e a engula inteira.
Um tremor ressoa sob nossos pés. — O que foi isso? — Val pergunta.
Com um som estridente, um buraco irregular ziguezagueia pelo jardim, abrindo a terra. O terror dissipa um pouco do algodão na minha cabeça, deixando tudo mais claro. Eu sufoco um grito e tropeço para trás.
Mas Val desliza sobre borda do buraco e cai dentro dele.
— Val! — Eu caio de joelhos e me arrasto. Ela está se agarrando à borda, gritando. Não consigo ver a profundidade do buraco, mas de repente começa a fechar. Quando eu agarro os braços de Val, a terra escura se fecha ao redor de seu corpo. — Pare! — Eu engasgo. — Pare, por favor, pare! Socorro! — Eu lhe dou um puxão desesperado, a solto e caio para trás.
E a escuridão envolve tudo.
Capítulo 03
ACORDAR É COMO AGARRAR O MEU CAMINHO ATRAVÉS DA LAMA ENQUANTO ALGUÉM golpeia minha cabeça repetidamente com um martelo. Quando finalmente consigo deslocar minhas pálpebras e piscar várias vezes, olho para o quarto embaçado, tentando lembrar como cheguei em casa e fui para a cama.
Exceto que este não é meu quarto.
Alarme dispara através de mim, limpando a névoa e fazendo minha cabeça latejar ainda mais. Náusea rasteja pela minha garganta quando os eventos recentes inundam meu cérebro. O sangue no rosto da Georgia - Chelsea chamando a polícia - a festa - um terremoto dividindo o chão e - o que diabos aconteceu na noite passada? Essa última informação não pode ter sido real. Devia ter havido algo estranho na bebida de Val.
Meu pulso martela em meus ouvidos enquanto eu observo o quarto desconhecido e seu mobiliário elegante. Do outro lado do quarto, alguém abre a porta e entra. — Oh, você está acordada, — diz ele. — Bom dia.
— Dash? Onde estou... Você me sequestrou? Que mer —
— Uau, espere aí, Senhorita Boca Suja. — Ele pega uma cadeira e a aproxima da cama. — Mamãe está por perto. Ela não gosta de linguagem como essa.
Eu fico boquiaberta com ele. — Esta é a sua casa? — Eu não tinha ideia que quartos legais como esse existiam na pequena cidade miserável de Stanmeade. — O que diabos estou fazendo aqui?
— Bem, — ele diz enquanto senta na cadeira, — eu tive que resgatá-la da bagunça que você fez.
— A bagunça que eu fiz? — Eu pressiono minhas mãos sobre o meu rosto para que eu não tenha que olhar para ele. A dor latejante por trás dos meus olhos se intensifica e a náusea ameaça me dominar. — O que tinha naquela bebida? — Eu murmuro.
— Nada sinistro, — ele diz levemente. — Fadas não respondem bem ao álcool que os humanos fabricam, só isso. Eu acho que você conseguiu ficar longe disso até agora, senão você estaria familiarizada com os efeitos da ressaca.
Eu abaixo minhas mãos e empurro o edredom para o lado. — Você sabe o que, Dash? Você pode tirar sarro de mim o quanto quiser. Eu não me importo, especialmente considerando que ‘fada’ é provavelmente a provocação mais fraca que você já fez. — Eu me levanto, meus pés afundando no tapete macio. — Só me deixe sair daqui para que eu possa ir para casa.
Dash levanta. — Isso vai ser um pouco difícil.
Eu coloco minhas mãos nos meus quadris e dou a ele meu olhar mais feroz - o que provavelmente não é tão feroz, dado o meu estado atual. — Você não vai mesmo tentar me parar, não é?
— Não, eu não vou impedi-la de fazer nada. Eu só preciso explicar algumas coisas primeiro. Bem, muitas coisas, na verdade. Então você provavelmente deveria se sentar.
— Eu não penso assim. — Eu passo por ele, olhando para o espelho sobre a cômoda, e — O que — Eu engasgo, quase tropeçando em meus próprios pés. Eu agarro a borda da cômoda e olho por vários segundos horrorizados para as mechas brilhantes misturadas com o meu cabelo castanho escuro.
— Em?
— Meu cabelo está azul! — Eu grito. Eu me viro, me arrependendo imediatamente quando o quarto continua girando apesar do fato de eu ter parado.
— Oh. Sim. Eu esqueci que você não podia ver isso antes.
— Por que meu cabelo está azul?
Ele suspira. — Você nasceu assim.
Minha voz é lenta e trêmula quando digo, — Eu não nasci com cabelo azul.
— Nasceu. Você só não conseguiu ver agora. É... bem, é uma característica dos faeries. Você é um ser mágico, mas sua magia é meio... defeituosa. Às vezes, está lá - como na primeira vez que você me viu quando eu estava realmente escondido por um glamour - mas na maioria das vezes não está. Bem, — ele acrescenta com uma carranca, — até a noite passada, quando tudo explodiu. Não desapareceu desde então, então tenho a sensação de que está aqui para ficar agora.
O silêncio preenche o quarto por vários segundos, até que eu percebo o fato de eu estar boquiaberta. — Você é louco, — eu sussurro.
— Eu não sou louco. Eu não estou fazendo essa parte particularmente bem, parece. O que não é totalmente minha culpa, eu gostaria de salientar, já que você já é fortemente tendenciosa contra mim.
— Minha forte tendência existe por excelentes razões! — Eu grito. — Que agora incluem o fato de que você tingiu partes do meu cabelo de azul!
Ele pisca. — Você precisa superar a coisa do cabelo. Não chega perto de ser a maior revelação do dia.
— Isto é uma porcaria completa. — Eu me viro e vou para a porta - mas ele chega lá primeiro e bloqueia o caminho com seu corpo.
— Você precisa me ouvir, Em. Você ficará terrivelmente confusa se não me deixar explicar tudo.
Eu giro e vou para o lado oposto do quarto, para as portas duplas de vidro através das quais eu posso ver uma varanda. Eu particularmente não quero descer pela lateral do prédio no meu estado atual, mas farei se for à única saída deste quarto. Eu puxo as portas, corro para fora e congelo.
No extenso jardim abaixo, que é tomado pela pálida luz do amanhecer, as árvores e roseiras estão brilhando. Não devido à iluminação artificial, mas como se a luminescência emanasse de dentro das próprias plantas. Rosas brancas azuladas e folhas roxas luminosas. Água prateada escorre sobre as rochas da fonte no centro do jardim, onde duas pequenas criaturas que parecem cavalos alados estão bebendo.
— Tire-me daqui, — eu sussurro. Minhas mãos se levantam para apertar os lados do meu rosto, como se este fosse um sonho terrível do qual eu possa me forçar a acordar. — Leve-me de volta para casa.
Acima da batida do meu pulso nos meus ouvidos, ouço os passos de Dash se aproximando. — Eu não posso. Além de todas as coisas que ainda tenho que explicar, você também precisa me dizer exatamente o que fez ontem à noite.
— Me leve de volta.
— Emerson, você não pode se esconder disso. Eu sei que você não esperava que tudo mudasse, mas agora aconteceu, então —
— Me leve de volta! — Eu grito, agarrando sua camiseta com ambas as mãos e o puxando para mais perto. — Eu quero acordar. No meu próprio quarto. Longe de você e do seu —
— Tudo bem! — Ele remove meus punhos de sua roupa. — Se você insiste em ser tão difícil. Se você insiste em ignorar o que está bem na frente dos seus olhos. — Ele levanta a mão, a palma da mão virada para o quarto, e algo em forma de caneta voa pelo ar - através do maldito ar - e para seu alcance. Sangue é drenado do meu rosto enquanto meu cérebro rejeita o que estou vendo. Alfinetes de luz deslizam pela minha visão enquanto Dash escreve na parede ao lado da porta da varanda. Sua mão envolve meu pulso e me puxa para frente em direção da parede – dentro da parede - e quando tudo desaparece na escuridão, fico aliviada porque sei que o pesadelo está chegando ao fim. Eu sei que vou acordar em breve.
— Feliz agora?
A escuridão desaparece e estou parada na rua a algumas casas da de Chelsea. O garoto da casa ao lado desce a rua com uma bicicleta surrada do irmão mais velho. — Bom dia, Em, — ele diz enquanto passa, levantando a mão para acenar para mim, depois voltando rapidamente para o guidão quando ele cambaleia.
Eu pisco. Sem olhar para trás, começo a andar. Rapidamente, quase correndo, enquanto meu cérebro trabalha furiosamente para encontrar uma explicação lógica para o que acabou de acontecer. Este é um tipo de sonho super vívido. Ou talvez tenha sido um sonho vívido, e eu acabei de acordar - na rua? Descalça? Eu hesito e dou uma olhada por cima do meu ombro, mas Dash não está em lugar nenhum. Obviamente, porque eu nunca estive com ele. Eu estive sonhando. Merda, deve ter havido algo seriamente estranho na bebida de Val na noite passada. Algo mais do que apenas álcool.
Eu paro de repente quando uma imagem de Val caindo em uma fenda na terra passa pela minha visão. — Isso nunca aconteceu, — eu sussurro para mim mesma. — Val está bem. — Eu pressiono minhas mãos sobre o meu rosto, respirando devagar e afastando o único pensamento que continua tentando forçar seu caminho para o centro da minha mente: Eu estou mentalmente doente, assim como minha mãe.
Eu sacudo minha cabeça e corro para a entrada, procurando meu celular enquanto corro. Não está em nenhum dos meus bolsos. Eu deixei na festa ontem à noite? Eu abro a porta dos fundos e entro na cozinha.
— Emerson!
Eu recuo e olho para cima. Chelsea se levanta da mesa e dá alguns passos desajeitados para trás, derrubando uma caixa de cereal no balcão no processo. O tio Pete de Val, com os botões do uniforme esticados contra o volume do estômago, fica de pé. Ele mantém seu olhar cauteloso em mim enquanto Chelsea pergunta, — Onde você esteve?
— Hum... — Essa é uma boa pergunta, na verdade. Uma que eu gostaria de saber a resposta. — Eu sabia que você estava chateada, — eu explico com cuidado, — e eu não queria piorar as coisas, então eu fiquei longe. E sinto muito por brigar com a Georgia. Mas você sabe que discutimos o tempo todo. — Meu olhar voa para Pete antes de retornar a Chelsea. — Não é algo que você precise envolver os policiais.
Espero que ela grite comigo como fez na noite anterior, mas o aperto no balcão aumenta quando ela engole e olha para Pete. Seus dedos se contorceram, sua mão direita aperta e afrouxa. — O que aconteceu na casa dos Mason na noite passada, Emerson?
— A... casa dos Mason?
— Não finja que você não sabe de nada, — diz Chelsea, uma ligeira oscilação evidente em sua voz. — Nós ouvimos e soubemos de tudo. Nós vimos o vídeo.
— Que vídeo? Do que você está falando?
Pete avança, coloca o celular na mesa e empurra para mim. Eu dou um passo mais perto e olho para a imagem granulada e instável de uma fogueira e pessoas rindo. O fogo desaparece do vídeo quando a pessoa que segura à câmera gira e quase bate em Val. Depois de um rápido pedido de desculpas, Val se afasta. Mais risadas, alguém grita, — Emerson está bêbada, — e então a câmera segue Val. Chega perto o suficiente para pegar sua voz quando ela diz, — Eu juro, eu queria que a terra tivesse se aberto e me engolido inteira.
Meu sangue gela. Eu me vejo balançando, olhos semicerrados. — E daí? Então deixe que a terra se abra e a engula inteira.
Eu sei o que vem antes de eu ver. Arrepios percorrem minha pele enquanto a filmagem balança de novo, depois se concentra no chão. A terra se abre em um trêmulo e estremecido ziguezague. Val desliza e desaparece. Eu ouço gritos e gritos, e então o vídeo é interrompido.
Meu cérebro quer rejeitar o que eu acabei de ver, mas não consegue. Aconteceu, eu digo silenciosamente para mim mesma. Isso realmente aconteceu.
Chelsea começa a xingar repetidamente por baixo de sua respiração e, por algum motivo, a voz de Dash ressoa na minha cabeça: Mamãe está por perto. Ela não gosta de linguagem como essa.
— Que diabos foi isso? — Pete pergunta, sua voz um sussurro agora. Eu abro minha boca, mas não consigo responder.
— Caramba, é como ter a Carrie morando sob o meu próprio teto, — lamenta Chelsea. — Você tem que levá-la embora, Pete. Por favor, tire-a daqui.
— Espere! Eu... eu não fiz isso. Deve ter sido uma coincidência. Um terremoto aconteceu ao mesmo tempo em que eu estava falando. Você não acha que eu poderia realmente fazer isso acontecer, não é? — Estou tentando me convencer tanto quanto eles. — E quanto a Val? Ela está —
— Você não precisa se preocupar com Val, — diz Pete. — Mas você precisa vir comigo.
— Você está de brincadeira? Você - eu quer dizer - você não viu o que mais estava acontecendo lá? Menores de idade bebendo? Você deveria estar lidando com isso, não com essa estranha coincidência do terremoto.
— Não tente mudar de assunto, Em. — Lentamente, como se aproximando de um animal perigoso, Pete vem em minha direção. Eu dou um rápido passo para trás, indo além de seu alcance. Ele franze a testa e hesita. — Em, por favor. Nós não precisamos tornar isso desagradável. Nós só queremos te levar a algum lugar seguro para você não machucar ninguém.
— Mas eu não vou machucar ninguém, eu juro.
Outros dois policiais se movem do corredor para a cozinha, e percebo que devem ter esperado lá o tempo todo. Eles são os reforços. Porque eu sou supostamente muito perigosa para um policial. Eu sacudo minha cabeça, mal capaz de acreditar que isso está acontecendo, enquanto eu me afasto mais deles.
Uma pausa.
Ninguém fala.
Então todos os três policiais se lançam em minha direção. Chelsea grita, cadeiras são jogadas para o lado e, momentos depois, estou sendo arrastada para fora. O pavimento áspero roça meus pés, e dor corre pelos meus ombros enquanto meus braços estão quase sendo arrancados das juntas.
— ME SOLTA! — Eu grito.
Suas mãos se afastam de mim tão rápido que o impulso gira os três homens ao redor e os joga no chão. — Que diabos? — Pete geme. Ele fica de joelhos e se joga sobre minhas pernas.
Eu pulo para trás para fora de alcance. — Saia de perto de mim!
Como se chutado por uma força sobre-humana, Pete desliza pela grama, passa pela porta e acerta a mesa da cozinha. Chelsea grita novamente. Ao som de um estalo, olho para baixo e vejo faíscas - faíscas? - girando ao redor das minhas mãos. Terror gelado me domina.
— Hora de ir, — uma voz diz atrás de mim. Algo aperta meu braço, e antes que eu tenha tempo de me afastar, sou puxada para a escuridão, um grito silencioso em meus lábios.
Capítulo 04
A ESCURIDÃO EVAPORA PARA REVELAR DASH AO MEU LADO E UM JARDIM BANHADO COM O brilho dourado do nascer do sol. O mesmo jardim que eu vi da varanda minutos atrás. Eu empurro Dash para longe de mim, caio de joelhos e vomito na grama.
— Adorável, — ele diz quando eu termino. — Graças a Deus eu não levei você de volta para dentro da casa.
— O que aconteceu com... Val? — Eu suspiro, tentando engolir o desejo de vomitar de novo e falhando.
Quando minha ânsia finalmente termina, Dash diz, — Ela está bem. Um dos meus companheiros de equipe a tirou do chão. Ela já esqueceu a coisa toda.
— Como ela pode ter... — Minhas palavras param quando eu olho para cima e vejo um daqueles cavalos alados em miniatura voando pelo ar atrás de Dash. Eu levanto lentamente e olho em volta. As rosas e as folhas ainda brilham levemente, mas sua luminescência é menos óbvia agora com a luz dourada do sol se infiltrando através das árvores. O pequeno cavalo pousa em uma parte rasa da piscina rochosa e começa a brincar, lançando gotas de água prateada enquanto brinca. Onde quer que a água caia, um cogumelo prateado aparece.
Meu cérebro continua repetindo a mesma mensagem: Eu devo estar sonhando. Isso não é possível. Eu cheguei ao fundo do poço e perdi completamente a cabeça. Mas eu não acho que minha imaginação seja capaz de criar esse tipo de detalhe fantástico. E tudo parece tão real. O aroma fresco de flores, o formigamento da grama sob meus pés. O gosto amargo do vômito na minha boca.
— Explique, — eu sussurro. — Faça isso fazer sentido.
Dash cruza os braços sobre o peito. — Está bem então. Era uma vez uma menininha cujo nome era —
Eu o interrompo com um olhar raivoso. — Não transforme minha vida em algum tipo de conto de fadas de merda. Apenas me dê os fatos. — Algo brilhante voa da ponta da minha língua, e meu pensamento imediato é que eu devo estar com tanta raiva que estou realmente cuspindo saliva. Mas não. É uma faísca de luz. O mesmo tipo que crepitou em minhas mãos depois que Pete foi de alguma forma jogado para longe de mim. O medo desliza pela minha espinha enquanto eu fecho minha boca.
— Tudo bem, aqui estão os fatos, — diz Dash. — Magia é real, e existe em um reino que se sobrepõe ao mundo em que você cresceu. Faeries vivem deste lado; os humanos e todas as outras criaturas não-mágicas que você reconhece vivem do outro lado. Eu sou um faerie, como você. Eu também sou um guardião, o que significa que eu sou treinado para lutar contra magia negra, faes perigosos, esse tipo de coisa. No dia em que você e eu nos conhecemos, eu tinha uma tarefa no seu lado do véu.
— O dia em que você arruinou tudo, — murmuro, lembrando minha mãe chorando, cobrindo a cabeça com as mãos, gritando sobre coisas que não são reais.
Dash parece irritado por eu ter interrompido sua história. — Você tem que parar de me odiar por isso. Você sabe que eles a teriam levado embora. Talvez não naquele dia, mas logo depois. Ela não estava em seu juízo perfeito —
— Não se atreva a falar sobre ela.
— De qualquer forma, — ele continua em voz alta, — ninguém deveria me ver, mas você viu. E com essa cor no seu cabelo, eu sabia que você era uma faerie. Mas então meio que piscou e sumiu, e você não podia mais me ver. Era como se toda a magia sobre você fosse subitamente engarrafada, inacessível. Assim que terminamos a missão, eu mencionei você no meu relatório para Guilda e eles —
— Seu relatório para a Guilda? — Eu digo com um suspiro. — Você parece que tinha doze. Essa sua Guilda cria soldados crianças ou algo assim?
— Não. Nós não somos soldados, e quando o treinamento acaba, não somos mais crianças. E eu tinha treze anos, não doze. Eu estava começando meu treinamento. Era uma missão em grupo, mas estávamos todos em diferentes áreas do parque, e eu era o único que tinha alguma interação com você. Então, sim, eu relatei isso depois. Faeries com magia defeituosa que pensam que são humanos não devem ser ignorados.
— Oh, certo, porque eu provavelmente sou um perigo para a sociedade ou algo assim, — eu digo com um revirar dos meus olhos.
— Potencialmente, sim. — O tom de Dash é muito sério, e uma imagem do chão se abrindo vem imediatamente à mente. Eu envolvo meus braços em volta de mim e olho para longe. — Eu não sei se a Guilda investigou você, — continua Dash, — porque não era da minha conta. Eu comecei com o meu treinamento, e foi cerca de seis meses depois, quando você apareceu perto de outra das minhas missões. Então, alguns meses depois, você estava lá de novo.
— Eu lembro de ter visto você, — murmuro. — Eu imaginei que você deveria morar em algum lugar perto de Stanmeade. Eu pensei que era estranho, já que estava tão longe de onde eu te vi pela primeira vez. Naquele parque perto de onde mamãe e eu morávamos. Mas eu estava tão brava com você que não me concentrei muito em ser uma estranha coincidência.
— Bem, a Guilda não achou que fosse uma coincidência. Eles pensaram que algo mais poderia estar acontecendo. Que talvez sua estranha magia ligada e desligada estivesse causando problemas, ou atraindo pessoas problemáticas ou algo assim, e foi assim que acabei com três missões perto de você. Mas eles não conseguiram encontrar nenhuma conexão, e alguém no Conselho disse que você deveria ficar sozinha. Que a Guilda não deve interferir com você, a menos que houvesse evidência de que sua magia estava se libertando e causando problemas. Mas o resto do Conselho queria que alguém ficasse de olho em você, apenas no caso. Eles reclamaram que era um desperdício de tempo e recursos para um guardião treinado fazer isso, então eu me ofereci. — Sua boca estica para um lado em um meio sorriso. — Fomos encorajados a realizar projetos extras fora do treinamento. Parece ser bom no currículo. Mostra iniciativa ou algo assim.
Eu jogo minhas mãos para cima. — Maravilha. Você é minha maldita babá.
— Hum, eu acho que detetive pode ser uma comparação mais precisa.
— Perseguidor, talvez?
— Quero dizer, era como um quebra-cabeça em andamento, tentando descobrir o que estava errado com você e como você acabou naquela cidade humana horrível.
— Talvez cientista maluco seja mais adequado. Cientista maluco altamente ofensivo.
Ele cruza os braços sobre o peito. — Acho que devemos parar as comparações. Você claramente não entende a importância do que eu faço.
— E você claramente pensa muito bem de si mesmo. Mas eu sempre soube disso, não é.
— Eu acho, Emerson, — ele diz com um sorriso aborrecido, — que devemos nos concentrar nas muitas coisas que você nunca conheceu.
Suas palavras revelam a seriedade da situação. Eu tento dizer a mim mesma mais uma vez que estou sonhando, drogada ou bêbada, mas é uma mentira fraca na qual eu não tenho esperança de acreditar. Fecho meus olhos e pressiono meus dedos contra minhas têmporas. — Então eu não sou louca, afinal, — murmuro. — As coisas estranhas que eu vi - criaturas que não deveriam existir - elas realmente eram reais.
— Sim. Bem, a menos que você esteja realmente vendo coisas que não são —
— Espere. Espere, espere, espere. — Abro os olhos, me aproximo e seguro sua camiseta enquanto a esperança ganha vida dentro de mim. — Isso significa que minha mãe nunca foi louca também? As vozes, as alucinações... a mente dela não inventou? Eles estavam realmente lá? Porque, quero dizer, se eu tenho essa... magia — ainda parece tão estranho aplicar a palavra para mim — então ela deve ter também.
— Na verdade, — Dash diz cuidadosamente, tirando meus punhos de sua camiseta, — a Guilda mandou alguém para Tranquil Hills para verificar sua mãe depois da terceira vez que você apareceu perto de uma missão. Eles não conseguiram sentir nenhuma magia nela.
— Então... ela é...
— Sim. Eu sinto muito. Ela sempre esteve doente.
Eu me afasto, sem querer que ele veja o desapontamento esmagador. Eu me lembro de não ficar surpresa, no entanto. Claro que era demais esperar que mamãe fosse sensata de verdade. É assim que a vida funciona, certo? Você espera por algo, e então a vida te chuta na cara e ri de você.
Eu pigarreio. — Então deve ter sido meu pai. O perdedor que eu não conheço. Ele deve ser — você sabe — como eu.
— Bem...
Quando Dash não termina, volto a olhar para ele. — Bem o que?
Ele torce o rosto e diz, — Por favor, não me bata.
O medo agita-se na boca do meu estômago. — Por que eu bateria em você?
— Porque... Tudo bem, olhe. Você não é halfling. Nós sabemos disso com certeza. Você é uma faerie, e isso significa que você deve ter tido dois pais faeries. Então... portanto... a mulher presa no Hospital Psiquiátrico Tranquil Hills não é sua mãe.
Eu olho para ele, incapaz de falar. Suas palavras parecem ecoar em volta da minha cabeça. Não é sua mãe... não é sua mãe... não é sua mãe.
— Silêncio? — Dash diz finalmente. — Eu acho que é melhor do que gritar e bater e me dizer que eu devo estar —
— Cale-se.
Como minha mãe não pode ser minha mãe? Por alguma razão, isso é mais difícil de compreender do que qualquer outra coisa. Ela é minha mãe. Ela me criou. Tudo era ótimo até que seus momentos de loucura começaram a se tornar um pouco mais difíceis de esconder. Tudo foi para o inferno logo depois disso, mas antes, quando ela era normal, a vida era boa. Era eu e ela contra o mundo. Nós éramos uma equipe.
Me curvo, minhas mãos pressionando meus joelhos, e respiro profundamente. — Não pode ser verdade, — eu consigo dizer além da náusea. — Deve haver alguma outra explicação. Algo que vocês deixaram passar. Eu não sei o que, mas... alguma coisa.
— Emerson...
— Acho que vou vomitar de novo.
Dash dá uma tapinha nas minhas costas brevemente. — Bem, pelo menos estamos do lado de fora.
— O que eu devo fazer?
— Há um tônico muito eficaz para a náusea. Podemos entrar e pegar um pouco.
— Com a minha vida, seu idiota. — Eu me endireito. — Tudo está completamente ferrado. Eu sou uma aberração mágica, minha tia quer me prender em algum lugar distante, minha mãe aparentemente não é minha mãe, e - e essas merdas de faíscas não param de sair de mim! — Eu balanço minhas mãos quando lampejos de luz dançam sobre elas mais uma vez. — Sem mencionar que há um vídeo de todo o desastre na fazenda dos Mason. Provavelmente já está on-line, e logo o mundo inteiro saberá que sou —
— Ei, acalme-se. O mundo não vai saber de nada. Você acredita honestamente que esta é a primeira vez que lidamos com algo assim? Claro que não é. Nós não somos amadores. A maioria das lembranças da noite passada foi alterada esta manhã, embora tenhamos deixado passar algumas que ainda precisam ser lidadas, incluindo quem levou o celular para a polícia. Mas essa filmagem terá desaparecido dentro das próximas horas, posso prometer isso. — Ele me dá um sorriso tranquilizador. — Ninguém se lembrará de que você esteve envolvida, e a principal notícia será sobre o inesperado terremoto que atingiu Stanmeade. — Ele inclina a cabeça. — Falando nisso, você pode me dizer o que realmente aconteceu? Por que o chão se abriu daquela maneira?
— Por quê? — Eu olho para ele. — Porque aparentemente eu tenho magia que de repente decidiu - e cito – tudo explodiu. Essas foram suas palavras, certo?
— Sim, mas pensei ter ouvido você dizer alguma coisa antes de acontecer, e isso não é —
Ele para quando olha por cima do meu ombro. Eu viro e vejo uma jovem caminhando em nossa direção. — Bem, — Dash murmura. — Que timing terrível.
— Oh, porque o nosso tempo sozinho acabou agora? — Eu volto o meu olhar para ele. — Boohoo. Estou devastada.
Seus olhos estreitam ligeiramente. — Você deveria estar. Há algo muito importante que precisamos —
— Dash, nós temos que ir, — diz a mulher quando ela nos alcança. — Um dos Conselheiros da Guilda está esperando para ver a menina.
Eu gostaria de salientar que ‘a menina’ tem um nome, mas estou mais preocupada com o que essa mulher acabou de dizer. — Um Conselheiro? Por quê?
— Porque você é uma faerie que vive no mundo humano, — Dash diz enquanto a mulher se abaixa e escreve na grama com uma caneta, — e agora que sua magia apareceu, você não tem ideia de como usá-la. Existem protocolos para esse tipo de situação.
— Protocolos? — Isso soa muito clínico para o meu gosto.
— Sim, claro. Eles vão colocar você em seu programa especial para pessoas como você. Faeries que, por qualquer motivo, cresceram no mundo humano sem saber como usar sua magia. Eles são principalmente faeries mais jovens, mas de vez em quando alguém mais velho aparece como você. Vai ser divertido.
Não, não vai. Não parece nada divertido. Eu não quero conhecer pessoas estranhas e aprender como se tornar um membro do seu clube mágico estúpido. Eu quero voltar para a minha vida real e fingir que nada disso aconteceu. Ou talvez se esconder em um canto e desmoronar porque minha mãe não é minha —
Não pense nisso, eu me instruo. Eu não vou desmoronar na frente de outras pessoas. Especialmente não na frente de Dash.
— Vamos então? — Ele pergunta, apontando para o chão onde um buraco escuro apareceu ao lado da mulher ajoelhada. Um buraco escuro, não de terra ou rocha, mas de... nada. Meu cérebro me diz que eu deveria estar chocada, mas acho que passei desse ponto agora. Nada parece mais impossível.
— Em? Pronta para ir?
Pronta para ir? Uma pergunta tão simples e comum. O tipo de coisa que Val poderia dizer quando chegasse à minha casa antes da escola. Ou Chelsea dizendo para a Georgia quando eles estavam indo fazer compras. Ou como mamãe costumava dizer, com a mão estendida em direção a minha, quando terminávamos de brincar no parque à tarde e precisávamos ir para casa.
Mãe.
Uma imagem dela pisca diante dos meus olhos novamente. Uma casinha, rosas silvestres no jardim, número vinte e nove no velho portão de madeira. Mamãe podando os arbustos, e uma jovem versão de mim dançando em volta dela e cantando enquanto nosso novo cachorro persegue borboletas. Mãe que não é minha mãe Meu coração se quebra um pouco. Eu empurro a dor de lado. Mais tarde, digo a mim mesma. Vai lidar com isso mais tarde. Desmorone depois.
Eu respiro fundo, o que parece tão instável quanto eu me sinto. — Sim. Vamos lá. Só... você pode me dar aquele tônico anti-náusea primeiro?
Capítulo 05
DASH CORRE EM SUA CASA PARA PEGAR O TÔNICO ANTI-NAUSEA, ME DEIXANDO SOZINHA COM sua colega guardiã, que deixa claro, com seus longos suspiros e profundas carrancas, que está irritada com a perda de tempo. O buraco que ela abriu no chão se fecha e ela fica lá com os braços cruzados sobre o peito, olhando para mim.
Felizmente, Dash não demora muito para voltar. Ele me entrega uma pequena garrafa feita de vidro marrom. É suspeitamente semelhante às garrafas em que Chelsea coloca seus remédios de ervas. Eu removo a tampa e cheiro o conteúdo. — Caramba, Em, não é veneno, — diz Dash. — Apenas beba.
Estou me sentindo horrível o suficiente para arriscar a possibilidade de Dash me enganar, então eu inclino a garrafinha em direção a minha boca. O líquido não tem gosto de nada, mas eu imediatamente começo a me sentir melhor.
— Ótimo, — a mulher diz, e está fazendo um bom exercício em seu rosto, trocando entre doces sorrisos enjoativos para Dash e expressões de irritação dirigidas a mim. — Podemos nos mover?
— Sim. E vamos abrir um portal vertical em vez de um no chão, — diz Dash. — Será mais fácil para Em entrar e sair do outro lado, considerando que ela não tem muita experiência com os caminhos das fadas. — Ele remove uma caneta e começa a escrever no ar. — Se eu pudesse apenas... conseguir ir para...
— Dash, isso é um desperdício de —
— Ah, lá vamos nós. Fácil, fácil. — Ele dá um sorriso deslumbrante para a mulher, mas eu me distraio com a crescente escuridão aparecendo no ar. Espalha-se rapidamente até que seja aproximadamente do tamanho e a forma de uma porta. Deve ser a mesma coisa do buraco que a mulher abriu no chão. A mesma coisa que apareceu na varanda mais cedo, quando Dash me levou de volta para casa.
— Isso é... algum tipo de buraco de teletransporte?
— Caminhos das fadas, — diz Dash, estendendo a mão para mim. — Embora eles não sejam realmente caminhos. É esse espaço vazio e escuro que existe em algum lugar fora do nosso mundo e do seu, e pode ser acessado abrindo portas mágicas. Tudo o que você precisa fazer é pensar no seu destino ou dizer o nome do lugar para o qual deseja ir. Muito mais fácil que carros e aviões.
Mais fácil, talvez, mas muito mais perigoso. Relutantemente, eu pego a mão de Dash e caminho para frente. Do outro lado, a mulher felizmente passa o braço pelo braço dele. Eu olho por cima do meu ombro enquanto as bordas da porta se fecham, fechando a lacuna, e então estamos em total e absoluta escuridão. — As pessoas podem ficar presas aqui dentro? — Eu sussurro enquanto caminhamos para frente, o que é uma coisa estranha a fazer quando eu não posso sentir nada sob meus pés.
— Não. Eu nunca ouvi falar de alguém ficar preso. Embora eu pense, se você conhecer a magia certa, pode ficar aqui por mais tempo do que o normal. Eu já ouvi falar de pessoas escondidas dentro dos caminhos das fadas enquanto elas estão tentando fugir de alguém.
— Pare de pensar, — a mulher murmura. — Estou tentando direcionar os caminhos e eles não vão a lugar algum com todos os nossos pensamentos em direções diferentes.
Eu fecho minha boca e tento não pensar, mas uma luz aparece à frente antes de eu descobrir se estou fazendo isso corretamente. Nós caminhamos para frente para dentro de uma sala pequena, escassamente mobiliada com um espelho, um armário exibindo pratos pintados e um tapete cobrindo as tábuas de assoalho de madeira. Eu solto minha mão da de Dash e me afasto dele. — Esta é a sua Guilda? — Eu estava esperando algo maior e mais... mágico.
— Não. Esta é uma casa antiga em uma área deserta ao lado de uma praia tropical.
Eu viro meu olhar fulminante de volta para ele. — Por que é sempre tão difícil obter uma resposta direta de você?
— Ele está dizendo a verdade, — diz a mulher, correndo em defesa de Dash. Percebo que ela não se incomodou em se apresentar, então decidi também não me incomodar.
— A Guilda pode ser um pouco intimidante, — explica Dash, vagando até o armário. — É enorme e movimentada, com muitas pessoas por perto a essa hora do dia. Faeries, principalmente, mas outros fae também. Às vezes os criminosos são trazidos, ou uma magia perdida escapa da seção de treinamento da Guilda. E o fato de você não poder ver nada do lado de fora, e então você entra por uma grande entrada que se transforma a partir de uma árvore, e você é recebida por toda essa atividade repentina... bem, pode ser esmagador no começo. — Ele vira o prato e examina a parte de trás antes de devolvê-lo ao seu suporte. — Então, nós levamos os fae que são novos com o nosso mundo para esta casa de recuperação primeiro.
— Oh. Tudo bem. — Meu cérebro pega o que é provavelmente a informação menos importante que eu ouvi durante todo o dia. — Então... se realmente estamos perto de uma praia, então o oceano deve estar por perto?
Dash me dá um olhar interrogativo. — Não muito longe daqui.
O fato de eu poder ver o oceano pela primeira vez é muito mais fácil de focar do que qualquer outra coisa agora. Eu ando até a janela mais próxima e olho para fora, mas tudo que vejo é uma floresta de palmeiras.
— Eu preciso voltar, — diz a mulher enquanto eu tento espiar entre as árvores. — Nenhuma mensagem no prato?
— Nada ainda, — diz Dash.
— Bem, ela estará aqui em breve, tenho certeza. Ela soou com pressa quando me mandou buscá-los. De qualquer forma, espero que não demore muito para entregar a garota. Eu sei que sua equipe tem coisas muito mais interessantes acontecendo no momento.
Eu vou para trás a tempo de vê-la escovar sua mão do ombro de Dash até o cotovelo dele. Com um meio sorriso, ela se afasta e eu retomo meu exame da paisagem do lado de fora, murmurando, — Sério? — Sob minha respiração. Ela não parece muito mais velha do que nós, mas certamente há muitos homens neste mundo que tem a idade mais adequada e mais maduros do que Dash.
— Obrigado, — diz ele. Então, — Em, o que você está procurando? Na verdade, não importa. Isso não é importante.
Eu desisto da minha busca pelo oceano e cruzo meus braços enquanto ando de volta para ele. — Claro que não. Nada poderia ser tão importante quanto o que você está prestes a me dizer, certo?
— Certo, — diz ele, mas a porta da frente se abre naquele momento, e caminha uma pequena garota loira com mechas laranja em seus cabelos e olhos laranja ardentes para combinar.
— Oh, Dash, você está aqui. — Ela lhe dá um sorriso brilhante.
— Hum, sim. Eu estou. Por quê você está aqui?
— Só verificando se você conseguiu. — Seus olhos deslizam para mim. — Está é a Emerson?
Dash solta um suspiro. — Sim. Em, esta é Jewel. Ela é um membro da minha equipe na Guilda.
Jewel? Eles têm cabelos estranhos e olhos e nomes estranhos? — Oi, — eu digo incerta.
— Oi. — Jewel me dá um sorriso muito amigável, considerando que acabamos de nos conhecer. — Oh, espere. — Ela desliza a mão em um dos bolsos e tira o que eu presumo ser um celular por causa da forma, mas acaba por ser semitransparente e laranja-dourado. Ela olha para a superfície, e olho de novo quando pequenas palavras douradas aparecem.
— Isso é um memorando para toda a Guilda? — Dash pergunta. — Eu acho que meu âmbar também vibrou.
— Sim. — Enquanto Jewel observa mais de perto o retângulo cor de mel, noto padrões de redemoinhos escuros tatuados no interior de seus pulsos. — Um Griffin atacou uma pequena aldeia perto de Twiggled Horn. Cinco mortos.
— Cinco mortos de um ataque de Griffin? Eles normalmente não matam pessoas.
— Sim, bem, eles são criminosos perigosos, então o que você espera. — Jewel passa a mão pela coisa âmbar, e as palavras desaparecem.
— Griffin? — Eu pergunto. — Como o grifo, a criatura mítica? — Nada me surpreenderia neste momento.
— Não, — diz Dash. — Embora sim, os grifos existem. Mas neste caso estamos falando de pessoas com magia extra. Habilidades que Faeries normais não possuem. Habilidades Griffin. Você aprenderá sobre eles em breve. — Sua expressão escurece. — Eles praticamente são uma lei para si mesmos.
Jewel revira os olhos antes de me dar um sorriso doce. — Dash nem sempre explica as coisas particularmente bem. Esses faeries perigosos costumavam viver a céu aberto, fazendo o que quisessem, sem que ninguém soubesse que eram diferentes. Mas é difícil esconder uma Habilidade Griffin nos dias de hoje. O teste é obrigatório. A Guilda só quer ficar de olho neles, compreensivelmente, mas eles estão sempre falando sobre como são discriminados. Assim, nos últimos anos, aqueles que conseguiram fugir da Guilda sem serem identificados se uniram. Formaram algum tipo de organização secreta. E agora eles dirigiram sua raiva para Guilda, contra pessoas inocentes apenas para chamar atenção.
— Inaceitável, — Dash murmura.
— Exatamente. Então você pode entender porque a Guilda quer manter um registro de todos os Dotados Griffin, certo? Eles precisam ser responsabilizados por suas ações.
Ela parece estar esperando que eu responda. Eu considero dizer a ela que eu não dou a mínima para criminosos e política, mas resolvo mudar de assunto. — O que é essa coisa retangular e laranja?
— Oh. Isso? — Jewel levanta o dispositivo cor de mel.
— Um âmbar, — diz Dash. — Celular dos faeries.
Atrás dele, um dos pratos no armário emite um som abrupto. Eu solto um suspiro involuntário e dou um passo apressado para trás. — Que mer —
— Sério? — Dash diz, me interrompendo no meio do xingamento. Ele pega o prato e vira. — A situação realmente não garante esse tipo de linguagem, Em.
Eu fico boquiaberta para ele quando meu batimento cardíaco retorna lentamente ao normal. — Você está brincando, não é? Qual é o grande problema com a coisa sem palavrões? Eu não vejo nenhuma criança por perto, a menos que você queira se colocar nessa categoria.
— Muito engraçado, — ele olha sério, olhando por cima do prato. — E se você tivesse sua boca limpa com sabonetes assim como eu tive, você entenderia minha resposta automática a uma palavra ruim. Feitiço super desagradável, aquele. O gosto fica por horas depois.
Eu olho para ele. — Estou tentando descobrir se você está brincando.
— Não. Minha mãe sempre foi muito séria sobre a política de não usar palavrões em nossa casa. De qualquer forma, a Conselheiro está a caminho. A mensagem no prato dizia que ela acabou de sair da Guilda.
— Esse som era de uma mensagem?
— Não é para soar assim, — diz Jewel. — Eu acho que o feitiço de notificação está com defeito.
A porta da frente se abre, revelando uma mulher elegantemente vestida. — Oh, incrível, você está aqui. Eu não tive tempo para verificar com cautela. Vamos para a sala de estar? — Sem esperar por uma resposta, ela passa por nós e abre a porta ao lado do armário.
— Conselheira Waterfield, — Dash sussurra quando ele pega meu braço e me conduz em direção à porta.
Eu esperava que ela fosse mais velha, sendo um membro deste Conselho especial de faeries, ou seja lá o que for, mas ela provavelmente ainda não atingiu os trinta anos. Eu também estou começando a me perguntar se esse mundo é composto por alguns homens, ou se é apenas Dash e todas as mulheres que o bajulam. Eu solto o meu braço de seu aperto, resmungando que sou perfeitamente capaz de entrar na sala ao lado sem ajuda.
A sala de estar é bonita, com móveis antigos e uma grande janela de um lado. Acho que posso ver algo bege entre as árvores que pode ser uma faixa de areia, mas a Conselheiro Waterfield me convida a sentar antes que eu possa olhar mais de perto pela janela. Eu escolho uma das poltronas com um só lugar, então não preciso me sentar ao lado de Dash ou da Conselheira. Ela se senta de costas para a janela e Dash pega a poltrona ao lado da minha. Eu aperto minhas mãos firmemente juntas no meu colo, me sentindo subitamente nervosa.
— Emerson, — diz a mulher. — Eu sou a Conselheira Waterfield. Primeiro de tudo, bem vinda ao reino mágico. Eu acredito que Dash explicou o básico para você?
— Eu expliquei, — diz Dash antes que eu possa responder. — Apenas o básico, no entanto. Ela tem muito mais a aprender. — Ele dá um sorriso na minha direção, que eu gostaria de arrancar imediatamente. Ele está gostando muito disso.
— Então, Emerson. — A Conselheira abre uma bolsa aos seus pés e tira uma versão maior da coisa âmbar que Jewel estava usando. Antes que ela se incline para cima para encará-la, vejo letras douradas aparecerem em sua superfície. — Nós estamos acompanhando você nos últimos cinco anos? Isso está correto? — Ela olha para cima de seu dispositivo mágico.
— Sim, — Dash responde mais uma vez. — Em tinha doze quando começamos a rastreá-la.
— Então, você tem dezessete agora.
— Se a matemática é a mesma coisa neste mundo como é no meu, — eu digo, — então sim.
Seu sorriso aperta um pouco. — Números são números, Emerson, não importa de que lado do véu você esteja. E esse lado é o seu lado. Você precisará começar a se referir desse jeito.
— Claro, — eu digo, quando tudo que eu quero fazer é gritar que só agora eu descobri sobre a existência deste lado, então me dê um maldito tempo!
A Conselheira Waterfield se inclina para trás, ficando mais confortável. — No caso de Dash não ter contado a você, eu sou a representante da Guilda da Chevalier House, onde você vai ficar por um tempo. É uma escola para pessoas como você. Pessoas que foram educadas com humanos e podem ter tido acesso à sua magia, mas não tiveram ninguém para ensiná-las a usá-las, ou talvez a magia delas tenha acabado de aparecer, e por causa de algum acidente ou outro, agora nós nos tornamos consciente de sua existência.
— O que faz com que apareça de repente? — Eu pergunto. — Por que minha magia era inacessível antes? Ou, por que veio e se foi? Dash disse que estava meio que... com defeito.
Ela franze os lábios antes de responder. — Para ser honesta, eu não sei. Se você fosse halfling, faria mais sentido. A magia deles é altamente imprevisível e às vezes pode se apresentar mais tarde. Mas faeries... bem, eu não sei. Eu suponho que isso aconteça de vez em quando.
— Maravilha. Então eu sou uma aberração pelos padrões deste mundo.
— Você não é uma aberração, Emerson. Depois de passar algum tempo na Chevalier House, você poderá se encaixar perfeitamente com o resto do mundo.
— Então, basicamente, você está me mandando para a escola de etiqueta mágica?
Ela respira pelo nariz. Eu acho que ela está começando a perder a paciência. — É muito mais que isso. Eles vão te ensinar sobre sua magia, sobre o nosso mundo. Eles ajudarão na logística de mesclar sua antiga vida com a sua nova. Se você deve voltar para casa ou ficar aqui, em que situação sua família acreditará enquanto estiver fora, o que você deve dizer à sua família se decidir voltar para casa. Coisas assim.
Eu cruzo meus braços firmemente contra o meu peito. — Você provavelmente deveria saber que não precisa se incomodar em inventar uma história para minha tia. Ela assumirá que eu fugi, ela ficará feliz, e isso será o fim disso.
A Conselheira Waterfield olha para o aparelho, parando por um momento enquanto lê alguma coisa. — Parece que essa é a história que ela recebeu, na verdade. Um guardião disfarçado como um policial informou sua tia que você fugiu. Ele disse a ela que uma câmera de segurança pegou você entrando em um ônibus. A polícia tentou encontrá-la do outro lado, mas de alguma forma você escapou sem ser notada. Eles ainda estão à procura de você. Seus amigos foram informados da mesma história.
— Mas isso é uma mentira. — Sento-me para frente. — Eu não quero que meus amigos pensem que eu fugi.
— Bem, Emerson, temo que você não tenha escolha. Depois de passar algum tempo na Chevalier House e poder voltar em segurança ao mundo humano, você pode inventar uma boa desculpa por ter fugido. Podemos ter um de nossos guardiões disfarçado como um policial dizendo que ele ou ela rastreou você, se essa história funcionar para você. Tenho certeza de que você pode fazer seus amigos entenderem.
Eu me inclino para trás na minha cadeira. Essa mulher não entende e nem Val. Ela vai ver através de mim se eu tentar mentir.
— Agora, como eu estava dizendo, — a Conselheira Waterfield continua, examinando seu aparelho novamente. — Todas as imagens do incidente do terremoto da noite anterior foram localizadas e destruídas, para que ninguém saiba que você estava conectada e as lembranças foram alteradas. Um encobrimento caro - nem toda magia é gratuita ou barata, sabe — mas não podemos ter humanos correndo por aí espalhando histórias sobre o que você fez. E se você decidir retornar à sua antiga vida, poderá fazer isso com segurança, sem que ninguém saiba o que aconteceu.
— Então... então é isso? Eu tenho que ir para esta escola durante um tempo, e então eu posso voltar para o meu mundo?
— Sim. — Ela desliza seu aparelho âmbar de volta em sua bolsa. — Dash vai te levar até lá agora.
— Hum, quem paga por esta escola? — Eu pergunto, inclinando meu corpo para longe de Dash quando eu pergunto. Inútil, já que ele ainda pode me ouvir, mas eu prefiro não ver sua expressão se eu tiver que admitir a Conselheira Waterfield que eu não tenho absolutamente nenhum dinheiro.
— É financiada pelo Guilda, — diz ela. — O programa é considerado parte da segurança. É perigoso ter faeries correndo por aí com magia que eles não podem controlar. É muito melhor que você seja educada para poder entrar de novo na sociedade, deste lado do véu ou do outro lado. Agora. — Ela se levanta e pega sua bolsa. — Alguém vai chegar aqui em breve para executar alguns testes em você antes de partir para Chevalier House.
— Testes? — Eu me encolho para trás contra as almofadas. — Que testes?
— Oh, nada assustador. Apenas um procedimento padrão. Para testar Habilidades Griffin, níveis mágicos, esse tipo de coisa.
— Eu não quero nenhum teste. Não tenho o direito de recusar coisas como —
— Talvez, — Dash diz enquanto levanta, — nós poderíamos fazer os testes depois de alguns dias que Em se instalar em Chevalier House. Ela já passou por muita coisa. E com sua... história. A mãe dela... — Ele abaixa a voz, como se sussurrando aquela única palavra - mãe - em vez de falar em voz alta significasse que não vai trazer todo o choque, confusão e mágoa que senti antes. Eu limito a dor enquanto Dash continua. — Eu presumo que você se lembre de todos os meus relatórios anteriores, Conselheira, então você vai entender que o conceito de ‘executar testes' tem conotações negativas para ela. — Ele coloca as mãos respeitosamente atrás das costas. Enquanto suas mangas se levantam levemente, noto a mesma tatuagem em seus pulsos que vi nos braços de Jewel.
A Conselheira Waterfield estala sua língua. — Bem. Vou mandar alguém para Chevalier House no final da semana para fazer os testes lá.
Isso não parece muito melhor, mas espero que eu esteja fora da Chevalier House até lá. Saímos da sala e encontramos Jewel ainda perto da porta da frente. Ela olha por cima de seu âmbar, os olhos arregalados. — Ótimas noticias, — diz ela. — Tipo, ótimas. Alguém fez um avanço com um feitiço para o véu. A Guilda acha que eles finalmente conseguirão selar o buraco na Ilha Velazar. Há uma reunião em vinte minutos para que eles possam nos dizer mais sobre isso.
— Correto, — diz a Conselheira Waterfield, passando rapidamente por Jewel. — É por isso que eu cheguei atrasada. Recebemos a notícia esta manhã. Agora, se vocês me dão licença, eu preciso voltar antes do início da reunião. — Ela segura uma caneta na porta da frente, e depois de algumas palavras rabiscadas, um buraco escura aparece. Mesmo que eu estivesse esperando desta vez, ainda é terrivelmente antinatural, ver um buraco de nada tomando forma e depois desaparecendo depois de engolir uma pessoa.
— Isso é tão emocionante, — diz Jewel quando a Conselheira se foi. — Você vem?
Dash sacode a cabeça. — Eu vou escoltar Em para Chevalier House agora.
— Oh, mas isso é importante. Traga-a, e você pode levá-la para Chevalier depois.
— Não precisa, — diz Dash com um sorriso fácil. — Tenho certeza que você vai me contar tudo sobre depois. E eu duvido que Em queira ficar em uma reunião da Guilda depois de tudo o que ela passou nas últimas horas.
O sorriso de Jewel escorrega por apenas um segundo, antes de se esticar largamente novamente. — Você é sempre tão atencioso, Dash. Sempre faz um esforço extra com suas missões. — Ela se inclina e dá-lhe um abraço e um beijo rápido na bochecha. — Até logo.
Eu espero até que ela vá antes de dizer, — Eu vejo que você não se importa de irritar sua namorada.
— Namorada? Jewel? — Ele ri. — Nós somos apenas amigos. Espere, por que você disse que ela está com raiva? Ela não estava com raiva.
Eu lentamente sacudo minha cabeça. — Você é um tremendo idiota.
Ele sorri. — Pela primeira vez, querida Emerson, você está quase certa. Eu era quase um idiota antes. — Seu olhar passa por mim e para cima, examinando o teto brevemente. — Felizmente, fui salvo a tempo.
Eu não posso deixar de olhar para cima também, mas não vejo nada além de algumas teias de aranha e uma aranha. Aparentemente, essas não são coisas exclusivas do mundo humano.
Ao som da porta da frente se abrindo, olho além de Dash. Na porta há um homem com orelhas pontudas e cabelo preto espetado. Isso é normal agora, eu me lembro quando meus olhos se recusam a se mover daquelas orelhas anormalmente pontudas. Totalmente normal.
— Emerson? — Ele pergunta. Eu concordo. — O professor está esperando por você.
Capítulo 06
NÓS CHEGAMOS A UM PORTÃO DE METAL ABRILHANTADO QUE NOS SEPARA DE UM JARDIM COM a grama e arbustos bem-cuidados, adornado com as cores do outono. Uma brisa fria arrasta arrepios ao longo da parte exposta dos meus braços. — Estamos em algum lugar perto da casa em que estávamos? — Eu pergunto. Não parece, mas com as trilhas das fadas — caminhos das fadas? — Fazendo viagens tão rápidas, é impossível dizer.
— Não, — diz Dash. — Estamos em uma parte completamente diferente do mundo em uma colina de uma cordilheira.
Espio entre as folhas em forma de metal do portão e, do outro lado da enorme casa, vejo picos de montanhas cobertas de neve. O elfo - presumo que as orelhas pontiagudas signifiquem que ele é um elfo - abre o portão e nos deixa entrar no jardim. Andamos pelo caminho pavimentado, subimos os poucos degraus até a porta da frente e entramos. Um fogo crepitante e uma atmosfera acolhedora nos saúdam no grande hall de entrada aberto da Chevalier House.
— Vou chamar o professor, — diz o elfo, indo em direção às escadas.
Eu atravesso a sala, meus pés afundando no tapete grosso enquanto olho em volta. Uma mesa fica no meio da sala, com um vaso lindamente pintado em seu centro cheio de flores que eu não reconheço. Cortinas ricamente bordadas emolduram as janelas e retratos em molduras douradas decoram as paredes. Eu penso em ficar aqui, mesmo que por apenas alguns dias, e eu não consigo acreditar. É um milhão de vezes mais chique do que qualquer outra casa em que já morei. — Claro que sim, — murmuro, sacudindo a cabeça.
— O quê? — Dash pergunta.
— A Guilda, a casa dos seus pais, este lugar... Eu acho que quando você vive em um mundo de magia, todo mundo pode ter uma casa chique do jeito que eles gostarem.
— Bem, não realmente. — Dash empurra as mãos nos bolsos. — A maioria dos faeries vive em casas em árvores comuns. Foi assim que vivemos até a mamãe ter sorte com o design de moda e moldar roupas. Ela ganhou um prêmio, e então uma celebridade a contratou para fazer um vestido para algum evento importante. A notícia começou a se espalhar sobre o trabalho dela e ela acabou tendo mais clientes da alta sociedade. Até mesmo alguns Seelies - a realeza fae - usaram seus vestidos. Então, sim. — Ele encolhe os ombros. — Agora temos uma casa extremamente chique.
— Interessante. Deve ter sido difícil para você sempre que você esteve no meu mundo, tendo que fingir que vivia em alguma parte ruim de Stanmeade.
— Muito difícil, — ele brinca, embora em sua voz não tenha humor.
— Não é de surpreender que você ainda viva em casa com seus pais. Por que se apressar para sair e ser independente quando você pode ficar em uma mansão por anos?
Ele não responde e eu continuo examinando os retratos na parede. Pelo canto da minha visão, vejo alguém entrar na sala e sair por outra porta, mas ignoro quem quer que seja. — Então, você e Jewel não estão juntos, mas vocês tem tatuagens iguais, — eu digo para cobrir o crescente silêncio. O silêncio deixa espaço para pensamentos sobre minha mãe entrarem, e eu não estou pronta para lidar com isso. — Parece muito sério para mim. Quer dizer, não há como voltar atrás, certo?
— Tatuagens iguais? Oh. — Dash começa a rir. — Você quer dizer isso? — Ele levanta as mãos, exibindo seus pulsos tatuados, em seguida, se curva quando o riso o consome. Eu cruzo meus braços e o ignoro até que ele se recupera o suficiente para dizer, — São marcas dos guardiões. Nós as recebemos assim que nos formamos.
— Uau, você realmente conseguiu se formar? Que surpreendente.
— Sim. — Ele sorri com orgulho. — Há menos de um ano atrás.
Eu não posso evitar revirar os olhos antes de voltar para o retrato de uma jovem mulher. Leio o nome ridículo na placa de bronze polida embaixo da pintura: Azure Plumehof. Sério? Azure, Dash, Jewel... Essas pessoas mágicas não sabem nada sobre nomes normais. Meu olhar desliza para a data abaixo do nome, que me diz que esta pintura tem mais de trezentos anos de idade. Droga. Eu me pergunto se a casa também é tão antiga.
Eu ouço risadas atrás de mim e olho por cima do meu ombro para ver um garoto sorrindo enquanto Dash escreve no braço do garoto com a mesma caneta que ele usa para abrir portas mágicas. Eu solto uma faísca de luz antes que o garoto diga, — Obrigado, Dash! — E foge.
Eu olho para longe, fingindo examinar as bordas enfeitadas com cristais penduradas em um dos tie-backs da cortina. — Eles vão me dar uma essas canetas mágicas aqui?
— Que caneta mágica? — Dash pergunta.
— Você sabe. — Eu olho de volta para ele, apontando para a caneta na sua mão. — As canetas que vocês usam para abrir as portas.
— Oh. — Dash ri. — Isso não é uma caneta. É uma stylus.
— Parece uma caneta. E pelo que vi, funciona como uma caneta.
— Bem, não é. Não tem tinta. É essencialmente apenas um bastão que canaliza a magia.
— Então... é uma varinha mágica?
— Quase. E você terá que provar que pode usar sua magia com segurança antes de conseguir uma.
— Tudo bem, — murmuro, cruzando os braços e vagando até a mesa. Eu me inclino para mais perto do vaso e examino as flores de formas estranhas.
— Dash, Emerson! — Exclama uma voz feminina da direção da escada. — Que bom ver vocês dois.
Eu me endireito e dou um passo para trás quando uma mulher com rosa nos seus cabelos louros e brincos de banana em miniatura pendurados em suas orelhas desce as escadas. Uma mulher que eu diria que teria vinte e poucos anos, talvez trinta e pouco. A mesma mulher, percebo com um solavanco, do retrato. — Emerson, — diz ela quando chega ao final da escada. — Muito adorável conhecer você. Eu sou a professora Azure Plumehof, mas por favor me chame de Azzy. — Ela estende a mão na minha direção. Eu olho para ela, então volto para o rosto dela.
— Azure Plumehof? — Olho por cima do ombro para o retrato, depois de volta. — Você não pode ser. A mulher naquela pintura teria mais de trezentos anos de idade. Ela seria uma ameixa velha enrugada.
Azzy ri enquanto abaixa a mão, aparentemente imperturbável por eu não ter me incomodado em apertá-la. — Dash não explicou essa parte?
— Eu acho que não surgiu, — diz Dash. — Ela estava muito preocupada com o fato de que seu cabelo é azul.
Eu olho para os fios azuis pastel pendurados sobre meu ombro que eu de alguma forma consegui esquecer. Com um piscar de olhos, volto minha atenção para a mais recente revelação devastadora. — Espere. Você está me dizendo que as pessoas são imortais ou algo assim?
— É tão difícil acreditar, — Dash pergunta, — dada às todas as coisas chamadas de 'impossível' que você descobriu até agora esta manhã?
— É... só que...
— Nós não somos imortais, querida, — diz Azzy com uma breve carranca na direção de Dash. Ela aperta as mãos sobre as camadas de roupa soltas e flutuantes. — Vivemos por vários séculos, o que está muito longe da imortalidade.
— Vários... séculos... — Eu murmuro.
— Não se preocupe, — diz Azzy, sorrindo gentilmente. — Damos muito tempo para absorver toda essa nova informação. É por isso que Chevalier House existe - para dar a você um lugar seguro para aprender mais sobre você e sobre o mundo do qual você faz parte agora. Haverá lições de história, lições sobre magia - todos os princípios básicos que jovens faeries aprendem na escola primária - e entrevistas para que você possa nos dar informações que ajudarão a encontrar sua família verdadeira.
— Minha — o quê? — Família verdadeira? Eu não pensei na ideia nem por um minuto.
— Mas podemos começar tudo isso amanhã. Por agora, deixe-me mostrar-lhe o seu quarto. Tenho certeza de que você teve um dia difícil até agora e provavelmente precisa descansar. Você encontrará tudo o que poderia precisar em seu quarto: roupas, produtos de higiene pessoal, maquiagem - se isso for sua praia. Se você precisar de algo que eu tenha esquecido, ou se as roupas estiverem do tamanho errado, apenas me avise. — Ela faz uma pausa, como se esperasse que eu dissesse algo, mas estou um pouco sobrecarregada para formar palavras. — E se seu cérebro está muito animado para você descansar agora, — ela continua, — você pode explorar a casa e os jardins. Conhecer os outros fae que estão conosco no momento.
— E se você precisar de mim, — Dash acrescenta, — apenas diga a Azzy. Ela sabe como me encontrar.
Eu pisco. — Precisar de você? — Isso é uma noção ridícula. — Você não precisa mais tomar conta de mim, Dash. Eu consigo passar pelo resto disto sem você.
— Tenho certeza que você consegue. Apenas conte a Azzy tudo o que aconteceu na noite passada, ok? — Ele troca um olhar com Azzy, depois retorna seu olhar para mim. — Tudo. Ela pode te ajudar.
Eu franzo a testa para ele. — Obviamente. O que você achou que eu ia fazer o quê? Fingir que a coisa toda não aconteceu? Eu já tentei isso e isso não fez com que nenhuma dessas loucuras fosse embora.
— Vamos ter uma boa conversa, não se preocupe, — diz Azzy, acariciando o braço de Dash antes de pegar minha mão e me direcionar para as escadas. — Vamos nos acomodar, Em. Posso te chamar de Em, ou você prefere Emerson?
— Ela gosta de Emmy, — Dash diz a ela. Eu viro minha cabeça por cima do meu ombro e imagino faíscas voando para fora dos meus olhos diretamente para ele. Infelizmente, magia não parece funcionar assim, e eu fico simplesmente olhando para o rosto sorridente dele. — Divirta-se, — diz ele com um pequeno aceno antes de se virar e se dirigir para a porta. E apesar do fato de que eu querer dar um tapa nele — apesar de dizer a ele que não preciso dele — tenho o repentino desejo de gritar “Espere, não me deixe aqui!”. Porque mesmo que eu sempre tenha odiado ele, ele é a última peça da minha vida normal e está prestes a desaparecer por aquela porta.
Mas eu engulo meu pânico e não digo uma palavra. Eu me viro para frente e deixo Azzy me levar subindo as escadas. Porque eu sobrevivi a tudo que a vida já jogou em meu caminho sozinha, e isso não será diferente.
Capítulo 07
ELA NÃO É SUA MÃE.
Ela não é sua mãe.
Essa informação continua tocando dentro do meu cérebro, e agora que estou sozinha, nada que eu faça pode me distrair disso. Eu examino cada parte do meu quarto — quase tão agradável quanto o quarto de hóspedes na casa dos pais de Dash — mas travesseiros fofos, um tapete luxuosamente macio, e uma cama com dossel não conseguem evitar que a imagem de uma mãe que não é minha mãe marque a minha mente.
Eu abro o guarda-roupa e descubro, ao encontrar um espelho lá, que pareço terrível. Minha pele está pálida e minhas pálpebras estão manchadas da maquiagem escura. Eu pego algumas roupas limpas em uma das prateleiras e, depois de olhar para os dois lados do corredor para me certificar de que não estou prestes a esbarrar em ninguém, eu atravesso em direção ao banheiro que Azzy mostrou. O que eu descubro ser o suficiente para me surpreender dos meus pensamentos perturbadores por um tempo. Eu esperava uma banheira ou chuveiro, mas em vez disso eu encontro uma pequena piscina cercada por seixos e cheia de água fumegante e perfumada. É a coisa mais convidativa que eu já vi em eras, e eu estou mais do que feliz em deixar de lado cada pensamento que corre pela minha cabeça. Tiro minhas roupas sujas e afundo na água quente.
Mas até essa distração não dura muito tempo. Então, depois de me vestir com roupas limpas que de alguma forma se encaixam perfeitamente, eu saio do meu quarto. Ando pela casa, por uma biblioteca cheia de livros do chão ao teto, por uma sala de jantar com uma longa mesa retangular no centro e por uma cozinha maior que a casa de Chelsea. Eu exploro o jardim, ignorando todas as pessoas — todos os faer... ser... coisas — que eu me deparo.
Mas meus pensamentos continuam voltando para mamãe. Eu tento manter a imagem dela que eu sempre tive, no lugar que ela sempre teve na minha vida. O lugar e o título de mãe. Mas a ideia está começando a desmoronar à medida que as perguntas começam a penetrar nas frestas de minhas defesas: Como ela acabou comigo? A quem eu realmente pertenço? Por que ela nunca me contou? Quem diabos sou eu, se não sou filha dela? E apesar do fato de me encher de culpa, tento imaginar como seria minha mãe ‘verdadeira’. Mas minha imaginação fica em branco. Não consigo imaginar ninguém, exceto a mulher com quem cresci.
Quando eu percebo que estou parada imóvel na frente da mesma estranha planta de bolinhas por vários minutos, olhando sem ver, concluo que estou farta da vida real por hoje. Eu posso lidar com todas as minhas perguntas, dúvidas, confusões e magia amanhã. Volto para o meu quarto, fecho as cortinas, subo na cama e dou o meu melhor para adormecer. Quando Azzy bate na minha porta e diz algo sobre o jantar, eu puxo o edredom sobre a minha cabeça e a ignoro.
**
— Pessoal, está é a Emerson, — Azzy diz na manhã seguinte, depois de me apresentar as outras sete pessoas na biblioteca: uma faerie, um elfo e cinco pessoas meio velhas. — Lembre-se de como vocês se sentiram incertos sobre tudo quando chegaram aqui? É assim que Em se sente agora. Então, lembre-se de fazer o seu melhor para recebê-la.
Todo mundo olha para mim. Eu deslizo um pouco mais para baixo na minha cadeira. Se eu soubesse como abrir aquele buraco que abri na terra na outra noite, ficaria tentada a fazer isso de novo agora mesmo e me arrastar para dentro dele.
— Bem, então, — continua Azzy. — Vocês podem se conhecer melhor durante o almoço. Por enquanto, todos vocês precisam voltar ao que vocês estavam trabalhando no momento. Em, você vem comigo.
Eu levanto junto com os outros. Dois dos meus companheiros estranhos se movem para uma mesa juntos e conversam em voz baixa enquanto abrem vários livros enormes. O resto deixa a biblioteca pela porta que leva ao jardim.
— Então, Em, — diz Azzy, me conduzindo para outra mesa. — Como tenho certeza de que você já percebeu, isso não é como uma escola comum. Nós nunca sabemos quando alguém vai chegar, e todo mundo tem uma história diferente. Alguns fae não têm nenhum conhecimento prévio do mundo mágico, como você, enquanto outros tiveram alguma exposição à magia, mas não foram formalmente ensinados a nada. Então, como você pode ver, precisamos adaptar nossas lições e um treinamento para cada indivíduo.
— Hum, sim, — eu digo depois de uma pausa, já que parece que ela está esperando por um sinal de que eu estou ouvindo ela.
— Então vamos começar com um pouco da história sobre esse mundo. Momentos extraordinários do passado, bem como eventos mais recentes que desempenharam um papel importante na formação do nosso mundo.
— Divertido. — Eu tento não parecer entediada, mas percebo que não estou fazendo um bom trabalho. O que aconteceu sobre aprender sobre magia de verdade?
— É divertido. Especialmente já que eu vou pedir que alguns dos outros alunos expliquem as coisas para você.
— O quê?
Azzy me dá um sorriso deliberado. — Eu pensei que isso poderia fazê-la prestar atenção.
— Então... essa parte era uma piada?
— Oh, não, eu estava sendo totalmente séria. Dessa forma, você não precisa me ouvir falando por horas. Eu descobri que é uma ótima maneira de aprender. Isso ajuda os alunos que estão aqui há mais tempo a lembrar o que aprenderam, ensinando a você os fatos mais importantes, e você se conhecerá no processo. Eu vou supervisionar, é claro, para ter certeza de que eles não vão contar um monte de bobagens, mas essencialmente tudo será uma discussão.
Maravilha. Então é isso que eu tenho que esperar todos os dias enquanto estou aqui. — Então, hum, quando vou aprender como fazer alguma magia de verdade? Eu pensei que isso era tudo que eu precisava saber. Controlar a magia, então vou poder ir embora.
Ela sorri. — Começaremos esta tarde com algo fácil. Depois que você me contar exatamente o que aconteceu na outra noite quando você acidentalmente usou magia.
Eu suspiro quando me levanto e sigo para a mesa com os outros dois fae. — Por que todo mundo quer que eu diga exatamente o que aconteceu? Todos os detalhes de todo o evento não estão escritos em algum relatório chato da Guilda em algum lugar?
— Eu tenho certeza que está, mas não dói explicar novamente. Agora, você senta aqui com George e Aldo — ela puxa uma cadeira para mim enquanto os dois meninos olham para cima — e eu vou pegar meu chá.
Eu sento na cadeira, meu olhar se movendo cautelosamente entre os dois garotos. — Oi, — diz o mais novo, que parece ter uns dez anos. — Eu sou o George. Este é o Aldo.
— Tudo bem, deixe-me ver se eu me lembro disso corretamente. Você é um faerie, — eu digo, apontando para Aldo, — e você é um halfling? — Meu olhar se move para George.
Eu lembro que Dash mencionou a palavra halfling dizendo que eu não poderia ser um, mas ele não explicou mais do que isso. — Então, o que exatamente é um halfling? Alguém meio mágico?
— Não exatamente, — diz Aldo. Ele parece um pouco mais velho, catorze ou quinze talvez. Embora a idade não pareça fazer sentido neste mundo, então posso estar totalmente errada. — Significa dois pais diferentes. Uma faerie e um elfo, por exemplo. Ou um ser humano e uma faerie, embora as leis fae digam que a interação com os seres humanos é errada.
— É isso que eu sou, — diz George, jogando a mão no ar como se estivesse se oferecendo para responder a uma pergunta. — Pai faerie e mãe humana. Papai diz que ficou entediado com este mundo, então foi se aventurar no outro. Ele conheceu minha mãe e ele não voltou para cá desde então. Ele achava que eu quase não tinha magia quando eu era pequeno, mas começou a aumentar depois de eu completar dez anos no ano passado. As coisas ficaram um pouco descontroladas no mês passado quando eu acidentalmente ateei fogo no nosso celeiro com chamas encantadas que não podiam ser apagadas com água. Fui enviado para cá depois disso.
— Uau. Quase tão dramática quanto a minha história, — eu digo. — Então, como você sabe a diferença entre faeries e halflings? Alguém me disse que eu sou definitivamente uma faerie, mas e se ele estiver errado?
— Não, você é definitivamente uma faerie, — diz Aldo. — É fácil dizer por que faeries têm uma cor.
— Uma cor?
— Você não percebeu? — Ele se inclina para frente e descansa os cotovelos na mesa. — Você tem azul em seu cabelo e olhos. Eu tenho vermelho. Aquele guardião que te trouxe aqui tem verde. Azzy tem rosa, embora ela prefira chamar de cor de cereja.
— É cor de cereja, — diz Azzy quando ela volta para a biblioteca e vem em direção a nossa mesa com uma xícara de chá e pires flutuando no ar ao lado dela. Ela se senta. — Agora, Em, você pensou em sua primeira pergunta?
Eu pigarreio e me forço a desviar o olhar da xícara de chá levitando. — Oh, eu pensei que eles iam me dizer as coisas.
— Mas como eles saberão o que dizer se você não fizer uma pergunta?
Eu levanto uma sobrancelha. Esse estilo de ensino parece questionável, mas eu não sou especialista, então provavelmente não deveria falar sobre isso. — Hum... vamos ver... — O que eu quero saber? Eu quero saber se é absolutamente certo que minha mãe não é minha mãe. Eu quero saber como acabei morando com ela. Eu quero saber como eu devo encarar a vida e mim mesma quando de repente eu não sou a pessoa que eu sempre pensei que era. Quero saber se é possível ter uma crise de identidade aos dezessete anos.
Mas eu não vou fazer nenhuma dessas perguntas, é claro. Elas são muito pessoais e essas crianças não saberão as respostas de qualquer maneira. — Hum, bem, Dash explicou os caminhos das fadas, mas essa é a única maneira de chegar ao outro mundo? E se alguém não tiver uma daquelas coisas tipo caneta? — O que me preocupa é que eu não tenho uma dessas coisas, e eu preciso de uma maneira de sair daqui se as coisas acabarem indo mal.
— Ooh, tudo bem, eu posso responder, — diz George, jogando sua mão no ar novamente. — Então existem lacunas aqui e ali no véu entre os dois mundos, e os fae podem passar por essas lacunas. Eu não me lembro exatamente onde elas estão, no entanto, ou de onde elas vieram. Eu acho que elas sempre existiram. Ah, e há um buraco no véu sobre a Ilha Velazar, — acrescenta ele. — Isso não é natural, no entanto. Não deveria existir. Algumas bruxas criaram anos atrás.
Eu olho para Azzy. — Parece que pode ter sido um evento importante.
— Foi, — diz ela, parecendo satisfeita. Eu posso dizer o que ela está pensando: essa coisa de aprendizado em grupo está funcionando exatamente como ela planejou. — Você pode nos contar mais sobre esse evento, Aldo?
— Hum, claro, tudo bem. — Ele bate sua stylus sobre a mesa. — Bem, havia esse cara chamado Draven. Tudo bem, espere, vamos voltar um pouco. — Ele franze a testa, depois continua. — Foi há vinte e oito anos, quando um dos príncipes Unseelie tentava assumir o controle da corte da sua mãe. Em vez disso, ele e a Rainha Unseelie foram mortos por Draven, que era um halfling insanamente poderoso, e Draven acabou assumindo a Corte Unseelie. Houve muita luta e lavagem cerebral e outras coisas e, eventualmente, Draven foi morto. Pelo menos é o que todos pensaram.
— Dun, dun, duuuuun, — George diz em tom dramático, fazendo Azzy rir.
— Dez anos depois, a princesa Seelie que esteve na prisão todo esse tempo por ajudar Draven - porque ele era na verdade seu filho —
— Super complicado, — acrescenta George.
— Sim, então a princesa Seelie descobriu que Draven ainda estava vivo e escondido, — Aldo continua, — e ela o traiu e o entregou a Guilda em troca de sua liberdade.
— Ela não era a melhor mãe, — diz Azzy sacudindo a cabeça.
— Então a princesa matou sua mãe e irmã para poder reivindicar a coroa Seelie. Então, esse tiro saiu pela culatra - porque, você sabe, a Guilda e a Guilda Seelie trabalham juntos, então eles perderam a rainha e conseguiram uma nova horrível. E então se descobriu que a princesa Seelie estava trabalhando com algumas bruxas, e elas queriam dominar o mundo humano também. Elas decidiram que não deveria mais ser separado deste mundo. Então elas usaram um feitiço antigo e magia negra horrível para rasgar o véu, mas o que acabou acontecendo foi que quando o buraco se abriu mais e mais, ele começou a consumir os dois mundos.
— Eu não acho que elas sabiam que isso iria acontecer, — diz George.
— Não, obviamente não. De qualquer forma, Draven acabou no local — provavelmente para se vingar de sua mãe — e ele foi morto. De verdade dessa vez. Houve mais lutas e, de alguma forma, o buraco no véu parou de crescer.
— O monumento. — Azzy ajuda.
— Certo. Havia um antigo monumento do reino sereiano, e quando o buraco no véu tentava aumentar, a magia do monumento era forte o suficiente para segurar o buraco no lugar e impedir que ficasse maior. Então agora está apenas lá, esse buraco gigante no véu sobre a Ilha Velazar —
— Que é uma ilha flutuante, — George acrescenta com um sorriso. — Bem, duas ilhas agora, porque havia uma prisão do outro lado, então a Guilda cortou a ilha ao meio depois que a coisa do véu aconteceu.
— E guardiões estão posicionados perto do buraco o tempo todo, — continua Aldo, — escondendo-o com um glamour e certificando-se de que ninguém chegue perto o suficiente para tocar o monumento.
— Então não há como fechá-lo? — Pergunto.
— Os estudiosos têm trabalhado nisso desde então, — diz Azzy. — E ouvi dizer que finalmente houve um avanço, na verdade.
Eu me lembro vagamente de Jewel dizendo algo ontem sobre um feitiço do véu. — Eu acho que ouvi sobre isso. A Guilda teve uma reunião sobre isso ontem.
— Sim, isso é muito emocionante. — Azzy sorri para nós antes de pegar sua xícara de chá. — De qualquer forma, você está acompanhando até agora, Em?
— Acho que sim. Não tenho certeza se entendo totalmente a coisa dos Seelie e Unseelie, no entanto.
— Oh, as cortes diferentes. — Azzy acena para Aldo antes de tomar outro gole de chá.
— Hum, as cortes dominam diferentes partes do nosso mundo, — diz Aldo. — A Guilda e a Corte Seelie trabalham juntos para manter a ordem e a paz e manter o mundo funcionando. Eles decidem sobre as leis e proíbem magia que envolva ferir outras pessoas. Unseelies tendem a se manter afastados. Eles também gostam de ignorar as leis e usar qualquer magia negra que eles queiram, e a Corte Seelie nem sempre pode fazer nada sobre isso. Eu acho. — Ele olha para Azzy para confirmação.
— Essencialmente, sim. É um equilíbrio complicado.
— Então o que aconteceu com a princesa Seelie? — Eu pergunto. — Aquela que matou sua mãe e irmã e estava trabalhando com as bruxas? A Guilda não permitiu que ela continuasse a governar, não é?
Azzy balança a cabeça e coloca a xícara de chá no pires. — Não. Depois do feitiço do véu, a pena de morte foi restabelecida e a princesa Angelica — que suponho que era na verdade a rainha Angelica naquele momento — foi sentenciada à morte.
Meus olhos se arregalam. — Uau. Então, quem sobrou para governar a corte?
— O filho da irmã dela. Então atualmente nós temos um rei em ambos as cortes. Rei Idrind na Corte Seelie, que é um jovem rei, e o rei Savyon na Corte Unseelie, que está governando desde a primeira ‘morte’ de Draven.
Mais nomes estranhos, eu penso comigo mesma. Em voz alta, eu digo, — Isso tudo é muito interessante, mas não me ajuda a controlar minha magia. Isso é tudo que eu realmente preciso saber, certo?
— Se você decidir ficar neste mundo, — diz Azzy, — então você precisa saber como funciona.
— Mas eu não vou ficar aqui.
Ela sorri. — Não há necessidade de tomar essa decisão agora.
— Tenho certeza que já tomei a decisão.
Azzy ri. — Está bem, está bem. Isso é absolutamente bom, mas eu ainda preciso que a Guilda te ensine um pouco de história. Mas eu prometo que chegaremos na magia logo após o almoço, ok? Agora. — Ela se inclina para frente e me observa atentamente com seus olhos rosa escuros. — Você já foi informada sobre Habilidades Griffin?
Eu me lembro de Dash mencionando elas ontem. — Hum... faeries superpoderosas?
— Sim, sim, — diz Aldo. Ele olha para Azzy.
— Bem, vá em frente, — diz ela para ele. — Diga para Em tudo sobre eles.
Encosto-me para trás em minha cadeira, e o resto da manhã passa com explicações do que são Habilidades Griffin (habilidades mágicas adicionais e não naturais), de onde vieram originalmente (discos de metal contendo a magia de um halfling super poderoso de séculos atrás), e como são transmitidos hoje em dia, já que os discos sumiram (quando dois Dotados Griffin têm um filho, embora às vezes a criança saia normal).
Depois de mais algumas rodadas de perguntas e respostas, Azzy finalmente nos deixa ir para o almoço. Eu me levanto e me alongo, e estou prestes a seguir Aldo e George quando noto a stylus de Aldo na mesa entre os livros. Depois de um breve olhar ao redor da sala para me certificar de que ninguém está me observando, eu casualmente me inclino e a pego. Eu levanto minha camiseta e coloco no cós do meu jeans, então corro para fora.
A stylus belisca meu peito o tempo todo que estou sentada na hora do almoço, e eu tenho medo de que de repente ela abra um portal no meu corpo ou me incendeie ou faça algum outro feitiço por vontade própria. Mas eu consigo terminar o almoço inteira.
Logo depois, Azzy me diz para colocar um suéter por cima da minha camisa e encontrá-la do lado de fora. — Pronta para aprender alguma magia? — Ela pergunta quando a encontro perto de uma estátua de um centauro apontando um arco e flecha para o céu.
É provavelmente a pergunta mais estranha que já me fizeram. Eu mal posso acreditar que magia existe, muito menos que eu tenho a habilidade de brincar com ela. Eu engulo e rolo meus ombros em uma tentativa de relaxar. — Provavelmente não, mas vamos lá.
Capítulo 08
— ENTÃO, COMO ISSO FUNCIONA? — EU PERGUNTO ENQUANTO ESTAMOS NO JARDIM A CERTA DISTÂNCIA dos outros alunos. — Eu digo algumas palavras mágicas e algo acontece?
— Foi isso que aconteceu na outra noite quando você acidentalmente usou magia? — Pergunta Azzy.
— Hum, não, eram apenas palavras normais. Minha amiga Val ficou envergonhada com algo que ela disse para um cara, e ela fez um comentário sobre desejar que a terra se abrisse e a engolisse. Então eu disse... — Eu engulo e enrolo alguns fios de cabelo em volta do meu dedo indicador, envergonhada do estado em que estava naquela noite. — Eu estava meio que fora de mim, porque eu bebi um pouco de álcool, e aparentemente isso não é bom para faeries, então eu... eu não sei exatamente, mas eu disse algo como 'E daí? Então deixe que a terra a engula.’ E então... aconteceu.
— Eu entendo. — Azzy sacode a cabeça lentamente.
— Tem a ver com meus pensamentos? Eu estava talvez imaginando, e minha magia apareceu ao mesmo tempo, então foi isso que na verdade aconteceu?
— Sabe, Em, não tenho certeza. Coisas estranhas podem acontecer quando a magia de uma pessoa se revela pela primeira vez depois de estar dormente por anos. Mas eu vou tentar descobrir para você, tudo bem? — Ela me dá um sorriso que parece menos entusiasmado do que antes. — E é provavelmente melhor que você não mencione exatamente o que você fez com mais ninguém. Não até que eu possa descobrir mais.
— Oh. Porque —
— Enquanto isso, — ela diz antes de eu fazer minha pergunta, — vamos começar com o básico. Magia existe ao seu redor e dentro de você. Para fazê-la fazer algo, você precisa tirá-la de dentro de você e liberá-la de alguma forma ou canalizá-la através de uma stylus. Muito da nossa magia funciona dessa maneira, escrevendo as palavras para um feitiço específico em alguma coisa, enquanto canaliza a magia através da stylus.
Parte do meu cérebro ainda está preso imaginando por que eu deveria manter o que aconteceu na outra noite em segredo, então eu levo alguns instantes para processar as palavras da Azzy. — Hum, tudo bem, então, uma vez que eu puder canalizar, posso fazer o que quiser com ela?
— Não, nós temos limitações, é claro. Baseando-se que o poder nos cansa, assim como um exercício iria cansar você. Se você chegar ao ponto em que não tiver quase nada, então precisa descansar para recuperar sua força mágica. — Ela caminha lentamente de um lado para o outro enquanto fala, suas roupas soltas flutuando ao redor dela. — E há limitações para exatamente o que você pode fazer. Você não pode simplesmente estalar os dedos e ter uma pilha de ouro à sua frente, ou um arco-íris em arco no céu inteiro.
— Tudo bem. Mas faeries superpoderosas podem fazer coisas assim?
— Sim. Habilidades Griffin permitem que as pessoas façam magia que ninguém deveria ser capaz de fazer. Mas vamos aos detalhes do que é possível e do que não é mais tarde, — ela acrescenta com um aceno de mão. — A primeira coisa que eu quero que você pratique é a parte em que você realmente usa sua própria magia. Inicialmente parecerá algo que você tem que focar intensamente toda vez, mas logo se tornará instintivo. Então você descobrirá que pode fazer isso automaticamente sem nem pensar nisso.
— Como dirigir um carro?
— Bem, eu não tenho nenhuma experiência pessoal nessa área, mas sim, eu suponho que seja como dirigir um carro. — Ela pára de andar e estende as mãos suas palmas na sua frente. — Uma vez que você tirar o poder de si mesma, se você não canalizar através de algo, você pode simplesmente segurá-la em suas mãos. Ela aparecerá como uma espécie de massa brilhante que pode ser transformada em outras coisas. — Enquanto ela fala, uma forma esférica de luz toma forma acima de suas mãos, iluminando o caminho e uma energia que se esforça para se libertar. — Por enquanto, — ela diz, — eu só quero que você se concentre em chegar ao ponto em que você a está segurando.
Eu engulo, em seguida, pisco quando a magia de Azzy desaparece e ela abaixa as mãos para seus lados. — Hum, está bem. Devo fechar meus olhos?
— Se isso vai ajudar você a se concentrar, então sim.
Meus olhos fecham e me concentro em imaginar um lugar profundo e oculto dentro de mim. Eu tenho que livrar minha mente de imagens inúteis de intestinos e outros órgãos, mas eventualmente eu chego lá.
— Você pode sentir? — Azzy pergunta baixinho. — Cantarolando, vibrando. Encontre-a e imagine reunindo um pouco em suas mãos e a liberando.
Eu me imagino fazendo o que ela diz, esperando que na realidade não seja tão escorregadio e difícil de segurar como imagino que seja.
— Aqui está, — ela sussurra.
Eu abro meus olhos, e fico tão assustada ao ver a massa brilhante pairando sobre as minhas mãos que eu suspiro e dou um passo para trás, tirando minhas mãos da magia. Ela desaparece em nada.
Azzy ri. — Bom trabalho, isso foi bom.
Uma risada ofegante escapa de mim. — Eu realmente fiz isso.
— Você fez. Agora, para o próximo desafio: você pode fazer de novo?
Eu estendo minhas mãos mais uma vez e fecho meus olhos. Espero que seja mais fácil na segunda vez, mas quando abro os olhos não encontro nada acima das palmas das minhas mãos. Então eu tento de novo, tomando meu tempo, sentindo aquele zumbido fraco que nunca costumou ser parte de mim. Eu puxo, mas mais uma vez, eu encontro minhas mãos vazias.
— Paciência, — murmura Azzy. — Não fique frustrada consigo mesma.
Repito o processo, mas parece que não consigo mais clarear minha mente. O ar frio me distrai. O chilrear dos insetos enche meus ouvidos. Eu sacudo meus braços, respiro profundamente várias vezes e tento novamente.
Nada.
— Ugh, isso é uma droga! Por que é tão difícil?
Azzy, parada pacientemente em um lado, cruza os braços. — Porque hoje é a primeira vez que você tenta fazer isso. Levará muita prática antes que fique fácil.
— Mas eu preciso saber como fazer isso agora.
— Em, você precisa ir com calma, — diz ela com uma risada. — Você tem que aprender tudo o que uma criança faerie passaria aprendendo no ensino fundamental, e isso não vai acontecer em uma tarde. Mesmo se você for inteligente e dedicada, ainda levará vários meses para —
— Meses? — Repito, o choque corre através de mim. — Do que você está falando? Eu não posso ficar aqui durante meses.
— Por que não? Existe algo importante para o qual você precise voltar? Fiquei com a impressão de que a Guilda havia organizado sua história com seus parentes humanos e amigos. Ninguém está esperando que você volte para aquele lado do véu a qualquer momento em breve.
— Isso não faz... e... a minha mãe! — Eu gaguejo. — E eu tenho um plano. Eu preciso terminar a escola e me aproximar dela e conseguir um emprego que pague melhor. Então eu posso realmente ajudá-la. Como eu devo terminar a escola se estiver aqui durante meses? Eu só deveria ficar aqui por — eu não sei — uma semana ou duas.
— Sinto muito, Em. — A testa de Azzy franze em confusão. — Eu não sei quem te disse isso, mas isso definitivamente vai demorar mais de uma semana ou duas.
— Eu... só... eu não posso fazer isso. — Eu me afasto dela.
— Em, espere —
— Eu vou para o meu quarto.
— Emerson, por favor, seja madura sobre isso, — Azzy fala atrás de mim. — Vamos apenas conversar, em vez de você fugir para se esconder de tudo.
Eu não olho para trás. Passo correndo pelas estátuas e entro na casa — e passo direto pelas escadas que levam aos quartos. Eu abro a porta da frente e continuo correndo. Ao longo do caminho e em direção ao portão. Não faço ideia para onde estou indo, é claro, mas preciso sair desse lugar. Eu corro entre as árvores, em torno dos arbustos e sobre as rochas. Posso não ser boa em magia, mas sou boa em correr. Então eu corro, corro e corro, e eventualmente tropeço em algo e deslizo até a metade de uma parte íngreme da floresta. Eu levanto e escovo minhas mãos sujas e arranhadas contra minha calça jeans, permitindo-me recuperar o fôlego.
Eu estou longe da casa agora, então eu puxo a stylus do Aldo do meu jeans. Eu a seguro como uma caneta e descanso minha mão contra a árvore mais próxima. Eu vi esse feitiço várias vezes agora, então eu devo ser capaz de lembrar as palavras. Eu tento me concentrar e alcançar qualquer que seja a magia que existe dentro de mim enquanto escrevo as palavras que eu testemunhei Dash e Jewel escrevendo. Eles também falavam algumas palavras diferentes, então faço uma tentativa de repetir o que me lembro de ouvir.
É impossível. Ou eu entendi errado ou as palavras faladas estão erradas, ou não canalizo magia o suficiente através da stylus. Provavelmente uma combinação dos três. Eu giro e jogo a stylus no chão. Depois de um momento de pausa, me jogo ao lado dela. Eu cruzo minhas pernas e braços e respiro um pouco. Isso é tão estúpido. O que eu devo fazer agora? Continuar andando até encontrar uma daquelas lacunas naturais entre os dois mundos? E como eu saberia se eu visse? Não, esse é um plano estúpido. Especialmente se não houver muitas dessas lacunas. Eu poderia estar a centenas ou milhares de quilômetros de distância de uma. O que tenho que fazer é continuar andando até me deparar com uma pessoa que possa me levar ao mundo humano. Chevalier House não pode estar muito longe da civilização, certo?
Eu me forço a continuar me movendo, tentando não pensar no fato de que eu poderia estar completamente errada. Enquanto ando e ando e ando, a luz lentamente fica fraca. Quando a noite começa a se aproximar e eu ainda não encontrei nenhum sinal de nenhuma pessoa ou civilização, medo genuíno se acumula na borda da minha mente. Eu corro minhas mãos para cima e para baixo nos meus braços, tentando me aquecer, mas isso não funciona.
Então eu ouço alguma coisa. O farfalhar repetitivo de passos nas folhas. Alívio e incerteza se chocam dentro de mim ao mesmo tempo, me congelando no local por vários segundos. Então eu recupero meus sentidos e escorrego para trás da árvore mais próxima, espreitando na direção do som. Neste mundo, é definitivamente mais seguro checar as coisas antes de falar olá.
O ser que eventualmente aparece parece um homem. Seu rosto está na sombra e ele usa um longo casaco preto que alcança abaixo dos seus joelhos. Quando eu vejo que não é uma espécie de monstro, eu quase saio de trás da árvore e chamo por ele. Mas algo me impede. Uma mudança no ar. Um sentimento de desconforto. Eu noto movimento através do chão da floresta, como se insetos e pequenas criaturas estivessem se afastando dele. A sensação de que algo está errado me envolve.
Eu me agacho entre as raízes das árvores, cobrindo minha cabeça com as mãos e tentando me enrolar em uma pequena bola. Por favor, por favor, não me veja, eu canto silenciosamente. Eventualmente, seus passos desaparecem no nada. Eu me permito respirar longamente e devagar antes de ficar em pé e olhar timidamente ao redor da árvore. Eu dou alguns passos.
E uma forma escura salta sobre mim.
PARTE 2
Capítulo 09
EU CAIO COM UM GRITO, A CRIATURA EM CIMA DE MIM. ASAS DE COURO BATEM ao meu redor, e uma boca rosnando estala sobre meu rosto. Eu luto com punhos, cotovelos e joelhos. Com um grande impulso, eu consigo expulsá-lo de cima de mim. Ele pula de novo — mas algo brilhante e reluzente brilha através da escuridão. O monstro grita quando uma lâmina dourada corta para frente e para trás, forçando-o ainda mais para longe de mim. Ele bate uma asa no homem que segura à lâmina, então se arremessa para o lado e voa para longe.
O homem se vira — e vejo que é Dash.
Eu levanto e me afasto até sentir a superfície áspera de um tronco de uma árvore atrás de mim. Eu me inclino contra ela, não confiando em minhas próprias pernas para me manter de pé. Sem fôlego, eu pergunto, — Como... como você me encontrou?
— Isso importa? — Dash dá um passo em minha direção.
— Sim. Aqui estou eu tentando voltar à minha vida normal e meu babá perseguidor aparece do nada.
Ele solta a faca e ela simplesmente... desaparece. — Eu acho que você provavelmente deveria estar agradecendo ao seu babá perseguidor agora.
Eu me afasto da árvore e aumento a distância entre nós. — Eu não vou agradecer. Tudo o que você quer fazer é me arrastar de volta para aquela escola idiota.
Em vez de me lembrar que ele acabou de salvar minha vida, ele diz, — Primeiro dia ruim?
— Claro que foi ruim. Este lugar — este mundo — não é para mim. Eu não pertenço aqui. Por que ninguém entende isso?
— Nós entendemos. É para isso que a Chevalier House serve.
— Você não está me ouvindo. Eu não. Quero. Estar aqui. Tudo bem? Eu não quero ter lições estranhas com estranhos, eu não me importo com a história deste mundo, e eu não quero nenhuma magia. Eu só quero IR EMBORA.
Confusão atravessa o rosto de Dash. — Mas... não é melhor do que você tinha antes?
— Não! Eu não quero isso! — Eu grito. Começo a andar de um lado para o outro, jogando meus braços descontroladamente enquanto ando, sem me importar que faíscas aleatórias escapem dos meus dedos e queimem as folhas no chão. — Dois dias atrás, minha vida era a mesma porcaria que sempre foi. Agora eu tenho magia, estou em um mundo estranho, minha mãe não é minha mãe e, basicamente, eu não tenho nenhuma ma — Eu me interrompo antes de terminar. — Eu não tenho a menor ideia de quem eu sou ou o que está acontecendo. Eu só quero voltar ao meu plano, onde eu termino a escola, me afasto de Chelsea e descubro como tirar minha mãe daquele hospital. E sim, estou bem ciente de que foi uma vida de baixa qualidade, mas era a minha vida e eu sabia o que fazer com ela.
A testa de Dash continua a franzir. — Mas você ainda pode fazer tudo isso. Quero dizer, não exatamente assim, mas uma vez que você tiver o lado mágico das coisas sob controle, você pode voltar à vida normal. Na verdade, a magia irá ajudá-la com a vida normal, se você for discreta sobre isso. Então você não deveria estar tentando virar as costas para isso.
Eu paro, olhando para a escuridão e não vejo nada enquanto meu cérebro processa rapidamente algo que eu não tinha considerado até agora. Eu me viro lentamente e encaro Dash. — A magia pode curar minha mãe?
Ele hesita, abre a boca, depois a fecha e sacode a cabeça devagar. — Ela não é mágica. Seria muito arriscado usar magia em seu corpo, especialmente em sua mente. Não sabemos se isso a prejudicaria e pioraria as coisas.
Eu jogo minhas mãos para cima. — Então, qual diabos é o ponto em ter esses poderes estúpidos? Como eles devem me ajudar?
— Hum, por causa de tudo mais que você pode fazer com a magia?
Eu cruzo meus braços sobre meu peito. — Posso passar pelos caminhos das fadas direto para o seu quarto de hospital e levá-la de volta através deles para algum outro lugar?
— Bem, não, você não pode levá-la a qualquer lugar pelos caminhos porque os humanos não podem viajar dessa maneira. Mas você pode ir a qualquer lugar. Você poderia visitá-la agora mesmo. Quero dizer, — acrescenta ele rapidamente, — se você achar que é uma boa ideia.
Eu hesito. Claramente, Dash não acha que é uma boa ideia visitá-la agora, e ele provavelmente está certo. Eu quero, claro. Eu não quero nada mais. Mas eu não quero ir com ele. Eu não quero que ele veja minha mãe em seu estado atual, e eu não quero que ele me veja e minha reação quando eu a vir daquele jeito. Eu preciso aprender essa coisa dos caminhos das fadas para que eu possa viajar por conta própria. — Tudo bem, então eu não posso resgatá-la do hospital dessa maneira, — eu digo. — Mas eu poderia me esconder com magia, certo? E eu poderia usar magia para distrair todo mundo enquanto tirava mamãe do prédio, e a magia podia ajustar a papelada para que todos achassem que ela estava devidamente dispensada. E a magia poderia colocar meu nome no sistema escolar dizendo que me formei, e isso poderia me ajudar a conseguir algum dinheiro para ter uma vida simples em algum lugar e manter minha mãe segura. Certo?
— Sim, exatamente. Vê? A magia é boa para alguma coisa. Embora, — ele acrescenta com uma carranca, — eu não estou dizendo que eu defendo você fazendo qualquer uma dessas coisas. Nós não devemos mexer com vidas humanas e, tipo, usar magia para conseguir dinheiro ilegalmente.
— Você também não está dizendo que me impediria.
— Eu estou dizendo... — Dash coça a cabeça. — Eu estou dizendo que você deveria voltar para Chevalier House e continuar aprendendo como usar sua magia com segurança. Podemos considerar todas as opções depois disso.
Eu aceno devagar. — Certo.
Ele hesita, me observando com os olhos apertados. — Você está pensando em fazer todas essas coisas ilegais, não é?
— Estou pensando em voltar para Chevalier House. — O que é a verdade, realmente, já que a magia se tornou a melhor maneira de sair da minha vida ruim e dar à mamãe um futuro melhor do que o que ela está encarando no momento.
Dash suspira. — Bem, seus motivos podem ser questionáveis, mas se eles a levaram de volta à Chevalier House hoje à noite, então eu fiz o meu trabalho.
— Ótimo. Bom trabalho. Deveríamos ir, então? — Eu me viro e algo que parece um lagarto alado salta de um galho e voa direto para mim. — Puta...
— Sorvete, — diz Dash, pegando a pequena criatura. — Puta sorvete. Isso é o que ela diria, carinha. Não precisa ficar chateado.
— Puta sorvete, — eu retruco. — Que diabos é essa coisa?
Diante dos meus olhos, a criatura começa a mudar de forma. Um momento é algum tipo de réptil e no outro é um gatinho. — Ah, parece um metamorfo, — diz Dash. — Formattra é o nome oficial, eu acho. Esses carinhas são muito raros. Eu me pergunto como ele acabou aqui.
— Metamorfos? Formidável. Lobisomens são reais também?
— Bem, existem fae que são metamorfos, mas eu acho que eles se transformam em outras pessoas, não animais. Você sabe, como outra faerie se transformando para se parecer comigo.
— Porque quem não gostaria de se parecer com você, certo?
— Exatamente. — A criatura se estica e me cheira. Eu me afasto para fora de seu alcance. — Ei, vamos lá, ele gosta de você, — diz Dash. — Você não quer um animal de estimação?
— Não, eu não gosto de animais de estimação.
Dash ri. — Impossível. Por que você não gosta de animais de estimação?
— Eles morrem e é triste. — Ou eles fogem e nunca mais voltam.
— Isso definitivamente não é uma razão boa o suficiente.
— Bem. Em breve vou embora e quem vai cuidar dele então? Isso é uma razão boa o suficiente?
A criatura se transforma entre várias formas tão rapidamente que não consigo dizer o que é até que se torne um gatinho novamente. — Ele é apenas um bebê, Em, — diz Dash, coçando a cabeça do gatinho. — Ele precisa de alguém que cuide dele.
Eu inclino minha cabeça para o lado. — Você disse que eles são muito raros, não é? Então posso vendê-lo por muito dinheiro?
O rosto do Dash desmorona. Ele abraça a criatura no seu peito e cobre as orelhas. — Isso é uma coisa terrível para se dizer, Em. Não dê ouvidos a ela, carinha, — ele sussurra. — Ela não quis dizer isso.
— Ugh, sério? — Minhas mãos se fecham em punhos. — Podemos ir agora? Você disse que eu preciso voltar para casa, e agora você está perdendo tempo aqui com essa estranha coisa que muda de forma.
Ele me observa de boca aberta como se quisesse dizer alguma coisa. Então ele balança a cabeça. — Sim, ok. Vamos. — Quando ele levanta sua stylus para escrever um portal, a criatura que muda de forma pula e desaparece na escuridão. Dash estende a mão para mim e eu relutantemente aceito. Quem elaborou a regra de contato físico para viajar no caminho das fadas obviamente não levou em consideração a possibilidade de algumas pessoas nunca quererem dar as mãos.
Quando a escuridão desaparece para revelar uma fraca luz, estamos do lado de fora do portão da Chevalier House. — Você poderia ter nos levado direto para dentro da casa, sabe.
— Eu não posso, na verdade, — Dash diz enquanto abre o portão. — Os caminhos das fadas não abrem dentro da casa ou em qualquer lugar do jardim.
Eu fecho o portão atrás de nós. — Isso é estranho. Por quê?
— Medida de segurança. É assim na maioria das propriedades privadas. Apenas os proprietários podem abrir portais dentro da própria casa.
— Uma medida de segurança estúpida, se alguém pode abrir o portão.
— O portão não abrirá para qualquer um, no entanto, — Dash diz enquanto seguimos o caminho até a casa. — Se você passou por ele na companhia de alguém que mora aqui — como o elfo que nos trouxe aqui ontem — você recebeu acesso mágico para passar pelo portão.
Eu permito que um longo suspiro passe pelos meus lábios. — Isso tudo parece desnecessariamente complicado. As pessoas deviam usar apenas cadeados e chaves.
Dash ri. — Uma coisa tão humana para se dizer.
— Foda-se, — murmuro.
Entramos no hall de entrada da Chevalier House e encontramos a melhor amiga de equipe de Dash, Jewel, esperando por nós. — Oh, você a encontrou, — diz Jewel, um sorriso iluminando seu rosto. — Que bom.
— Você também faz parte da equipe de babá? — Eu pergunto.
Ela franze a testa. — O que você quer dizer? Eu estava com Dash quando Azzy enviou a mensagem para dizer que você fugiu. Eu me ofereci para ajudar a procurar por você.
— Que gentil da sua parte, — eu digo diretamente.
Dash me cutuca com o cotovelo, e eu dou um passo para longe dele para que ele não possa fazer isso de novo. Azzy entra na sala. — Emerson. — Ela coloca as mãos nos quadris e me dá um olhar severo. — Fugir não era necessário. Espero que você saiba que não vamos forçá-la a ficar aqui contra a sua vontade. Se você tem certeza absoluta de que não está interessada neste mundo, podemos mandá-la de volta para a Guilda e eles podem te dar um daqueles aparelhos que bloqueiam toda a magia.
— Aparelho? — Eu pergunto.
— É um anel ou pulseira ou algo assim. Eu não tenho certeza de qual forma eles estão usando hoje em dia. É algo que não pode ser removido e irá bloquear totalmente a sua magia.
— Oh. Eu não sabia que era uma opção. — Mas como Dash apontou, a magia pode me ajudar a ajudar a mamãe. Especialmente considerando que o tipo de trabalho que eu poderia conseguir como uma graduada do ensino médio não pagaria quase tanto quanto o tipo de trabalho que eu poderia conseguir se eu fizesse uma versão encantada de alguma qualificação superior. Se eu quero estar melhor equipada para ajudar a mamãe, então eu preciso ficar por aqui um pouco mais. — Eu sinto muito, Azzy, — eu me forço a dizer. — Estou aqui para aprender agora. Eu não vou fugir novamente.
— Maravilhoso. Agora, por que vocês dois não ficam para o jantar? — Azzy pergunta a Jewel e Dash. — Ou você tem casos importantes para lidar?
— Nossa equipe está livre, — diz Jewel. Ela enlaça os braços com os de Dash. — Gostaríamos de ficar para o jantar.
— Maravilhoso, — diz Azzy, envolvendo um braço em volta dos ombros de Dash e os apertando brevemente.
— Sim, realmente maravilhoso, — murmuro. — Eu só vou... me limpar, eu acho.
— Claro, — diz Azzy, apontando para uma das portas que saem do hall de entrada. — Tente não confundir com a porta da frente, Em. Nós não queremos que você se perca do lado de fora novamente.
Eu considero revirar os olhos, mas é muito esforço. — Eu acho que posso conseguir.
Quando eu termino de espirrar água no meu rosto e penteio meu cabelo com os dedos — o que me surpreende, mais uma vez, com suas mechas azuis brilhantes — saio do banheiro e encontro Jewel esperando sozinha no hall de entrada. Ela se afasta da mesa. Eu olho em volta, mas definitivamente é em minha direção que ela está caminhando. — Hum, oi?
Ela sorri e parece quase genuíno. — Olha, eu realmente não quero fazer a coisa toda de adolescente malvada, já que eu sei que somos praticamente adultas por aqui, mas eu só quero ressaltar que Dash não está exatamente disponível.
Eu decido me fazer de burra. — Disponível para quê?
Ela revira os olhos. — Você sabe, um relacionamento.
— Oh. — Eu cruzo meus braços. — Por quê?
— Bem, olha, não é oficial ainda, mas nós meio que temos uma coisa acontecendo.
— Uma coisa? Mesmo? Eu nunca teria adivinhado, dada a maneira como ele tenta seduzir todas as mulheres que encontra.
O sorriso de Jewel escorrega um pouco. — Sim, eu sei que ele namorou um monte de garotas, mas nenhuma dessas relações durou muito tempo, e eu sei exatamente o porquê.
Eu finjo um interesse intenso. — Você sabe?
— Sim, é óbvio: ele está procurando a pessoa certa. E ele está tão perto de descobrir que sou eu, então eu não quero que nada estrague isso para nós agora.
— Oh, uau, é você? Como você sabe disso?
— Porque muitas coisas em nossas vidas foram passadas juntas. Nós treinamos juntos. Nós crescemos juntos. Nós até brincamos juntos quando bebês. Nós estamos destinados a ser.
Eu pisco. — Essa é a coisa mais estúpida que eu já ouvi.
— Ei!
— Quem se importa se vocês brincaram juntos quando bebês? Duvido que qualquer um de vocês possa se lembrar disso.
— Isso não importa! Isso significa que nós temos uma história, — ela diz, todos os traços de seu sorriso doce se foram. — E se temos uma história, teremos um futuro mais forte.
— Mesmo? Porque Dash e eu também temos uma história, e isso só fez com que eu não gostasse dele.
— Sim, porque vocês têm a história errada. Nós temos a história certa, então —
— Jewel? — Eu paro para ter certeza que ela está ouvindo. — Você pode ficar com ele. Eu não estou interessada.
— Oh. Mesmo?
— Mesmo. Eu tenho outras prioridades agora. — Eu passo por ela e me dirijo para a sala de jantar, onde a conversa alta e os cheiro de dar água na boca enchem o ar. Na longa mesa retangular, estão os outros sete alunos que atualmente frequentam a Chevalier House, além de alguns fae que vi andando por aí. Professores, talvez, e o homem com a mão no pulso de Azzy, rindo enquanto ele se inclina para mais perto para dizer algo que só ela pode ouvir, deve ser seu marido ou parceiro ou algo dessa natureza.
— Emerson! Você perdeu algo excitante enquanto estava fora, — George me diz enquanto me sento.
— Oh, o que eu perdi?
— Outra pessoa nova chegou.
— E isso conta como excitante? — Eu puxo o prato mais próximo de comida para mais perto e começo a colocar legumes assados no meu prato. Eles cheiram mil vezes mais deliciosos do que qualquer coisa que Chelsea já cozinhou.
— São duas novas pessoas em dois dias, — diz Azzy da cabeceira da mesa. — Isso não acontece muitas vezes aqui.
— E ela é velha como você, — acrescenta George.
Eu abaixo a colher de servir. — Desculpe?
— Oh, caramba, tão velha quanto Emerson? — Os olhos de Dash se arregalam. — Isso é seriamente velha.
George, sentado ao lado de Dash do outro lado da mesa, morde o lábio enquanto franze a testa. — Oh, eu pensei... Mas Azzy não é super velha? E a Emerson tem, sua idade? — Ele diz para Dash.
— Ok, e isso, — eu digo, apontando meu garfo para dar ênfase, — é por isso que é tão confuso ter pessoas que tem um zilhão de anos parecendo que estão na casa dos vinte.
Dash dá de ombros. — Não podemos evitar se temos magia nos nossos sistemas, mantendo-nos jovens e bonitos.
— Eu sei, é tão bom, né? — Jewel diz enquanto se apressa para dentro da sala de jantar e seleciona o único assento disponível no lado da mesa de Dash.
— Zilhão? Eu tenho apenas trezentos e quatro anos, — diz o homem sentado ao lado de Azzy. — Eu sou Paul, a propósito, — acrescenta ele com um sorriso na minha direção. — O marido de Azzy.
— Oi. — Eu retorno seu sorriso, satisfeita por descobrir que pelo menos alguns fae têm nomes normais. Depois de provar um pouco da minha comida e tentar não gemer em voz alta de como é incrível, eu pergunto, — Então, onde está a outra garota nova?
— Ela não estava se sentindo tão bem, — diz Azzy. — Teve alguns dias traumatizantes. Eu dei-lhe algo para comer quando ela chegou um pouco antes do jantar, e ela está dormindo agora. Vocês duas podem começar as aulas juntas amanhã.
— Ótimo. — Eu não estou empolgada em compartilhar lições com outra pessoa — e se ela me atrasar? — mas já que decidi me comprometer totalmente com o programa Chevalier House, eu provavelmente deveria ser educada com todos que moram aqui.
Volto minha atenção para a minha comida, empilhando mais algumas iguarias no meu prato quando penso que ninguém está olhando. Dash chama minha atenção, no entanto. Eu retorno seu sorriso com um olhar de raiva. Pirralho mimado provavelmente tem um chef em casa. Sem dúvida ele come assim o tempo todo.
No final da refeição, os pratos se erguem por conta própria e voam para fora da sala de jantar em direção à cozinha. Eu tento não ficar muito surpresa, mas não consigo evitar me pressionar contra a minha cadeira com medo quando meu prato sobe no ar. Eu peço licença logo depois e saio da sala de jantar; toda essa conversa e atividade durante o jantar não é algo que eu estou acostumada. Eu prefiro ir para a cama cedo para que eu possa me concentrar corretamente em todas essas coisas mágicas amanhã.
— Em?
Eu viro no último degrau que leva aos quartos e olho para trás.
— É bom que você tenha voltado, — diz Dash, vagando pelo hall de entrada. — Quando você estiver arrasando em todas as suas lições em algumas semanas, me avise para que eu possa me gabar de ter sido eu quem falou para você ficar.
A única resposta que eu dou a ele é outro olhar de raiva.
— Ei, vamos lá, estou apenas brincando.
— Sabe, eu tenho tentado descobrir por que tantas pessoas gostam de você quando você é só um idiota.
Ele dá de os ombros. — Provavelmente porque ninguém mais tem a impressão de que eu arruinei suas vidas, então eles podem me ver como eu realmente sou.
— Como é, exatamente?
— Cara simpático, sorriso encantador, não tão ruim de olhar.
— Estou surpresa que eles possam ver qualquer coisa além dessa sua cabeça gigantesca.
Ele franze a testa e levanta a mão para a cabeça. — O que há de errado com a minha —
— Eu quis dizer o seu ego, idiota.
— Ei, eu disse não tão ruim. Isso só deveria me dar um ego de tamanho médio, certo?
— Em você, isso é mais do que suficiente, — eu digo quando me viro e subo as escadas.
— Boa noite, Emmy, — ele fala atrás de mim.
— Cale a boca, — eu resmungo sob a minha respiração.
Chego à minha porta, abro-a — e pulo para trás ao ver um tigre sentado na minha cama. O tigre pisca e se transforma em uma coruja, depois um corvo e depois um gatinho. O alívio corre através de mim, seguido rapidamente pela irritação. — Não, — eu digo. — Não, não, não. Isso não está acontecendo. Você deveria ficar lá fora na floresta. — O gatinho pisca. — Eu vou dar você para Dash. Ele pode cuidar de você. — Eu pego o gatinho e corro de volta para o hall.
No topo da escada, paro. Azzy e Dash estão de pé juntos no hall de entrada abaixo, Dash parecendo estranhamente sério. — Temos até o final da semana, — ele diz baixinho, — então não há pressa imediata. Mas nós vamos ter um plano em prática, provavelmente depois de amanhã.
— Bom. E certifique-se de que pareça um acidente.
— Claro.
Eu mordo meu lábio, me encolhendo de volta nas sombras, sabendo instintivamente que eu não deveria ouvir o que eles estavam falando. Antes que eu possa decidir o que fazer com o animal que se transforma, Dash abre a porta da frente e sai. Azzy caminha de volta para a sala de jantar, sua camisa leve e enorme flutuando atrás dela.
— Que diabos? — Eu sussurro para o gatinho. Um instante depois, torna-se um coelho. — Bem. Dash sumiu, então você está por conta própria. — Coloco o coelho na escada, depois corro de volta para o meu quarto, minha mente percorrendo explicações sobre o que Dash e Azzy poderiam estar falando. Talvez não seja nada sinistro, afinal. Certifique-se de que pareça um acidente. Isso não parece bom, no entanto. Mas seja o que for, não vou me envolver. Eu sobrevivi durante esse tempo mantendo o nariz fora dos negócios de outras pessoas, e isso não vai mudar.
Depois de visitar a piscina quente no banheiro — a melhor coisa sobre esta casa além da comida — eu subo na cama e bato no abajur para desligá-lo. É alimentado por magia, é claro — eletricidade parece não existir neste mundo — e Azzy me disse para bater levemente com o dedo para ligá-lo e desligá-lo. Até agora parece estar funcionando.
Encosto-me contra os travesseiros, achando mais fácil dormir esta noite do que ontem à noite. Estou quase dormindo quando um som — uma batida suave na porta — me desperta. Tão silenciosa que eu me pergunto se eu posso ter imaginado isso. Eu sento, observando a porta através da luz cinza fraca da janela e esperando. Quando a batida vem pela segunda vez, eu sei que não estou imaginando. — Sim? — Eu falo através da escuridão. Minha porta se abre devagar, revelando a silhueta de uma figura feminina. — Quem está aí? — Eu pergunto, nervos flutuando de repente no meu estômago.
— Você é a Emerson? — Ela pergunta. — A outra garota nova?
— Hum, sim. — Eu me inclino e ligo o abajur enquanto ela desliza para dentro e fecha a porta. Ela corre pelo quarto e senta na beira da minha cama. Eu me afasto para trás, colocando um pouco mais de distância entre nós quando vejo a aparência dela: um roupão enrugado da mesma cor do que encontrei pendurado no meu guarda-roupa, pele pálida e olhos de um roxo profundo azulado. É a mesma cor que atravessa seu cabelo escuro, que, se eu me lembro das minhas lições corretamente, significa que ela é uma faerie, não algum outro tipo de fae.
— Por favor, me ajude, — ela sussurra, com os olhos arregalados. — Aqui não é seguro. Precisamos ir embora.
Capítulo 10
— HUM... O QUÊ? — PERGUNTO, ABSOLUTAMENTE CONFUSA. — DO QUE VOCÊ ESTÁ FALANDO? E quem é você?
— Eu sou Aurora. Eu acabei de chegar aqui esta noite. A professora me disse que havia outra garota nova, e pensei que, como você ainda não se aprofundou muito no programa deles, e eles não fizeram lavagem cerebral em você, ou seja lá o que for que acontece aqui, podemos fugir juntas.
— Lavagem cerebral? De onde você tirou isso?
— Porque eu — talvez eu não saiba como usar minha magia, mas eu cresci neste mundo e sei de coisas. Eu ouvi coisas. Sobre este lugar. — Ela se aproxima um pouco mais. — As pessoas desaparecem daqui às vezes. Tipo, elas simplesmente desaparecem sem deixar vestígios logo após o início de seu treinamento. E parece que a Chevalier House não tem nada a ver com isso, mas como não pode? As pessoas entram aqui e nunca saem. Elas simplesmente desaparecem. E eu não quero que isso aconteça comigo. Acabei de ter minha liberdade e não quero perdê-la.
Se eu pudesse me afastar ainda mais dessa garota, eu faria, mas já estou encostada na parede. — Então, você está dizendo... que eles matam algumas das pessoas que entram aqui?
— Eu não sei. Talvez. — Ela aperta o cinto de seda de seu roupão, puxando-o com mais força. — Ou talvez seja algo pior. Talvez eles estejam presos em algum lugar. Talvez eles estejam fazendo experimentos neles.
— Você tem alguma prova disso?
— Claro que não, mas isso não significa que seja falso.
Considerando o que ouvi entre Dash e Azzy agora, estou quase inclinada a acreditar nessa garota, mas seus olhos arregalados e cheios de terror me lembram demais da minha mãe. Mamãe parecendo desesperada e com medo, falando sobre coisas igualmente irracionais. — Olha, Aurora. Eu não quero ser hostil, mas eu não quero me envolver com o que você está falando. Você tem seus problemas e eu tenho os meus. Vamos apenas superar essa coisa de Magia Básica, e nós podemos seguir caminhos separados.
Ela recua, dor enchendo seus olhos. — Você não acredita em mim? Você quer seriamente se arriscar com essas pessoas que nunca conheceu, em vez de considerar que posso estar dizendo a verdade? Que você e eu nunca teremos a chance de seguir caminhos separados se algo acontecer conosco antes disso?
Eu penso novamente na conversa silenciosa de Dash e Azzy. — Tudo bem, — eu digo devagar. — É verdade que eu não conheço as pessoas daqui, mas também não conheço você. Você poderia estar inventando isso.
Ela respira fundo. — O que você quer saber? Eu... eu vou te contar tudo. Quando você entender o quão horrível minha vida tem sido até agora, você entenderá porque eu nunca mais quero ser uma prisioneira novamente. Farei qualquer coisa para sair daqui.
Eu levanto minhas sobrancelhas com a palavra ‘prisioneira’, mas ainda não estou pronta para acreditar nessa garota. Se há pessoas insanas no meu mundo, deve haver pessoas insanas neste também. — Por que não deixamos isso para amanhã?
— Não! Apenas me deixe me explicar. Como você vai saber se pode confiar em mim até ouvir o que eu tenho a dizer? Como você sabe que pode confiar neles?
Eu considero gritar para chamar a Azzy, mas Aurora está certa. Não sei se posso confiar em alguém aqui. E se Chevalier House e este programa for um elaborado truque para reunir seres mágicos não treinados? Eu não sei por que alguém faria isso, mas eu não sei muito sobre este mundo, então pode haver uma razão. — Bem. Diga-me o que você quer me dizer.
— Tudo bem. Então fui criada por bruxas —
— Bruxas? — Eu dou-lhe um olhar duvidoso. — Como com vassouras? Ninguém me disse nada sobre bruxas. Elas são mesmo reais?
Seus olhos se estreitam. — Você está neste mundo há cinco minutos e já decidiu que sabe mais do que eu?
— Eu só —
— Não, elas não têm nada a ver com vassouras. Eu nem sei o que isso significa.
— Oh. Você nunca esteve no meu mundo?
— O reino não mágico? Não, nunca. Por que elas me levariam para lá? Passei a maior parte da minha vida trancada na casa delas. As únicas coisas que sei são as coisas que eu as ouvi falar e as coisas que li em seus livros. Eu não sei como acabei vivendo em uma casa com bruxas, porque elas nunca se incomodaram em me dizer. Elas... elas me trataram como serva. — Ela levanta os joelhos e envolve os braços ao redor deles. — Elas nunca me ensinaram como usar minha magia, porque isso me fortaleceria. Eu poderia ter usado contra elas. Elas me pegaram lendo sobre Chevalier House uma vez, quando eu estava tentando descobrir um plano de fuga e para onde eu iria se eu fosse embora. Elas riram e disseram que mesmo que eu conseguisse fugir delas, Chevalier House não me faria bem algum. Faes desaparecem daqui o tempo todo.
— Se isso for verdade, certamente a Guilda saberia sobre isso. Eles teriam encerrado o programa. — Não pode ser verdade. Eu preciso que não seja verdade. Preciso que Azzy me ensine tudo sobre magia para que eu possa voltar ao meu mundo e ajudar minha mãe.
— A menos que a Guilda esteja nisso também, — Aurora diz em tom conspiratório.
— Então, se Chevalier House é perigosa, por que você veio para cá?
— Eu não escolhi vir para cá. — Ela coloca seus pés no chão e se inclina para perto de mim. — Eu finalmente consegui fugir das bruxas depois de meses de planejamento cuidadoso. Eu estava sozinha até que um guardião me pegou roubando comida. Foi assim que acabei na Guilda e foram eles que me enviaram para cá.
Eu suspiro. — Você sabe que tudo isso soa ridículo, certo? E a única coisa que você parece saber é o que um bando de bruxas lhe contou. Obviamente, elas querem que você acredite que Chevalier House não pode ajudá-la. Elas não queriam que você fugisse.
— Tudo bem, então talvez elas estivessem mentindo. Mas você está disposta a correr esse risco? Você ainda quer estar aqui?
— Na verdade sim. Eu quero. Eu percebi hoje que a magia pode me ajudar muito mais do que qualquer coisa que eu já aprendi em meu mundo, e eu preciso saber como usá-la antes de voltar para casa.
— Se eles permitirem que você volte para casa, — ressalta Aurora.
— Bem. O que exatamente você está sugerindo então? Fugirmos juntas?
— Sim. Tudo está trancado agora — já chequei no andar de baixo — mas podemos esperar por uma chance amanhã e fugir juntas. Então podemos descobrir o que fazer quando formos livres.
— Não, — eu digo categoricamente. — Sinto muito, mas não. Eu tentei isso hoje e não funcionou. Eu tenho um plano diferente agora, e isso não inclui fugir com alguém que acabei de conhecer.
— Você está sendo tão ingênua, — ela sussurra com um aceno de medo de sua cabeça.
— Estou? Eu não confio em você, e não confio neles, então com quem devo ficar? Obviamente, o lado com maior probabilidade de me ajudar. E agora, parece ser a Chevalier House. Se algo estranho está acontecendo, eu vou descobrir em breve e então vou fugir. Mas por enquanto, eu fico aqui. — Empurro para o lado a pequena voz que diz que Aurora pode estar certa. Que a estranha conversa que ouvi é prova suficiente. Porque eu preciso que esse programa funcione. Agora que percebi o quanto a magia pode fazer por mim em meu mundo, eu me agarro a isso como se fosse minha única esperança de uma vida melhor.
Aurora engole em seco, depois respira devagar. Ela coloca alguns fios de cabelo atrás da orelha, se afastando de mim. — Tudo bem. Eu sinto muito por ter incomodado você com isso. — Ela sai da minha cama e se levanta. — Eu vou... hum... eu acho que você está certa. Devemos cuidar de nós mesmos.
Eu aceno, já que não tenho certeza do que mais fazer ou dizer.
— Tudo bem, bem... boa noite. — Ela se vira e sai correndo do meu quarto.
— Muito estranho, — eu murmuro conforme toco o abajur, mergulhando o quarto na escuridão mais uma vez. Eu continuo dizendo a mim mesma que tomei a decisão certa, mas não consigo evitar pensar em suas palavras repetidamente em minha mente, e demora muito tempo para eu conseguir dormir.
Capítulo 11
— É ADORÁVEL QUE VOCÊS DUAS TENHAM CHEGADO AO MESMO TEMPO E PODEM APRENDER juntas, — Azzy diz para Aurora e eu enquanto nós duas nos sentamos lado a lado em uma mesa na biblioteca na manhã seguinte. — Não costuma acontecer assim.
Aurora não diz nada, então eu decido não dizer nada também. Duvido que qualquer uma de nós pense que há algo ‘adorável’ nessa situação. Na verdade, estou surpresa que ela ainda esteja aqui. Ela parecia tão desesperada ontem à noite; Eu pensei que ela teria encontrado uma maneira de escapar da casa enquanto o resto de nós estava dormindo. Mas ela estava sentada na mesa da sala de jantar quando cheguei lá esta manhã, franzindo a testa para o prato dela. Ela não olhou para cima nenhuma vez durante o café da manhã.
— Certo, então, — diz Azzy. — Eu vou explicar os encantos de disfarce essa manhã, e depois disso vamos sair para tentar fazer alguma magia básica antes do almoço. Não há necessidade de fugir dessa vez, Em, — ela acrescenta com uma risada. Sinto os olhos de Aurora em mim e faço um esforço determinado para não encontrar o olhar dela. — Então, talvez mais tarde, Em, — diz Azzy, — você pode me dar qualquer informação que considere útil para encontrar sua família verdadeira. E você também, Aurora.
Uma apreensão fria dispara em minhas veias. Eu tenho tentado ignorar a ideia de que tenho outra família em algum lugar. Me deixa doente toda vez que eu lembro que minha mãe não é minha mãe. — Hum...
— A menos que vocês não queiram, é claro, — acrescenta Azzy rapidamente.
— Eu estou interessada, — diz Aurora, o que é surpreendente o suficiente para me fazer olhar em sua direção. Eu me pergunto que jogo ela está jogando, ou se ela pode estar falando sério. Talvez ela espere descobrir algo útil sobre sua família antes de fugir da Chevalier House.
— Azzy? — Eu olho em volta enquanto Paul entra na biblioteca. — Acabei de receber o relatório dos guardiões. — Ele acena com um pedaço de papel enrolado. — Eles não acharam nada suspeito.
— Suspeito? — Aldo pergunta. Ele está lendo sozinho em outra mesa da biblioteca, enquanto George trabalha em algumas habilidades práticas do lado de fora. — Aconteceu alguma coisa?
— Os encantamentos da segurança pegaram algo fora do nosso portão no início da noite de ontem, — explica Paul. — A Guilda foi alertada, e alguns guardiões foram checar as coisas. Eles nos disseram que não encontraram nada, mas deixaram alguém vigiando lá fora durante a noite, de qualquer maneira.
— Você acha que... talvez... foram os rebeldes Griffin? — Aldo diz. — Eles odeiam a Guilda, então eles também nos odeiam, certo?
— Tenho certeza de que não foi nada, — diz Azzy com um sorriso. — E Paul, — ela acrescenta em voz baixa, apesar de todos nós ainda conseguirmos ouvi-la, — eu não acho que é necessário assustar os alunos.
— Mas nós temos o direito de saber o que está acontecendo, não é? — Aldo protesta. — Se houver uma ameaça, devemos saber sobre isso.
— Nada está acontecendo, — assegura Azzy. — Os rebeldes Griffin não têm absolutamente nenhum motivo para nos atacar. Não temos nada a ver com eles.
Eu olho para Aurora. Seus olhos violetas encontram os meus, e suas sobrancelhas arqueiam um pouquinho, como se dissesse: Viu? Eu te disse que algo está acontecendo aqui.
— Chega disso, — diz Azzy, batendo palmas. — Aurora, você sabe o que é um encanto de disfarce?
Assustada, Aurora se vira para encarar Azzy. — Na verdade não. As bruxas não me disseram nada sobre eles.
A próxima hora passa com Azzy explicando disfarces de todos os tipos, do tipo simples que eu deveria ser capaz de lançar sobre mim mesma sem nem pensar nisso, para o tipo imensamente complexo que esconde construções dentro de árvores, para que então eles fiquem escondidos. Eu percebo que provavelmente era sobre isso que Dash estava se referindo quando ele falou sobre casas na árvore, e é impossível compreender todo o conceito. Uma casa inteira cheia de espaço escondida dentro de um tronco de uma árvore? Que inferno?
— Magia torna o impossível possível, — diz Azzy, o que não parece ser uma grande explicação para mim.
Algo faz cócegas no meu tornozelo. Eu olho para baixo, me contorcendo involuntariamente quando vejo um gafanhoto agarrado a bainha do meu jeans. Estou prestes a pisar nele quando ele pisca, cai no chão, parece meio que protuberante e se torna um sapo. — Sério? — Eu sussurro. — Me deixe em paz.
— Em? — Pergunta Azzy, parando no meio de uma descrição exata do que aconteceu com uma das Guildas anos atrás, quando sua magia de disfarce foi destruída. — Tudo bem?
— Hum, sim. Apenas um sapo.
— Oh, deve ter vindo de fora. Tenho certeza de que vai encontrar o caminho de volta. Agora, vamos tentar fazer magia?
Excitação pulsa através de mim enquanto seguimos Azzy para o jardim. Seja paciente, eu me instruo. Não fique frustrada. Você consegue fazer isso. Paramos perto de uma fonte de três andares. Eu esfrego minhas mãos para cima e para baixo nos meus braços. — Está um pouco frio para praticar aqui fora, não é?
— Sim, — murmura Aurora. Sem dúvida, ela está sentindo isso mais do que eu. Pelo menos estou de jeans; ela está usando uma saia longa e sandálias abertas.
— Bobagem. — Azzy se vira para nós. — Enquanto a fonte não tiver congelada, não está muito frio. Além disso, a baixa temperatura ajudará a motivar vocês a aprenderem a se manter aquecidas com magia.
— Se não congelarmos até a morte primeiro, — murmuro.
— Jovens, — murmura Azzy, enquanto estende a mão na direção de um banco do outro lado da fonte. — Sempre tão dramáticos. — Uma réplica sobe para a minha língua, mas congela lá conforme eu vejo o banco deslizar ao redor da fonte e parar atrás de Azzy. Ela se senta, cruza as mãos nos joelhos e olha para nós. — Eu gostaria que vocês começassem a puxar magia do núcleo de vocês. Aurora, você disse que já está familiarizada com isso?
— Hum, sim. Eu pratiquei sozinha sempre que não estava sendo vigiada.
— Maravilhoso. Em, você precisa recuperar o tempo perdido.
— Sim, — eu murmuro. — Eu sempre adoro quando os professores colocam os alunos uns contra os outros para tentar que eles tenham um desempenho melhor.
Azzy fica um pouco mais ereta e escova algo inexistente da manga. — Tenho certeza que não tenho ideia do que você está falando.
— Podemos apenas continuar com isso? — Aurora pergunta calmamente. Eu olho e vejo que ela já está segurando uma esfera brilhante de magia acima de suas palmas.
Rangendo os dentes, fecho os olhos e repito as instruções de Azzy de ontem. Tenho que parar e repensar três vezes antes de produzir uma massa visível de magia, mas depois de fazer uma vez, posso repetir várias vezes sem problemas. — Tudo bem, — eu digo, quase tonta de euforia enquanto mantenho o meu próprio poder em minhas mãos. — Qual é a próxima coisa?
— Fogo, — diz Azzy com um brilho nos olhos. Ela puxa um pedaço de papel das dobras de suas roupas soltas e desenha algo com a stylus, usando o banco como apoio. Quase imediatamente, três longas e esbeltas velas sobem do papel.
— Como você —
— Isso é uma lição para outro dia. — Ela se levanta. — Aqui está uma vela para cada uma de vocês. Agora que vocês podem invocar sua magia à vontade, quero que vocês a transformem em uma chama. — Ela segura a terceira vela na frente de seu rosto. — Alguns feitiços exigem palavras escritas e alguns exigem palavras faladas. Alguns exigem ambos, ou um movimento específico das mãos. O que vamos fazer agora exige apenas uma palavra falada — e, é claro, o empurrão subconsciente da sua magia para a vela.
Ela faz com que pareça fácil, esse ‘empurrão subconsciente’, mas estou supondo que é uma daquelas coisas que exige muita prática e esforço antes de se tornar instintivo.
— Repita depois de mim, — diz Azzy. Ela pronuncia uma palavra estranha que eu nunca ouvi antes, depois sopra suavemente a vela. Uma chama aparece.
Aurora começa a praticar e, claro, ela acerta na terceira tentativa. Eu, no entanto, sopro de novo e de novo e nada acontece. Eu tento maneiras diferentes de falar a palavra mágica, mudando a ênfase da primeira sílaba para a última, mas não faz diferença.
— Pare, — diz Azzy eventualmente. — Eu acho que você não está enviando nenhuma magia para a vela, afinal. Não se esqueça dessa parte. Puxe sua magia, fale a palavra e, em seguida, imagine soprar esse poder para fora da sua boca e diretamente para a vela.
Eu faço o que ela diz. E nada acontece.
Eu perco a paciência. Eu jogo a vela na grama. — Eu não entendo. Consegui furar o chão sem nem tentar, e agora não consigo acender uma vela.
— Isso foi diferente —
— Eu sei que foi diferente. Era fácil e era em inglês. Isso é... apenas... palavras estúpidas que não fazem sentido.
— Em, — diz Azzy, e sua voz carrega um tom de aviso.
— Não, sério. Na outra noite, eu apenas disse algo e aconteceu.
— Emerson.
— Por que eu não posso continuar fazendo isso? — Eu me abaixo e levanto a vela. Segurando-a no alto, eu digo, — Vela, comece a queimar. — Nada acontece. — Comece a queimar! — Eu grito. Nada ainda. Eu me viro e aponto para a árvore. — Caía! — Nada. Eu encaro a fonte. — Quebre em cem pedaços e junte-se! — Um arrepio percorre minha espinha, e percebo que essas últimas palavras soaram estranhamente distantes e ainda estranhamente ressonantes ao mesmo tempo.
A fonte vibra. Rachaduras se formam entre os andares e se separam rapidamente.
Uma pausa.
Silêncio.
Então a fonte inteira explode.
Aurora grita enquanto água e pedaços de pedra voam. De repente, estamos ambas no chão. Eu forço minha cabeça para cima para ver o que está acontecendo. Os pedaços de pedra congelam, invertem e voam de volta ao seu ponto de partida, todas se juntando perfeitamente. Eu respiro fundo quando o último estalo desaparece, retornando a fonte à sua forma original exata.
Mais silêncio.
Então Aurora foge para trás através do chão. — Isso não é normal, — ela suspira. — Isso não é normal.
— Eu fiz isso, — murmuro. — Eu usei magia.
— Isso não foi magia, — sussurra Azzy.
Eu me viro para olhar para ela. — O que você quer dizer?
Lentamente ela sacode a cabeça. — Não é a magia normal. Não é o tipo de magia que o resto de nós tem.
Eu olho para ela e encontro Paul e o restante dos alunos a poucos metros de distância, suas expressões todas congeladas em choque. — Eu vou contatar a Guilda, — diz Paul baixinho.
— Por quê? — Eu levanto. — O que eu fiz? Qual é o problema?
Aurora se levanta e Azzy olha entre nós duas. — Vocês têm sorte de eu ter jogado vocês duas no chão muito rapidamente. Vocês poderiam ter sido gravemente feridas de outra forma.
— Responda, — digo a ela, e novamente, aquela onda estranha corre pela minha espinha.
Azzy se sobressalta. De repente, e quase roboticamente, ela diz, — Eu nunca vi magia assim antes. Nenhuma faerie deveria ser capaz de fazer o que você acabou de fazer. Eu suspeito que você tenha uma Habilidade Griffin. Paul está entrando em contato com a Guilda agora, e eles provavelmente enviarão alguém aqui imediatamente para testá-la. O que acontece depois é com eles. — Sua voz para abruptamente, e ela bate a mão sobre a boca como se para evitar que mais palavras saiam. Então ela respira devagar e abaixa a mão. — Não faça isso de novo. Não fale de novo.
— Mas, eu —
— Emerson, — ela interrompe. — Sua voz é perigosa. Por favor, não fale novamente até que um membro da Guilda esteja aqui.
Um frio corre pela minha pele, seguido por uma onda de calor. Ansiedade aperta meu estômago. Tudo isso está errado. Eu devo aprender magia e depois ir para casa. Eu não deveria ter problemas com a Guilda. Eu não deveria ser uma daquelas faeries perigosas e superpoderosas que todos parecem odiar.
— Venha, vamos entrar. — Azzy pega meu braço e me leva em direção à casa. Eu penso em lutar com ela, em empurrá-la para longe e correr, mas estou completamente exausta de repente. Meus braços caem fracamente ao meu lado e uma onda de tontura passa por mim. Passou quando chegamos ao hall de entrada, mas ainda me sinto drenada demais para pensar em correr para qualquer lugar.
Azzy conduz todos para fora da sala, depois corre para outra parte da casa, me deixando sozinha no hall de entrada com Paul. Ele está com os braços cruzados firmemente sobre o peito, sem tirar os olhos de mim. Azzy reaparece um minuto ou dois depois com uma caneca na mão. — Você está cansada, eu sei, — ela diz baixinho. — Isso vai ajudar você a recuperar sua força. — Paul franze a testa, mas ele não impede que Azzy entregue a caneca para mim.
Eu tomo um gole hesitante, depois continuo bebendo até que o líquido espesso de chocolate tenha terminado. É doce, quente e reconfortante, e começo a me sentir mais forte quase imediatamente. Eu coloco a caneca na mesa e olho para Azzy. — Deve haver um engano, certo? Eu não posso ter uma dessas Habilidade Griffin. O que aconteceu lá fora... isso foi apenas uma magia descontrolada ou algo assim. Certo?
— Você não deveria estar falando, — diz Paul.
— Porque eu tenho uma voz perigosa? Isso é um absurdo Tenho certeza de que há outra explicação para —
— Em, pare, — diz Azzy. — Por favor. Eu acho mais seguro se você não disser nada.
Naquele momento, a porta da frente da Chevalier House se abre e duas figuras entram. Uma mulher que eu não reconheço, e —
— Dash, — digo no momento em que o vejo. É estranho, mas estou aliviada por ele estar aqui.
— Emerson, — a mulher diz, me olhando por baixo com os olhos que parecem ser quase da cor de bronze. Ela está vestida com um terninho e seu cabelo está bem preso em um coque. Eu não consigo descobrir a expressão dela. Definitivamente não é um sorriso, mas não é medo, cautela ou raiva. — Eu sou a Conselheira Chefe Ashlow. Por que você não nos disse que você conseguia fazer magia não natural?
Eu levanto minhas mãos, porque isso está se tornando demais. — Você está brincando, não é? Toda magia não é natural para mim! Eu descobri agora que existe! Como eu deveria saber que deveria dizer alguma coisa e então, ter isso acontecendo é considerado incomum neste mundo?
— Não apenas incomum. Impossível.
— Bem... exatamente. Como eu deveria saber disso?
Ela respira fortemente e estende a mão fechada para mim. Seus dedos abrem para revelar uma pílula verde brilhante na palma da mão. — A Conselheira Waterfield deveria ter testado você no primeiro dia em que você chegou a este mundo. Ela não deveria ter deixado você — ela fixa o olhar em Dash por um momento — falar com ela sobre isso.
Dash franze a testa. — Espero que você não esteja sugerindo que eu intencionalmente escondi essa informação de você, Conselheira Ashlow. Eu não tinha ideia de que magia Griffin estava envolvida.
— Eu não sei o que pensar agora. — Ela olha para mim novamente. — Tome a pílula, Emerson.
Algo me diz que desobedecer não é uma opção, então eu pego a pílula e coloco na minha língua. Ela se dissolve rapidamente. Os olhos de Dash passam por mim, sua expressão escurecendo. Eu olho para mim mesma, e meu coração para uma ou duas batidas quando vejo meu corpo brilhando levemente verde. — Então é verdade, — diz Dash. — Ela é uma deles.
— E você não sabia?
— Claro que não. Eu teria relatado imediatamente se eu suspeitasse que ela tinha uma Habilidade Griffin. É meu trabalho proteger nosso mundo de pessoas como ela. — Ele quase cospe essa última palavra, e por um momento eu considero cuspir de volta nele. Mas então ele envolve seu braço de ferro em volta do meu braço e começa a me guiar em direção à porta, e meu ódio por ele é rapidamente substituído por medo.
— O que você está... mas eu não fiz nada de errado. Eu não sou uma daqueles rebeldes Griffin. Eu não quero atacar pessoas. Certamente você não pode me responsabilizar por crimes que eu nunca cometi, ou crimes que você acha que eu poderia cometer no futuro.
— Nós podemos, na verdade, — diz a Conselheira Ashlow quando chegamos à porta. — Nossas leis afirmam que o mundo precisa ser protegido de pessoas como você. Em alguns casos, isso significa marcar e rastrear você. Saber seu paradeiro e atividades em todos os momentos. Em casos extremos, isso significa limitar sua liberdade. O Conselho precisará se reunir para discutir seu caso, mas eu não tenho a menor dúvida, Emerson, de que eles vão achar isso extremamente difícil. Eu sinto muito. — Ela não parece arrependida, no entanto. Na verdade, ela parece animada pelo fato de que ela acabou de apreender outra faerie Dotada Griffin.
— Mas... isso... como isso aconteceu? — Eu pergunto, tentando parar, tentando encontrar uma saída para isso. — Aqueles discos mágicos não existem mais... não, isso não pode estar certo. Então —
— Seus pais devem ter sido Dotados Griffin, — a Conselheira Ashlow diz. — Essa é a única explicação.
— Espere, — eu digo quando ela abre a porta. — Espere, por favor. O que significa limitar minha liberdade?
— Isso significa que você será mantida em algum lugar, — Dash responde, me forçando para o degrau mais alto.
— Mantida?
— Sim, como um esconderijo.
Eu paro de andar e consigo livrar meu braço de seu aperto. — Então uma prisão.
Dash olha para mim. — Não é assim, Em. Ninguém quer que você seja uma prisioneira. É só que você é perigosa, então você não pode ser solta, seja neste mundo ou no humano. Certamente você entende isso.
Eu forço de volta a dor na garganta e as lágrimas picando atrás dos meus olhos. Eu cerro os dentes e digo, — Você está gostando disso, não é. É provavelmente o melhor entretenimento que você já teve em anos. Você nunca gostou de mim e agora pode me ver presa. Você está fazendo comigo o que fez com a minha mãe.
Seus olhos se estreitam e ele abre a boca, mas a Conselheira Ashlow interrompe com um gemido. — Todo esse drama desnecessário. Apenas vá em frente. — Ela fecha a porta e passa por nós descendo as escadas. Dash me puxa contra o seu lado e me obriga a segui-la.
— Em primeiro lugar, — ele diz baixinho, — você é quem não gosta de mim. E em segundo lugar, isso não tem nada a ver com alguém gostar de alguém. Você é uma ameaça, então temos que tomar precauções. É isso.
— Mas eu não sou uma ameaça! — Minhas emoções estão perigosamente perto da superfície, de repente, e eu levo um momento para engoli-las. — Quero dizer, não intencionalmente. Eu não escolhi ser assim. Isso não é justo.
Ele fica quieto por tanto tempo que suponho que agora ele está me ignorando. Mas quando saímos do portão e encontramos a Conselheiro Ashlow abrindo uma entrada para os caminhos das fadas, ele diz, — A vida não é justa, Em. Você já sabe disso.
A Conselheira Ashlow olha para nós quando o buraco escuro no ar fica maior. — Apresse-se, — diz ela. — Precisamos chegar na Guilda.
Dash aperta meu braço mais ainda, mas ele caminha para frente sem hesitação. — Não pense em nada, — ele diz enquanto entramos na escuridão. — Isso pode confundir os caminhos das fadas, e isso não vai acabar bem para nenhum de nós.
Eu me esforço para acalmar meus pensamentos, mas devo de alguma forma conseguir fazer um bom trabalho, porque logo a luz se materializa à nossa frente. Entramos em uma pequena sala onde um homem de uniforme atrás de uma mesa de madeira elaboradamente esculpida nos cumprimenta. Eu me lembro de Dash dizendo algo sobre uma grande entrada se transformando a partir de uma árvore, mas ele deve estar se referindo a uma parte diferente da Guilda porque a única coisa impressionante nesta sala é a mesa.
— Por aqui, — diz a Conselheira Ashlow, apontando para um portal aberta à nossa direita. Dash me empurra através dela, e fico boquiaberta no local de um enorme foyer com uma ampla escadaria no lado oposto e luzes brilhantes penduradas aqui e ali. Meus olhos rápidos captam homens e mulheres em roupas escuras, cabelos de todas as cores, pisos brancos reluzentes e padrões giratórios gravados nas paredes - antes que um alarme comece a gritar em meus ouvidos.
— Está tudo bem, — diz a Conselheira Ashlow, levantando a mão para impedir as pessoas que correm em sua direção. — Já estamos conscientes da Habilidade Griffin. Vou levá-la para a área de detenção agora.
Saia, meu cérebro diz quando meus pensamentos em pânico retornam com força total. Saia daqui! Mas eu não sei como. O que eu fiz no outro dia quando os policiais estavam tentando me levar embora? Eu devo ter usado minha Habilidade Griffin, mas não tenho ideia de como.
Eu sinto Dash me observando. — Eu vou soltar você agora, — diz ele. — Você pode se comportar?
Eu aceno quando o aperto dele se solta e seu braço desliza para longe do meu. Então eu o empurro o mais forte que posso e corro.
Capítulo 12
EU TROPEÇO SOBRE MEUS PÉS — OU SOBRE ALGO INVISÍVEL, JÁ QUE EU JURO QUE EU NUNCA fui tão desajeitada — e bato no chão. Minha tão falada pratica em parkour entra em ação e eu continuo rolando. Sobre meu estômago, minhas mãos empurram o chão e eu levanto. Eu pego um vislumbre de Dash esparramado no chão com os guardiões caindo sobre ele antes de eu correr na direção oposta, repetindo — Afaste-se de mim, fique longe de mim! — Na esperança desesperada de que minha Habilidade Griffin apareça e dê poder as minhas palavras. Na pressa de voltar à sala em que entramos, não sei dizer se minha voz está diferente, mas continuo repetindo as palavras de qualquer maneira. E ou está funcionando, ou esses guardiões são ainda piores que os policiais de Stanmeade, porque estão caindo um sobre o outro.
Eu corro para o saguão de entrada assim que alguém corre - e eu bato direto nela. A força me joga para trás, mas ela se lança para frente e agarra meu braço, me puxando para cima. — Aurora? — Eu suspiro quando ela me puxa para a sala. — O que você está fazendo aqui?
— Tentando ajudar você!
Uma corda brilhante me chicoteia e se agarra ao meu braço, me puxando para fora do alcance de Aurora e para o chão. Eu me mexo inutilmente na superfície brilhante antes de olhar para o guarda que nos cumprimentou um minuto atrás. Ele está em pé atrás da mesa agora, me arrastando rapidamente em direção a ele. — Saia daqui! — Eu grito, esperando que funcione. O poder invisível o expulsa pela porta aberta e para dentro do saguão, me puxando bruscamente para o lado enquanto a corda fica tensa.
Uma luz pisca, cortando a corda e deixando um pequeno pedaço preso ao meu braço. Eu olho para cima e encontro Aurora com uma stylus na mão. — Levante-se! — Ela corre para a parede e escreve sobre ela. — Vamos!
Eu olho para o saguão, onde guardiões estão correndo em nossa direção, flashes de magia escapam de suas mãos. Eu pulo e me movo em direção a Aurora e à crescente escuridão atrás dela. — Você pode usar uma stylus? — Eu suspiro quando tomo sua mão.
— Não pense em nada, — ela instrui enquanto me empurra para frente nos caminhos das fadas. — E não solte.
— Eu pensei que você não soubesse — Minhas palavras são cortadas quando a mão de Aurora se solta da minha. Eu me viro para ver o que está acontecendo e encontro dois guardiões a puxando para trás.
— Emerson! — Ela grita, uma mão estendendo em minha direção.
Eu hesito, partes conflitantes do meu cérebro gritando Salve ela! e Salve-se! E nesse momento, a escuridão dos caminhos das fadas se fecha ao meu redor. Eu tento lembrar o que devo fazer agora, no que devo me concentrar ou dizer, mas depois estou caindo para trás na escuridão. Eu aterrisso com força no chão enquanto árvores emaranhadas e plantas tomam forma ao meu redor. Eu gemo e tusso e tento sugar o ar quando me sento. Eu não tenho ideia de onde os caminhos das fadas me deixaram. Por um momento, eu me pergunto se eu poderia ter tido a sorte de voltar ao mundo normal, mas quando dois seres minúsculos em forma de pessoas com asas passam por mim, minha esperança morre. — Brilhante, — murmuro enquanto me levanto, folhas farfalhando sob meus sapatos.
Eu olho em volta, mas Aurora está longe de ser vista. A culpa se mistura com o meu alívio por ter escapado. Eu deveria ter tentado puxá-la de volta para os caminhos. A única razão pela qual ela estava lá era para me ajudar. Eu pressiono meus dedos contra minhas têmporas e tento me convencer de que nada de ruim vai acontecer com ela. Não é como se ela fosse uma Dotada Griffin. Eles vão mandá-la de volta para Chevalier House, e assim que ela terminar o treinamento, ela estará livre. Embora, agora que penso nisso, ela ainda precisa de treinamento? Ontem à noite ela disse que não sabia como usar sua magia, mas não teve nenhum problema em cortar a corda ao redor do meu braço ou abrir um portal dos caminhos das fadas.
Eu levanto meu braço direito e franzo a testa para o pedaço de corda ainda preso a ele. Eu tento desfazer o nó ou soltar o suficiente para deixar minha mão livre, mas ela não se move. Então, depois de um último olhar ao redor da floresta, eu escolho uma direção e começo a me mover. O ar está mais quente aqui do que no jardim que estávamos treinando esta manhã, o que me diz que eu provavelmente não estou perto da Chevalier House. Infelizmente, isso pode significar que estou bem ao lado de qualquer árvore que esconda a Guilda, então é melhor me afastar da área o mais rápido possível.
Eu começo a correr, desviando entre as árvores, lançando meu corpo facilmente sobre as raízes das árvores gigantes, e dando um amplo espaço para uma planta exótica com grandes espinhos vermelho-sangue. Eu dou uma olhada ocasional sobre o meu ombro, mas nada parece estar me seguindo. Eventualmente, eu diminuo para uma rápida caminhada. Algo faz cócegas no lado do meu pescoço, e eu bato na minha pele, com medo de que algum inseto mágico perigoso esteja me mordendo. Um guincho corta o ar ao lado da minha orelha. Eu pulo para longe, soltando um grito assustado e girando para encarar o que quer que esteja me atacando. Um pássaro fofo que pode ser uma coruja bate as asas conforme desce desajeitadamente em direção ao chão da floresta, transformando-se em um gatinho quando ele atinge o chão. Miados tristes e estridentes enchem o ar.
— Puta mer... sorvete. — Eu esfrego minha orelha enquanto a adrenalina diminui. — Você quase me ensurdeceu. O que você está fazendo aqui, sua coisinha estranha? Você deveria estar na Chevalier House. O gatinho lampeja entre várias formas irreconhecíveis antes de se estabelecer como um filhote de raposa. Ele caminha até mim e começa a acariciar meu tornozelo. Eu me afasto e cruzo os braços sobre o peito. Ele olha com olhos arregalados e suplicantes.
E eu cedo.
— Bem. Você pode ficar comigo. Mas eu não vou te dar um nome. Tudo vai ficar pior a partir daqui. — Eu enfio a criatura macia e peluda debaixo do meu braço e continuo andando.
E quase caio assustada quando alguém sai do ar na minha frente. — Dash? — Eu tropeço para trás, a criatura transformando-se em algo minúsculo quando ele pula para longe de mim. — Como você me achou?
— Não importa. Nós — O espaço ondula ao lado dele. Ele se afasta apressadamente, levantando a mão. Uma faca aparece em suas mãos enquanto ele se coloca entre mim e qualquer ameaça que estamos prestes a enfrentar.
— Oh, você a encontrou, — diz Jewel, saindo da escuridão. — Bom trabalho.
— Jewel? — Dash diz. A faca desaparece quando ele a solta. — Como você — por que você está aqui?
Dor lampeja brevemente em seu rosto enquanto eu cuidadosamente me afasto dos dois. — Só tentando ajudar, — diz ela. — Você ainda tem aquele feitiço de rastreamento em seu âmbar da outra noite nos túneis das aranhas.
— Certo. — Dash pega seu âmbar, arrasta o dedo sobre a superfície em uma série de padrões estranhos, em seguida, enfia de volta em seu bolso. — Não precisa mais disso.
— Qual é o problema? Achei que você precisava de ajuda para encontrá-la.
— Nenhum. Eu posso lidar com isso, isso é tudo. — Ele agarra meu pulso antes que eu possa me mover para muito longe e o torce atrás de minhas costas.
— Você pode realmente lidar com isso? — Eu pergunto em tom de provocação enquanto ele amarra minhas mãos. — Não parecia lá na Guilda. Vocês guardiões são sempre tão inúteis?
Dash volta para ficar na minha frente, sua expressão mostrando diversão genuína. — Não. Eles não são.
Hum. Talvez minha Habilidade Griffin funcione afinal de contas. — Cordas, desamarrem, — eu instruo. Nada acontece. Dash arqueia uma sobrancelha e começa a rir.
— O que ela está fazendo? — Jewel pergunta.
— Meu palpite é que ela está tentando fazer que sua Habilidade Griffin funcione.
— Oh. — A testa de Jewel franze. — Talvez devêssemos fechar a boca dela.
— Não, ela não tem a menor ideia de como usar sua Habilidade Griffin.
Calor sobe ao meu rosto. — Eu vou te estrangular com essa corda quando eu finalmente me soltar. — Em vez disso, acabarei presa pelo resto da minha vida.
— Como já expliquei, — Dash diz devagar, — você não será uma prisioneira. Você só não terá o mesmo nível de liberdade que todos os outros.
Eu pisco, incapaz de acreditar que ele é tão estúpido. — Você está se ouvindo? Você sabe qual é a definição de prisioneiro?
— Em, não é tão ruim assim, eu prometo. Olha, eu sei que você está se preocupando com sua mãe —
— Não se atreva a trazê-la para isso —
— mas tenho certeza de que a Guilda permitirá que você a visite sob supervisão. E nossos pesquisadores estão trabalhando o tempo todo tentando encontrar uma maneira de remover as Habilidades Griffin. Isso pode acontecer em breve e você estará livre novamente. Por favor, tente entender. — Ele lança um rápido olhar para Jewel antes de retornar seu olhar para mim. — Estamos tentando manter o resto do mundo seguro e, infelizmente, essa é uma das precauções que precisamos tomar.
— Vamos lá, Dash, você está perdendo tempo, — Jewel reclama. — Precisamos levá-la de volta para a Guilda. — Ela pega sua stylus e a levanta.
— Não, — eu digo, e quando sinto aquele formigamento estranho se espalhando rapidamente pelo meu corpo e minha voz ecoando estranhamente em meus ouvidos, eu me apresso para acrescentar, — Não abra um portal! Nenhum de vocês dois abra um portal!
Uma rápida estranheza passa e Jewel franze a testa para mim por cima do seu ombro. Em seguida, ela pressiona a stylus contra uma árvore e abre a boca. Depois de parecer lutar por vários segundos, ela diz, — Eu não consigo fazer isso. Eu não consigo dizer as palavras.
Dash se vira para me encarar. — Oh, fala sério. Você não acabou de fazer isso.
Eu solto uma risada trêmula. — Eu acho que sim, na verdade.
— Agora nenhum de nós pode ir a nenhum lugar.
Eu aceno lentamente enquanto respiro fundo. — Bom.
— Desfaça o que você acabou de fazer, — diz Jewel, apontando sua stylus para mim.
— De jeito nenhum. Mesmo se eu quisesse, não tenho ideia de como funciona essa coisa de Habilidade Griffin.
Dash solta um longo suspiro. — Ah, bem. Hora de caminhar, eu acho.
— Dash! — Jewel exclama. — Como você não está seriamente chateado agora?
Ele encolhe os ombros. — Passamos por coisa pior. Você sabe disso. Muito pior. — Ele começa a andar. Depois de vários momentos, a corda se estica entre nós e sou forçada a segui-lo. — Tente acompanhar, Emmy. Não gostaria de ser comida por algum tipo de criatura sombria e sinistra. — Apesar de sua indiferença, noto o modo como seus punhos se apertam periodicamente ao lado do corpo. Ele definitivamente está com raiva de mim. Sem dúvida, ele está com problemas por me deixar fugir da Guilda. Espero que ele acabe suspenso ou, melhor ainda, demitido. Se ele vai continuar a arruinar a minha vida, eu posso arruinar a dele também.
— Estamos perto da margem da floresta, certo? — Jewel diz. — No lado com a cachoeira? — Dash acena, e Jewel rabisca algo em seu âmbar. — Tudo bem, a Conselheira Ashlow e alguns guardiões nos encontrarão lá em poucos minutos.
— Bom. — Dash escreve algo em seu âmbar também, em seguida, acrescenta, — Você quer ir em frente e encontrá-los?
— Sim, tudo bem. — Jewel corre através das árvores, e no momento em que ela está fora de vista, Dash pára. — Tudo bem. Nós não temos muito tempo. Você —
O ar ondula tão perto que quase sinto o movimento. Um buraco escuro se abre, e uma criança sai e cai sobre mim. — Oh, oops, desculpe, — ele murmura, afastando-se de mim e cambaleando para trás.
— Você está brincando comigo? — Dash exige. — O que diabos você está fazendo aqui, Jack?
O garoto, que não pode ter mais de dez anos, dá um sorriso largo a Dash. — Eu queria fazer parte da missão. Eu escutei para onde todo mundo estava indo, mas... eu não sei. Onde está todo mundo?
— Jack, você precisa ir para casa imediatamente. Seus pais estão — Dash olha para o som de folhas farfalhando à frente. — Esconda-se, — ele sussurra, empurrando o menino para trás da árvore mais próxima e me arrastando para frente mais uma vez.
— Dash, apresse-se, — Jewel fala conforme ela aparece. — Eles estão esperando por nós.
— Venha, — Dash diz antes de murmurar algo mais em voz baixa. Eu mantenho minhas perguntas para mim mesma enquanto minha mente corre para descobrir o que está acontecendo. Dash tem medo de alguma coisa, e deve haver uma maneira de usar isso em minha vantagem.
Alcançamos Jewel e, depois de caminhar mais um minuto, chegamos à margem da floresta. As árvores diminuem e chegam ao fim. A uma curta distância, em uma área gramada de espaço aberto, a Conselheira Chefe Ashlow e vários guardiões estão esperando por nós. Um riacho passa por eles e desaparece sobre a borda do que deve ser um penhasco muito alto, já que não consigo ouvir a água batendo embaixo.
— Bom trabalho em encontrá-la, Dash, — diz a Conselheira Ashlow. — Embora pelo fato de você não tê-la amordaçado, eu questiono sua inteligência.
— Foi um acaso que ela conseguiu usar sua Habilidade Griffin em nós, — diz Dash. — Estou confiante de que isso não acontecerá novamente em breve. Mas eu vou amordaçá-la agora para manter segurança. — Ele me faz parar em frente à Conselheira, mas um murmúrio coletivo correndo abruptamente pelo grupo o distrai antes que ele possa amarrar qualquer coisa sobre minha boca. Nós dois nos viramos e vejo outro grupo de pessoas saindo das árvores. Eu assumo a princípio que são mais guardiões, mas o súbito lampejo de armas cintilantes ao meu redor prova que minha suposição está errada.
— Ora, ora, — a Conselheira Ashlow diz. — Os Unseelies decidiram aparecer.
— E por que não apareceríamos? — Um homem diz, caminhando para frente. Eu sinto uma mudança na atmosfera — algo que eu não consigo explicar — e eu me pergunto se é assim que a Conselheira sabe que essas faeries estão com a Corte Unseelie. — Uma Habilidade Griffin particularmente interessante veio à tona, — continua ele. — Nós achamos que deveríamos dar uma olhada.
— Não há necessidade. Nós temos tudo sob controle.
— Claro que você tem. Você provavelmente planeja entregar essa garota para a Corte Seelie para ser usada como sua arma pessoal.
A Conselheira Ashlow sorri. — O que planejamos fazer com ela não é da sua conta.
— É da nossa conta quando ela pode vir a ser uma das armas mais poderosas da existência. O que impede você de usá-la contra nós?
— Eu suponho que você vai ter que confiar que nós gostamos de manter as leis que fazemos, ao contrário dos membros da sua corte.
— Confiança? — Ele ri. — Acho que não.
— Bem, correndo o risco de soar insignificante, — diz a Conselheira Ashlow, — nós a encontramos primeiro. Então certamente não vamos entregá-la para você.
— Claro que não. E suponho que você não gostaria se a levássemos de você a força.
— Você poderia tentar, mas duvido que você seja bem sucedido.
A expressão do homem se torna pensativa. — Como não podemos chegar a um acordo mutuamente benéfico, talvez nenhum de nós deva possuir essa arma. Talvez ela deva ser morta.
Talvez O QUÊ? Minha frequência cardíaca acelera.
— A única maneira de acabarmos com ela, — diz a Conselheira Ashlow, — é se você colocar suas garras sujas nela. — Ela olha em volta para seus guardiões, abaixando a voz enquanto acrescenta, — Não deixem isso acontecer. Se isso acontecer — se parecer que eles podem fugir com ela — vocês tem a minha permissão para matar a menina.
— O quê? — Eu suspiro, finalmente encontrando a minha voz. — Isso não pode ser válido.
— Sim, Conselheira, — diz Dash, junto com seus colegas guardiões.
Eu puxo e viro e tento encará-lo. — Você está brincando comigo? Você é realmente um monstro?
Dash não se move, mas seus olhos se movem ao redor da clareira, entre as árvores e até o topo do dossel. — Às vezes, — ele murmura enquanto os Unseelies avançam sobre nós, — nós temos que ser monstros para proteger o resto do mundo. — Ele me puxa para trás enquanto seus companheiros pulam para frente.
Gritos e grunhidos e o choque de espadas logo enchem o ar, junto com uma mistura confusa de faíscas, vento, cacos de vidro e pássaros cacarejantes. Eu me contorço e chuto e grito, — Afaste-se de mim! — Mas não funciona desta vez. Eu tento me concentrar no centro da magia dentro de mim, assim como Azzy instruiu, mas isso não faz diferença. As mãos do Dash permanecem firmemente presas a mim.
Dois dos faeries Unseelie rompem a barreira de guardiões e vêm correndo em nossa direção. — Parem eles! — Dash grita, recuando para mais longe em direção à margem do penhasco. Um é jogado no chão. O outro se lança para frente. Dash me faz sair do caminho. — Eu sinto muito sobre isso, — diz ele. E então ele me empurra sobre a beira do penhasco.
Capítulo 13
EU MAL ESCUTO O MEU GRITO CONFORME DESPENCO EM DIREÇÃO À MINHA MORTE. ÁGUA ESPUMOSA E PEDRAS irregulares sobem rapidamente para me encontrar. Mais rápido, mais rápido, mais rápido —
Então meu corpo desacelera abruptamente e uma sombra escura desce abaixo de mim quando quase, quase paro. Então eu estou caindo através do ar e para um par de braços fortes, e alguém está dizendo, — Não se preocupe, eu peguei você. — Eu aterrisso desajeitadamente nas costas de uma criatura com asas e me encontro imprensada entre ela e quem quer que seja que me pegou. Um braço envolve meu estômago. Eu fecho meus olhos e me agarro firmemente a esse braço do que qualquer coisa que eu já segurei. Eu não me importo com quem ou o que é. Eu não me importo se é uma faerie Unseelie ou um guardião que quer me prender ou algum tipo de novo ser que eu nunca conheci. Meu cérebro se preocupa com apenas um fato no momento: não estou mais caindo.
Nós começamos a subir. É um movimento brusco, mas pelo menos é para cima e não para baixo. Eu não abro meus olhos. Eu não quero ver nada. Para cima e para cima, para os lados e para cima um pouco mais, e o tempo todo eu silenciosamente repito, Não solte, não solte, não solte. Então nós descemos, e um suspiro involuntário escapa de mim. Mas acabou, e estamos pousando entre as árvores, e esse forte par de braços está me tirando da criatura alada. — Ela está bem, — diz ele para alguém enquanto ele me deposita no chão. — Nós quase chegamos tarde demais, mas ela está bem.
Minhas pernas estão tremendo tanto que não conseguem me segurar. Eu caio sobre minha bunda, piscando e ofegando e observando as pessoas ao meu redor em momentos instantâneos e desarticulados. Três faeries. Pisco. Um homem, azul escuro, inclinando-se para perto de mim com preocupação no rosto. Pisco. Uma mulher, roxa, dizendo algo que não consigo ouvir. Pisco. Outra mulher, observando algo através das árvores, cabelo cor de ouro deslizando por cima do ombro. Tatuagens escuras atravessam seus braços e alcançam o lado de seu pescoço.
— Emerson? Emerson! — Eu me concentro na mulher que agora está agachada ao meu lado. Aquela com olhos roxos vibrantes arregalados que de alguma forma sabe meu nome. — Você pode me ouvir?
Eu tento falar, mas as palavras parecem não sair da minha boca. Toda vez que eu pisco, vejo água, pedras e a morte correndo na minha direção.
— Você está segura agora, — diz ela, estendendo a mão para mim. Eu me afasto, meu corpo ainda tremendo incontrolavelmente. ‘Segura’ não significa mais nada para mim. O companheiro dela pode ter salvado a minha vida, mas Dash também não salvou a minha vida? E um dia depois ele tentou me matar.
— Vi, eles estão vindo para cá, — a de cabelos dourados diz. — Não há tempo para colocar a gárgula de volta pelos caminhos. Você consegue manter Emerson quieta enquanto eles passam?
A mulher na minha frente acena. — Emerson, — diz ela, inclinando-se um pouco mais perto, mas não tentando me tocar novamente. — Todos nós vamos ficar invisíveis agora. Não precisa enlouquecer. Apenas uma ilusão para nos esconder enquanto os guardiões passam. Mas precisamos ficar calados, ok? Completamente quietos.
Eu aceno bruscamente, apesar do fato de que o aviso dela não é necessário. Mesmo que meu cérebro fosse capaz de fabricar palavras agora, eu não falaria nada enquanto qualquer pessoa da Guilda passasse. Não depois que eles prontamente tentaram se livrar de mim. Um momento depois, todas as três faeries desaparecem. Eu olho para baixo — e consigo conter meu grito de terror quando descubro que meu corpo sumiu. Eu sei que ela disse ‘invisível’, mas eu não percebi que eu não seria capaz de me ver também. Eu pensei... eu não sei o que eu pensei.
Ao som de passos apressados, eu olho para cima. Eu quase me arrasto para trás quando vejo os guardiões correndo em nossa direção, mas eles desviam e continuam correndo. — ...Pode não ter sido por aqui, — a Conselheira Ashlow está dizendo ao resto de seus guardiões, — mas temos que verificar. Especialmente se o resto da equipe não conseguir encontrar o corpo dela. E descobrir quem era aquela pessoa camuflada. Não parecia que ele ou ela estava com os Unseelies.
Esperamos em silêncio por pelo menos um minuto depois que os guardiões passam. Então, — Eu acho que está tudo bem, Calla, — o homem que me pegou diz. Os três reaparecem. Quando olho para baixo, fico aliviada ao ver meu próprio corpo mais uma vez. Eu não estou tremendo tanto quanto quando nós aterrissamos, então eu me levanto. Eu ainda me sinto pela onde de adrenalina que o meu corpo produziu de uma só vez, mas pelo menos eu posso ficar de pé agora.
— Desculpe pelo resgate dramático, — o homem diz, estendendo a mão e acariciando a criatura alada coriácea que eu não olhei corretamente até agora. Chifres espinhentos curvam-se de sua cabeça e presas se projetam de sua boca larga. — Ficamos sem tempo para planejar melhor. Vi, você pode abrir um portal? Nós devemos ir.
— Eu — eu não — hum — Eu me interrompo quando fica claro que eu não posso pronunciar mais do que algumas palavras gaguejantes. Eu odeio soar tão fraca e confusa. Isso não sou eu. Eu sou mais forte do que isso, droga, mas todo mundo tem um limite para o que eles podem suportar sem quebrar completamente, e eu acho que estou me aproximando do meu. Eu engulo e respiro profundamente antes de tentar novamente. — Eu não vou a lugar nenhum com você. Obrigada por me salvar, mas eu não sei quem você é.
— Certo, desculpe, — diz o homem. — Eu sou Ryn, e esta é Violet. — Ele aponta para a mulher com o cabelo roxo escuro. Com um aceno para a mulher tatuada, de cabelos dourados, ele acrescenta, — E essa é a Calla.
— Você pode confiar em nós, — diz Violet. — Sabemos que todos estão atrás de você desde que você chegou a este mundo e podemos mantê-lo segura.
Eu pressiono minhas mãos sobre meus olhos e respiro instavelmente. — Eu não confio em vocês, — eu sussurro, me encontrando perigosamente perto de chorar. — Eu não confio em ninguém. Todo mundo quer me prender ou me matar.
— Emerson. — Eu abaixo minhas mãos e encontro Violet bem na minha frente, olhando fixamente nos meus olhos. — Você pode confiar em nós. Você sabe, por quê? Porque somos exatamente como você.
Eu sacudo minha cabeça. — O que você quer dizer?
— Somos todos Dotados Griffin.
Capítulo 14
— MERDA. — EU TROPEÇO PARA TRÁS EM MINHA PRESSA PARA COLOCAR UM POUCO DE DISTÂNCIA ENTRE MIM e essas faeries. — Vocês são parte do movimento rebelde Griffin, não é.
— Sim. — Confusão atravessa o rosto de Violet. — O que é uma boa coisa. Isso significa que estamos do seu lado.
— Mas... vocês são pessoas malvadas.
— Hum, não, nós não somos, — diz Calla.
— É isso que a Guilda — o que todo mundo neste mundo — diz.
— Claro que é isso que a Guilda diz. Eles não confiam em nós. Eles querem rastrear todos os nossos movimentos ou nos prender, assim não podemos usar nossa magia ‘perigosa’ sem supervisão. Eles tentaram fazer o mesmo com você.
Eu hesito, porque ela está certa, claro. — Eles... eles disseram que vocês atacam as pessoas.
A expressão de Ryn escurece. — É isso que eles estão dizendo às pessoas agora?
— Eles vão distorcer qualquer história para vantagem deles, — diz Violet. — Eles querem que as pessoas tenham medo de nós.
A cabeça de Calla vira. — Pessoal, eu acho que eles estão voltando por esse caminho.
— Tudo bem, — diz Ryn, levantando uma stylus e rabiscando palavras invisíveis no ar.
— Você vem? — Pergunta Violet. — Por favor, você pode confiar em nós.
Eu engulo. Talvez isso seja tudo mentira e eu esteja sendo enganada novamente, mas eu não tenho mais ninguém a quem recorrer. — Você pode me ajudar? — Eu pergunto. — Com... tudo?
Ela pega minha mão e aperta. — Isso é o que fazemos.
***
Ar quente dança em minha pele enquanto a escuridão dos caminhos das fadas evapora ao nosso redor. Meus pés afundam na areia macia. Me viro devagar no mesmo instante, semicerrando os olhos contra a luz forte, enquanto meus olhos captam a mesma paisagem por todos os lados: oscilantes dunas de areia que continuam e continuam, aparentemente para sempre. — Vocês vivem em um deserto?
Calla sorri. — Sim. Você não pensaria em nos procurar aqui, não é?
— Eu acho que não, — eu digo, mantendo o resto dos meus pensamentos para mim mesma. Meus pensamentos de quão desagradável deve ser viver em meio a toda essa areia e calor.
— Por aqui, — diz Ryn, acenando para a direita e levando a gárgula pelas rédeas. Eu não tenho ideia de como ele sabe em que direção ir, já que cada duna de areia parece à mesma coisa para mim. Nós mal damos alguns passos, no entanto, quando o contorno fraco de algo em forma de cúpula aparece. Eu pisco algumas vezes, mas o contorno fica mais forte. Eu tenho medo de perguntar se estou imaginando coisas, então fico de boca fechada. Mas mais ou menos um minuto depois, quando a cúpula está bem na nossa frente e eu posso distinguir as formas nebulosas das árvores e dos edifícios, imagino que seja real.
— Isso, — diz Violet, — é o nosso oásis. Um pedaço de terra encantada sob uma cúpula de magia. E uma vez que você passou pela camada da cúpula — ela pega minha mão e me puxa atrás dela — você agora tem um feitiço colocado em você, o que significa que você nunca pode falar sobre esse lugar. Mesmo se você for interrogada sob a influência da poção da verdade, você não poderá dizer nada. O que significa que todos aqui estarão sempre seguros.
O ar imediatamente fica mais frio e o cheiro fresco de plantas enche minhas narinas. Eu estou ciente de um pequeno sorriso em meus lábios enquanto olho lentamente ao redor. Grama e plantas e riachos, fontes e flores e alguns pequenos edifícios, além de um número de árvores enormes com casas construídas nos galhos superiores. — Casas nas árvores de verdade, — murmuro. — Não o tipo de encanto que eu aprendi esta manhã.
— Sim, — diz Violet. — Eu morei em Kaleidos por um tempo, e eles têm casas nas árvores como estas. Eu realmente gostei delas, então sugeri que fizéssemos a mesma coisa aqui.
— E passamos anos vivendo em árvores com encanto ou no Subterrâneo ou dentro de montanhas, — acrescenta Calla, — então quando a Guilda nos forçou a fugir e tivemos que fazer um novo lar em algum lugar, decidimos que não queríamos mais viver em casas escondidas. A cúpula externa nos mantém escondidos, então nossas casas na verdade não precisam ser escondidas.
— É muito legal. — Eu afasto o pensamento de que, se eu conseguisse trazer mamãe com segurança para o mundo mágico, ela e eu poderíamos viver felizes aqui pelo resto de nossas vidas. Ela adoraria os jardins, as fontes, as flores. Mas eu não sei se isso é possível, então vou deixar meus sonhos para outro dia. Outra hora, quando descobrir se posso realmente confiar nessas pessoas. — O que vocês fazem aqui? — Eu pergunto, observando Ryn entregar as rédeas da gárgula para um homem careca com olhos que não parecem normais.
— Nós resgatamos Dotados Griffin e os escondemos da Guilda, — diz ele, virando para mim. — Também ajudamos pessoas de outras maneiras. Basicamente, fazemos o que a Guilda faz, mas em menor escala.
— Também é não oficial e ilegal, — diz Calla. — Então, você sabe, essa é outra razão pela qual a Guilda não gosta de nós.
— Oops, — diz uma pequena voz atrás de nós. Nós todos viramos, e lá está o garoto que apareceu na floresta antes de Dash me arrastar até a beira do penhasco. — Eu estava esperando chegar em casa antes de vocês.
Depois de uma pausa cheia de silêncio chocado, Violet caminha para frente, segura os ombros do garoto e certifica-se de que seu rosto está bem diante do dele, antes de perguntar, — Onde você estava?
— Hum...
— Você deixou o oásis?
Ele pisca. — Talvez. Eu só... queria ajudar com a missão de resgate.
— Jack Linden Larkenwood, — ela diz, — você está de castigo. — Ela se endireita e o solta. — Pela próxima década.
— O quê?
— Pelo próximo século.
— Mãe! — Jack solta um gemido dramático e se vira para Ryn. — Pa-pai, — ele lamenta.
Ryn cruza os braços. — Você quer que eu adicione mais uma década?
— Ugh, vocês estragam tudo!
— Não, estragou as coisas é o que você fez quando decidiu desobedecer às regras e deixar o oásis, — diz Violet. — Agora, por favor, me dê a stylus que você decidiu roubar.
Jack murmura algo baixo demais para alguém ouvir antes de entregar uma stylus, cruzar os braços e projetar o lábio inferior para fora. Calla cobre a boca para esconder um sorriso antes de se virar. Olhando além dela, vejo o careca andando de volta em nossa direção. Quando ele chega o lado de Calla, percebo por que seus olhos parecem estranhos: suas pupilas são verticais em vez de redondas.
— Lorde Sedon quer marcar uma reunião com vocês dois, — ele diz para Ryn e Violet. — Ele está esperando em um dos espelhos.
— Ótimo, vamos falar com ele agora, — diz Ryn.
— Chase ainda não voltou? — Calla pergunta.
— Não, — o homem careca diz. — Você perdeu uma chamada de espelho dele mais cedo, entretanto.
— Oh, eu vou ver se consigo falar com ele agora. — Ela se afasta.
— Jack, — diz Violet, — por favor, leve Emerson para um dos quartos vazios e depois mostre a ela um pouco das coisas enquanto o papai e eu trabalhamos um pouco.
— Você vai tirar meu castigo se eu fizer isso?
— Não. Você fará isso porque quer ser simpático e receptivo com a Emerson.
— Tudo bem, — ele geme.
— Ótimo. Emerson, nos vemos mais tarde, — diz Violet. — Podemos nos encontrar para... — Ela hesita, depois ri. — Desculpe, sempre leva um momento para reajustar quando viajo entre os fusos horários. É tarde aqui, não é, então podemos nos encontrar para nos espreguiçar nas redes.
— Isso soa... — Como o tipo de férias que eu acabei de sonhar. — Isso soa legal.
Eu vejo os dois irem embora. Quando eles estão fora do alcance da voz, Jack se vira para mim e sorri. — Na verdade sou simpático e acolhedor.
— Tudo bem. Bom saber.
— Venha, você pode escolher um quarto.
Eu ando com ele, diminuindo o ritmo para corresponder aos seus passos pequenos. — Quem fez todo esse lugar?
— Papai e tio Chase. Eles disseram que demoraram um ano para conseguir colocar os feitiços certos. Mas isso foi antes de eu nascer, então obviamente eu não me lembro de nada disso.
— Quem é Chase?
— O marido da Tia Calla.
Eu concordo. — Então... o seu pai e o Chase são os responsáveis?
— Eu acho. Mas também mamãe e tia Calla. E tio Gaius. Embora ele não seja realmente meu tio, ele é apenas amigo do tio Chase desde sempre, e ele não sai mais de sua casa, já que ele está doente. Eu acho que todos eles estão no comando. Bem, eles estabelecem as regras, e eu fico com problemas com todos eles se eu as quebrar, então todos eles devem estar no comando.
Chegamos à base de uma das gigantescas árvores. Degraus foram esculpidos, começando de baixo e curvando-se ao redor do lado do tronco enquanto sobem mais alto. Jack me puxa, movendo-se tão rapidamente quanto suas pernas curtas conseguem levá-lo. — Quantos anos você tem, Jack?
Ele arrasta a mão ao longo do tronco enquanto subimos. — Eu tenho oito anos e meio. Quantos anos você tem?
— Dezessete. Dezoito em poucos meses.
— Você foi para a escola de onde você é? Porque você pode fazer isso aqui. Eu tenho aulas com as outras crianças que moram aqui e na maior parte é divertido. Você pode se juntar a nós se quiser, mas provavelmente ficará com Junie porque é mais velha.
Eu suspiro e digo, — Não, eu provavelmente estaria com você. — Na verdade, eu acrescento em silêncio, se houver uma turma inferior que a sua, é provavelmente onde eu pertenço.
— Então esta é a nossa casa, — diz Jack quando chegamos a primeira grande estrutura construída nos galhos. — Tem mais quartos, uma cozinha e sala de estar e coisas assim, e mais acima estão apenas os quartos e banheiros para pessoas novas. Então, se eles ficarem e quiserem outros quartos, Merrick apenas os adiciona.
Eu paro por um momento e olho para as estruturas de madeira menores construídas acima de nós. — Eu provavelmente não deveria perguntar sobre como os banheiros funcionam aí em cima. Quero dizer, eu acho que magia cuida de todo o... encanamento?
Jack encolhe os ombros. — Eu não sei. Eu acho que sim. — Ele continua subindo, e eu o sigo, grata por toda a atividade física que Val e eu fizemos ao longo dos últimos dois anos em nossa busca para nos ensinar parkour.
— Parece que você tem que estar em boas condições para morar aqui, — comento. — É um longo caminho se você esquecer algo quando sair de casa de manhã.
— Eu sei! — Jack exclama. — E ainda não aprendi a me impulsionar com magia, por isso demora muito. Mamãe e papai podem chegar aqui em segundos, se precisarem. É tão injusto.
— Bem, você provavelmente será capaz de fazer isso em breve, certo? Quero dizer, você sabe como usar o caminho das fadas. — Eu ainda estou particularmente interessada nesse feitiço. Quanto mais cedo eu aprender, mais cedo me sentirei mais no controle da minha situação.
— Oh, sim, os caminhos das fadas. Eu não deveria saber isso ainda. Mas eu sempre prestei atenção quando mamãe e papai fazem. Eu sou um aprendiz rápido. — Ele olha para mim com um sorriso orgulhoso, em seguida, acelera seu ritmo um pouco, como se estimulado por suas próprias palavras. — Tudo bem, — ele diz um pouco sem fôlego depois de termos passado por quatro casas menores na árvore. — Este está vazio. Ou você pode ir mais alto se quiser. Existem outros três que estão vazios. Merrick sempre acrescenta mais quando tem tempo.
— Este está bem. — Eu coloco minhas mãos em meus quadris e olho em volta enquanto me dou alguns momentos para recuperar o fôlego. Os galhos aqui em cima são largos o suficiente para andar sem ter problemas de equilíbrio. Ainda bem que eu não tenho medo de altura. À distância daqui até o chão é suficiente para causar sérios danos a qualquer um que possa surtar e escorregar.
— Tudo bem, venha ver, — diz Jack. Ele pula ao longo do galho e abre a porta. Eu o sigo para dentro de um quarto, claramente mobiliado com nada mais do que uma cama, um guarda-roupa e uma cadeira no canto. É ainda melhor do que o quarto em que sempre dormi na casa de Chelsea. Pelo menos eu não tenho que escalar caixas de produtos para cabelo e dividir minhas prateleiras com pequenas garrafas de misturas estranhas.
— Isso é um banheiro? — Eu pergunto, apontando para uma porta fechada do outro lado do quarto.
— Sim. Portanto, isto é apenas as coisas básicas que eles colocam em todos os quartos. É meio chato, então você pode mudar o que quiser. Você pode até mudar a forma do quarto, se quiser algo diferente. Merrick vai fazer. Ele é um faerie arquiteto. E Junie - ela é uma elfa - é uma designer. Então, se você disser a ela como você quer sua cama, ela pode mudá-la facilmente. Ou, se quiser que a cadeira seja um balanço pendurado no teto, ela também pode fazer isso. Ela fez isso no meu quarto, mas depois eu caí uma noite quando eu deveria estar dormindo, não brincando, então mamãe e papai a fizeram mudar para uma poltrona, o que não é tão divertido. Mas Junie fez em forma de dragão, então eu acho que não é tão ruim assim.
Eu sorrio com essa informação de repente. — Parece legal. — Eu ando até a janela, e meu sorriso aumenta um pouco mais ao ver o pomar, o rio e o sol se pondo a distância. Eu nunca imaginei ter uma visão como esta do meu próprio quarto. E você ainda não tem, uma pequena voz me lembra. Este não é meu quarto, e eu provavelmente não ficarei aqui por muito tempo. Nada tão incrível pode durar.
— O guarda-roupa está vazio agora, — diz Jack, — mas a mamãe vai colocar algumas roupas depois. A mãe de Dash é uma conjuradora de roupas e ela envia toneladas de roupas para cá. Algumas delas são estranhas e mamãe esconde essas, mas a maioria é normal. Oh, de onde veio? — Eu me viro e olho para onde ele está apontando. No canto, sentado na cadeira, está um gatinho.
Eu atravesso o quarto com um suspiro. — Esse garotinho é uma criatura que muda de forma e me segue para todos os lugares. Eu pensei que ele fugiu quando Dash me encontrou na floresta, mas ele deve ter apenas se transformado em algo muito pequeno e subiu em um dos meus bolsos ou algo assim. — A criatura muda rapidamente para lá e para cá entre duas formas que eu não consigo identificar, como uma velha TV mudando entre os canais. Então se estabelece como um gatinho novamente.
— Legal, ele é como Filigree! — Diz Jack.
— Filigree?
— Sim, o animal de estimação da mamãe. Ele não muda muito porque ele é super velho e mamãe diz que ele não tem energia agora, mas ele costumava se transformar em todos os tipos de coisas. Ele até mesmo se transformou em um dragão uma vez, mas depois ele dormiu por três dias depois disso, porque usou muito de sua magia. — Jack se agacha na frente da cadeira. — Qual é o nome dele?
— Ele não tem um.
— Ah, posso dar um nome a ele, por favor? — Implora Jack, arregalando os olhos de prazer enquanto olha por cima do ombro para mim.
— Certo. Ele provavelmente vai acabar ficando aqui de qualquer maneira. Não é como se ele fosse meu. Ele só parece gostar de me seguir. — Uma mudança estranha, dado que meu primeiro animal de estimação teve a reação oposta e fugiu depois de apenas alguns dias.
— Yay. — Jack pega o gatinho e o embala contra seu peito. — Vou chamá-lo de... — Jack aperta os olhos enquanto pensa. — Bandit. Seu nome será Bandit.
Eu aceno devagar. — Parece legal.
Nós descemos todas as escadas — minhas pernas se exercitando bem no processo — e Jack me mostra o resto da cúpula, apontando uma estufa, uma escola, uma horta e um pomar, uma academia ao ar livre e um edifício que aparentemente contém um laboratório e alguns outros lugares fora dos limites dos quais Jack não sabe muito. — É onde eles fazem o trabalho deles e como eles ajudam as pessoas. Isso é tudo o que eu sei.
— Há muita coisa aqui, — eu digo quando paramos ao lado de um rio estreito com um barco flutuando perto da margem. — É maior do que eu pensava.
— Era menor quando eu era pequeno, — diz Jack, — mas Merrick continua adicionando coisas. Ele fica entediado quando não está ajudando mamãe e papai com casos. Enfim, venha ver o parquinho. — Ele pega minha mão e me puxa para longe do rio. — Eu o guardei para o final porque é o meu lugar favorito aqui. O balanço é incrível. Você tem que experimentar.
O parque acaba por ser preenchido com o mesmo tipo de equipamento que eu esperaria encontrar no meu mundo. O balanço também parece normal. — Não é só para frente e pra trás, — diz Jack quando pergunto o que há de tão especial nisso. — Veja, você se prende e o balanço vai para todos os lados. Quantas vezes você quiser.
— Uau, tudo bem. Isso é legal. É encantado, suponho?
— Sim, obviamente. Você quer ir?
— Hum, talvez outra hora. É só... isso é muito. Ainda estou me acostumando com todas as coisas mágicas.
— Oh, desculpe. Você é do outro mundo. Eu me lembro agora. Então, o que você faz para se divertir lá?
— Oh. Hum... — Eu coloco minhas mãos nos bolsos de trás. — Bem, eu saio com minha amiga Val. Nós nos ensinamos essa coisa chamada parkour. É como um esporte. Você usa qualquer ambiente em que esteja — como edifícios, paredes, escadas, seja qual for — como uma pista de obstáculos. Há muitos saltos e corridas e escaladas. E quedas, mas cair do jeito certo. Como pousar sobre seu ombro e rolar e se levantar.
— Tudo bem. É divertido?
— Sim. Você tem que ser criativo ao ir do ponto A ao ponto B. É como uma arte, na verdade. A arte do movimento rápido, apesar dos obstáculos. Uma pessoa comum pode descer as escadas de um prédio e caminhar pela rua para onde quer que ela vá. Em vez disso, descobrimos como pular ou descer, e depois pular para cima de paredes e através de jardins para chegar ao destino da maneira mais rápida possível.
— Legal. Você pode me ensinar?
— Hum, claro. Se você puder me ensinar como abrir os caminhos das fadas.
— Tudo bem. — Ele envolve um braço em torno de uma das correntes do balanço. — Mas teríamos que usar a stylus de alguém. Sem eles saberem. E... eu realmente não quero ficar de castigo novamente.
— Certo. Sim. Você deve ficar longe de problemas. — Essas últimas palavras saem inesperadamente profundas e ressonantes, e aquele mesmo arrepio estranho de mais cedo ondula pela minha espinha e através dos meus braços.
— O que foi isso? — Jack pergunta, inclinando a cabeça para trás enquanto ele me olha com desconfiança. — Você soou estranha.
— Hum... — Eu não tenho certeza se ele sabe sobre a minha Habilidade Griffin. — Provavelmente apenas alguma magia escapando. Eu realmente não sei como usá-la ainda. — Ele balança a cabeça lentamente enquanto eu olho em volta procurando outra coisa para falar. — Então, onde estão as redes? Eu acho que eu provavelmente deveria encontrar seus pais em breve.
— Por aqui, — diz ele, indo em outra direção. Corro atrás dele, grata pelos efeitos duradouros da bebida energética com chocolate que Azzy me deu antes de deixar a Guilda me levar. Eu provavelmente teria desmaiado de exaustão há muito tempo sem ela.
Jack me leva a uma coleção de redes amarradas entre as árvores perto de um pavilhão redondo e aberto. Grandes sofás estão sob o telhado decorativo do pavilhão. — Eu acho que vou esperar lá, — eu digo a ele.
— Legal. Eu vou procurar comida para o Bandit.
Eu o observo se afastando até que uma voz familiar atrás de mim diz, — Ei, você chegou aqui em segurança.
Eu viro, meu coração trovejando no meu peito. — Dash. — Eu me afasto de sua mão estendida. — Ele nos encontrou! — Eu grito. — A Guilda nos encontrou!
Capítulo 15
— UAU, EI, ACALME-SE. — DASH PISCA, CONFUSO. — ESTOU DO SEU LADO COMO VOCÊ ainda não percebeu isso?
— Tudo bem, Emerson, — diz Violet, correndo até mim. — Ele está dizendo a verdade. Ele está do nosso lado.
— Como ele pode estar do nosso lado? — A raiva corre com força em minhas veias, escapando em faíscas violentas que se afastam de mim e vão diretamente em direção ao rosto de Dash.
— Ow! — Ele se abaixa e afasta a magia para longe com as duas mãos. — Que diabos, Em?
— Você tentou me prender! E então você me empurrou da beira de um penhasco!
— Nossa, Em, eu sou a única razão pela qual você fugiu da Guilda. Você nunca teria escapado sem a minha ajuda. — Ele se endireita quando minha magia para de atacá-lo. — Você não acha que os guardiões são normalmente tão desajeitados, não é? E o penhasco... — Ele encolhe os ombros, parecendo um pouco envergonhado. — Bem, ficamos sem tempo, então eu tive que improvisar. Mas eu sabia que Ryn e Vi estavam lá. Eu sabia que alguém iria te pegar.
— Você sabia que alguém iria me pegar? — Eu repito em descrença. — Eu quase morri!
— Mas não morreu. Você está bem. E agora você está segura, que era o plano desde o começo.
— Que plano?
— Você sabe, deixar você aqui com os rebeldes Griffin.
— Espere. — Eu pisco e levanto minhas mãos. — Você sabia o tempo todo que eu tinha uma Habilidade Griffin, e você não disse nada para mim?
Os olhos de Dash piscam para Violet antes de voltar para mim. — Bem, nós não estávamos certos. É por isso que eu continuei tentando fazer com que você me dissesse exatamente o que aconteceu naquela noite na festa, mas você não estava interessada em falar sobre isso.
— Você está de brincadeira? Se fosse tão importante — se ter uma Habilidade Griffin é tão perigoso, você poderia ter forçado a informação de mim. E me dito, ‘Em, isso não é magia normal. Você pode estar em perigo por causa disso. Você tem que me dizer o que aconteceu, para sua própria segurança’. — Eu jogo minhas mãos para cima em completa exasperação. — Você considerou essa opção, Dash?
Ele cruza os braços sobre o peito, sua expressão ficando mais tempestuosa a cada segundo. — Talvez você não se lembre claramente da ocasião em que você se assustou completamente e fugiu de Chevalier House, mas você não estava exatamente com vontade de ser forçada a fazer nada. E me perdoe, mas eu meio que achei que você tinha o suficiente de coisas para lidar naquele momento, tendo acabado de descobrir, você sabe, todo o resto. Eu pensei que estava sendo gentil, não despejando outra horrível revelação em seus ombros. E imaginei que Azzy tiraria a verdade de você em breve — o que ela já havia feito, na verdade. Eu não sabia, mas ela contatou Ryn quando eu te trouxe de volta para Chevalier House. Nós simplesmente não conseguimos levar você para longe com segurança antes de você revelar a todos o que você pode fazer.
— Espere. Azzy está nessa coisa toda? Era sobre isso que vocês dois estavam sussurrando na noite passada?
— Você ouviu?
— Sim, Profº Azzy está do nosso lado também, — diz Violet.
— Então por que diabos Paul chamou a Guilda para vir me buscar?
— Porque Azzy é a única que está dentro, — explica ela. — Paul não está. Ele está firmemente do lado da Guilda, assim como todo mundo que trabalha na Chevalier House, então sua resposta automática foi contatá-los.
— Tudo bem. Tudo bem! — Eu encaro Dash novamente. — Mas você ainda não explicou nada pra mim depois que eu acidentalmente revelei minha Habilidade. Se seus amigos Griffin estavam planejando vir me resgatar, por que você não me contou?
— Eu tentei, Em, mas não ficamos sozinhos por muito tempo depois disso. Eu não pude dizer nada com outros guardiões ao redor. Se a Guilda perceber o menor indício de que eu não estou totalmente do lado deles, as coisas acabarão muito mal.
— Pensando na própria pele pelo que eu vejo, — murmuro.
— Emerson —
— Não apenas em mim, — Dash retruca, interrompendo Violet antes que ela possa ir mais longe. — Estou cuidando de todo mundo que mora aqui. A magia protetora pode me impedir de dizer a Guilda sobre este lugar se eu fosse interrogado, mas sei muito mais do que isso. Eu sei o que o Azzy está fazendo e sobre todas as pessoas que entram e saem daqui. Você pode imaginar o que aconteceria se a Guilda conseguisse essa informação de mim?
— Então por que se incomodar em trabalhar na Guilda se é um risco tão gigantesco?
— Alôô! Porque Vi e Ryn e todos os outros aqui precisam de pessoas lá dentro. Eles não saberiam o que está acontecendo de outra forma. Eles não saberiam sobre você, ou sobre o que a Guilda planejava fazer com você.
— É verdade, — diz Violet. — A informação que Dash nos dá sobre a Guilda é extremamente valiosa. E, além disso, ele quer ser um guardião. Ele quer ajudar as pessoas. Ele não deveria ter que se afastar disso só porque ele está conectado a nós.
Eu cruzo meus braços firmemente sobre o peito, querendo dizer que outras pessoas têm que desistir de seus sonhos o tempo todo, então o que faz Dash tão especial que ele consegue manter o dele? Mas meus pensamentos infantis e mesquinhos não ajudam, então eu consigo ficar calada.
O olhar de Violet se move entre nós dois. — Deveríamos... talvez... nos sentar? — Ela sugere depois que vários outros segundos de silêncio se passam.
Com um aceno conciso, eu a sigo pelas escadas do pavilhão. Espero que Dash sente para que eu possa escolher um lugar longe dele, mas ele acena para eu sentar primeiro. Idiota. Ele está fingindo ter boas maneiras ou algo assim? Sento em um sofá de listras azuis e brancas e abraço uma das almofadas brancas e macias contra o meu estômago. Dash tem a decência de não se sentar ao meu lado. — Então, estamos bem agora? — Pergunta ele. — Você e eu?
Eu dou de ombros. — Tudo bem como sempre fomos, eu acho.
— Legal. Então você ainda não gosta de mim, mas pelo menos você não acredita que eu queria te matar.
Eu concordo. — Praticamente.
— Ótimo, — diz Violet, acenando para Ryn enquanto ele caminha em direção ao pavilhão com uma bandeja com copos flutuando no ar ao lado dele. — Enquanto vocês dois não quiserem se matar, tudo deve ficar bem.
— Dash, — diz Ryn quando nos alcança. — Obrigado por ajudar com o resgate. — Ele aperta a mão de Dash, como se me empurrar de um penhasco fosse uma grande conquista. — Eu sei que Emerson não estava muito satisfeita com a maneira como isso aconteceu, mas você tinha que manter seu disfarce de alguma forma.
— Obrigado. É bom saber que algumas pessoas apreciam meu sacrifício. — Ele me lança um olhar aguçado.
— Sim, tanto faz. Um grande sacrifício, tenho certeza. E vocês podem parar de me chamar de Emerson, — acrescento. — Em está bem.
— Ou Emmy, — diz Dash.
Eu cerro meus dentes. — Eu vou te machucar.
— Eu vou te machucar, — ele imita com uma voz aguda.
Violet suspira e se senta em um dos sofás. — Nós fomos tão imaturos?
— Claro que não, — diz Ryn, sentando-se em frente a ela. — Bem, você pode ter sido, mas eu tenho certeza que eu não era.
Ela ri. — Isso definitivamente não é verdade.
— Dash, eu ouvi que você teve um pequeno problema para chegar aqui, — diz Ryn, mudando de assunto. — Calla disse que ela recebeu uma mensagem sua pedindo para ir encontrá-la em algum lugar e trazer você para cá.
— Hum, sim. — Dash olha para mim. — Então, eu tenho um pequeno problema.
— E por que isso é o meu problema?
— Porque é sua culpa. Eu não posso mais usar os caminhos das fadas. É impossível eu viajar para qualquer lugar se estiver sozinho.
— Eeeeeee eu ainda não vejo como isso é o meu problema.
— Em, por favor. Foi sua Habilidade Griffin que fez isso comigo. Você precisa consertar isso.
— Eu não sei como. E mesmo se eu soubesse, isso não pareceria suspeito para a Guilda? Eu deveria estar morta, certo, então como eu consegui consertar seu problema com os caminhos das fadas?
— Eu não sei. Acho que posso dizer que os efeitos da sua magia passaram.
— E quando Jewel ainda não puder usar os caminhos das fadas? Isso vai parecer seriamente suspeito, Dash.
— Ela tem razão, — diz Ryn.
— Apenas tente, Em. Tente agora mesmo. Diga, ‘Você pode abrir portais para os caminhos das fadas’. E, se funcionar, podemos fazer você se esgueirar na casa de Jewel enquanto ela dorme e fazer o mesmo com ela.
— Isso é muito assustador, Dash.
— Apenas tente!
Eu me inclino para trás, cruzo os braços e digo, — Você pode abrir portais para os caminhos das fadas.
Ele suspira. — Talvez você possa colocar um pouco de esforço?
— Quem disse que funciona dessa maneira?
— Eu não sei, mas certamente não funcionou do jeito que você acabou de dizer. Sua voz não ficou... estranha.
Eu descruzo meus braços e mexo distraidamente na manga do meu suéter. — Estranha como? Como minha voz fica quando isso acontece?
— Meio que... mais profunda. Um pouco distorcida. E meio que... não como um eco, mas era como se eu pudesse ouvi-la no ar ao meu redor.
Eu aceno devagar. — Meio que soou assim para mim também.
— Você quer tentar de novo? — Pergunta Violet. — Focando desta vez, em vez de apenas dizer as palavras.
Como não é o Dash que está pedindo, concordo em tentar novamente. Eu tento várias vezes, mesmo fechando os olhos e me concentrando intensamente em extrair esse poder de dentro de mim quando digo a Dash que ele tem permissão para abrir portais para os caminhos de fadas. Mas assim como na beira do penhasco, nada acontece. Minha voz continua normal.
Eventualmente eu me inclino de volta contra o sofá e abraço a almofada macia perto do meu peito. — Viu? Não consigo fazer isso.
— Bem, não há necessidade de insistir sobre isso, — diz Violet. — Nós definitivamente podemos ajudá-la.
— Mesmo?
— Sim. E enquanto isso, Dash terá que descobrir outra maneira de se locomover.
— Ugh, sério? Eu vou ter que ser levado para todo lugar como uma criança, — Dash reclama.
— Ainda bem que você trabalha em equipes na Guilda, diz Ryn. — Um de seus companheiros de equipe deve ficar feliz em ajudar você e Jewel, certo?
— Ainda é extremamente limitante.
— Coitado, — eu digo sem um pingo de simpatia.
Seus olhos se estreitam quando ele olha para mim. — Você está gostando disso.
Eu dou de ombros. — Você me empurrou de um penhasco.
— Isso vai ser a sua desculpa para tudo?
— Provavelmente. Eu sinto que nunca vou cansar.
— Então, — diz Violet em voz alta. — Alguém gostaria de uma bebida? — Ela aponta para a bandeja com copos que Ryn trouxe com ele, que está em uma pequena mesa redonda ao lado de sua cadeira.
— Tudo bem, — eu digo, apontando para um copo contendo camadas alternadas de verde e rosa. — Contanto que não tenha álcool fabricado por humanos.
— Sem álcool, — Ryn me assegura enquanto ele entrega o copo. — Dash? Você gostaria de alguma coisa?
— Nah, na verdade, vou dizer oi para Gaius se ele estiver acordado. Não o vejo há algum tempo. E tenho certeza de que sua conversa com Emmy — ele pisca para mim enquanto se levanta — será mais agradável se eu não estiver por perto.
— Finalmente, — murmuro enquanto Dash se afasta. — Ele não fica aqui por muito tempo, não é?
Violet balança a cabeça e afasta o cabelo do rosto. — Não com muita frequência.
— Graças a Deus por — oh. Essas marcas no seu pulso. — Meus olhos seguem seu braço enquanto ela abaixa. — Elas são iguais as que o Dash tem. Isso não quer dizer que você é uma guardiã?
— Sim.
— Mas... você tem uma Habilidade Griffin, então... oh, isso foi antes deles descobrirem uma maneira de testar as Habilidades Griffin? Desculpe, a coisa da idade é confusa. Você parece tão jovem, mas pode ter cem anos com tudo que sei.
— Não é bem assim, — diz ela com uma risada.
— Nem perto, na verdade, — acrescenta Ryn.
— Mas sim, eu era uma guardiã. Ryn, Calla e eu éramos todos guardiões antes de sermos criminosos. Bem, Calla nunca teve a chance de se formar, mas Ryn e eu nos formamos. Trabalhamos para a Guilda por vários anos sem que ninguém soubesse que éramos Dotados Griffin. Então a Guilda desenvolveu uma maneira de testar as Habilidades Griffin, e nós fomos revelados como ‘traidores’ junto com todos os outros Dotados Griffin. Nós fugimos antes que a Guilda pudesse desativar nossas marcas, por isso ainda temos acesso às nossas armas de guardiões. Você conseguiu vê-las? Cor de ouro e brilhantes. Elas aparecem quando precisamos delas e desaparecem quando as soltamos.
Eu aceno, pensando na luta na beira do penhasco. — Só os guardiões em específicos?
— Sim. Apenas os guardiões têm acesso a armas assim.
— Então, agora você basicamente faz o que fez antes, mas sem a aprovação da Guilda? Então... vocês são como vigilantes?
Seu sorriso é irônico. — Quase. Não é algo que planejamos ser, mas a Guilda nos obrigou a isso. Especialmente porque o sistema deles não funciona tão bem quanto deveria.
— O que você quer dizer?
— Eles trabalham com os Videntes. Faes que têm a capacidade de vislumbrar o futuro. Eles Vêem coisas que darão errado, e a Guilda envia guardiões para evitar que essas coisas aconteçam. O problema é que há muitas dessas visões. Não há guardiões suficientes para lidar com todas elas, então as visões consideradas menos importantes são descartadas. Nós temos um contato na Guilda, no entanto, que as reúne e as envia para nós o mais rápido possível. Nós lidamos com qualquer coisa que ainda não tenha acontecido.
— Legal. — Eu fico em silêncio, pensando em tudo que ela explicou. Então eu lembro que estou segurando uma bebida, então tomo um gole. Tem gosto de uma mistura de caruma e alguma fruta, o que não é uma má combinação. Espero que Ryn ou Violet me façam uma pergunta, mas parece que podem estar esperando que eu conduza a conversa. Ou isso ou eles estão tendo sua própria conversa silenciosa com os olhos.
— De qualquer forma, — eu digo eventualmente, — vocês querem conversar sobre o quê? Minha Habilidade Griffin? O fato de eu não conseguir fazer magia básica? O fato de que minha mãe não é minha mãe? — Violet levanta ambas as sobrancelhas, e eu interiormente me xingo por deixar aquela última parte escapar. — Habilidade Griffin, — eu digo apressadamente. — Vamos conversar sobre isso.
— Hum, sim, — diz ela. — Estou muito interessada em saber mais sobre sua Habilidade Griffin. Eu nunca encontrei alguém que consegue falar coisas e elas acontecerem. Isso é incrível.
— Você quer dizer perigoso, certo? É o que todo mundo parece pensar.
— Perigoso, sim, se você não puder controlar. Mas todos nós somos perigosos se não podemos controlar a nossa magia. E você acabou de descobrir a sua, então é claro que você ainda não sabe o que fazer com ela. Mas faremos o que pudermos para ajudá-la, prometo.
Eu mordo meu lábio e lentamente balanço minha cabeça. — Talvez eu devesse parar de falar completamente, porque eu nunca sei quando algo que eu digo vai sair como um comando mágico. Também... — Eu coloco meu copo no chão antes de pressionar minhas mãos juntas. — Há uma possibilidade de Jack nunca mais entrar em problemas.
Ryn inclina a cabeça. — O que você disse a ele?
— Eu acho que minhas palavras exatas foram, ‘Você deve ficar longe de problemas’ E minha Habilidade Griffin aleatoriamente ligou naquele momento. Então... eu não tenho certeza do tipo de efeito que terá nele.
Violet começa a rir. — Bem, estou ansiosa para ver os resultados disso.
— Sim, mas e se eu dissesse algo diferente? Algo ruim?
Ryn passa a mão pelo cabelo. — Sim, definitivamente há riscos, contanto que você não saiba quando a habilidade vai entrar em ação. Mas não é prático se calar completamente. Talvez você tenha que pensar em tudo o que você quer dizer antes de dizer e certificar-se de que não seja um comando ou uma instrução.
Meus ombros caem. — Isso parece ainda menos prático. Tenho certeza de que seria mais fácil fechar minha boca do que dizer a mim mesma que tenho que pensar em cada palavra antes que ela saia da minha boca.
— Não será um problema por muito tempo, — diz Violet. — Podemos começar a trabalhar nisso amanhã. Bem, no dia seguinte, suponho. Você precisa ir ao laboratório amanhã para que a Ana possa tirar uma amostra da sua magia. O elixir para estimular sua Habilidade Griffin deve estar pronto no dia seguinte.
— Laboratório? — Um medo frio e forte toma forma na boca do meu estômago. — Eu — isso é — eu não sou muito —
— Claro, sinto muito. Dash mencionou que você tem medo de todas as coisas médicas. Mas não se preocupe. Não há agulhas nem nada. É apenas um feitiço simples e você não sente nada.
Eu arranco os fios da almofada macia, incapaz de me livrar da minha carranca. Eu odeio que Dash tenha falado sobre mim para essas pessoas. O que mais ele disse a eles?
— Sério, Em, não é grande coisa, — diz Ryn. — Precisamos tirar uma amostra de sua magia para criar um elixir que estimule sua Habilidade Griffin. Uma vez que você se acostumar com a sensação de ter aquela parte específica de sua magia ligada, você pode descobrir como fazer isso sem o auxílio do elixir. Precisa ser específico para a sua magia, e é por isso que precisamos da amostra.
Eu lambo meus lábios, alcanço a bebida aos meus pés e tomo um longo gole. — Tudo bem, — eu digo depois que eu a coloco de novo no chão. — Eu acho que isso faz sentido. — Isso não significa que Ryn e Violet não estão mentindo para mim, no entanto. Eles podem querer usar minha magia para outra coisa.
Violet se inclina para frente, seu âmbar agora apertado entre suas mãos. — Você quer nos dizer alguma coisa sobre sua mãe?
De repente, isso parece um interrogatório. — Hum...
— Qual é o nome dela? Em que hospital ela está?
Eu arranho uma marca suja na minha calça jeans. — Daniela Clarke. E ela está no Hospital Psiquiátrico Tranquil Hills. É... bem, o ambiente é tranquilo. Dentro não é.
Vi acena e escreve algo em seu âmbar com uma stylus.
— O que você está escrevendo? Você está contando a alguém? Dash disse que essas coisas âmbar são como celulares, então você está enviando mensagens para alguém?
— Em, acalme-se, — diz Ryn. — Ela está tomando notas, isso é tudo.
Violet se senta. — Eu sei que Dash lhe disse que não é possível que sua mãe seja sua mãe biológica. Isso deve ter sido um grande choque para você descobrir.
Eu aceno, mas não digo nada.
— Eu sinto muito, Em. É muita coisa para absorver tudo de uma vez, eu sei. Descobrir que você não é quem você achava que era e que pode ter uma família totalmente nova em algum lugar por aí. Você quer que nós tentemos descobrir mais sobre eles?
Eu sacudo minha cabeça. — Minha mãe é minha única família. Eu não preciso saber de mais ninguém.
— Tudo bem. Apenas avise se você mudar de ideia.
— Sim. — Eu não vou mudar de ideia.
— Em, você não precisa surtar. — É Ryn quem se inclina para frente dessa vez, me observando atentamente. — Estou falando sério. Nós só queremos ajudar você. Se você realmente não quer que façamos uma amostra da sua magia, não vamos forçá-la. E se você não quer falar sobre sua mãe, tudo bem. Nós não vamos mencioná-la novamente. Nós queremos que você se sinta segura aqui, isso é tudo. Estamos nos escondendo da Guilda assim como você está. Nós entendemos o que é ser caçado. Entendemos como é querer apenas um lugar seguro para chamar de lar.
Percebo que tenho prendido a respiração enquanto ele fala, e lentamente deixo escapar. Eu acho que acredito nele. Eu acho que eu acredito. O único problema é... — Isso nunca vai ser a minha casa, — eu digo com cuidado, esperando que eles entendam que eu não quero ofendê-los. — Eu tenho uma vida em outro lugar. E uma mãe que precisa de mim. Eu preciso voltar àquele mundo quando a minha magia não for mais um perigo para todos ao meu redor.
Ryn acena. — Então é isso que vamos ajudá-la a fazer.
Capítulo 16
EU PASSO UMA HORA OU DUAS NAQUELA NOITE NO MEU QUARTO COM JUNIE, A ELFA QUE JACK mencionou anteriormente, tentando não olhar para as orelhas dela enquanto ela cria lençóis para a cama e cortinas para as janelas, e muda a cadeira de uma coisa dura de madeira para uma poltrona macia com um tecido estampado de flores. Bandit gosta imediatamente da nova cadeira e imediatamente se enrola e adormece. Junie pergunta se eu quero mais alguma coisa, e quando eu pergunto sobre comprar um relógio para não chegar atrasada para o café da manhã — sem mais alarme no celular para me acordar — Junie pinta o relógio na minha parede. Um minuto depois, quando o número magicamente vai para outro segundo, eu respiro fundo. Mesmo depois de vários dias neste mundo, a magia continua a me surpreender.
Enquanto esse quarto é mais rústico do que o que eu tinha na Chevalier House, eu prefiro este. Quando finalmente estou sozinha, passo um tempo na janela, olhando para as pequenas luzes nas árvores e para as milhões de estrelas visíveis através da cúpula. Mas, eventualmente, minhas pálpebras ficam pesadas demais e eu subo na cama.
Eu durmo melhor do que o esperado, acordando ao som de uma cantoria vindo da direção dos números pintados na minha parede. Depois de usar a piscina no meu pequeno banheiro com tema de jardim, desço as muitas escadas do lado de fora da árvore até a casa de Violet e Ryn. Eu bato na porta entreaberta antes de abri-la e entrar no que parece ser a cozinha deles. O cheiro de algo assando enche o ar.
— Oh, bom dia, Em, — diz Violet, sorrindo para mim por cima do ombro. Ela está perto de um balcão onde o conteúdo de uma jarra parece estar se mexendo, e uma faca está cortando uma maçã. Sua mão paira acima de três canecas, e embora eu não possa ver dentro delas, eu assumo que algo mágico esteja acontecendo. — Você pode se sentar à mesa, — diz ela. — Café?
— Oh, graças a Deus. Eu estava preocupada que café não existisse neste mundo.
Ela ri, pega as três canecas e as leva para a mesa. A jarra continua a mexer-se atrás dela. — Não é o mesmo que o café que você provavelmente está acostumada, mas espero que você goste.
Jack corre para a cozinha, gritando, — Bom dia, Em! Você trouxe Bandit com você?
— Jack, por favor, — diz Violet. — Você não precisar falar tão alto dentro de casa.
— Desculpe, — Jack sussurra com um sorriso travesso quando Ryn entra na cozinha atrás dele.
— Ei, Em, — ele diz para mim. Então para Violet, — Desculpe, me distraí. Eu ia terminar o café.
— Tudo sob controle, — diz Violet. Ela lhe dá um beijo rápido enquanto ele desliza o braço ao redor de sua cintura. — Você pode pegar os muffins?
— Então você trouxe Bandit? — Jack pergunta novamente, subindo em uma cadeira.
— Na verdade, ele voltou a dormir depois que eu me levantei. Ele provavelmente ainda está lá em cima no meu quarto.
— Oh. — Jack suspira, então se anima quando sua mãe coloca um pequeno copo com algo marrom na frente dele. — Ooh, chocolate, chocolate, chocolate.
— Ei, posso me juntar a vocês para o café da manhã? — A pergunta vem da direção da porta, e é Calla quem está espreitando. — Chase ainda não voltou.
— Claro. — Violet acena para uma das cadeiras vazias. — Você está preocupada com ele?
— Não, tenho certeza que ele está bem. As coisas às vezes demoram mais do que ele espera, isso é tudo. Ei, Em, — ela acrescenta com um aceno em minha direção. — Ooh, são muffins? — Ela desliza rapidamente em uma cadeira, esfregando as mãos enquanto Ryn coloca um prato de bolinhos fumegantes no centro da mesa. Violet acrescenta um prato de frutas fatiadas ao lado — pelo menos metade delas eu não reconheço - enquanto tento lembrar se Chelsea, Georgia e eu comemos alguma coisa que não fosse de uma caixa de cereal na hora do café da manhã. Eu não sei cozinhar, e duvido que elas também saibam.
— Algo para beber? — Violet diz para Calla.
— Não, não se preocupe. Eu vou fazer algo para mim em um minuto.
Violet se junta à mesa, e Jack começa a contar a Calla tudo sobre Bandit, o ‘novo Filigree’, enquanto todos se servem da comida. Ele então volta sua atenção para mim e me dá um esboço detalhado do que a dieta de Bandit deve ter e quantas vezes eu devo alimentá-lo. — Eu posso ajudá-la, se você quiser, — acrescenta ele.
— Obrigada. Na verdade você ficar com ele se você — Violet me interrompe com uma rápida e vigorosa sacudida de sua cabeça. Eu volto atrás rapidamente. — Quero dizer, você pode continuar visitando ele. O quanto você quiser. E tenho certeza que ele adoraria se você trouxesse comida para ele. — Eu arrisco um olhar na direção de Violet, esperando ter consertado meu erro com sucesso. Ela sorri e me dá um breve aceno de cabeça.
Ao lado dela, Calla murmura algo e coloca o âmbar na mesa ao lado do prato. — Tudo bem? — Pergunta Violet.
— Era uma mensagem de Perry. Ele diz que houve um ataque em um internato de faeries na noite passada, e outro na aldeia perto de Twiggled Horn. Esse é o segundo naquele vilarejo em particular esta semana. Algo ruim está acontecendo lá fora.
— Eu acho que ouvi sobre isso, — eu digo, o que faz Calla olhar para mim surpresa. — Bem, o primeiro, — acrescento. — Não esse que acabou de acontecer. Eu só lembro porque o nome do lugar é muito estranho.
— É o nome de uma montanha que tem uma forma estranha, — diz Ryn. — O que você ouviu sobre o primeiro ataque?
Eu tento lembrar os detalhes que Jewel passou para Dash quando ela recebeu a mensagem. — Eles disseram que cinco pessoas foram mortas, eu acho. Ah, e eles disseram que era um ataque Griffin. Eu me lembro agora. Essa foi a primeira vez que ouvi falar das Habilidades Griffin.
Calla fica boquiaberta. — O quê? Essa é uma das histórias que a Guilda está espalhando por aí? Mas não estávamos nem perto de Twiggled Horn. E nós não matamos pessoas. A Guilda me deixa com raiva às vezes. Eu não posso acreditar que eles nos colocaram nisso.
O âmbar dela vibra brevemente através da mesa novamente. Ela pega e lê. — Oh, brilhante. — Suas mãos caem para seu colo em exasperação. — A mensagem oficial da Guilda é que ninguém assumiu a responsabilidade por esses recentes ataques, mas eles têm razões para acreditar que eles foram executados por rebeldes Griffin.
Eu observo as mãos de Violet apertarem firmemente em torno de sua faca e garfo. A expressão de Ryn escurece. — Essas mentiras, — ele fala entre os dentes. — Eles sabem que não somos nós, então é melhor que façam a droga do que puderem nos bastidores para descobrir quem é o responsável.
— Parece tão confuso quanto o nosso sistema de aplicação da lei, — murmuro.
— Papai, — Jack diz incerto. — Eu pensei que não devíamos dizer 'droga'.
Um pequeno sorriso passa pelo rosto de Ryn. Ele estende a mão e bagunça o cabelo de Jack. — Você está certo. Obrigado por me lembrar.
— Sim, eu acho que não devemos deixar que isso nos abale, — diz Calla, empurrando o âmbar para longe e escolhendo outro muffin. — A Guilda está espalhando mentiras sobre nós há anos. Isso dificilmente é diferente.
— Verdade, — diz Violet. — Embora eles definitivamente precisem descobrir quem está por trás disso.
— Espero que eles possam resolver isso sem a nossa ajuda, — diz Ryn com um sorriso superior que me lembra, por apenas um momento, de Dash.
O âmbar de Calla vibra mais uma vez. Ela franze a testa para a última mensagem. — Perry diz que há algo muito estranho sobre o modo como esses fae foram mortos. Diz que eu deveria encontrá-lo para que ele possa explicar corretamente. Ela fica de pé. — Eu acho melhor eu ir. Ah, mas eu quero um pouco do chocolate com canela que Jack ama muito primeiro. — Ela corre em direção ao balcão.
— Bom dia a todos.
Nós todos olhamos para a porta. Ao ver Dash, eu suprimo um gemido.
— Dash? — Diz Violet. — Você pode usar os caminhos das fadas de novo?
— Não, mas eu tenho outros amigos aqui que estão felizes em me ajudar.
— Você não deveria estar em um trabalho agora? — Calla pergunta.
— Sim, eu estou indo para o trabalho em poucos minutos. Apenas parei para dizer oi.
Calla coloca a mão no quadril. Atrás dela, a jarra que estava se mexendo com uma colher mais cedo despeja um pouco de seu conteúdo em um copo. — Você parou para dizer 'oi'? Por que eu não acredito em você?
— Eu não sei. Eu sou um cara amigável. Não tenho certeza do porquê você duvidaria do meu desejo de desejar a todos um bom dia.
Ela balança a cabeça enquanto pega o copo e se move em direção a ele. — Bom dia, então. E adeus. Estou saindo agora.
— Fique viva, — Dash fala alegremente depois que ela sai.
— Fique viva? — Eu repito. — Isso é uma saudação comum por aqui?
Violet lança um rápido olhar para Jack antes de dizer baixinho, — É um sentimento comum, mesmo que nem sempre falemos em voz alta.
Dash entra na cozinha. — Que bom você dar as boas-vindas a Em ao oásis com assados. — Ele se inclina passando Violet e pega um muffin de mirtilo. — Eu aprovo.
— Dash, — eu digo, decidindo ser civilizada. — Você sabe o que aconteceu com Aurora depois que eu fugi da Guilda ontem?
Ele se inclina contra a mesa. — Aurora?
— A outra garota nova em Chevalier House. Aquela que apareceu na Guilda e me ajudou a escapar. Os guardiões a pegaram antes que ela pudesse entrar nos caminhos das fadas comigo.
— Oh, sim. — Dash mastiga e engole. — Eles a colocaram em uma cela na detenção por algumas horas. Então eles a mandaram de volta para Chevalier House depois de interrogá-la.
A culpa se contorce dentro do meu estomago. — Interrogaram ela?
— Eles queriam saber por que ela veio ajudá-la. Pelo que eles sabem, não havia conexão entre vocês duas.
— Não havia — não tem, — eu digo. — Eu não tenho ideia por que ela foi me ajudar.
— Quem é essa garota? — Pergunta Ryn.
— Ela chegou a Chevalier House anteontem. Ela parecia super suspeita com a coisa toda. Ela disse que ouviu que as pessoas desapareciam de lá às vezes — o que eu acho que faz sentido agora que eu sei que Azzy ajuda o pessoal dos Dotados Griffin.
— Você acha que essa garota também tem uma Habilidade Griffin? — Pergunta Violet.
Eu levanto meus ombros. — Não tenho ideia. Eu suponho que Azzy vai lhe avisar em breve se ela tiver. De qualquer forma, o que é estranho, é que ela era supostamente uma escrava de um bando de bruxas que nunca lhe ensinou como usar magia. Mas ela de alguma forma chegou a Guilda por conta própria, usou magia para cortar minhas cordas e abriu um portal para os caminhos das fadas.
Ryn considera minhas palavras. — Talvez ela tenha adquirido algumas habilidades mágicas básicas com as bruxas. Embora, — ele acrescenta com uma carranca, — as bruxas não viajem através dos caminhos das fadas.
— Então bruxas são reais? Essa parte não foi inventada?
Ryn troca um olhar com Violet. — Bruxas são muito reais. — Ele empurra a cadeira e levanta. — Vou entrar em contato com a Azzy agora. Ela pode me dizer se há algo de que precisamos suspeitar.
Nós começamos a limpar então, em parte com o uso de magia e em parte — e menos para Jack e eu — com a mão. Ele e eu estamos secando os pratos lavados por um dos feitiços de Violet quando percebo que Dash e Violet foram para a sala ao lado. Acho que ouço meu nome sendo mencionado e minha raiva se inflama imediatamente. Dash já não contou a essas pessoas o suficiente sobre mim e minha vida pessoal?
— ...pode ajudá-la, certo? — Dash está dizendo. — Vamos lá, você pode encontrar qualquer pessoa.
— Não, eu não posso, e eu não quero que você diga isso a ela. Você sabe como isso funciona. Eu preciso tocar em algo que pertence a —
— aos pais dela, certo. Eu pensei sobre isso. Ela pertence aos pais dela. Então, basta tocá-la e você poderá encontrá-los.
— Dash, ela não pertence aos pais biológicos há muito tempo, — diz Violet. — Isso não vai funcionar. Além disso, ela não está interessada em encontrá-los.
— Exatamente, — eu digo, alto o suficiente para assustar os dois. Eles olham ao redor com expressões de culpa. — Então, obrigada, Dash, por enfiar o nariz onde ele não pertence, mas como você pode ver, eu não quero sua ajuda.
Ele abre a boca como se quisesse argumentar, mas depois suspira e levanta as mãos em sinal de rendição. — Desculpa. Eu pensei que estava ajudando. Eu ficarei fora disso.
— É provavelmente o melhor, — Violet diz baixinho.
— Legal, bom, eu acho que vou para o trabalho então. — Ele levanta a mão e forma um punho, segurando-o no ar na frente de Violet enquanto ele sorri para ela. — Tenha um bom dia salvando vidas.
Ela revira os olhos e bate no punho dele com o dela. — Para você também. — Ela o observa sair, então se vira para mim. — Me desculpe por isso. Espero que você saiba que eu não faria nada sem a sua permissão.
Eu aceno com hesitação, querendo acreditar nela. — Do que vocês estavam falando? Ser capaz de encontrar alguém... Essa é a sua Habilidade Griffin?
Ela concorda. — Sim. Eu posso encontrar pessoas. Se eu conhecer a pessoa que estou procurando, é fácil. A conexão já está lá. Se eu não conhecer, então eu preciso estar segurando algo que pertence a essa pessoa.
— Isso é tão estranho, — murmuro. Não menos estranho do que ser capaz de falar as coisas e elas acontecerem, uma pequena voz me lembra. — Espere, — acrescento quando algo me ocorre. — Foi assim que Dash me encontrou ontem depois que eu escapei da Guilda? E na outra noite quando fugi da Chevalier House? Você disse a ele onde eu estava?
Ela balança a cabeça, parecendo culpada mais uma vez. — Azzy enviou uma mensagem para dizer que você fugiu. Procurei por você e contei a Dash onde encontrá-la.
— Isso é... — Eu balanço minha cabeça. — Eu... eu nem sei como me sentir sobre isso.
— Como se sua privacidade fosse violada?
— Mais ou menos, eu acho. Como se eu nunca pudesse realmente me esconder em qualquer lugar, mesmo que eu quisesse.
Ela acena com a cabeça. — Eu sei. Eu odeio fazer as pessoas se sentirem assim. Eu só faço quando é necessário. No seu caso, estávamos preocupados com a sua segurança.
— Espere, como funcionou se você não tem nada que me pertence?
Ela fecha os olhos por um momento e esfrega a parte de trás do pescoço. — Agora você realmente vai pensar que violamos sua privacidade. — Ela abre os olhos. — Eu tenho um pompom de cabelo que pertence a você. Dash tirou do seu pulso na noite em que ele te trouxe para casa depois que você desmaiou naquela festa. Ele achou que talvez precisássemos encontrá-la em algum momento.
Eu cruzo meus braços e olho para o chão. — Sim. Isso tudo é muito estranho.
— Eu provavelmente deveria falar sobre Ryn também. Tirar toda a estranheza do caminho de uma só vez.
— Oh, céus. Isso não parece bom.
— E só para você saber, nenhuma dessas habilidades é um segredo. Nós não queremos que as pessoas pensem que estamos escondendo coisas delas, então somos muito abertos com aqueles que vivem aqui.
— Tudo bem, então o que Ryn pode fazer?
— Ele pode sentir suas emoções.
Eu pisco. — Isso não é legal. Nem um pouco. E se eu não quiser que ele saiba o que estou sentindo?
Ela encolhe os ombros. — Tentar não sentir o que você está sentindo?
— É até mesmo possível?
— Na verdade não. Confie em mim, eu tenho anos de experiência nesta área. — Ela olha brevemente por cima do ombro enquanto Jack a chama. Algo sobre um livro que ele não consegue encontrar. — De qualquer forma, — diz ela, virando para mim. — Não é grande coisa. Na maioria das vezes, as emoções das pessoas são evidentes em suas expressões e ações. A habilidade de Ryn apenas faz dele um pouco mais intuitivo do que a maioria, isso é tudo.
Eu mordo meu lábio e franzo o cenho um pouco mais para o tapete no chão. Talvez ela esteja certa, mas isso não me deixa muito confortável em ficar perto dele.
— Eu sinto muito, Em. Eu sei que isso tudo é muito esmagador. Há muito mais que eu quero explicar, mas eu preciso ajudar Jack a se preparar para a escola, e então eu tenho algumas coisas do trabalho para resolver. Eu pensei que você poderia pegar leve hoje — olhar as coisas, ficar nas redes, praticar o que Azzy lhe ensinou antes de você sair da Chevalier — e hoje podemos falar sobre a melhor maneira de ensinar tudo o que você precisa saber, incluindo sua Habilidade Griffin.
Fabuloso. Parece que você tem tudo perfeitamente planejado. Eu empurro meus pensamentos sarcásticos e amargos de lado. — Tudo bem. Eu acho que é um plano. E... posso pedir mais uma coisa? — Agora é provavelmente o melhor momento, enquanto ela ainda se sente culpada por usar sua Habilidade Griffin em mim. Eu engulo e afasto meu olhar do chão. — Você pode me levar para visitar minha mãe?
Capítulo 17
— JÁ FAZ QUASE UM ANO DESDE QUE EU A VI, — EU ME APRESSO, SENTINDO SUBITAMENTE QUE precisava convencer Violet de que essa é uma boa ideia. — Eu economizei — eu ia pegar um ônibus — e então minha tia encontrou meu esconderijo e o pegou. E então tudo deu errado — quero dizer, hum, tudo ficou uma bagunça.
— Quase um ano? — Violet repete com as sobrancelhas levantadas. — Em, isso é horrível. Eu sinto muito. Não consigo imaginar como é difícil estar separada dela por tanto tempo.
— Mas agora eu não tenho que estar, certo? Viajar pelos caminhos das fadas é rápido e fácil. Mas eu sozinha não posso fazer isso, então preciso da ajuda de alguém.
Sua expressão fica em conflito, e eu posso sentir aquela pequena voz dentro de mim se preparando para gritar. Eu sabia! Eles não querem realmente ajudar você. — Eu entendo o quão desesperada você deve estar para vê-la, — diz Violet com cuidado, — mas você tem que entender que será arriscado. A Guilda sabe tudo sobre ela. Eles provavelmente colocaram alguém vigiando para ver se você vai lá.
— Espere, sério? — Eu não tinha pensado nisso. — Você realmente acha que alguém está esperando em Tranquil Hills apenas no caso de eu aparecer?
— Sim. Seu poder é valioso para a Guilda. Eles vão querer recuperá-lo se puderem.
— Mas eles acham que eu estou morta.
— Eles acham? Você pode não saber disso ainda, mas é difícil matar uma faerie, Em. Nossa magia pode nos ajudar a sobreviver a muitas coisas que matariam um humano. Se a Guilda não encontrar seu corpo, eles vão assumir que você sobreviveu de alguma forma.
— Mãe! Ainda não consigo encontrar o livro, — grita Jack de algum lugar da casa.
— Apenas continue procurando, — ela fala por cima do ombro.
— Tudo bem, isso é ruim. — Eu não consigo ficar parada, então eu começo a andar. — Então a Guilda provavelmente está vigiando a minha mãe. Você acha que eles a machucaram? Você sabe, tentar usá-la contra mim?
— Eu duvido muito. Eu sei que eles parecem, mas eles não são os vilões.
— Sério? — Minha voz está cheia de sarcasmo. — Eles certamente pareciam os vilões quando estavam tentando me matar ontem. E se minha magia é tão valiosa para eles, por que pensariam duas vezes em ameaçar uma mulher humana doente que não significa nada para eles?
— Em, um dos principais propósitos da Guilda é proteger os humanos. Eles não querem —
— E os Unseelies? Eles de alguma forma sabiam sobre mim e minha Habilidade Griffin, então eles provavelmente sabem sobre minha mãe também. Eles não vão tentar levá-la? Eles são os vilões número um, certo? Usam os entes queridos de uma pessoa contra eles. Eles provavelmente a levaram para —
— Em, acalme-se. — Violet agarra meus braços e dá um aperto reconfortante neles. — Estamos um passo à frente de você. Eu enviei alguém ontem à noite para verificar se sua mãe está bem. Por isso te perguntei o nome do hospital ontem. Ele relatou que ela está bem. Ele não podia entrar no quarto dela, caso alguém estivesse vigiando, mas ele a viu de longe.
— Oh. Tudo bem. — Minhas dúvidas crescentes diminuem. — Obrigada. — Eu enfio meu cabelo atrás de uma orelha quando ela me solta e dá um passo para trás. — Então, posso visitá-la? Quer dizer, eu sei que alguém da Guilda pode estar vigiando, mas eu posso me disfarçar. Eu terei muito cuidado.
Espero que ela discuta sobre isso não ser seguro — é isso que os adultos fazem, certo? — mas ao invés disso, ela concorda. — Sim, nós podemos ajudá-la, mas como eu disse, será perigoso. Se sua mãe não tem outra família ou amigos que a visitem regularmente, a Guilda espera que qualquer pessoa que a visite agora esteja associada a você. Mesmo que Calla crie uma ilusão que faça você parecer completamente diferente, a Guilda provavelmente achará isso suspeito. Essa é a Habilidade Griffin dela, a propósito. Criar ilusões.
— Uau. Ah, sim, ela nos fez ficar invisíveis ontem.
— Isso.
— Ela pode me fazer parecer invisível para todos, exceto minha mãe?
— Ela pode, embora isso a canse muito mais rápido, projetar uma ilusão em alguns enquanto a mantém dos outros. Assim, desde que você entenda que pode ter que sair dali rapidamente, podemos fazer isso funcionar.
Eu aceno fervorosamente. — Eu posso fazer isso. Uma visita rápida é melhor que nada.
— Tudo bem. Mais tarde, então? A agenda de Calla está cheia durante o dia, mas ela poderá te levar no final da tarde.
— Obrigada. — Uma antecipação excitante corre de repente através de mim. Eu vou vê-la. Eu realmente vou ver a mamãe.
Jack aparece na porta, levantando um livro pesado. — Olha, mãe, eu encontrei.
Violet bate as mãos. — Viu? Eu sabia que você conseguia. Vamos lá, vamos para a escola.
***
No final da tarde, quando estou cansada de praticar puxar minha magia de mim mesma, e meu cérebro está quase explodindo com todas as coisas que eu quero conversar com a mamãe, eu espero por Calla no pavilhão. Conforme as pessoas que eu não conheço passam, eu deslizo um pouco mais em um dos sofás e evito fazer contato visual. Eu observo Jack correndo na companhia de várias crianças. Eles diminuem a velocidade perto das redes e se empurram enquanto tentam decidir quem fica com qual delas. Jack tenta pular em uma, mas acaba passando dela e caindo de bruços no chão. Eu fico de pé rapidamente, sem saber se devo correr para verificar se ele está bem, mas ele se levanta um pouco depois, rindo junto com seus amigos.
— Ei, é a Emerson! — Ele grita de repente, sorrindo e apontando na minha direção. Todos começam a correr em minha direção, o que eu acho um pouco alarmante. — Emerson, — diz Jack quando ele chega ao pavilhão. — Lembra que você estava dizendo que sabe como cair do jeito certo?
Eu olho para baixo desajeitadamente para cinco rostos jovens. — Cair?
— Sim, quando você e sua amiga fazem aquela coisa do parque.
— Oh, parkour. Sim.
— Então você pode me ensinar como cair de uma rede do jeito certo? Para que eu pareça legal?
Eu não posso deixar de rir disso. — Eu sinto muito, Jack. Eu não sei se há alguma maneira de cair de uma rede que pareça legal.
— Viu? — Diz uma garota cujos olhos as pupilas são verticais como o cara que eu vi ontem quando cheguei aqui. — Uma ideia muito idiota.
— Ei, não seja uma bruxa, — diz outro menino.
Ela suspira. — Isso é muito mau.
— Você não pode falar sobre bruxas na frente de Jack, lembra? — Diz uma segunda garota.
— Tudo bem, — Jack diz a eles com um suspiro dramático. — É apenas minha mãe e meu pai e tia Calla que não gostam de falar sobre bruxas.
— Por que não? — Eu pergunto, imaginando que erro terrível eu cometi quando falei sobre Aurora e as bruxas hoje cedo.
— Elas mataram minha irmã, — diz Jack, com tanta naturalidade que a princípio eu me pergunto se ele está fazendo uma piada terrível. Mas as outras quatro crianças concordam, com expressões sérias.
— Isso é — oh meu Deus. Isso é horrível. Eu sinto muito, Jack.
— Sim. — Ele olha para baixo. — Eu não a conhecia. Aconteceu há muito tempo, muito antes de eu nascer.
— Oi, pessoal. — Calla sobe as escadas do pavilhão. — O que aconteceu antes de você nascer, Jack?
— Nada. — Ele lhe dá um enorme sorriso. — Nós vamos voltar para as redes. — Ele foge, seguido de perto por seus amigos.
— Tudo bem, então, — diz Calla, observando-os por um segundo. — Então. — Ela se vira para mim. — Pronta para ir?
Eu respiro fundo, tentando descobrir como respondê-la. Ela provavelmente não percebe que é uma pergunta carregada. — Sim, — eu digo eventualmente, apesar do fato de que duvido que eu me sinta pronta.
— Precisamos ir para fora do oásis, — diz ela. — E eu quero falar com Ryn rapidamente antes de irmos.
— Tudo bem. — Eu ando ao lado dela conforme deixamos o pavilhão para trás. — Há muitas pessoas morando aqui? — Eu pergunto, olhando para um casal de faeries andando de mãos dadas na outra direção.
— Sim, poucos. A maioria acaba indo embora se conseguimos ajudá-los a viver em segurança em outro lugar, mas há indivíduos e famílias que decidem ficar. Agora temos mais de cem fae que chamam esse lugar de lar.
— Todos Dotados Griffin?
— Nem todos, mas principalmente, sim.
— Tudo bem, aqui está uma coisa que eu não entendo: como há tantos fae que acabaram tendo Habilidades Griffin? Foi-me dito que começou com discos mágicos que alguém criou há muito tempo, mas não havia apenas seis deles? Eu sei que eles foram passados para várias pessoas, mas sério? Como esses discos ficaram nas mãos de tantas pessoas?
Calla puxa o cabelo dourado reluzente por cima do ombro. — Pode parecer muito, mas o número é pequeno em comparação com a população do nosso mundo.
— Tudo bem, claro, mas ainda assim. Todas essas pessoas a partir de seis discos de magia?
— Pense no fato de que esses discos estavam por aí há séculos. Eles concediam poder, o que significa que outros os cobiçavam, o que significa que eles foram frequentemente roubados. Acrescente isso ao fato de que dois Dotados Griffin podem passar magia Griffin para seus descendentes, e você acaba com ainda mais de nós.
— Eu suponho que quando você leva em conta o fato de que vocês vivem tanto tempo, faz mais sentido. Ainda estou com problemas para aceitar essa parte. Ou pelo menos, aplicar em mim mesma. Eu não posso imaginar ainda estar viva daqui a algumas centenas de anos. — E eu não posso imaginar como eu devo lidar com todos os meus amigos humanos e família envelhecendo e morrendo enquanto eu ainda pareço com vinte anos. — Jack é um Dotado Griffin? — Eu pergunto, forçando minha mente em uma direção menos deprimente.
— Não, graças a Deus. Se ele quiser sair daqui um dia e se juntar ao resto do mundo, ele poderá fazer isso sem ter que esconder uma habilidade secreta.
— Boa tarde, senhoritas.
Eu paro quando Dash acena e caminha na nossa direção. — Ugh, mesmo? — É tudo o que consigo dizer.
— Interessante ver você de volta aqui tão cedo, — comenta Calla. — A Guilda definitivamente não está trabalhando muito com você.
Ele encolhe os ombros. — Eles nos dizem para pegar leve no nosso primeiro ano.
— Eles não dizem isso. — Ela o olha com desconfiança. — O que você está realmente fazendo aqui?
— Eu estava atualizando Vi sobre algo mais cedo e ela mencionou que você está levando Em para ver sua mãe. Eu pensei —
— Você não vem, — digo a ele.
— Ei, eu pensei que vocês poderiam precisar de alguma proteção extra. Você se concentrará em sua mãe e Calla se concentrará em qualquer ilusão que esteja usando para esconder vocês. Você não acha que precisa de uma terceira pessoa para ficar de olho nas coisas? No caso de um médico ou outro guardião aparecer?
— Não.
— Na verdade, — diz Calla, — esse é um plano perfeitamente sensato. Mas eu ia pedir a Ryn para vir conosco.
— Ryn está com Vi no momento. Eu estava lá em cima, procurando por eles. — Ele acena para uma das árvores gigantes. — E todo mundo que é aprovado para missão está ocupado. — Ele sorri. — Parece que foi uma coisa boa eu ter aparecido.
Consigo evitar grunhir em voz alta. — Bem. Tanto faz. Apenas fique longe da minha mãe. Ela não precisa que você arruíne sua vida ainda mais.
Calla franze a testa, abre a boca, depois parece pensar melhor no que quer que ela vá dizer. — Está bem então. Vamos lá.
Uma vez que estamos no deserto, Calla abre um portal para os caminhos das fadas e me diz para focar com firmeza na imagem do lado de fora do hospital. Embora a escuridão completa me rodeie, eu fecho meus olhos de qualquer maneira, imaginando as altas paredes, o portão de segurança, a pequena placa discreta com o nome do hospital e os picos das montanhas ao longe.
— Muito bem, — diz Calla.
Abro os olhos e olho através de uma rua vazia exatamente igual a imagem que acabei de pensar. — Isso é incrível, — murmuro.
Dash levanta o capuz de sua jaqueta e a coloca sobre a cabeça. — O quê? — Ele pergunta quando eu dou a ele um olhar estranho. — Não quero que meu rosto apareça nas orbitas de vigilância da Guilda.
— Vigilância, o quê? E você vai ficar invisível, não vai?
— Invisível para as pessoas, sim. Não para grampos. Eu não sei se eles estão observando, mas é bom ter cuidado.
— Eu deveria saber o que você está falando? — Naquele momento, um tremor envia arrepios pelas minhas costas e pelo meu cabelo. — Oh — hum — você pode — Eu agarro o braço de Dash, no caso de minha habilidade ter alguma dúvida com quem eu estou falando. — Você pode abrir portais para os caminhos das fadas, — eu deixo escapar.
Dash olha para mim com os olhos arregalados. Calla parece igualmente assustada. — Bom, isso veio do nada, — diz ela.
Dash rapidamente pega uma stylus de dentro da jaqueta e se agacha. Ele escreve sobre o asfalto, murmurando aquelas palavras que eu ainda não consigo distinguir claramente. A escuridão aparece, espalhando-se rapidamente em um grande buraco que leva aos caminhos das fadas. — Sim! Finalmente! Obrigado, Em. — Ele se levanta e guarda sua stylus. — Agora vamos ter que arrumar um jeito de você consertar Jewel também.
— Isso foi muito legal, — diz Calla.
— Sim. Quando estou dizendo algo útil.
— Verdade. Tudo bem, vamos nos concentrar no hospital novamente. Você se lembra de alguma coisa sobre como é o interior?
— Sim, lembro da área de espera. Mas não me lembro onde é o quarto da mamãe. Já faz um tempo desde que eu estive aqui.
— Sem problema, — diz ela. — O cara que verificou as coisas para nós na noite passada disse que ela está no quarto vinte e seis. Tenho certeza de que podemos encontrá-la. Tudo o que você precisa fazer é imaginar a sala de espera para que possamos entrar com segurança. — Ela abre outro portal para os caminhos das fadas.
— Espere, — eu digo antes de entrarmos na escuridão. — Você tem certeza absoluta de que ficaremos invisíveis do outro lado?
— Sim. Estou me concentrando na invisibilidade. Você está se concentrando na sala de espera. Dash, você esvazie sua mente. — Ela dá a ele um meio sorriso. — Deve ser fácil.
— É por isso que estou aqui, certo? — Ele diz sem perder o ritmo. — Músculos e a mente vazia.
Eu balanço minha cabeça, prendo meus braços com os dois e ando para frente. Eu fecho meus olhos e vejo a sala de espera. As fileiras de cadeiras, o balcão de recepção, as pinturas abstratas confusas e os vasos altos de flores. Eu sinto o cheiro antes de ver: detergente e algo azedo. Como se alguém tivesse vomitado aqui recentemente.
Eu olho para baixo e, em vez de ver meu corpo, vejo o chão polido. Eu me agarro mais firmemente a Calla e Dash. — Tudo bem, — eu sussurro. Eu olho em volta, a lembrança da minha última visita voltando para mim. — Precisamos passar pela porta à direita. Aquela que parece requer um documento de identificação.
— Acho que precisaremos passar pelos caminhos novamente, — diz Calla.
Uma das mulheres atrás da mesa principal olha para cima, franzindo a testa em nossa direção. — Mova-se em silêncio, — Calla instrui, seu sussurro quase inaudível agora. Eu sinto um puxão me puxando para a esquerda. Calla nos leva ao redor de um canto para uma alcova com mais algumas cadeiras e uma janela para o jardim. Quando estamos fora de vista da mesa, de repente nos tornamos visíveis novamente. — Rapidamente, — diz ela, abrindo um portal. Nós nos apressamos para dentro. Momentos depois, estamos do outro lado da porta de segurança.
Nós seguimos pelo corredor, braços ainda presos, então não nos perdemos um do outro. A luz do sol brilha através das janelas, iluminando mais obras de arte coloridas. Os jardins em si, visíveis através das janelas, são bem cuidados. A partir daqui, posso ver um grupo de pacientes sentados no gramado em um círculo. Tranquil Hills é bonito e sereno, mas isso faz parte do que faz minha pele arrepiar sempre que estou aqui. É como uma cereja em cima de um bolo cheio de vermes rastejando por ele. Perfume pulverizado sobre o lixo apodrecendo. Nada pode esconder a verdadeira natureza deste lugar.
Passamos silenciosamente por uma área de estar aberta, onde as pessoas sentam-se em grupos de dois ou três em pequenas mesas jogando jogos de tabuleiro ou jogos de cartas. Eles são todos observados por enfermeiras ao redor da sala. É aqui que mamãe estava na primeira vez que fui visitá-la. Nós nos sentamos aqui juntas e jogamos Go Fish enquanto Chelsea esperava por mim na recepção, recusando-se a ver sua ‘irmã louca’. Um arrepio corre pela minha pele com a lembrança. — Tudo bem, Em? — Calla sussurra.
— Sim.
Entramos em outro corredor do outro lado da sala. Menos janelas e menos luz. Portas fechadas revestem o lado direito. — Tudo bem, aqui está o número vinte, — diz Calla. — Eu acho que devemos continuar e vamos encontrar o vinte e seis.
Meu coração acelera, batendo mais rápido a cada passo que damos. O nervosismo me deixa enjoada e tonta. Eu ainda não consigo acreditar que estou prestes a vê-la. — Lá está, — eu sussurro quando uma porta com um número vinte e seis aparece.
— Ainda não vi ninguém suspeito, — diz Dash. — Qualquer pessoa que eu reconheça da Guilda, quero dizer.
— Posso entrar? — Eu pergunto, parando do lado de fora da porta.
— Sim, — Calla diz me soltando. Do outro lado, Dash se afasta.
— Vamos ficar de olho aqui e nos certificar de que você pareça invisível para qualquer um que passar por aqui.
Eu engulo em seco. Se eu pudesse ver minha mão, provavelmente a encontraria tremendo. Eu me atrapalho por um momento com a maçaneta da porta — avaliando mal à distância e batendo na porta com meus dedos invisíveis — antes de encontrá-la e envolver minha mão em torno dela. Eu empurro para baixo, respiro fundo e, lentamente, abro a porta. Com muito medo de dar um passo à frente, eu olho para dentro.
O quarto está vazio.
Minha cabeça acelera quando a decepção e o alívio colidem. — Onde ela está?
Sinto um movimento ao meu lado e, em seguida, ouço a voz de Dash, — Talvez ela esteja comendo. Ou tendo algum tipo de hora do social. Ou uma pausa para o banheiro. Ela geralmente está restrita ao seu quarto, ou ela só volta aqui para dormir?
— Eu não sei. — Minhas palavras saem mais afiadas do que eu pretendia. — Eu não estive aqui há muito tempo.
— Temos que esperar, — diz Calla. — Está tudo bem. Eu estou projetando apenas uma ilusão agora, e é simples, então não é muito cansativo.
— Tudo bem. Obrigada. — Um deles bate em mim quando eu me movo para o lado, e depois de um momento de confusão, estamos todos encostados na parede ao lado da porta número vinte e seis. Não há nenhuma maneira que eu espere dentro daquele quarto sozinha. O corredor vai funcionar. Enquanto os segundos passam, minha ansiedade começa a aumentar novamente. Para cima e para cima, minhas entranhas se retorcendo mais e mais.
— Você não vai dizer nada a ela sobre a magia, não é? — Dash pergunta, eventualmente, quebrando o silêncio.
— Em primeiro lugar, — digo a ele, — você não pode me dizer o que devo falar com minha mãe. E em segundo lugar, não. Eu não sou tão idiota assim e dizer a ela que eu sou uma faerie com magia. Eu nem sei se vou dizer a ela que sei que ela não é minha verdadeira mãe. Há dezenas de coisas que eu quero dizer, e eu provavelmente não vou acabar dizendo nenhuma delas porque eu não quero assustá-la.
Como da última vez.
Ficamos quietos por um minuto ou dois enquanto alguém na companhia de uma enfermeira passa devagar por nós e entra em um dos outros quartos. A enfermeira sai logo depois.
— Vi me disse que faz muito tempo desde que você a viu, — diz Calla, uma vez que estamos sozinhos novamente. — Você provavelmente pode falar com ela sobre o que aconteceu em sua vida normal até alguns dias atrás. Coisas que você fez na escola. Atualizações sobre seus amigos.
— Todas as habilidades do parkour que você e Val aprenderam, — acrescenta Dash.
Val. Val, que provavelmente está confusa e irritada por eu ter fugido e a deixado para trás.
— Sim, talvez, — eu digo. — Mas também... bem, eu gostaria de conversar com ela sobre os bons velhos tempos. — Eu olho através da parede em branco à minha frente e imagino a mamãe como ela costumava ser, sorrindo e feliz. — Eu acho que ela gostaria de lembrar do nosso lindo jardim, da pequena casa em que morávamos e dos ornamentos que ela colecionava. Eu sempre imaginei levá-la de volta para lá um dia. Voltando à vida simples e feliz que costumávamos ter. Sempre parecia impossível, mas agora com magia... — Eu paro, voltando ao presente com um sobressalto e me lembrando de com quem eu estou: Dash, que não merece saber meus pensamentos particulares e desejos, e Calla, que provavelmente não aprovaria nenhuma das coisas que planejo fazer com minha magia quando souber como usá-la.
— Com a magia? — Ela incentiva.
— Nada. Espere, é... Oh, droga, eu acho que é ela. — Duas pessoas estão andando em nossa direção. Uma enfermeira e uma mulher com cabelo escuro e bagunçado, não tão alta quanto eu me lembro, e vestida com calças de moletom e uma camisa moletom. Meu ritmo cardíaco dispara e minhas emoções conflitantes aumentam. Eu acho que posso vomitar bem aqui. Mas eu consigo respirar enquanto mamãe se aproxima. É ela! Minha mente grita quando ela passa por mim e entra em seu quarto. É realmente, realmente ela! Ela está bem aqui, depois de tantos meses. Eu finalmente vou poder falar com ela, abraçá-la, deixá-la saber que eu penso nela todos os dias e que ela não terá que ficar aqui por muito mais tempo.
A enfermeira para na porta. — Apenas deite e tenho certeza que vai passar em breve, — diz ela para mamãe. Sua voz não tem sentimento, como se as palavras não significassem nada para ela. Ou, eu me pergunto brevemente, como se ela tivesse falado essas mesmas palavras centenas de vezes antes. — Você sabe que pode ligar para um de nós se começar a se sentir pior.
Mamãe lhe dá um sorriso distante e um aceno de cabeça.
A enfermeira fecha a porta e se afasta.
Eu dou outra respiração tremula antes de seguir em frente e segurar a maçaneta. Quando abro a porta, de repente fico visível novamente. Mamãe olha para cima. Ela pisca e franze a testa. Um sorriso se espalha rapidamente pelo meu rosto, transformando-se em uma risada. — Mãe. — Eu entro na sala —
— e um alarme começa a soar.
Capítulo 18
MAMÃE GRITA E ENGATINHA PARA TRÁS EM SUA CAMA. CALLA E DASH, visíveis agora, correm para dentro do quarto. Calla vai imediatamente em direção de uma parede e rabisca através dela. — Nós temos que ir, — ela me diz.
— O quê? Eu não estou —
— É um alarme da Guilda. Foi colocado para pegar você.
— Mas eu apenas... mamãe, tudo bem, sou eu. — Eu ignoro Calla e Dash e me aproximo da mamãe cautelosamente. — Tudo bem, mãe. Não se preocupe com o alarme. — Eu a alcanço, mas ela recua, batendo descontroladamente em minhas mãos. — Tudo bem, sou só eu, — eu digo desesperadamente. — É a Emmy. Sua filha. Eu vim para —
— Em, temos que ir. — Dash pega meu braço e me puxa para os caminhos das fadas.
— Não! — Eu solto meu braço. — Eu preciso pegá-la!
— O que? Não, não podemos levá-la conosco.
— Eu não vou embora sem ela!
— Você não pode levá-la através dos caminhos, Em! — Calla grita acima do alarme.
— Então saímos pela porta da frente com ela! — Eu grito de volta.
— E então o quê? Teríamos que encontrar um lugar seguro para ela neste mundo. Alguém que sabe como cuidar dela. E da medicação dela, o tratamento dela?
— A medicação faz com que ela fique pior! — Eu gesticulo para mamãe, agora se escondendo sob seus cobertores, enrolada e chorando, balançando-se para frente e para trás.
Movimento no corredor atrai meu olhar para longe. Dash estende a mão e a porta se fecha. Ele corre até ela e começa a desenhar grandes padrões brilhantes através dela. — Isso não vai segurá-los por muito tempo, — diz ele enquanto a porta estremece sob um ataque do outro lado.
— Em, nós vamos voltar por ela, — diz Calla com firmeza. — Eu prometo. Mas não vamos levá-la a lugar algum até que tenhamos um plano sólido. — Ela pega minha mão. — Dash, fique aqui e fique de olho. Certifique-se de que ninguém faça nada — na verdade, não. Você vai com a Em. Eu ficarei. Você não pode arriscar seu disfarce e eu posso me esconder mais facilmente.
— Entendi. — Dash pega meu braço enquanto Calla nos empurra para o buraco aberto que leva aos caminhos das fadas.
— Mãe. — A palavra é um meio sussurro, meio soluço quando eu dou uma última olhada por cima do meu ombro antes que a escuridão nos consuma. Eu tropeço através dela, Dash me puxando, até que uma luz laranja suave aparece à nossa frente. Eu inspiro o ar noturno do deserto que esfria rapidamente enquanto a areia se desloca sob meus pés. Eu me afasto de Dash.
— Em... — Ele estende a mão para mim, mas eu bato na mão dele.
— Não me toque. — Suas mãos caem para os lados enquanto eu envolvo a minha com força ao redor do meu corpo. Eu preciso me segurar.
Quietamente, Dash diz, — Ela não reconheceu você, ela não reconheceu.
Obrigada, Dash, quero gritar. OBRIGADA POR DIZER ISSO! Em vez disso, mordo meu lábio até as lágrimas recuarem. Não faz sentido gritar com ele. Ele não sabe sobre o nervo que ele atingiu. Ele não sabe que a última vez que visitei a mamãe, ela acabou se encolhendo no canto do quarto e gritando sobre a estranha — eu. Ele não sabe que várias enfermeiras tiveram que segurá-la enquanto eu saía do quarto em lágrimas, e ele não sabe o quão desesperadamente eu esperava que desta vez fosse diferente.
— Emerson —
— Não.
— Eu sinto muito por ter feito isso com você. — Seu tom é suplicante, e suas mãos estão apertadas juntas sob o queixo.
— O quê?
— Eu sinto muito! Ela está naquele hospital por minha causa. Eu sempre neguei, e alguma parte lógica e defensiva do meu cérebro ainda argumenta que ela teria sido internada em algum ponto de qualquer maneira, e que você não pode realmente me culpar, mas... você pode. Foi minha culpa. Naquele dia, naquele momento, ela ficou completamente no limite por minha causa. E... me desculpe.
Eu pisco, olho para a areia e de volta para ele. — O que você espera que eu diga sobre isso?
— Eu... eu não sei. Eu só precisava que você soubesse como eu sinto muito.
— Por quê? Não muda nada.
— Pode mudar o quanto você me odeia.
Eu sacudo minha cabeça. — Se liga, Dash. Isso não é sobre você. — Eu me viro, procurando o contorno fraco da cúpula. É quase invisível, mas consigo identificar. Eu começo a me arrastar pela areia, imaginando o mundo oculto dentro da cúpula. Vegetação exuberante, insetos cintilantes e o cheiro suave de flores. Uma cena pacífica contrastando fortemente com a memória sendo repetida de um quarto branco sem nada e mamãe gritando enquanto se afasta de mim.
De novo.
De novo.
De novo.
Eu franzo a testa e pisco e olho para longe, desesperada para afastar a imagem da minha mente. A tensão no meu peito diminui no momento em que passo através da camada mágica para dentro do oásis. Eu odeio estar feliz por estar de volta aqui. Parece uma traição com a mamãe. Eu não deveria aproveitar nenhum momento deste santuário enquanto ela está presa entre quatro paredes em branco. Presa dentro de sua própria mente.
— Em, espere, — Dash chama enquanto eu ando para longe dele. Eu viro, ainda caminhando para trás, querendo ficar sozinha agora.
— Nós vamos pegá-la, — diz ele. — Não pudemos fazer isso hoje, mas isso não significa que não vai acontecer. Nós vamos dar a ela uma vida melhor de alguma forma, eu prometo.
— Obrigada, — eu digo, — mas você não deve fazer promessas que não sabe como manter.
***
Eu não saio do meu quarto naquela noite para me juntar a ninguém no jantar, mas eu ouço Violet e Ryn do lado de fora da minha porta, falando baixinho um com o outro. Calla se junta a eles em algum momento. Eu pressiono meu ouvido contra a porta tempo suficiente para ouvi-la dizer que mamãe está bem e que os guardiões que estavam esperando por mim não fizeram nada com ela depois que eu saí. Então eu volto para a cama.
A Guilda sabe que eu estava lá. Eles provavelmente aumentarão o número de guardiões por perto, e se eu tentar visitar novamente, será ainda mais provável que eu seja pega. Não que eu tenha muita esperança de convencer Calla a me levar de volta. Ela e seus companheiros provavelmente estão se arrependendo de ter oferecido ajuda para mim. Eu poderia ter feito ela ser pega. Arruinado o disfarce do Dash. Talvez os três estejam lá fora tentando descobrir uma forma gentil de me dizer que não podem fazer mais nada pela minha mãe. E não é como se eu os culpasse. Eles não me devem nada. Eles provavelmente vão se esquecer de mim assim que a próxima pessoa desesperada chegar ao oásis.
O que é bom para mim, já que estou acostumada a cuidar das coisas sozinha.
Capítulo 19
A IMAGEM DA MÃE GRITANDO, COM UM TERROR SELVAGEM NOS OLHOS, É PRIMEIRA COISA QUE PASSA PELA MINHA MENTE na manhã seguinte. Eu faço um esforço consciente para me concentrar em outra coisa: Minha Habilidade Griffin. Eu preciso aprender como usá-la. A noite passada poderia ter sido tão diferente se eu tivesse conseguido acalmar minha mãe com apenas algumas palavras. Se eu tivesse sido capaz de dizer que o alarme mágico desligou. Eu preciso superar meu medo sobre coisas médicas e entregar uma amostra da minha magia. Eu preciso daquele elixir.
Mamãe. Acuada. Sua boca aberta em um grito silencioso.
Eu afasto a memória mais uma vez e me viro — e encontro Bandit aconchegado ao meu lado em forma de gatinho. Estou prestes a empurrá-lo para longe de mim, mas ele parece tão bonitinho enrolado com o nariz enfiado sob uma pata. E é estranhamente reconfortante perceber que não estive sozinha a noite toda. Eu estendo a mão e acaricio com dois dedos sua cabeça até as costas, esperando que ele não seja exatamente como o cachorrinho que fugiu.
Meu estômago ronca. Gostaria de saber se o convite para o café da manhã de Violet foi apenas para a manhã de ontem, ou se ele se estende por todas as manhãs enquanto eu estiver por aqui. Espero que o último, já que eu não tenho comida neste quarto. Eu me visto e verifico os números encantados na minha parede — eu estou mais atrasada do que ontem de manhã — antes de descer as escadas, arrasto uma mão contra o tronco da árvore para me firmar se eu tropeçar em um degrau irregular. Eu diminuo a velocidade antes de chegar à porta de Ryn e Violet. Está aberta, o que é um bom sinal, e os aromas celestiais flutuando pela porta fazem meu estômago roncar de novo, mas eu ainda não tenho certeza se sou bem-vinda aqui uma segunda vez. Especialmente depois de enlouquecer no hospital ontem e colocar Calla e Dash em risco.
Eu me aproximo um pouco e vejo Violet, Jack e Calla na mesa. Jack se endireita, pula da cadeira e corre em minha direção. — Eu sinto muito, Emerson! — Ele envolve seus braços em volta da minha cintura e aperta com força.
— Oh, hum, tudo bem. — Eu acaricio suas costas desajeitadamente. — Porque você está se desculpando?
— Eu não sei. Mamãe e papai estavam falando sobre você esta manhã e pareciam preocupados, e quando perguntei à mamãe qual era o problema, ela disse que você provavelmente só precisava de um grande abraço.
— Jack, — Violet repreende, levantando-se da cadeira e então ficando de pé, hesitante. Suas bochechas ficam vermelhas. — Você deveria perguntar antes de fazer coisas assim. Algumas pessoas não gostam de ser abraçadas por pessoas que não conhecem bem.
Confusão atravessa o rosto de Jack quando ele se afasta. — Mas Em me conhece. Nós andamos ao redor de todo o oásis juntos.
— Tudo bem, — eu digo apressadamente, me inclinando e o abraçando rapidamente, apesar da crescente estranheza. Eu prefiro manter meu espaço pessoal para mim mesma, mas eu não quero ferir os sentimentos de Jack.
— Você gostaria de se juntar a nós? — Pergunta Violet, apontando para a mesa e ainda parecendo um pouco envergonhada.
— Sim, obrigada. Eu não tinha certeza se, hum... — Eu coloco minhas mãos desajeitadamente nos bolsos de trás enquanto eu fico perto da mesa. — Bem, eu sei que você me convidou ontem, mas eu não tinha certeza se era apenas uma coisa no primeiro dia, como para todo mundo que é novo, ou —
— Oh, foi para todas as manhãs enquanto você estiver aqui, — diz ela com um sorriso, sentando-se novamente.
— Sim, nós não queremos que você passe fome lá em cima da árvore, —acrescenta Calla.
Eu puxo uma cadeira e me sento. — Você faz esse café da manhã maravilhoso todas as manhãs?
— Papai faz as panquecas na verdade, — Jack me diz antes de se servir de outra.
— E não, nós não fazemos esse tipo de café da manhã todas as manhãs, — diz Violet. — Apenas quando as coisas estão menos ocupadas e temos tempo, então nós fazemos.
Eu me sirvo de duas panquecas e alcanço uma pequena jarra do que parece ser mel, mas pode ser uma alternativa mágica exótica. Eu me preparo para a possibilidade de ter um gosto muito diferente. Ryn entra na casa quando eu termino de colocar sobre as minhas panquecas.
— Tudo bem, tudo está resolvido, — diz ele enquanto se junta a nós na mesa. — Em, vamos tirar sua mãe do hospital hoje, se estiver tudo bem para você.
— Eu — sim. Claro que está tudo por mim. — Faço uma pausa com um garfo e um pedaço de panqueca no ar na minha frente e balanço a cabeça, me dando um momento para receber as notícias. — Hoje? Já? Isso é incrível.
Ryn ri. — Sim, hoje.
— Quero dizer, eu sei que a Calla disse que voltaríamos para pegá-la, mas... eu imaginei que isso demoraria um pouco. Tenho certeza de que vocês têm muitas outras prioridades, e minha mãe é apenas... uma humana presa em um hospital.
Ryn abaixa a caneca que ele acabou de pegar e olha diretamente para mim. — Ela é sua mãe. Isso faz dela uma prioridade. E se ela está presa no hospital há anos, então claramente não estão fazendo nada para ajudá-la. Nós estávamos falando sobre tirá-la o mais rápido possível, e então Dash ligou ontem à noite para me dizer que tinha que ser hoje e que ele planeja ajudar. Então é hoje. Tudo foi planejado.
— Você sabe, eu estou seriamente começando a me perguntar se a Guilda em breve vai descobrir sobre Dash. Ele está passando mais tempo com casos para nós hoje em dia do que o trabalho que ele é pago para fazer.
— Não se preocupe com ele, — diz Violet, pegando um copo com algo verde. — Ele trabalha muito mais do que você pensa.
— Trabalha? — Calla bufa. — Você acha? Aquele garoto é muito relaxado. Ele provavelmente fica sentado e deixa sua equipe fazer todo o trabalho.
— Assim como ele faz com as mulheres, — diz Jack.
Violeta engasga com a bebida. — Como é? — Ela abaixa o copo. — Do que exatamente você está falando, rapaz?
— É o que ele disse para mim, — Jack diz a ela, seu tom defensivo. Então ele aprofunda sua voz, provavelmente em uma tentativa de se passar por Dash. — Eu apenas sento e as mulheres vêm correndo.
Violet pisca para Jack enquanto Calla começa a rir. Ryn tenta manter o sorriso longe de seu rosto enquanto ele limpa a garganta e diz, — Espero que você perceba, Jack, que esse não é o jeito de encontrar a garota certa.
Jack franze o rosto e pega outra panqueca. — Eu não estou procurando por nenhuma garota.
— Bom, — diz Violet enquanto eu mastigo e espero pacientemente por um momento para pedir mais detalhes sobre o plano de resgate da mamãe. — E quando você procurar, você vai descobrir que é preciso muito mais esforço do que apenas sentar e esperar. — Ela olha por cima da mesa para Ryn, sua carranca substituída por um pequeno sorriso.
Ryn pisca para ela. — Como as bundas brilhantes dos insetos no céu.
Violet estala os dedos e uma faísca bate no ombro de Ryn. — Não diga bunda, — ela sussurra.
— Mamãe e papai disseram bunda! — Jack grita alegremente.
Violet revira os olhos e Calla começa a rir de novo. Eu sorrio e espero o riso acabar antes de dizer, — Então, hum, qual é o plano para tirar minha mãe de Tranquil Hills?
— Certo, desculpe, — diz Ryn. Ele toma um gole da caneca e continua. — Calla e Dash vão para o hospital para pegá-la. Dash não tem uma Habilidade Griffin, então ele não vai disparar o alarme que a Guilda colocou em seu quarto. Ele precisará sedá-la para que ela não lute. Obviamente, não com magia, então ele vai usar algo à base de ervas que não contém elementos mágicos. Então eles usarão uma ilusão de invisibilidade e a levarão pelo prédio e pela porta principal.
— E a porta que requer um crachá de identificação? — Pergunto.
— Eles vão esperar que alguém passe por ela e seguir antes que a porta se feche. A mesma coisa com o portão principal. Vi e eu estaremos esperando por eles do lado de fora, principalmente como reforço caso algo dê errado. Então, como não podemos levar sua mãe pelos caminhos, precisamos ir até uma das aberturas naturais entre esse mundo e o outro mundo.
— Vocês sabem dirigir? — Eu pergunto, a duvida muito evidente em minha voz.
— Não, mas um dos nossos contatos na Guilda tem uma irmã - uma halfling sem mágica - que sempre viveu no outro mundo. Ela concordou em dirigir para nós. Então, vamos encontrá-la no hospital, e calculamos que levará cerca de cinco dias para chegar à abertura mais próxima.
— Cinco dias? Certamente você não pode mantê-la sedada o tempo todo?
— Não. Eu presumi que você gostaria de viajar no carro com ela. Quando ela acordar, você pode explicar tudo para ela, para que ela não entre em pânico.
Hesito, sem querer ter que explicar o que aconteceu na noite passada. O fato de que minha mãe não me reconheceu.
— Eu sei, — diz ele suavemente. — Calla me contou o que aconteceu. Você está preocupada dela ainda não te reconhecer. Mas esperávamos que fosse o estresse do alarme soando e duas outras pessoas desconhecidas em seu quarto. Esperamos que seja mais fácil quando ela estiver longe do hospital.
— Ela... — Eu engulo e passo minha mão pelo meu cabelo. — Ela não me reconheceu da última vez também. Quando eu fui lá há quase um ano. Eu esperava que a noite passada fosse diferente, mas foi muito ruim também.
— Talvez algo em seu remédio a confunda, — diz Calla. — Você mesma disse que a medicação a deixa pior.
— É só que depois que ela se mudou para lá, ela sempre parecia um pouco... aérea. Nós jogamos um jogo de cartas na primeira vez que eu visitei, e as respostas dela foram tão lentas.
— Bem, veremos o que fazer, — diz Ryn. — Dois de nós sempre estaremos com você no carro. Não necessariamente Vi ou Calla ou eu, mas duas pessoas da equipe. Possivelmente pessoas que você ainda não conhece, mas são todas cem por cento confiáveis. Trocaremos a cada poucas horas durante os cinco dias. Se sua mãe entrar em pânico, alguém estará lá para ajudá-la a acalmá-la.
— E quando chegarmos a este mundo? Então o quê?
— Há um instituto de cura para o qual planejamos levá-la para lá. White Cedars. É privado, não tem nada a ver com a Guilda. Já enviamos pessoas para lá antes, e a Guilda nunca soube nada sobre isso. Espero que alguém possa descobrir se é possível ajudar sua mãe.
Eu me inclino para frente. — Você acha que há uma chance? Dash disse que não podemos usar magia nela porque ela é humana. Ele estava errado?
— Ele não está, mas nossos curandeiros nem sempre trabalham com magia. Não conheço os métodos deles detalhadamente, mas podemos pedir que eles tentem. Nada no seu mundo funcionou até agora.
Eu aceno vigorosamente. — Sim. Concordo. Obrigada.
— Certo. Vamos aproveitar as panquecas agora antes que fiquem muito frias?
— Eu comi três, — anuncia Jack.
— Porquinho, — diz Calla.
Eu corto minha segunda panqueca - e do nada, aquele formigamento com o qual estou me familiarizando corre pela minha espinha, pelo meu cabelo e até as pontas dos meus dedos. Eu penso em algo inofensivo para dizer, para testar, e deixo escapar, — Passe o mel.
Há um segundo de silêncio e, em seguida, quatro mãos se estendem simultaneamente, batendo umas nas outras e derrubando o jarro de mel. Juntos, em uma bagunça pegajosa e desajeitada, os quatro deslizam o jarro caído sobre a mesa para ficar em frente ao meu prato.
Calla é a primeira a afastar a mão dela. — O que é que foi isso? Era sua Habilidade Griffin?
— Uau, isso foi estranho, — diz Violet, puxando a mão.
— Mãe, o que está acontecendo? O que acabou de acontecer? — Jack levanta a mão pegajosa na frente do rosto. Violet pega um pano e passa para ele.
— Eu sinto muito, — eu digo em voz baixa. — De repente senti que estava chegando e queria testar, e tentei pensar em algo bobo e seguro. Eu não achei que iria fazer uma bagunça.
— Tudo bem, — Violet diz. — Não é grande coisa.
Eu olho para Ryn, porque ele é o único que ainda não disse nada. — Você acha que é grande coisa, não é?
— Não é a bagunça, — diz ele. — É a Habilidade Griffin. O poder de fazer outras pessoas fazerem as coisas com um simples comando. Isso é muito importante.
— Sim. Eu sei. — Usando meu garfo, eu empurro um pedaço de panqueca em volta do meu prato, não mais interessada em comê-la. Eu meio que espero que Ryn me diga aquela frase clichê sobre grande poder e grande responsabilidade, mas ele não faz isso, o que me faz gostar dele um pouco mais. — Então, eu provavelmente deveria ir ao laboratório que você mencionou e entregar uma amostra da minha magia.
— Vou levar você depois do café da manhã, — diz Violet. Então ela explica brevemente minha Habilidade Griffin para Jack — Isso é tão legal! — É a resposta dele — e a atmosfera ao redor da mesa lentamente retorna ao normal depois disso.
— Eu preciso terminar algumas coisas antes de irmos, — diz Ryn, levantando. Ele limpa alguns itens da mesa e conjura um feitiço para limpar a pia. — Estarei na montanha se você precisar de mim. Caso contrário, nos encontraremos na base da árvore às onze horas. — Ele olha para Violet, Calla e depois para mim.
— Claro, — eu digo. Não é como se minha agenda estivesse cheia.
— Oh, oi. — Ryn pára para cumprimentar alguém na porta. — Eu não sabia que você estava de volta. Como foi?
— Tio Chase! — Grita Jack.
Calla empurra a cadeira para trás imediatamente e corre para a porta. O homem de pé a puxa para um abraço. — Oh, você sabe como é, — diz ele para Ryn por cima do ombro dela. — As coisas ficaram um pouco complicadas, mas tudo deu certo no final.
— Ótimo. Ansioso para ouvir mais sobre isso. Eu preciso ir para a montanha agora, mas Calla pode te contar o que está acontecendo hoje. — Quando ele sai, o homem na porta dá um beijo rápido em Calla e diz algo em uma voz muito baixa que o resto de nós não consegue escutar.
Ela balança a cabeça, então se vira e gesticula para mim. — Esta é Emerson. Em, este é o Chase. — Eu ando um pouco mais para perto quando ela me apresenta. — Lembra da garota que Dash estava de olho para a Guilda? Sua magia finalmente se libertou e ela acabou sendo uma Dotada Griffin.
— Bem vinda ao clube, — diz Chase, estendendo a mão com um braço tatuado para apertar minha mão. Ele faz uma pausa, apertando minha mão por um momento longo demais enquanto seus olhos passam rapidamente pela sala antes de voltar para mim.
— O quê? — Eu puxo minha mão rapidamente. — Por favor, não me diga que você pode ler mentes ou algo assim, porque eu não tenho certeza se posso lidar com isso. Ter alguém sentindo todas as minhas emoções já é bastante estranho.
Sua expressão relaxa em um sorriso. — Não. Nada a ver com mentes. Eu tenho um talento especial para controlar o clima.
— Mesmo? Isso é estranho.
— É útil às vezes. Qual é o seu?
— Eu digo as coisas e elas acontecem.
— Ela disse a terra para se abrir e abriu, — acrescenta Calla.
Chase arqueia a sobrancelha. — Impressionante. Você deve estar no topo da lista dos mais procurados da Guilda agora.
Eu concordo. — Sim.
— Tudo bem, precisamos ir ao laboratório, — diz Violet. Ela corre a mão pelo ar, passando pela mesa, depois abaixa enquanto os pratos restantes voam para a pia. — Jack, por favor, seque os pratos quando o feitiço terminar de lavá-los, e tenha certeza de que você estará pronto para a escola quando eu voltar.
— Aah, mamãe, mas eu queria apresentar Em ao Filigree. Ela ainda não o conheceu.
— Em precisa vir comigo, e Filigree está sendo um velho e mal-humorado preguiçoso agora. Não é a melhor hora.
Com uma expressão abatida, Jack caminha até a pia e pega um pano de prato. — Aqui, eu vou ajudá-lo, — diz Calla. — Não seja mal-humorado como Filigree.
Quando Violet e eu saímos e descemos as escadas, eu pergunto, — Existe uma montanha em algum lugar dentro dessa cúpula que eu ainda não vi?
— Uma montanha? Não. Por que — Oh. — Ela ri. — Por causa do que Ryn disse ao sair. Não, é como chamamos o prédio que tem as salas nas quais nos reunimos para planejar e discutir missões e visões dos Videntes e tudo mais. O laboratório também está lá. Chase costumava comandar as coisas de uma montanha, quando Ryn e eu ainda estávamos na Guilda. Então todos nós acabamos aqui, e algumas das pessoas com quem ele trabalhou anteriormente começaram a chamar esse prédio de montanha. É bobo, eu sei, mas o nome pegou.
Eu estendo minha mão e a corro ao longo da árvore enquanto descemos. — É bobo, mas é uma história interessante, pelo menos. — Passamos por uma pessoa com pele esverdeada com escamas subindo as escadas, e Violet me apresenta rapidamente antes de continuarmos. Na base da árvore, coloco minhas mãos nos bolsos de trás. — Posso perguntar algo sério?
— Sim, claro.
É um assunto estranho, mas menos estranho - esperançosamente - do que se eu tivesse perguntado na mesa do café da manhã. — Hum, como eu pago a minha estadia aqui?
Seu sorriso fica confuso. — Pagar a sua estadia? Você não precisa pagar sua estadia, Em.
— Mas, quero dizer, nada na vida é de graça, certo? Tudo custa alguma coisa. Então, se eu não estou contribuindo, então como isso funciona?
Ela sacode a cabeça. — Não se preocupe com isso. Nós temos clientes que pagam. Eles nos ajudam a manter as coisas funcionando.
— Mesmo? É isso? Eu não tenho que pagar nada?
— Não, nada, — diz ela com uma risada. — Se você decidir ficar aqui, podemos encontrar uma maneira de você contribuir. Se você acabar indo embora, então considere tudo isso um presente. De qualquer forma, você não precisa se preocupar com isso agora.
Ficar aqui... com a mamãe. Não desejei isso no momento em que entrei pela primeira vez no oásis? Eu afasto o pensamento rapidamente, não querendo de alguma forma azarar a possibilidade.
— Posso te perguntar uma coisa agora? — Ela diz.
— Sim, tudo bem.
— O que há entre você e Dash?
Minhas defesas internas sobem imediatamente. — O que você quer dizer?
— Bem, ele tem falado sobre você há anos — essa garota não tão humana que ele está vigiando para a Guilda - mas ele não mencionou que você... não gosta dele? Odeia ele? Guarda rancor contra ele?
— Posso assinalar todos os itens acima?
Ela ri. — Que interessante. A maioria das garotas parece cair sobre ele tentando chamar sua atenção.
— Já reparei. E eu nunca entendi o porquê.
— Então, que coisa imperdoável ele fez para você?
Eu olho para ela. — Você disse que ele falou de mim. Ele não contou o que aconteceu com a minha mãe?
Ela acena com a cabeça. — Ele salvou a vida dela, não é?
— Salvou? Mais como arruinou.
Surpresa aparece em sua expressão. — Oh. O que aconteceu?
— Bem, é por causa dele que minha mãe foi levada para um hospital psiquiátrico.
Ainda parecendo completamente perdida, ela diz, — Hum... como?
Eu levanto meus olhos para as copas das árvores e solto um som frustrado. — Tudo bem. Dash, obviamente, nunca lhe contou toda a história, então aqui está.
Capítulo 20
— EU TINHA DOZE, QUASE TREZE, — DIGO A ELA. — UM DOS MEUS AMIGOS TEVE UMA FESTA DE ANIVERSÁRIO no parque. Mamãe estava bem por um tempo. Ela tinha episódios às vezes, mas pelo menos todos eles aconteceram quando ela estava em casa. Ninguém sabia sobre eles. De qualquer forma, a festa estava indo bem. Eu estava feliz, mamãe estava interagindo com as pessoas.
— Então Dash apareceu do nada. Eu nunca o tinha visto antes. Não sabia quem ele era. E de repente ele começou a correr em nossa direção sem nenhum motivo, lançou-se sobre a mesa e caiu diretamente sobre a mamãe. Eu estava perto dela e ele conseguiu nos derrubar ao mesmo tempo. Eu levantei e comecei a gritar com ele. É quando a mamãe perdeu a cabeça. — Eu envolvo meus braços em volta de mim e me concentro no rio enquanto caminhamos ao lado dele. — Eu percebo agora que ela não podia vê-lo. Que ela pensou que eu estava gritando com o nada. Ou talvez ela tenha visto algo que eu não vi. Uma das pessoas imaginárias sempre queria pegá-la. Talvez seja com essas pessoas que ela pensou que eu estava gritando, eu não sei. De qualquer forma, ela acabou completamente em pânico. Ela estava encolhida no chão, soluçando e balançando-se, lamentando-se sobre alguém vindo pegar ela e sua filha. Todos no parque estavam observando ela e eu. Dash havia de alguma forma desaparecido até então.
— Alguns dos outros adultos do parque tentaram ajudá-la. Tentei descobrir o que estava acontecendo. Mas ela gritou para eles fugirem. Para parar de tentar machucá-la. E então ela começou a se coçar, tentando tirar algo invisível de sua pele. Alguém deve ter chamado uma ambulância, porque a próxima coisa que eu lembro, os paramédicos estavam a amarrando em uma maca — eu acho que para impedi-la de se machucar — e a levando embora. Eu fui autorizada a voltar na ambulância com ela, e essa foi a última vez que vi meus amigos. Ainda me lembro dos olhares em seus rostos pouco antes de as portas da ambulância se fecharem. O medo, a confusão. Os sussurros uns com os outros.
— Eu fui viver com a Chelsea depois disso, e ao contrário dos episódios anteriores, a minha mãe nunca melhorou. Era como se o incidente no parque fosse o gatilho que a deixou no limite completamente. Eu não sei. Talvez isso tivesse acontecido de qualquer maneira por causa de outra coisa, ou talvez ela teria permanecido a mesma se não houvesse o incidente naquele dia.
— Então vi Dash alguns meses depois em Stanmeade. Eu pensei que era uma coincidência cruel que acabamos vivendo na mesma parte ruim do mundo. Eu não tinha ideia, obviamente, que ele estava lá por causa de alguma missão mágica, ou que ele mais tarde ficou por lá porque estava de olho em mim. Tudo que eu sabia era que eu o odiava por arruinar a minha vida e a vida da minha mãe. Poderia ter sido tão diferente se não fosse pelo que aconteceu no parque.
Violet toca meu ombro e percebo que paramos ao lado do rio. — Eu sinto muito. Deve ter sido traumatizante ver sua mãe assim.
Eu aceno devagar, respirando profundamente e exalando todas as memórias. Pelo menos, é o que estou tentando fazer. Não parece estar funcionando.
— Mas Dash não lhe contou por que ele estava no parque naquele dia? — Ela pergunta. — Eu sei que ele não poderia dizer, contanto que você não soubesse nada sobre magia e nosso mundo, mas ele disse a você nos últimos dias?
— Algo sobre uma missão? Uma missão em grupo, eu acho. Ele não me deu detalhes.
— Ele e alguns de seus colegas aprendizes estavam lá porque um Vidente teve uma visão daquele parque. Uma visão de vários trolls correndo e ferindo as pessoas. Os humanos não teriam sido capazes de ver os trolls, é claro, então eu suponho que teria aparecido como um terremoto, com as pessoas caindo e se machucando. A missão foi dada a um grupo do primeiro ano e seu mentor, porque a Guilda não achava que isso fosse uma ameaça séria. Os aprendizes deveriam afastar os trolls. Eles quase conseguiram, mas um fugiu. Dash o viu indo em direção da sua mãe. Se você não se lembra de vê-lo, então talvez estivesse atrás de você. De qualquer forma, Dash derrubou você e sua mãe, e o mentor perseguiu o troll que fugiu. Então você se levantou e confrontou Dash, que estava tão chocado que você poderia realmente vê-lo que ele não conseguia pensar em uma explicação. — Ela ri. — Eu me lembro dele nos contando em detalhes. Ele disse que foi a missão mais emocionante que ele tinha tido até então.
Eu demoro alguns instantes para absorver essa informação antes de responder. — Então... você está dizendo... que ele na verdade salvou minha mãe? — Este é um conceito difícil para o meu cérebro entender, já que passei anos culpando Dash por colocar minha mãe em uma instituição para doentes mentais.
— Sim. Quero dizer, ela teria sido gravemente ferida de outra forma, ou pior. Humanos foram mortos por trolls antes. Então é bom que ele a tenha tirado do meio do caminho. O que aconteceu depois, porém, foi horrível. Eu não estou tentando diminuir isso de qualquer maneira.
Eu balanço minha cabeça lentamente. — Não. Eu sei. — Eu cruzo meus braços, em seguida, os coloco de lado e, em seguida, começo a andar ao longo da margem, enquanto confusão e frustração giram ao redor um do outro. — Por que ele não me contou isso?
— Não tenho certeza.
— Ugh, agora eu tenho que agradecer ele. Como eu devo fazer isso?
— Uh... eu não sei.
Eu paro, eu bufo e digo, — Desculpe, vamos continuar andando. Eu sei que deveríamos estar no laboratório agora.
— Sim, tudo bem. — Continuamos andando e, eventualmente, Violet diz, — Obrigada por me dizer o que aconteceu. Eu sei que não pode ter sido fácil.
Eu aceno. Então, como eu ainda não deixei minha frustração para trás, eu deixo escapar — O que tem nele que faz tantas mulheres bajulá-lo? Quero dizer com certeza, ele é bonito, mas isso não o impede de ser um grande idiota na maior parte do tempo. E sim, eu sei que ele é um idiota que salvou minha mãe, mas ele ainda é um idiota.
Uma gargalhada-bufo escapa dela. — Idiota?
— Sim.
Ela suspira. — Se você o odiava, você nunca teve a chance de ver o lado dele que todo mundo vê.
— Qual é?
— Ele é simpático e charmoso, e ele tem um jeito de prestar atenção às pessoas e demonstrar interesse em suas vidas que as faz se sentir... especial, suponho. É apenas parte de sua personalidade, mas algumas garotas leem muito sobre isso. Elas gostam quando um cara bonito presta atenção nelas — mesmo que ele seja alguns anos mais novo, o que, você logo descobrirá, não significa muito quando você vive por séculos — e elas acabam querendo mais do que Dash jamais pretendeu dar.
— Tudo bem, tudo o que eu ouço é que ele usa seu charme para manipular as pessoas, e então ele age como se não tivesse ideia do que está acontecendo quando querem mais dele.
Violet sorri e balança a cabeça. — Eu o conheço desde que ele nasceu, então provavelmente sou tendenciosa a seguir outra direção, mas tenho certeza que ele não é manipulador. Eu vejo que ele é respeitoso com seus pais, que ele é honesto, que trabalha duro quando acha que ninguém está observando. Ela revira os olhos. — Com certeza, ele pode se achar um pouco de mais, mas no geral, ele é um cara legal. Ele genuinamente se importa com as pessoas. Ele gosta de deixá-las à vontade, fazê-las rir. E é por isso que elas acabam gostando dele e aproveitando sua companhia.
— Bem, você está certa que eu não vi esse lado dele.
Violet me direciona para uma ponte. — Talvez você tenha a chance de ver esse lado dele agora.
Eu quase digo, eu certamente espero que não, mas percebo que isso soa um pouco negativo demais. Atravessamos o rio e seguimos para um grande edifício do outro lado. Parece o tipo de casa comum que se vê em um bairro legal no mundo humano. Subimos as escadas e entramos na varanda, e Violet abre a porta. O primeiro aposento por onde passamos é ocupado principalmente por uma mesa retangular e cadeiras, mas a larga janela panorâmica e as plantas espalhadas pelo peitoril da janela proporcionam uma sensação mais acolhedora do que uma sala de reunião deveria transmitir. As outras portas que passamos estão fechadas — lembro de Jack dizendo algo sobre áreas fora dos limites — até chegarmos ao fim da passagem, onde a última porta está entreaberta.
Violet a abre e gesticula para eu entrar. Meu primeiro pensamento é sobre os laboratórios da escola, mas esta é uma versão muito mais interessante. Os balcões em torno do limite da sala estão cobertos de frascos com líquidos coloridos e ingredientes de formas estranhas, equipamentos de laboratório como tubos de ensaio, béqueres e bicos de bunsen, todos intercalados com engrenagens, alavancas, tubos e aparelhos espalhados que não reconheço. As três bancadas paralelas no centro da sala estão ligeiramente mais limpas, com chamas, copos borbulhantes e béqueres fumegantes indicando experiências ao vivo em andamento. Exceto que provavelmente não são experimentos, agora que penso nisso. São provavelmente... poções?
— Oh, oi, — Uma mulher vem deslizando em nossa direção em uma cadeira de rodas. Exceto que não é uma cadeira de rodas, percebo quando ela para em nossa frente. A cadeira não tem pernas, e está flutuando no ar. A mulher, que tem orelhas pontudas e um interessante penteado de tranças finas enroladas em cima da cabeça, se levanta e coloca as mãos nos quadris. — Você é a Emerson, certo?
— Sim. Hum, eu devo te dar uma amostra da minha magia?
— Sim, para o elixir da Habilidade Griffin.
— Esta é Ana, a propósito, — acrescenta Violet.
— Certo, sim. Eu sou a Ana. — Ela caminha até uma das prateleiras e remove uma esfera de vidro vazia. — É bem simples, — ela diz, virando para mim. — Segure a orbita em suas mãos, eu vou recitar o encantamento, e no final dele, um pouco da sua magia terá sido tirada de você e para dentro da orbita.
— Dói? — Eu pergunto.
— Não, mas você vai sentir uma espécie de puxão. O importante é não resistir.
Eu concordo. — Tudo bem.
— Apenas relaxe. Sério, isso não é grande coisa. Feche os olhos e relaxe.
Eu faço o que ela sugeriu, bloqueando os béqueres e aparelhos e a bola de vidro em minhas mãos. As palavras que ela começa a cantarolar são estranhas, então não tenho ideia do que ela está dizendo. Enquanto ela lentamente as repete, começo a sentir o puxão de que ela falou. Um puxão estranho e lento na região do meu peito. Eu tento não resistir. Eu acho que posso estar me inclinando para frente um pouco.
— Tudo bem, acabou, — diz Ana.
Eu me endireito e abro meus olhos. A orbita está cheia da mesma massa cintilante e brilhante que apareceu em minhas mãos quando Azzy me ensinou como acessar minha magia. — Legal, — murmuro.
— Eu devo terminar de fazer o elixir amanhã, — diz Ana, pegando a orbita de mim. — Então, qual é a sua Habilidade Griffin?
Eu pego meu cabelo na parte de trás, torço e o coloco sobre meu ombro. — Às vezes, quando digo alguma coisa, acontece realmente. Se eu lhe dissesse para soltar a bola de vidro no chão, você não teria escolha a não ser fazer isso. E se eu dissesse ao rio para secar... bem, acho que secaria.
Os olhos de Ana se arregalam. Ela balança a cabeça lentamente. — Legal. Isso é demais.
— Sim. Eu descobri isso. Agora eu preciso saber como controlá-lo, então não vou ser um perigo para todos. Honestamente, eu ficaria feliz se vocês conseguissem se livrar disso. — Eu franzo a testa. — Isso não é uma opção, é?
O olhar de Ana dispara para Violet por um momento antes de voltar para mim. — Costumava ser, mas Gaius não está mais bem. A Habilidade Griffin dele é poder remover e transferir habilidades de outros. Ele fez isso muitas vezes, para aqueles que não queriam ser Dotados Griffin. E lentamente, ele começou a ficar doente. — Ela se move para o outro lado da sala e coloca a orbita de vidro em uma caixa. — Ele não conectava a sua Habilidade Griffin até alguns anos atrás, — ela continua, caminhando de volta para nós. — Ele começou a perceber que cada vez que ele removia outra, isso o deixava mais doente. Ele está muito fraco agora. Não sai frequentemente da casa dele. Este laboratório — todas as invenções e poções — costumava ser dele. — Os olhos dela deslizam pelos balcões e prateleiras. — Ele me ensinou tudo.
— E estamos muito gratos por você ter se esforçado, — diz Violet.
— Sim, Sim. Tudo bem, vão embora agora. Vocês continuam me dando muita coisa para fazer. — Ela volta para a cadeira e se afasta.
— Obrigada, Ana, — Violet fala atrás dela.
No caminho de volta para a árvore, falamos sobre que tipo de lições eu preciso ter para aprender toda a magia comum sobre a qual ainda não sei nada. Eu brinco que talvez eu não precise aprender nada, se eu puder usar minha Habilidade Griffin corretamente. E então eu me pergunto, enquanto Violet continua falando sobre um plano para minha educação mágica, se pode haver alguma verdade na minha piada. Se eu puder fazer as coisas acontecerem com um simples comando verbal, isso não seria o suficiente?
Quando voltamos para a base da árvore, Calla e Ryn já estão esperando por nós. — Pronta para a missão de resgate?
Capítulo 21
— TUDO BEM, ISSO É BASTANTE SIMPLES, — RYN DIZ PARA OS CINCO DE NÓS ESCONDIDOS entre as árvores a uma boa distância da entrada do Hospital Psiquiátrico Tranquil Hills. — Vamos esperar até que Perry e sua irmã cheguem aqui. Em, você vai ficar com eles. Calla e Dash vão para o hospital, e Vi e eu vamos esperar do lado de fora perto da entrada. Se algo der errado e vocês forem seguidos pelos guardiões, estaremos prontos para lutar. Isso não deve acontecer, já que vocês estarão invisíveis.
— Ela está no seu quarto agora? — Calla pergunta.
Ryn produz algo que parece um pequeno espelho redondo. — Sim. Ainda no quarto dela.
— O que é isso? — Eu pergunto, me inclinando para mais perto.
— Eu deixei uma aranha no quarto dela ontem, — diz Calla. — Não é uma aranha de verdade, — ela acrescenta rapidamente. — É um pequeno dispositivo encantado de vigilância. Não parecia que os guardiões fariam qualquer coisa com sua mãe quando eu parti ontem, mas achei que deveríamos ficar de olho nela de qualquer maneira.
— A Guilda provavelmente tem algumas deles lá, — diz Dash, — além do detector de Habilidade Griffin.
— De qualquer forma, a aranha está ligada ao espelho, — diz Calla, me entregando para que eu possa dar uma olhada mais de perto. — Então, quando o feitiço está ligado, podemos ver o quarto da sua mãe.
Um choque me percorre quando olho para mamãe sentada em sua cama, folheando uma revista. Ela parece tão normal. Tão completamente diferente de ontem. Sua cabeça vira de repente, seu olhar direcionado para o outro lado do quarto para a porta. Ela não abre, no entanto. Ela olha para ela por um tempo, abraçando a revista no peito. Então seus lábios se movem, dizendo algo que não podemos ouvir, antes dela voltar a ler a revista.
No silêncio constrangedor que se segue, entrego o espelho de volta a Ryn, depois me viro para Dash. — Por favor, não a assuste.
— Eu não vou, eu prometo. Ela não vai me ver.
— Como você vai sedá-la?
— Calla vai me fazer aparecer como uma das enfermeiras, e eu vou levar para ela uma bebida.
— E se isso não funcionar?
Ele coloca o capuz sobre a cabeça. — Então, vamos pensar em outra maneira. Não se preocupe, Em. Tudo vai ficar bem.
Ao som de um carro desacelerando na estrada, me viro e espio através das árvores. — São eles?
O carro para. Ryn levanta a mão para nós ficarmos quietos quando a porta do passageiro da frente se abre e um cara alto de cabelos verdes sai. — Sim, é o Perry. E deve ser a Hannah, — acrescenta ele quando uma mulher sai do outro lado do carro. Nós caminhamos em direção a eles, e Perry acena quando aparecemos. As apresentações são rápidas, então Calla diz, — Certo, vamos fazer isso.
— Tudo bem, Vi e eu estaremos esperando perto da entrada, — diz Ryn, levantando o âmbar e olhando para ele. Ele franze a testa.
— O que é? — Vi pergunta.
— Mensagem da Azzy. A garota que tentou ajudar Em, Aurora, desapareceu da Chevalier House está manhã. Azzy assumiu que ela fugiu.
— Não é nenhuma surpresa, — eu digo. — Aurora falou sobre fugir na noite em que ela chegou lá. Ela queria que eu fosse com ela.
— Interessante. — Ryn coloca o âmbar no bolso. — De qualquer forma, podemos nos perguntar sobre isso depois. Vamos agir.
Calla e Dash desaparecem por um portal, então Ryn e Vi atravessam outro para esperar perto da estrada do hospital. Perry lhes manda uma despedida alegre e depois se vira para mim com interesse. — Então. Você é a Em.
— Sim. Sou eu. Você pode ter me visto quando um monte de guardiões me perseguiu através do saguão da Guilda.
— Eu perdi isso, infelizmente, mas eu ouvi tudo sobre a sua magnífica Habilidade Griffin.
— Magnífica, hein? Bem, eu ofereceria fazer uma demonstração, mas eu não sei como. Essa coisa parece ligar e desligar sozinha.
— Provavelmente é melhor não tentar, — Hannah diz, colocando as mãos no teto do carro e descansando o queixo sobre elas. — As coisas podem ficar assustadoras.
Eu me inclino contra o carro e a encaro. — Então você cresceu sabendo sobre magia, mas você não tem magia?
— Sim. Meio o oposto da sua experiência.
— Eu costumava visitá-la e mostrar a ela todos os feitiços que aprendi, — diz Perry.
— E eu mostrava meu computador, a internet e os melhores programas da TV. Era divertido.
Conversamos um pouco sobre suas respectivas infâncias, mas nada pode me distrair do fato de que o tempo está passando e Calla e Dash ainda não retornaram. — Você acha que está tudo bem? — Eu deixo escapar, interrompendo Perry no meio de uma descrição de sua primeira vez usando um controle remoto de uma televisão. — Eles estão demorando um pouco. Eu pensei que eles já teriam saído agora.
— Tenho certeza de que tudo está bem, — diz ele. — E se não estivesse, Vi e Ryn teriam ido para ajudá-los.
Eu empurro meu cabelo para trás, então começo a enrolar um pouco ao redor do meu dedo. — Eu odeio isso. Apenas... esperar e sem saber.
— Você quer jogar um jogo? — Perry pergunta. — Eu tenho certeza que podemos chegar a —
— Espere. Eu ouço algo. — Algo como pés batendo no asfalto. Eu ando pela estrada e tento ver mais adiante a colina além da curva. Até agora, ninguém apareceu. Eu definitivamente posso ouvi-los, no entanto. Eu aperto minhas mãos e pressiono-as contra o meu queixo enquanto prendo a respiração, mal piscando.
Então eu os vejo. Todos os quatro correndo, Ryn e Dash facilmente carregando mamãe entre eles. Eu subo a colina para encontrá-los. — Sim, vidro, — Calla ofega quando eu chego a eles. — Ou cristal, eu não sei.
— Mas quem diabos era? — Pergunta Violet.
— Eu não sei!
— Mamãe está bem? — Eu pergunto, correndo mais rápido agora para acompanhá-los.
— Foi aquela pessoa encapuzada e disfarçada que apareceu com os Unseelies no penhasco, — diz Dash. — Estou certo disso.
— Ela está sangrando! — Eu suspiro, percebendo a trilha de sangue correndo pelo braço da mamãe. — Por que ela está sangrando?
— Ela está bem, — diz Dash.
— Ela se cortou!
— Ela está bem, Em. Por que você não está no carro? Perry, Hannah, — ele grita. — Entrem no carro.
— De quem vocês estão fugindo? — Perry grita de volta.
— Entrem no carro! — Quatro vozes gritam ao mesmo tempo.
Ele abre a porta do motorista, puxa Hannah para dentro e então corre para o outro lado.
— O que diabos aconteceu? — Eu pergunto quando chegamos ao carro.
— Alguém chegou lá antes de nós, — Calla ofega. Ela abre uma das portas da parte de trás. — Mas eu acho que nós —
— Todo mundo, pare.
Eu viro. Do outro lado da estrada, saindo das sombras, está uma figura com um manto com capuz prateado.
Capítulo 22
— VOCÊS TÊM ALGO QUE EU QUERO, — DIZ A FIGURA, E EMBORA SEU ROSTO ESTEJA OCULTO NA sombra, o tom de sua voz me diz que ela é uma mulher. Enquanto seu manto se espalha ao seu redor, uma lembrança retorna à minha mente: uma pessoa com um manto prateado exatamente igual a este, de pé em uma estrada em Stanmeade e transformando um homem em uma sólida estátua cristalina.
— Escudo, — sussurra Violet, e juntas, ela e Calla levantam as mãos. Algo quase invisível brilha no ar à nossa frente. No mesmo instante, a mulher levanta sua mão. Pedaços de vidro, irregulares e mortais, voam direto em nossa direção. Instintivamente, meu braço voa para proteger meu rosto. Mas o vidro para, preso na camada invisível que paira no ar à nossa frente.
Eu olho para trás, esperando que o pessoal tenha colocado mamãe no carro agora, mas suas mãos estão no ar também, e mamãe está sobre o ombro de Ryn. Perry corre em volta do carro para se juntar a eles, enquanto Ryn xinga sob sua respiração. — Por que não está funcionando?
Eu viro minha cabeça para ver que a mulher aumentou seu ataque sobre nós — e alguns dos fragmentos de vidro estão girando através do escudo. O primeiro pedaço desliza livremente para este lado e voa direto em direção ao rosto.
Perry estende a mão, desviando o vidro para o lado antes que ele nos alcance. No carro, Hannah está gritando.
— Esteja pronto quando o escudo desmoronar, — grita Violet. — Você sabe o que fazer.
O vidro passa por mim e afunda na parte de metal da porta do carro. Os gritos de Hannah se intensificam. Então o ar é preenchido com o guincho dos pneus quando o carro inverte rapidamente. A mulher encapuzada estende a mão em direção a ele, e uma nevasca de vidro quebrado voa de seus dedos.
— Não! — Perry grita, estendendo a mão. Não para a mulher, mas para o carro. Ele sai do caminho e o vidro se encaixa em várias árvores. Pneus acelerando freneticamente enchem o ar, e então o carro está acelerando para longe.
— Ataquem! — Violet grita.
A mulher, caminhando confiantemente em nossa direção com a mão erguida, é lançada no ar. Ela gira, voa para o lado e cai no chão do outro lado da estrada. Doente de horror, dou alguns passos apressados para trás, para onde mamãe está deitada no chão. Ryn deve tê-la abaixado para que ele pudesse lutar. Eu olho para cima e o vejo cruzando a estrada com Violet. Calla os segue.
A mulher rola para o lado e estende a mão. Pedaços de vidro deslizam pelo asfalto em nossa direção. Ryn os joga para o lado com um aceno de sua mão, mas eu caio de joelhos na frente de mamãe, protegendo-a apenas no caso. Dash paira hesitante ao meu lado, e Perry corre pela estrada para se juntar aos outros.
A mulher se levanta.
— Não deixe que ela toque em você, — diz Calla. — Não deixe que ela toque em você. — Um escudo cintilante aparece. Do outro lado, a mulher levanta as duas mãos acima da cabeça e, com um grito sobrenatural, lança um jato de vidro brilhante no ar que rasga através das copas das árvores e chove ao redor dela.
— Magia...
Meu coração quase pára ao som daquela palavra silenciosa. Eu olho para baixo. Os olhos da mamãe estão meio abertos. Ela está olhando para o outro lado da estrada, mas não para a mulher ou o vidro caindo ou as brilhantes armas dos guardiões agora visíveis. Ela está olhando para a própria mão estendida, onde faíscas brilhantes estão à deriva ao redor de seus dedos.
Eu recuo para trás, assustada. — O que diabos é isso? — Eu sussurro. Eu pisco várias vezes, mas a magia ainda está lá. Meu coração troveja e minha mente corre. — Você tem magia. Podemos usar os caminhos. — Pigarreio e grito, — Podemos usar os caminhos!
Dash olha para baixo. — Não, sua mãe não pode —
— Podemos. Ela pode. — Eu levanto, pegando o braço da mamãe e tentando levantá-la. — Abra um portal rapidamente.
— Mas ela —
— Abra! — Eu me esforço para colocar a mamãe em uma posição sentada, mas assim que eu a solto, ela cai de novo. Ela ainda deve estar parcialmente sedada. — Me ajude. — Eu chamo Dash enquanto ele escreve um feitiço de um portal na estrada. Um buraco escuro cresce ao lado dele quando ele alcança o outro braço da mamãe.
— Você tem certeza disso?
— Sim, eu a vi — eu grito quando uma dor aguda corta o lado do meu pescoço.
— Merda. — Dash lança um olhar por cima do ombro. — O vidro está passando novamente. Você está —
— Estou bem, — eu digo com uma mão pressionada contra o meu pescoço. — Coloque a mamãe nos caminhos.
Juntos a puxamos para a beira da abertura e, pouco antes de cairmos dentro, vejo Dash olhar para o outro lado da estrada uma última vez. Eu sei que ele está preocupado com os outros, mas por mais egoísta que seja, eu me importo apenas com a minha mãe agora. Eu me inclino na escuridão, puxando mamãe e Dash comigo.
— Eu não sei para onde estamos indo, — eu digo quando o silêncio pressiona meus ouvidos e minha mãe fica leve ao meu lado.
— Eu sei, — diz Dash, e segundos depois nós caímos na grama. Eu tropeço quando o peso repentino da mamãe me arrasta para baixo, e todos nós três acabamos no chão. Uma rápida olhada para o céu noturno acima de nós e o prédio desconhecido nas proximidades me diz que estou em um lugar novo. — Este é o instituto de cura, — diz Dash. — White Cedars. Você estará segura aqui. Eu preciso voltar. — Ele se levanta rapidamente. — Eles podem precisar de ajuda.
Eu aceno com a cabeça, apoiando mamãe contra o meu lado. — Sim. Seja cuidadoso.
Ele levanta sua stylus, mas o ar se agita por perto, e Violet, Ryn, Calla e Perry correm para a grama um momento depois. — Oh, vocês estão bem, — diz Dash, sua expressão se iluminando. — Ainda bem.
E então, de repente, estamos todos falando uns sobre os outros:
— Sua mãe está bem?
— Sim, ela —
— O que aconteceu com aquela mulher?
— Ela fugiu. Fugiu no momento em que ela viu que você tinha ido embora.
— Por que os caminhos das fadas? — Pergunta Violet, com os olhos arregalados de preocupação. — Como você sabia que ela sobreviveria?
— Ela tem magia, — eu digo, e finalmente todos param de falar. — Ela acordou e eu vi em sua mão, brilhando ao redor de seus dedos. — Meus lábios se esticam em um largo sorriso. — Ela é minha mãe afinal.
PARTE 3
Capítulo 23
TODA REVELAÇÃO SURPREENDENTE NOS ÚLTIMOS DIAS ME DEU UMA SOBRECARGA EMOCIONAL — e essa é a pior e a melhor. Eu tinha acabado de começar a aceitar o fato de que minha mãe não era minha mãe verdadeira, e de repente essa verdade foi invertida completamente. Isso fez meu cérebro girar mais uma vez. Isso me deixa querendo soluçar de alívio.
Mas eu não tenho nem um segundo para isso, porque logo depois que chegamos na grama do lado de fora do Instituto de Cura White Cedars, várias faeries vêm correndo para nos ajudar. Mamãe mal está consciente, então eles a carregam rapidamente para dentro. Alguém limpa o sangue no meu pescoço e diz que o corte ficará totalmente curado dentro de uma hora, e então eles desaparecem, junto com a mamãe, em um quarto no qual eu não posso entrar.
O resto de nós acaba em uma sala de espera que me lembra mais um spa do que um hospital, com sua iluminação suave, aromas de ervas e plantas que parecem fazer parte do próprio edifício. Não que eu já tenha ido a um spa, mas já vi filmes.
— Era a mesma mulher que apareceu pouco antes de vocês salvaram Em, — Dash diz, andando pelo chão de madeira. — No penhasco, quando os guardiões e os Unseelies estavam lutando. Quer dizer, eu não vi o rosto dela, mas aquele manto prateado parecia o mesmo, e havia cacos de vidro voando naquele dia. Eu assumi que eles fazem parte da magia ofensiva de alguém, mas deve ter sido dessa mulher.
— Você viu o que ela fez no hospital? — Diz Calla. — Antes de sairmos com a mãe da Em?
— Sim.
— Ela tocou em um dos enfermeiros e ele se transformou instantaneamente em uma escultura de vidro congelado. Um toque, e foi isso. Então ela o empurrou e ele se despedaçou em um milhão de pedaços.
Violet arqueja silenciosamente e cobre a boca com a mão.
Perry olha para cima. — Foi o que aconteceu naquele colégio interno e na aldeia de Twiggled Horn. Aqueles ataques que eu te falei.
— Eu sei, — diz Calla. — Foi isso que pensei no momento em que a vi.
— Mais vários incidentes dos últimos meses, — acrescenta Perry. — Casos de desaparecimentos fae onde a única coisa que sobrou foi vidro quebrado. Nós não conseguimos entender o que era tudo isso até que a testemunha ocular explicou o que aconteceu naquela aldeia há alguns dias.
— E então você percebeu que aquelas pessoas não estavam desaparecidas, afinal de contas, — diz Ryn, sua voz sombria. — Elas eram o vidro quebrado.
— Sim.
— Qual é a conexão entre todos os ataques? — Pergunta Violet.
— Pode ser uma coincidência, — diz Perry, — mas a única conexão até agora é que a maioria dos que foram mortos trabalhavam na Guilda no passado, ou estavam relacionados de alguma forma a funcionários da Guilda, seja no passado ou no presente. Mas, novamente, pode ser uma coincidência, já que algumas das mortes de alguma forma não estavam relacionadas à Guilda.
— Podem ter sido danos colaterais, — diz Violet.
Perry inclina a cabeça. — Possivelmente.
— Então, ou esta mulher com o manto prateado é a que realiza esses ataques, — diz Calla, — ou há um grupo de faeries que se veste da mesma maneira e ataca com a mesma magia.
— Não pode ser possível, — diz Violet com uma carranca. — Deve ser uma Habilidade Griffin, certo?
— Deve ser, — diz Ryn. — Qualquer faerie pode transformar coisas em vidro, e nossa própria magia pode ser moldada em vidro se quisermos, mas transformar seres vivos? Isso não deveria ser possível. Pelo menos não por nenhum feitiço que eu tenha ouvido falar. Deve ser uma Habilidade Griffin.
— Eu acho que já a vi antes, — eu digo, finalmente falando. — No mesmo dia que minha magia se revelou. O dia da festa, quando acidentalmente usei minha Habilidade Griffin. Eu estava indo para casa e vi uma pessoa encapuzada tocar um homem e ele se transformou em cristal ou vidro ou algo assim.
Dash faz com que sua caminhada interminável pare. — Você não mencionou isso antes.
— Bem, para ser sincera, não acreditei nos meus olhos. Eu não tinha ideia de que a magia existia ainda. Eu pensei que estava começando a ficar louca como a mamãe. Então eu simplesmente ignorei. Eu me abaixei atrás de um prédio e, quando olhei de novo, tudo desapareceu. E tanta coisa aconteceu desde então que eu não me lembrei até agora, quando ela apareceu do outro lado da estrada. Eu não a notei no dia em que a Guilda e os Unseelies estavam brigando por mim. — Eu dou a Dash um olhar aguçado. — Acho que eu estava preocupada com o medo de que eu estava prestes a ser morta.
Ele revira os olhos e desvia o olhar. Perry fica de pé. — Bem, hum, vou checar a Hannah.
— Ela fugiu em segurança? — Pergunto.
— Ela fugiu, — diz Perry, não encontrando meus olhos. — Eu fui encontrá-la enquanto os curandeiros estavam colocando sua mãe em um quarto. Eu sinto muito que ela tenha entrado em pânico e fugido. Ela nunca esteve em uma situação como essa antes.
— Tudo bem, — diz Ryn calmamente. — Nós não a culpamos.
Eu mordo meu lábio inferior, decidindo não comentar. Fiquei horrorizada quando vi o que eu achava ser a única rota de fuga segura da mamãe fugir. Mas entendo porque Hannah fez isso. Ela estava cuidando de si mesma — uma habilidade que venho aperfeiçoando há anos.
Depois que Perry sai, Violet se vira para Ryn. — Acho que precisamos ir para casa também. Verificar o Jack, se certificar de que as outras visões do Vidente foram resolvidas. — Ela olha para mim. — Nós voltaremos um pouco mais tarde e faremos companhia a você.
— Eu vou ficar aqui com a Em agora, — diz Calla.
— Oh, eu não me importo de esperar sozinha, — eu digo a eles. — Sério. Calla, seu marido acabou de voltar de... algum lugar. Você não preferiria estar com ele?
— Claro, mas eu posso vê-lo mais tarde.
— Não, tudo bem, realmente. Estou feliz sozinha e sei que vocês têm um monte de coisa para fazer. — Violet e Ryn trocam olhares. — Sério, — eu repito.
— Tudo bem, — diz Violet, — mas voltaremos um pouco mais tarde. — Ela vai embora pelos caminhos das fadas com Ryn e Calla. Eu olho para Dash, esperando que ele saia através de outro portal dos caminhos das fadas, mas ele caminha até uma cadeira a alguns lugares de distância de mim e senta. Ele move o corpo para me encarar.
— Sério, Dash. Eu não me importo de esperar sozinha.
— Como está o seu pescoço? — Ele pergunta. — Parece quase melhor daqui.
Eu esqueci o corte, na verdade. Eu pressiono meus dedos cautelosamente contra a área. Sem dor, e uma linha acentuada de pele me diz que uma cicatriz já se formou. — Puta merda. Curou tão rápido. Eu pensei que eles estavam exagerando quando disseram que estaria melhor dentro de uma hora.
Dash sorri. — E você sabe que a cicatriz vai curar também, certo? Isso também desaparecerá dentro de uma hora.
— Isso é incrível.
— Também... — Ele se inclina sobre os joelhos. — Sinto muito que o plano de resgate para sua mãe tenha se tornado uma bagunça. O resto de nós lida com esse tipo de confronto mágico o tempo todo, mas para você e Hannah, deve ter sido assustador. As coisas poderiam ter ido muito mal.
— Mas elas não deram. Tudo deu certo no final. — Eu sorrio, o que parece mais fácil agora do que há muito tempo. — Estou tão feliz que mamãe saiu daquele hospital. Eu estou feliz que estamos no mesmo mundo novamente, e que todas essas coisas sobre ela não ser minha mãe foi apenas um pesadelo.
Ele concorda. — Sim. Esperançosamente.
Meu sorriso escorrega um pouco. — O que você quer dizer com esperançosamente? Ela é minha mãe. Como ela poderia não ser?
— Bem, eu só quero dizer... você parece uma faerie e ela não, então como isso funciona?
— Mas eu não parecia uma faerie antes da minha magia aparecer, certo? Você disse que nem sempre podia ver meu cabelo azul. Então, obviamente, mamãe é a mesma coisa.
— Sim... — Ele sacode a cabeça. — Eu ainda não entendi porque aconteceu desse jeito para você. Faeries não crescem com a magia bloqueada ou inacessível. Halflings, às vezes, mas você não é halfling.
— Tudo bem, então talvez mamãe e eu somos um tipo estranho de faeries que você nunca encontrou antes. Isso pode ser possível, certo?
Ele levanta um ombro em um encolher de ombro lento e incerto. — Eu acho que sim.
— Que outra explicação existe? Na verdade, não importa. Neste mundo, há provavelmente toda uma série de explicações estranhas e complicadas envolvendo diferentes tipos de magia. E eu não me importo em conhecer nenhuma delas.
Dash olha para as mãos e diz baixinho, — Eu não estou tentando deixar você chateada de novo. E se ela está biologicamente relacionada a você ou não, não muda quem ela é para você. Eu só pensei que você gostaria de saber a verdade sobre a situação, seja lá qual for.
Eu me inclino para trás, puxo minhas pernas para cima e envolvo meus braços ao redor delas. — Você acha que eu poderia querer saber a verdade? Isso é interessante, considerando que você nunca me contou o que realmente aconteceu no parque naquele dia.
Uma carranca enruga seu rosto, mas ele não olha para mim. — O que você quer dizer?
— Você sabe do que estou falando. — Meus braços se apertam em volta das minhas pernas. — Você salvou a vida da minha mãe. Havia algo mais lá naquele dia. Algo que eu não vi porque você nos derrubou para fora do caminho. Algo que poderia tê-la... matado.
Dash lentamente se inclina para trás, esfregando uma das mãos ao longo do lado de seu pescoço. — Quem te contou?
— Violet.
Ele sacode a cabeça, mas não diz nada.
— Então? Por que você não me contou? Eu sei que você não conseguiu explicar antes, mas desde tudo o que aconteceu nos últimos dias, você ainda não me contou.
— Porque... quero dizer... como essa conversa teria acabado? Você teria dito: ‘Você arruinou a vida da minha mãe.’ Então eu teria dito: ‘Na verdade, eu salvei.’ E então você teria me dito: ‘Passar o resto de seus dias em um hospital psiquiátrico não é o mesmo que salvar a vida dela.’ Então nós provavelmente discutiríamos um pouco mais, e você ainda me odiaria.
Eu fico quieta por um momento, porque tenho que admitir que há uma grande probabilidade de que as coisas teriam corrido assim. — Talvez. Ou talvez eu te odiasse menos. Ou... eu não sei. Talvez eu ficasse grata por ela ainda estar viva. Eu estou grata que ela ainda esteja viva. Há uma chance, pelo menos, para ela melhorar. Mas você sabia o tempo todo que você realmente a ajudou naquele dia e, em vez de me deixar saber desse pequeno segredo, você me permitiu culpá-lo por levá-la ao hospital.
— Espere. — Ele se endireita um pouco. — Você está brava comigo?
— Sim!
— Mas eu pensei que acabamos de estabelecer que eu realmente salvei a vida da sua mãe.
— Sim, então agora eu tenho que ser grata a você. O que é uma droga porque eu não gosto de você. Então a coisa toda só... me irrita!
Ele me encara mais um momento e depois se dobra de rir.
— Oh, fantástico. Isso tudo é hilário, não é?
— Você tem que admitir, — diz ele entre respirações, — que é.
— Eu não tenho que admitir nada. — Eu cruzo meus braços, mas há um sorriso puxando meus lábios, e eu estou achando impossivelmente difícil lutar contra isso. Então eu desisto e deixo se esticar no meu rosto. Eu acho que uma pequena risada pode até mesmo me escapar.
Eventualmente, quando ficamos quietos novamente e eu estou olhando para as minhas mãos, eu enlaço meus dedos e lentamente deixo escapar um longo suspiro. É frustrante que eu tenha que ser grata a ele, mas isso não muda o fato de que sou grata a ele. — Obrigada por salvá-la, — eu digo, e embora minha voz seja baixa, eu sei que ele ouve.
— De nada, Em. — Ele olha para mim e sorri. — Viu? Nós podemos ser maduros. Não é legal?
Meu sorriso está de volta. — Eu acho que não é completamente superestimado.
Ele fica de pé e coloca as mãos nos bolsos. — Você quer encontrar algo para beber? Ou comer?
— Comida da cafeteria do hospital? Não, obrigada.
— Este não é o seu mundo, lembra? A vasta seleção de bebidas quentes disponíveis neste mundo é alucinante.
— Alucinante? Mesmo? — Eu coloco minhas mãos nos braços da cadeira e levanto. — Alguém poderia pensar que eu tive experiências alucinantes suficientes nos últimos dias, mas acho que não. Vamos encontrar uma bebida quente.
— Ótimo. É um encontro.
— Definitivamente não é um encontro.
— Você sabe o que quero dizer, — diz ele enquanto saímos da área de espera.
— Não, eu sei o que quero dizer, e estou me certificando de que você também saiba o que quero dizer.
— Senhorita Clarke? — Do lado de fora da sala de espera, uma curandeira para na frente de nós. — Posso falar com você?
Eu não posso evitar o medo que começa a se formar na boca do meu estômago. — Sim. Definitivamente. Minha mãe está bem?
— Vamos nos sentar? — Ela aponta para as cadeiras atrás de nós.
— Por quê? — O pânico sobe rapidamente para minha garganta. — Você tem algo ruim para me dizer?
Ela sorri. — De modo nenhum. É apenas mais confortável.
— Oh. Certo. Claro.
Voltamos para a sala de espera e, enquanto nós três nos sentamos, ela pergunta, — Você está feliz por conversarmos na frente do cavalheiro, ou prefere falar sozinha comigo?
Meu cérebro tropeça na palavra ‘cavalheiro’ — Dash? Um cavalheiro? Ha! — antes de chegar à questão verdadeira. — Hum...
— Tudo bem. Eu vou esperar do lado de fora enquanto vocês conversam, — diz Dash, me salvando de ter que responder.
— Ela está acordada? — Eu pergunto a curandeira quando Dash desaparece. — Posso falar com ela?
— Ela não está acordada, infelizmente. Ela ficou muito chateada e confusa depois que a trouxemos, e acabamos tendo que sedá-la novamente. Fizemos alguns testes, o que revelou que mesmo que não possamos sentir qualquer magia nela, ela é na verdade uma faerie. Ela também deu positivo para uma Habilidade Griffin.
Eu viro minha cabeça para trás em surpresa. Mas então digo a mim mesma que isso faz todo sentido. Se ela é realmente minha mãe, então obviamente ela tem uma Habilidade Griffin.
— Este é um caso um pouco desconcertante, — continua a curandeira. — Nós não encontramos nada parecido antes, então se você nos contar tudo o que sabe sobre ela, incluindo a doença mental que você mencionou quando a trouxemos mais cedo, faremos tudo o que pudermos para descobrir o que está acontecendo.
Capítulo 24
AS MUDANÇAS NAS ZONAS DO TEMPO TANTAS VEZES ESTÃO MEXENDO COM A MINHA MENTE. EU SINTO QUE DEVERIA ESTAR no meio da noite no momento em que deixo o instituto de cura com Dash — porque estava no meio da noite lá — mas está no início da noite quando chegamos ao oásis. Violet e Ryn estão preparando o jantar enquanto Jack se senta a mesa da cozinha fazendo lição de casa.
— Ela é uma faerie, — eu anuncio para eles enquanto eu entro. — Ela é uma faerie com uma Habilidade Griffin, mas eles não podem sentir sua magia, e ela não parece uma faerie, e ela está atualmente muito confusa e chateada para explicar qualquer coisa para alguém, então... sim. Essa é a situação.
— E a trama se complica, — diz Dash, esfregando as mãos.
— Dash! — Eu soco o braço dele. — Esta é a minha vida, não algum mistério.
— Eita, desculpe, eu sei. — Ele entra na cozinha e olha por cima do ombro de Jack para o que quer que ele esteja trabalhando. — É um mistério, no entanto. Você e sua mãe são.
— Eu definitivamente gostaria de resolver isso. Onde devemos começar?
— Com o que você pode lembrar antes dela acabar em Tranquil Hills, — diz Ryn.
Violet deixa uma colher de pau mexendo uma panela e se afasta do fogão. — O jantar ainda vai demorar um pouco, então por que não nos sentamos na sala de estar e começamos a resolver esse quebra-cabeça?
— Maravilha, — diz Dash. — Vocês se sentam. Eu vou pegar bebidas. Eu sei o meu caminho nessa cozinha.
Jack pega seus livros e segue Ryn, Vi e eu para a sala ao lado. Ele espalha seu trabalho no chão e continua. — Você percebeu que Dash está aqui mais do que o habitual? — Ryn diz para Violet.
— Eu percebi. — Ela olha para mim. — Eu posso pensar em apenas uma razão para isso.
Eu levanto uma sobrancelha. — Espero que você não esteja sugerindo que é por minha causa. Porque essa é a resposta mais absurda que você poderia ter inventado.
— De meu ponto de vista, parece a única resposta.
Eu puxo minhas pernas para cima e as cruzo abaixo de mim. — No caso improvável de você estar certa, eu tenho certeza que é só porque é um novo desafio para ele estar com uma garota que não tem nenhum interesse romântico nele.
Violet ri. — Você pode estar certa. Isso definitivamente seria uma nova experiência para ele.
— Na verdade, — Dash diz da porta, — eu estou ficando aqui mais do que o habitual porque eu tenho acompanhado o caso de Em por mais tempo do que qualquer outra pessoa, e estou extremamente curioso para chegar ao fundo de todo esse mistério.
— Ei! — Violet balança a mão. Uma almofada voa pela sala e bate em Dash contra o lado de sua cabeça. — Ouvir atrás da porta é rude. Eu sei que seus pais te ensinaram isso. — Com uma risada, ele desaparece de volta para a cozinha.
— Ei, olhem, — diz Jack. — Filigree e Bandit estão brincando. — Eu sigo a direção de sua stylus e vejo dois animais: um esquilo sentado debaixo de uma das mesas laterais, e um gatinho saltando para frente e para trás na frente dele, deslizando o ar com suas patas, então pulando para longe. O esquilo pisca e permanece imóvel. — Bem, Bandit está brincando, — Jack corrige. — Filigree é um esquilo rabugento.
— Fofo, — eu digo. — Embora eu espere que Bandit não irrite muito o Filigree.
— Não se preocupe com isso, — diz Violet. — Filigree precisa aprender a relaxar um pouco. Ele está ficando tenso com sua velhice.
— Tudo bem, vamos começar a resolver o mistério? — Dash pergunta, entrando na sala de estar com uma bebida em cada mão e outras duas flutuando ao lado dele. Elas são todas azuis, e tenho certeza de que nunca provei o que está dentro delas.
— Eu não sei como devemos resolver qualquer coisa, — digo a eles. — Acabei de ter uma conversa com a curandeira e nada de útil surgiu. Ela me perguntou sobre minha infância e meu pai, mas eu não sei nada sobre ele, exceto que ele supostamente está pagando pelas contas do hospital da mamãe. E eu não consigo lembrar de nada estranho na minha infância. A menos que você conte as alucinações da mamãe, mas elas não têm nada a ver — bem, agora que eu me pergunto. — Eu me inclino para trás e olho para a parede oposta com uma carranca. — Talvez elas não fossem alucinações afinal de contas. Talvez ela pudesse ver coisas que eu não pude ver porque minha magia estava bloqueada. Mas ela nunca pareceu diferente — o cabelo dela, quero dizer, então isso não significa que a magia dela sempre foi bloqueada também?
— Eu acho que sim, — diz Violet, distraidamente brincando com uma mecha do cabelo roxo.
— Quando ela teve essas alucinações, — pergunta Ryn, — ela parecia racional? Como se ela estivesse falando normalmente com alguém que por acaso era invisível?
Eu lentamente sacudo minha cabeça. — Não. Ela não parecia racional para mim. Ela geralmente acabava em um estado de grande pânico.
— Humm, tudo bem.
— Você se lembra de algum amigo dela que poderíamos tentar rastrear? — Dash pergunta. — Se algum deles se mostrarem mágicos, podemos interrogá-los. Quero dizer, caso sua mãe ainda esteja confusa por um tempo e não possa explicar as coisas sozinha.
Eu sacudo minha cabeça. — Na verdade não. Havia apenas... bem, eu não a classificaria como uma amiga porque ela e mamãe sempre brigavam quando ela aparecia, mas acho que elas devem ter sido amigas em algum momento.
— Qual era o nome dela?
— Hum... — eu só lembro... — Eu empurro minha mão pelo meu cabelo. — Linha.
— Linha? Isso não é um nome.
— Eu sei, mas é tudo que lembro. Foi há muito tempo atrás. Eu as ouvia gritando uma com a outra através da parede, e me lembro de mamãe dizendo ‘linha’ muitas vezes.
— Isso é estranho, — diz Dash.
— Como é essa amiga? — Pergunta Violet.
— Eu não sei. Eu nunca a vi. Mamãe sempre dizia: ‘Minha amiga está vindo agora. Você precisa ir para o seu quarto.’ E então ela me trancava no meu quarto, e logo depois eu as ouvia discutindo.
— Não parece muito uma amiga, — diz Dash.
— Sobre o que elas discutiam? —Pergunta Ryn.
Eu suspiro. — Eu não sei. Eu não consegui ouvir muito. Eu tentava apenas ignorá-las e brincar com minhas bonecas. — Eu giro meu cabelo em volta do meu dedo, me sentindo estranha com todas essas perguntas. — Viu? Eu lhes disse que não me lembro de nada útil.
— Quando sua mãe foi levada para o hospital e você foi enviada para morar com sua tia, — diz Ryn, — o que aconteceu com todas as coisas em sua casa?
— Hum... eu não sei, na verdade. Acho que meu pai deve ter limpado as coisas e, algumas semanas depois que cheguei na Chelsea, algumas caixas chegaram. Chelsea abriu uma ou duas, depois as fechou de volta e as colocou em algum lugar. Provavelmente no meu quarto, já que é onde ela gosta de guardar coisas.
— Então é aí que vamos começar a procurar, — diz Ryn. — Você quer dar uma olhada amanhã de manhã antes de voltar para White Cedars?
— Eu posso ir com você, — Dash se voluntaria imediatamente.
— É claro que você pode, — eu digo, — porque aparentemente você não precisa mais trabalhar para a Guilda.
Ele encolhe os ombros. — O trabalho é flexível. Muito tempo no campo. Eles vão pensar que estou trabalhando em um dos muitos outros casos em andamento que temos.
— Só não me culpe quando você for despedido, ok?
Ele coloca a mão sobre o coração. — Sua preocupação é tão tocante, Em.
Eu viro para Violet. — Você pode me ensinar aquela coisa de jogar a almofada?
— Ooh, eu faço! — Jack balança a mão descontroladamente pelo ar, e quatro almofadas diferentes saem de seus assentos e batem na cabeça de Dash.
— Ei, pare, eu me rendo!
— Mais almofadas! — Eu grito, pedindo a Jack. E logo Dash está enterrado sob quase todas as almofadas da sala de estar. Bandit pula no topo da pilha, e até Filigree vem para checar as coisas. No momento em que vamos para a cozinha para o jantar, meu estômago e minhas bochechas estão doendo, e eu percebo que eu ri mais nas últimas horas do que em anos.
Capítulo 25
— PARECE MAIS DO QUE CINCO OU SEIS DIAS DESDE QUE EU ESTIVE AQUI, — EU DIGO A DASH ENQUANTO ando pelo estacionamento da Escola Primária Stanmeade. — E eu não sei se estou fazendo essa coisa de disfarce corretamente. — Violet me deu uma lição ontem à noite, e outra esta manhã, mas eu ainda não tenho certeza do que estou fazendo.
— Infelizmente, só saberemos se não está funcionando se um ser humano olhar e ver você, — diz Dash, — e aí já será tarde demais.
— Teria ajudado se você nos trouxesse para fora dos caminhos das fadas um pouco mais perto da casa da Chelsea. Como em seu quintal, talvez.
— Tudo bem, então aqui está algo que você pode não saber ainda, Em, — diz ele, encostado em um carro e de frente para mim. — É preciso muito foco para pousar exatamente no ponto certo ao usar os caminhos das fadas, e quanto mais longe estiver do destino, mais foco será necessário, então —
— Então, faremos isso passo a passo. Entendi. Primeiro chegamos ao limite de Stanmeade, depois vamos para a casa da Chelsea.
— Certo.
— Oh, cuidado. Não deixe a Sra. Pringleton vê-lo. — Eu o puxo para baixo entre dois carros quando a Sra. Pringleton sai pela porta dos fundos. Ela leva um cigarro aos lábios e acende.
— Eu estou com um encanto que funciona, lembre-se, — diz Dash. — Você não precisa se preocupar com alguém me ver. — Ele olha ao redor da borda do carro. — Ah, a professora de rosto manchado. Eu sempre tive medo dela e nunca fui à escola aqui.
— Não seja rude. É uma marca de nascença ou algo assim.
— Certo, desculpe. Não posso ser rude com coisas assim.
— Exatamente. — Eu esfrego meu ombro esquerdo através da minha camiseta. Ao som de um leve chiado, Dash pega seu âmbar. — O que está acontecendo? — Eu pergunto enquanto seus olhos examinam a superfície.
— Apenas outro memorando de toda a Guilda nos atualizando sobre o feitiço que deve consertar o véu. Testes terminados... tudo parece bom... ainda marcando uma data e organizando uma cerimônia para o fechamento verdadeiro do buraco. — Ele suspira. — Eu não sei por que eles querem perder tempo com uma cerimônia. Eles devem apenas enviar algumas pessoas para lá e consertar a maldita coisa. Aquele buraco está no céu quase desde que eu estou vivo.
— Então suponho que outros dias ou semanas não farão muita diferença.
— Sim, mas é um desperdício de recursos. — Dash guarda seu âmbar. — Os guardiões precisam estar sempre presentes, garantindo que as pessoas do nosso lado não interfiram no monumento que impede que o buraco fique maior. E do outro lado, eles têm que garantir que esteja disfarçado e os humanos não entrem nele acidentalmente. Enfim, a professora assustadora já terminou seu cigarro?
Eu espio ao redor do carro. — Não. Eu não sei quantos cigarros ela está planejando fumar, e eu não confio no meu feitiço de disfarce, então podemos abrir um portal aqui no chão? — Eu aponto para o espaço entre os dois carros.
— Sim, tudo bem. — Dash pressiona sua stylus no chão.
— Espere, posso tentar de novo? — Eu pergunto antes que ele escreva alguma coisa.
— Oh. Sim claro. Só não fique frustrada se ainda não funcionar. — Ele me entrega sua stylus enquanto eu removo um papel dobrado do meu bolso de trás. — Essa coisa leva tempo para acertar.
— Sim, Sim. Todo mundo continua dizendo isso. — Eu seguro o papel em uma mão e copio as letras no chão, falando as outras poucas palavras que eu memorizei, e tentando imaginar magia saindo do meu núcleo, descendo pelo meu braço, e entrando na stylus. Um arrepio corre através de mim enquanto as palavras que eu escrevo começam a brilhar, mas quando elas desaparecem nada acontece. — Bem. Você faz. — Entrego a stylus de volta para Dash.
— Você quase conseguiu, — diz ele. — Talvez você não tenha liberado magia suficiente através da stylus. Essa parte se tornará automática em breve, e então esse feitiço será fácil.
— Sim, tanto faz. Apenas abra o portal.
Dash escreve as palavras e, desta vez, um buraco escuro abre nos caminhos das fadas e se espalha pelo chão. — Você vai nos levar para dentro da casa agora? — Dash pergunta antes de subir nos caminhos. — Lembre-se de focar exatamente na sala certa se você não quiser aparecer na frente da Chelsea.
— Quarto. Certo. Chelsea estará em seu salão durante todo o dia, então se ficarmos no meu quarto com a porta trancada, ficaremos bem. Ela sempre coloca música para tocar, então duvido que ela ouça qualquer coisa.
— Com a porta trancada, hein? — Ele abaixa as sobrancelhas. — Isso deve ser contra as regras.
— Idiota, — murmuro com um aceno de cabeça. — Chelsea nunca se incomodou com regras assim. Duvido que ela se importaria se eu estivesse com um cara no meu quarto.
— Oh, então você nunca —
— Apenas entre nos caminhos das fadas.
Com uma risadinha, ele desliza na escuridão, me puxando atrás dele. Eu dirijo todo o meu foco em imaginar o interior do meu quarto. A cama de solteiro, a mesa que costumava fazer parte do salão de Chelsea, as caixas empilhadas contra a parede. Quando a luz toca minhas pálpebras, eu as abro e vejo a cena que imaginei. A escuridão some enquanto eu dou um passo para frente no quarto. — Hmm, — diz Dash, olhando em volta. — É —
— Não.
— Eu ia dizer acolhedor.
— Não, você não ia. Tudo bem, estas são todas as caixas. — Gesticulo para o lado esquerdo do quarto. — São principalmente coisas da Chelsea, mas as caixas da mamãe devem estar aí embaixo em algum lugar. Eu não me lembro de Chelsea se livrar delas.
Dash caminha até a mesa e pega uma moldura com uma foto de Val e eu mostrando a língua para a câmera. A argola de metal de Val é visível, e eu tenho um doce em forma de coração na minha língua — porque o meu medo de agulhas significava que piercings eram uma coisa que nunca faríamos juntas.
— Eu realmente sinto falta dela, — eu digo baixinho. — E acho que ela está seriamente brava comigo por ter ido embora. Espero poder voltar em breve e explicar as coisas para ela. Não as coisas mágicas, obviamente, mas outra coisa. Algo que ainda preciso pensar.
— O que quer que você diga a ela, — Dash diz, retornando o quadro para a mesa, — eu tenho certeza que ela vai te perdoar. Ela é sua melhor amiga.
— Sim. Ela é muito legal. — Eu começo a levantar as caixas de Chelsea de cima das outras caixas. — Embora ela tenha me dito que acha você atraente, seu julgamento é questionável.
— Interessante. — Os lábios de Dash se espalham em um sorriso torto. — Sabe, ela é muito linda também.
Eu reviro meus olhos. — E a Jewel?
Ele está ao meu lado e começa a mover as caixas com magia de um lado do quarto para a minha cama. — O que tem ela?
— Vocês não têm... você sabe, uma coisa?
Uma caixa para no ar. — Que coisa?
— Tipo, vocês estão juntos ou algo assim. Ou vocês estarão em breve.
— O quê? Não, eu te disse antes. Somos apenas amigos. — As caixas continuam sua jornada pelo quarto. Olho para cada uma que passa, certificando-me de que ainda estamos movendo as coisas de Chelsea. — Ela gosta desse outro cara, — acrescenta Dash. — Hum, Sean algo assim. Ele se formou um ano à nossa frente. Tenho certeza de que ela costumava gostar dele.
— Ela provavelmente estava fazendo aquela coisa que as garotas fazem onde fingem gostar de outra pessoa para tentar fazer com que o cara que elas realmente estão interessadas fique com ciúme.
— Oh. Você tem certeza? Porque normalmente as garotas aparecem e dizem que gostam de mim.
— Claro. — Eu suspiro e cruzo os braços. — Eu esqueci com quem eu estava falando. Espere, pare. Acho que é uma das caixas da mamãe. — A caixa que estava prestes a se juntar à minha cama, a caixa com um adesivo laranja em forma de estrela na lateral, muda de direção e cai aos nossos pés. — Procure por outras caixas que tenham adesivos como esse, — digo a Dash enquanto me movo para a mesa e pego uma tesoura de uma gaveta. Eu me abaixo, corto a fita e dobro as abas de papelão. CDs e DVDs me encaram. Entretenimento inútil do passado. — Tudo bem, esta parece chata. Você pode começar com essa. — Eu me movo para a segunda caixa que acabou de chegar ao meu lado.
— A caixa chata. Obrigado.
Eu olho para cima. — Você me empurrou de um penhasco.
— Ah, voltamos a isso, não é?
— Nunca fica cansativo.
Duas caixas se chocam, caem do ar e pousam no pé de Dash. — Aaaaah, maaaaalditas bolas de hamster!
Uma gargalhada alta escapa de mim. Eu bato minha mão na minha boca antes de dizer, — Você está brincando? Você finalmente sente vontade de xingar e inventa malditas bolas de hamster?
— Cale a boca, — diz ele com os dentes cerrados.
— Shh. — Eu viro minha cabeça e olho em direção à porta do quarto. Em algum lugar além, alguém está falando. Eu pulo, me movo em silêncio até a porta e me inclino para mais perto.
— ...provavelmente apenas algo na cozinha, — Chelsea está dizendo. — Como a vassoura ali. Está sempre caindo.
Eu espero, e quando eu não ouço a voz dela novamente, eu suponho que ela voltou ao seu salão. — Tudo limpo, — eu digo para Dash. — Só não derrube mais nenhuma caixa.
— Acho que encontrei todas elas. — Ele aponta para a pequena coleção de caixas com adesivos coloridos.
— Ótimo. — Sento no chão ao lado da minha segunda caixa aberta, e Dash se senta à minha frente. — Sério, entretanto, — eu digo como se a interrupção nunca tivesse acontecido, — Jewel parecia realmente a fim de você. Talvez você deva pensar sobre isso.
— Hum... — Ele olha os CDs e DVDs antes de empurrar a caixa e puxar outra para perto. — Talvez. Talvez não. Nós crescemos juntos, então eu sei quase tudo sobre ela. Nós passamos por bons e maus momentos juntos. Na verdade, fomos ao nosso baile de formatura juntos, embora apenas como amigos. — Ele remove alguns livros, roupas e um velho recipiente de sorvete da segunda caixa. Eu olho para a coleção de joias da mamãe. — De muitas maneiras, ela provavelmente é perfeita para mim, — continua ele. — Se fôssemos outras pessoas, talvez estivéssemos juntos. Mas para mim... eu simplesmente não penso nela assim. Ela é mais como uma irmã. Ela está sempre lá, e é divertido sair com ela, e às vezes ela é super chata, mas eu ainda a amo. — Ele encolhe os ombros. — Mas como uma —
— irmã, — eu termino, fechando a caixa de joias, passando por algumas fotos antigas de mamãe e eu, e me movendo para uma pasta contendo um monte de panfletos. — Certo. Só não diga isso a Jewel, ok? Quero dizer, você definitivamente deve dizer a ela que você não se sente da mesma maneira sobre ela, mas você não deve usar as palavras ‘Eu penso em você como se fosse minha irmã’.
— Por quê?
— É um clichê. Ela vai odiar isso. Apenas... use outras palavras.
Ele cutuca meu joelho com o sapato enquanto um sorriso cresce em seus lábios. — Olhe para você sendo toda simpática com alguém que você não gosta. Alguns podem até pensar que você tem um coração.
— Claro que tenho um coração, idiota.
— Sim, eu sei, — ele diz baixinho, devolvendo os livros e roupas para a caixa. — Você não teria me odiado tanto todos esses anos se não tivesse um coração.
— Não tenho certeza se isso faz sentido, mas tudo bem.
— Sabe, por causa de sua mãe. Você me odiava porque se importava muito com ela.
Eu engulo e olho para todos os panfletos no meu colo. Eles são informações e mapas para uma série de destinos turísticos diferentes em todo o país, o que é inútil, então eu os empurro de volta para a pasta.
— Parece que ela queria viajar, — diz Dash, acenando para a pasta quando ele abre o recipiente de sorvete. — Oh, o que é tudo isso? — Ele segura um pequeno urso de pelúcia segurando um coração de vidro. Em seguida, uma boneca de porcelana em miniatura e um anjo feito de capim seco.
— Apenas ornamentos. Mamãe gostava de colecionar coisas bonitas.
— Eles são... meio feios.
— Bem, sim, para você e para mim, talvez. Mas ela obviamente achava que todas essas coisas eram bonitas.
— Para cada um deles, eu acho. Bem, para ela própria neste caso. — Ele guarda o recipiente de sorvete. — Ei, que horas são? Vi nos encontraria aqui, não é?
— Hum... — Eu olho para o despertador antiquado ao lado da cama. — É um pouco depois das nove.
— Tudo bem. É cerca de dez horas no oásis, eu acho. A reunião dela deve terminar em breve. — Ele puxa outra caixa para frente. — Eu já mencionei o quanto é bom falar com você sem o calor do seu ódio tentando queimar através de mim? Eu sempre me perguntei como seria. Sabe, apenas sermos amigos.
— É bom, eu acho. É meio que um alívio, na verdade. Era cansativo sempre ter que ficar com raiva de você. E é legal quando você está falando sério, em vez de sempre brincar.
— Mesmo? Você gosta quando estou falando sério? Isso não é... chato?
— Não, não, se é de verdade. — Eu olho para ele. — Às vezes, Dash, a situação exige seriedade. Nesse caso, não é muito útil quando você faz piadas.
Seu olhar se afasta do meu, estabelecendo-se em todas as caixas na cama. — Eu sei que eu brinco bastante. Mas isso é porque a vida é realmente uma droga, e brincar sobre isso é melhor do que sucumbir aos pensamentos sombrios e deprimentes. E brincar faz as pessoas — a maioria das pessoas — rir, então vale à pena.
— Espere. Você acabou de dizer que a vida é uma droga? Porque isso eu não acredito. Sua vida é um maldito passeio em um bolo comparado a minha.
Ele se inclina para trás sobre suas mãos. — Tudo bem, em primeiro lugar, eu nunca ouvi falar dessa comparação, mas andar em um bolo gigante parece incrível, então devemos tentar isso algum dia. E em segundo lugar... — Ele faz uma pausa. — Você sabe o que eu faço para viver, certo? Quer dizer, não é o trabalho mais seguro do mundo.
— Sim, tudo bem. Então?
— Então as pessoas morreram. Pessoas que eu me importo.
Eu pisco, incapaz de desviar o olhar daqueles olhos muito verdes — e de repente muito sérios. — Oh.
— Sim. — Ele estende a mão e a enfia na caixa na frente dele. — Todos sabemos que a vida de um guardião é de alto risco, mas isso não impede que seja horrendamente chocante e doloroso quando... — Ele puxa um arquivo e o coloca em seu colo. — Bem, quando um colega de classe ou alguém que te treinou por anos acaba morto.
Eu pressiono minhas mãos juntas no meu colo. — Eu realmente sinto muito.
— Acontece, — ele diz levemente. — Eu não sou o único. Vi perdeu a mãe quando ela era muito jovem. O tio de Jewel foi morto há alguns anos. — Ele abre o arquivo. — Oh, finalmente. Isso parece ser algo útil.
Eu rastejo entre as caixas e me sento ao lado de Dash, grata pela distração. Ele lê os certificados da antiga escola que eu fui antes de me mudar para cá, formulários de receita médica, informações de conta bancária e algo relacionado à compra de um carro. — Quem é Macy Clarke? — Pergunta ele. — Eu pensei que o nome da sua mãe fosse Daniela.
— Oh, ela era Macy quando jovem, mas ela não gostava desse nome. Ela mudou para Daniela quando eu era muito jovem. Legalmente mudou, quero dizer. Então todos esses documentos antigos, como contas bancárias, dizem Daniela não Macy.
— Isso é estranho.
— Eu suponho. Mas nenhuma dessas páginas é útil, — eu acrescento, meus ombros caindo em decepção. — O que estamos esperando encontrar de qualquer maneira?
— Eu não sei. Uma certidão de nascimento, ou algo relacionado a uma escola ou instituição do meu mundo, talvez.
Eu noto uma protuberância embaixo da próxima página. Eu me inclino sobre Dash e viro a página rapidamente, mas é apenas outro enfeite que caiu. Uma flor feita de vidro ou cristal rosa. — Essas coisas estão por toda parte, — eu resmungo, pegando-o e soltando-o em uma das caixas.
A próxima página é uma foto de duas meninas adolescentes que, percebo quando olho mais de perto, são a mamãe e Chelsea. — Oh, meu Deus, — eu sussurro. — E se Chelsea e Georgia são como mamãe e eu? Eu não pensei nisso até agora.
— Eu gostaria de dizer não porque eu nunca senti o menor indício de magia em nenhuma delas, mas eu não tenho mais certeza sobre nada. — Ele vira para a próxima página: um contrato de aluguel de quinze anos atrás. — E família? — Ele pergunta. — Avós? Tias, tios, primos?
— Sem avós. Eu acho que pode haver alguns outros primos. Primos da mamãe, quero dizer, não meus. Mas eu nunca encontrei — Minha cabeça se ergue quando noto um movimento perto da porta. Meu pensamento automático é que Chelsea está de alguma forma abrindo minha porta trancada, mas é a escuridão crescente de um portal dos caminhos das fadas que eu vejo. Uma figura com cabelo roxo vibrante salta dos caminhos e entra no meu quarto.
— Finalmente, — Aurora diz com um sorriso. — Já era hora de você aparecer aqui.
Capítulo 26
DASH LEVANTA UM SEGUNDO MAIS TARDE, MAGIA CREPITANDO AO REDOR DE SEUS DEDOS. — O QUE você está — Ele se inclina para a frente, fecha os olhos e cai no chão ao lado das caixas. Atrás dele está um jovem desconhecido.
Eu me arrasto até minhas costas baterem na borda da mesa antes de me levantar. — Aurora, o que diabos é isso?
— Devemos ir, — diz ela para a outra faerie. Ela se move em minha direção. Eu corro para frente e agarro Dash enquanto algo puxa minha camiseta e algo mais envolve meu braço.
Uma luz brilhante incendeia e me cega, apagando tudo de repente, um branco brilhante. Quando a brancura desaparece e eu posso ver de novo, me vejo em um lugar completamente diferente. Um jardim com flores e sebes, mas as cores são silenciadas e a luz é fraca. As bordas da cena parecem borradas e nebulosas, como um sonho onde apenas alguns detalhes são claros. Onde quer que eu olhe, vejo colunas de fumaça negra se destacando no ambiente e desaparecendo. — Onde estamos? Como chegamos aqui? E o que você fez com Dash?
Aurora olha para Dash com uma expressão de desaprovação. — Isso é irritante. Eu estava esperando deixá-lo para trás.
— O que você fez com ele? — Eu exijo.
— Feitiço de atordoamento, — o homem diz. Mechas cor de borgonha ondula em seu cabelo preto. — Não se preocupe, ele ficará bem depois. Por que não nos sentamos? — Ele gesticula para um banco atrás dele.
— Por que não nos sentamos? Não! Eu vou sentar.
— Tudo bem. Nós nos sentaremos. Você pode ficar de pé se preferir isso. — Como se estivéssemos presos em algum trabalho teatral ridículo, os dois sentam em uníssono. — Eu sei que foi uma primeira impressão desagradável, — diz ele, — então talvez possamos começar de novo. Eu sou Roarke. Príncipe herdeiro da Corte Unseelie. — Ele gesticula para Aurora. — Eu acredito que você conheceu minha irmã.
Príncipe herdeiro.
Corte Unseelie.
Irmã.
Eu ouço as palavras, mas meu cérebro leva um tempo para processá-las. — Corte U-Unseelie? — Repito, eventualmente.
— Sim.
— Então você... — Eu olho para Aurora. — Você é uma princesa. Da Corte Unseelie.
— Sim.
Eu estou aqui com um príncipe e uma princesa. Um príncipe e princesa mágicos. Em uma cena estranhamente acinzentada, onde fumaça parecida com sombra sobe continuamente de tudo. Se eu não tivesse encontrado tanta estranheza nos últimos dias, eu estaria convencida de que isso era um sonho.
— Um membro da nossa corte estava na festa quando você dividiu a terra, — diz Roarke. — Quem sabe como ele encontrou o caminho até lá, mas isso é irrelevante. Ele contou ao meu pai o que viu e sobre as palavras que você falou pouco antes de acontecer. Papai disse que devia ser uma Habilidade Griffin e que precisávamos trazê-la para a nossa corte antes que a Guilda descobrisse a respeito. Nós não percebemos que este — ele olha para Dash — era um guardião. Você acabou na Guilda muito mais rápido do que esperávamos. Pensamos que estávamos atrasados, mas depois eles mandaram você para Chevalier House.
— E foi aí que eu entrei, — diz Aurora. — Eu apareci na Guilda, contei a eles minha história inventada e fui para Chevalier House.
— Por que se incomodar com toda essa porcaria? — Eu pergunto, jogando minhas mãos para cima. — Seu pai é um rei. Por que ele não poderia simplesmente invadir Chevalier House e me levar ele mesmo?
Roarke suspira. — Emerson, você não sabe nada sobre magia protetora?
— Não, eu não sei. Eu não cresci aqui, lembra?
— Meu pai visitou a Chevalier House, mas não conseguiu entrar na propriedade. E ele não queria perturbar a Guilda, atacando os feitiços de proteção. Ele não queria que um grupo de guardiões descesse sobre nós, exigindo que voltássemos. As coisas teriam se tornado confusas. Então ele enviou Aurora em vez disso.
Eu viro meu olhar para ela. — Pobre pequena Aurora. Uma escrava de um bando de bruxas. Uma experiência tão traumatizante. — Soltei uma risada amarga. — E tudo isso foi uma mentira.
— Nem tudo, — diz ela timidamente. — Meu nome não era mentira. E eu realmente tenho uma história com bruxas. Eu vivi com uma quando era muito pequena — antes que ela se cansasse de mim e me jogasse na Corte Unseelie. Então papai decidiu me adotar, então é como eu acabei sendo um membro da família real Unseelie. — Ela sorri para Roarke antes de seu olhar voltar para mim. — Mas a história de ser uma escrava... bem, papai disse que era um caso que a Guilda lidou há alguns anos atrás. Bruxas com escravos faeries. Parecia uma boa história para mim.
— Bem, não funcionou. Então, qual foi o seu grande plano depois que me recusei a fugir com você?
Ela cruza uma perna cuidadosamente sobre a outra e se inclina contra o banco. — Eu pensei em tentar me aproximar de você. Eu pensei que talvez se você me conhecesse um pouco melhor, você confiaria em mim. Eu realmente não sou tão mal quanto você provavelmente está pensando agora. — Seus olhos violetas brilham com alegria. A cor das fadas parece ser a única cor verdadeira nesta cena estranhamente muda. — Eu sabia que só tinha alguns dias para convencê-la, no entanto. Uma vez que a Guilda testasse você para uma Habilidade Griffin, nós estaríamos sem tempo.
— Eu acho que você não contou comigo entregando a minha Habilidade Griffin por conta própria. Desculpe arruinar seu Plano B.
Aurora encolhe os ombros. — Eu improvisei. Voltei para a Guilda e tentei te tirar de lá. O que teria funcionado, a propósito — ela me dá um olhar aguçado — se você não tivesse deixado os guardiões colocarem as mãos em mim.
— Espero que você não esteja esperando que eu me desculpe.
— Não, embora você possa me agradecer por te ajudar a escapar.
Eu cruzo meus braços e olho para ela. Se gratidão é o que ela quer, ela vai ficar esperando por muito tempo.
— Infelizmente você desapareceu após o encontro na beira de Creepy Hollow, — Roarke diz, continuando a história, — então nós tivemos que fazer outro plano.
— Você não presumiu que eu estava morta?
— Não, claro que não. Nós sabemos sobre os rebeldes Griffin. Nós assumimos que eles resgataram você. Nós também assumimos que você voltaria para sua cidade natal em algum momento, então eu estive esperando por você lá.
— Bem, vocês certamente trabalharam duro para colocar suas mãos em mim. Eu acho que deveria estar lisonjeada.
— Você não está surpresa, não é? — Ele pergunta, um vinco enrugando sua testa. — Fazer as coisas acontecerem simplesmente falando é um poder extraordinário. Eu não acho que alguém já foi capaz de fazer isso. Obviamente nós faríamos qualquer coisa para você ficar do nosso lado.
— Formidável. Bem, aqui estou eu, então acho que isso faz de vocês os vencedores. Parabéns.
Aurora me dá um olhar perplexo. — Nós queremos você, Emerson. Não é bom ser desejada?
— Não! Eu não quero que ninguém mais me queira. — Fecho os olhos, cerro os punhos e alcanço a minha magia. — Você não me quer, você não me quer, — eu repito várias vezes, esperando desesperadamente que minha Habilidade Griffin apareça.
— Não está funcionando, — diz Aurora, levantando um pouco a voz para falar mais alto que eu. — Nós ainda queremos você.
Eu abro meus olhos, mas minhas mãos permanecem em punhos. — Você quer me aprisionar, me manipular, me forçar a falar coisas horríveis, coisas malvadas que irão acontecer. Isso soa certo?
— Na verdade, Emerson, — Roarke diz conforme ele levanta. — Eu gostaria de casar com você.
Uma quantidade indefinida de tempo passa em silêncio, com apenas o som do meu pulso latejando nos meus ouvidos. Então eu pisco. — Diga isso de novo.
— Eu gostaria de casar com você.
Eu recuo, levantando minhas mãos. Se minhas sobrancelhas pudessem subir mais alto, acho que elas estariam no meu cabelo. — Você sabe de uma coisa? Eu geralmente não uso palavras assim, mas eu sinto que elas são apropriados nesta situação: você é louco, Roarke. Doido. Lunático. Completamente louco e cem por cento desequilibrado. Eu não vou casar com você.
Ele inclina a cabeça um pouco para o lado. — Ninguém conseguiu ajudar sua mãe ainda, não é?
Um tremor que não tem nada a ver com a minha Habilidade Griffin arrepia os cabelos dos meus braços. — O que você sabe sobre minha mãe?
— Eu sei que a mente dela está doente. E sei que seus amigos não podem ajudá-la.
— Você não sabe disso. Talvez eles possam ajudá-la.
Ele sacode a cabeça. — Eles não sabem o que a deixou do jeito que ela está.
— E você sabe?
Seus lábios se esticam lentamente em um sorriso. — Eu sei. E conheço a magia necessária para curá-la.
— Eu suponho que você não vai me dizer.
— Não, a menos que você se case comigo, não.
— Casar com você! — Eu grito. — Eu não sei nem por onde começar com o quão insano isso é. Não vai acontecer.
— Não é insano. Faz muito sentido, na verdade. Na história do seu mundo — o mundo humano — os casamentos reais eram frequentemente usados para solidificar alianças entre países. Este é um conceito semelhante. Gostaríamos de nos aliar a uma fonte de grande poder, então —
— Então você quer se casar. Uau. Essa tem que ser a proposta menos romântica em qualquer um dos dois mundos que já foi apresentada.
Sua boca se contrai divertida. — Ninguém disse que isso era sobre romance, Emerson.
— Eu não vou casar com você! Você pode ter, tipo, quinhentos anos de idade.
— Eu tenho vinte e um anos.
— Ainda não vai acontecer.
— Então sua mãe nunca será curada.
Eu sacudo minha cabeça. — Eu não acredito em você. Eu acho que você não sabe o que há de errado com ela. Você diria qualquer coisa para eu fazer o que você quer. Para me fazer ficar aqui nesta esquisita Corte Unseelie.
Aurora fala. — Oh, esta não é a Corte Unseelie.
— Então onde estamos?
— Concorde em casar comigo, — diz Roarke, — e você vai descobrir.
— NÃO!
Um murmúrio silencioso me chama a atenção. Eu olho para Dash. Sua mão se contrai, sua perna se move um pouco e ele murmura novamente. — Esse feitiço de atordoamento pode não ter sido muito forte, Roarke, — diz Aurora. — Ela se levanta e se move para ficar ao lado dele. — Devemos levá-lo de volta. Eu não quero que ele acorde aqui.
— Nós podemos levar os dois de volta, — diz Roarke. — Eu acho que esta conversa acabou. Por enquanto, pelo menos.
Eu olho para trás e para frente entre os dois. — Espere. Estou esquecendo de algo? Você não está me forçando a ir com você para... eu não sei, seu palácio ou qualquer outro lugar?
— Não.
— Mas... eu não entendo. Você disse que seu pai quer minha Habilidade Griffin.
— Ele quer, — Roarke diz. — E eu também. Mas ele e eu temos visões ligeiramente diferentes sobre como, exatamente, possuir esse poder. Ele está feliz em forçá-la a fazer a vontade dele. Para mantê-la como prisioneira. Eu, por outro lado, preferiria se você voluntariamente se tornasse membro de nossa corte. Nossa família.
Eu me pergunto novamente se esse cara é genuinamente insano. — Por que eu iria de bom grado?
Como se fosse a resposta mais simples do mundo, ele diz, — Para salvar sua mãe.
— Vamos lá, Roarke, — diz Aurora. — Vamos lá.
— Eu gostaria que você guardasse isso, Emerson, — diz Roarke, segurando o menor espelho que eu já vi. É redondo e caberia facilmente na palma da minha mão. — Um simples toque de magia e ele entrará em contato comigo. Se você mudar de ideia, você pode me avisar.
Eu olho para o espelho sem pegá-lo. — Eu não vou mudar de ideia.
— Bem, se você não aceitar... — Ele se aproxima, agarra meu ombro para que eu não possa me afastar, e desliza o espelho no bolso esquerdo da minha calça jeans. Ele está tão perto agora. Tão perto e tão seguro de si. Ele não fará ideia do que o atingiu quando eu levantar meu joelho em direção a ele —
— O que está acontecendo? — Dash pergunta. Ele se senta, pisca e levanta rapidamente.
— Tudo bem. — Eu corro para o lado dele antes que ele possa atacar alguém. Eu não me importaria de ver Roarke no chão, mas agora é provavelmente mais importante sair daqui. — Essas pessoas amigáveis estavam prestes a nos deixar ir, — eu digo para Dash. — Explico tudo quando voltarmos.
— Roarke? Aurora? — Uma voz profunda chama de além da sebe à nossa direita.
— Droga, — murmura Roarke. — Vá por esse caminho, — diz ele para nós, apontando na outra direção. — Escondam-se.
Eu não preciso ser informada duas vezes. Eu agarro o braço de Dash e corremos juntos. Passamos por sebes e arbustos de rosas e através das nuvens de fumaça que se erguem. O jardim é infinito, com as mesmas características repetidas vezes e as bordas da minha visão permanecem turvas. Eventualmente, Dash me para. A fumaça negra de sombra dança e se enrola ao nosso redor. Ele bate nela. — Você tem muita coisa para explicar, Em, — ele diz. — Mas vamos dar o fora daqui primeiro. — Ele dá um tapinha em sua jaqueta, encontra sua stylus e se inclina para escrever no chão.
Nada acontece.
— Que maldito-pixie? Por que não está funcionando?
— O que o quê? Tudo bem, quando o pânico passar, vamos ter uma conversa séria sobre seus palavrões extremamente estranhos.
— Em! Por que não posso abrir os caminhos das fadas?
— Eu não sei. Nós não chegamos aqui através dos caminhos das fadas. Houve um clarão brilhante e depois chegamos.
— Isso é muito estranho. — Dash se vira lentamente, olhando em volta. — Eu nem sei se estamos no nosso mundo.
Algo se move contra uma das sebes. Uma forma não natural, girando e se esticando e afastando-se das folhas. — Dash. — Um terror doente cresce no meu estômago. Eu pego sua mão e a aperto com força. — O que é isso?
Eu ouço sua respiração no momento em que ele vê. — O que... — Sua mão aperta ao redor da minha. Ele me puxa para mais perto do seu lado. A forma fantasmagórica — um ser tão negro que poderia ser feito da escuridão dos caminhos das fadas — ondula, desloca-se e mergulha em nossa direção.
A mão de Dash voa para cima. Faíscas brilhantes se projetam para longe dele, indo direto para a criatura sombria. Infelizmente, a magia passa através da escuridão inconstante e sai do outro lado, como se este ser fosse feito de nada.
— Corra! — Nós corremos novamente, mais rápido do que antes, tecendo e esquivando-se através deste jardim interminável de névoa-fumaça. Eu dou uma olhada por cima do meu ombro, e a criatura está no ar, maior e mais próxima. Em seguida, desce, tornando-se uma serpente como uma coisa deslizando sobre a grama nos perseguindo. — Merda, oh merda, oh merda, — eu suspiro, olhando para frente e forçando minhas pernas a se moverem mais rápido. — Espere, isso é um portal? — À esquerda, no centro de outra sebe, vejo uma porta em arco aberta e luz além dela.
— Sim. — Dash gira em direção a ela. — Droga, este lugar não faz sentido.
— Eu sei, apenas corra! — Meus pés batem na grama. Meus braços bombeiam contra o ar. Estamos quase lá quando uma frieza gelada desliza sobre meu ombro. Eu pulo quando um grito desesperado se liberta da minha garganta. Nós nos jogamos através da porta e Dash gira o braço, fechando a porta com uma explosão de magia e nos fazendo parar em um piso de madeira polida.
Eu viro, de frente para a porta enquanto me afasto dela. Meu peito arfa enquanto recupero o fôlego. Meu coração bate repetidamente contra o interior das minhas costelas. — Você está bem? — Dash ofega. Minha mão ainda está bem apertada ao redor da dele, e não há nenhuma chance no inferno de eu soltar agora. Ele parece minha única âncora neste mundo de pesadelo que poderia me pegar e me levar a qualquer momento.
— Eu... acho que sim. Você está bem?
— Eu não sei, — diz ele. — Estou começando a me perguntar se ainda estou inconsciente e preso em um sonho.
— É mais como um pesadelo. — Quando a porta permanece firmemente fechada, corro o risco de afastar meus olhos dela. Eu olho para cima, mas não há nada acima de nós. Pelo menos, se houver um teto, é tão alto que não consigo ver. O piso de madeira e a parede dos dois lados da porta em arco se estendem para sempre dos dois lados. Eu me viro para olhar para trás — e percebo que há um grande buraco no ar. — Dash. — Eu aponto para o pedaço de terra e o oceano além dele. — Você vê isso?
Dash caminha ao meu redor, sem soltar minha mão. Ele se inclina para frente, olhando atentamente. — Isso é... Puta caramba. Essa é a Ilha Velazar. A parte com o monumento. Você pode ver o monumento na borda inferior ali. Em, isso... — Seus olhos acompanham todo o buraco. — Este é o buraco no véu.
Não faz sentido para mim que acabamos aqui, mas se esse é o nosso mundo do outro lado deste buraco, então... — Podemos passar por ele?
— Eu espero que sim. — Ele me puxa para frente. Chegamos ao buraco e, quando nada nos impede, continuamos. Um pé sobre o monumento. Então outro. Eu solto a mão de Dash quando ele pula para baixo. Eu rapidamente o sigo.
Com dois pés em segurança no chão, num mundo de cores genuínas e o sol brilhante do meio-dia, olho para o oceano. Vasto e magnífico. Ondas avançando para frente. Mais poderosas e inspiradoras do que eu poderia imaginar.
— Tudo bem, isso não faz sentido, — diz Dash.
Eu olho para trás para ver o que ele está falando. Do outro lado do buraco no ar, em vez de um portal em arco e de um chão polido, vejo um campo e um céu azul. — Mas... não é de onde acabamos de vir.
— Não, — Dash murmura. — Nós estávamos em outro lugar completamente. Em algum lugar... eu não sei Entre aqui e ali?
— Ei! O que vocês estão fazendo aqui? — Uma faísca de magia passa por nós. Dois guardiões saem correndo atrás do monumento. Eu me abaixo e fujo para fora do caminho enquanto Dash abre um portal para os caminhos das fadas. Eu mergulho com ele, limpando minha mente e confiando nele para nos levar a algum lugar seguro.
Capítulo 27
— POR QUE ESTAMOS NO QUINTAL DE CHELSEA? — PERGUNTO NO MOMENTO EM QUE A ESCURIDÃO CLAREIA e eu me vejo na grama seca e meio morta.
— Precisamos daquela última caixa, — diz Dash. — Aquela com os arquivos. Podemos ainda encontrar algo útil lá. Podemos levá-la de volta ao oásis e então — ele passa a mão pelo cabelo -— então podemos tentar descobrir do que diabos fugimos e de onde estávamos.
— É que um príncipe e princesa Unseelie têm a ver com isso.
Dash fica boquiaberto. — Você disse —
— Eu disse.
— Uau. Então é por isso que ela tentou ajudá-la a escapar da Guilda. Ela queria levá-la para os Unseelies. Espere, mas por que eles deixaram você ir embora tão facilmente agora?
Eu suspiro. — Eu explico mais tarde.
— Ei, aí estão vocês, — diz uma voz familiar. Violet caminha pela lateral da casa em nossa direção. — Eu cheguei aqui há alguns minutos e encontrei uma bagunça no quarto com todas aquelas caixas. Eu tentei encontrar vocês dois e, por alguma razão, minha Habilidade Griffin não encontrou nada, o que foi um pouco alarmante. Então fico feliz em ver que vocês estão seguros.
— Você não conseguiu nos encontrar? — Dash pergunta. Ele olha para mim. — Podemos acrescentar isso à lista de coisas seriamente estranhas sobre aquele jardim assustador.
Violet para na nossa frente. — Do que você está falando? Onde vocês estavam?
— Podemos explicar quando voltarmos ao oásis, — digo a ela. — Nós só queremos pegar uma daquelas caixas lá dentro e levar conosco.
— Tudo bem, — diz ela lentamente. Preocupação aperta suas feições, mas então ela respira fundo, parecendo afastá-las. — Em, olha o que eu tenho. — Ela segura um frasco com uma rolha. — Ana me deu esta manhã. Pronta para começar a testar essa Habilidade Griffin?
Um surto de emoção se acende dentro de mim. — Sim. Definitivamente.
Dash se afasta. — Eu vou pegar a — Ele para, franzindo a testa enquanto olha em volta para a cerca. Algo farfalha além dela, seguido pelo som abafado de passos na grama. — Alguém estava nos observando? — Pergunta ele. Ele passa por mim, subindo na árvore fina no canto do jardim e olha por cima da cerca. — Bem, se alguém estava nos observando, eles foram embora agora.
— Estamos invisíveis de qualquer maneira, — diz Violet quando Dash pula, — então não importa.
— Vocês podem estar, — eu digo, — mas eu provavelmente não estou. Eu duvido que meu feitiço esteja funcionando. Eu provavelmente pareço estar aqui falando sozinha. — O que, eu percebo, vai convencer qualquer um que esteja me vendo que eu finalmente cheguei ao fundo do poço, assim como todo mundo em Stanmeade pensou que eu iria.
— Vamos pegar aquela caixa, — diz Violet. — Podemos entrar pelos caminhos. Eu acho que sua tia está na cozinha fazendo café ou chá ou algo assim.
— Ah, adorável, você ainda está aqui.
Eu me viro ao som da voz. É ela, a mulher com o manto prateado, saindo rapidamente dos caminhos das fadas e entrando no quintal de Chelsea. O frasco de elixir escorrega dos dedos de Violet enquanto ela levanta as mãos para cima e para os lados. Uma leve ondulação no ar confirma que um escudo se formou ao nosso redor. — Quem é você? — Ela pergunta. Ao lado dela, Dash estende a mão no ar. Uma espada brilhante aparece em uma mão e um chicote na outra.
A mulher abaixa o capuz, revelando uma máscara preta cobrindo a maior parte do rosto. Tudo que vejo são seus lábios e olhos. — Você pode me chamar de Ada, — diz ela. — E então você pode entregar a Em.
— Não vai acontecer, — diz Violet.
Então, como se essa situação precisasse de uma complicação adicional, a porta de trás se abre e Chelsea sai correndo. — Emerson, onde diabos você esteve? — Ela grita. Seus olhos estreitos olham apenas para mim, o que confirma minha suspeita de que eu sou a única aqui sem um feitiço. De repente, como se lembrasse que ela deveria ter medo de mim agora, Chelsea congela. Ela dá alguns passos cuidadosos para trás. Seus olhos se voltam para o telefone em sua mão quando ela começa a tocar na tela. — Apenas... fique calma, tudo bem? Eu não quero nenhum problema.
— Oh, que perda de tempo, — diz Ada. Em alguns passos rápidos, ela está na frente de Chelsea. Ela toca o ombro dela —
— Não! — Grita Violet. Ela deixa cair o escudo.
— e Chelsea se torna uma estátua de vidro. Um arco e flecha aparecem nos braços estendidos de Violet. Ada levanta a perna e chuta Chelsea. Em seguida, ela sai do caminho, a flecha passa por ela, e Chelsea atinge o chão, quebrando-se em incontáveis pedaços de vidro.
Eu suspiro e enfio as duas mãos no meu cabelo. — Isso não aconteceu, — eu sussurro.
A porta dos fundos abre novamente, e desta vez é Georgia que está correndo. — Mãe! — Ela grita.
— Pare! — Grita Violet quando Ada se vira para a Georgia. Violet avança quando o chicote de Dash ataca. O chicote envolve o pulso de Ada e Violet pula em suas costas. As duas caem no chão, mas é tarde demais. Vidro sobe pelo corpo de Georgia, solidificando-a em uma estátua quase que instantaneamente.
— Vi, cuidado! — Dash grita, correndo para ajudar Violet. Violet rola para longe de Ada e levanta. Ada balança a perna, derrubando Georgia no chão. Ela se despedaça como sua mãe.
Eu puxo meu cabelo, xingando repetidamente, a culpa e o terror ameaçando me consumir, porque eu sei que tudo isso está acontecendo por minha causa. Ada se esquiva da magia de Violet e Dash e gira ao redor. As pontas dos dedos dela passam pelo braço de Violet antes de se afastar e bater na mão de Dash.
— Não, não, NÃO! — Eu grito, mas novamente, é tarde demais. O vidro os consome, transformando-os em estátuas facetadas imóveis. Ada levanta a perna. — Pare! Simplesmente pare! Farei o que você quiser!
Ela para. Abaixa o pé para o chão. — Você sabe que é tarde demais para eles, certo? Não há como voltar disso.
Eu caio de joelhos, minhas pernas tremendo não conseguem mais me segurar. — O que você quer? Minha Habilidade Griffin? Tudo bem. Eu irei com você. Eu não sei como fazê-la funcionar, mas vou tentar. Só, por favor, não os mate.
Ela solta uma risada. — Eu acho que eles já estão mortos, Em.
— Diga o que você quer de mim, — eu imploro.
Ada se afasta de Violet e Dash, o que me deixa quase murchando de alívio. É difícil matar uma faerie, Violet me disse. Nossa magia pode nos ajudar a sobreviver a muitas coisas que matariam um humano. Ainda posso ver ela e Dash. Eles são vidro sólido, mas ainda estão lá. Contanto que eles não sejam quebrados em um milhão de pedaços, há esperança para eles.
— Sabe, — diz Ada, de frente para mim com as mãos nos quadris, — Eu sempre me perguntei se você poderia ter uma Habilidade Griffin se escondendo dentro de você. E se tivesse, imaginei se algum dia poderia aparecer, ou se ficaria bloqueada para sempre, junto com o resto de sua magia. — Ela inclina a cabeça para o lado, me examinando. — Você não sabe como usá-la, não é. Você já teria me parado, se soubesse.
Demora alguns segundos para que o significado completo de suas palavras se encaixe. — Você... espera. Você sabe quem eu sou?
— Eu te conheço quase desde que você está viva, Em. É por isso que eu estive aqui há alguns dias, verificando com alguém. A pessoa que está te observando por mim. Imagine se eu viesse algumas horas depois, — acrescenta ela com um sorriso malicioso. — Esse alguém teria uma atualização muito mais interessante para mim.
Isso está ficando mais estranho a cada segundo. — Alguém esteve — quem? Foi aquele homem que você matou? Aquele que eu vi você transformar em vidro?
— Não, não. Era apenas alguém que me seguiu até aqui. Alguém que pensou que poderia me emboscar e me matar. — Ela ri. — Não foi preciso muito esforço para me livrar dele.
Eu estremeço com a facilidade com que ela fala sobre matar pessoas. — Então quem? E como você me conhece? Quem — o que eu sou? E o que diabos você quer de mim?
Ela me dá um sorriso de pena quando se aproxima. — Eu sei que toda essa atenção provavelmente subiu para a sua cabeça, então pode ser uma surpresa ouvir que eu realmente não quero você.
— V-você não quer?
— Não. Pelo menos ainda não. Eu quero sua mãe.
Sua mãe.
Um arrepio corre pela minha pele. Eu engulo após a náusea subir pela minha garganta.
— Por quê? Isso não faz sentido.
— Não tem que fazer sentido para você, Em. Apenas me diga onde ela está.
Eu lentamente sacudo minha cabeça. — Você não pode tê-la.
Ada se agacha na minha frente. — Você prefere ver esta cidade consumida por vidro quebrado? Você gostaria de ver seus amigos quebrarem, se despedaçarem e morrerem?
— Claro que eu não quero isso.
— Então você simplesmente precisa me dizer onde sua mãe está. Eu não vou machucá-la. Bem, talvez eu deva reformular isso. Eu não vou matá-la. Eu vou fazer algo um pouco... irreversível.
Meu rosto está molhado com todas as lágrimas que eu geralmente não deixo cair. — Eu não posso.
— Sim, você pode.
— Eu não posso, eu não posso, — eu lamento, cobrindo meu rosto com as mãos. — Como você pode me pedir para fazer isso? Ela é minha mãe. Eu a amo mais do que tudo.
— Então você não me deixou escolha.
Eu abaixei minhas mãos para vê-la se inclinando para frente. Ela pressiona os dedos na terra. — O que você está fazendo?
Ela não responde. Onde seus dedos encontram a terra, vidro começa a se espalhar lentamente. Tufos de grama endurecem, racham e se quebram. Eu pulo e me afasto dos estilhaços invasores. Enquanto isso, Ada se move para o lado da casa. Ela achata a palma da mão contra a parede e o vidro se estende ao redor da mão dela.
— Espere, por favor, pare. Você não precisa fazer isso.
— Você está me forçando a fazer isso, Em. Enquanto você não me dizer o que eu quero saber, essa magia continuará se espalhando e vai quebrar tudo em seu caminho. Esta cidade em breve será nada além de vidro quebrado.
Eu olho desesperadamente ao redor. O vidro está mais perto de Violet e Dash. Se chegar até eles, eles se estilhaçarão. Eu não vou ter a chance de ver se eles ainda estão vivos sob suas conchas de vidro endurecido. Deixo escapar um grito sem palavras, cobrindo meu rosto novamente. Tudo isso se resume a uma escolha impossível: quem eu salvo? Mamãe? Ou Violet, Dash e o resto de Stanmeade? — Não me faça escolher, — eu lamento. Eu espio através dos meus dedos. Os cacos de vidro quase chegaram a Violet. Eles estão a apenas trinta centímetros de distância da borda da bota dela.
Se aproximando.
E mais perto.
— Tudo bem, pare! Eu vou te dizer. Ela está em White Cedars. Apenas pare, por favor!
— White Cedars, — repete Ada. — Obrigada, querida Em. — Ela passa por mim até a cerca e abre um portal para os caminhos das fadas.
— Espera. Você precisa parar o vidro.
— Para ser honesta, Em, eu nunca gostei desta cidade. Sempre me senti um pouco triste por você ter que morar aqui.
— O quê? Não! Você vai mesmo destruir uma cidade inteira e todos nela?
— Eu não sei. Acho que vamos ver até onde vai a magia. — Ela entra nos caminhos e olha por cima do ombro. — Você pode correr e se salvar, ou sentar aqui e deixar o vidro quebrar você como todo mundo. É a sua escolha. Pessoalmente, eu preferiria que você se salvasse. Eu poderia um dia ter um uso para você se você conseguir ter essa habilidade sob controle. — Ela ri. — E o quão deliciosamente irônico seria se fosse você aquela que me ajudou a ver o plano de vingança.
Com uma explosão de raiva, eu me jogo atrás dela. Se eu puder entrar nos caminhos — se eu puder chegar à mamãe antes de Ada —
Mas a escuridão se fecha. A cerca reaparece e eu bato nela. A dor flui através do meu ombro e meu braço e eu deslizo para o chão, gemendo alto. Eu agarro meu ombro enquanto pensamentos de quão totalmente inútil eu sou martela contra o interior da minha cabeça. Eu possuo um poder que as pessoas matariam para colocar as mãos, mas eu não posso —
O frasco.
O elixir que vai estimular minha Habilidade Griffin.
Eu levanto, salto através dos pedaços de vidro, e procuro pelo frasco que Violet deixou cair. Deve estar na grama em algum lugar. E uma vez que eu tomar este elixir, minha habilidade vai funcionar, certo? Então eu posso falar mais de um comando.
O estridente som e rangido da casa começando a desmoronar me assustam. Eu olho para Violet. O vidro quase chegou a sua bota. — Não, — eu sussurro. Meus olhos retornam à sua busca desesperada no chão enquanto meu cérebro pensa em todas as coisas que eu preciso falar.
Daniela Clarke, você é invisível. Ninguém pode te encontrar, te machucar ou te matar.
Vidro, inverta a sua magia. Pare de se mover, pare de quebrar, pare de matar.
Violet e Dash, vocês não são feitos de vidro. Voltem para suas formas originais.
Finalmente, vejo o frasco. Está perto da base da árvore na qual Dash subiu, pedaços de vidro quase o tocando. Eu pulo sobre mais vidro, corro em direção a ele, abaixo, alcanço — mas a magia de Ada o tocou. Os estilhaços o apunhalaram, estilhaçando-o e o esmagando, e não me atrevo a tocá-lo por medo de que sua magia se espalhe em mim.
O elixir desapareceu.
Um enorme soluço rasga através do meu peito. Eu me levanto e ando para trás, observando a magia do vidro imparável. Ela chega à bota de Violet agora, estilhaçando ao longo do bico. Eu não posso salvá-la e não posso salvar a mamãe. Enquanto mais lágrimas descem pelas minhas bochechas, eu fecho meus olhos. Eu abro minha boca e despejo toda à dor dos últimos cinco anos em um grito dolorido. Eu grito até não poder mais respirar.
E então — esperança.
Eu sinto aquele arrepio, aquele breve pulso de poder correndo através de mim, e eu tenho uma fração de segundo para decidir: salvar a mamãe — ou salvar todos aqui. Minhas palavras saem em uma corrida desesperada. — Magia do vidro, você não tem poder! Inverta, desapareça, devolva tudo e todos do jeito que estavam antes e restaure tudo — A profunda reverberação em minha voz desapareceu quando alcancei a palavra ‘restaure’, mas acho que pronunciei comandos suficientes.
Eu olho em volta, prendendo a respiração, esperando meu poder fazer efeito.
O vidro para de se mover. Lentamente, afunda no chão, deixando a grama como era antes. Pedaços de Chelsea e Georgia se reconstroem, por mais impossível que pareça, minha tia e prima começam a se mover, gemer, se sentar. O lado quebrado da casa se recompõe como uma cena de demolição ao contrário. E Violet e Dash —
Eles ofegam por ar, dando grandes respirações profundas enquanto o vidro desaparece ao redor de seus corpos. — Oh, graças a Deus. — Eu corro pelo jardim em direção a eles.
— O que —
— Leve-me para White Cedars! Por favor, é urgente. Ada foi lá para pegar minha mãe.
Violet vira rapidamente para a parede e escreve contra ela. — Dash, volte para o oásis. Diga ao Ryn e ao Chase o que aconteceu. Eu vou levar a Em. — Eu aperto a mão dela e corro para a escuridão com ela.
Ainda estamos correndo quando saímos do outro lado no gramado em frente ao Instituto de Cura White Cedars.
— Eu sei onde é o quarto dela, — eu digo enquanto corremos pela área de recepção, curandeiros gritam atrás de nós. Ao longo do corredor, viro, outro corredor. Corro para dentro do quarto dela, passo por uma pilha de vidro no chão e puxo a cortina para trás. — Ela ainda está aqui, — eu digo, alívio inundando meu corpo. — Ela está aqui, mas... — Eu olho para o chão, para os pedaços de vidro afiados. — Mas Ada também estava aqui. Mãe? — Eu me viro para ela e aperto seu braço. — Mãe, acorde. — Mas ela não se mexe, e eu não posso deixar de ouvir a voz de Ada na minha cabeça: Eu vou fazer algo um pouco... irreversível.
Os curadores se apressam para dentro e somos forçadas a esperar do lado de fora. Eles confirmam que a mamãe ainda está viva, mas é tudo o que dizem antes de fechar a porta da mamãe e um deles nos levar de volta à sala de espera. Ontem à noite, achei a iluminação suave, cadeiras macias e os aromas de ervas reconfortantes, mas nada disso ajuda hoje. Nada pode me confortar quando estou convencida de que há algo terrivelmente errado com a mamãe.
— Diga o que aconteceu depois que Dash e eu fomos transformados em vidro, — diz Violet gentilmente. Suas palavras me lembram abruptamente que há poucos minutos ela estava essencialmente morta. Ela era uma estátua sem movimento, sem respirar, tudo porque se envolveu comigo e com minha mãe. Mas em vez de pirar sobre isso, ela agora está me confortando.
Eu afasto minha culpa e digo tudo a ela. O vidro se espalhando por toda parte, o frasco de elixir quebrando, Ada me forçando a escolher entre mamãe e todos os outros. — Eu falhei, — eu sussurro para ela quando termino.
Ela envolve os dois braços em volta de mim e me abraça com força, o que só intensifica minha culpa. — Você salvou uma cidade inteira cheia de pessoas, Em. — Ela se afasta e olha atentamente para mim. — Sua prima e tia deveriam estar — estavam — mortas. Sua mágica as salvou. Isso não é um fracasso. Isso é...
Um tipo assustador de poder, eu penso comigo mesma. Em voz alta, eu digo, — Mas eu falhei com a minha mãe.
Violet, é claro, tenta me convencer do contrário, mas eu sei a verdade. Eu dei a minha própria mãe para um ser mágico que queria machucá-la de alguma forma. Depois de todas as minhas promessas que eu daria uma vida melhor para nós duas. E isso significa que eu falhei com ela.
Finalmente, uma das curandeiras retorna para a área de espera. — Ela está viva? — Eu pergunto, imediatamente me pondo de pé.
— Sim. — A curandeira, uma mulher pequena com uma longa trança pendurada em um dos ombros, gesticula para eu me sentar. — Mas ela parece estar em um estado profundo de inconsciência.
— Como? Por quê? O que aconteceu com ela?
— Não estamos certos. A curandeira que estava no quarto na hora foi atacada e... — Ela respira fundo. — Bem, todos nós lemos sobre os faeries de vidro nas notícias. E você viu o que estava no chão.
Eu aceno, percebendo que essa mulher obviamente conhecia a curandeira que Ada matou. — Eu sei. Eu sinto muito. Mas não há como você descobrir o que aconteceu com ela? O que a colocaria em coma tão rapidamente?
— Existem várias possibilidades. Nós testamos todas elas e descartamos todas.
— Tudo bem, então? — Eu pergunto. — E agora?
— Bem... — A curandeira olha de mim para Violet e vice-versa. — Como não há mais nada que possamos fazer por ela no momento, gostaríamos de sugerir que ela poderia se sentir mais confortável — e mais segura — se ficasse em casa. Se ela acordar, você pode trazê-la de volta.
— Se ela acordar? Você acabou de dizer se?
— Obrigada, — Violet se apressa em dizer antes que a curandeira possa responder. — Parece uma boa ideia. Acho que seria mais seguro ela ficar conosco do que ficar aqui.
A curandeira concorda e se levanta. — Vou organizar a papelada.
Quando ela sai da sala, Violet diz, — Em, vamos consertar isso. Você pode tentar usar sua Habilidade Griffin e dizer a ela para acordar. Se isso não funcionar, encontraremos outra coisa. Eu não sei como, mas nós vamos. Faremos toda a pesquisa que pudermos e, quando finalmente descobrirmos o feitiço que a colocou em coma, poderemos acordá-la.
— E se a mente dela ainda estiver doente quando ela acordar?
— Então vamos descobrir sobre isso também. — Seus dedos envolvem a minha mão e as aperta. Ela sorri. — Tudo ficará bem no final.
Consigo devolver o sorriso, porque percebi que há outra maneira de a mamãe ficar bem no final. Um plano reserva. Um plano que Violet nunca aprovaria...
Capítulo 28
VÁRIAS HORAS DEPOIS, COLOCO MAMÃE EM UMA CAMA EM UM QUARTO PARA ELA NO Oásis. Eu aliso seu cabelo escuro para trás de sua testa, depois me sento na cadeira ao lado da cama por um tempo, pensando em todas as perguntas que ainda não pude fazer a ela. E todas as novas perguntas que foram adicionadas à minha lista mental desde hoje de manhã. Quem é Ada e como ela conhece a mamãe? Por que ela queria colocar a mãe em coma permanente?
Algo um pouco... irreversível.
Eu afasto as palavras de Ada da memória. Eu não quero aceitar que mamãe nunca vai acordar, mas é difícil ignorar os fatos: Ana preparou mais elixir para mim esta tarde, e ele estimulou a minha Habilidade Griffin por tempo suficiente para dizer a mamãe para acordar — mas ela não respondeu. Parece que minha voz mágica e ressonante, que tinha o poder de reconstruir duas pessoas e trazê-las à vida hoje, de alguma forma não pode acordar minha mãe.
Algo um pouco... irreversível.
Se os curandeiros não sabem que tipo de magia fez a mamãe entrar em um sono permanente, então deve ser algo completamente diferente. Algo mais sinistro. Algo que aqueles que ignoram as leis e brincam com magia negra possam conhecer.
E é aí que entra o plano reserva.
Eu me levanto e caminho até a caixa no canto do quarto. A caixa que Dash trouxe enquanto eu estava no instituto de cura com a mamãe. Eu estava esperançosa de que ainda pudesse conter algo útil, mas uma rápida olhada nos arquivos restantes não revelou nada.
Eu abro a caixa, enfio minha mão e vejo a flor de cristal rosa que eu deixei cair lá dentro. Depois de encontrá-la, atravesso o quarto e a deixo na mesa de cabeceira. É tão pequena que parece ridículo ficar ali sozinha, mas eu sei que mamãe gostaria do fato de estar lá.
Depois de observá-la um pouco mais, beijo sua bochecha e saio do quarto, fechando a porta gentilmente atrás de mim.
***
— Venha ver, venha ver! — Jack pega minha mão enquanto desço as escadas. — Merrick e Junie adicionaram mais coisas dentro da cúpula enquanto você estava fora. — Ele me puxa todo o caminho até a parte de baixo da árvore.
— Ah, ai está ela — diz Dash quando eu piso na grama. — Como vai você?
Eu dou de ombros. — Tudo bem, eu acho. Você?
— Estou me sentindo melhor agora que não sou mais uma estátua de vidro.
— Sabe, — eu digo para ele, — estátuas de vidro são muito mais silenciosas e menos irritantes do que certas pessoas.
— Ah, vamos lá, você teria sentido minha falta se eu não tivesse voltado.
Eu me permito um sorriso. — Talvez.
— Bem, de qualquer forma, acho que você vai gostar da mais recente adição ao Oásis.
— Não diga a ela! — Diz Jack. — Ela tem que ver primeiro ou de outra forma vai estragar a surpresa.
Nós três caminhamos juntos, a conversa permanece leve enquanto Jack nos conta o que ele está aprendendo na escola. Eu noto Dash ocasionalmente olhando na minha direção, provavelmente tentando descobrir se eu realmente estou bem.
— Tudo bem, espere, — diz Jack. — Pare aqui. — Estamos quase passando o pomar, que está iluminado esta noite com pequenos insetos brilhantes dourados e luzes rosa-laranjas. — Devemos vendá-la.
Eu levanto uma sobrancelha. — Você vendou a todos que vieram ver essa nova adição?
— Sim. Tudo bem, nem todo mundo, — Jack admite. — Mas algumas pessoas.
— Que tal se eu apenas fechar meus olhos?
Jack inclina a cabeça para o lado. — Você promete não abri-los?
— Sim. Mas você tem que prometer não me deixar tropeçar em nada.
— Sim, claro. — Ele enlaça o braço no meu e fecho os olhos.
— Sem espiar, — diz Dash.
Depois de mais um minuto de caminhada, Jack me faz parar. Eu posso sentir o cheiro e escuto algo que me deixa suspeita, mas eu não posso estar certa. — Tudo bem, você está pronta? — Jack diz. — Abra seus olhos.
Então eu abro. Arrepios percorreram minha pele ao ver a faixa pálida de areia e as suaves ondas cor de pôr-do-sol caindo sobre ela.
— Não é incrível? — Diz Jack. — Nós temos uma praia!
Eu pisco contra o brilho da umidade se formando sobre meus olhos. — É incrível. — Ele corre através da areia, pula para as ondas rasas e chuta a água para o ar.
Dash coloca as mãos nos bolsos. — Merrick estava conversando há alguns dias sobre o que acrescentar em seguida, e me lembrei de você olhando pela janela da casa de recuperação e perguntando sobre o oceano. Então eu disse a ele que seria legal ter uma praia e um pequeno pedaço do oceano aqui.
Eu mordo meu lábio para controlar as minhas emoções bobas e depois digo, — Hoje foi a primeira vez que vejo na vida real. Na ilha. E foi apenas por um momento, por isso é incrível tê-lo aqui.
— Oh. Mesmo? — Dash me encara. — Então é por isso que você estava perguntando sobre ele naquele dia. Devemos ir ver a coisa de verdade então. Eu posso te levar agora, se você quiser. Só tenho que ter certeza de que não seremos emboscados por ninguém mais que queira colocar suas garras malignas em você.
— Não, — eu digo com um sorriso. — É perfeito por enquanto.
— Ei, — uma voz chama atrás de nós. Ryn caminha na areia, seguido por Violet e uma cesta flutuando. — O que você acha do nosso pequeno pedaço do mar?
— Eu amo, — eu digo a ele.
— Pensamos em fazer um piquenique na praia para o jantar, — diz Violet, apontando para a cesta flutuante. Ela pousa perfeitamente na areia, e o cobertor dobrado em cima levanta e se estende ao lado da cesta. Nós nos sentamos enquanto Violet desembala a comida e Jack continua pulando e mergulhando na água. Calla e Chase se juntam a nós alguns minutos depois, espalhando seu próprio cobertor ao lado do nosso.
Nós comemos nosso jantar de piquenique enquanto o sol desaparece lentamente. Em algum momento, Bandit e Filigree saem da cesta de piquenique em forma de rato e esperam pacientemente por alguma comida. Bem, Filigree espera pacientemente; Bandit realiza vários saltos entre a espera.
Quando está quase escuro demais para ver, lanternas flutuantes aparecem ao longo da praia. Embora eu note cada um dos adultos me observando em algum ponto durante a noite, ninguém faz perguntas sobre mais cedo ou propõe quaisquer teorias malucas sobre mamãe ou sobre a misteriosa faerie de vidro Ada. É como se houvesse um acordo tácito de que esta noite não é para refazer os eventos do dia. Hoje é para curtir a praia, apreciar deliciosas frutas e petiscos que eu nunca provei antes, perseguir Jack ao longo da areia e criar ideias para o que acrescentar a seguir no Oásis.
Eu absorvo tudo, sabendo que esta noite é ao mesmo tempo uma primeira e última vez para mim.
— Em! — Jack cai ao meu lado algum tempo depois da nossa refeição. — Eu te contei sobre a nova dança que aprendemos hoje de manhã?
— Hum, acho que você me contou sobre tudo o que aprendeu hoje. Não tenho certeza se você mencionou uma dança. Vocês têm aulas de dança regulares aqui?
— Todos nós aprendemos as danças tradicionais das fadas quando estamos na escola primária, — explica Dash. — Vi e Ryn não queriam que as crianças que moram aqui perdessem, então a dança está incluída nas aulas.
— Posso te ensinar? — Jack me pergunta. — Então você pode praticar comigo.
— Oh. Hum, tudo bem. — Dançar não é minha praia, mas eu suponho que vou dar uma chance se isso deixar Jack feliz. Ando com ele alguns passos para longe dos cobertores, depois o encaro e seguro suas mãos.
— Tudo bem, então você avança assim. Sim, com esse pé primeiro. E então você recua. E nossas mãos se juntam assim.
— Tudo bem.
— Então repetimos isso quatro vezes e depois nos virando um para outro assim.
Em algum lugar atrás de mim, música começa a tocar. Curiosa para saber de onde vem, eu olho por cima do ombro e vejo Ryn incitando uma bola de vidro para o ar. Luzes coloridas dentro da bola piscam ao mesmo tempo que a música, o que me diz que é de onde a música deve estar vindo. — Incrível, — murmuro. — O que é isso?
— Em, você não está se concentrando, — reclama Jack.
— Certo, desculpe.
Ele demonstra o próximo passo para mim, mas acho difícil acompanhar. — Sabe, eu odeio dizer isso, Jack, mas acho que o tipo de dança que fazemos no mundo humano — onde apenas balançamos de um lado para o outro — é muito mais fácil. Veja, você coloca seus braços em volta da minha cintura — Eu movo seus braços para o lugar — e eu coloco meus braços em volta de seus ombros, e nós balançamos.
— Isso é super chato. E você é muito alta.
— É verdade, mas eu sou muito alta para a sua dança também.
— Você só precisa de um parceiro mais alto, — diz Dash, movendo-se para o meu lado e estendendo a mão para mim.
— Oh. Não. Obrigada. Eu não gosto muito de dançar. E... hum... eu ia dormir agora de qualquer maneira.
— Tão cedo? — Ele diz. — Vamos, só até o final da música. Nós podemos fazer sua coisa chata de balançar. — Ele me dá seu sorriso encantador, e eu vejo uma sugestão do Dash que fez todas aquelas garotas se apaixonarem.
— Bem. Só não pise nos meus pés.
— Com esse jeito chato de balançar, minha querida Emerson, duvido que isso seja um problema.
Eu coloco minhas mãos em volta do pescoço dele. Seus braços deslizam em volta da minha cintura e me puxam para mais perto. Eu descanso meu queixo em seu ombro, o que parece um pouco estranho, mas também é legal. Nós andamos lentamente de um lado para outro, um pouco mais do que apenas um movimento oscilante, mas muito mais simples do que o que Jack estava tentando me ensinar.
— Em, — Dash diz baixinho. — Emmy. Eu realmente sinto muito. Sobre sua mãe. Mas pelo menos ela está aqui agora. E nós vamos encontrar uma maneira de curá-la. Nós vamos. Eu estive cuidando de você desde que estraguei tudo há anos e não vou parar agora. O que eu puder fazer para ajudar, eu farei. Ela vai melhorar, e vocês duas podem ficar aqui, e vocês duas finalmente terão a vida que você sempre prometeu a ela.
Meus olhos viajam através da cena, e meu coração se parte quando percebo que tudo o que eu sempre quis está bem aqui — e que eu nunca vou ter. Lágrimas picam meus olhos, minha garganta dói e de repente eu não consigo falar. Eu mordo meu lábio, mais e mais até as lágrimas recuarem e eu conseguir respirar novamente.
Quando a música acaba, eu não vou embora imediatamente. Eu sento com todo mundo por mais algum tempo. Eu rio das terríveis piadas de Dash e sorrio para as palhaçadas de Jack. Então eu volto para as árvores gigantes junto com todos os outros. Eu alegremente digo boa noite e subo para o meu quarto como se nada estivesse diferente. Como se meu peito não estivesse doendo. Como se eu não tivesse acabado de dizer adeus.
Capítulo 29
EU ABRO O GUARDA-ROUPA, E EM VEZ DE PEGAR UM PIJAMA, EU PEGO a jaqueta mais quente que consigo encontrar. Eu não sei o quão frio é para onde estou indo, então é melhor estar preparada. — Desculpe Bandit, — eu digo para o filhote de lobo dormindo na cadeira no canto, — mas você não virá comigo desta vez. É mais seguro você ficar aqui.
Eu tiro a minha camiseta e pego uma limpa no topo da pilha — exatamente quando ouço passos do lado de fora da minha porta. — Ei, Em. — É a voz de Calla. A porta se abre. — Eu queria perguntar se — Oh, me desculpe.
— Não, tudo bem, — eu digo com uma risada nervosa, me virando enquanto me atrapalho com a camisa.
— Eu sinto muito, eu deveria ter batido.
— Não, não. É minha culpa por me trocar sem fechar a porta corretamente. Eu não pensei. — Eu puxo a camisa sobre a minha cabeça antes de me virar para encará-la. Mas em vez de um sorriso, eu a vejo olhando para mim, seu rosto pálido. — Qual é o problema? Você está bem? — Ela não pode saber o que estou prestes a fazer, pode?
— Eu... — Sua mão agarra o batente da porta, e ela agarra com força, como se fosse à única coisa que a mantem de pé.
— Calla? — Eu dou um passo incerto em direção a ela.
Ela fecha os olhos, balança a cabeça e solta uma leve risada. — Eu sinto muito. — Ela abre os olhos, pisca e me dá um meio sorriso. — Eu devo ter bebido mais do que pensei. Apenas um momento de tontura. Isso é tudo.
— Hum, está bem.
— De qualquer forma. — Ela pigarreia. — Eu só, hum, vim até aqui para perguntar se você quer sair correndo pelo limite do Oásis conosco no início da manhã.
— Oh. Na verdade, acho que prefiro dormir amanhã. Tem sido, sabe... um longo dia.
Ela balança a cabeça, ainda olhando para mim um pouco estranhamente. — Sim. Definitivamente.
— Hum, está bem. Bem, boa noite.
— Boa noite. Ei, Em? — Eu olho para cima. — É uma linda tatuagem no seu ombro. Eu não a percebi antes.
— Oh, não é uma tatuagem. Agulhas me assustam. — Eu estendo a mão e toco meu ombro esquerdo. — É na verdade um marca de nascença. Minhas roupas geralmente cobrem, então é por isso que você nunca viu antes.
Ela balança a cabeça, apertando a porta novamente, e começo a me perguntar se o que quer que ela tenha bebido esta noite pode ter tido sua origem no reino humano. — Que interessante, — diz ela fracamente. — Parece como uma flor.
— Sim, parece. — Eu franzo a testa. — Você tem certeza de que está bem?
— Definitivamente. — Ela sorri. — Durma bem, ok?
Eu aceno, me sentindo culpada por mentir para ela. — Você também.
Ela fecha a porta. Bandit, observando curiosamente da cadeira, abaixa a cabeça e me observa com os olhos semicerrados. Uma vez que tenho certeza de que Calla se foi, enfio a mão no bolso esquerdo da frente e tiro o espelho.
***
Eu me sinto mal por roubar uma stylus da cozinha de Ryn e Vi, mas não tenho muita escolha, já que não tenho a minha. Eu não encontro ninguém no meu caminho descendo as escadas, ou quando estou andando pela grama. É quase fácil passar pela cúpula e entrar no deserto.
Eu escrevo os caminhos das fadas na areia várias vezes sem funcionar. Eu não perco minha paciência, no entanto. Ver as palavras brilharem esta manhã me deu confiança de que eu estou quase lá com essa coisa de caminhos das fadas. Eu tento mais uma vez — e a emoção corre através de mim ao ver um espaço escuro se abrindo. Eu deslizo para dentro dele, sussurrando o nome que me foi dado.
Sou recebida do outro lado pelo cenário que me disseram para esperar: uma piscina natural de pedras numa floresta iluminada com feixes de luz da tarde brilhando através das árvores próximas.
— Emerson, — uma voz diz atrás de mim. — Fiquei um pouco surpreso em ouvir sua resposta tão cedo. Você parecia inflexível que não mudaria de ideia.
Eu me viro para encarar Roarke. — As circunstâncias mudaram. Eu decidi que posso estar disposta a acreditar que você pode ajudar minha mãe.
Ele cruza os braços sobre o peito. — Interessante.
— Só tem uma coisa. Vou exigir uma prova antes de aceitar sua proposta. Prove que você sabe o que há de errado com minha mãe e que pode consertá-la.
— Isso pode ser difícil, — diz ele, — considerando que eu não vou lhe dizer nada até depois de nos casarmos.
— Mas ela precisa de ajuda agora. Eu... assinarei um contrato ou algo assim. Um contrato dizendo que eu concordo em casar com você se você puder curá-la primeiro.
— Um contrato? — Ele ri. — O tipo de contrato que você está se referindo não significa muito neste mundo. E se eu curar sua mãe e você decidir não seguir adiante?
— E se eu casar com você e depois você decidir não curar minha mãe?
Uma sugestão de diversão toca seus lábios. — Suponho que um de nós vai ter que aprender a confiar no outro.
— Pois bem. Estou ansiosa para ganhar sua confiança. — Porque eu certamente não planejo me casar com esse Príncipe Unseelie sem primeiro ver minha mãe saudável. — Você trouxe o dispositivo mágico que você falou?
— Sim. — Roarke enfia a mão dentro de seu longo casaco e pega um pequeno item em forma de moeda. Ele se aproxima e afasta meu cabelo para trás da minha orelha. É inquietante tê-lo em pé tão perto, mas eu finjo que isso não me incomoda. Ele pressiona a moeda na pele atrás da minha orelha e, quando ele afasta a mão, a moeda permanece. Eu levanto meus dedos e gentilmente a toco, me certificando de que ela não se move. — Você tem certeza de que ninguém será capaz de me encontrar enquanto eu estiver usando isso? Eu não quero ninguém... interferindo no nosso acordo.
— Completamente certo. A Corte Unseelie tem feito uso de itens como este há muito tempo.
Eu solto uma respiração lenta. — Está bem então. Eu acho que estou pronta para ir com você.
Rachel Morgan
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